Última atualização: 16/07/2019

Capítulo 1

Saí bufando daquele lugar, chutando qualquer coisa que via pelo chão da rua. Aquilo só podia ser castigo.
Aliás, era sim, sem duvidas.
No fundo eu imaginava que isso poderia acontecer, nunca fechei meus olhos pra isso, mas eu jurei que conseguiria dar um jeito, mas fracassei.

Encarei aquele local que eu já não visitava há tempos, afinal, não tinha necessidade, mesmo morando ali. Ela sempre ia pra minha casa, mas agora nem precisaria ir mais, já que eu perderia a mesma.
Bufei feito uma criança mimada, só faltei bater o pé ou me jogar no chão também, mas não o fiz. Me aproximei com passos calmos, logo chegando na entrada, onde tinha dois rapazes em posição firme, mesmo conversando.
- Boa noite. - um deles se manifestou, me analisando de cabo a rabo mas não de maneira nojenta, estava apenas se certificando que eu não tivesse nada que pudesse os machucar.
- Preciso falar com o Voight, diz que é a . - fui direta ao ponto porque funcionava assim. Ou eu estava ali pra falar com alguém ou pra comprar algum tipo de droga.
O mesmo rapaz que me respondeu adentrou ali, com aquele velho e zoado portão de ferro. Eu sabia que depois de um ano isso podia acontecer, afinal, minha mãe só havia deixado dinheiro para o aluguel durante esse tempo e já era, mesmo sabendo que meu salário de ajudante em uma loja de conveniência era pouco e só dava pra manter o básico e pagar minha faculdade, mas claro, como sempre, havia tirado a sorte grande e sido demitida junto com a crise da falta de dinheiro do aluguel. Havia cansado de jurar pra mim mesma que não precisaria voltar a me encontrar com Voight, mas de alguma maneira, minha mãe só havia me deixado essa opção porque sabia que eu a seguiria, mesmo odiando a ideia com todas as forças. Na real, era o que ela queria, que eu ficasse perto dele.
O rapaz voltou, me dando permissão pra entrar e me explicando o caminho, e mesmo já sabendo de tudo, o deixei falar, era o trabalho dele.
Continuei respirando fundo até encontrar a pequena casa que tinha ali, um barraco pequeno, na verdade. Parei e observei ao redor, pouca coisa tinha mudado. Os trailers, as mesinhas e os bancos continuavam no mesmo lugar. Nem mesmo tentei criar coragem porque sabia que não teria de onde arranjar, então me obriguei a entrar ali, encontrando o homem sentado em sua cadeira, contando uma grande quantia em dinheiro.
- Quem é viva sempre aparece, não é mesmo? - ele parou no mesmo instante que percebeu minha presença ali, soltando aquele sorriso de vitória. Ele também sabia que de alguma forma eu voltaria.
Inferno.
- Não se engane, Voight, pensei em me jogar na frente de todos os carros que vi até chegar aqui. - soltei uma risada sem humor, tomando a liberdade pra sentar na cadeira vazia que estava em minha frente.
- Eu não vou tentar adivinhar porque sei o que aconteceu. O dinheiro do aluguel acabou, não foi? - perguntou com humor, e minha vontade de esmurrar sua cara chegou na velocidade da luz.
- Sim. Onde vocês estavam com a cabeça em alugar aquela merda daquela casa enorme e naquele bairro, ein? Puta que pariu, nem se eu tivesse dois empregos conseguiria pagar aquilo. - comecei a extravasar, já irritada.
- Era o contrato, , e se você tivesse saído de lá seria mais caro ainda, e você sabe que eu e sua mãe pretendíamos comprar a casa pra valer, mas...
- Eu sei, eu sei. - suspirei derrotada.
Uma vozinha que veio do quinto dos infernos sussurrava no meu ouvido pra implorar para Voight me ajudar e pagar as contas enquanto eu não me ajeitava novamente, afinal, ele devia ter consideração por mim pra isso, até porque minha mãe estava na cadeia por sua causa, e fora isso, tudo seria perdido, a casa, a faculdade... Mas não, eu não podia. Não queria ter esse tipo de ligação ou dependência com ele, mesmo sabendo que ainda assim, de um jeito ou de outro, dependesse dele pra certas coisas.
- E o trabalho? - ele perguntou.
- Fui demitida, mas mesmo se continuasse lá, não daria para me manter totalmente, o salário era uma merda mas foi o que eu consegui. - respondi sem rodeios ou drama, não era meu jeito. Às vezes.
- Confesso que eu e sua mãe achávamos que você ia conseguir dar um jeito, mas no fundo acho que todos sabíamos que...
- Eu ia terminar aqui. - interrompi com um riso fraco, totalmente descrente do que estava acontecendo. Definitivamente era castigo.
- Ok, como você quer resolver? Sei que tem a faculdade pra pagar, e posso pagar pra você enquanto...
- NÃO! - interrompi mais uma vez, o fazendo cerrar os olhos - Não quero favores, ok? Eu já estou fodida de qualquer forma, mas não quero isso. Sei que você vai me ajudar de um jeito ou de outro, mas não assim. - respirei fundo, e podia sentir meu coração quase saindo pela boca - Eu vou sair da faculdade, posso estudar mais e tentar uma bolsa melhor da próxima vez, não tenho pressa pra isso. - menti na cara de pau. Eu queria muito continuar, me formar, ganhar um salário digno e cair fora daquele lugar.
- Eu não tenho problemas em pagar sua faculdade, , é a sua educação!
- Não quero, Voight! Eu tenho mais um semana na casa, então só peço pra que você me ajude com a mudança, deixa os móveis em alguma casa que você arranjar e eu trabalho aqui pra te pagar o aluguel dela, pode ser? Mas por favor, uma casa normal, ou até mesmo um trailer pra começar!
Meu coração iria parar a qualquer instante, disso eu tinha certeza. Estava atropelando tudo o que eu achava certo e me metendo em algo que eu jurei que nunca me meteria. Uma bela hipocrita, mas eu precisava encarar minha realidade. Só Deus sabia quando eu conseguiria arranjar outro emprego, e tendo só mais alguns dias na casa, eu precisava me ajeitar antes de procurar algo novo.
- Quem diria, não? - ele riu graciosamente, e novamente a vontade de esmurrar sua cara veio - Mas eu te conheço, , e por consideração a sua mãe, não vou te colocar em nada pesado, beleza? Vamos pegar seus móveis e eu vou ajeitar tudo, mas você vai precisar ficar num trailer no começo, está bem? - finalizou num tom até que delicado, e eu acharia bacana da sua parte se ele não tivesse citado que tinha consideração pela minha mãe. O caralho que tinha.
- Voight, minha mãe está na cadeia por sua causa, você não tem consideração por ela e não tente bancar o anjo, não é como se você estivesse esperando ela sair de lá, não é? - não me aguentei, esbravejei de uma vez, não conseguiria dormir a noite se não falasse, porque era a mais pura verdade.
- Esse já é um assunto que não te diz respeito, mocinha. - o homem abriu um sorriso tranquilo, se levantando da cadeira e fiz o mesmo, não tinha mais nada pra falar.
- Que seja.
Dei passos longos até a saída, sendo seguida por Voight, que me acompanhava. Parei para observar o trailer de e sua mãe, mas ele parecia vazio.
- Elas se mudaram hoje, não te contou? - ele havia percebido minha observação.
Tentei me lembrar das últimas conversas que tive com minha amiga nos dias anteriores, até me lembrar que de fato ela tinha comentado sobre a mudança.
- Contou, mas acabei esquecendo. - dei os ombros - Espero que Holt não faça com elas o que você fez comigo e com a minha mãe. - foi a minha vez de abrir um sorrisinho, e embora eu soubesse que aquilo não iria o irritar, eu adorava frisar aquilo.
No começo a gente discutia, até que Voight desistiu, não batia mais boca comigo sobre o assunto, onde ele sempre tentava justificar a prisão da minha mãe e eu sempre jogando a culpa em cima dele, porque era verdade.
Acontece que ele era até muito paciente comigo, e nessas horas eu pensava que se conhecesse meu pai, se ele seria paciente comigo daquele jeito.
Continuei andando em direção à saída, cruzando caminho com um rapaz que era mais bonito que o permitido universalmente. Encarei o mesmo por no máximo dois segundos, continuando a andar e seguindo meu caminho. Precisei olhar pra trás pra me certificar que não era coisa da minha cabeça, e por sorte, ele também estava olhando, enquanto estava parado na frente do portão, provavelmente comprando alguma droga.
Voltei meu olhar para a rua em minha frente, sentindo um arrepio tomar conta do meu corpo todo.


Capítulo 2

me ajudava com as últimas caixas já cheias dos meus pertences, que foram recolhidas rapidamente pelos homens da mudança.
Respirei fundo, me sentando no chão e observando que só minhas bolsas com os pertences mais pessoais e importantes ficaram ali, já que eu os levaria para o trailer.
- Vou sentir saudade daqui. - se manifestou num tom baixo, quase triste. Ela sabia como eu estava me sentindo.
- Pelo menos você tem uma casa agora. - suspirei derrotada, levando meu corpo pra trás e deitando no chão.
- Mas eu gostava daqui, éramos só nós duas, né? Agora é estranho, ter minha mãe e Holt no mesmo teto que eu e agirmos como uma família de verdade parece... estranho. - ela fez uma careta engraçada, logo se deitando ali do meu lado também, no chão puro.
- Nossas mães definitivamente tem uns parafusos faltando, não é? - gargalhei com humor.
Aquilo era amizade. Minha mãe e tia Ellie, mãe de . Uma amizade de muitos anos, onde uma esteve lá pra outra pra absolutamente tudo, até nas confusões. Não digo que elas caíram nessa vida por falta de oportunidades ou algo do tipo, pelo contrário, elas eram conhecidas por fazer as oportunidades acontecerem. Minha mãe sempre foi ótima em tecnologia, enquanto tia Ellie era ótima na parte de química e matemática também. As duas até entraram pra faculdade juntas, mas não concluíram. Eram jovens, mas selvagens demais pra seguir uma linha só, como todos diziam. A família da tia Ellie sempre foi metida com essa parte de gangues, drogas, confusões, e isso encantava minha mãe.
Maluca, não?
Até que tia Ellie engravidou e o rapaz meteu o pé. Três anos depois, o mesmo aconteceu com minha mãe. e eu crescemos juntas, mas nem sempre foi essa união toda. Ela sempre se achava melhor por ser mais velha, então discutíamos o tempo inteiro. Ainda tínhamos algumas crises, mas não era mais aquela picuinha de criança. Sabíamos que nossas vidas era aquilo, conhecíamos os sentimentos uma da outra e acima de tudo, sabíamos que só tínhamos a nós mesmas.
Nesse um ano de faculdade, não achei ninguém a altura de . Pareciam pessoas muito... rasas. Eu gostava da intensidade da minha melhor amiga, embora ela não demonstrasse pra qualquer um. Mas claro, tínhamos outras amigas, só não éramos tão grudadas assim com elas.
Às vezes eu me perguntava como teria sido se minha mãe tivesse continuado a viver do jeito que vivíamos há 6 anos. Éramos normais. Nada de gangue, nada de Voight, nada de treinamentos, nada de conversas mais complexas do que eu poderia entender.
Mas eu entendo a situação. Ela foi mãe muito jovem, nunca pôde aproveitar direito. Eu me colocava em seu lugar. Fora que, mesmo em meio a tanta confusão, ela nunca me tratou por menos. Sempre dizia que eu era o único acerto dela na vida, embora meu pai tenha sido um cuzão.
- Você pode ficar lá em casa, viu? Meu quarto é grande, cabe nós duas. Fora que minha mãe iria amar ter você pertinho de novo. - me convidou esperançosa, e eu sabia exatamente o motivo.
Ela odiava ficar sozinha, dizia que não funcionava bem quando ficava só. Se fosse alguém de fora acharia um barato uma mulher de 22 anos ter medo de ficar só, mas não era medo, ela simplesmente não gostava. era extrovertida demais pra se isolar.
- Acho que preciso encarar a vida no trailer por uns dias, sabe? Preciso colocar minha cabeça no lugar, pensar, tentar montar um plano.
Oh, como doía falar aquilo.
Claro, eu sabia que aquilo não era só coisa ruim, eu não era hipocrita a ponto de não reconhecer isso, mas definitivamente não era o que eu queria, não era pra mim. Sempre tinha me sentido desconectada daquele mundo, sempre sentia que faltava algo. Algumas respostas, no caso. Coisas que sempre me atormentavam.
- Eu sei que é difícil pra você voltar pra lá, mas não é como se você fosse cometer os mesmos erros da sua mãe, né? - tentou me acalmar, alcançando minha mão e fazendo um carinho na mesma - E sério, assim que você cansar do trailer, é só ir pra minha casa. Preciso mesmo te mostrar umas musicas novas que ando fazendo. - ela abriu um sorriso gigante, que era capaz de iluminar aquele bairro inteiro.
mesmo crescendo na gangue, nunca deixou morrer os próprios sonhos. Ela sempre cantou, sempre mesmo. Ela fazia alguns shows pela cidade nos finais de semana e trabalhava como recepcionista numa agência de modelos conhecida na cidade. Coisas totalmente diferentes, mas era adorava. Nunca conseguiu se prender a uma faculdade, mas ela vivia fazendo cursos novos. era a versatilidade em pessoa.

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Voight saiu do carro e respirei fundo antes de fazer o mesmo. Peguei minhas duas mochilas do banco de trás enquanto ele pegou uma bolsa maior.
- Tem certeza que não quer ficar na minha casa? Não precisa ser tão orgulhosa assim, . - ele perguntou pela milésima vez.
- Não quero, é sério.
Queria e não queria, mas sabia que seria desconfortável do mesmo jeito.
- Tudo bem.
Continuamos andando até o trailer que eu ficaria, não era tão pequeno assim, dava pra dormir bem e ajustar algumas coisas.
- Agora me diga, Voight, com o que vou trabalhar? - apertei os olhos e respirei fundo, querendo bater minha própria cabeça naquele trailer no mínimo cem vezes.
Onde eu estava me metendo?
- Você só vai fazer as rondas com o , beleza? Não é nada absurdo, você sabe. Vai começar na segunda. - ele sorriu tentando me passar confiança e até animação, mas sabia que aquilo seria impossível.
- Vai ser só por um tempo, tá bem? Vou tentar arranjar outro emprego o quanto antes, vou estudar, vou conseguir uma bolsa melhor na faculdade e...
- , relaxa! Eu nunca te prenderia aqui, não sou esse monstro, mas se eu fosse você não faria tantos planos, viu? A vida é doida. - ele respondeu com certeza absoluta, e querendo ou não, ele estava certo, mas aquilo não me impedia de tentar planejar minha vida, embora eu nem soubesse por onde começar.
Voight deixou minha mala em cima da cama, ajeitando algumas coisas e pronto pra sair.
- Voight! - o chamei um pouco alto, mesmo ele estando apenas um passo pra fora dali. O homem se virou com um olhar paciente - Quem é ? - perguntei curiosa. O tempo que eu fiquei ali não conhecia ninguém com tal nome, que por sinal era super diferente.
- É um rapaz novo, está aqui há poucos meses. Longa história. Durma bem, e qualquer coisa me liga, beleza? - ele respondeu simpático, dando um sorriso e logo se virou, indo embora dali.
Eu podia sentir tudo menos medo, o que chegava a ser engraçado. Se uma gangue rival quisesse atacar, ali seria o primeiro lugar, mas eu sabia que também era um lugar que tinha segurança vinte e quatro horas por dia.
Respirei fundo e me troquei, me jogando na cama do trailer que seria minha casa por tempo indeterminado.

’s POV.
Após passar o final de semana fora pra resolver coisas que pareciam nunca ter solução, voltei.
Scott e Cohen estavam nos dias finais no plantão da noite pra cuidarem da entrada do local. Já passava de duas da manhã quando cheguei.
- Olha só quem voltou. - Scott abriu um sorriso maroto, me cumprimentando com um aperto de mão e Cohen fez o mesmo.
- Infelizmente.
- Qual é cara, você pelo menos está aqui temporariamente! - Cohen fez questão de me lembrar como sempre. Digamos que eu quase sempre reclamava de estar ali. Quase sempre.
- Eu sei. Vou dormir enquanto posso, amanhã começo no meu novo posto. - avisei enquanto já entrava ali, empurrando o maldito portão que sempre fazia um barulho absurdo.
Entrei em meu trailer já exausto, só querendo deitar e dormir. Tirei a camisa e me joguei na cama, sem forças nem pra tirar a bermuda do corpo.
Mas óbvio, tinha algo pra atrapalhar. No ápice do meu cansaço, algo precisava atrapalhar. O choro de criança foi ficando cada vez mais alto, parecia até que estava dentro do meu próprio trailer e precisei verificar. Estava maluco de sono mas sabia que seria impossível dormir com tal barulho. Até tentei, mas dez minutos se passaram e nada.
Continuei deitado, esperando o cansaço me dominar por completo e quando pensei que conseguiria, a criança chorou mais alto ainda.
Resmunguei vários palavrões seguidos, enfiando meus pés nos chinelos e abrindo a porta do meu trailer, seguindo o som do choro.
A porta do trailer ao lado já estava aberta, podendo ouvir uma conversa claramente em andamento:
- Eu não acredito que ele fez isso com você, Lydia! Ainda mais com um bebê tão pequeno, puta que pariu! - a voz claramente nervosa se manifestou em tom alto, mas ainda assim o bebê chorava.
- Imagine a raiva que eu estou, ? Eu fui uma burra em acreditar que ele mudaria depois do nosso filho, mas eu só me enganei. Preferi sair de lá e voltar pra cá pra colocar a cabeça no lugar, sabe? Aqui pelo menos eu sinto que tenho uma família de verdade. - a voz claramente decepcionada da outra mulher se fez presente, e por alguns instantes eu até esqueci o que estava fazendo ali.
Tentei ligar os fatos, mas tinha pouca informação. A única coisa que tinha era um bebê chorando e duas mulheres que eu nunca tinha ouvido falar. Eu podia virar as costas e tentar dormir novamente, mas correria o risco de falhar novamente pelo barulho, então só me restava tentar ajudar e talvez dar a opção da moça ir para um trailer que ficasse mais para os fundos, onde talvez o choro não me incomodasse tanto.
Respirei fundo e adentrei o trailer, encontrando uma mulher segurando o bebê com uma toalha molhada em sua cabeça, que ainda chorava. Encarei a outra que estava encostada no fogão dali com um pijama extremamente largo, claramente confortável. Olhei para o seu rosto por longos segundos, onde pude observar sua expressão de confusão.
Eu até queria falar algo, mas a única coisa que eu conseguia fazer era continuar admirando seu rosto.
- Hmm... Podemos ajudar? - a garota perguntou confusa, até que a realidade caiu sob mim novamente.
- Eu que pergunto! O que o bebê tem? Não consigo dormir de tanto que ele chora. - apontei para o moleque chorão no colo da mulher que o balançava mesmo sentada, ainda segurando a toalha em sua testa. Talvez eu tenha sido um pouco ríspido, já que a expressão da garota não foi das melhores, enquanto a mãe do bebê parecia envergonhada.
- Oh, desculpe! Vamos pedir para o bebê parar de chorar pra você dormir, ok? - o tom sarcástico da desconhecida foi manifestado e eu ri.
- Calma garota, só quero saber se está tudo bem. - continuei rindo enquanto ela balançava a cabeça negativamente - Ele está com febre e o que mais? - me virei para a mulher que agora tentava dar a mamadeira para a criança, que se recusava a tomar de maneira irritada. Deduzi que fosse febre pela toalha molhada que estava em sua testa anteriormente.
- Talvez seja a garganta dele, ele já ficou assim outras vezes mas não teve tanto choro assim. - a mulher respondeu sem jeito, desistindo do ato e voltando a balançar o bebê.
- Você tem remédios? Precisa de algo? - respirei fundo, buscando a paciência e atenção que a situação exigia dentro da minha alma podre de cansaço. Era só um bebê, não tinha culpa da confusão.
- Não consegui trazer nada de remédio, cheguei aqui tem algumas horas só e não imaginei que ele fosse ficar tão ruim assim.
- Tem uma farmácia duas quadras daqui, vou lá buscar alguns remédios, pode ser? Ou você prefere levar ele no médico agora? - a garota começou a dar opções para a mãe que estava visivelmente cansada, com certeza mais do que eu.
- Só os remédios eu acho que já vai ajudar por enquanto, e se ele não melhorar até o começo da tarde, levamos ele ao médico. - ela respondeu quase que num sussurro.
- Vou me trocar e já vou. - a garota colocou o cabelo todo pra trás, já pronta para sair dali, mas segurei em seu braço de maneira controlada, apenas para impedir que ele saísse dali.
- Eu vou, já está muito tarde pra você andar sozinha a essa hora. - nossos olhares bateram de frente, numa diferença pequena de altura, ela não era baixinha. Desvinculou seu braço das minhas mãos com calma, cerrando os olhos em seguida e eu não fazia ideia do que esperar.
- São só duas quadras daqui, não tem nem como algo me acontecer, você sabe né. - ela levantou as sobrancelhas como se fosse um fato óbvio, e mesmo sendo, a ideia dela na rua durante a madrugada ainda não me parecia boa.
- O bairro é protegido mas nunca se sabe. Eu vou. - retruquei como se aquilo também fosse óbvio. As coisas acontecem com proteção ou não.
- Tudo bem. - ela deu um sorrisinho sem mostrar os dentes, totalmente sem graça, ainda me encarando, e observei seu olhar descendo até as tatuagens em meu peitoral.
Engraçado como a maioria parava pra observar melhor aquela tatuagem.
Me virei para sair dali, até a mãe do bebê me chamar atenção.
- Pegue o dinheiro aqui... É... - estava prestes a dizer meu nome, até se tocar de que não sabia.
- É . - revelei - E não precisa, sério.
- Eu sou Lydia. - ela sorriu já com um olhar simpático, doce e agradecido - E esse é o Keith. - ela pegou uma mão do bebê e acenou pra mim, e soltei uma risada fraca. Ele finalmente estava mais calmo.
Me virei de vez pra sair dali, até que a outra garota desceu os degraus logo atrás de mim, me cutucando pelo ombro.
- Então você é o ? - ela perguntou de maneira engraçada, entre curiosa e sem jeito. Uma graça, devo admitir. Ela inteira.
- Foi o que eu acabei de dizer, não foi? - ri fraco, observando a mesma rolar os olhos, provavelmente se arrependendo da pergunta besta - E você? - perguntei realmente curioso, analisando seu rosto.
- . - ela mordeu o lábio inferior e semi cerrou os olhos, como se soubesse de algo e eu não, mas preferi não perguntar, preferi observá-la enquanto podia.
Sorri comigo mesmo, saindo daquele pequeno transe e entrando em meu trailer, colocando a mesma camiseta que havia tirado minutos antes.

Capítulo 3

’s POV.
O bebê dormiu depois de ter tomado um dos remédios que tinha trago da farmácia. Já passava das onze e fui acordado por Scott socando a porta do meu trailer.
- O que foi? - abri a porta do mesmo irritado. Queria dormir mais.
- Voight e Holt estão te chamando. Te querem lá daqui 10 minutos. - respondeu com aquele tom apreensivo.
Scott e Cohen sabiam porque eu estava ali, foram os únicos que não me julgaram tanto quando cheguei. Eu entendia os outros, claro. Junto comigo veio uma bagagem de confusão que às vezes caía nas costas dos outros também.
Peguei minha toalha e minhas roupas, saindo dali e indo para o banheiro que tinha nos fundos. Eram cinco, na verdade, e mesmo uma grande quantidade de gente morando ali, eles estavam sempre limpos. Todo mundo cuidava bem dali, porque era tudo o que tinham.
Claro que eu sentia saudade do meu próprio banheiro, minha casa, minha vida...

- Seu pai me ligou, . - Holt começou.
- Ele ainda está ajustando algumas coisas, mas quer trazer o resto da sua família pra cá também. - Voight continuou e eu pude sentir a raiva tomando conta de mim no mesmo instante.
- Puta que pariu, não dá! Já tem gente no meu pé por aqui e tudo bem, eu sei me cuidar, mas e minha mãe? Minhas irmãs? Não dá, cara, não dá. Entra em contato com ele de novo e diz pra ele não fazer isso. Elas estão perfeitamente bem em Bradford! - eu podia explodir de raiva. Não do meu pai, da situação.
- Você sabe que ele não tem culpa, mas talvez seja melhor elas por aqui. Podemos dar mais proteção. - Holt se manifestou.
Por um lado seria bom e por outro, péssimo. Eu sabia que meu pai estava fazendo tudo pensando em nós, mas sentia que aquilo estava longe de acabar. Respirei fundo, encarando os dois homens em minha frente.
Eu devia muito a todos.
Me levantei inquieto, saindo dali com pressa.
- Não fuma muito, hoje você começa a fazer as rondas com a . - Voight falou alto, já que eu estava um pouco distante, mas o que me chamou atenção foi o nome. Dei meia volta com os passos acelerados, cheio de curiosidade.
- ?
- Sim, você já viu ela de madrugada, não viu? Já estou sabendo que você até saiu pra comprar remédios pra o filho da Lydia e estava junto.
- Sim, eu sei quem ela é, mas de onde ela veio? E de onde Lydia veio também? - questionei ansioso. Sério que uma boneca daquelas iria trabalhar ali? Ela não tinha cara de ser metida com aquilo.
- Lydia morava aqui com o namorado, ele trabalhou aqui por muitos anos, mas o liberamos. Ele foi embora pra morar com outra, então já sabe, né? - Voight arqueou as sobrancelhas e captei exatamente o que ele quis dizer com aquilo. Eu que não queria estar na pele do rapaz, aquilo era considerado traição em todos os sentidos e ele foi burro demais em fazer a merda mesmo assim - E é minha filha. - ele finalizou com leveza, como se aquilo realmente fosse verdade.
Não demorou pra minha ficha cair, já tinha ouvido aquela história. A mãe de era namorada de Voight, que acabou sendo presa, mas a garota não dava as caras ali há tempos.
- Então ela é a famosa ! - exclamei com um sorrisinho maroto, quase sendo fuzilado por Voight.
- Ela não é pro teu bico, . - ele riu fraco - Ensinei muita coisa que ela sabe hoje, menos dirigir. A menina travava em todas as tentativas, até que cansou, agora vive pra cima e pra baixo a pé ou de metrô mesmo. - parecia que uma lembrança tinha o atingido, o fazendo rir ao provavelmente lembrá-la.
- Eu não aprendi porque não quis, só isso. - a voz de se fez presente e virei pra trás no mesmo instante.
Encostada na porta, carinha de brava, um shorts jeans e uma blusinha cinza básica. Tava gata demais.
- Como sempre orgulhosa. - Voight rolou os olhos.
- Só estou falando a verdade. - a garota deu os ombros - Vou sair pra ver minha mãe e depois vou passar na casa da . Chego antes do meu horário de trabalho. - ela fez aspas na última palavra, fazendo uma voz engraçada junto.
- ? - perguntei intrometido, olhando para o rosto um pouco cansado da garota. Ela tinha ficado pra ajudar com o bebê de Lydia até ele dormir.
- Sim, a que morava aqui. - ela respondeu sem cerimônia, me encarando um pouco confusa.
- Ah sim! Garota maneira! - respondi tranquilo, lembrando da garota que tinha acabado de se mudar.
Ela era demais ali, falava com todos, estava sempre animada e era enteada de Holt, que namorava sua mãe, também cheguei a conhecer. Ela me tratava de um jeito legal, nunca me olhava torto ou algo do tipo, coisa que as outras pessoas dali faziam. Eu só não imaginava que ela fosse amiga da , até porque ela nunca aparecia ali, e embora falasse seu nome, nunca imaginava que seria essa .
Puts, pouco tempo e muito julgamento talvez.
- Não quer carona? Vou sair agora, posso te levar. - Voight ofereceu, mas a garota só gritou um “não precisa” enquanto já andava pra fora dali.

Me enfiei no final do terreno, atrás do último trailer, onde morava Bethany, que eu sabia que só chegaria na manhã seguinte. Pensei em fumar mais uma vez, mas teria que trabalhar em poucas horas e não seria uma boa mistura. Respirei irritado ao ver as três mensagens de Phoebe em meu celular. Minha paciência já tinha acabado há dias, desde a nossa última briga. Mais uma vez, a mesma coisa de sempre. ’s POV end.

’s POV
Me troquei emburrada, ainda inconformada com a minha situação. Como foi que me deixei parar aqui? Por que não me esforcei mais pra não chegar nesse ponto?
Gritei um “entra” ao ouvir as batidas na porta do meu trailer, revelando a presença de Voight.
- Tudo bem?
- Já estive melhor. - resmunguei seca.
- Como foi com sua mãe hoje? - ignorou minha grosseria, se demonstrando realmente curioso.
- Normal. Perguntei o que rolava entre vocês dois direito, mas ela não soube responder. Disse que você precisa viver a vida aqui fora porque no final, vocês sempre vão se encontrar. - respirei fundo encarando o homem em minha frente, mas acabei rindo totalmente sem humor - Eu acharia até fofo, mas você permitiu que ela fosse presa, então...
- Você sabe que não foi assim. - senti ele realmente sério pela primeira vez em muito tempo. Seu olhar não abandonava o meu, e aquilo me deu um gelo pelo corpo.
- E como foi? - provoquei.
Percebi ele respirando fundo, balançando a cabeça negativamente.
- Esquece, . Um dia você vai entender, sério! - alertou num tom entre tranquilo e exausto. Obviamente já estava cansado das minhas acusações, mas eu não conseguia evitar, mesmo entendendo que minha mãe não era nem uma mulher bobinha e inocente, ela sabia onde estava se metendo, mas ainda assim me parecia injusto. Ela não merecia.
- E então? Vou começar daqui a pouco e terminar que horas? - mudei de assunto.
- Às três.
- E esse tempo todo eu só vou ficar dentro de um carro com o observando as ruas do bairro? Sério? - cerrei os olhos desconfiada.
Eu sabia que era só aquilo, mas me parecia pouco demais. Claro que eu não queria me envolver em algo mais sério, mas me parecia um pouco boba a ideia de ter ronda num bairro que já não tinha nenhuma confusão há meses.
- Sim, mocinha.
Saímos do trailer juntos, indo em direção ao trailer de , que ficava do lado do de Lydia. Pude observar uma moto na frente que não estava ali antes ou talvez eu nem tenha percebido. Voight o chamou e no mesmo instante ele saiu.
Ele estava ridiculamente bonito. O cabelo um pouco bagunçado e o olhar firme poderiam facilmente fazer qualquer uma cair aos seus pés, quem sabe.
Eu já tinha o visto, tinha o achado bonito desde a primeira vez o que vi, achando que ele só estava ali pra comprar drogas, mas parando pra analisar melhor, sua beleza era realmente chocante. Tentei desviar o olhar, mas ele também me encarava de modo tranquilo, chegando a levantar uma sobrancelha pra mostrar que tinha percebido o quanto eu estava olhando.
Me senti idiota.
- , não esquece de passar na casa do Roy e pegar o dinheiro que está com ele. - Voight o avisou enquanto andávamos em direção à saída - E vê se ajuda a mocinha aqui a dirigir também.
- Eu não quero aprender. - resmunguei no mesmo instante, o encarando brava.
- Você precisa perder o medo!
- Não é medo!
- Precisa mesmo assim. Se um dia acontecer algo, você precisa saber dirigir pra fugir da situação! - ele retrucou um pouco mais alto, e foi aí que minha ficha caiu de uma vez.
Eu não podia me enganar e achar que estava numa colônia de férias, porque era exatamente o contrário.
- Tudo bem. - suspirei, respondendo de modo quase inaudível.
- Eu só quero que você esteja preparada pra qualquer coisa que...
- Eu sei, Voight! Não precisa agir como se eu não soubesse como as coisas funcionam por aqui, ok? - falei tudo de uma vez, ainda mais brava e acelerando o passo, deixando os dois pra trás.
Os dois mesmos rapazes que eu vi no dia que cheguei, continuavam na entrada, e eu nem mesmo sabia seus nomes.
Senti seus olhares em mim, e não hesitei em perguntar logo.
- Qual o nome de vocês?
- Scott.
- Cohen.
- Bem, vocês já sabem meu nome, então... - ri sem graça, enfiando as mãos no bolso da minha jaqueta.
- Quantos anos você tem? - Scott perguntou curioso.
Oh, claro, minha idade. Talvez achassem que eu fosse o bebê que Voight precisava cuidar ou algo do tipo.
- 19.
saiu no mesmo instante, com a chave do carro em mãos. Cumprimentou os rapazes e começou a andar, olhando para o lado pra se certificar que eu estava fazendo o mesmo.
Os três eram novos ali, pois eu lembrava muito bem que há um ano atrás, nenhum deles estava presente.
Entramos no carro em silêncio e permanecemos em silêncio até entrarmos na terceira rua. Conectei meu celular com o som do carro, apertando no botão aleatório da minha playlist. Me, Myself and I da Beyoncé começou a tocar.
andava devagar pelas ruas, atento a cada pessoa que ainda estava andando por ali. Encostei minha cabeça na janela, cantarolando a música baixinho.
A verdade é que eu até precisava de um descanso. A faculdade me deixava nervosa e o trabalho mais ainda. Não ter minha mãe por perto me deixava brava e quando tudo se juntava eu sentia que poderia explodir em mil pedacinhos. Não é o ideal, vai contra o que eu acho importante, mas voltar pra gangue estava me proporcionando o descanso que eu queria. Não do jeito que eu realmente queria, mas não deixava de ser um descanso.
- Me, myself, and I, that's all I got in the end, that's what I found out and it ain't no need to... - parou de cantar no mesmo instante em que eu me virei para o olhar.
Por Deus, sua voz é linda!
Abri a boca pra falar algo, pedir pra ele continuar ou algo do tipo, mas a música havia acabado e começado Fly With Me dos Jonas Brothers.
Respirei fundo, apertando os olhos. gargalhou e eu não aguentei, embarquei na gargalhada com ele.
- É uma playlist de musicas antigas, ok? - tentei me defender.
- Eu percebi. - respondeu em meio aos risos.
deu mais algumas voltas pelas ruas até parar em uma rua com uma iluminação precária, em frente a um prédio de uns 5 andares. Saiu do carro sem falar nada, entrando no local. Provavelmente era o dinheiro de Roy que Voight havia mandado buscar.
Continuei cantarolando a música que tocava, olhando minhas redes sociais ao mesmo tempo e trocando mensagens com , que estava avisando sobre um show novo marcado no sábado.
Contei sobre estar com e recebi uma mensagem rápida em resposta.

Ele é bacana e também é um gatinho, então aproveita! xX

Ri da sua mensagem assim que a li, mesmo sabendo que até então ele não tinha se mostrado nada extraordinário, tirando a beleza. Eu estava totalmente entretida nas mensagens, tomando um susto que me fez dar um pulinho ao perceber um homem ao lado da janela do carro. Não era .
- Caralho! - xinguei pelo susto, observando o rapaz se abaixar para ficar com o rosto em frente à janela.
- Boa noite! - o homem disse, me olhando de maneira engraçada.
- O que você quer? - perguntei grossa.
Pelo amor de Deus, uma hora da manhã, um homem na janela do carro. Ele não queria só me dar boa noite.
- Então você é a ? - o homem perguntou com humor e destemido, e meu coração acelerou no mesmo instante.
Eu tinha acabado de voltar e já tinha um maluco que sabia meu nome e se engraçando em plena madrugada?
Abri a porta do carro sem aviso, fazendo a mesma bater no homem que se assustou e foi atingido. Saí do veículo rapidamente, pensando em atacá-lo de outra maneira ou só me afastar.
O homem reclamava da portada que havia levado, rindo em seguida. Vi saindo do lugar e correndo assim que observou a situação.
- O que você fez? - perguntou com os olhos arregalados e encarando o homem que se recuperava. Ele já aparentava ter mais de 40 anos.
- Ele chegou na janela de um jeito bizarro e falando meu nome, você queria que eu fizesse o que? Desse um beijo e um abraço? - respondi indignada.
- Esse é o Roy, garota! - respondeu com uma certa raiva e tom alto, me deixando nervosa. Quem ele pensa que é?
- E como eu ia saber, meu filho? Ele que chegou e...
- Foi minha culpa mesmo! - o tal de Roy se manifestou, rindo baixo - me ligou e eu disse que estava chegando, aí vi você no carro e imaginei quem fosse. Voight falou que você voltou e agora eu vejo que você é até parecida com ele, sabia? Você é esperta. - ele finalizou simpático, e fiz uma careta pela comparação, mas não reclamei.
Aparentemente Voight estava contando aos quatro cantos que eu tinha voltado pra debaixo da sua asa. Não dava pra saber se era pra se gabar, se era de felicidade ou se ele simplesmente queria falar. Provavelmente era amigo de Roy há muito tempo para dividir a informação.
Ou não. Eu não tinha como saber.
- É... Foi mal se eu te machuquei. - me rendi, quase sussurrando.
- Tudo bem. Agora eu sei que se algum engraçadinho tentar se meter com você, vai estar ferrado. - ele riu.
Tirou um envelope do bolso de dentro do casaco, entregando nas mãos de . Trocaram algumas palavras e ele adentrou o prédio e nós, no carro.
Respirei fundo, apertando os olhos e assim que os abri, senti o olhar do rapaz ao meu lado em mim.
- O que é? - me virei para encara-lo, e ele continuava me olhando como se eu tivesse feito algo muito errado. Seguiu sem me responder, dando partida no carro e voltando a andar pelas ruas em velocidade baixa.
Bufei mais de mil vezes sem paciência. já tinha ido dormir, já tinha fuçado em todas as redes sociais e só restava o garoto quieto ao meu lado.
parou o carro de repente, tirando o cinto e me olhando novamente.
- Vou te ensinar a dirigir. - ele disse com autoridade, e a minha primeira reação foi franzir a testa e o olhar com cara de bosta.
- Não quero.
- Voight disse pra eu te ensinar.
- E eu disse que não quero, não agora! - a esse ponto, já era birra minha. Não tínhamos tido nem uma conversa de gente e ele se sentia no direito de dizer quando ou não as coisas iam acontecer?
- Problema é seu então. - ele colocou o cinto novamente, dando partida no carro novamente.

Foram as horas mais longas da minha vida toda. Quando chegamos, Scott e Cohen já não estavam mais lá na entrada e nem Voight, que já tinha ido pra casa.
Caminhamos em silêncio até o nosso trailer, nos encarando antes de entrarmos.

Capítulo 4

’s POV.
Me enfiei pro final novamente, nos últimos trailers. Tragava o cigarro preso em meus lábios e continuava a rabiscar a parede com spray. Era permitido, Voight e Holt até se juntavam às vezes, assim como outra galera também.
Meu celular apitou, anunciando uma mensagem nova da minha irmã mais nova.

Adivinha só o que estamos comendo?

A foto da torta de pêssego que eu sabia que era da minha mãe veio junto. Sorri comigo mesmo, tentando enganar a vontade que tinha surgido em meu estômago. Aquela torta era meu ponto fraco.

Golpe baixo, mocinha!

Respondi animado. Amava falar com ela. Com todos da família, na verdade, mas minhas irmãs e minha mãe, sem dúvidas valiam todo o esforço e sufoco que eu estava passando, assim como meu pai.

Sentimos sua falta, mesmo você sendo muito palhaço às vezes.

Meu coração apertou. Também estava sentindo a falta de todas, mas não queria entrar num momento triste.

Eu também! Como está indo na escola? Notas boas?

Não demorou pra resposta chegar, dizendo que estava indo bem e se gabando por ser a melhor, e de fato, era. A mais inteligente!
- O que está fazendo? - a voz de Lydia surgiu, me dando um pequeno susto. Travei o celular, o guardando no bolso da bermuda e pegando o spray novamente.
Notei que Keith estava em seus braços, porém quietinho, apertando um pequeno brinquedo em suas mãos.
- Só uns rabiscos. - respondi simpático. Lydia parecia uma boa pessoa.
- São ótimos rabiscos. - sorriu sem mostrar os dentes, observando bem a parede inteira, que já estava quase sem espaço novamente. Pensei em dizer algo, mas não sabia o que. Pensei em continuar a usar o spray, mas lembrei que talvez o cheiro fizesse mal para o bebê, então só parei e fiquei encarando a mulher que permanecia em minha frente, que parecia ter percebido o que estava rolando, limpando a garganta e puxando assunto em seguida - Os remédios que você trouxe ajudaram bastante o Keith. Obrigada de novo! - disse um pouco sem graça, mas esperançosa de que talvez a conversa tomasse gás e rendesse.
- Não foi nada, Lydia! - sorri simpático - Quantos meses ele tem? - perguntei aleatório. Foi a primeira coisa que tinha parado em minha mente.
- Ele tem oito meses, já está um rapaz! - respondeu animada, dando um beijo estalado na bochecha do filho, que gargalhou - Você quer segurar ele? - perguntou mais animada ainda.
Porra, como eu ia dizer que não, né?
Me aproximei sem jeito, segurando o bebê em meus braços, que já foi logo enfiando a mão em meu rosto, brincando comigo.
Comecei a balançar o garoto em meus braços, que gargalhava alto com a brincadeira.
- Ele é um bebê bem alegre! - comentei sorridente enquanto o balançava mais uma vez, um pouco mais para o alto.
- Ele é! - Lydia concordou de imediato, feliz da vida.
Estava entretido com Keith, mas pude notar a presença de alguém um pouco à frente de nós. Era . A toalha estava nos ombros e segurava algumas roupas, indicando que tinha acabado de tomar banho. Usava um shorts curto e uma blusa básica, mas estava bonita pra caralho.
Não quis olhar tanto, mas acabei olhando demais até parar em seu rosto, e seu olhar já me analisava de um jeito confuso, olhando para Lydia em seguida.
- Ele está melhor? - perguntou direcionada à Lydia, claramente se referindo ao bebê em meu colo.
- Sim, está bem melhor!
- Que ótimo! - ela sorriu fraco e virou as costas, andando em direção ao seu trailer sem olhar pra trás.
Respirei fundo, um pouco curioso. tinha uma presença forte, olhar forte, e parecia ser uma pessoa forte. Nada extraordinário, já tinha conhecido varias mulheres assim, mas eu já tinha ouvido no dia anterior que tinha apenas 19 anos e parecia demais pra ela. Toda essa força não parecia ser por escolha própria, e sim por necessidade.
- Você conhece ela há muito tempo?
- Sim! Embora eu seja mais velha, eu, e já aprontamos muito por aqui e por esse bairro. - Lydia gargalhou, parecendo ter sido atingida por uma lembrança.
- Você tem quantos anos? Sei que ela tem 19, mas você não me parece ser tão mais velha assim...
- Tenho 25, . - ela respondeu e arregalei os olhos em surpresa. Parecia ter no máximo uns 21 - E eu sei que você deve imaginar que é fim de carreira eu ter 25 e estar aqui de volta com um bebê depois do meu marido ter me largado por outra. - ela riu sem graça. Talvez minha reação tivesse dado a impressão errada.
- Claro que não, Lydia! Eu tenho 26 e também estou aqui, sabia? Às vezes a gente só não tem escolha, não é? Tenho certeza que não estava nos seus planos voltar pra cá, estou certo? - disparei de uma vez.
- Claro! - riu - Eu amo esse lugar, de verdade. Aqui é todo mundo uma grande família, mas eu pensei que iria me dar bem com a minha pequena família, sabe? Mas nada é como a gente planeja, então... - tombou a cabeça pro lado, pensativa.
Keith ameaçou chorar e eu logo o balancei novamente, mas não adiantou. Lydia rapidamente o pegou, dizendo que já estava na hora da criança tomar sua mamadeira. Ela parecia ser uma mulher forte também, embora mostrasse nitidamente o quanto estava quebrada pela revira volta de sua vida.
No fim, você só tem a si mesmo.
’s POV end.

’s POV
- Só você mesmo pra fazer esse monte de livro caber dentro desse trailer. - riu ao ver a caixa com os livros que eu precisava para estudar encostadinhos no canto ao lado da cama.
- Não vou conseguir uma bolsa melhor da próxima vez sem estudar, gatinha. - dei uma piscadinha para ela, que rolou os olhos e riu.
- Qual curso você estava mesmo? - Lydia, que segurava o pequeno Keith nos braços enquanto dormia, perguntou baixo.
- Letras!
- Mas sabemos que não é isso o que ela realmente quer, né? - arqueou as sobrancelhas junto a um olhar sarcástico.
- Bem, eu te conheço há tempo o suficiente pra saber que você...
- Não, gente! Eu gostava do curso, ainda penso em me tornar professora e fim, ok? - interrompi Lydia, logo me defendendo.
- Você precisa parar com essa ideia de que sendo professora você vai poder ajudar todas as almas desse país. É uma profissão linda, mas não é o que você gosta, a gente sabe muito bem! - teimou como sempre. Às vezes eu até acabava concordando só pra não prolongar uma discussão, mas aquilo me deixava nervosa demais pra não se discutir.
- Eu não quero ser professora pra salvar todas as almas desse país, você sabe que não!
- Você sente que é seu dever fazer alguma coisa para as pessoas evitarem terem crescido como você, mas nem enxerga que está fazendo isso do jeito errado! Você precisa parar de carregar essa culpa de coisas que nem estão ao seu alcance, sabia? É isso que te deixa exausta! - cuspiu todas as palavras que eu já estava cansada de ouvir, mas que sempre tinham o mesmo efeito de soco na boca do estômago.
Abri a boca pra retrucar, mas ouvi as batidas sendo dadas na porta e eu sabia que era de . Saímos todas do trailer, e eu podia jurar por todos os deuses que ele estava mais bonito ainda.
Talvez fosse o efeito da noite que o deixava mais cativante, não sei.
se despediu de Lydia e cumprimentou com um abraço apertado que foi bem retribuído. Observei tudo com atenção, sentindo um arrepio.
Os dois conversavam numa boa. dizia sobre ter que ter pintado o muro dos fundos novamente para fazer novos grafites. comentava animada sobre as novas musicas que estava escrevendo e seu próximo show.
Me senti um peixe fora do aquário, apenas andando com os dois até à saída e entrando todos juntos no carro, já que deixaríamos minha amiga em sua casa, que não era tão longe dali.
era falante, extrovertida, não deixava uma oportunidade passar. Conectou seu celular com o rádio do carro, colocando sua música mais recente pra tocar. Se chamava Too Deep, e era sem duvidas, uma das minhas favoritas.
Amava seu dom pra compor e pensar nas melodias para as próprias músicas, onde produzia num estúdio bem pequeno de um amigo conhecido que a ajudava em tudo.
- Tá muito foda, ! - comentou animado assim que a música acabou. Nem mesmo parecia o mesmo cara quando conversava com ela. Era solto, leve, menos fechado.
- Oras, claro que está! - ela respondeu num tom afirmativo engraçado, abrindo um sorriso gigante.
- Acho que é a melhor que você já me mostrou, sem exagero! - ele continuou, na mesma animação.
Não me atrevi a dizer uma palavra, apenas observava o quanto os dois se davam bem. Não demorou para chegarmos no novo lar da minha amiga, que ao mesmo tempo que estava muito feliz, ainda estava se sentindo estranha pela mudança.
Era uma casa linda, devo admitir.
Também devo admitir que duvidava muito que Holt fizesse algo que pudesse prejudicar tia Ellie. Ele realmente se mostrava interessado em manter o relacionamento firme desde quando a conheceu, trata como filha e tudo. Era uma ralação bonita.
- Amanhã estarei de folga do trabalho já que vão mudar de espaço, então serei todinha sua o dia todo, querida. - anunciava com drama e animação em sua voz. Talvez desse uma bela atriz também.
- Que tal você me esperar no meu trailer para dormirmos uma em cima da outra? - brinquei enquanto a mesma saía do carro, já dando alguns passos até a porta de sua casa.
- Eu dormiria até no chão com você, ! - respondeu firme, parada no meio da rua e olhando pra mim com um sorriso no rosto - Só que não é necessário, e fora isso, você é espaçosa demais enquanto dorme! - finalizou com um riso gostoso, entrando de vez em sua casa.
Sorri comigo mesma. Eu tinha sorte de tê-la comigo.
Olhei para o lado e encontrei o sério e quieto que eu tinha conhecimento, logo dando partida no carro novamente e o silêncio tomou conta. Por ordens de Voight, tínhamos que passar na casa de Roy novamente para pegar outra parte do dinheiro. Tentei não focar minha mente nisso, mas não consegui. Queria saber quem ele era, o motivo de tanto dinheiro estar rolando e porque ele não tinha dado tudo de uma vez.
saiu do carro, indo em direção à entrada do pequeno prédio que eu sabia que era de Roy, mas parou de andar depois de alguns passos e me olhou.
- Quer vir? - perguntou numa boa, mas eu só conseguia prestar atenção em como ele se vestia bem. Tudo aquilo pra simplesmente fazer rotas dentro de um carro em um bairro que estava em paz há meses? Por Deus!
Saí do carro e o acompanhei, entrando no lugar que não tinha porteiro ou nenhum tipo de segurança, apenas um portão que já estava aberto. Subimos as escadas até o segundo andar em silêncio, sendo recebidos por Roy, que nos aguardava na porta. Nos convidou pra entrar, mas logo recusou. Foi rápido, sem muita conversa, apenas mais um envelope com uma quantia desconhecida.
Descemos no mesmo silêncio e entramos no carro. Mais uma vez, conectei meu celular no som do carro, o silêncio já estava começando a incomodar. Body Talks do The Struts começou a tocar e encostei minha cabeça na janela, observando as ruas ficarem cada vez mais vazias.
Ao longo da vida eu ouvi sempre que o mundo se esforça dia e noite para tornar você igual a todos. Acho que esse poderia ser considerado meu maior medo. Eu queria ter um impacto grande aqui, queria mais. Sempre quis. Minha mãe sempre me lembrou que sou capaz de qualquer coisa, mesmo que pareça impossível. Trabalho duro e esforço nos trazem recompensas, mas ao mesmo tempo o universo me trouxe pra uma vida que não era trabalho e esforço do jeito certo.
Eu sabia que não era só coisa ruim, afinal, a venda de drogas gerava dinheiro e o dinheiro enchia a barriga e a casa de muita gente da gangue, mas era o dinheiro que vinha de uma pessoa que consumia algo totalmente ruim pra si mesmo. O ciclo daquilo sempre me deixava mais triste do que revoltada.
Saí dos meus pensamentos assim que pisquei forte depois de tanto focar na luz do farol do carro de trás pelo retrovisor, que já estava atrás do nosso há pelo menos três ruas.
- Acho que estão nos seguindo. - murmurei, olhando pra o homem ao meu lado que logo olhou para o retrovisor também.
virou bruscamente o carro na primeira direita que viu, acelerando um pouco mais, e o carro atrás do nosso fez o mesmo.
Estávamos sendo seguidos.
Respirei fundo. Nada aconteceria, seria burrice fazer algo ali, no nosso próprio bairro.
Respirei de novo, pegando meu celular e abrindo no bloco de notas, anotando a placa do carro que nos seguia.
- Não é pra ligar pro Voight! - o rapaz disse alto, claramente nervoso.
Mais uma virada. Eles continuavam nos seguindo.
-Não estou ligando pra ele! Não é melhor voltarmos?
- Eu vou parar o carro e ver o que eles querem, não entra em pânico!
- O que? Você está louco? - arregalei os olhos em um desespero imediato. Ele só podia estar brincando.
- , não vão fazer nada com a gente, é sério, confia em mim! Não grita e nem entra em pânico, só isso! - ele manteve a voz firme, me olhando por alguns segundos de maneira tranquila, me passando uma confiança total no mesmo instante.
O carro foi parando aos poucos, e quem estava nos seguindo fez o mesmo. Parou o carro ao lado do nosso e o vidro se abaixou, revelando dois homens dentro do mesmo.
- , quanto tempo! - o motorista revelou sua voz num tom sarcástico, dando uma risada sem humor em seguida - Boa noite pra moça bonita também! - ele acenou cínico, e não hesitei em mostrar o dedo do meio e um sorriso cínico no mesmo nível, que o deixou levemente desconfortável.
Eu praticamente vivia por momentos como aquele, em fazer um homem imbecil se sentir atingido. Fui criada assim.
- Que porra vocês querem agora? - questionou numa irritação explícita.
- Você sabe, cara. O negócio era nosso e vocês se meteram, agora sabe o que vai acontecer, não é? - o outro rapaz se manifestou, mais frio e direto.
- Voight e Paul tinham um trato! - disse confuso.
- Que acabou assim que ele soube o estrago que seu pai e aquele outro merda fizeram! Honestidade é a alma do negócio, , não te ensinaram isso? - aquele jeito extremamente frio em cada palavra me deu um arrepio, mas tentei não me mostrar tão abalada. Não conseguia tirar os olhos deles, mesmo querendo.
- Então manda seu chefe ir pra casa do caralho, porque ele sabe muito bem da verdade! - retrucou nervoso, ligando o carro novamente, pronto pra dar partida.
- Tudo pode acabar se ele pagar o acordo, você sabe.
- Não tem acordo, caralho. Vocês vão parar com essa merda por bem ou por mal! - o tom de ameaça, certeza e raiva foi a última coisa que eles ouviram antes de rasgar pra fora dali com o carro em alta velocidade.
Abri a boca varias vezes, mas nada saía. Observei suas mãos trêmulas agarradas no volante com raiva, e a velocidade alta que eu já estava começando a me preocupar.
- ... - sussurrei, mas nenhuma resposta. Pensei em desistir, sua cabeça estava cheia, mas ele acelerou mais ainda - ! - chamei sua atenção mais alto, e isso foi o suficiente pra ele diminuir, mas aquele olhar furioso fez eu me arrepender.
- O que é? Eu sei o que estou fazendo, sei dirigir! - respondeu grosso.
Ok, isso não dava o direito dele ser um babaca.
- Correndo em alta velocidade após ficar nervoso numa discussão com dois homens que nos seguiram por varias ruas é saber o que fazer? Tenha dó! - fui grossa igualmente, recebendo outro olhar raivoso.
Não demorou para voltarmos, muito antes do nosso horário terminar oficialmente. Saímos do carro feito duas crianças brigadas, mas não era minha culpa.
Caminhei o mais rápido possível até meu trailer, onde eu só pensava em deitar e dormir por cinco anos seguidos, mas meu braço foi puxado sem muita força pelo mesmo que andava emburrado comigo. Nossos corpos se aproximaram, assim como nossos rostos. Dei um pequeno passo pra trás, um pouco sem graça.
- Me desculpa, beleza? Eu sei que fui grosso e sem noção, mas é que aqueles dois...
- Eles falaram do seu pai e isso te irritou mais ainda, não é? - o interrompi com um palpite que já estava noventa por cento confirmado em minha cabeça.
- Sim. - confirmou cansado, soltando um suspiro que parecia que estava entalado há tempos.
- Família é família, não é? - dei os ombros, sorrindo discretamente de canto, tentando quebrar o clima.
- Você deve entender, afinal, sua mãe está presa, né? - senti que ele tomou cuidado ao perguntar e eu quase ri. Todos ali sabiam o que tinha acontecido, não era segredo pra ninguém.
- E seu pai está? - franzi as sobrancelhas confusa.
- Mais ou menos. Digamos que ele não pode sair de onde esteja. - foi a vez dele em dar os ombros, enfiando as mãos nos bolsos da sua blusa de frio em seguida.
Olhei para o local rapidamente, só tínhamos nós ali, em pé, tendo nossa primeira conversa depois de um ocorrido tenso que provavelmente faria outro cagar nas calças, mas não nós.
Talvez até fôssemos um pouco parecidos.
- O que aconteceu com ele? - perguntei direta. Queria saber mesmo.
Mas ele não queria dizer. Não agora.
abriu um sorrisinho descontraído, já dando alguns passos em direção ao seu trailer.
- História pra outro dia. Boa noite, ! - ele exclamou meu sobrenome de maneira gostosa, logo entrando pra dentro de seu trailer.
Fiquei parada feito boba, soltando um riso fraco. Pela primeira vez, estar ali não parecia tão ruim.

’s POV
Durante a vida inteira meus pais me ensinaram que o melhor a se fazer nessa vida é construir conexões antes de construir impérios, ou seja lá o que você queira. Minha mãe sempre falava que não era errado sentir tudo a flor da pele, porque só assim que era viver intensamente.
Às vezes isso me atormentava.
Olhei para as mensagens de Phoebe, claramente desesperada. Eu sabia como tinha começado e como ia acabar, e com certeza minha mãe iria querer me dar um sermão gigante se soubesse, mesmo tendo a total noção de que pessoas fazem isso o tempo todo: brincam umas com as outras.
Saí do banho sentindo um peso, um incômodo, que não estava ali no dia anterior. Era quase uma dor.
- Te achei! - Lydia claramente se sentiu aliviada ao me ver, dando passos longos e com Keith em seu colo - Eu sei que você acabou de me conhecer e talvez isso já seja demais, mas eu esqueci completamente que tinha uma entrevista de emprego hoje! Acabei de ligar pra e ela disse que fica com ele, mas ela está comprando o almoço junto com a e deve chegar daqui uns dez minutinhos, então você pode, por favor, ficar com o Keith por enquanto? Só até ela chegar? - a mulher quase atropelou todas as palavras, com a respiração descompassada ao terminar. Notei também sua roupa mais social, pronta mesmo pra uma entrevista. E eu não podia dizer não, e nem queria. Lydia parecia ser boa demais.
- Eu não tenho muito jeito com criança, mas fico sim, claro!
- Ele acabou de tomar uma mamadeira, então não precisa se preocupar com isso. Meu trailer está aberto, então se quiser pegar alguma coisa pra ele, está tudo lá! - ela entregou o bebê em meu colo com cuidado, completamente ansiosa e tensa, provavelmente pela correria, mas ainda assim tentou se controlar, respirando fundo e me olhando bem nos olhos - Obrigada por isso, , de verdade! Qualquer coisa que precisar depois, só me falar, ok? - ela deu um sorriso sem graça, tombando a cabeça pro lado e observando seu filho em meu colo.
- Não precisa agradecer, relaxa! Agora vai, você precisa ganhar esse emprego, não é? - brinquei na tentativa de deixá-la menos tensa, e pra mim valeu só por ter visto um sorriso de verdade se abrir em seu rosto.
Ela saiu agradecendo milhões de vezes, e quando notei que era só o garoto e eu, acabei rindo. Me sentei no banco que tinha ali fora, sentando o bebê na mesa que acompanhava o banco, observando seus movimentos e suas ações. Ele não parava de mexer as próprias mãos, as colocando na cabeça e abaixando rapidamente, quase que numa brincadeira. Ele se parecia muito com Lydia, muito mesmo.
Ouvi algumas vozes ficando cada vez mais altas, virando pro lado e vendo a galera toda chegando.
, , Scott e Cohen.
- E aí, babá? - Cohen brincou assim que me viu.
Todos se sentaram, e retiravam alguns lanches dos sacos que traziam em mãos, enquanto Scott abria o refrigerante.
- Como ele está? - se sentou do meu lado, claramente se referindo à Keith, que seguia quieto, no seu próprio mundo e ainda brincando com as próprias mãos.
- Bem.
havia comprado lanches para todos. Disse que acordou de bom humor, daquele jeitinho numa falsa arrogância e de um modo engraçado que só ela sabia falar.
- Como está a vida no novo palácio, senhorita? - Scott perguntou antes de dar a primeira mordida em seu lanche.
- Estranha, mas boa. Eu finalmente tenho uma cama de casal! - respondeu animada - Ainda parece que não é real, mas acho que é só a falta de costume.
- Poxa, eu queria tanto dormir numa cama de casal. - Cohen comentou de um jeito cafajeste, sabendo que faria a garota rir.
se dava bem com todos. Scott e Cohen estavam ali há um pouco mais tempo que eu, mas rasgavam elogios quando se tratava dela, e eu achava exagero até o dia que ela veio puxar assunto comigo como se me conhecesse há anos.
E ela era assim com todos. Sem tempo ruim.
Ela não perdeu a oportunidade de chamar todo nós para irmos vê-la cantando num bar no sábado. Eu amava o fato dela cantar. Até que a conversa engatou em assuntos aleatórios, e a que menos falava era , que mal estava comendo também, enquanto eu nem havia começado, pois o bebê em minha frente não permitia.
- Me dá o moleque aqui pra você comer. - Scott disse assim que terminou de mastigar o último pedaço.
- Deixa, eu fico com ele. Lydia disse que ele dorme esse horário, vou tentar fazer ele dormir. - se manifestou rapidamente, já pegando Keith no colo e levantando, mas não saiu dali, apenas ficou de pé do nosso lado, balançando o bebê com tranquilidade.
Os três seguiram falando algumas palhaçadas, até serem interrompidos por Voight, que dizia estar indo visitar a mãe de , até perguntou se ela queria ir junto, mas negou.
- ... - chamou a melhor amiga de maneira suave, mas sua cara não era das melhores. Keith estava quieto deitado em seu colo.
- Sim?
- Voc...
Um barulho.
E gritos.
- Isso foi um...
Scott foi interrompido por outro barulho. De primeira, não parecia, mas na segunda tínhamos certeza.
Holt saiu correndo do pequeno local que ele passava o dia, gritando para irmos para os fundos.
Eram tiros.
parecia estar paralisada, e enquanto os três se levantavam dos bancos, envolvi um braço em suas costas, na intenção de fazê-la andar. Demorou alguns segundos até a realidade a atingir, e foi aí que corremos.
Mais um tiro.
Nos escondemos atrás dos últimos trailer que tinha ali, nos abaixando. permanecia ao meu lado, envolvendo Keith com os braços de maneira protetora, fechando os olhos.
- O Voight! - ela arregalou os olhos e praticamente gritou.
Todos estavam tão chocados que não saiu nenhuma palavra da boca de ninguém.
- Ele sabe se cuidar, e você sabe disso também. - respondi em meio a carga de energia e preocupação que tinha tomado conta de mim, mas que eu precisava segurar.
- Ele... - ela apertou os olhos, segurando Keith ainda mais.
- Calma, . - passou a mão no braço da melhor amiga, com as mãos trêmulas.
Dava pra ver no rosto de cada um o medo e foi aí que a raiva veio. Raiva da situação. Aquilo não era jeito de se viver.
- Vocês estão bem? - a voz ofegante de Holt deu o ar da graça, e praticamente voou para o abraçá-lo.
levantou às pressas, e só aí que percebi as lágrimas em seus olhos que estavam prestes a cair.
- Cadê o Voight?
- Aqui! - ele apareceu no mesmo estado que Holt, e a menina correu para os seus braços, mesmo com Keith ali - Calma, já passou. - ele afagava os cabelos da garota, me dando aquele olhar que eu conhecia muito bem.
Confusão.
Mais uma.

