Última atualização: 01/08/2020

Capítulo Único


Eu havia perdido meus avós e, recentemente, minha mãe. Estava a todo tempo tentando me manter em pé, e sabia que só estava porque tinha junto de mim todo o tempo. Às vezes eu até considerava sua sanidade, pelo tanto que fez por mim; largou a faculdade, deixou a casa dos pais e diminuiu o turno de seu serviço. Passava a maior parte do tempo me perguntando se eu queria alguma coisa, mas isso não me irritava. Se fosse qualquer outro, irritaria, mas era a minha e eu a amava.
- Dormiu bem? – ela me perguntou, assim que me viu já sentado a mesa. Estava pronta para ir trabalhar. – Precisa de alguma coisa?
- Vou te levar à loja hoje. – Decidi. Uma ideia se passou pela minha cabeça. Queria fazer algo para provar que a amava e era agradecido por tudo que fazia por mim. Olhei o calendário, e a data me chamou a atenção. Início da primavera. Ela havia me dito uma vez que essa era a época certa para se ter um lindo casamento, deduzi que queria se casar na estação. E, dependendo da resposta que eu tivesse hoje, ano que vem eu iria adorar a estação tanto quanto ela.
- Não, . Realmente, não precisa – ela se sentou na minha frente e se ocupou com um copo de suco. – Hoje é um dia de descontos especiais na loja, vai ter muito movimento, não quero te aborrecer por nada.
- Não vai me aborrecer, amor. Pensei em passar na agência e dar uma ajuda para – menti. e eu tínhamos uma pequena agência de viagens no mesmo shopping que e sua família tinham uma de suas lojas, e foi lá que a conheci. Tão linda e encantadora, procurando um destino para poder se divertir com as amigas no fim do ano, já que tinha optado por não fazer sua formatura junto ao colégio. E mesmo com os cinco anos de diferença, ela não hesitou em me passar seu telefone. Não hesitou em aceitar meu convite para sair. E eu ali, sempre hesitando para pedi-la em casamento. Mas isso estava prestes a mudar.
E bem, na verdade, a agência ia muito bem só com e ele mesmo havia me dito há pouco tempo que eu precisava viver mais.
era um cara maduro. Exceto na questão relacionamentos, mas dizia que isso não servia para ele. Ele tinha trinta e dois anos de experiência nas costas, trinta e dois anos que trabalhava puxado, não por precisar realmente, mas por precisar adquirir experiência, mas isso era problema apenas dele e de sua família.
Acontece que ele disse que errou se dedicando tanto ao emprego, e, segundo suas palavras, eu não deveria seguir seu exemplo. Por isso me mandou para casa, e eu só exercia o papel de sócio da agência uma vez por mês, em algumas reuniões. E só isso já me garantia um salário na conta bancária, no fim do mês.

Após terminar com seu suco, sorriu pra mim, e passou a me encarar diretamente nos olhos. E eu amava quando ela fazia isso, me transmitia muito sentimento, me deixava feliz. Sua felicidade era minha felicidade, e era por isso que eu estava certo em pedi-la em casamento.
- Fico feliz que tenha decidido voltar para a loja. Me deixa menos preocupada.
- Eu já disse que estou bem, . Foi difícil lidar com a perda, mas já estou bem. Sei que minha mãe quer que eu esteja assim – levantei e me aproximei dela, ainda sentada na cadeira. – Além do mais, sinto falta de interromper alguma reunião importante para te levar para almoçar – peguei suas mãos e em cada uma delas, depositei um beijo.
- Na maioria das vezes, fica feito besta vendo tantas mulheres falarem sobre lingerie. Às vezes acho que você faz de propósito – disse, ciumenta como sempre.
- Porque eu iria me importar com aquele monte de velhas tentando achar sensualidade em algo que elas nem deviam usar mais? Só tenho vontade de te mandar experimentar uma por uma – disse sedutor, tentando arrastar aquela mulher de volta para minha cama.
- Para, , eu tenho que trabalhar – disse manhosa, rindo e me empurrando delicadamente.
- Almoça comigo hoje? – isso. Esse seria o momento.
- Tudo bem. Passa na loja 12:30, sem atraso! – ordenou. Eu estaria lá meia hora antes, porque sou ansioso, então acho que ela tinha acrescentado essa meia hora aí como tempo limite. Mas, como disse, e vou repetir, sou ansioso.

