Finalizada em: 17/12/2019

Capítulo Único


Londres, Julho de 2009.

Ouvi meu despertador tocando em alto e bom som ao meu lado, resmunguei, esticando o braço até achá-lo sobre a minha mesinha de cabeceira, desligando-o enfim. Suspirei ainda de olhos fechados, colocando as mãos sobre o rosto. Detestando ter que me levantar mais um dia para ir à faculdade. Por que eu fui inventar isso mesmo? Suspirei, dando-me por vencida e me sentando na cama, tentando me acostumar a claridade do quarto. Amarrei meu cabelo no topo e me levantei, enfim, rumando para o banheiro. Assim que olhei minha cara acabada no espelho, fiz uma careta, reprovando-me em seguida. Retirei a camiseta grande e o shorts que eu vestia, jogando-os no cesto de roupa suja ao lado. Entrei no box do banheiro e liguei a ducha, colocando-a no modo quente. É, Londres estava iniciando o inverno e não seria nada piedoso. Senti a água quente escorrer pelo meu corpo, suspirei, tocando a minha barriga. Fixei meus olhos na protuberância que já existia ali. Quatro meses. Faziam quatro meses que eu havia descoberto que estava grávida. Todo aquele turbilhão de emoções ainda existia em mim. Eu ainda não havia contado a ninguém sobre isso. Meus pais não sabiam, minha melhor amiga, Emily, também não e, claro, muito menos. Ah, . Eu só queria ter a chance de mudar tanta coisa na minha vida. Não ter me deixado levar por aquele papinho furado dele, não ter sido tão promíscua comigo mesmo e com os meus princípios, queria apertar um botãozinho e poder mudar todo o meu passado. Suspirei, fechando os olhos e acariciando a minha barriga lentamente. Quando descobri que estava grávida, nem por um segundo eu pensei em desistir dessa gravidez. Eu sabia que eu tinha essa possibilidade. Eu poderia terminar com isso, me afastar de e seguir a minha vida como deveria ter sido desde o começo. Mas optei por seguir em frente, dar a vida a esse serzinho que crescia dentro de mim a cada dia mais. E eu, no momento, só queria conhecê-lo e amá-lo como se não houvesse amanhã. Mas eu sabia que teria e eu ainda não havia parado pra pensar em como seria.
- Ah! - falei baixo, surpresa, sentindo algo se mover em direção a minha mão, onde eu acariciava. Sorri, colocando uma mão sobre a boca e sentindo novamente. Meus olhos se encheram de água e uma felicidade enorme tomou conta de mim quando me dei conta do que estava acontecendo. Meu bebê estava chutando pela primeira vez. - Ah, meu filho… - sussurrei, fechando os olhos e sentindo aquela sensação tomar conta de mim. Fui terminar de tomar meu banho com um sorriso bobo no rosto, sentindo-me feliz pela primeira vez em meses. Logo após, voltei para o quarto e terminei de me arrumar, coloquei uma camisa larga e a única calça que ainda me servia, agradecendo pelo frio e por ter que vestir um milhão de casacos, assim, disfarçando a minha barriga e saí, rumando para as minhas aulas. Minha casa ficava perto da faculdade, meu pai, Charlie, havia procurado pessoalmente um lugar para mim quando decidi vir morar e estudar em Londres. Ah, Charlie era um excelente pai, sempre me apoiou em tudo o que sempre fiz mesmo após ter se divorciado da minha mãe, quase dez anos atrás. Eles se conheceram em uma dessas idas do meu pai ao Brasil a trabalho, minha mãe era a tradutora da empresa onde ele iria se apresentar. Ele se encantou por ela; ela se encantou por ele. O resto, você já sabe. Quando estava chegando até a minha primeira aula do dia, senti meu celular vibrar na minha bolsa, suspirei, andando e enfiando a mão dentro dela, alcançando o aparelho. Avistei Emily mais a frente acenando pra mim, sorri, encaminhando-me até ela e me sentando na cadeira vaga ao seu lado.
- Oi, boneca! - ela falou, sorrindo e se virando pra mim.
- Oi, Em. Chegou faz tempo? - perguntei, fitando o celular em minhas mãos. Senti meu coração acelerar assim que vi que havia recebido uma mensagem de . Abri rapidamente, lendo o conteúdo.


“Oi, , tá tudo bem? Tenho tentado falar com você há dias e você parece que tem me evitado. Tá acontecendo alguma coisa? Xx”



Aposto que todo o sangue do meu rosto havia se esvaído após ler aquela mensagem. Ele estava certo, eu estava o evitando o máximo que podia, ele não podia saber da gravidez de jeito nenhum. Se nos encontramos quatro vezes nos últimos meses foi muito. Suspirei, sem saber o que responder.
- ? Você tá bem? - Emily chamou a minha atenção, fazendo-me olhá-la. - Você tá pálida!
- É, ahm, sim. - forcei um sorriso. - Eu tô bem, claro.
- Não parece. - fez uma careta, não acreditando. - Tem certeza? A gente pode ir até a enfermaria.
- Eu tô bem, sério! - balancei a cabeça positivamente, tentando passar confiança. Segundos depois, o professor entrou na sala, interrompendo-nos. - O professor chegou, depois a gente conversa.
- Ok. - falou, desconfiada e se virando para a frente. Respirei fundo, voltando a fitar meu celular, mas ainda sem saber o que responder. Optei por ignorar a mensagem novamente até saber o que responder. As duas primeiras aulas passaram lentamente, principalmente porque eu não conseguia me concentrar em nada em que os professores falavam. Fazendo me sentir culpada novamente. Na hora do intervalo, fomos direto para a lanchonete mais próxima, eu estava faminta e meu bebê também. - O que você vai querer? Eu vou buscar pra gente!
- Suco de laranja e um grande sanduíche! - pedi, sorrindo. - Ah, e traz um chocolate também.
- Amiga, acho que a gente deveria entrar numa academia, você não acha? - falou, dando de ombros. Mordi a boca, sem graça. É, eu havia ganhado alguns quilos, era óbvio, mas ela não sabia o motivo disso.
- É só o estresse do período, Em. Vai passar! - falei, tentando parecer despreocupada.
Ahm, ok. - falou concordando, virando-se e indo até balcão pedir nossos pedidos. Estralei os dedos, ansiosa, checando o horário no meu celular. Eu havia marcado uma consulta com a minha obstetra mais tarde e sabia que ia perder a última aula do dia, teria que dar uma explicação para Emily bem convincente. Suspirei, lembrando-me da mensagem de , pegando meu celular dentro da bolsa e retornando até ela. Digitei rapidamente uma mensagem avisando que eu estava livre mais tarde e se ele quisesse, poderíamos nos encontrar no loft. Ok, eu sabia que era muito arriscado, mas duas coisas me impediam de não respondê-lo novamente: 1. eu não poderia deixá-lo saber sobre o real motivo; 2. eu o amava e queria vê-lo de novo.


