Finalizada em: 08/06/2018
0.
Seiscentos e cinquenta reais. Era exatamente isso que ela havia pagado para estar ali, no meet & greet do Tom Holland. Trinta minutos de um painel exclusivo com o ator, podendo fazer as perguntas que bem entendesse. Ela ainda conseguia ouvir o pai reclamar pelo dinheiro gasto. E ainda assim ela não ligava.
— Eu queria saber como o assédio aumentou após você se tornar o Homem-Aranha. — ela viu a expressão do rapaz ficar confusa. Claro, ela teria que explicar a pergunta. — Tipo, se você estalar os dedos, 90% das pessoas que estão nessa sala com certeza vão chupar seu... — foi quando todos começaram a rir que ela percebeu que estava falando merda. Ela também riu, mas morrendo de vergonha. Queria poder enfiar a cabeça em um buraco, mas agora era tarde demais. — Chupar o que você quiser. Sempre... Hã... Sempre foi assim?
Tom Holland ainda estava tendo uma crise de risos, o que fazia com que todas as outras pessoas presentes no mesmo espaço também tivesse uma crise de riso. Ela, por sua vez, ria de nervoso. As pessoas riam dela, não com ela, e isso por si só era incômodo o bastante. Mas ela não iria sair dali até ter sua resposta.
— Não. — a resposta dele demorou tanto que ela quase havia esquecido a pergunta. — Na verdade nunca foi assim. Ninguém me achava bonito antes. A fama muda muita coisa mesmo. — todo mundo riu novamente, e ela agradeceu não ser mais o motivo. — Mas e você? Faz parte dos 90%?
Aquilo poderia tanto ter sido uma cantada quanto uma forma de fazer com que ela passasse ainda mais vergonha. Mas era meio óbvio que não seria uma cantada, apesar de ela torcer com todo seu ser para que fosse. Não, era só mais uma gracinha sem intenções maliciosas para lhe fazer passar vergonha em público.
— Se você pagar bem o bastante... — pronto, ela havia deixado implícito, em público, que era uma puta. Por favor, alguém me mata agora. — É brincadeira! Eu juro, é brincadeira! Meu deus, eu tenho idade pra ser sua mãe!
— Não tem, não. — era claro que ele não iria concordar. Ela tinha a mesma cara desde o doze anos, sempre pediam seu RG antes de entrar nos lugares. Confirmado: queria morrer.
— Tenho sim. — ela realmente estava tendo essa discussão com Tom Holland. Meu. Deus.
— Quantos anos você tem?
— Vinte e quatro.
— Menina, o que você fazia quando tinha quatro anos? — o choque estampado no rosto dele apenas fez com que todos rissem mais. E dessa vez ela também riu. Muito.
A cara que ele fez ao vê-la se aproximar para tirar uma foto – um direito incluso já nos malditos seiscentos e cinquenta reais – foi impagável. Ele começou a rir, o que também a fazer rir. Mas, diferente dele, ela sentia vontade de sair correndo dali. Já conseguia imaginá-lo em alguma entrevista de talk show contando sobre a fã mais idiota que um dia havia conhecido.
— Qual o seu nome? — ele perguntou enquanto a abraçava. Tudo bem, ela ganhou um abraço. Ponto positivo.
— . Desculpa por aquilo...
— Desculpa? Aquilo foi o máximo! Eu não pensei que fosse rir tanto. — após a foto os staffs pediram para que ela saísse, mas o ator pediu mais alguns segundos. — Me passa seu Twitter? Gostei do seu humor.
Enquanto ela via-o abrir o próprio Twitter, digitar seu nome de usuário e seguí-la, teve certeza que estava a uma respirada de desmaiar. Mas, ao se despedir dele e deixar que a próxima fã fosse tirar uma foto, ela pensou que em dois dias ele sequer lembraria quem ela era e eles nunca mais se falariam.
— Eu queria saber como o assédio aumentou após você se tornar o Homem-Aranha. — ela viu a expressão do rapaz ficar confusa. Claro, ela teria que explicar a pergunta. — Tipo, se você estalar os dedos, 90% das pessoas que estão nessa sala com certeza vão chupar seu... — foi quando todos começaram a rir que ela percebeu que estava falando merda. Ela também riu, mas morrendo de vergonha. Queria poder enfiar a cabeça em um buraco, mas agora era tarde demais. — Chupar o que você quiser. Sempre... Hã... Sempre foi assim?
Tom Holland ainda estava tendo uma crise de risos, o que fazia com que todas as outras pessoas presentes no mesmo espaço também tivesse uma crise de riso. Ela, por sua vez, ria de nervoso. As pessoas riam dela, não com ela, e isso por si só era incômodo o bastante. Mas ela não iria sair dali até ter sua resposta.
— Não. — a resposta dele demorou tanto que ela quase havia esquecido a pergunta. — Na verdade nunca foi assim. Ninguém me achava bonito antes. A fama muda muita coisa mesmo. — todo mundo riu novamente, e ela agradeceu não ser mais o motivo. — Mas e você? Faz parte dos 90%?
Aquilo poderia tanto ter sido uma cantada quanto uma forma de fazer com que ela passasse ainda mais vergonha. Mas era meio óbvio que não seria uma cantada, apesar de ela torcer com todo seu ser para que fosse. Não, era só mais uma gracinha sem intenções maliciosas para lhe fazer passar vergonha em público.
— Se você pagar bem o bastante... — pronto, ela havia deixado implícito, em público, que era uma puta. Por favor, alguém me mata agora. — É brincadeira! Eu juro, é brincadeira! Meu deus, eu tenho idade pra ser sua mãe!
— Não tem, não. — era claro que ele não iria concordar. Ela tinha a mesma cara desde o doze anos, sempre pediam seu RG antes de entrar nos lugares. Confirmado: queria morrer.
— Tenho sim. — ela realmente estava tendo essa discussão com Tom Holland. Meu. Deus.
— Quantos anos você tem?
— Vinte e quatro.
— Menina, o que você fazia quando tinha quatro anos? — o choque estampado no rosto dele apenas fez com que todos rissem mais. E dessa vez ela também riu. Muito.
A cara que ele fez ao vê-la se aproximar para tirar uma foto – um direito incluso já nos malditos seiscentos e cinquenta reais – foi impagável. Ele começou a rir, o que também a fazer rir. Mas, diferente dele, ela sentia vontade de sair correndo dali. Já conseguia imaginá-lo em alguma entrevista de talk show contando sobre a fã mais idiota que um dia havia conhecido.
— Qual o seu nome? — ele perguntou enquanto a abraçava. Tudo bem, ela ganhou um abraço. Ponto positivo.
— . Desculpa por aquilo...
— Desculpa? Aquilo foi o máximo! Eu não pensei que fosse rir tanto. — após a foto os staffs pediram para que ela saísse, mas o ator pediu mais alguns segundos. — Me passa seu Twitter? Gostei do seu humor.
Enquanto ela via-o abrir o próprio Twitter, digitar seu nome de usuário e seguí-la, teve certeza que estava a uma respirada de desmaiar. Mas, ao se despedir dele e deixar que a próxima fã fosse tirar uma foto, ela pensou que em dois dias ele sequer lembraria quem ela era e eles nunca mais se falariam.
1.
— Tom, por que tem uma pessoa falando em espanhol no seu feed? — a voz de Jacob soou por cima do ombro do rapaz, mas sequer o assustou.
Se fosse qualquer outra pessoa espiando a tela de seu aparelho celular por cima do seu ombro, ele ficaria realmente bravo. Mas aquele era Jacob, seu melhor amigo. Existia um tipo de código que deixava que melhores amigos fizessem certas coisas sem que fossem castigados. Era o caso de espiar o feed do Twitter – o Tumblr era uma história completamente diferente.
— É português.
— Ok... Por que tem uma pessoa falando em português no seu feed? — a pergunta foi corrigida.
— É aquela fã que eu te falei de quando eu fui pro Brasil.
— A dos 90%?
— Eu tenho a impressão de que ela mais faz parte dos 10%, pra ser sincero com você.
— Não existe isso de 10%, Tom. — Jacob revirou os olhos, observando as pessoas passarem rapidamente pelo corredor, sem sequer olhar para o cômodo em que eles estavam. — Todas as pessoas estão no mesmo lugar, e ele é 100%.
— Obrigado, Jacob. — o sorriso de Tom era sincero. — É pra esse tipo de coisa que eu te contratei como melhor amigo.
— Quero um aumento.
As risadas dos dois foram interrompidas por uma mulher da equipe de produção que adentrou o camarim em que eles estavam há quase quinze minutos, onde haviam sido “deixados” após a maquiagem. Ela pediu licença e desculpas antes de entrar, o que Tom particularmente achava um pouco exagerado mas já estava se acostumando.
Os dois foram levados para mais uma entrevista sobre o filme do Homem-Aranha que seria lançado no meio do ano. Novamente Tom e Jacob responderam as mesmas perguntas de sempre da mesma maneira de sempre. Ele preferia participar de talk shows; geralmente eram menos previsíveis e um pouco mais engraçados. Mas entrevistas como aquela, para programas de fofocas, costumavam seguir exatamente a mesma fórmula, e ele também o fazia.
Algumas vezes havia sentido vontade de responder uma coisa completamente diferente do que havia respondido da última vez, apenas para ver a imprensa ficar completamente confusa. E ver as teorias de fãs sobre qual seria a resposta verdadeira e porquê ele nunca respondia a mesma coisa. Mas sabia que se o fizesse seu agente lhe mataria, então era melhor seguir uma imagem de bom moço.
Após um tempo que parecia maior do que realmente havia sido, os dois finalmente foram liberados, seguindo para um carro que os levaria até um restaurante desconhecido para um almoço rápido, e então eles separariam caminhos. Tom não sabia o que estava programado na agenda de Jacob, mas ele teria uma sessão de fotos e mais uma entrevista para uma revista.
— Por que você ainda segue a menina dos 90%? — os olhos de Jacob estavam presos na tela do próprio celular e as sobrancelhas franzidas, Tom não sabia ao certo se pela pergunta ou se por alguma coisa que ele havia visto.
— Porque ela é engraçada. — Tom balançou os ombros.
— Você não fala português.
— Não. Mas! — Tom falou um pouco mais alto e levantou o indicador, atraindo a atenção de Jacob. — Existe um negócio, bem tecnológico e moderno chamado “Google Tradutor”. É realmente novo, Jacob, não sei se você conhece. Depois te mostro.
— Cala a boca. — Jacob riu, voltando a atenção para a tela do celular, apenas para que alguns minutos depois novamente olhasse para Tom. — Você conversa com ela em português usando o Google Tradutor?
— Eu nem converso com ela, na verdade. — o carro finalmente parou em frente ao restaurante e eles entraram no estabelecimento, sendo levados para uma mesa tão escondida quanto possível. Era uma pena, Tom realmente gostava de sentar perto da janela.
— Então por que você a segue?
A garçonete se aproximou, entregando o menu para eles e dizendo que assim que decidissem poderiam chamá-la. Os dois levaram menos de dois minutos para ler os itens, decidir o prato e chamar novamente a garçonete, que anotou o pedido com um sorriso no rosto e se retirou levando os dois menus.
— Já falei, ela é engraçada. E ela sempre responde meus tweets com algo engraçado. E às vezes eu dou like nos tweets dela. É tipo uma comunicação não verbal.
— Da sua parte, aparentemente. Você poderia se comunicar mais com ela.
— É mais fácil na teoria.
— Sempre é. — Jacob balançou os ombros, vendo a garçonete voltar com os pedidos em mãos. Constantemente eles tinham a impressão de que os pedidos deles eram passados na frente de todos os outros. — Mas se ela é tão engraçada assim, não custa nada. Aqui, me passa o usuário dela. Fiquei curioso, vou seguir.
— Não vai, não! — Tom puxou o celular pra longe assim que Jacob fez menção de alcançá-lo. — Eu te conheço, sei que você vai encher o saco da menina. Nem pensar, Batalon.
— Tudo bem, não passa então. Mas eu vou descobrir o Twitter dela. Só aguarde.
Se fosse qualquer outra pessoa espiando a tela de seu aparelho celular por cima do seu ombro, ele ficaria realmente bravo. Mas aquele era Jacob, seu melhor amigo. Existia um tipo de código que deixava que melhores amigos fizessem certas coisas sem que fossem castigados. Era o caso de espiar o feed do Twitter – o Tumblr era uma história completamente diferente.
— É português.
— Ok... Por que tem uma pessoa falando em português no seu feed? — a pergunta foi corrigida.
— É aquela fã que eu te falei de quando eu fui pro Brasil.
— A dos 90%?
— Eu tenho a impressão de que ela mais faz parte dos 10%, pra ser sincero com você.
— Não existe isso de 10%, Tom. — Jacob revirou os olhos, observando as pessoas passarem rapidamente pelo corredor, sem sequer olhar para o cômodo em que eles estavam. — Todas as pessoas estão no mesmo lugar, e ele é 100%.
— Obrigado, Jacob. — o sorriso de Tom era sincero. — É pra esse tipo de coisa que eu te contratei como melhor amigo.
— Quero um aumento.
As risadas dos dois foram interrompidas por uma mulher da equipe de produção que adentrou o camarim em que eles estavam há quase quinze minutos, onde haviam sido “deixados” após a maquiagem. Ela pediu licença e desculpas antes de entrar, o que Tom particularmente achava um pouco exagerado mas já estava se acostumando.
Os dois foram levados para mais uma entrevista sobre o filme do Homem-Aranha que seria lançado no meio do ano. Novamente Tom e Jacob responderam as mesmas perguntas de sempre da mesma maneira de sempre. Ele preferia participar de talk shows; geralmente eram menos previsíveis e um pouco mais engraçados. Mas entrevistas como aquela, para programas de fofocas, costumavam seguir exatamente a mesma fórmula, e ele também o fazia.
Algumas vezes havia sentido vontade de responder uma coisa completamente diferente do que havia respondido da última vez, apenas para ver a imprensa ficar completamente confusa. E ver as teorias de fãs sobre qual seria a resposta verdadeira e porquê ele nunca respondia a mesma coisa. Mas sabia que se o fizesse seu agente lhe mataria, então era melhor seguir uma imagem de bom moço.
Após um tempo que parecia maior do que realmente havia sido, os dois finalmente foram liberados, seguindo para um carro que os levaria até um restaurante desconhecido para um almoço rápido, e então eles separariam caminhos. Tom não sabia o que estava programado na agenda de Jacob, mas ele teria uma sessão de fotos e mais uma entrevista para uma revista.
— Por que você ainda segue a menina dos 90%? — os olhos de Jacob estavam presos na tela do próprio celular e as sobrancelhas franzidas, Tom não sabia ao certo se pela pergunta ou se por alguma coisa que ele havia visto.
— Porque ela é engraçada. — Tom balançou os ombros.
— Você não fala português.
— Não. Mas! — Tom falou um pouco mais alto e levantou o indicador, atraindo a atenção de Jacob. — Existe um negócio, bem tecnológico e moderno chamado “Google Tradutor”. É realmente novo, Jacob, não sei se você conhece. Depois te mostro.
— Cala a boca. — Jacob riu, voltando a atenção para a tela do celular, apenas para que alguns minutos depois novamente olhasse para Tom. — Você conversa com ela em português usando o Google Tradutor?
— Eu nem converso com ela, na verdade. — o carro finalmente parou em frente ao restaurante e eles entraram no estabelecimento, sendo levados para uma mesa tão escondida quanto possível. Era uma pena, Tom realmente gostava de sentar perto da janela.
— Então por que você a segue?
A garçonete se aproximou, entregando o menu para eles e dizendo que assim que decidissem poderiam chamá-la. Os dois levaram menos de dois minutos para ler os itens, decidir o prato e chamar novamente a garçonete, que anotou o pedido com um sorriso no rosto e se retirou levando os dois menus.
— Já falei, ela é engraçada. E ela sempre responde meus tweets com algo engraçado. E às vezes eu dou like nos tweets dela. É tipo uma comunicação não verbal.
— Da sua parte, aparentemente. Você poderia se comunicar mais com ela.
— É mais fácil na teoria.
— Sempre é. — Jacob balançou os ombros, vendo a garçonete voltar com os pedidos em mãos. Constantemente eles tinham a impressão de que os pedidos deles eram passados na frente de todos os outros. — Mas se ela é tão engraçada assim, não custa nada. Aqui, me passa o usuário dela. Fiquei curioso, vou seguir.
— Não vai, não! — Tom puxou o celular pra longe assim que Jacob fez menção de alcançá-lo. — Eu te conheço, sei que você vai encher o saco da menina. Nem pensar, Batalon.
— Tudo bem, não passa então. Mas eu vou descobrir o Twitter dela. Só aguarde.
2.
A cabeça de acertou o vidro do ônibus com força, o que a fez acordar assustada. Para sua sorte o ônibus sempre estava vazio naquele horário. Era a única vantagem de trabalhar de madrugada, na verdade, porque nem o tal “adicional noturno” o bar pagava.
Viu o cobrador rir, mas fingiu que não era dela. Os outros três passageiros do ônibus também pareciam tirar um profundo cochilo. Era respirou fundo e esperou mais cinco minutos até se levantar e puxar o sinal. Enquanto caminhava até sua casa, encarou o céu, que aos poucos começava a clarear. No começo ela até gostava de ficar vendo o sol nascer, mas após cinco meses fazendo exatamente a mesma coisa, aquilo já havia perdido a graça.
Assim que entrou em casa e o celular encontrou o sinal do Wi-Fi, sentiu-o começar a vibrar sem parar, recebendo de uma vez todas as mensagens que não recebia desde a noite anterior. Fingiu que não havia sentido nada, entrando na casa pela porta da cozinha e vendo o irmão e a cunhada sentados junto, tomando café da manhã.
— Bom dia, . — o irmão abriu o sorriso quase igual ao dela.
— Oi, Flávio. Oi, Thaís. — ela sorriu para os dois. Era assim quase todo dia, ela chegando e eles se arrumando para ir trabalhar.
— , quer tomar café da manhã conosco? — todos os dias Thaís oferecia.
— Não, obrigada. — todos os dias negava. — Aliás, amanhã eu recebo, aí eu transfiro o dinheiro da internet e da água.
— Fica tranquila, . A conta nem chegou ainda. — Thaís sorriu. sempre pensava que havia tirado a sorte grande com a cunhada que tinha.
— A mãe chamou a gente pra almoçar lá no domingo.
— Domingo é o pior dia de todos. — ela coçou o olho. O sono estava aumentando apenas de pensar o tanto que trabalhava nas madrugadas de sábado para domingo.
— Eu sei. A gente pode inventar uma desculpa pra ela.
— Obrigada. — ela sorriu para o irmão. — Vou lá deitar. Bom trabalho pra vocês.
— Bom descanso.
Após entrar no quarto e fechar a porta, ela tirou o celular da bolsa e a jogou de qualquer jeito no chão, onde logo suas roupas também foram parar. Vestiu rapidamente o pijama antes de se jogar na cama, apreciando a maneira como o travesseiro se moldava no formato de sua cabeça. Aproveitou para se espreguiçar e ajeitar a coluna. Finalmente desbloqueou o celular.
Viu várias novas notificações, grande maioria da página do blog que ela cuidava com algumas amigas, que tratava dos mais diversos assuntos geeks. sonhava com o dia em que o blog ficaria conhecido o bastante para que elas conseguissem algum dinheiro com isso e ela pudesse viver das colunas e resenhas que escrevia.
Após responder as mensagens que havia recebido, a última rede social que abriu foi, é claro, o Twitter, a que mais gostava. Este possuía apenas uma notificação, de um novo seguidor, jbatalon¹. Ela franziu a sobrancelha, entrando no perfil e levando um susto ao ver a quantidade de seguidores que ele possuía. J. Batalon... Ela conhecia aquele nome, não conhecia?
O último tweet do perfil, porém, fez seu coração acelerar. “Encontrei a garota dos 90%!”. E ela com certeza não teria nenhum pensamento a mais se não fosse por uma resposta em destaque sobre aquele tweet. “Fuck you”, diretamente do Twitter de Tom Holland.
Ele não poderia estar falando dela, é claro que não. Isso era apenas a mente criativa dela pensando de novo que ela havia feito qualquer diferença na vida de um ator internacional com suas piadinhas sem graça, quando ela sabia que aquela estava longe de ser a verdade.
É claro que às vezes ela recebia alguns likes do Tom, mas era apenas isso. E claro que muitas vezes ela respondia as coisas que ele tweetava mas nunca era respondida de volta. Fazendo um balanço geral, tê-lo como seguidor não havia feito tanta diferença em sua vida quanto ela gostaria.
sabia também que poderia puxar assunto a qualquer momento, mas não tinha coragem. Acreditava fortemente em duas coisas: que ele realmente era uma pessoa muito ocupada e que ela realmente iria acabar incomodando-o. E a última coisa que ela queria era parecer uma fã desesperada, já estava velha demais para tanto.
Mas vendo aquele tweet de Jacob – ela finalmente havia lembrado quem era! – ela começou a se perguntar se por um acaso Tom havia comentado sobre ela com o amigo. Porque ela tinha a sensação que ela era mesmo a tal garota dos 90%, o que não a deixava em nada mais tranquila, afinal ela sabia exatamente o que aquele número significava. Ela realmente precisava de um lugar para enterrar a cara.
A decisão que ela tomou foi a de agir da maneira mais madura possível e fingir que estava tudo certo. Clicou no ícone para responder o tweet de Jacob e digitou rapidamente “Me pergunto quem é”. Respirou fundo antes de desligar o Wi-Fi do celular e se virar para dormir. Era assim, não é? Eles queriam brincar? Então ela iria brincar.
¹: Até o momento em que essa fic foi postada, o Jacob ainda não tinha twitter. Esse user eu que inventei mesmo, nem sei se está em uso...
Viu o cobrador rir, mas fingiu que não era dela. Os outros três passageiros do ônibus também pareciam tirar um profundo cochilo. Era respirou fundo e esperou mais cinco minutos até se levantar e puxar o sinal. Enquanto caminhava até sua casa, encarou o céu, que aos poucos começava a clarear. No começo ela até gostava de ficar vendo o sol nascer, mas após cinco meses fazendo exatamente a mesma coisa, aquilo já havia perdido a graça.
Assim que entrou em casa e o celular encontrou o sinal do Wi-Fi, sentiu-o começar a vibrar sem parar, recebendo de uma vez todas as mensagens que não recebia desde a noite anterior. Fingiu que não havia sentido nada, entrando na casa pela porta da cozinha e vendo o irmão e a cunhada sentados junto, tomando café da manhã.
— Bom dia, . — o irmão abriu o sorriso quase igual ao dela.
— Oi, Flávio. Oi, Thaís. — ela sorriu para os dois. Era assim quase todo dia, ela chegando e eles se arrumando para ir trabalhar.
— , quer tomar café da manhã conosco? — todos os dias Thaís oferecia.
— Não, obrigada. — todos os dias negava. — Aliás, amanhã eu recebo, aí eu transfiro o dinheiro da internet e da água.
— Fica tranquila, . A conta nem chegou ainda. — Thaís sorriu. sempre pensava que havia tirado a sorte grande com a cunhada que tinha.
— A mãe chamou a gente pra almoçar lá no domingo.
— Domingo é o pior dia de todos. — ela coçou o olho. O sono estava aumentando apenas de pensar o tanto que trabalhava nas madrugadas de sábado para domingo.
— Eu sei. A gente pode inventar uma desculpa pra ela.
— Obrigada. — ela sorriu para o irmão. — Vou lá deitar. Bom trabalho pra vocês.
— Bom descanso.
Após entrar no quarto e fechar a porta, ela tirou o celular da bolsa e a jogou de qualquer jeito no chão, onde logo suas roupas também foram parar. Vestiu rapidamente o pijama antes de se jogar na cama, apreciando a maneira como o travesseiro se moldava no formato de sua cabeça. Aproveitou para se espreguiçar e ajeitar a coluna. Finalmente desbloqueou o celular.
Viu várias novas notificações, grande maioria da página do blog que ela cuidava com algumas amigas, que tratava dos mais diversos assuntos geeks. sonhava com o dia em que o blog ficaria conhecido o bastante para que elas conseguissem algum dinheiro com isso e ela pudesse viver das colunas e resenhas que escrevia.
Após responder as mensagens que havia recebido, a última rede social que abriu foi, é claro, o Twitter, a que mais gostava. Este possuía apenas uma notificação, de um novo seguidor, jbatalon¹. Ela franziu a sobrancelha, entrando no perfil e levando um susto ao ver a quantidade de seguidores que ele possuía. J. Batalon... Ela conhecia aquele nome, não conhecia?
O último tweet do perfil, porém, fez seu coração acelerar. “Encontrei a garota dos 90%!”. E ela com certeza não teria nenhum pensamento a mais se não fosse por uma resposta em destaque sobre aquele tweet. “Fuck you”, diretamente do Twitter de Tom Holland.
Ele não poderia estar falando dela, é claro que não. Isso era apenas a mente criativa dela pensando de novo que ela havia feito qualquer diferença na vida de um ator internacional com suas piadinhas sem graça, quando ela sabia que aquela estava longe de ser a verdade.
É claro que às vezes ela recebia alguns likes do Tom, mas era apenas isso. E claro que muitas vezes ela respondia as coisas que ele tweetava mas nunca era respondida de volta. Fazendo um balanço geral, tê-lo como seguidor não havia feito tanta diferença em sua vida quanto ela gostaria.
sabia também que poderia puxar assunto a qualquer momento, mas não tinha coragem. Acreditava fortemente em duas coisas: que ele realmente era uma pessoa muito ocupada e que ela realmente iria acabar incomodando-o. E a última coisa que ela queria era parecer uma fã desesperada, já estava velha demais para tanto.
Mas vendo aquele tweet de Jacob – ela finalmente havia lembrado quem era! – ela começou a se perguntar se por um acaso Tom havia comentado sobre ela com o amigo. Porque ela tinha a sensação que ela era mesmo a tal garota dos 90%, o que não a deixava em nada mais tranquila, afinal ela sabia exatamente o que aquele número significava. Ela realmente precisava de um lugar para enterrar a cara.
A decisão que ela tomou foi a de agir da maneira mais madura possível e fingir que estava tudo certo. Clicou no ícone para responder o tweet de Jacob e digitou rapidamente “Me pergunto quem é”. Respirou fundo antes de desligar o Wi-Fi do celular e se virar para dormir. Era assim, não é? Eles queriam brincar? Então ela iria brincar.
¹: Até o momento em que essa fic foi postada, o Jacob ainda não tinha twitter. Esse user eu que inventei mesmo, nem sei se está em uso...
3.
— E não é que a sua amiga é legal mesmo? — Jacob ria de alguma coisa que lia na tela do celular.
— Que amiga? — Tom franziu as sobrancelhas, olhando por cima do ombro do amigo e vendo o perfil da fã do Brasil. — A menina dos 90%? Ela não é minha amiga.
— Porque você é besta. Ela é mesmo divertida.
— Você realmente decidiu encher o saco da menina né? — Tom riu, observando enquanto Jacob respondia uma mensagem para a garota. — Isso aí é DM? Você deixa a sua ligada? Qual o seu problema?
— Primeiro que eu não tenho nem 10% do seu tanto de seguidores. E 99% dos meus seguidores só me seguem por causa de você. Fica meio fácil filtrar o que vale a pena e o que não vale.
Tom balançou a cabeça, concordando. Com certeza para Jacob as coisas deveriam ser mais fáceis mesmo. O filme solo do Homem-Aranha ainda não havia estreado, ou seja, poucas pessoas conheciam o rosto dele. O que estava longe de ser o caso de Tom, que já tinha dado as caras em Capitão América: Guerra Civil. Sua vida realmente havia virado de cabeça para baixo.
Ele estava tendo um dos poucos dias livres de uma agenda extremamente apertada, e mesmo assim ele recebia mensagens constantes de seu agente. Ainda naquela semana ele teria que participar de mais alguns talk shows, sendo um deles com o Robert Downey Jr., e isso por si só o deixava relativamente mais nervoso que o normal. Tinha mais dois photoshoots agendados e uma gravação de vídeo promocional. É, as coisas sempre estariam corridas demais.
Mas mesmo durante toda a semana, Tom ainda pensava um pouco em Jacob e a Menina dos 90% – que sim, ele havia esquecido o nome completamente. Existia uma pequena parte dele, muito pequena mesmo, que sentia um pouco de ciúme, afinal, a garota era sua fã. Uma outra parte, ligeiramente maior, sentia um pouco de inveja. Ele queria ter tido a coragem de Jacob para se aproximar da fã. Mas se aproximar de fã soava tão... Bobo.
Ele ficou meio aéreo durante quase toda a gravação do vídeo promocional com Jon Favreau. Como bom ator que era, seguiu a risca todas as orientações que lhes foram dadas, mas cada repetição de fala e gesto não era nada além de automático. E por mais que achasse que estava fazendo um ótimo trabalho, era meio óbvio que alguém acabaria notando.
— Tom? Tá tudo bem com você? — Jon se aproximou em meio a um dos pequenos intervalos, comendo um biscoito que a produção deixava de fácil acesso.
— Está sim. — Tom balançou a cabeça, olhando para o biscoito que ele ainda segurava. A verdade é que ele realmente gostava de Jon, que havia recebido-o no Universo Cinemático da Marvel tão bem quanto Downey, o que se ele pensasse a respeito significava muito. — Na verdade... Posso te fazer uma pergunta?
— Não é nada relacionado a puberdade, né?
— Que? Eu nã– Eu já passei da puberdade faz um tempo!
— Eu sei, garoto. — Jon riu e bagunçou o cabelo de Tom. O gesto, mesmo que pudesse parecer que estava reafirmando a diferença de idade entre dois, pareceu na verdade realmente amigável, algo que ele poderia facilmente imaginar Jacob fazendo. — Pode perguntar.
— Você acha estranho ser amigo de fã?
Tom nunca imaginaria que a reação de Jon seria tão engraçada, e precisou de todo seu autocontrole para não começar a rir realmente alto ali na frente do homem. A expressão de Jon parecia confusa e, ao mesmo tempo, era como se ele estivesse questionando a sanidade de Tom – o que ele próprio também fazia às vezes.
— Onde você quer chegar com isso?
E então ele contou toda a história para Jon, desde sua ida ao Brasil até a mais recente conversa que havia tido com Jacob. Claro que, contando daquela maneira, Tom se sentiu um pouco – ou muito, era relativo – infantil, mas fingiu que aquilo era sim um grande e importante problema.
— Deixa eu ver se eu entendi direito. Então essa menina parece ser realmente legal, mas o problema é que ela é uma fã?
— Em resumo, sim, é isso mesmo.
— E o ruim de ela ser uma fã é que...? — Jon fez um gesto com a mão, esperando que Tom concluísse aquele pensamento.
— E se, sei lá, ele só quiser tirar proveito de alguma maneira?
— Bom, isso não tem como você saber se nunca tentar. — Jon balançou os ombros. Claro, para ele, que já havia vivido muito mais que os vinte anos de Tom, aquilo era provavelmente simples demais. O garoto estava apenas dramatizando. — Se você já achou ela legal e agora seu amigo só confirmou essa ideia inicial, eu não vejo como dar uma chance a uma nova amizade, mesmo sendo com uma fã, possa ser errado.
— Mas e se–
— Se ela acabar sendo babaca com você, corta laços, se afasta. Isso sempre acontece em algum momento na vida, garoto, e ser fã não tem nada a ver com isso. — eles ficaram um curto tempo em silêncio, Jon esperando alguma reação e Tom apenas pensando no que havia acabado de ouvir. — Tá, agora vamos voltar que ainda temos muito trabalho pela frente.
Ele concordou e também foi pegar um biscoito, tendo que engolir em duas mordidas porque logo já era hora de voltar para as gravações. Ele se sentiu muito menos aéreo após a conversa que havia tido com Jon. O homem estava certo, claro que estava. E talvez aquelas fossem exatamente as palavras que ele precisava para tomar coragem e mandar uma mensagem para a tal menina dos 90%.
4.
A madrugada estava mais do que corrida. O barulho que as pesadas botas de faziam ao ir de um lado para o outro do enorme salão do bar não podiam ser ouvidos. As pessoas cantando no bar – porque de todos os tipos de bares era óbvio que ela trabalharia em um karaokê – pareciam soar ainda mais altas que o normal. Em todos os sentidos da palavra “alta”.
Uma mesa composta por cinco homens a chamou pela quarta vez, e pela quarta vez ela o precisou ouvir uma cantada do loiro barbudo, seguida das várias risadas dos amigos. Ela respirou fundo, contou até cinco e saiu dali. Não, aquela mesa já havia dado tudo o que tinha que dar.
Entrou na cozinha bufando, sendo recebida pela risada de Juliano. Ele estava acostumado com essa cena; mais ou menos uma vez por semana não aguentava mais atender os clientes e se refugiava na cozinha, onde sempre pedia para que ele lhe preparasse o mesmo drink.
— Uma caipirinha de pinga. Três quartos de pinga, por favor.
Beber no trabalho não era uma prática comum e nem encorajada, mas todo mundo sempre bebia. Às vezes tudo o que eles precisavam para aguentar algumas noites era um pouco de álcool no sangue. só bebia quando o assédio se tornava insuportável e ela realmente precisava de algo que a relaxasse e não a deixasse socar alguns clientes.
— Qual foi dessa vez? Perguntou se você vem sempre aqui? Se seu número vinha com a comanda? — Juliano conseguia dividir a atenção entre e a preparação das bebidas, o que ela achava realmente incrível.
— Se podia me pagar uma bebida. — ela revirou os olhos ao mesmo tempo que Juliano soltava uma risada realmente alta e lhe estendia um enorme copo de caipirinha.
O gosto amargo do Velho Barreiro, que todo o açúcar que Juliano havia colocado não havia sido o bastante para disfarçar, tomou conta de cada parte da boca de , fazendo com que sua boca entortasse em uma estranha careta. Mesmo assim ela respirou fundo e sugou metade do conteúdo do copo em um gole.
— Sabe, Ju, é por isso que eu sempre digo que quando meu blog ficar bastante famoso–
— –você vai largar isso e se livrar de macho escroto. Mas secretamente você sabe que–
— –isso nunca vai acontecer. Não é álcool que deixa macho escroto. — os dois riram da frase que ela repetia absolutamente todas as semanas.
A risada de durou muito menos que a de Juliano. Era sim uma piada, mas era mais uma daquelas com um fundo, um enorme fundo de verdade. Porque aquele ainda era seu sonho, um que às vezes ela não via como poderia virar realidade. Muitas pessoas já haviam conseguido aquilo, crescer com um simples blog na internet. Mas o problema era exatamente aquele: já haviam blogs demais. Quem garantiria que ela não seria apenas mais um na conta?
Mas aquele não era o momento para divagar sobre tudo o que ela não era. Gostando ou não, ela ainda era uma adulta que precisava pagar as contas, e aquele emprego ainda era a única maneira com a qual ela levava a vida. Por enquanto, pelo menos, ela teria que voltar para o salão, atender mais mesas com pessoas sem noção e fingir, por mais uma noite, que tudo estava bem.
***
Ela respirou fundo ao entrar em casa, sentindo o cheiro do produto que havia passado no chão no dia anterior. Ela sempre ajudava Thaís e Flávio nas tarefas domésticas, nada mais do que sua obrigação, claro – apesar de eles sempre repetirem que não havia necessidade, uma vez que trabalhar na parte da madrugada era sempre o horário mais cansativo. Mas se ela não fizesse nada, sua consciência ficaria como? Não, obrigada, ela já tinha muito no que pensar.
A primeira coisa que fez – após cumprimentar o casal, que já estava de saída – foi ir direto para baixo do chuveiro. Às vezes tudo o que ela mais precisava era um longo e quente, muito quente banho. A água quente ajudava a relaxar os músculos, deixando-a no melhor clima de sono, que a luz do sol entrando contra a janela jamais poderia permitir.
Sentindo o corpo mais pesado do que nunca, ela se arrastou até o quarto, jogando a toalha de qualquer jeito no chão – ela teria que colocar para lavar – e colocando uma calcinha qualquer e uma camiseta gigante que costumava ser de Juliano. Se jogou na cama como uma pedra, puxando o edredom por cima do corpo, deixando apenas os braços para fora, desbloqueando a tela do celular e vendo as novas mensagens. Tudo perfeitamente comum e esperado. Exceto que não.
A mensagem direta em seu twitter tinha como remetente tomholland1996, o que a fez sentar na cama de uma única vez, rápido o bastante para que um estalo de sua coluna fosse ouvido. Soltando um palavrão baixo, ela abriu a mensagem, sentindo as pontas dos dedos subitamente mais geladas.
“Eu sabia que você era engraçada, mas não havia imaginado que era a ponto de fazer meu melhor amigo falar de você o dia inteiro. Que tipo de bruxaria é essa?”
Uma outra mensagem com várias risadas havia sido enviada logo em seguida. Ok, era só uma brincadeira. Uma brincadeira e um meme. Ele estava sendo engraçado, fluído, sem preocupações. Diferente dela, que agora estava analisando cada palavra da mensagem, tentando enxergar uma piada escondida. Uma piada que obviamente não existia. Tudo o que ela precisava era de uma maneira para responder aquilo sem parecer tão desesperada quanto se sentia.
Por isso ela fechou o Twitter.
E abriu os contatos.
— Por que porras você ‘tá me ligando, ? — a voz de Juliano do outro lado da linha parecia meio irritada. — A gente se viu faz menos de duas horas. O que você quer?
— O Tom Holland me mandou uma mensagem, Ju! No Twitter! Eu não sei o que fazer!
Silêncio. Não era exatamente o que esperava do seu melhor amigo naquele momento, mas foi o que recebeu. Um longo, irritante período de silêncio.
— Quem é Tom Holland?
— Porra, Juliano. — ela virou os olhos, desacreditando na maneira como o rapaz mal prestava atenção no que ela falava. — Eu não calei a boca sobre ele por meses. O que veio pro Brasil. O novo Homem-Aranha.
— Ah tá. — o pouco caso que a voz de Juliano demonstrou quase fez com que desligasse a ligação naquele momento. Pior. Amigo. — Por que ele te mandaria uma mensagem? Quer dizer, quem é você na fila do pão?
— Eu... Meu santo Odin, você é o pior amigo. Do mundo. De todos os mundos.
— , eu ‘to com sono. Eu não vou processar direito nada do que você disser nesse momento. E eu ‘to com medo de acordar o Dênis. Hoje ele ‘tá de folga e ele odeia acordar cedo na folga. E a última coisa que eu preciso é que meu namorado termine comigo e eu tenha que pagar o aluguel do AP sozinho. Então por favor, me liga depois?
— Mas... Eu preciso responder o Tom.
— Jesus-Maria-José. — tinha certeza que Juliano estava apertando o nariz, se segurando para não subir o tom da própria voz e mandá-la para os piores lugares que palavrões permitiam. — Manda um emoji. Um meme. Risada. Nude.
— Não tem graça, Ju.
— Não era pra– Olha, faz assim. Se esse cara te mandou mensagem, alguma coisa você já fez certo. Só continua fazendo desse jeito que não tem como errar tão cedo.
ponderou por alguns segundos. É, Juliano, mesmo mal humorado e com sono, não deixava de estar certo. Agradecendo o conselho, ela desligou o celular e voltou a abrir o twitter. Digitou mais ou menos treze versões diferentes da mesma mensagem, tentando se forçar a deixar perfeito, sem parecer a fã louca carente por atenção nem uma fria que claramente só quer fingir que não tá nem aí.
Às vezes ela odiava ser fangirl.
Mas finalmente conseguiu a versão perfeita de resposta para Tom. Em sua opinião, aquilo estava casual, amigável, engraçado. Era isso que ela estava se esforçando para ser na frente dele, certo? (A parte do “louca” acontecia sem querer). Era atrás disso que ele deveria estar, então era isso que ela iria oferecer.
Uma mesa composta por cinco homens a chamou pela quarta vez, e pela quarta vez ela o precisou ouvir uma cantada do loiro barbudo, seguida das várias risadas dos amigos. Ela respirou fundo, contou até cinco e saiu dali. Não, aquela mesa já havia dado tudo o que tinha que dar.
Entrou na cozinha bufando, sendo recebida pela risada de Juliano. Ele estava acostumado com essa cena; mais ou menos uma vez por semana não aguentava mais atender os clientes e se refugiava na cozinha, onde sempre pedia para que ele lhe preparasse o mesmo drink.
— Uma caipirinha de pinga. Três quartos de pinga, por favor.
Beber no trabalho não era uma prática comum e nem encorajada, mas todo mundo sempre bebia. Às vezes tudo o que eles precisavam para aguentar algumas noites era um pouco de álcool no sangue. só bebia quando o assédio se tornava insuportável e ela realmente precisava de algo que a relaxasse e não a deixasse socar alguns clientes.
— Qual foi dessa vez? Perguntou se você vem sempre aqui? Se seu número vinha com a comanda? — Juliano conseguia dividir a atenção entre e a preparação das bebidas, o que ela achava realmente incrível.
— Se podia me pagar uma bebida. — ela revirou os olhos ao mesmo tempo que Juliano soltava uma risada realmente alta e lhe estendia um enorme copo de caipirinha.
O gosto amargo do Velho Barreiro, que todo o açúcar que Juliano havia colocado não havia sido o bastante para disfarçar, tomou conta de cada parte da boca de , fazendo com que sua boca entortasse em uma estranha careta. Mesmo assim ela respirou fundo e sugou metade do conteúdo do copo em um gole.
— Sabe, Ju, é por isso que eu sempre digo que quando meu blog ficar bastante famoso–
— –você vai largar isso e se livrar de macho escroto. Mas secretamente você sabe que–
— –isso nunca vai acontecer. Não é álcool que deixa macho escroto. — os dois riram da frase que ela repetia absolutamente todas as semanas.
A risada de durou muito menos que a de Juliano. Era sim uma piada, mas era mais uma daquelas com um fundo, um enorme fundo de verdade. Porque aquele ainda era seu sonho, um que às vezes ela não via como poderia virar realidade. Muitas pessoas já haviam conseguido aquilo, crescer com um simples blog na internet. Mas o problema era exatamente aquele: já haviam blogs demais. Quem garantiria que ela não seria apenas mais um na conta?
Mas aquele não era o momento para divagar sobre tudo o que ela não era. Gostando ou não, ela ainda era uma adulta que precisava pagar as contas, e aquele emprego ainda era a única maneira com a qual ela levava a vida. Por enquanto, pelo menos, ela teria que voltar para o salão, atender mais mesas com pessoas sem noção e fingir, por mais uma noite, que tudo estava bem.
Ela respirou fundo ao entrar em casa, sentindo o cheiro do produto que havia passado no chão no dia anterior. Ela sempre ajudava Thaís e Flávio nas tarefas domésticas, nada mais do que sua obrigação, claro – apesar de eles sempre repetirem que não havia necessidade, uma vez que trabalhar na parte da madrugada era sempre o horário mais cansativo. Mas se ela não fizesse nada, sua consciência ficaria como? Não, obrigada, ela já tinha muito no que pensar.
A primeira coisa que fez – após cumprimentar o casal, que já estava de saída – foi ir direto para baixo do chuveiro. Às vezes tudo o que ela mais precisava era um longo e quente, muito quente banho. A água quente ajudava a relaxar os músculos, deixando-a no melhor clima de sono, que a luz do sol entrando contra a janela jamais poderia permitir.
Sentindo o corpo mais pesado do que nunca, ela se arrastou até o quarto, jogando a toalha de qualquer jeito no chão – ela teria que colocar para lavar – e colocando uma calcinha qualquer e uma camiseta gigante que costumava ser de Juliano. Se jogou na cama como uma pedra, puxando o edredom por cima do corpo, deixando apenas os braços para fora, desbloqueando a tela do celular e vendo as novas mensagens. Tudo perfeitamente comum e esperado. Exceto que não.
A mensagem direta em seu twitter tinha como remetente tomholland1996, o que a fez sentar na cama de uma única vez, rápido o bastante para que um estalo de sua coluna fosse ouvido. Soltando um palavrão baixo, ela abriu a mensagem, sentindo as pontas dos dedos subitamente mais geladas.
Uma outra mensagem com várias risadas havia sido enviada logo em seguida. Ok, era só uma brincadeira. Uma brincadeira e um meme. Ele estava sendo engraçado, fluído, sem preocupações. Diferente dela, que agora estava analisando cada palavra da mensagem, tentando enxergar uma piada escondida. Uma piada que obviamente não existia. Tudo o que ela precisava era de uma maneira para responder aquilo sem parecer tão desesperada quanto se sentia.
Por isso ela fechou o Twitter.
E abriu os contatos.
— Por que porras você ‘tá me ligando, ? — a voz de Juliano do outro lado da linha parecia meio irritada. — A gente se viu faz menos de duas horas. O que você quer?
— O Tom Holland me mandou uma mensagem, Ju! No Twitter! Eu não sei o que fazer!
