Capítulo Único
Até onde sua memória conseguia ir, Katsuki sempre odiou .
Claro que no geral ele odiava várias coisas e várias pessoas, mas a garota sempre lhe deu ótimos motivos para que sua versão mais jovem nutrisse tamanha aversão em relação a ela, e não melhorou muito quando eles entraram na adolescência.
Primeiro que era legal demais, e isso o irritava em uma velocidade impressionante. Uma pessoa não deveria conseguir ser tão simpática e sorridente tanto tempo assim por dia, e por isso Katsuki acreditava que ela deveria se tratar. Ou que ela escondia algo, que toda sua personalidade saltitante se tratava apenas de uma fachada.
Segundo que, apesar de ser incapaz de admitir isso em voz alta e preferir morrer a fazer isso, Katsuki sabia que ela era uma ameaça. Mesmo tendo uma individualidade com tantos contrapontos, tinha um desempenho excepcional, desde sempre. Além de uma força de vontade invejável. Poucas semanas depois do próprio Katsuki manifestar sua individualidade no jardim de infância que foi a vez de , seu grande sorriso ao mostrar o pequeno galho saindo da ponta de seu dedo mascarando os olhos marejados de quem tentava disfarçar dor. Do mesmo jeito que Katsuki teve que criar pele mais grossa nas mãos e fortalecer seus músculos para aguentar o impacto de suas explosões, também teve que se fortalecer para poder avançar em direção ao seu objetivo, já que seu poder também a machucava.
Não adianta de nada uma benção de uma boa individualidade se a pessoa não sabe desenvolver aquilo, e, por experiência própria, Katsuki sabia que a garota era teimosa mesmo com ela negando quando confrontada sobre querer ou não seguir a carreira de herói.
E por último e não menos importante: Katsuki simplesmente achava a coisa mais ridícula do mundo aquele cabelo que mudava de cor de acordo com a estação em que estavam. Ela era a porcaria de uma árvore com pernas, não tinha como ser mais inútil do que aquilo. Claro que ele se tornava menos poderoso no inverno já que o frio fecha mais seus poros e diminuía o suor, mas era vulnerável a qualquer mudança climática drástica, um oponente certo e era seu fim. Alguém com tantos contras nunca deveria ser aceito em um curso de heróis.
E mesmo assim a infeliz ainda conseguiu ficar na mesma classe que Katsuki na UA.
Por serem da mesma escola, durante o exame prático de admissão eles não ficaram no mesmo campo de prova, mas, mesmo que o Top 10 não tivesse sido divulgado para todos os alunos, Kaminari não calou a boca por uma semana sobre como foi incrível durante o exame e como ela tinha merecido uma posição muito melhor por ter protegidos alguns candidatos que não lidaram bem com a pressão do exame, como se a porcaria do terceiro lugar já que fosse mais do que ela merecia. Até hoje Katsuki não sabia dizer o que o tirou mais do sério: ver Deku suando de nervoso ao entrar na sala da classe 1-A ou ver e aquela porcaria de cabelo já em seu auge do tom de rosa do meio da primavera. Ele devia ter sido uma pessoa horrorosa na vida passada para merecer um castigo como aquele, ter que continuar convivendo com aquelas duas piadas que se achavam merecedores de estar ali quando ele era o único digno da posição de Nº1.
Na maior parte do tempo Katsuki se sentia cercado pela dupla: Deku na mesa a sua frente, na mesa ao lado. Ele não sabia dizer ao certo o motivo, mas a garota mudara muito a postura com relação a ele nos últimos meses. Enquanto ainda estavam no fundamental, a garota evitava sempre que possível chegar muito perto, trocava o mínimo de palavras possível quando algum professor forçava que trabalhassem juntos, agora ela até direcionava comentários debochados para o loiro. Sem hesitar ou tremer na espera da retaliação. Pedia direções quando estava perdida em algum texto que liam em aula, se achava no direito de até lhe dar conselhos quando tinham treinamento de herói, mesmo sabendo que apenas receberia gritos e insultos em troca. nunca se esforçou para manter distância, mas pelo menos antes tinha bem mais instinto de autopreservação.