Encostei a cabeça na almofada atrás de mim, esticando as pernas sobre a cama da clínica. Suspirei alto, ansiosa, batucando os dedos sobre a cama. A porta do consultório foi aberta e eu vi a minha obstetra passar por ela. Ela sorriu, aproximando-se de mim.
- Bom dia, ! - desejou, parando ao meu lado. Sorri de volta.
- Bom dia, dra. Collins! - a respondi. Ela foi até o armário atrás de mim e pegou um par de luvas, depois andando de volta até mim, postando-se ao meu lado, ligando o aparelho de ultrassom.
- Dezessete semanas, uh? Como está se sentindo? - perguntou, pegando a minha ficha e uma caneta, anotando algumas coisas ali.
- Bem, às vezes um pouco desconfortável, um enjoo ali outro aqui, mas melhor que nos primeiros dois meses. - ri. - Bem melhor! Ah, o bebê chutou hoje!
- Isso é ótimo de se ouvir, ! - ela sorriu pra mim. - Tem tomado as vitaminas que pedi? - balancei a cabeça, concordando. - Ótimo! - falou, deixando a minha ficha de lado. - Vamos dar uma olhadinha nesse bebezinho então. - avisou. - Com licença. - pediu, levantando a minha camiseta e colocando até a altura do meu peito, deixando toda a minha barriga amostra. Despejou aquele gel gelado que eu odiava sobre ela, fazendo-me reprimir um gemido. Posicionou o transdutor do ultrassom sobre a minha barriga, apertando alguns botões sobre o aparelho na mesa, fazendo rapidamente o som dos batimentos cardíacos do meu bebê ressoarem pela sala inteira. Meu coração acelerou junto. - Esse bebê tem os batimentos fortes. Gostamos disso! - falou, sorrindo enquanto girava o transdutor. - Aqui, olha, é a cabecinha dele. - apontou para um ponto do visor. - Aqui a espinha, as perninhas… - foi apontando e falando. - Aqui as duas perninhas. Eu vou tentar olhar entre elas para saber o que esse bebezinho é. - avisou, tentando achar uma posição para identificar. - Hmm… - fez, animada. Fazendo-me morder o lábios com força, ansiosa. - Ele está viradinho, olha só! Você consegue ver o rostinho dele, um pouco? - perguntou, apontando os detalhes no monitor. - Aqui é o cordão umbilical, estou tentando ver por trás dele, só um minuto.
- Ok. - falei, sem tirar os olhos do monitor.
- Oh, ele está bocejando! - ela riu, fazendo-me rir também. - Tão fofo!
- Oi, bebê! - falei baixo, olhando rapidamente para a minha barriga.
- Ei, eu vi algo! - sorriu, fitando-me. - É, definitivamente está ali. - falou, voltando a fitar o visor. - Você quer saber o sexo?
- Sim, por favor! - pedi, animada.
- Bom, você vai ter um menino, . - falou, enfim, sorrindo.
- Um menino? - perguntei sorrindo largamente. Ela assentiu, balançando a cabeça positivamente. - Oi, querido! - falei, fitando a minha barriga, segurando algumas lágrimas. - Oi, meu menino! - sorri ao terminar de falar essas palavras pela primeira vez. - Meu menino!
- Parabéns, ! - ela falou, retirando o transdutor da minha barriga e limpando o gel sobre ela. - Já decidiu falar sobre a gravidez com o pai da criança?
- Ainda não. - fiz uma careta. - Não contei a ninguém ainda.
- Você precisa contar a alguém, querida. - ela pediu, olhando-me daquela forma maternal que ela sempre fazia. - É para o seu próprio bem.
- Eu sei. - concordei, balançando a cabeça. - Eu sei disso.
- Estarei aqui se precisar de algo, ok? - avisou, ajudando-me a levantar da cama.
- Ok, muito obrigada! - agradeci sorrindo. Arrumei a minha blusa, voltando a colocar meu casaco e meu cachecol.
- Te vejo daqui três semanas. - falou, acompanhando-me até a porta de saída do consultório.
- Até lá, dra. Collins! - acenei pra ela, saindo enfim de lá. Sorri, colocando a mão na minha barriga. Um menino! Eu teria um garotinho correndo pela casa. Quando meu pai soubesse que ele teria um netinho para mimar! Poxa! Espero que ele entenda e fique feliz por isso. Assim que saí da clínica, senti um vento frio bater no meu rosto. Respirei fundo pegando meu celular e lendo novamente a resposta de . “Combinado. Eu tenho o horário do almoço livre. Eu levo o vinho! ;)”. Balancei a cabeça negativamente, debochando de mim mesma enquanto voltava a guardar o celular e acenava para um táxi. Em alguns minutos estava dentro do táxi rumando para a o loft dele. De novo.