Capítulo 5

’s POV
Eu me sentia culpada. Quase me afogando em culpa.
E esse era meu maior defeito.
Eu só não sabia como me livrar disso.
Sei lá, o ser humano é complicado. A gente faz tudo errado. A gente gosta de fazer tudo ao contrário, até mesmo quando a coisa é mais fácil, só pra depois ter a cara de pau de dizer que tal coisa está complicada, mas não admitimos de jeito nenhum que nos colocamos em tal posição. A gente complica.
Mas nem sempre é porque queremos. As vezes é defesa, é costume ou é apenas uma busca eterna por respostas, e quando não as temos, a gente vai enfiando qualquer coisa pra servir como resposta, algo que nos conforte.
Estávamos todos ali juntos, horas depois do acontecimento. Lydia havia chorado pra caramba e nos agradecido por cuidar de Keith durante o acontecimento e eu quis dar um tapa na minha própria cara.
Ela não deveria me agradecer porque aquilo deveria ser simplesmente normal. Como eu não o protegeria? É só um bebê!
- Sei que vocês estão assustados e querem uma explicação... - Holt começou, falando bem alto, enquanto estávamos em uma grande roda, onde ele e Voight estavam no meio - Fechamos um acordo recentemente e isso deixou os Ghosts irritados. - ele finalizou e as pessoas já começaram a falar alto.
Eu sentia meu coração sendo amassado. Eu já tinha ouvido falar tanto dos Ghosts desde os meus 13 anos e nada me arrepiava mais do que a história daquela gangue. Rígidos, centralizados, focados, perigosos e na maioria das vezes nunca deixavam rastros. E a maior renda deles eram as drogas, mesmo tendo outros tipos de trabalhos por lá que eu nem gostava de lembrar.
Ok, The Lions não eram anjos, mas melhoraram conforme os anos. Gangue antiga, mas souberam se adaptar à realidade. Voight e Holt sempre estavam dispostos a pagar por cursos, escolas, faculdades para as pessoas dali melhorarem de vida. Eles nunca deixavam ninguém se convencer de que ficariam ali pra sempre, exceto as pessoas que já estavam ali há anos e se acomodaram. O terreno com os trailers era a salvação de muita gente, embora tivesse outro local onde eles tinham o escritório oficial, onde guardavam todas as coisas ruins que precisavam ser guardadas, local esse que ninguém sabia onde ficava por segurança.
Era ruim e era bom dependendo do jeito que se olha pra coisa.
Algumas dúvidas começaram a surgir e Voight começou a tentar explicar o óbvio: as coisas estavam caras demais e ele precisava de um acordo melhor, acordo que provavelmente outras pessoas estavam de olho, mas que ele tinha conseguido passar na frente.
Algumas pessoas não se importavam em saber como ele tinha conseguido, talvez achassem que dormiriam melhor a noite, mas eu sempre queria saber.
Olhei pra , que estava ao meu lado, e liguei os pontos. Os tiros eram o começo das consequências que ouvimos na noite anterior dos dois rapazes que nos seguiram.
Mas o pior foi lembrar de que tinha falado sobre Paul e Voight terem um acordo. Em que mundo que The Lions e Ghosts teriam um acordo?
Não demorou muito para aquela reunião acabar, mas a tensão continuava no ar.
Notei Voight chamando enquanto Holt conversava com . Fui andando discretamente até o escritório, onde Voight já quase gritava.
- Eles não atiraram em ninguém, , mas poderiam! Eles vieram aqui pra nos assustar e olha só, conseguiram, tá todo mundo apavorado lá fora!
- Você não tem culpa disso, Voight!
- Pela primeira vez no universo alguém conseguiu fazer um acordo com Paul, você tem noção do que é isso? Um acordo com o chefe dos Ghosts, e agora eu perdi! Você sabe que eles estão pouco se fodendo, quem tiver na frente deles, eles passam por cima, ! Eu não acredito! - coloquei a pontinha da minha cabeça na porta, vendo Voight dar um murro na parede com força, e senti aquilo doendo em mim.
- Voight, não adianta, já está tudo feito. O que você precisa agora é montar outro plano. - mantinha um tom de voz calmo e eu queria saber como ele conseguia. Em meio a tanto caos, ele parecia tranquilo. Parecia.
Até que aquela dúvida pousou sob mim.
Por que diabos Voight estava explodindo daquele jeito com ? O garoto era novo ali, mas devia saber de muita coisa pra Voight praticamente desabafar assim com ele.
- Ouvir conversa dos outros é feio, mocinha. - a voz de Holt soprou atrás de mim, e apertei os olhos antes de me virar e o olhar, e estava do seu lado.
- Muita coisa que acontece aqui também é feia também... - retruquei birrenta, sabendo que ele não levaria a sério.
Holt era como um tio.
- Você, Lydia, , Scott e Cohen vão dormir lá em casa hoje, pegue suas coisas. - ele praticamente ordenou, mas não de maneira grosseira.
Nem precisei perguntar, porque o olhar de já respondia tudo. Claro que ela faria aquilo!
- Você vai enfiar todos nós na sua casa porque acha que vai ser impossível dormir aqui hoje, não é? - entrelacei nossos braços, andando com ela até meu trailer.
- É óbvio! Não vou deixar meus amigos passarem a noite aqui achando que estão inseguros, e mesmo que for só por uma noite, acho que já vai valer, não é? - ela mordeu o lábio apreensiva, e me doía o coação que ela ainda tinha dúvidas daquilo.
- Tenho certeza que todo mundo vai amar, -Boo. - sorri encantada enquanto a olhava, citando aquele apelido que inventei quando ainda éramos crianças.
Todos os trabalhos tinham sido dispensados, e devo admitir que provavelmente não conseguiria dormir ali.
Arrumei uma mochila com o que iria precisar para passar a noite fora, saindo do trailer e indo encontrar Voight, que já estava sozinho em seu escritório e com um saco de gelo em sua mão.
- Oi! - entrei ali com passos curtos - Então... Você vai passar a noite aqui? - perguntei cuidadosa. Horas atrás eu tinha chorado em seu peito com medo de que algo tivesse acontecido com ele, algo que jamais ambos iríamos esquecer.
- Sim, e Holt também. Sei que o infernizou pra deixar todo mundo dormir lá, então aproveite! - soltou uma risada fraca, sem me olhar até então.
Eu queria perguntar sobre o que estava acontecendo. Os acordos, o dinheiro que ia e vinha, qual era seu plano daqui pra frente, mas eu não podia. Sabia que sua cabeça com certeza estava mais bagunçada que a minha e eu precisava respeitar.
- Até amanhã então. - dei um sorriso sem graça, saindo dali com passos fortes, mas aquele sentimento não saía de mim. Eu senti pânico só de imaginar algo acontecendo com Voight e talvez no meio disso tudo ele só precisava de algo bacana. Refiz meus passos até o escritório novamente e ele finalmente me olhou, porém confuso - Podemos visitar minha mãe juntos da próxima vez. - falei de uma vez. Aquilo talvez o deixasse feliz. Eu estava torcendo.
E bingo!
Um sorriso!
- É uma ótima ideia, !
Me senti mais leve para sair dali, encontrando Holt ameaçando , Scott e Cohen, dizendo que estavam proibidos de dormirem no mesmo quarto que o nosso, e se descobrisse que a regra fosse quebrada, penduraria os ossos dos três na entrada.
Claro, todo mundo riu.
De nervoso.
Holt deu as chaves do carro pra , e começamos a ir em direção ao mesmo, menos , que apareceu instantes depois montado numa moto, a mesma que eu já tinha visto em frente ao seu trailer, e agora tinha certeza que era dele.
- Ai gato, me dá uma carona? - Cohen forçou um tom afeminado, nos fazendo rir no mesmo instante.
- Vai se foder. - ele respondeu em meio aos risos.
Fiquei vidrada naquela visão. Ele em cima da moto. Parecia demais pra mim.
Eu não fazia o jeito tímida, não tanto. Eu conseguia chegar até certo ponto, e tudo o que eu queria era pedir pra ir com , mas eu travei. Não saiu nem uma palavra, e mesmo se tivesse saído, teria sido estranho demais.
- Por que você vai de moto? Cabe todo mundo no carro! - questionou.
- Porque sim. - e ele respondeu como se fosse óbvio.
- Então leva a pra ir com você. - sugeriu e meus olhos se arregalaram na hora.
Meu olhar se encontrou com o de , que parecia tão surpreso quanto eu.
- Por que? - foi a vez dele de questionar.
- Porque sim. - ela respondeu como se fosse óbvio, usando o mesmo tom que ele e caindo na gargalhada em seguida.
- Você é terrível, ! - riu, me dando uma olhada rápida e saltando da moto, dando as costas, entrando novamente no lugar onde morávamos e voltando em seguida com um capacete em mãos. Ele realmente tinha levado a sério! - Vamos? - me entregou o mesmo, quase me fazendo cair pra trás de nervoso.
Eu acabei rindo, olhando pra minha amiga que fazia o mesmo, enquanto Cohen, Scott e Lydia já estavam dentro do carro e só observavam toda aquela cena.
Deixei minha mochila pra ir dentro do carro com , coloquei o capacete e montei na moto, sem saber muito bem onde segurar.
Só nos ombros ou passar os braços em sua volta?
Segurei nos ombros.
saiu com o carro, enquanto colocava o capacete.
- Segura firme. - ele disse alto, pegando minhas mãos e as colocando pra baixo para que eu pudesse passar os braços em sua volta.
Me arrepiei feito besta, logo sentindo o vento batendo em meu corpo assim que a moto foi ligada e acelerada.
Eu podia sentir seu cheiro natural e só um pequeno traço do perfume que ainda estava impregnado em sua roupa. Era gostoso de sentir.
acompanhava o carro, então chegamos juntos, e abriu o portão da garagem, onde todos nos encontramos novamente.
Assim que entramos, fui direto dar um abraço apertado em tia Ellie, que começou a me encher de elogios como sempre. Logo todos a cumprimentaram também, e ela estava chocada em como Keith já estava grande. Aliás, ela acompanhou a gravidez toda de Lydia.

O segundo filme terminou e nos espreguiçamos, levantamos, começamos a pegar as caixas de pizza vazias e os copos de refrigerante que sujamos.
Keith tinha acabado de pegar no sono e levou Lydia até seu quarto, onde ela dormiria na cama com ele e nós no colchão no chão, e os garotos no quarto de hóspedes.
Tia Ellie já tinha ido dormir, nem mesmo se importou em ficar acordada pra ver se seguiríamos a regra, e teria sido ridículo se ficasse. Já não éramos mais crianças.
- Vocês acham que algumas coisas podem mudar lá? A gente sabe que os tiros foram apenas pra dar um susto, mas acho que Voight e Holt vão tentar mudar algo ou sei lá. - Scott perguntou claramente aflito enquanto arrumávamos a bagunça.
A verdade é que ninguém tinha parado de pensar naquilo, e olha que comparado ao que já aconteceu por ali, aquilo não era nada, mas era novo pra nós.
Pelo menos parecia. Eu não os conhecia bem, e foi só pensar nisso que a curiosidade veio à tona.
- Eles devem estar pensando numa maneira de se vingar. Não machucaram ninguém, mas é muita sacanagem ir lá, dar alguns tiros só pra assustar e cair fora. Eles odeiam isso, e sinceramente, eu também. Isso é coisa que se resolve cara a cara, não assustando quem nem tem envolvimento com a história. - Cohen se manifestou com uma pitada de raiva.
Ele parecia mais... radical. Direto. Bravo.
Sei lá, não dava pra saber de verdade só na base do achismo.
- Ok, qual a história de vocês? - respirei fundo e perguntei de uma vez. Nem a pau que ficaria guardando a curiosidade pra mim, mas ninguém havia entendido a pergunta e estava óbvio pelas suas expressões, então expliquei - Qual a história de vocês nisso tudo, entendem? Como pararam aqui?
- Pai que sumiu quando eu era criança e mãe alcoólatra. Um clássico! - Cohen foi o primeiro a responder, dando uma risada sem humor - Minha tia me acolheu quando eu tinha uns dez anos e passei a morar com ela, mas ela ficou super doente e você sabe né... Eu me meti com isso muito cedo, mas tô por aqui há pouco tempo. Eu sou de outra cidade! - ele revelou numa boa, sem vergonha ou medos aparentes.
Bem... obviamente ninguém ali tinha moral pra se achar melhor ou pior.
- Sempre foi só eu e meu avô, que era metido com isso. Ele já fez parte dos The Lions, acredita? - Scott abriu um sorriso animado e eu fiz uma careta. Digamos que aquilo não era muito bem algo a se orgulhar - Ele me ajudava muito, pagava minha faculdade e tudo, mas morreu tem um ano e eu sabia que tinha que vir pra cá. Ele sempre disse que aqui eu teria uma família e verdade e bla bla bla. - ele finalizou.
- Sinto muito pelo seu avô. - minha voz saiu quase num sussurro.
Talvez fosse loucura, mas ele parecia altamente magoado ainda. Talvez fosse pela voz, o olhar, sei lá, mas alguma coisa nele dava essa impressão de tristeza enorme, e não era por menos. Só ele e o avô, que tinha morrido.
- Ele era um velho bacana. - comentou simpático, me olhando direto nos olhos e eu desviei, parecia demais pra se encarar.
- E você fazia faculdade do que? - limpei a garganta e mudei de assunto rapidamente.
- Engenharia química, mas não terminei.
- Ficou quanto tempo? - questionei realmente curiosa.
- Dois anos. Saí e agora tô aqui.
Uau, aquilo foi surpreendente. Precisava de esforço e inteligência pra enfrentar tal curso e mesmo que não tenha concluído, já valia muito.
- E quantos anos vocês têm? - cerrei os olhos, curiosa.
Os dois responderam “vinte e quatro” ao mesmo tempo, exceto , que nem mesmo tinha aberto a boca. Olhei para o lado e o encarei, cobrando uma resposta com o olhar, e o mesmo balançou a cabeça e soltou um riso fraco.
- Tenho vinte e seis, madame. - ele respondeu de maneira engraçada, e o clima automaticamente ficou mais leve.
- Agora me diga sua história. - arqueei as sobrancelhas e abri um sorriso simpático, colocando as mãos no queixo, apoiando os cotovelos no balcão.
- Puts, boa sorte. Ele detesta falar disso. - Scott disse rindo e Cohen o acompanhou. O mesmo deu um tapinha no ombro do amigo e trocaram algumas palavras, indo em direção à escada e dizendo que queriam atazanar antes de dormir.
Mas era mentira. Dava pra sentir.
Continuei encarando , que apenas respirou fundo.
- Pensei que você já tinha perguntado sobre isso pro Voight ou que já tivesse comentado com você. - ele se manifestou.
- E o que tem de tão especial em você que me faria perguntar pro Voight ou que comentasse? - cerrei os olhos e ele revirou os deles, rindo fraco em seguida. Estava sem graça, mas não era minha intenção o deixar desconfortável. Na verdade, só serviu pra me deixar mais curiosa - É que geralmente é quase a mesma história, sabe? Fora que eu não converso muito com Voight e não falava muito do que acontecia por lá enquanto eu morava na minha antiga casa. - me justifiquei rapidamente, pura defesa.
- Você odeia tanto assim os The Lions? - ele soltou uma risada cheia de humor, e qualquer chance de um clima tenso se instalar, se desfez. Sua risada era gostosa demais.
- Não é isso, é que... - ri também, mas logo me toquei sobre o rumo da conversa e não era aquilo que eu queria - Para de mudar de assunto, fiz uma pergunta primeiro! - o repreendi numa falsa braveza.
- É complicado, . - começou, já dando um grande suspiro - Meu pai tinha um negócio próprio, um bar. Foi crescendo, virou algo grande, até que ele ofereceu sociedade pra um colega, ele não queria se sobrecarregar tanto, mas esse colega fez merda, começou a enfiar gente no bar, coisa errada e pronto, fodeu tudo. Ele se meteu com uma gangue pesada e acabou que meu pai se ferrou junto.
É... nem sempre as histórias eram quase iguais.
- E qual era o acordo que poderia tirar seu pai disso? Lembro que aquele rapaz que seguiu a gente falou sobre isso e por mais que eu estivesse curiosa, não achei uma oportunidade como essa pra perguntar sobre o que era, então... - continuei, totalmente entretida em sua história.
- Eles estão querendo duzentas mil libras pra deixar meu pai em paz, mas ele não tem o dinheiro e muito menos culpa, entende? É impossível aceitar esse acordo de todas as maneiras possíveis. - dava pra ver e sentir a raiva de em suas palavras.
- Espera... Paul e Voight tinham um trato, mas ele acabou quando descobriram algo do seu pai, foi o que eles falaram... O que aconteceu? - eu juro que não enxergava uma linha naquela conversa e nem sabia se estava a ultrapassando a mesma, mas ainda estava tudo muito confuso pra mim.
- O sócio do meu pai roubou uma grande mercadoria do Paul. Foi coisa grande mesmo! Paul e Voight tinham um trato de não mexerem mais na mercadoria de ninguém, mas quando descobriram a ligação do meu pai e Voight, começou essa merda toda... ameaças, tiros, outras confusões...
- Espera aí! Então ontem não foi a primeira vez que foram atrás de você ou que fizeram alguma coisa contra os The Lions por causa dessa confusão? - arregalei os olhos e no mesmo instante eu sentia que meu coração poderia pular pela boca.
Era mais pesado do que eu imaginava.
riu. RIU!
Umedeceu os lábios antes de prosseguir, depois de parar de rir:
- Não foi a primeira, nem a segunda e muito menos a terceira. Eu sou odiado pela maioria dos The Lions por isso, . Junto comigo veio muita confusão e era tudo o que não precisavam porque já basta as rixas com outras gangues daqui.
Vê-lo rindo daquele jeito só me fez ter a certeza que de que era o jeito que ele lidava; não podia levar tão a sério, caso contrário, ele provavelmente enlouqueceria, então preferia rir da própria desgraça.
- Mas por que você está aqui? O que você tem a ver com essa história? - as dúvidas não acabavam.
- Paul ameaçou a ir atrás da família toda, então meu pai me mandou pra cá porque sabe que Voight me ajudaria em qualquer coisa e o resto da minha família está em Bradford, menos o meu pai, que está num lugar totalmente escondido, tentando resolver essa história toda. - dava pra ver em seu olhar um incômodo inexplicável - Eu sei que Paul poderia facilmente encontrar minha mãe e minhas irmãs, mas ele nunca fez isso. Eu já pensei em ir embora varias vezes, mas agora tenho certeza que ele iria atrás de mim porque ele sabe que eu reagiria das piores maneiras possíveis. Já caí muito nas provocações dele. - finalizou.
Eu me sentia congelada. Não conseguia nem abrir a boca. Aquilo parecia demais pra qualquer um, porque não era, nem por um segundo, escolha dele estar ali. Não era necessidade ou simplesmente a ideia de que as coisas no The Lions o acolheriam como família, ele simplesmente tinha que estar ali. Um homem de vinte e seis anos que teve que parar a vida por causa de outro homem. Um homem ruim.
- Eu juro que nem sei o que dizer. - foi a única coisa que saiu da minha boca, e o homem em minha frente apenas deu os ombros. Ele sabia que não tinha muito o que se dizer, afinal, não se resolveria com conselhos ou conversa nenhuma. A confusão ia muito além.
- Não tem o que dizer. É uma merda e eu preciso aceitar, só isso.
- Eu sei que não tem muitas escolhas agora, mas você tinha uma vida antes disso tudo, não é? É injusto que você teve que largar tudo pra parar aqui. - aquilo foi de longe, minha maior suposição e até chegou num ponto de abuso.
Óbvio que ele tinha uma vida antes daquilo, mas já era outro assunto. Abuso meu querer entrar em algo que já era mais fundo ainda, como se já não bastasse ter ouvido toda a história de como ele tinha parado ali.
Burrice minha.
- A vida é assim, . - seu tom se alterou. Parecia um pouco bravo e eu queria me socar - Mas agora chega, fala de você.
Respirei fundo.
Nada mais justo. Parecia até que era uma terapia em dupla, mas de um jeito até ridículo. Não é assim que as pessoas geralmente se conhecem.
- Minha mãe conheceu Voight quando eu tinha treze anos. Ela e a mãe da se conhecem desde sempre, e não sei se você sabe, mas a Ellie cresceu nos The Lions, a família dela fazia parte e por mais que seja doido, minha mãe também veio pra esse mundo maluco. Dizem que as duas eram selvagens demais pra não viver nisso, mas eu já acho que foi babaquice da parte dela. - me permiti rir, e fez o mesmo - Sabe, dava pra gente ter tido uma vida mais normal, mas ela quis ficar nos The Lions e conheceu o Voight lá, e o resto eu acho que você já sabe.
- Por que ela foi presa?
- Pegaram drogas no carro dela. Não era muita coisa, mas o suficiente pra ela ser presa. Foi um inferno! Tínhamos acabado de nos mudar pra casa que estávamos, Voight iria morar com a gente, mas aconteceu isso e eu fiquei um ano lá sozinha, ela só conseguiu deixar o dinheiro do aluguel por um ano, e agora que acabou, tive que voltar pra cá. A casa era cara, eu tinha um emprego que pagava pouco, só dava pra eu pagar a faculdade e comprar o básico da casa, e eu perdi tudo de uma vez. - foi a minha vez de rir da minha própria desgraça. Eu podia sentir meu coração sendo amassado.
- Voight é praticamente seu pai então? - perguntou cuidadoso.
- Sei lá. Ele é bom, cuidou de mim por muitos anos, mas deixou minha mãe ser presa e isso meio que fez todo meu carinho por ele desmoronar. Eu sei que minha mãe não é uma pobre coitada nessa história, mas ele sempre soube tirar as pessoas dessas enrascadas e não conseguiu fazer isso por ela e isso me mata até hoje. Eu fiquei esse um ano todo fora, mal me comuniquei com ele durante esse tempo.
- Olha, eu imagino que você fique muito brava com essa história, mas você se importa com ele, ficou desesperada quando percebeu os tiros e pensou logo nele. Eu não sei o que aconteceu com seu pai de verdade, mas acho que Voight merece mais crédito. - ele se arriscou pra caramba ao esbanjar tudo aquilo na minha cara. Nem mesmo parecia arrependido ou algo do tipo, apenas cuidadoso.
Se fosse outra pessoa eu provavelmente mandaria ir pra puta que pariu, mas talvez, bem talvez, ele tivesse razão.
- Meu pai largou minha mãe ainda grávida. - revelei - Mas juro, isso nunca me tirou o sono. Minha mãe sempre foi suficiente. - dei os ombros, totalmente sincera.
Eu sempre pensei que, se ele tinha ido embora, significava que não era um homem bom. Então, que bom que foi!
- , é sério. Voight cuidou de você, tenta dar uma chance pra relação de vocês. - ele insistiu.
Talvez ele fosse um desses caras que vê o bem em tudo. Que acha bonito dar segundas chances.
- Vou tentar. - respondi calma, só pra não prolongar o assunto, mas pelo seu olhar, tinha percebido que eu só tinha dito aquilo pra me livrar logo do tópico, e mais uma vez, ele riu. Um riso fraco, mas gostoso.
Ele era ainda mais lindo rindo.
- Beleza, moça. Você fazia faculdade do que? - ele mudou de assunto.
- Letras.
Sua expressão se iluminou na hora. Juro, parece que eu disse que ele acabou de ganhar um milhão de libras, mas não.
- Sério? - questionou animado.
- É... sério. - cerrei os olhos, estranhando tanta felicidade - Mas foi só um ano, saí agora que voltei pra os The Lions, pretendo estudar mais e tentar uma bolsa melhor pra próxima vez.
- Isso é ótimo!
- Por que tanta animação? - perguntei de uma vez.
- Nada. - ele pareceu se tocar de algo e logo voltou a ficar um pouco mais sério. Detestei.
- É sério, o que foi? - perguntei com mais jeitinho, tombando a cabeça pro lado, fazendo charme.
- Nada, só que... Eu comecei a faculdade de letras também, parei no último ano. - meu queixo quase foi no chão quando ouvi tal revelação.
- O que? - arregalei os olhos e abri um sorriso de maneira engraçada, quase que num surto. O homem em minha frente apenas começou a rir.
- É sério! - ele reafirmou.
Eu poderia pensar em tudo, menos naquilo. Agora fazia sentido a animação dele; realmente devia gostar muito do curso.
Nossos risos se cessaram quando se fez presente.
- Vocês estão aqui conversando há um tempão, os garotos já até dormiram e Lydia também! - ela anunciou em alerta - Amanhã eu vou trabalhar, mas vocês podem ficar aqui até a hora que quiserem. - ela continuou, num tom baixo e calmo, mas parou e ficou nos olhando por alguns instantes, nos analisando - Do que vocês estavam rindo?
- também fez faculdade de letras, mas não terminou. Dá pra acreditar? - respondi cheia de graça. Aquilo era demais!
- Tá brincando? - a reação de foi a mesma que a minha. Ela esperou o mesmo confirmar e caiu no riso - Como você nunca me contou isso antes? Se bem que se olhar bem, você tem carinha de professor! - brincou.
- Eu tenho cara de tudo, mocinha. - ele deu uma piscadela pra minha amiga, que gargalhou.
- Por que você não terminou a faculdade? - questionou curiosa.
- Eu tinha me mudado, aconteceram algumas coisas e eu não consegui terminar. Só falta um ano, mas pretendo voltar... um dia. - respondeu tranquilo, mas parecia ter algo a mais ali naquele meio.
Mas estávamos exaustos de perguntas e respostas. Talvez em outro momento eu descobriria.
- Viu só, ? Ele gosta disso, é bem diferente! - frisou a palavra “gosta”. Claro que ela não perderia a oportunidade de me cutucar com aquilo.
Eu sabia que não era por mal, mas irritava às vezes. Eu me sentia de volta aos 12 anos, quando implicávamos por qualquer bobeira.
- , não começa. - pedi baixinho, a encarando.
- Ok, foi mal. - ela jogou os braços pra cima, se rendendo - Podem ficar aqui conversando a noite toda se quiserem, já vou subir pra dormir. - ela usou aquele tom de drama que era inconfundível, e joguei minha cabeça pra trás, rindo.
Olhei para , que já estava em pé, provavelmente cansado, pronto pra subir pra dormir também.
Por mim, ficaria ali à noite inteira com ele.
- Já está tarde, melhor a gente subir também. - sua voz suave estava um pouco mais perto do meu ouvido, já que estava em pé ao meu lado, e não dava pra não apreciar aquilo.
Tudo nele parecia... bom demais.
Concordei e subimos, cada um em seu canto.
Pela primeira vez em muito tempo, eu dormia ansiosa pelo dia seguinte, e me senti boba por isso. A ansiedade de conhecer alguém novo sempre me acompanhava, mas parecia demais. Tudo demais. Não tinha nenhuma outra palavra que o descrevesse melhor; demais.

’s POV
Fazia tempos que eu não tomava um café da manhã de gente. Ellie fez questão de encher a mesa pra nós. Scott e Cohen estavam realizados e isso dava pra ver estampado na cara dos dois, e na de Lydia também.
foi para o trabalho de carona com uma amiga, então Scott levou Cohen, Lydia e Keith no carro de Holt de volta, enquanto vinha comigo de moto.
Eu detestava acordar cedo, mas o dia tinha começado bem. Pela primeira vez em muito tempo, me senti mais leve, menos pressionado.
As mãos da garota ao meu redor me davam uma sensação gostosa.
Não demorou pra chegarmos no lugar que ambos detestávamos.
Assim que ela desceu da moto, o sol bateu em seu corpo todo. Ela sem maquiagem, totalmente simples, ali, com o sol em si.
Totalmente diferente do que eu tinha visto por ali.
Soltei uma risada fraca pra mim mesmo. Qualquer coisa fazia diferença pra mim agora, até uma garota. Quando dizem que você passa a apreciar mais as coisas quando está no aperto, não é mentira.
Estávamos prontos pra entrarmos em nossos trailers, até Holt aparecer.
- Bom dia, criançada! - ele praticamente gritou animado, e eu e nos entreolhamos com a testa franzida e em seguida olhamos pro homem em nossa frente. Mico demais! - Estou brincando, gente. - ele riu - Só pra avisar que está tudo de boa, beleza? Vocês vão trabalhar normalmente, não quero que pensem que o que aconteceu interferiu em algo aqui, a gente não pode parar. - ele finalizou e já deu as costas, saindo dali.

——

Ouvi duas batidas na porta. .
Seu cabelo entre ruivo e loiro, olhos claros, a roupa toda preta... Demais.
Caminhávamos em silêncio até a saída. No fundo, eu podia sentir que ela estava nervosa, porque eu também estava, e duvido que outra pessoa não estaria.
- Ei! - paramos no mesmo instante e nos viramos pra trás. Era Freddie. Respirei fundo, já adivinhando o que estava por vir. O homem veio em minha direção com raiva, e antes mesmo que eu notasse, ele já tinha me empurrado.
Uma parte de mim não queria revidar, sabia que não adiantaria, mas eu detestava o fato dele sempre me tirar como o otário da história.
- Que merda é essa? - praticamente gritou, se colocando em minha frente assim que revidei o empurrão.
A olhei rapidamente. Seu olhar confuso estava tão explícito que quase senti dó.
- Eu estava na calçada na hora dos tiros, , que porra! - Freddie gritava com raiva, tentando se aproximar novamente de mim.
Não era a primeira e nem a segunda vez que aquilo acontecia, e me deixava louco da cabeça que ele automaticamente ligava qualquer coisa ruim que acontecia ali à mim.
Sim, era minha culpa, grande parte, mas eu não
precisava de ninguém me lembrando daquilo, minha mente já fazia aquilo por mim. - De novo, Freddie? Toda vez vai ser a mesma merda? - usei o mesmo tom de voz.
Que se foda.
Precisava mesmo extravasar de algum jeito.
Me movi, ficando de frente com Freddie, deixando pra trás, que seguia confusa. Ele deu o primeiro soco.
Eu deixei. Queria sentir.
Mas também queria bater.
Revidei com força, fazendo o homem cambalear.
Não levou nem cinco segundos pra ficar mais sério. A cada soco que eu dava, me sentia aliviado.
Não me orgulhava de tal coisa, mas era a verdade.
- QUE INFERNO! De novo? - a voz de Voight se fez presente.
Senti alguém segurando meu corpo. Era Scott, enquanto Cohen segurava Freddie.
seguia impactada, ao lado de Voight, com uma expressão nada boa.
- Eu to cansado de tanta coisa acontecendo aqui desde quando esse cara chegou! - Freddie cuspiu as palavras cheio de fúria.
- Quantas vezes eu vou ter que repetir que não tem nada a ver com isso? Não é nada com ele, caralho! - Voight respondeu totalmente sem paciência.
- Para de história, todo mundo aqui sabe da história do pai dele, então é culpa dele também! Os Ghosts atacam aqui muito mais porque sabem que ele tá aqui, então não tem como negar, Voight, para de tentar proteger esse garoto!
Bufei com ódio.
O foda dali é que todos sabiam da sua vida, como você tinha parado ali e por quê.
- Vocês dois... - Voight apontou pra mim e para - Vão trabalhar, está no horário. - ele finalizou sério, e a garota abriu a boca pra falar algo, mas desistiu.
não moveu um músculo sequer antes de mim. Tava óbvio pelo olhar de Voight o que aconteceria; mais uma vez, conversaria com Freddie e tentaria fazer ele entender que eu não era culpado pelas coisas que aconteciam, mas nada mudaria, porque nunca mudou até então. Saí com passos fortes dali, sendo acompanhado pela garota, que me puxou pelo braço no instante em que chegamos na rua, me fazendo parar em sua frente.
Sua respiração estava um pouco descompassada, claramente pelo susto. A iluminação da rua batia em seu rosto, dando destaque em seu olhar apreensivo.
- O que foi aquilo, ? Você deixou ele te bater primeiro! - ela começou nervosa, quase que brava também.
- Não foi a primeira vez. Relaxa, sério, não foi nada. - dei os ombros, observando bem os detalhes em minha frente.
Ela era quase da minha altura, e confesso que a ideia dela estar tão perto me parecia boa, em outra ocasião eu definitivamente tomaria uma atitude, mas a única coisa que eu tinha era uma brava, que não me dava brecha nenhuma pra tal coisa.
E nem deveria.
- Ele te culpou pelo o que aconteceu e a única coisa que você faz é deixar ele te bater? Acorda, , você... - ela abandonou a própria fala, como se algo tivesse caído em sua mente, uma conclusão. Cerrei os olhos, esperando que ela finalizasse, até ansioso por tal coisa - Você nem mesmo tentou evitar a briga porque também se culpa, não é isso? - questionou séria, firme, quase cheia de certeza do que estava perguntando.
Admito que me impressionei, de modo bom e ruim. Bom porque ela era boa, tinha analisado a situação muito bem, pra quem nem tinha conhecimento de nada. Ruim porque me decepcionei comigo mesmo. Me senti previsível demais, fácil de se ler.
- Ele não mentiu, . Paul ataca aqui porque sabe que eu estou aqui, sabe que isso vai mexer com a minha cabeça e sabe que isso vai servir como pressão pro meu pai. - respondi sem rodeios.
Não adiantava mentir ou me esconder, porque minha vida ali era quase que publica, um livro aberto, e nem tinha como esconder muitas coisas ali. Como eu disse; todos sabiam das histórias.
Era assim que eles construíam laços, se identificando pelas histórias, então ninguém escondia nada.
- Não. É. Sua. Culpa. - disse pausadamente, nervosa. Não me deu oportunidade de responder, porque saiu marchando até o carro, entrando no mesmo, que já estava destravado.

Eu tinha que admitir que ela tinha uma playlist legal. O gosto musical bem eclético, mas ia bem nos artistas e bandas certas.
Ela estava calada há um tempão, não tinha tido mais nenhuma palavra, e até que era bonitinha a cara de bolada que ela estava, mas o silêncio estava começando a ficar chato demais.
Eu não era uma pessoa muito falante, mas estava disposto a conversar com ela numa boa. Não parecia ser uma pessoa que eu me arrependeria de puxar assunto.
- Qual é, , vai ficar quieta o caminho todo? - a chamei pelo sobrenome, que devo admitir, era forte como ela parecia.
- Não tenho o que falar, só isso. - resmungou em resposta, sem me olhar.
- Que tal aprender a dirigir? - propus rápido, mesmo sabendo que ela diria não de primeira.
- Não quero.
Viu só?
- Vai, não é complicado, juro. - fui desacelerando o carro, o encostando e tirando o cinto, e a expressão confusa dela foi boa demais.
- Eu não que...
- Só tenta, tá legal? - interrompi rápido, a encarando por alguns segundos, vendo a garota rolar os olhos, abrindo a porta e saindo.
Fiz o mesmo, entrando no banco do passageiro e a orientando em todas as primeiras coisas a ajeitar, como banco, retrovisores e esses detalhes.
Expliquei o que ela deveria fazer com calma, e ela tentou. Acabou arrancando o carro de uma vez, o fazendo morrer em seguida.
Ela xingou, e antes que ficasse mais brava, repeti o que ela deveria fazer.
E ela tentou.
Mais três vezes.
- Ah, vai tomar no cu, carro do caralho! - ela bateu no volante com raiva, se encostando no banco e soltando um suspiro totalmente audível.
Acabei soltando uma risada fraca, recebendo um olhar ameaçador de brinde.
- Você precisa ter paciência e se concentrar, é uma coisa de cada vez! - tentei amenizar a situação.
Mais uma vez, repeti o que ela tinha que fazer com calma, mesmo
uma parte de mim já estando tão impaciente como ela, mas não demonstrei.
Ela passou a marcha certinho, acelerando em seguida e começando a andar com o carro.
Seu olhar se iluminou como se algo extraordinário tivesse acontecido, mas ela só tinha conseguido sair do lugar com o carro mesmo.
Ela ousou acelerar mais um pouco, e mesmo com a rua vazia, tomava um cuidado extremo.
- Caraca, eu consegui! - ela sorria feito boba, e foi impossível não sorrir também. Parecia uma criança.
- Beleza, agora vira a rua. - instruí tranquilo, e ela virou com cuidado, mas em seguida o carro acabou morrendo.
Ela caiu no riso e logo fingiu estar chorando de modo dramático.
-A alegria do pobre dura pouco mesmo! - se lamentou de maneira engraçada.
Pensei que ela desanimaria de vez, mas não. Passamos um tempão nisso, tanto tempo que, quase passava das três da manhã e tem tínhamos percebido.
Voltei com o carro e ela prestava atenção em tudo que eu fazia, com direito a Gorillaz tocando no fundo.
- Viu só, nem foi tão difícil assim! - comentei animado por ela, tirando o cinto e saindo do carro, e ela também.
- É, não foi mesmo. - levantou a mão para me dar um hi-five, e encostamos nossas mãos em comemoração.
Um silêncio nada desconfortável se fez presente, e o caminho do carro até a entrada foi como se tivéssemos um monte de coisa pra falar, mas não queríamos estragar o silêncio gostoso que estava.
Pela primeira vez em muito tempo, tirando Cohen, Scott e até , eu não ficava puto com a futilidade de uma pessoa nova, porque estava longe da futilidade. Ela parecia tão cheia. Animava qualquer um saber que ainda existia gente com conteúdo.
O silêncio foi quebrado quando chegamos em frente aos nossos trailers, e eu podia ver uma Phoebe com uma cara de cu perfeita, que sem duvidas era devido ao horário e ao lugar que ela estava, coisa que tinha sido totalmente de sua escolha, já que eu nem mesmo sabia que ela apareceria.
- Finalmente! - ela se levantou do degrau que estava sentada, ficando em pé em frente à minha porta, não deixando de analisar a garota que andava ao meu lado.
tentou esconder o olhar confuso, mas falhou miseravelmente.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei apressado.
- Ué, ainda preciso responder? - foi debochada, mas logo desfez a armadura, olhando pra novamente - Oi! - cumprimentou ela de modo simpático, sem nada por trás. Eu conhecia Phoebe o suficiente e sabia que ciúmes ou tratar mal qualquer outra mulher que ficasse perto de mim não era parte da sua personalidade.
- Oi! - devolveu no mesmo nível de simpatia - Já vou entrar, então boa noite pra vocês dois. - ela soltou um riso fraco, se virando e caminhando até seu trailer.
O suspiro pesado de Phoebe me trouxe de volta pra o momento real, o qual teríamos que passar pela mesma situação pela milésima vez.
Discutir aquilo que chamávamos de relação era exaustivo.

Capítulo 6

's POV
- Você sabe que eu odeio quando você vem aqui. - resmunguei de uma vez, abrindo a boca depois de minutos em silêncio.
Phoebe estava sentada em minha frente, com aquela cara super previsível, eu já podia até dizer o que sairia da sua boca porque era sempre a mesma coisa.
- Eu não precisaria ter vindo se você tivesse me respondido. - retrucou irônica - Qual é, , você sempre disse que detesta má comunicação e faz isso! - ela reclamou de forma frustrada, me arrepiando por inteiro.
Estranho demais. Nunca em quatro meses aquele tipo de discurso tinha saído de sua boca.
- Eu estou exausto, Phoebe, só isso.
- Eu também estou, mas ainda assim eu tento, e nem sei o porquê. Eu sei que não temos futuro, mas ainda assim eu estou aqui, às três da manhã, feito uma idiota! - riu sem humor, abaixando a cabeça e passando as mãos pelo rosto.
Gelei pensando que ela estava chorando, mas não.
- Phoebe, você sabe que...
- Sim, eu sei, nunca tivemos nada sério e sempre deixamos claro que nunca teríamos, mas eu vivo me perguntando o motivo, sabe? Não é como se a gente não se desse bem, mas sim por medo, e eu nem sei do que, porque você não fala sobre isso! Eu não teria problema nenhum em te amar, mas você sim, parece até que tem medo de que alguém te ame! - jogou tudo pra fora, algo totalmente inédito.
Na minha cabeça, eu estava de olhos arregalados, queixo no chão e mais chocado que tudo, mas não, estava normal. Não mexi nem um músculo sequer.
Mas por dentro... Estava foda. Totalmente atingido.
- Eu não quero nada sério, só isso. Não gosto de falar sobre esse tipo de coisa, e você também não! - a lembrei, levemente confuso por tudo aquilo que acabara de sair de sua boca - O que aconteceu?
- Não sei, acho que é porque estou envelhecendo e enxergando algumas coisas e... sei la. - riu.
- Eu gosto do que temos. - reforcei a coisa que eu mais falava à ela.
E gostava mesmo. Phoebe sabia conversar, satisfazer e sabia ser boa em não querer compromisso. Pelo menos até então.
- Eu também gosto, , mas sei que é basicamente perca de tempo. Quero dizer, nunca vamos sair disso!
- Estamos nos divertindo e querendo ou não a gente acaba aprendendo algumas coisas um com o outro. Não é perca de tempo, Pheebs. - retruquei sensato.
Nada nunca é perca de tempo, embora você ache que é. Se tem uma coisa que eu aprendi a aceitar com os anos, é que você tira um lição de tudo.
- Calma! Eu não estou aqui pra tentar acabar com tudo ou algo do tipo, só quero que você saiba como eu me sinto! - se defendeu.
- E você por enquanto não tem ninguém de interessante na sua vida, mas sabe que quando conhecer outro cara, pode acabar com isso aqui a hora que quiser! - apontei pra nós dois rapidamente - Nunca vou te prender nisso aqui, você sabe. - dei os ombros, reforçando também mais uma coisa que não só eu, como ela também falava desde sempre.
Phoebe abriu um sorriso de orelha a orelha, levantando e vindo em minha direção. Sentou em meu colo, envolvendo os braços ao meu redor.
- Você é demais. - se aproximou, sussurrando em meu ouvido e logo fazendo uma trilha de beijos até chegar em minha boca.
Era sempre meio corrido, apressado demais. Phoebe não tinha paciência. Nossos lábios se encostaram num beijo quente. Apertei seu corpo contra o meu com pressa, sentindo meu pau se animando com a situação, porque sabia o que estava por vir, mas eu precisava segurar.
- Vamos pra sua casa. - demandei entre o beijo.
Nunca tínhamos passado a noite ali e nem iríamos. Trailers próximos demais, gente demais e tudo o que eu não precisava era deixar minha vida sexual ser falada por ali.

——

Encostei minha moto mas só queria dar meia volta dali com ela e vazar por mais tempo. Voight estava ali conversando com , mas assim que o encarei, sabia que ele queria falar comigo.
- Ei! - ele chamou minha atenção enquanto eu descia da moto, andando em minha direção - Conversei com Freddie de novo e...
- E não vai adiantar nada, não importa o que você tenha falado. As coisas aqui pioraram desde quando eu cheguei e não tem como negar. - fui logo me poupando de ouvir a mesma ladainha que já tinha escutado varias vezes.
- Nada disso é culpa sua, pelo amor de Deus!
- Eu to há meses ouvindo que desde quando eu cheguei aqui as coisas pioraram e você acha que eu vou dar ouvidos a quem? Foi mal, Voight, mas eu não sou mais criança! Não precisa ficar tentando me convencer de algo pra me proteger, ou seja lá o que você esteja querendo fazer.
Por um segundo, me senti rude demais, mas aquilo já estava entalado na minha garganta há semanas.
Aquilo parece ter sido demais pra Voight, que apenas se virou e saiu sem dizer nenhuma palavra. olhava aquilo do seu trailer com uma carinha confusa, e assim que nossos olhos se encontraram, ela virou, entrando no mesmo.
Dei passos longos até o mesmo, batendo na porta, e assim que ela abriu, observei de perto o cabelo um pouco bagunçado e a maquiagem fraca em seu rosto. Camiseta larga, shorts curto. Estava linda.
- Ainda faltam algumas horas pra gente trabalhar, . - disparou assim que abriu a porta e observou minha presença, cheia de humor.
- Eu sei. - ri fraco - Posso te dar umas aulas de volante agora, quer? - nem mesmo sei porque estava oferecendo aquilo, mas me parecia uma boa ideia no momento.
- Eu vou sair daqui a pouco, vou me encontrar com . - respondeu sincera, talvez esperando que eu saísse logo dali, mas não.
Fiquei longos segundos a encarando feito idiota, mas precisei. Nada safado, malicioso ou algo do tipo, mas algo nela me chamava atenção. Merecia análise.
Só não sabia o que era.

——

Os dias passaram rápidos. Pude notar que era parecida comigo em conversar: não gostava muito, falava o suficiente. Ainda assim, sua companhia era agradável.
Estávamos na terceira rodada de bebidas. contava uma de suas histórias quando era mais nova e nos divertia, o jeito que ela falava era totalmente único. Em momento algum reclamava da vida que teve nos The Lions, muito pelo contrário.
Nos levantamos quando foi anunciada no palco, seu show começaria em instantes. Scott e Cohen se encostaram no balcão que tinha ao lado do palco, enquanto ficou ao meu lado. Seu perfume era inconfundível. A maquiagem forte nos olhos, a roupa mais curta e ousada...
Porra!
A energia de no palco me afetou de maneira indescritível. Ela era foda em todos os sentidos. A voz tranquila porém poderosa, cheia de sentimentos, a batida da música... Too Deep era de longe, uma das suas melhores composições. Me arrisquei a cantar um pouco mesmo não sabendo a letra toda.
Ela era o show todo!
Feels e Butterfly foram as outras musicas que ela cantou com toda a sua alma, sendo aplaudida com força por todos ali.
Nada mais que o merecido.
Ela desceu eufórica, sendo recebida por e outras amigas com vários abraços.
- Você gostou? - ela parou em minha frente com o sorriso quase rasgando.
- Claro! - respondi o óbvio, a puxando pra um abraço.
gostava de afeto, gostava de socializar, e era tão natural que eu não tinha receio nenhum em mostrar afeto à ela.
Ela pediu pra todos que estavam ali com ela pra dançarem e aproveitar a noite, e todas as amigas obedeceram de imediato, menos , que demorou de entrar no clima.
Ri com aquilo, porque de longe dava pra ver quem estava se divertindo de verdade e quem só estava tentando forçar pra chamar atenção.
Fui até Scott e Cohen, que continuavam no mesmo lugar.
- Cara, ela só tem amiga gata! - Scott comentou sem piscar o olho das garotas que dançavam sem vergonha nenhuma.
- Estou de olho na mais bonita. - Cohen deu um sorriso maroto, desviando o olhar e nos encarando, dando o último gole de bebida em seu copo.
- Quem? - perguntei curioso.
- .
Ri alto, me virando para o bar e pedindo uma bebida.
Os dois embarcaram numa conversa engraçada sobre as garotas, e quando pensei em entrar nela, meu celular tocou adoidado.
Era Phoebe.
Fui passando pelas pessoas rapidamente até chegar num lugar menos barulhento.
- Oi, Pheebs. - falei alto.
- Onde você está? - ela praticamente gritava, o barulho alto a denunciava, provavelmente estava em uma festa da faculdade ou algo do tipo.
- No Ace Bar, por que?
- Estou indo aí, chego rápido! - gritou novamente, desligando em seguida.
Quase não saíamos juntos, nossos programas eram quase sempre em sua casa mesmo. Filmes, jantares, conversas, sexo.
E era bom. Não tinha reclamações até o momento.
Estranhei tal ligação, mas voltei para onde meus amigos estavam, ou melhor, onde Scott estava.
Tive certa dificuldade em encontrar, mas Cohen estava do outro lado do bar com ao lado, e vi com meus próprios olhos a garota se afastar de Cohen por tentar beija-la. Ela sussurrou algo no ouvido dele, dando um sorriso simpático em seguida.
Ri comigo mesmo, indo em direção à Scott, que já estava rindo, provavelmente da mesma coisa.
- Bro, rejeitou o cara!
- Eu vi!
- Ele vai voltar puto! - continuou rindo alto, e só piorou quando Cohen voltou, mas veio rindo também.
- Caralho, não acredito que ela me deu um fora! - ele balançava a cabeça negativamente.
- O que ela disse?
- Porra, disse que não tava afim! - ele respondeu em meio aos próprios risos.
Pedimos mais uma rodada de bebidas, e logo Scott que se enfiou no meio da multidão, indo até uma das amigas de .
- Phoebe me ligou, disse que tá vindo pra cá. - falei alto, bebendo mais um pouco.
- Pra que? - Cohen questionou confuso.
Ele sabia muito bem como funcionávamos, e estranhar tal atitude era normal justamente por nunca sairmos juntos.
- Não sei.
- Toma cuidado com essa garota! Esse lance de sexo sem compromisso é furada total, cara! - Cohen alertou sério, sem me olhar, apenas observava o pessoal dançando, mas eu sentia a seriedade em sua voz.
- Pior que eu sei, mas acho que me deixei levar. Querendo ou não, ela é uma garota bem legal, não me cobra nada, é bem tranquilo, mas eu sei que nunca fica só nisso.
- Então! - saiu quase como uma bronca, num tom óbvio e uma expressão que claramente me botava como burro, e talvez eu fosse mesmo.
Era sexo sem compromisso até a página dois.
- Vocês vão ficar encostados nesse bar a noite inteira? Nananinanão, podem vir pra cá. - veio marchando em nossa direção, berrando em um tom de reprovação, não nos dando tempo de pensar ou fugir, apenas pegou na minha mão e na de Cohen, nos puxando para o meio da pista onde todas dançavam.
Me senti um cego no meio de um tiroteio. As garotas riam, dançavam e se agarravam, algo bem íntimo mesmo. não era nada extravagante, nem , mas as duas juntas dançavam de um jeito engraçado, pouco sensual, era só diversão mesmo. veio em minha direção, segurando meus braços e os mexendo, como se eu fosse um bonequinho.
- Eu não sei dançar! - revelei o óbvio.
- Eu percebi! Quer aprender ou prefere ficar quieto num canto? - ela sorriu, parando de se mexer e apenas ficando na minha frente.
Ela realmente era uma pessoa boa. Ninguém nunca perguntaria isso, mas ela teve o cuidado de perguntar.
- Dançar não é pra mim, mocinha. - respondi sincero.
- Tudo bem, vamos tomar alguma coisa juntos então! - ela sorriu animada, me puxando pela mão novamente no meio da multidão.
Maluquinha.
Pediu duas bebidas com um nome estranho, jurando por Deus que era a melhor que tinha naquele bar. Tomei o primeiro gole. Não era a melhor, mas chegava facilmente em minhas novas descobertas favoritas.
- Você precisa me mandar as musicas que você cantou hoje! Estão foda, ! - entrei no assunto que era tão bom pra ela quanto pra mim.
- Claro que mando! Um dia você tem que ir no estúdio que eu gravo elas, você vai adorar, sei que gosta de musica! - ela dizia tudo com um sorriso no rosto, e franzi a testa com a última frase. Óbvio, impossível um ser humano não gostar de música, mas o fato dela ter notado e guardado essa informação era bacana demais.
- Quem não gosta, né?
- Pois é, mas você é mais atencioso, você elogia as batidas, o som e tudo mais, enquanto as pessoas só falam que a música tá legal e fim. Você canta também? - bebericou em seu copo, totalmente animada.
A pergunta me fez gelar por um instante.
- Faço shows lotados no chuveiro, sabia? - fiz graça, arrancando uma gargalhada da garota sentada ao meu lado.
- Já levei a pra gravar comigo, sabia?
- Ela canta?
- Claro... que não! Ela é um desastre! - e riu mais uma vez - Mas foi engraçado! Eu guardo a gravação até hoje e faço chantagem quando quero alguma coisa.
- Golpe sujo, dona ! - comentei sorrindo - Posso te perguntar uma coisa relacionado à ela? - pedi com calma.
A dúvida que ficou dando uma martelada na minha cabeça.
- Claro!
- Naquele dia que estávamos na sua casa, começamos a falar de faculdade e você meio que deu a entender que ela não gostava do curso de letras, se eu entendi bem...
Não me pergunte o motivo, mas aquilo ficou na minha cabeça por dias mas não achei uma brechinha pra perguntar sobre aquilo pra própria .
- Porque ela não gosta. Ela ama tecnologia e essas coisas, sabe? Puxou à mãe em todos os sentidos, tia Leah ama essas coisas! Mas é que acha que tem o dever de salvar as pessoas, de salvar o mundo, aí acha que sendo professora, esse peso vai sair um pouco das costas dela. Ela diz que a educação é a base de tudo, o que não é mentira, mas ela se força nisso porque acha que é o dever dela.
Aquilo tinha a deixado cem vezes mais interessante. Estava pronto pra mergulhar em pensamentos, mas era impossível pelo barulho alto da música e de uma amiga de que veio às pressas em nossa direção.
- Você é o , né? - a garota cerrou os olhos em curiosidade, mas também com pressa. Assenti confuso - A está te chamando lá fora, ela tá com a sua namorada. - a garota finalizou rapidamente.
Minha cabeça deu um giro em confusão, mas não esperei nem um segundo, apenas fui até a saída, encontrando segurando o cabelo de Phoebe enquanto a mesma vomitava na calçada.
- O que houve?
- Ela entrou lá dentro procurando por você, mas logo começou a passar mal e eu vim aqui pra fora com ela. - ela soltou o cabelo de Phoebe, que tinha vomitado pra caralho.
Assim que se virou, notei um belo arranhão em seu braço.
- O que foi isso? - arregalei os olhos, me aproximando mais ainda e pegando em seu braço com delicadeza, olhando o machucado.
- Não foi nada! Ela acabou escorregando enquanto saíamos e me arranhou com a unha, só isso.
Phoebe se virou, com a respiração totalmente desgovernada, vindo em minha direção.
- Eu amo você, ! - cambaleou até chegar em mim, o cheiro forte de bebida podia ser sentido de longe.
Gelei. Quase que caiu os dois juntos pelo meu choque, mas a segurei com cuidado.
Que porra deu nela?
Claro que nada que saía de sua boca era confiável no momento, afinal, seu organismo estava dominado por álcool, mas pensar por esse lado só deixava a situação pior.
- Fala pra os caras que precisei sair com o carro? - pedi olhando pra , que observava aquela cena deplorável com a expressão confusa.
- Aham. - concordou sem se mover, como se aquilo fosse bom demais pra se assistir, e só acordou daquele transe quando comecei a me mexer, ajudando Phoebe a caminhar até o carro.
Entrei em sua casa com a chave reserva que eu sabia que ficava debaixo do tapete. Não era nada luxuosa, tudo bem simples, mas bem cuidado. A carreguei até o banheiro, tirando sua roupa com cuidado, enquanto ela resmungava uma história sem pé nem cabeça.
- Ele gosta de mim, . Ele gosta! - sua voz totalmente acabada repetia a mesma coisa pela milésima vez.
- Já entendi, Pheebs, mas você não disse quem é esse cara! - respondi a mesma merda pela milésima vez também, a auxiliando a tirar a calcinha.
Entramos na banheira juntos, e fiz ela sentar, pra não correr risco nenhum de queda. Liguei o chuveiro na água gelada, ouvindo seus gritos em reclamação, mas logo foram se acalmando.
- O problema é que eu menti, . Eu gosto de você, mas nunca tive coragem de tentar fazer algo diferente por medo de você me largar. Eu sempre aceitei as migalhas que você me deu. - ela voltou a falar embaralhado, mas deu pra entender perfeitamente. Meu coração se acelerava com cada palavra.
- Amanhã a gente conversa, Phoebe. Agora você precisa tomar esse banho e melhorar. Que merda você estava pensando? Como conseguiu chegar até lá nesse estado? - minha boca logo foi perguntando coisas que mudariam o assunto, porque o desespero em ter que ouvir mais uma daquela loucura parecia demais pra aguentar no momento.
Caralho, Cohen estava certo!
E pior: eu sabia desde sempre sobre esse risco.
- Uma amiga minha me deixou lá, mas não quis ficar pra ver eu me humilhando por você. - desatou a rir feito criança.
Lavei seu cabelo com cuidado, passei sabonete pelo seu corpo e a ajudei a sair dali, envolvendo o roupão em seu corpo, guiando a garota até seu quarto. A vesti com dificuldade, mas consegui. Ela deitou na cama sem reclamar, e os olhos extremamente cansados indicavam o sono quase a dominando.
- Dorme, Pheebs.
- Eu não vou lembrar nada disso amanhã, então por que você não me conta o que aconteceu com você? Quero saber quem é a dona dos olhos que tem no seu peito. - sua voz manhosa e cansada facilmente fizeram meu coração acelerar mais uma vez.
Merda.
Em todos esses meses, só havia perguntado sobre tal tatuagem duas vezes e nunca mais até então. Talvez não tivesse coragem de perguntar novamente, mas quando o álcool está no controle, a coragem vem, assim como a verdade.
É o que dizem, não?
- Dorme! - sussurrei.
- Eu amo você, . Eu tentei não amar, mas que saco, não deu! Eu sei que você não vai me amar de volta, mas eu preciso ser honesta comigo mesma e...
- E...? - esperei uma continuação que não veio.
Ela dormiu.
Cobri seu corpo com a coberta, ajeitei seu travesseiro e desci, me deitando no sofá. Não podia ir embora, talvez ela ainda passasse mal ou algo do tipo, mesmo sabendo que teríamos uma conversas totalmente desconfortável pela manhã.
Respirei fundo.
Extremamente desmotivado e descrente em relações românticas.
Não só por Sienna, mas por mim, pelo momento, por tudo. Tanta coisa acontecendo, tanta coisa que aconteceu, nada de bom sairia de mim, e Phoebe merece alguém bom, alguém que dê tudo o que ela precisa, não só sexo.
Eu sabia do risco e ela também, mas me surpreendia o fato de acontecer mesmo assim.
Me amar? Fala sério, eu não mostrei nada interessante em todos esses meses.
Eu sou bom em saber o que tem de errado comigo, mas péssimo em consertar. Tudo o que sei é que preciso ficar sozinha agora porque necessito de um tempo pra respirar. É um todo, preciso me redescobrir.
Admirar coisas que ainda não consigo nem enxergar. Redescobrir meus pontos fracos e fortes. Sei que nesse momento não tenho tempo pra fazer isso e ainda dar tudo o que outra pessoa precisa.
Preparei um café reforçado, sabia que Phoebe precisaria. Uma dor de cabeça me atingiu em cheio, e a noite mal dormida só piorava.
Ouvi o barulho da porta se abrindo, e logo vi a garota com a cara inchada de tanto dormir descendo as escadas, e assim que notou minha presença ali, parou de andar.
Estava no último degrau.
- Você ficou! - sua voz saiu baixinha, totalmente envergonhada.
- Claro que fiquei, não te deixaria sozinha naquele estado nem a pau!
- ... - sussurrou - Eu não lembro de muita coisa, mas sei que falei que te amava, e dali em diante eu tenho certeza que não veio coisa boa. - apertou os olhos, tímida.
Eu queria sumir. Queria pular aquela parte, mas não era possível. Precisava ser homem, ouvir o que ela tinha pra falar, dizer meu ponto de vista e fazer o melhor pra ela.
- Você disse umas mil vezes que alguém gostava de você, mas não disse quem. - ri fraco, tentando quebrar o clima tenso.
A garota passou a mão pelos cabelos, soltando um gritinho engraçado, claramente emboscada nas próprias lembranças.
- Você quer mesmo falar sobre isso? - cruzou os braços, descendo o último degrau e andando até sentar no sofá.
- Não tem como fugir, Pheebs. - respondi no meu melhor tom.
O começo do fim.
- Você sempre disse que se eu conhecesse outra pessoa, nunca me impediria de ficar com ela. Acontece que tem esse cara na faculdade, sabe? Ele me adora, ele gosta de mim, e eu até estava confiante e feliz, pensei que finalmente meu momento tinha chegado, mas nunca consegui ir adiante. Tinha você, . Acho que eu tento negar isso há algumas semanas, mas sei lá, não dá mais. - suspirou - Ontem teve uma super festa e ele estava lá, chegou em mim e tudo, e a única coisa que eu consegui fazer foi encher a cara e ir atrás de você, porque eu sabia que ia acabar falando a verdade, coisa que eu nunca faria sóbria - gargalhou bem humorada, mas com a voz levemente embargada, começando a sufocar meu coração - Eu sabia que essa situação acabaria com o que temos, então eu bebi de propósito, fui atrás de você e agora estamos aqui, e sei muito bem onde isso vai parar, mas eu não teria como fazer isso de outra maneira, mas também não conseguiria continuar, entende? Eu sei que conversamos sobre isso um milhão de vezes, mas não se controla os sentimentos, e eu sei que agora que vai acabar, eu vou sofrer, vou superar e depois vou estar pronta pra ficar com alguém que gosta de mim, então...
- Pheebs, você sabe que eu te admiro muito, não sabe? - respirei fundo, vendo as lágrimas se formando em seus olhinhos inchados. Ela balançou a cabeça negativamente, e me senti pior ainda por nunca deixar claro que a admirava - Você é uma mulher esforçada, boa com todos, tá sempre tentando ver o melhor em tudo. Eu posso não ser o que você precisa, mas sempre prestei muita atenção nas nossas conversas, mas o que eu mais admiro em você agora é o amor próprio. Você poderia simplesmente engolir os próprios sentimentos e continuar nessa relação que só te faria mal, mas não, você se escolheu! Embora a gente não fique junto, eu to orgulhoso de você, porque sei que você nunca vai aceitar menos do que merece, e pra ser sincero, eu queria ter sido assim, sabia? - limpei a primeira lágrima que caiu do seu olho.
Pela primeira vez em muito tempo, senti a necessidade de abrir o peito. Ela merecia. A gente merecia.
- O amor próprio pode ser a maneira mais honesta de dizer adeus a alguém às vezes. - aí que ela chorou de vez. Me aproximei rapidamente do seu corpo, o envolvendo em um abraço cheio de sentimentos que já estavam congelados em mim há tempos.
- Isso não é um adeus! Você pode me ligar se precisar de qualquer coisa, tá me ouvindo?
- ... Eu não fui capaz de fazer você abrir seu coração, e até entendo que você não consiga notar sua própria importância, porque eu senti isso durante todos esses meses, e eu sei também que as coisas ficam muito piores quando a gente carrega um trauma, - Phoebe desceu o olhar lentamente até minha tatuagem, dando um sorriso sem mostrar os dentes, um sorriso apenas pra mostrar empatia - mas você precisa dar essa chance pra você mesmo, tudo bem? Você merece tudo de bom que essa vida tem pra oferecer, eu juro! - finalizou olhando em meus olhos, diretamente neles. Os braços envolvidos em minha volta de maneira desesperada, porque aquilo estava doendo nela, eu sabia, sentia.
Doía em mim também.
Muito.
Parecia injusto demais. Ela não merecia isso, mas ainda assim era boa demais comigo. Sempre esperançosa, tirando e ensinando uma boa lição da própria dor.
Seria incrível ser capaz de ter amado Phoebe.
- Ela me deixou. - comecei e travei. A garota em minha frente agora me encarava triste e confusa, e tive que usas as forças que não tinha pra dar continuidade. Já me cansava o fato daquilo ainda doer tanto mesmo depois de tanto tempo - O nome dela é Sienna, a dona desses olhos. - apontei pra minha tatuagem no peito, e tudo parece ter feito sentido pra Phoebe, que apenas escutava - Ela sempre sonhou grande, e eu achava lindo demais, mas não acompanhei ela nisso, nunca consegui. Sonhos muito diferentes, sabe? Hoje eu enxergo que não era só isso, era tudo. Muita água passou debaixo da nossa ponte e só hoje eu consigo enxergar tudo o que tinha de errado na nossa relação.
Respirei fundo. Não morri e nem arrancou pedaço, mas me dava raiva de lembrar.
- Não significa que vai acontecer de novo, sabia? Tudo é aprendizado, não é? - Pheebs abriu um sorrisinho lindo, dizendo a frase que eu havia dito dias antes.
Incrível como não seguimos metade do que falamos.
- Você merece alguém que te ame muito, Phoebe. - abracei a garota novamente com força, esperando que toda aquela frustração sumisse.
- Acho que esse foi o término mais bonito do mundo. - ela arranjou forças até pra fazer piada e foi impossível não rir.
Saí dali me sentindo totalmente perdido. Uma parte de mim só sabia pensar que o nosso relacionamento não chegou a ser amor, mas era tão lindo que tinha tudo pra ser, e a outra metade só sabia me esmagar por dentro em culpa.
Por que ela me amava?
Não tinha motivos pra isso.
Eu não sou um cara bom.
Dirigi feito doido, saindo do carro totalmente incomodado, só queria dormir, fumar ou qualquer merda que me fizesse esquecer que tinha decepcionado mais uma pessoa. Entrei com pressa, encontrando sentada numa das mesas ali sozinha, olhando pro seu celular, mas seu olhar foi de encontro ao meu assim que notou minha presença.
Continuei andando, mas sua voz me fez parar.
- Ela melhorou?
- Quem?
- Sua namorada.
Porra.
- Não é minha namorada. - respondi grosso.
- Parecia. - deu os ombros - Ela tava bêbada, mas disse que te amava, então...
- Então o que? Você achou que ela era minha namorada porque estava claramente podre de bêbada e falando algo totalmente sem pensar? - explodi. Caralho, era tudo o que eu não precisava, mas pelo jeito, ela também não.
- Ei! Não sou seu saco de pancadas, garoto! Se você está bravo com alguma coisa, apenas resolva e não saia descontando em quem vê pela frente!
- Você que se meteu em assunto que não te diz respeito, porra! - explodi de novo, sem paciência nenhuma.
Péssima ideia. se levantou nervosa, vindo em minha direção. Estava perto demais e a mesma se assustou com a falta de noção na distância. Nossas respirações se encontravam, e o conjunto todo que a formava me deu calma por um segundo, longo em seguida voltando toda a raiva.
Queria ter simplesmente andado e entrado em meu trailer de uma vez, mas não. Ela abriu a boca pra dizer algo, mas algo a fez desistir. Talvez a consciência tenha pesado ou simplesmente quis se poupar de uma discussão, apenas saindo dali com passos fortes, entrando no seu trailer.

