Última atualização: 12/06/2018

Mais Pura Borgonha


Do alto do Battistero di San Giovanni, os olhos de vasculharam a multidão caminhando pela Piazza Duomo, praticamente o centro gravitacional de Florença. Homens e Mulheres de todas as alturas, formas e idades, passeavam por dentro e por fora das Catedrais, apreciando o trabalho dos grandes artistas.
se recordava, e com muita brandura, de épocas como a que a terceira maior Igreja do mundo, a Cattedrale Santa Maria Del Fiore, fora confeccionada. Força de expressão, claro, quando ele pensava no termo “épocas” já que sua construção demorara nada menos do que cento e cinquenta anos.

Porém, para um anjo a serviço do Equilíbrio do Universo, o que era o tempo, senão um mero ponto de vista?

Naquele momento, suas atribuições não se resumiam, mas transcendiam, ao iluminar da mente dos grandes mestres, em muitos pontos do mundo. Aí era quando se aproximava ao máximo do sentimento que os humanos denominavam como felicidade. Somente um toque seu na mente de Filippo Brunelleschi, já resultara naquela construção monumental, que passou de mera idealização à concretização exatamente como era esperado.
O que não fora previsto pelo anjo, porém, e nem mesmo por seu Arcanjo superior, foram os afrescos de Zuccari e Vasari, assim como os magníficos vitrais de Donatello, Andrea del Castagno e Paolo Ucello que foram expostos no interior da igreja. Os humanos intrigavam muito a por essa habilidade única de inspiração a partir um do outro. Se não se preocupassem tanto com as vontades de posse ou seus desejos de dominação, estariam em um patamar civilizatório muito mais avançado. Para isso bastaria cessarem a guerra e passarem mais de seu tempo, tão finito e precioso, aprendendo uns com os outros.
Mas com o foco do Homem sendo deslocado da arte para outras finalidades, começara a dedicar sua existência imortal a corrigir pequenos desvios de caminho, que pudessem causar o chamado Efeito Borboleta. Podia ser algo simples como lembrar uma mãe de mandar lanche para seu filho, ou fazer o cachorrinho de uma criança se perder.
Naquela tarde nublada em especial, se tratava de salvar a vida de um alvo. Ou melhor, de uma jovem mulher humana. Avistá-la não lhe custara mais do que alguns minutos, mesmo em meio a toda a multidão circulante. brincava com seus sobrinhos, acompanhando sua irmã até um restaurante nas proximidades, o qual o marido - desta última - possuía. As duas crianças arruaceiras clamavam a atenção, mesmo que momentânea, de qualquer um que passasse próximo a elas, tornando impossível perde-los, enquanto sobrevoava o pequeno trajeto realizado até a Maison Agostini.
O estabelecimento era relativamente novo nas mãos de seu dono, mas como a maioria das coisas em Florença, ou na Itália como um todo, já havia sido posse de muitos outros antes do próprio Giordano Agostini.
- , querida! – Exclamou a caixa, correndo detrás do balcão para abraçar sua amiga de longa data. – Como foi sua viagem?
- Cansativa... – Suspirou, . – Estou muito aliviada por estar de volta!
A amiga, Patricia, sorriu diante da resposta. observava de longe, aguardando seu momento de interferir no evento singular que fosse dar causa a acontecimentos posteriormente catastróficos. Seu alvo, então, foi cumprimentar o cunhado, e depois de almoçar com sua irmã, Francesca, e auxiliar um pouco na cozinha, disse adeus a seus parentes e a Patricia, partindo com a mochila pendurada frouxamente no ombro.
O anjo seguiu-a, sorrindo com seus assobios de La Vie en Rose. Pelo que observara na última semana, a mulher não levava uma vida muito agitada. Sua tranquilidade era um contraste escancarado com o estresse, que já notara tantos humanos carregarem consigo.
estava extasiado com a possibilidade de ver a mulher de perto pela primeira vez. Caminhava na rua, agora visível ao olhar humano, exceto por suas asas, que se estendiam gloriosamente a partir de suas escápulas. Manteve-se imperturbável quando começou a chover, antevendo o temporal que se formaria naquela tarde. As gotas de água choradas pelo céu nunca se chocavam contra sua pele, escorrendo a alguns poucos centímetros de distância de seu corpo.
A mulher vasculhou em sua bolsa pelo guarda chuva amarelo, que o anjo já havia cuidado de fazer sumir com a ajuda de um dos filhos de Francesca, a pequena Sadie. Em seus cinco anos, a menina realizara o pedido de prontamente, enquanto Dante, de seis, fingira não vê-lo, para que sua irmãzinha o enxergasse como mais velho. Não seria enganado pelos tais “amigos imaginários” de Sadie.
Surpreendendo o anjo mais uma vez, a mulher sorriu e parou olhando para o céu, desistindo de procurar pelo aparato engenhoso. alcançou sua mente, curioso para saber o que pensava .