- Você tem certeza que não quer vinho? - perguntou novamente, colocando mais na taça dele. Sorri, negando e pegando um morango dentro da vasilha cheio deles. Estávamos sentados no chão da sala do loft, mais especificamente, sobre o carpete azul fofinho dele. Ele havia trazido vinho e morangos. E tudo o que eu queria era um hambúrguer enorme com batata frita. Hm, eu precisava correr atrás disso depois. Ele estava sem a gravata, mas usava uma camisa social com as mangas dobradas até os cotovelos, o cabelo levemente bagunçado de tanto passar os dedos entre eles e as bochechas rosadas devido ao vinho. Eu suspirei, tentando me ajeitar em alguma posição confortável. Não era fácil com a barriga que estava cada dia maior. sorriu pra mim, esticando a mão livre e tocando meu rosto, acariciando minha bochecha levemente. Fixei meus olhos nos seus intensamente, sentindo meu corpo responder ao seu toque, sentindo cada parte de mim se acender. Meus hormônios durante a gravidez pareciam que iriam me enlouquecer a qualquer momento. Eles não eram nada confiáveis e eu sabia bem disso. Ele fitou meus lábios e se aproximou de mim, encostando a boca levemente na minha, pressionando-as sem força. Suspirei baixo, entreabrindo os lábios e deixando que ele aprofundasse o beijo, deixando-me mais extasiada. deixou a taça no chão e segurou meu rosto com as duas mãos, aproximando seu corpo do meu. Apoiei minha mão na sua perna, apertando as unhas no tecido da sua calça; deslizou as mãos pelos meus braços até a minha cintura, puxando-me, trazendo-me até me colocar sentada em seu colo. Senti seus lábios distribuírem beijos pelo meu pescoço, fazendo-me fechar os olhos e morder meus lábios com força. Quando seus dedos adentraram minha blusa, tocando a minha pele eu pulei para longe, respirando rápido. Ele me olhou sem entender o que tinha acontecido. - O que foi?
- Não posso! - falei rápido. Ele levantou a sobrancelha, confuso. - Eu te disse, eu… Eu não ando me sentindo bem comigo mesma, com o meu corpo.
- , para com isso! - pediu, tentando se aproximar de mim. - Você tá linda! - falou baixo. - Você é linda.
- ... - sussurrei, tentando manter a sanidade. Ele fez aquela careta fofa, quando ele juntava as sobrancelhas e torcia a boca sem saber o que fazer. Arght, eu odiava amar isso! - Sinto muito!
- , vem cá! - pediu, estendendo a mão na minha direção. Olhei para ela e depois para seu rosto. - Eu não vou fazer nada, prometo. - suspirei, aceitando a sua mão e deixando que ele me puxasse para perto novamente. Ele sorriu, fitando-me, colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e beijou levemente meus lábios, depois voltando a me olhar. - Você precisa relaxar, . Você anda muito estressada esses últimos meses, tem me evitado de todas as formas. O que tá acontecendo? - perguntou, fitando-me e esperando uma resposta.
- Desculpe por isso. - suspirei, desviando o olhar. - É só estresse da faculdade e algumas outras coisas, ok? Não se preocupe, vou ficar bem.
- Tem certeza? - indagou, levantando a sobrancelha.
- Tenho! - falei, forçando um sorriso e depositando um selinho rápido em seus lábios, ele sorriu de lado.
- Ok, se você diz. - deu de ombros parecendo acreditar. Seu celular vibrou sobre o sofá atrás de nós, tocando audivelmente. Ele se esticou, alcançando o aparelho, fitou o visor, fez uma careta e depois me olhou. - Eu preciso ir.
- É, eu imaginei. - falei, entortando a boca. - Emma?
- Sinto muito. - fez uma careta, aproximando-se de mim e segurando meu queixo, beijando-me levemente, encostando a testa na minha. - Fica bem!
- Eu vou tentar. - falei, franzindo o nariz.
- A gente se vê depois, ok? - avisou, levantando-se e pegando suas coisas sobre o sofá. Enfiou a chave do carro no bolso e a carteira no outro, segurou o celular na mão e se virou pra mim, observando-me sentada no chão, fitando-o. - Você é linda, ok? De qualquer jeito!
- Obrigada. - sorri sincera, observando-o sorrir de volta enquanto se afastava até a porta.
- Tchau, ! - acenou, abrindo a porta enfim.
- Tchau, . - acenei de volta. Ele saiu pela porta, eu ouvi o som dela se fechar e suspirei, aliviada. Coloquei minhas mãos sobre a minha barriga e a acariciei, sentindo o meu filho chutar. Era tudo tão tarde demais. Era eu e meu menino. Éramos só nós dois.


Londres, Setembro de 2009.

