Aconteceu como numa noite qualquer. Saí com umas amigas, tomei algumas doses de tequila, dancei o “dois pra lá, dois pra cá” e fiquei com um cara. Normal. Ultimamente mal saía de casa, estava mais que na hora daquilo acontecer. A única coisa que não poderia ter acontecido seria eu passar meu telefone a ele, o que eu não lembrava se tinha feito ou não.
Eu não estava tão bêbada a ponto de perder a memória, pelo contrário, estava muito bem, só um pouco mais escandalosa e risonha. O problema de verdade foi eu estar cansada por um dia inteiro de trabalho somado à balada, pois quando eu passava o dia fora sempre acontecia a lei da inércia. Enquanto eu estivesse acordada e em movimento, o sono não me afetaria, porém, eu perdia a noção do tempo e ações muito rápidas não eram bem registradas na minha memória curta. Dar o meu número é uma dessas ações. O mais irônico é que o rosto dele eu lembrava muito bem, mesmo em meio à luz negra e o tempo mínimo – eu acho – que passei o encarando.
Ah, e seu nome. Max. O mesmo nome do meu primeiro cachorro.
Perguntaram-me o porquê da neura em passar o telefone. Simples: as pessoas ligam pra você. E quando essas pessoas são homens que te conheceram em uma boate, eles só vão querer uma coisa que começa com “s”, termina com “o” e não é sorriso. Desse tipo eu não chego nem perto. Ainda gostava de manter certos princípios nos dias de hoje.
Meu celular vibrou no bolso traseiro da minha calça, despertando-me dos meus pensamentos. Respirei mais forte, subitamente tomada pelo medo de ser o tal Max. Pude voltar ao meu ritmo normal quando vi no visor que era o número da minha mãe.
- Fala, amor da minha vida! – puxei seu saco. Eu sabia que ela ia reclamar pelos meus dez minutos de atraso.
- Sua mãe tá dando um chilique aqui – disse meu pai do outro lado da linha. – Ela quer saber quando você pretende chegar.
Ele nem mesmo precisava repetir o que eu já a ouvia dizer de longe.
- Em cinco minutos – respondi, já parada em frente à porta do vagão do metrô, preparada para desembarcar. – Já estou perto daí.
- Ela disse pra reduzir pra dois minutos.
- Claro, como não? – ri baixo, com um quê de sarcasmo. – Não demoro, prometo.
- Ok.
- Ah, pai... – não terminei a frase, pois ele já tinha desligado. Um mau costume que ele não abandonava, já que nem mesmo gostava de falar ao telefone. Só de birra, não compraria nada para a sobremesa.
Caminhei por um curto tempo, chegando à casa dos meus pais sem encontrar ninguém além de Kyle, meu sobrinho, na sala, jogando Fruit Ninja no celular de Lyanna. Para eles já estarem ali, eu realmente estava atrasada. A culpa não era minha se me avisaram do horário errado. Além de odiar falar ao telefone, meu pai raramente se lembrava do que dizer quando ligava para mim. Eu nunca entenderia seu bloqueio com algo tão simples.
Após procurar, achei minha família no quintal, debaixo da tenda que só era montada em ocasiões especiais – no caso, almoço para o dia dos pais.
- Até que enfim deu o ar da graça! – disse minha mãe, pondo sobre a mesa a última travessa de comida, um pernil bem dourado e visualmente suculento.
- Oi, gente – acenei para todos. Vi que havia um desconhecido à mesa. Um desconhecido que eu não me incomodaria nada em conhecer. Gato, só isso que eu digo.
- E cadê a sua amiga? – Luigi, meu irmão do meio, me perguntou, levando-me a franzir a testa. – A tal Graça que mamãe disse. Acho que ela não tá contigo – e riu enquanto rolei os olhos e fui até meu pai.
- A graça tá num galalau de barba ainda dizer “mamãe” – meu pai me defendeu, e eu então ri. – Deixe sua irmã em paz, parece criança.
- Brigada, pai – o abracei forte, um pouco atrapalhada por ele estar sentado e eu, em pé. – Feliz dia dos pais.
- Só isso? Cadê meu presente? – ele me afastou de leve, ignorando a cara de “Credo!” que eu fiz. Retirei da minha bolsa o embrulho e o entreguei, indo me sentar perto do convidado surpresa. Naquelas horas que eu amava o fato de a minha irmã ser dez anos mais velha que eu, já estar casada e com filho. Com Luigi sendo totalmente hétero (e um pouco homofóbico também), não havia nenhum impedimento dentro daquela casa.
- Oi, eu sou , a caçula – disse ao caladão, sorrindo por simpatia. – E você, quem é?
- James – ele respondeu, retribuindo. – Jay, se quiser. Sou amigo do seu irmão.
- Não sabia que ele tinha amigos, que surpreendente! – retribuí a alfinetada de Luigi, fazendo Jay rir. – Prazer, Jay.
- James, você não tem pai? – indagou minha mãe, que voltava de dentro da casa acompanhada do neto.
- Mãe! – dissemos Lyanna e eu, aposto que igualmente vermelhas de vergonha.
- Ah, não se preocupem – ele riu, mostrando que estava tudo bem a pergunta sem filtro algum que tinha recebido. Que vergonha, dona Sinead. – Não falo com meu pai há uns anos, ele se separou da minha mãe e não quis manter contato.
Olhei para minha mãe em repreensão, querendo que ela lesse “Tá vendo, fofoqueira?” nos meus pensamentos, mas infelizmente nossa conexão não era forte o suficiente para chegarmos ao estágio da telepatia.
- E Marshall, Lya? – mudei de assunto rapidamente, virando-me para minha irmã.
- Ele foi visitar os pais em Portsmouth, mais tarde vem pra cá. A mãe dele morre de ciúmes da gente, se ele não passasse pelo menos uma hora por lá, a velha teria um ataque.
Notando que não havia passado tempo suficiente para a tensão da pergunta da minha mãe se desfazer, continuei procurando assuntos para puxar. Quanto mais desviasse o foco, menos gelo para quebrar.
- Gostou do presente, pai? – vi que ele guardava a caixinha de volta no embrulho.
- Fazia tempo que não via um grampo pra gravata assim – Nolan parecia contente, o que me aliviou. Além de arcaico com novos costumes, ele também era com moda. Ainda guardava no armário os ternos com proteção nos cotovelos e ombreiras que eu achava horrorosos desde pequena. O fato de eu ter acertado me desviou da neurose de amenizar o clima e tudo acabou fluindo perfeitamente logo depois. Incluindo minha investida em Jay, que aproveitou o momento que Luigi falava com a namorada ao telefone para me chamar para ir a um bar um dia desses. Aceitei e, claro, passei meu telefone por boa vontade. E esse, sim, eu esperava que ligasse.
*
Durante mais ou menos duas semanas eu troquei mensagens com Jay. Sempre combinávamos de sair, mas um imprevisto acontecia e um dos dois desmarcava. Mas finalmente conseguimos marcar de sairmos; iríamos a uma boate perto da casa dele, onde um dos amigos era promoter e nos colocaria para dentro em menos de cinco minutos. Eu não andava mais no pique para balada, contudo, era uma boa causa.
Jay apareceu no meu apartamento às 21h, muito bem vestido e cheiroso – o que eu não duvidaria ser diferente. Ele tinha pose de gentleman, embora não fosse nem um pouco à moda antiga. Falava com calma e segurança, tocava apenas nos meus ombros e antebraços (e pedia desculpas quando não era intencionalmente) e mantinha o contato visual, mesmo que às vezes seus olhos escapassem para os meus lábios, o que eu não achava nem um pouco ruim. Era sinal de que ele estava tão interessado em mim quanto eu nele.
Estávamos na entrada da Black meia-hora depois, dissemos nossos nomes para o segurança e fomos direto para o caixa nos registrar, deixando uma fila considerável para trás. Após recebermos nossos cartões de consumação, finalmente adentramos o primeiro ambiente, cuja música era eletrônica. Era onde ficavam as bebidas mais fortes, destilados em geral. Jay pediu uma dose de Whisky on the rocks, e eu uma dupla de tequila para esquentar.
- Arriba! Abajo! Adelante y adentro! – estrilei antes de virar uma das doses, vendo Jay rir.
- Eu achava que só eu fazia isso – disse ele, bebericando sua bebida.
- Em breve você vai descobrir coisas melhores que nós dois fazemos – tentei soar sugestiva, mas o volume da música tirou um pouco do charme. Ele novamente riu, concordando, enquanto eu apenas sorri em resposta.
- Hey, Jay! – um rapaz apareceu ao nosso lado, cortando a minha graça. Ao tempo que os dois se cumprimentavam, tomei minha segunda dose. – Espera, deixa eu te ajudar.
Mal respondi e o amigo de Jay já segurava minha cabeça pelas têmporas, chacoalhando-a como se triturasse gelo no liquidificador. Geralmente eu me voluntariava para algum tequileiro fazer aquilo, mas já que a boa vontade dos outros era grande, eu aceitaria. Precisaria de verdade daquelas duas doses de coragem para tomar uma iniciativa real com Jay, em vez de só falar.
Quando finalmente senti que parava de ser balançada, tive de me apoiar no balcão para manter o equilíbrio sobre meus nove centímetros de salto alto.
- Wow, brigada – falei, um pouco desnorteada ainda. Jay olhava para mim com olhar de pena e diversão.
- Pelo visto, acabou de conhecer o Dave – disse, me segurando pelo ombro. Senti-me como uma pluma quando ele me puxou para mais perto de si. Adorava esse efeito rápido do José Cuervo. – Ele é o promoter que te disse. Dave, essa é .
- Enchanté – Dave fez uma reverência um pouco exagerada e pediu minha mão, que prontamente o dei, recebendo um beijo leve nela. – Aproveitem a noite, temos mais dois ambientes nos andares de cima e uma área mais... reservada. – Ele piscou para mim ao dizer, deixando-me um pouco sem jeito. Mal sabia ele que, se fôssemos a uma área reservada, seria o apartamento de Jay.
- Obrigada – sorri mais uma vez, vendo-o se afastar aos poucos.
- Ah, mais uma coisa antes de ir! – Dave voltou, com o indicador erguido como se pedisse permissão para falar. – Seus amigos também estão aqui, só pra deixar registrado. E aquela namorada gostosa, também.
E depois ele sumiu no meio das pessoas em menos de um segundo. Ou eu achei que tivesse sido.
- Quer tentar achá-los? – Jay me perguntou, enfim inseguro. Eu entendia sua falta de certeza no que dizia, visto que eram três andares de boate. Mas, por alguma razão que só Freud explica, assenti com a cabeça. – Ok, vou ver se consigo falar com um deles.
- Vou ao banheiro me ajeitar enquanto isso. Me espere aqui – pedi, lembrando só então que meu cabelo deveria estar uma zona graças a Dave.
Como ainda estava cedo para a casa lotar, foi rápido entrar e sair do banheiro. Porém, quando saí, parecia que todas as pessoas da cidade estavam no caminho de volta. E o pior: no meio de tantos rostos, eu reconheci o do cara de duas semanas antes. O tal Max. Aquele mesmo que eu não sabia se tinha passado o telefone – e se tinha, ele nem se dera ao trabalho de ligar.
- Você! – disse ele, surpreso. Sua atuação só não era mais clichê porque ele não tinha dito “Vem sempre aqui?”. Ele só deve ter se lembrado de mim por causa da tatuagem no ombro direito, que eu fazia questão de deixar à mostra sempre que podia. Lembro-me dele comentando naquela noite do quanto tinha achado aquilo sexy e feminino. Claro, porque ele iria reparar numa coisa daquelas e usar esses adjetivos de verdade.
- Eu! – respondi, menos animada, sorrindo falso. Com milhares de pessoas na cidade, fui encontrar justo ele. E não era repulsa por ele que me deixava com o pé atrás, porque nada ali era repulsivo, honestamente falando. Max tinha uma beleza exótica, cara de bad boy. Eu tinha um fraco por esse tipo de homens. Mas Jay estava me esperando no bar para conhecer os amigos dele, eu não podia dar corda para um cara que eu nem mesmo me lembrava da existência até então.
- Vem, vamos ali rapidinho – Max pôs sua mão em minhas costas, guiando-me em outra direção. Tentei protestar, mas acabei esquecendo o que ia falar quando ele sorriu para mim. Uma ponta de culpa apareceu, mas a tequila fez questão de enxotá-la. – Então, ...
- Como você sabe meu nome? – perguntei de imediato, sentindo-me estúpida depois. – Digo, você se lembra. Como?
- Sou ótimo com rostos e nomes – ele riu da minha expressão de confusão, parando de andar quando estávamos justamente na área reservada. – Com outras coisas também, se me permite dizer.
- Ah... – desviei o olhar, tentando ver se Jay aparecia por ali. A sala era escura e abafada, o máximo que eu via era vultos entre a fumaça de cigarro. – Eu não tô com muito tempo agora, não tem como deixar essa conversa pra depois?
- Que coincidência, eu também ia dizer isso. – Max se aproximou mais de mim, encurralando-me na parede. Balbuciei algumas sílabas, tão curtas que não formariam nem mesmo um “Não”. – Que tal a gente voltar pro ponto em que paramos da outra vez?
Ele não esperou minha resposta, apenas me envolveu e me beijou. Eu poderia, mas não relutei, pois, no fundo, queria aquilo. Eu era fraca, egoísta e daí para baixo, sabia. Mas a culpa era toda dele, que nem devia ter aparecido ali. Naquele momento eu o odiava, mas o álcool transformava a frustração em avidez, como alguma espécie estranha de punição a mim mesma. Bêbada, eu era a criatura mais patética e sem sentido do mundo.
Ou melhor, com poucos sentidos. Tato era um dos que eu nunca me desfazia, aliás, aproveitava-o muito bem. Max não tinha cabelos para que eu segurasse, portanto eu improvisava com sua nuca e costas, pressionando-o contra mim cada vez mais. Ele, aproveitando minha reação, ergueu minha coxa direita e foi deslizando a mão para a barra do meu vestido, entretanto, algo o fez parar. Abri os olhos e o vi segurando o celular, parecendo preocupado.
- Aconteceu alguma coisa? – Por que você não vem logo terminar o serviço?, quis perguntar.
- Não, nada demais – respondeu ele, sorrindo abertamente para quebrar o gelo. – Mas eu vou ter que te dever essa. Eu te ligo qualquer dia.
- Ah, não precisa se preocupar... – Droga, ele tinha meu telefone! Constatar esse fato me deu segundos de sobriedade suficientes para que eu saísse dali não tão à francesa, uma vez que Max perguntou aonde eu ia. Não dei sequer ouvidos ao que ele dizia e corri novamente para o banheiro, agora mais cheio. Retoquei minha maquiagem meio borrada e tentei pensar numa boa desculpa no caminho.
Tudo bem, era a primeira vez que eu saía com Jay. Ainda assim, eu lhe devia explicações ao menos por bom senso, afinal, eu o deixara plantado no bar, esperando-me enquanto eu me agarrava com outro. Só de fazer isso, já estava indo contra os meus costumes. Mas ninguém precisava saber.
Havia pessoas ao redor de Jay quando voltei. Um moreno mais alto, com jeito de modelo, chamado Siva; um bonitinho, mas narigudo, chamado Thomas – ou Tom, como ele preferia ¬– e Nathan, que nem devia ter feito dezoito ainda. Passamos um tempo conversando e bebendo, Dave apareceu alguns minutos depois, abraçado a uma morena cujos cabelos chegavam à cintura. Não era inveja nem recalque, porém eu apostava que era aplique porque brilhava demais. Não obstante disso, Cheryl – descobri instantes depois seu nome – parecia ser legal.
- Tá faltando gente por aqui – Dave observou, caso contrário eu nem mesmo desconfiaria.
- Chegou quem faltava! – ouvi uma voz familiar, e só não caí para trás ao descobrir que era Max porque estava novamente encostada no balcão do bar, ao lado de Jay. Todavia, se alguém reparasse no meu olhar, estranharia meu espanto. Max, com aqueles olhos de predador, viu. Por um milésimo de segundo eu pude ver a hesitação o assombrar. – Você eu não conheço – ele mentiu descaradamente. – Quem é?
- – respondi, séria. – Vim com Jay.
Fiz questão de pôr a mão sobre o peito de Jay e me aproximar, induzindo-o a me abraçar.
- Ah, que bom que não somos o único casal! – Cheryl se animou, soltando-se do abraço de Dave e beijando Max rapidamente. Ele segurava uma garrafa de cerveja numa mão e um maço de cigarros na outra, para despistar a namorada de qualquer cheiro ou gosto diferente. Cretino. – A gente podia ir pra sua casa depois, né, amor?
- Se ninguém se incomodar...
- Eu passo – replicou Dave, negando com a cabeça. – Tenho que continuar trabalhando a noite toda e não vou ficar aturando heterozinhos se comendo.
- Pode ser? – Jay me perguntou e eu concordei sem saber se tinha feito o certo. Queria ir para o apartamento dele, e não do amigo! – Nós vamos.
Os outros também concordaram, com a condição de que teriam uma hora para conseguirem uma garota para Nathan, o único solteiro dali. No meio tempo, tive de segurar bravamente a pena, culpa e remorso durante a curta conversa que tive com Cheryl. Ela realmente era legal, apenas não sabia o quão falso era aquele cabelo. Ah, e o namorado.