Malditos pestinhas! Vou seriamente considerar castigar Dante ou Sadie depois dessa! Humm, ainda bem que minha blusa não é branca. Talvez eu devesse agradecer por essa chuva, afinal. Tão boa... Uma pena que tenhamos criado o guarda-chuva... Só lamento por minha sandália ser aberta. Isso sim é irritante.

Ao ouvi-la descrevendo mentalmente a sensação da chuva em sua pele, em contraste com o praguejar sobre seus pés encharcados, resolvera tentar experimentar a mesma. Enquanto ela voltava a caminhar até seu carro, dois quarteirões acima, ele deixou cair por terra aquela barreira impermeável que criara.
Primeiro, o vento frio arrepiou sua pele, deslizando por ela em um gostoso vai e vêm, varrendo seus cabelos como uma sinfonia dissonante. Gotículas do líquido transparente que despencava dos céus, golpeavam seu peito, cabeça e ombros, como se fosse uma leve massagem, e suas vestes começavam a grudar e pesar em seu corpo, que fora ligeiramente modificado para se assemelhar mais ao dos humanos.
O anjo sorriu por uns segundos, fechando novamente suas barreiras e levantando voo para seguir , que já em seu carro, acelerava em direção a sua casa. concentrou-se novamente em sua missão, voltando à seriedade habitual. O Fiat 500 Vermelho zig-zagueava pelas pistas, virando algumas curvas antes de, enfim, chegar à ponte sob o Rio Arno.
Fora ao tentar ultrapassar um carro mais lento, que o pneu do veículo arrebentou, derrapando na pista até o carro que vinha na contramão. Frear no asfalto escorregadio pela chuva era inútil, e a colisão de ambos os automóveis foi inevitável. Porém, enquanto o carro do homem conseguiu parar uns metros no sentido contrário, que antes seguia, o de desviou seu curso até a beirada da ponte, quebrando de vez o vidro frontal.
A mulher sobreviveria com apenas alguns cortes, não fosse outro carro que vinha acelerado, com um motorista altamente embriagado. A batida empurrou bruscamente o carro de mais em direção à beirada da ponte. A humana, que já havia retirado seu cinto de segurança, foi lançada para fora do carro, caindo no abismo das águas revoltosas do Rio Arno.
Imediatamente o anjo mergulhou dos céus para salvá-la do impacto. Porém, não conseguiu alcança-la a tempo, somente dando conta de estimular sua mente, de forma que mesmo no desespero, a mulher adotasse uma posição menos danosa ao mergulho.
Penetrou as águas atrás dela encontrando seu corpo desacordado, felizmente, pelo excesso de adrenalina em seu corpo. Isso foi capaz de acelerar seu coração até desmaia-la, antes da dor propriamente dita, abatê-lo. Puxou-lhe consigo, preocupando-se de que não fosse seguro deixa-la à margem do rio e simplesmente partir, como era planejado.
deitou-a no chão molhado, ajoelhando-se para encostar sua testa na da mulher e acordá-la. E assim que esta obedeceu ao comando soprado em sua mente, sentindo-se dolorida e desorientada... Ah, foi aí que ela abriu os olhos.

E foi aquele movimento, aparentemente inocente, um mero descerrar de pálpebras, que fez com que o anjo sucumbisse. Ele não sabia à época, mas alguns anjos simplesmente estão destinados a cair.

