Coloque essa música para tocar quando a letra aparecer.


OUTUBRO DE 2010

- Não se mexa. – pediu, olhando em minha direção pelo canto dos olhos. Ele revezava seus olhares entre eu e o cavalete a sua frente. Tentei me manter o mais imóvel o possível, mas era realmente difícil. Eu, simplesmente, não conseguia para de rir. – Não se mexa, .
- Eu não consigo ficar parada por muito tempo. – respondi, reprimindo mais um sorriso. Eu estava sentada perto da janela, servindo de modelo para um dos seus trabalhos da faculdade, dos quais eu já tinha perdido as contas de quantos já haviam sido sobre mim. Mas ao invés de tentar algo diferente, inovar um pouco, ele continuava com a ideia fixa de que eu seria a modelo de todos os seus quadros e que um dia ele faria uma exposição apenas com retratos meus. O que seria muito absurdo.
- Pois então tente, preciso terminar isso logo, tenho que entregar amanhã. Juro que falta só um pouco.
- Talvez fosse melhor você encontrar outra modelo. – falei, chamando sua atenção. Ele levantou os olhos, numa expressão extremamente sexy, e um sorriso brotou no canto de seus lábios. Ele levantou, caminhando em minha direção. Suas mãos seguiram para o meu cabelo, onde ele ajeitou alguns fios que teimavam em ficarem fora do lugar correto. Em seguida um delas desceu pela lateral do meu rosto, parando logo abaixo do queixo. E levantando-o, ele fixou seu olhar no meu, me fazendo perder o ar por alguns segundos.
- Se eu posso ter você como musa, por que eu poderia querer outra pessoa? – ele murmurou, juntando nossos lábios suavemente. Uma vontade quase louca de jogar meus braços ao redor de seu pescoço, para mantê-lo junto a mim por mais tempo, me dominou. Seus beijos possuíam esse poder de tirar toda a minha consciência e sanidade. Era uma espécie de loucura. Uma ótima loucura. Porém, cedo demais ele rompeu o beijo e voltou para o seu lugar.
- Sabe, você pode me pintar usando essa camisa velha e meio amarrotada. – comecei falando, chamando sua atenção novamente. – Ou então poderia fazer como Jack. – levei minhas mãos até o primeiro botão da camisa que eu usava, abrindo-o devagar. – E me pintar como uma de suas francesas. – ergui as sobrancelhas e abri outro botão, que já deixava grande parte do meu colo exposto, num claro convite a algo mais. suspirou, derrotado, jogando o pincel que estava em sua mão num canto e a palheta em outro.
- Creio que posso terminar esse trabalho depois. – ele murmurou, limpando as mãos num retalho gasto de tecido. – Assim podemos pular essa parte, onde perdemos tempo enquanto você posa pra mim.
- Tem certeza? – perguntei, abrindo outro botão.
- Absoluta. – ele respondeu, enquanto se aproximava. – Na verdade, acho que não preciso mais que você pose pra mim. Não para um trabalho simples e bobo como esse. – suas mãos agarram minha cintura, trazendo meu corpo para perto do seu. Onde seus dedos roçavam minha pele, uma pequena trilha colorida se formava. A tinta escapava de sua pele e tingia a minha, nos transformando num único desenho. – Cada detalhe seu já está gravado na minha mente. – seus lábios estavam próximos ao meu ouvido e sua voz sussurrada fazia com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. Num pequeno movimento, terminou de tirar minha blusa, deixando que ela deslizasse pelos meus braços e alcançasse o chão. Seus olhos, juntamente com suas mãos, percorreram todo o caminho que antes estava coberto, até chegar ao meu rosto. – Cada simples detalhe.


JANEIRO DE 2011

- ? – falei, entrando na sala do seu apartamento. Ele havia me dado as chaves há uns dias e isso facilitava bastante, principalmente quando eu estava irritada com ele. Caminhei pelo corredor, até chegar ao quarto e encontra-lo num sono profundo. Por alguns segundos eu tive pena de acordá-lo, mas logo passou. Atravessei o cômodo e parei ao lado da cama. Sacudi seu corpo algumas vezes, até que ele abriu os olhos, ainda bem sonolento. Um sorriso surgiu em seus lábios, mas não foi retribuído.
- O que foi? – ele perguntou com a voz embargada.
- Você me deixou esperando por duas horas no café. Duas horas, . – falei, cruzando os braços. Ele coçou os olhos e alcançou o celular na mesa de cabeceira. Tinha umas vinte chamadas não atendidas.
- Me desculpe, meu bem. – ele murmurou, tentando pegar uma das minhas mãos. – Eu fiquei até tarde ontem tentando fazer algo decente para mostrar ao professor, mas eu não consegui nada. Quando eu percebi, o dia já estava amanhecendo, então eu decidi deitar um pouco para encontrar com você depois, mas eu acho que não escutei o despertador.
- E nem as ligações. Nenhuma das vinte. – frisei a última palavra.
- , vem cá. – ele me puxou, colocando-me em seu colo. – Você sabe que foi sem querer, eu não te deixaria me esperando por duas horas. Juro que não vai acontecer novamente.