Em certo momento, Jay se sentiu terrivelmente incomodado com o bar e me levou para o segundo andar, onde tocava zouk. Eu não fazia a mínima de como se dançava aquilo, parecia um reggaeton mais lento, algo do tipo. Ele, como era de se esperar, foi atencioso e me guiou com os passos básicos, além de dar dicas do que cada um faria a seguir. E sinceramente, zouk parecia sexo sem tirar as roupas; perdi as contas de quantas vezes eu tive que o encoxar ou quantas vezes ele prendeu meu corpo no seu. Dava para sentir cada músculo seu se moldando para abrigar o meu, fora sua respiração em meu pescoço propositalmente. A combinação do ritmo com a bebida latina não estava fazendo nem um pouco bem para a minha sanidade, muito menos para o meu desejo por ele.
Inclusive, demorou muito menos que imaginei até eu desistir da dança para finalmente tomar a iniciativa. Assim que Jay me fez curvar as costas para trás, eu subi e fui de encontro com seus lábios, paralisando-o por tê-lo pegado de surpresa.
Curiosamente, ele não era nenhum cavalheiro no quesito amasso. Suas mãos eram firmes e ávidas, seu beijo era intenso. Em cinco minutos o beijando, ele aumentou meu tesão em cinco vezes, se é que era possível. Não tardou até que resolvêssemos ir ao reservado.
Não foi espantoso ver a sala mais cheia que antes, mas todos estavam tão preocupados com suas próprias vidas que mal se incomodavam com o que terceiros faziam ali. Para a nossa sorte. Jay e eu encontramos uma mesa no fim da sala, que foi onde me sentei, e ele se pôs entre as minhas pernas, sem delongas para tocar minha intimidade já úmida. Seus dedos me estimulavam com precisão e rapidez, e quando acertavam algum ponto que me causava arrepios, eu agarrava seus cabelos e arfava próximo à sua orelha, que às vezes eu também mordia.
Enquanto uma mão minha se ocupava com os cabelos, a outra massageava seu membro livre das roupas – de forma discreta, claro – há algum tempo. A sensação de perigo por estamos em público deixava tudo mais excitante, e com as habilidades de Jay ao meu dispor, não haveria quem ou o que me impedisse de continuar o que já tínhamos começado. Eu o queria ali mesmo.
Cansado de esperar também, Jay procurou sua carteira e tirou uma camisinha de lá, guardando a embalagem rasgada no bolso em seguida. Senti-lo dentro de mim foi extasiante. Ele estocava fundo, sem ritmo certo, ajeitando-me sobre a mesa algumas vezes para incrementar o sexo dentro do possível. Já eu, em vez de tomar o controle uma vez sequer, tinha me entregado completamente, capaz somente de sorrir de satisfação e me manter tão colada a ele que podia sentir sua pulsação em qualquer parte nua do seu corpo.
De repente senti a vibração vinda do que eu esperava ser seu celular no bolso dianteiro da calça. Seria no mínimo estranho, caso fosse outra coisa.
- Jay, seu celular – murmurei, tendo de pigarrear antes de falar, tal era minha rouquidão. Eu torcia para que ele ignorasse a ligação.
- Eu não vou parar – respondeu ele, para meu alívio. – Já tô quase lá.
Agarrei-me ainda mais a ele, quase nos fundindo. Jay investiu mais algumas vezes, lento, mas forte, pondo toda sua tensão. Quando seu peito começou a inflar mais que o normal e sua respiração bateu no meu ombro nu, notei que ele tinha atingido o orgasmo. Fui abraçada forte e recebi beijos leves no meu pescoço enquanto Jay se recuperava.
- Desculpa, não deu pra segurar mais tempo – disse-me ao pé do ouvido.
- Não precisa se desculpar – acariciei suas costas, rindo baixo. Eu não olhara, mas sabia que ele estava arrumando um fim para o preservativo usado. – Por que você não apareceu antes lá na casa dos meus pais, hein?
Ele se afastou o suficiente para que pudesse me encarar.
- Se eu soubesse que Luigi tinha uma irmã tão gostosa assim... – beijou-me rapidamente diversas vezes, e eu só pensava em como era esquisito ouvi-lo falar “gostosa”. Não combinava com ele, chegava a ser engraçado. – Aliás, é bem curioso saber que você anda sem calcinha por aí.
- Ah... – não consegui segurar o riso. A verdade era que eu sabia como a noite terminaria e tinha separado uma calcinha extra, pequena o suficiente para caber na bolsa, e acabei me esquecendo de vestir alguma que o vestido não marcasse. Pela minha memória falha, antes de sair, eu tinha separado e vestido uma. Contudo, seria embaraçoso demais explicar isso.
O celular de Jay tocou de novo, por sorte. Já devia ter passado o prazo dos amigos dele. Ele atendeu, falou poucas coisas e desligou, dizendo que tínhamos de ir. Minhas pernas bambeavam tanto que não consegui aturar o salto por mais que o caminho para a saída, então me descalcei. Após uma pequena discussão, Jay roubou meus peep toes e só me devolveu quando estacionou o carro perto do flat de Max.
- Já posso ficar com os meus sapatos agora? – perguntei só para confirmar, vendo-o assentir e sorrir. Desfiz minha cara de brava, sorrindo de volta. – Obrigada, Jay. Por tudo.
- Não foi esforço nenhum – ele respondeu, soltando o cinto de segurança para me beijar, agora mais carinhoso.
- Ei, parem de se agarrar e vamos subir! – ouvimos Tom gritar do lado de fora do carro, batendo no vidro dianteiro. Separamo-nos rapidamente; eu, morrendo de vergonha.
Ao sairmos do carro, Jay logo me abraçou pelos ombros, deixando-me arrepiada. Fingi que estava com frio, afastando da minha cabeça as lembranças de nós dois pouco antes de estarmos ali. Eu ainda estava fervendo por dentro de desejo por Jay, mas não precisava deixar tão visível. Ainda mais com todos os amigos dele presentes.
- Oh droga, esqueci minha bolsa no carro! – disse Cheryl, chamando a atenção para ela.
- Depois você pega, Chels – Max não tinha um terço da preocupação dela. Fazia até parecer que ela estava fazendo alarde à toa.
- As suas chaves de casa estão lá, espertinho – ela o lembrou, roubando de sua mão a chave do carro. – Vem comigo, ?
- Sim, claro – respondi, apesar de não gostar da intimidade que ela achava ter. Com certas pessoas eu demorava até me sentir à vontade. Ainda mais a pessoa é do sexo feminino e eu tentava manter a maior distância possível, por causa única e exclusiva do namorado dela.
- É bom ter mais uma garota aqui – confessou Cheryl, quando estávamos mais distante dos outros. – Geralmente as namoradas do Tom e do Seev não saem com a gente, querem se preservar dos tabloides. Sabe como é, qualquer coisa é motivo pra todo mundo ficar em cima...
- Hein?
- Você não sabia? – ela me olhou como se eu fosse anormal. E eu devia ser, porque não fazia a mínima do que ela estava falando. – Eles têm uma banda. The Wanted.
Nome sugestivo.
- Desculpe, não vejo tv. – Retraí-me um pouco. – Mas obrigada, Cheryl, por me dizer antes que eu cometesse uma gafe maior.
- Tipo essa? – ela riu, e novamente eu não entendi onde queria chegar. – Meu nome é Michelle, e não Cheryl.
- Meu Deus! – tapei minha boca, provavelmente roxa de vergonha. – Perdão, eu não tinha ouvido direito enquanto estávamos na Black.
- Sem problemas, acontece – Michelle segurou o riso, vendo o meu embaraço. – Mas então, como conheceu o Jay?
- Ele é amigo do meu irmão, estudaram juntos, alguma coisa assim...
- Hm, não foi em uma boate. – Ela falou mais consigo que comigo, talvez analisando a situação. – Você tem mais chances que as outras, então.
- Prefiro não pensar nisso por enquanto – disse logo, evitando assuntos mais desconfortáveis. Michelle sabia ser bem direta e invasiva, coisa da qual eu preferia passar longe. Fora que eu não sabia se suportaria a ideia de que estava saindo com um cara (teoricamente) famoso e tinha me agarrado com o amigo e companheiro de banda dele, que, por mais que o acaso, tinha uma namorada.
*
Passaram-se algumas horas e algumas partidas de PES no Xbox, assamos pizzas e mais de dois engradados de cerveja já tinham ido embora. Apesar de tê-la disfarçado, continuava com a neurose de que uma hora descobririam algo sobre mim e Max. Trocávamos olhares demais, além de eu sempre ficar melindrada quando ele se dirigia a mim. Eu estava como um gato encurralado, com os pelos eriçados e atenta a tudo. Devia levar mais em consideração que todos já estavam bastante bêbados para repararem nisso.
Cansada de ver todo mundo relaxado, exceto eu, resolvi me ocupar com alguma coisa. Havia um fone em cima da mesa de centro que eu peguei emprestado para ouvir música enquanto – ridículo, eu sei – comecei a juntar as latas de cerveja e qualquer outro tipo de sujeira que tivesse por ali. Eu não estava fazendo nada, de qualquer jeito. Ao menos não ficaria vendo até onde minha paranoia me levaria.
- Que vergonha, Maximillian, a garota tá limpando a sua casa e você aí – Michelle reclamou, atirando uma almofada na direção do namorado. – Vai ajudar!
- Por que você não faz isso? – ele fez pouco caso, e vi que ela não gostou nem um pouco. Seria possível que andassem em crise, por isso a troca de “carinho” o tempo todo? E por que diabos eu fiquei animada?
- Porque a casa é sua e não sou sua empregada.
Ele bufou, jogando o controle para cima de Siva e se levantando. Sem graça, fingi que nada tinha acontecido e que eu não causei aquilo, indo para a cozinha.
- Não precisa fazer isso – disse Max, tomando de mim a bandeja que tínhamos servido a pizza. Ele não estava descontraído como antes.
- Só tô querendo ajudar – rebati, confusa.
- Ok, mas já pode parar. – Vi um sorriso cínico no seu rosto. – E pode parar também de deixar tão na cara.
Arqueei uma das sobrancelhas. Talvez fosse o álcool, mas eu não andava entendendo muita coisa naquela noite.
- Você sabe do que eu tô falando – ele continuou, e eu não movi um músculo. – Olha, minha namorada e o meu amigo, que é o seu... tá, não importa, estão no cômodo do lado, e mesmo que esteja esse barulho todo, não acho uma boa ideia falar sobre isso com todas as letras. Vamos lá, você é bem espertinha, sabe do que eu tô falando.
- Eu não fiz nada em momento nenhum, se tem alguém aqui que devia sossegar, esse alguém é você – falei, cruzando os braços e me encostando no armário. Se ele queria me repreender, não tinha direito algum, afinal, estava tão ou mais errado que eu. – Que foi, a consciência pesou agora e você tá jogando o remorso pra cima de mim?
Ele riu, contrariado. Eu podia ser idiota de ficar me autopunindo o tempo todo, mas não daria a ninguém a chance de fazê-lo por mim.
- Não disse? Você é bem espertinha, quando quer – observou Max, voltando a ter aquele ar de quem quer muito alguma coisa.
Alguma coisa proibida.
Ele não devia jogar sujo daquele jeito. Eu estava mais que alegre, ele também. A possibilidade de uma merda acontecer era grande. Droga. Se existia algo que eu mais odiava naquele momento, era o frisson que existia entre nós dois.
- E você também – respondi. – Mas às vezes se esquece do perigo.
- Ei – Nathan disse da porta, chamando nossa atenção. Olhei de volta para Max, que não tirou o sorriso de lado do rosto, porém parecia concordar comigo, em vez de ser irônico. – Que foi?
- Não, nada – abanei o ar, como se espantasse o assunto dali.
- Ok... Já que vocês estão aí, peguem um pano limpo. Jay derrubou cerveja no chão, tá tudo nojento lá.
- Deixo essa pra você – dirigi-me a Max, acenando para ele enquanto fugia para a sala rapidamente com Nathan. Chegando no cômodo, vi Jay um pouco atordoado, tentando secar a bebida espalhada pelo piso com papel higiênico. Abaixei-me ao seu lado, ajudando-o como podia. – Acho que já tá na hora da gente ir embora, né? Já começaram a zonear demais.
- Tem vezes que é pior – ele riu, agradecendo em seguida com um beijo no meu rosto. – Se eu fosse você, não abaixaria tanto. Você ainda tá sem calcinha, lembra? – sussurrou, fazendo-me levantar imediatamente, com os olhos arregalados e a mão sobre a boca para evitar qualquer chiado.
- Aconteceu alguma coisa, ? – Michelle perguntou, sentada no mesmo lugar de antes. Não devia ter nem se levantado. Realmente, devia ser tão comum que ela nem mesmo se comovia e deixava que os garotos se virassem.
- Um pequeno desvio de percurso. – fingi não dar importância, dando licença para Max, que estava já com um pano para limpar a sujeira que Jay havia feito. – Então, Jay, vamos?
*
“Hey , como você, tá? Hahaha”
Foi essa a mensagem que me acordou às 4h de uma terça-feira para quarta-feira. Jay realmente não desistia da brincadeira, e eu já não conseguia mais lembrar há quantos dias estava com olheiras. Ele acertava sempre o horário em que eu estava no ápice do sono para me acordar e me ferrar no dia seguinte. Ainda mais pelo fato dos fusos diferentes quando a banda estava em turnê.
Apesar de não termos engatado nenhum tipo de relacionamento – nem mesmo nos considerávamos amigos coloridos –, conversávamos com frequência por SMS. Foi um hábito da primeira semana em que nos conhecemos que não conseguimos esquecer.
Confesso, eu ainda queria que saíssemos mais. Eu não era burra de dispensar um cara como Jay, que conseguiu superar todas as minhas expectativas. Porém, só de pensar em ter que ser extra cuidadosa com fotógrafos e fãs indesejados, desanimava. O mais estranho era eu não ter sequer sabido do The Wanted com a fama que eles tinham. A filha da minha chefa vivia falando deles, e eu nunca liguei os nomes às pessoas. Tudo bem, eu mal a via falando sobre eles, mas com frequência ela estava com alguma revista ou jornal que continha informações sobre a banda. Eu só sabia que seu favorito era – oh, ironia – Max.
E pior: eu, sem querer, disse que o conhecia. Agora a minha chefa não me daria sossego enquanto eu não o apresentasse à sua filha. Tinha até bonificação em jogo!
“Hahaha, bobo. Aproveitando a oportunidade... Quando vocês voltam?” Tentei digitar, provavelmente com muitos erros, e mandei como resposta.
“Em dois dias. Por quê? Quer me ter? Hahahahaha”
Revirei os olhos, impaciente. Não era uma boa hora para brincadeiras. (Para dormir, sim, claro.)
“Você tá bêbado demais pra me levar a sério, Jay. Amanhã a gente se fala.”
“Desculpa, parei, juro.”
“Tenho uma reunião importante amanhã, me ligue quando terminar meu expediente. Ou quando sua ressaca passar.”
“Poxa :(”
Desliguei meu celular em seguida, só por prevenção. Existiam grandes chances de ou Jay estar bancando o bêbado irritante e carente, ou ser um dos garotos de sacanagem. Qualquer uma das duas me tiraria do sério o bastante para que eu aniquilasse meu sono.
Jay realmente me ligou depois que saí do trabalho, mas eu estava ocupada fechando um relatório e não quis parar enquanto não terminasse. Ele ligou de novo mais tarde, quando eu já estava dormindo e nem mesmo ouvi o telefone tocar – vim saber daquela ligação somente no dia seguinte. Ligou mais uma vez no meu horário de almoço, entretanto, a bateria do meu celular tinha ido para o espaço e não consegui falar “Oi” antes que o aparelho desligasse. Combo triplo. Ele devia achar que eu estava o evitando por um motivo banal.
Assim que cheguei em casa, por volta das 19h, pus meu celular para carregar e disquei seu número. Demorou bastante até que Jay atendesse, e eu torcia para que não tivesse sido o tempo em que ele dizia que iria me ignorar e alguém o convencia do contrário.
- Jay! Oi – falei alto demais. Sua resposta não foi nem animada, nem fria. Menos mal. – Desculpe não te atender nas últimas vezes, ocorreram imprevistos.
- Sei – disse ele, com vozes ao fundo. – Pensei que estivesse chateada comigo.
- Ah não, não. Não tinha por quê.
- Hm.
Ficamos em silêncio por uns instantes. Eu ouvia os garotos rindo do outro lado da linha e me sentia cada vez mais desconfortável pela falta de assunto. Mas num estalo, lembrei o que queria lhe dizer.
- Jay, Max tá por aí? – perguntei, tentando soar casual. – Preciso de um favor dele.
- Hã? Comigo? – ouvi de longe, estranhando a forma seca como Jay me tratava. – Alô?
- Max, é a – os ruídos diminuíram até cessar. – Pode me ajudar com uma coisinha? Não vai tomar muito o seu tempo, eu juro!
- Diga.
