1. Destiny
— Então você já sabe quando será o sorteio? — perguntou Mary se sentando na cadeira que estava vazia ao meu lado.
— Disseram que seria esta tarde, mas não estou muito animada não.
— Por que? — ela me olhou surpresa.
— Eu não tenho muita sorte. — eu suspirei fraco olhando para a porta da loja.
— Que isso menina, você é uma das melhores funcionárias de todas as lojas, está na lista top 10, você tem pelo menos dez por cento de chance de ganhar. — ela deu um sorriso meio animado — Cruze os dedos, vai que é você a sorteada.
— Tomara. — eu a olhei dando um sorriso desanimado.
Eu realmente não acreditava em sorte e o fato de eu estar entre os dez melhores funcionários também não era por sorte e sim muito trabalho. Eu trabalhava em uma agência de viagens em São Paulo e anualmente nas férias de dezembro, eles selecionavam os dez melhores funcionários e sorteava um pacote de viagem com acompanhante para qualquer país que o funcionário quisesse. A empresa fazia isso como um incentivo para os funcionários se dedicarem mais no trabalho e em vendas.
Aquele era meu quinto ano no top 10, em sete anos de empresa, ainda não acredito que estou lá desde os meus 18 anos. Passei a tarde tranquilamente, não acreditava mesmo que ganharia, nunca tive sorte, não seria agora que teria. Logo ao final da tarde, a gerente voltou de uma vídeo conferência com o RH da empresa e anunciou que haviam colocado o resultado no site da empresa, depois de muita insistência de Mary entrei para conferir o ganhador.
“É com imenso prazer que anunciamos o vencedor do Funcionário do Ano:
Miller — Loja Boulevard
Estamos felizes em saber que a cada ano nossos funcionários se dedicam ainda mais, e vamos sempre motivá-los a isso!!!”
Uau… Aquilo havia me deixado surpresa e paralisada por alguns instantes! Eu havia sido sorteada e nem imaginava que destino iria escolher, tinha que me decidir, mas não sabia o que escolher. Voltei para o apartamento onde morava com minha amiga de infância e nosso gato Boby, ainda não acreditando. Quando cheguei Lira estava em casa, vendo tv com um balde de pipoca no colo, ela me olhou sem entender minha cara de incredulidade.
— O que houve ? — ela perguntou ainda prestando atenção no desenho que estava passando na tv.
— Então, aconteceu algo surreal hoje. — comecei a explicar me sentando no sofá jogando minha bolsa ao lado.
— Você encontrou um namorado? — ela riu baixo.
— Mais surreal que isso. — eu a olhei.
— Mais surreal que isso? — ela me olhou meio curiosa — O que foi?
— Fui sorteada. — olhei para frente meio estática ainda.
— Mentira. — ela me olhou boquiaberta.
— Verdade.
— Não brinca com meu coração. — ela se ajeitou no sofá.
— É sério! — reforcei.
— Uau! — ela colocou o balde de pipoca na mesa de centro e se virou para mim — E para onde vamos? Por que eu vou com você!!!
— É claro que você vai. — confirmei rindo — Só não resolvi o destino.
— Vamos para Vegas!!! — disse ela empolgada — Estou com vontade de jogar, vai que consiga juntar grana extra lá.
— Sua louca, não quero ir para Vegas. — eu remexi minha bolsa e retirei meu celular dela, liguei e comecei a checar minhas redes sociais — Estava pensando na Europa, o inverno europeu deve ser lindo!!!
— Então vamos para Monte Carlo! — ela me lançou um olhar de imposição — Tem cassinos lá também.
— Oh, obsessão. — eu ri dela me levantando do sofá, peguei minha bolsa — Lembrou de comprar a ração do Boby?
— Sim, o que aquele gato mais faz é comer. — ela riu — E por falar no gato, vamos ter que deixa-lo em um hotelzinho, por que ele não vai poder ficar sozinho.
— Então você resolve isso. — olhei para a janela da sala e lá estava o gato dormindo tranquilamente, sorri automaticamente e fui para o meu quarto.
Ao entrar, caminhei até minha cama, joguei minha bolsa nela e coloquei meu celular na mesinha ao lado, retirei minha jaqueta e peguei minha toalha que estava no cabideiro de parede ao lado da porta, me espreguicei um pouco indo em direção ao banheiro, tomei uma ducha quente para relaxar meus músculos.
Graças a Lira, eu já tinha meu destino, só faltava informar a minha gerente. No dia seguinte comuniquei a ela minha decisão e passei no RH da empresa para saber quando seria minhas férias. Tudo foi marcado para a primeira semana de janeiro, assim eu poderia ainda ver as decorações de natal da cidade.
— Não acredito que vou viajar! — Lira deu um pulo animada indo para a cozinha.
