Capítulo 18
's POV
Nem mesmo o boxe estava ajudando. Tristan praticamente me obrigou a parar porque tinha percebido que eu não estava realmente focado. Me sentei em um dos bancos dali, observando as pessoas que passavam pela academia. Não tinha como ignorar ou passar logo daquilo, eu tinha que parar e pensar sobre o que deveria fazer com . Um dia e meio no hotel com ela foi de longe, uma das melhores coisas que aconteceu em meses. O jeito dela... Ela... Difícil de explicar.
É fácil cair na ideia de suprir as expectativas das outras pessoas. Com Sienna eu precisei me esforçar. E muito. O tanto que eu me dediquei em impressioná-la antes de realmente começarmos a termos algo de verdade foi absurdo. Eu precisava impressionar. Com simplesmente não teve nada disso. Pela primeira vez na vida, eu não me esforcei, eu não forcei, eu não me senti pressionado em causar boa impressão. foi alguém que chegou pelas beiradas e de repente chutou a porta, do jeito mais puro, doce, sarcástico e bravinho que eu já tinha visto na vida. Entre nós foi algo totalmente natural. me deixava no meio de dois extremos. Eu tenho sentindo como se eu merecesse alguém e ao mesmo tempo penso no quanto ela merece alguém melhor, alguém que traga mais felicidades do que preocupações ou dependências. Se eu ligasse pra minha mãe, ela provavelmente diria algo do tipo: "Você se questiona sobre isso, mas será que não tem deixado seu coração fechado, impedindo coisas boas entrarem nele?", e se pudesse ligar para o meu pai, ele diria o mesmo. Eu ainda tinha o olhar raivoso e decepcionado de Sienna impregnado em minha mente. Como eu pude me tornar um peso tão grande assim, algo totalmente impossível dela carregar?
Chacoalhei a cabeça nervoso, pegando uma garrafa d'água e pronto pra treinar novamente. Precisava pelo menos tentar me distrair antes do meu cérebro explodir.
entrou no carro ja tagarelando sobre como tinha sido bom o nosso tempo no hotel. Tínhamos assistido o sol nascendo, tomamos café, curtimos a piscina por horas e voltamos pra nossa realidade totalmente diferente. Qualquer um conseguia notar o quanto ela estava feliz com aquilo, e parte de mim também estava, enquanto a outra se martelava sem parar. Tentei agir o mais normal possível, e francamente, não foi tão difícil. Os papos aleatórios de me distraíram. Mesmo sabendo que carregava uma culpa totalmente não dela, ainda assim ela se mostrava ter um jeitinho quase que despreocupado e totalmente livre. Sem duvidas, éramos parecidos. Eu sou quieto e eu gosto de ser reflexivo, mas eu também posso zoar pelo lugar que estiver e ser o mais barulhento do local. É só uma balança. era a mesma coisa.
O tempo com ela voava. Assim que voltamos, ainda dentro do carro, observamos Voight e Holt saindo em outro carro. Nossos olhares se encontraram e embora aquilo devesse parecer normal, não nos dava a sensação de ser.
's POV
Três dias atrás, estávamos na piscina do hotel feito duas crianças, agora, eu trouxe um livro pra ler no carro porque a cada dia que passou, passou a falar menos. Claramente dizer que gostava dele não tinha sido a melhor ideia.
Em três dias, Voight e Holt saíam no mesmo horário ou minutos depois de quando eu e chegávamos. A única coisa que eu recebia de eram olhares tão confusos quanto os meus, afinal, eles detestavam deixar o local sem supervisão, tanto que eles sempre reversavam quando tinham algum compromisso para que não ficássemos sem ninguém responsável ali, e vê-los assim, saindo na madrugada obviamente não significava algo bom.
Em três dias, o clima estava uma porcaria total. Voight mal falava comigo e eu nem tentava, toda vez que o via, notava sua expressão exausta e não queria irritá-lo e nem perguntar sobre o que estava acontecendo, afinal, sabia que ele não diria, e Holt muito menos. A verdade é que tudo estava estranho desde o tal encontro com Paul. estava quieto e pensativo demais. Eu estava respeitando seu espaço, embora minha vontade era de berrar aos quatro cantos, queria saber o que se passava em sua mente. Eu conseguia entender que seu último relacionamento não foi fácil, mas não significa que todos serão assim, não é? Fora que se talvez ele fizer um esforcinho, vai lembrar que nem tudo foi tão incrível e que nada do que aconteceu foi inteiramente sua culpa.
Respirei fundo assim que dei a última garfada no meu almoço. Me troquei de maneira apressada em seguida, saindo do trailer e observando que a moto de não estava ali, ou seja, ele tinha saído. Continuei andando pra fora dali e segui até a academia de Tristan, precisava extravasar.
Dei uma gargalhada nervosa pra mim mesma assim que vi a moto de ali. Por Deus, parece piada! Pensei em dar meia volta e ir embora, mas minhas pernas não me obedeceram. Entrei ali e Tristan logo veio me cumprimentar animado. Vi de longe junto com Scott, e desviei o olhar assim que ele notou minha presença ali. Não tinha muita gente na academia então Tristan começou a se alongar e aquecer comigo, em seguida me ajudando a colocar as luvas. Scott veio me cumprimentar animado mas não fez o mesmo. Ele quis fazer graça, dizendo pra Tristan que seria meu treinador e ele deixou numa boa. Scott era engraçado. A cada golpe que eu dava no saco de pancadas ele soltava uma piadinha que quase me fazia perder a concentração. Assim que finalizamos, estava sentado e atento à nós dois. Fui até o bebedouro que era do lado do banco em que estava sentado, sentindo seu olhar quase me desmontar.
- O que foi? - questionei de uma vez, dando alguns passos até ficar em sua frente. Ele quase não piscava, como se estivesse me vendo pela primeira vez na vida.
- Nada. - ele deu os ombros, finalmente desviando o olhar. Eu senti raiva, óbvio, mas ao mesmo tempo senti um aperto no coração. Me sentei ao seu lado, puxando seu queixo, o fazendo olhar pra mim novamente.
- Você está assim porque eu disse que gosto de...
- Estou bravo, . Meu pai me ligou de manhã e toda vez que ele liga eu só me sinto mais inútil. Não sei onde ele está, não sei como posso ajudar e ele também não aceita minha ajuda. Eu to cansado. - ele disparou tudo de uma vez como se fosse uma defesa automática.
Há três dias ele estava estranho então obviamente não era só por conta do pai, mas eu não podia falar isso, porque sabia que toda a situação mexia muito com . Eu entendia seu lado, de verdade! Se eu pudesse ter feito algo pra ajudar minha mãe, eu teria feito até o fim. Queria poder fazer algo pra ajudar também.
Pela primeira vez, recusei a carona de . Precisava andar e pensar. Assim que cheguei, pude observar a cena: e Voight discutindo no escritório. As cortinas estavam abertas, ou seja, qualquer um que passasse veria. Dei passos largos até chegar na porta do escritório, que por sinal estava aberta. Voight notou minha presença rapidamente e assim que virou a cabeça e me viu ali, deu passos largos e rápidos pra fora dali, feito um furacão. Franzi o cenho totalmente confusa. Ele tinha achado ruim eu estar ali?
Voight passou a mão pelo rosto rapidamente e logo saiu dali também, gritando para esperá-lo. Observei aquilo totalmente sem reação. Talvez fosse tentando arrancar alguma informação de Voight sobre o pai, mas de qualquer modo, eu já não conseguia mais ouvir. Os dois já estavam fora do meu campo de visão e eu estava pronta pra sair dali até ver o celular de Voight em cima da mesa.
Ok, vamos lá...
Me apertava o coração ver assim, de verdade mesmo. A informação que Dave tinha conseguido sobre Wilmer não valeu de nada, então não tínhamos absolutamente nenhum jeito de ajudar o pai dele. Mas não é só isso... Tem Voight e Holt. Os dois estavam estranhos desde o tal encontro com Paul e talvez, bem talvez, se eu soubesse de algo, poderia ajudar. Olhei pra trás e nada de Voight. Entrei no escritório de uma vez, atenta à janela, vendo se ele não aparecia. Peguei seu celular com dificuldade por conta do nervoso mas consegui. A senha era o aniversário da minha mãe e eu nunca pensei que fosse ficar tão feliz por saber a senha de Voight. Fui até o meu contato e apertei a opção de compartilhar localidade. Senti minha respiração acelerada e logo bloqueei o celular novamente, saindo dali com pressa.
Felizmente as horas voaram. permaneceu quieto durante todas as nossas horas de trabalho juntos. Ele falava apenas o necessário ou quando eu perguntava a mesma coisa duas vezes. Aquilo já estava me incomodando. Óbvio que era muita coisa pra lidar, seu pai estava praticamente foragido, ele estava longe da mãe e das irmãs e isso é péssimo. Mesmo que esse não seja totalmente o real motivo dele estar agindo estranho comigo, eu queria muito me convencer que era. Muito mesmo. Era o melhor pra mim. Respirei fundo, me controlando mesmo pra não ter um ataque que provavelmente me arrependeria depois. Chequei meu celular o tempo inteiro pra acompanhar a localização de Voight, e do mesmo jeito que foi nos dias anteriores, ocorreu o mesmo: ele saiu assim que chegamos.
Eu praticamente pulei do carro, indo em direção ao meu trailer rapidamente, ainda atenta ao celular que mostrava onde ele estava indo. Dei boa noite pra , que entrou em seu trailer como se estivesse fugindo de mim e bufei alto. Se eu descobrisse algo, certeza que seu humor melhoraria. Entrei no meu trailer de uma vez e me troquei, me jogando na cama e não tirando os olhos do celular.
O celular despertou às 11. Tomei banho, comi e precisei de mais uma hora pra pensar no que faria. Voight ficou parado por 30 minutos em um lugar que era 40 minutos de nós.
Ir? Não ir? Arriscar? Não arriscar?
Eu não poderia ir de madrugada porque obviamente Voight estaria lá, e qualquer que seja a coisa que rola lá, rola de madrugada, então talvez, se eu for uma filha da mãe de sorte pelo menos uma vez na vida, eu consiga saber do que se trata o local sem correr riscos de ser vista.
Me levantei de uma vez, decidida a ir. Peguei um estilete e coloquei dentro da minha blusa, tendo a total noção de que aquilo podia não ser o suficiente, mas que poderia me ajudar caso algo acontecesse. Saí dali com passos firmes. Iria de ônibus até certo ponto e depois continuaria andando. Se eu soubesse dirigir direito, teria ido de carro. Fui pensando no caminho milhares de vezes se deveria ter chamado ou avisado alguém, mas só causaria um estresse desnecessário. Eu não pretendia bancar a heroína, apenas precisava saber o que Voight e Holt faziam nesse lugar durante os últimos dias.
Foi quase uma hora inteira por conta do atraso do ônibus e de todo o cuidado que eu tinha ao andar pelas ruas antes de me aproximar do local. Era uma rua com vários galpões vazios. As casas e o movimento de pessoas tinham ficado duas ruas pra trás.
Por Deus!
Eu andava com o celular em uma mão, confirmando o endereço, e na outra, segurando o meu cu, tamanho o medo que estava sentindo.
Entrei em uma brecha entre um galpão e outro, pensando em dar logo a volta pra chegar no endereço exato. Fui andando devagar e em silêncio, mesmo não tendo visto uma alma viva sequer. O endereço exato era o último galpão da rua, que da minha visão revelava dois caminhões aos fundos. Continuei a andar, me escondendo atrás de todas as coisas que via na frente, me aproximando cada vez mais dos caminhões e do enorme portão que tinha ali.
Ok, chega. Meu coração já estava quase parando de tão acelerado e só piorou quando o portão foi aberto e finalmente ouvi algumas vozes. Me abaixei, observando os passos de três homens juntos indo pra direção contrária aos caminhões e suspirei em alívio. O portão continuou aberto e eu olhei com cuidado. Haviam incontáveis pessoas lá dentro com varias máquinas de... dinheiro! Arregalei os olhos e me levantei, pronta pra sair dali. Que merda Voight e Holt faziam ali toda noite? Estavam metidos com dinheiro falso? Algo até que aceitável, considerando o jeito que eles levam a vida pra sobreviver.
Dei dois passos pra sair dali e gelei assim que vi um homem parado há pelo menos dois metros de mim. Ele me encarava de maneira nada agradável e começou a vir em minha direção.
Eu podia correr? Podia. Minhas pernas me obedeciam? Não.
Comecei a dar passos pra trás e o homem se irritou, correndo o pouco que faltava e terminou com a distância entre nós, me puxando pelo braço de maneira agressiva.
- Tá fazendo o que aqui? - ele me encurralou na traseira do caminhão sem dó.
Totalmente fodida. Eu ia morrer. 20 anos pra morrer depois de ver um galpão que provavelmente deveria estar abandonado assim como os outros, mas que estava servindo para pessoas fazerem dinheiro falso.
- E-eu... Eu só estava de passagem, eu costumava...
- Cala a boca! - o homem cuspiu as palavras da maneira mais grosseira possível, puxando um rádio da cintura e falando - Paul, volta aqui, achei uma coisa que você vai adorar de ver.
Eu definitivamente ia morrer!
Ele me segurava forte, e por mais que eu tenha lembrado do estilete em meu bolso, não serviria de nada. Eu sabia brigar, mas de onde tinha vindo esse homem viria mais, não tinha como dar conta. Fora que... Paul! Ele me mataria e chutaria minha cabeça até chegar em Voight.
- O que é isso aqui? - o homem chegou com mais dois e eu gelei. Não conseguia respirar ou me mexer. Ele se aproximou cada vez mais e o homem que me segurava finalmente me soltou de vez. Eu nunca tinha visto Paul mas pelo nervoso que se apossou de mim, com certeza era ele. O tanto que ele me analisou antes de gritar para os outros dois homens me levaram pra o escritório quase sugou minha alma.
Fui levada pelos homens até o tal escritório, mas ao contrário do primeiro homem, nenhum me tocou, apenas prestam atenção em meus passos pra terem certeza que eu estava seguindo o caminho certo, e óbvio que estava. As armas nas cinturas dos dois poderiam me fazer andar Londres inteira. Me fizeram sentar em uma cadeira e não demorou pra Paul chegar, pedindo para os dois se retirarem.
- Olha, eu não fiz...
- ... - ele começou a rir alto como se me ver naquele estado fosse prazeroso, mas o pior foi ele saber quem eu era, e o jeito que meu nome saiu de sua boca me tirou o pior dos arrepios - O que você está fazendo aqui? Voight te mandou? Caralho, esse homem realmente já não tá prestando pra mais nada mesmo. - ele continuou rindo como se aquilo realmente fosse engraçado.
- O que? Não, ninguém me mandou aqui! Eu... - disparei desesperada e logo parei assim que ele fez um sinal com a mão para que eu parasse de falar e pegou o celular, andando um pouco distante enquanto falava com alguém rapidamente.
- , vamos lá, eu quero só a verdade, tudo bem? - ele abriu um sorriso macabro e tirou a arma da cintura, colocando a mesma em cima da mesa e se apoiando nela.
O que eu podia fazer? Simplesmente não tinha escapatória e talvez eu merecesse um tiro por ser tão burra.
- Ninguém me mandou aqui, eu vim sozinha e... E... Como você sabe quem eu sou? - arregalei os olhos e consegui respirar fundo, totalmente afobada e desesperada. Eu não tinha ideia em onde aquilo ia dar.
- Não tem ninguém que eu não conheça, , especialmente você. Como eu não te conheceria? - mais uma vez, aquele sorriso bizarro estava presente.
Eu estava perdida em mim mesma. Perdida no momento. Perdida na ansiedade em querer sair dali.
- Eu... Eu não estava fazendo nada demais, eu até vim sozinha, eu só...
- Calminha, moça! Eu não vou te fazer nada. - Paul riu debochado, pegando a arma da mesa de maneira lenta e um arrepio percorreu pela minha espinha e eu apertei os olhos - Não tente fazer nenhuma besteira ou sair daqui, não costumo ser bonzinho desse jeito, mas você foi uma visita especial. Agora me dê o seu celular. - eu senti seu corpo cada vez mais próximo do meu, assim que abri os olhos, com muita dificuldade, a arma já estava guardado e ele estava abaixado, com o rosto próximo ao meu da maneira mais intimidadora possível. Tirei meu celular do bolso e entreguei sem rodeios, e eu só respirei novamente quando ele deu passos largos pra fora dali, batendo a porta com força.
Péssima ideia a minha! Holt iria me dar um sermão de três dias, Voight faria pior e caso minha mãe descobrisse, seria capaz de quebrar as grades da cela em que estava presa só pra sair e me dar uma surra. O escritório era enorme, e embora nada me impedisse de mexer nas gavetas e armários, não me atrevi a me mexer. Paul não seria bobo de deixar algo importante ao meu alcance, ou ele sabia que eu estava com medo demais pra ousar mexer em algo. Me perdi em pensamentos que estavam quase me matando de agonia por tempo desconhecido e eu quase pulei de susto quando a porta se abriu novamente, revelando um Voight aflito e ao mesmo tempo furioso. Arregalei os olhos e me levantei, indo em sua direção e ele me abraçou forte assim que nossos corpos se encontraram.
- Ele te fez alguma coisa? Te machucou? - ele passou a mão pelo meu rosto, descendo até meus ombros e braços, se certificando de que estava tudo no lugar.
- Não, está tudo bem! Como você... - abandonei minha fala, me recordado da ligação que Paul tinha feito - Ele te ligou pra vir me buscar? - franzi o cenho.
- Olha só que gracinha! - Paul se encostou no batente da porta, com um cigarro entre os lábios e um tom sarcástico.
Voight tinha uma expressão de irritação absurda, pegando em minha mão e me puxando dali com pressa. Passamos pela porta feito um furacão, mas Paul segurou em minha outra mão com força, me impedindo de continuar. Voight o fuzilou com o olhar, e eu não sabia o que esperar.
- Paul... - Voight pronunciou seu nome com raiva, e os dois trocaram olhares que continham tantas informações, mas eu não conseguia decifrar nenhuma.
- Você precisa tomar mais cuidado, Voight! Se você continuar sendo burro desse jeito e não fazendo seu trabalho direito, vou ser obrigado a tomar medidas drásticas, certo? Se mais alguém por acaso vir atrás de mim, seja pelo motivo que for, não vou hesitar em dar um fim. Claro que eu não faria isso com , afinal... Olha pra esse rostinho, ela é a cara da mãe! Eu jamais poderia.
Eu quase engasguei. Meus olhos estavam tão arregalados que quase saltaram pra fora. Assim que ele soltou minha mão eu praticamente voei até Voight como uma criancinha assustada.
Trabalho? Que trabalho Paul estava falando? E minha mãe... ele conhecia minha mãe!
- Cala essa merda dessa boca! - Voight cuspiu as palavras com raiva, me puxando e começando a andar com pressa.
- Não acredito que não contou pra ela que agora você trabalha pra mim, Voight! Que coisa chata, não se deve ter vergonha do seu trabalho, não sabe disso? - Paul gritou aquilo da maneira mais bem humorada que podia e eu travei. Minha expressão de surpresa não abandonava meu rosto de jeito nenhum e eu sentia como se o mundo tivesse desabando por tal revelação. Encarei Voight totalmente confusa.
- O que? - virei meu corpo novamente, encarando o homem que seguia fumando tranquilamente, com o olhar mais cínico que eu já tinha visto em toda minha vida.
- ! - Voight chamou minha atenção e puxou meu braço novamente mas eu o soltei.