Silêncio. Não era exatamente o que esperava do seu melhor amigo naquele momento, mas foi o que recebeu. Um longo, irritante período de silêncio.
— Quem é Tom Holland?
— Porra, Juliano. — ela virou os olhos, desacreditando na maneira como o rapaz mal prestava atenção no que ela falava. — Eu não calei a boca sobre ele por meses. O que veio pro Brasil. O novo Homem-Aranha.
— Ah tá. — o pouco caso que a voz de Juliano demonstrou quase fez com que desligasse a ligação naquele momento. Pior. Amigo. — Por que ele te mandaria uma mensagem? Quer dizer, quem é você na fila do pão?
— Eu... Meu santo Odin, você é o pior amigo. Do mundo. De todos os mundos.
— , eu ‘to com sono. Eu não vou processar direito nada do que você disser nesse momento. E eu ‘to com medo de acordar o Dênis. Hoje ele ‘tá de folga e ele odeia acordar cedo na folga. E a última coisa que eu preciso é que meu namorado termine comigo e eu tenha que pagar o aluguel do AP sozinho. Então por favor, me liga depois?
— Mas... Eu preciso responder o Tom.
— Jesus-Maria-José. — tinha certeza que Juliano estava apertando o nariz, se segurando para não subir o tom da própria voz e mandá-la para os piores lugares que palavrões permitiam. — Manda um emoji. Um meme. Risada. Nude.
— Não tem graça, Ju.
— Não era pra– Olha, faz assim. Se esse cara te mandou mensagem, alguma coisa você já fez certo. Só continua fazendo desse jeito que não tem como errar tão cedo.
ponderou por alguns segundos. É, Juliano, mesmo mal humorado e com sono, não deixava de estar certo. Agradecendo o conselho, ela desligou o celular e voltou a abrir o twitter. Digitou mais ou menos treze versões diferentes da mesma mensagem, tentando se forçar a deixar perfeito, sem parecer a fã louca carente por atenção nem uma fria que claramente só quer fingir que não tá nem aí.
Às vezes ela odiava ser fangirl.
Mas finalmente conseguiu a versão perfeita de resposta para Tom. Em sua opinião, aquilo estava casual, amigável, engraçado. Era isso que ela estava se esforçando para ser na frente dele, certo? (A parte do “louca” acontecia sem querer). Era atrás disso que ele deveria estar, então era isso que ela iria oferecer.
5.
A verdade era que Tom não era muito bom com Twitter. Não que ele não conhecesse ou não soubesse usar a plataforma. Ele tinha uma conta com muitos, muitos seguidores – óbvio, Marvel faz esse tipo de coisa na vida das pessoas. E ele entendia perfeitamente bem o conceito de “140 caracteres”, obrigado. Ele também seguia as pessoas certas, o que garantia um feed tanto engraçado quanto informativo. Ele entendia muito bem o que era Twitter. Ele apenas se esquecia de acessar a rede social.
Não era como o Instagram. Nesse ele era quase profissional – dependendo do ponto de vista, ele de fato era. Tom sabia postar fotos e fazer stories como ninguém. Às vezes até arriscava algumas transmissões ao vivo, essas geralmente mais rápidas do que o esperado pelos fãs. Enquanto no Twitter ele ficava até dez dias sem postar, no Instagram as postagens eram quase diárias.
Foi assim durante muito tempo. Até ele começar a conversar com .
Depois que ela o respondeu pela primeira vez – uma resposta tão divertida como ele havia esperado – ele sempre se via obrigado a entrar no Twitter para responder suas mensagens. Geralmente eles não tinham nenhum tipo de conversa profunda, sempre contando sobre seu dia. Ele havia descoberto que ela era garçonete em um bar karaokê, o que ele achou a coisa mais divertida de todas – depois de ser o Homem-Aranha, claro. Nada é mais divertido do que ser o Homem-Aranha.
Havia dias que eles conversavam muito pouco. Além da diferença de fuso, a vida de Tom havia se tornado muito mais complicada após se tornar parte do MCU – nada pelo qual ele não esperasse. Muitas vezes ele acabava mexendo no celular apenas para fazer coisas de alta prioridade, como falar com seu agente e responder as mensagens dos pais. Em raras ocasiões ele tirava um tempo para responder um fã ou outro.
O ponto era: quando as coisas se acalmaram um pouco, Tom quase não saiu do celular. O que, sinceramente, é algo completamente normal nos tempo modernos. Todas as pessoas de todas as idades possuíam celular, a grande maioria com internet, todo o tempo conectadas com o mundo todo. Ele gostava bastante de estar conectado. E, aparentemente, Jacob pensava diferente.
— Ei! — Tom reclamou vendo o aparelho sair de suas mãos em um borrão, indo parar nas mãos do amigo. — Devolve meu celular, J.!
— Não. — Jacob se sentou no sofá ao lado de Tom, o celular do amigo ainda em mãos, mas tomando cuidado o bastante para que não voltasse para o seu alcance. — Você já reparou que você não larga isso, né?
— Ah não, eu realmente não preciso de um discurso sobre como os jovens de hoje são dependentes da tecnologia. — os olhos de Tom reviraram tanto que ele sentiu um leve desconforto em seu globo ocular. — Sério, minha mãe me manda isso acho que uma vez por semana.
— O que é engraçado, se você pensar bem, porque ela usa a tecnologia pra te incentivar a não ser tão dependente da tecnologia.
— E ela ainda é a pessoa que me liga todos os dias pra saber se eu lembrei de almoçar.
Os dois começaram a rir sem parar. Tom era realmente muito apegado à sua família e sempre contava os dias para que pudesse voltar à Inglaterra e revê-los. Mas naquele momento de sua vida aquela parecia uma viagem distante. A divulgação para a estreia de Spider-Man: Homecoming estava a todo vapor, cada dia mais perto. Cada hora Tom estava em uma parte diferente dos Estados Unidos, isso quando não estava em algum outro país. Se não estava enganado, ele iria para a China em algum momento.
— Na verdade eu só queria falar pra gente ir naquela lanchonete que você adora. — Jacob balançou os ombros, estendendo o celular de Tom de volta para o dono, que o pegou com um sorriso nos rosto mas não o desbloqueou. — Faz um tempinho que a gente não sai apenas por sair.
O que era realmente verdade. Quase todo o tempo que eles passavam juntos era por conta de alguma entrevista ou ação promocional, todo o tempo cronometrado e minuciosamente pensado. Ele às vezes sentia falta desses pequenos momentos de apenas ficar com os amigos, conversando, indo a lugares que ele gostava. No máximo era algum amigo indo para a locação que o estúdio havia disponibilizado para ele, como naquele momento.
— Hum... Gosto da ideia. — Tom levantou quase em um pulo, já procurando pela carteira e a deslizando para o bolso. — J., é bom que quando eu me virar você já esteja de pé, porque se não eu juro que me vingo de um–
— Tá, tá. — Jacob já estava de pé quando Tom se virou, o que o fez rir um pouco. Claro que agora Jacob havia repensado a ideia de sair e tudo o que aquilo implicava, e como ele estava morrendo de preguiça.
O único problema era o seguinte: Tom já estava um tanto famoso. E, por famoso, aquilo queria dizer que seu rosto era conhecido. E havia mais um problema, não tão pequeno quando ele gostaria que fosse: ele era jovem. Não que juventude fosse um problema. A parte complicada de ser jovem e famoso era que ele atraía um público mais jovem automaticamente. As fãs que o paravam na rua estavam longe de ser como as que paravam Robert Downey Jr e Chris Evans, por exemplo.
No seu caso às vezes aconteciam gritos, reuniões de rodinhas de amigas, milhões de pedidos de selfie e algumas declarações de amor. Ao seu lado Jacob ficava rindo, às vezes até servindo de fotógrafo para algumas das fãs – porque, novamente, o filho da mãe ainda não possuía o rosto tão conhecido. Mas lá estava ele, tentando chegar em sua lanchonete preferida enquanto mais uma menina dizia o quanto o amava e o achava tão maravilhoso.
Momentos como aquele lembravam a pergunta que havia feito na primeira vez que eles fizeram contato. Pelo que se lembrava de sua vida – que, sejamos sinceros, não era exatamente longa – ele nunca havia sido exatamente um imã de garotas. No geral ele era o rapaz estranho, meio nerd, que bancava o ator e dançava. Ele era bom para fazer amigos, mas para namoradas e/ou meninas com interesse amoroso a ponto de fazer uma declaração? Não, aquela era a primeira vez.
No fim, a lanchonete não foi tão divertida quanto ele esperava. Teve fã no caminho de ida, na lanchonete e no caminho de volta. E ele simplesmente não conseguia não atender cada fã, porque ele sabia muito bem como era ser um fã. Ele ficava grato pela oportunidade que havia tido, e achava que ser legal com as pessoas era uma ótima maneira de agradecer o universo.
Ele voltou para sua locação quase duas horas depois, a demora mais por conta das paradas do que da própria lanchonete. Jacob havia ido para a própria casa, porque diferente de Tom, ele possuía uma casa. Aliás, aquilo era algo que Tom precisava pensar. Comprar um apartamento nos Estados Unidos. Se fosse passar mais tempo ali do que na Inglaterra, ele com certeza iria querer um cantinho só seu.
Mal ele se deitou no sofá, sentiu o celular vibrar no bolso, com uma notificação do Twitter. Uma DM. Só poderia ser de .
“Não sei que horas é aí, eu sou horrível com essa coisa de fuso, mas espero que você esteja tendo um bom dia!”
Ele sorriu para a mensagem. Era engraçado como antes ele sentia tanto medo de se aproximar da garota por ela ser uma fã, mas agora até mesmo esquecia que ela era fã. As conversas entre eles eram tão naturais e amigáveis, e ela era sempre tão legal que tudo o que ele enxergava era a possibilidade de uma forte amizade.
“Ainda está meio cedo por aqui, mas também não sou grandes coisas com fuso horário, então vou admitir que aí também está cedo! Tentei ir a uma lanchonete mas tinha tantas fãs que mal aproveitei a comida...”
“Acabei de acordar, a madrugada foi louca. Uma galera se animou demais no YMCA e a gente teve que intervir. Não é legal intervir com bêbados cantores. De YMCA. Nossa, você não odeia tanto fãs? Eu acho tão chatas....”
“Fãs são as piores. Nunca converso com nenhuma”
“É melhor manter distância mesmo. Ouvi dizer que elas mordem”
Tom não se aguentou e começou a rir realmente alto da última mensagem. Era ótimo como ele e possuíam um humor semelhante, rindo e ironizando as mesmas coisas, da mesma maneira. Não que fosse raro encontrar pessoas assim, mas era sempre bom quando acontecia.
“Que horror!” ele digitou rapidamente, decidindo continuar com a brincadeira. “Será que passam alguma doença?”
“90% passa, certeza”
“Aposto que você está nos 10%”
“Cala a boca”
Às vezes ele fazia aquela piada, apenas para provocar. Ele não sabia se ela levava a sério, mas a tinha a impressão de que se aquele “cala a boca” houvesse sido dito pessoalmente, teria sido acompanhado de um sorriso. Porque, por mais que ele não conhecesse tanto assim de , ele possuía muitas impressões a respeito da garota, e todas elas eram extremamente positivas. Um dia ele iria agradecer Jon e Jacob por terem lhe incentivado a fazer uma nova amiga tão divertida assim.
6.
Terças-feiras eram sempre um saco. Ninguém ia ao bar em uma terça-feira. A quantidade de cliente era quase zero, especialmente durante a madrugada. No máximo alguns universitários que nunca ficavam até tarde porque no dia seguinte tinham aula e/ou estágio. Ou seja: os poucos clientes que iam para o bar acabavam indo embora muito cedo. Então toda terça eles fechavam muito mais cedo e faziam muita, muita limpeza.
E não, não gostava de ficar limpando. Sim, ela limpava a casa de Flávio, mas aquilo estava muito longe de ser algo que ela fazia por prazer; ela apenas se sentia obrigada, já que, novamente, seu irmão não lhe cobrava aluguel, apenas ajuda com as contas. Limpar a casa era o mínimo que ela poderia fazer.
Mas limpar o bar era totalmente diferente de limpar a casa. Em casa ela tinha a bagunça dela, a de Thais e de Flávio, e nenhum dos três era realmente bagunceiro. Algumas louças para lavar, banheiros, passar um pano na sala, coisa simples, fácil. No bar? O chão estava sempre sujo de cerveja, caipirinha, vodca, álcool no geral. Pedaços de batata frita, calabresa e frango ficavam por toda a parte do local, porque aparentemente as pessoas não sabia como comer porções.
A pior parte era, claro, limpar o banheiro. Se banheiros públicos geralmente já eram a melhor definição de nojo que poderia ser dada, apenas porque as pessoas simplesmente não davam descarga e pareciam urinar por toda a extensão da cabine, banheiro de bar conseguia ser pior. Porque a maior preocupação não era urina ou fezes. Eram vômitos e sabe-se lá mais o que – preferia ignorar o que sua mente já tinha certeza. E quando a “tia da limpeza” lavava – realmente lavava, de jogar água pra todo lado – o salão, acabava tendo que lavar os banheiros.
Mas terça tinha uma única coisa boa: o uso do celular ficava liberado. Todo mundo se conectava ao wifi do bar para poder escutar músicas pelo Spotify e tornar toda a questão da limpeza um pouco menos chata. Era o que costumava fazer antes de ter o Twitter pipocando com notificações de Tom. Não que eles estivessem conversando tanto assim, mas naquele dia em especial ele parecia animado. O celular dela não parava de vibrar. Um pouco escondida, ela secou a mão e abriu o aplicativo, vendo vinte e uma mensagens do rapaz que se dividiam entre “!” e “Ei, !”.
“Que foi, Tom?” ela respondeu, um pouco impaciente e um pouco curiosa.
“Vcê repsondeu!” a resposta veio em questão de segundos, com alguns erros de digitação, o que não era muito usual de Tom. Não que eles conversassem com a perfeição da língua inglesa, claro que haviam algumas gírias. Mas aquilo estava simplesmente digitado errado. “Achei uqe voê já tva dormindo!!”
“Eu estou trabalhando. Tá tudo bem?”
“Tuso óimo! O J me trouxe pra um bar supr legal, vc ia amare!”
Ok, pausa para reflexão. Ele ainda estava digitando errado e estava em um bar. saiu do aplicativo para ir até a tela principal de seu celular, onde ela havia salvado um relógio com o horário em Los Angeles, porque ela era patética a esse ponto. Vinte e duas e trinta e cinco, exatamente cinco horas de diferença, já que no Brasil ainda estava com horário de verão. Não eram nem onze da noite e Tom parecia meio bêbado. E digitando tudo errado. Ela teria que lidar com isso.
“Aposto que eu ia. Você parece estar se divertindo!” ela poderia ser casual sobre aquilo, mesmo estando com o ego super inflado por ter sido lembrada por Tom Holland enquanto ele estava bêbado.
“Eu sto! Ei, eu tava aqiu pensando que a gnt devaria comçar conversar por facetime!”
Aquilo era algo novo, para o qual ela não estava muito preparada, precisava admitir. Eles estavam trocando mensagens por Twitter há, o que, dois meses, quase isso? Ao mesmo tempo que era bastante tempo, era muito pouco. também não saberia dizer se aquilo era só Tom bêbado, mas ela iria aproveitar essa oportunidade, certo? Certo. Ninguém poderia julgá-la.
“Isso seria muito legal, Tom! Só que eu uso Android. Não tem facetime.”
“ANDRID? QUEM USA ANDROID??? PS o J tambm tá revlttado!”
E então ela começou a rir. Muito. Porque aquilo era simplesmente ridículo. Ela estava discutindo com um – dois, se pensasse bem – amigos virtuais porque ela não usava iPhone e sim Android. Enquanto eles estavam bêbados, na outra ponta do continente. E ela lavava privadas. A vida não fazia o menor sentido.
— Gente, alguém me conta essa piada, também quero rir. — a voz de Juliano fez com que literalmente pulasse. E escorregasse no chão molhado.
Ela sentiu a bunda atingir o chão com força, a calça ficando completamente molhada em questão de segundos. Por sorte havia conseguido salvar o celular, vendo poucas gotas sobre a tela. Viu a mão de Juliano ser estendida em sua direção, ajudando-a a se levantar enquanto ele não parava de rir. Ela teve um pouco de dificuldade mas logo estava de pé, sentindo uma incrível dor nas nádegas.
— Você não pode só chegar assim, Ju! — ela reclamou, colocando o celular em uma parte seca da pia, pegando um pano seco e passando nas calças para tentar amenizar o quanto ela agora estava molhada.
— O que, agora é minha culpa que você está totalmente avoada? Nem vem, . O que você ‘tava aprontando aí?
— Nada. Conversando com o Tom. — o celular de vibrou algumas vezes, escorregando e caindo dentro da pia molhada. Ela revirou os olhos antes de pegá-lo e secar rapidamente. Para sua sorte a pia não estava mais cheia de água.
— O homem-aranha? — Juliano esperou um aceno positivo de para poder continuar. — Gente, eu totalmente não acredito que esse menino ainda fala com você. Tipo, por quê? Você nem é tão legal assim.
— Nem você. Ei, sabia que é por isso que a gente se dá super bem? — lançou um sorriso irônico para Juliano, recebendo um revirar de olhos como resposta. Uma amizade construída na ironia. Ela ainda não entendia muito bem como eles eram saudáveis. — Ele falou para nós conversarmos por facetime.
— Facetime? Ele não sabe que você é pobre e tem Android?
— Primeiro que eu tenho Android porque é muito melhor que iPhone. Segundo que, no caso, eu sou pobre mesmo, já falei isso pra ele. Não com essas palavras, mas falei.
— Mesmo assim, esse negócio de vocês é sério. O que ‘tá rolando, umas nudes? Dá pra conseguir uma grana.
— Não dá mesmo pra conversar com você, né Juliano? — revirou os olhos, sentindo o celular vibrar mais algumas vezes. Ela tinha certeza que eram mais mensagens de Tom, mas simplesmente não queria abrir ali, na frente de Juliano. — Ei, eu tive uma ideia. Que tal você voltar pra lá e me deixar aqui trabalhando em paz?
— Você nem tá trabalhando. ‘Tá conversando com o crush.
— Ele não... Some daqui, Juliano! — ela praticamente gritou a última parte, empurrando o melhor amigo para fora do banheiro e fechando a porta.
Era meio verdade, ela não estava exatamente focada no trabalho, mas Juliano também não precisava jogar em sua cara daquela maneira. Mesmo assim o banheiro ainda estava todo molhado – assim como sua calça – e ela precisava terminar aquilo logo. usou todo seu controle para não desbloquear a tela do celular e responder as mensagens que chegavam a cada minuto. Tom teria que entender. Ele entenderia. Né?
Ainda odiando Juliano por tê-la feita molhar toda a calça, novamente colocou a playlist das músicas mais tocadas no mundo e ficou ouvindo as músicas mais populares do momento, das quais ela não gostava nem de metade, mas tudo bem, era o que tinha para hoje. Durante boa parte do tempo o celular vibrava em seu bolso, e sua mão coçava para responder logo as mensagens. Só que ela não podia. Ela tinha que trabalhar porque, no fim do mês, ela ia precisar dos mil e cem reais que aquele bar pagava.
Às vezes ela achava que se a URSS tivesse ganhado a Guerra Fria, as coisas seriam mais fáceis.
Aí ela lembrava que provavelmente não seriam.
E se contentava com o capitalismo.
Com o tanto de limpeza que precisava fazer, não demorou muito para que seu expediente acabasse e a madrugada chegasse ao fim, e logo ela estava sentada em um ônibus praticamente vazio. A vantagem, única vantagem de trabalhar de madrugada, era que os ônibus nunca estavam lotados, nem na ida, nem na volta. Ela podia dormir a vontade sem se preocupar muito com pessoas olhando enquanto uma baba escorria pelo canto de sua boca.
Assim que chegou em casa foi direto para o banheiro, tomando um banho quente, deixando a água fingir que ajudava-a a relaxar. Porque não ajudava, não em dias de faxina intensa como aquele. Ela só precisava se deitar e dormir até a hora de ir trabalhar mais um pouco. Só que, antes, ela precisava ler a mensagens de Tom. Que eram muitas. Mesmo.
“, séri o, facetime”
“Ah, veradde, Andoid”
“Aff, ”
“O q pode srr no lgar? Skype?”
“, voc tm Skype?”
“, me adcna no Skyp”
E havia muitas outras mensagens seguindo o mesmo estilo daquelas, Tom falando nada com nada, com vários erros de digitação, e por último o número de Tom, a última mensagem, que ele havia mandado duas horas atrás.
Ela não sabia se ele havia ido embora, desistido, apagado. Ele simplesmente havia só mandado o número de seu celular, pedindo para que ela o adicionasse no Skype, e nunca mais havia falado nada. Só isso mesmo. Ela sentiu o rosto quente, a ideia de ter o número de Tom Holland a fazendo se sentir especial por algum motivo. Claro. Fã.
Ela respirou fundo, salvando o contato e mandando convite no Skype. E a demora para que ele aceitasse foi tanta ela acabou caindo no sono. Outro dia eles conversavam.
E não, não gostava de ficar limpando. Sim, ela limpava a casa de Flávio, mas aquilo estava muito longe de ser algo que ela fazia por prazer; ela apenas se sentia obrigada, já que, novamente, seu irmão não lhe cobrava aluguel, apenas ajuda com as contas. Limpar a casa era o mínimo que ela poderia fazer.
Mas limpar o bar era totalmente diferente de limpar a casa. Em casa ela tinha a bagunça dela, a de Thais e de Flávio, e nenhum dos três era realmente bagunceiro. Algumas louças para lavar, banheiros, passar um pano na sala, coisa simples, fácil. No bar? O chão estava sempre sujo de cerveja, caipirinha, vodca, álcool no geral. Pedaços de batata frita, calabresa e frango ficavam por toda a parte do local, porque aparentemente as pessoas não sabia como comer porções.
A pior parte era, claro, limpar o banheiro. Se banheiros públicos geralmente já eram a melhor definição de nojo que poderia ser dada, apenas porque as pessoas simplesmente não davam descarga e pareciam urinar por toda a extensão da cabine, banheiro de bar conseguia ser pior. Porque a maior preocupação não era urina ou fezes. Eram vômitos e sabe-se lá mais o que – preferia ignorar o que sua mente já tinha certeza. E quando a “tia da limpeza” lavava – realmente lavava, de jogar água pra todo lado – o salão, acabava tendo que lavar os banheiros.
Mas terça tinha uma única coisa boa: o uso do celular ficava liberado. Todo mundo se conectava ao wifi do bar para poder escutar músicas pelo Spotify e tornar toda a questão da limpeza um pouco menos chata. Era o que costumava fazer antes de ter o Twitter pipocando com notificações de Tom. Não que eles estivessem conversando tanto assim, mas naquele dia em especial ele parecia animado. O celular dela não parava de vibrar. Um pouco escondida, ela secou a mão e abriu o aplicativo, vendo vinte e uma mensagens do rapaz que se dividiam entre “!” e “Ei, !”.
“Que foi, Tom?” ela respondeu, um pouco impaciente e um pouco curiosa.
“Vcê repsondeu!” a resposta veio em questão de segundos, com alguns erros de digitação, o que não era muito usual de Tom. Não que eles conversassem com a perfeição da língua inglesa, claro que haviam algumas gírias. Mas aquilo estava simplesmente digitado errado. “Achei uqe voê já tva dormindo!!”
“Eu estou trabalhando. Tá tudo bem?”
“Tuso óimo! O J me trouxe pra um bar supr legal, vc ia amare!”
Ok, pausa para reflexão. Ele ainda estava digitando errado e estava em um bar. saiu do aplicativo para ir até a tela principal de seu celular, onde ela havia salvado um relógio com o horário em Los Angeles, porque ela era patética a esse ponto. Vinte e duas e trinta e cinco, exatamente cinco horas de diferença, já que no Brasil ainda estava com horário de verão. Não eram nem onze da noite e Tom parecia meio bêbado. E digitando tudo errado. Ela teria que lidar com isso.
“Aposto que eu ia. Você parece estar se divertindo!” ela poderia ser casual sobre aquilo, mesmo estando com o ego super inflado por ter sido lembrada por Tom Holland enquanto ele estava bêbado.
“Eu sto! Ei, eu tava aqiu pensando que a gnt devaria comçar conversar por facetime!”
Aquilo era algo novo, para o qual ela não estava muito preparada, precisava admitir. Eles estavam trocando mensagens por Twitter há, o que, dois meses, quase isso? Ao mesmo tempo que era bastante tempo, era muito pouco. também não saberia dizer se aquilo era só Tom bêbado, mas ela iria aproveitar essa oportunidade, certo? Certo. Ninguém poderia julgá-la.
“Isso seria muito legal, Tom! Só que eu uso Android. Não tem facetime.”
“ANDRID? QUEM USA ANDROID??? PS o J tambm tá revlttado!”
E então ela começou a rir. Muito. Porque aquilo era simplesmente ridículo. Ela estava discutindo com um – dois, se pensasse bem – amigos virtuais porque ela não usava iPhone e sim Android. Enquanto eles estavam bêbados, na outra ponta do continente. E ela lavava privadas. A vida não fazia o menor sentido.
— Gente, alguém me conta essa piada, também quero rir. — a voz de Juliano fez com que literalmente pulasse. E escorregasse no chão molhado.
Ela sentiu a bunda atingir o chão com força, a calça ficando completamente molhada em questão de segundos. Por sorte havia conseguido salvar o celular, vendo poucas gotas sobre a tela. Viu a mão de Juliano ser estendida em sua direção, ajudando-a a se levantar enquanto ele não parava de rir. Ela teve um pouco de dificuldade mas logo estava de pé, sentindo uma incrível dor nas nádegas.
— Você não pode só chegar assim, Ju! — ela reclamou, colocando o celular em uma parte seca da pia, pegando um pano seco e passando nas calças para tentar amenizar o quanto ela agora estava molhada.
— O que, agora é minha culpa que você está totalmente avoada? Nem vem, . O que você ‘tava aprontando aí?
— Nada. Conversando com o Tom. — o celular de vibrou algumas vezes, escorregando e caindo dentro da pia molhada. Ela revirou os olhos antes de pegá-lo e secar rapidamente. Para sua sorte a pia não estava mais cheia de água.
— O homem-aranha? — Juliano esperou um aceno positivo de para poder continuar. — Gente, eu totalmente não acredito que esse menino ainda fala com você. Tipo, por quê? Você nem é tão legal assim.
— Nem você. Ei, sabia que é por isso que a gente se dá super bem? — lançou um sorriso irônico para Juliano, recebendo um revirar de olhos como resposta. Uma amizade construída na ironia. Ela ainda não entendia muito bem como eles eram saudáveis. — Ele falou para nós conversarmos por facetime.
— Facetime? Ele não sabe que você é pobre e tem Android?
— Primeiro que eu tenho Android porque é muito melhor que iPhone. Segundo que, no caso, eu sou pobre mesmo, já falei isso pra ele. Não com essas palavras, mas falei.
— Mesmo assim, esse negócio de vocês é sério. O que ‘tá rolando, umas nudes? Dá pra conseguir uma grana.
— Não dá mesmo pra conversar com você, né Juliano? — revirou os olhos, sentindo o celular vibrar mais algumas vezes. Ela tinha certeza que eram mais mensagens de Tom, mas simplesmente não queria abrir ali, na frente de Juliano. — Ei, eu tive uma ideia. Que tal você voltar pra lá e me deixar aqui trabalhando em paz?
— Você nem tá trabalhando. ‘Tá conversando com o crush.
— Ele não... Some daqui, Juliano! — ela praticamente gritou a última parte, empurrando o melhor amigo para fora do banheiro e fechando a porta.
Era meio verdade, ela não estava exatamente focada no trabalho, mas Juliano também não precisava jogar em sua cara daquela maneira. Mesmo assim o banheiro ainda estava todo molhado – assim como sua calça – e ela precisava terminar aquilo logo. usou todo seu controle para não desbloquear a tela do celular e responder as mensagens que chegavam a cada minuto. Tom teria que entender. Ele entenderia. Né?
Ainda odiando Juliano por tê-la feita molhar toda a calça, novamente colocou a playlist das músicas mais tocadas no mundo e ficou ouvindo as músicas mais populares do momento, das quais ela não gostava nem de metade, mas tudo bem, era o que tinha para hoje. Durante boa parte do tempo o celular vibrava em seu bolso, e sua mão coçava para responder logo as mensagens. Só que ela não podia. Ela tinha que trabalhar porque, no fim do mês, ela ia precisar dos mil e cem reais que aquele bar pagava.
Às vezes ela achava que se a URSS tivesse ganhado a Guerra Fria, as coisas seriam mais fáceis.
Aí ela lembrava que provavelmente não seriam.
E se contentava com o capitalismo.
Com o tanto de limpeza que precisava fazer, não demorou muito para que seu expediente acabasse e a madrugada chegasse ao fim, e logo ela estava sentada em um ônibus praticamente vazio. A vantagem, única vantagem de trabalhar de madrugada, era que os ônibus nunca estavam lotados, nem na ida, nem na volta. Ela podia dormir a vontade sem se preocupar muito com pessoas olhando enquanto uma baba escorria pelo canto de sua boca.
Assim que chegou em casa foi direto para o banheiro, tomando um banho quente, deixando a água fingir que ajudava-a a relaxar. Porque não ajudava, não em dias de faxina intensa como aquele. Ela só precisava se deitar e dormir até a hora de ir trabalhar mais um pouco. Só que, antes, ela precisava ler a mensagens de Tom. Que eram muitas. Mesmo.
“, séri o, facetime”
“Ah, veradde, Andoid”
“Aff, ”
“O q pode srr no lgar? Skype?”
“, voc tm Skype?”
“, me adcna no Skyp”
E havia muitas outras mensagens seguindo o mesmo estilo daquelas, Tom falando nada com nada, com vários erros de digitação, e por último o número de Tom, a última mensagem, que ele havia mandado duas horas atrás.
Ela não sabia se ele havia ido embora, desistido, apagado. Ele simplesmente havia só mandado o número de seu celular, pedindo para que ela o adicionasse no Skype, e nunca mais havia falado nada. Só isso mesmo. Ela sentiu o rosto quente, a ideia de ter o número de Tom Holland a fazendo se sentir especial por algum motivo. Claro. Fã.
Ela respirou fundo, salvando o contato e mandando convite no Skype. E a demora para que ele aceitasse foi tanta ela acabou caindo no sono. Outro dia eles conversavam.
7.
Tom acordou sem abrir os olhos. Sua cabeça doía e ainda girava um pouco. Esforçou-se muito para lembrar da noite passada. Ele havia ido ao bar. Um bar que Jacob havia escolhido para que eles comemorassem a chegada de Harrison nos Estados Unidos, onde ele ficaria para se tornar o assistente pessoal de Tom.
Ele havia bebido. Muito. Além do que estava acostumado. E claro que, nos EUA, ele ainda não tinha idade para beber, apenas vinte anos. Mas ei, o que dinheiro não fazia, certo? Ele tinha entrado no bar sem nenhum dificuldade. E bebido com menos dificuldade ainda.
Tom finalmente abriu os olhos, fazendo um barulho engraçado ao se espreguiçar. A primeira coisa que percebeu foi que não estava em seu alojamento. Torceu com todas as suas forças para não estar na casa de um desconhecido; ele nunca havia passado por aquela situação e honestamente não queria começar agora. Levantou-se da cama que estava, percebendo que a “cama” na verdade era só um colchão no chão. Ok, provavelmente ele não estava na casa de um desconhecido. Não daquele tipo de desconhecido, pelo menos.
Apenas uma checada ao redor lhe permitiu reconhecer a casa de Jacob, assim como Harrison deitado em um colchão não tão distante do dele, a boca aberta permitindo-lhe roncar baixo.
Tom sentia o estômago muito, muito estranho. Ele tinha alguma certeza de que havia misturado muitos tipos de bebidas. Não se lembrava de muitas partes da noite, para ser sincero. Ele sabia que havia se divertido muito, mas isso era inevitável, afinal seus dois melhores amigos estavam com ele – o melhor amigo dos Estados Unidos e o melhor amigo... Da vida. Não tinha melhor forma de classificar Harrison.
Caminhando com cuidado para não fazer barulho e acordar Harrison, Tom foi até a cozinha. Ele havia acabado de perceber que estava com muita, muita sede mesmo. Pegou um copo e encheu d’água três vezes seguidas, tomando todo o conteúdo em um ou dois goles, deixando um pouco do líquido escorrer e molhar sua blusa.
Apenas quando estava voltando para o colchão – porque ele totalmente ia dormir muito mais – ele encontrou o próprio celular jogado no sofá. Pegou o aparelho, vendo que possuía apenas 32% de bateria, mas mesmo assim o desbloqueou, abrindo instantaneamente o Instagram. Entrou nos próprios stories, vendo alguns dos vídeos que havia gravado na noite anterior.
Meu.
Deus.
Tudo bem, ele ia sobreviver a isso. Tomar um esporro de alguém? Talvez, mas sobreviveria.
Foi apenas quando ele estava prestes a bloquear novamente o celular e se render ao sono que Tom percebeu uma notificação incomum. Skype. Que? Ele nem usava o Skype. Abriu o aplicativo, vendo que “ ” havia mandado uma solicitação de amizade. Era amizade que falava no Skype? Tanto faz. Tudo bem, ele sabia quem era , claro. Mas como ela havia descoberto seu Skype? Em menos de um segundo ele havia aberto o Twitter. Se, na noite anterior, havia acontecido alguma coisa, só poderia ter sido pelo Twitter. Era o único meio pelo qual eles conversavam. Por isso Tom nem se deixou olhar mto a timeline, indo direto para as DM.
E então ele viu.
As mensagens.
Todas elas.
Que eram muitas.
Mesmo.
Que merda, o ele tinha bebido, absinto? Não era possível.
“Puta merda.” ele digitou rapidamente e enviou para . Ele precisava pedir desculpas.
“Você tá vivo! Ótima notícia!” e uma carinha sorrindo do lado, porque realmente parecia ser uma ótima pessoa. Se uma pessoa enchesse tanto o saco de Tom da maneira que ele havia feito com , ele nunca mais falaria com a pessoa. Sério.
“Sim, e envergonhado. Como você não quer me matar?”
“Por que eu iria te matar? Por que você bêbado me mandou muita mensagem engraçada?”
“Foi vergonhoso.”
“Tom, eu paguei muitos dinheiros só pra te conhecer. Receber mensagens suas não é exatamente algo que me faça sofrer.”
— Tom? — a voz ainda sonolenta de Harrison fez com que ele desgrudasse os olhos da tela do celular, vendo o amigo sentar-se lentamente. — O que ‘tá acontecendo?
— Bom dia. — Tom riu para o amigo, que agora coçava os olhos e bagunçava ainda mais os próprios cabelos. — Nada está acontecendo. ‘To só conversando com a .
— De novo essa ? Ela te adicionou no Skype?
— Adici... Espera, quê? — Tom balançou a cabeça, sentindo-se levemente confuso. — Como você sabe disso?
— Ué. — Harrison balançou os ombros, se levantando do colchão e indo se sentar ao lado de Tom. — Ontem você não calava a boca sobre ela. Aí eu falei que você deveria conversar com ela pelo facetime porque eu também queria conhecê-la. Só que aparentemente ela tem Android e sobrou só a opção Skype. Olha só como eu sou bom com resumos.
— Eu não acredito que te deixei me convencer a fazer isso! — Tom deu um soco realmente forte no braço de Harrison, recebendo de volta um tão forte quanto.
— Qual o problema? Eu só queria conhecer a menina que você e o J. tanto falam.
“Tom? Ainda tá aí?”
Tom leu a mensagem de , suspirando. Depois se virou para Harrison, dando outro soco no amigo. Ele queria matá-lo. Poucas vezes ele havia sentido tanta vergonha quanto naquele momento, e ele juraria até o fim de sua vida que era tudo culpa apenas de Harrison.
“Sim, desculpa. O Haz tava me contando tudo o que aconteceu.”
“Tudo bem. Só espero que agora vocês estejam aceitando que eu não tenho iPhone.”
“Me mata.”
— Eu quero morrer.
— Não, não tem morte no seu contrato, desculpa. — Harrison fez uma falsa cara triste, fazendo Tom rir alto o bastante para acordar Jacob, que apareceu na sala com cara de poucos amigos.
— Vocês precisam arranjar uma casa e parar de ficar vindo pra minha.
— Você nos ama. — Tom mandou um beijo no ar para Jacob, que fingiu desviar e riu um pouco.
“Ei, to indo trabalhar. A gente conversa mais tarde?” a mensagem de apareceu novamente na tela, fazendo Tom suspirar. Ele queria continuar conversando com a garota, mas ele respeitava trabalhos.
“Tudo bem. Desculpa de novo por ontem.”
“Foi divertido. Mas da próxima vez que for beber vê se não esquece de me chamar.”
No final da mensagem havia um emoji de piscadinha, que fez Tom sentir vergonha e, ao mesmo tempo, rir. Quando tudo começou, ele nunca havia imaginado que iria acabar gostando tanto assim de , mas realmente, ela parecia legal demais. Era fácil esquecer a maneira como tudo havia começado.
— Você está vermelho.
Tom afastou a mão de Harrison, que cutucava sua bochecha. Logo os três estavam conversando animadamente, como se nem estivessem de ressaca – que, na verdade, estavam. Com muita ressaca, diga-se de passagem.
— Então o resumo da noite foi: não deixem o celular na minha mão quando eu estiver bêbado.
— Pensa pelo lado positivo: você não fez uma declaração de amor pra ela.
Os três riram. Não havia a possibilidade de declaração de amor, claro que não, mas a ideia nem era assim tão assustadora. Era apenas... Estranho. Ele não conhecia muito bem, mas queria. Quem sabe aquela história de Skype acabaria valendo de algo no fim das contas?
Ele havia bebido. Muito. Além do que estava acostumado. E claro que, nos EUA, ele ainda não tinha idade para beber, apenas vinte anos. Mas ei, o que dinheiro não fazia, certo? Ele tinha entrado no bar sem nenhum dificuldade. E bebido com menos dificuldade ainda.
Tom finalmente abriu os olhos, fazendo um barulho engraçado ao se espreguiçar. A primeira coisa que percebeu foi que não estava em seu alojamento. Torceu com todas as suas forças para não estar na casa de um desconhecido; ele nunca havia passado por aquela situação e honestamente não queria começar agora. Levantou-se da cama que estava, percebendo que a “cama” na verdade era só um colchão no chão. Ok, provavelmente ele não estava na casa de um desconhecido. Não daquele tipo de desconhecido, pelo menos.
Apenas uma checada ao redor lhe permitiu reconhecer a casa de Jacob, assim como Harrison deitado em um colchão não tão distante do dele, a boca aberta permitindo-lhe roncar baixo.
Tom sentia o estômago muito, muito estranho. Ele tinha alguma certeza de que havia misturado muitos tipos de bebidas. Não se lembrava de muitas partes da noite, para ser sincero. Ele sabia que havia se divertido muito, mas isso era inevitável, afinal seus dois melhores amigos estavam com ele – o melhor amigo dos Estados Unidos e o melhor amigo... Da vida. Não tinha melhor forma de classificar Harrison.
Caminhando com cuidado para não fazer barulho e acordar Harrison, Tom foi até a cozinha. Ele havia acabado de perceber que estava com muita, muita sede mesmo. Pegou um copo e encheu d’água três vezes seguidas, tomando todo o conteúdo em um ou dois goles, deixando um pouco do líquido escorrer e molhar sua blusa.
Apenas quando estava voltando para o colchão – porque ele totalmente ia dormir muito mais – ele encontrou o próprio celular jogado no sofá. Pegou o aparelho, vendo que possuía apenas 32% de bateria, mas mesmo assim o desbloqueou, abrindo instantaneamente o Instagram. Entrou nos próprios stories, vendo alguns dos vídeos que havia gravado na noite anterior.
Meu.
Deus.
Tudo bem, ele ia sobreviver a isso. Tomar um esporro de alguém? Talvez, mas sobreviveria.
Foi apenas quando ele estava prestes a bloquear novamente o celular e se render ao sono que Tom percebeu uma notificação incomum. Skype. Que? Ele nem usava o Skype. Abriu o aplicativo, vendo que “ ” havia mandado uma solicitação de amizade. Era amizade que falava no Skype? Tanto faz. Tudo bem, ele sabia quem era , claro. Mas como ela havia descoberto seu Skype? Em menos de um segundo ele havia aberto o Twitter. Se, na noite anterior, havia acontecido alguma coisa, só poderia ter sido pelo Twitter. Era o único meio pelo qual eles conversavam. Por isso Tom nem se deixou olhar mto a timeline, indo direto para as DM.
E então ele viu.
As mensagens.
Todas elas.
Que eram muitas.
Mesmo.
Que merda, o ele tinha bebido, absinto? Não era possível.
“Puta merda.” ele digitou rapidamente e enviou para . Ele precisava pedir desculpas.
“Você tá vivo! Ótima notícia!” e uma carinha sorrindo do lado, porque realmente parecia ser uma ótima pessoa. Se uma pessoa enchesse tanto o saco de Tom da maneira que ele havia feito com , ele nunca mais falaria com a pessoa. Sério.
“Sim, e envergonhado. Como você não quer me matar?”
“Por que eu iria te matar? Por que você bêbado me mandou muita mensagem engraçada?”
“Foi vergonhoso.”
“Tom, eu paguei muitos dinheiros só pra te conhecer. Receber mensagens suas não é exatamente algo que me faça sofrer.”
— Tom? — a voz ainda sonolenta de Harrison fez com que ele desgrudasse os olhos da tela do celular, vendo o amigo sentar-se lentamente. — O que ‘tá acontecendo?
— Bom dia. — Tom riu para o amigo, que agora coçava os olhos e bagunçava ainda mais os próprios cabelos. — Nada está acontecendo. ‘To só conversando com a .
— De novo essa ? Ela te adicionou no Skype?
— Adici... Espera, quê? — Tom balançou a cabeça, sentindo-se levemente confuso. — Como você sabe disso?
— Ué. — Harrison balançou os ombros, se levantando do colchão e indo se sentar ao lado de Tom. — Ontem você não calava a boca sobre ela. Aí eu falei que você deveria conversar com ela pelo facetime porque eu também queria conhecê-la. Só que aparentemente ela tem Android e sobrou só a opção Skype. Olha só como eu sou bom com resumos.
— Eu não acredito que te deixei me convencer a fazer isso! — Tom deu um soco realmente forte no braço de Harrison, recebendo de volta um tão forte quanto.
— Qual o problema? Eu só queria conhecer a menina que você e o J. tanto falam.
“Tom? Ainda tá aí?”
Tom leu a mensagem de , suspirando. Depois se virou para Harrison, dando outro soco no amigo. Ele queria matá-lo. Poucas vezes ele havia sentido tanta vergonha quanto naquele momento, e ele juraria até o fim de sua vida que era tudo culpa apenas de Harrison.
“Sim, desculpa. O Haz tava me contando tudo o que aconteceu.”
“Tudo bem. Só espero que agora vocês estejam aceitando que eu não tenho iPhone.”
“Me mata.”
— Eu quero morrer.
— Não, não tem morte no seu contrato, desculpa. — Harrison fez uma falsa cara triste, fazendo Tom rir alto o bastante para acordar Jacob, que apareceu na sala com cara de poucos amigos.
— Vocês precisam arranjar uma casa e parar de ficar vindo pra minha.
— Você nos ama. — Tom mandou um beijo no ar para Jacob, que fingiu desviar e riu um pouco.
“Ei, to indo trabalhar. A gente conversa mais tarde?” a mensagem de apareceu novamente na tela, fazendo Tom suspirar. Ele queria continuar conversando com a garota, mas ele respeitava trabalhos.
“Tudo bem. Desculpa de novo por ontem.”
“Foi divertido. Mas da próxima vez que for beber vê se não esquece de me chamar.”
No final da mensagem havia um emoji de piscadinha, que fez Tom sentir vergonha e, ao mesmo tempo, rir. Quando tudo começou, ele nunca havia imaginado que iria acabar gostando tanto assim de , mas realmente, ela parecia legal demais. Era fácil esquecer a maneira como tudo havia começado.
— Você está vermelho.
Tom afastou a mão de Harrison, que cutucava sua bochecha. Logo os três estavam conversando animadamente, como se nem estivessem de ressaca – que, na verdade, estavam. Com muita ressaca, diga-se de passagem.
— Então o resumo da noite foi: não deixem o celular na minha mão quando eu estiver bêbado.
— Pensa pelo lado positivo: você não fez uma declaração de amor pra ela.
Os três riram. Não havia a possibilidade de declaração de amor, claro que não, mas a ideia nem era assim tão assustadora. Era apenas... Estranho. Ele não conhecia muito bem, mas queria. Quem sabe aquela história de Skype acabaria valendo de algo no fim das contas?
8.