— Me agradeça depois. — eu brinquei rindo dela, ao olhar para as passagens que estavam em cima da mesa de centro.
— Agradeço sim. — ela retornou para sala com um copo de suco na mão — Prometo te apresentar alguns amigos do meu baby.
— Ha.. ha… ha… Dispenso, apesar de considerar muito o Jack, aqueles amigos dele da faculdade são uns idiotas.
— Ah. — ela me olhou descrente no meu comentário — Tem uns dois que salvam.
— Quem? Por exemplo? — a olhei.
— O Marcos e o Jeremy, são bonitos e engraçados, se quiser te passo o telefone deles.
— Não fazem meu tipo. — olhei para tv e a liguei usando o controle.
— Nem o Marcos? — ela me olhou assustada — Nossa eu acho ele o amigo mais atraente que meu baby tem.
— Nem ele. — assegurei desinteressada.
— E quem faz seu tipo? — ela sentou ao meu lado, percebi que estava segurando o riso.
— Não sei, acho que sou muito detalhista e as vezes gosto de escolher melhor antes de me decidir de fato.
— Isso não foi uma resposta convincente.
— Olha, eu gosto de caras românticos, mas não clichês, que acham que rosas vermelhas são a solução para conquistar uma garota.
— Isso é mesmo um conceito de biotipo ou está querendo um cara totalmente diferente do seu ex-namorado.
— Claro que é um conceito, eu só estou formulando ainda. — eu comecei e trocar de canal olhando a programação da tv a cabo — Não tem nada relacionado ao Victor.
— Se você está dizendo. — ela riu baixo — Ah, como estou ansiosa por esta viagem.
Apesar de no Brasil ser verão, em Mônaco era inverno e eu teria que preparar minhas malas com roupas quentes e confortáveis, pois o frio estava a todo vapor. Alguns dias depois, finalmente chegamos ao dia do nosso embarque, Lira estava mais animada do que eu, foram 14 horas de vôo até Paris na França, e mais 25 minutos até Monte Carlo em Mônaco.
Nosso desembarque foi tranquilo, um guia turístico chamado Francis de uma agência credenciada já estava nos esperando com uma plaquinha com nossos nomes, já era de noite e a cidade mesmo com a neve, o frio e o clima meio úmido, estava tão linda e iluminada pela lua e as luzes de natal que ainda estavam nela. Ele nos levou até o hotel que estava reservado para nós duas, por uma surpresa nossa, ficaríamos em quartos separados, achei isso sensacional.
A primeira pergunta de Lira era onde e como ela poderia chegar ao Cassino de Mônaco, minha amiga estava obstinada a gastar algumas moedas nos caça-níqueis. Quando entrei em meu quarto fiquei admirada com o conforto e a beleza do lugar, por mais que o hotel fosse simples de 4 estrelas, ainda sim enchia os olhos de qualquer pessoa. Pela primeira vez em anos eu estava gostando de ser a funcionária do mês.
“Tudo está brilhando
Você quer continuar a brilhar.”
- Boys Meet You / SHINee
2. Hello
Apesar de poder ficar somente 15 dias, eu estava disposta a aproveitar cada momento daquela viagem. Acordei um pouco antes do sol sair no horizonte, desci para tomar meu café e esperar Lira, eu queria aproveitar o passeio da manhã, já que ela já tinha me informado que á tarde visitaria o cassino.
Me sentei em uma mesa no centro do salão e fiquei esperando o garçom, retirei meu celular do bolso e comecei a jogar um pouco de candy crush para passar o tempo e espantar um possível sentimento de tédio por esperar ela. Em um distraído momento olhei para frente e o vi sentado no fundo do salão perto da parede leste próximo ao bar, tinha traços asiáticos e um bom gosto para roupas, com seus olhos voltados para um bloco de notas e muito concentrado.
Eu fiquei o olhando por um tempo, uma xícara bem à sua frente e um copo de suco que ainda estava cheio, assim como a fatia de bolo de chocolate que estava em seu prato, comecei a me perguntar o que tanto ele fazia olhando para aquele bloco de notas.
— Oh, que bom que me esperou. — disse Lira ao se aproximar me tirando a atenção do homem.
— Ah, sim. — eu a olhei — Para dizer a verdade, até pensei que já estava aqui.
— Resolvi aproveitar mais aquela cama macia. — ela riu se sentando — O que estava olhando no fundo do salão?
— Nada. — desviei minha atenção para o garçom que estava se aproximando de nós.
— Bom dia senhoritas, posso anotar o pedido? — perguntou ele dando um sorriso gentil.
— Claro. — Lira pegou o cardápio e folheou rapidamente — Eu vou querer um suco de maçã e um pedaço da torta holandesa, por favor.