Do mais puro tom de Borgonha, aqueles dois cristais que o fitaram confusamente, permissivos e lenientes, deram à acesso à essência de . Enquanto ela lutava, tossindo pela água em seus pulmões - mesmo não tendo ficado submersa por tempo o suficiente para um afogamento em si - perdia-se nas profundezas do todo que a definia.
Os contornos da personalidade de , seus defeitos, o enigma de sua mente. Através daquelas íris podia enxergar uma alma das mais puras. Brilhando mais do que o próprio sol, quentes e aconchegantes, os olhos de o mantiveram cativo. Voluntaria-se com muito prazer para servir eternamente à dona daqueles cristais, se somente, esta lhe desse a chance.
A mulher o fitava de volta com intensidade, recuperada do estranhamento inicial. E estava tão concentrado na nova sensação pela qual fora arrebatado, que mal registrara o mover daqueles lábios pintados de vinho. Assustou-se com o franzir da testa, acompanhada pelas pesadas sobrancelhas que emolduravam as duas redondas razões de sua absoluta perdição.
- Está tudo bem? – Repetiu sua pergunta, com um sorriso gentil.
O anjo teve de se conter para não soprar a resposta diretamente na mente da mulher, tentando acostumar-se com a estranha sensação de formar palavras com o aparato da língua, os lábios e a boca humana, naquele sistema complexo de sons codificados que haviam criado.
- Sim. – Murmurou, começando, cautelosamente, por um monossílabo. –Estou bem. – Completou, sem desviar os olhos dos dela. – Mas é com você que estou preocupado.
limpou sua garganta, confusa. Sentou-se, com a ajuda do desconhecido, olhando ao redor e percebendo o som de uma ambulância e um caminhão de bombeiros se aproximando, em um profuso confundir de sirenes que fez doer sua cabeça. Levou a mão à boca, assustada ao ver seu carro pendendo da ponte e abraçou-se protetoramente, logo depois.
- Você me salvou? – Perguntou, olhando para seu colo. – Obrigada, eu...
- Não precisa agradecer. – Piscou ele.
- Você é meu anjo da guarda. – Disse ela, sem perceber a tensão momentânea do homem com aquela afirmação. – E eu devo sim agradecer. – Proferiu, com determinação e finalismo.
Levantou o olhar novamente até o anjo, que nunca retirara seus olhos dela. Nem por um segundo. Talvez devesse estar assustada com a presença do estranho que aparentemente salvara sua vida, mas que a fitava com tanta intensidade. Porém, era como se a presença dele ali a acalmasse e pusesse seu coração finalmente em paz.
Há vezes em que é possível se notar quando uma pessoa é falsa, desleal ou má. O mesmo vale para alguém original e de bom coração. Sabe aquelas pessoas que são tão diferentes que despertam uma vontade intensa de aprendermos mais sobre elas e seu modo de agir? Era aquilo que ela sentia perto do anjo. Ele parecia ser especial de uma forma indescritível, e foi isso que a impulsionou a proferir suas próximas palavras.
A ambulância já lhes havia alcançado, e parecia que o homem estava quase indo embora, mas ela não pôde permiti-lo.
- Espera! – Berrou , da maca em que os paramédicos haviam trazido para leva-la. – Venha comigo! Pode ter se machucado também.
Ele sorriu para ela, mergulhando uma última vez na profundeza seus olhos, e partiu, sem dizer uma única palavra.


Farfalhar de Asas


Deixar fora uma das tarefas mais árduas de sua existência, mas sabia que precisava ser feito. Tão logo saiu de sua linha de visão, voltou a sua forma iluminada e voou até o terraço do hospital, onde sabia que levariam a mulher. De lá, contataria Gabreel, para que lhe fosse designada sua próxima missão. Já havia errado muito naquela, mas esperava reparar seus erros na seguinte.
Sentou-se no chão de cimento, guardando suas asas e abaixou a cabeça, unindo suas mãos como em oração. Somente ergueu-se novamente e abriu seus olhos, ao ouvir o farfalhar característico das asas de seu mestre. Cada anjo possuía um diferente, assim como as penas, que por si só eram diversas de acordo com as funções de cada um deles. O som dos Arcanjos era dos mais belos, e nunca se cansaria de ouvi-lo.
- . – Disse seu mestre, aterrissando à sua frente.
O Arcanjo e ele tinham uma relação fraterna muito próxima, o que fora a razão, em primeiro lugar, para que fosse designado a orientar .
- Gabreel. – Cumprimentou, aguardando que o homem à sua frente desfizesse sua estranha expressão de tristeza.
- O que houve Arcanjo superior? Sei que não consegui salvá-la exatamente da forma como me havia sido designado, mas ela ainda está viva.
- , o que eu tentei lhe ensinar todos esses anos...? – Suspirou Gabreel. – Não é sobre o que ocorre. Nunca é realmente. Mas sim, sobre como ocorre. – Repetiu frustrado, o que tantas vezes já havia dito a seu pupilo.
- Por que? O que diz o Plano do Universo? Ela terá de morrer?
- Não. – Replicou o Arcanjo, permitindo que amenizasse sua face, que havia se franzido. – Não é sobre ela, . É você. Eu avisei para não se envolver com eles.
- Do que está falando?! Eu a salvei e esperei até a ambulância chegar! O que tem de errado nisso?
- Você mudou o Plano, . – Cortou Gabreel, vendo o anjo recuar após entender a situação. – Não deveria ter ficado tão próximo à humana. Somente temos o contato estritamente necessário às missões. Você sabe o que acontece quando nossas leis são quebradas. Eu não tenho outra escolha. – Arquejou Gabreel, olhando para o céu e começando o ritual de banimento: - Destruo. – Sussurrou, como em uma oração.
se encolheu de dor, balançando a cabeça em negação.
- Abrado. – Murmurou o Arcanjo. - Finis. – Continuou, ignorando as súplicas e os gemidos de .
- Por favor... – Disse , com lágrimas escorrendo de seus olhos, e ajoelhado no úmido chão de cimento.
- Relegare Caelum. – Disse Gabreel, imperturbável.
- Eu... - Entoou, tossindo sangue. - Não...
- Volvere Modus Primordiales. – Continuou o Arcanjo, mas dessa vez mais alto e com os olhos cerrados em concentração. - Ala Exitus. – Terminou, lançando um último olhar triste para .
ergueu-se tentando abrir suas asas e voar daquele telhado, fugir da dor profunda, que nunca antes havia experimentado igual. Porém, ao contrario de como quando as havia recebido, séculos atrás, suas asas começaram a se desfazer em luz pura. Gabreel observou a queda do anjo, murmurando em sua mente, antes que este colidisse contra o asfalto e desmaiasse.

