#1 Dreams Come True - Brandon Flowers
Desde criança, meu sonho sempre fora conhecer Paris. Por quê? Não sei exatamente dizer ao certo, porém os filmes, os programas de TV, os livros e as revistas sempre diziam que aquele era um local mágico, onde tudo era possível, desde viver um grande amor até ter o seu emprego dos sonhos na indústria da moda. E, como qualquer adolescente, eu também queria ter essas experiências.
Conforme fui crescendo as coisas foram mudando, bem como meus objetivos de vida. Entretanto, esse ainda era um sonho que eu gostaria de realizar. Em nome da pequena que nunca pôde conhecer a cidade do amor para além das fotos e filmes.
Aos 25 anos, ao terminar a faculdade de gastronomia, decidi abrir um bar com minha amiga de infância, . Como era de se esperar, passamos por todos os mais variados perrengues que comerciantes de primeira viagem têm de enfrentar para manter seu pequeno negócio aberto. Nos mudamos para um apartamento menor, reduzimos e atrasamos algumas contas pessoais, além de termos nos afundado em dívidas referentes ao bar. Tudo isso em um espaço de dois anos.
Todavia, tudo mudou quando, por algum motivo, um crítico renomado de uma revista de gastronomia famosa em nossa cidade, havia nos indicado como um bom lugar a ser visitado e que as pessoas deveriam prestar mais atenção nos pequenos comércios em suas vizinhanças, pois tinham muito a oferecer. Classificados com um total de quatro de cinco estrelas, começamos a ver os resultados daquela resenha já na noite seguinte à chegada da revista às bancas. Nosso movimento quase dobrou e, no começo, achamos que seria algo momentâneo, o que se provou uma visão contrária à medida que o tempo ia passando.
Cinco anos depois, com espaço físico do nosso bar aumentado, com um número ótimo de clientes fixos que nos visitavam frequentemente e traziam junto de si um número considerável de amigos para se tornarem nossos clientes também, além de financeiramente estáveis, e eu finalmente conseguimos nos planejar para fazermos uma viagem e, querendo que esse fosse meu presente pelo meu 30º aniversário, minha amiga deixou que eu escolhesse nosso destino e custeou boa parte dos custos fixos que teríamos, como passagens e hospedagem.
Sabendo que talvez esse fosse o momento certo para realizar o único sonho da pequena que seguia muito vivo dentro de mim, decidi que deveríamos embarcar para a antiga cidade das luzes.
Em nossa primeira noite, resolvemos ir à uma balada próxima do nosso hotel. Contudo, sendo uma dona de bar que não faz jus nenhum ao título, bebeu um pouco além do que conseguia aguentar e, em consequência a isso, não tinha conseguido se levantar da cama naquela manhã, por isso, para não perder um dia inteiro, decidi sair para tomar café e fazer um pequeno tour pela cidade.
Após uma primeira refeição reforçada no restaurante do hotel, saí para caminhar.
Como qualquer visitante brega, queria muito conhecer a Torre Eiffel. Tendo comprado meu ingresso antecipadamente para subir até o segundo andar e ver a cidade lá de cima, saí em busca do local que eu não tinha muita ideia de onde era. Tirando o celular de dentro do bolso a fim de colocar o endereço no GPS, após três toques na tela, o aparelho desligou. Mesmo tendo metade da bateria carregada, por algum motivo, não estava religando.
Determinada a chegar lá, resolvi fazer como as pessoas faziam antes da existência da internet, do GPS e dos celulares: perguntando a alguém na rua. O problema é que não haviam muitas pessoas passando ao redor, portanto, continuei caminhando em frente até a figura de um homem surgir diante dos meus olhos. Trajando bermuda jeans preta, tênis, uma camiseta branca, fumava um cigarro enquanto os olhos vagavam ao seu redor.
Desfazendo-me da vergonha que estava sentindo por ter de parar uma pessoa desconhecida na rua, caminhei em sua direção, acenando para que me visse e não se assustasse com uma mulher qualquer o parando.
― Com licença.
― Oi ― respondeu com um meio sorriso após soprar a fumaça do fumo.
― Eu tive um pequeno problema com meu celular, que escolheu um péssimo momento pra morrer e queria saber se estamos perto da Torre Eiffel.
― Ah, sim, tá perto.
― Eu preciso de uma condução ou posso ir a pé?
― Se você quiser, posso te acompanhar até lá. ― Por um segundo, quis recusar o convite, afinal, ele era um homem desconhecido que, graças a minha língua grande, sabia que eu estava sem celular. Como se lesse meus pensamentos, argumentou: ― Desculpa. Não pensei em como isso ia soar vindo de um homem que você não conhece, né? ― Riu baixinho. ― O caminho até lá é bem movimentado. Ao final dessa rua, entramos em uma principal e seguimos nela até chegar lá. ― Apontou para o fim da rua.
― Confesso que não ia aceitar, mas eu não tenho muita escolha, né? ― Fiz uma careta, fazendo-o rir novamente.
― Bom, você pode seguir caminhando até o fim dessa rua e perguntar pra primeira mulher que ver. ― Deu de ombros.
― Se não for te atrapalhar, acho que vou aceitar. ― Passamos a caminhar lado a lado na direção contrária a que ele seguia.
― A propósito, sou .
― .
― Nome bonito. Combina com você. ― Dei um meio sorriso encabulado.
― Obrigada.
― É a sua primeira vez em Paris?
― Ah, sim. Eu e uma amiga viemos juntas.
― E onde ela tá agora?
― Dormindo. E você?
― Eu sempre passo os verões aqui.
― Mas não é daqui?
― Não, não. Sou de Manchester, mas moro em Londres há uns bons anos.
― Sério? Eu também sou de lá.
― Dois ingleses na França?
― Pois é. ― Ri.
― O que te trouxe aqui? Trabalho, férias…?
― Foi algo que minha amiga e eu planejamos fazer juntas. Estávamos só esperando a oportunidade acontecer.
Atrás dele, depois de caminharmos por quase 30 minutos, já começava a ver a torre cada vez mais próxima e um número maior de pessoas circulando. Mal conseguia acreditar que estava mesmo acontecendo e que estava tão próxima de um sonho tão antigo.
― Você vai querer subir? ― Sua voz chamou minha atenção para o tempo presente e o que acontecia ao meu redor.
― Desculpa, quê? ― Dei uma leve balançada na cabeça para espantar os pensamentos que me faziam dispersar.
― Perguntei se você quer subir. Digo, na torre.
― Ah, sim. Eu comprei o ingresso.
― Tudo bem, então, só um minuto, tá? ― Sem entender, fiquei parada no início do gramado, observando o homem se afastar.
Olhando ao redor, estava deslumbrada com tudo aquilo. As pessoas faziam piqueniques, crianças brincavam juntas, casais trocavam carícias, além das muitas pessoas que fotografavam a si próprias ou a paisagem. Lembrando-me que meu celular seguia tão morto quanto estivera minutos atrás, fiquei chateada por não poder registrar aquele momento, entretanto, essa seria a minha desculpa para voltar àquele lugar o mais rápido possível.
Sentindo uma mão sobre meu ombro, meu corpo sobressaltou de susto e quase acertei uma cotovelada no homem que me acompanhara.
― Opa, opa! Calma. ― Riu.
― Desculpa, me assustei. ― Senti minhas bochechas arderem de vergonha por quase tê-lo agredido a troco de nada.
― Tudo bem. Eu devia ter dito algo ao invés de te encostar. Vamos?
― Onde? ― Franzi as sobrancelhas.
― Subir na torre. Fui comprar meu ingresso. ― Mostrou o pequeno ticket.
Rumando até a fila de pessoas que aguardavam para subir, assim como nós, não consegui mais falar absolutamente nada devido a ansiedade. O que se concretizava era algo que esperei durante 30 anos e que, em determinados instantes, cheguei a duvidar que realmente aconteceria, afinal, os anos estavam se passando e não haviam muitas coisas que havia conseguido efetivamente realizar.
Claro, havia conquistado coisas que se esperam que adultos da minha idade consigam, como me formar na faculdade, ter meu próprio negócio, me sustentar, ser uma pessoa minimamente equilibrada mentalmente ― obrigada por absolutamente tudo, Maureen.
Quando nossa vez de subir chegou, fiquei nervosa de andar no elevador por ser algo extremamente antigo, todavia queria a experiência completa. Como nosso destino era o segundo andar, por sorte, não demorou muito para chegarmos a ele e deixarmos a instabilidade do meio de transporte para trás, o que era um alívio.
O local estava cheio de outros visitantes, no entanto, não foi tão difícil assim chegar próximo à beira para ver a paisagem, que era tão estonteante quanto imaginei que seria.
― Tão bonito quanto imaginou que seria?
― Acho que até mais. Talvez esse não seja o tipo de coisa que se deve dizer a um desconhecido, mas eu nem acredito que isso realmente tá acontecendo ― falei sorrindo, ainda admirando a paisagem à minha frente. ― Até esqueci que tenho medo de altura.
― Você tem? ― Assenti e rimos.
― Pode parecer meio bobo, mas conhecer Paris era meu sonho de infância.
― Por quê? ― Virou-se para mim, encarando-me.
Dei de ombros.
― Acho que me deixei ludibriar pelos filmes e pela literatura de que essa é a cidade onde tudo é possível.
― Bom, talvez seja mesmo. ― Deu um meio sorriso.
― Uma pena que ele não voltou da morte pra me ajudar ― falei baixinho, conferindo meu celular novamente.
― Você precisa de algo?
― Nada… é besteira. ― Dei um sorriso sem graça, tentando disfarçar a frustração.
― Fala. Às vezes eu posso te ajudar. ― Deu de ombros.
― É que, se meu celular não estivesse mortíssimo, eu tiraria uma foto aqui.
― Pois escolha sua pose. Eu posso fazer isso.
Posicionei-me com um sorriso discreto, ajeitando meus cabelos, o que foi pouco efetivo devido ao vento que os soprou e bagunçou segundos depois.
Após alguns segundos com o celular erguido na altura dos meus olhos, o homem se aproximou, mostrando-me o resultado das fotografias.
― Se você puder, me manda elas por e-mail. Não te dou o número do meu celular porque não sei se ele não morreu definitivamente. ― Fiz uma careta.
― Aqui. ― Estendeu o aparelho para mim.
Digitei meu endereço de e-mail no campo indicado, devolvendo o celular para ele.
― Acho que já podemos ir. Você já dedicou tempo demais a uma estranha hoje. ― Rimos.
― Não foi problema nenhum. Eu não estava indo a um lugar, estava voltando dele. Talvez você não queira saber, mas fui depositar o dinheiro que meu irmão precisa para vir passar as férias de verão comigo.
― Ele é mais novo? ― Assentiu enquanto nos encaminhávamos ao elevador.
Quando a porta foi aberta à nossa frente, adentramos no pequeno espaço e aguardamos até que fosse aberta em terra firme de novo.