- Ele não contou, não é? Óbvio que ele não contaria! Agora ele faz alguns serviços pra mim. Não que eu precise, mas sim porque esse merda merece a humilhação. - o olhar de Paul foi de debochado pra diabólico da pior maneira - Eu tentei ser bom, sabia? Eu ofereci um acordo, mas nenhum dos dois quiseram aceitar, então eu disse que mataria o , sabendo que Voight faria qualquer coisa pra impedir, então aqui estamos nós. Voight trabalha pra mim até eu achar aquele outro infeliz. - ele finalizou de maneira fria, andando em nossa direção. Voight suspirou de maneira claramente raivosa e decepcionada. Assim que estava perto o bastante, Paul me entregou meu celular novamente, me olhando nos olhos - Você realmente é igual a sua mãe.
Voight me puxou sem dó e dessa vez eu obedeci de primeira. Me atrevi a olhar pra trás, tendo como lembrança o sorriso macabro de Paul, do tipo que dizia "você não me conhece nem um pouco e nem vai".
Voight não quis conversa durante o caminho todo e eu sabia que uma bronca gigante estava por vir. Eu sentia um enjoo gigante, sentindo que vomitaria a qualquer segundo de tanto nervoso. Eu reconhecia que aquilo tinha sido totalmente imprudente da minha parte, mas aquilo já estava me agoniando de uma maneira quase insuportável. Eu juntei a fome com a vontade de comer, queria descobrir o que Voight estava fazendo e queria descobrir algo que pudesse ajudar , e mesmo sabendo que essa síndrome de heroísmo quase nunca dá certo, eu só queria algo pra fazer, pra me sentir útil. Se eu soubesse se tudo vai ficar bem no final, não me importaria em nada com o que acontece agora, mas uma das piores coisas é passar um dia após o outro sem ter certeza de nada, mesmo sabendo que é assim que a vida funciona.
Assim que chegamos, eu demorei pra sair do carro. Sabia que ouviria até o ouvido doer. Voight foi vigiando meus passos, me guiando até o escritório, onde bateu a porta com tanta força que precisei olhar pra ver se a mesma ainda estava no lugar.
- Em primeiro lugar, - Voight respirou fundo - Como você conseguiu chegar até lá? - ele foi curto e grosso. Muito grosso. Eu não tinha nem o direito de achar ruim dessa vez.
- Eu peguei seu celular e configurei ele pra compartilhar sua localização comigo desde ontem. Você estava saindo há dias no mesmo horário e...
- VOCÊ O QUE? - Voight berrou furioso.
- Eu só... Eu só queria saber o que estava acontecendo! Você está estranho desde o dia em que se encontrou com Paul e não falou nada sobre o assunto e... Eu me preocupei! Eu também queria saber se isso ajudaria em algo, o pai dele nunca o deixa ajudar em nada e eu sei como é se sentir assim. Eu juro que nem mesmo tentei entrar no galpão, eu já estava indo embora quando...
- CHEGA! - ele socou as duas mãos sobre a mesa, me fazendo dar um pulo de susto - Você sabe quantas pessoas eu já vi se ferrando por burrices como essa? Você achou que conseguiria fazer o que, ? Adivinha só? Eu sou o seu pai, não preciso da sua preocupação e eu não preciso da sua ajuda! Você é uma criança! Eu resolvo as coisas aqui, está me ouvindo bem? - cada grito raivoso que saía de sua boca era como um soco no meu estômago, o que resultou em lágrimas e mais lágrimas, que saíam dos meus olhos sem parar.
- O que tá acontecendo aqui? - a porta que felizmente ainda estava no lugar se abriu bruscamente revelando Holt e com expressões preocupadas e meu coração se apertou ainda mais.
- Eu sei que o que faço, ! Eu estou nessa vida há mais tempo do que você está nesse mundo, então não, não precisa se preocupar ou tentar ajudar ninguém! Eu tô farto disso! Por que diabos você quer ajudar ? Você acha que eu não faço o bastante, huh? - ele estava furioso e eu sabia que não era inteiramente por minha causa. O olhar de Voight dizia tanto quanto sua boca, mas eu sabia que aquilo tudo não era só pra mim, embora tenha machucado do mesmo jeito. Eu o entendia. Ele provavelmente estava esgotado e eu só tinha piorado as coisas como sempre.
- Voight, calma! - Holt pediu alto, entrando no escritório de uma vez e eu limpei as lágrimas que caíam sem parar.
Mesmo com ali na porta, saí dali com uma pressa absurda, correndo até meu trailer. Tentei controlar minha respiração em meio ao choro mas estava sendo uma tarefa difícil. Algumas batidas foram dadas na porta e logo a mesma foi aberta, pois estava destrancada. estava com o olhar incrédulo e desacreditado.
- , você é maluca de fazer isso? Ir atrás de Paul sozinha? Por minha causa? O que foi isso?
- Não foi só por você, foi por Voight também! - me defendi rápido, limpando as lágrimas que estavam em minha bochecha. Eu estava totalmente sem energias pra discutir, mas estava exatamente o contrário.
- Está vendo? É disso que eu falo! Puta merda, , algo poderia ter acontecido com você! - passou as mãos pelos cabelos de maneira totalmente nervosa.
- Do que você está falando?
- Disso! Eu já estou te estragando, você já está fazendo coisas que não deveria fazer porque...
- ESPERA AÍ! - gritei mesmo, chamando sua atenção em um susto - Eu fiz isso porque queria descobrir o que Voight andava fazendo e pensei que talvez se descobrisse algo, poderia te ajudar! Eu não fui lá pra me jogar na frente de Paul, eu simplesmente fui pega, pronto, aconteceu! Agora por favor, não tente justificar isso com a sua ideia de estar me estragando, porque isso é claramente um problema seu porque não sabe lidar porque eu disse que gosto de você! Que inferno, ! Eu fui lá achando que poderia trazer alguma informação que te fizesse pelo menos conversar direito comigo, coisa que você não faz há dias porque... porque você simplesmente não consegue aceitar que eu gosto de você.
- , pelo amor de Deus! Eu... Porra! Eu não sei mais como lidar com isso, entende? Eu não sei se estou ultrapassando os limites! Olha tudo o que eu já fiz! Eu te levei pra um hotel feito um bobo apaixonado e por mais que tenha sido incrível eu me senti mal por tudo aquilo, porque a única coisa que eu fiquei pensando depois foi em como talvez eu possa te sufocar as vezes e não perceba. Eu sou dependente, foi por isso que Sienna terminou comigo e eu não quero ser assim pra você, eu não quero que... Eu não posso deixar que aconteça de novo, tá me entendendo? Eu não posso fazer isso com você!
- , eu...
- E eu tô bravo com você! Pra caralho! Como você faz a besteira de ir em um lugar daqueles sem saber o que esperar direito, ein? E se Paul fizesse algo com você, ?
Aquilo quase me desmontou. Parte de mim estava acabada de verdade porque por mais que eu quisesse uma reação de , aquilo tinha vindo de maneira totalmente dolorosa. Eu precisei respirar muito fundo e tirar forças de onde não tinha pra não chorar mais ainda, o olhando fixamente, mesmo sem coragem.
- Agora ele trabalha pra o Paul, sabia? Ele disse que te mataria, mas agora Voight trabalha pra ele pra poupar a sua vida. Eu sei que fui super irresponsável, mas eu precisava saber o que estava acontecendo, e bem... É isso. - revelei aquilo de uma vez porque precisava, de um jeito ou de outro, mas foi a primeira coisa que veio na minha mente pra também mudar de assunto. Não era para fazê-lo se sentir mal, culpado ou qualquer coisa do tipo, mas eu precisava fugir de todas as coisas que ela tinha me dito e aquilo precisava ser dito. Dois coelhos numa tacada só.
Respirei esperando alívio, mas não. O olhar decepcionado e confuso de quase me desmontou também e foi a última coisa que eu vi antes dele sair do meu trailer às pressas.
——
- As vezes eu acho que você esquece que eu existo, . O que você fez foi loucura, mas deveria ter me avisado, eu teria ido numa boa, mas já que não me avisou e nem me chamou, estou pensando seriamente em te dar umas porradas. - resmungou enquanto comia as batatas fritas que estavam em seu colo, totalmente esparramada no sofá do estúdio.
- Eu não queria meter ninguém nisso. - dei os ombros fazendo bico, dando uma mordida no meu lanche e pegando o copão de refrigerante que estava ao meu lado.
- E no final acabou se lascando. - ela me lançou uma expressão engraçada, como se aquilo fosse óbvio - Mas falando sério, acho que se você quer mesmo ajudar , deveria prestar atenção no pai dele.
- O que você quer dizer com isso?
- ... Paul não é um anjo e disso a gente sabe, mas ele o persegue há meses e nada, e a única pessoa que acaba sendo prejudicada é o . Paul ameaçou matá-lo e quem precisou intervir foi o Voight, não é estranho? Tipo, alguém ameaça o seu filho e nem assim você dá as caras? - franziu o cenho.
- Mas se ele aparecer, Paul acaba com ele! Fora que talvez Voight não tenha contado isso pra ele, não é? - mordi meu lábio inferior com nervoso, não queria pensar tanto na ideia de que o pai de poderia ter algum podre por trás de tudo. O tanto que ele elogiava o pai e dizia sobre o homem bom que era não podia ser em vão. Ou podia.
- Por que ele esconderia isso? - ela questionou de maneira séria, mas logo uma expressão tranquila dominou seu rosto novamente e ela espalmou as mãos no ar, me fazendo sinal para que eu esquecesse aquilo - Agora mudando de assunto... Eu acho que encontrei o homem da minha vida! - ela abriu um sorrisão bobinho e eu arregalei os olhos e ri alto.
claramente estava brincando, mas logo contou sobre como as coisas estavam fluindo bem com Grant, embora se conhecessem há pouquíssimo tempo. não era fácil de conquistar então a cada palavra era uma nova surpresa, mas eu me senti genuinamente feliz pela minha amiga, afinal de contas, ela merece alguém bacana.
- Fico feliz que você esteja feliz, -Boo. - sorri de imediato assim que ela finalizou.
- As coisas com vão se ajeitar, você vai ver. - ela me encarou de maneira solidária, levando uma batata até minha boca.
- Eu sei que é difícil, o último relacionamento deve teve um término terrível, mas eu queria tanto que ele se libertasse disso, queria que ele se permitisse mais, só que depois de tudo o que ele disse... Eu sei que o amor é doido, mas eu não também não quero que ele se perca procurando por mim caso ele decida se entregar de vez a isso, entende? Eu quero que ele se sinta livre, não dependente como ele era com a Sienna. Ele precisa ter a individualidade dele também. - bufei desanimada e frustrada, jogando a cabeça pra trás.
- Ok, isso foi muito lindo e eu vou anotar, talvez consiga enfiar isso em uma música. - virei meu rosto no mesmo instante, observando digitando rapidamente algo em seu celular e caímos na gargalhada juntas.
2 DIAS DEPOIS.
Descemos do carro em silêncio até nossos trailers. Os dois últimos dias foram de puro silêncio e eu conseguia compreender, só não aguentava mais. abriu a porta de seu trailer e estava prestes a entrar.
- Ainda está bravo comigo? - apertei os olhos no mesmo instante em que fiz a pergunta porque aquilo era idiota demais da minha parte. Óbvio que ele estava!
- Claro que estou. - ele deu passos rápidos até ficar de frente pra mim, totalmente sério - Aquilo foi burrice total, mas ficar bravo com você acaba comigo, acredite. Me deixa louco, . - o olhar dele quase me atravessava. Sua resposta tinha me trago o fogo que eu não sentia há dias, porque eu podia ver bem em seu olhar que mesmo ainda bravo, ele estava com tanta saudade de nós quanto eu.
- ...
- Me escuta! - ele pediu, dando um passo à frente e ficando a poucos centímetros de distância - Olha tudo o que já tivemos. Pra duas pessoas se envolverem assim, elas precisam pelo menos se gostar, e eu seria maluco se não gostasse de você. Esse tipo de coisa me deixa maluco porque quando você gosta de alguém, acaba agindo sem pensar e no meio disso você pode fazer besteiras, e eu não quero que você se envolva em coisas perigosas. Eu me preocupo com você, !
Céus, não pensei duas vezes em abraçar da maneira mais carinhosa e desesperada. Ele gostava de mim também! Ele disse! No meio de um esporro, mas disse!
Segurei em seu rosto enquanto ele me segurava pela cintura, óbvio que não tinha aguentado e tinha me abraçado de volta. Observei cada detalhe do seu rosto, me encantando pela milésima vez por cada um deles.
Nem mesmo o boxe estava ajudando. Tristan praticamente me obrigou a parar porque tinha percebido que eu não estava realmente focado. Me sentei em um dos bancos dali, observando as pessoas que passavam pela academia. Não tinha como ignorar ou passar logo daquilo, eu tinha que parar e pensar sobre o que deveria fazer com . Um dia e meio no hotel com ela foi de longe, uma das melhores coisas que aconteceu em meses. O jeito dela... Ela... Difícil de explicar.
É fácil cair na ideia de suprir as expectativas das outras pessoas. Com Sienna eu precisei me esforçar. E muito. O tanto que eu me dediquei em impressioná-la antes de realmente começarmos a termos algo de verdade foi absurdo. Eu precisava impressionar. Com simplesmente não teve nada disso. Pela primeira vez na vida, eu não me esforcei, eu não forcei, eu não me senti pressionado em causar boa impressão. foi alguém que chegou pelas beiradas e de repente chutou a porta, do jeito mais puro, doce, sarcástico e bravinho que eu já tinha visto na vida. Entre nós foi algo totalmente natural. me deixava no meio de dois extremos. Eu tenho sentindo como se eu merecesse alguém e ao mesmo tempo penso no quanto ela merece alguém melhor, alguém que traga mais felicidades do que preocupações ou dependências. Se eu ligasse pra minha mãe, ela provavelmente diria algo do tipo: "Você se questiona sobre isso, mas será que não tem deixado seu coração fechado, impedindo coisas boas entrarem nele?", e se pudesse ligar para o meu pai, ele diria o mesmo. Eu ainda tinha o olhar raivoso e decepcionado de Sienna impregnado em minha mente. Como eu pude me tornar um peso tão grande assim, algo totalmente impossível dela carregar?
Chacoalhei a cabeça nervoso, pegando uma garrafa d'água e pronto pra treinar novamente. Precisava pelo menos tentar me distrair antes do meu cérebro explodir.
entrou no carro ja tagarelando sobre como tinha sido bom o nosso tempo no hotel. Tínhamos assistido o sol nascendo, tomamos café, curtimos a piscina por horas e voltamos pra nossa realidade totalmente diferente. Qualquer um conseguia notar o quanto ela estava feliz com aquilo, e parte de mim também estava, enquanto a outra se martelava sem parar. Tentei agir o mais normal possível, e francamente, não foi tão difícil. Os papos aleatórios de me distraíram. Mesmo sabendo que carregava uma culpa totalmente não dela, ainda assim ela se mostrava ter um jeitinho quase que despreocupado e totalmente livre. Sem duvidas, éramos parecidos. Eu sou quieto e eu gosto de ser reflexivo, mas eu também posso zoar pelo lugar que estiver e ser o mais barulhento do local. É só uma balança. era a mesma coisa.
O tempo com ela voava. Assim que voltamos, ainda dentro do carro, observamos Voight e Holt saindo em outro carro. Nossos olhares se encontraram e embora aquilo devesse parecer normal, não nos dava a sensação de ser.
's POV
Três dias atrás, estávamos na piscina do hotel feito duas crianças, agora, eu trouxe um livro pra ler no carro porque a cada dia que passou, passou a falar menos. Claramente dizer que gostava dele não tinha sido a melhor ideia.
Em três dias, Voight e Holt saíam no mesmo horário ou minutos depois de quando eu e chegávamos. A única coisa que eu recebia de eram olhares tão confusos quanto os meus, afinal, eles detestavam deixar o local sem supervisão, tanto que eles sempre reversavam quando tinham algum compromisso para que não ficássemos sem ninguém responsável ali, e vê-los assim, saindo na madrugada obviamente não significava algo bom.
Em três dias, o clima estava uma porcaria total. Voight mal falava comigo e eu nem tentava, toda vez que o via, notava sua expressão exausta e não queria irritá-lo e nem perguntar sobre o que estava acontecendo, afinal, sabia que ele não diria, e Holt muito menos. A verdade é que tudo estava estranho desde o tal encontro com Paul. estava quieto e pensativo demais. Eu estava respeitando seu espaço, embora minha vontade era de berrar aos quatro cantos, queria saber o que se passava em sua mente. Eu conseguia entender que seu último relacionamento não foi fácil, mas não significa que todos serão assim, não é? Fora que se talvez ele fizer um esforcinho, vai lembrar que nem tudo foi tão incrível e que nada do que aconteceu foi inteiramente sua culpa.
Respirei fundo assim que dei a última garfada no meu almoço. Me troquei de maneira apressada em seguida, saindo do trailer e observando que a moto de não estava ali, ou seja, ele tinha saído. Continuei andando pra fora dali e segui até a academia de Tristan, precisava extravasar.
Dei uma gargalhada nervosa pra mim mesma assim que vi a moto de ali. Por Deus, parece piada! Pensei em dar meia volta e ir embora, mas minhas pernas não me obedeceram. Entrei ali e Tristan logo veio me cumprimentar animado. Vi de longe junto com Scott, e desviei o olhar assim que ele notou minha presença ali. Não tinha muita gente na academia então Tristan começou a se alongar e aquecer comigo, em seguida me ajudando a colocar as luvas. Scott veio me cumprimentar animado mas não fez o mesmo. Ele quis fazer graça, dizendo pra Tristan que seria meu treinador e ele deixou numa boa. Scott era engraçado. A cada golpe que eu dava no saco de pancadas ele soltava uma piadinha que quase me fazia perder a concentração. Assim que finalizamos, estava sentado e atento à nós dois. Fui até o bebedouro que era do lado do banco em que estava sentado, sentindo seu olhar quase me desmontar.
- O que foi? - questionei de uma vez, dando alguns passos até ficar em sua frente. Ele quase não piscava, como se estivesse me vendo pela primeira vez na vida.
- Nada. - ele deu os ombros, finalmente desviando o olhar. Eu senti raiva, óbvio, mas ao mesmo tempo senti um aperto no coração. Me sentei ao seu lado, puxando seu queixo, o fazendo olhar pra mim novamente.
- Você está assim porque eu disse que gosto de...
- Estou bravo, . Meu pai me ligou de manhã e toda vez que ele liga eu só me sinto mais inútil. Não sei onde ele está, não sei como posso ajudar e ele também não aceita minha ajuda. Eu to cansado. - ele disparou tudo de uma vez como se fosse uma defesa automática.
Há três dias ele estava estranho então obviamente não era só por conta do pai, mas eu não podia falar isso, porque sabia que toda a situação mexia muito com . Eu entendia seu lado, de verdade! Se eu pudesse ter feito algo pra ajudar minha mãe, eu teria feito até o fim. Queria poder fazer algo pra ajudar também.
Pela primeira vez, recusei a carona de . Precisava andar e pensar. Assim que cheguei, pude observar a cena: e Voight discutindo no escritório. As cortinas estavam abertas, ou seja, qualquer um que passasse veria. Dei passos largos até chegar na porta do escritório, que por sinal estava aberta. Voight notou minha presença rapidamente e assim que virou a cabeça e me viu ali, deu passos largos e rápidos pra fora dali, feito um furacão. Franzi o cenho totalmente confusa. Ele tinha achado ruim eu estar ali?