Não tema, criança. Alguns anjos estão destinados a cair. Sinto muito que seja um deles, mas tudo irá se encaixar. De uma forma ou de outra.


Um Ato de Bondade


- Fique à vontade... – Disse , deixando que seu anjo da guarda entrasse no seu apartamento.
A mulher havia acabado de sair do hospital, após uma longa discussão com os médicos de que estava mais do que bem, e não precisaria de mais testes coisa nenhuma. Eles a fizeram assinar um termo de responsabilidade por estar saindo contra recomendações médicas, mas ela estava decidida a não passar nem mais um segundo naquele ambiente que tanto odiava.
Seus pais haviam falecido exatamente naquele hospital, coincidentemente por uma batida de carro, na qual, nem ela nem a irmã estavam presentes. Mas fora extremamente difícil para elas superar essa perda, principalmente para Francesca, a mais velha. Francis ainda tinha pesadelos com a noite em que haviam sido chamadas ao hospital pelas más notícias. Já , apesar de ter entristecido, havia conseguido direcionar sua dor através de sua crença em algo maior no Universo. Se a hora de seus pais havia chegado, ao menos haviam ido juntos. Não imaginava um mundo em que a mãe delas, Genevieve, viveria sem Benevolio, e vice versa.
Também fora por sua fé, de que tudo acontece por um motivo, que ao esbarrar com o corpo de seu salvador, caído no chão, desacordado, esta insistira para que fosse checado no hospital. Ao contrário de como fizera consigo mesma, a mulher lhe fez passar por todo tipo de exame e ainda sugeriu alguns. Os médicos a olhavam com uma hilária careta de descrença por sua incoerência. Ou ao menos ela via graça, como comentara com o desconhecido.
Quando lhe perguntou para onde iria e ele lhe havia contado uma história sobre como viera à Florença para um enterro, com nada mais que uma mala, e que havia sido roubado ali, na porta do hospital, ela não se conteve senão acolhê-lo em sua própria casa.
Era arriscado? Era.
Potencialmente poderia ser morta, furtada ou algo pior? Podia.
Sabia de todas essas reservas a acolher um desconhecido, as quais sua irmã certamente faria questão de berrar em seu ouvido assim que descobrisse. Mas não temia àquele homem misterioso. Somente pudera sentir pena da dor pela qual parecia estar passando, provavelmente por causa do seu ente querido que falecera, o que lhe trouxe à cidade.
aceitou prontamente a ajuda de seu alvo, sem ter mais para onde ir. Não havia exatamente um protocolo para aquele tipo de situação. Somente sabia que havia voltado à sua forma humana de modo permanente e perdido suas asas.
fora convertido no Século X a.c., portanto não fazia mais a menor ideia do que significava ser um Homem. Se tornar um anjo fora uma escolha de que nunca se arrependeria. Morrera Jovem, em seus vinte e sete anos, e como passara sua vida dedicada ao bem, fora lhe dada uma escolha às portas de seu falecimento. Adquirira, então, uma nova forma, com suas asas e poderes, além da imortalidade vagando pela Terra e tendo certeza de que os Planos do Universo seriam seguidos.
Mas agora nada disso importava, já que tudo o que conhecia se fora.
- Desculpe-me, não peguei seu nome. – Disse , com um olhar divertido, entregando-lhe um copo de água e sentando a seu lado no sofá.
- Me chamo . E a senhorita...
- . – Replicou, corando ao notar a fofa expressão confusa do homem. – é meu nome.
O anjo, agora humano assentiu, olhando para o copo que lhe fora entregue. Franziu o cenho, imitando o que já vira essa espécie fazendo milhares de vezes, mas acabou engasgando. Sua garganta estava desacostumada com aquele líquido estranho que somente sabia se chamar de água. Podia já ter bebido há séculos, literalmente séculos, atrás. Porém, o gosto daquilo deveria ter mudado muito de quando ainda precisava bebê-la para manter-se “vivo”.
Tossiu, encolhendo-se com as batidinhas que lhe dera nas costas. O que fizera de errado?
- Perdão ... Se eu a ofendi de alguma forma...
A mulher olhou-lhe em confusão, e o homem começou a sentir-se um idiota.
- Eu posso ir... Quer dizer, foi muito gentil de sua parte, mas...
As gargalhadas de o fizeram relaxar e abrir um amplo sorriso, instantaneamente.
- Seu riso é angelical. – Observou ele, admirado.
- Oh, bem... – Riu. – Não acho que...
- Acredite. - Piscou ele. – Eu sei dizer o que é angelical ou não.
- Nesse caso, muito obrigada . – Respondeu, com um sorriso tão bonito e sincero que aqueceu seu coração adormecido.
Fitaram-se, sem palavras por alguns instantes. Ambos estavam muito conscientes da proximidade em que se encontravam e da química que possuíam. Ao menos a mulher estava, surpreendendo-se com a conexão que aparentava ter com um estranho, maior do que já tivera com qualquer outro. Não que houvesse sido muito namoradeira, mas não havia comparação à . Ela corou, se perguntando como seria beijar aquela boca que parecia ter sido esculpida por um anjo.
Já o homem não pensava muito além dos olhos Borgonha de . Tinha certeza de que fora a armadilha daquelas profundezas castanho-arroxeadas que motivaram sua queda. A questão que lhe assustava era o conforto que sentia ao estar perto dela, tão próximo de ter tido tudo o que conhecia retirado dele.
Odiara mentir para ela, mas fora necessário. Também não era exatamente uma mentira, já que realmente fora à cidade por ser um anjo, e lá, perdera sua forma angelical para sempre. Começou a sentir um queimar e uma inquietação incomuns, em seu peito. Percebeu que era por estar prendendo a respiração.
Jesus! Nem mais respirar eu sei! Pensou, soltando o ar e inspirando até pegar um ritmo regular e acostumar-se com a sensação.
- Er... Bem. Boa noite. – Replicou , se afastando, como se ficar perto dele fosse desconcertante.
E era. Os pensamentos que ela tivera naqueles últimos segundos, ao acompanhar o subir e descer do peito esculpido de ... não queria assustá-lo, nem continuar surpreendendo a si mesma.
Portanto, retirou-se com mais algumas poucas palavras, somente para situá-lo na casa e correu até seu quarto, virando o trinco. Podia ser louca, mas não completamente.