― Está na faculdade e precisando urgentemente descansar. ― Sorriu.
― O que ele cursa? ― Saímos do pequeno espaço andando lado a lado, refazendo exatamente o mesmo caminho que havíamos feito para chegarmos ali.
― Cinema.
― Deve ser legal.
― Ele é muito bom. E não digo isso como o irmão mais velho orgulhoso. ― Ri.
― Ok, vou fingir que acredito ― brinquei.
O trajeto de volta parecia ter sido muito mais rápido que o de ida e, por mais que meu hotel ficasse no mesmo sentido para o qual ele seguiria, resolvi que não queria ser acompanhada até o local onde eu estava dormindo em um país que conhecia quase nada.
― Eu ainda não vou para casa, então, acho que é aqui que nos despedimos. ― Parei de caminhar próxima à esquina onde tínhamos nos encontrado.
― Ah, claro. Daqui você sabe chegar de onde veio, né? ― Assenti.
― Muito obrigada pela ajuda e pela companhia. Fico feliz que vou voltar inteira para casa ― brinquei, fazendo-o rir.
― Bom, sequestrar e matar as pessoas que me pedem informações na rua não faz muito o meu estilo. ― Deu de ombros e eu ri. ― Aliás, você fica na cidade por mais quanto tempo?
― Ao todo, vamos ficar 10 dias.
― Amanhã à noite, um amigo meu vai dar uma festa em casa. Se vocês quiserem ir, me responde por e-mail que te passo o endereço.
― Ele não vai ficar, sei lá, bravo por ter duas estranhas em casa?
― As festas do George são do tipo só chegar. Então, realmente você só tem que ir.
― Eu vou conversar com a . Obrigada pelo convite.
― Te vejo por aí. ― Acenou antes de seguir seu rumo para onde quer que estivesse indo.
Continuei a observá-lo até que desaparecesse no horizonte.
Nunca tinha conversado tanto tempo de maneira tão impessoal com alguém desconhecido, ainda mais sendo homem. não perguntou minha idade, minha profissão nem nada que pudesse me fazer ficar desconfortável ou que soasse que tinha segundas intenções, o que era um alívio. Mas por que havia sido tão gentil com uma pessoa que nunca viu na vida?
Conforme fui crescendo as coisas foram mudando, bem como meus objetivos de vida. Entretanto, esse ainda era um sonho que eu gostaria de realizar. Em nome da pequena que nunca pôde conhecer a cidade do amor para além das fotos e filmes.
Aos 25 anos, ao terminar a faculdade de gastronomia, decidi abrir um bar com minha amiga de infância, . Como era de se esperar, passamos por todos os mais variados perrengues que comerciantes de primeira viagem têm de enfrentar para manter seu pequeno negócio aberto. Nos mudamos para um apartamento menor, reduzimos e atrasamos algumas contas pessoais, além de termos nos afundado em dívidas referentes ao bar. Tudo isso em um espaço de dois anos.
Todavia, tudo mudou quando, por algum motivo, um crítico renomado de uma revista de gastronomia famosa em nossa cidade, havia nos indicado como um bom lugar a ser visitado e que as pessoas deveriam prestar mais atenção nos pequenos comércios em suas vizinhanças, pois tinham muito a oferecer. Classificados com um total de quatro de cinco estrelas, começamos a ver os resultados daquela resenha já na noite seguinte à chegada da revista às bancas. Nosso movimento quase dobrou e, no começo, achamos que seria algo momentâneo, o que se provou uma visão contrária à medida que o tempo ia passando.
Cinco anos depois, com espaço físico do nosso bar aumentado, com um número ótimo de clientes fixos que nos visitavam frequentemente e traziam junto de si um número considerável de amigos para se tornarem nossos clientes também, além de financeiramente estáveis, e eu finalmente conseguimos nos planejar para fazermos uma viagem e, querendo que esse fosse meu presente pelo meu 30º aniversário, minha amiga deixou que eu escolhesse nosso destino e custeou boa parte dos custos fixos que teríamos, como passagens e hospedagem.
Sabendo que talvez esse fosse o momento certo para realizar o único sonho da pequena que seguia muito vivo dentro de mim, decidi que deveríamos embarcar para a antiga cidade das luzes.
Em nossa primeira noite, resolvemos ir à uma balada próxima do nosso hotel. Contudo, sendo uma dona de bar que não faz jus nenhum ao título, bebeu um pouco além do que conseguia aguentar e, em consequência a isso, não tinha conseguido se levantar da cama naquela manhã, por isso, para não perder um dia inteiro, decidi sair para tomar café e fazer um pequeno tour pela cidade.
Após uma primeira refeição reforçada no restaurante do hotel, saí para caminhar.
Como qualquer visitante brega, queria muito conhecer a Torre Eiffel. Tendo comprado meu ingresso antecipadamente para subir até o segundo andar e ver a cidade lá de cima, saí em busca do local que eu não tinha muita ideia de onde era. Tirando o celular de dentro do bolso a fim de colocar o endereço no GPS, após três toques na tela, o aparelho desligou. Mesmo tendo metade da bateria carregada, por algum motivo, não estava religando.
Determinada a chegar lá, resolvi fazer como as pessoas faziam antes da existência da internet, do GPS e dos celulares: perguntando a alguém na rua. O problema é que não haviam muitas pessoas passando ao redor, portanto, continuei caminhando em frente até a figura de um homem surgir diante dos meus olhos. Trajando bermuda jeans preta, tênis, uma camiseta branca, fumava um cigarro enquanto os olhos vagavam ao seu redor.
Desfazendo-me da vergonha que estava sentindo por ter de parar uma pessoa desconhecida na rua, caminhei em sua direção, acenando para que me visse e não se assustasse com uma mulher qualquer o parando.
― Com licença.
― Oi ― respondeu com um meio sorriso após soprar a fumaça do fumo.
― Eu tive um pequeno problema com meu celular, que escolheu um péssimo momento pra morrer e queria saber se estamos perto da Torre Eiffel.
― Ah, sim, tá perto.
― Eu preciso de uma condução ou posso ir a pé?
― Se você quiser, posso te acompanhar até lá. ― Por um segundo, quis recusar o convite, afinal, ele era um homem desconhecido que, graças a minha língua grande, sabia que eu estava sem celular. Como se lesse meus pensamentos, argumentou: ― Desculpa. Não pensei em como isso ia soar vindo de um homem que você não conhece, né? ― Riu baixinho. ― O caminho até lá é bem movimentado. Ao final dessa rua, entramos em uma principal e seguimos nela até chegar lá. ― Apontou para o fim da rua.
― Confesso que não ia aceitar, mas eu não tenho muita escolha, né? ― Fiz uma careta, fazendo-o rir novamente.
― Bom, você pode seguir caminhando até o fim dessa rua e perguntar pra primeira mulher que ver. ― Deu de ombros.
― Se não for te atrapalhar, acho que vou aceitar. ― Passamos a caminhar lado a lado na direção contrária a que ele seguia.
― A propósito, sou .
― .
― Nome bonito. Combina com você. ― Dei um meio sorriso encabulado.
― Obrigada.
― É a sua primeira vez em Paris?
― Ah, sim. Eu e uma amiga viemos juntas.
― E onde ela tá agora?
― Dormindo. E você?
― Eu sempre passo os verões aqui.
― Mas não é daqui?
― Não, não. Sou de Manchester, mas moro em Londres há uns bons anos.
― Sério? Eu também sou de lá.
― Dois ingleses na França?
― Pois é. ― Ri.
― O que te trouxe aqui? Trabalho, férias…?
― Foi algo que minha amiga e eu planejamos fazer juntas. Estávamos só esperando a oportunidade acontecer.
Atrás dele, depois de caminharmos por quase 30 minutos, já começava a ver a torre cada vez mais próxima e um número maior de pessoas circulando. Mal conseguia acreditar que estava mesmo acontecendo e que estava tão próxima de um sonho tão antigo.
― Você vai querer subir? ― Sua voz chamou minha atenção para o tempo presente e o que acontecia ao meu redor.
― Desculpa, quê? ― Dei uma leve balançada na cabeça para espantar os pensamentos que me faziam dispersar.
― Perguntei se você quer subir. Digo, na torre.
― Ah, sim. Eu comprei o ingresso.
― Tudo bem, então, só um minuto, tá? ― Sem entender, fiquei parada no início do gramado, observando o homem se afastar.
Olhando ao redor, estava deslumbrada com tudo aquilo. As pessoas faziam piqueniques, crianças brincavam juntas, casais trocavam carícias, além das muitas pessoas que fotografavam a si próprias ou a paisagem. Lembrando-me que meu celular seguia tão morto quanto estivera minutos atrás, fiquei chateada por não poder registrar aquele momento, entretanto, essa seria a minha desculpa para voltar àquele lugar o mais rápido possível.
Sentindo uma mão sobre meu ombro, meu corpo sobressaltou de susto e quase acertei uma cotovelada no homem que me acompanhara.
― Opa, opa! Calma. ― Riu.
― Desculpa, me assustei. ― Senti minhas bochechas arderem de vergonha por quase tê-lo agredido a troco de nada.
― Tudo bem. Eu devia ter dito algo ao invés de te encostar. Vamos?
― Onde? ― Franzi as sobrancelhas.
― Subir na torre. Fui comprar meu ingresso. ― Mostrou o pequeno ticket.
Rumando até a fila de pessoas que aguardavam para subir, assim como nós, não consegui mais falar absolutamente nada devido a ansiedade. O que se concretizava era algo que esperei durante 30 anos e que, em determinados instantes, cheguei a duvidar que realmente aconteceria, afinal, os anos estavam se passando e não haviam muitas coisas que havia conseguido efetivamente realizar.
Claro, havia conquistado coisas que se esperam que adultos da minha idade consigam, como me formar na faculdade, ter meu próprio negócio, me sustentar, ser uma pessoa minimamente equilibrada mentalmente ― obrigada por absolutamente tudo, Maureen.
Quando nossa vez de subir chegou, fiquei nervosa de andar no elevador por ser algo extremamente antigo, todavia queria a experiência completa. Como nosso destino era o segundo andar, por sorte, não demorou muito para chegarmos a ele e deixarmos a instabilidade do meio de transporte para trás, o que era um alívio.
O local estava cheio de outros visitantes, no entanto, não foi tão difícil assim chegar próximo à beira para ver a paisagem, que era tão estonteante quanto imaginei que seria.
― Tão bonito quanto imaginou que seria?
― Acho que até mais. Talvez esse não seja o tipo de coisa que se deve dizer a um desconhecido, mas eu nem acredito que isso realmente tá acontecendo ― falei sorrindo, ainda admirando a paisagem à minha frente. ― Até esqueci que tenho medo de altura.
― Você tem? ― Assenti e rimos.
― Pode parecer meio bobo, mas conhecer Paris era meu sonho de infância.
― Por quê? ― Virou-se para mim, encarando-me.
Dei de ombros.
― Acho que me deixei ludibriar pelos filmes e pela literatura de que essa é a cidade onde tudo é possível.