Voight passou a mão pelo rosto rapidamente e logo saiu dali também, gritando para esperá-lo. Observei aquilo totalmente sem reação. Talvez fosse tentando arrancar alguma informação de Voight sobre o pai, mas de qualquer modo, eu já não conseguia mais ouvir. Os dois já estavam fora do meu campo de visão e eu estava pronta pra sair dali até ver o celular de Voight em cima da mesa.
Ok, vamos lá...
Me apertava o coração ver assim, de verdade mesmo. A informação que Dave tinha conseguido sobre Wilmer não valeu de nada, então não tínhamos absolutamente nenhum jeito de ajudar o pai dele. Mas não é só isso... Tem Voight e Holt. Os dois estavam estranhos desde o tal encontro com Paul e talvez, bem talvez, se eu soubesse de algo, poderia ajudar. Olhei pra trás e nada de Voight. Entrei no escritório de uma vez, atenta à janela, vendo se ele não aparecia. Peguei seu celular com dificuldade por conta do nervoso mas consegui. A senha era o aniversário da minha mãe e eu nunca pensei que fosse ficar tão feliz por saber a senha de Voight. Fui até o meu contato e apertei a opção de compartilhar localidade. Senti minha respiração acelerada e logo bloqueei o celular novamente, saindo dali com pressa.
Felizmente as horas voaram. permaneceu quieto durante todas as nossas horas de trabalho juntos. Ele falava apenas o necessário ou quando eu perguntava a mesma coisa duas vezes. Aquilo já estava me incomodando. Óbvio que era muita coisa pra lidar, seu pai estava praticamente foragido, ele estava longe da mãe e das irmãs e isso é péssimo. Mesmo que esse não seja totalmente o real motivo dele estar agindo estranho comigo, eu queria muito me convencer que era. Muito mesmo. Era o melhor pra mim. Respirei fundo, me controlando mesmo pra não ter um ataque que provavelmente me arrependeria depois. Chequei meu celular o tempo inteiro pra acompanhar a localização de Voight, e do mesmo jeito que foi nos dias anteriores, ocorreu o mesmo: ele saiu assim que chegamos.
Eu praticamente pulei do carro, indo em direção ao meu trailer rapidamente, ainda atenta ao celular que mostrava onde ele estava indo. Dei boa noite pra , que entrou em seu trailer como se estivesse fugindo de mim e bufei alto. Se eu descobrisse algo, certeza que seu humor melhoraria. Entrei no meu trailer de uma vez e me troquei, me jogando na cama e não tirando os olhos do celular.
O celular despertou às 11. Tomei banho, comi e precisei de mais uma hora pra pensar no que faria. Voight ficou parado por 30 minutos em um lugar que era 40 minutos de nós.
Ir? Não ir? Arriscar? Não arriscar?
Eu não poderia ir de madrugada porque obviamente Voight estaria lá, e qualquer que seja a coisa que rola lá, rola de madrugada, então talvez, se eu for uma filha da mãe de sorte pelo menos uma vez na vida, eu consiga saber do que se trata o local sem correr riscos de ser vista.
Me levantei de uma vez, decidida a ir. Peguei um estilete e coloquei dentro da minha blusa, tendo a total noção de que aquilo podia não ser o suficiente, mas que poderia me ajudar caso algo acontecesse. Saí dali com passos firmes. Iria de ônibus até certo ponto e depois continuaria andando. Se eu soubesse dirigir direito, teria ido de carro. Fui pensando no caminho milhares de vezes se deveria ter chamado ou avisado alguém, mas só causaria um estresse desnecessário. Eu não pretendia bancar a heroína, apenas precisava saber o que Voight e Holt faziam nesse lugar durante os últimos dias.
Foi quase uma hora inteira por conta do atraso do ônibus e de todo o cuidado que eu tinha ao andar pelas ruas antes de me aproximar do local. Era uma rua com vários galpões vazios. As casas e o movimento de pessoas tinham ficado duas ruas pra trás.
Por Deus!
Eu andava com o celular em uma mão, confirmando o endereço, e na outra, segurando o meu cu, tamanho o medo que estava sentindo.
Entrei em uma brecha entre um galpão e outro, pensando em dar logo a volta pra chegar no endereço exato. Fui andando devagar e em silêncio, mesmo não tendo visto uma alma viva sequer. O endereço exato era o último galpão da rua, que da minha visão revelava dois caminhões aos fundos. Continuei a andar, me escondendo atrás de todas as coisas que via na frente, me aproximando cada vez mais dos caminhões e do enorme portão que tinha ali.
Ok, chega. Meu coração já estava quase parando de tão acelerado e só piorou quando o portão foi aberto e finalmente ouvi algumas vozes. Me abaixei, observando os passos de três homens juntos indo pra direção contrária aos caminhões e suspirei em alívio. O portão continuou aberto e eu olhei com cuidado. Haviam incontáveis pessoas lá dentro com varias máquinas de... dinheiro! Arregalei os olhos e me levantei, pronta pra sair dali. Que merda Voight e Holt faziam ali toda noite? Estavam metidos com dinheiro falso? Algo até que aceitável, considerando o jeito que eles levam a vida pra sobreviver.
Dei dois passos pra sair dali e gelei assim que vi um homem parado há pelo menos dois metros de mim. Ele me encarava de maneira nada agradável e começou a vir em minha direção.
Eu podia correr? Podia. Minhas pernas me obedeciam? Não.
Comecei a dar passos pra trás e o homem se irritou, correndo o pouco que faltava e terminou com a distância entre nós, me puxando pelo braço de maneira agressiva.
- Tá fazendo o que aqui? - ele me encurralou na traseira do caminhão sem dó.
Totalmente fodida. Eu ia morrer. 20 anos pra morrer depois de ver um galpão que provavelmente deveria estar abandonado assim como os outros, mas que estava servindo para pessoas fazerem dinheiro falso.
- E-eu... Eu só estava de passagem, eu costumava...
- Cala a boca! - o homem cuspiu as palavras da maneira mais grosseira possível, puxando um rádio da cintura e falando - Paul, volta aqui, achei uma coisa que você vai adorar de ver.
Eu definitivamente ia morrer!
Ele me segurava forte, e por mais que eu tenha lembrado do estilete em meu bolso, não serviria de nada. Eu sabia brigar, mas de onde tinha vindo esse homem viria mais, não tinha como dar conta. Fora que... Paul! Ele me mataria e chutaria minha cabeça até chegar em Voight.
- O que é isso aqui? - o homem chegou com mais dois e eu gelei. Não conseguia respirar ou me mexer. Ele se aproximou cada vez mais e o homem que me segurava finalmente me soltou de vez. Eu nunca tinha visto Paul mas pelo nervoso que se apossou de mim, com certeza era ele. O tanto que ele me analisou antes de gritar para os outros dois homens me levaram pra o escritório quase sugou minha alma.
Fui levada pelos homens até o tal escritório, mas ao contrário do primeiro homem, nenhum me tocou, apenas prestam atenção em meus passos pra terem certeza que eu estava seguindo o caminho certo, e óbvio que estava. As armas nas cinturas dos dois poderiam me fazer andar Londres inteira. Me fizeram sentar em uma cadeira e não demorou pra Paul chegar, pedindo para os dois se retirarem.
- Olha, eu não fiz...
- ... - ele começou a rir alto como se me ver naquele estado fosse prazeroso, mas o pior foi ele saber quem eu era, e o jeito que meu nome saiu de sua boca me tirou o pior dos arrepios - O que você está fazendo aqui? Voight te mandou? Caralho, esse homem realmente já não tá prestando pra mais nada mesmo. - ele continuou rindo como se aquilo realmente fosse engraçado.
- O que? Não, ninguém me mandou aqui! Eu... - disparei desesperada e logo parei assim que ele fez um sinal com a mão para que eu parasse de falar e pegou o celular, andando um pouco distante enquanto falava com alguém rapidamente.
- , vamos lá, eu quero só a verdade, tudo bem? - ele abriu um sorriso macabro e tirou a arma da cintura, colocando a mesma em cima da mesa e se apoiando nela.
O que eu podia fazer? Simplesmente não tinha escapatória e talvez eu merecesse um tiro por ser tão burra.
- Ninguém me mandou aqui, eu vim sozinha e... E... Como você sabe quem eu sou? - arregalei os olhos e consegui respirar fundo, totalmente afobada e desesperada. Eu não tinha ideia em onde aquilo ia dar.
- Não tem ninguém que eu não conheça, , especialmente você. Como eu não te conheceria? - mais uma vez, aquele sorriso bizarro estava presente.
Eu estava perdida em mim mesma. Perdida no momento. Perdida na ansiedade em querer sair dali.
- Eu... Eu não estava fazendo nada demais, eu até vim sozinha, eu só...
- Calminha, moça! Eu não vou te fazer nada. - Paul riu debochado, pegando a arma da mesa de maneira lenta e um arrepio percorreu pela minha espinha e eu apertei os olhos - Não tente fazer nenhuma besteira ou sair daqui, não costumo ser bonzinho desse jeito, mas você foi uma visita especial. Agora me dê o seu celular. - eu senti seu corpo cada vez mais próximo do meu, assim que abri os olhos, com muita dificuldade, a arma já estava guardado e ele estava abaixado, com o rosto próximo ao meu da maneira mais intimidadora possível. Tirei meu celular do bolso e entreguei sem rodeios, e eu só respirei novamente quando ele deu passos largos pra fora dali, batendo a porta com força.
Péssima ideia a minha! Holt iria me dar um sermão de três dias, Voight faria pior e caso minha mãe descobrisse, seria capaz de quebrar as grades da cela em que estava presa só pra sair e me dar uma surra. O escritório era enorme, e embora nada me impedisse de mexer nas gavetas e armários, não me atrevi a me mexer. Paul não seria bobo de deixar algo importante ao meu alcance, ou ele sabia que eu estava com medo demais pra ousar mexer em algo. Me perdi em pensamentos que estavam quase me matando de agonia por tempo desconhecido e eu quase pulei de susto quando a porta se abriu novamente, revelando um Voight aflito e ao mesmo tempo furioso. Arregalei os olhos e me levantei, indo em sua direção e ele me abraçou forte assim que nossos corpos se encontraram.
- Ele te fez alguma coisa? Te machucou? - ele passou a mão pelo meu rosto, descendo até meus ombros e braços, se certificando de que estava tudo no lugar.
- Não, está tudo bem! Como você... - abandonei minha fala, me recordado da ligação que Paul tinha feito - Ele te ligou pra vir me buscar? - franzi o cenho.
- Olha só que gracinha! - Paul se encostou no batente da porta, com um cigarro entre os lábios e um tom sarcástico.
Voight tinha uma expressão de irritação absurda, pegando em minha mão e me puxando dali com pressa. Passamos pela porta feito um furacão, mas Paul segurou em minha outra mão com força, me impedindo de continuar. Voight o fuzilou com o olhar, e eu não sabia o que esperar.
- Paul... - Voight pronunciou seu nome com raiva, e os dois trocaram olhares que continham tantas informações, mas eu não conseguia decifrar nenhuma.
- Você precisa tomar mais cuidado, Voight! Se você continuar sendo burro desse jeito e não fazendo seu trabalho direito, vou ser obrigado a tomar medidas drásticas, certo? Se mais alguém por acaso vir atrás de mim, seja pelo motivo que for, não vou hesitar em dar um fim. Claro que eu não faria isso com , afinal... Olha pra esse rostinho, ela é a cara da mãe! Eu jamais poderia.
Eu quase engasguei. Meus olhos estavam tão arregalados que quase saltaram pra fora. Assim que ele soltou minha mão eu praticamente voei até Voight como uma criancinha assustada.
Trabalho? Que trabalho Paul estava falando? E minha mãe... ele conhecia minha mãe!
- Cala essa merda dessa boca! - Voight cuspiu as palavras com raiva, me puxando e começando a andar com pressa.
- Não acredito que não contou pra ela que agora você trabalha pra mim, Voight! Que coisa chata, não se deve ter vergonha do seu trabalho, não sabe disso? - Paul gritou aquilo da maneira mais bem humorada que podia e eu travei. Minha expressão de surpresa não abandonava meu rosto de jeito nenhum e eu sentia como se o mundo tivesse desabando por tal revelação. Encarei Voight totalmente confusa.
- O que? - virei meu corpo novamente, encarando o homem que seguia fumando tranquilamente, com o olhar mais cínico que eu já tinha visto em toda minha vida.
- ! - Voight chamou minha atenção e puxou meu braço novamente mas eu o soltei.
- Ele não contou, não é? Óbvio que ele não contaria! Agora ele faz alguns serviços pra mim. Não que eu precise, mas sim porque esse merda merece a humilhação. - o olhar de Paul foi de debochado pra diabólico da pior maneira - Eu tentei ser bom, sabia? Eu ofereci um acordo, mas nenhum dos dois quiseram aceitar, então eu disse que mataria o , sabendo que Voight faria qualquer coisa pra impedir, então aqui estamos nós. Voight trabalha pra mim até eu achar aquele outro infeliz. - ele finalizou de maneira fria, andando em nossa direção. Voight suspirou de maneira claramente raivosa e decepcionada. Assim que estava perto o bastante, Paul me entregou meu celular novamente, me olhando nos olhos - Você realmente é igual a sua mãe.
Voight me puxou sem dó e dessa vez eu obedeci de primeira. Me atrevi a olhar pra trás, tendo como lembrança o sorriso macabro de Paul, do tipo que dizia "você não me conhece nem um pouco e nem vai".
Voight não quis conversa durante o caminho todo e eu sabia que uma bronca gigante estava por vir. Eu sentia um enjoo gigante, sentindo que vomitaria a qualquer segundo de tanto nervoso. Eu reconhecia que aquilo tinha sido totalmente imprudente da minha parte, mas aquilo já estava me agoniando de uma maneira quase insuportável. Eu juntei a fome com a vontade de comer, queria descobrir o que Voight estava fazendo e queria descobrir algo que pudesse ajudar , e mesmo sabendo que essa síndrome de heroísmo quase nunca dá certo, eu só queria algo pra fazer, pra me sentir útil. Se eu soubesse se tudo vai ficar bem no final, não me importaria em nada com o que acontece agora, mas uma das piores coisas é passar um dia após o outro sem ter certeza de nada, mesmo sabendo que é assim que a vida funciona.
Assim que chegamos, eu demorei pra sair do carro. Sabia que ouviria até o ouvido doer. Voight foi vigiando meus passos, me guiando até o escritório, onde bateu a porta com tanta força que precisei olhar pra ver se a mesma ainda estava no lugar.
- Em primeiro lugar, - Voight respirou fundo - Como você conseguiu chegar até lá? - ele foi curto e grosso. Muito grosso. Eu não tinha nem o direito de achar ruim dessa vez.
- Eu peguei seu celular e configurei ele pra compartilhar sua localização comigo desde ontem. Você estava saindo há dias no mesmo horário e...
- VOCÊ O QUE? - Voight berrou furioso.
- Eu só... Eu só queria saber o que estava acontecendo! Você está estranho desde o dia em que se encontrou com Paul e não falou nada sobre o assunto e... Eu me preocupei! Eu também queria saber se isso ajudaria em algo, o pai dele nunca o deixa ajudar em nada e eu sei como é se sentir assim. Eu juro que nem mesmo tentei entrar no galpão, eu já estava indo embora quando...
- CHEGA! - ele socou as duas mãos sobre a mesa, me fazendo dar um pulo de susto - Você sabe quantas pessoas eu já vi se ferrando por burrices como essa? Você achou que conseguiria fazer o que, ? Adivinha só? Eu sou o seu pai, não preciso da sua preocupação e eu não preciso da sua ajuda! Você é uma criança! Eu resolvo as coisas aqui, está me ouvindo bem? - cada grito raivoso que saía de sua boca era como um soco no meu estômago, o que resultou em lágrimas e mais lágrimas, que saíam dos meus olhos sem parar.
- O que tá acontecendo aqui? - a porta que felizmente ainda estava no lugar se abriu bruscamente revelando Holt e com expressões preocupadas e meu coração se apertou ainda mais.
- Eu sei que o que faço, ! Eu estou nessa vida há mais tempo do que você está nesse mundo, então não, não precisa se preocupar ou tentar ajudar ninguém! Eu tô farto disso! Por que diabos você quer ajudar ? Você acha que eu não faço o bastante, huh? - ele estava furioso e eu sabia que não era inteiramente por minha causa. O olhar de Voight dizia tanto quanto sua boca, mas eu sabia que aquilo tudo não era só pra mim, embora tenha machucado do mesmo jeito. Eu o entendia. Ele provavelmente estava esgotado e eu só tinha piorado as coisas como sempre.
- Voight, calma! - Holt pediu alto, entrando no escritório de uma vez e eu limpei as lágrimas que caíam sem parar.
Mesmo com ali na porta, saí dali com uma pressa absurda, correndo até meu trailer. Tentei controlar minha respiração em meio ao choro mas estava sendo uma tarefa difícil. Algumas batidas foram dadas na porta e logo a mesma foi aberta, pois estava destrancada. estava com o olhar incrédulo e desacreditado.
- , você é maluca de fazer isso? Ir atrás de Paul sozinha? Por minha causa? O que foi isso?
- Não foi só por você, foi por Voight também! - me defendi rápido, limpando as lágrimas que estavam em minha bochecha. Eu estava totalmente sem energias pra discutir, mas estava exatamente o contrário.
- Está vendo? É disso que eu falo! Puta merda, , algo poderia ter acontecido com você! - passou as mãos pelos cabelos de maneira totalmente nervosa.
- Do que você está falando?
- Disso! Eu já estou te estragando, você já está fazendo coisas que não deveria fazer porque...
- ESPERA AÍ! - gritei mesmo, chamando sua atenção em um susto - Eu fiz isso porque queria descobrir o que Voight andava fazendo e pensei que talvez se descobrisse algo, poderia te ajudar! Eu não fui lá pra me jogar na frente de Paul, eu simplesmente fui pega, pronto, aconteceu! Agora por favor, não tente justificar isso com a sua ideia de estar me estragando, porque isso é claramente um problema seu porque não sabe lidar porque eu disse que gosto de você! Que inferno, ! Eu fui lá achando que poderia trazer alguma informação que te fizesse pelo menos conversar direito comigo, coisa que você não faz há dias porque... porque você simplesmente não consegue aceitar que eu gosto de você.
- , pelo amor de Deus! Eu... Porra! Eu não sei mais como lidar com isso, entende? Eu não sei se estou ultrapassando os limites! Olha tudo o que eu já fiz! Eu te levei pra um hotel feito um bobo apaixonado e por mais que tenha sido incrível eu me senti mal por tudo aquilo, porque a única coisa que eu fiquei pensando depois foi em como talvez eu possa te sufocar as vezes e não perceba. Eu sou dependente, foi por isso que Sienna terminou comigo e eu não quero ser assim pra você, eu não quero que... Eu não posso deixar que aconteça de novo, tá me entendendo? Eu não posso fazer isso com você!
- , eu...
- E eu tô bravo com você! Pra caralho! Como você faz a besteira de ir em um lugar daqueles sem saber o que esperar direito, ein? E se Paul fizesse algo com você, ?
Aquilo quase me desmontou. Parte de mim estava acabada de verdade porque por mais que eu quisesse uma reação de , aquilo tinha vindo de maneira totalmente dolorosa. Eu precisei respirar muito fundo e tirar forças de onde não tinha pra não chorar mais ainda, o olhando fixamente, mesmo sem coragem.
