Capítulo Único
e a família terminavam de comer, em sua luxuosa sala de jantar, quando Leon disse à filha que queria falar com ela no escritório, logo após a refeição. Ela teria ficado com o estômago embrulhado de nervoso se tivesse comido bem, então, naquele momento, deu graças a Deus pela falta de apetite dos últimos dias. Era muito raro o pai querer conversar a sós com ela! Se fosse um assunto corriqueiro, ele teria falado na frente da mãe dela e dos dois irmãos mais novos.
— Fala logo, pai — pediu. — Você me mata de ansiedade assim!
— Calma, . Senta! — Ele mandou, apontando para a cadeira que ficava de frente para a que ele usava, quando cuidava de negócios em casa.
Ela se jogou na cadeira, mas se ajeitou logo depois, sabendo que, se não o fizesse, antes de ir direto ao assunto o pai faria um discurso sobre postura.
— O filho do vai com você ao baile de formatura. Eu já combinei tudo com ele.
quase engasgou de susto. Depois ficou muda e não sabia se revirava os olhos, bufava ou xingava. Se bem que xingar o pai obviamente não era uma opção.
— Pai! — Foi o que conseguiu responder.
— O que? — O homem perguntou, como se não tivesse dito nada relevante.
— Como assim o filho do vai ao baile comigo? A gente não se vê há anos! E, mesmo quando a gente se via, a gente nunca trocou mais que algumas palavras educadas, nas festas da empresa e das nossas famílias!
Abraham era o sócio e melhor amigo do pai dela. Eles haviam crescido juntos, estudado juntos e construído lado a lado a maior empreiteira da cidade. Suas famílias sempre se encontravam, mas o filho de Abraham, , jamais havia sido próximo de . Ele era dois anos mais velho e sempre parecera sério e quieto. tinha a impressão de que ele era do tipo que se interessava mais por livros do que por pessoas, pois muitas vezes nem mesmo ficava na sala com todo mundo, e sim na biblioteca ou no escritório.
— Você precisa de um acompanhante, filha.
— Não. Eu não preciso.
— Você já arrumou companhia? — Ele perguntou, cruzando os braços, desafiador.
— Bom, considerando que os caras do meu colégio se dividem entre os amigos do Matt, que nunca me chamariam simplesmente por serem amigos do Matt, os que não se acham bons o suficiente para convidar a capitã das líderes de torcida, e os meus próprios amigos, sendo que dois deles têm namorada e um tem namorado, eu acho que a resposta óbvia é não.
— Então…
— Mas isso não significa que você pode fazer um acordo com seu melhor amigo, sem nem me consultar, pra ele mandar o filho dele ir comigo!
— Eu não combinei com o . Combinei com o próprio . Ele já está na cidade, de férias.
— E por que ele concordaria com isso, pai? — Perguntou a menina, mas logo percebeu que o desastre era ainda maior do que parecia.— Meu Deus! Você contou toda a história pra ele, claro. Você não tinha esse direito, pai!
— Não toda a história — seu pai retrucou e ela revirou os olhos. — Apenas que o Matt terminou com você há pouco tempo e você ficou sem uma companhia para ir ao seu baile de formatura. Ele é um ótimo rapaz e está muito feliz em ajudar.
— Eu poderia muito bem ir sozinha! — Disse, não se dando por vencida e sem se importar se o garoto estava sendo legal, ao topar aquele acordo, ou não.
— Está fora de questão, .
— Os meus amigos vão estar lá!
— Todos acompanhados, como você mesma acabou de observar — lembrou, com toda a calma, o que a deixou ainda mais irritada.
— Eu poderia não ir — ela disse, mas sem muita convicção. O pai apenas ficou olhando para ela, por um tempo.
— Ele vem te buscar às nove, amanhã — falou, enfim, sabendo que ela não discutiria mais.
A verdade era que precisava, sim, de companhia para ir ao baile. Estava se sentindo humilhada desde o momento em que Matt não somente terminara com ela, apenas quinze dias antes da festa, como contara aos amigos que eles tinham transado e dissera que, portanto, não precisaria mais ir a nenhum baile ridículo com ela para conseguir o que sempre quisera.
A fofoca se espalhara rapidamente e tinha ficado inclusive alguns dias sem comparecer às aulas, até que as provas começassem. Seus amigos tinham ajudado muito a deixar as coisas menos embaraçosas, mas ela realmente não sabia como suportaria ir ao baile sozinha, e ser motivo de piada para alguns e pena para outros.
