Capítulo 1
Pontualidade nunca foi o forte de null, lidar com horários era algo que a mulher nunca teve grande habilidade, estava sempre atrasada ou fazendo alguém a esperar, mas com a chegada de sua primeira filha, null , responsabilidade não foi a única novidade em sua vida. Teve que aprender a enfrentar seus medos sem a ajuda de ninguém. Aprendera do pior modo que uma simples gravidez poderia mudar todo o seu destino.
null não só não imaginou que aos 24 anos estaria criando uma filha sozinha, como também não pensou que em uma simples ida a uma loja de brinquedos, em busca do tal super herói que a filha tanto queria, resultaria nela num quarto de hotel com um completo estranho, embora fosse um estranho muito gostoso.
Sentia falta de sair para se divertir ou de cometer alguma loucura, como ir a festas às onze da noite chegando em casa às seis da manhã. Mas depois do nascimento de sua princesa ficou praticamente impossível conhecer um cara legal que não fugisse na primeira menção de null . E era por isso que agora ela se encontrava às três da tarde encarando o desconhecido ao seu lado, que além de possuir um corpo que lhe causava arrepios só de olhar, era ainda extremamente atencioso na cama.
Suspirou cansada e um pouco decepcionada por saber que ele seria mais um em sua vida que sequer lhe daria chances se soubesse de toda sua história, mas com os anos aprendera que, apesar de tudo, era só ver um sorriso ou um olhar de null que fosse que todo o resto deixava de ser importante. Sua filha era sua razão de viver e se até então não tinha conhecido nenhum homem que se importasse o suficiente para conhecer a melhor versão de si mesma, ela que não queria alguém como eles em sua vida.
Reparou que o rapaz ao seu lado ficava ainda mais bonito enquanto dormia, seus cabelos bagunçados lhe davam um ar de menino, mas a barba que preenchia seu rosto mostrava que de menino ali não tinha mais nada, ainda mais que se fechasse os olhos ainda podia senti-la raspando por todo o seu corpo, lhe causando sensações que há muito não sentia.
Tateou a cama em busca de seu celular e arregalou os olhos ao ver que já eram 3h30, null estava saindo da escolinha naquele instante e null estava há pelo menos vinte minutos de distância. Se levantou apressada sem a menor preocupação se estava ou não fazendo barulho demais, nunca tinha atrasado antes e lhe doía o coração em pensar em ver sua princesa sozinha lhe esperando.
- Você vai mesmo fugir assim? - ouviu a voz sonolenta do rapaz e se virou para ele ainda tentando fechar o sutiã às pressas - Eu te ajudo. - ofereceu se sentando na cama, sem fazer a menor menção de levantar. null sorriu ao reparar que ele parecia realmente cansado e se permitiu imaginar se era daquela forma linda e fofa que ele acordava todas as manhãs.
- Desculpe, eu estou atrasada pra... Pra um compromisso - apressou-se até a cama e sentou de costas para o rapaz deixando que ele terminasse de fechar sua lingerie, enquanto calçava os sapatos - Mas obrigada.
- Por? - ela virou a cabeça vendo um sorriso provocante surgir em seu rosto.
- Por isso, por essa... loucura. - riu ainda desacreditada do que tinha feito
- Foi um prazer, literalmente... Er, qual o seu nome mesmo?
- null. null para os que já me viram nua - disse dando uma piscadinha para o rapaz que lhe retribuiu com uma risada gostosa.
- null, prazer.
- O prazer eu já tive - comentou divertida, se virando para o rapaz - Agora só tenho pressa mesmo. Me desculpe, mas realmente preciso ir. - finalizou dando um beijo rápido no rapaz a sua frente, que não contente a puxou de volta, lhe dando um beijo molhado e uma última mordida em seu lábio inferior. Sabia que quando se olhasse no espelho seus lábios estariam inchados de tanto que ele parecia ter gostado de sua boca.
- Sem problemas, null - null sorriu ao falar o apelido da mulher a sua frente, o achara tão bonito quanto ela - Nunca mais olharei uma loja de brinquedos da mesma maneira.
- Nem eu. - null deu uma risadinha já na porta que fez null se lembrar o motivo pelo qual havia se encantado pela mulher - E há quem ainda use o Tinder. - brincou, dando uma piscadinha pro rapaz seguido de um aceno rápido, antes de bater a porta.
- Que loucura! - exclamou sozinho se jogando na cama, ainda sem acreditar que realmente tinha ido pra cama com alguém que conheceu numa loja de brinquedos, devia estar realmente ficando maluco.
null encarava confusa diversos super heróis quando ele se aproximou para escolher um presente para null Jr., seu filho de apenas três anos. Não tinha pensado muito na pessoa ao seu lado, até que ela se abaixou para pegar uma figura do Capitão América e ele pode reparar quão justa a calça jeans que ela usava era. Sem resistir, a analisou por completo e gostou do que viu, mas sentiu-se realmente balançado quando ela tirou uma mecha de cabelo da frente do rosto e ele pode ver seu perfil.
A mulher parecia ter sido desenhada por um artista, e, num impulso, se viu oferecendo ajuda para a desconhecida, que o encarou com os olhos mais expressivos que ele já se lembrava ter visto, mas acabou nem reparando tanto neles, pois logo seu olhar desceu por seu rosto parando em seus lábios. Ali null soube, não se perdoaria se fosse embora sem antes provar daquela boca.
Ainda sorrindo sozinho da tarde inusitada que tivera, ouviu seu celular vibrar. Tateou a cama a procura do aparelho e deu uma gargalhada gostosa ao encontrá-lo ao lado da calcinha esquecida pela mulher. Segurou a peça em suas mãos, antes de apertar o botão do aparelho, arregalando os olhos ao ver o horário.
- Fodeu!
💙
null diminuiu a velocidade ao entrar na rua da guarderia de sua fillha, a “The British Nursery”, paga por seu pai, já que nem se tivesse dois empregos conseguiria dar uma educação tão boa e ainda por cima bilíngue a sua princesa. Entrou apressada pelos portões da escola e respirou fundo assim que viu null brincando no playground
- Estou me sentindo horrível, Ramona. - se pronunciou assim que viu uma das recreadoras da escola - Acabei ficando presa no trabalho, me desculpe mesmo pelo atraso. - se desculpou, enquanto se ajoelhava para dar um beijo na testa da filha, que já estava agarrada nas pernas da mãe - null , meu amor, a mamãe sente muito. - disse pegando a menina no colo.
- Nem se preocupe Dona null, a senhora nunca se atrasa, mas isso é algo que acontece bastante com as outras crianças.
Ramona encarou a professora que tentava acalmar um menino que parecia ter a mesma idade de sua filha.
- Querido, eu tenho certeza que seu pai já vai chegar. Vamos lá para dentro? A tia Jade precisa ir para casa, mas alguém fica brincando com você.
A resposta veio em murmúrio manhoso de negação, null pode reparar que a expressão no rosto da criança era de quem começaria a chorar a qualquer minuto. Desde que sua filha veio ao mundo, seu coração apertava só de ver uma criança ficar triste e sabia bem que Jade, mesmo sendo uma professora amorosa e cuidadosa, ainda não era mãe.
- Oi, Jade. - acenou para a professora - Ele é coleguinha da null ?
- Sim, estão na mesma classe, o pai dele atrasa bastante, mas já estamos acostumadas, ele paga extra para a escola para ficarmos com esse príncipe aqui. - disse cutucando o menino para ver se a cara de choro ia embora, mas foi em vão. - Mas hoje ele realmente tá bem atrasado.
- Eu posso tentar? - disse olhando para o garoto que tinha o rostinho enfiado no pescoço da professora.
- Todo seu, eu já tinha que ter ido embora faz tempo. - sorriu para null - Bom te ver, a null realmente tem a quem puxar, hein?
- Você que é uma linda, Jade, ainda precisamos combinar nosso café.
- Eu te mando uma mensagem. - disse já entrando pela grande porta da escolinha.
- Ei. - null encarou o menino de cabelos cacheados que a olhava prestes a abrir o berreiro - Não chora não, pequeno, seu pai já está vindo, tá? - sorriu lhe fazendo um afago - Você quer brincar ali no escorregador? - o menino negou ainda a encarando desconfiado.
- Mama - null se jogou contra suas pernas - Tô com sede.
- Ai, princesa - encarou a garrafinha vazia na mochila - Vamos esperar o pai do seu amiguinho chegar primeiro e aí a gente vai lá dentro pegar um suco.
- Eu levo ela, Dona null. - Ramona se ofereceu, já dando a mão para null - Já voltamos.
- Tudo bem. - concordou sorrindo, vendo o menino começar a fechar os olhinhos - Ah é sono, entendi agora. - falou sozinha forçando a cabeça do menino contra seu ombro e começou a cantar uma música para ele de ninar.
💙
- Desculpa, desculpa - ouviu uma voz apressada atrás de si e logo sabia que era o pai do menino que dormia em seu colo. - Eu perdi a hora e...
- Ah não se… null?! - o encarou com os olhos arregalados.
- null? O que você tá fazendo aqui... - retrucou bastante surpreso e imediatamente sua feição tornou-se dura e fria - Com meu filho no colo?
- O quê? - questionou com um gritinho agudo, tentando não acordar o menino. - Ele é...seu filho?! - retrucou chocada.
- Você só pode estar de brincadeira, vai dizer agora que não sabia? - falou soltando uma risada sarcástica - Me dá meu filho. - ordenou pegando o menino com um pouco mais de força que o necessário, o acordando - É o papa, filho - disse dando um beijo no garoto, o envolvendo em um abraço protetor.
- Ei, não precisa desse drama todo não - null bradou firme - Quase machuca o menino.
- Não acredito que tem mulher no mundo igual você, já vi vários truques, mas... Loja de brinquedos? Até onde as pessoas vão por um minuto de fama?
- Minuto de fama? Do que você está falando?
- Como se você não soubesse…
- Mama, mama. - null teve sua atenção tomada pela pequena que vinha correndo gargalhando em sua direção. - Ganhei Mona.
- Ela... Ela é sua filha? - a cara que null fazia era impagável.
- Não, tô roubando também. - respondeu grossa, antes de abrir um sorriso e pegar null no colo.
- Oi, Sr. null, boa tarde - Ramona se aproximou dos dois, um pouco tímida, pois viu de longe que pareciam discutir.
- Oi, Ramona, desculpa o atraso além do normal, pede desculpas por mim a diretora e avisa que nunca mais irá se repetir. - falou firme, encarando null.
- Sem problemas, ele geralmente fica bem com a gente, mas hoje nada o fazia feliz. Então a Sra. null, mãe da null , chegou e se ofere…
- Tá tudo bem, Ramona, não se preocupe, eu já estou indo e você também deve estar cansada. Até amanhã, bom descanso.
- Até, tchau crianças. Boa noite! - acenou para os dois e foi embora ainda olhando de rabo de olho para o casal.
- Da próxima vez é melhor perguntar pra alguém antes de pegar o filho dos outros, o null não dorme depois da escola, agora não vai dormir a noite.
- Não é minha culpa se você chegou atrasado, ele estava cansado.
- Ah sim, aposto que você chegou bem na hora, né?
- Você sabe muito bem que não. - retrucou dura e null, apesar de puto da vida, a achou incrivelmente sexy naquele momento.
- Que irresponsabilidade! - disse num desabafo, só não sabia se aquela frase era para null, para ele, ou para ambos.
- Bom, não sou eu que pago uma taxa a mais para que cuidem da minha filha enquanto eu estou, sei lá, pegando desconhecidas que conheci em uma loja de brinquedo - diminuiu o tom de voz ao pronunciar a última parte - Essa foi a primeira e pode ter certeza que a última que me atraso, faço questão de nunca mais trombar com você. Grosso!
- Não te ouvi reclamar de nenhuma grossura horas atrás, muito pelo contrário, parecia bem mole com o meu toque.
- Ah, só eu né? "Assim, ai, faz de novo isso".
- Fazer o que mama? - a mulher pareceu voltar à realidade, lembrando que as duas crianças escutavam a conversa.
- Nada, meu bem. O que acha de irmos para casa assistir um filme?
- Ebaaa, quero Frozen, mama, tchau null. - null acenou para o coleguinha, tímida devido a presença do mais velho. O menino acenou de volta, logo escondendo o rosto no pescoço do pai, que encarava null com uma feição de deboche.
Revirando os olhos, null caminhou em direção ao seu carro, confusa e irritada pela situação que havia acabado de passar, a mudança na personalidade de null foi algo que a deixou incomodada, ela só não imaginou que essa sensação a deixaria desconfortável e curiosa pelas próximas duas semanas.
💙
null desligou o carro reparando que havia chegado cinco minutos adiantados como sempre, aproveitou para checar se não havia recebido nenhuma mensagem de sua chefe, logo guardando seu telefone de volta na bolsa. Colocou seus óculos escuros e saiu do carro, vendo que null parecia finalmente ter conseguido chegar pelo menos uma vez na hora, já que ele carregava o filho portão afora. Estranhou ao vê-lo vestido com roupas esportivas, mas antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, sua atenção foi desviada quando a mãe de um dos coleguinhas de null a abordou.
- null, quanto tempo! - falou abraçando a mulher.
- Oi, Dulce, como vocês estão? - perguntou sobre o grupo de mães que costumava se reunir todas as semanas para fofocar e se divertir.
- Você precisa vir a mais de nossas reuniões, sabemos que está sempre ocupada com o trabalho, mas você faz falta, sempre damos muita risada quando você aparece.
- Realmente, o Ben e a null vêm me tirando todo o tempo livre, mas vale a pena. - a mais velha sorriu carinhosa, sabia o quanto null trabalhava para dar tudo de melhor a sua filha - Hum, Dulce… será que você sabe me dizer quem é aquele homem?
null apontou discretamente na direção de null, que fazia a volta no carro após ter colocado o filho na cadeirinha de segurança. O homem parecia ainda mais bonito e por um momento quase a fez esquecer o quanto estava chateada com ele e sua grosseria.
- O moreno bonitão? - brincou se abanando - Ele é pai de um menininho que estuda aqui, está na classe da null se não me engano.
- Ah sim, eu o tenho visto ultimamente. Você sabe o que ele faz da vida?
- Se eu sei?! - a outra riu como se soubesse os números da loteria - Meu marido quase pirou quando descobriu que o Juan estuda com o filho de um jogador do null.
Jogador. Do null. De repente tudo começou a fazer sentido para null, o modo como o homem havia agido, as coisas que tinha falado, até a experiência que parecia ter na cama, deveria ser o maior mulherengo e ela tinha sido mais uma idiota a cair em sua lábia. E o maldito ainda a tinha chamado de interesseira. O único interesse que tivera naquele dia era de saber o que tinha por debaixo de suas roupas e mais nada.
Assim que viu null , null saiu correndo para surpreender a filha e se agachou para lhe dar um abraço apertado, não podia passar dez minutos longe da pequena que já morria de saudade. Ao atravessar a rua, já com a menina em seu colo, não reparou que o carro de null ainda estava parado na vaga e menos ainda que era observada de longe. null riu sozinho do jeito da mulher andar, tão linda e cheia de atitude.
null não só não imaginou que aos 24 anos estaria criando uma filha sozinha, como também não pensou que em uma simples ida a uma loja de brinquedos, em busca do tal super herói que a filha tanto queria, resultaria nela num quarto de hotel com um completo estranho, embora fosse um estranho muito gostoso.
Sentia falta de sair para se divertir ou de cometer alguma loucura, como ir a festas às onze da noite chegando em casa às seis da manhã. Mas depois do nascimento de sua princesa ficou praticamente impossível conhecer um cara legal que não fugisse na primeira menção de null . E era por isso que agora ela se encontrava às três da tarde encarando o desconhecido ao seu lado, que além de possuir um corpo que lhe causava arrepios só de olhar, era ainda extremamente atencioso na cama.
Suspirou cansada e um pouco decepcionada por saber que ele seria mais um em sua vida que sequer lhe daria chances se soubesse de toda sua história, mas com os anos aprendera que, apesar de tudo, era só ver um sorriso ou um olhar de null que fosse que todo o resto deixava de ser importante. Sua filha era sua razão de viver e se até então não tinha conhecido nenhum homem que se importasse o suficiente para conhecer a melhor versão de si mesma, ela que não queria alguém como eles em sua vida.
Reparou que o rapaz ao seu lado ficava ainda mais bonito enquanto dormia, seus cabelos bagunçados lhe davam um ar de menino, mas a barba que preenchia seu rosto mostrava que de menino ali não tinha mais nada, ainda mais que se fechasse os olhos ainda podia senti-la raspando por todo o seu corpo, lhe causando sensações que há muito não sentia.
Tateou a cama em busca de seu celular e arregalou os olhos ao ver que já eram 3h30, null estava saindo da escolinha naquele instante e null estava há pelo menos vinte minutos de distância. Se levantou apressada sem a menor preocupação se estava ou não fazendo barulho demais, nunca tinha atrasado antes e lhe doía o coração em pensar em ver sua princesa sozinha lhe esperando.
- Você vai mesmo fugir assim? - ouviu a voz sonolenta do rapaz e se virou para ele ainda tentando fechar o sutiã às pressas - Eu te ajudo. - ofereceu se sentando na cama, sem fazer a menor menção de levantar. null sorriu ao reparar que ele parecia realmente cansado e se permitiu imaginar se era daquela forma linda e fofa que ele acordava todas as manhãs.
- Desculpe, eu estou atrasada pra... Pra um compromisso - apressou-se até a cama e sentou de costas para o rapaz deixando que ele terminasse de fechar sua lingerie, enquanto calçava os sapatos - Mas obrigada.
- Por? - ela virou a cabeça vendo um sorriso provocante surgir em seu rosto.
- Por isso, por essa... loucura. - riu ainda desacreditada do que tinha feito
- Foi um prazer, literalmente... Er, qual o seu nome mesmo?
- null. null para os que já me viram nua - disse dando uma piscadinha para o rapaz que lhe retribuiu com uma risada gostosa.
- null, prazer.
- O prazer eu já tive - comentou divertida, se virando para o rapaz - Agora só tenho pressa mesmo. Me desculpe, mas realmente preciso ir. - finalizou dando um beijo rápido no rapaz a sua frente, que não contente a puxou de volta, lhe dando um beijo molhado e uma última mordida em seu lábio inferior. Sabia que quando se olhasse no espelho seus lábios estariam inchados de tanto que ele parecia ter gostado de sua boca.
- Sem problemas, null - null sorriu ao falar o apelido da mulher a sua frente, o achara tão bonito quanto ela - Nunca mais olharei uma loja de brinquedos da mesma maneira.
- Nem eu. - null deu uma risadinha já na porta que fez null se lembrar o motivo pelo qual havia se encantado pela mulher - E há quem ainda use o Tinder. - brincou, dando uma piscadinha pro rapaz seguido de um aceno rápido, antes de bater a porta.
- Que loucura! - exclamou sozinho se jogando na cama, ainda sem acreditar que realmente tinha ido pra cama com alguém que conheceu numa loja de brinquedos, devia estar realmente ficando maluco.
null encarava confusa diversos super heróis quando ele se aproximou para escolher um presente para null Jr., seu filho de apenas três anos. Não tinha pensado muito na pessoa ao seu lado, até que ela se abaixou para pegar uma figura do Capitão América e ele pode reparar quão justa a calça jeans que ela usava era. Sem resistir, a analisou por completo e gostou do que viu, mas sentiu-se realmente balançado quando ela tirou uma mecha de cabelo da frente do rosto e ele pode ver seu perfil.
A mulher parecia ter sido desenhada por um artista, e, num impulso, se viu oferecendo ajuda para a desconhecida, que o encarou com os olhos mais expressivos que ele já se lembrava ter visto, mas acabou nem reparando tanto neles, pois logo seu olhar desceu por seu rosto parando em seus lábios. Ali null soube, não se perdoaria se fosse embora sem antes provar daquela boca.
Ainda sorrindo sozinho da tarde inusitada que tivera, ouviu seu celular vibrar. Tateou a cama a procura do aparelho e deu uma gargalhada gostosa ao encontrá-lo ao lado da calcinha esquecida pela mulher. Segurou a peça em suas mãos, antes de apertar o botão do aparelho, arregalando os olhos ao ver o horário.
- Fodeu!
null diminuiu a velocidade ao entrar na rua da guarderia de sua fillha, a “The British Nursery”, paga por seu pai, já que nem se tivesse dois empregos conseguiria dar uma educação tão boa e ainda por cima bilíngue a sua princesa. Entrou apressada pelos portões da escola e respirou fundo assim que viu null brincando no playground
- Estou me sentindo horrível, Ramona. - se pronunciou assim que viu uma das recreadoras da escola - Acabei ficando presa no trabalho, me desculpe mesmo pelo atraso. - se desculpou, enquanto se ajoelhava para dar um beijo na testa da filha, que já estava agarrada nas pernas da mãe - null , meu amor, a mamãe sente muito. - disse pegando a menina no colo.
- Nem se preocupe Dona null, a senhora nunca se atrasa, mas isso é algo que acontece bastante com as outras crianças.
Ramona encarou a professora que tentava acalmar um menino que parecia ter a mesma idade de sua filha.
- Querido, eu tenho certeza que seu pai já vai chegar. Vamos lá para dentro? A tia Jade precisa ir para casa, mas alguém fica brincando com você.
A resposta veio em murmúrio manhoso de negação, null pode reparar que a expressão no rosto da criança era de quem começaria a chorar a qualquer minuto. Desde que sua filha veio ao mundo, seu coração apertava só de ver uma criança ficar triste e sabia bem que Jade, mesmo sendo uma professora amorosa e cuidadosa, ainda não era mãe.
- Oi, Jade. - acenou para a professora - Ele é coleguinha da null ?
- Sim, estão na mesma classe, o pai dele atrasa bastante, mas já estamos acostumadas, ele paga extra para a escola para ficarmos com esse príncipe aqui. - disse cutucando o menino para ver se a cara de choro ia embora, mas foi em vão. - Mas hoje ele realmente tá bem atrasado.
- Eu posso tentar? - disse olhando para o garoto que tinha o rostinho enfiado no pescoço da professora.
- Todo seu, eu já tinha que ter ido embora faz tempo. - sorriu para null - Bom te ver, a null realmente tem a quem puxar, hein?
- Você que é uma linda, Jade, ainda precisamos combinar nosso café.
- Eu te mando uma mensagem. - disse já entrando pela grande porta da escolinha.
- Ei. - null encarou o menino de cabelos cacheados que a olhava prestes a abrir o berreiro - Não chora não, pequeno, seu pai já está vindo, tá? - sorriu lhe fazendo um afago - Você quer brincar ali no escorregador? - o menino negou ainda a encarando desconfiado.
- Mama - null se jogou contra suas pernas - Tô com sede.
- Ai, princesa - encarou a garrafinha vazia na mochila - Vamos esperar o pai do seu amiguinho chegar primeiro e aí a gente vai lá dentro pegar um suco.
- Eu levo ela, Dona null. - Ramona se ofereceu, já dando a mão para null - Já voltamos.
- Tudo bem. - concordou sorrindo, vendo o menino começar a fechar os olhinhos - Ah é sono, entendi agora. - falou sozinha forçando a cabeça do menino contra seu ombro e começou a cantar uma música para ele de ninar.
- Desculpa, desculpa - ouviu uma voz apressada atrás de si e logo sabia que era o pai do menino que dormia em seu colo. - Eu perdi a hora e...
- Ah não se… null?! - o encarou com os olhos arregalados.
- null? O que você tá fazendo aqui... - retrucou bastante surpreso e imediatamente sua feição tornou-se dura e fria - Com meu filho no colo?
- O quê? - questionou com um gritinho agudo, tentando não acordar o menino. - Ele é...seu filho?! - retrucou chocada.
- Você só pode estar de brincadeira, vai dizer agora que não sabia? - falou soltando uma risada sarcástica - Me dá meu filho. - ordenou pegando o menino com um pouco mais de força que o necessário, o acordando - É o papa, filho - disse dando um beijo no garoto, o envolvendo em um abraço protetor.
- Ei, não precisa desse drama todo não - null bradou firme - Quase machuca o menino.
- Não acredito que tem mulher no mundo igual você, já vi vários truques, mas... Loja de brinquedos? Até onde as pessoas vão por um minuto de fama?
- Minuto de fama? Do que você está falando?
- Como se você não soubesse…
- Mama, mama. - null teve sua atenção tomada pela pequena que vinha correndo gargalhando em sua direção. - Ganhei Mona.
- Ela... Ela é sua filha? - a cara que null fazia era impagável.
- Não, tô roubando também. - respondeu grossa, antes de abrir um sorriso e pegar null no colo.
- Oi, Sr. null, boa tarde - Ramona se aproximou dos dois, um pouco tímida, pois viu de longe que pareciam discutir.
- Oi, Ramona, desculpa o atraso além do normal, pede desculpas por mim a diretora e avisa que nunca mais irá se repetir. - falou firme, encarando null.
- Sem problemas, ele geralmente fica bem com a gente, mas hoje nada o fazia feliz. Então a Sra. null, mãe da null , chegou e se ofere…
- Tá tudo bem, Ramona, não se preocupe, eu já estou indo e você também deve estar cansada. Até amanhã, bom descanso.
- Até, tchau crianças. Boa noite! - acenou para os dois e foi embora ainda olhando de rabo de olho para o casal.
- Da próxima vez é melhor perguntar pra alguém antes de pegar o filho dos outros, o null não dorme depois da escola, agora não vai dormir a noite.
- Não é minha culpa se você chegou atrasado, ele estava cansado.
- Ah sim, aposto que você chegou bem na hora, né?
- Você sabe muito bem que não. - retrucou dura e null, apesar de puto da vida, a achou incrivelmente sexy naquele momento.
- Que irresponsabilidade! - disse num desabafo, só não sabia se aquela frase era para null, para ele, ou para ambos.
- Bom, não sou eu que pago uma taxa a mais para que cuidem da minha filha enquanto eu estou, sei lá, pegando desconhecidas que conheci em uma loja de brinquedo - diminuiu o tom de voz ao pronunciar a última parte - Essa foi a primeira e pode ter certeza que a última que me atraso, faço questão de nunca mais trombar com você. Grosso!
- Não te ouvi reclamar de nenhuma grossura horas atrás, muito pelo contrário, parecia bem mole com o meu toque.
- Ah, só eu né? "Assim, ai, faz de novo isso".
- Fazer o que mama? - a mulher pareceu voltar à realidade, lembrando que as duas crianças escutavam a conversa.
- Nada, meu bem. O que acha de irmos para casa assistir um filme?
- Ebaaa, quero Frozen, mama, tchau null. - null acenou para o coleguinha, tímida devido a presença do mais velho. O menino acenou de volta, logo escondendo o rosto no pescoço do pai, que encarava null com uma feição de deboche.
Revirando os olhos, null caminhou em direção ao seu carro, confusa e irritada pela situação que havia acabado de passar, a mudança na personalidade de null foi algo que a deixou incomodada, ela só não imaginou que essa sensação a deixaria desconfortável e curiosa pelas próximas duas semanas.
null desligou o carro reparando que havia chegado cinco minutos adiantados como sempre, aproveitou para checar se não havia recebido nenhuma mensagem de sua chefe, logo guardando seu telefone de volta na bolsa. Colocou seus óculos escuros e saiu do carro, vendo que null parecia finalmente ter conseguido chegar pelo menos uma vez na hora, já que ele carregava o filho portão afora. Estranhou ao vê-lo vestido com roupas esportivas, mas antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, sua atenção foi desviada quando a mãe de um dos coleguinhas de null a abordou.
- null, quanto tempo! - falou abraçando a mulher.
- Oi, Dulce, como vocês estão? - perguntou sobre o grupo de mães que costumava se reunir todas as semanas para fofocar e se divertir.
- Você precisa vir a mais de nossas reuniões, sabemos que está sempre ocupada com o trabalho, mas você faz falta, sempre damos muita risada quando você aparece.
- Realmente, o Ben e a null vêm me tirando todo o tempo livre, mas vale a pena. - a mais velha sorriu carinhosa, sabia o quanto null trabalhava para dar tudo de melhor a sua filha - Hum, Dulce… será que você sabe me dizer quem é aquele homem?
null apontou discretamente na direção de null, que fazia a volta no carro após ter colocado o filho na cadeirinha de segurança. O homem parecia ainda mais bonito e por um momento quase a fez esquecer o quanto estava chateada com ele e sua grosseria.
- O moreno bonitão? - brincou se abanando - Ele é pai de um menininho que estuda aqui, está na classe da null se não me engano.
- Ah sim, eu o tenho visto ultimamente. Você sabe o que ele faz da vida?
- Se eu sei?! - a outra riu como se soubesse os números da loteria - Meu marido quase pirou quando descobriu que o Juan estuda com o filho de um jogador do null.
Jogador. Do null. De repente tudo começou a fazer sentido para null, o modo como o homem havia agido, as coisas que tinha falado, até a experiência que parecia ter na cama, deveria ser o maior mulherengo e ela tinha sido mais uma idiota a cair em sua lábia. E o maldito ainda a tinha chamado de interesseira. O único interesse que tivera naquele dia era de saber o que tinha por debaixo de suas roupas e mais nada.
Assim que viu null , null saiu correndo para surpreender a filha e se agachou para lhe dar um abraço apertado, não podia passar dez minutos longe da pequena que já morria de saudade. Ao atravessar a rua, já com a menina em seu colo, não reparou que o carro de null ainda estava parado na vaga e menos ainda que era observada de longe. null riu sozinho do jeito da mulher andar, tão linda e cheia de atitude.
Capítulo 2
- Não, não, não. - null olhava o horário na tela do celular se odiando, estava muito mais do que atrasada para buscar null na escola e nem teve tempo de ligar para avisar que demoraria a chegar.
Como teve null quando ainda era muito nova, null não teve chances de terminar a faculdade que começara e, na busca por um emprego que pagasse as contas e que também a permitisse participar do crescimento da filha, acabou conhecendo Cora, filha de um senhor adorável chamado Benjamin e há três anos cuidava dele todos os dias, enquanto a filha estava na escolinha. Quando ela ia embora, chegava a enfermeira, que passava a noite com o senhorzinho, que precisava de cuidados mais específicos para dormir.
Sabia que não era nenhuma profissão que poderia ficar rica e que muitas mães na escola torciam o nariz para ela por conta disso, mas se orgulhava de poder manter o próprio apartamento e pagar todas as contas sem precisar pedir a ajuda do pai, que já fazia o bastante pagando a mensalidade de null .
- Mama! - a pequena gritou em alegria ao ver a mãe cruzar os portões do playground.
- Oi, meu amor, me perdoa, o vovô Ben não estava se sentindo muito bem e a mamãe teve que ficar lá esperando o médico chegar. – disse, olhando null com cuidado para ver se a menina tinha chorado.
- Não tem poblema mama, o tio null cuidou de mim. - disse toda alegre e null arregalou os olhos ao ouvir o nome que a menina tinha falado.
- Oi, null. - a mulher se levantou rapidamente, girando o corpo para dar de cara com null a olhando divertido.
- null! Vo...você ficou me esperando? Eu atrasei muito hoje! - disse consciente que devia estar horrível, passou as mãos nos cabelos, tentando ajeitá-los, enquanto olhava para as roupas que vestia. Era oficial, estava morrendo de vergonha de estar daquela forma ao lado do jogador.
- Eu te devia uma, está tudo bem? Você parece agitada.
- Sim, está. - sorriu tentando disfarçar e deu a mão para null , dando um oi para null Jr. que já estava de mãos dadas com o pai. - Tive alguns problemas no trabalho e acabei atrasando, mas nunca aconteceu isso antes, quer dizer, só uma vez.
- Fiquei sabendo, “mamãe do ano” - disse dando uma cotovelada de leve na mulher, lhe tirando uma risada - Elas disseram que algo de muito grave deveria ter acontecido para você atrasar assim sem avisar, fiquei preocupado com a null e decidi esperar.
- Obrigada, de verdade, null. - falou enquanto caminhavam para fora do playground num silêncio confortável - Jogador de futebol, huh? - dessa vez foi null quem lhe deu uma cotovelada de leve.
- Me stalkeando? - o jogador disse contente por ela ter falado alguma coisa.
- Achei que depois de ser acusada de querer alguns minutos de fama eu deveria descobrir que fama era essa - respondeu divertida, brincando com o jogador.
- Me desculpa por aquilo. - disse olhando para o chão um pouco nervoso - Não seria a primeira vez, sabe? E o null…
- Não precisa falar nada, eu sou mãe também... Foi apenas uma enorme coincidência.
- Bota enorme nisso.
- Eu vou indo, ainda preciso saber se está tudo bem no trabalho. - falou chamando null , que andava na frente com o menino. - Nos vemos por aí?
- Ei, null, podemos trocar telefone? Você sabe, se alguma coisa acontecer…
- Sei. - disse desconfiada, mas anotou seu número mesmo assim no celular dele. - Obrigada de novo, null.
- Tchau, Super-null . - null disse fazendo continência para a menina que deu uma gargalhada fofa, tirando outra dos adultos.
Naquela tarde, em ambos os carros, seus ocupantes sorriam sozinhos lembrando de uma certa tarde numa cama de hotel.
- Eu não acredito que estamos assim de novo. - null estava deitada de lado, encarando null. Tinha apenas o lençol cobrindo seu corpo nú.
- Eu não acredito que demorou tanto para te ver assim de novo, isso sim. - falou dando um beijo demorado na boca da mulher, mordendo seu lábio inferior.
- Qual sua fixação com a minha boca? - perguntou divertida, colocando um tanto do cabelo do homem atrás de sua orelha, embora fosse quase em vão, já que pelo tamanho, voltavam a cair sob seu rosto.
- Você já se olhou no espelho? - disse passando o dedão nos lábios da mulher - Essa boca, eu quero pra mim. - falou antes de puxar a mulher para si e a beijar pela centésima vez naquela manhã.
- Do jeito que está indo vou ter que deixar ela com você e comprar outra. - comentou brincando ao ter seu lábio puxado mais uma vez e se virou para ver o horário.
- Não estamos atrasados dessa vez. - null disse dando risada. - Ainda é cedo.
- Eu sei, é que eu preciso visitar um amigo no hospital antes de buscar a null e estou calculando quanto tempo ainda posso ficar aqui. - null estava acostumada a ser vista como inferior por muitos quando contava o que fazia da vida e não queria que null fosse mais um a tratá-la diferente.
- Eu sinto muito, null, espero que esse seu amigo melhore.
- Obrigada. E você, vai fazer o que hoje?
- Concentração. - falou animado - Busco o null, levo ele pra casa da mãe e vou pra Valdebebas, amanhã tem jogo no Bernabéu. Você gosta de futebol? - perguntou ansioso para que a resposta fosse positiva, mas notou null fechar o sorriso e desviar o olhar do seu por um segundo.
- Só de ver os jogadores sem camisa. - a mulher o encarou novamente, abrindo o sorriso que o havia conquistado algumas semanas atrás. - Principalmente um tal de null. - null riu, se deitando sob o corpo do jogador. - De começo ele até pode achar que você está atrás da fama dele, mas depois percebe que você só quer abusar do corpo dele mesmo.
- Você é linda. - o jogador disse abraçando a mulher, sentindo sua respiração bater em seu pescoço - Eu já tinha visto a null algumas vezes e ficava me perguntando quem seriam os pais dela... Provavelmente um casal de modelos, eu pensava. Agora vendo vocês duas juntas, não tem nem como negar que não é sua. Ela tem algum traço do pai?
Desde quando trocaram telefone null queria contatar a mulher, mas não sabia o que dizer. Agora que sabia que os dois ainda se veriam muitas vezes, precisava tomar cuidado para não estragar nada e acabar resultando em algum desconforto na escola do filho. Foi por isso que se aproveitou do fato de que iria atrasar, de novo, para pedir que null ficasse com seu filho até sua chegada. Sabia que a escola tinha a obrigação de ficar com o menino até ele chegar, mas os avisou que null poderia ficar com ele naquele dia e foi assim que conseguiu convencê-la a tomar café da manhã com ele no dia seguinte. O que a mulher não sabia, era que ele pretendia fazer dela a sua primeira refeição.
null tinha os olhos fechados, até achou que tinha demorado para o assunto “pai da null ” ter sido abordado, respirou fundo e puxou de sua mente o discurso que sempre fazia.
- Os cabelos - falou se jogando de volta na cama, encarando o teto - Aquele tom de loiro é totalmente do pai, o jeito alegre de ser e a paixão por esportes. Eu e o pai da null não temos nenhum contato, eu não gosto de falar no assunto, me desculpe. - disse sincera, respirando fundo, antes de encarar os olhos negros do homem ao seu lado.
- Eu que peço desculpas. - o jogador a puxou para os seus braços, tentando de certa forma reparar o que tinha feito - Eu tenho uma ótima relação com a mãe do null, esqueço que não é assim pra todo mundo.
- Não tem problema, eu adoraria ainda ter algum contato com ele, mas, quem sabe um dia... - falou alheia, encarando a janela que mostrava mais um dia lindo em Madrid.
- Eu estava pensando... - o jogador disse depois de um tempo que ficaram os dois em silêncio, apenas contemplando a presença um do outro - Aquela banheira aparenta ser tão atraente pra você quanto pra mim?
- Eu achei que nunca fosse mencionar. - falou brincalhona lhe dando um beijo rápido, antes de pular da cama do hotel e ir correndo para o luxuoso banheiro.
null observou a mulher correr nua, fechando a porta atrás de si e logo ouviu o som de água correndo. Fechou os olhos por um segundo, queria guardar aquela imagem pra sempre.
null terminava de lavar a louça do jantar com o pensamento ainda em Ben. O tinha visitado todos os dias no hospital e já sabia por Cora que ele iria para casa no fim de semana, mas era inevitável não se preocupar com ele, o tinha como seu próprio avô e null amava passar os sábados ao seu lado. Como não tinha como deixar a menina com ninguém, a levava todos os finais de semana em que trabalhava. O combinado eram dois sábados no mês por meio período, mas por amar seu trabalho, quando necessário, ficava até mais tarde ou ia quando não precisava de fato.
Nos seus dias de folga gostava de levar null para passear pela cidade ou, quando estava muito cansada, ficavam em casa assistindo desenhos e brincando. Gostaria de poder ver seu pai mais vezes, além das visitas mensais que ele lhe fazia, mas infelizmente desde que se descobriu grávida sua mãe não aceitou muito bem a novidade e lhe virou as costas no momento em que mais precisava da família. Era inconcebível para null, agora que tinha null , pensar como uma mãe poderia fazer isso com a própria filha, quando ela mesmo era ainda uma menina.
Sem poder contar com o pai de null e os próprios pais, se viu perdida e sozinha pela primeira vez na vida. A sua sorte era que tinha comprado com a ajuda deles um pequeno apartamento pouco antes de engravidar e, apesar de passar dificuldades, conseguiu se manter em parte com benefícios oferecidos pelo governo e em parte com a ajuda de um dinheiro que lhe caiu do céu, caso contrário não sabia como teria feito para sobreviver aos nove meses de sua gravidez. Certo dia, quando estava tendo um dia particularmente ruim, sem esperança de que as coisas um dia fossem melhorar, seu pai apareceu em seu apartamento e sem nada falar a abraçou chorando e pedindo perdão por não ter se feito presente antes.
Naquela noite, pai e filha puderam colocar tudo o que vinham sentindo pra fora e ele lhe contou que tinha brigado com a esposa no dia em que ela lhe virou as costas e desde então vinham dormindo em quartos separados. Quando ela pediu que ele voltasse a ser seu esposo, ele disse que apenas com uma condição: se pudesse ficar ao lado da filha, mesmo que ela não o fizesse.
Depois de quase 4 anos, já estava acostumada com sua situação, ao menos sabia que podia contar com seu pai todos os dias de sua vida. Ele sempre largava o que fosse se ela pedisse, mas não gostava de importuná-lo porque, além de já ser de idade, morava em Toledo. Eram nessas horas que sentia falta de ter alguém em que pudesse se apoiar.
- Mama, mama. - null corria descalça pelo pequeno e aconchegante apartamento onde as duas moravam, a tirando de seus pensamentos.
- Que foi, meu mini furacão? - disse enquanto terminava de prender o cabelo em um rabo de cavalo.
- Quero pintar! - falou se aproximando da mãe com uma carinha de pedinte.
- Agora, filha? - null olhou o relógio vendo que já estava quase na hora da menina dormir - Tudo bem, mas só um pouquinho sem fazer muita bagunça, tá? A mamãe vai preparar a mesa.
- Ebaaaaa! - gritou toda animada, subindo na cadeira da sala de jantar - Posso pintar um quadro bem bonito pro vovô?
- Claro que pode, princesa. - null sorriu ao ouvir a pergunta da filha, colocou na mesa algumas folhas de papel e o pequeno conjunto de tintas aquarela, o que dava menos trabalho de arrumar quando null fosse dormir. - Tenho certeza que ele vai amar.
- Eu vou fazer o Capitão América e a Princesa null pra ele, mama.
- Nossa, que legal! - a mulher sorriu observando a menina fazer gestos exagerados na folha de papel. - Está ficando lindo.
null se culpava muito por às vezes ter que recorrer aos eletrônicos para entreter a menina, principalmente quando precisava de alguns minutos de descanso após um dia puxado, mas sempre que podia a incentivava a fazer coisas produtivas, como pintar, cozinhar e quando dava, organizava pequenas caças ao tesouro para a menina no parque próximo a sua casa. Adorava os momentos que passavam a sós e fazia questão de registrar cada um deles. Não se aguentou ao ver a menina com um coque no cabelo que ela mesma havia feito para que não ficasse cheio de tinta e tirou algumas fotos para enviar ao seu pai no dia seguinte.
Uma ideia veio em sua mente e se pegou mordendo o lábio inferior em dúvida se o que estava prestes a fazer era o certo.
Riu de si mesma, dando de ombros, antes de anexar a foto a conversa de null:

null 💋 : Como dizer não à um pedido desse, mesmo sendo quase hora de dormir?
Nem null entendia como tinha esse dom, mas estava atrasado. Pra variar. Mas pelo menos dessa vez não era sua culpa, havia saído do treino o mais rápido possível para ter tempo de passar na doceria que vendia o bolo que seu filho tanto gostava, mas quando chegou lá ainda não estava pronto. Adorava sempre que podia fazer um mimo para o menino, pois imaginava o quanto deveria ser difícil para uma criança pequena ter pais separados, ainda mais depois que sua agenda acabou se tornando ainda mais inconstante e nunca sabia quando teria tempo de fazer algo com ele, além de buscá-lo na escola sempre que podia.
Tinha sorte por ter uma ex-namorada que era bastante parceira, desde que se separaram combinaram que null Jr. viria sempre em primeiro lugar e conseguiram conservar o respeito e amizade, mesmo depois do término da relação. Ela também entendia sua profissão e sempre o ajudava quando tinha mudanças em seus planos de última hora, não reclamando nenhuma vez.
Já dentro de seu condomínio, finalmente entrou em sua rua, onde pôde ver sua casa e o carro de Victoria estacionado na entrada da garagem. Desceu do carro, acomodando a mochila nos ombros e a caixa do bolo nas mãos.
- Sinto muito, mais uma vez. O bolo demorou pra ficar pronto e o trânsito não ajudou muito. - beijou a bochecha da mulher, pegando de suas mãos a mala que continha algumas coisas de null Jr., logo abaixando-se para dar um abraço no filho.
- Já falei que não precisa se preocupar. Ele tem alguns trabalhinhos da escola para fazer durante o final de semana, pouca coisa, mas seria legal se você ajudasse ele.
- Pode deixar! - observou a mulher entrar no carro - Eu vou deixar ele na escola na segunda, você busca?
- Busco sim. Tchau, meu amor, a mamãe te vê na semana que vem, tá? - a mulher disse se ajoelhando para se despedir do menino.
- Tá bom, mama, eu vou ficar com saudade. - disse todo fofo, fazendo os pais o olharem ainda mais apaixonados.
Após pai e filho passarem a tarde toda jogando bola e brincando na piscina, foram tomar banho e null preparou seu jantar, enquanto o menino escolhia um filme para assistirem, mas o pequeno estava tão cansado que mal conseguia manter seus olhos abertos.
- Acho que alguém está com sono, uh? - olhou para o menino já todo largado no sofá, lutando para se manter acordado - Vamos para a cama, campeão? - a resposta veio em um aceno de cabeça e os bracinhos levantados para que null o pegasse no colo.
Caminhando em direção ao seu quarto, null observava o menino o encarar e não tinha palavras para descrever o quanto amava passar um tempo com o filho, fosse uma hora ou um final de semana. Sentia-se orgulhoso quando o menino de apenas três anos de idade conseguia dar um chute certo na bola, para logo sair correndo em sua direção para comemorar. Mesmo quando chegava em casa exausto depois de um dia inteiro treinando, só de ficar deitado observando o filho dormir sentia o cansaço desvanecer, seu dia tornar-se mais feliz, e sabia que no final tudo valia a pena se significava ter a pessoa que mais amava no mundo dormindo ao seu lado.
Um barulho o tirou de seus pensamentos e logo pegou seu celular notando a mensagem que havia chegado, mordeu sem perceber os lábios ao ver que era null, eles vinham se falando esporadicamente depois de terem ficado juntos pela segunda vez, e sorriu ao ver a foto que ela havia mandado. null estava adorável vestindo um macacão rosa, pintando na mesa de onde parecia ser a cozinha da mulher. Abriu a própria galeria, escolhendo uma foto que tinha tirado algumas horas antes para lhe enviar.
A verdade era que tinha a mulher na cabeça mais vezes do que gostaria e se pegava sorrindo sozinho quando dirigia de casa para o centro de treinamento, relembrando os momentos que tiveram na banheira do hotel. Já tinha transado três vezes com null e ainda assim queria mais, muito mais.

null💋: Que coisa mais linda, eu estou morta de cansaço, mas essa daqui tá com energia de sobra, já sei que vou acabar dormindo tarde e acordando cedo 😩
null⚽: Se você estivesse aqui te faria uma massagem 😏
O jogador sabia que estava sendo abusado, mas era sexta à noite, seu filho já estava dormindo e jamais perderia a chance de ter a atenção da mulher para si.
null💋: Só se envolvesse essa barba no meio das minhas pernas. 😉
null, após arregalar os olhos, teve que se segurar para não gargalhar alto ao ler o conteúdo da mensagem que tinha recebido. Interessante.
null⚽: Você gosta, uh? Injusto falar isso quando estou longe de você e da sua boca.
null⚽: Que tal nos encontrarmos semana que vem de novo?
null💋: Eu adoraria. Xx
null observava null andar por sua casa com um sorriso no rosto, não via mais motivos para que se encontrassem em um hotel, se ambos sabiam quem o outro era e de certa forma confiava na mulher, sabia que não era nenhuma maluca. Quando ela lhe enviou uma mensagem dizendo que teria folga na terça, ele prontamente a chamou para fazerem algo e agora se encontrava ali, fascinado com a visão da mulher num vestido curto de ombros de fora e de um tecido tão leve que deixava sua bunda ainda mais deliciosa.
- Sua casa é linda! - null disse quando o jogador lhe mostrou todo o local - Com certeza se a null estivesse aqui já estaria tirando toda a roupa pra entrar na piscina.
- E a mãe dela, não quer tirar também? - null abraçou a mulher por trás, tirando seu cabelo do pescoço, depositando um beijo cheio de segundas intenções, antes de dar uma mordida de leve em sua orelha - Você está linda nesse vestido, mas fica ainda mais maravilhosa quando não usa nada. - sussurrou em seu ouvido, enquanto uma de suas mãos deslizavam por sua coxa, entrando por baixo da saia de seu vestido.
- Ainda bem que temos a mesma opinião sobre o outro. - respondeu se virando para o jogador, passando seus braços por sob os ombros do homem. - Oi!
- Oi! - null abriu um sorriso enorme, antes de encarar os lábios da mulher.
- Acho que você me deve uma massagem. - null falou, aproximando seu rosto ainda mais do homem, lhe dando um beijo rápido. Sorriu ao vê-lo suspirar quando se afastou.
- Sou todo seu. - disse antes de voltar a beijá-la, ao mesmo tempo em que desfez o nó do laço que prendia seu vestido nos ombros, fazendo com que caísse por sob seu colo, deixando a mostra os seios da mulher.
O jogador tinha os braços descansando atrás de sua cabeça e um sorriso contente no rosto, estava em sua cama enquanto null usava o banheiro. Aquela mulher era incrível na cama, toda vez achava que se sentiria finalmente satisfeito, mas mal tinha se recuperado da primeira rodada e já estava pensando na próxima. Ouviu a porta se abrir e franziu o cenho ao notá-la já vestida.
- Er, você viu minha calcinha por aí? - falou um pouco tímida colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha - Já esqueci uma aquele dia no hotel…
- Aqui. - null pegou a peça que estava no pé da cama, se levantando para entregá-la - Você precisa ir? - disse segurando em sua mão quando ela a estendeu para pegar sua lingerie.
- Eu achei que...Pra ser sincera, não sei, estamos na sua casa.
- Você precisa ir? - perguntou novamente, vendo-a negar - Então que tal voltar pra minha cama? Eu não tenho nada planejado pra hoje a não ser ficar em casa e gostaria muito que fosse com você... Saímos juntos para buscar o null e a null ?
- Tudo bem. - disse sorrindo, colocando a calcinha de volta.
- Não precisa perder seu tempo, eu pretendo tirá-la de novo. - o homem disse tirando uma gargalhada da mulher - Inclusive, tá aqui a outra esquecida por você aquele dia.
- Não acredito. - null riu ao vê-lo tirar a peça do gaveteiro. - É algum tipo de fetiche? Guardar lingerie dos seus casinhos?
- Só das que eu conheço em lojas de brinquedos e não consigo tirar da cabeça. - disse dando uma piscadinha antes de se deitar na cama novamente, puxando a mulher consigo.
- Você já está pronto pra outra, jogador? - questionou ao cair por cima dele.
- Preciso de mais uns minutos, mas nada me impede de tirar esse seu vestido de novo e ficarmos deitados aqui enquanto você me conta mais sobre você.
- O que você quer saber? - null o olhou desconfiada, mas se levantou para desfazer o nó em seu vestido.
- O que você quiser me contar. - respondeu se movendo na cama de forma que a mulher pudesse se deitar ao seu lado.
Assim que null se deitou, null abriu o braço para que a mulher se encaixasse ali e nem percebeu que sorriu quando ela encostou a cabeça em seu peito e ele automaticamente passou seu braço pelo corpo dela. O jogador teve uma leve suspeita de que tê-la em seus braços estava se tornando uma de suas atividades favoritas.
Capítulo 3
- Você planeja fazer algo hoje à tarde? 😬
null tinha seu dedo posicionado em cima da tecla enviar do WhatsApp, ainda em dúvida se deveria convidar null e seu filho para sair. Enviou a mensagem repetindo em sua mente que para aquela atitude não seria preciso pensar tanto, na maioria das vezes, desde o nascimento de null , pensava muito mais que duas vezes, tanto que foram raros os homens que tiveram a chance de conhecer sua princesa e tinha se arrependido de todas elas. Mas era apenas um convite bobo, sem nenhuma pretensão, com o pai de um coleguinha da filha. Ao menos era o que ela dizia a si mesma.
Sua atenção voltou à tela do celular, quando o mesmo apitou com a resposta de null, afirmando que estava com o filho naquele dia, caso contrário, seria todo dela. A mulher riu quando notou que null achava que o convite vinha com um tom malicioso.
null💋: Na verdade estava pensando se vocês não gostariam de participar de uma caça ao tesouro acompanhado de um piquenique? Está um dia lindo e tem um parque ótimo do lado da minha casa.
null⚽: Sim, por favor, acho que posso deixar para assistir Toy Story pela décima quinta vez para mais tarde. Me passa o endereço e horário.
Seria a primeira vez que os quatro sairiam juntos, algo que o jogador poderia encarar como uma cobrança da parte dela, mas null sorriu ao ver que ele, assim como ela, sabia separar as coisas. Logo enviou o endereço com o horário em que se encontrariam.
- Meu amor, o que você acha de irmos ao parque com o null e o Junior? - null encostou-se no batente da porta, observando a filha que brincava no tapete da sala com peças de lego.
- Ebaaaa! Vai ter piquenique?
- Sim, senhora! Quer me ajudar a fazer um bolo?
null💋: Dá pra acreditar que agora estou levando ordens? Deus me ajude com essa mini chef.

null⚽: Devo me sentir culpado por comprar algo no mercado enquanto vocês estão cozinhando? 😬