- Agora ele trabalha pra o Paul, sabia? Ele disse que te mataria, mas agora Voight trabalha pra ele pra poupar a sua vida. Eu sei que fui super irresponsável, mas eu precisava saber o que estava acontecendo, e bem... É isso. - revelei aquilo de uma vez porque precisava, de um jeito ou de outro, mas foi a primeira coisa que veio na minha mente pra também mudar de assunto. Não era para fazê-lo se sentir mal, culpado ou qualquer coisa do tipo, mas eu precisava fugir de todas as coisas que ela tinha me dito e aquilo precisava ser dito. Dois coelhos numa tacada só.
Respirei esperando alívio, mas não. O olhar decepcionado e confuso de quase me desmontou também e foi a última coisa que eu vi antes dele sair do meu trailer às pressas.
——
- As vezes eu acho que você esquece que eu existo, . O que você fez foi loucura, mas deveria ter me avisado, eu teria ido numa boa, mas já que não me avisou e nem me chamou, estou pensando seriamente em te dar umas porradas. - resmungou enquanto comia as batatas fritas que estavam em seu colo, totalmente esparramada no sofá do estúdio.
- Eu não queria meter ninguém nisso. - dei os ombros fazendo bico, dando uma mordida no meu lanche e pegando o copão de refrigerante que estava ao meu lado.
- E no final acabou se lascando. - ela me lançou uma expressão engraçada, como se aquilo fosse óbvio - Mas falando sério, acho que se você quer mesmo ajudar , deveria prestar atenção no pai dele.
- O que você quer dizer com isso?
- ... Paul não é um anjo e disso a gente sabe, mas ele o persegue há meses e nada, e a única pessoa que acaba sendo prejudicada é o . Paul ameaçou matá-lo e quem precisou intervir foi o Voight, não é estranho? Tipo, alguém ameaça o seu filho e nem assim você dá as caras? - franziu o cenho.
- Mas se ele aparecer, Paul acaba com ele! Fora que talvez Voight não tenha contado isso pra ele, não é? - mordi meu lábio inferior com nervoso, não queria pensar tanto na ideia de que o pai de poderia ter algum podre por trás de tudo. O tanto que ele elogiava o pai e dizia sobre o homem bom que era não podia ser em vão. Ou podia.
- Por que ele esconderia isso? - ela questionou de maneira séria, mas logo uma expressão tranquila dominou seu rosto novamente e ela espalmou as mãos no ar, me fazendo sinal para que eu esquecesse aquilo - Agora mudando de assunto... Eu acho que encontrei o homem da minha vida! - ela abriu um sorrisão bobinho e eu arregalei os olhos e ri alto.
claramente estava brincando, mas logo contou sobre como as coisas estavam fluindo bem com Grant, embora se conhecessem há pouquíssimo tempo. não era fácil de conquistar então a cada palavra era uma nova surpresa, mas eu me senti genuinamente feliz pela minha amiga, afinal de contas, ela merece alguém bacana.
- Fico feliz que você esteja feliz, -Boo. - sorri de imediato assim que ela finalizou.
- As coisas com vão se ajeitar, você vai ver. - ela me encarou de maneira solidária, levando uma batata até minha boca.
- Eu sei que é difícil, o último relacionamento deve teve um término terrível, mas eu queria tanto que ele se libertasse disso, queria que ele se permitisse mais, só que depois de tudo o que ele disse... Eu sei que o amor é doido, mas eu não também não quero que ele se perca procurando por mim caso ele decida se entregar de vez a isso, entende? Eu quero que ele se sinta livre, não dependente como ele era com a Sienna. Ele precisa ter a individualidade dele também. - bufei desanimada e frustrada, jogando a cabeça pra trás.
- Ok, isso foi muito lindo e eu vou anotar, talvez consiga enfiar isso em uma música. - virei meu rosto no mesmo instante, observando digitando rapidamente algo em seu celular e caímos na gargalhada juntas.
2 DIAS DEPOIS.
Descemos do carro em silêncio até nossos trailers. Os dois últimos dias foram de puro silêncio e eu conseguia compreender, só não aguentava mais. abriu a porta de seu trailer e estava prestes a entrar.
- Ainda está bravo comigo? - apertei os olhos no mesmo instante em que fiz a pergunta porque aquilo era idiota demais da minha parte. Óbvio que ele estava!
- Claro que estou. - ele deu passos rápidos até ficar de frente pra mim, totalmente sério - Aquilo foi burrice total, mas ficar bravo com você acaba comigo, acredite. Me deixa louco, . - o olhar dele quase me atravessava. Sua resposta tinha me trago o fogo que eu não sentia há dias, porque eu podia ver bem em seu olhar que mesmo ainda bravo, ele estava com tanta saudade de nós quanto eu.
- ...
- Me escuta! - ele pediu, dando um passo à frente e ficando a poucos centímetros de distância - Olha tudo o que já tivemos. Pra duas pessoas se envolverem assim, elas precisam pelo menos se gostar, e eu seria maluco se não gostasse de você. Esse tipo de coisa me deixa maluco porque quando você gosta de alguém, acaba agindo sem pensar e no meio disso você pode fazer besteiras, e eu não quero que você se envolva em coisas perigosas. Eu me preocupo com você, !
Céus, não pensei duas vezes em abraçar da maneira mais carinhosa e desesperada. Ele gostava de mim também! Ele disse! No meio de um esporro, mas disse!
Segurei em seu rosto enquanto ele me segurava pela cintura, óbvio que não tinha aguentado e tinha me abraçado de volta. Observei cada detalhe do seu rosto, me encantando pela milésima vez por cada um deles.
Capítulo 19
's POV
Custou muito, muito mesmo pra me dar o endereço do galpão de Paul. Óbvio que ela foi junto, dizendo que não me deixaria fazer nenhuma besteira, mesmo Scott e Cohen estando junto também. Acontece que de nada adiantou, nada mesmo. Já não tinha nem um rastro sequer de Paul e o galpão estava completamente vazio. Simplesmente não tinha mais nada, tudo se foi da noite pro dia. Ninguém nem abriu a boca durante a volta. Todos no carro sabiam que eu precisava pelo menos tentar pensar, e estava tudo uma bagunça, nada parava no lugar certo.
Ser melhor, ser superior, ser mais rico, ser mais bem sucedido. Sempre mais. É tudo o que querem, mesmo sem precisar, em absolutamente todas as áreas e em todos os sentidos. Paul queria mais poder e estava tendo, e pior, ele gostava da angústia, sofrimento e sacrifícios alheios. Ele gostava da sensação de simplesmente poder ter tudo aquilo. Era um momento crítico e eu precisava pensar em absolutamente todos os lados e em todas as possibilidades.
Meu pai... Sempre honesto, sempre bom, nunca deixou a família pra trás, sempre atencioso. Como esse rolo se tornou algo tão grande a esse ponto? Eu precisava saber da verdade.
- . - Cohen chamou me atenção assim que saímos do carro, provavelmente sabendo o que estava prestes a acontecer - Vai com calma! - ele pediu tranquilo e eu sorri fraco.
e Scott me olhavam nervosos mas não disseram nada. Continuei a andar de maneira rápida até o escritório, entrando de uma vez já que a porta estava aberta, encontrando Voight entretido em algo no celular, mas logo subiu o olhar quando notou minha presença.
- Aconteceu alguma coisa? - ele disparou de maneira preocupada, provavelmente notando certa angústia em meu olhar ou algo do tipo. Voight era esperto. Respirei fundo e me sentei, totalmente controlado, embora meu interior estivesse totalmente o contrário.
- Você está trabalhando pra Paul por minha causa, não é? - ele estava pronto pra vir com um discurso enorme e eu sabia, mas arqueei uma sobrancelha e isso foi o suficiente pra Voight entender que eu não estava focado naquilo, então continuei - Meu pai sabe disso? Você contou que Paul ameaçou me matar? - assim que terminei, o olhar de Voight pousou sobre mim da maneira mais perdida que eu já tinha visto em meses ali.
- ...
- Só responde. - insisti ríspido.
- Ele sabe. - o jeito derrotado que Voight respondeu me respondeu mais coisas do que eu havia perguntado e aquilo pesou de maneira absurda. Me levantei no mesmo instante, me segurando pra não explodir.
- Eu fui ameaçado e nem assim ele apareceu? Ou ao menos falou comigo sobre isso? - gritei, mesmo sem querer, já alterado pela raiva, mas Voight realmente parecia perdido e tudo o que eu queria era socar algo - Fala pra ele me ligar. - pedi nervoso, pronto pra sair dali e saí.
——
Eu e tivemos uma longa conversa sobre meu pai enquanto tomávamos conta das ruas. Incrível que, mesmo sem eu precisar dizer, ela sabia que a única coisa que eu precisava era ser ouvido, não tinha muito o que fazer, então pra me distrair, começou a tagarelar sobre vários assuntos diferentes, sendo o último deles sobre como estava animada com a relação com Grant e blá blá blá, até que ela foi se calando. Ou pelo menos eu achei que ela estava se calando.
- ! - sua voz saiu num grito atento e eu voltei pra realidade. Mais uma vez, estava voando com o carro e isso a assustou e eu só confirmei quando me virei pra encará-la, totalmente assustada.
- Desculpa! - desacelerei aos poucos, parando o carro de uma vez em frente à uma casa qualquer.
- Olha, eu sei que é uma situação complicada, mas você precisa manter a cabeça no lugar. - tirou o cinto e se arrastou um pouco mais pro lado, ficando mais próxima a mim e colocou uma de suas mãos em meu rosto, fazendo carinho.
Eu posso morrer em seus olhos claros, real!
Acabei com toda a distância entre nós, num beijo desesperado. Por incrível que pareça, sempre melhorava. O jeito que nossas bocas se encaixavam e se exploravam era simplesmente inexplicável de verdade. tinha tudo ali, tudo mesmo, desde inocência até um ponto selvagem que era o meu favorito. Ela era e podia ser o que quisesse.
desceu uma de suas mãos pelo meu peitoral ainda coberto pela camiseta e eu sabia muito bem onde sua mão iria parar. Ela interrompeu o beijo e encostou nossas testas, olhando fixamente em meus olhos, sem um pingo de vergonha. Eu amava isso nela!Sua mão finalmente tombou até meu pênis já duro e o apertou de leve por cima da calça, e de um jeitinho totalmente malicioso, mordeu o lábio inferior.
- Porra... - resmunguei, relaxando meu corpo um pouco mais enquanto ela apertava novamente, dessa vez mais forte.
- Eu posso te distrair pelo menos, o que acha? - e lá estava, aquele olhar totalmente danado e cheio de malícia.
Eu seria louco se dissesse que não. era do tipo que toparia tudo em qualquer lugar e eu estava totalmente disposto a isso. Tirei alguns segundos pra ficar ali, babando por ela, e logo em seguida dei um selinho longo em seus lábios, voltando a ligar o carro.
- Tenho o lugar ideal pra esse momento. - sorri cheio de malícia e a garota riu, ainda com a mão em meu membro, como se estivesse o protegendo de algo.
Acelerei rápido até um beco não tão longe. Era totalmente discreto e claro que ninguém passaria por ali às duas da manhã. Assim que parei o carro de vez, analisei bem a garota ao meu lado e sorri satisfeito ao ver que ela estava de vestido. Eu tirei o cinto e segurei firme na sua mão que ainda estava em cima do meu pau e a tirei dali. Olhei firme pra garota e nossos olhos conversavam mais que nossas bocas. Coloquei o banco o mais pra frente possível e pulei pro banco de trás, observando fazer o mesmo. Era um aperto desgraçado mas essa era a melhor parte. sentou em meu colo de frente pra mim. O vestido azul claro não era tão colado mas marcavam de leve seus seios e levei minhas mãos até ali com vontade, os apertando. jogou a cabeça pra trás e apertou as pernas contra as minhas, num encaixe totalmente perfeito, a única coisa que nos atrapalhava ainda eram nossas roupas. Levei uma mão totalmente atrevida até a barra do vestido e subi com ele, segurando em sua calcinha, dedilhando o caminho até sua virilha. era puro fogo e por mais que eu quisesse que as coisas fossem mais lentas para poder aproveitar mais, eu não me aguentava. Eu era desesperado por ela.
Apertei seu clitóris por cima da calcinha de surpresa, arrancando um gemidinho assustado da sua boca que logo foi se transformando em prazer. Me concentrei ali, naquele ponto que a fazia apertar os olhos de prazer e sem aviso nenhum desci com um dedo até sua intimidade por dentro da calcinha, sorrindo assim que notei o quão molhada ela já estava.
- ... - ela resmungou e arqueou o corpo assim que notou meu dedo em sua intimidade mas logo se forçou pra baixo, me fazendo a invadir de uma vez.
Porra, que mulher!
Ela me deu o olhar mais pidão e irresistível até então e senti que meu pau iria explodir dentro da calça. Enlacei sua cintura com minhas mãos, saindo de dentro dela completamente e beijei seu pescoço, ouvindo a garota resmungar algo que não consegui identificar. Ela percebeu minha pressa e logo se ajustou, levando o corpo um pouco mais pra frente e se livrando da calcinha enquanto eu abaixava minha calça jeans com a boxer. Ela tinha se virado completamente, ficando de costas pra mim, mas virou o rosto ainda com o olhar pidão e agora desesperado, me arrancando um sorriso cheio de segundas intenções.
- Eu vou te foder aqui e agora. - puxei sua cintura de leve e ela mesma segurava o vestido, me dando visão total dela vindo pra mim de modo sedento.
segurou meu pau e se encaixou ali de uma vez, sem dificuldade nenhuma por estar bem lubrificada mas ainda assim soltou um gemido alto. Murmurei algo quando senti suas intimidade me invadindo de modo quente e certeiro. quicava em mim sem pudor algum e de maneira rápida, segurando nos dois bancos da frente. Dei um tapa levemente forte em sua bunda e um grito de prazer saiu da sua boca. Não satisfeito, puxei de leve seu cabelo e senti a garota estremecendo. Ela sentava em mim da maneira mais sexy e gostosa que eu já tinha visto na vida. Soltei seu cabelo, levando uma das minhas mãos até sua intimidade, esfregando meus dedos na sua vagina molhada e quente. Friccionei dois dedos em seu clitóris e um gemido mais alto ainda saiu da sua boca. subia e descia ainda mais rápido enquanto eu fazia movimentos circulares ali.
- Porra, ! - ela gemeu meu nome de maneira única e eu fui no céu e voltei.
Ainda com uma mão em sua intimidade, com a outra forcei o seu corpo pra baixo, fazendo sua vagina engolir meu pau por longos segundos. Nossos gemidos se misturavam loucamente. Comecei a estocar forte e rápido, ainda me dedicando ao seu clitóris.
- Eu não me canso de você, ! - falei quase falho entre nossos gemidos, apertando seu clitóris de uma vez, sentindo as pernas da minha garota perdendo força.
- Eu to quase... - ela alertou numa voz manhosa.
Ela começou a acelerar, rebolando em mim de maneira frenética, explodindo de uma vez. Bati com a cabeça do meu pau em seu clitóris e passei ele por sua intimidade, sentindo o seu líquido ali. O corpo dela estava em total êxtase e a respiração totalmente descompassada. Seu corpo caiu pra trás e ficou ali por alguns segundos, até que olhou para mim de canto e logo virou seu corpo todo, ficando no meu colo de frente pra mim. Seu olhar já cansado não a impediu de puxar minha nuca e encaixar nossos lábios em um beijo intenso. mordeu de leve meu lábio inferior, encostando nossas testas.
- Quantas vezes você quiser, quando você quiser e onde você quiser. Agora... - a garota me encarava com os olhos beirando a luxúria, segurando firme meu membro e se encaixando ali novamente - Sua vez. - ela sussurrou e apertou os olhos, começando a se movimentar em mim novamente.
segurava em meus ombros, se forçando em mim a cada segundo de maneira única, me deixando louco. Minhas mãos percorriam pelas suas costas e assim que cheguei em sua lombar, a garota empinou a bunda pra mim e ainda deu um sorriso safado.
- Boa garota. - sorri satisfeito, encostando minha cabeça no banco de uma vez e sentindo aquela beleza cavalgando no meu pau.
A garota rebolava e quicava em mim de maneira selvagem. Dei mais um tapa forte em sua bunda. Ela estava tão quente, tão molhada, que eu apenas fechei os olhos para aproveitar aquela sensação gostosa. Sua intimidade se apertava em mim e eu gemi abafado assim que senti que estava prestes a gozar. Agarrei em sua cintura novamente, a fazendo parar e comecei eu a estocar com força e fundo, totalmente alucinado por todas as sensações que nosso sexo me proporcionava. Meti mais rápido e me abraçou, sabendo que eu estava próximo a gozar ali mesmo dentro dela. Mais algumas estocadas rápidas e fortes, sentindo meu pau deslizando nela de maneira apertada, então meti mais rápido ainda, sentindo meu gozo finalmente sendo liberado. Abracei forte assim que ela saiu de dentro de mim mas continuou no meu colo. Nossas respirações demoraram minutos até se controlarem e eu puxei o queixo de com gentileza, encarando aquele rostinho danado.
- Tá mais calmo? - ela tombou a cabeça pro lado num jeito que quase manhoso, ainda com vestígios de malícia no olhar e eu gargalhei.
Os cabelos bagunçados, a boca vermelha e inchada, o vestido desarrumado e o olhar lotado de informações. me dava tudo e mais um pouco. Ela mesma disse: a qualquer hora, em qualquer lugar, e quantas vezes eu quisesse.
Eu queria sempre.
Eu sempre vou querer. Seja um sexo mais tranquilo ou algo mais sujo, mas não só por isso. Repetindo: me dá tudo e mais um pouco. Eu preciso ser cuidadoso.
's POV
Minha mãe estava prestes a pegar mais uns anos de cadeia pelo seu olhar raivoso. Ela queria me matar e eu sabia.
- Você acha que só porque eu estou presa pode sair fazendo essas babaquices? Porra, filha! Você ficou doida? - ela explodia baixo, afinal, não podia rolar muita gritaria durante as visitas e essa foi a minha sorte.
Em minha defesa, eu precisei contar. Eu precisava saber de onde Paul a conhecia e eu precisava contar a história inteira. E ok, provavelmente ela o conhecia já que estava há anos com Voight, mas só de lembrar de Paul falando sobre o quanto eu me pareço com minha mãe... Os arrepios vem, e não de maneira boa. Tinha algo nele, na voz, em tudo.
- Eu não fiz por mal, e não mude de assunto! Eu só te contei porque quero saber de onde você conhece o Paul, você nunca me contou que o conhecia! - disparei de uma vez e no mesmo instante minha mãe ficou desconcertada e arregalou os olhos.
- E-eu... ... Olha... - foi a minha vez de arregalar os olhos, sentindo aquilo como um choque. Não precisava ser um gênio pra decifrar aquilo.
- Mãe! Desde quando você o conhece? - chamei sua atenção em um leve desespero.
- Desde quando eu conheci Voight, oras! - ela respondeu de modo ridiculamente nada convincente e logo segurou em minhas duas mãos com força - Presta atenção no que vou te dizer, ok? Paul é uma pessoa terrível e eu sei que você sabe disso, mas sempre espere o pior, está me ouvindo bem? Em todos esses anos eu só vi ele fazendo estrago, então por favor, não se meta, não se aproxime e nem pense em fazer qualquer outra coisa que envolva ter ele perto de você, escutou bem?
