Love will tear us apart

Última atualização: 31/12/2019

Capítulo 1

7 am, pátio, Montclair High School

- CONSEGUIMOS! – comemorou assim que chegou ao centro do pátio.
- Eu não consigo acreditar que vamos estudar todos na mesma sala. - eu falei, enquanto admirava as nossas programações. – Bom, pelo menos em duas aulas.
- Finalmente! - disse com um sorriso de orelha a orelha enquanto me abraçava pelo ombro. - Vai ser o melhor ano das nossas vidas.
- Último ano do colegial, aí vamos nós! - exclamou com pose de super herói, fazendo todos rirem.
Tudo começou no aniversário do pai do .
- Vamos, filha. Você vai gostar. - senti meu pai puxando o meu cobertor e acendendo as luzes do meu quarto.
- Eu não quero. - afundei meu rosto no meu travesseiro na esperança de que meu pai fosse me deixar em casa.
- Eu ouvi dizer que algumas crianças vão. Você vai poder brincar com eles. - meu pai sentou ao meu lado na cama e começou a fazer carinho em meus cabelos.
- Eles não vão gostar de mim. - virei de lado e olhei para ele.
- Isso é impossível. - vi um sorriso se formar no rosto dele e sorri junto. - Agora vai, toma um banho e se arrume. Estaremos te esperando lá embaixo.
Me aprontei e ouvi um barulho do que me parecia ser um embrulho de presente ao descer.
- Bom dia, querida. - minha mãe olhou para mim e depois de volta para seu notebook.
- Filha, coma alguma fruta porque vamos sair daqui 10 minutos, tudo bem? - vi meu pai dizer com um olhar concentrado, tentando entender como fazer um laço bonito. Ou pelo menos não tão horrível.
- Tudo bem. - peguei uma maçã do cesto de frutas. - Quantos anos as crianças têm?
- 7 anos, você vai se dar bem com elas. São todas da sua idade. - meu pai olhou pra mim sorrindo e deu um beijo no topo da minha cabeça. - Não se preocupe.
10 minutos depois e lá estávamos nós, batendo à porta da casa logo em frente à nossa.
- Jake, Anne, vocês vieram. - uma mulher de cabelos castanhos abriu a porta com um sorriso. - Você deve ser a . Eu sou Lisa. É um prazer finalmente conhecê-la. Acredito que uma garotinha vai ficar muito feliz ao te ver aqui. - eu sorri e olhei para meus pés. - Bom, podem entrar. Estão todos nos fundos. Fiquem à vontade. - a mulher gentil deu um passo para o lado e todos nós entramos.
- A alegria da festa chegou! - um homem de cabelos escuros e barba por fazer se levantou assim que chegamos no jardim dos fundos da casa e abriu os braços, abraçando meu pai. - Anne, é muito bom te ver. - ele sorriu e abraçou minha mãe também.
- É muito bom te ver também, Sean. - ouvi minha mãe dizer enquanto retribuía o abraço.
- A idade chega para todos, meu amigo. - meu pai deu dois tapinhas no ombro de Sean, rindo.
Os dois começaram a conversar e minha mãe perguntou se eu queria ir junto com ela para a roda de mulheres sentadas ali perto, me levando logo assim que eu aceitei.
- Anne, essa garotinha não parou de perguntar sobre desde que chegamos aqui. - uma moça loira disse, rindo e apertando as bochechas da menininha sentada ao meu lado.
- A só aceitou vir quando Jake disse que ela conheceria novos amigos. - minha mãe riu, alisando meus cabelos.
- Oi. - ouvi a voz da garota pela primeira vez e olhei para ela. - Meu nome é , qual o seu?
- Eu sou . - sorri e olhei para minhas mãos.
- Você quer brincar? - ela perguntou e apontou para uma árvore onde existiam vários brinquedos espalhados. - O e o devem estar ali.
Eu assenti e nós fomos em direção ao lugar que disse.
- Essa festa estava um saco só com os meninos. Eles são muito chatos. – bufou, pegando uma boneca e trocando sua roupa.
- Eles não brincam com você? - eu perguntei girando as rodas de um pequeno carrinho e olhando para ela.
- Não. Eles dizem que meninas são chatas. - imitou o jeito dos meninos falando, me fazendo rir.
- Vamos subir? - apontei para a casa na árvore. assentiu e nós subimos.
Abrimos a porta da casa e encontramos alguns brinquedos empilhados ao lado de uma mesa. sentou na poltrona que havia ali e eu sentei perto da porta da casa e começamos a brincar.
- Ei, desce daí! - ouvi uma voz se aproximando e quando olhei para trás vi dois meninos parados na frente da porta. - Vocês não podem ficar aqui.
- E por que não? – levantou e colocou as duas mãos na cintura.
- Porque aqui não é lugar de menina. - o segundo menino respondeu.
- Vocês são muito chatos. Nós não vamos sair daqui. - bateu o pé e cruzou os braços.
- , o que está acontecendo aí em cima? - Lisa perguntou, com um tom bravo em sua voz.
- Eu e o queremos brincar na casa e elas não querem sair. – virou e olhou para sua mãe.
- Vocês não vão descer daí até se resolverem e brincarem juntos. Onde já se viu? Seja mais educado com as visitas, .
- Parece que teremos que brincar juntos. - rolou os olhos e entrou na casa, sendo seguido por . - Qual é o seu nome?
- . Eu moro aqui na frente. - tirei os olhos do brinquedo em minhas mãos e olhei para o garoto.
Dez minutos depois, já estávamos brincando todos juntos e rindo como se nos conhecêssemos a anos. Ao anoitecer, Lisa nos chamou para comer o bolo e logo depois meus pais disseram que estávamos indo embora.
- Pai, eles podem ir brincar comigo em casa amanhã? - perguntei, olhando para cima com a melhor expressão de súplica que pude fazer.
- Claro. - meu pai riu e se despediu dos pais de que estavam na porta.
- Tchau. - sorri e abracei todos. - Meu pai deixou vocês irem lá em casa amanhã. - comemorou com pulinhos, fazendo com que nós rissemos.

As coisas nem sempre davam certo e eu sabia que sempre podia contar com eles.
- Você está agindo sem pensar, Anne. - ouvi meu pai dizer no andar debaixo.
- Eu pensei muito, Jake. Não parei de pensar nisso. Isso, isso tudo, não é o que eu quero. Eu preciso de um tempo. - minha mãe falou, em um tom de voz mais alto.
- A vai sofrer muito. Pensa nela uma vez na vida, Ann. - meu pai falou um pouco mais alto e eu senti as lágrimas descendo pelo meu rosto.
- Eu perdi 10 anos da minha vida pensando nela. E somente nela. Eu preciso me colocar em primeiro lugar e não consigo fazer isso aqui. - ouvi o barulho de chaves e passos.
- Anne, não faz isso. Por favor. Eu te amo. Não vá embora. - ouvi meu pai dizer com uma voz chorosa e senti minha cabeça doer de tanto chorar.
- Eu preciso ir.
Depois disso eu só ouvi o barulho da porta se fechando. Foi assim que minha mãe saiu da minha vida. Sem um aviso prévio, uma despedida ou uma justificativa. Simplesmente uma saída, sem passagem de volta. Desci as escadas e encontrei meu pai sentado no sofá, com a cabeça apoiada em seus braços.
- Pai?
- Oi, meu amor. - meu pai limpou as lágrimas e deu um sorriso triste. - Vem cá. - sentei ao lado do meu pai, o abraçando. - Somos só nós dois agora.
Ficamos apenas sentados em silêncio por alguns minutos, sem saber expressar o que estávamos sentindo.
- Você deveria ir descansar um pouco. Eu vou ficar bem. - forcei um sorriso, meu pai deu um beijo no topo da minha cabeça e anunciou que estava subindo.
Olhei em volta e tudo parecia vazio. Como algo pode mudar tão repentinamente? Nós éramos uma família feliz. Me levantei e voltei para meu quarto. Tudo parecia diferente agora, vazio. Fui até a janela e vi um porta retrato que estava sobre o criado mudo. Um porta retrato de nós três, provavelmente rindo de alguma palhaçada que meu pai havia falado. Sorri e não pude conter minhas lágrimas. Eu precisava de alguém.
- ? - vi a porta se abrir e só então percebi que eu tinha ido até a casa de . - O que aconteceu? Você está bem?
- E-eu... - gaguejei e tentei parar de chorar pelo menos por alguns segundos. Uma tentativa falha. - A minha mãe... Ela, ela foi embora.
Senti os braços de ao meu redor e mais lágrimas desceram pelos meus olhos.
- Vem, vamos entrar. – fechou a porta assim que entramos e eu me sentei no sofá. - Eu vou pegar alguma coisa para você beber e tentar se acalmar.
- Não. - respirei fundo antes de continuar. - Eu só preciso que você fique aqui.
- Tudo bem. – sentou ao meu lado e eu apoiei minha cabeça em seu ombro. - Você não quer deitar? – colocou uma almofada sobre suas pernas e começou a passar a mão pelos meus cabelos assim que eu me deitei. - Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui.

Depois daquele dia nós quatro nos tornamos ainda mais próximos e as visitas à casa de cada um, ainda mais frequentes. Nós passamos por várias experiências juntos. Experiências incríveis.
Estávamos os quatro sentados no sofá da casa de , assistindo a um filme, quando a mãe dele anunciou que iria dormir.
- Agora começou a diversão! – sussurrou cinco minutos depois, levantando do chão e desviando das almofadas que estavam ali.
- O que você está fazendo? – sussurrou de volta, se esticando no sofá para tentar ver onde o garoto estava. - E por que estamos sussurrando?
- Estamos sussurando porque não queremos que meus pais nos vejam fazendo isso. - voltou com uma garrafa de vodca em suas mãos e um sorriso de quem estava prestes a fazer algo errado no rosto.
- Eles não iam gostar nada disso. - riu, pegando a garrafa da mão do amigo e abrindo.
- Gente, eles podem acordar. - eu cochichei, olhando para a escada e de volta para eles.
- É só a gente não fazer barulho. – piscou para mim, dando o primeiro gole na bebida e passando para .
- Aqui, sua vez. - estendeu a garrafa para mim, que olhei para ele meio incerta.
- Eu nunca bebi.
- Nós também não. Antes tarde do que nunca. - ele balançou a garrafa e eu tomei-a em minhas mãos. Olhei de novo para , que riu. - Não é tão errado quanto você pensa. Relaxa.
Bebi um pequeno gole da bebida e senti todo o trajeto feito por ela queimar. Eu devo ter feito uma careta horrível já que os outros três riram e passou a mão pelos meus cabelos.
- Não ri de mim, idiota. Quero ver o que você vai achar disso. - passei a garrafa para , que riu e bebeu um pouco.
- Não é tão ruim assim. - a garota disse, limpando a boca com as costas da sua mão. - O gosto que fica depois é.
Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali, bebendo e rindo um do outro, sem realmente prestar atenção no filme que estava passando.
- Isso já está na metade. – olhou para a garrafa com uma expressão engraçada. Ou não tão engraçada assim, eu não estava em boas condições para julgar, tudo parecia hilário.
- Cara, como você vai explicar para o seu pai se ele encontrar isso? - virou lentamente para , que passou a mão pelos cabelos.
- Eu vou encher com água. Ele não vai perceber. - o garoto pegou a garrafa das mãos de e foi em direção à cozinha. Eu levantei do chão e sentei no sofá, ao lado de .
- Arrependida? - olhou para mim, com um sorriso convencido.
- Ok, eu admito: não foi uma péssima ideia. - olhei para ele, que começou a falar coisas como 'eu disse' e dei um soquinho no ombro dele.
- Deixei tudo como estava antes. – voltou para a sala e suspirou aliviado.
- Podemos dormir agora? Eu não me aguento em pé. - disse, com a cabeça encostada na almofada do sofá e de olhos fechados.
- Vamos.
Todos nós subimos para o quarto de na ponta dos pés, tentando manter a casa o mais silenciosa possível. E isso estava dando certo, até o momento em que tropeçou no próprio pé e derrubou alguns livros que estavam na escrivaninha de .
- Shhhh. - a garota colocou o indicador sobre os lábios, olhando para os livros que estavam ao lado do seu pé. - Não podemos acordar os pais dele.
- , você está falando com os livros? - sussurrou, tentando segurar a risada. O que não funcionou, nem mesmo para mim.
- Eles fizeram muito barulho. Vão acabar com nosso disfarce. - ela dizia enquanto caminhava até a cama do garoto. - Boa noite.
Todos nos olhamos sem entender como alguém poderia ficar naquele estado com apenas alguns goles e rimos da situação. A noite acabou rápido depois daquilo, eu dormi ao lado da na cama de e os meninos dividiram o colchão. No dia seguinte, acordamos já no horário do almoço e nos aprontamos para ir embora. Descemos as escadas e tentamos agir o mais natural possível, esquecendo do que parecia um martelo impiedoso dentro da minha cabeça.
- Nós vamos para a casa da . Volto mais tarde. - anunciou, enquanto nós cumprimentávamos os pais dele e girou a maçaneta da porta da casa assim que todos havíamos nos despedido.
- , você sabe porquê essa vodca está aguada? - olhamos de volta para Jeremy e o vimos provando um drink, que provavelmente havia feito para o almoço. Era isso, eu poderia dar tchau para nossa amizade e para a minha liberdade. Digamos que meu pai não reagiria muito bem ao saber que sua filhinha de 16 anos havia provado bebida alcoólica pela primeira vez na casa de um dos seus melhores amigos.
- Ué, pai, não sei. Se você que bebeu não lembra, não é de se espantar que tenha água aí dentro. Eu já vou. - ouvimos a risada da mãe de antes de sairmos pela porta o mais rápido possível.
- Essa foi a pior desculpa que eu já ouvi. - comentou, revirando os olhos.
- Mas parece que ele acreditou. - sorriu, dando dois tapinhas no ombro do amigo.
Eu espero.

E depois da primeira vez provando algo alcóolico, veio a nossa primeira festa. No final do penúltimo ano do colegial.
Dizer que nós passamos a última semana inteira falando sobre essa festa seria pouco para expressar como estávamos ansiosos para o evento. A festa foi organizada pelas pessoas mais populares da escola e nos surpreendeu muito saber que fomos convidados. Nunca nos encaixamos no grupo dos que se destacam em termos de popularidade. Sempre fomos nós, os quatro, um pelo outro e só. Bom, talvez o fato de e fazerem parte do time de futebol americano tenha influenciado um pouco na decisão.
- Eu não acredito que nossa grande estreia vai ser na festa mais esperada do ano. - sorriu e bateu palminhas empolgadas.
- Eu espero que seja uma "grande estreia" mesmo. - desviei o meu foco da missão impossível que era não borrar o batom líquido e olhei para , fazendo aspas com as mãos.
- E vai ser. – se apoiou em seu cotovelo e nos encarou da cama.
- Vocês estão preparados para a festa? - chegou, carregando um sorriso no rosto e uma garrafa de bebida em suas mãos.
- Como você entrou com isso aqui? - perguntei, largando tudo que estava fazendo e puxando ele para dentro do quarto, fechando a porta em seguida. - Meu pai te viu?
- Claro que não. Eu sou um ninja, esqueceu? - portou sua melhor pose de convencido e ameaçou abrir a garrafa, até que eu coloquei a mão sobre a dele.
- Aqui não. Espera a gente chegar lá. - olhei para ele, que assentiu e eu pude terminar de me maquiar.
- Eu nunca gostei tanto do fato de vocês serem do time de futebol como agora. - girou e deitou ao lado de .
- Você não gostava por ciúmes, não é? Todas aquelas líderes de torcida ao nosso redor. – fechou os olhos, com uma expressão feliz e maliciosa ao mesmo tempo.
- Só se for nos seus sonhos. - revirou os olhos e empurrou o garoto, que caiu da cama, fazendo com que gargalhasse. - Um dia essa sua mania de sonhar acordado vai acabar te machucando, .
- Você vai acabar me machucando, você quis dizer. - o garoto falou, esfregando o topo da cabeça.
- Aí, casal. Vamos? - falou da porta, comigo ao seu lado. Nós estávamos ali há algum tempo, apenas esperando os dois terminarem de discutir. - Temos que chegar em uma festa, lembram?
- Claro que não. Eles estavam muito ocupados se amando. – e reviraram os olhos, vindo em nossa direção. - , esconde isso no seu casaco.
Entreguei a garrafa em suas mãos e nós descemos assim que conseguimos camuflá-la. Chegamos na sala e encontramos meu pai concentrado em um filme de ação.
- Já vão? - ele disse, sem tirar os olhos da tela.
- Sim. O vai dirigindo. Mas, não se preocupe, a festa não é tão longe daqui. Não correremos perigo mesmo com ele no volante.
- Ei! Eu sei dirigir. - fez uma cara emburrada.
- Claro que sabe. Assim como você é mestre em manter o equilíbrio. - bagunçou os cabelos do garoto, como se falasse com uma criança.
- Bom, tomem cuidado. Qualquer coisa me liguem e eu posso buscar vocês. - meu pai olhou para mim e riu da expressão triste que fez.
- Pode deixar. - pisquei para ele, todos nos despedimos e saímos porta afora, entrando no carro de .
O trajeto até a casa de Amber era realmente curto e chegamos lá em cinco minutos. Durante o caminho, nós demos alguns goles na bebida. Menos , claro. Ele seria nosso motorista e não beberia nada alcóolico.
- Cara, essa casa é gigante. - disse, olhando em volta assim que entramos.
- Nem parece real. - comentei, reparando no lustre enorme que iluminava o centro da sala de estar.
- Eu nem sabia que tinha tanta gente assim na escola. - disse, desviando de algumas pessoas que esbarravam nela.
- Eu acho que não tem só gente da nossa escola aqui. - comentou assim que viu alguns rostos familiares de jogos em escolas distantes da sua.
- Vocês vieram! Fiquem a vontade e aproveitem a festa do ano. - Amber sorriu, piscou para , que deu um sorriso tímido, e voltou para a roda das suas amigas.
- Parece que alguém tem uma quedinha. - apertou as bochechas de .
- Pelo que me parece, é uma via de duas mãos. - eu ri das tentativas falhas de de tirar as mãos da de seu rosto.
- Quem não tem uma queda pela Amber? - olhou para , que soltou as bochechas de e riu.
- Nós estamos em pé aqui há mais de três minutos e não estou vendo um copo em minhas mãos. - olhou para suas mãos vazias, fingindo estar procurando algo.
- Precisamos resolver isso então. - estendi o braço para ela, que entrelaçou o seu ao meu e nós fomos até a mesa com todas as bebidas.
- Por que eu não sou como a Amber? - deixou escapar, olhando para seu copo. - Quero dizer, olha essa casa. Ela tem todos os garotos da escola aos seus pés. E aquele corpo. Sério.
- Porque você é a , a garota que consegue ser linda até com suas manias e jeitinhos esquisitos. - apertei o nariz dela e sorri, tentando confortá-la. - E um dia, o melhor garoto da escola vai perceber o que está perdendo. Ou um dos melhores.
- Se estiver entre os dez melhores eu já fico feliz. – entrou na brincadeira, mexendo nos cabelos.
- Agora, isso é uma festa. Nós precisamos nos divertir e não ficar pensando nisso. - eu pisquei, despejando uma das bebidas dali no copo dela e erguendo o meu para um brinde.
- Vocês vieram buscar a bebida ou ficar conversando? - chegou atrás de mim, rindo do susto que eu levei. - Vamos lá para a piscina, o está nos esperando.
Nós saímos da cozinha e caminhamos em direção à área da piscina, que estava cheia de gente assim como todos os outros cômodos da casa. Encontramos sentado em uma parte um pouco isolada e nos juntamos a ele.
- Eu vi tanta coisa que não queria ver só nesse tempo que fiquei sozinho aqui. - disse com cara de nojo, olhando para um casal que se atracava a uns dois metros dali.
- Você só está assim porque não tem ninguém para fazer isso. - disse e tomou um gole da sua bebida, também observando os dois ali.
- Não fere os sentimentos do meu melhor amigo desse jeito. - disse com uma voz sentida e abraçou (lê-se quase esmagou o garoto, espremendo a cabeça dele contra seu peito).
- Cara, me solta. - conseguiu se livrar dos braços de e arrumou sua roupa e cabelo. - Eu sabia que não deveria ter aceitado ser o motorista. Vocês são insuportáveis bêbados.
- Ninguém te obrigou. - eu levantei a sobrancelha e bebi um pouco. - Essa festa não está tão incrível quanto eu imaginava.
- Ainda. - encheu meu copo de novo, com a nossa bebida. - Daqui a pouco alguém passa uma vergonha e nós teremos do que rir.
Ficamos o que me pareceu uma eternidade ali, bebendo e às vezes andando pela casa e vendo uma série de vexames. Ok, estava certo. Acho que nos distraímos tanto que nem lembramos que estávamos bebendo e o movimento se tornou automático, fazendo com que nós ficássemos alterados bem rápido. Depois daquele momento, eu só lembro de ter ido para o jardim da frente com , deixando e na sala de estar da casa. Depois, lembro de voltarmos correndo para dentro da casa, ver receber um soco de Nick e sermos expulsos da festa logo depois de ter conseguido separar os dois. Tanta coisa para uma noite só. Acho que o estresse me fez ficar mais sóbria.
- O que aconteceu? - passei a mão pela cintura de e ele colocou o braço em meu ombro, se apoiando e limpando o sangue em seu nariz com a outra mão. - Ele quebrou o seu nariz?
- Acho que não. - respondeu, suspirando.
- Onde está doendo? Você quer que a gente vá pro hospital? - perguntou, colocando a mão no ombro do garoto assim que ele sentou no banco traseiro do carro. - A gente pode pedir um táxi e alguém fica aqui com o carro. Ou nós pedimos para o pai da buscar o carro enquanto estamos lá.
- Não, eu estou bem. Relaxa. - sorriu e levantou, indo até o banco do motorista.
- Você consegue dirigir? - perguntou para o amigo.
- Claro que consigo. Foi só uma briga, gente. Eu vou ficar bem. - girou a chave assim que todos entraram no carro, depois que eu me livrei da garrafa de bebida e voltamos para a minha casa.
Entramos e os três foram direto para o meu quarto, agradecendo por meu pai não estar na sala ou teríamos que dar uma boa explicação do porquê tinha sangue no seu rosto. Eu fiquei para trás e busquei garrafas de água, remédio para dor de cabeça e uma bolsa de gelo e subi.
- Aqui, coloca no seu nariz. - estendi a bolsa de gelo para , que colocou cuidadosamente sobre seus machucados. - Isso que dá fingir ser herói.
- Eu sou um herói. - riu.
- Com certeza. - disse ironicamente e deitou no colchão.
- Eu durmo na cama. - e disseram ao mesmo tempo. Regra era regra, quem diz primeiro, fica com a cama. Foi uma coisa que inventamos quando criança para que fosse sempre justo.
- Droga. Eu não consigo dormir na cama nem na minha casa. - eu peguei meu travesseiro e coloquei ao lado do de , que já havia capotado.
Me aprontei para dormir, apaguei a luz e deitei no colchão. Virei de lado e já senti o sono chegando.
- Obrigada. - foi a última coisa que ouvi dizer antes de dormir.

Essa é a história de ascensão e queda de .


Capítulo 2

Ouvimos o sinal tocar, anunciando o início do primeiro período e caminhamos pelo corredor cheio de pessoas até a nossa sala.
- Eu juro que ele olhou para mim e piscou. - exclamou, me contando pela quinta vez a história do show ao qual ela foi alguns dias atrás.
- Conta outra, . – riu junto com .
- Vocês nunca me levam a sério.
- Talvez se você aparecer namorando o vocalista, a gente pode pensar em começar a acreditar nas suas histórias. - apertou a bochecha da garota, que desviou o rosto.
- Eu acredito que isso aconteceu e também acredito no namoro. - disse, olhando primeiro para e depois para . - Você não devia implicar tanto com ela, coitada.
- Pelo menos alguém tem piedade de mim aqui. - juntou as mãos como se fosse rezar e começou a agradecer aos céus, me fazendo rir.
- Nós podíamos fazer alguma coisa depois da aula hoje, o que vocês acham? - perguntei já que não teria nada para fazer naquela tarde.
- Eu e o temos treino de futebol hoje. - entortou a boca em descontentamento.
- É o primeiro dia de aula. O treinador nunca dá uma folga para vocês? - colocou sua bolsa sobre a mesa assim que chegamos em nossos lugares na sala.
- Foi um milagre ele não nos chamar no meio das férias. Mas ele deixou bem claro que já teríamos que voltar ao campo assim que pisássemos na escola para "não perdermos o ritmo". Não é um treino fechado, se vocês quiserem ir. - deu de ombros e sentou atrás do .
- Por mim, tudo bem. - olhei para trás a fim de ver se concordava com a ideia e ela assentiu.
- Podem contar com a nossa ilustre presença na arquibancada. - jogou os cabelos para o lado, fazendo pose.
- Eu sabia que não deveria ter convidado. Já ficou se sentindo. - revirou os olhos para , que deu a língua em resposta.
- Eles nunca vão parar de implicar um com o outro. - eu ri, olhando para ao meu lado, que revirou os olhos e soltou uma risadinha.
- Eles não têm jeito.
O segundo sinal tocou, o que queria dizer que o tempo de tolerância havia acabado e a aula iria começar. A professora Lee entrou na sala junto com o nosso diretor, que sempre fazia uma visita nas salas de aula no nosso primeiro dia.
- Bom dia, alunos. - o senhor Roberts finalmente se pronunciou, depois de alguns segundos falando com a professora. - Senhor Brad, sente-se direito, por favor. - o diretor lançou um olhar fuzilante para o garoto sentado na última carteira.
- Está declarado o fim das férias. - Brad caçoou dele, fazendo com que todos os seus amigos rissem e tirou o pé de cima da mesa, continuando sentado largado na cadeira.
- Certo. - senhor Roberts respirou fundo antes de colocar um sorriso no rosto e continuar seu discurso. - Espero que os senhores tenham aproveitado muito seu período de recesso e que estejam preparados para o que será seu último ano no ensino médio. Bom, espero que para todos. Não pretendo ver alguns de vocês tão cedo depois de Junho.- olhei para trás e os amigos de Brad agora riam e bagunçavam o cabelo do garoto, que tentava esquivar. - Esse ano será marcado por muita responsabilidade, pressão e exige muito comprometimento, espero que estejam preparados para isto.
- Eu também espero. - ouvi suspirar atrás de mim e ri baixo, imaginando se seria possível ela ter lido meus pensamentos.
- Mas é claro que não será só isso. Temos os seus últimos jogos de futebol americano e a primeira temporada tem início no próximo mês, em Setembro. Sei que o treinador já está os colocando para praticar e espero que façam bonito contra as outras escolas. - ouvi a comemoração dos garotos do fundo. Eles viram animais quando o assunto é esporte. - O que significa que as líderes de torcida já devem se preparar para animarem e darem força para os nossos jogadores prediletos. - olhei para o lado e vi as meninas sorrirem olhando uma para a outra. - E o nosso evento para fechar o ano, em Maio, o baile de formatura. - dessa vez a comemoração foi da classe inteira.
Não era nenhum mistério que o baile de formatura era o evento mais esperado do ano. Todos passaram 12 anos de sua vida sonhando com esse momento. O fechamento de um ciclo. O certificado de que estaríamos fora daquele lugar para sempre. E, não me leve a mal, eu não odiava a escola. Só achava que existia muito mais na vida do que 12 anos em algum lugar com gente que não vai com a sua cara.
- Senhor Roberts. - olhei na direção da voz e vi a menina de cabelos loiros perfeitos, Haley, com a mão levantada, esperando a permissão para falar, que foi concedida. - Quando as inscrições para o comitê de organização do baile começarão?
- Bom, posso esperar as inscrições finalizadas até sexta na minha mesa.
- Eu posso me encarregar disso, se o senhor preferir. - a garota sorriu.
- Claro. Quem quiser participar da organização do baile, trate de comunicar Haley. Espero que estejam todos acomodados e prontos para o primeiro dia de aula. Obrigado. - o diretor assentiu, sorrindo e olhou para a senhora Lee uma última vez antes de sair da sala.
Algumas aulas depois daquilo foram "vagas", apenas com discussões sobre as férias e sobre o futuro, dirigidas pelos professores, os primeiros períodos passaram voando e quando vi já estávamos no horário de almoço, na cafeteria da escola.
- Eu espero que não escolham um tema brega para nosso baile. - comentou, colocando uma caixinha de suco em sua bandeja e saindo da fila, ficando ao nosso lado.
- Por que você não entra para o comitê? - perguntei, olhando para ela e pegando um legume do meu prato e mastigando, caminhando com eles, procurando por uma mesa vazia.
- Que viagem! - riu e balançou a cabeça, negando.
- Ué, qual o problema? - se pronunciou, olhando para .
- O problema é que aquilo é um império. Só o grupo da Amber poderá participar. - a garota revirou os olhos e sentou na primeira mesa vaga dali.
- Vamos fazer um protesto. - sentou e bateu com os talheres na mesa, os segurando com o punho fechado. - Não é como se elas comandassem a escola.
- Hm, na verdade, é sim. - comentei depois de engolir a comida e tomei um pouco do suco. - Elas possuem um legado aqui dentro.
- Que nunca poderá ser quebrado. Ela conseguiu ser rainha de todos os bailes da escola, até sem ser do último ano. – disse, concentrada em cortar sua carne.
- Vocês levam isso muito a sério. - abriu sua caixinha de suco e olhou para todos na mesa. - O importante é a gente se divertir na noite do baile e fazer tudo certo.
- Claro. Mas não doeria não ser invisível uma vez na vida. - riu e revirou os olhos.
- Você não é invisível. Para de se subestimar assim. Você é incrível. - ele falou, olhando para seu prato e um silêncio se instalou. Era a primeira vez que realmente elogiava sem depois fazer uma piadinha. ficou petrificada, olhando para boquiaberta e eu decidi quebrar o gelo.
- Bom, com certeza aproveitaremos a noite. Não se preocupe. - disse depois de limpar a garganta, atraindo a atenção de todos e empurrei o ombro de com o meu, fazendo ele rir.
Não passamos por mais momentos de silêncio constrangedor no almoço e logo estávamos de volta à sala para os nossos dois últimos períodos antes da libertação do dia. Nossas aulas foram de história mundial e álgebra, as únicas aulas do dia em que realmente tivemos de nos esforçar já que os professores passaram exercícios e não nos deixaram descansar.
- Nós vamos direto para o vestiário. Encontramos vocês na arquibancada? - perguntou, fechando o zíper depois de recolher seus materiais.
- Tudo bem, vamos para o campo então. - assentiu, pegando todos os livros no braço e eu fiz o mesmo. - Só preciso passar no meu armário antes, ok?
- Claro. Eu vou deixar alguns livros por lá também, já que não temos dever de casa de todas as matérias. - dei de ombros e vi os meninos saindo da sala com pressa, não podiam chegar atrasados ou o treinador os faria dar centenas de voltas pelo campo, como punição.
Saímos da sala e fomos direto para nossos armários, que eram um de frente para o outro. Guardamos nossos materiais e logo seguimos para o campo e nos sentamos na arquibancada. Uma parte do campo era ocupada por garotas em suas roupas de ginástica praticando o número das líderes de torcida, que abririam os jogos da temporada inteira. A maior parte do time era composta por meninas do último ano, mais precisamente Amber e seu esquadrão e algumas meninas do segundo e terceiro ano também.
- Ok, eu não ia falar sobre isso mas eu preciso. - virei para assim que vi os garotos saindo do vestiário e indo até o meio do campo. - O que foi aquilo no almoço?
- O que? - a garota olhou para as suas unhas e depois de volta para mim, que arqueei a sobrancelha e esperei por outra resposta já que ela sabia muito bem do que eu estava falando e a vi soltar todo o ar preso dentro de seus pulmões de uma vez só antes de continuar. - Olha, eu também não entendi.
- Acho que foi a primeira vez que eu vi esboçar algum sentimento por alguém sem fugir ou rir para quebrar a tensão. - ri e olhei para o campo.
- Uou, uou, uou. - gesticulou com as suas mãos, virando completamente para mim. - Quem está falando de sentimentos aqui?
- Não se faça de desentendida. - revirei os olhos e olhei para ela. - Tudo bem, é estranho falar sobre sentimentos quando se trata de . Ele sempre foi muito fechado.
- E sempre me odiou, até onde eu sei.
- Bom, sempre disseram que amor e ódio andam juntos. - levantei a sobrancelha e ri, empurrando seu ombro com o meu, a provocando.
- Para de ser boba. É óbvio que ele não sente nada por mim. Ele só deve ter cansado de me ouvir lamentando sobre tudo sempre. - revirou os olhos e olhou para o garoto, que estava concentrado nas instruções do seu treinador.
- E você? - olhei pra ela, que virou para mim de novo após alguns segundos e fez uma cara de confusa. - Sente alguma coisa por ele?
- Você está mais louca do que o normal hoje. - vi minha amiga rir debochada e colocar a mochila em seu colo, focando seu olhar no campo novamente.
- Talvez você esteja negando o que sempre esteve aí dentro. olhou incrédula para mim e soltou um barulho de indignação.
- Eu não vou mais falar sobre isso com você. - a vi virar para frente e balançar a cabeça.
- Um dia você percebe. - cochichei e ouvi uma risada anasalada como resposta.
Passamos a hora seguinte rindo dos tombos dos garotos no treino, analisando os movimentos das meninas e comentando sobre cada detalhe que podíamos observar.
- Vocês estão dormindo? - ouvi o apito do treinador, indicando o fim do treino e desci até o campo junto com . - Nós temos um mês para fazer essa coreografia ficar perfeita e do jeito que vocês estão, nem um ano seria o suficiente. - vi uma garota descer do topo da pirâmide e passar a mão pelo rosto. - O ensaio acabou por hoje, mas eu espero que vocês prestem mais atenção amanhã. Não quero ter que tomar medidas drásticas. - Amber virou de costas, pegando sua bolsa e a garrafa de água na mão. - Ah, Samantha, mantenha a dieta restrita até o dia da estreia, por favor. Não queremos espantar os jogadores e sim apoiá-los. - a loira piscou e saiu do campo.
- Ela consegue ser má quando quer. - comentou, olhando para a garota que saía rebolando pelo campo até o aglomerado de garotos do time.
- Ela consegue acabar com alguém quando quer, você quer dizer. - olhei para Samantha, que estava sentada no banco com o rosto entre as mãos, sendo consolada pela sua amiga.
- E aí, já começaram a organizar o encontro de fã clube para os próximos Tom Brady's que sairão de Montclair? - tirou o capacete e jogou os cabelos para trás.
- Oh, meu Deus! São e , será que vocês poderiam assinar a minha camiseta? - fiz a minha melhor expressão de animação e coloquei as mãos no rosto, surpresa, fazendo com que eles rissem.
- Tudo que você quiser. - piscou para mim, encarnando o galã jogador de futebol dentro de si e me abraçou, fazendo com que eu tentasse ao máximo sair dali já que ele estava pingando de suor.
- Para! - gritei tentando me desvencilhar de seus braços e olhei para e assim que finalmente consegui sair. Os dois se encaravam e depois encaravam o chão, com uma mão no bolso da calça e a outra segurando a alça da mochila e com seu capacete debaixo do braço e a outra mão na nuca.
- Eles estão estranhos. – sussurrou, também observando os dois e eu assenti. - Bom, vamos nos trocar? - ele falou mais alto, tentando tirar os dois do transe, o que levou alguns segundos mas eles finalmente voltaram à realidade.
- Isso. Vamos. - respondeu, chacoalhando a cabeça e olhando para mais uma vez, que olhava para um ponto fixo ao seu lado direito, ainda perdida.
- Nós esperamos vocês aqui. - fiz uma expressão confusa e os vi concordar, indo em direção ao vestiário. - Você está bem?
- Claro. Só estava pensando. - olhou para mim e deu um sorriso. Estranho, por sinal.
- Hm. Ok. - levantei uma sobrancelha e ouvi a risada dela, mandando o dedo do meio para mim. - Um dia você vai ter que me contar o que está acontecendo por aqui.
- Quem sabe um dia. - ela deu de ombros, olhando para o céu.
- Então você admite que tem alguma coisa acontecendo? - falei. Quero dizer, quase gritei, com a mão no peito sem acreditar no que passava pela minha mente.
- Cala a boca, . - olhou para os lados e de volta para mim, me fuzilando com os olhos já que todos ao nosso redor nos olhavam com expressões do tipo "por que essas doidas estão fazendo um escândalo aqui?"
- Eu não acredito que você não vai me contar agora. Você é uma ingrata. - cruzei os braços e olhei para ela, esperando que ela confessasse.
- Os garotos já estão voltando. - desviou o olhar e virou de costas, caminhando na frente em direção à saída.
- Isso está muito esquisito. - cochichei para mim mesma e segui seus passos, sentindo o braço de passar pelos meus ombros e vindo logo ao seu lado.
Caminhamos os dez minutos até nossas casas e nos separamos uma quadra antes da minha, onde e seguiam para algumas ruas acima da minha e de .
- Conseguiu tirar alguma coisa de sobre esse comportamento deles? - perguntei assim que ficamos à sós.
- Ele não quis me contar nada. Mas não negou também. E você?
- O mesmo. - revirei os olhos e suspirei.
- Bom, depois da festa da Amber eles começaram a se comportar de um jeito meio... diferente?! - olhou para mim com uma expressão confusa.
- Eu não consigo lembrar de nada dessa festa depois do momento que começamos a beber na piscina. - tentei buscar lembranças na minha mente mas nada vinha. - Eu espero que ela me conte logo.
- E eu espero que ele pare de fazer doce e me fale. - riu e eu o acompanhei. Paramos no meio da rua e nos despedimos, nos separando e indo cada um para sua casa.
Abri a porta de casa e a tranquei assim que entrei. Coloquei as chaves no aparador ao lado da porta e subi direto para o meu quarto, deixando minha mochila lá e tirando apenas o livro de álgebra, já que tinha um dever para fazer. Coloquei o livro em cima da escrivaninha e troquei de roupa, colocando shorts confortáveis e uma camiseta antiga. Prendi meu cabelo em um coque e comecei a fazer minha tarefa. Como era o primeiro dia de aula, o professor decidiu não pegar tão pesado e nos deu apenas alguns exercícios de revisão da matéria do ano anterior para que conseguissemos voltar aos eixos. Terminei a lista alguns minutos depois, guardei o livro de volta na mochila e desci para a sala. Liguei a televisão e coloquei em um programa qualquer para não me sentir tão sozinha enquanto cozinhava o jantar. Essa era normalmente a minha rotina todos os dias quando não estava de férias.
- Boa noite, filha. - ouvi meu pai me cumprimentar assim que abriu a porta e virei para ele, sorrindo. Já passava das 19h e eu me encontrava jogada no sofá, passando os canais da TV.
- Boa noite. Como foi o trabalho hoje? - tirei os pés da mesa de centro.
- Foi diferente. Como a empresa foi comprada semana passada, agora ela está ocupada por novos rostos. Mais jovens até. Me sinto um idoso. - meu pai fez uma cara de tristeza e eu ri de sua expressão.
- São anos de experiência. - pisquei para ele e levantei, indo até a bancada da cozinha e colocando o macarrão que eu havia cozinhado na mesa de jantar.
- E na escola, como foi? - ele perguntou enquanto tirava dois pratos do armário e trazia os talheres junto.
- Normal. Quer dizer, não tanto. - sentei à mesa e me servi, recebendo um olhar confuso dele, como se pedisse para eu continuar a história. - A e o andam meio estranhos.
- Como assim?
- Parece que tem algo acontecendo entre os dois. - dei de ombros quando terminei de me servir. - Não sei exatamente o que. Ela não quis me contar.
- O não conseguiu tirar algo do ? Uma pista? - ele colocou uma garfada do macarrão na boca.
- A mesma coisa. Os dois insistem no segredo.
- Um dia vocês descobrem. Talvez eles estejam tendo um caso e estejam com medo de contar para vocês, não sei. - meu pai deu de ombros listando as possibilidades e eu assenti. - O estranho é que eles sempre implicaram um com o outro.
- Tough love. - eu falei, fazendo meu pai rir da expressão e continuamos nosso jantar normalmente.
Ele retirou os pratos assim que terminamos e eu guardei o que restou da comida na geladeira, colocando um pouco de suco em um copo e bebendo enquanto meu pai lavava as louças. Depois que minha mãe foi embora as coisas complicaram um pouco. Tivemos de nos adaptar à uma vida um pouco mais reclusa e meu pai teve de se empenhar muito mais no trabalho para conseguir sustentar a nossa casa e os gastos como antes, apenas com um salário. Eu fazia alguns trabalhos como babá quando conseguia, cuidando de filhos dos amigos dos meus pais ou da vizinhança, mas era pouco. Com a compra da empresa dele nós ficamos mais esperançosos de que as coisas iriam melhorar, já que meu pai recebeu uma promoção no trabalho quando o seu antigo chefe falou muito bem dele para o novo comprador.
- Eu vou tomar um banho e deitar. Durma bem. - meu pai deu um beijo no topo da minha cabeça e começou a recolher seus pertences da sala.
- Você também. Bom trabalho amanhã. - sorri e apaguei a luz da sala de jantar.
- Boa aula. Tente arrancar algo daqueles dois. - meu pai riu e subiu para seu quarto com seus sapatos e o paletó em seus braços.