Waffle ou Wafflow?


No dia seguinte, ela observava brincando com sua comida, enquanto ria da cara dele. As coisas que teve que explicar ao homem, já àquela hora da manhã... O parecia um bebê, mas não estava se incomodando nem um pouco em ajuda-lo. Principalmente se isso envolvesse tocá-lo ou segurar sua mão.
O antigo anjo estava extremamente constrangido e a cada mancada que dava, ficava ainda mais sem graça, apesar da mulher não parecer se importar. Relembrando-se do que ocorrera mais cedo, ele corou, mexendo em seu Waffle. Ou seria Wafflow? Em sua época aquela delícia não existia!
Naquela manhã, após tomar seu próprio banho, ela lhe mostrara onde ficava o banheiro e onde girar para a água sair quente. Sem saber muito o que fazer, o ex-anjo entrou no box com toda sua roupa e ligou a ducha, berrando com a pancada gelada que lhe abateu. Retirou a ducha de onde estava pendurada para servir de chuveiro, tentando sem êxito - conter a água.
A mulher espiou para dentro do banheiro, preocupada com o barulho, perguntando a ele se estava tudo bem. Mas ao notar um filete de água indo em direção a seu espelho, escancarou a porta, sendo a vítima do próximo jato d’água.
O homem, desesperado, tentou desligar o chuveiro, mas somente aumentou a potência dos espirros, misturando a agua fria com a quente.
- ! – Berrou ela, correndo até ele e desligando o chuveiro. – Até parece que você nunca tomou banho, eu hein.
- Desculpe-me , eu realmente... Me desculpe, por favor! Eu posso ir embora agora mesmo! – Rebateu, em um tom tão culpado, que a mulher desmanchou em risos, aumentando de intensidade ao notar seu próprio estado encharcado.
- Vem logo, bebezão. Vamos te secar. – Disse ela, levando-lhe para sentar na tampa do vaso. – Fique aí e não mexa em nada!
- Sim senhora! – Respondeu, mantendo as mãos erguidas.
Quando ela voltou ao banheiro, minutos depois e percebeu que o homem estava na mesma posição de antes, teve que segurar sua risada para não chorar pela personalidade divertida de . Mal sabia , que ele não estava muito acostumado com expressões subjetivas, seguindo literalmente tudo o que ela dizia.
foi até ele com uma toalha e secou o cabelo do homem, sorrindo para a carinha fofa de criança que ele fazia. Observou a face de olhos cerrados de , e aproveitou para bagunçar seus cabelos com a mão, somente para sentir como seria deslizar os dedos pelos fios sedosos dele.
- Posso abrir os olhos? – Perguntou , espiando com um deles, como um pirata.
- Pode, querido. – Respondeu, docemente. - Sobre suas roupas, não tem muito mais que eu possa fazer.
- Er... É uma pena que os ladrões que me empurraram no chão à porta do hospital também roubaram minha mala. – Replicou, com um sorriso amarelo.
Mesmo não comprando a história do homem em nada, ela resolveu dar-lhe o benefício da dúvida. Mas a cada vez que ele a recontava, ficava ainda mais desconfiada.
- Não se preocupe com isso. O marido de minha irmã deve vestir mais ou menos o mesmo que você. Depois que tomarmos café da manhã, irei pedir a ele para emprestar-lhe algumas mudas.
- Não poderia aceitar, !
- Aceite, homem! Além do mais, não é como se você tivesse muitas opções além de andar pelado por toda Florença. E olha, está frio lá fora. Eu, por certo, não recomendaria. – Riu.
- Tem razão. - Suspirou, balançando sua cabeça. – É que você está fazendo tanto por mim, e eu queria te pagar de alguma form...
- Não diga isso! Você salvou a minha vida! – Disse, sentindo seus olhos pinicarem com lágrimas não derramadas, pelo susto e o medo que sentira no dia anterior. – Eu podia ter morrido! – Completou. – Eu poderia ter morrido. – Repetiu, sussurrando, dessa vez.
- Não fique assim. – Disse ele, sentindo uma dor em seu coração por conta da tristeza da mulher. – Vêm cá! – Falou, abrindo os braços, agora também com os olhos úmidos, mas dessa vez por conta de sua própria dor.
Abraçaram-se apertado e ele repousou o queixo no topo da cabeça dela, suspirando. Ficaram naquela mesma posição por um tempo mais longo do que o normal. Só depois, que foram tomar café da manhã esperando o cunhado de chegar.
E agora se encaravam, sentados nas banquetas - frente a frente - não ligando tanto para a comida. Dessa forma, no minuto em que a campainha soou, ainda trocavam olhadelas furtivas - que de furtivas mesmo, não tinham nada.
- Que estranho, - Disse a mulher, franzindo a testa. – Ainda não liguei para o Giordano...