- Então, eu... – Não acreditava que faria aquilo. Pelo menos eu seria paga... – Desculpa, mas eu, meio que sem querer, disse que tinha contato com vocês pra filha da minha supervisora, e agora a minha chefe tá me enchendo o saco e dando indiretas sobre demissão, caso eu não arrume um jeito da menina conhecer a banda. – Menti descaradamente, sem nem me importar. Eu mal o via, de qualquer forma. Depois disso passaria tempo suficiente até esquecermos essa história. – Você, principalmente.
- Hm, jura? – questionou ele, em tom desconfiado.
- Juro – continuei firme. – E por favor, não pense que isso é uma desculpa pra te ver. Eu não seria tão cara de pau de ligar pro Jay e marcar com você.
- Mas não é o que estamos fazendo?
- Não – disse de imediato. – É diferente, eu tô marcando pra você encontrar uma adolescente de quinze anos que tem sonhos eróticos com você.
- Como você sabe disso? – ele ria alto.
- Ela é uma garota. Adolescente. Tem hormônios pra dar e vender e não tem nada na cabeça – expliquei o óbvio. Que mulher nunca foi uma fangirl sonhadora e patética? Porque, bem, eu já fui, e era exatamente assim que agia quando havia a possibilidade de conhecer meus ídolos.
Ou quando eu ia a um show ser esmagada por pessoas tão fanáticas quanto eu. Ou quando eu os perseguia pela cidade e surtava porque estava no carro atrás dos meus ídolos. Ou quando simplesmente tocavam em alguma rádio ou programa de tv. Em resumo: por tudo.
- Você diz isso com muita convicção... – ele não desistia da ideia de me deixar sem graça.
- Experiência própria, se é o que quer saber – ri fraco, sentindo meu estômago roncar. Como parecia que iria demorar, já tinha até mesmo me sentado no chão da sala, ao lado da tomada em que meu celular carregava. Estava doida, na verdade, para desligar e atacar a primeira coisa comestível que aparecesse na minha frente. – Mas então, você pode me ajudar com isso?
- O que eu ganho em troca?
Lá vem ele...
- Minha eterna gratidão – respondi, imaginando sua cara naquele momento. Ele ficou quieto, como se esperasse outras opções. – Ah vai, quebra esse galho pra mim, por favor. É o meu emprego que tá em jogo, não vai te custar nada. Vocês se encontram em um café, com a mãe dela lá, tiram fotos, conversam quinze minutos e pronto, acabou.
- Tudo bem, eu vou – comecei a comemorar a bonificação – mas com a condição de que você esteja lá também.
- É sério isso? – indaguei, resignada. Ele respondeu com um “Uhum”. – Ok, como você quiser. Que dia você tá livre?
- Sábado, 15h, no Guillaume’s.
- Certo. Qualquer coisa, me ligue – tentei lembrar se havia algum compromisso para aquele dia. Ele estava voltando de uma turnê curta, provavelmente teria a agenda lotada nas próximas semanas; eu não podia desperdiçar a oportunidade, pois não o veria tão cedo. Nem Jay. – Max... sabe me dizer se o Jay ficou chateado comigo ou coisa do tipo?
- Se estava, não pareceu – fiquei mais tranquila ao saber. – Ele só não podia falar com você agora, porque estava com a ex na webcam. Ele bebeu demais ontem e ligou pra metade da cidade, agora tem que ficar dando explicações.
- Ah... – eu não tinha sido a única, então. Ele não tinha sentido vontade de falar comigo, foi apenas impulso da bebedeira. Ótimo. – Enfim, tá combinado. Não ouse faltar!
- Te digo o mesmo.
Desliguei após me despedir, empolgada pelo dinheiro extra que aquilo me renderia. Já estava mais que na hora de eu comprar umas roupas novas. Se anos atrás alguém me dissesse que eu seria paga somente por tomar um café, juro que eu acharia que a pessoa estava mais que fumada. Entretanto, hoje é tão real que soa até ridículo. Soa não, é ridículo. Mas em time que tá ganhando não se mexe, e eu que não era trouxa de negar dinheiro.
*
Max estava atrasado e eu não aguentava mais ter que responder que ele já chegaria para Kaya, a filha da minha chefe. A mãe dela a deixou no café que tínhamos combinado e saiu para “resolver problemas” – e me deixou com um. Eu entendia que a garota estava ansiosa, entretanto, não conseguia deixar de pensar em como ela era irritante. Será que eu era igual quando tinha aquela idade?
- Por que ele tá demorando tanto? Ele não vem mais? – Kaya perguntou pela milionésima vez, forçando-me a fechar os olhos e respirar fundo antes de responder.
- Ele vem, já disse – falei, segurando o estresse. Estava a um ponto de meter a mão na cara daquela biscatinha só pra ela deixar de ser chata. – Não adianta perguntar de cinco em cinco minutos, a resposta vai ser a mesma.
- Então por que ele ainda não chegou? – continuou a peste. – Confessa, você não conhece nenhum deles, só falou isso pra me magoar. Pra que fazer isso?!
- Não exagera – revirei os olhos e apoiei a cabeça na mão. Agora eu entendia perfeitamente o porquê da mãe dela não querer passar a tarde com a gente. – Eu conheço todos da banda, aliás, é por conhecê-los que consegui marcar esse encontro de última hora. Você deve saber melhor que eu que a The Wanted acabou de voltar de uma turnê pela França, e Max tá usando o tempo da folga dele pra vir aqui te ver. Ele devia estar descansando e vai sair com uma fã só porque uma conhecida pediu. Você devia estar grata, em vez de descontar a ansiedade toda em mim. E se não quiser que eu levante daqui nesse exato momento e te leve pra casa, é bom você ficar quieta e esperar.
Kaya abriu e fechou a boca algumas vezes, tentando argumentar. Quando viu que não tinha jeito, cruzou os braços e virou para o lado, emburrada. Olhei para o celular mais uma vez, já era 15h15 e não havia sequer uma sms. Ele tinha me deixado na mão. Devia estar no sofá, abraçadinho com Michelle e vendo um filme, enquanto eu aguentava uma fã de quatorze anos com mentalidade de seis.
O garçom apareceu novamente na mesa cinco minutos depois da pequena discussão com Kaya, e eu finalmente fiz meu pedido, pelo menos para me distrair: três muffins (cupcake é muito mainstream) de chocolate, baunilha e morango e chocolate quente. A estressadinha ficou de birra quando a perguntei se queria alguma coisa, então não fiz questão de pedir nada. Sairia do bolso da mãe dela, de qualquer forma, e ela nem sabia.
Eu já estava perdendo as esperanças quando Max finalmente apareceu. Kaya quase teve um infarto (e eu, uma crise de risos pela reação dela) quando ele a cumprimentou e se sentou.
- Me desculpem pela demora – ele sorriu como se nada tivesse acontecido. Não respondi nada, apenas retribuí de forma mais tímida. – Então, você é Kaya, não é?
- Isso – respondeu a menina, vidrada. Era cômica a expressão dela, um misto de deslumbrado com maníaco. – É um prazer enorme te conhecer!
- Que isso, o prazer é meu de estar aqui. – Foi por um curto momento, mas eu o vi fugir do olhar dela para me encarar. Fingi não reparar, voltando minha atenção para o celular.
De novo não, por favor. Por favorzinho.
- Vou ao toalete – usei como desculpa para fugir. Naquela hora eu agradecia aos céus por não ser uma boate, não havia riscos de eu ser seguida por um assediador. Sim, isso que ele era: um assediador. Tarado. Ficava me cercando em qualquer oportunidade que tinha, querendo se esfregar por aí. E ele tinha uma namorada, por Deus! Eu nunca fui dessas que cedem à tentação quando tenho conhecimento desse pequeno detalhe. (Deixando claro: se o cara não diz, a culpa não é minha. “O que os olhos não veem, o coração não sente”, não é esse o ditado?)
Seja forte, , pensei comigo, você consegue.
Encarei meu reflexo no espelho, ensaiando algumas caras de tédio para quando Max viesse de graça para cima de mim. Todas pareciam patéticas demais, logo, eu teria que optar pelo descaso e não desviar o foco do meu celular. Ele se tocaria e cessaria, espero eu.
Respirei fundo antes de voltar para a mesa. Definitivamente, eu estava arrependida de estar ali. Acrescentaria “ser menos gananciosa” às minhas resoluções para o ano seguinte, pois bonificação nenhuma valia aquilo. Nem meus muffins! A cretina estava acabando com os meus muffins!
- Pensei que você não quisesse comer, já que não pediu – falei, sem uma gota de paciência. Kaya me olhou com culpa, parecendo até uma menina pueril.
- Eu que ofereci a ela – Max interveio. – Você não devia comer tanto açúcar, vai te fazer mal.
- Obrigada, pai, mas acho que já sou bem grandinha pra saber o que como ou não – fui incisiva, puxando o prato com os bolinhos para mim. Como eu não tinha pensado naquilo? Agressividade era uma ótima ferramenta. – Aliás, a culpa é sua por me deixar esperando. Eu jurava que daria tempo suficiente para comer os três sem ser um atrás do outro.
- Parece que você se enganou – ele sorriu mais uma vez. E devo dizer, ele tinha um sorriso muito bonito. Contrastava com seu semblante fechado de uma maneira exótica, a qual eu duvidava que ficaria tão bem em outra pessoa. Mas eu não devia me prender àquilo. Raiva, , sinta raiva.
- Pela primeira vez – repliquei com cinismo. Hora da técnica do celular.
- Ah, e antes eu não te surpreendi? – Pela minha visão periférica, vi que ele se virou para mim, deixando Kaya deslocada ali. – Isso é bom ou ruim?
- Pense o que quiser – virei-me para a direção oposta, ignorando-o.
Max pareceu entender a mensagem, pois não insistiu mais em falar comigo. Confesso que, depois, quis voltar atrás, uma vez que não era meu hobby ser excluída de uma conversa, restringida apenas a minha comida. Queria que Jay estivesse ali, sua presença amenizaria o clima desde o começo. Àquela altura, ele ainda devia estar ocupado pedindo desculpas às garotas da sua agenda telefônica. Eu estava duplamente jogada para escanteio.
Às 18h, Harriet – mãe de Kaya e minha chefe – apareceu para buscar a filha e tietar um pouco. Além dos cds autografados da garota, as duas levavam para casa uma camiseta dada por Max e duzentas mil fotos pro Instagram. Eu só torcia para que fossem embora logo e eu estivesse livre daquele inferno. Tinha sido alvo de energias negativas demais para um só dia, precisava de uma sessão purificadora de filmes e pipoca. Decadente, eu sabia, porém antes isso que nada.
- Foi um prazer conhecê-lo – disse Harriet, despertando a minha atenção da conversa blasé dos três. – Espero que Kaya tenha se comportado.
- Ela foi um amor de pessoa – observou Max. Que espécie de homem em sã consciência fala uma coisa daquelas? Se eu não soubesse que ele não era gay de jeito nenhum... Ah, esquece.
- Bom, então vamos indo.
- Eu vou aproveitar pra ir embora também – anunciei, levantando-me.
- Eu te levo em casa – Max se prontificou, seguindo meus movimentos. Franzi o cenho para ele rapidamente, para que minha chefe não visse.
- Não precisa se preocupar, não moro muito longe daqui...
- Por isso mesmo, não vai me custar nada – ele rebateu, parecendo se divertir com aquilo. Sabia que eu queria impressionar Harriet e estava me forçando a não faltar com a educação na frente dela. Cre-ti-no.
Busquei apoio no olhar da minha supervisora, numa tentativa inútil.
- Não faça uma desfeita dessas, – disse ela, e eu a odiei no mesmo instante. – Ele é seu amigo, não há problema.
Max segurou o riso, erguendo as sobrancelhas de modo que dizia “Viu?”. Suspirei, derrotada.
- Tudo bem – murmurei, sem ânimo. Todos os meus esforços jogados fora. E o pior: agora eu estava vulnerável. Tinha sido deixada de lado tão abruptamente horas antes que, embora meu orgulho não me deixasse mostrar, estava em busca de qualquer sinal de atenção. Eu era uma babaca carente, admito.
- Certo, vamos todos, então – Harriet encerrou o assunto, sendo a primeira a se retirar, levando Kaya consigo.
Íamos logo atrás, mudos. Ele parecia digitar alguma coisa que não consegui ver, enquanto eu simplesmente fiquei com cara de ânus, adorando tudo aquilo. Torcia piamente para que o trânsito estivesse fluindo, assim o trajeto seria rápido. Dividir o mesmo espaço com Max estava se tornando um desafio físico, já.
Ele devia fazer aquilo com várias. Qualquer uma que desse chance estaria na mesma posição que eu me encontrava naquele momento, presa num joguinho mental que Maximillian sabia de cor. Eu era mesmo muito ingênua para me deixar ser manipulada por um cara que mal conhecia. Parecia que eu estava hipnotizada, apesar de relutar. Era uma resistência sem resultados, a propósito, pois eu acabava novamente em meio a um beco sem saída cedo ou tarde. Odiava, além de toda a situação, a mim mesma. Ainda depois de saber o que eu sabia sobre Max, sentia uma atração que se escondera em mim pelo tempo que ficamos sem nos ver. Era latente e, sendo assim, perigosa.
Eu já conhecia a sensação de querer o que é errado. O clichê da minha vida era a vontade de ter o que não podia. Minha mente era mesquinha o suficiente para eu invejar o que eu pertencia aos outros. Desde pequena eu queria a boneca da vizinha, o cachorrinho de estimação do primo distante e, agora, o namorado da outra, contudo, reprimia minha cobiça porque sabia o quanto era mal visto – não pelos outros, por mim mesma; odiava essa parte podre da minha personalidade. Era complexo entender e lidar com tantos paradoxos e contradições, mas eu conseguira sobreviver até então por nunca ter reciprocidade nos meus desejos egoístas. Com Max eu tinha, e por essa razão era ainda mais difícil me controlar.
Minha força de vontade para nem sequer olhá-lo era descomunal. Ele não dizia nada, o que, ironicamente, me fazia querer perguntar o porquê. Era realmente só por gentileza que estava me levando? Iria só obedecer aos comandos do GPS? Não tentaria me provocar? Me deixaria na porta do prédio e iria embora? Ficaria tudo por isso mesmo?
Em meio ao turbilhão de perguntas que me bombardeavam, ouvi Max cantarolar uma música que me soava familiar, tamborilando o ritmo no volante. Estávamos presos no tráfego de uma das principais avenidas, pois era horário de pico. Eu devia ter prestado atenção nisso antes de me sentar no banco de carona. Mais um caso de autossabotagem para a minha conta.
Passei os olhos pela rua, depois pelo ambiente. Por fim – de forma previsível –, espiei-o pelo canto dos olhos, sendo pega em flagrante. Suspirei, frustrada, então percebendo que tudo fora proposital. Ele continuava brincando com a minha sanidade, conhecendo muito mais de mim em algumas horas que eu demorei para entender em anos. O pior era saber que aquilo não era uma conexão, eu não recebia nenhuma informação em troca. Max conhecia meus pontos fracos porque eu era uma garota igual a outras, porém com o rosto diferente, e ele usava seu potencial para sociopata para conquistar as que eram como eu.
E que idiota eu era, tinha chegado a uma brilhante conclusão e não movi um dedo para sair daquela enrascada. Eu merecia aquilo pela minha burrice. Senão burrice, falta de caráter. Eu queria o perigo, o pecado, o erro. Em partes, usava a culpa prévia para me empurrar de encontro a Max. De qualquer maneira, já tinha me sentenciado.
- Posso perguntar por que fez tudo isso? – perguntei quase em um sussurro, olhando para minhas mãos sobre as coxas.
- Porque você pediu.
- Hm... – não me senti nem um pouco convencida. – Só? Não tem nada a ver com as outras vezes que nos vimos?
Ele não encerrava a música, apenas pausava para me ouvir e retomava assim que podia.
- Quer que diga que me apaixonei e não consigo negar nada que me peça? – ele riu, tocando meu rosto com a mão que antes segurava o câmbio. – Desculpe, seria uma mentira muito feia.
- Não quero isso, seria desesperado demais – me esquivei de sua mão, que caiu sobre as minhas e ficou por ali mesmo, escorregando para o tecido do vestido que eu usava. Mexi minhas pernas para o lado, rejeitando-o. Não ainda. – Quero que seja sincero.
- Quer um motivo pra diminuir o peso na consciência quando for dormir? – ele entendeu o recado, voltando a segurar o câmbio automático quando os carros voltaram a andar.
- Quero um motivo que faça valer à pena ter algum peso na consciência – corrigi. – Dependendo da sua resposta, um atenuante de culpa seria bom, sim.
- Você nem mesmo disfarça que continua a fim de mim desde que nos conhecemos. Não é só porque eu sou homem, mas dá pra sentir nitidamente que há tensão sexual entre a gente. Eu não vejo mal algum em dispersá-la.
- Eu também não... – confessei, mais para mim que para ele. – Mas você tem uma namorada – fiz questão de lembrar. Juro que não era relutância, apenas queria ouvir da sua própria voz que ele tinha um caráter tão duvidoso quanto eu, pelo menos para servir de algum conforto, mesmo que mínimo.
- Se você não contar, eu também não contarei – novamente aquele olhar que sinalizava perigo, acompanhado do sorriso debochado. Peguei-me fitando seus lábios sem pensar, fazendo jus ao ditado “Quem cala, consente”.