Então, era basicamente isso. Katsuki a odiava.
Apenas saber que em algum lugar ela estava respirando já era o suficiente para deixar o garoto irritadiço, o que diria ela ao seu lado fungando durante a aula.
- Dá pra fazer mais barulho, zero à esquerda?
demorou para responder ao rosnado, seu olhar vago gastando mais tempo que o normal para fazer o trajeto da lousa que ela não conseguia decifrar até o garoto ao seu lado, que já parecia prestes a explodir alguma coisa, talvez a sua cara.
- Que? – devolveu ela com a voz rouca e arrastada, mesmo seu tom baixo sendo o suficiente para atrair a atenção do professor. A garota murmurou um rápido pedido de desculpas e voltou a encarar seu caderno enquanto Aizawa retomava sua tarefa, mesmo não sentindo mais ser capaz de reproduzir o que via no papel. As letras tinham uma ordem lógica de escrita e aquilo deveria ser praticamente natural para seu nível de escolarização, mas seus dedos não respondiam de acordo e seu cabeça doía mais na tentativa de pensar com mais ênfase na atividade.
Ah, ela deveria ter ficado em casa.
Sua mãe tinha lhe avisado que sua aparência não era das melhores, que faltar apenas um dia não prejudicaria seu desempenho, mas ela fora teimosa. Tudo bem que um dia a menos de aula fazia muita diferença no curso de heróis, mas de nada adiantava sua presença se ali não passava de um peso morto, absorvendo o mínimo do mínimo de informações.
A Classe 1-A tinha treinamento de resgate na parte da tarde, e já se via terminando como vítima em todos os cenários mesmo que tivesse que desempenhar o papel de herói.
- ATCHIM!
O espirro alto nem foi o que mais atraiu a atenção de toda turma, mas o estalo alto de algo batendo na mesa – também conhecido como a testa de uma aluna.
Ainda com a mão tampando nariz e boca, começou seu longo pedido de desculpas. Se tivesse aberto os olhos, teria entendido que o silêncio dos colegas e do professor não como repreensão, mas sim como desconserto. Ela já estava pronta para pedir licença e mais desculpas por sentir algo na palma de sua mão, algo muito mais macio e leve do que se espera quando se escapa um espiro daquele nível.
Afastando a mão do rosto e olhando para baixo, assistiu meia dúzia de pétalas caírem sem pressa sobre seu colo e mesa.
- -chan?! – Kaminari foi o primeiro a reagir, se virando completamente para ela com uma expressão preocupada, como se a garota estivesse morrendo diante de seus olhos – Você pegou a Hanahaki?!
Um breve silêncio se seguiu, com boa parte da turma começando a rir enquanto tentava acompanhar o que acontecia.
Ao longo dos anos, algumas vezes o termo chegara a seus ouvidos, principalmente por ser uma usuária de plantas, o que ajudava em algumas piadas – como agora. No fundo, não sabia dizer ao certo qual a origem do termo, quem tinha inventado aquilo e afins. Ela só sabia que não gostava da história. Hanahaki Byou, ou a doença de Hanahaki, era uma doença fictícia popular na cultura pop, tendo origem em um amor não correspondido. Em um estágio mais ameno, a pessoa contaminada apenas cuspia pétalas, podendo chegar a cuspir até mesmo buques inteiros em um estágio mais avançado.
- Que?! N-não! – a tentativa de desmentir a suposição foi interrompida por uma leve crise de tosse, o que resultou em mais algumas pétalas saindo da boca de , para a diversão de seus colegas – Gente, para de rir!
- Se nem a consegue ser correspondida, o que será de nós, reles mortais!
- Tô falando sério! Não tem graça!
Um dos poucos que se mantiveram em silêncio foi Katsuki.
Seu olhar indecifrável não fugindo do rosto corado da garota por um segundo sequer, pelo menos até Aizawa atrair a atenção de todos já com seu usual tom cansado.
- Se estão conversando é por que já terminaram o exercício?