——
- Ela ficou estranha quando perguntei sobre Paul, deu pra perceber de longe o nervoso dela, fora que ela implorou pra que eu fique longe de qualquer coisa que me leve à ele. - expliquei de uma vez, observando e , que estavam atentos a mim.
Estávamos todos no estúdio, tinha nos convidado pra passarmos um tempo juntos. Cohen e Scott tinham saído pra comprar lanches e embarcamos num assunto sobre Paul, e logo falei como tinha sido a conversa com minha mãe.
- Ok, temos duas opções aqui. Ou tia Leah só está realmente preocupada, afinal, ela conhece Paul há anos e já ouviu muitas histórias, ou talvez também tenha um pouquinho a mais por trás dessa preocupação toda. - comentou séria, mas logo deu um suspiro mais tranquilo - De qualquer forma, eu não estou pronta pra nenhum drama desse tipo. Ou de nenhum outro. - ela finalizou com um sorrisinho maroto e eu ri.
Ninguém estaria pronto pra qualquer drama desse tipo mesmo, e pensar nisso me trazia um peso horrível.
- Você acha que pode ter algo a mais por trás disso? - perguntou com cuidado.
- Não sei o que pensar. - fui sincera.
Cohen e Scott chegaram com os lanches e com suas palhaçadas. Eles até perguntaram sobre Grant e desmanchou ao falar dele. Minha amiga realmente estava apegada ao rapaz. Cohen também nos convidou pra um tipo de festa que teria no lugar que ele apostava racha. Não teria corrida, apenas a gente, um som alto e bebidas ao ar livre.
Saímos do estúdio depois de horas de conversa com direito a tocando varias e varias musicas no violão e a gente fingindo que sabia cantar bem como ela. colocou Tupac pra tocar e cantamos juntos por longos minutos, e foi nisso que me encantei por ele pela trigésima vez. A expressão tranquila que ele tinha no rosto era algo impagável e era só aquilo que eu queria ver, mas não durou muito.
- Que merda é aquela? - deu uma freada brusca com o carro, fazendo nossas corpos irem pra frente até certo ponto graças ao cinto. Ele me olhou rapidamente com os olhos arregalados de quem pede desculpa com o olhar.
Olhei pra onde ele olhava e franzi a testa confusa. Não estávamos na melhor parte do bairro, mas aquele tipo de coisa não rolava ali, não daquele jeito. O homem claramente estava vendendo drogas pra dois rapazes que não aparentavam ter mais de vinte anos, e assim que ameaçou sair do carro, segurei firme em sua camiseta.
- Não! - olhei séria pra ele, quase que ameaçando ele a me desafiar, mas não o fez.
estacionou o carro no fim da rua, mas ainda tínhamos visão perfeita do homem. Peguei meu celular e liguei pra Voight, que atendeu no terceiro toque. Expliquei a situação e recebi um "já estou indo" cheio de raiva, já denunciando que aquilo não era bom sinal. Algo estava acontecendo.
- Então? - arqueou as sobrancelhas.
- Voight está vindo pra cá. - dei um longo suspiro, observando apertar o volante com raiva - ... - chamei sua atenção, recebendo um olhar também raivoso, e óbvio que ele sabia que algo estava acontecendo também.
Foram minutos que pareciam não ter fim até Voight chegar correndo com o carro e começar a conversar com o tal homem. praticamente saltou do carro, se aproximando dos dois como se aquilo fosse algo relacionado à ele também e só me restou fazer o mesmo. Voight questionava de maneira raivosa e nada amigável o que o tal homem estava fazendo ali.
- Eu só cumpro ordens, cara. - o homem respondeu num tom debochado, e por um segundo eu pensei que Voight quebraria o mesmo na porrada, mas não, muito pelo contrário.
Pela cara de Voight, ele explodiria de ódio a qualquer segundo, mas a única coisa que ele fez foi recuar de volta até seu carro e eu e o seguimos confusos.
- O que foi isso? - questionou.
- Terminem o horário de vocês e pronto. E se eu souber que você mexeu com esse cara aí, você vai se ver comigo! - Voight apontou rapidamente pra o homem que continuava encostado num muro, nos encarando de longe com um olhar vitorioso.
- Quem é esse? - foi a minha vez de questionar, mesmo sabendo que Voight ainda estava bravo comigo e que as chances de ter uma resposta eram mínimas.
Ele não respondeu, apenas entrou dentro do carro e acelerou feito um doido. Respirei fundo um pouco atordoada, observando encarando feio o homem que ainda nos encarava também e não pensei duas vezes em entrelaçar meu braço no seu, dando passos fortes até o nosso carro. Foi a minha vez de encarar de maneira feia, como se fosse uma ameaça, e por algum motivo funcionou bem. Entramos no carro, e assim que ele estava pronto para virar a chave e ligar o mesmo, segurei firme em sua mão.
- O que foi?
- Eu te conheço! Você vai ligar o carro, correr feito um maluco, chegar lá e gritar com Voight perguntando sobre quem é aquele homem, porque eu sei o que você já está pensando, que aquele cara é algum mandado do Paul. - respirei fundo, encarando o homem ao meu lado quase que sem piscar. parecia um tanto quanto chocado, prestando atenção total em mim - Eu sei que tudo o que Paul anda fazendo é reflexo do que aconteceu, e infelizmente seu pai está no meio dessa confusão, e pior ainda, você também, mas você não pode enlouquecer por tudo o que Paul faz, está me ouvindo? - apertei sua mão de leve e a mesma se soltou da chave. Entrelacei nossos dedos, me aproximando um pouco mais dele, encostando nossas testas e dando um selinho demorado em seus lábios.
- ...
- Você sabe que tudo o que eu falei é verdade. A gente pode até ir embora agora, mas berrar e surtar com Voight não vai te dar muitas respostas. - dei um sorrisinho fraco, passando minha mão em seu rosto de maneira gentil.
sorriu de leve e eu senti meu coração quase explodir. Ele ligou o carro e não, nada de correr feito um doido em alta velocidade. Assim que o carro parou novamente, ele puxou meu queixo, me dando um beijo rápido porém intenso, como sempre era. Assim que descemos, ele foi direto pra o trailer e aquilo me surpreendeu de verdade. Minha conversa realmente tinha funcionado. A luz do escritório ainda estava acesa e a cortina aberta, mostrando Voight de cabeça baixa. Dei passos rápidos até abrir a porta que estava destrancada, me dando a total liberdade de fechá-la novamente e sentar ali em sua frente. Seu olhar se ergueu, observando cada movimento meu e com um olhar de quem já esperava algum discurso, mas as palavras fugiram e eu só fiquei ali, parada, o olhando feito besta.
- ? - Voight estalou os dedos em frente aos meus olhos, me chamando a atenção.
- Paul já te fez algo? - aquilo saiu de uma vez o Voight fez uma careta quase que engraçada em confusão, buscando algum tipo de sentido na minha pergunta. Chacoalhei a cabeça e espalmei as minhas mãos no ar - Digo, eu sei que vocês são inimigos, acho que todo mundo nesse planeta deve ser inimigo dele, mas com você, com a sua pessoa, ele já fez algo? - reformulei minha pergunta, esperando que ela fizesse sentido.
- Que pergunta é essa?
- Não tem um jeito de acabar com isso de uma vez? Não tem como fazer um acordo ou sei lá? Aquele homem vendendo drogas foi mandado por ele, não foi? O que ele quer com isso? Eu sei que você ainda está bravo comigo, mas não vai ficar assim pra sempre, então sei lá... Só me responde, por favor. - disparei tudo de maneira desesperada e me vi desesperada quase que literalmente, com a respiração acelerada e tudo.
- É um conflito de interesses tão grande que eu nem tenho palavras para descrever. Tem espaço pra todo mundo, mas ele não tá nem aí. - abri a boca surpresa por Voight estar falando de verdade.
- Aquele homem... - forcei mais um pouco, realmente queria saber.
- É provocação, . Querendo ou não, eu não tenho muito o que fazer, você sabe. - Voight me lançou um olhar óbvio, se referindo à . Passei a mão pelos cabelos, soltando um grunhido nervoso baixo.
- Mas não tem nada a ver com isso! - resmunguei baixo, sentindo um peso enorme me invadir.
- Ele também não tá nem aí pra isso, . - Voight encostou o corpo todo em sua cadeira, dando um suspiro longo e audível, me olhando de maneira sentida - As vezes eu entendo, sabe? É fácil se deslumbrar com poder. Eu lembro quando comecei. Eu era pobre e invisível, e hoje em dia eu tenho até negócio com a polícia. - ele disparou numa espécie de desabafo repentino e no mesmo instante meu cérebro se alertou. Arregalei os olhos de leve, surpresa com aquilo, mas precisava aproveitar o momento. Voight nunca falava sobre tal assunto comigo.
- E o que você acha que tem de diferente entre você e Paul? - arrisquei a pergunta.
- É basicamente tudo relacionado à grana. A gente hoje tem, mas ele quer sempre mais, enquanto a única coisa que eu quero é ajudar todo mundo que mora aqui. - sua resposta saiu da maneira mais crua e honesta, e não precisei de esforço nenhum pra notar o remorso em sua voz por trás de sua frase. Voight claramente tinha suas culpas também.
- Por que você está aqui, nessa vida? - questionei baixinho, cuidadosa, sabendo que era um assunto delicado.
- Eu cresci nessa vida, , você sabe. Eu me arrependo de não ter tentado sair disso antes, mas você sabe... É meio difícil sem ninguém pra te apoiar, não é? Não que eu queira me esconder por trás dessa desculpa, mas eu deveria ter me esforçado mais, então agora eu quero que as outras pessoas consigam. Você acha que eu gosto de ver esses trailers aqui cheios de gente? Não, claro que não, mas enquanto estiverem aqui, eu vou dar o meu melhor. - Voight suspirou pesado - Alguém quer se matricular em algum curso? Opa, eu pago com o maior prazer! Alguém precisa de algum remédio ou sei lá? Eu também pago com o maior prazer. Esse é o meu trabalho aqui e eu não sei bem como sair disso sem deixar todo mundo na mão.
- Voight, eu...
- Acho que atualmente não existe um sistema sequer que não esteja quebrado, e digo isso generalizando mesmo, no mundo todo até. E solução? Sendo franco, acho que nem tem mais solução. Acho que só viria com muitos bilhões de libras, euros, dólares ou sei lá, gastos organizadamente, com um governante de alto nível e humano, uma imensa vontade política de mudar tudo de verdade, crescimento econômico, revolução na educação e mais uma porrada de coisa. Teria de haver comunicação de verdade, entende? Mudança psicossocial na estrutura do mundo, nem só do país, e isso eu acho que já não dá mais, ou seja, não há solução.
Eu quase precisei me lembrar de respirar novamente. Eu estava totalmente em choque porque foi algo cruel, infeliz e... sensato de se ouvir. Me doeu de verdade, pois Voight demonstrava uma insatisfação e tristeza sem tamanho e por mais que eu entendesse seu ponto, aquilo era cruel demais até pra ele.
- O mundo realmente tá uma bagunça, mas então se são todos maus, se o futuro está condenado, se as chances das coisas mudarem pra melhor são mínimas, qual o sentido de tudo? Da vida? De viver? - questionei de uma vez, observando um sorrisinho bem divertido se formar nos lábios de Voight.
- A gente precisa continuar, não é? - ele abriu o sorriso de vez, e embora seu rosto denunciasse cansaço, seu sorriso era completamente sincero e cheio de carinho.
- E você precisa descansar, não é? - arqueei as sobrancelhas, dando uma risada fraca e me levantando, e Voight fez o mesmo. Não pensei duas vezes e o abracei de uma vez, sentindo sua mão afagar minha cabeça por longos segundos, murmurando um "boa noite" no meu ouvido antes de me soltar.
Saí dali e fui direto pro meu trailer, onde coloquei meu pijama e escovei meus dentes, prontinha pra deitar e dormir, mas estava inquieta demais. A conversa com Voight tinha dado um giro na minha cabeça. Saí com passos firmes, batendo na porta de , que foi aberta rapidamente, revelando o homem mais lindo do mundo com o cabelo bagunçado, só de bermuda.
- Aconteceu alguma coisa? - ele me deu espaço pra entrar, mostrando preocupação.
- Não, é que... Posso dormir aqui com você hoje? - fui direto ao ponto, apertando os olhos no mesmo instante e logo ouvindo a risadinha suave dele invadindo os meus ouvidos.
's POV
Devo ter ficado uns 5 minutos olhando dormindo antes de sair do trailer e ir até o escritório. Ela contou da conversa com Voight e por algum motivo aquilo fez minha raiva quase que sumir, e pra ser sincero, se não tivesse me controlado, eu provavelmente explodiria com Voight pela milésima vez e também não daria em merda nenhuma como sempre. Na real, por mais que eu sinta que muita coisa é ocultada, Voight tem responsabilidades demais e eu quase nunca paro pra pensar em como isso deve pesar.
- Ei. - dei uma batida fraca na porta que já estava aberta, chamando sua atenção - Será que tem como você ligar pra o meu pai? Preciso falar com ele. - eu sempre me sentia ridículo pedindo aquilo, mas dessa vez eu só senti nervoso, como se um buraco de sensações estivesse na boca do meu estômago me engolindo aos poucos.
- Claro. - Voight me encarou por longos segundos antes de pegar o celular, iniciar a ligação e se levantar, me entregando o aparelho - Vou estar ali fora.
Não demorou muito até meu pai atender e ele tentar embarcar numa conversa normal, como se tudo estivesse absolutamente bem.
- Pai, você precisa me escutar! - falei alto, provavelmente o assustando, já que ele calou a boca no mesmo segundo.
- Aconteceu alguma coisa?
- É claro que aconteceu! Eu tô sendo ameaçado de morte pelo Paul, e sabe o pior? É que nem você e nem Voight me falaram sobre isso, eu descobri por outra pessoa! - esbravejei de uma vez.
- Quem?
- Não importa quem! Você por acaso ouviu o que eu disse? - retruquei já impaciente.
- , eu...
- Eu tenho 26 anos, eu posso lidar com a verdade, seja lá qual for, eu só não aguento mais as coisas acontecendo por aqui e não poder fazer nada. Eu parei a minha vida toda e agora tô aqui, eu mereço pelo men...
- ! - ele gritou - Me escuta! Eu sinto muito por tudo isso, me desculpa não te ligar pra conversar sobre todas essas coisas, mas é que está tudo muito complicado. Eu estou fazendo de tudo pra ajeitar toda essa situação, eu só preciso de mais um tempo! - sua voz claramente denunciava uma puta aflição.
- Eu preciso que você me deixe te ajudar, só isso!
- Filho, não tem como, de verdade! Eu sinto muito mesmo por tudo, eu te juro que vou consertar essa bagunça! - eu podia idealizar sua expressão apavorada e isso me atingiu de maneira absurda - E por favor, eu sei que é difícil, mas você precisa seguir de cabeça erguida, está bem? Se você pensar que todo mundo é um inimigo por aí, então inimigos são tudo o que você vai encontrar, então por favor, não se entregue à isso! Essa confusão toda é minha e eu que vou consertar!
Eu sempre gostei de pensar que a melhor maneira de acabar com um pingo de dúvida é receber uma inundação de verdade, mas a real é que eu nunca a tenho. Eu tenho meu pai se lamentando por essa grande confusão e isso me mata porque eu o conheço, ele jamais faria algo que colocasse a nossa família em perigo de propósito, mas a essa altura, eu já não sei mais o que pensar. É de tempo que ele precisa, mas o mesmo tempo que cura, também machuca. O tempo também destrói, separa e muda. O tempo leva e traz, e tudo o que eu preciso é que ele me traga uma resposta exata.
's POV
Eu tento ter um equilíbrio da minha própria bagunça, de verdade. Eu sei que coisas ruins não duram pra sempre, assim como as boas, embora eu me esqueça disso o tempo inteiro. Eu vivo em busca de me sentir viva e, de verdade, eu não sabia que estar montada numa moto com os braços entrelaçados no corpo do homem mais lindo que eu já vi da vida me traria tanto dessa sensação.
Descemos da moto e BayRide, o lugar que Cohen corria e estava tendo festa já estava cheio de gente. Pessoas sentadas no capô do carro mesmo, outras em pé e outras em cadeiras com mesinhas de madeira montadas. Estava um clima agradável.
- Não acredito que tô vendo isso. - estava caminhando ao meu lado e começou a gargalhar alto.
- O que foi? - observei o lugar que ela estava olhando também, tentando adivinhar.
- Camiseta com o nome da sua gangue? Que coisa brega, meu pai amado! - ela respondeu em meio as risadas ridiculamente engraçadas e eu finalmente notei bem o grupo de pessoas com camisetas iguais escrito "Crips". Cohen, Scott e até mesmo fizeram altas palhaçadas em relação à isso.
Nos sentamos em uma das cadeiras com mesinhas de madeira. Cohen pegou cerveja pra todos nós, até pra Grant, que tinha chegado um pouco depois de nós. Embarcamos em assuntos totalmente aleatórios, Scott comentou sobre estar pensando em voltar pra faculdade e eu me surpreendi ao ouvir comentando sobre o mesmo também, dizendo que também queria voltar. Sinceramente, ele merecia ter uma vida com menos complicações pra voltar a viver os próprios sonhos.
Grant era extremamente engraçado e as conversas sérias não duraram muito tempo. Alguns amigos de Cohen se juntaram a nós e eu estava me sentindo bem até demais. Pessoas divertidas e com um papo bom em um lugar que eu nem esperava encontrar. Passamos literalmente horas conversando e por incrível que pareça, o lugar só enchia mais.
perguntou se alguém queria algo da pequena lanchonete que tinha ali e e Cohen pediram batatas fritas. Me levantei pra ir com ele, sorrindo feito boba.
- Você tá sorridente hoje. - comentou de maneira engraçada.
- Coisa doida, não é?
- Eu gostei. Felicidade cai bem em você, . - ele abriu um sorriso lindo, passando o braço pelo meu ombro e me dando um beijinho gostoso na bochecha.
Certeza absoluta que um dia eu ainda me derreto de verdade por esse homem.
Estávamos em frente à lanchonete e abriu a porta para que eu entrasse primeiro.
- ! - alguém disse o sobrenome de tão alto que ele parou no mesmo instante, com metade do corpo pra dentro da lanchonete, mas desfez seus passos e voltou pra o lado de fora e eu fiz o mesmo.
- Sim? - retrucou entre sério e confuso, e por alguma razão, sua resposta foi recebida a risos.
Merda.
- Eu estava morrendo de vontade de falar com você, sabia? Te dar os parabéns por manchar ainda mais a reputação dos The Lions. - um homem alto, de olhos claros e cabelos castanhos escuros disparou aquilo de uma vez, com as duas mãos pra trás e uma pose durona, como se nada o abalasse.
- O que foi que você disse? - estreitou os olhos e eu observei rapidamente seus pulsos se fechando no mesmo instante. Dei os pequenos passos que faltavam até ficar completamente ao seu lado, pronta pra puxá-lo dali.
- Isso mesmo, bro. Ter alguém dos Ghosts vendendo drogas no território dos The Lions foi podre demais, e pior ainda foi saber que tudo isso foi por sua causa, afinal, Voight só está te protegendo, não é? - o tom debochado, provocativo e destemido do homem me apavorou porque porra, não tinha como evitar, a merda já estava feita.