Vinte minutos depois – o dobro do tempo que eu levaria de metrô –, chegamos à minha rua, poucos metros antes do prédio onde eu morava. Eu estava tão sem jeito para tocar no assunto, embora estivesse totalmente de acordo, que passamos quase dez minutos no carro, falando sobre aleatoriedades, finalmente de forma saudável.
- Então... – mas em determinado ponto, a conversa acabou e ficamos nos olhando sem dizer nada. Ele esperava um convite meu, e eu não o desapontaria. – Quer subir?
- Tem mais uma fã me esperando lá? – Max brincou, rindo.
Subimos pelo elevador, quietos para não atrapalhar a conversa de duas vizinhas minhas do andar acima do meu. Eu não aguentava mais aquele desconforto, aquele medo de dizer qualquer coisa que pudesse ficar subentendida. Precisava quebrar o gelo, afinal, nós dois queríamos, e se – eu torcia muito – iríamos transar só para passar a vontade, pelo menos as minhas preferências ele tinha que saber. Eu não passaria esse perrengue por uma foda mal dada com um cara que tem fama de fodão. Seria, no mínimo, decepcionante.
- Entre – abri a porta para ele passar, trancando-a após segui-lo. – Quer uma água, alguma coisa?
Ele sorriu, sugestivo, e eu entendi o que queria dizer.
- A propósito, não querendo ser atirada, mas já sendo e muito, vamos deixar algumas coisas explícitas – sugeri, e não houve objeções. – Você está aqui com as mesmas intenções que eu, certo?
- Certo... eu acho. – Max respondeu de sobrancelhas arqueadas, um pouco inseguro sobre onde eu queria chegar.
- Sem nenhuma emoção envolvida, só lance físico?
- Isso – ele finalmente entendeu, rindo baixo da minha abordagem. Era melhor encurtar um caminho que levaria horas para ser traçado.
- Você lembra o meu nome?
- É claro, !
- Não ouse me chamar pelo nome da Michelle – adverti, vendo-o concordar. – Aliás, não diga o meu nome. Isso me distrai.
- Posso fazer exigências também? – fiz que sim com a cabeça. – Não me arranhe nem deixe marcas.
- Justo – ponderei, levando em conta que ele tinha uma imagem a zelar. – Você pode puxar meu cabelo e dar alguns tapas, se quiser.
- Você gosta de jogo duro, então? Interessante...
- Não só jogo. – Olhei para o volume de sua calça, dando um sorriso parecido com o dele. – Ah, isso é muito importante: não faço nada anal.
- Ótimo, nem eu. – Max pareceu um pouco adverso àquilo, preferi não perguntar sobre.
- Acho que é só isso – concluí, tentando lembrar se faltava algo. – Algum adicional?
- Nenhum.
- Cama ou sofá?
Cama, cama, cama.
- Cama – comemorei por dentro –, gosto de cochilar depois do sexo.
- Não pode demorar muito – alertei. Vai que ele quer, sei lá, passar a noite comigo?
- Não irei, prometo – ele ergueu a mão como um escoteiro faria.
- Prometa também que em nenhuma circunstância me ligará amanhã.
- Prometo. – Max concordou com a cabeça. – Então, a gente pode começar logo?
Olhei ao redor, pensando em mais algum aviso. Não havia nenhum, logo, em menos de dois segundos, estávamos aos beijos e eu pude respirar aliviada. Finalmente. Eu poderia aproveitar nada menos que tudo daquele guilty pleasure e teria todas as lembranças inteiras e perfeitas. Na verdade, aquela parecia a primeira vez que eu estava com Max, visto que tudo que me recordava era de pensar que tinha sido bom ficar com ele nas outras ocasiões. Eu não tinha ideia de como o toque dele era acolhedor, fazia-me querer não estar em outro lugar que não fosse envolvida por seus braços. Talvez fosse esse o motivo para eu nunca o recusar.
Conduzi-nos até o quarto, separando-me somente para trancar a porta e retirar minha jaqueta, ankle boots e acessórios. Eu gostava desse lance de um despir o outro, então continuaria de vestido e não o deixaria tirar nada além dos tênis. Caminhei até Max, que estava sentado na beirada da cama, espalmando minha mão em seu peito para fazê-lo se deitar. Apoiando-me nos joelhos e mãos, engatinhei pelo colchão, deixando uma de minhas pernas entre as dele. Beijei seu pescoço com vontade, tomando muito cuidado para não deixar nenhuma marca suspeita. Ele segurava o começo das minhas coxas, bem próximo às nádegas, apertando e alisando a região à medida que eu conseguia arrancar suspiros do fundo da sua garganta.
Afastei-me de seu tórax, sentando e o encarando. Seu rosto estava diferente, com um olhar tão cheio de tesão que eu duvidava ter sido causado por mim. Eu não era um mulherão ou atriz pornô, não provocava esse efeito. A única resposta para aquilo era seu desejo ser tão forte por mim quanto o meu, que ficava estampado na minha testa assim que o via. Constatar isso trouxe de volta minha autoconfiança e acabou com qualquer sintoma de vergonha que eu sentia por estar desfrutando do que não me pertencia. Naquele momento, Max me pertencia; eu era dele.
As mãos dele haviam subido para o meu quadril quando me sentei, então aproveitei para puxá-las, fazendo-o erguer o tronco. Escorreguei meus dedos por dentro da jaqueta que ele usava, deslizando-a por seus braços e a atirando no chão em seguida. Max tornou a me segurar, aproximando meu peito do seu e beijando meu ombro após abaixar uma das alças do vestido. Suas mãos estavam no meio das minhas costas, achar o zíper não foi trabalho para elas. O tecido sobre a minha pele rapidamente caiu à altura da minha cintura, mas tive de erguê-lo caso quisesse ficar nua de verdade. Max mal me deu tempo para pensar, distribuindo beijos pelo meu colo também. Um pouco desajeitada, fui abrindo os botões de sua camisa enquanto ele já tentava retirar meu sutiã.
Um arrepio correu por toda a minha espinha quando senti sua língua rodeando a aréola do meu seio esquerdo, sugando-a com avidez. Sua precisão era tanta que senti minha intimidade pulsar levemente, ansiando por aquilo em um lugar mais apropriado. Mordi meu lábio inferior, emitindo um som que não chegava a ser um gemido e me agarrando firmemente à camisa que ele ainda não tinha retirado, numa tentativa de não o arranhar. Seria um problema sério não poder fazer justo o que eu mais adorava nas preliminares, mas eu entendia.
Embora entendesse, não aguentaria muito tempo daquela forma. Fui obrigada a afastá-lo, pedindo para que tirasse a camisa logo, ao tempo que eu já avançava em sua calça. O volume que tinha se formado ali foi tanto que, quando segurei no zíper, abriu a peça facilmente com a pressão. Usei as duas mãos para agarrar o denim e a boxer de Max, puxando-as para baixo e libertando o – muito bonito, devo dizer – membro dele.
A exigência que eu havia esquecido era a de que eu não o queria me olhando enquanto eu fizesse oral. Era feio, eu tinha noção, não sentia o menor prazer em olhar para o cara que estivesse entre as minhas pernas, e acreditava que o contrário também existia. Não era apenas por frescura, mas uma forma de induzir o meia-nove. Com a habilidade de Max, obviamente eu não desperdiçaria a chance. Virei-me de costas para ele, transpassando minhas pernas por seus ombros, logo após, acomodei sua glande em minha boca, segurando a base de seu pênis com uma mão. Lambi toda a extremidade e em seguida suguei o resto, fazendo-o contrair alguns músculos. Estava já seguindo um ritmo no vai e vem quando senti minha calcinha ser movida até o meio das coxas, então facilitei e tirei uma das minhas pernas da pequena armadilha que ela fazia. Max segurou a parte interna das minhas pernas e, com os polegares, afastou um pouco os grandes lábios, enfim explorando minha intimidade. Lambia e sugava meu clitóris com a mesma precisão de antes, o que me desconcentrou um pouco, mas continuei e até aumentei a intensidade com que o masturbava. Pouco tempo depois, suas pernas travadas indicaram que ele gozaria, então me prontifiquei a engolir seu esperma.
Eu não era do tipo que alcançava o orgasmo facilmente, porém também estava bem perto disso. Mas Max parou o que fazia e saiu debaixo de mim, pondo-me mais à frente, ainda de quatro. Ele não me penetraria ainda porque precisava esperar o famoso período refratário, mas mesmo assim não me deixou deitar. Ao invés, voltou a me tocar, agora com os dedos, rapidamente. Friccionava a ponta dos dedos contra meu sexo sem um movimento coordenado, às vezes me penetrando. Senti espasmos em seguida, levando-me a contrair os músculos com força contra os dedos de Max. Minhas pernas bambearam quando finalmente pude liberar a energia retida, e eu me joguei de costas na cama, fechando as pernas e comprimindo minha intimidade para prolongar a sensação, arfando como se tivesse corrido uma maratona.
Fitando o teto, vi Max surgir à frente do meu rosto, sorrindo de lado. Retribuí, extremamente satisfeita, sem acreditar ainda naquela história toda. Ele passou o braço ao redor da minha cintura, ajeitando-me sobre o colchão e abrindo as minhas pernas para se pôr entre elas. Voltamos a nos beijar, menos ávidos que antes, então ele finalmente me penetrou de forma lenta e profunda. Cruzei meus braços ao redor do seu pescoço, deleitando-me por completo. Sua pele suada em contato com a minha me mantinha aquecida, e embora eu já tivesse chegado ao meu limite minutos antes, não deixava de sentir um prazer enorme com as investidas de Max. Como já estávamos cansados, a segunda rodada demorou menos, em pouco tempo ele já havia alcançado o clímax novamente e se deitado sobre mim.
- Quer tomar um banho? – perguntei, sonolenta, virando-me para seu rosto à minha direita. Max assentiu, enrolando para se levantar. – Se você não sair de cima de mim, não tem como eu te arrumar uma toalha. E preciso trocar a roupa de cama.
- Precisa não – ele fez pouco caso, apertando-me em seus braços em sinal de que não se levantaria.
- Não aja como se você fosse dormir aqui – alertei, empurrando-o. – Anda, vai tomar banho enquanto eu troco os lençóis, senão não tem cochilo nenhum.
Resmungando, ele foi nu até o banheiro, e de costas era tão bonito quanto de frente, pude notar. Entretanto, não parecia mais tão irresistível quanto antes; sua beleza havia se tornado comum aos meus olhos depois da transa. Em vez de estar a fim, eu tinha criado uma fixação por ele grande o suficiente para me fazer ceder, mas era só. Como tudo que eu invejava quando era mais nova, depois de conseguir, me cansava. Sempre soube desde o começo que isso aconteceria, mas tentava evitar o envolvimento porque, afinal de contas, era errado. No entanto, não me arrependia de tê-lo feito, pois assim poderia finalmente desapegar.
Essa era a parte que eu mais gostava depois de conhecer um galinha, o desapego. Na maioria das vezes eu não dava chances para que o cara me conhecesse mais a fundo, mas quando acontecia, como o caso de Max, eu tinha que ser tão direta quanto tinha sido com ele antes de chegarmos onde estávamos. Não podia deixá-lo ultrapassar o limite entre “sexo casual” e “nos veremos de novo”. Eu não queria vê-lo de novo pessoalmente nem por todo o dinheiro do mundo, pois era arriscado e eu, como boa administradora, odiava riscos. O seguro é bom, o duvidoso deve ficar longe.
Jay era bom. Pena que não achava o mesmo de mim.
Respirei fundo, disposta a esquecer aquilo. Eu não tinha dado sorte, mas minha vida não tinha acabado. Eu não sobrevivia às custas de relacionamentos, minha profissão vinha em primeiro. O que não era prioridade não podia me afetar. Nem tirar um cochilo na cama que eu estava arrumando.
Algum tempo depois, Max apareceu para se vestir, enrolado na toalha que lhe indiquei para usar. Eu vestia um robe de seda preta, sentada bem no meio da cama, mexendo no meu celular. Ergui meu olhar para ele.
- Não vai rolar – disse, vendo-o me questionar com suas expressões. – O cochilo, não vai rolar.
- Por quê?
- Problemas de intimidade – justifiquei, forçando um sorriso. – Vista-se e vá embora da minha vida, por favor.
- Tá desdenhando agora, é? – ele riu, vestindo sua boxer. – Tá se sentindo culpada?
- Não, e acredito que não vale a pena te contar meus motivos, desculpe.
- É por causa do Jay? – Max me surpreendeu com a pergunta.
- Devia ser, mas não, não é – se ele ainda mudasse alguma coisa, com certeza mudaria o fato de eu ter aparecido naquele café. – Eu e Jay nunca tivemos nada, e nas últimas semanas eu achava bem difícil rolar qualquer coisa.
- Eu desconfiava que ele iria te chamar pra sair de novo assim que a nossa agenda estivesse mais vazia – disse Max, como se não fosse nada de mais. – Ouvi alguma coisa do tipo quando estávamos no avião de volta. Mas já que não te interessa mais...
Arregalei os olhos, piscando mais vezes que o comum. Como é?
- Por que não me disse isso antes? – balbuciei, não conseguindo fechar a boca com a indignação pela atitude dele.
- Foi você quem não quis falar comigo a tarde inteira.
- Você não tinha o direito! – levantei-me, exaltada. – Isso não tinha nada a ver com você, não é você que tem que interferir na minha vida e do Jay.
- Ah, é, né? – ele sorriu, cínico. – Agora tem a ver comigo, porque eu duvido que ele vá querer algo com você depois que souber que te comi enquanto você suspirava por ele.
Senti meu sangue ferver e chegar à cabeça. Aquele cretino!
- O que você ganha com isso, hein? – grasnei, segurando-me para não avançar na sua cara bonitinha. – Pra que fazer toda essa palhaçada?
- Diversão – respondeu Max, completamente vestido, com os tênis nas mãos. – Mas pode deixar, já tô indo embora da sua vida. E é bom você não passar perto da minha nem de relance. Isso inclui o Jay.
- Some daqui – comecei a hiperventilar. – Sai da minha frente antes que eu te encha de marcas que você não vai gostar de explicar.
- Foi bom te conhecer, . – Sorrindo abertamente, ele saiu do quarto e, segundos depois, do meu apartamento.
Incrédula ainda, caí sentada na cama, processando as informações. Eu tinha sido enfeitiçada e enganada por um babaca que mal conhecia. Tinha sido manipulada e caído perfeitamente nos seus truques sem nem perceber. Tinha me guiado à armadilha que Max tinha montado especialmente para mim, aproveitando as circunstâncias. Tinha perdido a chance que eu não via em anos de me acertar com um cara legal por causa dele. Tinha acabado na estaca zero, sem nem um prêmio de consolação, sem esperanças. Daquele sentimento de frustração que me consumia rapidamente, eu ainda tive um resquício de outro sentimento: rancor.
Eu iria me vingar. Maximillian iria pagar caro por me conhecer.
Eu não estava tão bêbada a ponto de perder a memória, pelo contrário, estava muito bem, só um pouco mais escandalosa e risonha. O problema de verdade foi eu estar cansada por um dia inteiro de trabalho somado à balada, pois quando eu passava o dia fora sempre acontecia a lei da inércia. Enquanto eu estivesse acordada e em movimento, o sono não me afetaria, porém, eu perdia a noção do tempo e ações muito rápidas não eram bem registradas na minha memória curta. Dar o meu número é uma dessas ações. O mais irônico é que o rosto dele eu lembrava muito bem, mesmo em meio à luz negra e o tempo mínimo – eu acho – que passei o encarando.
Ah, e seu nome. Max. O mesmo nome do meu primeiro cachorro.
Perguntaram-me o porquê da neura em passar o telefone. Simples: as pessoas ligam pra você. E quando essas pessoas são homens que te conheceram em uma boate, eles só vão querer uma coisa que começa com “s”, termina com “o” e não é sorriso. Desse tipo eu não chego nem perto. Ainda gostava de manter certos princípios nos dias de hoje.
Meu celular vibrou no bolso traseiro da minha calça, despertando-me dos meus pensamentos. Respirei mais forte, subitamente tomada pelo medo de ser o tal Max. Pude voltar ao meu ritmo normal quando vi no visor que era o número da minha mãe.
- Fala, amor da minha vida! – puxei seu saco. Eu sabia que ela ia reclamar pelos meus dez minutos de atraso.
- Sua mãe tá dando um chilique aqui – disse meu pai do outro lado da linha. – Ela quer saber quando você pretende chegar.
Ele nem mesmo precisava repetir o que eu já a ouvia dizer de longe.
- Em cinco minutos – respondi, já parada em frente à porta do vagão do metrô, preparada para desembarcar. – Já estou perto daí.
- Ela disse pra reduzir pra dois minutos.
- Claro, como não? – ri baixo, com um quê de sarcasmo. – Não demoro, prometo.
- Ok.
- Ah, pai... – não terminei a frase, pois ele já tinha desligado. Um mau costume que ele não abandonava, já que nem mesmo gostava de falar ao telefone. Só de birra, não compraria nada para a sobremesa.
Caminhei por um curto tempo, chegando à casa dos meus pais sem encontrar ninguém além de Kyle, meu sobrinho, na sala, jogando Fruit Ninja no celular de Lyanna. Para eles já estarem ali, eu realmente estava atrasada. A culpa não era minha se me avisaram do horário errado. Além de odiar falar ao telefone, meu pai raramente se lembrava do que dizer quando ligava para mim. Eu nunca entenderia seu bloqueio com algo tão simples.