Segunda-feira era o melhor dia da semana. Talvez ninguém mais no mundo concordasse com ela, mas ela simplesmente amava seus dias de folga. Era quando ela aproveitava para escrever um novo texto para o blog, atualizar as redes sociais e dormir. Muito. Como ela dormia. Dormir era sua coisa preferida no mundo, seguida de perto por assistir filmes e séries. Se pudesse viver de sono e Netflix, ela iria. Facilmente.
Infelizmente dessa vez ela não conseguiria dormir tanto. estava com mais ou menos três posts atrasados para o blog, e ela realmente precisava arrumar o quarto. Suas roupas mais estavam no chão do que no guarda-roupas. Ela tinha certeza que não trocava a roupa de cama fazia mais ou menos um mês. As prateleiras grudadas na parede estavam com uma camada branca de pó, e ela nem queria saber em que situação se encontravam seus livros.
Com o sol entrando pela janela aberta e o notebook ligado na altura quase máxima – sem estourar o áudio e comprometer a qualidade –, dançava e cantava pelo quarto, separando roupas, jogando algumas de volta no guarda-roupa, e a maioria indo parar na porta do quarto, onde estava a pilha para lavar. E durante uma boa parte da tarde, arrumou todo seu quarto, deixando-o o mais próximo possível daqueles lindos quartos que viam pelo Tumblr e pelo Pinterest (não tanto porque ela não tinha tantos enfeites e criatividade para decoração).
Em seguida ela desceu com as roupas sujas, sabendo que iria encher a máquina pelo menos duas vezes para poder lavar tudo. Enquanto esperava a roupa bater, aproveitou para fazer o almoço, cozinhando o bastante para que sobrasse comida para a janta. Após almoçar, ela finalmente sentou em frente ao notebook, começando a digitar algumas resenhas de filmes, deixando conteúdo pronto para o blog pelas próximas duas semanas.
O restante da tarde ela passou no Twitter, fazendo seus usuais posts engraçados, recebendo uma quantidade bastante OK de retweets, fingindo que era uma pessoa interessante ao menos pelas redes sociais. Mentira, ela era sim uma pessoa interessante a maior parte do tempo. Quer dizer, ela pelo menos se considerava engraçada.
— Quanta roupa você lavou hoje? — foi a primeira coisa que Flávio falou enquanto entrava na casa, jogando a mochila de qualquer jeito na cadeira da cozinha. Provavelmente havia estranhado a quantidade de roupas penduradas pelo varal.
— Eu limpei meu quarto. — balançou os ombros, desviando os olhos da tela do notebook. — Cadê a Thaís?
— Foi pra casa dos pais dela. Volta só amanhã. — pelo menos uma vez a cada quinze dias Thaís passava um dia todo com os pais, apenas porque eles não aceitavam tão bem assim o fato de que ela havia se mudado para morar com o namorado – mesmo que sim, eles gostassem bastante de Flávio.
— Legal. Tem janta pronta, só colocar no microondas.
— Melhor irmã! — Flávio riu enquanto agarrava e lhe dava um beijo exageradamente molhado no rosto, deixando-a babada e realmente brava com o irmão mais velho. — ‘Bora ver um filme?
nunca dizia “não” para uma filme. No fim eles assistiram A Nova Onda do Imperador pela milésima quinquagésima sétima vez, rindo exatamente nas mesmas partes e falando as mesmas falas ao mesmo tempo. Era o filme da vida dos dois, o que eles assistiam desde crianças. E que eles simplesmente amavam. Provavelmente não o preferido de nenhum deles, mas sempre o filme que eles assistiam quando estavam juntos.
Depois do filme eles ficaram ainda longas horas conversando, contando sobre a semana. A noite já estava perto de acabar quando Flávio foi tomar banho e dormir, já que no dia seguinte ele acordaria cedo novamente para trabalhar. , acostumada a começar a trabalhar naquele horário, apenas foi para o próprio quarto, fechando a porta e deixando o notebook no colo. Ela provavelmente iria passar o resto da madrugada apenas mexendo nas redes sociais, lendo fanfics, essas coisas.
Isso até o Skype pular em sua tela, mostrando uma nova chamada de vídeo de Tom Holland.
Ela sentiu o coração acelerar instantaneamente. Ela nem estava arrumada! Passou as mãos pelos cabelos cacheados rapidamente, deixando-os com ainda mais volume. Coçou os olhos, tentando fingir que isso iria deixá-la com menos cara de sono. Ajeitou a postura na cama e finalmente atendeu a ligação, vendo uma silhueta masculina aparecer do outro lado da tela.
Só que não era Tom.
Era um rapaz de cabelo claro e sorriso simpático. Ele olhou para a imagem de e abriu um enorme sorriso.
— Ei, você atendeu! Tudo bom? — o rapaz falou com o sotaque britânico carregado.
Foi então que ligou os pontos. Ele era o amigo de Tom que estava nos Estados Unidos morando com ele agora. Pelos stories mais recentes do rapaz, eles haviam encontrado um bom apartamento para os dois dividirem em Los Angeles, e agora estavam em processo de mudança. Aliás, qual era o nome dele mesmo?
— Atendi! — ela sorriu, ainda tentando lembrar o nome dele. — Eu ‘to ótima! E você?
— Feliz por finalmente te conhecer! Quer dizer, deixa eu me apresentar antes. — o rapaz passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os, parecendo levemente nervoso mas mantendo o sorriso no rosto. — Sou o Harrison. Mas se quiser me chamar de Haz também pode.
— Me chama de , por favor. — ela riu. Harrison, esse era o nome do rapaz. — Então, a que devo a honra dessa ligação?
— Curiosidade. — os dois riram ao mesmo tempo, apesar de se sentir meio confusa. Como assim? — Eu ‘tô tentando convencer o Tom a te ligar faz tempo, mas nada. Aí aproveitei que ele largou o celular desbloqueado e aqui estamos!
— Haz, com quem você tá– Esse é o meu celu– Harrison, você ligou pra alguém?! — antes mesmo que pudesse responder qualquer coisa, a silhueta de Tom apareceu do outro lado da tela, ao lado de Harrison, tomando o celular das mãos do amigo. — ? Você ligou pra ?!
— Oi, Tom. — riu e acenou para o rapaz, que parecia mais preocupado em tentar dar uns socos no amigo.
Ela precisou esperar alguns segundos enquanto eles discutiam. Ela respirou fundo e se ajeitou novamente na cama, endireitando a coluna que já havia entortado tudo de novo. Tudo bem, conversar com Harrison era uma coisa. Com Tom era outra totalmente diferente. Não que ela não estivesse acostumada a conversar com Tom, eles conversavam bastante via Twitter, mas assim, vendo os rostos um do outro? Essa era uma primeira vez – eles se conhecendo no evento não contava. E iria mentir muito se dissesse que estava tranquila.
— Não pega meu celular sem pedir! — Tom finalmente terminou de ralhar com Harrison, que só ria ao lado do amigo, e voltou a atenção para . — Desculpa por isso, . Aposto que ele tá enchendo o saco.
— Não encheu, relaxa. Na verdade a gente mal conseguiu conversar direito antes de você chegar.
— É, estraga prazeres. — Harrison revirou os olhos e riu da cara brava que Tom ainda tentava fazer, mas honestamente nem saía tão brava assim. — A gente só tava falando um pouco mal de você. — Harrison piscou para , que havia acabado de decidir que não entraria na do rapaz. Ainda não havia intimidade para tanto.
— Seu–
— É brincadeira, Tom! — o cortou antes que ele pudesse xingar ainda mais o amigo. — Ele só disse que tava curioso pra me conhecer, só isso.
— É, ele tem falado bastante isso. — Tom suspirou, se movendo pela casa e fazendo o celular tremer um pouco, achando um lugar para se sentar. Haz apareceu ao seu lado poucos segundos depois. — Como vão as coisas aí no Brasil?
— Bem. Só trabalhando e trabalhando.
— Conseguindo dinheiro pra vir pra Los Angeles nos visitar? — Tom brincou, fazendo o rosto de esquentar muito. Esse menino não tinha o direito de falar essas coisas.
— Seria o meu sonho? — os três riram. — Nah, com o dinheiro que eu ganho no bar eu pago as contas e olhe lá. No máximo vou ao cinema.
— Mas você tem tempo pra juntar a grana. Semana que vem vamos começar a turnê pra divulgar Homem-Aranha: Homecoming, vamos ficar três meses viajando pelo mundo. Só em Julho nós voltamos pros Estados Unidos, praticamente no dia da premiere.
— Vocês bem que podiam colocar o Brasil nessa turnê, né? — riu e coçou a própria cabeça, se sentindo completamente sem graça.
Era óbvio que ela queria muito que essa turnê viesse para seu país, tanto pelo seu lado fã quanto pelo lado amiga de Tom Holland. Quer dizer, ela poderia se considerar amiga dele, né? Eles já estavam nesse ponto da vida? Ah. Meu. Deus. Agora ele entraria na pura neura de não saber o que eles poderiam se considerar e ela realmente queria gritar mas não podia porque, ei, ele estava ali, do outra lado da tela, olhando para sua cara.
— Seria o meu sonho? — Tom repetiu o que ela havia falado um pouco antes, fazendo e Haz rirem mais um pouco. — Infelizmente nossa divulgação no Brasil foi naquela Comic Con mesmo. Não sei nem quando vou conseguir voltar aí.
Se um dia ele fosse conseguir voltar, pensou, se segurando para não fazer uma careta. Nada nunca poderia ser perfeito, essa era a lei da vida. Ou de Murphy. Qualquer coisa assim, ela não sabia muito bem sobre leis.
— Por isso você tem que vir pra cá, ! — Harrison foi quem falou, tentando aparecer melhor na pequena tela.
— O problema é que, com o dinheiro que eu recebo, vai demorar anos para conseguir ter grana. Isso levando em consideração que eu não vou mais gastar nem com cinema. E não vou ver Homem-Aranha: Homecoming.
— Ah não, tem que ver no cinema, ajudar o amigo!
não conseguiu conter o sorriso enorme ao ouvir a palavra “amigo”. Então Tom a considerava uma amiga! Ela tinha alguma certeza que estava prestes a pular de alegria, mas não podia, ia ficar feio fazer isso na frente dos dois. Mas, assim que desligasse aquela ligação – o que honestamente ela esperava que não fosse tão cedo – ela iria se permitir surtar. Muito.
— ? Que cara é essa? — as sobrancelhas de Tom franziram em sua direção, parecendo curioso.
— Nada. É só que você disse que é meu amigo.
— Mas eu sou. Não sou? — agora a curiosidade estava se tornando preocupação. — , nós somos amigos, né?
— Somos, somos, claro que somos! — ela se apressou em falar, vendo o alívio passar pelos olhos de Tom e Harrison começar a rir descontroladamente de como os dois deveriam parecer patéticos naquele momento.
Eles ficaram mais longos minutos conversando, até Harrison lembrar Tom que, por melhor que o papo estivesse, eles tinham muita para resolver ainda, e precisavam fazer isso logo. se despediu dos dois, finalmente desligando o Skype e suspirando feito uma adolescente boba – o que ela se permitia ser de vez em quando. Ninguém poderia culpá-la por estar nas nuvens após ser chamada de “amiga” por Tom Holland.
Infelizmente dessa vez ela não conseguiria dormir tanto. estava com mais ou menos três posts atrasados para o blog, e ela realmente precisava arrumar o quarto. Suas roupas mais estavam no chão do que no guarda-roupas. Ela tinha certeza que não trocava a roupa de cama fazia mais ou menos um mês. As prateleiras grudadas na parede estavam com uma camada branca de pó, e ela nem queria saber em que situação se encontravam seus livros.
Com o sol entrando pela janela aberta e o notebook ligado na altura quase máxima – sem estourar o áudio e comprometer a qualidade –, dançava e cantava pelo quarto, separando roupas, jogando algumas de volta no guarda-roupa, e a maioria indo parar na porta do quarto, onde estava a pilha para lavar. E durante uma boa parte da tarde, arrumou todo seu quarto, deixando-o o mais próximo possível daqueles lindos quartos que viam pelo Tumblr e pelo Pinterest (não tanto porque ela não tinha tantos enfeites e criatividade para decoração).
Em seguida ela desceu com as roupas sujas, sabendo que iria encher a máquina pelo menos duas vezes para poder lavar tudo. Enquanto esperava a roupa bater, aproveitou para fazer o almoço, cozinhando o bastante para que sobrasse comida para a janta. Após almoçar, ela finalmente sentou em frente ao notebook, começando a digitar algumas resenhas de filmes, deixando conteúdo pronto para o blog pelas próximas duas semanas.
O restante da tarde ela passou no Twitter, fazendo seus usuais posts engraçados, recebendo uma quantidade bastante OK de retweets, fingindo que era uma pessoa interessante ao menos pelas redes sociais. Mentira, ela era sim uma pessoa interessante a maior parte do tempo. Quer dizer, ela pelo menos se considerava engraçada.
— Quanta roupa você lavou hoje? — foi a primeira coisa que Flávio falou enquanto entrava na casa, jogando a mochila de qualquer jeito na cadeira da cozinha. Provavelmente havia estranhado a quantidade de roupas penduradas pelo varal.
— Eu limpei meu quarto. — balançou os ombros, desviando os olhos da tela do notebook. — Cadê a Thaís?
— Foi pra casa dos pais dela. Volta só amanhã. — pelo menos uma vez a cada quinze dias Thaís passava um dia todo com os pais, apenas porque eles não aceitavam tão bem assim o fato de que ela havia se mudado para morar com o namorado – mesmo que sim, eles gostassem bastante de Flávio.
— Legal. Tem janta pronta, só colocar no microondas.
— Melhor irmã! — Flávio riu enquanto agarrava e lhe dava um beijo exageradamente molhado no rosto, deixando-a babada e realmente brava com o irmão mais velho. — ‘Bora ver um filme?
nunca dizia “não” para uma filme. No fim eles assistiram A Nova Onda do Imperador pela milésima quinquagésima sétima vez, rindo exatamente nas mesmas partes e falando as mesmas falas ao mesmo tempo. Era o filme da vida dos dois, o que eles assistiam desde crianças. E que eles simplesmente amavam. Provavelmente não o preferido de nenhum deles, mas sempre o filme que eles assistiam quando estavam juntos.
Depois do filme eles ficaram ainda longas horas conversando, contando sobre a semana. A noite já estava perto de acabar quando Flávio foi tomar banho e dormir, já que no dia seguinte ele acordaria cedo novamente para trabalhar. , acostumada a começar a trabalhar naquele horário, apenas foi para o próprio quarto, fechando a porta e deixando o notebook no colo. Ela provavelmente iria passar o resto da madrugada apenas mexendo nas redes sociais, lendo fanfics, essas coisas.
Isso até o Skype pular em sua tela, mostrando uma nova chamada de vídeo de Tom Holland.
Ela sentiu o coração acelerar instantaneamente. Ela nem estava arrumada! Passou as mãos pelos cabelos cacheados rapidamente, deixando-os com ainda mais volume. Coçou os olhos, tentando fingir que isso iria deixá-la com menos cara de sono. Ajeitou a postura na cama e finalmente atendeu a ligação, vendo uma silhueta masculina aparecer do outro lado da tela.
Só que não era Tom.
Era um rapaz de cabelo claro e sorriso simpático. Ele olhou para a imagem de e abriu um enorme sorriso.
— Ei, você atendeu! Tudo bom? — o rapaz falou com o sotaque britânico carregado.
Foi então que ligou os pontos. Ele era o amigo de Tom que estava nos Estados Unidos morando com ele agora. Pelos stories mais recentes do rapaz, eles haviam encontrado um bom apartamento para os dois dividirem em Los Angeles, e agora estavam em processo de mudança. Aliás, qual era o nome dele mesmo?
— Atendi! — ela sorriu, ainda tentando lembrar o nome dele. — Eu ‘to ótima! E você?
— Feliz por finalmente te conhecer! Quer dizer, deixa eu me apresentar antes. — o rapaz passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os, parecendo levemente nervoso mas mantendo o sorriso no rosto. — Sou o Harrison. Mas se quiser me chamar de Haz também pode.
— Me chama de , por favor. — ela riu. Harrison, esse era o nome do rapaz. — Então, a que devo a honra dessa ligação?
— Curiosidade. — os dois riram ao mesmo tempo, apesar de se sentir meio confusa. Como assim? — Eu ‘tô tentando convencer o Tom a te ligar faz tempo, mas nada. Aí aproveitei que ele largou o celular desbloqueado e aqui estamos!
— Haz, com quem você tá– Esse é o meu celu– Harrison, você ligou pra alguém?! — antes mesmo que pudesse responder qualquer coisa, a silhueta de Tom apareceu do outro lado da tela, ao lado de Harrison, tomando o celular das mãos do amigo. — ? Você ligou pra ?!
— Oi, Tom. — riu e acenou para o rapaz, que parecia mais preocupado em tentar dar uns socos no amigo.
Ela precisou esperar alguns segundos enquanto eles discutiam. Ela respirou fundo e se ajeitou novamente na cama, endireitando a coluna que já havia entortado tudo de novo. Tudo bem, conversar com Harrison era uma coisa. Com Tom era outra totalmente diferente. Não que ela não estivesse acostumada a conversar com Tom, eles conversavam bastante via Twitter, mas assim, vendo os rostos um do outro? Essa era uma primeira vez – eles se conhecendo no evento não contava. E iria mentir muito se dissesse que estava tranquila.
— Não pega meu celular sem pedir! — Tom finalmente terminou de ralhar com Harrison, que só ria ao lado do amigo, e voltou a atenção para . — Desculpa por isso, . Aposto que ele tá enchendo o saco.
— Não encheu, relaxa. Na verdade a gente mal conseguiu conversar direito antes de você chegar.
— É, estraga prazeres. — Harrison revirou os olhos e riu da cara brava que Tom ainda tentava fazer, mas honestamente nem saía tão brava assim. — A gente só tava falando um pouco mal de você. — Harrison piscou para , que havia acabado de decidir que não entraria na do rapaz. Ainda não havia intimidade para tanto.
— Seu–
— É brincadeira, Tom! — o cortou antes que ele pudesse xingar ainda mais o amigo. — Ele só disse que tava curioso pra me conhecer, só isso.
— É, ele tem falado bastante isso. — Tom suspirou, se movendo pela casa e fazendo o celular tremer um pouco, achando um lugar para se sentar. Haz apareceu ao seu lado poucos segundos depois. — Como vão as coisas aí no Brasil?
— Bem. Só trabalhando e trabalhando.
— Conseguindo dinheiro pra vir pra Los Angeles nos visitar? — Tom brincou, fazendo o rosto de esquentar muito. Esse menino não tinha o direito de falar essas coisas.
— Seria o meu sonho? — os três riram. — Nah, com o dinheiro que eu ganho no bar eu pago as contas e olhe lá. No máximo vou ao cinema.
— Mas você tem tempo pra juntar a grana. Semana que vem vamos começar a turnê pra divulgar Homem-Aranha: Homecoming, vamos ficar três meses viajando pelo mundo. Só em Julho nós voltamos pros Estados Unidos, praticamente no dia da premiere.
— Vocês bem que podiam colocar o Brasil nessa turnê, né? — riu e coçou a própria cabeça, se sentindo completamente sem graça.
Era óbvio que ela queria muito que essa turnê viesse para seu país, tanto pelo seu lado fã quanto pelo lado amiga de Tom Holland. Quer dizer, ela poderia se considerar amiga dele, né? Eles já estavam nesse ponto da vida? Ah. Meu. Deus. Agora ele entraria na pura neura de não saber o que eles poderiam se considerar e ela realmente queria gritar mas não podia porque, ei, ele estava ali, do outra lado da tela, olhando para sua cara.
— Seria o meu sonho? — Tom repetiu o que ela havia falado um pouco antes, fazendo e Haz rirem mais um pouco. — Infelizmente nossa divulgação no Brasil foi naquela Comic Con mesmo. Não sei nem quando vou conseguir voltar aí.
Se um dia ele fosse conseguir voltar, pensou, se segurando para não fazer uma careta. Nada nunca poderia ser perfeito, essa era a lei da vida. Ou de Murphy. Qualquer coisa assim, ela não sabia muito bem sobre leis.
— Por isso você tem que vir pra cá, ! — Harrison foi quem falou, tentando aparecer melhor na pequena tela.
— O problema é que, com o dinheiro que eu recebo, vai demorar anos para conseguir ter grana. Isso levando em consideração que eu não vou mais gastar nem com cinema. E não vou ver Homem-Aranha: Homecoming.
— Ah não, tem que ver no cinema, ajudar o amigo!
não conseguiu conter o sorriso enorme ao ouvir a palavra “amigo”. Então Tom a considerava uma amiga! Ela tinha alguma certeza que estava prestes a pular de alegria, mas não podia, ia ficar feio fazer isso na frente dos dois. Mas, assim que desligasse aquela ligação – o que honestamente ela esperava que não fosse tão cedo – ela iria se permitir surtar. Muito.
— ? Que cara é essa? — as sobrancelhas de Tom franziram em sua direção, parecendo curioso.
— Nada. É só que você disse que é meu amigo.
— Mas eu sou. Não sou? — agora a curiosidade estava se tornando preocupação. — , nós somos amigos, né?
— Somos, somos, claro que somos! — ela se apressou em falar, vendo o alívio passar pelos olhos de Tom e Harrison começar a rir descontroladamente de como os dois deveriam parecer patéticos naquele momento.
Eles ficaram mais longos minutos conversando, até Harrison lembrar Tom que, por melhor que o papo estivesse, eles tinham muita para resolver ainda, e precisavam fazer isso logo. se despediu dos dois, finalmente desligando o Skype e suspirando feito uma adolescente boba – o que ela se permitia ser de vez em quando. Ninguém poderia culpá-la por estar nas nuvens após ser chamada de “amiga” por Tom Holland.
9.
Deitado com a barriga para cima, Tom observou o teto branco. Completa e perfeitamente branco. Nenhuma marca de sujeira, tempo, desgaste. Nem mesmo uma teia de aranha no canto. Perfeito, mas nada além do esperado em um hotel cinco estrelas como aquele. As paredes também eram impecáveis em sua limpeza, o tom bege claro passando um ar clássico e, ao mesmo tempo, sofisticado.
Tom então virou-se para a direita. Havia uma enorme porta de vidro coberta por uma cortina chocolate, que ia do teto ao chão. Ela não deixava que Tom visse a Torre Eiffel através do vidro. Ele sabia que, se a abrisse, veria as luzes que tornavam Paris tão bela. E mesmo que ele soubesse que o apelido “Cidade Luz” não se devia a sua belíssima iluminação, grande parte do tempo ele fingia que sim.
Ele virou-se para a esquerda, vendo seu celular conectado ao carregador, ao lado de seu travesseiro. Pegou-o e entrou no Instagram, vendo mais do mesmo e enjoando rápido. Eram sempre as mesmas pessoas postando os mesmos tipos de coisa. Ele curtiu praticamente tudo e largou o aparelho novamente.
Ele precisava dormir. Seu relógio marcava duas e dezesseis no horário de Paris. Às cinco ele teria que estar de pé para poder ir ao aeroporto e pegar um avião para algum outro país da Europa – ele nem sabia mais qual. Mesmo assim, mesmo deitado há tantas horas, Tom simplesmente não conseguia dormir. Não importava o quanto seu corpo pudesse estar cansado, sua mente ainda trabalhava em plena velocidade.
E tudo o que ele pensava era o quanto estava cansado. Sua vida havia mudado tanto em tão pouco tempo, e ele sempre teve certeza que conseguiria lidar com todas as mudanças com maestria. Bastou três meses longe de casa, em Los Angeles, e ele percebeu que não, ele não iria lidar bem sozinho. Como ele sentia saudade de casa. Sua família maravilhosa, que sempre o apoiava. Seus pais, seus irmãos, seus amigos. A Inglaterra era e sempre seria sua casa, onde todas as pessoas que ele mais amava estavam, onde ele sempre poderia se sentir seguro.
Por isso ele havia contratado Harrison como seu assistente pessoal. Quando percebeu que a saudade de casa estava começando a se tornar muito mais do que um simples incômodo, Tom soube que precisaria de algo que o mantivesse ligado a sua antiga vida. E quem melhor do que o melhor amigo da infância?
Mesmo com Haz ao seu lado, às vezes as coisas ainda pareciam difíceis. Diversas vezes ele se pegava fantasiando uma vida normal na Inglaterra.
Não que ele não gostasse de sua vida, longe disso. Ele amava ser ator, e especialmente ele amava ser parte do Universo Cinematográfico da Marvel. O Homem-Aranha era seu herói da infância e poder vive-lo era certamente um privilégio. Tom nunca deixaria de reconhecer esse fato.
Mas ele era um rapaz de vinte anos, que teve sua vida completamente modificada em na fase da vida que o mundo sabia ser uma das mais difíceis. Sair da adolescência e entrar na vida adulta. Todas as mudanças haviam acontecido tão rápido que não era nada estranho que pensar em tudo aquilo tirasse o sono de Tom.
Suspirando ele finalmente se sentou na cama, deixando que o lençol escorregasse, revelando seu torso nu. Os pelos de seu braço ameaçaram arrepiar com a leve brisa do ar condicionado. Ele estendeu o braço, soltando o fio do celular. Acendeu a luz amarelada do abajur e tirou algumas selfies, postando no Instagram, reclamando sobre a falta de sono, e começando a receber curtidas e comentários muito rapidamente. Mas, claro, o que lhe chamou a atenção foi a mensagem de no meio das demais.
“Se quiser jogar conversa fora até chegar o sono ‘tamo aí”.
Tom minimizou o Instagram, abrindo em seu lugar o Whatsapp. Ele e haviam ficado pouco mais de um mês conversando apenas pelo Skype – que, sejamos sinceros, já não era um bom meio há algum tempo – até que a garota criasse a coragem de sugerir que eles mudassem a plataforma. O que, claro, havia sido uma das melhores ideias que ela havia tido. Eles haviam começado a conversar com muito mais frequência, além de agora trocarem áudios, vídeos e até mesmo ligar um para o outro de vez em quando.
Apesar de ter certeza que “jogar conversa fora” com iria deixá-lo mais tranquilo e fazê-lo esquecer - mesmo que fosse apenas temporariamente - todos os seus “problemas de primeiro mundo”, ele não sabia como eles poderiam conversar. Mensagem? Áudios? Chamada de voz? Chamada de voz. Ele poderia ficar deitado na cama, olhando para o teto enquanto ouvia a voz de . Parecia bom.
Esperou apenas um minuto para que ela aceitasse a ideia e o atendesse após apenas um toque, a voz animada do outro lado. Ela parecia sempre ter dois níveis de energia: muito animada ou muito cansada. Ele meio entendia; o trabalho dele também podia ser bastante cansativo.
— Vamos lá, Menino Thomas. Abra seu coração. — Tom não evitou a risadinha que saiu por sua garganta. havia contado para ele uma vez sobre um amigo que passara um período em Portugual e havia voltado com a mania de sempre coloca “menino/menina” na frente do nome das pessoas.
— Não é nada demais. — ele entortou a boca, se mexendo na cama e segurando o celular firmemente contra o rosto. — É só… Saudade de casa.
— Ah. Entendo. Muito tempo longe da família, né? — ela esperou que ele fizesse um “uhum” antes de continuar. — Mas você não está na Europa agora? E não vai passar pela Inglaterra?
— Vou. Eles vão me deixar ficar um dia só com a minha família, sem tour nem nada. Mas… Ainda parece tão pouco. — Tom suspirou. Ele estava de dar pena. — Desculpa. Eu estou reclamando de barriga cheia né? White people problems.
— Relaxa. — ele ouviu a risada dela do outro lado. — Não existe um concurso de quem sofre mais. Você está autorizado a sofrer por coisas que as pessoas consideram bobas. E ficar longe da família não é nada bobo.
Eles ficaram alguns segundos em silêncio. Às vezes isso acontecia. No começo Tom achava bem desconfortável, mas agora havia se acostumado. Não eram momentos em que o assunto simplesmente acabava, era apenas porque, em alguns momentos, eles apenas tentavam decidir sobre o que continuar conversando. Era uma pausa ótima.
— E depois da Inglaterra? — foi ela quem voltou o assunto.
— China, Austrália e… Sei lá. Eu volto pra Los Angeles no final de Junho e fico umas duas semanas de “férias” até a premiere de Homem-Aranha e logo depois já começam as gravações de Vingadores 3 e 4. — Tom suspirou. Só de pensar o tanto de trabalho que ainda tinha…
— ENTÃO O HOMEM-ARANHA VAI ESTAR EM VINGADORES 3 E 4! — gritou do outro lado do aparelho, obrigando Tom a afastar o celular alguns centímetros e pensar que havia feito merda.
Poderia até parecer óbvio que isso fosse acontecer e, de fato, a maioria dos fãs acreditavam nisso. Era meio óbvio. Mas ainda não havia tido nenhuma confirmação real de que ele faria parte do restante dos filmes, especialmente no que se tratava de quarto filme. Mas claro que, como de costume, Tom havia aberto demais a boca. Porque ele sempre abria. E depois não sabia porque a Marvel não confiava nele. A-ham.
— , ninguém pode saber disso.
— Eu preciso publicar isso no meu blog! — ela não parecia estar prestando muita atenção em Tom. E ela tinha um blog sobre cinema, livros e tal…
— Sério, …
— Imagina, a primeira a anunciar com certeza que o Homem-Aranha estará nos próximos dois filmes dos Vingadores? É agora que eu consigo ficar famosa!
Tom fechou os olhos. Ele não queria acreditar que era esse tipo de pessoa. Não era possível que ela estivesse se aproximando dele apenas para conseguir informações confidenciais ou se aproveitar de alguma maneira. Eles eram amigos. Conversavam todos os dias, sobre a vida, a rotina, tudo. Há quatro meses, inclusive.
— Tom, você ainda está aí? — a voz dela não parecia mais tão animada. Tom não sabia se respondia. Havia ficado algum tempo em silêncio, mas simplesmente não sabia o que falar. Na verdade sua vontade era de desligar o celular. — Tom, me desculpa. É brincadeira, eu juro que não vou falar pra ninguém. — Brincadeira. Meio sem graça, para ser sincero. E ele ainda não conseguia responder. — Eu… Foi horrível, em um momento horrível. Eu sou idiota. Por favor, me desculpa. Não- Não desliga.
— Não vou desligar. — ele conseguiu ouvir o suspiro aliviado que ela soltou. — ‘Tá tudo bem.
— Não, eu fui idiota. Você já estava meio chateado e eu faço isso. Eu sou burra demais. Desculpa mesmo.
— Desculpo. — e então ele riu porque, provavelmente, aquela era . Ela era sempre engraçada, piadista. Mas às vezes as piadas não davam certo. Era bom saber que, quando isso acontecia, ela estava pronta para se desculpar. — Você não é idiota. Só errou o timing.
Eles riram juntos e tudo estava bem novamente. Ele sabia que poderia continuar confiando em . Ela era sim sua amiga.
Conversaram por mais longos minutos. contou sobre sua semana - horrível, segundo ela mesma, com o bar cheio demais. Ele contou sobre suas viagens, respondendo as milhares de perguntas que ela fazia sobre os lugares que ele tinha passado - ela nunca havia saído do Brasil, aparentemente. No fim, quando finalmente desligaram, Tom já estava morrendo de sono. Dormiria pouco mais que uma hora, mas estava tudo bem. Ao menos agora a única coisa o atormentando era saber que estava tão longe, e o constante desejo que ela estivesse perto.
Tom então virou-se para a direita. Havia uma enorme porta de vidro coberta por uma cortina chocolate, que ia do teto ao chão. Ela não deixava que Tom visse a Torre Eiffel através do vidro. Ele sabia que, se a abrisse, veria as luzes que tornavam Paris tão bela. E mesmo que ele soubesse que o apelido “Cidade Luz” não se devia a sua belíssima iluminação, grande parte do tempo ele fingia que sim.
Ele virou-se para a esquerda, vendo seu celular conectado ao carregador, ao lado de seu travesseiro. Pegou-o e entrou no Instagram, vendo mais do mesmo e enjoando rápido. Eram sempre as mesmas pessoas postando os mesmos tipos de coisa. Ele curtiu praticamente tudo e largou o aparelho novamente.
Ele precisava dormir. Seu relógio marcava duas e dezesseis no horário de Paris. Às cinco ele teria que estar de pé para poder ir ao aeroporto e pegar um avião para algum outro país da Europa – ele nem sabia mais qual. Mesmo assim, mesmo deitado há tantas horas, Tom simplesmente não conseguia dormir. Não importava o quanto seu corpo pudesse estar cansado, sua mente ainda trabalhava em plena velocidade.
E tudo o que ele pensava era o quanto estava cansado. Sua vida havia mudado tanto em tão pouco tempo, e ele sempre teve certeza que conseguiria lidar com todas as mudanças com maestria. Bastou três meses longe de casa, em Los Angeles, e ele percebeu que não, ele não iria lidar bem sozinho. Como ele sentia saudade de casa. Sua família maravilhosa, que sempre o apoiava. Seus pais, seus irmãos, seus amigos. A Inglaterra era e sempre seria sua casa, onde todas as pessoas que ele mais amava estavam, onde ele sempre poderia se sentir seguro.
Por isso ele havia contratado Harrison como seu assistente pessoal. Quando percebeu que a saudade de casa estava começando a se tornar muito mais do que um simples incômodo, Tom soube que precisaria de algo que o mantivesse ligado a sua antiga vida. E quem melhor do que o melhor amigo da infância?
Mesmo com Haz ao seu lado, às vezes as coisas ainda pareciam difíceis. Diversas vezes ele se pegava fantasiando uma vida normal na Inglaterra.
Não que ele não gostasse de sua vida, longe disso. Ele amava ser ator, e especialmente ele amava ser parte do Universo Cinematográfico da Marvel. O Homem-Aranha era seu herói da infância e poder vive-lo era certamente um privilégio. Tom nunca deixaria de reconhecer esse fato.
Mas ele era um rapaz de vinte anos, que teve sua vida completamente modificada em na fase da vida que o mundo sabia ser uma das mais difíceis. Sair da adolescência e entrar na vida adulta. Todas as mudanças haviam acontecido tão rápido que não era nada estranho que pensar em tudo aquilo tirasse o sono de Tom.
Suspirando ele finalmente se sentou na cama, deixando que o lençol escorregasse, revelando seu torso nu. Os pelos de seu braço ameaçaram arrepiar com a leve brisa do ar condicionado. Ele estendeu o braço, soltando o fio do celular. Acendeu a luz amarelada do abajur e tirou algumas selfies, postando no Instagram, reclamando sobre a falta de sono, e começando a receber curtidas e comentários muito rapidamente. Mas, claro, o que lhe chamou a atenção foi a mensagem de no meio das demais.
“Se quiser jogar conversa fora até chegar o sono ‘tamo aí”.
Tom minimizou o Instagram, abrindo em seu lugar o Whatsapp. Ele e haviam ficado pouco mais de um mês conversando apenas pelo Skype – que, sejamos sinceros, já não era um bom meio há algum tempo – até que a garota criasse a coragem de sugerir que eles mudassem a plataforma. O que, claro, havia sido uma das melhores ideias que ela havia tido. Eles haviam começado a conversar com muito mais frequência, além de agora trocarem áudios, vídeos e até mesmo ligar um para o outro de vez em quando.
Apesar de ter certeza que “jogar conversa fora” com iria deixá-lo mais tranquilo e fazê-lo esquecer - mesmo que fosse apenas temporariamente - todos os seus “problemas de primeiro mundo”, ele não sabia como eles poderiam conversar. Mensagem? Áudios? Chamada de voz? Chamada de voz. Ele poderia ficar deitado na cama, olhando para o teto enquanto ouvia a voz de . Parecia bom.
Esperou apenas um minuto para que ela aceitasse a ideia e o atendesse após apenas um toque, a voz animada do outro lado. Ela parecia sempre ter dois níveis de energia: muito animada ou muito cansada. Ele meio entendia; o trabalho dele também podia ser bastante cansativo.
— Vamos lá, Menino Thomas. Abra seu coração. — Tom não evitou a risadinha que saiu por sua garganta. havia contado para ele uma vez sobre um amigo que passara um período em Portugual e havia voltado com a mania de sempre coloca “menino/menina” na frente do nome das pessoas.
— Não é nada demais. — ele entortou a boca, se mexendo na cama e segurando o celular firmemente contra o rosto. — É só… Saudade de casa.
— Ah. Entendo. Muito tempo longe da família, né? — ela esperou que ele fizesse um “uhum” antes de continuar. — Mas você não está na Europa agora? E não vai passar pela Inglaterra?
— Vou. Eles vão me deixar ficar um dia só com a minha família, sem tour nem nada. Mas… Ainda parece tão pouco. — Tom suspirou. Ele estava de dar pena. — Desculpa. Eu estou reclamando de barriga cheia né? White people problems.
— Relaxa. — ele ouviu a risada dela do outro lado. — Não existe um concurso de quem sofre mais. Você está autorizado a sofrer por coisas que as pessoas consideram bobas. E ficar longe da família não é nada bobo.
Eles ficaram alguns segundos em silêncio. Às vezes isso acontecia. No começo Tom achava bem desconfortável, mas agora havia se acostumado. Não eram momentos em que o assunto simplesmente acabava, era apenas porque, em alguns momentos, eles apenas tentavam decidir sobre o que continuar conversando. Era uma pausa ótima.
— E depois da Inglaterra? — foi ela quem voltou o assunto.
— China, Austrália e… Sei lá. Eu volto pra Los Angeles no final de Junho e fico umas duas semanas de “férias” até a premiere de Homem-Aranha e logo depois já começam as gravações de Vingadores 3 e 4. — Tom suspirou. Só de pensar o tanto de trabalho que ainda tinha…
— ENTÃO O HOMEM-ARANHA VAI ESTAR EM VINGADORES 3 E 4! — gritou do outro lado do aparelho, obrigando Tom a afastar o celular alguns centímetros e pensar que havia feito merda.
Poderia até parecer óbvio que isso fosse acontecer e, de fato, a maioria dos fãs acreditavam nisso. Era meio óbvio. Mas ainda não havia tido nenhuma confirmação real de que ele faria parte do restante dos filmes, especialmente no que se tratava de quarto filme. Mas claro que, como de costume, Tom havia aberto demais a boca. Porque ele sempre abria. E depois não sabia porque a Marvel não confiava nele. A-ham.
— , ninguém pode saber disso.
— Eu preciso publicar isso no meu blog! — ela não parecia estar prestando muita atenção em Tom. E ela tinha um blog sobre cinema, livros e tal…
— Sério, …
— Imagina, a primeira a anunciar com certeza que o Homem-Aranha estará nos próximos dois filmes dos Vingadores? É agora que eu consigo ficar famosa!
Tom fechou os olhos. Ele não queria acreditar que era esse tipo de pessoa. Não era possível que ela estivesse se aproximando dele apenas para conseguir informações confidenciais ou se aproveitar de alguma maneira. Eles eram amigos. Conversavam todos os dias, sobre a vida, a rotina, tudo. Há quatro meses, inclusive.
— Tom, você ainda está aí? — a voz dela não parecia mais tão animada. Tom não sabia se respondia. Havia ficado algum tempo em silêncio, mas simplesmente não sabia o que falar. Na verdade sua vontade era de desligar o celular. — Tom, me desculpa. É brincadeira, eu juro que não vou falar pra ninguém. — Brincadeira. Meio sem graça, para ser sincero. E ele ainda não conseguia responder. — Eu… Foi horrível, em um momento horrível. Eu sou idiota. Por favor, me desculpa. Não- Não desliga.
— Não vou desligar. — ele conseguiu ouvir o suspiro aliviado que ela soltou. — ‘Tá tudo bem.
— Não, eu fui idiota. Você já estava meio chateado e eu faço isso. Eu sou burra demais. Desculpa mesmo.
— Desculpo. — e então ele riu porque, provavelmente, aquela era . Ela era sempre engraçada, piadista. Mas às vezes as piadas não davam certo. Era bom saber que, quando isso acontecia, ela estava pronta para se desculpar. — Você não é idiota. Só errou o timing.
Eles riram juntos e tudo estava bem novamente. Ele sabia que poderia continuar confiando em . Ela era sim sua amiga.
Conversaram por mais longos minutos. contou sobre sua semana - horrível, segundo ela mesma, com o bar cheio demais. Ele contou sobre suas viagens, respondendo as milhares de perguntas que ela fazia sobre os lugares que ele tinha passado - ela nunca havia saído do Brasil, aparentemente. No fim, quando finalmente desligaram, Tom já estava morrendo de sono. Dormiria pouco mais que uma hora, mas estava tudo bem. Ao menos agora a única coisa o atormentando era saber que estava tão longe, e o constante desejo que ela estivesse perto.
10.
Era o último domingo de Maio. Era também o domingo de folga de , o que era a melhor parte daquele dia. No geral em suas folgas ela costumava dormir bastante, fazer alguns serviços de casa, escrever os posts da parte de filmes do blog. Mas, sempre que ela tinha folga nos domingos, ela e as outras duas donas do blog, Eduarda e Gisele, se reuniam para decidir tudo o que fariam no próximo mês.
A reunião geralmente acontecia na casa de Eduarda, a única que morava sozinha. Gisele dividia o apartamento com a namorada, que sempre dizia que não tinha o menor problema que elas se reunissem na casa de Gisele, mas todas se sentiam mais confortáveis na casa de Eduarda. Mesmo que ela tivesse três gatos que odiavam visitas.
— Eu fiz guacamole! — Eduarda apareceu com um enorme pote cheio de uma pasta verde. Ela sempre fazia guacamole e era maravilhoso. Impossível enjoar.
— Trouxe os Doritos. — Gisele abriu a mochila e tirou dois pacotes gigantes do salgadinho, os abrindo e colocando na mesa junto a guacamole.
— Queria dizer que já trouxe a cerveja geladinha. De nada. — abriu uma enorme bolsa térmica, tirando algumas latinhas e colocando sobre a mesa.
O trabalho de era sempre levar o álcool. Juliano era o responsável pela compra de bebidas e sempre pedia algumas caixas de cerveja e garrafas de destilados a mais, que ele e dividiam – claro que eles pagavam. Mas pagavam mais barato do que comprar nos mercadinhos da vida.
Em todas as reuniões elas dividiam daquela mesma maneira. Gisele e Eduarda ficavam responsáveis pela comida, pelas bebidas. E, uma vez que tudo estava na mesa, elas sabiam que tinham que discutir os pontos mais importantes sobre o blog o mais rápido o possível, porque em poucas horas elas estariam bêbadas. Nenhuma das três era realmente forte para álcool e sempre exagerava na quantidade. Ninguém nunca reclamou e ela continuaria o fazendo.
— Eu posso dar seguimento ao projeto “Livros de Mercado”? — Gisele, responsável pela parte de livros do blog, perguntou com a boca meio cheia.
— Claro! Está tendo uma quantidade boa de acessos. E eu amo esse projeto.
realmente amava o projeto de Gisele havia inventando ao comprar um livro por quinze reais em um mercadinho de seu bairro e amado. Desde então a garota sempre ia a algum mercado comprar um livro barato e de autor desconhecido para em seguida fazer uma resenha no blog. O que elas mais gostavam neste projeto em particular era a maneira como sentiam que podiam incentivar as pessoas a consumirem além dos best sellers.
— Ótimo. Minha vez. — Eduarda deu um longo gole na cerveja, demorando alguns segundos para voltar a falar. — Eu encontrei uma dessas listas do Buzzfeed de “dez melhores séries de fora dos Estados Unidos para você maratonar em 2017”. Pensei em maratonar essas séries e resenhar. Acho que essa coisa de sair um pouco de Hollywood e as produções Americanas está se tornando uma tendência. Acredito que seria incrível que o Loli Ruri já aparecesse de olho nessa tendência.
Gisele e balançaram a cabeça, concordando. Eduarda sempre havia sido a mais “Cult” entre as três, a garota que sempre estava tentando se inteirar também de coisas fora da cultura pop. Era incrível a bagagem que ela possuía.
— E você, ? O que pensou para a parte de filmes?
terminou de beber sua cerveja, já abrindo a segunda lata. Ela não havia pensado em nada demais, para ser sincera. O Oscar já havia acontecido há meses, e estava cedo demais para sequer cogitar os indicados para 2018. Ela já havia feito o mês Disney. O mês musicais. Terror. Quase tudo.
— Pensei em fazer agora um ou dois meses para remakes e reboots. — balançou os ombros, falando a única ideia que havia tido. — Tipo, comparar o original e os novos, sabe? Tem acontecido bastante isso com filmes dos mais diversos gêneros, achei que pudesse ser legal.
— Adorei a ideia, ! — Eduarda abriu um enorme sorriso, quase fazendo com que suspirasse de alívio. Se as garotas não gostassem ela não tinha absolutamente nenhum plano B.
— Por acaso essa ideia veio de um tal filme que estreia em Julho? — Gisele levantou uma sobrancelha para , levando a latinha à boca mas não o bastante para cobrir o sorriso maroto que dava.