's POV
Eu queria ter um limite, queria saber quando parar, mas quase nunca sabia. Sempre muito impulsiva. Irritei o cara e me irritei a troco de nada.
Bufei ainda nervosa, terminando de colocar a bota sem salto no meu pé, saindo do meu trailer e indo até Voight, que me esperava bem arrumado na saída dali.
Iríamos visitar minha mãe juntos pela primeira vez, o que fazia meu estômago revirar todinho de ansiedade. Sempre assim.
- Como você está se sentindo com todas essas mudanças? - perguntou entrosado, sem rodeios.
De algum jeito, Voight se colocava numa posição em que tinha intimidade comigo pra conversar sem frescura, sem timidez ou algo do tipo. Mesmo sabendo que quanto menos conversávamos, pra mim era melhor, ele nunca desistia.
- Não sei te explicar.
- Tenta.
- Eu não consigo. - respondi um pouco ríspida, mas não por ele, e sim por mim. Meu maior defeito era nunca conseguir dizer o que sentia, nunca sabia explicar, colocar em palavras.
Talvez fosse meu maior fardo, ou algo do tipo.
- Você não era assim, sabia? Você sempre foi tão alegre, tão pra cima. Eu sei que as coisas não foram fáceis, houve muitos problemas, mas nunca imaginei que você ficaria assim. - senti delicadeza e cuidado enquanto ele falava.
Voight sempre era bom de conversa, por incrível que pareça.
- Todo mundo muda, não é? Eu só acho que perdi uma parte minha por aí e ainda estou tentando achar, só isso. - pela primeira em tempos, falei sem medo, tirei um dos pesos que estava em minhas costas.
Oras, guardar pra mim não ajudaria em nada, e falar provavelmente também não, já que Voight não podia consertar meus sentimentos por mim. De um jeito ou de outro, não ganharia e nem perderia.
- Eu sei que são grandes mudanças, e eu falo sério quando digo que você pode ficar na minha casa, tá bom? Pode até ficar com também, o que for melhor pra você. Quero te ver bem, .
Um arrepio percorreu por todo o meu corpo.
Desde quando Voight apareceu em minha vida, devo admitir, ele cuidou bem de mim. Sempre foi atencioso, gostava de conversar, e mesmo colocando um milhão de regras na casa e me ensinando defesa pessoal até quando eu não queria, ele sempre foi bom.
Me custava admitir, porque eu deixei o seu possível único erro comigo ficar por cima de tudo, mas isso eu não conseguia evitar.
- Por que você se importa tanto comigo? - questionei curiosa e nervosa.
- Porque você é como se fosse minha filha, não é óbvio? - ele riu à toa, agradável.
Me senti mal. Parte de mim se recusava a aceitar aquele carinho e cuidado. Talvez não fosse tão merecedora.
- Obrigada. Eu acho. - sussurrei, calando minha boca em seguida. Não queria continuar, não sabia como. Um incômodo se instalou em meu peito e eu nem mesmo entendi o porquê.
Pouco mais de 30 minutos e chegamos. Eu odiava aquele lugar, a energia, o peso. Passamos pelas etapas chatas até entrarmos na sala, onde minha mãe já nos esperava com aquele uniforme bizarro de feio, mas ainda assim, ela continuava linda.
Demos um abraço rápido, sabia que não podia ter muito contato físico. Observei o selinho demorado que os dois deram, e não deu pra evitar a cara de confusão. Queria entender como funcionava a relação dos dois.
O tempo era curto, então começamos a falar sobre os acontecimentos, inclusive os ruins, porque eram os mais importantes, infelizmente.
- , quero você perto do Voight, está entendendo? Vai começar a mesma guerrinha de novo e eu quero você por perto, fui clara? - fazia tempo que ela não era tão séria, ou seja...
Rolei os olhos, cruzando os braços feito criança rabugenta. Concordei com a cabeça, tentando segurar um choro que era quase inevitável.
Detestava chorar. Por meses, mal derramei uma lágrima sequer. Fiquei tanto tempo comigo mesma que a única coisa que eu tinha eram os meus pensamentos e a raiva, e ficavam no lugar do choro. Talvez essa nova fase tivesse trago as lágrimas de volta.
Impressionante.
- Eu já disse que ela pode trabalhar em outro lugar se quiser. - Voight comentou.
- Claro que pode, mas ainda assim, quero ela perto de você. Sabemos que Paul não brinca em serviço. - minha mãe continuava, como se eu nem estivesse ali.
- Como você consegue? - joguei a cabeça pra trás, prestes a falar coisas que provavelmente me arrependeria, mas precisava.
- O que?
- Isso! Voight te deu drogas pra entregar pra uma pessoa e você foi, e olha só o que aconteceu, você foi presa! Você não se envolvia com nada disso, mãe, e na única vez você foi pega. Como você consegue não ter raiva? Porque eu sinto. Muita. - cada palavra que saía era como se meu coração fosse ficando menos amassado.
- Já conversamos sobre isso! Voight não teve culpa e você precisa entender isso, filha! - ela manteve a calma.
Como conseguia?
- Mãe! - chamei sua atenção, a olhando nos olhos. Ela sempre conseguia me ler apenas com um olhar. Eu não precisava dizer muito.
Senti meus olhos se umedecendo mais e mais, com as lágrimas prestes a cair.
- Eu sei que às vezes você esquece que está triste, sei que em algum momento eu errei e isso ficou dentro de você, mas não precisa ter vergonha de sentir, está bem? Não é proibido! - seu tom forte e doce e aquelas palavras foram o suficiente para as lágrimas caírem de vez. Sua mão foi de encontro a minha, a apertando forte.
Me custa admitir que sou feita de instabilidade. De falhas. De erros. Me custa admitir, mesmo sabendo que só felicidade e perfeição não forma absolutamente ninguém.
Só queria poder parar de me culpar por tudo.

——

Entrei no carro já pensando na hora de sair. Queria dormir mais, queria fugir da realidade.
estava com a mesma cara de cu, provavelmente ainda estressado com a situação da namorada, ou sei lá, seja lá quem ela for.
Silêncio total, nem mesmo me atrevi a ligar o som do carro. Parte de mim queria aproveitar o momento pra ficar mais brava com tudo, como se a raiva fosse algum tipo de alimento.
Ridículo, mas é a minha verdade.
O tempo foi passando e nada, nem uma palavra.
- Me deixa dirigir. - quebrei o silêncio de uma vez, levemente irritada.
não contestou, apenas saiu do carro e eu pulei pra o banco do motorista. Ainda tínhamos horas pela frente e todo aquele silêncio já estava fritando meus neurônios.
Respirei fundo, pronta pra tentar novamente. Já tinha conseguido uma vez, não seria um problema agora.
Ou...
Resmunguei, ligando o carro novamente. Respirei fundo de novo, tentando de novo, soltando a embreagem e...
Morreu.
- Vai devagar. - a voz de deu o ar da graça, mas de maneira nada agradável, assim como sua expressão, totalmente impaciente.
Tentei novamente, mas acabei dando um tranco no carro, que nos fez ir pra frente com tudo.
Merda, merda, merda.
- Calma! - falei comigo mesma, tentando manter a paciência.
Tentei de novo, mas o carro morreu. Definitivamente não era meu dia.
- Porra, vai devagar, ! Não adianta querer fazer tudo no mesmo segundo, o carro vai morrer pra sempre desse jeito! - esbravejou impaciente, e o fuzilei com o olhar no mesmo instante.
- Você nem mesmo está me ajudando! E outra, você também passou por isso, inferno! - retruquei no mesmo tom impaciente e grosseiro.
- Eu não fui tão ruim assim como você e isso eu te garanto!
Bufei nervosa, ligando o carro novamente e finalmente consegui sair do lugar. Fui acelerando aos poucos, atenta na rua, corria sérios riscos em atropelar alguém de tanto nervoso.
- Viu só? - me gabei feito retardada, me arrependendo logo em seguida.
- Vi o que, garota? Troca a marcha desse carro logo! - alertou debochado e irritado, e ri de nervoso.
O carro morreu de novo.
Encostei a testa no volante, dando grunhidos de raiva.
- Pra mim chega. - tirei o cinto brava, pronta pra sair dali.
- Já? - aquele tom debochado foi tudo o que eu não precisava.
- Vai pra merda! Você nem me ajudou em merda nenhuma e ainda quer tirar com a minha cara? Vai te catar! - extravasei nervosa, vendo a expressão do homem ao meu lado ficar firme e dura.
- , eu não to com saco pra porra nenhuma hoje!
- Problema é seu! O que eu tenho a ver com isso?
Talvez eu tenha passado um pouco do limite. Uma partezinha de mim se sentiu mal, a empatia se encontrava desaparecida, mas no calor do momento foi a única coisa que saiu.
- Porra! O bom senso passou longe, foi? - ele me olhava desacreditado.
Saiu do carro irritado, esperando que eu apenas fosse pular de banco, mas não, fiquei ali sentada por mais alguns segundos.
Eu queria parar.
- Escuta, se você está bravo por causa da sua namorada ou seja lá o que for, não desconta em mim! Esses dias você estava se oferecendo pra me dar aulas e agora fica tirando onda da minha cara? - cuspi as palavras sem dó, mesmo sabendo que era tudo desnecessário demais.
Eu me sentia uma bobona de 14 anos novamente, mas precisava tirar um pouco da raiva que estava no meu peito.
Abri a porta irritada, pronta pra dar a volta e entrar pelo outro lado, mas não permitiu. Grudou meu corpo no carro e minha respiração sumiu no mesmo segundo.
- Que merda deu em você pra só ficar falando dela? Ela não é minha namorada, e mesmo se fosse, não é da sua conta, . Ou o que, tá interessada também? - suas duas mãos estavam firmes em minha cintura, assim como o seu olhar sobre o meu.
Apertei os olhos, me custou a acreditar que tinha acabado de ouvir aquilo. não parecia ser daquele tipinho fútil nem de longe, então comecei a pensar que talvez tenha o irritado o suficiente pra isso.
Ou talvez ele era só mais um babaca.
- Vai se ferrar! - juntei as poucas forças que tinha pra falar aquilo, enquanto me perdia no seu perfume, no seu olhar e no seu toque.
Ele não me soltou de imediato. Continuou com as mãos ali, presas em minha cintura e o olhar duro por longos segundos.
Eu queria o decifrar, mas não dava.
Complexo demais.

Capítulo 7

's POV
Pedi pra Dave, um amigo da minha mãe que sabia fazer maravilhas na internet, achar o dono da placa do carro que havia anotado no bloco de notas no celular. Era de uma moça, Megan Rae.
Pedi pra passar uma peneira na busca, tentando achar a ligação dela com Paul, já que os dois rapazes que nos seguiram faziam parte dos Ghosts, mas nada, nenhuma ligação que constasse ali.
Dave sabia o quanto aquilo era frustrante. Já tinha tentado me ensinar vários truques e como hackear certas coisas, mas em um dos meus momentos de sanidade, acabei negando todas as suas ofertas porque sabia que aquilo me enlouqueceria e nunca iria querer parar.
Estou sempre curiosa, mas Dave estava sempre ali pra me ajudar de algum jeitinho.
Respirei fundo, agradecendo por mensagem pelo esforço. Já eram duas da tarde e a minha preguiça tinha me impedido de sair daquele trailer mais cedo pra entregar currículos ou até mesmo enviá-los pela internet. Eu não tinha vontade de fazer nada, mas me forcei a levantar, sair dali e ir tomar um banho.
Queria ter me forçado a apenas entrar no banheiro de uma vez, mas não. O observei de longe, sem camisa, com um spray na mão, cigarro no meio dos lábios e totalmente concentrado no que estava fazendo.
Eu odiava tentar decifrar ou ler as pessoas, mas era automático. me dava uma breve sensação de situação nova. Eu não conseguia nem tentar definir, porque tinha um bloqueio. Parecia impossível. Ele parecia ser diferente, algo quase inédito.
Saco, que merda eu to falando?
Exatamente por isso que eu detesto esses pré julgamentos do que a pessoa é ou não é.
- Ei! - sua voz me tirou daquele transe.
Eu ainda podia sentir suas mãos me segurando firme. Inferno, foi um momento de tensão tão... gostoso! Há tempos eu não sentia algo diferente de raiva ou indignação.
- Oi?
- Me desculpa por ontem, tá legal? Eu sei que fui grosseiro. - mais uma vez, ele tomou a iniciativa em pedir desculpas.
Recapitulando, eu que tinha começado a provocar, e ainda assim ele pediu desculpas. Numa boa, nada forçado nem nada, só pediu.
- Tudo bem. Fui uma idiota também, desculpa aí. - encolhi os ombros, um pouco sem graça.
Observei seus olhos analisando meu corpo, embora tentasse ser discreto.
Fiz o mesmo. Oras, aquele corpo tinha que ser apreciado.
Tentei fingir que não tinha notado seu olhar em meu corpo, assim como fingi que não estava fazendo o mesmo, mas não deu. Nossos olhares se encontraram e eu só me lembrei da sensação que senti na madrugada, com ele bem pertinho de mim, um olhar totalmente diferente.
Parecia outra pessoa, ou ele se escondia muito bem, ou simplesmente ele era o pacote completo. Sensual, educado e sei lá mais o que.
- Tudo de boa então. - ele sorriu rápido, pronto pra voltar pra o seu grafite.
- Você está aqui! - Lydia se aproximava toda bem arrumada com Keith nos braços - E você também! - me encarou alegre.
Lydia entregou Keith nos braços de , que o balançava um pouco alto, já brincando com o bebê.
- Ele já tomou a mamadeira? - perguntou preocupado.
Os dois entraram numa conversa breve sobre a mamadeira, que Keith ainda não havia tomado, mas que deveria em meia hora. Avisou sobre as fraldas e roupas também.
- Eu ia pedir pra você ficar com ele pra mim, mas não te vi fora do trailer em momento algum e não queria te acordar, então pedi pro olhar o Keith enquanto eu vou pra entrevista. É a segunda fase! - Lydia se explicou como se me devesse aquilo e finalizou animada, bem confiante com a entrevista de emprego.
- Você pode me acordar quando quiser, Lydia! Não estou fazendo nada durante o dia todo, não vai me incomodar ou atrapalhar em nada cuidar do Keith. - avisei.
- Bem, você pode ajudar o então. - ela deu os ombros, como se tivesse apresentado a melhor solução pra o momento e olhando pra nós dois com um sorrisinho simpático - Agora já vou, mas acho que não devo demorar muito!
Ela saiu, me deixando ali com e Keith.
- Vou tomar banho e te ajudo com ele. - avisei e saí logo, entrando no banheiro.
A água morna, quase gelada, foi de propósito. Queria acordar pro dia, pra vida. Uma sensação de incômodo me acompanhava constantemente e eu só queria que ela sumisse. Não demorei no banho, coloquei uma roupa confortável e saí, encontrando sentado com Keith na mesma mesa em que estávamos no dia dos tiros.
- Esse moleque é engraçadinho demais, olha isso! - chamou minha atenção animado. Cobriu o rosto com a própria mão e Keith a puxou, dando uma gargalhada alta e gostosa.
- Ele é tão alegre, fico boba! - comentei embarcando na mesma animação, porque não dava pra resistir.
- Por que ele não seria, né? - questionou irônico.
- É, tem razão. - concordei sentindo uma pontada no peito, como se fosse um lembrete de que a vida estava uma bagunça.
- Eu sei que não adianta a gente desejar que ele não passe por algum perrengue porque ele vai passar, mas mesmo assim, espero que não seja tão ruim quanto o que a gente passa.
- Bem, sempre tem alguém pior, mas a gente nunca lembra disso, não é? - ri fraco.
- Sim! Mas sei lá, é o nosso costume, mecanismo, sei lá. A gente entra nessa bolha e fica tão pilhado com o nosso problema que nem vemos que tem alguém pior.
Oh! Estávamos conversando de verdade!
- É tão difícil quanto lembrar das coisas boas que temos na vida, como sei lá... Um colchão pra dormir. - murmurei e logo fui invadida pela culpa. Lá estava ela, me atingindo novamente.
- É muito pra pensar e sentir, , mas acho que hoje em dia as pessoas só querem respeito, que respeitem seus limites e suas decisões, mas são as partes que estão mais fodidas no momento. - ele soltou um riso fraco, sem me olhar, apenas olhando pra Keith.
- E querem parar de sentir tanto também. - suspirei - Pelo menos eu acho. Tem hora que quase sufoca.
Entrei nos meus próprios pensamentos. Só queria um jeito de tirar tudo aquilo de dentro de mim. A conversa estava boa até o momento. finalmente olhou pra mim, e dessa vez, eu podia saber que ele estava tentando decifrar alguma coisa em mim.
- Estamos numa gangue, fazendo um trabalho ridículo e provavelmente a gente vai acabar se metendo em alguma merda por aqui. A vida é louca, , mas eu juro que tento tirar uma lição da loucura. - disse firme.
Abri a boca, mas nada saiu.
Eu tentava sempre tirar a coisa boa de qualquer situação também, mas nunca é o nosso foco, sempre vamos pensar no lado ruim primeiro. Se eu conseguisse fazer o contrário, talvez sentisse menos culpa, talvez me sentisse feliz mais vezes e por mais tempo.
Eu sou feliz. Só não o tempo todo, como qualquer ser humano, mas eu só queria mudar pra fazer durar mais a sensação de felicidade, só isso.
- Acho que está na hora da mamadeira dele. - minha voz saiu baixa, mas ele entendeu.
Entrei no trailer de Lydia, pegando a lata de leite em pó que tinha ali, indo pra o meu trailer e chamando pra ir junto. Se sentou na cama com Keith, que ainda seguia brincalhão e agitado.
Coloquei a água pra esquentar, encostando ali e observando a cena em minha frente.
era ridiculamente lindo.
Me alertei antes de entrar em mais um dos meus devaneios, preparando o leite do bebê e entregando pra , que pareceu meio inseguro mas logo colocou na boca de Keith, que abocanhou o bico da mamadeira no mesmo instante.
- Conversei com sobre você. - sua voz raspou e ele tossiu pra limpar a garganta. O olhei confusa, mas logo ele continuou - Ela disse sobre você gostar de tecnologia. É sério?
Claro que ela disse, fazia questão de dizer mesmo! Eu sabia que não era por mal, mas aquilo me atingia tanto porque eu sabia que estava errada em tal situação.
- É.
- E por que você não foi pra um curso relacionado a isso?
- Porque...
- Você sente culpa? - ele completou, com um sorriso um pouco cínico, como se tivesse certeza que era aquilo.
E era, mas não queria falar sobre.
- Não.
- Certeza? - ele semi cerrou os olhos, ainda convencido daquilo.
Inferno!
- Sim, , tenho certeza. Podemos mudar de assunto agora ou vou precisar falar da sua namoradinha de novo pra gente ter mais uma discussãozinha ridícula que não vai nos levar a nada? - reclamei de uma vez só, surpresa comigo mesma pela explosão tão rápida.
O olhar dele ficou exatamente do mesmo jeito que na madrugada. Por um momento eu não queria que Keith estivesse ali, talvez ele me tocaria novamente, mas não. Não teve nada disso.
O leite da mamadeira acabou e o segurou em pé, sem mexê-lo. Ele era bom naquilo. Ficamos em puro silêncio até rirmos dos peidos que o bebê soltou de uma vez. Não dava pra não rir.
A cara de desespero do , que o segurava, foi impagável.
- O moleque cagou, tenho certeza!
Ri mais ainda.
Esperamos um pouco, porque ele realmente estava cagando, estava se contorcendo pra lá e pra cá.
- Ok, vamos lá. Deita ele aí e vai tirando a roupa dele. - pedi e saí, indo até o trailer de Lydia e pegando uma fralda limpa e os lenços umedecidos.
- Essa parte é sua, pelo amor de Deus! - disse assim que entrei novamente, tentando segurar o riso.
Me aproximei, abrindo a fralda suja e a dobrando, passando os lencinhos em sua pele, retirando o resto da sujeira e colocando a fralda limpa. Nada absurdo ou impossível de fazer, mas homem é meio mole pra isso mesmo, está na bíblia!
- Agora ele dorme. Sua vez. - o peguei no colo e balancei, dando um cheirinho naquele pescocinho com cheiro de bebê e o entreguei novamente pra .
Ele sentou na cama novamente, aproveitei e peguei meu notebook, sentando na única cadeira que tinha ali e o apoiei no meu colo mesmo. Entrei em alguns sites, mandando meu currículo pra empresas aleatórias.
- Wise men say only fools rush in, but I can't help falling in love with you... - aquela voz. A voz dele.
Olhei bem discretamente, balançava Keith e cantava bem baixinho, talvez com vergonha de mim. Não me atrevi a mover minha cabeça nem um centímetro, não queria que ele me visse olhando. Voltei a encarar a tela do notebook, mas com os ouvidos bem atentos.
"Shall I stay? Would it be a sin If I can't help falling in love with you?"
Até fechei os olhos pra apreciar, mas ele parou. Os abri lentamente, e ele me olhava com um olhar divertido. Olhei pra Keith, que já tinha dormido.
- Ah! - foi a única coisa que saiu da minha boca, levemente frustrada. Pensei por uns segundos, um elogio não mataria nenhum de nós dois! - Você canta bem!
- Valeu!
Sorri fraco, voltando minha atenção pro notebook e colocando Can't Help Falling In Love pra trocar e riu. Eu queria ouvir mais da sua voz, mas teria que me contentar com a do Elvis mesmo.
Ele deitou Keith na minha cama e saiu do trailer, dizendo pra chamá-lo quando acordasse.
Keith acordou depois de uma hora. e eu o distraíamos com brincadeiras e vídeos infantis que o manteve entretido na maior parte do tempo. Até soltava gargalhadas altas. Estávamos os três sentados na cama até que baterem na porta e imaginei que fosse Lydia. Ela entrou já sorrindo, e logo nos animamos por ela também, porque estava nítido.
- Eu consegui! Começo na próxima segunda feira! - só faltou pular de alegria, e me levantei para dar um abraço apertado.
Ela merecia. Lydia sempre cuidou bastante de mim, desde a época que eu frequentava mais o lugar por causa da minha mãe. Eu, e ela sempre nos divertimos demais, até que ela engravidou e se mudou com o namorado, o que acabou não sendo um bom negócio, mas nada daquilo a fazia menos merecedora.
- Eu trouxe umas coisinhas pra gente comemorar! - eu nem mesmo tinha notado a sacola em seu braço, mas de lá ela tirou alguns lanches e cervejas.
Totalmente a cara de Lydia; lanche e cerveja.
Comemos, bebemos e conversamos sobre assuntos aleatórios, até ela sair pra dar banho em Keith. Saí do trailer e também, mas ele não se afastou nem nada do tipo, muito pelo contrário.
Pegou em meu braço sem força, apenas me guiando até eu encostar o corpo do outro lado do trailer. Fui igual uma bobinha, batendo o corpo ali e vendo a cena se repetir.
Mas ele não encostou na minha cintura, apenas ficou com os braços encostados no trailer, só me prendendo ali.
- , vou te falar uma vez e pronto, beleza? - o tom sério me deu um arrepio em absolutamente todas as partes do corpo. Assenti feito uma garotinha assustada, esperando a continuação ansiosa - Ela não era minha namorada.
Eu queria entender o porquê daquela cena toda apenas pra me falar disso, até notar que provavelmente ele tinha gostado daquele momento tanto quanto eu.
Eu queria toca-lo também, fazer algo que o fizesse sentir o que eu senti, mas simplesmente travei.
- Ela disse que te amava, então se ela não é sua namorada deve estar sendo péssimo, não é? Amar e não ser correspondido é um baita banho de água fria. - respondi abusada, louquinha pra prolongar o assunto e ver até onde aquilo ia.
Era um joguinho de sedução? Ele queria provar algo?
Ele abriu um sorriso um tanto quanto cínico, como se nada do que eu tivesse falado o tivesse atingido. Talvez nem fosse grande coisa e ele só estava querendo zoar com a minha cara e me ver babando por ele.
Não dava pra saber!
- ... - ele sussurrou meu nome, me olhando fixamente.
- Sim? - usei meu tom mais inocente possível, colocando meus braços ao redor do seu pescoço, o que fez os dele abaixarem, indo parar na minha cintura.
Pronto. Meu coração iria parar.
Que merda estava rolando?
A barra da minha blusa foi levantada, o suficiente apenas pro seu polegar se sentir à vontade ali e o movimentar, fazendo um carinho em minha cintura, mas eu podia jurar que estava derretendo.
Ok, se era joguinho ou a merda que fosse, não era justo comigo. Meses sem sexo e um cara gostoso daquele jeito na minha frente!
- Você é bem curiosa. - ele continuou sussurrando, de maneira totalmente divertida e assanhada.
Afundei uma de minhas mãos em seu cabelo macio, fazendo carinho em sua nuca. O encarei encantada, aproveitando seus míseros toques que já estavam me deixando maluca.
Encarei sua boca totalmente corada e super convidativa. Apertei os olhos com força, tentando resgatar pelo menos um por cento da vergonha na cara, mas eu só queria, de maneira ridícula e desesperada, provar seu beijo.
- Você não sabe como! - mordi meu lábio inferior feito besta, concordando rapidamente porque era a mais pura verdade.
Eu estava morrendo de curiosidade por ele.
deixou um riso fraco escapar dos seus lábios, me olhando uma última vez, de maneira que poderia sugar minha alma toda, antes de se enfiar em meu pescoço. Um beijo foi depositado ali de maneira lenta e eu simplesmente me senti pegando fogo.
Suas mãos me apertaram um pouco mais e eu já estava pronta pra qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Ele voltou a me encarar e tentei me manter firme, mas com certeza já estava explícito em meu olhar o quanto eu queria que ele fosse mais além. Uma de suas mãos segurou meu rosto com firmeza, firmando bem nossos olhares.
- , voc... - a voz de Voight quase me fez voar de susto.
Todo aquele contato físico se desfez no mesmo instante e eu pude sentir minha pele queimar no mesmo segundo.
Aquela cena vista por Voight com certeza dava a entender tanta coisa, quando na verdade nem eu sabia o que tinha acontecido.
Ou tinha?
- O que foi? - perguntei quase torta de tanta vergonha.
- Nada, eu só ia te chamar pra jantar, mas acho que...
- Não aconteceu nada, Voight. Eu sei que parece que aconteceu, mas não aconteceu. - de intrometeu, desmentindo qualquer coisa a mais que deve ter passado pela cabeça do homem. O olhei com certa timidez, mas em seu olhar não tinha nenhum rastro do mesmo. Totalmente sério, firme e aparentemente normal, como se nada tivesse acontecido.
- Tudo bem. - Voight segurou o riso e eu quis morrer. Joguei a cabeça pra trás, andando em sua direção e o puxando pelo braço.
- Sim, eu quero jantar.
E nem queria! Tinha acabado de comer hambúrguer e tomado cerveja, ainda por cima fui completamente alimentada com uma onda de tesão que só serviu pra me deixar frustrada.

——

Duas semanas se passaram e nem mesmo tocamos no assunto ou repetimos qualquer coisa semelhante.
Mas as coisas mudaram.
colocava a própria playlist no som do carro, conversávamos sobre coisas sem muita importância e ele estava mais paciente nas aulas de volante.
Estava tudo bem.
Contei contei pra do que aconteceu e ela achou o maior barato. Achou engraçado e disse que talvez eu deveria entrar na brincadeirinha também, flertar mais e quem saber até ficar com ele, porque segundo ela, eu não tinha nada a perder, e aparentemente nem ele.
Ela era tranquila, resolvia as coisas assim, facinho. Eu gostava disso nela, tinha até um pouco de inveja às vezes.
- Olha, as meninas estão nos chamando pra festa. - mostrou o celular para que eu pudesse ver, mesmo sendo num grupo onde eu também fazia parte.
A maioria das nossas outras amigas estavam na faculdade, e em toda - ou quase - festa íamos.
A vida já estava um saco há tempos, mas era difícil eu negar uma festa. Eu tenho fases, mas nunca fiquei muito tempo só em casa, sempre acabava indo pra um lugar aqui ou ali. Gostava daquilo, gostava de aproveitar e não tinha vergonha.
Minha própria mãe sempre diz que só se vive uma vez e sempre me empurrava pra sair, pra aproveitar a vida e curtir o momento.
Nosso plano pra o resto do sábado seria apenas assistir filme e comer besteira, mas tinha acabado de mudar. Por sorte, não trabalho de final de semana, o que me dá à noite inteira na festa se eu quiser.
Fomos até o trailer de Lydia, que tinha acabado de chegar e já tinha buscado Keith. Ele ficava com a mãe de Lydia porque ela ainda estava insegura em colocar o bebê numa creche, mas estava tudo indo bem até. Estava adorando o novo emprego.
a convidou, mas ela recusou. Queria descansar e dormir, o que era totalmente compreensível.
Arrumei uma bolsa com minhas coisas, dormiria na casa de . Saímos do meu trailer, encontrando , Cohen e Scott sentados conversando.
- Ei! - se aproximou da mesa, cumprimentando cada um com um beijo estalado no rosto - Como vocês estão?
Todos responderam um "bem" em coro.
- E você, gatinha? - Cohen perguntou manhoso, de um jeito engraçado.
Ele tratava super bem, mas creio que nunca veio um interesse a mais. Estava tudo ok desde o dia em que fomos no bar e ele tentou ficar comigo, não rolou cara feia, nem indignação e muito menos ignorância da parte dele nas últimas duas semanas. Estava tudo ok de verdade.
- Estou bem! O que vocês vão fazer hoje à noite? - ela perguntou dando um sorrisinho convidativo, os preparando.
Ok, eu não havia sido consultada pra aquilo, mas tudo bem. Não éramos mais crianças.
- Vamos pra uma festa de faculdade. Vai ser na casa da Grace, uma amiga minha. - Scott respondeu.
Oi?
O mundo é pequeno mesmo. Eu não fazia ideia de que os dois eram amigos! Grace era minha colega de faculdade, não era do mesmo curso, mas mesmo assim. Simplesmente... Uau!
- Tá brincando? - riu chocada - Scott, a Grace é uma colega nossa! Não acredito nisso! - ela continuou rindo, tão chocada quanto eu.
- Caralho! - ele se juntou nas risadas - Nós três vamos. - Scott apontou pra si mesmo e mais os meninos.
- Menos . Ainda tá sem coragem pra encarar a...
Cohen calou a boca assim que o encarou. Não era um olhar agressivo, e sim, um olhar como se pedisse pra ele não continuar, e foi respeitado. Ele limpou a garganta, seguindo o assunto e perguntando que horas íamos pra lá e bla bla bla.
Eu detestei o quanto minha mente foi rápida em ligar os pontos. Ele estava tentando evitar a ex-não-namorada, segundo ele mesmo?
Meu olhar foi de encontro ao seu. Ele tomava uma garrafa de lucozade, totalmente quieto, porém atento, me encarando numa intensidade absurda.

——

Saímos as cinco do carro rindo das palhaçadas que já estávamos fazendo. Leslie, Josie e Felicity eram ótimas companheiras. Festeiras demais, não tinha nem como não se contagiar com a energia delas.
Eu estou sempre no meio termo. Adoro festas, embora seja tímida no começo, mas sempre acabo me soltando. O engraçado é que mesmo não me sentindo assim o tempo todo, é quase o único momento em que me sinto sexy e poderosa. Talvez seja a música, as pessoas ou a energia gostosa de ver todo mundo se divertindo ao mesmo tempo.
Me sinto bem.
Entramos com nossas bebidas que trouxemos de casa para ajudar, era a única regra da festa.
Estavam comemorando na casa de Grace porque emendaram o fim de algumas provas com o seu aniversário. Parecia uma loucura uma festa assim na sua própria casa, mas diz ela que os próprios pais que deram a ideia.
Feliz 21, Grace!
Sua casa era a última da rua, e a distância entre uma casa e outra era quase que um problema a menos, já que o som alto não atrapalharia tanto assim os vizinhos.
Começamos a beber, cumprimentando todos os conhecidos e conversando. A música alta nos animava.
Fomos dançar, e mesmo não sendo profissionais ou sabendo os passos ideais, a gente se divertia do mesmo jeito. A playlist de pop antigo com pop atual nos divertia mais ainda. Bebida aqui, bebida ali.
Leslie se esbarrou com Ryan, dizendo que não demoraria, mas sabíamos que ia. O chove e não molha dos dois me cansava, e nem mesmo era o meu relacionamento!
Não que eu tivesse tido tantos, mas não gostava de coisas pelo meio. Gostava de tudo resolvido e fim.
Dançávamos Party Rock Anthem feito doidas, com passos engraçados. Alguém passou os braços pelos ombros de , e pela má iluminação, demorei pra identificar que era Cohen.
Junto com Scott e .
Virei o restante da minha bebida na boca. Por um tempo até me esqueci que eles viriam, mas agora...
Tentei me lembrar se tinha esbarrado com a ex de em algum momento, mas não.
Não que eu estivesse preocupada com ela, e sim, porque isso desencadearia minha curiosidade mais uma vez. Óbvio que eu queria saber o que tinha rolado entre eles!
Os cumprimentei com um aceno, e me puxou para irmos com eles até a cozinha. Preparamos algumas bebidas - Scott, na verdade - que nem imaginamos que dava pra se misturar.
Era difícil de me deixar bêbada e com era o mesmo. Sabíamos nossos limites e não gostávamos de ultrapassar aquilo. Sempre dizíamos pra nós mesmas: pra termos boas memórias e histórias para contar, precisamos nos lembrar delas, e beber até cair simplesmente nos faria esquecer de quase tudo.
Scott continuou fazendo algumas bebidas enquanto pegamos alguns pedaços de pizza que tinham ali. parecia observar cada pessoa que passava ao seu lado. Qual é, ele precisava se divertir também! Talvez a situação com a garota estivesse o deixando tenso, mas era uma festa!
- Quer? - aproximei o pedaço de pizza até sua boca, e ele riu fraco.
Mordeu um pedaço pequeno, em seguida dando um gole na bebida que estava no seu copo.
- Valeu.
puxou Cohen e Scott pra sala novamente, ela não resistia quando Work da Rihanna tocava.
Continuei ali, finalizando a pizza e observando a beldade em minha frente. Me sentei no balcão, ficando ao seu lado.
- Você quer dançar? - me aproximei de seu ouvido por conta do barulho, e assim que ele se virou pra ficar de frente pra mim, nossos rostos ficaram tão próximos que eu podia jurar que nossas bocas se encostaram por um segundo.
Tentei ignorar aquilo, mas não consegui e nem ele. Bebi mais um pouco, nervosa.
- Dançar não é comigo. - ele disse, ainda tentando disfarçar.
- Não quer tentar? - propus simpática, tombando a cabeça pro lado, na esperança que aquele meu jeitinho meigo disfarçado funcionasse.
- ! - uma garota apareceu claramente surpresa por vê-lo ali - Como você está?
- Oi Olivia! - ele se virou tão surpreso quanto ela, a cumprimentando com um beijo no rosto.
A tal de Olivia não era a garota que eu tinha visto naquele dia. Os dois embarcaram numa conversa que eu mal conseguia ouvir, mas nem mesmo consegui sair dali, não sabia o que fazer. Peguei partes aleatórios como uma tal de Phoebe estar bem, ter ido visitar os pais nesse fim de semana e estar numa boa com o fim dos dois.
Minha nossa senhora.
Bebi mais um pouco, querendo rir de mim mesma. parecia estar feliz ouvindo aquilo, prolongando a conversa por mais alguns segundos e se despedindo da garota que se enfiou no meio da multidão.
Tentei disfarçar que não tinha ouvido nada, mas falhei.
- E então? Quer dançar? - perguntei novamente com pressa, não queria nem por um segundo entrar naquele assunto pra não precisar discutir com ele novamente.
- Não sou bom nisso, .
Ele estava lindo demais, inferno!
Até com o lugar mal iluminado, ele continuava incrivelmente bonito. Desci do balcão com um pulinho.
- E vai ficar aí encostado nesse balcão a noite toda? - coloquei as mãos na cintura feito uma mãe quando dá bronca no filho - Vem, vamos arranjar alguma coisa pra fazer. - estendi a mão pra ele, que gargalhou e a pegou.
Jesus, péssima ideia.
Sua mão quente duas vezes maior que a minha já me levou pra um ponto da minha imaginação que eu tinha certeza que era uma mistura do álcool e a falta de sexo.
Não que eu fosse uma maníaca por sexo e estava morrendo sem o mesmo, mas estava sentindo falta.
Fomos até os fundos, num tipo de sala de jogos. , Cohen e Scott estavam ali, jogando beer pong.
Um clássico!
soltou minha mão primeiro, se colocando ao meu lado.
- Ei, eles estão no nosso time também! - praticamente berrou, apontando pra nós.
Acontece que cada copo era numerado, e em cada acerto, tinham cartas ali com consequências boas ou ruins. Caso não fizesse o que era dito, tinha que tomar dois shots de vodka direto. Era uma mistura de verdade ou desafio e um monte de bebida. Tudo certo pra dar errado numa festa cheia de adolescentes e quase adultos que claramente não estavam ligando pra merda nenhuma.
Essa era a graça!
Cohen acertou o copo 13 e o desafio era fazer uma dança sensual. Sem vergonha nenhuma, ele fez. Mas não foi nada sensual, foi engraçada. Eu podia observar algumas meninas que o comia com os olhos. Não era por menos, Cohen era bonito pra caramba também.
Leslie teve que tirar uma peça de roupa. Tirou a camiseta, mas estava com um top por baixo. Ainda assim, muita gente ficou olhando e gritando.
teve que imitar sua posição sexual favorita.
De quatro.
Por Deus, o que estávamos fazendo?
Ríamos alto e algumas pessoas gritavam. Era um desafio mais maluco que o outro, um deles até teve que fingir que estava gemendo, mas ninguém levava a sério, estava engraçado demais.
Peguei a bolinha e joguei.
Copo 16.
- Beije quem está a sua esquerda! - George leu alto, e os gritos ficaram cada vez mais altos.
Só podia ser brincadeira!
Meu estômago virou um buraco negro e eu desejei por um segundo ser sugada por mim mesma. estava à minha esquerda.
Tinha como acontecer algo mais clichê? Não!
O encarei com os olhos arregalados e comecei a rir de nervoso. Não dei tempo pra ele raciocinar, apenas roubei um selinho que durou menos de um segundo se bobear.
- Não vale! - resmungou indignada.
Cerrei os olhos pra ela, que riu sapeca.
- Ué, não está especificado que tipo de beijo! Agora anda, continua. - me justifiquei rapidamente e acelerei para que o jogo continuasse.
Eu nem tive coragem de olhar pro lado novamente, senti que poderia derreter de tão quente que o lugar ficou.
Mais algumas rodadas e precisei tomar dois shots de vodka de uma vez porque me recusei a fingir que estava pagando um boquete em uma garrafa.
Pelo amor de Jeová, tenho um pouco de dignidade ainda!
Saímos todos dali e fomos dançar novamente.
- Você é besta? Teve a chance perfeita de beijar o e fez isso? Caralho, ! - me deu a bronca aos berros por conta da música alta, ainda dançando.
- Tá maluca? Não dava pra beijar ele ali na frente de todos, nem dava pra saber se ele queria também! - fui firme em minha defesa, e mesmo sem pensar em nada na hora, não parecia ser uma boa ideia beija-lo assim do nada, sem nem levar em conta o que ele queria.
- Nossa, quem vê pensa que você é um anjinho assim o tempo todo! - zombou e dei um tapa de leve em seu braço.
Leslie nos chamou para ajudarmos ela a pegar o bolo. Passava de meia noite, ou seja, Grace oficialmente tinha 21.
e Leslie pegaram o bolo e a única coisa que fiz foi acender a vela. Fomos em direção onde Grace estava, ou pelo menos, tentei ir.
Meu braço foi puxado sem agressividade, apenas o suficiente pra me virar, e encarar naquele momento parecia demais. Eu me sentia envergonhava, uma menininha tímida.
- Desculpa por aquilo. - já comecei me desculpando, quase me embolando nas minhas próprias palavras antes de ouvir uma possível reclamação. Sua expressão indecifrável não facilitava nada.
As pessoas começaram a cantar parabéns pra Grace, todos amontoados na sala. Pensei em simplesmente das as costas e ir pra lá, mas minhas pernas não me obedeciam.
- Estou chateado, você não quis me beijar, . - sua voz cheia de humor quase me desmontou de vez.
O que ele estava fazendo?
Gelei por alguns instantes, totalmente sem reação e tentando descobrir se aquilo poderia ser o mesmo joguinho de duas semanas atrás e ataquei como pude.
- Te poupei de um problema, . Se eu te beijasse, você com certeza não iria querer parar, sabe? Acontece com todos. - o olhei com o maior olhar de deboche, não demorando pra rir em seguida, e ele me acompanhou.
Fui para o outro lado do balcão, pegando um novo copo e colocando o resto da bebida que tinha em uma das garrafas, querendo silenciar aquele nervoso de qualquer forma.
- Você está bêbada? - questionou sério, observando cada movimento meu do outro lado do balcão.
- Não. - franzi a testa. Parecia que eu estava?
- Deixa eu provar então. - ele pediu bem humorado.
Como ele conseguia? Ia de sério a um bom humor em segundos!
Ergui o copo pra ele, que gargalhou alto de maneira gostosa.
- Ué? - o encarei confusa, ainda com o copo em sua direção.
- Me deixa provar seu beijo, . Quero ver se é tão bom assim. - deu a volta, vindo em minha direção.
Isso sim só podia ser brincadeira.
Me senti uma bobona, como se estivesse prestes a dar meu primeiro beijo.
- Isso é sério ou...? - cerrei os olhos, com o coração já acelerado assim que o senti pertinho, na minha frente.
Suas mãos envolveram minha cintura e larguei o copo no balcão no mesmo instante, entrelaçando minhas mãos em sua nuca. Fui tão rápida em fazer tal coisa que talvez tenha denunciado meu desespero e ansiedade.
Ansiosa. Eu me sentia mais ansiosa que tudo.
Seu toque, aquele toque que trouxe um fogo junto. Eu poderia queimar ali mesmo.
O pouco de iluminação que tinha ali me permitia olhar em seus olhos uma última vez antes de sentir ele se aproximar. Nossas bocas se tocaram e nem mesmo me passou pela cabeça tentar sair daquilo. Não demorei em abrir meus lábios, permitindo que nossas línguas se tocassem e mais uma vez, eu podia jurar que desmancharia.
Me atrevi a fazer um carinho em sua nuca enquanto nossas línguas se envolvem de maneira calma.
interrompeu o beijo, mas não me soltou de jeito nenhum. Suas mãos firmes em minha cintura, como se segurassem algo valioso.
- Você tem razão. - sussurrou, encostando a testa na minha, soltando um riso fraco e encostando os lábios nos meus novamente, num selinho demorado - Não quero parar.

Capítulo 8

's POV
Foi o álcool? Não, não estava nenhum pouco bêbado.
Foi a carência? Não.
Foi a burrice, o momento, a idiotice? Talvez sim.
Não estava arrependido, nem mesmo por um segundo, mas sim ansioso. Não queria que pensasse que aquilo tinha sido algo super planejado ou algo do tipo, foi apenas a vontade do momento. Não queria ter um conversa sobre aquilo também.
Provavelmente pisaria em ovos novamente em relação à mulheres depois de Phoebe. Me deixava com a consciência menos pesada em saber que ela estava indo bem.
Coloquei a camiseta, saindo do trailer e indo em direção a saída.
Fim do final de semana, hora de trabalhar.
- ! - a voz de Voight me chamou, me fazendo parar e olhar pra trás - Não precisa ir até a casa de Roy hoje.
- Por que? Não é dia de pegar o dinheiro?
- É, mas não precisa ir.
Estranhei.
- Por que, Voight? - insisti, mesmo sabendo que seria difícil arrancar qualquer vestígio do real motivo daquilo.
- Eu mesmo vou buscar, , só isso! - ele respondeu nervoso e saiu.
Eu tentava ignorar aquilo a todo custo, mas sempre tinha esse tipo de momento pra me lembrar de certas coisas. Quando cheguei, peguei Voight conversando com Holt, dizendo que não tinha coragem de me por pra trabalhar por aqui, mas que precisava, caso contrário, as pessoas desconfiariam de algo e achariam ruim.
Obviamente que eu jamais aceitaria ficar ali de braços cruzados, mesmo tendo que ouvir tanta merda o tempo inteiro. Quando perguntei o porquê daquilo, Voight disse que simplesmente já estavam cheios de gente em todos os postos, não precisava de mais ninguém.
Bela merda. Reclamei tanto que o homem me colocou pra trabalhar no mesmo dia. Meses cuidando da entrada até finalmente fazer as rondas.
Com a .
Respirei fundo, saindo dali também é indo até o carro. Não demorou até ela dar o ar da graça, entrando no veiculo.
Fiquei alguns segundos parado, apenas a olhando, e percebi que ela não queria fazer o mesmo, mas fez. Estava com vergonha ou sei lá o que.
E eu estava com vontade de beijar aquela boca de novo, mas não podia.
Até podia, mas...
- Você quer conversar sobre o que aconteceu? - abri minha boca, era preciso.
Não queria que ficasse um clima estranho, mas também não queria conversar sobre aquilo.
Qual é, eu tenho vinte e seis anos, um beijo é só um beijo.
- Não acho que precise, certo? - me encarou séria - Foi só um beijo, nada demais.
Ótimo!
- Isso aí.
colocou Khalid pra tocar e não abriu a boca por minutos, mas não aguentou, pediu pra dirigir.
Estava indo bem, era focada, já não perdia a paciência com a embreagem e o freio do carro.
- Pelo amor de Deus, vamos parar em algum lugar e comer! Não sei pra que diabos o Voight acha que é necessário a gente fazer isso todo dia, não acontece nada nessas ruas! - o modo reclamona foi ativado enquanto trocávamos de lugar novamente, ela ainda não tinha tanta confiança pra dirigir por muitas ruas.
- Não acontece nada justamente por estarmos pelas ruas, .
- Sério que você acha isso? - me olhou indignada - Se um assalto estiver rolando por aqui, o que vamos fazer?
- Eu to aqui há meses e sei que por aqui não acontece esse tipo de coisa. Aqui é um bairro que vive uma gangue e vende drogas sem parar, assim como outros bairros também. Não é um lugar pra assaltos, você sabe. - respondi sincero.
O bairro era protegido sempre. Os moradores eram em parte unidos, sabiam o que rolava ali e sabiam que os The Lions os ajudariam em qualquer coisa que precisassem.
Seria mais legal se não fosse tão errado.
- Eu sei, eu cresci aqui. É que sei lá... - bufou levemente irritada. Era nítido que aquela situação a irritava, não era nada do que ela queria - Podemos comer? - me olhou pidona, junto a um sorriso.
- O que você quer comer, mocinha?
- Sei lá, qualquer coisa. - riu - Não tenho como escolher muito né, olha o horário. Onde estiver aberto, serve.
Pisei fundo, pensando no único lugar que estaria aberto àquela hora. Minha atenção ficava entre a rua e . Eu não gostava de captar ou sentir certas coisas, mas parecia impossível não sentir com ela ali. Dava pra perceber que estava lotada de sentimentos e sensações.
Um lado meu queria saber cada coisinha. O outro... Foda se.
O farol alto do carro de trás chamou minha atenção. A raiva tomou conta de mim no mesmo instante em que percebi quem era.
- ... - a chamei tranquilo, e seu olhar apreensivo já entregava seu nervoso por perceber o que estava acontecendo.
De novo.
- Você não vai parar dessa vez, certo? Se for pra passar o mesmo nervoso, é melhor simplesmente voltarmos, .
- Ou seja, fugir deles? Na nossa própria área? Nem ferrando, .
Minha ignorância acabava falando mais alto algumas vezes. Eu podia sim simplesmente acelerar, ir embora e pronto. Eu sabia o que aconteceria do começo ao fim pela milésima vez. Deveria me poupar, mas não.
Fui desacelerando o carro aos poucos, o encostando de vez. Fizeram o mesmo, mas dessa vez, saíram do carro. Os dois.
Eu queria ignorar o nervoso e meu coração acelerado, mas não dava. Não existe ser humano no mundo que não se sentiria nervoso numa situação dessas.
- Semanas se passaram e nada mudou, . Você sabe que paciência tem limite, não é? - aquele porco com a voz lotada de deboche se abaixou, ficando de frente com a janela, olhando diretamente pra mim.
- Sei sim, Fields, e estou tranquilo com isso. - abri meu melhor sorriso sarcástico, fazendo o homem desabrochar sua raiva. Deu um soco na porta do carro, com a cara brava.
- Cansei dessa merda, , sai desse carro. - ele praticamente berrou.
Não pensei duas vezes, só abri a porta e saí. Todo o meu senso já tinha ido pro inferno. Fields tentou me dar o primeiro soco, mas desviei. Não me livrei do segundo, sendo dado por Morgan.
Dois contra um.
Eu queria aquilo. Queria a confusão. De alguma forma, era a única merda que me ajudava a liberar toda aquela raiva.
Acertei um soco bem no meio da cara de Morgan, que estava ao meu lado. Fields me puxou pelo colarinho da jaqueta, me empurrando contra o carro.
Em um segundo, vi o atacando por trás, o fazendo me soltar no mesmo instante. Por instantes, me vi impactado com a cena, enquanto Morgan se recuperava do soco que dei. simplesmente usava um controle e golpes bem pensados em poucos segundos.
Um soco na minha cara.
Fui acordado daquele transe com a mão fechada de Morgan cheio de raiva no meu rosto. O olhei furioso, pronto pra atacar novamente, até ouvir um gemido.
De dor.
Da .
- Está mesmo achando que pode me enfrentar, princesa? Porque não pode. - Fields a segurava pelos braços de modo totalmente não delicado ou gentil, a encurralando no carro - Agora, vamos assistir esse imbecil do apanhar, o que acha? - ele a virou de modo bruto, ficando por trás dela e segurando suas mãos pra trás também.
Aquilo aumentou minha raiva num nível que eu pensei que não era possível. A covardia estava no limite. não tinha nada a ver com aquilo, não merecia ser tocada por um filho da puta daqueles.
Voei pra cima de Fields, mas fui impedido. Morgan agarrou minha jaqueta por trás, me puxando com tanta força que me fez cair. Droga. Tentei me levantar rápido, e assim que consegui, fui atingido por mais um soco. Revidei com a maior vontade do mundo, acertando seu rosto novamente e me curvando dos seus ataques.
Me acertou bem na boca do estômago. Eu já nem sabia o que era respirar e nem sentia meus pés no chão. O dei uma rasteira, sem
paciência nenhuma pra prolongar mais aquilo. Assim que seu corpo foi pro chão, não perdi tempo em e abaixar e desferir o máximo de raiva que pude através dos meus punhos.
Senti alguém me puxando pra sair de cima do rapaz caído. Fields. Me empurrou com força, me fazendo bater as costas no carro que já tinha apanhado tanto quanto nós, mas não se reaproximou.
Olhei rápido pra , agora livre, mas assustada. Me aproximei rapidamente, ficando à frente do seu corpo. Não deixaria mais ninguém encostar um dedo nela.
Fields ajudou Morgan a se levantar, e em seguida os dois olhares pegando fogo em ódio me encontraram.
- Já chega, . Agora vocês vão ver pra valer o que é dor. - Morgan cuspiu as palavras cheio de ódio, dando meia volta indo em direção ao carro, que saiu dali cantando pneu e sumindo da minha vista em questão de segundos.
Mil coisas passavam dentro de mim, mas ignorei todas.
- Você tá bem? - me virei desesperado, analisando cada parte do corpo de .
- Tô. - foi só o que ela conseguiu dizer.
Não estava chorando, não estava desesperada. Estava com o semblante assustado feito uma criancinha com medo do escuro, embora tenha mostrado ser exatamente o contrário.
- Você enfrentou um homem três vezes maior que você, garota! - talvez não fosse o momento, mas aquilo foi demais e ela precisava saber. Simplesmente foda demais.
- Voight me fazia treinar pra isso, e pelo jeito não adiantou muito, já que...
- Ei! - interrompi assim que notei onde aquilo ia parar. Não deixaria que ela se culpasse por aquilo, nem fodendo! - Você foi corajosa pra caralho, tem noção disso? Foi até melhor que eu! - usei um pouco de bom humor, logo sentindo aquele gosto de sangue invadir minha boca, se misturando com a minha saliva.
Com a ponta da blusa na mão, passou pelo meu nariz, limpando meu sangue.
Entramos no carro e eu simplesmente precisei checa-la de cinco em cinco segundos o caminho inteiro. Precisava ter certeza de que estava bem mesmo.
Estacionei o carro de qualquer jeito, recebendo olhares confusos dos dois rapazes que cuidavam da entrada.
- Tá bem mesmo? Consegue andar? - perguntei apreensivo, recebendo um olhar torto como resposta.
- , ele só segurou meus braços, só isso! Eu estou normal, não apanhei, você sim! - apontou pro meu nariz, que seguia sangrando sem parar.
Entramos ali novamente e embora algumas partes do meu corpo estivessem doendo, não quis mostrar. Voight saiu do escritório assim que nos viu através da janela.
- O que aconteceu?
- O mesmo, só um pouquinho diferente. - apontei para o sangue que escorria do meu nariz com um falso bom humor.
Com menos adrenalina no corpo, dava pra parar e pensar que aquilo fora só o começo mesmo. Paul e todos os Ghosts estavam putos e eu odiava a ideia de que grande parte daquilo era por um deslize do meu pai. Um erro. Uma confusão.
- Caralho, , você tá legal? - ele se aproximou rápido.
- Claro que não! Ele acabou de apanhar e eu nem consegui ajudar, sabia? Tinha um armário me segurando e me fazendo assistir aquilo tudo como se fosse um show. Que merda, Voight, você disse que não me daria nada pesado, lembra? Eu não pensei que esse tipo de coisa pra você é considerado tranquilo! - saiu em disparada, quase atropelando as próprias palavras por tanta indignação.
- Que? Encostaram em você?
Aquele momento.
Dava pra ver o ódio e a preocupação de Voight. claramente não enxergava no momento, estava com raiva demais, mas era nítido a indignação por ouvir o ocorrido.
- Um deles me segurou, me fez ficar vendo tudo, foi isso. - respondeu cansada, e agora, menos assustada - Você tem gelo?
- , eu sei que...
- Tem gelo? - ela refez a pergunta, claramente sem saco pra qualquer conversa no momento. Voight pareceu entender o sinal, apenas dando as costas de volta ao escritório, voltando com uma bolsa de gelo.
- Isso não vai acontecer de novo, tá legal? - se pôs em frente à , a olhando nos olhos e falando tão sério que poderia arrepiar qualquer um.
Ela o olhava totalmente descrente. Talvez fosse o choque da situação misturados com a raiva.
- Vamos, . - começou a andar em direção ao trailer, e olhei pra Voight uma última vez, que tinha um olhar entre bravo e tocado com o que tinha acabado de acontecer.
bateu a porta do seu trailer com força, apontando pra cama para que eu sentasse, e sem aviso prévio, enfiou a bolsa de gelo no meu rosto.
- Porra! - gemi baixo ao sentir aquilo na minha pele, olhando pra cima e encontrando uma bicuda, de cara feia, porém segurando firme a bolsa de gelo em minha bochecha.
Tava puta com Voight, dava pra ver de longe.
- Shhh. - demandou nervosa, deixando claro que sua raiva tinha transbordado e sobrado até pra mim.
- Qual é, você sabe como isso tudo funciona, . - comecei destemido. Ela precisava ouvir - Nunca vai ter trabalho tranquilo ou fácil aqui e não adianta você ficar brava com Voight por esses acontecimentos, não é culpa dele.
- E é de quem? Minha? - retrucou debochada, mas sem tirar a bolsa de gelo do meu rosto. Seguia com a cara bravona, ainda mais.
Estava simplesmente incrível.
- São muitas coisas envolvidas pra você colocar a culpa só nele, . Eu sei que é difícil pra você estar aqui ou aceitar que precisa dele, mas o cara tá sempre disposto a tudo por você e nada muda. Não é do jeito mais honesto do mundo, mas ele ajuda um monte de gente, daqui e de fora, e eu sei que você sabe, melhor que eu até. - continuei falando sincero, mesmo sem pensar na possibilidade dela enfiar a bolsa de gelo no meu nariz, mas não.
bufou, apertando os olhos e sentando ao meu lado, acabando com o contato entre a minha pele e a bolsa de gelo, encarando o além por longos segundos. Talvez meu discurso tivesse feito efeito.
- Eu to sempre nervosa, . Eu queria me controlar melhor, queria analisar primeiro antes de sair falando, mas não consigo!
Seu olhar decepcionado estava estampado e ela não se esforçou pra esconder. Naquele momento, aquilo não importava. Ela respirou fundo, virando o corpo um pouco mais pro lado e voltando a segurar a bolsa de gelo em meu rosto.
- ...
- Por favor, , eu só...
- Tudo bem estar nervosa, sério. Eu sempre estou também! - revelei tranquilo, tendo toda a sua atenção pra mim.
- O que você faz pra aliviar? - ela praticamente sussurrou, tão vulnerável que por um segundo, senti pena, mas aquilo era tudo o que ela não precisava, e tenho certeza que nem queria.
- Não sou a melhor pessoa pra te responder isso, porque desde quando cheguei aqui me tornei mais impulsivo, mas o boxe sempre me ajudou. Que tal tentar um dia? Conheço um lugar por aqui. - eu quis ser legal. Precisava ser. merecia, porque embora nos conhecemos tão pouco, ela já mostrava tanto.
Perdida, mas muito forte.
Qual é, ela só tem 19 anos.
- Obrigada por... ser bacana comigo. E tentar ajudar. E aconselhar. - mais uma vez, sua voz não passava de sussurros.
Talvez ainda estivesse dominada pela raiva ou talvez aquela tristeza que te invade e te deixa quase sem rumo. A encarei firme, e mais uma vez, tirou o gelo do meu rosto, apenas me encarando de volta.
Era simplesmente impossível não se fissurar em cada detalhe. Ela era linda e eu sabia que nunca precisou ser lembrada disso toda hora.
Eu queria poder ter a capacidade de parar meus pensamentos, parar de olhar pra sua boca, mas era impossível, e pior; no fundo, eu nem queria mesmo. Qualquer alerta, cuidado ou qualquer coisa que me lembrasse de ficar longe de ou de qualquer outra mulher por enquanto simplesmente não estava presente.
Eu queria.
Ela também.
Nossos rostos foram se aproximando com certa pressa, mas assim que nossas bocas se tocaram e nossas línguas se encontraram, tudo parecia ter parado.
Calmo, gostoso e cheio de calor.
Não tinha pressa porque nossas bocas se exploravam de forma tão cuidadosa e ao mesmo tempo tão ousada, mas assim assim, não tinha pressa.
Segurei seu rosto com as duas mãos, mas logo uma delas foi descendo até sua cintura, onde dei uma apertada de leve, sentindo aquilo com gosto em minhas mãos.
O corpo de foi virando cada vez mais conforme eu apertava seu corpo mais pra mim, e de maneira calma eu fui me deitando em sua cama, com seu corpo me acompanhando e se encaixando em cima do meu.
Porra.
Estava calor. Pra caralho. Ela era o calor.
Pausamos o beijo e por alguns segundos nos olhamos. Pela primeira vez, eu estava incerto do que podia acontecer. Queria decifrar seu olhar, mas eu tinha certeza que ela sentia o mesmo, a mesma dúvida.
Ousei em puxar seu rosto pra mais perto novamente, iniciando novamente um beijo que agora, vinha um pouco mais feroz. Minhas mãos seguravam sua cintura na certeza de manter seu corpo ali, naquela posição, totalmente encaixado no meu. Excitação pura, e nem mesmo me esforcei em espantar o tanto de pensamento impuro que veio em minha mente com todo aquele contato. puxou meu lábio de maneira tão gostosa, tão excitante e tão inédita que eu apenas queria mais. Mais dela, mais de nós. Caminhei minhas mãos até sua bunda, na maior ousadia até então, sabendo do risco que corria, mas um gemido tão fraco e tão gostoso saiu de sua boca que eu me permiti sorrir em meio ao beijo.
passou a beijar meu pescoço, me causando tantos arrepios seguidos que só serviram pra aumentar o tesão que eu já estava sentido.
Três batidas na porta.
quase deu um pulo de tanto susto, se sentando no mesmo instante.
Minha mente foi longe com tal visão e sensação. A única coisa que me impedia de estar dentro dela era as malditas roupas, porque já estávamos em posição perfeita.
Caralho, chega!
- , eu quero conversar com você! - a voz de Voight demandava alto do lado de fora.
A garota apertou os olhos irritada, me encarando em seguida. Ela analisou a posição em que estávamos, levantando às pressas, como se só naquele instante tivesse voltado a realidade e se tocado do que estávamos fazendo.
E ocorreu o mesmo comigo.
Eu sabia que a culpa provavelmente viria por ter acontecido uma segunda vez, sendo que não era nem pra ter acontecido uma primeira.
- Te encontro no escritório daqui a pouco, estou cuidando do rosto inchado do . - ela usou o tom mais firme que pode, procurando pela bolsa de gelo que estava caída no chão, a colocando no meu rosto de uma vez, por puro nervosismo.
- Estou esperando. - Voight finalizou.
respirou fundo depois de alguns segundos, como se tivesse prendido a respiração por todo esse tempo.
Me olhou com os olhos quase arregalados, tirando pela milésima vez a bolsa de gelo do meu rosto, a jogando na cama.
- O que foi isso? - questionou confusa, como se tivesse sido substituída por uma outra versão de si mesma, a versão que tinha me beijado.
- Foi mal. - foi a única coisa que consegui dizer, pra já evitar alguma possível confusão.
Mas aquela confusão não era de arrependimento, era pelo contrário. Por mais que eu já estivesse em uma luta interna comigo mesmo, eu estava na mesma situação que ela.
- É que...
- Não vai acontecer de novo, pode ficar tranquila.
- Você não gostou? - cerrava os olhos, agora certamente confusa de verdade e eu quis rir.
- Claro que gostei, só que... Não é certo. - embora na minha cabeça eu já tivesse essa coisa formada em dar um tempo de tudo relacionado a mulheres, agora eu me encontrava confuso.
- Por que?
Eu não esperava aquela conversa e muito menos aquela pergunta. O senso que me faltou naqueles minutos me atingiu em cheio.
- Porque seria estranho, . Não posso ficar te beijando aqui e ali o tempo todo. - aquilo saiu de maneira tão rude, mas não foi intencional.
O olhar da garota se despertou, como se ela acordasse pra realidade novamente e entendesse o que estava acontecendo.
-Aham. - ajeitou sua roupa, abrindo a porta e me olhando, me convidando com o olhar pra me retirar dali.

——

O mesmo pensamento me acompanhava durante o banho. Não estava em um dos meus melhores dias, não estava me sentindo o suficiente pra mim e nem pra ninguém. De meses pra cá, eu vivia esquecendo de tudo que já fiz, das lutas que venci e das que perdi, porque essas também fazem parte de quem eu sou. Desanimado pra caralho.
Phoebe cruzou pelos meus pensamentos e eu queria saber como ela estava. Queria entender em que ponto ela se apaixonou por mim, o que eu fiz pra isso.
Não que eu não mereça amor, alguém legal ou esse tipo de coisa, mas eu não estava em minha melhor época, em minhas melhores condições.
Sienna veio em seguida, grudando novamente em meus pensamentos.
Me lembrei no mesmo instante porque não merecia amor ou alguém legal.
Queria me livrar daquilo, de verdade, mas nunca soube como. Ela nunca nem me deixou uma dica em como seguir depois de tudo o que aconteceu. E tudo bem, não era sua obrigação, mas eu esperava um pouco menos de... dureza.
Desliguei o chuveiro, me trocando e colocando a toalha no enorme varal que tinha ali fora.
A culpa que eu sabia que viria, veio. Era um ciclo. Coisas ruins aconteciam ali por conta do meu pai. Beleza, não era exatamente por conta dele, era um homem inocente, mas ainda assim, coisas aconteciam por sua causa, e consequentemente isso tinha ligação comigo.
Lembrar de sendo segurada por aquele porco me deixava cheio de ódio. Mesmo com o que tinha acontecido entre nós, precisávamos seguir e eu precisava ser legal com ela. Tudo o que eu não precisava era mais alguém ali me odiando.
Bati na porta do seu trailer, e fui atendido com rapidez.
Eu queria não ter notado que ela prendeu a respiração por alguns segundos assim que me viu, e também queria ter ignorado a onda de arrepios que me atingiu.
Atração? Excitação? Tudo junto?
- Oi. - ela disse.
- Te falei do boxe ontem, lembra? - sorri de canto, indo direto ao ponto - Se não estiver fazendo nada importante agora, podemos ir lá agora.
- Vou me trocar. - fechou a porta rapidamente, não me fazendo esperar muito.
A legging preta com uma blusinha simples, bem coladinha e com direito à metade da sua barriga a mostra merecia atenção. Não era nada especial, mas ficou incrível nela.
Andamos em direção à minha moto em silêncio, e tenho que admitir que o calor do corpo de perto do meu era agradável. Suas mãos em minha volta, me segurando com força era gostoso. Não foi um trajeto longo, e eu pude ver a animação de em seu olhar.
A academia de luta que eu frequentava há meses graças a Scott e Cohen vivia me salvando nos meus picos de raiva. Adentramos o local e a garota analisava tudo.
- ! - Tristan veio ao meu encontro, me cumprimentando alegre, fazendo o mesmo com , perguntando quem era de modo simpático.
Tristan era ótimo e eu sabia que estaria em boas mãos. Os dois entraram numa conversa que durou longos minutos, só reparei que tinha acabado quando apareceu em minha frente.
- Você vai ficar aí parado? - perguntou curiosa.
- Vou. Hoje vou só te observar e depois esperar você me agradecer e dizer que foi uma das melhores coisas que você já experimentou. - meu tom totalmente convencido e debochado a fez rir. Ela sabia que eu estava falando sério, mas escolhi fazer graça.
- Convencido demais, mocinho. - colocou as mãos na cintura, me olhando de maneira engraçada.
Tinham outras pessoas ali fazendo varias atividades, mas meu olhar não saía de . Depois de ser orientada e equipada, ela mandou pra valer. Era só um teste, algo mais descontraído, sem muitas cobranças. Tristan a incentivava alto e eu já podia dizer que estava orgulhoso por ter feito algo bom pra .
Carregar raiva demais nunca é bom.
Nenhum sentimento por demais é bom. Nenhum.
Assim que acabou, veio ao meu encontro descabelada e suada, mas nem aquilo a deixava menos bonita, muito pelo contrário. Estava sexy.
- E aí? - perguntei animado e ansioso.
fez uma cara feia e eu quase arregalei meus olhos, mas sua risada veio à tona.
- Ok, foi uma das melhores coisas que eu já experimentei. - ela jogou os braços no ar, se rendendo, ainda rindo.
Pensar em Phoebe ou Sienna me deixava num poço de aflição, mas ver a animação de me levava a pensar que eu não servia só pra ferrar as pessoas.
O problema é que...
O problema sou eu mesmo.
Quando eu me perco e acabo as ferrando, mesmo sem querer.
Não queria que fosse mais uma que no futuro ficasse apenas nos meus pensamentos me atazanando e me lembrando como posso ser um merda.
Não deixaria isso acontecer.
Pelo menos tentaria.