olhou através do olho mágico e seu coração acelerou-se ao ver sua irmã, do outro lado. Respirou fundo, e puxou , apertando seu braço um pouco mais do que o necessário.
- , fica frio. Respira, ok? Tudo vai dar certo.
- Frio? Como assim? – Perguntou franzindo o cenho em confusão.
- Tranquilo, ! – Berrou, com um olhar irritado para a calma do homem. - Por que tá tão calmo? Tô ficando nervosa por sua causa! – Continuou, fazendo com que ele levantasse uma sobrancelha em surpresa. – E para de me olhar assim!
O homem riu, puxando a mulher para um abraço e esperando que ela parasse com seu mini-ataque de pânico. Ele não entendia o motivo, mas fez o que percebera funcionar mais cedo. Instantaneamente ela relaxou em seus braços, suspirando, até finalmente se desvencilhar e resolver encarar a razão de sua inquietação.
E em um estalar de dedos, entrou em seu modo protetor, mantendo-se alerta atrás de . Ser cauteloso sempre era o melhor a se fazer. Esta abriu a porta do apartamento, dando de cara com sua irmã, o marido e seus dois filhos.
- Francesca! Que surpresa! – Trocou beijinhos e foi abraçar o cunhado. – Giordano, já ia ligar para você!
- Como surpresa, louca?! Você ia cuidar do Dante e da Sadie para mim, lembra? Dia dos namorados e tudo mais... tem um homem no seu apartamento! – Replicou a mulher, notando, surpresa, o homem que espiava a cena de dentro do apartamento.
- Oh, Deus! Me esqueci do combinado. – Disse , levando a mão à testa e olhando furtivamente para trás, onde se encontrava. – Tem sim, né?! Er... Esse é...
- Sou . – Falou, tomando a frente. – Muito prazer, senhorita!
- Encantada! – Respondeu a irmã, sorrindo. – Onde conheceu a ? Merda. Pensou a mais nova.
- Ah, pessoalmente acho que foi debaixo da ponte do Rio Arno... – Disse , pensativo.
levou a mão à testa, revirando os olhos. Lá se fora a possibilidade de não ser assassinado por sua irmã. Tudo estava indo bem demais para ser verdade.
- Ah, ok. Ô , vem aqui fora um segundinho, por favor?
- Você não está com pressa, maninha? Giordano deve estar louco para te levar logo. – Falou ela, abrindo um sorriso amarelo e ignorando o gesticular do cunhado para deixa-lo fora dessa.
- Tenho certeza que ele vai sobreviver. Gio, vai fazer companhia para o por um segundo, ok? – Pediu Francis. Ou melhor, ordenou.
- Claro, querida! – Murmurou, obedecendo, levando consigo as crianças e a mala que levaria para a viagem romântica.
Quando sobraram somente as irmãs no corredor, Francesca cruzou os braços e começou a bater o pé.
- E então?!
- O que?
- Não vai me explicar que merda é essa? O que esse estranho está fazendo no seu apartamento, ?!
- Ele salvou minha vida, Francis.
- COMO ASSIM?
- Eu meio que estive em um acidente de carro e ele me retirou do Rio Arno. Eu teria me afogado se ele não estivesse no momento certo, no lugar certo... Ele não tinha para onde ir, foi roubado e... Eu não podia deixa-lo depois disso, entende?
A expressão de Francesca suavizou um pouco, transmutando a raiva para somente preocupação.
- Querida, eu entendo que se sinta em débito com ele, mas não dá para trazer qualquer um para dentro de sua casa, entende? Nem acredito que nessa idade estou tendo de te dizer isso.
- Agora já foi, o conheci e se você lhe desse uma chance veria como é uma pessoa legal!
Francis suspirou, coçando sua nuca.
- Não sei, . – Balançou a cabeça. – Eu vou deixar meus filhos aqui, você tem certeza sobre o cara?
- Sim. – Replicou sem hesitar.
Se houvesse pensado por um milissegundo, Francis já desconfiaria. Porém, sabia melhor. Algo sobre a deixava em paz. Se quisesse roubá-la ou pior, teria tentado algo na noite anterior, mas sua ficha continuou limpa.
- Aaarg! Ok, então. Qualquer coisa me liga. Estarei com o celular a meu lado todas as horas!
Ambas foram entrando no apartamento, e revirou os olhos para a mais velha.
- Francesca, vai aproveitar o dia dos namorados com seu marido, vai. Eu cuido de tudo aqui. – Começou, mas parou ao ver a cena que se passava em sua sala. – E olha como ele se dá bem com as crianças!
Francesca desviou o olhar para a cena de Sadie e conversando e rindo, enquanto montavam uma cidade com os bloquinhos que a criança trouxera. Enquanto isso, Dante encarava , incrédulo, como se estivesse vendo um fantasma.
- Tá certo. – Suspirou. E aumentou o tom de voz. – Vamos Giordano!
Antes do casal se retirar, suplicou que Giordano deixasse uma muda de roupa para . Seu argumento foi tão convincente que Gio deixou até duas. No fim de semana eles não iam precisar de muita roupa, mesmo...