— E a senhorita. — ele olhou para mim.
— Hum. — eu demorei um pouco olhando as páginas — Vou querer um cappuccino e uma fatia de torta de morango.
— Perfeitamente. — ele se afastou indo até o balcão.
— Então que planos tem para esta tarde? — perguntou Lira — Já que eu vou te abandonar.
— Me trocando pela jogatina. — eu ri fazendo ar de abandonada — Da próxima não te trago comigo, vou convidar um dos amigos do Jack.
— Nem nos seus sonhos que você vai fazer isso. — ela me lançou um olhar ameaçador — Amizade em primeiro lugar!
— Sei. — eu ri dela.
— Mas eu preciso ir nesse cassino, vai que consigo ganhar algum dinheiro para meu casamento.
— Ele nem te pediu em casamento ainda. — eu olhei de relance para o homem do bloquinho de notas e ele ainda estava concentrado em seus pensamentos.
— Disse bem, ainda, depois de sete anos me enrolando, eu disse a ele que se esse ano não saísse pelo menos o noivado, eu terminaria tudo. — ela seguiu meu olhar — Para quem está olhando?
— Ninguém. — eu a olhei — Mas enfim, espero que consiga então a grana, por que eu quero bolo de casamento.
Nós rimos um pouco e depois de alguns minutos fomos servidas pelo garçom, comemos tranquilamente enquanto conversávamos sobre os sonhos de uma cerimônia de casamento perfeita de Lira, ela estava mesmo animada com a ideia de se casar ainda neste ano.
Pontualmente às 9 horas da manhã, o guia da agência nos buscou no hotel para a primeira caminhada pela cidade, ele seria nosso guia por apenas três dias para nos mostrar os principais pontos turísticos da cidade. Nossa primeira parada foi no Museu de Arte de Mônaco, no salão principal estava tendo um interessante exposição de um artista local em comemoração ao seu aniversário, ou algo relacionado.
O guia foi nos contando um pouco da história do Museu enquanto andávamos pelos corredores do lugar. Foi muito interessante aquela prática aula de história local de Monte Carlo, e Francis era realmente muito educado e simpático, além de possuir um carisma natural. Almoçamos em um restaurante de comida caseira que ele tinha nos recomendado e logo à tarde ele iria levar Lira ao Cassino de Mônaco, seu sonho de consumo.
Voltei de táxi para o hotel, caminhei tranquilamente até o elevador, assim que ele parou eu entrei distraída, pouco antes das portas se fecharem totalmente uma mão apareceu e as portas se abriram novamente, era ele, o asiático misterioso do bloco de notas. No susto e na pressa para entrar no elevador ele deixou seu bloco cair no chão, eu me abaixei automaticamente e peguei, não resisti a tentação e antes de entregar olhei uma das páginas, tinha algumas coisas escritas em hangul e em baixo algumas notas musicais.
Aquilo me deixou mais curiosa, assim que entreguei ele pegou rapidamente e colocou no bolso, se curvou de leve em agradecimento. Ficamos em silêncio durante todo o tempo, assim que a porta se abriu, coincidentemente saímos juntos, ele caminhou na minha frente, por mais que minha mente insistisse para que eu ficasse quieta na minha, pois ele era um desconhecido, minha curiosidade foi um pouquinho mais eficaz neste caso.
— Com licença. — eu disse num tom alto.
— Sim. — ele se virou me olhando.
— Você fala meu idioma? — perguntei fazendo uma cara de dúvida.
— Português? — ele sorriu de leve — Sim.
— Oh. — eu sorri espontaneamente — Legal.
— Posso te ajudar em algo?
— Me desculpe, mas não pude deixar de ver o que estava escrito em seu bloco. — eu respirei com leveza — Tinha algumas notas musicais nele.
— Ah. — ele me olhou meio tímido — Bem, eu trabalho com isso.
— Música?
— Sim, sou compositor.
— Oh. — senti meus olhos brilharem — Nossa, que legal, deve ser legal pelo menos.
— Sim, quando não se está com bloqueio criativo.
— Hum. — eu não sabia se deveria me apresentar, mas não queria que a conversa terminasse ali — Bem, meu nome é .
— Prazer, . — ele sorriu tímido novamente — .
— Você é coreano não é? — perguntei.
— Sim, nascido em Seoul. — ele permaneceu me olhando com suavidade — Você é?
— Brasileira. — respondi — O que o traz aqui em Mônaco?
— Vim para tentar encontrar uma inspiração, preciso escrever algo especial.
— Hum. — eu sorri de leve — Espero que consiga, eu estou aqui só para aproveitar minhas férias.
— Se divertir também é muito bom.