Mordi a unha do dedão, nervosa. Estava dentro de um táxi rumando para o escritório de Charlie, mais conhecido como meu pai. É, estava mais do que na hora de contar sobre o netinho que ele iria ter. Eu havia decidido algumas coisas durantes esse último mês e precisaria de todo apoio familiar possível. Eu tentei bolar vários planos e histórias possíveis para contar a ele. Eu não poderia simplesmente jogar a bomba da gravidez da doce filhinha de dezoito anos dele e de quebra um caso com um cara comprometido. Não, eu não orgulho disso de forma alguma. A minha vida tomou um rumo que eu jamais imaginaria, não estava nos meus planos e muito menos nos dele. Eu havia visto meu pai dois meses atrás, eu sempre inventava desculpas e o trabalho dele também contribuiu para isso. Minha barriga era bem evidente agora, os meus seis meses de gravidez eram bem claros. Não dava pra esconder mais de ninguém! Por isso, no último mês eu decidi trancar a faculdade até organizar minha vida; evitar contato com pessoas que só me julgariam e nada contribuiriam para o meu bem-estar e criar o meu filho. Assim que avistei o prédio onde ficava a empresa do meu pai, meu coração acelerou e minhas mãos começaram a suar. Mordi o lábio com força quando o táxi estacionou na porta, avisando que havíamos chegado. Paguei o motorista, saí do carro e andei a passos lentos até a entrada do local. Havia uma placa indicando os andares e as empresas em cada uma delas. Eu sabia muito bem onde ficava a sala do meu pai. Acenei para o porteiro, que já me conhecia, e andei até o elevador, entrando e apertando o décimo nono andar. Os segundos naquele elevador me pareceram horas até as portas se abrirem e revelar um andar quieto, uma jovem secretária sentada atrás de uma mesa e um computador. Ela sorriu assim que me viu.
- ! - falou meu nome, observando-me aproximar. Seu olhar caiu sobre a minha barriga e ela fez uma cara surpresa. - Quanto tempo!
- Oi, Anne! - sorri sem jeito pra ela. - Meu pai pode me receber?
- Ahm, é claro! - avisou, pegando o telefone do gancho e apertando um botão. - Sr. , sua filha está aqui. Posso pedir para ela entrar? - houve uma pausa e ela assentiu, depois olhando pra mim novamente e novamente olhando para a minha barriga. - Posso cancelar sua reunião das quinze? - pediu e ele falou algo, pois logo ela emendou. - Ah, eu acredito que o senhor vai querer cancelar. - sorriu amarelo pra mim, fazendo-me entender. - Tudo bem, eu vou pedir para ela entrar. Ok. - e desligou, colocando o telefone no gancho novamente. - Pode entrar, . - pediu, apontando para a porta ao seu lado. - Devo preparar uma água com açúcar para o seu pai?
- Por favor, Anne. - fiz uma careta assentindo e suspirando em seguida, andando até a porta a minha frente. Dei dois toques antes de colocar a cabeça para dentro da sala e avistar ele sentado atrás da mesa. Ele sorriu largamente assim que me viu.
- Oi, minha princesa! - falou animado. - Entre!
- Ok. - falei, respirando fundo e, enfim, entrando na sala dele. Seu sorriso sumiu assim que ele me viu por inteira. - Oi, pai.
- , o que aconteceu aqui?! - perguntou alto, estarrecido com o que via. Sua voz era autoritária, mas vacilante.
- Bom, eu estou grávida! - falei em voz alta. - Eu estou bem grávida.
- Eu não sou cego, eu estou vendo isso! - falou rápido, levantando-se. - Quando isso aconteceu? Quem é o pai dessa criança, minha filha?
- Foi tudo muito rápido! Eu quis te contar, eu juro. Eu só não sabia como! - falei rápido, gesticulando bastante. - Eu conheci esse cara, nós nos envolvemos e quando dei por mim estava grávida. - respirava rápido, sentindo meu rosto esquentar, sentindo a vontade de chorar querer aparecer. - Eu… Eu contei a ele sobre a gravidez, mas ele preferiu não se envolver.
- O quê?! - ele vociferou, batendo a mão na mesa. - Quem esse miserável acha que é? Ande, me fale onde eu posso encontrar esse patife? Eu vou acabar com ele!
- Não, pai, por favor. - pedi suplicante. - Eu não quero nada dele. Nada. - falei baixo. É, eu realmente não queria. - Por favor, eu só quero criar meu filho em paz.
- Ah, ... - ele suspirou, passando a mão no rosto, desolado. - Eu não tô acreditando que eu tô passando por isso. - falou baixo, decepcionado. - Depois de tudo o que eu e sua mãe te ensinamos. - ele levantou o rosto, fitando-me, pensativo. - Sua mãe sabe?
- Ainda não. - confessei, mordendo os lábios. - Eu quis te contar primeiro.
- Ah, Deus! - suspirou, jogando-se de volta a cadeira.
- Há outra coisa que eu quero te contar também. - avisei. Ele fixou os olhos nos meus, esperando eu continuar. - Estou indo para o Brasil na próxima semana. Pretendo ter o bebê lá. Vou precisar da ajuda da mamãe com tudo isso.
- E a faculdade? - perguntou, lembrando-se.
- Eu tranquei há um mês. - confessei, fazendo uma careta, esperando mais uma bronca.
- O seu futuro, ! - balançou a cabeça, sem saber o que falar e fazer. Abaixei a cabeça, sentindo meu rosto sendo molhado pelas lágrimas que resolveram finalmente cair com tudo.
- Me desculpa! - pedi baixo, fungando alto.
- Droga! - ele falou baixo. Segundos depois ouvi passos se aproximarem e um par de braços me envolverem, abraçando-me apertadamente. Me aninhei em seus braços, sentindo-me protegida e deixei as lágrimas caírem com força. Pela primeira vez em seis meses eu me sentia finalmente protegida e com o poder de enfrentar qualquer coisa. Eu sentia que poderia desabar ali e que mesmo assim tudo ficaria bem. Aquele homem. Esse homem bem aqui. Ele era a minha maior proteção, o cara que eu podia contar sempre. Ele era meu porto seguro desde que eu era uma criança e sempre será. Eu chorava copiosa e compulsivamente, sentindo meu corpo se libertar e se limpar por dentro. Eu nunca senti tanto alívio como naquele momento.
- Eu sinto muito por ter te decepcionado. - falei com a cabeça escondida no seu peito, enquanto ele afagava meu cabelo. - Eu nunca quis fazer isso, eu juro.
- O erro já foi feito. Não há nada que possamos fazer agora, não é? - avisou, suspirando alto. Funguei alto, soltando-me dele e o fitando. Seu rosto estava franzido de preocupação. Ele passou os dedos pelo meu rosto, limpando alguns resquícios de lágrimas que insistiam em cair. Seu olhar caiu sobre a minha barriga, curioso. Peguei sua mão e coloquei sobre ela, pressionando-a ali.
- Esse é o seu netinho, papai. - falei, tentando sorrir. - É um menininho.
- Oh, é um garoto?! - ele sorriu, colocando as duas mãos sobre a minha barriga.
- É sim. - falei, sentindo-me animada. - Ele já tem seis meses morando aqui dentro. - expliquei enfim. - E ele ficaria muito feliz em ter um avô como você. Bom, nós ficaríamos. - falei, fitando-o. Meu pai oscilou o olhar entre minha barriga e meu rosto.
- Eu vou amar ter um netinho como ele. - ele sorriu, abraçando-me novamente. - Me prometa que nunca mais vai me esconder nada, filha. Eu sou seu pai, é meu dever te proteger, mas eu preciso saber das coisas.
- Eu sei, me desculpa. - pedi novamente. - Isso não vai acontecer de novo, eu prometo.
- Nós precisamos ver seu pré-natal, fazer exames e cuidar da sua saúde e do bebê! - falou rápido, parecendo ter uma lapso de consciência.
- Não se preocupe, eu tenho cuidado bem dessa parte. - dei de ombros. - O seguro tem coberto toda a minha gestação.
- E como estão os gastos em casa? Está faltando algo? Você tem se alimentado bem? - perguntou rápido, preocupado. Sorri, sentindo-me aliviada por vê-lo cuidando de mim novamente. Joguei meus braços em volta do seu pescoço, abraçando-o fortemente.
- Eu senti a sua falta, papai. - e como eu havia sentido falta de ser a princesinha dele.


