Capítulo Único
A sexualidade é uma coisa engraçada, concluiu com um sorriso silencioso e sem dentes abrindo-se em seu rosto. Durante toda a sua vida, se atraiu somente por mulheres. De todos os tipos. Ele nunca fora muito exigente nem tinha um tipo. No fundo, ele achava que gostava de uma boa conversa, interesses em comum e um beijo que lhe dissesse o que não cabia em palavras.
E foi assim que ele acabou se casando com .
Ambos haviam se conhecido em uma festa de conhecidos em comum. Acompanhados de cervejas e sentados em um sofá qualquer, conversaram a noite inteira. Ao amanhecer, a levou para casa, perguntando se poderiam sair para conversar outras vezes. Sorrindo, anotou seu número de telefone na mão do homem e lhe deu um beijo no rosto de “boa noite”, mesmo que já passasse das sete da manhã.
O primeiro beijo veio dois encontros depois. O sexo só lá pelo quinto ou sexto. Mas não se importou. Na verdade, quando o momento chegou, parecia que ambos se conheciam tão bem que as coisas simplesmente fluíram.
Em menos de um mês, assumiram publicamente o relacionamento.
Nem os amigos nem os familiares ficaram surpresos. Da parte de pelo menos, todos já esperavam por esse movimento.
Alguns anos após, quando fez o pedido de casamento, ninguém se surpreendeu também. Esta era uma conversa que havia se arrastado durante meses entre o casal. Tudo estava certo para os dois. Ambos tinham carreiras estáveis e se sentiam seguros parar dar aquele passo.
Devido à sua agenda de viagens constantes, o homem deixou a noiva encarregada de decidir questões pontuais a respeito da cerimônia, já que, para ela, era importante que fosse como sempre sonharam. O único pedido do noivo era que um dos padrinhos fosse .
e eram inseparáveis desde que haviam se conhecido. Iam ao cinema, ao futebol, ao bar e, ainda, trabalhavam juntos.
Vez ou outra, assim que o marido avisava que sairia com , brincava que não se surpreenderia se a trocasse pelo amigo. Normalmente, o homem ria, respondia que não iria acontecer e a beijava antes de sair.
Mesmo que não estivesse advertida ou atenta, toda a brincadeira poderia conter um fundo de verdade. Ela não sabia, mas, neste caso, haviam muitas camadas desconhecidas.
Tudo começou em um karaokê japonês, durante um fim de semana de shows. Comemorando a volta à uma terra que gostavam tanto, a banda inteira decidiu sair para se divertir e descansar um pouco pós primeiro show.
Em um bar com salas privativas de karaokê, todos haviam passado dos limites no álcool. Mal sabiam cantar as próprias músicas, tampouco conseguiam ficar de pé sem cambalear ou andar em linha reta.
Apesar de estarem na área para fumantes, e decidiram sair de dentro do ambiente onde todos gritavam uma música qualquer para que pudessem fumar. No corredor mesmo, compartilharam um isqueiro para acender os cigarros e permanecerem em silêncio por alguns segundos, desfrutando daquela breve paz, contornada pelos gritos abafados pela porta atrás deles.
― Como estão seus pais? ― questionou pouco antes de pôr o tabaco entre os lábios de novo.
Não que, a aquela altura, ele se importasse como estavam os velhos s, apenas queria puxar um assunto que acabasse com o silêncio.
― Estão ótimos. Vão fazer um cruzeiro no final desse ano. ― Deu uma risadinha anasalada.
― Hm. Talvez eu devesse fazer um com a também. Ficamos bastante tempo separados este ano ― falou como se estivesse pensando alto.
― Ela continua achando que temos um caso?
― Ela jamais perde o timing da piada. ― Riu. ― Não importa quantas vezes eu diga que ela não tem o que temer.
― Não tem mesmo? ― Arqueou as sobrancelhas de um jeito sugestivo, um sorriso ladino no rosto.
Passando a língua pelos lábios, disfarçou um sorriso, balançando a cabeça negativamente. Trazendo o cigarro para a boca de novo, de soslaio, percebeu que repetiu seu gesto, mas sem parar de olhá-lo.
Entrando na brincadeira, virou-se de frente para o amigo, encarando-o com um sorriso sugestivo. Ambos mantiveram contato visual por um período que, na hora, soou muito mais longo do que apenas alguns segundos.
― Você nunca teve curiosidade?
― De experimentar? ― assentiu. ― Nunca me senti atraído desse jeito. ― Deu de ombros. ― Você que já foi beijado inúmeras vezes pode me contar como é.
― Se eu disser que não é gostoso, vou estar mentindo. ― Franziu os lábios, dando uma nova tragada em seu cigarro e assoprando a fumaça para cima.
Aquele breve gesto, fez com que o estômago de desse um pequeno salto dentro de seu abdômen. Como se de repente só fosse capaz de captar os detalhes, seus olhos viram o formato que os lábios de tomaram enquanto assoprava, desceram para seu pescoço longo e, por fim, pararam em sua mão e a maneira como segurava o cigarro entre os dedos.
Nervoso, o homem pigarreou baixo, desviando o olhar e voltando a fumar praticamente a bituca.
― Acho que vou pra dentro. ― Desencostou-se da parede e deu o primeiro passo para voltar à sala.
Segurando-o pelo pulso, impediu-o de continuar.
― Espera. Eu ainda não terminei o meu. ― Levantou a mão, mostrando os poucos centímetros de tabaco que ainda lhe faltavam.
Muito próximos um do outro, , como se tivesse percebido que faltava quase nada para que o amigo cedesse, tragou pela última vez profundamente, soprando a fumaça lentamente no rosto de .
Inclinando-se para frente, selou os lábios de demoradamente. Assim que este deu passagem, não perdeu tempo e iniciou um beijo mais elaborado.
Com uma mão na cintura de , juntou os corpos. queria dar ao amigo a experiência completa de um beijo.