— Sim. — eu desviei meu olhar para o lado — Bem, eu vou indo agora, espero que consiga encontrar sua inspiração. — eu me afastei um pouco seguindo na direção oposta dele, o elevador ficava no meio do corredor dos quartos.
— Espera. — disse ele.
— Sim?! — me virei rapidamente, estava mesmo torcendo para ele me chamar de novo.
— Está ocupada esta noite? — perguntou ele, vi de relance uma certa tristeza em seu olhar.
— Não, estou livre.
— Gostaria de dar um passeio comigo?
— Sim, seria bom.
— Posso te esperar mais tarde na recepção?
— Sim.
Ele se curvou de leve novamente e seguiu em direção ao seu quarto, eu me virei com um largo sorriso no rosto, não entendia por que estava tão animada com aquilo, ele era só uma pessoa comum que eu havia conhecido.
Entrei no quarto e fui direto para o banheiro, eu ainda não tinha percebido que havia uma banheira, aquilo era maravilhoso. Enchi a banheira com muita espuma e entrei dentro, aos poucos fui sentindo meu corpo relaxar. Fiquei alguns minutos desfrutando daquele momento até que me levantei e joguei uma ducha em mim para tirar as espumas com mais facilidade.
Voltei para o quarto e abri a mala, estava indecisa como que iria vestir, não era um encontro, mas também ele não era uma pessoa qualquer, então eu realmente queria impressionar, e aquilo me deixava ainda mais animada. Separei para vestir, uma blusa de manga longa cinza, uma calça jeans preta, uma bota de cano longo de salto baixo e meu cachecol marrom, além de uma jaqueta preta que tinha ganhado de Lira no último aniversário de amizade, e sim comemorávamos nosso aniversário de anos de amizade, enfim nós duas éramos inseparáveis desde o ensino fundamental.
“Na primeira vez em que eu te vi
Meus olhos brilharam, meu coração parou
E na minha cabeça o sino tocou ding dong.”
- Ring Ding Dong / SHINee
Ao chegar na recepção ele já estava me esperando, caminhei até ele meio sem entender o que estava acontecendo.
— Hum, o que seria isso? — perguntei olhando para as bicicletas encostadas na parede ao seu lado.
— Bem, eu soube que eles incentivam passeios noturnos de bicicleta nos hotéis. — ele olhou para as bicicletas — Então pensei que seria divertido.
— Oh, mas está nevando, e fazendo frio.
— O gerente disse que ainda com a neve é divertido. — garantiu ele.
— Então acho melhor irmos. — eu peguei minha bicicleta — Vamos nos divertir então.
— Sim. — ele sorriu, vi seus olhos brilharem um pouco com minha animação.
Pedalamos um pouco pelas ruas mais próximas do hotel, até que ele parou em frente uma sorveteria que ainda estava aberta, descemos das bicicletas e entramos, eu ainda estava meio com receio, mas o acompanhei mesmo assim.
— Então o que vai escolher? — ele me olhou tranquilamente.
— Ah, você está mesmo… — eu fiquei surpresa — Mas estamos no inverno.
— Sim. — ele riu de leve — Sabia que o sorvete foi inventado no inverno? As pessoas precisavam de uma sobremesa que combinasse com a estação.
— Sério?
— Se não for, podemos conviver com essa teoria.
Eu ri um pouco assentindo a ideia maluca dele. Ele pediu um de morango para ele e um de chocolate para mim, voltamos para as bicicletas e ficamos parados até terminar de saborear.
— É a primeira vez que vem em Mônaco? — perguntou ele.
— Sim. — eu terminei de tomar meu sorvete e coloquei o guardanapo no lixo que tinha ao lado.
— Hum, a cidade é muito bonita. — comentou ele disfarçando seus olhares para mim.
— É, pena que não poderei ficar por muito tempo.
— E vai embora quando?
— Tenho somente 14 dias aqui, mas acho que vou voltar antes, ainda não sei a data que está na minha passagem de retorno.
— Ah. — ele jogou seu guardanapo no lixo também — Espero que consiga aproveitar este tempo aqui.
— Eu também. — eu o olhei — Posso perguntar uma coisa?
— Sim.
— Eu poderia ver suas composições, se não for muita curiosidade da minha parte.
— Claro, adoraria te mostrar. — ele sorriu de leve.
Pedalamos mais um pouco até retornarmos para o hotel, no instante em que assinou o recibo de devolução das bicicletas, Lira chegou. Ela ficou de longe me vendo me despedir dele, assim que me afastei dele ela se aproximou de mim.
— Oh céus, quem é ele? — perguntou ela me puxando para a direção do elevador.
— Hum hóspede que conheci hoje de tarde.
— Uau! — ela me olhou empolgada — Me agradece depois por ter te deixado sozinha.