Capítulo 9

's POV
Tenho que admitir, aquilo tinha sido bom. De alguma maneira, tudo o que eu pensava sumiu da minha mente, tinha só eu e minha raiva, e eu me sentia menos pesada em cada golpe que eu dava. parecia orgulhoso e feliz comigo.
A essa altura, as batidas do meu coração davam grandes oscilações quando ele estava por perto, de tanto nervoso, tensão, e porra, atração. Eu quase me senti culpada por um outro beijo ter acontecido, mas não. Eu sabia que ele não era alguém fácil de lidar, já estava óbvio, mas eu queria deixar toda aquela porcaria de lado e simplesmente o beijar mais mil vezes.
A volta foi tão tranquila quanto a ida. Fui direto pra o banho, encontrando Lydia na saída com Keith nos braços.
- Oi, bebê! - falei animada, estendendo a toalha rapidamente e o segurando nos braços.
- ! Como você está? - Lydia perguntou doce.
- Estou bem, e você?
- Estou cansada pelo trabalho novo, mas estou bem. Preciso te contar uma coisa. - observei seu olhar, e a tristeza e alegria mesclavam ali.
- O que foi?
- Vou me mudar, vou voltar pra casa da minha mãe.
- Lydia... - tombei a cabeça pro lado, num tom tristonho. Eu sabia que não era o que ela queria, mas também entendi rápido o motivo - Você sempre disse que não voltaria mais, lembra?
- Acredite, eu não quero voltar, mas também não quero criar meu filho em um trailer. Preciso me reerguer, sabe? Eu fui abandonada por um homem que eu jurava que me amava, e Voight já conversou com ele, já fez o que tinha que fazer, mas eu não quero mais, só que preciso ajeitar minha vida. Minha mãe continua sendo minha mãe apesar de tudo, e ela ama o Keith, então... - Lydia suspirou.
Eu abri um sorriso, e nem se eu quisesse o segurar, não conseguiria. Eu estava feliz por ver que ela estava fazendo o melhor por Keith. Mesmo amando os The Lions, claramente não era seu desejo ficar ali a vida toda, o que me deixava mais feliz.
- Estou orgulhosa de você, Lyd. - a abracei no mesmo instante, quase esmagando Keith no meio de nós - Você é uma mulher e uma mãe incrível. Keith tem sorte.
- Não fala assim. - a sua voz já embargada chamou minha atenção. Rimos juntas, enquanto as lágrimas caíam de seus olhos - Vou daqui três dias, mas você, , e todo mundo tem que ir me visitar, ok? Não é um convite, é uma ordem! - ela soltou uma gargalhada gostosa, em meio ao choro.
- Mas é claro! E se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, pode me ligar, está ouvindo?
Ficamos naquele momento gostoso por longos minutos, embarcando em assuntos aleatórios, até que ela se lembrou de entrar de fato no banheiro e tomar banho com Keith. Andei até meu trailer novamente, que era o lugar que eu mais ficava desde quando voltei. Era o meu cantinho, mas me incomodava ficar tão parada. me esganaria se ainda morasse aqui, nunca que ela me permitiria ficar trancada por tanto tempo, apenas mandando currículos pra empresas que provavelmente nem abriam os meus e-mails e lendo livros de tecnologia.
Quase pulei de um susto ao ver Voight e em frente ao meu trailer.
- Aí está você! - Voight disse numa falsa animação - Só queria avisar que vocês dois não precisam trabalhar hoje. Estamos fazendo algumas mudanças e hoje vamos suspender tudo. - finalizou sério, mas com um quase sorriso se abrindo pra mim.
Voight me parecia diferente, e eu entedia completamente. Paul provavelmente estava tramando algo e ele precisava de um bom plano pra revidar, mas desde a noite passava, quando ele estragou totalmente o que eu e estávamos fazendo, ele parecia mais apreensivo do que nunca. Ele queria ter certeza de que eu estava bem e como eu estava me sentindo naquele trabalho que me foi dado. Por segundos eu admirei sua preocupação, eu vivia brava com ele, mas aquilo me parecia ser algo a mais. Eu estava tentando ignorar, mas parecia estar ficando mais sério.
- Que mudanças? - perguntei curiosa.
- Mudanças. Precisamos ter certeza de que está tudo certo por aqui, tenho alguém no meu pé agora, se lembra? - ele foi sincero, mas ainda assim, algo me parecia confuso e eu tinha a oportunidade perfeita em tirar a minha dúvida.
- Vocês sempre sabem de tudo, Voight, sempre! Como que Paul culpa tanto assim o pai de sendo que ele nem mesmo é o culpado disso tudo? Ele deveria ir atrás do sócio dele, quem realmente fez a besteira.
- , entenda que Paul não liga pra quem é culpado ou não. Se a bomba cair em cima de uma pessoa, ou ela paga o acordo que ele propõe ou se vira em consertar de outro jeito. - ele se manteve sério e até rude, como se eu tivesse perguntado um absurdo.
me olhava sério também, mas eu podia perceber que ele tinha gostado daquilo.
- Ele também sabe que o pai do não tem duzentas mil libras, então isso quer dizer que ele vai viver nesse inferno pra sempre? - cruzei os braços irritada.
Qual é?
- Agora com essa confusão, outras pessoas vão querer se aproveitar, eu preciso redobrar a segurança desse lugar, e isso do pai do eu que resolvo. Você nunca se importou ou quis saber com o que acontece aqui! - ele cuspiu as palavras de maneira totalmente grosseira, e não vi um pingo de arrependimento em seu olhar.
- E você me contaria se eu me interessasse? Aliás, fez esse papel de bonzinho esse tempo todo, me disse que ia me dar um trabalho tranquilo e até então eu tive que encarar aqueles capangas do Paul duas vezes. Isso é tranquilo pra você? - minha raiva tomou conta de mim, e eu sabia que estava praticamente gritando. O olhar furioso de Voight foi algo novo, e o olhar apreensivo e nervoso de me deixou pior.
Eu tinha o direito de explodir!
- Simples, não precisa mais fazer nada aqui, tá legal? Não precisa trabalhar, não precisa de mais nada. Está bom pra você assim? É isso o que quer? - Voight gritou ainda mais alto, e me encolhi. Me senti ridícula, me senti mal e a raiva foi sumindo a cada palavra que ele berrava.
Eu tinha feito aquilo. Eu tinha o deixado nervoso àquele ponto. Eu abri a boca varias vezes pra dizer algo, mas nada saiu. Senti a mão de entrar em contato com a minha, me puxando com gentileza em direção ao seu trailer, onde me sentei em sua cama ainda chocada.
- ...
- Eu fiz isso! Eu o deixei bravo! Ele nunca fica bravo comigo, você tem noção disso?
- Não faz isso. Ele tem um monte de coisa pra pensar agora, por isso que ele explodiu desse jeito. - se sentou ao meu lado, numa calmaria tão grande que me irritou novamente.
- Cala a boca. - sussurrei, passando as mãos pelos cabelos de maneira nervosa.
- Você vai ficar se culpando por isso? Sério? - arqueou as sobrancelhas e por um instante eu quis dar um soco naquele rosto perfeito.
- E você por acaso tem alguma moral pra falar disso? Você se culpa pelo o que acontece aqui sendo que nem é sua culpa também. O que seu pai fez ou não, não deveria virar seu fardo, mas mesmo assim você o carrega, não é? - esbanjei toda aquela raiva em cima dele, e desejei rapidamente que não tivesse o feito.
O olhar de se transformou, como se tudo de bom que tivesse ali, sumisse.
- Você não tem o direito de usar isso contra mim, está me ouvindo? - ele se levantou, ficando de frente pra mim, e erguer minha cabeça pra olhar aquela expressão totalmente brava e nervosa me deu um arrepio que mais parecia um choque.
Mas eu queria continuar. Eu queria cutucar seus limites, queria ver até onde ele ia. Eu queria aquilo.
Me levantei também, sabendo que aquilo era errado demais, eu não deveria usar nada daquilo contra ele mesmo, mas levei em conta que aquilo poderia ser considerado como um... debate?!
- Eu posso fazer o que eu quiser, . Sabe por que? - dei um passo à frente, encostando nossos corpos e quase nossos rostos - Porque querendo ou não, eu acho que somos um pouco parecidos. Nesse pouco tempo eu pude perceber, e sei que você também. Mas eu entendo, de verdade. Geralmente damos conselhos que gostaríamos de seguir, não é? - firmei meu olhar no seu, totalmente cínica.
Eu queria pelo menos pensar na ideia de parar, mas não queria. Por Deus, nem ferrando que eu queria! Podia sentir a tensão no ar e pura excitação. Aquele joguinho quase sempre funcionava. Um super clichê, mas é verdade.
- Não somos parecidos, garota. - sua voz finalmente saiu, quase que rouca. No momento não tinha timidez, não tinha barreira nenhuma que me impedisse de me aproveitar do momento. Dei mais um passo à frente, colando nossos corpos pra valer, levando rapidamente minhas mãos até sua nuca - Para! - pediu manhoso, mas nem de longe era o que ele queria.
Talvez fosse todo o tesão acumulado por meses, talvez fosse a vontade de beija-lo novamente porque das outras duas vezes tinham sido muito boas, ou talvez eu simplesmente estivesse fora de mim.
- Você não quer que eu pare, . - sussurrei em seu ouvido, começando uma trilha de beijos por ali.
- , pelo amor de Deus! - pude sentir que ele tirou forças não sei de onde pra ser mais duro. Levou suas mãos até minha cintura, afastando meu corpo do seu.
A realidade caiu em cima de mim e me senti completamente ridícula.
- O que foi? - perguntei assustada.
- Você tem dezenove anos. Eu não quero estragar você. - disse sério, ainda me segurando pela cintura, mas sem se aproximar.
Minha mente trabalhou rápido. Eu me sentia ridícula, mas também o achei ridículo. Não querer me estragar? Falar da minha idade? Por favor!
- Você vai mesmo colocar minha idade no meio? Não sou nenhuma bonequinha, e você nem é tão mais velho assim. - segurei em suas mãos com firmeza, as tirando da minha cintura e aproximando meu corpo no dele novamente - E outra, você nunca me estragaria. Eu nunca te daria esse poder. - finalizei firme, olhando diretamente em seus olhos.
- Você não pode afirmar nada, . A vida é imprevisível.
- Eu falo sério. Eu não preciso que ninguém me estrague, às vezes eu faço isso por mim mesma. - arqueei as sobrancelhas - Você vai mesmo continuar nisso? Tem medo de algo?
Ele riu alto.
- Medo? Do que, de você? - perguntou sarcástico em meio aos risos, e por um instante me senti vitoriosa, tinha o trago pra o meu joguinho ridículo de sedução. Ele me segurou firme pela cintura novamente, colando nossos corpos sem gentileza, se aproximando do meu ouvido - Quer tanto me beijar assim? - ele soltou uma risada fraca, agora, ele dando início a uma trilha de beijinhos em meu pescoço que eu podia jurar que já tinham me levado ao céu. Seu toque, do jeito que fosse, poderia me derreter.
- Acho ridículo você com vinte e seis anos achando que vai me estragar. Está fugindo de algo? Não superou a ex? O que é? - atirei pra todos os lados, quase desistindo de falar. Só queria sentir seu toque e seus lábios.
parou de fazer o que estava fazendo, puxou meu rosto para que eu o encarasse, e foi nisso que eu já me sentia derretida. Eu estava praticamente implorando por ele feito uma ridícula. Seu olhar firme, forte e com tantas coisas ali e eu mal conseguia decifrar uma. Era impossível. Ele não demorou pra encostar nossos lábios, com certa pressa e braveza. Nossos corpos já estavam tão colados, e ainda assim não parecia o suficiente. Ele, o momento, todo aquele contato... era como ter todas as sensações do mundo em um beijo só.
- ... - sussurrou meu apelido em meio ao beijo, abrindo os olhos lentamente, encostando nossos narizes de maneira delicada - Eu não posso estragar você. - ele reafirmou aquilo de maneira diferente. Como se ele tivesse certeza que aquilo aconteceria.
- , foi só um beijo. Não precisa tratar isso como se fosse algo sério.
- Você não entende.
- Me explica.
- Eu não sou um cara bom, tá legal? - o encarei confusa, me afastando um pouco, encarando seu rosto.
- O que foi? É trauma com alguma ex ou algo do tipo? Porque o pior de tudo seria achar que evitando algo comigo ou com outra pessoa vai mudar ou evitar algo. Acorda, . Vinte e seis anos! - dei um leve tapa em seu ombro, só que mais uma vez, veio aquele olhar indecifrável.
me soltou completamente, se encostando ao lado da porta. Talvez eu tivesse pegado pesado. Nunca tinha passado por aquilo, nunca tinha me apaixonado tão forte e a pessoa me deixou despedaçada.
- Você já namorou sério? - eu sentia que podia vir um grande sermão pela frente.
- Uma vez, durou cinco meses, mas não deu certo. Não morri por isso. - dei os ombros, totalmente incerta de onde ele queria chegar.
Ele abriu a boca, mas nada saiu. Eu queria conversar, queria saber o que se passava pela sua mente, queria tentar ser sua amiga de verdade.
O amor nunca foi algo tão presente assim pra mim. Nunca nem mesmo pensei muito nisso. Sei que um dia, em alguma época, vou ter alguém e talvez a gente construa uma família. Ou viaje pelo mundo. Ou os dois. Não tinha traumas por isso, mesmo me envolvendo varias vezes com alguns garotos, mas nunca dei tanta abertura pra que rolasse uma grande decepção. Eu sabia que ainda tinha muito tempo pra isso. Talvez eu estivesse guardando minha primeira decepção amorosa de verdade pra alguém que valesse a pena. Ou não.
- A vida é mais que isso. - ele soltou aquilo do nada e eu me assustei. Pensei que ele tivesse lido meus pensamentos ou sei lá.
- Vai me dizer que você é daqueles totalmente descrente no amor, não se imagina num casamento e tendo filhos e todo aquele bla bla bla? - perguntei cheia de humor, porque parecia engraçado mesmo. tinha saído de um filme clichê ou o que?
Ele riu e embarcamos na gargalhada juntos.
- É assim que você me enxerga, mocinha? - ele continuava a rir - Por que estamos falando sobre isso mesmo?
- Não faço ideia! É confuso, você não me parece ser um cara ruim, me parece até bom demais pra esse lugar, mas não vou aguentar essa sua bagagem de homem que parece que saiu de um filme. - fui sincera, rindo ainda mais.
Sabia que a maioria carregava esses traumas do passado e eu não queria que parecesse que aquilo não merecesse atenção ou algo do tipo, apenas quis ser engraçada. Por sorte, levou na esportiva, não parecia ofendido nem nada do tipo.
- Tudo isso porque você queria me beijar, essa é a verdade. - ele provocou, com certa malícia em seu olhar.
Estremeci. Ele era lindo demais, mas eu precisava me conter.
- Você que me trouxe pra o seu trailer, não se esqueça disso! - retruquei ainda rindo - E agora? Pra ser sincera, não tenho nenhuma resposta de nada. Além de tudo você é misterioso, ?
- O que você acha?
Bufei, pensando seriamente em desistir do tópico. Ele era difícil, mas me enchia de ansiedade, porque eu sabia que poderia desvendá-lo um pouco todo dia. Aquilo me dava uma estranha animação.
- Será que agora teremos um caso sórdido e selvagem até um dos dois se apaixonar? - arrisquei, mordendo os lábios e vendo sua postura se desconsertar por um momento.
Aquilo o deixava nervoso e pela primeira vez eu enxerguei um limite e não estava interessada em ultrapassar. Fui até a porta, esperando ele sair da frente da mesma, mas ele não se mexeu.
- Você é uma pessoa boa, e Voight também. Vocês precisam conversar, está bem? Não dá pra nenhum dos dois viver nesse pé de guerra.
Abri um sorriso largo.
- Você disse que não é um cara bom, mas é sim. - afirmei aquilo com toda certeza do mundo, vendo o rosto do homem se iluminar. Talvez não o dissessem muito, mas era verdade.
Nossos celulares apitaram ao mesmo tempo. Estranhamos e vimos ao mesmo tempo, era . Tinha acabado de montar um grupo com todos nós, incluindo Cohen, Scott e Lydia, dizendo para a encontrarmos no endereço que eu sabia que era o estúdio que ela gravava.
- Onde é esse lugar? - perguntou.
- É o estúdio que ela grava, aposto que quer a gente lá pra mostrar absolutamente tudo e tagarelar sobre como cada coisinha funciona. - ri baixo, olhando pra ele, que parecia animado.
- Vamos então. - abriu a porta, esperando que eu saísse primeiro. Acabei rindo, o jeito dele era engraçado.
- Oh, claro que eu quero ir com você, . Será uma honra! - forcei um tom mais refinado e elegante, o fazendo rir.
- Você pode ir a pé se quiser então...
- Engraçadinho! - finalmente saí dali, observando Voight de longe, que conversava com Holt.
O homem me olhou por breves segundos, logo desviando o olhar e se concentrando na conversa. Bufei irritada, porque parte de mim estava se sentindo magoada e a outra parte se sentia com raiva, mas nem tanta. Pela primeira vez em muito tempo. Coloquei o capacete e montei na moto, segurando firme em . Fui explicando o caminho aos berros pra que ele entendesse, e em poucos minutos chegamos no local. Mandei mensagem pra , que logo veio nos encontrar na entrada, nos abraçando forte.
- Cadê o resto do pessoal? Não vão vir? - ela perguntou. Olhei pra e ri, e tenho certeza que ele teve o mesmo pensamento. Nem mesmo tínhamos pensado no pessoal.
- Não sei, mas devem vir, ninguém trabalha hoje. - explicou.
- Por que?
- Estão fazendo algumas mudanças. - dei os ombros, já começando a explicar os detalhes enquanto entrávamos no estúdio.
sabia do que acontecia, tia Ellie ainda ajudava Holt mesmo de casa, e gostava de estar ciente de tudo. Contei da minha discussão com Voight e me segurei pra não contar sobre os amassos com . Ela surtaria, ainda não sabia de nada.
No dia da festa, depois do nosso primeiro beijo, nos evitamos durante o resto da noite e eu não tinha forças pra falar nada com ninguém, e parte de mim nem queria, mas era minha melhor amiga e eu tinha prazer em contar as coisas pra ela, mas não muito pra outras pessoas. Tanta exposição em qualquer parte da vida não era a minha cara.
- Você precisa se resolver com Voight de uma vez por todas!
- Eu sei, toda hora alguém me lembra disso. - intercalei o olhar entre e .
Estávamos sentados em um sofá, a luz colorida do lugar dava um efeito bacana, era bem a cara de . Will estava ali, era o amigo que a ajudava em tudo, mas não era de falar muito.
- , é sério. Eu sei que é um saco não ter sua mãe por perto, mas a verdade é que você mal deixou Voight se explicar quando tudo aconteceu. Já faz um ano, daqui a pouco sua mãe sai da cadeia e aí? Você vai continuar nisso? - veio com aqueles puxões de orelha sem medo nenhum, porque sabia que não tinha risco nenhum de levar um soco ou algo do tipo.
ouvia atento.
- Eu vou conversar com Voight, só vou dar um tempinho pra ele esfriar a cabeça. - respondi praticamente encolhida, sabendo que se abrisse a boca e se juntasse com , eu não teria paz.
Ela trouxe alguns energéticos e refrigerantes. Abri uma latinha de red bull e fez o mesmo. Uma mensagem chegou pra , e logo ela deu passos rápidos até a saída. Encarei o homem ao meu lado, e eu não queria ser tão babona, mas olhar pra ela trazia uma calmaria tão grande e em seguida uma enxurrada de sentimentos selvagens.
As vozes de Scott e Cohen se fizeram presente.
- E aí, casal? - Scott chegou brincalhão e eu quase engasguei.
O olhei com os olhos arregalados e balançava a cabeça negativamente.
- Que casal? - franziu as sobrancelhas e logo me encarou com o olhar mais cínico do mundo. Eu sabia que assim que ficássemos sozinhas, o interrogatório viria.
- Nada não, é só uma brincadeira já que os dois estão andando juntos o tempo todo agora. - Scott tentou disfarçar e eu segurei o riso. Parecíamos adolescentes de quinze anos.
- Bem, alguém quer conhecer como a coisa aqui funciona? - perguntou de maneira doce, ainda me encarando, provavelmente se mordendo de curiosidade.
- Eu quero. - se levantou e Cohen se juntou à eles, entrando na cabine de gravação.
Scott se sentou ao meu lado com pressa, com o olhar apreensivo.
- Foi mal! É que eu vi vocês juntos na festa e quis brincar. - foi rápido em se explicar, e achei adorável.
- Tudo bem, sério. - eu entendia, esse tipo de brincadeira sempre vinha quando víamos algum amigo nosso com alguém, ainda mais com homens. Não que fosse imaturidade, eu entendia, de verdade.
Ele ainda parecia sem graça, se levantou e se juntou ao resto. Eu podia ver por trás do vidro o quanto se animava ao explicar os equipamentos dali. Depois de minutos, pude ver ela praticamente os expulsando dali de maneira divertida, ligando tudo e colocando os fones, dando o sinal para Will.
Todos se sentaram no sofá, observando minha amiga cantar. In My Feelings era uma das musicas que eu mais amava de . Ela sempre falava sobre como a letra era importante pra ela mas que queria uma melodia bem animada, e foi exatamente o que ela conseguiu. Eu sabia a letra toda de tanto que já tinha a ouvido cantar, então foi tudo saindo junto e ela sorria enquanto cantava ao me ver cantando junto.

And I don't know why I'm even still here; Can't shake it off, I've been here for years on top of years; And I, I'm ready to, I'm ready to, be off of you; 'Cause I admit, that baby, I, I just may be stuck on you...

Ela dançava de maneira engraçada com a batida do refrão e eu queria fazer o mesmo. Os garotos prestavam atenção e sorriam. parecia vidrado com aquilo.
Assim que terminou, aplaudimos forte. Tinha ficado perfeito, tudo bem a carinha dela.
- O que acharam? - ela saiu da cabine cheia de pose, sabendo que ia receber vários elogios e assim foi.
- Sua voz é incrível, . - Cohen parecia encantado, todo bobinho por ela.
- Obrigada, gente! - ela estava com o sorriso quase rasgando seu rosto - Vocês querem comer? Tem uma lanchonete na esquina, posso buscar alguns lanches. - ela perguntou já sabendo a resposta.
- Eu posso ir se quiser. - propôs.
me olhou e eu sabia muito bem o real motivo por trás daquilo.
- Não precisa. A gente já volta.
Will se levantou pra sair conosco, dizendo que já ia embora. Ele confiava em o suficiente pra fechar o lugar direitinho. Assim que colocamos o pé na rua, eu me poupei de ouvir perguntas intermináveis.
- A gente se beijou no dia da festa. Foi tão do nada, mas tão bom! Aí nos beijamos ontem... E hoje. - esbanjei a verdade totalmente não detalhada só pra ver seu primeiro surto.
Ela sorria e dava gritinhos baixos, mas estava numa felicidade tão grande como se aquilo fosse esperado.
- Meu Deus! Depois de tanto tempo você finalmente ficou com alguém! - ela gargalhou alto e eu também.
Sim, fazia um tempinho. Meu foco estava em como sobreviver sem minha mãe por perto, mas não ficava pra trás!
- Ei, e você ein? Estamos no mesmo barco! - relembrei o que sabíamos.
não gostava de nada sério mas também não gostava de ficar tanto tempo sozinha. Ela era um misto de tudo, mas sempre colocava no topo sua liberdade. Não que estar com alguém significasse perder sua liberdade, mas era espírito livre, estava sempre buscando coisas novas e não tinha paciência pra esperar outra pessoa querer também.
- Bem, estou feliz por você, mas sei que é difícil esperar algo mais sério. Você é dura demais pra isso.
- , foram só alguns beijos, fora que é confuso, sabe? Eu realmente não sei o que esperar dele, e sobre mim, eu também não sei o que esperar. Você sabe que minha vida amorosa nunca foi muito agitada e eu vivo bem assim. Um dia acontece, não é? - abri um sorrisinho que eu sabia que a faria sorrir também.
- Se apaixonar é legal, .
Eu sabia que era. Sempre ouvia sobre o assunto, e mesmo já tendo namorado uma vez, creio que aquilo não era amor, não podia ser. Era entediante. O amor de verdade vem de um jeito avassalador, e essa sensação nunca me atingiu em cinco meses. Mas isso nunca me tirou o sono também.
Não demorou pra chegarmos na lanchonete. Fizemos nossos pedidos e jogamos conversa fora enquanto tudo ficava pronto. Assim que entramos novamente no estúdio já começamos a comer e falar sobre assuntos aleatórios.
Cohen e Scott estavam animados porque compraram motos novas. estava feliz por estarmos ali com ela, ela amava uma bagunça. Eu me sentia diferente por causa do homem ao meu lado, que soltava uma risada tão gostosa quando alguma bobeira era dita que eu poderia ouvir aquele som pra sempre.
Ele preferia ouvir do que falar.
- Próxima sexta eu quero todo mundo indo me ver correr. Depois vai ter uma bebidinhas, gente bonita, um som alto. Tudo o que a gente precisa. - Cohen fazia pausas engraçadas em meio ao convite.
- Correr aonde? - perguntei curiosa.
- Racha, mulher. - ele respondeu tranquilo, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
A verdade é que ali tinha de tudo. Se outra pessoa visse a vida através dos meus olhos, acharia que certas partes fossem de algum filme. Mas ali realmente tinha de tudo. Eu amava isso, mas era péssima em explorar tudo o que eu tinha por perto. Claro, aproveitei muitos lugares com , Lydia e nossas outras amigas, mas eu sempre quis algo a mais. O pior? Todos sabiam. Todos diziam que eu tinha o mesmo espírito da minha mãe, mas ainda não tinha deixado se aflorar. Eu gostava de coisas loucas, embora nem as experimentasse tanto.
- Uau! Tem alguma coisa que vocês não façam? - fiz graça.
O celular de tocou e ela se levantou pra atender. Cohen falava sobre algumas coisas malucas que passou a fazer desde quando entrou para os The Lions e como ele se sentia vivo com aquilo. Nem sempre era só coisa ruim, ele disse, porque nada é só ruim ou só bom, e aparentemente ele sabia lidar com essa mudança muito bem.
No fundo, eu sabia que tinha muito o que aprender com cada um ali. fez um sinal para Scott, que levantou e foi ao seu encontro. Franzi a testa estranhando, mas continuamos a conversar. falava sobre algumas das corridas de Cohen e o quanto as pessoas o adoravam e ao mesmo tempo o detestavam.
Um astro dos rachas? Combinava MUITO com ele.
e Scott voltaram, se sentando e continuando a conversar como se estivesse tudo bem, mas eu sabia que não. era péssima em esconder qualquer coisa que fosse.
Depois de muita conversa e de toda a comida acabar, se levantou, dizendo que precisava ir embora pois trabalharia no dia seguinte. Seu olhar e o de Scott se encontraram, até que dessa vez, ela me deu o sinal para que eu me levantasse e a seguisse.
Fomos até uma outra cabine que tinha ali, mas não tinha vidro, era totalmente discreta e fora do campo de visão dos garotos.
- Holt me ligou e disse que você precisa ficar com aqui pelo menos até a hora de trabalho de vocês acabar. Eu sei que hoje vocês não trabalham, mas Paul pensa que sim, tem gente por aí atrás do e se ele der as caras na rua vão saber e dessa vez vão fazer pior do que fizeram dessa última vez, não vai ser só uns socos.
Eu pude sentir toda a comida no meu estômago se embrulhando e o meu corpo recebendo um pequeno choque de realidade. Eu queria ter o poder de dar um basta naquela história, mas eu nem mesmo sabia direito o que estava acontecendo. Toda essa perseguição com era ridícula.
- Ele vai surtar quando souber. - sussurrei insegura, com medo até das paredes nos ouvir.
E surtou. Pude ouvir sua voz nervosa e alta.
- Cara, é só até às três, o horário que acabaria o seu turno. - Scott tentou amenizar a situação.
- Vocês não entendem! Eu prefiro que eles me encontrem de uma vez, metam a porrada em mim e o caralho que for, porque se não conseguirem, vão tentar atacar em outro ponto, e sabe qual é o outro ponto? Minha mãe e minhas irmãs. - berrou nervoso, e aquilo quase foi o suficiente pra me quebrar no meio.
Dava pra sentir seu desespero. Sua raiva. Sua dor. Ele estava tão aberto, tão vulnerável...
- Eles nunca foram atrás delas, cara, não vão agora. - Cohen tentou.
- VOCÊ NÃO SABE! - ele gritou em resposta, passando as mãos pelo cabelo de maneira agressiva.
Ele estava mais que bravo.
- Chega! Nós vamos sair, vai pra casa e vamos descobrir o que realmente está acontecendo e você vai ficar quieto aqui dentro com a , tá me ouvindo? - Cohen praticamente ordenou, já sem paciência.
Eu não sabia direito como as coisas funcionavam entre eles, mas aquilo não parecia ter funcionado muito bem. seguia furioso.
- Cohen, se alguma coisa acontecer...
- Não vai. Você precisa ter paciência. Eu sei que é foda, é praticamente impossível agora, mas vamos dar um jeito, e se a gente encontrar os capangas do Paul, eu juro que dou uma surra nos dois. Só fica aqui até as três numa boa, beleza? Você consegue. Você é o que mais pensa entre nós, cara!
Aquilo me atingiu de maneira inexplicável. Eles realmente se entendiam no meio de todo nervosismo.
Os três saíram devagar, olhando pra trás pra ter certeza de que não tentaria fazer nenhuma besteira. foi andando e fui a acompanhando, também olhando pra trás, mesmo sabendo que ele estava odiando ser observado como se fosse um bicho feroz.
entregou as chaves em minhas mãos. Eram duas portas pra poder sair dali, e assim que tranquei as duas para voltar, estava me esperando com aquele olhar que facilmente me faria tremer na base, mas mantive minha pose firme. Não podia deixar ele sair dali. Apertei as chaves em minhas mãos, pensando em onde escondê-las. Os passos audíveis de atrás de mim não me deixava pensar rápido, então apenas enfiei o montinho dentro da minha blusa - nos meus seios, pra ser mais exata.
Me virei de uma vez, e o olhar confuso de se fez presente. Me analisou dos pés à cabeça.
- , eu não vou tentar escapar. Eu só... - começou, perdendo as forças e abandonando sua fala.
- Mas você quer. Eu sei que parece tempo demais, mas nada vai acontecer com a sua família, ok? E mesmo se elas não estivessem envolvidas, você não pode simplesmente ir pro meio do fogo cruzado, é isso o que querem. Isso não é brincadeira, e sua vida também não.
Me sentei cansada, como se a situação tivesse sugado metade da minha energia. fez o mesmo, me analisando de maneira séria e forte. Eu me sentia totalmente incapaz em fazer o mesmo. Não queria encarar seus olhos e encontrar dúvidas, porque era difícil decifrá-lo.
O silêncio tomou conta, e me dei a liberdade de me sentar de maneira mais confortável. Eu podia sentir seu olhar sobre mim em alguns momentos, mas o silêncio talvez o fizesse por a cabeça no lugar, pelo menos um pouco.
- Você é uma boa pessoa, .
- Eu sei. - finalmente o olhei.
A quebra de silêncio não tirou o ar tenso que pairava em nós.
- Eu não vou tentar sair, prometo. - ele realmente pareceu sério, mas sendo ou não, nem ferrando eu facilitaria as coisas.
- , a chave tá dentro da minha blusa, no meio dos meus seios. Eu acho que você nem tem como tentar nada, a menos que você seja muito abusado. - revelei sem rodeios, e mesmo querendo manter a seriedade, falhei miseravelmente.
Tudo isso pra impedir que um homem de vinte e seis anos saísse dali antes das três da manhã. O que eu estava vivendo?
- , pelo amor de Jesus Cristo! - ele riu, e só nesse momento eu senti que poderia respirar novamente. Sua risada parecia um bom remédio pra climas tensos - Não, eu não vou enfiar a mão aí, seria uma falta de respeito gigante e você poderia me denunciar por assédio, e eu tenho certeza que não preciso de nada disso. Fora que, repito, eu não vou fazer nada! Não vou medir forças com você, mesmo querendo muito sair daqui e ir direto atrás da minha família e impedir que qualquer merda aconteça.
Eu queria poder ajudá-lo. Queria mesmo. Queria poder parar o mundo, consertar a minha vida, a dele, a de Lydia, e a de todo mundo que fazia parte dos The Lions. Eu queria ter esse poder.
- Eu não posso te deixar sair, mas posso ouvir suas reclamações, sua indignação e sua raiva. Sou toda sua até as três da manhã, . - as palavras foram saindo e minha noção sumindo. Não tinha dito nada na intenção sexual, mas pelo olhar de , ele tinha entendido que sim, ou talvez só estivesse achando graça da minha falta de cuidado. Ele abriu um sorriso malicioso e logo riu - Calma! Não foi isso o que eu quis dizer! - tentei me defender rapidamente.
- Será mesmo? - ergueu uma sobrancelha e foi o suficiente pra eu sentir que qualquer parte do meu corpo fosse cair, porque ele me deixava torta, desconsertada, sem jeito.
- Eu... N... Não sei.
- Se eu te beijar agora, nesse estado, nesse pico de nervosismo no qual eu não posso fazer nada, você acha que algo mudaria entre nós depois? Porque você é uma garota boa, , e eu...
- Nada mudou até agora, . O que você está pensando? Nada vai acontecer se a gente não quiser que aconteça.
- Nem tudo está totalmente sob nosso controle.
Me senti quente e me vi ansiosa. Totalmente ansiosa por ele, mesmo sabendo que aquele falatório resultaria em mais um beijo, e ele sabia também, mas queria ter certeza de algo.
- Você pensa demais, . - usei um apelido que nunca tinha ouvido ninguém usar, mas usei mesmo assim. O momento me permitia. Talvez se eu fosse um pouco mais manhosa, ele se sentisse mais seguro - Você está nervoso, e se eu posso ajudar com isso, por que não? - tombei minha cabeça pro lado, e antes mesmo dele abrir a boca, andei pelo sofá até ficar ao seu lado, bem pertinho.
Qualquer senso do certo ou errado, qualquer alerta de que eu deveria parar ou algo do tipo, simplesmente sumiu. Ignorei absolutamente tudo. Eu não pensava mais em nada a não ser aproveitar o momento. Ou me aproveitar?
Nenhum dos dois sairiam perdendo e essa é a verdade.
colou nossos lábios com pressa. Intenso, cheio de emoções e quente. Totalmente memorável, cada detalhe.

's POV
Qualquer coisa que tenha me acontecido e me feito sentir um merda com garotas, não estava presente. Eu me sentia ansioso. Queria ela, queria mais. Me surpreendi com tal efeito que tinha em mim. Talvez fosse seu jeito único, sua beleza, sua voz, sua boca...
Eu queria tudo.
Nossas línguas entraram num certo desespero, como se tivesse algo a mais por vir. Meu bom senso tentou pesar, mas não funcionou. Eu tinha uma mulher incrível comigo.
Grudei minhas mãos em seu rosto, trazendo de leve seu corpo pra mais perto. parou o beijo pra se encaixar no meu colo. Isso mesmo. Sem rodeios, sem timidez, sem nada. Sentou em meu colo, me encarou por alguns segundos e voltou a me beijar. Ela fazia uma carinho gostoso em minha nuca, mas toda aquela tensão, o nervosismo, o tesão... Puxei seu cabelo de leve com uma mão, ouvido um gemido baixo escapar da sua boca.
Separei o beijo pra ter certeza de que aquilo estava acontecendo mesmo. Seus olhos tinham um brilho inédito. O cabelo um pouco bagunçado, mas a carinha de quem estava aproveitando tanto quanto eu não mentia. Ela estava mais linda do que nunca e eu maluco por deixar as coisas chegarem em tal ponto, mas não estava nem aí.
Seu corpo totalmente encaixado no meu me fez ir ao céu. Levei minhas mãos até sua bunda, massageando cada nádega ainda coberta pela roupa.
- ... - murmurou, encerrando o beijo e encostando a cabeça em meu pescoço.
- Sim?
Uma de suas mãos passeou pelo meu corpo, parando em cima do meu pau já duro e o apertando por cima da calça. ergueu o rosto, observando minha reação e sorrindo.
O juízo? Simplesmente não tinha. Simplesmente tudo o que me fazia pensar em razões sensatas pra aquilo não acontecer, sumiram.
- ...
- Shhhh. - colocou um dedo no meio dos meus lábios, me calando.
Ela saiu do meu colo, ajoelhando em minha frente e indo de encontro ao meu zíper. Eu podia ver seu nervosismo, mas ainda assim, se manteve firme, estava decidida. Abriu o zíper, e dei espaço para que ela abaixasse minha calça, e sem delongas, abaixou logo minha boxer junto. Ela estava decidida mesmo.
Suas mãos vagarosamente percorriam a extensão do meu pau, quase me matando. Sentia minha respiração falhar em cada toque e meu membro se endurecer cada vez mais. E continuava ali, o pegando e sentindo-o vibrar em sua mão. Ela sorriu ao se dar conta de que literalmente me tinha nas mãos.
Sem nenhum aviso prévio, desceu a boca em minhas bolas. Uma mão seguia brincando com a minha extensão. Respirei com certa dificuldade, vendo a garota se aventurar ali, sem medo ou vergonha. Ela me masturbava e sugava com vontade. Joguei minha cabeça pra trás por um instante, tão excitado, tão cheio, tão bruto. Enfiei minha mão em seus cabelos, levantando seu rosto, a fazendo olhar pra mim.
Eu precisava daquela visão.
Seu olhar cheio de malícia afastava qualquer tentativa de culpa ou arrependimento me atingir. Estávamos nos divertindo.
Abocanhou meu pau ereto, voltando a boca até a glande, lambendo o local sem pressa e com curiosidade. Eu sentia que podia explodir. Colocou ele todo na boca novamente, indo até seu limite.
Soltei uma risada fraca, tentando controlar meus movimentos, mas parecia impossível. Aquele contato estava acabando comigo da maneira mais gostosa do mundo. Ela me encarou sem vergonha, e aquilo foi o suficiente pra eu saber que guardaria tal imagem em minha mente pra vida toda. Ela ali, tão forte, tão firme, decidida, com meu pau duro na boca.
Sendo honesto, eu tenho um bom brinquedo. Estava feliz por achar alguém que sabia brincar tão bem.
Sem muita paciência, agarrei em seus cabelos novamente, forçando que ela me engolisse por alguns segundos. Não queria ser bruto, não podia fazer isso com ela, mas estava quase explodindo. entendeu o recado, me chupando com gosto, vontade, prazer. Eu mal conseguia raciocinar. Pensei em tudo que gostaria de fazer com a garota, queria ouvir seus gemidos mais altos, queria conhecer seu corpo, queria sentir tudo, mas estava totalmente focada em mim. Chupava firme e com vontade, com as mãos em meus testículos, simplesmente decidida a acabar comigo.
- ... eu vou gozar. - avisei sem forças, soltando gemidos desesperados.
Ela deu um sorriso assanhado, se empenhando mais ainda em me chupar e me masturbando ao mesmo tempo.
E gozei.
Ela manteve a boca por perto, na intenção de não deixar nenhuma gota sequer se perder. Ela deu uma última chupada, pegando tudo pra si.
A cena mais linda da minha vida inteira.
Seu olhar encontrou com o meu. Observei ela engolindo toda a minha porra sem nojo ou frescura, segurando em minhas mãos para fazer impulso pra se levantar. Joguei minha cabeça pra trás, sentindo meu corpo todo formigar. Entrelacei nossas mãos, a puxando pro meu colo, mas ela se soltou, andando em direção à geladeira que tinha ali.
Simplesmente abriu mais uma latinha de energético e se encostou ali mesmo, me observando. Me senti um imbecil por uns instantes, como se tivesse sido o primeiro boquete que recebi em toda a minha vida.
Ajeitei minhas roupas novamente, sem quebrar o contato visual. Ela simplesmente não queria mais nada, só se dedicou a mim e ao meu prazer. Respirei fundo, ainda de um jeito descompassado, pensando em como eu queria arrancar toda aquela roupa dela e fazer ela gozar na mesma intensidade.
- Quer? - ela ofereceu a bebida e assenti positivamente.
Se aproximou novamente e não perdi a oportunidade de puxar seu corpo pra mim, fazendo novamente ela sentar em meu colo. Por incrível que pareça, nenhuma gota do red bull foi perdida. Talvez ela já esperasse por aquilo. Analisei a beldade que estava na minha frente. Seus seios estavam bem na minha cara. Arfei, sem condições em tentar me conter. Fiquei passeando com minhas mãos em suas costas, seguindo lentamente até seus seios. A blusinha colada, marcando muito bem onde estava o montinho de chaves quase me matou. Segurei seus dois seios com força, arrancando um gemido fraco e abafado dos seus lábios.
Retirei as chaves dali com delicadeza e logo seu olhar entrou em alerta.
- Calma. Não tem nada que me faça querer acabar com esse momento, gatinha. - sorri fraco, vendo seu corpo relaxar novamente.
- Foi o seu momento, . - segurou em minhas mãos com força, me fazendo apertar seus seios mais ainda. Senti meu pau ganhando vida novamente, totalmente vidrado, desesperado e louco pra poder fazer absurdos com a garota, mas assim que ela tirou minhas mãos dali, percebi que esse não era seu plano.
Pelo menos não agora. Talvez tenha sido um jogo pra me prender em si, pra me deixar maluco, pra me deixar querendo mais. E ela tinha ganhado.

Capítulo 10

's POV
Precisei de longos minutos pra ter certeza que nada tinha sido um sonho. Cheguei a breve conclusão de que me tirava o juízo e a razão.
Foi difícil me conter pra algo mais sério não acontecer, mas eu queria que ele se sentisse satisfeito e menos nervoso, queria proporcionar um momento só dele. Foi duro ficar até as três sem pensar no quanto eu queria ele dentro de mim, mas conseguimos. Quando chegamos, Voight não estava e Holt tinha saído. Era difícil esse tipo de coisa acontecer, muito difícil, mas as coisas estavam claramente confusas e corridas.
Saí do trailer incomodada com a luz do dia. Caminhei até o banheiro, tomando um banho quase gelado. Queria acordar pra vida, queria colocar a cabeça no lugar.
Saí decidida a conversar com Voight. Entrei no escritório logo pensando em voltar, mas era tarde demais, ele já tinha me visto.
- . - Voight estava sério, mas não bravo. Ainda assim, me senti como uma menininha com medo de uma bronca.
- Podemos conversar?
- Claro.
Me sentei.
- Olha, eu sei que sou complicada, eu estou sempre nervosa com você, estou sempre nervosa comigo mesma por estar aqui, mas eu só queria que... Ficasse tudo bem. - murmurei perdida, sem nem saber como entrar mais a fundo no assunto.
- Eu me acostumei com você me culpando pelo o que aconteceu com sua mãe, sabia? - soltou uma risada totalmente sem humor, e eu apertei os olhos aflita. Sabia que estava vindo um grande sermão, talvez uma bronca junto, e eu nem mesmo estava achando ruim, pela primeira vez. Parte de mim queria ouvi-lo de verdade - Eu também me culpo, . Todos os dias. Não foi por falta de tentativa, eu juro que tentei de tudo, mas não consegui. Os policiais que são meus amigos não estavam no plantão daquela noite, e mesmo os outros sabendo de como as coisas funcionam entre nós, levaram ela do mesmo jeito. - suspirou pesado, e um incômodo se instalou em meu peito - Eu sei que você sabe dessa história, sua mãe já te contou, e mesmo você não acreditando, essa é a única verdade. Eu queria poder ter feito mais, porém não consegui.
- Eu...
- É normal querer encontrar um culpado, porque você desconta sua frustração na pessoa e segue a vida, não é?
Eu queria que um buraco se abrisse no chão e me engolisse. Eu queria desaparecer dali e me livrar daquela sensação bosta que me atingiu. Queria ter pensado mais, queria ter sido sensata, queria ter razão, mas fiz exatamente o contrário.
Mais uma vez, culpada. Por pura ignorância.
- Voight, me descul...
- Eu entendo, de verdade, você tem dezenove anos e viveu uma vida que não foi muito bacana. Sua mãe nunca te deixou faltar nada, eu sei, mas sei também que essa vida não é o que você quer, eu sei que você me enxerga como um homem que faz coisa errada e se aproveita do vício alheio e coisas do tipo, mas acredite, eu me arrependo todos os dias disso aqui. Todos. - Voight me olhou de maneira dura, como se quisesse transmitir sua angústia. E conseguiu.
Era o tipo de coisa que eu precisava me lembrar o tempo todo. Nem sempre tudo está bem só porque aparenta que está. Aquilo não era uma vida justa pra nenhum dos lados, mas era difícil passar pela minha cabeça que ele se sentisse mal com a situação.
- Desculpa. - murmurei sem graça, me sentindo uma total estupida.
- Você é como uma filha pra mim, . Você pode me detestar o quanto for, eu vou estar aqui pra cuidar de você. - disse tão sério mas tão doce ao mesmo tempo que eu poderia explodir. Ele me olhava com afeto, enfiando a mão em uma das gavetas da mesa, tirando um envelope de lá e o empurrando até ficar na minha frente - E esse é o seu primeiro pagamento. Você pode escolher, pode ficar aqui, na minha casa, alugar outro lugar, arranjar outro emprego. Você que sabe, tá legal? Mas eu sempre vou te proteger!
Abri um sorriso sincero, mesmo em meio a tantas sensações esquisitas que passavam por mim. Voight não era ruim, nem de longe. Eu que era, o tempo todo.
- Não vou a lugar nenhum, Voight. Pelo menos não por enquanto. - ri fraco, pegando o envelope e me levantando - Obrigada por... tudo. - sorri sem jeito, sabendo que Voight tinha noção de que não podia esperar muita conversa ou algo do tipo de mim.
Eu demonstrava com pouco. E precisava urgentemente mudar nisso. Queria ser melhor pra os outros também, para as pessoas que realmente se importam comigo, porque não são tantas, não poderia mais continuar me dando o luxo de simplesmente não me importar ou não querer lidar com isso.
Saí dali me sentindo estranha, porém mais leve, e sabia exatamente quem amaria saber do que tinha acontecido: minha mãe.
Voight obviamente não iria visitá-la e ok por isso, minha cabeça dava um giro em tentar entender como os dois se mantinham tão firme, mas tentei não pensar tanto.

——

O abraço dado rapidamente quase me irritou. Odiava a regra que não permitia abraços mais longos e mais contato físico. Os braços da minha mãe sempre foram meu lugar favorito do mundo.
Comecei contando da minha recém conversa com Voight e ela se segurou muito pra não gritar de alegria. Muito mesmo.
- Finalmente, filha! Você não sabe o quanto eu me sentia angustiada algumas vezes em pensar que você depositou tanta raiva em Voight sendo que... Você sabe. Ele não teve culpa. - ela deu os ombros ainda chocada, com um sorriso no rosto, porém cuidadosa.
- Bem, toda alma viva que cruzava comigo dizia que eu deveria conversar com ele e acertar as coisas, então apenas fiz. - sorri fraco, observando seu rosto iluminado por tanta felicidade. Perguntou sobre todos; , tia Ellie, Holt, até de Lydia.
- Ok, não temos muito tempo sobrando, então me diga de uma vez, como você está? Alguma novidade que ainda não tenha me contado? Algum namoradinho? - cerrou os olhos curiosa. Joguei a cabeça pra trás, rindo.
- Não, nada de novo. - menti cínica, sabendo que ela me pegaria no pulo. Eu nunca conseguia esconder nada dela, nunca mesmo, nem quando queria muito.
- Vai logo, me conta. - apressou curiosa, rindo baixo. Éramos boas amigas.
- Não é nada, de verdade. Tem esse garoto e... Ele é o cara mais lindo do mundo inteiro! - forcei o drama em minha voz, porque lembrar do quanto era bonito parecia injusto com o resto da humanidade, porque simplesmente não chegariam aos seus pés nem em sonho - E ele está nos The Lions já tem alguns meses, mas a história dele é meio injusta, sabe? Ele só está ali por conta do pai e...
- Quem é? - me interrompeu.
- O nome dele é . Malik. Ele é de Bradford, mas veio pra cá por conta da confusão envolvendo o pai e me parece injusto demais, sabe? Ele não parece ser uma pessoa ruim, mas às vezes eu acho que aquele lugar acaba te prejudicando em algumas coisas. As coisas que acontecem ali... Você sabe. - respirei fundo, observando sua expressão analítica ao extremo.
- Sei quem é, Voight já me falou sobre ele. - minha mãe parecia pensativa demais, numa mudança brusca em questão de segundos. A olhei confusa e não demorou pra sua animação voltar, mesmo eu sabendo que era só porque eu tinha percebido.
- Você sabe de mais alguma coisa? Ficou séria do nada.
- Não! É que Voight me conta das coisas que acontecem lá e eu fico pensando em como algumas famílias pecam com os filhos.
Tombei a cabeça pro lado, franzi a testa e pisquei algumas vezes pra ter certeza de que aquilo era real.
- Você falando isso? - ri apreensiva, desacreditada.
- , eu estou há pouco mais de um ano aqui. Tive bastante tempo pra refletir muito e entender em como eu errei com você. - disse séria.
- Do que você está falando?
- Filha... Também não fui muito justa com você. Não te criei de uma maneira tão normal assim, mesmo dando o meu máximo pra isso. Eu sei que nunca foi da sua vontade se envolver com a gangue ou com coisas do tipo e é por isso que você se culpa tanto, se cobra tanto, e está sempre nervosa. Eu te conheço, lembra? - sorriu sem graça, e me toquei que mais uma daquelas conversas sérias estava por vir. Ela me conhecia melhor que ninguém e eu gostava de ouvi-la, mesmo tendo total noção de que não conseguiria seguir seus conselhos.
- Eu estou tentando melhorar. me levou pra uma aula de boxe e eu adorei, sabia? Acho que isso pode me ajudar. - me encolhi feito boba, me defendendo de um ataque inexistente. Sabia que minha mãe queria o melhor pra mim, mas não queria ser algo a se preocupar a esse ponto.
- Fico feliz que ele esteja te fazendo bem e tentando te ajudar, mas você sabe que essa não é bem a responsabilidade dele, certo? - usou um tom de voz mais sério, mas ainda num toque de delicadeza - Eu quero que você se lembre que todo dia é um bom dia pra você pensar mais em si mesma, pra cuidar de si, da sua saúde, dessa raiva e dessa culpa, ok? Eu sei que já conversamos sobre isso, sei que você já tentou, mas você precisa se cuidar, tudo bem? Eu sei que errei com você, estou totalmente aberta pra ideia de fazer terapia também se você quiser e se sentir mais confortável, mas eu só quero que você se sinta mais leve, está me ouvindo? Você é muito nova pra se sentir assim.
Eu quis chorar.
- Eu não quero que você se preocupe. - senti um nó se formando na minha garganta, e embora quisesse falar mais, não consegui.
- Eu sempre vou me preocupar, ! Eu sou sua mãe! - pegou em minhas mãos com força, depositando um carinho gostoso ali, que automaticamente me acalmou.
Ainda queria chorar, queria simplesmente pegar toda aquela bagagem de sentimentos e jogar pra fora de mim. Minha mãe sempre foi boa em me ler, tentar me ajudar e conversar. A primeira vez que ela mencionou sobre eu precisar de ajuda profissional, há dois anos, eu encarei numa boa. Sabia que a pessoa que mais me ama no mundo estava preocupada, aceitei bem a ideia, mas não passei da terceira sessão com a psicóloga que tínhamos conseguido.
Simplesmente não quis, achei que poderia me dar bem sozinha e comigo mesma, e às vezes ainda penso nisso. Talvez, se tivesse continuado, não estaria me sentindo tão cheia e tão mal agora. Odiava carregar o peso, a culpa e a raiva do mundo. Odiava com todas as forças, até que vivia me perdendo em mim mesma.
E meu Deus, minha mãe também estava se sentindo mal e culpada por minha causa.
- Eu não quero que você se culpe por isso, certo? Você é uma mãe incrível, sempre fez tudo por mim e não é justo que você ache agora que eu sou assim porque você errou em algum momento. Eu sou assim porque simplesmente sou! Algumas pessoas são complicadas, não são? - ainda com um nó na garganta, as palavras saíram com dificuldade, mas com sinceridade.
No geral, achava burrice da parte da minha mãe ter se envolvido nos The Lions por diversão, mas nada nunca me faltou, absolutamente nada. Não era justo, nem por um segundo, ela se culpar.
- Mais dois minutos! - o guarda falou alto, chamando nossa atenção e anunciando o tempo restante da visita.
- Você não precisa se sentir pressionada pra ir logo pra um psicólogo, ok? É só uma sugestão, porque eu sei que mesmo te amando muito e te dando alguns conselhos, nem sempre é o suficiente. Fico feliz que tenha amigos como e pra te ajudar, e inclusive, caso esteja se envolvendo mesmo com esse garoto, lembre-se que o amor é uma delicia, então não tenha medo de se entregar, só não me dê um neto ainda e se cuide, ok? Você precisa curtir essa vida jovem até depois de cansar! - saiu atropelando as palavras por conta do tempo curto que nos restava e gargalhei alto demais, me levantando e dando nosso último abraço.
- Te amo, mãe. - sussurrei baixinho em seu ouvido, querendo congelar aquele momento.
Saí dali sem sentir direito meus pés tocando no chão. Estava extasiada por tanto amor, mas ao mesmo tempo me sentindo horrível por ser tão... eu. Algumas das lições que minha mãe tinha me ensinado ao longo da vida passavam pela minha cabeça. Amizade, auto confiança, empatia, amor... Sempre de modo tão leve e tão sincero. Ela era a melhor.
O caminho de volta não foi tão demorado. Assim que entrei ali, pude ouvir as vozes conhecidas bem alto, me gelando por inteira. Apertei o passo até o escritório, onde esbravejava com Voight, e Holt, Scott e Cohen observavam.
Minha presença ali demorou de ser notada. Me encolhi, encostada na porta ainda confusa.
- Você ainda não explicou porque não contou que Roy foi morto, e muito menos confirmou se foi Paul ou não. Que merda, Voight! - estava bravo. Digo, bravo pra caramba.
- Eu não te devo explicações, ! E pelo amor de Deus, estamos no meio de uma guerra contra os Ghosts, um monte de outras pessoas tentando se aproveitar da situação e você nervoso comigo porque não te contei sobre Roy? Ele não era nada seu, que porra te deu na cabeça? - Voight estava nervoso a altura.
- Porque eu quero entender! Tudo isso é por conta de uma mercadoria que a porra do sócio do meu pai roubou, uma mercadoria grande que até hoje eu não sei aonde foi parar, muito menos o próprio sócio dele. Como você quer que eu me sinta sabendo que um mal entendido desses está causando mortes? Quem me garante que Paul não vai atacar minha mãe ou minhas irmãs, ein? Porque você simplesmente não pega a porra das SUAS mercadorias e entrega como pagamento? - passou a gritar como se fosse mudar algo. Talvez fosse desespero ou apenas raiva pura. Cohen tentou o interromper algumas vezes, pedindo pra que se acalmasse, mas nada adiantou.
- A porra do sócio do seu pai fugiu, caralho! Você acha que ele roubaria algo assim e ficaria por perto? E sim, já tentamos achá-lo mas não achamos. E puta que pariu, você acha que é fácil assim? Entregar mercadorias e fim, tudo resolvido? Tudo o que os Ghosts ou qualquer um gosta é de ver um rival nessa situação, porque quando a coisa aperta de verdade, uma das únicas saídas é simplesmente sair de campo, entregar o jogo. E sabe quando eu vou dar esse gostinho pra Paul ou qualquer outro? NUNCA! - Voight berrou - Eu conheço seu pai há anos, , mas não posso simplesmente dar tudo por ele, eu tenho famílias que sobrevivem disso aqui e daqui. - espalmou as mãos no ar, respirando fundo com dificuldade, de tanto nervoso.
Senti meu queixo cair. Eu entendia o ponto de vista de Voight, mas não esperava que ele fosse tão rude, principalmente com , alguém que ele parecia se preocupar tanto.
soltou uma risada fraca, o encarando desacreditado, passando a mão pelos cabelos com raiva e se virando pra sair, parando assim que me viu, mas continuou novamente, passando como um furacão.
- Eu falo com ele. - Scott se prontificou.
- Ele precisa entender como as coisas funcionam. É foda, mas ele precisa. - Holt disse sério, parecendo um pouco indiferente, e pela primeira vez em anos, senti raiva dele.
Olhei pra Scott e Cohen, que pareciam ter sentido o mesmo. Não poderia deixar aquilo passar como se fosse algo tão normal. era humano, tinha sentimentos, estava em angústia. Precisavam entendê-lo também.
- O sócio do pai fodeu a vida de uma família inteira e você acha que o que ele realmente precisa é entender como as coisas funcionam aqui? - esbravejei ainda chocada com o que tinha ouvido, chamando a atenção de todos.
- , são muitas coisas envolvidas. - Holt retrucou sem muito esforço, claramente sem vontade de discutir. Mas eu já estava nervosa.
- Eu sei que são, mas já que vocês têm tantas famílias que dependem disso aqui e desse lugar, deveriam entender que não quer que vocês escolham apenas a família dele, ele só quer que ela seja inclusa nesse programa de proteção e ajuda. Ele só quer a vida dele de volta, é difícil entender? - segui indignada, mas não tive nenhuma resposta de nenhum dos dois. Eles apenas me olhavam com cara de nada, como se eu estivesse errada também.
Bufei nervosa e dei as costas, acelerando o passo, quase socando a porta do trailer de , ansiosa pra vê-lo e tentar, de modo decente, ajudar.
- Quem é? - gritou ainda de dentro do trailer.
- Eu. - respondi quase que desesperada.
- Não tô com saco pra isso agora, .
- , por favor...
Nada.