A mulher e o antigo anjo passaram mais um tempinho brincando com as crianças, até decidirem passear no parque ali perto. gargalhava para as expressões assustadas de Dante. Mas este foi amolecendo aos poucos ao observar enquanto tagarelava altos papos com Sadie.
- Olha, olha, tio ! Um passalinho! – Exclamou Sadie, correndo atrás das pobre ave.
- Estou vendo, princesinha. - Replicou, sorrindo para .
Ele e a mulher caminhavam lado a lado, com somente Dante - de mão dada com cada um deles - os separando. De tempos em tempos, ambos puxavam as mãos do pestinha, o levando aos ares, flutuando sobre o chão. As risadinhas que o garoto dava eram contagiantes e quando passaram pelo jardim do parque até a área dos brinquedos, as duas crianças saíram correndo até a fonte de sua diversão.
e a mulher sorriram um para o outro, o homem estendeu o braço para ela e ambos continuaram a caminhar, rodeando o parquinho. Um olho ficava nas crianças e o outro no que faziam.
- , posso perguntar algo a você?
- Claro. – Disse ela, ajeitando seu cabelo para detrás da orelha.
- Qual o significado do dia dos namorados?
A mulher arquejou, e franziu o cenho, confusa.
- Que tipo de pergunta é essa? Quer dizer, você sabe... Tem dia dos namorados em todos os lugares do mundo, não é?
O homem corou, percebendo seu deslize.
- É que de onde eu venho... – Do céu. – Não temos um costume tão forte de celebrá-lo como aqui.
Ambos pararam, perto de um carvalho, sentando-se à sua sombra, ainda próximos ao parque. A mulher espiou as crianças, relaxando ao perceber Dante subindo e descendo no escorrega em um eterno loop e Sadie fazendo castelos de areia com o baldinho pequeno que trouxera na mochilinha.
- Eu suponho que seja sobre celebrar o amor. Claro que tem toda uma variedade de pessoas que pensam ser sobre capitalismo e para vender mais chocolates e flores. Mas acredito que a única razão desses produtos saírem é em razão da afeição existir em primeiro lugar. Poxa, se gosta de alguém encontrará alguma forma de presenteá-lo seja por meio de flores ou qualquer gesto de seu coração.
assentiu, admirando a forma como o sol deixava os olhos da mulher ainda mais brilhantes. O desespero lhe abateu, ao perceber que alguma hora teria que deixa-la. Não se aproveitaria da boa vontade da moça eternamente. Precisaria recomeçar sua vida, e talvez a própria Florença fosse um ótimo lugar para fazê-lo.
A mulher o flagrou encarando-a e sorriu, aproximando-se dele.
- Posso tentar uma coisa? – Perguntou, analisando a face do homem de perto.
- Sim. – Assentiu, sem ter ideia do que se tratava.
- Feche os olhos. – Disse, rindo com a obediência quase instantânea de .
O homem então sentiu o nariz dela encostando no seu e a inspiração profunda da mulher.
- Pode abrir. – Replicou, lhe assustando com a proximidade de seus lábios.
- Está sentindo isso? – Perguntou, aproximando-se um pouco mais, acariciando a face dele.
- O que quer dizer?
- Minha respiração, tão próxima à sua. Meus lábios, tão próximos aos seus. A intensidade fluindo de meus olhos para os seus e de volta. Voc...
- Sinto. – Cortou ele, sussurrando.
- Ah, não há nada como a iminência, . Aquele momento em que estamos no quase. O instante do prestes a beijar. – Inspirou fundo. – Somente não supera o beijo em si, mas torna tudo tão mais doce...
Ficaram daquela forma por alguns segundos, mas quando estavam prestes a selar o ato de vez, foram interrompidos por um gritinho de Sadie, enquanto ela e o irmão corriam até eles.
- Tio ! Cê namola a tia?
- Claro que não, pequena Sadie. – Rebateu, Dante, revirando os olhos para a irmã. – Um beijo não quer dizer que tão namorando.
Se os adultos já estavam quase rindo com as especulações da pequena, não aguentaram e gargalharam com o sobrinho de , metido a mais velho e perito nos relacionamentos modernos.
- Vamos parar de embaraçar a titia na frente de um convidado e vamos comprar um sorvete, pequenos. – Rebateu , erguendo-se do chão e batendo uma palma. – Daqui a pouco vamos voltar para o apartamento e vocês podem ver um filme depois do jantar.
- Vete vetee! - Bradou Sadie, fazendo a dancinha comemorativa mais fofa que já havia visto.
- Quero de pistache com calda de caramelo e castanhas! – Exclamou Dante, caminhando atrás do grupo com os braços abertos como um avião.
Aquela criança certamente tinha gostos peculiares.