― Bom, talvez seja mesmo. ― Deu um meio sorriso.
― Uma pena que ele não voltou da morte pra me ajudar ― falei baixinho, conferindo meu celular novamente.
― Você precisa de algo?
― Nada… é besteira. ― Dei um sorriso sem graça, tentando disfarçar a frustração.
― Fala. Às vezes eu posso te ajudar. ― Deu de ombros.
― É que, se meu celular não estivesse mortíssimo, eu tiraria uma foto aqui.
― Pois escolha sua pose. Eu posso fazer isso.
Posicionei-me com um sorriso discreto, ajeitando meus cabelos, o que foi pouco efetivo devido ao vento que os soprou e bagunçou segundos depois.
Após alguns segundos com o celular erguido na altura dos meus olhos, o homem se aproximou, mostrando-me o resultado das fotografias.
― Se você puder, me manda elas por e-mail. Não te dou o número do meu celular porque não sei se ele não morreu definitivamente. ― Fiz uma careta.
― Aqui. ― Estendeu o aparelho para mim.
Digitei meu endereço de e-mail no campo indicado, devolvendo o celular para ele.
― Acho que já podemos ir. Você já dedicou tempo demais a uma estranha hoje. ― Rimos.
― Não foi problema nenhum. Eu não estava indo a um lugar, estava voltando dele. Talvez você não queira saber, mas fui depositar o dinheiro que meu irmão precisa para vir passar as férias de verão comigo.
― Ele é mais novo? ― Assentiu enquanto nos encaminhávamos ao elevador.
Quando a porta foi aberta à nossa frente, adentramos no pequeno espaço e aguardamos até que fosse aberta em terra firme de novo.
― Está na faculdade e precisando urgentemente descansar. ― Sorriu.
― O que ele cursa? ― Saímos do pequeno espaço andando lado a lado, refazendo exatamente o mesmo caminho que havíamos feito para chegarmos ali.
― Cinema.
― Deve ser legal.
― Ele é muito bom. E não digo isso como o irmão mais velho orgulhoso. ― Ri.
― Ok, vou fingir que acredito ― brinquei.
O trajeto de volta parecia ter sido muito mais rápido que o de ida e, por mais que meu hotel ficasse no mesmo sentido para o qual ele seguiria, resolvi que não queria ser acompanhada até o local onde eu estava dormindo em um país que conhecia quase nada.
― Eu ainda não vou para casa, então, acho que é aqui que nos despedimos. ― Parei de caminhar próxima à esquina onde tínhamos nos encontrado.
― Ah, claro. Daqui você sabe chegar de onde veio, né? ― Assenti.
― Muito obrigada pela ajuda e pela companhia. Fico feliz que vou voltar inteira para casa ― brinquei, fazendo-o rir.
― Bom, sequestrar e matar as pessoas que me pedem informações na rua não faz muito o meu estilo. ― Deu de ombros e eu ri. ― Aliás, você fica na cidade por mais quanto tempo?
― Ao todo, vamos ficar 10 dias.
― Amanhã à noite, um amigo meu vai dar uma festa em casa. Se vocês quiserem ir, me responde por e-mail que te passo o endereço.
― Ele não vai ficar, sei lá, bravo por ter duas estranhas em casa?
― As festas do George são do tipo só chegar. Então, realmente você só tem que ir.
― Eu vou conversar com a . Obrigada pelo convite.
― Te vejo por aí. ― Acenou antes de seguir seu rumo para onde quer que estivesse indo.
Continuei a observá-lo até que desaparecesse no horizonte.
Nunca tinha conversado tanto tempo de maneira tão impessoal com alguém desconhecido, ainda mais sendo homem. não perguntou minha idade, minha profissão nem nada que pudesse me fazer ficar desconfortável ou que soasse que tinha segundas intenções, o que era um alívio. Mas por que havia sido tão gentil com uma pessoa que nunca viu na vida?
#2 hangover cure - Machine Gun Kelly
Na noite seguinte, e eu nos arrumamos e saímos para jantar pouco antes de comparecermos a tal festa pra qual havia nos convidado. , como a boa fofoqueira que era, estava curiosíssima para saber quem era o tal homem que havia me ajudado a chegar até a torre e havia feito fotos tão bonitas minhas.
Eu também estava ansiosa para revê-lo. Não era todo dia que se conhecia um homem solícito, educado e atraente dando sopa por aí.
Ao fim de nosso jantar, chamamos um táxi e entregamos ao motorista o pequeno pedaço de papel onde havíamos anotado o endereço da tal casa. Quando chegamos em nosso destino final, pagamos pela corrida e descemos do veículo. Tocamos a campainha e esperamos até que alguém viesse atendê-la.
― Achei que vocês não viriam mais. ― foi quem atendeu a porta e tive que me segurar para não soltar um sorriso muito aberto.
― Desculpe o atraso, nós achamos melhor jantar antes de vir ― justifiquei. ― , essa é minha amiga, .
― É um prazer. ― Cumprimentaram-se com um aperto de mãos e uma troca de sorrisos. ― Por favor, entrem. ― Dando-nos passagem, adentramos na sala de estar enorme, cheia de gente e com a música em um volume mais alto do que aparentava do lado de fora.
Todos os convidados estavam munidos de uma garrafa de cerveja ou de um cigarro ― em alguns casos, as mãos estavam ocupadas segurando os dois e levando-os às bocas vez ou outra.
― Fiquem à vontade. Sintam-se em casa. Querem uma bebida?
― Eu quero um isqueiro. ― tirou um cigarro de dentro da bolsa e fez uma careta meio constrangida.
― Aqui. ― Remexeu no bolso da calça jeans, tirando de lá um pequeno isqueiro prateado, oferecendo a ela. ― Como foi o dia de vocês?
― Bem. A gente encontrou uma cafeteria deliciosa no centro e sinto que tomei mais café do que devia. ― Ri.
― Isso sempre acontece comigo.
― Eu vou fumar perto da janela, ok? ― me lançou um olhar e eu entendi exatamente o que estava fazendo: saindo para nos deixar a sós.
Assenti e a observei sair enquanto pegava uma garrafa de cerveja em uma mesa. Abri-a e dei o primeiro gole, agradecendo mentalmente por estar gelada.
― Desculpa, mas você faz o quê? Digo, sua profissão ― soltei.
― Você acha que eu tenho cara de quê? ― Fez uma pose engraçada e eu ri.
― Sei lá. Você tem cara de quem trabalha com algo voltado pra cultura. Provavelmente é autônomo porque aparenta ter bastante tempo livre.
― Você é boa. É investigadora, detetive, jornalista?
― e eu temos um bar no nosso bairro.
― Pode beber no trabalho, deve ser legal. ― Ri. ― Eu sou redator. Escrevo alguns artigos pra umas revistas e sites semanalmente.
― Olha, não estava tão errada. ― Franzi os lábios.
― Quantos anos você tem?
― Eu pareço velha? ― Ri.
― Não é isso. ― Acompanhou-me na risada. ― É que talvez você seja mais velha do que imaginei que seria.
― Tenta adivinhar, então.
― 25? ― Chutou e, com os lábios franzidos, neguei com a cabeça. ― 26? 27? ― Continuei a negar. ― Meu Deus, é mais? ― Assenti. ― Quantos anos? ― Franziu as sobrancelhas.
― Fiz 30 ontem.
― Ontem? ― Arqueou as sobrancelhas e eu concordei com a cabeça. ― Então, você comemorou seu aniversário comigo?
― Por essa você não esperava, né?
― Por que você não disse nada?
― Eu já estava sendo acompanhada por um cara estranho, ainda falar pra ele que estou de aniversário? Acho que é um pouco mais de carência que posso suportar. ― Dei um gole na minha cerveja.
― Eu diria se fosse meu aniversário. ― Deu de ombros.
― E quando é seu aniversário?
― Já passou, não se preocupe. ― Riu. ― Já que eu não sabia e não pude minimamente te parabenizar… ― Remexeu os bolsos outra vez tirando um saquinho cheio de erva de lá. ― você fuma?
― Já experimentei, mas isso faz muito tempo.
― Quer relembrar? ― Dei de ombros. ― Se importa se formos na rua? ― meneei a cabeça negativamente, seguindo-o para a cozinha e, em seguida, para o quintal dos fundos.
Sentando-se no gramado, bateu no chão ao seu lado para que me juntasse a ele, o que fiz após ajeitar minha calça para que não ficasse desconfortável nas minhas minhas coxas.
Assisti-o bolar um baseado habilidosamente durante quase dois minutos. Apesar dos movimentos precisos, suas mãos eram um pouco trêmulas. Perguntei-me se, assim como eu, ele também era uma pessoa ansiosa. Obviamente não iria perguntar aquilo em voz alta, mas não consegui não me questionar se tinha com quem conversar ou se puxava assunto com uma total desconhecida com tanta facilidade devido a solidão.
Prendendo o cigarro entre os lábios, protegeu a ponta com uma mão em concha para acendê-lo, dando tragadas rápidas de início para garantir que estava aceso. Soprando a pouca fumaça, passou-o para mim.
Dei uma pequena tragada curta, pois sabia que, se resolvesse bancar a fumante, tossiria igual um motor velho que insiste em não ligar. Após soltar a fumaça, dei uma tragada um pouco mais longa antes de devolvê-lo a .
― E aí? ― pôs o baseado na boca.
― Não me lembrava mais como era fumar. ― Soltei a fumaça, encarando os arbustos próximos à cerca.
― Maconha?
― Não, o ato de fumar mesmo. Tinha me esquecido como era bom.
― Você fumava?
― Conjugou o verbo corretamente. Fumava. Parei há uns dois anos.
―Teve problemas de saúde?
― Na realidade, comecei a fumar quando era adolescente e, depois que comecei a correr, percebi que me trazia mais desvantagens do que benefícios.
― Mas não te incomoda morar com alguém que fuma?
― não fuma tanto quanto eu fumava, sem contar que, por exemplo, ela evita fumar nas áreas comuns da nossa casa, logo, não é muito difícil de conviver. ― Dei de ombros, pegando o baseado de sua mão e dando uma nova tragada.
Desta vez, me permiti inspirar longamente antes de lhe devolver. Bebi mais alguns goles da minha cerveja e a coloquei em pé no gramado, deitando-me. Aos poucos, sentia meus músculos relaxando e minha cabeça ficando mais leve, mesmo que meus pensamentos parecessem estar totalmente bagunçados. Ainda sentado, o homem lançou um breve olhar para trás para me olhar, sorrindo.
― O céu aqui é... tão bonito. Nem parece que... estamos em um país vizinho. Parece, sei lá… que estamos em outra… galáxia ― conclui embolando as últimas palavras, pois estava com a sensação de minha língua estava presa. Comecei a rir, sendo acompanhada por , que balançava os ombros no ritmo da risada baixa que saía de seus lábios.
― Parece que já bateu em alguém.