Mas aconteceu. Uma. Duas. Dez vezes.
parecia imerso num mundo onde apenas a sua arte importava e mais nada. Seus momentos de inspiração eram mais valorizados que nossas poucas horas juntos em casa. Para ele, esses momentos eram raros e não poderiam ser desperdiçados. Já o tempo que ele deveria passar comigo, poderia ser compensado a qualquer hora. O que não era verdade, pois no último ano, eu não consigo lembrar um único dia que ele tivesse dedicado a mim. Sei que isso se deu pelo fato da arte dele ter sido descoberta, o que é maravilhoso. Mas o sucesso no trabalho, não significa que as pequenas coisas devam ser esquecidas. Também não lembro a última vez que ele disse que me amava.
O que era constante virou raro.


SETEMBRO DE 2012

Terminei de me pentear meus cabelos e coloquei a bolsa em meus ombros. Segui até a cozinha, encontrando ainda sentado na mesa, segurando uma xícara de café e encarando o jornal.
- Não esquece que hoje é o aniversário do meu pai, vai ser uma festinha no final da tarde e eu vou direto do trabalho. Não esquece.
- Eu não vou esquecer, prometo. – ele disse, se levantando e selando nossos lábios rapidamente. – Eu só tenho que me reunir com o Andrew agora de manhã, nada mais planejado.
- Tudo bem, eu te espero lá. – falei, seguindo até a porta. Ultimamente eu tenho sentido falta do carinho que existia entre nós no início. Mas é meio como as pessoas falam, que quando o casal passa a dividir o mesmo teto, as configurações do relacionamento se alteram. As demonstrações de amor perdem um pouco a importância, como se o gesto de morar junto substituísse um “eu te amo” ou um “você está linda hoje.” E eu não consegui me acostumar com isso, parece que há algo errado nessa história. Não parece que nos acostumamos um ao outro, e sim que o amor diminuiu. E como eu costumo guardar essas coisas pra mim, o assunto nunca é mencionado, talvez pelo medo de você tudo acabar ou gerar uma briga. Mas o fato é que eu ando realmente cansada dessa falta de amor na nossa relação, assim como a falta de comprometimento dele e seus esquecimentos. Parece que eu não sou mais tão importante para ele e isso machuca.


Mantive um sorriso amarelo nos lábios, enquanto meu tio Neil fazia alguma piada sem graça sobre o novo namorado da filha. Me afastei discretamente, pegando o celular na bolsa, busquei pelo número que procurava e esperei impacientemente até que a ligação se completasse.
Sua chamada será encaminhada para a caixa de mensagem e estará sujeita a cobrança após o sinal.
Merda!
Xinguei mentalmente, me aproximando novamente do grupo de pessoas que se aglomerava num canto da sala. Olhei ao redor, buscando por um rosto que fosse, ao menos, suportável. Só que, infelizmente, não tive nenhum resultado positivo. Vi minha mãe acenando intensamente do outro lado do cômodo, percebendo que não tinha nenhuma alternativa a não ser me aproximar e ouvir toda a sua ladainha de sempre. “Onde está seu namorado, ?”, “Por que ele não te acompanha?”, “Por que você se sujeita a isso?” e a melhor de todas: “Por que não arruma um namorado melhor?” Como se a ausência do nos eventos extremamente entediantes da minha família, fosse parâmetro para avaliar suas atitudes como meu namorado num âmbito mais generalizado da coisa. Sim, eu não o culpo pela ausência. Mas o culpo pela omissão. Muitas vezes a sua ‘não-presença’ se dá por falta de atenção e por mais que eu avise, ele quase nunca se lembra de qualquer tipo de combinado que ele tenha comigo. Já perdi as contas de quantas vezes me vi esperando por horas e mais horas por ele, e o mesmo nunca apareceu. O resultado era sempre o mesmo: brigas, brigas e mais brigas. Nós dois, em comum acordo, colocamos toda a culpa no trabalho dele, mas discordamos na parte mais importante. Ele acha isso algo bom. Já eu acho péssimo. Na opinião dele, os seus momentos de inspiração não podem ser ignorados, porque ele vive disso. Seus quadros são frutos desse processo criativo, mas isso não pode ser utilizado como única explicação existente para a sua ausência. É como se eu namorasse uma pessoa etérea. Como se existisse só em meus pensamentos, em sua perfeição, beleza e imaterialidade.