Segurei firme na mão de , balançando a cabeça negativamente, pedindo com o olhar pra ele não fazer aquilo, mas a verdade é que eu mesma também queria fazer. E óbvio, Paul deve ter começado a espalhar aquilo aos quatro ventos, afinal, tudo o que ele mais gosta é da humilhação de Voight e dos The Lions em geral.
observou cada um dos outros quatro homens que estavam juntos ali e sua mão foi tão forte num soco certeiro no rosto do homem que começou aquilo que eu mesma me assustei. Um dos quatro homens segurou e eu estava pronta pra voar nele.
- Eu sou o protegido? Tem certeza? Seus amiguinhos precisam me segurar pra te proteger pelo visto, não é? - debochou junto com uma risada totalmente sem humor, mas que serviu pra o rosto do homem se transformar totalmente em raiva pura.
- Solta ele! - o homem ordenou e foi solto.
Não demorou pra uma multidão se formar em volta. Eu já tinha visto com raiva, mas não com TANTA raiva. Ele não dava espaço e nem tempo pra o homem se recuperar ou tentar se defender, porque seus golpes eram rápidos demais. O tanto que esmurrava o homem sem dó era tão satisfatório quanto preocupante. Cohen e Scott praticamente voaram até aquele meio e puxaram o corpo de , que mesmo estando quase intacto, estava claramente descontrolado. Os outros quatro amigos do homem o ajudaram a levantar com a cara fechada. Eu me sentia paralisada, mas a decepção e raiva que estavam no olhar de me doeu de verdade.
Os últimos dias foram complicados justamente por ele estar se sentindo inútil por não poder ajudar o pai em nada. Me ofereci mil vezes pra ajudar no que ele precisasse, mas a verdade é que ele ainda nem sabe o que pensar, e ter gente debochando e o culpando por coisas que não eram sua culpa era tudo o que ele não precisava.
- Você continua sendo um merda, ! - o homem gritou cheio de raiva, cuspindo sangue. ainda estava sendo segurado por Cohen e Scott, mas virou o rosto atentamente, mas eu já não aguentava mais aquilo. Ele não merecia ouvir mais - Eu teria vergonha de...
O homem não terminou a frase.
Os olhares surpresos e alguns gritos foi o que me trouxe de volta à realidade depois de ter dado um soco na cara dele. Um soco de verdade.
- Cala a merda dessa boca! - gritei de forma grosseira e desesperada, sentindo alguém puxar meu corpo de uma vez. Era .
A gritaria aumentou quando saímos de vez daquela roda. As pessoas tinham gostado daquilo.
- Porra, você deu um soco nele! - Grant falava aquilo numa animação e surpresa absurda e eu até ri, assim como todos nós, menos .
- Melhor irmos embora, não tem mais clima. - Cohen disse.
Não precisava de palavras, de verdade. me dizia muito com seu olhar ainda cheio de raiva e decepção, e me doía ainda mais, porque não era algo que ele se livraria socando alguém, infelizmente. Nos despedimos rapidamente das pessoas que conversaram com a gente durante horas e caminhamos até onde estavam as motos.
- ... - murmurei baixinho.
- Agora não, . - respondeu ríspido, me entregando o capacete.
Eu não reclamei e nem podia. tinha o direito de estar chateado. Subi na moto e o abracei do mesmo jeitinho, esperando que aquilo o confortasse, mas a última coisa que eu vi foi Grant pegando algo da mão de alguém discretamente enquanto o esperava do outro lado da rua. Cerrei os olhos pra confirmar que não era loucura minha e que sim, muito provável que eram drogas.
Custou muito, muito mesmo pra me dar o endereço do galpão de Paul. Óbvio que ela foi junto, dizendo que não me deixaria fazer nenhuma besteira, mesmo Scott e Cohen estando junto também. Acontece que de nada adiantou, nada mesmo. Já não tinha nem um rastro sequer de Paul e o galpão estava completamente vazio. Simplesmente não tinha mais nada, tudo se foi da noite pro dia. Ninguém nem abriu a boca durante a volta. Todos no carro sabiam que eu precisava pelo menos tentar pensar, e estava tudo uma bagunça, nada parava no lugar certo.
Ser melhor, ser superior, ser mais rico, ser mais bem sucedido. Sempre mais. É tudo o que querem, mesmo sem precisar, em absolutamente todas as áreas e em todos os sentidos. Paul queria mais poder e estava tendo, e pior, ele gostava da angústia, sofrimento e sacrifícios alheios. Ele gostava da sensação de simplesmente poder ter tudo aquilo. Era um momento crítico e eu precisava pensar em absolutamente todos os lados e em todas as possibilidades.
Meu pai... Sempre honesto, sempre bom, nunca deixou a família pra trás, sempre atencioso. Como esse rolo se tornou algo tão grande a esse ponto? Eu precisava saber da verdade.
- . - Cohen chamou me atenção assim que saímos do carro, provavelmente sabendo o que estava prestes a acontecer - Vai com calma! - ele pediu tranquilo e eu sorri fraco.
e Scott me olhavam nervosos mas não disseram nada. Continuei a andar de maneira rápida até o escritório, entrando de uma vez já que a porta estava aberta, encontrando Voight entretido em algo no celular, mas logo subiu o olhar quando notou minha presença.
- Aconteceu alguma coisa? - ele disparou de maneira preocupada, provavelmente notando certa angústia em meu olhar ou algo do tipo. Voight era esperto. Respirei fundo e me sentei, totalmente controlado, embora meu interior estivesse totalmente o contrário.
- Você está trabalhando pra Paul por minha causa, não é? - ele estava pronto pra vir com um discurso enorme e eu sabia, mas arqueei uma sobrancelha e isso foi o suficiente pra Voight entender que eu não estava focado naquilo, então continuei - Meu pai sabe disso? Você contou que Paul ameaçou me matar? - assim que terminei, o olhar de Voight pousou sobre mim da maneira mais perdida que eu já tinha visto em meses ali.
- ...
- Só responde. - insisti ríspido.
- Ele sabe. - o jeito derrotado que Voight respondeu me respondeu mais coisas do que eu havia perguntado e aquilo pesou de maneira absurda. Me levantei no mesmo instante, me segurando pra não explodir.
- Eu fui ameaçado e nem assim ele apareceu? Ou ao menos falou comigo sobre isso? - gritei, mesmo sem querer, já alterado pela raiva, mas Voight realmente parecia perdido e tudo o que eu queria era socar algo - Fala pra ele me ligar. - pedi nervoso, pronto pra sair dali e saí.
——
Eu e tivemos uma longa conversa sobre meu pai enquanto tomávamos conta das ruas. Incrível que, mesmo sem eu precisar dizer, ela sabia que a única coisa que eu precisava era ser ouvido, não tinha muito o que fazer, então pra me distrair, começou a tagarelar sobre vários assuntos diferentes, sendo o último deles sobre como estava animada com a relação com Grant e blá blá blá, até que ela foi se calando. Ou pelo menos eu achei que ela estava se calando.
- ! - sua voz saiu num grito atento e eu voltei pra realidade. Mais uma vez, estava voando com o carro e isso a assustou e eu só confirmei quando me virei pra encará-la, totalmente assustada.
- Desculpa! - desacelerei aos poucos, parando o carro de uma vez em frente à uma casa qualquer.
- Olha, eu sei que é uma situação complicada, mas você precisa manter a cabeça no lugar. - tirou o cinto e se arrastou um pouco mais pro lado, ficando mais próxima a mim e colocou uma de suas mãos em meu rosto, fazendo carinho.
Eu posso morrer em seus olhos claros, real!
Acabei com toda a distância entre nós, num beijo desesperado. Por incrível que pareça, sempre melhorava. O jeito que nossas bocas se encaixavam e se exploravam era simplesmente inexplicável de verdade. tinha tudo ali, tudo mesmo, desde inocência até um ponto selvagem que era o meu favorito. Ela era e podia ser o que quisesse.
desceu uma de suas mãos pelo meu peitoral ainda coberto pela camiseta e eu sabia muito bem onde sua mão iria parar. Ela interrompeu o beijo e encostou nossas testas, olhando fixamente em meus olhos, sem um pingo de vergonha. Eu amava isso nela!Sua mão finalmente tombou até meu pênis já duro e o apertou de leve por cima da calça, e de um jeitinho totalmente malicioso, mordeu o lábio inferior.
- Porra... - resmunguei, relaxando meu corpo um pouco mais enquanto ela apertava novamente, dessa vez mais forte.
- Eu posso te distrair pelo menos, o que acha? - e lá estava, aquele olhar totalmente danado e cheio de malícia.
Eu seria louco se dissesse que não. era do tipo que toparia tudo em qualquer lugar e eu estava totalmente disposto a isso. Tirei alguns segundos pra ficar ali, babando por ela, e logo em seguida dei um selinho longo em seus lábios, voltando a ligar o carro.
- Tenho o lugar ideal pra esse momento. - sorri cheio de malícia e a garota riu, ainda com a mão em meu membro, como se estivesse o protegendo de algo.
Acelerei rápido até um beco não tão longe. Era totalmente discreto e claro que ninguém passaria por ali às duas da manhã. Assim que parei o carro de vez, analisei bem a garota ao meu lado e sorri satisfeito ao ver que ela estava de vestido. Eu tirei o cinto e segurei firme na sua mão que ainda estava em cima do meu pau e a tirei dali. Olhei firme pra garota e nossos olhos conversavam mais que nossas bocas. Coloquei o banco o mais pra frente possível e pulei pro banco de trás, observando fazer o mesmo. Era um aperto desgraçado mas essa era a melhor parte. sentou em meu colo de frente pra mim. O vestido azul claro não era tão colado mas marcavam de leve seus seios e levei minhas mãos até ali com vontade, os apertando. jogou a cabeça pra trás e apertou as pernas contra as minhas, num encaixe totalmente perfeito, a única coisa que nos atrapalhava ainda eram nossas roupas. Levei uma mão totalmente atrevida até a barra do vestido e subi com ele, segurando em sua calcinha, dedilhando o caminho até sua virilha. era puro fogo e por mais que eu quisesse que as coisas fossem mais lentas para poder aproveitar mais, eu não me aguentava. Eu era desesperado por ela.
Apertei seu clitóris por cima da calcinha de surpresa, arrancando um gemidinho assustado da sua boca que logo foi se transformando em prazer. Me concentrei ali, naquele ponto que a fazia apertar os olhos de prazer e sem aviso nenhum desci com um dedo até sua intimidade por dentro da calcinha, sorrindo assim que notei o quão molhada ela já estava.
- ... - ela resmungou e arqueou o corpo assim que notou meu dedo em sua intimidade mas logo se forçou pra baixo, me fazendo a invadir de uma vez.
Porra, que mulher!
Ela me deu o olhar mais pidão e irresistível até então e senti que meu pau iria explodir dentro da calça. Enlacei sua cintura com minhas mãos, saindo de dentro dela completamente e beijei seu pescoço, ouvindo a garota resmungar algo que não consegui identificar. Ela percebeu minha pressa e logo se ajustou, levando o corpo um pouco mais pra frente e se livrando da calcinha enquanto eu abaixava minha calça jeans com a boxer. Ela tinha se virado completamente, ficando de costas pra mim, mas virou o rosto ainda com o olhar pidão e agora desesperado, me arrancando um sorriso cheio de segundas intenções.
- Eu vou te foder aqui e agora. - puxei sua cintura de leve e ela mesma segurava o vestido, me dando visão total dela vindo pra mim de modo sedento.
segurou meu pau e se encaixou ali de uma vez, sem dificuldade nenhuma por estar bem lubrificada mas ainda assim soltou um gemido alto. Murmurei algo quando senti suas intimidade me invadindo de modo quente e certeiro. quicava em mim sem pudor algum e de maneira rápida, segurando nos dois bancos da frente. Dei um tapa levemente forte em sua bunda e um grito de prazer saiu da sua boca. Não satisfeito, puxei de leve seu cabelo e senti a garota estremecendo. Ela sentava em mim da maneira mais sexy e gostosa que eu já tinha visto na vida. Soltei seu cabelo, levando uma das minhas mãos até sua intimidade, esfregando meus dedos na sua vagina molhada e quente. Friccionei dois dedos em seu clitóris e um gemido mais alto ainda saiu da sua boca. subia e descia ainda mais rápido enquanto eu fazia movimentos circulares ali.
- Porra, ! - ela gemeu meu nome de maneira única e eu fui no céu e voltei.
Ainda com uma mão em sua intimidade, com a outra forcei o seu corpo pra baixo, fazendo sua vagina engolir meu pau por longos segundos. Nossos gemidos se misturavam loucamente. Comecei a estocar forte e rápido, ainda me dedicando ao seu clitóris.
- Eu não me canso de você, ! - falei quase falho entre nossos gemidos, apertando seu clitóris de uma vez, sentindo as pernas da minha garota perdendo força.
- Eu to quase... - ela alertou numa voz manhosa.
Ela começou a acelerar, rebolando em mim de maneira frenética, explodindo de uma vez. Bati com a cabeça do meu pau em seu clitóris e passei ele por sua intimidade, sentindo o seu líquido ali. O corpo dela estava em total êxtase e a respiração totalmente descompassada. Seu corpo caiu pra trás e ficou ali por alguns segundos, até que olhou para mim de canto e logo virou seu corpo todo, ficando no meu colo de frente pra mim. Seu olhar já cansado não a impediu de puxar minha nuca e encaixar nossos lábios em um beijo intenso. mordeu de leve meu lábio inferior, encostando nossas testas.
- Quantas vezes você quiser, quando você quiser e onde você quiser. Agora... - a garota me encarava com os olhos beirando a luxúria, segurando firme meu membro e se encaixando ali novamente - Sua vez. - ela sussurrou e apertou os olhos, começando a se movimentar em mim novamente.
segurava em meus ombros, se forçando em mim a cada segundo de maneira única, me deixando louco. Minhas mãos percorriam pelas suas costas e assim que cheguei em sua lombar, a garota empinou a bunda pra mim e ainda deu um sorriso safado.
- Boa garota. - sorri satisfeito, encostando minha cabeça no banco de uma vez e sentindo aquela beleza cavalgando no meu pau.
A garota rebolava e quicava em mim de maneira selvagem. Dei mais um tapa forte em sua bunda. Ela estava tão quente, tão molhada, que eu apenas fechei os olhos para aproveitar aquela sensação gostosa. Sua intimidade se apertava em mim e eu gemi abafado assim que senti que estava prestes a gozar. Agarrei em sua cintura novamente, a fazendo parar e comecei eu a estocar com força e fundo, totalmente alucinado por todas as sensações que nosso sexo me proporcionava. Meti mais rápido e me abraçou, sabendo que eu estava próximo a gozar ali mesmo dentro dela. Mais algumas estocadas rápidas e fortes, sentindo meu pau deslizando nela de maneira apertada, então meti mais rápido ainda, sentindo meu gozo finalmente sendo liberado. Abracei forte assim que ela saiu de dentro de mim mas continuou no meu colo. Nossas respirações demoraram minutos até se controlarem e eu puxei o queixo de com gentileza, encarando aquele rostinho danado.
- Tá mais calmo? - ela tombou a cabeça pro lado num jeito que quase manhoso, ainda com vestígios de malícia no olhar e eu gargalhei.
Os cabelos bagunçados, a boca vermelha e inchada, o vestido desarrumado e o olhar lotado de informações. me dava tudo e mais um pouco. Ela mesma disse: a qualquer hora, em qualquer lugar, e quantas vezes eu quisesse.
Eu queria sempre.
Eu sempre vou querer. Seja um sexo mais tranquilo ou algo mais sujo, mas não só por isso. Repetindo: me dá tudo e mais um pouco. Eu preciso ser cuidadoso.
's POV
Minha mãe estava prestes a pegar mais uns anos de cadeia pelo seu olhar raivoso. Ela queria me matar e eu sabia.
- Você acha que só porque eu estou presa pode sair fazendo essas babaquices? Porra, filha! Você ficou doida? - ela explodia baixo, afinal, não podia rolar muita gritaria durante as visitas e essa foi a minha sorte.
Em minha defesa, eu precisei contar. Eu precisava saber de onde Paul a conhecia e eu precisava contar a história inteira. E ok, provavelmente ela o conhecia já que estava há anos com Voight, mas só de lembrar de Paul falando sobre o quanto eu me pareço com minha mãe... Os arrepios vem, e não de maneira boa. Tinha algo nele, na voz, em tudo.
- Eu não fiz por mal, e não mude de assunto! Eu só te contei porque quero saber de onde você conhece o Paul, você nunca me contou que o conhecia! - disparei de uma vez e no mesmo instante minha mãe ficou desconcertada e arregalou os olhos.
- E-eu... ... Olha... - foi a minha vez de arregalar os olhos, sentindo aquilo como um choque. Não precisava ser um gênio pra decifrar aquilo.
- Mãe! Desde quando você o conhece? - chamei sua atenção em um leve desespero.
- Desde quando eu conheci Voight, oras! - ela respondeu de modo ridiculamente nada convincente e logo segurou em minhas duas mãos com força - Presta atenção no que vou te dizer, ok? Paul é uma pessoa terrível e eu sei que você sabe disso, mas sempre espere o pior, está me ouvindo bem? Em todos esses anos eu só vi ele fazendo estrago, então por favor, não se meta, não se aproxime e nem pense em fazer qualquer outra coisa que envolva ter ele perto de você, escutou bem?
——
- Ela ficou estranha quando perguntei sobre Paul, deu pra perceber de longe o nervoso dela, fora que ela implorou pra que eu fique longe de qualquer coisa que me leve à ele. - expliquei de uma vez, observando e , que estavam atentos a mim.
Estávamos todos no estúdio, tinha nos convidado pra passarmos um tempo juntos. Cohen e Scott tinham saído pra comprar lanches e embarcamos num assunto sobre Paul, e logo falei como tinha sido a conversa com minha mãe.
- Ok, temos duas opções aqui. Ou tia Leah só está realmente preocupada, afinal, ela conhece Paul há anos e já ouviu muitas histórias, ou talvez também tenha um pouquinho a mais por trás dessa preocupação toda. - comentou séria, mas logo deu um suspiro mais tranquilo - De qualquer forma, eu não estou pronta pra nenhum drama desse tipo. Ou de nenhum outro. - ela finalizou com um sorrisinho maroto e eu ri.
Ninguém estaria pronto pra qualquer drama desse tipo mesmo, e pensar nisso me trazia um peso horrível.
- Você acha que pode ter algo a mais por trás disso? - perguntou com cuidado.
- Não sei o que pensar. - fui sincera.
Cohen e Scott chegaram com os lanches e com suas palhaçadas. Eles até perguntaram sobre Grant e desmanchou ao falar dele. Minha amiga realmente estava apegada ao rapaz. Cohen também nos convidou pra um tipo de festa que teria no lugar que ele apostava racha. Não teria corrida, apenas a gente, um som alto e bebidas ao ar livre.
Saímos do estúdio depois de horas de conversa com direito a tocando varias e varias musicas no violão e a gente fingindo que sabia cantar bem como ela. colocou Tupac pra tocar e cantamos juntos por longos minutos, e foi nisso que me encantei por ele pela trigésima vez. A expressão tranquila que ele tinha no rosto era algo impagável e era só aquilo que eu queria ver, mas não durou muito.
- Que merda é aquela? - deu uma freada brusca com o carro, fazendo nossas corpos irem pra frente até certo ponto graças ao cinto. Ele me olhou rapidamente com os olhos arregalados de quem pede desculpa com o olhar.