Rio de Janeiro, Dezembro de 2009

- Ok, eu não senti falta desse calor escaldante que é o Brasil. - falei, abanando-me com uma revista enquanto estava sentada na espreguiçadeira na borda da piscina da casa da minha mãe, onde eu estava ficando desde que vim para o Brasil. Contar a minha mãe sobre a gravidez foi tão difícil quanto foi contar para o meu pai, mas os dois entenderam que a situação era essa e não havia mais o que se fazer a não ser esperar o bebê chegar. Assim que cheguei ao Brasil, avisei a que ficaria um tempo fora, pois precisava de um tempo para pensar e colocar a cabeça no lugar. Desde então, ele me manda mensagem quase todos os dias perguntando como estou e que sente a minha falta. Isso não facilitava em nada as minhas decisões futuras.
- Aqui, tome esse suco, vai te ajudar a refrescar. - minha mãe avisou, entregando-me um copo de suco de laranja bem gelado. Aceitei, tomando um gole e encostando-me na cadeira novamente. O vestidinho fresco que eu vestia não parecia ser tão fresco como antes. A minha barriga estava enorme e parecia me incomodar cada dia mais. Eu amei estar grávida, mas não via a hora do próximo passo. Eu estava exausta, sem ar e toda inchada. Eu iria ficar louca! - Tente colocar os pés na água de novo, vai ajudar.
- Parece que nada vai ajudar! - falei, jogando a cabeça para trás. Eu tinha ideia que eu estava com os hormônios a flor da pele e que estava mais chata do que nunca, mas eu não podia evitar, tudo me incomodava.
- Bom, porque você não vai tomar um banho, se refrescar e então vamos até a doutora Regina? O seu ultrassom tá marcado para a tarde. - sugeriu. Suspirei, dando-me por vencida.
- Ok. Me ajuda aqui! - pedi, estendendo a mão para que ela me ajudasse a levantar. Até para isso eu precisava de ajuda. Até quando, Deus?
- Quer mais alguma ajuda? - ela ofereceu, ajudando-me a calçar os chinelos. Fiz um biquinho e a fitei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
- Você é um anjo, dona Elizabeth! - falei, sentindo meu rosto esquentar.
- Oh, filha! - ela riu, limpando as lágrimas que caiam. - Tá tudo bem, calma. São só os hormônios!
- Eu odeio esses hormônios! - falei entre lágrimas. - Às vezes eu só quero gritar e outras eu só quero chorar, como agora. - ela sorriu, beijando minha bochecha.
- Vem, eu vou te ajudar a separar a roupa enquanto você toma um banho. - avisou, fazendo-me sorrir e concordar, deixando que ela me levasse até o meu quarto. Após tomar um banho que me animou um pouco mais, minha mãe nos levou até a maternidade onde a obstetra brasileira estava cuidando de mim desde que cheguei aqui. Eu tinha um ultrassom das trinta e noves semanas marcado com ela, só pra ver se estava tudo certo com o meu bebê. E qual foi a minha surpresa quando ela disse que eu estava entrando em trabalho de parto? É, pois é, nada poderia ser fácil nessa gravidez. Ali entrei, ali fiquei. Minha mãe avisou meu pai, que disse que pegaria o próximo voo para o Brasil, ligou para os meus avós maternos, tias e primas. É, eles estavam acompanhando essa saga comigo por aqui. E eu só queria que uma pessoa específica estivesse comigo naquele momento, mas eu sabia que ele não podia. Sem contar, que ele não sabia da existência do filho. Horas mais tarde com três quilos e quatrocentos gramas, quarenta e cinco sentimentos de altura nascia John Michael . O Johnny. Durante a gravidez eu assisti e chorei diversas vezes com filme “Querido John”, eu fiquei obcecada por esse nome. Meu filho não podia ter outro nome a não ser esse, é claro. Quando eu o peguei no colo pela primeira vez, aquele ser tão frágil, tão pequeno e dependente de mim. Eu jurei protegê-lo de tudo e de todos, que nada de ruim iria acontecer com ele, que eu iria amá-lo tanto e daria minha vida por ele se fosse preciso. Ali, sentindo-o apertar meu dedo com toda a força que poderia existir em um ser daquele tamanho, eu jurei que nada e nem ninguém iria me tirar aquele sentimento. Eu havia me tornado uma mãe.


Rio de Janeiro, Fevereiro de 2010.

Coloquei o travesseiro sobre a cabeça, tentando abafar o barulho e fingir que eu não estava ouvindo, mas o choro era bem alto e surtante. Bufei, jogando o travesseiro para o lado e me dando por vencida, levantando-me e indo até o berço de Johnny, que chorava escandalosamente às três da manhã, como quase todos os dias.
- Pronto, pronto! - falei, pegando-o no colo e o balançando devagar, tentando fazê-lo parar de chorar, o que não adiantou muito. - Ajuda a mamãe, meu amor, por favor. - pedi baixo, sentindo vontade de chorar junto. Eu estava cansada e não dormia há muitos dias. Estava a ponto de surtar a qualquer momento. - Por favor, por favor. - sussurrava enquanto o balançava, tentando amenizar o choro que parecia não cessar. Ajeitei a posição dele nos meus braços, colocando sua cabeça encostada no meu ombro, cantarolando baixo uma canção que meu pai cantava pra mim quando eu era criança. Seu choro foi cessando, virando apenas murmúrios até acabar de vez, fazendo-o adormecer de novo. Eu sentia que iria desmoronar a qualquer instante, meu corpo tentava constantemente lutar para não cair, mas estava cada dia mais difícil. Ninguém te avisa que ser mãe é tão incrivelmente maravilhoso e frustrante ao mesmo tempo. Só um aviso: Um bebê não vem com um manual de instruções. Depois de devolver Johnny para o berço, voltei a deitar na cama, tentando voltar a dormir o mais rápido possível, mas meu celular vibrou ao meu lado na cama, acendendo a luz e iluminando o teto. Suspirei, querendo deixar pra lá, mas ele voltou a vibrar avisando mais uma mensagem. Bufei irritada, pegando o celular, ficando quase cega ao colocar a luz em contato com os meus olhos. Era uma mensagem de .