— Pode deixar, pagarei seu vestido de casamento como agradecimento. — brinquei.
— Vou cobrar madrinha. — ela riu e entrou no elevador.
— À vontade. — eu entrei atrás rindo — E nada de começar com suas brincadeiras quanto a isso.
— Nossa, não disse nada.
— Mas está pensando que eu sei.
— Ele é bonito, só isso que eu comentarei até amanhã. — ela soltou uma gargalhada engraçada.
— Sua boba.
Eu ri junto, fui direto para meu quarto, troquei de roupa e me joguei na cama, estava cansada, porém animada.
Quatro dias se passaram, eu e Lira tínhamos visitado todos os pontos turísticos que estavam no roteiro da agência. Eu e ela tínhamos saído à tarde para dar um volta pela cidade, mesmo não querendo a acompanhei ao cassino, ela estava obstinada a jogar aquele dia, já tinha ganhado muitas moedas no dia anterior.
As horas se passaram e no final da tarde, voltei de táxi para o hotel antes dela, passei pela recepção e fui para o salão de refeições, quando entrei vi um rosto conhecido. estava com sua atenção voltada para o inseparável bloco de notas, me aproximei dele em silêncio e me sentei em sua frente.
— Boa noite, . — eu disse num tom baixo para não assustá-lo.
— Hum?! — ele levantou a cabeça e me olhou — Oh, você.
— Sim. — eu sorri de leve.
— Boa noite. — ele sorriu de volta — Eu estava um pouco concentrado, não a percebi chegar.
— Estou vendo, está escrevendo?
— Tentando, mas não consegui sair da primeira estrofe. — ele desviou seu olhar para o bloco de notas com uma certa frustração em sua voz.
— Hum, acho que está forçando muito sua mente nisso. — eu peguei o bloco e olhei — Acho que deveria deixar as coisas acontecerem naturalmente.
— Estou muito desesperado por isso. — ele pegou o bloco e colocou em seu bolso e guardou a caneta que estava em sua mão também — Está com fome?
— Hum, um pouco.
— Então, vamos pedir algo para comer. — ele sorriu timidamente.
A comida daquele hotel era mesmo muito gostosa, e me alimentar na companhia dele seria melhor ainda. Pedimos cappuccino e cookies, comemos tranquilamente e após terminar, ele me convidou para passar um tempo no jardim do hotel, aceitei de imediato.
Enquanto o esperei por um tempo no jardim, ele foi até seu quarto pegar seu violão. Fiquei um tempo sentada em um banco perto de um canteiro de azaleias, olhando a fonte que havia no centro do jardim. Ele se aproximou em silêncio, fiquei acompanhando seus movimentos até que se sentou ao meu lado, eu sorri de leve para ele, tinha um encanto nos olhos que me atraía sem explicação e seu sorriso tímido me deixava a cada instante mais fascinada por ele.
— Demorei muito. — ele virou seu corpo para minha direção me olhando suavemente.
— Não, foi rápido.
— Que bom. — ele desviou seu olhar para o violão que estava em sua mão — Então, como você tinha pedido para ouvi uma música composta por mim, trouxe isso.
— Estou ansiosa para ouvir.
Ele colocou o violão em seu colo, e começou a dedilhar as cordas suavemente, de forma lenta e a calma começou a cantar, sua voz era tão bonita e envolvente, que fazia os pelos do meu corpo se arrepiar. Durante toda a música ele permaneceu me olhando nos olhos fixamente, eu conseguia entender algumas palavras daquela canção, mas a forma como ele me olhava me fazia entender ainda mais.
— Tão bonita. — eu disse quando ele terminou.
— Que bom que gostou. — ele colocou o violão escorado no banco ao seu lado.
— Fala sobre o que a música?
— Um amor não correspondido. — ele olhou para fonte — Um homem que ama uma mulher, mas ela não sente o mesmo por ele.
— A letra deve ser um pouco triste.
— Sim, ela é. — concordou ele.
— Mas sua voz é muito bonita também, assim como a melodia da música.
— Hum. — ele sorriu de canto — Você sabe tocar?
— Violão? — eu ri de leve — Não muito, nunca sei como segurar direito.
— Se aproxime um pouco mais, vou te ensinar. — ele pegou o violão e me olhou.
Meu corpo congelou automaticamente, fiquei alguns instantes sem saber o que fazer, mas me aproximei dele e virei meu corpo ficando de costas. Ele apoiou o violão em meu colo e começou a me explicar como eu poderia segurar de um forma segura e que não me desse dores nas costas.