Capítulo 3

- Então, vocês têm uma semana para me entregarem o trabalho pronto e apresentarem aqui na frente. O tema vai ser ‘os maiores romances da literatura’. Vocês podem optar por um teatro e atuarem algum trecho do livro para a sala ou uma apresentação formal. – a professora Johnson anotou o dia da apresentação na lousa e virou para a sala. – Caprichem.
O sinal soou e nós arrumamos nossos materiais e deixamos a sala. A semana passou rápido e já era sexta-feira, dia que nós normalmente nos reuníamos para fazer alguma coisa e dessa vez seria um trabalho escolar.
- Onde vamos fazer esse trabalho? – perguntei, já no corredor caminhando ao lados dos outros três.
- Na minha casa não dá. Aquela reforma ainda está acontecendo. – bufou.
- Pode ser na minha. – se pronunciou. – Se vocês quiserem podemos começar hoje mesmo.
- Por mim tudo bem. – falou e todos assentimos.
Saímos da escola e chegamos na casa de dez minutos depois. Entramos, colocamos nossas mochilas em cima do sofá e sentamos no tapete da sala, colocando os cadernos sobre a mesa de centro.
- Aparentemente nós podemos escolher qualquer livro, não é? – perguntou.
- Acho que sim. Vocês têm alguma ideia do que a gente pode fazer? – olhei para todo mundo ao meu redor, encontrei várias expressões confusas e ri. – Tudo bem, talvez isso demore um pouco.
- Vocês preferem fazer uma apresentação normal ou teatro? – perguntou, com o lápis na sua mão direita.
- Por mim, tanto faz. – respondi, dando de ombros. – Acho que teatro deve ser mais legal.
- Eu também voto em teatro. – falou balançando a cabeça.
- Meu voto vai para qualquer coisa. – encostou as costas no sofá e jogou a cabeça para trás.
- Bom, então parece que vai ser teatro. – anotou alguma coisa em uma folha limpa do caderno e depois olhou de novo para a gente. - Acho que precisamos começar a pesquisar algum livro para apresentar então.
- Eu pego o notebook. – levantei a mão e subi a escada, indo até o quarto de . Fui até a sua escrivaninha e me agachei, alcançando a tomada e desconectando o computador. Enrolei todos os fios e segurei o computador com os dois braços, olhando para trás para ver se não esqueci nada enquanto ia até a porta do quarto. – Ai.
Exclamei quando esbarrei em alguma coisa na porta do quarto e olhei para frente, vendo rindo de mim.
- Sai da frente. – ri e tentei desviar, mas ele não me deixava passar. – O que foi?
- Vamos deixar os pombinhos se resolverem. – ele finalmente saiu do caminho, entrando no quarto e se jogando na cama.
- Do que você está falando? – virei para ele sem entender.
- A e o . – ele levantou a cabeça depois de perceber meu silêncio, viu minha expressão confusa e levou à mão até sua testa. – Eu esqueci de te contar, não é?
- Me contar o que, garoto? – fui em passos apressados até a cama, sentando ao seu lado e colocando o notebook ao meu lado, o olhando curiosa.
- Bom, depois que fomos para casa ontem, eu estava sentado assistindo à TV e o me ligou, do nada. Ele começou a falar umas coisas sem sentido sobre uma briga que ele teve com alguém e eu pedi para ele me contar a história direito e...
Flashback on – ’s POV
- Vou pegar mais uma bebida. – ouvi a voz de ao meu lado e logo depois a vi caminhar até a cozinha.
Olhei em volta e reconheci vários rostos na multidão. Eu sempre ouvia todos dizerem que as festas da Amber eram as mais badaladas da cidade mas nunca pensei que isso fosse verdade. Virei para a porta de entrada e vi e sentados na grama, rindo e sorri, balançando a cabeça.
- Aquela jogada nos últimos segundos do jogo final da temporada foi incrível, cara. Você salvou nossa pele. – senti Trevor dar um soquinho no meu ombro.
- Valeu, cara. Foi sorte. – sorri e ouvi sua risada. Estávamos conversando há uns dez minutos e ele estava bem mais bêbado do que o aceitável, tanto é que me confundiu com , já que ele foi quem fez o último ponto naquele jogo.
- Você quer um gole? – Jason me ofereceu o seu copo e eu neguei.
- Vou dirigir. – balancei a cabeça e olhei para os lados, procurando por que ainda não havia voltado.
- E aí, cara. Tá de olho em que gatinha? – Trevor perguntou com a sobrancelha arqueada, olhando para a bunda de uma garota que havia acabado de passar.
- Eu? – respondi depois de ficar um tempo em silêncio. – Não, eu não estou de olho em ninguém. – ri sem graça e dei de ombros.
- Quem vem para uma festa e não fica de olho em ninguém ou bebe? – Jason riu.
- Bom, aparentemente só eu. – olhei na direção da cozinha e tentei achar , sem sucesso. Já fazia uns cinco minutos que ela havia saído e não tinha dado sinal de vida depois disso, então decidi ir atrás dela. – Já volto.
Dei dois tapinhas no ombro de Jason e virei de costas, indo em direção à cozinha. Chegando lá presenciei uma cena nem um pouco agradável. estava encostada na bancada da cozinha, ao lado da geladeira e Nick a encurralava, com os dois braços no armário atrás dela enquanto ela tentava se desvencilhar dele, balançando a cabeça em negação. Assim que me viu, me olhou com os olhos arregalados e eu fui até ela sem pensar duas vezes.
- Solta ela, cara. – falei, atrás de Nick, que só olhou para mim sobre seu ombro e riu.
- Por que? Você é o namoradinho dela? Que eu saiba, ela está solteira.
- O que importa é que ela não quer. – coloquei minha mão sobre seu ombro e o puxei, fazendo ele virar para mim. Assim que conseguiu, saiu dali e deu a volta na cozinha, ficando ao meu lado.
- Para de se intrometer, cara. Deixa a garota se divertir. – Nick puxou o braço de , fazendo o corpo da garota colar no seu de novo. Empurei Nick para trás, o que fez ele soltar a garota e cambalear um pouco, já que devia estar bêbado.
Olhei ao redor e vi algumas pessoas se aglomerando, provavelmente esperando uma briga. Quando virei para frente, recebi um soco no lado direito do meu rosto e não consegui controlar meu corpo, devolvendo no rosto de Nick. As pessoas ao nosso redor começaram a gritar coisas como ‘briga’ e ‘acaba com ele, Nick’ e eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. O garoto deu um soco no meu nariz e um no meu estômago, o que fez com que eu me encolhesse um pouco. Vi chegar assim que me abaixei e ele segurou Nick, o levando até a sala.
- O que aconteceu? – passou a mão pela minha cintura e eu coloquei o braço em seu ombro, me apoiando e limpando o sangue em meu nariz com a outra mão. - Ele quebrou o seu nariz?
- Acho que não. – suspirei.
- Onde está doendo? Você quer que a gente vá pro hospital? - perguntou, colocando a mão no meu ombro quando sentei no banco do carro com as pernas para fora. - A gente pode pedir um táxi e alguém fica aqui com o carro. Ou nós pedimos para o pai da buscar o carro enquanto estamos lá.
- Não, eu estou bem. Relaxa. – eu sorri tentando deixa-la mais calma e fui até o banco do motorista.
- Você consegue dirigir? - me perguntou quando chegou no carro.
- Claro que consigo. Foi só uma briga, gente. Eu vou ficar bem. – liguei o carro e esperei todos entrarem para dar a partida.
Quando chegamos na casa da , entramos e fomos direto para seu quarto e eu sentei na sua cama.
- Aqui, coloca no seu roxo. – ela estendeu a bolsa de gelo para mim e eu coloquei sobre meu olho. - Isso que dá fingir ser herói.
- Eu sou um herói. – ri.
- Com certeza. - disse ironicamente e deitou no colchão.
- Eu durmo na cama. – eu e dissemos ao mesmo tempo, depois de ficarmos todos em silêncio.
- Droga. Eu não consigo dormir na cama nem na minha casa. – pegou o travesseiro e colocou ao lado do de , que já havia capotado.
Assim que ela apagou a luz, tirei meus sapatos e deitei de costas para , do lado que não estava dolorido.
- Obrigada. – senti a mão de no meu ombro e virei para ela, olhando para seus olhos iluminados apenas pela luz da rua.
- Tudo bem. Foi bom para o meu ego. – brinquei e a vi sorrir pela primeira vez depois da briga, suspirei aliviado.
- Você está todo machucado por minha culpa. – colocou a mão na testa e suspirou. – Desculpa.
- Relaxa. – tirei uma mecha de cabelo do seu rosto e vi seus olhos subirem para os meus. – Não está doendo tanto assim. - senti seus dedos passarem levemente sobre o meu olho e olhei para ela. Dei um beijo na palma da sua mão a fazendo sorrir e retribuí.
Não sei o que me deu naquele momento, mas eu me aproximei lentamente dela e senti nossos narizes se tocarem alguns segundos depois. Aquilo parecia certo. Depois de dez anos de pura implicância, tudo fazia sentido. Alternei meu olhar entre seus olhos e boca, a vendo fazer o mesmo e quebrar a distância restante.
Fechei os olhos automaticamente e encaixei minha mão na curva de sua cintura, sentindo a sua ir até a minha nuca enquanto nossos lábios permaneciam colados. Seus dedos fizeram uma pressão maior ali e eu entendi isso como um sinal para que eu aprofundasse o beijo. Senti sua respiração batendo em meu rosto e suspirei, apertando um pouco sua cintura e ela levou a mão até meus cabelos, os bagunçando um pouco.
- Isso é... – sussurrou, de olhos fechados, assim que quebrou o beijo
- Não acaba com o clima. – eu ri abafado e dei um selinho nela, que sorriu.
Flashback off

- O QUE? – eu gritei, não acreditando no que ouvi, fazendo rir e fazer um sinal para que eu falasse mais baixo. – O que?
- Pois é. Eu também não acreditei. – concordou com a cabeça e eu continuei boquiaberta.
- Tudo bem que eu achava que tinha algo rolando entre os dois, mas... – eu o olhei incrédula. – Uou.
- Por isso os dois estão estranhos desse jeito. – vi assentir e ri.
Ouvimos o barulho da porta vindo do andar de baixo e nos entreolhamos, pegando o computador e descendo, encontrando apenas sentado na sala com a mão no rosto e a cabeça pendendo para trás, no sofá.
- Cadê a ? – perguntei assim que cheguei ao lado do sofá, o vendo suspirar.
- Ela saiu. – olhou para a porta e riu, balançando a cabeça.
- O que você fez dessa vez? – eu sentei ao seu lado e coloquei o notebook na mesa de centro.
- Ela é louca. Só isso. – riu irônico e eu dei um soquinho no seu ombro. – É sério.
- Eu já contei para ela, cara. – colocou as mãos para cima em sinal de rendição quando viu a expressão de , que o fuzilava com os olhos. – Não é como se vocês estivessem escondendo tão bem.
- Bom, eu não sei o que acontece na cabeça dela. – suspirou e sentou direito no sofá, olhando para mim. – Tudo aquilo aconteceu na festa da Amber e eu pensei que os dois estivessem pensando do mesmo jeito, sentindo as mesmas coisas. Mas agora ela me disse que acha que foi um erro, considerando que sempre fomos amigos e que não poderia se repetir.
- Do jeito que eu conheço a , ela só quer ter certeza. – passei a mão nas costas de , que me olhou confuso. – Certeza do que você sente por ela. E de que ela não vai se machucar com você.
- Acho que eu falei as coisas erradas então. – o garoto colocou a mão na testa, se xingando.
- Como assim? – sentou na frente de .
- Talvez eu tenha falado de outra garota quando ela me pediu para esperar até ela saber o que era o certo. – balançou a cabeça em negação, largando o seu corpo no encosto do sofá e suspirou. – Eu sou um merda.
- Calma, você não é um merda. – disse e levantou a cabeça, o olhando com uma expressão séria. – Ok, talvez um pouco.
- Dá um tempo para ela. Eu vou tentar conversar com ela depois. Agora ela deve querer ficar sozinha. – eu pisquei e sentei no chão, abrindo o computador e pesquisando sobre alguns livros. Olhei para , que ainda ria da cara do amigo e balancei a cabeça, olhando para que continuava observando o teto da sala em silêncio.
O resto da tarde passou rápido e eu fui para minha casa umas oito horas da noite, acompanhada de .
- Você vai querer entrar? – perguntei para ele, apontando para minha casa, o vendo assentir.
- Filha, você chegou. – meu pai levantou a cabeça no sofá e nos viu entrar. – , você também veio.
- Claro, não poderia deixar de ver um clássico ao seu lado. – disse olhando para a TV e cumprimentou meu pai com um abraço. Eu fui logo atrás e fui para a cozinha depois de dar oi para ele.
- Acho que podíamos pedir uma pizza, não é? – eu perguntei, olhando para os dois que estavam sentados no sofá lado a lado, vidrados no futebol americano.
- Eu topo. – levantou o braço, olhando para mim e sorriu.
- Eu também. – meu pai bebeu um pouco da cerveja na sua frente e eu busquei o telefone, discando o número da pizzaria e pedindo uma de pepperoni e outra de calabresa.
Me apoiei na bancada e mandei uma mensagem para a , checando se ela estava bem e ela me respondeu como faria normalmente, o que fez eu perceber que ela não queria tocar no assunto de mais cedo. Trocamos mensagens por alguns minutos, até a pizza chegar, quando eu, meu pai e nos sentamos no sofá e assistimos atentos ao futebol.
- Eu não entendo como vocês conseguem ver isso tantas vezes sem se cansarem. – revirei os olhos e escutei a risada abafada de ao meu lado.
- Devemos apreciar a arte. – piscou para mim e meu pai riu, concentrado demais no jogo para se pronunciar. A partida finalmente terminou e todos levamos nossos pratos para a cozinha.
- Acho que já vou para casa. – vi se espreguiçar, encostado na bancada ao lado da pia enquanto eu estava sentada em outra perto da geladeira.
- Até que enfim, se tocou. – estendi as mãos para cima, agradecendo.
- Se quiser dormir aí, a casa é sua. – meu pai riu para ele, que olhou divertido para mim.
- Parece que eu vou te atormentar por mais algumas horinhas. – ele piscou, se aproximando de mim com cara de quem estava prestes a...
- NÃO! – levantei rapidamente da bancada e desviei de seus braços correndo até a sala. – Cócegas não! – comecei a rir e pulei a mesa de centro.
- Você sabe que eu corro mais que você. – ele riu, contornando o sofá e chegando muito próximo de mim, que subi as escadas e entrei no meu quarto.
- Isso é injusto. – falei enquanto empurrava a porta com o meu corpo e tentava recuperar o fôlego.
- Ninguém mandou fugir. – conseguiu abrir a porta e eu tentei correr até o banheiro, derrubando algumas coisas no percurso, mas ele conseguiu me alcançar antes de eu chegar à porta.
- AH! – gritei assim que senti suas mãos nas minhas costelas e não consegui conter a gargalhada, enquanto tentava me desvencilhar de seus braços.
- Diz que eu sou o cara mais maravilhoso desse mundo que eu te solto. – ele riu, ainda fazendo cócegas em mim e eu tentei recuperar o ar, relutando para dizer o que ele pediu.
- VOCÊ É O CARA MAIS MARAVILHOSO DESSE MUNDO. – falei quando percebi que ele não ia desistir e suspirei aliviada assim que ele me soltou. – Idiota.
- Você me ama. – ele disse, convencido e eu revirei os olhos, sorrindo. – Ei, o que é isso? – ele caminhou até uma caixa que eu havia derrubado no desespero e se agachou, pegando uma foto em suas mãos.
- É a foto do dia em que a gente se conheceu. – fui até ele e sentei no chão, sorrindo e analisando a foto em suas mãos.
- Quem diria que eu te aguentaria todo esse tempo. – ele olhou para mim sorrindo e eu ri, bagunçando os cabelos dele.
- Você me ama. – roubei sua frase de segundos atrás e ele riu, sentando direito ao meu lado.
- Onde você achou essas coisas? – ele perguntou enquanto olhava todas as fotos espalhadas no chão.
- Meu pai tirou essa caixa do porão outro dia, quando estava procurando alguma coisa lá embaixo. – dei de ombros e ri olhando uma foto nossa fazendo caretas atrás de , enquanto ele sorria, sem saber o que estava acontecendo.
- Como a gente cresceu tão rápido? – perguntou sorrindo e apontando para outra foto, dessa vez só tinha nós dois. – É muito estranho pensei que isso aconteceu há dez anos.
- Nem me fale. Nós éramos tão felizes com pouca coisa. – eu ri, olhando para ele. – Quando perdemos isso?
- Ei, isso já está ficando deprimente. – ele falou rindo anasalado depois de ficarmos um tempo em silêncio.
- Nós devíamos dormir. – ri colocando todas as fotos dentro da caixa e pondo a mesma sobre minha escrivaninha.
Nos arrumamos e dormimos eu em minha cama e num colchão ao lado dela, depois de jogar conversa fora por alguns minutos. Acordei com a luz vinda da janela e me xinguei mentalmente por não ter fechado as cortinas na noite anterior. Olhei para o lado e ainda dormia, então deixei o quarto e fui para a cozinha fazer algo para comer.
- Bom dia, filha. – ouvi uma voz quando estava na escada e me assustei, olhando para os fundos da casa e vendo meu pai rindo. – Desculpa.
- Bom dia. Hoje é sábado. – fiz uma expressão confusa já que ele nunca acordava cedo em finais de semana e busquei uma xícara de café na cozinha para depois voltar para a porta dos fundos, me encostando no batente e olhando meu pai fazer algum trabalho de jardinagem ali.
- Ah, sim. Não consegui dormir muito bem hoje. Acho que estou nervoso. – meu pai coçou a cabeça e depois olhou para mim sorrindo.
- Nervoso? Algum grande evento prestes a acontecer do qual eu não saiba? – perguntei rindo e rolei os olhos.
- Pode-se dizer que sim? – me olhou com a sobrancelha arqueada e respirou fundo antes de continuar. – Eu tenho um encontro. À noite.
- Oh.
Essa foi a única coisa que eu consegui dizer. A ideia de uma nova pessoa tomando o lugar da minha mãe era, no mínimo, estranha. Quero dizer, eu sei que já é tempo de seguir em frente, achar alguém novo e se apaixonar de novo. Isso não deveria me incomodar, certo?
- Bom dia, família. – nos cumprimentou animado assim que chegou na sala e me tirou do meu transe. – Hm, tudo bem?
- Claro. – respondi sorrindo amarelo e voltei para a cozinha, deixando a visão do meu pai e me seguiu, olhando para trás.
- Quer conversar? – ele sussurrou, percebendo que eu não estava normal.
- Meu pai tem um encontro. – olhei para ele, que assentiu.
- Uma hora isso iria acontecer. Você sabe, né? – ele cochichou pegando uma xícara de café e olhou de novo para mim.
- Eu sei e também entendo que eu não deveria estar preocupada. Só que pensar em ter uma madrasta é... diferente. – dei de ombros e ele me abraçou.
- Veja pelo lado bom, se ela for uma megera, você será a Cinderela. – piscou assim que nos separamos, me fazendo rir e revirar os olhos.
- E qual é o lado bom nisso?
- Bom, você perde seu sapato e conhece, magicamente, um príncipe no final. – ele juntou as mãos do lado do rosto e suspirou, fazendo um teatro e eu ri.
Ouvi a campainha tocar e fui atender a porta.
- Eu sei que está cedo, mas eu não consegui dormir direito pensando nisso e finalmente quero conversar sobre. – entrou sem olhar para os lados e depois virou para mim, que estava parada com a porta aberta ainda. – O que foi?
- Bom dia para você também. – ri e fechei a porta, voltando para a cozinha.
- , você está aqui. – sorriu nervosamente e sentou num dos bancos da cozinha. – Bom dia.
- Sobre o que você quer conversar? – me apoiei na bancada na frente dela, que apontou com a cabeça para o e eu ri. – , é o .
- Mas não quero que ele me ouça falar sobre o seu melhor amigo. – falou entre dentes, me fazendo gargalhar.
- Se serve de consolo, eu já sei de toda a história. – falou, levantando o biscoito em sua mão como se fosse um brinde e rindo.
- Eu também sei. – concordei com a cabeça e ficou boquiaberta. – Parece que você esqueceu os amigos que tem. não consegue ficar de boca fechada.
- Droga. Ok, então, aparentemente, os dois podem me ajudar. – revirou os olhos e respirou fundo. – O que eu faço?
- Como assim o que você faz? - eu perguntei depois de roubar um biscoito de .
- Eu não sei como agir depois da festa da Amber, acho que vocês conseguiram perceber isso. – suspirou e nos mostrou o dedo do meio quando assentimos juntos. – E eu definitivamente não quero estragar nossa amizade. O que eu acho que estou fazendo no momento.
- Olha, vocês dois estão estranhos um com o outro. Eu nunca estive na sua posição, mas eu acho que os dois querem a mesma coisa. - dei de ombros. – Vocês só estão com medo.
- Por que isso é tão complicado? – jogou a cabeça sobre os dois braços em cima da bancada e suspirou. – Talvez eu só devesse mudar de identidade. Fingir que sou outra pessoa.
- Ou você e o poderiam conversar. Não sei. Só uma ideia. – olhou para o nada como se estivesse pensativo e eu ri.
- Amiga, escuta. – toquei seus braços a fazendo levantar a cabeça e olhar para mim de novo. – O é atrapalhado e é bem provável que ele fale umas coisas sem pensar. Ele sempre foi assim. E agora que existem chances de que ele goste de alguém, finalmente, ele sabe reagir tanto quanto você. Dê tempo ao tempo e só deixa as coisas acontecerem como elas têm de acontecer. Eu sei que é difícil, mas vai dar certo. Se for para vocês ficarem juntos, vocês ficam juntos. Se for para vocês ficarem mais implicantes um com o outro do que já são, vocês vão fazer isso. Honestamente, eu torço pela primeira opção. Não sei se conseguiria aguentar vocês dois piores do que isso. – riu e assentiu.
- A segunda opção é mais possível na minha mente, então se preparem. – suspirou.
- , você está aqui também. – meu pai voltou para a sala sujo de terra e cumprimentou . – Bom, eu vou tomar um banho. – ele apontou para a escada e cruzou os pés antes de virar, como se fosse um passo de dança, subindo para o segundo andar.
- Ok, eu acho que vou voltar para casa. Meu dilema foi resolvido. – parou por um momento, analisando sua situação. – Na realidade, continuo confusa, mas tudo bem. – deu de ombros e jogou um beijo no ar para enquanto eu a acompanhava até a porta.
- Não faça besteiras. – arqueei a sobrancelha a fazendo rir.
- Pode deixar, mãe. – rolou os olhos e me abraçou antes de ir embora.
Fechei a porta e voltei para a sala, encontrando deitado de bruços no sofá e eu sentei nas suas costas, ouvindo suas reclamações e ri.
- Ele parece feliz. – virou a cabeça para o lado e falou, tentando olhar para mim.
- Acho que sim. – olhei para ele e sorri de lado, me levantando.
O resto da manhã passou voando, nós assistimos à TV e ficamos conversando por bastante tempo, até às 7 horas da noite, quando meu pai desceu pela quadragésima vez para ouvir opiniões sobre sua roupa.
- Pai, essa roupa está ótima. – eu ri e fui até ele, fazendo uma massagem em seus ombros. – Relaxa.
- Vai dar tudo certo, Jake. – fez um sinal de positivo com a mão e sorriu, fazendo meu pai rir e suspirar.
- Eu não faço isso há muito tempo. – ele foi até o espelho ao lado da porta de entrada e conferiu todos os botões de sua camisa.
- É normal estar nervoso. – me apoiei na parede ali perto e cruzei os braços.
- E você? – ele olhou para mim e eu fiz uma expressão confusa. – Tudo bem? Se você achar que não está, eu posso cancelar e...
- Pai, está tudo bem. – ele arqueou a sobrancelha e eu ri. – Eu sei que eu reagi de um jeito estranho mais cedo, mas é uma coisa nova. Novidades assustam no começo. Eu tenho completa noção de que um dia isso ia acontecer e acho que é o mais normal. Você merece ser feliz de novo. – ele suspirou aliviado e me abraçou.
- Não é como se eu estivesse prestes a namorá-la ou algo assim, mas obrigado pelo apoio, filha. – eu sorri e ele pegou as chaves do carro. – Tudo certo? O casaco não é um pouco demais?
- Você está lindo, fica tranquilo. Arrasa. – ri e o vi cumprimentar antes de sair de casa. Sentei na poltrona da sala e olhei para ele.
- A mais nova Cinderela. – ele piscou para mim e eu ri, dando um tapinha no seu ombro e roubando o balde de pipoca das suas mãos.


Capítulo 4

- Eu não acredito que você veio mais cedo para evitar o . – fechei a porta do carro e coloquei minha mochila no banco de trás, olhando para , que ria.
- É claro que não foi por isso. – eu arqueei a sobrancelha e ela revirou os olhos. – Eu tenho que estudar antes do primeiro período.
- Ah, claro. – ri e virei para frente. – Você sabe que vai ter que encarar a realidade assim que eles chegarem, não sabe?
- Mas eu estou encarando a realidade.
- Se você chama me fazer informar os dois que você precisava chegar mais cedo na escola e não conseguiria dar carona para os meninos de encarar a realidade, você realmente está.
- Eu só estava com preguiça. – ela deu de ombros e eu a olhei sem acreditar.
- Espero que essa “preguiça” não dure o dia todo. Não gostei de ser o pombo correio de vocês. – fiz aspas com a mão e encostei a cabeça no banco, fechando os olhos.
Chegamos à escola em poucos minutos, já que morávamos relativamente perto e fomos direto para a sala.
- Você resolveu não conversar com ele? – perguntei, colocando a mochila em cima da carteira e olhando para , que estava na minha frente.
- Eu ainda não sei. Vou tentar conversar com o depois da escola. Até lá eu crio coragem. – estufou o peito e assentiu, me fazendo rir.
Ficamos jogando conversa fora até o primeiro sinal bater, anunciando o início da nossa aula. A professora fechou a porta da sala e sorriu, indo até a lousa e escrevendo o assunto do dia.
- Bom dia, alunos. Hoje nós vamos falar sobre a revolução industrial e... – a aula foi interrompida por e abrindo a porta em desespero.
- Hm. Bom dia, senhora Lee. – coçou a nuca e sorriu sem graça, sendo motivo de risada para a sala toda. – Nós podemos entrar?
- Parece que alguém perdeu a hora. – a professora riu e olhou em seu relógio. – Podem entrar, mas tentem chegar no horário a partir de hoje.
- Claro, obrigado. – assentiu e entrou atrás de , sentando ao meu lado.
- Não viram a minha mensagem? – cochichei rindo e olhando para , que me fuzilou com os olhos.
- Por que vocês vieram mais cedo, afinal? – ele perguntou enquanto tirava um caderno de sua mochila e eu apontei para com a cabeça. – Oh, entendi.
- Pois é. – virei para frente antes que a senhora Lee brigasse comigo e observei , com o olhar perdido e ainda mais aérea, olhando para a janela do lado oposto.
- Nós temos treino hoje, não vamos com vocês, ok? – disse olhando diretamente para mim.
- Bom, eu não dou a carona. – dei de ombros e ri quando ele me xingou, percebendo minha intenção, e virou para frente. – Se prepare para lidar com os dois por si só. – sussurrei olhando para , que jogou a cabeça sobre os braços na mesa e suspirou.
O primeiro período passou bem rápido depois daquilo e a contagem de interações entre e continuava nula. Entrei em outra sala para a segunda aula do dia, fotografia. Olhei ao redor e vi apenas uma carteira vaga, ao lado de alguém que eu não conhecia. Era a segunda semana de aula e digamos que eu seja um pouco tímida quando o assunto é começar novas amizades. Sentei no lugar disponível e peguei um caderno para as anotações que fazia naquele período.
- Você deve ser a única pessoa que anota alguma coisa nessa aula.
Ouvi uma voz e olhei para o lado, com a caneta na mão. O garoto tinha os cabelos escuros, jogados para o lado, os olhos esverdeados, a pele morena e vestia um sorriso impressionantemente confortante.
- Eu sou do tipo que só consegue lembrar das coisas quando as escreve. – sorri de volta e balancei a caneta, dando de ombros.
- Meu nome é Luke, a propósito. – ele estendeu a mão e eu juntei as sobrancelhas, confusa antes de cumprimenta-lo.
- Formal. Eu me chamo . – ri e o garoto sorriu, olhando para baixo.
- O meu melhor amigo faltou e eu percebi que você está sempre sozinha nessa aula, então juntei o útil ao agradável hoje. – ele justificou a aproximação repentina e eu assenti.
- Você só está falando comigo por desespero, então. – arqueei a sobrancelha entrando na brincadeira e ele riu, falando mais baixo.
- Eu queria uma companhia e você me pareceu o alvo mais fácil. – deu de ombros, sorrindo em seguida e eu coloquei a mão no peito, fingindo estar ofendida.
- Senhorita . – ouvi a voz rouca do professor e voltei minha atenção a ele, assentindo. – Vejo que fez uma nova amizade com o senhor Andrews, convenientemente em uma ótima hora. No fim deste semestre, os senhores me apresentarão um trabalho. O tema é livre, fica a seu critério. Minha única exigência é que seja em dupla e, claro, que envolva fotografias.
Passamos alguns minutos da aula discutindo sobre o trabalho, depois começamos um novo assunto e eu e Luke trocamos poucas palavras.
- Já tem alguma ideia para o incrível projeto que teremos de apresentar? – Luke perguntou andando ao meu lado assim que eu guardei todo o meu material e saímos da sala.
- Ainda não. Sabe, não trabalho bem sob pressão. – ri e ele levantou as mãos em sinal de rendição.
- Está indo para qual aula agora?
- Hm... Inglês. E você? – ainda não havia memorizado meu horário perfeitamente então demorei alguns segundos para lembrar.
- Álgebra. – ele colocou as mãos na testa e suspirou, me fazendo rir.
- Boa sorte. – dei dois tapinhas em seu ombro e avistei , e alguns passos à frente. – Oh, minha carona chegou. – brinquei e acenei para ele, antes de seguir até os três.
- Ooooh, quem é ele? – olhou para Luke com um sorriso malicioso e a sobrancelha arqueada e eu empurrei seu ombro, rindo.
- O nome dele é Luke, fazemos fotografia juntos. – olhei para trás para me certificar de que ele não estava perto o suficiente para escutar aquela conversa e suspirei aliviada.
- Sei bem que tipo de fotografia ele quer fazer com você. – sorriu malicioso e eu revirei os olhos.
- Você é nojento, . – continuei caminhando até a sala, onde ficaríamos apenas eu e . – Prometem não se matar no próximo período? – perguntei olhando para e , que bufaram.
- É só ele ficar longe de mim que estamos bem. – deu meia volta e continuou seu caminho sem esperar pelo amigo, que suspirou e foi atrás, cabisbaixo.
- Acho que os encontraremos inteiros. – ri e olhei para , que não disse uma palavra, apenas sentou em uma carteira e eu repeti seu movimento, olhando-o preocupada. – Hm, você está bem? Não disse nada até agora.
- Ah, não. Eu estou bem. – ele balançou a cabeça e deu um sorriso um pouco diferente.
- A tortura da aula anterior foi demais? – perguntei sorrindo e ele riu anasalado, assentindo.
- Isso. Foi isso. – ele olhou para mim e sorriu ao mesmo tempo em que o sinal tocou.
As aulas seguintes passaram rápido e logo estávamos saindo da escola, às 15h.
- Eu tenho que pegar um livro com o antes de irmos, tudo bem? – perguntei para , lembrando desse detalhe depois que vi os dois garotos saindo pela porta e correndo para o treino. – Você falou alguma coisa com o hoje?
- Quase nada. – deu de ombros, fingindo indiferença enquanto caminhávamos até o campo.
- Eu me lembro bem de você dizendo que ia conversar com ele.
- E eu me lembro de dizer que conversaria depois da aula. – ela olhou para mim com a sobrancelha arqueada e eu ri, balançando a cabeça.
- Vocês são complicados demais.
- É porque não acontece com você. Quão estranho seria beijar o do nada? – olhei para ela e pensei sobre a situação.
- Não sei. Realmente deve ser estranho. – ela sorriu vitoriosa e eu dei a língua, enquanto caminhava pelo campo até , que estava sentado no banco.
- Ei, vieram assistir ao treino de novo? – ele perguntou sorrindo e espremendo os olhos para conseguir nos enxergar, já que o sol estava extremamente forte naquele dia.
- Não, na verdade. Vim pegar aquele livro de álgebra com você, lembra?
- Ah, é mesmo. Eu deixei minha mochila no vestiário, vocês podem ir lá pegar? Se eu sair daqui o treinador me mata. – ele olhou para o lado, onde o treinador brigava com um dos alunos e eu ri, o vendo fazer uma expressão horrorizada.
- Tudo bem. Reze para não ter alunos pelados lá, eu sinceramente não quero ver isso. – jogou um beijo no ar enquanto andava em direção ao vestiário e eu ri, vendo gargalhar e caminhei um pouco mais rápido até alcança-la.
- Não vai entrar? – perguntei quando vi que havia ficado para trás assim que passei pela porta do vestiário.
- Eu estava falando sério sobre os alunos pelados. Não, obrigada. – ela virou, encostando na parede ao lado da porta e eu entrei, procurando pela mochila de .
- Ahá, achei. – encontrei-a em cima de um dos bancos entre os armários e peguei o livro de matemática que precisava, colocando em minha mochila e voltando para o lado de fora. – Vamos? – olhei para e ela tinha o olhar perdido em algum lugar ali perto. – ?
Tentei achar o que ela tanto olhava e encontrei um pouco mais a frente no corredor, com o braço apoiado na parede, encurralando uma garota que parecia ser Samantha, mas eu não tinha certeza. Olhei de novo para a minha amiga e ela tinha os olhos um pouco marejados.
- É melhor a gente ir, certo? – toquei seu braço e ela sorriu para mim, olhando de novo para .
Dessa vez, ele olhou de volta para ela e abaixou o braço automaticamente, assim que percebeu que se tratava de . Ela balançou a cabeça em negação e saiu em disparada até o estacionamento, comigo em seu encalço.
- , espera. – nos alcançou assim que chegamos no carro, entrou no lado do motorista e eu entrei do outro lado. – Eu posso explicar.
- Você não me deve satisfação alguma, . – ela colocou a chave no carro e olhou para ele.
- Eu sei que não, mas... Eu não sei. – o garoto balançou a cabeça e passou a mão pelos cabelos. – Você me confunde.
- Agora a culpa é minha? – a voz dela saiu um pouco mais aguda e eu mal podia imaginar tamanha raiva que ela devia estar sentindo naquele momento. – Bom, , me desculpe se você não consegue controlar o seu querido amiguinho nas suas calças.
- O que? – ele apoiou as duas mãos na janela do carro e levantou um pouco o tom de voz. – Eu também não sei como lidar com as coisas desde a festa da Amber, mas eu estou pelo menos tentando, porra. Tudo o que você faz é me tratar como lixo o dia todo.
- Eu não sei como lidar e não quero lidar com isso, entende? É claro que não, você está muito ocupado lambendo os pés da Samantha para se preocupar com isso. – ela apertou as mãos no volante e suspirou. – Você devia estar no seu treino, .
- É. Talvez eu devesse mesmo. – ele bateu a mão na porta, frustrado e riu sem graça. – Você é inacreditável.
balançou a cabeça em negação e virou, caminhando de volta para o campo. suspirou e encostou a testa no volante, com as mãos no painel do carro.
- Por que é tão difícil fazer dar certo? – ouvi a voz abafada de e seu suspiro, antes de vê-la levantar e enxugar o rosto com as costas da mão.
- Eu sei que é quase impossível acreditar nisso, mas: vai dar tudo certo. – coloquei a mão no ombro dela e tentei confortá-la. – Talvez não agora ou daqui uma semana, mas vai. Vocês só têm que entender que a situação é um pouco mais complicada do que o normal. Existe uma amizade de quase uma década em jogo, não é só uma questão de querer ou não, sabe?
- E como eu resolvo isso? – ela olhou para mim e eu pude ver a tristeza pairando em seus olhos. – Eu vim determinada a me acertar com ele hoje e, de alguma maneira, estraguei tudo. Eu sempre estrago tudo.
- Os dois têm sua porcentagem de culpa no mal entendido, não se machuca assim. Eu não sei se existe uma receita preparada para resolver o seu caso, só acho que você devia dar tempo ao tempo.
sugou todo o ar que conseguiu e olhou para mim com um sorriso fraco no rosto, girando a chave e saindo do estacionamento da escola. Passamos o caminho todo em silêncio, já que eu achei que ela precisava tentar assimilar tudo dentro da sua cabeça e não de uma opinião naquele momento.
- Você não quer entrar? – perguntei assim que ela parou o carro na frente da minha casa, a vendo negar com a cabeça.
- Acho melhor eu ir para casa. Preciso pensar um pouco. – passou a mão na franja, colocando atrás da orelha e sorriu amarelo.
- Se precisar de uma companhia para comer coisas nem um pouco saudáveis e assistir à comédias românticas, é só me ligar. – pisquei e sorri, fazendo ela soltar uma risada anasalada e assentir.
Entrei em casa e deixei a mochila no sofá, pegando meu celular e mandando uma mensagem para .
“- Estão no treino?”
Sua resposta veio alguns segundos depois.
“- 5 minutos de descanso. Aconteceu alguma coisa?
- O e a meio que discutiram. Ele está bem?
- Ele parece meio desligado de tudo. O treinador já brigou com ele várias vezes. E a ?
- Está meio mal também, mas preferiu ficar sozinha. Espero que eles consigam resolver isso logo.”
Todo esse rolo entre a e o com certeza me fizeram pensar sobre a nossa amizade como um todo. Sempre fomos nós quatro, os desajeitados que não tinham uma vida social completamente arruinada e nem eram a nata da escola. Éramos apenas a gente e eu não conseguia imaginar sobreviver à escola de outra forma. Coisas assim não têm que atrapalhar a nossa amizade, mas é definitivamente difícil de lidar com elas.


Capítulo 5

’s POV
As semanas seguintes passaram voando e o dia do primeiro jogo da temporada havia chegado.
- Você quer dormir lá em casa hoje? – virei para trás e perguntei para , que estava concentrada em fazer uma dobradura com o papel do seu caderno. – ?
- Oi? – ela olhou para mim e riu, passando a mão na testa. – Claro.
- Nós podemos nos arrumar lá, depois da escola. – dei de ombros e ela riu. – Não quero chegar ao jogo sozinha.
- Eu já imaginava. – revirou os olhos, apertando minhas bochechas e sorriu. – Pode deixar, serei seu escudo.
Algumas horas depois nossa aula já havia acabado e nós fomos direto para a minha casa, já que os meninos ficariam para treinar um pouco mais antes do grande jogo e depois voltariam para a casa deles sozinhos, pouco tempo antes do jogo, que seria às 19h.
- Oi, meninas. – minha mãe nos cumprimentou assim que entramos em casa, com um sorriso no rosto. – Como foi o dia? - Foi bom, senhora . – ouvi a voz da atrás de mim e minha mãe suspirou.
- Nos conhecemos há dez anos, você pode me chamar de Christine, por favor.
- Pode deixar, Christine. – sorriu e minha mãe me deu um beijo na bochecha, antes de anunciar que ia se arrumar para o trabalho.
- E aí, o que vamos fazer até o horário do jogo? – perguntei olhando para , que estava jogada no sofá agora e olhava de mim para a TV.
- Eu voto em comédia romântica. – ela levantou a mão e eu ri, procurando algum filme que ainda não tínhamos visto ou que era bom o suficiente para vermos pela milésima vez. Ficamos com a segunda opção e assistimos a Meninas Malvadas.
- Queria poder dizer que não conhecemos uma Regina George na escola. – olhei para , que riu e empurrou meu ombro de leve, me fazendo rir também. - O que? É a verdade.
Fizemos alguns comentários durante o filme, repetimos as falas que já havíamos decorado ao longo de todas as milhares de vezes que assistimos e rimos juntas. Depois que o filme acabou, comemos alguma coisa e começamos a nos arrumar para o jogo, que seria em uma hora.
- Vou tomar banho, ok? – levantou da cama assim que eu terminei de me vestir e saí do banheiro e eu assenti, penteando os cabelos na frente do espelho. Fiz uma maquiagem leve e escutei a campainha tocar assim que terminei de tocar o rímel.
- Amiga, vou atender a porta, tá? – falei perto da entrada do banheiro, ouvi um murmúrio de concordância vindo de dentro dele e desci as escadas.
Abri a porta e me deparei com um com os cabelos molhados e a respiração pesada, carregando o capacete de futebol e uma bolsa, provavelmente com seu uniforme.
- O que aconteceu? - olhei para ele e ele sorriu de lado, balançando a cabeça em negação.
- Eu não consigo mais treinar em paz. Eu não durmo direito à noite. – ele passou a mão livre pelos cabelos e umedeceu os lábios, olhando em meus olhos e suspirou antes de continuar. – Eu não consigo pensar em mais nada. Desde aquele dia no campo.
- , do que você está falando? – olhei para ele com os braços cruzados e ele riu.
- Eu preciso que você tome uma decisão. Eu preciso que você decida o que você quer de mim, porra.
- , eu...
- Você não sai da minha cabeça depois da festa da Amber. Eu tentei te esquecer. Eu juro que tentei. Mas eu não consigo nem cumprimentar outra garota sem pensar em você, . Eu entendo como a nossa situação é mais complicada do que o normal, mas eu espero que você entenda que é só você dizer, e eu tento deixa-la mais fácil. E se você me pedir para parar de tentar, eu paro. Só, por favor, me fala alguma coisa.
Continuei encarando seus olhos, ainda incrédula com o que havia acabado de ouvir e abri a boca, tentando formular uma frase completa. Sem sucesso.
- Qualquer coisa. – olhou nos meus olhos uma última vez antes de virar e ir de volta para sua casa, entrando no carro antes de dar a partida.
Fechei a porta depois de alguns segundos e sentei no sofá, processando tudo o que ele disse e pensando sobre uma possível resposta.
- Vamos? – desceu as escadas e olhou para mim, assustada. – Hm, tudo bem?
- Era o . – ela sentou ao meu lado e continuou a me observar, atenta. – Ele disse que eu preciso me decidir quanto à nossa situação. E que ele não conseguia parar de pensar em mim.
- AI MEU DEUS, , EU TE AMO. – começou a dar pulinhos de alegria no meio da sala e eu ri, me jogando no sofá. – E você?
- Eu? Eu fiquei parada feito boba na frente dele. – suspirei e a vi sorrir.
- Você já tem uma decisão?
- Não. – olhei para ela, que assentiu e sorriu, tentando me confortar.
- Bom, independentemente do que você decidir, eu vou estar aqui. – ela piscou para mim e levantou, pegando sua jaqueta no sofá. – Agora vamos, temos um jogo para comparecer.
Peguei as chaves perto da porta de entrada e caminhamos até o carro. Passei todo o caminho até a escola escutando algumas músicas e cantando junto com , tentando não pensar tanto no que havia acabado de acontecer. Ok, eu não achei que fosse funcionar. Chegamos à escola em 15 minutos e fomos direto para o campo, seguindo a multidão até lá. Subimos até a quinta fileira da arquibancada, equilibrando os pacotes e copos em nossos braços e sentamos na ponta, perto da escada.
- Eu estou muito mais nervosa que o normal. – riu balançando as mãos, tentando deixar o nervosismo de lado.
- Eu também. Deve ser porque é o primeiro jogo da temporada. – dei de ombros e ela riu, balançando a cabeça.
- Ou porque seu futuro talvez namorado se declarou há alguns minutos e você ainda não sabe o que fazer. – cantarolou e olhou para o céu, fingindo indiferença e inocência.
- Ainda não sei porque eu te conto as coisas. – revirei os olhos e bebi um pouco do meu refrigerante, focalizando no campo à minha frente quando ouvi as palmas atrás de mim e enxerguei as líderes de torcida dos dois times saindo do vestiário, pulando e sorrindo.
Uma música animada começou a tocar e as garotas da nossa escola se alinharam, começando a coreografia e recebendo gritos de aprovação em resposta. A dança inteira estava bem sincronizada e todas as meninas pareciam felizes em estar ali.
- Deve ser demais. – pensei alto e me olhou confusa, como se perguntasse do que eu estava falando. – Ser líder de torcida deve ser demais.
- Você deveria tentar. – ela piscou e sorriu quando eu revirei os olhos. – Tentar parar de se subestimar e também tentar ser uma delas.
- Com vocês, os jogadores da Morristown High. – ouvimos a voz do treinador Phill anunciando a entrada dos jogadores do time adversário e batemos palma assim que eles entraram no campo, se posicionando no centro.
- E agora, os Monties. – aplaudimos de pé assim que vimos os garotos da escola entrando em campo.
- GO MONTIES! - ouvi um grito do fundo da arquibancada seguido de risadas, dos jogadores e das líderes de torcida.
e entraram logo atrás de Brad, o capitão do time. Acompanhei a tão conhecida camisa 13 caminhando pelo gramado e gritei junto com , torcendo pela nossa escola. Vi virar para a arquibancada, procurando de onde saíam os gritos, rindo assim que nos encontrou com o olhar e cutucando , que virou e sorriu, balançando a cabeça em negação.
Nós acenamos assim que eles olharam para a arquibancada pela primeira vez e contorceu seu rosto e eu pude ouvir o barulho do seu “urro” de longe, apenas pela sua expressão com seus dois riscos azuis feitos de tinta em suas bochechas. começou a exibir os músculos de seus braços junto com , fazendo com que nós rissemos de quão estúpidos eles eram. Ok, talvez nós quatro fôssemos patéticos.
- Espero que seu namorado marque um ponto para você. – falou ao meu lado e riu da minha expressão enquanto eu empurrava o ombro dela.
- Eu não tenho um namorado, besta. – ela deu de ombros e sorriu.
- diria o contrário. – a ouvi sussurrar e abri a boca, surpresa.
- Eu ouvi. – ela riu da minha expressão e nós sentamos assim que os times começaram a se organizar no meio do campo e o jogo estava prestes a começar. – Eu espero que eles ganhem.
- Eles vão ganhar. – assentiu e esfregou suas mãos em um gesto nervoso.
A partida começou com jogando a bola para trás e tentando bloquear a passagem do time adversário, enquanto corria no campo, a fim de pegar a bola e marcar um ponto. Trevor jogou a bola para , que segurou, mas foi derrubado por três jogadores do outro time. O juiz apitou e todos voltaram para a formação, dessa vez com o nosso time na defesa.