- Sensei, posso ir na Recovery Girl? – pediu , que até chegou a abrir a boca para responder ao professor quando questionada sobre o que tinha, sendo vencida por Ashido na velocidade.
- Ela engoliu alguma coisa – a frase quase se tornou incompreensível pelo riso mal controlado da garota, mas nada que atrapalhou a turma toda em entender a brincadeira.
- Isso foi cruel – resmungou o alvo, tentando soar mal-humorada, mas falhando tanto por continuar tossindo como pelo sorriso descrente que lhe escapava. Tinha que dar o braço a torcer que pelo menos o trocadilho tinha sido bom e rápido.
- Vai logo.
Depois da saída de – que deixou uma trilha pétalas pelo caminho –, a sala demorou pouco para voltar à normalidade, já que os brilhantes olhos vermelhos de Aizawa eram difíceis de contrariar.
não retornou por toda a manhã, e ainda ficou apenas observando na aula de heróis pela tarde, já que a Recovery Girl proibira que ela realizasse qualquer tipo de atividade pesado. Assim, a garota terminou sentada em um banco atrás de Aizawa, seu caderno no colo para eventuais anotações enquanto assistia seus colegas trabalhando. Era praticamente como brincar de ser o Midoriya por algumas horas, então a garota estava tentando aproveitar com o melhor humor possível – já que todos os remédios que tomara na enfermaria estavam surtindo efeito e ela não sentia mais que iria morrer.
A única coisa que a incomodava eram os olhares um tanto estranhos que Bakugou vez ou outra a direcionava. Desde que entraram no colegial que a convivência de entre ambos tinha melhorado muito, embora não soubesse explicar o motivo. Talvez fosse toda a sala não se intimidando pelo nível de poder e inteligência do garoto, com suas tentativas de se autodominar o melhor não sendo muito levadas a sério. Agora ele tinha muito mais gente para implicar na sala, o que dava uma considerável folga tanto para ela como para Midoriya.
O que apenas tornava mais estranho a irritação que o loiro parecia direcionar a ela naquele dia.
Será que ela tinha espirrado uma flor nele e não lembrava?
Antes que se desse conta – Aizawa disse que sua atenção estava bastante comprometida por causa dos remédios – a aula da tarde foi encerrada, e todos os alunos voltaram para os vestiários, com exceção de , que voltou para a sala para buscar seu material. Seus dedos incertos passeavam pela tela do celular enquanto ela decidia se pediria socorro para seu pai, já que ele era o único da sua dupla de responsáveis que podia sair mais cedo do trabalho e lhe dar uma carona até em casa, já que a garota não se sentia muito confortável em pegar o trem. E se ela apagasse no meio da viagem do outro lado do país? O dia seguinte era dia de aula, ela não podia ficar andando para cima e para baixo.
- Você devia quebrar a cara dele – a voz nada simpática de Bakugou que tirou de seus devaneios, bem mais baixa do que ela estava acostumada a ouvir. Sua surpresa foi maior ao se virar em direção a voz e perceber que o garoto já trajava mais uma vez seu uniforme, e que aquele corredor onde estavam não fazia parte do trajeto ideal do vestiário até a sala 1-A. Bakugou estaria procurando por ela? - Ou dela, tanto faz.
- Hm? – foi o único som que soube produzir, sua mente tendo dificuldades em acompanhar tanto seu raciocínio como o que o garoto dizia.
- Quem quer que tenha te rejeitado – continuou ele, tanto a forma como ele apertava mais as mãos fechadas em punho como sua voz se elevando sendo sinais de como ele estava perdendo a paciência. Que inferno, por que ela era assim? – Só uma retardada como você para aceitar sofrer desse jeito...
- Bakugou, eu não faço ideia do que v-v... – sequer sabia como terminaria aquela frase, mas também não agradeceu pela leve crise de tosse que lhe atingiu, já que sua garganta não ficou nada feliz com aquilo. Por causa do remédio tudo parecia estar meio anestesiado, ela só então entendendo que ele estava falando assim que sentiu a textura de uma pétala em sua boca – Hanahaki?
mal teve tempo de tentar cuspir discretamente a pétala, seu corpo logo se curvou no maior acesso de riso que teve na vida. Ela quase teve que se sentar no chão para não cair, lágrimas escapando de seus olhos enquanto segurava sua barriga que começava a ficar dolorida e tampava a boca.