Assim que ele pegou em minha mão direita e encaixou no braço do violão senti um frio na barriga, estávamos muito próximos, tanto que eu conseguia sentir seus batimentos atrás de mim, o toque de suas mãos segurando as minhas era suave e macio. Não conseguia prestar a atenção em mais nada, em um momento virei meu rosto para ele, ficamos mais próximos ainda, eu sentia sua respiração, estávamos sincronizados e meu coração acelerado.
“Eu continuo a me apaixonar, me apaixonar
Quando te vejo, meu coração, oh, oh, oh, oh
Apaixonar-se, se apaixonar
Eu só quero você, o que devo fazer garoto?”
- Falling In Love / 2NE1
3. Gee
Ele se afastou um pouco de mim, estávamos muito constrangidos por aquela aproximação toda, ficamos alguns minutos desviando nossos olhares fingindo que não tinha rolado nenhum clima, ele se levantou e deu alguns passos em direção à fonte.
— Bem. — eu me levantei respirando fundo — Eu tenho que ir agora.
Ele não disse nada, só me olhou e sorriu assentindo, voltei para meu quarto ainda com meu coração acelerado, não entendia o que estava acontecendo comigo, mas ele era a causa. Troquei minha rouba e me deitei na cama, depois e horas olhando para o teto contando para conseguir pegar no sono, dormi tranquilamente e para minha surpresa maior, sonhei com ele.
Na manhã seguinte após Lira desmarcar de ir no cais comigo fazer um passeio de barco, descobri o número do quarto de , e sem muitas cerimônias bati em sua porta.
— Oh, . — ele me olhou surpreso — Como soube que meu quarto é esse?
— Perguntei na recepção. — eu sorri de leve.
— Hum, o que faz aqui?
— Bem, minha amiga está com ressaca, ou seja estou solitária novamente, então pensei em te convidar para um passeio.
— Ah. — ele olhou para trás e depois olhou para mim — Acho que não poderei.
— Está ocupado?
— Bem, acho que não serei uma boa companhia, estou muito focado em minha composição.
— Hum. — eu fiquei meio sem graça, queria muito conhece-lo melhor — E conseguiu escrever mais alguma coisa?
— Não, mas estou trabalhando duro para isso.
— Ah. — eu peguei em sua mão e o puxei para fora do quarto sem pensar nas consequências — Bem, tive uma ideia.
— Espera. — ele fechou a porta do quarto e me olhou sem entender — O que está fazendo?
— Acho que sei por que não consegue escrever nada. — eu peguei a chave que estava em sua mão e tranquei seu quarto — Você só irá retornar para este lugar depois que se divertir.
— Mas… — ele me olhou tentando questionar.
— Mas nada, não vou devolver suas chaves até o final deste dia. — eu peguei em sua mão e o olhei sorrindo — Não vou deixar você perder esta oportunidade de estar em uma cidade maravilhosa e não aproveitar por causa de um bloqueio criativo.
— Eu realmente preciso…
— Eu imagino que sim, esta composição deve ser muito importante para você, mas quanto mais você forçar isso, menos irá conseguir chegar aonde quer.
Ele não conseguiu mais argumentar e assentiu, continuei de mãos dadas a ele e o guiei para fora do hotel, estava nevando um pouco, mas isso não impediria que nosso dia fosse mais agradável. Caminhamos um pouco pela rua principal até que pensei em levá-lo no passeio de barco, que Lira havia desmarcado comigo.
Quando chegamos no cais, o marinheiro que nos guiaria já estava esperando em frente seu barco, entramos e nos acomodados. Foi um passeio de 40 minutos muito legal, quando saímos, ele não parava de dizer que sempre quis fazer aquilo, mas nunca havia feito por se preocupar muito com seu trabalho.
Então eu percebi que tinha uma missão pela frente, o faria esquecer toda aquela pressão que estava sob ele para escrever aquela música. Mesmo que no início ele recusando um pouco, havíamos combinado de todos os dias almoçar juntos e passar a tarde caminhando pela cidade. Aquele inverno europeu estava ajudando, e mesmo quando a neve atrapalhava um pouco, eu conseguia fazer com que ele se divertisse da mesma maneira no jardim do hotel.
Uma semana estava se completando, Lira havia feito amizades com um grupo de turistas brasileiros que tinha conhecido no cassino, ela passava a maior parte do tempo jogando com eles, e para sua felicidade já tinha juntado muitas moedas que ganhava nas máquinas de caça-níquel.
Era tarde de sábado e eu finalmente havia sido convidada para entrar no quarto dele, estava um pouco bagunçado, seu notebook aberto e ligado em cima da escrivaninha com um programa de edição de música aberto, alguns papeis espalhados na cama e vários bolinhos de papeis no chão ao lado da lixeira que também estava cheia. Segurei o riso quando entrei, ele precisava mesmo encontrar sua criatividade, mas tinha por mim que nossos momentos de diversão iria ajuda-lo.