*****

- EU NÃO ACREDITO! – gritou assim que um ponto foi marcado no último segundo de jogo, nos dando a vitória.
Toda a torcida foi à loucura e os jogadores se aglomeraram, comemorando. Alguns segundos depois todos os torcedores começaram a descer da arquibancada, se juntando à comemoração e é óbvio que eu e não ficamos para trás.
- Vocês foram demais. – abracei sem ligar para seu suor e ele sorriu, agradecendo e indo cumprimentar .
- EU SABIA QUE VOCÊS GANHARIAM. – se jogou nos braços de , que a girou no ar e os dois caíram na risada.
Olhei ao meu redor e só vi rostos conhecidos da escola, todos sorrindo e se abraçando. Mais à frente, achei um rosto muito conhecido com uma expressão de confusão, olhando para o longe e não conseguindo focalizar em nada.
- Me procurando? – falei assim que me posicionei exatamente atrás dele e ele virou, rindo.
- Não seja tão pretenciosa. – revirou os olhos e colocou as mãos atrás de seu corpo.
- É apenas a realidade. – dei de ombros e ajeitei meu cabelo. – Vocês foram incríveis.
- Eu fui maravilhoso, não fui?
- Depois eu que sou a pretenciosa. – revirei os olhos fazendo com que ele risse e nós ficamos nos encarando por alguns segundos.
- Sobre o que eu falei na sua casa... Olha, não se sinta pressionada a tomar qualquer decisão. Eu sei que eu pareci muito firme na minha proposta aquela hora mas eu não quero te apressar.
- Oh. Eu meio que esperava que você ainda tivesse certeza sobre aquilo. – olhei para os meus pés e sorri de lado.
- Por quê? – ele perguntou com um sorriso no rosto e eu olhei em seus olhos.
- Para isso.
Dei um passo até ficar a uma distância mínima de seu corpo, o que foi rapidamente resolvido quando ele passou seus braços pela minha cintura e eu entrelacei os meus atrás de seu pescoço. Nossas testas se tocaram e eu o encarei uma última vez antes de fechar os olhos e me entregar àquele momento.
- Quem diria que um dia eu participaria de um grande clichê? – disse assim que nos afastamos e eu ri, ouvindo algumas palmas e assovios dos nossos colegas de classe.
- Definitivamente não eu. – ouvi a voz de ao nosso lado e escondi meu rosto no pescoço de , morrendo de vergonha.
- Por que você tinha que estragar o grande momento deles? – deu um tapinha no ombro de e encostou sua cabeça no ombro dele, com seus braços entrelaçados em um dele. – Vocês querem que eu pegue uma garrafa d’água e jogue um pouco em vocês para parecer chuva? Quer dizer... Eu poderia facilmente fazer isso por esse casal.
- Para de ser boba, . – revirei os olhos e fui até ela, a abraçando de lado.
- “Eu não tenho um namorado, besta”, foi o que ela disse. – fez uma péssima tentativa de imitação da minha voz e eu ri, balançando a cabeça sentindo o braço de passar ao redor do meu ombro enquanto andávamos até a saída do campo.
End of ’s POV


Capítulo 6

Um mês havia se passado desde o dia do grande jogo de abertura da temporada, na nossa escola. As coisas entre e continuavam como no dia do jogo, os dois não se desgrudavam.
- Vocês podiam diminuir a melação quando eu estou com vocês. – revirei os olhos depois de fechar o armário da escola, virando para os dois ao meu lado, se beijando. – É deprimente.
- Ok, desculpe. – ria enquanto falava e tentava se esquivar de , que sorria e tentava beijá-la. – !
- O que? Não posso fazer nada se a é mal-amada. – deu de ombros e eu abri a boca, surpresa, e o empurrei pelo ombro. – Ai! É brincadeira, você é muito amada. Amada demais. – mudou o tom de voz e riu.
- Esse relacionamento de vocês está afetando seus cérebros. – avistei de longe caminhando até nós e levantei as mãos, agradecendo aos céus. – Obrigada por ouvir minhas preces.
- O que está rolando aqui? – perguntou enquanto arrumava a mochila em suas costas.
- Estamos falando como a é imensamente amada por todos. Todos do mundo. – abriu os braços e deu uma volta dramática, me fazendo rolar os olhos e virar, começando a andar pelo corredor com os três em meu encalço.
- Ela é a garota mais amada desse mundo. Mais amada que a rainha. Você deveria ter um cargo especial nessa escola. E um período dedicado apenas para nós, meros mortais, demonstrarmos como você é incrível. – entrou na brincadeira e passou um braço pelo meu pescoço, encostando seu queixo em meu ombro e eu tentei sair de seus braços. – É a verdade. Lide com isso. Com o amor de todos os seus seguidores.
- Por que eu fui arranjar amigos tão doidos. – balancei a cabeça em negação, enquanto ria e foi para o meu lado, deixando o braço em meu ombro. – O que aconteceu para você não vir com a gente, garotinho? Me deixou sozinha com o casal 20.
- Desculpa por isso. – riu, olhando para o casal ao nosso lado, que continuava no mundo da lua. – Fui dormir tarde e acabei me atrasando.
- Mas está tudo bem? – olhei para ele, que sorriu e deu de ombros.
- Só uma briga em casa. Nada demais.
Assenti quando percebi que ele não queria falar sobre aquilo, pelo menos não naquele momento e nós chegamos na sala da senhora Lee, sentando nos nossos lugares de sempre. Cumprimentei Luke com um aceno, que estava sentado duas fileiras atrás de mim, e recebi um sorriso em resposta. Nós descobrimos que fazíamos algumas aulas juntos, além da aula de Fotografia e a nossa convivência passou de nos falarmos apenas quando o melhor amigo dele faltava para nos falarmos sempre que nos víamos.
- Eu ouvi dizer que vai ter uma festa na casa da Lily sábado. Vocês estão a fim de ir? – perguntou com um sorriso sapeca no rosto, me fazendo rir.
- Eu topo. – levantei a mão animada para a festa que seria daqui dois dias, fazia um bom tempo que não íamos para esse tipo de evento.
- Eu também, mas não quero ser o motorista da rodada. – balançou a cabeça e deu dois tapinhas no ombro do amigo.
- Eu voto na como a motorista. – se pronunciou e todos, menos , assentiram. – Qual é? Eu já sofri na primeira vez.
- Você sabe que isso não é argumento, não sabe? – fuzilou com os olhos e o garoto riu, levantando os braços em sinal de rendição. – Tudo bem, eu dirijo dessa vez.
- É por isso que te amamos. – pisquei para ela e me respondeu com o dedo do meio.
Os dois dias seguintes passaram voando e logo era sábado. Acordei tarde naquele dia e fiquei horas vendo filmes e fazendo o que fazia de melhor, dormir. Quando vi já era hora de começar a me arrumar para a festa e foi o que fiz.
- Oi, amiga. – segurei o celular entre meu ombro e minha orelha enquanto colocava os sapatos, arrumando o cabelo logo em frente ao espelho. – Já chegaram? – ouvi gritinhos animados do outro lado da linha e ri. – Já estou descendo.
- Vai dormir fora hoje, filha? – meu pai perguntou, se ajeitando no sofá assim que eu desci as escadas.
- Não sei, talvez eu durma na . Mas eu volto tarde de qualquer forma, tudo bem? – perguntei com a maior expressão de súplica que consegui fazer e meu pai riu, balançando a cabeça em negação.
- Tudo bem. Comporte-se mocinha. – ele arqueou a sobrancelha e eu ri, lhe dando um beijo na bochecha e indo em direção à porta.
- Você sabe que eu vou.
- Você está um arraso, garota! – ouvi a voz animada da motorista assim que entrei no carro e sorri, pegando a garrafa de bebida das mãos de , tomando um gole.
- Olha quem fala. – revirei os olhos e ela riu, jogando um beijo para mim pelo retrovisor do carro e dando partida.
- Por que nós não recebemos um elogio assim? – reclamou olhando para , que concordou fazendo bico.
- Você está com a garota mais gata da festa, já é elogio suficiente. – ouvi um “awn” do banco da frente e sorriu, colocando a mão sobre a coxa de .
- Isso é verdade. – ele piscou para mim e cruzou os braços, resmungando.
- Eu continuo sem o meu. – olhei para ele e ri, jogando os meus braços em volta de seu pescoço, distribuindo beijos pela sua bochecha.
- Você é melhor amigo da garota mais gata da festa. – piscou pelo retrovisor, apontando para mim e riu, dando de ombros.
- Vou aceitar isso como um elogio. – riu, me dando um beijo na bochecha.
Nós seguimos até a casa da Lily, que ficava há uns 15 minutos da minha casa e pode-se dizer que já estávamos bem animados quando chegamos lá. Passamos pelo pequeno jardim na frente da casa, encontrando a porta da frente aberta entramos, encontrando a casa lotada. Na entrada tinha um grande corredor que dava na sala com um conceito aberto, com apenas algumas colunas delimitando os dois cômodos e uma escada na parede direita da casa, bem de frente à porta. Andamos um pouco até a ligação entre a cozinha e a sala, onde estava uma mesa com bebidas, algumas frutas e copos.
- Sintam-se em casa. – uma Lily extremamente alterada passou ao nosso lado, com os braços entrelaçados no pescoço do namorado dela, um garoto que eu não conseguia lembrar o nome agora e que estava muito ocupado tentando evitar que a menina caísse.
- Eu acho que vi uma mesa de beer pong ali. – tentou enxergar o lado de fora, se esticando e riu, confirmando.
- Só deixando claro que eu não vou conseguir carregar três pessoas sozinha. – olhou para nós três como se fosse uma mãe dando bronca em seus filhos e eu assenti talvez muito animadamente. – , é sério.
- Relaxa, não vou dar trabalho. – pisquei para ela e comecei a andar em direção à mesa de beer pong com os outros ao meu encalço.
- Cara, você chegou! – um dos Monties cumprimentou com um copo nas mãos. – Vão querer jogar?
- Você quer dizer vamos querer acabar com vocês. – sorriu de lado e o garoto levantou os braços em rendição, rindo e chamando um amigo dele, provavelmente para ser sua dupla.
- Isso eu quero ver. – o garoto piscou para , que olhou para trás para chamar , que estava ocupado demais se agarrando com para prestar atenção na conversa. – Perdeu seu parceiro?
- Ganhei uma parceira. – virou para mim e eu neguei com a cabeça.
- Eu nunca joguei.- falei e vi George, um dos nossos oponentes, revirar os olhos e rir junto com o amigo.
- Confio no seu potencial. – piscou e eu ri, balançando a cabeça mas seguindo ele até o outro lado da mesa, me posicionando ao seu lado. – É só acertar mais copos do que eles.
Nick surgiu com uma caixa de som para o lado de fora da casa, já que só havia uma do lado de dentro, e colocou alguma música que eu não consegui identificar. A batida era muito animada e eu sorri, sentindo a bebida começar a fazer efeito e me deixar pronta para qualquer desafio. A primeira jogada foi de , que acertou um copo e Trevor, um dos garotos, virou o copo e deixou no canto da mesa, olhando para com um sorriso intimidador e acertando um copo logo de cara.
- Achei que você estivesse com sede, . – o garoto fez um gesto para que virasse o conteúdo do copo e ele o fez, me passando uma bolinha logo depois.
- Sua vez. – peguei a bolinha de pingue-pongue de sua mão e ele sorriu, me encorajando.
Olhei para todos os copos enfileirados e depois para George, o garoto que era meu oponente direto, e fechei um dos olhos, tentando mirar no copo da ponta, mais próximo a mim. A bola fez uma volta na borda do copo e logo depois entrou no mesmo, me fazendo comemorar levantando as mãos para cima. gargalhou e me abraçou, me tirando do chão e eu entrelacei meus braços em seu pescoço, rindo. George bebeu a contragosto, adquirindo uma pose concentrada e tentando se vingar de mim, sem obter sucesso quando a bola pingou na mesa e foi parar no chão ao lado de . A partida durou alguns minutos depois disso, sendo finalizada com a nossa vitória.
- Sorte de principiante. – Trevor argumentou, rindo e dando um soquinho no ombro de , olhando para mim logo depois.
- Acredite no que quiser para se sentir melhor. – dei de ombros e Trev olhou para mim boquiaberto, rindo e balançando a cabeça em negação.
- Eu criei um monstro. – colocou uma das mãos em seu peito, olhando para mim e eu ri, gesticulando com as mãos como se dissesse “o que posso fazer?”.
Começamos a andar até o interior da casa, tentando achar e que haviam sumido quando estávamos jogando sem que nós víssemos, foi para um lado e eu fui para o outro, nos encontraríamos na cozinha assim que achássemos os dois pombinhos e eu acabei trombando em alguém sem querer na procura.
- Desculpe. – falei automaticamente e olhei para o lado.
- Você? – ouvi uma voz conhecida e olhei de novo para a pessoa, reconhecendo Luke, da aula de fotografia. – Não sabia que era o tipo de adolescente que frequentava esses lugares.
- Parece que você não sabe muita coisa sobre mim. – dei de ombros sorrindo e Luke riu, coçando a nuca.
- Está perdida?
- Procurando duas pessoas. – olhei ao redor e não vi sinal algum dos dois. – Veio sozinho?
- Não, eu estou perdido, na verdade. – eu gargalhei e balancei a cabeça em negação. – Mas pelo que conheço dos meus amigos, eles provavelmente estão enchendo a cara ou passando vergonha na piscina.
- Ou os dois. – Luke adquiriu uma expressão de quem acabara de descobrir um mistério e eu ri, empurrando um de seus ombros o fazendo rir. – Acho que eu deveria ir para a cozinha. Você vai continuar na sua busca ou quer me acompanhar na minha?
- Acho que eles vão sobreviver alguns minutos sem mim. – Luke deu de ombros e eu assenti, seguindo até a cozinha tentando desviar das pessoas.
Chegamos na cozinha e eu vi e abraçados ao lado de , os três rindo de alguma coisa.
- Você achou eles! – comentei animada demais por causa da bebida e senti Luke passar para o meu lado, chegando mais perto dos meus amigos.
- Eu te conheço. – estreitou os olhos como se tentasse lembrar de algo e riu.
- Ele é o amigo da . – me deu um olhar significante que continha segundas intenções e eu balancei a cabeça, rindo. – Luke, certo?
- Isso. Nós temos algumas aulas juntos também. – Luke assentiu e gesticulou como se finalmente tivesse se tocado de quem se tratava o garoto ao meu lado.
- Eu sou a . Esse tapado é o e esse é . – apontou para cada um dos garotos ao seu lado por vez e o cumprimentou apenas com um aceno de cabeça. Ouvi o início da música ‘Shots’ e nós quatro nos entreolhamos, sorrindo.
- Deveríamos honrar essa música. – comentou, tirando a mão da cintura de e procurando os copos e pegando uma garrafa de vodca.
- Vai se juntar à gente? – perguntei olhando para Luke com a sobrancelha arqueada, o garoto riu e deu de ombros.
- Temos de honrar a música. – ele repetiu a expressão usada por e eu assenti, pegando um copo da mão de e assistindo ao líquido o enchendo.
A letra da música começou e nós cinco brindamos, acabou se juntando a todos levando em consideração que seria apenas uma dose e ainda demoraríamos para sair. O líquido desceu quente pela minha garganta e eu reprimi uma careta, olhando para que riu de mim e pegou a garrafa de novo, enchendo seu copo. Ele olhou para mim com a sobrancelha arqueada e eu sorri de lado, estendendo meu copo para ele e só nós dois brindamos dessa vez, bebendo mais uma dose.
- Cara, nós te procuramos por toda a casa. – ouvi alguém falar um pouco alto demais e virei para trás, encontrando um garoto do colégio se escorando em Luke, que riu e segurou-lhe. – Preciso que você faça um esquema com aquela sua amiga da aula de Álgebra para mim.
- Dude, você não sabe viver sem mim, não é? – o garoto riu e Luke olhou para mim, que sorri. – Vou ajudar esse idiota. A gente se encontra por aí? – assenti e vi os dois caminhando até a sala, provavelmente onde a garota deveria estar.
- Eu quero dançar. – ouvi falar em um tom mais alto e se jogar nos braços do namorado, que riu e passou os dele ao redor da cintura de . Coincidência ou não, uma música muito conhecida por nós começou a tocar e eu e começamos a caminhar até a sala, onde o som estava mais alto e os meninos vieram atrás.
O primeiro diálogo de ‘Promiscuous’ de Nelly Furtado e Timbaland terminou e nós começamos a cantar enquanto mexíamos o corpo no ritmo da música.
Promiscuous girl, wherever you are I'm all alone and it's you that I want Promiscuous boy, you already know That I'm all yours, what you waiting for? Promiscuous girl, you're teasing me You know what I want and I got what you need Promiscuous boy, let's get to the point Cuz we're on a roll You ready? se aproximou de e começou a cantar apontando um dedo para o peito do garoto. Eu ri, apenas observando a cena e cheguei mais perto de , recitando os versos de Nelly. riu, fazendo os olhos dele se fecharem e eu sorri, levantando os braços e fazendo qualquer movimento com meu corpo. Não estava em condições de decidir o que ele fazia, praticamente tinha vida própria. Quando meus braços cansaram, apoiei os dois nos ombros de e nos aproximamos um pouco. Senti as duas mãos dele descansarem na minha cintura e continuamos nos movimentando no ritmo da música.
- Os dois não param de se atracar. – falou no meu ouvido e eu olhei para o lado, sem entender. Mas a visão de e se beijando pelo que parecia ser a vigésima vez só nos últimos dez minutos me fez sacar o que ele dizia e eu ri, olhando de volta para ele.
- É a emoção. – dei de ombros e ele riu.
Ficamos nos encarando por alguns segundos até que eu percebi que minhas mãos estavam um pouco mais para trás de onde eu havia colocado a princípio e nós havíamos nos aproximado um pouco. Sorri de lado confusa com o misto de sensações que circulavam pelo meu corpo e senti os braços de se entrelaçarem nas minhas costas, deixando o espaço entre nossos corpos quase inexistente. Examinei seu rosto e passei uma das minhas mãos pelo seu cabelo, vendo o garoto fechar os olhos com um sorrisinho discreto em seus lábios, que me chamou a atenção. Segundos depois ele abriu os olhos de novo e alternou seu olhar entre os meus e a minha boca, eu sorri e passei os dedos pela sua nuca suavemente, sentindo ele fazer uma pressão maior no lado do meu corpo e nossos narizes encostaram. Ele me lançou um sorriso lindo e eu tentei retribuir. Nossos lábios estavam quase colados quando eu ouvi a voz de Nick de algum lugar da casa.
- GERAL PARA FORA, A POLÍCIA ESTÁ AQUI! – o garoto gritou e nós nos separamos bruscamente, coçando a nuca e olhando desesperado para mim, e eu fiquei alguns segundos desnorteada antes de sentir a mão de me puxando com na sua frente e eu peguei no braço de para que não nos perdêssemos.
Fomos até a porta da frente e fomos correndo até o carro, que não estava estacionado tão longe dali. deu partida assim que nós colocamos o cinto e nós saímos dali.
- Eu definitivamente não posso ir para casa assim. – eu comentei, jogando a cabeça no encosto do banco e fechando os olhos, tentando fazer com que meu estado melhorasse. O que não funcionou, óbvio.
- Nós podemos ficar lá em casa até vocês melhorarem. – olhou para mim por meio segundo e eu assenti. – E vocês vão beber muita água.
- Sim, senhora. – soou entediado e eu ri com os olhos fechados.
Chegamos à sua casa e entramos tentando fazer pouco barulho para que sua mãe não acordasse. Sentamos nos bancos da cozinha e começamos a nos encher de água. O efeito do álcool começou a passar e tudo finalmente parou de girar tão rápido. Olhei para que tinha a cabeça apoiado na bancada, provavelmente dormindo e balançou a cabeça em negação.
- Me ajuda a levar ele lá para cima? – olhou para que assentiu e levantou, passando um braço pela cintura de e colocando o dele sobre seu ombro, subindo as escadas com atrás dele.
Comecei a lembrar de tudo o que havia acontecido e logo cheguei no fim da festa, momentos depois de eu e quase nos beijarmos. Talvez não fosse acontecer realmente, mas parecia. Passei o dedo pela borda do copo d’água e fiquei pensando como poderíamos ter chegado àquilo, tão de repente. Ouvi um barulho na escada e olhei para trás, vendo os dois descendo juntos.
- Eu vou levar vocês correndo para não deixar o sozinho. – pegou as chaves do carro e abriu a porta.
- Não precisa nos levar, já está tudo bem. – revirei os olhos e levantei.
- E deixar vocês dois bêbados na rua? Não, obrigada. Vamos. – me empurrou até a porta e veio logo atrás, fechando a porta da casa e nós entramos no carro.
O trajeto durou o que pareceram dois minutos e logo estava na porta da minha casa. Saí do carro examinando meus bolsos à procura da minha chave e já estava começando a ficar desesperada por não a encontrar em lugar nenhum. Procurei pela quarta vez e percebi que realmente não estava louca, eu havia perdido ela em algum lugar. Provavelmente na casa da , mas já era tarde demais porque ela tinha ido embora.
Mordi o lábio nervosamente e toquei a campainha, olhando para o chão tentando encarnar a melhor sóbria que conseguia ser. Ouvi a porta destrancando e respirei fundo, olhando para cima assim que ela abriu e meu rosto adquiriu uma expressão confusa ao me deparar com uma figura feminina na minha frente. Pela primeira vez em anos.


Capítulo 7

- Hm... – olhei confusa ao redor, me certificando de que estava na casa certa.
- Oh, você deve ser a . – a mulher colocou a mão na testa, como se tivesse ligado os pontos e finalmente entendido de quem me tratava. – Eu sou Monica, muito prazer.
- Prazer. – não consegui tirar a expressão de confusão de meu rosto e vi a figura do meu pai surgir atrás da mulher.
- Filha, você chegou cedo! – meu pai coçou a nuca e sorriu nervosamente, ficando na frente de Monica, que deu alguns passos para trás me dando espaço para entrar.
- Bom, eu... vou dormir, então. – apontei para a escada e meu pai assentiu. – Boa noite. – cumprimentei os dois com um aceno, recebendo um sorriso da mulher e subi direto para o meu quarto, ainda tentando assimilar a cena anterior.
Coloquei meu celular na mesa de cabeceira e me aprontei para dormir, tirando a maquiagem e escovando os dentes. Vesti uma roupa confortável e finalmente me enfiei debaixo das cobertas, sentindo tudo girar, inclusive meus pensamentos. Estava tudo confuso demais para uma só noite e eu pretendia ficar debaixo das cobertas até segunda-feira.
- Alô? – falei com a voz mais sonolenta do universo, esfregando o olho e tentando adivinhar que horas eram.
- AMIGA, bom dia. – ouvi a voz animada da do outro lado da linha e presumi que ela fosse a única disposta a falar naquele tom depois da noite anterior. – Quero dizer, bom dia não. Boa tarde.
- Que horas são? – indaguei mais para mim mesma do que para , tirando o celular da orelha e encarando o horário. 15h.
- Hora de você levantar e se arrumar para vir para cá. – virei de bruços na cama e afundei meu rosto no travesseiro, ouvindo uma reclamação. – Não adianta fazer a morta, meu amor.
- Eu realmente não estou com vontade de levantar da cama até amanhã. – levantei a cabeça e tirei o cabelo do rosto, afastando a cortina um pouco, a fim de olhar a rua pela janela.
- Vai ser legal, eu prometo. – fez uma voz de súplica.
- Tudo bem. – rolei os olhos quando ouvi uma comemoração do outro lado e ri, deitando novamente, de barriga para cima desta vez. – Que horas tenho que estar aí?
- A hora que você estiver pronta. – assenti com a cabeça e depois lembrei que ela não conseguia me ver.
- Ok. Até mais tarde. – desliguei o telefone assim que ouvi se despedindo e mandei uma mensagem para .
“Você vai para a hoje?”
A resposta chegou em alguns segundos.
“Vou e você?”
Coloquei as pernas para fora da cama, sentando e prendendo o cabelo em um coque desajeitado.
“Eu vou mais tarde. Passo aí?”
Me espreguicei e me joguei novamente na cama.
“Ok.”
Aceitei aquela como sendo a última mensagem da nossa conversa e finalmente levantei da cama, deixando o celular por ali e indo até o banheiro, trancando a porta do mesmo. Olhei no espelho e me surpreendi por não estar tão acabada quanto imaginava, considerando a noite anterior. Lavei o rosto e escovei os dentes, logo me despindo e entrando na banheira. Os flashes da noite anterior começaram a surgir na minha mente. O momento em que eu e estávamos próximos demais fisicamente. Era aquilo que eu queria? Quero dizer, eu e sempre fomos muito amigos, mas nada além disso. Nunca cruzamos essa linha e não achava que pretendíamos até ontem. Na verdade, acho que ainda não pretendemos. Talvez tenha sido apenas o efeito do álcool. Isso, foi o álcool.
Fiquei o que eu julguei tempo demais na água, logo me enrolando na toalha e pisando no tapete fofinho que ficava na frente da banheira, começando a pentear meu cabelo. Me curvei para abrir o ralo e deixei o pente em cima da pia antes de deixar o cômodo, voltando para o quarto. Vesti a primeira calça preta que encontrei no armário, coloquei um moletom bege com alguns detalhes estampados em cores escuras no capuz e calcei meus tênis pretos de sempre. Peguei meu celular e minha carteira, guardando tudo nos bolsos e arrumei minha cama antes de deixar o quarto, descendo as escadas e indo até a porta.
- Já vai sair? – ouvi a voz do meu pai assim que peguei as suas chaves e virei para ele.
- Vou à casa da . Volto mais tarde. – dei um meio sorriso e virei novamente para a porta, colocando a chave na fechadura.
- Eu pensei que nós pudéssemos... conversar. Sobre ontem. – sua fala saiu pausada, como se tivesse medo de pronunciar tais palavras e eu finalmente girei a maçaneta. – Eu sei que pode ser estranho e...
- Não. – deixei escapar sem pensar e sacudi a cabeça antes de corrigir minha fala. – Quero dizer, talvez mais tarde? Eu estou atrasada.
- Oh. Tudo bem. – vi meu pai assentir quando eu já estava do lado de fora da casa, prestes a fechar a porta. – Divirta-se.
Assenti e fechei a porta. Caminhei até o outro lado da rua e toquei a campainha, sendo recepcionada por Lisa.
- Oi Lisa, o já saiu?
- Oi . Não, ainda não. – Lisa deu um sorriso confortante e eu assenti sorrindo. – Quer entrar e comer alguma coisa?
- Não, não precisa. – balancei a cabeça em negação e ela adquiriu uma expressão completamente maternal, tentando insistir para que eu comesse. desceu as escadas nessa hora e parou ao lado da sua mãe.
- Tentando convencer a comer? – riu e deu um beijo no topo da cabeça de Lisa, que balançou a cabeça e sorriu.
- Se cuidem. – ela lançou o olhar diretamente a , que bateu continência, me fazendo rir do tapa no ombro que recebeu de sua mãe.
- Outch. – ele esfregou o braço e nos despedimos, caminhando para a calçada. – Como você está?
- Confusa? – o vi se endireitar e sobressaltar um pouco e imaginei que ele pensasse que eu fosse falar sobre o que ‘quase’ aconteceu na noite anterior. Definitivamente eu não iria ser a primeira a tocar no assunto. – O meu pai, ele está saindo com uma mulher.
- Mas já sabíamos disso, não? – ele colocou as mãos no bolso da blusa, olhando para mim enquanto caminhávamos.
- Ah, sim. É que ontem eu perdi minhas chaves, aparentemente na casa da Tha, e quem abriu a porta não foi o meu pai. Foi ela. – olhei para meus pés e fez um barulho de concordância.
- E você se sentiu estranha? – perguntou e eu assenti, olhando para ele. – Acho que isso deve ser normal.
- Acho que sim. – sorri amarelo e me abraçou de lado, me fazendo rir de verdade.
- Vamos mudar de assunto para você não ficar deprimida. – piscou e eu assenti animadamente.
- Ficou sabendo se todo mundo conseguiu sair da casa ontem?
- Não, na verdade. Mas acho que sim. Ou todos saberíamos de alguém que foi detido ou algo assim. – ele deu de ombros e eu balancei a cabeça em negação.
- Adolescência.
- E você, a senhora certinha, faz parte dela. – ele apertou as minhas bochechas e eu tirei suas mãos dali, dando um tapinha em seu ombro.
- Eu não sou a senhora certinha. Já fiz tantas coisas quanto você. – arqueei a sobrancelha e ele colocou as mãos na cintura.
- Disso eu duvido. – ele me desafiou e eu ri.
- Você sabe que eu sei tudo sobre você, não é? – ele desmontou de sua pose de superioridade e assentiu com a cabeça, com um bico.
- FINALMENTE! – ouvi a voz da do outro lado da rua e continuou andando quando chegamos na casa dela. – Não finja que não me conhece, palhaço.
saiu correndo da porta de sua casa até a calçada, perseguindo e pulando em suas costas assim que chegou perto o suficiente, me fazendo rir e balançar a cabeça em negação. Olhei para a entrada da casa e estava de pé com um sorriso bobo.
- Até o ar que você expira tem partículas de paixão. – comentei quando cheguei perto dele e ele riu, me abraçando como um cumprimento.
- Acho que eu escondi por muito tempo. – deu de ombros e eu sorri.
- Vocês são fofos demais.
- Agora só falta... – assisti aos dois voltando da calçada e olhei para quando ele parou de falar.
- O que?
- Nada. – ele riu e balançou a cabeça em negação, passando o braço pelo ombro de e entrando na casa.
- Ué.
- O que foi? – perguntou quando chegou ao meu lado e eu dei de ombros.
- Não faço ideia.
Quando chegamos havia um balde de pipoca na mesa de centro e alguns DVDs ao lado, provavelmente para que escolhêssemos algo para ver. Ouvi e anunciarem que iam até a cozinha e sentei no chão, entre os dois sofás, tirando o sapato, colocando os pés para cima e deitando meu tronco no tapete.
- O que vamos ver? – perguntei de olhos fechados assim que ouvi passos chegando e olhei para o lado quando eles pararam de soar contra a madeira.
- Você não pode ser normal. – riu e eu revirei os olhos.
- Aparentemente eu não sou uma adolescente rebelde e nem normal. O que sou para você ? – fiz um drama teatral ao falar a última frase e se ajoelhou ao meu lado.
- Você é a vizinha louca que eu aturo há anos. – deu de ombros e eu abri a boca, chocada com a declaração e virei de costas para ele, ainda deitada.
- Eu me recuso a falar com você. – cruzei os braços e ouvi uma risada baixinha. – Não ria de mim.
- Você é a minha melhor amiga mais maravilhosa desse mundo. Satisfeita? – virei a cabeça um pouco para o lado, enxergando com um sorriso ladino, deitado ao meu lado do mesmo jeito estranho que eu estava, e sorri também.
- Ok, eu te perdoo. – virei de frente para o teto novamente e olhei para ele. – Mas só dessa vez.
- Não é como se eu fosse um monstro. – deu de ombros olhando nos meus olhos e a sensação da noite anterior voltou ao meu corpo, me fazendo estremecer por dentro e ficar sem entender aquela reação.
- Depois eu que sou a louca. – ouvi a voz de de algum lugar perto da TV e me estiquei para enxerga-la com dois copos de refrigerante em suas mãos e carregando o mesmo. – Parem de agir como animais e sentem no sofá, bestas.
- Tudo bem, mãe. – frisou a última palavra revirando os olhos e levantou, sentando no meio do sofá maior. Levantei logo em seguida e sentei no canto, deixando o sofá menor para os pombinhos usufruírem. Não desse jeito, óbvio. Não éramos tão íntimos assim e eu honestamente esperava que não fôssemos um dia.
Começamos a assistir a um filme qualquer de terror, que eu estava com medo demais para ligar para o nome e ao invés de assisti-lo, me escondia atrás de uma das almofadas do sofá, com as pernas encolhidas. ria dos meus eventuais sobressaltos quando qualquer barulho levemente mais alto saía da televisão e eu o acertava com a almofada. Olhei para o sofá ao lado, onde e assistiam ao filme abraçados. Se eu voltasse no tempo e contasse a eles que um dia eles se encontrariam agarrados de tal forma, como o casal que agora eram, eles me enviariam a um médico porque eu provavelmente não seria vista como uma pessoa sã. A relação dos dois sempre foi muito estranha. Sempre se “bicando”, implicando um com o outro eternamente e sem dó. Foi no mínimo estranho assistir à essa mudança tão repentina e tão rápida acontecendo. Eu estava realmente feliz pelos dois, parecia que eles finalmente haviam encontrado o que lhes faltava.
- O que vocês querem fazer agora? – levantou, se espreguiçando e logo a puxou de volta para o sofá, deitando em seu colo e a garota riu, fazendo carinho em seus cabelos.
- Acho que vocês são o casal mais fofo de toda Montclair. – coloquei as duas mãos ao lado do rosto e sorri, fazendo os três ali presentes rirem. Vi jogar a cabeça para trás ao meu lado e olhei para ele. – Cansado?
- Morto. – virou para mim e eu fiquei alguns segundos pensando, antes de bater duas vezes nas minhas pernas.
- Deita aqui. Eu faço essa gentileza. – sorri e se deitou, rindo.
- Não faz mais do que a sua obrigação, . – comentou com os olhos já fechados e sorrindo de lado. Eu ameacei me levantar em resposta e senti seus braços me impedindo e logo sua mão direcionou a minha até seus cabelos, onde comecei a movimentá-las. Poucos minutos depois comecei a sentir que ele foi despejando o peso em minhas pernas, sinal de que ele já estava quase totalmente adormecido.
- A gente merece. – sussurrei para quando esta olhou para mim, rindo. – Como foi ontem aqui? – fiz uma cara maliciosa e revirou os olhos, sorrindo de lado. – Ai meu Deus, esse sorriso quer dizer alguma coisa.
- Nada do que você está pensando. – esclareceu e eu semicerrei os olhos, duvidando da veracidade daquela informação. – Bom, nós não estávamos oficialmente namorando até hoje. Assim que acordamos, ele começou a fazer um discurso meloso maravilhoso com aquela carinha amassada linda e me pediu em namoro.
- Vocês são como o sonho de todo ser humano romântico. – comentei e sorriu ainda mais abertamente. – Mas, rolou alguma coisa?
- Não, na verdade. Depois de deixar vocês em casa, subi direto para o quarto e o encontrei sentado na cama parecendo uma criança, se balançando. O obriguei a levantar e tomar um banho gelado para acabar um pouco com o efeito da bebida e ele conseguiu fazer isso sozinho, ainda bem. Não sei onde enfiaria minha cara caso tivesse que dar banho no garoto. Mas fiquei checando de 2 em 2 minutos para ter certeza de que ele não havia escorregado na ducha. Quando ele terminou, nós deitamos e dormimos, só. – deu de ombros e eu assenti.
- Mas teria acontecido? – questionei e pareceu pensar um pouco antes de responder.
- Talvez? Não sei. É tudo muito novo e você sabe que para mim é ainda mais chocante. O máximo que fiz foi chegar perto da concretização desse momento mas nada além disso. Mas eu acho que deve ser com ele.
- Conto de fadas. – eu suspirei com uma expressão sonhadora e se esticou, pegando uma almofada dos pés do e jogando em mim. Como ela era péssima de mira, o pouso aconteceu no rosto de , que se remexeu em meu colo e virou para o outro lado. – Boa, garota.
- E você? – perguntou depois de algum tempo em silêncio e eu olhei para ela confusa. – Interessada em alguém?
- No momento a minha vida amorosa é inexistente.
- O gatinho do Luke diria o contrário. – repetiu a frase dita por mim no dia do jogo e eu revirei os olhos.
- Nós somos apenas amigos. – falei com voz firme e riu.
- Você sabe que seu conto de fadas preferido nasceu de uma amizade, não sabe? – arqueou a sobrancelha e eu bufei.
- Você sabe que deveria ser menos chata, não sabe? – tentei imitar sua voz e ela riu.
- Negue o quanto quiser. – deu de ombros e eu assenti, jogando a cabeça para trás. – Eu apoio o casal.
- Você me apoia com qualquer pessoa, me poupe. – olhei para ela com a sobrancelha arqueada e a ouvir gargalhar, balançando a cabeça em negação.
- Que tipo de amiga eu seria? – eu ri e olhei para , que se mexeu em meu colo. – O é lindo também.
- Temos os amigos mais gatos do mundo. – dei de ombros e fez uma cara de surpresa.
- A-HÁ! Você admitiu que Luke é gato.
- Ei! Eu disse “temos”, no plural. Você não é amiga do Luke. – ela bufou e virou para o lado, revirei os olhos e continuei. – Tudo bem, o Luke é bonito. O e o também, o que não quer dizer que eu vou casar com eles.
- Acho bom. – ela olhou para o garoto em seu colo e de volta para mim, me fazendo rir.
- Não me diga que virou uma daquelas pessoas ciumentas loucas. – ela negou, rindo.
- É brincadeira. Mas prefiro que não se case com meu namorado. – eu assenti. – Você tem duas opções sobrando, só escolher um e pronto. Ou revezar.
- Você tem um parafuso solto. – balancei a cabeça em negação e me arrumei no sofá, ficando mais confortável e senti a mão de pegar a minha e a colocar sobre seu cabelo, me obrigando a fazer cafuné, de novo.
Coloquei minha cabeça no encosto do sofá e senti meus olhos pesarem. Só notei que havia dormido quando acordei, ironicamente. Olhei ao meu redor e a sala estava quase completamente escura, com a iluminação vinda dos postes de luz do lado de fora deixando alguns rastros de luz no cômodo. e estavam abraçados agora, de conchinha no sofá, e continuava no meu colo. Desencostei do sofá e sentei de forma ereta no sofá, olhando para que parecia despertar.
- Oi. – sorri quando ele olhou para mim com um olho fechado e o outro aberto, com um sorriso meio de lado. – Acho que dormimos demais.
- Parece que eu dormi por dois anos seguidos. – se espreguiçou e virou de lado, indo dormir novamente.
- Não, senhor. Eu preciso ir embora. – ele levantou com os olhos fechados e os cabelos bagunçados, me fazendo rir. – Vamos?
- Amiga, ontem você deixou a sua chave aqui. Está no aparador perto da porta. – ouvi a voz sonolenta da e assenti, mesmo que ela não conseguisse me ver fazê-lo por estar de olhos fechados.
- Tchau, casal. – se despediu dos dois de longe, sem receber resposta alguma e eu ri, apontando para a porta com a cabeça. Nós saímos da casa da e conversamos sobre coisas bobas e insignificantes no caminho, apenas para passar o tempo.
Cheguei em casa e abri a porta tentando ser a mais silenciosa possível. Não sabia se meu pai estava dormindo ou não, então preferi tomar cuidado para não acordá-lo caso a resposta fosse sim.
- Ficou bastante tempo na casa da hoje. – ouvi sua voz soar da cozinha e virei para trás, no pé da escada.
- Ah, sim. Nós acabamos perdendo a noção do tempo. – dei de ombros e comprimi os lábios em um leve sorriso.
- Sobre ontem... – meu pai começou a falar e eu olhei para a escada e depois de volta para ele.
- Eu sei que disse que podíamos conversar sobre isso quando eu voltasse, mas eu estou realmente cansada. Talvez outro dia? – dei de ombros, dando a primeira desculpa que consegui pensar e meu pai suspirou, assentindo.
- Tudo bem. Boa noite, durma bem, filha.
- Boa noite.
Subi as escadas e fui direito para o meu quarto, fechando a porta assim que entrei. Coloquei meu celular em cima da cama e me joguei na mesma em seguida. Olhei para o teto e comecei a refletir sobre tudo. Por que eu estava agindo daquela forma com meu pai? Quero dizer, ele faria aquilo algum dia e não há nada de errado nisso. Então por que estava sendo tão difícil aceitar essa mudança?