― Mais ou menos… eu tô bem ainda. ― Ofereceu o cigarro para mim de novo. ― Não, obrigada. Sei quando é hora de parar.
Soltando a fumaça de sua última tragada pelas narinas, apagou o baseado no gramado, guardando o restante dentro do pacote junto das outras sedas. Arrumando o conteúdo dentro do bolso, deitou-se ao meu lado, deixando poucos centímetros vazios entre nós.
― ?
― Hm? ― murmurei, pigarreando em seguida.
― Às vezes, você tem a sensação de que parece que não se encontrou na vida?
― Já tive mais vezes. ― Virei a cabeça para olhá-lo. ― Estaria mentindo se hoje não me considerasse uma pessoa contente com a vida que levo.
― Pois é, eu não tenho esse sentimento. Gosto do que faço, mas sinto que, aos poucos, estou perdendo o prazer nisso.
― Nunca é tarde para aprender e fazer novas coisas, sabe? Quando somos adolescentes e estamos prestes a nos formar, as pessoas acham que precisamos decidir logo de cara o que vamos fazer pro resto da vida, quando na realidade só somos capazes de decidir o que vamos tentar fazer em, no máximo, cinco anos. ― Rimos. ― Não tenha medo de experimentar. Sei que, quando chega uma determinada idade, só queremos estabilidade e qualquer coisa que não nos garanta isso desde o primeiro instante já nos deixa meio nervosos, mas, se não tentarmos, nunca vamos sair do lugar, certo?
― É, acho que sim.
― ?
― Quê?
― Quando você voltar a Londres, considere fazer uma visita ao nosso bar. Vai ser por conta da casa, ok?
― Eu vou fazer, sim. ― Sorriu. ― Como é o nome?
― White Elephant.
― É um barzinho com iluminação neon em uma vizinhança meio afastada do centro? ― Questionou com os olhos semicerrados.
― Você já conhece? ― Franzi as sobrancelhas.
― É, fui uma vez lá com o George.
― Faz muito tempo?
― Não, não. Os drinks de vocês são muito bons.
― Obrigada. ― Sorri convencida.
― Mas pode apostar que eu vou de novo.
― Vou esperar.
Quietos por longos segundos, ficamos encarando o céu acima de nós.
Mesmo não estando mais com a vontade de rir que estava sentindo no início, ainda sentia meu corpo muito leve, como se estivesse repousado sobre uma nuvem. Meus pensamentos já não estavam mais bagunçados. Era como quando eu sentava em frente às gavetas do armário do meu quarto e as organizava uma por uma. Os dedos dos meus pés estavam um pouco dormentes, porém não liguei. Deveria ser por causa do sapato ou algo assim.
― ?
― Quê?
― Você viajou agora, né? ― Ri.
― Desculpa, eu faço muito isso. Você tinha dito algo antes?
― Na verdade, vou dizer agora. Não quero ser invasivo nem nada, mas… você namora?
― O que você acha?
― Que você é bonita demais pra ser solteira. ― Gargalhei. ― Claro, a não ser que seja uma escolha sua ser solteira.
― Pois é, querido. Nem todos pensam como você e esta aqui ― apontei para mim mesma. ― é uma mulher solteiríssima.
― Sério? ― Arqueou uma das sobrancelhas e eu concordei com um aceno de cabeça.
― E você? É solteiro?
― Mais um pro clube. ― Rimos.
― Vou aproveitar que não tô 100% sóbria pra dizer que você deve tá solteiro porque 1) ou não dá moral pra ninguém ou 2) você deve ser safado. ― naquele momento foi sua vez de gargalhar. ― Menti?
― É, eu não dou moral pra ninguém mesmo.
― Viu só?
― Mas como você sabe disso?
― Quando nós voltarmos a nos ver sóbrios, por favor, não toque nesse assunto, mas você tem cara de quem fode gostoso. ― Arregalou os olhos e não contive a risada esganiçada que saiu da minha boca. ― Não entenda isso como um convite pra transar porque eu não transo quando não tô sóbria.
― Eu não sei nem como responder a isso.
― Não precisa responder em palavras. Você pode só me beijar. ― Dei um sorriso brincalhão vendo a expressão confusa que se formou em seu rosto. ― É sério, tá? Se você tem algum interesse, o momento é… ― cortou minha frase no meio ao encostar seus lábios nos meus.
Correspondendo-lhe, voltei a me tornar completamente autoconsciente do meu próprio corpo. Minhas bochechas estavam em chamas, parte pelo calor, parte, provavelmente, pelo tesão.
Inclinando-me sobre ele, o fiz deitar de novo, depositando a mão em minha cintura enquanto a minha, foi para seu maxilar.
Apesar de não transar quando não estou sóbria ser uma questão resolvida e sem brechas para discussão dentro da minha cabeça, não conseguia evitar ficar excitada e muito menos a vontade de tirar a roupa que beijá-lo estava me dando. Se este homem for um daqueles que, na hora do sexo, não sabe o que tá fazendo, eu vou ficar muito decepcionada.
Desvencilhei minha boca da sua, abrindo os olhos para encará-lo. Trocamos um sorriso e sentia como se aquele tivesse sido um dos melhores beijos da minha vida. Claro que isso poderia se mostrar uma conclusão errônea quando eu estivesse sóbria de novo e repetíssemos o ato.
― Se sem isso, eu já iria te visitar no bar quando voltasse a Londres, imagina agora. ― Ri.
― Como eu disse, vou esperar sua visita.
Acomodei-me sobre seu ombro e seguimos deitados no gramado, olhando o céu.
Eu também estava ansiosa para revê-lo. Não era todo dia que se conhecia um homem solícito, educado e atraente dando sopa por aí.
Ao fim de nosso jantar, chamamos um táxi e entregamos ao motorista o pequeno pedaço de papel onde havíamos anotado o endereço da tal casa. Quando chegamos em nosso destino final, pagamos pela corrida e descemos do veículo. Tocamos a campainha e esperamos até que alguém viesse atendê-la.
― Achei que vocês não viriam mais. ― foi quem atendeu a porta e tive que me segurar para não soltar um sorriso muito aberto.
― Desculpe o atraso, nós achamos melhor jantar antes de vir ― justifiquei. ― , essa é minha amiga, .
― É um prazer. ― Cumprimentaram-se com um aperto de mãos e uma troca de sorrisos. ― Por favor, entrem. ― Dando-nos passagem, adentramos na sala de estar enorme, cheia de gente e com a música em um volume mais alto do que aparentava do lado de fora.
Todos os convidados estavam munidos de uma garrafa de cerveja ou de um cigarro ― em alguns casos, as mãos estavam ocupadas segurando os dois e levando-os às bocas vez ou outra.
― Fiquem à vontade. Sintam-se em casa. Querem uma bebida?
― Eu quero um isqueiro. ― tirou um cigarro de dentro da bolsa e fez uma careta meio constrangida.
― Aqui. ― Remexeu no bolso da calça jeans, tirando de lá um pequeno isqueiro prateado, oferecendo a ela. ― Como foi o dia de vocês?
― Bem. A gente encontrou uma cafeteria deliciosa no centro e sinto que tomei mais café do que devia. ― Ri.
― Isso sempre acontece comigo.
― Eu vou fumar perto da janela, ok? ― me lançou um olhar e eu entendi exatamente o que estava fazendo: saindo para nos deixar a sós.
Assenti e a observei sair enquanto pegava uma garrafa de cerveja em uma mesa. Abri-a e dei o primeiro gole, agradecendo mentalmente por estar gelada.
― Desculpa, mas você faz o quê? Digo, sua profissão ― soltei.
― Você acha que eu tenho cara de quê? ― Fez uma pose engraçada e eu ri.
― Sei lá. Você tem cara de quem trabalha com algo voltado pra cultura. Provavelmente é autônomo porque aparenta ter bastante tempo livre.
― Você é boa. É investigadora, detetive, jornalista?
― e eu temos um bar no nosso bairro.
― Pode beber no trabalho, deve ser legal. ― Ri. ― Eu sou redator. Escrevo alguns artigos pra umas revistas e sites semanalmente.
― Olha, não estava tão errada. ― Franzi os lábios.
― Quantos anos você tem?
― Eu pareço velha? ― Ri.
― Não é isso. ― Acompanhou-me na risada. ― É que talvez você seja mais velha do que imaginei que seria.
― Tenta adivinhar, então.
― 25? ― Chutou e, com os lábios franzidos, neguei com a cabeça. ― 26? 27? ― Continuei a negar. ― Meu Deus, é mais? ― Assenti. ― Quantos anos? ― Franziu as sobrancelhas.
― Fiz 30 ontem.
― Ontem? ― Arqueou as sobrancelhas e eu concordei com a cabeça. ― Então, você comemorou seu aniversário comigo?
― Por essa você não esperava, né?
― Por que você não disse nada?
― Eu já estava sendo acompanhada por um cara estranho, ainda falar pra ele que estou de aniversário? Acho que é um pouco mais de carência que posso suportar. ― Dei um gole na minha cerveja.
― Eu diria se fosse meu aniversário. ― Deu de ombros.
― E quando é seu aniversário?
― Já passou, não se preocupe. ― Riu. ― Já que eu não sabia e não pude minimamente te parabenizar… ― Remexeu os bolsos outra vez tirando um saquinho cheio de erva de lá. ― você fuma?
― Já experimentei, mas isso faz muito tempo.
― Quer relembrar? ― Dei de ombros. ― Se importa se formos na rua? ― meneei a cabeça negativamente, seguindo-o para a cozinha e, em seguida, para o quintal dos fundos.
Sentando-se no gramado, bateu no chão ao seu lado para que me juntasse a ele, o que fiz após ajeitar minha calça para que não ficasse desconfortável nas minhas minhas coxas.
Assisti-o bolar um baseado habilidosamente durante quase dois minutos. Apesar dos movimentos precisos, suas mãos eram um pouco trêmulas. Perguntei-me se, assim como eu, ele também era uma pessoa ansiosa. Obviamente não iria perguntar aquilo em voz alta, mas não consegui não me questionar se tinha com quem conversar ou se puxava assunto com uma total desconhecida com tanta facilidade devido a solidão.
Prendendo o cigarro entre os lábios, protegeu a ponta com uma mão em concha para acendê-lo, dando tragadas rápidas de início para garantir que estava aceso. Soprando a pouca fumaça, passou-o para mim.
Dei uma pequena tragada curta, pois sabia que, se resolvesse bancar a fumante, tossiria igual um motor velho que insiste em não ligar. Após soltar a fumaça, dei uma tragada um pouco mais longa antes de devolvê-lo a .
― E aí? ― pôs o baseado na boca.
― Não me lembrava mais como era fumar. ― Soltei a fumaça, encarando os arbustos próximos à cerca.
― Maconha?
― Não, o ato de fumar mesmo. Tinha me esquecido como era bom.
― Você fumava?
― Conjugou o verbo corretamente. Fumava. Parei há uns dois anos.
―Teve problemas de saúde?