Abri a porta e me deparei com um cenário completamente estranho. As luzes estavam quase todas apagadas, somente a da sala estava acesa, tendo um cavalete apoiado logo abaixo. estava parado contra a parede, olhando incessantemente a tela na qual trabalhava, que nem a minha aproximação fez com que ele se movesse. Parei embaixo do arco que separava o corredor da sala e me apoiei no batente, observando atentamente aquela cena, tentando decidir como agiria naquele momento. Aquela seria a hora onde eu entraria reclamando por mais uma falta dele, depois ele pediria desculpas e diria que não faria isso novamente, eu fingiria que acreditei e aguardaria pelo momento em que ele me faria companhia na nossa cama, para me fazer esquecer tudo aquilo mais uma vez. Só que eu estava sentindo que não seria assim hoje. Não hoje.
Esperei pelo momento em que ele perceberia que eu estava ali e não demorou muito. Não sei se, depois de alguns segundos, a minha presença alterou o dinamismo do espaço ou algo assim. Mas ele, de fato, tinha notado a minha presença e agora me encarava com aqueles belos e encantadores olhos, fora o sorriso fraco que mantinha nos lábios. Se eu quisesse realmente mudar qualquer coisa hoje, eu não poderia, em hipótese alguma, me deixar levar pelos seus olhos. Eles possuem um poder quase indescritível, como se eles pudesse apagar da minha mente qualquer sentimento ou pensamento que não fosse voltado ao amor. Fechei os olhos por alguns segundos, me preparando psicologicamente para qualquer coisa. Havia algo de diferente em mim naquela noite. Algo me não me deixava seguir para o quarto e aguardar por mais uma noite de amor. Tinha algo que me incomodava tão profundamente, que chegou a um nível que não havia como ignorar. Eu precisava colocar todas as minhas angústias e reais necessidades para fora. Mantê-las presas dentro do meu peito não estava mais funcionando.
percebeu que eu me mantive parada e resolveu se aproximar. Suas mãos percorreram toda a extensão dos meus braços, até chegaram às minhas. Quando ele fez menção de entrelaçá-las, eu me afastei e cruzei meus braços perto do corpo. Uma expressão confusa se formou em seu rosto e um perto preencheu meu peito. Culpa.
- O que foi? – perguntou, num baixo e suave. Me senti forçada a levantar a cabeça até encontrar seus olhos. O ambiente escuro não me permitia captar todas as suas reações, mas seus olhos me diziam mais do que qualquer palavra. Seus olhos me diziam aquilo que eu queria ouvir. Mas ouvir de verdade. Redescobrir a sensação de escutar sua voz dizendo as mais belas e simples palavras de todo o mundo: eu te amo.
- Você me deixou sozinha novamente. – respondi, frisando a última palavra. – Não consigo entender a dificuldade de você comparecer quando marcamos qualquer coisa. Era aniversário do meu pai, minha família toda estava lá e todos só sabiam perguntar: “Onde está o que eu nunca mais vi?”. Alguns chegaram para me cumprimentar e dizer que sentiam muito pelo término do nosso namoro. – ele riu e eu rolei os olhos, tentando achar alguma graça nessa história. – Não tô vendo nenhum motivo para você estar rindo.
- Me desculpe. – ele começou, tentando alcançar minhas mãos novamente, mas eu me afastei, deixando uma distância maior entre nós dois dessa vez.
- Eu não sei se consigo. – confessei, respirando fundo antes de continuar. – Não foi nem a primeira, nem a segunda ou a décima vez. E eu não estou sabendo lidar mais com isso.
- Não é por mal, , eu juro. O maior problema é que quando eu lembro que tenho que encontrar com você, a sua imagem me vem à mente e a inspiração surge. E você sabe como...
- A sua inspiração é importante. Sim, eu sei. Ela é mais importante do que qualquer coisa ou pessoa. – falei, passando por ele e entrando na sala. Acendi as luzes do cômodo e coloquei minha bolsa em cima do sofá.
- Não diga isso, você sabe da sua importância pra mim? – disse, como se fosse a coisa mais óbvia. Eu girei o corpo para ficar de frente para ele e ergui as sobrancelhas, num claro gesto de surpresa.
- Sei? Você realmente acha que se eu soubesse, faria esse tipo de comentário? E saber é completamente diferente de sentir. Eu quero me sentir importante pra você. Eu preciso me sentir amada, querida, desejada. Como se eu fosse a única mulher no mundo pra você.
- Mas você é. Desde o segundo em que eu pus meus olhos em você. – ele respondeu, fazendo com que suas palavras amolecessem um pouco meu coração duro de ressentimento. Apenas um pouco.
- Suas palavras não serão suficientes dessa vez, eu preciso sentir tudo isso que você me fala. – como resposta ao que eu disse, caminhou em minha direção e colocou uma de suas mãos em minha nuca, trazendo seu rosto para mais perto. Seus lábios roçaram levemente nos meus, antes de moldarem-no de forma quase perfeita. Conforme eles se movimentavam, algo dentro de mim se manifestou, fazendo com que lágrimas começassem a descer pelos meus olhos fechados. Não havia mais a mesma magia, o mesmo encanto de antes naquele beijo. Eu não me sentia mais plena ou completa, como se aqueles lábios tivessem sido feitos para permanecerem colados aos meus. Havia algo errado. E estava dentro de mim. Como se tivesse sentido, se afastou alguns centímetros e me olhou atentamente, como se procurasse por algo. E pela sua expressão derrotada, ele não havia encontrado. Seus dedos tocaram minha pele, secando as poucas lágrimas que rolaram. O cheiro forte da tinta me atingiu e uma sentimento quase nostálgico me dominou. Parece que meu corpo estava preparando para deixá-lo e com isso guardava pequenas amostras de tudo que pudesse ser importante. Desde o aroma pesado de seus materiais artísticos, até as infinitas cores de seus olhos, passando pelo tom suave e musicado de sua voz e chegando na sensação de ter sua pele pressionada contra a minha. Eu sentia como se alguém estivesse segurando meu coração fortemente em suas mãos. O aperto era tão forte, que eu mal conseguia respirar. Mas sabia que se respirasse um pouco mais fundo, o choro, que estava contido em algum lugar, se libertaria com tamanha força, que nada seria capaz de contê-lo por um longo período. Só que ao mesmo tempo em que doía a minha alma sequer pensar em deixá-lo, eu sabia que era o que devia fazer. – Me desculpe. – murmurei, tentando fazer minha voz soar, ao menos, audível. – Mas eu não posso mais fazer isso... – me esquivei de seus braços, tentando caminhar até o quarto.
- ... – ouvi sua voz por perto e logo depois senti seus braços ao meu redor novamente. – Não faz isso. – ele me prendeu em seu abraço, enterrando seu rosto em meu cabelo. – Por favor. – sussurrou a última palavra, fazendo com que toda a força que eu ainda possuía, evaporasse. – Eu mudo, eu faço o que você quiser. – dizia, enquanto distribuía beijos por toda e qualquer parte do meu corpo que seus lábios alcançavam. – Por favor.
Respirei fundo, tentando clarear meus pensamentos. Eu sabia, perfeitamente, que nunca estaria completamente certa da minha decisão, mas eu precisava seguir meu coração. E por mais que ele doesse por isso, eu sabia que eu deveria deixá-lo. Me desvencilhei de seus braços e continuei meu caminho até o quarto, deixando-o para trás. Exatamente como seria daqui para frente.