Após procurar, achei minha família no quintal, debaixo da tenda que só era montada em ocasiões especiais – no caso, almoço para o dia dos pais.
- Até que enfim deu o ar da graça! – disse minha mãe, pondo sobre a mesa a última travessa de comida, um pernil bem dourado e visualmente suculento.
- Oi, gente – acenei para todos. Vi que havia um desconhecido à mesa. Um desconhecido que eu não me incomodaria nada em conhecer. Gato, só isso que eu digo.
- E cadê a sua amiga? – Luigi, meu irmão do meio, me perguntou, levando-me a franzir a testa. – A tal Graça que mamãe disse. Acho que ela não tá contigo – e riu enquanto rolei os olhos e fui até meu pai.
- A graça tá num galalau de barba ainda dizer “mamãe” – meu pai me defendeu, e eu então ri. – Deixe sua irmã em paz, parece criança.
- Brigada, pai – o abracei forte, um pouco atrapalhada por ele estar sentado e eu, em pé. – Feliz dia dos pais.
- Só isso? Cadê meu presente? – ele me afastou de leve, ignorando a cara de “Credo!” que eu fiz. Retirei da minha bolsa o embrulho e o entreguei, indo me sentar perto do convidado surpresa. Naquelas horas que eu amava o fato de a minha irmã ser dez anos mais velha que eu, já estar casada e com filho. Com Luigi sendo totalmente hétero (e um pouco homofóbico também), não havia nenhum impedimento dentro daquela casa.
- Oi, eu sou , a caçula – disse ao caladão, sorrindo por simpatia. – E você, quem é?
- James – ele respondeu, retribuindo. – Jay, se quiser. Sou amigo do seu irmão.
- Não sabia que ele tinha amigos, que surpreendente! – retribuí a alfinetada de Luigi, fazendo Jay rir. – Prazer, Jay.
- James, você não tem pai? – indagou minha mãe, que voltava de dentro da casa acompanhada do neto.
- Mãe! – dissemos Lyanna e eu, aposto que igualmente vermelhas de vergonha.
- Ah, não se preocupem – ele riu, mostrando que estava tudo bem a pergunta sem filtro algum que tinha recebido. Que vergonha, dona Sinead. – Não falo com meu pai há uns anos, ele se separou da minha mãe e não quis manter contato.
Olhei para minha mãe em repreensão, querendo que ela lesse “Tá vendo, fofoqueira?” nos meus pensamentos, mas infelizmente nossa conexão não era forte o suficiente para chegarmos ao estágio da telepatia.
- E Marshall, Lya? – mudei de assunto rapidamente, virando-me para minha irmã.
- Ele foi visitar os pais em Portsmouth, mais tarde vem pra cá. A mãe dele morre de ciúmes da gente, se ele não passasse pelo menos uma hora por lá, a velha teria um ataque.
Notando que não havia passado tempo suficiente para a tensão da pergunta da minha mãe se desfazer, continuei procurando assuntos para puxar. Quanto mais desviasse o foco, menos gelo para quebrar.
- Gostou do presente, pai? – vi que ele guardava a caixinha de volta no embrulho.
- Fazia tempo que não via um grampo pra gravata assim – Nolan parecia contente, o que me aliviou. Além de arcaico com novos costumes, ele também era com moda. Ainda guardava no armário os ternos com proteção nos cotovelos e ombreiras que eu achava horrorosos desde pequena. O fato de eu ter acertado me desviou da neurose de amenizar o clima e tudo acabou fluindo perfeitamente logo depois. Incluindo minha investida em Jay, que aproveitou o momento que Luigi falava com a namorada ao telefone para me chamar para ir a um bar um dia desses. Aceitei e, claro, passei meu telefone por boa vontade. E esse, sim, eu esperava que ligasse.
Durante mais ou menos duas semanas eu troquei mensagens com Jay. Sempre combinávamos de sair, mas um imprevisto acontecia e um dos dois desmarcava. Mas finalmente conseguimos marcar de sairmos; iríamos a uma boate perto da casa dele, onde um dos amigos era promoter e nos colocaria para dentro em menos de cinco minutos. Eu não andava mais no pique para balada, contudo, era uma boa causa.
Jay apareceu no meu apartamento às 21h, muito bem vestido e cheiroso – o que eu não duvidaria ser diferente. Ele tinha pose de gentleman, embora não fosse nem um pouco à moda antiga. Falava com calma e segurança, tocava apenas nos meus ombros e antebraços (e pedia desculpas quando não era intencionalmente) e mantinha o contato visual, mesmo que às vezes seus olhos escapassem para os meus lábios, o que eu não achava nem um pouco ruim. Era sinal de que ele estava tão interessado em mim quanto eu nele.
Estávamos na entrada da Black meia-hora depois, dissemos nossos nomes para o segurança e fomos direto para o caixa nos registrar, deixando uma fila considerável para trás. Após recebermos nossos cartões de consumação, finalmente adentramos o primeiro ambiente, cuja música era eletrônica. Era onde ficavam as bebidas mais fortes, destilados em geral. Jay pediu uma dose de Whisky on the rocks, e eu uma dupla de tequila para esquentar.
- Arriba! Abajo! Adelante y adentro! – estrilei antes de virar uma das doses, vendo Jay rir.
- Eu achava que só eu fazia isso – disse ele, bebericando sua bebida.
- Em breve você vai descobrir coisas melhores que nós dois fazemos – tentei soar sugestiva, mas o volume da música tirou um pouco do charme. Ele novamente riu, concordando, enquanto eu apenas sorri em resposta.
- Hey, Jay! – um rapaz apareceu ao nosso lado, cortando a minha graça. Ao tempo que os dois se cumprimentavam, tomei minha segunda dose. – Espera, deixa eu te ajudar.
Mal respondi e o amigo de Jay já segurava minha cabeça pelas têmporas, chacoalhando-a como se triturasse gelo no liquidificador. Geralmente eu me voluntariava para algum tequileiro fazer aquilo, mas já que a boa vontade dos outros era grande, eu aceitaria. Precisaria de verdade daquelas duas doses de coragem para tomar uma iniciativa real com Jay, em vez de só falar.
Quando finalmente senti que parava de ser balançada, tive de me apoiar no balcão para manter o equilíbrio sobre meus nove centímetros de salto alto.
- Wow, brigada – falei, um pouco desnorteada ainda. Jay olhava para mim com olhar de pena e diversão.
- Pelo visto, acabou de conhecer o Dave – disse, me segurando pelo ombro. Senti-me como uma pluma quando ele me puxou para mais perto de si. Adorava esse efeito rápido do José Cuervo. – Ele é o promoter que te disse. Dave, essa é .
- Enchanté – Dave fez uma reverência um pouco exagerada e pediu minha mão, que prontamente o dei, recebendo um beijo leve nela. – Aproveitem a noite, temos mais dois ambientes nos andares de cima e uma área mais... reservada. – Ele piscou para mim ao dizer, deixando-me um pouco sem jeito. Mal sabia ele que, se fôssemos a uma área reservada, seria o apartamento de Jay.
- Obrigada – sorri mais uma vez, vendo-o se afastar aos poucos.
- Ah, mais uma coisa antes de ir! – Dave voltou, com o indicador erguido como se pedisse permissão para falar. – Seus amigos também estão aqui, só pra deixar registrado. E aquela namorada gostosa, também.
E depois ele sumiu no meio das pessoas em menos de um segundo. Ou eu achei que tivesse sido.
- Quer tentar achá-los? – Jay me perguntou, enfim inseguro. Eu entendia sua falta de certeza no que dizia, visto que eram três andares de boate. Mas, por alguma razão que só Freud explica, assenti com a cabeça. – Ok, vou ver se consigo falar com um deles.
- Vou ao banheiro me ajeitar enquanto isso. Me espere aqui – pedi, lembrando só então que meu cabelo deveria estar uma zona graças a Dave.
Como ainda estava cedo para a casa lotar, foi rápido entrar e sair do banheiro. Porém, quando saí, parecia que todas as pessoas da cidade estavam no caminho de volta. E o pior: no meio de tantos rostos, eu reconheci o do cara de duas semanas antes. O tal Max. Aquele mesmo que eu não sabia se tinha passado o telefone – e se tinha, ele nem se dera ao trabalho de ligar.
- Você! – disse ele, surpreso. Sua atuação só não era mais clichê porque ele não tinha dito “Vem sempre aqui?”. Ele só deve ter se lembrado de mim por causa da tatuagem no ombro direito, que eu fazia questão de deixar à mostra sempre que podia. Lembro-me dele comentando naquela noite do quanto tinha achado aquilo sexy e feminino. Claro, porque ele iria reparar numa coisa daquelas e usar esses adjetivos de verdade.
- Eu! – respondi, menos animada, sorrindo falso. Com milhares de pessoas na cidade, fui encontrar justo ele. E não era repulsa por ele que me deixava com o pé atrás, porque nada ali era repulsivo, honestamente falando. Max tinha uma beleza exótica, cara de bad boy. Eu tinha um fraco por esse tipo de homens. Mas Jay estava me esperando no bar para conhecer os amigos dele, eu não podia dar corda para um cara que eu nem mesmo me lembrava da existência até então.
- Vem, vamos ali rapidinho – Max pôs sua mão em minhas costas, guiando-me em outra direção. Tentei protestar, mas acabei esquecendo o que ia falar quando ele sorriu para mim. Uma ponta de culpa apareceu, mas a tequila fez questão de enxotá-la. – Então, ...
- Como você sabe meu nome? – perguntei de imediato, sentindo-me estúpida depois. – Digo, você se lembra. Como?
- Sou ótimo com rostos e nomes – ele riu da minha expressão de confusão, parando de andar quando estávamos justamente na área reservada. – Com outras coisas também, se me permite dizer.
- Ah... – desviei o olhar, tentando ver se Jay aparecia por ali. A sala era escura e abafada, o máximo que eu via era vultos entre a fumaça de cigarro. – Eu não tô com muito tempo agora, não tem como deixar essa conversa pra depois?
- Que coincidência, eu também ia dizer isso. – Max se aproximou mais de mim, encurralando-me na parede. Balbuciei algumas sílabas, tão curtas que não formariam nem mesmo um “Não”. – Que tal a gente voltar pro ponto em que paramos da outra vez?
Ele não esperou minha resposta, apenas me envolveu e me beijou. Eu poderia, mas não relutei, pois, no fundo, queria aquilo. Eu era fraca, egoísta e daí para baixo, sabia. Mas a culpa era toda dele, que nem devia ter aparecido ali. Naquele momento eu o odiava, mas o álcool transformava a frustração em avidez, como alguma espécie estranha de punição a mim mesma. Bêbada, eu era a criatura mais patética e sem sentido do mundo.
Ou melhor, com poucos sentidos. Tato era um dos que eu nunca me desfazia, aliás, aproveitava-o muito bem. Max não tinha cabelos para que eu segurasse, portanto eu improvisava com sua nuca e costas, pressionando-o contra mim cada vez mais. Ele, aproveitando minha reação, ergueu minha coxa direita e foi deslizando a mão para a barra do meu vestido, entretanto, algo o fez parar. Abri os olhos e o vi segurando o celular, parecendo preocupado.
- Aconteceu alguma coisa? – Por que você não vem logo terminar o serviço?, quis perguntar.
- Não, nada demais – respondeu ele, sorrindo abertamente para quebrar o gelo. – Mas eu vou ter que te dever essa. Eu te ligo qualquer dia.
- Ah, não precisa se preocupar... – Droga, ele tinha meu telefone! Constatar esse fato me deu segundos de sobriedade suficientes para que eu saísse dali não tão à francesa, uma vez que Max perguntou aonde eu ia. Não dei sequer ouvidos ao que ele dizia e corri novamente para o banheiro, agora mais cheio. Retoquei minha maquiagem meio borrada e tentei pensar numa boa desculpa no caminho.
Tudo bem, era a primeira vez que eu saía com Jay. Ainda assim, eu lhe devia explicações ao menos por bom senso, afinal, eu o deixara plantado no bar, esperando-me enquanto eu me agarrava com outro. Só de fazer isso, já estava indo contra os meus costumes. Mas ninguém precisava saber.
Havia pessoas ao redor de Jay quando voltei. Um moreno mais alto, com jeito de modelo, chamado Siva; um bonitinho, mas narigudo, chamado Thomas – ou Tom, como ele preferia ¬– e Nathan, que nem devia ter feito dezoito ainda. Passamos um tempo conversando e bebendo, Dave apareceu alguns minutos depois, abraçado a uma morena cujos cabelos chegavam à cintura. Não era inveja nem recalque, porém eu apostava que era aplique porque brilhava demais. Não obstante disso, Cheryl – descobri instantes depois seu nome – parecia ser legal.
- Tá faltando gente por aqui – Dave observou, caso contrário eu nem mesmo desconfiaria.
- Chegou quem faltava! – ouvi uma voz familiar, e só não caí para trás ao descobrir que era Max porque estava novamente encostada no balcão do bar, ao lado de Jay. Todavia, se alguém reparasse no meu olhar, estranharia meu espanto. Max, com aqueles olhos de predador, viu. Por um milésimo de segundo eu pude ver a hesitação o assombrar. – Você eu não conheço – ele mentiu descaradamente. – Quem é?
- – respondi, séria. – Vim com Jay.
Fiz questão de pôr a mão sobre o peito de Jay e me aproximar, induzindo-o a me abraçar.
- Ah, que bom que não somos o único casal! – Cheryl se animou, soltando-se do abraço de Dave e beijando Max rapidamente. Ele segurava uma garrafa de cerveja numa mão e um maço de cigarros na outra, para despistar a namorada de qualquer cheiro ou gosto diferente. Cretino. – A gente podia ir pra sua casa depois, né, amor?
- Se ninguém se incomodar...
- Eu passo – replicou Dave, negando com a cabeça. – Tenho que continuar trabalhando a noite toda e não vou ficar aturando heterozinhos se comendo.
- Pode ser? – Jay me perguntou e eu concordei sem saber se tinha feito o certo. Queria ir para o apartamento dele, e não do amigo! – Nós vamos.
Os outros também concordaram, com a condição de que teriam uma hora para conseguirem uma garota para Nathan, o único solteiro dali. No meio tempo, tive de segurar bravamente a pena, culpa e remorso durante a curta conversa que tive com Cheryl. Ela realmente era legal, apenas não sabia o quão falso era aquele cabelo. Ah, e o namorado.
Em certo momento, Jay se sentiu terrivelmente incomodado com o bar e me levou para o segundo andar, onde tocava zouk. Eu não fazia a mínima de como se dançava aquilo, parecia um reggaeton mais lento, algo do tipo. Ele, como era de se esperar, foi atencioso e me guiou com os passos básicos, além de dar dicas do que cada um faria a seguir. E sinceramente, zouk parecia sexo sem tirar as roupas; perdi as contas de quantas vezes eu tive que o encoxar ou quantas vezes ele prendeu meu corpo no seu. Dava para sentir cada músculo seu se moldando para abrigar o meu, fora sua respiração em meu pescoço propositalmente. A combinação do ritmo com a bebida latina não estava fazendo nem um pouco bem para a minha sanidade, muito menos para o meu desejo por ele.
Inclusive, demorou muito menos que imaginei até eu desistir da dança para finalmente tomar a iniciativa. Assim que Jay me fez curvar as costas para trás, eu subi e fui de encontro com seus lábios, paralisando-o por tê-lo pegado de surpresa.
Curiosamente, ele não era nenhum cavalheiro no quesito amasso. Suas mãos eram firmes e ávidas, seu beijo era intenso. Em cinco minutos o beijando, ele aumentou meu tesão em cinco vezes, se é que era possível. Não tardou até que resolvêssemos ir ao reservado.
Não foi espantoso ver a sala mais cheia que antes, mas todos estavam tão preocupados com suas próprias vidas que mal se incomodavam com o que terceiros faziam ali. Para a nossa sorte. Jay e eu encontramos uma mesa no fim da sala, que foi onde me sentei, e ele se pôs entre as minhas pernas, sem delongas para tocar minha intimidade já úmida. Seus dedos me estimulavam com precisão e rapidez, e quando acertavam algum ponto que me causava arrepios, eu agarrava seus cabelos e arfava próximo à sua orelha, que às vezes eu também mordia.
Enquanto uma mão minha se ocupava com os cabelos, a outra massageava seu membro livre das roupas – de forma discreta, claro – há algum tempo. A sensação de perigo por estamos em público deixava tudo mais excitante, e com as habilidades de Jay ao meu dispor, não haveria quem ou o que me impedisse de continuar o que já tínhamos começado. Eu o queria ali mesmo.
Cansado de esperar também, Jay procurou sua carteira e tirou uma camisinha de lá, guardando a embalagem rasgada no bolso em seguida. Senti-lo dentro de mim foi extasiante. Ele estocava fundo, sem ritmo certo, ajeitando-me sobre a mesa algumas vezes para incrementar o sexo dentro do possível. Já eu, em vez de tomar o controle uma vez sequer, tinha me entregado completamente, capaz somente de sorrir de satisfação e me manter tão colada a ele que podia sentir sua pulsação em qualquer parte nua do seu corpo.