― Na realidade, comecei a fumar quando era adolescente e, depois que comecei a correr, percebi que me trazia mais desvantagens do que benefícios.
― Mas não te incomoda morar com alguém que fuma?
― não fuma tanto quanto eu fumava, sem contar que, por exemplo, ela evita fumar nas áreas comuns da nossa casa, logo, não é muito difícil de conviver. ― Dei de ombros, pegando o baseado de sua mão e dando uma nova tragada.
Desta vez, me permiti inspirar longamente antes de lhe devolver. Bebi mais alguns goles da minha cerveja e a coloquei em pé no gramado, deitando-me. Aos poucos, sentia meus músculos relaxando e minha cabeça ficando mais leve, mesmo que meus pensamentos parecessem estar totalmente bagunçados. Ainda sentado, o homem lançou um breve olhar para trás para me olhar, sorrindo.
― O céu aqui é... tão bonito. Nem parece que... estamos em um país vizinho. Parece, sei lá… que estamos em outra… galáxia ― conclui embolando as últimas palavras, pois estava com a sensação de minha língua estava presa. Comecei a rir, sendo acompanhada por , que balançava os ombros no ritmo da risada baixa que saía de seus lábios.
― Parece que já bateu em alguém.
― Mais ou menos… eu tô bem ainda. ― Ofereceu o cigarro para mim de novo. ― Não, obrigada. Sei quando é hora de parar.
Soltando a fumaça de sua última tragada pelas narinas, apagou o baseado no gramado, guardando o restante dentro do pacote junto das outras sedas. Arrumando o conteúdo dentro do bolso, deitou-se ao meu lado, deixando poucos centímetros vazios entre nós.
― ?
― Hm? ― murmurei, pigarreando em seguida.
― Às vezes, você tem a sensação de que parece que não se encontrou na vida?
― Já tive mais vezes. ― Virei a cabeça para olhá-lo. ― Estaria mentindo se hoje não me considerasse uma pessoa contente com a vida que levo.
― Pois é, eu não tenho esse sentimento. Gosto do que faço, mas sinto que, aos poucos, estou perdendo o prazer nisso.
― Nunca é tarde para aprender e fazer novas coisas, sabe? Quando somos adolescentes e estamos prestes a nos formar, as pessoas acham que precisamos decidir logo de cara o que vamos fazer pro resto da vida, quando na realidade só somos capazes de decidir o que vamos tentar fazer em, no máximo, cinco anos. ― Rimos. ― Não tenha medo de experimentar. Sei que, quando chega uma determinada idade, só queremos estabilidade e qualquer coisa que não nos garanta isso desde o primeiro instante já nos deixa meio nervosos, mas, se não tentarmos, nunca vamos sair do lugar, certo?
― É, acho que sim.
― ?
― Quê?
― Quando você voltar a Londres, considere fazer uma visita ao nosso bar. Vai ser por conta da casa, ok?
― Eu vou fazer, sim. ― Sorriu. ― Como é o nome?
― White Elephant.
― É um barzinho com iluminação neon em uma vizinhança meio afastada do centro? ― Questionou com os olhos semicerrados.
― Você já conhece? ― Franzi as sobrancelhas.
― É, fui uma vez lá com o George.
― Faz muito tempo?
― Não, não. Os drinks de vocês são muito bons.
― Obrigada. ― Sorri convencida.
― Mas pode apostar que eu vou de novo.
― Vou esperar.
Quietos por longos segundos, ficamos encarando o céu acima de nós.
Mesmo não estando mais com a vontade de rir que estava sentindo no início, ainda sentia meu corpo muito leve, como se estivesse repousado sobre uma nuvem. Meus pensamentos já não estavam mais bagunçados. Era como quando eu sentava em frente às gavetas do armário do meu quarto e as organizava uma por uma. Os dedos dos meus pés estavam um pouco dormentes, porém não liguei. Deveria ser por causa do sapato ou algo assim.
― ?
― Quê?
― Você viajou agora, né? ― Ri.
― Desculpa, eu faço muito isso. Você tinha dito algo antes?
― Na verdade, vou dizer agora. Não quero ser invasivo nem nada, mas… você namora?
― O que você acha?
― Que você é bonita demais pra ser solteira. ― Gargalhei. ― Claro, a não ser que seja uma escolha sua ser solteira.
― Pois é, querido. Nem todos pensam como você e esta aqui ― apontei para mim mesma. ― é uma mulher solteiríssima.
― Sério? ― Arqueou uma das sobrancelhas e eu concordei com um aceno de cabeça.
― E você? É solteiro?
― Mais um pro clube. ― Rimos.
― Vou aproveitar que não tô 100% sóbria pra dizer que você deve tá solteiro porque 1) ou não dá moral pra ninguém ou 2) você deve ser safado. ― naquele momento foi sua vez de gargalhar. ― Menti?
― É, eu não dou moral pra ninguém mesmo.
― Viu só?
― Mas como você sabe disso?
― Quando nós voltarmos a nos ver sóbrios, por favor, não toque nesse assunto, mas você tem cara de quem fode gostoso. ― Arregalou os olhos e não contive a risada esganiçada que saiu da minha boca. ― Não entenda isso como um convite pra transar porque eu não transo quando não tô sóbria.
― Eu não sei nem como responder a isso.
― Não precisa responder em palavras. Você pode só me beijar. ― Dei um sorriso brincalhão vendo a expressão confusa que se formou em seu rosto. ― É sério, tá? Se você tem algum interesse, o momento é… ― cortou minha frase no meio ao encostar seus lábios nos meus.
Correspondendo-lhe, voltei a me tornar completamente autoconsciente do meu próprio corpo. Minhas bochechas estavam em chamas, parte pelo calor, parte, provavelmente, pelo tesão.
Inclinando-me sobre ele, o fiz deitar de novo, depositando a mão em minha cintura enquanto a minha, foi para seu maxilar.
Apesar de não transar quando não estou sóbria ser uma questão resolvida e sem brechas para discussão dentro da minha cabeça, não conseguia evitar ficar excitada e muito menos a vontade de tirar a roupa que beijá-lo estava me dando. Se este homem for um daqueles que, na hora do sexo, não sabe o que tá fazendo, eu vou ficar muito decepcionada.
Desvencilhei minha boca da sua, abrindo os olhos para encará-lo. Trocamos um sorriso e sentia como se aquele tivesse sido um dos melhores beijos da minha vida. Claro que isso poderia se mostrar uma conclusão errônea quando eu estivesse sóbria de novo e repetíssemos o ato.
― Se sem isso, eu já iria te visitar no bar quando voltasse a Londres, imagina agora. ― Ri.
― Como eu disse, vou esperar sua visita.
Acomodei-me sobre seu ombro e seguimos deitados no gramado, olhando o céu.
#3 I Walk The Line - Halsey
Os dias passaram mais rápido do que eu gostaria. No dia seguinte ao da festa, descobri que não era a única a ter me enrolado com homem durante a viagem. tinha conhecido um tal de Adam, que, mais tarde, descobri ser amigo bem próximo de . Sendo assim, quase todos os passeios que demos nos dias que vieram foram coisas feitas em casal, com exceção de quando o irmão de chegou para passar as férias.
Contudo, havia algo que estava começando a me deixar incomodada. parecia estar fugindo de mim no que dizia respeito ao sexo. Evitava que ficássemos por muito tempo a sós ou em situações que pudessem acabar com nós dois sem roupa.
No dia anterior a nossa partida, combinamos de sairmos para jantar todos juntos ― Adam, , , eu e seu irmão mais novo, Louis. Ao final da refeição, disse que estava muito a fim de encerrar a noite em uma festa qualquer para dizer adeus a Paris em grande estilo. Louis concordou que seria ótimo. Idosa como sou, apenas manifestei meu desejo de ir para casa e perguntou se gostaria de ir dormir em sua casa. Aceitei o convite já pensando que era uma ótima oportunidade para abordar o assunto que estava me agoniando nos últimos dias.
Pegamos um trem, no qual, durante o trajeto, dividimos os fones de ouvido e uma playlist minha que começou por Swear 2 G-D, de Sonny Santos e Billie Martens.
Ao chegar ao nosso destino, logo após entrarmos na sala de estar, larguei a bolsa no chão ao lado do sofá, jogando-me no mesmo com um suspiro. sentou-se ao meu lado com um meio sorriso nos lábios.
― Acho que a gente precisa conversar. ― Seu já pequeno sorriso diminuiu ainda mais, quase se apagando por completo.
― Aconteceu alguma coisa?
― Não e acho que esse é o problema. ― Ajeitei minha postura, ficando de lado para encará-lo. ― Vou te fazer uma pergunta e quero que, se possível, você seja honesto comigo, ok? ― Assentiu. ― Por que eu sinto que você não quer transar comigo? Tem algo errado? ― Arqueou as sobrancelhas surpreso. ― Quando eu disse naquele dia que não queria transar, era só naquele dia porque eu não tava sóbria. Mas o que te impede agora?
Suspirou, encostando a cabeça no encosto do estofado.
― Bom, acho que não tem mais como fugir desse assunto, né? Então, é melhor falar logo. Eu nunca transei com ninguém com quem não estivesse em um relacionamento.
― Como assim? ― Dei um sorrisinho, achando que ele estava brincando.
― Sexo casual? Nunca fiz. Com ninguém.
― Nunca? ― Meneou a cabeça. ― Nem quando você perdeu a virgindade?
― Eu namorei dois anos antes de conseguir transar com a minha namorada. ― Soltou uma risadinha anasalada.
― Ao mesmo tempo que tô um pouco chocada, eu tô aliviada que não era nada comigo.
― Com certeza não é nada com você. ― Passou a mão pelos cabelos. ― Sei que a gente conversou um monte de coisas pessoais e que deveria ter te dito isso mais cedo, mas eu meio… que fiquei com vergonha de falar sobre isso.
― Pelo amor de Deus, eu falei na sua cara que você tinha cara de quem fode gostoso! ― Ri de nervoso. ― Tudo bem, posso colocar a culpa na maconha, mas… ― Arqueei as sobrancelhas, deixando a frase no ar.
― Tudo bem, mas, ainda assim, fico com medo de ser meio decepcionante.
― Por que você acha que me decepcionaria?
― É pra ser honesto?
― De preferência.
― Você tem cara de quem gosta de que faça com força e de que, na primeira oportunidade, me quebraria no meio.
― Eu gosto, mas também sei fazer com carinho. ― Passei a mão pelo seu rosto, fazendo-o rir. ― Além de que a gente não precisa fazer nada hoje.
― Mas agora que você sabe, não tem por que… ― Foi diminuindo o tom de voz até a frase morrer por completo.
Muito rapidamente, pondo uma perna de cada lado do seu corpo, sentei-me em seu colo, segurando seu rosto entre minhas mãos.
― Já que seu medo é me decepcionar, que tal uma aula prática? ― Trocamos um sorriso cúmplice pouco antes de começarmos a nos beijar.