A mulher gargalhou alto quando viu a foto.
null💋: Não se preocupe, o que vale é a intenção! Sorte que você até que é bom de cama 🌝
null⚽: Estou me sentindo um pedaço de carne… Eu sei que você tá mais interessada na minha barba roçando por todo esse seu corpo... Além da minha ótima “massagem” 👅
null💋: Não nego 🔞🔞🔞
null💋: Agora realmente preciso ajudar aqui. null manda, mas quem mexe no forno sou eu, nos vemos mais tarde! 😘
Após colocar o bolo no forno, null foi ajudar null a trocar de roupa, a menina usava um vestidinho branco, leve e ideal para o tempo quente e ensolarado que fazia em Madrid. Assim que ficaram prontas e o bolo cresceu, mãe e filha foram caminhando até o parque.
Enquanto esperava o jogador, null estendeu a toalha no chão e logo se sentaram, aguardando a chegada dos meninos. A mulher só percebeu o quanto havia se distraído admirando a filha brincando com uma folha na árvore, no momento em que levou um susto ao sentir mãos em sua cintura.
- Quer me matar? - disse brincalhona, se virando para o jogador.
- Só se for de prazer. - null deu uma piscadinha divertida para a mulher - Que foi? - o jogador perguntou depois de alguns segundos, já que null o encarava com um olhar pensativo.
- Você cortou o cabelo e aparou a barba?
- Não gostou?
- Ficou ainda mais lindo - sorriu dando um beijo na bochecha dele, antes de se abaixar para cumprimentar null Jr. - Pronto pra brincar?
- Pronto sim!
- Caça ao tesouro, mama, caça ao tesouro!
null riu baixo da menina que chegava a dar pequenos pulos de animação, já seu filho olhava para null curiosamente.
- Ok, a brincadeira funciona assim: o primeiro que encontrar uma pedra redonda tem que trazer ela para mim. Vamos ficar esperando vocês aqui e nada de ir pra longe, hein? Tem que ser aqui ao nosso redor.
Enquanto as duas crianças saíram correndo atrás do objeto, null e null sentaram-se na toalha para organizar o que ambos haviam trazido, sempre de olho nos filhos. Os dois se pegaram olhando os próprios filhos com carinho e riram de si mesmos.
- É um amor que não dá pra explicar, né?
- Com certeza. - null disse tirando o suco da sacola.
- E como andam os treinos?
- Maravilhosos. Nos últimos meses estou tendo mais espaço no time como titular, fico triste que isso só aconteça porque um amigo está lesionado, mas não posso deixar de aproveitar a oportunidade.
- Mas é nessas horas que você deve mostrar que é um substituto a altura, não dá pra perder uma chance dessas mesmo. Tenho certeza que é uma pena ver um colega de trabalho machucado, mas é assim que você mostra que é bom e merece estar na equipe principal. Mesmo porque jogador está sempre se machucando, não? Se o time souber que pode contar com você, mais e mais vão te colocar como titular.
- Nossa, até parece que entende de futebol. Obrigado, null.
- E por que não entenderia? Tá tentando me dizer que futebol é só pra homem? - null fingiu estar zangada, assustando null, mas assim que ele tentou se desculpar a mulher deu uma gargalhada da cara dele, jogando um saquinho de M&M's no jogador.
A conversa dos dois foi interrompida quando as crianças chegaram gargalhando com as mãozinhas cheias de pedras, discutindo quem tinha ganhado aquele desafio.
- Olha só, quanta pedrinha! Por que vocês não nos deixam decidir quem pegou a mais redonda enquanto procuram uma flor amarela? Mas não a arranquem, quando acharem nos chamem que vamos até vocês.
- Não arrancar? - null encarava a mulher curioso.
- Não quero ensinar minha filha que ela pode sair pegando tudo que a natureza oferece sem pensar duas vezes!
- Cada dia que passa você consegue me impressionar ainda mais, sabia? - null ficou tão surpresa ao ouvir aquelas palavras de null, que virou o rosto envergonhada, sentindo as bochechas pegarem fogo.
- É um dom para poucos - disse brincando, tentando disfarçar.
- Nossa, achei que nunca fosse conseguir te deixar sem graça - null disse com um sorriso lindo que a cada dia que passava, encantava ainda mais null - Tão bonita toda envergonhada.
- Pode parar, por favor? - pediu colocando as mãos no rosto.
- Desse jeito fica bem difícil não beijar essa sua boca, pena que estamos em público.
- Tia, null! Achamos a florzinha, vem, vem!
- Tia, null?? - a mulher disse encantada com a forma que null Jr. a havia chamado - Ai que amor! A Tia null vai sim. - disse sorrindo e pegando a mão que o menino havia estendido para ela. - Pelo visto esse sorriso fofo e irresistível é de família.
- Vamos, papa?
- Ah, agora lembrou que eu estou aqui, né? - o jogador se fingiu de ofendido, logo se levantando e dando a outra mão ao menino. null corria na frente em direção às flores.
- Semana que vem tem apresentação da classe deles, você vai? - perguntou curiosa ao homem, depois que tiraram algumas fotos das crianças ao lado das florzinhas. null obviamente achava tudo que null fazia lindo, mas a cara que null Jr. fez para a foto quase derreteu seu coração.
- Victoria vai levar ele, eu tenho jogo, mas minha mãe vai com ela. Não perde nada do neto, sua mãe também é assim com a null ?
null sabia que em algum momento eles entrariam nesse assunto, só não achava que viria tão de repente. Gostava de como a conversa fluía de maneira natural com null e de como havia sido fácil tornarem-se íntimos em tão pouco tempo. Mesmo que seus encontros fossem, em sua grande maioria, apenas sexuais, ainda assim conversavam muito e pareciam ter ideias bastante parecidas. Desde o pai de null que null não se via tão tranquila ao lado de um homem, mas mesmo assim ainda se sentia insegura em se abrir sobre a “relação” que mantinha com a mãe. null parecia ter uma família linda e unida, até com a ex ele tinha um convívio ótimo, enquanto ela tinha apenas o seu pai e Ben. Suspirou tentando não demonstrar muita coisa, mas já era tarde, o jogador já tinha percebido que alguma coisa estava errada.
- Ela não vai não, será só eu mesmo, o meu pai disse que vai tentar vir, mas não sabe se vai conseguir. - disse dando de ombros - O que você acha de darmos uma pausa nessa caça ao tesouro e você me mostrar se joga mesmo futebol uh? - null, apesar de curioso e até um pouco triste, entendeu que tinha tocado em alguma outra ferida interna da mulher e resolveu não insistir, talvez se os dois continuassem a se ver da forma que estavam fazendo, ela se sentisse mais livre para desabafar com ele seja lá sobre o que fosse.
- Eu e null contra você e null ? Sabe como é, preciso te dar uma chance. - o jogador riu ao pegar a bola que tinha trazido.
- Pode deixar que eu e minha filha vamos mostrar que o null não sabe o que está perdendo sem a gente naquele time. - null riu ao tirar o tênis para fazer de gol. null imitou seu gesto, rindo do jeito da mulher.
💙
- Caramba, a null joga muito bem.
- Eu disse, não disse? É um talento de família. - a mulher falou de um jeito convencido, pois sabia que era péssima no esporte.
- Eu tô falando sério, ela tem talento de verdade, se fosse menino ia arranjar um teste pra ela lá no clube.
- É uma pena que o futebol feminino não seja tão reconhecido quanto o masculino, a null adora esportes "de menino". Eu sempre digo pra ela que não tem nada de menino e menina, se ela quiser jogar futebol ela vai, se ela quiser ser skatista também. Acho que você lembra bem o que eu estava fazendo naquela loja de brinquedo.
- Podemos combinar de nos encontrar um dia lá no clube e eu peço pra ela treinar com os meninos, o que acha?
- Se não for proibido, tenho certeza que ela vai se divertir.
- Mama, tô com fome.
- Eu também papai.
- Pra ser sincero, eu também. - null disse de uma maneira tão fofa que null queria mais que tudo beijá-lo naquele momento.
- Venham, crianças, vamos comer então.
null havia adormecido depois do almoço e null ficou com dó de acordá-lo, imaginava que o tanto de exercício físico que os jogadores faziam devia ser bastante exaustivo. As crianças, pelo contrário, pareciam ainda mais animadas depois de comer e null os levou para dar uma volta pelo lago para que pudessem ver os cisnes que ficavam por ali. O jogador acordou assustado, nem tinha percebido que caiu no sono e se preocupou ao não ver ninguém ao seu redor. Levantou apressado, mas logo viu do outro lado do lago os três passeando e dando risadas e se acalmou.
Se aproximou da beirada e ficou observando a mulher e as crianças se divertindo e sorriu, lembrou da primeira vez que null tinha ido em sua casa e do tanto que conversaram e riram das mais diversas coisas. Adorava a forma de ser da mulher, apesar de nova, parecia muito mais madura e independente do que ele. A admirava muito por cuidar de null sozinha e ainda conciliar trabalho e vida pessoal.
Apesar de distraído com seus próprios pensamentos, viu quando null caiu ao tentar sair correndo de null e preocupado se colocou a correr em direção a eles, mas antes que sequer cruzasse parte do caminho, parou. null havia pego o menino no colo, o abraçando e falou alguma coisa para ele com a mesma preocupação que ela tinha com sua filha. A mulher limpou as lágrimas do menino e null viu o momento que o filho levantou a perna, provavelmente mostrando o machucado que tinha feito e o jogador não saberia dizer o que foi aquilo que o tomou quando viu null depositar um beijo no joelho do menino, para então colocá-lo sob os ombros e um sorriso feliz surgiu no rosto do filho. Quem o visse naquele momento nem imaginaria que segundos atrás parecia inconsolável.
Sem conseguir se controlar tirou uma foto dos dois antes que fosse pego no flagra.
- Tá tudo bem, filho? - perguntou quando os três apareceram em seu campo de visão.
- O chão machucou eu, papai - disse abrindo os braços para ir pro colo do jogador - A tia null falou que ele era feio e bobo, mas já deu um beijinho pra sarar.
- Agora a gente vai por um band-aid do Batman, tio, eu tenho um montão.
- Ah, se for do Batman amanhã já vai ter sarado. - null respondeu aos dois rindo, dando um beijo na cabeça do filho. - Obrigado.
- Não precisa nem agradecer, né? Pelo menos dessa vez não levei uma bronca.
💙
null e null vinham se encontrando esporadicamente há dois meses. Desde que tinham se conhecido na loja de brinquedos, ansiavam pela companhia um do outro sem nem se dar conta que pararam de se interessar por outras pessoas. null já não queria conhecer a amiga da prima de Marco e null rejeitou o convite do pai para que ficasse com null para que ela saísse com as amigas, ao invés disso, os três tiveram uma noite de cinema em família.
Embora todas as vezes que null e null se vissem, acabassem juntos na cama, passaram a conversar sempre que dava por mensagem, iniciando uma “amizade” cheia de brincadeiras e segundas intenções, mas que ao mesmo tempo não tinha nenhuma cobrança. Se ela demorasse a responder null sabia que estava ocupada no trabalho ou com null . Já com o jogador, a mulher sabia que ele tinha suas obrigações com o time e que muitas vezes não poderiam se falar por um dia inteiro e estava tudo bem.
Apesar disso, null se via ansioso em receber as fotos que null mandava com as marcas que ele as vezes deixava em seu corpo por não se aguentar quando estava com ela nua sob si, tão linda, que acabava a apertando mais do que deveria. A mulher lhe deu um castigo, que a cada marca que ele deixasse nela, ele ficaria lhe devendo um orgasmo e null adorava pagar cada.um.deles. Já, null, amava como ele sempre se despedia dela com um “Boa Noite, delícia 😋”, sentia-se bonita, desejada, gostosa. Não a mãe que estava sempre cansada, com o cabelo preso, ajudando um senhor a se movimentar pela casa e lhe servindo o almoço.
Após toda a dor e sofrimento que passou com o pai de null , null não sabia se já estava pronta para um novo amor, gostava muito de null, ele era lindo, atencioso, engraçado e ainda por cima estava na mesma que ela. Era visível o quanto amava o filho e sempre se via sorrindo quando ele demonstrava um carinho enorme por null . A menina parecia estar se apegando ao homem e isso a deixava preocupada. Quando saíram durante a semana com os pequenos para irem ao parque, percebeu que sem querer pareciam uma família, quem visse de fora veria um pai e uma mãe brincando com seus dois filhos pequenos e isso, junto ao fato que o jogador começara a lhe fazer perguntas pessoais, a fizeram dar um freio nos encontros semanais.
null murchou quando null disse que naquela semana não teria nenhuma folga, os encontros semanais com a mulher eram uma certeza e isso o fez perceber que não eram nada, apenas dois pais solteiros que encontraram no outro alguém para se divertir de vez em quando. Já tinha a mulher na cabeça mais vezes que o normal desde o dia que se conheceram, mas a ida ao parque havia mudado algo para ele, a forma que ela havia cuidado do seu filho quando se machucou o fez ter vontade de ver mais cenas como aquela acontecendo. E, por isso, ao ver sua mensagem, a realidade caiu para o jogador. O que ele sabia de null? Muito pouco. Nunca tinha ido a casa dela. Não sabia qual o problema que ela tinha com a mãe e muito menos o porquê do pai de null ter abandonado as duas, se recusado a fazer parte da vida da filha. Se o homem ao menos soubesse como era grande o amor que um pai tinha por um filho, com certeza não teria abandonado a menina. O amor podia acabar pela mulher, assim como ele e Victoria deixaram de se amar, mas só de pensar em não fazer parte da vida de null Jr. seu coração se partia, e talvez fosse esse o motivo de null não se abrir completamente com ele.
Naquela semana se viram de longe, null estava entrando no carro quando null chegou na escola para deixar o filho, deram apenas um tchau e um sorriso que não dizia muita coisa, mas por dentro, estavam morrendo de saudade um do outro.
💙
- Mama! - null quase atropelou o jogador quando ele abriu a porta.
- Ah, princesa, que saudade - disse se abaixando para falar com a filha - A Tina demorou pra chegar e eu não podia deixar o Benjamin sozinho. Você me perdoa?
- Simmm, eu fiquei brincando com o null, mama, a casa dele é muito grande, vem ver. - disse puxando a mulher sob os olhares atentos do jogador.
- Oi. - null conseguiu segurar seu mini furacão por um segundo para aceitar o beijo no rosto que o jogador veio lhe dar.
- Oi, delícia. - disse em um sussurro no ouvido da mulher, fazendo os pelos de seus braços arrepiarem.
- Obrigada, null, eu liguei pra Dulce e pra Maria, mas elas já tinham buscado as crianças, não queria te atrapalhar.
- Pra você, qualquer coisa, sempre. Tina trabalha com você e seu chefe, é isso?
- Sim, ela…
- Ela cuida do vovô Ben de noite e a mamãe de dia. - null franziu o cenho e encarou null confuso.
- O que você faz?
- Eu… - null sorriu desanimada, null tinha a mania de responder as coisas por ela e agora se via sem escapatória - Princesa, vai buscar suas coisas que a gente já vai, tá?
- Tá bom, mama, vou trazer o desenho que fiz pra você.
- Então? - null pediu curioso
- Quando eu engravidei, eu ainda estava na faculdade e com o pai da null , mas quando entrei no segundo trimestre ele foi embora e eu me vi sem dinheiro, sem ajuda de quase ninguém, foram raras as pessoas que me deram a mão. Pra me sustentar, consegui um emprego de recepcionista num asilo, eles estavam desesperados e me contrataram mesmo eu estando grávida, mas quando tive a null foi difícil, se eu mal tinha dinheiro pra pagar as contas, como que eu ia pagar pra alguém ficar com ela? Eu tinha ajuda do governo e um pouco de dinheiro guardado, mas estava acabando. Certo dia, a Cora, mãe do Benjamin, um senhor que sempre ficava conversando comigo lá no asilo, me procurou. Ela queria levar o pai pra morar com ela, mas trabalhava o dia todo e me chamou pra cuidar dele de dia, disse que eu podia levar a null e colocou um berço lá num quartinho. O salário não é dos melhores, mas consigo pagar todas as contas e ainda ficar com a null . Meu pai que paga a escola dela, senão provavelmente ela iria para alguma escola pública.
- Entendi. - null se virou de costas, buscando algo na geladeira e a mulher não sabia de onde tinha vindo a onda de tristeza que tomou conta de si.
- Eu estaria estudando, sabe?! - completou rapidamente, envergonhada - Se eu tivesse tido apoio talvez tivesse terminado a faculdade e hoje seria uma designer de interiores, que foi sempre o meu sonho, mas… Sei que não é grande coisa passar o dia sendo babá de um senhor de 83 anos...
- null. – a mulher olhou pra frente e viu o jogador se aproximar com dois sucos na mão e, se ela não estivesse enganada, os olhos dele pareciam marejados - Por que não me disse antes? Eu pensei que você fosse assistente numa empresa…
- Seu filho estuda na escola da null , você é um jogador de futebol do null… Não seria a primeira vez que me olham estranho por fazer o que faço, tem algumas mães naquela escola que podem ser bastante preconceituosas.
- Você é incrível, sabia? - null disse, colocando os copos na bancada e levando uma de suas mãos ao rosto da mulher - A null tem sorte de ter uma mãe tão maravilhosa quanto você, que passou por tanta coisa antes dela nascer e mesmo assim se reergueu e luta dia após dia para dar tudo do melhor pra ela. Eu não sei o que aconteceu com sua mãe, com o pai da null e se você não está pronta pra me contar, eu entendo, mas nunca tenha vergonha de me dizer nada. Vergonha deveria ter eu por ganhar tanto pra chutar uma bola de um lado pro outro, enquanto há pessoas como você fazendo o impossível para dar uma vida melhor para seus filhos. - a mulher encarou o jogador surpresa, seus olhos se encheram de lágrimas, mas null se recusava a chorar. Logo, null colocou sua outra mão no rosto dela, a puxando para um beijo que ambos sentiam falta e, naquele momento, necessidade.
- Eu não pretendo fazer isso pra sempre… Eu ainda quero voltar a estudar.
- O mundo é seu, null, eu tenho certeza que só coisas boas estão guardadas pra você, vem cá. - o jogador abraçou a mulher com força, queria que ela sentisse ali naquele abraço que ele estava ali por ela, para ouvir tudo que ela quisesse lhe contar, sempre.
Quando ela começou a explicar o que fazia sentiu uma queimação na garganta aparecer, ali estava ele com todo dinheiro que precisava e mais um pouco, enquanto ela passou dificuldades para se manter durante a gravidez. Ao invés de apenas se preocupar em amar a filha, teve que trabalhar para conseguir manter as duas bem o suficiente até o fim da gravidez.
O aperto no peito de null foi tão forte que ele sentiu vontade de chorar, sabia que milhões de pessoas passavam pelo mesmo no mundo, mas aquela era a null, ele não queria admitir, mas era a sua null, uma mulher incrível que não merecia nem metade do que tinha passado e mesmo assim nunca desistiu de lutar. Com vergonha de suas próprias emoções, se virou de costas para a mulher, não conseguia entender como ela poderia o achar interessante, mas quando percebeu que quem tinha vergonha de contar o que fazia era null, precisou agir, não se perdoaria se ela pensasse que ele tinha qualquer coisa que não fosse muito orgulho dela.
null naquele momento teve certeza: estava se apaixonando por null.
null tinha seu dedo posicionado em cima da tecla enviar do WhatsApp, ainda em dúvida se deveria convidar null e seu filho para sair. Enviou a mensagem repetindo em sua mente que para aquela atitude não seria preciso pensar tanto, na maioria das vezes, desde o nascimento de null , pensava muito mais que duas vezes, tanto que foram raros os homens que tiveram a chance de conhecer sua princesa e tinha se arrependido de todas elas. Mas era apenas um convite bobo, sem nenhuma pretensão, com o pai de um coleguinha da filha. Ao menos era o que ela dizia a si mesma.
Sua atenção voltou à tela do celular, quando o mesmo apitou com a resposta de null, afirmando que estava com o filho naquele dia, caso contrário, seria todo dela. A mulher riu quando notou que null achava que o convite vinha com um tom malicioso.
null💋: Na verdade estava pensando se vocês não gostariam de participar de uma caça ao tesouro acompanhado de um piquenique? Está um dia lindo e tem um parque ótimo do lado da minha casa.
null⚽: Sim, por favor, acho que posso deixar para assistir Toy Story pela décima quinta vez para mais tarde. Me passa o endereço e horário.
Seria a primeira vez que os quatro sairiam juntos, algo que o jogador poderia encarar como uma cobrança da parte dela, mas null sorriu ao ver que ele, assim como ela, sabia separar as coisas. Logo enviou o endereço com o horário em que se encontrariam.
- Meu amor, o que você acha de irmos ao parque com o null e o Junior? - null encostou-se no batente da porta, observando a filha que brincava no tapete da sala com peças de lego.
- Ebaaaa! Vai ter piquenique?
- Sim, senhora! Quer me ajudar a fazer um bolo?
null💋: Dá pra acreditar que agora estou levando ordens? Deus me ajude com essa mini chef.

null⚽: Devo me sentir culpado por comprar algo no mercado enquanto vocês estão cozinhando? 😬

A mulher gargalhou alto quando viu a foto.
null💋: Não se preocupe, o que vale é a intenção! Sorte que você até que é bom de cama 🌝
null⚽: Estou me sentindo um pedaço de carne… Eu sei que você tá mais interessada na minha barba roçando por todo esse seu corpo... Além da minha ótima “massagem” 👅
null💋: Não nego 🔞🔞🔞
null💋: Agora realmente preciso ajudar aqui. null manda, mas quem mexe no forno sou eu, nos vemos mais tarde! 😘
Após colocar o bolo no forno, null foi ajudar null a trocar de roupa, a menina usava um vestidinho branco, leve e ideal para o tempo quente e ensolarado que fazia em Madrid. Assim que ficaram prontas e o bolo cresceu, mãe e filha foram caminhando até o parque.
Enquanto esperava o jogador, null estendeu a toalha no chão e logo se sentaram, aguardando a chegada dos meninos. A mulher só percebeu o quanto havia se distraído admirando a filha brincando com uma folha na árvore, no momento em que levou um susto ao sentir mãos em sua cintura.
- Quer me matar? - disse brincalhona, se virando para o jogador.
- Só se for de prazer. - null deu uma piscadinha divertida para a mulher - Que foi? - o jogador perguntou depois de alguns segundos, já que null o encarava com um olhar pensativo.
- Você cortou o cabelo e aparou a barba?
- Não gostou?
- Ficou ainda mais lindo - sorriu dando um beijo na bochecha dele, antes de se abaixar para cumprimentar null Jr. - Pronto pra brincar?
- Pronto sim!
- Caça ao tesouro, mama, caça ao tesouro!
null riu baixo da menina que chegava a dar pequenos pulos de animação, já seu filho olhava para null curiosamente.
- Ok, a brincadeira funciona assim: o primeiro que encontrar uma pedra redonda tem que trazer ela para mim. Vamos ficar esperando vocês aqui e nada de ir pra longe, hein? Tem que ser aqui ao nosso redor.
Enquanto as duas crianças saíram correndo atrás do objeto, null e null sentaram-se na toalha para organizar o que ambos haviam trazido, sempre de olho nos filhos. Os dois se pegaram olhando os próprios filhos com carinho e riram de si mesmos.
- É um amor que não dá pra explicar, né?
- Com certeza. - null disse tirando o suco da sacola.
- E como andam os treinos?
- Maravilhosos. Nos últimos meses estou tendo mais espaço no time como titular, fico triste que isso só aconteça porque um amigo está lesionado, mas não posso deixar de aproveitar a oportunidade.
- Mas é nessas horas que você deve mostrar que é um substituto a altura, não dá pra perder uma chance dessas mesmo. Tenho certeza que é uma pena ver um colega de trabalho machucado, mas é assim que você mostra que é bom e merece estar na equipe principal. Mesmo porque jogador está sempre se machucando, não? Se o time souber que pode contar com você, mais e mais vão te colocar como titular.
- Nossa, até parece que entende de futebol. Obrigado, null.
- E por que não entenderia? Tá tentando me dizer que futebol é só pra homem? - null fingiu estar zangada, assustando null, mas assim que ele tentou se desculpar a mulher deu uma gargalhada da cara dele, jogando um saquinho de M&M's no jogador.
A conversa dos dois foi interrompida quando as crianças chegaram gargalhando com as mãozinhas cheias de pedras, discutindo quem tinha ganhado aquele desafio.
- Olha só, quanta pedrinha! Por que vocês não nos deixam decidir quem pegou a mais redonda enquanto procuram uma flor amarela? Mas não a arranquem, quando acharem nos chamem que vamos até vocês.
- Não arrancar? - null encarava a mulher curioso.
- Não quero ensinar minha filha que ela pode sair pegando tudo que a natureza oferece sem pensar duas vezes!
- Cada dia que passa você consegue me impressionar ainda mais, sabia? - null ficou tão surpresa ao ouvir aquelas palavras de null, que virou o rosto envergonhada, sentindo as bochechas pegarem fogo.
- É um dom para poucos - disse brincando, tentando disfarçar.
- Nossa, achei que nunca fosse conseguir te deixar sem graça - null disse com um sorriso lindo que a cada dia que passava, encantava ainda mais null - Tão bonita toda envergonhada.
- Pode parar, por favor? - pediu colocando as mãos no rosto.
- Desse jeito fica bem difícil não beijar essa sua boca, pena que estamos em público.
- Tia, null! Achamos a florzinha, vem, vem!
- Tia, null?? - a mulher disse encantada com a forma que null Jr. a havia chamado - Ai que amor! A Tia null vai sim. - disse sorrindo e pegando a mão que o menino havia estendido para ela. - Pelo visto esse sorriso fofo e irresistível é de família.
- Vamos, papa?
- Ah, agora lembrou que eu estou aqui, né? - o jogador se fingiu de ofendido, logo se levantando e dando a outra mão ao menino. null corria na frente em direção às flores.
- Semana que vem tem apresentação da classe deles, você vai? - perguntou curiosa ao homem, depois que tiraram algumas fotos das crianças ao lado das florzinhas. null obviamente achava tudo que null fazia lindo, mas a cara que null Jr. fez para a foto quase derreteu seu coração.
- Victoria vai levar ele, eu tenho jogo, mas minha mãe vai com ela. Não perde nada do neto, sua mãe também é assim com a null ?
null sabia que em algum momento eles entrariam nesse assunto, só não achava que viria tão de repente. Gostava de como a conversa fluía de maneira natural com null e de como havia sido fácil tornarem-se íntimos em tão pouco tempo. Mesmo que seus encontros fossem, em sua grande maioria, apenas sexuais, ainda assim conversavam muito e pareciam ter ideias bastante parecidas. Desde o pai de null que null não se via tão tranquila ao lado de um homem, mas mesmo assim ainda se sentia insegura em se abrir sobre a “relação” que mantinha com a mãe. null parecia ter uma família linda e unida, até com a ex ele tinha um convívio ótimo, enquanto ela tinha apenas o seu pai e Ben. Suspirou tentando não demonstrar muita coisa, mas já era tarde, o jogador já tinha percebido que alguma coisa estava errada.
- Ela não vai não, será só eu mesmo, o meu pai disse que vai tentar vir, mas não sabe se vai conseguir. - disse dando de ombros - O que você acha de darmos uma pausa nessa caça ao tesouro e você me mostrar se joga mesmo futebol uh? - null, apesar de curioso e até um pouco triste, entendeu que tinha tocado em alguma outra ferida interna da mulher e resolveu não insistir, talvez se os dois continuassem a se ver da forma que estavam fazendo, ela se sentisse mais livre para desabafar com ele seja lá sobre o que fosse.
- Eu e null contra você e null ? Sabe como é, preciso te dar uma chance. - o jogador riu ao pegar a bola que tinha trazido.
- Pode deixar que eu e minha filha vamos mostrar que o null não sabe o que está perdendo sem a gente naquele time. - null riu ao tirar o tênis para fazer de gol. null imitou seu gesto, rindo do jeito da mulher.
- Caramba, a null joga muito bem.
- Eu disse, não disse? É um talento de família. - a mulher falou de um jeito convencido, pois sabia que era péssima no esporte.
- Eu tô falando sério, ela tem talento de verdade, se fosse menino ia arranjar um teste pra ela lá no clube.
- É uma pena que o futebol feminino não seja tão reconhecido quanto o masculino, a null adora esportes "de menino". Eu sempre digo pra ela que não tem nada de menino e menina, se ela quiser jogar futebol ela vai, se ela quiser ser skatista também. Acho que você lembra bem o que eu estava fazendo naquela loja de brinquedo.
- Podemos combinar de nos encontrar um dia lá no clube e eu peço pra ela treinar com os meninos, o que acha?
- Se não for proibido, tenho certeza que ela vai se divertir.
- Mama, tô com fome.
- Eu também papai.
- Pra ser sincero, eu também. - null disse de uma maneira tão fofa que null queria mais que tudo beijá-lo naquele momento.
- Venham, crianças, vamos comer então.
null havia adormecido depois do almoço e null ficou com dó de acordá-lo, imaginava que o tanto de exercício físico que os jogadores faziam devia ser bastante exaustivo. As crianças, pelo contrário, pareciam ainda mais animadas depois de comer e null os levou para dar uma volta pelo lago para que pudessem ver os cisnes que ficavam por ali. O jogador acordou assustado, nem tinha percebido que caiu no sono e se preocupou ao não ver ninguém ao seu redor. Levantou apressado, mas logo viu do outro lado do lago os três passeando e dando risadas e se acalmou.
Se aproximou da beirada e ficou observando a mulher e as crianças se divertindo e sorriu, lembrou da primeira vez que null tinha ido em sua casa e do tanto que conversaram e riram das mais diversas coisas. Adorava a forma de ser da mulher, apesar de nova, parecia muito mais madura e independente do que ele. A admirava muito por cuidar de null sozinha e ainda conciliar trabalho e vida pessoal.
Apesar de distraído com seus próprios pensamentos, viu quando null caiu ao tentar sair correndo de null e preocupado se colocou a correr em direção a eles, mas antes que sequer cruzasse parte do caminho, parou. null havia pego o menino no colo, o abraçando e falou alguma coisa para ele com a mesma preocupação que ela tinha com sua filha. A mulher limpou as lágrimas do menino e null viu o momento que o filho levantou a perna, provavelmente mostrando o machucado que tinha feito e o jogador não saberia dizer o que foi aquilo que o tomou quando viu null depositar um beijo no joelho do menino, para então colocá-lo sob os ombros e um sorriso feliz surgiu no rosto do filho. Quem o visse naquele momento nem imaginaria que segundos atrás parecia inconsolável.
Sem conseguir se controlar tirou uma foto dos dois antes que fosse pego no flagra.
- Tá tudo bem, filho? - perguntou quando os três apareceram em seu campo de visão.
- O chão machucou eu, papai - disse abrindo os braços para ir pro colo do jogador - A tia null falou que ele era feio e bobo, mas já deu um beijinho pra sarar.
- Agora a gente vai por um band-aid do Batman, tio, eu tenho um montão.
- Ah, se for do Batman amanhã já vai ter sarado. - null respondeu aos dois rindo, dando um beijo na cabeça do filho. - Obrigado.
- Não precisa nem agradecer, né? Pelo menos dessa vez não levei uma bronca.
null e null vinham se encontrando esporadicamente há dois meses. Desde que tinham se conhecido na loja de brinquedos, ansiavam pela companhia um do outro sem nem se dar conta que pararam de se interessar por outras pessoas. null já não queria conhecer a amiga da prima de Marco e null rejeitou o convite do pai para que ficasse com null para que ela saísse com as amigas, ao invés disso, os três tiveram uma noite de cinema em família.
Embora todas as vezes que null e null se vissem, acabassem juntos na cama, passaram a conversar sempre que dava por mensagem, iniciando uma “amizade” cheia de brincadeiras e segundas intenções, mas que ao mesmo tempo não tinha nenhuma cobrança. Se ela demorasse a responder null sabia que estava ocupada no trabalho ou com null . Já com o jogador, a mulher sabia que ele tinha suas obrigações com o time e que muitas vezes não poderiam se falar por um dia inteiro e estava tudo bem.
Apesar disso, null se via ansioso em receber as fotos que null mandava com as marcas que ele as vezes deixava em seu corpo por não se aguentar quando estava com ela nua sob si, tão linda, que acabava a apertando mais do que deveria. A mulher lhe deu um castigo, que a cada marca que ele deixasse nela, ele ficaria lhe devendo um orgasmo e null adorava pagar cada.um.deles. Já, null, amava como ele sempre se despedia dela com um “Boa Noite, delícia 😋”, sentia-se bonita, desejada, gostosa. Não a mãe que estava sempre cansada, com o cabelo preso, ajudando um senhor a se movimentar pela casa e lhe servindo o almoço.
Após toda a dor e sofrimento que passou com o pai de null , null não sabia se já estava pronta para um novo amor, gostava muito de null, ele era lindo, atencioso, engraçado e ainda por cima estava na mesma que ela. Era visível o quanto amava o filho e sempre se via sorrindo quando ele demonstrava um carinho enorme por null . A menina parecia estar se apegando ao homem e isso a deixava preocupada. Quando saíram durante a semana com os pequenos para irem ao parque, percebeu que sem querer pareciam uma família, quem visse de fora veria um pai e uma mãe brincando com seus dois filhos pequenos e isso, junto ao fato que o jogador começara a lhe fazer perguntas pessoais, a fizeram dar um freio nos encontros semanais.
null murchou quando null disse que naquela semana não teria nenhuma folga, os encontros semanais com a mulher eram uma certeza e isso o fez perceber que não eram nada, apenas dois pais solteiros que encontraram no outro alguém para se divertir de vez em quando. Já tinha a mulher na cabeça mais vezes que o normal desde o dia que se conheceram, mas a ida ao parque havia mudado algo para ele, a forma que ela havia cuidado do seu filho quando se machucou o fez ter vontade de ver mais cenas como aquela acontecendo. E, por isso, ao ver sua mensagem, a realidade caiu para o jogador. O que ele sabia de null? Muito pouco. Nunca tinha ido a casa dela. Não sabia qual o problema que ela tinha com a mãe e muito menos o porquê do pai de null ter abandonado as duas, se recusado a fazer parte da vida da filha. Se o homem ao menos soubesse como era grande o amor que um pai tinha por um filho, com certeza não teria abandonado a menina. O amor podia acabar pela mulher, assim como ele e Victoria deixaram de se amar, mas só de pensar em não fazer parte da vida de null Jr. seu coração se partia, e talvez fosse esse o motivo de null não se abrir completamente com ele.
Naquela semana se viram de longe, null estava entrando no carro quando null chegou na escola para deixar o filho, deram apenas um tchau e um sorriso que não dizia muita coisa, mas por dentro, estavam morrendo de saudade um do outro.
- Ah, princesa, que saudade - disse se abaixando para falar com a filha - A Tina demorou pra chegar e eu não podia deixar o Benjamin sozinho. Você me perdoa?
- Simmm, eu fiquei brincando com o null, mama, a casa dele é muito grande, vem ver. - disse puxando a mulher sob os olhares atentos do jogador.
- Oi. - null conseguiu segurar seu mini furacão por um segundo para aceitar o beijo no rosto que o jogador veio lhe dar.
- Oi, delícia. - disse em um sussurro no ouvido da mulher, fazendo os pelos de seus braços arrepiarem.
- Obrigada, null, eu liguei pra Dulce e pra Maria, mas elas já tinham buscado as crianças, não queria te atrapalhar.
- Pra você, qualquer coisa, sempre. Tina trabalha com você e seu chefe, é isso?
- Sim, ela…
- Ela cuida do vovô Ben de noite e a mamãe de dia. - null franziu o cenho e encarou null confuso.
- O que você faz?
- Eu… - null sorriu desanimada, null tinha a mania de responder as coisas por ela e agora se via sem escapatória - Princesa, vai buscar suas coisas que a gente já vai, tá?
- Tá bom, mama, vou trazer o desenho que fiz pra você.
- Então? - null pediu curioso
- Quando eu engravidei, eu ainda estava na faculdade e com o pai da null , mas quando entrei no segundo trimestre ele foi embora e eu me vi sem dinheiro, sem ajuda de quase ninguém, foram raras as pessoas que me deram a mão. Pra me sustentar, consegui um emprego de recepcionista num asilo, eles estavam desesperados e me contrataram mesmo eu estando grávida, mas quando tive a null foi difícil, se eu mal tinha dinheiro pra pagar as contas, como que eu ia pagar pra alguém ficar com ela? Eu tinha ajuda do governo e um pouco de dinheiro guardado, mas estava acabando. Certo dia, a Cora, mãe do Benjamin, um senhor que sempre ficava conversando comigo lá no asilo, me procurou. Ela queria levar o pai pra morar com ela, mas trabalhava o dia todo e me chamou pra cuidar dele de dia, disse que eu podia levar a null e colocou um berço lá num quartinho. O salário não é dos melhores, mas consigo pagar todas as contas e ainda ficar com a null . Meu pai que paga a escola dela, senão provavelmente ela iria para alguma escola pública.
- Entendi. - null se virou de costas, buscando algo na geladeira e a mulher não sabia de onde tinha vindo a onda de tristeza que tomou conta de si.
- Eu estaria estudando, sabe?! - completou rapidamente, envergonhada - Se eu tivesse tido apoio talvez tivesse terminado a faculdade e hoje seria uma designer de interiores, que foi sempre o meu sonho, mas… Sei que não é grande coisa passar o dia sendo babá de um senhor de 83 anos...
- null. – a mulher olhou pra frente e viu o jogador se aproximar com dois sucos na mão e, se ela não estivesse enganada, os olhos dele pareciam marejados - Por que não me disse antes? Eu pensei que você fosse assistente numa empresa…
- Seu filho estuda na escola da null , você é um jogador de futebol do null… Não seria a primeira vez que me olham estranho por fazer o que faço, tem algumas mães naquela escola que podem ser bastante preconceituosas.
- Você é incrível, sabia? - null disse, colocando os copos na bancada e levando uma de suas mãos ao rosto da mulher - A null tem sorte de ter uma mãe tão maravilhosa quanto você, que passou por tanta coisa antes dela nascer e mesmo assim se reergueu e luta dia após dia para dar tudo do melhor pra ela. Eu não sei o que aconteceu com sua mãe, com o pai da null e se você não está pronta pra me contar, eu entendo, mas nunca tenha vergonha de me dizer nada. Vergonha deveria ter eu por ganhar tanto pra chutar uma bola de um lado pro outro, enquanto há pessoas como você fazendo o impossível para dar uma vida melhor para seus filhos. - a mulher encarou o jogador surpresa, seus olhos se encheram de lágrimas, mas null se recusava a chorar. Logo, null colocou sua outra mão no rosto dela, a puxando para um beijo que ambos sentiam falta e, naquele momento, necessidade.
- Eu não pretendo fazer isso pra sempre… Eu ainda quero voltar a estudar.
- O mundo é seu, null, eu tenho certeza que só coisas boas estão guardadas pra você, vem cá. - o jogador abraçou a mulher com força, queria que ela sentisse ali naquele abraço que ele estava ali por ela, para ouvir tudo que ela quisesse lhe contar, sempre.
Quando ela começou a explicar o que fazia sentiu uma queimação na garganta aparecer, ali estava ele com todo dinheiro que precisava e mais um pouco, enquanto ela passou dificuldades para se manter durante a gravidez. Ao invés de apenas se preocupar em amar a filha, teve que trabalhar para conseguir manter as duas bem o suficiente até o fim da gravidez.
O aperto no peito de null foi tão forte que ele sentiu vontade de chorar, sabia que milhões de pessoas passavam pelo mesmo no mundo, mas aquela era a null, ele não queria admitir, mas era a sua null, uma mulher incrível que não merecia nem metade do que tinha passado e mesmo assim nunca desistiu de lutar. Com vergonha de suas próprias emoções, se virou de costas para a mulher, não conseguia entender como ela poderia o achar interessante, mas quando percebeu que quem tinha vergonha de contar o que fazia era null, precisou agir, não se perdoaria se ela pensasse que ele tinha qualquer coisa que não fosse muito orgulho dela.
null naquele momento teve certeza: estava se apaixonando por null.
Capítulo 4
null⚽: Se você ver um tigre por aí, toma cuidado!! Ele é muito feroz. 😝🐯
null💋: Eu poderia morder esse tigre, ele está um amor!!
null💋: Minha bailarina quis se arrumar sozinha, não está uma princesa? 😻💞
null⚽: Com uma mãe dessa 😻😻😻. Mordia as duas 💙
null⚽: Queria estar aí com vocês 😿…me manda o vídeo da apresentação da Super null , prometi que veria.
null sorriu, guardando o celular no bolso após a conversa com null, sentia falta da presença dele. Viu o momento que Victoria entrou com a mãe do jogador e sentiu-se nervosa, mesmo sabendo que não se conheceriam, queria causar uma boa impressão. Riu de sua própria estupidez e decidiu procurar um lugar para sentar, antes que o local lotasse.
null Jr. tinha feito uma apresentação com todos os meninos da classe vestidos de animais selvagens, que fez com que null se emocionasse, o pequeno estava adorável em sua fantasia e acenava para a mãe e avó o tempo todo. Tirou algumas fotos para mostrar para null, mesmo sabendo que ele provavelmente já estava sendo inundado por elas. Mas foi quando null entrou no palco, que a mulher não conseguiu mais conter as lágrimas, sua pequena estava virando uma mocinha e aquilo lhe partia o coração, na mesma proporção que a enchia de alegria.
Ver sua filha feliz e saudável era a única coisa que lhe importava na vida e o sorriso que null manteve por toda a apresentação foi mais do que suficiente para encher o peito de null de alegria. Teve a certeza que estava fazendo um bom trabalho.
Ao final de todas as apresentações, houve uma pequena confraternização no fundo do ginásio da escola, onde as crianças podiam se encher de pipoca e doces. null corria com algumas das outras crianças quando null se assustou ao sentir algo agarrar suas pernas.
- Tia null, você viu eu? - a mulher abriu um sorriso ao ver o pequeno tigre a encarar com o sorriso mais sapeca do mundo.
- Claro que vi, príncipe - ela se ajoelhou para ficar da altura do menino - Fiquei morrendo de medo quando você fez o barulho do tigre, você pode me mostrar como é?
- Roaaar - o menino rugiu fazendo gestos com a mão e null, apesar de rir internamente, fingiu estar com medo. - Meu Deus! Achei que tinha um tigre aqui de verdade agora. – falou, tirando uma gargalhada do menino.
- Não precisa ficar com medo, fui só eu, tia. - explicou de forma tão adorável, que null acabou o puxando para um abraço.
- Júnior, você saiu correndo para longe da vovó sem avisar.
- Deculpa, abuelita, vim falar com a tia null e a null .
- Ah, finalmente vou conhecer a famosa null - a senhora de aparência jovem se aproximou de null, estendendo a mão. - Prazer, null...Tia null. - comentou fazendo com que a mulher abrisse um sorriso. - null , vem aqui com a mamãe. - pediu e Jenny, mãe de null, se impressionou quando viu a garotinha prontamente a atender.
- null , essa é minha abuelita. - disse todo atrapalhado pegando na mão da menina, que ficou um pouco tímida.
- Ah, você estava linda em cima do palco, a bailarina mais bonita que já vi. - a mulher disse, tirando um sorriso de null - Vocês já querem sair correndo para brincar mais. - constatou ao ver que não tinha mais a atenção das crianças.
- Siiii, podemos, mama?
- Podem, mas só mais um pouquinho, já temos que ir embora, ok? - falou em vão, já que os dois já tinham saído correndo, fazendo as duas se olharem e darem risada.
- Sua filha é linda e um encanto. O null Jr. tem falado muito dela e de você ultimamente. Ele me contou de uma caça ao tesouro que fizeram no parque?
- Ah, os dois pegaram uma amizade forte recentemente. - disse um pouco incerta do que falar. - E eu acabei convidando ele e o null para essa brincadeira que faço aos finais de semana com a null .
- O pai da null também não pôde vir? - a morena perguntou, curiosa.
- Somos só nós duas mesmo. - null disse simplesmente, encarando o chão por um momento.
- Desculpe, eu não quis…
- Tá tudo bem. - assegurou para a mais velha com um sorriso - Você não tinha como saber.
- Bom, eu preciso ir, foi um prazer conhecer você e a null .
- Igualmente. - null sorriu, observando a mais velha chamar o menino e se aproximar de Victoria.
💙
Madrecita: Agora entendi essa "amizade" do Júnior com a null . Conheci a null.
null: Não sei do que você está falando 😝 O null realmente é amigo da null .
Alguns minutos depois, Jenny gargalhou ao receber uma nova mensagem do filho.
null: ...o que você achou da null? 🙈
💙
- Minha mãe te adorou. - null dizia enquanto fazia carinho nas costas nua de null.
- O que ela falou? - a mulher perguntou curiosa, levantando o rosto para encarar o jogador, que não resistiu e lhe deu um beijo, que fora prontamente retribuído.
- Que você e sua filha são lindas, mas isso eu já sabia. - sorriu ao ver a careta que a mulher fez. - E que entendeu essa "amizade" da null com o neto.
- Ai meu Deus, ela sabe?
- Suspeita, não confirmei, quis deixar ela um pouco curiosa. - deu de ombros - Ela achou a null bastante educada e isso com certeza é um ponto ao seu favor.
- Que vergonha!
- Não precisa disso. - o jogador disse, apertando a mulher ainda mais para si.
- Eu vi seu jogo. - null soltou com um sorriso, sabendo o que viria a seguir.
- Mentira?! - null se movimentou no sofá, fazendo com que ela risse e se sentasse para observá-lo - O que achou?
- Que seu time tá cheio de jogador gato. - falou séria, vendo o sorriso do homem à sua frente se fechar. - Eu tô brincando, bobo, quer dizer, não estou, tá cheio de homem lindo mesmo, mas uau, você foi muito bem, null, estou oficialmente impressionada. Você é muito mais do que um rostinho bonito mesmo. Te vi correr por todo o campo e quando o jogador do outro time te derrubou... Nunca vi alguém levantar tão rápido e continuar a jogada como se nada tivesse acontecido.
- Não é à toa que me chamam de mágico. - o homem abriu um sorriso metido tão grande, que foi impossível não contagiar a mulher.
null não conseguiu conter sua alegria, vivia pedindo para que null assistisse a um de seus jogos, não sabia o por que, mas queria que ela o visse fazendo o que mais amava. Que ela soubesse que apesar de ser jogador de futebol, ele era muito bom no que fazia. Nunca imaginou que ela finalmente assistiria a uma partida e ficou feliz que foi em uma que ele fora titular, e mais, que ele tinha realmente se destacado com sua performance. A opinião de null importava cada vez mais e mesmo percebendo que ela não sabia muito bem quais termos usar, conseguiu explicar direitinho o que tinha achado.
Desde que sua mãe havia conhecido null, ele parecia ter ganho um ânimo a mais para tentar fazer as coisas darem certo e saber que ela também parecia disposta a isso, o fazia feliz.
null tinha ido para a casa de null poucas horas antes da saída das crianças da escola, Cora havia a liberado mais cedo e prontamente ligou para o jogador para saber se ele estava livre, não era sempre que conseguiam conciliar os horários e aquela era a primeira vez que ficavam juntos três vezes numa mesma semana.
O mais assustador nisso tudo, era que a saudade que sentiu de null era ainda maior do que antes, mesmo tendo o visto no dia anterior. Isso a assustou, mas ao mesmo tempo a tranquilizou, o jogador parecia ser realmente diferente dos homens que tinha conhecido e se pegava fazendo planos para as semanas seguintes de forma a conciliar com os dias em que null estivesse livre.
💙
null estava tão distraída, que acabou se assustando quando ouviu as batidinhas na janela de seu carro, abaixou o vidro revirando os olhos ao escutar a risada de null, mas acabou cedendo e riu junto com o homem, ele era adorável demais quando sorria daquela forma.
- Tudo bem, guapo? - perguntou observando o rosto do homem à sua frente.
- Tudo sim, eu tenho um convite! O que acha de ir lá pra casa assistir um filme?
- Assistir um filme? Você já foi melhor nisso, null. - direcionou ao homem um sorriso malicioso, soltando uma gargalhada ao reparar que o mesmo havia corado.
- Falando sério, tá livre agora? Vamos lá para casa com as crianças? Eu tô com saudade - pediu de um jeito tão fofo e atraente, que fez null se derreter.
- Vamos sim! - respondeu saindo do carro, quando ouviu o sinal que indicava o fim das aulas para os pequenos - Espero que não seja Frozen mais uma vez.
- Ou Toy Story. - os dois riram e null colocou as mãos no bolso para conter sua vontade de segurar na mão da mulher.
Enquanto esperava null sair do prédio junto com null, percebeu que Dulce a encarava e assim que a outra recebeu sua atenção, fez um sinal de positivo com o dedo, indicando que aprovava a companhia do homem. null, rindo, pediu licença ao jogador, avisando que já voltava e logo caminhou em direção a mulher.
- Dá pra ser um pouco mais discreta? Vou começar a ficar envergonhada.
- Desculpa, só não consigo disfarçar minha empolgação - Dulce riu, olhando carinhosamente para a mais nova - Eu sei que o null é um cara legal, tenho certeza que ele só fará bem a você, além de ser um gato. Ah se eu fosse mais nova!
- É mesmo, não? Mas... Estamos indo devagar, sabe? Ainda não é tão fácil para mim.
- Querida, vá no seu tempo, não deixe homem nenhum ou ninguém apressar você. - tocou o braço de null gentilmente - Agora mudando de assunto, estamos pensando em reunir todas as mães em uma sexta feira à noite. Discutir sobre dias letivos e atividades extras para os pequenos, além de, claro, degustar um vinho sem nenhuma criança pedindo para ir ao banheiro. - null riu quando a mais velha deu uma piscadinha sapeca.
- Eu acho ótimo, Dulce! Me envia uma mensagem sobre o horário, que vou fazer o máximo que der para ir!
- Pode deixar, e vai lá que tem alguém que não tira os olhos de você - a mais velha riu e null voltou para onde tinha deixado null, que a encarava não tão discretamente.
💙
- Tio null, vocês têm pipoca? Pra assistir filme tem que ter pipoca! - null cruzou os bracinhos, mandona, para o espanto da mãe.
- null ! - null repreendeu a filha e logo escutou a risada de null.
- Temos sim, Super-null , - bagunçou o cabelo da menina com a mão - Onde já se viu filme sem pipoca? - disse tirando um sorriso da cara da menina - Por que você e o null Jr. não esperam aqui, enquanto nós dois fazemos a pipoca?
Após acomodarem as crianças na sala, o casal caminhou em direção à cozinha, começando a preparar o lanche para os pequenos, sempre de olho nos dois para que não fizessem nada errado ou se machucassem.
- Peço desculpas pela null , às vezes ela pode ser um pouquinho indiscreta.
- Você tá brincando? Gosto quando ela interage assim comigo, parece que estamos mais afeiçoados, confesso que tinha ciúmes do meu filho te chamando de Tia null, agora eu também sou o Tio null. - disse todo orgulhoso e null soltou uma gargalhada gostosa que null não se aguentou e a prensou na bancada, mordendo o próprio lábio. - Você me deixa louco.
- As crianças estão ali, null. - null disse preocupada, mas não negou o beijo rápido que trocaram.
- Você não precisa se preocupar nem um pouquinho, null é uma criança muito educada. Aliás, eu até aceitaria umas dicas porque tem dias que nem Deus me ajuda com aquele projeto de gente. Tão pequeno, mas tão cheio de opinião.
- null!! - a mulher exclamou e riu em seguida, sendo surpreendida por mais um beijo do jogador, mas esse teve fim em questão de segundos, ao escutarem gritinhos e expressões assustadas.
- Eca, papa!
- Que nojo, mama, você tava beijando o tio null. Ele tem barba, pinica tudo! - null trocou um olhar com o homem à sua frente, sentindo as bochechas pegarem fogo.
O apito do microondas informando que a pipoca estava pronta acabou por salvar os dois adultos, já que distraiu as crianças do momento constrangedor por tempo o suficiente para que null voltasse a ouvir seu coração bater. Sem nada dizer, os dois terminaram de preparar os baldes de pipoca e null carregou a bandeja com as bebidas e acabaram por ficar em silêncio durante todo o filme, presos em seus próprios pensamentos com o que tinha acabado de acontecer.
Assim que os créditos apareceram na televisão, null e null trocaram um olhar cúmplice e preocupado, sabendo que o momento da conversa havia, enfim, chegado.
- Princesa, null Jr., vocês podem nos escutar por um minutinho? Precisamos conversar.
- Eu não fiz nada papai, juro!
- Eu sei que não. Não é bronca. - o homem riu do pequeno desespero do filho - Vocês sabem que eu e a tia null ultimamente viramos muito amigos.
- Igual eu e o null, mama.
- Isso, princesa, igual vocês dois, mas de uma forma um pouquinho diferente.
- Amigos que gostam muito da presença um do outro. - null disse olhando null, tentando deixar bem claro o quanto gostava da presença dela.
- Quando dois adultos se gostam, eles demonstram diferente do que vocês crianças.
- Com beijo na boca! Ew! - null interrompeu, fazendo os adultos rirem da inocência e pureza vinda dos dois.
- Mas a gente só faz isso quando gostamos muito de outra pessoa e só dessa pessoa, não é qualquer um que beijamos, entende?
- O papai só beija a Tia null e a… - null parou no meio da conversa, fazendo null erguer a sobrancelha.
- A Tia null também só beija o Tio null. - respondeu para as crianças, mas com a garganta apertada, morrendo de vontade de olhar para o homem ao seu lado, que apertou sua mão em resposta, aliviado.
- Tão namorando? - null Jr. perguntou, fazendo os dois se entreolharem assustados.
- Não, meus amores. - null falou tão rápido que perdeu o olhar que null a lançou. - Estamos, por enquanto, só saindo juntos, mas q...
- Papai e tia null tão namorando! - as duas crianças começaram a rir e pular no sofá, ignorando completamente a mulher, soltando corinhos de “tá namorando” em meio a gargalhadas.
- Bom, acho que foi melhor do que esperamos, certo? - null disse aliviado pela conversa, mas um pouco chateado por null desmentir rapidamente um possível namoro.
- Muito. - ela respondeu, abraçando null e os dois acomodaram-se no sofá observando as crianças.
null estava aflita, não imaginou que seria justo naquele dia que sua filha a veria com um homem pela primeira vez na vida, sentiu-se acuada, mas ao olhar nos olhos de null, percebeu que aquilo era o certo, que os dois estavam construindo algo aos poucos, mas tão bonito, que não tinha necessidade de ter medo. O jogador parecia realmente gostar dela na mesma intensidade que ela gostava dele, e talvez ele não fosse embora, não a deixaria sozinha, como Carlos havia feito.
null estava feliz pelo que tinha acabado de acontecer, sabia que era mais um pequeno passo no que gostaria de ter com a mulher, mesmo que chateado com sua resposta. Mas enquanto pensava no assunto, percebeu que nunca tinha deixado claro para null que o que sentia por ela era sério e, sabendo do pouco que sabia da vida da mulher, entendeu que ela precisava se sentir segura o suficiente para se abrir. E foi ali, então, que o jogador começou a pensar em como a pediria em namoro.
💙
- Querido, não sei se a mamãe vai poder buscar você hoje na escolinha. Mas o papai ou a abuelita vão pegar você. - Victoria olhava pelo retrovisor para o filho.
- Não tem poblema, mama, a tia null pode ficar comigo também!
- Tia null? - a mulher perguntou, curiosa, conhecia todas as mães dos amiguinhos de null e não lembrava de nenhuma null.
- A mãe da minha amiga, null .
- Ah, a null! - Victoria assentiu em entendimento, não sabia que a mulher era chamada de null e muito menos que o filho a chamava assim.
- Isso, mama, a namorada do papa!
Victoria quase freou o carro, tamanha a surpresa da notícia. Não por ciúmes de saber que o pai de seu filho estava com alguém, mas sim por ter sido pega completamente despreparada com a naturalidade do filho ao falar sobre o assunto, sinal de que aquilo não era algo novo.
Após deixar o pequeno na escola, a mulher dirigiu em direção à casa de null.
- Podemos conversar? - perguntou assim que o homem abriu a porta de casa.
- Tenho treino daqui uma hora, tá tudo bem?- deu espaço para a mulher adentrar o local.
- Na verdade, não. - se virou para null, que a encarou preocupado - O Jr. me contou sobre a tia null… Sua namorada. E antes de qualquer coisa, sei que o que você faz da sua vida particular não é da minha conta, mas a partir do momento em que envolve meu filho eu preciso saber mais sobre o assunto e se posso ficar tranquila. - o homem a encarou surpreso, achava que Victoria iria passar um sermão por ter dado doce para o filho antes de jantar.
Não que a mulher não estivesse certa, ele realmente deveria ter conversado com ela quando as coisas começaram a ficar sérias entre ele e null, mas a verdade é que por muitas vezes nem ele mesmo sabia o quão firme estavam. Foi só depois de serem pegos pelos filhos se beijando e ter a confirmação que, assim como ele, null não estava com mais ninguém, que percebeu que finalmente estavam na mesma página.
- Vic, entendo sua preocupação, eu devia ter te procurado antes, mas a verdade é que não estamos namorando, ainda. As crianças se precipitaram um pouco – acrescentou, para a surpresa da mulher - Eu conheci a null fora da escola e só depois descobri que ela era a mãe da null , eu nem sabia se daria em alguma coisa e não quis te preocupar à toa.
- Eu sei, null, mas de qualquer forma, além de envolver uma mãe da escola, queria estar preparada para o dia que meu filho fosse falar de outra mulher com carinho, além de mim. – confessou, fazendo o jogador a encarar surpreso. - Você já pensou como vai se sentir quando um homem começar a fazer parte da vida dele como padrasto?
- Você tem razão, eu deveria pelo menos ter contado que tinha conhecido alguém, pra te preparar. Sei que o Jr. também é seu filho e você tem todo o direito de querer saber mais sobre a pessoa que estará presente na vida dele. - suspirou fundo - O que tenho com null é sério, eu não me sinto assim há muito tempo, não confiaria nosso filho se não planejasse levar esse relacionamento para frente, ela é uma mulher incrível e uma mãe maravilhosa.
- Tudo bem, eu só a conheço de vista, mas ela me parece ser uma boa pessoa. Só me mantém informada, ok?
- Não se preocupa, Vic, você é a melhor mãe que ele poderia ter, ele te ama. A null é só a Tia null.
💙
Desde que null e null Jr. haviam pego os dois aos beijos no sofá da casa de null, as coisas pareciam mais transparentes entre o casal. O jogador se sentia mais à vontade para pegar na mão de null ou então beijá-la rapidamente quando estavam em público. Os próprios colegas de time estavam curiosos em saber quem era a mulher misteriosa que o fazia sorrir feito tonto quando recebia uma nova foto ou mensagem. A verdade era que sorria, pois null parecia confiar cada vez mais nele e pouco a pouco aprendia mais da mulher que havia mexido com ele, como há muito tempo não acontecia.
Quando Victoria apareceu para conversar sobre null, se viu nervoso, para ele era importante que a mãe de seu filho gostasse da mulher por quem estava se apaixonando. null sabia que ainda tinham um longo percurso a correr, não sabia quase nada do passado de null, mas estava disposto a lutar pelos dois.
null terminava de se arrumar com um sorriso leve no rosto, adorava quando null tinha os domingos livres para que pudessem se ver, sem hora para ir embora. Já tinham combinado de se encontrar no parque próximo à sua casa e null terminava de colocar o tênis.
- Filha, tem certeza que quer colocar all star com esse vestido? Não prefere uma sandália? - perguntou vendo a menina colocar a meia toda desajeitada.
- Tenho, mama, fica mais legal e ainda dá pra jogar bola com o tio null. Você sabia que ele é jogador de futebol, mama?
- Eu sabia sim, princesa, outro dia quando você já tinha ido dormir eu vi um jogo dele na TV, ele é muito bom.
- Eu também quero ver. - pediu, fazendo um biquinho.
- Por que a gente não pergunta pra ele hoje quando vai ter algum jogo, de repente podemos assisti-lo no estádio, o que você acha?
- Ebaaaaa!
- Vou entender isso como um sim. - sorriu terminando de amarrar o cadarço da menina.
Mãe e filha faziam o já conhecido caminho para o parque. null perguntou se ela queria que ele as buscasse, mas era literalmente duas quadras de distância de sua casa e preferia não incomodá-lo. As coisas entre os dois pareciam estar cada dia melhores e a cada tempo que tinham a sós, ela se abria mais e mais com ele, mas ainda não tinha coragem o suficiente para lhe contar tudo e, levá-lo à sua casa, era abrir uma ferida para a qual ainda não estava preparada. Adorava a forma que null se importava com ela, tivera aquilo por um bom tempo com o pai de null e acordar e saber que teria alguma mensagem a esperando, a fazia se sentir com esperança. Algo que havia morrido com ela quando ainda estava grávida de sua princesa.
- Vocês ficam mais lindas a cada dia, não é possível. - o jogador disse quando as duas se aproximaram. Com um grande gesto, null entregou um algodão doce para null , que causou o exato efeito que esperava, um abraço apertado da pequena.
- Fizemos questão de nos arrumar para passar o dia com vocês. - disse passando a mão na barba do homem, o puxando para um beijo rápido. - Só acho que o null filho ter vindo vestido de null pai não vai ajudar com a nossa tentativa de anonimato. - disse sorrindo ao ver o menino com o uniforme do time do jogador, ocupado demais em terminar seu algodão doce.
- Eu tentei - disse dando de ombros - Chorou quinze minutos porque queria usar essa roupa.
- Vendo ele desse jeito, lembrei que temos um pedido para fazer a você… E espero que tudo bem. - null estava com um pouco de vergonha de pedir algo para null, mesmo que estivessem "não-oficialmente" juntos.
- Pode falar - o homem perguntou curioso, enquanto roubava um pedaço do algodão doce do filho, logo recebendo um olhar de desagrado do mesmo.
- Então, eu e a null estávamos conversando hoje sobre o quão bom jogador você é - null não pôde evitar rir quando o homem fez uma cara de convencido - E ela não ficou muito feliz quando disse que já tinha te visto jogar sem ela. Daí pensei sobre o quão legal seria se nós pudéssemos assistir a um jogo seu…
- Você tá falando sério? - null tinha o maior sorriso de alegria no rosto, há tempos queria convidá-las, mas tinha medo da resposta.
- Se não for um incômodo, claro.
- null, eu ficaria muito feliz de jogar sabendo que as duas estarão lá me assistindo. Já vou pedir os ingressos e reservar o box para acomodar vocês no melhor lugar.
- Você é demais! - a mulher abraçou e deu um beijo rápido em null, ainda tinha dificuldade em se expor daquela forma.
- Agora que eu marco cinco gols. - disse ainda mais metido, rindo da careta que null lhe devolveu.
- Ei, o que acham de brincar de se esconder? Eu e o null contamos e esperamos vocês se esconderem para achar vocês?
O casal observou as duas crianças, que tinham o rosto todo sujo de algodão doce sorrirem e levantarem animadas para brincar. Cuidando para não perdê-los de vista, null e null esperaram eles se esconderem para começar a procurá-los.
- Realmente precisamos ensinar eles a serem um pouquinho mais discretos. - o jogador disse rindo, porque assim que anunciaram que começariam a procurá-los, as crianças começaram a rir alto em seus "esconderijos".
- null, não fala assim - null se fingiu de brava - Eles só têm três anos de idade… E não é como se todo mundo tivesse esse seu tamanho, que em qualquer buraco se esconde. - finalizou abrindo o sorriso ao ver o jogador a olhar chocado.
- Sério? Mal assumimos um relacionamento e você já tá fazendo piada sobre meu tamanho?
- Desculpa, não consegui resistir. - confessou, recebendo um beijo do jogador - Agora vamos, temos que fingir procurar duas crianças.
null e null também se levantaram e foram na direção onde null Jr. havia se escondido, já que ele na verdade estava doido para ajudar a encontrar null . Após disfarçarem um pouco, fingindo que não estavam conseguindo achá-lo, os dois o "encontraram" e o menino gargalhou alto ao ser atacado por cócegas.
Os três foram juntos procurar por null , mas quando chegaram perto de onde ela estava, null sentiu seu coração parar ao ver que a menina não estava mais ali.
- null, ela não tá aqui. - disse já sentindo o pânico tomar conta de si.
- Calma, ela estava aqui um segundo atrás, pode ter mudado de lugar. Vamos achá-la. - tentou acalmar a mulher, que agora já estava com os olhos marejados.
- Eu sou uma irresponsável, quem deixa a filha de três anos sozinha por mais de um minuto em um parque?! - exclamou olhando por todo o local rapidamente, para ver se conseguia encontrar sua princesa.
- null, você não é uma irresponsável, apenas se distraiu, ela estava aqui segundos atrás. Vamos procurar a null e tenho certeza que vamos achá-la, só preciso que você mantenha a calma, ok? - null sentia seu coração bater rápido, mas sabia que em nada se comparava com o que null deveria estar sentindo, por isso se manteve calmo, para não piorar ainda mais as coisas. - Tenho certeza que ela está bem, vou com o Junior procurar por esse lado e você procura por aqui. - viu a mulher assentir e se dirigir apressada aos arbustos que tinham no local.
- Papai, tá tudo bem? - o menino perguntou quando o homem o pegou no colo.
- A tia null tá nervosa porque não conseguimos achar a null , mas vai ficar tudo bem, ela só deve ter se escondido num lugar bem difícil - notou que o filho estava assustado com o que tinha acontecido e logo tratou de o acalmar.
- Mas vamos achar ela né, papai?
- Claro que vamos, meu amor, claro que vamos. - disse em voz alta, tentando convencer a si mesmo.
Após poucos minutos procurando entre as árvores e os arbustos floridos, null achou a menina parada em frente a um enorme arbusto de flores, poucos metros de onde tinham a visto pela última vez. Por conta da altura dos arbustos e caminhos que as flores faziam, comparado com o tamanho de null , entendeu como a perderam em questão de segundos.
null logo tratou de chamar null, que estava um pouco mais distante e pai e filho seguiram em direção à pequena. Foi só quando chegaram perto de null , que null notou que uma senhora simpática estava falando com a menina.
Quando null chegou e viu quem era a senhora que estava com sua filha, sentiu seu mundo cair. O que ela estava fazendo ali?
- null ! - chamou a menina, com lágrimas nos olhos - Nunca mais faça isso, filha, já falei pra nunca ir pra longe da mamãe e muito menos falar com estranhos. - disse primeiro verificando que estava tudo bem com a menina e voltou seu olhar frio para a mulher, que se levantava.
- null… - a mulher tentou dizer em vão, tão nervosa quanto a outra.
- Nunca mais chegue perto da minha filha. - gritou ao pegar null no colo, para o espanto de null.
- Calma, null, ela está bem, foi só um susto - null encarava a mulher assustado, null parecia que ia explodir, tamanho o nervosismo dela. - Me desculpe. - ele disse para a senhora que parecia chorar.
- Eu vou embora, eu que me desculpo, não deveria... - a senhora disse abatida e olhou para null uma última vez, antes de dar as costas.
- null… - null procurou pelos olhos da mulher, tentando entender o que tinha acontecido ali. - Ela só estava ajudando.
- Não estava. - disse não conseguindo mais segurar as lágrimas, ao abraçar ainda mais forte sua filha, que estava assustada com tudo que tinha acontecido. - Essa mulher... Ela… Ela era minha mãe.
- O quê?! - null voltou seu olhar para onde a outra estava segundos atrás e finalmente tudo pareceu se encaixar - Ah, null. - foi a única coisa que ele disse, antes de abraçá-la com força da forma que deu, já que estava com seu filho no braço.
As crianças estavam ocupadas jogando no iPad de null, enquanto ele tentava acalmar null, ela não tirava os olhos da filha e ele entendia completamente o que ela estava sentindo.
- Mama, você desculpa eu? Eu vi uma boboleta e quis mostrar ela pra você.
- Princesa, a mamãe achou que tinha te perdido pra sempre, lembra o que sempre te falo? Nós podemos ir onde você quiser, sempre, só me avisa antes.
- Deculpa, mama, eu fiz sem querer.
- Eu sei que foi, meu amor. - null abraçou a menina com força. - Vamos pra casa? - disse para todos, já se levantando.
- null, eu não quero te deixar sozinha.
- Eu não quero ficar sozinha. - confessou olhando o homem e o que viu a fez querer sorrir, um olhar que ela há muito não via.
- Dorme lá em casa vocês duas?
- Tem certeza?
- Absoluta, vamos pra sua casa e você pega o que precisar e seguimos pra minha.
- Não! - a mulher disse rápido demais - Eu vou, você pode ficar com a null ? Eu te mando uma mensagem com o endereço certinho e você me busca com o carro?
- null…
- Eu preciso ficar sozinha um pouco. - pediu, vendo o homem assentir - Princesa, a mama vai fazer uma mala pra irmos pra casa do tio null, eu vou andando e você fica com ele, tá? Não larga da mão dele.
- Tá bom, mama.
null se via sem chão, ainda estava com o coração acelerado com o breve sumiço de null , nunca tinha passado por algo igual e os breves minutos que perderam o contato visual com a menina foram o suficiente para ele perceber o quanto já estava apegado a pequena.
O caminho para sua casa foi silencioso, as crianças exaustas dormiam e null estava presa em seus pensamentos, mas mesmo assim ele sorria, porque durante todo o caminho suas mãos foram entrelaçadas.
Naquela noite, quando foi se deitar, null se deparou com null dormindo abraçada a null e null Jr., um de cada lado. Ali ele teve a certeza que só queria três coisas no mundo e elas estavam logo ali, à sua frente.