Epílogo


Mais tarde, foi andando, de fininho, abrir a porta do apartamento, para . As crianças haviam caído no sono na metade do filme Monstros S.A. Mas também, após tanta agitação e passado o efeito do açúcar, não era para menos.
Surpreendeu-se ao não ver a face de , que havia clamado dar uma saída rápida, após o jantar. Na verdade deu de cara com um bouquet de tulipas brancas tão belas e suntuosas que cobriam o rosto do homem. Ela somente sabia se tratar de pelas roupas que usava - claramente de Giordano, conhecido por suas camisas de dizeres engraçados.
- ? O que é isto?
- Flores ! – Disse, sorridente, com a face surgindo a seu lado após entregar-lhe o bouquet.
- Isso estou vendo, bobinho! Mas por que você compr... Pera, como você pagou por elas? Devem ter custado uma fortuna!
- Eu só... – Começou, sendo interrompido por um Shh da mulher.
entrou em casa, puxando até seu quarto para não acabarem acordando as crianças. Deus sabe o que levaria para fazê-los dormir novamente depois disso. fechou a porta e voltou-se para ele, depositando as belas flores em sua cama com cuidado.
- E então? – Perguntou, levantando a sobrancelha e gesticulando para as flores.
- Você não me disse que quando se gosta de alguém deve-se encontrar uma forma de presenteá-la?
fitou-lhe, suas faces suavizando-se com a candura de . Seu gesto fora de uma ternura tão inocente que ela não teria nem como reclamar sobre o significado daquilo. A própria cor das tulipas, significando pureza, humildade, inocência, representavam os motivos bem-intencionados do rapaz. E fora exatamente isso que ele quisera transmitir, mas também um adeus, um tributo à sua antiga vida angelical que fora deixada para trás.
Em um impulso, pulou em cima do homem, encostando seus lábios nos dele e começando a beijar sua boca, lentamente, ao sentir os braços dele a contornarem amorosamente. Não havia pressão de rótulos, do pouco tempo que se conheciam, nem mesmo do prazer carnal. Não que um não excitasse ao outro, muito pelo contrário. Mas aquele não era o ponto de seu beijo.
A língua de se envolvia na de , invadia sua boca de forma ardente. Seu beijo transmitia a afeição que sentia pela mulher, um sentimento puro. Maior do que a paixão incandescente. Maior do que puro fogo. Quando acariciava seus cabelos, ou envelopava sua face, era como se estivesse bradando sua devoção à mulher, de formas muito mais profundas e significativas. Sabia que estava segura, pois naquele momento, seu anjo da guarda estava com ela.


Fim



Nota da autora: Olá, pessoal! Obrigada por terem lido! Espero que tenham gostado da fic. Amarei ler seus comentários <3. Até a próxima!





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