“Bom dia, linda! Não sei que horas são no Brasil, mas aqui já deu tempo de sentir ainda mais a sua falta. Eu espero que você esteja bem, que se sinta melhor e volte logo! Sinto sua falta, . Xx”


Meu coração acelerou e se apertou ao mesmo tempo. Eu também sentia a falta dele, muita. Eu queria muito poder contar sobre o filho para ele. Eu queria poder enviar uma foto de Johnny e dizer: “Ei, olha, ele tem os seus olhos!”; queria poder dizer o que eu senti quando o nosso filho nasceu e tudo o que eu queria era que ele estivesse naquele momento comigo; eu queria ter o poder de mudar o nosso destino. Mas eu não podia, eu sabia que não dependia somente de mim. Respirei fundo, bloqueando a tela sem respondê-lo, encostei a cabeça no travesseiro tentando novamente resgatar o sono que eu estava minutos atrás. Ouvi o bebê se mexer e torci para que ele não acordasse de novo. Eu sabia que se isso acontecesse, eu nunca mais iria dormir na minha vida.


Observei minha mãe segurar Johnny nos braços enquanto acariciava sua cabecinha e seus ralos cabelos com a mão livre, andando de um lado para o outro. Sorri, terminando de tomar meu café e apreciando aquele momento de quietude na casa. Minha mãe sorria observando o neto. Não parecia a mesma mulher que meses antes quis arrancar a minha cabeça por aparecer grávida. Mas eu sabia que ela seria uma avó muito coruja depois que a tempestade passasse. Levantei-me da mesa e andei até eles, parando ao lado dela.
- Ele tava sorrindo, filha! - comentou animada sem deixar de fitar o neto.
- Ele é um príncipe! - falei sorrindo, observando-o também. Era um grão de pessoa e esse grãozinho conseguiu mudar a minha vida inteira, era surreal de acreditar. - Quer me dar ele?
- Não, tá tudo bem! - avisou, fitando-me e sorrindo. - Ele tá calminho comigo.
- Ok, então! - sorri, dando de ombros. Era sempre uma luta querer tirar Johnny dos braços da avó mesmo que ela estivesse muito cansada e com os braços doendo, ela nunca o largava. Olhei no relógio na parede da cozinha e marcava dez e vinte e duas da manhã. Eu tinha que fazer uma ligação. - Certo. Eu vou estar lá perto da piscina, se precisar de mim, ok? - avisei e ela concordou, balançando a cabeça. Peguei meu celular sobre a mesa e rumei para a área da piscina da casa da minha mãe, segurando o aparelho em minhas mãos e deslizando pela lista de contatos até chegar ao nome dele, suspirar fundo e apertar para chamar. Chamou uma, duas… Eu sabia que esse horário lá ele estaria no escritório.

- Alô?! - ele atendeu do outro lado da linha, fazendo meu coração palpitar ao ouvir sua voz. Ah, eu estava morrendo de saudades. - ?
- Ei, você! - tentei conter minha voz e nervosismo.
- Ei, como você tá? Se sente melhor? - perguntou rapidamente.
- Sim, muito melhor! - confessei, suspirando baixo. - Sinto sua falta.
- Eu também sinto, . Quando você volta? - perguntou com urgência na voz.
- Em breve, eu prometo. - falei, mordendo os lábios com força. - Foi preciso esse tempo.
- Muito tempo, uh? - pontuou tentando soar brincalhão, mas eu sabia que tinha um fundo de verdade. - Olha, eu sei que essa não é a vida que você planejou. Acredite, nem eu! Mas, infelizmente, minha vida é assim, eu sou assim. Eu sou essa bagunça! - falou rápido com pesar na voz. - Mas eu me importo com você, de verdade. Eu gosto muito de estar com você! - avisou, fazendo-me fechar os olhos com força. E eu o amava. Ouvi passos e vi minha mãe se aproximando.
- Eu preciso desligar agora. - avisei. - Eu volto logo, eu juro. - prometi a ele. - Até, . - e desliguei enfim.
- Acho que o pequeno aqui quer mamar! - avisou, estendendo Johnny até mim. Sorri, guardando o telefone no bolso do meu short e pegando meu filho nos braços.
- Tá com fome, meu amor? - perguntei a ele como se ele fosse responder. Ele se remexeu, olhando-me curioso e balançando as mãozinhas. Andei até uma das espreguiçadeiras e me sentei, ajeitando-me e acomodado Johnny no meu colo, alimentando-o ali mesmo. Ele sugava meu seio como se fosse a última coisa a se fazer na terra, sua mãozinha descansava sobre o meu colo e ele me olhava intensamente como se lesse meus pensamentos. Como pode amar tanto alguém que nem sequer sabe quem você é? O amor que eu sentia por esse bebê ia além de qualquer coisa que eu um dia poderia imaginar sentir. Eu faria qualquer coisa por ele. Eu daria a minha vida pela dele. Eu sentia a necessidade de vê-lo feliz. Era isso? Eu realmente havia me tornado uma mãe?!


Rio de Janeiro, Julho de 2010.