- Tenho uma super-reunião hoje a tarde, então não esqueça que eu tenho que voltar às treze horas, hein . Parece que fechamos contrato com um dos grandes dessa vez – ela estava empolgada e isso me deixou animado também.
- Hm, fico feliz – mostrei minha felicidade deixando uma sedutora marca em seu pescoço. E deixaria outra e mais outra, se ela não me lembrasse de que estávamos em frente à loja e que o shopping abriria a qualquer momento.
- Até o almoço, – Ela disse, me mandando um beijo e correndo para dentro. Sua mãe já estava lá, e me mandou um aceno rápido antes de se virar e seguir com a filha até a sala de reuniões.
- Até o noivado, meu amor.

- ! – chamei assim que entrei no escritório. estava perdido no meio de fotos que vendiam pacotes de férias.
- E aí, cara! – ele me cumprimentou com um abraço. – O que tá fazendo aqui, não marquei nada pra hoje.
- Bem, pensa que eu vim trabalhar – disse baixo, para que os outros funcionários não escutassem e corressem para contar pra ela. Eu realmente não confio em quase ninguém.
- E porque mentiu pra ela? – arregalou os olhos e eu sabia que ele começaria a falar um monte de besteira sem nexo. – Olha, , eu gosto muito da , não vou acobertar você a traindo com uma qualquer por aí...
- O QUE? – foi a minha vez de se assustar. – Não é nada disso, seu otário. Eu vim pedi-la em casamento.
- Mas aqui? – ele riu. – Loja errada, meu amigo. Garotas sexy de lingerie ficam para lá. – e apontou mais a frente, a loja que eu havia acabado de vir.
- Eu não sei o que fazer, idiota. Vim pedir a porcaria da sua ajuda.
- A ajuda do garanhão de Seattle? – ele riu mais uma vez e eu estava quase mudando de ideia sobre a ajuda dele. – Acho que não sou a pessoa mais certa para isso. Mas vou tentar ajudar.
- Obrigado, eu acho.
- Pesquisar nunca é ruim – e se sentou na frente do seu computador. – "Como pedir sua garota em casamento". Aqui, dez passos para pedir sua garota em casamento, certo?
- E você acha que eu vou confiar em algo da internet? – perguntei, já sentado, pronto para ouvir besteiras.
- Antes conselhos da internet do que os meus conselhos, né. Porque, bem, eu diria para você leva-la para jantar com uma aliança dentro da cueca – ele riu. – Seria excitante, né?
- Lê o que está escrito aí. – arregalei os olhos e o maldito gargalhou.
- Passo 1: Certifique-se de que é a garota certa.
- Ela é a garota certa, – rolei os olhos dramaticamente. – Eu não estaria aqui se não fosse.
- Você não está fazendo isso porque têm alguém da família te obrigando, né? – neguei e ele voltou a ler. – Ela está gravida e você decidiu ser marido antes de ser pai? – neguei novamente e ele acenou contente com a resposta, eu acho. – Você está realmente certo de que é isso que quer?
- Eu tô, , vamos logo para o que interessa?
- Sexo? Olha, , eu não acho despedida de solteiro gay nada...
- Só continua lendo, tá. – respirei fundo, e ele pareceu realmente aliviado por eu não querer ter relações com ele.
- Ok. Passo 2: Você tem certeza que ela vai dizer sim?
- Se eu tivesse certeza, não estaria lendo um manual na internet – respirei fundo. – Não sei cara, você acha que ela vai?
- Se eu fosse ela, diria não. E ainda te daria um pé na bunda para sempre!
- Isso é tão reconfortante – disse, olhando minhas opções. Só poderia acabar com esse desgraçado ou com panfletos ou com canetas customizadas.
- Passo 3: Ganhar a família – ele prosseguiu e eu já não mais quis o matar. – Você já pediu aos pais dela? – tirou os olhos da tela para me olhar brevemente.
- Não – arregalei os olhos. – Eu tenho realmente que fazer isso?
- Tá aqui no manual, cara. Indica respeito, e que você respeita a família dela. Mas, pensando bem, isso faria com que ela se sentisse pressionada a aceitar por imposição da família e então vocês não teriam um casamento feliz.
- Eu devo pedir ou não?
- Você confia no manual ou em mim? – e vocês já sabem qual seria minha resposta, né?
Corri até a loja onde sabia que a mãe de estava. Pedi ajuda ao segurança, mas aquele cara nunca gostou de mim, e disse que não podia sair da porta para procurar por ninguém. Acho que ele tinha uma queda pela e ficou meio raivoso por ela ser minha e não dele, mas a vida é assim, meu amigo, você perde para outros ganharem.