- Tá rindo de quê, porra?! – grunhiu o garoto, seu rosto vermelho de vergonha mesmo sem saber o motivo do riso descontrolado de sua amiga de infância. Ela tinha que estar rindo de algo que ele tinha dito, certo? – Deixa de ser idiota!
- De repente estou achando que te julguei mal a vida inteira porque nunca pensei você fosse do tipo de acreditar em lendas criadas por otaku! – disse assim que se acalmou um pouco, mesmo não tendo parado de rir. Só depois de tossir mais algumas pétalas e enxugar o rosto que ela se recompôs melhor – Embora faça um pouco de sentido você assumir algo tão absurdo já que nunca gastou um segundo para entender como seus colegas funcionam, seja quando criança ou agora.
Para sua não surpresa, Bakugou apenas inclinou a cabeça para um lado e franziu ainda mais a testa.
- Pelo tempo que nos conhecemos, você deveria saber que minha individualidade fica fora de controle quando fico doente, ainda mais quando é algo envolvendo meus pulmões – explicou ela – Na quarta série quando eu tive pneumonia eu tossi quase um buquê inteiro no meio da aula, Katsuki. Você deveria lembrar disso, foi bem traumático para praticamente a turma inteira.
- Caralho, eu sabia disso... – resmungou ele, a compreensão aos poucos tomando seu rosto, relaxando sua expressão minimamente. não conseguiu não sorrir com aquilo. Eles não conversavam tanto mais, apenas se viam nas aulas e ocasionalmente no trem quando seus horários coincidiam, então ela via pouco seu rosto que aos poucos ia se tornando mais maduro, quem diria então sua expressão irritada de praxe bem mais suavizada.
Ela sentia falta disso e nem tinha se dado conta até então.
- Kacchan?
- Hm?
- Obrigada – disse ela com um sorriso educado, seu rosto esquentando um pouco quando mais uma vez Bakugou prestava atenção nela – De alguma forma bem destorcida você estava se preocupando comigo, ou apenas achou mais um jeito de me chamar de retardada, mas eu prefiro a primeira versão.
- Cala a boca e morre de uma vez – bufou em resposta, chutando o ar e esfiando as mãos nos bolsos das calças folgadas, retomando sua postura revoltada – Tô pouco me fodendo sobre o que você faz ou deixa de fazer, figurante de merd... Para de sorrir, caralho!
- Você tem uma... Hm... – esticou a mão e pegou uma pétala graças a Deus não tivera origem nela e sim de uma das árvores do campus e voara pela janela aberta ao lado e ficara grudada na pele da bochecha do garoto. Bakugou não pareceu ter notado a pétala ou não achara importante lhe dar atenção, mas a garota se aproximando do nada definitivamente o deixou desconsertado, ainda mais quando ela lhe mostrou um sorriso que ele se lembrava muito bem, de quando estava prestes a pregar uma peça em alguém – Ainda bem que nenhum de nós acredita na Hanahaki, né? Embora eu tenha quase certeza que o destemido Katsuki Bakugou nunca engoliria seus sentimentos por alguém, não?
já podia ouvir os estalos das explosões das mãos do garoto, mas a expressão de completa e total ofensa no rosto de Bakugou foi impagável. Foi entre o queixo caído e o rosto se tornando vermelho de raiva que a garota optou por começar a correr, seu ritmo sendo bastante inconstante graças ao seu riso alto e ocasionais tosses, o que deixou um pequeno rastro de pétalas pelo corredor da escola.
- Se eu te pegar você já era, vadia!
E estava certa, afinal.
Katsuki não engoliria sentimentos.
Mas isso não quer dizer que ele não cultivaria alguns, e talvez depois esfregasse na cara de alguém.
Claro que no geral ele odiava várias coisas e várias pessoas, mas a garota sempre lhe deu ótimos motivos para que sua versão mais jovem nutrisse tamanha aversão em relação a ela, e não melhorou muito quando eles entraram na adolescência.