null💋: Minha bailarina quis se arrumar sozinha, não está uma princesa? 😻💞

null⚽: Com uma mãe dessa 😻😻😻. Mordia as duas 💙
null⚽: Queria estar aí com vocês 😿…me manda o vídeo da apresentação da Super null , prometi que veria.
null sorriu, guardando o celular no bolso após a conversa com null, sentia falta da presença dele. Viu o momento que Victoria entrou com a mãe do jogador e sentiu-se nervosa, mesmo sabendo que não se conheceriam, queria causar uma boa impressão. Riu de sua própria estupidez e decidiu procurar um lugar para sentar, antes que o local lotasse.
null Jr. tinha feito uma apresentação com todos os meninos da classe vestidos de animais selvagens, que fez com que null se emocionasse, o pequeno estava adorável em sua fantasia e acenava para a mãe e avó o tempo todo. Tirou algumas fotos para mostrar para null, mesmo sabendo que ele provavelmente já estava sendo inundado por elas. Mas foi quando null entrou no palco, que a mulher não conseguiu mais conter as lágrimas, sua pequena estava virando uma mocinha e aquilo lhe partia o coração, na mesma proporção que a enchia de alegria.
Ver sua filha feliz e saudável era a única coisa que lhe importava na vida e o sorriso que null manteve por toda a apresentação foi mais do que suficiente para encher o peito de null de alegria. Teve a certeza que estava fazendo um bom trabalho.
Ao final de todas as apresentações, houve uma pequena confraternização no fundo do ginásio da escola, onde as crianças podiam se encher de pipoca e doces. null corria com algumas das outras crianças quando null se assustou ao sentir algo agarrar suas pernas.
- Tia null, você viu eu? - a mulher abriu um sorriso ao ver o pequeno tigre a encarar com o sorriso mais sapeca do mundo.
- Claro que vi, príncipe - ela se ajoelhou para ficar da altura do menino - Fiquei morrendo de medo quando você fez o barulho do tigre, você pode me mostrar como é?
- Roaaar - o menino rugiu fazendo gestos com a mão e null, apesar de rir internamente, fingiu estar com medo. - Meu Deus! Achei que tinha um tigre aqui de verdade agora. – falou, tirando uma gargalhada do menino.
- Não precisa ficar com medo, fui só eu, tia. - explicou de forma tão adorável, que null acabou o puxando para um abraço.
- Júnior, você saiu correndo para longe da vovó sem avisar.
- Deculpa, abuelita, vim falar com a tia null e a null .
- Ah, finalmente vou conhecer a famosa null - a senhora de aparência jovem se aproximou de null, estendendo a mão. - Prazer, null...Tia null. - comentou fazendo com que a mulher abrisse um sorriso. - null , vem aqui com a mamãe. - pediu e Jenny, mãe de null, se impressionou quando viu a garotinha prontamente a atender.
- null , essa é minha abuelita. - disse todo atrapalhado pegando na mão da menina, que ficou um pouco tímida.
- Ah, você estava linda em cima do palco, a bailarina mais bonita que já vi. - a mulher disse, tirando um sorriso de null - Vocês já querem sair correndo para brincar mais. - constatou ao ver que não tinha mais a atenção das crianças.
- Siiii, podemos, mama?
- Podem, mas só mais um pouquinho, já temos que ir embora, ok? - falou em vão, já que os dois já tinham saído correndo, fazendo as duas se olharem e darem risada.
- Sua filha é linda e um encanto. O null Jr. tem falado muito dela e de você ultimamente. Ele me contou de uma caça ao tesouro que fizeram no parque?
- Ah, os dois pegaram uma amizade forte recentemente. - disse um pouco incerta do que falar. - E eu acabei convidando ele e o null para essa brincadeira que faço aos finais de semana com a null .
- O pai da null também não pôde vir? - a morena perguntou, curiosa.
- Somos só nós duas mesmo. - null disse simplesmente, encarando o chão por um momento.
- Desculpe, eu não quis…
- Tá tudo bem. - assegurou para a mais velha com um sorriso - Você não tinha como saber.
- Bom, eu preciso ir, foi um prazer conhecer você e a null .
- Igualmente. - null sorriu, observando a mais velha chamar o menino e se aproximar de Victoria.
null: Não sei do que você está falando 😝 O null realmente é amigo da null .
Alguns minutos depois, Jenny gargalhou ao receber uma nova mensagem do filho.
null: ...o que você achou da null? 🙈
- O que ela falou? - a mulher perguntou curiosa, levantando o rosto para encarar o jogador, que não resistiu e lhe deu um beijo, que fora prontamente retribuído.
- Que você e sua filha são lindas, mas isso eu já sabia. - sorriu ao ver a careta que a mulher fez. - E que entendeu essa "amizade" da null com o neto.
- Ai meu Deus, ela sabe?
- Suspeita, não confirmei, quis deixar ela um pouco curiosa. - deu de ombros - Ela achou a null bastante educada e isso com certeza é um ponto ao seu favor.
- Que vergonha!
- Não precisa disso. - o jogador disse, apertando a mulher ainda mais para si.
- Eu vi seu jogo. - null soltou com um sorriso, sabendo o que viria a seguir.
- Mentira?! - null se movimentou no sofá, fazendo com que ela risse e se sentasse para observá-lo - O que achou?
- Que seu time tá cheio de jogador gato. - falou séria, vendo o sorriso do homem à sua frente se fechar. - Eu tô brincando, bobo, quer dizer, não estou, tá cheio de homem lindo mesmo, mas uau, você foi muito bem, null, estou oficialmente impressionada. Você é muito mais do que um rostinho bonito mesmo. Te vi correr por todo o campo e quando o jogador do outro time te derrubou... Nunca vi alguém levantar tão rápido e continuar a jogada como se nada tivesse acontecido.
- Não é à toa que me chamam de mágico. - o homem abriu um sorriso metido tão grande, que foi impossível não contagiar a mulher.
null não conseguiu conter sua alegria, vivia pedindo para que null assistisse a um de seus jogos, não sabia o por que, mas queria que ela o visse fazendo o que mais amava. Que ela soubesse que apesar de ser jogador de futebol, ele era muito bom no que fazia. Nunca imaginou que ela finalmente assistiria a uma partida e ficou feliz que foi em uma que ele fora titular, e mais, que ele tinha realmente se destacado com sua performance. A opinião de null importava cada vez mais e mesmo percebendo que ela não sabia muito bem quais termos usar, conseguiu explicar direitinho o que tinha achado.
Desde que sua mãe havia conhecido null, ele parecia ter ganho um ânimo a mais para tentar fazer as coisas darem certo e saber que ela também parecia disposta a isso, o fazia feliz.
null tinha ido para a casa de null poucas horas antes da saída das crianças da escola, Cora havia a liberado mais cedo e prontamente ligou para o jogador para saber se ele estava livre, não era sempre que conseguiam conciliar os horários e aquela era a primeira vez que ficavam juntos três vezes numa mesma semana.
O mais assustador nisso tudo, era que a saudade que sentiu de null era ainda maior do que antes, mesmo tendo o visto no dia anterior. Isso a assustou, mas ao mesmo tempo a tranquilizou, o jogador parecia ser realmente diferente dos homens que tinha conhecido e se pegava fazendo planos para as semanas seguintes de forma a conciliar com os dias em que null estivesse livre.
- Tudo bem, guapo? - perguntou observando o rosto do homem à sua frente.
- Tudo sim, eu tenho um convite! O que acha de ir lá pra casa assistir um filme?
- Assistir um filme? Você já foi melhor nisso, null. - direcionou ao homem um sorriso malicioso, soltando uma gargalhada ao reparar que o mesmo havia corado.
- Falando sério, tá livre agora? Vamos lá para casa com as crianças? Eu tô com saudade - pediu de um jeito tão fofo e atraente, que fez null se derreter.
- Vamos sim! - respondeu saindo do carro, quando ouviu o sinal que indicava o fim das aulas para os pequenos - Espero que não seja Frozen mais uma vez.
- Ou Toy Story. - os dois riram e null colocou as mãos no bolso para conter sua vontade de segurar na mão da mulher.
Enquanto esperava null sair do prédio junto com null, percebeu que Dulce a encarava e assim que a outra recebeu sua atenção, fez um sinal de positivo com o dedo, indicando que aprovava a companhia do homem. null, rindo, pediu licença ao jogador, avisando que já voltava e logo caminhou em direção a mulher.
- Dá pra ser um pouco mais discreta? Vou começar a ficar envergonhada.
- Desculpa, só não consigo disfarçar minha empolgação - Dulce riu, olhando carinhosamente para a mais nova - Eu sei que o null é um cara legal, tenho certeza que ele só fará bem a você, além de ser um gato. Ah se eu fosse mais nova!
- É mesmo, não? Mas... Estamos indo devagar, sabe? Ainda não é tão fácil para mim.
- Querida, vá no seu tempo, não deixe homem nenhum ou ninguém apressar você. - tocou o braço de null gentilmente - Agora mudando de assunto, estamos pensando em reunir todas as mães em uma sexta feira à noite. Discutir sobre dias letivos e atividades extras para os pequenos, além de, claro, degustar um vinho sem nenhuma criança pedindo para ir ao banheiro. - null riu quando a mais velha deu uma piscadinha sapeca.
- Eu acho ótimo, Dulce! Me envia uma mensagem sobre o horário, que vou fazer o máximo que der para ir!
- Pode deixar, e vai lá que tem alguém que não tira os olhos de você - a mais velha riu e null voltou para onde tinha deixado null, que a encarava não tão discretamente.
- null ! - null repreendeu a filha e logo escutou a risada de null.
- Temos sim, Super-null , - bagunçou o cabelo da menina com a mão - Onde já se viu filme sem pipoca? - disse tirando um sorriso da cara da menina - Por que você e o null Jr. não esperam aqui, enquanto nós dois fazemos a pipoca?
Após acomodarem as crianças na sala, o casal caminhou em direção à cozinha, começando a preparar o lanche para os pequenos, sempre de olho nos dois para que não fizessem nada errado ou se machucassem.
- Peço desculpas pela null , às vezes ela pode ser um pouquinho indiscreta.
- Você tá brincando? Gosto quando ela interage assim comigo, parece que estamos mais afeiçoados, confesso que tinha ciúmes do meu filho te chamando de Tia null, agora eu também sou o Tio null. - disse todo orgulhoso e null soltou uma gargalhada gostosa que null não se aguentou e a prensou na bancada, mordendo o próprio lábio. - Você me deixa louco.
- As crianças estão ali, null. - null disse preocupada, mas não negou o beijo rápido que trocaram.
- Você não precisa se preocupar nem um pouquinho, null é uma criança muito educada. Aliás, eu até aceitaria umas dicas porque tem dias que nem Deus me ajuda com aquele projeto de gente. Tão pequeno, mas tão cheio de opinião.
- null!! - a mulher exclamou e riu em seguida, sendo surpreendida por mais um beijo do jogador, mas esse teve fim em questão de segundos, ao escutarem gritinhos e expressões assustadas.
- Eca, papa!
- Que nojo, mama, você tava beijando o tio null. Ele tem barba, pinica tudo! - null trocou um olhar com o homem à sua frente, sentindo as bochechas pegarem fogo.
O apito do microondas informando que a pipoca estava pronta acabou por salvar os dois adultos, já que distraiu as crianças do momento constrangedor por tempo o suficiente para que null voltasse a ouvir seu coração bater. Sem nada dizer, os dois terminaram de preparar os baldes de pipoca e null carregou a bandeja com as bebidas e acabaram por ficar em silêncio durante todo o filme, presos em seus próprios pensamentos com o que tinha acabado de acontecer.
Assim que os créditos apareceram na televisão, null e null trocaram um olhar cúmplice e preocupado, sabendo que o momento da conversa havia, enfim, chegado.
- Princesa, null Jr., vocês podem nos escutar por um minutinho? Precisamos conversar.
- Eu não fiz nada papai, juro!
- Eu sei que não. Não é bronca. - o homem riu do pequeno desespero do filho - Vocês sabem que eu e a tia null ultimamente viramos muito amigos.
- Igual eu e o null, mama.
- Isso, princesa, igual vocês dois, mas de uma forma um pouquinho diferente.
- Amigos que gostam muito da presença um do outro. - null disse olhando null, tentando deixar bem claro o quanto gostava da presença dela.
- Quando dois adultos se gostam, eles demonstram diferente do que vocês crianças.
- Com beijo na boca! Ew! - null interrompeu, fazendo os adultos rirem da inocência e pureza vinda dos dois.
- Mas a gente só faz isso quando gostamos muito de outra pessoa e só dessa pessoa, não é qualquer um que beijamos, entende?
- O papai só beija a Tia null e a… - null parou no meio da conversa, fazendo null erguer a sobrancelha.
- A Tia null também só beija o Tio null. - respondeu para as crianças, mas com a garganta apertada, morrendo de vontade de olhar para o homem ao seu lado, que apertou sua mão em resposta, aliviado.
- Tão namorando? - null Jr. perguntou, fazendo os dois se entreolharem assustados.
- Não, meus amores. - null falou tão rápido que perdeu o olhar que null a lançou. - Estamos, por enquanto, só saindo juntos, mas q...
- Papai e tia null tão namorando! - as duas crianças começaram a rir e pular no sofá, ignorando completamente a mulher, soltando corinhos de “tá namorando” em meio a gargalhadas.
- Bom, acho que foi melhor do que esperamos, certo? - null disse aliviado pela conversa, mas um pouco chateado por null desmentir rapidamente um possível namoro.
- Muito. - ela respondeu, abraçando null e os dois acomodaram-se no sofá observando as crianças.
null estava aflita, não imaginou que seria justo naquele dia que sua filha a veria com um homem pela primeira vez na vida, sentiu-se acuada, mas ao olhar nos olhos de null, percebeu que aquilo era o certo, que os dois estavam construindo algo aos poucos, mas tão bonito, que não tinha necessidade de ter medo. O jogador parecia realmente gostar dela na mesma intensidade que ela gostava dele, e talvez ele não fosse embora, não a deixaria sozinha, como Carlos havia feito.
null estava feliz pelo que tinha acabado de acontecer, sabia que era mais um pequeno passo no que gostaria de ter com a mulher, mesmo que chateado com sua resposta. Mas enquanto pensava no assunto, percebeu que nunca tinha deixado claro para null que o que sentia por ela era sério e, sabendo do pouco que sabia da vida da mulher, entendeu que ela precisava se sentir segura o suficiente para se abrir. E foi ali, então, que o jogador começou a pensar em como a pediria em namoro.
- Não tem poblema, mama, a tia null pode ficar comigo também!
- Tia null? - a mulher perguntou, curiosa, conhecia todas as mães dos amiguinhos de null e não lembrava de nenhuma null.
- A mãe da minha amiga, null .
- Ah, a null! - Victoria assentiu em entendimento, não sabia que a mulher era chamada de null e muito menos que o filho a chamava assim.
- Isso, mama, a namorada do papa!
Victoria quase freou o carro, tamanha a surpresa da notícia. Não por ciúmes de saber que o pai de seu filho estava com alguém, mas sim por ter sido pega completamente despreparada com a naturalidade do filho ao falar sobre o assunto, sinal de que aquilo não era algo novo.
Após deixar o pequeno na escola, a mulher dirigiu em direção à casa de null.
- Podemos conversar? - perguntou assim que o homem abriu a porta de casa.
- Tenho treino daqui uma hora, tá tudo bem?- deu espaço para a mulher adentrar o local.
- Na verdade, não. - se virou para null, que a encarou preocupado - O Jr. me contou sobre a tia null… Sua namorada. E antes de qualquer coisa, sei que o que você faz da sua vida particular não é da minha conta, mas a partir do momento em que envolve meu filho eu preciso saber mais sobre o assunto e se posso ficar tranquila. - o homem a encarou surpreso, achava que Victoria iria passar um sermão por ter dado doce para o filho antes de jantar.
Não que a mulher não estivesse certa, ele realmente deveria ter conversado com ela quando as coisas começaram a ficar sérias entre ele e null, mas a verdade é que por muitas vezes nem ele mesmo sabia o quão firme estavam. Foi só depois de serem pegos pelos filhos se beijando e ter a confirmação que, assim como ele, null não estava com mais ninguém, que percebeu que finalmente estavam na mesma página.
- Vic, entendo sua preocupação, eu devia ter te procurado antes, mas a verdade é que não estamos namorando, ainda. As crianças se precipitaram um pouco – acrescentou, para a surpresa da mulher - Eu conheci a null fora da escola e só depois descobri que ela era a mãe da null , eu nem sabia se daria em alguma coisa e não quis te preocupar à toa.
- Eu sei, null, mas de qualquer forma, além de envolver uma mãe da escola, queria estar preparada para o dia que meu filho fosse falar de outra mulher com carinho, além de mim. – confessou, fazendo o jogador a encarar surpreso. - Você já pensou como vai se sentir quando um homem começar a fazer parte da vida dele como padrasto?
- Você tem razão, eu deveria pelo menos ter contado que tinha conhecido alguém, pra te preparar. Sei que o Jr. também é seu filho e você tem todo o direito de querer saber mais sobre a pessoa que estará presente na vida dele. - suspirou fundo - O que tenho com null é sério, eu não me sinto assim há muito tempo, não confiaria nosso filho se não planejasse levar esse relacionamento para frente, ela é uma mulher incrível e uma mãe maravilhosa.
- Tudo bem, eu só a conheço de vista, mas ela me parece ser uma boa pessoa. Só me mantém informada, ok?
- Não se preocupa, Vic, você é a melhor mãe que ele poderia ter, ele te ama. A null é só a Tia null.
Quando Victoria apareceu para conversar sobre null, se viu nervoso, para ele era importante que a mãe de seu filho gostasse da mulher por quem estava se apaixonando. null sabia que ainda tinham um longo percurso a correr, não sabia quase nada do passado de null, mas estava disposto a lutar pelos dois.
null terminava de se arrumar com um sorriso leve no rosto, adorava quando null tinha os domingos livres para que pudessem se ver, sem hora para ir embora. Já tinham combinado de se encontrar no parque próximo à sua casa e null terminava de colocar o tênis.
- Filha, tem certeza que quer colocar all star com esse vestido? Não prefere uma sandália? - perguntou vendo a menina colocar a meia toda desajeitada.
- Tenho, mama, fica mais legal e ainda dá pra jogar bola com o tio null. Você sabia que ele é jogador de futebol, mama?
- Eu sabia sim, princesa, outro dia quando você já tinha ido dormir eu vi um jogo dele na TV, ele é muito bom.
- Eu também quero ver. - pediu, fazendo um biquinho.
- Por que a gente não pergunta pra ele hoje quando vai ter algum jogo, de repente podemos assisti-lo no estádio, o que você acha?
- Ebaaaaa!
- Vou entender isso como um sim. - sorriu terminando de amarrar o cadarço da menina.
Mãe e filha faziam o já conhecido caminho para o parque. null perguntou se ela queria que ele as buscasse, mas era literalmente duas quadras de distância de sua casa e preferia não incomodá-lo. As coisas entre os dois pareciam estar cada dia melhores e a cada tempo que tinham a sós, ela se abria mais e mais com ele, mas ainda não tinha coragem o suficiente para lhe contar tudo e, levá-lo à sua casa, era abrir uma ferida para a qual ainda não estava preparada. Adorava a forma que null se importava com ela, tivera aquilo por um bom tempo com o pai de null e acordar e saber que teria alguma mensagem a esperando, a fazia se sentir com esperança. Algo que havia morrido com ela quando ainda estava grávida de sua princesa.
- Vocês ficam mais lindas a cada dia, não é possível. - o jogador disse quando as duas se aproximaram. Com um grande gesto, null entregou um algodão doce para null , que causou o exato efeito que esperava, um abraço apertado da pequena.
- Fizemos questão de nos arrumar para passar o dia com vocês. - disse passando a mão na barba do homem, o puxando para um beijo rápido. - Só acho que o null filho ter vindo vestido de null pai não vai ajudar com a nossa tentativa de anonimato. - disse sorrindo ao ver o menino com o uniforme do time do jogador, ocupado demais em terminar seu algodão doce.
- Eu tentei - disse dando de ombros - Chorou quinze minutos porque queria usar essa roupa.
- Vendo ele desse jeito, lembrei que temos um pedido para fazer a você… E espero que tudo bem. - null estava com um pouco de vergonha de pedir algo para null, mesmo que estivessem "não-oficialmente" juntos.
- Pode falar - o homem perguntou curioso, enquanto roubava um pedaço do algodão doce do filho, logo recebendo um olhar de desagrado do mesmo.
- Então, eu e a null estávamos conversando hoje sobre o quão bom jogador você é - null não pôde evitar rir quando o homem fez uma cara de convencido - E ela não ficou muito feliz quando disse que já tinha te visto jogar sem ela. Daí pensei sobre o quão legal seria se nós pudéssemos assistir a um jogo seu…
- Você tá falando sério? - null tinha o maior sorriso de alegria no rosto, há tempos queria convidá-las, mas tinha medo da resposta.
- Se não for um incômodo, claro.
- null, eu ficaria muito feliz de jogar sabendo que as duas estarão lá me assistindo. Já vou pedir os ingressos e reservar o box para acomodar vocês no melhor lugar.
- Você é demais! - a mulher abraçou e deu um beijo rápido em null, ainda tinha dificuldade em se expor daquela forma.
- Agora que eu marco cinco gols. - disse ainda mais metido, rindo da careta que null lhe devolveu.
- Ei, o que acham de brincar de se esconder? Eu e o null contamos e esperamos vocês se esconderem para achar vocês?
O casal observou as duas crianças, que tinham o rosto todo sujo de algodão doce sorrirem e levantarem animadas para brincar. Cuidando para não perdê-los de vista, null e null esperaram eles se esconderem para começar a procurá-los.
- Realmente precisamos ensinar eles a serem um pouquinho mais discretos. - o jogador disse rindo, porque assim que anunciaram que começariam a procurá-los, as crianças começaram a rir alto em seus "esconderijos".
- null, não fala assim - null se fingiu de brava - Eles só têm três anos de idade… E não é como se todo mundo tivesse esse seu tamanho, que em qualquer buraco se esconde. - finalizou abrindo o sorriso ao ver o jogador a olhar chocado.
- Sério? Mal assumimos um relacionamento e você já tá fazendo piada sobre meu tamanho?
- Desculpa, não consegui resistir. - confessou, recebendo um beijo do jogador - Agora vamos, temos que fingir procurar duas crianças.
null e null também se levantaram e foram na direção onde null Jr. havia se escondido, já que ele na verdade estava doido para ajudar a encontrar null . Após disfarçarem um pouco, fingindo que não estavam conseguindo achá-lo, os dois o "encontraram" e o menino gargalhou alto ao ser atacado por cócegas.
Os três foram juntos procurar por null , mas quando chegaram perto de onde ela estava, null sentiu seu coração parar ao ver que a menina não estava mais ali.
- null, ela não tá aqui. - disse já sentindo o pânico tomar conta de si.
- Calma, ela estava aqui um segundo atrás, pode ter mudado de lugar. Vamos achá-la. - tentou acalmar a mulher, que agora já estava com os olhos marejados.
- Eu sou uma irresponsável, quem deixa a filha de três anos sozinha por mais de um minuto em um parque?! - exclamou olhando por todo o local rapidamente, para ver se conseguia encontrar sua princesa.
- null, você não é uma irresponsável, apenas se distraiu, ela estava aqui segundos atrás. Vamos procurar a null e tenho certeza que vamos achá-la, só preciso que você mantenha a calma, ok? - null sentia seu coração bater rápido, mas sabia que em nada se comparava com o que null deveria estar sentindo, por isso se manteve calmo, para não piorar ainda mais as coisas. - Tenho certeza que ela está bem, vou com o Junior procurar por esse lado e você procura por aqui. - viu a mulher assentir e se dirigir apressada aos arbustos que tinham no local.
- Papai, tá tudo bem? - o menino perguntou quando o homem o pegou no colo.
- A tia null tá nervosa porque não conseguimos achar a null , mas vai ficar tudo bem, ela só deve ter se escondido num lugar bem difícil - notou que o filho estava assustado com o que tinha acontecido e logo tratou de o acalmar.
- Mas vamos achar ela né, papai?
- Claro que vamos, meu amor, claro que vamos. - disse em voz alta, tentando convencer a si mesmo.
Após poucos minutos procurando entre as árvores e os arbustos floridos, null achou a menina parada em frente a um enorme arbusto de flores, poucos metros de onde tinham a visto pela última vez. Por conta da altura dos arbustos e caminhos que as flores faziam, comparado com o tamanho de null , entendeu como a perderam em questão de segundos.
null logo tratou de chamar null, que estava um pouco mais distante e pai e filho seguiram em direção à pequena. Foi só quando chegaram perto de null , que null notou que uma senhora simpática estava falando com a menina.
Quando null chegou e viu quem era a senhora que estava com sua filha, sentiu seu mundo cair. O que ela estava fazendo ali?
- null ! - chamou a menina, com lágrimas nos olhos - Nunca mais faça isso, filha, já falei pra nunca ir pra longe da mamãe e muito menos falar com estranhos. - disse primeiro verificando que estava tudo bem com a menina e voltou seu olhar frio para a mulher, que se levantava.
- null… - a mulher tentou dizer em vão, tão nervosa quanto a outra.
- Nunca mais chegue perto da minha filha. - gritou ao pegar null no colo, para o espanto de null.
- Calma, null, ela está bem, foi só um susto - null encarava a mulher assustado, null parecia que ia explodir, tamanho o nervosismo dela. - Me desculpe. - ele disse para a senhora que parecia chorar.
- Eu vou embora, eu que me desculpo, não deveria... - a senhora disse abatida e olhou para null uma última vez, antes de dar as costas.
- null… - null procurou pelos olhos da mulher, tentando entender o que tinha acontecido ali. - Ela só estava ajudando.
- Não estava. - disse não conseguindo mais segurar as lágrimas, ao abraçar ainda mais forte sua filha, que estava assustada com tudo que tinha acontecido. - Essa mulher... Ela… Ela era minha mãe.
- O quê?! - null voltou seu olhar para onde a outra estava segundos atrás e finalmente tudo pareceu se encaixar - Ah, null. - foi a única coisa que ele disse, antes de abraçá-la com força da forma que deu, já que estava com seu filho no braço.
As crianças estavam ocupadas jogando no iPad de null, enquanto ele tentava acalmar null, ela não tirava os olhos da filha e ele entendia completamente o que ela estava sentindo.
- Mama, você desculpa eu? Eu vi uma boboleta e quis mostrar ela pra você.
- Princesa, a mamãe achou que tinha te perdido pra sempre, lembra o que sempre te falo? Nós podemos ir onde você quiser, sempre, só me avisa antes.
- Deculpa, mama, eu fiz sem querer.
- Eu sei que foi, meu amor. - null abraçou a menina com força. - Vamos pra casa? - disse para todos, já se levantando.
- null, eu não quero te deixar sozinha.
- Eu não quero ficar sozinha. - confessou olhando o homem e o que viu a fez querer sorrir, um olhar que ela há muito não via.
- Dorme lá em casa vocês duas?
- Tem certeza?
- Absoluta, vamos pra sua casa e você pega o que precisar e seguimos pra minha.
- Não! - a mulher disse rápido demais - Eu vou, você pode ficar com a null ? Eu te mando uma mensagem com o endereço certinho e você me busca com o carro?
- null…
- Eu preciso ficar sozinha um pouco. - pediu, vendo o homem assentir - Princesa, a mama vai fazer uma mala pra irmos pra casa do tio null, eu vou andando e você fica com ele, tá? Não larga da mão dele.
- Tá bom, mama.
null se via sem chão, ainda estava com o coração acelerado com o breve sumiço de null , nunca tinha passado por algo igual e os breves minutos que perderam o contato visual com a menina foram o suficiente para ele perceber o quanto já estava apegado a pequena.
O caminho para sua casa foi silencioso, as crianças exaustas dormiam e null estava presa em seus pensamentos, mas mesmo assim ele sorria, porque durante todo o caminho suas mãos foram entrelaçadas.
Naquela noite, quando foi se deitar, null se deparou com null dormindo abraçada a null e null Jr., um de cada lado. Ali ele teve a certeza que só queria três coisas no mundo e elas estavam logo ali, à sua frente.
Capítulo 5
null estava apaixonada por null. Essa foi a primeira coisa que ela se deu conta assim que abriu os olhos e viu o jogador dormindo tranquilo com null em seu peito. As mãozinhas da menina estavam envoltas em seu pescoço e o jogador tinha os dois braços por cima dela, num abraço cheio de proteção. Um abraço que null também amava estar.
null Jr. parecia um mini furacão, o pequeno tinha se mexido a noite toda e agora se encontrava ao final da cama, dormindo todo espaçoso, fazendo a mulher rir.
Com cuidado para não acordar ninguém, se levantou e foi para o jardim da casa do jogador, adorava a vista que tinha de Madrid e precisava de um tempo só para si. Não via sua mãe desde a época em que ela havia lhe dado as costas e sequer imaginara que ela a estaria vigiando sem que ela ao menos notasse. Sabia que teria que falar com seu pai, mas no momento só queria silêncio. Há quanto tempo aquilo vinha acontecendo?
Sem saber quanto tempo havia se passado, null abriu um sorriso ao ouvir passos vindo em sua direção e voltou seu olhar para null, que usava apenas uma bermuda. Ele lhe deu um beijo na testa e colocou a babá eletrônica onde null pôde ver que os dois pequenos ainda estavam dormindo espalhados pela cama. null então se sentou por trás dela, a trazendo para perto de si e os dois ficaram em silêncio, abraçados, até a mulher não aguentar mais e desabar. O jogador sabia que null precisava daquilo e apenas apertou seu abraço com todo o carinho e amor que sentia e podia dar.
null sabia que tinha chegado a hora de se abrir com o homem, ele merecia saber sobre aquela parte de sua vida, e quando finalmente conseguiu segurar as lágrimas, contou como sua mãe havia lidado com o fato de ver a filha grávida tão nova, mesmo que na época ainda estivesse com Carlos, e a única coisa que a mais velha foi capaz de dizer, foi sugerir que a filha abortasse.
Se naquele dia já tinha achado a ideia absurda, agora sabia que nada a teria feito desistir de null . Ela era seu destino, seu final feliz e sem a sua princesa, não seria metade da mulher que havia se tornado.
null ouviu a tudo atento e perplexo. Sabia que tudo que tinha vivido até então o deram sua profissão e seu maior troféu, null Jr., mas naquele instante, pensou que gostaria de ter conhecido null antes, nem que fosse como amigo.
Poderia ter estado ao seu lado em todos os momentos em que ela precisou de alguém que apenas a apoiasse, sem julgar suas escolhas e decisões.
- Eu sei que por muito tempo tem sido só você lutando contra o mundo, null. Mas agora eu estou aqui e se você me permitir, eu quero ficar.
E null queria.
💙
null e Dulce chegaram juntas a escolinha, assim como todas as mães que tinham participado da pequena reunião que haviam feito naquela tarde. Há tempos que null não tinha um dia só de mãe, acordou naquela manhã com vontade de fofocar sobre a filha e logo enviou uma mensagem a amiga confirmando sua presença tardia. Tinha gostado tanto daquela tarde, que anotou mentalmente para voltar a participar dos encontros com mais frequência, sentia falta daquilo.
Enquanto checava seu celular, para ver se tinha alguma notificação sobre Ben, viu null aparecer em seu campo de visão. Ela mal conseguiu segurar o sorriso ao vê-lo, já que ele havia dito que naquele dia não poderiam se ver.
- Eu consegui sair da recuperação mais cedo que o previsto e resolvi fazer uma surpresa. – disse, sorrindo para null, após cumprimentá-la com um beijo no rosto. - Como foi a reunião ?
- Muito divertida! Elas são muito engraçadas, senti falta de sair com elas.
- Que bom, você merece sair mais, mesmo que eu te queira só pra mim. - disse brincalhão, segurando a mão dela por um segundo, enquanto observavam as crianças começarem a sair. - O que vocês vão fazer agora? Querem ir lá para casa?
- Hoje a gente tem aquela aulinha de pintura que achei para a null , mas amanhã já está confirmado. - ambos sorriram ao ver null e null correndo de mãos dadas em direção a eles. - Eu não consigo lidar com esses dois tão amigos, tem coisa mais gostosa? - null já estava com o celular em mãos tirando fotos do momento.
- Tem a mãe dela. - null disse baixinho, fazendo null arregalar os olhos. Coisa que o fez gargalhar.
- Eu te mando uma mensagem quando chegar em casa? – perguntou, na dúvida.
- Eu te aviso assim que o null dormir, assim podemos conversar um pouco.
- Certo, até mais. - despediu-se do homem apenas com um aceno, mas ambos, mais que tudo, gostariam de ter se beijado.
A cada dia que passava, null queria mais e mais poder fazer o que quisesse com null quando estavam em público, odiava ter que se segurar para não abraçar e beijar a mulher por quem estava apaixonado.
- Tchau, Tio null! - null soltou um gritinho quando ele mordeu sua bochecha - Eu gosto da sua barba. - ela disse, acariciando o rosto do homem, que sorriu com suas palavras.
null olhava as duas indo em direção a saída da escola, enquanto esperava o filho brincar mais um pouco no parquinho. Se aproximou da grade para ver o filho mais de perto e foi impossível não escutar a conversa que as duas mulheres á sua frente estavam tendo.
-... Mas ele não era casado? - ouviu uma sussurrar.
- Acho que não eram casados, mas já estão separados faz algum tempo. Eu tenho certeza que alguma coisa está acontecendo, vivem de conversinha. Ela não é nada boba.
- Ela é bem novinha, né? Sei que cria a filha sozinha, como será que consegue pagar a escola? Ou a menina tem bolsa?
- Pelo carro que ela dirige, provavelmente é bolsa… Ouvi por aí que ela é empregada.
Uma onda de raiva e nervosismo passou pelo corpo de null e antes mesmo de perceber, estava cortando as mulheres em defesa de null.
- Boa tarde. – disse, se segurando, e as duas mulheres se viraram assustadas e abriram um falso sorriso ao ver quem era. - Desculpe me intrometer, mas é que é impossível não ouvir, estando bem aqui. A null não tem bolsa, mas antes ter bolsa e um carro antigo, do que perder tempo fofocando sobre a vida dos outros. Dinheiro certamente não compra boa educação. - finalizou ao ver o filho vir em sua direção, dando um abraço nele. Antes de ir embora, virou-se em direção às duas, que o encaravam sem reação. - Espero que tenham uma ótima tarde.💙
null não era uma pessoa ciumenta, quando estava com Victoria tinha certeza dos sentimentos da mulher e agora com null não era diferente. Apesar de estar levando muito mais tempo do que ele poderia prever para que ela se abrisse por completo com ele, cada pequeno passo que davam, era como se tivesse vencido um jogo importante, tamanha a alegria que sentia quando null demonstrava que dia após dia confiava mais e mais nele.
Depois do dia em que ele viu a mãe dela, null passou a contar mais histórias sobre seus pais e como sua mãe sempre foi contra o relacionamento dela com o pai de null , por achar que ambos eram muito jovens para terem algo tão sério.
Tudo o fazia se sentir mais próximo da mulher, mas tudo de nada valia, quando sentia que ela o estava evitando.
- Você tá muito ocupada hoje? - o jogador perguntou assim que a mulher atendeu o celular.
- Nossa! Oi, null, tudo bem? Estou bem também, obrigada por perguntar. - riu fraco com o jeito do homem ao telefone.
- Deixa de graça, eu tô morrendo de saudade e quero ver você e a null . - foi impossível não abrir um sorriso a menção de sua filha. null sempre a incluía em suas conversas, o que a deixava ainda mais encantada.
- Eu também estou com saudade, mas hoje realmente não vai dar.
- Tô começando a achar que você está me ignorando. - falou um pouco chateado ao confirmar suas suspeitas. Há alguns dias que ela não estava agindo normalmente.
- Você sabe que não é isso…
- null, você anda esquivando de todos os meus convites, tá acontecendo alguma coisa? Vocês duas estão bem?
- Estamos sim, null, é que… - null ficou em silêncio por algum tempo e o único barulho que ele ouvia era sua respiração. - As coisas andam complicadas por aqui, bateram no meu carro e acabaram fugindo.
- Como assim? Quando foi isso? Vocês estão bem? Você já ligou pro seguro?
- Calma. - a mulher riu do desespero do outro - Não aconteceu nada com a gente, foi uns dias atrás, eu levei o Ben ao hospital para fazer alguns exames e quando voltamos a traseira do carro estava praticamente destruída. Não compensa ligar para o seguro, meu carro não vale muita coisa e mesmo que eles paguem o conserto, quando eu for renovar o preço vai subir e eu já mal consigo pagar dessa forma, imagina depois?
- E o que você vai fazer?
- Vou mandar arrumar, mas não sei quando. Preciso esperar receber, mas não sei se consigo pagar esse mês ainda. - disse um pouco tímida, odiava ter conversas do tipo com qualquer pessoa que fosse, ainda mais com o jogador.
- Eu pago pra você. - null disse simplesmente e null arregalou os olhos do outro lado da linha.
- De forma alguma, eu jamais pediria algo assim, null.
- Você não está pedindo, eu que estou oferecendo. - o homem riu, não ia custar nada ajudá-la.
- Eu não posso aceitar.
- null, é sério. Deixa eu te ajudar, pra mim não faz diferença e assim eu vou poder te ver mais rápido.
- Mas eu não quero isso! Não posso aceitar dinheiro seu, null, não me sinto confortável para isso e eu gostaria que você não insistisse mais.
- Tudo bem, não está mais aqui quem falou.
Apesar de chateado, null entendeu, null vinha há tanto tempo lutando sozinha contra o mundo que era difícil entender que às vezes o mundo tentava ajudá-la de volta. Decidiu não pressionar, de nada adiantaria, ele já a conhecia o suficiente para saber exatamente o que fazer.
💙
null💙: Já estou chegando, você está pronta ou quer que eu suba?
null encarou a mensagem e tomou um susto, o jogador estava muito adiantado. Ela ainda estava terminando de se arrumar e null terminava seu café.
null💋: Eu ainda não estou pronta. A null está terminando o café, mas se você esperar alguns minutos, eu já desço. Se você subir, não chegaremos na hora.
null tentava se convencer que não tinha nada demais em mais uma rejeição em suas tentativas de conhecer onde elas moravam. A sua única hipótese, era que o local era simples e null estava com vergonha dele. Não queria forçar uma situação que pudesse chatear a mulher, mas a verdade era que estava um pouco cansado com sua relutância em entender que ele estava ali a longo prazo.
Sem carro, null aceitou a oferta de null para buscar e levar null na escola, ele estava acordando ainda mais cedo que o normal para ajudá-la e assim ela podia ir direto para o trabalho, tranquila que sua princesa estaria bem e segura. Mas, naquele dia, ele havia pedido para deixá-la na casa de Ben, pois queria conversar.
- Me desculpe. - disse assim que entrou no banco do passageiro, após colocar null na cadeirinha de segurança. - Duas mulheres, sabe como é. Bom dia! - disse dando um beijo no homem, tirando gritinhos animados das crianças.
- Não tem problema. - ele sorriu, mais animado por poder passar um tempo maior com ela ao seu lado.
Os quatro foram conversando até a entrada da escolinha e os olhares que receberam de muitas mães ao vê-los chegando juntos fez os dois revirarem os olhos. Já a caminho da casa de Ben, o jogador começou.
- Eu queria conversar com você, mas antes de falar qualquer coisa, queria que me ouvisse primeiro. - pediu, segurando a mão dela que estava apoiada em sua perna.
- Tudo bem. - null sorriu com o jeito de null agir.
- Eu acho que você sabe isso, mas eu sou louco por você, null. Seu rosto, sua voz, essa boca que me faz querer te beijar a todo segundo que estamos juntos, seu corpo no meu. Mas ainda mais sua luta e perseverança depois de tudo que você passou. Seu amor e carinho pela null , a forma como você olha para o meu filho. Tudo que eu sei sobre você me encanta, eu sou e estou completamente apaixonado por você.
- null. - a mulher o encarou emocionada - Por que você está me dizendo essas coisas agora?
- Porque eu quero ter certeza que você sabe como eu me sinto. Que eu estou aqui com você, por você e pra você.
- Eu também adoro você, null. Eu não me sinto assim há tanto tempo. No começo eu tive medo que a gente não fosse dar certo, nossas vidas são tão diferentes, mas esses últimos quatro meses tem sido os mais felizes que tive em quatro anos. Eu sou apaixonada por você também, e muito.
- Então me deixa te ajudar? - o jogador pediu ao estacionar o carro em frente à grande casa de Ben e null entendeu onde ele queria chegar. - Deixa eu pagar o conserto do seu carro? Não por você, mas pela null , por nós?
- null, não é iss… - a mulher começou, ao tirar o cinto e se virar para ele, mas não conseguiu continuar com sua desculpa ensaiada ao ver aqueles olhos, que ela tanto amava, a encararem tristes. - Você realmente quer fazer isso, não? - suspirou, sabendo que aquela luta estava perdida.
- Só não mais do que te beijar. - ele respondeu, rindo, aproximando o rosto da mulher, que inclinou a cabeça para beijar o jogador. Eles podiam já ter trocado mil beijos, mas null sempre tinha a sensação que era o primeiro.
- Tudo bem, eu aceito. - o encarou derrotada - Mas com uma condição, eu quero te devolver o dinheiro, um pouco por mês que seja. Eu já me sinto mal o suficiente em aceitar, mas você tem razão, eu preciso do meu carro.
- Acho que temos um acordo. - null disse com um sorriso enorme no rosto, estendendo a mão a mulher para “fecharem o negócio”, mas quando ela esticou a sua, o jogador a puxou novamente para si. - Ah, eu não te avisei? Parte desse pagamento eu quero em beijos.
💙
null não sabia se tinha como se sentir mais feliz e orgulhosa do que naquele momento. null vestia um uniforme do null que null tinha pego do filho e a pequena estava naquele exato momento chutando a gol, junto com os filhos dos outros jogadores. null já tinha dito que havia dias que todos levavam seus pequenos para brincar com os pais e assim que ficou sabendo quando seria, avisou a null, que tirou o dia de folga.
null sorria a todo momento e escutava atenta às instruções que null e os outros jogadores davam e foi impossível que algumas lágrimas não escapassem dos olhos de null ao ver sua princesa se divertindo como nunca. null desde sempre tivera mais afinidades com meninos e acabou se interessando pelo que eles gostavam. Para null tanto fazia, contanto que pudesse continuar vendo aquele sorriso em seu rosto.
null tinha conseguido os ingressos e o box para que elas o fossem assistir e do início ao fim, tanto ela quanto sua filha mantiveram um sorriso no rosto. O jogador voava em campo, parecia ser zagueiro, meio campo e atacante, tudo ao mesmo tempo. Se pela TV já era possível ver seu talento, ao vivo era ainda mais emocionante. null se viu orgulhosa, como há tanto tempo não se sentia.
Seus sentimentos pelo jogador pareciam crescer a cada dia e ter null em sua vida já não lhe trazia medo, mas o exato contrário, segurança. Sabia que era questão de pouco tempo para que ela finalmente encontrasse o momento certo para que ele soubesse de tudo.
Naquela manhã, quando chegaram ao centro de treinamento null estava um pouco nervosa, não sabia muito bem como agir, mas assim que desceram do carro, o jogador segurou sua mão e fez questão de apresentá-la para todos seus colegas de equipe e funcionários do clube.
null a fez se sentir como se fosse parte de sua vida e ela percebeu que queria que ele sentisse o mesmo.
- Ei. - O jogador apareceu com o rosto preocupado e só então ela notou que algumas lágrimas caíam por seu rosto. - O que aconteceu?
- É bobeira de mãe. – falou, limpando o rosto rapidamente.
- Me conta então, sou pai.
- Quando eu vejo a null assim com seus amigos, com você, eu percebo a falta que um homem faz na vida dela. Eu sei que ela é feliz, mas me pergunto se ela não poderia ser mais feliz.
- null. - null a abraçou - A null é muito feliz, eu vejo isso nos olhos dela toda vez que te vê. Eu não sei por que o pai dela deixou vocês duas e eu sei que você sofreu com tudo isso, mas a verdade é que eu me sinto o cara mais sortudo desse mundo, porque todo seu sofrimento te trouxe pra mim e eu já não consigo ver minha vida longe de você e da null .
- Você é maravilhoso mesmo e ainda por cima um gato. - piscou divertida, dando um beijo nele. - Eu queria te fazer um convite. - disse um pouco apreensiva e null a encarou confuso.
- Diga.
- Você gostaria de conhecer o Ben?
- Mais do que tudo nesse mundo. - o jogador sorriu animado ao ver mais uma grande barreira ser quebrada entre eles.
💙
null corria saltitando até a porta que conhecia de cor, null riu ao ver a filha se atrapalhar com a maçaneta, mas logo a pequena entrava porta adentro gritando por Ben. Já ela estava um pouco nervosa, aquele encontro era muito importante, null iria finalmente conhecer a pessoa que esteve ao seu lado nos piores momentos de sua vida.