Procurei Jéanne por toda a loja, só então me toquei que ela não era vendedora nem gerente, certamente devia estar nos fundos, sentada em sua rica mesa bebendo champagne. E foi mais ou menos assim que a encontrei, só esqueci que a filha dela, vulgo garota que quero pedir em casamento, estava lá.
- Hey, amor, meio cedo pro almoço, não? – disse e eu congelei.
- Ah sim – disse após alguns segundos pensando. – É que eu não vim para o almoço, eu preciso de ajuda de uma especialista em roupas, sabe – gaguejei um pouco, ainda pensando no que dizer. – Vou ter uma reunião importante daqui a pouco e acho que não estou muito adequado.
- Ah, quer que eu te ajude com o que?
- Não pode ser vo... Na verdade, só pode ser a ajuda da sua mãe, mesmo – tentei controlar as palavras. – Não me leve a mal, eu só acho que ela seria melhor me ajudando – percebi que tinha dito besteira quando a vi baixar os ombros e dar um passo para trás.
- Acha ela melhor do que eu para te ajudar? – perguntou magoada e eu quis me jogar pela janela. Estava fazendo tudo errado, eu devia desistir dessa ideia de casamento e deixar ficar com um cara que soubesse o que dizer.
- Tenho certeza de que não é isso, filha. sempre implora para que seja você que escolha suas roupas. Acho que ele está nervoso com a reunião, e se vocês ficassem juntos, você tentaria o distrair de outra forma e as roupas ficariam para segundo plano – assim, eu acho que tenho a melhor sogra do mundo.
- MÃE! – a repreendeu, acho que pela possível frase de duplo sentido e sorriu envergonhada. – Mas ela tem razão, te ver vestir e tirar roupas iria acabar me desconcentrando – seguiu em minha direção e a puxei para mim antes mesmo que ela percebesse que eu já a podia alcançar. – Tente não conquistar minha mãe.
- Tente não me fazer querer descontar o stress em você – ela me bateu e beijou em seguida. E, por Deus, realmente era só essa boca que eu imaginava na minha pelos próximos mil anos. – Te amo.
- Também te amo – a soltei e ela sentou na cadeira da mãe, acho que revisando o que já tinham feito até ali. E eu saí com Jéanne, que era uma sogra estupidamente inteligente, que já devia ter deduzido o que eu queria desde que entrei naquela sala. Eu não estava errado.
- Algo me diz que esse seu nervosismo não está relacionado a reunião nenhuma – Tá vendo. Eu sorteio um número e essa mulher já diz bingo!
- Não tem reunião nenhuma mesmo – sim, eu ainda estava nervoso. – Mas eu precisava falar com a senhora em particular, e não tive nada melhor para inventar.
- E o que há de tão importante? – suspirei e fiquei quieto, já pensou ela diz ''não, você não pode casar com a minha filha!"? Eu acho que iria começar a chorar. – Vamos lá, , comece com um "Jéanne, quero pedir a mão da sua filha em casamento" – arregalei os olhos, como já fiz várias outras vezes só hoje. Como disse, eu sorteio um número e essa mulher já sai com todos os prêmios.
- Jéanne, eu quero mesmo pedir a mão da sua filha em casamento – sei que pareci um otário repetindo o que ela disse, mas eu não estava funcionando direito. Ela riu, segurando minha mão. – Mas como você sabia?
- Deduzi assim que você entrou na minha sala e olhou para minha filha como uma criança olha para alguém que lhe diz que papai Noel não existe – nos sentamos em um grande e confortável puff. Ela riu e continuou. – Fico feliz que respeite a nossa família, . Isso é mais do que pedir a mão de . É pedir permissão para ser da família, mais uma vez.
- Mais uma vez?
- Sim. Quando entrou em minha casa pedindo autorização para ser o namorado dela, você automaticamente já estava incluído na família. Agora, como marido dela, você passa a ser nosso filho também – eu sorri. Eu não tinha só uma namorada incrível, eu tinha também a família dela comigo.
- Você acha que Martin aceitaria? – agora eu só tinha dúvidas do pai.
- Alguns dias atrás, Martin estava dizendo quando você iria deixar de ser um moleque e começar a dar netos para ele – ri. Esse era mesmo meu sogro. – Casamento é um passo importante. Os netos são um bônus.
- Onde ele está? Eu gostaria de fazer o pedido.
- Meu marido está no golf, perdido por aí. Creio que ele não quer ser encontrado, pois até dispensou o motorista e dirigiu ele mesmo – ela riu e eu a acompanhei. Seria uma pena não poder encontrar o pai de e pedir pessoalmente. Mas a permissão dele ainda importava muito para mim. Tanto que, ainda conversando com Jéanne, mandei uma mensagem no celular dele.