Primeiro que era legal demais, e isso o irritava em uma velocidade impressionante. Uma pessoa não deveria conseguir ser tão simpática e sorridente tanto tempo assim por dia, e por isso Katsuki acreditava que ela deveria se tratar. Ou que ela escondia algo, que toda sua personalidade saltitante se tratava apenas de uma fachada.
Segundo que, apesar de ser incapaz de admitir isso em voz alta e preferir morrer a fazer isso, Katsuki sabia que ela era uma ameaça. Mesmo tendo uma individualidade com tantos contrapontos, tinha um desempenho excepcional, desde sempre. Além de uma força de vontade invejável. Poucas semanas depois do próprio Katsuki manifestar sua individualidade no jardim de infância que foi a vez de , seu grande sorriso ao mostrar o pequeno galho saindo da ponta de seu dedo mascarando os olhos marejados de quem tentava disfarçar dor. Do mesmo jeito que Katsuki teve que criar pele mais grossa nas mãos e fortalecer seus músculos para aguentar o impacto de suas explosões, também teve que se fortalecer para poder avançar em direção ao seu objetivo, já que seu poder também a machucava.
Não adianta de nada uma benção de uma boa individualidade se a pessoa não sabe desenvolver aquilo, e, por experiência própria, Katsuki sabia que a garota era teimosa mesmo com ela negando quando confrontada sobre querer ou não seguir a carreira de herói.
E por último e não menos importante: Katsuki simplesmente achava a coisa mais ridícula do mundo aquele cabelo que mudava de cor de acordo com a estação em que estavam. Ela era a porcaria de uma árvore com pernas, não tinha como ser mais inútil do que aquilo. Claro que ele se tornava menos poderoso no inverno já que o frio fecha mais seus poros e diminuía o suor, mas era vulnerável a qualquer mudança climática drástica, um oponente certo e era seu fim. Alguém com tantos contras nunca deveria ser aceito em um curso de heróis.
E mesmo assim a infeliz ainda conseguiu ficar na mesma classe que Katsuki na UA.
Por serem da mesma escola, durante o exame prático de admissão eles não ficaram no mesmo campo de prova, mas, mesmo que o Top 10 não tivesse sido divulgado para todos os alunos, Kaminari não calou a boca por uma semana sobre como foi incrível durante o exame e como ela tinha merecido uma posição muito melhor por ter protegidos alguns candidatos que não lidaram bem com a pressão do exame, como se a porcaria do terceiro lugar já que fosse mais do que ela merecia. Até hoje Katsuki não sabia dizer o que o tirou mais do sério: ver Deku suando de nervoso ao entrar na sala da classe 1-A ou ver e aquela porcaria de cabelo já em seu auge do tom de rosa do meio da primavera. Ele devia ter sido uma pessoa horrorosa na vida passada para merecer um castigo como aquele, ter que continuar convivendo com aquelas duas piadas que se achavam merecedores de estar ali quando ele era o único digno da posição de Nº1.
Na maior parte do tempo Katsuki se sentia cercado pela dupla: Deku na mesa a sua frente, na mesa ao lado. Ele não sabia dizer ao certo o motivo, mas a garota mudara muito a postura com relação a ele nos últimos meses. Enquanto ainda estavam no fundamental, a garota evitava sempre que possível chegar muito perto, trocava o mínimo de palavras possível quando algum professor forçava que trabalhassem juntos, agora ela até direcionava comentários debochados para o loiro. Sem hesitar ou tremer na espera da retaliação. Pedia direções quando estava perdida em algum texto que liam em aula, se achava no direito de até lhe dar conselhos quando tinham treinamento de herói, mesmo sabendo que apenas receberia gritos e insultos em troca. nunca se esforçou para manter distância, mas pelo menos antes tinha bem mais instinto de autopreservação.
Então, era basicamente isso. Katsuki a odiava.
Apenas saber que em algum lugar ela estava respirando já era o suficiente para deixar o garoto irritadiço, o que diria ela ao seu lado fungando durante a aula.