— Verdade! — Eduarda soltou o mesmo sorriso de Gisele. não conseguiu evitar revirar os olhos. — Seria a influência de um certo Tom Holland?
— Não comecem. — olhou feio para as amigas, que continuaram rindo. Na maior parte do tempo elas não pareciam ter 24 anos. — A gente nem fala muito sobre o filme. Ou a Marvel como um todo. — Só às vezes, ela acrescentou mentalmente. Mas as meninas não precisavam e nem podiam saber sobre isso.
— Eu vou falar a verdade: ainda não aceito muito bem isso de você sendo toda amiguinha do Tom Holland. — Eduarda fez uma careta ao tentar abrir uma nova latinha de cerveja, acabando estendendo-a para que Gisele abrisse.
— Por que isso?
— Sei lá! — a garota riu enquanto bebia a latinha recém aberta. — É só… Não é o tipo de coisa que acontece na vida real, sabe? Não é que eu não fique feliz por você, é só… Irreal.
— Honestamente? Pra mim também. — suspirou, reparando que já estava terminando a latinha que havia começado a beber há poucos minutos. — Não que eu não ame cada parte disso. Mas às vezes eu tenho a sensação de que tudo isso é só um sonho e a qualquer momento eu vou acordar limpando o banheiro cheio de vômito do Akústic.
— Bom, você é apaixonada pelo Tom Holland desde No Coração do Mar, então aproveita bastante esse sonho. — Gisele piscou para ela.
— Apaixonada é uma palavra forte. — sussurrou meio consternada, bebendo mais um gole de sua cerveja.
Ela não estava apaixonada por Tom. Quer dizer, ela era apaixonada por seu trabalho, isso era certo. E ele havia sido um excelente Homem-Aranha em Guerra Civil, e com certeza seria maravilhoso em Homecoming. E, claro, ele era engraçado e fofo e ela adorava gastar vários minutos do seu dia conversando com ele. Mas apaixonada era mesmo uma palavra muito forte.
— Mas tanto faz. Vamos continuar com o brainstorm porque o Loli Ruri não vai se escrever sozinho. — abriu a terceira latinha, vendo as amigas fazerem o mesmo.
Por mais algumas horas elas falaram sobre projetos futuros para o blog, e beberam absolutamente todas as cervejas que havia levado. Logo as três estavam rindo muito mais do que o momento pedia, de coisas que com certeza não tinham tanta graça assim. Mas o que a cabeça de um bêbado não faz. Elas riram até mesmo dos gatos de Eduarda que toda hora tentavam roubar a guacamole em cima das mesa.
E então uma chamada no celular de fez com que tudo ficasse um pouco estranho. O rosto de Tom apareceu sorrindo sobre o fundo verde do Whatsapp. Gisele foi a primeira a notar, logo chamando a atenção de e Eduarda para o aparelho. sentiu o rosto ficar quente, sem saber muito bem como lidar com as amigas que agora praticamente gritavam enquanto faziam piadas ao melhor nível Ensino Fundamental.
— Calem a boca! — tentava se sobrepor a voz das duas mas estava realmente difícil.
— Atende logo! — Eduarda pegou o celular da amiga e estendeu para ela. — Se você não atender, eu atendo. E vai ser pior ainda.
respirou fundo, pegando o aparelho da mão de Eduarda. O rosto de Tom ainda piscava na foto de perfil, um sorriso fofo. queria atender o amigo, mas não na frente das outras duas. Elas iriam transformar sua vida no maior dos infernos. Mas não tinha muita opção. Clicou no botão e finalmente aceitou a ligação do rapaz.
— Oi, Tom. — ela falou meio baixo.
— Ooooi, Toooom. — as amigas repetiram exatamente ao mesmo tempo, afinando um pouco a voz e a deixando meio manhosa.
— ? Liguei em uma má hora? — a voz do rapaz soou preocupada do outro lado da linha, fazendo não ter certeza se queria se matar ou matar as amigas.
— Não, isso são minhas amigas de doze anos.
— Que absurdo, ! — Gisele gritou, a voz meio mole. — Nós temos vinte e quatro anos também!
— É, somos mais velhas que seu namorado aí! — Eduarda também gritou, fazendo Gisele começar a ter uma crise de risos.
Era oficial. queria morrer.
— Namorado? — uma risada do outro lado da linha fez com que o rosto de esquentasse. Deus abençoe a pele morena e o fato de ela não ficar vermelha.
— Viu o que eu falei? Doze anos. Espera um minuto, Tom.
se levantou, saindo da cozinha e indo em direção ao banheiro, onde ela se trancaria pelo tempo necessário para conversar com o garoto. Ouviu os gritos de Gisele e Eduarda conforme de distanciava, mas ela não conseguia diferenciar as palavras das risadas das garotas. Tá, amizade era exatamente isso, mas que vontade de matá-las. Após entrar no banheiro, ela o trancou, ficando finalmente em paz.
— Desculpa por isso. Agora podemos conversar.
— Eu posso ligar outra hora. — ela juraria que o Tom estava balançando os ombros. Não sabia o motivo, apenas achava que era algo que ele faria. — Não quero atrapalhar seu momento com as suas amigas.
— Não está atrapalhando, acredite. Até porque eu sempre ligo quando você está com o Haz e o Jacob, e você nunca deixa de me atender por isso. — os dois riram porque era verdade.
E também, sempre que ela ligava e Tom estava com os amigos, ele fazia questão de colocá-la no viva voz, para que ela pudesse conversar também com eles. Ela até teria feito isso também, mas Eduarda e Gisele haviam bebido demais, com certeza só fariam todos sentirem muita vergonha. E ela estava cansada disso, obrigada.
— Mas então, a que devo a honra dessa ligação?
— Nada demais. — de novo ela juraria que Tom balançou os ombros. — Só queria… Sei lá.
— Ouvir minha doce voz? — se arrependeu enquanto as palavras deixavam seus lábios. Sério mesmo? O que ela tinha na cabeça.
— É, provavelmente isso. — a resposta de Tom quase deixou-a sem fala, mas logo ela estava falando sobre qualquer coisa apenas porque, naquele momento, o silêncio confortável deles seria completamente desconfortável.
Os dois conversaram por menos tempo do que o normal, já que Tom insistia que não queria ser o cara chato que fica roubando a garota das amigas. por muito não fez uma piada sobre namorado. Ao desligar o telefone, ela suspirou alto. Apaixonada era uma palavra muito forte.
A reunião geralmente acontecia na casa de Eduarda, a única que morava sozinha. Gisele dividia o apartamento com a namorada, que sempre dizia que não tinha o menor problema que elas se reunissem na casa de Gisele, mas todas se sentiam mais confortáveis na casa de Eduarda. Mesmo que ela tivesse três gatos que odiavam visitas.
— Eu fiz guacamole! — Eduarda apareceu com um enorme pote cheio de uma pasta verde. Ela sempre fazia guacamole e era maravilhoso. Impossível enjoar.
— Trouxe os Doritos. — Gisele abriu a mochila e tirou dois pacotes gigantes do salgadinho, os abrindo e colocando na mesa junto a guacamole.
— Queria dizer que já trouxe a cerveja geladinha. De nada. — abriu uma enorme bolsa térmica, tirando algumas latinhas e colocando sobre a mesa.
O trabalho de era sempre levar o álcool. Juliano era o responsável pela compra de bebidas e sempre pedia algumas caixas de cerveja e garrafas de destilados a mais, que ele e dividiam – claro que eles pagavam. Mas pagavam mais barato do que comprar nos mercadinhos da vida.
Em todas as reuniões elas dividiam daquela mesma maneira. Gisele e Eduarda ficavam responsáveis pela comida, pelas bebidas. E, uma vez que tudo estava na mesa, elas sabiam que tinham que discutir os pontos mais importantes sobre o blog o mais rápido o possível, porque em poucas horas elas estariam bêbadas. Nenhuma das três era realmente forte para álcool e sempre exagerava na quantidade. Ninguém nunca reclamou e ela continuaria o fazendo.
— Eu posso dar seguimento ao projeto “Livros de Mercado”? — Gisele, responsável pela parte de livros do blog, perguntou com a boca meio cheia.
— Claro! Está tendo uma quantidade boa de acessos. E eu amo esse projeto.
realmente amava o projeto de Gisele havia inventando ao comprar um livro por quinze reais em um mercadinho de seu bairro e amado. Desde então a garota sempre ia a algum mercado comprar um livro barato e de autor desconhecido para em seguida fazer uma resenha no blog. O que elas mais gostavam neste projeto em particular era a maneira como sentiam que podiam incentivar as pessoas a consumirem além dos best sellers.
— Ótimo. Minha vez. — Eduarda deu um longo gole na cerveja, demorando alguns segundos para voltar a falar. — Eu encontrei uma dessas listas do Buzzfeed de “dez melhores séries de fora dos Estados Unidos para você maratonar em 2017”. Pensei em maratonar essas séries e resenhar. Acho que essa coisa de sair um pouco de Hollywood e as produções Americanas está se tornando uma tendência. Acredito que seria incrível que o Loli Ruri já aparecesse de olho nessa tendência.
Gisele e balançaram a cabeça, concordando. Eduarda sempre havia sido a mais “Cult” entre as três, a garota que sempre estava tentando se inteirar também de coisas fora da cultura pop. Era incrível a bagagem que ela possuía.
— E você, ? O que pensou para a parte de filmes?
terminou de beber sua cerveja, já abrindo a segunda lata. Ela não havia pensado em nada demais, para ser sincera. O Oscar já havia acontecido há meses, e estava cedo demais para sequer cogitar os indicados para 2018. Ela já havia feito o mês Disney. O mês musicais. Terror. Quase tudo.
— Pensei em fazer agora um ou dois meses para remakes e reboots. — balançou os ombros, falando a única ideia que havia tido. — Tipo, comparar o original e os novos, sabe? Tem acontecido bastante isso com filmes dos mais diversos gêneros, achei que pudesse ser legal.
— Adorei a ideia, ! — Eduarda abriu um enorme sorriso, quase fazendo com que suspirasse de alívio. Se as garotas não gostassem ela não tinha absolutamente nenhum plano B.
— Por acaso essa ideia veio de um tal filme que estreia em Julho? — Gisele levantou uma sobrancelha para , levando a latinha à boca mas não o bastante para cobrir o sorriso maroto que dava.
— Verdade! — Eduarda soltou o mesmo sorriso de Gisele. não conseguiu evitar revirar os olhos. — Seria a influência de um certo Tom Holland?
— Não comecem. — olhou feio para as amigas, que continuaram rindo. Na maior parte do tempo elas não pareciam ter 24 anos. — A gente nem fala muito sobre o filme. Ou a Marvel como um todo. — Só às vezes, ela acrescentou mentalmente. Mas as meninas não precisavam e nem podiam saber sobre isso.
— Eu vou falar a verdade: ainda não aceito muito bem isso de você sendo toda amiguinha do Tom Holland. — Eduarda fez uma careta ao tentar abrir uma nova latinha de cerveja, acabando estendendo-a para que Gisele abrisse.
— Por que isso?
— Sei lá! — a garota riu enquanto bebia a latinha recém aberta. — É só… Não é o tipo de coisa que acontece na vida real, sabe? Não é que eu não fique feliz por você, é só… Irreal.
— Honestamente? Pra mim também. — suspirou, reparando que já estava terminando a latinha que havia começado a beber há poucos minutos. — Não que eu não ame cada parte disso. Mas às vezes eu tenho a sensação de que tudo isso é só um sonho e a qualquer momento eu vou acordar limpando o banheiro cheio de vômito do Akústic.
— Bom, você é apaixonada pelo Tom Holland desde No Coração do Mar, então aproveita bastante esse sonho. — Gisele piscou para ela.
— Apaixonada é uma palavra forte. — sussurrou meio consternada, bebendo mais um gole de sua cerveja.
Ela não estava apaixonada por Tom. Quer dizer, ela era apaixonada por seu trabalho, isso era certo. E ele havia sido um excelente Homem-Aranha em Guerra Civil, e com certeza seria maravilhoso em Homecoming. E, claro, ele era engraçado e fofo e ela adorava gastar vários minutos do seu dia conversando com ele. Mas apaixonada era mesmo uma palavra muito forte.
— Mas tanto faz. Vamos continuar com o brainstorm porque o Loli Ruri não vai se escrever sozinho. — abriu a terceira latinha, vendo as amigas fazerem o mesmo.
Por mais algumas horas elas falaram sobre projetos futuros para o blog, e beberam absolutamente todas as cervejas que havia levado. Logo as três estavam rindo muito mais do que o momento pedia, de coisas que com certeza não tinham tanta graça assim. Mas o que a cabeça de um bêbado não faz. Elas riram até mesmo dos gatos de Eduarda que toda hora tentavam roubar a guacamole em cima das mesa.
E então uma chamada no celular de fez com que tudo ficasse um pouco estranho. O rosto de Tom apareceu sorrindo sobre o fundo verde do Whatsapp. Gisele foi a primeira a notar, logo chamando a atenção de e Eduarda para o aparelho. sentiu o rosto ficar quente, sem saber muito bem como lidar com as amigas que agora praticamente gritavam enquanto faziam piadas ao melhor nível Ensino Fundamental.
— Calem a boca! — tentava se sobrepor a voz das duas mas estava realmente difícil.
— Atende logo! — Eduarda pegou o celular da amiga e estendeu para ela. — Se você não atender, eu atendo. E vai ser pior ainda.
respirou fundo, pegando o aparelho da mão de Eduarda. O rosto de Tom ainda piscava na foto de perfil, um sorriso fofo. queria atender o amigo, mas não na frente das outras duas. Elas iriam transformar sua vida no maior dos infernos. Mas não tinha muita opção. Clicou no botão e finalmente aceitou a ligação do rapaz.
— Oi, Tom. — ela falou meio baixo.
— Ooooi, Toooom. — as amigas repetiram exatamente ao mesmo tempo, afinando um pouco a voz e a deixando meio manhosa.
— ? Liguei em uma má hora? — a voz do rapaz soou preocupada do outro lado da linha, fazendo não ter certeza se queria se matar ou matar as amigas.
— Não, isso são minhas amigas de doze anos.
— Que absurdo, ! — Gisele gritou, a voz meio mole. — Nós temos vinte e quatro anos também!
— É, somos mais velhas que seu namorado aí! — Eduarda também gritou, fazendo Gisele começar a ter uma crise de risos.
Era oficial. queria morrer.
— Namorado? — uma risada do outro lado da linha fez com que o rosto de esquentasse. Deus abençoe a pele morena e o fato de ela não ficar vermelha.
— Viu o que eu falei? Doze anos. Espera um minuto, Tom.
se levantou, saindo da cozinha e indo em direção ao banheiro, onde ela se trancaria pelo tempo necessário para conversar com o garoto. Ouviu os gritos de Gisele e Eduarda conforme de distanciava, mas ela não conseguia diferenciar as palavras das risadas das garotas. Tá, amizade era exatamente isso, mas que vontade de matá-las. Após entrar no banheiro, ela o trancou, ficando finalmente em paz.
— Desculpa por isso. Agora podemos conversar.
— Eu posso ligar outra hora. — ela juraria que o Tom estava balançando os ombros. Não sabia o motivo, apenas achava que era algo que ele faria. — Não quero atrapalhar seu momento com as suas amigas.
— Não está atrapalhando, acredite. Até porque eu sempre ligo quando você está com o Haz e o Jacob, e você nunca deixa de me atender por isso. — os dois riram porque era verdade.
E também, sempre que ela ligava e Tom estava com os amigos, ele fazia questão de colocá-la no viva voz, para que ela pudesse conversar também com eles. Ela até teria feito isso também, mas Eduarda e Gisele haviam bebido demais, com certeza só fariam todos sentirem muita vergonha. E ela estava cansada disso, obrigada.
— Mas então, a que devo a honra dessa ligação?
— Nada demais. — de novo ela juraria que Tom balançou os ombros. — Só queria… Sei lá.
— Ouvir minha doce voz? — se arrependeu enquanto as palavras deixavam seus lábios. Sério mesmo? O que ela tinha na cabeça.
— É, provavelmente isso. — a resposta de Tom quase deixou-a sem fala, mas logo ela estava falando sobre qualquer coisa apenas porque, naquele momento, o silêncio confortável deles seria completamente desconfortável.
Os dois conversaram por menos tempo do que o normal, já que Tom insistia que não queria ser o cara chato que fica roubando a garota das amigas. por muito não fez uma piada sobre namorado. Ao desligar o telefone, ela suspirou alto. Apaixonada era uma palavra muito forte.
11.
— PARABÉNS!!! — um peso enorme caiu sobre o corpo de Tom, o fazendo soltar todo o ar de seu pulmão de uma única vez. — Parabéns! Parabéns! Pa-ra-béns!
— Eu já entendi. — Tom falou com alguma dificuldade enquanto tentava empurrar Harrison para longe. — É meu aniversário, uau.
— Vinte e um anos, Holland! — uma segunda voz, um pouco mais afastada, falou animada. Jacob. Como aqueles dois haviam entrado em seu quarto mesmo? — Agora você já pode beber legalmente nos Estados Unidos!
— Eu já podia beber legalmente no mundo inteiro, praticamente. Os Estados Unidos que têm mania de querer ser diferente. — Tom finalmente abriu os olhos e se sentou na casa, erguendo os braços sobre a cabeça para se espreguiçar, bocejando alto e vendo Haz tentando resistir a repetir o gesto. Bocejos eram realmente contagiantes.
— Disse o cara do país em que os volantes dos carros ficam na direita. — Jacob revirou os olhos enquanto caminhava até a cama e se sentava próximo a Harrison.
— Milhas. Onças. Pés. Fahrenheit. Preciso continuar? — Haz sorriu para o amigo, que apenas cruzou os braços. Ele e Tom deram um high-five, rindo do americano.
— E então? Como você quer comemorar?
Tom torceu a boca. Dormindo era a resposta certa. Ele não aguentava mais a tour, mas ainda havia duas semanas pela frente. Tudo o que ele mais queria era deitar sem a obrigação de acordar cedo para participar de mais um programa de televisão/rádio/internet que fosse. Ao mesmo tempo ele não queria ser o chato, afinal, ele só estava fazendo vinte e um anos. Tinha que sair para se divertir com os amigos.
— Podemos… Sair? — ele viu Haz sorrir. Ele ainda estava com muito sono, os pensamentos ainda um pouco confusos. — Sei lá, não sei muito o que fazer em Sydney.
— Um bar? Balada? — Jacob sugeriu. Eram as maiores opções de lazer em um país desconhecido. Quer dizer, todos os países do mundo possuíam bar e balada. Né? — Acho que é o que resta.
— E se a gente deixar pra comemorar quando voltar pra Los Angeles? — Tom sugeriu. Honestamente era o que parecia mais lógico, apesar de as expressões assustadas de seus amigos mostrarem o contrário. — Ou não?
— Nós não precisamos ficar loucos. Mas vamos sair pra pelo menos passear por Sydney. — Haz cutucou o braço do amigo, tentando convencê-lo de que aquela seria uma excelente ideia. E mesmo que discordasse um pouco, ele acabou aceitando. Por um lado era verdade. Eles estavam em outro país, entre amigos, e era seu aniversário. Ficar trancado dentro do quarto de hotel parecia pecado.
Durante o dia, Tom e Jacob fizeram a gravação de mais três programas de rádio. Como era seu aniversário, ele teria a noite livre, assim como o dia seguinte. Talvez a produção achasse que ele os amigos iriam sair para beber e dançar durante a madrugada inteira? Era a explicação que ele via para que ficasse aleatoriamente com um dia sem compromissos na agenda. Achava realmente legal que a produção se preocupasse com isso. Pena que ele não faria nada de muito louco.
A noite ele sorriu para si mesmo, o reflexo no espelho também lhe sorrindo. A roupa simples havia sido dada por Harrison há algum tempo, mas ele ainda não a havia usado. Passou a mão pelo cabelo, sentindo-se triste por não conseguir deixá-lo perfeitamente arrumado como as cabeleireiras que sempre o atendiam antes de qualquer aparição em programas, mas ao menos havia conseguido não deixá-lo uma completa bagunça. Era um ponto importante.
Por mais que, ao acordar, ele estivesse completamente desanimado para o rolê que ele, Jacob e Harrison dariam pelas ruas de Sydney, agora ele estava feliz por ter sido levemente obrigado pelos dois. Era bom saber que tomaria um ar e poderia espairecer um pouco. E estar com Haz e J. era sempre uma diversão, então a noite estava garantida.
— Olha só quem está bonitão! — a porta do quarto abriu, Harrison entrando novamente com um sorriso no rosto, tão bem arrumado quanto esperado. Tom admitia que o melhor amigo era realmente muito bonito.
— Sempre. O J. está pronto?
— Sei lá. A gente bate lá. Tá mais animado?
— Levemente. — Tom riu. Na verdade ele estava bastante animado, mas não ia admitir para Haz.
— Eu sei que você está bastante animado. — recebeu um soco leve do amigo, rindo. — Vai, pega as coisas e vamos logo.
Tom pegou a carteira e o celular, checando o aparelho pela última vez, vendo uma notificação no Whatsapp. Duas chamadas perdida de . Franziu as sobrancelhas, mostrando a notificação para Haz.
— Liga pra ela! — Haz meio empurrou o celular novamente na direção de Tom, indicando para que ele ligasse.
Como Haz estava ao seu lado, Tom iniciou chamada de vídeo. Geralmente eles faziam chamada de voz, mas ele sabia que o amigo ficaria enchendo o saco para também conversar com a garota, então era melhor já facilitar as coisas.
atendeu na segunda tentativa. Ela estava com os cabelos mais cheios que o normal, os cachos bagunçados em um formato esquisito. Parecia realmente cansada mas ostentava um gigantesco sorriso.
— Tom! — ela disse assim que o sorriso dele apareceu do outro do lado da tela. — Parabéns pra nós! Oi, Haz!
— É seu aniversário também? — a boca de Tom se abriu, chocado. Ele não fazia ideia de que ele e a garota dividiam a data de aniversário.
— Sim! Vinte e cinco anos decepcionando todas as pessoas que eu conheço. — ela fez uma cara fofa, como se aquilo fosse um motivo para se orgulhar, fazendo os dois amigos rir.
— Parabéns, ! — Haz respondeu antes que Tom pudesse se recuperar de suas risadas. — Vinte e cinco anos enchendo o mundo de beleza. — ele piscou para a garota, fazendo-a desviar os olhos, sem graça.
— Você me deixa sem graça, Haz.
— Mas é verdade. — Tom sabia que agora seu sorriso era sem graça, mas isso não o impediu de sorrir. — Vai comemorar como?
— Não sei. A noite vou sair com o Juliano e as meninas, mas não sei pra onde vão me levar. Espero que não seja pra um bar karaokê. — ela fez uma careta incomodada. Tom não poderia culpá-la. Trabalhar em um bar com certeza fazia a magia acabar. — E vocês? Ainda estão na Austrália?
— Sim. O Haz e o J. organizaram um passeio por Sidney. — Tom suspirou. — Nem comprei um presente pra você.
— Não tem problema, eu também não comprei pra você. — ela riu, fazendo um gesto com a mão como se fizesse pouco caso.
— Quando voltarmos pros Estados Unidos, vamos te dar um passagem só de ida pra Los Angeles. — Haz tentou pegar o celular da mão de Tom, mas ele desviou, rindo. O amigo fez uma careta mas logo também riu.
— Ah tá. — riu completamente descrente.
Mas Tom não achava a ideia tão absurda assim. Claro, a parte se ser uma passagem só de ida era um pouco exagerada, mas o restante na verdade parecia uma excelente ideia. Ele realmente gostava de , e sabia que ela não tinha ótimas condições financeiras. Mas ele tinha. Poderia fazer algo legal por ela. E por ele, para ser sincero.
— É sério. — a expressão dele permaneceu séria, fazendo com que ela parasse de rir e tentasse entender a brincadeira. — Não só de ida, mas pelo menos por uma semana? Duas?
— Tom, você está se ouvindo?
— Perfeitamente. — ela parecia tão chocada que ele não conseguia evitar voltar a rir. — Por quê? Você não quer visitar L.A.?
— Claro que quero! Mas… Não gastando o seu dinheiro. Isso é demais.
— , só tira o visto e se prepara. Quando você sai de férias? Semana que vem? — Haz fingiu ficar sério, mas Tom sabia que o amigo gargalhava por dentro.
— Ano que vem. — a expressão desanimada dela pareceu causar um leve desânimo em Haz, mas Tom continuou sorrindo.
— Não tem problema. Vai ser no começo do ano? — ele esperou que ela confirmasse para poder continuar. — Ótimo. Te dá mais tempo para arrumar tudo.
— Vocês são loucos. — ela balançou a cabeça como se ainda não acreditasse. Tom torcia para que ela começasse a acreditar logo porque, honestamente, ele estava falando muito sério.
— Por você. — Haz piscou e os três começaram a rir.
A porta do quarto abriu novamente, Jacob finalmente entrando, arrumado e pronto para sair.
— Ei, vocês estão conversando com a e nem me chamaram?
— Oi, J.! — ela falou mesmo que ele ainda não houvesse entrado no alcance da câmera. — Relaxa, eu acabei de chegar do trabalho e liguei pra dar parabéns pro Tom, você não perdeu muito.
— Jacob, hoje também é aniversário da !
O rapaz que havia acabado de chegar começou a dar as felicitações para a garota, repetindo a maioria das coisas que Tom e Harrison haviam dito, assim como as coisas que eles haviam dito para a garota. Conversaram por poucos minutos antes que tivessem que se desculpar e desligar, afinal eles ainda precisavam sair, e ela precisava descansar para sair a noite - o dia estava apenas começando no Brasil.
— Aproveitem bastante! — ela falou como despedida.
— Digo o mesmo. — Tom sorriu, vendo os amigos já saírem do quarto após se despedir. — E não esquece de tirar o visto para poder ir para Los Angeles nas férias.
— Tom…
— Estamos falando sério, . Vai ser nosso primeiro encontro oficial. — ele piscou antes de encerrar a chamada, sem acreditar que realmente havia acabado de dizer aquilo mas, ao mesmo tempo, realmente feliz porque havia dito.
— Eu já entendi. — Tom falou com alguma dificuldade enquanto tentava empurrar Harrison para longe. — É meu aniversário, uau.
— Vinte e um anos, Holland! — uma segunda voz, um pouco mais afastada, falou animada. Jacob. Como aqueles dois haviam entrado em seu quarto mesmo? — Agora você já pode beber legalmente nos Estados Unidos!
— Eu já podia beber legalmente no mundo inteiro, praticamente. Os Estados Unidos que têm mania de querer ser diferente. — Tom finalmente abriu os olhos e se sentou na casa, erguendo os braços sobre a cabeça para se espreguiçar, bocejando alto e vendo Haz tentando resistir a repetir o gesto. Bocejos eram realmente contagiantes.
— Disse o cara do país em que os volantes dos carros ficam na direita. — Jacob revirou os olhos enquanto caminhava até a cama e se sentava próximo a Harrison.
— Milhas. Onças. Pés. Fahrenheit. Preciso continuar? — Haz sorriu para o amigo, que apenas cruzou os braços. Ele e Tom deram um high-five, rindo do americano.
— E então? Como você quer comemorar?
Tom torceu a boca. Dormindo era a resposta certa. Ele não aguentava mais a tour, mas ainda havia duas semanas pela frente. Tudo o que ele mais queria era deitar sem a obrigação de acordar cedo para participar de mais um programa de televisão/rádio/internet que fosse. Ao mesmo tempo ele não queria ser o chato, afinal, ele só estava fazendo vinte e um anos. Tinha que sair para se divertir com os amigos.
— Podemos… Sair? — ele viu Haz sorrir. Ele ainda estava com muito sono, os pensamentos ainda um pouco confusos. — Sei lá, não sei muito o que fazer em Sydney.
— Um bar? Balada? — Jacob sugeriu. Eram as maiores opções de lazer em um país desconhecido. Quer dizer, todos os países do mundo possuíam bar e balada. Né? — Acho que é o que resta.
— E se a gente deixar pra comemorar quando voltar pra Los Angeles? — Tom sugeriu. Honestamente era o que parecia mais lógico, apesar de as expressões assustadas de seus amigos mostrarem o contrário. — Ou não?
— Nós não precisamos ficar loucos. Mas vamos sair pra pelo menos passear por Sydney. — Haz cutucou o braço do amigo, tentando convencê-lo de que aquela seria uma excelente ideia. E mesmo que discordasse um pouco, ele acabou aceitando. Por um lado era verdade. Eles estavam em outro país, entre amigos, e era seu aniversário. Ficar trancado dentro do quarto de hotel parecia pecado.
Durante o dia, Tom e Jacob fizeram a gravação de mais três programas de rádio. Como era seu aniversário, ele teria a noite livre, assim como o dia seguinte. Talvez a produção achasse que ele os amigos iriam sair para beber e dançar durante a madrugada inteira? Era a explicação que ele via para que ficasse aleatoriamente com um dia sem compromissos na agenda. Achava realmente legal que a produção se preocupasse com isso. Pena que ele não faria nada de muito louco.
A noite ele sorriu para si mesmo, o reflexo no espelho também lhe sorrindo. A roupa simples havia sido dada por Harrison há algum tempo, mas ele ainda não a havia usado. Passou a mão pelo cabelo, sentindo-se triste por não conseguir deixá-lo perfeitamente arrumado como as cabeleireiras que sempre o atendiam antes de qualquer aparição em programas, mas ao menos havia conseguido não deixá-lo uma completa bagunça. Era um ponto importante.
Por mais que, ao acordar, ele estivesse completamente desanimado para o rolê que ele, Jacob e Harrison dariam pelas ruas de Sydney, agora ele estava feliz por ter sido levemente obrigado pelos dois. Era bom saber que tomaria um ar e poderia espairecer um pouco. E estar com Haz e J. era sempre uma diversão, então a noite estava garantida.
— Olha só quem está bonitão! — a porta do quarto abriu, Harrison entrando novamente com um sorriso no rosto, tão bem arrumado quanto esperado. Tom admitia que o melhor amigo era realmente muito bonito.
— Sempre. O J. está pronto?
— Sei lá. A gente bate lá. Tá mais animado?
— Levemente. — Tom riu. Na verdade ele estava bastante animado, mas não ia admitir para Haz.
— Eu sei que você está bastante animado. — recebeu um soco leve do amigo, rindo. — Vai, pega as coisas e vamos logo.
Tom pegou a carteira e o celular, checando o aparelho pela última vez, vendo uma notificação no Whatsapp. Duas chamadas perdida de . Franziu as sobrancelhas, mostrando a notificação para Haz.
— Liga pra ela! — Haz meio empurrou o celular novamente na direção de Tom, indicando para que ele ligasse.
Como Haz estava ao seu lado, Tom iniciou chamada de vídeo. Geralmente eles faziam chamada de voz, mas ele sabia que o amigo ficaria enchendo o saco para também conversar com a garota, então era melhor já facilitar as coisas.
atendeu na segunda tentativa. Ela estava com os cabelos mais cheios que o normal, os cachos bagunçados em um formato esquisito. Parecia realmente cansada mas ostentava um gigantesco sorriso.
— Tom! — ela disse assim que o sorriso dele apareceu do outro do lado da tela. — Parabéns pra nós! Oi, Haz!
— É seu aniversário também? — a boca de Tom se abriu, chocado. Ele não fazia ideia de que ele e a garota dividiam a data de aniversário.
— Sim! Vinte e cinco anos decepcionando todas as pessoas que eu conheço. — ela fez uma cara fofa, como se aquilo fosse um motivo para se orgulhar, fazendo os dois amigos rir.
— Parabéns, ! — Haz respondeu antes que Tom pudesse se recuperar de suas risadas. — Vinte e cinco anos enchendo o mundo de beleza. — ele piscou para a garota, fazendo-a desviar os olhos, sem graça.
— Você me deixa sem graça, Haz.
— Mas é verdade. — Tom sabia que agora seu sorriso era sem graça, mas isso não o impediu de sorrir. — Vai comemorar como?
— Não sei. A noite vou sair com o Juliano e as meninas, mas não sei pra onde vão me levar. Espero que não seja pra um bar karaokê. — ela fez uma careta incomodada. Tom não poderia culpá-la. Trabalhar em um bar com certeza fazia a magia acabar. — E vocês? Ainda estão na Austrália?
— Sim. O Haz e o J. organizaram um passeio por Sidney. — Tom suspirou. — Nem comprei um presente pra você.
— Não tem problema, eu também não comprei pra você. — ela riu, fazendo um gesto com a mão como se fizesse pouco caso.
— Quando voltarmos pros Estados Unidos, vamos te dar um passagem só de ida pra Los Angeles. — Haz tentou pegar o celular da mão de Tom, mas ele desviou, rindo. O amigo fez uma careta mas logo também riu.
— Ah tá. — riu completamente descrente.
Mas Tom não achava a ideia tão absurda assim. Claro, a parte se ser uma passagem só de ida era um pouco exagerada, mas o restante na verdade parecia uma excelente ideia. Ele realmente gostava de , e sabia que ela não tinha ótimas condições financeiras. Mas ele tinha. Poderia fazer algo legal por ela. E por ele, para ser sincero.
— É sério. — a expressão dele permaneceu séria, fazendo com que ela parasse de rir e tentasse entender a brincadeira. — Não só de ida, mas pelo menos por uma semana? Duas?
— Tom, você está se ouvindo?
— Perfeitamente. — ela parecia tão chocada que ele não conseguia evitar voltar a rir. — Por quê? Você não quer visitar L.A.?
— Claro que quero! Mas… Não gastando o seu dinheiro. Isso é demais.
— , só tira o visto e se prepara. Quando você sai de férias? Semana que vem? — Haz fingiu ficar sério, mas Tom sabia que o amigo gargalhava por dentro.
— Ano que vem. — a expressão desanimada dela pareceu causar um leve desânimo em Haz, mas Tom continuou sorrindo.
— Não tem problema. Vai ser no começo do ano? — ele esperou que ela confirmasse para poder continuar. — Ótimo. Te dá mais tempo para arrumar tudo.
— Vocês são loucos. — ela balançou a cabeça como se ainda não acreditasse. Tom torcia para que ela começasse a acreditar logo porque, honestamente, ele estava falando muito sério.
— Por você. — Haz piscou e os três começaram a rir.
A porta do quarto abriu novamente, Jacob finalmente entrando, arrumado e pronto para sair.
— Ei, vocês estão conversando com a e nem me chamaram?
— Oi, J.! — ela falou mesmo que ele ainda não houvesse entrado no alcance da câmera. — Relaxa, eu acabei de chegar do trabalho e liguei pra dar parabéns pro Tom, você não perdeu muito.
— Jacob, hoje também é aniversário da !
O rapaz que havia acabado de chegar começou a dar as felicitações para a garota, repetindo a maioria das coisas que Tom e Harrison haviam dito, assim como as coisas que eles haviam dito para a garota. Conversaram por poucos minutos antes que tivessem que se desculpar e desligar, afinal eles ainda precisavam sair, e ela precisava descansar para sair a noite - o dia estava apenas começando no Brasil.
— Aproveitem bastante! — ela falou como despedida.
— Digo o mesmo. — Tom sorriu, vendo os amigos já saírem do quarto após se despedir. — E não esquece de tirar o visto para poder ir para Los Angeles nas férias.
— Tom…
— Estamos falando sério, . Vai ser nosso primeiro encontro oficial. — ele piscou antes de encerrar a chamada, sem acreditar que realmente havia acabado de dizer aquilo mas, ao mesmo tempo, realmente feliz porque havia dito.
12.
— VOCÊ TÁ APAIXONADA PELO TOM?!?! — tinha certeza que o grito que Juliano havia dado podia ser ouvido de dentro da bar, mesmo com a música alta que tocava.
— Acho que ainda não te ouviram do Japão. Quer gritar mais alto? — às vezes pleonasmo era a melhor maneira de enfatizar algo.
— Você me fala que está apaixonada pelo Tom Holland e espera que eu só fale “hum, ok, vida que segue”?
— Eu não disse que estou apaixonada, disse que estou a fim. — ela não olhou diretamente para o melhor amigo porque sabia que, lá no fundo, ele estaria julgando-a. — E honestamente, isso é tão chocante assim? Quer dizer, eu sempre fui fã, apaixonada pela atuação dele, então-
— . — Juliano levantou a mão, a cortando. — Você está se ouvindo? Ter um crush platônico em artistas tudo bem. Mas se você vira amiga de um e isso só aumenta, eu tenho uma péssima notícia.
— Eu sei, Ju. Não é algo exatamente controlável.
— E ele não é tipo o Luan Santana, que pelo menos é realista. É um ator de Hollywood. Da Marvel! Uma das maiores marcas atualmente, com os filmes mais rentáveis, porque mesmo que não sejam obras primas ainda possuem um público fiel que-
— Juliano. — ela o cortou porque sabia o que viria a partir de então. — Você está divagando. E definitivamente não tá ajudando.
— Você falou pras meninas? — Juliano se referia a Gisele e Eduarda, o que fez balançar a cabeça, negando. — Por quê?
— Você conhece as duas. Elas vão ficar falando que eu tenho que falar pra ele, mas isso não vai acontecer.
Ela já havia debatido essa questão consigo mesma por dias. Primeiro que ela não esperava que realmente fosse se sentir assim por Tom. Claro, ela era fã do rapaz, mas realmente achava que saberia separar as coisas e permanecer da maneira platônica. O problema é que ela realmente não contava que eles fossem se dar tão bem e se tornar tão amigos. Ele já havia deixado de ser o Tom Holland, ator jovem, para ser o Tom, seu grande amigo.
Mas ela não podia contar para ele que, de uns tempos pra cá, ela estava gostando dele mais do que deveria. Primeiro porque ela não queria colocá-lo em uma posição de desconforto. Segundo porque ela não queria enfrentar as consequências da confissão, não importava quais fossem. Ela havia entrado em mais uma zona de conforto em sua vida e pretendia continuar assim, muito obrigada.
Gisele e Eduarda só iriam lhe dizer para falar com ele, abrir o coração, essas coisas. E ela entendia que as amigas só queriam ajudar, mas não era esse tipo de ajuda que queria. estava em um momento que queria apenas reclamar, e que alguém ouvisse e falasse “foda né”, sem sugerir como melhorar a situação. Ela realmente estava bastante confortável com a situação – não bastante, um pouco. Bem pouco, mas isso não era tão importante.
— Eu acho que você deveria falar pra ele. — Juliano não encarou . Ele sabia que ela não ficaria feliz com aquela afirmação.
— Você também não, Ju.
— E se ele também estiver “a fim” de você? — o rapaz fez o sinal de aspas com as mãos.
— Seria pior ainda. — a afirmação fez com Juliano a olhasse com a certeza de que ela estava completamente maluca. — A última coisa que eu preciso é de um amor a distância. E não estamos falando de São Paulo e Mato Grosso. Ou Rio de Janeiro e Bahia. Estamos falando de Brasil e Estados Unidos.
Os dois ficaram em silêncio, olhando para o nada, imaginando como seria se Tom correspondesse aos sentimentos de . Por um lado havia toda a maravilha de ser correspondido. Por outro a distância era um inferno. Ela era uma pessoal muito tátil, por assim dizer. Quando ela gostava de alguém, ela queria estar perto, abraçar, beijar, tocar… E ela sabia que não poderia fazer nada disso com Tom. E que tipo de relacionamento seria construído em cima disso? Até que ponto isso realmente faria os dois felizes?
Porque ela não conseguiria ir para Los Angeles, isso era um fato. Ela ganhava o piso salarial de sua profissão, não era grandes coisas. Dava para se dar alguns luxos de vez em quando, mas nunca pagaria uma viagem internacional. E, OK, ele tinha bastante dinheiro, mas ele precisava estar em L.A. o tempo todo. Ele tinha contrato para pelo menos mais três filmes em que precisaria do Aranha. Claro, agora ele seria um ator requisitado. Ir para o Brasil seria suicídio de carreira. E, para finalizar, ela se recusaria a viver nos Estados Unidos sustentada por ele de qualquer maneira que fosse.
Quer dizer, isso se ele correspondesse aos seus sentimentos.
Na teoria.
— Eu preciso voltar porque meu intervalo acabou faz cinco minutos. — Juliano se levantou do chão, indo em direção à porta da salinha em que os funcionários ficavam nos intervalos do bar. — Mas pensa direito nisso. Quer dizer… Sei lá. A vida é sua, afinal.
O melhor amigo saiu e fechou a porta atrás de si. ainda tinha mais quarenta minutos de intervalo – ela não gostava de chamar de “almoço” nem de “janta”, já que isso acontecia entre as três e quatro da madrugada – e ficaria sozinha, já que só ela e Juliano ficavam dentro do bar durante o intervalo. Ela suspirou, pegando o celular e conectando ao Wi-Fi do bar, vendo algumas notificações. Nenhuma de Tom. Fez uma careta, entortando a boca. Não ter mensagens do ator era tão raro.
Ela conferiu as redes sociais por alguns minutos, rindo de alguns vídeos e memes que os amigos lhe marcavam. Postou uma ou duas coisas no twitter e voltou para o whatsapp. Respondeu alguns dos grupos que participava e voltou a ficar com nada para fazer. Vinte minutos até ter que voltar ao trabalho. Suspirou, abrindo o contato de Tom. Era por volta de 23:40 em Los Angeles. Ele com certeza estava acordado. Por isso ela apertou o botão de chamada de voz.
— Oi, . Tudo certo? — ele atendeu após três toques, a voz parecendo cansada.
— Eu te acordei? — ela já estava arrependida de ter ligado. Muito arrependida. — Desculpa, vou desligar.
— Não precisa. — ele deu uma risada fraca. Ela tinha certeza que ele queria dormir. — Eu estou no carro, voltando de um evento. ‘Tô cansado mas não vou conseguir dormir agora de qualquer jeito. Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. — coragem, . Tenha coragem, ela repetia para si mesma.
— O que foi? — ele pareceu mais acordado, provavelmente preocupado. Ela queria jogar a cabeça na parede, era isso. Idiota, era o que era.
— Não é nada importante. Eu só… Preciso de falar uma coisa. Importante. — sequer fazia sentido. Não é importante, mas é importante. Perfeito. Não que ela quisesse fazer suspense, mas era algo realmente difícil de verbalizar.
— , você ‘tá me preocupando. De verdade.
— Eu… Hã… Tom, eu… — estou a fim de você. Talvez apaixonada, nada confirmado. Ela já tinha começado, precisava terminar. Certo? — Você estava realmente falando sério sobre pagar pra eu ir pra Los Angeles nas minhas férias? — errado. Ela não conseguia. Definitivamente não iria falar.
— Ah. É isso. — ele riu de novo, soando aliviado. — Claro que estava, . É um bom presente de aniversário atrasado, certo?
— É incomum. Mas… Eu acho que quero aceitar. — idiota! , você é uma idiota! , ela se xingava mentalmente sem parar. Ela não tinha planejado aceitar ir para Los Angeles com o dinheiro de Tom. Ela não queria isso. Mas foi a única coisa que conseguiu pensar para encobrir a merda que estava prestes a fazer. Tapando a merda com outra merda.
— É sério mesmo? — ele parecia muito mais animado agora. Pelo menos isso. — Vai ser tão incrível! Quando você sai de férias?
— Meio de Maio de 2018.
— Hum… — ele ficou alguns segundos em silêncio. — Eu sei que é meio chato mas… Será que você não consegue conversar pra ser no meio de Abril? Aí você vem e volta pro Brasil no começo de Maio.
— Não sei, posso tentar ver com o chefe… Por quê?
— Nada demais. — ele riu sozinho, fazendo-a franzir as sobrancelhas. — Mas tenta mesmo.
— Tá bom. — ela soltou uma risada nervosa, torcendo para que ele achasse que havia sido uma risada completamente normal. — Eu preciso desligar. Tenho que voltar pro trabalho.
— Tudo bem, também estou quase chegando em casa. E, … Obrigado por me ligar. Você melhorou minha noite.
— Digo o mesmo. — droga. Ele tinha mesmo que falar essas coisas e iludí-la? — Até mais.
Ela esperou ele também se despedir antes de desligar o celular. Respirou fundo, contando até dez, reprimindo a vontade de gritar porque seus colegas de trabalho e clientes ficariam nada felizes com um berro quase às quatro da madrugada. estava se odiando tanto. Ela não havia contado como se sentia, mas havia combinado de viajar para Los Angeles no próximo ano. E ainda tinha que pedir para seu chefe se poderia trocar o mês das férias.
Idiota.
Levantou-se, se arrastando até o ponto e batendo o dedo, pronta para começar mais algumas horas de trabalho, odiando saber que limparia mesas, serviria pessoas mal educadas, veria gente vomitando nos banheiros. Mas, mais do que nunca, ela realmente iria precisar do dinheiro.
— Acho que ainda não te ouviram do Japão. Quer gritar mais alto? — às vezes pleonasmo era a melhor maneira de enfatizar algo.