Gostaria de fazer esse pedido pessoalmente, e com uma cerveja na mão, mas sei que agora não é possível. E sem mais estender a mensagem, me concede em casamento à mão de sua filha?


Pouco tempo esperei até obter uma resposta.

Já não havia mais tempo, rapaz. Faça minha filha feliz!


- E como foi lá? Te forçaram a usar sutiãs e calcinhas de tamanho P? – parecia realmente preocupado. E eu mais, já eram nove e meia, e eu ainda estava no terceiro passo.
- Quase fiz ela me dar um pé na bunda. Mas com os pais foi tranquilo!
- Como assim, ela quase te deu um pé na bunda? – perguntou curioso.
- Isso é história pra outra hora, , continua lendo essa coisa aí – mandei e ele logo voltou para a pesquisa.
- Passo 4: Escolha uma data especial – uma data especial? Eu já não havia escolhido hoje?
- Todos os dias com ela são especiais – disse, e ele me olhou com um olhar perdido.
- Você realmente merece que ela diga sim, meu caro. Case logo! – eu ri e o mandei ler o próximo. A data seria hoje e ponto final. – Passo 5: Decida o lugar do pedido. Vai fazer isso na loja, na frente de todo mundo?
- Não. é envergonhada demais, ela me diria não com certeza. Acho que vou fazer isso no restaurante.
- No restaurante? Aquele onde sua ex-namorada trabalha? Começou bem, hein, – ele me censurou e eu nem lembrava dessa tal ex. Ela trabalhava numa lanchonete, até parece que eu pediria em casamento comendo batatas e tomando refrigerante.
- Vou fazer uma reserva naquele restaurante perto do cinema. Aquele que você reserva a mesa e ganha um champagne em datas especiais.
- É? – ele levantou uma sobrancelha e me perguntou. Eu concordei. – E você está esperando o que?
- Como?
- Já são vinte pras dez, em cima da hora do almoço, e você não tem restaurante, não tem mesa, não tem champagne e, consequentemente, não terá noiva – levei alguns segundos até processar o que eu tinha que fazer. – ! Restaurante e reserva! Agora! – levantei num pulo e saí esbarrando num possível cliente.