Depositando as mãos sobre minhas coxas, conforme as deslizava para cima, encontrou a barra do meu vestido, levando-o para cima junto com as pontas de seus dedos.
Afastando-me centímetros dele, tirei meu vestido, jogando-o no chão e permanecendo somente de calcinha e sutiã. Agradeci mentalmente por ter pensado em colocar um conjunto de lingerie minimamente bonito para combinar com o momento.
Sanfonando o tecido de sua camiseta, a puxei para cima, tirando-a de seu corpo, fazendo-a se juntar ao vestido no cantinho das vestes indesejadas.
― Se você quiser parar, a hora é agora ― cochichei. ― Depois, eu só vou te largar quando terminar.
― Vá em frente. ― Deu um sorrisinho sapeca e eu iniciei outro beijo, desta vez, mais intenso.
A musculatura do meu rosto estava começando a ficar amortecida, entretanto, nem isso era capaz de me fazer desgrudar os lábios dos seus.
Embora estivesse correspondendo ao beijo, as mãos de procuravam pela fechadura do meu sutiã. Portanto, contorcendo de leve meus braços, abri os colchetes, sentindo suas mãos agarrando as alças e fazendo-as deslizarem para fora dos meus braços.
Quando sua boca desceu pelo meu queixo até alcançar meu pescoço, emaranhei meus dedos em seus cachos escuros, puxando-os com um pouco mais de força que deveria. Inclinando meu peito para frente, não demorou para que seus lábios alcançassem o vão entre meus seios e, consequentemente, trilhassem um caminho até um dos meus mamilos. Pressionando seu rosto contra meu corpo, não consegui evitar um suspiro de escapar da minha garganta enquanto sentia o calor de sua boca em meu seio e sua ereção roçar em minha intimidade.
Escorregando as mãos desde as minhas costas, ao chegarem em minha bunda, apertaram-a e me puxaram para mais perto de si.
Seus cabelos tinham cheiro de chá verde que se misturava ao cheiro quase permanente de nicotina de seu corpo. Gostava tanto do aroma que sua pele exalava que queria me fundir a ela, pois me deixava nostálgica. Lembrava-me da minha adolescência, do meu antigo quarto, do meu tempo de faculdade, das festas e shows que costumava frequentar e de tudo que me deixava alegre naqueles tempos.
Fazendo o caminho de volta para a minha boca, voltou a me beijar, movendo uma das mãos para a minha nuca.
Rebolando sobre o volume que sobressaía em sua calça, os suspiros, antes produzidos apenas por mim, passaram a também sair de seus lábios e, logo, se transformaram em gemidos baixos. Perdendo um pouco da coordenação motora, vez ou outra, nossos lábios paravam de se movimentar um contra o outro para manter aquele diálogo cacofônico de nossos gemidos.
Sentindo um arrepio percorrer minha espinha, não contive o sorriso que se formou em meu rosto.
Afastando-me, abri sua calça e, erguendo meu quadril, permitindo-lhe abaixá-la junto com a cueca brevemente, deixando seu pau para fora. Esticando meu tronco para o lado, alcancei minha bolsa, pegando uma camisinha de dentro de um dos bolsinhos secretos. Abrindo o pacote, desenrolei o conteúdo sobre sua ereção sob seus olhos atentos.
Em um malabarismo com minhas próprias pernas, consegui tirar minha calcinha sem precisar me levantar. Só foi preciso tirar a perna de um dos lados de seu corpo para tal.
Posicionando-o entre meus lábios externos, deslizei-o sobre meu clitóris algumas vezes, sentindo a respiração aquecer e pesar em minhas vias aéreas. Cansada de brincar, encaixando sua glande na entrada da minha vagina, penetrei-o em mim de uma vez só, ouvindo um suspiro alto acompanhado de olhos cerrados em resposta. Antes de começar movimentos mais rápidos, rebolei sobre seu membro algumas vezes, deixando um gemido rouco escapar.
Enlaçando meus dedos em seus cabelos novamente, segurei-os com força.
― Olha… nos meus… olhos ― sussurrei ofegante.
Subia e descia sobre seu pau com afinco. Meu corpo inteiro estava em chamas, tanto que sentia um fio de suor escorrer pela linha da minha coluna. Ainda com as mãos apertadas nas minhas nádegas, estava com o olhar vidrado no meu. Da boca entreaberta, saíam gemidos cada vez mais sonoros que me deixam satisfeita e energética para continuar me movimentando.
Embora estivesse molhada o suficiente para fazer seu membro escapar algumas vezes de dentro de mim, sabia que se continuasse apenas com penetração levaria uma década para um orgasmo, talvez nem mesmo chegasse lá.
Largando suas madeixas escuras, inclinei as costas de leve para trás, apenas o suficiente para que o caminho até meu clitóris ficasse livre. Fazendo-o soltar uma das mãos da minha bunda, guiei seus dedos para o meu ponto mais sensível, incentivando-o a iniciar uma massagem em velocidade contínua.
A já tão conhecida sensação de alegria em meu baixo ventre já se acendia, como uma pequena luz ao fim do túnel que cresce até se tornar uma saída possível. Meus mamilos estavam saltados e endurecidos, além de que, pouco a pouco, os espasmos se apareciam com mais frequência em meu corpo, fazendo-me tremer e ter alguns movimentos involuntários.
Em dado instante, era impossível não gemer alto ou manter os olhos completamente abertos. Ou não tremer. Ou não arquear as costas. Qualquer coisa que não envolvesse somente sentir todas as respostas que meu corpo produzia era impossível.
Quando o orgasmo chegou, foi como se estivesse amarrada aos trilhos de um trem e, de repente, o veículo passava por cima de mim.
Foi uma morte lenta e muito satisfatória, cuja trilha sonora era um gemido mudo por não ter tido forças para externalizar qualquer som.
Encarando-o, começamos a rir. Nossas respirações pesavam meia tonelada e dificilmente normalizariam naqueles primeiros minutos.
Minhas pernas estavam doloridas demais para continuar sentada na posição que estava, portanto, deixei meu corpo despencar para um dos lados do estofado, sendo seguida pelo homem, que, tão logo se ajeitou, envolveu-me em seus braços.
― Sexo casual não é tão ruim quanto você achou que fosse?
― Não me convenceu.
― Ah, não? ― Franzi as sobrancelhas sem entender.
― Não. Foi bom porque foi com você. E, antes que tente argumentar, você não é uma estranha.
― É, mas não estamos exatamente em um relacionamento.
― Ah, é? Quem disse? ― Debochou.
― Eu disse.
― Acho que eu seria doido se não quisesse algo com alguém que fode como se passasse com um rolo compressor por cima de mim, né?
― Isso era pra ser uma elogio?
― Não soou assim?
― Com certeza não.
― Mas você me entendeu. ― Ri.
― Então, isso é um pedido?
― Só se você quiser.
― Eu quero. ― Sorri. ― Muito ― completei.
Segurando meu rosto entre suas mãos, olhou-me como se tentasse gravar cada detalhe das minhas feições naquele instante, produzindo uma memória. Selou nossos lábios demoradamente e senti um frio se instalando em meu ventre. Não é possível que eu tenha ficado mais cadela desse homem.
― O que você acha de um banho?
― Eu quero, desejo, almejo, cobiço. ― Rimos.
― Vem. ― Dando-me a mão, guiou-me pelo corredor até o banheiro.
Fechando a porta, o homem se livrou do preservativo, amarrando a ponta e jogando no lixo. Tirou duas toalhas de dentro do armário, pendurando-as no suporte próprio para tal.
Debaixo do chuveiro, nosso banho foi recheado de troca de carinhos, insistência da minha parte para lavar seu cabelo, além de piadas sobre a constrangedora possibilidade de Louis ter chegado enquanto estávamos transando e ter nos flagrado no sofá. Ainda bem, esta última não tinha acontecido.
Após sairmos do banheiro já secos, me arranjou uma roupa sua e não pude deixar de notar que, na parte superior de seu closet, em uma prateleira exclusiva para tal, havia uma quantidade absurda de troféus.
― Você é tipo um garoto de ouro? ― Brinquei.
― Quê? ― Franziu a testa.
― Os troféus. Não sabia que tinha tantos.
― Ah, isso. ― Sentou-se ao meu lado, depositando a mão sobre minha coxa. ― Tem algo que eu preciso te contar desde aquele dia na festa. ― Sua voz assumiu um tom mais sério, deixando-me levemente preocupada com o que vinha a seguir.
― Que foi?
― Lembra que você perguntou se eu conhecia seu bar e disse que tinha ido com George? ― Assenti. ― Então… isso é uma meia verdade. Já fui outras vezes sem George por um motivo muito específico.
― E qual é? ― Incentivei-o.
― Sabe o crítico gastronômico que assina como .?
― O que tem… ― Parei de falar assim que percebi onde ele queria chegar. ― Meu Deus, é você! ― Arregalei os olhos.
― Em carne e osso. ― Deu um sorrisinho amarelo, como quem não sabe como reagir. ― Quando disse que não me sentia satisfeito com o que fazia era porque, às vezes, sinto como se tivesse a obrigação de falar bem dos locais, pois, por uma crítica ruim, eles podem quebrar e vou me sentir responsável se isso acontecer.
― Mas essa responsabilidade não é sua. Você faz uma crítica de acordo com o que você acha bom e os comerciantes devem entender aquilo como pontos que devem, sim, serem melhorados. ― Pondo uma perna dobrada sobre a cama, me virei para encará-lo. ― Sabe o que eu acho mais legal? Você não releva que está indo ao local porque não quer receber um tratamento diferente dos outros clientes, você quer experimentar como o ambiente funciona in natura, sem nenhuma intervenção. Tanto que e eu nunca imaginamos que você apareceria um dia em nosso bar e escreveria sobre nós. ― Os cantos de seus lábios se comprimiram em uma tentativa de sorriso. ― E foi ótimo que você tenha ido. Tentamos melhorar tudo o que você pontuou que precisava ser revisto e aprimoramos o que já era bom. E, sinceramente, você é incrível no que faz. ― Segurei sua mão entre as minhas. ― Mas lembre-se do que eu te disse: se você não está feliz, sempre pode recomeçar. ― Sorriu e me abraçou forte pelos ombros.
Ainda sendo segurada entre seus braços, entendi que aquele gesto significava muito mais do que palavras seriam capazes de expressar. Envolvendo meus braços ao redor de sua cintura e repousando a cabeça em seu ombro, esperava que pudesse sentir o mesmo que eu sentia.
Contudo, havia algo que estava começando a me deixar incomodada. parecia estar fugindo de mim no que dizia respeito ao sexo. Evitava que ficássemos por muito tempo a sós ou em situações que pudessem acabar com nós dois sem roupa.