AGOSTO DE 2013

- Não, Patrick, eu ainda não revisei a campanha do perfume. – respondi, enquanto atravessa como louca as ruas extremamente lotadas de Nova York. Eu apoiava o celular no ombro e tentava achar minha carteira no meio da bagunça que era a minha bolsa.
- Como não? Essa campanha precisa se mostrada para os clientes no fim da semana. – ele esbravejou do outro lado da linha, me fazendo quase derrubar o celular.
- Eu sei que tenho que mandar para a criação hoje. – disse, assim que ouvi as reclamações do meu chefe no telefone. – Relaxa, vai dar tempo. – parei perto da faixa de pedestres, esperando o sinal abrir e olhando aleatoriamente para os lados, vi um cartaz publicitário que a empresa onde eu trabalho produziu. – Advinha, estou olhando para o cartaz de divulgação do novo livro do John Green aqui perto da Times.
- Ficou bonito nas ruas?
- As cores ficaram um pouco claras demais, mas nada que impossibilite a leitura. – comentei, olhando para o sinal, como se isso fizesse o mesmo fechar com mais rapidez. Algumas pessoas passaram para a minha frente, ocupando todo o espaço que me separava da rua. Rolei os olhos, indo para o outro lado da placa de publicidade. Percebi que a mulher ao meu lado não parava de me encarar e eu estranhei. Arqueei a sobrancelha e a encarei de volta, até que ela percebesse.
- Algum problema? – perguntei, tentando não parecer muito grossa.
- É você naquele anúncio? – ela apontou para frente e eu me virei, para ver do que ela falava e me deparei com o meu rosto estampando o cartaz. Minha primeira reação foi não ter reação alguma. Fiquei com o olhar preso à imagem e o pensamento solto, como se eu tentasse entender tudo aquilo, mas sem conseguir.
- , você entendeu o que eu falei? - ouvi meu chefe falar, mas eu mal lembrava da última coisa que ele havia dito no telefone. Tudo que dominava a minha mente era aquela imagem e o nome associado a ela: .
- Patrick, eu ligo de volta. – eu disse rapidamente, antes de desligar o telefone, sem ao menos dar tempo para ele responder. Voltei minha atenção ao cartaz, mas dessa vez observei cada detalhe mais calmamente. Era um retrato meu, não havia dúvidas. A semelhança era impressionante, mas o detalhamento era mais. Parecia que ele não havia esquecido nada. Como se fosse exatamente da forma que ele falou anos atrás: que cada detalhe estava gravado em sua mente. Passei a mão levemente sobre o vidro, como se desse modo eu conseguisse estar perto dele de novo. Fechei os olhos, permitindo que as lembranças retornassem, mas somente as boas, aquelas dos nossos melhores dias. E por alguns segundos eu voltei no tempo: estávamos em nossa cama, mantinham seus braços ao redor do meu corpo, me mantendo perto do seu, sua respiração calma batia em meu rosto e seus dedos, embrenhados em meus cabelos, me faziam um carinho tão gostoso, que aquele parecia ser o melhor lugar do mundo. Mas tão rápido eu fui sugada de volta à realidade. Respirei fundo, tentando me manter calma o bastante, até porque eu estava no meio da rua. Esquecendo um pouco do meu retrato, olhei as outras informações do cartaz. Era uma chamada para a inauguração da exposição de , que seria hoje, na galeria de um amigo dele. Mas quando eu vi o nome da exposição, eu quase precisei de um apoio para não cair. Ele havia feito.
100 Vezes .