Capítulo 8

- E não se esqueçam do trabalho para o fim do semestre. Ele vai compor um terço da sua nota, junto com as atividades entregues por aula e o teste de noções técnicas que teremos mês que vem. – o professor de fotografia falou em um tom de voz mais alto, assim que o sinal sinalizando o fim da aula soou do lado de fora e nós começamos a organizar nossas coisas. – Preciso que me entreguem uma folha com o tema do trabalho da dupla até o fim do dia, ok?
A sala toda fez um murmúrio de aprovação e logo saímos da sala, caminhando pelos corredores.
- Eu havia esquecido completamente do nosso trabalho. – coloquei a mão na testa e Luke riu.
- Obrigado pela parte que me toca, . – eu revirei os olhos e Luke continuou. – Eu, ao contrário de você, já pensei em um lugar. – Andrews abriu sua mochila e tirou um panfleto de lá, me entregando.
- “Festival anual de balões”? Você não parece ser exatamente o tipo de pessoa que acompanha a agenda de um festival de balões. – olhei para ele com a sobrancelha arqueada e ele abriu a boca, como se estivesse ofendido.
- Vou ser obrigado a trocar de dupla. – ele começou a andar no sentido contrário, voltando para a sala de fotografia e eu puxei seu braço, rindo. Luke riu e balançou a cabeça em negação. – Na verdade, meu pai que acompanha. É meio que o trabalho dele, como secretário de Turismo. – deu de ombros e eu assenti.
- Vamos na sexta, então? – chegamos perto de , e e paramos de andar. Luke assentiu e olhou para mim desconfiada.
- Desculpe me intrometer, mas posso saber aonde vocês vão? – ela arqueou a sobrancelha e eu revirei os olhos, lhe entregando o panfleto que estava em minhas mãos. – Festival de balões? Luke, não acredito que você é um romântico incurável.
- ! – a repreendi, rindo e Luke se juntou a mim.
- Cara, eu nem sabia que isso ainda existia. – comentou, analisando as informações no panfleto e os três engataram em uma conversa sobre o pai de Andrews ser secretário de Turismo, o que eu havia descoberto há poucos segundos.
- Vamos? – olhei para , me referindo ao próximo período, Inglês, e ele assentiu, colocando as mãos no bolso. Saímos da nossa rodinha de amigos e voltei a caminhar até a sala.
- Então quer dizer que você vai andar de balão com o senhor Luke? – falou com um tom de voz brincalhão e eu assenti, rindo.
- Por que, está com ciúmes, meu amor? – perguntei enquanto sentava na carteira em que normalmente ficava e vi as bochechas de adotarem um tom avermelhado.
- Claro que não. – ele balançou a cabeça, rindo, como eu havia feito. Olhei para ele desconfiada e ele empurrou meu ombro.
A aula de inglês começou e foi como sempre. A leitura de um texto e alguns exercícios para checarmos se entendemos todos os conceitos da literatura inglesa e americana, além da gramática, claro. Tudo continuaria igual se não fosse pela interrupção do nosso diretor e um acompanhante.
- Bom dia, pessoal. – Senhor Roberts foi recebido com um coro como resposta. – Vejo que estão bastante focados em suas tarefas e pretendo não tomar muito tempo de vocês. Bom, como vocês já sabem, sempre tivemos um conselheiro à disposição de todos os alunos, esse ano não será diferente. Este é o senhor Johnson, nosso novo conselheiro.
- Bom dia, é um prazer conhece-los. – o tal senhor Johnson se apresentou à sala, com as mãos cruzadas em frente ao seu corpo, como um sinal de nervosismo. – Bom, sou formado em psicologia e eu estou aqui para ajuda-los. Vocês já devem saber que em alguns meses vocês terão de fazer as aplicações para suas faculdades de preferência e quero garantir que façam essa escolha com sabedoria e apoio. Sempre que precisarem de conselhos e de alguém para escutá-los, saibam que meu escritório está de portas abertas.
- Certo. – Senhor Roberts concordou, com um sorriso no rosto e uma de suas mãos no ombro do novo conselheiro, o confortando. O segundo olhou para o diretor e sorriu, dando um passo para trás, como se o desse a palavra. – Espero que todos tenham um bom dia e sempre que precisarem, estaremos prontos para auxiliá-los.
Os dois saíram e nosso professor pediu para que voltássemos nossa atenção à tarefa. Assim que terminamos, começamos a conversar sobre coisas sem importância, como a textura de frutas. Pouco tempo depois fomos liberados para o almoço e e foram comprar os lanches para todos nós, em uma lanchonete ali perto. Eu e nos dirigimos até o refeitório e sentamos na mesa de sempre, perto das janelas.
- Milagres acontecem! – disse com uma voz dramática assim que chegou na nossa mesa, colocando o saco com os lanches em cima da mesa, respirando ofegante.
- O que? – perguntei, confusa demais e chegou logo atrás dela, colocando outra sacola ao lado da anterior.
- Nós encontramos o Mc Donald’s vazio. Esse é o milagre. – eu ri e pegou um dos lanches, me lembrando que deveria fazer o mesmo.
- Então... – sentou e começou a me olhar com uma expressão maliciosa e minha reação imediata foi revirar os olhos. Já sabia que viria alguma besteira. – Você e o Luke, huh?
- Nem eu que namoro a a convidei para um passeio de balão. – comentou, com a sobrancelha arqueada e virou sua atenção para ele.
- Vai anotando as dicas. – piscou para ele, que riu. – Isso é claramente um encontro.
- Você é completamente louca. É óbvio que não. – balancei a cabeça em negação e riu. – Você deveria ficar do meu lado nessa.
- Desculpa, , mas é um encontro. – ele deu de ombros e eu abri a boca, chocada.
- Não é um encontro. Vamos apenas por causa do trabalho de fotografia. – olhei para os três como se explicasse algo para crianças de 5 anos e eles riram. – É sério.
- Se você diz. – deu de ombros e deu uma mordida em seu lanche.
Soltei o ar pela boca e ri, indignada com a acusação dos três. Olhei para novamente, para comentar algo sobre alguma coisa e vi Amber e suas fieis seguidoras andando em nossa direção. Juntei as sobrancelhas em confusão e olhei para , que devolveu a confusão em seu olhar.
- Oi, . – ouvi sua voz fina e olhei para , que sorriu malicioso olhando para aquela interação entre os dois. – Oi, gente. – olhou para o restante da mesa e continuou a falar, depois de voltar seu olhar para . – Você ainda vai me ajudar com biologia? Eu estou boiando naquela matéria.
- Ah, oi, Amber. Claro! – pareceu mais confuso que todos nós enquanto ela se pronunciava mas depois pareceu lembrar do que se tratava.
- Sexta-feira, na sua casa? – a garota sorriu de lado e assentiu com a cabeça. – Você é um fofo. Até sexta.
- Até. – as quatro garotas viraram e caminharam até sua mesa, que era no meio do refeitório, deixando apenas uma mistura de seus perfumes doces no lugar.
- Vão estudar o que? Anatomia do corpo humano? – soltou uma de suas pérolas e os outros dois riram, me fazendo revirar os olhos.
- Para de ser otário, cara. A Amber só precisa de ajuda com uma parte da matéria de Biologia para a nossa prova de semana que vem. – deu de ombros e voltou a comer.
- Claro, e ela precisa que essa ajuda seja dada na sua casa quando temos uma biblioteca à disposição na escola. – o olhou desconfiada e o garoto riu.
- Só vamos estudar. Não é como se ela tivesse interesse em mim. – revirou os olhos.
- A recíproca é verdadeira? – perguntei e me olhou sem entender. – Não é como se você tivesse interesse nela?
- Ah... – olhou para baixo e ficou pensando por um tempo. – É a Amber.
- Essa é a pior resposta que você poderia ter dado. – riu e eu a acompanhei, mesmo sem querer rir daquela situação. – Tudo bem que ela é a garota mais popular da escola, mas não é como se ela fosse uma deusa.
- Mas ela é a mais cobiçada. – dei de ombros e voltei minha atenção para a comida. Os três engataram em uma outra conversa e eu fiquei olhando pela janela por bastante tempo sem perceber.
- ? – ouvi a voz de e olhei para ela.
- Hm?
- Você está bem?
- Ah, sim. Eu viajei por alguns minutos. – balancei a cabeça tentando me livrar daqueles pensamentos e sorri. – Do que vocês estavam falando?


Capítulo 9

A semana passou rápido e logo era sexta-feira. O clima em casa não estava dos melhores, meu pai e eu não conversávamos como o normal e eu sabia que ele havia percebido. Parecia que ele queria me dar o meu espaço mesmo sem saber o que estava acontecendo e eu o agradeci por isso. Realmente não sabia o que aconteceria caso tivéssemos a conversa sobre o que aconteceu naquele sábado.
- Passo na sua casa às 17h? – Luke me alcançou na saída da escola e eu me assustei com sua voz, olhando para trás e vendo ele rindo. – Desculpa, vim correndo para conseguir te alcançar.
- Tudo bem. – eu ri e ajeitei a alça da mochila no meu ombro. – Certo, 16h55 já estarei pronta te esperando. – assenti e ele sorriu.
- Você vai levar sua câmera? – ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. – Ok. Eu vou levar a minha também, para não precisarmos revezar.
- Até mais tarde então. – eu sorri e ele sorriu de volta. Caminhei um pouco mais rápido para alcançar , que não tinha parado quando Luke chegou. – Os meninos têm treino hoje?
- Sim. Parece que o treinador vai pegar pesado com eles hoje.
- Por que?
- O resultado do último jogo não foi o que ele esperava e agora quer que eles treinem dobrado para ganharem o próximo. – deu de ombros e colocou a chave no carro, depois de jogar sua mochila no banco de trás.
- Boa tática. – eu ri e virei para a janela, olhando o estacionamento.
- Você está bem? Pareceu meio aérea a semana toda. – virei para e balancei a cabeça em negação.
- Tudo bem. Só umas coisas em casa, acho. – dei de ombros.
- Não tem nada a ver com a Amber? – tirou a atenção da rua por alguns segundos para me encarar, e depois voltou a olhar para frente.
- Com a Amber? – repeti confusa e ela assentiu.
- Depois do almoço na segunda, onde ela conversou com o , você ficou meio estranha. – ela explicou e eu abri a boca algumas vezes antes de conseguir expressar alguma reação.
- Juro que cada dia você fica mais louca. – balancei a cabeça e virei para a janela de novo.
- Eu juro que isso não é coisa da minha cabeça. Um dia você vai perceber. – ela olhou para mim sorrindo de lado e eu ri, empurrando o ombro dela. – Ei, cuidado, estou dirigindo.
Logo paramos em frente à minha casa e eu me despedi, entrando. Coloquei minhas chaves no aparador perto da porta e subi para meu quarto, colocando minha mochila sobre a cama e indo direto para o banho. Fiquei lá por uns 10 minutos e vesti uma calça jeans escura, um moletom vermelho e meus tênis pretos de sempre. Peguei a bolsa da câmera que tinha todos os acessórios necessário dentro, coloquei no ombro e peguei meu celular e carteira antes de descer. Deixei minha mochila na sala e fui comer alguma coisa antes de me jogar no sofá. Comecei a assistir alguns episódios repetidos de FRIENDS, aquela série sempre me fazia rir independente de quantas vezes já tivesse visto, e caí no sono em algum momento. O cochilo durou alguns minutos, até que ouvi uma buzina do lado de fora e deduzi que aquele fosse Luke.
- Oi. – sorri ao abrir a porta e entrar no carro. Andrews sorriu de volta e girou a chave no carro.
- Eu não sabia se devia ir até a porta então só te esperei no carro. – ele coçou a nuca e eu ri, balançando a cabeça.
- Sem problemas. Esperou por muito tempo?
- Não, na verdade. Só uns 5 minutos. – deu de ombros e eu assenti.
- Eu acabei dormindo enquanto via FRIENDS. – Luke riu.
- Sei como é.
O caminho até o local onde ficaria o festival durou pouco mais de 20 minutos, já que era um pouco afastado da cidade, perto das colinas. Nós deixamos o carro em uma espécie de estacionamento improvisado na grama, perto de onde estavam as instalações. Eu vi uma fila que dava em uma pessoa uniformizada com uma prancheta nas mãos e deduzi que era para lá que deveríamos ir. Caminhamos lado a lado e eu parei assim que chegamos atrás da última pessoa na fila, deveria haver pelo menos 15 pessoas na nossa frente.
- Mas ali é o final da fila. – apontei para trás quando Luke começou a me guiar até o início da fila.
- Boa tarde, eu sou filho do William Andrews. Ele disse que eu viria. – Andrews falou para o moço com a prancheta que aparentava ter pouco mais de 20 anos.
- Ah, claro. – o atendente assentiu, virando para trás e chamando uma mulher também uniformizada. – Tudo bem se você assumir a fila? Vou leva-los até o balão reservado.
- Sem problemas. – a moça pegou a prancheta das mãos do outro trabalhador e assumiu sua posição anterior.
- Venham comigo, seu balão está ali no fundo. – ele apontou para uma parte mais afastada da fila e eu sorri em resposta. Luke e eu começamos a caminhar um pouco atrás dele.
- Não sabia que tínhamos uma reserva.
- Ah, o meu pai quis fazer este favor. – deu de ombros e eu assenti, olhando para o chão. – Tudo bem?
- Sim. – eu ri e balancei a cabeça. – Parece que eu estou saindo com o filho do rei. Uma pessoa de alta importância. – Andrews pendeu sua cabeça para trás e soltou uma gargalhada, me fazendo rir junto.
- Não é como se ele fosse o presidente dos Estados Unidos. Só facilitou um pouco nossas vidas.
- Aqui. – o moço parou de andar quando chegamos em um balão amarelo e vermelho.
- Uou, é muito maior do que eu esperava. – eu me impressionei com a grandeza daquilo e Luke riu.
- Já andou em um desses antes? – eu balancei a cabeça em negação e o instrutor nos ajudou a subir no cesto e logo depois entrou também.
O instrutor soltou o ar quente e o balão começou a subir lentamente. Eu sorri e olhei para Luke, que de repente tinha a câmera em suas mãos e tirava fotos de mim.
- Pode parar! – coloquei as mãos perto da lente, tampando-a e Andrews riu. Abri minha bolsa e tirei a câmera dali. Apontei a lente para cima e tirei uma foto do fogo que saía da máquina. Depois apontei para a vista, o sol estava quase se pondo e o céu tinha adotado uma cor alaranjada. Andei até uma das quinas do cesto e tirei uma foto de Luke, que agora observava o pôr do sol à sua frente e só dava para ver sua sombra, já que estava contra a luz.
- Estamos quites. – ele virou para mim quando percebeu que eu havia tirado uma foto sua e eu mostrei para ele.
- Ficou boa, pelo menos. – dei de ombros e ele sorriu, olhando para mim. – Não é como se pudéssemos colocar no nosso trabalho, as pessoas com certeza se assustariam.
- Ah, é? – seu rosto adquiriu uma expressão que parecia um misto de surpresa e brincadeira. – Se formos mudar nosso tema para terror, podemos colocar a sua também.
- Outch! – brinquei como se tivesse ficado ofendida e ele riu, tirando fotos da paisagem.
Voltei a apontar a câmera para diversos pontos à vista e tirar fotos de tudo que via. Luke fez o mesmo e ficamos um tempo assim, sem falarmos nada. Percebi que ele voltou a tirar fotos minhas e tampei meu rosto, envergonhada.
- Vai, para de vergonha. Estão ficando lindas. – tirei uma mão do rosto e olhei para ele, que sorriu e continuou a disparar a câmera. – Uma ótima modelo, parabéns. Vem ver.
Cheguei perto dele e encarei a tela da câmera enquanto ele passava as fotos e apontava para as que mais gostava.
- Você ficou linda nessa. – eu sorri sem jeito e olhei para o chão, sentindo seu olhar sobre mim. – Ah, por favor, . Não vá me dizer que você não sabe que é linda?
- Luke, pelo amor de Deus. – olhei para ele e Andrews sustentou o olhar. Parecia que ele estava se aproximando de mim e eu só tive certeza disso quando seu olhar começou a descer dos meus olhos para a minha boca e nossos narizes se tocaram.
O barulho do instrutor soltando ar quente me assustou, fazendo com que eu me afastasse em um sobressalto. Coloquei a mão no peito e olhei para o moço uniformizado, que segurou a risada e murmurou um “desculpe”. Ri sozinha e balancei a cabeça, voltando a atenção para a paisagem, sem coragem de encarar Luke depois do que aconteceu. Ou quase aconteceu. O passeio durou alguns poucos minutos e logo estávamos sobre a terra novamente.
- Tive uma ideia! – comentei como se tivesse descoberto algo impressionante e deitei sobre a grama, com Luke olhando para mim com uma expressão confusa. Apontei a câmera para o céu e tirei foto de um grupo de balões que estava no céu.
- Boas fotos. – mostrei para Luke assim que consegui as fotos que queria e ele elogiou a qualidade, me fazendo sorrir. – Vamos?
Caminhamos até o carro e fomos direto para a minha casa. O caminho foi um pouco estranho depois do “quase beijo”. Trocamos apenas algumas palavras e eu permaneci olhando para a janela o tempo todo. Parecia que estava tudo bem, não é mesmo?
- Bom, eu fico por aqui. – ri sem graça assim que paramos em frente à minha casa e tirei o cinto. – Vou tratar as fotos que eu tirei e te mando, ok?
- Certo. Vou te mandar as minhas também e a gente escolhe as melhores para mostrar para o professor. – Luke sorriu e eu retribuí.
- Tudo bem, obrigada pela carona. – abri a porta do carro e me despedi de Luke. Alguns segundos depois eu ouvi a porta do carro abrindo de novo e vi Luke com a mão direita sobre o teto do carro, olhando para mim.
- Nós não precisamos ficar estranhos um com o outro, certo? – ele coçou a nuca e eu ri. – Quero dizer, aquilo não muda nada.
- Não vamos ficar. Relaxa. – eu assenti e ele suspirou aliviado. – Talvez só um pouco. Mas a gente supera. – dei de ombros e Andrews riu, assentindo.
- Ok. Vou esperar pela onda de estranheza na segunda, então. – ele se despediu e deu partida assim que eu entrei em casa.
Aquele passeio definitivamente não havia sido um encontro planejado. Pelo menos não era o que eu pensava. Eu tinha muita coisa na cabeça desde a noite da festa da Lily e não conseguia pensar em mais nada. Encontrei a casa vazia assim que cheguei e apenas me joguei no sofá, com o objetivo de relaxar durante todo o resto do dia. E isso teria funcionado, caso meu pai não tivesse chegado mais cedo do trabalho e estivesse com uma convidada surpresa.
- Oi, filha. Tudo bem? – meu pai colocou sua bolsa no sofá, ao meu lado, e depositou um beijo na minha testa. – Monica veio jantar conosco hoje.
Olhei para cima e vi um sorriso singelo se formando no rosto do meu pai e sorri amarelo.
- Tudo bem? – me levantei e cumprimentei nossa convidada de honra, que sorriu e assentiu.
- Espero não ter te pego de surpresa. – ela riu e meu pai negou com a cabeça.
- Claro que não. – sorri sem mostrar os dentes e a mulher olhou para o chão e logo depois para o meu pai.
- Bom, vou montar a mesa e pedimos alguma coisa? – meu pai perguntou olhando para mim e eu assenti, pegando os cardápios dos restaurantes que ficavam perto de casa, como normalmente fazia. – Ah, não. Hoje vamos pedir de um restaurante que a Monica indicou. Parece que eles têm um salmão maravilhoso.
- Aquela comida é dos deuses. – Monica fez uma expressão sonhadora e acompanhou meu pai até a cozinha, o ajudando a colocar a mesa.
Eu olhei em volta e sentei no sofá novamente, sem muito o que fazer. Peguei meu celular e comecei a checar todos os aplicativos que estavam nele, sem interesse nenhum. Ouvi risadas vindas da sala de jantar e olhei para trás, vendo os dois fazendo qualquer brincadeira juntos e sorrindo. Ok, aquilo definitivamente estava estranho demais para mim.
- E então, filha, gostou? – meu pai perguntou algum tempo depois de nos sentarmos à mesa, assim que a comida chegou.
- É gostoso. – assenti e Monica sorriu, parecendo extremamente satisfeita, como se estivesse tentando me agradar.
- Não sei como não descobrimos este restaurante antes. Moramos aqui há anos. – meu pai riu e Monica o acompanhou, dando de ombros.
- Eu conheço porque um amigo meu é o dono. Podemos comer lá um dia. – olhei para ela, que encarava meu pai sorrindo. – Digo, no restaurante, propriamente dito. E não pedindo um delivery.
- Parece uma boa ideia. – meu pai sorriu e eu foquei minha atenção no prato à minha frente, tentando medir quanto tempo demoraria para que eu conseguisse colocar todo o resto de comida para dentro e pudesse sair dali.
Fiquei algum tempo concentrada apenas no salmão que estava em meu prato e só voltei à realidade quando ouvi meu pai chamar meu nome.
- Hm? – respondi, olhando para ele com uma expressão confusa e ele riu.
- Como foi o dia na escola?
- Normal, eu acho. – dei de ombros e meu pai assentiu. – Hoje eu fui ao festival de balões com o Luke para fazermos nosso projeto de fotografia.
- Eu gostaria que os projetos na minha época fossem tão legais assim. – Monica riu. – Nós só fazíamos apresentações com cartolinas e olhe lá. - eu a acompanhei e ri, assentindo.
- Acho que isso ainda existe, dependendo da aula. – dei de ombros de novo e meu pai me olhou com uma expressão de estranheza.
- Seu pai comentou que você estuda na Montclair. É uma grande coincidência que minha filha também estude lá. – Monica continuou tentando puxar um assunto comigo e eu não me sentia nem um pouco a vontade, não sei exatamente o porquê.
Os dois engataram numa conversa sobre o ensino da Montclair quando meu pai percebeu que eu não tinha muito a dizer e eu terminei meu prato, depois do que pareceram anos.
- Eu vou deitar, com licença. – sorri por educação e meu pai assentiu.
- Boa noite, durma bem.
Peguei minhas coisas no sofá antes de subir para meu quarto. Me arrumei para deitar e logo estava em minha cama, planejando novamente acordar apenas na segunda-feira. Aquele sentimento havia se tornado meu melhor amigo e eu não sabia se reclamava ou agradecia. Provavelmente deveria reclamar, mas não iria me preocupar com aquilo agora.
Acordei no outro dia com a luz do sol batendo em meus olhos e me xinguei internamente por ter esquecido as cortinas abertas. Aquilo acontecia muito mais vezes do que eu gostaria, talvez eu precisasse colocar um lembrete para não acordar de mal humor todos os dias por conta do fator “muita luz, muito cedo”. Olhei no relógio que ficava na minha mesa de cabeceira e vi que não era exatamente muito cedo. 10h da manhã. Tirei forças não sei de onde e levantei, fazendo minha higiene matinal, colocando uma roupa qualquer e meus chinelos. Peguei meu celular e desci as escadas.
- Bom dia. – falei assim que vi meu pai sentado no sofá, concentrado em alguma coisa que estava passando naquele momento. Olhei um pouco mais para trás e vi Monica na cozinha, preparando alguma coisa e juntei minhas sobrancelhas, claramente confusa.
- Bom dia, . – Monica sorriu e eu sorri em resposta. – Bem, eu já vou. Preciso estar em casa para receber algumas encomendas mais tarde e ainda vou buscar a minha filha na casa de um amigo. – ela caminhou até meu pai enquanto falava e deu um selinho nele. – Nos vemos segunda.
- Até. – meu pai sorriu e a observou caminhar até a porta.
- Tchau, . – ela acenou ao sair e eu nem tive tempo de responder. Olhei ao redor e caminhei até a cozinha, pegando uma tigela e colocando meu cereal. Despejei um pouco de leite e sentei nos bancos da cozinha, virada para a parede.
- O que aconteceu ontem? – ouvi a voz do meu pai e me assustei, quase engasgando com o cereal e me recuperei, olhando para ele.
- Nada demais. – dei de ombros e ele adquiriu uma expressão de raiva, o que eu estranhei. Ele desligou a televisão e continuou.
- Como nada demais?
- Eu acho que não estamos falando da mesma coisa. – juntei as sobrancelhas em confusão e meu pai riu sem muito humor.
- Por que você tratou a Monica daquela forma?
- De que forma?
- Você a respondeu como se fosse uma pessoa qualquer. – ele aumentou o tom de voz e eu já sentia um bolo se formando em minha garganta.
- Porque é isso que ela é para mim?! – falei como se fosse óbvio. - O que você esperava que eu fizesse?
- Eu só esperava que você tivesse o mínimo de educação.
- Me desculpe se eu não superei a saída de uma das pessoas mais importantes na minha vida do jeito que você superou. Se você esperava que eu a recebesse de braços abertos e a chamasse de mãe, se contente com a resposta negativa. Você sabe que a Monica não vai ocupar o espaço dela. – me referi à minha mãe e senti as lágrimas se formarem em meus olhos.
Peguei minhas chaves no aparador e saí de casa. Eu só precisava de tempo e precisava de um lugar seguro para desabar. Do meu lugar seguro para desabar. Caminhei pelo jardim da minha casa, chegando à calçada e percebendo uma movimentação na porta da casa da frente. Vi Amber sair de lá e imediatamente lembrei da sua conversa com , na segunda-feira. Mas se o combinado era que eles estudassem na noite de sexta-feira, o que ela estava fazendo saindo da casa de na manhã seguinte? Os dois se abraçaram e sorriu, acenando para a garota que entrou no carro que estava parado logo na frente da casa. Eu tive a impressão de ter reconhecido o veículo, mas tinha coisas mais importantes para lidar agora. Como a batalha interna que estava vivendo. Por que aquela cena havia me afetado?
Consegui driblar minha mente e caminhei em passos apressados, a fim de sair dali sem ser vista por , que parecia ocupado demais para me ajudar a aguentar os meus problemas. Andei por o que me pareceram dez minutos, chegando a uma praça que ficava no bairro e ligando para , que me atendeu depois de alguns segundos.
- Oi, amiga. – ouvi sua voz animada do outro lado da linha e desejei internamente que aquele fosse meu humor no momento também.
- Você pode falar agora?
- Claro. – ela adquiriu um tom preocupado depois de ouvir minha voz um pouco chorosa. – Tudo bem?
- Mais ou menos? – ri enxugando uma lágrima que escorria pelo meu rosto. – Eu briguei com meu pai.
- Por que? O que aconteceu?
Contei a história desde o começo, sobre como o meu pai havia decidido tocar sua vida amorosa e finalmente encontrar alguém depois da minha mãe. Falei também sobre como a primeira visita dela à minha casa havia me afetado e que não havíamos comentado sobre depois do que aconteceu.
- Eu acho que eu não tenho muito o que te falar a não ser que vai ficar tudo bem. – eu suspirei e limpei meu rosto molhado mais uma vez. – Talvez vocês dois só estejam sendo um pouco orgulhosos demais. Vocês têm seus pontos certos e eu entendo o lado de ambos. O seu pai precisava seguir com a vida dele e você ainda sente falta da sua mãe, isso é normal. Vocês chegarão num consenso.
- Eu espero que sim. – assenti só lembrando depois que ela não podia me ver e continuei. – Desculpa por te ligar assim, do nada. Eu falaria com o , mas ele estava ocupado.
- Não tem problema nenhum. – pude visualizar mentalmente balançando a cabeça em negação e sorrindo. – Como assim ele estava ocupado?
- A Amber estava com ele. – a linha ficou muda e eu precisei tirar o celular da orelha para checar se a ligação não havia sido terminada acidentalmente.
- Mas eles não iam estudar ontem?
- Pois é. Aparentemente ela dormiu lá. Ou decidiu fazer uma visita matinal, o que eu acho improvável. – dei de ombros e comecei a chutar algumas pedrinhas que encontrei no meio da praça.
- E como você está quanto a isso?
- Como assim?
- Se eu te conheço bem, isso te afetou. Caso contrário você não teria me contado como se fosse um “fui à padaria hoje”. – revirei os olhos.
- Você realmente acredita nessa história de que eu gosto dele?
- Não é questão de acreditar ou não, é uma questão de ver o que está frente do seu nariz. – eu ri e ouvi a voz de no fundo da ligação.
- Por favor me diz que eu não atrapalhei um momento íntimo de vocês com meus problemas. – coloquei a mão na testa e torci mentalmente para não ter ficado no meio do desenvolvimento do relacionamento dos dois.
- Claro que não. – riu envergonhada e eu continuei quieta. – Não agora, pelo menos.
- MEU DEUS. – eu falei um pouco mais alto do que esperava, mas aquela notícia me chocou. – É sério?
- Muito sério. Te atualizo na segunda.
- Você não pode jogar a bomba e simplesmente dizer que me “atualiza na segunda”. – afinei minha voz no final da frase, tentando imitar , que riu.
- Digamos que avançamos um pouco o sinal, mas nada demais. – sua voz ficou mais baixa, como se quisesse esconder de que estava contando aquilo para mim. Devia ser mais por vergonha do que qualquer coisa, já que era óbvio que um dia eu saberia.
- Meu único conselho é use proteção.
- Ok, mãe. – eu ri. – Você quer vir para cá? Acho que o clima na sua casa não deve ser dos melhores. Além do mais, assim posso te atualizar mais cedo.
- Não diga mais nada, eu estou indo. – riu do outro lado da linha e concordou, finalizando a ligação logo em seguida.
Fiz meu caminho de volta até a casa dela, sendo recebida por assim que cheguei. Não consegui conter um olhar malicioso quando os dois se abraçaram em despedida, o que só não passou despercebido por , que me repreendeu com o olhar e eu ri.
- Você é estranha. – me olhou com uma expressão confusa depois de eu ter começado a rir “sozinha” e eu arqueei a sobrancelha. – Não se sinta ofendida, lindinha.
- Tchau para você também, ogro. – exclamei quando ele bagunçou os meus cabelos antes de sair da casa de e ir até a sua.
- Você é ridícula. – balançou a cabeça em negação depois de fechar a porta e eu coloquei as mãos para cima, em rendição.
- Hoje o casal decidiu me ofender. Desculpem por existir. – ela depositou um beijo em minha bochecha e me puxou até a sala, onde sentamos e eu olhei curiosa para ela. – Já pode começar, meu bem.
- Não foi nada demais, na verdade. Ontem nós dormimos juntos e digamos que aconteceu um pouco mais do que apenas beijos. – deu de ombros e eu comecei a imaginar os dois.
- Ok, talvez seja melhor eu não saber mais que isso. – fiz uma expressão de nojo e jogou uma almofada em mim, me fazendo rir.


Capítulo 10

A semana começou diferente. Passei o final de semana inteiro na casa da , sobrevivendo com algumas roupas que eu havia esquecido por lá ao longo dos anos e pegando algumas emprestadas dela. Na segunda tive que passar em casa para pegar meu material e por sorte não encontrei meu pai, entrando e saindo de casa em apenas dois minutos.
- , anda logo ou vamos nos atrasar. – gritou do carro assim que o garoto saiu de casa, andando devagar.
- Cara, são sete horas da manhã, relaxa um pouco. – esfregou os olhos e abriu a porta, entrando no carro e jogando a mochila ao seu lado. Eu estava sentada no banco de trás junto com ele e no do passageiro, alegando estar indisposta para dirigir até a escola, deixando no lugar que a garota sempre ocupava.
Eu e não havíamos nos falado o fim de semana inteiro, o que significa que não toquei no assunto “Amber saindo de sua casa na manhã de um sábado”. Pelo menos não com ele. passou mais de 24 horas me infernizando com esse assunto e digamos que eu tive bastante tempo para pensar em tudo, o que talvez só tenha piorado as coisas.
- Vocês têm treino hoje? – se pronunciou pela primeira vez depois de entrar no carro e os garotos suspiraram.
- Temos. O jogo de sexta é bastante importante. – passou as mãos pelo cabelo e eu virei para a janela, observando o trajeto até a escola.
- É uma eliminatória. O clima está tenso. – falou e assentiu, colocando a mão na nuca do garoto e fazendo uma leve massagem no local.
- Vai dar tudo certo. Vocês são os melhores do estado. – deu de ombros e sorriu, desviando o olhar do trânsito para olhar para a namorada por alguns segundos.
- , olhos na estrada. – impliquei com ele apenas pela graça e recebi um dedo do meio em resposta. – E as duas mãos no volante, por favor.
- Mal posso esperar pelo dia em que você finalmente vai parar de ser uma estraga prazeres no meu namoro, . – ele disse com um tom sério e eu abri a boca, fingindo estar ofendida.
- Ok, essa doeu. – e riram e virou para trás, fazendo um carinho no meu joelho.
- Você vai arranjar um namorado. Não se preocupe. – falou, olhando de relance para e eu a repreendi com o olhar, revirando os olhos e virando para a janela novamente.
- Ela já tem um. – disse de repente e eu virei para ele com a confusão em meu olhar. – O cara dos balões.
- Vocês nunca vão parar de implicar com o garoto?! – eu ri sem graça e olhei para minhas mãos, lembrando do passeio. A única pessoa que sabia sobre o que tinha acontecido era , que jurou não contar para nenhum dos dois. Não sei o porquê, mas eu não me sentia confortável para falar sobre isso com . Pelo menos não agora. – Não foi um encontro.
- Claro. Assim como a “noite de estudos” de não foi um encontro com a Amber. – vi revirar os olhos e engoli em seco, olhando de soslaio para , que riu e balançou a cabeça em negação.
Quando finalmente chegamos à escola, eu saí andando na frente de todos, aérea demais para prestar atenção no que estava fazendo e cheguei no primeiro período sozinha. Sentei em uma das cadeiras que normalmente ocupávamos e os outros três chegaram logo em seguida, me olhando confusos.
- Tudo bem? – perguntou assim que chegou na minha frente e eu assenti.
- Tudo ótimo. – sorri amarelo e abri minha mochila, colocando o caderno na mesa e murmurou um “certo” antes de se sentar e fazer o mesmo.
- Você vai precisar disfarçar melhor. – sussurrou e eu revirei os olhos.
- Não tenho nada para disfarçar. Para de ser paranoica. – cochichei de volta e a Sra. Lee chegou na sala, colocando sua bolsa em cima da mesa e começando a escrever no quadro.
- Bom dia, pessoal. – ela exclamou depois de escrever quais tópicos estudaríamos naquela aula. – Vamos começar?
As primeiras aulas passaram mais rápido que o normal. Talvez pelo fato de eu não ter prestado atenção em nenhuma. Mas isso não era culpa minha.
- Quer assistir ao treino dos meninos mais tarde? – me perguntou assim que chegamos na mesa para o almoço.
- Acho que vou dar um pulinho na sala do senhor Johnson. – dei de ombros enquanto abria a embalagem do meu lanche feito por , mãe de Thais.
- Certo. Me encontra no campo quando sair de lá, então. Eu te levo para casa. – eu assenti e fui um pouco mais para o lado, para que conseguisse sentar assim que chegou com .
- Vocês vão voltar comigo? – perguntou e olhou para assim que assentiu em resposta.
- Hm... Acho que não. – coçou a nuca e eu juntei as sobrancelhas, confusa.
- O treinador vai te castigar e te fazer treinar mais do que todos os outros hoje? – perguntei e riu, balançando a cabeça em negação.
- Não. Eu só... tenho uma coisa para fazer depois do treino. – deu de ombros e eu assenti, voltando a atenção para meu lanche de novo.
- Segundo encontro em menos de três dias, cara? Ela está completamente na sua. – falou do nada e e eu nos olhamos sem entender.
- Segundo encontro? – repetiu e riu.
- Não é um encontro. A Amber pediu para eu avaliar a performance das líderes de torcida depois do treino, não é nada demais. – eu me esforcei para não engasgar quando ouvi aquilo, olhando para olhou para mim e eu balancei a cabeça em negação. Seja lá o que ela estivesse pensando em falar, com certeza não seria legal. - não vire o cachorrinho dela, por favor. Ou serei obrigada a te bater.
O resto do dia não foi marcado por nada muito importante. Apenas o de sempre. Tarefas e mais tarefas. Assim que o sinal da última aula bateu, eu fui direto para o outro prédio, procurando a sala do conselheiro.
- Com licença. – dei três batidas na porta, que estava aberta e senhor Johnson levantou da sua cadeira, indo até a entrada e gesticulando para que eu entrasse.
- Fique à vontade. – eu assenti e entrei. – Sente-se.
Eu sentei na poltrona em frente à uma grande mesa e o vi contorna-la, chegando a uma outra cadeira. Senti um nervosismo fora do normal e imaginei que fosse por eu nunca ter feito nada como isso antes. Quero dizer, eu já havia falado sobre meus problemas com meus amigos, mas nada tão real quanto isso.
- O que te traz aqui, senhorita...? – ele disse em um tom questionador e eu entendi que fosse por não saber meu nome ao certo.
- . . – o conselheiro assentiu e abriu sua pasta, escrevendo alguma coisa em uma folha em branco. – Bom, eu vim porque preciso de ajuda quanto à escolha de faculdades e quanto ao futuro. Eu estou realmente perdida. – eu ri em nervosismo e ele me fitou com um olhar acolhedor.
- Perdida em que sentido?
- Acho que em todos os sentidos possíveis, para falar a verdade. Não só quanto ao futuro. O presente também me deixa bastante confusa às vezes. – dei de ombros e ele assentiu novamente.
- O que você acha que te deixa tão confusa? – fiquei algum tempo em silêncio, pensando na verdadeira resposta para aquilo.
- Acredito que eu mesma. Às vezes eu não sei muito bem o que eu estou sentindo ou o que eu quero.
- E isso reflete na escola?
- Não na escola propriamente dita. Não tenho o que reclamar sobre minhas notas e meu aprendizado aqui. Acho que reflete muito mais no futuro mesmo.
- Seus pais trabalham com o que?
- Meu pai trabalha com contabilidade.
- E sua mãe?
- Da última vez que a vi, ela trabalhava em um escritório de advocacia.
- Isso faz muito tempo?
- 7 anos. – fiquei em silêncio e senhor Johnson concordou, anotando em sua folha.
- Já pensou em seguir algum desses dois caminhos?
- Nunca pensei em contabilidade. Não me dou tão bem com números. – dei de ombros e ele me olhou, esperando uma continuação. – Quanto a direito, nunca pensei nisso. Não convivi com a minha mãe depois que formei minhas opiniões e não sei o que pensaria se fosse hoje.
A consulta durou pouco mais de 20 minutos. Começamos falando sobre o que eu pensava, o que estava em minha mente. Aquilo era realmente um alívio. Primeiro, o senhor Johnson apenas escutou o que eu tinha a dizer e depois começou a dar sugestões sobre onde morava o problema.
- Semana que vem continuamos de onde paramos, tudo bem? – eu assenti com a pergunta do conselheiro e me levantei, indo até a porta. – E, ?!
- Sim? – eu parei e virei de volta para ele.
- Para saber para onde você vai, você precisa saber de onde veio. – eu demorei para assimilar suas palavras, mas assenti assim que consegui. Ele sorriu e eu me despedi novamente, fazendo o mesmo caminho até o outro prédio para então ir até o campo.
Talvez eu me encontrar com a minha mãe fosse a coisa mais certa a fazer. Eu precisava de respostas e sabia que não a teria se não a procurasse. Quem sabe eu pudesse finalmente fugir de tudo pelo que eu estava passando? Quem sabe minha mãe fosse me acolher em seus braços e dizer que “ficará tudo bem” como ela fazia quando eu me machucava brincando na rua? Quem sabe aquela não fosse a solução para tudo? A saída de tudo?


Capítulo 11

- Como foi? – perguntou assim que eu sentei ao seu lado, na arquibancada.
- Revelador. – dei de ombros e ela assentiu.
- Quer falar sobre?
- Acho que não. – sorri para ela, assegurando que estava tudo bem e ela retribuiu, passando a mão pelos meus ombros e me dando um abraço desajeitado. – Como está o treino?
- Duro. O técnico não parou de brigar com eles um segundo. Acho que ele segue o lema de quanto mais raiva os jogadores tiverem, melhor eles jogam. – eu ri e observei os jogadores correndo pelo campo, recebendo instruções, ou melhor, gritos do professor.
- Parece difícil mesmo.
Fiquei algum tempo apenas olhando para o campo, pensando em tudo. Vi as líderes de torcida entrando no campo, anunciando o fim do treino dos meninos. Naquele dia, aparentemente, eles não dividiriam o campo como era antes. Talvez os ânimos da técnica das meninas e do professor estivessem um pouco, digamos, complicado demais para viverem harmonicamente naquela tarde. Eu e levantamos da arquibancada, caminhando até o banco, onde e haviam sentado, na frente de onde as líderes de torcida estavam se organizando.
- Vai com a gente, amor? – abraçou de lado assim que chegamos perto e ele assentiu sorrindo.
- Só preciso tomar uma ducha, tudo bem? – minha amiga assentiu e ele depositou um beijo rápido em seus lábios, correndo para o vestiário em seguida.
- O treinador pegou pesado com vocês hoje, huh? – sentou ao lado de um dos lados de e eu sentei do outro, olhando para o treino das meninas.
- Pois é. Mas eu acho que conseguimos evoluir hoje. Pelo menos a defesa está mais forte e mais veloz, o que foi o nosso ponto fraco no último jogo. – deu de ombros e assentiu. – Acho que vou tomar um banho rápido também.
- Decidiu voltar com a gente?
- Não, na verdade. – ele riu sem graça e eu encarei meus pés. De repente eles pareciam extremamente interessantes. – Só preciso relaxar um pouco. Já volto.
- Agora nós só parecemos intrusas no campo. – eu falei, reparando que todos os jogadores já estavam no vestiário, sobrando apenas nós duas no campo. Com exceção das garotas treinando, é claro. Estas deveriam estar pensando que éramos loucas ou invejosas. Ou os dois.
- Eu PRECISO que vocês levem isso a sério. – Amber colocou as mãos na cintura e esbravejou com um tom de voz autoritário. – Se vocês acham que isso é apenas uma brincadeirinha de colegial, podem sair do time. Se realmente querem fazer parte disso, preciso que se esforcem ao máximo. Nós temos 4 dias de treino até o jogo e nós precisamos fazer bonito nesse dia.
Uma pirâmide começou a ser formada na nossa frente, com Amber coordenando os movimentos de todo o time. Assim que estava completamente formada, a garota no topo da pirâmide colocou uma das pernas ao lado de sua cabeça antes de se jogar para trás, caindo nos braços de quatro meninas calculadamente bem posicionadas. Amber deu pulinhos de alegria, comemorando o sucesso do movimento e continuou dando ordens, dessa vez falando para todas formarem uma linha horizontal. Vi e saindo do vestiário e Amber deu um sorriso de lado, entrando na linha e começando a coreografia com todas as meninas. Os movimentos de algumas delas estava fora do tempo, em relação à Amber e suas seguidoras e eu considerei que elas fossem o ponto de referência naquele momento.
- , veja o que acha dessa coreografia. – Amber disse antes de fazer um sinal com a cabeça para Samantha, que estava no controle do rádio ali atrás.
Uma música que eu julguei ser da Britney Spears começou a tocar e Amber começou a se movimentar sozinha, no meio de todas as garotas. Ela ficou uns 2 minutos dançando, até parar com uma das mãos em sua cintura e a outra para cima, jogando o cabelo para o lado e com um sorriso no rosto. Todas que estavam ao redor dela aplaudiram e a garota sorriu mais abertamente.
- E então? – ela perguntou, olhando para com a sobrancelha arqueada e eu fiquei boquiaberta.
- É... – coçou a nuca e riu. – Uma boa coreografia.
- Foi o que eu pensei. – ela piscou para ele e eu olhei incrédula para , que tinha os braços cruzados na frente dos de , que a abraçava por trás. – Agora, vamos fazer duas pirâmides. Eu vou para o topo de uma e Chloe ocupa o mesmo lugar da outra, ok?
- Vamos? – olhei para , que assentiu e olhou para .
- A gente podia passar em algum lugar para comer, né? – ele fez uma cara de cachorro abandonado e eu pude ver se derretendo. – Esse treino me deixou faminto.
- Podemos passar em algum lugar? – olhou para mim e eu dei de ombros.
- Eu não reclamaria de comer alguma coisa. – sorriu e eu peguei minha mochila, dando tchau para de longe e caminhando na frente.
Começamos a andar em direção à saída do campo, que dava no estacionamento e ouvimos gritos vindos de onde havíamos acabado de sair. Olhei para trás e vi uma aglomeração onde antes ficava a pirâmide e correndo até lá. Franzi a testa e e me olharam com a mesma expressão. Voltamos até lá para checarmos se estava tudo bem.
- O que aconteceu? – perguntei para assim que chegamos e ele balançou a cabeça.
- As meninas caíram do topo da pirâmide, parece que se machucaram.
- Meu Deus. Cadê a treinadora? – perguntou olhando ao redor mas ninguém soube responder aquela pergunta.
- Eu vou chamar as enfermeiras. – saiu correndo até a área da enfermaria, que ficava perto dos vestiários e elas chegaram até o meio do círculo.
- O que aconteceu? – uma das enfermeiras, a senhora Lincoln, repetiu o que eu havia perguntado anteriormente e Amber gemeu de dor.
- Nós caímos da pirâmide. – Chloe se esforçou para levantar, mas ao colocar seu pé direito no chão a fim de dar impulso, caiu de novo e segurou seu tornozelo, chorando.
- Vocês não poderiam ser mais incompetentes. – Amber exclamou enquanto segurava seu braço esquerdo e olhava para todas com raiva. – A única tarefa de vocês era nos segurarem, suas idiotas.
- Amber, dá um tempo. – Sam defendeu as quatro amigas que ficaram encarregadas de segura-las, balançando a cabeça em negação. – Erros acontecem.
- Erros? Nossa apresentação é na sexta-feira, Chloe não consegue andar e eu não consigo mexer meu braço sem me contorcer de dor. Vocês precisam ser mais responsáveis. – Amber cuspiu as palavras enquanto a senhora Lincoln examinava seu braço e ela contorcia o rosto em dor.
As duas se dirigiram até a enfermaria, com o auxílio da dupla de enfermeiras e o clima no campo ficou completamente tenso. Vi Samantha colocar as duas mãos na testa e apoiar os braços nas pernas, bufando.
- Ei, vai ficar tudo bem. – passei a mão pelos seus ombros e ela sorriu brevemente, assentindo.
- Nós só precisamos achar duas pessoas para ocuparem os dois lugares vagos agora e que consigam dar conta disso em três dias de treino. – Sam balançou a cabeça e riu incrédula. – Nada demais.
- , você não fez alguns anos de dança? – falou do nada, como se tivesse descoberto o mundo.
- Fiz até uns 14 anos. – deu de ombros e Samantha olhou para ela.
- Você ainda sabe dançar? – assentiu receosa. – Você fez que tipo de dança?
- Jazz contemporâneo e balé quando era pequena.
- Quer entrar para o time?
- O-o que? – piscou umas vinte vezes depois de ouvir aquela pergunta e Sam repetiu.
- Bom, precisamos de duas meninas. Pelo menos uma delas já é caso resolvido. Isso se você topar, é claro.
- Hm... Tudo bem, eu acho. – sorriu e Samantha levantou para abraça-la. – Mas e quanto à outra vaga?
- Você conhece alguém?
- A fez ginástica. – se pronunciou e eu olhei para ele em reprovação. Eu não era o tipo de pessoa que se encaixaria ali. – O que? É verdade.
- ... – Sam me chamou e eu olhei para ela, que tinha olhos de súplica. – Por favor. Nós precisamos resolver isso quanto antes e começar a treinar.
- Samantha, eu realmente acho que eu não serviria para ser líder de torcida. – ela suspirou.
- Você consegue gravar uma coreografia rápido? – ela questionou e eu franzi a testa.
- Não sei. Acho que sim.
- Por favor, entra para o time. Eu te imploro. – Sam fez um tom de dó e eu respirei fundo.
- Tudo bem. – eu revirei os olhos e Samantha sorriu e me abraçou, fazendo um barulho que refletia sua felicidade. – Mas eu não posso prometer nada.
- Ok, nós só precisaremos do foco total de vocês nos próximos dias, tudo bem? – ela falou como se estivesse ensinando crianças de cinco anos e eu ri. – É sério.
- Desculpa. - eu assenti para sua frase anterior e ela sorriu, adquirindo uma pose de liderança.
- Pessoal. – Sam chamou a atenção das garotas que haviam se dispersado um pouco e todas se juntaram na frente dela novamente. – Nós já resolvemos a questão das vagas. Como a Amber se machucou, eu vou ficar como capitã neste tempo e eu espero de verdade que vocês se comprometam 200% agora que isso aconteceu. – as meninas responderam com murmúrios de aprovação. – Nós teremos que entregar o campo agora, mas amanhã nós chegamos aqui junto com o time de futebol e usamos pelo menos uma parte de todo o espaço. Precisamos fazer isso funcionar.
sorriu e eu assenti, tentando passar uma segurança que nem eu sabia se tinha de fato. Pensar que qualquer movimento em falso poderia acabar com a performance do time já me dava calafrios. Olhei para trás e vi me observando com um sorriso no rosto. Eu mandei um dedo do meio para ele e ri.
- Nós vamos conseguir. – Samantha passou ao meu lado depois de liberar todas as garotas e colocou a mão no meu ombro, me lançando um sorriso confortante.
- Eu espero. – sorri de volta e assisti à sua saída do campo. – Estamos ferradas. – sussurrei para em desespero e ela riu.
- Vai dar tudo certo. – ela me abraçou de lado antes de entrelaçar sua mão na de e começar a caminhar. – No fim, você vai voltar com a gente, garotão.
bagunçou os cabelos de com a mão livre e ele tentou se desvencilhar. Eu ri da cena e revirei os olhos, ajeitando a bolsa em meus ombros. Olhei para trás e me imaginei no meio da performance. Eu fazer parte do time sempre foi um dos sonhos da minha mãe, desde que eu era pequena. Ela participou de muitos campeonatos na escola dela, sempre amou o que fazia e queria que eu seguisse o mesmo caminho.
- Vou voltar com as mais novas líderes de torcida do pedaço, que honra. – fingiu uma emoção que não existia e eu revirei os olhos, rindo.
O caminho até minha casa foi bem rápido, como sempre. e eu descemos juntos e eu estava prestes a pisar na minha casa pela primeira vez em dois dias quando ele segurou meu braço e eu olhei para ele em confusão.
- Está tudo bem? – ele perguntou e eu meneei a cabeça.
- Sim. – eu assenti e ele continuou me olhando desconfiado. – São só umas coisas em casa, nada demais.
- Você e seu pai? – incrível como ele conseguia adivinhar as coisas tão bem.
- Uhum. Nós brigamos no sábado. – dei de ombros.
- Por que você não me contou nada?
Eu ponderei se contaria a verdade ou não. Pensei em todos os prós e contras e deduzi que ele pensaria que eu era louca se dissesse que o vi saindo de casa com a Amber e fiquei com ciúmes. O que? Não, eu não disse isso. Quer dizer... eu fiquei surpresa. Isso. Surpresa é uma boa palavra.
- A me chamou para ir para a casa dela. – menti enquanto olhava para o meu jardim. Quer dizer, disse uma meia verdade. – Mas não é nada demais.
- Qualquer coisa eu estou aqui. – ele olhou para mim e eu assenti, sorrindo fraco. – Te vejo amanhã.
- Até. – virei de costas e caminhei até a porta de casa, a destrancando e entrando.
Fui até a cozinha e procurei alguma coisa rápido para cozinhar. Encontrei alguns copos de macarrão instantâneo e decidi que aquela era a melhor opção que tínhamos. Abri uma embalagem e li as instruções, colocando um pouco de água em uma panela e esperando ela começar a ferver. Depois, coloquei a água dentro do copo e o fechei, esperando 3 minutos. Abri com medo de ter feito alguma coisa de errado, digamos que eu não era a melhor cozinheira do mundo, e me surpreendi quando vi que estava tudo bem, aparentemente. Peguei um garfo e uma garrafa d’água antes de subir para meu quarto com minha mochila ainda em minhas costas.
Coloquei minha mochila no chão, ao lado da cama e sentei no meu tapete, finalmente dando a primeira garfada no meu “manjar dos deuses”. Ok, aquela não era nem de longe a melhor refeição que eu havia feito mas era o que eu podia fazer sozinha. Eu sabia que o clima estranho entre mim e meu pai continuaria por algum tempo e isso me incomodava, mas eu não sabia acabar com ele. Eu não queria ceder. Ele também não. Talvez esse fosse o problema. Comecei a assistir a alguns vídeos de apresentação de líderes de torcida e um sorriso sorriu em meu rosto, para a minha surpresa. Parecia que aquela seria finalmente a minha primeira chance de me sentir parte de algo. Algo grande. Algo que pudesse me fazer mudar para o melhor. E isso me animava. As possibilidades infinitas de acontecimentos que poderiam surgir em minha vida daqui para frente me animava; ao mesmo tempo em que me assustava.