No dia anterior a nossa partida, combinamos de sairmos para jantar todos juntos ― Adam, , , eu e seu irmão mais novo, Louis. Ao final da refeição, disse que estava muito a fim de encerrar a noite em uma festa qualquer para dizer adeus a Paris em grande estilo. Louis concordou que seria ótimo. Idosa como sou, apenas manifestei meu desejo de ir para casa e perguntou se gostaria de ir dormir em sua casa. Aceitei o convite já pensando que era uma ótima oportunidade para abordar o assunto que estava me agoniando nos últimos dias.
Pegamos um trem, no qual, durante o trajeto, dividimos os fones de ouvido e uma playlist minha que começou por Swear 2 G-D, de Sonny Santos e Billie Martens.
Ao chegar ao nosso destino, logo após entrarmos na sala de estar, larguei a bolsa no chão ao lado do sofá, jogando-me no mesmo com um suspiro. sentou-se ao meu lado com um meio sorriso nos lábios.
― Acho que a gente precisa conversar. ― Seu já pequeno sorriso diminuiu ainda mais, quase se apagando por completo.
― Aconteceu alguma coisa?
― Não e acho que esse é o problema. ― Ajeitei minha postura, ficando de lado para encará-lo. ― Vou te fazer uma pergunta e quero que, se possível, você seja honesto comigo, ok? ― Assentiu. ― Por que eu sinto que você não quer transar comigo? Tem algo errado? ― Arqueou as sobrancelhas surpreso. ― Quando eu disse naquele dia que não queria transar, era só naquele dia porque eu não tava sóbria. Mas o que te impede agora?
Suspirou, encostando a cabeça no encosto do estofado.
― Bom, acho que não tem mais como fugir desse assunto, né? Então, é melhor falar logo. Eu nunca transei com ninguém com quem não estivesse em um relacionamento.
― Como assim? ― Dei um sorrisinho, achando que ele estava brincando.
― Sexo casual? Nunca fiz. Com ninguém.
― Nunca? ― Meneou a cabeça. ― Nem quando você perdeu a virgindade?
― Eu namorei dois anos antes de conseguir transar com a minha namorada. ― Soltou uma risadinha anasalada.
― Ao mesmo tempo que tô um pouco chocada, eu tô aliviada que não era nada comigo.
― Com certeza não é nada com você. ― Passou a mão pelos cabelos. ― Sei que a gente conversou um monte de coisas pessoais e que deveria ter te dito isso mais cedo, mas eu meio… que fiquei com vergonha de falar sobre isso.
― Pelo amor de Deus, eu falei na sua cara que você tinha cara de quem fode gostoso! ― Ri de nervoso. ― Tudo bem, posso colocar a culpa na maconha, mas… ― Arqueei as sobrancelhas, deixando a frase no ar.
― Tudo bem, mas, ainda assim, fico com medo de ser meio decepcionante.
― Por que você acha que me decepcionaria?
― É pra ser honesto?
― De preferência.
― Você tem cara de quem gosta de que faça com força e de que, na primeira oportunidade, me quebraria no meio.
― Eu gosto, mas também sei fazer com carinho. ― Passei a mão pelo seu rosto, fazendo-o rir. ― Além de que a gente não precisa fazer nada hoje.
― Mas agora que você sabe, não tem por que… ― Foi diminuindo o tom de voz até a frase morrer por completo.
Muito rapidamente, pondo uma perna de cada lado do seu corpo, sentei-me em seu colo, segurando seu rosto entre minhas mãos.
― Já que seu medo é me decepcionar, que tal uma aula prática? ― Trocamos um sorriso cúmplice pouco antes de começarmos a nos beijar.
Depositando as mãos sobre minhas coxas, conforme as deslizava para cima, encontrou a barra do meu vestido, levando-o para cima junto com as pontas de seus dedos.
Afastando-me centímetros dele, tirei meu vestido, jogando-o no chão e permanecendo somente de calcinha e sutiã. Agradeci mentalmente por ter pensado em colocar um conjunto de lingerie minimamente bonito para combinar com o momento.
Sanfonando o tecido de sua camiseta, a puxei para cima, tirando-a de seu corpo, fazendo-a se juntar ao vestido no cantinho das vestes indesejadas.
― Se você quiser parar, a hora é agora ― cochichei. ― Depois, eu só vou te largar quando terminar.
― Vá em frente. ― Deu um sorrisinho sapeca e eu iniciei outro beijo, desta vez, mais intenso.
A musculatura do meu rosto estava começando a ficar amortecida, entretanto, nem isso era capaz de me fazer desgrudar os lábios dos seus.
Embora estivesse correspondendo ao beijo, as mãos de procuravam pela fechadura do meu sutiã. Portanto, contorcendo de leve meus braços, abri os colchetes, sentindo suas mãos agarrando as alças e fazendo-as deslizarem para fora dos meus braços.
Quando sua boca desceu pelo meu queixo até alcançar meu pescoço, emaranhei meus dedos em seus cachos escuros, puxando-os com um pouco mais de força que deveria. Inclinando meu peito para frente, não demorou para que seus lábios alcançassem o vão entre meus seios e, consequentemente, trilhassem um caminho até um dos meus mamilos. Pressionando seu rosto contra meu corpo, não consegui evitar um suspiro de escapar da minha garganta enquanto sentia o calor de sua boca em meu seio e sua ereção roçar em minha intimidade.
Escorregando as mãos desde as minhas costas, ao chegarem em minha bunda, apertaram-a e me puxaram para mais perto de si.
Seus cabelos tinham cheiro de chá verde que se misturava ao cheiro quase permanente de nicotina de seu corpo. Gostava tanto do aroma que sua pele exalava que queria me fundir a ela, pois me deixava nostálgica. Lembrava-me da minha adolescência, do meu antigo quarto, do meu tempo de faculdade, das festas e shows que costumava frequentar e de tudo que me deixava alegre naqueles tempos.
Fazendo o caminho de volta para a minha boca, voltou a me beijar, movendo uma das mãos para a minha nuca.
Rebolando sobre o volume que sobressaía em sua calça, os suspiros, antes produzidos apenas por mim, passaram a também sair de seus lábios e, logo, se transformaram em gemidos baixos. Perdendo um pouco da coordenação motora, vez ou outra, nossos lábios paravam de se movimentar um contra o outro para manter aquele diálogo cacofônico de nossos gemidos.
Sentindo um arrepio percorrer minha espinha, não contive o sorriso que se formou em meu rosto.
Afastando-me, abri sua calça e, erguendo meu quadril, permitindo-lhe abaixá-la junto com a cueca brevemente, deixando seu pau para fora. Esticando meu tronco para o lado, alcancei minha bolsa, pegando uma camisinha de dentro de um dos bolsinhos secretos. Abrindo o pacote, desenrolei o conteúdo sobre sua ereção sob seus olhos atentos.
Em um malabarismo com minhas próprias pernas, consegui tirar minha calcinha sem precisar me levantar. Só foi preciso tirar a perna de um dos lados de seu corpo para tal.
Posicionando-o entre meus lábios externos, deslizei-o sobre meu clitóris algumas vezes, sentindo a respiração aquecer e pesar em minhas vias aéreas. Cansada de brincar, encaixando sua glande na entrada da minha vagina, penetrei-o em mim de uma vez só, ouvindo um suspiro alto acompanhado de olhos cerrados em resposta. Antes de começar movimentos mais rápidos, rebolei sobre seu membro algumas vezes, deixando um gemido rouco escapar.
Enlaçando meus dedos em seus cabelos novamente, segurei-os com força.
― Olha… nos meus… olhos ― sussurrei ofegante.
Subia e descia sobre seu pau com afinco. Meu corpo inteiro estava em chamas, tanto que sentia um fio de suor escorrer pela linha da minha coluna. Ainda com as mãos apertadas nas minhas nádegas, estava com o olhar vidrado no meu. Da boca entreaberta, saíam gemidos cada vez mais sonoros que me deixam satisfeita e energética para continuar me movimentando.
Embora estivesse molhada o suficiente para fazer seu membro escapar algumas vezes de dentro de mim, sabia que se continuasse apenas com penetração levaria uma década para um orgasmo, talvez nem mesmo chegasse lá.
Largando suas madeixas escuras, inclinei as costas de leve para trás, apenas o suficiente para que o caminho até meu clitóris ficasse livre. Fazendo-o soltar uma das mãos da minha bunda, guiei seus dedos para o meu ponto mais sensível, incentivando-o a iniciar uma massagem em velocidade contínua.
A já tão conhecida sensação de alegria em meu baixo ventre já se acendia, como uma pequena luz ao fim do túnel que cresce até se tornar uma saída possível. Meus mamilos estavam saltados e endurecidos, além de que, pouco a pouco, os espasmos se apareciam com mais frequência em meu corpo, fazendo-me tremer e ter alguns movimentos involuntários.
Em dado instante, era impossível não gemer alto ou manter os olhos completamente abertos. Ou não tremer. Ou não arquear as costas. Qualquer coisa que não envolvesse somente sentir todas as respostas que meu corpo produzia era impossível.
Quando o orgasmo chegou, foi como se estivesse amarrada aos trilhos de um trem e, de repente, o veículo passava por cima de mim.
Foi uma morte lenta e muito satisfatória, cuja trilha sonora era um gemido mudo por não ter tido forças para externalizar qualquer som.
Encarando-o, começamos a rir. Nossas respirações pesavam meia tonelada e dificilmente normalizariam naqueles primeiros minutos.
Minhas pernas estavam doloridas demais para continuar sentada na posição que estava, portanto, deixei meu corpo despencar para um dos lados do estofado, sendo seguida pelo homem, que, tão logo se ajeitou, envolveu-me em seus braços.
― Sexo casual não é tão ruim quanto você achou que fosse?
― Não me convenceu.
― Ah, não? ― Franzi as sobrancelhas sem entender.
― Não. Foi bom porque foi com você. E, antes que tente argumentar, você não é uma estranha.
― É, mas não estamos exatamente em um relacionamento.
― Ah, é? Quem disse? ― Debochou.
― Eu disse.
― Acho que eu seria doido se não quisesse algo com alguém que fode como se passasse com um rolo compressor por cima de mim, né?
― Isso era pra ser uma elogio?
― Não soou assim?
― Com certeza não.
― Mas você me entendeu. ― Ri.
― Então, isso é um pedido?
― Só se você quiser.
― Eu quero. ― Sorri. ― Muito ― completei.
Segurando meu rosto entre suas mãos, olhou-me como se tentasse gravar cada detalhe das minhas feições naquele instante, produzindo uma memória. Selou nossos lábios demoradamente e senti um frio se instalando em meu ventre. Não é possível que eu tenha ficado mais cadela desse homem.
― O que você acha de um banho?
― Eu quero, desejo, almejo, cobiço. ― Rimos.
― Vem. ― Dando-me a mão, guiou-me pelo corredor até o banheiro.
Fechando a porta, o homem se livrou do preservativo, amarrando a ponta e jogando no lixo. Tirou duas toalhas de dentro do armário, pendurando-as no suporte próprio para tal.