Olhei pra onde ele olhava e franzi a testa confusa. Não estávamos na melhor parte do bairro, mas aquele tipo de coisa não rolava ali, não daquele jeito. O homem claramente estava vendendo drogas pra dois rapazes que não aparentavam ter mais de vinte anos, e assim que ameaçou sair do carro, segurei firme em sua camiseta.
- Não! - olhei séria pra ele, quase que ameaçando ele a me desafiar, mas não o fez.
estacionou o carro no fim da rua, mas ainda tínhamos visão perfeita do homem. Peguei meu celular e liguei pra Voight, que atendeu no terceiro toque. Expliquei a situação e recebi um "já estou indo" cheio de raiva, já denunciando que aquilo não era bom sinal. Algo estava acontecendo.
- Então? - arqueou as sobrancelhas.
- Voight está vindo pra cá. - dei um longo suspiro, observando apertar o volante com raiva - ... - chamei sua atenção, recebendo um olhar também raivoso, e óbvio que ele sabia que algo estava acontecendo também.
Foram minutos que pareciam não ter fim até Voight chegar correndo com o carro e começar a conversar com o tal homem. praticamente saltou do carro, se aproximando dos dois como se aquilo fosse algo relacionado à ele também e só me restou fazer o mesmo. Voight questionava de maneira raivosa e nada amigável o que o tal homem estava fazendo ali.
- Eu só cumpro ordens, cara. - o homem respondeu num tom debochado, e por um segundo eu pensei que Voight quebraria o mesmo na porrada, mas não, muito pelo contrário.
Pela cara de Voight, ele explodiria de ódio a qualquer segundo, mas a única coisa que ele fez foi recuar de volta até seu carro e eu e o seguimos confusos.
- O que foi isso? - questionou.
- Terminem o horário de vocês e pronto. E se eu souber que você mexeu com esse cara aí, você vai se ver comigo! - Voight apontou rapidamente pra o homem que continuava encostado num muro, nos encarando de longe com um olhar vitorioso.
- Quem é esse? - foi a minha vez de questionar, mesmo sabendo que Voight ainda estava bravo comigo e que as chances de ter uma resposta eram mínimas.
Ele não respondeu, apenas entrou dentro do carro e acelerou feito um doido. Respirei fundo um pouco atordoada, observando encarando feio o homem que ainda nos encarava também e não pensei duas vezes em entrelaçar meu braço no seu, dando passos fortes até o nosso carro. Foi a minha vez de encarar de maneira feia, como se fosse uma ameaça, e por algum motivo funcionou bem. Entramos no carro, e assim que ele estava pronto para virar a chave e ligar o mesmo, segurei firme em sua mão.
- O que foi?
- Eu te conheço! Você vai ligar o carro, correr feito um maluco, chegar lá e gritar com Voight perguntando sobre quem é aquele homem, porque eu sei o que você já está pensando, que aquele cara é algum mandado do Paul. - respirei fundo, encarando o homem ao meu lado quase que sem piscar. parecia um tanto quanto chocado, prestando atenção total em mim - Eu sei que tudo o que Paul anda fazendo é reflexo do que aconteceu, e infelizmente seu pai está no meio dessa confusão, e pior ainda, você também, mas você não pode enlouquecer por tudo o que Paul faz, está me ouvindo? - apertei sua mão de leve e a mesma se soltou da chave. Entrelacei nossos dedos, me aproximando um pouco mais dele, encostando nossas testas e dando um selinho demorado em seus lábios.
- ...
- Você sabe que tudo o que eu falei é verdade. A gente pode até ir embora agora, mas berrar e surtar com Voight não vai te dar muitas respostas. - dei um sorrisinho fraco, passando minha mão em seu rosto de maneira gentil.
sorriu de leve e eu senti meu coração quase explodir. Ele ligou o carro e não, nada de correr feito um doido em alta velocidade. Assim que o carro parou novamente, ele puxou meu queixo, me dando um beijo rápido porém intenso, como sempre era. Assim que descemos, ele foi direto pra o trailer e aquilo me surpreendeu de verdade. Minha conversa realmente tinha funcionado. A luz do escritório ainda estava acesa e a cortina aberta, mostrando Voight de cabeça baixa. Dei passos rápidos até abrir a porta que estava destrancada, me dando a total liberdade de fechá-la novamente e sentar ali em sua frente. Seu olhar se ergueu, observando cada movimento meu e com um olhar de quem já esperava algum discurso, mas as palavras fugiram e eu só fiquei ali, parada, o olhando feito besta.
- ? - Voight estalou os dedos em frente aos meus olhos, me chamando a atenção.
- Paul já te fez algo? - aquilo saiu de uma vez o Voight fez uma careta quase que engraçada em confusão, buscando algum tipo de sentido na minha pergunta. Chacoalhei a cabeça e espalmei as minhas mãos no ar - Digo, eu sei que vocês são inimigos, acho que todo mundo nesse planeta deve ser inimigo dele, mas com você, com a sua pessoa, ele já fez algo? - reformulei minha pergunta, esperando que ela fizesse sentido.
- Que pergunta é essa?
- Não tem um jeito de acabar com isso de uma vez? Não tem como fazer um acordo ou sei lá? Aquele homem vendendo drogas foi mandado por ele, não foi? O que ele quer com isso? Eu sei que você ainda está bravo comigo, mas não vai ficar assim pra sempre, então sei lá... Só me responde, por favor. - disparei tudo de maneira desesperada e me vi desesperada quase que literalmente, com a respiração acelerada e tudo.
- É um conflito de interesses tão grande que eu nem tenho palavras para descrever. Tem espaço pra todo mundo, mas ele não tá nem aí. - abri a boca surpresa por Voight estar falando de verdade.
- Aquele homem... - forcei mais um pouco, realmente queria saber.
- É provocação, . Querendo ou não, eu não tenho muito o que fazer, você sabe. - Voight me lançou um olhar óbvio, se referindo à . Passei a mão pelos cabelos, soltando um grunhido nervoso baixo.
- Mas não tem nada a ver com isso! - resmunguei baixo, sentindo um peso enorme me invadir.
- Ele também não tá nem aí pra isso, . - Voight encostou o corpo todo em sua cadeira, dando um suspiro longo e audível, me olhando de maneira sentida - As vezes eu entendo, sabe? É fácil se deslumbrar com poder. Eu lembro quando comecei. Eu era pobre e invisível, e hoje em dia eu tenho até negócio com a polícia. - ele disparou numa espécie de desabafo repentino e no mesmo instante meu cérebro se alertou. Arregalei os olhos de leve, surpresa com aquilo, mas precisava aproveitar o momento. Voight nunca falava sobre tal assunto comigo.
- E o que você acha que tem de diferente entre você e Paul? - arrisquei a pergunta.
- É basicamente tudo relacionado à grana. A gente hoje tem, mas ele quer sempre mais, enquanto a única coisa que eu quero é ajudar todo mundo que mora aqui. - sua resposta saiu da maneira mais crua e honesta, e não precisei de esforço nenhum pra notar o remorso em sua voz por trás de sua frase. Voight claramente tinha suas culpas também.
- Por que você está aqui, nessa vida? - questionei baixinho, cuidadosa, sabendo que era um assunto delicado.
- Eu cresci nessa vida, , você sabe. Eu me arrependo de não ter tentado sair disso antes, mas você sabe... É meio difícil sem ninguém pra te apoiar, não é? Não que eu queira me esconder por trás dessa desculpa, mas eu deveria ter me esforçado mais, então agora eu quero que as outras pessoas consigam. Você acha que eu gosto de ver esses trailers aqui cheios de gente? Não, claro que não, mas enquanto estiverem aqui, eu vou dar o meu melhor. - Voight suspirou pesado - Alguém quer se matricular em algum curso? Opa, eu pago com o maior prazer! Alguém precisa de algum remédio ou sei lá? Eu também pago com o maior prazer. Esse é o meu trabalho aqui e eu não sei bem como sair disso sem deixar todo mundo na mão.
- Voight, eu...
- Acho que atualmente não existe um sistema sequer que não esteja quebrado, e digo isso generalizando mesmo, no mundo todo até. E solução? Sendo franco, acho que nem tem mais solução. Acho que só viria com muitos bilhões de libras, euros, dólares ou sei lá, gastos organizadamente, com um governante de alto nível e humano, uma imensa vontade política de mudar tudo de verdade, crescimento econômico, revolução na educação e mais uma porrada de coisa. Teria de haver comunicação de verdade, entende? Mudança psicossocial na estrutura do mundo, nem só do país, e isso eu acho que já não dá mais, ou seja, não há solução.
Eu quase precisei me lembrar de respirar novamente. Eu estava totalmente em choque porque foi algo cruel, infeliz e... sensato de se ouvir. Me doeu de verdade, pois Voight demonstrava uma insatisfação e tristeza sem tamanho e por mais que eu entendesse seu ponto, aquilo era cruel demais até pra ele.
- O mundo realmente tá uma bagunça, mas então se são todos maus, se o futuro está condenado, se as chances das coisas mudarem pra melhor são mínimas, qual o sentido de tudo? Da vida? De viver? - questionei de uma vez, observando um sorrisinho bem divertido se formar nos lábios de Voight.
- A gente precisa continuar, não é? - ele abriu o sorriso de vez, e embora seu rosto denunciasse cansaço, seu sorriso era completamente sincero e cheio de carinho.
- E você precisa descansar, não é? - arqueei as sobrancelhas, dando uma risada fraca e me levantando, e Voight fez o mesmo. Não pensei duas vezes e o abracei de uma vez, sentindo sua mão afagar minha cabeça por longos segundos, murmurando um "boa noite" no meu ouvido antes de me soltar.
Saí dali e fui direto pro meu trailer, onde coloquei meu pijama e escovei meus dentes, prontinha pra deitar e dormir, mas estava inquieta demais. A conversa com Voight tinha dado um giro na minha cabeça. Saí com passos firmes, batendo na porta de , que foi aberta rapidamente, revelando o homem mais lindo do mundo com o cabelo bagunçado, só de bermuda.
- Aconteceu alguma coisa? - ele me deu espaço pra entrar, mostrando preocupação.
- Não, é que... Posso dormir aqui com você hoje? - fui direto ao ponto, apertando os olhos no mesmo instante e logo ouvindo a risadinha suave dele invadindo os meus ouvidos.
's POV
Devo ter ficado uns 5 minutos olhando dormindo antes de sair do trailer e ir até o escritório. Ela contou da conversa com Voight e por algum motivo aquilo fez minha raiva quase que sumir, e pra ser sincero, se não tivesse me controlado, eu provavelmente explodiria com Voight pela milésima vez e também não daria em merda nenhuma como sempre. Na real, por mais que eu sinta que muita coisa é ocultada, Voight tem responsabilidades demais e eu quase nunca paro pra pensar em como isso deve pesar.
- Ei. - dei uma batida fraca na porta que já estava aberta, chamando sua atenção - Será que tem como você ligar pra o meu pai? Preciso falar com ele. - eu sempre me sentia ridículo pedindo aquilo, mas dessa vez eu só senti nervoso, como se um buraco de sensações estivesse na boca do meu estômago me engolindo aos poucos.
- Claro. - Voight me encarou por longos segundos antes de pegar o celular, iniciar a ligação e se levantar, me entregando o aparelho - Vou estar ali fora.
Não demorou muito até meu pai atender e ele tentar embarcar numa conversa normal, como se tudo estivesse absolutamente bem.
- Pai, você precisa me escutar! - falei alto, provavelmente o assustando, já que ele calou a boca no mesmo segundo.
- Aconteceu alguma coisa?
- É claro que aconteceu! Eu tô sendo ameaçado de morte pelo Paul, e sabe o pior? É que nem você e nem Voight me falaram sobre isso, eu descobri por outra pessoa! - esbravejei de uma vez.
- Quem?
- Não importa quem! Você por acaso ouviu o que eu disse? - retruquei já impaciente.
- , eu...
- Eu tenho 26 anos, eu posso lidar com a verdade, seja lá qual for, eu só não aguento mais as coisas acontecendo por aqui e não poder fazer nada. Eu parei a minha vida toda e agora tô aqui, eu mereço pelo men...
- ! - ele gritou - Me escuta! Eu sinto muito por tudo isso, me desculpa não te ligar pra conversar sobre todas essas coisas, mas é que está tudo muito complicado. Eu estou fazendo de tudo pra ajeitar toda essa situação, eu só preciso de mais um tempo! - sua voz claramente denunciava uma puta aflição.
- Eu preciso que você me deixe te ajudar, só isso!
- Filho, não tem como, de verdade! Eu sinto muito mesmo por tudo, eu te juro que vou consertar essa bagunça! - eu podia idealizar sua expressão apavorada e isso me atingiu de maneira absurda - E por favor, eu sei que é difícil, mas você precisa seguir de cabeça erguida, está bem? Se você pensar que todo mundo é um inimigo por aí, então inimigos são tudo o que você vai encontrar, então por favor, não se entregue à isso! Essa confusão toda é minha e eu que vou consertar!
Eu sempre gostei de pensar que a melhor maneira de acabar com um pingo de dúvida é receber uma inundação de verdade, mas a real é que eu nunca a tenho. Eu tenho meu pai se lamentando por essa grande confusão e isso me mata porque eu o conheço, ele jamais faria algo que colocasse a nossa família em perigo de propósito, mas a essa altura, eu já não sei mais o que pensar. É de tempo que ele precisa, mas o mesmo tempo que cura, também machuca. O tempo também destrói, separa e muda. O tempo leva e traz, e tudo o que eu preciso é que ele me traga uma resposta exata.
's POV
Eu tento ter um equilíbrio da minha própria bagunça, de verdade. Eu sei que coisas ruins não duram pra sempre, assim como as boas, embora eu me esqueça disso o tempo inteiro. Eu vivo em busca de me sentir viva e, de verdade, eu não sabia que estar montada numa moto com os braços entrelaçados no corpo do homem mais lindo que eu já vi da vida me traria tanto dessa sensação.
Descemos da moto e BayRide, o lugar que Cohen corria e estava tendo festa já estava cheio de gente. Pessoas sentadas no capô do carro mesmo, outras em pé e outras em cadeiras com mesinhas de madeira montadas. Estava um clima agradável.
- Não acredito que tô vendo isso. - estava caminhando ao meu lado e começou a gargalhar alto.
- O que foi? - observei o lugar que ela estava olhando também, tentando adivinhar.
- Camiseta com o nome da sua gangue? Que coisa brega, meu pai amado! - ela respondeu em meio as risadas ridiculamente engraçadas e eu finalmente notei bem o grupo de pessoas com camisetas iguais escrito "Crips". Cohen, Scott e até mesmo fizeram altas palhaçadas em relação à isso.
Nos sentamos em uma das cadeiras com mesinhas de madeira. Cohen pegou cerveja pra todos nós, até pra Grant, que tinha chegado um pouco depois de nós. Embarcamos em assuntos totalmente aleatórios, Scott comentou sobre estar pensando em voltar pra faculdade e eu me surpreendi ao ouvir comentando sobre o mesmo também, dizendo que também queria voltar. Sinceramente, ele merecia ter uma vida com menos complicações pra voltar a viver os próprios sonhos.
Grant era extremamente engraçado e as conversas sérias não duraram muito tempo. Alguns amigos de Cohen se juntaram a nós e eu estava me sentindo bem até demais. Pessoas divertidas e com um papo bom em um lugar que eu nem esperava encontrar. Passamos literalmente horas conversando e por incrível que pareça, o lugar só enchia mais.
perguntou se alguém queria algo da pequena lanchonete que tinha ali e e Cohen pediram batatas fritas. Me levantei pra ir com ele, sorrindo feito boba.
- Você tá sorridente hoje. - comentou de maneira engraçada.
- Coisa doida, não é?
- Eu gostei. Felicidade cai bem em você, . - ele abriu um sorriso lindo, passando o braço pelo meu ombro e me dando um beijinho gostoso na bochecha.
Certeza absoluta que um dia eu ainda me derreto de verdade por esse homem.
Estávamos em frente à lanchonete e abriu a porta para que eu entrasse primeiro.
- ! - alguém disse o sobrenome de tão alto que ele parou no mesmo instante, com metade do corpo pra dentro da lanchonete, mas desfez seus passos e voltou pra o lado de fora e eu fiz o mesmo.
- Sim? - retrucou entre sério e confuso, e por alguma razão, sua resposta foi recebida a risos.
Merda.
- Eu estava morrendo de vontade de falar com você, sabia? Te dar os parabéns por manchar ainda mais a reputação dos The Lions. - um homem alto, de olhos claros e cabelos castanhos escuros disparou aquilo de uma vez, com as duas mãos pra trás e uma pose durona, como se nada o abalasse.
- O que foi que você disse? - estreitou os olhos e eu observei rapidamente seus pulsos se fechando no mesmo instante. Dei os pequenos passos que faltavam até ficar completamente ao seu lado, pronta pra puxá-lo dali.
- Isso mesmo, bro. Ter alguém dos Ghosts vendendo drogas no território dos The Lions foi podre demais, e pior ainda foi saber que tudo isso foi por sua causa, afinal, Voight só está te protegendo, não é? - o tom debochado, provocativo e destemido do homem me apavorou porque porra, não tinha como evitar, a merda já estava feita.
Segurei firme na mão de , balançando a cabeça negativamente, pedindo com o olhar pra ele não fazer aquilo, mas a verdade é que eu mesma também queria fazer. E óbvio, Paul deve ter começado a espalhar aquilo aos quatro ventos, afinal, tudo o que ele mais gosta é da humilhação de Voight e dos The Lions em geral.
observou cada um dos outros quatro homens que estavam juntos ali e sua mão foi tão forte num soco certeiro no rosto do homem que começou aquilo que eu mesma me assustei. Um dos quatro homens segurou e eu estava pronta pra voar nele.
- Eu sou o protegido? Tem certeza? Seus amiguinhos precisam me segurar pra te proteger pelo visto, não é? - debochou junto com uma risada totalmente sem humor, mas que serviu pra o rosto do homem se transformar totalmente em raiva pura.
- Solta ele! - o homem ordenou e foi solto.
Não demorou pra uma multidão se formar em volta. Eu já tinha visto com raiva, mas não com TANTA raiva. Ele não dava espaço e nem tempo pra o homem se recuperar ou tentar se defender, porque seus golpes eram rápidos demais. O tanto que esmurrava o homem sem dó era tão satisfatório quanto preocupante. Cohen e Scott praticamente voaram até aquele meio e puxaram o corpo de , que mesmo estando quase intacto, estava claramente descontrolado. Os outros quatro amigos do homem o ajudaram a levantar com a cara fechada. Eu me sentia paralisada, mas a decepção e raiva que estavam no olhar de me doeu de verdade.
Os últimos dias foram complicados justamente por ele estar se sentindo inútil por não poder ajudar o pai em nada. Me ofereci mil vezes pra ajudar no que ele precisasse, mas a verdade é que ele ainda nem sabe o que pensar, e ter gente debochando e o culpando por coisas que não eram sua culpa era tudo o que ele não precisava.
- Você continua sendo um merda, ! - o homem gritou cheio de raiva, cuspindo sangue. ainda estava sendo segurado por Cohen e Scott, mas virou o rosto atentamente, mas eu já não aguentava mais aquilo. Ele não merecia ouvir mais - Eu teria vergonha de...
O homem não terminou a frase.
Os olhares surpresos e alguns gritos foi o que me trouxe de volta à realidade depois de ter dado um soco na cara dele. Um soco de verdade.
- Cala a merda dessa boca! - gritei de forma grosseira e desesperada, sentindo alguém puxar meu corpo de uma vez. Era .