- Eu deveria estar nervoso assim? – null parou de andar ao escutar a pergunta, virando-se em direção a null. - Porque ele é tipo um segundo pai, certo? - a mulher sorriu ao notar o quão nervoso o jogador estava. Aquilo, por mais que pudesse parecer bobo, a confortou. Eles realmente estavam indo pelo caminho certo.
- Não precisa ficar, o Ben é um amor. Esse encontro é extremamente importante pra mim, mas eu não te traria aqui se não fosse algo que eu não quisesse. Você entende isso, certo?
- null, eu entendo completamente. É só que... se você não estiver pronta, podemos voltar outra hora.
- Já está querendo fugir, é? - a mulher colocou as mãos na cintura, rindo.
- Claro que não. No momento que entrarmos lá e o Ben ver o quão bobo fico perto de você, ele vai dar a bênção nesse relacionamento, eu tenho certeza.
- Benção você tem que conseguir de mim, jogador, de mim.
null riu carinhosa e após beijar null, virou-se novamente em direção à casa. Adentrou o lugar tão conhecido, repetindo mentalmente que tudo ocorreria bem. Sorriu ao chegar na sala e avistou o senhor sentado na cadeira de balanço com null , que não parava de falar com o mais velho, que sorria do jeito agitado da menina. Aproximou-se dos dois lentamente, abaixando-se para ficar na mesma altura que ele.
- Oi, Ben, como você está hoje? – sorriu ao sentir a mão do homem envolver a sua - Eu trouxe alguém para te apresentar, esse é o null, meu… meu…
- A null me falou muito sobre o senhor - o jogador resolveu salvar null e apertou a mão do mais velho - Pode me chamar de null. - disse cordialmente, se abaixando um pouco, para que Ben pudesse vê-lo melhor.
- E ela não falou quase nada sobre você.
null congelou no lugar, sem nem se lembrar como se respirava. null encarou Ben chocada, mas logo o senhor caiu na risada, fazendo todos rirem juntos e null respirar bastante aliviado.
- Imagina se eu já não ouvi falar do moço que anda deixando você toda distraída. – Ben soltou sem cerimônia, fazendo com que null quisesse se esconder de vergonha. null estufou o peito sem conseguir conter a felicidade que o envolveu ao ouvir as palavras do mais velho.
null se colocou ao lado de Ben, o ajudando a se levantar da cadeira de balanço. Quando ele se estabilizou sob os próprios pés, o senhor deu a mão a null, o cumprimentando.
- Não brinca com uma coisa dessas, se você não gostar de mim, ela vai me chutar assim que sairmos daqui. - brincou, vendo Ben e null se encararem, sorrindo um para o outro.
null se colocou do outro lado de Ben e ajudou null a levá-lo para o jardim, onde os quatro se sentaram e conversaram por um tempo, menos null , que logo estava ocupada demais correndo pelo local, parando aqui e ali para cheirar algumas flores. Enquanto conversavam, null reparou no olhar cheio de carinho que null tinha quando falava com Ben, o cuidado que tinha com ele era o mesmo que o jogador podia ver quando ela estava com null e null Jr. A mulher parecia ser a personificação da palavra amor e carinho e ele já não sabia se era possível admirá-la mais.
Entendia o quanto Ben era importante na vida da mulher e estava muito feliz de poder conhecê-lo, sabia que aquela visita significava algo extra na relação dos dois.
- Então você joga no null?
- Jogo sim, o senhor acompanha futebol?
- Se acompanho? Nasci e cresci em Barcelona, fui muitas vezes ao Camp Nou para assistir aos famosos El clásicos e ver o seu time perder para o meu. - Ben disse com um sorrisinho no rosto e null o encarou com os olhos arregalados.
Então Ben era um culé fanático? E null não o havia preparado para aquele momento? De repente todo o nervosismo que tinha desaparecido logo no começo se fez presente. Olhou para null e a viu rindo, sabia que ela tinha feito de propósito.
- null querida, pegue aquele álbum de fotos para mim. Quero mostrar ao null minha época de jogador e torcedor.
null se levantou rindo da cara que null fazia para ela e foi em direção a casa. Pegou o álbum de fotografias antigas que o homem guardava em seu antigo escritório e que sempre pedia para que ela o pegasse, para poder exibir o quanto tinha sido bonito em sua juventude.
Caminhou com calma de volta ao jardim, para dar uma chance aos dois de conversarem sem ela estar presente. Na volta, parou na porta e observou a cena, null já estava toda suja de grama, Ben contava a null sobre a época de ouro do futebol espanhol e como toda a rivalidade entre Barcelona e null tinha nascido diante de seus olhos. O mais novo ouvia a tudo com atenção, fazendo perguntas e sorrindo com as histórias incríveis do mais velho, sentindo seu coração ser preenchido por admiração, respeito e carinho. Poderia passar horas ouvindo as histórias que Ben tinha para contar.
null não conseguia conter o que sentia naquele momento. null era um homem incrível e ela percebeu o quanto era sortuda por tê-lo ao seu lado.
- Obrigada, obrigada, obrigada. - null dava beijos por todo o rosto do jogador, feliz pelo que tinha acabado de acontecer.
Ambos estavam na porta da casa de Ben, ela ficaria para cuidar dele com null e null voltaria para casa.
- Eu que agradeço, amei ouvir todas as histórias e poder conhecer um pouco mais de alguém que faz parte da sua vida há tanto tempo. Podia ao menos ter me dito que ele torcia pro Barcelona, não? - o jogador brincou fazendo cócegas na cintura da mulher.
- E perder a sua cara de medo? Jamais! - null brincou, passando as mãos pelo ombro do jogador. - Hoje foi muito especial.
- Foi sim. - concordou, dando um beijo em null, antes de tomar coragem. - null, nós estamos saindo há um tempo…
- Sim… - a mulher o encarou um pouco assustada com o que podia vir. - Quase quatro meses, para ser mais exata.
- E eu sei que estamos indo com calma, porque você tem a Super-null e, bem, você não sabia que o cara da loja de brinquedos era gostoso, lindo, talentoso… - brincou, para tirar a preocupação que via crescer no rosto da mulher.
- Fala logo, null. - a mulher riu, ansiosa.
- Você quer sair em um encontro comigo? Sem filhos, sem pressa de ter que buscá-los na escola. Um que seja só eu e você, sem hora pra acabar?
null Jr. parecia um mini furacão, o pequeno tinha se mexido a noite toda e agora se encontrava ao final da cama, dormindo todo espaçoso, fazendo a mulher rir.
Com cuidado para não acordar ninguém, se levantou e foi para o jardim da casa do jogador, adorava a vista que tinha de Madrid e precisava de um tempo só para si. Não via sua mãe desde a época em que ela havia lhe dado as costas e sequer imaginara que ela a estaria vigiando sem que ela ao menos notasse. Sabia que teria que falar com seu pai, mas no momento só queria silêncio. Há quanto tempo aquilo vinha acontecendo?
Sem saber quanto tempo havia se passado, null abriu um sorriso ao ouvir passos vindo em sua direção e voltou seu olhar para null, que usava apenas uma bermuda. Ele lhe deu um beijo na testa e colocou a babá eletrônica onde null pôde ver que os dois pequenos ainda estavam dormindo espalhados pela cama. null então se sentou por trás dela, a trazendo para perto de si e os dois ficaram em silêncio, abraçados, até a mulher não aguentar mais e desabar. O jogador sabia que null precisava daquilo e apenas apertou seu abraço com todo o carinho e amor que sentia e podia dar.
null sabia que tinha chegado a hora de se abrir com o homem, ele merecia saber sobre aquela parte de sua vida, e quando finalmente conseguiu segurar as lágrimas, contou como sua mãe havia lidado com o fato de ver a filha grávida tão nova, mesmo que na época ainda estivesse com Carlos, e a única coisa que a mais velha foi capaz de dizer, foi sugerir que a filha abortasse.
Se naquele dia já tinha achado a ideia absurda, agora sabia que nada a teria feito desistir de null . Ela era seu destino, seu final feliz e sem a sua princesa, não seria metade da mulher que havia se tornado.
null ouviu a tudo atento e perplexo. Sabia que tudo que tinha vivido até então o deram sua profissão e seu maior troféu, null Jr., mas naquele instante, pensou que gostaria de ter conhecido null antes, nem que fosse como amigo.
Poderia ter estado ao seu lado em todos os momentos em que ela precisou de alguém que apenas a apoiasse, sem julgar suas escolhas e decisões.
- Eu sei que por muito tempo tem sido só você lutando contra o mundo, null. Mas agora eu estou aqui e se você me permitir, eu quero ficar.
E null queria.
Enquanto checava seu celular, para ver se tinha alguma notificação sobre Ben, viu null aparecer em seu campo de visão. Ela mal conseguiu segurar o sorriso ao vê-lo, já que ele havia dito que naquele dia não poderiam se ver.
- Eu consegui sair da recuperação mais cedo que o previsto e resolvi fazer uma surpresa. – disse, sorrindo para null, após cumprimentá-la com um beijo no rosto. - Como foi a reunião ?
- Muito divertida! Elas são muito engraçadas, senti falta de sair com elas.
- Que bom, você merece sair mais, mesmo que eu te queira só pra mim. - disse brincalhão, segurando a mão dela por um segundo, enquanto observavam as crianças começarem a sair. - O que vocês vão fazer agora? Querem ir lá para casa?
- Hoje a gente tem aquela aulinha de pintura que achei para a null , mas amanhã já está confirmado. - ambos sorriram ao ver null e null correndo de mãos dadas em direção a eles. - Eu não consigo lidar com esses dois tão amigos, tem coisa mais gostosa? - null já estava com o celular em mãos tirando fotos do momento.
- Tem a mãe dela. - null disse baixinho, fazendo null arregalar os olhos. Coisa que o fez gargalhar.
- Eu te mando uma mensagem quando chegar em casa? – perguntou, na dúvida.
- Eu te aviso assim que o null dormir, assim podemos conversar um pouco.
- Certo, até mais. - despediu-se do homem apenas com um aceno, mas ambos, mais que tudo, gostariam de ter se beijado.
A cada dia que passava, null queria mais e mais poder fazer o que quisesse com null quando estavam em público, odiava ter que se segurar para não abraçar e beijar a mulher por quem estava apaixonado.
- Tchau, Tio null! - null soltou um gritinho quando ele mordeu sua bochecha - Eu gosto da sua barba. - ela disse, acariciando o rosto do homem, que sorriu com suas palavras.
null olhava as duas indo em direção a saída da escola, enquanto esperava o filho brincar mais um pouco no parquinho. Se aproximou da grade para ver o filho mais de perto e foi impossível não escutar a conversa que as duas mulheres á sua frente estavam tendo.
-... Mas ele não era casado? - ouviu uma sussurrar.
- Acho que não eram casados, mas já estão separados faz algum tempo. Eu tenho certeza que alguma coisa está acontecendo, vivem de conversinha. Ela não é nada boba.
- Ela é bem novinha, né? Sei que cria a filha sozinha, como será que consegue pagar a escola? Ou a menina tem bolsa?
- Pelo carro que ela dirige, provavelmente é bolsa… Ouvi por aí que ela é empregada.
Uma onda de raiva e nervosismo passou pelo corpo de null e antes mesmo de perceber, estava cortando as mulheres em defesa de null.
- Boa tarde. – disse, se segurando, e as duas mulheres se viraram assustadas e abriram um falso sorriso ao ver quem era. - Desculpe me intrometer, mas é que é impossível não ouvir, estando bem aqui. A null não tem bolsa, mas antes ter bolsa e um carro antigo, do que perder tempo fofocando sobre a vida dos outros. Dinheiro certamente não compra boa educação. - finalizou ao ver o filho vir em sua direção, dando um abraço nele. Antes de ir embora, virou-se em direção às duas, que o encaravam sem reação. - Espero que tenham uma ótima tarde.
Depois do dia em que ele viu a mãe dela, null passou a contar mais histórias sobre seus pais e como sua mãe sempre foi contra o relacionamento dela com o pai de null , por achar que ambos eram muito jovens para terem algo tão sério.
Tudo o fazia se sentir mais próximo da mulher, mas tudo de nada valia, quando sentia que ela o estava evitando.
- Você tá muito ocupada hoje? - o jogador perguntou assim que a mulher atendeu o celular.
- Nossa! Oi, null, tudo bem? Estou bem também, obrigada por perguntar. - riu fraco com o jeito do homem ao telefone.
- Deixa de graça, eu tô morrendo de saudade e quero ver você e a null . - foi impossível não abrir um sorriso a menção de sua filha. null sempre a incluía em suas conversas, o que a deixava ainda mais encantada.
- Eu também estou com saudade, mas hoje realmente não vai dar.
- Tô começando a achar que você está me ignorando. - falou um pouco chateado ao confirmar suas suspeitas. Há alguns dias que ela não estava agindo normalmente.
- Você sabe que não é isso…
- null, você anda esquivando de todos os meus convites, tá acontecendo alguma coisa? Vocês duas estão bem?
- Estamos sim, null, é que… - null ficou em silêncio por algum tempo e o único barulho que ele ouvia era sua respiração. - As coisas andam complicadas por aqui, bateram no meu carro e acabaram fugindo.
- Como assim? Quando foi isso? Vocês estão bem? Você já ligou pro seguro?
- Calma. - a mulher riu do desespero do outro - Não aconteceu nada com a gente, foi uns dias atrás, eu levei o Ben ao hospital para fazer alguns exames e quando voltamos a traseira do carro estava praticamente destruída. Não compensa ligar para o seguro, meu carro não vale muita coisa e mesmo que eles paguem o conserto, quando eu for renovar o preço vai subir e eu já mal consigo pagar dessa forma, imagina depois?
- E o que você vai fazer?
- Vou mandar arrumar, mas não sei quando. Preciso esperar receber, mas não sei se consigo pagar esse mês ainda. - disse um pouco tímida, odiava ter conversas do tipo com qualquer pessoa que fosse, ainda mais com o jogador.
- Eu pago pra você. - null disse simplesmente e null arregalou os olhos do outro lado da linha.
- De forma alguma, eu jamais pediria algo assim, null.
- Você não está pedindo, eu que estou oferecendo. - o homem riu, não ia custar nada ajudá-la.
- Eu não posso aceitar.
- null, é sério. Deixa eu te ajudar, pra mim não faz diferença e assim eu vou poder te ver mais rápido.
- Mas eu não quero isso! Não posso aceitar dinheiro seu, null, não me sinto confortável para isso e eu gostaria que você não insistisse mais.
- Tudo bem, não está mais aqui quem falou.
Apesar de chateado, null entendeu, null vinha há tanto tempo lutando sozinha contra o mundo que era difícil entender que às vezes o mundo tentava ajudá-la de volta. Decidiu não pressionar, de nada adiantaria, ele já a conhecia o suficiente para saber exatamente o que fazer.
null encarou a mensagem e tomou um susto, o jogador estava muito adiantado. Ela ainda estava terminando de se arrumar e null terminava seu café.
null💋: Eu ainda não estou pronta. A null está terminando o café, mas se você esperar alguns minutos, eu já desço. Se você subir, não chegaremos na hora.
null tentava se convencer que não tinha nada demais em mais uma rejeição em suas tentativas de conhecer onde elas moravam. A sua única hipótese, era que o local era simples e null estava com vergonha dele. Não queria forçar uma situação que pudesse chatear a mulher, mas a verdade era que estava um pouco cansado com sua relutância em entender que ele estava ali a longo prazo.
Sem carro, null aceitou a oferta de null para buscar e levar null na escola, ele estava acordando ainda mais cedo que o normal para ajudá-la e assim ela podia ir direto para o trabalho, tranquila que sua princesa estaria bem e segura. Mas, naquele dia, ele havia pedido para deixá-la na casa de Ben, pois queria conversar.
- Me desculpe. - disse assim que entrou no banco do passageiro, após colocar null na cadeirinha de segurança. - Duas mulheres, sabe como é. Bom dia! - disse dando um beijo no homem, tirando gritinhos animados das crianças.
- Não tem problema. - ele sorriu, mais animado por poder passar um tempo maior com ela ao seu lado.
Os quatro foram conversando até a entrada da escolinha e os olhares que receberam de muitas mães ao vê-los chegando juntos fez os dois revirarem os olhos. Já a caminho da casa de Ben, o jogador começou.
- Eu queria conversar com você, mas antes de falar qualquer coisa, queria que me ouvisse primeiro. - pediu, segurando a mão dela que estava apoiada em sua perna.
- Tudo bem. - null sorriu com o jeito de null agir.
- Eu acho que você sabe isso, mas eu sou louco por você, null. Seu rosto, sua voz, essa boca que me faz querer te beijar a todo segundo que estamos juntos, seu corpo no meu. Mas ainda mais sua luta e perseverança depois de tudo que você passou. Seu amor e carinho pela null , a forma como você olha para o meu filho. Tudo que eu sei sobre você me encanta, eu sou e estou completamente apaixonado por você.
- null. - a mulher o encarou emocionada - Por que você está me dizendo essas coisas agora?
- Porque eu quero ter certeza que você sabe como eu me sinto. Que eu estou aqui com você, por você e pra você.
- Eu também adoro você, null. Eu não me sinto assim há tanto tempo. No começo eu tive medo que a gente não fosse dar certo, nossas vidas são tão diferentes, mas esses últimos quatro meses tem sido os mais felizes que tive em quatro anos. Eu sou apaixonada por você também, e muito.
- Então me deixa te ajudar? - o jogador pediu ao estacionar o carro em frente à grande casa de Ben e null entendeu onde ele queria chegar. - Deixa eu pagar o conserto do seu carro? Não por você, mas pela null , por nós?
- null, não é iss… - a mulher começou, ao tirar o cinto e se virar para ele, mas não conseguiu continuar com sua desculpa ensaiada ao ver aqueles olhos, que ela tanto amava, a encararem tristes. - Você realmente quer fazer isso, não? - suspirou, sabendo que aquela luta estava perdida.
- Só não mais do que te beijar. - ele respondeu, rindo, aproximando o rosto da mulher, que inclinou a cabeça para beijar o jogador. Eles podiam já ter trocado mil beijos, mas null sempre tinha a sensação que era o primeiro.
- Tudo bem, eu aceito. - o encarou derrotada - Mas com uma condição, eu quero te devolver o dinheiro, um pouco por mês que seja. Eu já me sinto mal o suficiente em aceitar, mas você tem razão, eu preciso do meu carro.
- Acho que temos um acordo. - null disse com um sorriso enorme no rosto, estendendo a mão a mulher para “fecharem o negócio”, mas quando ela esticou a sua, o jogador a puxou novamente para si. - Ah, eu não te avisei? Parte desse pagamento eu quero em beijos.
null sorria a todo momento e escutava atenta às instruções que null e os outros jogadores davam e foi impossível que algumas lágrimas não escapassem dos olhos de null ao ver sua princesa se divertindo como nunca. null desde sempre tivera mais afinidades com meninos e acabou se interessando pelo que eles gostavam. Para null tanto fazia, contanto que pudesse continuar vendo aquele sorriso em seu rosto.
null tinha conseguido os ingressos e o box para que elas o fossem assistir e do início ao fim, tanto ela quanto sua filha mantiveram um sorriso no rosto. O jogador voava em campo, parecia ser zagueiro, meio campo e atacante, tudo ao mesmo tempo. Se pela TV já era possível ver seu talento, ao vivo era ainda mais emocionante. null se viu orgulhosa, como há tanto tempo não se sentia.
Seus sentimentos pelo jogador pareciam crescer a cada dia e ter null em sua vida já não lhe trazia medo, mas o exato contrário, segurança. Sabia que era questão de pouco tempo para que ela finalmente encontrasse o momento certo para que ele soubesse de tudo.
Naquela manhã, quando chegaram ao centro de treinamento null estava um pouco nervosa, não sabia muito bem como agir, mas assim que desceram do carro, o jogador segurou sua mão e fez questão de apresentá-la para todos seus colegas de equipe e funcionários do clube.
null a fez se sentir como se fosse parte de sua vida e ela percebeu que queria que ele sentisse o mesmo.
- Ei. - O jogador apareceu com o rosto preocupado e só então ela notou que algumas lágrimas caíam por seu rosto. - O que aconteceu?
- É bobeira de mãe. – falou, limpando o rosto rapidamente.
- Me conta então, sou pai.
- Quando eu vejo a null assim com seus amigos, com você, eu percebo a falta que um homem faz na vida dela. Eu sei que ela é feliz, mas me pergunto se ela não poderia ser mais feliz.
- null. - null a abraçou - A null é muito feliz, eu vejo isso nos olhos dela toda vez que te vê. Eu não sei por que o pai dela deixou vocês duas e eu sei que você sofreu com tudo isso, mas a verdade é que eu me sinto o cara mais sortudo desse mundo, porque todo seu sofrimento te trouxe pra mim e eu já não consigo ver minha vida longe de você e da null .
- Você é maravilhoso mesmo e ainda por cima um gato. - piscou divertida, dando um beijo nele. - Eu queria te fazer um convite. - disse um pouco apreensiva e null a encarou confuso.
- Diga.
- Você gostaria de conhecer o Ben?
- Mais do que tudo nesse mundo. - o jogador sorriu animado ao ver mais uma grande barreira ser quebrada entre eles.
- Eu deveria estar nervoso assim? – null parou de andar ao escutar a pergunta, virando-se em direção a null. - Porque ele é tipo um segundo pai, certo? - a mulher sorriu ao notar o quão nervoso o jogador estava. Aquilo, por mais que pudesse parecer bobo, a confortou. Eles realmente estavam indo pelo caminho certo.
- Não precisa ficar, o Ben é um amor. Esse encontro é extremamente importante pra mim, mas eu não te traria aqui se não fosse algo que eu não quisesse. Você entende isso, certo?
- null, eu entendo completamente. É só que... se você não estiver pronta, podemos voltar outra hora.
- Já está querendo fugir, é? - a mulher colocou as mãos na cintura, rindo.
- Claro que não. No momento que entrarmos lá e o Ben ver o quão bobo fico perto de você, ele vai dar a bênção nesse relacionamento, eu tenho certeza.
- Benção você tem que conseguir de mim, jogador, de mim.
null riu carinhosa e após beijar null, virou-se novamente em direção à casa. Adentrou o lugar tão conhecido, repetindo mentalmente que tudo ocorreria bem. Sorriu ao chegar na sala e avistou o senhor sentado na cadeira de balanço com null , que não parava de falar com o mais velho, que sorria do jeito agitado da menina. Aproximou-se dos dois lentamente, abaixando-se para ficar na mesma altura que ele.
- Oi, Ben, como você está hoje? – sorriu ao sentir a mão do homem envolver a sua - Eu trouxe alguém para te apresentar, esse é o null, meu… meu…
- A null me falou muito sobre o senhor - o jogador resolveu salvar null e apertou a mão do mais velho - Pode me chamar de null. - disse cordialmente, se abaixando um pouco, para que Ben pudesse vê-lo melhor.
- E ela não falou quase nada sobre você.
null congelou no lugar, sem nem se lembrar como se respirava. null encarou Ben chocada, mas logo o senhor caiu na risada, fazendo todos rirem juntos e null respirar bastante aliviado.
- Imagina se eu já não ouvi falar do moço que anda deixando você toda distraída. – Ben soltou sem cerimônia, fazendo com que null quisesse se esconder de vergonha. null estufou o peito sem conseguir conter a felicidade que o envolveu ao ouvir as palavras do mais velho.
null se colocou ao lado de Ben, o ajudando a se levantar da cadeira de balanço. Quando ele se estabilizou sob os próprios pés, o senhor deu a mão a null, o cumprimentando.
- Não brinca com uma coisa dessas, se você não gostar de mim, ela vai me chutar assim que sairmos daqui. - brincou, vendo Ben e null se encararem, sorrindo um para o outro.
null se colocou do outro lado de Ben e ajudou null a levá-lo para o jardim, onde os quatro se sentaram e conversaram por um tempo, menos null , que logo estava ocupada demais correndo pelo local, parando aqui e ali para cheirar algumas flores. Enquanto conversavam, null reparou no olhar cheio de carinho que null tinha quando falava com Ben, o cuidado que tinha com ele era o mesmo que o jogador podia ver quando ela estava com null e null Jr. A mulher parecia ser a personificação da palavra amor e carinho e ele já não sabia se era possível admirá-la mais.
Entendia o quanto Ben era importante na vida da mulher e estava muito feliz de poder conhecê-lo, sabia que aquela visita significava algo extra na relação dos dois.
- Então você joga no null?
- Jogo sim, o senhor acompanha futebol?
- Se acompanho? Nasci e cresci em Barcelona, fui muitas vezes ao Camp Nou para assistir aos famosos El clásicos e ver o seu time perder para o meu. - Ben disse com um sorrisinho no rosto e null o encarou com os olhos arregalados.
Então Ben era um culé fanático? E null não o havia preparado para aquele momento? De repente todo o nervosismo que tinha desaparecido logo no começo se fez presente. Olhou para null e a viu rindo, sabia que ela tinha feito de propósito.
- null querida, pegue aquele álbum de fotos para mim. Quero mostrar ao null minha época de jogador e torcedor.
null se levantou rindo da cara que null fazia para ela e foi em direção a casa. Pegou o álbum de fotografias antigas que o homem guardava em seu antigo escritório e que sempre pedia para que ela o pegasse, para poder exibir o quanto tinha sido bonito em sua juventude.
Caminhou com calma de volta ao jardim, para dar uma chance aos dois de conversarem sem ela estar presente. Na volta, parou na porta e observou a cena, null já estava toda suja de grama, Ben contava a null sobre a época de ouro do futebol espanhol e como toda a rivalidade entre Barcelona e null tinha nascido diante de seus olhos. O mais novo ouvia a tudo com atenção, fazendo perguntas e sorrindo com as histórias incríveis do mais velho, sentindo seu coração ser preenchido por admiração, respeito e carinho. Poderia passar horas ouvindo as histórias que Ben tinha para contar.
null não conseguia conter o que sentia naquele momento. null era um homem incrível e ela percebeu o quanto era sortuda por tê-lo ao seu lado.
- Obrigada, obrigada, obrigada. - null dava beijos por todo o rosto do jogador, feliz pelo que tinha acabado de acontecer.
Ambos estavam na porta da casa de Ben, ela ficaria para cuidar dele com null e null voltaria para casa.
- Eu que agradeço, amei ouvir todas as histórias e poder conhecer um pouco mais de alguém que faz parte da sua vida há tanto tempo. Podia ao menos ter me dito que ele torcia pro Barcelona, não? - o jogador brincou fazendo cócegas na cintura da mulher.
- E perder a sua cara de medo? Jamais! - null brincou, passando as mãos pelo ombro do jogador. - Hoje foi muito especial.
- Foi sim. - concordou, dando um beijo em null, antes de tomar coragem. - null, nós estamos saindo há um tempo…
- Sim… - a mulher o encarou um pouco assustada com o que podia vir. - Quase quatro meses, para ser mais exata.
- E eu sei que estamos indo com calma, porque você tem a Super-null e, bem, você não sabia que o cara da loja de brinquedos era gostoso, lindo, talentoso… - brincou, para tirar a preocupação que via crescer no rosto da mulher.
- Fala logo, null. - a mulher riu, ansiosa.
- Você quer sair em um encontro comigo? Sem filhos, sem pressa de ter que buscá-los na escola. Um que seja só eu e você, sem hora pra acabar?
Capítulo 6
null estacionou o carro em frente ao prédio de null checando o horário para ter certeza que não estava atrasado, sorriu aliviado ao ver que tinha conseguido chegar adiantado, mesmo tendo demorado a decidir qual camisa usaria. Estava nervoso, queria que a noite saísse exatamente conforme vinha planejando, pois mesmo que ele e null já estivessem saindo há um bom tempo, era o primeiro encontro oficial e ele o faria ser especial.
O jogador mal conseguiu segurar o sorriso ao ver a mulher atravessar a rua em direção ao seu carro e mesmo sabendo que null não podia vê-lo, por conta do vidro escuro, ela sorria para ele.
- Nossa, não achei que estaria tão frio! - exclamou, enquanto se acomodava no banco do passageiro. null a observava com um sorriso de canto. - O que foi? - ela riu baixinho.
- Sabe, null, eu achava que era impossível você ficar mais linda, mas toda vez que te vejo comprovo que estava errado, você sempre supera minhas expectativas. - ela riu, sentindo-se tola por ainda sentir as bochechas corarem toda vez que ele a elogiava.
- Você também não está nada mal, se bem que com essa barba você fica lindo vestindo qualquer coisa, principalmente quando está usando nada. - null beijou os lábios do jogador e sorriu ao sentir a mordida que ele deu em seu lábio inferior. - Ai, você não cansa, não? Aposto que já deixou uma marca permanente aqui. - brincou tocando o próprio lábio.
- Pretendo deixar muitas mais. - null piscou, dando partida no carro e encarou a mulher mais uma vez, antes de pisar no acelerador.
O silêncio a caminho do restaurante demonstrava o nervosismo do casal, era algo bastante incomum entre eles. Não era apenas a ansiedade do primeiro encontro que assombravam seus pensamentos, seria a primeira vez que iriam a um local público, sem as crianças. null sentia suas mãos suarem, era difícil para ela saber que provavelmente null a levaria em algum lugar requintado onde provavelmente o reconheceriam e ela não sabia muito bem como agir.
O jogador se virou para a mulher por um instante e reparou que ela mordia a ponta do dedo, algo que ela sempre fazia quando estava preocupada e para acalmá-la, tirou uma das mãos do volante e a colocou em cima da perna da mulher que sorriu com o gesto e entrelaçou seus dedos aos dele e assim foram até a entrada do lugar.
O restaurante, como esperado, era muito elegante, null ficou feliz ao ver que tinha se vestido apropriadamente e agradeceu ao manobrista que abriu a porta para ela e voltou a abrir um sorriso ao dar a volta no carro e ver a mão de null pronta para segurá-la e era exatamente daquela forma que sempre via o homem à sua frente, pronto para protegê-la de todos os problemas. Sentindo-se infinitamente mais calma, ela aceitou a mão que ele oferecia e juntos caminharam até a mesa mais reservada do ambiente.
- Essa é a sua mesa. Se precisarem de alguma coisa, por favor, me chamem. – a funcionária do restaurante sorriu simpática despedindo-se do casal.
- Conseguiu conversar com seu pai? - o jogador perguntou, pois sabia que naquela noite o pai de null chegaria mais cedo para que ela pudesse conversar com ele sobre o ocorrido com a mãe dela no parque.
- Um pouco, ele me disse que há algum tempo pegou ela olhando fotos e vídeos da null no celular dele e que quando perguntou, ela desconversou. Ele passou então a sempre mencionar alguma coisa sobre a gente depois dos nossos encontros e que ao invés de pedir para ele não continuar a falar, ela passou a se interessar, embora nunca fizesse perguntas.
- Me parece que ela está arrependida, null.
- Eu não me importo, como mãe eu não consigo nem pensar em deixar a null passar por uma unha quebrada sozinha, quanto mais o que eu passei. No dia que fomos ao parque ela disse a ele que ia sair com as amigas e ele me contou que ela chegou em casa e se trancou no quarto e chorou. Eu tenho pena do meu pai porque ele está no meio da história e tem esperança que a gente se resolva, mas se ela acha que é espionando minha vida que ela vai conseguir alguma coisa, está muito enganada.
- Ah, aí está a null que brigou comigo depois de nos encontrarmos a primeira vez na guarderia. - null decidiu que era melhor trocar de assunto, não queria chatear a mulher justo naquela noite.
- Se me lembro bem foi um certo jogador muito do metido que me acusou de sequestro.
- Esse jogador nunca imaginou que uma mulher como você se interessaria por ele, talvez por isso tenha dito algumas bobeiras, mas espero que ele tenha se redimido.
- Ah, pode apostar que sim, ele faz umas massagens ótimas. - null disse baixinho, mesmo que ninguém estivesse próximo a eles, o que fez com que null risse alto.
A conversa inicial, apesar de tensa, tinha ao menos servido para sumir com o desconforto e nervosismo que sentiram no começo da noite, juntos, decidiram o que pediriam e assim que a garçonete pediu licença, iniciaram uma conversa sobre os filhos, o que os fez rir ao notarem que mais uma vez seus pequenos eram protagonistas em suas vidas. Decidiram por tentar ter uma noite onde não conversariam sobre filmes da Disney ou a melhor forma de convencer seu filho a comer verduras.
O casal aproveitou o fato de não serem interrompidos a cada cinco minutos para conversarem sobre tudo e nada ao mesmo tempo, null contou sobre a semana que tivera com Ben e null estava animado, pois ao que tudo indicava seria titular no próximo jogo. A mulher prometeu que caso não conseguisse ir ao estádio, assistiria ao jogo pela TV. Quando os pratos chegaram, as trocas de carinho aumentaram, fazendo com que ambos mal conseguissem tirar os olhos um do outro e assim que o garçom trouxe a sobremesa escolhida por null, já que o jogador precisava manter a dieta pré-jogo, ele segurou na mão dela, chamando sua atenção.
- null, eu gosto de acreditar que você sabe como me sinto em relação a nós. As vezes acho que demonstro, mas em outras eu tenho certeza que você não faz ideia do quanto eu gosto de você. - null a olhava no fundo dos olhos, tomando toda a atenção de null. - Eu pensei muito sobre a gente nesses últimos dias e em como minha vida melhorou desde que te conheci. Depois que me separei eu não sabia se um dia ia encontrar alguém que eu pudesse amar novamente e que fizesse tão bem para mim e ainda mais para meu filho, mas então eu entrei numa certa loja de brinquedo e o resto virou história. Esses últimos meses vêm sendo os mais especiais da minha vida, pois descobri que além de ser uma mulher e mãe incrível você também é minha parceira e melhor amiga, algo que eu nunca pensei que pudesse existir na mesma pessoa. Eu sei que isso tá parecendo um monólogo e a sua cara de assustada me diz que você não está entendendo onde eu quero chegar, mas eu quis te dizer todas essas coisas, pois mesmo estando quase quatro meses atrasado, eu queria que esse nosso primeiro encontro fosse não só o primeiro de muitos, mas o primeiro nosso, como namorados. Você aceita namorar comigo? - assim que null terminou uma das declarações mais lindas que null tinha ouvido em toda sua vida, seus olhos que já estavam cheios d’água, acabaram por não mais conseguir segurar as lágrimas, fazendo a mulher rir e chorar ao mesmo tempo.
null nunca imaginou que null tinha um pedido de namoro em mente para o primeiro encontro deles, por isso respirou fundo, tentando colocar seus pensamentos em ordem. Nunca um mês tinha lhe trazido tanta dor, alegria e confusão. O olhar esperançoso do homem não ajudava em nada.
- Eu queria mais do que tudo dizer sim aqui, agora. - null segurou a mão de null e sentiu seu coração se contorcer ao ver a cara que ele fazia para ela, completamente confuso - Mas, se você me permitir, eu queria pedir um tempo pra te responder. De todos os meses do ano, esse mês e especialmente a próxima semana, é uma época difícil pra mim. Eu sei que pode parecer esquisito para as pessoas de fora, que não viveram a minha situação, mas foi há exatos quatro anos nesse mês, que o Carlos, o pai da null nos deixou e, infelizmente, eu ainda não aprendi a lidar com isso tão bem, eu me retraio, fico ainda mais grudada na null e não sou boa companhia pra ninguém. Você e a null são meus maiores motivos para sorrir e por mais que não pareça você tem me ajudado a seguir em frente como nunca ninguém conseguiu antes. Estar com você me faz ter menos motivos para ficar triste nessa época do ano, mas ainda não estou pronta. Eu sei que é injusto, mas queria continuar como estamos só mais um pouquinho.
null a encarava com os olhos arregalados, seu coração doía em ter seu pedido de namoro negado, mas ao ver a mulher que era sempre tão forte, independente e bem resolvida, frágil daquela maneira, fez com que toda sua frustração se transformasse em compreensão. Sabia também que apesar de tudo, null vinha se abrindo com ele pouco a pouco. Primeiro soube um pouco mais da vida dela como mãe solteira, depois dos problemas com a mãe e finalmente ela tocava no nome do pai de null , assunto o qual ela sempre evitava. Sempre que se via frustrado em ter seus avanços negados tentava dizer a si mesmo que fosse lá o que ela tivesse passado era sério o suficiente e tinha deixado marcas mais profundas do que ele poderia imaginar e a única coisa que ele podia fazer era respeitar o tempo dela.
- Eu não posso dizer que entendo completamente, porque nunca imaginei que você fosse me dizer não. Mas, antes de tudo, eu te respeito como pessoa e se você precisa de um tempo, ele é todo seu, apenas se lembre que eu estou aqui, null, e não pretendo ir a lugar algum.
- É sempre bom ouvir de novo, null. Eu espero que você saiba que não é você, não há nada de errado entre nós, eu não tenho vontade de estar com mais ninguém a não ser você. É o meu passado que até hoje assombra minha vida, mas eu te prometo que não vou te deixar no escuro pra sempre. Eu só…
- Ei, está tudo bem, eu não quero e nem pretendo parar de beijar essa sua boca, vamos deixar esse assunto pra depois e aproveitar que temos essa noite só nossa.
- Vamos. - Ela assentiu ainda o encarando - Você é incrível, null! Eu não sei o que fiz pra te merecer.
💙
null sentia-se mal por ter negado o pedido de null, a mulher vinha ensaiando há um bom tempo como iria contar toda sua história, mas sempre que acreditava estar pronta, acabava por recuar. Sabia que o jogador merecia saber todos os detalhes e a verdade era que se via ansiosa para que ele soubesse tudo de uma vez, mas o problema era que, embora para muitos pudesse parecer fácil, para ela significava abrir uma parte de sua vida que tinha demorado a cicatrizar e mesmo irremediavelmente apaixonada por null, tinha muito medo do que poderia sentir. A dor que tinha conseguido esconder no canto mais profundo do seu coração, era intensa demais para que ela a deixasse reaparecer.
Quando chegou em casa naquela madrugada, teve medo que sua recusa pudesse afastá-lo, a dúvida sobre o que seria deles aumentou ainda mais com o passar dos dias, ambos não sabiam muito bem como agir um com o outro e estava tudo um pouco confuso. null chegou a acreditar que aquele poderia ser o fim, odiava que o calendário de jogos de null estivesse tão cheio, dando a eles ainda menos oportunidades de se verem. Do outro lado, null não estava muito diferente, morria de saudades de null e sentia que precisava olhar nos olhos dela para ter a certeza que nada entre eles tinha mudado, por isso quando a primeira folga apareceu, imediatamente ligou para mulher, a convidando a passar uma tarde de sol na piscina de sua casa.
Feliz com o convite, null anunciou a null o que fariam naquela tarde e imediatamente a pequena desligou a TV e saiu correndo para o quarto para decidir qual maiô usar.
- Desse tamanho e já nessa indecisão sobre o que vestir, princesa?
- Eu quero que o Tio null me ache bonita, mamá.
- Ah meu amor, eu tenho certeza que ele te acha linda, independente do que você vestir, qual você prefere?
- Esse com laço, mamá, fico parecidinha com a Elza.
- Fica mesmo! - null disse, segurando uma risada com a imaginação da filha. - Vamos tirar uma foto pra mandar pro vovô.

Durante o caminho, mãe e filha foram cantando ao som de Moana e gargalhavam quando a mais nova tinha dificuldade de pronunciar alguma palavra. null percorreu o conhecido caminho até a casa de null, sorrindo ao ver o homem surgir na garagem apenas de bermuda.
- Se está tentando me seduzir, saiba que está conseguindo. - disse o puxando pela barba para dar um beijo em sua boca.
- Esse sempre é o plano, delícia. - ele riu, abaixando-se para pegar null no colo a enchendo de beijos em seguida. - Eu tava morrendo de saudade de você, Super null !
- Eu também tava, Tio null. Vai ter comida?! - a pequena perguntou para o espanto de null, fazendo o jogador rir alto.
- Claro que vai, você está com fome já?! Sua mãe me contou que você tomou café da manhã tarde?
- É que não tinha bolo. - null fez bico, derretendo o jogador, que a abraçou mais apertado.
- Vai ter bolo, mas só depois que comer todo o almoço. - o homem disse encarando null que murmurou um “obrigada” e os dois riram ao ver a pequena toda feliz ao descobrir que teria bolo.
O jogador colocou null no chão, que saiu correndo porta adentro, chamando por null Jr.
- Estamos bem? - null segurou a mão do jogador, o fazendo parar à sua frente.
- Não sei, estamos? - foi ali que a mulher percebeu que null tinha o mesmo medo que ela.
- Eu estava com medo da gente se distanciar. - confessou encostando a testa na dele - Mas fiquei feliz com o convite, eu precisava disso.
- Eu também. - null a abraçou forte - Eu ainda me sinto da mesma maneira.
- Eu também. - null sussurrou em resposta e os dois puderam finalmente acalmar os corações cheios de dúvidas e inseguranças, sentindo o toque um do outro.
Gargalhadas infantis preenchiam o ambiente, null e null estavam na piscina com as crianças há algum tempo e se divertiam ao ver seus pequenos tão felizes com algo tão simples. Sempre que conseguiam desviar a atenção dos filhos por um segundo os dois trocavam carícias e beijos, matando a saudade e urgência que tinham um do outro. null adorava null de todas as formas, mas a visão dela de biquíni, toda dele, o fazia rezar baixinho para que a soneca das crianças chegasse logo e fosse duradoura o suficiente para que ele pudesse ter um momento a sós com a mulher.
- Eu vou colocar a mesa - null avisou ao notar a hora - E também tirar o bolo da geladeira, quem comer o prato todo de verduras vai poder comer duas fatias.
- Duas? - null Jr. perguntou empolgado vendo a mulher assentir segurando a risada.
- Eba!!! - os dois gritaram animados. - Eu vou comer todas os verdinhos no meu prato, Tia null - o menino disse alto, próximo ao ouvido do pai, que fez uma careta.
- Nunca vi alguém tão empolgado pra comer brócolis. - o jogador respondeu, encarando o filho.
- Eu também vou, Tio null. - null que nadava com bóias em seu braço, disse ao jogador.
- Vamos nos secar então, vocês dois, fora da piscina! - null disse com uma voz engraçada e riu ao ver null nadar em direção a mãe para que ela a ajudasse a sair da piscina.
Enquanto null terminava de secar as crianças, null preparava o prato delas. Da cozinha ela conseguia ouvir tudo que se passava do lado de fora da casa, null e null não paravam de falar e o som ficou ainda mais alto quando os três entraram na casa.
- Eu preciso ir no banheiro, papá! - null anunciou em alto e bom tom.
- Vamos lá então, null … - o jogador não conseguiu terminar, pois logo foi interrompido pelo filho.
- Não, papá, eu vou sozinho. Já sou um homenzinho. - o garoto soltou sério, fazendo os dois adultos darem risada em cantos separados da casa.
null ouviu o som da porta do lavabo da sala sendo aberta e então ouviu null perguntar algo a null, que destruiu seu coração.
- Tio null, será que você pode ser meu papá, também?
O barulho de algo se quebrando que veio da cozinha era a confirmação que null podia ouvi-los. Ele ainda estava chocado com a pergunta para sequer conseguir piscar, embora seus olhos estivessem cheio de lágrimas confusas. A pequena á sua frente parecia ter afeição suficiente por ele para fazer uma pergunta tão especial quanto aquela, mesmo que ela sequer se dessa conta daquilo, mas por outro lado ele só podia imaginar o que null estava sentindo do outro lado da parede.
- null ! - null surgiu na porta e null se levantou parte aliviado, parte preocupado, o olhar da mulher era devastador. Como podiam carregar tanta tristeza? - Vem ajudar a mamãe colocar a cobertura no bolo?
- Tá bom, mamá. - a pequena respondeu e o jogador sabia que não deveria segui-las.
Assim que entraram na cozinha, null colocou null sentada no balcão, para que ela não pisasse no copo que ela tinha derrubado.
- Meu amor, você sabe que a mamá te ama mais que todas as estrelas no céu, não? - null disse, sentindo a garganta doer de tanto que segurava para não chorar.
- E eu te amo mais que todos os bolos de chocolate do mundo, mamá. - null respondeu sorrindo e null não mais conseguiu segurar as lágrimas.
- Princesa, você lembra que já tem um pai, não? E que ele te ama, mesmo que às vezes não pareça, mesmo que você não o veja?
- Eu também amo muito o papá, mamá, mas eu queria um que estivesse pertinho. O León me contou que agora ele tem duas mamães, então eu pensei que o Tio null podia ser meu papá de perto e o papá meu papai de longe. Eu gosto tanto do Tio null.
- Ah meu amor, era por isso que você queria ficar bonita pra ele? - null sorria, embora seu rosto estivesse marcado pelas lágrimas.
- Era, mamá, você acha que ele quer ser meu papai?
- Vamos fazer assim. - null enxugou as lágrimas, pegando a filha no colo. - A mamãe promete que vai conversar com o null, mas podemos esperar mais um pouquinho? E enquanto a gente espera eu vou ver com o Tio Nano sobre visitarmos juntos o papai, o que você acha?
- Sim, muito sim, mamá.
💙
- Olha a foto que tirei hoje, ele é tão lindo. - null disse passando o celular para o jogador, os dois estavam no quarto, tendo acabado de colocar as crianças para dormir, que estavam exaustas depois do dia que tiveram.