Soltando a bituca de cigarro no chão, levou a mão livre à nuca do outro, invertendo a posição de ambos para pressioná-lo contra a parede. Sua língua invadia a boca de como se reivindicasse seu território, como se já tivessem feito aquilo um milhão de vezes ou mais.
Completamente envolvido, nem mesmo se perguntava como aquilo tinha acontecido ou como podia sentir todas aquelas coisas por um amigo tão próximo, apenas era movido pelo tesão do momento.
Agarrando-se aos cabelos de , não estava pronto para pôr um fim ao beijo. Muito pelo contrário. Seu corpo parecia querer serpentear ao redor do amigo e o impedir de se afastar.
Exatamente como ele gostava, aquele beijo soava cheio de significados que não cabiam em palavras. Se questionado, nem mesmo saberia explicar o que estava sentindo. Era uma espécie de calor que lhe preenchia o peito e irradiava para outras partes do corpo, um nervosismo que se instalava no fundo de seu estômago, uma inquietação nas pontas dos dedos que desejavam tocar todas as partes do homem.
Ao encerrar o beijo, continuou olhando nos olhos do amigo, uma feição satisfeita no rosto.
― Espero que tenha gostado ― sussurrou, acariciando o maxilar de com o dedão.
limitou-se a dar um sorriso sem graça, abaixando a cabeça para quebrar o contato visual, o que não aconteceu. apoiou um dedo em seu queixo, erguendo sua cabeça para que continuassem a se fitar.
Prosseguiram assim por mais alguns tempo até que a porta ao lado se abriu. , desconfortável, tentou se ajeitar em uma posição que não parecesse que algo havia acontecido, seguiu como estava. Passando por eles enquanto falava no telefone, George nem mesmo os olhou.
Voltando para o ambiente onde todos estavam, resolveu sentar-se a uma distância “segura” do amigo, porém, ao longo de todo o tempo que permaneceram ali, seus olhares continuaram a se cruzar e só Deus sabia as coisas que poderiam estar se passando na cabeça de , que, em qualquer oportunidade, abria um sorriso nada discreto.
De volta ao hotel onde estavam hospedados, o acontecido não saía da mente de . Era como se seus pensamentos estivessem programados no repeat. Ele simplesmente não conseguia se desligar. A todo instante, sentia a sensação dos lábios do amigo, o hálito quente com gosto de cigarro e saquê, seu corpo contra o dele, as costas na parede fria, a mão em sua nuca.
Nervoso, fechou os olhos e se jogou na cama, batendo com a cabeça algumas vezes no colchão.
Tirando o celular do bolso, viu que havia uma mensagem de desejando boa noite. Respondeu-a com um “boa noite” seguido de um emoji de beijo. O que eu estou fazendo?, se questionou antes de se levantar e sair do quarto.
Caminhando pelos corredores, ainda cambaleante, parou em frente ao quarto de , decidindo se deveria ou não bater. Sendo traído pelos próprios membros, só percebeu que havia batido com as juntas dos dedos quando a figura alta e robusta apareceu à porta, dando um meio sorriso.
― Sem sono? ― Deu de ombros. ― Entra. ― Acenou com a cabeça, deixando que passasse por ele.
Sentando-se na cama, descansou as mãos sobre os joelhos vendo encaminhando-se para mais perto. Pegando o cigarro que carregava atrás da orelha, acendeu-o, dando algumas rápidas tragadas para garantir que estava mesmo aceso. Ofereceu a e este recusou.
― A que devo a honra da visita?
― Só não estava conseguindo dormir mesmo.
― Ficou carente? ― debochou.
― Não… só… ― não completou a frase. A verdade é que nem tinha certeza do que estava fazendo ali.
agachou-se para que ambos ficassem da mesma altura.
― No fundo, eu e você sabemos o que você veio fazer aqui. ― Pondo uma das mãos sobre a coxa de , o acariciou, olhando-o nos olhos. ― E, se você quiser, eu quero.
Surpreso, arqueou as sobrancelhas discretamente, tentando compreender se aquilo era apenas um brincadeira ou se o amigo falava sério. Ele havia gostado muito do beijo, isso era um fato, e seria hipócrita de sua parte não admitir que havia sim ficado excitado e que gostaria de experimentar outras coisas.
Entretanto, não esperava que a proposta viria tão abertamente.
― Se eu te perguntar algo, você vai ser sincero?
― É algo que me compromete? ― Deu um tragada profunda no cigarro, sorrindo.
― Você queria isso? Você queria que nós… ― deixou apenas a sugestão no ar.
― Você não?
― Eu nunca pensei nisso, para falar a verdade. ― riu.
― Parece que eu li os sinais errados ao longo de todo esse tempo, então.
― Sinais?
― Bom… sempre achei que algum dia rolaria algo entre a gente. Você sempre foi muito… aberto para qualquer troca de carinho comigo. Mais do que com qualquer outro dos nossos amigos.
― Mas nós sempre fomos mais próximos, não?
― Sim, mas… ― De joelhos no chão, colocou-se em meio as pernas de . ― Você acha que só amigos muito próximos tem isso que a gente tem? Não é possível que só eu tenha sentido.
― , eu… eu não posso. ― Franziu o cenho. ― Quer dizer, a … meu Deus. ― Deu uma risada nervosa. ― Não sei mais o que eu estou falando.
― , eu não tô te pedindo em casamento, relaxa. É… diversão.
Antes que pudesse protestar, aproximou-se dele, dando um selinho rápido. E, assim que se afastou, o segurou pela gola da camiseta, beijando-o.
Diferente do beijo no corredor, este era mais intenso. Em determinados momentos, ao mexer sua boca contra a de , imaginou que rasgaria os cantos dos lábios, mas isso não o impediu de prosseguir.
Em um instante de ousadia, desamarrou os cabelos de , enfiando as mãos em meio as madeixas enquanto segurava seu rosto com as laterais dos braços. Era quase como se estivesse tentando absorver o homem através do beijo. Na mesma medida, também o segurava pelos cabelos com a mão livre.