De repente senti a vibração vinda do que eu esperava ser seu celular no bolso dianteiro da calça. Seria no mínimo estranho, caso fosse outra coisa.
- Jay, seu celular – murmurei, tendo de pigarrear antes de falar, tal era minha rouquidão. Eu torcia para que ele ignorasse a ligação.
- Eu não vou parar – respondeu ele, para meu alívio. – Já tô quase lá.
Agarrei-me ainda mais a ele, quase nos fundindo. Jay investiu mais algumas vezes, lento, mas forte, pondo toda sua tensão. Quando seu peito começou a inflar mais que o normal e sua respiração bateu no meu ombro nu, notei que ele tinha atingido o orgasmo. Fui abraçada forte e recebi beijos leves no meu pescoço enquanto Jay se recuperava.
- Desculpa, não deu pra segurar mais tempo – disse-me ao pé do ouvido.
- Não precisa se desculpar – acariciei suas costas, rindo baixo. Eu não olhara, mas sabia que ele estava arrumando um fim para o preservativo usado. – Por que você não apareceu antes lá na casa dos meus pais, hein?
Ele se afastou o suficiente para que pudesse me encarar.
- Se eu soubesse que Luigi tinha uma irmã tão gostosa assim... – beijou-me rapidamente diversas vezes, e eu só pensava em como era esquisito ouvi-lo falar “gostosa”. Não combinava com ele, chegava a ser engraçado. – Aliás, é bem curioso saber que você anda sem calcinha por aí.
- Ah... – não consegui segurar o riso. A verdade era que eu sabia como a noite terminaria e tinha separado uma calcinha extra, pequena o suficiente para caber na bolsa, e acabei me esquecendo de vestir alguma que o vestido não marcasse. Pela minha memória falha, antes de sair, eu tinha separado e vestido uma. Contudo, seria embaraçoso demais explicar isso.
O celular de Jay tocou de novo, por sorte. Já devia ter passado o prazo dos amigos dele. Ele atendeu, falou poucas coisas e desligou, dizendo que tínhamos de ir. Minhas pernas bambeavam tanto que não consegui aturar o salto por mais que o caminho para a saída, então me descalcei. Após uma pequena discussão, Jay roubou meus peep toes e só me devolveu quando estacionou o carro perto do flat de Max.
- Já posso ficar com os meus sapatos agora? – perguntei só para confirmar, vendo-o assentir e sorrir. Desfiz minha cara de brava, sorrindo de volta. – Obrigada, Jay. Por tudo.
- Não foi esforço nenhum – ele respondeu, soltando o cinto de segurança para me beijar, agora mais carinhoso.
- Ei, parem de se agarrar e vamos subir! – ouvimos Tom gritar do lado de fora do carro, batendo no vidro dianteiro. Separamo-nos rapidamente; eu, morrendo de vergonha.
Ao sairmos do carro, Jay logo me abraçou pelos ombros, deixando-me arrepiada. Fingi que estava com frio, afastando da minha cabeça as lembranças de nós dois pouco antes de estarmos ali. Eu ainda estava fervendo por dentro de desejo por Jay, mas não precisava deixar tão visível. Ainda mais com todos os amigos dele presentes.
- Oh droga, esqueci minha bolsa no carro! – disse Cheryl, chamando a atenção para ela.
- Depois você pega, Chels – Max não tinha um terço da preocupação dela. Fazia até parecer que ela estava fazendo alarde à toa.
- As suas chaves de casa estão lá, espertinho – ela o lembrou, roubando de sua mão a chave do carro. – Vem comigo, ?
- Sim, claro – respondi, apesar de não gostar da intimidade que ela achava ter. Com certas pessoas eu demorava até me sentir à vontade. Ainda mais a pessoa é do sexo feminino e eu tentava manter a maior distância possível, por causa única e exclusiva do namorado dela.
- É bom ter mais uma garota aqui – confessou Cheryl, quando estávamos mais distante dos outros. – Geralmente as namoradas do Tom e do Seev não saem com a gente, querem se preservar dos tabloides. Sabe como é, qualquer coisa é motivo pra todo mundo ficar em cima...
- Hein?
- Você não sabia? – ela me olhou como se eu fosse anormal. E eu devia ser, porque não fazia a mínima do que ela estava falando. – Eles têm uma banda. The Wanted.
Nome sugestivo.
- Desculpe, não vejo tv. – Retraí-me um pouco. – Mas obrigada, Cheryl, por me dizer antes que eu cometesse uma gafe maior.
- Tipo essa? – ela riu, e novamente eu não entendi onde queria chegar. – Meu nome é Michelle, e não Cheryl.
- Meu Deus! – tapei minha boca, provavelmente roxa de vergonha. – Perdão, eu não tinha ouvido direito enquanto estávamos na Black.
- Sem problemas, acontece – Michelle segurou o riso, vendo o meu embaraço. – Mas então, como conheceu o Jay?
- Ele é amigo do meu irmão, estudaram juntos, alguma coisa assim...
- Hm, não foi em uma boate. – Ela falou mais consigo que comigo, talvez analisando a situação. – Você tem mais chances que as outras, então.
- Prefiro não pensar nisso por enquanto – disse logo, evitando assuntos mais desconfortáveis. Michelle sabia ser bem direta e invasiva, coisa da qual eu preferia passar longe. Fora que eu não sabia se suportaria a ideia de que estava saindo com um cara (teoricamente) famoso e tinha me agarrado com o amigo e companheiro de banda dele, que, por mais que o acaso, tinha uma namorada.
Passaram-se algumas horas e algumas partidas de PES no Xbox, assamos pizzas e mais de dois engradados de cerveja já tinham ido embora. Apesar de tê-la disfarçado, continuava com a neurose de que uma hora descobririam algo sobre mim e Max. Trocávamos olhares demais, além de eu sempre ficar melindrada quando ele se dirigia a mim. Eu estava como um gato encurralado, com os pelos eriçados e atenta a tudo. Devia levar mais em consideração que todos já estavam bastante bêbados para repararem nisso.
Cansada de ver todo mundo relaxado, exceto eu, resolvi me ocupar com alguma coisa. Havia um fone em cima da mesa de centro que eu peguei emprestado para ouvir música enquanto – ridículo, eu sei – comecei a juntar as latas de cerveja e qualquer outro tipo de sujeira que tivesse por ali. Eu não estava fazendo nada, de qualquer jeito. Ao menos não ficaria vendo até onde minha paranoia me levaria.
- Que vergonha, Maximillian, a garota tá limpando a sua casa e você aí – Michelle reclamou, atirando uma almofada na direção do namorado. – Vai ajudar!
- Por que você não faz isso? – ele fez pouco caso, e vi que ela não gostou nem um pouco. Seria possível que andassem em crise, por isso a troca de “carinho” o tempo todo? E por que diabos eu fiquei animada?
- Porque a casa é sua e não sou sua empregada.
Ele bufou, jogando o controle para cima de Siva e se levantando. Sem graça, fingi que nada tinha acontecido e que eu não causei aquilo, indo para a cozinha.
- Não precisa fazer isso – disse Max, tomando de mim a bandeja que tínhamos servido a pizza. Ele não estava descontraído como antes.
- Só tô querendo ajudar – rebati, confusa.
- Ok, mas já pode parar. – Vi um sorriso cínico no seu rosto. – E pode parar também de deixar tão na cara.
Arqueei uma das sobrancelhas. Talvez fosse o álcool, mas eu não andava entendendo muita coisa naquela noite.
- Você sabe do que eu tô falando – ele continuou, e eu não movi um músculo. – Olha, minha namorada e o meu amigo, que é o seu... tá, não importa, estão no cômodo do lado, e mesmo que esteja esse barulho todo, não acho uma boa ideia falar sobre isso com todas as letras. Vamos lá, você é bem espertinha, sabe do que eu tô falando.
- Eu não fiz nada em momento nenhum, se tem alguém aqui que devia sossegar, esse alguém é você – falei, cruzando os braços e me encostando no armário. Se ele queria me repreender, não tinha direito algum, afinal, estava tão ou mais errado que eu. – Que foi, a consciência pesou agora e você tá jogando o remorso pra cima de mim?
Ele riu, contrariado. Eu podia ser idiota de ficar me autopunindo o tempo todo, mas não daria a ninguém a chance de fazê-lo por mim.
- Não disse? Você é bem espertinha, quando quer – observou Max, voltando a ter aquele ar de quem quer muito alguma coisa.
Alguma coisa proibida.
Ele não devia jogar sujo daquele jeito. Eu estava mais que alegre, ele também. A possibilidade de uma merda acontecer era grande. Droga. Se existia algo que eu mais odiava naquele momento, era o frisson que existia entre nós dois.
- E você também – respondi. – Mas às vezes se esquece do perigo.
- Ei – Nathan disse da porta, chamando nossa atenção. Olhei de volta para Max, que não tirou o sorriso de lado do rosto, porém parecia concordar comigo, em vez de ser irônico. – Que foi?
- Não, nada – abanei o ar, como se espantasse o assunto dali.
- Ok... Já que vocês estão aí, peguem um pano limpo. Jay derrubou cerveja no chão, tá tudo nojento lá.
- Deixo essa pra você – dirigi-me a Max, acenando para ele enquanto fugia para a sala rapidamente com Nathan. Chegando no cômodo, vi Jay um pouco atordoado, tentando secar a bebida espalhada pelo piso com papel higiênico. Abaixei-me ao seu lado, ajudando-o como podia. – Acho que já tá na hora da gente ir embora, né? Já começaram a zonear demais.
- Tem vezes que é pior – ele riu, agradecendo em seguida com um beijo no meu rosto. – Se eu fosse você, não abaixaria tanto. Você ainda tá sem calcinha, lembra? – sussurrou, fazendo-me levantar imediatamente, com os olhos arregalados e a mão sobre a boca para evitar qualquer chiado.
- Aconteceu alguma coisa, ? – Michelle perguntou, sentada no mesmo lugar de antes. Não devia ter nem se levantado. Realmente, devia ser tão comum que ela nem mesmo se comovia e deixava que os garotos se virassem.
- Um pequeno desvio de percurso. – fingi não dar importância, dando licença para Max, que estava já com um pano para limpar a sujeira que Jay havia feito. – Então, Jay, vamos?
“Hey , como você, tá? Hahaha”
Foi essa a mensagem que me acordou às 4h de uma terça-feira para quarta-feira. Jay realmente não desistia da brincadeira, e eu já não conseguia mais lembrar há quantos dias estava com olheiras. Ele acertava sempre o horário em que eu estava no ápice do sono para me acordar e me ferrar no dia seguinte. Ainda mais pelo fato dos fusos diferentes quando a banda estava em turnê.
Apesar de não termos engatado nenhum tipo de relacionamento – nem mesmo nos considerávamos amigos coloridos –, conversávamos com frequência por SMS. Foi um hábito da primeira semana em que nos conhecemos que não conseguimos esquecer.
Confesso, eu ainda queria que saíssemos mais. Eu não era burra de dispensar um cara como Jay, que conseguiu superar todas as minhas expectativas. Porém, só de pensar em ter que ser extra cuidadosa com fotógrafos e fãs indesejados, desanimava. O mais estranho era eu não ter sequer sabido do The Wanted com a fama que eles tinham. A filha da minha chefa vivia falando deles, e eu nunca liguei os nomes às pessoas. Tudo bem, eu mal a via falando sobre eles, mas com frequência ela estava com alguma revista ou jornal que continha informações sobre a banda. Eu só sabia que seu favorito era – oh, ironia – Max.
E pior: eu, sem querer, disse que o conhecia. Agora a minha chefa não me daria sossego enquanto eu não o apresentasse à sua filha. Tinha até bonificação em jogo!
“Hahaha, bobo. Aproveitando a oportunidade... Quando vocês voltam?” Tentei digitar, provavelmente com muitos erros, e mandei como resposta.
“Em dois dias. Por quê? Quer me ter? Hahahahaha”
Revirei os olhos, impaciente. Não era uma boa hora para brincadeiras. (Para dormir, sim, claro.)
“Você tá bêbado demais pra me levar a sério, Jay. Amanhã a gente se fala.”
“Desculpa, parei, juro.”
“Tenho uma reunião importante amanhã, me ligue quando terminar meu expediente. Ou quando sua ressaca passar.”
“Poxa :(”
Desliguei meu celular em seguida, só por prevenção. Existiam grandes chances de ou Jay estar bancando o bêbado irritante e carente, ou ser um dos garotos de sacanagem. Qualquer uma das duas me tiraria do sério o bastante para que eu aniquilasse meu sono.
Jay realmente me ligou depois que saí do trabalho, mas eu estava ocupada fechando um relatório e não quis parar enquanto não terminasse. Ele ligou de novo mais tarde, quando eu já estava dormindo e nem mesmo ouvi o telefone tocar – vim saber daquela ligação somente no dia seguinte. Ligou mais uma vez no meu horário de almoço, entretanto, a bateria do meu celular tinha ido para o espaço e não consegui falar “Oi” antes que o aparelho desligasse. Combo triplo. Ele devia achar que eu estava o evitando por um motivo banal.
Assim que cheguei em casa, por volta das 19h, pus meu celular para carregar e disquei seu número. Demorou bastante até que Jay atendesse, e eu torcia para que não tivesse sido o tempo em que ele dizia que iria me ignorar e alguém o convencia do contrário.
- Jay! Oi – falei alto demais. Sua resposta não foi nem animada, nem fria. Menos mal. – Desculpe não te atender nas últimas vezes, ocorreram imprevistos.
- Sei – disse ele, com vozes ao fundo. – Pensei que estivesse chateada comigo.
- Ah não, não. Não tinha por quê.
- Hm.
Ficamos em silêncio por uns instantes. Eu ouvia os garotos rindo do outro lado da linha e me sentia cada vez mais desconfortável pela falta de assunto. Mas num estalo, lembrei o que queria lhe dizer.
- Jay, Max tá por aí? – perguntei, tentando soar casual. – Preciso de um favor dele.
- Hã? Comigo? – ouvi de longe, estranhando a forma seca como Jay me tratava. – Alô?
- Max, é a – os ruídos diminuíram até cessar. – Pode me ajudar com uma coisinha? Não vai tomar muito o seu tempo, eu juro!
- Diga.
- Então, eu... – Não acreditava que faria aquilo. Pelo menos eu seria paga... – Desculpa, mas eu, meio que sem querer, disse que tinha contato com vocês pra filha da minha supervisora, e agora a minha chefe tá me enchendo o saco e dando indiretas sobre demissão, caso eu não arrume um jeito da menina conhecer a banda. – Menti descaradamente, sem nem me importar. Eu mal o via, de qualquer forma. Depois disso passaria tempo suficiente até esquecermos essa história. – Você, principalmente.
- Hm, jura? – questionou ele, em tom desconfiado.
- Juro – continuei firme. – E por favor, não pense que isso é uma desculpa pra te ver. Eu não seria tão cara de pau de ligar pro Jay e marcar com você.
- Mas não é o que estamos fazendo?
- Não – disse de imediato. – É diferente, eu tô marcando pra você encontrar uma adolescente de quinze anos que tem sonhos eróticos com você.
- Como você sabe disso? – ele ria alto.
- Ela é uma garota. Adolescente. Tem hormônios pra dar e vender e não tem nada na cabeça – expliquei o óbvio. Que mulher nunca foi uma fangirl sonhadora e patética? Porque, bem, eu já fui, e era exatamente assim que agia quando havia a possibilidade de conhecer meus ídolos.
Ou quando eu ia a um show ser esmagada por pessoas tão fanáticas quanto eu. Ou quando eu os perseguia pela cidade e surtava porque estava no carro atrás dos meus ídolos. Ou quando simplesmente tocavam em alguma rádio ou programa de tv. Em resumo: por tudo.
- Você diz isso com muita convicção... – ele não desistia da ideia de me deixar sem graça.
- Experiência própria, se é o que quer saber – ri fraco, sentindo meu estômago roncar. Como parecia que iria demorar, já tinha até mesmo me sentado no chão da sala, ao lado da tomada em que meu celular carregava. Estava doida, na verdade, para desligar e atacar a primeira coisa comestível que aparecesse na minha frente. – Mas então, você pode me ajudar com isso?
- O que eu ganho em troca?
Lá vem ele...
- Minha eterna gratidão – respondi, imaginando sua cara naquele momento. Ele ficou quieto, como se esperasse outras opções. – Ah vai, quebra esse galho pra mim, por favor. É o meu emprego que tá em jogo, não vai te custar nada. Vocês se encontram em um café, com a mãe dela lá, tiram fotos, conversam quinze minutos e pronto, acabou.
- Tudo bem, eu vou – comecei a comemorar a bonificação – mas com a condição de que você esteja lá também.
- É sério isso? – indaguei, resignada. Ele respondeu com um “Uhum”. – Ok, como você quiser. Que dia você tá livre?
- Sábado, 15h, no Guillaume’s.
- Certo. Qualquer coisa, me ligue – tentei lembrar se havia algum compromisso para aquele dia. Ele estava voltando de uma turnê curta, provavelmente teria a agenda lotada nas próximas semanas; eu não podia desperdiçar a oportunidade, pois não o veria tão cedo. Nem Jay. – Max... sabe me dizer se o Jay ficou chateado comigo ou coisa do tipo?