——

Expliquei tudo por telefone sobre o que tinha acontecido pra , que dizia estar com raiva das atitudes de Voight e Holt, e que tentaria conversar sobre isso em casa, e nem adiantou eu pedir pra que não o fizesse, porque não adiantaria. Desligamos depois de mais de quarenta minutos conversando, e mesmo com o passar das horas, não parava de pensar em .
Meu pijama já estava colocado, afinal, o mesmo havia sumido, Voight não tinha me procurado pra falar se iríamos trabalhar ou não depois de toda a discussão, então gastei o tempo até então fritando meus neurônios e me preocupando com um cara de vinte e seis anos.
Saí do banho pensativa. Queria conversar com Voight sobre o que tinha acontecido, mas também sabia que talvez aquilo fosse pra outro rumo, no qual eu poderia detestar Voight ainda mais por tratar tão mal.
...
Não apareceu noite passada para irmos trabalhar, o que foi totalmente compreensível. Ele tinha o direito de ficar bravo.
Andei de volta até meu trailer, encontrando Scott e Cohen sentados ali fora, cada um com uma cerveja na mão. Me aproximei.
- E aí! - Scott disse assim que me viu.
Cohen ofereceu um gole da cerveja, mas recusei.
- Vocês sabem onde o está? - minha voz saiu quase inaudível, mas eles escutaram.
Eu queria não estar tão preocupada, mas não tinha como. Oras, queria poder mostrar que ele não estava sozinho. Queria mostrar que mesmo sendo uma pessoa nova em sua vida, ele tinha meu apoio.
- Dormiu na academia do Tristan. Ele disse que te levou lá inclusive, você gostou? - Cohen questionou curioso, mas de um jeito animado.
- Ah... Gostei sim, bastante. - sorri fraco.
- Você vai lá ver ele? - Scott perguntou sem vergonha nenhuma.
- Não sei. - fui sincera.
- Ele geralmente gosta de ficar sozinho quando está com raiva, mas talvez seja bom ter a companhia de alguém.
- Como ele descobriu que Roy está morto? - mudei de assunto repentinamente, querendo entender bem como tudo começou, e Scott e Cohen eram pessoas abertas, aparentemente não escondiam nada.
- Na verdade fomos nós que descobrimos. Fomos fazer uma entrega pra um outro rapaz que comentou sobre o ocorrido. Ele foi morto já tem uns dois dias, mas só agora que começaram a falar sobre isso. Quando contamos pro , ele pirou na hora, e aconteceu tudo aquilo que você viu. - Scott revelou sem rodeios.
- Ele tá sempre pensando na família dele que tá em Bradford. Eu entendo a raiva. - Cohen comentou.
tinha bons amigos. Os dois pareciam companheiros, mas o davam espaço.
- É, eu também. - murmurei.
- Você quer ver ele? A gente te leva. Íamos pra academia mais tarde, mas podemos ir agora mesmo. - Scott propôs simpático. Eu aceitei.
Os dois brincaram, fazendo graça em quem iria me levar, primeiro me mostrando suas motos novas feito crianças, quase me implorando pra escolher a mais bonita. Ri alto, tentando analisar de forma crítica, mesmo não entendendo nada sobre nenhum tipo de veículo.
Acabei escolhendo a de Cohen, que ficou feliz feito criança mesmo. Coloquei o capacete e montei na moto, me segurando firme em seu corpo. Scott nos seguia logo atrás. Não demorou pra chegarmos, e dava pra ver a moto de logo na entrada da academia. Um arrepio percorreu pelo meu corpo, e o pensamento de que talvez ele me odiasse por ter ido ali me atingiu, mas já estava feito, não dava pra simplesmente dar as costas.
Adentramos a academia, que estava quase vazia, mas não encontrei . Tristan apareceu, nos cumprimentando bem humorado, e assim que Cohen perguntou onde estava, ele apenas apontou pra uma porta que levava até os fundos. Pedi permissão pra ir e Tristan sorriu simpático, me permitindo ir procurar o homem que não saía dos meus pensamentos de tanta preocupação.
E só tinham míseras horas que não nos víamos.
Passei pela porta, entrando em um corredor com varias outras portas. Bacana. O bom é que cada uma possuía uma plaquinha, indicando o que tinha atrás de cada porta. Entrei na cozinha e acertei em cheio, encontrando sem camisa, apenas de bermuda. O cabelo bagunçado e o rostinho inchado, de quem tinha acordado a pouco tempo. Estava sentado, com o celular em uma mão e uma torrada na outra. Sua cara confusa quase me fez rir.
- Um pouco tarde pra estar tomando café da manhã, não acha? - usei meu bom humor pra começar.
- Veio treinar?
- Não, vim atrás de você. Como você está? - tomei a liberdade de puxar uma cadeira e me sentar, e sua expressão confusa não abandonava seu rosto. Talvez realmente não estivesse acreditando que eu estava ali por ele.
- Bem. Não precisava vir. - foi cuidadoso ao falar.
- Eu só... - por um segundo, me deu um branco. Nem mesmo me lembrava do que estava fazendo ali, me perdi totalmente ao observar seu rosto, seu peitoral e aquela tatuagem que me parecia intrigante demais, mas não era hora de perguntas - Só queria mostrar que você tem alguém pra conversar. Posso não ser a pessoa ideal pra isso, mas caso queira, eu estou aqui, tudo bem? - tombei a cabeça com um sorriso sem graça.
- Obrigado, , de verdade, mas eu estou bem. Não é como se eu pudesse fazer algo pra mudar, né? - riu fraco, mordendo a torrada.
- Você não deveria se sentir tão responsável pelo o que acontece. Eu sei que você pensa na sua família, mas o resto não é sua culpa nem nada do tipo. Seu pai pode estar no meio disso, mas também não é culpado. Infelizmente esse tipo de coisa acontece com pessoas boas e... é a vida. É injusta assim mesmo.
- Como você tem tanta certeza assim que sou uma pessoa boa? - ele perguntou de maneira divertida e quis dar um chute em sua canela, mas me controlei.
- Você vai mesmo bater na tecla de que não é? Até agora você não se mostrou ser uma pessoa ruim e nem nada do tipo. Não tenho motivo nenhum pra acreditar que você não é um cara bom.
- Que bom então. - ele deu os ombros indiferente, como se não acreditasse ou levasse em conta nada que tinha saído da minha boca. Resolvi abandonar o tópico, porque talvez resultaria em uma curiosidade maior, e era tudo o que eu não precisava, não no momento.
- Você volta hoje? Porque acho que você já sabe que Voight vai vir atrás de você e dizer que não quis dizer aquilo, que foi pela raiva e bla bla bla. - rolei os olhos.
- Eu sei, vou voltar hoje. Só quis esfriar a cabeça mesmo, sei que não dá pra fugir dessa merda toda.
Nossos celulares apitaram ao mesmo tempo, recebendo uma mensagem de Lydia no nosso grupo. Ela nos lembrou que era seu último dia morando conosco, dizendo que queria comemorar com todos nós juntos a essa nova fase de sua vida.
Nos encaramos por alguns segundos depois de lermos a mensagem, e me lembrei de algo que talvez, bem talvez, pudesse ajudar .
- Você conhecia o sócio do seu pai que meteu vocês nessa confusão toda? - perguntei de uma vez.
- Sim. Por que?
- É que... tenho um amigo que talvez possa ajudar a encontrar ele. Não é nada certo, de verdade, mas posso tentar. O que acha? - me mostrei animada, e mesmo sabendo que era algo totalmente incerto, valia a tentativa.
- Isso é sério? - seu rosto se iluminou.
- Sim. Qual é o nome dele?
- Wilmer Campbell. Ele é de Bradford mesmo, nascido e criado lá, pelo menos é o que ele sempre dizia. Ele é um pouco mais jovem que meu pai, tinha uns 43 anos se não me engano. - disparou a dar informações e soltei um riso fraco, observando toda a sua animação com tal coisa.
Peguei o meu celular, mandando todas as informações ditas para Dave, que sempre demorava pra responder, às vezes até dias.
- Prontinho, agora é só esperar!
- Isso é sério? Você só mandou uma mensagem! - ele parecia desacreditado.
- Sim, porque é só o que precisa. Dave às vezes demora pra responder, mas vamos torcer pra que ele consiga algo. - me mantive otimista, talvez pela primeira vez em muito tempo. Queria muito que desse certo, queria muito uma boa resposta pra ajudar .
- Você é boa demais, . Não deveria se cobrar tanto, sabia? - seu tom voltou a seriedade, e eu sabia muito bem do que ele estava falando. A minha cobrança comigo mesma, minha vontade de ser professora mesmo sem querer ser, coisa que ele tinha ouvido de , provavelmente tinha grudado em sua mente.
- É o meu jeitinho. - tentei fugir daquilo fazendo graça, mas não adiantou.
- É sério. Eu sei que as vezes é muito pra se sentir e...
- Eu sei. Minha mãe falou sobre isso comigo esses dias e sugeriu que eu buscasse ajuda profissional de novo. Ainda estou pensando no caso. Não sou assim porque gosto, acredite. - esbanjei a verdade sem vergonha e sem freio também. Era difícil aquilo sair tão naturalmente, mas o momento me permitia.
era um pouco parecido comigo.
- Você quer dizer um psicólogo? - cerrou os olhos.
- Sim.
- Huum. - sua expressão mudou. Estava óbvio que não era fã da ideia.
- Você tem algum problema com isso? - perguntei com receio, porque se ele tivesse algo contra ou era do tipo que achava que aquilo era pra loucos, seria uma grande decepção.
- Não, claro que não! - ele se defendeu assim que notou que talvez aquilo tenha me ofendido de alguma maneira - É que eu não acredito muito nessa coisa toda de psicólogo, prefiro lidar sozinho com as coisas, mas não julgo quem procura esse tipo de ajuda, de verdade mesmo! - reforçou seu discurso de forma um pouco desesperada, e foi adorável de se ver.
Como ele não se achava uma pessoa boa? Era simplesmente um dos mais puros que já conheci, mesmo com tantas complicações.
's POV
Parecia até que Voight estava me esperando. Foi só pisar o pé pra dentro que ele começou a caminhar ao meu lado, em silêncio pelos primeiros segundos.
- . - me chamou sério, mas não respondi. Ele tentou novamente e ignorei de novo, não queria conversar, pelo menos não ainda. Queria ser respeitado - , seu pai quer falar com você! - jogou a bomba de uma vez, e se era verdade ou não, só sei que parei no mesmo instante, olhando pra o homem sério em minha frente.
Desfiz meus passos, o seguindo até o escritório. Tirou o celular do bolso, clicando no número e iniciando a chamada.
Aquilo na minha cabeça já estava ridículo. Já era ridículo o fato de não ter o próprio número do meu pai, que andava agora com números diferentes toda semana, por puro medo e cuidado, não queria ser rastreado por Paul de jeito nenhum, mas ainda assim, aquela falta de comunicação era de quebrar as pernas. Sempre fomos tão unidos, tão próximos, pra nos distanciarmos assim, por isso.
Assim que ele atendeu, Voight me entregou o celular.
- Voight? - ouvi sua voz já apreensiva e aquilo quase me matou, mas também me deu um grande alívio. Ouvir sua voz era só o que eu tinha agora.
- Pai? Sou eu! - ri fraco - Tudo bem?
- Filho! - eu tinha certeza e podia visualizar perfeitamente o seu sorriso do outro lado da linha - Estou bem e você?
Entramos em uma conversa básica, mas logo entramos no acontecimento mais recente. Por um instante fiquei puto, porque Voight já tinha contado tudo feito um pau mandado, como se aquilo tivesse sido um erro meu, mas no fundo eu sabia que essa era sua maneira de pedir desculpas.
- Estou bem. - pausei - Eu acho.
- Olha, eu sei que tudo está uma merda agora, mas vou dar um jeito nisso tudo, está bem? Não vou deixar que mais nada aconteça com você, com suas irmãs ou sua mãe, está me entendendo? - seu tom firme e forte que sempre era usado em situações tensas como essa estava presente, mas eu sentia algo a mais, algo escondido. Talvez fosse tanta paranóia por conta dos meses longe, mas veio um sentimento junto.
- Eu queria que você me deixasse ajudar mais. Já tenho idade o suficiente pra me defender e te ajudar nisso, pai.
- Não quero te envolver mais ainda nisso, . Não posso. E me desculpa por tudo, eu não queria que sua vida se transformasse tanto assim do dia pra noite por conta de um erro meu. - se lamentou ainda sério e eu podia jurar que estava certo.
Tinha algo a mais.
- O que está acontecendo? Foi um erro de Wilmer, não seu. Ele quem deveria estar me pedindo desculpas, não você.
Por um instante, me forcei a não acreditar naquilo e tentei ver a história fora da caixinha. Foi terrível, porque não imaginava uma história diferente com meu pai sendo o verdadeiro errado disso, e me senti mal. Me senti péssimo que mesmo por um segundo, duvidei de seu caráter.
- Tenho que desligar. Espero te ver em breve, filho. Se cuida, e ajuda Voight a cuidar do pessoal daí também, beleza? Eu sei que é difícil, mas ele é a pessoa que mais tenta me ajudar, acredite ou não!
A ligação foi encerrada. Coloquei o celular em cima da mesa, olhando pra Voight uma última vez antes de dar as costas e sair dali. Não tinha nada a ser dito.
- E aí? - Cohen questionou assim que me viu. Ele estava colando alguns adesivos em sua moto.
- Meu pai ligou. Disse que Voight é a pessoa que mais o ajuda e um monte de coisa estranha. Às vezes eu acho que tô sonhando de verdade, cara. Nem parece ser real viver essa merda toda aqui. - extravasei irritado.
- Vai melhorar. Nada que é ruim fica ruim pra sempre, não é?
- Queria acreditar nisso mais vezes.
- Qual é, bro, a gente se diverte pra caralho também, fala sério! - ele soltou uma risada que estava óbvio que em sua cabeça provavelmente passava algumas loucuras que já fizemos por ali desde quando nos conhecemos - E além disso, você tem até uma advogada. - riu malicioso e por um segundo fiquei confuso, mas logo me toquei que a única pessoa que ele podia estar falando era .
- Como assim?
- Depois que você saiu do escritório ontem, ela te defendeu alto, dizendo que eles deveriam tentar ver seu lado também, fora que quis ir atrás de você na academia. Não sei não, mas acho que...
- Não. Ela é uma garota boa, ela faz isso porque ela é assim, entende? - o interrompi apreensivo, tudo o que eu não precisava era ouvir que ou qualquer outra pessoa estivesse sentindo algo a mais por mim.
E óbvio, porque não estava mesmo. Eu sabia e sentia que não, embora os acontecimentos recentes terem, de fato, acontecido. Não sentia nada a mais vindo dela e isso eu podia garantir.
- Sim, ela parece ser uma garota boa mesmo, mas ainda acho que talvez possa ter algo a mais, afinal, vocês não ficaram só naquele dia da festa, não foi? - eu já podia ver aquele sorriso que ele dava sempre que tinha razão. Passei a mão pelos meus cabelos um pouco irritado.
- Não, mas não vou deixar que aconteça de novo. Não preciso que o mesmo que aconteceu com a Phoebe, aconteça de novo, pra mim já é o suficiente.
- Porra , vai se ferrar! - reclamou irritado, mas eu sabia que não precisava me preocupar, era o jeito dele - A garota me deu um fora mas ficou com você sem pensar duas vezes. É algo bacana, ela é uma garota legal e nenhum dos dois tem nada a perder, então para de querer ser cuzão e vir com essa história de não querer se envolver.
- Você é o primeiro a dizer que não gosta desse tipo de relacionamento porque sabe que um dos dois sempre acaba se apaixonando e agora tá me falando isso? Começou a beber logo cedo, Cohen? - ri alto, realmente não entendendo sua lógica.
- É diferente! Eu sou assim simplesmente porque eu quero, mas você é assim por conta do que aconteceu com a Sienna e Phoebe. Pelo amor, cria vergonha nessa cara, não adianta querer fugir de mulher ou sentimento a vida toda, uma hora vai acontecer, não vai? Ou vai dizer também que você não merece mais ninguém nesse mundo? É só o que falta! - ele balançava a cabeça negativamente, realmente indignado.
Cohen era assim, totalmente bem resolvido e se irritava com quem não era. Vivia dizendo sobre o quanto a gente complica tudo o tempo todo. E na maioria das vezes ele tava certo, mas eu nunca o deixava saber.
- Acabei de conhecer , cara. Não é possível que você ache mesmo que algo sério role logo agora! - tentei me defender.
- Não estou só falando da , estou falando de todas. Sexta feira tem o meu racha, você sabe que tem umas duzentas meninas por lá que são loucas por você e nós sabemos que mesmo querendo, você não vai ficar com ninguém porque está ocupado demais se culpando pelos seus relacionamentos que não deram certo. Acorda, caralho, isso é coisinha de adolescente. - Cohen bravo era engraçado. Na verdade, quando ele tentava se mostrar mais bravo do que estava.
Ri alto e ele também. Um soco fraco foi dado em meu braço e devolvi um pouco mais forte. Às vezes nos permitíamos ser crianças por alguns instantes.

——

e se empenhavam em colocar algumas luzes coloridas por ali. Holt dividia a atenção entre a churrasqueira e Ellie, que estava ao seu lado falando sem parar. Era legal saber que no meio daquela bagunça o pessoal conseguia encontrar o amor, assim como os dois. Voight brincava com Keith, Cohen e Scott enfiavam mais bebidas na grande caixa de isopor com gelo.
Me permiti observar tudo aquilo depois de abrir algumas mesas e cadeiras. Pela primeira vez em meses, me senti em paz, em casa. Embora as coisas estivessem um pouco fora de controle, me senti bem.
- Quer? - Lydia me tirou daquele transe, oferecendo uma garrafa de cerveja. Aceitei.
- As pessoas gostam de você aqui, Lydia. Tenho certeza que vão sentir saudade. - sorri sem mostrar os dentes.
- Minha mãe não mora longe daqui, , e eu vou vir visitar vocês sempre, e espero que façam o mesmo. Não pretendo ficar muito tempo lá, quero um lugar só meu, mas mesmo assim, quero visitas, ok? - riu graciosamente.
As outras pessoas dali foram se aproximando e se sentando nas cadeiras. Lydia conversava um pouco com cada um, rindo alto muitas vezes. Claramente muito querida por todos, e não era pra menos.
ajeitava a caixa de som que tinha ali, colocando Khalid pra tocar. Meus olhos foram parar em , que agora segurava Keith e o balançava de maneira divertida, o fazendo rir. O short preto, o cropped de manga cumprida da mesma cor, o cabelo ondulado nas pontas e a maquiagem fraca, porém presente, me mostravam que a cada segundo ela conseguia se deixar mais linda. Dava pra ver de longe o quão destemida, selvagem e ao mesmo teimosa e insegura ela era. mostrava ser tudo, e nem se eu quisesse, conseguiria não reparar nela. Eu queria poder simplesmente puxa-la pra mim, correr dali e a encher de beijos e depois descobrir cada pedacinho do seu corpo que a roupa cobria.
Queria não querer, mas era inevitável.
Seu olhar se encontrou com o meu e eu queria que não tivesse acontecido. me encarou por alguns segundos de maneira firme, tão firme que aquilo foi ficando sensual demais e ela estava se aproveitando. O olhar mesclado entre a inocência que eu sabia que ela não tinha e a sensualidade que ela tinha me atingiram em cheio.
Sexy pra caralho.
Podia lembrar facilmente de sentir sua boquinha me chupando com vontade.
- Que bonitinho, está até babando! - a voz de me tirou do meu devaneio e do nosso flerte descarado, e embora sua carinha divertida era sempre algo gostoso de se ver, tinha chegado na hora errada.
Tratei de consertar minha postura e limpar a garganta.
- Claro que não!
- Claro que sim, e eu entendo totalmente, é mesmo uma gata. - se colocou ao meu lado, observando a melhor amiga junto comigo.
- Disso é impossível discordar. - ri.
- Exato! E finalmente você apareceu, não ficava com ninguém há meses, sabia? - soltou a informação sem vergonha, me fazendo rir novamente. Seu jeitinho espontâneo era de se admirar.
- Não, mas obrigada pela informação.
- E você e aquela garota? Acabou mesmo? - questionou realmente curiosa, e por alguns segundos me esqueci que morava ali antes e viu Phoebe algumas vezes em que ela tinha ido atrás de mim.
- Sim. - engoli o seco, não esperava tal pergunta.
- O que deu errado? - mais uma vez, a curiosidade em sua voz estava bem explícita. Virei meu rosto pra encara-la, porque se tal pergunta tivesse vindo de outra pessoa, com certeza me irritaria, mas vindo dela não, porque era simplesmente uma das garotas mais legais e tranquilas que tinha conhecido - Se não quiser falar sobre isso não precisa. - sorriu sem graça, provavelmente estranhando minha demora pra responder.
- Só não deu certo. Não pude dar o tanto que ela precisava, entende? - respondi apreensivo porque aquilo ainda era como pisar em ovos pra mim. E não tinha mais nada que eu odiasse mais.
- Entendo. Bem, espero que da próxima vez você tenha mais sorte. - arqueou as sobrancelhas junto a um sorriso sapeca, intercalando seu olhar entre e eu, e foi impossível não rir.
- Calma, não temos absolutamente nada, desculpa te decepcionar.
- Mas podem ter, não é? Ou você está naquela época dark do fim de relacionamento em que você acha que nunca vai ser capaz de encontrar alguém certo pra você? - ela gargalhou bem humorada enquanto meu rosto se congelou no mesmo instante. arregalou os olhos de leve, certamente arrependida de tal fala - Me desculpa, sério!
- Tá tudo bem! - a acalmei rapidamente, torcendo pra o assunto morrer logo.
- Tudo bem se você estiver nessa fase também, sério, porque ela passa, mesmo você achando que não! - abriu um sorriso um pouco torto e ainda sem graça, mas cheio de otimismo.
- Eu sei. - na verdade não sabia. Queria acreditar que sim, mas sentia que não, que nunca passaria.
- , está tudo bem de verdade!
- Ok. - suspirou - Mas se quiser conversar sobre isso ou qualquer outra coisa, estou aqui!
Não teve como não sorrir. Ela sempre queria ajudar e isso é fato, não tinha nem como pensar em ficar chateado ou com raiva, porque não teria sentido nenhum.
Dei um gole longo na cerveja em minhas mãos, observando Holt caminhando em minha direção e se afastando.
- Ei. - ele chamou, parando em minha frente - Foi mal se falei alguma merda, beleza? Eu entendo seu lado, sei que é desesperador, mas saiba que eu e Voight vamos tirar seu pai dessa! - dava pra perceber o esforço que ele fazia pra estar tomando tal atitude.
Voight era duro, mas sabia sempre conversar e até se desculpava numa boa, mas Holt era um pouco mais complicado pra isso, o que me levou a pensar que talvez tivesse o dedinho de alguém nessa história. Talvez tendo saído em minha defesa tenha mudado algo.
- De boa. - respondi tranquilo, dando um aperto de mão forte no homem.
Os hambúrgueres na churrascaria começaram a cheirar bem e de pouco em pouco, fomos nos servindo. Eu queria aproveitar a sensação tranquila que estava sentindo depois de meses. Comemos em paz e conversávamos sobre tudo. Voight e Holt contavam algumas histórias que já aconteceram durante a vida fazendo parte da gangue e rimos muito. A mãe de , Ellie, arriscou em contar algumas coisas também, citando a mãe de na maioria das vezes. A garota ria alto, porque não tinha como não rir. Mais uma vez, nossos olhos se encontraram. Ela estava sentada na mesa da frente e cruzou as pernas de maneira filha da puta, sabendo bem o efeito que aquilo poderia causar em mim, ou melhor, no meu pau.
Estávamos oficialmente num joguinho barato de sedução e eu estava adorando.
aumentou um pouco mais o som quando Free Spirit começou a tocar.
- Quero uma foto com todos nós juntinhos! - Lydia pediu animada enquanto ajeitava a polaroide.
Primeiro tentou tirar todos juntos, mas era impossível. Alguns grupinhos se formaram e o último foi comigo, Cohen, Scott, , e o pequeno Keith. Ellie segurava a câmera e pedia pra juntarmos um pouco mais. ficou ao meu lado e não tive vergonha ao entrelaçar um braço meu em sua cintura. Ela me olhou com o rosto alegre, misturado com aquela coisa selvagem que eu sabia que ela tinha, se deixando mais a vontade com meu toque, colocando também um braço por trás da minha cintura, tombando um pouco da cabeça o suficiente pra se encaixar no meu ombro de maneira gentil.

"Is this Heaven or Armageddon?"

A foto foi tirada. De alguma maneira, a voz do Khalid no fundo deixou tudo com uma sensação mais gostosa ainda. sorriu de um jeito adorável pra mim, ainda sem me soltar. O jeito que ela ia de sexy para uma garotinha fofa me deixava mais duro do que já estava. Eu queria muito beija-la ali mesmo, na frente de todos.
Droga, o que eu estou querendo fazer?
Assim que caímos na realidade, nos soltamos de vez. Ela se sentou na cadeira mais próxima e eu me sentei ao seu lado, olhando pra todos, tentando descobrir se tinham nos observado naqueles segundos graciosos.
- Você tá linda, . - sussurrei em seu ouvido rapidamente e vi a garota abrir um sorriso mais lindo ainda. Queria, pelo menos um pouco, causar o mesmo efeito que ela estava me causando.
Não tinha como eu me segurar e não tinha peso nenhum que me acompanhava que fosse capaz de me calar ou de algo do tipo. Eu queria ela.
Porra, e como!
Me lembrei de infinitas conversas com Cohen e Scott sobre o assunto, e eu sempre me tocava em como estava sendo retardado por deixar com que Sienna ainda me dominasse tanto, porque no fundo, no fundo mesmo, eu queria encontrar pelo menos o rastro do de anos atrás que ainda conseguia acreditar em coisas boas e no destino.
- Obrigada, . Você não está nada mal hoje também. - ela sorria com os olhos de maneira encantadora. Me atrevi a colocar uma mão em sua coxa, fazendo menção de ir passeando com a mesma até sua virilha, mas parei antes de chegar lá. A garota me olhou emburrada mas também encantada. Seu jogo estava funcionando bem, se era isso que ela queria mesmo. Meu celular que estava em cima da mesa se iluminou, anunciando uma mensagem da minha mãe, e foi automático, também olhou - São suas irmãs? - ela perguntou ao ver a tela de bloqueio, com uma foto de nós quatro juntos.
Minha mão ainda estava pousada em sua coxa.
- Sim. - respondi animado.
- Três irmãs é bastante coisa, né? Você gosta de ser o único menino? - se apoiou com os cotovelos na mesa, segurando o próprio queixo e virada pra mim, esperando uma bela explicação e não me aguentei.
Comecei a falar bastante, em como eu gostava de ter três irmãs mulheres mesmo tendo sido complicado algumas vezes, afinal, são três mulheres. Mostrei outras fotos nossas, incluindo algumas em que minha mãe estava junto e elogiou a todas com carinho.
Conversávamos e bebíamos e o resto do pessoal se juntou conosco. Scott e Cohen contavam bobagens absurdas mas que eram engraçadas. As misturas de bebidas começaram e comíamos no meio disso tudo. Tocou o álbum inteiro do Khalid e colocou as próprias músicas que já estavam gravadas, sendo parabenizada por varias pessoas.
O tempo foi passando e começaram a se retirar, até mesmo Lydia, que iria trabalhar no dia seguinte. A despedida não foi triste, muito pelo contrário. Ela queria ficar pra ajudar a arrumar a bagunça, mas e quase torceram seu pescoço por estar pensando na bagunça, disseram que iriam arrumar sem problema nenhum.
E assim foi.
Comecei a dobrar as mesas e as cadeiras novamente, guardando no pequeno galpão que tinha do lado. Voight se enfiou no escritório novamente pra dormir, disse que o dia tinha sido cansativo. Holt, e Ellie se foram em seguida e Scott, Cohen e arrumavam o resto que não demorou a ser feito.
Respirei fundo quando peguei a garota me encarando de longe, tomando o resto de bebida que tinha em seu copo e dando boa noite pra Cohen e Scott, mas ainda me encarando com um olhar tão convidativo que eu queria explodir.
- Guardem o resto pra mim. - pedi pra os dois com certa pressa, observando todos os passos de até a mesma entrar em seu trailer.
Os dois se entreolharam e os olhares maliciosos surgiram no mesmo instante.
- Vai la, garanhão! - Scott forçou uma voz fina, fazendo Cohen rir.
Não perdi tempo, apenas dei passos largos até a porta da garota, batendo na mesma com força e pressa.
Todos os meus mecanismos que serviam pra me sabotar foram desligados. Simplesmente que se foda.
Eu precisava sentir de uma maneira tão desesperada e desengonçada que me senti de volta à adolescência.
Ela abriu a porta e entrei rapidamente.
- Você acha mesmo que pode simplesmente passar horas me olhando com essa carinha de assanhada, ? - senti meu corpo pegando fogo no mesmo instante em que nossos olhares se encontraram.
's POV
Não tive tempo de pensar e nem queria. Todas as bebidas ingeridas me deixaram com um fogo a mais, porém não foi isso que me deu coragem pra começar com essa coisa toda.
se encontrava mais lindo do que nunca e meu Deus, simplesmente não tem quem aguente!
Eu simplesmente o queria.
Apenas.
- Você acha mesmo que pode simplesmente passar horas me olhando com essa carinha de assanhada, ? - explodiu numa falsa raiva que eu conhecia bem assim que fechou a porta do trailer.
Tesão.
- Tanto posso quanto fiz, não foi? - o provoquei sorridente, puxando uma mecha do meu cabelo e a enrolando de maneira cínica.
Péssima ideia.
Quer dizer, incrível ideia!
me puxou sem gentileza nenhuma, pressionando bem seu corpo contra o meu, não me dando tempo de pensar em nada. Apenas levei minhas mãos até sua nuca, sentindo seus lábios invadindo os meus com vontade, e simplesmente me entreguei com tanta vontade ao beijo que poderia facilmente continuar ali o beijando pelo resto dos meus dias na terra. Nossas línguas se envolviam de maneira tão sútil mas tão quente ao mesmo tempo. Uma das mãos de agarrou uma das minhas nádegas com vontade, me fazendo soltar um gemidinho abafado tão ridículo que me senti uma completa besta por ver o efeito que seus toques tinham sobre mim.
- Que tal eu retribuir o favor daquele dia, ? - cortou o beijo, sussurrando no pé do meu ouvido de maneira provocativa e eu pude sentir meu corpo inteiro se arrepiar, até onde eu pensei que nem arrepiava.
Qualquer coisa, eu topava. Já podia imaginar seus dedos passeando pelo meu corpo, dentro de mim, e já podia sentir sua língua quente em minha pele.
Era tudo, absolutamente tudo o que eu queria.
- Uhum. - assenti com os olhos fechados, sem coragem nenhuma de olhá-lo, porque sabia que encarar aquele olhos cor de âmbar já me desmontaria no mesmo instante.
soltou uma risada vitoriosa, passando a mão pela barra do meu short. Senti minha respiração falhar e meu coração já estava tão acelerado que eu podia ouvir as batidas do mesmo. parecia tão ansioso quanto eu. Abriu o zíper do mesmo e o puxou pra baixo sem delicadeza nenhuma, grudando nossas bocas novamente sem gentileza. Me arrepiei inteira, me livrando daquela peça com pressa, deixando caída pelo chão. O homem me empurrou de leve, me fazendo sentar na cama, e ver ele se abaixando, melhor, se ajoelhando em minha frente, foi o suficiente pra me fazer explodir em excitação.
separou minhas pernas e olhou minha intimidade ainda coberta pela calcinha com animação. Eu já me sentia totalmente encharcada, e não tinha mulher no universo que não ficaria, afinal, era .
Seus dedos passeavam pela minha virilha lentamente, me causando um arrepio geral. Abri a boca pra apressá-lo, odiava provocações, embora adorava provocar, mas não foi preciso. Dois dedos faziam uma pressão circular por cima do meu clitóris e joguei minha cabeça pra trás.
De alguma maneira, visualizei um sorridente com tal feito. Ele puxou minha calcinha sem paciência e a jogou em um canto desconhecido e que se lasque, eu só queria descobrir as maravilhas que ele poderia fazer comigo.
enfiou um dedo dentro de mim e eu resmunguei em excitação.
E mais um.
Ele começou a acelerar os movimentos, pressionando meu clitóris com o dedão. Gemi alto feito uma cachorrinha no cio.
- Temos muitos vizinhos, . - disse bem humorado enquanto brincava com a minha sanidade.
Arranjei forças pra encara-lo e aquilo me deixou mais excitada ainda. Aquele cabelo bagunçado e a carinha de safado foi demais pra mim.
- Cala a boca. - resmunguei em meio aos gemidos agora mais baixos e a respiração totalmente descompassada.
Seus dedos agilizaram ainda mais e mesmo querendo aproveitar cada segundo daquela sensação, eu sentia que poderia, literalmente, explodir. Estava em total êxtase.
Me desesperei e comecei a rebolar em seus dedos na tentativa de acelerar o movimento ainda mais, só que apenas soltou uma risada abafada, diminuindo os movimentos de propósito.
- Sem pressa, gatinha. - ele sorriu divertido e tirou os dedos de dentro da minha intimidade, os levando pra cima e os encostando em minha boca, claramente querendo que eu os chupasse e assim o fiz, sentindo meu próprio gosto de maneira desesperada.
Ele sorriu satisfeito e abriu minhas pernas novamente com brutalidade, enfiando sua boca ali com vontade. Foi inevitável, segurei firme em seus cabelos assim que senti o primeiro chupão em meu clitóris. Tentei controlar meus gemidos para que saíssem baixos mas alguns deles eram impossíveis de controlar. me sugava com vontade, passando a língua por toda a minha intimidade sem dó, me explorando por inteira. Ele me olhava diabolicamente e trabalhava com a língua com maestria.
- Porra! - grunhi desesperada, subindo minhas próprias mãos até meus seios, os apertando forte.
observou meu desespero de tanto tesão cada vez mais mais notável e parou, voltando a enfiar os dedos dentro de mim, três de uma vez, e logo em seguida voltou a me chupar novamente.
Eu ia explodir, de um jeito ou de outro.
Ele intercalava entre um segundo metendo com força total e no outro com pura tranquilidade, só pra me ver irritada e me forçando em seus dedos. Antes que eu pudesse reclamar da tortura, ele intensificou tudo. Se eu achava que já estava bom, ele fez ficar melhor. Praticamente urrei de tanta excitação, sabendo que meu orgasmo estava próximo. me preenchia com brutalidade e rapidez, tirando todos os dedos de dentro de mim e focando totalmente nos momentos circulares em meu clitóris.
Explodi.
Gozei.
Joguei meu corpo todo pra trás, caindo por inteiro na cama e sentindo aquela sensação me dominar. Não satisfeito em me dar o melhor orgasmo da vida, seguia me chupando, fazendo questão de provar do meu gosto, assim como fiz com ele.
Arranjei forças pra abrir um sorriso extremamente satisfeito, ainda totalmente em êxtase com tanto prazer proporcionado.
se levantou com um sorriso no rosto também, se deitando ao meu lado e se aproximando, me dando um beijo cheio de prazer, calor e tesão.
Eu queria retribuir, e mais, queria de fato senti-lo dentro de mim, queria poder transar com ele a noite inteira, mas eu sabia que mesmo ele querendo também, porque estava óbvio que ele queria e seu olhar não escondia, ele queria fazer exatamente o mesmo que eu fiz. Nosso joguinho estava longe de acabar e eu tive certeza disso quando ele abriu a boca:
- Da próxima vez vou te levar pra um lugar em que não seja problema você gemer alto, e acredite, você vai gemer alto. - ele sussurrou desaforado em meu ouvido, apertando meu seio esquerdo com vontade e mordendo meu lábio em seguida, finalizando com um selinho demorado.

Capítulo 11

's POV
Acho que se pode dizer bem que no fundo, somos todos iguais. Gostamos de coisas inteiras, verdadeiras e recíprocas, certo?
Sim. Mas nem sempre sabemos disso.
Às vezes simplesmente não se sabe o que quer, ou em qual ordem. A vida é cheia de mudanças todo santo dia e posso dizer com toda certeza que a única coisa que eu conseguia pensar é no quanto daria pra me divertir com . Em absolutamente todos os sentidos.
Rolei pela cama preguiçoso, dando um longo suspiro, ainda desacreditado no que aconteceu. Tinha sido único. O jeitinho que ela se contorcia, gemia e se desesperava pelos meus toques.
O melhor foi que ainda fomos trabalhar e simplesmente não pareceu trabalho porque tinha ela ali, daquele jeitinho selvagem e assanhado que eu já tinha notado bem antes, e toda a pegação no carro só me fazia imaginar cada vez mais e mais como seria tê-la por completo.
Peguei meu celular, lendo todas as mensagens que tinha no nosso grupo. Lydia confirmou presença, dizendo que não perderia a corrida de Cohen nem a pau e que estava com saudades daquilo. Me forcei a levantar, comendo a primeira porcaria que vi pela frente e tomando um banho morno. Queria entender que porra estava acontecendo comigo de vez, queria ter um momento de lucidez de verdade, que parecia algo distante há dias. Coloquei a primeira bermuda que vi pela frente de qualquer jeito, indo até o galpão e pegando os sprays guardados em uma caixa, caminhando até o muro que já estava quase todo completo novamente. Coloquei os fones em meus ouvidos e liguei pra minha mãe em uma chamada de vídeo, apertando o spray preto contra a parede, ainda sem noção nenhuma do que sairia.
- Oi filho! - a minha voz favorita no mundo surgiu após poucos segundos junto com seu rosto.
- Oi mãe! Como você está? E as garotas?
- Estamos todas bem, meu filho. E você, como está?
Intercalei minha atenção entre a tela do celular e a parede em minha frente.
- Estou cansado, mas bem. - sorri de qualquer jeito.
Entramos em uma conversa que me parecia chata e arrastada. Não tinha nada de novo e eu sabia que ela tentava não me preocupar o máximo que conseguia. Disse que conseguiu conversar com meu pai durante a semana e lamentou pelo o que estava acontecendo e fiz o mesmo. Sentia saudade de todos nós juntos, do jeito que sempre foi.
- Eu sei que é difícil você estar longe de nós, sei que queria estar aqui, mas seu pai sabe o que faz. Eu te juro que até hoje não tentaram nada contra nós, e quero que você se cuide aí, está me ouvindo bem? Eu sei que te provocam, mas você é maior que tudo isso, meu filho! - sua voz cheia de carinho e cuidado era mesmo tudo o que eu precisava.
- Obrigado, mãe.
- O que está fazendo? Grafitando? - mudou de assunto animada, com um sorriso nos lábios. Virei o celular para que ela pudesse ver o que estava saindo - Uau! Está ficando ótimo. - comentou positivamente, sorrindo e limpando a garganta pra dar continuidade - Mas me conte as novidades, . Como estão as coisas por aí, seus amigos novos, como Voight e Holt andam te tratando...
- Está tudo normal, mãe. Não tem nada grande ou novo. - menti na cara de pau, mas não cheguei a mencionar com todas as letras nem o que tive com Phoebe e não faria isso por conta de alguns momentos com .
- Eu sou sua mãe e sei bem lidar com você, então vou te dizer algo e não quero que esqueça, ouviu? - me esperou assentir positivamente antes de continuar e eu sabia que mais um dos seus discursos estavam por vir - Eu sei que estar aí te machuca muito, mas acredite, me machuca muito mais ver o meu filho nessa situação. Mesmo que você se sinta responsável por isso às vezes, não quero que se culpe por nada, ok? Tenho certeza que seu pai está arrependido por ter confiado tanto em Wilmer e gostaria de desfazer essa confusão toda, mas essas pessoas que estão tentando acabar com ele vão ter que viver com resíduos de todas essas escolhas maldosas. Então por favor, se mantenha firme, tudo bem? Eu te criei pra ser um bom homem!
Prestei atenção em cada palavra, abrindo um longo sorriso no final. Ela simplesmente sabia quando eu precisava ouvir esse tipo de coisa.
- Obrigado por isso, mãe.
- Se lembra do que eu sempre te falei, né? - ela arqueou uma sobrancelha de modo divertido e eu já sabia o que estava por vir, a frase que eu já tinha ouvido até de trás pra frente.
- Não se deixe tornar uma pessoa da qual depois queira fugir. - forcei minha voz até chegar miseravelmente num tom parecido com o seu, citando talvez a sua frase mais falada comigo em toda a vida. Sua gargalhada alta fez o meu dia melhor no mesmo instante.
Nos despedimos e guardei o celular no bolso, enfiando o spray de volta na caixa e indo em direção ao escritório de Voight. Mesmo sabendo que ele deixaria, tinha que perguntar. A corrida de Cohen pegaria boa parte da madrugada e a festa só Deus sabia o horário que acabaria.
- Ei! - entrei de qualquer jeito, encontrando encostada na parede conversando com Voight, mas se virou no mesmo segundo que ouviu minha voz.
Porra, não teve como não a sugar com o olhar. Perdi o foco total por longos segundos de tanto olhar e por um instante ela esqueceu da presença do homem ali, me encarando de modo provocativo.
- Sim? - Voight cortou o clima com os olhos cerrados e segurou o riso.
- Cohen vai correr hoje. Começa meia noite e o resto você já sabe. Posso compensar as horas na segunda feira? - pedi calmo, e o homem ainda olhava pra nós dois quase incrédulo, nos analisando.
- acabou de vir me avisar sobre a mesma coisa, sabia? - o homem comentou divertido e com um leve toque de sarcasmo.
- Posso compensar as horas na segunda feira? - reforcei a pergunta mais uma vez, ignorando a tentativa de tentar nos deixar sem graça ou algo do tipo, mas estava doido pra rir.
- Pode. - o olhei agradecido, pronto pra virar as costas e sair dali - E divirtam-se também. - limpou a garganta - E se cuidem. - ele nos olhou entre seriedade e diversão, dando a entender muito bem que tinha notado algo a mais entre nós. Estava tão óbvio?
rolou os olhos, bufando alto e fazendo o homem rir. Resolvi dar linha na pipa e sair logo dali antes que Voight soltasse mais alguma coisa, e senti a presença de logo atrás de mim. Estava linda, com um vestido um pouco largo que chegava até os joelhos, algo bem confortável porém a deixava incrivelmente bonita.
Seu olhar normalmente duro foi se transformando lentamente em algo cheio de fogo, e tremi por dentro ao perceber que causava aquele efeito nela. Sorri sem vergonha, e uma de suas mãos passou pelo meu rosto o apertando de leve, chegando bem perto e depositando um selinho rápido em meus lábios.
Mais um dia e mais uma vez, estávamos no nosso joguinho.

——

Incrível como andar com Cohen automaticamente atraía uma porrada de olhares. Ele era bem popular ali e eu deveria saber que é assim que essas coisas funcionam, mas não gostava de pensar na ideia, mas também não ficava me pilhando sobre, apenas andava e seguia até a arquibancada que tinha ali.
não parecia nem de longe ser do tipo que se esforça pra impressionar outra pessoa com a roupa, afinal, toda a sua atitude fazia qualquer roupa se tornar um grande nada, mas o short jeans e aquele sutiã branco e a blusa preta cheia de furinhos, praticamente transparente que seguia por cima, me atingiu em cheio.
Como ela conseguia?
E pior; não era uma mega produção, ela simplesmente colocou coisas simples e foi. E com tudo. Arrancava diversos olhares de vários caras. e Lydia também estavam lindas, claro, também eram olhadas por muitos, e na maioria das vezes não eram olhadas nada discretas.
- Vou me preparar, e vocês caprichem nessas apostas! - Cohen gritou animado assim que chegou na entrada da pista, indo até o carro que iria correr.
Paramos todos na mesa de apostas, onde tinha uma fila que nos tirou alguns minutos. e apostaram cem libras, dizendo que não arriscariam mais por medo de perder e resmungando que dinheiro não nascia em árvore. Eu e Scott apostamos trezentos, sabendo que aquele dinheiro de alguma forma voltaria pra gente, já que Cohen sempre arcava com a conta do bar após as corridas ganhas.
E ele sempre ganhava. Quase sempre.
Fomos de vez até a arquibancada e tropicou em algo enquanto subia as escadas, e fui rápido em segurá-la. Ela caiu na risada, rindo de si mesma sem parar, com os braços apoiados no meu ombro.
- Misericórdia, se não fosse você eu cairia de bunda lá embaixo! - ela comentou entre os risos, se virando e continuando a subir.
Ri do quanto ela se mostrava ser apenas uma garotinha divertida e sem jeito as vezes, mesmo sendo o contrário. A vida de era uma bagagem de culpas e responsabilidades que nem eram dela, e o mais engraçado é que me dava certo incômodo saber de tal coisa, mesmo tendo total noção de que boa parte de mim agia exatamente da mesma forma.
Nos acomodamos de vez, e a gritaria já era absurda mesmo sem nada ter começado.
Os cinco carros se posicionaram na linha de largada, e a galera foi a loucura quando a corrida foi iniciada. O barulho estridente de cada carro me arrepiou, e claro, eu torcia vibrante pra Cohen, que saiu disparado. Aquele tipo de programa não era meu favorito. Assistir aquilo me trazia um nervosismo do caralho, afinal, era um risco da porra, mesmo parecendo ser incrivelmente legal. Aquilo era o Cohen todinho, totalmente sua praia. O jeito que ele fazia coisas ilegais se transformarem em animadoras era engraçado.
A pista não era tão grande, mas dava trabalho só de olhar. Eu sabia que ele estava dando o seu máximo, mas o carro número três estava em sua cola.
Apertei os olhos apreensivo e dessa vez quem quase caiu fui eu. Pisquei algumas vezes pra ter certeza de que era Phoebe andando com Olivia e mais algumas amigas, e mesmo antes de tentar pensar em disfarçar, ela me viu. Seu olhar se iluminou e ela começou a acenar animada, me chamando com a mão. Olhei pra o lado e todos estavam concentrados na corrida. Scott berrava todos os palavrões existentes na terra.
Desci com cuidado, sem dar explicações, abrindo os braços pra abraçar a garota assim que me aproximei. Seu perfume suave me invadiu e eu nem sabia que sentia falta dele até então.
- O que você está fazendo aqui? - questionei extasiado com tanto sentimento junto.
Eu não sentia nada além de felicidade ao vê-la, como se por alguns segundos, minha mente tivesse bloqueado o fato de que eu a magoei.
- Vim com uma galera da faculdade. Você sabe como eles são, não é? - ela tombou o rosto com aquele olhar óbvio, se referindo ao tanto que seus colegas de turma se enfiavam em absolutamente todo canto que tinha muvuca, bebida, música e animação. Suas amigas se encostaram na grade que tinha ao nosso lado, observando a corrida enquanto conversávamos.
- Sei. - ri fraco - Como você está? - precisei de força pra perguntar tal coisa, mesmo sabendo que se ela estivesse mal, seria difícil de falar, afinal, não adiantaria nada, certo? Já estava tudo acabado de um jeito ou de outro.
- Estou bem, de verdade. - Phoebe abriu aquele sorriso que faria qualquer homem se arrastar por ela. Tentei encontrar qualquer rastro de raiva ou mágoa, mas não identifiquei nada de ruim, porque ela simplesmente estava sendo sincera de verdade. Ela estava bem - E você?
- Fico feliz que você esteja bem. - respondi sentindo automaticamente um peso tão grande saindo das minhas costas que eu nem me lembrava como era carregar um fardo menos pesado.
- Nenhum sofrimento é pra sempre, gatinho. - ela revelou divertida, ainda sorrindo.
Olhei disfarçadamente pra trás, onde desviou o olhar rapidamente pra pista e eu quis rir. Pela primeira vez eu sentia como se alguma coisa se encaixasse. Depois de muito tempo, um pinguinho de esperança foi depositada em mim novamente.
- É, acho que sim. - concordei sem jeito e logo todos começaram a berrar.
Cohen havia ganhado.
O pessoal da arquibancada foi descendo às pressas para irem até a pista o prestigiar.
- Te vejo por aí. - Phoebe não prolongou o assunto e nem precisava. Estávamos bem. Ela estava bem e dava pra sentir.
Me permiti sorrir ao vê-la andando feliz com as amigas, e assim que virei pra trás encontrei as três beldades que olharam pra toda aquela muvuca com caras estranhas.

"Não se deixe tornar uma pessoa da qual depois queira fugir."

Olhei pra descaradamente e assim que ela percebeu, me devolveu um olhar intrigante, mas não demorou pra o seu lado assanhado dar as caras. Pelo menos por hoje, eu deixaria de fugir de mim mesmo e das minhas vontades.
Precisava ter e não tinha passado que pudesse me segurar. Me senti ansioso pra tocá-la e finalmente ir mais a fundo. Queria vê-la inebriada pelo sexo que eu estava disposto a proporcionar e caralho, como eu a queria!
Que se foda!
Me aproximei de mansinho, me colocando ao seu lado e aproveitando a distração de e Lydia, que observavam o quanto Cohen estava sendo paparicado.
- Acho que hoje é o dia em que você vai poder gemer bem alto, . - soprei bem ali, no pé do seu ouvido, observando sua expressão ficar dura, totalmente em choque, e sorri satisfeito.

's POV
Não dava pra fingir que não estava acontecendo. Aliás, não dava nem pra fugir. e eu já estávamos entrelaçados em um joguinho de sedução em que sabíamos bem onde iria resultar e eu não tinha absolutamente problema nenhum com isso.
Eu podia jurar que já estava toda desconsertada só pelo o que tinha falado em meu ouvido. Eu o queria tanto!
Seguimos para um bar com alguns outros amigos de Cohen que estavam com a corda toda pra comemorar a vitória dele. O som alto e a pouca iluminação já era meio caminho andado pra mim. Meu olhar com o de se encontrava varias vezes e eu podia jurar que todos os meus órgãos estavam dançando freneticamente dentro de mim por tanta ansiedade.
Primeiro nos acomodamos em uma mesa grande que quase tinha espaço pra todos se sentarem. Scott e Cohen traziam algumas bebidas e ofereciam com animação. Lydia, e eu preferimos ir direto ao bar, pedir algo mais da nossa preferência.
E assim começou.
Gritamos animadas quando Pump It, do Black Eyed Peas começou a tocar. Éramos eternas reféns de musicas nem tão antigas, mas muito boas. A junção da bebida e da música alta me agradava muito, eu nunca demorava pra me soltar. Primeiro curtimos sozinhas por um bom tempo, só nós três, dançando, bebendo e zoando uma da cara da outra. O único problema é que não saía da minha cabeça e eu simplesmente queria pular toda a enrolação, eu o queria.
Assim que e Lydia se lembraram da existência dos demais, voltamos para a mesa, que não tinha nenhum conhecido nosso, apenas os amigos de Cohen. Andamos um pouquinho até uma parte mais interna do bar, onde a iluminação era ainda mais diversa, com varias luzes coloridas mas não tão fortes, e mesmo se eu estivesse do outro lado da cidade poderia notar o dono de toda aquela beleza.
Os três conversaram com outro grupo de pessoas que eu não fazia ideia de quem eram, e exatamente por isso não me importei, nem ou Lydia. Nos aproximamos alegres e me coloquei ao lado de , sorrindo ao ver a animação do homem ao me ter por perto.
O clima totalmente descontraído me dava um gás a mais. bebia algo e me observava dançando com as meninas sem piscar e eu fazia questão de caprichar em meus movimentos. Saí da pista e fui até o bar, onde o homem se mantinha parado maravilhosamente.
- Se você quiser, posso te ensinar a dançar. - falei alto, me sentando no banco vazio que estava ao seu lado.
- Não é a minha praia. - ele respondeu simpático e divertido, sabendo muito bem que a minha tentativa de puxar papo furado era só pra dar entrada no que realmente interessava.
Pedi mais uma bebida e declarei que seria a última. Sentia meu juízo já balançado e eu tinha noção que tinha que parar. Bebi de uma vez, sentindo o líquido rasgando em minha garganta, descendo do banco e me encostando no corpo de na maior das sem vergonhice. Levei uma das minhas mãos até seu rosto, fazendo um carinho gostoso com o polegar.
Rapidamente me passou pela cabeça a Phoebe, que o tinha encontrado no racha. Ri fraco, porque mesmo morrendo de curiosidade, tal sentimento não ficava acima da excitação que me trazia sem ao menos fazer nada. Roubei um selinho demorado e tentei me virar pra sair dali, mas me puxou forte pela cintura, me guardando bem encaixada em seu corpo.
Me senti desesperada.
- Vamos logo com isso? - fechei os olhos e murmurei dengosa.
- Está com pressa? A noite acabou de começar, . - ele devolveu na mesma moeda e eu quis o esganar. O filho da puta adorava mesmo uma provocação!
Puxei suas mãos com a força que me era necessária pra fazê-lo me soltar, entrelacei nossas mãos de um jeito desengonçado e o levei até o sofá grande embutido que agora só tinha dois dos amigos de Cohen sentados. se sentou e sentei em seu colo sem vergonha nenhuma. Nenhum dos nossos amigos aparentemente estavam por perto pra tentar nos constranger.
Me encaixei bem em suas pernas e respirei fundo. Virei meu rosto pra o olhar, encontrando um levemente irritado.
Bingo!
Eu podia sentir seu membro animado e sabia que sentar em seu colo só pioraria - ou melhoraria - as coisas.
- Como você é abusada, garota. - ele sussurrou em meu ouvido e me arrepiei.
- É o meu charme, . - respondi convencida, abrindo meu melhor sorriso e me aproximando dos seus lábios, iniciando um beijo cheio de necessidades.
Suas mãos fortes se envolveram ao meu redor, e cada vez ficava melhor. Cada vez que ele me tocava, eu sentia algo novo. me proporcionava tantas coisas ao mesmo tempo, que nem se eu quisesse conseguiria falar todas elas. Grudei nossas testas sorrindo, o dando um selinho demorado. Me virei ainda em seu colo, observando a multidão, mas nada de Cohen, Scott, Lydia ou .
Assim que me virei novamente pra encarar , ele se encontrava incrédulo, assustado, como se tivesse visto um fantasma. Olhei para onde seu olhar indicava, encontrando Phoebe nos encarando de maneira totalmente indecifrável.
Por Deus!
Era tudo o que não precisávamos. Minha primeira reação foi levantar do seu colo, totalmente incerta, mas nem mesmo me olhou, apenas foi até a garota, que o esperou para se perderem juntos na multidão. Comecei a rir alto, totalmente desacreditada no que tinha acabado de acontecer. Fiz o mesmo, me enfiando por ali até achar Lydia e , que viravam uma dose de tequila com uma garota desconhecida. Cheguei rápido até o balcão, pedindo o mesmo que elas, me juntando àquilo. Nós quatro viramos uma dose juntas e fizemos caretas juntas também.
- Pronto, por hoje é só. - anunciou, empurrando o copinho pra longe - , essa é a Rony, e Rony, essa é a . - sorri ao ser apresentada pra garota que aparentemente tinha nossa idade, mas tudo o que eu não precisava no momento era me forçar a ser simpática, mesmo sabendo que a coitada não merecia isso.
Eu queria dar um soco na cara de . Ele ainda gostava dela? Talvez ele a ame? Talvez tenha ficado comigo algumas vezes pra tentar esquecê-la?
Eu sabia que já estava no meu limite da bebida e não quebraria isso por causa de um homem. Embarquei na conversa das garotas, mesmo totalmente inquieta e agoniada com o que tinha acabado de acontecer, mas não era hora e nem lugar pra lamentações. Começamos a dançar novamente e pelo menos por alguns minutos esqueci de tudo. Uma gritaria horrível começou no fundo do bar, assim como barulhos de copos e garrafas. Nos enfiamos no meio de todos que se juntaram rapidamente em volta, encontrando Cohen empurrando um rapaz tão forte quanto ele, porém mais alto. Scott tentava o puxar, mas não tinha sucesso. O rapaz tentou o atacar, mas não conseguiu, Cohen deu um soco em seu rosto que o fez cambalear e quase cair.
Eu não queria saber o motivo real daquilo, embora o homem berrava dizendo que ele tinha roubado e jogado sujo durante a corrida. Fui me espremendo com e Lydia pelas pessoas até ficarmos mais próximas dele, e as duas se colocaram na frente de Cohen, colocando as mãos em seu peito e o empurrando mais pra trás com calma, o afastando dali. Scott se manteve atento no homem, se certificando que ele não tentaria mais nada, e pegou minha mão com gentileza, me colocando em sua frente e começando a andar em seguida, ainda olhando pra trás algumas vezes. Fomos todos em direção ao estacionamento e foi aí que percebi o sangue escorrendo de um lado da boca de Cohen.
- O que houve? - a voz de se fez presente num tom apreensivo, como se fosse um fantasma surgindo do além, bem atrás de mim.
Não tive coragem de olhar pra ele, mas Cohen respondeu que tal homem sempre arrumava confusão com quem ganhava as corridas e estava prestes a ser banido por todo esse comportamento infantil.
- Vamos embora então? Acho que não vai ser legal se entrarmos lá dentro de novo. - Lydia comentou sem jeito, já caminhando em direção às motos, já que tínhamos vindo com os três.
Respirei fundo, jogando a cabeça pra trás. Queria saber se iria se explicar, embora não me devesse nada, mas queria também simplesmente ir embora e dormir por duas semanas seguidas. Ainda estava irritada com a situação. Não queria que ninguém desconfiasse de nada, não queria parecer que já estava levando aquilo muito a sério ou que estivesse fazendo drama.
Todos concordaram e começaram a se ajeitar, inclusive eu. não abriu a boca em momento nenhum e nem eu. Minha raiva foi aumentando porque porra, ele me largou no meio de um momento nosso pra correr atrás da ex!
Scott deixaria Lydia em casa e Cohen deixaria . pilotava tão rápido que em dez minutos chegamos no lugar que chamávamos de casa.
Tentei me controlar, mas assim que desci da moto, tirei o capacete de maneira irritadíssima e o indivíduo percebeu, passando a me encarar forte, sem nem piscar.
- O que é? - perguntei brava.
- Nada. - respondeu seco e rolei os olhos.
Entreguei o capacete com força, dando passos fortes até meu trailer, sentindo as minhas pernas mais fracas ao ouvir passos atrás de mim, passos que só podiam ser dele. Meu braço foi puxado com certa força, me virando e se aproximando sem me deixar saída nenhuma. Ele fez questão de me fazer encostar na minha própria porta, colocando os braços na mesma, me impedindo de sair dali ou até abri-la.
- Ou você me deixa entrar no meu trailer ou desembucha de uma vez sobre ter me largado feito uma palhaça enquanto foi atrás da sua ex igual um cachorrinho. Você ainda gosta dela ou o que? Porque se for isso, eu não estou interessada em ser a pessoa que você tá usando pra esquecer ela, tá legal? - extravasei logo de uma vez, sabendo que meu lado racional me faria falar até demais, mas a pequena distância entre nós quase que me derreteu. Seu cheiro é único.
A expressão de foi dominada pela mesma irritação que eu sentia e senti minha respiração ir pra ponte do rio que cai.
- Você às vezes fala muita besteira, garota. Que porra você tem? Acha mesmo que eu queria ter te largado daquele jeito, naquele momento?
- Então por que largou?
- ... - ele pausou e junto veio um sorriso cínico que só contribuiu pra minha vontade em lhe dar um soco aumentar - Você não entenderia.
- Vai se foder então! Nem explicou e já está falando que eu não entenderia? Você acha que eu sou o que? - explodi mais irritada ainda. Que papo de retardado era aquele?
- Pelo amor de Deus, porra! Lembra de quando eu perguntei se você já tinha namorado sério? Você deu uma resposta tão vazia, como se aquilo não tivesse significado nada pra você, e é por isso que eu estou dizendo que você não entenderia. - ele tentou se explicar tão irritado quanto eu, mas só piorou. Cerrei os olhos e abri a boca varias vezes antes de finalmente explodir novamente.
- Então você está mesmo apaixonado por ela ainda? É sobre isso?
levou as duas mãos até o cabelo, descendo as mesmas sobre seu rosto, claramente irritado.
- Não , não é bem assim. Eu não estou apaixonado por ela, nunca estive, mas é que.. - abandonou sua fala, passando as mãos pelo rosto novamente e começou a andar em círculos por alguns instantes, como se aquilo fosse demais pra si mesmo, não pra mim.
Tentei raciocinar rápido e a única coisa que me passava pela cabeça era o quanto ele parecia... perdido.
- Espera... você é um desses caras que ainda está com o coração partido por conta de algum relacionamento passado? - soltei minha suposição em voz alta e desejei rapidamente que não tivesse o feito.
não se mostrou só irritado, foi como se algo a mais o tivesse atingido, e não só por mim, e sim por talvez, pelo seu olhar, outras coisas o tivessem atingido, como sentimentos, sensações e lembranças.
- Quer saber? Deixa pra lá. - respirei fundo, me virando rapidamente, tirando minha chave do bolso e abrindo minha porta, e assim que entrei, também entrou, sem esforço nenhum. Ele bateu a porta e ficou me encarando por longos segundos. Talvez outra pessoa se assustaria de verdade, mas aquilo só tinha sido mais uma prova do quanto ele era tão vulnerável e humano por conta de certos assuntos, e mesmo não tendo nenhuma informação, já estava claro que aquele era um assunto delicado.
- , eu não sou um desses caras que ainda tem o coração partido. Isso eu posso te garantir. - ele disse com tanta convicção que eu apenas fechei os olhos e respirei fundo, sentindo seu corpo se aproximar do meu e um arrepio correr pelo meu corpo - Mas sabe o que eu vou ser hoje? O cara que vai te fazer gemer alto, aqui e agora, e eu não estou ligando se alguém vai ouvir ou não.
Eu senti absolutamente tudo dentro de mim se derreter. Podia sentir a umidade na minha intimidade se fazendo presente no mesmo segundo. Aquilo era absolutamente imprevisível porém totalmente prazeroso. me segurou tão forte e com tanta vontade que um gemido já quase se escapou. Sua boca foi até meu pescoço, fazendo uma trilha de beijos ali da maneira mais filha da puta e provocante. Suas mãos foram até o botão do meu shorts, desabotoando o mesmo e puxando o zíper junto, e o mesmo caiu no mesmo instante.
Céus, estava acontecendo de verdade!
Saí do transe em que eu estava, agilizando e tirando aquela bota dos meus pés, assim como as meias. sorriu satisfeito ao observar o meu desespero e nem ferrando que eu o deixaria ganhando esse jogo. Fiz exatamente o mesmo, e assim que suas calças atingiram o chão, o desespero pra tirar os tênis e as meias foi totalmente semelhante ao meu. Soltei uma risada fraca e vitoriosa, e mais uma vez, desejei não o ter feito, porque o olhar totalmente descontrolado de se fez presente da maneira mais excitante do universo. O homem me virou bruscamente, grudando nossos corpos e me fazendo sentir seu membro totalmente duro e vivo. Perdi o controle da respiração por segundos e perdi de vez quando ele tirou minha blusa que já não cobria muita coisa com brutalidade. Ele simplesmente não estava ali pra brincar. Ele queria me matar, e eu estava amando cada ação.
Suas mãos foram passeando pelas minhas costas, me causando no mínimo duzentos arrepios seguidos. Assim que chegou em meus ombros, derramou suas mãos em meus seios em cheio, ainda por cima do sutiã. Ele brincava de um jeito cafajeste, apertando os dois com vontade.
- ... - murmurei dengosa, quase desmanchando em suas mãos, sentindo meu corpo pegar fogo tão forte que poderia entrar em combustão.
- Sim?
Fui incapaz de formar uma frase ou responder qualquer palavra. tirou a própria camiseta, a jogando no chão e me virando novamente, grudando nossos lábios de maneira desesperada porém intensa. O jeito que nossas bocas se exploravam era facilmente uma das minhas coisas favoritas no momento. O quanto elas se encaixam tão bem e tão certeiras...
Fomos andando pra trás até batermos na cama, onde me empurrou pra deitar de maneira apressada, mas sensual. Se colocou no meio das minhas pernas, encaixando seu pênis ainda dentro da cueca em minha intimidade encharcada por cima da calcinha.
Eu quis berrar.
O olhei irritada e desesperada, arrancando um riso gostoso dele. Tentei respirar fundo, mas simplesmente não consegui. Uma das mãos de foi sem rodeios até minha intimidade, tocando meu clitóris ainda por cima da calcinha, quase me fazendo gritar mesmo pela surpresa e pela onda de prazer. Ele começou fazendo movimentos circulares e apertei os olhos com força ao sentir aquilo.
- Por Deus... - resmunguei com muita dificuldade, vendo o homem se divertir com o meu desespero.
Ele continuou muito empenhado e começou a acelerar, e um gemido abafado saiu sem dó ou restrição.
- É assim que você gosta, ? - ele trouxe seu corpo pra mais perto, sussurrando em meu ouvido.
- Anda logo com isso. - choraminguei ainda mais.
tirou a mão dali sem aviso prévio e minha cara brava se formou no mesmo instante. Seu olhar divertido não abandonava seu rosto, mas ele finalmente tirou minha calcinha com maestria, jogando a peça pra não sei aonde também. Ele puxou meu corpo para que pudesse tirar o meu sutiã, finalmente libertando meus seios, e sua expressão maravilhada me encheu de fogo.
- Você é linda, . - ele sorriu bobão e eu não tive nem tempo de me derreter pelo elogio.
Suas mãos grandes agarraram meus seios com vontade, e arqueei o corpo pra cima ao sentir sua língua quente no meu seio esquerdo, enquanto ao mesmo tempo uma de suas mãos correram até meu clitóris novamente.
Ele simplesmente queria acabar comigo de vez!
Minhas mãos cravaram em seus ombros e eu tinha certeza que a marca das minhas unhas ficariam ali e a ideia me deixou feliz. ergueu a cabeça pra me olhar, e eu sabia que aquilo não era nem o começo. Sabia também que ele já tinha superado todos os caras que já tinha me relacionado anteriormente.
Ele passou a mão pela minha intimidade inteira com vontade, e eu sentia seus dedos deslizando por ali sem esforço nenhum. Eu estava encharcada de verdade.
Ele sorriu satisfeito, me dando um selinho rápido e se levantando. Joguei meu corpo inteiro pra trás, batendo as costas na cama e fechando os olhos. O melhor estava por vir. Pude ouvir um barulhinho que eu sabia o que era e me senti mais ansiosa ainda. se aproximou novamente, já com a camisinha em seu membro e se encaixou em mim, me encarando por longos segundos.
Definitivamente o paraíso é um lugar na terra.
Ergui meu corpo e puxei seu rosto pra mim, num beijo totalmente desesperado. Segurei em seu membro totalmente ereto, interrompendo o beijo e sorrindo até não caber o rosto.
Éramos bons um com o outro.
não tirou os olhos de mim quando finalmente senti todo aquele volume dentro de mim. Gemi alto, não lembrando e nem me importando que alguém provavelmente poderia ouvir. Cravei minhas unhas em suas costas apertando os olhos forte demais. Ele era grosso.
Suas estocadas fracas foram necessárias até eu me acostumar com tudo aquilo dentro de mim, mas eu já estava desesperada. Eu queria absolutamente tudo o que ele tinha pra me dar.
- Mais... rápido. - demandei ainda com os olhos fechados, totalmente entregue à ele.
Ele acatou meu pedido sem delongas. As investidas fortes de me faziam gemer de pura necessidade e excitação. Ele intercalava entre estocadas mais fortes e rápidas com mais fracas e lentas, apenas pra me ver choramingando e me forçando contra ele, tentando mantê-lo dentro de mim com desespero.
Assim que abri os olhos, podia ver bem que o prazer estava bem dividido. As expressões de prazer e os gemidos baixinhos de me levavam do céu ao inferno em questão de segundos. Ele estocou com força demais por alguns segundos e eu quase gritei alto demais, mas ele grudou nossos lábios totalmente desengonçado e desesperado.
Ele me girou pela cama com sutileza e cuidado, afinal, era uma cama de solteiro dentro de um trailer. A visão que eu tinha por estar em cima dele era demais. Não perdi tempo, segurando seu membro e logo minha intimidade o engoliu com facilidade. Apertei os olhos novamente, sentindo todo aquele prazer intenso tomando conta de cada parte do meu corpo cada vez mais. Por um segundo, tudo o que eu via era a clareza dos seus olhos cor de âmbar que olhavam dentro da minha alma. Eu cavalgava em seu pênis com tanta vontade e excitação, que eu só queria poder viver tal pico de tesão o dia inteirinho.
- Caralho, . - disse com a voz rouca e com dificuldade, segurando forte em minha cintura e me prendendo ali por longos segundos e eu soltei um gemido abafado. Sentir cada pedacinho do seu membro dentro de mim já estava literalmente quase me levando à loucura.
- Eu... vou... - me perdi, sentindo tomar controle da situação e estocando rápido e sem dó.
Fechei os olhos, os apertando e mordendo meus lábios, totalmente fora de controle. Procurei as mãos de e as entrelacei.
- Abre os olhos, . – ele praticamente implorou.
Eu abri, dando de cara com a expressão mais excitante e gostosa que já tinha visto em dezenove anos de vida. O maxilar dele estava travado com força, e sua respiração descontrolada, assim como a minha. Seus movimentos se aceleraram freneticamente e eu fui engolida pela maior onda de prazer. Foi como uma avalanche. Explodi ali, em cima dele, o encarando da maneira mais firme, decidida, prazerosa e satisfeita.
- Ahhh... Puta que pariu! - grunhi sentindo a sensação que me deixou em êxtase completo.
Observamos todo o meu orgasmo tomar conta do seu membro e sorrimos juntos. Logo eu mesma me reergui, me colocando novamente naquela posição incrível, e mesmo já sentindo o cansaço bater em minha porta, precisávamos finalizar direito.
Voltei a entrelaçar nossas mãos, me movimentando de maneira rápida, rebolando em seu pênis freneticamente, sentindo meu corpo formigar e os nossos gemidos se misturarem.
- ... - sorri ao observar seus olhos se apertando de prazer, sabendo muito bem o que aquilo significava.
Quiquei em seu membro com vontade, ouvindo o gemido mais gostoso do mundo sendo dado ao anunciar seu orgasmo. me puxou meio bruto, me fazendo deitar ao seu lado e me dando diversos selinhos. Ficamos alguns instantes tentando recuperar nossas respirações e ele se levantou, se livrando da camisinha e me encarando em seguida.
Ainda estávamos quentes e mesmo cansada, eu toparia ficar a noite inteira repetindo a dose até depois de cansar, mas eu sabia que não era só aquilo, e eu nem queria que fosse algo insignificante.
- Você quer... ficar aqui? - me sentei com dificuldade, puxando o lençol claro contra o meu corpo, observando o homem ficar sério, mas nada que me assustasse.
- Você quer que eu fique? - arqueou uma sobrancelha, realmente curioso e confuso.
Meu Deus, tudo o que eu mais queria era ele ali!
- Claro! - me permiti rir feito boba, erguendo uma mão que foi pega junto com um sorriso dele. O puxei sem força, sabendo que ele viria.
E veio.
Sorri largo, e mesmo a cama sendo quase pequena demais pra nós dois, coubemos perfeitamente. Nós dois, nossos desejos e todo aquele fogo.
O cheiro natural de invadiu minhas narinas assim que encostei o queixo em seu peitoral, observando atentamente seu rostinho. Ele sorriu alegre, enfiando a mão em meus cabelos e fazendo um carinho gostoso ali.

Capítulo 12

's POV
Apertei os olhos, desembaraçando minha visão e percebi que estava sobrando espaço. não estava mais na cama. Respirei fundo, recapitulando todas as memórias da nossa noite juntos. Definitivamente dormir com ele foi uma das coisas mais gostosas da vida.
Me sentei preguiçosa, quase caindo da cama de susto. estava sentado na única cadeira dali de um jeito preguiçoso, me encarando com um olhar divertido.
- Filho da puta! - resmunguei rindo, pois ele estava fazendo o mesmo, claramente achando o máximo o susto que me deu.
- Bom dia pra você também, madame.
Ele estava só de calça e sem camisa, e parecia ridículo demais eu já acordar babando por aquele homem que tinha me levado ao paraíso.
- O que está fazendo aqui? - cerrei os olhos realmente confusa, porque eu realmente não esperava acordar e vê-lo ali. pareceu quase ofendido com a minha pergunta e rolei os olhos com a minha falta de expressão, logo me corrigindo - Quero dizer, é ótimo você ainda estar aqui, mas eu realmente não esperava. Geralmente não é o que acontece...
- Então quer dizer que você faz muito desse tipo de coisa, huh? - um sorriso malicioso surgiu em seus lábios, obviamente querendo se referir a um sexo de uma noite e eu caí na risada.
- Claro que não! É só que... Tenho amigas que falam sobre isso e também está nos livros, certo? - óbvio que eu não entregaria como era minha relação na manhã seguinte após o sexo com outros rapazes, até porque até eu esquecia as vezes. Era sempre algo ridículo, mas não tão ridículo quanto eu usar livros como justificativa.
- Livros? Anda lendo muito romance clichê, dona ? - um tom divertido saiu de seus lábios e eu quis jogar o travesseiro em sua cara.
- Claro, oras. Sou uma mocinha! - segurei meu queixo numa falsa tentativa de parecer uma fofura de ser humano, mas ele já me conhecia o suficiente, e ainda assim riu.
Não era totalmente mentira, eu já tinha lido vários romances na vida.
- Nem tanto. - um olhar cheio de safadeza veio ao meu encontro e senti meu rosto queimar no mesmo instante. riu fraco, não prolongando aquilo, se levantando e pegando um copo de suco que tinha na pequena mesa dali - Não é um café da manhã ideal, mas foi a única coisa que consegui fazer com as coisas que você tem aqui. - e riu divertido, me erguendo o copo de suco de laranja.
O encarei encantada, querendo me beliscar de verdade pra ter certeza de que tal beldade era real mesmo. Como ele conseguia?
- Obrigada, .
Ele me observava enquanto tomava o suco, que por sinal, estava ótimo. Vestiu sua camiseta e pegou seus pertences com cuidado, e meu coração começou a apertar ao perceber seu corpo em frente à porta, com a mão já no trinco para abri-la.
- Até depois, .
E saiu.