Não fazia ideia de quanto tempo eu passei encarando a parede do meu quarto. Eu ouvia os meus pais discutindo por alguma coisa na sala, mas eu não conseguia focalizar meus pensamentos em nada que não fosse o meu próprio conflito interno. Aquele cartaz tinha me pego de guarda baixa. Por mais que já tivesse se passado quase um ano desde o nosso término, eu sempre me pegava pensando no , em como ele estaria, se a sua carreira tinha dado certo. Só que eu sempre me repreendia e não me permitia procurar por nada. Mas eu sabia que ele fazia algumas exposições em lugares pequenos, algumas coletivas, mas eu nunca tinha ouvido falar de nenhuma exposição individual de grande porte. Não como essa. E era sobre mim. Ele cumpriu uma velha promessa, algo que havia me prometido anos atrás e que eu nunca tinha levado a sério. Eu tentava achar uma explicação para isso, mas nada concreto surgia. Ninguém faria algo assim que não fosse por amor, mas é difícil pensar nessa hipótese depois da forma que nós terminamos. Eu tanto reclamei da falta de amor vinda dele e agora, muitos meses depois que terminamos, ele me aparece com isso? Peguei minha bolsa e sai em direção à porta, ignorando as perguntas dos meus pais. Eu sabia que tinha visto aquele cartaz por algum motivo. Como se alguém quisesse que eu fosse até a exposição. E é claro que eu iria. Depois de tanto tempo escondendo o que eu ainda sentia, eu precisava ver com meus próprios olhos tudo o que ele havia feito. E mais, eu precisava vê-lo. Mais do que qualquer coisa no mundo.
Parei na frente da galeria, mas me mantive no outro lado da rua, devido a movimentação na porta. Continuei meu debate interno, tentando decidir se eu entraria ou não na exposição. Por mais que eu tivesse tido forças para vir até aqui, saber que ao passar por aquela porta, eu teria que encarar coisas que eu queria – ou deveria – esquecer, não era nada fácil. Mas eu sabia que o meu maior receio era encontrar o novamente, porque era certo que o minha respiração aceleraria, minhas mãos suariam e meu coração bateria fora do controle. Respirei fundo, vendo que não teria mais para onde fugir, se eu queria lidar com tudo aquilo, sem fingir que nada aconteceu, eu teria que entrar. E com esse pensamento, atravessei a rua e entrei.
Os olhares surpresos me acompanharam desde o momento em que eu coloquei os pés dentro da galeria. O espaço era como um grande retângulo, onde as obras emolduradas cobriam as paredes e algumas obras estão armazenadas em pequenas bancadas, que ocupavam o centro do lugar. Não me senti mal com a estranheza no olhar das pessoas ao redor. Ver meu rosto, ao vivo, ali dentro, era como ver uma das obras ganhar vida. Queria acalmar a todos, dizer eles não estavam ficando loucos, mas eu precisava que alguém me acalmasse. Ficar cercada daqueles retratos mexeu comigo de uma forma, que acho que nunca mais serei a mesma. Foi como entrar num universo paralelo, onde, finalmente, eu pudesse entender tudo o que o sempre disse sobre inspiração, sobre a minha influência em sua arte, sobre como ele me queria como sua musa. Sim, agora eu entendia. Caminhei lentamente, seguindo a ordem dos quadros expostos. Era uma infinidade de técnicas e cores, indo dos monocromáticos preto e branco, até os multicoloridos. E todos eram absurdamente encantadores. Pelo menos os feitos durante o período que estávamos juntos. Mesmo sem olhar as datas, era fácil ver o momento em que nos separamos, mesmo em suas telas. Todos assumiram um ar nostálgico, triste e meio vazio. Como se ele estivesse me perdendo até mesmo na sua mente.