— Me desculpe a bagunça. — disse ele envergonhado.
— Magina, meu quarto consegue ser pior que isso. — eu ri um pouco — Mas, você ainda está preocupado com a música?
— Sim. — ele respirou fundo e se sentou no beiral da janela — É o que faço da vida e agora não consigo.
— Bem, você só precisa de um tempo para respirar. — eu caminhei até ele e fiquei ao seu lado o olhando — Sabe, às vezes as melhores ideias saem dos pensamentos mais simples.
— Espero conseguir chegar neste pensamento. — eu sorriu de leve.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Sim.
— Você tem namorada?
— Hum? — ele me olhou meio confuso.
— Se não quiser responder, não precisa.
— Agora não, mas antes há um tempo eu tinha. — ele olhou para a rua com certa tristeza.
— Me desculpe falar sobre isso.
— Não se desculpe, não dói mais. — ele me olhou com um sorriso meigo no rosto.
— Hum, tive uma ideia. — eu peguei em sua mão e o puxei para o meio do quarto.
— O que está pensando em fazer agora?
— Algo diferente. — eu sentei no chão o puxando junto e peguei seu violão e comece a dedilhar um pouco — Vamos fazer assim, você pensa em uma palavra e eu escolho um momento.
— Você quer compor algo?
— Não, quero que você se divirta fazendo o que gosta. — eu continuei dedilhando as cortas esperando ele continuar.
— Ok. — ele riu — Apaixonar. — ele me olhou profundo que senti um frio na barriga de imediato.
— Férias de verão. — eu desviei meu olhar para o violão e comecei a cantarolar aleatoriamente.
Ele riu por um tempo até que começou a cantarolar junto comigo, em poucos minutos ele foi cantando algumas frases diversas relacionadas ao nosso tema, seguindo a melodia que eu havia inventado. Ficamos três horas fazendo aquilo sem parar, quando percebi vi seus olhos brilhando e um sorriso lindo em sua face, ele estava mesmo se divertindo fazendo aquilo.
— Isso foi diferente. — disse ele.
— Foi divertido, você deveria fazer isso mais vezes. — eu coloquei o violão do meu lado.
— Acho que sozinho não seria tão legal assim. — ele se aproximou de mim e me abraçou — Mas, obrigado por isso, estar com você me faz bem.
— Fico feliz por isso.
Ficamos nos olhando por um longo tempo, seu olhar mexia muito comigo, e eu nunca tinha ficado daquela forma perto de alguém que nem conhecia direito. Não sabia explicar o que sentia, mas estava começando a perceber que meu coração acelerava sempre que ele se aproximava de mim.
“Com um sorriso inocente,
Sua voz sempre brilha para mim,
Porque você está (comigo), eu posso sorrir.”
- Kiss kiss kiss / SHINee
Os dias que passaram depois, senti que ficamos mais próximos ainda, aos poucos ele me contava sobre sua rotina na Coreia do Sul e sua infância. Eu também contei algumas coisas sobre mim, e como as vezes eu ficava triste e com saudades dos meus pais que moravam em outra cidade, longe de mim.
Dois dias antes das minhas férias acabar, finalmente eu havia conseguido apresentar ele a minha amiga Lira, almoçamos os três juntos. À tarde ela me arrastou para uma voltinha pela cidade, para irmos às compras, eu não queria passar aquela tarde longe de , mas Lira foi um tanto insistente.
— Olha amiga que lindo esse vestido de renda. — disse ela entrando em uma loja de roupas.
— Não vai gastar sua riqueza com roupas hein! — eu ri entrando atrás dela, olhando um vestido azul que estava no manequim.
— Vou comprar só um, tenho que economizar, a sorte que tive em ganhar no cassino é para meu casamento.
— Estou vendo. — eu a observei segurando o riso.
Lira experimentou o vestido e resolveu comprar, ela se ofereceu para comprar um presente para mim em agradecimento, por ter escolhido ela como minha acompanhante na viagem, eu resolvi comprar um livro de um escritor local na livraria ao lado do hotel, era uma recomendação do gerente.
À noite, eu e Lira decidimos comer em uma Cantina Italiana, que encontramos na volta para o hotel, já havia muito tempo em que eu não comia pizza, e nem imaginava que existisse restaurantes italianos em Mônaco. Quando voltamos para o hotel, para minha surpresa estava na recepção me esperando, fiquei curiosa para saber o porquê, ele me levou para dar uma volta pelo quarteirão.
— Eu preciso te falar uma coisa. — disse ele.
— O que? — eu o olhei.
— Eu vou voltar amanhã. — ele desviou seu olhar triste para o chão.
— Hum. — eu respirei fundo — Uma hora isso iria acontecer, meus dias aqui também estão acabando.