Capítulo 12

- 5, 6, 7, 8. – a voz de Sam soou antes de todas nós começarmos a fazer a coreografia que fora passada para todas alguns segundos atrás. Samantha ficou parada de frente para todas nós, avaliando nossos passos. – Não. Para. , as duas mãos vem juntas fechadas na frente do peito, depois para cima na diagonal, você desce as duas juntas e assim que você pular com as pernas separadas, você separa as mãos ao lado do corpo.
Sam se posicionou ao meu lado e mostrou o movimento, enquanto eu a observava atentamente. Assenti com a cabeça e ela fez um gesto para que eu tentasse. Me concentrei principalmente em não cair e comecei o passo. Sam sorriu assim que eu terminei com sucesso e eu ri quando bateu palminhas animadas e me ofereceu um high-five.
- Ok, do começo.
A coreografia não parecia tão complexa quando feita passo por passo. O difícil era quando tudo se juntava, ainda mais com a noção de que eu e estaríamos no lugar de Amber e Chloe, o que quer dizer que ficaríamos no topo. As duas pirâmides passaram a ser sete, diminuindo a sua altura e, por consequência, diminuindo os danos de uma possível queda.
- Hora do levantamento. – Samantha anunciou, olhando diretamente para mim e para , que éramos as novatas naquele movimento. – É uma questão de confiança, ok? Você vai pular e elas segurarão seus pés e te levantarão, quando estiver lá em cima, você ergue os braços e sorri como se não existissem problemas em sua vida. – eu ri enquanto assentia. – Depois disso, você abaixa os braços e segura nos ombros dela assim que elas te descerem. Entendido?
- Sim, senhora. – brinquei e ela revirou os olhos.
- Você não pode deixar mais peso em um dos pés ou o movimento não vai dar certo. – eu arrumei o elástico em meu cabelo, tentando garantir que ele não fosse cair como eu queria garantir que não aconteceria o mesmo comigo. – Essa é só a primeira parte do movimento completo. Vai dar tudo certo.
Olhei para as meninas, que sorriram para mim, me passando segurança e segui até o meio do aglomerado formado por elas.
- Pronta? – Julie me perguntou e eu assenti, ainda um pouco receosa.
- O mais próximo de pronta que eu chegarei. – ela riu e olhou para meus pés.
Entendi aquilo como um sinal e pulei, segurando nos ombros das duas garotas ao meu lado. Assim que senti meus pés serem equilibrados “no ar”, tirei os braços dos ombros delas e esperei ser levantada para levanta-los. Sorri e Samantha deu um soquinho no ar, comemorando. Olhei para o lado por um segundo e vi que também havia conseguido completar o movimento. Quero dizer, parte do movimento todo, como Sam havia pontuado. Voltei meus olhos para frente e encontrei , que estava no meio do campo com seu uniforme, sorrindo para mim. A descida foi tão rápida quanto a primeira parte do movimento.
- Certo. Vocês estão arrasando. – Samantha pontuou enquanto ainda estávamos sendo sustentadas pelas mãos das outras garotas. – Agora é quando a confiança começa a ser realmente essencial. Dessa vez, quando vocês forem levantadas, ficarão suspensas no ar por alguns segundos, sem serem sustentadas pelas garotas, até caírem nos braços delas, dessa vez deitadas.
- De repente isso ficou muito mais difícil do que já era. – pontuei e Sam sorriu, balançando a cabeça em negação.
- Vocês conseguem!
O treino durou mais alguns minutos que na verdade pareceram décadas. Todas as meninas foram liberadas e Samantha nos agradeceu mais uma vez por entrarmos no time, nos parabenizando e dizendo que ia dar tudo certo, já que nós estávamos conseguindo pegar toda a coreografia até agora. Ou a maior parte dela. Algumas partes ainda me confundiam e às vezes isso resultava em uma queda ou outra, mas nada grave demais para que eu adquirisse mais do que alguns roxos na perna. Coloquei no ombro a minha bolsa que tinha minha roupa de mais cedo - que foi substituída por um par de shorts de lycra colados no corpo, um top branco e uma camiseta por cima – e uma garrafa d’água que já estava pela metade desde os últimos 15 minutos de treino, quando a enchi pela última vez. Caminhei até o banco com ao meu lado, as duas cansadas demais para dizer uma palavra. Sentamos enquanto esperávamos por e , que estavam no vestiário se trocando ou ouvindo algum esporro do técnico.
- Eu não pensei que isso realmente fosse dar certo. – comentei, olhando as meninas saindo do campo sorrindo e sem demonstrar nenhum sinal de exaustão, diferente de mim. As minhas bochechas estavam completamente vermelhas e meu corpo estava parcialmente suado. Assim como o de , que se abanava com a própria mão, mesmo que o clima não estivesse extremamente quente.
- Eu também não. Isso é loucura. – ela balançou a cabeça e eu assenti, rindo.
- Completamente.
- A Sam é uma líder tão melhor que a Amber. – comentou e eu concordei em prontidão.
- Com toda a certeza. Ela não gritou com a gente nem uma vez no treino. E olha que somos nós. – riu balançando a cabeça e eu sorri.
Aquilo parecia um sonho. Eu definitivamente não imaginaria, nem em mil anos, que faria parte do time de torcida da escola. Observamos e chegando perto do banco com sorrisos no rosto.
- É um milagre que não estejam acabados como sempre. – comentou e eu concordei.
- O treinador nos elogiou. – falou, boquiaberto, e riu.
- Ele disse que estávamos jogando muito neste treino e que nossa evolução está se mostrando incrível. – eu sorri e parabenizei os dois.
- Vocês são os próximos Tom Brady e Von Miller. – falei enquanto abraçava os dois, que riram e agradeceram.
- Eu não vi a Amber e a Chloe na escola hoje. Alguém sabe como elas estão? – pensou alto.
- Eu ouvi dizer que a Chloe torceu o tornozelo e rompeu parcialmente os ligamentos. Disseram que ela vai ficar por volta de 6 semanas fora dos treinos, com o pé imobilizado. – eu falei o que Julie tinha comentado comigo mais cedo. – Quanto a Amber, não soube de nada.
- Não nos falamos por muito tempo mas ela disse que passou a noite no hospital, fazendo exames e checando se estava tudo certo. Pelo que ela me disse, parece que ficará pelo menos uns 45 dias fora do time. – deu de ombros e concordou.
- Mas vocês foram ótimas no treino de hoje. E olha que foi o primeiro treino de vocês. – sentou ao lado de e passou as mãos pelos seus cabelos, beijando o topo da sua cabeça logo em seguida.
- Talento natural, meu amor. – brincou e riu.
- Nunca duvidei disso.


Capítulo 13

- Até quando você vai ficar em silêncio nesta casa? – ouvi a voz do meu pai logo depois do solavanco da porta.
- Não sei do que você está falando.
- As coisas não se resolvem sozinhas. Menos ainda se você se esconde delas, . – ele respirou fundo. – Olha, eu quero conversar com você; é óbvio que a Monica é importante para mim, mas você é a minha filha. Eu não quero ter que escolher entre vocês duas, mas você sabe que você é a única opção.
Senti as lágrimas se formando em meus olhos e me ajeitei na cama, sentando de frente para ele. Concordei com a cabeça e o deixei sentar próximo ao meu pé. Respirei fundo e organizei as palavras dentro da minha cabeça, soltando um turbilhão de sentimentos em seguida.
- Eu não tenho nada contra a Monica. Também não tenho nada contra você ter um relacionamento, pelo contrário, tudo o que eu mais quero é ver você feliz com alguém que te ame. Mas acho que essa ideia sempre foi muito abstrata na minha cabeça. Eu sabia que um dia isso ia acontecer, mas nunca era o dia. E, de repente, o dia chegou. Acho que eu não imaginava que tinha que me preparar para isso. Vê-la aqui, na nossa mesa de jantar, onde a mamãe costumava estar com a gente foi um choque. Ela chegou e ocupou um espaço com o qual eu estava confortável em tê-lo vazio. Sabe, ela mudou o nosso ritual: você aceitou pedir comida daquele restaurante que, tudo bem, era bom, mas não era o nosso! Isso tudo me fez pensar no quanto eu sinto falta da mamãe e do quanto eu preciso me reconectar com essa parte da minha vida. Eu preciso saber de onde eu vim.
- Meu Deus, querida! – meu pai se aproximou e passou uma mão pelos meus cabelos. – Eu não fazia ideia de que você sentia tudo isso. Me desculpe.
- Tudo bem. – eu sorri fraco e meu pai continuou.
- Eu vou deixar o endereço na porta da geladeira e se você quiser ir, tudo bem. – eu assenti e meu pai sorriu, fazendo um carinho em meu braço e saindo do quarto logo em seguida.
Olhei ao meu redor e respirei aliviada. Eu não tinha ideia de que não conversar com o meu pai havia tido um efeito tão grande dentro de mim, mas eu nunca me senti tão bem depois de um desentendimento. Levantei da minha cama e fui até a minha escrivaninha, onde estava a caixa com fotos antigas que meu pai havia tirado do porão há algum tempo. Sorri ao encarar uma foto de quando eu tinha 4 anos, com dois lacinhos em meu cabelo, um de cada lado, um pequeno vestido azul com bolinhas brancas e sapatilhas da mesma cor. Eu carregava um sorriso inocente no rosto, segurando a mão do meu pai, que me olhava sorrindo enquanto eu encarava minha mãe, que estava agachada ao meu lado, rindo ao arrumar meu vestido.
Passei meus dedos pela foto, lembrando da sensação de ter os dois ao meu lado. Depois que eu completei meus seis anos, minha mãe passou a ser menos presente do que antes. Ela voltou para o trabalho pela primeira vez depois do meu nascimento, me deixando aos cuidados de babás, de meu pai, quando ele tinha tempo, e da escola. Mas isso não foi algo que me incomodou na época, era apenas o jeito que as coisas eram, sabe? Eu tinha meus pais por perto pela manhã, pouco antes dos dois saírem para seus deveres e assim que eles chegavam em casa, à noite. Nem sempre os via nos dois horários, considerando que às vezes minha mãe saía mais tarde do trabalho ou entrava mais cedo. Meu pai sempre teve o horário mais fixo entre os dois, então era quase certo que eu o veria em ambos os períodos.
- Filha? – ouvi duas batidas leves na porta, que não estava completamente fechada. Devolvi a foto que estava em minhas mãos para a caixa, colocando a tampa de volta em seu lugar e sorri levemente. – Vai se atrasar para a escola. Quer que eu te leve?
- Não precisa, o vai nos levar hoje. – balancei a cabeça em negação. – Só vou tomar um banho rápido e já vou.
- Tudo bem. Boa aula. – ele assentiu e sorriu antes de sair, provavelmente para se arrumar para o trabalho.
Deixei todos os meus pensamentos junto com a foto, guardados na caixa, e fui até o banheiro. Tomei uma ducha rápida, coloquei uma roupa qualquer, peguei minha bolsa, que já tinha algumas roupas para o treino de mais tarde e minha mochila. Desci as escadas e peguei uma maçã antes de ir até a porta, encontrando o carro de parado ali. comentou assim que nós entramos no carro e eu revirei os olhos.
- Não estamos atrasados. – retrucou e o olhou com a sobrancelha arqueada. – Tecnicamente, cinco minutos não é considerado um atraso de verdade.
- Só conta a partir de 15 minutos. – complementei sua informação e balançou a cabeça, rindo.
- Vocês não prestam.
deu a partida no carro e o primeiro período foi como sempre: conversamos sobre coisas inúteis, fizemos tarefas e rimos de qualquer palhaçada. Saí da sala da professora Lee, caminhando ao lado dos três.
- Nós precisamos ver esse filme, é sério! – comentou depois de nos dar uma palestra sobre um filme chamado “A origem”. – Vamos ao cinema no sábado.
- Isso foi uma pergunta ou uma ordem? – eu perguntei e ele passou o braço pelo meu ombro, me olhando com a sobrancelha arqueada.
- Seria rude dizer que foi uma ordem, mas você foi convocada, não convidada. – Ele piscou me fazendo revirar os olhos e , que estava andando de costas e olhando para nós três, riu.
- Tudo bem, nós vamos.
- Acho melhor você sair de perto da , ou vai deixar o namorado dela com ciúmes. – cantarolou, olhando para que imediatamente tirou seu braço e deu a mão para a garota. Eu juntei as sobrancelhas em confusão e ela apontou com a cabeça para trás de mim.
Olhei para trás e vi Luke com uma mão na alça de sua mochila, olhando para o chão. Estranhei sua postura e comecei a andar em sua direção, esbarrando no garoto de propósito.
- Desc... – ele finalmente olhou para mim e eu ri. – . – ele sorriu e eu me voltei para a mesma direção que ele, continuando a caminhar só que agora ao seu lado.
- É melhor prestar atenção por onde anda, Luke Andrews. – ele riu e balançou a cabeça em negação.
- Eu estava viajando. – o garoto virou sua atenção para o grupo de olhares curiosos que estavam vidrados nele e sorriu, acenando com a mão livre. – Oi, gente.
- E aí, cara dos balões! – o cumprimentou com um high-five e eu ri do apelido, balançando a cabeça.
- Ele é idiota, não liga. – Luke assentiu e fingiu estar ofendido.
- É isso que pensa de mim?
- Você sabe que é isso que todos pensam. – levantei uma sobrancelha e entortou o lábio.
- Eu não penso isso. – ela o abraçou de lado e olhou para mim como se tivesse ganhado a briga.
- Bom, espere mais algumas semanas. – dei de ombros e os dois riram.
- Nós ficamos aqui. – comentou assim que chegamos na porta de sua sala, que era a mesma dos garotos. – Nos vemos no almoço.
Vi os dois entrando na sala e eu e Luke continuamos andando.
- Eu fiquei sabendo de algo que me chocou. – Luke falou, de repente e eu o encarei, confusa. – Um passarinho me contou que temos uma nova líder de torcida no pedaço.
- Ah, não. – balancei a cabeça em negação e ele riu. – Não é como se fosse para sempre, só vou substituir a Amber no próximo jogo, já que ela se machucou.
- Quem diria. – ele comentou e eu ri, empurrando o ombro dele com o meu.
- Ei, eu sou uma ótima líder de torcida, ok? – eu revirei os olhos e ele sorriu divertido.
- Não disse o contrário. – ele levantou as mãos em sinal de rendição e eu assenti, murmurando um “bom mesmo”.
Senti um olhar em mim e olhei para os lados, tentando entender se eu estava ficando maluca ou não. Virei para trás e vi entrando sozinho na sala mas não encontrei o dono ou a dona do olhar que eu sentia sobre mim. Balancei a cabeça e deduzi que eu só poderia estar louca.
- Aliás, eu não te vi ontem. – comentei depois de algum tempo em silêncio, já havíamos chegado à nossa sala. – Aconteceu alguma coisa?
- Ah, nada demais. Não estava me sentindo muito bem. – deu de ombros e eu estreitei os olhos, não acreditando em sua resposta. – Só umas coisas em casa, relaxa.
- Já estive nessa situação. – assenti e passei uma mão em suas costas assim que sentamos. – Talvez seja melhor falar sobre isso. Não necessariamente comigo, mas com alguém.
- Meu irmão saiu escondido na noite de segunda. – ele começou a falar e eu assenti, prestando atenção. – Nós ficamos o procurando o dia todo até que a gente o achou na casa do melhor amigo dele.
- Que bom que ele estava seguro. – ele assentiu e continuou.
- O problema começou depois. Quando nós chegamos em casa, meus pais começaram a interrogar o garoto e não conseguiam entender o porquê de ele ter fugido de casa para jogar vídeo game na casa do melhor amigo. Não fazia sentido, eles sempre deixaram ele ir. E aí o George disse que eles não entenderiam dessa vez porque os pais dele não estavam lá. Eles foram viajar e deixaram o amigo dele sozinho em casa. E ele não foi jogar vídeo game.
- Eles deram uma festa para o pessoal do colegial?! – eu ri e Andrews soltou o ar pelo nariz, sorrindo brevemente. – Desculpa. Pode continuar.
- Ele também disse que eles não eram só amigos. – Luke deixou a frase no ar e eu abri a boca, surpresa. – E digamos que meu pai não lidou muito bem com a informação. – ele riu irônico e eu assenti. – Sabe, , ele só tem 14 anos. Eu só queria o proteger de tudo pelo que ele ainda vai ser obrigado a passar. E eu não queria que isso acontecesse até dentro de casa. Isso é injusto.
- Eu tenho certeza que você fez o melhor que pôde e que ele te acha o irmão mais sensacional do mundo. Acho que a única coisa que você pode fazer agora é dar seu apoio para ele. – ele assentiu e eu sorri, pegando em sua mão. – Sabe, eu não posso falar com propriedade sobre isso, mas o mundo é uma bagunça. Seu irmão ainda vai passar por muita coisa, e isso é uma merda, mas ele precisa saber que sempre vai ter você. Isso é importante. Você é incrível e eu sei que vai ficar tudo bem.
- Obrigado, . – Luke sorriu e eu retribuí, o abraçando desajeitadamente por estarmos sentados.
- Vai dar tudo certo. – passei minha mão em sua bochecha e o encarei. – Inclusive com o seu pai.
- Eu espero. – ele assentiu e riu, balançando a cabeça como se tentasse tirar aquelas coisas de sua cabeça. – Pesei o clima, desculpa.
Eu balancei a cabeça em negação e sorri, o assegurando de que não tinha problema.
- Ah! Eu esqueci disso. – abri minha mochila e tirei de lá uma foto. – Aqui.
Estendi a foto para ele, que me olhou confuso.
- Você revelou isso? – ele sorriu olhando para minha mão e eu dei de ombros.
- Imprimi, na verdade. Nada demais.
Ele pegou a foto da minha mão, sorrindo. Era uma das fotos que eu havia tirado dele no dia do festival de balões. Luke estava em uma das quinas do cesto, olhando para o céu e rindo de alguma coisa que eu havia dito, provavelmente.
- Eu voto em apresentarmos só as minhas fotos. Eu fiquei muito bem nelas. – ele adquiriu uma pose convencida e eu revirei os olhos, empurrando seu ombro com a minha mão, o fazendo rir.
- Todo o crédito é meu. Sabe, uma boa fotógrafa consegue fazer qualquer pessoa ficar bem. – dei de ombros e ele olhou para mim com a sobrancelha arqueada e uma expressão ofendida. – Ok, talvez um pouco dele seja seu também.
- Eu tratei algumas fotos. – ele começou a falar assim que tirou o notebook da sua mochila, o colocando sobre a mesa e entrando em sua conta. – Até as suas, me agradeça depois.
- Elas nem precisavam ser editadas. – dei de ombros, fingindo que tinha toda aquela confiança e Luke riu. – A gente precisa decidir quais nós vamos mostrar para o professor.
- Eu selecionei as minhas favoritas aqui. Acho que você devia fazer o mesmo com as suas e depois nós trocamos. – eu assenti e peguei o meu computador.
Abri as fotos e criei uma nova pasta, onde coloquei todas as minhas fotos favoritas e nós fizemos o mesmo logo depois, com computadores diferentes. Terminamos com 20 fotos favoritas em comum, que foram as que mostramos para nosso professor.
- Bom trabalho, senhorita e senhor Andrews. As fotos ficaram incríveis. Meus parabéns! – meu professor sorriu ao olhar nossas fotos e nós dois trocamos um olhar de cumplicidade, felizes por termos feito um trabalho legal. – Podem se sentar.
Nós assentimos e fomos até nossos lugares. Olhamos para o professor, que agora estava no centro da sala, pronto para fazer um anúncio.
- Certo. – ele limpou a garganta antes de continuar, com um sorriso singelo no rosto. – Eu vi ótimos trabalhos hoje. Estou orgulhoso de vocês! Bom, o projeto acaba na exposição ao fim do semestre. Vocês poderão apresentar suas fotografias para pessoas de dentro e de fora da escola, em uma mostra que nós faremos. Agora, vocês devem decidir se vão continuar com essas fotos ou não, seguindo minha avaliação. Não esqueçam de me deixar a par de tudo o que fizerem com esse projeto.
O sinal indicando o fim da aula tocou, fazendo todos levantarem imediatamente. Caminhamos lado a lado falando ainda sobre o projeto da aula de fotografia, já que estávamos felizes demais com o resultado para pararmos de nos gabar sobre. Chegamos no trio de sempre alguns segundos depois.
- Vocês estão olhando para a melhor dupla de fotógrafos de toda a cidade. – coloquei as duas mãos na cintura assim que paramos na frente dos meus amigos, que riram.
- O que? – perguntou com a testa franzida, ainda rindo da minha pose.
- O nosso professor amou nosso trabalho. – Luke olhou para mim e riu, balançando a cabeça em negação ao explicar a situação.
- Veremos vocês em grandes trabalhos em Nova Iorque então? – perguntou a sobrancelha arqueada e eu assenti, rindo.
- Com toda a certeza.
- Ainda bem que a ideia do encontro romântico em um festival de balões deu certo. – falou fazendo rir e eu dei um soquinho em seu ombro.
- Para de ser bobo! – falei entredentes e riu.
- Não está mais aqui quem falou. – ele passou a mão pelos lábios, fingindo que ali existia um zíper. Deus, como eu queria que fosse real para me poupar de algumas vergonhas!
- Certo. Vamos? – olhei para , que assentiu e nós começamos a caminhar lado a lado.
Nos sentamos ainda sem ter pronunciado uma palavra além da frase dita por ele mais cedo. Eu juntei as sobrancelhas em confusão e sussurrei, já que a professora já estava dando aula.
- Tudo bem? – perguntei e ele me olhou em dúvida. – Você não falou nada.
- Ah... sim. Tudo certo. – ele sorriu.
- Na verdade, sempre nesse período você fica assim. – comecei a analisar todas as vezes em que ele ficava quieto e percebi o padrão.
- Não é nada. – ele balançou a cabeça e eu levantei a sobrancelha.
- Sabe que pode falar comigo, não é? – coloquei minha mão sobre seu braço e ele assentiu sorrindo.
- Senhorita , quer compartilhar algo com a sala? – o nosso professor de Inglês chamou minha atenção e eu me ajeitei na cadeira, sentando direito e balançando a cabeça em negação.
- Não, tudo bem. Desculpe. – sorri e o professor concordou com a cabeça, continuando a aula.


Capítulo 14

’s POV Quinta-feira, um dia antes do grande jogo. - Cara, eu nunca fiquei tão estressado. – sentou ao meu lado no banco, na pausa de 5 minutos do treino.
- Esse jogo tem deixado todo mundo pilhado. – olhei para o treino das garotas e vi as duas rindo de alguma coisa e balancei a cabeça, rindo. – Queria estar como elas.
- A disse que a coreografia delas já está quase perfeita, por isso elas estão tão tranquilas. – riu olhando para a namorada e eu assenti. – Digamos que falta um pouco mais de treino até que a gente atinja a perfeição.
- Um pouco? – levantei as sobrancelhas e tomei um gole de água, vendo rir e balançar a cabeça.
- Não custa nada ser otimista. – ele deu de ombros e eu sorri, olhando para frente. – Cara, você está bem?
- Estresse. – olhei para ele e ele arqueou uma sobrancelha, em dúvida.
- Não é só isso.
- A pausa acabou! Todos de volta para o campo. – o treinador apareceu segurando sua prancheta e com seu apito posicionado, prestes a sinalizar que todos deveríamos estar alinhados.
- Vamos na lanchonete depois do treino? – perguntou, retomando o assunto e eu coloquei meu capacete de volta.
- Está me chamando para um encontro, ? – ele riu e deu um soquinho no capacete, fazendo minha cabeça ir um pouco para o lado.
- Acho que precisamos espairecer um pouco, namorado. – eu ri e assenti.
- Beleza.
O treino durou mais 2 horas, com algumas pequenas pausas no meio desse tempo. Nós aproveitávamos para ficarmos deitados na grama, descansando da exaustão que aquele treino estava nos dando. Eu e fomos ao vestiário, tomamos uma ducha rápida e nos trocamos, indo para o carro de , que ficou nos esperando com dentro do carro, depois que o treino das líderes de torcida acabou.
- Como que as novatas que tiveram que aprender a coreografia em menos de uma semana conseguiram terminar os treinos antes dos veteranos que estão no time há anos? – olhou para mim e para assim que entramos no carro e eu revirei os olhos, lhe dando o dedo do meio. – Ei, modos!
- Não enche os dois, . – começou a falar e eu a olhei, esperançoso. – Para alguns, é mais difícil alcançar a perfeição mesmo.
Olhei para incrédulo e peguei minha jaqueta do time, que estava em meu colo, e joguei em seu rosto, no banco do passageiro.
- Vou contar para seu treinador que você não tem controle sobre sua raiva, o que pode ser prejudicial para o time. – virou para trás e falou, tentando segurar a risada e eu fiquei a encarando com uma expressão divertida, que fez com que ela risse. – Te odeio.
- Você me ama. – revirei os olhos e vi a garota colocar minha jaqueta por cima de sua regata. – Me maltrata e ainda rouba minhas roupas.
- É o preço que se paga por ser tão chato. – ela me mostrou a língua e eu ri.
Chegamos à lanchonete e fomos direto para nossa mesa de sempre, perto da grande janela de vidro à esquerda da porta de entrada. Sentamos e olhamos o cardápio para, no fim, pedirmos o usual.
- Vocês terão treino o dia todo amanhã? – olhou de mim para e eu assenti, tedioso.
- Seremos obrigados a faltar em todas as aulas para focarmos no jogo. – deu de ombros e passou a mão por seus braços.
- Você vai fazer falta nas aulas. – ela disse, com o queixo encostado no ombro do garoto, o encarando. virou para ela e sorriu, roubando um selinho da garota.
- Vocês são muito fofos para mim. – estava com o rosto apoiado em suas mãos, observando a cena. Olhei para ela e ri de sua expressão apaixonada.
- Você é uma romântica incurável! – cutuquei suas costelas e ela riu, se esquivando.
- O que posso fazer se o amor é apaixonante?! – ela questionou com a sobrancelha arqueada e eu levantei as duas, chocado.
- Você é Shakespeare? – ela deu de ombros e adquiriu uma pose convencida.
- Amiga, quer ir ao banheiro? – ressurgiu de seu momento de flores e bilhetes de amor, olhando para , que assentiu antes das duas saírem em direção ao banheiro.
Os nossos milk-shakes chegaram e e eu não começamos a tomar, esperando as meninas.
- E aí, qual é a do flerte? – quebrou o silêncio do nada e eu juntei as sobrancelhas em confusão.
- O que?
- Você e a não param de flertar. – ele apontou para onde a estava sentada e depois para mim e eu o encarei por um tempo, sem entender.
- Esses treinos não estão fazendo bem para sua cabeça. – balancei a cabeça em negação e comecei a observar o cardápio.
- Cara, fala sério! Vocês não são tão bestas assim. – ele roubou o menu da minha mão e eu ri, balançando a cabeça. – E eu não sou tão ingênuo.
- Eu já te disse: não rola nada. – ficou com uma expressão desconfiada assim que eu disse tais palavras.
- Você não falou com ela sobre a festa da Amber, não é?
- É claro que não. – disse, como se fosse óbvio e soltou o ar pelo nariz, rindo. – É só muito confuso.
- Para de ser tão covarde. Não deve ser tão difícil assim.
- A festa da Amber foi há séculos. E ela também nunca mencionou nada sobre. Ou seja, não é tão fácil quanto você pensa. – dei de ombros e deixou suas mãos despencarem na mesa, chamando minha atenção.
- E outra, ainda tem a Amber. – ele disse como se enumerasse os motivos para a tal conversa.
- A Amber não está no meio disso. Eu não tenho nada com ela. – olhei para ele, sério, e ele entortou a boca. – É sério!
- Bom, você quem sabe. – ele colocou suas mãos para cima e eu assenti, vendo as meninas voltando.
- Vocês nos esperaram, que cavalheiros. – comentou assim que sentou, depositando um beijo na bochecha de .
- Vocês ficam com mais melação do que todo o menu doce desse lugar. – revirei os olhos, rindo e comecei a tomar meu milk-shake.
- O solitário ali não pode ver um casal feliz que fica com inveja. – mostrou a língua e jogou o papel do canudo em mim.
- Deixa de ser estraga prazeres. – me repreendeu e eu revirei os olhos, vendo rir ao meu lado.
- Só não tenham seus “prazeres” na minha frente, por favor. – impliquei uma última vez e abriu a boca, incrédula.
- Você é nojento! – eu ri e sussurrei um desculpas para a garota, que balançou a cabeça e riu.
Ficamos na lanchonete por uns 30 minutos, apenas conversando e tomando nossas bebidas. Logo depois, voltamos para o carro de e ela começou a dirigir até nossas casas.
- Ah! Esqueci de comentar. – coloquei a mão na testa e todos me olharam curiosos. – Como meus pais vão viajar e amanhã é o grande jogo, a festa de comemoração vai ser lá em casa.
- Você sabe que vão revirar sua casa, não sabe? – me olhou pelo retrovisor com a sobrancelha arqueada e eu assenti.
- É só nós controlarmos os danos.
- Só não me faça limpar sua casa no dia seguinte. – apontou para si mesma e balançou a cabeça. Eu adotei a melhor cara de súplica que podia e ela suspirou. – Saco!
- Prometo que não vai ser tão difícil. Mas não vou conseguir limpar tudo sozinho. – juntei as mãos na frente do rosto, quase implorando pela ajuda dos três.
- Eu ajudo. – tirou uma das mãos do volante e a levantou, como se estivesse na sala de aula.
- Viu? Por isso você é a minha favorita. – sorri e toquei na mão dela, que riu desacreditada.
- Cínico.
- Eu sei que não vou me livrar dessa. – deu de ombros e eu comemorei. Olhei para , com os lábios formando um bico e ela revirou os olhos.
- O que você não me pede chorando que eu não faço chorando mais ainda? – ela adaptou o ditado e eu a puxei, abraçando-a de lado no banco de trás do carro.
- Os melhores amigos que alguém poderia ter.
End of ’s POV


Capítulo 15

- Pensei que o treinador não fosse liberar vocês nem para o almoço hoje. – comentei assim que vi os meninos chegando no pátio. Os dois chegaram com expressões cansadas, seus uniformes no corpo e os capacetes no braço.
- Ele percebeu que estamos todos esgotados e nos liberou o resto do dia. - suspirou aliviado e sorriu. – Assim nós teremos pelo menos 7 horas de descanso.
- Ainda bem que você veio de carro hoje. – olhei para , que me devolveu o olhar confuso. – Senão vocês teriam que esperar mais duas horas até nós sairmos da aula para pegar carona com a .
- Eu não aguento mais um minuto em pé. – comentou, derrotado, apoiando sua cabeça em meu ombro e eu ri, me ajeitando para que ele ficasse um pouco mais confortável.
Os dois ficaram os vinte minutos restantes do nosso horário de almoço sentados na mesa conosco, mas sem falar muito. Assim que o sinal tocou, avisando que deveríamos voltar para as nossas tarefas, e foram para casa. Os últimos períodos passaram voando e logo eu e já estávamos no campo, conversando com a treinadora e com as garotas do time sobre como tudo iria acontecer mais tarde, no jogo. Combinamos tudo e fomos para o estacionamento.
- Luke! – vi Andrews de longe entrando no gramado, com uma expressão perdida. Ele sorriu e acenou para mim e então eu disse para que ela podia me esperar no carro e fui em sua direção. – Como você está?
- Eu estou bem, senhorita líder de torcida. – Luke apontou para o uniforme que estava em meus braços. Nós duas havíamos acabado de recebe-lo para o grande jogo e aquilo me deu calafrios. Era oficial.
- A melhor do estado. – joguei meu cabelo para o lado, debochando, e o garoto riu. Eu balancei a cabeça, rindo também.
- Nervosa para a grande estreia?
- Demais. – suspirei e ele sorriu, assentindo.
- Vai dar tudo certo. Só se fala na escola sobre como vocês estão maravilhosas e conseguiram pegar a coreografia em questão de minutos. – eu juntei as sobrancelhas, duvidando. – Ok, não exatamente assim, mas eu adaptei com as minhas crenças.
- Eu acho que vai ficar tudo bem no final. É só nervosismo mesmo. – dei de ombros e sorri sem mostrar os dentes. Luke colocou as mãos no bolso e assentiu. – Como estão as coisas em casa?
- Turbulentas?! – ele disse com um sorriso triste de lado e eu assenti, passando a mão pelo seu braço. – Meus pais brigam demais por causa de tudo.
- Vai dar tudo certo. – repeti seu conselho e ele tirou uma das mãos do bolso, coçando a nuca e afirmando com a cabeça. – Talvez pareça que não, mas o tempo conserta tudo.
- Eu espero. – assenti e sorri, tentando assegurar que estava tudo bem. – Estou te alugando demais, né? A deve me odiar.
Eu ri e balancei a cabeça, negando.
- Eu só tenho que ir porque nós combinamos de repassar a coreografia na casa dela. – dei de ombros e ele juntou as sobrancelhas em confusão.
- Todas as meninas vão para lá?
- Não, na verdade. – eu ri, pensando na nossa idiotice. – Vamos ensaiar sozinhas e o sofá fará o trabalho das meninas que nos levantam.
- Boa tática! – Luke riu, balançando a cabeça e eu me juntei a ele. – Bom, então até depois.
- Até. – sorri e ajeitei a bolsa no meu ombro, caminhando até o estacionamento. – Ah, Luke! – olhei para trás e ele me olhou de volta. – Você vai à festa hoje? Vai ser na casa do .
- Acredito que sim. Vou confirmar com os meninos, mas quase certeza que estarei lá. – soltei um murmúrio em aprovação e sorri, voltando ao meu caminho.
Cheguei no carro e me esperava com um sorriso de lado.
- Você devia parar com isso. – ri e coloquei minha bolsa no banco de trás, me ajeitando no do passageiro e olhando para frente.
- O que? – ela falou com uma voz teatral, fingindo que não sabia de nada.
- É sério, somos só amigos. – olhei para ela, que me respondeu com a sobrancelha arqueada.
- Isso porque ele ainda não deu o próximo passo, não é? Opa, é verdade. Ele já deu. – ela fingiu que lembrou de algo no meio da frase e eu bufei, revirando os olhos.
- Como eu te suporto?
- Você me ama. – ela sorriu, colocou o cinto, me lembrando de fazer o mesmo, e deu partida.
Chegamos à casa de e fomos direto para o sofá, nos jogando e ficando por lá algum tempo. A semana havia sido exaustiva. Eu não era do tipo de pessoa que praticava esportes físicos ou frequentava as aulas de educação física todos os dias. Na verdade, minha presença era uma coisa rara. O único esporte que eu já tinha praticado e amava quando pequena era ginástica. Minha mãe sempre me levou para meus treinos e, quando ela saiu de casa, aquela parte de mim se foi também. Acho que ela adoraria me ver como líder de torcida. Eu lembro que ela dizia que seu sonho sempre foi ter uma menina para ver fazendo acrobacias naqueles uniformes típicos. Sorri com o meu pensamento e me olhou, confusa.
- Pensando no seu namorado Luke? – ela questionou com um sorriso no rosto e eu revirei os olhos, jogando a almofada em seu rosto. Ela desviou e me olhou brava.
- Só estava pensando em como é loucura o fato de nós sermos líderes de torcida. – voltei a olhar para o teto e ouvi suspirar, deitando de novo no sofá, na mesma posição que eu.
- Nem me fale! - ela suspirou e continuou, com um sorriso no rosto. - Eu sempre quis ser parte de algo grande assim no ensino médio. Mas nunca pensei que fosse realmente acontecer, sabe? De repente, eu namoro um jogador de futebol americano e sou uma das líderes de torcida. Uma substituta, mas mesmo assim. – ela riu e eu sorri.
- Eu jamais duvidei que você seria um ótimo clichê dos filmes. – ela olhou para mim com uma expressão ofendida e eu continuei. – Eu amo clichês, não me leve a mal. E eu sempre achei que você tinha grandes chances de viver o seu tão sonhado grande momento, só se subestimava demais. – dei de ombros e ela sorriu com uma expressão sonhadora.
- Que louco como nossa vida pode mudar em menos de um ano. – eu levantei as sobrancelhas e soltei o ar pelo nariz.
- Pois é.
- A senhorita ainda vai viver seu grande momento, com direito a beijo na chuva e declarações de amor na frente de toda a escola. – juntou as duas mãos do lado do rosto e eu pude ver os cupidos imaginários voando sobre sua cabeça. Ri com meu pensamento e balancei a cabeça em negação.
- Você quer que eu dê alguma dica para o ? – me referi ao tanto de “grandes gestos românticos” que ela já tinha em sua mente e ela riu.
- Bom, isso fica a seu critério. – piscou.
Eu ri e a garota levantou, indo até a cozinha pegar alguma coisa. Ela voltou depois de alguns minutos com um pote cheio de morangos e outro com iogurte grego. Eu amava aquela combinação e já estava cansada de saber. Melo sentou de novo ao meu lado e começou a devorar alguns morangos depois de eu mesma separar alguns e colocar dentro do pote de iogurte, misturando aquelas maravilhas.
- Você acha que vamos errar muito hoje? – perguntou com as sobrancelhas franzidas e eu sorri tentando passar segurança.
- Você vai arrasar. Como sempre. – eu assenti e ela revirou os olhos, sorrindo. – É sério, . Sam já te disse que você é uma das melhores líderes de torcida que já estiveram no time.
- Ela disse isso para me confortar. – deu de ombros e eu levantei a sobrancelha, olhando para ela com uma expressão cansada. – Para de me olhar assim.
- Esse é meu olhar de descrença. – riu e pegou o controle da TV, colocando em um filme qualquer. – Você é ótima.
- Mas eu só liguei a televisão. – ela me olhou confusa e eu ri.
- Não, eu quero dizer que você é uma ótima líder de torcida. Sam não disse isso só para te confortar, porque ela falou a mesma frase sobre você para mim, quando você não estava junto. – ela sorriu e voltou a olhar para a TV.
Passamos meia hora vendo algum episódio repetido de Gossip Girl, uma de nossas séries “de conforto”. Depois disso, fomos para o quintal da casa de e nos posicionamos entre os dois sofás da área aberta. Começamos com os passos básicos de entrada, onde todas deveríamos aparentar muito entusiasmadas e felizes com a situação. O que, confesso, não era uma mentira. Achei que fosse ser algo mais difícil, mas se tornou bem fácil durante os ensaios.
- Ok, eu acho que não estamos tão péssimas assim. – comentei ofegante, colocando as mãos no joelho e rindo para , que me acompanhou.
- Decorar os passos, check. Sorriso absurdamente enorme no rosto, check. Movimentos exagerados para causar impacto, check. Total confiança nas nossas colegas de time para que não quebremos nenhum osso, check. – fez um movimento de visto com as mãos a cada frase e eu ri, balançando a cabeça em afirmação.
- Vai dar tudo certo. – peguei as duas garrafas d’água que estavam na mesinha de centro no quintal e entreguei uma para , que sorriu e confirmou.
- Vai dar tudo certo. – repetiu um pouco apreensiva e eu brindei com nossas garrafas.
*****
Me olhei uma última vez no espelho, tentando me acostumar com o vestido justo branco e azul que estava em meu corpo. Foquei em meu rosto e suspirei, sorrindo.
- Você consegue! – verbalizei o que eu estava repetindo em minha mente como se fosse um mantra e assenti.
A porta do quarto abriu e entrou, dando pulinhos de alegria e batendo palmas animadas.
- VOCÊ ESTÁ LINDA! – ela falou, quero dizer, gritou, assim que me viu. Revirei os olhos e ri.
- Olha para você. – puxei ela para o espelho e ela sorriu, sem graça. – Você nasceu para isso, meu amor. – brinquei com o apelido e ela gargalhou.
- Vamos? – perguntou e eu assenti, apertando meu rabo de cavalo uma última vez antes de sairmos.
O caminho até a escola foi de puro nervosismo. Mentalizei todos os passos da coreografia durante todo o trajeto, garantindo que não iria esquecer de nenhum. Nunca pensei que um momento como esse seria tão importante para mim, mas agora era. parou o carro no estacionamento da escola e nós respiramos fundo antes de sairmos.
Pisar naquele lugar com aquela roupa me deu arrepios. Algumas pessoas que estavam ali nos olharam surpresos e eu ri da reação de , que fingia que estava em uma passarela e era a mais nova Gisele Bündchen. As meninas do time estavam se agrupando antes da entrada do campo e nós nos juntamos a elas.
- Chegou o grande dia. – Sam sorria nervosamente e olhava para cada uma das meninas, como se nos analisasse. – Vocês estão prontas para isso. Eu sei que estão. E quero que aproveitem demais esse momento. Ele é todo nosso!
O final de seu discurso foi dado por uma série de gritos histéricos e aplausos de todas nós, que nos abraçamos brevemente antes de Samantha dizer que tínhamos alguns minutos antes de entrarmos em campo. correu para a entrada do campo de repente e eu a acompanhei com o olhar, confusa. surgiu do vestiário com seu uniforme e o capacete em mãos e o abraçou fortemente.
Eu sorri com a cena e imaginei o tamanho da grandeza que aquele momento tinha para . Seu sonho de colegial finalmente se realizara. Um pouco depois de chegar, avistei com a mesma pose de jogador que carregava, só que este olhava para mim. Ele pareceu chocado e eu revirei os olhos, indo até ele.
- Uau, você está... – ele me olhou da cabeça aos pés e eu dei um tapinha em seu braço. – diferente.
- Eu espero que seja um diferente bom porque não quero passar vergonha na frente de toda a escola. – ri e balancei a cabeça.
- Não. – riu e coçou a nuca. – Você está linda.
- Hm... – juntei as sobrancelhas, desconcertada com seu elogio e sorri. – Obrigada. Você não está tão mal assim. – dei de ombros e ele riu, olhando para o casal perto de nós.
- Vocês já vão entrar? – ele me perguntou e eu assenti com a cabeça.
- Mais alguns minutos e o palco será nosso.
- Vai ser incrível. – ele sorriu e me fitou, como se quisesse passar uma segurança com seu olhar. O que funcionou.
- Tomara. – suspirei e Sam chegou do meu lado.
- Vamos para a formação? Já vamos entrar. – ela falava sorrindo, extasiada com a situação e eu assenti fazendo o mesmo. deu um último selinho em antes de voltar para a roda de meninas e eu sorri para os dois garotos.
- Boa sorte. – olhou para mim e me abraçou. – Arrasa.
- Pode deixar. – eu assenti assim que saímos do abraço e virei para , que me deu um beijo na testa e me abraçou também.
- Você consegue! – parecia que ele sabia que eu havia repetido aquilo para mim mesma umas duzentas vezes na última hora e eu ri. Olhei para ele e sorri, começando a caminhar até a formação.
- Ah, ganhe o jogo. – virei de novo e foquei em . – Vocês conseguem! – os dois riram e assentiu.
- Espere um touchdown dedicado a você. – ele piscou e eu balancei a cabeça em negação com a brincadeira.
Voltei a andar em direção à formação e nos organizamos. Pouco depois, o diretor anunciou nossa entrada e nós incorporamos a maior felicidade que poderíamos juntar em nosso corpo e entramos no campo, pulando e gritando.
Todas nos separamos na frente da arquibancada e abaixamos, esperando o início da música. Assim que a música começou, nós levantamos com um sorriso no rosto, as pernas separadas e os braços paralelos ao lado das coxas. Os movimentos que fazíamos com os braços eram sempre marcados pelo som do contato entre eles e qualquer parte do nosso corpo, dando mais ritmo à dança. Um dos passos típicos do cheerleading foi um dos primeiros movimentos que fizemos em campo, recebendo aplausos e torcidas da arquibancada. Depois de repetir o movimento três vezes, eu, Sam, e Lisa pulamos e abrimos as pernas no ar, recebendo mais aplausos ainda e depois demos uma pirueta para trás, enquanto as meninas das fileiras de trás estavam abaixadas. Depois disso, nós quatro abaixamos e as meninas fizeram os movimentos delas, pulando no ar.
Nós levantamos e formamos os sete grupos separados, o que dava início à sequência de saltos da qual eu e tínhamos tanta aflição. “Confiança total, ” repeti para mim mesma enquanto as meninas se organizavam na minha frente, mas sempre com o sorriso no rosto. As meninas se posicionaram duas ao meu lado, uma atrás e uma na frente e o movimento começou. O primeiro era só um levantamento, sem nenhum pulo. O segundo envolvia um lançamento rápido ao ar, que me fazia cair deitada nos braços das quatro. Repetimos isso duas vezes, sem muitas dificuldades e recebendo aplausos da plateia sempre que um movimento era bem sucedido. Depois, nos espalhamos deixando um espaço vazio no centro, onde algumas meninas começaram a fazer passos de ginástica, inclusive eu. Sam e Julie foram as primeiras e logo depois eu entrei, fazendo uma série de dois giros no ar terminando com um salto sem as mãos, logo depois as jogando no ar e sorrindo para a arquibancada, que aplaudiu alegremente. repetiu o movimento logo depois de mim e nós nos juntamos, terminando a coreografia com os saltos em sete grupos novamente.
(Link do vídeo da coreografia caso alguém queira conferir. *eu descrevi apenas os dois primeiros minutos de vídeo*) Nós aplaudimos e agradecemos a plateia, logo saindo do campo e nos juntando em uma das laterais, dando espaço para os jogadores entrarem logo depois.
- NÓS ARRASAMOS! – Sam gritou eufórica e nós fizemos festa, mais uma vez. – Muito obrigada por isso. Nós achamos que não íamos conseguir por causa das lesões que aconteceram, mas deu tudo mais do que certo. Obrigada e por aceitarem fazer parte dessa família e por completarem tudo o que faltava no grupo. Vocês são demais. Todas vocês. – nós sorrimos e nos abraçamos. – Agora vamos torcer pelos nossos meninos.