Até que eu parei em frente ao maior quadro da exposição, ele estava disposto no centro da parede do fundo e tinha quase uns dois metros de altura. Era majestoso. Às vezes eu esquecia como o era talentoso, daquele tipo que você não cansa de se impressionar. O desenho era todo a lápis, mas a riqueza era absurda. Ele desenhou somente o meu rosto, mas apenas metade dele. Meu cabelo se espalhava pelo fundo da imagem, como uma grande moldura esvoaçante. A metade retratada de mim estava triste e ao outra metade estava se desfazendo, como se estivesse sumindo. Um sentimento estranho tomou conta de mim, como se eu estivesse exatamente daquela forma: me desfazendo. Eu não tinha noção de como eu sentia falta dele, de como ele era necessário em minha vida. E toda essa demonstração exagerada que ele fez, só poderia ser de amor. Afinal, as maiores loucuras já feitas foram por amor. Já havia se passado uns cinco minutos, mas eu continuava a encarar aquela obra, completamente fascinada com fato do ter conseguido retratar a forma exata de como eu me sentia sem estar por perto. Nada chamava mais a minha atenção, nem os olhares ou os comentários, eu abstraia tudo. Ou melhor, quase tudo. O mundo voltou a girar no exato momento em que uma voz alcançou os meus ouvidos:
- Eu pensei em entrar em contato com você e pedir a liberação da imagem, mas achei que estragaria a surpresa. - Depois de quase um ano de total abstinência, ouvir sua voz foi como uma injeção de adrenalina em minhas veias. Diversos sentimentos me invadiram ao mesmo tempo, eram tantos, que eu mal conseguia fazer com que meu corpo girasse para eu poder, finalmente, olhar seu rosto novamente. Mais ainda sim eu o fiz, reencontrando aqueles olhos maravilhosos, me dando a sensação de estar em casa de novo. – Mas se você quiser, tenho um contrato para você assinar e...
- Não seja bobo, . – sorri de lado, tentando não parecer nervosa. – Estou me sentindo lisonjeada com isso tudo. Sei que você sempre falou que faria isso um dia, mas eu nunca acreditei muito. – um sorriso se formou em seus lábios e eu suspirei baixinho, tentando não mostrar como eu estava a sua mercê naquele instante. – E como você tinha tanta certeza que eu viria?
- Eu sempre cumpro o que eu prometo. Pode demorar um pouco, mas eu sempre cumpro. – se aproximou mais um pouco, cruzando os braços na altura do seu peito. As pessoas ao redor já tinham percebido a nossa movimentação e passaram a prestar atenção em nós dois. – E eu sabia que você viria. Sempre soube. Alguma coisa te traria aqui, como um imã, sabe?
- Estão lindos, de verdade. – comentei, voltando a caminhar pela galeria, tentando desviar o assunto do caminho perigoso. – Mas eu ainda não entendi o porquê disso tudo.
- Frida Kahlo dizia que pintava rosas e assim elas não morriam. – ele começou, falando baixo, para que apenas eu ouvisse. caminhava atrás de mim, seguindo meus passos onde quer que eu fosse. - Eu pintei você, então eu não te esqueci. Nem por um minuto.
- , eu não sei... – comecei a falar, mas ele se apressou, ficando na minha frente e, eliminando a distância que existia entre nós, colocou um dedo sobre os meus lábios.
- Eu não espero que você esqueça tudo o que aconteceu e me perdoe. Eu quero que você lembre tudo o que eu fiz e me ame mesmo assim. Porque eu não sou perfeito e nunca serei, mas eu sempre vou te amar. Eu prometi isso a você e cumprirei. – sua voz baixa era quase hipnotizante, mas eu não poderia me deixar levar assim.
- Não sei se posso deixar tudo de lado assim tão fácil. – respondi, colocando uma de minhas mãos em seu rosto. – Eu não te esqueci, nem por um único segundo. Mas é muito para se pensar em tão pouco tempo.
- Então você precisa de um tempo para pensar? – perguntou, colocando sua mão sobre a minha.
- Eu procuro você. – falei rapidamente, me afastando. – É uma exposição maravilhosa. – completei, com um sorriso tímido nos lábios.
- A modelo ajuda bastante. – ele disse, um pouco mais alto, visto que eu já estava quase na metade do caminho em direção à porta. Eu parei, olhando para trás e visivelmente corada. – Eu não te entendo. – ele continuou, abrindo os braços e chamando atenção de todos. – Você disse que queria mais do que palavras, então eu dei tudo o que tinha, tudo o que podia. O que mais você quer de mim?
- , por favor, depois nós conversamos. – abaixei a cabeça, tentando me esconder das pessoas.
- Eu não tenho mais nada a esconder. Eu sou um livro aberto, onde todas as páginas gritam “eu te amo”. Porque eu te amo. – ele sorriu de lado, quebrando o restante do gelo presente em meu coração. – Eu amo.