Ela só não estava muito convencida de que ajudaria aparecer com um garoto magricelo, que usava óculos de lentes grossas e aparelho no dente, e – o que era o real problema! – alguém que falava pouco e provavelmente teria vergonha até de dançar com ela.
Talvez fosse ainda pior! Porém não havia como convencer o pai disso, quando Leon gostava tanto do único filho homem dos .
O pobre coitado, por sua vez, com certeza também tinha sido pego de surpresa pelo pai dela e não tivera como negar o favor. Provavelmente estava tão frustrado em ter que acompanhá-la quanto ela estava por não conseguir dissuadir seu pai de uma ideia tão tola!
Então o que ela precisaria fazer seria convencer o próprio , a caminho do baile, de que o favor não era de fato necessário.
Era sua única chance de evitar a ruína completa do seu último evento no ensino médio!
O som estava nas alturas no quarto de , e ela, deitada na cama, mexia no celular, falando com as amigas pelo whatsapp sobre a festa que aconteceria naquela noite.
Porém nem para as amigas ela havia contado sobre os planos do pai. Ainda tinha esperança de escapar daquela armadilha, e comparecer sozinha ou de simplesmente não aparecer.
A primeira opção era sua favorita, pois naquela manhã ela havia experimentado o vestido que a mãe mandara fazer sob medida, de acordo com um modelo que ela mesma havia desenhado, e parecia um desperdício não deslumbrar todos os seus futuros ex-colegas com algo tão belo. Com um visual como aquele e a cabeça erguida, ela sairia por cima da situação em que fora metida nos últimos dias. Afinal, pensando bem, em pleno ano de 2020 não era realmente nenhuma vergonha ter perdido a virgindade aos dezessete anos e nem ir sozinha a um baile da escola!
A música alta, bem como o fato de estar envolvida na conversa sobre que penteado Thishia deveria fazer e qual seria a melhor cor de sombra para realçar os olhos de Adaline, fizeram com que ela não escutasse as primeiras batidas na porta. Apenas quando a mudança de uma música para outra permitiu alguns segundos de silêncio, e a governanta da casa insistiu, a garota percebeu que estava sendo chamada e respondeu.
— Tem um rapaz lá embaixo, na sala de estar, querendo falar com você — a mulher informou.
— Um rapaz que você não conhece? — franziu a testa. Lisseth trabalhava havia quase dois anos para a família e conhecia todos os seus amigos. — E ele tá aqui dentro?
— A Sra. está na piscina com a Sra. Lockhart, mas o viu chegar, e me pediu para recebê-lo e ver o que ele queria. Ela falou que ele é amigo da família, mas, quando eu disse onde ela estava, ele respondeu que era com você que ele gostaria de falar. Que era para eu dizer que é o .
agradeceu e informou que iria vestir uma roupa mais adequada. Quando Lisseth fechou a porta, ela respirou fundo e levantou da cama. Escolheu uma calça jeans, uma camiseta e um tênis, e se trocou, irritada por ter de lidar com tão cedo. Estava esperando que ele aparecesse somente na hora de levá-la ao baile e ainda não sabia o que diria para demovê-lo da ideia de fazer isso.
O que ele poderia querer, horas antes? Talvez ele mesmo tivesse resolvido pedir a ajuda dela para fugir daquela obrigação, sem chatear Leon, e essa ideia finalmente a animou, fazendo com que apressasse os passos ao descer as escadas.
Na grande sala de estar, ela o encontrou, virado de costas para a porta e de frente para a lareira, sobre a qual havia algumas fotografias novas, em porta-retratos de variados tamanhos. Percebendo que alguém entrara, ele se virou e ela quase tropeçou nas próprias pernas de susto.
Aquele era , sem dúvida. Sua mãe não teria deixado alguém entrar na casa, se não tivesse certeza de que se tratava de um amigo. Mas ele estava quase irreconhecível, sem óculos nem aparelho nos dentes, com um corte de cabelo diferente e certamente com alguns quilos a mais.
— Eu sei. Todo mundo fala que eu to diferente — disse, percebendo a surpresa dela. — Sua mãe também fez essa cara ontem, quando foi tomar chá com a minha.
assentiu, encarando o rapaz até perceber o que estava fazendo e pedir desculpas.