Por um lado, queria se desvencilhar, levantar e retornar para o seu quarto, dormir e, no dia seguinte, voltar a agir como se nada tivesse acontecido, com a desculpa de que haviam bebido demais, por isso, não se lembrava de nada. No entanto, quando a mão de chegou à barra de sua camiseta, erguendo-a minimamente apenas para passar a mão pela sua pele, o restinho de juízo que ele ainda parecia ter desapareceu por completo.
A boca de desceu para o peito de , traçando uma rota de beijos sobre sua camiseta branca. A cabeça de tombou para traz enquanto ele se questionava como era possível que tudo que estava sentindo estivesse enterrado tão fundo durante todo esse tempo.
Esticando a mão com o cigarro aceso, o pôs na boca de para, enfim, se concentrar no que considerava importante: o volume nas calças do parceiro. Com mãos hábeis, abriu a peça à sua frente, limitando-se somente a sussurrar:
― Erga seus quadris.
Seguindo as instruções, não só ergueu os quadris, como desceu suas roupas inferiores até a altura dos joelhos, voltando-se a sentar no colchão.
Sem desviar os olhos, apreciava cada nova tragada do cigarro enquanto tomava as primeiras iniciativas com o conteúdo de sua cueca.
Segurando seu pau pela base, começou com uma lambida lateral por todo o comprimento até chegar à glande. Só esse movimento já havia feito fechar os olhos, sentindo os pelos do corpo eriçarem por completo. Porém, quando passou a chupá-lo de verdade, até deixou um grunhido escapar do fundo de sua garganta.
Ele não sabia explicar o que estava fazendo, mas lhe soava completamente diferente do que sua esposa ou qualquer outra mulher havia feito. não tinha medo de ir o mais fundo que conseguisse, sem contar que, a partir do instante que estabeleceu um ritmo, permaneceu nele por algum tempo, incansável.
Vez em quando, até sentia uma de suas pernas tremer de excitação. Embora tentasse não focar muito na sensação para não gozar tão rápido, a visão de de joelhos dando tudo de si o fazia delirar e quase choramingar por mais.
Por fim, o tirou da boca, passando a masturbá-lo devagar, como se quisesse torturá-lo por algo que havia feito. Com a mão subindo e descendo, foi sua vez de puxar pelo colarinho da camiseta para beijá-lo. Foi algo rápido, mas deu a uma noção de como era gosto do seu pré-gozo nos lábios de .
Voltando sua atenção para o pênis que segurava, desta vez, se manteve somente na glande, envolvendo-a com a língua e sugando-a levemente. Isto fez com que se agarrasse às cobertas da cama embaixo de si, soltando um gemido baixo, do qual ele normalmente se envergonharia por ter sido em uma tonalidade tão fina.
Decidindo não ser meramente passivo às vontades de , segurou-o pelos cabelo, pondo-se de pé e começando a fazer investida com o quadril contra a boca do companheiro.
Com as mãos nas nádegas de , se segurava para não perder o equilíbrio a cada estocada em sua boca. Quando se sentiu mais estável, preocupou-se em retirar o pau das próprias calças.
Ao envolver seu pênis com uma das mãos, se questionou quando foi a última vez que se sentiu tão excitado. Ele tinha plena certeza de que conseguiria facilmente gozar mais de uma vez naquela noite. Prendendo-se de novo, porém agora somente com uma mão, ao quadril de , começou a se masturbar.
De vez em quando, mesmo com a boca ocupada, deixava um gemido baixo escapar, misturando junto ao barulho das cada vez mais rápidas investidas que dava contra ele.
Com o maxilar um pouco dolorido, segurou o quadril de , tirando seu pênis da boca para voltar a alternar entre lambidas, sucção e masturbação. E, pela forma como os músculos de se retesavam e tremulavam, não demorava para que ele gozasse.
Alguns minutos depois, sentiu o gosto ácido de desfazendo-se em sua língua. Querendo que o parceiro sentisse um pouco daquilo também, o puxou para um beijo lento e ofegante. Ao desvencilhar-se do parceiro, deixou seu tronco cair sobre o colchão.
Ainda se masturbando, pôs-se de joelhos sobre a figura de na cama, aumentando a velocidade com que sua mão trabalhava enquanto erguia a camiseta do paceiro, deixando seu abdômen e parte de seu peito a mostra. Tão logo tenha feito menção de assumir o controle da situação, segurou seu pulso, continuando a movimentar a própria mão em um ritmo contínuo.
observada tudo com um olhar de deleite e mal podia esperar para vê-lo gozar. Embora nunca tenha se imaginado naquela situação, aquele lugar não lhe parecia estranho. Havia intimidade o suficiente entre dois. Quase como se aquela fosse a trigésima vez que faziam aquilo juntos.
Quando as primeiras gotas de gozo caíram sobre sua barriga, passou as pontas dos dedos sobre o líquido, levando-os até os lábios e lambendo-os.
Olhando-se nos olhos, ambos sorriram, voltando a compartilhar um beijo suave. O carinho mútuo e a química entre os dois ficava muito explícito em cada toque, tanto que nem mesmo precisaram trocar palavras para compreenderem que ainda não era o fim da linha na noite de ambos. Talvez fosse apenas o começo.
O começo, claro, não só de uma noite, mas de algo que compartilharam nos meses seguintes. De alguma forma, aquele “algo especial” havia os aproximados ainda mais. Como se tivesse fortalecido o laço já existente. E, pouco a pouco, parecia que estava se transformando em algo além de só amizade.
Em casa, chegava a se questionar sobre seu casamento, sobre seus sentimentos em relação à e o que significava para ele. Entretanto, a única conclusão a qual conseguia chegar era que, sim, ainda amava como no primeiro dia, mas também havia , a quem ele parecia incapaz de largar.