- Dá pra fazer mais barulho, zero à esquerda?
demorou para responder ao rosnado, seu olhar vago gastando mais tempo que o normal para fazer o trajeto da lousa que ela não conseguia decifrar até o garoto ao seu lado, que já parecia prestes a explodir alguma coisa, talvez a sua cara.
- Que? – devolveu ela com a voz rouca e arrastada, mesmo seu tom baixo sendo o suficiente para atrair a atenção do professor. A garota murmurou um rápido pedido de desculpas e voltou a encarar seu caderno enquanto Aizawa retomava sua tarefa, mesmo não sentindo mais ser capaz de reproduzir o que via no papel. As letras tinham uma ordem lógica de escrita e aquilo deveria ser praticamente natural para seu nível de escolarização, mas seus dedos não respondiam de acordo e seu cabeça doía mais na tentativa de pensar com mais ênfase na atividade.
Ah, ela deveria ter ficado em casa.
Sua mãe tinha lhe avisado que sua aparência não era das melhores, que faltar apenas um dia não prejudicaria seu desempenho, mas ela fora teimosa. Tudo bem que um dia a menos de aula fazia muita diferença no curso de heróis, mas de nada adiantava sua presença se ali não passava de um peso morto, absorvendo o mínimo do mínimo de informações.
A Classe 1-A tinha treinamento de resgate na parte da tarde, e já se via terminando como vítima em todos os cenários mesmo que tivesse que desempenhar o papel de herói.
- ATCHIM!
O espirro alto nem foi o que mais atraiu a atenção de toda turma, mas o estalo alto de algo batendo na mesa – também conhecido como a testa de uma aluna.
Ainda com a mão tampando nariz e boca, começou seu longo pedido de desculpas. Se tivesse aberto os olhos, teria entendido que o silêncio dos colegas e do professor não como repreensão, mas sim como desconserto. Ela já estava pronta para pedir licença e mais desculpas por sentir algo na palma de sua mão, algo muito mais macio e leve do que se espera quando se escapa um espiro daquele nível.
Afastando a mão do rosto e olhando para baixo, assistiu meia dúzia de pétalas caírem sem pressa sobre seu colo e mesa.
- -chan?! – Kaminari foi o primeiro a reagir, se virando completamente para ela com uma expressão preocupada, como se a garota estivesse morrendo diante de seus olhos – Você pegou a Hanahaki?!
Um breve silêncio se seguiu, com boa parte da turma começando a rir enquanto tentava acompanhar o que acontecia.
Ao longo dos anos, algumas vezes o termo chegara a seus ouvidos, principalmente por ser uma usuária de plantas, o que ajudava em algumas piadas – como agora. No fundo, não sabia dizer ao certo qual a origem do termo, quem tinha inventado aquilo e afins. Ela só sabia que não gostava da história. Hanahaki Byou, ou a doença de Hanahaki, era uma doença fictícia popular na cultura pop, tendo origem em um amor não correspondido. Em um estágio mais ameno, a pessoa contaminada apenas cuspia pétalas, podendo chegar a cuspir até mesmo buques inteiros em um estágio mais avançado.
- Que?! N-não! – a tentativa de desmentir a suposição foi interrompida por uma leve crise de tosse, o que resultou em mais algumas pétalas saindo da boca de , para a diversão de seus colegas – Gente, para de rir!
- Se nem a consegue ser correspondida, o que será de nós, reles mortais!
- Tô falando sério! Não tem graça!
Um dos poucos que se mantiveram em silêncio foi Katsuki.
Seu olhar indecifrável não fugindo do rosto corado da garota por um segundo sequer, pelo menos até Aizawa atrair a atenção de todos já com seu usual tom cansado.
- Se estão conversando é por que já terminaram o exercício?
- Sensei, posso ir na Recovery Girl? – pediu , que até chegou a abrir a boca para responder ao professor quando questionada sobre o que tinha, sendo vencida por Ashido na velocidade.
- Ela engoliu alguma coisa – a frase quase se tornou incompreensível pelo riso mal controlado da garota, mas nada que atrapalhou a turma toda em entender a brincadeira.