— Senta, . Fica à vontade. Eu vou pedir pra trazerem alguma coisa pra gente beber — informou, saindo da sala. Foi a única desculpa na qual conseguiu pensar, para ganhar algum tempo. não estava diferente apenas na aparência. Ele parecia muito mais descontraído e a sensação que ela tinha – exagerada é claro – era de que, naquela única frase, tinha dirigido mais palavras a ela que durante a vida toda! Isso a deixara desconcertada e sem saber muito bem como agir, o que não era algo comum para ela.
— Eu espero que você beba coca — disse, voltando à sala com dois copos na mão. A governanta estava na área externa e ela mesma acabou pegando as bebidas.
— Claro — respondeu ele, dando um sorrisinho de lado. entregou o copo a ele, tentando sorrir também e disfarçar seu estado de espírito. Receber um sorriso educado de nunca tinha mexido com ela antes, mas agora ela podia jurar que estava corando!
Então, quando ela poderia ter achado que não dava para a situação ficar mais estranha, eles falaram ao mesmo tempo (e riram ao mesmo tempo!).
— Pode falar — a menina pediu. — Afinal, você veio até aqui pra isso.
— Eu to bastante sem graça, na verdade, mas eu tenho mesmo que falar. A questão é que eu combinei com seu pai de te levar ao baile, mas só depois que ele saiu lá de casa eu me dei conta de que não tinha sido nada justo a gente combinar isso, sem saber a sua opinião. Então eu queria te pedir desculpas por isso e também te dizer que você não precisa ir comigo, se não quiser. Eu entendo totalmente!
— Olha, , você não precisa se preocupar. Você foi muito gentil, na verdade. Foi com o meu pai que eu fiquei chateada. Ele não só não me consultou, como contou pra você o que houve entre mim e o Matt, e fez você ficar com pena de mim pra…
— Pena de você, ? Não. De jeito nenhum! — Ele enfatizou. — Eu não fiquei com pena de você, nem acho que seria nenhum problema pra você ir sozinha ao baile. Você é extrovertida, cheia de amigos… É líder de torcida — pontuou, indicando com o olhar as fotos que estava vendo, antes que ela chegasse. — Eu me ofereci porque vi como o seu pai ficou chateado, quando o meu perguntou sobre a sua formatura.
— Se ofereceu? — Ela perguntou, confusa. — Eu pensei que ele tinha te pedido.
— Não! E eu nem acho que ele pediria. Ele só comentou que estava triste porque você não merecia ir sozinha ao baile, e eu percebi o quanto ele tava mal com isso. E imaginei também o quanto a sua mãe devia estar mal com isso, sabe? Os nossos pais são muito parecidos: eles são super tradicionais! Com certeza os seus pais esperaram o ano todo pra te ver sair daqui toda arrumada, em um vestido bonito, com o seu namorado do lado, usando um smoking, em uma limousine… Eu achei que podia ajudar, mas, como eu disse, não foi justo porque eu não perguntei se você queria isso! Então, se você preferir, eu posso ligar pro seu pai e inventar uma desculpa. Posso dizer que um amigo meu chegou à cidade ou que a minha namorada soube e ficou com ciúmes…
— Você tem namorada? — Ela quis nada mais nada menos que esbofetear a si mesma um segundo depois de fazer um questionamento como aquele!
— Não, mas ele não sabe — felizmente, o garoto respondeu em tom brincalhão e não percebeu o interesse dela no assunto. — E eu também posso vir te buscar, se você preferir. Aí eu te deixo no baile e depois digo a ele que precisei ir embora. O que você achar melhor… Você só não precisa se sentir obrigada a ir comigo, ok?
— Ok, mas... Na verdade, , agora que você falou, me fez pensar em várias coisas que eu jamais tinha imaginado. Eu nunca pensei no baile como uma coisa importante pros meus pais, mas acho que você tem razão, e que eles vão ficar muito felizes, se eu for com você. Então… — ela fez uma pausa, meio sem jeito, mordendo os lábios — se você realmente não se importar em ir a uma festa sem graça do ensino médio, até que seria bom ter companhia, sabe? Os meus amigos vão todos acompanhados. São três casais e eu! Você pode imaginar?
— Não — respondeu, rindo. — Mas eu vou gostar de te salvar dessa situação. — Ele podia até estar sendo apenas um cavalheiro, mas seu olhar pareceu sugerir que não julgava mesmo nenhum sacrifício ir à festa com ela. Isso foi o que a convenceu de que era uma boa ideia seguir com o plano.