— Você me fala que está apaixonada pelo Tom Holland e espera que eu só fale “hum, ok, vida que segue”?
— Eu não disse que estou apaixonada, disse que estou a fim. — ela não olhou diretamente para o melhor amigo porque sabia que, lá no fundo, ele estaria julgando-a. — E honestamente, isso é tão chocante assim? Quer dizer, eu sempre fui fã, apaixonada pela atuação dele, então-
— . — Juliano levantou a mão, a cortando. — Você está se ouvindo? Ter um crush platônico em artistas tudo bem. Mas se você vira amiga de um e isso só aumenta, eu tenho uma péssima notícia.
— Eu sei, Ju. Não é algo exatamente controlável.
— E ele não é tipo o Luan Santana, que pelo menos é realista. É um ator de Hollywood. Da Marvel! Uma das maiores marcas atualmente, com os filmes mais rentáveis, porque mesmo que não sejam obras primas ainda possuem um público fiel que-
— Juliano. — ela o cortou porque sabia o que viria a partir de então. — Você está divagando. E definitivamente não tá ajudando.
— Você falou pras meninas? — Juliano se referia a Gisele e Eduarda, o que fez balançar a cabeça, negando. — Por quê?
— Você conhece as duas. Elas vão ficar falando que eu tenho que falar pra ele, mas isso não vai acontecer.
Ela já havia debatido essa questão consigo mesma por dias. Primeiro que ela não esperava que realmente fosse se sentir assim por Tom. Claro, ela era fã do rapaz, mas realmente achava que saberia separar as coisas e permanecer da maneira platônica. O problema é que ela realmente não contava que eles fossem se dar tão bem e se tornar tão amigos. Ele já havia deixado de ser o Tom Holland, ator jovem, para ser o Tom, seu grande amigo.
Mas ela não podia contar para ele que, de uns tempos pra cá, ela estava gostando dele mais do que deveria. Primeiro porque ela não queria colocá-lo em uma posição de desconforto. Segundo porque ela não queria enfrentar as consequências da confissão, não importava quais fossem. Ela havia entrado em mais uma zona de conforto em sua vida e pretendia continuar assim, muito obrigada.
Gisele e Eduarda só iriam lhe dizer para falar com ele, abrir o coração, essas coisas. E ela entendia que as amigas só queriam ajudar, mas não era esse tipo de ajuda que queria. estava em um momento que queria apenas reclamar, e que alguém ouvisse e falasse “foda né”, sem sugerir como melhorar a situação. Ela realmente estava bastante confortável com a situação – não bastante, um pouco. Bem pouco, mas isso não era tão importante.
— Eu acho que você deveria falar pra ele. — Juliano não encarou . Ele sabia que ela não ficaria feliz com aquela afirmação.
— Você também não, Ju.
— E se ele também estiver “a fim” de você? — o rapaz fez o sinal de aspas com as mãos.
— Seria pior ainda. — a afirmação fez com Juliano a olhasse com a certeza de que ela estava completamente maluca. — A última coisa que eu preciso é de um amor a distância. E não estamos falando de São Paulo e Mato Grosso. Ou Rio de Janeiro e Bahia. Estamos falando de Brasil e Estados Unidos.
Os dois ficaram em silêncio, olhando para o nada, imaginando como seria se Tom correspondesse aos sentimentos de . Por um lado havia toda a maravilha de ser correspondido. Por outro a distância era um inferno. Ela era uma pessoal muito tátil, por assim dizer. Quando ela gostava de alguém, ela queria estar perto, abraçar, beijar, tocar… E ela sabia que não poderia fazer nada disso com Tom. E que tipo de relacionamento seria construído em cima disso? Até que ponto isso realmente faria os dois felizes?
Porque ela não conseguiria ir para Los Angeles, isso era um fato. Ela ganhava o piso salarial de sua profissão, não era grandes coisas. Dava para se dar alguns luxos de vez em quando, mas nunca pagaria uma viagem internacional. E, OK, ele tinha bastante dinheiro, mas ele precisava estar em L.A. o tempo todo. Ele tinha contrato para pelo menos mais três filmes em que precisaria do Aranha. Claro, agora ele seria um ator requisitado. Ir para o Brasil seria suicídio de carreira. E, para finalizar, ela se recusaria a viver nos Estados Unidos sustentada por ele de qualquer maneira que fosse.
Quer dizer, isso se ele correspondesse aos seus sentimentos.
Na teoria.
— Eu preciso voltar porque meu intervalo acabou faz cinco minutos. — Juliano se levantou do chão, indo em direção à porta da salinha em que os funcionários ficavam nos intervalos do bar. — Mas pensa direito nisso. Quer dizer… Sei lá. A vida é sua, afinal.
O melhor amigo saiu e fechou a porta atrás de si. ainda tinha mais quarenta minutos de intervalo – ela não gostava de chamar de “almoço” nem de “janta”, já que isso acontecia entre as três e quatro da madrugada – e ficaria sozinha, já que só ela e Juliano ficavam dentro do bar durante o intervalo. Ela suspirou, pegando o celular e conectando ao Wi-Fi do bar, vendo algumas notificações. Nenhuma de Tom. Fez uma careta, entortando a boca. Não ter mensagens do ator era tão raro.
Ela conferiu as redes sociais por alguns minutos, rindo de alguns vídeos e memes que os amigos lhe marcavam. Postou uma ou duas coisas no twitter e voltou para o whatsapp. Respondeu alguns dos grupos que participava e voltou a ficar com nada para fazer. Vinte minutos até ter que voltar ao trabalho. Suspirou, abrindo o contato de Tom. Era por volta de 23:40 em Los Angeles. Ele com certeza estava acordado. Por isso ela apertou o botão de chamada de voz.
— Oi, . Tudo certo? — ele atendeu após três toques, a voz parecendo cansada.
— Eu te acordei? — ela já estava arrependida de ter ligado. Muito arrependida. — Desculpa, vou desligar.
— Não precisa. — ele deu uma risada fraca. Ela tinha certeza que ele queria dormir. — Eu estou no carro, voltando de um evento. ‘Tô cansado mas não vou conseguir dormir agora de qualquer jeito. Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. — coragem, . Tenha coragem, ela repetia para si mesma.
— O que foi? — ele pareceu mais acordado, provavelmente preocupado. Ela queria jogar a cabeça na parede, era isso. Idiota, era o que era.
— Não é nada importante. Eu só… Preciso de falar uma coisa. Importante. — sequer fazia sentido. Não é importante, mas é importante. Perfeito. Não que ela quisesse fazer suspense, mas era algo realmente difícil de verbalizar.
— , você ‘tá me preocupando. De verdade.
— Eu… Hã… Tom, eu… — estou a fim de você. Talvez apaixonada, nada confirmado. Ela já tinha começado, precisava terminar. Certo? — Você estava realmente falando sério sobre pagar pra eu ir pra Los Angeles nas minhas férias? — errado. Ela não conseguia. Definitivamente não iria falar.
— Ah. É isso. — ele riu de novo, soando aliviado. — Claro que estava, . É um bom presente de aniversário atrasado, certo?
— É incomum. Mas… Eu acho que quero aceitar. — idiota! , você é uma idiota! , ela se xingava mentalmente sem parar. Ela não tinha planejado aceitar ir para Los Angeles com o dinheiro de Tom. Ela não queria isso. Mas foi a única coisa que conseguiu pensar para encobrir a merda que estava prestes a fazer. Tapando a merda com outra merda.
— É sério mesmo? — ele parecia muito mais animado agora. Pelo menos isso. — Vai ser tão incrível! Quando você sai de férias?
— Meio de Maio de 2018.
— Hum… — ele ficou alguns segundos em silêncio. — Eu sei que é meio chato mas… Será que você não consegue conversar pra ser no meio de Abril? Aí você vem e volta pro Brasil no começo de Maio.
— Não sei, posso tentar ver com o chefe… Por quê?
— Nada demais. — ele riu sozinho, fazendo-a franzir as sobrancelhas. — Mas tenta mesmo.
— Tá bom. — ela soltou uma risada nervosa, torcendo para que ele achasse que havia sido uma risada completamente normal. — Eu preciso desligar. Tenho que voltar pro trabalho.
— Tudo bem, também estou quase chegando em casa. E, … Obrigado por me ligar. Você melhorou minha noite.
— Digo o mesmo. — droga. Ele tinha mesmo que falar essas coisas e iludí-la? — Até mais.
Ela esperou ele também se despedir antes de desligar o celular. Respirou fundo, contando até dez, reprimindo a vontade de gritar porque seus colegas de trabalho e clientes ficariam nada felizes com um berro quase às quatro da madrugada. estava se odiando tanto. Ela não havia contado como se sentia, mas havia combinado de viajar para Los Angeles no próximo ano. E ainda tinha que pedir para seu chefe se poderia trocar o mês das férias.
Idiota.
Levantou-se, se arrastando até o ponto e batendo o dedo, pronta para começar mais algumas horas de trabalho, odiando saber que limparia mesas, serviria pessoas mal educadas, veria gente vomitando nos banheiros. Mas, mais do que nunca, ela realmente iria precisar do dinheiro.
13.
— PUTA. QUE. ME. PARIU. — Tom entendeu um total de zero palavras do que havia falado (gritado) em português contra o bocal do celular.
Já passava das onze e meia da noite quando ele recebeu uma chamada de voz de . Não era tão estranho assim que ela ligasse àquela hora - já havia lhe contado que era o horário em que geralmente saía para o intervalo em seu emprego - mas ela sempre se lembrava que, quando conversavam, ela tinha que falar em inglês. E geralmente ela não gritava tanto.
— ?
— Tom! Puta merda, Tom! Caralho, Tom! — agora ela falava em inglês. Muitos palavrões. E seu nome sendo repetido.
— , o que tá acontecendo?
— Eu assisti! Caralho! Que filme foda! — filme? Que dia era mesmo? Cinco de Julho. Seu filme estreava apenas no dia sete.
Não no Brasil, a voz de falou em sua cabeça. Aqui vai ser no dia seis. E eu vou na pré estreia.
Ah sim. Agora estava explicado.
Tom se mexeu na cama – ele já estava dormindo –, tentando se ajeitar melhor. No Brasil já deveria ser dia seis, provavelmente. Mas era hora de ir aos fatos. havia assistido Homem-Aranha: Homecoming. E aparentemente ela havia gostado, o que era um ponto bastante positivo. Ele esperava que o excesso de palavrões se devessem ao fato de ela estar animada demais, afinal, palavrão era uma ótima maneira de enfatizar certas coisas.
— Então você gostou? — ele sorriu mole, o sono ainda um pouco presente, o que, aliás, não parecia estar notando.
— Se eu gostei? Eu amei! — ela riu alto do outro lado. Era possível ouvir mais barulho ao fundo de pessoas conversando, o que levou Tom a acreditar que ela literalmente havia acabado de deixar a sessão. — Eu confesso que eu estava meio temerosa em relação às aparições do Tony, com medo de acabarem abusando e ofuscando o Peter, mas ficou muito bem dosado! E o vilão é incrível, real, palpável. E você, Tom! Vo-cê!
— O que tem eu?
— Você é o melhor Peter Parker do cinema. Juro. — apesar de sentir-se levemente sem graça, Tom não evitou o enorme sorriso, o ego bastante inflado. não era apenas sua amiga, ela era uma fã. — Você foi tão… Perfeito. Bem dosado. E sua atuação… Ah, me fode, Tom.
— Claro, é só você vir pra cá. — Tom fechou os olhos, não acreditando que havia acabado de falar aquilo. com certeza havia falado apenas como força de expressão. Ela não havia realmente pedido para que Tom…
A linha apenas não ficou em completo silêncio porque Tom ainda conseguia ouvir o barulho de fundo, várias vozes falando ao mesmo tempo coisas que ele não conseguia entender. Ele queria falar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, mas ele simplesmente não sabia o quê. O que fazer em uma situação dessas? Desligar o celular e fingir que a ligação havia caído era muito drástico?
— Eu… Era modo de falar. Eu estava brincando. — a voz dela pareceu falhada, como se ela estivesse com real dificuldade em pronunciar as palavras.
— Eu sei! Eu também! — ele forçou uma risada que soou alta e provavelmente desesperada demais. Seu conhecimento em teatro nunca lhe permitiria acreditar naquele riso. Ele esperava que ao menos acreditasse. — Espera, você achou que fosse sério?
Você é um ator, Thomas Holland. Se recompanha!
— Quê? Não, claro que não! — ela também riu. definitivamente não era uma atriz. Tom podia dizer com certeza que a risada dela havia sido tão forçada quanto a dele, se não mais. — Que isso. Não mesmo.
Mas o clima da conversa já havia sido completamente extinto. A próxima frase da garota foi uma desculpa qualquer para encerrar a chamada, sequer se despedindo. Tom bufou, sem conseguir acreditar no que havia acabado de acontecer. Não era possível que ele pudesse ser tão idiota. Que merda de resposta era aquela? E por quê? Tanta, tanta coisa poderia ter sido dita. Mas claro que ele optaria pelo que parecia mais desesperado.
Idiota.
Ele tirou os lençóis de cima das pernas, arrastando-se pelo colchão da cama até encontrar a beirada, finalmente deixando que os pés tocassem o piso de madeira e ele pudesse se levantar. Caminhou no escuro pelo quarto, segurando-se contra os móveis e torcendo para não derrubar nada até finalmente encontrar a porta, a abrindo e saindo do cômodo.
Ainda no escuro e se apoiando contra a parede, Tom caminhou pelo apartamento até encontrar o interruptor da sala e finalmente acendendo a luz, sentindo os olhos arderem por alguns segundos. Depois foi até o sofá, onde se jogou de qualquer jeito. Ele ainda não acreditava no quanto havia sido burro ao agir apenas por impulso. Era óbvio que ele havia assustado a amiga.
Tom pegou uma almofada e bateu contra a própria cabeça três vezes seguidas. Ele queria gritar, mas Harrison já estava dormindo e ele não queria acordar o amigo. Respirou fundo algumas vezes, perguntando-se se havia arruinado a amizade com a amiga de uma vez por todas. Não, era uma garota bastante bem humorada, sempre fazendo piadas sobre tudo e o tempo todo. Ela iria entender que era uma brincadeira.
Mas existe diferença entre brincadeira e assédio, uma voz feminina soou em sua cabeça. Ele não havia assediado-a! Havia? Meu deus, ele havia. iria odiá-lo pelo resto da vida e ele sequer poderia culpá-la. Por que ele não pensava antes de falar?!
Desesperado, Tom pegou o celular e abriu a conversa com , digitando rapidamente a única coisa que ele poderia falar naquele momento.
“, me desculpa pela brincadeira mais cedo. Eu não pensei direito, foi idiota, desculpa mesmo!”
Ele ficou apenas olhando para a tela por longos segundos. Os dois tracinhos já estavam azuis, provando que a menina havia visualizado, mas ela sequer aparecia digitando. Ele bloqueou a tela, fechando os olhos e pensando que já estava tudo perdido. Não tinha mais o que fazer sobre aquilo. Até o celular vibrar novamente, muitas vezes. Ele desbloqueou a tela, vendo que a notificação era de , e que várias mensagens se seguiam.
🚫 Esta mensagem foi apagada
“Tom, relaxa! Eu sei que foi brincadeira”
“Eu só fui pega de surpresa”
🚫 Esta mensagem foi apagada
🚫 Esta mensagem foi apagada
“Caralho. Desculpa. Mas sério, tá tudo bem, preocupa não”
Três mensagens apagadas. Quem garantia que ela não tinha mandado falando sobre como ele era um completo babaca para então decidir que arrumar confusão não valia a pena? E, claro, ele estava absurdamente curioso para saber o que ela havia mandado.
“Certeza? Não pareceu… assédio?” e pronto, ali ele estava, colocando em palavras seu maior medo.
Gravando áudio...
Ele sempre sentia um leve calafrio quando alguém começava a gravar áudio, era como se coisa boa não viesse. Mas ali estava , demorando três minutos para gravar a mensagem. Para então mandar um áudio de 17 segundos.
— Tom, relaxa! Eu sei que pareceu que eu fiquei brava, mas é que eu só fiquei surpresa mesmo. Não é todo dia que seu ídolo fala que… Né. — ela riu por alguns segundos. — Mas fica tranquilo, tá tudo bem, de verdade.
Ele riu, aliviado. Mandou dois emojis, um rindo e um coração, mostrando que acreditava que estava tudo bem e agradecendo pela compreensão. Quer dizer, era o que ele pretendia dizer, achava que ela entenderia. Bloqueou a tela, aliviado. A partir de agora ele teria muito cuidado com o que falaria para .
Especialmente quando suas brincadeiras possuíam um enorme fundo de verdade.
Já passava das onze e meia da noite quando ele recebeu uma chamada de voz de . Não era tão estranho assim que ela ligasse àquela hora - já havia lhe contado que era o horário em que geralmente saía para o intervalo em seu emprego - mas ela sempre se lembrava que, quando conversavam, ela tinha que falar em inglês. E geralmente ela não gritava tanto.
— ?
— Tom! Puta merda, Tom! Caralho, Tom! — agora ela falava em inglês. Muitos palavrões. E seu nome sendo repetido.
— , o que tá acontecendo?
— Eu assisti! Caralho! Que filme foda! — filme? Que dia era mesmo? Cinco de Julho. Seu filme estreava apenas no dia sete.
Não no Brasil, a voz de falou em sua cabeça. Aqui vai ser no dia seis. E eu vou na pré estreia.
Ah sim. Agora estava explicado.
Tom se mexeu na cama – ele já estava dormindo –, tentando se ajeitar melhor. No Brasil já deveria ser dia seis, provavelmente. Mas era hora de ir aos fatos. havia assistido Homem-Aranha: Homecoming. E aparentemente ela havia gostado, o que era um ponto bastante positivo. Ele esperava que o excesso de palavrões se devessem ao fato de ela estar animada demais, afinal, palavrão era uma ótima maneira de enfatizar certas coisas.
— Então você gostou? — ele sorriu mole, o sono ainda um pouco presente, o que, aliás, não parecia estar notando.
— Se eu gostei? Eu amei! — ela riu alto do outro lado. Era possível ouvir mais barulho ao fundo de pessoas conversando, o que levou Tom a acreditar que ela literalmente havia acabado de deixar a sessão. — Eu confesso que eu estava meio temerosa em relação às aparições do Tony, com medo de acabarem abusando e ofuscando o Peter, mas ficou muito bem dosado! E o vilão é incrível, real, palpável. E você, Tom! Vo-cê!
— O que tem eu?
— Você é o melhor Peter Parker do cinema. Juro. — apesar de sentir-se levemente sem graça, Tom não evitou o enorme sorriso, o ego bastante inflado. não era apenas sua amiga, ela era uma fã. — Você foi tão… Perfeito. Bem dosado. E sua atuação… Ah, me fode, Tom.
— Claro, é só você vir pra cá. — Tom fechou os olhos, não acreditando que havia acabado de falar aquilo. com certeza havia falado apenas como força de expressão. Ela não havia realmente pedido para que Tom…
A linha apenas não ficou em completo silêncio porque Tom ainda conseguia ouvir o barulho de fundo, várias vozes falando ao mesmo tempo coisas que ele não conseguia entender. Ele queria falar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, mas ele simplesmente não sabia o quê. O que fazer em uma situação dessas? Desligar o celular e fingir que a ligação havia caído era muito drástico?
— Eu… Era modo de falar. Eu estava brincando. — a voz dela pareceu falhada, como se ela estivesse com real dificuldade em pronunciar as palavras.
— Eu sei! Eu também! — ele forçou uma risada que soou alta e provavelmente desesperada demais. Seu conhecimento em teatro nunca lhe permitiria acreditar naquele riso. Ele esperava que ao menos acreditasse. — Espera, você achou que fosse sério?
Você é um ator, Thomas Holland. Se recompanha!
— Quê? Não, claro que não! — ela também riu. definitivamente não era uma atriz. Tom podia dizer com certeza que a risada dela havia sido tão forçada quanto a dele, se não mais. — Que isso. Não mesmo.
Mas o clima da conversa já havia sido completamente extinto. A próxima frase da garota foi uma desculpa qualquer para encerrar a chamada, sequer se despedindo. Tom bufou, sem conseguir acreditar no que havia acabado de acontecer. Não era possível que ele pudesse ser tão idiota. Que merda de resposta era aquela? E por quê? Tanta, tanta coisa poderia ter sido dita. Mas claro que ele optaria pelo que parecia mais desesperado.
Idiota.
Ele tirou os lençóis de cima das pernas, arrastando-se pelo colchão da cama até encontrar a beirada, finalmente deixando que os pés tocassem o piso de madeira e ele pudesse se levantar. Caminhou no escuro pelo quarto, segurando-se contra os móveis e torcendo para não derrubar nada até finalmente encontrar a porta, a abrindo e saindo do cômodo.
Ainda no escuro e se apoiando contra a parede, Tom caminhou pelo apartamento até encontrar o interruptor da sala e finalmente acendendo a luz, sentindo os olhos arderem por alguns segundos. Depois foi até o sofá, onde se jogou de qualquer jeito. Ele ainda não acreditava no quanto havia sido burro ao agir apenas por impulso. Era óbvio que ele havia assustado a amiga.
Tom pegou uma almofada e bateu contra a própria cabeça três vezes seguidas. Ele queria gritar, mas Harrison já estava dormindo e ele não queria acordar o amigo. Respirou fundo algumas vezes, perguntando-se se havia arruinado a amizade com a amiga de uma vez por todas. Não, era uma garota bastante bem humorada, sempre fazendo piadas sobre tudo e o tempo todo. Ela iria entender que era uma brincadeira.
Mas existe diferença entre brincadeira e assédio, uma voz feminina soou em sua cabeça. Ele não havia assediado-a! Havia? Meu deus, ele havia. iria odiá-lo pelo resto da vida e ele sequer poderia culpá-la. Por que ele não pensava antes de falar?!
Desesperado, Tom pegou o celular e abriu a conversa com , digitando rapidamente a única coisa que ele poderia falar naquele momento.
“, me desculpa pela brincadeira mais cedo. Eu não pensei direito, foi idiota, desculpa mesmo!”
Ele ficou apenas olhando para a tela por longos segundos. Os dois tracinhos já estavam azuis, provando que a menina havia visualizado, mas ela sequer aparecia digitando. Ele bloqueou a tela, fechando os olhos e pensando que já estava tudo perdido. Não tinha mais o que fazer sobre aquilo. Até o celular vibrar novamente, muitas vezes. Ele desbloqueou a tela, vendo que a notificação era de , e que várias mensagens se seguiam.
🚫 Esta mensagem foi apagada
“Tom, relaxa! Eu sei que foi brincadeira”
“Eu só fui pega de surpresa”
🚫 Esta mensagem foi apagada
🚫 Esta mensagem foi apagada
“Caralho. Desculpa. Mas sério, tá tudo bem, preocupa não”
Três mensagens apagadas. Quem garantia que ela não tinha mandado falando sobre como ele era um completo babaca para então decidir que arrumar confusão não valia a pena? E, claro, ele estava absurdamente curioso para saber o que ela havia mandado.
“Certeza? Não pareceu… assédio?” e pronto, ali ele estava, colocando em palavras seu maior medo.
Gravando áudio...
Ele sempre sentia um leve calafrio quando alguém começava a gravar áudio, era como se coisa boa não viesse. Mas ali estava , demorando três minutos para gravar a mensagem. Para então mandar um áudio de 17 segundos.
— Tom, relaxa! Eu sei que pareceu que eu fiquei brava, mas é que eu só fiquei surpresa mesmo. Não é todo dia que seu ídolo fala que… Né. — ela riu por alguns segundos. — Mas fica tranquilo, tá tudo bem, de verdade.
Ele riu, aliviado. Mandou dois emojis, um rindo e um coração, mostrando que acreditava que estava tudo bem e agradecendo pela compreensão. Quer dizer, era o que ele pretendia dizer, achava que ela entenderia. Bloqueou a tela, aliviado. A partir de agora ele teria muito cuidado com o que falaria para .
Especialmente quando suas brincadeiras possuíam um enorme fundo de verdade.
14.
Fazia exatamente duas horas e quatorze minutos desde que havia acordado. Mas ela decidira não sair da cama. Além de achar seu colchão e lençóis extremamente confortáveis, ela estava triste demais para levantar. Era algo que acontecia de vez em quando.
No geral ela era uma garota animada, sorridente e que adorava fazer piada de tudo e com todos. Particularmente ela se considerava engraçada, obrigada. E ela gostava de ser engraçada. Sempre que fazia alguém rir ela sentia-se automaticamente mais feliz.
Mas ela também ficava triste.
E hoje ela estava triste.
Segunda-feira era, por padrão, um dia triste para todas as pessoas. Não para , claro. Era na segunda que ela folgava. Mesmo assim ela havia sido pega pelo sentimento DGIM – uma sigla que ela mesmo havia inventado, damn god it's Monday, em oposição à TGIF – e tudo o que ela mais queria era ficar na cama até terça, quando precisaria ir trabalhar. De novo.
— ? Você não vai levantar? — duas batidas na porta e a voz de Flávio lhe lembrando que o mundo não parava só porque ela estava triste.
— Não. — ela sentiu que havia soado como uma criança. Tudo bem, ela se autorizava a ser infantil.
— O que tá acontecendo? — o rangido da dobradiça a fez pensar que precisava jogar um pouquinho de óleo. O peso de Flávio se deitando na cama ao seu lado a fez pensar que às vezes não queria ter um irmão mais velho.
— Por que você tá em casa? — enquanto se ajeitava e apoiava a cabeça no braço que o irmão passava por baixo dela ela lembrou que na verdade amava ter irmão.
— Hoje é meu primeiro dia de férias! E eu achei que eu fosse passar vendo filmes da Disney com a minha irmãzinha querida, mas ela está se escondendo embaixo do edredom. O que ‘tá rolando, ?
— Eu ‘tô triste.
Flávio se mexeu, entrando embaixo do edredom junto com , deixando que ela ainda usasse seu braço de travesseiro. Não duraria muito; em dez minutos seu braço dormiria e ele desistiria de ser fofo com a irmã. Ela já estava acostumada com isso. Os momentos que passavam juntos haviam se tornado raros após ela começar a trabalhar no bar. apreciava aquele momento com Flávio, lhe lembrava a infância.
— Por quê? — o braço de Flávio mexeu, sinal de que ele já estava começando a cansar da cabeça da irmã se apoiando nele.
Ela não sabia exatamente por onde começar a explicar.
A madrugada de sábado para domingo havia sido um inferno completo no bar. O local havia atingido sua capacidade máxima. Ela havia atendido tantas mesas com tantas pessoas que sequer lembrava do rosto de alguma delas. Muitas bebidas haviam sido derrubadas em seu uniforme. E as reclamações de pessoas que haviam pedido uma música no karaokê mas já se passou mais de duas horas e ainda não fomos chamados! Tudo o que ela mais queria era explodir.
— Eu to cansada, sabe? — ela não ia chorar. Ela estava sim triste, mas não ia chorar. Sério. — Parece que eu evoluí nada! Eu tenho 25 anos, sou formada em marketing com especialização em marketing digital e redes sociais… E nunca consegui um trabalho na minha área de formação. Será que eu sou tão ruim assim?
Ela sentiu os olhos e o nariz arderem. As bochechas não molharam. As lágrimas escorrem pelos cantos dos olhos, descendo até suas orelhas, entrando em seu ouvindo. Que sensação desagradável. Então ela estava chorando, e chorar deitada era uma merda.
Mas ela não conseguiria não chorar, porque ela estava triste. Ela não conseguia deixar de ficar triste. A madrugada anterior havia sido péssima, mas toda madrugada de sábado para domingo era assim, e ela não havia acostumado. E mesmo que de domingo para segundo fosse tudo mais simples, ela ainda pensava em toda a raiva que havia passado no dia anterior, e mais uma madrugada era estragada.
Ela só queria trabalhar com sua área de formação. Ser social media, trabalhar com marketing, ajudar empresas a se impulsionarem no mercado de digital. SEO, inbound marketing, marketing direto, o que fosse! Ela entendia de tudo, era boa nisso. Por que ninguém lhe dava uma chance?
— Você é incrível, Ratinha. As empresas é que são burras por não te darem oportunidade. — ela realmente queria sorrir com as palavras de Flávio.
Primeiro porque ele havia chamado-a de Ratinha, algo que não fazia há tantos anos. Quando eram pequenos, era completamente viciada em queijo. Sua mãe a chamava de Ratinha, já que ela sempre comia quase todo o queijo da casa sozinha. No começo Flávio imitava o apelido apenas para irritar a irmã. Na vida adulta, o apelido tornou-se uma brincadeira carinhosa entre os dois. E nos raríssimos momentos em que o “Ratinha” vinha à tona, sentia-se novamente com oito anos.
Segundo porque era maravilhoso ter Flávio como irmão. Ele sempre fazia o máximo para deixá-la feliz. Quando começou a brigar com os pais por causa de suas escolhas na vida - abandonar a igreja, beber álcool, fumar cigarros, fazer sexo antes do casamento - e a convivência tornou-se cada vez mais impossível, Flávio não pensou duas vezes antes de oferecer para a irmã um quarto na casa que dividia com a namorada de longa data.
Mas ela não conseguia sorrir, porque estava triste.
— Você conversou com a Gisele, o Juliano e a Eduarda? Aposto que eles conseguiriam te ajudar melhor que eu.
— A Gisele tirou férias do trabalho e foi pra casa dos pais da namorada. O Juliano pegou sábado e domingo de folga para compensar hora extra e foi viajar com o Dênis sei lá pra onde. A Eduarda está louca entre o emprego e o doutorado. E o Tom só visualiza minhas mensagens há duas semanas porque ele deve estar muito ocupado com gravações e essas coisas. Porque ele tem vinte e um anos e já é um ator internacional, e ganhou em um filme mais do que eu vou ganhar minha vida inteira. — o choro havia parado. Ela não mais sentia as lágrimas.
— Ah. Então essa é uma crise por você estar se sentindo sozinha e sentindo que todo mundo está fazendo algo interessante enquanto você fica presa em um emprego que você não odeia mas também não ama. — a risadinha de Flávio fez com que ela revirasse os olhos. Ele delicadamente tirou o braço debaixo da irmã, mexendo os dedos que já formigavam. — Você quer ouvir algum conselho ou prefere continuar aqui mais um pouco?
— Depende do conselho.
— Não é só porque você não está trabalhando na sua área nesse momento que você nunca vai conseguir. E ficar se comparando com outras pessoas só vai te deixar mais triste ainda. Você é incrível. Logo o resto do pessoal descobre isso também. — os lábios de Flávio estalaram um beijo rápido na cabeça de , perdendo-se pelos cachos da garota. O colchão afundou novamente enquanto ele se movimentava para sair debaixo do edredom e levanta-se da cama. — Eu sei que não é o conselho que você gostaria, mas é o que eu tenho pra hoje.
— Você é o melhor, Flávio.
— Você tá falando isso porque ainda não viu o almoço maravilhoso que eu fiz pra gente.
Com uma piscadela ele fez a porta ranger novamente, fechando-a ao sair do quarto.
se virou na cama, ainda sem a menor vontade de se levantar, mas já se sentindo mais leve. Pegou o celular, abrindo o whatsapp e vendo três notificações.
A primeira era do grupo que ela tinha com Eduarda e Gisele. Havia uma foto de Gisele e da namorada, sorrindo para a câmera, Bariloche de fundo. Elas segurava uma caneca com o formato do rosto do Homem de Ferro, o que fez com que abrisse o maior sorriso do mundo. “Olha o que encontramos aqui e estamos levando para uma certa Marvete!”. Logo abaixo da imagem estava uma mensagem de Eduarda que a fez rir realmente alto: “Só não digo que deveriam ter comprado do Homem Aranha porque ele já é da ”. respondeu agradecendo mil vezes ao casal pelo presente, e educadamente mandando Eduarda para a puta que pariu.
A segunda mensagem era de Juliano. Apenas uma notificação. Quando abriu, viu um vídeo de menos de um minuto. O rosto de Dênis era o destaque do vídeo. Ao fundo ela via a cama do quarto de hotel em que eles estavam hospedados.
— , eu e o Ju passamos por uma loja da Melissa e vimos um chinelo lindo de arco-íris e ele não quis comprar pra mim. Acredita? Nós merecemos uma pessoa melhor que o Juliano.
— Dênis, para de falar mal de mim pra minha melhor amiga!
— Você é mau!
— Me dá isso!
Com algumas risadas Juliano alcançava o celular na mão do namorado e o vídeo era encerrado. riu. Aquilo era tão típico daqueles dois. Eles eram um casal que ela amava tanto… Digitou rapidamente que Dênis estava mesmo certo e que Juliano era uma pessoa horrível. Mal podia esperar para ver o amigo fingir ficar bravo.
A terceira e última mensagem, além de ser de Tom, era a que havia feito com que o estômago de desse uma pequena revirada. Ela abriu a conversa. Havia mais ou menos quinze mensagens que ela havia mandado nas semanas anteriores, todas com os dois traços azuis, nenhuma respondida. E então uma única mensagem do Tom, enviada há cinco minutos.
“Hey, ! Por favor, me desculpa por não ter te respondido. Eu realmente queria, mas está tudo corrido demais por aqui. Eu te juro que, assim que eu tiver um tempinho de folga, eu te ligo! Saudades de você. Me perdoa” e no final um coração vermelho.
Ela sorriu, respondendo que não tinha problema e que entendia toda a correria. Não precisava ficar preocupada com ela, podia focar no que realmente importava, que obviamente eram as gravações – do que ela julgava ser Vingadores 4 a essa altura do campeonato. O que não esperava, claro, era que Tom ficasse online e lhe mandasse mais uma resposta.
“Você realmente importa, bobona. Muito.”
E então continuou sorrindo.
Porque ela tinha os melhores amigos e o melhor irmão do mundo.
E ela estava feliz.
No geral ela era uma garota animada, sorridente e que adorava fazer piada de tudo e com todos. Particularmente ela se considerava engraçada, obrigada. E ela gostava de ser engraçada. Sempre que fazia alguém rir ela sentia-se automaticamente mais feliz.
Mas ela também ficava triste.
E hoje ela estava triste.
Segunda-feira era, por padrão, um dia triste para todas as pessoas. Não para , claro. Era na segunda que ela folgava. Mesmo assim ela havia sido pega pelo sentimento DGIM – uma sigla que ela mesmo havia inventado, damn god it's Monday, em oposição à TGIF – e tudo o que ela mais queria era ficar na cama até terça, quando precisaria ir trabalhar. De novo.
— ? Você não vai levantar? — duas batidas na porta e a voz de Flávio lhe lembrando que o mundo não parava só porque ela estava triste.
— Não. — ela sentiu que havia soado como uma criança. Tudo bem, ela se autorizava a ser infantil.
— O que tá acontecendo? — o rangido da dobradiça a fez pensar que precisava jogar um pouquinho de óleo. O peso de Flávio se deitando na cama ao seu lado a fez pensar que às vezes não queria ter um irmão mais velho.
— Por que você tá em casa? — enquanto se ajeitava e apoiava a cabeça no braço que o irmão passava por baixo dela ela lembrou que na verdade amava ter irmão.
— Hoje é meu primeiro dia de férias! E eu achei que eu fosse passar vendo filmes da Disney com a minha irmãzinha querida, mas ela está se escondendo embaixo do edredom. O que ‘tá rolando, ?
— Eu ‘tô triste.
Flávio se mexeu, entrando embaixo do edredom junto com , deixando que ela ainda usasse seu braço de travesseiro. Não duraria muito; em dez minutos seu braço dormiria e ele desistiria de ser fofo com a irmã. Ela já estava acostumada com isso. Os momentos que passavam juntos haviam se tornado raros após ela começar a trabalhar no bar. apreciava aquele momento com Flávio, lhe lembrava a infância.
— Por quê? — o braço de Flávio mexeu, sinal de que ele já estava começando a cansar da cabeça da irmã se apoiando nele.
Ela não sabia exatamente por onde começar a explicar.
A madrugada de sábado para domingo havia sido um inferno completo no bar. O local havia atingido sua capacidade máxima. Ela havia atendido tantas mesas com tantas pessoas que sequer lembrava do rosto de alguma delas. Muitas bebidas haviam sido derrubadas em seu uniforme. E as reclamações de pessoas que haviam pedido uma música no karaokê mas já se passou mais de duas horas e ainda não fomos chamados! Tudo o que ela mais queria era explodir.
— Eu to cansada, sabe? — ela não ia chorar. Ela estava sim triste, mas não ia chorar. Sério. — Parece que eu evoluí nada! Eu tenho 25 anos, sou formada em marketing com especialização em marketing digital e redes sociais… E nunca consegui um trabalho na minha área de formação. Será que eu sou tão ruim assim?
Ela sentiu os olhos e o nariz arderem. As bochechas não molharam. As lágrimas escorrem pelos cantos dos olhos, descendo até suas orelhas, entrando em seu ouvindo. Que sensação desagradável. Então ela estava chorando, e chorar deitada era uma merda.
Mas ela não conseguiria não chorar, porque ela estava triste. Ela não conseguia deixar de ficar triste. A madrugada anterior havia sido péssima, mas toda madrugada de sábado para domingo era assim, e ela não havia acostumado. E mesmo que de domingo para segundo fosse tudo mais simples, ela ainda pensava em toda a raiva que havia passado no dia anterior, e mais uma madrugada era estragada.
Ela só queria trabalhar com sua área de formação. Ser social media, trabalhar com marketing, ajudar empresas a se impulsionarem no mercado de digital. SEO, inbound marketing, marketing direto, o que fosse! Ela entendia de tudo, era boa nisso. Por que ninguém lhe dava uma chance?
— Você é incrível, Ratinha. As empresas é que são burras por não te darem oportunidade. — ela realmente queria sorrir com as palavras de Flávio.
Primeiro porque ele havia chamado-a de Ratinha, algo que não fazia há tantos anos. Quando eram pequenos, era completamente viciada em queijo. Sua mãe a chamava de Ratinha, já que ela sempre comia quase todo o queijo da casa sozinha. No começo Flávio imitava o apelido apenas para irritar a irmã. Na vida adulta, o apelido tornou-se uma brincadeira carinhosa entre os dois. E nos raríssimos momentos em que o “Ratinha” vinha à tona, sentia-se novamente com oito anos.
Segundo porque era maravilhoso ter Flávio como irmão. Ele sempre fazia o máximo para deixá-la feliz. Quando começou a brigar com os pais por causa de suas escolhas na vida - abandonar a igreja, beber álcool, fumar cigarros, fazer sexo antes do casamento - e a convivência tornou-se cada vez mais impossível, Flávio não pensou duas vezes antes de oferecer para a irmã um quarto na casa que dividia com a namorada de longa data.
Mas ela não conseguia sorrir, porque estava triste.
— Você conversou com a Gisele, o Juliano e a Eduarda? Aposto que eles conseguiriam te ajudar melhor que eu.
— A Gisele tirou férias do trabalho e foi pra casa dos pais da namorada. O Juliano pegou sábado e domingo de folga para compensar hora extra e foi viajar com o Dênis sei lá pra onde. A Eduarda está louca entre o emprego e o doutorado. E o Tom só visualiza minhas mensagens há duas semanas porque ele deve estar muito ocupado com gravações e essas coisas. Porque ele tem vinte e um anos e já é um ator internacional, e ganhou em um filme mais do que eu vou ganhar minha vida inteira. — o choro havia parado. Ela não mais sentia as lágrimas.
— Ah. Então essa é uma crise por você estar se sentindo sozinha e sentindo que todo mundo está fazendo algo interessante enquanto você fica presa em um emprego que você não odeia mas também não ama. — a risadinha de Flávio fez com que ela revirasse os olhos. Ele delicadamente tirou o braço debaixo da irmã, mexendo os dedos que já formigavam. — Você quer ouvir algum conselho ou prefere continuar aqui mais um pouco?
— Depende do conselho.
— Não é só porque você não está trabalhando na sua área nesse momento que você nunca vai conseguir. E ficar se comparando com outras pessoas só vai te deixar mais triste ainda. Você é incrível. Logo o resto do pessoal descobre isso também. — os lábios de Flávio estalaram um beijo rápido na cabeça de , perdendo-se pelos cachos da garota. O colchão afundou novamente enquanto ele se movimentava para sair debaixo do edredom e levanta-se da cama. — Eu sei que não é o conselho que você gostaria, mas é o que eu tenho pra hoje.
— Você é o melhor, Flávio.
— Você tá falando isso porque ainda não viu o almoço maravilhoso que eu fiz pra gente.
Com uma piscadela ele fez a porta ranger novamente, fechando-a ao sair do quarto.
se virou na cama, ainda sem a menor vontade de se levantar, mas já se sentindo mais leve. Pegou o celular, abrindo o whatsapp e vendo três notificações.
A primeira era do grupo que ela tinha com Eduarda e Gisele. Havia uma foto de Gisele e da namorada, sorrindo para a câmera, Bariloche de fundo. Elas segurava uma caneca com o formato do rosto do Homem de Ferro, o que fez com que abrisse o maior sorriso do mundo. “Olha o que encontramos aqui e estamos levando para uma certa Marvete!”. Logo abaixo da imagem estava uma mensagem de Eduarda que a fez rir realmente alto: “Só não digo que deveriam ter comprado do Homem Aranha porque ele já é da ”. respondeu agradecendo mil vezes ao casal pelo presente, e educadamente mandando Eduarda para a puta que pariu.
A segunda mensagem era de Juliano. Apenas uma notificação. Quando abriu, viu um vídeo de menos de um minuto. O rosto de Dênis era o destaque do vídeo. Ao fundo ela via a cama do quarto de hotel em que eles estavam hospedados.
— , eu e o Ju passamos por uma loja da Melissa e vimos um chinelo lindo de arco-íris e ele não quis comprar pra mim. Acredita? Nós merecemos uma pessoa melhor que o Juliano.
— Dênis, para de falar mal de mim pra minha melhor amiga!
— Você é mau!
— Me dá isso!
Com algumas risadas Juliano alcançava o celular na mão do namorado e o vídeo era encerrado. riu. Aquilo era tão típico daqueles dois. Eles eram um casal que ela amava tanto… Digitou rapidamente que Dênis estava mesmo certo e que Juliano era uma pessoa horrível. Mal podia esperar para ver o amigo fingir ficar bravo.
A terceira e última mensagem, além de ser de Tom, era a que havia feito com que o estômago de desse uma pequena revirada. Ela abriu a conversa. Havia mais ou menos quinze mensagens que ela havia mandado nas semanas anteriores, todas com os dois traços azuis, nenhuma respondida. E então uma única mensagem do Tom, enviada há cinco minutos.
“Hey, ! Por favor, me desculpa por não ter te respondido. Eu realmente queria, mas está tudo corrido demais por aqui. Eu te juro que, assim que eu tiver um tempinho de folga, eu te ligo! Saudades de você. Me perdoa” e no final um coração vermelho.
Ela sorriu, respondendo que não tinha problema e que entendia toda a correria. Não precisava ficar preocupada com ela, podia focar no que realmente importava, que obviamente eram as gravações – do que ela julgava ser Vingadores 4 a essa altura do campeonato. O que não esperava, claro, era que Tom ficasse online e lhe mandasse mais uma resposta.
“Você realmente importa, bobona. Muito.”
E então continuou sorrindo.
Porque ela tinha os melhores amigos e o melhor irmão do mundo.
E ela estava feliz.
15.
— Quando você vem pra Inglaterra de novo?
Tom riu enquanto deixava que as costas escorregassem pela parede, praticamente se jogando no chão gelado do set de gravações. Na tela do celular, a mãe sorria para ele, os olhos brilhando animados.
— Eu literalmente voltei para os Estados Unidos há cinco dias, mãe. — ele havia se dado ao luxo de viajar para o país no começo do mês para comemorar o aniversário da mãe – uma viagem que havia durado muito menos do que ele gostaria.
— E? Já estou com saudades. — os dois riram do maior clichê maternal escolhido.
Eles estavam conversando há poucos minutos, uma ligação que o próprio Tom havia iniciado ao ter pelo menos uma pequena pausa em meio às gravações. Desta vez eram apenas cenas extras, spots, material para publicidade. O “grosso” dos próximos filmes já haviam sido filmados. Agora restavam poucas coisas a ser concluídas. Não que o filme já estivesse pronto, ainda havia mais o que filmar. Mas, pelo pouco que ele havia recebido do roteiro, não faltava tanto.
— E aquela sua amiga? — a mãe perguntou quando os dois já haviam falado demais sobre a família e trabalho.
— Qual?
— A que você queria que fosse namorada. — o sorriso de Nicola fez com que o rosto de Tom ficasse ainda mais vermelho.
— Ela… Ainda não conversamos direito. — ele não olhou para nenhum ponto em específico. Às vezes ele se questionava se era realmente uma boa ideia contar certas coisas para a sua mãe.