E, enquanto seu… caso não tinha chegado ao conhecimento de sua esposa, até evitava pensar muito sobre aquilo que não tinha resposta. Todavia, assim que disse que precisavam conversar quando estivesse de volta em casa, ele entendeu que era um sinal e que talvez fosse hora de refletir a respeito das coisas que sufocava dentro do próprio peito.
― , eu só preciso que você fale a verdade. Você está com outra pessoa? ― questionou durante o primeiro jantar após seu retorno.
Largando os talheres, o homem pensou sobre o que deveria dizer ou como deveria começar a falar. E, aparentemente, não havia uma maneira correta.
― Acredito que ouvir isso seja mais difícil do que dizer, mas saiba que também não é fácil pra mim. ― Pigarreou baixo. ― Sim, eu…
― É alguém que eu conheço? ― Diferente de como ele achou que seria, ela manteve a compostura, apesar dos olhos marejados.
― . É o… . ― Desviou o olhar, cobrindo o rosto com as mãos.
― Então… ― Silêncio.
Os segundos seguintes pareceram uma eternidade sem fim. Ele nem mesmo conseguia encarar a esposa.
Durante algum tempo, quando e ele começaram a transar, imaginou que o maior choque seria o fato de estar sendo traída com outro homem, mas, naquele breve instante, sentado em frente à , ele entendeu que este não era o real problema.
― , eu… olha, eu sinto muito. Eu devia… devia ter te falado quando isso começou, mas a verdade é que até hoje eu não consigo compreender direito.
― Você me disse que vocês eram só amigos. ― Sua voz soava esvaziada de emoção.
― E nós éramos. Mas as coisas começaram a acontecer. De repente, nós nos olhamos desta forma e… eu sinto muito.
― Por que você nunca me disse que gostava de homens também?
― Porque eu não gostava. Na verdade, nem sei se gosto de um modo geral. Eu gosto do . ― Voltou a olhá-la.
― E você não gosta mais… de mim? Quer dizer… nós… ― Nem mesmo conseguiu concluir o que iria dizer.
― , eu amo você. Eu sempre amei e acho que sempre vou amar. Mas… eu também gosto dele.
De repente, a mulher levantou-se de mesa, pondo as mãos na cintura e virando de costas.
― Há quanto tempo isso tem acontecido?
― Isso é importante?
― Bom, você está me escondendo isso há algum tempo. Pra mim, é importante. ― suspirou, vendo-a levemente se alterar.
― Há alguns meses.
― E você planejava me contar em algum momento? Ou iria levar isso pelo máximo de tempo que conseguisse?
― Não sei. Talvez. …
― Vamos. ― Pegou as chaves do carro sobre a estante ao seu lado.
― Onde? ― Franziu as sobrancelhas.
― Você vai descobrir. Anda.
Dentro do veículo, era o mais puro silêncio cristalizado. Não havia nada além do leve barulho do motor. No entanto, tão logo se deu conta do trajeto que estavam fazendo, quis pedir para parar o carro.
Sua alma parecia sair e voltar para o corpo inúmeras vezes por minuto. Ele não tinha a menor noção do que estava para acontecer, ainda mais que , por fora, estava tão calma quanto era possível. Nenhum sinal das lágrimas que haviam enchido os olhos ou do tom avermelhado que havia tomado seu rosto.
Ao estacionar em frente à casa de , limitou-se a dizer:
― Vamos. ― Hesitante, soltou seu cinto de segurança, saindo do carro e seguindo a esposa.
Após uma batida na campainha, os atendeu tão rápido quanto se estivesse esperando uma visita ou parado ao lado da porta.
― Nós podemos conversar? ― alternou os olhos entre o casal tentando entender o que estava acontecendo. , ao cruzar o olhar com o parceiro, apenas encolheu os ombros.
― Entrem.
Parada em meio à sala, esperou até que se aproximasse e estivesse atento ao que tinha a dizer.
― Eu já sei de tudo ― soltou.
― Desculpa? ― Deu um sorriso amarelo. ― O que exatamente?
― Que vocês dois estão juntos. ― Arqueou as sobrancelhas.
Voltando-se para , ficou sem saber se confirmava, se negava ou o que deveria falar.
― Ok, mas qual o ponto disso?
― Eu quero entender o que você tem. ― Franziu as sobrancelhas.
Encarando a esposa, não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, mas também não se sentia no direito de questionar.
― Eu tenho poucas certezas na vida, mas uma delas certamente é que não estou entendendo o que está acontecendo.
deu alguns passos até que ficasse a poucos centímetros de .
― nunca me traiu, pelo menos, não que eu tenha descoberto. E, segundo ele, não gosta de homens, só de você. Quero descobrir por quê.
Incrédulo, olhou para o parceiro ao lado da esposa, e este também soava surpreso.
Até que finalmente, se manifestou com um aceno de cabeça em direção à . Compreendendo que estava de acordo, pôs uma mão na nuca da mulher, puxando-a para um beijo.
Deixando-se ser agarrada, quis ser conduzida por aquela viagem assim como seu marido já havia sido. E que viagem!
preenchia a boca de com muita voracidade, tinha firmeza em seus movimentos, como se estivesse se autoafirmando o tempo todo. Mas de forma alguma ele soava convencido, pretensioso ou presunçoso. Na realidade, ele tinha a quantidade certa de confiança para demonstrar que sabia o que estava fazendo sem deixar a delicadeza de lado.
Desvencilhando-se dele, a mulher gesticulou, chamando pelo marido. Hesitante, deu passos em sua direção, apenas para, enfim, sentir os lábios da esposa contra os dele.
De olhos fechados, o homem nem viu o momento em que começou a abrir os botões frontais do próprio vestido. Assistindo aquilo a alguns centímetros de distância, sentiu seu pau dar os primeiros sinais de vida dentro de suas calças.
Abrindo os olhos, presenciou a esposa deixando a peça de roupa escorregar pelos ombros ao mesmo tempo que virava-se para , voltando a beijá-lo em seguida.