——

- É menina, você voltou com tudo, não é? Já conseguiu fazer tudo o que não fazia há meses! Acho que é a pessoa que te traz sorte, . - tagarelava sem parar e ria no meio de suas frases.
Totalmente o que eu imaginava. Claro que teve um breve e leve surto, e demorei pra explicar como tudo tinha acontecido, já que ela me interrompia a cada segundo pra fazer alguma piadinha.
- Eu ainda nem acredito, sério. - suspirei ainda em choque, jogando meu corpo pra trás e batendo no sofá. Por sorte, estávamos sozinhas no estúdio, caso contrário, quem estivesse ali correria por não entender do tanto que ríamos.
- Imagino. Acho que preciso de alguém também, estou sentindo falta. - se esparramou no sofá também e eu ergui o corpo para encará-la.
- Sério? - questionei desconfiada.
- Não, peste. - sua risada dominou o local e logo a minha se juntou.
- Sabe, eu gostei de tudo o que aconteceu, mas não sei o que realmente significa, sabe? - comentei assim que nossas risadas se controlaram. Eu estava feliz por tudo o que tinha rolado, feliz e satisfeita até demais, só não sabia direito o que sentir ou como lidar. Qual é, a gente mora no mesmo lugar e parece ser... estranho.
- Por Deus, , às vezes você passa tempo demais pensando no que as coisas significam. Só aproveita, sabe?
- É que... Acho que ele era apaixonado por alguém. Aqueles olhos tatuados no peito dele, sabe? - mordi meu lábio inferior apreensiva.
- Se era ou não, já passou. Ele no momento está solteiro, vocês já ficaram juntos e talvez fiquem de novo. Aproveita, pelo amor de Deus, só isso! E se você quiser conversar sobre isso, ser amiga e bla bla bla, vai com calma, ok? - arqueou uma das sobrancelhas, firme e forte no que dizia. Eu sorri feito boba, porque depois da minha mãe, ela era a pessoa que mais me ajudava em absolutamente tudo.
Começamos a recolher a bagunça que fizemos ao comer e beber, afinal, precisava dormir pra acordar cedo e trabalhar, e eu ainda tinha algumas horas pra matar até a hora de trabalhar com .
Saímos do estúdios e fomos a pé até certa parte, já que a nova casa de era por outro caminho. Continuei o percurso tranquila, e me peguei ansiosa. Ainda não sabia como me trataria. Não queria que ele tratasse nossa noite como um erro ou algo que não deveria ter acontecido, porque os dois tinham aproveitado e muito. Coloquei meus fones, pronta pra chacoalhar aqueles pensamentos pra longe com uma boa música alta. Parei em frente à faixa de pedestre, esperando o farol fechar e atravessei tranquila.
Mas não tão tranquila.
Depois de alguns minutos e duas músicas tocando no último volume, notei ao olhar de canto o tempo inteiro o quanto o mesmo cara que parou junto comigo no farol continuava a andar atrás de mim, falhando miseravelmente em disfarçar. Dobrei a esquerda, sabendo que aquele não era meu caminho de verdade, mas precisava saber.
Ele dobrou a esquerda junto.
Por Deus!
Meu coração começou a palpitar tão forte que pensei que iria parar. Tive a coragem de olhar pra trás, vendo o homem vestido todo de preto me encarar de maneira nada agradável. Apertei o passo mais ainda, não estava longe de chegar, faltavam três ruas. Por sorte, eu conhecia aquelas ruas muito bem. Acelerei o passo ainda mais, correndo até entrar no primeiro beco que vi pela frente. Olhei pra trás agoniada, observando o homem com o celular em mãos e falando com alguém, mas correndo atrás de mim. Acelerei mais ainda, sentindo alívio por não ver nem mais o rastro do homem por longos segundos. Me permiti desacelerar um pouco, chegando no fim do beco e voltando pra rua, mas minha respiração parou assim que outro rapaz tapou minha saída com o próprio corpo, nos chocando com força, me fazendo cair com tudo no chão.
- Consegui. - o rapaz anunciou pelo celular, claramente em contato com o outro rapaz que me perdeu assim que entrei no beco.
Me levantei rápido, observando o tanto de gente que passava pela rua mas o homem continuava na frente da saída. Alto, cabelos bem pretos e uma expressão totalmente nojenta, como se eu fosse um prêmio. Ele se aproximou com petulância, me agarrando pelo braço sem nenhuma gentileza, mas peguei o mesmo e torci com força, derrubando seu corpo por inteiro no chão.
Voight tinha me ensinado bem.
- Não agarre mulheres pelo braço, docinho. - me gabei irônica em alto e bom som, correndo antes mesmo dele pensar em se levantar.
Corri e corri. Parecia que as ruas tinham ficado maiores, mas consegui. Assim que entrei ali totalmente sem conseguir respirar e finalmente me permiti sentir o desespero, parecia que eu ainda precisava correr pra me livrar daquela sensação horrível. Curvei meu corpo cansado pra baixo, sentindo que iria vomitar.
- Chama o Voight, rápido! - ouvi a voz do homem que me encantava em todos os sentidos que tinha conseguido identificar até então. Me ergui ainda com a respiração descompassada, sentindo as mãos de me envolvendo com cuidado - O que aconteceu? - ele segurou em meu rosto com cuidado, observando cada parte dele - Você chegou correndo feito maluca, . O que aconteceu? - ele estava nervoso, apreensivo e eu não conseguia o encarar de jeito nenhum.
- O que houve? - a voz grossa de Voight se fez presente e logo senti seus braços me envolvendo num abraço acolhedor - O que foi que aconteceu, ? Alguém te fez algo? - ele sussurrou em meu ouvido enquanto me abraçava com tanta força e cuidado, que a última coisa que eu queria era falar, mas precisava.
- Dois homens me seguiram. Tentei despistar um deles e consegui, mas o outro já estava me esperando e agarrou meu braço, mas consegui derrubar ele e correr. - respondi nervosa e baixinho, apertando meus braços em seu corpo mais forte, sentindo tudo o que aquele abraço estava me proporcionando.
- Calma, já passou! - ele afagava meus cabelos com carinho - Você pode me mostrar exatamente onde foi? Consegue voltar lá e me mostrar? - ele dizia com cuidado, como se aquilo fosse capaz de me quebrar.
Assim que recuperei totalmente o controle da minha respiração e nossos corpos foram se soltando lentamente, enxerguei claramente o que tinha acontecido. Eram os Ghosts, certeza.
- Consigo! - respondi alto, observando , Scott, Cohen e mais algumas pessoas ao nosso redor.
Voight me levou até seu escritório com cuidado, mesmo eu cansando de dizer que estava bem. Expliquei como tudo aconteceu e ele se mostrou furioso, mas tentou manter o controle. Seu celular tocou e saiu do escritório pra atender, e nem um segundo depois, entrou.
- Ei! Você tá bem? - ele se sentou ao meu lado sem rodeios, parecia realmente preocupado e não teve como não achar adorável de sua parte.
- Tô sim. Não fizeram nada comigo. - sorri sem mostrar os dentes, finalmente o encarando e perdendo o controle da respiração novamente.
- Não mesmo? - ele ainda parecia incerto e preocupado, e eu estava pronta pra amassar seu rostinho com tal expressão, mas meu celular tocou, anunciando uma nova mensagem.
O tirei do bolso. Era Dave, mandando um arquivo que eu sabia exatamente do que se tratava. Abri com pressa, primeiro observando a foto do homem e virando o celular pra .
- Esse é o Wilmer? - senti aquele estado desesperado saindo de mim e logo fui invadida por ansiedade, vendo o rosto do homem se iluminar novamente ao observar o que eu o mostrava.
- Ele mesmo! Conseguiu algo? - sua animação veio de imediato. Rolei para as informações que Dave havia conseguido, como número de telefone e o último endereço.
- Aqui mostra que ele está em Oxford, é o último endereço dele. Podemos ir amanhã mesmo, o que acha? - embarquei na mesma onda de animação que ele, sabia bem o quanto aquilo era importante e podia o ajudar.
- Ir aonde? - Voight adentrou o escritório novamente curioso.
- Atrás de Wilmer, consegui o endereço dele! - levantei o celular com uma mão animada, sentindo apertar forte a outra, e assim que meu olhar foi de encontro ao seu, percebi que tinha falado demais. Ele não queria que Voight soubesse.
- Você é mesmo filha da sua mãe, inacreditável. - Voight riu alto - Foi atrás de Dave, não foi?
- Sim. - respondi orgulhosa, tentando ignorar o incômodo do olhar um pouco irritado de .
- Vamos? Depois a gente conversa sobre Wilmer, pode ser? - pelo o que eu conhecia de Voight, mesmo sabendo o quanto ele sabia disfarçar bem em certas situações, pude ver certo incômodo nele, como se eu ter ido atrás de Dave pra descobrir sobre Wilmer fosse um grande erro.

——

Minha mente estava longe enquanto resmungava sobre eu ter contado sobre Wilmer, mesmo sabendo que não foi a minha intenção.
Minha mãe sempre dizia que seguir em frente tem a ver com você se importar com sua integridade, não importa sobre o que seja. Eu sempre consegui compreender bem de que tentar reviver o passado ou querer voltar para pessoas e coisas que já não fazem sentido, não vão me ajudar a viver no presente. O problema é que eu nunca soube identificar, de fato, de quem e do que eu sentia falta. Às vezes sinto que um pedaço da minha história se perdeu e que eu jamais vou conseguir recuperar.
- Você e Voight conversaram sobre Wilmer? - perguntou firme e senti minha cabeça voltando pro lugar aos poucos - ?
- Sim, falamos. - o olhei, ainda um pouco avoada - Ele disse que podemos ir até o endereço amanhã, mas que duvida muito que ele esteja lá.
- Não tem problema, vou lá amanhã mesmo.
- Nós vamos, não é? - frisei a primeira palavra, o encarando desconfiada e ao mesmo tempo o desafiando a me contrariar, pensando que poderia intimidá-lo de alguma maneira, mas não.
- Não precisa você ir, .
Bufei alto, encostando minha cabeça no banco e encarando a rua.
- É aquilo... A tecnologia avança, mas os humanos não.
- O que quer dizer com isso? - foi desacelerando o carro e respirei fundo, já sentindo meu corpo queimar.
De raiva.
- Eu te ajudei, eu consegui a informação e você não quer nem que eu vá junto? Não acha ingratidão demais, ? Você nem mesmo me agradeceu, só soube resmungar até agora como se Voight fosse algum tipo de inimigo. - virei meu rosto e firmei meu olhar raivoso no seu, tendo plena certeza de que o irritaria, mas que se dane.
- Eu só não quero que você se envolva demais nisso, . Coisas ruins estão acontecendo e não quero que aconteça com você, só isso. - pude observar seu maxilar travado, provavelmente tentando se conter em não explodir de verdade, embora eu tenha realmente achado sua justificativa sincera, mas não o suficiente.
- Ah claro, você precisa me poupar disso porque se algo der errado, você vai se culpar, não é? - usei meu melhor tom irônico e bingo!
- Está mesmo falando sobre mim, ? - aquilo queimou dentro de mim. riu fraco porém debochado e minha vontade era de abrir aquela porta e correr pra longe dali. Sua fala tinha me atingido em cheio.
- Você não é tão diferente de mim, meu bem. - o provoquei a altura, sabendo que aquilo o atingiria também.
Qual é, daquilo eu tinha certeza. Éramos iguais naquele quesito. A culpa estava sempre em nossos ombros, e doía mais que tudo alguém saber disso.
- , chega! Eu não quero discutir com você, tá legal? - eu sabia que aquilo tinha exigido muito esforço de si mesmo e por um instante o admirei por tal atitude, mas como sempre, eu queria mais. Eu queria sentir toda aquela raiva de vez.
- Pelo jeito você não quer merda nenhuma comigo, . - zombei com uma risada fraca, o encarando pela última vez antes de virar o rosto novamente para a rua, embora o carro já estivesse parado.
- Que porra você está falando? - ele realmente pareceu perdido e pra mim foi o pior.
- Que merda, ! A gente passou a noite juntos e você tá aqui fingindo que nada aconteceu e resmungando feito um velho reclamão por algo ridículo! - extravasei de uma vez e ele simplesmente se explodiu em gargalhadas altas. O fuzilei com o olhar, prontíssima pra de fato, dar um soco em sua cara.
- , o que você esperava? Flores? Um pedido de casamento? Meu Deus, às vezes eu esqueço que você só tem dezenove anos e...
- Eu não sou retardada, . Eu sou mais nova, mas não sou uma criança inocente! - me senti indignada por ter que me explicar de tal maneira e me senti ridicularizada por ele ter gargalhado assim, na minha cara, como se eu fosse um nada.
- Ok, vou tentar explicar melhor. Eu não sei o que você esperava, de verdade, mas por experiência própria, mulher nenhuma entra numa relação sem compromisso achando que vai continuar sem compromisso. Não sei se é isso que você pensou que poderia acontecer ou outra coisa, mas é basicamente isso... Essa história de sexo casual não dá muito certo e no final, eu me torno o vilão da história. - ele realmente se justificava como se aquilo fosse uma verdade absoluta mas só serviu pra me deixar mais chocada ainda, e com mais raiva também.
- Bem, você ria na cara da Phoebe desse jeito depois de transar com ela ou quando ela falava que te amava? - eu sabia que era um caminho perigoso a se seguir, mas precisava entender que aquilo foi errado. Como ele simplesmente ri enquanto eu tento dizer algo que me incomoda? Não, meu bem, comigo não! - Ou será que você fazia isso com a outra também? A menina que você tem os olhos tatuados no peitoral, huh?
Me senti completamente satisfeita ao observar a expressão de mudar drasticamente. Aquilo foi, de longe, um banho de água fria naquilo que ele achava que tinha razão.
- E isso te importa em algo, ? Ou você achou que iríamos nos apaixonar perdidamente depois da noite passada?
Droga. O filho da mãe abriu um sorrisinho irônico e ligou o carro novamente, e sabíamos que nada mais podia ser dito. Fomos simplesmente, em todos os sentidos, ridículos.

——

Me troquei ainda irritada. Meu dia não tinha começado da melhor maneira porque simplesmente aquela raiva e angústia se recusavam a me abandonar. Por minutos, a única coisa que eu queria era uma festa cheia de gente, barulho e bebidas.
Sinceramente, eu só fico dentro do trailer, na cama, fazendo nada durante o dia todo e esperando a hora do trabalho. Desde que tinha me mudado, poucas vezes era uma rotina diferente, embora coisas novas tivessem acontecido e acontecendo.
Me sinto patética. Me sinto vazia. Me sinto irritada com tudo.
Me olhei no único espelho grande dali, já com o meu shorts e a blusa curta e colada no meu corpo mas de tecido confortável.
Quem pode olhar pra si mesmo e não sentir vergonha? Pois bem.
Bufei irritada, sabendo que pensar demais me deixaria pior, e não pensar, também. Saí do banheiro com pressa, estendendo a toalha no varal dali e ouvindo as vozes conhecidas em um assunto que me chamou muito a atenção. Queria não ter feito, mas fiz. Me encostei em silêncio atrás do último trailer dali, apenas dando uma olhadinha pra confirmar que eram os três porquinhos mesmo.
- Sei lá, bro. Eu juro que não sei como ela consegue ser tão compreensiva! Eu fui cuzão em deixar sozinha pra ir atrás dela, e eu fui esperando o pior, porque ela me olhou com uma carinha tão... Nem sei explicar, mas assim que comecei a falar, ela agiu tão naturalmente bem e tranquila que parecia pegadinha! - a voz de estava entre apreensiva e descreditada.
- E você tá achando ruim? - Scott perguntou irritado, como se estivesse cansado daquilo.
- Não, claro que não, é só que... Eu realmente não pensei que ela fosse tão boa assim. Fico feliz por isso, por ela ser uma pessoa tão evoluída assim, mas ainda me sinto um merda por ter magoado ela.
- Eu tô cansado de mandar você ir tomar no cu, mas vou mandar de novo: vai tomar no cu! - Cohen e sua gentileza se manifestaram e eu me segurei pra não rir - Cara, você precisa, de verdade, parar de se sentir responsável por tudo. Não deu certo, acabou! Ela já tá seguindo a vida dela, faça o mesmo e já era!
- Você não entende, Cohen. - retrucou.
- Eu nunca passei por isso, mas de uma coisa eu sei: nada no mundo pode te parar, e você deixa o que aconteceu com a Sienna te parar.
Eu podia ouvir o barulho dos sprays, e por alguns segundos deixei de escutar a conversa pra pensar comigo mesma. Sienna só podia ser a garota da tatuagem. Ou não. Mas parecia ser.
- Preciso ir atrás do Wilmer. Mais tarde eu volto. - assim que finalizou, andei até me enfiar no meio dos trailers ao lado, saindo de perto dali, sem correr o risco de ninguém saber que eu estava ouvindo a conversa deles.
Cheguei até meu trailer com a maior cara de paisagem, e logo apareceu. Fingi que nem o enxerguei, pronta pra entrar e fazer um grande nada durante o resto da tarde.
- Vocês dois! - Voight deus as caras também - Preciso que vocês arrumem e limpem o galpão. Vão chegar algumas coisas novas aqui e vou precisar de todo o espaço que conseguir. - ele não nos deu a opção de discordar, só demandou.
- Eu vou atrás de Wilmer. - fingiu que não tinha ouvido nada, e Voight se mostrou irritado.
- Primeiro o galpão. - finalizou rude, dando as costas, nem mesmo dando chance do homem resmungar.
Eu quis rir, mas não tinha vontade. Sabia que aquilo era importante pra . Ainda assim, eu estava com raiva dele. Raiva da sua atitude de moleque. Eu entendo. Ou mais ou menos entendo. O trauma de um amor e alguém do passado é algo sério, mas isso não dava o direito dele me tratar como tratou.
Continuei fingindo que ele não estava ali e andei até o galpão, que já estava aberto. Tinha uma porrada de coisa que eu nem sabia que tinha. Peguei uma das vassouras que tinha ali, começando a varrer e observar as prateleiras cheias de coisas e as caixas gigantes empilhadas no chão. entrou com cara de poucos amigos, fechando o pequeno portão dali com chave e tudo, me dando um arrepio pelo corpo todo. Evitei o contato visual assim que ele me olhou, voltando a varrer o que podia.
Ele permaneceu parado por minutos e eu sentia meu corpo todo queimar de tanto que ele me olhava.
- Qual é, , vai ficar calada? - ele continuava parado, encostado na parede. Levantei o olhar nervosa, não estava com paciência pra nada do que ele podia estar pensando, mas respirei fundo e continuei a varrer, ainda calada e tentando miseravelmente ignorar sua presença - , vamos lá..
- Você riu de mim ontem! Na minha cara, ! Você riu! - esbravejei de uma vez, deixando até a vassoura cair, me sentindo derrotada. Me sentia exausta em todos os sentidos.
- Porra, você falou demais também, não acha? - ele se mexeu, andando até a minha direção e minha respiração começou a falhar. Por mais que eu também tivesse errado, não conseguia simplesmente ignorar sua atitude e minha expressão chateada não me deixava mentir. parou poucos passos de distância de mim, me analisando por alguns segundos - Me desculpa, tá legal?
Ele fez de novo. Pediu desculpa primeiro mesmo eu também tendo errado. Aquilo me pegou de jeito, me deixando até sem graça. Abri a boca mas abandonei minha fala antes mesmo de começar. O encarei desconfiada, porque aquilo me atingiu em cheio.
- É isso o que você faz, não é? Fala o que quer, depois vem, pede desculpa e daqui alguns dias acontece de novo? - meus olhos semi cerrados deixavam minha desconfiança ainda mais explícita.
- O que? - pareceu realmente ofendido com aquilo, mas riu fraco, claramente tentando se conter pra mais uma vez, não falar demais - Eu peço desculpas porque sei reconhecer meu erro, . Não quero ser um babaca com você e não quero que pense que o que aconteceu é totalmente insignificante pra mim. - ele falava tão sério e tão firme que quase me partiu ao meio.
Me senti ridícula, mas aquela raiva ainda estava ali dentro de mim. Meu corpo se arrepiou porque meu cérebro foi rápido demais em assimilar certas coisas. O que aconteceu não foi totalmente insignificante pra ele!
- Tudo bem, que seja. - dei os ombros de maneira rude, tentando focar no que precisava ser feito, que era arrumar o galpão.
Eu queria entendê-lo. Queria saber de cada coisinha, mas estava sem forças pra tentar entrar de vez em sua vida. Estava me sentindo estranha demais. Começamos a realmente arrumar o lugar em silêncio, não tinha muito o que ser dito. tirava as caixas das prateleiras enquanto eu tirava o pó.
- O que é isso? - o tom divertido na voz de me trouxe curiosidade no mesmo instante. Ele segurava um álbum com uma foto minha e de enorme na capa e eu quase gritei.
- Meu Deus, tá aqui! - o entusiasmo em minha voz era gritante e não importava mais a minha raiva no momento - Eu culpei a por meses por ter perdido esse álbum, caramba! - peguei ele da mão de e nem pensei antes de começar a passar as fotos, sabendo que tinha muita coisa vergonhosa ali - Esse álbum a gente montou quando eu tinha treze anos e colamos fotos aqui até quando eu tinha uns dezesseis. - expliquei sem nem ter sido perguntada sobre, mas o tal álbum realmente me animou.
- Nada mal. - ele apontou pra uma foto em que eu estava vestida de cowboy e rimos juntos. Aquele era o álbum da vergonha, mas estava sendo gostoso ver todas as lembranças.
Gargalhávamos alto enquanto fazia questão de zoar as minhas poses e caretas, até chegarmos nas últimas fotos, onde eu já estava com dezesseis e menos bobinha. O olhei de canto por alguns segundos e mesmo achando que ele não podia ser tão bom o tempo todo, resumidamente, era sim um cara bom, embora dissesse que não.
A última foto era uma minha, e nossos namorados na época. Sim, namoramos juntos ao mesmo tempo. não precisou perguntar porque seu olhar já tinha feito isso por ele e não vi problema nenhum em responder.
- Esse aqui é o único namorado que tive na vida, o que durou cinco meses. - expliquei descontraída. A foto pelo menos estava bonitinha.
- Você não sente falta? - ele questionou e me mostrei confusa, sem entender sua pergunta - Não sente falta de alguém com você? - reformulou. parecia interessado e curioso ao mesmo tempo.
- Não. Quero dizer, eu tinha dezesseis anos, foram só cinco meses e... foi coisa boba. - dei os ombros, fechando o álbum mas não o guardando de volta na caixa. Por mais que estivesse cansada, a curiosidade foi maior e me vi com uma boa oportunidade pra tentar descobrir algo e não perdi tempo - E você, sente falta de ter alguém, ? - virei meu corpo, ficando de frente pra ele com um olhar inocente que não o enganaria nem de olhos fechados. Ele pareceu surpreso e perdido por um instante, mas logo tomou o controle da situação.
- Não.
- Tem certeza? - arqueei uma sobrancelha, ainda incerta se queria mesmo começar aquilo tudo de novo.
- ... - ele tombou a cabeça de leve com um olhar firme, como se aquilo fosse um assunto restrito e bufei alto.
No mesmo instante em que estava tudo bem, já estava ruim novamente. Rolei os olhos irritada, sentindo a raiva se fazendo presente novamente. Não é possível que ele não fale nem a pau sobre sua vida e seus relacionamentos passados!
Fui para o outro lado do galpão, onde tinham outras prateleiras e eu mesma comecei a tirar as caixas dali pra limpar, de maneira totalmente irritada. Pude observar parado, me olhando como se eu fosse um bicho selvagem e ignorei totalmente. Respirei fundo diversas vezes, começando a me sentir incomodada com toda aquela atenção em mim. Me virei e o encarei com cara feia, mas não teve um grande efeito nele, que apenas soltou uma risadinha e começou a andar em minha direção.
- Você fica nervosa muito fácil, .
- Me diga algo que eu já não saiba, . - cruzei meus braços, usando meu tom mais provocativo e cínico.
Quanto mais ele se aproximava, mais eu tinha certeza de que dali partiria pra um joguinho longo de provocações, estava estampado na cara dele. Mas eu não estava afim. Não estava mesmo!
Eu já detestava conversar porque quase nunca conseguia explicar as coisas malucas que se passam na minha mente e colam no meu coração, mas sentia vontade de conversar com , e pior; sentia vontade de ouvi-lo!
Voltei minha atenção para as prateleiras, ignorando totalmente o fato dele já estar perto demais de mim. Eu queria muito ter tido tempo pra afastá-lo, mas assim que senti o corpo de grudar no meu, em um jeito totalmente descarando e excitante, meus pensamentos se desregularam de maneira totalmente ridícula.
Me senti traída por mim mesma.
Ele pegou uma caixa que estava na prateleira de cima como se nada tivesse acontecendo, enquanto seu corpo roçava no meu descaradamente, e assim que pegou a maldita caixa, se afastou tranquilamente. Talvez fosse o jeito dele de fugir de algum assunto sério ou talvez... Talvez ele estivesse me querendo novamente.
Ou não. Talvez fosse coisa da minha cabeça também. Foco, !
E ele... fez de novo.
Eu quase derreti ao sentir seu corpo contra o meu novamente e ao mesmo tempo senti uma pitada de raiva, afinal, que diabos ele queria? Me enlouquecer?
Abri a boca varias vezes mas nada saiu e ele não se movia. Eu pude sentir seu membro duro encostando em mim e me arrepiei inteira. se entranhou em meu pescoço, dando beijinhos suaves ali e eu comecei a me entregar àquilo.
O que ele estava pensando eu não queria mais saber, queria aproveitar. Talvez eu me entregasse rápido demais, mas não dava mesmo pra evitar. Abri um sorriso bobo, jogando a cabeça pra trás e sentindo seus braços começarem a me envolver, mas fui mais rápida. Levei minha mão cheia de segundas intenções até seu pau duro e apertei, ainda por cima da bermuda fina, e ouvir um gemido abafado, surpreso e excitado foi tudo pra mim.
- Garota... - ele sussurrou no meu ouvido, colocando sua mão por cima da minha e me fazendo o apertar de novo.
me virou com tudo e encostou nossos lábios de maneira desesperada, iniciando um beijo cheio de vontades. Ele foi me guiando até uma das mesas que tinha ali de maneira desengonçada, me sentando em uma delas com pressa, sem separar o beijo. Era uma onda de tesão junto com desespero gigante. Estávamos desesperados um pelo outro. Puxei sua camiseta pra cima e a joguei no chão, observando seu peitoral e tentando ignorar a tal tatuagem. segurou em meu queixo, erguendo meu rosto e me dando um selinho, logo fazendo o mesmo. Minha blusa foi fazer companhia pra sua no chão e sorri satisfeita. Suas mãos se encheram com os meus seios ainda dentro do sutiã e joguei a cabeça pra trás, sentindo intensamente cada sensação que seu toque me causava.
Sem nenhuma delicadeza, meu sutiã também foi pro chão e comemorei internamente por isso. me puxou da mesa, me fazendo ficar de pé e empurrou meu shorts pra baixo também, e o chão ganhou mais uma peça. Antes mesmo dele pensar em me provocar, eu mesma tirei minha calcinha em seguida, mais do que preparada pra senti-lo novamente e ele riu, me colocando na mesa novamente e forçando meu corpo pra deitar. Eu ia protestar pelo fato dele ainda ter roupas no corpo, mas seus dedos fizeram contato com a minha intimidade.
Eu queria pular a parte da provocação, mas tinha outros planos. Meu clitóris foi pressionado de maneira descarada e sem aviso nenhum, dois dedos entraram dentro de mim sem dificuldade nenhuma. Os gemidos abafados começaram a sair da minha boca e o olhar de satisfeito de ao me ver ali, totalmente pra ele e entregue aos seus toques só me dava mais vontade ainda de ser dele.
- ... - gemi baixinho, sentindo mais um dedo entrando dentro de mim enquanto seu polegar brincava com meu clitóris de um jeito cafajeste.
Eu me forçava com desespero em seus dedos, erguendo meu corpo e me apoiando em meus cotovelos, mas sem muita força para olhar na cara do homem que estava me levando ao paraíso novamente. Ele tirou os dedos de dentro de mim e levou até a minha boca, me fazendo os lamber e lambi cada um com vontade e sensualidade. sorria descarado e me puxou contra ele com força, apertando meu corpo contra si com necessidade e desespero. Aproveitei todo aquele contato e apertei novamente seu membro duro e mais vivo do que nunca, ouvindo um gemido gostoso sair de sua boca.
- Você vai acabar comigo, .
- Você que vai acabar comigo. Estou aqui completamente nua pra você, . Anda logo. - sussurrei sem vergonha em seu ouvido, levando minha mão boba até dentro da sua bermuda, sentindo toda a sua extensão grossa e pulsante.
- Você vai gozar nos meus dedos, . Não tenho camisinha aqui agora, então se contente com o que tem. - ele pegou minha mão com certa força, tirando ela dali de dentro e forçando meu corpo pra trás novamente, me fazendo deitar na mesa.
O tanto que ele começou a se dedicar ao meu clitóris me arrancou inúmeros gemidos. Ele conseguia ser gentil e selvagem na medida certa e não tinha como não amar cada segundo do seu toque. O fato dele me deixar ali, naquele estado, sem roupa nenhuma, apenas pra me analisar por inteiro, me tocar e me encher de prazer quase me fez explodir. A ideia parecia boa demais até o susto que levamos no mesmo instante em que meus gemidos estavam começando a ficar altos demais.
- Puta que pariu! - arregalei os olhos em desespero e parou o que estava fazendo e me puxou da mesa sem gentileza nenhuma.
O pequeno portão do galpão estava sendo aberto por alguém.
Peguei nossas roupas e me guiou até as caixas grandes que estavam empilhadas ali. Coloquei minha calcinha do jeito mais desajeitado do mundo e ao invés de colocar a minha blusa, coloquei a de , que estava mais fácil. Parei de me mover assim que ouvi o barulho do portão sendo aberto.
- Não quero saber, caralho! Vocês chegaram perto demais, entraram na nossa área! - era a voz de Holt e apenas fazia sinal para que eu ficasse quieta - Eu sei que você não manda em nada, mas se por acaso alguém sonhar que temos essa ligação, acabou pra você! Se alguém daqui descobrir, vão me chamar de traidor o resto da vida por estar envolvido com alguém dos Ghosts, e não importa o que eu fale. Você sabe disso, não sabe? Então fica longe daqui! - ele finalizou num tom tão nervoso que minha respiração sumiu por alguns segundos.
Holt chutou algo e fez um barulhão. passou a mão pela minha boca, realmente com medo de que eu gritasse de susto ou algo assim. Nossos olhares confusos e desperados entraram em contato.
Holt estava envolvido com alguém dos Ghosts?
Isso realmente o faz um... traidor!

Capítulo 13

's POV
Mesmo com Holt fora do galpão, eu ainda não sentia minha respiração se normalizar. me encarava de modo confuso e assustado.
- Ele é... Ele é dos Ghosts? Que porra é essa? - as questões chegaram de uma vez da boca de , que se levantou nervoso.
Assim que caí na realidade, lembrei do estado ridículo que eu me encontrava: só de calcinha e vestida com a camiseta de .
Me levantei, vestido meu shorts o mais rápido possível e pegando meu sutiã do chão. andava de um lado pro outro mas parou pra me observar. Embora Holt tivesse nos interrompido no melhor momento e eu sabia que seria impossível pra voltar àquilo, senti meu corpo queimar com o olhar dele sobre mim. Tirei sua camiseta e me virei, vestido meu sutiã. Chegou a ser ridículo, afinal, ele já tinha visto cada partezinha do meu corpo, mas ainda assim o fiz. Vesti minha própria blusa e joguei a camiseta de pelo ar, que foi pega com sucesso.
Ele nem mesmo disfarçava e eu queria saber lidar com a situação. O que diabos foi aquela ligação?
- E se ele andasse pelo galpão, ein? Eu estava quase nua, ! - resmunguei nervosa porque foi a única coisa que consegui fazer.
Estava em choque e podia jurar que o sangue em minhas veias corria mais rápido que o normal. Como Holt podia fazer aquilo?
- ! - chamou minha atenção de maneira séria, me trazendo pra realidade em que precisávamos pensar e conversar sobre o que tínhamos acabado de ouvir.
Era difícil pensar na possibilidade de Holt não ser o homem bom que era. O braço direito de Voight em todos os sentidos.
- , é impossível!
Entramos em uma conversa confusa e ele me dava varias historias e situações que se encaixavam ali, mas todas elas tinham o mesmo final: o que Holt poderia ser um traidor.
Bati o pé em todas elas e sugeri que falássemos com Voight sobre isso e mais uma vez, ele riu de mim, dizendo que era burrice e que precisávamos pelo menos tentar descobrir aquilo sozinhos.

——

me esperava no carro. Me atrasei de propósito, observando de longe a janela de vidro que estava com as cortinas abertas, me permitindo ver Holt e Voight juntos, conversando e até soltando algumas risadas. Me custava a acreditar, nem que fosse por um segundo, que Holt era outra pessoa. Pensei em contar pra durante o dia inteiro, mas não era justo jogar essa bomba assim, sem nem saber de mais nada. Eu detestava coisas incompletas e informações pela metade, mas não tinha coragem de conversar com Voight, embora achasse burrice. Caminhei pra fora dali, entrando no carro e dando um suspiro audível.
- . - me chamou com calma e olhei pra ele no mesmo instante - Passamos o dia inteiro arrumando a bosta daquele galpão. Não posso mais esperar, preciso ir atrás de Wilmer. - ele disparou me encarando intensamente. Aquilo claramente não era um pedido ou coisa do tipo, ele simplesmente iria, mas eu tinha a informação principal: o endereço exato de Wilmer.
Respirei fundo e apertei meus olhos. Eu tinha começado a ajudá-lo e iria terminar. O bairro não desmoronaria uma madrugada sem nós.
- Vamos então. - me esforcei pra dar um sorriso amigo, e o olhar agradecido de valia mais do que muita coisa.
estava viciado em Khalid e isso dava pra notar de longe. Todos os dias, era a mesma playlist. Eu adorava e não tinha nem como negar. Me permiti relaxar o corpo um pouco mais, sabendo que muita coisa poderia dar errado dali pra frente, desde Wilmer até Holt.
Meu olhar firme nas ruas fazia minha cabeça ir pra longe e pensar até demais. E como sempre, pensava e sentia demais. Ou de menos. Queria não ficar cansada todos os dias só por pensar demais. Queria não sentir tudo em excesso. Queria não me culpar tanto, principalmente. De longe e sem dúvidas, uma das coisas mais horríveis é ter sua própria mente contra você. Eu sabia e conseguia gostar de mim mesma também, mas é sempre uma constante guerra comigo mesma. E eu só queria... me livrar.
E eu conseguia, mas só as vezes.
Me lembrei de . O tanto que ao lembrar dela e dos nossos momentos, a sensação de calmaria chegava chutando a porta. Ela era, sem dúvidas também, uma das poucas pessoas que conseguia tirar a melhor versão de mim. Soltei um sorriso involuntário e logo observei , totalmente concentrado e dedicado a continuar cantando baixinho e não teve como não abrir um sorriso mais largo ainda.
A vida não era ruim. Não o tempo todo. Mas também não era só boa. Acima de tudo, eu queria lidar com esses altos e baixos.
parou na primeira loja de conveniência assim que saímos do bairro, trazendo alguns enérgicos, pastilhas e salgadinhos.
- No que está pensando?
- Em tudo. - suspirei alto, abrindo uma latinha de RedBull.
- Tudo...? - ele realmente estava disposto a conversar, e eu, a tentar.
- Eu sei que todo ser humano sente demais, às vezes são muitas coisas e você acaba se perdendo, mas eu queria pelo menos controlar um pouco mais, sabe? Eu queria... Não sentir muito. Ou pouco. Sei lá. Viu só? É demais pra se pensar! - joguei as mãos pro alto, soltando uma risada alta com o meu fracasso em tentar explicar.
- Não é todo mundo que sente tudo, . E acredite, mesmo sem saber controlar esse tipo de coisa, o melhor é isso, sentir demais, mesmo que nem sempre seja bom. - ele terminou de proferir tais palavras com tanta segurança que por um segundo, meu peito se encheu de esperança. Mesmo idade não sendo tudo, era mais velho e talvez pudesse me ensinar algumas coisas.
- Como você sabe? - questionei ansiosa.
- Porque só assim você aprende. Se você não sentir nada, não tem como aprender a lidar com tal sentimento ou situação, afinal, você não sentiu o processo. - ele abriu um sorrisinho orgulhoso e o tanto que ele sorria com os olhos junto me encantava de maneira avassaladora.
Foi natural. Engatamos assunto em outro assunto da maneira mais gostosa possível. não era do tipo misterioso e até chato como havia pensado que era, ele só não escancarava sua vida aos quatro ventos. Ele contava de maneira divertida o quanto seus pais criaram ele e as irmãs do melhor jeito possível, e que ele deu bastante trabalho quando pequeno. Ele preferia ouvir ao falar, e me senti feliz por ele se sentir confortável o bastante pra falar logo comigo.
Quero dizer... não sou a pessoa mais entusiasmada do mundo, e ver que ainda assim, ele tinha vontade de conversar comigo me deixava com o coração quentinho. Falei também sobre o quanto foi complicado crescer com . Brigávamos pra caramba o tempo todo e estávamos juntas o tempo todo também. O engraçado era que mesmo brigadas, andávamos juntas na escola mesmo assim, porque tínhamos vergonha demais pra fazer amizades novas, até que foi crescendo e se tornando a pessoa mais extrovertida do mundo.
Eu fui no embalo, mas me perdi no meio disso e nem sei como. Mas claro, também tinha suas complicações. Ela era, de longe, a pessoa mais vingativa que eu conhecia. Ao mesmo tempo que ele dava, tirava. Ao contrário de mim, ela odiava com todas as forças o fato do pai ter abandonado tia Ellie ainda grávida, e por muito tempo ela teve medo de se relacionar sério com alguém e algo semelhante acontecer, mas ela sempre dava um jeitinho.
No final, todos nós demos. Eu, , , Cohen, Scott, Lydia...
- Vira a próxima esquerda. - anunciei com o estômago já dando voltas.
Conversamos tanto durante uma hora e meia que parecia que o caminho para Oxford tinha ficado mais longo, porém a verdade nos esperava. estacionou o carro e desligou o motor, me encarando de modo inseguro.
- É aqui mesmo? - assenti com a cabeça e sem pensar muito, levei uma das minhas mãos até seu rosto, fazendo um carinho gostoso ali com o polegar.
- Eu vou sair e você vai ficar aqui dentro do carro, está me ouvindo? - abriu a boca pra protestar mas dei continuidade logo em seguida, nem dando chance do homem falar - Se ele te ver, vai desconfiar, e por mais que você queira encher ele de porrada, não é isso o que vai fazer, ok? Assim que ele abrir a porta e confirmarmos que é ele, vamos voltar, avisar pro Voight e ele vai dar conta do resto, porque isso daqui é maior do que você, é uma bagunça que não é sua pra arrumar! - fui firme em casa palavra que saía da minha boca.
Não podia deixar que nada saísse do controle. Saí do carro com as pernas fracas, respirando fundo vinte vezes seguidas, parando em frente à porta de Wilmer. Estava tudo escuro e as janelas todas com cortinas longas, impedindo de ver qualquer coisinha dentro da casa. Apertei a campainha.
Nada.
Apertei de novo e... nada também. E repeti mais cinco vezes.
Olhei pra trás e rolei os olhos nervosa ao ver saindo do carro. Tudo bem que o homem não tinha aberto a porta, mas o horário não era dos melhores e talvez estivesse dormindo. analisou as janelas por alguns instantes e eu queria xingar alto, mas talvez Wilmer estivesse ali dentro e ouviria tudo. olhou os dois lados da rua e eu arregalei os olhos, desacreditada que ele estava cogitando a ideia de fazer aquilo.
Ele foi andando até um pequeno portão de madeira que tinha ali não tão alto, enquanto eu o seguia e o xingava mentalmente.
- Vou pular e vou ver se ele está em casa. Fica dentro do carro! - ele demandou sério e eu quis dar um grito de nervoso.
- Você não ouviu nada do que eu disse? E se ele estiver aí dentro, você vai fazer o que? Imagina ele tem uma arma, ? Pelo amor de Deus! - eu falava baixinho mas cheia de raiva, e logo segurei em seu braço com força, sabendo que aquilo não o impediria, mas foi mais forte do que eu.
- Espera no carro!
Do jeito mais descarado do mundo, ele simplesmente se virou e tomou impulso, pulando o pequeno portão. Eu olhava pra todos os lados desesperada, me certificando de que nenhum vizinho estivesse olhando. Pensei em pular também, mas talvez Wilmer tentasse fazer algo e correria às pressas pro carro, então corri até o mesmo, o deixando já ligado caso precisássemos fugir rápido.
Minha respiração afobada, meu olhar atento e meu peito ansioso não era um bom pacote a se ter. Eu olhava a hora no celular e cada segundo que passava parecia tempo demais. Meu coração foi quase falhando ao vê-lo saindo de maneira tranquila e respirei de certa maneira aliviada, logo sendo invadida por um certo... medo. estava totalmente descontente, com passos firmes e nervosos em direção ao carro.
- O que acontec...
- Ele se mudou. Não tem porra nenhuma dentro dessa casa, nem mesmo um fio de cabelo dele. - me cortou nervoso e um arrepio tomou conta do meu corpo.
Ele passou a mão pelos cabelos de maneira raivosa e bateu as mãos no carro, e o pequeno pulo de susto que eu dei chamou sua atenção. O dono daquele olhar intrigante e intenso me olhava ainda de maneira nervosa, mas por um segundo, eu pude ver toda a sua dor de perto em seus olhos. Pela primeira vez, não parecia tão difícil de se decifrar nem nada do tipo, ele só parecia... ele mesmo, totalmente humano e sem defesas. Eu entendia o que era ter um familiar em apuros e não fazer nada, afinal, minha mãe estava presa.
Me aproximei de num jeito meio torto e incerto, entrelaçando meus braços ao redor do seu pescoço e o abraçando com força. Ele demorou alguns segundos pra corresponder e eu soltei uma risadinha. Tinha o pego de surpresa mesmo. Assim que seus braços entraram em contato com meu corpo, me abraçando de maneira aconchegante e necessitada, foi como um choque pra mim. No bom sentido. Eu facilmente moraria em seu abraço. Ficamos um tempinho naquilo e fiz questão de memorizar cada toque mais fraco ou mais forte que ele me dava. Aproveitei ao máximo e enquanto nossos braços se afrouxavam, pude ver que pelo menos um pouquinho de toda aquela raiva parecia ter diminuído. Um pouquinho.
me soltou completamente e por algum motivo, ele pareceu desconfortável e foi como pular numa piscina de barriga pra baixo. Ele apenas entrou no carro sem dizer nada e eu fiz o mesmo, um pouco confusa. No fim, éramos mesmo parecidos. Embora qualquer um sentisse raiva nessa situação, eu sabia que não tinha abraço no mundo que fosse capaz de fazer toda a sua raiva diminuir por completo. E a chave é se conhecer, era o que minha mãe sempre dizia. O problema é que eu sempre estava perdida e a única coisa que acontecia era a raiva me dominar sempre, e com não era muito diferente. Eu sabia que o boxe o ajudava, mas estávamos longe da academia, e mesmo tentando me segurar pra não dizer nada, o tanto que ele acelerava o carro já estava me preocupando e me deixando assustada.
- , eu acho melhor voc...
- Agora não, ! - mais uma vez, me cortou nervoso.
E ele continuava...
- , é sério, você está praticamente voando, para com isso! - me manifestei de uma vez em tom alto, chamando sua atenção e no mesmo instante ele parou.
Literalmente parou.
Talvez fosse sorte o bairro não ser tão movimentado a essa hora ou sei lá, mas estávamos parados no meio da rua mesmo e ele me olhava diferente, como se estivesse buscando algo.
- Eu...
- Acho que deveríamos parar e dormir em algum lugar por aqui. Eu sei que não é tão longe pra voltar, mas você nesse estado me preocupa e... Você vai querer tirar satisfações com Voight, não é? - mordi o lábio, num tom muito cauteloso. Eu sabia que muita coisa podia rolar e foi a primeira ideia que me atingiu. Se fosse em outro momento, eu me sentiria mais feliz por estar compreendendo melhor o homem que estava ao meu lado, mas não era algo muito bacana ligar os pontos e saber que ele acabaria explodindo novamente, afinal, Voight nem mesmo se animou com a notícia de que poderíamos ter achado Wilmer.
- Vou! - foi a única coisa que ele disse antes de acelerar novamente, mas não feito um louco.
Entre mais RedBull sendo aberto e bebido por nós dois, as pastilhas acabando e fumando mais de três cigarros um atrás do outro e o silêncio irritante, estávamos perto do nosso bairro novamente depois de pouco mais de uma hora, como se nunca tivéssemos saído. Eu estava quase cochilando por conta do silêncio e só queria sair dali, deitar e esperar a próxima bomba explodir, mas tinha outros planos.
- Pra onde você está indo? - virei meu olhar confuso pra ele ao notar que ele tinha mudado o caminho completamente.
- Não quero voltar, pelo menos não agora, então vou parar em um lugar pra dormir e você vai junto. - ele levou uma de suas mãos até minha coxa, a pousando ali enquanto com a outra mão conduzia o volante e eu me arrepiei inteira, e quase desmanchei quando ele me olhou de uma maneira simplesmente irresistível - Se você quiser, claro. - ele finalizou com um olhar de falsa inocência e eu quis gritar.
Eu sabia muito bem aonde aquilo daria, e ele mais ainda. E estava tudo bem, tirando o fato de que ele estava fodidamente nervoso e no caso, eu seria sua sessão de boxe. Eu aliviaria sua raiva.
Por um segundo eu quis dizer que não queria. Por um segundo, eu não quis mesmo. Apenas por um segundo, eu pensei no quanto aquilo podia dar errado em absolutamente todos os sentidos, e não porque ele estava com raiva, e sim por simplesmente me ver como um... passatempo? Algo assim.
Mas que se dane. Eu queria tanto!
Eu nunca pensava muito antes de fazer algo, eu só... fazia. E sentia. Olhei pra e foi o suficiente pra ele saber que eu queria ir com ele. Uma sensação inédita e inexplicável me atingiu. Em meio a toda loucura do momento e de toda aquela tensão, tudo foi tomado conta por algo tão selvagem, intrigante e livre.
Eu me sentia, da melhor maneira, sendo um espírito livre.
O caminho que nos resultou até a academia me surpreendeu. Eu não sabia muito bem o que esperar, mas a academia nem mesmo se passou pela minha mente. estacionou o carro e me analisou com o olhar por longos segundos antes de sair. Abri a porta do carro e nem sabia o quanto minhas pernas já estavam fracas até tocá-las no chão. Caminhamos em silêncio até os fundos, onde tinha uma porta que eu desconhecia até então e a abriu, me dando espaço pra entrar primeiro. Demos de cara com o corredor que eu já conhecia de quando tinha ido atrás de , e por mais que eu achasse que a essa altura ele já estaria com sua boca na minha, ele parecia calmo demais e eu me senti burra. Talvez ele não me quisesse.
Caminhamos até uma das portas, que relevou um quartinho minúsculo, que tinha apenas uma cama de solteiro, uma TV e uma mesinha pequena do lado da cama. Soltei uma risadinha fraca, olhando pra que, em questão de milésimos, apresentou aquele olhar que eu já conhecia muito bem.
Fogo.
Talvez ele fosse um homem que sabia se controlar bem, mas a partir dali, eu sabia que já não tinha mais volta ou conversa fiada. Seu olhar firme e cheio de vontades me fez fechar os olhos porque parecia mais do que eu podia aguentar.
Como ele conseguia? E como eu conseguia?
O verdadeiro ponto de todo o nosso envolvimento ainda era desconhecido e por mim tudo bem, porque eu nem mesmo conseguia raciocinar. se sentou na cama e eu fiquei encostada na porta apenas o observando feito uma boba.
- Não pensei que iria vir pra cá. - senti minha voz raspar no fundo da garganta enquanto minha atenção se perdia em seu olhar.
- Pensou que eu te levaria pra onde? - ele riu debochado - Desculpa a decepção, . - prosseguiu naquele tom, totalmente afim de me provocar.
- Não estou achando ruim. - dei os ombros um pouco sem jeito.
Tristan devia confiar muito nele pra deixá-lo dormir ali e ter a chave da academia, mas não estava afim de entrar nesse assunto, estava afim de nós. Respirei fundo e apertei os olhos.
- Eu tenho que terminar. - a voz de me fez abrir os olhos no mesmo instante.
- Terminar o que? - tombei o rosto de modo confuso, sentindo meu corpo queimar com aquele olhar forte em mim, me analisando dos pés à cabeça.
- O que Holt atrapalhou. - um sorriso descarado e ousado se formou em seus lábios e eu senti minhas pernas enfraquecerem e minha intimidade ficando molhada.
Por Deus! O poder que tinha sobre mim era algo de outro mundo.
Ele se levantou com tranquilidade, tirando a própria camisa, dando poucos passos até chegar em minha frente, me segurando com força pela cintura e a única coisa que eu consegui fazer foi fechar os olhos novamente e sentir meu corpo pegando fogo de vez. Respirei fundo e abri os olhos lentamente, encontrando aquele par de olhos cor de âmbar que até com pouca iluminação, estavam brilhando.
me puxou com força e colou nossos lábios, iniciando um beijo intenso. Nossas bocas se encaixavam de uma maneira ridiculamente única e me atrevi a morder seu lábio por isso. Ele sorriu assanhado, levando uma de suas mãos até meu cabelo e o puxando de leve, levando minha cabeça pra trás e distribuindo beijos estalados em meu pescoço. Sua outra mão foi subindo com a minha blusa de maneira lenta e eu já não sabia no que me concentrar.
- Sem enrolação, . - pedi baixinho.
Pude observar o homem sorrindo satisfeito, atendendo meu pedido e tirando minha blusa de vez. Pensei em agir logo de uma vez e levei minhas mãos até seu zíper, o puxando com pressa e se livrou da calça sem problema nenhum, e com certeza achando graça da minha pressa. Mordi os lábios, observando seu membro duro e vivo dentro da boxer preta e suspirei alto. entrelaçou nossas mãos rapidamente e me deu um selinho rápido, logo levando suas duas mãos até minha bunda, apertando as duas nádegas com força. Respirei fundo e senti que poderia me perder em tanto tesão. Após me sentir por alguns segundos, as mãos dele fizeram o mesmo e me libertaram daquela peça de roupa.
Sorri ansiosa.
O próximo foi o meu sutiã, que escorregou até o chão e as mãos de agarraram meus seios com vontade. Arfei nervosa, apertando os olhos novamente. foi me conduzindo em passos lentos até me empurrar na cama de maneira gentil, mas em seu olhar não tinha gentileza nenhuma.
Ele deitou por cima de mim e fez uma trilha de beijos do meu pescoço até o meu seio esquerdo, o colocando na boca e arrancando um gemido alto dos meus lábios. se dedicava atentamente aos meus seios e assim que seu olhar se ergueu e sorriu pra mim, foi como se tivesse jogado gasolina no fogo. A minha pressa e desespero eram notáveis e o homem parecia estar mais bonzinho, e assim que começou a descer até minha intimidade, eu percebi o quanto nada era o suficiente e ao mesmo tempo era. Com ele, eu sempre queria mais. Queria mais do seu toque, do seu cheiro, do seu beijo, dos seus dedos... de tudo. tirou minha calcinha e separou minhas pernas de maneira calma e me observou sorrindo por alguns instantes.
- Já está toda molhada, .
Pensei em reclamar e até dei um leve grunhido que se transformou em gemido assim que senti seu polegar estimulando meu clitóris e dois dedos se faziam presente dentro de mim em movimentos que oscilavam entre rápidos e lentos. Eu gemi com a nova onda de prazer e meus músculos internos se apertaram em volta de seus dedos involuntariamente. Seus dedos abandonaram minha intimidade e eu quis reclamar, mas ele se dedicou ainda mais ao meu clitóris que já estava me fazendo contorcer de prazer e eu mal conseguia o encarar de tão extasiada que já estava me sentindo.
- Eu vou... - eu realmente estava quase lá e simplesmente parou todos os seus movimentos e jogou seu corpo pra cima de mim novamente.
- Você vai gozar no meu pau, não nos meus dedos. - ele soprou no meu ouvido num sussurro carregado de excitação e eu perdi o controle da minha respiração.
Segurei o rosto de com as duas mãos e lhe dei um beijo rápido.
- Minha vez, gatinho. - retruquei cheia de tesão, e tirou sua cueca de maneira rápida antes de inverter nossas posições.
Eu realmente queria ser a melhor. A melhor pra ele, a melhor dele e a melhor em tudo, queria deixar minha marca ali e embora geralmente não me sentisse tão confiante no sexo, me levava a loucura a ponto de me fazer esquecer qualquer insegurança que eu tinha.
Meus lábios tocaram delicadamente a cabeça de seu membro e pela expressão gostosa de eu já tinha começado bem. Tive a coragem de manter meu olhar no seu, passando a língua em todo o seu comprimento e então comecei a sugá-lo enquanto minha mão subia e descia. Eu estava empenhada demais e por um segundo quebrei nosso contato visual. Senti uma das mãos dele grudar em meu cabelo, me conduzindo a um ritmo mais acelerado e eu sorri por dentro. O tanto que eu precisava dele, ele precisava de mim. Eu o sugava com vontade enquanto minhas mãos me ajudavam.
- Caralho, . - sua voz saiu num fiapo, quase totalmente perdido em prazer.
me forçava contra si e embora eu quisesse muito sentir seu gosto, ele me puxou pelo cabelo sem muita força, o suficiente pra eu o obedecer, e antes mesmo dele pensar em dar o próximo passo, achei a oportunidade perfeita em levá-lo à loucura de vez. Sorri pingando em excitação, observando seu corpo cheio de tatuagens e sua expressão exalando tesão, e foi aí que me coloquei em cima do seu pênis ereto de maneira provocativa. Eu me roçava de maneira sem vergonha e abri um sorriso ao ver o homem quase que desacreditado. levou suas mãos até minha cintura, forçando nosso contato ainda mais e eu já não estava aguentando, eu queria ele dentro de mim de uma vez, e o tanto que me forçava contra si estava prestes a fazer seu membro deslizar pra dentro de mim.
- ... - sussurrei sem forças, sabendo que minha umidade deixava todo aquele contato mais gostoso e excitante.
- Você não toma nada? - estava tão ansioso quanto eu e no meio de tanta excitação, ele se importou em perguntar. A preocupação em saber se eu tomava anticoncepcional ou qualquer outro método eu sabia que não viria de todos, mas veio dele.
- Não. - respondi baixinho, me abaixando ainda mais e dando um selinho demorado em seus lábios - Mas posso começar a tomar. - sorri besta, logo sentindo o homem inverter nossas posições de modo desesperado.
levantou pra colocar a camisinha e eu tentava recuperar minha respiração. O homem se deitou novamente com um sorriso nos lábios e com uma mão auxiliou seu membro na minha entrada, me arrancando um gemido alto e que veio bem do fundo da garganta. entrelaçou nossas mãos de maneira graciosa e começou a estocar de maneira rápida. Ele ia fundo e com força e nossos gemidos se misturavam. Ele tinha um jeito meio bruto que era simplesmente único. Suas estocadas foram ficando cada vez mais firmes e fortes até a hora em que ele decidiu diminuir o ritmo e eu grunhi em repressão. mais uma vez inverteu nossas posições e por mais que fosse incrível encarar aquele rostinho enquanto nós dois sentíamos prazer, me coloquei de costas para ele e sentei em seu membro sem delongas. Se eu pensava que não tinha como melhorar, estava totalmente enganada. Senti toda a extensão de me invadir por inteira e não tinha como segurar os gemidos, e melhor; nem precisava!
- Gostosa! - direcionou um tapa forte na minha bunda e eu acelerei meus movimentos ainda mais, quicando e passando a mão pelo meu próprio corpo, sentindo que iria explodir.
estocava ainda mais fundo e senti meu corpo começando a formigar. Meu corpo começou a se contorcer e eu acelerei ainda mais, sentindo seu pênis preencher cada partezinha de mim.
- , eu vou... Eu vou...
E gozei.
Enquanto os movimentos dele diminuíam, eu sabia que ele estava observando meu orgasmo com fervor. Me vi sendo arrastada para o cansaço, mas voltou a estocar novamente, começando com movimentos lentos até acelerar de uma vez. O meu corpo ainda extremamente sensível só sentia o formigamento gostoso. A cada investida de , eu gemia mais alto e em poucos minutos o vi chegando ao ápice.
Ele me puxou sem delicadeza, me girando e me fazendo olhar pra aquele rostinho tão satisfeito e cheio de assanhamento. Ele envolveu nossos lábios em um beijo quente, logo se levantando e tirando a camisinha cheia do seu membro. Comecei a puxar o lençol, e assim que ele deitou de novo, me deixei cair contra o seu peito. Eu fechei os olhos enquanto tentávamos normalizar nossas respirações. Ele nos cobriu e pegou em meu queixo com delicadeza, me fazendo o encarar e sustentando seu olhar no meu, enquanto procurávamos por algo um no outro.
Talvez fosse a emoção do momento e todos as sensações juntas, mas os olhos brilhantes do homem me deram uma felicidade absurda. Foi algo incrível e indescritível.
- Você é linda, . - seu elogio fez meu rosto queimar.
Levei uma mão até seu rosto, fazendo carinho nele.
- Obrigada, babe. - ri alto ao soltar o apelido carinhoso e ele me acompanhou, enfiando uma mão em meu cabelo e iniciando um cafuné convidativo demais pra o sono me dominar de vez.

's POV
Consegui sair da cama tranquilamente, afinal, eu que estava a abraçando e por sorte ela não deu falta do meu corpo a ponto de acordar. Peguei meu celular e vi a hora. 06:47 da manhã e nove ligações de Voight. Arregalei os olhos e por um instante me preocupei, mas logo me acalmei. Voight não importava no momento.
Fui até a cozinha e abri os armários. Tristan dormia muitas vezes na academia então tinha bastante coisa ali. Enquanto arrumava um café da manhã totalmente simples na mesa, me lembrei de cada detalhe da nossa madrugada juntos. Pra ser sincero, eu mal tinha conseguido dormir exatamente por isso.
Como conseguiria?
trazia o melhor de mim na cama. Sorri bobo, pensando em como diabos deixei as coisas chegarem até tal ponto. Eu não queria, mas minha própria mente me bombardeava com pensamentos que eu não deveria ter ignorado. era tudo e mais um pouco, de verdade. Se mostrava frágil e ao mesmo tempo mais forte e selvagem do que eu poderia imaginar, e isso me deixava louco. O único problema era a exaustão. Claro, física também, afinal, ela me cansou legal, mas era mais do que isso. Era o sentimento que sempre estava colado em mim.
Totalmente exausto de de sentimentos que me esmagam sem nenhuma pena. Um vazio total, aonde cabe tudo. Cabe até , mas simplesmente não dá. Chacoalhei a cabeça nervoso. Eu já estava pensando nela de novo de uma maneira que não deveria. Na verdade, eu nem deveria pensar nela no geral. Não deveríamos ter passado de colegas de trabalho.
Mas passamos. Até demais.
A exaustão que me pesa todos os dias e só quem sabe sou eu. Olhei pra tela do celular novamente, olhando a hora marcando 07:05. Fui até o quarto e parei na porta. A luz do corredor iluminava boa parte ali, o suficiente pra eu ver a garota dormindo feito um anjo. Me aproximei com calma, sentando na cama e tocando seus cabelos de leve.
- . - sussurrei em seu ouvido - Acorda. - falei um pouco mais alto, tombando minhas mãos até seu rosto, passando o polegar em sua bochecha.
Os olhos claros da garota foram se abrindo lentamente e um sorriso frouxo foi se formando em seu rosto.
- Bom dia, .
Porra, eu estava fodido.
Completamente fodido. Eu sabia que seria praticamente impossível acabar com tudo aquilo, uma vez que já tinha provado de tudo. Mas o pior não era pensar na ideia de não transarmos mais, e sim, de não receber um olhar tão lindo desses em manhãs como essa.
- Bom dia. - não deu pra não sorrir também - É que já são sete horas e a academia abre às oito e meia. Eu não te acordaria se...
- Tudo bem. - ela se sentou, trazendo consigo o lençol que cobria seu corpo nu - Espera! - ela arregalou os olhos - São sete horas? Dormimos mesmo? Puta que pariu o Voight... - ela procurou o celular com o olhar às pressas, o localizando no chão ao lado da cama e se esticou pra pegar - Ele vai esganar a gente! Onze ligações perdidas! - ela arregalou os olhos e logo riu alto.
- Ele me ligou nove vezes. - comentei com a voz branda e quase distante assim que ela se levantou, caçando suas roupas perdidas pelo chão ainda com o lençol no corpo.
- E você não atendeu? - por um instante, percebi que ela nem mesmo tinha pensado antes de falar aquilo, porque logo suas mãos espalmaram no ar, me pedindo pra esquecer o que ela tinha dito.
Pensei em fazer graça e trilhar um caminho que provavelmente resultaria em outra transa, mas me segurei. Eu precisava ser firme pra o próprio bem da garota. Ajeitamos o quarto juntos e assim que ela viu as torradas, geleia e suco em cima da mesa, abriu um sorriso gigante. De longe, uma das coisas mais lindas que podia existir: seu sorriso.
Nos sentamos pra comer enquanto ela agradecia de um jeito quase tímido por aquilo. Eu tive a certeza ali de que provavelmente nenhum outro cara tenha feito o mínimo por . Um café da manhã simples desse jeito era o mínimo que eu podia fazer, certo?
Me senti desconcertado por longos minutos. Ela parecia estar tão... feliz. Eu não podia simplesmente tentar acabar com tudo. Na verdade nem queria, mas precisava. não merecia passar pelo mesmo que Sienna.
O caminho de volta foi silencioso. A carinha de sono de sono de era adorável. Kings of Leon foi tocando o caminho inteiro e demos um suspiro pesado juntos assim que chegamos. Saí do carro primeiro e ela demorou um pouco mais e esperei.
- Está com medo de levar uma bronca, ? - zombei sem maldade, recebendo um tapa sem força em meu braço.
- Não é medo, é só que... É o Voight, ele vai encher o saco, você sabe. - ela deu os ombros e sorriu de leve.
Entramos juntos e se esperava Voight sentado com um cinto na mão pra lhe dar uma surra por não ter dado sinal de vida à noite inteira, ela tinha acertado.
Mentira.
Não tinha ninguém ali e a cortina do escritório de Voight estava fechada, então talvez ele tivesse ido embora. Pude observar suspirando aliviada e continuamos andando e eu quase soltei um riso ao ver a garota prendendo a respiração ao ver Voight saindo do galpão bem no instante em que chegamos em frente aos nossos trailers.
O homem veio com pressa em nossa direção com uma expressão de pai que estava prestes a dar bronca no filho.
- Eu quero saber por que caralhos os dois não me atenderam a noite toda! - não chegava a gritar, mas o tom usado era alto - Estamos em pé de guerra com a porra dos Ghosts e vocês somem assim?
Quase oito da manhã e estávamos de frente com um Voight nervoso.
- Fomos atrás do Wilmer. - a voz de saiu quase num sussurro.
- A noite inteira? Puta que pariu! Por que não avisaram? - Voight prosseguiu. me olhou com certo desespero nos olhos e entendi que ela não fazia ideia do que dizer a partir dali.
- Não deu, Voight, estávamos nervosos. Wilmer não estava lá, a casa estava vazia. - tentei levar a conversa pra outro rumo.
- Eu te disse que ele provavelmente não estaria lá! - o homem apontou pra mim nervoso - E ficaram a noite toda em Oxford por acaso?
Falhou. Ele realmente queria saber onde tínhamos nos enfiado e parte de mim desconfiou que ele até podia saber da verdade, mas ele queria nos ouvir. Ficamos em silêncio, um encarando o outro e dava pra perceber que a demora tinha irritado Voight mais ainda, só que ele tinha se tocado que não conseguiria nenhuma resposta.
- Vamos atender da próxima vez. - disse firme, olhando pra Voight de maneira séria.
- Acho bom! - foi a última coisa que Voight disse antes de dar passos nervosos até o escritório.
jogou a cabeça pra trás e respirou fundo. Eu a olhei de maneira analítica e quis me bater por isso. Quanto mais eu olhava, mais eu me perdia. Não queria parecer um retardado que só queria sexo, mas também não podia mais deixar tal coisa acontecendo. Eu já estava começando a meter em confusões como essa, fazendo Voight ficar nervoso com ela por algo que eu deveria ter feito sozinho.
- Eu preciso dormir. - foi a única coisa que ela disse com a voz arrastada antes de entrar em seu trailer.