Quer dizer, ele sabia muito bem como se sentia a respeito de . Não era algo que ele nunca houvesse imaginado que poderia acontecer, apenas não era algo que ele desejava que realmente acontecesse. Ela, afinal, morava no Brasil.
— Por que não? — o tom da mãe era de reprovação, e quando a reprovação vinha de uma mãe ela parecia três vezes maior do que o comum.
— As coisas estão meio corridas, para ser sincero. — era verdade. Ele realmente estava completamente atolado de filmagens e materiais promocionais. Além do que havia filmado para Marvel, agora estava fazendo as filmagens de Chaos Walking. Quer dizer, a vida estava corrida. — E ela trabalha no horário em que eu conseguiria ligar, então…
— Não é assim que você vai conquistá-la, Thomas.
— Eu não pretendo conquistá-la, mãe. — ele suspirou a triste verdade. Ele não tentaria, de nenhuma maneira, ser algo além de amigo de . Não seria bom para nenhum dos dois.
— Ouch. — a mãe fez um som como se houvesse sido atingida por algo realmente doloroso, o que fez com que a careta de Tom se transformasse em um pequeno e levemente triste sorriso. — Tem certeza disso, filho?
Não, ele não tinha. Ele simplesmente odiava a ideia de ter que desistir de algo sem nem ao menos ter começado o algo em questão. Mas ele não conseguia ver uma realidade em que ele revelaria seus sentimentos para e tudo ficaria bem. Se ela não correspondesse, ele tinha certeza que acabaria ficando um sentimento esquisito. Se correspondesse, ele não fazia ideia de como namorariam a um continente de distância.
Ou seja.
— Tenho.
— Entendi. — Nicola fez uma careta triste, o que aqueceu um pouco o coração de Tom. Era bom ver o quanto a mãe se importava com ele. — Bom, de qualquer maneira, aproveita que eu vou ter que sair com o Paddy para encontrar seu pai e seus irmãos e liga um pouco para ela. Não é só porque vocês não podem ser algo a mais que não devem nem se falar.
Eles se despediram rapidamente, encerrando a chamada de vídeo.
Tom abriu o Whatsapp, indo direto no nome de , perguntando-se se ele deveria seguir o conselho da mãe e ligar para a garota. Era conselho de mãe, afinal de contas. No geral, conselhos de mãe não costumavam ser ruins.
A última ligação entre ele e havia sido após a estreia de Homem-Aranha no Brasil. E havia sido estranha. Claro, não era por isso que eles não estavam conversando com frequência. Tom havia gravado as cenas para Vingadores 4, e já havia iniciado um novo projeto. Sem contar as muitas aparições em programas e quaisquer coisas que pudessem ajudar com publicidade positiva. E com trabalhando no único horário em que ele estava acordado e em casa… Ficava complicado.
Ainda assim ali estava o nome dela, com a palavra “online” escrita logo embaixo.
Ele poderia ligar para ela, certo?
Não faria nenhum mal, afinal.
— Tom! — o rosto animado da menina apareceu do outro lado, um sorriso que ia de orelha a orelha e realmente fez com que ele automaticamente se sentisse mais feliz. Mas em questão de segundos a animação dela foi substituída por algo parecido com preocupação. — Tom, por favor, me diz que você está em algum set de filmagem.
Apenas então ele se lembrou que ainda estava com o figurino e a maquiagem, já que logo ele teria mais algumas para gravar. Não evitou começar a rir, vendo suspirar aliviada em imediato. Claro, se ele estivesse realmente com o rosto sangrando, ele não estaria rindo daquela maneira.
— Estou, relaxa. Como vão as coisas?
— Melhores do que eu esperava. Principalmente porque você finalmente conseguiu um tempinho na sua agenda para me ligar. — ela piscou, fazendo-o soltar a risada mais sem graça do mundo.
Ele não queria se sentir sem graça daquela maneira, mas como ele poderia evitar? Claro que aquela era , sempre com uma piada pronta, fosse qual fosse. Às vezes parecia um flerte? Parecia, mas não passava disso: uma piada.
Ele só queria poder lidar com isso com mais maturidade.
— Esse sou eu, melhorando o dia das pessoas desde noventa e seis. — ele balançou os ombros e sorriu maroto, fingindo que estava tudo na mais perfeita ordem.
— Cinco minutos conversando com a sua mãe e eu te provo errado.
— Que ofensivo! — o queixo de Tom caiu pela audácia da garota. E ela, claro, começou a rir ainda mais. — Você não merece minhas ligações, ! Adeus!
— Não, Tom, não desliga! — as palavras saíram atropeladas, a risada dela engolindo algumas sílabas e atrasando outras.
— Me dá um motivo pra não desligar, sua abusada.
Talvez ele agora estivesse abusando da boa vontade dela, mas ele realmente queria saber o que viria a seguir. Mesmo que ele acabasse se arrependendo depois. Provavelmente valeria a pena.
— Você me ama? — ela pareceu meio incerta. E obviamente não poderia estar mais certa, mas Tom nunca admitiria. Por isso apenas levantou as sobrancelhas, como se falasse “você pode fazer melhor”. — Eu te amo?
Ok, aquilo poderia ter sido um fator diferencial.
Só que Tom era mais esperto do que aquilo.
Ele sabia que ela dizia como amigo.
— Sério, ? Esse é o seu melhor? — a careta de desistência dela quase o fez rir.
— Tom! É verdade! — ela voltou a rir. — Não me faz implorar. Eu já disse que suas ligações sempre melhoram meu dia em um nível inacreditável.
— Então eu não estava errado. — ele agradeceu o sangue falso e a sujeira da maquiagem. Pelo menos assim não veria o rosto dele ficando vermelho de vergonha.
— Não no que diz respeito a mim. — ela revirou os olhos, odiando admitir que ele estava certo.
A conversa não durou muito, já que Tom logo precisava voltar para suas filmagens.
Quando se levantou, guardando o celular no bolso, ele pensou que talvez o dia fosse ser mais divertido do que ele esperava. Era sempre bom conversar com .
E, claro, ele precisava agradecer a mãe.
Mães nunca erram com conselhos.
Tom riu enquanto deixava que as costas escorregassem pela parede, praticamente se jogando no chão gelado do set de gravações. Na tela do celular, a mãe sorria para ele, os olhos brilhando animados.
— Eu literalmente voltei para os Estados Unidos há cinco dias, mãe. — ele havia se dado ao luxo de viajar para o país no começo do mês para comemorar o aniversário da mãe – uma viagem que havia durado muito menos do que ele gostaria.
— E? Já estou com saudades. — os dois riram do maior clichê maternal escolhido.
Eles estavam conversando há poucos minutos, uma ligação que o próprio Tom havia iniciado ao ter pelo menos uma pequena pausa em meio às gravações. Desta vez eram apenas cenas extras, spots, material para publicidade. O “grosso” dos próximos filmes já haviam sido filmados. Agora restavam poucas coisas a ser concluídas. Não que o filme já estivesse pronto, ainda havia mais o que filmar. Mas, pelo pouco que ele havia recebido do roteiro, não faltava tanto.
— E aquela sua amiga? — a mãe perguntou quando os dois já haviam falado demais sobre a família e trabalho.
— Qual?
— A que você queria que fosse namorada. — o sorriso de Nicola fez com que o rosto de Tom ficasse ainda mais vermelho.
— Ela… Ainda não conversamos direito. — ele não olhou para nenhum ponto em específico. Às vezes ele se questionava se era realmente uma boa ideia contar certas coisas para a sua mãe.
Quer dizer, ele sabia muito bem como se sentia a respeito de . Não era algo que ele nunca houvesse imaginado que poderia acontecer, apenas não era algo que ele desejava que realmente acontecesse. Ela, afinal, morava no Brasil.
— Por que não? — o tom da mãe era de reprovação, e quando a reprovação vinha de uma mãe ela parecia três vezes maior do que o comum.
— As coisas estão meio corridas, para ser sincero. — era verdade. Ele realmente estava completamente atolado de filmagens e materiais promocionais. Além do que havia filmado para Marvel, agora estava fazendo as filmagens de Chaos Walking. Quer dizer, a vida estava corrida. — E ela trabalha no horário em que eu conseguiria ligar, então…
— Não é assim que você vai conquistá-la, Thomas.
— Eu não pretendo conquistá-la, mãe. — ele suspirou a triste verdade. Ele não tentaria, de nenhuma maneira, ser algo além de amigo de . Não seria bom para nenhum dos dois.
— Ouch. — a mãe fez um som como se houvesse sido atingida por algo realmente doloroso, o que fez com que a careta de Tom se transformasse em um pequeno e levemente triste sorriso. — Tem certeza disso, filho?
Não, ele não tinha. Ele simplesmente odiava a ideia de ter que desistir de algo sem nem ao menos ter começado o algo em questão. Mas ele não conseguia ver uma realidade em que ele revelaria seus sentimentos para e tudo ficaria bem. Se ela não correspondesse, ele tinha certeza que acabaria ficando um sentimento esquisito. Se correspondesse, ele não fazia ideia de como namorariam a um continente de distância.
Ou seja.
— Tenho.
— Entendi. — Nicola fez uma careta triste, o que aqueceu um pouco o coração de Tom. Era bom ver o quanto a mãe se importava com ele. — Bom, de qualquer maneira, aproveita que eu vou ter que sair com o Paddy para encontrar seu pai e seus irmãos e liga um pouco para ela. Não é só porque vocês não podem ser algo a mais que não devem nem se falar.
Eles se despediram rapidamente, encerrando a chamada de vídeo.
Tom abriu o Whatsapp, indo direto no nome de , perguntando-se se ele deveria seguir o conselho da mãe e ligar para a garota. Era conselho de mãe, afinal de contas. No geral, conselhos de mãe não costumavam ser ruins.
A última ligação entre ele e havia sido após a estreia de Homem-Aranha no Brasil. E havia sido estranha. Claro, não era por isso que eles não estavam conversando com frequência. Tom havia gravado as cenas para Vingadores 4, e já havia iniciado um novo projeto. Sem contar as muitas aparições em programas e quaisquer coisas que pudessem ajudar com publicidade positiva. E com trabalhando no único horário em que ele estava acordado e em casa… Ficava complicado.
Ainda assim ali estava o nome dela, com a palavra “online” escrita logo embaixo.
Ele poderia ligar para ela, certo?
Não faria nenhum mal, afinal.
— Tom! — o rosto animado da menina apareceu do outro lado, um sorriso que ia de orelha a orelha e realmente fez com que ele automaticamente se sentisse mais feliz. Mas em questão de segundos a animação dela foi substituída por algo parecido com preocupação. — Tom, por favor, me diz que você está em algum set de filmagem.
Apenas então ele se lembrou que ainda estava com o figurino e a maquiagem, já que logo ele teria mais algumas para gravar. Não evitou começar a rir, vendo suspirar aliviada em imediato. Claro, se ele estivesse realmente com o rosto sangrando, ele não estaria rindo daquela maneira.
— Estou, relaxa. Como vão as coisas?
— Melhores do que eu esperava. Principalmente porque você finalmente conseguiu um tempinho na sua agenda para me ligar. — ela piscou, fazendo-o soltar a risada mais sem graça do mundo.
Ele não queria se sentir sem graça daquela maneira, mas como ele poderia evitar? Claro que aquela era , sempre com uma piada pronta, fosse qual fosse. Às vezes parecia um flerte? Parecia, mas não passava disso: uma piada.
Ele só queria poder lidar com isso com mais maturidade.
— Esse sou eu, melhorando o dia das pessoas desde noventa e seis. — ele balançou os ombros e sorriu maroto, fingindo que estava tudo na mais perfeita ordem.
— Cinco minutos conversando com a sua mãe e eu te provo errado.
— Que ofensivo! — o queixo de Tom caiu pela audácia da garota. E ela, claro, começou a rir ainda mais. — Você não merece minhas ligações, ! Adeus!
— Não, Tom, não desliga! — as palavras saíram atropeladas, a risada dela engolindo algumas sílabas e atrasando outras.
— Me dá um motivo pra não desligar, sua abusada.
Talvez ele agora estivesse abusando da boa vontade dela, mas ele realmente queria saber o que viria a seguir. Mesmo que ele acabasse se arrependendo depois. Provavelmente valeria a pena.
— Você me ama? — ela pareceu meio incerta. E obviamente não poderia estar mais certa, mas Tom nunca admitiria. Por isso apenas levantou as sobrancelhas, como se falasse “você pode fazer melhor”. — Eu te amo?
Ok, aquilo poderia ter sido um fator diferencial.
Só que Tom era mais esperto do que aquilo.
Ele sabia que ela dizia como amigo.
— Sério, ? Esse é o seu melhor? — a careta de desistência dela quase o fez rir.
— Tom! É verdade! — ela voltou a rir. — Não me faz implorar. Eu já disse que suas ligações sempre melhoram meu dia em um nível inacreditável.
— Então eu não estava errado. — ele agradeceu o sangue falso e a sujeira da maquiagem. Pelo menos assim não veria o rosto dele ficando vermelho de vergonha.
— Não no que diz respeito a mim. — ela revirou os olhos, odiando admitir que ele estava certo.
A conversa não durou muito, já que Tom logo precisava voltar para suas filmagens.
Quando se levantou, guardando o celular no bolso, ele pensou que talvez o dia fosse ser mais divertido do que ele esperava. Era sempre bom conversar com .
E, claro, ele precisava agradecer a mãe.
Mães nunca erram com conselhos.
16.
mal tinha entrado em seu quarto quando a porta abriu novamente.
A única coisa a impedindo de pular no mesmo lugar por conta do susto era o fato de que apenas duas pessoas poderiam ter aberto sua porta: Thaís e Flávio. E, ao se virar, viu os cabelos loiros e perfeitamente lisos de Thaís caindo pelos ombros, os olhos verdes maiores do que o normal e um enorme sorriso estampado em seu rosto. Sorrir tanto deveria doer, não era possível.
Não que também não sorrisse demais.
Ela sorria.
— ! Ai, eu preciso conversar com você! — ela fechou novamente a porta, dando os dois passos necessários para chegar ao centro do quarto de , que ainda a encarava com surpresa. — Tem que ser agora, aproveitar que o Flávio está no banho.
— Aconteceu alguma coisa? — o coração de estava batendo mais rápido que o normal.
Mil e uma possibilidades estava passando pela cabeça da garota. E se Thaís não quisesse mais que morasse com eles? E se ela quisesse terminar com Flávio? Ela realmente não deveria tentar ficar pensando tanto nas possibilidades. Sentia que poderia acabar desmaiando antes mesmo de saber do que se tratava.
— Eu preciso muito da sua ajuda. — Thaís ainda estava sorrindo. Muito. Ok, pelo sorriso deveria ser coisa boa. Certo? — Eu quero pedir o Flávio em casamento.
precisou cobrir a boca com a mão direita para reprimir o grito que queria dar. Não era possível. Aquilo era simplesmente incrível! Thaís e Flávio haviam começado a namorar ainda no ensino médio e nunca, nunca haviam terminado ou dado um tempo. Claro que não era as mil maravilhas, mas era o exato tipo de relacionamento que sonhava em ter. Antes de ser namorados os dois eram melhores amigos, e a amizade, por mais incrível que pudesse parecer, era o que mais os mantinha unidos.
Mesmo quando brigavam os dois sabiam esperar o momento de esfriar a cabeça, pensar em tudo o que havia sido dito, conversar e chegar em um consenso. Não que sempre acabassem concordando, mas no geral concordavam em discordar, e no fim sempre ficavam bem. Aquele era o exemplo de relacionamento saudável que ela sempre havia sonhado em ter.
E um casamento? Aquilo era a melhor coisa de todas!
— Eu realmente estou tentando não fazer escândalo de tão feliz que estou! — a voz de foi abafada pela mão que ainda estava tampando sua boca, mas ela sabia que havia sido clara o bastante para que Thaís a entendesse.
— Honestamente, eu também. — a loira soltou uma risada nervosa. — Mas então, eu estou pensando em fazer um jantar especial com as comidas preferidas dele.
— Começou bem, o que ele mais ama na vida é comer.
— Nem me fala. Se ele tivesse escolher entre mim e um ano grátis de rodízio, eu ficaria solteira. — as duas riram porque era a maior verdade de todas. — E eu queria fazer um daqueles vídeos de casal? Mas o menos brega possível.
— Ah. É aí que eu entro? — então era assim que ela ajudaria a cunhada. Editando o vídeo.
Não que ela fosse expert em edições, nem de longe. Mas ela havia feito um curso de After Effects e Premiere, já era melhor que Movie Maker. E mesmo sabendo que não era exatamente sua área – marketing digital e social midia ainda eram suas paixões – ela gostava de mexer nos programas de edição. E ainda mais por um motivo tão especial…
— Se não for te dar trabalho. — o rosto de Thaís ficou da cor de um pimentão. Ah, brancos. Ficam vermelhos tão fácil… — Eu posso pagar, se voc–
— Não me ofende, Thaís. — a cortou, franzindo as sobrancelhas. — Vocês me deixam morar aqui sem nem cobrar aluguel.
— A casa é própria. — a mulher balançou a mão, fazendo pouco caso.
— Mesmo assim. Editar esse vídeo nunca vai chegar perto de pagar tudo o que vocês fazem por mim. Além disso vai ser um prazer imenso fazer parte dessa história de alguma maneira. — era impressão de ou ela queria chorar? Como conseguia ser tão chorona? — Quando você pretende fazer o pedido?
— Meio de outubro, no nosso aniversário de namoro. — isso dava três semanas para deixar o vídeo pronto, pelas contas de . Hora de organizar a agenda. — Ele vai achar que eu só tô querendo comemorar os doze anos, mas no final vai ser um pedido de casamento.
Doze anos.
Caralho.
— Eu vou precisar que você me passe todos os vídeos de vocês dois juntos, não importa a época. E de uns de você quando era pequena, se tiver como. Vou ver com meus pais se consigo algo do Flávio.
— Obrigada! — Thaís era mais alta que , mas muito mais magra. Praticamente não pesou quando a loira pulou na cunhada, agradecendo com um abraço apertado.
— Eu que agradeço, por tudo. — sorriu enquanto retribuía o abraço.
— Agora vou te deixar dormir. — Thaís saiu de cima de , rindo. De fato, havia acabado de chegar do trabalho, o sol já havia nascido, ela realmente queria dormir. — Até porque o Flávio já deve ter se trocado e nós precisamos trabalhar.
Com mais um rápido abraço Thaís se despediu, fechando a porta ao sair do quarto, deixando sozinha novamente. Com um enorme sorriso no rosto, se despiu, colocando apenas um velho e enorme camisetão, apagando a luz do quarto e se aconchegando debaixo do edredom.
Thaís e Flávio iam casar.
Ela não poderia estar mais feliz.
Quer dizer, eles praticamente já eram casados. Só faltava oficializar. Eles haviam comprado aquela casa, afinal. Ainda faltava, o que, cinco anos para terminarem de pagar? O avô de Thaís havia colaborado com uma grande quantia de entrada, e o FGTS dos dois havia sido o bastante para fazer com que uma outra parte boa fosse abatida e as parcelas se tornassem acessíveis ao bolso. Era o preço de um aluguel, afinal.
E ambos tinham uma boa vida. Thaís era concursada e trabalhava em banco desde os vinte e dois anos. Flávio havia subido para gerente da empresa de engenharia civil que trabalhava. Quer dizer, de todos ali, só era mesmo a quebrada que vivia de favor na casa de parente.
Mas agora eles iriam casar, ser uma família real, ter filhos…
Meu.
Deus.
Eles iam casar. Ser uma família. Ter filhos.
não poderia continuar morando com eles. De jeito nenhum.
Era simplesmente errado. Eles iriam, mais do que nunca, precisar de sua intimidade. Mesmo que a única mudança que eles sofreriam seria a aliança, um papel e talvez novos sobrenomes, ainda assim apenas a ideia de estar-casado-e-não-apenas-namorando fazia uma enorme diferença psicológica. Agora eles seriam marido e mulher. Construiriam a própria família. Teriam filhos.
teria sobrinhos.
E ela não poderia ser a tia sempre dura que não tem casa e mora de favor na casa do irmão. Não. ficar para titia era uma coisa. Ser a titia que mora com o irmão porque não tem onde cair morta? Nem pensar. Não que ela quisesse fazer drama. Mas ela sabia que era melhor começar a repensar a própria vida.
Querendo ou não, havia se acomodado com o trabalho no bar.
Era hora de procurar algo novo, melhor, seguir em frente.
Quem sabe até mostrar ao mundo quem realmente era Resende.
A única coisa a impedindo de pular no mesmo lugar por conta do susto era o fato de que apenas duas pessoas poderiam ter aberto sua porta: Thaís e Flávio. E, ao se virar, viu os cabelos loiros e perfeitamente lisos de Thaís caindo pelos ombros, os olhos verdes maiores do que o normal e um enorme sorriso estampado em seu rosto. Sorrir tanto deveria doer, não era possível.
Não que também não sorrisse demais.
Ela sorria.
— ! Ai, eu preciso conversar com você! — ela fechou novamente a porta, dando os dois passos necessários para chegar ao centro do quarto de , que ainda a encarava com surpresa. — Tem que ser agora, aproveitar que o Flávio está no banho.
— Aconteceu alguma coisa? — o coração de estava batendo mais rápido que o normal.
Mil e uma possibilidades estava passando pela cabeça da garota. E se Thaís não quisesse mais que morasse com eles? E se ela quisesse terminar com Flávio? Ela realmente não deveria tentar ficar pensando tanto nas possibilidades. Sentia que poderia acabar desmaiando antes mesmo de saber do que se tratava.
— Eu preciso muito da sua ajuda. — Thaís ainda estava sorrindo. Muito. Ok, pelo sorriso deveria ser coisa boa. Certo? — Eu quero pedir o Flávio em casamento.
precisou cobrir a boca com a mão direita para reprimir o grito que queria dar. Não era possível. Aquilo era simplesmente incrível! Thaís e Flávio haviam começado a namorar ainda no ensino médio e nunca, nunca haviam terminado ou dado um tempo. Claro que não era as mil maravilhas, mas era o exato tipo de relacionamento que sonhava em ter. Antes de ser namorados os dois eram melhores amigos, e a amizade, por mais incrível que pudesse parecer, era o que mais os mantinha unidos.
Mesmo quando brigavam os dois sabiam esperar o momento de esfriar a cabeça, pensar em tudo o que havia sido dito, conversar e chegar em um consenso. Não que sempre acabassem concordando, mas no geral concordavam em discordar, e no fim sempre ficavam bem. Aquele era o exemplo de relacionamento saudável que ela sempre havia sonhado em ter.
E um casamento? Aquilo era a melhor coisa de todas!
— Eu realmente estou tentando não fazer escândalo de tão feliz que estou! — a voz de foi abafada pela mão que ainda estava tampando sua boca, mas ela sabia que havia sido clara o bastante para que Thaís a entendesse.
— Honestamente, eu também. — a loira soltou uma risada nervosa. — Mas então, eu estou pensando em fazer um jantar especial com as comidas preferidas dele.
— Começou bem, o que ele mais ama na vida é comer.
— Nem me fala. Se ele tivesse escolher entre mim e um ano grátis de rodízio, eu ficaria solteira. — as duas riram porque era a maior verdade de todas. — E eu queria fazer um daqueles vídeos de casal? Mas o menos brega possível.
— Ah. É aí que eu entro? — então era assim que ela ajudaria a cunhada. Editando o vídeo.
Não que ela fosse expert em edições, nem de longe. Mas ela havia feito um curso de After Effects e Premiere, já era melhor que Movie Maker. E mesmo sabendo que não era exatamente sua área – marketing digital e social midia ainda eram suas paixões – ela gostava de mexer nos programas de edição. E ainda mais por um motivo tão especial…
— Se não for te dar trabalho. — o rosto de Thaís ficou da cor de um pimentão. Ah, brancos. Ficam vermelhos tão fácil… — Eu posso pagar, se voc–
— Não me ofende, Thaís. — a cortou, franzindo as sobrancelhas. — Vocês me deixam morar aqui sem nem cobrar aluguel.
— A casa é própria. — a mulher balançou a mão, fazendo pouco caso.
— Mesmo assim. Editar esse vídeo nunca vai chegar perto de pagar tudo o que vocês fazem por mim. Além disso vai ser um prazer imenso fazer parte dessa história de alguma maneira. — era impressão de ou ela queria chorar? Como conseguia ser tão chorona? — Quando você pretende fazer o pedido?
— Meio de outubro, no nosso aniversário de namoro. — isso dava três semanas para deixar o vídeo pronto, pelas contas de . Hora de organizar a agenda. — Ele vai achar que eu só tô querendo comemorar os doze anos, mas no final vai ser um pedido de casamento.
Doze anos.
Caralho.
— Eu vou precisar que você me passe todos os vídeos de vocês dois juntos, não importa a época. E de uns de você quando era pequena, se tiver como. Vou ver com meus pais se consigo algo do Flávio.
— Obrigada! — Thaís era mais alta que , mas muito mais magra. Praticamente não pesou quando a loira pulou na cunhada, agradecendo com um abraço apertado.
— Eu que agradeço, por tudo. — sorriu enquanto retribuía o abraço.
— Agora vou te deixar dormir. — Thaís saiu de cima de , rindo. De fato, havia acabado de chegar do trabalho, o sol já havia nascido, ela realmente queria dormir. — Até porque o Flávio já deve ter se trocado e nós precisamos trabalhar.
Com mais um rápido abraço Thaís se despediu, fechando a porta ao sair do quarto, deixando sozinha novamente. Com um enorme sorriso no rosto, se despiu, colocando apenas um velho e enorme camisetão, apagando a luz do quarto e se aconchegando debaixo do edredom.
Thaís e Flávio iam casar.
Ela não poderia estar mais feliz.
Quer dizer, eles praticamente já eram casados. Só faltava oficializar. Eles haviam comprado aquela casa, afinal. Ainda faltava, o que, cinco anos para terminarem de pagar? O avô de Thaís havia colaborado com uma grande quantia de entrada, e o FGTS dos dois havia sido o bastante para fazer com que uma outra parte boa fosse abatida e as parcelas se tornassem acessíveis ao bolso. Era o preço de um aluguel, afinal.
E ambos tinham uma boa vida. Thaís era concursada e trabalhava em banco desde os vinte e dois anos. Flávio havia subido para gerente da empresa de engenharia civil que trabalhava. Quer dizer, de todos ali, só era mesmo a quebrada que vivia de favor na casa de parente.
Mas agora eles iriam casar, ser uma família real, ter filhos…
Meu.
Deus.
Eles iam casar. Ser uma família. Ter filhos.
não poderia continuar morando com eles. De jeito nenhum.
Era simplesmente errado. Eles iriam, mais do que nunca, precisar de sua intimidade. Mesmo que a única mudança que eles sofreriam seria a aliança, um papel e talvez novos sobrenomes, ainda assim apenas a ideia de estar-casado-e-não-apenas-namorando fazia uma enorme diferença psicológica. Agora eles seriam marido e mulher. Construiriam a própria família. Teriam filhos.
teria sobrinhos.
E ela não poderia ser a tia sempre dura que não tem casa e mora de favor na casa do irmão. Não. ficar para titia era uma coisa. Ser a titia que mora com o irmão porque não tem onde cair morta? Nem pensar. Não que ela quisesse fazer drama. Mas ela sabia que era melhor começar a repensar a própria vida.
Querendo ou não, havia se acomodado com o trabalho no bar.
Era hora de procurar algo novo, melhor, seguir em frente.
Quem sabe até mostrar ao mundo quem realmente era Resende.
17.
“Oi, Tom! Tudo certinho? Ei, será que você poderia me mandar o número do Haz?”
Essas haviam sido as exatas palavras que Tom recebeu de .
Ele franziu as sobrancelhas. Novamente haviam ficado sem se falar direito por um tempo, mas agora a culpa era totalmente de . Ela mal respondia suas mensagens, sempre escrevendo tão pouco que ele tinha a sensação de que ela nem queria mais conversar. “Eu vi!”, “Sei como é”, “Nossa, boa sorte” e “Hahahahaha” eram as coisas que ele mais recebia para absolutamente tudo o que ele enviava.
Estava chato.
E agora ela manda mensagem perguntando o número do Haz?
Não era querendo ser paranoico, mas o que raios ele havia feito para merecer esse tratamento da menina? Quer dizer, além do fato de ele ter ficado meio sumido por causa de gravações e tudo o que envolvia a vida de um ator. Mas honestamente ele realmente achava que ela havia entendido o que ele estava passando. Pelo menos havia fingido muito bem ser compreensiva.
Não que ele achasse que ela fosse fingida, longe disso.
Na verdade ele só achava que havia feito alguma merda. Era a única explicação.
“Ok” ele respondeu apenas, mandando em seguida o contato com o número de Harrison. Se era o que ela queria, ele é quem não iria negar.
“Tá tudo bem, Tom?” a mensagem dela chegou menos de um minuto depois, um emoji com a cara intrigada, a mão no rosto.
“Uhum.” merda. Por que ele tinha que ser tão seco?
“Tem certeza?” o mesmo emoji.
“Sim, relaxa.” então ele colocou um coração vermelho no final porque talvez assim ela fosse ficar ok com o fato de que o Tom estava se comportando feito uma criança.
Ela respondeu apenas um coração vermelho e pulsante. E pronto, a conversa estava acabada.
Tom bufou, não acreditando nisso. Ele até queria continuar a droga da conversa, mas o que falaria? Ela. Não. Respondia. Existe um limite humano de “quantas vezes eu posso ser ignorado por uma pessoa sem que isso afete nossa relação”. Mais um pouco e ele ultrapassariam aquela droga de limite.
O problema da história toda era que ele não queria que isso acontecesse. Porque ele gostava de . De verdade. Mais do que deveria, mas gostava. E já era uma merda começar a gostar de alguém inalcançável – parecia o ensino médio de novo. Pior ainda era se alguém estivesse começando a ignorá-lo. Era como se, todas as suas – nulas – chances houvessem se tornado exatamente isso. Nulas.
Sem contar que ele estava realmente curioso para saber porque raios havia pedido o telefone de Harrison.
***
— Ei, Haz. — os dois estavam almoçando juntos em casa em uma das raríssimas ocasiões em que estavam em casa. — A te mandou mensagem?
— Mandou. — a boca de Harrison estava meio cheia, mas de alguma forma ele conseguia falar sem que Tom visse toda a comida em sua boca. Era algo útil a se aprender. — Por quê?
— Nada demais. — Tom balançou os ombros.
Dois dias desde que ela havia pedido o número de Harrison. E ainda não havia mandado nenhuma mensagem para Tom. Sem querer ser aquela pessoa chata, mas o que raios aquilo queria dizer?
— Não? — Harrison engoliu todo o alimento e sorriu para Tom, os lábios se tocando. — Não parece nada.
— Mas é. Acredite.
— Ela é legal. — o rapaz balançou os ombros, pegando mais uma grande garfada e enfiando na boca.
Os dois mastigaram em silêncio por um tempo. Harrison olhava fixamente para Tom, como se tentasse desvendar algo. Aí estava uma desvantagem um possuir um melhor amigo constante em sua vida. Ele sempre sabia quando algo estava sendo escondido. E Tom não era exatamente ótimo em fingir algumas coisas – nem parecia que era assim que ganhava a vida.
— Nós conversamos bem mais do que eu esperava. — Tom tinha certeza que Harrison queria rir. Parecia que havia dito a frase apenas para provocá-lo.
— Hum. — Tom não olhou diretamente para o amigo. Ótimo. conversa com Haz mas não conversava com ele. — Legal.
— Você está com ciúmes, Tom? — desta vez Haz nem se deu o trabalho de esconder o sorriso.
— De você? ‘Tá maluco? — ele soltou uma risada alta e nervosa.
— Você está com ciúmes da , Tom?
Ele não estava. E era a mais pura verdade.
Ele realmente não estava com ciúmes de .
Apenas não entendia porque ela havia escolhido ignorá-lo completamente mas mandar mensagens para Harrison e ainda responder tudo. Qual era a dificuldade de conversar com Tom? Quer dizer, eles tinham assunto, sempre tinham. As conversas costumavam ser diárias. Chamadas de voz, vídeo, áudios, tudo. Eles eram ótimos amigos e funcionavam super bem, mesmo com a distância.
— Não. — ele finalmente respondeu, revirando os olhos.
— Então o que ‘tá acontecendo? — Haz havia terminado de comer e agora olhava para Tom com aquela expressão séria de melhor amigo preocupado.
— É só que… — Tom respirou fundo. Claro que ele contaria para o amigo. — Ela não tem conversado muito comigo.
— Como assim?
— Ela não responde minhas mensagens. Quer dizer, responde, mas com risadas e “verdade né” e coisas do tipo. Parece que ela não faz questão de continuar a conversa. — Tom olhou para o resto da comida na prato, notando que ele não estava mais com fome. Empurrou o prato para o lado, deixando o caminho entre ele e o amigo livre.
— Ah. É isso. — e então Harrison riu.
O que honestamente era ofensivo.
Quer dizer, ali estava Tom, abrindo seu coração para o melhor amigo, que agora apenas ria dele. Certo, Tom não havia contado para Haz o que ele sentia por , mas sejamos honestos: Haz e Tom se conheciam fazia uma vida. Era óbvio que o amigo já havia notado.
— Será que você pode não rir?
— Desculpa. — mesmo assim demorou mais dois ou três minutos até que Harrison se recompusesse e voltasse a encarar Tom. — É que eu sei o que está acontecendo.
E ficou quieto.
Dica para a vida: se seu melhor amigo fala que está com um problema e você sabe como resolver, resolva.
— Fala logo, cacete.
— Ela pediu meu número porque queria saber se eu entendo de edição de vídeo. — Tom franziu as sobrancelhas. Não, Haz não entendia. — Eu disse que não, claro, mas sou curioso e quis saber o motivo. Ela me contou que está fazendo um vídeo pra cunhada dela. Aparentemente vai ter um casamento na família da .
Então por isso ela não respondia. Ele sabia que a rotina dela poderia ser corrida, sem contar o fato de que eles não tinham horários muito compatíveis. Agora, no seu pouco tempo livre, ela deveria estar focada em fazer o tal vídeo para a cunhada.
Não era culpa de Tom.
— Mesmo assim. Ela conseguiu conversar com você. Por que não conversa comigo? — não que ele quisesse parecer a criança manhosa, mas…
— Porque sou eu, Tom. — Haz balançou os ombros como se aquilo explicasse tudo. Mas a careta de Tom foi o bastante para que ele continuasse: — Ela não liga de me deixar esperando vinte minutos pela resposta. Ou de responder horas depois. Mas ela nunca faria isso com você.
— Por que não?
— Porque é você. — honestamente Tom estava odiando a maneira como Harrison parecia estar falando o óbvio. Não era óbvio. — Ela nunca vai te deixar esperando muito, por mais ocupada que esteja. E ela não vai querer só trocar umas mensagens. A gosta de te ligar, de te ver… Sabe né. Quando duas pessoas se gostam é meio assim.
Se Tom ainda estivesse comendo, ele teria engasgado. Na verdade ele meio que havia engasgado, com o ar e um pouco de saliva. Era possível, ele era a prova viva.
— Eu não– Ela é só minha amiga. É só– O que ela sente por mim. — e ali estava o idiota, gaguejando. Boa, Thomas.
— É, continue repetindo isso pra si mesmo. Eu tenho certeza do contrário.
Tom Holland oficialmente queria morrer.
— Você é louco. — e poderia estar certo.
— Acredite no quiser. — Harrison abriu os braços, se espreguiçando. Levantou-se e levou o prato para a pia, deixando ali para lavar depois. Ele sempre deixava para lavar depois. — Relaxa, ela disse que vai entregar o vídeo pra cunhada amanhã. Depois disso ela vai voltar a ser toda sua.
Tomara, foi tudo o que Tom conseguiu pensar enquanto via o amigo deixá-lo apenas com os próprios pensamentos.
Essas haviam sido as exatas palavras que Tom recebeu de .
Ele franziu as sobrancelhas. Novamente haviam ficado sem se falar direito por um tempo, mas agora a culpa era totalmente de . Ela mal respondia suas mensagens, sempre escrevendo tão pouco que ele tinha a sensação de que ela nem queria mais conversar. “Eu vi!”, “Sei como é”, “Nossa, boa sorte” e “Hahahahaha” eram as coisas que ele mais recebia para absolutamente tudo o que ele enviava.
Estava chato.
E agora ela manda mensagem perguntando o número do Haz?
Não era querendo ser paranoico, mas o que raios ele havia feito para merecer esse tratamento da menina? Quer dizer, além do fato de ele ter ficado meio sumido por causa de gravações e tudo o que envolvia a vida de um ator. Mas honestamente ele realmente achava que ela havia entendido o que ele estava passando. Pelo menos havia fingido muito bem ser compreensiva.
Não que ele achasse que ela fosse fingida, longe disso.
Na verdade ele só achava que havia feito alguma merda. Era a única explicação.
“Ok” ele respondeu apenas, mandando em seguida o contato com o número de Harrison. Se era o que ela queria, ele é quem não iria negar.
“Tá tudo bem, Tom?” a mensagem dela chegou menos de um minuto depois, um emoji com a cara intrigada, a mão no rosto.
“Uhum.” merda. Por que ele tinha que ser tão seco?
“Tem certeza?” o mesmo emoji.
“Sim, relaxa.” então ele colocou um coração vermelho no final porque talvez assim ela fosse ficar ok com o fato de que o Tom estava se comportando feito uma criança.
Ela respondeu apenas um coração vermelho e pulsante. E pronto, a conversa estava acabada.
Tom bufou, não acreditando nisso. Ele até queria continuar a droga da conversa, mas o que falaria? Ela. Não. Respondia. Existe um limite humano de “quantas vezes eu posso ser ignorado por uma pessoa sem que isso afete nossa relação”. Mais um pouco e ele ultrapassariam aquela droga de limite.
O problema da história toda era que ele não queria que isso acontecesse. Porque ele gostava de . De verdade. Mais do que deveria, mas gostava. E já era uma merda começar a gostar de alguém inalcançável – parecia o ensino médio de novo. Pior ainda era se alguém estivesse começando a ignorá-lo. Era como se, todas as suas – nulas – chances houvessem se tornado exatamente isso. Nulas.
Sem contar que ele estava realmente curioso para saber porque raios havia pedido o telefone de Harrison.
— Ei, Haz. — os dois estavam almoçando juntos em casa em uma das raríssimas ocasiões em que estavam em casa. — A te mandou mensagem?
— Mandou. — a boca de Harrison estava meio cheia, mas de alguma forma ele conseguia falar sem que Tom visse toda a comida em sua boca. Era algo útil a se aprender. — Por quê?
— Nada demais. — Tom balançou os ombros.
Dois dias desde que ela havia pedido o número de Harrison. E ainda não havia mandado nenhuma mensagem para Tom. Sem querer ser aquela pessoa chata, mas o que raios aquilo queria dizer?
— Não? — Harrison engoliu todo o alimento e sorriu para Tom, os lábios se tocando. — Não parece nada.
— Mas é. Acredite.
— Ela é legal. — o rapaz balançou os ombros, pegando mais uma grande garfada e enfiando na boca.
Os dois mastigaram em silêncio por um tempo. Harrison olhava fixamente para Tom, como se tentasse desvendar algo. Aí estava uma desvantagem um possuir um melhor amigo constante em sua vida. Ele sempre sabia quando algo estava sendo escondido. E Tom não era exatamente ótimo em fingir algumas coisas – nem parecia que era assim que ganhava a vida.
— Nós conversamos bem mais do que eu esperava. — Tom tinha certeza que Harrison queria rir. Parecia que havia dito a frase apenas para provocá-lo.
— Hum. — Tom não olhou diretamente para o amigo. Ótimo. conversa com Haz mas não conversava com ele. — Legal.
— Você está com ciúmes, Tom? — desta vez Haz nem se deu o trabalho de esconder o sorriso.
— De você? ‘Tá maluco? — ele soltou uma risada alta e nervosa.
— Você está com ciúmes da , Tom?
Ele não estava. E era a mais pura verdade.
Ele realmente não estava com ciúmes de .
Apenas não entendia porque ela havia escolhido ignorá-lo completamente mas mandar mensagens para Harrison e ainda responder tudo. Qual era a dificuldade de conversar com Tom? Quer dizer, eles tinham assunto, sempre tinham. As conversas costumavam ser diárias. Chamadas de voz, vídeo, áudios, tudo. Eles eram ótimos amigos e funcionavam super bem, mesmo com a distância.
— Não. — ele finalmente respondeu, revirando os olhos.
— Então o que ‘tá acontecendo? — Haz havia terminado de comer e agora olhava para Tom com aquela expressão séria de melhor amigo preocupado.
— É só que… — Tom respirou fundo. Claro que ele contaria para o amigo. — Ela não tem conversado muito comigo.
— Como assim?
— Ela não responde minhas mensagens. Quer dizer, responde, mas com risadas e “verdade né” e coisas do tipo. Parece que ela não faz questão de continuar a conversa. — Tom olhou para o resto da comida na prato, notando que ele não estava mais com fome. Empurrou o prato para o lado, deixando o caminho entre ele e o amigo livre.
— Ah. É isso. — e então Harrison riu.
O que honestamente era ofensivo.
Quer dizer, ali estava Tom, abrindo seu coração para o melhor amigo, que agora apenas ria dele. Certo, Tom não havia contado para Haz o que ele sentia por , mas sejamos honestos: Haz e Tom se conheciam fazia uma vida. Era óbvio que o amigo já havia notado.
— Será que você pode não rir?
— Desculpa. — mesmo assim demorou mais dois ou três minutos até que Harrison se recompusesse e voltasse a encarar Tom. — É que eu sei o que está acontecendo.
E ficou quieto.
Dica para a vida: se seu melhor amigo fala que está com um problema e você sabe como resolver, resolva.
— Fala logo, cacete.
— Ela pediu meu número porque queria saber se eu entendo de edição de vídeo. — Tom franziu as sobrancelhas. Não, Haz não entendia. — Eu disse que não, claro, mas sou curioso e quis saber o motivo. Ela me contou que está fazendo um vídeo pra cunhada dela. Aparentemente vai ter um casamento na família da .
Então por isso ela não respondia. Ele sabia que a rotina dela poderia ser corrida, sem contar o fato de que eles não tinham horários muito compatíveis. Agora, no seu pouco tempo livre, ela deveria estar focada em fazer o tal vídeo para a cunhada.
Não era culpa de Tom.
— Mesmo assim. Ela conseguiu conversar com você. Por que não conversa comigo? — não que ele quisesse parecer a criança manhosa, mas…
— Porque sou eu, Tom. — Haz balançou os ombros como se aquilo explicasse tudo. Mas a careta de Tom foi o bastante para que ele continuasse: — Ela não liga de me deixar esperando vinte minutos pela resposta. Ou de responder horas depois. Mas ela nunca faria isso com você.
— Por que não?
— Porque é você. — honestamente Tom estava odiando a maneira como Harrison parecia estar falando o óbvio. Não era óbvio. — Ela nunca vai te deixar esperando muito, por mais ocupada que esteja. E ela não vai querer só trocar umas mensagens. A gosta de te ligar, de te ver… Sabe né. Quando duas pessoas se gostam é meio assim.
Se Tom ainda estivesse comendo, ele teria engasgado. Na verdade ele meio que havia engasgado, com o ar e um pouco de saliva. Era possível, ele era a prova viva.
— Eu não– Ela é só minha amiga. É só– O que ela sente por mim. — e ali estava o idiota, gaguejando. Boa, Thomas.
— É, continue repetindo isso pra si mesmo. Eu tenho certeza do contrário.
Tom Holland oficialmente queria morrer.
— Você é louco. — e poderia estar certo.
— Acredite no quiser. — Harrison abriu os braços, se espreguiçando. Levantou-se e levou o prato para a pia, deixando ali para lavar depois. Ele sempre deixava para lavar depois. — Relaxa, ela disse que vai entregar o vídeo pra cunhada amanhã. Depois disso ela vai voltar a ser toda sua.
Tomara, foi tudo o que Tom conseguiu pensar enquanto via o amigo deixá-lo apenas com os próprios pensamentos.
18.
olhou de Juliano para Gisele, de Gisele para Eduarda e de Eduarda para Juliano.
Os três estavam rindo de uma piada qualquer que não havia achado muita graça. Não que a piada não fosse engraçada, provavelmente era. Mas ela não estava bem humorada para prestar atenção no que os três estavam falando.
Flávio e Thaís estavam oficialmente noivos, o que provavelmente era ótimo para os dois porque eles começariam a própria família, finalmente. Mas era péssimo para porque ela precisava sair de casa e simplesmente não tinha para onde ir. Eles não haviam expulsado-a, claro que não. Na verdade eles haviam até agradecido tudo o que ela havia feito pelos dois, sempre incentivando-os a permanecer juntos quando as coisas ficavam complicadas.
Ah, e Thaís havia aproveitado para surpreendê-la e convidá-la para ser a madrinha. No fim a noite acabou sendo Flávio e chorando e Thaís rindo dos dois porque era daquela família que ela passaria a fazer parte, coitada. Com certeza se perguntava onde tinha amarrado seu burro dessa vez.