— Então temos um acordo? — Perguntou enfim, esticando a mão para ele, como se estivessem fazendo negócio.
— Temos um acordo! — Ele apertou a mão dela, definindo assim qual seria o destino dos dois naquela noite.
— Fala logo, pai — pediu. — Você me mata de ansiedade assim!
— Calma, . Senta! — Ele mandou, apontando para a cadeira que ficava de frente para a que ele usava, quando cuidava de negócios em casa.
Ela se jogou na cadeira, mas se ajeitou logo depois, sabendo que, se não o fizesse, antes de ir direto ao assunto o pai faria um discurso sobre postura.
— O filho do vai com você ao baile de formatura. Eu já combinei tudo com ele.
quase engasgou de susto. Depois ficou muda e não sabia se revirava os olhos, bufava ou xingava. Se bem que xingar o pai obviamente não era uma opção.
— Pai! — Foi o que conseguiu responder.
— O que? — O homem perguntou, como se não tivesse dito nada relevante.
— Como assim o filho do vai ao baile comigo? A gente não se vê há anos! E, mesmo quando a gente se via, a gente nunca trocou mais que algumas palavras educadas, nas festas da empresa e das nossas famílias!
Abraham era o sócio e melhor amigo do pai dela. Eles haviam crescido juntos, estudado juntos e construído lado a lado a maior empreiteira da cidade. Suas famílias sempre se encontravam, mas o filho de Abraham, , jamais havia sido próximo de . Ele era dois anos mais velho e sempre parecera sério e quieto. tinha a impressão de que ele era do tipo que se interessava mais por livros do que por pessoas, pois muitas vezes nem mesmo ficava na sala com todo mundo, e sim na biblioteca ou no escritório.
— Você precisa de um acompanhante, filha.
— Não. Eu não preciso.
— Você já arrumou companhia? — Ele perguntou, cruzando os braços, desafiador.
— Bom, considerando que os caras do meu colégio se dividem entre os amigos do Matt, que nunca me chamariam simplesmente por serem amigos do Matt, os que não se acham bons o suficiente para convidar a capitã das líderes de torcida, e os meus próprios amigos, sendo que dois deles têm namorada e um tem namorado, eu acho que a resposta óbvia é não.
— Então…
— Mas isso não significa que você pode fazer um acordo com seu melhor amigo, sem nem me consultar, pra ele mandar o filho dele ir comigo!
— Eu não combinei com o . Combinei com o próprio . Ele já está na cidade, de férias.
— E por que ele concordaria com isso, pai? — Perguntou a menina, mas logo percebeu que o desastre era ainda maior do que parecia.— Meu Deus! Você contou toda a história pra ele, claro. Você não tinha esse direito, pai!
— Não toda a história — seu pai retrucou e ela revirou os olhos. — Apenas que o Matt terminou com você há pouco tempo e você ficou sem uma companhia para ir ao seu baile de formatura. Ele é um ótimo rapaz e está muito feliz em ajudar.
— Eu poderia muito bem ir sozinha! — Disse, não se dando por vencida e sem se importar se o garoto estava sendo legal, ao topar aquele acordo, ou não.
— Está fora de questão, .
— Os meus amigos vão estar lá!
— Todos acompanhados, como você mesma acabou de observar — lembrou, com toda a calma, o que a deixou ainda mais irritada.
— Eu poderia não ir — ela disse, mas sem muita convicção. O pai apenas ficou olhando para ela, por um tempo.
— Ele vem te buscar às nove, amanhã — falou, enfim, sabendo que ela não discutiria mais.
A verdade era que precisava, sim, de companhia para ir ao baile. Estava se sentindo humilhada desde o momento em que Matt não somente terminara com ela, apenas quinze dias antes da festa, como contara aos amigos que eles tinham transado e dissera que, portanto, não precisaria mais ir a nenhum baile ridículo com ela para conseguir o que sempre quisera.
A fofoca se espalhara rapidamente e tinha ficado inclusive alguns dias sem comparecer às aulas, até que as provas começassem. Seus amigos tinham ajudado muito a deixar as coisas menos embaraçosas, mas ela realmente não sabia como suportaria ir ao baile sozinha, e ser motivo de piada para alguns e pena para outros.
Ela só não estava muito convencida de que ajudaria aparecer com um garoto magricelo, que usava óculos de lentes grossas e aparelho no dente, e – o que era o real problema! – alguém que falava pouco e provavelmente teria vergonha até de dançar com ela.