I know I was made to find you
Eu sei que eu fui feito para encontrá-la
Our fates were always intertwined
Nossos destinos foram sempre entrelaçados
And you’re the dream I’d go to
E você é o sonho para o qual eu iria
Every time I close my eyes
Toda vez que eu fecho meus olhos


Não sei como tive forças para sair da galeria depois de ouvir todas aquelas palavras. Tanto que eu parei na calçada bem em frente e não consegui mais me mover. tinha feito tudo o que eu sempre desejei que ele fizesse. Não tinha apenas falado que me amava, ele havia conseguido fazer com que eu me sentisse amada. Verdadeiramente amada, como há muito tempo eu não me sentia. Seria mais do que justo que eu voltasse e dissesse que o amava também, que tudo poderia ser esquecido. E que seria. Não há razões claras que me impeçam de realmente acreditar que estava sendo sincero dessa vez. Eu conseguia sentir isso. Talvez fosse apenas um engano do meu coração ainda apaixonado. Talvez eu estivesse agindo completamente sem razão. Mas quem não age assim quando está apaixonado? Respirei fundo, dei meia volta e entrei novamente na galeria. Percorri o espaço com os olhos, encontrando parado mais ao fundo, conversando com outro visitante. Reunindo toda a coragem que eu tinha, parei no centro do lugar, deixei minha bolsa cair no chão e gritei:
- !

Like the northern star you guide me
Como a estrela do norte você me guia
When I journey far from home
Quando eu viajar para longe de casa
And now that I have you beside me
E agora que eu tenho você ao meu lado
There is no way that I’ll let you go
De jeito nenhum que eu vou deixar você partir


Ele girou a cabeça em minha direção, assim como todas as pessoas que estavam ao redor. Suspirei, passando a mão pelo cabelo, completamente sem jeito. Mas se ele pode fazer tudo isso por mim, eu poderia deixar o meu orgulho e expor meus sentimentos na frente de todas essas pessoas.
- Eu sei que deveria ter respondido isso no exato momento em que você falou, mas eu disse que precisava de um tempo pra pensar. – Ele andou lentamente, parando em minha frente, porém ainda distante. – Mas a verdade é que eu não preciso pensar. Nunca tive pensar quando era algo relacionado a você. Eu sempre segui meu coração. E sabe o que ele está me dizendo agora? – perguntei, vendo-o morder o lábio inferior, como se tentasse se controlar para não correr até onde eu estava naquele mesmo momento. – Que eu te amo. – dei de ombros, com um sorriso bobo nos lábios. – E eu ter que falar isso parece tão bobo, porque eu sempre amei, mesmo durante todo esse tempo. Sempre me disseram que se há uma coisa pelo que vale a pena lutar, é pelo amor. E eu estou disposta a isso.