- Uma mesa para dois, ao meio dia, ok. Data especial? – a chinezinha que me atendeu perguntou.
- Sim, sim. Pedido de casamento.
- Ow, sim. Boa sorte, meu rapaz. – e eu passei o cartão para ela, deixando a reserva paga e mais de meia hora perdida naquele lugar. Acontece que a China in box parecia não entender muito bem meu idioma e foi um longo tempo até que ela entendesse o que eu queria, exatamente. Mas eu resumi essa parte porque realmente não é legal ficar lembrando-se do stress que essa asiática me fez passar.
- Quase duas horas pra reservar uma mesa?! Ainda faltam cinco passos, meu amigo. – me sentei na frente de , morto, querendo logo pular pro décimo passo.
- , se for pra abrir a boca, que seja para ler o passo seis.
- Tudo bem, estressado – ele riu. – Não quero nem te imaginar no dia da cerimônia, vai acordar dois dias antes pra se arrumar – riu de novo e eu mostrei o dedo do meio, irritado demais para falar alguma coisa. – Passo 6: Tenha criatividade.
- Tenha criatividade? – concordou com a cabeça. – Próximo passo.
- , esse é realmente importante, porque você é um caretão.
- Eu não sou um caretão! E eu já sou criativo, cara. Eu li uma vez que quando a coisa é muito planejada, ela tende a não dar certo – então ele entendeu o meu ponto e prosseguiu.
- Passo 7: Se vista bem. Olha, acho que a gente pode pular esse passo também?
- Você acha que eu tô bem assim? Não acha que eu deveria usar um terno ou algo parecido? – ele riu.
- Acho que você ficaria muito engraçado de terno. Mas, se quiser que ela te aceite, não pague esse mico. Deixe só para o dia do casamento.
- Então tá. – tentei confiar nele, nesse passo, pelo menos. – Lê o 8 aí.
- Passo 8: Prepare uma surpresa. Esse parece interessante.
- O que? – fiquei nervoso. – Uma surpresa, tipo um anúncio no jornal? Uma declaração no intervalo do Super Bowl? Uma mensagem gravada antes de um filme?
- Pense pequeno, , você não tem muito tempo. Escreva uma música, uma poesia, sei lá.
- adora poesias – logo me lembrei. – Mas sei lá, eu tô nervoso pra fazer qualquer coisa, cara.
- Então vá logo para o nove – ele sugeriu e eu concordei. – Você já deve ter feito isso, então finalmente o dez.
- Sim, mas o que é o 9? Eu posso ter esquecido.
- Você é um otário , mas não esqueceria o nove não – ok, eu não deveria ter esquecido. Vamos lá, restaurante, permissão dos pais, saber se é isso mesmo o que eu quero... O que falta? – Onde está a aliança, ?
- Eu não esqueci isso – tentei me convencer de que não era burro a esse ponto. – Puta merda, eu esqueci! – e corri da agência, tentando lembrar onde ficava a porra da joalheria. Aí você pergunta: que tipo de merda que eu sou? Quem seria retardado o suficiente para esquecer o item mais importante do noivado?
Dei umas três voltas no shopping até conseguir achar a joalheria. Já faltava pouco pra meio dia, então teria que ser muito rápido.
Entrei na loja já com a carteira em mãos, mas consciente de que não poderia escolher qualquer porcaria. teria aquela aliança em mãos por, no mínimo, um ano, até que lhe entregasse a de casamento mesmo, então não poderia ser qualquer besteira. Seria essa a aliança que faria a diferença. Por isso, eu fui muito perfeccionista na escolha:
- Então é uma aliança de ouro, 7 mm de largura por 2.2 de espessura, certo?
- Sim.
- 16 diamantes cravados na peça, sendo 15 de 1 ponto e um diamante principal de dez pontos, cravado flutuante no meio seguindo suas especificações, senhor , estou certo?
- Perfeitamente.
- O senhor também disse que gostaria de um acabamento mais brilhoso.
- Isso mesmo.
- A frase de gravação confere? – e me apontou o papel onde eu havia rasurado uma frase.
- Sim, tudo certo – sorri, louco para pegar a aliança e ir embora.
- Um momento, senhor, ficará pronta em algum tempo. – Disparei para o caixa, pronto para pagar pela peça, e só então olhei o relógio: Puta que pariu, meio dia e vinte.