- Se estava, não pareceu – fiquei mais tranquila ao saber. – Ele só não podia falar com você agora, porque estava com a ex na webcam. Ele bebeu demais ontem e ligou pra metade da cidade, agora tem que ficar dando explicações.
- Ah... – eu não tinha sido a única, então. Ele não tinha sentido vontade de falar comigo, foi apenas impulso da bebedeira. Ótimo. – Enfim, tá combinado. Não ouse faltar!
- Te digo o mesmo.
Desliguei após me despedir, empolgada pelo dinheiro extra que aquilo me renderia. Já estava mais que na hora de eu comprar umas roupas novas. Se anos atrás alguém me dissesse que eu seria paga somente por tomar um café, juro que eu acharia que a pessoa estava mais que fumada. Entretanto, hoje é tão real que soa até ridículo. Soa não, é ridículo. Mas em time que tá ganhando não se mexe, e eu que não era trouxa de negar dinheiro.
Max estava atrasado e eu não aguentava mais ter que responder que ele já chegaria para Kaya, a filha da minha chefe. A mãe dela a deixou no café que tínhamos combinado e saiu para “resolver problemas” – e me deixou com um. Eu entendia que a garota estava ansiosa, entretanto, não conseguia deixar de pensar em como ela era irritante. Será que eu era igual quando tinha aquela idade?
- Por que ele tá demorando tanto? Ele não vem mais? – Kaya perguntou pela milionésima vez, forçando-me a fechar os olhos e respirar fundo antes de responder.
- Ele vem, já disse – falei, segurando o estresse. Estava a um ponto de meter a mão na cara daquela biscatinha só pra ela deixar de ser chata. – Não adianta perguntar de cinco em cinco minutos, a resposta vai ser a mesma.
- Então por que ele ainda não chegou? – continuou a peste. – Confessa, você não conhece nenhum deles, só falou isso pra me magoar. Pra que fazer isso?!
- Não exagera – revirei os olhos e apoiei a cabeça na mão. Agora eu entendia perfeitamente o porquê da mãe dela não querer passar a tarde com a gente. – Eu conheço todos da banda, aliás, é por conhecê-los que consegui marcar esse encontro de última hora. Você deve saber melhor que eu que a The Wanted acabou de voltar de uma turnê pela França, e Max tá usando o tempo da folga dele pra vir aqui te ver. Ele devia estar descansando e vai sair com uma fã só porque uma conhecida pediu. Você devia estar grata, em vez de descontar a ansiedade toda em mim. E se não quiser que eu levante daqui nesse exato momento e te leve pra casa, é bom você ficar quieta e esperar.
Kaya abriu e fechou a boca algumas vezes, tentando argumentar. Quando viu que não tinha jeito, cruzou os braços e virou para o lado, emburrada. Olhei para o celular mais uma vez, já era 15h15 e não havia sequer uma sms. Ele tinha me deixado na mão. Devia estar no sofá, abraçadinho com Michelle e vendo um filme, enquanto eu aguentava uma fã de quatorze anos com mentalidade de seis.
O garçom apareceu novamente na mesa cinco minutos depois da pequena discussão com Kaya, e eu finalmente fiz meu pedido, pelo menos para me distrair: três muffins (cupcake é muito mainstream) de chocolate, baunilha e morango e chocolate quente. A estressadinha ficou de birra quando a perguntei se queria alguma coisa, então não fiz questão de pedir nada. Sairia do bolso da mãe dela, de qualquer forma, e ela nem sabia.
Eu já estava perdendo as esperanças quando Max finalmente apareceu. Kaya quase teve um infarto (e eu, uma crise de risos pela reação dela) quando ele a cumprimentou e se sentou.
- Me desculpem pela demora – ele sorriu como se nada tivesse acontecido. Não respondi nada, apenas retribuí de forma mais tímida. – Então, você é Kaya, não é?
- Isso – respondeu a menina, vidrada. Era cômica a expressão dela, um misto de deslumbrado com maníaco. – É um prazer enorme te conhecer!
- Que isso, o prazer é meu de estar aqui. – Foi por um curto momento, mas eu o vi fugir do olhar dela para me encarar. Fingi não reparar, voltando minha atenção para o celular.
De novo não, por favor. Por favorzinho.
- Vou ao toalete – usei como desculpa para fugir. Naquela hora eu agradecia aos céus por não ser uma boate, não havia riscos de eu ser seguida por um assediador. Sim, isso que ele era: um assediador. Tarado. Ficava me cercando em qualquer oportunidade que tinha, querendo se esfregar por aí. E ele tinha uma namorada, por Deus! Eu nunca fui dessas que cedem à tentação quando tenho conhecimento desse pequeno detalhe. (Deixando claro: se o cara não diz, a culpa não é minha. “O que os olhos não veem, o coração não sente”, não é esse o ditado?)
Seja forte, , pensei comigo, você consegue.
Encarei meu reflexo no espelho, ensaiando algumas caras de tédio para quando Max viesse de graça para cima de mim. Todas pareciam patéticas demais, logo, eu teria que optar pelo descaso e não desviar o foco do meu celular. Ele se tocaria e cessaria, espero eu.
Respirei fundo antes de voltar para a mesa. Definitivamente, eu estava arrependida de estar ali. Acrescentaria “ser menos gananciosa” às minhas resoluções para o ano seguinte, pois bonificação nenhuma valia aquilo. Nem meus muffins! A cretina estava acabando com os meus muffins!
- Pensei que você não quisesse comer, já que não pediu – falei, sem uma gota de paciência. Kaya me olhou com culpa, parecendo até uma menina pueril.
- Eu que ofereci a ela – Max interveio. – Você não devia comer tanto açúcar, vai te fazer mal.
- Obrigada, pai, mas acho que já sou bem grandinha pra saber o que como ou não – fui incisiva, puxando o prato com os bolinhos para mim. Como eu não tinha pensado naquilo? Agressividade era uma ótima ferramenta. – Aliás, a culpa é sua por me deixar esperando. Eu jurava que daria tempo suficiente para comer os três sem ser um atrás do outro.
- Parece que você se enganou – ele sorriu mais uma vez. E devo dizer, ele tinha um sorriso muito bonito. Contrastava com seu semblante fechado de uma maneira exótica, a qual eu duvidava que ficaria tão bem em outra pessoa. Mas eu não devia me prender àquilo. Raiva, , sinta raiva.
- Pela primeira vez – repliquei com cinismo. Hora da técnica do celular.
- Ah, e antes eu não te surpreendi? – Pela minha visão periférica, vi que ele se virou para mim, deixando Kaya deslocada ali. – Isso é bom ou ruim?
- Pense o que quiser – virei-me para a direção oposta, ignorando-o.
Max pareceu entender a mensagem, pois não insistiu mais em falar comigo. Confesso que, depois, quis voltar atrás, uma vez que não era meu hobby ser excluída de uma conversa, restringida apenas a minha comida. Queria que Jay estivesse ali, sua presença amenizaria o clima desde o começo. Àquela altura, ele ainda devia estar ocupado pedindo desculpas às garotas da sua agenda telefônica. Eu estava duplamente jogada para escanteio.
Às 18h, Harriet – mãe de Kaya e minha chefe – apareceu para buscar a filha e tietar um pouco. Além dos cds autografados da garota, as duas levavam para casa uma camiseta dada por Max e duzentas mil fotos pro Instagram. Eu só torcia para que fossem embora logo e eu estivesse livre daquele inferno. Tinha sido alvo de energias negativas demais para um só dia, precisava de uma sessão purificadora de filmes e pipoca. Decadente, eu sabia, porém antes isso que nada.
- Foi um prazer conhecê-lo – disse Harriet, despertando a minha atenção da conversa blasé dos três. – Espero que Kaya tenha se comportado.
- Ela foi um amor de pessoa – observou Max. Que espécie de homem em sã consciência fala uma coisa daquelas? Se eu não soubesse que ele não era gay de jeito nenhum... Ah, esquece.
- Bom, então vamos indo.
- Eu vou aproveitar pra ir embora também – anunciei, levantando-me.
- Eu te levo em casa – Max se prontificou, seguindo meus movimentos. Franzi o cenho para ele rapidamente, para que minha chefe não visse.
- Não precisa se preocupar, não moro muito longe daqui...
- Por isso mesmo, não vai me custar nada – ele rebateu, parecendo se divertir com aquilo. Sabia que eu queria impressionar Harriet e estava me forçando a não faltar com a educação na frente dela. Cre-ti-no.
Busquei apoio no olhar da minha supervisora, numa tentativa inútil.
- Não faça uma desfeita dessas, – disse ela, e eu a odiei no mesmo instante. – Ele é seu amigo, não há problema.
Max segurou o riso, erguendo as sobrancelhas de modo que dizia “Viu?”. Suspirei, derrotada.
- Tudo bem – murmurei, sem ânimo. Todos os meus esforços jogados fora. E o pior: agora eu estava vulnerável. Tinha sido deixada de lado tão abruptamente horas antes que, embora meu orgulho não me deixasse mostrar, estava em busca de qualquer sinal de atenção. Eu era uma babaca carente, admito.
- Certo, vamos todos, então – Harriet encerrou o assunto, sendo a primeira a se retirar, levando Kaya consigo.
Íamos logo atrás, mudos. Ele parecia digitar alguma coisa que não consegui ver, enquanto eu simplesmente fiquei com cara de ânus, adorando tudo aquilo. Torcia piamente para que o trânsito estivesse fluindo, assim o trajeto seria rápido. Dividir o mesmo espaço com Max estava se tornando um desafio físico, já.
Ele devia fazer aquilo com várias. Qualquer uma que desse chance estaria na mesma posição que eu me encontrava naquele momento, presa num joguinho mental que Maximillian sabia de cor. Eu era mesmo muito ingênua para me deixar ser manipulada por um cara que mal conhecia. Parecia que eu estava hipnotizada, apesar de relutar. Era uma resistência sem resultados, a propósito, pois eu acabava novamente em meio a um beco sem saída cedo ou tarde. Odiava, além de toda a situação, a mim mesma. Ainda depois de saber o que eu sabia sobre Max, sentia uma atração que se escondera em mim pelo tempo que ficamos sem nos ver. Era latente e, sendo assim, perigosa.
Eu já conhecia a sensação de querer o que é errado. O clichê da minha vida era a vontade de ter o que não podia. Minha mente era mesquinha o suficiente para eu invejar o que eu pertencia aos outros. Desde pequena eu queria a boneca da vizinha, o cachorrinho de estimação do primo distante e, agora, o namorado da outra, contudo, reprimia minha cobiça porque sabia o quanto era mal visto – não pelos outros, por mim mesma; odiava essa parte podre da minha personalidade. Era complexo entender e lidar com tantos paradoxos e contradições, mas eu conseguira sobreviver até então por nunca ter reciprocidade nos meus desejos egoístas. Com Max eu tinha, e por essa razão era ainda mais difícil me controlar.
Minha força de vontade para nem sequer olhá-lo era descomunal. Ele não dizia nada, o que, ironicamente, me fazia querer perguntar o porquê. Era realmente só por gentileza que estava me levando? Iria só obedecer aos comandos do GPS? Não tentaria me provocar? Me deixaria na porta do prédio e iria embora? Ficaria tudo por isso mesmo?
Em meio ao turbilhão de perguntas que me bombardeavam, ouvi Max cantarolar uma música que me soava familiar, tamborilando o ritmo no volante. Estávamos presos no tráfego de uma das principais avenidas, pois era horário de pico. Eu devia ter prestado atenção nisso antes de me sentar no banco de carona. Mais um caso de autossabotagem para a minha conta.
Passei os olhos pela rua, depois pelo ambiente. Por fim – de forma previsível –, espiei-o pelo canto dos olhos, sendo pega em flagrante. Suspirei, frustrada, então percebendo que tudo fora proposital. Ele continuava brincando com a minha sanidade, conhecendo muito mais de mim em algumas horas que eu demorei para entender em anos. O pior era saber que aquilo não era uma conexão, eu não recebia nenhuma informação em troca. Max conhecia meus pontos fracos porque eu era uma garota igual a outras, porém com o rosto diferente, e ele usava seu potencial para sociopata para conquistar as que eram como eu.
E que idiota eu era, tinha chegado a uma brilhante conclusão e não movi um dedo para sair daquela enrascada. Eu merecia aquilo pela minha burrice. Senão burrice, falta de caráter. Eu queria o perigo, o pecado, o erro. Em partes, usava a culpa prévia para me empurrar de encontro a Max. De qualquer maneira, já tinha me sentenciado.
- Posso perguntar por que fez tudo isso? – perguntei quase em um sussurro, olhando para minhas mãos sobre as coxas.
- Porque você pediu.
- Hm... – não me senti nem um pouco convencida. – Só? Não tem nada a ver com as outras vezes que nos vimos?
Ele não encerrava a música, apenas pausava para me ouvir e retomava assim que podia.
- Quer que diga que me apaixonei e não consigo negar nada que me peça? – ele riu, tocando meu rosto com a mão que antes segurava o câmbio. – Desculpe, seria uma mentira muito feia.
- Não quero isso, seria desesperado demais – me esquivei de sua mão, que caiu sobre as minhas e ficou por ali mesmo, escorregando para o tecido do vestido que eu usava. Mexi minhas pernas para o lado, rejeitando-o. Não ainda. – Quero que seja sincero.
- Quer um motivo pra diminuir o peso na consciência quando for dormir? – ele entendeu o recado, voltando a segurar o câmbio automático quando os carros voltaram a andar.
- Quero um motivo que faça valer à pena ter algum peso na consciência – corrigi. – Dependendo da sua resposta, um atenuante de culpa seria bom, sim.
- Você nem mesmo disfarça que continua a fim de mim desde que nos conhecemos. Não é só porque eu sou homem, mas dá pra sentir nitidamente que há tensão sexual entre a gente. Eu não vejo mal algum em dispersá-la.
- Eu também não... – confessei, mais para mim que para ele. – Mas você tem uma namorada – fiz questão de lembrar. Juro que não era relutância, apenas queria ouvir da sua própria voz que ele tinha um caráter tão duvidoso quanto eu, pelo menos para servir de algum conforto, mesmo que mínimo.
- Se você não contar, eu também não contarei – novamente aquele olhar que sinalizava perigo, acompanhado do sorriso debochado. Peguei-me fitando seus lábios sem pensar, fazendo jus ao ditado “Quem cala, consente”.
Vinte minutos depois – o dobro do tempo que eu levaria de metrô –, chegamos à minha rua, poucos metros antes do prédio onde eu morava. Eu estava tão sem jeito para tocar no assunto, embora estivesse totalmente de acordo, que passamos quase dez minutos no carro, falando sobre aleatoriedades, finalmente de forma saudável.
- Então... – mas em determinado ponto, a conversa acabou e ficamos nos olhando sem dizer nada. Ele esperava um convite meu, e eu não o desapontaria. – Quer subir?
- Tem mais uma fã me esperando lá? – Max brincou, rindo.
Subimos pelo elevador, quietos para não atrapalhar a conversa de duas vizinhas minhas do andar acima do meu. Eu não aguentava mais aquele desconforto, aquele medo de dizer qualquer coisa que pudesse ficar subentendida. Precisava quebrar o gelo, afinal, nós dois queríamos, e se – eu torcia muito – iríamos transar só para passar a vontade, pelo menos as minhas preferências ele tinha que saber. Eu não passaria esse perrengue por uma foda mal dada com um cara que tem fama de fodão. Seria, no mínimo, decepcionante.
- Entre – abri a porta para ele passar, trancando-a após segui-lo. – Quer uma água, alguma coisa?
Ele sorriu, sugestivo, e eu entendi o que queria dizer.
- A propósito, não querendo ser atirada, mas já sendo e muito, vamos deixar algumas coisas explícitas – sugeri, e não houve objeções. – Você está aqui com as mesmas intenções que eu, certo?
- Certo... eu acho. – Max respondeu de sobrancelhas arqueadas, um pouco inseguro sobre onde eu queria chegar.
- Sem nenhuma emoção envolvida, só lance físico?
- Isso – ele finalmente entendeu, rindo baixo da minha abordagem. Era melhor encurtar um caminho que levaria horas para ser traçado.
- Você lembra o meu nome?
- É claro, !
- Não ouse me chamar pelo nome da Michelle – adverti, vendo-o concordar. – Aliás, não diga o meu nome. Isso me distrai.
- Posso fazer exigências também? – fiz que sim com a cabeça. – Não me arranhe nem deixe marcas.
- Justo – ponderei, levando em conta que ele tinha uma imagem a zelar. – Você pode puxar meu cabelo e dar alguns tapas, se quiser.
- Você gosta de jogo duro, então? Interessante...
- Não só jogo. – Olhei para o volume de sua calça, dando um sorriso parecido com o dele. – Ah, isso é muito importante: não faço nada anal.
- Ótimo, nem eu. – Max pareceu um pouco adverso àquilo, preferi não perguntar sobre.
- Acho que é só isso – concluí, tentando lembrar se faltava algo. – Algum adicional?
- Nenhum.
- Cama ou sofá?
Cama, cama, cama.
- Cama – comemorei por dentro –, gosto de cochilar depois do sexo.
- Não pode demorar muito – alertei. Vai que ele quer, sei lá, passar a noite comigo?