- Sou suspeito pra falar, mas também acho que nós quatro formamos uma família linda. - brincou, mordendo a bochecha da mulher.
- Me desculpa por hoje. - null pediu se aproximando dele. - Eu não sei de onde aquilo saiu, eu acho que o pai do León começou a namorar e ela gostou da ideia de ter dois pais.
- Ela me pegou totalmente de surpresa, eu não sabia o que falar porque nunca conversamos sobre o assunto e eu não queria dizer algo sem conversar com você antes. - null sorriu, se aconchegando nos braços do homem - De qualquer forma, foi a pergunta mais linda que já me fizeram em toda minha vida, eu sou tão apaixonado pela null quanto sou por você e me sentiria extremamente honrado em ser um segundo pai para ela.
- Você é um pai incrível null, a null e eu temos muita sorte de ter você em nossas vidas.
null fechou os olhos frustrado, aquele era o momento perfeito para que null se abrisse com ele e ao que tudo indicava, mais uma vez aquilo não aconteceria.
- null? - null a chamou, sabendo que ela o ouvia - Me leva pra conhecer a sua casa?
💙
- Nossa, eu não me lembro quando foi a última vez que estive aqui. - null encarava a casa que um dia chamou de sua.
- Quase cinco anos, não? - Gonzalo, seu pai, respondeu com null no colo - Sabia que sua mãe morou aqui desde o dia que ela tinha sua idade?
- Vedade, mamá? A sua casa é linda vovô.
null não tinha voltado a Toledo desde que anunciou sua gravidez, estar ali era estranho, difícil. Um lugar que por muitos anos pode chamar de lar e que agora carregava tanto peso.
A mulher tinha ligado para seu pai querendo conversar depois da última visita a casa de null e como ele não estava se sentindo bem, decidiu pelo menos uma vez ir até ele, ao invés de fazê-lo ir a Madrid.
- Ela não está. - disse para a filha que estava congelada no lugar quando chegaram à porta.
Pai, filha e neta entraram juntos na residência e os mais velhos se encararam num misto de dor, tristeza e alegria.
- Vamos até a sala? - Gonzalo ofereceu e as duas o acompanharam - Assim a null assiste desenho enquanto nós dois conversamos.
null assentiu e null deu um gritinho animada ao ver que tinha bolo de chocolate e suco de uva, seus favoritos, na mesa de centro. Enquanto a menina se deliciava com as guloseimas e se entretinha com Meu Pequeno Pônei, os mais velhos se sentaram no sofá.
- O que está acontecendo, meu amor? Deve ser algo grave para te fazer vir até aqui depois de tanto tempo.
- Não é nada grave, eu e a null estamos bem, é só que… Eu conheci alguém! - soltou de vez encarando o mais velho e logo em seguida sentiu os braços do pai a envolverem.
- Estou tão feliz em saber disso, filha. - ele estava emocionado - Eu imaginei que você tivesse conhecido alguém já que agora não me pede mais tanto para ficar com a null enquanto você sai com suas amigas, deve ser sério então?
- Bastante, ele me pediu em namoro. - null soltou vendo o sorriso aumentar no rosto do pai - Mas eu disse não, ele ainda não sabe de nada, pai. - complementou e compreensão passou pelos olhos do senhor.
- E você quer que ele saiba?
- Quero muito, é só que, é difícil. - a mulher apertou o colar que usava. - Eu me odeio por isso, consegui levar por um tempo, mas agora está afetando minha relação. Ele pediu para ir lá em casa e eu desconversei.
- Ele não deve estar se sentindo muito confiante depois de duas recusas como essas e eu consigo ver nos seus olhos o quanto ele é importante pra você.
- Eu só me senti assim por alguém uma vez antes, pai. Ele também tem um filho e ele e a null se adoram, ela até perguntou sem eu ver se ele queria ser o pai dela. - A mulher sussurrou ainda mais para que a filha não ouvisse.
- Eu acho que você já tem a resposta que busca, você só queria que alguém com mais de quatro anos a dissesse em voz alta. - Gonzalo disse rindo e null acabou acompanhando. - Estava na hora de você se permitir ser feliz novamente, você merece.
- Eu… Obrigada, pai. Eu acho que você tem razão, eu só precisava que alguém me confirmasse que estou no caminho certo. O null é diferente, eu não vejo a hora de vocês se conhecerem.
- Quando você estiver pronta, princesa. - os dois se abraçaram aliviados, Gonzalo por saber que sua filha finalmente tinha se permitido ser feliz de novo e null por ter a confirmação que precisava.
O que era para ser uma visita de uma hora acabou se estendendo por mais duas, null amou conhecer o quarto onde a mãe cresceu e null se espantou ao ver que algumas de suas coisas ainda estavam ali.
- Quem sabe agora você possa vir mais vezes passar o dia com seu pai? - o homem pediu quando os três já estavam na porta para se despedir.
- Eu ia adorar, eu sinto falta de passear por Toledo.
- Deixa que eu abro. - null se atrapalhou toda, mas conseguiu virar a maçaneta e os três encararam com olhos arregalados a figura do outro lado da porta.
Lucía, mãe de null estava com as chaves na mão, pronta para colocá-la na fechadura.
- Eu… Me desculpe, achei que vocês já tivessem ido embora. - a mais velha sentiu seus olhos marejarem ao ver filha e neta tão próximas.
- Acabamos conversando mais do que o esperado, querida. - o senhor se pronunciou ao ver que ninguém diria mais nada.
- Estávamos de saída. - null pronunciou pegando null no colo e dando um beijo no rosto do pai. - Nos falamos depois. - disse, passando pela porta e pela mulher.
- Mamá, essa moça é namorada do vovô? - a pequena perguntou e null parou de andar, fechando os olhos.
- É sim, minha princesa. - Nem ela sabia decifrar o que estava prestes a fazer. - Nós precisamos ir, já está ficando tarde. Mas, você quer dar um abraço nela?
null assentiu acanhada e null se virou vendo seus pais a encararem espantados e emocionados ao ver a filha se virar para os dois. A mais velha deu um passo à frente e null estendeu a filha para que a mãe a pegasse no colo e desse um abraço na neta. Não querendo estragar um momento inédito, Lucía logo devolveu a neta a filha, com o rosto já coberto pelas lágrimas.
- Isso não muda nada. - null soltou, mas todos ali sabiam que sim, aquilo mudava tudo.
💙
null dirigia animado, seus dedos batiam no volante ao ritmo da música que ouvia. Estava indo ao encontro de null, ela tinha o convidado para sair e ele estava confiante que finalmente saberia toda sua história. Na noite em que ele se convidou para conhecer onde ela morava, ela pediu ainda mais tempo, embora aquilo não o tivesse surpreendido, foi impossível não se sentir decepcionado. Ele não queria forçar algo e afastar ainda mais a mulher, mas também estava um pouco cansado de tanto segredo, às vezes se sentia sendo testado e batia a insegurança que null não estava tão na dele, como ele estava na dela. Tinha pedido conselhos a um de seus colegas de time que era mais velho e ele o encorajou a dar uma última chance a mulher e era o que ele tinha feito.
Empolgado, preparou uma enorme cesta de piquenique, almoçariam juntos no mesmo local onde fizeram a caça ao tesouro. Livre de pessoas ao redor, era o lugar perfeito para conversarem a sós enquanto as crianças estavam na escola. O combinado era irem juntos buscá-los e de lá irem passar a noite na casa do jogador, null carregava consigo duas malas pequenas com suas coisas e de null .
Durante o almoço, os dois conversaram sobre a semana que tiveram e os filhos, null contou o que tinha acontecido em Toledo o que animou ainda mais o jogador por conta da naturalidade com que ela tocou no assunto. null estava ansioso e a todo momento encontrava brechas para que null se sentisse à vontade para se abrir com ele, mas quanto mais o tempo passava, mais seu sorriso diminuía e seu coração se comprimia. A mulher contava histórias e mais histórias sem a menor importância e o fazia perguntas que ele não tinha a menor vontade de responder. Gradualmente seu humor foi diminuindo, até que ele se viu obrigado a tomar uma decisão.
null se levantou dizendo que deveriam ir embora e mesmo sabendo que ainda não era hora de buscar as crianças, null se levantou, estranhando a forma de agir do jogador. Assim que entraram no carro, ao invés de seguir em direção a rua que os levaria para a guarderia, o homem resolveu mudar a rota, fazendo null estranhar quando o mesmo estacionou o carro em frente a seu apartamento.
- O que foi? - perguntou encarando o prédio - Eu já trouxe tudo, podemos ir direto para a escola.
- null, pelo tempo que estamos juntos, sei que você já me conhece um pouco e sabe que não sou injusto. Eu sei que não posso, não devo e nem quero te forçar a se abrir comigo, mas quando você me ligou hoje de manhã, eu achei que você ia finalmente me contar sua história...
- null… - null abaixou o rosto, encarando as próprias mãos entrelaçadas - Eu preciso de mais alguns dias. - pediu baixinho, sentindo os olhos arderem.
A verdade era que quando o convidou para saírem naquela manhã, null queria compartilhar com ele sobre sua ida a Toledo. Ainda estava nervosa com o que tinha acontecido, ainda mais que null passou a volta toda até Madrid perguntando sobre a "namorada de seu avô". Queria sim se abrir com ele sobre o resto, mas depois de ouvir sua opinião sobre o ocorrido e ainda concordar com ele que null merecia saber que além de namorada, aquela senhora era sua avó, acabou não querendo tocar em mais um problema seu. Por mais que null sempre a ouvisse, odiava como sempre tinha algo acontecendo em sua vida. Tinha decidido que assim que entrassem no carro, o convidaria para conhecer sua casa após a noite que passariam juntos, o que tinha para lhe contar não era algo que pudesse ser dito em um local público. Poderia não estar preparada, mas o jogador merecia aquilo.
- Já é a terceira vez que você me pede alguns dias, null - O jogador não conseguia encarar a mulher, seu olhar era distante. - Eu não quero ser o tipo de cara que fica pressionando, mas eu já não sei se você quer namorar comigo ou se só está me enrolando. Eu falei sério quando disse que quero ter algo com você, que quero ser um segundo pai para a null , mas talvez você não me veja assim.
Após algum tempo em silêncio, null se virou e viu que embora null o escutasse, ela não tinha a menor intenção de responder. Ele apertou o botão para destravar seu carro e esticou o braço abrindo a porta para a mulher que o encarou assustada.
- Eu vou te dar mais um tempo porque eu ainda acredito na gente, mas se for para continuarmos eu quero que seja com você por inteiro, sendo minha namorada, sem segredos. Só me procura se estiver disposta a se abrir comigo, porque a cada dia que passa eu me apaixono ainda mais por você e por sua filha e não quero sair mais machucado dessa situação do que eu já estou.
Ainda sem conseguir processar tudo que tinha ouvido, null empurrou a porta, sentindo suas pernas tremerem. Abriu o porta malas do jogador, tirando as duas bolsas de dentro e antes de fechá-lo, seus olhos cruzaram com os de null, que o desviou rápido demais.
Quando o porta malas se fechou a primeira lágrima caiu no rosto de null. Ele não sabia se aquele era o fim, se a última imagem que teria de null seria aquela. Mais do que tudo ele queria que ela abrisse a porta do passageiro e lhe contasse tudo, mas aquilo não aconteceu. null entrou em seu prédio sem conseguir entender como seu coração podia pesar tanto quanto no dia que Carlos a deixou.
Naquela noite, null não dormiu.
Naquela noite, null chorou até dormir.
O jogador mal conseguiu segurar o sorriso ao ver a mulher atravessar a rua em direção ao seu carro e mesmo sabendo que null não podia vê-lo, por conta do vidro escuro, ela sorria para ele.
- Nossa, não achei que estaria tão frio! - exclamou, enquanto se acomodava no banco do passageiro. null a observava com um sorriso de canto. - O que foi? - ela riu baixinho.
- Sabe, null, eu achava que era impossível você ficar mais linda, mas toda vez que te vejo comprovo que estava errado, você sempre supera minhas expectativas. - ela riu, sentindo-se tola por ainda sentir as bochechas corarem toda vez que ele a elogiava.
- Você também não está nada mal, se bem que com essa barba você fica lindo vestindo qualquer coisa, principalmente quando está usando nada. - null beijou os lábios do jogador e sorriu ao sentir a mordida que ele deu em seu lábio inferior. - Ai, você não cansa, não? Aposto que já deixou uma marca permanente aqui. - brincou tocando o próprio lábio.
- Pretendo deixar muitas mais. - null piscou, dando partida no carro e encarou a mulher mais uma vez, antes de pisar no acelerador.
O silêncio a caminho do restaurante demonstrava o nervosismo do casal, era algo bastante incomum entre eles. Não era apenas a ansiedade do primeiro encontro que assombravam seus pensamentos, seria a primeira vez que iriam a um local público, sem as crianças. null sentia suas mãos suarem, era difícil para ela saber que provavelmente null a levaria em algum lugar requintado onde provavelmente o reconheceriam e ela não sabia muito bem como agir.
O jogador se virou para a mulher por um instante e reparou que ela mordia a ponta do dedo, algo que ela sempre fazia quando estava preocupada e para acalmá-la, tirou uma das mãos do volante e a colocou em cima da perna da mulher que sorriu com o gesto e entrelaçou seus dedos aos dele e assim foram até a entrada do lugar.
O restaurante, como esperado, era muito elegante, null ficou feliz ao ver que tinha se vestido apropriadamente e agradeceu ao manobrista que abriu a porta para ela e voltou a abrir um sorriso ao dar a volta no carro e ver a mão de null pronta para segurá-la e era exatamente daquela forma que sempre via o homem à sua frente, pronto para protegê-la de todos os problemas. Sentindo-se infinitamente mais calma, ela aceitou a mão que ele oferecia e juntos caminharam até a mesa mais reservada do ambiente.
- Essa é a sua mesa. Se precisarem de alguma coisa, por favor, me chamem. – a funcionária do restaurante sorriu simpática despedindo-se do casal.
- Conseguiu conversar com seu pai? - o jogador perguntou, pois sabia que naquela noite o pai de null chegaria mais cedo para que ela pudesse conversar com ele sobre o ocorrido com a mãe dela no parque.
- Um pouco, ele me disse que há algum tempo pegou ela olhando fotos e vídeos da null no celular dele e que quando perguntou, ela desconversou. Ele passou então a sempre mencionar alguma coisa sobre a gente depois dos nossos encontros e que ao invés de pedir para ele não continuar a falar, ela passou a se interessar, embora nunca fizesse perguntas.
- Me parece que ela está arrependida, null.
- Eu não me importo, como mãe eu não consigo nem pensar em deixar a null passar por uma unha quebrada sozinha, quanto mais o que eu passei. No dia que fomos ao parque ela disse a ele que ia sair com as amigas e ele me contou que ela chegou em casa e se trancou no quarto e chorou. Eu tenho pena do meu pai porque ele está no meio da história e tem esperança que a gente se resolva, mas se ela acha que é espionando minha vida que ela vai conseguir alguma coisa, está muito enganada.
- Ah, aí está a null que brigou comigo depois de nos encontrarmos a primeira vez na guarderia. - null decidiu que era melhor trocar de assunto, não queria chatear a mulher justo naquela noite.
- Se me lembro bem foi um certo jogador muito do metido que me acusou de sequestro.
- Esse jogador nunca imaginou que uma mulher como você se interessaria por ele, talvez por isso tenha dito algumas bobeiras, mas espero que ele tenha se redimido.
- Ah, pode apostar que sim, ele faz umas massagens ótimas. - null disse baixinho, mesmo que ninguém estivesse próximo a eles, o que fez com que null risse alto.
A conversa inicial, apesar de tensa, tinha ao menos servido para sumir com o desconforto e nervosismo que sentiram no começo da noite, juntos, decidiram o que pediriam e assim que a garçonete pediu licença, iniciaram uma conversa sobre os filhos, o que os fez rir ao notarem que mais uma vez seus pequenos eram protagonistas em suas vidas. Decidiram por tentar ter uma noite onde não conversariam sobre filmes da Disney ou a melhor forma de convencer seu filho a comer verduras.
O casal aproveitou o fato de não serem interrompidos a cada cinco minutos para conversarem sobre tudo e nada ao mesmo tempo, null contou sobre a semana que tivera com Ben e null estava animado, pois ao que tudo indicava seria titular no próximo jogo. A mulher prometeu que caso não conseguisse ir ao estádio, assistiria ao jogo pela TV. Quando os pratos chegaram, as trocas de carinho aumentaram, fazendo com que ambos mal conseguissem tirar os olhos um do outro e assim que o garçom trouxe a sobremesa escolhida por null, já que o jogador precisava manter a dieta pré-jogo, ele segurou na mão dela, chamando sua atenção.
- null, eu gosto de acreditar que você sabe como me sinto em relação a nós. As vezes acho que demonstro, mas em outras eu tenho certeza que você não faz ideia do quanto eu gosto de você. - null a olhava no fundo dos olhos, tomando toda a atenção de null. - Eu pensei muito sobre a gente nesses últimos dias e em como minha vida melhorou desde que te conheci. Depois que me separei eu não sabia se um dia ia encontrar alguém que eu pudesse amar novamente e que fizesse tão bem para mim e ainda mais para meu filho, mas então eu entrei numa certa loja de brinquedo e o resto virou história. Esses últimos meses vêm sendo os mais especiais da minha vida, pois descobri que além de ser uma mulher e mãe incrível você também é minha parceira e melhor amiga, algo que eu nunca pensei que pudesse existir na mesma pessoa. Eu sei que isso tá parecendo um monólogo e a sua cara de assustada me diz que você não está entendendo onde eu quero chegar, mas eu quis te dizer todas essas coisas, pois mesmo estando quase quatro meses atrasado, eu queria que esse nosso primeiro encontro fosse não só o primeiro de muitos, mas o primeiro nosso, como namorados. Você aceita namorar comigo? - assim que null terminou uma das declarações mais lindas que null tinha ouvido em toda sua vida, seus olhos que já estavam cheios d’água, acabaram por não mais conseguir segurar as lágrimas, fazendo a mulher rir e chorar ao mesmo tempo.
null nunca imaginou que null tinha um pedido de namoro em mente para o primeiro encontro deles, por isso respirou fundo, tentando colocar seus pensamentos em ordem. Nunca um mês tinha lhe trazido tanta dor, alegria e confusão. O olhar esperançoso do homem não ajudava em nada.
- Eu queria mais do que tudo dizer sim aqui, agora. - null segurou a mão de null e sentiu seu coração se contorcer ao ver a cara que ele fazia para ela, completamente confuso - Mas, se você me permitir, eu queria pedir um tempo pra te responder. De todos os meses do ano, esse mês e especialmente a próxima semana, é uma época difícil pra mim. Eu sei que pode parecer esquisito para as pessoas de fora, que não viveram a minha situação, mas foi há exatos quatro anos nesse mês, que o Carlos, o pai da null nos deixou e, infelizmente, eu ainda não aprendi a lidar com isso tão bem, eu me retraio, fico ainda mais grudada na null e não sou boa companhia pra ninguém. Você e a null são meus maiores motivos para sorrir e por mais que não pareça você tem me ajudado a seguir em frente como nunca ninguém conseguiu antes. Estar com você me faz ter menos motivos para ficar triste nessa época do ano, mas ainda não estou pronta. Eu sei que é injusto, mas queria continuar como estamos só mais um pouquinho.
null a encarava com os olhos arregalados, seu coração doía em ter seu pedido de namoro negado, mas ao ver a mulher que era sempre tão forte, independente e bem resolvida, frágil daquela maneira, fez com que toda sua frustração se transformasse em compreensão. Sabia também que apesar de tudo, null vinha se abrindo com ele pouco a pouco. Primeiro soube um pouco mais da vida dela como mãe solteira, depois dos problemas com a mãe e finalmente ela tocava no nome do pai de null , assunto o qual ela sempre evitava. Sempre que se via frustrado em ter seus avanços negados tentava dizer a si mesmo que fosse lá o que ela tivesse passado era sério o suficiente e tinha deixado marcas mais profundas do que ele poderia imaginar e a única coisa que ele podia fazer era respeitar o tempo dela.
- Eu não posso dizer que entendo completamente, porque nunca imaginei que você fosse me dizer não. Mas, antes de tudo, eu te respeito como pessoa e se você precisa de um tempo, ele é todo seu, apenas se lembre que eu estou aqui, null, e não pretendo ir a lugar algum.
- É sempre bom ouvir de novo, null. Eu espero que você saiba que não é você, não há nada de errado entre nós, eu não tenho vontade de estar com mais ninguém a não ser você. É o meu passado que até hoje assombra minha vida, mas eu te prometo que não vou te deixar no escuro pra sempre. Eu só…
- Ei, está tudo bem, eu não quero e nem pretendo parar de beijar essa sua boca, vamos deixar esse assunto pra depois e aproveitar que temos essa noite só nossa.
- Vamos. - Ela assentiu ainda o encarando - Você é incrível, null! Eu não sei o que fiz pra te merecer.
null sentia-se mal por ter negado o pedido de null, a mulher vinha ensaiando há um bom tempo como iria contar toda sua história, mas sempre que acreditava estar pronta, acabava por recuar. Sabia que o jogador merecia saber todos os detalhes e a verdade era que se via ansiosa para que ele soubesse tudo de uma vez, mas o problema era que, embora para muitos pudesse parecer fácil, para ela significava abrir uma parte de sua vida que tinha demorado a cicatrizar e mesmo irremediavelmente apaixonada por null, tinha muito medo do que poderia sentir. A dor que tinha conseguido esconder no canto mais profundo do seu coração, era intensa demais para que ela a deixasse reaparecer.
Quando chegou em casa naquela madrugada, teve medo que sua recusa pudesse afastá-lo, a dúvida sobre o que seria deles aumentou ainda mais com o passar dos dias, ambos não sabiam muito bem como agir um com o outro e estava tudo um pouco confuso. null chegou a acreditar que aquele poderia ser o fim, odiava que o calendário de jogos de null estivesse tão cheio, dando a eles ainda menos oportunidades de se verem. Do outro lado, null não estava muito diferente, morria de saudades de null e sentia que precisava olhar nos olhos dela para ter a certeza que nada entre eles tinha mudado, por isso quando a primeira folga apareceu, imediatamente ligou para mulher, a convidando a passar uma tarde de sol na piscina de sua casa.
Feliz com o convite, null anunciou a null o que fariam naquela tarde e imediatamente a pequena desligou a TV e saiu correndo para o quarto para decidir qual maiô usar.
- Desse tamanho e já nessa indecisão sobre o que vestir, princesa?
- Eu quero que o Tio null me ache bonita, mamá.
- Ah meu amor, eu tenho certeza que ele te acha linda, independente do que você vestir, qual você prefere?
- Esse com laço, mamá, fico parecidinha com a Elza.
- Fica mesmo! - null disse, segurando uma risada com a imaginação da filha. - Vamos tirar uma foto pra mandar pro vovô.

Durante o caminho, mãe e filha foram cantando ao som de Moana e gargalhavam quando a mais nova tinha dificuldade de pronunciar alguma palavra. null percorreu o conhecido caminho até a casa de null, sorrindo ao ver o homem surgir na garagem apenas de bermuda.
- Se está tentando me seduzir, saiba que está conseguindo. - disse o puxando pela barba para dar um beijo em sua boca.
- Esse sempre é o plano, delícia. - ele riu, abaixando-se para pegar null no colo a enchendo de beijos em seguida. - Eu tava morrendo de saudade de você, Super null !
- Eu também tava, Tio null. Vai ter comida?! - a pequena perguntou para o espanto de null, fazendo o jogador rir alto.
- Claro que vai, você está com fome já?! Sua mãe me contou que você tomou café da manhã tarde?
- É que não tinha bolo. - null fez bico, derretendo o jogador, que a abraçou mais apertado.
- Vai ter bolo, mas só depois que comer todo o almoço. - o homem disse encarando null que murmurou um “obrigada” e os dois riram ao ver a pequena toda feliz ao descobrir que teria bolo.
O jogador colocou null no chão, que saiu correndo porta adentro, chamando por null Jr.
- Estamos bem? - null segurou a mão do jogador, o fazendo parar à sua frente.
- Não sei, estamos? - foi ali que a mulher percebeu que null tinha o mesmo medo que ela.
- Eu estava com medo da gente se distanciar. - confessou encostando a testa na dele - Mas fiquei feliz com o convite, eu precisava disso.
- Eu também. - null a abraçou forte - Eu ainda me sinto da mesma maneira.
- Eu também. - null sussurrou em resposta e os dois puderam finalmente acalmar os corações cheios de dúvidas e inseguranças, sentindo o toque um do outro.
Gargalhadas infantis preenchiam o ambiente, null e null estavam na piscina com as crianças há algum tempo e se divertiam ao ver seus pequenos tão felizes com algo tão simples. Sempre que conseguiam desviar a atenção dos filhos por um segundo os dois trocavam carícias e beijos, matando a saudade e urgência que tinham um do outro. null adorava null de todas as formas, mas a visão dela de biquíni, toda dele, o fazia rezar baixinho para que a soneca das crianças chegasse logo e fosse duradoura o suficiente para que ele pudesse ter um momento a sós com a mulher.
- Eu vou colocar a mesa - null avisou ao notar a hora - E também tirar o bolo da geladeira, quem comer o prato todo de verduras vai poder comer duas fatias.
- Duas? - null Jr. perguntou empolgado vendo a mulher assentir segurando a risada.
- Eba!!! - os dois gritaram animados. - Eu vou comer todas os verdinhos no meu prato, Tia null - o menino disse alto, próximo ao ouvido do pai, que fez uma careta.
- Nunca vi alguém tão empolgado pra comer brócolis. - o jogador respondeu, encarando o filho.
- Eu também vou, Tio null. - null que nadava com bóias em seu braço, disse ao jogador.
- Vamos nos secar então, vocês dois, fora da piscina! - null disse com uma voz engraçada e riu ao ver null nadar em direção a mãe para que ela a ajudasse a sair da piscina.
Enquanto null terminava de secar as crianças, null preparava o prato delas. Da cozinha ela conseguia ouvir tudo que se passava do lado de fora da casa, null e null não paravam de falar e o som ficou ainda mais alto quando os três entraram na casa.
- Eu preciso ir no banheiro, papá! - null anunciou em alto e bom tom.
- Vamos lá então, null … - o jogador não conseguiu terminar, pois logo foi interrompido pelo filho.
- Não, papá, eu vou sozinho. Já sou um homenzinho. - o garoto soltou sério, fazendo os dois adultos darem risada em cantos separados da casa.
null ouviu o som da porta do lavabo da sala sendo aberta e então ouviu null perguntar algo a null, que destruiu seu coração.
- Tio null, será que você pode ser meu papá, também?
O barulho de algo se quebrando que veio da cozinha era a confirmação que null podia ouvi-los. Ele ainda estava chocado com a pergunta para sequer conseguir piscar, embora seus olhos estivessem cheio de lágrimas confusas. A pequena á sua frente parecia ter afeição suficiente por ele para fazer uma pergunta tão especial quanto aquela, mesmo que ela sequer se dessa conta daquilo, mas por outro lado ele só podia imaginar o que null estava sentindo do outro lado da parede.
- null ! - null surgiu na porta e null se levantou parte aliviado, parte preocupado, o olhar da mulher era devastador. Como podiam carregar tanta tristeza? - Vem ajudar a mamãe colocar a cobertura no bolo?
- Tá bom, mamá. - a pequena respondeu e o jogador sabia que não deveria segui-las.
Assim que entraram na cozinha, null colocou null sentada no balcão, para que ela não pisasse no copo que ela tinha derrubado.
- Meu amor, você sabe que a mamá te ama mais que todas as estrelas no céu, não? - null disse, sentindo a garganta doer de tanto que segurava para não chorar.
- E eu te amo mais que todos os bolos de chocolate do mundo, mamá. - null respondeu sorrindo e null não mais conseguiu segurar as lágrimas.
- Princesa, você lembra que já tem um pai, não? E que ele te ama, mesmo que às vezes não pareça, mesmo que você não o veja?
- Eu também amo muito o papá, mamá, mas eu queria um que estivesse pertinho. O León me contou que agora ele tem duas mamães, então eu pensei que o Tio null podia ser meu papá de perto e o papá meu papai de longe. Eu gosto tanto do Tio null.
- Ah meu amor, era por isso que você queria ficar bonita pra ele? - null sorria, embora seu rosto estivesse marcado pelas lágrimas.
- Era, mamá, você acha que ele quer ser meu papai?
- Vamos fazer assim. - null enxugou as lágrimas, pegando a filha no colo. - A mamãe promete que vai conversar com o null, mas podemos esperar mais um pouquinho? E enquanto a gente espera eu vou ver com o Tio Nano sobre visitarmos juntos o papai, o que você acha?
- Sim, muito sim, mamá.
- Olha a foto que tirei hoje, ele é tão lindo. - null disse passando o celular para o jogador, os dois estavam no quarto, tendo acabado de colocar as crianças para dormir, que estavam exaustas depois do dia que tiveram.