- Eu vou fazer o que? – perguntei ao lunático , do outro lado da linha.
- Você a busca na loja, e a distrai no restaurante – repetiu, e eu ainda não acreditava que ele havia se esquecido de algo tão importante quanto a aliança. E, pra piorar, exagerou milimetricamente nos detalhes, fazendo com que ela demorasse ainda mais tempo para ficar pronta.
- Puta merda, moleque. Você podia pegar um pedaço de lata que aquela mulher te aceitaria – já estava saindo da agência, pronto para fazer minha boa ação do dia. – Tente não demorar – e desliguei o celular, sem nem esperar resposta.
Entrei na loja e logo uma vendedora veio me perguntar o que eu queria. Pensei em dizer que queria que ela chamasse para mim, mas eu não era nada parecido com e a garota poderia ficar mal falada na loja, né? Ah, foda-se, a loja é dela mesmo!
- Diga a que a está esperando para almoçar – disse formalmente, como se isso fosse necessário.
- ? Eu pensei que é que a fosse...
- Só faça isso, ok? – interrompi, e ela saiu nervosa, correndo até o fim daquela imensidão de loja. Meio dia e trinta, apareceu assustada, parecia não estar acreditando que havia esquecido de comprar sua aliança. Bem, sei que ela não sabia desse detalhe.
- Estava esperando por – ela disse, mas não se opôs em me seguir. – aconteceu alguma coisa?
- acabou tendo um problema de stress e foi parar no hospital – disse calmo, sem nem perceber o que havia falado.
- COMO É QUE É? – ela gritou, exatamente como fez tantas vezes comigo nessa manhã, e aí eu tive certeza mais uma vez de que eles eram feitos um pro outro. – Eu preciso ir para o hospital!
- NÃO! – gritei agudo, também. – Ele acabou de me mandar uma mensagem avisando que já está voltando, pediu pra que eu esperasse com você no restaurante, é muito perigoso te largar lá sozinha.
- Perigoso? O restaurante que ele reservou é a loja mais segura desse shopping – ela riu. – Mas eu ia adorar sua companhia – tentou ser simpática, que fofa. – Ele disse que já estava vindo?
- Ah sim, ele disse que estava perto. Deve estar estacionando o carro agora mesmo – parei subitamente lembrando-me de uma coisa. Se fossemos pela escada rolante, passaríamos na frente da joalheria onde estava, e a surpresa iria por água a baixo. – Nós podemos ir pelo elevador? – perguntei.
- Acho que seria mais perto se fossemos pela escada mesmo, não é? – ela tentou argumentar, mas eu não estragaria a surpresa assim não.
- Acontece que, desde hoje, eu tenho medo de escadas, sabe. Você não ficou sabendo da mulher que quebrou o pé ali mais cedo? Estão pensando até em interditar o lugar.
- Ela certamente devia estar de salto – disse. – Foi grave o acidente?
- Os bombeiros não foram suficientes para resgatá-la – já que era pra inventar, que fosse uma história exagerada, né? – Ouvi dizer que chamara até o FBI para investigar essas escadas – Enquanto seguíamos o caminho, mandei uma mensagem a , perguntando se o passo 10, que seria o pedido, ainda estava de pé.
- Sério? – ela parecia acreditar no papo do acidente, bobinha. Já estávamos quase no elevador. – Poxa, vou andar mais de elevador, daqui por diante – disse, olhando para seus próprios pés. É, ela tinha acreditado!