Mesmo assim sentia que tudo o que o casal mais queria era privacidade.
Então, durante todo o tempo em que fazia o vídeo para Thaís, aproveitou para distribuir currículo por tantos, tantos, tantos lugares que havia perdido a conta de quantos emails havia mandado e quantas cópias havia feito. Mesmo assim ela foi chamada apenas para seis entrevistas, sendo que quatro sequer deram respostas e os outros dois, claro, foram negativas.
E então aconteceu que Juliano estava mudando de emprego.
Porque ele havia sido chamado para ser gerente de um outro bar da região, e óbvio que ele havia aceitado. Ia ganhar praticamente o dobro. Quem não iria? Por isso os quatro haviam se reunido na casa de Eduarda – porque era sempre na casa dela –, eles tinham que comemorar que agora mais um da turma seria bem sucedido na vida.
Menos a , claro.
Porque ela ia continuar ganhando pouco e morando de favor.
Então, quando eles faziam piada, ela simplesmente não conseguia rir porque sua vida estava tão merda que estava realmente difícil encontrar humor. Mas todos estavam rindo e ninguém tinha culpa de ela ter uma vida de merda, então ela tinha realmente que tentar ser uma amiga legal e fingir pelo menos que não queria só morrer.
— Mas então, o que vamos fazer no Halloween? — Eduarda perguntou, chamando a atenção de .
— Vai ter uma festa insana na Sashay! — Gisele bateu as mãos. — A namorada está louca pra ir, vamos todos!
— Que dia vai ser a festa? — franziu as sobrancelhas.
— 31, né . Halloween.
Só tinha um problema: o Halloween ia cair na terça. E na terça trabalhava. Mas, claro, ninguém parecia ter lembrado daquilo, porque logo todos estavam combinando de ir para a maldita festa. Honestamente. Ela sabia que nenhum deles estava fazendo aquilo por mal, ela tinha certeza disso. Mesmo assim ela não conseguia mais encarar ninguém. Ela tinha vontade de chorar.
— Vamos de fantasias combinando! — aparentemente eles haviam chegado a um consenso.
— O Halloween é literalmente depois amanhã. Onde vamos arranjar uma fantasia? Já deve estar tudo alugado a essas horas.
— Ah, vamos nos virar com o que temos.
— Poderíamos ir de Clube dos Cinco.
— Mas somos quatro.
— Três. — se manifestou recebendo três olhares confusos. — Eu trabalho na terça, gente.
Então os três fizeram exatamente a mesma expressão, que misturava pena e culpa. O que mais doía era a pena. Ela só queria poder sair com os amigos a noite. Não era pedir demais, era?
Eles começaram a pedir mil desculpas, dando um milhão de alternativas para que saíssem juntos outro dia, que deixassem o Halloween para lá. Mas sabia que não seria justo. Pelo que haviam falado a festa seria realmente muito boa, e se ela pudesse ir, com certeza iria. Não seria a pessoa que impediria os amigos de fazer o que queriam quando podiam.
balançou a mão e disse que tudo estava bem, que deveriam continuar decidindo as fantasias e que com certeza deveriam ir para a festa. Então se levantou e foi até o banheiro, onde poderia se trancar um pouco. Seus amigos sabiam que ela não pretendia usar o lavatório e apenas queria um tempo sozinha, e o banheiro era o único lugar da casa que poderia fazer aquilo.
Tirou o celular do bolso, abrindo na conversa com Haz, a última mensagem enviada por ele, parabenizando que o vídeo e o pedido haviam dado certo.
“Alguma vez você já sentiu um pouco de ciúme da fama do Tom?”
“Óbvio” a resposta veio no mesmo segundo. “Mas, ao mesmo tempo, eu acho a melhor coisa do mundo. Não conta pro Tom, mas ele é a melhor pessoa do mundo e está sabendo lidar tão bem com a fama…”
“Ele é mesmo” ela mandou um coração do lado. Talvez Harrison achasse óbvio o que ela realmente queria dizer, mas honestamente? Ela nem ligava.
Suspirou, fechando a conversa com o rapaz e abrindo a conversa com Tom. As últimas mensagens haviam sido uma troca de “bom dia”. Que merda.
“É muito estranho eu sentir sua falta?” assim que a mensagem foi enviada, os dois traços ficaram azuis.
Leu novamente a mensagem.
Que tipo de merda ela tinha na cabeça?
Aquilo havia sido tão esquisito! Tom iria achar que ela era louca, com certeza. Meu. Deus. Vinte e cinco ano nas costas e a idiota era completamente incapaz de controlar as próprias emoções. Vontade de morrer aumentando cada vez mais. Estava pronta para começar a digitar uma desculpa qualquer quando viu uma mensagem nova.
“Espero que não, porque eu também sinto a sua” e uma carinha piscando no final.
Ok.
Não havia sido ruim. Na verdade, havia sido bom.
Uma alegria ela tinha que ter.
***
O bar em que trabalhava não iria fazer nada de especial no Halloween. Mesmo assim estava lotado. nem sabia o motivo.
Tantos lugares da cidade comemorando o Halloween de alguma maneira e o pessoal decidia ia para o único bar que estava cagando para a data? Bom, não cagando. Todos os funcionários estavam usando um chapéu de bruxa. tinha feito uma maquiagem diferente também, havia se dado o prazer de pelo menos fingir que estava comemorando de alguma maneira.
Mas, desde a abertura do bar até o momento de seu intervalo ela simplesmente não havia conseguido parar por um único minuto. Inclusive seu intervalo não havia durado a uma hora usual porque os outros garçons não estavam conseguindo dar conta. O que raios as pessoas viam de tão legal em um bar karaokê, gente? Além do fato de que cantar bêbado era a coisa mais legal do mundo, claro.
Por isso, quando chegou em casa, mal deu “oi” para Thaís e Flávio. Também soube que não teria forças para entrar embaixo da droga do chuveiro. Nem pra trocar de roupa. Apenas tirou o jeans e o sutiã e se jogou na cama com a blusa do uniforme mesmo. Seus olhos já pareciam forçando para se fechar, mas seu vício interno não iria permitir que ela simplesmente apagasse.
Ela precisava checar o celular.
Apenas duas conversas.
Vários fotos de Juliano, Gisele e Eduarda na festa. Alguns áudios também falando o quanto eles queriam que ela estivesse aproveitando com eles. Ela sabia que haviam feito aquilo com a melhor das intenções, mas honestamente preferia que não tivessem feito, porque agora estava se sentindo ainda pior que antes.
A outra era uma mensagem de Tom.
Um vídeo, na verdade, que havia sido enviado por volta das seis da manhã – ou duas, para ele –, mais ou menos o horário que ela estava pegando o ônibus para voltar para casa. Não fazia nem uma hora. Ela franziu a testa. Não lembrava de já ter recebido um vídeo. Quer dizer, claro que havia a questão das chamadas de vídeo, mas um vídeo gravado? Não, era a primeira vez.
Sem mais demoras, aumentou o som do celular e apertou o play.
— Ei, ! — o vídeo havia sido gravado como uma selfie. O local estava meio escuro, mas ainda conseguia ver o rosto de Tom sob a luz arroxeada, com um estranho cavanhaque. Quê? Era impressão sua ou… Ele estava fantasiado de Renan, do Choque de Cultura? Espera. Tom conhecia Choque de Cultura? Por favor, parem o mundo. precisa descer.
Estava realmente muito barulho no fundo, uma mistura maluca de música alta e várias pessoas falando em um tom muito próximo a gritar. Ela precisava se esforçar bastante para entender o que ele estava falando.
— Como você tá comemorando o Halloween? O J. achou essa festa incrível para nós! Quer dizer, eu e o J. achamos, eu ajudei nisso. E eu acho que essa é a festa mais legal que eu já fui na minha vida! Eu nunca fui em uma festa com tanta decoração e produção tão bem feitas como essa! E as fantasias estão tão incríveis que eu juro que me sinto em uma Comic Con, sério. Aliás, eu pensei em vir de Homem-Aranha, mas seria tão clichê que desanimei. Então adivinha? Eu sou o Tony Stark! — ele afastou um pouco o celular, deixando que visse que, no peito dele, havia uma cópia perfeita do reator arc brilhando. Ah. Então não era o Renan. Seria mais divertido se fosse. Pelo menos agora ela entendia o cavanhaque.
— E você, tá fantasiada de que? Se você estivesse aqui você poderia se fantasiar de Pepper, pra nós combinarmos, né?
Tom suspirou, olhando para os lados, como se procurasse alguém. Então voltou a olhar para a câmera, parecendo subitamente triste. Era por que ele não havia conseguido encontrar quem quer que fosse?
— Mas enfim. Tem muita gente muito bonita aqui, e… E mesmo assim eu só queria você. Não me ache idiota, por favor, mas quando eu coloquei essa fantasia de Tony eu realmente imaginei que legal ter alguém de Pepper e a única pessoa na minha cabeça era você. Porque você meio que tem sido a única pessoa na minha mente nos últimos tempos. — mais um suspiro. Tom passou a mão pelo próprio cabelo, o bagunçando. — Eu não deveria ter falado isso. Melhor eu apagar esse ví–
— Tom! Te achei! — Jacob apareceu no vídeo, ao lado do amigo, um sorriso animado demais no rosto. — Ei, o que você tá fazendo com o celular em uma festa?
— Gravando um vídeo pra .
— Oi, ! Desculpa, mas vou ter que roubar o Tom, tá? Depois a gente te liga.
A imagem então foi cortada, o vídeo chegando ao fim.
voltou alguns segundos, trazendo o celular para mais perto do ouvido.
E mesmo assim eu só queria você.
Ele… Tom havia realmente falado aquilo. Ele realmente havia falado que queria ela. E não havia parecido no sentido sexual, honestamente. Parecia mais… Romântico. Parecia que ele estava gostando dela tanto quanto ela estava gostando ele.
Ela não se sentia mais cansada. Na verdade agora ela se sentia acordada até demais. Ela queria correr, gritar, falar para todo mundo que Tom Holland estava a fim dela. E ela estava a fim dele. E agora ela sabia.
E, meu deus, isso mudava tudo.
Os três estavam rindo de uma piada qualquer que não havia achado muita graça. Não que a piada não fosse engraçada, provavelmente era. Mas ela não estava bem humorada para prestar atenção no que os três estavam falando.
Flávio e Thaís estavam oficialmente noivos, o que provavelmente era ótimo para os dois porque eles começariam a própria família, finalmente. Mas era péssimo para porque ela precisava sair de casa e simplesmente não tinha para onde ir. Eles não haviam expulsado-a, claro que não. Na verdade eles haviam até agradecido tudo o que ela havia feito pelos dois, sempre incentivando-os a permanecer juntos quando as coisas ficavam complicadas.
Ah, e Thaís havia aproveitado para surpreendê-la e convidá-la para ser a madrinha. No fim a noite acabou sendo Flávio e chorando e Thaís rindo dos dois porque era daquela família que ela passaria a fazer parte, coitada. Com certeza se perguntava onde tinha amarrado seu burro dessa vez.
Mesmo assim sentia que tudo o que o casal mais queria era privacidade.
Então, durante todo o tempo em que fazia o vídeo para Thaís, aproveitou para distribuir currículo por tantos, tantos, tantos lugares que havia perdido a conta de quantos emails havia mandado e quantas cópias havia feito. Mesmo assim ela foi chamada apenas para seis entrevistas, sendo que quatro sequer deram respostas e os outros dois, claro, foram negativas.
E então aconteceu que Juliano estava mudando de emprego.
Porque ele havia sido chamado para ser gerente de um outro bar da região, e óbvio que ele havia aceitado. Ia ganhar praticamente o dobro. Quem não iria? Por isso os quatro haviam se reunido na casa de Eduarda – porque era sempre na casa dela –, eles tinham que comemorar que agora mais um da turma seria bem sucedido na vida.
Menos a , claro.
Porque ela ia continuar ganhando pouco e morando de favor.
Então, quando eles faziam piada, ela simplesmente não conseguia rir porque sua vida estava tão merda que estava realmente difícil encontrar humor. Mas todos estavam rindo e ninguém tinha culpa de ela ter uma vida de merda, então ela tinha realmente que tentar ser uma amiga legal e fingir pelo menos que não queria só morrer.
— Mas então, o que vamos fazer no Halloween? — Eduarda perguntou, chamando a atenção de .
— Vai ter uma festa insana na Sashay! — Gisele bateu as mãos. — A namorada está louca pra ir, vamos todos!
— Que dia vai ser a festa? — franziu as sobrancelhas.
— 31, né . Halloween.
Só tinha um problema: o Halloween ia cair na terça. E na terça trabalhava. Mas, claro, ninguém parecia ter lembrado daquilo, porque logo todos estavam combinando de ir para a maldita festa. Honestamente. Ela sabia que nenhum deles estava fazendo aquilo por mal, ela tinha certeza disso. Mesmo assim ela não conseguia mais encarar ninguém. Ela tinha vontade de chorar.
— Vamos de fantasias combinando! — aparentemente eles haviam chegado a um consenso.
— O Halloween é literalmente depois amanhã. Onde vamos arranjar uma fantasia? Já deve estar tudo alugado a essas horas.
— Ah, vamos nos virar com o que temos.
— Poderíamos ir de Clube dos Cinco.
— Mas somos quatro.
— Três. — se manifestou recebendo três olhares confusos. — Eu trabalho na terça, gente.
Então os três fizeram exatamente a mesma expressão, que misturava pena e culpa. O que mais doía era a pena. Ela só queria poder sair com os amigos a noite. Não era pedir demais, era?
Eles começaram a pedir mil desculpas, dando um milhão de alternativas para que saíssem juntos outro dia, que deixassem o Halloween para lá. Mas sabia que não seria justo. Pelo que haviam falado a festa seria realmente muito boa, e se ela pudesse ir, com certeza iria. Não seria a pessoa que impediria os amigos de fazer o que queriam quando podiam.
balançou a mão e disse que tudo estava bem, que deveriam continuar decidindo as fantasias e que com certeza deveriam ir para a festa. Então se levantou e foi até o banheiro, onde poderia se trancar um pouco. Seus amigos sabiam que ela não pretendia usar o lavatório e apenas queria um tempo sozinha, e o banheiro era o único lugar da casa que poderia fazer aquilo.
Tirou o celular do bolso, abrindo na conversa com Haz, a última mensagem enviada por ele, parabenizando que o vídeo e o pedido haviam dado certo.
“Alguma vez você já sentiu um pouco de ciúme da fama do Tom?”
“Óbvio” a resposta veio no mesmo segundo. “Mas, ao mesmo tempo, eu acho a melhor coisa do mundo. Não conta pro Tom, mas ele é a melhor pessoa do mundo e está sabendo lidar tão bem com a fama…”
“Ele é mesmo” ela mandou um coração do lado. Talvez Harrison achasse óbvio o que ela realmente queria dizer, mas honestamente? Ela nem ligava.
Suspirou, fechando a conversa com o rapaz e abrindo a conversa com Tom. As últimas mensagens haviam sido uma troca de “bom dia”. Que merda.
“É muito estranho eu sentir sua falta?” assim que a mensagem foi enviada, os dois traços ficaram azuis.
Leu novamente a mensagem.
Que tipo de merda ela tinha na cabeça?
Aquilo havia sido tão esquisito! Tom iria achar que ela era louca, com certeza. Meu. Deus. Vinte e cinco ano nas costas e a idiota era completamente incapaz de controlar as próprias emoções. Vontade de morrer aumentando cada vez mais. Estava pronta para começar a digitar uma desculpa qualquer quando viu uma mensagem nova.
“Espero que não, porque eu também sinto a sua” e uma carinha piscando no final.
Ok.
Não havia sido ruim. Na verdade, havia sido bom.
Uma alegria ela tinha que ter.
O bar em que trabalhava não iria fazer nada de especial no Halloween. Mesmo assim estava lotado. nem sabia o motivo.
Tantos lugares da cidade comemorando o Halloween de alguma maneira e o pessoal decidia ia para o único bar que estava cagando para a data? Bom, não cagando. Todos os funcionários estavam usando um chapéu de bruxa. tinha feito uma maquiagem diferente também, havia se dado o prazer de pelo menos fingir que estava comemorando de alguma maneira.
Mas, desde a abertura do bar até o momento de seu intervalo ela simplesmente não havia conseguido parar por um único minuto. Inclusive seu intervalo não havia durado a uma hora usual porque os outros garçons não estavam conseguindo dar conta. O que raios as pessoas viam de tão legal em um bar karaokê, gente? Além do fato de que cantar bêbado era a coisa mais legal do mundo, claro.
Por isso, quando chegou em casa, mal deu “oi” para Thaís e Flávio. Também soube que não teria forças para entrar embaixo da droga do chuveiro. Nem pra trocar de roupa. Apenas tirou o jeans e o sutiã e se jogou na cama com a blusa do uniforme mesmo. Seus olhos já pareciam forçando para se fechar, mas seu vício interno não iria permitir que ela simplesmente apagasse.
Ela precisava checar o celular.
Apenas duas conversas.
Vários fotos de Juliano, Gisele e Eduarda na festa. Alguns áudios também falando o quanto eles queriam que ela estivesse aproveitando com eles. Ela sabia que haviam feito aquilo com a melhor das intenções, mas honestamente preferia que não tivessem feito, porque agora estava se sentindo ainda pior que antes.
A outra era uma mensagem de Tom.
Um vídeo, na verdade, que havia sido enviado por volta das seis da manhã – ou duas, para ele –, mais ou menos o horário que ela estava pegando o ônibus para voltar para casa. Não fazia nem uma hora. Ela franziu a testa. Não lembrava de já ter recebido um vídeo. Quer dizer, claro que havia a questão das chamadas de vídeo, mas um vídeo gravado? Não, era a primeira vez.
Sem mais demoras, aumentou o som do celular e apertou o play.
— Ei, ! — o vídeo havia sido gravado como uma selfie. O local estava meio escuro, mas ainda conseguia ver o rosto de Tom sob a luz arroxeada, com um estranho cavanhaque. Quê? Era impressão sua ou… Ele estava fantasiado de Renan, do Choque de Cultura? Espera. Tom conhecia Choque de Cultura? Por favor, parem o mundo. precisa descer.
Estava realmente muito barulho no fundo, uma mistura maluca de música alta e várias pessoas falando em um tom muito próximo a gritar. Ela precisava se esforçar bastante para entender o que ele estava falando.
— Como você tá comemorando o Halloween? O J. achou essa festa incrível para nós! Quer dizer, eu e o J. achamos, eu ajudei nisso. E eu acho que essa é a festa mais legal que eu já fui na minha vida! Eu nunca fui em uma festa com tanta decoração e produção tão bem feitas como essa! E as fantasias estão tão incríveis que eu juro que me sinto em uma Comic Con, sério. Aliás, eu pensei em vir de Homem-Aranha, mas seria tão clichê que desanimei. Então adivinha? Eu sou o Tony Stark! — ele afastou um pouco o celular, deixando que visse que, no peito dele, havia uma cópia perfeita do reator arc brilhando. Ah. Então não era o Renan. Seria mais divertido se fosse. Pelo menos agora ela entendia o cavanhaque.
— E você, tá fantasiada de que? Se você estivesse aqui você poderia se fantasiar de Pepper, pra nós combinarmos, né?
Tom suspirou, olhando para os lados, como se procurasse alguém. Então voltou a olhar para a câmera, parecendo subitamente triste. Era por que ele não havia conseguido encontrar quem quer que fosse?
— Mas enfim. Tem muita gente muito bonita aqui, e… E mesmo assim eu só queria você. Não me ache idiota, por favor, mas quando eu coloquei essa fantasia de Tony eu realmente imaginei que legal ter alguém de Pepper e a única pessoa na minha cabeça era você. Porque você meio que tem sido a única pessoa na minha mente nos últimos tempos. — mais um suspiro. Tom passou a mão pelo próprio cabelo, o bagunçando. — Eu não deveria ter falado isso. Melhor eu apagar esse ví–
— Tom! Te achei! — Jacob apareceu no vídeo, ao lado do amigo, um sorriso animado demais no rosto. — Ei, o que você tá fazendo com o celular em uma festa?
— Gravando um vídeo pra .
— Oi, ! Desculpa, mas vou ter que roubar o Tom, tá? Depois a gente te liga.
A imagem então foi cortada, o vídeo chegando ao fim.
voltou alguns segundos, trazendo o celular para mais perto do ouvido.
E mesmo assim eu só queria você.
Ele… Tom havia realmente falado aquilo. Ele realmente havia falado que queria ela. E não havia parecido no sentido sexual, honestamente. Parecia mais… Romântico. Parecia que ele estava gostando dela tanto quanto ela estava gostando ele.
Ela não se sentia mais cansada. Na verdade agora ela se sentia acordada até demais. Ela queria correr, gritar, falar para todo mundo que Tom Holland estava a fim dela. E ela estava a fim dele. E agora ela sabia.
E, meu deus, isso mudava tudo.
19.
“Tom, acho que precisamos conversar. Me liga assim que der, ok?”
Ele coçou o olho, tentando entender o que estava acontecendo.
Tentou repassar a noite anterior pela própria mente, tendo apenas borrões de tudo o que havia acontecido na festa. E, aparentemente, ele havia mandado uma mensagem para enquanto estava bêbado. De novo. Porque ele era uma pessoa péssima e estava na hora de entender isso. E o que era aquilo? Ele tinha gravado um vídeo para ? Era o que faltava.
Revirou os olhos, dando play no vídeo. Ah. A fantasia dele não estava tão legal quanto ele havia imaginado. A vida tinha dessas. Claro que ele tinha que mostrar a fantasia para . E confessar o que sentia por ela. Ele nunca cansaria de passar vergonha? E…
Confessar?
Ah não.
Não. Não. Não.
— Puta que pariu. — ele pulou da cama, correndo até o quarto de Harrison.
Não era possível que ele houvesse sido esse tipo de idiota bêbado. Tantas maneiras de ser o bêbado idiota. Se achar o mais forte de todos. Falar para deus e o mundo que era cheio de dinheiro. Chorar no colo de um estranho. Vomitar no pé do melhor amigo. Puxar briga com alguém no bar. Beijar alguém do mesmo sexo. Sugerir um menáge. Comprar algo desnecessário, extremamente caro e do qual iria se arrepender. Acordar na casa de um desconhecido. Acordar em outro país. Tantos tipos de bêbados e ele tinha que ser o idiota que mandava mensagem para a crush.
— Harrison! — ele abriu a porta de uma vez, subindo na cama do amigo sem ser convidado.
— Some daqui, Thomas. — Harrison apenas virou para o lado oposto ao que Tom havia se jogado, claramente não querendo conversar com o amigo.
— Haz, é importante. Olha isso!
Tom deu play no vídeo, o balançando na frente do rosto de amigo, que parecia se recusar completamente a abrir os olhos. Mas, mesmo assim, Harrison ainda conseguia ouvir tudo o que Tom falava no vídeo. E não demorou muito para que ele ouvisse as palavras que o fizeram pular, sentando na cama de uma vez, não atingindo Tom por muito pouco. Pegou o celular da mão do amigo, voltando o vídeo e o reassistindo.
— Puta merda, Tom.
— Puta merda, Haz.
— Eu não acredito que você fez isso. — Harrison balançou a cabeça, apertando para voltar, os olhos prendendo-se na mensagem que vinha logo abaixo do vídeo. — E ela já viu. E quer conversar. É.
— Haz, você é meu melhor amigo, e às vezes melhores amigos fazem coisas que não gostariam de fazer. Então eu sei que vai ser um saco mas eu preciso que você faça algo por mim. — Tom puxou o celular da mão de Harrison, segurando os ombros do melhor amigo em um típico gesto de desespero. — Você precisa me matar.
— Cala a boca. — o loiro riu, batendo na mão do amigo e o afastando. — Liga pra ela.
— Não.
— Tom, fala sério. — Harrison pegou o celular o do amigo e começou a cutucá-lo com o aparelho até que Tom o pegasse de volta. — Você sabe que tem que ligar pra .
— Eu não tenho que ligar. Se eu só ignorar o que aconteceu–
— Não ouse. Sai do meu quarto e liga logo. Ela ainda não deve ter saído para trabalhar, aproveita.
Tom foi praticamente enxotado para fora do quarto do amigo. Reclamando um pouco, fechou a porta do quarto de Harrison atrás de si. Pensou em ir para a sala e ligar para de lá, mas acabou decidindo por voltar para o próprio quarto. Assim ele poderia chorar a vontade após o fim da ligação sem que Haz presenciasse seu momento fundo do poço.
Ele não queria ter confessado nada para , essa era a verdade. Havia decidido há muito tempo que não contaria nada para ela, mas mesmo assim o “Tom bêbado” havia feito merda de novo. Ele simplesmente não conseguia de controlar quando se tratava dela, era isso. Mas agora ela também saberia. Tom nem queria pensar em como isso afetaria a amizade deles.
Enquanto se deitava na própria cama, abriu a conversa com , lendo novamente a última mensagem. Me liga assim de der, ok? Bom, dava. Mas mesmo assim… Respirou fundo. Era hora de enfrentar as consequências das próprias ações.
— Ei, . — ele disse após ouví-la atender com um “Tom!” super animado. Talvez aquela conversa não fosse ser tão horrível assim. — Tudo certo?
— Tudo ótimo. E você? Se divertiu bastante ontem? — ele tinha a impressão que ela estava sorrindo, o que poderia muito significar que aquela conversa na verdade seria ótima. Agora ele estava esperançoso.
— Mais do que deveria, até. Você viu, né? — porque o vídeo teria que ser o assunto em algum momento.
— Vi. Várias vezes. — uau. Ela havia assistido mais de uma vez. — Então… É verdade?
— O que eu falei no vídeo?
— É. — agora a voz dela parecia um pouco preocupada. Talvez ela estivesse ansiosa; Tom sabia que ele estava. — Por favor, me fala a verdade. Porque se você mentir eu vou descobrir um dia, e quando descobrir…
— Eu não vou mentir. Nem tem motivo. — ele respirou fundo. Por mais que já houvesse falado aquelas palavras antes, fazê-lo sóbrio era realmente mais difícil. — É verdade. Eu… É, é tudo verdade. Eu ‘tô a fim de você.
— Ah. — ok, aquela não era exatamente a reação que ele estava esperando. Mesmo assim ficou em silêncio, esperando que continuasse, porque não era possível que ela falaria apenas “ah” para aquela revelação. — Isso é muito bom, porque eu sinto o mesmo por você.
Era pra ouvir aquele tipo de coisa que Tom tinha um celular.
A sensação de ser correspondido era uma das melhores da vida, com toda certeza.
Mas ainda tinha um pequeno problema.
— Ah. — foi ele quem falou dessa vez. — Isso é bom.
— Mas eu estou em outro país. — ela suspirou do outro lado da linha. Isso ainda era um senhor problema para os dois. — Que merda. Era pra nós estarmos nos beijando nesse exato momento.
E então voltava naquele ponto de que, mesmo que os sentimentos fossem correspondidos, eles não conseguiriam ficar juntos. Honestamente, o que é pior? Gostar de uma pessoa e não poder ficar com ela porque ela não sente o mesmo… Ou os dois realmente se gostarem e não ficarem juntos porque existe um fator que está além do controle?
Para Tom a segunda opção era com certeza a pior.
— E agora? — ela perguntou de um jeito que Tom poderia jurar que ela estava torcendo a boca em uma careta triste.
— Eu não tenho ideia. — os dois ficaram em silêncio por um tempo, pensando no que fariam a respeito daquilo. Tom sabia que ela também pensava que namoro à distância não era a melhor das ideias.
— Eu tenho uma. — aquilo era inesperado. Tom apenas fez um som para que ela continuasse, realmente curioso a respeito do que viria a seguir. — Eu sugiro que nós continuemos nossas vidas como são, e quando eu for para Los Angeles nós vivamos um mês como namorados.
— Eu não sei se eu consigo viver minha vida como ela é. Não agora que eu sei que você sente o mesmo por mim. — Tom mordeu o próprio lábio, tentando pensar em algo.
O que havia sugerido fazia todo o sentido. Se eles não poderiam ficar juntos, eles não deveriam se prender um ao outro. Mas ele sabia que não conseguiria não pensar em tudo o que eles poderiam ser mas não eram. E ele não se interessaria por mais ninguém.
— Pior é que eu posso dizer o mesmo de mim. Estava tentando te oferecer um bom acordo. — os dois riram apenas pela força de vontade, porque nada ali era realmente engraçado. — Podemos pensar mais nisso como um relacionamento aberto então.
— Nós namoramos mas podemos ficar com outras pessoas? Eu posso conviver com isso. — não era ideal, mas era o que eles tinham. Apesar de Tom saber que não ficaria com ninguém, ao menos eles ficariam juntos de alguma maneira. Uma maneira bizarra mas funcional, se tudo ocorresse bem.
— Menos quando eu for pra Los Angeles. Porque aí eu vou querer monogamia total.
— Como se eu fosse querer qualquer outra pessoa, né ? Fala sério.
— Você sobe meu ego, Tom.
— Não vou continuar nesse assunto. — os dois riram. Ao menos vinte piadas haviam se passado pela cabeça do rapaz, mas ele não iria verbalizar nenhuma. Para seu próprio bem. — Você conseguiu trocar suas férias para abril?
— Sim. O Juliano ia tirar em abril, mas como ele saiu do bar, pedi a data dele e me passaram.
— Perfeito. Agora ‘tô ainda mais ansioso.
— Nem me fala. Não vejo a hora de poder aproveitar muito do meu namorado.
Namorado.
Ele poderia se acostumar com isso.
Ele coçou o olho, tentando entender o que estava acontecendo.
Tentou repassar a noite anterior pela própria mente, tendo apenas borrões de tudo o que havia acontecido na festa. E, aparentemente, ele havia mandado uma mensagem para enquanto estava bêbado. De novo. Porque ele era uma pessoa péssima e estava na hora de entender isso. E o que era aquilo? Ele tinha gravado um vídeo para ? Era o que faltava.
Revirou os olhos, dando play no vídeo. Ah. A fantasia dele não estava tão legal quanto ele havia imaginado. A vida tinha dessas. Claro que ele tinha que mostrar a fantasia para . E confessar o que sentia por ela. Ele nunca cansaria de passar vergonha? E…
Confessar?
Ah não.
Não. Não. Não.
— Puta que pariu. — ele pulou da cama, correndo até o quarto de Harrison.
Não era possível que ele houvesse sido esse tipo de idiota bêbado. Tantas maneiras de ser o bêbado idiota. Se achar o mais forte de todos. Falar para deus e o mundo que era cheio de dinheiro. Chorar no colo de um estranho. Vomitar no pé do melhor amigo. Puxar briga com alguém no bar. Beijar alguém do mesmo sexo. Sugerir um menáge. Comprar algo desnecessário, extremamente caro e do qual iria se arrepender. Acordar na casa de um desconhecido. Acordar em outro país. Tantos tipos de bêbados e ele tinha que ser o idiota que mandava mensagem para a crush.
— Harrison! — ele abriu a porta de uma vez, subindo na cama do amigo sem ser convidado.
— Some daqui, Thomas. — Harrison apenas virou para o lado oposto ao que Tom havia se jogado, claramente não querendo conversar com o amigo.
— Haz, é importante. Olha isso!
Tom deu play no vídeo, o balançando na frente do rosto de amigo, que parecia se recusar completamente a abrir os olhos. Mas, mesmo assim, Harrison ainda conseguia ouvir tudo o que Tom falava no vídeo. E não demorou muito para que ele ouvisse as palavras que o fizeram pular, sentando na cama de uma vez, não atingindo Tom por muito pouco. Pegou o celular da mão do amigo, voltando o vídeo e o reassistindo.
— Puta merda, Tom.
— Puta merda, Haz.
— Eu não acredito que você fez isso. — Harrison balançou a cabeça, apertando para voltar, os olhos prendendo-se na mensagem que vinha logo abaixo do vídeo. — E ela já viu. E quer conversar. É.
— Haz, você é meu melhor amigo, e às vezes melhores amigos fazem coisas que não gostariam de fazer. Então eu sei que vai ser um saco mas eu preciso que você faça algo por mim. — Tom puxou o celular da mão de Harrison, segurando os ombros do melhor amigo em um típico gesto de desespero. — Você precisa me matar.
— Cala a boca. — o loiro riu, batendo na mão do amigo e o afastando. — Liga pra ela.
— Não.
— Tom, fala sério. — Harrison pegou o celular o do amigo e começou a cutucá-lo com o aparelho até que Tom o pegasse de volta. — Você sabe que tem que ligar pra .
— Eu não tenho que ligar. Se eu só ignorar o que aconteceu–
— Não ouse. Sai do meu quarto e liga logo. Ela ainda não deve ter saído para trabalhar, aproveita.
Tom foi praticamente enxotado para fora do quarto do amigo. Reclamando um pouco, fechou a porta do quarto de Harrison atrás de si. Pensou em ir para a sala e ligar para de lá, mas acabou decidindo por voltar para o próprio quarto. Assim ele poderia chorar a vontade após o fim da ligação sem que Haz presenciasse seu momento fundo do poço.
Ele não queria ter confessado nada para , essa era a verdade. Havia decidido há muito tempo que não contaria nada para ela, mas mesmo assim o “Tom bêbado” havia feito merda de novo. Ele simplesmente não conseguia de controlar quando se tratava dela, era isso. Mas agora ela também saberia. Tom nem queria pensar em como isso afetaria a amizade deles.
Enquanto se deitava na própria cama, abriu a conversa com , lendo novamente a última mensagem. Me liga assim de der, ok? Bom, dava. Mas mesmo assim… Respirou fundo. Era hora de enfrentar as consequências das próprias ações.
— Ei, . — ele disse após ouví-la atender com um “Tom!” super animado. Talvez aquela conversa não fosse ser tão horrível assim. — Tudo certo?
— Tudo ótimo. E você? Se divertiu bastante ontem? — ele tinha a impressão que ela estava sorrindo, o que poderia muito significar que aquela conversa na verdade seria ótima. Agora ele estava esperançoso.
— Mais do que deveria, até. Você viu, né? — porque o vídeo teria que ser o assunto em algum momento.
— Vi. Várias vezes. — uau. Ela havia assistido mais de uma vez. — Então… É verdade?
— O que eu falei no vídeo?
— É. — agora a voz dela parecia um pouco preocupada. Talvez ela estivesse ansiosa; Tom sabia que ele estava. — Por favor, me fala a verdade. Porque se você mentir eu vou descobrir um dia, e quando descobrir…
— Eu não vou mentir. Nem tem motivo. — ele respirou fundo. Por mais que já houvesse falado aquelas palavras antes, fazê-lo sóbrio era realmente mais difícil. — É verdade. Eu… É, é tudo verdade. Eu ‘tô a fim de você.
— Ah. — ok, aquela não era exatamente a reação que ele estava esperando. Mesmo assim ficou em silêncio, esperando que continuasse, porque não era possível que ela falaria apenas “ah” para aquela revelação. — Isso é muito bom, porque eu sinto o mesmo por você.
Era pra ouvir aquele tipo de coisa que Tom tinha um celular.
A sensação de ser correspondido era uma das melhores da vida, com toda certeza.
Mas ainda tinha um pequeno problema.
— Ah. — foi ele quem falou dessa vez. — Isso é bom.
— Mas eu estou em outro país. — ela suspirou do outro lado da linha. Isso ainda era um senhor problema para os dois. — Que merda. Era pra nós estarmos nos beijando nesse exato momento.
E então voltava naquele ponto de que, mesmo que os sentimentos fossem correspondidos, eles não conseguiriam ficar juntos. Honestamente, o que é pior? Gostar de uma pessoa e não poder ficar com ela porque ela não sente o mesmo… Ou os dois realmente se gostarem e não ficarem juntos porque existe um fator que está além do controle?
Para Tom a segunda opção era com certeza a pior.
— E agora? — ela perguntou de um jeito que Tom poderia jurar que ela estava torcendo a boca em uma careta triste.
— Eu não tenho ideia. — os dois ficaram em silêncio por um tempo, pensando no que fariam a respeito daquilo. Tom sabia que ela também pensava que namoro à distância não era a melhor das ideias.
— Eu tenho uma. — aquilo era inesperado. Tom apenas fez um som para que ela continuasse, realmente curioso a respeito do que viria a seguir. — Eu sugiro que nós continuemos nossas vidas como são, e quando eu for para Los Angeles nós vivamos um mês como namorados.
— Eu não sei se eu consigo viver minha vida como ela é. Não agora que eu sei que você sente o mesmo por mim. — Tom mordeu o próprio lábio, tentando pensar em algo.
O que havia sugerido fazia todo o sentido. Se eles não poderiam ficar juntos, eles não deveriam se prender um ao outro. Mas ele sabia que não conseguiria não pensar em tudo o que eles poderiam ser mas não eram. E ele não se interessaria por mais ninguém.
— Pior é que eu posso dizer o mesmo de mim. Estava tentando te oferecer um bom acordo. — os dois riram apenas pela força de vontade, porque nada ali era realmente engraçado. — Podemos pensar mais nisso como um relacionamento aberto então.
— Nós namoramos mas podemos ficar com outras pessoas? Eu posso conviver com isso. — não era ideal, mas era o que eles tinham. Apesar de Tom saber que não ficaria com ninguém, ao menos eles ficariam juntos de alguma maneira. Uma maneira bizarra mas funcional, se tudo ocorresse bem.
— Menos quando eu for pra Los Angeles. Porque aí eu vou querer monogamia total.
— Como se eu fosse querer qualquer outra pessoa, né ? Fala sério.
— Você sobe meu ego, Tom.
— Não vou continuar nesse assunto. — os dois riram. Ao menos vinte piadas haviam se passado pela cabeça do rapaz, mas ele não iria verbalizar nenhuma. Para seu próprio bem. — Você conseguiu trocar suas férias para abril?
— Sim. O Juliano ia tirar em abril, mas como ele saiu do bar, pedi a data dele e me passaram.
— Perfeito. Agora ‘tô ainda mais ansioso.
— Nem me fala. Não vejo a hora de poder aproveitar muito do meu namorado.
Namorado.
Ele poderia se acostumar com isso.
20.
O começo foi estranho.
Quer dizer, primeiro porque não conseguia acreditar muito bem no que estava acontecendo. Por alguns dias ela teve certeza de que havia sonhado absolutamente tudo, porque sonho era a única maneira lógica de aceitar tudo aquilo.
Aos poucos tudo foi ficando mais real.
Nos primeiros dias ela e Tom conversavam exatamente da mesma maneira, parecendo apenas amigos e nada mais. E então vieram os primeiros flertes explícitos. As primeiras provocações. Até finalmente chegarem ao ponto de realmente parecerem namorados.
— “Quando você vier pra L.A. eu não vou te deixar sair da minha cama”. Uau. Eu nem sei medir o tanto que você vai dar pra esse menino. — a voz de Eduarda soou por cima do ombro de , deixando claro que a amiga estava lendo sua conversa sem nenhuma vergonha.
— Caralho, Eduarda! — puxou o celular para longe, bloqueando a tela e olhando feio para a amiga, o rosto ficando quente. — Por que você tá lendo a minha conversa?
— Ué. Eu ‘tô entediada. Não esqueça que foi você quem pediu pra eu vir na Polícia Federal contigo pra fazer o passaporte.
— Porque você estava pela região. E isso não é sinônimo de “pode ler minha conversa com o meu namorado”, você está ciente disso, né?
Eduarda apenas revirou os olhos, voltando a mexer no próprio celular. bufou, respondendo rapidamente a mensagem de Tom. Não que ela estivesse brava com Eduarda, apenas estava com vergonha. Mensagem de teor sexual não era exatamente algo que ela queria que fosse compartilhado.
Mas não podia culpar a amiga. Elas estavam ali fazia quase quarenta minutos – isso porque ela havia marcado horário. sabia que, depois que fosse chamada, seria realmente rápido. O problema era ser chamada.
— É muito ruim namorar a distância? — Eduarda largou o próprio celular novamente, voltando a prestar atenção em .
Ela parou por um minuto. Óbvio que era. Quer dizer, ela não podia nem beijar o namorado. E por mais que eles conversassem basicamente todos os dias, não era mesma coisa, nem de longe. Ela queria tocar e ser tocada. Beijar e ser beijada. Por isso queria aquele passaporte logo, para fazer aquela viagem logo e finalmente estar perto de Tom. Mas aqueles malditos não lhe chamavam.
— Sim. — ela suspirou, deixando o celular um pouco de lado para dar atenção a amiga. — Quer dizer… Eu não posso fazer muito do que eu queria, entende?
— Tipo dar pra ele?
— Cala a boca.
Cinco minutos depois finalmente foi chamada. E o processo para tirar passaporte era realmente muito rápido. Mal haviam olhado para todos os documentos que haviam pedido para que ela levasse. No fim apenas uma foto e era isso, seu passaporte estaria pronto dali uma semana, quando ela poderia finalmente retirá-lo. E que fizesse uma boa viagem.
Foi obrigada a ouvir mais algumas gracinhas de Eduarda no caminho para casa, apenas tendo paz quando a amiga desceu sete pontos antes. Pelo menos agora ela tinha a consciência tranquila em relação ao passaporte. O próximo passo era tirar o visto, o que todo mundo dizia ser chato demais. Os Estados Unidos eram realmente paranóicos em relação a gente de fora.
Thaís e Flávio ainda não haviam chegado do trabalho, o que considerava um alívio. Eles estavam no constante clima de lua de mel desde o pedido de casamento, o que só a lembrava todo o tempo o quanto ela estava atrapalhando a intimidade dos dois e precisava sair daquela casa logo. Mas ela ainda não havia conseguido um emprego melhor porque a vida tinha dessas.
Mesmo estando sozinha em casa ela foi para o próprio quarto, se trancando a conectando o wi-fi. Abriu a conversa com Tom, vendo que o status dele estava online. Pensou em simplesmente mandar uma mensagem, mas qual seria a graça? Se ajeitou melhor na cama, arrumou um pouco o cabelo e iniciou uma chamada de vídeo.
— Oi, gatinha. — quem atendeu foi Harrison, piscando para ela.
— Haz! Oi, amor! — ela piscou de volta, arrancando uma risada do rapaz.
— Eu ouvi isso! — a voz de Tom soou ao fundo e em poucos segundos o rosto dele estava aparecendo ao lado do melhor amigo. — Eu fico fora dois segundos e minha namorada e meu melhor amigo flertam.
— Quem manda ter uma namorada linda?
— Quem manda ter um melhor amigo lindo? — e Harrison falaram exatamente ao mesmo tempo, fazendo Tom revirar os olhos. — High-five virtual!
levantou a mão, vendo Harrison repetir o gesto e Tom começar a rir sem parar. Tom então expulsou Harrison, rindo enquanto ia para o próprio quarto e trancava a porta. Um pouco de privacidade era bom, obrigada.
— ‘Tá, eu tenho uma novidade. — ela observou enquanto ele se deitava na cama, a imagem tremendo um pouco. — Tirei o passaporte!
— Já? Ainda estamos em novembro! — Tom começou a rir da careta que ela fez. Era uma notícia boa, caramba! Era pra ficar feliz. — ‘Tô brincando. Na verdade, se você pudesse, eu comprava a passagem para você embarcar amanhã mesmo.
— Como se você estivesse super tranquilo, né? — ela tentou manter o tom neutro. Como ela queria ir para Los Angeles ficar perto daquele menino, meu deus.
— , se você estivesse aqui eu tiraria tempo da puta que pariu pra ficar com você.
Merda.
Nessas horas ela simplesmente odiava estar no Brasil, de todo coração. Ou odiava que ele estivesse nos Estados Unidos. Resumindo, ela odiava a distância. Que merda. Tudo o que ela queria era estar ali, com ele. Ouvindo-o falar aquelas coisas pessoalmente. Ela tinha certeza que a voz dele era diferente pessoalmente, ela ainda lembrava do único encontro que eles já haviam tido. Quando eram apenas fã e ídolo. Quase um ano atrás. Agora eles eram namorados. A distância. E tudo o que ela queria era estar ao lado dele, na cam–
— Eu te odeio. — ela não conseguiu evitar, mas havia acabado de lembrar da mensagem que ele havia mandado e Eduarda havia lido. E falado da mensagem o tempo todo.
— Hã… Desculpa? — ele franziu as sobrancelhas e riu. — Eu não entendi muito bem de onde isso veio ou onde eu errei, mas desculpa.
— A Eduarda leu aquela mensagem. De que você não vai me deixar sair da sua cama quando eu for pra L.A.
— Ah.
— Ela ficou falando disso o tempo todo depois.
— Óbvio.
— Sobre como eu vou ficar dando pra você.
— Certíssima. — ele riu ainda mais da cara de chocada que ela fez. Mas… Não tinha nenhuma mentira naquela história toda, né? — Ela parece uma menina muito inteligente.
— Thomas. — ela usou um tom de repreensão.