- Sou suspeito pra falar, mas também acho que nós quatro formamos uma família linda. - brincou, mordendo a bochecha da mulher.
- Me desculpa por hoje. - null pediu se aproximando dele. - Eu não sei de onde aquilo saiu, eu acho que o pai do León começou a namorar e ela gostou da ideia de ter dois pais.
- Ela me pegou totalmente de surpresa, eu não sabia o que falar porque nunca conversamos sobre o assunto e eu não queria dizer algo sem conversar com você antes. - null sorriu, se aconchegando nos braços do homem - De qualquer forma, foi a pergunta mais linda que já me fizeram em toda minha vida, eu sou tão apaixonado pela null quanto sou por você e me sentiria extremamente honrado em ser um segundo pai para ela.
- Você é um pai incrível null, a null e eu temos muita sorte de ter você em nossas vidas.
null fechou os olhos frustrado, aquele era o momento perfeito para que null se abrisse com ele e ao que tudo indicava, mais uma vez aquilo não aconteceria.
- null? - null a chamou, sabendo que ela o ouvia - Me leva pra conhecer a sua casa?
- Nossa, eu não me lembro quando foi a última vez que estive aqui. - null encarava a casa que um dia chamou de sua.
- Quase cinco anos, não? - Gonzalo, seu pai, respondeu com null no colo - Sabia que sua mãe morou aqui desde o dia que ela tinha sua idade?
- Vedade, mamá? A sua casa é linda vovô.
null não tinha voltado a Toledo desde que anunciou sua gravidez, estar ali era estranho, difícil. Um lugar que por muitos anos pode chamar de lar e que agora carregava tanto peso.
A mulher tinha ligado para seu pai querendo conversar depois da última visita a casa de null e como ele não estava se sentindo bem, decidiu pelo menos uma vez ir até ele, ao invés de fazê-lo ir a Madrid.
- Ela não está. - disse para a filha que estava congelada no lugar quando chegaram à porta.
Pai, filha e neta entraram juntos na residência e os mais velhos se encararam num misto de dor, tristeza e alegria.
- Vamos até a sala? - Gonzalo ofereceu e as duas o acompanharam - Assim a null assiste desenho enquanto nós dois conversamos.
null assentiu e null deu um gritinho animada ao ver que tinha bolo de chocolate e suco de uva, seus favoritos, na mesa de centro. Enquanto a menina se deliciava com as guloseimas e se entretinha com Meu Pequeno Pônei, os mais velhos se sentaram no sofá.
- O que está acontecendo, meu amor? Deve ser algo grave para te fazer vir até aqui depois de tanto tempo.
- Não é nada grave, eu e a null estamos bem, é só que… Eu conheci alguém! - soltou de vez encarando o mais velho e logo em seguida sentiu os braços do pai a envolverem.
- Estou tão feliz em saber disso, filha. - ele estava emocionado - Eu imaginei que você tivesse conhecido alguém já que agora não me pede mais tanto para ficar com a null enquanto você sai com suas amigas, deve ser sério então?
- Bastante, ele me pediu em namoro. - null soltou vendo o sorriso aumentar no rosto do pai - Mas eu disse não, ele ainda não sabe de nada, pai. - complementou e compreensão passou pelos olhos do senhor.
- E você quer que ele saiba?
- Quero muito, é só que, é difícil. - a mulher apertou o colar que usava. - Eu me odeio por isso, consegui levar por um tempo, mas agora está afetando minha relação. Ele pediu para ir lá em casa e eu desconversei.
- Ele não deve estar se sentindo muito confiante depois de duas recusas como essas e eu consigo ver nos seus olhos o quanto ele é importante pra você.
- Eu só me senti assim por alguém uma vez antes, pai. Ele também tem um filho e ele e a null se adoram, ela até perguntou sem eu ver se ele queria ser o pai dela. - A mulher sussurrou ainda mais para que a filha não ouvisse.
- Eu acho que você já tem a resposta que busca, você só queria que alguém com mais de quatro anos a dissesse em voz alta. - Gonzalo disse rindo e null acabou acompanhando. - Estava na hora de você se permitir ser feliz novamente, você merece.
- Eu… Obrigada, pai. Eu acho que você tem razão, eu só precisava que alguém me confirmasse que estou no caminho certo. O null é diferente, eu não vejo a hora de vocês se conhecerem.
- Quando você estiver pronta, princesa. - os dois se abraçaram aliviados, Gonzalo por saber que sua filha finalmente tinha se permitido ser feliz de novo e null por ter a confirmação que precisava.
O que era para ser uma visita de uma hora acabou se estendendo por mais duas, null amou conhecer o quarto onde a mãe cresceu e null se espantou ao ver que algumas de suas coisas ainda estavam ali.
- Quem sabe agora você possa vir mais vezes passar o dia com seu pai? - o homem pediu quando os três já estavam na porta para se despedir.
- Eu ia adorar, eu sinto falta de passear por Toledo.
- Deixa que eu abro. - null se atrapalhou toda, mas conseguiu virar a maçaneta e os três encararam com olhos arregalados a figura do outro lado da porta.
Lucía, mãe de null estava com as chaves na mão, pronta para colocá-la na fechadura.
- Eu… Me desculpe, achei que vocês já tivessem ido embora. - a mais velha sentiu seus olhos marejarem ao ver filha e neta tão próximas.
- Acabamos conversando mais do que o esperado, querida. - o senhor se pronunciou ao ver que ninguém diria mais nada.
- Estávamos de saída. - null pronunciou pegando null no colo e dando um beijo no rosto do pai. - Nos falamos depois. - disse, passando pela porta e pela mulher.
- Mamá, essa moça é namorada do vovô? - a pequena perguntou e null parou de andar, fechando os olhos.
- É sim, minha princesa. - Nem ela sabia decifrar o que estava prestes a fazer. - Nós precisamos ir, já está ficando tarde. Mas, você quer dar um abraço nela?
null assentiu acanhada e null se virou vendo seus pais a encararem espantados e emocionados ao ver a filha se virar para os dois. A mais velha deu um passo à frente e null estendeu a filha para que a mãe a pegasse no colo e desse um abraço na neta. Não querendo estragar um momento inédito, Lucía logo devolveu a neta a filha, com o rosto já coberto pelas lágrimas.
- Isso não muda nada. - null soltou, mas todos ali sabiam que sim, aquilo mudava tudo.
null dirigia animado, seus dedos batiam no volante ao ritmo da música que ouvia. Estava indo ao encontro de null, ela tinha o convidado para sair e ele estava confiante que finalmente saberia toda sua história. Na noite em que ele se convidou para conhecer onde ela morava, ela pediu ainda mais tempo, embora aquilo não o tivesse surpreendido, foi impossível não se sentir decepcionado. Ele não queria forçar algo e afastar ainda mais a mulher, mas também estava um pouco cansado de tanto segredo, às vezes se sentia sendo testado e batia a insegurança que null não estava tão na dele, como ele estava na dela. Tinha pedido conselhos a um de seus colegas de time que era mais velho e ele o encorajou a dar uma última chance a mulher e era o que ele tinha feito.
Empolgado, preparou uma enorme cesta de piquenique, almoçariam juntos no mesmo local onde fizeram a caça ao tesouro. Livre de pessoas ao redor, era o lugar perfeito para conversarem a sós enquanto as crianças estavam na escola. O combinado era irem juntos buscá-los e de lá irem passar a noite na casa do jogador, null carregava consigo duas malas pequenas com suas coisas e de null .
Durante o almoço, os dois conversaram sobre a semana que tiveram e os filhos, null contou o que tinha acontecido em Toledo o que animou ainda mais o jogador por conta da naturalidade com que ela tocou no assunto. null estava ansioso e a todo momento encontrava brechas para que null se sentisse à vontade para se abrir com ele, mas quanto mais o tempo passava, mais seu sorriso diminuía e seu coração se comprimia. A mulher contava histórias e mais histórias sem a menor importância e o fazia perguntas que ele não tinha a menor vontade de responder. Gradualmente seu humor foi diminuindo, até que ele se viu obrigado a tomar uma decisão.
null se levantou dizendo que deveriam ir embora e mesmo sabendo que ainda não era hora de buscar as crianças, null se levantou, estranhando a forma de agir do jogador. Assim que entraram no carro, ao invés de seguir em direção a rua que os levaria para a guarderia, o homem resolveu mudar a rota, fazendo null estranhar quando o mesmo estacionou o carro em frente a seu apartamento.
- O que foi? - perguntou encarando o prédio - Eu já trouxe tudo, podemos ir direto para a escola.
- null, pelo tempo que estamos juntos, sei que você já me conhece um pouco e sabe que não sou injusto. Eu sei que não posso, não devo e nem quero te forçar a se abrir comigo, mas quando você me ligou hoje de manhã, eu achei que você ia finalmente me contar sua história...
- null… - null abaixou o rosto, encarando as próprias mãos entrelaçadas - Eu preciso de mais alguns dias. - pediu baixinho, sentindo os olhos arderem.
A verdade era que quando o convidou para saírem naquela manhã, null queria compartilhar com ele sobre sua ida a Toledo. Ainda estava nervosa com o que tinha acontecido, ainda mais que null passou a volta toda até Madrid perguntando sobre a "namorada de seu avô". Queria sim se abrir com ele sobre o resto, mas depois de ouvir sua opinião sobre o ocorrido e ainda concordar com ele que null merecia saber que além de namorada, aquela senhora era sua avó, acabou não querendo tocar em mais um problema seu. Por mais que null sempre a ouvisse, odiava como sempre tinha algo acontecendo em sua vida. Tinha decidido que assim que entrassem no carro, o convidaria para conhecer sua casa após a noite que passariam juntos, o que tinha para lhe contar não era algo que pudesse ser dito em um local público. Poderia não estar preparada, mas o jogador merecia aquilo.
- Já é a terceira vez que você me pede alguns dias, null - O jogador não conseguia encarar a mulher, seu olhar era distante. - Eu não quero ser o tipo de cara que fica pressionando, mas eu já não sei se você quer namorar comigo ou se só está me enrolando. Eu falei sério quando disse que quero ter algo com você, que quero ser um segundo pai para a null , mas talvez você não me veja assim.
Após algum tempo em silêncio, null se virou e viu que embora null o escutasse, ela não tinha a menor intenção de responder. Ele apertou o botão para destravar seu carro e esticou o braço abrindo a porta para a mulher que o encarou assustada.
- Eu vou te dar mais um tempo porque eu ainda acredito na gente, mas se for para continuarmos eu quero que seja com você por inteiro, sendo minha namorada, sem segredos. Só me procura se estiver disposta a se abrir comigo, porque a cada dia que passa eu me apaixono ainda mais por você e por sua filha e não quero sair mais machucado dessa situação do que eu já estou.
Ainda sem conseguir processar tudo que tinha ouvido, null empurrou a porta, sentindo suas pernas tremerem. Abriu o porta malas do jogador, tirando as duas bolsas de dentro e antes de fechá-lo, seus olhos cruzaram com os de null, que o desviou rápido demais.
Quando o porta malas se fechou a primeira lágrima caiu no rosto de null. Ele não sabia se aquele era o fim, se a última imagem que teria de null seria aquela. Mais do que tudo ele queria que ela abrisse a porta do passageiro e lhe contasse tudo, mas aquilo não aconteceu. null entrou em seu prédio sem conseguir entender como seu coração podia pesar tanto quanto no dia que Carlos a deixou.
Naquela noite, null não dormiu.
Naquela noite, null chorou até dormir.
Capítulo 7
null olhava a TV ainda sem acreditar no que estava assistindo, parecia uma brincadeira sem graça do destino. Seus olhos focavam na tela, mas era inevitável que as memórias a levassem para semanas atrás, aumentando a dor em seu peito que parecia ser uma nova constante em sua vida. Uma dor que tinha levado tanto tempo para superar e que havia voltado como se nunca tivesse ido embora. Embora o causador fosse outro, a intensidade era surpreendentemente a mesma.
Seu pai tinha ido passar o sábado com ela e null , como fazia todos os meses e ao notar a filha mais pra baixo que o normal, ao invés de ir embora logo após o almoço, resolveu ficar e fazer companhia para as duas até o fim da noite. null adorava como seu pai cuidava dela como se ela ainda fosse uma garotinha da idade de null , mas justo naquele dia ela preferia que ele não tivesse ficado.
O jogo na TV era a lembrança de sua covardia, nem ela entendia o que a impedia de contar tudo de uma vez para null, não o culpava por ter perdido a paciência com ela. Talvez se fosse o oposto ela teria feito a mesma coisa, mas vê-lo jogar era apenas mais um lembrete do que ela tinha deixado ir.
- Esse menino ainda vai longe. - seu pai comentou ao ver a filha com os olhos fixos na TV.
- Quem? - perguntou nervosa, sentindo as batidas de seu coração aumentar.
- O null, o que marcou o gol. - null assentiu, sem saber o que responder.
- O tio null? - null que brincava de lego no chão com o avô, olhou pra TV. - Ele é o namorado da mamá, vovô.
- Como?!
- null !! - pai e filha pronunciaram as duas palavras juntos e se encararam a tempo do mais velho ver lágrimas se formarem nos olhos da filha.
- É ele? - Gonzalo olhava pra filha, mas a neta estava agora com a cara na TV, procurando pelo jogador, confirmando a resposta que buscava.
- Cadê ele, vovô? Eu to com saudadi, faz um tempão que a gente não vê eles, né, mamá?
- É que o tio null anda ocupado com esses jogos, mas tenho certeza que ele também tá com saudade. - null conversava com a filha, sabendo que seu pai a encarava curioso. Agora mais do que nunca o mais velho não sairia dali tão cedo.
- Mamá você também sente saudade?
- Está um pouco tarde pra senhorita estar acordada, dá boa noite pro vovô e vai colocar o pijama que eu já vou ler uma história pra você, tá?
- Mas o Tio null tá na TV!
- Amanhã a gente liga pra ele, que tal?
- Tá bom. - disse mais animada, indo abraçar o avô.
null deu um beijo no rosto da filha, que tinha adormecido pouco após se deitar, seu dia tinha sido cheio de aventuras e o cansaço apareceu assim que a pequena deitou na cama. A mulher prolongou o máximo que pode os passos até a sala, sabia que seu pai iria querer saber mais sobre aquela história. Sorriu ao encontrá-lo lavando a louça do jantar.
- Você sabe que não precisa, não é? - disse abraçando o senhor de lado.
- Sei, mas faço questão, meu amor. - o mais velho respondeu enxugando as mãos e encarando a filha - Eu não te via sorrindo da forma que você tem feito nos últimos meses há muito tempo. O que deu errado?
- Eu demorei pra contar e ele se cansou, só isso. - deu de ombros, tentando dar muito menos importância ao fato do que ele tinha de verdade.
- E, por que não? Você acha que ele não entenderia? - Gonzalo duvidava que era esse o motivo.
- Eu fico esperando a oportunidade perfeita surgir e acabo perdendo a coragem. Gosto de pensar que estou pronta e que mereço ser feliz de novo, mas acontece isso e já começo a duvidar de tudo novamente.
- Princesa, para esse tipo de coisa não tem melhor momento. Por que não o convida pra vir aqui e deixe que tudo simplesmente aconteça?
- E se for tarde demais?
- Se ele é tão determinado na vida como é no futebol eu tenho certeza que ele não vai desistir tão fácil da mulher que ele ama.
- E como você sabe que ele me ama?
- Porque eu te conheço como ninguém e sei que é impossível não te amar, filha.
- Você é o meu pai, tem obrigação de falar isso.
- Tenho, mas se ele fez tudo que fez por você e pela null em tão pouco tempo, podendo encontrar qualquer garota solteira, sem um passado doloroso... Se isso não é amor, é o quê?!
- Você é o melhor pai do mundo!! - null abraçou o pai deixando que as lágrimas finalmente caíssem - Ele disse para eu procurá-lo quando estivesse pronta. Eu acho que o senhor está certo, eu só preciso chamá-lo para vir aqui.
- Eu não acredito que você vai me fazer criar um carinho pelo null.
💙
null não lembrava há quanto tempo não ouvia a voz de null, a saudade que sentia dela e de null parecia crescer cada dia mais. Nunca imaginou que pudesse amar uma criança que não fosse sua, da forma que amava null . A pequena tinha conquistado um espaço enorme em seu coração sem que ele sequer percebesse. Não conseguia parar de pensar nelas e agradecia que além dos treinos com o clube, tinha sido escalado para a seleção, o que o mantivera ocupado o suficiente para tentar esquecer a última vez que as tinha visto.
Sem dúvidas, null era o mais chateado com toda aquela situação, por mais que compreendesse os motivos de null, estava cansado de sacrificar os próprios sentimentos ao esperar por uma mulher, sem ter certeza se um dia a teria por inteiro. Não tinha sido fácil tomar aquela decisão, mas havia decidido que somente seguiria com o relacionamento quando soubesse de tudo e por mais que doesse, sabia que estava no caminho certo.
Já fazia algum tempo que ele estava sentado no carro esperando pelo horário que o filho sairia da escola, distraia-se com as mensagens do grupo que tinha no WhatsApp com seus companheiros de time enquanto aguardava por null Jr. Quando o sinal tocou e viu as primeiras crianças saírem pelo portão correndo, desceu do carro caminhando em direção a entrada procurando por seu pequeno, riu quando o viu saindo do prédio praticamente correndo. Havia viajado na semana anterior para uma partida e fazia alguns dias que não o via e pela reação do filho ao vê-lo, soube que ele sentia tanta saudade quanto o pai.
- Papá! Tava morrendo de saudade! - exclamou assim que o abraçou, sentindo-se ser levantado pelo pai.
- Eu também tava, quase fugi do jogo pra vir ver você! - disse exagerado o enchendo de beijos - Pensei de passarmos numa lanchonete e comer hambúrguer, o que você acha?
- Com bastante patata frita?
- Com muita!
O menino soltou uma gargalhada gostosa e logo pai e filho caminhavam juntos em direção ao carro. Após ter certeza que null Jr. estava preso de maneira certa na cadeirinha, o jogador fechou a porta traseira do carro, se preparando para entrar no banco do motorista. Mas assim que sua mão encostou na maçaneta, por algum motivo que nem ele entendia, seus olhos focaram na imagem da mulher que saía da escola.
null estava linda como sempre, talvez ainda mais do que antes. Ela andava conversando com null e ambas tinham um sorriso que chegava a doer dentro de seu peito. Como se soubesse estar sendo observada, null levantou o olhar e acabou encontrando com o de null. E, mesmo sem certeza de seu ato, fez questão de caminhar em direção ao homem, mas antes que pudesse sequer chegar perto, ele entrou rapidamente no carro, o trancando em seguida. A mulher franziu o cenho, estranhando a atitude do jogador, mas entendeu o recado e sem pestanejar desviou seu caminho indo em direção ao próprio carro, sentindo o buraco em seu peito aumentar.
null respirou fundo algumas vezes, ignorar null era algo que realmente o machucava, mas estar com ela sem ter respostas doía muito mais. Batidinhas na janela do carro o fizeram dar um leve pulo de susto, imaginou ser null, mas logo notou Dulce, que o encarava séria do lado de fora. Abaixou o vidro, percebendo a reticência da mulher.
- null, querido, talvez não caiba a mim dizer isso e peço desculpas, mas não seja tão duro com a null. - a mulher encarou brevemente o carro da amiga deixar o estacionamento da escolinha. - Você pode não entender os motivos dela e até discordar da forma que ela está lidando com tudo isso, mas até você ter andado algumas milhas nos sapatos dela, não julgue sem saber. Ela é muito forte por tudo que já passou, mas no final das contas a null ainda é apenas uma menina, que teve que crescer cedo demais. - finalizou e saiu, deixando null ainda mais intrigado do que já estava.
💙
As roupas na cama faziam null sorrir e se emocionar ao mesmo tempo. Estava separando o que não mais servia em null e, embora tivesse começado aquilo com a intenção de diminuir o guarda roupa amontoado da filha, se via guardando mais coisas do que pretendia. Sua princesa faria quatro anos em breve, mas parecia apenas ontem que a tinha pego no colo pela primeira vez.
O dia de folga tinha vindo na hora certa, sem null, null estava ocupando todo o seu tempo livre com Ben e quando percebeu, estava exausta. Após deixar null na escola, voltou para casa, dormiu mais um pouco e só acordou quando sentiu fome. Se virou para sua sala e sorriu, amava seu cantinho e todas as memórias que ele trazia, mas era hora de fazer algumas mudanças. Há muito tempo que não mexia em nada e queria deixá-la em perfeito estado para que quando null entrasse ali pela primeira vez, pudesse se sentir tão bem vindo, quanto ela se sentia na casa dele.
Vê-lo na escola tinha sido mais difícil do que o esperado. Não poder falar com ele, não ver o sorriso que ele sempre tinha pronto pra ela e muito menos sentir sua boca latejar pelas mordidas que ele amava lhe dar, tinham sido o suficiente para que se irritasse consigo mesma. Tinha finalmente percebido que perdê-lo era infinitamente pior do que criar a maldita coragem. Nunca mais deixaria que aquele sentimento tomasse decisões por si. null estava decidida, contaria tudo ao jogador. Agora ela só precisava tentar descobrir quando ele teria uns dias de folga para chamá-lo para finalmente ir à sua casa.
Seu celular tocou a tirando de seus próprios pensamentos e sentiu seu peito se comprimir ao ver que era da escola. Ainda era cedo demais para null sair e logo pensou o pior.
- Sra. null?
- Eu. - disse, apressada, querendo entender o motivo daquela ligação.
- Aqui é a Dani, secretária da guarderia…
- Sim, eu sei, aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupada, sem tempo para formalidades.
- A null está bem, não se preocupe. Na verdade estou ligando, pois temos seu nome na lista de pessoas autorizadas a buscar o null Jr. e não estamos conseguindo contato com os pais dele.
- O que aconteceu?! - a mulher sentia seus olhos arderem. Sem sequer esperar a resposta, calçou o tênis apressada, o que quer que fosse era grave suficiente para lhe ligarem.
- As crianças estavam brincando no parquinho após o almoço e ele se desequilibrou no escorregador e caiu em cima da mão. Levamos ele pra enfermaria, mas o dedo dele está bastante inchado e ele não deixa a gente sequer examinar.
- Eu chego aí em vinte minutos. Você tentou ligar pra avó dele? - perguntou jogando a bolsa no ombro e pegando a chave do carro.
- Sim, ligamos para todos os contatos, mas ninguém atendeu o telefone. Ele parece estar com muita dor e como você sabe, só podemos administrar certos medicamentos.
- Certo, já estou a caminho.
null mal se lembrava como tinha chegado na guarderia, o caminho que conhecia de cor tinha passado como um borrão. Passou todo o tempo tentando contatar null, mas seu telefone só caia na caixa postal. Aquela hora ele geralmente estava treinando e veria a mensagem somente muito depois. Não tinha o telefone de Victoria, mas esperava não causar nenhum problema ao ir buscá-lo, gostava de pensar que se fosse com null , agradeceria quem quer que fosse que socorresse sua princesa em uma emergência. Apesar de evitar conversar com Fernando, em um caso como aquele, sequer hesitou em pegar o telefone e ligar para ele.
Assim que viu null, null Jr. se livrou do colo da enfermeira da escola e correu pra mulher que o abraçou forte, num misto de saudade, cuidado e muito amor. Tinha sentido mais falta dele do que imaginara e vê-lo com o rosto molhado de lágrimas, partiu seu coração.
- Machucou, tia null. Tá doendo. - null encarou a mãozinha do menino e se assustou com o tamanho de seu dedo, mas tentou não demonstrar.
- Eu sei que está, príncipe. Eu vou te levar no médico, tá bem? O papai tá treinando e assim que conseguirmos falar com sua mãe ou avó, elas vão nos encontrar.
A enfermeira logo tratou de descrever o que tinha acontecido e o remédio que tinha lhe dado. null anotou o telefone da mãe de null Jr. e sabendo exatamente onde levá-lo, correu para o carro.
null não se lembrava de um dia ter dirigido tão rápido em sua vida. Os inúmeros telefonemas perdidos de null o tinham assustado, mas ver as ligações de Victoria e de sua mãe o apavoraram. Ao ler a mensagem de null, dizendo que null Jr. estava com ela no hospital fizeram seu coração se apertar, passara a tarde toda treinando e Victoria tinha aproveitado que ele estava com a semana tranquila, para viajar com duas amigas para fora do país. O jogador não se conformava, nos únicos dias do ano que era o único responsável pelo filho, algo grave tinha acontecido e ele não estava lá para socorrê-lo.
Sentia-se culpado, mas agradecia por saber que null estava com ele, o pequeno vinha perguntando da mulher há dias e ele já não tinha mais desculpas para dar. Depois das palavras que ouvira de Dulce, ele até tinha pensado em ser mais uma vez a pessoa a ceder, mas decidiu se manter firme e esperar mais uma semana, se null não o procurasse ele lhe daria uma última chance aonde quer que se encontrassem, se ela se abrisse bem, senão ele estava decidido a virar a página de vez.
Correu pelos corredores do hospital em direção a emergência e sentiu seu coração bater acelerado ao ver a mulher sentada em uma das cadeiras do local, distraída em seu telefone.
- null! - ele disse ao se aproximar, um pouco incerto do que fazer.
- Ah null, ainda bem que você chegou! - a mulher levantou num pulo, o abraçando forte.
- O que aconteceu?! Ele está bem? Quando podemos vê-lo? - perguntou apressado, tentando encontrar respostas no semblante da mulher.
- Parece que foi algo bobo, ele se atrapalhou ao descer pelo escorregador e acabou caindo em cima da mãozinha dele, um dos dedos estava bem machucado e inchado. Mas ele foi tão corajoso, null, você tinha que ver ele segurando as lágrimas dentro do carro.
- Onde ele está?
- Foi tirar Raio-X e como você já estava chegando fiquei aqui pra te esperar. Ele está nas melhores mãos.
- Tudo bem, será que demora muito?
- Eu vou avisar a enfermeira que você chegou, eles precisam dos dados dele pra abrir a ficha e eu não sabia tudo. - disse se virando para ir até a recepção - Você comeu depois do treino?
- Não, assim que eu vi meu celular sai correndo.
- Eu vou buscar alguma coisa pra você, não dá pra ficar sem comer depois de treinar o dia todo.
- Obrigado. - null ainda estava anestesiado de qualquer emoção, ele apenas queria estar ao lado do seu filho, mas foi impossível não se sentir cuidado com as palavras de null.
Enquanto esperava o médico aparecer, preencheu a ficha com os dados do filho e do plano de saúde e ligou para Victoria para acalmá-la, ela estava do outro lado do oceano tentando encontrar um voo ainda para aquele dia.
- Sr. null?
- Eu!
- Ah, muito prazer, eu sou o Dr. Fernando Muñiz, chefe da equipe de ortopedia aqui do hospital. Acabamos de sair do Raio-X e está tudo bem com seu filho, não houve nenhuma fratura, apenas um entorse no dedo, conforme suspeitávamos. Mas fizemos o exame por precaução.
- Não é nada grave, então ?! - perguntou, sentindo-se extremamente aliviado
- Não, pode ficar tranquilo. Não será nem necessário passar por cirurgia, um de nossos residentes está mobilizando o dedo dele agora e faremos acompanhamento com o fisioterapeuta, caso você queria continuar o tratamento conosco, é claro.
- Quando posso vê-lo?
- Em alguns minutos, ele já está descendo. Eu só vim antes porque a null me disse que você já tinha chegado. - falou mostrando o celular e null o encarou confuso - Não queria que o Sr. ficasse preocupado sem necessidade.
- Obrigado. Eu realmente estava surtando, a mãe dele também.
- Eu imagino, quando a null me ligou achei que tivesse acontecido alguma coisa com a minha sobrinha, ela estava tão assustada que eu não entendi nada do que ela disse. Só quando ela chegou aqui que vi que era um menino. - null ouvia ao médico atento, mas só pareceu processar as palavras dele após algum tempo.
- ... Sobrinha?
- Sim, a null me disse que seu filho é colega da null , não?
- I...Isso. - assentiu ainda com o cenho franzido, encarando o homem completamente confuso.
O jogador pareceu congelar no lugar, sua mente processando e trabalhando com uma informação que até então ele desconhecia. Buscou em todas as conversas que tivera com null e não lembrava da mulher contando que tinha uma irmã ou até mesmo um irmão. null era filha única, disso null tinha certeza. Encarou o médico que fazia anotações em um prontuário e reparou que a cor do cabelo dele era igual ao de null . Sem conseguir formular sua fala, apenas assentiu quando o Dr. Fernando pediu licença para se retirar, informando que logo voltaria para chamá-lo para entrar.
Enquanto esperava null voltar da cafeteria do hospital, null andava de um lado para o outro confuso, não conseguia para de pensar nas semelhanças entre o médico e null . Viu a mulher sair do elevador sorrindo, carregando dois cafés e uma sacola, alheia ao turbilhão de pensamentos e sentimentos que ele se encontrava.
- Obrigado, eu realmente estava com fome.
- E eu não te conheço? - null disse sorridente, mas logo se lembrou da realidade entre eles. - Desculpa, eu não...
- Você é casada?! - antes mesmo de perceber, as palavras já tinham saído de sua boca sem permissão e o olhar que null lhe lançou disse muito. Finalmente muita coisa começava a ser explicada.
null arregalou os olhos, os sentindo marejar. Ao fundo, Fernando apareceu em seu canto de visão e embora preocupado com a expressão da mulher, se virou para o jogador.
- Sr. null? O senhor já pode entrar. - null não queria desviar o olhar de null, queria uma resposta, mas seu filho vinha sempre em primeiro lugar.
null se virou para o médico e assentiu aliviado, finalmente poderia ver null Jr. Deu dois passos a frente antes de se virar novamente para pedir a null que os esperasse, mas já era tarde, a única coisa que viu, foram os passos apressados dela em direção ao elevador.
Seu pai tinha ido passar o sábado com ela e null , como fazia todos os meses e ao notar a filha mais pra baixo que o normal, ao invés de ir embora logo após o almoço, resolveu ficar e fazer companhia para as duas até o fim da noite. null adorava como seu pai cuidava dela como se ela ainda fosse uma garotinha da idade de null , mas justo naquele dia ela preferia que ele não tivesse ficado.
O jogo na TV era a lembrança de sua covardia, nem ela entendia o que a impedia de contar tudo de uma vez para null, não o culpava por ter perdido a paciência com ela. Talvez se fosse o oposto ela teria feito a mesma coisa, mas vê-lo jogar era apenas mais um lembrete do que ela tinha deixado ir.
- Esse menino ainda vai longe. - seu pai comentou ao ver a filha com os olhos fixos na TV.
- Quem? - perguntou nervosa, sentindo as batidas de seu coração aumentar.
- O null, o que marcou o gol. - null assentiu, sem saber o que responder.
- O tio null? - null que brincava de lego no chão com o avô, olhou pra TV. - Ele é o namorado da mamá, vovô.
- Como?!
- null !! - pai e filha pronunciaram as duas palavras juntos e se encararam a tempo do mais velho ver lágrimas se formarem nos olhos da filha.
- É ele? - Gonzalo olhava pra filha, mas a neta estava agora com a cara na TV, procurando pelo jogador, confirmando a resposta que buscava.
- Cadê ele, vovô? Eu to com saudadi, faz um tempão que a gente não vê eles, né, mamá?
- É que o tio null anda ocupado com esses jogos, mas tenho certeza que ele também tá com saudade. - null conversava com a filha, sabendo que seu pai a encarava curioso. Agora mais do que nunca o mais velho não sairia dali tão cedo.
- Mamá você também sente saudade?
- Está um pouco tarde pra senhorita estar acordada, dá boa noite pro vovô e vai colocar o pijama que eu já vou ler uma história pra você, tá?
- Mas o Tio null tá na TV!
- Amanhã a gente liga pra ele, que tal?
- Tá bom. - disse mais animada, indo abraçar o avô.
null deu um beijo no rosto da filha, que tinha adormecido pouco após se deitar, seu dia tinha sido cheio de aventuras e o cansaço apareceu assim que a pequena deitou na cama. A mulher prolongou o máximo que pode os passos até a sala, sabia que seu pai iria querer saber mais sobre aquela história. Sorriu ao encontrá-lo lavando a louça do jantar.
- Você sabe que não precisa, não é? - disse abraçando o senhor de lado.
- Sei, mas faço questão, meu amor. - o mais velho respondeu enxugando as mãos e encarando a filha - Eu não te via sorrindo da forma que você tem feito nos últimos meses há muito tempo. O que deu errado?
- Eu demorei pra contar e ele se cansou, só isso. - deu de ombros, tentando dar muito menos importância ao fato do que ele tinha de verdade.
- E, por que não? Você acha que ele não entenderia? - Gonzalo duvidava que era esse o motivo.
- Eu fico esperando a oportunidade perfeita surgir e acabo perdendo a coragem. Gosto de pensar que estou pronta e que mereço ser feliz de novo, mas acontece isso e já começo a duvidar de tudo novamente.
- Princesa, para esse tipo de coisa não tem melhor momento. Por que não o convida pra vir aqui e deixe que tudo simplesmente aconteça?
- E se for tarde demais?
- Se ele é tão determinado na vida como é no futebol eu tenho certeza que ele não vai desistir tão fácil da mulher que ele ama.
- E como você sabe que ele me ama?
- Porque eu te conheço como ninguém e sei que é impossível não te amar, filha.
- Você é o meu pai, tem obrigação de falar isso.
- Tenho, mas se ele fez tudo que fez por você e pela null em tão pouco tempo, podendo encontrar qualquer garota solteira, sem um passado doloroso... Se isso não é amor, é o quê?!
- Você é o melhor pai do mundo!! - null abraçou o pai deixando que as lágrimas finalmente caíssem - Ele disse para eu procurá-lo quando estivesse pronta. Eu acho que o senhor está certo, eu só preciso chamá-lo para vir aqui.
- Eu não acredito que você vai me fazer criar um carinho pelo null.
Sem dúvidas, null era o mais chateado com toda aquela situação, por mais que compreendesse os motivos de null, estava cansado de sacrificar os próprios sentimentos ao esperar por uma mulher, sem ter certeza se um dia a teria por inteiro. Não tinha sido fácil tomar aquela decisão, mas havia decidido que somente seguiria com o relacionamento quando soubesse de tudo e por mais que doesse, sabia que estava no caminho certo.
Já fazia algum tempo que ele estava sentado no carro esperando pelo horário que o filho sairia da escola, distraia-se com as mensagens do grupo que tinha no WhatsApp com seus companheiros de time enquanto aguardava por null Jr. Quando o sinal tocou e viu as primeiras crianças saírem pelo portão correndo, desceu do carro caminhando em direção a entrada procurando por seu pequeno, riu quando o viu saindo do prédio praticamente correndo. Havia viajado na semana anterior para uma partida e fazia alguns dias que não o via e pela reação do filho ao vê-lo, soube que ele sentia tanta saudade quanto o pai.
- Papá! Tava morrendo de saudade! - exclamou assim que o abraçou, sentindo-se ser levantado pelo pai.
- Eu também tava, quase fugi do jogo pra vir ver você! - disse exagerado o enchendo de beijos - Pensei de passarmos numa lanchonete e comer hambúrguer, o que você acha?
- Com bastante patata frita?
- Com muita!
O menino soltou uma gargalhada gostosa e logo pai e filho caminhavam juntos em direção ao carro. Após ter certeza que null Jr. estava preso de maneira certa na cadeirinha, o jogador fechou a porta traseira do carro, se preparando para entrar no banco do motorista. Mas assim que sua mão encostou na maçaneta, por algum motivo que nem ele entendia, seus olhos focaram na imagem da mulher que saía da escola.
null estava linda como sempre, talvez ainda mais do que antes. Ela andava conversando com null e ambas tinham um sorriso que chegava a doer dentro de seu peito. Como se soubesse estar sendo observada, null levantou o olhar e acabou encontrando com o de null. E, mesmo sem certeza de seu ato, fez questão de caminhar em direção ao homem, mas antes que pudesse sequer chegar perto, ele entrou rapidamente no carro, o trancando em seguida. A mulher franziu o cenho, estranhando a atitude do jogador, mas entendeu o recado e sem pestanejar desviou seu caminho indo em direção ao próprio carro, sentindo o buraco em seu peito aumentar.
null respirou fundo algumas vezes, ignorar null era algo que realmente o machucava, mas estar com ela sem ter respostas doía muito mais. Batidinhas na janela do carro o fizeram dar um leve pulo de susto, imaginou ser null, mas logo notou Dulce, que o encarava séria do lado de fora. Abaixou o vidro, percebendo a reticência da mulher.
- null, querido, talvez não caiba a mim dizer isso e peço desculpas, mas não seja tão duro com a null. - a mulher encarou brevemente o carro da amiga deixar o estacionamento da escolinha. - Você pode não entender os motivos dela e até discordar da forma que ela está lidando com tudo isso, mas até você ter andado algumas milhas nos sapatos dela, não julgue sem saber. Ela é muito forte por tudo que já passou, mas no final das contas a null ainda é apenas uma menina, que teve que crescer cedo demais. - finalizou e saiu, deixando null ainda mais intrigado do que já estava.
O dia de folga tinha vindo na hora certa, sem null, null estava ocupando todo o seu tempo livre com Ben e quando percebeu, estava exausta. Após deixar null na escola, voltou para casa, dormiu mais um pouco e só acordou quando sentiu fome. Se virou para sua sala e sorriu, amava seu cantinho e todas as memórias que ele trazia, mas era hora de fazer algumas mudanças. Há muito tempo que não mexia em nada e queria deixá-la em perfeito estado para que quando null entrasse ali pela primeira vez, pudesse se sentir tão bem vindo, quanto ela se sentia na casa dele.
Vê-lo na escola tinha sido mais difícil do que o esperado. Não poder falar com ele, não ver o sorriso que ele sempre tinha pronto pra ela e muito menos sentir sua boca latejar pelas mordidas que ele amava lhe dar, tinham sido o suficiente para que se irritasse consigo mesma. Tinha finalmente percebido que perdê-lo era infinitamente pior do que criar a maldita coragem. Nunca mais deixaria que aquele sentimento tomasse decisões por si. null estava decidida, contaria tudo ao jogador. Agora ela só precisava tentar descobrir quando ele teria uns dias de folga para chamá-lo para finalmente ir à sua casa.
Seu celular tocou a tirando de seus próprios pensamentos e sentiu seu peito se comprimir ao ver que era da escola. Ainda era cedo demais para null sair e logo pensou o pior.
- Sra. null?
- Eu. - disse, apressada, querendo entender o motivo daquela ligação.
- Aqui é a Dani, secretária da guarderia…
- Sim, eu sei, aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupada, sem tempo para formalidades.
- A null está bem, não se preocupe. Na verdade estou ligando, pois temos seu nome na lista de pessoas autorizadas a buscar o null Jr. e não estamos conseguindo contato com os pais dele.
- O que aconteceu?! - a mulher sentia seus olhos arderem. Sem sequer esperar a resposta, calçou o tênis apressada, o que quer que fosse era grave suficiente para lhe ligarem.
- As crianças estavam brincando no parquinho após o almoço e ele se desequilibrou no escorregador e caiu em cima da mão. Levamos ele pra enfermaria, mas o dedo dele está bastante inchado e ele não deixa a gente sequer examinar.
- Eu chego aí em vinte minutos. Você tentou ligar pra avó dele? - perguntou jogando a bolsa no ombro e pegando a chave do carro.
- Sim, ligamos para todos os contatos, mas ninguém atendeu o telefone. Ele parece estar com muita dor e como você sabe, só podemos administrar certos medicamentos.
- Certo, já estou a caminho.
null mal se lembrava como tinha chegado na guarderia, o caminho que conhecia de cor tinha passado como um borrão. Passou todo o tempo tentando contatar null, mas seu telefone só caia na caixa postal. Aquela hora ele geralmente estava treinando e veria a mensagem somente muito depois. Não tinha o telefone de Victoria, mas esperava não causar nenhum problema ao ir buscá-lo, gostava de pensar que se fosse com null , agradeceria quem quer que fosse que socorresse sua princesa em uma emergência. Apesar de evitar conversar com Fernando, em um caso como aquele, sequer hesitou em pegar o telefone e ligar para ele.
Assim que viu null, null Jr. se livrou do colo da enfermeira da escola e correu pra mulher que o abraçou forte, num misto de saudade, cuidado e muito amor. Tinha sentido mais falta dele do que imaginara e vê-lo com o rosto molhado de lágrimas, partiu seu coração.
- Machucou, tia null. Tá doendo. - null encarou a mãozinha do menino e se assustou com o tamanho de seu dedo, mas tentou não demonstrar.
- Eu sei que está, príncipe. Eu vou te levar no médico, tá bem? O papai tá treinando e assim que conseguirmos falar com sua mãe ou avó, elas vão nos encontrar.
A enfermeira logo tratou de descrever o que tinha acontecido e o remédio que tinha lhe dado. null anotou o telefone da mãe de null Jr. e sabendo exatamente onde levá-lo, correu para o carro.
null não se lembrava de um dia ter dirigido tão rápido em sua vida. Os inúmeros telefonemas perdidos de null o tinham assustado, mas ver as ligações de Victoria e de sua mãe o apavoraram. Ao ler a mensagem de null, dizendo que null Jr. estava com ela no hospital fizeram seu coração se apertar, passara a tarde toda treinando e Victoria tinha aproveitado que ele estava com a semana tranquila, para viajar com duas amigas para fora do país. O jogador não se conformava, nos únicos dias do ano que era o único responsável pelo filho, algo grave tinha acontecido e ele não estava lá para socorrê-lo.
Sentia-se culpado, mas agradecia por saber que null estava com ele, o pequeno vinha perguntando da mulher há dias e ele já não tinha mais desculpas para dar. Depois das palavras que ouvira de Dulce, ele até tinha pensado em ser mais uma vez a pessoa a ceder, mas decidiu se manter firme e esperar mais uma semana, se null não o procurasse ele lhe daria uma última chance aonde quer que se encontrassem, se ela se abrisse bem, senão ele estava decidido a virar a página de vez.
Correu pelos corredores do hospital em direção a emergência e sentiu seu coração bater acelerado ao ver a mulher sentada em uma das cadeiras do local, distraída em seu telefone.
- null! - ele disse ao se aproximar, um pouco incerto do que fazer.
- Ah null, ainda bem que você chegou! - a mulher levantou num pulo, o abraçando forte.
- O que aconteceu?! Ele está bem? Quando podemos vê-lo? - perguntou apressado, tentando encontrar respostas no semblante da mulher.
- Parece que foi algo bobo, ele se atrapalhou ao descer pelo escorregador e acabou caindo em cima da mãozinha dele, um dos dedos estava bem machucado e inchado. Mas ele foi tão corajoso, null, você tinha que ver ele segurando as lágrimas dentro do carro.
- Onde ele está?
- Foi tirar Raio-X e como você já estava chegando fiquei aqui pra te esperar. Ele está nas melhores mãos.
- Tudo bem, será que demora muito?
- Eu vou avisar a enfermeira que você chegou, eles precisam dos dados dele pra abrir a ficha e eu não sabia tudo. - disse se virando para ir até a recepção - Você comeu depois do treino?
- Não, assim que eu vi meu celular sai correndo.
- Eu vou buscar alguma coisa pra você, não dá pra ficar sem comer depois de treinar o dia todo.
- Obrigado. - null ainda estava anestesiado de qualquer emoção, ele apenas queria estar ao lado do seu filho, mas foi impossível não se sentir cuidado com as palavras de null.
Enquanto esperava o médico aparecer, preencheu a ficha com os dados do filho e do plano de saúde e ligou para Victoria para acalmá-la, ela estava do outro lado do oceano tentando encontrar um voo ainda para aquele dia.
- Sr. null?
- Eu!
- Ah, muito prazer, eu sou o Dr. Fernando Muñiz, chefe da equipe de ortopedia aqui do hospital. Acabamos de sair do Raio-X e está tudo bem com seu filho, não houve nenhuma fratura, apenas um entorse no dedo, conforme suspeitávamos. Mas fizemos o exame por precaução.
- Não é nada grave, então ?! - perguntou, sentindo-se extremamente aliviado
- Não, pode ficar tranquilo. Não será nem necessário passar por cirurgia, um de nossos residentes está mobilizando o dedo dele agora e faremos acompanhamento com o fisioterapeuta, caso você queria continuar o tratamento conosco, é claro.
- Quando posso vê-lo?
- Em alguns minutos, ele já está descendo. Eu só vim antes porque a null me disse que você já tinha chegado. - falou mostrando o celular e null o encarou confuso - Não queria que o Sr. ficasse preocupado sem necessidade.
- Obrigado. Eu realmente estava surtando, a mãe dele também.
- Eu imagino, quando a null me ligou achei que tivesse acontecido alguma coisa com a minha sobrinha, ela estava tão assustada que eu não entendi nada do que ela disse. Só quando ela chegou aqui que vi que era um menino. - null ouvia ao médico atento, mas só pareceu processar as palavras dele após algum tempo.
- ... Sobrinha?
- Sim, a null me disse que seu filho é colega da null , não?
- I...Isso. - assentiu ainda com o cenho franzido, encarando o homem completamente confuso.
O jogador pareceu congelar no lugar, sua mente processando e trabalhando com uma informação que até então ele desconhecia. Buscou em todas as conversas que tivera com null e não lembrava da mulher contando que tinha uma irmã ou até mesmo um irmão. null era filha única, disso null tinha certeza. Encarou o médico que fazia anotações em um prontuário e reparou que a cor do cabelo dele era igual ao de null . Sem conseguir formular sua fala, apenas assentiu quando o Dr. Fernando pediu licença para se retirar, informando que logo voltaria para chamá-lo para entrar.
Enquanto esperava null voltar da cafeteria do hospital, null andava de um lado para o outro confuso, não conseguia para de pensar nas semelhanças entre o médico e null . Viu a mulher sair do elevador sorrindo, carregando dois cafés e uma sacola, alheia ao turbilhão de pensamentos e sentimentos que ele se encontrava.
- Obrigado, eu realmente estava com fome.
- E eu não te conheço? - null disse sorridente, mas logo se lembrou da realidade entre eles. - Desculpa, eu não...
- Você é casada?! - antes mesmo de perceber, as palavras já tinham saído de sua boca sem permissão e o olhar que null lhe lançou disse muito. Finalmente muita coisa começava a ser explicada.
null arregalou os olhos, os sentindo marejar. Ao fundo, Fernando apareceu em seu canto de visão e embora preocupado com a expressão da mulher, se virou para o jogador.
- Sr. null? O senhor já pode entrar. - null não queria desviar o olhar de null, queria uma resposta, mas seu filho vinha sempre em primeiro lugar.
null se virou para o médico e assentiu aliviado, finalmente poderia ver null Jr. Deu dois passos a frente antes de se virar novamente para pedir a null que os esperasse, mas já era tarde, a única coisa que viu, foram os passos apressados dela em direção ao elevador.
Capítulo 8
null tinha se despedido de seu filho há algumas horas. O menino tinha uma tala imobilizadora em espiga protegendo seu dedo polegar e, se não fosse pelo leve incômodo para dormir, já teria se esquecido do machucado. No final, ao saber que não era nada tão grave, Victoria aproveitou os últimos dois dias de sua viagem com as amigas, mas ligava para o pequeno pelo menos três vezes ao dia, para se certificar que ele estava realmente bem. De volta, tinha ido direto do aeroporto para a casa do ex-namorado e os dois conversaram muito sobre tudo que tinha acontecido, antes de ela ir embora.
- Agradeça a null por mim, se um dia eu a ver na escola, faço pessoalmente. Por mais que isso ainda seja estranho pra mim, saber que tem mais alguém por perto, que vai fazer o que for necessário para o bem estar do nosso filho, me deixa um pouco mais tranquila.
- Pode deixar e se você precisar de qualquer coisa, me liga, a hora que for. - a assegurou - Já deixei seu número pra tocar, mesmo que o celular esteja no silencioso. Também deixei o número do clube com a escola, assim eles podem me encontrar caso algo assim aconteça novamente.
- Eu espero que não. Tchau null, se cuida. - a morena desejou, abraçando o jogador e entrou no carro, dando a partida.
Assim que o veículo sumiu de vista, null tirou o celular do bolso, apertando o contato de null. Não poderia dizer que ficou surpreso ao ter sua chamada encaminhada para a caixa postal, há dias que ela não o atendia e pelo visto não o faria tão cedo. Não tinha contado a Victoria que os dois não estavam mais juntos e não o faria até ter certeza que aquilo era permanente. Ele esperava que não, mas do pouco que tinha descoberto, já não tinha muitas certezas.
Com a tela de seu celular aberto nas últimas chamadas, null não se surpreendeu ao ver a quantidade de números ao lado do nome da mulher. Ele realmente vinha tentando falar com ela há algum tempo, sem sucesso. De início aquilo o irritou, ela precisava mesmo o ignorar? Não poderiam conversar como dois adultos? Mas quanto mais os dias passavam, mais sua raiva diminuia e sua preocupação crescia.
No quinto dia, pediu a Victoria para buscar o filho na escola, mesmo não sendo sua semana de ficar com o pequeno, queria poder ter uma chance de falar com a mulher, mas estranhou ao não ver null em lugar algum. Quando já estavam no carro perguntou ao filho, que confirmou que ela não tinha ido a escola desde o dia de seu acidente.
Aquilo foi o suficiente para que null deixasse a mágoa de lado e começasse a pensar racionalmente. null até poderia estar o ignorando, mas ela não desligaria o telefone por quase uma semana inteira. Tinha seu trabalho com Ben, algo poderia acontecer com null , seus pais... Ele chegou até a pensar que ela pudesse ter trocado de linha, mas quanto mais pensava no assunto, mais ele tinha certeza que aquilo era algo que null jamais faria com ele. Alguma coisa estava acontecendo.
Mesmo com o carro já em movimento, null freiou de frente ao portão da escola, sem se importar que era um local proibido. Com a luz de emergência ligada, pegou rapidamente o filho no colo e correu em direção a Ramona, que estava com as crianças que ainda não tinham sido buscadas. A funcionária, tocada com a preocupação do jogador, lhe contou que null tinha avisado que a pequena faltaria às aulas, mas não tinha dado muitas explicações ou motivo. Sem pensar em mais nada, null saiu em direção ao apartamento das duas e sentiu seu coração ir a boca quando o porteiro confirmou que não as via há dias.
Por mais que tentasse dizer a si mesmo que não era nada, algo lhe dizia que precisava encontrá-las. Sem querer preocupar mais o filho, o deixou na casa da ex e foi em direção ao último lugar que sabia que poderia tentar descobrir algo sobre elas, a casa de Ben. Depois de todo o acontecido no hospital, sabia que null poderia se retrair, mas precisava ver com seus próprios olhos que elas estavam bem, só então ficaria tranquilo.
Foi impossível para null descrever a sensação de alívio que sentiu, ao ver o carro de null estacionado na garagem de Ben. A ansiedade que vinha sentindo há dias, finalmente começava a se dissipar. Percorreu o caminho até a porta e tocou a campanhia, sentindo seu coração bater acelerado.
- Olá, posso te ajudar? - null encarou a mulher a sua frente. Imaginou ser Cora, filha de Ben.
- Sim, eu não quero incomodar, mas eu estou procurando pela null e a Fio…
- null?! - o jogador ouviu a voz de null atrás da porta e Cora sorriu fechado para dentro da casa, antes de terminar de abrir a porta e sair pelo corredor adentro. null apareceu em seu campo de visão e nem ele soube dizer o que sentiu ao ver que ela estava ali, a sua frente e o mais importante, bem.
- Desculpa vir sem avisar, null, mas…
- Ah, null, ainda bem que você está aqui… - a mulher disse repentinamente e para sua completa surpresa, se jogou contra ele e antes que ele sequer pudesse entender o que estava acontecendo, começou a chorar. - O Ben, null, ele...morreu!! - exclamou pesarosa e o jogador sentiu seu peito se comprimir, finalmente devolvendo o abraço na mulher.
- Ah null, eu sinto muito. - a confortou, sem conseguir evitar se emocionar. Por mais que só o tivesse visto uma vez, tinha ouvido tantas histórias sobre ele, que se sentia próximo ao senhorzinho. - Eu não acredito, o que aconteceu?
- Ele só… Se foi. - a mulher explicou, se soltando de seu abraço e só então ele notou como ela estava abatida, cansada.
Quando pôs seus olhos sob a mulher estava tão preocupado em ter certeza que estava tudo bem fisicamente com ela, que não percebeu como seus olhos estavam vazios e completamente sem vida.
- Quando foi isso? - perguntou carinhoso e null abriu espaço para que ele entrasse na casa.
- Ontem a tarde. No dia do acidente do null eu estava saindo do hospital quando a Tina me ligou. - explicou, sobre a enfermeira que cuidava de Ben quando ela ia embora ou estava de folga. - Ela disse que ele não estava nada bem de novo e eu vim direto pra cá. Eu não queria acreditar, sabe? Mas ele passou os últimos quatro dias de cama, até que ontem ele se foi.
- Eu sinto muito mesmo, null. Eu estou tentando falar com você há dias, eu pensei que você estivesse me ignorando, mas quando o null me disse que a null não tinha ido pra escola a semana toda, fiquei preocupado. - explicou, se sentando no sofá da sala.
- Nossa, eu acabei nem perguntando, como ele está? - a mulher enxugou as lágrimas o encarando interessada e null se sentiu tolo por sequer ter pensado que ela o estava ignorando. Numa situação como aquela e ela ainda se preocupava com seu filho.
- Está ótimo, colocaram uma tala na mão até sarar e depois vamos voltar ao médico pra ver se vai precisar de fisioterapia. Só faltou um dia na escola, queria mostrar pros coleguinhas o machucado. - riu fraco, se lembrando da cena.
- Ah que bom, eu estava preocupada com ele. Mande um beijo meu quando falar com ele de novo. - pediu e o jogador assentiu, com um sorriso de lado. - Você quer um café, um chá?
- Eu não quero atrapalhar, null. Eu só precisava saber que vocês estavam bem. - se explicou, indeciso sobre tocar ou não na mão da mulher.
- Eu teria te ligado, null, mas estou aqui desde aquele dia. Ainda não fui pra casa. - explicou e tudo pareceu fazer um pouco mais de sentido para ele - Meu celular está sem bateria e esqueci o carregador em casa. Eu não sei seu número de cor ainda. - o buraco que ele vinha sentindo em seu estômago desde o dia que deram um tempo, pareceu finalmente diminuir.
- E a null , como está? Onde ela está? - perguntou curioso, olhando ao redor para ver se via a pequena.
- Com meu pai, ele chegou de madrugada aqui. Ele foi em casa buscar algumas roupas e meu carregador e depois ia levar a null para fazer alguma coisa. Ela tem sido tão compreensiva, mas estava me dando pena vê-la o dia todo na frente da TV. Eu e a Cora também não paramos de chorar, null é muito novinha pra ficar num ambiente triste como esse. Mas amanhã depois do enterro, finalmente vamos para casa.
- Se você quiser… - null iniciou, mas então se lembrou que não tinham mais nada - Não, nada...
- O quê? - perguntou, colocando a mão sob a sua e null sentiu sua garganta queimar. Tinha sentido falta de seu toque.
- Eu sei que… Que não estamos mais juntos, mas se você quiser eu posso te ajudar com a null nesses próximos dias. Se você precisar de um tempo pra você, eu posso pegar ela amanhã depois do enterro e ela dorme lá em casa com o null Jr., sem problemas. Eu levo os dois na escola e deixo ela de volta no dia seguinte.
null abaixou os olhos encarando suas mãos, sentindo a já conhecida dor na garganta voltar com força. Nem ela sabia que era possível chorar tanto e ainda ter lágrimas para derramar. Tinha certeza absoluta de seus sentimentos por null e mesmo após ela ter fugido dele por tanto tempo, ele ainda se preocupava com ela com a mesma intensidade, cuidado e carinho de sempre.
- null, eu preciso me desculpar com você. - soltou o encarando e o jogador franziu o cenho ao ver as lágrimas novamente nos olhos da mulher. - Eu sei que é minha a culpa de não estarmos mais juntos, eu só… Eu estou tão cansada, toda vez que eu acho que as coisas estão melhorando alguma coisa acontece e me lembra que nem todo mundo merece um final feliz. Eu não sei o que foi que eu fiz de tão errado nessa vida pra merecer tudo isso. - desabafou, sentindo as lágrimas caírem por seu rosto.
- Não pensa assim, null. - null a puxou para si, a abraçando - A vida às vezes pode ser bastante injusta, mas todo mundo merece ser feliz, principalmente você. Se eu pudesse, trocaria tudo o que tenho pra não te ver falar assim.
- É difícil não pensar assim, quando nada dá certo pra mim, null. Até quando dá, eu me auto saboto. - resmungou bufando e ele soube que ela se referia a eles - Eu nunca quis te magoar, eu nunca quis te perder. Sei que provavelmente agora é tarde demais, mas, eu sinto muito por ter sido tão fraca, por não ter te contado tudo sobre a minha vida desde o começo…Talvez a gente ainda estivesse junto. Eu também nunca imaginei que o cara que eu conheci numa loja de brinquedos, ia se tornar alguém tão especial em minha vida. - disse sorrindo com a lembrança.
- null, se você soubesse tudo que eu sinto por você. O que eu fiz... Não foi por mim, mas por você, por nós. É horrível a sensação de impotência, ver nos seus olhos toda essa dor e não saber nem por onde começar. Me doía fisicamente quando você se fechava pra mim, sendo que tudo que eu sempre quis foi só que você me deixasse entrar, me deixasse te ajudar a ver que o mundo não é só dor. Sei que não sou perfeito, mas eu nunca quis ninguém como eu te quero e eu quero muito te fazer feliz. Você é tão nova, tem o mundo todo pela frente e eu quero estar ao seu lado quando você o conquistar. Porque se tem alguém que merece o mundo, esse alguém é você.
- Eu não sei o que você viu em mim, null. Não sei se mereço tudo isso, não depois da forma que lidei com tudo isso…Mas, - null se aproximou ainda mais do jogador, tocando na barba que ela tanto amava e sentia falta de acariciar. null pôs suas mãos sob a dela, ainda sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Ela levou sua outra mão ao rosto do jogador e selou seus lábios ao dele, num selinho que pareceu durar uma eternidade e que deixou saudade no segundo em que ele terminou. - Eu realmente precisava te ver. - confessou, o abraçando forte. - Eu não sabia do quanto eu precisava disso, null. De te ver, ouvir a sua voz, sentir o seu toque… Obrigada por não desistir de mim, nem quando eu fiz de tudo para que você o fizesse. - confessou o olhando no fundo dos olhos e antes que ela tentasse se afastar, null a apertou novamente, mostrando que contanto que ela quisesse, ele sempre estaria ali.
null percebeu que por muito tempo usou do medo para proteger a si mesma, todas as pessoas que ela amava, de uma forma ou outra haviam lhe abandonado, seus pais, o pai de null , Ben. Já bastava o medo irracional de perder null que a acompanhava todos os dias, agora ainda tinha null, tão perfeito. Parecia ser bom demais para ser verdade para alguém como ela, tão bom que ela mesma se encarregou de o afastar. Mas talvez, assim como tinha acontecido com seu pai, null ficaria. Mesmo com todas suas tentativas de afastá-lo, ele ainda estava ali e se ele tinha toda aquela certeza sobre eles, ela também teria.
Após null finalmente se acalmar, null se ofereceu para ajudá-la. Apesar de Cora morar com o marido no local, o fazia apenas pelo pai, que não queria se mudar da casa onde tinha vivido com sua esposa e criado todos seus filhos e netos. null sabia que era questão de dias para que ela fosse colocada a venda, mas Cora já havia a tranquilizado, assegurando que ela ainda trabalharia para eles por mais alguns meses.
- Mamá, adivinha quem chegooooo. - null gritou da porta de entrada, fazendo null rir. Ela e null estavam na sala de TV, olhando os filmes em VHS que Ben guardava num armário.
- Quem, meu amor? - a mulher respondeu da sala, pedindo para null se esconder em algum lugar.
- Eu!!!! - a pequena apareceu com seu pai e null se abaixou pra pegar a menina no colo.
- Eu tenho uma surpresa pra você, princesa.
- É bolo de chocolate?! - a menina perguntou animada e null pode ouvir null dar uma risadinha, atrás do móvel que se escondia.
- Não, melhor. Fecha os olhos. - pediu, vendo o pai a encarar curiosa e null colocar as mãos sob os olhinhos. null andou na ponta dos pés até as duas e se postou de frente para a pequena. - Pode abrir.
- Tio null!!! - null gritou animada, se jogando nos braços do jogador, que a rodopiou no ar algumas vezes, antes de abraçá-la - Que saudadiiiiinha.
- Eu também, princesinha, eu também. - o jogador depositou um beijo no rosto da menina, que retribuiu com outro, o enchendo de amor. - Onde você estava?
- Eu fui no parque com o vovô e depois a gente comeu no McDonaldi. - a menina dizia com as mãos na barba do jogador e só então null reparou no homem que os encarava, abraçado à filha e com um sorriso no rosto.
- Olá, sou o null, muito prazer. - se aproximou levemente tenso, oferecendo a mão ao mais velho.
- Gonzalo, um prazer. - retribuiu - Fico feliz em saber que você apareceu, eu falei pra minha filha te ligar, mas ela não me ouve.
- Papai! - null o encarou envergonhada e null deixou uma risadinha nasalada escapar.
- Eu deveria ter percebido antes, eu poderia ter ajudado mais.
- O importante é que você está aqui agora. - Gonzalo o assegurou - Eu trouxe seu carregador - disse tirando o objeto do bolso - Coloque-o pra carregar. - pediu a filha, se virando para o jogador - Vocês querem um café?
- Eu faço, pai.
- Não, eu ainda sei fazer um café, você precisa descansar e se distrair um pouco. Por que vocês não vão ao jardim e os encontro lá?
- Tudo bem. - null agradeceu, dando a mão para a filha.
null decidiu ajudar Gonzalo com as bebidas. Sempre tivera curiosidade em conhecer alguém da família de null e não poderia estar mais surpreso com a reação inicial do homem, muito mais tranquila que a de Ben.
- Eu realmente estou feliz que tenha aparecido, null, a null pode ser bem difícil quando quer. Se eu soubesse seu telefone, teria te avisado. - o mais velho sorriu simpático para o jogador.
- Eu não sabia que o senhor sabia sobre nós.
- Ela demorou pra me contar, mas eu já imaginava que ela tinha conhecido alguém especial. Eu soube no momento que ela falou de você a primeira vez que isso entre vocês era diferente. - Gonzalo confessou, reparando em null, que o encarava curioso. - O que foi?
- Eu não sei... - ele coçou a cabeça tímido - Não imaginei que fosse ser assim se um dia te conhecesse, o senhor me surpreendeu. Acho que estava esperando pelo pior.
- Eu já fiz mais o papel do pai bravo, inclusive com o pai da null , mas depois de tudo, eu só quero ver minha filha feliz e confio nela para tomar a melhor decisão. Faz tempo que não a vejo assim e dá pra ver que é recíproco.
- Muito. - null concordou sem a menor vergonha.
- Eu aconselhei a null a te contar tudo há muito tempo, mas desde pequena ela tem dificuldade em se abrir. Sei que sou o pai dela, mas estou torcendo de verdade por vocês.
- Obrigado, Seu Gonzalo. Eu estou muito feliz em poder finalmente te conhecer.
- Eu também, meu caro. Eu também.
💙
null cruzava sozinho os grandes arcos do "Cementerio de la Almudena". Apesar de nunca ter estado ali antes, já tinha passado de carro e sempre se impressionava com a grandeza e beleza da necrópole. O local era um ponto turístico da cidade, um museu a céu aberto, mas infelizmente estava o visitando pela primeira vez por um motivo que não aquele. Ir a cemitérios nunca era algo fácil, null não tinha perdido muitas pessoas em sua vida e mesmo assim não conseguiu não deixar que toda a tristeza e melancolia do local tomasse conta de si.