Eu estava esperando por a mais ou menos vinte minutos. Vinte minutos que contava histórias que me faziam quase cair no chão de tanto rir. Eu adorava os amigos de , mas era meu favorito.
Estávamos almoçando, já que eu cansei de esperar, quando vi no relógio que era meio dia e cinquenta. Eu tinha uma reunião em dez minutos, precisava ir.
- Avise ao que vou matá-lo por me deixar esperando – levantei da mesa, pronta para sair, mas me impediu, segurando meu braço.
- Não, você não pode ir agora – ele disse.
- Não posso mais esperar, . Tenho uma reunião em dez minutos, tenho que repassar algumas coisas com a equipe.
- Essas reuniões sempre atrasam, se acalma – ele me estendeu seu copo de champagne. Mas eles só não o serviam em datas especiais? – Bebe aí.
- Você só pode tá brincando – eu me sentei e bebi a taça num gole. – Eu não posso ficar esperando aquele idiota para sempre.
- Você não... Precisa... Ele... Você... Eu te amo! – parecia perdido no que dizia e pera aí... Ele disse que me ama?
- O que, ?
- Eu te amo? – ele repetiu, simulando uma pergunta. Eu já não sabia mais o que pensar. Como assim, o melhor amigo do meu namorado diz que me ama. – É. Eu amo você, , e eu juro que, se você ficar aqui comigo mais dez minutos, eu vou esquecer isso, vai passar e vai ser tudo igual antes – eu ainda estava processando a primeira frase.
- Como assim, você me ama? Eu sou a namorada do seu melhor amigo!
- É, te ama muito – ele disse, como se eu te amo fosse a frase me passa a jarra de suco dita numa mesa de café da manhã.
- , eu não tô entendendo nada – eu disse, louca para sair do meio dessa loucura. – Eu preciso sair daqui.
- Não, esquece, isso que eu disse, foi uma besteira. é um panaca e é bem legal, você devia ficar com ele. Devia esperar ele, também.
- Mas eu estou muuuuito atrasada.
- Ele também está. E eu sou um enrolado, né? Pelo menos você não descobriu nada.
- Não descobri o que? – ele arregalou os olhos, como quem fala demais. – O que eu não descobri, ?
- tem uma amante! – e eu deixei cair a taça da minha mão no chão.
- O QUE? – gritei e ele olhou para a entrada do restaurante, como um cego vendo a luz pela primeira vez.
- É mentira. Era tudo mentira. Ninguém quebrou o pé na escada. Eu te amo, sim, garota, mas como minha amiga, a namorada do meu amigo. E não tem amante nenhuma, eu só precisava te enrolar até tudo estar pronto – eu podia sentir se aproximando cada vez mais. E eu também sabia que dessa vez não estava mentindo.
- Obrigado, cara, fico te devendo duas por essa – e se afastou um pouco, me deixando com a cara no chão. A mulher pegava os cacos de vidro do chão quando eu olhei para e deixei que meu olhar se conectasse no seu. E cada segundo mais eu tinha que baixar o olhar, porque estava ficando mais baixinho e MEU DEUS, ELE NÃO PODE SE AJOELHAR NESSE CHÃO CHEIO DE VIDRO.
- Não – o forcei a ficar de pé e ele me olhou estranho. – Tá cheio de vidro aí, você pode se machucar – e só então me dei conta de que ele estava se ajoelhando na minha frente antes. Ai meu Deus, ele ia me pedir em casamento?
Ele sorriu e me puxou pela mão até o outro lado, e então começou a ficar mais baixinho de novo. Logo estava de joelho na minha frente, com uma caixinha vermelha em mãos. E ele era só um borrão, porque eu já estava chorando.
- Eu devia ter preparado um discurso, feito uma coisa mais... – e eu nem o deixei terminar, me joguei em cima dele e o beijei como se minha vida dependesse disso. E na verdade, ela dependia, sim. – Casa comigo? – ele disse, quando nos separamos por um segundo, e eu disse um sim abafado pela boca dele, que estava na minha assim que ele acabou de falar.
E ainda ali, sentados no chão (graças a Deus o restaurante estava quase vazio, o que era estranho, por ser razoavelmente tarde) ele tirou a aliança, que era linda, devo ressaltar, e colocou no meu dedo. E aí eu esqueci reunião, esqueci que ele me deixou uma hora esperando com seu amigo louco, esqueci eu, esqueci tudo.
- Você não tem uma amante não, né? – ele negou, rindo, e eu deixei que ele colocasse o anel em meu dedo.
- Como assim, uma amante? – olhei pra , que já estava próximo de novo, e trocamos um sorriso cúmplice.
- Olha só, depois de eu ver uma garota quebrar um pé na escada e ser trocado por um cara atrasado, acho que eu devia ser, no mínimo o padrinho, não é? – fez drama.
- Com certeza – deixei e dei um abraço em . - Ok, hora de sair daqui, né? – meu namorado, claramente enciumado, se aproximou, me tomando dos braços do amigo, e após eles trocarem algumas palavras, logo estávamos indo pra casa.
- Esqueci de perguntar. Você ainda precisa ir para reunião? – ele perguntou, e já estávamos quase em casa, que tonto. – Depois de tudo que passei nessa manhã, preciso de paz, amor e da minha noiva comigo, debaixo de um lençol.
- Acho que minha mãe não vai me matar se eu faltar – ri. – Eu não iria me concentrar em nada mesmo, só iria ficar brincando com esse prêmio no meu dedo – suspirei apaixonada. – Mas o que você passou taaanto nessa manhã? – e com ele me contando aquela história doida do que ele teve de fazer para que esse pedido ocorresse hoje e eu contando as travessuras que seu melhor amigos fez comigo, que eu finalmente me dei conta que iria casar. EU IRIA CASAR, DÁ PRA ACREDITAR?
- Parece até mentira, não? – nós rimos.
- Feliz primeiro de abril, então – certo, já era quase meio de abril, mas depois de toda essa zueira que foi o dia, eu podia deixar meu noivo tentar ser engraçado.
E eu amava muito meu noivo.


E eu amava perdidamente minha noiva.


E não, eu não amo a além da amizade.




Fim



Nota da autora: (01/08/2020) Clique aqui para seguir à página da autora.
Essa história foi adaptada, pois perdi o prazo do especial do dia das mulheres rs, mas nem tive tanto o que mudar por aqui.
Espero que tenham se divertido lendo na mesma que medida que eu ao escrever. In ou felizmente, essa é uma história que não vou fazer uma continuação (como ja acabei por fazer com varias outras das minhas fanfics). Eu leio os comentários e as vezes (quase sempre) reclamam dos meus finais KKKKK, sou um desastre.
E é isso pessoal! Ah, obrigada você por ter lido até aqui.




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