— Ah tá! Você pode zoar com o Harrison mas eu não posso encorajar sua amiga que, vamos ser sinceros, só falou a verdade?
— Eu te odeio. — ela repetiu com um enorme sorriso no rosto.
— Não, , você me ama.
E ela odiava o fato de que aquela era a maior das verdades.
Quer dizer, primeiro porque não conseguia acreditar muito bem no que estava acontecendo. Por alguns dias ela teve certeza de que havia sonhado absolutamente tudo, porque sonho era a única maneira lógica de aceitar tudo aquilo.
Aos poucos tudo foi ficando mais real.
Nos primeiros dias ela e Tom conversavam exatamente da mesma maneira, parecendo apenas amigos e nada mais. E então vieram os primeiros flertes explícitos. As primeiras provocações. Até finalmente chegarem ao ponto de realmente parecerem namorados.
— “Quando você vier pra L.A. eu não vou te deixar sair da minha cama”. Uau. Eu nem sei medir o tanto que você vai dar pra esse menino. — a voz de Eduarda soou por cima do ombro de , deixando claro que a amiga estava lendo sua conversa sem nenhuma vergonha.
— Caralho, Eduarda! — puxou o celular para longe, bloqueando a tela e olhando feio para a amiga, o rosto ficando quente. — Por que você tá lendo a minha conversa?
— Ué. Eu ‘tô entediada. Não esqueça que foi você quem pediu pra eu vir na Polícia Federal contigo pra fazer o passaporte.
— Porque você estava pela região. E isso não é sinônimo de “pode ler minha conversa com o meu namorado”, você está ciente disso, né?
Eduarda apenas revirou os olhos, voltando a mexer no próprio celular. bufou, respondendo rapidamente a mensagem de Tom. Não que ela estivesse brava com Eduarda, apenas estava com vergonha. Mensagem de teor sexual não era exatamente algo que ela queria que fosse compartilhado.
Mas não podia culpar a amiga. Elas estavam ali fazia quase quarenta minutos – isso porque ela havia marcado horário. sabia que, depois que fosse chamada, seria realmente rápido. O problema era ser chamada.
— É muito ruim namorar a distância? — Eduarda largou o próprio celular novamente, voltando a prestar atenção em .
Ela parou por um minuto. Óbvio que era. Quer dizer, ela não podia nem beijar o namorado. E por mais que eles conversassem basicamente todos os dias, não era mesma coisa, nem de longe. Ela queria tocar e ser tocada. Beijar e ser beijada. Por isso queria aquele passaporte logo, para fazer aquela viagem logo e finalmente estar perto de Tom. Mas aqueles malditos não lhe chamavam.
— Sim. — ela suspirou, deixando o celular um pouco de lado para dar atenção a amiga. — Quer dizer… Eu não posso fazer muito do que eu queria, entende?
— Tipo dar pra ele?
— Cala a boca.
Cinco minutos depois finalmente foi chamada. E o processo para tirar passaporte era realmente muito rápido. Mal haviam olhado para todos os documentos que haviam pedido para que ela levasse. No fim apenas uma foto e era isso, seu passaporte estaria pronto dali uma semana, quando ela poderia finalmente retirá-lo. E que fizesse uma boa viagem.
Foi obrigada a ouvir mais algumas gracinhas de Eduarda no caminho para casa, apenas tendo paz quando a amiga desceu sete pontos antes. Pelo menos agora ela tinha a consciência tranquila em relação ao passaporte. O próximo passo era tirar o visto, o que todo mundo dizia ser chato demais. Os Estados Unidos eram realmente paranóicos em relação a gente de fora.
Thaís e Flávio ainda não haviam chegado do trabalho, o que considerava um alívio. Eles estavam no constante clima de lua de mel desde o pedido de casamento, o que só a lembrava todo o tempo o quanto ela estava atrapalhando a intimidade dos dois e precisava sair daquela casa logo. Mas ela ainda não havia conseguido um emprego melhor porque a vida tinha dessas.
Mesmo estando sozinha em casa ela foi para o próprio quarto, se trancando a conectando o wi-fi. Abriu a conversa com Tom, vendo que o status dele estava online. Pensou em simplesmente mandar uma mensagem, mas qual seria a graça? Se ajeitou melhor na cama, arrumou um pouco o cabelo e iniciou uma chamada de vídeo.
— Oi, gatinha. — quem atendeu foi Harrison, piscando para ela.
— Haz! Oi, amor! — ela piscou de volta, arrancando uma risada do rapaz.
— Eu ouvi isso! — a voz de Tom soou ao fundo e em poucos segundos o rosto dele estava aparecendo ao lado do melhor amigo. — Eu fico fora dois segundos e minha namorada e meu melhor amigo flertam.
— Quem manda ter uma namorada linda?
— Quem manda ter um melhor amigo lindo? — e Harrison falaram exatamente ao mesmo tempo, fazendo Tom revirar os olhos. — High-five virtual!
levantou a mão, vendo Harrison repetir o gesto e Tom começar a rir sem parar. Tom então expulsou Harrison, rindo enquanto ia para o próprio quarto e trancava a porta. Um pouco de privacidade era bom, obrigada.
— ‘Tá, eu tenho uma novidade. — ela observou enquanto ele se deitava na cama, a imagem tremendo um pouco. — Tirei o passaporte!
— Já? Ainda estamos em novembro! — Tom começou a rir da careta que ela fez. Era uma notícia boa, caramba! Era pra ficar feliz. — ‘Tô brincando. Na verdade, se você pudesse, eu comprava a passagem para você embarcar amanhã mesmo.
— Como se você estivesse super tranquilo, né? — ela tentou manter o tom neutro. Como ela queria ir para Los Angeles ficar perto daquele menino, meu deus.
— , se você estivesse aqui eu tiraria tempo da puta que pariu pra ficar com você.
Merda.
Nessas horas ela simplesmente odiava estar no Brasil, de todo coração. Ou odiava que ele estivesse nos Estados Unidos. Resumindo, ela odiava a distância. Que merda. Tudo o que ela queria era estar ali, com ele. Ouvindo-o falar aquelas coisas pessoalmente. Ela tinha certeza que a voz dele era diferente pessoalmente, ela ainda lembrava do único encontro que eles já haviam tido. Quando eram apenas fã e ídolo. Quase um ano atrás. Agora eles eram namorados. A distância. E tudo o que ela queria era estar ao lado dele, na cam–
— Eu te odeio. — ela não conseguiu evitar, mas havia acabado de lembrar da mensagem que ele havia mandado e Eduarda havia lido. E falado da mensagem o tempo todo.
— Hã… Desculpa? — ele franziu as sobrancelhas e riu. — Eu não entendi muito bem de onde isso veio ou onde eu errei, mas desculpa.
— A Eduarda leu aquela mensagem. De que você não vai me deixar sair da sua cama quando eu for pra L.A.
— Ah.
— Ela ficou falando disso o tempo todo depois.
— Óbvio.
— Sobre como eu vou ficar dando pra você.
— Certíssima. — ele riu ainda mais da cara de chocada que ela fez. Mas… Não tinha nenhuma mentira naquela história toda, né? — Ela parece uma menina muito inteligente.
— Thomas. — ela usou um tom de repreensão.
— Ah tá! Você pode zoar com o Harrison mas eu não posso encorajar sua amiga que, vamos ser sinceros, só falou a verdade?
— Eu te odeio. — ela repetiu com um enorme sorriso no rosto.
— Não, , você me ama.
E ela odiava o fato de que aquela era a maior das verdades.
21.
Tom riu de mais uma piada de seu pai. O natal finalmente havia chegado e ele finalmente estava de volta na Inglaterra. Ele realmente amava muito sua família, não tinha como explicar o quanto ele gostava de estar ali. E ele também gostava de natal, então era tudo um bônus.
A melhor parte era, provavelmente, que ele conseguiria descansar por algumas semanas. Finalmente ele conseguiria respirar, parar de se preocupar tanto com tudo o que tinha para fazer – mais ou menos, porque no começo do ano ele teria que voltar para Los Angeles já que logo após Pantera Negra as divulgações e tours para Guerra Infinita estariam a toda. O lado bom de ter tantos atores reunidos: eles poderiam ser mandados para diferentes partes do mundo e cobrir muito mais território em pouco tempo.
Mas tudo bem, por enquanto ele poderia não pensar nisso e preocupar-se apenas em passar um bom tempo com sua família, aproveitando ao máximos todos os mimos da mãe, as brincadeiras com os irmãos e as risadas com os pais.
— Mas então, e a namorada?
Ok, aquele era o pior tipo de pergunta de natal. Geralmente era esperado que tios falassem aquilo, o famoso tiozão, mas Tom até que entendia. Quer dizer, ela era o filho que havia se mudado para outro país. Não conseguia ir para a Inglaterra com tanta frequência quanto gostaria e sempre acabava sobrando assunto demais para colocar em dia quando visitava a família.
— Engraçado você estar namorando essa menina porque, pelo que eu lembre, você disse que não iria se declarar para ela. — a voz de Nicola era ríspida, como toda boa mãe que passava sermão. Tecnicamente era como se Tom houvesse mentido para ela.
— Eu não ia. Mesmo. — Tom levantou o indicador, enfatizando a palavra “mesmo” e tentando provar um ponto. — Mas aparentemente o Tom bêbado não concorda muito com o que eu penso.
— Mas você ‘tá tipo, namorando uma menina que mora no Brasil. — quem falou foi Sam, com a boca ainda cheia da refeição que os pais haviam cozinhado. — Issa parece meio bosta.
— Bem bosta. — Harry concordou, balançando a cabeça. Por isso Tom gostava de Paddy. Ele não se metia em todos os assuntos o tempo todo. — Você não pode nem beijar a garota.
— A gente já conversou sobre isso. — ele havia acabado de perceber que não queria falar sobre o assunto com os irmãos. Nem com os pais. Ele simplesmente não queria falar sobre , era isso. — Nós já… Combinamos algumas coisas, para algumas situações.
— Você ama ela, Tom? — Paddy finalmente se pronunciou.
Tom quis morrer.
O pior tipo de conversa de família era aquele. E aquela era a pior pergunta de todas. Porque amor era algo tão complicado e honestamente nem fazia muito sentido ele amar uma pessoa que só havia visto uma vez na vida. Mas ele conversava com ela praticamente todos os dias desde fevereiro, e vivendo a era digital… Era aceitável, certo? Ele amá-la.
Tom apenas balançou a cabeça, respondendo a pergunta de Paddy de maneira positiva. Harry e Sam se entreolharam, ficando em silêncio e voltando a prestar atenção na própria comida. Nicola apenas sorriu, como se estivesse orgulhosa do próprio filho.
— Ela vai te visitar em Los Angeles, certo? — a mulher esperou que Tom confirmasse antes de continuar: — Vocês já fizeram planos para a visita?
— Eu tenho algumas coisas em mente. Quero fazer algumas surpresas. — ele sentiu o rosto esquentar. Tudo o que mais queria era que aquele assunto acabasse. Ao mesmo tempo achava realmente legal da parte da mãe a tentativa de amenizar, nem que fosse muito pouco, o rumo que o assunto começava a tomar.
— E o Harrison? Não liga de tê-la no apartamento de vocês?
— Ah, eles ficaram amigos. Ele vai amar, pode ter certeza. — Tom finalmente sorriu. Gostava da ideia de ter o melhor amigo e a namorada se dando bem. — Até o J. ‘tá ansioso. Foi ele quem começou conversando com a , afinal.
— O importante, filho, é que vocês dois estejam felizes. — o pai sorriu, colocando um fim no assunto e deixando que todos voltasse a prestar atenção na refeição.
Obviamente o restante do jantar não foi silencioso, mas o foco deixou de ser a vida amorosa, para seu alívio. Apenas após o jantar Tom se levantou e foi para o quintal. Estava frio, muito frio. Havia nevado um pouco no começo da noite, mas já havia parado. O chão estava levemente branco, coberto por uma fina camada de neve. Tom foi até um canto protegido, fazendo um careta ao se sentar um banco gelado, abrindo o contato de e preparando-se para ligar para ela.
Claro que ele adoraria fazer isso do conforto de seu quarto, mas seu quarto havia virado o quarto de Paddy. Certo, quando Tom morava ali ele ainda dividia o quarto com o irmão mais novo, mas agora o quarto não tinha mais nada do mais velho. Para onde quer que olhasse veriam apenas Paddy. E ele não queria o irmão mais novo ouvindo as coisas que falaria para a namorada. Por isso teve que ligar dali, do frio.
— Oi, Tom. — a voz dela soou fraca do outro lado, cansada. — Feliz natal, lindo.
— Feliz natal, linda. — ele sorriu pelo apelidinho que na verdade nem era bem um apelidinho. — Você está bem?
— Cansada. Ficar com a minha família é cansativo. — ela suspirou.
— Eles encheram muito a paciência? — Tom já sabia que ela não tinha um histórico tão bom com a família extremamente religiosa.
Aparentemente ela e a mãe haviam tido uma briga feia quando saiu da igreja, o que a levou a sair de casa e ir morar com o irmão. As duas haviam ficado quase seis meses sem se falar e, mesmo após terem se perdoado e voltarem a conversar, as coisas não eram mais as mesmas. achava que nunca mais seriam.
— Foi mais tranquilo do que o normal. O foco está no casamento de Thaís e Flávio, por enquanto pelo menos.
— Eles já decidiram a data?
— Vai ser em setembro. Bem na entrada da primavera. Honestamente, combina com a Thaís. — ela deu uma risadinha, seguida por mais um suspiro. — Como foi o natal?
— Bom. É bom rever a família. Só faltou você.
— Para de ser fofo porque me dá vontade de te morder e eu não posso.
— Morder? — ele soltou uma risada alta. Aquilo era o quão romântica conseguia ser. Ele não negava que amava isso.
— Com amor.
Eles conversaram por muito mais tempo, até Tom admitir que era impossível continuar lá fora e continuar vivo. Se despediram a contragosto. Era incrível como estava ficando pegajosos. Ele voltou para dentro, vendo a família reunida em frente e televisão, assistindo um programa qualquer. Então se aconchegou no meio dos irmãos, aproveitando o quente da casa, a companhia e as boas conversas.
A melhor parte era, provavelmente, que ele conseguiria descansar por algumas semanas. Finalmente ele conseguiria respirar, parar de se preocupar tanto com tudo o que tinha para fazer – mais ou menos, porque no começo do ano ele teria que voltar para Los Angeles já que logo após Pantera Negra as divulgações e tours para Guerra Infinita estariam a toda. O lado bom de ter tantos atores reunidos: eles poderiam ser mandados para diferentes partes do mundo e cobrir muito mais território em pouco tempo.
Mas tudo bem, por enquanto ele poderia não pensar nisso e preocupar-se apenas em passar um bom tempo com sua família, aproveitando ao máximos todos os mimos da mãe, as brincadeiras com os irmãos e as risadas com os pais.
— Mas então, e a namorada?
Ok, aquele era o pior tipo de pergunta de natal. Geralmente era esperado que tios falassem aquilo, o famoso tiozão, mas Tom até que entendia. Quer dizer, ela era o filho que havia se mudado para outro país. Não conseguia ir para a Inglaterra com tanta frequência quanto gostaria e sempre acabava sobrando assunto demais para colocar em dia quando visitava a família.
— Engraçado você estar namorando essa menina porque, pelo que eu lembre, você disse que não iria se declarar para ela. — a voz de Nicola era ríspida, como toda boa mãe que passava sermão. Tecnicamente era como se Tom houvesse mentido para ela.
— Eu não ia. Mesmo. — Tom levantou o indicador, enfatizando a palavra “mesmo” e tentando provar um ponto. — Mas aparentemente o Tom bêbado não concorda muito com o que eu penso.
— Mas você ‘tá tipo, namorando uma menina que mora no Brasil. — quem falou foi Sam, com a boca ainda cheia da refeição que os pais haviam cozinhado. — Issa parece meio bosta.
— Bem bosta. — Harry concordou, balançando a cabeça. Por isso Tom gostava de Paddy. Ele não se metia em todos os assuntos o tempo todo. — Você não pode nem beijar a garota.
— A gente já conversou sobre isso. — ele havia acabado de perceber que não queria falar sobre o assunto com os irmãos. Nem com os pais. Ele simplesmente não queria falar sobre , era isso. — Nós já… Combinamos algumas coisas, para algumas situações.
— Você ama ela, Tom? — Paddy finalmente se pronunciou.
Tom quis morrer.
O pior tipo de conversa de família era aquele. E aquela era a pior pergunta de todas. Porque amor era algo tão complicado e honestamente nem fazia muito sentido ele amar uma pessoa que só havia visto uma vez na vida. Mas ele conversava com ela praticamente todos os dias desde fevereiro, e vivendo a era digital… Era aceitável, certo? Ele amá-la.
Tom apenas balançou a cabeça, respondendo a pergunta de Paddy de maneira positiva. Harry e Sam se entreolharam, ficando em silêncio e voltando a prestar atenção na própria comida. Nicola apenas sorriu, como se estivesse orgulhosa do próprio filho.
— Ela vai te visitar em Los Angeles, certo? — a mulher esperou que Tom confirmasse antes de continuar: — Vocês já fizeram planos para a visita?
— Eu tenho algumas coisas em mente. Quero fazer algumas surpresas. — ele sentiu o rosto esquentar. Tudo o que mais queria era que aquele assunto acabasse. Ao mesmo tempo achava realmente legal da parte da mãe a tentativa de amenizar, nem que fosse muito pouco, o rumo que o assunto começava a tomar.
— E o Harrison? Não liga de tê-la no apartamento de vocês?
— Ah, eles ficaram amigos. Ele vai amar, pode ter certeza. — Tom finalmente sorriu. Gostava da ideia de ter o melhor amigo e a namorada se dando bem. — Até o J. ‘tá ansioso. Foi ele quem começou conversando com a , afinal.
— O importante, filho, é que vocês dois estejam felizes. — o pai sorriu, colocando um fim no assunto e deixando que todos voltasse a prestar atenção na refeição.
Obviamente o restante do jantar não foi silencioso, mas o foco deixou de ser a vida amorosa, para seu alívio. Apenas após o jantar Tom se levantou e foi para o quintal. Estava frio, muito frio. Havia nevado um pouco no começo da noite, mas já havia parado. O chão estava levemente branco, coberto por uma fina camada de neve. Tom foi até um canto protegido, fazendo um careta ao se sentar um banco gelado, abrindo o contato de e preparando-se para ligar para ela.
Claro que ele adoraria fazer isso do conforto de seu quarto, mas seu quarto havia virado o quarto de Paddy. Certo, quando Tom morava ali ele ainda dividia o quarto com o irmão mais novo, mas agora o quarto não tinha mais nada do mais velho. Para onde quer que olhasse veriam apenas Paddy. E ele não queria o irmão mais novo ouvindo as coisas que falaria para a namorada. Por isso teve que ligar dali, do frio.
— Oi, Tom. — a voz dela soou fraca do outro lado, cansada. — Feliz natal, lindo.
— Feliz natal, linda. — ele sorriu pelo apelidinho que na verdade nem era bem um apelidinho. — Você está bem?
— Cansada. Ficar com a minha família é cansativo. — ela suspirou.
— Eles encheram muito a paciência? — Tom já sabia que ela não tinha um histórico tão bom com a família extremamente religiosa.
Aparentemente ela e a mãe haviam tido uma briga feia quando saiu da igreja, o que a levou a sair de casa e ir morar com o irmão. As duas haviam ficado quase seis meses sem se falar e, mesmo após terem se perdoado e voltarem a conversar, as coisas não eram mais as mesmas. achava que nunca mais seriam.
— Foi mais tranquilo do que o normal. O foco está no casamento de Thaís e Flávio, por enquanto pelo menos.
— Eles já decidiram a data?
— Vai ser em setembro. Bem na entrada da primavera. Honestamente, combina com a Thaís. — ela deu uma risadinha, seguida por mais um suspiro. — Como foi o natal?
— Bom. É bom rever a família. Só faltou você.
— Para de ser fofo porque me dá vontade de te morder e eu não posso.
— Morder? — ele soltou uma risada alta. Aquilo era o quão romântica conseguia ser. Ele não negava que amava isso.
— Com amor.
Eles conversaram por muito mais tempo, até Tom admitir que era impossível continuar lá fora e continuar vivo. Se despediram a contragosto. Era incrível como estava ficando pegajosos. Ele voltou para dentro, vendo a família reunida em frente e televisão, assistindo um programa qualquer. Então se aconchegou no meio dos irmãos, aproveitando o quente da casa, a companhia e as boas conversas.
22.
estava completamente desesperada.
Faltava exatamente um mês para sua viagem para Los Angeles. Quando Tom mandou o voucher das passagens ela teve certeza de nada daquilo poderia ser real porque simplesmente não fazia o menor sentido. As coisas estavam boas demais para ser verdade.
Quer dizer, não que tudo estivesse maravilhoso. Ela ainda estava trabalhando no bar e sem dinheiro o bastante para sair da casa de Thaís e Flávio. Mas pelo menos ela tinha conseguido ir até a última etapa de uma entrevista da sua área – e não tinha passado, mas pelo menos foi uma das finalistas. Poderia não parecer muito para absolutamente ninguém, mas esse simples fato havia dado uma nova energia para .
Mas seu foco no momento era a viagem. O voucher já estava certo, ela partiria no dia vinte de abril, exatamente à meia noite. Viajaria a noite inteira e chegaria no dia vinte mesmo, no começo da tarde. Se tudo desse certo. O passaporte já estava em mãos e, após momentos de pura tensão em que ela tinha certeza de que tudo daria completamente errado, ela havia conseguido o visto. Tudo estava saindo absolutamente bem demais.
Por isso ela estava desesperada.
E se ela chegasse em Los Angeles e descobrisse que na verdade não tinha ninguém a esperando? E se Tom apenas decidisse que não queria mais namorá-la e ela que se virasse para passar aquele um mês nos Estados Unidos? Sério, o dinheiro que ela havia conseguido guardar não era muito. Honestamente.
— , respira fundo. Sério.
— Eu não consigo! — ela ia de um lado para o outro no pequeno apartamento de Juliano. Na verdade eram cinco passos para a esquerda, cinco para a direita. O apartamento era mesmo bem pequeno. — Tudo pode dar errado! Ju, eu acho melhor eu não ir.
— Agora você está simplesmente sendo maluca. — Juliano finalmente se sentiu exausto, segurando a amiga pelo braço e a puxando para o sofá. — Você está planejando essa viagem desde o ano passado, o cara é seu namorado e ele literalmente já comprou as passagens.
Juliano então pegou o maço de cigarros de Dênis, o estendendo junto a um isqueiro para a amiga. abriu a janela e se sentou mais na ponta do sofá, acendendo o cigarro e dando uma profunda tragada. Ela quase nunca fumava, apenas quando sentia que a situação estava realmente desesperadora. Como naquele momento.
— A gente pode ver com a companhia aérea se tem como fazer a dev–
— , cala a boca! — Juliano estava realmente se esforçando muito para não dar um tapa na amiga. — Ouve o que você ‘tá falando! Para com isso, respira fundo.
Ela então o fez. Respirou fundo. Mais ou menos sete vezes. Tragou novamente o cigarro. Juliano, mesmo com toda sua falta de delicadeza, estava completamente certo. Ela havia esperado por aquela data durante tempo demais para simplesmente pirar agora. precisava manter o foco no que realmente importava e ir logo pra droga dos Estados Unidos realizar vários sonhos.
Tipo, sair do Brasil.
E, sabe como é, beijar o namorado.
— Você está certo. Eu preciso me manter calma.
— É óbvio que eu estou certo. — o sorriso de Juliano a faz bufar. Ridículo. Ela precisava escolher melhor seus melhores amigos. — Agora o que realmente importa: você vai mesmo pintar o cabelo?
E tinha isso.
Dois dias antes ela havia tido outra crise em que ela tinha certeza que, assim que Tom a visse pessoalmente, ele iria terminar com ela. Porque ela não era essas meninas perfeitas de Hollywood e porque estava longe de ser uma modelo e honestamente ela era bastante comunzinha. E ela sabia que era bonita e até estava em um ou outro padrão de beleza, mas ao mesmo tempo ela se sentia completamente insegura e brava consigo mesma.
Novamente, sabia que era uma mulher bonita, ela se amava e tudo o mais, mas quem nunca teve um momento de insegurança que atirasse a primeira pedra. Por isso ela havia decidido que iria viajar diferente e faria uma surpresa para Tom. Em poucas horas ela e Juliano iriam para o cabeleireiro e ela iria deixar seu cabelo cinza. Era isto.
— Eu preciso. Não posso estar exatamente igual a última vez que ele me viu.
— Miga, para se ser louca. Ele te viu em 2016 e foi por tipo cinco minutos, no máximo. Contém isso aí.
— Tá, mas agora somos namorados. Eu só quero… Sei lá. Quero ver ele logo. — ela balançou os ombros e fez bico.
— Você precisa. — Juliano concordou, fazendo uma expressão muito séria. — Faz quanto tempo que você não beija na boca? Vocês estão no relacionamento aberto mais monogâmico da história.
— Eu não quero beijar outras bocas, Ju. Quero a do Tom.
— Nossa, você ‘tá muito apaixonada por esse menino, né? — e, certo, ela já sabia disso, mas ouvir o melhor amigo falar era ainda mais verdadeiro. — A última vez que te vi tão apaixonada assim por alguém foi em 2012, quando você e a Bea namoraram.
— Bom, a Bea era incrível. Qualquer um se apaixonaria. Se ela não tivesse se mudado para cinco estados de distância nós ainda estaríamos juntas. Real. — não evitou sorrir ao se lembrar da ex. Elas haviam terminado bem, permanecido amigas, essas coisas.
— Como é que você não encarou um romance de estados de distância mas tá encarnado um com países diferentes?
— Foi a Bea quem quis terminar. — ela se levantou e apagou o cigarro no cinzeiro, deixando-o lá com outras pontas. — Mas sem mágoas. Ela até ‘tá namorando outra menina.
Eles conversaram sobre tudo e nada até finalmente dar a hora de ir para o cabeleireiro. No meio do caminho quase desistiu e voltou para a casa de Juliano, mas era por isso que o amigo estava ali. No geral ele sempre impedia de deixar que o medo ganhasse. Por isso ela ficava tão feliz de ter o rapaz ao seu lado, por mais que muitas vezes ele parecesse duro demais ou mesmo rude.
Por muitas horas ficou sentada na cadeira do cabeleireiro, jogando conversa fora com o amigo, ouvindo piadas de Paul – era o nome do cabeleireiro – e trocando mensagens com Tom. Tantas horas que quando ela finalmente saiu de lá, com o cabelo lindo e completamente cinza, a noite já havia caído há horas.
Ela voltou para casa de Juliano, onde ficou com ele e Dênis por mais algumas horas conversando e comendo algumas – várias – besteiras. Apenas quando os dois amigos foram dormir que ela abriu o sofá cama, puxando a coberta que haviam lhe dado e aconchegando a cabeça no travesseiro. Com o celular ainda em mãos abriu novamente a conversa com o namorado.
“Ei, eu tenho uma surpresa pra você” ela digitou rapidamente, sem precisar esperar para que os dois tracinhos ficassem azuis.
“Mostra”
“Não, só quando eu for pra L.A.”
“MALVADA!” ele mandou três carinhas vermelhas bravas, o que fez rir. Baixo, claro. Ela não podia acordar os amigos.
“Relaxa, tá chegando” e um emoji piscando ao lado.
“Não aguento mais esperar”.
Ela também não aguentava.
Mas tudo bem, só mais um mês e ela finalmente estaria ao lado do namorado. Literalmente.
Faltava exatamente um mês para sua viagem para Los Angeles. Quando Tom mandou o voucher das passagens ela teve certeza de nada daquilo poderia ser real porque simplesmente não fazia o menor sentido. As coisas estavam boas demais para ser verdade.
Quer dizer, não que tudo estivesse maravilhoso. Ela ainda estava trabalhando no bar e sem dinheiro o bastante para sair da casa de Thaís e Flávio. Mas pelo menos ela tinha conseguido ir até a última etapa de uma entrevista da sua área – e não tinha passado, mas pelo menos foi uma das finalistas. Poderia não parecer muito para absolutamente ninguém, mas esse simples fato havia dado uma nova energia para .
Mas seu foco no momento era a viagem. O voucher já estava certo, ela partiria no dia vinte de abril, exatamente à meia noite. Viajaria a noite inteira e chegaria no dia vinte mesmo, no começo da tarde. Se tudo desse certo. O passaporte já estava em mãos e, após momentos de pura tensão em que ela tinha certeza de que tudo daria completamente errado, ela havia conseguido o visto. Tudo estava saindo absolutamente bem demais.
Por isso ela estava desesperada.
E se ela chegasse em Los Angeles e descobrisse que na verdade não tinha ninguém a esperando? E se Tom apenas decidisse que não queria mais namorá-la e ela que se virasse para passar aquele um mês nos Estados Unidos? Sério, o dinheiro que ela havia conseguido guardar não era muito. Honestamente.
— , respira fundo. Sério.
— Eu não consigo! — ela ia de um lado para o outro no pequeno apartamento de Juliano. Na verdade eram cinco passos para a esquerda, cinco para a direita. O apartamento era mesmo bem pequeno. — Tudo pode dar errado! Ju, eu acho melhor eu não ir.
— Agora você está simplesmente sendo maluca. — Juliano finalmente se sentiu exausto, segurando a amiga pelo braço e a puxando para o sofá. — Você está planejando essa viagem desde o ano passado, o cara é seu namorado e ele literalmente já comprou as passagens.
Juliano então pegou o maço de cigarros de Dênis, o estendendo junto a um isqueiro para a amiga. abriu a janela e se sentou mais na ponta do sofá, acendendo o cigarro e dando uma profunda tragada. Ela quase nunca fumava, apenas quando sentia que a situação estava realmente desesperadora. Como naquele momento.
— A gente pode ver com a companhia aérea se tem como fazer a dev–
— , cala a boca! — Juliano estava realmente se esforçando muito para não dar um tapa na amiga. — Ouve o que você ‘tá falando! Para com isso, respira fundo.
Ela então o fez. Respirou fundo. Mais ou menos sete vezes. Tragou novamente o cigarro. Juliano, mesmo com toda sua falta de delicadeza, estava completamente certo. Ela havia esperado por aquela data durante tempo demais para simplesmente pirar agora. precisava manter o foco no que realmente importava e ir logo pra droga dos Estados Unidos realizar vários sonhos.
Tipo, sair do Brasil.
E, sabe como é, beijar o namorado.
— Você está certo. Eu preciso me manter calma.
— É óbvio que eu estou certo. — o sorriso de Juliano a faz bufar. Ridículo. Ela precisava escolher melhor seus melhores amigos. — Agora o que realmente importa: você vai mesmo pintar o cabelo?
E tinha isso.
Dois dias antes ela havia tido outra crise em que ela tinha certeza que, assim que Tom a visse pessoalmente, ele iria terminar com ela. Porque ela não era essas meninas perfeitas de Hollywood e porque estava longe de ser uma modelo e honestamente ela era bastante comunzinha. E ela sabia que era bonita e até estava em um ou outro padrão de beleza, mas ao mesmo tempo ela se sentia completamente insegura e brava consigo mesma.
Novamente, sabia que era uma mulher bonita, ela se amava e tudo o mais, mas quem nunca teve um momento de insegurança que atirasse a primeira pedra. Por isso ela havia decidido que iria viajar diferente e faria uma surpresa para Tom. Em poucas horas ela e Juliano iriam para o cabeleireiro e ela iria deixar seu cabelo cinza. Era isto.
— Eu preciso. Não posso estar exatamente igual a última vez que ele me viu.
— Miga, para se ser louca. Ele te viu em 2016 e foi por tipo cinco minutos, no máximo. Contém isso aí.
— Tá, mas agora somos namorados. Eu só quero… Sei lá. Quero ver ele logo. — ela balançou os ombros e fez bico.
— Você precisa. — Juliano concordou, fazendo uma expressão muito séria. — Faz quanto tempo que você não beija na boca? Vocês estão no relacionamento aberto mais monogâmico da história.
— Eu não quero beijar outras bocas, Ju. Quero a do Tom.
— Nossa, você ‘tá muito apaixonada por esse menino, né? — e, certo, ela já sabia disso, mas ouvir o melhor amigo falar era ainda mais verdadeiro. — A última vez que te vi tão apaixonada assim por alguém foi em 2012, quando você e a Bea namoraram.
— Bom, a Bea era incrível. Qualquer um se apaixonaria. Se ela não tivesse se mudado para cinco estados de distância nós ainda estaríamos juntas. Real. — não evitou sorrir ao se lembrar da ex. Elas haviam terminado bem, permanecido amigas, essas coisas.
— Como é que você não encarou um romance de estados de distância mas tá encarnado um com países diferentes?
— Foi a Bea quem quis terminar. — ela se levantou e apagou o cigarro no cinzeiro, deixando-o lá com outras pontas. — Mas sem mágoas. Ela até ‘tá namorando outra menina.
Eles conversaram sobre tudo e nada até finalmente dar a hora de ir para o cabeleireiro. No meio do caminho quase desistiu e voltou para a casa de Juliano, mas era por isso que o amigo estava ali. No geral ele sempre impedia de deixar que o medo ganhasse. Por isso ela ficava tão feliz de ter o rapaz ao seu lado, por mais que muitas vezes ele parecesse duro demais ou mesmo rude.
Por muitas horas ficou sentada na cadeira do cabeleireiro, jogando conversa fora com o amigo, ouvindo piadas de Paul – era o nome do cabeleireiro – e trocando mensagens com Tom. Tantas horas que quando ela finalmente saiu de lá, com o cabelo lindo e completamente cinza, a noite já havia caído há horas.
Ela voltou para casa de Juliano, onde ficou com ele e Dênis por mais algumas horas conversando e comendo algumas – várias – besteiras. Apenas quando os dois amigos foram dormir que ela abriu o sofá cama, puxando a coberta que haviam lhe dado e aconchegando a cabeça no travesseiro. Com o celular ainda em mãos abriu novamente a conversa com o namorado.
“Ei, eu tenho uma surpresa pra você” ela digitou rapidamente, sem precisar esperar para que os dois tracinhos ficassem azuis.
“Mostra”
“Não, só quando eu for pra L.A.”
“MALVADA!” ele mandou três carinhas vermelhas bravas, o que fez rir. Baixo, claro. Ela não podia acordar os amigos.
“Relaxa, tá chegando” e um emoji piscando ao lado.
“Não aguento mais esperar”.
Ela também não aguentava.
Mas tudo bem, só mais um mês e ela finalmente estaria ao lado do namorado. Literalmente.
23.
— Harrison? — Tom olhou confuso para a mala do melhor amigo em cima da cama. — Hum, você sabe que você não vai pra China, né? Desculpa, não dá pra te levar dessa vez…
Não que Tom não tivesse tentado, mas a divulgação de Guerra Infinita estava realmente a todo vapor, os atores se espalhando por várias partes do mundo. Tom havia ido para Inglaterra com Benedict e Hiddleston – óbvio, pelo menos assim os três conseguiam visitar as famílias. Agora era hora de ir para China com outros atores do cast. A última parada antes da pré-estreia mundial do filme em Los Angeles no dia vinte e três.
— Óbvio que eu sei, Tom. — o amigo riu. — Mas na sexta a chega e quero deixar o apartamento só pra vocês, então vou ficar esse tempo na casa do J.
— Quê? Haz, não precisa disso. — Tom franziu as sobrancelhas. — Eu tenho certeza que a não vai se importar de você ficar aqui, até porque a casa também é sua.
— Eu sei. E eu adoro a , mas vocês vão ficar só um mês juntos, tem que ter uma privacidade pra, sabe, fazer tudo o que vocês quiserem, quando quiserem, onde quiserem… Menos no meu quarto, por favor.
— Não vamos usar seu quarto, relaxa. — os dois riram. Tom não gostava muito da ideia de Harrison ficar longe da própria casa, mas ao mesmo tempo entendia e agradecia o amigo. Talvez ele e precisassem mesmo de um pouco mais de privacidade.
— E você chega quando da China?
— Sexta de manhã, umas sete horas. O vôo vai ser direto, bem mais rápido. — o menino sorriu. Ele tinha que chegar na sexta de manhã, caso contrário não teria como receber no aeroporto a tarde.
— O coração está como? — o sorriso de Harisson era o perfeito sorriso de melhor amigo. Preocupação e alegria perfeitamente misturados.
— Maluco. Não sei se estou mais ansioso para a estreia do filme ou para ver a . E a maldita surpresa que ela não conta de jeito nenhum.
— Eu confesso que pra isso também ‘tô curioso.
Tom deixou que Harrison terminasse de arrumar suas coisas e voltou para o próprio quarto. Sua mala já estava pronta. Em poucas horas ele pegaria o voo para Xangai, onde ficaria por alguns dias. E ele estava honestamente animado. Tom gostava de toda essa parte de imprensa, por mais cansativa que fosse. Era a melhor maneira de se sentir mais próximo de seus fãs.
Mas a ansiedade maior era pela chegada de na sexta-feira. O que ele mais queria era estar perto da garota, mesmo que fosse por apenas um mês. Com cada dia sendo uma contagem regressiva. Ele já havia prometido a si mesmo que tentaria não pensar que “cada dia a mais é um dia a menos”, e que iria aproveitar cada segundo ao lado da menina da melhor maneira possível.
Era sua namorada, afinal.
Que estava prestes a estar ao seu lado.
***
— Haz! — a voz de Tom soou meio cortada do outro lado do telefone.
Harrison franziu as sobrancelhas. Ele havia acabado de sair do banho e o celular apresentava nada menos do que dezessete chamadas perdidas do melhor amigo. Claro que ele ligou de volta na mesma hora. Tom não era muito de ligar para ele; eles davam preferência para mensagens de texto como qualquer bom jovem. A preocupação apenas havia aumentado após o garoto atender o telefone, a voz, mesmo que cortada, parecia no mínimo desesperada.
— O que aconteceu, Tom?
— A merda do voo deu problema! — o rapaz soou desesperado e nervoso. — Atrasou! Muito! Vai sair só daqui cinco horas!
Harrison ficou em silêncio. Ele sabia que era comum voos atrasarem, às vezes chegando até a sair apenas no dia seguinte. E ok, Harrison não iria fazer o cálculo de fuso horário¹ porque ele realmente não era obrigado, mas as coisas dariam certo, não dariam?
— Qual a nova previsão de chegada?
— Não tem, porque eles ainda estão tentando adiantar o maldito voo! Entre sexta a noite e sábado de manhã! — não. Ah, não. Não era possível. — Haz, eu preciso de você vá buscar a no aeroporto pra mim! E fique em casa com ela!
Harrison fechou os olhos, respirando fundo, mas aceitando.
Merda.
Essa viagem já estava começando toda errada.
Não que Tom não tivesse tentado, mas a divulgação de Guerra Infinita estava realmente a todo vapor, os atores se espalhando por várias partes do mundo. Tom havia ido para Inglaterra com Benedict e Hiddleston – óbvio, pelo menos assim os três conseguiam visitar as famílias. Agora era hora de ir para China com outros atores do cast. A última parada antes da pré-estreia mundial do filme em Los Angeles no dia vinte e três.
— Óbvio que eu sei, Tom. — o amigo riu. — Mas na sexta a chega e quero deixar o apartamento só pra vocês, então vou ficar esse tempo na casa do J.
— Quê? Haz, não precisa disso. — Tom franziu as sobrancelhas. — Eu tenho certeza que a não vai se importar de você ficar aqui, até porque a casa também é sua.
— Eu sei. E eu adoro a , mas vocês vão ficar só um mês juntos, tem que ter uma privacidade pra, sabe, fazer tudo o que vocês quiserem, quando quiserem, onde quiserem… Menos no meu quarto, por favor.
— Não vamos usar seu quarto, relaxa. — os dois riram. Tom não gostava muito da ideia de Harrison ficar longe da própria casa, mas ao mesmo tempo entendia e agradecia o amigo. Talvez ele e precisassem mesmo de um pouco mais de privacidade.
— E você chega quando da China?
— Sexta de manhã, umas sete horas. O vôo vai ser direto, bem mais rápido. — o menino sorriu. Ele tinha que chegar na sexta de manhã, caso contrário não teria como receber no aeroporto a tarde.
— O coração está como? — o sorriso de Harisson era o perfeito sorriso de melhor amigo. Preocupação e alegria perfeitamente misturados.
— Maluco. Não sei se estou mais ansioso para a estreia do filme ou para ver a . E a maldita surpresa que ela não conta de jeito nenhum.
— Eu confesso que pra isso também ‘tô curioso.
Tom deixou que Harrison terminasse de arrumar suas coisas e voltou para o próprio quarto. Sua mala já estava pronta. Em poucas horas ele pegaria o voo para Xangai, onde ficaria por alguns dias. E ele estava honestamente animado. Tom gostava de toda essa parte de imprensa, por mais cansativa que fosse. Era a melhor maneira de se sentir mais próximo de seus fãs.
Mas a ansiedade maior era pela chegada de na sexta-feira. O que ele mais queria era estar perto da garota, mesmo que fosse por apenas um mês. Com cada dia sendo uma contagem regressiva. Ele já havia prometido a si mesmo que tentaria não pensar que “cada dia a mais é um dia a menos”, e que iria aproveitar cada segundo ao lado da menina da melhor maneira possível.
Era sua namorada, afinal.
Que estava prestes a estar ao seu lado.
— Haz! — a voz de Tom soou meio cortada do outro lado do telefone.
Harrison franziu as sobrancelhas. Ele havia acabado de sair do banho e o celular apresentava nada menos do que dezessete chamadas perdidas do melhor amigo. Claro que ele ligou de volta na mesma hora. Tom não era muito de ligar para ele; eles davam preferência para mensagens de texto como qualquer bom jovem. A preocupação apenas havia aumentado após o garoto atender o telefone, a voz, mesmo que cortada, parecia no mínimo desesperada.
— O que aconteceu, Tom?
— A merda do voo deu problema! — o rapaz soou desesperado e nervoso. — Atrasou! Muito! Vai sair só daqui cinco horas!
Harrison ficou em silêncio. Ele sabia que era comum voos atrasarem, às vezes chegando até a sair apenas no dia seguinte. E ok, Harrison não iria fazer o cálculo de fuso horário¹ porque ele realmente não era obrigado, mas as coisas dariam certo, não dariam?
— Qual a nova previsão de chegada?
— Não tem, porque eles ainda estão tentando adiantar o maldito voo! Entre sexta a noite e sábado de manhã! — não. Ah, não. Não era possível. — Haz, eu preciso de você vá buscar a no aeroporto pra mim! E fique em casa com ela!
Harrison fechou os olhos, respirando fundo, mas aceitando.
Merda.
Essa viagem já estava começando toda errada.
Fim
Nota da autora: (08/06/2018) ¹: eu também não sou obrigada a fazer cálculo de fuso, sei que tem uns erros aí mas vida que segue, desculpa.
Olha
Por onde vamos começar
Escrever essa história foi, sei lá, a coisa mais divertida de todas
Eu nem queria escrever, na vdd, mas umas amigas minhas meio que me obrigaram? A escrever e a postar. Então... Obrigada, suas lindas. Eu preciso agradecer pra sempre <3
Obrigada a cada uma de vocês, quem leu, comentou, entrou no meu grupo no facebook e participou de cada bincadeira louca que eu fiz. Vocês são muito as pessoas mais incríveis desse site e eu sou a autora mais feliz do mundo por ter vocês todas como leitoras. Qualquer autora que tiver leitora como vcs já pode se considerar uma vencedora <3
Eu nunca serei capaz de dar a vcs a alegria que vcs me dão
E calma, nossa, não me matem.
É óbvio que não vai acabar assim, gente ahhaahhhha
Esse é o fim sim, mas da primeira parte da fic.
Fiquem ligadas, porque essa história continua em 90 Por Cento: Los Angeles.
Obrigada por tudo, de coração.
Olha
Por onde vamos começar
Escrever essa história foi, sei lá, a coisa mais divertida de todas
Eu nem queria escrever, na vdd, mas umas amigas minhas meio que me obrigaram? A escrever e a postar. Então... Obrigada, suas lindas. Eu preciso agradecer pra sempre <3
Obrigada a cada uma de vocês, quem leu, comentou, entrou no meu grupo no facebook e participou de cada bincadeira louca que eu fiz. Vocês são muito as pessoas mais incríveis desse site e eu sou a autora mais feliz do mundo por ter vocês todas como leitoras. Qualquer autora que tiver leitora como vcs já pode se considerar uma vencedora <3
Eu nunca serei capaz de dar a vcs a alegria que vcs me dão
E calma, nossa, não me matem.
É óbvio que não vai acabar assim, gente ahhaahhhha
Esse é o fim sim, mas da primeira parte da fic.
Fiquem ligadas, porque essa história continua em 90 Por Cento: Los Angeles.
Obrigada por tudo, de coração.
- "Série" 90 Por Cento
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