Silenciosamente, pelo menos naquela noite haveria uma trégua entre os três.
Uma trégua nada pacífica.
E foi assim que ele acabou se casando com .
Ambos haviam se conhecido em uma festa de conhecidos em comum. Acompanhados de cervejas e sentados em um sofá qualquer, conversaram a noite inteira. Ao amanhecer, a levou para casa, perguntando se poderiam sair para conversar outras vezes. Sorrindo, anotou seu número de telefone na mão do homem e lhe deu um beijo no rosto de “boa noite”, mesmo que já passasse das sete da manhã.
O primeiro beijo veio dois encontros depois. O sexo só lá pelo quinto ou sexto. Mas não se importou. Na verdade, quando o momento chegou, parecia que ambos se conheciam tão bem que as coisas simplesmente fluíram.
Em menos de um mês, assumiram publicamente o relacionamento.
Nem os amigos nem os familiares ficaram surpresos. Da parte de pelo menos, todos já esperavam por esse movimento.
Alguns anos após, quando fez o pedido de casamento, ninguém se surpreendeu também. Esta era uma conversa que havia se arrastado durante meses entre o casal. Tudo estava certo para os dois. Ambos tinham carreiras estáveis e se sentiam seguros parar dar aquele passo.
Devido à sua agenda de viagens constantes, o homem deixou a noiva encarregada de decidir questões pontuais a respeito da cerimônia, já que, para ela, era importante que fosse como sempre sonharam. O único pedido do noivo era que um dos padrinhos fosse .
e eram inseparáveis desde que haviam se conhecido. Iam ao cinema, ao futebol, ao bar e, ainda, trabalhavam juntos.
Vez ou outra, assim que o marido avisava que sairia com , brincava que não se surpreenderia se a trocasse pelo amigo. Normalmente, o homem ria, respondia que não iria acontecer e a beijava antes de sair.
Mesmo que não estivesse advertida ou atenta, toda a brincadeira poderia conter um fundo de verdade. Ela não sabia, mas, neste caso, haviam muitas camadas desconhecidas.
Tudo começou em um karaokê japonês, durante um fim de semana de shows. Comemorando a volta à uma terra que gostavam tanto, a banda inteira decidiu sair para se divertir e descansar um pouco pós primeiro show.
Em um bar com salas privativas de karaokê, todos haviam passado dos limites no álcool. Mal sabiam cantar as próprias músicas, tampouco conseguiam ficar de pé sem cambalear ou andar em linha reta.
Apesar de estarem na área para fumantes, e decidiram sair de dentro do ambiente onde todos gritavam uma música qualquer para que pudessem fumar. No corredor mesmo, compartilharam um isqueiro para acender os cigarros e permanecerem em silêncio por alguns segundos, desfrutando daquela breve paz, contornada pelos gritos abafados pela porta atrás deles.
― Como estão seus pais? ― questionou pouco antes de pôr o tabaco entre os lábios de novo.
Não que, a aquela altura, ele se importasse como estavam os velhos s, apenas queria puxar um assunto que acabasse com o silêncio.
― Estão ótimos. Vão fazer um cruzeiro no final desse ano. ― Deu uma risadinha anasalada.
― Hm. Talvez eu devesse fazer um com a também. Ficamos bastante tempo separados este ano ― falou como se estivesse pensando alto.
― Ela continua achando que temos um caso?
― Ela jamais perde o timing da piada. ― Riu. ― Não importa quantas vezes eu diga que ela não tem o que temer.
― Não tem mesmo? ― Arqueou as sobrancelhas de um jeito sugestivo, um sorriso ladino no rosto.
Passando a língua pelos lábios, disfarçou um sorriso, balançando a cabeça negativamente. Trazendo o cigarro para a boca de novo, de soslaio, percebeu que repetiu seu gesto, mas sem parar de olhá-lo.
Entrando na brincadeira, virou-se de frente para o amigo, encarando-o com um sorriso sugestivo. Ambos mantiveram contato visual por um período que, na hora, soou muito mais longo do que apenas alguns segundos.
― Você nunca teve curiosidade?
― De experimentar? ― assentiu. ― Nunca me senti atraído desse jeito. ― Deu de ombros. ― Você que já foi beijado inúmeras vezes pode me contar como é.
― Se eu disser que não é gostoso, vou estar mentindo. ― Franziu os lábios, dando uma nova tragada em seu cigarro e assoprando a fumaça para cima.
Aquele breve gesto, fez com que o estômago de desse um pequeno salto dentro de seu abdômen. Como se de repente só fosse capaz de captar os detalhes, seus olhos viram o formato que os lábios de tomaram enquanto assoprava, desceram para seu pescoço longo e, por fim, pararam em sua mão e a maneira como segurava o cigarro entre os dedos.
Nervoso, o homem pigarreou baixo, desviando o olhar e voltando a fumar praticamente a bituca.
― Acho que vou pra dentro. ― Desencostou-se da parede e deu o primeiro passo para voltar à sala.
Segurando-o pelo pulso, impediu-o de continuar.
― Espera. Eu ainda não terminei o meu. ― Levantou a mão, mostrando os poucos centímetros de tabaco que ainda lhe faltavam.
Muito próximos um do outro, , como se tivesse percebido que faltava quase nada para que o amigo cedesse, tragou pela última vez profundamente, soprando a fumaça lentamente no rosto de .
Inclinando-se para frente, selou os lábios de demoradamente. Assim que este deu passagem, não perdeu tempo e iniciou um beijo mais elaborado.
Com uma mão na cintura de , juntou os corpos. queria dar ao amigo a experiência completa de um beijo.
Soltando a bituca de cigarro no chão, levou a mão livre à nuca do outro, invertendo a posição de ambos para pressioná-lo contra a parede. Sua língua invadia a boca de como se reivindicasse seu território, como se já tivessem feito aquilo um milhão de vezes ou mais.