— Gostaria que esse tempo congelasse. — ele me olhou — Sua companhia me deixa melhor.
— Eu também. — eu parei em sua frente e segurei em sua mão o olhando — Como é seu último dia aqui, eu queria te uma coisa para se lembrar de mim.
— O que? — ele me olhou com doçura.
Eu reuni toda a coragem que tinha e lhe dei um beijo de leve, ele ficou sem reação de imediato, mas aos poucos foi retribuindo. Senti meu coração parar e acelerar ao mesmo tempo, aquilo era uma confirmação, eu estava apaixonada por ele, mas o que poderia fazer se vivíamos em lugares distantes e tínhamos culturas tão diferentes. Tanto eu como ele ficamos meio tímidos após o beijo, ele me levou de volta para o hotel.
Os dias se passaram e eu estava de volta ao Brasil, minha rotina de trabalho estava ativa e estava ajudando Lira a começar seus preparativos para o casamento. Ela tinha conseguido uma quantia razoável naquele cassino e poderia ter uma linda festa de casamento.
Eu mantive contato com pelo kakaotalk, havia baixado o aplicativo por causa dele, nossas conversas eram em horários aleatórios, e na maioria das vezes de madrugada. Mesmo com a distância meus sentimentos por ele só fazia aumentar, ele havia me contato uma novidade, estava conseguindo compor novamente, aquilo me deixou ainda mais feliz.
Duas semanas após o carnaval, consegui fechar um pacote de viagens que me fez ganhar uma semana de folga, era raro um vendedor ganhar uma semana de folga por uma venda só, mas aproveitei para descansar um pouco e ajudar Lira com sua lista de prioridades para o casamento.
— Então, eu separei algumas lojas de vestido de noiva. — disse para Lira — Acho que você vai gostar.
— Ah, sim, estou indecisa quanto a isso. — ela parou perto da mesa olhando alguns modelos de convite — Preciso da sua opinião madrinha!
— E como o Jack reagiu ao seu intimado?
— Muito bem por sinal. — ela riu baixo — Vamos noivar no final de março e o casamento vai ser em maio, quanto mais rápido melhor.
— Se não, você gasta o dinheiro com outra coisa. — eu ri.
— Ha... ha... ha… — ela me olhou — Tenho até guardado para a lua de mel.
— Olha. — eu olhei para o gato que pulou no sofá e se deitou ao meu lado, comecei a afagar ele de leve — A lua de mel é importante.
— Muito, estou esperando por isso há muito tempo. — ela caminhou para a cozinha.
— E você vai comprar o pacote comigo, óbvio! — brinquei.
— Mais é claro. — ela gritou da cozinha entre risos.
Sexta de manhã meu celular tocou de repente, era uma mensagem de , quando abri fiquei paralisada de imediato:
“Oi , estou no aeroporto, vem me buscar.”
Não sabia se permanecia estática ou se deixava meu coração acelerar, ele estava no Brasil e me esperando. Desci correndo e entrei em um táxi, quando cheguei no aeroporto, lá estava ele parado me esperando com um sorriso tímido.
— O que está fazendo aqui? — perguntei ele rindo.
— Senti sua falta. — ele me olhou com doçura — Eu encontrei minha inspiração.
— Encontrou?
— Sim. — ele segurou de leve em minha mão direita — Estou diante dela agora.
— Eu? — o olhei surpresa.
— Quando voltei a compor, percebi que estava fazendo aquilo por que estava pensando em você, e lentamente as palavras surgiam em minha mente.
Entrei em choque com aquilo, minhas pernas bambearam e me apoiei nos braços dele, ficou me segurando de leve, estávamos muito próximos nos olhando fixamente. As palavras tinham sumido naquele momento, mas nossos olhares diziam tudo, eu estava apaixonada por ele e ele estava apaixonado por mim, nossos sentimentos um pelo outro eram o mesmo.
Eu poderia dizer que esta história terminaria com um beijo, mas não, estaria mentindo. Esta minha história só estava se iniciando com o beijo suave e doce que me deu naquele momento, definitivamente aquelas férias eram para acontecer na minha vida e estava feliz por isso!
“Eu não soube logo de início
Como comecei a te amar
Eu ainda não conheço meu coração
Mas mesmo assim, mesmo assim eu te amo.”
- Standy By Me / Boys Over Flowers OST (SHINee)
The End!
Olá pessoas lindas... Essa história é meia baseada em fatos reais com uma licença poética, eu realmente conheço uma pessoa que conheceu um coreano em uma viagem e ambos se apaixonaram e hoje são casado e moram lindos na Coreia do Sul, que Deus abençoe esta pessoa e muito!!!! *-* Então seguimos na esperança!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!