Capítulo 16

Todas torcíamos e vibrávamos com o jogo, que estava acirrado. O time adversário estava defendendo muito bem e aparentemente estes tinham uma chance muito maior de vencer, já que nosso time não conseguia chegar ao ataque.
- VAMOS MONTIES! – gritou ao meu lado e as meninas a acompanharam, animando os jogadores.
recebeu a bola e começou a correr em direção às 30 jardas. Desviou de alguns jogadores que tentaram o derrubar e conseguiu alcançar as 50 jardas. O resto do time avançou mais ainda, tentando proteger com a bola até a marca em que ele precisava chegar. O número 56 estava muito perto de , que o viu de relance e chutou a bola assim que pisou na marca das 30 jardas do campo de ataque. O outro jogador se jogou no chão, a fim de interceptar o chute, mas não teve sucesso, já que conseguiu pontuar três pontos com seu Field Goal.
- ISSO! – minha reação foi imediata e todas nós batemos palmas com nossos pompons e algumas fizeram até alguns movimentos de ginástica. – GO, MONTIES!
virou para nós e apontou para , que quase derreteu literalmente de amores por ele. As meninas gritaram de felicidade e mandou um beijo no ar para . Eu ri do lindo clichê que minha amiga estava vivendo e ela sorriu para mim, mas logo depois nos concentramos no jogo. Agora estávamos empatados, mas não podíamos nos aliviar. Era tudo ou nada.
Os garotos voltaram para a formação e esperaram o apito. Assim que este soou no campo, a bola foi lançada para Brad, que tentou correr com ela mas escorregou no campo e caiu, deixando a mesma solta. O número 84 do time adversário a roubou e correu para o campo de ataque, marcando outros três pontos para sua equipe. Nós tentamos manter a cabeça erguida e aplaudimos nossos jogadores, gritando palavras de motivação.
- NÓS AINDA CONSEGUIMOS VIRAR! – Sam gritou ao meu lado e eu olhei para o relógio. Dois minutos. Dois minutos era o que restava para que nós conseguíssemos recuperar aqueles três pontos e tentar passar a outra escola.
A formação foi a mesma de sempre, no meio do campo. O apito foi ouvido e a correria começou. Elijah passou a bola para Brad, enquanto o resto do time se espalhava tentando chegar o mais perto possível do campo de ataque. Brad examinou as possibilidades em alguns segundos e lançou a bola para a direita, onde estava. agarrou a bola e a protegeu com os dois braços enquanto corria o mais rápido que podia. Alguns meninos do nosso time tentavam proteger o seu caminho e ele mesmo tentava desviar de alguns jogadores que insistiam em tentar pará-lo. acelerou mais ainda o passo, chegando às 10 jardas e nós começamos a vibrar mais ainda, torcendo pelos seis pontos.
- TOUCHDOWN! – toda a arquibancada levantou e torceu quando se lançou ao chão abraçado à bola, sendo idolatrado por todo o time.
Vi levantar do chão e tirar o capacete, olhando um pouco desnorteado para os lados. Nós nos olhamos e ele sorriu, apontando para o chão e depois para mim, sinalizando que aqueles pontos que ficarão para a história eram dedicados a mim. O juiz apitou o fim do jogo e todos nós gritamos, indo até o meio do campo para celebrarmos. Corri até onde e estavam, sendo centro de todas as atenções possíveis.
- Será que o melhor jogador da história de Montclair tem um tempo para sua fã? – perguntei com as duas mãos na frente do corpo, fazendo uma pose de inocência.
- Claro, linda. Quer um autógrafo? – Elijah e Brad saíram do lado de depois de darem dois tapinhas em seu ombro, o parabenizando de novo. Eu ri e o puxei para um abraço. segurou em minha cintura e começou a me girar no campo, enquanto eu gargalhava e pedia para que ele me soltasse. – Gostou do seu touchdown?
- Me senti lisonjeada. – eu tirei o cabelo que havia se instalado em meu rosto com o giro que demos e sorri, balançando a cabeça. – Sério, você foi incrível!
- E vocês como líderes de torcida?! – chegou ao meu lado e sorriu, abraçando e o parabenizando também. – De verdade, vocês nasceram para isso.
- Bom, que eu tenho talento eu já sabia. – jogou o cabelo para o lado, arqueando a sobrancelha e logo depois se desfazendo da pose de convencida.
- Você conseguiu ficar ainda mais maravilhosa como líder de torcida. – comentou depois de passar alguns segundos examinando , que fez sua famosa expressão de apaixonada e o abraçou pelo pescoço. – E olha que eu achava que isso não seria possível.
- Você é um príncipe. – comentou, dando um selinho no namorado e eu sorri. colocou o braço sobre meu ombro e eu o olhei sorrindo.
- Festa na sua casa agora, cara? – Trevor cumprimentou com um toque de mão e ele assentiu.
- A estrela do jogo tem que ser o anfitrião. – Jason falou e riu.
- Vai ser lá em casa mesmo, cara. Só peguem leve, tá? Podem chegar lá daqui uns 30 minutos. Avisa a galera, por favor. – pediu e eles assentiram, se despedindo e indo conversar com alguns outros meninos do time.
- Eles definitivamente vão destruir sua casa. – eu comentei e colocou a mão na testa em preocupação, me fazendo rir.
- Não custa nada pedir.
- Vamos para sua casa então? – perguntou depois de se desvencilhar do abraço de , que agora conversava com alguém do time adversário que ele já conhecia.
- Vamos. Vou pegar a minha mala e a do e encontro vocês no carro. – nós assentimos e fomos andando até o carro depois de avisar para que estávamos partindo.
Pegamos nossas malas no vestiário feminino e voltamos ao campo. Já que precisaríamos voltar em dois carros diferentes e e eram os motoristas, nós nos dividimos e eu fui com o garoto. Nós precisaríamos passar em algum supermercado para comprar alguns salgadinhos, tarefa que ficou com a gente, e os outros dois iriam tentar comprar as bebidas, o que seria um pouco mais difícil já que ainda somos menores de idade.
- Não roube meu namorado. – gritou do carro dela assim que eu comecei a caminhar até o carro de e eu virei para trás, rindo.
- Vou tentar. – ela me mandou o dedo do meio e eu voltei a caminhar. Sentei no banco do passageiro e jogou seu capacete no banco de trás e deu partida. – Queria deixar claro que achei linda a sua dedicatória para .
- Eu sou um fofo, não sou? – começou a se gabar e eu revirei os olhos. – Ela surtou?
- O seu sorriso era tão enorme que nem cabia no rosto dela. – ele sorriu e eu ri, balançando a cabeça. – Igualzinho esse aí. Vocês são perfeitos um para o outro, que saco.
- Que saco por quê, garotinha? – ele olhou para mim por um milésimo de segundo e eu dei de ombros. – Ainda bem que nos encontramos.
- Ai, chega de fofura. Ela nem está aqui para te recompensar por ser um “bom garoto”. – ele me deu um empurrãozinho no braço e eu ri.
- Você está parecendo o , rabugenta. – eu revirei os olhos e ele continuou. – Vocês se merecem mesmo.
- Lá vem. A colocou essa ideia na sua cabeça e agora você não vai parar de me encher falando sobre isso? – eu ri e ele juntou as sobrancelhas em confusão.
- Olha, eu só vejo fatos. Vocês se merecem. Só isso. – deu de ombros e eu abri a boca, ofendida.
- “Vocês se merecem”? Nossa, você fala como se fôssemos duas pessoas horríveis. – ele olhou para mim com a sobrancelha arqueada.
- Se a carapuça serviu... – deu de ombros uma vez e deixou a frase no ar.
- Ridículo. – eu ri e ele me acompanhou.
O resto do trajeto foi preenchido por algumas músicas no rádio e implicâncias rotineiras vindas de ambas as partes. Quando chegamos ao mercado, fizemos a festa no corredor das besteiras e pegamos um salgadinho de cada marca e sabor, enchendo o carrinho.
- Isso é muita coisa, não é? – perguntei para , que pareceu examinar a quantidade de itens e riu.
- Ok, vou devolver alguns. Acho que se levarmos uns 15 já fica tudo bem, não é?
Eu assenti e comecei a devolver alguns salgadinhos. Pegamos os mais comuns, que seria quase certeza que todos comeriam e fomos para o caixa. A conta não foi tão alta assim e nós dividimos o valor, conduzindo o carrinho até o estacionamento para colocar tudo no porta malas e finalmente ir para a casa de .
O trajeto até lá foi bem tranquilo. Conversamos mais um pouco sobre o jogo e implicamos mais um pouco um com o outro (inevitável). Assim que chegamos, ficamos na calçada esperando e chegarem com a chave da casa e liberarem a entrada, o que demorou uns cinco minutos.
- Eu sou o rei do disfarce, fala sério. – começou a se gabar com as garrafas em mãos e eu balancei a cabeça em negação.
- O que aconteceu, só não pediram a identidade? – eu arqueei a sobrancelha e ele ficou alguns segundos me encarando.
- Exatamente. – revirou os olhos para a pose de convencido do garoto, que logo desapareceu e eu ri, bagunçando os cabelos dele como se ele fosse uma criancinha.
Entramos na casa de , que estava totalmente escura. Bom sinal, pelo menos os pais dele não tinham decidido voltar mais cedo de sua viagem. Fomos até a cozinha e colocamos as coisas lá, antes de subirmos eu e para tomarmos uma ducha e colocarmos roupas diferentes. Depois disso, os meninos subiram e nós fomos arrumar o resto das coisas. Eles já haviam organizado as bebidas e os copos na cozinha e agora só faltava a parte da comida.
- Pega uma tigela para mim, por favor. – eu pedi para , enquanto abria um dos sacos de salgadinho. Ela me entregou e eu agradeci, despejando o conteúdo do saquinho ali.
- Como foi a viagem até aqui? – ela sentou na bancada e eu a olhei rindo.
- Eu não roubei seu namorado, se é o que quer saber. – juntei as sobrancelhas em confusão e continuei colocando os salgadinhos em algumas tigelas que me entregava.
- Eu sei. – ela riu e eu a olhei, confusa. – Sobre o que conversaram?
- Só sobre como você e ele eram grudentos. – dei de ombros. – Ah, e sobre você implementando as ideias de que eu e deveríamos estar juntos na cabeça dele.
- Ei, eu não fiz isso. – ela colocou as mãos para cima, em sinal de rendição e eu arqueei a sobrancelha. – Ok, talvez eu tenha comentado com ele por alto. Mas é bem visível, não é culpa minha.
- Você nunca desiste dessa loucura, né? – perguntei e ela riu, dando de ombros.
- Estou só esperando o dia em que você vai perceber que não é nem um pouco uma loucura.
e desceram, chegando na cozinha e terminando de arrumar algumas coisas com a gente. e começaram a sessão de demonstração de como são namorados inseparáveis e eu e começamos a rir.
- Depois eles falam que não são grudentos. – balancei a cabeça em negação e concordou, terminando de organizar a cozinha. Ele caminhou até mim e eu o olhei em confusão.
- Arruma para mim? – ele perguntou, se referindo ao seu cabelo ainda úmido do banho e eu ri, assentindo, ficando na ponta dos pés para conseguir ver direito e senti as mãos de na minha cintura, me segurando. Passei os dedos pelo seu cabelo e ele fechou os olhos, sorrindo e eu fiz o mesmo.
- Prontinho. – terminei de deixar o cabelo dele semi arrumado e ele abriu os olhos, ainda com o sorriso no rosto.
- Obrigado. – eu assenti e sorri junto, fazendo com que os dois ríssemos da situação. Desci das pontas dos pés, ficando um pouquinho mais baixa e ele tirou a mão da minha cintura, as ocupando com uma das tigelas e levando para a sala.
Olhei ao redor e peguei uma das garrafas de uma bebida colorida que eu julguei parecer ser boa. Retirei um dos copos vermelhos da pilha que os meninos haviam montado e despejei o conteúdo ali, até um pouco mais da metade.
- Querem? – virei para trás, olhando para o casal, que assentiu. Coloquei mais três copos e entreguei para os dois, indo para a sala e entregando para . – Já está na hora do pessoal chegar?
- Acho que chegam daqui a pouco. – pegou o copo da minha mão e sorriu. – Obrigado.
- Temos que esconder alguma coisa quebrável em potencial? – olhei ao redor e ele riu, assentindo.
- Os vasos dos meus pais são preciosos demais para serem quebrados numa festa adolescente sobre a qual eles não fazem ideia. – eu ri e peguei um que estava na mesa de centro, abrindo o armário mais perto e o colocando ali.
fez o mesmo com alguns outros objetos que ficavam distribuídos pela sala e ouvimos a campainha tocar, anunciando que algumas pessoas haviam chegado. foi até lá atende-la, cumprimentando os meninos do time com um “semi” abraço, daqueles que você dá com uma mão só e uma breve encostada de ombros opostos. Cumprimentei todos eles também, dando os parabéns pelo jogo.
- E vocês? Arrasaram como as novatas do time de torcida. – Jason comentou, olhando de mim para , que havia acabado de chegar na sala. A garota jogou os cabelos para o lado, se gabando e eu ri, balançando a cabeça em negação.
- Ela nasceu para isso, segundo a mesma. – revirei os olhos e me olhou, ofendida. Eu a abracei de lado para mostrar que estava apenas tirando uma com a cara dela.
- Foi sofrido aprender tudo em uma semana, mas valeu a pena. Tudo para animar o time que conseguiu virar o jogo mais emocionante da história de Montclair. – sorriu, apontando para os garotos, que se cumprimentaram com high-fives.
Ouvi um alvoroço vindo da porta da frente e estiquei o pescoço para tentar enxergar o que estava acontecendo. Vi parado ali na frente, com uma expressão surpresa enquanto segurava a porta aberta.
- E aí, cara. Onde colocamos os barris? – consegui ver Brad e Amber ali. A garota sorria ao lado do capitão do time, esbanjando plenitude na situação.
- Hm... Nos fundos?! – respondeu, parecendo mais com uma pergunta do que uma afirmação, fazendo o garoto rir e ir até os fundos, seguido pelo resto do time e algumas das garotas da escola.
Caminhei até a porta, onde continuava parado, dando passagem para todos da escola.
- Talvez isso saia do controle, não é? – eu ri, nervosa, e ele me olhou com os olhos arregalados.
- É... talvez.


Capítulo 17

’s POV
A casa ficou cheia em questão de minutos. Todos pareciam estar gostando e eu sorri com isso, cumprimentando mais dois colegas de time que chegaram.
- Cara, a festa está irada! – Jason apareceu, um pouco alterado demais, me fazendo rir.
- Eu acho que você devia beber um pouco de água. – dei dois tapinhas no ombro dele, que cambaleou um pouco e riu.
- Talvez eu faça isso depois de mais alguns copos. – ele piscou e colocou dois dedos na testa, fazendo quase que uma continência e eu ri, balançando a cabeça em negação.
- Se cuida, cara. – falei assim que o vi sair andando até o quintal, onde a maioria do time havia se concentrado, perto dos barris.
Fui até a mesa de centro, cumprimentando algumas pessoas que eu ainda não havia visto no caminho, e peguei alguns salgadinhos.
- Toma, para você. – olhei para o lado e encontrei com dois copos na mão, com um líquido transparente dentro. – É vodca com soda. Não sei se é uma boa combinação, mas...
- Já está bêbada o suficiente para não se importar? – ri e ela assentiu, sorrindo boba. – Eu não vou beber muito hoje, preciso ter certeza de que nada saia do controle.
- Hm... então acho que vou ter que tomar os dois. – deu de ombros e tomou todo o conteúdo de um dos copos de uma vez.
- Hey, hey, hey. Talvez fosse melhor você maneirar também. – adquiri um tom paternal e ela riu.
- Eu estou bem, . Não se preocupe. – ela sorriu e vi chegar atrás dela, a abraçando.
- Não vai dividir com o melhor namorado do mundo? – ele perguntou no ouvido dela, fazendo a menina amolecer e eu ri.
- Eu diria para vocês arranjarem um quarto, mas as opções são limitadas aqui e não quero que vocês façam esse proveito da minha sagrada caminha ou da dos meus pais. – fiz uma expressão de nojo com o pensamento, fazendo os dois rirem, e balancei a cabeça, tentando afastar aquela imagem.
- Não somos pervertidos desse jeito, . – falou, com as bochechas rosadas e eu ri da vergonha dela. – Cadê a ?
- Ela estava conversando com o Luke e uns amigos dele quando eu saí da cozinha, mas disse que já vinha nos encontrar. – deu um beijo na bochecha vermelha da namorada, que sorriu apaixonada e eu revirei os olhos.
- Sem muitas demonstrações de amor aqui, por favor. – peguei no pé deles e me deu um soquinho no ombro, me fazendo rir. – Vocês estão me deixando enjoado, credo. Fiquem aí curtindo seu imensurável amor. – falei, colocando aspas no ar e falando com uma voz fina, antes de sair até a cozinha.
- Hey, ! – ouvi a voz de Luke me chamando e o cumprimentei com um semi sorriso e um leve aceno de cabeça. – Parabéns pelo jogo, foi demais.
- Ah, obrigado, que isso! – sorri e enchi um copo com suco e um pouco de vodca.
- O melhor jogador do time é humilde. – senti os braços de envolvendo a minha cintura e sorri, olhando para seu rosto um pouco abaixo de meus ombros.
- Só está assim porque o touchdown foi dedicado a você, não é, mocinha? – ela sorriu, me fazendo rir e eu balancei a cabeça em negação. Ela tirou seus braços de mim e eu olhei para os garotos parados ali, observando a cena. Luke tinha uma expressão um pouco séria, o que me fez ficar confuso. – Gostando da festa?
- Não somos muito de sair, mas valeu a pena vir. – um dos amigos de Andrews afirmou e eu assenti, sorrindo.
- Aqueles ali parecem estar curtindo bastante. – Luke apontou para a parte de trás de casa, onde estavam os jogadores animados. Talvez animados demais, por conta do álcool correndo em suas veias.
- Eles são sempre assim. – dei de ombros. – Só espero que não quebrem minha casa totalmente.
Ficamos conversando por alguns minutos, ali. A maior parte do tempo sobre como eram os treinos do time, já que um deles era do segundo ano e tinha vontade de entrar para a equipe no ano seguinte, e sobre o time das meninas, quando podia se gabar à vontade.
- Quem diria que você se tornaria uma das melhores líderes de torcida que o time já viu em uma semana? – perguntei e os meninos concordaram, fazendo ficar vermelha e balançar a cabeça em negação.
- Ah, eu só aprendi alguns passos. Nada demais. – deu de ombros e bebeu um pouco do líquido em seu copo.
- Nada demais? Você aprendeu o que as meninas ficaram meses ensaiando, em alguns dias. – Luke soou surpreso e sorriu, negando.
- Em tempos de desespero, tudo é possível. – ouvi alguns passos vindos da entrada da cozinha e uma mão em meu ombro, logo depois.
- Será que a melhor líder de torcida pode roubar você rapidinho? – Amber falou perto do meu ouvido, mas alto o suficiente para que todos ao redor escutassem e eu olhei para , que revirou os olhos e bebeu mais um pouco. – Os meninos estão te chamando lá fora.
- Ah, ok. – assenti e ela pegou em minha mão, começando a me conduzir para fora. – Eu já volto. – olhei para , que levantou as sobrancelhas e sorriu, voltando a conversar com Luke logo em seguida.
- Sentiu minha falta no jogo hoje, lindo? – Amber olhou para mim, sorrindo confiante e eu ri, sem graça.
- Com certeza você fez falta no time. – espremi os lábios em uma linha e levantei as sobrancelhas, fazendo a garota rir.
- Bom, isso é óbvio. – chegamos onde todos estavam, em volta de um dos barris e eles me cumprimentaram.
- Como a estrela do jogo, você precisa fazer as honras nos shots. – Brad apontou para a linha de copinhos com líquidos coloridos em cima de uma das mesas da parte de fora. Eu balancei a cabeça em negação, sorrindo.
- Eu não vou beber muito hoje. – coloquei as mãos no bolso e os garotos riram.
- Pelo menos um copo. – Jason me ofereceu um copo e eu olhei, hesitando.
- Vamos lá, só um. Ele dá boa sorte. – Amber se pronunciou, piscando com um olho e eu soltei o ar pelo nariz, em uma risada, e peguei o copo.
Virei o conteúdo, que desceu pela minha garganta como se fosse fogo e tentei manter minha postura, devolvendo o copo para o capitão do time, que riu.
- Se quiser o resto dos shots, só me dar um toque. – Brad colocou o copo de volta no lugar, enchendo de novo e os outros meninos do time pegaram alguns.
- Beleza! – ri sem graça e Amber tocou o meu braço, chamando minha atenção.
- A festa está incrível. – ela sorriu amigável e eu assenti, sorrindo também, agradecendo. – Bom, não tão boa quanto às minhas, mas isso seria pedir demais.
Ela deu de ombros e riu. Eu lembrei da primeira festa em sua casa que eu havia frequentado e senti um arrepio em minha espinha. Realmente, as festas dela eram impressionantes e surpreendentes. Olhei para trás enquanto a voz de Amber, que falava algo sobre a festa ou a escola, ficou mais distante. Encarei , que gargalhava de algo que Luke falara, estando agora só os dois na cozinha.
- Eu preciso checar uma coisa, já volto. – sorri para Amber antes de entrar em casa.
- Hey, ! – me encontrou no corredor, ainda com em seu encalço, caso ela passasse mal.
- Ela está bem? – a garota abraçou o namorado pelo pescoço. Quero dizer, estava mais para se jogou e o prendeu pelo pescoço, fazendo com que eu risse.
- Mais ou menos. – ele riu e deu um beijo no topo da cabeça da menina, que sorriu. – O seu pai me ligou.
Eu gelei nessa hora e comecei a pensar em como eu estaria ferrado se ele descobrisse sobre aquela festa. Totalmente ferrado. Em níveis catastróficos.
- Cacete! – passei a mão pelo cabelo, preocupado, e riu.
- Relaxa! Ele tentou te ligar algumas vezes e você não atendeu, mas eu disse para ele que você tinha ido dormir na minha casa e que caiu no sono no meio de um filme. – deu de ombros e eu suspirei aliviado. – Mas é bom você ficar esperto, talvez ele te ligue de novo.
- Eu nem sei como não atendi. – peguei o celular em meu bolso e vi três ligações perdidas. – Mas, valeu! – olhei de novo para a cozinha.
- O que foi? – acompanhou o meu olhar e riu. – Ah!
- O que? – eu perguntei dessa vez, confuso.
- O óbvio. Você está com ciúmes. – ele apertou a minha bochecha e eu tentei me livrar de suas mãos, com uma expressão enojada.
- Cara, você viaja! – sorriu de lado e eu balancei a cabeça em negação, olhando de novo para , que havia sentado na bancada e continuava bebendo, mas parecia estar bem. Luke estava ao seu lado, os dois conversavam animadamente.
- Amor, estou com sede! – se pronunciou depois do que pareceram décadas e me olhou, sorrindo malicioso.
- Ótima ideia, amor. Vamos todos para a cozinha. – ele falou de um jeito ensaiado e eu revirei os olhos, acompanhando os dois, que foram na frente. – E aí, como vocês estão?
- Hm... bem. – fez uma expressão engraçada, como se não estivesse entendendo o porquê da pergunta. – passou do ponto?
- Bebeu um pouco mais do que normalmente, mas vai ficar bem. – pegou um dos copos dispostos ali na cozinha e encheu de água, entregando para a namorada, que havia sentado na ilha da cozinha, e o garoto se encaixou no meio de suas pernas.
Coloquei as mãos no bolso e fiquei de lado, encarando e , que sussurravam alguma coisa, e e Luke.
- Cadê seus amigos? – perguntei para Andrews, que olhou para o lado de fora, vasculhando o local.
- Eles falaram que iriam tentar “caçar garotas”. – deu de ombros e riu, me fazendo juntar as sobrancelhas em confusão.
- Não quis ir com eles? – eu encarei Luke e ele balançou a cabeça em negação, olhando o conteúdo de seu copo.
- Estou de boa. – eu assenti e virei para frente, olhando para a sala de estar cheia de adolescentes bêbados.
- A festa não parece estar um caos. – falou, me fazendo a encarar e afirmar com a cabeça.
- Pelo menos ninguém invadiu os quartos até agora, isso é uma boa notícia. – ela riu e se esticou para tentar alcançar o pote de batatas que estava do meu lado.
Eu vi o movimento de relance e peguei o pote, me afastando um pouco dela. A garota sorriu e tentou pegar ainda sentada, mas quase caiu da bancada e desistiu da ideia. Ela colocou os pés no chão e veio em minha direção, me fazendo levantar os braços para fazer com que ela não alcançasse.
- Hey! – ela riu e começou a dar pequenos pulinhos, tentativas falhas de alcançar minha mão. – Não é justo.
- Tudo bem, tudo bem. – abaixei a mão e entreguei a tigela para ela, que sorriu, me fazendo sorrir junto.
- Nós vamos lá para fora, para a pegar um ar. Querem ir? – perguntou, com a mão na cintura da namorada e nós assentimos.
- Eu vou encontrar os caras. – Luke apontou para o lado de fora com a sua garrafa de cerveja. – Depois encontro vocês de novo.
Todos concordamos e fomos para o quintal da frente da casa. Sentamos todos na grama. deitada no ombro de , que fazia um carinho em seus cabelos, e estava ao meu lado, com a tigela de batatinhas em suas mãos.
- Você acha que tem alguma chance do seu pai aparecer na janela e nos vir aqui? – perguntou, soando mais sóbria do que antes, olhando para .
- Bom, acho que não. – deu de ombros e olhou para o céu. – Ele deve estar com a namorada ou algo do tipo.
Passei minha mão nas costas de , que olhou para mim e sorriu.
- Já está tudo bem quanto a isso. – eu sorri com a confissão dela e assenti. – Ela é até que legal. Sabe, para uma madrasta. – ela falou, fazendo com que nós ríssemos.
- Você não vai se tornar a Cinderela, no fim? – a garota revirou os olhos, balançando a cabeça.
- Pelo que parece, não. E ainda bem.
deitou na grama, encarando o céu que estava bastante estrelado e uma onda de memórias passou pela minha mente, me fazendo engolir em seco. Olhei para , que me examinava já que eu havia ficado um certo tempo olhando para , e revirei os olhos. Ele riu discretamente e balançou a cabeça, como se falasse “eu avisei”.
- O copo de bebida que eu tomei já começou a fazer efeito. Meus rins trabalham rápido demais, credo. – riu e levantou, indo para dentro de novo.
- Cara, quando vocês vão conversar sobre a festa da Amber? – me perguntou assim que entrou em casa.
- Eu... – suspirei e balancei a cabeça. – não sei.
- Você devia tomar coragem e falar logo. – falou como se fosse a coisa mais fácil do mundo e eu soltei o ar pelo nariz, rindo. – É sério! Pode parecer um bicho de sete cabeças, mas é mil vezes melhor quando você fala. O alívio é real.
- Mas, e se só estragar tudo?
- Você só vai saber se tentar. – deu de ombros e eu fiquei quieto por alguns segundos, analisando as hipóteses.
Tudo parecia complexo demais. Pensar que sempre fomos os quatro, desde pequenos, só intensificava o medo de fazer algo errado. Era muito mais difícil do que parecia, na verdade. Eu tinha pavor de que eu falasse alguma coisa ou fizesse alguma coisa que pudesse acabar com a nossa amizade de anos, o que me deixaria mais perdido do que nunca.
- Olha, eu acho que você tem que ir fundo. – levantou a cabeça do ombro de , me fazendo voltar à realidade. – E, afinal, é só uma conversa. O que pode dar tão errado?
“Tudo”. Foi isso que me veio em mente assim que ouvi suas palavras e eu respirei fundo.
- Sabe, você só vai saber se tentar. – repetiu a frase do namorado, que concordou prontamente, e eu levantei.
- Ok. É isso. – passei a mão pela minha camiseta, a ajeitando, e assenti. – Eu só vou saber se tentar.
- GO, ! – falou, animada, com seu tom de líder de torcida, e eu ri.
- Vai lá, cara! – sorriu e eu revirei os olhos.
- Parece até que eu estou indo falar com a rainha da Inglaterra desse jeito.
Entrei em casa, vasculhando o local com os olhos e tentando achar . Fiquei alguns segundos na sala, mas não consegui a encontrar por ali. Fui até a cozinha, passando pelo banheiro social antes, e ela não estava em nenhum dos dois lugares. Saí pela porta que dava na parte de trás da casa. Os jogadores ainda estavam ao redor dos barris, fazendo bastante barulho e bebendo muito. Algumas meninas do time também estavam ali com eles, incluindo Amber, que veio até mim assim que me viu.
- Se divertindo? – Amber parou na minha frente e eu assenti, olhando ao redor. – Sabe, se você quiser se divertir um pouco mais, só me chamar. – a garota piscou para mim e eu ri, sem graça.
- Eu preciso fazer uma coisa agora, mas obrigado. – sorri e ela me olhou em confusão.
- Hm... Ok. – ela piscou rapidamente algumas vezes, limpando a garganta e voltando à sua postura confiante. – Bom, sabe onde me encontrar.
Afirmei com a cabeça e sorri, antes de andar um pouco mais. Esbarrei em alguns alunos, pedindo desculpa automaticamente e continuando o trajeto, até chegar um pouco mais atrás, onde estava mais tranquilo. Olhei em um dos cantos do quintal e reconheci o cabelo de , que estava de costas. Sorri e andei um pouco mais rápido, respirando fundo, prestes a ter a conversa tão esperada.
Assim que cheguei mais perto, vi Luke junto com ela. Os dois sorriam e estavam bem próximos. O garoto colocou a mão na nuca dela e lhe deu um selinho. Por um momento, eu só fiquei parado ali, sem conseguir controlar meus movimentos. Engoli em seco e dei meia volta, saindo dali.
- Amber? – a chamei assim que cheguei perto dos jogadores novamente. – Pensando bem... acho que um pouco mais de diversão cairia bem agora.
A garota sorriu maliciosa, assentindo.
- Foi o que eu imaginei.