Completamente envolvido, nem mesmo se perguntava como aquilo tinha acontecido ou como podia sentir todas aquelas coisas por um amigo tão próximo, apenas era movido pelo tesão do momento.
Agarrando-se aos cabelos de , não estava pronto para pôr um fim ao beijo. Muito pelo contrário. Seu corpo parecia querer serpentear ao redor do amigo e o impedir de se afastar.
Exatamente como ele gostava, aquele beijo soava cheio de significados que não cabiam em palavras. Se questionado, nem mesmo saberia explicar o que estava sentindo. Era uma espécie de calor que lhe preenchia o peito e irradiava para outras partes do corpo, um nervosismo que se instalava no fundo de seu estômago, uma inquietação nas pontas dos dedos que desejavam tocar todas as partes do homem.
Ao encerrar o beijo, continuou olhando nos olhos do amigo, uma feição satisfeita no rosto.
― Espero que tenha gostado ― sussurrou, acariciando o maxilar de com o dedão.
limitou-se a dar um sorriso sem graça, abaixando a cabeça para quebrar o contato visual, o que não aconteceu. apoiou um dedo em seu queixo, erguendo sua cabeça para que continuassem a se fitar.
Prosseguiram assim por mais alguns tempo até que a porta ao lado se abriu. , desconfortável, tentou se ajeitar em uma posição que não parecesse que algo havia acontecido, seguiu como estava. Passando por eles enquanto falava no telefone, George nem mesmo os olhou.
Voltando para o ambiente onde todos estavam, resolveu sentar-se a uma distância “segura” do amigo, porém, ao longo de todo o tempo que permaneceram ali, seus olhares continuaram a se cruzar e só Deus sabia as coisas que poderiam estar se passando na cabeça de , que, em qualquer oportunidade, abria um sorriso nada discreto.
De volta ao hotel onde estavam hospedados, o acontecido não saía da mente de . Era como se seus pensamentos estivessem programados no repeat. Ele simplesmente não conseguia se desligar. A todo instante, sentia a sensação dos lábios do amigo, o hálito quente com gosto de cigarro e saquê, seu corpo contra o dele, as costas na parede fria, a mão em sua nuca.
Nervoso, fechou os olhos e se jogou na cama, batendo com a cabeça algumas vezes no colchão.
Tirando o celular do bolso, viu que havia uma mensagem de desejando boa noite. Respondeu-a com um “boa noite” seguido de um emoji de beijo. O que eu estou fazendo?, se questionou antes de se levantar e sair do quarto.
Caminhando pelos corredores, ainda cambaleante, parou em frente ao quarto de , decidindo se deveria ou não bater. Sendo traído pelos próprios membros, só percebeu que havia batido com as juntas dos dedos quando a figura alta e robusta apareceu à porta, dando um meio sorriso.
― Sem sono? ― Deu de ombros. ― Entra. ― Acenou com a cabeça, deixando que passasse por ele.
Sentando-se na cama, descansou as mãos sobre os joelhos vendo encaminhando-se para mais perto. Pegando o cigarro que carregava atrás da orelha, acendeu-o, dando algumas rápidas tragadas para garantir que estava mesmo aceso. Ofereceu a e este recusou.
― A que devo a honra da visita?
― Só não estava conseguindo dormir mesmo.
― Ficou carente? ― debochou.
― Não… só… ― não completou a frase. A verdade é que nem tinha certeza do que estava fazendo ali.
agachou-se para que ambos ficassem da mesma altura.
― No fundo, eu e você sabemos o que você veio fazer aqui. ― Pondo uma das mãos sobre a coxa de , o acariciou, olhando-o nos olhos. ― E, se você quiser, eu quero.
Surpreso, arqueou as sobrancelhas discretamente, tentando compreender se aquilo era apenas um brincadeira ou se o amigo falava sério. Ele havia gostado muito do beijo, isso era um fato, e seria hipócrita de sua parte não admitir que havia sim ficado excitado e que gostaria de experimentar outras coisas.
Entretanto, não esperava que a proposta viria tão abertamente.
― Se eu te perguntar algo, você vai ser sincero?
― É algo que me compromete? ― Deu um tragada profunda no cigarro, sorrindo.
― Você queria isso? Você queria que nós… ― deixou apenas a sugestão no ar.
― Você não?
― Eu nunca pensei nisso, para falar a verdade. ― riu.
― Parece que eu li os sinais errados ao longo de todo esse tempo, então.
― Sinais?
― Bom… sempre achei que algum dia rolaria algo entre a gente. Você sempre foi muito… aberto para qualquer troca de carinho comigo. Mais do que com qualquer outro dos nossos amigos.
― Mas nós sempre fomos mais próximos, não?
― Sim, mas… ― De joelhos no chão, colocou-se em meio as pernas de . ― Você acha que só amigos muito próximos tem isso que a gente tem? Não é possível que só eu tenha sentido.
― , eu… eu não posso. ― Franziu o cenho. ― Quer dizer, a … meu Deus. ― Deu uma risada nervosa. ― Não sei mais o que eu estou falando.
― , eu não tô te pedindo em casamento, relaxa. É… diversão.
Antes que pudesse protestar, aproximou-se dele, dando um selinho rápido. E, assim que se afastou, o segurou pela gola da camiseta, beijando-o.
Diferente do beijo no corredor, este era mais intenso. Em determinados momentos, ao mexer sua boca contra a de , imaginou que rasgaria os cantos dos lábios, mas isso não o impediu de prosseguir.
Em um instante de ousadia, desamarrou os cabelos de , enfiando as mãos em meio as madeixas enquanto segurava seu rosto com as laterais dos braços. Era quase como se estivesse tentando absorver o homem através do beijo. Na mesma medida, também o segurava pelos cabelos com a mão livre.