Talvez fosse ainda pior! Porém não havia como convencer o pai disso, quando Leon gostava tanto do único filho homem dos .
O pobre coitado, por sua vez, com certeza também tinha sido pego de surpresa pelo pai dela e não tivera como negar o favor. Provavelmente estava tão frustrado em ter que acompanhá-la quanto ela estava por não conseguir dissuadir seu pai de uma ideia tão tola!
Então o que ela precisaria fazer seria convencer o próprio , a caminho do baile, de que o favor não era de fato necessário.
Era sua única chance de evitar a ruína completa do seu último evento no ensino médio!
O som estava nas alturas no quarto de , e ela, deitada na cama, mexia no celular, falando com as amigas pelo whatsapp sobre a festa que aconteceria naquela noite.
Porém nem para as amigas ela havia contado sobre os planos do pai. Ainda tinha esperança de escapar daquela armadilha, e comparecer sozinha ou de simplesmente não aparecer.
A primeira opção era sua favorita, pois naquela manhã ela havia experimentado o vestido que a mãe mandara fazer sob medida, de acordo com um modelo que ela mesma havia desenhado, e parecia um desperdício não deslumbrar todos os seus futuros ex-colegas com algo tão belo. Com um visual como aquele e a cabeça erguida, ela sairia por cima da situação em que fora metida nos últimos dias. Afinal, pensando bem, em pleno ano de 2020 não era realmente nenhuma vergonha ter perdido a virgindade aos dezessete anos e nem ir sozinha a um baile da escola!
A música alta, bem como o fato de estar envolvida na conversa sobre que penteado Thishia deveria fazer e qual seria a melhor cor de sombra para realçar os olhos de Adaline, fizeram com que ela não escutasse as primeiras batidas na porta. Apenas quando a mudança de uma música para outra permitiu alguns segundos de silêncio, e a governanta da casa insistiu, a garota percebeu que estava sendo chamada e respondeu.
— Tem um rapaz lá embaixo, na sala de estar, querendo falar com você — a mulher informou.
— Um rapaz que você não conhece? — franziu a testa. Lisseth trabalhava havia quase dois anos para a família e conhecia todos os seus amigos. — E ele tá aqui dentro?
— A Sra. está na piscina com a Sra. Lockhart, mas o viu chegar, e me pediu para recebê-lo e ver o que ele queria. Ela falou que ele é amigo da família, mas, quando eu disse onde ela estava, ele respondeu que era com você que ele gostaria de falar. Que era para eu dizer que é o .
agradeceu e informou que iria vestir uma roupa mais adequada. Quando Lisseth fechou a porta, ela respirou fundo e levantou da cama. Escolheu uma calça jeans, uma camiseta e um tênis, e se trocou, irritada por ter de lidar com tão cedo. Estava esperando que ele aparecesse somente na hora de levá-la ao baile e ainda não sabia o que diria para demovê-lo da ideia de fazer isso.
O que ele poderia querer, horas antes? Talvez ele mesmo tivesse resolvido pedir a ajuda dela para fugir daquela obrigação, sem chatear Leon, e essa ideia finalmente a animou, fazendo com que apressasse os passos ao descer as escadas.
Na grande sala de estar, ela o encontrou, virado de costas para a porta e de frente para a lareira, sobre a qual havia algumas fotografias novas, em porta-retratos de variados tamanhos. Percebendo que alguém entrara, ele se virou e ela quase tropeçou nas próprias pernas de susto.
Aquele era , sem dúvida. Sua mãe não teria deixado alguém entrar na casa, se não tivesse certeza de que se tratava de um amigo. Mas ele estava quase irreconhecível, sem óculos nem aparelho nos dentes, com um corte de cabelo diferente e certamente com alguns quilos a mais.
— Eu sei. Todo mundo fala que eu to diferente — disse, percebendo a surpresa dela. — Sua mãe também fez essa cara ontem, quando foi tomar chá com a minha.
assentiu, encarando o rapaz até perceber o que estava fazendo e pedir desculpas.
— Senta, . Fica à vontade. Eu vou pedir pra trazerem alguma coisa pra gente beber — informou, saindo da sala. Foi a única desculpa na qual conseguiu pensar, para ganhar algum tempo. não estava diferente apenas na aparência. Ele parecia muito mais descontraído e a sensação que ela tinha – exagerada é claro – era de que, naquela única frase, tinha dirigido mais palavras a ela que durante a vida toda! Isso a deixara desconcertada e sem saber muito bem como agir, o que não era algo comum para ela.