Ajudei minha mãe a tirar a última mala do carro e enfim, fui tirar Johnny da cadeirinha do banco de trás. Ele sorriu, balançando as mãozinhas, animado.
- Pegou tudo? - ela perguntou empurrando a mala para a frente.
- Acho que sim. - avisei, ajeitando Johnny no meu colo, deixando que ele brincasse com os meus cabelos. Ela assentiu e voltou a empurrar a mala, peguei a mala menor e empurrei também para dentro do aeroporto. Era chegado o dia de voltar para Londres. Eu tinha decidido há algumas semanas que era a hora de voltar para a minha vida lá. Johnny já estava com seis meses e saudável, era hora de ser mãe em tempo integral longe da minha. Enquanto andávamos até o guichê de despacho de malas um turbilhão de coisas passavam pela minha cabeça: será que eu daria conta de me virar sozinha? Será que eu estava cometendo um erro? Meu apartamento em Londres já estava pronto para nos receber segundo meu pai. Ele estava louco para rever o neto. Ele havia vindo poucas vezes ao Brasil desde que ele nascera e ele queria acompanhar o crescimento do meu filho. Assim que chegamos ao guichê indicado, fiz todo o procedimento de despacho das bagagens e logo nos encaminhamos para a área de embarque. Minha mãe segurou minha mão livre e nos guiou pelo aeroporto. Eu apertei seus dedos aos meus, sentindo um aperto e um sentimento de despedida que preenchia meus olhos de lágrimas. Eu iria iniciar uma nova etapa da minha vida e talvez a mais difícil delas. Fazer isso longe da minha mãe seria um grande desafio, mas eu precisava enfrentá-lo. Quando chegamos ao meu portão, eu suspirei, virando-me para ela, ajeitei Johnny de um lado e a bolsa dele do outro. - Bom, é isso.
- Se cuida, tá? Não hesite em ligar pra mim sempre que precisar! - pediu, passando a mão no meu cabelo e sorrindo triste. - Cuide desse mocinho e me dê notícias dele todos os dias, ok? Eu quero saber como vocês estão!
- Pode deixar, eu darei! - sorri, sentindo meu rosto esquentar. - Obrigada por tudo, mãe.
- Ah, filha! - falou, puxando-me para um abraço meio de lado, meio abraçando Johnny também. Assim que ela me soltou eu pude ver algumas lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela sorriu, limpando-as rapidamente e fitando o neto. - A vovó te ama, pequenino! - Johnny sorriu sem tirar os olhos dela. - Eu amo vocês! - falou, voltando a me olhar.
- Eu também amo você, mamãe! - sorri, aproximando-me dela e depositando um beijo em sua bochecha. Vi uma movimentação e vi que o meu grupo já ia começar a embarcar no avião. - Nós precisamos ir.
- Tá certo. Ok! - falou rápido, tentando se recompor. - Se cuidem, meus filhos!
- Tchau, vovó! - falei, pegando o bracinho de Johnny e acenando pra ela, que acenou de volta. Suspirei, virando-me de costas e finalmente passando pelo portão e deixando o Brasil pra trás. Pronta pra começar uma vida nova lá fora. Bom, talvez não tão nova assim.


Após onze horas de viagem, bem cansativas, nós finalmente estávamos em terras britânicas. Meu pai já havia avisado que estaria nos esperando no aeroporto pronto para nos levar para casa. Não demorou muito até eu o encontrá-lo na sala de desembarque. Ele sorriu largamente assim que nos viu, fazendo-me sorrir junto.
- Olha, Johnny, é o vovô! - avisei, apontando para o ser que andava até nós apressadamente.
- Meus amores! - ele falou alto, abraçando-nos. - Ei, garotão! - brincou com o neto, pegando-o no colo. Johnny o olhou sério, tentando reconhecê-lo até meu pai fazer alguma gracinha e ele rir com o brincadeira, fazendo-me rir junto. - Esse é o meu garoto! - sorriu, beijando a cabeça do neto, depois fitando-me. - Como foi o voo?
- Cansativo! - falei, suspirando e me pondo a andar, sendo seguida por eles. - Johnny até que ficou tranquilo, mas teve muita turbulência. - dei de ombros. - Mas no final deu tudo certo.
- Que ótimo! - falou, sorrindo e sem tirar os olhos do neto. É, eu tinha perdido o meu lugar. - Você quer ir direto para o seu apartamento? Eu posso levar vocês para comer alguma coisa antes.
- Isso seria ótimo! - sorri agradecida. Saímos do aeroporto direto para um restaurante perto do meu apartamento mesmo. Eu estava morrendo de vontade de comer algo que não fosse comida de avião. Sério que eles cobravam aquele absurdo por uma comida tão ruim? Pedi um frango pra mim e alguns legumes cozidos para dar ao Johnny. Ele estava entrando na fase de introdução de alimentos e já estava fazendo a maior farra com eles. Escolhemos uma mesa onde havia um cadeirão para por ele e deixá-lo à vontade para se lambuzar.
- Então, tem alguma notícia do Adam? - meu pai perguntou, remexendo a sua comida e me fitando, esperando uma resposta. Suspirei, entortando a boca. Adam. Esse era o nome de na minha vida fictícia. Adam, o falso namorado que me engravidou e que não quis assumir a responsabilidade de um filho.
- Hm, não… Ele não apareceu mais! - dei de ombros, voltando a fitar meu filho fazendo bagunça com a comida. - Eu prefiro assim. Estou bem melhor sem ele.
- Você tem a mim, filha. - ele falou de um jeito protetor, aquecendo meu coração. E eu sabia disso. Eu sempre soube. Sorri, pegando sua mão sobre a mesa e apertando-a. Eu me sentia a pessoa mais amada do mundo. Eu tinha pais maravilhosos e um filho incrível. Eu não precisava de um cara que não podia me oferecer nada além de algumas noites. Eu merecia mais. Uma pena que eu não levava a sério as minhas próprias brigas internas.


Londres, Dezembro de 2010.