Por um lado, queria se desvencilhar, levantar e retornar para o seu quarto, dormir e, no dia seguinte, voltar a agir como se nada tivesse acontecido, com a desculpa de que haviam bebido demais, por isso, não se lembrava de nada. No entanto, quando a mão de chegou à barra de sua camiseta, erguendo-a minimamente apenas para passar a mão pela sua pele, o restinho de juízo que ele ainda parecia ter desapareceu por completo.
A boca de desceu para o peito de , traçando uma rota de beijos sobre sua camiseta branca. A cabeça de tombou para traz enquanto ele se questionava como era possível que tudo que estava sentindo estivesse enterrado tão fundo durante todo esse tempo.
Esticando a mão com o cigarro aceso, o pôs na boca de para, enfim, se concentrar no que considerava importante: o volume nas calças do parceiro. Com mãos hábeis, abriu a peça à sua frente, limitando-se somente a sussurrar:
― Erga seus quadris.
Seguindo as instruções, não só ergueu os quadris, como desceu suas roupas inferiores até a altura dos joelhos, voltando-se a sentar no colchão.
Sem desviar os olhos, apreciava cada nova tragada do cigarro enquanto tomava as primeiras iniciativas com o conteúdo de sua cueca.
Segurando seu pau pela base, começou com uma lambida lateral por todo o comprimento até chegar à glande. Só esse movimento já havia feito fechar os olhos, sentindo os pelos do corpo eriçarem por completo. Porém, quando passou a chupá-lo de verdade, até deixou um grunhido escapar do fundo de sua garganta.
Ele não sabia explicar o que estava fazendo, mas lhe soava completamente diferente do que sua esposa ou qualquer outra mulher havia feito. não tinha medo de ir o mais fundo que conseguisse, sem contar que, a partir do instante que estabeleceu um ritmo, permaneceu nele por algum tempo, incansável.
Vez em quando, até sentia uma de suas pernas tremer de excitação. Embora tentasse não focar muito na sensação para não gozar tão rápido, a visão de de joelhos dando tudo de si o fazia delirar e quase choramingar por mais.
Por fim, o tirou da boca, passando a masturbá-lo devagar, como se quisesse torturá-lo por algo que havia feito. Com a mão subindo e descendo, foi sua vez de puxar pelo colarinho da camiseta para beijá-lo. Foi algo rápido, mas deu a uma noção de como era gosto do seu pré-gozo nos lábios de .
Voltando sua atenção para o pênis que segurava, desta vez, se manteve somente na glande, envolvendo-a com a língua e sugando-a levemente. Isto fez com que se agarrasse às cobertas da cama embaixo de si, soltando um gemido baixo, do qual ele normalmente se envergonharia por ter sido em uma tonalidade tão fina.
Decidindo não ser meramente passivo às vontades de , segurou-o pelos cabelo, pondo-se de pé e começando a fazer investida com o quadril contra a boca do companheiro.
Com as mãos nas nádegas de , se segurava para não perder o equilíbrio a cada estocada em sua boca. Quando se sentiu mais estável, preocupou-se em retirar o pau das próprias calças.
Ao envolver seu pênis com uma das mãos, se questionou quando foi a última vez que se sentiu tão excitado. Ele tinha plena certeza de que conseguiria facilmente gozar mais de uma vez naquela noite. Prendendo-se de novo, porém agora somente com uma mão, ao quadril de , começou a se masturbar.
De vez em quando, mesmo com a boca ocupada, deixava um gemido baixo escapar, misturando junto ao barulho das cada vez mais rápidas investidas que dava contra ele.
Com o maxilar um pouco dolorido, segurou o quadril de , tirando seu pênis da boca para voltar a alternar entre lambidas, sucção e masturbação. E, pela forma como os músculos de se retesavam e tremulavam, não demorava para que ele gozasse.
Alguns minutos depois, sentiu o gosto ácido de desfazendo-se em sua língua. Querendo que o parceiro sentisse um pouco daquilo também, o puxou para um beijo lento e ofegante. Ao desvencilhar-se do parceiro, deixou seu tronco cair sobre o colchão.
Ainda se masturbando, pôs-se de joelhos sobre a figura de na cama, aumentando a velocidade com que sua mão trabalhava enquanto erguia a camiseta do paceiro, deixando seu abdômen e parte de seu peito a mostra. Tão logo tenha feito menção de assumir o controle da situação, segurou seu pulso, continuando a movimentar a própria mão em um ritmo contínuo.
observada tudo com um olhar de deleite e mal podia esperar para vê-lo gozar. Embora nunca tenha se imaginado naquela situação, aquele lugar não lhe parecia estranho. Havia intimidade o suficiente entre dois. Quase como se aquela fosse a trigésima vez que faziam aquilo juntos.
Quando as primeiras gotas de gozo caíram sobre sua barriga, passou as pontas dos dedos sobre o líquido, levando-os até os lábios e lambendo-os.
Olhando-se nos olhos, ambos sorriram, voltando a compartilhar um beijo suave. O carinho mútuo e a química entre os dois ficava muito explícito em cada toque, tanto que nem mesmo precisaram trocar palavras para compreenderem que ainda não era o fim da linha na noite de ambos. Talvez fosse apenas o começo.
O começo, claro, não só de uma noite, mas de algo que compartilharam nos meses seguintes. De alguma forma, aquele “algo especial” havia os aproximados ainda mais. Como se tivesse fortalecido o laço já existente. E, pouco a pouco, parecia que estava se transformando em algo além de só amizade.
Em casa, chegava a se questionar sobre seu casamento, sobre seus sentimentos em relação à e o que significava para ele. Entretanto, a única conclusão a qual conseguia chegar era que, sim, ainda amava como no primeiro dia, mas também havia , a quem ele parecia incapaz de largar.
E, enquanto seu… caso não tinha chegado ao conhecimento de sua esposa, até evitava pensar muito sobre aquilo que não tinha resposta. Todavia, assim que disse que precisavam conversar quando estivesse de volta em casa, ele entendeu que era um sinal e que talvez fosse hora de refletir a respeito das coisas que sufocava dentro do próprio peito.