- Isso foi cruel – resmungou o alvo, tentando soar mal-humorada, mas falhando tanto por continuar tossindo como pelo sorriso descrente que lhe escapava. Tinha que dar o braço a torcer que pelo menos o trocadilho tinha sido bom e rápido.
- Vai logo.
Depois da saída de – que deixou uma trilha pétalas pelo caminho –, a sala demorou pouco para voltar à normalidade, já que os brilhantes olhos vermelhos de Aizawa eram difíceis de contrariar.
não retornou por toda a manhã, e ainda ficou apenas observando na aula de heróis pela tarde, já que a Recovery Girl proibira que ela realizasse qualquer tipo de atividade pesado. Assim, a garota terminou sentada em um banco atrás de Aizawa, seu caderno no colo para eventuais anotações enquanto assistia seus colegas trabalhando. Era praticamente como brincar de ser o Midoriya por algumas horas, então a garota estava tentando aproveitar com o melhor humor possível – já que todos os remédios que tomara na enfermaria estavam surtindo efeito e ela não sentia mais que iria morrer.
A única coisa que a incomodava eram os olhares um tanto estranhos que Bakugou vez ou outra a direcionava. Desde que entraram no colegial que a convivência de entre ambos tinha melhorado muito, embora não soubesse explicar o motivo. Talvez fosse toda a sala não se intimidando pelo nível de poder e inteligência do garoto, com suas tentativas de se autodominar o melhor não sendo muito levadas a sério. Agora ele tinha muito mais gente para implicar na sala, o que dava uma considerável folga tanto para ela como para Midoriya.
O que apenas tornava mais estranho a irritação que o loiro parecia direcionar a ela naquele dia.
Será que ela tinha espirrado uma flor nele e não lembrava?
Antes que se desse conta – Aizawa disse que sua atenção estava bastante comprometida por causa dos remédios – a aula da tarde foi encerrada, e todos os alunos voltaram para os vestiários, com exceção de , que voltou para a sala para buscar seu material. Seus dedos incertos passeavam pela tela do celular enquanto ela decidia se pediria socorro para seu pai, já que ele era o único da sua dupla de responsáveis que podia sair mais cedo do trabalho e lhe dar uma carona até em casa, já que a garota não se sentia muito confortável em pegar o trem. E se ela apagasse no meio da viagem do outro lado do país? O dia seguinte era dia de aula, ela não podia ficar andando para cima e para baixo.
- Você devia quebrar a cara dele – a voz nada simpática de Bakugou que tirou de seus devaneios, bem mais baixa do que ela estava acostumada a ouvir. Sua surpresa foi maior ao se virar em direção a voz e perceber que o garoto já trajava mais uma vez seu uniforme, e que aquele corredor onde estavam não fazia parte do trajeto ideal do vestiário até a sala 1-A. Bakugou estaria procurando por ela? - Ou dela, tanto faz.
- Hm? – foi o único som que soube produzir, sua mente tendo dificuldades em acompanhar tanto seu raciocínio como o que o garoto dizia.
- Quem quer que tenha te rejeitado – continuou ele, tanto a forma como ele apertava mais as mãos fechadas em punho como sua voz se elevando sendo sinais de como ele estava perdendo a paciência. Que inferno, por que ela era assim? – Só uma retardada como você para aceitar sofrer desse jeito...
- Bakugou, eu não faço ideia do que v-v... – sequer sabia como terminaria aquela frase, mas também não agradeceu pela leve crise de tosse que lhe atingiu, já que sua garganta não ficou nada feliz com aquilo. Por causa do remédio tudo parecia estar meio anestesiado, ela só então entendendo que ele estava falando assim que sentiu a textura de uma pétala em sua boca – Hanahaki?
mal teve tempo de tentar cuspir discretamente a pétala, seu corpo logo se curvou no maior acesso de riso que teve na vida. Ela quase teve que se sentar no chão para não cair, lágrimas escapando de seus olhos enquanto segurava sua barriga que começava a ficar dolorida e tampava a boca.