Caminhava por entre os túmulos, alguns tão parecidos outros tão diferentes. Algumas tumbas pareciam verdadeiras obras de arte. À sua frente viu um pequeno aglomerado de pessoas e percebeu ter finalmente chegado ao local que a família de Ben o enterraria. Não demorou para encontrar null, ela estava com null no colo e seu pai ao lado. Era visível o quanto Ben era querido, tamanha a quantidade de pessoas ali presentes.
Como null não queria chamar muita atenção, achou por melhor ficar um pouco afastado, mas null logo o encontrou com o olhar e piscou para ele, feliz em saber que ele tinha conseguido chegar na hora.
Durante a cerimônia, foi impossível não se emocionar com as palavras do padre e mais ainda com a homenagem de null. Não teve uma única pessoa que tivesse ficado sem lágrimas nos olhos, depois de seu relato sobre a vida de Ben. Ninguém ali o conhecia mais do que ela. null depositou em suas palavras todo amor e gratidão que tinha pelo mais velho e sua família por terem a acolhido no momento mais difícil de sua vida. Também contou como Ben tinha sido seu porto seguro e um segundo avô para null . null viu nos olhos de Gonzalo a dor que era ouvir tudo aquilo, sabendo que foi sua omissão que levou a filha a encontrar Ben. Por mais que doesse, o mais velho sabia que tudo aquilo tinha acontecido com o propósito de null encontrar Ben. Os dois formavam uma amizade única.
Um barulho atrás de si tirou null de seus devaneios e ele se virou a tempo de ver uma figura um pouco escondida atrás de uma tumba, ainda mais afastada da qual ele estava. Não demorou para que sua memória o relembrasse de onde conhecia aquela mulher. A tinha visto uma única vez, no dia que tinham perdido null de vista por um minuto. Aquela mulher era a mãe de null. Sem parar pra pensar, null se aproximou e soube no momento que ela o encarou, que ela também se lembrava dele.
- Olá, eu sou o null. - se apresentou, oferecendo a mão a mulher - Será que podemos conversar?
💙
- Sua homenagem foi linda, null. - null estava abraçado de lado a mulher, observando o nome de Ben lapidado na placa com sua data de nascimento e morte. - Vocês podiam até não ser família de sangue, mas eram família de alma.
- Eu tenho certeza disso. Eu nunca vou me esquecer dele, null - admitiu, segurando a nova onda de lágrimas.
- E nem ele de você. - o jogador depositou um beijo carinhoso na cabeça da mulher. - Era destino vocês se encontrarem.
A maioria dos familiares de Ben já havia ido embora, alguns poucos ainda conversavam em frente ao estacionamento reservado às famílias. null ficou para trás, ainda sem acreditar que seu grande amigo ficaria ali, pra sempre.
- Filha, quando você quiser. - Gonzalo apareceu com null , que se agarrou as pernas de null.
- Você está linda com esse vestido amarelo, Super-null .
- O Ben dizia que a null era o seu sol. - null explicou e null se abaixou para dar um abraço na pequena. - null, você se importa em me deixar em casa?
- Claro que não. - o jogador respondeu se levantando com null em seu colo. Tinham combinado dele ficar com a pequena aquela noite, mas não haviam feito planos maiores do que aquele.null precisava de um tempo para si e só havia uma única pessoa a qual ela confiaria sua filha.
- Pai… - null se aproximou do mais velho - Obrigada por hoje, mas tem algo que eu ainda preciso fazer.
- Você tem certeza? - ele sabia o que era e não pode esconder a surpresa e emoção.
- Como nunca antes. - ela soltou já nervosa, abraçando o pai. - Nos falamos depois.
Após o mais velho se despedir de null e da neta, null ofereceu a mão ao jogador e os três foram caminhando pelo cemitério em silêncio. Mesmo sem entender, o jogador a acompanhou.
- Eu sei que pode parecer estranho, mas esse lugar me acalma. - null comentou sorrindo, ao admirar null de mão dadas aos dois. Como se fossem uma família.
- Faz sentido, é um lugar bonito, silencioso, cheio de verde... Confesso que andei a passos lentos ao entrar, sempre tive curiosidade de vir aqui, mas é uma daquelas coisas que sempre deixamos pra depois.
- Eu sei como é, mas nunca foi uma escolha pra mim. - null soltou, parando em seus calcanhares. null não entendeu o que ela tinha dito e se virou para ela confuso, mas logo null se soltou de suas mãos e saiu correndo, subindo em um dos túmulos um pouco a sua frente.
- null , eu não sei se… - o jogador começou, quando eles finalmente a alcançaram.
- Filha, você quer dizer pro tio null onde estamos? - null mal conseguia encarar o jogador, suas mãos tremiam, sua garganta estava seca e tinha certeza que ele podia ouvir seus batimentos cardíacos.
- Na porta do céu... - A pequena soltou sorrindo e o jogador franziu o cenho.
- Porta do céu? - a encarou divertido pela analogia feita.
- É! Aqui que mora o meu papá. A mamá disse que só quando eu for muito grande e velhinha, igual o Ben e o vovô, que eu vou poder entrar nessa porta e conhecer meu papá.
null paralisou ao ouvir aquelas palavras saírem de forma tão natural da boca de null . null, ao seu lado, estava imóvel. Ela não o encarava, apenas olhava para frente, para a filha, para o túmulo, ele não saberia dizer. Ainda entorpecido, o jogador se aproximou da pequena e leu as palavras inscritas na lápide.
"Carlos Rivas 🌟 12.08.1993 - ✝ 15.09.2014
Filho, irmão, marido e pai."
“Son las cosas que no conocéís las que cambiarán vuestra vida”
"São as coisas que não conhece, que mudarão a sua vida"
Fazia sentido. De repente tudo pareceu se encaixar. null sempre imaginou que o pai de null , Carlos, havia as abandonado. Chegou até a pensar que ele pudesse ter traído null ou pior, tivesse sido de alguma forma abusivo com a mulher. Mas aquilo… A morte, certamente não tinha lhe passado pela cabeça. Sem perceber, se viu envolto em novos sentimentos, alguns um tanto quanto egoístas, mas null soube ali que ele finalmente conhecia null por completo.
- Eu criei muitas versões de quem ele foi, mas essa… Confesso que nunca me passou pela cabeça. - null se virou para a mulher, que agora o encarava aflita.
- Me desculpe por isso, não é fácil, nunca foi e não sei se um dia vai ser...Falar sobre isso, sobre ele.
- Eu imagino que não, eu sempre pensei que você não falasse dele porque ele tinha te abandonado.
- De certa forma abandonou. - null se aproximou do local, passando a mão sobre os inscritos - Mas não foi uma escolha dele, acidente de carro… - explicou e Isco sentiu um pouco da dor contida na voz da mulher.
- Eu sinto muito, null. Ele deve ter sido uma pessoa incrível e a morte nunca é algo fácil, ainda mais quando é na nossa idade.
- Com o tempo a gente se conforma, mas não sei se acostuma. Eu pelo menos ainda não acostumei, só… Aprendi a lidar. Por muito tempo eu me fechei pra vida, ainda mais que nossas famílias ficaram contra o nosso relacionamento no final.
- Por quê?!
- Nos conhecemos na escola, eu tinha quatorze e ele quinze, éramos duas crianças. - ela sorriu com a lembrança - Eu era a nova aluna, aquele famoso clichê. Ficamos juntos por dois anos, mas o Carlos sempre teve o sonho de estudar em Oxford. Então quando ele foi aceito, eu tentei terminar, mas ele não deixou, pediu que tivéssemos um relacionamento à distância. No começo eu não quis aceitar, tinha certeza que ele ia encontrar alguém melhor… Ele era tão lindo. - null sabia que era errado, mas não conseguia evitar um pouco do ciúmes que estava sentindo ao ver null falar daquela forma sobre outra pessoa. - Estava indo tudo bem, nos falávamos todo dia, nos víamos sempre que dava. Nessa época nossos pais ainda nos apoiavam, mas no final do primeiro ano ele apareceu em casa com todas as malas, disse que não queria passar os próximos três anos longe de mim e que tinha pedido transferência para a Universidade Complutense de Madrid. Foi aí que os pais dele perderam a cabeça, disseram que se ele não voltasse pra Oxford eles não o ajudariam mais, mas mesmo assim ele não voltou.
null se abaixou para arrumar as flores e cortar as folhas secas, de sua bolsa tirou uma garrafa com água e molhou a terra, algo que sempre fazia quando estava ali. Era difícil reviver o passado e mais ainda lembrar que não tiveram a chance de um futuro.
- Ele morou em casa um tempo, mas logo conseguiu um estágio e um quarto numa república. Eu também comecei a trabalhar em uma sorveteria e com um dinheiro que ele já tinha, a venda do carro e ajuda dos meus pais, demos entrada em um apartamento pequenininho, o que eu moro hoje. Estava tudo indo bem, até que eu engravidei e foi então que minha mãe pirou. Ela queria que nós dois terminássemos a faculdade antes de qualquer coisa e realmente era o nosso plano, mas só… Aconteceu. Foi nesse dia que ela pediu que… - a mulher não completou, já que null não estava tão longe deles. - Não aceitamos, claro, o sonho do Carlos sempre foi ser pai e mesmo com todas as dificuldades nunca foi uma opção pra mim não ter a null . Nos casamos na semana seguinte, no cartório mesmo, ao lado dos nossos melhores amigos e do Fernando, o irmão dele.
- O médico.
- Isso. Ele sempre nos ajudou, ajuda até hoje. Se não fosse por ele… - null respirou fundo e voltou a ficar em silêncio, encarando o túmulo. - Dá tchau pro papai, princesa. Está na hora de irmos.
null deu um beijinho em cima do nome de Carlos, tirando um sorriso doce do rosto de null. null se aproximou do local e mesmo sem ainda compreender tudo aquilo, tocou na pedra, em sinal de respeito, dor e entendimento.
Os três voltaram a caminhar para onde ele tinha estacionado seu carro e incerto do que fazer, não ofereceu sua mão a mulher, mas sentiu seu corpo relaxar assim que os dedos dela encontraram os seus.
- Quando eu estava pra completar 16 semanas teve o acidente. Ele tinha ido passar o final de semana com o Nano e uns amigos da faculdade, na volta um caminhão acertou o carro deles. O Carlos e o Enrique, um amigo nosso, morreram na hora. O Nano escapou com um braço quebrado só. - disse dando de ombros e pela mudança do tom de voz, o jogador sabia que a mulher estava passando dos seus próprios limites.
- null, você não precisa…
- Eu já escondi demais de você, null, se você for me dar uma nova chance, eu quero que seja comigo sendo completamente honesta com você, sem esconder nada. Por mais que talvez não seja fácil para você ouvir essas coisas.
- Eu só não quero te ver chorar mais uma vez, null. - null se virou, parando a sua frente e colocou as mãos em seus ombros - Hoje é o seu dia de desabafar, sobre a gente, resolvemos depois.
- Obrigada! Faz tanto tempo que eu não falo sobre ele, não é fácil reviver o que tivemos. As vezes parece que criei tudo isso na minha cabeça... Eu acho que só não me afundei de vez por causa da null , se eu não estivesse grávida, nem sei o que teria sido da minha vida. O Carlos foi o amor da minha vida e se eu estou aqui hoje é porque antes dele partir, ele me deu o maior amor da minha vida.
- Acho que não tem nada no mundo que supere isso. - null concordou, sorrindo para null , que andava alguns passos a frente deles. - Ei Super-null , pronta pra passar a noite lá em casa? - perguntou, se aproximando da pequena, para dar um pouco de espaço para null e para ele.
- Mamá, eu vou mesmo pra casa do tio null? - a menina se virou, a encarando.
- Vai sim, minha princesa. Você vai ficar bem? - null se ajoelhou na frente da garota.
- Eu vou poder ir na piscina? - ambos riram da pergunta.
- Está um pouco tarde e amanhã a senhorita tem aula, mas eu tenho certeza que você e o null Jr. vão se divertir bastante. - a mulher falou, a colocando na cadeirinha que ficava no carro do jogador. Ele pegaria emprestado a do carro de Victoria para levá-los seguramente para casa e para escola.
- E você, mamá, vai se divertir sem eu?
- A mamãe precisa descansar um pouco, mas eu prometo que amanhã vou estar na porta da guarderia te esperando na saída, tá bom? - null assentiu pensativa.
- Mamá, o Ben também vai morar na porta do céu? Com o papai?
- Vai, meu amor. E nós poderemos visitá-lo sempre que você quiser. - null a abraçou apertado, fechando a porta e sorriu para null, que tinha a porta do passageiro aberta para ela. - Obrigada por isso, eu não sei se ela vai conseguir dormir com você, nós nunca passamos uma noite separadas. - disse, quando o jogador deu partida no carro.
- Eu prometo que se ela chorar ou ficar com saudades eu te ligo a hora que for.
- Tudo bem, eu vou dormir com o celular do meu lado. - finalizou e os dois caíram num silêncio confortável enquanto o jogador a levava para casa.
Assim que null estacionou em frente ao apartamento de null, a mulher abriu novamente a porta de trás, dando um beijo e abraço apertado na pequena e se virou para o jogador, que tinha saído do carro para se despedir
- Na mochila tem tudo que ela pode precisar, mas tenho certeza que ela não vai se importar se precisar usar alguma coisa do null.
- Deixa comigo, eles vão dormir comigo hoje.
- Eu nem sei como te agradecer, null. De verdade. - null o abraçou apertado e null retribuiu, sentindo o cheiro da mulher que tanto amava.
- Eu que agradeço a confiança. Você sabe que faço o que for por você, null. Já deveria saber. - o jogador respondeu, depositando um beijo em seu rosto e entrou no carro.
null sorriu para os dois e uma ideia veio a sua mente, antes dele sequer soltar o freio de mão, deu duas batidinhas em sua janela.
- Sei que nem sempre deixei isso claro, mas eu também faço o que for por você, null. Você significa pra mim muito mais do que imagina. - completou dando um selinho no jogador e piscou para null , que os encarava sorridente do banco de trás. - Eu ainda pretendo deixar isso bem claro.- afirmou, se afastando do veículo.
Naquela noite, embora com muitas coisas na cabeça, Francisco e Catarina finalmente conseguiram dormir em paz, como há muito não faziam.
- Agradeça a null por mim, se um dia eu a ver na escola, faço pessoalmente. Por mais que isso ainda seja estranho pra mim, saber que tem mais alguém por perto, que vai fazer o que for necessário para o bem estar do nosso filho, me deixa um pouco mais tranquila.
- Pode deixar e se você precisar de qualquer coisa, me liga, a hora que for. - a assegurou - Já deixei seu número pra tocar, mesmo que o celular esteja no silencioso. Também deixei o número do clube com a escola, assim eles podem me encontrar caso algo assim aconteça novamente.
- Eu espero que não. Tchau null, se cuida. - a morena desejou, abraçando o jogador e entrou no carro, dando a partida.
Assim que o veículo sumiu de vista, null tirou o celular do bolso, apertando o contato de null. Não poderia dizer que ficou surpreso ao ter sua chamada encaminhada para a caixa postal, há dias que ela não o atendia e pelo visto não o faria tão cedo. Não tinha contado a Victoria que os dois não estavam mais juntos e não o faria até ter certeza que aquilo era permanente. Ele esperava que não, mas do pouco que tinha descoberto, já não tinha muitas certezas.
Com a tela de seu celular aberto nas últimas chamadas, null não se surpreendeu ao ver a quantidade de números ao lado do nome da mulher. Ele realmente vinha tentando falar com ela há algum tempo, sem sucesso. De início aquilo o irritou, ela precisava mesmo o ignorar? Não poderiam conversar como dois adultos? Mas quanto mais os dias passavam, mais sua raiva diminuia e sua preocupação crescia.
No quinto dia, pediu a Victoria para buscar o filho na escola, mesmo não sendo sua semana de ficar com o pequeno, queria poder ter uma chance de falar com a mulher, mas estranhou ao não ver null em lugar algum. Quando já estavam no carro perguntou ao filho, que confirmou que ela não tinha ido a escola desde o dia de seu acidente.
Aquilo foi o suficiente para que null deixasse a mágoa de lado e começasse a pensar racionalmente. null até poderia estar o ignorando, mas ela não desligaria o telefone por quase uma semana inteira. Tinha seu trabalho com Ben, algo poderia acontecer com null , seus pais... Ele chegou até a pensar que ela pudesse ter trocado de linha, mas quanto mais pensava no assunto, mais ele tinha certeza que aquilo era algo que null jamais faria com ele. Alguma coisa estava acontecendo.
Mesmo com o carro já em movimento, null freiou de frente ao portão da escola, sem se importar que era um local proibido. Com a luz de emergência ligada, pegou rapidamente o filho no colo e correu em direção a Ramona, que estava com as crianças que ainda não tinham sido buscadas. A funcionária, tocada com a preocupação do jogador, lhe contou que null tinha avisado que a pequena faltaria às aulas, mas não tinha dado muitas explicações ou motivo. Sem pensar em mais nada, null saiu em direção ao apartamento das duas e sentiu seu coração ir a boca quando o porteiro confirmou que não as via há dias.
Por mais que tentasse dizer a si mesmo que não era nada, algo lhe dizia que precisava encontrá-las. Sem querer preocupar mais o filho, o deixou na casa da ex e foi em direção ao último lugar que sabia que poderia tentar descobrir algo sobre elas, a casa de Ben. Depois de todo o acontecido no hospital, sabia que null poderia se retrair, mas precisava ver com seus próprios olhos que elas estavam bem, só então ficaria tranquilo.
Foi impossível para null descrever a sensação de alívio que sentiu, ao ver o carro de null estacionado na garagem de Ben. A ansiedade que vinha sentindo há dias, finalmente começava a se dissipar. Percorreu o caminho até a porta e tocou a campanhia, sentindo seu coração bater acelerado.
- Olá, posso te ajudar? - null encarou a mulher a sua frente. Imaginou ser Cora, filha de Ben.
- Sim, eu não quero incomodar, mas eu estou procurando pela null e a Fio…
- null?! - o jogador ouviu a voz de null atrás da porta e Cora sorriu fechado para dentro da casa, antes de terminar de abrir a porta e sair pelo corredor adentro. null apareceu em seu campo de visão e nem ele soube dizer o que sentiu ao ver que ela estava ali, a sua frente e o mais importante, bem.
- Desculpa vir sem avisar, null, mas…
- Ah, null, ainda bem que você está aqui… - a mulher disse repentinamente e para sua completa surpresa, se jogou contra ele e antes que ele sequer pudesse entender o que estava acontecendo, começou a chorar. - O Ben, null, ele...morreu!! - exclamou pesarosa e o jogador sentiu seu peito se comprimir, finalmente devolvendo o abraço na mulher.
- Ah null, eu sinto muito. - a confortou, sem conseguir evitar se emocionar. Por mais que só o tivesse visto uma vez, tinha ouvido tantas histórias sobre ele, que se sentia próximo ao senhorzinho. - Eu não acredito, o que aconteceu?
- Ele só… Se foi. - a mulher explicou, se soltando de seu abraço e só então ele notou como ela estava abatida, cansada.
Quando pôs seus olhos sob a mulher estava tão preocupado em ter certeza que estava tudo bem fisicamente com ela, que não percebeu como seus olhos estavam vazios e completamente sem vida.
- Quando foi isso? - perguntou carinhoso e null abriu espaço para que ele entrasse na casa.
- Ontem a tarde. No dia do acidente do null eu estava saindo do hospital quando a Tina me ligou. - explicou, sobre a enfermeira que cuidava de Ben quando ela ia embora ou estava de folga. - Ela disse que ele não estava nada bem de novo e eu vim direto pra cá. Eu não queria acreditar, sabe? Mas ele passou os últimos quatro dias de cama, até que ontem ele se foi.
- Eu sinto muito mesmo, null. Eu estou tentando falar com você há dias, eu pensei que você estivesse me ignorando, mas quando o null me disse que a null não tinha ido pra escola a semana toda, fiquei preocupado. - explicou, se sentando no sofá da sala.
- Nossa, eu acabei nem perguntando, como ele está? - a mulher enxugou as lágrimas o encarando interessada e null se sentiu tolo por sequer ter pensado que ela o estava ignorando. Numa situação como aquela e ela ainda se preocupava com seu filho.
- Está ótimo, colocaram uma tala na mão até sarar e depois vamos voltar ao médico pra ver se vai precisar de fisioterapia. Só faltou um dia na escola, queria mostrar pros coleguinhas o machucado. - riu fraco, se lembrando da cena.
- Ah que bom, eu estava preocupada com ele. Mande um beijo meu quando falar com ele de novo. - pediu e o jogador assentiu, com um sorriso de lado. - Você quer um café, um chá?
- Eu não quero atrapalhar, null. Eu só precisava saber que vocês estavam bem. - se explicou, indeciso sobre tocar ou não na mão da mulher.
- Eu teria te ligado, null, mas estou aqui desde aquele dia. Ainda não fui pra casa. - explicou e tudo pareceu fazer um pouco mais de sentido para ele - Meu celular está sem bateria e esqueci o carregador em casa. Eu não sei seu número de cor ainda. - o buraco que ele vinha sentindo em seu estômago desde o dia que deram um tempo, pareceu finalmente diminuir.
- E a null , como está? Onde ela está? - perguntou curioso, olhando ao redor para ver se via a pequena.
- Com meu pai, ele chegou de madrugada aqui. Ele foi em casa buscar algumas roupas e meu carregador e depois ia levar a null para fazer alguma coisa. Ela tem sido tão compreensiva, mas estava me dando pena vê-la o dia todo na frente da TV. Eu e a Cora também não paramos de chorar, null é muito novinha pra ficar num ambiente triste como esse. Mas amanhã depois do enterro, finalmente vamos para casa.
- Se você quiser… - null iniciou, mas então se lembrou que não tinham mais nada - Não, nada...
- O quê? - perguntou, colocando a mão sob a sua e null sentiu sua garganta queimar. Tinha sentido falta de seu toque.
- Eu sei que… Que não estamos mais juntos, mas se você quiser eu posso te ajudar com a null nesses próximos dias. Se você precisar de um tempo pra você, eu posso pegar ela amanhã depois do enterro e ela dorme lá em casa com o null Jr., sem problemas. Eu levo os dois na escola e deixo ela de volta no dia seguinte.
null abaixou os olhos encarando suas mãos, sentindo a já conhecida dor na garganta voltar com força. Nem ela sabia que era possível chorar tanto e ainda ter lágrimas para derramar. Tinha certeza absoluta de seus sentimentos por null e mesmo após ela ter fugido dele por tanto tempo, ele ainda se preocupava com ela com a mesma intensidade, cuidado e carinho de sempre.
- null, eu preciso me desculpar com você. - soltou o encarando e o jogador franziu o cenho ao ver as lágrimas novamente nos olhos da mulher. - Eu sei que é minha a culpa de não estarmos mais juntos, eu só… Eu estou tão cansada, toda vez que eu acho que as coisas estão melhorando alguma coisa acontece e me lembra que nem todo mundo merece um final feliz. Eu não sei o que foi que eu fiz de tão errado nessa vida pra merecer tudo isso. - desabafou, sentindo as lágrimas caírem por seu rosto.
- Não pensa assim, null. - null a puxou para si, a abraçando - A vida às vezes pode ser bastante injusta, mas todo mundo merece ser feliz, principalmente você. Se eu pudesse, trocaria tudo o que tenho pra não te ver falar assim.
- É difícil não pensar assim, quando nada dá certo pra mim, null. Até quando dá, eu me auto saboto. - resmungou bufando e ele soube que ela se referia a eles - Eu nunca quis te magoar, eu nunca quis te perder. Sei que provavelmente agora é tarde demais, mas, eu sinto muito por ter sido tão fraca, por não ter te contado tudo sobre a minha vida desde o começo…Talvez a gente ainda estivesse junto. Eu também nunca imaginei que o cara que eu conheci numa loja de brinquedos, ia se tornar alguém tão especial em minha vida. - disse sorrindo com a lembrança.
- null, se você soubesse tudo que eu sinto por você. O que eu fiz... Não foi por mim, mas por você, por nós. É horrível a sensação de impotência, ver nos seus olhos toda essa dor e não saber nem por onde começar. Me doía fisicamente quando você se fechava pra mim, sendo que tudo que eu sempre quis foi só que você me deixasse entrar, me deixasse te ajudar a ver que o mundo não é só dor. Sei que não sou perfeito, mas eu nunca quis ninguém como eu te quero e eu quero muito te fazer feliz. Você é tão nova, tem o mundo todo pela frente e eu quero estar ao seu lado quando você o conquistar. Porque se tem alguém que merece o mundo, esse alguém é você.
- Eu não sei o que você viu em mim, null. Não sei se mereço tudo isso, não depois da forma que lidei com tudo isso…Mas, - null se aproximou ainda mais do jogador, tocando na barba que ela tanto amava e sentia falta de acariciar. null pôs suas mãos sob a dela, ainda sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Ela levou sua outra mão ao rosto do jogador e selou seus lábios ao dele, num selinho que pareceu durar uma eternidade e que deixou saudade no segundo em que ele terminou. - Eu realmente precisava te ver. - confessou, o abraçando forte. - Eu não sabia do quanto eu precisava disso, null. De te ver, ouvir a sua voz, sentir o seu toque… Obrigada por não desistir de mim, nem quando eu fiz de tudo para que você o fizesse. - confessou o olhando no fundo dos olhos e antes que ela tentasse se afastar, null a apertou novamente, mostrando que contanto que ela quisesse, ele sempre estaria ali.
null percebeu que por muito tempo usou do medo para proteger a si mesma, todas as pessoas que ela amava, de uma forma ou outra haviam lhe abandonado, seus pais, o pai de null , Ben. Já bastava o medo irracional de perder null que a acompanhava todos os dias, agora ainda tinha null, tão perfeito. Parecia ser bom demais para ser verdade para alguém como ela, tão bom que ela mesma se encarregou de o afastar. Mas talvez, assim como tinha acontecido com seu pai, null ficaria. Mesmo com todas suas tentativas de afastá-lo, ele ainda estava ali e se ele tinha toda aquela certeza sobre eles, ela também teria.
Após null finalmente se acalmar, null se ofereceu para ajudá-la. Apesar de Cora morar com o marido no local, o fazia apenas pelo pai, que não queria se mudar da casa onde tinha vivido com sua esposa e criado todos seus filhos e netos. null sabia que era questão de dias para que ela fosse colocada a venda, mas Cora já havia a tranquilizado, assegurando que ela ainda trabalharia para eles por mais alguns meses.
- Mamá, adivinha quem chegooooo. - null gritou da porta de entrada, fazendo null rir. Ela e null estavam na sala de TV, olhando os filmes em VHS que Ben guardava num armário.
- Quem, meu amor? - a mulher respondeu da sala, pedindo para null se esconder em algum lugar.
- Eu!!!! - a pequena apareceu com seu pai e null se abaixou pra pegar a menina no colo.
- Eu tenho uma surpresa pra você, princesa.
- É bolo de chocolate?! - a menina perguntou animada e null pode ouvir null dar uma risadinha, atrás do móvel que se escondia.
- Não, melhor. Fecha os olhos. - pediu, vendo o pai a encarar curiosa e null colocar as mãos sob os olhinhos. null andou na ponta dos pés até as duas e se postou de frente para a pequena. - Pode abrir.
- Tio null!!! - null gritou animada, se jogando nos braços do jogador, que a rodopiou no ar algumas vezes, antes de abraçá-la - Que saudadiiiiinha.
- Eu também, princesinha, eu também. - o jogador depositou um beijo no rosto da menina, que retribuiu com outro, o enchendo de amor. - Onde você estava?
- Eu fui no parque com o vovô e depois a gente comeu no McDonaldi. - a menina dizia com as mãos na barba do jogador e só então null reparou no homem que os encarava, abraçado à filha e com um sorriso no rosto.
- Olá, sou o null, muito prazer. - se aproximou levemente tenso, oferecendo a mão ao mais velho.
- Gonzalo, um prazer. - retribuiu - Fico feliz em saber que você apareceu, eu falei pra minha filha te ligar, mas ela não me ouve.
- Papai! - null o encarou envergonhada e null deixou uma risadinha nasalada escapar.
- Eu deveria ter percebido antes, eu poderia ter ajudado mais.
- O importante é que você está aqui agora. - Gonzalo o assegurou - Eu trouxe seu carregador - disse tirando o objeto do bolso - Coloque-o pra carregar. - pediu a filha, se virando para o jogador - Vocês querem um café?
- Eu faço, pai.
- Não, eu ainda sei fazer um café, você precisa descansar e se distrair um pouco. Por que vocês não vão ao jardim e os encontro lá?
- Tudo bem. - null agradeceu, dando a mão para a filha.
null decidiu ajudar Gonzalo com as bebidas. Sempre tivera curiosidade em conhecer alguém da família de null e não poderia estar mais surpreso com a reação inicial do homem, muito mais tranquila que a de Ben.
- Eu realmente estou feliz que tenha aparecido, null, a null pode ser bem difícil quando quer. Se eu soubesse seu telefone, teria te avisado. - o mais velho sorriu simpático para o jogador.
- Eu não sabia que o senhor sabia sobre nós.
- Ela demorou pra me contar, mas eu já imaginava que ela tinha conhecido alguém especial. Eu soube no momento que ela falou de você a primeira vez que isso entre vocês era diferente. - Gonzalo confessou, reparando em null, que o encarava curioso. - O que foi?
- Eu não sei... - ele coçou a cabeça tímido - Não imaginei que fosse ser assim se um dia te conhecesse, o senhor me surpreendeu. Acho que estava esperando pelo pior.
- Eu já fiz mais o papel do pai bravo, inclusive com o pai da null , mas depois de tudo, eu só quero ver minha filha feliz e confio nela para tomar a melhor decisão. Faz tempo que não a vejo assim e dá pra ver que é recíproco.
- Muito. - null concordou sem a menor vergonha.
- Eu aconselhei a null a te contar tudo há muito tempo, mas desde pequena ela tem dificuldade em se abrir. Sei que sou o pai dela, mas estou torcendo de verdade por vocês.
- Obrigado, Seu Gonzalo. Eu estou muito feliz em poder finalmente te conhecer.
- Eu também, meu caro. Eu também.
Caminhava por entre os túmulos, alguns tão parecidos outros tão diferentes. Algumas tumbas pareciam verdadeiras obras de arte. À sua frente viu um pequeno aglomerado de pessoas e percebeu ter finalmente chegado ao local que a família de Ben o enterraria. Não demorou para encontrar null, ela estava com null no colo e seu pai ao lado. Era visível o quanto Ben era querido, tamanha a quantidade de pessoas ali presentes.
Como null não queria chamar muita atenção, achou por melhor ficar um pouco afastado, mas null logo o encontrou com o olhar e piscou para ele, feliz em saber que ele tinha conseguido chegar na hora.
Durante a cerimônia, foi impossível não se emocionar com as palavras do padre e mais ainda com a homenagem de null. Não teve uma única pessoa que tivesse ficado sem lágrimas nos olhos, depois de seu relato sobre a vida de Ben. Ninguém ali o conhecia mais do que ela. null depositou em suas palavras todo amor e gratidão que tinha pelo mais velho e sua família por terem a acolhido no momento mais difícil de sua vida. Também contou como Ben tinha sido seu porto seguro e um segundo avô para null . null viu nos olhos de Gonzalo a dor que era ouvir tudo aquilo, sabendo que foi sua omissão que levou a filha a encontrar Ben. Por mais que doesse, o mais velho sabia que tudo aquilo tinha acontecido com o propósito de null encontrar Ben. Os dois formavam uma amizade única.
Um barulho atrás de si tirou null de seus devaneios e ele se virou a tempo de ver uma figura um pouco escondida atrás de uma tumba, ainda mais afastada da qual ele estava. Não demorou para que sua memória o relembrasse de onde conhecia aquela mulher. A tinha visto uma única vez, no dia que tinham perdido null de vista por um minuto. Aquela mulher era a mãe de null. Sem parar pra pensar, null se aproximou e soube no momento que ela o encarou, que ela também se lembrava dele.
- Olá, eu sou o null. - se apresentou, oferecendo a mão a mulher - Será que podemos conversar?
- Eu tenho certeza disso. Eu nunca vou me esquecer dele, null - admitiu, segurando a nova onda de lágrimas.
- E nem ele de você. - o jogador depositou um beijo carinhoso na cabeça da mulher. - Era destino vocês se encontrarem.
A maioria dos familiares de Ben já havia ido embora, alguns poucos ainda conversavam em frente ao estacionamento reservado às famílias. null ficou para trás, ainda sem acreditar que seu grande amigo ficaria ali, pra sempre.
- Filha, quando você quiser. - Gonzalo apareceu com null , que se agarrou as pernas de null.
- Você está linda com esse vestido amarelo, Super-null .
- O Ben dizia que a null era o seu sol. - null explicou e null se abaixou para dar um abraço na pequena. - null, você se importa em me deixar em casa?
- Claro que não. - o jogador respondeu se levantando com null em seu colo. Tinham combinado dele ficar com a pequena aquela noite, mas não haviam feito planos maiores do que aquele.null precisava de um tempo para si e só havia uma única pessoa a qual ela confiaria sua filha.
- Pai… - null se aproximou do mais velho - Obrigada por hoje, mas tem algo que eu ainda preciso fazer.
- Você tem certeza? - ele sabia o que era e não pode esconder a surpresa e emoção.
- Como nunca antes. - ela soltou já nervosa, abraçando o pai. - Nos falamos depois.
Após o mais velho se despedir de null e da neta, null ofereceu a mão ao jogador e os três foram caminhando pelo cemitério em silêncio. Mesmo sem entender, o jogador a acompanhou.
- Eu sei que pode parecer estranho, mas esse lugar me acalma. - null comentou sorrindo, ao admirar null de mão dadas aos dois. Como se fossem uma família.
- Faz sentido, é um lugar bonito, silencioso, cheio de verde... Confesso que andei a passos lentos ao entrar, sempre tive curiosidade de vir aqui, mas é uma daquelas coisas que sempre deixamos pra depois.
- Eu sei como é, mas nunca foi uma escolha pra mim. - null soltou, parando em seus calcanhares. null não entendeu o que ela tinha dito e se virou para ela confuso, mas logo null se soltou de suas mãos e saiu correndo, subindo em um dos túmulos um pouco a sua frente.
- null , eu não sei se… - o jogador começou, quando eles finalmente a alcançaram.
- Filha, você quer dizer pro tio null onde estamos? - null mal conseguia encarar o jogador, suas mãos tremiam, sua garganta estava seca e tinha certeza que ele podia ouvir seus batimentos cardíacos.
- Na porta do céu... - A pequena soltou sorrindo e o jogador franziu o cenho.
- Porta do céu? - a encarou divertido pela analogia feita.
- É! Aqui que mora o meu papá. A mamá disse que só quando eu for muito grande e velhinha, igual o Ben e o vovô, que eu vou poder entrar nessa porta e conhecer meu papá.
null paralisou ao ouvir aquelas palavras saírem de forma tão natural da boca de null . null, ao seu lado, estava imóvel. Ela não o encarava, apenas olhava para frente, para a filha, para o túmulo, ele não saberia dizer. Ainda entorpecido, o jogador se aproximou da pequena e leu as palavras inscritas na lápide.
Filho, irmão, marido e pai."
“Son las cosas que no conocéís las que cambiarán vuestra vida”
"São as coisas que não conhece, que mudarão a sua vida"
Fazia sentido. De repente tudo pareceu se encaixar. null sempre imaginou que o pai de null , Carlos, havia as abandonado. Chegou até a pensar que ele pudesse ter traído null ou pior, tivesse sido de alguma forma abusivo com a mulher. Mas aquilo… A morte, certamente não tinha lhe passado pela cabeça. Sem perceber, se viu envolto em novos sentimentos, alguns um tanto quanto egoístas, mas null soube ali que ele finalmente conhecia null por completo.
- Eu criei muitas versões de quem ele foi, mas essa… Confesso que nunca me passou pela cabeça. - null se virou para a mulher, que agora o encarava aflita.
- Me desculpe por isso, não é fácil, nunca foi e não sei se um dia vai ser...Falar sobre isso, sobre ele.
- Eu imagino que não, eu sempre pensei que você não falasse dele porque ele tinha te abandonado.
- De certa forma abandonou. - null se aproximou do local, passando a mão sobre os inscritos - Mas não foi uma escolha dele, acidente de carro… - explicou e Isco sentiu um pouco da dor contida na voz da mulher.
- Eu sinto muito, null. Ele deve ter sido uma pessoa incrível e a morte nunca é algo fácil, ainda mais quando é na nossa idade.
- Com o tempo a gente se conforma, mas não sei se acostuma. Eu pelo menos ainda não acostumei, só… Aprendi a lidar. Por muito tempo eu me fechei pra vida, ainda mais que nossas famílias ficaram contra o nosso relacionamento no final.
- Por quê?!
- Nos conhecemos na escola, eu tinha quatorze e ele quinze, éramos duas crianças. - ela sorriu com a lembrança - Eu era a nova aluna, aquele famoso clichê. Ficamos juntos por dois anos, mas o Carlos sempre teve o sonho de estudar em Oxford. Então quando ele foi aceito, eu tentei terminar, mas ele não deixou, pediu que tivéssemos um relacionamento à distância. No começo eu não quis aceitar, tinha certeza que ele ia encontrar alguém melhor… Ele era tão lindo. - null sabia que era errado, mas não conseguia evitar um pouco do ciúmes que estava sentindo ao ver null falar daquela forma sobre outra pessoa. - Estava indo tudo bem, nos falávamos todo dia, nos víamos sempre que dava. Nessa época nossos pais ainda nos apoiavam, mas no final do primeiro ano ele apareceu em casa com todas as malas, disse que não queria passar os próximos três anos longe de mim e que tinha pedido transferência para a Universidade Complutense de Madrid. Foi aí que os pais dele perderam a cabeça, disseram que se ele não voltasse pra Oxford eles não o ajudariam mais, mas mesmo assim ele não voltou.
null se abaixou para arrumar as flores e cortar as folhas secas, de sua bolsa tirou uma garrafa com água e molhou a terra, algo que sempre fazia quando estava ali. Era difícil reviver o passado e mais ainda lembrar que não tiveram a chance de um futuro.
- Ele morou em casa um tempo, mas logo conseguiu um estágio e um quarto numa república. Eu também comecei a trabalhar em uma sorveteria e com um dinheiro que ele já tinha, a venda do carro e ajuda dos meus pais, demos entrada em um apartamento pequenininho, o que eu moro hoje. Estava tudo indo bem, até que eu engravidei e foi então que minha mãe pirou. Ela queria que nós dois terminássemos a faculdade antes de qualquer coisa e realmente era o nosso plano, mas só… Aconteceu. Foi nesse dia que ela pediu que… - a mulher não completou, já que null não estava tão longe deles. - Não aceitamos, claro, o sonho do Carlos sempre foi ser pai e mesmo com todas as dificuldades nunca foi uma opção pra mim não ter a null . Nos casamos na semana seguinte, no cartório mesmo, ao lado dos nossos melhores amigos e do Fernando, o irmão dele.
- O médico.
- Isso. Ele sempre nos ajudou, ajuda até hoje. Se não fosse por ele… - null respirou fundo e voltou a ficar em silêncio, encarando o túmulo. - Dá tchau pro papai, princesa. Está na hora de irmos.
null deu um beijinho em cima do nome de Carlos, tirando um sorriso doce do rosto de null. null se aproximou do local e mesmo sem ainda compreender tudo aquilo, tocou na pedra, em sinal de respeito, dor e entendimento.
Os três voltaram a caminhar para onde ele tinha estacionado seu carro e incerto do que fazer, não ofereceu sua mão a mulher, mas sentiu seu corpo relaxar assim que os dedos dela encontraram os seus.
- Quando eu estava pra completar 16 semanas teve o acidente. Ele tinha ido passar o final de semana com o Nano e uns amigos da faculdade, na volta um caminhão acertou o carro deles. O Carlos e o Enrique, um amigo nosso, morreram na hora. O Nano escapou com um braço quebrado só. - disse dando de ombros e pela mudança do tom de voz, o jogador sabia que a mulher estava passando dos seus próprios limites.
- null, você não precisa…
- Eu já escondi demais de você, null, se você for me dar uma nova chance, eu quero que seja comigo sendo completamente honesta com você, sem esconder nada. Por mais que talvez não seja fácil para você ouvir essas coisas.
- Eu só não quero te ver chorar mais uma vez, null. - null se virou, parando a sua frente e colocou as mãos em seus ombros - Hoje é o seu dia de desabafar, sobre a gente, resolvemos depois.
- Obrigada! Faz tanto tempo que eu não falo sobre ele, não é fácil reviver o que tivemos. As vezes parece que criei tudo isso na minha cabeça... Eu acho que só não me afundei de vez por causa da null , se eu não estivesse grávida, nem sei o que teria sido da minha vida. O Carlos foi o amor da minha vida e se eu estou aqui hoje é porque antes dele partir, ele me deu o maior amor da minha vida.
- Acho que não tem nada no mundo que supere isso. - null concordou, sorrindo para null , que andava alguns passos a frente deles. - Ei Super-null , pronta pra passar a noite lá em casa? - perguntou, se aproximando da pequena, para dar um pouco de espaço para null e para ele.
- Mamá, eu vou mesmo pra casa do tio null? - a menina se virou, a encarando.
- Vai sim, minha princesa. Você vai ficar bem? - null se ajoelhou na frente da garota.
- Eu vou poder ir na piscina? - ambos riram da pergunta.
- Está um pouco tarde e amanhã a senhorita tem aula, mas eu tenho certeza que você e o null Jr. vão se divertir bastante. - a mulher falou, a colocando na cadeirinha que ficava no carro do jogador. Ele pegaria emprestado a do carro de Victoria para levá-los seguramente para casa e para escola.
- E você, mamá, vai se divertir sem eu?
- A mamãe precisa descansar um pouco, mas eu prometo que amanhã vou estar na porta da guarderia te esperando na saída, tá bom? - null assentiu pensativa.
- Mamá, o Ben também vai morar na porta do céu? Com o papai?
- Vai, meu amor. E nós poderemos visitá-lo sempre que você quiser. - null a abraçou apertado, fechando a porta e sorriu para null, que tinha a porta do passageiro aberta para ela. - Obrigada por isso, eu não sei se ela vai conseguir dormir com você, nós nunca passamos uma noite separadas. - disse, quando o jogador deu partida no carro.
- Eu prometo que se ela chorar ou ficar com saudades eu te ligo a hora que for.
- Tudo bem, eu vou dormir com o celular do meu lado. - finalizou e os dois caíram num silêncio confortável enquanto o jogador a levava para casa.
Assim que null estacionou em frente ao apartamento de null, a mulher abriu novamente a porta de trás, dando um beijo e abraço apertado na pequena e se virou para o jogador, que tinha saído do carro para se despedir
- Na mochila tem tudo que ela pode precisar, mas tenho certeza que ela não vai se importar se precisar usar alguma coisa do null.
- Deixa comigo, eles vão dormir comigo hoje.
- Eu nem sei como te agradecer, null. De verdade. - null o abraçou apertado e null retribuiu, sentindo o cheiro da mulher que tanto amava.
- Eu que agradeço a confiança. Você sabe que faço o que for por você, null. Já deveria saber. - o jogador respondeu, depositando um beijo em seu rosto e entrou no carro.
null sorriu para os dois e uma ideia veio a sua mente, antes dele sequer soltar o freio de mão, deu duas batidinhas em sua janela.
- Sei que nem sempre deixei isso claro, mas eu também faço o que for por você, null. Você significa pra mim muito mais do que imagina. - completou dando um selinho no jogador e piscou para null , que os encarava sorridente do banco de trás. - Eu ainda pretendo deixar isso bem claro.- afirmou, se afastando do veículo.
Naquela noite, embora com muitas coisas na cabeça, Francisco e Catarina finalmente conseguiram dormir em paz, como há muito não faziam.
Capítulo 9
Duas semanas tinham se passado desde o enterro de Ben. null e null ainda não haviam se visto, mas se falavam por mensagens ou ligações diárias. Além de ocupada com a doação das roupas e objetos de Ben, ela precisava de um tempo para si, para sentir o pesar da morte de seu melhor amigo. Muito mais do que, de certa forma, seu chefe, Ben era um pai, um mentor e conselheiro e se ver em um mundo sem ele, era voltar a vê-lo sem cor.
null conhecia bem o processo da perda, mas nem por isso era mais fácil vivenciá-la. Precisava se recolher, aquietar seus pensamentos, sua dor e seu coração. Ao menos era o que ela acreditava ser a melhor forma de lidar com aquela sensação de abandono. Tinha certeza que se não fosse por null , não teria forças para se reerguer de mais um baque daquela proporção.
null, embora preocupado com null, apreciou o tempo em que não se viram. Precisava colocar os próprios pensamentos em ordem. Nunca imaginou que toda aquela dor que via escondida no olhar dela, fosse tão poderosa. Como ela mesmo tinha dito, tinha perdido o amor de sua vida. O jogador nunca tinha conhecido alguém que tivesse se tornado viuvo tão novo, ainda mais alguém por quem ele era perdidamente apaixonado.
Passara os dias se penalizando por ter ciúmes de alguém que já não estava mais entre eles, mas era impossível deixar de sentir um aperto em seu peito, na incerteza se null um dia o amaria tanto quanto Carlos. Se o homem era o grande amor de sua vida, qual papel poderia ele preencher? Aquelas dúvidas o faziam se sentir egoísta, tinha vergonha de até mesmo tê-los, quanto mais verbalizá-los.
Agradeceu por ter uma profissão que o tirava da cama e o fazia esquecer de qualquer coisa que não fosse o futebol. Tinha certeza que estaria muito pior se não fossem os treinos, jogos e seus colegas de equipe. Esses o qual, mesmo sem perceber, o estavam ajudando muito além de suas palavras.
O encontro entre eles veio repentino, apaziguador e reconfortante. null estava no portão da escola, esperando seu filho aparecer, quando sentiu seu coração bater mais forte e as palmas de sua mão começarem a suar. Riu de si mesmo, null tinha um poder sobre ele que nenhuma mulher tinha tido antes, talvez fosse a certeza que sentia sempre que estavam juntos. A certeza que o carregava nos momentos de dúvida e dor.
O que ele mal sabia era que null se sentia da mesma forma. Quando colocava os olhos sobre ele, seus olhos tão cheios de amor, seu sorriso repleto de carinho e seu toque coberto de segurança, ela tinha certeza que não gostaria de estar em nenhum outro lugar.
Ela caminhava com null em seu colo e null em seu encalço, cantarolando uma canção. Estava conversando com a administração da escola quando o alarme soou e foi em direção a sala de aula dos pequenos e se surpreendeu quando null Jr. correu até ela a abraçando forte. Tinha sentido saudades, foi o que o pequeno dissera.
- Ei! – null sorriu largo para o homem e passou o filho para ele ao se aproximarem.
- Ei vocês! – o jogador retribuiu, beijando o rosto do filho, antes de fazer o mesmo com a mulher, a abraçando de forma desajeitada. – Como você está, pequena? – se direcionou a null , que agora segurava em sua mão livre.
- Eu tô bem, acertei o exercício hoje na aula.
- Uau, parabéns! – null se ajoelhou, colocando o filho no chão, ainda com o braço a sua volta e abraçou null com o lado livre. – E você, filho, acertou também?
- Eu acertei três. - disse mostrando o número com os dedos de forma adorável.
- Vocês dois são muito inteligentes mesmo - elogiou, fechando os braços, trazendo as crianças para um abraço triplo, gerando diversas risadinhas dos pequenos.
null observava aquela interação maravilhada, tinha certeza que quem os visse de fora perceberiam o quanto ela era apaixonada por aquele homem. Dulce apareceu com Juan e os três adultos conversaram brevemente, antes dela se despedir com um abraço forte em null, repetindo pela terceira vez o quanto sentia sobre Ben e sua total disponibilidade para conversar com null, fosse por telefone ou ao vivo, a qualquer hora.
- Ela é um amor. – disse se virando para o homem – Foi bom nos encontrarmos hoje, eu ia mesmo te mandar uma mensagem saindo daqui.
- Pra? – null deu a mão as duas crianças e os quatro saíram do local a caminho do estacionamento.
- Te ver. Eu queria fazer um convite aliás, para vocês dois. – null olhou para pai e filho – Dependendo do seu calendário, gostariam de passar um final de semana a quatro?
Foi impossível para null não rir da cara de null, conhecia bem a forma que ele adorava levar tudo com segundas intenções e sabia exatamente o que ele responderia se as crianças não estivessem juntos.
- Você sabe o que eu estou pensando? – perguntou com a sobrancelha erguida e um sorriso sedutor no rosto.
- Sei muito bem. – confirmou com o rosto levemente vermelho, para deleite do jogador.
- Eu quero, papá. Pode ser amanhã?
- Calma, campeão, o papai precisa ver o melhor dia. – disse para o filho e pegou null no colo, a colocando em sua cadeirinha e então se virou para null. – Chegando em casa eu te mando as datas?
- Combinado.
- Quer que eu busque vocês? - null franziu o cenho confusa e então sorriu doce para o jogador.
- Não, null, eu quero que você passe um final de semana com a gente… - encarou a filha, que retribuía o olhar animada. - Na nossa casa.
- Ah! - foi a única coisa que conseguiu proferir, tamanha sua surpresa. Podia sentir seu coração bater no peito. As coisas pareciam ter realmente mudado, null estava se abrindo por completo com ele. - Eu adoraria.
💙
Assim que tirou as chaves da ignição, null pegou seu celular, digitando uma mensagem rápida à null, informando que já estava em frente ao seu prédio. Nem ele sabia o porque a tinha avisado, talvez algo em si sabia que aquilo não seria fácil para ela e com uma última notificação, ela poderia talvez desistir mais uma vez. Mas não foi o que aconteceu, logo recebeu uma resposta:
null 💋: Então sobe 😍
Aliviado, encarou o retrovisor, vendo que null Jr. já tinha tirado o próprio cinto, empolgado com os dias que teria ao lado de null e null . Ajudou o filho a descer de sua cadeirinha e enquanto pegava as mochilas no porta malas, respirou fundo, se preparando para aquele momento tão esperado.
Por mais que não aparecesse no local há tempos, reconheceu o porteiro, que prontamente liberou sua entrada. Sabia que null já o havia liberado, mas por mais tolo que aquilo fosse, pela primeira vez se sentiu inquestionavelmente parte da vida de null e null .
Desde que recebera a mensagem de null , null caminhava de um lado para outro na frente da porta, ansiosa. Espiou null rapidamente, vendo que a menina continuava distraída, abrindo o quebra cabeça infantil que tinha escolhido para brincar "a noite toda" com null e o filho. Sorriu carinhosa, vendo como a filha estava feliz com os planos para os próximos dois dias.
O som de duas batidinhas a fizeram dar um pequeno pulo de susto. Riu de si mesma e se aproximou da porta, respirando fundo ao abri-la. Seu coração se encheu de amor ao se deparar com o sorriso tímido de null e a feição animada de Júnior.
- Hey... - ele a cumprimentou um pouco incerto, depositando um beijo leve em seus lábios.
- Oi, Tia null! Onde tá a null ? - o pequeno perguntou direto e ambos adultos sorriram.
- Entrem! Entrem! - exclamou animada, abrindo espaço para que pai e filho entrassem no local. - null está ali na sala, querido.
Antes que null sequer terminasse de dar espaço, um mini furacão passou por ela, correndo em direção a pequena sala. null entrou com mais calma, ouvindo a porta se fechar atrás de si. null não se moveu, queria que o jogador formasse a própria opinião.
Fotos.
A primeira coisa que null percebeu foi a quantidade de fotos na sala de estar. A parede principal estava tomada por elas, assim como alguns portas retratos enfeitavam os móveis do local. Não demorou a perceber quem era o grande protagonista de todas elas, Carlos. Uma foto em especial chamou sua atenção, null segurava sua imperceptível barriga e Carlos a beijava, segurando a foto de um ultrassom.
Bem diferente do que esperava e para sua própria surpresa, não sentiu a inveja ou o ciúmes que o vinha consumindo nos últimos dias. Se sentiu triste, muito triste por ver uma família tão feliz, separada antes mesmo de estar completa. Se virou para null, que o encarava num misto de medo e ansiedade e então se voltou para null , mais interessada em brincar com null Jr. do que o cumprimentar. Beijou sua testa, conversando rápido com a menina, sentindo o olhar atento de null sobre os dois.
Estavam ambos em silêncio e podia sentir como ela estava tensa com o momento. null fazia seu melhor para se manter calmo.
- Querem tomar alguma coisa? - null se dirigiu a cozinha, precisava se distrair - Eu comprei suco, água, chá… - dizia observando o tanto de coisas que tinha comprado para apenas quatro pessoas, duas delas crianças.
- Bem, eu.. - o jogador tentou responder, mas logo foi cortado pela mulher novamente.
- Ah, suas malas! Desculpa, vamos levar para o quarto… - antes que ela pudesse completar a frase, null tocou em seu braço, a impedindo de sair da cozinha.
- null, calma. - pediu, passando seus braços pela cintura da mulher, a olhando ternamente.
- É que eu… - a interrompeu outra vez, depositando um beijo leve em seus lábios.
- Eu sei, eu também estou nervoso - a tranquilizou - Mas vamos aos poucos, certo? Uma coisa de cada vez.
- Uma coisa de cada vez. - repetiu, se permitindo aproveitar aquele momento tão especial para ela.
Após mostrar o apartamento para null e garantir que null e Júnior estavam bem, o casal foi para a cozinha preparar o jantar. null prontamente se ofereceu para ajudar e, enquanto cortavam os ingredientes, passou a contar sobre a última partida que jogara, a fim de distrair a mulher. Com a comida no forno, os dois seguiram para a sala e brincaram com as crianças, até que tudo estivesse pronto.
Para null, aquela cena não era nova, estivera com Victoria durante os primeiros anos de vida de Júnior e puderam ser uma família por um tempo, mas para null, aquela cena era novidade, uma que ela apesar de querer, nunca imaginou também precisar. Os quatro felizes, jantando em sua casa como uma família, era a realização de um sonho que por muito tempo ela acreditou nunca poder realizar.
Com os dois pequenos já dormindo em paz no quarto de null , null e null seguiram para a sala e a mulher abriu uma garrafa de vinho, para que pudessem finalmente conversar. Havia demorado, mas null se sentia finalmente em paz consigo mesma, pronta para deixar que outro homem dividisse o espaço em seu coração, que até conhecer null, pertencera somente a Carlos.
- Obrigada por hoje, null. E por sempre respeitar meu espaço. Eu estava nervosa com essa visita, mas agora que vocês estão aqui eu sinto como se tudo tivesse finalmente se encaixado. - sorriu para o homem e os dois se sentaram no sofá menor, de frente um para o outro, mas com uma das mãos entrelaçadas. - Eu não me sentia pronta pra receber outra pessoa aqui, não uma que significa pra mim tanto quanto Carlos. Pode parecer bobagem, mas me sentia como se o estivesse traindo. Esse apartamento foi a primeira coisa que a gente conseguiu conquistar, claro que tivemos ajuda dos nossos pais pra dar o depósito, mas pagamos todo o resto sozinhos. Demorou para que a casa estivesse assim, completa. Sempre que sobrava uma graninha a gente comprava uma coisa nova. Passamos longos meses só com um colchão, geladeira e o fogão, mais nada. Esse apartamento era o nosso sonho, nosso primeiro cantinho juntos.
- Não é bobagem, null. - null apertou de leve sua mão - Faz todo o sentido. Tudo aqui te lembra ele e o que vocês passaram pra poder ficar juntos. Me sinto honrado que você finalmente se sentiu confortável pra compartilhar essa parte da sua vida comigo - sorriu, a observando tomar seu vinho. - Eu não vou negar que me irritei algumas vezes com sua demora e desculpas, mas algo tão grande assim… Eu não faço a mínima ideia de como reagiria se fosse comigo e agora que sei de tudo, tenho até que me desculpar por ter te pressionado tanto.
- Você não me deve nada, se não fosse por essa pressão, talvez eu nunca conseguisse superar a morte dele. Quando você "terminou" comigo… Era tudo que eu precisava para entender que isso que nós dois temos, que o que nós quatro temos, é o que realmente importa pra mim. O Carlos foi o meu passado e hoje eu sei que é você o meu futuro, null. Eu te amo! - null finalmente soltou aquelas três palavras que por anos pertenceu a uma única pessoa, mas há tempos ela sabia que o homem à sua frente também era dono delas, dizê-las finalmente para ele, era a única coisa que faltava pra sentir todo medo e vazio dentro de si se dissipar.
- Ah null, se você soubesse o quanto eu queria ouvir isso de você. O quanto eu tenho me segurado pra não dizer a mesma coisa há tempos. Eu que te amo, e muito!
As lágrimas, presas em ambos os olhares, diziam muito além. Era um amor sem igual, puro e verdadeiro como poucas pessoas ao longa da vida tem a sorte de encontrar. Um amor não perfeito, mas recíproco e aquilo bastava para eles. null e null se amavam e era tudo que importava naquele momento.
null se aproximou de null, envolvendo seus braços pelo corpo da mulher, selando seus lábios em um beijo que o fez ver todo o seu futuro a sua frente, sem mais dúvidas e medos. Poderiam finalmente ser.
- Vem, eu quero te mostrar uma coisa. - a mulher se levantou animada, puxando null consigo.
Os dois foram até o quarto de null e null acompanhou com o olhar o momento que ela tirou algo de dentro de uma gaveta ao lado de sua cama. Ele se sentou ao seu lado e sorriu confuso e curioso. Na frente do álbum, o nome de null estava gravado em uma letra cursiva em dourado. A mulher abriu a primeira página e lá estava a mesma foto que havia visto na sala. null e Carlos, com a foto do ultrasom de null .
- Eu e o Carlos começamos esse álbum juntos, nos prometemos que sempre o manteríamos atualizado com cada etapa da vida da null , até ela se formar na faculdade. - a mulher riu, acariciando a foto - Depois que ele morreu essas fotos se tornaram a única forma dela conhecer o pai, quem ele foi e o quanto ele a amou antes mesmo dela existir. - disse enquanto passava as páginas lentamente, deixando que null visse alguns momentos seus, de Carlos e de null .
O jogador folheava o álbum, sorrindo a cada nova foto ou história que null contava. Amava null como se fosse sua própria filha e estava amando conhecer as diversas fases da pequena antes dela entrar em sua vida, mas ao chegar na última foto, null sentiu seus olhos embaçarem mais uma vez naquela noite. Ele tinha passado todos os dias até aquele encontro ansioso, se perguntando o que iria acontecer, mas aquilo, ele certamente não estava preparado.
A foto deles quatro juntos, como uma família. null segurava null Jr. e null estava abraçado a null , sorrindo para a câmera que ele segurava.
- null pegou esse álbum há algum tempo e quando chegamos ao fim ela pediu pra colocarmos uma foto nossa. - null se emocionou com a lembrança do dia. - Na hora eu disse não, eu não quero que ela esqueça o Carlos, nunca. Mas a verdade é que esse pedido foi um dos motivos que me fizeram não querer te perder. Eu passei muitos anos vivendo no passado, imaginando como minha vida seria se eu tivesse pedido ao Carlos para não ir naquela viagem. Foi minha filha quem me fez ver que com ele eu já não podia fazer mais nada, mas se eu não nos desse uma chance, a culpa seria toda minha. Eu tive muito medo de te perder. - confessou, sentindo algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. - Se não fosse o Ben, eu teria te procurado antes, eu juro.
- Eu sei que teria, null. - null fechou o álbum antes que as lágrimas de null caíssem nele e se virou para ela, a abraçando forte. - Eu também tive medo de te perder, mas algo dentro de mim me dizia que não era pra desistir e foi o que eu fiz. Eu confesso que não é fácil pra mim ainda, acredito que em alguns momentos vou me sentir inseguro, como eu posso competir com alguém que não está mais aqui? Alguém que significou tanto pra você e que se ainda estivesse aqui, eu não teria a menor chance?
- null…
- Deixa eu terminar, null. - pediu carinhoso. - Eu tenho medo de nunca estar à altura, ele parece que te amou muito e tenho certeza que teria sido um pai incrível para a null , mas eu quero tentar, tentar te mostrar que estou e estarei aqui e em todos os momentos por vocês duas. Eu te amo tanto quanto a null , sei que ela não é a minha filha, mas sinto como de certa forma ela fosse e ver essa foto nossa em algo tão especial pra você me dá esperanças que um dia você possa me amar, como o amou.
- Eu… Não sabia que você se sentia assim, null. Mas você está enganado, eu demorei a entender que é possível amar duas pessoas com a mesma intensidade, foi assustador perceber que vocês dois tem o mesmo espaço dentro do meu coração. - assumiu sem a menor culpa, não mais - Eu prometo que vou tentar te mostrar que isso não é uma competição, eu tive um amor muito forte que vai sempre estar na minha vida, na nossa, mas eu também tenho um outro amor muito forte aqui, com você. - sorriu, tocando o coração do jogador. - Hoje eu tenho certeza que se não fosse pra ser você, não seria com mais ninguém, o que me faz lembrar que eu tenho uma pergunta pra te fazer…
- O quê? - o homem a encarou emocionado, sorrindo com os olhos ao ver o olhar misterioso que ela lhe lançou.
- null, você aceita namorar comigo?
💙
null não se lembrava de um dia ter sido tão feliz. Tivera bons relacionamentos, um que lhe dera seu bem mais precioso, null Jr. Mas tinha a certeza que nunca conseguiria ser tão feliz se em sua vida não tivesse null. Acordar ao lado dela, após a primeira noite como namorados o fez se sentir o homem mais sortudo do mundo. Tinha tudo que poderia sonhar, uma carreira que vinha melhorando a cada dia, uma namorada incrível que amava como era amado e dois pequenos que não paravam de falar e gargalhar por um segundo.
- Essa amizade deles é tão linda. - null dizia vendo ambos andarem a frente deles tagarelando por todo o caminho. Tinham tirado a manhã para fazer um passeio em Cercedilla, local um pouco distante de Madrid, onde poderiam curtir a natureza e um ao outro com mais privacidade.
- Linda é você e essa sua boca. - elogiou, a puxando para mais um beijo. - Ainda é difícil de acreditar que finalmente estamos aqui, assim.
- Eu sei, mas me parece certo. Eu estou feliz como nunca achei que pudesse ser de novo. - disse ao dar as mãos ao jogador, que sentiu seu coração acelerar.
- Confesso que eu também, fui muito feliz com a Victoria e quando o null nasceu, pareceu tudo se completar. A gente não espera ter filhos e não ficar pra sempre com a pessoa. Passei um tempo achando que nunca mais fosse ser feliz, mas então uma ida a uma loja de brinquedo mudou todo o meu futuro.
- Você nunca me disse isso! - null exclamou um pouco indignada.
- Você tinha problemas maiores que os meus. - o jogador deu de ombros e a mulher o encarou irritada.
- null, assim você me faz parecer egoísta. Eu estou sempre disposta a te ouvir, te ajudar, com o que for. Mesmo que eu tenha meus problemas, os seus são importantes pra mim também. Eu quero sempre estar ao seu lado, assim como você fez por mim. Eu te amo e tudo que vem de você sempre terá minha atenção.
- Eu sei, null, eu também te amo. Prometo que agora que estamos iniciando essa caminhada juntos, eu vou me abrir mais com você.
Os quatro iniciaram a caminhada leve e tranquila, aproveitando a temperatura maravilhosa que fazia naquela manhã. null capturava o passeio em seu celular.
- Papá, eu posso fazer carinho no cachorro? - Júnior perguntou se referindo a enorme bola de pêlos que vinha em direção a eles. Seus donos logo atrás.
- Só se ele for bonzinho e os donos deles deixarem.
- Ebaaa!! - null e null saíram correndo em direção ao casal e mesmo de longe ambos os pais conseguiam escutar a conversa e se aproximaram ao ver a mulher se abaixando, deixando que os dois passassem as mãos pelo corpo negro do animal.
- Mamá, ele é muito lindo, eu quero um. - null encarou a mãe, a fazendo dar risada, sabendo bem que demorariam semanas para que a filha esquecesse do assunto.
- No nosso apartamento não cabe nem um pequenininho, princesa. Imagina um igual a esse?
- Mas eu quero! - null emburrou, abraçando o animal.
- Papá, tira uma foto minha, quero mostrar pra mamãe. - O pequeno pediu e o jogador sacou o celular, tirando uma foto linda do menino.