― , eu só preciso que você fale a verdade. Você está com outra pessoa? ― questionou durante o primeiro jantar após seu retorno.
Largando os talheres, o homem pensou sobre o que deveria dizer ou como deveria começar a falar. E, aparentemente, não havia uma maneira correta.
― Acredito que ouvir isso seja mais difícil do que dizer, mas saiba que também não é fácil pra mim. ― Pigarreou baixo. ― Sim, eu…
― É alguém que eu conheço? ― Diferente de como ele achou que seria, ela manteve a compostura, apesar dos olhos marejados.
― . É o… . ― Desviou o olhar, cobrindo o rosto com as mãos.
― Então… ― Silêncio.
Os segundos seguintes pareceram uma eternidade sem fim. Ele nem mesmo conseguia encarar a esposa.
Durante algum tempo, quando e ele começaram a transar, imaginou que o maior choque seria o fato de estar sendo traída com outro homem, mas, naquele breve instante, sentado em frente à , ele entendeu que este não era o real problema.
― , eu… olha, eu sinto muito. Eu devia… devia ter te falado quando isso começou, mas a verdade é que até hoje eu não consigo compreender direito.
― Você me disse que vocês eram só amigos. ― Sua voz soava esvaziada de emoção.
― E nós éramos. Mas as coisas começaram a acontecer. De repente, nós nos olhamos desta forma e… eu sinto muito.
― Por que você nunca me disse que gostava de homens também?
― Porque eu não gostava. Na verdade, nem sei se gosto de um modo geral. Eu gosto do . ― Voltou a olhá-la.
― E você não gosta mais… de mim? Quer dizer… nós… ― Nem mesmo conseguiu concluir o que iria dizer.
― , eu amo você. Eu sempre amei e acho que sempre vou amar. Mas… eu também gosto dele.
De repente, a mulher levantou-se de mesa, pondo as mãos na cintura e virando de costas.
― Há quanto tempo isso tem acontecido?
― Isso é importante?
― Bom, você está me escondendo isso há algum tempo. Pra mim, é importante. ― suspirou, vendo-a levemente se alterar.
― Há alguns meses.
― E você planejava me contar em algum momento? Ou iria levar isso pelo máximo de tempo que conseguisse?
― Não sei. Talvez. …
― Vamos. ― Pegou as chaves do carro sobre a estante ao seu lado.
― Onde? ― Franziu as sobrancelhas.
― Você vai descobrir. Anda.
Dentro do veículo, era o mais puro silêncio cristalizado. Não havia nada além do leve barulho do motor. No entanto, tão logo se deu conta do trajeto que estavam fazendo, quis pedir para parar o carro.
Sua alma parecia sair e voltar para o corpo inúmeras vezes por minuto. Ele não tinha a menor noção do que estava para acontecer, ainda mais que , por fora, estava tão calma quanto era possível. Nenhum sinal das lágrimas que haviam enchido os olhos ou do tom avermelhado que havia tomado seu rosto.
Ao estacionar em frente à casa de , limitou-se a dizer:
― Vamos. ― Hesitante, soltou seu cinto de segurança, saindo do carro e seguindo a esposa.
Após uma batida na campainha, os atendeu tão rápido quanto se estivesse esperando uma visita ou parado ao lado da porta.
― Nós podemos conversar? ― alternou os olhos entre o casal tentando entender o que estava acontecendo. , ao cruzar o olhar com o parceiro, apenas encolheu os ombros.
― Entrem.
Parada em meio à sala, esperou até que se aproximasse e estivesse atento ao que tinha a dizer.
― Eu já sei de tudo ― soltou.
― Desculpa? ― Deu um sorriso amarelo. ― O que exatamente?
― Que vocês dois estão juntos. ― Arqueou as sobrancelhas.
Voltando-se para , ficou sem saber se confirmava, se negava ou o que deveria falar.
― Ok, mas qual o ponto disso?
― Eu quero entender o que você tem. ― Franziu as sobrancelhas.
Encarando a esposa, não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, mas também não se sentia no direito de questionar.
― Eu tenho poucas certezas na vida, mas uma delas certamente é que não estou entendendo o que está acontecendo.
deu alguns passos até que ficasse a poucos centímetros de .
― nunca me traiu, pelo menos, não que eu tenha descoberto. E, segundo ele, não gosta de homens, só de você. Quero descobrir por quê.
Incrédulo, olhou para o parceiro ao lado da esposa, e este também soava surpreso.
Até que finalmente, se manifestou com um aceno de cabeça em direção à . Compreendendo que estava de acordo, pôs uma mão na nuca da mulher, puxando-a para um beijo.
Deixando-se ser agarrada, quis ser conduzida por aquela viagem assim como seu marido já havia sido. E que viagem!
preenchia a boca de com muita voracidade, tinha firmeza em seus movimentos, como se estivesse se autoafirmando o tempo todo. Mas de forma alguma ele soava convencido, pretensioso ou presunçoso. Na realidade, ele tinha a quantidade certa de confiança para demonstrar que sabia o que estava fazendo sem deixar a delicadeza de lado.
Desvencilhando-se dele, a mulher gesticulou, chamando pelo marido. Hesitante, deu passos em sua direção, apenas para, enfim, sentir os lábios da esposa contra os dele.
De olhos fechados, o homem nem viu o momento em que começou a abrir os botões frontais do próprio vestido. Assistindo aquilo a alguns centímetros de distância, sentiu seu pau dar os primeiros sinais de vida dentro de suas calças.
Abrindo os olhos, presenciou a esposa deixando a peça de roupa escorregar pelos ombros ao mesmo tempo que virava-se para , voltando a beijá-lo em seguida.
Silenciosamente, pelo menos naquela noite haveria uma trégua entre os três.
Uma trégua nada pacífica.
FIM.
Nota da autora: Sem nota.
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