- Tá rindo de quê, porra?! – grunhiu o garoto, seu rosto vermelho de vergonha mesmo sem saber o motivo do riso descontrolado de sua amiga de infância. Ela tinha que estar rindo de algo que ele tinha dito, certo? – Deixa de ser idiota!
- De repente estou achando que te julguei mal a vida inteira porque nunca pensei você fosse do tipo de acreditar em lendas criadas por otaku! – disse assim que se acalmou um pouco, mesmo não tendo parado de rir. Só depois de tossir mais algumas pétalas e enxugar o rosto que ela se recompôs melhor – Embora faça um pouco de sentido você assumir algo tão absurdo já que nunca gastou um segundo para entender como seus colegas funcionam, seja quando criança ou agora.
Para sua não surpresa, Bakugou apenas inclinou a cabeça para um lado e franziu ainda mais a testa.
- Pelo tempo que nos conhecemos, você deveria saber que minha individualidade fica fora de controle quando fico doente, ainda mais quando é algo envolvendo meus pulmões – explicou ela – Na quarta série quando eu tive pneumonia eu tossi quase um buquê inteiro no meio da aula, Katsuki. Você deveria lembrar disso, foi bem traumático para praticamente a turma inteira.
- Caralho, eu sabia disso... – resmungou ele, a compreensão aos poucos tomando seu rosto, relaxando sua expressão minimamente. não conseguiu não sorrir com aquilo. Eles não conversavam tanto mais, apenas se viam nas aulas e ocasionalmente no trem quando seus horários coincidiam, então ela via pouco seu rosto que aos poucos ia se tornando mais maduro, quem diria então sua expressão irritada de praxe bem mais suavizada.
Ela sentia falta disso e nem tinha se dado conta até então.
- Kacchan?
- Hm?
- Obrigada – disse ela com um sorriso educado, seu rosto esquentando um pouco quando mais uma vez Bakugou prestava atenção nela – De alguma forma bem destorcida você estava se preocupando comigo, ou apenas achou mais um jeito de me chamar de retardada, mas eu prefiro a primeira versão.
- Cala a boca e morre de uma vez – bufou em resposta, chutando o ar e esfiando as mãos nos bolsos das calças folgadas, retomando sua postura revoltada – Tô pouco me fodendo sobre o que você faz ou deixa de fazer, figurante de merd... Para de sorrir, caralho!
- Você tem uma... Hm... – esticou a mão e pegou uma pétala graças a Deus não tivera origem nela e sim de uma das árvores do campus e voara pela janela aberta ao lado e ficara grudada na pele da bochecha do garoto. Bakugou não pareceu ter notado a pétala ou não achara importante lhe dar atenção, mas a garota se aproximando do nada definitivamente o deixou desconsertado, ainda mais quando ela lhe mostrou um sorriso que ele se lembrava muito bem, de quando estava prestes a pregar uma peça em alguém – Ainda bem que nenhum de nós acredita na Hanahaki, né? Embora eu tenha quase certeza que o destemido Katsuki Bakugou nunca engoliria seus sentimentos por alguém, não?
já podia ouvir os estalos das explosões das mãos do garoto, mas a expressão de completa e total ofensa no rosto de Bakugou foi impagável. Foi entre o queixo caído e o rosto se tornando vermelho de raiva que a garota optou por começar a correr, seu ritmo sendo bastante inconstante graças ao seu riso alto e ocasionais tosses, o que deixou um pequeno rastro de pétalas pelo corredor da escola.
- Se eu te pegar você já era, vadia!
E estava certa, afinal.
Katsuki não engoliria sentimentos.
Mas isso não quer dizer que ele não cultivaria alguns, e talvez depois esfregasse na cara de alguém.
Fim
Nota da autora: Sim, eu sou doente e sem controle. Sim, cheguei com short porque não ter mais condições físicas e psicológicas de chegar com long até pelo menos 2020 (eu me formo mas não finalizo as fics, deus é mais). Só que nem isso me impede de espalhar meu amor por esse menino com quem queria sair no soco e abraçar depois e quem sabe mais uns socos em seguida.