Johnny andou desajeitado até o carrinho jogado na grama do parque dentro da universidade, pegando-o e voltando correndo até mim depois, gargalhando alto e animado. Sorri, estendendo os braços para que ele se apoiasse e andasse até mim.
- Muito bem, meu amor! - falei, sorrindo e vendo-o sorrir junto. Era sábado de manhã e eu aproveitei o dia para estudar e colocar algumas coisas em dia, haja vista que eu estava muito, mas muito atrasada em tudo no meu curso. Estava sentada na grama do parque da universidade rodeada de livros e brinquedos. Havia dispensado a babá hoje e resolvi trazer Johnny comigo. Ele estava se divertindo com toda aquela liberdade. Era bom vê-lo assim. Ele se agachou pegando a bolinha de plástico e com toda a sua pouca força, jogou-a para longe, que para a minha surpresa, realmente foi para longe. - Johnny! - falei, repreendendo-o. Ele riu não se importando. Quando ia me levantar para buscar o brinquedo uma moça foi mais rápida e pegou a bolinha, trazendo até nós.
- Acho que isso deve ser seu, rapazinho! - ela falou, estendendo a bola para Johnny, que a olhou confuso, mas pegando.
- Obrigada! - agradeci, fitando-a. Ela sorriu, dando de ombros.
- Imagina! - falou. Seu olhos se fixaram nos meus livros abertos sobre o gramado. - Ah, você faz aula de lógica comigo!
- Faço?! - perguntei em dúvida, rindo. Ela riu, assentindo.
- Sim, faz! Lógica e cálculo, se não me engano. - avisou, pensativa. - Com o Sr. Hannigan.
- Isso! Faço com ele mesmo. - sorri, concordando. - Puxa, desculpa, eu não me lembro de você. Bom, na verdade, eu meio que não me lembro de muita gente. - dei de ombros. - Eu voltei há pouco tempo então ainda estou meio perdida.
- Eu imagino! - sorriu compreensiva, observando Johnny colocar um brinquedo na boca. - Se precisar de ajuda para entender alguma coisa, pode falar comigo. Me chamo Nathalie.
- Muito obrigada, Nathalie, de verdade! - sorri sincera. - Eu me chamo . - falei e logo apontei para o meu filho. - E esse mastigador de brinquedos é o Johnny, meu filho.
- É um prazer te conhecer, Johnny. - ela falou, abaixando-se até ele e estendendo a mão. Ele riu, balbuciando algumas coisas e entregando o brinquedo para ela. - Pra mim? Poxa, obrigada!
- Ele gostou de você! - sorri, observando-os. Era bom ter alguém que não fosse a babá, meu pai ou alguém da minha família para conversar. Depois que “sumi” durante a minha gravidez, muitas coisas mudaram, pessoas mudaram, eu mudei e meu foco também. Nathalie parecia ser uma boa menina e Johnny havia gostado dela. É, ela poderia muito bem entrar na minha vida se quisesse.


- Droga! - resmunguei baixo ajeitando de qualquer jeito a sacola do supermercado para colocar a chave na fechadura. Assim que abri, senti um cheiro de cigarro dentro do loft e sabia que ele já havia chegado. Depositei a sacola com sorvete sobre a mesinha mesmo sabendo que ele iria derreter ali mesmo. Mordi a boca e tirei as sapatilhas, deixando-as ao lado do sofá, andei apressadamente até o quarto procurando por ele. Eu podia sentir o seu cheiro, aquele cheiro tão inebriante que me deixava tonta só de chegar perto. Mexia com todos os meus sentidos. Quando entrei no quarto vi sua silhueta de costas, encostado na janela, tragando um cigarro. Sorri aproximando-me dele e o abraçando-o por trás, entrelaçando meus braços no seu peito. Ouvi sua risada gostosa e senti o calor do seu corpo enamar contra o meu. Ele descartou o cigarro pela janela, soltando a fumaça para longe e depois me virando para ele. Seu cabelo bagunçado e seu olhar penetrante me fizeram arrepiar até o último fio de cabelo existente em mim. Desde que voltei a Londres, há seis meses, eu sabia que poderia correr dele o quanto eu quisesse. Eu poderia me esconder, fugir e sumir do mapa se eu realmente quisesse isso, mas eu não podia e não conseguiria. No momento em que eu pus meus pés de volta a essa cidade, eu sabia que meu destino inteiro já estava traçado. Eu tinha uma cópia fiel dele em casa, que me olhava todos os dias como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Eu podia fingir que não ligava, podia refazer minha vida longe dali e construir um lar de verdade para Johnny. Mas sempre estaria na minha cabeça. Ele era um verdadeiro martírio pra mim. Era uma droga viciante e que me causava alucinações. Seu toque me causava sensações tão prazerosas quanto qualquer alucinógeno; seu sorriso me cegava pra qualquer coisa errada que eu achava que estava fazendo; seus olhos me puxavam para um poço sem fundo, eu não conseguia sair dele, eu podia tentar escalar, mas eu sempre acabava caindo de volta. E era cada vez mais fundo.
- Oi, linda! - ele sorriu. Ah, esse sorriso.
- Ei.
Eu estava ferrada. Será que eu iria aguentar viver assim por quanto tempo ainda? Pelo amor de Deus, eu tinha um filho de um ano em casa. Mas quem era o pai mesmo? Mesmo assim eu tinha que terminar isso. É, não dava mais pra viver assim, eu tinha que acabar com isso.
- Eu senti sua falta.
- ...
- Sim?
Eu tinha que tomar um rumo da minha vida. Eu precisava pensar no futuro do meu filho, no meu futuro. Eu precisava terminar a faculdade, arrumar um emprego e seguir a minha vida. Não dava mais pra continuar. Eu precisava urgentemente agir. me olhava, aguardando uma resposta. Seus olhos passeavam pelo meu rosto, sem saber o que falar. Ele sorriu de lado e beijou o canto da minha boca, fazendo-me fechar os olhos, sentindo seu hálito bater contra meus lábios.
- É… - falei, abrindo os olhos e o fitando. - Eu também senti a sua falta.
Tudo bem, eu decidiria isso amanhã, ou depois… Eu tinha tempo, certo? É, eu tinha. Eu acho.






Continua em: Johnny



Nota da autora: Hellooo! Olha quem voltou aqui rápidinho pra escrever essa oneshot especial de final do ano. Espero que vocês tenham gostado, porque eu amei voltar ao mundo de Johnny. Viver a fase da gravidez da pp, os perrengues que ela passou e toda a fase antes da descoberta do pp.
Gostaram? Comentem ali embaixo pra eu saber!
OBS: A titia aqui lançou um livro, já estão sabendo? É o livro físico de Her (que agora se chama Ela). Quer saber mais? Dá uma olhada no meu instagram @luhfmagalhaes
Obrigada pelo carinho, anjos! <3





Outras Fanfics:
Long/Andamento: Met An Angel
Long/Finalizada: Johnny
Short: Lovin' Arms Short Continuação: Heaven
Short Especial Behind The Scenes: The One About 2006


comments powered by Disqus