Debaixo do chuveiro, nosso banho foi recheado de troca de carinhos, insistência da minha parte para lavar seu cabelo, além de piadas sobre a constrangedora possibilidade de Louis ter chegado enquanto estávamos transando e ter nos flagrado no sofá. Ainda bem, esta última não tinha acontecido.
Após sairmos do banheiro já secos, me arranjou uma roupa sua e não pude deixar de notar que, na parte superior de seu closet, em uma prateleira exclusiva para tal, havia uma quantidade absurda de troféus.
― Você é tipo um garoto de ouro? ― Brinquei.
― Quê? ― Franziu a testa.
― Os troféus. Não sabia que tinha tantos.
― Ah, isso. ― Sentou-se ao meu lado, depositando a mão sobre minha coxa. ― Tem algo que eu preciso te contar desde aquele dia na festa. ― Sua voz assumiu um tom mais sério, deixando-me levemente preocupada com o que vinha a seguir.
― Que foi?
― Lembra que você perguntou se eu conhecia seu bar e disse que tinha ido com George? ― Assenti. ― Então… isso é uma meia verdade. Já fui outras vezes sem George por um motivo muito específico.
― E qual é? ― Incentivei-o.
― Sabe o crítico gastronômico que assina como .?
― O que tem… ― Parei de falar assim que percebi onde ele queria chegar. ― Meu Deus, é você! ― Arregalei os olhos.
― Em carne e osso. ― Deu um sorrisinho amarelo, como quem não sabe como reagir. ― Quando disse que não me sentia satisfeito com o que fazia era porque, às vezes, sinto como se tivesse a obrigação de falar bem dos locais, pois, por uma crítica ruim, eles podem quebrar e vou me sentir responsável se isso acontecer.
― Mas essa responsabilidade não é sua. Você faz uma crítica de acordo com o que você acha bom e os comerciantes devem entender aquilo como pontos que devem, sim, serem melhorados. ― Pondo uma perna dobrada sobre a cama, me virei para encará-lo. ― Sabe o que eu acho mais legal? Você não releva que está indo ao local porque não quer receber um tratamento diferente dos outros clientes, você quer experimentar como o ambiente funciona in natura, sem nenhuma intervenção. Tanto que e eu nunca imaginamos que você apareceria um dia em nosso bar e escreveria sobre nós. ― Os cantos de seus lábios se comprimiram em uma tentativa de sorriso. ― E foi ótimo que você tenha ido. Tentamos melhorar tudo o que você pontuou que precisava ser revisto e aprimoramos o que já era bom. E, sinceramente, você é incrível no que faz. ― Segurei sua mão entre as minhas. ― Mas lembre-se do que eu te disse: se você não está feliz, sempre pode recomeçar. ― Sorriu e me abraçou forte pelos ombros.
Ainda sendo segurada entre seus braços, entendi que aquele gesto significava muito mais do que palavras seriam capazes de expressar. Envolvendo meus braços ao redor de sua cintura e repousando a cabeça em seu ombro, esperava que pudesse sentir o mesmo que eu sentia.
#4 Pretty Boy - The Neighbourhood
Na semana seguinte à nossa volta para casa, um pedido não muito comum em nosso bar aconteceu: a reserva do espaço para um evento. Quem cuidava dessa parte geralmente era , eu somente cuidava dos funcionários e da cozinha, pois, diferente de quando eram vários clientes que iam e vinham, este havia fechado o local para a comemoração de aniversário de um parente ou amigo e estes seriam nossos únicos clientes à noite toda.
A chegada do reservista estava marcada para às 21h, portanto, iniciamos os trabalhos um pouco mais tarde que o normal e pedi que o pessoal da cozinha fizesse tudo com tranquilidade, afinal, tínhamos tempo para isso.
Trocando mensagens com ao longo do dia, soube que estava na casa da mãe, junto com o pai e o irmão para comemorar o aniversário de alguém. Segundo ele, alguém importante para família com quem fazia algum tempo que ele não se encontrava pessoalmente. Ri pela coincidência e contei a ele sobre estarmos com uma reserva para um aniversário também. Avisei que precisava voltar ao trabalho e o homem me pediu para que o chamasse para conversar quando fosse possível.
Ao perceber que estava quase na hora do cliente chegar, voltei para a cozinha com o intuito de ajudar a terminar de enfeitar alguns docinhos que faltavam para poderem ir ao buffet. Minutos mais tarde, após finalizá-los, passei a ouvir a voz de conversando com alguém no salão. Aparentemente, nossos clientes haviam chegado e, curiosa como era, dirigi-me até lá para ver quem era a pessoa.
Próxima ao balcão, vi de costas um homem mais ou menos da altura de , cabelos escuros e encaracolados, usando camiseta preta e calça de alfaiataria. Ao me ver, sorriu, acenou e pude ouvi-la dizer “aí está ela”. Assim que o homem se virou, estacionei onde estava, franzindo o cenho.
― Oi. ― sorriu.
― O que você tá fazendo aqui?
― Dã, quem você acha que reservou o lugar? ― Aproximou-se de mim, ficando a pouquíssimos centímetros de distância.
― Vocês vão comemorar o aniversário daquela pessoa que você falou aqui? ― Questionei ainda confusa.
― Você não entendeu, né? ― Semicerrei os olhos.
Segurando minhas mãos entre as suas, deu um beijo em minha testa e sorriu.
― Nós nos conhecemos no seu aniversário e, inconscientemente, o comemorei com você, mas não valeu porque eu não sabia de nada. Então, essa vai ser a sua festa. ― Demorei alguns segundos para assimilar, o que isso significava.
― Mas você disse que alguém importante na sua… ― Não consegui terminar a frase.
― Vem. ― Soltou uma das minhas mãos e me guiou por entre as mesas do salão até a parte próxima ao buffet, que ficava no “cômodo” ao lado.
Ao fundo, ao redor da mesa, estava uma mulher loira de cabelos curtos que deveria ter pouco mais de meia idade, seu irmão mais novo, um homem mais velho careca que se parecia muito com ele e outro mais jovem.
A poucos passos de distância da mesa foi que minha ficha caiu.
― Pessoal? ― Chamou a atenção de todos, que se viraram sorridentes em nossa direção. ― , esses são Denise e Tim, meus pais, Lincoln, meu padrasto, e o Louis você já conhece. ― Este fez uma rápida continência com dois dedos, dando um meio sorriso. ― Pessoal, esta é , minha namorada, e a aniversariante. ― Arregalei os olhos, surpresa.
passou o braço por sobre meus ombros, aconchegou-me no calor de seu corpo.
― Feliz aniversário, namorada ― sussurrou em meu ouvido e eu o abracei.
Ao fim das contas, Paris talvez fosse mesmo a cidade do amor.
A chegada do reservista estava marcada para às 21h, portanto, iniciamos os trabalhos um pouco mais tarde que o normal e pedi que o pessoal da cozinha fizesse tudo com tranquilidade, afinal, tínhamos tempo para isso.
Trocando mensagens com ao longo do dia, soube que estava na casa da mãe, junto com o pai e o irmão para comemorar o aniversário de alguém. Segundo ele, alguém importante para família com quem fazia algum tempo que ele não se encontrava pessoalmente. Ri pela coincidência e contei a ele sobre estarmos com uma reserva para um aniversário também. Avisei que precisava voltar ao trabalho e o homem me pediu para que o chamasse para conversar quando fosse possível.
Ao perceber que estava quase na hora do cliente chegar, voltei para a cozinha com o intuito de ajudar a terminar de enfeitar alguns docinhos que faltavam para poderem ir ao buffet. Minutos mais tarde, após finalizá-los, passei a ouvir a voz de conversando com alguém no salão. Aparentemente, nossos clientes haviam chegado e, curiosa como era, dirigi-me até lá para ver quem era a pessoa.
Próxima ao balcão, vi de costas um homem mais ou menos da altura de , cabelos escuros e encaracolados, usando camiseta preta e calça de alfaiataria. Ao me ver, sorriu, acenou e pude ouvi-la dizer “aí está ela”. Assim que o homem se virou, estacionei onde estava, franzindo o cenho.
― Oi. ― sorriu.
― O que você tá fazendo aqui?
― Dã, quem você acha que reservou o lugar? ― Aproximou-se de mim, ficando a pouquíssimos centímetros de distância.
― Vocês vão comemorar o aniversário daquela pessoa que você falou aqui? ― Questionei ainda confusa.
― Você não entendeu, né? ― Semicerrei os olhos.
Segurando minhas mãos entre as suas, deu um beijo em minha testa e sorriu.
― Nós nos conhecemos no seu aniversário e, inconscientemente, o comemorei com você, mas não valeu porque eu não sabia de nada. Então, essa vai ser a sua festa. ― Demorei alguns segundos para assimilar, o que isso significava.
― Mas você disse que alguém importante na sua… ― Não consegui terminar a frase.
― Vem. ― Soltou uma das minhas mãos e me guiou por entre as mesas do salão até a parte próxima ao buffet, que ficava no “cômodo” ao lado.
Ao fundo, ao redor da mesa, estava uma mulher loira de cabelos curtos que deveria ter pouco mais de meia idade, seu irmão mais novo, um homem mais velho careca que se parecia muito com ele e outro mais jovem.
A poucos passos de distância da mesa foi que minha ficha caiu.
― Pessoal? ― Chamou a atenção de todos, que se viraram sorridentes em nossa direção. ― , esses são Denise e Tim, meus pais, Lincoln, meu padrasto, e o Louis você já conhece. ― Este fez uma rápida continência com dois dedos, dando um meio sorriso. ― Pessoal, esta é , minha namorada, e a aniversariante. ― Arregalei os olhos, surpresa.
passou o braço por sobre meus ombros, aconchegou-me no calor de seu corpo.
― Feliz aniversário, namorada ― sussurrou em meu ouvido e eu o abracei.
Ao fim das contas, Paris talvez fosse mesmo a cidade do amor.
Fim.
Nota da autora: Cade leitores de nothing revealed, everything denied aqui? Essa short, como avisado na tabela e nas primeiras caixas de diálogo, é um spin-off de NRED. "Ué, mas não tem nada a ver com a história", TEM SIM, MEU ANJO!!! Lá no capítulo 7, no aniversário de um dos fundadores da gravadora, depois que o Matty tira a Isis pra dançar, ele questiona se eles teriam se conhecido se ela não fosse jornalista ou ele não fosse músico e.... tchãnan!!!!! Essa ideia de eles estarem destinados um ao outro me atormentou por dias a fio até eu conseguir me sentar e escrever essa aqui. Claro que essa não foi a única ideia que tive, mas não tinha tempo sobrando pra escrever tudo que eu queria, então, quem sabe um dia venha aí uma long inteira só com os primeiros encontros deles em várias realidade, né?.............
Aliás, se você é leitore de NRED, corre nesse link aqui porque tem um outro spin-off do nosso casal que entrou nesse mesmo especial e eu espero muito que as fãs de finais felizes gostem......
bjbj e até a próxima <3
Caixinha de comentários: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI
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bjbj e até a próxima <3
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