——

Encostei meu corpo no trailer enquanto observava a parede recém grafitada. Finalizei o segundo cigarro e me perdi em mim mesmo. Uma parte de mim se envergonhava ao extremo por ser tão inseguro aos 26. A outra parte, a pequena parte que quase nunca se manifestava, me lembrava de que não importa a idade, sempre teremos problemas e inseguranças. Mas o pior não é isso, é lembrar de como tudo era melhor quando estava com Sienna. Em como tudo parecia estar encaixado e certo pra mim, enquanto pra ela estava sendo sufocante.
Eu queria ter entendido melhor todos os pensamentos desconexos que ela dizia estar tendo na época e de como a felicidade estava sendo momentânea na maioria das vezes, mais do que deveria ser.
Eu estraguei Sienna e me estraguei junto.
Bufei irritado, pronto pra fumar o terceiro cigarro.
- Você quer? - a voz de surgiu e me virei. Ela me oferecia o sorvete de palito que segurava, e não deu pra não observar o vestido amarelo claro curto porém solto, nada colado no seu corpo como sempre era.
- Não, valeu. - soltei um sorriso e minha expressão foi se endurecendo quando a garota levou o sorvete até a boca com um olhar que se transformou em pura malícia em questão de segundos, o chupando de maneira convidativa e eu quis gritar - , por Deus! - resmunguei de sacanagem, porque estava adorando a cena.
Ela complicava as coisa pra caralho!
- Tudo bem. - ela riu de maneira gostosa, finalizando o sorvete que já estava no final com vontade - Que tal a gente sair pra comer ou alguma coisa do tipo? Estou cansada de ficar aqui o dia inteiro.
- Que? - franzi a testa confuso. Eu tinha entendido cada palavra, mas meu cérebro pareceu travar e eu me senti o cara mais ridículo da porra do mundo.
- Comer, sabe? - ela começou a passar a mão pela barriga de forma divertida e eu acordei de vez.
Eu não queria ser grosseiro e nem nada do tipo. Na verdade, nem podia! merecia mais, só que parecia complicado demais de se separar as coisas no momento.
- , acho que a gente precisa conversar e esclarecer algumas coisas. - soltei de uma vez tais palavras e senti o olhar de pousar forte em mim, e mesmo sua expressão não sendo das melhores, ela entendeu bem.
- Sobre nós? - ela cerrou os olhos cuidadosa.
Eu mesmo queria me dar um soco. Ela só tinha me chamado pra comer e... caralho!
- É que...
- Não vamos conversar sobre isso. - ela cruzou os braços totalmente decidida e eu estranhei. O que ela estava fazendo?
- Vai querer conversar sobre isso só quando você se apaixonar e não ter mais volta? - mas é claro, o desespero já estava falando por mim e falando até demais!
- Em primeiro, quem disse que vou me apaixonar? - a garota cerrou os olhos - E segundo, não me importo com isso. - deu os ombros, se aproximando de um jeitinho nervoso.
- Não se importa de ter o coração quebrado?
- Não, estou ansiosa por isso. - ela respondeu de maneira divertida e eu me perdi.
- ? - eu me esforcei para ver um sucinto sinal de ironia em seu rosto e lá estava ele. gargalhou alto e espalmou as mãos no ar.
- Eu só não quero pensar nisso, que tal você fazer o mesmo? - a garota deu alguns passos pra frente, ficando cara a cara comigo e levando seus braços até meu pescoço, os entrelaçando ali. Respirei o perfume suave que ela usava e eu queria muito beijá-la de uma vez.
- , eu... - creio que meu olhar não foi dos melhores. me soltou no mesmo instante de um jeito decepcionado.
- Quer saber? Eu esqueci que hoje é dia de visitar minha mãe, então você não precisa sair pra comer comigo. Ou qualquer outra coisa.
Me senti um completo filho da puta. deu as costas e saiu com pressa e foi aí que eu tive certeza que já estava ferrando tudo.

's POV
Saí dali me sentindo menos pior do que entrei. Minha mãe melhorava tudo. Às vezes eu me sentia boba demais por precisar ouvir coisas óbvias como lembretes de que as pessoas não são iguais.
Mesmo nos altos e baixos, não somos iguais.
Temos sim coisas iguais como direitos e deveres, mas isso não nos torna iguais. Dentro de cada um há diferenças, há especialidades. Eu cresci ouvindo isso, cresci com a minha mãe dizendo que todos somos diferentes em todos os sentidos. Eu gosto dessa ideia, afinal, isso mostra que cada pessoa tem sua própria essência, embora muitos se percam nisso. Embora muitas vezes a gente se compare e queira algo igual de outra pessoa, entramos em contradição, afinal, como vai ser especial e ao mesmo tempo igual a outros?
Ser especial é fazer diferença. Eu me apeguei nisso. E falhei também. O mundo, a vida e as pessoas tentam esconder essas nossas virtudes que fazem a diferença, e as vezes a gente simplesmente desiste.
rondava a minha mente junto à tal pensamento enquanto eu andava pelas ruas, dessa vez mais atenta. Eu sabia que ele obviamente era diferente em todos os sentidos. Eu não me lembro, em dezenove anos, me sentir tão curiosa e intrigada com uma pessoa só, e isso me esmagava porque era algo totalmente novo. Cohen e Scott me despertavam coisas também, embora não fôssemos tão próximos assim, mas não era como . Talvez fosse pelo fato de já termos tido o nível de intimidade mais alto, mas eu queria mais. Eu queria poder ser sua amiga. Foi isso que minha mãe sugeriu.
Cumprimentei os dois rapazes que estavam ali na entrada e caminhei com força até o trailer de . Eu precisava tentar, certo? Talvez só precisávamos ser amigos para as coisas andarem numa boa.
Bati na porta algumas vezes, observando o céu enquanto esperava. Depois da noite, o fim de tarde era minha parte favorita do dia, principalmente quando o céu estava do jeito que estava: alaranjado.
abriu a porta junto a um sorriso sem graça assim que me viu. Ele estava sem camisa e meu olhar foi direto pra tatuagem. Eu queria saber o que dizer de uma vez, mas travei ali, encarando a tatuagem feito uma imbecil.
- ? - a voz dele me tirou daquele transe e eu quis me bater.
- Como é?
- O que? - a desconfiança em seu olhar quase me fez rir, mas eu estava nervosa demais pra isso.
- Ter o coração partido? - embora eu tenha usado o meu melhor tom, aquilo pareceu ter atingido da maneira mais ignorante possível e minha cabeça deu um giro desesperado - Calma! Quero dizer... eu acho que devemos ser amigos, entende? Eu quero poder te ouvir, , não quero que você se sinta inseguro pra me contar alguma coisa, sabe? Eu quero... ser sua amiga. - minha respiração foi pra puta que pariu. Sua expressão um tanto quanto perdida porém um certo brilho nos seus olhos foi o que mais me chamou a atenção. Talvez, bem talvez, fosse o que ele realmente precisava ouvir. Talvez ele só precisava de uma amiga mesmo.
- , você é tão... - fechou os olhos e respirou fundo, os abrindo novamente e se aproximando, colocando uma mão em meu rosto e o segurando firme - Boa.
Abri o meu melhor sorriso e sem pensar, o abracei. Talvez essa parte eu que precisava mais. Os braços de me acolheram de maneira gostosa e confortável, e quanto mais o tempo passava, mais eu queria ficar ali.
Mas não dava.
me soltou aos poucos e assim que o encarei, seu olhar estava longe e confuso. Olhei para onde seu olhar indicava, e pude ver alguns policiais entrando ali de maneira nada amigável. Arregalei os olhos e andei rápido até o escritório, onde cheguei junto com eles e assim que Voight notou minha presença, me repreendeu com o olhar.
- Tira ela daqui. - Voight falou baixo, de maneira que só , que estava atrás de mim, pudesse ouvir.
colocou as mãos em minha cintura, tentando virar meu corpo novamente pra saída, mas me mantive firme. Os quatro policiais entraram de uma vez e eu gelei, porque embora soubesse de como eles trabalhavam juntos, eles aparecerem assim não significava coisa boa.
- Que merda foi essa, Voight? - um deles mostrou o celular pra Voight, que franziu a testa realmente confuso.
- O que é isso?
- Ainda pergunta? Faz uma hora e meia, Voight! Mais um homem morto no seu território e eu sei que nada nesse bairro acontece sem a sua permissão. O que foi isso? - o policial estava nervoso e sem paciência nenhuma, olhando feio pra Voight, e chegou até a me lançar um olhar irritado por sobre o ombro enquanto esperava a resposta, e nisso eu senti o braço da passando por volta do meu pescoço, levando meu corpo para si, como se de alguma maneira, quisesse me tirar daquilo.
- Eu não sei! Eu não mandei fazerem isso, por que eu mataria um dos meus caras? Eu nem mesmo estava sabendo disso porque... - Voight parou de falar como se tivesse se perdido, olhando para o chão e erguendo o olhar de forma assustada - Cadê o Scott?

Capítulo 14

's POV
Scott apareceu. Assim que os policiais foram embora, não demorou para que Scott aparecesse e contasse o que tinha acontecido com Marvin. Eles estavam no mesmo lugar no momento e Scott tentou salvá-lo, tentou mesmo, mas o tiro no peito tinha sido certeiro.
Eu quis gritar. Quis sumir. Mas aquilo não era sobre mim.
- Você tá bem? - Holt apareceu e correu até Scott, que ainda tremia sem parar.
Fiquei nervosa com sua presença. Eu tentei parar, mas minha mente se recusou. Voight pediu para que as pessoas que estavam em volta de Scott se afastassem um pouco para que ele pudesse respirar. Observei cada movimento de Holt, que seguiu até o escritório para atender o celular. Eu disse que pegaria outro copo de água para Scott e o segui de maneira inocente, pegando o copo de água no escritório e assim que saí, me encostei do lado de fora de maneira que ele não me visse. A ligação não era nada importante, parecia mais ele explicando o ocorrido para alguém, mas aquilo ainda não me descia. Talvez meu cérebro estivesse procurando algum culpado pra toda essa confusão, e por mais que parecesse difícil de acreditar antes, Holt me parecia suspeito demais. Respirei fundo e senti o peso do mundo nas minhas costas. Assim que o homem deixou o escritório, me coloquei atrás dele de maneira chamativa e logo seu corpo se virou, me encarando confuso.
- Aconteceu algo?
- Onde você estava? - cruzei os braços de maneira séria.
- O que?
- Holt, onde você estava? Alguém morreu e...
- O que, em nome de Deus, você está falando, ? - seu olhar surpreso quase foi o suficiente pra me calar, mas aquilo podia ser um truque ou qualquer outra coisa.
- Responde! - bati o pé nervosa e ele levantou as mãos no ar.
- Eu não sei o que está acontecendo com você.
Holt começou a andar e eu me irritei mais ainda.
- Aquele dia no galpão! Eu te ouvi dizendo algo sobre estar envolvido com alguém dos Ghosts! - esbravejei de uma vez só, fazendo o homem parar de andar no mesmo instante.
Pude observar se aproximando com um olhar apreensivo.
- Pelo amor de Deus, você não pode falar isso alto nunca mais, está me ouvindo? - Holt se mostrou desesperado, se aproximando de mim com pressa - Eu posso explicar!
- Eu acho bom mesmo porqu...
- ! - tentou chamar minha atenção, talvez ele quisesse me conter ou algo do tipo, mas ignorei.
- O que está acontecendo? - Voight apareceu junto e eu nem mesmo tinha percebido. Eu estava tão focada em Holt que parecia que minha visão só o enxergava naquele instante.
- Holt está metido com os Ghosts, não é? - arqueei as sobrancelhas e sorri de modo debochado, vendo o homem chacoalhar a cabeça.
Voight arregalou os olhos e olhou pra Holt, que parecia um pouco perdido. Voight praticamente empurrou todos nós até o escritório e fechou a porta, totalmente perturbado.
- , que merda você tá falando?
Expliquei a história. Metade dela. Eu disse sobre o dia em que estava limpando o galpão e reproduzi cada palavra que ouvi da ligação.
- Por que diabos você estava escondida? - Holt questionou confuso e eu bufei de raiva.
- Não tenta mudar de assunto! - quase gritei.
- Pelo amor de Deus, ! Holt estava falando com Zane! - Voight passou a mão pelos cabelos nervoso, andando de um lado para o outro. Eu não precisei perguntar quem diabos era Zane porque ele sabia que eu não conhecia - Ele é um de nós mas está nos Ghosts por causa do pai dele, uma confusão enorme, mas ele passa informações de lá pra nós daqui! O problema é que se alguém descobrir isso nunca vão acreditar, vão simplesmente achar que eu e Holt somos traidores, assim como Zane! Você entende a gravidade disso, ? Você consegue entender? Zane é a única pessoa que às vezes consegue nos dar uma vantagem, e no dia que te seguiram, era ele que estava lá! Ele te deu tempo pra entrar no beco e fugir, mas não sabia que tinha exatamente alguém no final te esperando! - Voight finalizou tentando ficar calmo, mas era impossível.
Em dezenove anos, eu nunca tinha me sentido tão estúpida e tão burra. Eu podia jurar que meu coração pararia. Eu não tive a coragem de encarar Holt novamente, apenas virei as costas e saí dali com pressa. Eu não consegui respirar direito por longos minutos. Que merda eu tinha feito? Que diabos eu estava pensando?
Tristan me ajudava a manter os pés firmes no chão enquanto socava o saco de pancadas sem dó. Ter corrido pra academia foi a única coisa que veio em minha mente porque eu sabia que poderia extravasar de alguma forma, caso contrário, eu surtaria de tanta raiva de mim mesma. No meio disso tinha me ligado, provavelmente Holt já tinha ligado pra ela e falado da confusão, mas ela não parecia brava comigo e nem nada do tipo, muito pelo contrário, ela só queria saber aonde eu estava.
- ... - Tristan chamou minha atenção e demorou para que eu parasse de bater no saco, levando minha atenção até o homem que segurava uma garrafa d'água em minha direção.
- Obrigada! - sorri sem jeito, tirando as luvas e abrindo a garrafa.
Me sentei em um dos bancos, observando as outras pessoas que estavam ali. Bebi toda a água na garrafa, exausta. Tinha mais de uma hora e meia que eu estava ali e por todo esse tempo minha mente tinha desligado, eu estava tão focada que esqueci da besteira que tinha feito. Respirei pesado ao ver as três ligações perdidas de em meu celular. Joguei minha cabeça pra trás, amarrando meu cabelo de um jeito desajeitado e observei entrando ali cheia de simpatia.
Óbvio que ela viria atrás de mim, era o que ela fazia: cuidava dos amigos.
- Holt e Voight ficaram preocupados com você, ! - ela chegou já esticando os braços pra um abraço e eu não me dei o luxo de recusar. Amava a sensação de segurança que me passava - Holt me contou o que aconteceu.
- Eu sou burra demais, puta merda, ! - resmunguei ainda em seu abraço e fomos nos soltando aos poucos.
- Para com isso! Foi só um erro, tudo vai se resolver!
- Não é só isso, é todo o resto! Eu queria não pensar tanto, eu queria não me...
- Culpar tanto? - minha melhor amiga completou sem jeito e senti meus olhos se enchendo.
- Uma pessoa morreu hoje, . Eu acho que... é demais, sabe? - me sentei cansada e ela fez o mesmo.
- Eu sei. Às vezes isso pesa em mim também, sabe? Mas se pararmos pra pensar, morre gente todo santo dia, . A vida é uma droga às vezes.
- Você já desejou que a vida fosse diferente?! - questionei enquanto olhava pro chão, passando os dedos rapidamente pelos meus olhos, que derrubaram algumas lágrimas teimosas.
- O tempo todo. As vezes eu gostaria de ser mais como você, sabia? - me encarou com carinho, mas eu podia ver a mágoa explícita em seus olhos - Eu queria não me importar com o fato do meu pai ter abandonado a minha mãe, mas isso acaba comigo, você sabe. Isso me deixa tão...
- Brava. Eu sei, eu te conheço. - ri fraco. Além de vingativa, com raiva botava medo até no demônio e eu não brinco quando digo isso.
- E sabe, nós duas fomos criadas juntas e praticamente da mesma maneira, e somos completamente diferentes. Eu sou extrovertida e você é mais fechada e tudo bem, não é? A gente sempre soube que às vezes os dias não vão ser bons. Do mesmo jeito que você se culpa por diversas coisas, eu vou continuar me culpando por não ter sido motivo o suficiente pra o meu pai ter ficado. Eu escondo isso de todo mundo, você sabe. E tipo... Eu sei que a vida te dá mil chances de começar tudo de novo, minha mãe conseguiu, sabe? Ela tem Holt e ele é incrível, mas quando eu paro e penso, me sinto deixada pra trás, entende? - finalizou com os olhos marejados e aquele olhar cheio de tristezas foi se desmanchando aos poucos.
Éramos tudo uma pra outra e o tanto que eu não conseguia me expressar direito, conseguia. Custava muito pra ela desabafar desse jeito, mas quando fazia...
Entrelacei nossas mãos e puxei sua cabeça de leve até encostá-la em meu ombro, onde minha melhor amiga repousou com um suspiro alto. Nós sabíamos que já não tinha muito o que dizer, e nem precisava.
- Você é a melhor coisa que eu tenho na vida, -Boo.

——

Conseguimos tirar nossas mentes de todos os problemas que tínhamos em nossas vidas. quis experimentar o boxe e Tristan se animou ao ver o quanto se mostrava determinada e eu posso jurar que até rolaram uns flertes. Por horas nos focamos apenas naquilo e eu senti como se outra estivesse ali. Uma sem pesos ou culpas. insistiu para que eu dormisse em sua casa, mas eu precisava pedir desculpas pra Holt, tentar colocar minha cabeça no lugar, mesmo sabendo que era uma tarefa difícil e saber se mesmo com todo o ocorrido, eu precisaria trabalhar.
Adentrei o lugar com o coração apertando. Quase todo mundo estava reunido ali na entrada, me fazendo pensar que tinham tido uma reunião ou algo do tipo. Procurei Scott por ali e não achei, começando a caminhar até seu trailer. Queria me certificar de que ele estava, na medida do possível, bem. Bati em sua porta algumas vezes e a mesma se abriu rapidamente, revelando um Scott abatido.
- Ei. - sorri sem jeito - Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? - fui direto ao ponto, porque perguntar se ele estava bem era algo até estúpido.
- Eu tô de boa, . - ele sorriu de canto, mas ainda dava pra ver claramente em seu olhar o quanto ele estava abalado.
- Sinto muito que isso tenha acontecido. - tombei minha cabeça pro lado, devolvendo o sorriso de canto.
- Bem, a estrada do poder é pavimentada com hipocrisias e casualidades como essa, não é? Pelo menos é assim que funciona a nossa vida aqui. - ele colocou as mãos dentro dos bolsos da sua blusa de frio e desceu os três degraus do trailer, ficando de frente pra mim - Mas se você ajuda o mal, você é mau, certo? - ele respirou fundo e mesmo ele ainda estando abalado, eu podia ver uma pontinha do humor dele ali. Aquela conversa não era pra ser tão séria.
- Então somos maus, não somos? Se pararmos pra pensar, a gente contribuiu pra muita coisa ruim.
- Essa é a parte da hipocrisia, . - Scott riu fraco e eu cerrei os olhos e sorrindo sem mostrar os dentes. Seu jeitinho de lidar com coisas sérias e ruins era tentar não levar tão a sério, embora fosse sério.
- Fico feliz que você esteja bem, Scott. - o abracei de lado meio sem jeito, mas logo seus braços me envolveram num abraço de gente decente, mas que não durou muito tempo.
- Eu também. Se eu tivesse morrido junto, um dia ruim teria se transformado em um dia péssimo, não é?! - arregalei os olhos de leve e caímos na risada juntos.
Conversamos por alguns minutos até eu insistir pra Scott descansar, ou pelo menos tentar. Por mais que ele tivesse varias gracinhas e bom humor pra esbanjar, ele parecia exausto. Respirei fundo e meu coração pareceu cair ao lembrar do pedido de desculpas que eu devia pra Holt. Caminhei até o escritório como se estivesse pisando em ovos, batendo na porta que estava fechada e trancada. Meu coração quase caiu de vez quando o próprio Holt abriu a porta.
- Ei... Voight não está. Precisou sair, você sabe... Toda a papelada do nosso garoto que morreu e...
- Perdão. - o interrompi desesperada, sentindo meus olhos se encherem.
- , voc...
- Não! Eu fui burra! Eu não acreditava que você poderia ser um traidor, mas as coisas aqui acontecem tão rápido e isso me deixa maluca e tudo o que eu faço é agir sem pensar, Holt! - as lágrimas foram caindo e o homem me puxou pela mão com gentileza até eu entrar no escritório, onde a porta se fechou rapidamente e seu corpo me envolveu num abraço cheio de paz.
- Tá tudo bem, de verdade! Foi só um mal entendido, não se martirize por isso, certo? Você é jovem, acaba agindo sem pensar mesmo e é normal, ok? Até eu que já estou velho faço isso ainda, mas tem noção das besteiras que eu fazia quando tinha sua idade?
- Eu não quero nem imaginar. - o choro veio ainda mais forte e Holt riu alto, me abraçando ainda mais. Ele foi soltando meu corpo aos poucos, segurando em minhas mãos e me ajudando a respirar fundo e resgatar pelo menos o restinho de dignidade que me restava.
- Eu nunca quis uma família, sabia? Nunca mesmo. Eu jurava que era perda de tempo, que era algo que me prenderia, afinal, eu não tive bons exemplos, não é? - ele riu fraco, e a história de vida dele passou pela minha cabeça rapidamente. Holt sofreu muito com os pais, muito mesmo - Mas eu agora tenho tudo, e você veio junto! Você é como uma segunda filha pra mim, . Você pode conversar e contar comigo, está me ouvindo? Eu sei que a vida aqui é maluca, mas você é maior que isso e sabe disso!
- Então você me perdoa? - passei a mão pelo rosto, tirando os vestígios das lágrimas dali.
- Sempre, ! - ele riu e me abraçou novamente.
A porta se abriu e a presença de Voight completou o nosso momento.
- Aconteceu alguma coisa? - ele questionou com cuidado e acabei rindo.
- Não, está tudo bem. - Holt me olhou com carinho e sorriu rápido.
- Já avisei pra todos que o enterro vai ser de manhã. E - ele me encarou sério - Sem trabalho hoje.
- Obrigada. - respirei fundo caminhando até a porta, pronta pra abri-la novamente e sair dali.
- Ei. - chamou minha atenção - Eu vou falar com sobre isso depois, mas quero que você saiba que se algum dia alguém dos Ghosts ou qualquer outra gangue seguir vocês e tentar arranjar confusão, eu quero que vocês voltem pra cá no mesmo instante, está me ouvindo? Não quero que continuem a confusão, eu só quero que vocês voltem! - meus olhos se encheram novamente assim que Voight finalizou. Dava pra sentir de longe a dor em sua voz e o quanto ele queria que aquilo fosse respeitado. No fim, ele só nos queria de volta, assim como ele queria que Marvin tivesse voltado. Andei em sua direção e o abracei forte.
- Eu sempre vou voltar, você sabe! - sussurrei enquanto o abraçava ainda mais forte, sentindo todo aquele carinho que ele tinha por mim.

's POV
Marvin estava morto e enterrado. Quase ninguém se aguentou e a maioria chorou junto com o irmão dele que se lamentava alto. Tudo o que eu queria era não ter visto aquilo. Talvez eu devesse ter feito o mesmo que e ter me poupado disso, mas eu precisava estar lá por Scott, que ainda estava abalado, mesmo querendo mostrar que não estava.
Cara... é a morte. Não tem nada mais triste que isso.
As pessoas morrem e não levam nada, o que fica são as pessoas que sofrem por essa morte. Mas um dia essas pessoas também vão morrer e o ciclo vai continuar. Mas em algum momento da vida, vão parar de sentir a falta de Marvin porque não vão mais lembrar dele.
O que mede a vida? Acho que ninguém sabe, mas no fundo, acho que o que importa de verdade são as nossas conquistas, as pessoas que conseguimos amar e até nossas falhas. Respirei fundo, balançando a cabeça e tentando me livrar de tais pensamentos. A morte mexe com qualquer um.
Entrei em meu trailer e tirei toda aquela roupa preta que parecia me sufocar. Enrolei a toalha na cintura, carregando roupas limpas e fui até o banheiro, tomando um banho gelado. Me troquei rápido, saindo dali agoniado. Precisava ver . Eu desconfiava de Holt enquanto ela me dizia que era impossível, mas algo mudou e ela explodiu com ele. Ver aquilo foi como um soco na boca do estômago porque senti como se de alguma forma, mesmo não querendo, estava a estragando, e era boa demais pra mim.
Saí do banheiro e estendi minha toalha, ouvindo o barulho que me era super familiar, mas não podia ser Cohen ou Scott porque os dois estavam comendo. Me aproximei do lugar onde nós três fazíamos graça no grande muro com os sprays, encontrando cantarolando U2 enquanto usava fones de ouvido. Embora estivesse um dia quente, o moletom preto e folgado estava em seu corpo, mas o shorts jeans nunca a abandonava. Ela não fazia nada de especial, apenas alguns desenhos aleatórios como se fosse uma criança. Bati palmas pra chamar sua atenção e nada. Gritei e nada. Me aproximei rápido, e antes de poder encostar em seu braço, se virou de uma vez, revelando o rosto cheio de lágrimas.
Foi como outro soco na boca do estômago.
- Desculpa, é que eu queria tentar e... - ela tirou os fones de ouvido e começou a tagarelar sobre o quanto queria saber se tinha algo ali que pudesse fazer ela se sentir melhor e a ideia sobre os sprays e o muro pareceu uma boa coisa a se fazer.
- Funcionou? - apontei pro spray em sua mão enquanto limpava as lágrimas do seu rosto.
- Não! - sua voz saiu num fiapo e ela o soltou com raiva, tentando respirar fundo em seguida.
Eu queria ajudá-la. Eu queria de verdade. Ela estava tão vulnerável, tão frágil e tão sensível, que surgiu uma pontinha de dor em mim. Não que aquilo fosse proibido, afinal, momentos assim fazem parte de nós, mas ela não merecia se sentir assim. Não mesmo.
- Ei, calma! - puxei seu corpo contra o meu, a envolvendo num abraço - O que aconteceu? É por causa do Marvin, é isso?
- Também. Eu nem o conhecia, ! Ele não morava aqui, mas ele morreu, entende? E pessoas morrem todo santo dia e a gente nem pensa nisso! - ela chorou ainda mais, me apertando forte.
- Você não pode chorar todo dia por isso, .
- Eu não sou durona, . Não o tempo todo. Eu não chorava há tempos e agora é só o que eu sei fazer.
A gente sempre ouve que não reconhecemos os momentos significantes das nossas vidas enquanto eles estão acontecendo. Mas não tinha como não reconhecer aquilo. precisava daquilo. Ela precisava sentir. Não tinha frase bonita no mundo que a fizesse parar de chorar ou sentir, e por um segundo me permiti a sorrir por ver o quão humana ela se mostrava ser cada vez mais. Aquilo era importante pra ela.
- Quer saber? Chora. Pode chorar, de verdade. Eu tenho dois ombros aqui pra você chorar neles, . - coloquei uma de minhas mãos no meio do seu cabelo, fazendo um carinho quase que desesperado em sua cabeça, a abraçando de maneira mais confortável que eu conseguia.

——

é boa o tempo todo. O jeito que ela pensa no próximo encanta qualquer um.
Estávamos todos em seu quintal aberto, tomando cerveja e nos enchendo de pizza. Totalmente merecido depois de um dia tão pesado, e embora não tenha ido no enterro, ela tinha se preocupado em nos convidar pra ficarmos juntos e conversarmos bobeira. estava sentada do lado dela desde a hora que tínhamos chegado, como se daquela maneira, ao lado da melhor amiga, nada pudesse a atingir.
- Pelo menos Voight e Holt deram folga pra todo mundo de novo. - Cohen comentou, enfiando um pedaço de pizza na boca em seguida.
começou a falar sobre seu próximo show, nos convidando também. Ela se mostrava animada demais e óbvio, Cohen não deixava passar nenhuma oportunidade em azucrinar alguém em relação à garotas.
- Suas amigas por acaso...
- Sim, vão estar lá também. Todas. - completou rindo alto, sabendo que aquilo fazia parte de Cohen, mesmo ele não falando sério na maioria das vezes, ele apenas era daquele jeito - Mas... - tossiu, limpando a garganta e arrumando sua postura, como se estivesse prestes a dizer algo importantíssimo - Acho que vocês deveriam levar o amigo de vocês também.
Nós três nos olhamos confusos e a única coisa que veio em seguida foi uma gargalhada alta de .
- Meu Deus, eu sabia! Eles estavam flertando mesmo!
- De quem você tá falando, mulher? - Scott perguntou.
- Do Tristan! conheceu ele ontem quando foi me encontrar na academia! - explicou ainda rindo, enquanto mantinha uma expressão engraçada.
- Ele é solteiro, não é? - de repente ela realmente se mostrou preocupada e foi a nossa vez de rir.
- Ele é, e mesmo se não fosse, por você ele ficaria na hora. - Cohen deu uma piscada sem vergonha pra garota, que retribuiu da mesma maneira.
Entramos em uma longa conversa sobre Tristan. Ele não era muito do tipo que curtia namorar, ele era focado demais no trabalho. achou graça, dizendo estar preparada pra mudar tudo aquilo. Eu preferia ouvir, e a maneira como entraram em relacionamentos em geral como assunto principal me deu uma fisgada. Cada um tinha uma maneira diferente de pensar e rolou alguns exemplos e eu até fiquei animado em ver como as pessoas são diferentes e cheias de opiniões.
- Quero dizer... Não existe privacidade que não possa ser invadida, não é? Claro que tem muita gente que prefere ficar sem ninguém, mas eu acho que em algum momento da nossa vida, a gente precisa de outra pessoa pra aprender mais. - tagarelava e eu tentei não expressar o quanto fui atingido com sua fala.
"Não existe privacidade que não possa ser invadida..."
- É que se a gente parar pra pensar, a sociedade é toda mascarada. As pessoas escondem seu verdadeiro caráter e é aí que coisas ruins acontecem... ou não. - Cohen ergueu a garrafa de cerveja que estava em suas mãos, como se tivesse acabado de ditar a coisa mais importante do mundo.
estava atenta à tudo aquilo.
- Bem, mudando de assunto... O aniversário dessa mocinha aqui é daqui duas semanas! - apertou a bochecha de com força, forçando uma voz de bebê.
- Yay! - fingiu animação.
- Ah não, vai falar que você odeia o seu aniversário? - Cohen cerrou os olhos.
- Não, muito pelo contrário! - mostrou sua real animação e os dois fingiram gritos histéricos.
- Então vai ter um festão? Garota, faz uma playlist daquelas que eu vou dançar e muito! - Scott pediu animado e todos nós rimos.
Ele realmente dançava bem. Um dos três precisava se salvar.
Terminamos de comer a segunda pizza e nos levantamos, prontos pra irmos embora. Ou quase prontos. se levantou e veio em minha direção com os braços abertos, me abraçando de uma vez.
- Obrigada por hoje, . - ela sussurrou de modo carinhoso, com os braços em minha volta.
Observei Cohen e Scott fazendo graça enquanto iam em direção à rua e não pensei duas vezes em mostrar o dedo do meio pra os dois, segurando o riso. Assim que nossos corpos se afastaram, deu pra observar bem o quando ainda estava um pouco abalada e o rostinho ainda inchado de tanto chorar.
- Não precisa agradecer! - sorri bobo, colocando uma mecha do seu cabelo pra trás da orelha.
Scott e Cohen já não estavam mais lá e nem suas motos. andava de fininho até a porta como se tivesse fugindo dali e acabei rindo e também.
"Não existe privacidade que não possa ser invadida..."
Aquilo rondou pela minha mente mais uma vez. Eu não queria que nada meu fosse invadido, eu queria ter controle, eu queria poder falar numa boa, sendo escolha minha total.
- Vou dormir aqui hoje, então boa noite. - ela me deu um beijo na bochecha e sorriu, começando a andar em direção à porta, se virando no meio do caminho - E não corre! Você de carro já é um perigo, de moto então... - ela gargalhou de maneira gostosa e eu pude jurar que aquilo foi a chave pra o último cadeado que restava.
Horas antes, chorava no meu ombro feito uma criança que tinha acabado de se machucar pela primeira vez. Tão sensível de todas as maneiras e tão destemida pra tal coisa. Nem sempre chorar no ombro de alguém significa que essa pessoa seja sua amiga ou algo do tipo. E essa ideia me perturbou.
havia dito que queria ser minha amiga. Bem... eu também queria ser seu amigo.
- Sienna! - eu disse alto, apertando os olhos e os abrindo rapidamente, vendo a garota se virando novamente, me olhando confusa mas com uma expressão divertida.
- Errou feio, meu nome é . - ela riu sozinha, sabendo que aquele nome que tinha saído da minha boca não era eu errando seu nome. A garota andou em minha direção novamente e por Deus... seus olhos claros me davam a exata clareza que eu precisava pra continuar.
- A dona dos olhos tatuados no meu peitoral se chama Sienna. - respirei fundo. Eu estava pronto. Ou quase. Não tinha mais volta. estava totalmente atenta à mim - Ficamos quase quatro anos juntos. Ela vem dessa família enorme de advogados e ela quis seguir isso também. A gente se conheceu na universidade, ficamos cada vez mais firmes e fomos morar juntos, até que no nosso último ano ela decidiu que seria melhor pra gente se mudar pra Nova York, terminar tudo por lá e começar a vida profissional lá mesmo. Ela detestava ficar na aba do pai, embora fizesse absolutamente tudo o que ele ou qualquer pessoa da família pedisse e eu não acompanhava nada. Eu me sentia sugado. Não que a família dela fosse ruim, mas era só sobre eles, sabe? Em quase quatro anos, eu posso contar nos dedos as vezes em que nossas famílias se reuniram e conversaram feito gente grande. E eu estava ocupado demais, estava trabalhando, estudando e eu não conseguia acompanhar Sienna em nada. Nada mesmo. Pra ser sincero, eu não queria. Foi aí que ela começou a parar de me amar. - suspirei alto, e nem mesmo piscava. Sua expressão neutra me deu ânimo, porque eu não suportaria uma cara de dó ou algo do tipo - Eu demorei um tempão pra entender onde eu tinha errado, porque pra mim, na minha cabeça, eu só estava recusando mais um jantar ou mais um evento da empresa do pai dela, mas era mais que isso. Ela me expulsou do nosso apartamento numa madrugada e naquele momento eu podia jurar que até eu não a amava mais. Só que... - eu travei. Simplesmente travei.
- , não precis...
- Eu voltava todo dia lá. Eu não dormia, não conseguia trabalhar direito, comecei a faltar nas aulas e todos os dias de manhã quando ela saía, eu estava na calçada do apartamento esperando por ela. A noite, a mesma coisa. Às vezes até de madrugada. Eu simplesmente não conseguia lidar com uma vida sozinho porque sinceramente, você não passa quase quatro anos com uma pessoa e não dá parte do seu coração, entende? E eu só queria que ela me amasse de novo. - senti meus olhos queimarem e respirei fundo, passando a mão pelos cabelos - Até que um dia ela cansou, ela brigou comigo na calçada mesmo, dizendo que só tinha tido a ideia de ir pra Nova York porque pensou que um lugar novo ia me fazer mudar. Ela gritou pra todo mundo ouvir que não queria que eu voltasse pra lá e nem pra vida dela porque não podia permitir que eu tirasse o resto de felicidade que ela estava tendo pelo menos no trabalho. - finalizei firme, me sentindo totalmente... leve.
Aquilo não tinha me matado ou acabado comigo. Não tinha me feito menos homem ou qualquer coisa. Eu me sentia aliviado e estranho.
- Você sente falta dela? - aquilo saiu de maneira suave da boca de . Não era uma pergunta que mostrava sua insegurança, e sim preocupação.
Me perdi em mim mesmo por longos segundos.
- Eu sinto falta de quem eu era antes de tudo aquilo, mas se eu parar pra pensar bem, não evoluí muita coisa. - soltei uma risada sem humor, sentindo a mão quente da garota em meu rosto.
- Você está aqui me contando tudo isso, é uma grande coisa, . Se nós pararmos pra pensar bem, é uma grande evolução por aqui, não é? - um sorriso carinhoso se abriu e eu balancei a cabeça, me certificando de que aquilo não era alguma maluquice da minha cabeça.
- Acho que a coisa é que hoje em dia, parece que mesmo quando eu ganho, ainda perco.
- É difícil quando você sente falta das pessoas, principalmente quando sente falta de si mesmo, mas sei lá, sabe... Eu sei que isso vai parecer estranho, mas... Talvez você tenha sido sortudo porque teve alguém especial na sua vida, alguém que vale a pena sentir falta, sendo você mesmo ou Sienna. - a garota deu os ombros sem jeito, mordendo o próprio lábio e eu comecei a rir feito bobo.
- mostrando um pensamento positivo? É isso mesmo, mocinha? - fingi surpresa e a garota seguiu meu riso, me dando um soco sem força no braço.
- me contando sua verdade e mostrando de vez que é por isso que tem medo de novas relações sérias? - ela arqueou as sobrancelhas com uma falsa expressão malvada.
- Eu com medo disso? - cerrei os olhos e fingi desentendimento.
- Simplesmente apavorado! - ela riu alto e não teve como não rir também. Sua risada escandalosa me fazia ter a quase certeza de que tudo aquilo tinha sido a decisão certa a ser tomada.
- Mas falando sério agora... - me recompus, voltando ao meu tom sério e firme novamente - Se relacionar é difícil porque você precisa entender que os outros não são você. Precisa ter uma disposição enorme pra olhar de outros ângulos, entender problemas diferentes e notar que cada um sente do seu próprio jeito. - essa foi a única parte que me trouxe tristeza e eu não tive nem a coragem de tentar disfarçar.
- E você descobriu isso quando? - a garota questionou cuidadosa.
- Só depois que já estava tudo ferrado. - sorri sem jeito, e foi a primeira vez que a garota me olhou de maneira semelhante à dó, mas não durou muito tempo.
- Então eu mal posso esperar pra ter meu coração quebrado pra aprender esse tanto de coisa. - disse sapeca e caímos na risada novamente.
Meus pais sempre disseram que a melhor maneira de acertar, é errando primeiro. Os erros são dolorosos, mas eles são a única maneira de descobrir quem você realmente é. E há tempos eu não me sentia eu mesmo.

Capítulo 15

's POV
Tomei um banho rápido e me troquei, comendo um lanche de queijo, que era a única coisa que eu tinha em meu trailer. Precisava melhorar minha alimentação urgentemente.
Dormi absolutamente o dia inteiro. Acordei com e senti dó da coitada que precisou trabalhar, porque tagarelamos praticamente a madrugada inteira sobre tudo o que tinha acontecido, inclusive minha conversa com . Assim que cheguei aqui, deitei e dormi feito uma pedra. A única coisa de útil que tinha feito tinha sido marcar uma consulta com a minha ginecologista.
Peguei as pastilhas de menta que estavam em cima da cama e enfiei algumas na boca antes de sair, já encontrando ali me esperando. Minha respiração se perdeu por um segundo porque meu Deus, ele estava mais lindo do que ontem, juro!
- Isso não é bom pra você. - me manifestei apontando pra o cigarro que ele segurava entre os dedos.
- Muita coisa não é. - ele deu um sorriso sacana, dando a última tragada antes de jogar a bituca em uma espécie de cinzeiro em forma de vasinho, tinha em quase todo canto por ali porque a maioria dos moradores fumavam.
Sorri feito boba enquanto começamos a caminhar juntos até o escritório. Voight queria conversar com nós primeiro.
Eu sinceramente não tinha dúvidas de que era parecido comigo até demais em certas coisas. Embora o que ele tenha passado com Sienna seja algo que envolva amor, coração partido e todo esse grande clichê, a culpa que ele carregava era algo que eu podia me relacionar facilmente. Éramos parecidos.
Por mais que sejamos pessoas diferentes, sempre tem alguém por aí parecido com você. Em diversas situações. Alguém tentando encontrar seu caminho, alguém tentando encontrar seu lugar, alguém tentando encontrar a si mesmo. Eu perco as contas das vezes em que eu me afundo em mim mesma pensando como se fosse a única no mundo que está lutando, que está frustrada, brava e cheia de sentimentos. Eu tinha comigo pra colocar os meus pés de volta no chão a cada vez que isso quase me engole, mas veio com algo novo. Talvez de alguma maneira - da pior maneira, se pararmos pra pensar na posição em que nossas vidas estão - a vida tenha sido generosa em nos unir. Não só nós dois, assim como Cohen e Scott também. Talvez o que eu precisava era de gente nova.
- Eles quase conseguiram! Eu precisei agir rápido, você sabe! Pode parecer besteira, mas a gente precisa ter um controle maior desse assunto porque se qualquer coisinha for descoberta você sabe que...
- Eles não vão descobrir nada! - a voz alta de Holt interrompendo a de Voight me fez arregalar os olhos.
A cortina estava fechada então eles não tinham nos visto chegando, mas a porta estava aberta.
- Eles não podem! - Voight parecia aflito, e por mais que fosse errado, eu e começamos a dar passos mais lentos porque aquela conversa parecia enigmática demais e chamou nossa atenção igualmente. Nos encaramos por alguns segundos porque o silêncio dominou o escritório e Voight saiu dali de surpresa e eu quase caí pra trás de susto - Vocês dois! - ele nos encarrou com certa desconfiança - Estão aqui fora há quanto tempo?
- Acabamos de chegar. - abri meu melhor sorriso, sabendo que não o convenceria, mas pelo menos tinha tentado - Você queria falar com a gente, não é? - mudei de assunto rapidamente, enquanto parecia estar analisando algo em seu pensamento.
- Prestem atenção! - Holt saiu do escritório, ficando ao lado de Voight de maneira séria - Quem matou Marvin não foi ninguém dos Ghosts.
- O que? - questionou surpreso.
- Foi outra gangue. Estão querendo nos confundir pra entrarmos em guerra de uma vez porque acham que assim vai ser mais fácil nos atacar, então prestem atenção quando estiverem nas ruas, beleza? Eu não quero saber de nenhum dos dois, principalmente você, , aceitando provocação de mais ninguém! Qualquer coisa estranha vocês vão nos ligar e vão voltar pra cá numa boa, estão ouvindo? - Holt finalizou de maneira séria, direta e com direito a um arrepio no meu corpo inteiro.
Apenas murmurei concordando e Holt se despediu com um aceno, caminhando até a saída. Estávamos prontos pra fazer o mesmo, até Voight chamar nossa atenção.
- Vocês dois. - ele apontou pra nós de maneira engraçada, com um sorriso nos lábios - Estão juntos? - passou a mão pela barba de maneira pensativa.
Encarei com as sobrancelhas arqueadas e logo explodi em risadas.
- Não. - respondemos juntos num tom como se aquilo fosse óbvio.
A última pessoa que gostaríamos de falar sobre aquilo era Voight, sem sombra de dúvidas.
- Olha, eu já tive a idade de vocês, eu sei como funciona, e , - ele direcionou seu olhar exclusivamente pra mim - Sua mãe não está por perto então eu tenho que fazer isso por ela, eu preciso te alertar sobre proteção e essas coisas...
- Meu pai do céu... - murmurou, apertou os olhos e eu arregalei os meus.
- VOIGHT! - eu quis gritar, mas minha voz saiu falha pelo desespero. Eu senti minhas bochechas queimarem.
- O que foi? Esse é o tipo de conversa que pais tem com os seus filhos, eu só quero o bem de vocês dois e...
começou a rir descontroladamente e eu quis o estapear todinho.
- Eu juro que eu queria ser surda nesse momento! - exagerei no drama em minha voz, apertei os olhos e comecei a virar meu corpo pra sair dali.
Voight embarcou nas gargalhadas com e eu assistia aquela cena sem saber o que sentir, e no final acabei me rendendo às risadas também. Assim que entramos no carro, ainda ria um pouco e tentava se segurar, provavelmente achando que eu ficaria brava ou algo do tipo, mas a única coisa que eu conseguia reparar era no quanto ele ficava mais bonito ainda rindo.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Uhum. - ele murmurou enquanto colocava o cinto de segurança.
- Por que você me contou tudo aquilo ontem? - mordi meu lábio inferior, torcendo pra que ele não entendesse aquilo de maneira errada.
- Acho que foi o choque da morte do Marvin principalmente e de toda a conversa que tivemos ontem com o pessoal. - ele respondeu numa boa.
- Então você não queria me contar? Digo... A morte do Marvin te ajudou nisso? - franzi a testa confusa porém cuidadosa, não queria ser indelicada com sua decisão e motivos, só queria entender.
- Foi o empurrão que eu precisava. Acho que é aquele choque que você toma e acorda pra vida, porque não temos certeza do dia de amanhã e essa coisa toda, e óbvio que eu queria te contar, caso contrário, não teria contado, não é? - ele abriu um sorriso gostoso e aquela versão mais aberta do parecia ser boa demais pra ser real, mas claro, não ousei reclamar, afinal, nem tinha porquê.
Seguimos ouvindo música boa e conversando sobre assuntos aleatórios. falava sobre como tinha sido desde a sua chegada. Como ele tinha se aproximado de Cohen e Scott, como tinha conhecido Tristan e como se sentia nessa nova vida. O segredo dele era tentar não pensar muito, caso contrário, enlouqueceria de vez.
Tinha sido tranquilo e eu xingaria céu e mar se não tivesse sido. Acho que todos merecíamos um descanso e um pouco de paz após a morte de Marvin e não ter ninguém nos seguindo e nos atormentando durante a madrugada já tinha sigo uma vitória.
- . - me chamou de maneira carinhosa assim que bati a porta do carro, pronta pra entrar, cair na cama e dormir feito uma pedra novamente.
- Sim?
- Sobre o que ouvimos mais cedo... - ele nem precisou terminar a frase porque eu tinha captado muito bem.
Claro que aquilo tinha passado pela minha cabeça algumas vezes durante a madrugada, mas nada que valesse a pena pra trazer o assunto à tona. Voight e Holt poderiam estar falando sobre qualquer um, mas quanto mais eu pensasse, mais eu ficaria curiosa não me faria nada bem.
- Eu não faço ideia, de verdade. - fui sincera, dando um sorrisinho no final.
Adentramos ali juntos, mas me separei de e indo em direção ao escritório, que ainda estava com a luz acesa, indicando que Voight ainda estava ali. Bati na porta antes de entrar, o encontrando com três latinhas de Red Bull em cima da mesa e o notebook ligado em sua frente.
- Foi tudo bem? - ele perguntou sem me olhar, concentrado em algo na tela.
- Você me contaria se algo estranho acontecesse por aqui, não é? - respirei fundo, perguntando aquilo de uma vez sem joguinhos ou enrolação. Voight me encarou no mesmo instante.
- Aconteceu alguma coisa?
- Só responde, por favor. - pedi quase desesperada, não queria que ele desviasse do assunto ou algo do tipo.
- Caso essa coisa interfira na sua segurança... - ele respondeu sério - Não quero que você se preocupe com o que acontece por aqui, está bem?

——

As pessoas aplaudiam alto. tinha terminado mais um show impecável e eu estava morrendo de orgulho como sempre. Ela desceu animada do palco e eu logo grudei em seu braço. Ela iria surtar ao saber que Tristan tinha aparecido. Um pouco atrasado, mas tinha. Ele conseguiu ver apenas metade do show, mas tudo bem. Fomos passando pelas pessoas até chegarmos em uma das mesas onde os garotos já tinham sentado e eu segurei o riso, porque estava desacreditada no que estava vendo. Tristan se levantou e a cumprimentou, dando parabéns pelo show e embarcando em uma conversa que eu já não conseguia mais ouvir. Lydia estava conosco e se levantou, vindo em minha direção e implorando pra gente beber algo.
Ela tinha tido uma semana daquelas. Kendrick, seu ex, resolveu de uma hora pra outra que o melhor a se fazer era infernizá-la. Ele e a mulher que ele traiu Lydia tinham se separado e desde então ele só enchia o saco sobre Keith, dizendo que também tinha direitos por ser pai e toda essa história podre que homens dizem, mesmo sendo péssimos pais.
Esse era mais um motivos que eu tinha pra não sentir saudades do meu pai. Talvez se ele tivesse sido um Kendrick da vida, aparecendo na hora que bem entendesse e tentando ter direitos sobre mim mesmo não mostrando interesse, com certeza isso me deixaria pior do que já sou.
Fui até o bar com Lydia e os garotos vieram atrás. estava ocupada demais jogando seus encantos em Tristan. Pedimos nossas bebidas e tomamos ali mesmo enquanto observávamos toda aquela gente. Meu olhar se encontrava com o de o tempo todo. Os últimos dias não foram tão bons assim pra gente. Quero dizer, foram incríveis, tinha sido ótimo o fato dele ter se aberto comigo, mas ao mesmo tempo veio um certo distanciamento da parte dele. Conversávamos numa boa, mas ele parecia estar muito na defensiva e eu entendia, uma grande parte da história dele tinha sido revelada e a verdade é que ninguém gosta desse tipo de exposição porque as vezes as pessoas ligam isso a outras coisas como fraqueza ou falta de capacidade, mas não, isso é só... um ser humano sendo um ser humano.
Não vou mentir, eu estava morrendo de saudade do seu beijo, do seu toque, das nossas noites juntos, mas eu não queria parecer desesperada. Não queria forçar muito com ele e parecer uma bobinha apaixonada e ao mesmo tempo queria respeitar seu espaço. Eu e Lydia fomos pra pista de dança, onde nos juntamos com outras conhecidas que tinham ido ver cantar. Conversávamos, dançávamos, íamos até o bar e voltamos a dançar de novo e assim seguíamos. Blow Your Mind começou a tocar e eu não me aguentei. Eu e as meninas nos soltamos até demais e ríamos uma das outras.
- If we don't fuck this whole thing up, guaranteed I can blow your mind, MWAH! - mandei um beijo na direção de , que riu de maneira gostosa e mesmo estando encostado no balcão do bar, eu podia imaginar e ouvir o som da sua risada.
Ele não tirava os olhos de mim e eu queria ter me segurado mais, porém não consegui. Fui andando em sua direção feito boba, me colocando ao seu lado.
- Você animada desse jeito é legal de se ver, . - ele se aproximou e disse em meu ouvido por conta de todo o barulho do lugar. Eu podia jurar que meu sorriso já estava na testa.
- Você está bem? - perguntei amigável, vendo uma expressão confusa tomar conta da sua face.
- Por que não estaria?
Pedi outra bebida pra o barman e me sentei no banco que estava ao meu lado, ficando de frente pra com o copo na mão, bebericando devagar.
- Você está... distante.
Ele me analisava de maneira única e eu percebia cada vez mais minha respiração se descontrolando.
- Não estou mais. - ele arqueou as sobrancelhas de modo sacana, se encaixando entre as minhas pernas e segurando meu rosto, me fazendo encará-lo.
- Posso te contar uma coisa? - perguntei alto e por sorte ele entendeu rápido, assentindo positivamente. Virei o copo de uma vez com o resto da bebida e coloquei o copo no balcão novamente - Eu acho que no fundo, bem no fundo, por baixo disso tudo, eu tenho medo de ficar sozinha.
- Você está bêbada? - me olhou torto e eu rolei os olhos.
- Não, é só que... Eu não quero que você se sinta desconfortável comigo. Eu sei que você tem o seu espaço e eu preciso respeitar, mas eu disse sério sobre ser sua amiga, mesmo que isso signifique ser SÓ sua amiga mesmo. - meu lado racional esperneava e fui o mais clara possível, sentindo meu corpo paralisar porque eu sabia que ele tinha que responder e eu estava em pânico por isso, pela sua resposta.
- ... Tudo o que eu te contei... Sienna não sepultou minha habilidade de confiar nas pessoas ou me fez temer qualquer mulher que cruze o meu caminho. O problema sou eu, entende? Eu não quero te...
- Estragar? - o interrompi, tendo que lidar com sua total atenção em mim, e estava claro em seu olhar que aquela conversa nem mesmo tinha um rumo certo.
Pedi outra bebida, virando o copo de uma vez e fazendo careta ao sentir aquilo queimar dentro de mim.
- , voc... - ele me observava preocupado, encarando também o copo vazio que eu tinha acabado de devolver no balcão novamente.
- Foi o último. Não bebo pra ficar bêbada, . - o interrompi de novo, porque claramente tinha passado pela sua cabeça a possibilidade de que eu pudesse estar bêbada.
Me levantei dali pronta pra ir pra pista de dança novamente, não queria e nem tinha como continuar a conversar e eu não queria pensar em tal coisa. Dei o primeiro passo e me puxou de volta, apertando meu corpo contra o dele.
- Chega de dançar, mocinha. - ele citou cada palavra de maneira cafajeste, passando a língua entre os lábios e me dando um sorrisinho simples, mas aquilo foi o suficiente pra quase me desmontar. era sexy sem absolutamente esforço nenhum e digo sério.
Ele me soltou aos poucos, entrelaçando nossas mãos e começou a andar entre a multidão, me levando até um corredor longo que tinha ali, onde cada ponta tinha uma porta. foi me encurralando até eu encostar em uma das portas, sorrindo de maneira maliciosa. Mentalmente, eu já tinha retirado o que tinha dito. Eu nunca conseguiria ser SÓ amiga de . Talvez eu nunca mais conseguisse sentir tanta atração e excitação por alguém como sentia por ele. Nossas bocas se encontraram com pressa e intensidade. Nosso beijo era como nenhum outro. Tantas sensações e eu não sabia descrever uma. Era impossível. era impossível. Era bom demais pra ser verdade.
Eu abraçava o corpo de com vontade. O vento gelado que batia em nosso corpo não era problema nenhum. Eram três e meia da manhã e já estávamos chegando. Cohen tinha levado e Scott levado Lydia.
Eu e quase nos engolimos naquele corredor mesmo. Estávamos loucos um pelo o outro, mas precisávamos vir embora, e eu até estava animada por isso porque finalmente poderíamos finalizar o que tínhamos começado. Assim que descemos da moto e nos encaramos mais uma vez, eu ri animada. me trazia algo novo a cada segundo e eu queria agradecer por cada sensação que ele me dava.
- Então... no meu trailer ou no seu? - fingi estar bem pensativa e foi a vez dele rir.
- Minha casa é sua casa, . - ele se aproximou, passando o braço em volta da minha cintura e apertou minha bunda, me olhando com falsa inocência no olhar.
Ele abriu a porta e meu celular começou a tocar. E o dele também. Franzimos a testa estranhando aquilo.
- É a Lydia.
- Scott. - ele me mostrou a tela do celular, onde confirmei que era mesmo Scott e foi aí que estranhamos mais ainda.
- Lyd? - atendi com cuidado, como se estivesse com medo de algo.
Scott tinha levado Lydia e os dois ligarem ao mesmo tempo não parecia ser um bom sinal.
- , pelo amor de Deus! - Lydia gritava - O Kendrick pegou o Keith!

Todos estavam ajudando. Cada um foi para um canto do bairro enquanto eu, Lydia, sua mãe e estávamos sentadas ali no sofá esperando alguma notícia ou esperando até mesmo o próprio Kendrick aparecer.
Custou muito pra fazer Lydia ficar, muito mesmo, e a única coisa que se dava pra ouvir era seu choro alto.
- Que inferno! - ela gritou irritada, passando as mãos e puxando os cabelos de maneira desesperada - Eu juro que eu vou matar esse desgraçado!
- Vão achar ele, Lyd. - quase sussurrou, com medo do que poderia vir de Lydia, e o que viesse teríamos que aguentar e apoiar, afinal, ela tinha todo o direito do mundo. A situação era horrível em todos os sentidos.
- A pior parte é que... Eu era cega! O amor não dói, vocês sabiam disso? Eu não sabia direito mas Kendrick me mostrou isso muito bem. Todas as brigas, o ciúmes, os surtos dele doíam, e ele tinha a coragem de tentar me comprar no dia seguinte depois de uma briga com algum presentinho barato. Eu nem mesmo me lembro de como era o nosso relacionamento sem brigas! Ele estragou tudo e ainda me trocou como se eu fosse um nada! Ele nunca me amou e eu tenho certeza que ele não ama o Keith, e mesmo assim ele tá fazendo esse inferno comigo! Eu vou matar ele, eu juro que vou! - Lydia se levantou do sofá furiosa, chorando alto entre raiva e desespero e a única coisa que conseguimos foi levantar para abraçá-la também, exceto sua mãe, que continuava sentada em estado de choque.
Menos de trinta minutos antes de sairmos do bar, Kendrick apareceu ali com outros caras, exigindo que a mãe de Lydia entregasse Keith. Ela conseguiu contar, em meio ao choro, que tentou de tudo para eles não entrarem, mas entraram e Kendrick pegou Keith sem nenhuma gentileza. Ela tentou ligar pra Lydia no mesmo instante, mas ainda estávamos no bar e ela não tinha notado todas as ligações até chegar em casa.
- Ele vai voltar, Lyd. - sussurrei baixinho, a abraçando de um jeito desengonçado, já que também estava a abraçando.
- Eu tô cansada de ficar esperando, eu vou sair e vou procurar meu filho também! - ela disse realmente decidida, se afastando de nós de uma vez e já caminhando até a porta.
Sabíamos que não dava para impedi-la. Conversamos rapidamente com sua mãe, pedindo pra ela ligar caso qualquer outra coisa acontecesse e saímos dali junto com Lydia, que marchava com passos firmes pelas ruas.
- Você tem alguma ideia de onde procurar ou...? - questionou cuidadosa.
Meu celular começou a tocar e Lydia parou no mesmo instante, virando seu corpo e me olhando totalmente aflita. Olhei pra tela e o nome de Voight estava ali.
- Me diz que vocês acharam ele. - suspirei exausta, atendendo o celular.
- Achamos. Daqui a pouco chegamos aí.
De longe, um dos melhores momentos da minha vida. Ver o alívio e o choro de emoção de Lydia mexeu comigo de maneira absurda. Da mesma maneira que ela tinha saído apressada, tinha voltado, esperando Keith de maneira ansiosa.
Aquilo parecia ter saído de um filme. Voight, Holt, , Scott e Cohen chegaram juntos. Lydia pegou o filho dos braços de Holt da maneira mais linda e desesperada do mundo. Sua mãe abraçava os dois com carinho em meio ao choro também. Lydia beijava Keith todinho e logo abraçou a todos ali, sem nem dizer nada. As vezes, não há palavras pra explicar a gratidão que sente.
Voight foi até o carro, onde até então ninguém tinha percebido que Kendrick estava dentro do mesmo. Scott chutou suas pernas, o fazendo ficar de joelhos ali mesmo na rua, em frente ao carro. Lydia entregou Keith para a mãe e praticamente voou até Kendrick, chutando seu estômago de uma vez e sem dó nenhuma. O homem nem mesmo tentou evitar, e um canto de sua boca já estava sangrando, ou seja, Voight provavelmente já tinha lhe dado umas boas porradas.
- VOCÊ É LOUCO? Como você pega o meu filho assim? - ela gritava cheia de raiva enquanto o chutava mais uma vez.
Eu sentia a minha alma sendo lavada. Eu sei que as coisas não se resolvem com violência, mas nesse caso, Kendrick merecia e muito.
- A gente te ajudou. Praticamente te criamos, cara, e olha a merda que você fez. - Holt falava alto, andando em volta do homem que ainda estava ajoelhado - Você tem quarenta e oito horas pra sair desse bairro e qualquer assunto que tiver que tratar com Lydia sobre Keith, você vai falar comigo antes, está me ouvindo bem?
Aquilo era duro, mas era necessário. A vida nos The Lions não era das melhores, mas Voight e Holt levavam as regras, bons modos e caráter muito a sério. O bairro era unido e organizado justamente por isso. Todos andam na linha porque sabem que caso não andem, existem consequências como essa. Não importa se você tem pra onde ir ou não, se você é expulso, não tem volta.
Meu corpo implorava por um banho quente e pela minha cama. Voltamos andando sem muita conversa. Holt tinha ido pra casa com enquanto tínhamos voltado com Voight. Segui até meu trailer, pegando roupas limpas e minha toalha, saindo dali novamente e dando de cara com parado ali fora como se tivesse me esperando.
- Porra! - levei a mão até o peito, mostrando meu susto - O que você está fazendo aqui?
- Vim te dar boa noite, gatinha. - sorriu bem humorado e soltei uma risadinha. Seu jeito sério era tudo fachada, porque vira e mexe se mostrava apenas um garoto cheio de graça.
- Quase bom dia. - gargalhei, me aproximando dele - Já está praticamente amanhecendo e eu estou exausta!
- Você quer ver? - perguntou animado e eu só franzi a testa totalmente confusa.
- Ver o que?
- O dia amanhecendo. Eu sei que aqui não é o melhor lugar pra isso mas dá pra ver o sol nascendo sim. - apontava para o céu atento e meu sorriso se fez presente na hora.
Ele se mostrava ser tudo e mais um pouco. Simplesmente adorável.
- Eu estou exausta e morrendo de fome, mas eu nunca recusaria esse convite, . - ri boba, dando um selinho em seus lábios e por um segundo me senti atrevida demais por isso, mas parecia ter gostado, mas não dei nem tempo daquilo se tornar algo maior - Vou tomar banho e já venho.
Talvez tenha sido o banho mais rápido da minha vida. Vesti um shorts confortável e uma blusa de manga cumprida, saindo do banheiro e indo até o trailer de , onde assim que entrei, o mesmo me erguia um prato com um lanche, junto à um copo de suco e mais uma vez, meu sorriso se escancarou em meu rosto. Sussurrei elogios pra o homem em minha frente em meio as mordidas que eu dava no lanche. O tanto que é atencioso e preocupado facilmente encanta qualquer um.
- Que puta noite! - exclamou enquanto se jogava em sua cama, batendo com a mão ali do seu lado para que eu fizesse o mesmo e óbvio que eu obedeci. Me encaixei ali, tendo a certeza de que não teria forças pra levantar e ver o dia amanhecendo.
- Nem me fale! Mas parando pra pensar... Kendrick e Lydia tiveram uma história, tiveram um filho, e isso tudo foi pro lixo porque ele sempre foi um estúpido! Eu sei que ela odeia ele com todas as forças depois disso, mas ainda assim, ele é o homem que ajudou ela a ter a coisa mais importante da sua vida, que é o Keith. Isso não é maluco?
- O importante é que ela se escolheu. - levantei o olhar pra encarar . Aquilo me atingiu de maneira diferente e ele tinha notado. Sua frase não tinha sido exatamente sobre Lydia, e sim sobre Sienna, e o incômodo em seus olhos estava explícito. Ele ainda se culpava.
- ... - abri a boca pra continuar, mas ele me deu aquele olhar de repressão e eu não ousei continuar. Pra ser sincera, eu nem mesmo sabia como ajudá-lo, afinal, eu não sabia nem me ajudar então foi mais fácil em abandonar o tópico e respeitar sua decisão, então decidi mudar de assunto - Ok, me diz a coisa que você mais odeia. - pedi com animação, deitando minha cabeça em seu peito, sentindo o cansaço me dominar.
- Falta de comunicação. - ele respondeu firme, e por mais que eu quisesse olhar para aqueles olhos lindos cor de âmbar, eu já estava confortável demais pra me mover - E você, ?
- Não ter um cachorro. - a risada gostosa de foi a última coisa que ouvi antes de cair no sono de uma vez.