- Não irei, prometo – ele ergueu a mão como um escoteiro faria.
- Prometa também que em nenhuma circunstância me ligará amanhã.
- Prometo. – Max concordou com a cabeça. – Então, a gente pode começar logo?
Olhei ao redor, pensando em mais algum aviso. Não havia nenhum, logo, em menos de dois segundos, estávamos aos beijos e eu pude respirar aliviada. Finalmente. Eu poderia aproveitar nada menos que tudo daquele guilty pleasure e teria todas as lembranças inteiras e perfeitas. Na verdade, aquela parecia a primeira vez que eu estava com Max, visto que tudo que me recordava era de pensar que tinha sido bom ficar com ele nas outras ocasiões. Eu não tinha ideia de como o toque dele era acolhedor, fazia-me querer não estar em outro lugar que não fosse envolvida por seus braços. Talvez fosse esse o motivo para eu nunca o recusar.
Conduzi-nos até o quarto, separando-me somente para trancar a porta e retirar minha jaqueta, ankle boots e acessórios. Eu gostava desse lance de um despir o outro, então continuaria de vestido e não o deixaria tirar nada além dos tênis. Caminhei até Max, que estava sentado na beirada da cama, espalmando minha mão em seu peito para fazê-lo se deitar. Apoiando-me nos joelhos e mãos, engatinhei pelo colchão, deixando uma de minhas pernas entre as dele. Beijei seu pescoço com vontade, tomando muito cuidado para não deixar nenhuma marca suspeita. Ele segurava o começo das minhas coxas, bem próximo às nádegas, apertando e alisando a região à medida que eu conseguia arrancar suspiros do fundo da sua garganta.
Afastei-me de seu tórax, sentando e o encarando. Seu rosto estava diferente, com um olhar tão cheio de tesão que eu duvidava ter sido causado por mim. Eu não era um mulherão ou atriz pornô, não provocava esse efeito. A única resposta para aquilo era seu desejo ser tão forte por mim quanto o meu, que ficava estampado na minha testa assim que o via. Constatar isso trouxe de volta minha autoconfiança e acabou com qualquer sintoma de vergonha que eu sentia por estar desfrutando do que não me pertencia. Naquele momento, Max me pertencia; eu era dele.
As mãos dele haviam subido para o meu quadril quando me sentei, então aproveitei para puxá-las, fazendo-o erguer o tronco. Escorreguei meus dedos por dentro da jaqueta que ele usava, deslizando-a por seus braços e a atirando no chão em seguida. Max tornou a me segurar, aproximando meu peito do seu e beijando meu ombro após abaixar uma das alças do vestido. Suas mãos estavam no meio das minhas costas, achar o zíper não foi trabalho para elas. O tecido sobre a minha pele rapidamente caiu à altura da minha cintura, mas tive de erguê-lo caso quisesse ficar nua de verdade. Max mal me deu tempo para pensar, distribuindo beijos pelo meu colo também. Um pouco desajeitada, fui abrindo os botões de sua camisa enquanto ele já tentava retirar meu sutiã.
Um arrepio correu por toda a minha espinha quando senti sua língua rodeando a aréola do meu seio esquerdo, sugando-a com avidez. Sua precisão era tanta que senti minha intimidade pulsar levemente, ansiando por aquilo em um lugar mais apropriado. Mordi meu lábio inferior, emitindo um som que não chegava a ser um gemido e me agarrando firmemente à camisa que ele ainda não tinha retirado, numa tentativa de não o arranhar. Seria um problema sério não poder fazer justo o que eu mais adorava nas preliminares, mas eu entendia.
Embora entendesse, não aguentaria muito tempo daquela forma. Fui obrigada a afastá-lo, pedindo para que tirasse a camisa logo, ao tempo que eu já avançava em sua calça. O volume que tinha se formado ali foi tanto que, quando segurei no zíper, abriu a peça facilmente com a pressão. Usei as duas mãos para agarrar o denim e a boxer de Max, puxando-as para baixo e libertando o – muito bonito, devo dizer – membro dele.
A exigência que eu havia esquecido era a de que eu não o queria me olhando enquanto eu fizesse oral. Era feio, eu tinha noção, não sentia o menor prazer em olhar para o cara que estivesse entre as minhas pernas, e acreditava que o contrário também existia. Não era apenas por frescura, mas uma forma de induzir o meia-nove. Com a habilidade de Max, obviamente eu não desperdiçaria a chance. Virei-me de costas para ele, transpassando minhas pernas por seus ombros, logo após, acomodei sua glande em minha boca, segurando a base de seu pênis com uma mão. Lambi toda a extremidade e em seguida suguei o resto, fazendo-o contrair alguns músculos. Estava já seguindo um ritmo no vai e vem quando senti minha calcinha ser movida até o meio das coxas, então facilitei e tirei uma das minhas pernas da pequena armadilha que ela fazia. Max segurou a parte interna das minhas pernas e, com os polegares, afastou um pouco os grandes lábios, enfim explorando minha intimidade. Lambia e sugava meu clitóris com a mesma precisão de antes, o que me desconcentrou um pouco, mas continuei e até aumentei a intensidade com que o masturbava. Pouco tempo depois, suas pernas travadas indicaram que ele gozaria, então me prontifiquei a engolir seu esperma.
Eu não era do tipo que alcançava o orgasmo facilmente, porém também estava bem perto disso. Mas Max parou o que fazia e saiu debaixo de mim, pondo-me mais à frente, ainda de quatro. Ele não me penetraria ainda porque precisava esperar o famoso período refratário, mas mesmo assim não me deixou deitar. Ao invés, voltou a me tocar, agora com os dedos, rapidamente. Friccionava a ponta dos dedos contra meu sexo sem um movimento coordenado, às vezes me penetrando. Senti espasmos em seguida, levando-me a contrair os músculos com força contra os dedos de Max. Minhas pernas bambearam quando finalmente pude liberar a energia retida, e eu me joguei de costas na cama, fechando as pernas e comprimindo minha intimidade para prolongar a sensação, arfando como se tivesse corrido uma maratona.
Fitando o teto, vi Max surgir à frente do meu rosto, sorrindo de lado. Retribuí, extremamente satisfeita, sem acreditar ainda naquela história toda. Ele passou o braço ao redor da minha cintura, ajeitando-me sobre o colchão e abrindo as minhas pernas para se pôr entre elas. Voltamos a nos beijar, menos ávidos que antes, então ele finalmente me penetrou de forma lenta e profunda. Cruzei meus braços ao redor do seu pescoço, deleitando-me por completo. Sua pele suada em contato com a minha me mantinha aquecida, e embora eu já tivesse chegado ao meu limite minutos antes, não deixava de sentir um prazer enorme com as investidas de Max. Como já estávamos cansados, a segunda rodada demorou menos, em pouco tempo ele já havia alcançado o clímax novamente e se deitado sobre mim.
- Quer tomar um banho? – perguntei, sonolenta, virando-me para seu rosto à minha direita. Max assentiu, enrolando para se levantar. – Se você não sair de cima de mim, não tem como eu te arrumar uma toalha. E preciso trocar a roupa de cama.
- Precisa não – ele fez pouco caso, apertando-me em seus braços em sinal de que não se levantaria.
- Não aja como se você fosse dormir aqui – alertei, empurrando-o. – Anda, vai tomar banho enquanto eu troco os lençóis, senão não tem cochilo nenhum.
Resmungando, ele foi nu até o banheiro, e de costas era tão bonito quanto de frente, pude notar. Entretanto, não parecia mais tão irresistível quanto antes; sua beleza havia se tornado comum aos meus olhos depois da transa. Em vez de estar a fim, eu tinha criado uma fixação por ele grande o suficiente para me fazer ceder, mas era só. Como tudo que eu invejava quando era mais nova, depois de conseguir, me cansava. Sempre soube desde o começo que isso aconteceria, mas tentava evitar o envolvimento porque, afinal de contas, era errado. No entanto, não me arrependia de tê-lo feito, pois assim poderia finalmente desapegar.
Essa era a parte que eu mais gostava depois de conhecer um galinha, o desapego. Na maioria das vezes eu não dava chances para que o cara me conhecesse mais a fundo, mas quando acontecia, como o caso de Max, eu tinha que ser tão direta quanto tinha sido com ele antes de chegarmos onde estávamos. Não podia deixá-lo ultrapassar o limite entre “sexo casual” e “nos veremos de novo”. Eu não queria vê-lo de novo pessoalmente nem por todo o dinheiro do mundo, pois era arriscado e eu, como boa administradora, odiava riscos. O seguro é bom, o duvidoso deve ficar longe.
Jay era bom. Pena que não achava o mesmo de mim.
Respirei fundo, disposta a esquecer aquilo. Eu não tinha dado sorte, mas minha vida não tinha acabado. Eu não sobrevivia às custas de relacionamentos, minha profissão vinha em primeiro. O que não era prioridade não podia me afetar. Nem tirar um cochilo na cama que eu estava arrumando.
Algum tempo depois, Max apareceu para se vestir, enrolado na toalha que lhe indiquei para usar. Eu vestia um robe de seda preta, sentada bem no meio da cama, mexendo no meu celular. Ergui meu olhar para ele.
- Não vai rolar – disse, vendo-o me questionar com suas expressões. – O cochilo, não vai rolar.
- Por quê?
- Problemas de intimidade – justifiquei, forçando um sorriso. – Vista-se e vá embora da minha vida, por favor.
- Tá desdenhando agora, é? – ele riu, vestindo sua boxer. – Tá se sentindo culpada?
- Não, e acredito que não vale a pena te contar meus motivos, desculpe.
- É por causa do Jay? – Max me surpreendeu com a pergunta.
- Devia ser, mas não, não é – se ele ainda mudasse alguma coisa, com certeza mudaria o fato de eu ter aparecido naquele café. – Eu e Jay nunca tivemos nada, e nas últimas semanas eu achava bem difícil rolar qualquer coisa.
- Eu desconfiava que ele iria te chamar pra sair de novo assim que a nossa agenda estivesse mais vazia – disse Max, como se não fosse nada de mais. – Ouvi alguma coisa do tipo quando estávamos no avião de volta. Mas já que não te interessa mais...
Arregalei os olhos, piscando mais vezes que o comum. Como é?
- Por que não me disse isso antes? – balbuciei, não conseguindo fechar a boca com a indignação pela atitude dele.
- Foi você quem não quis falar comigo a tarde inteira.
- Você não tinha o direito! – levantei-me, exaltada. – Isso não tinha nada a ver com você, não é você que tem que interferir na minha vida e do Jay.
- Ah, é, né? – ele sorriu, cínico. – Agora tem a ver comigo, porque eu duvido que ele vá querer algo com você depois que souber que te comi enquanto você suspirava por ele.
Senti meu sangue ferver e chegar à cabeça. Aquele cretino!
- O que você ganha com isso, hein? – grasnei, segurando-me para não avançar na sua cara bonitinha. – Pra que fazer toda essa palhaçada?
- Diversão – respondeu Max, completamente vestido, com os tênis nas mãos. – Mas pode deixar, já tô indo embora da sua vida. E é bom você não passar perto da minha nem de relance. Isso inclui o Jay.
- Some daqui – comecei a hiperventilar. – Sai da minha frente antes que eu te encha de marcas que você não vai gostar de explicar.
- Foi bom te conhecer, . – Sorrindo abertamente, ele saiu do quarto e, segundos depois, do meu apartamento.
Incrédula ainda, caí sentada na cama, processando as informações. Eu tinha sido enfeitiçada e enganada por um babaca que mal conhecia. Tinha sido manipulada e caído perfeitamente nos seus truques sem nem perceber. Tinha me guiado à armadilha que Max tinha montado especialmente para mim, aproveitando as circunstâncias. Tinha perdido a chance que eu não via em anos de me acertar com um cara legal por causa dele. Tinha acabado na estaca zero, sem nem um prêmio de consolação, sem esperanças. Daquele sentimento de frustração que me consumia rapidamente, eu ainda tive um resquício de outro sentimento: rancor.
Eu iria me vingar. Maximillian iria pagar caro por me conhecer.
FIM
Nota da autora: Cheiro de continuação no ar, hã? Hein? [Edit 22/02/2017: NÃO HÁ CONTINUAÇÃO]
Enfim, tá aí minha fic que era pra um especial, mas acabou indo pra outro. Primeira fic que escrevo com The Wanted, aparentemente não será a única (mas quando a outra sairá são outros 500 rs). E sim, eu sei que o Max não tá mais com a Michelle (VEM PRA MIM, CARECÃO), mas relevem. Não teria sentido se ele fosse solteiro, e sem chances de eu escrever com o Nathan porque ele tem muita cara de neném pra mim. Não tinha como ser ninguém além do Maxme come George, motivo pelo qual a fic tem personagens fixos, btw.
Mas então, gostaram? Espero ter feito um bom trabalho, apesar da fic ter ficado corrida. Mil desculpas por qualquer coisa, não me odeiem. Se quer deixar uma opinião (boa ou ruim), a caixinha de comentários tá aí pra isso.
E é só. Até a próxima!
xxo Abby
Outras Fanfics:
Longfics:
Theater - McFly / Finalizadas
[/independentes/t/theater.html]
Shortfics/oneshots e Ficstapes:
I L.G.B.T.? - LGBTQ / Em andamento
[/independentes/i/ilgbt.html]
Theater: Three Little Words - Especial All Stars 2014 / Finalizada (Spin-Off de Theater)
[/independentes/t/theaterthreelittlewords.html]
05. I Want it All - Ficstape #001: Arctic Monkeys – AM / Finalizada
[/ficstape/05iwantitall.html]
02. Lola - Ficstape #011: McFly – Memory Lane / Finalizada
[/ficstape/02lola.html]
07. Jealous - Ficstape #020: Beyoncé – Self-Titled / Finalizada
[/ficstape/07jealous.html]
Estado Latente - McFly / Finalizada
[/independentes/e/estadolatente.html]
Falling Away with You - Restritas - Originais / Finalizada (ATENÇÃO: Conteúdo sensível, suicídio.)
[/independentes/f/fallingawaywitu.htm]
Famous Last Words - LGBTQ / Finalizada (ATENÇÃO: Conteúdo sensível, suicídio. Releitura da fic acima.)
[/independentes/f/famouslastwords.htm]
Fear of Sleep - McFly / Finalizada
[/independentes/f/fearofsleep.htm]
Second Heartbeat - Restritas - Bandas (McFly) / Finalizada
[/independentes/s/secondheartbeat.htm]
Reminiscences - Originais / Finalizada
[/independentes/r/reminiscences.htm]
He's Got You High - Originais / Finalizada
[/independentes/h/hesgotyouhigh.htm]
She's Got You High - Originais / Finalizada
[/independentes/s/shesgotyouhigh.htm]
Farewell - Especial de Agosto 2013 / Finalizada
[/independentes/f/farewell.html]
Give Me a Reason - Especial FFAwards 2013 / Finalizada (Spin-Off de Give Me Novacaine)
[/independentes/g/givemeareason.html]
Todo e qualquer erro, seja de escrita ou html, deve ser enviado diretamente para mim em awfulhurricano@gmail.com. Não use a caixa de comentários, por favor.
Enfim, tá aí minha fic que era pra um especial, mas acabou indo pra outro. Primeira fic que escrevo com The Wanted, aparentemente não será a única (mas quando a outra sairá são outros 500 rs). E sim, eu sei que o Max não tá mais com a Michelle (VEM PRA MIM, CARECÃO), mas relevem. Não teria sentido se ele fosse solteiro, e sem chances de eu escrever com o Nathan porque ele tem muita cara de neném pra mim. Não tinha como ser ninguém além do Max
Mas então, gostaram? Espero ter feito um bom trabalho, apesar da fic ter ficado corrida. Mil desculpas por qualquer coisa, não me odeiem. Se quer deixar uma opinião (boa ou ruim), a caixinha de comentários tá aí pra isso.
E é só. Até a próxima!
xxo Abby
Outras Fanfics:
Longfics:
Theater - McFly / Finalizadas
[/independentes/t/theater.html]
Shortfics/oneshots e Ficstapes:
I L.G.B.T.? - LGBTQ / Em andamento
[/independentes/i/ilgbt.html]
Theater: Three Little Words - Especial All Stars 2014 / Finalizada (Spin-Off de Theater)
[/independentes/t/theaterthreelittlewords.html]
05. I Want it All - Ficstape #001: Arctic Monkeys – AM / Finalizada
[/ficstape/05iwantitall.html]
02. Lola - Ficstape #011: McFly – Memory Lane / Finalizada
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07. Jealous - Ficstape #020: Beyoncé – Self-Titled / Finalizada
[/ficstape/07jealous.html]
Estado Latente - McFly / Finalizada
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Falling Away with You - Restritas - Originais / Finalizada (ATENÇÃO: Conteúdo sensível, suicídio.)
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Famous Last Words - LGBTQ / Finalizada (ATENÇÃO: Conteúdo sensível, suicídio. Releitura da fic acima.)
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Reminiscences - Originais / Finalizada
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He's Got You High - Originais / Finalizada
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She's Got You High - Originais / Finalizada
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Farewell - Especial de Agosto 2013 / Finalizada
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Give Me a Reason - Especial FFAwards 2013 / Finalizada (Spin-Off de Give Me Novacaine)
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