There are many things to fight for
Há muitas coisas para qual lutar
And castles won by greater men
E castelos conquistados por homens maiores
But you’re the only thing I long for
Mas você é a única coisa pela qual eu espero
And your honor I will always defend
E a sua honra eu vou sempre defender


caminhou até onde eu estava, parando bem à minha frente. Suas mãos se apoiaram em meus braços e traçaram um caminho para baixo, com a intenção de chegar até as minhas. Eu fechei os olhos, aproveitando as sensações que seu toque me proporcionava. Pegando uma de minhas mãos, a colocou sobre seu coração, que batia tão rápido, que parecia que romperia seu peito a qualquer momento.
- Só você consegue fazer com que eu me sinta assim. Como se estivesse à beira de um precipício, mas invés de sentir medo, eu só desejo pular.
Peguei sua mão livre e imitei seu gesto, também colocando-a sobre o meu coração e a resposta foi imediata, um sorriso surgiu em seus lábios no mesmo momento.
- Não é só você que se sente assim.
Ele aproximou nossos corpos, fazendo com que nossos corações batessem quase juntos, num mesmo ritmo, como uma música. A sinfonia do nosso amor.

I’m fighting for your love
Estou lutando pelo seu amor
I would tear down any wall
Eu derrubaria qualquer parede
And for your love
E pelo seu amor
I’ll turn my back on this world
Eu vou virar as costas para este mundo
For your love
Pelo seu amor
Every treasure I’d deny myself
Cada tesouro eu negaria a mim mesmo
For your love
Pelo seu amor


Fiz minhas mãos subirem pelo seu peito, até envolverem seu pescoço, fazendo com que nossos corpos ficassem completamente unidos. Sua respiração pesada batia próxima ao meu rosto e levantei o mesmo, encarando seus olhos. passou seu braço pela minha cintura, segurando-me tão fortemente, que eu estava quase fora do chão. O sorriso que ele me deu em seguida era daqueles que fazem tudo passar a ter sentido. Eu me sentia como se nunca tivesse passado tempo algum longe dele. Era como se tivéssemos voltado no tempo e fossemos, novamente, aqueles dois adolescentes que se apaixonaram perdidamente numa tarde de outono, no campus da faculdade. E eu sabia que ele também se sentia assim. Inclinei meu rosto na direção do seu, deixando que nossos lábios, enfim, se encontrassem novamente. A movimentação deles era perfeitamente sincronizada, como se tivéssemos nascido para aquilo, como se nos completássemos de alguma forma. Não apenas de alguma forma, a realidade é que nós nos completávamos por inteiro.

If you’re lost then I will find you
Se você está perdida, então eu vou te encontrar
And if you ask me
E se você me perguntar
I’ll lay my life down, not for glory
Eu coloco minha vida, não para a glória
I’m striving for your love
Estou me esforçando pelo seu amor
I’m fighting
Estou lutando


Ouvi alguns aplausos vindos das pessoas ao redor, mas aquele momento era tão nosso, que eu me sentia em outra dimensão. Como se o mundo fosse apenas nosso por alguns segundos, minutos ou horas, não sei bem. Porque a partir do momento em que senti seus lábios nos meus, o meu mundo parou. Mas rápido demais ele voltou a se mover e nos trouxe de volta a nossa realidade. encostou sua testa na minha e tornou a fechar seus olhos, sussurrando.
- , eu... – mas suspirou, sem conseguir completar a frase. Mas ele não precisava me dizer mais nada, estava tudo implícito. E quando ele voltou a abrir os olhos, todas as respostas estavam lá. Eles brilhavam de uma forma, que só o amor poderia explicar. E isso bastava para mim.
- Eu sei, . Eu também me sinto assim.

Oh, for your love
Oh, pelo o seu amor
I’m falling
Eu estou caindo
Every treasure I’ll deny myself
Cada tesouro eu irei negar a mim mesmo
For your love
Pelo seu amor
I’m fighting
Eu estou lutando




Fim



Nota da autora:
Vocês devem tá pensando: "Ah, não! A That aqui de novo."
Sim, eu sei que tenho que parar, mas essa fic não foi feita ~aleatoriamente~, ela foi feita para uma troca de fics e assim tem um significado especial. (ou não)
Eu não sei o que escrever aqui, entõ deixarei vocês livres.
Beijo da That e até a próxima.

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06. No Worries - Ficstape #011: AM
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11. Same Mistakes - Ficstape #024: Up All Night
14. Everything Has Changed - Ficstape #027: Red
Bônus: Grown Woman - Ficstape #027: Red
Mixtape: I Don't Want to Miss a Thing - Awesome Mix: Vol 1 "80/90's"
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