's POV
- Acho que essa foi a primeira frustração da na vida. - se desmanchava de dar risada e eu também.
Tentávamos não fazer barulho, mas nem aquilo acordava . contava a história de quando achou que poderia cantar bem, mas sabia que a melhor amiga não servia pra aquilo e tentou avisar amigavelmente e isso resultou em uma briga ridícula de pré adolescentes.
Eram três da tarde e tinha levado o almoço pra , que continuava a dormir e nós estávamos dentro do trailer por conta da chuva forte que caía, nos impedindo de ficar lá fora. O engraçado é que estávamos ali há quase uma hora conversando e nem mesmo tinha se mexido na cama.
E porra, foi estranho, mas já sabia que tínhamos... algo.
Nós dois conversando e simplesmente dormindo. Perguntei sobre como era pra escrever e produzir suas músicas. De longe se notava o quanto ela realmente amava música. Cada explicação, cada detalhe, cada pequena coisa saía de maneira especial da sua boca. Ela chegou a brincar, dizendo que não era inteligente o suficiente como eu ou pra entrar numa faculdade e seguir com tal coisa pro resto da vida, e foi aí que precisei contrariar.
- Você é inteligente pra caralho, . Suas músicas são incríveis e não é qualquer um que pode fazer isso. Faculdade qualquer um entra hoje em dia.
- Eu sei, mas é que... Eu sou muito confiante sobre o meu trabalho, de verdade, mas as vezes é muito decepcionante. Eu não quero ficar cantando em bares pro resto da vida, . - sua voz um pouco triste se manifestou.
- E quem disse que você vai? - arqueei uma sobrancelha, dando um sorriso confiante de canto, fazendo a garota sorrir.
- E você, não pretende terminar o curso? - mudou de assunto e aquilo de certa forma pesou.
- Óbvio! Só acho que no momento não dá muito porque... você sabe. A vida aqui é maluca.
- Você quer ser professor também? - levou uma de suas mãos até seu queixo, a apoiando.
- Aham.
- Mas porque você realmente quer, né? Não é como a que acha que sendo professora vai mudar o mundo... - ela disse energizada. Aquilo realmente a incomodava.
- Não, nada disso. - ri fraco - Eu sempre quis isso, e é uma pena isso que acontece com a porque... - virei meu rosto, olhando pra garota que dormia encolhida e tranquilamente - no final, isso é uma decisão importante pra caralho. É algo que a gente espera trabalhar pro resto da vida e se a gente não gostar da coisa, vai ser uma vida de merda então. - voltei meu olhar pra , que assentia positivamente com um olhar exclamativo.
- Não é? Eu já cansei de falar sobre isso com ela, mas porra, não adianta. A é foda as vezes. - soltou um suspiro derrotado.
se sentou na cama com tudo, assustada e respirando de maneira descompassada.
- Puta que pari... ? - ela cerrou os olhos, coçando os olhos pra se certificar de que aquilo era real.
- Pesadelo ou paralisia do sono? Você sempre teve isso. - perguntou tranquila enquanto ainda se acostumava com o que estava a sua frente.
O cabelo liso e ruivo levemente bagunçado, o rostinho inchado e a confusão em seu olhar foi a coisa mais adorável que eu podia lembrar em ter visto em semanas.
- Pesadelo. Sonhei com um homem que dizia ser meu pai. Ele veio me visitar, disse que não queria ter ido embora e me chamou pra viajar e do nada estávamos na beira de um rio, onde ele me afogou. - explicava enquanto amarrava o cabelo, se espreguiçando e levantando, dobrando o cobertor - O que vocês estão fazendo aqui? - seu olhar confuso apareceu novamente em seu rosto.
- Eu moro aqui. - respondi bem humorado, fazendo a garota rolar os olhos e rir fraco.
- Eu vim te ver e te trazer almoço. Te liguei mil vezes e você não atendeu, então vim pra cá pra curtirmos esse domingo chuvoso, mas você estava dormindo, então fiquei aqui conversando com esse rapazinho. - explicava animada, se levantando e pegando a comida que tinha trago pra amiga.
- Então vocês ficaram conversando enquanto eu dormia e tinha um pesadelo horrível? - cerrou os olhos, recebendo um "sim" das nossas cabeças que assentiram juntas - Meu Deus, que bizarro. Vou tomar um banho.
E foi mesmo, sem se importar que se molharia um pouco pra voltar por conta da chuva. Scott e Cohen aparecerem também com algumas cervejas e a gracinha começou. voltou do banho e por mais que o trailer fosse pequeno, cabia todos nós, assim como cabia todas as nossas bobagens e risadas. explicou que tinha gostado de Tristan mas ele era sério demais pra ela. Cohen convidou as garotas para o próximo racha que seria no sábado. E eu... eu aproveitava o momento.

——

- Já decidiu o que vai fazer no seu aniversário?
- Ainda não. - respondeu com uma expressão pensativa - Meu Deus do céu, quase 20 anos e porra nenhuma. Sem emprego, saí da faculdade, moro num trailer, minha mãe está presa... - ela riu debochada da própria desgraça.
- Não é nada que não possa mudar, . Inclusive você pode voltar pra faculdade, mas dessa vez num curso que realmente goste. - alfinetei de propósito, recebendo um olhar de repreensão como se aquilo fosse um assunto proibido, mas eu sentia que precisávamos falar sobre aquilo.
- Eu gosto do...
- Você precisa amar pra funcionar bem, gatinha. - dei uma piscadela e a garota abriu a boca pra falar algo mas desistiu, bufando derrotada.
- E você? Não vai terminar?
- Vou, só não sei quando. Mas vou ser professor porque quero ser. - a essa altura eu já estava zoando mesmo e fingiu um olhar dramático, como se eu realmente a tivesse ferido com a minha frase mas ela acabou rindo.
- Já pensou em todas as alunas que vão babar em você? Você vai ter muito trabalho, . - ela disparou cheia de graça, rindo em seguida.
- Está me elogiando, ? - arqueei as sobrancelhas, fingindo inocência.
- Por Deus, ! Deveria até ser proibido! - ela respondeu com entusiasmo.
- O que?
- Você! Já se olhou no espelho? Sério, seus pais... Meu Deus do céu, como deu certo! Olha só pra você! - quase se perdia em sua fala e eu ri alto.
Seu jeitinho bobo e torto às vezes me deixava maluco. ainda era uma menina e eu ficava bobo com sua personalidade as vezes. As coisas que ela dizia, sua risada, seu olhar... Não tinha nem como ficar mau humorado mesmo trabalhando de madrugada. Eu nem mesmo desejava estar dormindo, porque era o horário em que eu tinha comigo falando coisas como essa.
- Se for assim, então seus pais estão de parabéns. Você é linda, . - entrei na brincadeira e ela colocou a mão no próprio rosto, um pouco tímida.
- Linda e esfomeada. Podemos comer algo? Vou ter um troço se não comer! - ela ria com o rosto um pouco corado, e óbvio, eu não negaria seu pedido.
Acelerei um pouco mais, parando em uma das poucas lanchonetes que ficava aberta 24 horas que eu conhecia por ali. Estacionei o carro do outro lado da rua, saindo do mesmo e batendo a porta, mas nem mesmo se mexeu.
- Vamos, mocinha? - parei ao lado da janela do passageiro, me abaixando e olhando pra garota bem de perto.
- Me surpreenda, . Vamos ver se você sabe alimentar uma garota. - ela piscou e jogou a cabeça pra trás, rindo feito uma criança.
Ela era mesmo real?
Atravessei, entrando no local com um sorriso idiota nos lábios. Pedi dois lanches, dois refrigerantes e os últimos três donuts que estavam ali na bancada. Peguei meu celular, entrando no instagram e rolando por um feed chato e desconfortável. Todos felizes, sorridentes... Ninguém que é feliz tem a necessidade de ficar mostrando ou dizendo que é feliz o tempo todo. Ironicamente, é o que mais tem. Pior; já fui assim também.
Não que eu seja um ser humano mais evoluído por isso, me afastei de todas as redes sociais depois de perceber que Sienna realmente não iria voltar pra mim, e quando voltei pra elas, voltei com novos olhos. Eu ainda tinha grandes dificuldades em lidar com as redes sociais de Sienna. Eu olhava tudo as vezes. Bem as vezes. O problema é saber que provavelmente sempre irei amá-la, mas entendo claramente onde e como tudo deu errado. Passávamos dias sem conversar de verdade mesmo morando juntos e eu costumava sentir tanto a falta dela, não reconhecendo que eu quem estava distante. Acho que foi aí que Sienna pariu de sentir a minha falta de verdade.
Chacoalhei a cabeça, tentando me livrar daquilo. Odiava ainda pensar tanto no assunto porque a culpa era de esmagar o peito.
Coração vazio é melhor que coração partido? Acho que ninguém sabe.
Os lanches ficaram prontos. Paguei e fui levando tudo com certa animação, percebendo de longe que não estava dentro do carro. Ou parecia não estar. Fui chegando mais perto esperando tomar um susto dela ou algo do tipo, mas não. Enfiei tudo no banco do passageiro e assim que fechei a porta, dois homens que eu nunca tinha visto saíram de trás do carro que estava estacionado atrás do nosso, um deles segurando sem delicadeza nenhuma.
- Boa noite. - o que segurava se manifestou com um tom de voz debochado, apertando o corpo dela contra si, a impedindo de se mexer e eu estava pronto pra voar no filho da puta, que sorria de maneira debochada - Eu não queria ser tão rude assim e atrapalhar o lanchinho de vocês, mas acontece que você é o filho do cara que roubou de Paul enquanto essa belezinha aqui é praticamente a filha do homem que ajudou seu pai a tentar acobertar tudo, ou estou ficando doido? - ele se esforçou pra se fingir de desentendido, mas falhou miseravelmente.
Dei o primeiro passo, pronto pra avançar no homem que era mais alto e mais forte que eu, mas foda-se, a cara assustada de estava me matando.
- , não! - ela praticamente sussurrou, olhando pra baixo, e foi aí que o homem encostou uma arma em sua cintura e nisso eu senti, de verdade, meu coração parar.
- Solta ela! Só... solta ela! - eu praticamente implorei.
- Essa história já está se estendendo demais, garoto. Tudo isso já estaria resolvido se tivessem aceitado o acordo, mas não... Agora você vai entrar na merda desse seu carro com essa pirralha e vai avisar pra o seu chefinho ir se encontrar com Paul amanhã às seis da tarde e o local ele sabe. - o outro homem disparou com desdém, tirando também uma arma da cintura e apontando pra mim como se não fosse nada demais.
estava pálida. Eu podia ver lágrimas em seus olhos mas nenhuma delas se atreveu a cair.
- Tá bom, tá bom, agora solta ela! - insisti desesperado e o homem a empurrou contra mim, e eu não lembro de segurar alguém tão forte mas com tanto cuidado ao mesmo tempo.
me abraçou como se sua vida dependesse daquilo e comecei a andar pra trás, ainda inseguro se deveria mesmo estar fazendo aquilo, pois os dois homens continuavam com as armas em mãos.
- Da próxima vez não seremos simpáticos como estamos sendo agora. Eu não teria problema nenhum em enfiar uma bala na cabeça dos dois agora mesmo. - a frieza do homem que segurou era tanta que porra, eu estava aflito pra caralho.
Com medo também. Não tinha como não estar.
Os dois entraram no carro de maneira rápida e saíram dali mais rápido ainda. ainda me abraçava forte.
- Calma , já passou. Eles já foram. - afrouxei meus braços pra poder segurar em seu rosto e a preocupação me atingiu mais forte ainda.
Eu podia notar que ela tentava dizer algo mas não conseguia, até suas pernas enfraquecerem e ela desmaiar de vez em meus braços.
Não importa quantos planos traçamos nunca sabemos como o dia irá acabar.

Capítulo 16

's POV
A claridade do local quase me fez desistir de abrir os olhos. Pisquei milhares de vezes até me tocar onde estava. Arregalei os olhos e sentei na cama com tudo, assustando no mesmo instante, que estava cochilando na poltrona ao lado até então.
- Você acordou! - ele se levantou sorridente, me abraçando com cuidado.
Olhei para o lado, percebendo o acesso de soro em meu braço esquerdo. Minha mente buscou todas as informações que pareciam estar faltando e a última coisa que eu lembrava era dos dois homens que tinham me tirado do carro enquanto comprava algo pra comermos.
- , o que aconteceu?
- Você desmaiou. Eu tive que mentir, disse que você foi assaltada e desmaiou pelo nervoso, mas acontece, mocinha, que você está basicamente desidratada. Fizeram alguns exames. - explicou calmo, se sentando no pé da cama.
Um médico entrou assim que ele finalizou. O homem de meia idade se apresentou, me explicando todas as coisas que tinham saído em um exame de sangue que tinham feito. Minha cabeça doía um pouco e eu quase dei um berro assim que me lembrei de outra coisa; o possível encontro de Voight com Paul. Não podia acontecer. Simplesmente não podia! Com certeza Paul mataria Voight.
- Eu posso... - fiz menção em levantar, mas me segurou e encarou o acesso e o soro, que ainda descia lentamente - Que horas são? Eu preciso ir embora, eu preciso ver o meu...
- Pai? Ele está ali fora. Na verdade, foi tomar alguma coisa mas ele já volta. - o doutor explicou simpático, dando um tapinha nas costas de - Você pode ser liberada assim que a medicação acabar, mas você precisa se alimentar melhor e passar pelo médico mais vezes, está bem? Vou trazer algumas instruções por escrito quando te der alta, não vai demorar. - e com isso, ele saiu do quarto.
- Você ia dizer "meu pai"? - questionou com um sorriso que não se dava pra segurar, cheio de entusiasmo.
- Eu... - recapitulei o que tinha falado e sim, as duas palavrinhas quase saíram da minha boca e eu nem mesmo tinha reparado. Respirei fundo, passando a mão pelos cabelos - Ia. - admitir aquilo me trouxe uma sensação estranha. Não ruim, apenas nova, diferente.
A porta se abriu, e Voight entrou com pressa e tia Ellie logo atrás. Os dois me abraçaram forte e pareciam preocupadíssimos, como se algo muito mais grave tivesse acontecido.
- Você está bem? - Voight sussurrou em meu ouvido enquanto praticamente me amassava em seu abraço.
- Sim. Eu lembro que... Eles... já te falou tudo, não é? - atropelei as palavras, ainda sem saber por onde começar direito.
- Já sim, e eu juro que vou arrancar a cabeça de todos que chegaram perto de você, .
- Você não vai, né? - me afastei de seu abraço, o encarando de maneira séria. Ele sabia que eu estava falando sobre a óbvia emboscada que seria o tal encontro com Paul.
- , não vai acontecer nada! Eu tenho que ir, preciso acabar com isso de uma vez!
- Ele vai te matar!!! - aquilo quase saiu como um grito, chamando a atenção dos três.
- Não vai não! Paul quando quer matar, ele simplesmente mata, ele não marca local e nem horário, ele só... mata. - a respiração pesada de Voight mostrava bem seu nervosismo e tensão sobre aquilo, e por mais que ele tivesse um bom ponto, aquilo não me parecia uma boa ideia de maneira alguma.
- Vai dar tudo certo, meu amor. Quando foi que Voight ou Holt deram um passo errado? - tia Ellie se manifestou com a voz carregada em bom humor, segurando em minhas mãos.
- Voight. - chamou alto, fazendo o homem se virar pra ele - quase te chamou de pai agora a pouco, sabia? Então você realmente não pode morrer. - ele jogou tudo aquilo de uma vez, com um olhar engraçado e uma risada gostosa.
- Isso é sério? - Voight se virou novamente pra mim com um olhar encantado, de maneira que eu nunca tinha visto em todos esses anos. Aquilo me atingiu em cheio, assim como aquilo tinha o atingido também.

——

Voight tinha ido mesmo e Holt também. Tia Ellie tinha ficado no comando dos The Lions, mesmo sabendo que não precisaria tomar nenhuma decisão grande porque por ali estava tudo sob controle, mas eu sabia que ela estava nervosa também.
- No que está pensando? - fechou de vez o livro que já não estava lendo há minutos por falta de concentração, enquanto eu estava sentada ao seu lado, o observando.
- Voight sempre disse que o respeito que ele tem por aqui não é demandado, que é merecido. Eu fico confusa. Sempre fiquei. Essa vida aqui, tudo o que acontece e...
- . - levou as duas mãos até meu rosto, o virando lentamente para que eu o encarrasse - O que acontece aqui, acontece em todo lugar. Eu não vou mentir e fingir que somos dois anjos, até porque estamos aqui, não é? Mas eu posso te mostrar alguns pontos que talvez deixe a coisa menos pior. Até onde eu sei, os Ghosts são podres em todos os sentidos e eu sei que você sabe disso também. Eles não são metidos só com drogas, são outras coisas mais pesadas como prostituição e só Deus sabe aonde essa lista acaba. Aqui não. Voight e Holt me irritam as vezes, mas eu não posso negar que eles são pessoas boas e cuidadosas.
Por instantes, eu fiquei totalmente impactada. Não sabia o que pensar nem o que dizer.
- Acho que a minha maior dúvida é: como deter um monstro sem se tornar um? Paul é horrível! O pior é que não é só ele, é tanta gente, tanta coisa... - bufei decepcionada, e as mãos de largaram meu rosto e se entrelaçaram em minhas mãos.
- Eu acho que pessoas como o Paul se tornam esse tipo por vários fatores, mas muitas das vezes são escolhas também. Alguns de nós tem força para se recompor das porradas da vida e alguns nunca terão isso. Alguns de nós tem bondade no coração e a habilidade de demonstrar compaixão... Outros não. Eu realmente acho bizarro a ideia de gente que sente prazer em fazer coisa ruim, mas é o mundo em que a gente vive. Você não deveria se cobrar tanto pra saber o que aconteceu pra certas pessoas serem ruins desse jeito, porque você vai acabar enlouquecendo, . - ele foi sério o tempo todo, mas arriscou com um pouco de humor ao finalizar, me fazendo rir.
- Quem te ensinou a ser tão incrível assim? - eu estava mais encantada do que nunca. Apertei seu rosto de leve com as minhas duas mãos, me certificando de que ele era mesmo real. riu, liberando o som gostoso da sua gargalhada única.
- Meus pais. - respondeu sútil.
- Eu não conheço eles, mas sei que são ótimos. - elogiei sincera, ainda provavelmente com uma expressão abobalhada, totalmente encantada com o homem em minha frente.
- Posso te perguntar algo? - pude notar o cuidado de , e sabia que algo provavelmente importante demais ou delicado demais sairia de sua boca. Assenti positivamente. Eu estava adorando nossa conversa mais do que tudo - Você nunca sentiu falta do seu pai?
Aquilo não me atingiu de maneira triste ou negativa. Era um assunto totalmente tranquilo pra mim.
- Nunca. Ele abandonou minha mãe ainda grávida, e ela sempre valeu pelos dois. Eu não tenho como sentir falta de algo que nunca tive, então... Eu só vivo a vida. Isso nunca me tirou o sono.
- Você é forte, .
- Sabe quem é totalmente o contrário em relação à isso? - mudei de assunto, não sabendo muito bem o que responder pra ele. arqueou as sobrancelhas curioso e eu continuei - ! Meu Deus, se um dia o pai dela aparecer, ele primeiro fica surdo de tanto que ela gritaria com ele e depois ele morreria pelo pescoço quebrado. - rimos juntos.
- Viu só? Vocês duas passaram pela mesma situação e as reações são totalmente diferentes.
- Claramente tem tristeza, crime e pais abandonando mulheres grávidas em todo lugar, mesmo quando tudo está aparentemente bem. - disparei com a voz carregada de sarcasmo.
- Ok, chega disso. - riu, se aproximando de uma vez, colando nossos lábios.
Um beijo calmo, sem pressa, mas que logo foi engatando a algo mais urgente. Me deitei de uma vez, com distribuindo beijos pelo meu pescoço e parando, me analisando por inteira.
- O que foi? - perguntei confusa.
- Já falei que você é linda hoje? - abri um sorriso de imediato, o puxando pela camiseta e o trazendo pra perto novamente, colando nossos lábios novamente num beijo cheio de carinho.
Ficamos nos amassos por minutos até tirar minha blusa de uma vez e eu já sentia meu corpo pegando fogo. Fogo esse que foi apagado assim que algumas batidas foram dadas na porta e gritou, anunciando que era ela.
- Porra. - resmunguei, rindo em seguida e me acompanhou. Nos levantamos e coloquei minha blusa novamente com a força da frustração.
- A gente precisa de outro lugar, to cansado de gente nos interrompendo. - resmungou também em meio aos risos.
me abraçou forte assim que a porta foi aberta. Eu podia amar cada segundo com , podia amar todas as nossas intimidades, mas o abraço de era uma intimidade única também.
Eu, e tia Ellie já estávamos feito baratas tontas de tanto andarmos de um lado para o outro quando Voight e Holt chegaram, completamente vivos e inteiros. Aparentemente tudo tinha corrido bem na medida do possível. Eu queria entender porque diabos Paul ainda tinha a paciência em conversar. Digo, eu estava feliz por isso, caso contrário, os dois estariam mortos, mas eu gostaria de entender o que realmente rolava. Paul era um monstro e todos sabiam, mas com Voight e Holt parecia ter algo diferente. Eles não entraram em muitos detalhes e eu não tive coragem de perguntar muito. Tia Ellie tinha feito o jantar e comíamos como se nada tivesse acontecido, como se os dois não tivessem voltado de um encontro com um cara totalmente maluco e errado.
- , você quer continuar trabalhando aqui? - Voight perguntou baixo, afinal, estava sentado ao meu lado e eu quase engasguei com a comida. O encarei com os olhos arregalados.
- Eu meio que... Preciso?! - respondi como se fosse óbvio, mas não tinha entendido nada mesmo de sua pergunta.
- Eu não quero te por em risco, . Eu sei que você já perdeu muita coisa e vir pra cá não era o que você queria, mas se você sentir que não consegue mais, pode parar! Você pode ficar na minha casa até conseguir outro emprego fora daqui, era esse o seu plano, não era? - ele questionou realmente preocupado e eu botei todo o suco que estava no copo em minha frente pra dentro de nervoso.
A verdade é que eu já não enviava um currículo há semanas. A ideia de ir pra os The Lions, basicamente depender de Voight e trabalhar pra ele era o fim pra mim, e mesmo muita coisa me incomodando, eu não queria sair dali. Não era o melhor trabalho, não era no melhor horário e com certeza não era no melhor lugar pra morar, mas aquilo não me incomodava tanto quanto no começo. Respirei fundo, vendo do outro lado da mesa rindo com Scott e Cohen.
- Eu estou bem aqui, de verdade. Eu sei que há riscos, mas você não precisa se preocupar, ok? E assim que eu conseguir um emprego fora daqui, te aviso! - menti na cara dura, sabendo que o tal emprego não cairia do céu já que eu nem estava tentando mais.
Tentei me concentrar em terminar de comer a comida que estava em meu prato, mas minha atenção estava presa em . Eu ainda não tinha parado pra pensar direito, mas toda a raiva que eu sentia por ter que voltar para os The Lions tinha até diminuído. me mostrou um ponto novo e diferente. Às vezes o importante não é qual lado você está, e sim qual você está contra. Eu estava contra os Ghosts em todos os sentidos, mesmo sabendo que aquilo não era uma briga minha, mas me afetava mesmo assim. O negócio é que eu sempre senti que estava fugindo de algo enquanto sigo incerta atrás de outra coisa, mas me acalmava de maneira única, em todos os sentidos. Acho que de alguma forma, eu precisava ser encontrada por alguém, e talvez esse alguém seja ele.
Ou talvez seja loucura minha.
Mas a sensação que ele trouxe assim que eu o olhei pela primeira vez... O entusiasmo de algo novo é uma delicia, e tinha isso.

——

- Você tem certeza disso? Eu acho melhor você ficar. Posso fazer isso sozinho ou chamar um dos garotos e...
- , eu to bem! - o interrompi quase nervosa porque era a milésima vez que ele tentava me convencer a ficar, mas ao mesmo tempo feliz em ver o quanto ele estava preocupado.
Nos olhamos por longos segundos até ele dar partida no carro de uma vez, e por mais que meu coração estivesse batendo mais forte, eu não comentaria sobre. Não poderia permitir que os capangas de Paul me travassem. E como sempre, estávamos ouvindo Khalid. Cantarolávamos a música Alive juntos, e embora eu fosse um desastre total cantando, era exatamente o contrário. Se anjos cantam mesmo, com certeza é com o som da voz dele. Depois de certo tempo em que as ruas já estavam mais vazias, voltou com a ideia de me ensinar a dirigir e eu não neguei. Talvez da próxima vez eu seja capaz de acertar os engraçadinhos que tentarem mexer comigo.
Ele estava mais paciente e brincalhão, o que funcionou bem. Eu já me sentia mais à vontade no volante. me parabenizou e assim que trocamos de lugar novamente, comecei a fuçar no instagram.
- . - me chamou e eu o olhei no mesmo instante - Você acha que existe uma versão sua no futuro que está orgulhosa por você estar enfrentando tanta coisa agora? Não especificamente uma do futuro, mas no geral. Você acha que isso é possível? - ele perguntou sem cerimônias, focado no volante e na velocidade que ia diminuindo até o carro parar de vez na frente de uma casa qualquer. Eu quis rir por aquilo ser completamente aleatório, mas era totalmente a cara do .
- Não acho. Eu acho que é bom acreditar no futuro até certa parte, sabe? Eu não consigo imaginar uma versão minha que já está lá na frente porque eu nem mesmo sei se vou viver até lá. Pode parecer cruel, mas acho que esse tipo de pensamento acaba te dando uma desculpa a mais, entende?
- Não. Explica. - riu fraco, e estava óbvio que tínhamos entrado em um tipo de assunto que ele gostava, e consequentemente aquilo me animou de imediato.
- Por exemplo, eu posso te dizer que estou dando o meu melhor em algo, mas na verdade não estou, e aí você vem com esse papo de que a de 30 anos está orgulhosa da de 19... Tipo, isso não vai me ajudar muito, acho que só vai servir pra eu continuar dizendo e não fazendo de fato o que tenho que fazer. - expliquei e riu feito uma criança boba, mas não de maneira grosseira ou sarcástica, ele só... riu. Provavelmente de si mesmo, já que me levou até um assunto totalmente aleatório.
- Boa resposta!
- Ok, minha vez. - entrei naquilo de vez, tirando o cinto e sentando de lado, ficando de frente pra ele - O que você acha que Deus fazia antes de criar tudo isso? - espalmei as mãos no ar, me referindo ao universo e a expressão de foi impagável.
- Melhor você voltar a olhar seu instagram, porque eu não tenho ideia do que responder! - ele jogou as mãos pro alto, como se estivesse se rendendo e foi a minha vez de rir.
- Só se você me seguir de volta. Te segui já tem uns três dias, homem! - fingi estar emburrada.
- Sério? - ele puxou o celular do bolso, e logo a notificação de que ele tinha me seguido de volta chegou.
- Você não é muito disso, não é? Você tem umas vinte fotos no máximo. - comentei enquanto rolava pelo seu feed.
- Garota, você tem vinte e duas fotos postadas, tá falando o que? - ele retrucou num mix de ironia e confusão, me mostrando a tela do celular e apontando para o número de publicações que eu tinha e caímos na risada juntos - É complicado hoje em dia, só isso. A internet tem um poder enorme na vida de todo mundo hoje em dia. É o lugar onde você basicamente tem que provar que tem um relacionamento bom com os seus filhos, com a sua namorada, com a sua família e amigos, como se fosse uma listinha de compras. Eu não sou perfeito e imune a isso, afinal, eu uso tudo, só não me fiz escravo das redes sociais. - cada palavra que saía de sua boca vinha com tanta sabedoria e sensatez que mais uma vez, eu precisei apertar os olhos varias vezes pra me certificar de que aquilo era real mesmo. era muito inteligente.
- Bem, então vem cá. - sorri animada, pegando o celular dele de suas mãos e colocando na câmera do aplicativo. Me aproximei um pouco mais, encostando nossos rostos e tirei a foto, me marcando e postando no storie em seguida. nem mesmo contestou, apenas riu de maneira gostosa e me deu um selinho demorado, que logo se tornou em um beijo cheio de afeto.
Assim que nossos lábios se separaram, ainda nos mantivemos próximos. Nossas testas se colaram como se fosse uma cena de filme e sorrimos um pra o outro. se virou novamente e fiz o mesmo, colocando o cinto novamente, mas o medo veio, assim como veio pra o homem ao meu lado também. Um carro totalmente preto passou por nós e começou a dar ré em seguida, parando na frente do nosso carro. praticamente voou até o porta luvas, tirando dali uma arma e eu me segurei pra não gritar. Ele pegou com cuidado, segurando com força e esperando alguém sair do carro, o que ainda não tinha acontecido.
Eu abri a boca pra falar varias vezes mas nada saiu.
- Fica tranquila, !
- Você tá com a merda de uma arma na mão e... Quem te deu isso? Voight sabe? Puta que pariu, ! - eu me encolhi no banco de susto assim que a porta do carro da frente se abriu, mas me senti totalmente aliviada assim que percebi que era uma mulher que foi com pressa até a porta de trás, tirando de lá um bebê e entrando na casa de uma vez.
Me senti uma bexiga sendo estourada. Toda aquela tensão se desfez e respirou pesado, guardando a arma novamente no porta luvas. Eu ainda o olhava cheia de dúvidas.
- Voight sabe. - foi só o que ele disse, ligando o carro novamente e saindo dali.
- , eu sei que é complicado, sei que já te provocaram muito, mas não precisa disso, pode até ser pior! Você ao menos sabe atirar? - questionei cheia de preocupação.
- , eu não dou a mínima pra todas as provocações e brigas, o problema é mexerem com você! Você desmaiou, foi parar no hospital de tanto nervoso e fraqueza, não vou deixar acontecer de novo! E sim, eu sei atirar. Eu e os meninos fizemos aulas de tiros.
Aquilo me chocou em todos os sentidos. Senti meu corpo inteiro queimar porque ele disse em alto e bom som que se importava comigo, mas ao mesmo tempo eu não podia dar margem pra tal situação ir pra frente. não precisava fazer nada daquilo por mim, era um risco muito grande e Voight merecia um chute no saco por deixar ele levar uma arma.
- Sabe de uma coisa? Eu não sei atirar, mas eu sei aprender. O negócio é: eu não quero. Não quero também pensar na possibilidade de ter que aprender, e você não tente bancar o herói se algo acontecer de novo, está me ouvindo? Eu agradeço a preocupação de coração, mas eu quero você inteiro e sem precisar dar tiros em ninguém, por favor! - fui o mais séria que pude, mas pela expressão dele, meu ponto tinha sido muito bem colocado e esclarecido.

's POV
Eu lembro exatamente do olhar de Sienna quando eu finalmente percebi que já não dava mais. Ela não me queria mais, já não sentia mais nada por mim a não ser raiva. Por muito tempo eu acreditei que não conseguiria ir embora, porque eu ainda queria tê-la aqui por perto. Era difícil demais dizer adeus pra quase quatro anos juntos, quando tudo que eu queria era ficar.
Eu segurava firme meu celular, desacreditado em como algo tão bobo tinha me despertado tantos sentimentos e sensações. Sienna tinha visto minha foto com .
Eu queria não ter parcelado tanto a dor do término com Sienna, queria ter sofrido tudo de uma vez, mas o que passamos ainda estava impregnado em mim e nas minhas decisões, e talvez sempre estaria. Uma decepção amorosa e términos em geral são simplesmente a porra mais chata do mundo, um processo horrível que não da pra pular. Mas eu ainda tentava manter minha lucidez. Meus 26 anos me ensinaram muitas coisas. Saber, sentir e vivenciar. Eu não morreria por isso.
Até que meu pensamento parou em . Por Deus, eu não a merecia! Eu vivia entre uma vontade gigante de tê-la só pra mim e uma vontade de voltar atrás, recuar e dizer "não estou pronto pra essa porra porque eu sou um bobão que se culpa pelo o que aconteceu com a ex". Vontade de me poupar também das possíveis dores e possíveis fins, e da possível culpa maior. Eu não podia ficar dependente de da maneira que tinha ficado de Sienna. Isso a sufocou da pior maneira.
Meu pensamento todo foi interrompido com meu celular tocando. Minha mãe me chamava pra uma chamada de vídeo e aceitei no mesmo instante. Ela começou a contar sobre tudo o que estava acontecendo em casa, e não era nada muito novo. Me perguntou inúmeras coisas e quase engasguei com a última delas.
- Está tudo bem mesmo? Não arranjou nenhuma namoradinha por aí?
- Que pergunta é essa, mulher?
- Suas irmãs me mostraram a foto e depois eu mesma vi. - minha mãe deu uma risadinha que eu conhecia bem. Óbvio que ela tinha visto!
- Eu vou amarrar as três e...
- Ela é bonita, filho! É , não é? - me interrompeu animada e eu arregalei os olhos minimamente. Porra, mãe é foda mesmo, mas eu tive que rir.
- Sim, mas nós...
- Shhh, só me ouve! Eu sei que tudo o que aconteceu com a Sienna foi horrível, você já tinha mudado a sua vida toda, já tinha ido morar em outro lugar, estava prestes a terminar a faculdade e tudo desmoronou, mas às vezes você só precisa estar aberto a novas pessoas e situações que até então eram impensadas. - ela me interrompeu novamente com o tipo de discurso que me faria refletir pelos próximos três dias. Senti seu olhar cheio de sensatez e carinho.
- Mãe, não temos nada sério. - passei a mão pelo meu cabelo, me sentindo um pouco desconfortável com o assunto, mesmo sabendo que tudo que minha mãe me dizia era pro meu bem.
- Tudo bem, mas um dia você vai ter algo sério com alguém de novo, então guarda o que eu te falei, ok?

's POV
A semana passou rápido. estava focada em musicas novas e me ajudando a planejar minha festa de aniversário. Scott e Cohen estavam cada vez mais próximos e minha relação com estava incrível. Relação? Bem, não é nada sério, mas não deixa de ser uma relação. Eu ainda não tive coragem de falar sobre o assunto, porque honestamente, estava tudo incrível, mas eu sentia uma pontinha de desconforto com tal situação. As vezes eu sentia que poderia ser medo. Medo dele surtar e não me querer mais, medo dele ainda estar apegado demais à Sienna. Eu não sabia como funcionava, nunca tinha me apaixonado e quebrado a cara desse jeito.
Também visitei minha mãe junto com Voight. Ela quase arrancou os cabelos de preocupação quando contamos o que tinha acontecido, mas ela estava feliz por ver nós dois nos dando tão bem. Voight e Holt não tinham comentado absolutamente nada sobre o que tinha rolado no dia em que se encontraram com Paul e isso tinha irritado . Querendo ou não, ele se sentia envolvido demais porque sabia que muita das coisas tinham acontecido por conta do pai. Mas, preciso dar crédito pra os dois, que quase fizeram explodir de tanto sermão que deram quando contei sobre a arma. Voight não tinha dado autorização nenhuma e nem sabia sobre a mesma, e a arma era de Scott. Uma baita irresponsabilidade, mas compreendeu bem o porquê ele não podia sair por aí com uma arma achando que isso significa proteção.
Depois de esperar terminar de se arrumar, fomos até o local em que Cohen correria novamente. Por Deus, eu nem mesmo sabia como ele conseguia se manter vivo correndo tanto dentro de um carro!
Chamamos Lydia, mas ela estava exausta e preferiu ficar em casa. Assim que chegamos, e Scott nos esperavam na entrada. Cohen estava se aprontando e nós fomos direto pra arquibancada. O terreno era enorme!
- Ô meu Deus, a gente esqueceu de apostar! - me cutucou, já me puxando para irmos até a mesa de apostas.
Descemos quase que rolando mas conseguimos. Apostamos 200 em Cohen, metade de cada uma.
- Uma moça tão bonita apostando logo no Cohen? - um moreno alto, tatuado e com uma beleza absurda comentou de maneira divertida, mas totalmente direcionado à . Ele estava atrás de nós na fila da mesa de apostas e nem mesmo tínhamos percebido.
- Claro, eu só aposto em quem ganha. - virou o corpo, ficando totalmente de frente pra ele de modo firme, como se o desafiasse a algo, mas eu sabia que aquilo era puro charme.
Por mais que eu quisesse ouvir tudo, comecei a andar novamente até meu lugar na arquibancada. Sabia que me contaria tudo. Me acomodei novamente ao lado de , segurando em seu braço e apoiando minha cabeça em seu ombro.
- Você está linda, . - ele me olhou com carinho, depositando um beijo rápido porém gostoso em minha testa.
Ele não podia ser real, sério!
A corrida estava prestes a começar e voltou quase saltitante. Nem precisei pedir, ela mesma já estava despejando toda a novidade: o nome do rapaz era Grant e os dois tinham combinado de se encontrarem no bar do Wayne, que era onde iríamos depois da corrida. e Scott se intrometeram na conversa de maneira ridiculamente engraçada, dizendo que não perdia tempo e estava certa por isso, e estava mesmo!
A corrida foi iniciada e eu sentia aflição a cada minuto que via aqueles carros tão acelerados. A sensação pra quem gosta da coisa deve ser incrível, mas pra mim... passo. Tudo foi rápido demais, e Cohen ficou em segundo lugar. Olhei decepcionada pra , compartilhando do mesmo pensamento: tínhamos perdido 200 libras.
Demorou um pouco até Cohen subir e se encontrar com nós, mas o trajeto até o bar do Wayne não demorou. Andar de moto com sempre me trazia uma sensação gostosa de liberdade e aventura. O vento gelado que vinha em nossos corpos me deixava atenta à tudo. Algum dia eu ainda pediria pra ele me levar pra um lugar longe de moto só pra sentir mais ainda tal sensação.

Entramos, nos acomodamos, fomos até o bar, bebemos um pouco, dancei com até ela avistar Grant. Eu e os meninos torcemos de longe por ela, e a última coisa que vi foi ela rindo antes de sumir no meio da multidão. Fui até o bar, onde estava sentado me olhando e fomos nos sentar em uns bancos que tinha em uma área menos barulhenta. Scott e Cohen foram se divertir tanto quanto , nos deixando sozinhos. Levamos algumas bebidas conosco, mas eu sabia que era só aquilo que consumiríamos, afinal, iria pilotar a moto e eu não poderia ir junto se estivesse bêbada. O bom é que eu conhecia meus limites alcoólicos e também, ele sempre se mostrava bem responsável.
- Então... - pausei pra dar um gole no copo de bebida que estava em minha mão - Eu sei que você não quer dançar, então podemos...
- Ir embora e transar a noite inteira? - arqueou uma sobrancelha com uma expressão super convidativa, dando um sorriso de canto totalmente sem vergonha e bebendo de sua bebida também.
- Me parece uma boa ideia. - sorri assanhada, virando todo o resto do líquido e batendo o copo na mesa ao lado, me aproximando de de maneira apressada.
Ele me deixava louca! Eu não lembro de, em 19 anos, me sentir tão à vontade com alguém. me faz sentir que sou alguém. Me faz sentir que posso ser eu mesma. Eu não sou boa com palavras, mas de uma coisa eu sei: nosso pequeno relacionamento que ainda não era devidamente nomeado como um relacionamento estava me fazendo muito bem.
Eu não estava apaixonada, mas estava gostando de tê-lo comigo e ter todas as sensações que ele me proporciona. é uma caixinha de surpresas, literalmente ele traz algo novo todo dia, por mínimo que seja.
Passei as mãos em volta da sua cintura, o abraçando de maneira carinhosa e logo subi meu rosto para encontrar seus lábios, onde depositei um selinho demorado. passou uma das mãos pelo meu rosto, colocando todo o meu cabelo pra trás em seguida e pousando a mão na minha nuca.
- Eu queria um canto só pra gente. Nada de trailer ou a academia do Tristan.
- Homem, eu juro que a última coisa que me importo é o lugar. - ri alto e aquilo se resultou em um sorriso bobo no final.
Eu tinha certeza que estava curtindo tudo tanto quanto eu. Oras, ele queria até um canto só pra gente ficar junto em paz!
- Vou começar a te levar pra motéis, . - ele puxou minha cabeça de leve, aproximando nossos rostos.
- Não tenho problema nenhum com isso. - dei outro selinho em seus lábios, encarando aqueles olhos que de pouco em pouco começaram a revelar coisas que eu sabia que podiam ser reveladas. Limpei a garganta, e grande parte do meu cérebro tentava sabotar a missão, mas eu era teimosa demais e precisava saber, tendo ciência de que tal pergunta poderia foder tudo - Eu sei que isso aqui é meio que o que você não queria, digo, querendo ou não estamos nesse tipo de relacionamento de sexo casual, mas eu queria saber se você tá mesmo confortável com isso tudo, porque você não queria e... - jogou a cabeça pra trás e riu, logo me dando incontáveis selinhos, me impedindo de continuar.
- Eu estou deixando rolar, . Não estou pronto pra te perder, ainda temos muitas coisas pra fazer. - aquele olhar totalmente pervertido fez eu molhar a minha calcinha. Porra, eu ainda não conseguia entender como arranjei um homem desses!
- Que bom, não estou pronta pra ficar perdida e tô animada pra fazer qualquer coisa que você queira.

Capítulo 17

's POV
Quase 20. Ainda faltava uma hora pra meia noite mas era o horário em que meu trabalho começava. Chegou a ser engraçado pensar que seria a primeira pessoa a me dar parabéns e a passar as primeiras horas do meu aniversário comigo.
Sempre amei aniversários e os últimos dias era só sobre isso que eu conseguia falar. Minha festa seria no sábado, já que fazê-la em plena quinta feira não seria tão bacana assim. Entrei no carro e fez o mesmo em seguida, e logo embarcamos em um assunto aleatório e cantávamos juntos as musicas que eu tinha colocado. Eu me sentia uma criança inquieta, olhando pra hora o tempo todo, e quando faltavam dez minutos, parou em frente à mesma lanchonete em que os dois homens tinham me tirado do carro e apontado a arma pra gente, mas diferente daquele dia, exigiu que eu entrasse com ele, e óbvio que obedeci. Ele logo pediu os últimos donuts que tinham ali, dois lanches e dois refrigerantes grandes, dizendo que tinha sido isso que ele tinha pedido naquele dia mas eu não tinha comigo porque... porque bem, eu desmaiei e fui parar no hospital.
Tudo ficou pronto faltando dois minutos pra meia noite e voltamos pro carro feito duas crianças. estava tão animado quanto eu e isso me alegrou demais. Assim que entramos novamente no carro, tirou uma vela rosa do bolso, enfiou em um donut e acendeu, começando a cantar parabéns exatamente na hora que o relógio do celular anunciou a meia noite. Eu me senti inteiramente feliz, de maneira única. Embora minha mente fosse uma bagunça na maior parte do tempo e meu coração me esmagava em diversas situações, eu não pensava que a felicidade é apenas ausência da dor. Felicidade vem e vai. Apaguei a vela com animação e enchi de inúmeros selinhos.
- Feliz 20 anos, . - ele abriu o sorriso mais lindo que poderia ser dado naquele momento e meu corpo inteiro queimou de tanto carinho.
- Obrigada, .
- Seu presente de aniversário eu vou te dar à tarde. - ele anunciou de maneira adorável e eu arregalei os olhos encantada e ansiosa.
- Você não existe! - joguei a cabeça pra trás, sorrindo feito boba.
Comemos juntos, rimos, ouvimos e cantamos nossas músicas preferidas e de longe, foi a nossa melhor noite. O tanto que eu me sentia diferente, me sentia totalmente eu mesma com , era impagável e melhor que qualquer coisa que eu já havia experimentado na vida.
Assim que voltamos, entramos em meu trailer de maneira quase que desesperada. Corrigindo: totalmente desesperada. Nossas bocas se exploravam de maneira ansiosa, como se estivéssemos nos beijando pela primeira vez.

's POV
O modo como a luz do sol iluminava o rosto de parecia único e exclusivamente pra ela. O sol parecia ter saído por ela.
- Você quer ir comigo? - parou e virou o corpo inteiro, ficando de frente pra mim.
- Conhecer sua mãe? - arqueei uma sobrancelha e ri fraco.
- Sim. Quer ou não? - a danada abriu um sorriso único, tombando a cabeça pro lado de maneira esforçada a me convencer a aceitar, e porra, não tinha como não aceitar, não com toda a sua beleza focada em me fazer dizer que sim.
O plano era só trazer pra visitar a mãe e depois levá-la até seu presente de aniversário, o que ela não fazia ideia do que era e já tinha implorado feito uma criança por dicas durante a manhã inteira. Assim que a chatice da revista acabou e fomos liberados a entrar, não demorou pra mãe dela aparecer, e caralho, era simplesmente a cópia da mãe. Parecidas mesmo, em tudo, desde os olhos até o jeitinho de andar. As duas se abraçaram rápido, muito contato físico e por muito tempo era proibido, mas isso não as impediu. Fiquei nervoso ao cumprimentar Leah, que se apresentou totalmente animada e com aquele olhar que mãe dá quando te vê com alguém.
Ri por dentro, lembrando da minha própria mãe.
Leah era animada, simpática, e o principal: falante pra porra. Não de maneira desagradável, longe disso. Comentei sobre ser o contrário e Leah contou altas histórias sobre o quanto deu trabalho por isso quando tinha mais ou menos seis anos. A gente riu, Leah tinha esse jeito divertido de contar as coisas e se eu não soubesse de tudo, diria que era sua filha, não .
Não foi um saco total conhecer a mãe de e eu esqueci completamente o nervoso que eu senti no começo. Foi divertido. Assim que saímos e montamos na moto novamente, fui o mais rápido possível até o local onde eu esperava, de verdade, que gostasse, afinal, foi a única coisa que eu consegui pensar. Óbvio que dar um colar, pulseira e esse tipo de coisa tinha passado pela minha mente também, mas parecia chato e previsível demais. Estacionei na rua do lado, não revelando o local ainda. saltou da moto com animação.
- Meu Deus, eu vou ter um troço, ! - ela colocou a mão no coração num teatro falso, rindo em seguida.
- Ok, vamos lá... Lembra que você disse que odiava não ter um cachorro? - o olhar da garota se arregalou e sua boca abriu.
- , você vai me dar um cachorro?
Ri alto. Começamos a andar lentamente até virarmos a rua, revelando o abrigo de cachorros e soltou um gritinho animado.
- Calma! Não vou te dar um cachorro, afinal, acho que seria complicado, considerando que você mora num trailer, mas eu te trouxe pra brincar com os cachorros daqui pelo resto do dia, serve?
E mais um gritinho animado. apressou o passo ansiosa e eu acompanhei. Tinha ligado pro lugar dias antes e o pessoal do abrigo foi agradável pra caramba, ou seja, tudo funcionou perfeitamente. Uma funcionária nos cumprimentou, dando parabéns pra e nos levando até os cachorrinhos e por Deus, ela morreria de vez.
parou em frente à uma casinha que tinha um cachorro de porte médio, a raça não era identificada e nem importava. abriu a portinha e se abaixou, abraçando o cachorro e o bichinho se esparramou pedindo por carinho. Me abaixei também, fazendo carinho na barriga dele, que tanto precisava daquilo.
- Obrigada por isso, . É de longe, o melhor presente que eu poderia ganhar! - me olhou com os olhos cheios d'água e por mais que vê-la chorando não me agradasse, eu sabia que era um choro emocionado e feliz.
Depositei um selinho em seus lábios e ela voltou a atenção pro cachorrinho. Me levantei, passando pelas outras casinhas e fazendo carinho nos cachorros, olhando a garota fazer o mesmo totalmente feliz. Suspirei, e porra, não importa se vou ter mais dez momentos igual a esse ou só este mesmo, mas era o que eu precisava pra não ir pra o fundo do poço e deixar as minhas esperanças por lá. Ela me mostrava, mesmo sem saber, algo novo todo dia. A típica coisa que você acha que não quer e não precisa, mas no final, é a coisa que você já não quer mais se livrar.

's POV
O dia com os cachorrinhos foi demais pra o meu coração. Podia jurar que o infarto estava vindo no mínimo vinte vezes causados por excesso de fofura.
Não estou zoando!
parou a moto na rua e eu nem tive tempo de estranhar porque seu olhar já me dizia tudo. Sorri ainda mais ansiosa e assim que entramos, todos gritaram um "feliz aniversário" em coro. Fui correndo, sendo esmagada de tanto abraço.
Foi como no dia da despedida de Lydia: hambúrgueres, luzes bonitinhas, som alto e as pessoas que eu amo.
Começamos a comer e conversar. Voight se sentou ao meu lado, me dando um beijo na testa.
- Isso é pra você. - ele me entregou uma caixinha pequena.
- Voight... - abri a mesma, tirando dali um colar simples e delicado porém lindo demais - Isso é incrível, meu Deus! - o abracei no mesmo instante.
- , na verdade você que é o meu presente. - ele sussurrou em meu ouvido e meus olhos se encheram.
Por Deus, aniversários são cheios de emoções mesmo!
- Te amo. - sussurrei com a voz trêmula e ele me abraçou mais forte ainda.
Não tinha como negar ou fugir, Voight mostrava tanto amor por mim desde sempre e eu sempre fui um pouco contra esse sentimento, talvez porque achasse que não valesse a pena ser amada ou porque estava ocupada demais me culpando e não tendo tempo pra sentir outras coisas, mas eu me sentia diferente. Pela primeira vez, estava tudo bem em aceitar o amor do homem que me amava como filha.
- Te amo também, mocinha. - ele limpou os rastros das lágrimas que caíram, se levantando e me olhando com todo o amor.
tomou conta de toda a minha visão, se sentando ao meu lado animada.
- Ok, minha vez. - ela colocou uma sacola de papel no colo, tirando uma caixa de dentro - Mas antes, eu quero te dizer que mesmo sabendo que não é fácil conviver ou se livrar desses sentimentos horríveis como a culpa, eu espero que esse ano novinho que você tem pela frente seja cheio de leveza e sabedoria pra arriscar coisas novas, sem medo do erro. Eu amo você , agora pode abrir. - ela colocou a caixinha no meu colo cheia de animação.
Era um caderninho pequeno mas todo enfeitado, dentro dele tinham varias fotos nossas e recadinhos que eu morreria lendo um por um.
- ...
- Eu sei que é meio infantil, mas são vinte anos, já te dei todos os presentes que poderia dar, ! - ela riu e eu embarquei na risada.
- Eu amei, -Boo! - fiz uma careta engraçada, a abraçando forte.
A vida dói quase que o tempo inteiro. Cada dia descobrimos algo novo, passamos por novas situações e nem sempre isso vai ser agradável, mas é por essa sensação de paz e amor em dias como esse que eu ainda mantenho minha cabeça no lugar.

——

O salão não tão grande, mas com espaço o suficiente pra todos os meus convidados estava cheio. e Lydia tinham me ajudado com toda a iluminação do local. Eu estava me sentindo sexy com meu vestido preto justo, com um decote não tão atrevido mas o suficiente pra provocar . Talvez um salto alto melhorasse ainda mais, porém não abri mão do meu tênis. Sem preocupação, não está brega, me certifiquei disso.
Não teria como dançar direito de salto alto!
Estávamos dançando e bebendo da maneira mais divertida possível e quase surtou quando Grant apareceu. Ela estava animada pra vê-lo novamente, embora não tenham parado de se falar desde o dia em que se conheceram. Óbvio que uma festa era a oportunidade perfeita pra os dois se curtirem e não pensei duas vezes pra convidá-lo. Ao contrário de Tristan, Grant se mostrava animado e alegre, nada sério e divertido. Ele me deu um abraço apertado junto com um "feliz aniversário" animado.
o apresentou para , Scott e Cohen, que o receberam de maneira amigável. Eu já estava cansada de dançar e me sentei, logo vendo fazer o mesmo.
- Eu não acredito que você conseguiu ficar mais linda que o normal, ! - exclamou numa falsa aflição, me olhando dos pés à cabeça e eu mordi os lábios atrevida.
- Gostou? - me fingi de desentendida, sentando de lado e cruzando a perna de leve, fazendo o vestido subir um pouco e observava aquilo atentamente.
- Não faz isso comigo não. - ele pediu manhoso, passando a mão pela minha coxa de maneira feroz, se aproximando e me dando um selinho cheio de vontade.
Summer Love do Justin Timberlake começou a tocar. Sorri descarada, me levantando e pegando na mão de , o puxando comigo até a pista de dança, mas não no centro e sim mais na ponta, onde tinha menos gente. não gostava de dançar e eu tinha que respeitar, mas ele com certeza gostaria disso.
Abracei enquanto balançava meu corpo no ritmo da música. Suas mãos agarraram minha bunda sem vergonha nenhuma, grudando nossos corpos ainda mais. Sorri satisfeita, encostando nossas bocas de maneira lenta, dando uma mordida fraca no lábio inferior do homem que me deixava louca em todos os sentidos. iniciou um beijo cheio de fogo. O jeito que nossas bocas se encaixavam e nossas línguas se exploravam ainda era algo inexplicável. Parti o beijo com um longo selinho, olhando bem pra o homem em minha frente.
- I can't wait to fall in love with you, you can't wait to fall in love with me... - cantarolei com um sorrisinho nos lábios e virou meu corpo com força, me abraçando por trás de maneira desesperada e não demorou nem dois segundos pra eu sentir a sua ereção batendo em minha bunda da maneira mais viva e descarada.
- Caralho, eu já tô duro por você, . - ele sussurrou no meu ouvido, depositando um beijo estalado em meu pescoço.
Eu gostava de nós. Gostava das nossas provocações e gostava de como lidávamos com nós mesmos. Se tinha uma coisa que não podia negar ou fugir, é que somos incríveis juntos. Olhei pra o salão cheio em minha frente, as pessoas bebiam, dançavam, conversavam e se divertiam. Sorri de maneira quase diabólica, virando meu corpo novamente e apertando a o membro duro e ereto de de maneira rápida, apenas pra atiçar mais ainda. Ouvi um gemido fraco e abafado sair da sua boca e aquilo me levou ao céu.
- E como você acha que eu estou, ? - entrelacei minhas mãos ao redor de seu pescoço, fazendo um carinho gostoso em sua nuca enquanto suas mãos pousaram em minha bunda. Por Deus, eu já estava encharcada!
- ... - nossas bocas se grudaram bum selinho rápido - Enquanto você se molhar por mim, a gente não acaba. - sua voz saiu firme e séria, me causando um arrepio pelo corpo inteiro e foi aí que eu tive mais uma certeza:
- Então nunca vamos acabar, . - sorri satisfeita, porque honestamente, é impossível não se afogar em tesão com um homem desses!
Nossas provocações duraram longos minutos até nos controlarmos de vez. se arriscou um pouco e dançou comigo durante algumas musicas e morremos de rir juntos. Não foi nada além de espontâneo e divertido. Não demorou pra o som ser abaixado e aparecer com o bolo em mãos vindo em minha direção, e logo todos começaram a cantar parabéns. Eu não me lembrava de como era a sensação de ser tão amada e querida há tempos. Fiz o meu pedido e apaguei as velas, passando a ponta do dedo no bolo e enfiando na boca. Estava uma delícia.

Feliz.
Completamente feliz, mas sabendo que talvez em dentro de dois dias ou menos, essa felicidade passaria. Demorei muito tempo pra entender como funciona, que felicidade é um estado de espírito e que ela vem e vai.
Já eram três e meia da manhã e tínhamos terminado de arrumar as coisas no salão. foi a última a sair junto com Grant, me deixando sozinha com , que praticamente voou em meus lábios, me beijado com vontade e me apressando para sairmos logo. Ele me entregou uma mochila preta, dizendo que eu descobriria o que tinha dentro em alguns minutos.
Só eu, ele e o vento que batia em nossos corpos enquanto íamos pra algum lugar em sua moto, um lugar que se recusou a me revelar, dizendo que era mais uma surpresa de aniversário. Minha respiração parou assim que ele parou a moto em frente ao Safestay Hotel, um dos melhores hotéis no centro de Londres.
- ... - sussurrei com os olhos atentos, intercalando o olhar entre a entrada do hotel e o homem em minha frente.
Ele apenas foi puxando minha mão até entrarmos no hotel e eu ainda sentia que era uma pegadinha. Ele explicou rapidamente que a mochila que eu havia trago eram algumas roupas nossas, pertences higiênicos e pessoais, algo que eu nem sabia que ele tinha pegado. Eu o encarei desacreditada da maneira mais linda porque ele mais uma vez havia pensado em algo legal pra nós.
Depois de passar pela recepção, entramos no elevador. me puxou pra ele, grudando nossos lábios em um beijo gostoso e em seguida começou a falar.
- Vamos ficar até o fim da tarde de amanhã. Sei que o clima não está dos melhores mas podemos ir pra piscina mais tarde e...
Eu o abracei da maneira mais forte que consegui. Eu ia explodir de... carinho. Encanto. Surpresa.
- Eu juro por todos os deuses que você ainda vai me fazer explodir de tantas sensações diferentes que me dá! - abri um sorriso que eu nem consegui conter, e ficaria sorrindo pra ele a noite toda se necessário.
O elevador parou no décimo quarto andar e começamos a andar em direção ao quarto.
- Bem, tenho uma ideia em mente. - passou o cartão pela porta, abrindo a mesma e abrindo espaço para eu passar primeiro, e assim que ele a fechou, tirou a mochila que eu segurava das minhas mãos e me grudou ali mesmo com força, chocando nossos corpos de maneira necessitada - Você pode explodir enquanto eu estiver dentro de você, o que acha? - ele abriu um sorrisinho cheio de malícia e pela décima vez na noite, eu me encharquei.
- Ótima ideia!
A risadinha de se fez presente antes dele grudar nossos lábios de maneira feroz. Ele foi guiando meu corpo até a cama, e embora tenhamos batido numa mesinha que tinha ali no meio, continuamos firmes. A luta pra tirarmos nossas roupas começou. Nos livramos dos nossos tênis e meias, logo em seguida me foquei em tirar o cinto de enquanto ele tirava a própria camiseta. Suas calças foram pro chão e ele virou meu corpo com força, abrindo o pequeno zíper que tinha em meu vestido e o tirando lentamente.
- Porra, ... Você não sabe o que foi te ver dançando e rebolando durante horas e não poder te pegar de jeito... - o vestido foi saindo e assim que ele caiu no chão, me virou novamente e aquele olhar totalmente dominante e malicioso estava presente, me causando um arrepio. As mãos dele foram passeando pelo meu corpo sem pudor algum e eu fechei os olhos pra aproveitar cada sensação.
Suas mãos foram até meu sutiã, abrindo o mesmo com maestria e logo passou a ponta dos dedos pela borda da minha calcinha, fazendo cada músculo da região se contrair por conta do seu toque. Em seu olhar estava claro que a ideia era me matar de provocação e prazer e isso era certeza.
- ... - resmunguei manhosa, entrelaçando minhas mãos em seu pescoço e ele riu.
- Vamos ver uma coisinha. - seus dedos desceram até minha intimidade, empurrando a calcinha pro lado e entrando em contato com a minha vagina pingando por ele.
O olhar de satisfeito de era sempre impagável. Ele enfiou a ponta de um dos dedos em mim e tirou rapidamente, me arrancando um suspiro pesado. Eu só queria ele em mim logo!
- ! - chamei sua atenção, descendo uma de minhas mãos e apertando seu membro completamente duro ainda coberto pela boxer.
Ele se livrou da mesma de uma vez, me deitando na cama e me dando um beijo rápido. Ele procurou algo com o olhar e eu deduzi que fosse sua calça.
- Eu comecei a tomar pílula... - mordi o lábio inferior e ele me encarou no mesmo instante, com o olhar atento - Eu não tenho nada, então a menos que você tenha algo, nós podemos... - ele não me deixou terminar, apenas me encheu de selinhos enquanto seus dedinhos mágicos desciam até minha intimidade novamente, mas dessa vez desceram com a calcinha, onde eu mesma a empurrei pra baixo com o meu pé, me livrando dela de vez.
- Sempre com pressa, né mocinha? - ele enfiou dois dedos dentro de mim sem nenhum aviso e eu arfei alto - E sempre assim, molhadinha...
- Anda logo! - demandei séria, sentindo seus dedos me explorarem da maneira mais provocativa possível.
- Pra onde? - ele riu e eu fechei a cara no mesmo instante - Será que podemos pular as preliminares? Meu pau daqui a pouco explode e você já está...
- Me fode logo, homem! - o apressei sem vergonha.
Ele entrou em mim sem dificuldades ou atritos e eu fui preenchida da melhor maneira. estava tão sedento por aquilo quanto eu, e logo ele criou um ritmo rápido e quase que violento. Nossos gemidos se misturavam a cada estocada e ele me encarava de maneira tão forte que eu senti aquilo no fundo da alma. Minhas unhas arranhavam suas costas e ele ergueu uma das minhas pernas, me penetrando mais fundo ainda. Eu me sentia no céu, no inferno, em todos os lugares, tendo a quase certeza de que provavelmente ninguém na vida me faria sentir assim, tão completa.
- Fica de quatro. - a voz de saiu rouca e eu não demorei em obedecer.
Suas estocadas fortes exatamente naquele ângulo me fez gemer ainda mais alto e de maneira mais descontrolada. Exatamente aquele ponto importante tinha sido atingido e segurava firme em minha cintura.
- ... Isso... Bem aí. - minha fala saía totalmente sem força por conta da respiração descompassada e dos gemidos altos que saíam da minha boca sem vergonha alguma.
- Porra de buceta gostosa! - deu com força um tapa na minha bunda, fazendo eu me apertar em seu membro por alguns segundos.
Senti a queimação na boca do estômago se aproximando e me desesperei pela sensação. ali, dentro de mim, era a melhor coisa do mundo.
- Eu vou gozar. - anunciei ofegante, sentindo minha intimidade pulsando loucamente e minhas pernas se travando de vez.
Meu gemido saiu manhoso assim que meu ventre se contraiu e explodi de vez. Uma das melhores sensações do mundo. saiu de dentro de mim aos poucos enquanto eu pingava meu orgasmo. Deitei dominada pela sensação de êxtase, meu corpo usufruía de cada segundo daquilo e demorou longos segundos até tudo aquilo abandonar meu corpo, e logo levou a mão atrevida até minha intimidade, estimulando meu clitóris e eu fui a loucura novamente, travando minhas pernas nele, o trazendo pra mim. O beijei de maneira intensa e logo inverti nossas posições. Distribuí alguns beijinhos no peitoral de , dando as costas pra ele e me sentando, sem delongas, em seu membro. Céus, era o melhor sexo da vida!
Me empinei o máximo que pude de maneira provocativa, sabendo que ele estava amando a visão. Comecei a subir e descer, rebolando levemente e logo senti suas mãos firmes em minha cintura. Levei minhas mãos aos meus próprios seios, os apertando e acelerando meus movimentos com excitação. merecia o melhor orgasmo da vida só por ser tão foda comigo. Ele me forçava contra si e eu me empenhava demais em quicar nele de modo certeiro, arrancando vários gemidos abafados dele. Acelerei mais e suas mãos me estimulavam com força.
- ... - sua voz falha me chamou e eu abandonei aquele contato gostoso e quentinho aos poucos, descendo até ficar de cara com seu membro e o abocanhei com vontade.
Minha mão começou a masturbá-lo e não demorou nem dez segundos pra o seu gosto se explodir na minha boca. Eu o sugava com vontade e necessidade, não perdendo nem uma gota daquilo.
Fui escalando até ficar por cima do seu corpo, caindo ao seu lado exausta e com a respiração totalmente descontrolada. Após alguns minutos eu me aninhei em seu peito feito uma garotinha indefesa que precisava do seu toque e abrigo, mas a real é que aquele era o melhor lugar do mundo. Uma mão de foi até meu cabelo, fazendo um cafuné gostoso.
- ... - encostei meu queixo em seu peito, olhando bem para o seu rosto. Ele me olhava cansado porém atento - Obrigada! - abri um sorrisinho fraco, procurando sua outra mão livre e entrelacei com a minha.
- Por te dar um orgasmo? - ele franziu o cenho e eu ri.
- Também, mas por todo o resto também. Você é incrível! - deitei meu rosto em seu peito novamente.
Eu não sei como acontece exatamente, mas sentia algo diferente. A vontade de estar com , a vontade de agradecer o tempo todo por cada coisinha, o tanto que sua presença me acalma e como meus dias mudaram por tê-lo neles. Coisas que eu nem consigo achar palavras certas, mas que já sentia e muito.
Tomamos banho juntos pela primeira vez e foi incrível porque tudo com era incrível. Coloquei uma camisa de junto com um shorts que estava dentro da mochila, enquanto ele estava apenas de bermuda, sem camisa. Deitamos novamente e conversamos sobre diversos assuntos. Óbvio que estávamos cansados, mas aquilo estava bom demais. O jeito que se mostrava ser um homem inteligente em todos os sentidos me encantava. Ele seria um ótimo professor!
- Vem, vamos. - se levantou de uma vez, estendendo a mão para eu pegá-la.
- Pra onde? - juntei as sobrancelhas em confusão.
- São quase seis da manhã, vamos descer pra piscina, sentar e esperar o sol nascer, afinal, você está me devendo isso, lembra dorminhoca? - ele fez graça e não precisei me esforçar pra lembrar que da última vez eu dormi quando deu a ideia de vermos o sol nascendo. Peguei em sua mão e me levantei com o maior dos sorrisos.
Assim que descemos até a piscina, onde obviamente não tinha ninguém, sentou em uma espreguiçadeira e eu em seguida, encaixando nossos corpos. Deitei minha cabeça em seu peito enquanto ele envolveu meu corpo com seus braços. Eu amava aquilo, todo o nosso contato físico, como nossos corpos se encaixavam e como eles pareciam pertencer um ao outro.
É essa a sensação e o sentimento de estar gostando de alguém de verdade? Porque eu posso jurar que é algo totalmente novo pra mim e mesmo sabendo do passado de , talvez ele precise disso. Talvez ele precise saber que as coisas mudam, que conhecemos pessoas novas e que coisas boas podem acontecer de novo.
- Eu gosto de você, . - aquilo saiu de uma vez e não foi algo duro pra se falar, saiu de maneira calma, tranquila e sincera. Senti o corpo de se endurecer e vir pra frente, então me ajustei na cadeira e virei meu rosto para encará-lo. Ele tinha um olhar totalmente indecifrável, então decidi continuar - Não estou apaixonada por você, mas gosto de você. Gosto de estar com você e gosto das coisas que fazemos juntos. Eu nunca tive uma pessoa como você, então... - minha voz foi se abaixando aos poucos e as palavras se perdendo. Dei um sorriso fraco sem mostrar os dentes, sem saber como continuar de verdade mas no fundo eu sabia que nem precisava.
deu um grande suspiro. Não consegui distinguir se era de desespero ou alívio, mas ele deu um sorriso fraco e um beijo na testa que me tranquilizou. Obviamente não seria fácil lidar com um coração partido, mas eu posso jurar que isso não me assusta ou me faz sentir menos. vale a pena. Eu não esperava uma resposta, afinal, não tinha o que responder. encostou o corpo novamente na espreguiçadeira e me puxou, me fazendo deitar em seu peito novamente. Nada mais importava. Eu, ele e o sol nascendo da maneira mais linda que eu já tinha visto na vida inteira.


Continua...



Nota da autora: Oi gente, tudo bem? Em primeiro lugar: muito obrigada a quem está acompanhando a fic, de verdade mesmo! E em segundo, quem quiser entra lá no grupo do facebook ou me mande uma mensagem para ficar ligado nas atts! Qualquer erro, por favor me avise. Até a próxima!





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