Fear of Sleep

por Abby
Fanfic finalizada em outubro de 2009

Chovia forte do lado de fora. O barulho das gotas grossas batendo no telhado da garagem era alto o bastante para me alarmar ainda mais, depois da queda de energia.
Tentei olhar janela afora, mas tudo que vi foi um clarão, seguido de uma escuridão apavorante. Fechei os olhos, tendo a sensação de que, se fosse possível, meu corpo e minha alma se desenlaçariam. Eu estava em um estágio onde desespero, medo e horror deixaram de ser apenas sinônimos para serem uma única emoção. Abracei meus joelhos, colocando minha cabeça no vão entre as pernas e o tronco, e logo cacei a manga de meu casaco para morder.
Desde que começou a chover, eu não conseguia mais dormir. Não sabia ao certo quanto tempo fazia que eu estava no sofá da sala com aquele sentimento misto de terror e angústia causado pelos trovões, mas sabia que eram momentos agonizantes. Respirei fundo novamente ao perceber que mais uma vez esquecera tal ação. Sentia meu sangue pulsando rápido e forte, fazendo meu corpo reagir àquele movimento acelerado com adrenalina suficiente para fazê-lo tremer mais que o normal. Conseguia ouvir os batimentos de meu coração, como se ele estivesse dentro de cada canal auditivo. A atmosfera em que eu me encontrava tinha ar denso, tão difícil de ser respirada que eu sufocava segundo a segundo.
Bloqueei parte dos meus sentidos e pensamentos, tentando me iludir com imagens agradáveis. Tudo estava bem, não havia por que ter medo. As gotas já não eram existentes, eu conseguia me concentrar em respirar novamente, ainda que em um ritmo descompassado. O ambiente estava se tornando levemente pacífico. Atrevi-me a abrir os olhos, recebendo uma dose cavalar de pavor quando uma incidência de luz clareou todo o cômodo e um estrondo sacudiu os vidros da janela. Minha fobia de tempestades já estava insuportável, e ficar sozinha não ajudava em nada.
A chuva já estiava, porém não dava sinal de que cessaria. Os trovões pareciam cada vez mais altos. Machucava os ouvidos a ponto de me fazer lacrimejar. Mordi a manga de meu casaco com ainda mais força para não gritar e acabar acordando alguém. Não havia nem margens sobre que horas eram, eu torcia para que fosse o mais próximo possível do raiar do dia, torcia para que aquele inferno chuvoso terminasse. Voltei meu rosto para o espaço vago entre meus braços, abafando mais um grito.
- ? - Ouvi meu nome ser chamado de longe. Levantei meu rosto ainda que inutilmente, já que a falta de luz não me deixava enxergar um palmo à frente de meu rosto. O ar fora de minha fortaleza era rarefeito, quase impossível de se respirar. Tive de exercer força inexistente em mim para fazê-la. O rosto de se tornou uma imagem clara e azulada, assim como o resto do cômodo. Meus ouvidos arderam novamente, latejando de dor, fazendo-me fechar os olhos com força suficiente para expulsar lágrimas. Deixei um som agudo e curto escapar por meus lábios. Seguindo soluços, veio minha respiração alta, rouca e rápida, gelando toda minha garganta. Desespero era pouco pro que eu sentia. Se pudesse, me mutilaria para não precisar passar por esses instantes de pavor. Qualquer dor seria analgésico para eu conseguir não me sentir doente de tanto medo.
- , fica tranquila. - Reconheci como sendo a voz de já perto de mim. Sua mão tocou meu ombro de modo suave. Levei uma de minhas mãos para cima da sua rapidamente, encerrando a sequência de soluços. Senti o estofado do sofá afundar ao meu lado, dando indícios de que já estava ali. Como se tivesse sido empurrada, joguei o peso de meus braços sobre seus ombros, afundando meu rosto na curva de seu pescoço. Minha respiração ainda ofegante desistiu de acompanhar minha crise, acalmando-se lentamente. O perfume de banho fresco que emanava me fazia lembrar os pensamentos pacíficos de outrora. Contudo, minhas mãos soltas em suas costas ainda insistiam em tremer.
- Eu tô aqui, meu bem, se acalma. - Assenti, ainda usando seu cheiro como minha terapia. Apoiei as mãos em suas costas nuas, cravando as unhas no mesmo lugar ao ouvir outro estrondo. continuava jogando sua respiração sobre mim com tamanha calma que me fazia parecer estar dormindo. Saber que ele estava ali já tirava grande parte de meu horror, abraçá-lo me levava a outra dimensão totalmente inversa à que estávamos. Conseguia não mais tremer e até deixar de sentir minha pulsação ao pé do ouvido.
- Não me deixe sozinha. - Implorei em um sussurro, sem deixar que aquele aroma ficasse longe de minhas narinas. - Por favor.
- Nunca. - Ouvi sua resposta em um tom ameno, de uma suavidade quase maleável, acompanhado de um beijo gelado em minha testa. Engoli a vontade de chorar, percebendo minhas mãos não mais trêmulas. Já não havia mais tanto terror em mim.
Senti a leveza do ar puxar meus braços com a força de uma bigorna, levando-me a estado de choque. Não havia mais ninguém ali, além de mim mesma. Nenhum sinal de .
Uma gama de pavor havia voltado até mim. Toda a tranquilidade virara trevas, deixando-me completamente atônita. Os trovões vinham em maior frequência, parecendo me rasgar a cada som agonizante que faziam. Meu estado de pânico fez não só minhas mãos, mas todo meu corpo tremer; meus olhos corriam, loucos, de um lado para o outro; meu rosto começava a ser umedecido por suor frio e lágrimas. Meus lábios se abriram em um ato de desespero:
Um grito. Longo e agudo.

Acordei com um espasmo. Meu coração pulsava com velocidade extraordinária, consegui senti-lo perfeitamente quando pus as mãos sobre o peito. Observei melhor a imagem em meu campo de visão. Constatando que era meu quarto, aconcheguei-me novamente em minha cama ainda de lado. Algo envolveu meu quadril. Pus meu braço sobre ele, deixando um sorriso de alívio em meus lábios. Era tudo um pesadelo, somente um maldito pesadelo.
Fechei os olhos na tentativa de voltar a dormir. Ainda tinha a sensação ruim causada pelo sonho ruim, mas só de saber que estava comigo naquele momento, acabei ficando menos preocupada. Ele estava ao meu lado naquela cama; eu estava bem, estava protegida. Tudo estava absolutamente normal.
Até um clarão surgir.

FIM


Nota da autora: ALÔOOOOOOOOOOOOOOOAN GALERËAN BONITAN :DDD
Primeira fic de terror que eu escrevo, que lindo! *-* Quer dizer, acho que é terror. Na verdade, coloquei terror porque os gêneros de fics do site não são do tipo "Mary Sue", "Darkfic", blá, blá, blá... Enfim, Shortfic escrita metade na aula de Biologia, metade na aula de Literatura enquanto. O título foi inspirado numa música homônima dos Strokes (música; letra), mas a fic saiu em meu ápice de desatenção durante a aula mesmo *blink*
E, hm, é só '-'
xxo Abby





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