Capítulo 18

N/A: o ponto de vista varia bastante ao longo do capítulo, então preste bastante atenção em quem está narrando, ok? :)
’s POV
- VIRA, VIRA, VIRA! – o time vociferava enquanto eu virava um copo de cerveja. Assim que eu terminei, joguei as mãos para cima e ri, todos me acompanhando com comemorações.
- Está pronto para a rodada de shots? – Amber me olhou, sorrindo de lado e eu sorri malicioso, assentindo.
Fui até a mesa onde estavam todos os copos e comecei a virar, um por um, totalizando 10. Eu senti minha cabeça girar assim que terminei, me fazendo rir, abobalhado.
- Hey, garotão! Vamos com calma. – ouvi a voz de atrás de mim e virei para ele, rindo.
- Quer um pouco? – ofereci um copo que haviam enchido a pouco tempo, o vendo recusar e me olhar confuso.
- Aparentemente a conversa não foi tão bem? – ele perguntou e eu ri, sarcástico.
- Bom, eu precisava me divertir, você não concorda? – levantei um copo, como um brinde e virei o conteúdo dele. Amber riu e passou os braços pela minha cintura.
- Relaxa, ele está em boas mãos.
- É, não enche, . Vai ficar com sua namoradinha e para de empatar os outros. – eu ri e ficou boquiaberto, me encarando por alguns segundos, e depois soltou o ar pelo nariz, incrédulo.
- Você é um babaca.
saiu de lá, voltando para dentro da casa e eu revirei os olhos. Bom, se ele não queria curtir a festa comigo, era melhor nem ficar por perto, certo? Certo.
’s POV
Voltei para dentro da casa e encontrei na porta, me esperando.
- Ele realmente está fazendo isso? – perguntou, preocupada, e eu suspirei, assentindo.
- não me contou o que aconteceu, mas parece que não foi nada bem. – me apoiei na bancada, olhando para o lado de fora pela janela, onde ele continuava a agir como um idiota, misturando bebidas, sem limite algum. – Ele nem quis me escutar, aparentemente sou careta demais para merecer um minuto da sua atenção.
Revirei os olhos e riu, vindo mais perto de mim, me abraçando pela cintura. Passei meus braços pelos seus ombros e a encarei.
- Bom, pelo que eu sei, você é zero por cento careta. Vamos dar um desconto para ele. – ela me deu um selinho e eu assenti.
- Tenho medo de que ele comece a agir como um merda. – olhei de novo para fora e depois voltei minha atenção à ela. – Quer dizer, ele já começou.
- Não é como se ele fosse escutar algum de nós agora. Acho que nós poderíamos tentar fazer com que a o acalmasse? – deu de ombros e juntou as sobrancelhas, analisando seu plano.
- Acho que ela é a única pessoa que ele escutaria agora.
Luke e entraram na cozinha, algum tempo depois, e saiu da minha frente, sentando na bancada e eu cruzei os braços, preocupado.
- , você pode tentar falar com o ? – perguntei e ela me olhou confusa. – Ele está um pouco fora do controle. – apontei para o lado de fora, onde ele estava bebendo do barril de cerveja.
- Hm... o que aconteceu? – pareceu confusa, observando a cena de longe.
- Eu acho melhor você tentar falar com ele. – eu assenti, tentando fazer com que ela não perguntasse mais nada sobre a situação.
Toda a questão não era sobre mim e eu não tinha direito nenhum de contar para ela, já que eu nem sabia o que realmente havia acontecido na conversa entre os dois.
Ouvimos um barulho vindo da porta e todos viramos, vendo um completamente bêbado, cambaleando e esbarrando nas paredes, entrando na cozinha com Brad.
- Hey, . – chegou mais perto dele, tocando seu rosto, fazendo com que ele a encarasse. – Você está bem?
- Eu estou ótimo, me deixa em paz. – virou o rosto, tentando se livrar das mãos de , que se assustou com a atitude.
- ! – ela falou, com as sobrancelhas levantadas, em confusão. – O que aconteceu? – ela olhou de seu rosto para o de Brad, que riu e levantou as mãos em rendição.
- Eu não sou o responsável por isso, gatinha. – Brad riu, dando de ombros e revirou os olhos.
- O que vocês deram para ele? – ela perguntou, cruzando os braços em frente a seu corpo, claramente irritada.
- Olha, ele não bebeu nada que não queria. Tomou algumas cervejas e uns shots, nada demais. – Brad revirou os olhos e sorriu, debochado.
- , você quer que a gente te ajude a ficar mais sóbrio? – voltou a olhar para , que se apoiava no batente da porta, tentando manter sua pose convencida e não cair ao mesmo tempo. – Você ainda precisa manter a festa sob controle.
- Seu pai pode te ligar a qualquer momento, cara. – me pronunciei, lembrando das ligações perdidas e de como seu pai havia avisado que tentaria falar com ele mais tarde.
- Cacete, relaxa. – adquiriu um tom bravo, fazendo juntar as sobrancelhas em confusão, o encarando incrédula. – Até parece que você é minha mãe.
suspirou, cansada da situação. Virou para a bancada, onde Andrews estava apoiado assistindo a toda a cena, com dois copos na mão. A garota pegou um deles e virou novamente para .
- Depois não diga que eu não tentei. – arqueou a sobrancelha, olhando para o amigo, e balançou a cabeça em negação depois de alguns segundos o encarando, sem resposta. Ela virou para Luke e apontou com a cabeça para a sala, num pedido silencioso para que saíssem dali.
- Isso! Vai lá com seu amiguinho dos balões. – se pronunciou depois de ficar algum tempo só olhando os movimentos da garota, que virou para ele, não acreditando no que havia ouvido.
Olhei para Luke, que estava visivelmente desconfortável com a situação toda. Ele colocou uma das mãos no bolso e bebeu um pouco de seu copo, continuando em silêncio. ficou alguns segundos sem saber o que dizer, apenas encarando com um olhar, digamos, cortante. revirou os olhos, rindo sarcástica, e balançou a cabeça em negação.
- Você é inacreditável, .
’s POV
Saí da cozinha em uma completa fúria. Eu não conseguia acreditar que havia dito aquelas coisas e agido daquela forma comigo. A única coisa que eu estava tentando fazer era ajuda-lo, já que seus novos amiguinhos não se preocupavam o suficiente.
- Ei, sobre o ... – Luke tocou o meu ombro assim que chegamos na sala, sentando no sofá. – Ele está bêbado. Tenho certeza que ele não quis dizer nada daquilo.
- O problema é que eu acho que ele quis. – eu suspirei e senti sua mão fazendo um carinho na minha, que estava sobre minha perna. – Sabe, ele nunca foi grosso assim comigo. Pelo menos não depois de quando começamos a não nos odiar, quando crianças.
- Quem sabe mais tarde vocês consigam conversar direito. – ele sorriu e eu assenti, passando a mão no cabelo, tirando uma mecha da frente do meu rosto. – Não fica com isso na mente, só piora a situação.
- Tudo bem. – eu sorri brevemente e ele assentiu, sorrindo junto. – Desculpa pelo jeito que ele se referiu a você.
- Ah, tudo bem. – ele riu, balançando a cabeça. – Pareceu que ele estava com ciúmes, mas sei lá, né?
- O ? – dessa vez eu fui a pessoa que riu, fazendo Luke me encarar com as sobrancelhas levantadas. – Não... Eu e o ... A gente é só amigo. – eu confirmei com a cabeça, tentando passar uma segurança que nem eu mesma tinha sobre o assunto.
- Se você diz. – deu de ombros e riu, bebendo um pouco.
Parecia que toda aquela paranoia da e do , acabou plantando uma sementinha em minha mente. Eu realmente não via como um potencial “namorado” ou algo assim. É até estranho falar isso, desse jeito. Nós éramos próximos demais. Amigos demais. Não sei se tudo isso poderia dar em alguma coisa, mas algo dentro de mim agora dizia que existia uma pequena chance de acontecer. Não sei se este algo no meu interior está implorando para que aconteça ou quer evitar ao máximo até pensar sobre, mas sei que existe.
- EU VOTO EM JOGARMOS VERDADE OU DESAFIO. – ouvi uma voz anunciando em um tom bem alto, vindo da cozinha. Olhei para trás e vi Amber com seu bando, todas riam e batiam palmas, animadas.
– Lindo, onde podemos colocar a garrafa para jogarmos? - ela acariciou o braço de , que sorriu, me fazendo revirar os olhos, enjoada.
- Na sala. – Amber sorriu e assentiu, caminhando com a maioria dos jogadores e das líderes em seu encalço. – Você pode me dar licença, bonitinha? – ela sorriu cínica e eu a encarei, sorrindo da mesma forma e espremendo os olhos, levantando.
- Claro, fiquem à vontade. – levantei e Andrews veio logo atrás de mim.
Algumas pessoas afastaram um pouco o sofá do centro da sala e colocaram a garrafa vazia em cima da mesa de centro, sentando em roda logo em seguida. Vi e saindo da cozinha, olhando para a situação.
- Vão jogar ou não? – Brad olhou para nós quatro, que estávamos em pé um pouco afastados da roda.
- Hm... – nos olhou, como se perguntasse se iríamos ou não, e eu balancei a cabeça em negação.
- Você não vai se juntar a nós? – Amber olhou diretamente para mim e eu arqueei a sobrancelha. – Vamos lá, viva um pouco.
Olhei para , que me encarava sem expressão nenhuma, me fazendo gelar. Olhei para , que me olhava atenta, e revirou os olhos assim que eu a observei, como se dissesse “deixa ela para lá.”. Luke estava com a mão em minhas costas, apenas observando o momento e assistia à cena, provavelmente incrédulo com como havia virado outra pessoa.
- Tudo bem se não quiser. Algumas pessoas são caretas demais para certas coisas. – deu de ombros e eu virei o conteúdo em meu copo, indo automaticamente para a roda.
- Eu vou jogar. – ela sorriu, assentindo e olhou para Brad, vitoriosa.
Sentei em um dos lugares vazios, junto com , e Luke, e respirei fundo. Olhei para , que estava em frente ao lugar onde sentei, e ele me analisava com a testa franzida, como se estivesse confuso demais para falar ou fazer qualquer coisa. Eu arqueei a sobrancelha e ele suspirou, voltando a olhar para a garrafa em cima da mesa. Amber girou a mesma, que ficou alguns segundos em movimento até parar apontada para Sam, sentada ao lado de .
- Verdade ou desafio? – Amber sorriu, olhando para Samantha, que revirou os olhos e riu.
- Desafio. – todos ficaram ainda mais atentos ao jogo depois da escolha da garota, fazendo Amber rir.
- Eu te desafio a virar 10 shots de tequila. – Sam balançou a cabeça em negação.
- Você é a pior. – levantou e foi até a cozinha, pegando a garrafa e começando a encher um copo pequeno, virando o mesmo. Repetiu o movimento outras nove vezes, até completar o desafio. – Ok, minha vez de girar.
Algumas rodadas passaram, cheias de desafios que envolviam bebidas e mensagens para pessoas indesejadas, e também de verdades que nunca imaginaríamos. Chegou a vez de Brad rodar a garrafa, que parou apontando para em alguns segundos. A garota respirou fundo, olhando para o capitão do time.
- E aí, o que vai ser? – o garoto encostou as costas na parede atrás dele, adquirindo uma pose convencida, junto com sua sobrancelha arqueada e seu sorriso de lado.
- Verdade. – assentiu, como se tivesse acabado de perceber que era a alternativa mais segura quando se tratava de Brad.
- É verdade que você já teve interesse em outra pessoa do time, além do seu namoradinho? – o sorriso maroto do garoto aumentou ao passo em que ficava vermelha, envergonhada.
A garota limpou a garganta e eu a observei, confusa. Para mim, a resposta negativa era óbvia, já que ela nunca havia me contado nada sobre uma outra pessoa do time de futebol por quem ela tinha uma queda, antes do . Ela olhou para , que a encarava com a mesma confusão, e respirou fundo.
- É. – ela respondeu, simplesmente. Brad riu debochado e assentiu.
O jogo continuou, consideravelmente tranquilo. e haviam ficado quietos, talvez ainda abalados pela pergunta feita a ela. Luke e eu conversávamos normalmente, já que a garrafa nunca parava em nenhum dos dois, não nos comprometendo.
- Verdade ou desafio, ? – eu observei Lisa perguntando para , que sorriu.
- Desafio.
- Eu desafio você a beijar a Amber. – Amber revirou os olhos, sorrindo, e eu revirei os meus, mas não sorria. Vi sorrir de uma forma maliciosa, ainda embriagado.
- Mas isso nem é desafio.
revirou os olhos e olhou para Amber, que ainda sorria. Ele deu um leve sorriso antes de aproximar seus rostos, com a mão na nuca da garota. Todos aplaudiam e riam do espetáculo, fazendo com que eu me sentisse enojada. Engoli em seco, assistindo à cena. terminou o beijo com um selinho e Amber olhou diretamente para mim logo depois, com um ar debochado pairando sobre ela. Eu revirei os olhos e respirei fundo, levantando e saindo da roda.
’s POV
Observei levantar da roda, depois do grande show que e Amber resolveram nos dar. Balancei a cabeça em negação, olhando para , que me encarava como se não entendesse o que havia acontecido.
- Eu vou checar como ela está. – falei no ouvido de , que assentiu.
O clima entre nós dois não estava dos melhores, não depois da minha confissão no jogo. Não era como se a quedinha que eu tive por outra pessoa se comparasse ao amor que sinto por ele, de qualquer forma, mas foi uma surpresa. Respirei fundo por conta do turbilhão de pensamentos em minha mente.
- Nós podemos conversar depois? – perguntei, o vendo olhar para mim. Ele deu um leve sorriso e balançou a cabeça.
- Claro. – senti seus lábios sobre os meus por alguns segundos, me fazendo suspirar aliviada. – Vai lá cuidar da , está tudo bem.
Eu assenti e levantei logo em seguida. Fui até a cozinha, pegando um copo de bebida, caso ela quisesse. Ouvi passos entrando na mesma e virei, vendo me olhar, ainda bêbado, mas menos do que antes.
- O que foi? – perguntei, seca. Não estava com paciência para ele naquele momento, de verdade.
- O que aconteceu com a ? – ele se apoiou na ilha e eu revirei os olhos, rindo desacreditada da pergunta estúpida que ele fez.
- Você poderia dar aulas de como ser um babaca. – passei por ele, indo em direção ao fundo da casa.
A vi sentada na grama, perto da casa da árvore de . Respirei fundo e sorri quando ela levantou a cabeça e me olhou.
- Tudo bem? – sentei ao seu lado e ofereci o copo, a vendo respirar mais forte e o pegar da minha mão.
- Só confusa. – deu de ombros e eu assenti. – O que deu nele?
- Eu... – pensei se deveria ou não falar sobre nossa conversa no jardim da casa, quando ele disse que ia conversar com ela. – não sei.
- Parece que ele se tornou outra pessoa. – eu confirmei com a cabeça. – O estrelato não foi bom para ele. – ela tentou quebrar o clima com uma piada e eu ri, passando o braço por seu ombro e a trazendo mais para perto.
Ficamos ali por um tempo, em silêncio. Ela bebia de vez em quando e eu ouvia sua respiração pesar às vezes, como se estivesse prestes a chorar. Acariciei seus cabelos e suspirei, a vendo levantar e ficar com o olhar perdido em algum ponto em sua frente.
- Vai ficar tudo bem, você sabe, não é? – tentei olhar para ela, que ainda estava concentrada. Ela assentiu e depois virou para mim, sorrindo fraco.
- É. Vai ficar tudo bem. – falou mais para si mesma do que para mim, e eu confirmei com a cabeça, sorrindo.
- Agora, vamos parar de falar disso e nos animar. – ela riu, balançando a cabeça.
- Talvez isso não nos anime, necessariamente... Mas em quem você tinha interesse antes do ? – a vi perguntar um pouco receosa, me fazendo rir.
- Eu já tive uma leve quedinha pelo Brad. – brinquei com meus dedos, envergonhada por admitir aquilo em voz alta. – Mas faz tempo. Foi no ginásio ainda.
- Ah... agora faz sentido ele saber e eu não. – eu ri, assentindo. – O já sabia?
- Não. – neguei com a cabeça e suspirei. – Vamos conversar mais tarde sobre isso.
- Brad é um idiota. – assenti prontamente, fazendo rir. – Só quis falar isso para deixar com ciúmes. Mal sabe ele que você está mil vezes melhor assim. Ele é um babaca.
- Nada novo sob o sol. – dei de ombros e riu, afirmando com a cabeça. – Ele sempre deixou claro que seria assim.
- O importante é que seu namoro com o é muito maior do que isso e vocês vão ficar bem. – ela olhou para mim e sorriu, me fazendo a acompanhar.
- E sua amizade com o é muito maior do que essa atitude ridícula dele. - ela suspirou e eu continuei, pensando mais um pouco. - Tudo bem que essa atitude dele é imensamente ridícula, mas... - riu.
*****
’s POV
A maioria da festa já estava indo embora, como já estava de madrugada. Olhei ao redor e vi a bagunça que havia ficado aquela casa. Suspirei e olhei para o quintal dos fundos, onde e estavam sentados conversando. O clima entre os dois não estava dos melhores, mas eu tinha certeza que daria tudo certo e eles ficariam bem.
- Bom, acho que já vou indo. – ouvi a voz de Luke atrás de mim, me tirando dos meus pensamentos e assenti. – Obrigado pela noite.
- Obrigada por vir. – eu sorri e ele colocou as mãos no bolso, olhando para os próprios pés e depois de volta para mim. Eu ri do seu jeito tímido e dei um beijo em sua bochecha, fazendo com que ele corasse um pouco e me olhasse, rindo. – Te vejo segunda?
- Claro. No mesmo período de sempre. – ele afirmou com a cabeça e piscou, antes de sair junto com seus amigos, que o esperaram.
Fui até a sala, tentando dar uma geral na casa antes de ir embora e vi Amber descendo do andar de cima e revirei os olhos. Senti uma esbarrada em minhas costas e olhei para trás, vendo o rosto da garota de cabelos loiros e olhos claros me olhando, com uma expressão desafiadora.
- Ah, desculpe. Não te vi. – ela sorriu e eu revirei os olhos. – Sabe, mesmo tentando pegar o meu lugar no time, você continua invisível. E mesmo tentando ficar com ele, você sabe que eu sempre vou ganhar. – ela sorriu e eu franzi a testa, tentando entender suas palavras.
- Do que você está falando? – virei para ela, cruzando os braços.
Ouvi outros passos do início da escada e dessa vez vi . A garota me mediu mais uma vez naquela noite e sorriu, virando para o garoto. Ela colocou os braços em volta de seu pescoço e eu automaticamente senti uma raiva me consumir.
- Vamos, lindo? – senti os olhos de sobre mim e só suspirei, indo até a cozinha e procurando algo para fazer antes que tivesse que sair correndo daquela casa para não presenciar mais uma cena indesejável, como os dois se atracando de novo.
Comecei arrumando a cozinha, colocando todos os potes sujos na pia e pegando uma sacola para recolher os copos usados. Peguei todos os da cozinha e parti para a sala, que já estava vazia. Peguei também as garrafas vazias dali, colocando debaixo do braço, para separar os materiais diferentes. O vento balançou a cortina da janela da frente, me chamando a atenção. Olhei através da mesma e vi com um braço apoiado na porta de um táxi, olhando para Amber, que estava em pé em frente à porta, conversando com ele. Saí rapidamente dali, indo até os fundos e colocando os lixos na lixeira grande do lado de fora.
- Eu já vou, está bem? – olhei para o casal. Os dois me olharam compreensivos e assentiram.
- Precisa de companhia? – me perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Não, está tudo bem. – suspirei e sorri fraco. – Eu dei um jeito na sala e na cozinha, acho que não vai ser tão difícil para vocês.
- Qualquer coisa, liga para a gente. – me fitou com um olhar paternal e eu ri, assentindo.
- Está tudo bem. Relaxem. – eu sorri, os assegurando de que não era nada demais e fui até o andar de cima, pegando minha mochila no quarto do e descendo.
Encontrei o mesmo entrando pela porta assim que cheguei no andar debaixo, me fazendo suspirar e revirar os olhos.
- Obrigada pela ajuda na arrumação. – sorri debochada e ele balançou a cabeça, rindo.
- Ah, eu achei que seu namoradinho Luke estaria aqui para te ajudar. – eu o olhei, incrédula, e ele continuou. – Sabe, você não pareceu tão sozinha durante a festa.
- Me poupe, ! – soltei o ar, exausta da situação, e passei por ele, chegando até a porta.
- Típico.
Ouvi sua voz dizer, em um tom mais baixo do que antes e virei para ele novamente, com as sobrancelhas franzidas.
- Como é? – perguntei com uma sobrancelha arqueada e ele me encarou.
- Eu disse: típico. Você sempre fugindo ou desviando do assunto. – fiquei alguns segundos apenas o olhando, tentando entender o que aquilo poderia significar.
Caminhei até ele, ainda incrédula com o que havia escutado e suspirei.
- Olha, eu não sei o que deu em você, mas eu espero que passe logo e que você deixe de ser esse babaca. – o olhei de cima a baixo e balancei a cabeça, fazendo o caminho de volta e abrindo a porta.
- Vocês deveriam parar de me falar isso. – o vi passar os dedos pelo cabelo e balancei a cabeça, negando.
- Você é que deveria começar a ouvir.


Capítulo 19

O fim de semana passou rápido demais para o meu gosto. Depois de todos os acontecimentos na casa do , eu preferia viver em um looping infinito desses dois dias nos quais eu não fui obrigada a estar perto dele e de sua atitude arrogante. Tomei esse tempo para tentar entender um pouco o que tinha acontecido. Minhas opções são: alguma coisa aconteceu enquanto ele, e ficaram no jardim ou ele ficou tão bêbado que derreteu alguma parte do cérebro e começou a agir assim. Não sei para qual estou mais inclinada.
Acordei mais cedo na segunda-feira e pedi para o meu pai me levar para a escola naquele dia. Avisei e , que entenderam a situação e apoiaram minha decisão. Eu sei que seriam apenas alguns minutos de um longo dia no qual teria que lidar com a situação, mas seriam minutos que eu teria sozinha com a minha mente.
Coloquei uma roupa qualquer, peguei minha mochila com meus materiais do dia e também minha bolsa de treino. Desci as escadas e peguei uma fruta para comer no caminho, já que prezei pelo meu sono e não acordei tão mais cedo que o normal, não reservando um tempinho para tomar café na mesa.
- Filha, está tudo bem? - meu pai me perguntou quando cheguei na cozinha.
- Sim, tudo certo. - tentei sorrir e ele me encarou por alguns segundos, duvidando da afirmação. - Vai ficar, pelo menos.
- Se quiser conversar, sabe que seu velho sempre estará aqui, certo? - eu assenti sorrindo e ele deu um beijo no topo da minha cabeça. - Vamos?
- Vamos.
Meu pai foi na frente, indo até a garagem e eu passei pela geladeira, reparando no papel preso nela. Passei os dedos pelas letras que indicavam o endereço de seu trabalho e suspirei. A ideia de ir até ela ainda me apavorava e me deixava esperançosa, ao mesmo tempo. Sorri fraco e caminhei até a garagem, entrando no carro logo em seguida e partindo para a escola.
Chegamos em alguns minutos, como sempre um caminho bem curto até o colégio. Respirei fundo, olhando ao redor e não encontrando nenhum sinal dos meus amigos.
- Se quiser faltar hoje, eu te levo para casa. Posso faltar no trabalho também e nós vamos ao parque. Ou qualquer outra coisa. - meu pai me olhava atencioso e eu ri, balançando a cabeça em negação.
- Acho que ficarei bem, não esquenta. - levantei a sobrancelha, tentando passar segurança a ele, que assentiu.
- Qualquer coisa, me liga. Se precisar que eu te busque eu tento sair do trabalho, ok? - ri fraco e dei um beijo em sua bochecha.
- Sua filha vai ficar bem, senhor . Pode ficar tranquilo. - pisquei para ele e abri a porta do carro.
- Boa aula.
- Obrigada. - sorri e saí do carro, respirando fundo depois de colocar as duas alças da mochila nos ombros.
Caminhei até a entrada e fui direto para meu armário. Não costumava chegar naquele horário, já que nós sempre chegávamos super em cima da hora da aula começar, então aproveitei para pegar um livro e ir até a sala.
O primeiro período sempre era o mais cheio, com toda a turma dos populares (lê-se agora odiados por mim desde sexta), então precisava desfrutar de todo o tempo que tinha sem o estresse, já que eles chegariam a qualquer momento. Olhei ao redor e suspirei. Aquela escola nunca pareceu tão vazia. Sentei na porta da sala do primeiro período, ao lado dos grandes armários no corredor, e afundei minha mente no livro que estava lendo. Afundei tão profundamente que os minutos pareceram nem passar e logo todos estavam chegando, me chamando a atenção pelo movimento. Respirei fundo e levantei, caminhando até o meu lugar usual na sala e continuei a ler o livro. Ou, agora, tentei continuar. Minha mente começou a girar ao redor da ideia de que daqui alguns minutos eles chegariam e eu teria que lidar com a realidade dura e cruel de sexta.
- Oi, amiga. - ouvi a voz baixa de , que chegou sozinha e sentou na cadeira ao meu lado, me olhando com um sorriso triste. - Como você está?
- Bem. - assenti brevemente e ela entortou um pouco o sorriso, passando a mão no meu ombro e olhando para a porta, me chamando a atenção.
Olhei para a mesma direção e vi e entrando, respectivamente. Os dois pareciam animados, provavelmente ainda anestesiados da grande partida de sexta-feira. Suspirei e voltei a olhar para o meu livro, dessa vez só para fingir que tinha algo a fazer além de pensar nele.
- Vai dar tudo certo. - sussurrou e eu olhei para ela, sorrindo levemente e voltando a atenção para o objeto em minha mesa.
- Bom dia, ! - , que sentou na frente da namorada, me cumprimentou assim que chegou em sua mesa e eu o olhei sorrindo amarelo. Ele riu fraco e balançou a cabeça.
- E aí, pequena. - ouvi a voz soando natural de , o que me chamou a atenção e me fez olhar para ele.
Os olhos de não pareciam ter nenhum resquício de arrependimento ou de culpa. O encarei por alguns segundos, sob os olhares atentos de e , e balancei a cabeça em negação, rindo incrédula.
- E aí, . - devolvi o cumprimento e voltei a olhar para meu livro. Senti o peso do olhar de em mim e respirei fundo, o vendo sentar na minha frente logo em seguida.
A primeira aula passou quase se arrastando. Fiquei a aula toda observando a lousa, mesmo que minha mente estivesse em um lugar completamente diferente do que eu estava fisicamente, e vez ou outra virava para mim, tentando um contato que eu não estava muito a fim de permitir. Não era possível que ele tivesse esquecido de tudo o que ele fez e disse há três dias. Não era. Ou era? Bom, de qualquer forma, eu não fui a babaca na história.
Assim que ouvi o sino tocando, anunciando o final do primeiro período, coloquei minhas coisas na mala o mais rápido possível e me levantei, batendo o recorde de todos os alunos desesperados e saindo da sala.
*****

Não consigo descrever como todos os períodos foram estranhos naquela segunda. A aula de fotografia foi extremamente solitária, já que Luke havia decidido faltar no dia e eu, consequentemente, fiquei sozinha com meus pensamentos por pouco mais de 50 minutos. O que me fez perceber que eu também tinha muita coisa para avaliar na minha situação com o Andrews. Quero dizer, parecia que tinha ficado tudo resolvido, mas talvez tenha parecido só para mim. Era um assunto extremamente delicado com o qual eu não conseguia lidar nem internamente, quem dirá com ele. No almoço, eu e a saímos da escola para almoçarmos em uma lanchonete por perto, antes do nosso treino.
- Como foi o dia? - perguntou, me fazendo rir.
- Além de extremamente desconfortável? Bom, eu diria imprevisível e digno de piadas. - riu e eu suspirei. - Como ele conseguiu nem tocar no assunto?
- Do mesmo jeito que você não o fez. - deu de ombros e eu bufei. Odiava quando ela estava certa em situações nas quais eu deveria estar.
- Tudo bem, mas não fui eu quem beijou outra pessoa na frente dele. - mordi meu lanche e ela pigarreou. - O que?
- Talvez essa frase tenha soado como um pequeno ciúme, . - ela começou com aquele tom que ela usava quando ia zombar de mim e eu revirei os olhos.
- O fato é: ele beijou a Amber. Na minha frente. Várias vezes. E foi grosso comigo por ela. - tentei consertar a situação enquanto me olhava com as sobrancelhas arqueadas. - Ciúmes por amizade é uma coisa diferente. Ele me tratou como lixo por causa de uma garota. Ponto final.
- Você quer se convencer disso ou me convencer? - eu tomei um gole do meu suco enquanto ela ria. - De qualquer forma, não está conseguindo.
- Você é uma péssima amiga, sabia? Assim como . - ela riu e se levantou, indo atrás de mim e me abraçando pelos ombros.
- Eu só quero fazer você enxergar o óbvio, . - deu um beijo no topo da minha cabeça e voltou a se sentar. - E parar de se martirizar por isso. Acontece, é normal.
- Vou te ignorar, tá? - ela riu e nós continuamos a comer, dessa vez um pouco mais silenciosas do que antes. - Ele comentou algo sobre isso com vocês? - perguntei depois de alguns segundos de silêncio e sorriu.
- Não comigo, pelo menos. Talvez tenha falado com o sobre, não sei. - ela colocou sua mão sobre a minha na mesa e a apertou de leve. - Mas a comunicação tem que acontecer entre vocês dois, você sabe, não é? - eu assenti e suspirei. - E tudo bem se você conversar com ele só para jogar tudo na sua cara e desabar, mas precisa falar. Qualquer coisa, se você quiser quebrar ele na porrada, eu te ajudo. Não apoio, mas se for a opção certa para você. - deu de ombros e eu ri, balançando a cabeça em negação. - Se ele não iniciar esse contato, você tem que fazer. Senão essa situação vai perpetuar e nenhum dos dois vai saber o que se passa na cabeça do outro.
E, mais uma vez, estava certa. Por mais que eu não quisesse admitir.


Capítulo 20

O treino do time de líder de torcida começou bem. Depois da minha conversa com a , tudo parecia mais claro. Era óbvio que, internamente, eu sabia que eu tinha que conversar com ele sobre tudo o que estava se passando na minha cabeça, mas tudo parecia mais difícil que isso na vida real. E se eu estragasse toda a nossa amizade por causa de um ciúmes sem fundamento, já que nós éramos *apenas* amigos. Mas, ao mesmo tempo, eu precisava tentar resgatar todas as migalhas da nossa amizade que haviam sido espalhadas desde sexta-feira e tentar suprimir tudo o que eu estava sentindo, se essa fosse a opção certa. Toda essa batalha interna era demais para aguentar sozinha, eu precisava falar com ele.
No treino, nós nos organizamos em um novo esquema, para a abertura do próximo jogo do campeonato. Eu não sabia que depois de todo jogo nós teríamos uma nova coreografia, mas era bom inovar. Dessa vez, nós teríamos mais tempo para nos prepararmos, o que me trazia mais conforto.
- Bom, meninas, a coreografia desse jogo é um pouquinho mais difícil do que a última. - Sam começou a falar, com uma expressão de dó e eu ri. - Mas, nós conseguimos. Temos 15 dias até o próximo jogo e, até lá, temos que fazer isso ficar perfeito, certo?
Todas as meninas aplaudiram e concordaram, chamando a atenção dos jogadores, que treinavam na outra metade do campo. Olhei para onde eles estavam e vi olhando em minha direção. Ele parecia um pouco chateado e nós só quebramos o contato visual quando Trevor chegou ao seu lado, batendo em seu ombro e falando algo que eu, obviamente, não consegui desvendar.
Por incrível que pareça, consegui me concentrar bastante nos movimentos e fiz um bom trabalho. Pelo menos, era o que eu achava, até um pouco antes do fim do treino.
- A rainha desse time chegou. - ouvi a voz de Amber de longe e minha mandíbula se enrijeceu automaticamente. Não era saudável sentir aquela reação em resposta a alguém, mas foi o que aconteceu.
Algumas meninas foram até ela, que ainda tinha seu braço esquerdo engessado, e começaram uma conversa animada. Sam suspirou, ficando do meu lado, e eu olhei para ela. Ela tinha uma expressão triste.
- O que aconteceu? - perguntei e ela piscou algumas vezes, como se estivesse voltando à realidade.
- Bom, vadias, vamos ver como vocês estão. - Amber se pronunciou e eu voltei minha atenção para ela, que agora se posicionou na frente de um dos bancos e colocou a mão direita na cintura, olhando com autoridade para todas as meninas que agora voltavam para seus lugares.
- Ela esquece que eu sou a capitã do time agora. - Sam sussurrou, revirando os olhos em seguida e indo para sua posição.
- Vamos, lindinha. Posição. - Amber se referiu a mim e eu respirei fundo para não surtar na frente de todo mundo. Sorri falsamente e voltei para meu lugar, ao lado de .
- Calma. - ouvi sua voz baixa em meu ouvido e assenti, sorrindo fraco para .
Nós começamos a coreografia e, alguns segundos depois, ouvimos o apito que anunciava o fim do treino dos meninos. Continuei tentando focar nos passos e olhei para a arquibancada, procurando um lugar neutro para o qual eu pudesse olhar sem querer me jogar do topo da pirâmide. Em algum ponto, os meus pensamentos começaram a me consumir e me fizeram perder um tempo, o que fez eu pisar em falso e quase arruinar a pirâmide que estava prestes a ser feita.
- EI, NOVATA. - Amber esbravejou e eu engoli em seco, tentando levar a raiva junto. - É assim que você quer me substituir? Vai ter que melhorar um trilhão de vezes para chegar aos meus pés, viu?
Vi e passando perto de onde estávamos e Amber chamou por , o que me fez rir incrédula, sem ter noção de que o tinha feito fora da minha cabeça também.
- Você não deveria estar rindo quando quase estragou a vida de todas essas meninas. - Amber exagerou a situação totalmente, enquanto jogava seus braços ao redor do pescoço de , que me olhava desconfortável. - Eu faria mil vezes melhor do que você até com o braço engessado, se esforce um pouquinho, fofinha.
Eu ri, balançando a cabeça em negação e suspirei.
- Pode voltar para seu lugar no time então, “fofinha”. - enfatizei o apelido que ela usou contra mim e ela sorriu, parecendo inabalável. - Se está tão desesperada assim para mostrar que é melhor que eu, fique a vontade. Não vou te impedir de nada. - dei de ombros e ela arqueou a sobrancelha. Caminhei até o banco, ao lado deles, onde estava minha bolsa. - Só tenha em mente que você está sendo completamente inconveniente. O time estava completamente bem sem esse seu show e sendo liderado pela Sam. Mas, o que eu posso saber, não é mesmo? Sou só uma novata. - Coloquei a bolsa no ombro e dei uma última olhada para , que continuava estático e ri, balançando a cabeça. - Inacreditável.
- Não se esquece do que eu te falei na sexta, querida. - Amber falou um pouco mais alto, já que eu tinha caminhado alguns passos para fora da concentração.
- Ah, pode deixar. Acho que você tem que se preocupar com outras pessoas esquecendo o que aconteceu na sexta-feira, e não comigo. - olhei para trás, focando meus olhos em , que pareceu transtornado, e voltei a fazer meu caminho.
Comecei a caminhar para casa, com a roupa do treino e sem nem me importar com mais nada. Eu odeio toda essa situação, odeio ter que passar por isso e odeio ainda mais que minha amizade com esteja no meio de tudo. Senti algumas gotas atingindo meu rosto assim que pisei no estacionamento da escola e ri para o céu.
- Ótimo! Não podia piorar. - balancei a cabeça e continuei caminhando.
Agora, não tinha mais como negar como a relação de e Amber me incomodava. Além de ela ser uma pessoa horrível, ela me fazia querer ser uma pessoa horrível só para não me abalar com nada do que ela dizia e conseguir a atingir tanto quanto ela conseguia comigo. Não era fácil ter que lidar com todo aquele ódio dela entrando sob minha pele e eu não sabia exatamente o que fazer quanto a isso. E ver sob tudo isso: caindo nas armaçõezinhas que ela planejava, fazendo tudo o que ela queria e sendo seu cachorrinho era pior ainda, porque me fazia duvidar de quem ele era. Como ele podia ser duas pessoas tão diferentes?
Virei a primeira esquina da escola, sentindo a chuva ficando exponencialmente mais forte. Me agarrei à alça da minha bolsa e caminhei um pouco mais rápido.
- ! - ouvi , gritando entre o barulho da chuva alcançando o chão e continuei meu caminho. - , espera! - a voz pareceu um pouco mais próxima e logo depois eu senti sua mão em meu braço, o que fez com que eu olhasse para ele. - O que foi aquilo?
- , pelo amor de Deus! - ri sem humor. - Você não precisa fingir que está tudo bem, quando claramente não está.
- E você também não! Por favor, me fala o que está acontecendo para eu tentar consertar. - ele pareceu verdadeiro, me olhando no fundo dos olhos e eu engoli em seco, suspirando.
- Você está feliz? - perguntei, genuinamente, e ele pareceu confuso.
- O que?
- Você está feliz com ela? - repeti minha pergunta, complementando para ser mais exata e ele respirou fundo.
- , eu não estou com ela. - ele falou, firme, e eu revirei os olhos. - É sério! Eu não estou com a Amber.
- Bom, você sabe que depois de sexta é meio difícil de acreditar, não sabe? - falávamos em um volume um pouco mais elevado do que o normal, por conta da chuva.
- Eu estou falando sério. - ele gesticulou e eu ri.
- Como estava falando na sexta? - ele juntou as sobrancelhas em confusão e eu continuei. - Quando me tratou como lixo na sua festa? Quando começou a se atracar com a Amber na minha frente, como se fosse a porra de um espetáculo?
- , eu…
- Você se tornou outra pessoa, . Completamente. E essa nova pessoa não é uma boa pessoa para mim. Você faz questão de demonstrar isso na minha frente, sempre. Desde o dia em que eu te vi com ela, na sua casa, eu não consigo tirar isso da minha mente. Ela é uma pessoa horrível. E você está se tornando uma também, . - suspirou e eu balancei a cabeça em negação, voltando ao meu caminho.
- Talvez essa outra pessoa exista porque viu a pessoa com quem ela mais queria estar, com outra. - ouvi sua voz e virei para ele, que me olhava com os olhos levemente mais pesados do que antes, como se estivessem repletos de decepção.
- O que?
- Eu fui falar com você, na festa, depois de você ter ido ao banheiro. Chegando lá, eu vi você e o Luke se “atracando”, como você diz. - meu coração começou a bater mais aceleradamente. - Eu perdi a cabeça. Eu sei. Me desculpa, eu… Eu não queria agir assim, eu não sei o que acontece, e…
- O que você ia me falar? - interrompi ele com a pergunta e me olhou, confuso. - O que você ia me falar naquela hora?
- Bom, eu… eu ia conversar sobre a festa da Amber. - ele coçou a nuca e eu juntei as sobrancelhas em confusão. Ele continuou. - A verdade é que eu não como agir desde aquela festa. Faz tempo, mas a dúvida ainda me assombra. Eu quero estar perto de você, . Eu preciso, mais do que qualquer outra coisa. E eu não gosto de como a gente está agora. Eu sinto muito que isso te machuque, que eu tenha te machucado. Me desculpa. Eu só não sei o que fazer depois do que aconteceu.
- Como assim? O que aconteceu?
- Depois… - ele respirou fundo. - Depois do nosso beijo.


Capítulo 21

Naquele momento, parecia que tudo ao meu redor havia congelado e eu não conseguia pensar em mais além das palavras que ecoavam em minha mente: “depois do nosso beijo”. Soltei o ar que nem sabia que prendia e voltei para a realidade, só agora percebendo que estava encarando .
- ? - ele juntou as sobrancelhas em confusão e adquiriu uma postura preocupada. - Você tá bem?
E, de repente, tudo voltou à minha mente.
Flashback On - Festa da Amber, penúltimo ano do colegial.
Olhei ao redor por alguns segundos, tentando assimilar tudo aquilo. Agora estávamos os quatro em um cômodo que eu não fazia ideia de onde ficava, mas tinha noção de que ainda estava na casa certa. Pelo menos eu esperava! Olhei ao redor e vi alguns meninos e meninas conversando alto, rindo e às vezes até se beijando perto da porta do quarto. Ah! Era um quarto. Provavelmente de hóspedes, não acho que Amber deixaria a porta de seu quarto aberta para o bacanal que poderia acontecer naquela festa. Nunca se sabe.
- Vamos pegar mais bebida. - falou um pouco enrolado e eu ri, claramente alterada. - É sério, estou sóbria demais.
- Você sabe que se tem uma coisa que você não está, essa coisa é sóbria, não sabe? - perguntei com a sobrancelha arqueada e ela riu, se apoiando no quando se desequilibrou um pouco.
- Ei, ei, calma. - passou a mão na cintura de , que balançou a cabeça em negação e encostou sua cabeça no ombro do garoto.
Eu sorri com a cena, e olhei para , que estava conversando com um dos meninos do time que passou por nós. Respirei fundo e voltei minha atenção para os dois de novo.
- Vamos descer? Quero pegar um ar.
Saímos do quarto e chegamos à sala, onde se jogou no sofá, levando junto.
- Acho que a não vai levantar tão cedo. - sussurrou ao meu lado e eu ri, olhando para ele, que sinalizou com a cabeça para o jardim.
Caminhamos até o lado de fora e eu respirei mais fundo assim que a brisa fria da noite atingiu meu corpo. Não é como se eu odiasse lugares com bastante gente, mas o calor do aglomerado claramente não é minha coisa favorita no mundo. Sentei na grama e riu baixinho, sentando ao meu lado.
- Não é minha culpa se a grama parece ser a coisa mais confortável do mundo. - dei de ombros e ele assentiu, olhando para mim.
Suspirei olhando o movimento quase nulo na rua, a não ser pela casa de Amber, e deitei na grama, olhando as estrelas.
- Você é claramente a personagem clichê de um livro. - revirou os olhos, rindo, e eu dei um tapinha em sua coxa.
- Às vezes as melhores coisas são clichês. Por isso são clichês. - meu raciocínio fazia sentido na minha cabeça, as palavras que saíram um pouco confusas. Culpa do álcool.
deitou ao meu lado e eu olhei para ele de lado.
- Viu? O clichê é tentador. - dei de ombros como se dissesse “eu tinha razão” e ele assentiu.
Respirei fundo o ar fresco e apreciei o silêncio instalado.
- Às vezes eu me pego pensando em como a gente é sortudo por ter tudo isso, sabe? - cortou o silêncio momentâneo e eu o olhei, confusa. - Esses momentos. E esse mundo. Não sei explicar.
Assenti, ainda o encarando e sorri.
- A gente é muito sortudo. - voltei a olhar para as estrelas. - Eu amo esses momentos de contemplação e sinceridade que o álcool proporciona. - ri e concordou, virando de frente para mim.
- Eu acho que eles são os momentos mais honestos. - eu assenti, olhando para ele.
Ficamos nos encarando por alguns segundos e eu engoli em seco, pensando demais sobre coisas que não passavam pela minha mente há um tempo.
- Então quer dizer que o senhor tem uma queda pela anfitriã? - eu perguntei com a sobrancelha arqueada, empurrando o peito dele de leve, implicando.
- Eu sabia que você ia pegar no meu pé por isso. - revirou os olhos e eu levantei as mãos.
- Você deixou a piada pronta.
- Eu não tenho uma queda pela Amber, . - eu juntei as sobrancelhas e afirmei com a cabeça, como quem não acredita nem um pouco no que acaba de ouvir. - É sério.
- Você não precisa esconder nada de mim, , relaxa. - falei, rindo, e vi a expressão de ficar cada vez mais séria.
Parei de rir assim que ele levantou, sentando na grama de novo. Levantei minhas costas um pouco depois, arrumando meu cabelo que provavelmente estava uma bagunça e olhei para ele, que tinha o olhar perdido em algum ponto longe.
- Eu estava brincando, você sabe né? - perguntei e me olhou, parecendo me analisar.
- Eu realmente não tenho uma queda por ela, . - eu assenti e sorri, tentando assegurar que eu só estava implicando com o garoto. - E você é a última pessoa que eu quero que pense isso.
Foquei meus olhos que agora estavam perdidos na grama nos seus e parecia que eu poderia mergulhar na profundeza de seu olhar a qualquer momento. Vi os seus desviarem para meus lábios e entendi a mensagem. A quem queríamos enganar?
- Mas você tem por alguém? - dessa vez minha voz saiu mais calada, como se não quisesse que mais ninguém escutasse além de nós dois. riu e eu mordi o interior da boca, nervosa.
- Bom, eu tenho. - senti meu coração acelerar e um leve sorriso involuntário começou a aparecer em meu rosto. - Por uma garota que eu conheci aos 7 anos e que se tornou muito importante para mim desde o primeiro dia. - dessa vez o sorriso veio mais largo, tomando conta. - Ela é meio chatinha, mas é até que ok.
deu de ombros e eu ri, empurrando seu braço.
- Ridículo. - revirei os olhos e ele riu junto. Nos olhamos e eu coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. Vi o garoto observar meu movimento e engolir em seco, suspirando.
- Eu espero que você não ache que o que eu estou prestes a fazer seja ridículo.
se aproximou lentamente, alternando o olhar entre minha boca e meus olhos. Assim que nossos narizes se tocaram, nós sorrimos juntos. Talvez estivéssemos esperando por isso há muito tempo. Tempo demais.
Senti sua mão em minha nuca, entre meu cabelo e levei a minha até a sua, acariciando o cabelo curto que tinha ali. Nossos lábios se encontraram em um selinho demorado, para se acostumarem com a ideia de que aquilo estava acontecendo realmente. Inspirei um pouco de ar e entreabri os lábios, permitindo que o beijo se aprofundasse e que acabássemos com a ansiedade. Sua mão saiu de minha nuca e foi até minha cintura, me puxando mais para perto, e eu suspirei, passando os dedos pelos fios de cabelo do topo de sua cabeça e o abraçando pela nuca.
Ficamos algum tempo assim, entre beijos, conversas sussurradas e risadas. Ele passou a mão pela minha bochecha e eu fechei os olhos, aproveitando o momento. Sorri e relembrei de sua fala há alguns momentos.
- Seu segredo está a salvo comigo. - estávamos com as testas coladas e abriu os olhos, me olhando em confusão. - Não vou contar para a garota que você tem uma queda por ela. - pisquei e riu, balançando a cabeça em negação e me beijando mais uma vez.
Aqueles eram os momentos mais sinceros.
Flashback Off
- ? - pareceu me acordar das memórias repentinas e eu pisquei rápido algumas vezes.
- Eu…. - meu coração acelerou mais um pouco, o que eu não sabia que era possível depois de todos os mistos de sentimentos que eu sentia naquele momento. As palavras me faltaram e eu não consegui fazer mais nada a não ser permanecer ali parada.
- Me desculpa por não ter falado sobre isso antes, eu… - suspirou e coçou a nuca, num claro sinal de nervosismo. - Eu não sabia como falar sobre, na verdade. A covardia tomou conta de mim e esperei por algum sinal seu. E nada veio. Até hoje.
- Eu não lembrava disso. - juntei as sobrancelhas em confusão, repassando a cena em minha cabeça.
- Eu também não, por algum tempo. Até o me contar sobre como foi a briga entre ele e o Nick naquela noite, e como não estávamos presentes na hora. E então, revi todo o momento. - eu assenti.
- Estávamos bêbados. - sussurrei e vi a expressão de ficar levemente… decepcionada, talvez?
- Estávamos. - eu concordei e desviei meu olhar para qualquer outro ponto na rua que não fossem seus olhos. Reparar em como as gotas de chuva caíam do céu naquele momento era muito mais confortável. - Mas não estamos agora. E eu realmente quis dizer tudo que eu te disse naquele dia. E meus sentimentos por você são reais.
Engoli em seco e apertei minha mão na barra da jaqueta, sentindo a água absorvida pelo tecido escorrer pelos meus dedos.
- Eu gosto de você, . - senti minha respiração falhar e meus olhos foram automaticamente atraídos pelos seus. - Sempre foi você!