— Eu espero que você beba coca — disse, voltando à sala com dois copos na mão. A governanta estava na área externa e ela mesma acabou pegando as bebidas.
— Claro — respondeu ele, dando um sorrisinho de lado. entregou o copo a ele, tentando sorrir também e disfarçar seu estado de espírito. Receber um sorriso educado de nunca tinha mexido com ela antes, mas agora ela podia jurar que estava corando!
Então, quando ela poderia ter achado que não dava para a situação ficar mais estranha, eles falaram ao mesmo tempo (e riram ao mesmo tempo!).
— Pode falar — a menina pediu. — Afinal, você veio até aqui pra isso.
— Eu to bastante sem graça, na verdade, mas eu tenho mesmo que falar. A questão é que eu combinei com seu pai de te levar ao baile, mas só depois que ele saiu lá de casa eu me dei conta de que não tinha sido nada justo a gente combinar isso, sem saber a sua opinião. Então eu queria te pedir desculpas por isso e também te dizer que você não precisa ir comigo, se não quiser. Eu entendo totalmente!
— Olha, , você não precisa se preocupar. Você foi muito gentil, na verdade. Foi com o meu pai que eu fiquei chateada. Ele não só não me consultou, como contou pra você o que houve entre mim e o Matt, e fez você ficar com pena de mim pra…
— Pena de você, ? Não. De jeito nenhum! — Ele enfatizou. — Eu não fiquei com pena de você, nem acho que seria nenhum problema pra você ir sozinha ao baile. Você é extrovertida, cheia de amigos… É líder de torcida — pontuou, indicando com o olhar as fotos que estava vendo, antes que ela chegasse. — Eu me ofereci porque vi como o seu pai ficou chateado, quando o meu perguntou sobre a sua formatura.
— Se ofereceu? — Ela perguntou, confusa. — Eu pensei que ele tinha te pedido.
— Não! E eu nem acho que ele pediria. Ele só comentou que estava triste porque você não merecia ir sozinha ao baile, e eu percebi o quanto ele tava mal com isso. E imaginei também o quanto a sua mãe devia estar mal com isso, sabe? Os nossos pais são muito parecidos: eles são super tradicionais! Com certeza os seus pais esperaram o ano todo pra te ver sair daqui toda arrumada, em um vestido bonito, com o seu namorado do lado, usando um smoking, em uma limousine… Eu achei que podia ajudar, mas, como eu disse, não foi justo porque eu não perguntei se você queria isso! Então, se você preferir, eu posso ligar pro seu pai e inventar uma desculpa. Posso dizer que um amigo meu chegou à cidade ou que a minha namorada soube e ficou com ciúmes…
— Você tem namorada? — Ela quis nada mais nada menos que esbofetear a si mesma um segundo depois de fazer um questionamento como aquele!
— Não, mas ele não sabe — felizmente, o garoto respondeu em tom brincalhão e não percebeu o interesse dela no assunto. — E eu também posso vir te buscar, se você preferir. Aí eu te deixo no baile e depois digo a ele que precisei ir embora. O que você achar melhor… Você só não precisa se sentir obrigada a ir comigo, ok?
— Ok, mas... Na verdade, , agora que você falou, me fez pensar em várias coisas que eu jamais tinha imaginado. Eu nunca pensei no baile como uma coisa importante pros meus pais, mas acho que você tem razão, e que eles vão ficar muito felizes, se eu for com você. Então… — ela fez uma pausa, meio sem jeito, mordendo os lábios — se você realmente não se importar em ir a uma festa sem graça do ensino médio, até que seria bom ter companhia, sabe? Os meus amigos vão todos acompanhados. São três casais e eu! Você pode imaginar?
— Não — respondeu, rindo. — Mas eu vou gostar de te salvar dessa situação. — Ele podia até estar sendo apenas um cavalheiro, mas seu olhar pareceu sugerir que não julgava mesmo nenhum sacrifício ir à festa com ela. Isso foi o que a convenceu de que era uma boa ideia seguir com o plano.
— Então temos um acordo? — Perguntou enfim, esticando a mão para ele, como se estivessem fazendo negócio.
— Temos um acordo! — Ele apertou a mão dela, definindo assim qual seria o destino dos dois naquela noite.
Continua...
Nota da autora: sem nota