Notando o casal o encarando além do necessário, null sabia o que vinha a seguir. Seria a primeira vez que null veria um fã se aproximar.
- Er, será que podemos pedir uma foto também? Não queremos atrapalhar, mas… Somos seus fãs.
- Claro! - null sorriu se aproximando e null mesmo um pouco atordoada com algo que não esperava, se ofereceu para tirar a foto.
- Obrigado. - o homem agradeceu, soltando alguns elogios para o jogador e logo cada um seguiu o seu caminho.
Após uma hora de trilha, os quatro se sentaram em um deck de madeira com vista para as montanhas e comeram os sanduíches preparados naquela manhã. null e null após descansarem as perninhas, foram brincar com o jogo de boliche que null trouxera em sua mochilas e os dois continuaram sentados no mesmo local observando a paisagem e os pequenos, enquanto conversavam.

- Eu os vejo raramente. - disse null sobre os pais de Carlos - Eles se mudaram para Menorca há alguns anos. Eu sei que não fui a responsável pelo acidente, mas eles me culpam um pouco. Acredito que pensam que se ele não tivesse desistido de Oxford, ainda estaria aqui.
- Mas é claro que não foi sua culpa!!! Eu ainda não me conformo que você passou por tudo isso sozinha. - o jogador acariciou o rosto da mulher, compenetrado em suas palavras.
- Quase, o Nano sempre esteve ao meu lado, algumas amigas também. Aliás foi por conta dele que eu consegui quitar o nosso apartamento. Carlos tinha um seguro de vida que ninguém lembrava, os beneficiários eram os pais e ele, mas ele me deu a parte dele. Não ter as contas mensais da hipoteca ajudaram muito e o benefício do governo também. Não foi fácil, mas sem ele, a Cora e o Ben teria sido impossível.
- Só o vi uma vez, mas por tudo que ele fez por você… Como o Ben não tem igual.
- Não tem mesmo, null. Ainda não acredito que ele deixou um pedacinho da herança dele pra mim. Quando a Cora me disse eu quase não acreditei, até achei que ela fosse ficar chateada, mas ela me assegurou que assim como o Ben sempre disse, eu e a null sempre seremos parte da família e que ela não esperava menos do pai. "Espero que agora você volte para a faculdade, querida." - repetiu emocionada, se lembrando do cartão escrito a próprio punho que recebeu das mãos do advogado da família de Ben. Foi impossível não deixar que as lágrimas preenchessem seu rosto, ainda era difícil não tê-lo mais ali, todos os dias. null se aproximou ainda mais dela, a abraçando.
- E você, vai voltar a estudar? Design de interiores mesmo? - perguntou, se lembrando da conversa que tiveram em sua casa.
- Eu quero muito, mas vai depender do valor do curso, como vou fazer com a null ... Não parei pra pensar no assunto ainda, vai demorar alguns meses até que eu receba o dinheiro, então tenho tempo.
- Tenho certeza que você vai dar um jeito e eu estarei aqui pra ajudar no que for preciso. - null selou seus lábios ao de null. - Eu preciso te perguntar uma coisa, mas saiba que se você achar um pouco cedo, eu vou entender.
- O quê? - a mulher o encarou curiosa.
- Minha mãe quer muito conhecer vocês oficialmente. Pediu pra convidar vocês pra um almoço na casa dela.
- Uau! - null exclamou após um tempo em silêncio - Eu tinha esquecido como é esse nervosismo de conhecer os pais do namorado. - riu, se aninhando de costas, nos braços do jogador. - Você é o filho favorito? - brincou, se virando para o encarar.
- O que você acha? - respondeu todo metido, recebendo um apertão na cintura de null.
- Tudo bem, é melhor arrancar o band aid de uma vez, quando conversamos ela me pareceu muito simpática.
- Eu tenho certeza que vocês vão se dar bem. - a confortou, sabendo que sua mãe amaria null e ainda mais toda a fofura de null . - Eu também gostaria de poder conhecer um pouco mais o seu pai. - admitiu.
- Ele me visita a cada duas semanas, podemos marcar algo.
null bem que tentou aprofundar a conversa, mas logo foi interrompido com os pedidos das crianças para que se juntassem a eles. Os quatro passaram um tempo se divertindo, criando novas memórias.
Já no caminho de volta, null podia ver o jogador a encarando um pouco nervoso. Como se quisesse falar algo, mas a todo tempo se segurasse. null e null iam lado a lado conversando, mas visivelmente cansados da manhã que tiveram. Provavelmente dormiriam no segundo que sentassem em suas cadeirinhas.
- O que foi? - perguntou com a sobrancelha erguida.
- O quê? - o jogador retrucou confuso.
- Você está com essa cara há algum tempo, como se quisesse me perguntar alguma coisa. - disse direta, tirando uma risada nasalada de null.
- Eu quero mesmo, mas não queria ter nossa primeira discussão como namorados logo nas primeiras vinte quatro horas. - riu, mas ainda era visível seu nervosismo.
- Pode perguntar, só não sei se vou dar a resposta que você quer.
- … Sua mãe, você acha que algum dia vocês vão voltar a se falar? - o jogador soltou de olho na mulher, que se retraiu ainda mais. Ele deixou que ela se mantivesse em silêncio pelo tempo que fosse necessário.
- Eu, sinceramente, não sei. - null respondeu após um longo tempo, ainda não sabia o quanto pretendia falar naquele momento. - Eu já tive raiva, muita mesmo. Naquele dia no parque mesmo, fiquei muito nervosa, mas depois da conversa com meu pai eu fiquei um pouco mexida…Nunca imaginei que ela quisesse saber sobre a null , sobre mim. Talvez tenha sido esse encontro inesperado que tenha me feito aceitar, depois de tantos anos, voltar a Toledo, rever a casa onde cresci… As vezes me pego imaginando como seriam as coisas se nada tivesse mudado, ela foi uma mãe muito boa antes de tudo isso acontecer, severa, mas boa. Mesmo assim não sei se tenho em mim esquecer tudo que passei e simplesmente perdoar.
- Talvez sua mãe não queira o perdão, muito menos que você esqueça tudo que ela te fez. Mas imagino que ela esteja bastante arrependida e em busca de um relacionamento com vocês duas, seja ele qual for.
- Eu não sei, null. Precisaria de muito para que eu sequer cogitasse algo assim e não me vejo fazendo isso tão cedo.
- Eu a encontrei. - Até aquele momento, null não tinha a menor intenção de revelar a null o encontro que tivera com sua mãe, mas ao ouvi-la desabafar se viu no dever de contar a verdade. - No enterro de Ben, sua mãe estava lá.
💙
null se despediu de todos com um pesar no coração. Antes de fechar a porta deu uma última olhada na sala, rezando para que quando voltasse, tudo estivesse bem. Sabia que tinha arriscado muita coisa em esconder o encontro com Lucía. Quando revelou toda a verdade, null não pareceu tão chateada quanto ele imaginou. Ela tinha ficado mais surpresa com o acontecido do que decepcionada com ele, mais uma vez sua mãe tinha ido atrás dela sem que ela fizesse ideia.
Por dias null ficou com aquela conversa em mente e diversas vezes pediu a null, fosse por mensagem ou pessoalmente, que repetisse algum trecho do que fora conversado. Não foi fácil aceitar marcar um encontro, conversou com seu pai por dias e foi só quando deixou sua mágoa de lado que finalmente conseguiu ver tudo que seu pai vinha passando nos últimos quatro anos e o quanto aquilo o afetava. O amava com todo seu ser e foi por ele e apenas por ele que concordou em tentar conversar com sua mãe. Na primeira tentativa, não dormiu a noite inteira e quando finalmente decidiu se levantar e comer alguma coisa, passou a próxima hora no banheiro, colocando tudo pra fora. Cancelar aquele encontro foi a coisa mais fácil que já fez na vida.
- Tio null, por que o vovô não veio mais? Ele disse que ia passar o dia comigo. - null perguntou enquanto os dois caminhavam de mãos dadas em direção ao parque.
- A mamãe precisou dele, ela vai conversar com a Lucía e achou que o vovô pudesse ajudar.
- O que elas vão conversar?
- Coisa de gente grande, princesa.
- Eu também sei conversar conversa de gente grande. - retrucou tirando uma risada nasalada do jogador.
- Ah é? Então, vem cá. - null a pegou no colo, fazendo cócegas no rosto da menina - Vamos ter conversa de gente grande, então. Conta pra mim, o que você quer ser quando crescer?
Juntos oficialmente há dois meses, null e null viviam a fase da lua de mel do relacionamento. Não conseguiam desgrudar um do outro e rara eram as vezes que dormiam separados. null estava adorando ter null em sua vida, tanto que muitas das vezes o monopolizava e o casal só conseguia ter um momento a sós, quando ela relutantemente ia dormir.
Por não morar com o filho há muito tempo, o jogador estava amando acompanhar o dia a dia de null e mais ainda de receber seus abraços e beijos nos momentos mais inesperados. A pequena adorava acariciar sua barba quando ele a colocava para dormir e o laço que sentia por ela, ia muito além do fato dela ser apenas a filha de sua namorada. Por isso que, ao ver o nervosismo de null com o encontro, sugeriu que Gonzalo ficasse e mediasse aquela conversa. Na hora a viu o encarar agradecida e ele também ficou feliz, pois poderia passar uma manhã toda com null .
Os dois passaram a manhã juntos e quando deu o horário combinado com null, ele voltou pra casa. Ele até perguntou se ela queria que ligasse primeiro e se tudo estivesse bem ficaria na rua com a pequena mais um pouco, mas null sabia que qualquer tempo com sua mãe naquele momento seria tempo demais e foi exatamente essa impressão que o jogador teve, assim que voltou pra casa. Sua namorada estava exausta, seus olhos inchados e suas olheiras profundas. O alívio em seu rosto ao vê-lo chegar, doeu em seu coração.
- Voltamos! - null anunciou correndo pro avô e dando um abraço nele. null imediatamente se sentou ao lado de null, fazendo um carinho em suas costas. A mulher o encarou com um sorriso que mal lhe alcançou os olhos, mas cheia de gratidão por ter ele novamente ali.
- Como foi o passeio? - Lucía perguntou visivelmente triste ao notar o amor da neta pelo marido.
- Foi muito legal, demos comida pros patinhos e pros filhotinhos, mas tinha um que queria comer de todos. O Tio null teve que jogar lá longe pra ele ir embora. O que vocês tiveram de conversa de gente grande? - soltou direta, fazendo todos rirem, incluindo null, que puxou a filha, a colocando no colo.
- Você lembra quando brigou com a Sara, sua amiguinha da escola? - iniciou, tentando ser o mais simples possível e continuou ao ver null assentir - E que mesmo a mamãe pedindo pra você se desculpar, demorou alguns dias pra vocês voltarem a serem amigas?
- Mas ela tinha me chutado, mamá, e doeu.
- E não tem vezes que você fica chateada com a mamãe e não quer falar comigo?
- É que às vezes você é chata. - soltou, fazendo todos gargalharem.
- A mamãe também teve uma briga com alguém, muito antes de você nascer, com a Tia Lucía. Ela, na verdade, é minha mãe. - soltou, sentindo todos os olhares sob si, mas se recusou a desviar o olhar da filha.
- Deve ter sido uma briga grande, né? Ela também te machucou? - perguntou com o cenho franzido, encarando a mulher não muito feliz.
- Bastante. - admitiu, sem se segurar - Tanto que você nunca tinha visto ela antes, não é? Mas assim como quando a gente briga e eu te peço desculpas ou você me pede desculpas, ela veio me pedir desculpas.
- E você vai desculpar?
- Eu tô tentando, princesa. Mas eu lembro de um dia que você veio me perguntar se eu só tinha o vovô ou se eu também tinha mãe. Na época eu já nem lembro o que te falei, mas a verdade é que não só eu tenho uma mãe, mas você também tem uma avó, a Tia Lucía.
- Mas é Tia Lucía ou vovó?
- Pra você é vovó, princesa. O que você acha?
- Eu tenho um vovô e uma vovó? - perguntou, ainda tentando assimilar tudo.
- Tem, você não gosta quando o vovô vem ficar aqui com você?
- O vovô é muito legal, ele deixa eu comer chocolate antes de dormir.
- null ! - Gonzalo ria aberto - É segredo nosso.
- Desculpa vô, eu esqueci.
- Vai ser igual, com a vovó você vai fazer as mesmas coisas que com o vovô. - o mais velho entrou na conversa. - Só que iremos fazer os três juntos.
- Eu vou poder ir na sua casa? - a garota perguntou e null a tirou do colo para que ela pudesse ir em direção ao seu pai.
- Se você quiser.
- Eu posso, mamá? - perguntou em dúvida, vendo null assentir e responder "Iremos juntas".
- Então tá bom. - disse simplesmente. - Você quer ver minhas bonecas? - se virou para Lucía, que até aquele momento estava imóvel. Encarou a filha, que apenas assentiu, ainda indecisa de como se sentia sobre tudo aquilo.
null viu uma oportunidade e pediu a null que levasse os dois avós para ver as bonecas e Gonzalo logo entendeu que a filha precisava de um intervalo. O jogador puxou null consigo e os dois foram para a cozinha fazer um café para todos e colocou um copo de água na frente da namorada, que o tomou inteiro de uma vez.
- Você está bem? Quer que eles vão embora?
- Sim e sim. - disse sincera - Mas eles não devem demorar muito mais, eu aguento.
- Como foi?
- Difícil, o prédio inteiro deve ter me ouvido, mas me sinto um pouco mais leve. Eu disse que não estou pronta para recomeçar nada, mas que ela pode criar um laço com a null .
- Isso já é bastante coisa. - elogiou - Você foi incrível hoje, null. Devia se orgulhar de si mesma.
- Eu te amo tanto, null. - null o abraçou forte, despejando todos seus medos naquele abraço, em troca, ele a abraçou com toda força e coragem que podia, tentando passar a certeza que ela sempre o teria ao seu lado.
- Eu também, meu amor. Eu também.
Não demorou para que o casal logo fosse embora. Ambos os lados sabiam que não seria fácil, mas ao menos para Lucía, o primeiro passo havia sido dado. null, null e null almoçaram logo em seguida e exaustos da manhã que tiveram, se deitaram na cama e colocaram Thor para assistir. Sabiam que era questão de tempo para que ela sucumbisse ao cansaço, depois de correr e brincar por horas.
- Mamá, o vovô é seu papai e a vovó sua mamãe?
- Isso mesmo. - null respondeu, olhando null de canto de olho, surpresa com o assunto. - Eles são meus pais, mas seus avós.
- Você acha que um dia meu papá pode aparecer de volta? Que nem a vovó? - perguntou pensativa e null encarou null assustada. O jogador na hora pausou o filme e os dois se sentaram na cama, de frente para a menina.
- Infelizmente não princesa, o seu papá precisou ir embora, o papai do Céu precisava da ajuda dele, mais do que a gente.
- Mas... E se eu quiser ter mais um papá?
- Como assim, filha?
- O León agora tem duas mamães, porque os pais dele não moram mais juntos e ele agora tem uma namorada.
- Isso, igual a mamãe tem o Tio null. - disse sorrindo para o jogador. - Mas nesse caso não se fala duas mamães, mas sim madrasta. Assim como quem tem dois papais um se chama padrasto.
- Mas padas… pasdas… Esse nome é feio! - resmungou por não conseguir pronunciar a palavra. - Eu gosto de dois papais.
- Não está mais aqui quem falou. - null levantou as mãos em rendição.
- Então eu também posso ter o Tio null como um dos meus papais?
- Não sei, você já perguntou pra ele se ele quer ser seu papá?
null ainda estava imóvel, as lágrimas em seus olhos não escondiam sua emoção. null o encarava como se nunca tivesse passado por sua cabecinha que tivesse que fazer tal pergunta, mas talvez a verdade era que ela não precisava mesmo, amor de pai e mãe vinha sem escolhas e pedidos, nem sempre dividindo os mesmos genes, mas sempre o coração.
- Tio null, você quer ser meu papai junto com meu outro papai?
null segurou em suas mãozinhas, analisando cada um de seus dedinhos da mesma forma que segurou os de null Jr. no momento em que ele nasceu. Não tinha diferença, o amor que sentia pela garotinha a sua frente era idêntico ao que sentia por seu filho, algo que ele nunca achou ser possível.
- Nada me faria mais feliz no mundo, do que ser o seu segundo pai, null . - fez questão em frisar, pois prometera a si mesmo que dividiria aquela paternidade com Carlos e nunca deixaria que a pequena o esquecesse.
Meses atrás aquela pergunta tinha quebrado null, mas agora, depois de tudo, a pergunta a encheu de esperança. Tinha finalmente aprendido com todo o amor que recebia de null, que ele não estava ali para subtrair, muito pelo contrário, null estava lá para adicionar e multiplicar. Nunca sentira Carlos tão presente, como quando estava com null e aquilo a fazia ter certeza que tinha escolhido o caminho certo.
Não só caminho que dava a sua princesa a chance de ter o que ela sempre teve com seu pai, um amor incondicional, como a chance de poder recomeçar.
Mais do que nunca null sabia, Carlos havia sido seu passado, mas null seria para sempre, o seu futuro.
null conhecia bem o processo da perda, mas nem por isso era mais fácil vivenciá-la. Precisava se recolher, aquietar seus pensamentos, sua dor e seu coração. Ao menos era o que ela acreditava ser a melhor forma de lidar com aquela sensação de abandono. Tinha certeza que se não fosse por null , não teria forças para se reerguer de mais um baque daquela proporção.
null, embora preocupado com null, apreciou o tempo em que não se viram. Precisava colocar os próprios pensamentos em ordem. Nunca imaginou que toda aquela dor que via escondida no olhar dela, fosse tão poderosa. Como ela mesmo tinha dito, tinha perdido o amor de sua vida. O jogador nunca tinha conhecido alguém que tivesse se tornado viuvo tão novo, ainda mais alguém por quem ele era perdidamente apaixonado.
Passara os dias se penalizando por ter ciúmes de alguém que já não estava mais entre eles, mas era impossível deixar de sentir um aperto em seu peito, na incerteza se null um dia o amaria tanto quanto Carlos. Se o homem era o grande amor de sua vida, qual papel poderia ele preencher? Aquelas dúvidas o faziam se sentir egoísta, tinha vergonha de até mesmo tê-los, quanto mais verbalizá-los.
Agradeceu por ter uma profissão que o tirava da cama e o fazia esquecer de qualquer coisa que não fosse o futebol. Tinha certeza que estaria muito pior se não fossem os treinos, jogos e seus colegas de equipe. Esses o qual, mesmo sem perceber, o estavam ajudando muito além de suas palavras.
O encontro entre eles veio repentino, apaziguador e reconfortante. null estava no portão da escola, esperando seu filho aparecer, quando sentiu seu coração bater mais forte e as palmas de sua mão começarem a suar. Riu de si mesmo, null tinha um poder sobre ele que nenhuma mulher tinha tido antes, talvez fosse a certeza que sentia sempre que estavam juntos. A certeza que o carregava nos momentos de dúvida e dor.
O que ele mal sabia era que null se sentia da mesma forma. Quando colocava os olhos sobre ele, seus olhos tão cheios de amor, seu sorriso repleto de carinho e seu toque coberto de segurança, ela tinha certeza que não gostaria de estar em nenhum outro lugar.
Ela caminhava com null em seu colo e null em seu encalço, cantarolando uma canção. Estava conversando com a administração da escola quando o alarme soou e foi em direção a sala de aula dos pequenos e se surpreendeu quando null Jr. correu até ela a abraçando forte. Tinha sentido saudades, foi o que o pequeno dissera.
- Ei! – null sorriu largo para o homem e passou o filho para ele ao se aproximarem.
- Ei vocês! – o jogador retribuiu, beijando o rosto do filho, antes de fazer o mesmo com a mulher, a abraçando de forma desajeitada. – Como você está, pequena? – se direcionou a null , que agora segurava em sua mão livre.
- Eu tô bem, acertei o exercício hoje na aula.
- Uau, parabéns! – null se ajoelhou, colocando o filho no chão, ainda com o braço a sua volta e abraçou null com o lado livre. – E você, filho, acertou também?
- Eu acertei três. - disse mostrando o número com os dedos de forma adorável.
- Vocês dois são muito inteligentes mesmo - elogiou, fechando os braços, trazendo as crianças para um abraço triplo, gerando diversas risadinhas dos pequenos.
null observava aquela interação maravilhada, tinha certeza que quem os visse de fora perceberiam o quanto ela era apaixonada por aquele homem. Dulce apareceu com Juan e os três adultos conversaram brevemente, antes dela se despedir com um abraço forte em null, repetindo pela terceira vez o quanto sentia sobre Ben e sua total disponibilidade para conversar com null, fosse por telefone ou ao vivo, a qualquer hora.
- Ela é um amor. – disse se virando para o homem – Foi bom nos encontrarmos hoje, eu ia mesmo te mandar uma mensagem saindo daqui.
- Pra? – null deu a mão as duas crianças e os quatro saíram do local a caminho do estacionamento.
- Te ver. Eu queria fazer um convite aliás, para vocês dois. – null olhou para pai e filho – Dependendo do seu calendário, gostariam de passar um final de semana a quatro?
Foi impossível para null não rir da cara de null, conhecia bem a forma que ele adorava levar tudo com segundas intenções e sabia exatamente o que ele responderia se as crianças não estivessem juntos.
- Você sabe o que eu estou pensando? – perguntou com a sobrancelha erguida e um sorriso sedutor no rosto.
- Sei muito bem. – confirmou com o rosto levemente vermelho, para deleite do jogador.
- Eu quero, papá. Pode ser amanhã?
- Calma, campeão, o papai precisa ver o melhor dia. – disse para o filho e pegou null no colo, a colocando em sua cadeirinha e então se virou para null. – Chegando em casa eu te mando as datas?
- Combinado.
- Quer que eu busque vocês? - null franziu o cenho confusa e então sorriu doce para o jogador.
- Não, null, eu quero que você passe um final de semana com a gente… - encarou a filha, que retribuía o olhar animada. - Na nossa casa.
- Ah! - foi a única coisa que conseguiu proferir, tamanha sua surpresa. Podia sentir seu coração bater no peito. As coisas pareciam ter realmente mudado, null estava se abrindo por completo com ele. - Eu adoraria.
null 💋: Então sobe 😍
Aliviado, encarou o retrovisor, vendo que null Jr. já tinha tirado o próprio cinto, empolgado com os dias que teria ao lado de null e null . Ajudou o filho a descer de sua cadeirinha e enquanto pegava as mochilas no porta malas, respirou fundo, se preparando para aquele momento tão esperado.
Por mais que não aparecesse no local há tempos, reconheceu o porteiro, que prontamente liberou sua entrada. Sabia que null já o havia liberado, mas por mais tolo que aquilo fosse, pela primeira vez se sentiu inquestionavelmente parte da vida de null e null .
Desde que recebera a mensagem de null , null caminhava de um lado para outro na frente da porta, ansiosa. Espiou null rapidamente, vendo que a menina continuava distraída, abrindo o quebra cabeça infantil que tinha escolhido para brincar "a noite toda" com null e o filho. Sorriu carinhosa, vendo como a filha estava feliz com os planos para os próximos dois dias.
O som de duas batidinhas a fizeram dar um pequeno pulo de susto. Riu de si mesma e se aproximou da porta, respirando fundo ao abri-la. Seu coração se encheu de amor ao se deparar com o sorriso tímido de null e a feição animada de Júnior.
- Hey... - ele a cumprimentou um pouco incerto, depositando um beijo leve em seus lábios.
- Oi, Tia null! Onde tá a null ? - o pequeno perguntou direto e ambos adultos sorriram.
- Entrem! Entrem! - exclamou animada, abrindo espaço para que pai e filho entrassem no local. - null está ali na sala, querido.
Antes que null sequer terminasse de dar espaço, um mini furacão passou por ela, correndo em direção a pequena sala. null entrou com mais calma, ouvindo a porta se fechar atrás de si. null não se moveu, queria que o jogador formasse a própria opinião.
Fotos.
A primeira coisa que null percebeu foi a quantidade de fotos na sala de estar. A parede principal estava tomada por elas, assim como alguns portas retratos enfeitavam os móveis do local. Não demorou a perceber quem era o grande protagonista de todas elas, Carlos. Uma foto em especial chamou sua atenção, null segurava sua imperceptível barriga e Carlos a beijava, segurando a foto de um ultrassom.
Bem diferente do que esperava e para sua própria surpresa, não sentiu a inveja ou o ciúmes que o vinha consumindo nos últimos dias. Se sentiu triste, muito triste por ver uma família tão feliz, separada antes mesmo de estar completa. Se virou para null, que o encarava num misto de medo e ansiedade e então se voltou para null , mais interessada em brincar com null Jr. do que o cumprimentar. Beijou sua testa, conversando rápido com a menina, sentindo o olhar atento de null sobre os dois.
Estavam ambos em silêncio e podia sentir como ela estava tensa com o momento. null fazia seu melhor para se manter calmo.
- Querem tomar alguma coisa? - null se dirigiu a cozinha, precisava se distrair - Eu comprei suco, água, chá… - dizia observando o tanto de coisas que tinha comprado para apenas quatro pessoas, duas delas crianças.
- Bem, eu.. - o jogador tentou responder, mas logo foi cortado pela mulher novamente.
- Ah, suas malas! Desculpa, vamos levar para o quarto… - antes que ela pudesse completar a frase, null tocou em seu braço, a impedindo de sair da cozinha.
- null, calma. - pediu, passando seus braços pela cintura da mulher, a olhando ternamente.
- É que eu… - a interrompeu outra vez, depositando um beijo leve em seus lábios.
- Eu sei, eu também estou nervoso - a tranquilizou - Mas vamos aos poucos, certo? Uma coisa de cada vez.
- Uma coisa de cada vez. - repetiu, se permitindo aproveitar aquele momento tão especial para ela.
Após mostrar o apartamento para null e garantir que null e Júnior estavam bem, o casal foi para a cozinha preparar o jantar. null prontamente se ofereceu para ajudar e, enquanto cortavam os ingredientes, passou a contar sobre a última partida que jogara, a fim de distrair a mulher. Com a comida no forno, os dois seguiram para a sala e brincaram com as crianças, até que tudo estivesse pronto.
Para null, aquela cena não era nova, estivera com Victoria durante os primeiros anos de vida de Júnior e puderam ser uma família por um tempo, mas para null, aquela cena era novidade, uma que ela apesar de querer, nunca imaginou também precisar. Os quatro felizes, jantando em sua casa como uma família, era a realização de um sonho que por muito tempo ela acreditou nunca poder realizar.
Com os dois pequenos já dormindo em paz no quarto de null , null e null seguiram para a sala e a mulher abriu uma garrafa de vinho, para que pudessem finalmente conversar. Havia demorado, mas null se sentia finalmente em paz consigo mesma, pronta para deixar que outro homem dividisse o espaço em seu coração, que até conhecer null, pertencera somente a Carlos.
- Obrigada por hoje, null. E por sempre respeitar meu espaço. Eu estava nervosa com essa visita, mas agora que vocês estão aqui eu sinto como se tudo tivesse finalmente se encaixado. - sorriu para o homem e os dois se sentaram no sofá menor, de frente um para o outro, mas com uma das mãos entrelaçadas. - Eu não me sentia pronta pra receber outra pessoa aqui, não uma que significa pra mim tanto quanto Carlos. Pode parecer bobagem, mas me sentia como se o estivesse traindo. Esse apartamento foi a primeira coisa que a gente conseguiu conquistar, claro que tivemos ajuda dos nossos pais pra dar o depósito, mas pagamos todo o resto sozinhos. Demorou para que a casa estivesse assim, completa. Sempre que sobrava uma graninha a gente comprava uma coisa nova. Passamos longos meses só com um colchão, geladeira e o fogão, mais nada. Esse apartamento era o nosso sonho, nosso primeiro cantinho juntos.
- Não é bobagem, null. - null apertou de leve sua mão - Faz todo o sentido. Tudo aqui te lembra ele e o que vocês passaram pra poder ficar juntos. Me sinto honrado que você finalmente se sentiu confortável pra compartilhar essa parte da sua vida comigo - sorriu, a observando tomar seu vinho. - Eu não vou negar que me irritei algumas vezes com sua demora e desculpas, mas algo tão grande assim… Eu não faço a mínima ideia de como reagiria se fosse comigo e agora que sei de tudo, tenho até que me desculpar por ter te pressionado tanto.
- Você não me deve nada, se não fosse por essa pressão, talvez eu nunca conseguisse superar a morte dele. Quando você "terminou" comigo… Era tudo que eu precisava para entender que isso que nós dois temos, que o que nós quatro temos, é o que realmente importa pra mim. O Carlos foi o meu passado e hoje eu sei que é você o meu futuro, null. Eu te amo! - null finalmente soltou aquelas três palavras que por anos pertenceu a uma única pessoa, mas há tempos ela sabia que o homem à sua frente também era dono delas, dizê-las finalmente para ele, era a única coisa que faltava pra sentir todo medo e vazio dentro de si se dissipar.
- Ah null, se você soubesse o quanto eu queria ouvir isso de você. O quanto eu tenho me segurado pra não dizer a mesma coisa há tempos. Eu que te amo, e muito!
As lágrimas, presas em ambos os olhares, diziam muito além. Era um amor sem igual, puro e verdadeiro como poucas pessoas ao longa da vida tem a sorte de encontrar. Um amor não perfeito, mas recíproco e aquilo bastava para eles. null e null se amavam e era tudo que importava naquele momento.
null se aproximou de null, envolvendo seus braços pelo corpo da mulher, selando seus lábios em um beijo que o fez ver todo o seu futuro a sua frente, sem mais dúvidas e medos. Poderiam finalmente ser.
- Vem, eu quero te mostrar uma coisa. - a mulher se levantou animada, puxando null consigo.
Os dois foram até o quarto de null e null acompanhou com o olhar o momento que ela tirou algo de dentro de uma gaveta ao lado de sua cama. Ele se sentou ao seu lado e sorriu confuso e curioso. Na frente do álbum, o nome de null estava gravado em uma letra cursiva em dourado. A mulher abriu a primeira página e lá estava a mesma foto que havia visto na sala. null e Carlos, com a foto do ultrasom de null .
- Eu e o Carlos começamos esse álbum juntos, nos prometemos que sempre o manteríamos atualizado com cada etapa da vida da null , até ela se formar na faculdade. - a mulher riu, acariciando a foto - Depois que ele morreu essas fotos se tornaram a única forma dela conhecer o pai, quem ele foi e o quanto ele a amou antes mesmo dela existir. - disse enquanto passava as páginas lentamente, deixando que null visse alguns momentos seus, de Carlos e de null .
O jogador folheava o álbum, sorrindo a cada nova foto ou história que null contava. Amava null como se fosse sua própria filha e estava amando conhecer as diversas fases da pequena antes dela entrar em sua vida, mas ao chegar na última foto, null sentiu seus olhos embaçarem mais uma vez naquela noite. Ele tinha passado todos os dias até aquele encontro ansioso, se perguntando o que iria acontecer, mas aquilo, ele certamente não estava preparado.
A foto deles quatro juntos, como uma família. null segurava null Jr. e null estava abraçado a null , sorrindo para a câmera que ele segurava.
- null pegou esse álbum há algum tempo e quando chegamos ao fim ela pediu pra colocarmos uma foto nossa. - null se emocionou com a lembrança do dia. - Na hora eu disse não, eu não quero que ela esqueça o Carlos, nunca. Mas a verdade é que esse pedido foi um dos motivos que me fizeram não querer te perder. Eu passei muitos anos vivendo no passado, imaginando como minha vida seria se eu tivesse pedido ao Carlos para não ir naquela viagem. Foi minha filha quem me fez ver que com ele eu já não podia fazer mais nada, mas se eu não nos desse uma chance, a culpa seria toda minha. Eu tive muito medo de te perder. - confessou, sentindo algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. - Se não fosse o Ben, eu teria te procurado antes, eu juro.
- Eu sei que teria, null. - null fechou o álbum antes que as lágrimas de null caíssem nele e se virou para ela, a abraçando forte. - Eu também tive medo de te perder, mas algo dentro de mim me dizia que não era pra desistir e foi o que eu fiz. Eu confesso que não é fácil pra mim ainda, acredito que em alguns momentos vou me sentir inseguro, como eu posso competir com alguém que não está mais aqui? Alguém que significou tanto pra você e que se ainda estivesse aqui, eu não teria a menor chance?
- null…
- Deixa eu terminar, null. - pediu carinhoso. - Eu tenho medo de nunca estar à altura, ele parece que te amou muito e tenho certeza que teria sido um pai incrível para a null , mas eu quero tentar, tentar te mostrar que estou e estarei aqui e em todos os momentos por vocês duas. Eu te amo tanto quanto a null , sei que ela não é a minha filha, mas sinto como de certa forma ela fosse e ver essa foto nossa em algo tão especial pra você me dá esperanças que um dia você possa me amar, como o amou.
- Eu… Não sabia que você se sentia assim, null. Mas você está enganado, eu demorei a entender que é possível amar duas pessoas com a mesma intensidade, foi assustador perceber que vocês dois tem o mesmo espaço dentro do meu coração. - assumiu sem a menor culpa, não mais - Eu prometo que vou tentar te mostrar que isso não é uma competição, eu tive um amor muito forte que vai sempre estar na minha vida, na nossa, mas eu também tenho um outro amor muito forte aqui, com você. - sorriu, tocando o coração do jogador. - Hoje eu tenho certeza que se não fosse pra ser você, não seria com mais ninguém, o que me faz lembrar que eu tenho uma pergunta pra te fazer…
- O quê? - o homem a encarou emocionado, sorrindo com os olhos ao ver o olhar misterioso que ela lhe lançou.
- null, você aceita namorar comigo?
- Essa amizade deles é tão linda. - null dizia vendo ambos andarem a frente deles tagarelando por todo o caminho. Tinham tirado a manhã para fazer um passeio em Cercedilla, local um pouco distante de Madrid, onde poderiam curtir a natureza e um ao outro com mais privacidade.
- Linda é você e essa sua boca. - elogiou, a puxando para mais um beijo. - Ainda é difícil de acreditar que finalmente estamos aqui, assim.
- Eu sei, mas me parece certo. Eu estou feliz como nunca achei que pudesse ser de novo. - disse ao dar as mãos ao jogador, que sentiu seu coração acelerar.
- Confesso que eu também, fui muito feliz com a Victoria e quando o null nasceu, pareceu tudo se completar. A gente não espera ter filhos e não ficar pra sempre com a pessoa. Passei um tempo achando que nunca mais fosse ser feliz, mas então uma ida a uma loja de brinquedo mudou todo o meu futuro.
- Você nunca me disse isso! - null exclamou um pouco indignada.
- Você tinha problemas maiores que os meus. - o jogador deu de ombros e a mulher o encarou irritada.
- null, assim você me faz parecer egoísta. Eu estou sempre disposta a te ouvir, te ajudar, com o que for. Mesmo que eu tenha meus problemas, os seus são importantes pra mim também. Eu quero sempre estar ao seu lado, assim como você fez por mim. Eu te amo e tudo que vem de você sempre terá minha atenção.
- Eu sei, null, eu também te amo. Prometo que agora que estamos iniciando essa caminhada juntos, eu vou me abrir mais com você.
Os quatro iniciaram a caminhada leve e tranquila, aproveitando a temperatura maravilhosa que fazia naquela manhã. null capturava o passeio em seu celular.
- Papá, eu posso fazer carinho no cachorro? - Júnior perguntou se referindo a enorme bola de pêlos que vinha em direção a eles. Seus donos logo atrás.
- Só se ele for bonzinho e os donos deles deixarem.
- Ebaaa!! - null e null saíram correndo em direção ao casal e mesmo de longe ambos os pais conseguiam escutar a conversa e se aproximaram ao ver a mulher se abaixando, deixando que os dois passassem as mãos pelo corpo negro do animal.
- Mamá, ele é muito lindo, eu quero um. - null encarou a mãe, a fazendo dar risada, sabendo bem que demorariam semanas para que a filha esquecesse do assunto.
- No nosso apartamento não cabe nem um pequenininho, princesa. Imagina um igual a esse?
- Mas eu quero! - null emburrou, abraçando o animal.
- Papá, tira uma foto minha, quero mostrar pra mamãe. - O pequeno pediu e o jogador sacou o celular, tirando uma foto linda do menino.

Notando o casal o encarando além do necessário, null sabia o que vinha a seguir. Seria a primeira vez que null veria um fã se aproximar.
- Er, será que podemos pedir uma foto também? Não queremos atrapalhar, mas… Somos seus fãs.
- Claro! - null sorriu se aproximando e null mesmo um pouco atordoada com algo que não esperava, se ofereceu para tirar a foto.
- Obrigado. - o homem agradeceu, soltando alguns elogios para o jogador e logo cada um seguiu o seu caminho.
Após uma hora de trilha, os quatro se sentaram em um deck de madeira com vista para as montanhas e comeram os sanduíches preparados naquela manhã. null e null após descansarem as perninhas, foram brincar com o jogo de boliche que null trouxera em sua mochilas e os dois continuaram sentados no mesmo local observando a paisagem e os pequenos, enquanto conversavam.

- Eu os vejo raramente. - disse null sobre os pais de Carlos - Eles se mudaram para Menorca há alguns anos. Eu sei que não fui a responsável pelo acidente, mas eles me culpam um pouco. Acredito que pensam que se ele não tivesse desistido de Oxford, ainda estaria aqui.
- Mas é claro que não foi sua culpa!!! Eu ainda não me conformo que você passou por tudo isso sozinha. - o jogador acariciou o rosto da mulher, compenetrado em suas palavras.
- Quase, o Nano sempre esteve ao meu lado, algumas amigas também. Aliás foi por conta dele que eu consegui quitar o nosso apartamento. Carlos tinha um seguro de vida que ninguém lembrava, os beneficiários eram os pais e ele, mas ele me deu a parte dele. Não ter as contas mensais da hipoteca ajudaram muito e o benefício do governo também. Não foi fácil, mas sem ele, a Cora e o Ben teria sido impossível.
- Só o vi uma vez, mas por tudo que ele fez por você… Como o Ben não tem igual.
- Não tem mesmo, null. Ainda não acredito que ele deixou um pedacinho da herança dele pra mim. Quando a Cora me disse eu quase não acreditei, até achei que ela fosse ficar chateada, mas ela me assegurou que assim como o Ben sempre disse, eu e a null sempre seremos parte da família e que ela não esperava menos do pai. "Espero que agora você volte para a faculdade, querida." - repetiu emocionada, se lembrando do cartão escrito a próprio punho que recebeu das mãos do advogado da família de Ben. Foi impossível não deixar que as lágrimas preenchessem seu rosto, ainda era difícil não tê-lo mais ali, todos os dias. null se aproximou ainda mais dela, a abraçando.
- E você, vai voltar a estudar? Design de interiores mesmo? - perguntou, se lembrando da conversa que tiveram em sua casa.
- Eu quero muito, mas vai depender do valor do curso, como vou fazer com a null ... Não parei pra pensar no assunto ainda, vai demorar alguns meses até que eu receba o dinheiro, então tenho tempo.
- Tenho certeza que você vai dar um jeito e eu estarei aqui pra ajudar no que for preciso. - null selou seus lábios ao de null. - Eu preciso te perguntar uma coisa, mas saiba que se você achar um pouco cedo, eu vou entender.
- O quê? - a mulher o encarou curiosa.
- Minha mãe quer muito conhecer vocês oficialmente. Pediu pra convidar vocês pra um almoço na casa dela.
- Uau! - null exclamou após um tempo em silêncio - Eu tinha esquecido como é esse nervosismo de conhecer os pais do namorado. - riu, se aninhando de costas, nos braços do jogador. - Você é o filho favorito? - brincou, se virando para o encarar.
- O que você acha? - respondeu todo metido, recebendo um apertão na cintura de null.
- Tudo bem, é melhor arrancar o band aid de uma vez, quando conversamos ela me pareceu muito simpática.
- Eu tenho certeza que vocês vão se dar bem. - a confortou, sabendo que sua mãe amaria null e ainda mais toda a fofura de null . - Eu também gostaria de poder conhecer um pouco mais o seu pai. - admitiu.
- Ele me visita a cada duas semanas, podemos marcar algo.
null bem que tentou aprofundar a conversa, mas logo foi interrompido com os pedidos das crianças para que se juntassem a eles. Os quatro passaram um tempo se divertindo, criando novas memórias.
Já no caminho de volta, null podia ver o jogador a encarando um pouco nervoso. Como se quisesse falar algo, mas a todo tempo se segurasse. null e null iam lado a lado conversando, mas visivelmente cansados da manhã que tiveram. Provavelmente dormiriam no segundo que sentassem em suas cadeirinhas.
- O que foi? - perguntou com a sobrancelha erguida.
- O quê? - o jogador retrucou confuso.
- Você está com essa cara há algum tempo, como se quisesse me perguntar alguma coisa. - disse direta, tirando uma risada nasalada de null.
- Eu quero mesmo, mas não queria ter nossa primeira discussão como namorados logo nas primeiras vinte quatro horas. - riu, mas ainda era visível seu nervosismo.
- Pode perguntar, só não sei se vou dar a resposta que você quer.
- … Sua mãe, você acha que algum dia vocês vão voltar a se falar? - o jogador soltou de olho na mulher, que se retraiu ainda mais. Ele deixou que ela se mantivesse em silêncio pelo tempo que fosse necessário.
- Eu, sinceramente, não sei. - null respondeu após um longo tempo, ainda não sabia o quanto pretendia falar naquele momento. - Eu já tive raiva, muita mesmo. Naquele dia no parque mesmo, fiquei muito nervosa, mas depois da conversa com meu pai eu fiquei um pouco mexida…Nunca imaginei que ela quisesse saber sobre a null , sobre mim. Talvez tenha sido esse encontro inesperado que tenha me feito aceitar, depois de tantos anos, voltar a Toledo, rever a casa onde cresci… As vezes me pego imaginando como seriam as coisas se nada tivesse mudado, ela foi uma mãe muito boa antes de tudo isso acontecer, severa, mas boa. Mesmo assim não sei se tenho em mim esquecer tudo que passei e simplesmente perdoar.
- Talvez sua mãe não queira o perdão, muito menos que você esqueça tudo que ela te fez. Mas imagino que ela esteja bastante arrependida e em busca de um relacionamento com vocês duas, seja ele qual for.
- Eu não sei, null. Precisaria de muito para que eu sequer cogitasse algo assim e não me vejo fazendo isso tão cedo.
- Eu a encontrei. - Até aquele momento, null não tinha a menor intenção de revelar a null o encontro que tivera com sua mãe, mas ao ouvi-la desabafar se viu no dever de contar a verdade. - No enterro de Ben, sua mãe estava lá.
Por dias null ficou com aquela conversa em mente e diversas vezes pediu a null, fosse por mensagem ou pessoalmente, que repetisse algum trecho do que fora conversado. Não foi fácil aceitar marcar um encontro, conversou com seu pai por dias e foi só quando deixou sua mágoa de lado que finalmente conseguiu ver tudo que seu pai vinha passando nos últimos quatro anos e o quanto aquilo o afetava. O amava com todo seu ser e foi por ele e apenas por ele que concordou em tentar conversar com sua mãe. Na primeira tentativa, não dormiu a noite inteira e quando finalmente decidiu se levantar e comer alguma coisa, passou a próxima hora no banheiro, colocando tudo pra fora. Cancelar aquele encontro foi a coisa mais fácil que já fez na vida.
- Tio null, por que o vovô não veio mais? Ele disse que ia passar o dia comigo. - null perguntou enquanto os dois caminhavam de mãos dadas em direção ao parque.
- A mamãe precisou dele, ela vai conversar com a Lucía e achou que o vovô pudesse ajudar.
- O que elas vão conversar?
- Coisa de gente grande, princesa.
- Eu também sei conversar conversa de gente grande. - retrucou tirando uma risada nasalada do jogador.
- Ah é? Então, vem cá. - null a pegou no colo, fazendo cócegas no rosto da menina - Vamos ter conversa de gente grande, então. Conta pra mim, o que você quer ser quando crescer?
Juntos oficialmente há dois meses, null e null viviam a fase da lua de mel do relacionamento. Não conseguiam desgrudar um do outro e rara eram as vezes que dormiam separados. null estava adorando ter null em sua vida, tanto que muitas das vezes o monopolizava e o casal só conseguia ter um momento a sós, quando ela relutantemente ia dormir.
Por não morar com o filho há muito tempo, o jogador estava amando acompanhar o dia a dia de null e mais ainda de receber seus abraços e beijos nos momentos mais inesperados. A pequena adorava acariciar sua barba quando ele a colocava para dormir e o laço que sentia por ela, ia muito além do fato dela ser apenas a filha de sua namorada. Por isso que, ao ver o nervosismo de null com o encontro, sugeriu que Gonzalo ficasse e mediasse aquela conversa. Na hora a viu o encarar agradecida e ele também ficou feliz, pois poderia passar uma manhã toda com null .
Os dois passaram a manhã juntos e quando deu o horário combinado com null, ele voltou pra casa. Ele até perguntou se ela queria que ligasse primeiro e se tudo estivesse bem ficaria na rua com a pequena mais um pouco, mas null sabia que qualquer tempo com sua mãe naquele momento seria tempo demais e foi exatamente essa impressão que o jogador teve, assim que voltou pra casa. Sua namorada estava exausta, seus olhos inchados e suas olheiras profundas. O alívio em seu rosto ao vê-lo chegar, doeu em seu coração.
- Voltamos! - null anunciou correndo pro avô e dando um abraço nele. null imediatamente se sentou ao lado de null, fazendo um carinho em suas costas. A mulher o encarou com um sorriso que mal lhe alcançou os olhos, mas cheia de gratidão por ter ele novamente ali.
- Como foi o passeio? - Lucía perguntou visivelmente triste ao notar o amor da neta pelo marido.
- Foi muito legal, demos comida pros patinhos e pros filhotinhos, mas tinha um que queria comer de todos. O Tio null teve que jogar lá longe pra ele ir embora. O que vocês tiveram de conversa de gente grande? - soltou direta, fazendo todos rirem, incluindo null, que puxou a filha, a colocando no colo.
- Você lembra quando brigou com a Sara, sua amiguinha da escola? - iniciou, tentando ser o mais simples possível e continuou ao ver null assentir - E que mesmo a mamãe pedindo pra você se desculpar, demorou alguns dias pra vocês voltarem a serem amigas?
- Mas ela tinha me chutado, mamá, e doeu.
- E não tem vezes que você fica chateada com a mamãe e não quer falar comigo?
- É que às vezes você é chata. - soltou, fazendo todos gargalharem.
- A mamãe também teve uma briga com alguém, muito antes de você nascer, com a Tia Lucía. Ela, na verdade, é minha mãe. - soltou, sentindo todos os olhares sob si, mas se recusou a desviar o olhar da filha.
- Deve ter sido uma briga grande, né? Ela também te machucou? - perguntou com o cenho franzido, encarando a mulher não muito feliz.
- Bastante. - admitiu, sem se segurar - Tanto que você nunca tinha visto ela antes, não é? Mas assim como quando a gente briga e eu te peço desculpas ou você me pede desculpas, ela veio me pedir desculpas.
- E você vai desculpar?
- Eu tô tentando, princesa. Mas eu lembro de um dia que você veio me perguntar se eu só tinha o vovô ou se eu também tinha mãe. Na época eu já nem lembro o que te falei, mas a verdade é que não só eu tenho uma mãe, mas você também tem uma avó, a Tia Lucía.
- Mas é Tia Lucía ou vovó?
- Pra você é vovó, princesa. O que você acha?
- Eu tenho um vovô e uma vovó? - perguntou, ainda tentando assimilar tudo.
- Tem, você não gosta quando o vovô vem ficar aqui com você?
- O vovô é muito legal, ele deixa eu comer chocolate antes de dormir.
- null ! - Gonzalo ria aberto - É segredo nosso.
- Desculpa vô, eu esqueci.
- Vai ser igual, com a vovó você vai fazer as mesmas coisas que com o vovô. - o mais velho entrou na conversa. - Só que iremos fazer os três juntos.
- Eu vou poder ir na sua casa? - a garota perguntou e null a tirou do colo para que ela pudesse ir em direção ao seu pai.
- Se você quiser.
- Eu posso, mamá? - perguntou em dúvida, vendo null assentir e responder "Iremos juntas".
- Então tá bom. - disse simplesmente. - Você quer ver minhas bonecas? - se virou para Lucía, que até aquele momento estava imóvel. Encarou a filha, que apenas assentiu, ainda indecisa de como se sentia sobre tudo aquilo.
null viu uma oportunidade e pediu a null que levasse os dois avós para ver as bonecas e Gonzalo logo entendeu que a filha precisava de um intervalo. O jogador puxou null consigo e os dois foram para a cozinha fazer um café para todos e colocou um copo de água na frente da namorada, que o tomou inteiro de uma vez.
- Você está bem? Quer que eles vão embora?
- Sim e sim. - disse sincera - Mas eles não devem demorar muito mais, eu aguento.
- Como foi?
- Difícil, o prédio inteiro deve ter me ouvido, mas me sinto um pouco mais leve. Eu disse que não estou pronta para recomeçar nada, mas que ela pode criar um laço com a null .
- Isso já é bastante coisa. - elogiou - Você foi incrível hoje, null. Devia se orgulhar de si mesma.
- Eu te amo tanto, null. - null o abraçou forte, despejando todos seus medos naquele abraço, em troca, ele a abraçou com toda força e coragem que podia, tentando passar a certeza que ela sempre o teria ao seu lado.
- Eu também, meu amor. Eu também.
Não demorou para que o casal logo fosse embora. Ambos os lados sabiam que não seria fácil, mas ao menos para Lucía, o primeiro passo havia sido dado. null, null e null almoçaram logo em seguida e exaustos da manhã que tiveram, se deitaram na cama e colocaram Thor para assistir. Sabiam que era questão de tempo para que ela sucumbisse ao cansaço, depois de correr e brincar por horas.
- Mamá, o vovô é seu papai e a vovó sua mamãe?
- Isso mesmo. - null respondeu, olhando null de canto de olho, surpresa com o assunto. - Eles são meus pais, mas seus avós.
- Você acha que um dia meu papá pode aparecer de volta? Que nem a vovó? - perguntou pensativa e null encarou null assustada. O jogador na hora pausou o filme e os dois se sentaram na cama, de frente para a menina.
- Infelizmente não princesa, o seu papá precisou ir embora, o papai do Céu precisava da ajuda dele, mais do que a gente.
- Mas... E se eu quiser ter mais um papá?
- Como assim, filha?
- O León agora tem duas mamães, porque os pais dele não moram mais juntos e ele agora tem uma namorada.
- Isso, igual a mamãe tem o Tio null. - disse sorrindo para o jogador. - Mas nesse caso não se fala duas mamães, mas sim madrasta. Assim como quem tem dois papais um se chama padrasto.
- Mas padas… pasdas… Esse nome é feio! - resmungou por não conseguir pronunciar a palavra. - Eu gosto de dois papais.
- Não está mais aqui quem falou. - null levantou as mãos em rendição.
- Então eu também posso ter o Tio null como um dos meus papais?
- Não sei, você já perguntou pra ele se ele quer ser seu papá?
null ainda estava imóvel, as lágrimas em seus olhos não escondiam sua emoção. null o encarava como se nunca tivesse passado por sua cabecinha que tivesse que fazer tal pergunta, mas talvez a verdade era que ela não precisava mesmo, amor de pai e mãe vinha sem escolhas e pedidos, nem sempre dividindo os mesmos genes, mas sempre o coração.
- Tio null, você quer ser meu papai junto com meu outro papai?
null segurou em suas mãozinhas, analisando cada um de seus dedinhos da mesma forma que segurou os de null Jr. no momento em que ele nasceu. Não tinha diferença, o amor que sentia pela garotinha a sua frente era idêntico ao que sentia por seu filho, algo que ele nunca achou ser possível.
- Nada me faria mais feliz no mundo, do que ser o seu segundo pai, null . - fez questão em frisar, pois prometera a si mesmo que dividiria aquela paternidade com Carlos e nunca deixaria que a pequena o esquecesse.
Meses atrás aquela pergunta tinha quebrado null, mas agora, depois de tudo, a pergunta a encheu de esperança. Tinha finalmente aprendido com todo o amor que recebia de null, que ele não estava ali para subtrair, muito pelo contrário, null estava lá para adicionar e multiplicar. Nunca sentira Carlos tão presente, como quando estava com null e aquilo a fazia ter certeza que tinha escolhido o caminho certo.
Não só caminho que dava a sua princesa a chance de ter o que ela sempre teve com seu pai, um amor incondicional, como a chance de poder recomeçar.
Mais do que nunca null sabia, Carlos havia sido seu passado, mas null seria para sempre, o seu futuro.
Epílogo
💙
Seis meses depois- Dez minutos e eles estão aqui. - null anunciou, checando o celular.
- Uau, então é isso. - null segurava sua xícara de café, encarando seu apartamento.
- Você está bem? - perguntou mais uma vez naquela manhã. Sabia que provavelmente a estava irritando, mas precisava se certificar que nada havia mudado.
- Estou, só é difícil, dar adeus a esse lugar está sendo mais complicado do que pensei. Mas está na hora, tivemos uma vida incrível aqui, mas sei que é hora de começarmos uma nova história, com você. A null não parou de falar um minuto sobre o novo quarto dela.
- Minha mãe disse que agora ela vai querer o quarto todo rosa, de bailarina.
- Até ontem não era Homem de Ferro? - questionou divertida com as constantes mudanças de ideia de null em como seria o seu quarto, logo ao lado do de null Jr. - Preciso agradecer a sua mãe por ter ficado com os dois ontem, seria impossível começar essa mudança com eles por aqui.
- Minha mãe está apaixonada por ela, já a chama de neta e tudo mais. Ela que quer te agradecer, isso sim. Disse que finalmente criei juízo.
- Sua família é incrível, mas a sua mãe é a minha favorita. - brincou metida, selando seus lábios com o do jogador.
Após oito meses juntos, mas mais de um ano e meio na enrolação, como null sempre gostava de lembrar, null finalmente estava indo morar com ele. De início, precisou mais uma vez deixar Carlos ir. Mudar de onde eles criaram toda uma história parecia mais um abandono, como se nunca mais pudesse senti-lo, mas com calma, paciência e uma enorme surpresa, null conseguiu convencê-la a finalmente lhe dizer sim.
Com um escritório que ele mal usava e, se aproveitando do fato que sua namorada iria finalmente voltar a estudar, o jogador tirou todos seus pertences do lugar e colocou uma caixa que tinha mandado fazer bem no centro. Quando null entrou no local a primeira vez não entendeu nada, apenas caminhou até a caixa e a abriu, deixando a emoção tomar conta de si. Por dentro, em linha e tecido, uma frase inscrita com a letra de Carlos, que null havia tirado de uma foto polaroid que encontrou no quarto de null: "Te quiero por toda la eternidad!"
Foi impossível para ela dizer não. Quanto mais tempo passava com null, mais tinha certeza que Carlos o havia enviado para ela.
- Oi pai, mãe! - null fez espaço para que o casal entrasse. - Obrigada por terem se oferecido pra ajudar.
Aquela era a terceira vez que null via sua mãe nos últimos seis meses. Apesar de concordar em deixar que null tivesse um relacionamento com sua avó, na prática tinha sido muito mais difícil. No segundo encontro almoçaram juntas e passaram algumas horas no parque, mas null se manteve distante, enquanto seus pais brincavam com a menina. Lucía se sentia triste, mas sabia que era por sua culpa e só lhe bastava aceitar e dar tempo ao tempo.
Quando null contou ao pai que finalmente tinha aceitado o convite de null , ele se ofereceu para ajudá-la a empacotar seus pertences e sem dar tempo para a filha negar, avisou que sua mãe iria junto.
- Ah, esse dia aqui foi muito engraçado. - null tomou sua mãe de surpresa, ao apontar para a foto que que ela embalava. null brincava num balanço. - A null não queria ir embora de jeito nenhum e dava pra ver que ia chover…
De longe, Gonzalo ajudava null a encaixotar alguns itens de cozinha, prontos para quando o caminhão de mudança chegasse. O jogador notou o olhar do mais velho e sorriu feliz.
- Obrigado. - Gonzalo se virou para null, que o encarou confuso - Você fez por mim o que eu nunca consegui. Me deu a minha família de volta.
null tocou em sua barriga e desceu as escadas com cuidado até onde sua família se encontrava. Ver todos reunidos para vê-la conquistar mais um sonho era algo que a null de três anos jamais acreditaria.
- Eu consegui!! - gritou animada, sendo pega no colo por null, que a rodopiou no ar, selando a comemoração com um beijo. - Não foi fácil, mas finalmente estou formada. - disse orgulhosa de si mesmo, encarando o bastão que tinha acabado de receber.
- Parabéns, meu amor! Eu sabia que você conseguiria, te amo. - null celebrou, a colocando no chão.
- Ah não, pai. Eu disse que eu queria abraçar a mamãe primeiro. - null , agora com sete anos, bufou para o jogador.
- Desculpa, desculpa! - disse com as mãos ao alto, se separando da namorada.
- Toma, mãe. Pra você! - entregou animada um buquê lindo de flores amarelas.
- São lindas, null .
- A cor favorita do vovô Ben. - disse, fazendo com que null a encarasse surpresa - A Tia Cora que mandou, SURPRESA!!
- Assim eu vou quebrar a minha promessa de não chorar. - a mulher se curvou para abraçar a filha e logo sentiu outro par de braços pequenos a envolverem. - Vem cá, meu príncipe! - disse dando um beijo no rosto de null Jr., que resmungou limpando o rosto - Se reclamar, eu beijo de novo. - brincou, fazendo cócegas no garoto.
- Não poderíamos estar mais orgulhosos de você, querida. - Lucía elogiou, se aproximando pra um abraço.
- Obrigada, mãe. Obrigada por me ajudar com a null e o Júnior quando eu precisava apresentar um projeto ou fazer meu trabalho final. Significou muito pra mim.
- Eu fico feliz em ouvir isso, null. Sei que o passado deixou feridas, mas te prometi que iria mostrar que até uma mãe velha e rabugenta consegue mudar se quiser. A gente acha que temos que ensinar nossos filhos, mas são os filhos e netos que acabam nos ensinando as verdadeiras lições de vida. - completou emocionada, não muito diferente de null, que tinha os olhos embargados.
- Parabéns, meu amor. - Gonzalo abraçou apertado a filha, se sentindo o homem mais orgulhoso de todo o mundo, ver que sua pequena tinha finalmente conquistado todos os seus sonhos era a única coisa que ele podia querer.
- Obrigada, pai. Sem você eu nunca teria conseguido. - admitiu, encarando toda sua família unida. Vamos? - perguntou, ansiosa para voltar pra casa e para a grande festa que a mãe de null tinha preparado para ela.
- Vamooos, a vovó fez bolo de chocolate. - null falou animada, correndo com Junior em direção a saída.
Gonzalo e Lucía foram atrás dos dois e quando null deu um passo à frente, null a segurou.
- Está tudo bem? - perguntou confusa, recebendo um beijo em resposta.
- Eu tenho um presente pra você. - disse, tirando uma caixa da jaqueta.
- Você não vai me pedir em casamento!!! - exclamou subitamente nervosa. Os dois sempre conversavam sobre o assunto e ela se dizia definitivamente não pronta.
- Hoje, não. - pontuou, lhe fazendo uma careta. - Em breve. - soltou misterioso, lhe entregando o objeto. - Fecha os olhos.
null obedeceu e null se colocou atrás dela, prendendo o colar em seu pescoço. Quando ela abriu os olhos e viu o colar, um sorriso largo tomou conta de seu rosto.
- null , null e ai! - disse ao tocar cada um dos três pingentes, levando a mão livre a sua já evidente barriga de vinte oito semanas. - O Ben me chutou. - resmungou, vendo null colocar a mão ao lado da dela para também sentir o filho que em breve iria conhecer.
- Deve estar animado tanto quanto o papai pras quartas de finais da Champions - brincou e null lhe mostrou a língua.
- Málaga ou null? - a mulher perguntou divertida, dando a mão ao jogador para irem embora.
- Contanto que ele não torça pro Barcelona...
💙 FIM 💙
Nota final - Carol: FIM... Uma palavra que me dói escrever, mas ao mesmo tempo me dá uma sensação de alívio indescritível.
Eu espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado dessa história, cheia de erros e acertos e personagens que me cativaram desde o início até o fim.
Eu já tenho muitos ficstapes finalizados nesse site, mas é a primeira longfic que eu termino e me dá um misto enorme de alegria e tristeza. Nobody Matters Like You era um projeto antigo meu, tão antigo que originalmente o pp seria Danny Jones do McFly!!! Mas como eu queria por essa história pra frente, achei no Isco meu personagem ideal. E mesmo tendo demorado MUITO mais do que imaginei para terminá-la e que com isso, tenha perdido muitas leitoras ao longo de todos esses dois anos e meio, queria agradecer a todas vocês que desde sempre deram muita atenção, carinho e amor para esses quatro personagens. Espero que tenham gostado do final!
Muito obrigada, mesmo! Nos momentos que pensei em desistir, reli todos os comentários maravilhosos que recebi ao longo da fic e não deixei me abater.
Acho que é isso, espero que ainda possa ver algumas de vocês em alguma de minhas outras Fics.
Um beijo enorme e um muito obrigada eterno,
Carol
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Muito obrigada, mesmo! Nos momentos que pensei em desistir, reli todos os comentários maravilhosos que recebi ao longo da fic e não deixei me abater.
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