Capítulo 22

- Isso é… - fiquei sem palavras por alguns segundos e respirei fundo em seguida, tentando absorver tudo.
- É muita coisa. Eu sei. - ele soltou uma risada sem graça e coçou a nuca. - E eu não espero que você simplesmente processe tudo isso de uma vez só e nem que você tenha uma resposta concreta para toda essa história agora, mas eu queria que você soubesse.
Sorri vendo que ele considerava a bagunça que estava na minha mente depois de ouvir tudo aquilo. As coisas realmente podem mudar de uma hora para a outra, eu só não sabia que seria tão cedo assim. Há alguns dias eu realmente não fazia ideia dos sentimentos que tinha por ele, e nem que havia alguma possibilidade de ele sentir algo como o que eu sinto.
- Nós podemos ir para casa, então? - ri fraco e me acompanhou. - Eu não estou muito a fim de começar a assimilar tudo isso e ainda estar resfriada.
tirou sua jaqueta do time e me entregou, colocando sobre a minha cabeça.
- Protege pelo menos um pouquinho. - deu de ombros e colocou as mãos no bolso da calça, sorrindo fraco.
- Você vai ficar com frio, óbvio que não. - ameacei devolver a jaqueta a ele, que recusou.
- Tudo bem, pode ficar. Qualquer coisa eu te mando a conta dos remédios depois. - eu ri, balançando a cabeça em negação e empurrei o ombro dele, começando a caminhar lado a lado.
O caminho seria bem silencioso se não tivesse sido preenchido pelo barulho da chuva, que continuava a aumentar gradativamente. Quando chegamos na frente da minha casa, já estávamos mais do que ensopados.
Corri para a cobertura da porta da frente, ouvindo rir, provavelmente do meu jeito desengonçado de tentar escapar das poças formadas no jardim. Ele veio logo atrás, os dois tremendo de frio assim que chegaram na frente da entrada.
- Hm… Você quer entrar? - apontei para dentro, mordendo o interior da boca. - Não é como se eu tivesse suas roupas secas e quentinhas aqui, mas podemos achar alguma coisa do armário do meu pai…
- Tudo bem. - riu, afirmando com a cabeça e nós entramos em casa.
O lugar estava vazio, com meu pai ainda no trabalho, e nós fomos direto para o andar de cima. Eu fui até o quarto, procurando uma toalha no guarda roupa para emprestar ao e, ao mesmo tempo, escolhendo algo confortável para eu vestir, optando por leggings e uma blusa de moletom que era relativamente grande para mim, mas totalmente semelhante a um cobertor, o que era o objetivo agora. Fui também até o quarto do meu pai, procurando algo para vestir antes de ir para a casa dele mais tarde. Encontrei uma blusa de manga longa da faculdade dele e uma calça de moletom preta. Peguei os dois itens e levei até o banheiro social, onde estava me esperando.
Fui recebida com um sorriso e retribuí, entregando as roupas para ele.
- Eu vou tomar banho no meu quarto enquanto isso, então, qualquer coisa só grita. - ele riu, confirmando e eu voltei para o quarto, fazendo o que disse.
*****

Nós estávamos na sala, tentando fazer algo para comermos quando tivemos a brilhante ideia de estourarmos algumas pipocas. Inovador, não é?
- Somos cozinheiros exemplares. - comentei, abrindo o plástico da pipoca de microondas e colocando no forno elétrico, apertando o botão de dois minutos.
- Somos farsas. - eu ri do comentário de . Caminhei até a bancada do lado do microondas e subi ali, suspirando. - O que foi?
- Nada. - sorri, balançando a cabeça em negação e ele arqueou a sobrancelha e meneou a cabeça, como se pedisse para eu falar o que pensava. - Só é estranho… não, estranho não. Diferente.
- É, é diferente. - riu sem graça e encostou do meu lado. - Mas é um diferente bom?
Eu sorri ao ver ele me encarando, parecendo esperançoso. Assenti levemente, sem forças para colocar em palavras o que sentia e ele sorriu, desviando o olhar. Acompanhei o seu, parando no bilhete grudado na geladeira e engoli em seco.
- Você vai falar com ela? - seu olhar voltou até mim, agora parecendo preocupado.
- Eu… - respirei fundo e mexi os ombros. - ainda não sei. Talvez.
- Sabe que eu estou sempre aqui, né? - ele colocou a mão na minha perna, apertando levemente, e eu assenti, sorrindo fraco. - Se quiser, eu posso ir até lá com você. Ou te esperar do lado de fora. Não sei. Mas conta comigo, tá?
- É óbvio. - eu o abracei meio descoordenada, pelas nossas posições não estarem exatamente favoráveis.
Ouvimos o microondas apitar e eu desci rapidamente da bancada, abrindo a porta enquanto pegava o pote de pipoca. Enchemos dois copos com suco e fomos até a sala, procurando algum filme novo para assistirmos, quando ouvi a campainha. Deixei tudo na mesa de centro e fui atender a porta.
- Oi, . - e estavam do lado de fora, me olhando preocupados e eu franzi o cenho, sem entender. - Nós viemos ver como você está…
- Acho que está bem bem, né? - interrompeu , com seu tom brincalhão, vendo do lado de dentro.
- Trouxa. - eu ri e dei espaço para os dois entrarem. - Querem assistir a um filme com a gente?
- Nunca recuso uma pipoquinha. - se jogou no colo de , que soltou um grunhido que nos fez rir, e empurrou para o chão. - Me respeita, cara.
- Vou fazer mais um pacote de pipoca então, enquanto isso, vocês procuram um filme bom. - apontei para os dois no sofá, que fingiram bater continência e revirei os olhos.
- Eu vou com você. - levantou a mão, como numa sala de aula e eu confirmei, rindo.
Nós fomos até a cozinha e eu repeti o procedimento, já sabendo a conversa que teríamos em alguns segundos.
- Então… - eu ri por ela ter iniciado o assunto mais cedo do que eu imaginei. - O que aconteceu?
- Bom… nós conversamos. - ela revirou os olhos e sussurrou um “óbvio”. - E ele me contou sobre a festa da Amber.
- FINALMENTE! - falou, um pouco alto demais, e eu sobressaltei de susto. - Desculpa. - ela riu e eu coloquei a mão no peito, tentando normalizar minha respiração. - É emoção demais para um dia só.
- Eu realmente não lembrava daquilo. Quer dizer, às vezes a possibilidade de ter acontecido surgia na minha cabeça, mas eu achava improvável demais e só esquecia dela. - dei de ombros e assentiu.
- Eu não sabia como você ia reagir. Ele quis te contar no dia do jogo, mas as coisas deram levemente errado…
- Ele entendeu errado, na verdade.
- Como assim? - franziu o cenho e eu suspirei.
- Bom, eu acho o Luke legal, e tal. Mas, não sei. Quando ele me beijou, não pareceu certo. - revivi o momento em minha mente e continuou prestando atenção, esperando eu continuar. - E com o
- Pareceu certo. - ela completou, sorrindo, e eu assenti.
- Mas é mais complicado do que isso, não é? Quero dizer, nós somos amigos desde que nascemos quase. É estranho saber que isso só não basta e que talvez devêssemos tentar algo mais. E é um grande risco, caso dê errado.
- Olha, eu sinceramente acho difícil dar errado. - deu de ombros e eu ri de sua convicção. - As coisas já mudaram, você sabe, não é?
Eu confirmei com a cabeça, suspirando.
- Não tem muita volta para esse sentimento.


Capítulo 23

Saímos da cozinha com as pipocas e copos de refrescos em mãos, quase em um malabarismo. sentou ao lado de riu da minha ação, provavelmente tinha expressado minha satisfação fora da minha cabeça, e eu ri junto, um pouco envergonhada. Ele estava sentado do meu lado, também perto do casal.
- O que vamos assistir? - perguntou, colocando os pés sobre a mesa de centro e ajeitando um dos potes de pipoca entre suas pernas.
- Temos duas opções, filme de terror ou de suspense. - respondeu, roubando uma pipoca de seu pote enquanto rolava pelas capas na Netflix.
- Eu prefiro suspense. - joguei a mão para cima, como se estivéssemos contando votos. - Não posso com filme de terror, nunca consigo dormir.
- Suspense, então. - colocou um dos pés com meia sobre o sofá e pegou uma pipoca do meu pote distraidamente.
Era engraçado como ele conseguia parecer tão calmo e natural quando distraído. Até a nossa situação pareceria menos que um furacão com aquela calmaria de suas ações despreocupadas.
- Só porque eu queria ver o de terror. - adquiriu um bico e eu o olhei com as sobrancelhas levantadas, rindo. - Não ria, não, seu namoradinho escolheu suspense só porque você prefere.
- Cala a boca, . - senti minhas bochechas corarem e me estiquei por cima de , que tinha um sorriso discreto em seu rosto, que preferi ignorar naquele momento, para roubar o controle da mão de e fazer o som do filme preencher o clima constrangedor que se instalou.
Ok, eu fazia muito isso quando ele e a estavam apenas ficando. Ou sei lá como denominar aquela fase. Mas, agora que era minha vez, eu entendia o porquê de a querer me estrangular todo santo dia. Pontos para ela por não ter o feito. Espero que nosso placar fique empatado no fim de tudo, mas não coloco muita fé.
- Forças, amiga. - riu, colocando o braço atrás do pescoço de e tampando sua boca com aquela mão. - Um dia melhora. Talvez quando for oficial… - fez uma pequena dança com suas sobrancelhas, que subiam e desciam cheias de segundas intenções e eu revirei os olhos, bufando. Provavelmente mais vermelha do que jamais estive.
- Eu vou ser obrigada a expulsar os dois da minha casa. - falei baixinho e voltei para o meu lugar quando finalmente consegui tirar o controle dos dedos de . No caminho, claro, reparei em que ainda tinha um sorrisinho em seu rosto e ri junto, revirando os olhos.
- Karma is a bitch. - sussurrou e eu ri, assentindo prontamente. Dei play no filme e me afundei no sofá, tentando não pensar nos acontecimentos muito constrangedores recentes.
Os cinquenta primeiros minutos foram reconfortantes. Todos estávamos muito concentrados no enredo do filme para ligarmos para todas as provocações, então era um clima tranquilo. Mas quando e começaram a trocar carícias e gracinhas ao nosso lado, eu pude sentir a vergonha estampada no meu rosto.
Olhei para o lado, vendo olhando de rabo de olho para os dois, que se beijavam e sussurravam risadinhas, e voltando a atenção para o filme. Em uma dessas analisadas que dei nele, fui pega no flagra e fingi que nada tinha acontecido, olhando para frente.
- Está impossível prestar atenção com os dois desse jeito. - chegou mais perto, sussurrando e eu assenti, rindo e olhando para o casal de novo.
Dessa vez, havia colocado as duas pernas sobre as de e conversava com ele por cochichos, claramente nem aí para as cenas que passavam na TV.
- Depois eles reclamam que nós zoamos eles. - revirei os olhos e riu, concordando. - Quer ir para a sala de estar?
Falei a primeira coisa que me veio em mente e ele me olhou, um pouco sem reação, e depois de alguns segundos concordou com a cabeça. Nós levantamos, tentando não chamar muita atenção para evitarmos comentários dos dois, e fomos até o outro cômodo.
Lá, só havia um sofá, duas poltronas, um tapete, uma mesa de centro e uma de canto e uma lareira. Abracei a mim mesma quando entrei e fui até a lareira, acendendo-a. Eu amava o calor do fogo com o som da chuva do lado de fora. Parecia um pouco do misto de emoções pelo qual eu estava passando naquela hora. Muito propício.
Ouvi entrando logo em seguida, suspirando e indo até a janela. Eu gostava de analisar seus movimentos. Não de um jeito estranho ou invasivo, mas era como um calmante observar como ele vivia. Parecia fácil. E bonito.
Ele olhava para o lado de fora, como se estivesse pensando sobre a maior questão de toda a sua vida, mas de um jeito sereno e ponderado. Suspirei, sorrindo, e fui até ele.
- Eu gosto de ver a chuva. - ele comentou, com a voz calma que é só dele, em momentos assim.
- Eu gosto de ouvir a chuva. - sorri e ele assentiu, também sorrindo.
- Dizem que a chuva serve para trazer novos começos. - deixou a frase no ar e eu engoli em seco, sorrindo suavemente.
- É. Talvez seja verdade. - dei de ombros levemente e meneei a cabeça, olhando para ele por um segundo, que sorria, e voltando para o sofá em frente à lareira. - Eu acho que eu sempre tive um sentimento de que algo tinha acontecido entre a gente.
virou para mim, confuso, e caminhou até uma das poltronas, sentando em minha frente.
- É?
- Acho que foi por isso que eu criei um bloqueio quanto aos outros. - dei de ombros e assentiu, esperando que eu concluísse. - Ao Luke, quero dizer.
- Mas… - coçou a nuca. - Isso é bom?
Desviei o olhar, pensando, mas o sorriso logo apareceu em meu rosto.
- Talvez. - levantei as sobrancelhas e mordi o lábio, tentando conter o sorriso que parecia se alargar mais ainda a cada batida do meu coração enquanto olhava nos olhos dele. E, olha, estava batendo aceleradamente.
- Talvez é bom. - sorriu, meneando a cabeça, como se pudesse ler minha mente que gritava “SIM, ISSO É INCRÍVEL”.
- Talvez é bom. - assenti, sorrindo.


Capítulo 24

A tarde passou rápido. Talvez rápido demais. Todos foram embora por volta das 7 horas da noite, e, devo pontuar que me despedir do depois de tudo aquilo era no mínimo estranho. Primeiro, pelos dois pombinhos que ainda insistiam em me fazer pagar pelos meses anteriores ao início do namoro deles, e, segundo, porque nós já havíamos nos beijado, e eu nem lembrava a sensação, na realidade.
Mas, o convívio entre nós dois não mudou tanto. Acho que apenas o desconforto por termos acabado de tocar no assunto pairava no ar, mas, nada que não pudéssemos nos acostumar. Afinal, é um pouco incomum lembrar de um momento tão importante nas circunstâncias dadas.
A terça-feira, então, chegou cedo. Acordei no horário normal, mais relaxada que nunca, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas. Desci as escadas, depois de fazer minha higiene matinal rotineira, e encontrei meu pai sentado de frente para a bancada da cozinha, tomando seu café enquanto lia o jornal.
- Bom dia, filha. - ele virou para mim, assim que ouviu meus passos nos últimos degraus, com um sorriso no rosto. - Dormiu bem?
- Bom dia. Incrivelmente bem! - sorri grande, me espreguiçando enquanto caminhava até os armários da cozinha, tirando uma caixa de cereal e uma tigela. - E você?
- Que bicho te mordeu, hein? - meu pai arqueou a sobrancelha, me olhando por cima da armação dos óculos com um sorriso brincalhão. - Dormi bem, também. Mas, parece que não ganho de você.
- Ah, não precisa ser uma competição, meu caro. - falei com um sotaque de filmes antigos, por algum motivo. Meu pai riu de mim, balançando a cabeça em negação.
- O que aconteceu com a minha filhinha, meu Deus? - olhou para o teto, de forma teatral, e eu gargalhei.
- Apenas boas notícias, eu acho… - dei de ombros e ele me analisou com o olhar, soltando um resmungo que dizia “hm… estou de olho.”
Caminhei até a geladeira, parando por alguns segundos e analisando a porta, atitude que fez o meu sorriso se desfazer, e sacudi a cabeça, pegando a caixa de leite e fechando-a logo em seguida.
- Já pensou sobre isso? - meu pai me olhava com ternura, entendendo a situação, e eu suspirei. - Sabe, você tem todo o tempo do mundo.
- Eu sei. - sentei ao seu lado, agora com a minha refeição completa e com a colher em mãos. - Hoje eu vou passar no psicólogo da escola, conversar sobre isso vai me ajudar a tomar uma decisão. - dei de ombros e meu pai assentiu, colocando a mão em meu braço, com um sorriso confortante no rosto.
- Qualquer decisão que você tomar será a certa. - eu sorri, balançando a cabeça em negação, e meneei minha cabeça, encostando em seu ombro.
- Pai mais puxa saco que o meu, não existe! - ouvi um “EI!” depois dessa frase e levei um leve aperto no nariz, o que me fez rir.
Depois de terminarmos nosso ritual matinal, meu pai disse que eu “merecia uma carona para a escola” e se ofereceu para tal trabalho. O que só fez a antecipação pelo momento em que encontraria meus amigos de novo, maior.
- Se precisar conversar depois da consulta, me avise. - eu assenti, pegando minha mala do banco de trás e colocando meu celular no bolso da frente. - Talvez eu chegue um pouco mais tarde hoje… - ele deixou a frase no ar e eu ri.
- Pai, você pode me falar que tem um outro encontro com a Monica. - revirei os olhos e ele riu nervosamente. - Meu breve surto quanto a isso já passou! Eu gosto dela e apoio vocês dois.
Ele suspirou audivelmente e eu ri, me esticando para dar um beijo na bochecha dele e abri a porta do carro. Nos despedimos e eu coloquei a alça da mochila no ombro, caminhando até a entrada da escola. Pelo menos, era o que eu queria fazer, mas fui impedida por um par de mãos que tamparam meus olhos, causando um coração mais acelerado que o normal.
- A Cinderela chegou! - ouvi a voz que eu tanto conhecia e sorri, sentindo uma emoção que nunca tinha sentido antes passar pelas minhas veias.
- Quando você vai parar com essa história de Cinderela? - ri, enquanto tirava suas mãos dos meus olhos e virava para trás, me deparando com e o casal 20 ao seu lado, com sorrisinhos apaixonados.
- É fofo, vai? - revirei os olhos, enquanto passava os braços pelos meus ombros e me abraçava desajeitadamente, enquanto eu tentava me desvencilhar, por pura birra.
- Nada que você faz é fofo, . Pode desistir. - dei de ombros, como se falasse um fato conhecido por toda a população mundial e parou de andar, me olhando com uma expressão afetada pela frase dita e eu ri alto, caminhando até ele. - Estou brincando, vai!
Passei meus braços pela sua cintura e, de novo, aquela sensação de estar completa me preencheu, me fazendo sorrir assim que ouvi seu riso e senti seus braços me acolhendo.
- Tudo bem, eu sei que você me ama. - balancei a cabeça em negação, rindo do seu convencimento, e dei um leve empurrão em sua barriga, seguindo em frente ao lado de e .
- Agora nós vamos ter que conviver com o clima de casalzinho entre os dois. - comentou, mais para do que para nós, mas eu ouvi e mandei um dedo do meio para ele.
- Eu não vou reclamar! - fez uma expressão apaixonada, entrelaçando seus dedos nos de e beijando seu ombro.
Ok, nós passamos a ser uma dupla de casais, aparentemente?!
Os períodos passaram voando. O intervalo até a aula de Fotografia foi o que me deu mais nervoso, já que eu encontraria o Luke pela primeira vez desde a festa e toda a história entre nós dois. Respirei fundo e caminhei até meu lugar usual, vendo Luke concentrado em alguma coisa em seu celular.
- Bom dia! - me pronunciei assim que sentei ao seu lado, fazendo com que ele tirasse os olhos da tela e olhasse para mim.
- Bom dia. - ele sorriu brevemente e eu retribuí, tirando meu material da mochila e colocando a mesma no chão. - Eu perdi muita coisa ontem?
- Hm… acho que não?! Fiz só algumas anotações, se você quiser. - folheei a matéria separada e apontei para a folha, que tinha apenas algumas linhas preenchidas.
- Valeu! - ele abriu o seu próprio caderno e começou a copiar minha matéria.
Tentei me distrair, olhando para minhas unhas, reparando nas pessoas ao meu redor e checando o horário, mas, alguém teria que falar sobre o elefante na sala.
- Ei… sobre a festa… - eu comecei a falar, pensando em qual seria a melhor forma de abordar o assunto.
- Relaxa, . - Luke tirou a atenção do que escrevia, me olhando. - Olha, talvez eu tenha ido rápido demais. Ou, sei lá, tirado conclusões precipitadas e totalmente erradas. Mas, tá tudo bem. - ele sorriu e eu assenti. - Talvez a gente funcione melhor como amigos, mesmo.
- Você é incrível, Andrews. - sorri e ele riu, balançando a cabeça em negação. - Me desculpa.
- Sério, está tudo bem. - ele assentiu, enquanto falava, e eu suspirei. - É só mais um fora, você não é a rainha da Inglaterra. - ele deu de ombros, jocosamente e eu abri a boca, chocada, e ri.
- Ok, eu retiro o que disse! - eu ri, dando um tapinha em seu ombro, que ele fingiu ter doído muito. - Você ficaria mais triste levando um fora da rainha da Inglaterra? Seus gostos são… peculiares.
- Bom, eu mirei em você, né?! - Luke soltou mais uma de suas piadas e eu gargalhei, empurrando seu ombro, quase o fazendo se desequilibrar da cadeira, e fomos interrompidos pela voz do professor.


Capítulo 25

- Então, o trabalho ficará para daqui um mês. Vocês podem trabalhar em duplas ou sozinhos, fica a seu critério. Mas, vocês precisam contar uma história através das fotos. Você pode também dar um nome para cada uma das fotografias, que contribua para o entendimento da sua mensagem. Se precisarem de alguma ajuda, posso orientar vocês até duas semanas antes da data de entrega. - o nosso professor explicou nosso próximo trabalho, o que me fez respirar fundo, já que uma história já vinha à minha mente.
- Vai querer fazer em dupla, senhorita ? - Luke sussurrou, tentando não atrapalhar a aula, e eu sorri fraco.
- Você vai me odiar se eu disser que não? - mordi meu lábio e ele sorriu, balançando a cabeça em negação. - Eu só acho que, para contar uma história específica, é mais fácil que seja individual.
- Tudo bem. - ele assentiu e eu sorri. - Talvez eu conte a história do meu irmão, então.
- Como estão as coisas com ele? - perguntei, ainda num tom de voz baixo, já que o professor estava respondendo a pergunta de algum colega.
- Bem, eu acho?! - ele juntos as sobrancelhas em confusão e deu de ombros, suspirando. - O clima entre ele e meus pais ficou um pouco estranho durante alguns dias, mas, acho que agora as coisas estão melhores.
- Vocês dois conversaram sobre tudo? - perguntei, virando meu corpo de frente para Luke, dando minha total atenção a sua história.
- Um pouco. O George ficou muito assustado e confuso no começo, quando meu pai ainda estava tentando assimilar tudo e “engolir” a história. Para ele, tudo era muito mais complicado do que era, de verdade. Nossos avós são bem conservadores, e meu pai foi criado assim. Sabe, eu entendo de onde ele vem e como isso o formou. - eu assenti, e Luke suspirou. - E fico muito grato por ele estar tentando mudar pelo meu irmão. George e eu nos aproximamos bastante nesse meio tempo. Agora, ele me conta mais coisas sobre a vida dele e até me pede conselhos. - ele riu e eu sorri, vendo quão feliz isso o fazia. - Esse foi o lado bom de tudo.
- O seu pai tentar mudar também significa muito. E eu espero muito que ele consiga. E a relação com a sua mãe?
- Ah, ela sempre foi mais compreensiva. No sábado daquela mesma semana, ela e o George sentaram para conversar. Os dois se abriram sobre tudo e ela entendeu que essa é a vida dele e não é como se ele pudesse escolher. - deu de ombros e eu assenti. - Afinal, quem escolheria passar por tudo isso só por ser quem é?
- Você é um ótimo irmão! - eu sorri e Luke balançou a cabeça, sorrindo também. - Vocês têm sorte de se ter. Aposto que o George é muito grato.
- E eu sou muito grato por ele!
O sinal tocou e a sala começou a se encher com barulhos de alunos arrastando as cadeiras e guardando seus materiais. Fiz o mesmo, sendo acompanhada por Luke, e caminhamos até a porta. me esperava na porta, para irmos até o próximo período, e eu encarei os dois, levemente surpresa.
- E aí, cara? - coçou a nuca, provavelmente lembrando só agora que veria o Luke se fosse me esperar na sala de fotografia, e sorriu fraco, fazendo um toque de mão rápido com Andrews.
- E aí? - Luke respondeu, dando um aceno com a cabeça antes de olhar para trás. - Bom, vou para a sala. Até amanhã, gente.
- Tchau. - sorri para ele, acenando antes de ele se virar e caminhar até o seu próximo período.
- Hey, Andrews! - falou, num tom de voz mais alto, fazendo com que Luke virasse para trás, confuso. - Foi mal pelo que eu te falei na sexta. Eu não estava muito bem, e acabei descontando em você.
Luke ficou alguns segundos olhando para , o que me fez engolir em seco, mas fiquei aliviada no momento seguinte.
- Acontece, cara! Tudo bem. - Andrews acenou com a mão para mim, depois de sorrir para , continuou a caminhar.
- Eu esqueci completamente que ele estaria aqui. - riu nervosamente, colocando as mãos no bolso quando começamos a andar.
- Não foi tão estranho quanto eu pensei que seria. - dei de ombros e ele assentiu, depois de alguns segundos pensando. - E, foi bem legal você ter pedido desculpas. Quer dizer, não fez mais que sua obrigação, né? Mas, às vezes até a obrigação é difícil.
riu, balançando a cabeça e assentindo.
- Ainda estou na missão de não ser um merda depois do que aconteceu na festa. - eu assenti, sorrindo, e nós entramos na sala. - E ele é um cara legal.
deu de ombros e eu sorri mais largamente. Talvez a minha vida “amorosa” não precisasse ser uma completa bagunça cheia de conflitos.
*****
- Nós temos que ir ao novo parque, , é sério! - falava animadamente, se pendurando no ombro de e quase implorando enquanto andávamos até a saída da escola, indo para um restaurante próximo para almoçarmos.
- Você sabe que não vai ganhar essa, né? - eu comentei, rindo da cena e assentiu ao meu lado, rindo junto. - E, vai, não será tão ruim assim.
- Eu nem sei porquê ela está assim. Eu nunca disse que não. - olhou para o lado com as sobrancelhas juntas em confusão e riu, apoiando seu queixo no ombro do garoto e envolvendo sua cintura com os braços. - Não vejo tanta graça assim, mas vamos, né. Fazer o quê?
- ISSO. - apertou o abraço e comemorou com pulinhos, fazendo com que todos caíssemos na gargalhada.
- Quem sabe eu ganhe o maior urso para te dar? - falou em um tom de voz baixo, provavelmente para evitar o constrangimento dos comentários dos nossos amigos, e eu corei, sorrindo.
- Está confiante demais, . - dei de ombros e ele abriu a boca, ofendido. - Estou brincando. Mas, talvez eu ganhe o maior urso e te dê.
- Tudo bem, eu aceito o desafio! - adquiriu uma postura determinada e eu ri, balançando a cabeça em negação.
- Você vai perder tãaaao feio, . - pisquei para ele, que riu e passou uma das mãos pelo meu cabelo, o bagunçando por pura implicância.
Chegamos ao restaurante em poucos minutos, caminhando e conversando sobre coisas inúteis e rindo, como sempre. Assim que entramos, pedi o meu prato favorito do lugar e esperei para sentar em uma das mesas ao lado das grandes janelas do local. sentou ao meu lado e e no sofá em nossa frente, do outro lado da mesa.
- Então, seu grande projeto de fotografia vai ser sobre o quê? - retomou o que tinha comentado com ela pouco antes de sairmos do último período, enquanto comia uma garfada de sua salada.
- Bom, eu ainda não decidi. Mas acho que uma história pessoal, mesmo. - dei de ombros, tomando um gole do suco de laranja.
- Hmmmm, vai contar sua história de amor, né, bonitinha? - comentou, fazendo uma dança com suas sobrancelhas e eu joguei um guardanapo amassado em seu rosto, que parou sobre a mesa. - prepara sua melhor pose de modelo, já garantiu um trabalho.
- Vai cagar, . - revirei os olhos, rindo, acompanhada por e .
- Já vamos contratar algum priminho e priminha para encenarem vocês se conhecendo quando crianças e se odiando. - fez uma cara de sonhadora apaixonada e eu quase engasguei com a minha comida, rindo.
- Sério, eu não sei porquê sou amiga de vocês ainda. - balancei a cabeça em negação. - Na verdade, eu pensei em contar a minha história com a minha mãe.
Já era hora de falar sério, pelo menos uma vez na vida, com os quatro juntos. Era difícil tocar nesse assunto, porque tudo parecia uma grande incógnita para mim, mas era necessário.
Senti a mão de sobre a minha coxa assim que confessei aquilo, logo em seguida sentindo nossos dedos entrelaçarem debaixo da mesa. Um ato silencioso que significava muito para mim: eu não estava sozinha. Olhei para ele discretamente e sorri fraco, já que estávamos sob os olhares atentos de e .
- Com certeza vai ficar incrível! - se pronunciou, sorrindo compreensiva e assentiu, também sorrindo.
- Eu espero. - suspirei e senti o dedo de fazendo movimentos circulares em minha mão, o que me fez sorrir, enquanto olhava a cena. Encostei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos por alguns segundos, sentindo aquele seu perfume tão conhecido por mim.
- Vocês são mais melosos do que a gente era. - ouvi a voz de , me acordando do transe e ri, corando.
- Você não consegue ficar um segundo sem falar disso, . Tenha santa paciência! - revirei os olhos e me ajeitei no assento, sendo acompanhada pela risada de ao meu lado, que repreendia o amigo.
- Porra, não dá uma dentro, . - riu junto com quando jogou os braços para o alto, em rendição.
- Eu tenho que aproveitar a oportunidade de dar o troco. - deu de ombros e assentiu, dando um beijo em sua bochecha, encorajando-o.
- Vocês não prestam. - voltei minha atenção para o meu almoço, enquanto eles engatavam em outro assunto.
*****
Os últimos períodos passaram mais rapidamente do que o normal, e, de repente, já estava caminhando até o consultório do doutor Johnson, com as mãos passando nervosamente pelas alças da mochila pendurada em meus ombros. Eu sabia que precisava de mais um empurrãozinho para saber o que fazer a partir daqui, e sabia que ele era a pessoa qualificada para fazê-lo.
- Hm… com licença, doutor Johnson. - pronunciei assim que comecei a abrir a porta lentamente, depois de ter ouvido o “entre” proferido depois das três batidas na madeira, anunciando minha chegada. - Você tem um minutinho?
- Claro, . - o conselheiro sorriu, apontando para a poltrona que ficava em frente a sua mesa. - Faz um tempinho desde sua última visita, não é?
- Ah, sim. - coloquei minha mochila no chão, para depois passar as palmas das minhas mãos sobre minha calça jeans. - Eu fiquei ocupada com treinos do time e com os jogos.
- Claro. A correria da vida adolescente. - Johnson riu, nostálgico e eu o acompanhei. - O que te traz aqui?
A sua pergunta, que agora percebi que deveria ser de praxe, sempre me fazia ficar mais nervosa do que antes. Como colocar em palavras tudo o que eu sentia se nem eu reconhecia direito?
- Bom… eu acho que o mesmo motivo da última vez? - ele assentiu, esperando que eu continuasse. - Desde então, conversei com meu pai mais abertamente sobre o assunto “minha mãe”. Nós nos acertamos e ele acabou me passando o endereço do escritório dela.
- Você foi encontrar com ela? - Johnson perguntou, depois de assentir e se ajeitar na cadeira.
- Ainda não. - neguei com a cabeça e fiquei alguns segundos em silêncio. - Eu não sei exatamente o que falaria para ela. Não sei se tenho o que dizer, na verdade.
- Certo. Mas você acha que seria importante ter uma conversa com ela?
- Acho que sim? - falei, com mais dúvida do que convicção. - Eu queria tentar entender o que aconteceu para mudar tudo. Como ela decidiu de uma hora para outra que aquela não era mais a sua vida e precisava mudar. Entender quando ela parou de pensar em nós como uma família. Ou em mim, de qualquer forma.
- Então, parece que você já tem as perguntas. - Johnson adquiriu um sorriso reconfortante e eu juntei as sobrancelhas em confusão, só então entendendo que tudo aquilo já estava em mim, eu só não tinha percebido. - A parte mais difícil é essa. Entender que o que você tem a dizer importa e que você merece respostas. Você tem todo o direito de ir atrás delas, . Só basta se sentir pronta.
- Acho que eu tenho mais medo de encontrar uma pessoa totalmente diferente da mulher que eu conhecia, na verdade. - dei de ombros, tentando assimilar o que se passava em minha cabeça. - Porque ela vive muito bem na minha imaginação, sabe? Quando eu penso em como tudo poderia ser se ela tivesse ficado.
- E às vezes isso pode bastar. Mas, imaginar o que poderia ter sido não parece ser um exercício muito saudável para você. - eu ri fraco. - Além do mais, seu pai não te deu o endereço dela do nada.
- É… - suspirei, relaxando na cadeira.
- As pessoas mudam. Nós temos que lidar com isso. E está tudo bem. Se você quiser conhecer de onde você veio, faça-o quando se sentir à vontade. E segura. Você não precisa se forçar para uma situação que você sabe que pode te fazer mal. Mas você também não pode ficar para sempre nessa posição em que você se martiriza tentando buscar respostas que não estão em você.


Capítulo 26

Sair da sala do conselheiro Johnson podia parecer mais difícil do que entrar. Ora eu saía com um peso a menos nos ombros, ora com uma tonelada de pensamentos em minha mente. Desta vez, a segunda opção parecia mais verdadeira.
O caminho da escola até a minha casa pareceu mais longo do que nunca. Ao mesmo tempo em que eu não queria ter que lidar, finalmente, com a ida da minha mãe, eu queria respostas. Mais do que isso, eu precisava de respostas. Na verdade, às vezes eu só gostaria de voltar para o dia em que ela foi embora, para tentar recapitular tudo o que aconteceu, e entender o lado dela. Se é que ele faz algum sentido. Eu precisava muito conversar com alguém. Talvez com uma única pessoa.
“Você está em casa?”
Digitei uma mensagem para , enquanto caminhava. A resposta veio rápida.
“Sim. Já conversou com o Johnson?”
“Conversei. Agora parece que tudo é demais.”
“Vem pra cá, se quiser a companhia do seu melhor amigo perfeito.”
A última mensagem veio com o convite que eu precisava receber. Guardei o celular, rindo e voltei a caminhar, com a mão segurando firmemente a alça da mochila, como se quisesse mantê-la ali a todo custo, e observando os meus pés. Em alguns minutos, cheguei à porta de , anunciando minha chegada com o barulho da campainha.
- Você chegou mais rápido do que eu esperava. - parecia um pouco esbaforido, como se estivesse correndo uma maratona. Eu sorri divertida, balançando a cabeça em negação.
- Eu já estava na metade do caminho quando te mandei mensagem. - franzi o cenho, tentando analisar o interior da casa. - Aconteceu alguma coisa?
- Não, não. - ele respirou fundo, rindo e coçando a nuca. - Eu só estava tentando ajeitar algumas coisas para você. Para a gente.
Minhas sobrancelhas se juntaram mais em confusão, enquanto eu tentava conter um sorriso que parecia não obedecer aos meus comandos.
- O que você tá aprontando, ? - coloquei as duas mãos na cintura, gesto que fez sorrir e balançar a cabeça.
- Nada demais, . - revirou os olhos e deu um passo para o lado, abrindo espaço para eu entrar.
Pedi licença e entrei na casa, que tinha um cheiro familiar de pipoca e ri, negando com a cabeça enquanto colocava meu casaco e minha mochila pendurados na entrada.
- O que? - ele perguntou, vendo minha reação enquanto fechava a porta da frente e eu apontei com a cabeça para a cozinha.
- Você fez pipoca? - mordi um sorriso que ainda se formava em meu rosto sem minha permissão.
- Ah… - ele riu, olhando para o chão e depois dando de ombros. - Não sabia se você estaria com fome.
Assenti com a cabeça, caminhando até a cozinha e vendo a obra de . Olhei para ele sorrindo e ele foi até o armário, pegando dois copos e equilibrando-os junto com uma garrafa de suco. De modo automático, peguei a tigela com a pipoca e olhei para ele, esperando que me dissesse para onde iríamos. Ele sorriu e começou a caminhar até o lado de fora da casa.
- Vamos fazer um piquenique na casa da árvore? - eu perguntei, sorrindo com a ideia e ele assentiu com a cabeça, olhando para mim.
- Sempre quis fazer isso. - deu de ombros e eu ri.
- Está tentando me impressionar, né? Pode falar, . - arqueei as sobrancelhas, provocando ele, que riu e negou com a cabeça.
- Você anda convencida demais, .
- Não é culpa minha. - levantei a mão livre em rendição e ele riu, subindo as escadas até a casa e eu fiz o mesmo. - Uau.
O lugar estava um pouco mais arrumado do que a última vez em que entrei. As almofadas no chão formavam uma espécie de sofá, agora com um encosto de travesseiro, e uma manta caía sobre elas. No chão, logo em frente às almofadas, o notebook de parecia esperar a gente com um filme na tela, que parecia ser alguma comédia romântica da qual eu não lembrava o nome, mas que provavelmente já tinha visto. Acima da entrada, um lençol dobrado estava pronto para ser puxado para baixo e tirar um pouco da luminosidade que entrava no local.
- Uau. - repeti, ainda chocada com o esforço que colocou. - Você arrumou tudo isso?
- Ah, sim. - sorriu, colocando os copos e o suco no chão, e depois pegando o pote da minha mão e fazendo o mesmo. - Pensei que seria legal. - deu de ombros e eu sorri, assentindo e dando um beijo em sua bochecha, o que fez ele corar um pouco.
- Obrigada.
assentiu, sorrindo envergonhado e falou para sentarmos, tirando a coberta para depois arrumá-la sobre nós dois. Me aconcheguei sobre as almofadas e suspirei.
- Quer conversar? - perguntou, se ajeitando e me olhando.
- Acho que sim. - torci a boca em confusão e virei para ele, que me olhava compreensivo. - Eu acho que, na verdade, o que ele me disse hoje foi o óbvio. Que eu devia procurar pelas respostas se eu sinto que preciso delas. - assentiu, esperando que eu continuasse. - Mas, não sei. É estranho pensar que faz tanto tempo que minha mãe foi embora e que talvez ela já não seja mais quem eu conhecia.
- Parece que ela vive “melhor” na sua memória, né? - fez aspas com a mão e eu assenti.
- Eu só não quero me decepcionar, sabe? Mas, ao mesmo tempo, eu preciso saber. - suspirei, olhando para minhas mãos. - Saber se fui eu.
- Se foi você? - juntou as sobrancelhas em confusão e se abaixou um pouco, tentando fazer com que eu olhasse para ele. - Você não é culpada pela partida da sua mãe e nunca vai ser.
Eu senti meus olhos marejarem e mordi o lábio, tentando conter as lágrimas e respirando fundo.
- , não tem como alguém te conhecer e não te amar. - ele disse, me fazendo sorrir fraco e olhar para ele, quando colocou a mão sobre as minhas. - Você não é o motivo.
- Obrigada. - sorri sincera, e ele assentiu, passando os dedos pelo meu cabelo.
- Vai dar tudo certo. Independentemente do que você escolher fazer, eu vou estar aqui, tá? Não esquece disso. - ele falava de uma forma segura, me fazendo acreditar em todas as suas palavras e me tranquilizar. - Sempre.
- Exceto quando estiver bêbado e começar a agir igual doido. - eu falei, rindo, para quebrar o clima tenso e tentar desviar do assunto. riu, balançando a cabeça em negação.
- Eu fui muito idiota. Desculpa. - eu assenti, sorrindo compreensiva e ele continuou. - Eu só tava frustrado demais, eu acho. Com tudo entalado em mim. Tudo o que eu sentia por você. Tudo o que eu sinto. - ele suspirou e eu senti meu coração pular mais rápido dentro de mim. - Mas, prometo que nunca mais vou ser um imbecil com você. Nem com seus amigos. Fui muito babaca.
- Você foi. - eu assenti, e ele abaixou a cabeça. - Mas você é incrível, .
levantou a cabeça e olhou em meus olhos de novo, me fazendo sentir todos aqueles sentimentos que eu nem sabia nomear propriamente. Parecia que meu interior fazia uma grande festa toda vez que estávamos em uma situação assim. Só nós dois. Nos olhando. E entendendo um ao outro, mesmo sem nem uma palavra. Apenas estando ali.
- Você sabe que eu não sou a melhor pessoa para falar do que eu tô sentindo… - eu continuei, rindo nervosa e colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. - Mas, com você, eu sinto de verdade. Tudo. Muito mais do que eu consigo descrever.
sorriu. Um sorriso tão sincero, como se ouvisse a coisa mais linda e inesperada do mundo, e eu acompanhei, só que um pouco mais tímida que ele.
- Eu também sinto de verdade com você. - nós dois nos olhamos sorrindo, imersos em nossa própria realidade.
De repente, todos os problemas pareciam desaparecer. Éramos só eu e ele. Os segundos viravam horas e parecia que tudo passava em câmera lenta. Para que eu conseguisse apreciar cada detalhe por tempo suficiente. Mordi o lábio inferior, nervosa, e soltou o ar pelo nariz, como um risinho tímido, acompanhando meu movimento com o olhar.
Senti seus dedos tocarem levemente a minha bochecha, fazendo um carinho familiar, e sorri, abraçando seu punho com minha mão. O espaço entre nós ficava cada vez menor e meu coração batia cada vez mais forte. Levei minha mão até o cabelo de , passando meus dedos pelas mechas e vendo seus olhos fecharem em aprovação. Ri baixinho e levei minha mão até sua nuca, deixando-a ali enquanto fazia o mesmo comigo.
Sorri sincera e nervosa, recebendo um dos sorrisos mais bonitos que já vi na vida e sentindo nossos narizes se tocarem. Encostei nossas testas e respirei fundo, sentindo a respiração de bater em meu rosto. Fechei os olhos assim que percebi o espaço se tornar quase nulo, pendendo a cabeça para um dos lados e sentindo os lábios de roçarem nos meus.
Sorri de lado, entrando na sua brincadeira que eu sabia (e esperava) que durasse pouco tempo, e umedecendo os meus, passando sobre os dele levemente. soltou um murmúrio e finalmente selou nossos lábios.
Parecia que eu sentia fogos de artifício dentro de mim; todo o meu corpo estava em festa e, quem sou eu para reclamar? Ficamos alguns segundos nos acostumando (novamente) com todas as sensações proporcionadas pelo nosso toque. Entreabri meus lábios assim que senti o suspiro de , aprofundando o beijo e nos aproximando mais ainda.
passou seu braço livre pela minha cintura, me abraçando como se não quisesse que eu saísse dali. E, isso realmente não estava em meus planos. Senti uma leve mordida em meu lábio inferior e sorri, gostando da sensação. deu uma risadinha baixa e voltamos a nos beijar, agora um pouco mais intensamente que antes. Fiz o mesmo com ele alguns segundos depois, sentindo seus dedos apertarem em minha cintura, me dando arrepios.
Permanecemos assim por um tempo, até que o ar pareceu faltar e nós diminuímos a velocidade com selinhos demorados, que encerraram o beijo. Nossas testas ainda ficaram grudadas e nossos olhos fechados por alguns segundos, até que eu respirei fundo, de novo, passando os dedos pelas mechas um pouco bagunçadas de .
- Eu acho que posso me acostumar com isso. - falei, sorrindo tímida enquanto passava a mão levemente sobre minha coxa e sorria também.
- Ah, é? - perguntou, me olhando com um sorriso de lado e eu assenti com a cabeça, mordendo o lábio inferior. - Posso fazer esse esforço para você, então.
- Ridículo. - ri de sua piadinha, balançando a cabeça em negação e empurrando seu ombro levemente, recebendo um selinho rápido em resposta.
- Eu acho que nunca vou me acostumar. - deu de ombros, olhando em meus olhos sorrindo e eu juntei as sobrancelhas em confusão. - Parece que eu estou sonhando.
Eu ri, jogando a cabeça para trás e me puxou pela cintura de leve, me abraçando e escondendo seu rosto em meu pescoço.
- Nós vamos ter que ser bregas assim agora, ? - perguntei alguns segundos depois de me recuperar da crise de risos, me afastando um pouco para que ele voltasse a me olhar.
- Você que quis ficar comigo, não é culpa minha se sou um bobo apaixonado. - levantou as mãos em rendição e eu corei, sorrindo tímida e ele riu, apertando minha bochecha. - Você fica muito fofa quando eu falo alguma coisa desse tipo.
- Você deveria parar de falar isso. - dei de ombros, balançando a cabeça e arqueou uma sobrancelha, duvidando. - Ok, não precisa parar. Mas eu fico sem graça.
- Tudo bem, é fofo. - sorri e dei um selinho nele, fazendo com que ele sorrisse e segurasse meu rosto com as duas mãos, emendando o selinho em um novo beijo.
É, talvez eu também seja uma boba apaixonada.


Continua...



Nota da autora: Checando se todas estão bem depois dessa atualização. Eu FINALMENTE escrevi o capítulo do "primeiro" beijo deles e, fala sério, fofos demais. O que vocês acharam? Parece que está tudo dando certo, né? Quais são suas apostas para o futuro? Como sempre, obrigada por visitarem essa história que eu amo tanto escrever e por apoiarem sempre :)






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