A gritaria aumentou quando saímos de vez daquela roda. As pessoas tinham gostado daquilo.
- Porra, você deu um soco nele! - Grant falava aquilo numa animação e surpresa absurda e eu até ri, assim como todos nós, menos .
- Melhor irmos embora, não tem mais clima. - Cohen disse.
Não precisava de palavras, de verdade. me dizia muito com seu olhar ainda cheio de raiva e decepção, e me doía ainda mais, porque não era algo que ele se livraria socando alguém, infelizmente. Nos despedimos rapidamente das pessoas que conversaram com a gente durante horas e caminhamos até onde estavam as motos.
- ... - murmurei baixinho.
- Agora não, . - respondeu ríspido, me entregando o capacete.
Eu não reclamei e nem podia. tinha o direito de estar chateado. Subi na moto e o abracei do mesmo jeitinho, esperando que aquilo o confortasse, mas a última coisa que eu vi foi Grant pegando algo da mão de alguém discretamente enquanto o esperava do outro lado da rua. Cerrei os olhos pra confirmar que não era loucura minha e que sim, muito provável que eram drogas.
Capítulo 20
's POV
Keith só parou de chorar depois que o balançou por longos minutos e colocou a chupeta em sua boca. Lydia havia dito que ele estava enjoado por conta dos dentes que estavam nascendo. Era sempre até engraçado o jeito que ela pedia pra gente cuidar do garoto, como se corresse algum risco de negarmos, mas nunca faríamos isso, até porque basicamente só tinha a gente mesmo, já que sua mãe precisou passar o dia fora pra resolver alguns problemas e não podia levar Keith.
- Acho que agora ele dorme. - pareceu realmente esperançosa, mas o bebê em seus braços claramente dizia o contrário.
- Acho que... - Keith cuspiu a chupeta, voltando a chorar - Não. - ri fraco, me levantando da única cadeira que tinha no trailer da e peguei o garoto do seu colo.
- E se a gente sair com ele? Ficar aqui não tá ajudando muito, talvez ele queira passear. - a garota sugeriu ainda esperançosa, fazendo uma careta engraçada quando o bebê chorou ainda mais alto.
Ela tinha um bom ponto. Talvez sair ajudasse em algo. Concordei e pegou a bolsa dele. Saímos a pé mesmo, tinha uma pracinha não tão longe dali, dando tranquilamente pra ir a pé, e por incrível que pareça, só de estar na rua o bebê já parecia mais calmo. Nos sentamos num banco de madeira que tinha ali, observando em silêncio as pessoas que passavam. Keith estava sentado em meu colo atento aos movimentos que passavam em sua frente. O moleque é uma graça. estava quieta, as únicas coisas que ela falava eram sobre Keith. As vezes parece que eu deixo a garota apavorada. O que aconteceu, há dois dias atrás, tinha a afastado levemente de mim, ou melhor, eu tinha a afastado.
- . - chamei sua atenção.
- Hm? - ela não me olhou, continuou com o olhar fixo em algo ou alguém.
- Você conversou com ?
- Sobre o que? - ela finalmente me olhou, com a carinha confusa.
- Sobre Grant. Vimos a mesma coisa, não foi? Sei que não comentamos sobre isso, mas... - dei um olhar firme e óbvio, tendo certeza de que ela lembraria exatamente do que eu estava falando.
- SIM! - ela respondeu energizada - Ontem eu passei o dia com ela e perguntei sobre aquilo. Ela disse que Grant usa drogas às vezes. - ela fez aspas nas duas últimas palavras e seu olhar totalmente desconfiado estava presente - Eu fui um pouco dura, mas é que não gosta muito dessas coisas mas ela tá super encantada por Grant, fiz ela jurar que não vai se meter com essas coisas, mas preciso ficar de olho!
- Vocês duas... - ri fraco e fez o mesmo.
- Você está pensando em voltar pra faculdade em breve? - a garota estava claramente insegura com aquela pergunta porque foi algo que eu disse dois dias atrás, e não tínhamos conversado sobre nada daquela noite. iria comer pelas beiradas até chegar onde queria e isso me deixou incomodado por ela. Ela é a última pessoa na vida que eu quero que fique insegura ao conversar comigo.
- Eu queria muito, mas está complicado agora, você sabe. - usei meu tom mais bem humorado, observando aquele sorriso lindo que tinha se abrir.
- É, sei bem. - ela deu um longo suspiro.
- Bem, acho que chegou a hora de falar que você dá um soco muito bem dado! - o olhar da garota praticamente se iluminou e ela explodiu em risadas, e sinceramente, não tinha como não rir junto - Obrigado por ter feito aquilo, .
- É, você também não é nada mal. - ela balançou os cabelos de maneira proposital, junto a um olhar convencido, mas logo riu novamente.
- Obrigado por me dar espaço também. Eu fui grosso com você e...
- Você estava chateado, . Eu entendo, de verdade. Paul já fez questão de espalhar essas coisas pra poder te provocar ainda mais, só que isso só te prejudica, porque ele continua intacto. É uma merda, eu sei, e você tem direito de ficar bravo, chateado, o que for, mas isso não pode te dominar, entende? - ela me interrompeu numa baita seriedade. sabia muito bem separar os momentos de fazer graça e falar sério, e por mais ridículo que seja achar isso, eu já acho raro. Muita gente só fala sem pensar ou não consegue levar certos assuntos a sério, enquanto sabia muito bem.
- Você não faz ideia do quanto eu me senti aliviado em socar aquele cara! - admitir aquilo em voz alta me trouxe uma puta sensação estranha.
- Eu sei, deu pra perceber. - ela estava sem graça, provavelmente pensando o mesmo que eu.
- Eu sei que isso não é legal em nenhum sentido. Não quero perder o controle, não quero ficar maluco por causa dessa merda toda. - respirei fundo, ajeitando Keith no meu colo, que agora brincava com o mordedor que tinha entregado pra ele.
- É difícil, .
- É sim, mas eu não sou isso. Eu tinha uma vida totalmente diferente dessa antes de vir pra cá. Não era perfeita, tinha dificuldades, mas não tinha isso tudo, entende? Não tinha alguém enchendo o meu saco e me culpando toda hora. Eu tô bem exausto, de verdade.
- Do que mais você sente falta da sua vida antiga? - perguntou cuidadosa.
- Sinto falta de mim mesmo. Sinto falta dos objetivos que eu tinha, mesmo ainda tendo eles, mas que precisei adiar. - respondi sincero, e a garota prestava atenção de verdade, não só no que eu falava, mas em cada gesto cuidadoso que eu fazia por conta do bebê no meu colo - E você, , sente falta de alguma coisa?
- Às vezes sinto falta de mim mesma também. Quem eu era quanto tinha uns doze anos. É ridículo, eu sei, mas era menos complicado. As vezes me sinto totalmente despreparada pra vida, eu questiono muita coisa e tenho poucas respostas e isso acaba comigo, então eu fico querendo voltar no tempo pra quando tudo ainda não era tão complicado assim. Mas eu sei que faz parte também, e que essas crises ainda vão me acompanhar por muito tempo, afinal, todo mundo tem isso, não é? - ela tombou a cabeça um pouco, e eu podia ver o quanto falar daquilo a deixava vulnerável, mas não de maneira ruim.
- Claro, ! - sorri feito um bobo pra garota, pronto pra continuar, mas Keith derrubou o mordedor e assim que abaixou pra pegar, fez uma carinha entre fofa e diabólica, porque fingiu com as mãos estar apertando as bochechas do menino - O que foi?
- Ele tá cochilando! Calma, não se mexe! - ela pegou o celular no mesmo instante, tirando varias fotos e me mostrando com animação.
Decidimos voltar, afinal, era desconfortável pra Keith dormir muito tempo no colo e desconfortável pra gente carregá-lo, já estava um bebê pesado. Passamos no mercado rapidamente pra comprar nosso almoço, e assim que chegamos, ajeitou sua cama e deitei o garoto que dormia tranquilo.
- Finalmente!
tirava das sacolas as coisas que compramos e colocava nos pratos.
- Você... - me entregou o prato, caminhando até a cama e colocando um dedo debaixo do nariz do garoto, se certificando de que ele estava respirando e se virou novamente pra pegar sua comida - Quer ter filhos?
Eu sorri com aquilo porque era cuidadosa até demais.
- Quero. E você?
- Acho que sim. Fico meio pirada em pensar em trazer alguém pra esse mundo do jeito que ele está. - ela deu a primeira garfada na comida e deu os ombros, mas eu podia ver claramente que aquilo realmente era uma preocupação.
Eu poderia facilmente sorrir com qualquer ato de . Qualquer palavrinha também. A sensação de algo novo e excitante não passava de jeito nenhum, até mesmo quando ela fazia coisas que não devia. Talvez seja porque antes daqui, antes disso, e antes de conhecê-la, eu já não tinha muita coisa pra me importar. Eu tinha minha vida, mas estava ainda tentando colocá-la nos trilhos sem Sienna e sem muita coisa que eu estava acostumado. tinha esse jeitinho meio maluco de querer gritar o que nem ela mesma colocou em ordem, ao contrário de Sienna, que estava sempre decidida em relação a tudo, desde organização de viagens até as cores de roupas. Não que isso seja um defeito, porque não é, mas chega a ser engraçado em como podemos gostar de coisas tão diferentes.
's POV
Keith dava gargalhadas altas e eu me acabava de rir também.
- Baby Shark... - voltei a cantar novamente enquanto tocava a melodia de maneira desgraçada no teclado que tinha ali, mas Keith ria do mesmo jeitinho.
Estávamos mais uma vez todos no estúdio, até Grant. Lydia estava prestes a chegar pra buscar Keith, mas já tínhamos conversado bastante. Eu me sentia a vontade com eles, gostava da companhia de cada um. O dia com tinha sido incrível. Amava o jeitinho amigo dele, que ouvia bem e falava o necessário, mas eu entendo que cada um tem seu encanto. Cohen e Scott pareciam irmãos de verdade, além de sempre estarem juntos, a personalidade era parecida. O tanto que ríamos com os dois não pode ser explicado. tinha esse jeitinho espontâneo e abusado, não tinha como não se encantar. Lydia era um pouquinho mais séria, mas também sabia ser uma filha da mãe cheia de graça também. Grant ainda não era algo muito definido, mas nada é. Éramos parecidos e ao mesmo tempo não, e tudo bem.
2 SEMANAS DEPOIS.
Acho que de alguma maneira, seu cérebro e seu corpo vão adivinhando que algo vai dar errado ou que algo ruim está vindo.
encarava aquilo com raiva e dava pra perceber pelo tanto de força que ele depositava no volante, o apertando até demais. Eu queria fazer o mesmo, mas com a cara de Paul. Aquilo tinha sido demais, tanto pra mim quanto pra , que acelerou o carro de uma vez para voltarmos. Minha mente estava uma loucura já pensando no quanto aquilo desencadearia, mais uma vez, discussões terríveis entre e Voight. Assim que o carro parou e tirou o cinto de segurança, segurei firme em sua mão.
- Me deixa conversar com ele primeiro, por favor! - pedi pronta pra implorar porque sua expressão cheia de raiva não se desfazia de maneira alguma, mas por incrível que pareça, ele concordou de primeira.
Eu estava cansada por ele. Estava cansada de pegar tanta culpa por coisas que não eram, de fato, e nem de longe, sua culpa. Descemos do carro e eu pensei muito em não ir até o escritório, mas fui. Olhei pra trás e vi caminhando em direção ao seu trailer até sumir do meu campo de visão. Respirei fundo antes de me aproximar cada vez mais, ouvindo uma baita gritaria vindo do escritório e logo em seguida Holt saindo dali furioso, quase esbarrando em mim.
- Eu não terminei, porra! - Voight apareceu na porta também furioso, e logo que pousou o olhar em mim ao notar minha presença, passou a mão pelo rosto com força - Aconteceu alguma coisa, ?
Quis dar meia volta na hora, mas minhas pernas não me obedeceram, ao contrário da minha boca, que resolveu falar de uma vez.
- Por que tem duas mulheres praticamente semi nuas na mesma esquina onde aquele homem agora vende drogas?
Voight soltou um suspiro pesado e claramente incomodado. Me arrependi no mesmo instante, mas não tinha como voltar. Eu ainda sentia raiva, muita raiva. Paul era baixo, tudo que é ruim tinha dedo dele no meio. Drogas, prostituição, assassinatos? Isso e mais um monte.
- , eu estou exausto, está bem? - foi a única coisa que Voight disse antes de entrar novamente no escritório e fechar a porta com tudo, nem mesmo me dando oportunidade de tentar retrucar.
Uma dorzinha no peito chegou no mesmo instante, se tornando um incômodo gigante. O que eu estava querendo? O que eu estava pensando?
Eu não lembro quando foi ou como foi, só veio. A busca desenfreada por colocar em ordem o caos. Acho que o problema foi eu ter tentado negar tanto pra mim mesma que tinha algo errado. Toda a culpa, o desconforto, a raiva, e até coisas que eu nunca consegui colocar um nome. Eu tentei esconder, colocar debaixo do tapete na esperança de que sumisse, mas não, só me fez bagunçar tudo ainda mais. Também tem essa coisa que me faz sofrer antecipadamente e me preocupar com coisas que nem merecem tanta atenção assim. Não sei quando foi que perdi o controle também, mas eu sempre me vi em dois extremos: não fazer nada ou fazer até demais. Não falar nada ou falar até o que não devo. Talvez tenha isso de que me acostumei a sentir o que eu não queria sentir, mas sinto. Também tem a questão que eu não sei como evitar o cansaço que eu provoco nas pessoas. Tudo bem, eu não sei me expressar bem na maioria das vezes, mas eu não deveria ser a única tentando, certo?
Tanto faz.
Saí do banheiro esperando deixar meus pensamentos lá mesmo, mas não tive tempo de saber porque a gritaria foi ficando cada vez mais alta em meus ouvidos conforme eu andava. Eu tentei respirar fundo mas nem isso consegui. Corri o pouco que faltava até a porta do galpão, que estava aberta.
- Eu tô tentando, ! Você acha mesmo que eu queria que você estivesse nessa situação? Você acha que eu já não teria ajeitado tudo se tivesse como? Eu tô cansado de ouvir a mesma merda, porra! - Voight berrava nervoso.
- Ele enfiou duas prostitutas no bairro, Voight! Você tem noção do que é isso? - devolveu no mesmo tom, cheio de raiva.
- Sei, claro que sei! Paul trabalha com isso e ele vai continuar enfiando as merdas dele no meu bairro e eu vou deixar, porque não vou arriscar sua vida, !
- Você tem noção que ele já podia ter me matado? Toda noite eu saio daqui pra ficar de olho nessas malditas ruas e nada aconteceu. Ele já podia ter feito algo mas não fez, então talvez quem deva fazer sou eu! Então que tal eu simplesmente sumir igual meu pai? Essa bagunça querendo ou não é por causa dele mesmo sendo inocente, não é? Então pronto, eu vou simplesmente desaparecer e você vai poder revidar. - me atrevi a olhar aquela cena, da maneira mais discreta possível. cuspiu as palavras de maneira forte, exausta e raivosa e Voight recebeu aquilo como um soco na cara, já que sua boca se abriu. Nem se eu colocasse minha cabeça inteira pra xeretar, eles notariam. Estavam entretidos demais um no nervoso do outro.
- , porra! Não é fácil assim! Se as coisas fossem fáceis de resolver, eu já teria resolvido, mas tem uma porrada de coisa envolvida. Você precisa entender que eu não sou um anjo da guarda que vai salvar tudo e todos. Um dos lados vai perder, e eu preciso garantir que seja o lado de Paul. Eu sou chefe de uma gangue, entenda isso!
- Eu já entendi.
- Eu tenho um encontro com Zane. É um informante meu infiltrado nos Ghosts. Eu preciso ser cuidadoso e você precisa ter paciência. É a última vez que vou te pedir isso e é a última vez que vamos ter essa conversa, entendeu? - a voz de Voight era um mix de autoritarismo, culpa, exaustão e raiva.
- Você tem noção de que isso não afeta só a mim? Isso afeta também. Se você visse o olhar dela quando viu aquelas duas mulheres ontem... No fundo, sabe que elas não estão ali porque gostam, e isso acaba com ela. - meus olhos se arregalaram e me encolhi no mesmo instante que citou meu nome.
- Se eu fizesse aquelas duas mulheres sumirem dali, não mudaria nada. Paul simplesmente mandaria as duas pra outra esquina, alguma boate ou sei lá. Só porque ficou chateada e quer fazer elas sumirem, não significa que o problema vai desaparecer.
Isso foi duro até demais e o suficiente. Um soco na boca do estômago talvez doeria menos porque sinceramente, a verdade é dolorida demais. Dei passos largos e quase que desconsertados até meu trailer, entrando no mesmo e me sentando na cama com rapidez. Meu peito se apertou e minha garganta formou um nó gigantesco. Respirei fundo diversas vezes seguidas, implorando em silêncio pra sensação passar, mas não passou. Meus olhos estavam marejados e bastou mais algumas piscadas para as lágrimas caírem de uma vez.
- ... - eu quase dei um pulo ao ver a porta se abrindo de repente e adentrar sem nem bater antes, porque já estava virando um hábito quando nossas portas estavam destrancadas. Só entrávamos e pronto.
Dessa vez, eu queria muito que ele tivesse batido. Passei a mão de maneira ágil em meu rosto, tirando as lágrimas dali, mas já era tarde. me encarava confuso e tudo o que eu não queria era ele comigo nesse estado.
- Não é nada. - me adiantei, já me justificando e limpando as lágrimas teimosas que ainda caíam dos meus olhos.
- O que aconteceu? Alguém te fez alguma coisa? - sua confusão se transformou numa preocupação gigante. Ele se sentou ao meu lado com pressa, segurando em minhas duas mãos e as entrelaçando.
- Eu estou cansada! Eu sou uma confusão! Na verdade, eu sei que todo mundo é, mas quando eu acho que tô um pouco melhor, desmorona tudo. Eu fico tentando ignorar os fatos pra doer menos, mas eles sempre vem como um tapa na minha cara. - senti minha voz sair raspando do fundo da garganta, e numa breve coragem de abrir a boca e falar, me agarrei nela com força, falando de uma vez.
- , do que você está falando exatamente? O que aconteceu que te deixou assim? - me encarava atônito, tentando desvendar meu pensamento.
- Eu ouvi os seus berros com Voight. - entreguei a verdade de uma vez.
- Voc...
- Eu quero fazer a diferença e acho que levo isso muito a sério, entende? Voight mesmo disse, ele é o chefe daqui, de uma gangue, e eu não sou absolutamente nada! Não tem como eu ajudar ele ou você, porque não tem o que fazer! Fora os problemas que mesmo se desaparecerem da nossa frente, vão continuar existindo em outro lugar, e isso simplesmente... Me mata. - o interrompi chorosa, puxando minhas mãos com certa força, limpando as lágrimas com rapidez, me sentindo ridícula demais, boba demais, burra demais.
- , presta bem atenção em mim agora! - segurou meu rosto com as duas mãos, com um olhar firme, sério e cheio de carinho - Tudo bem você se sentir assim, tudo bem chorar, tá tudo bem! Olha só o tanto de merda acontecendo, você seria maluca se não se sentisse abalada! Eu sei que todo esse peso e essa sensação de obrigação em ajudar e mudar certas coisas se tornam um fardo pesado demais, só que você não precisa carregá-los! Eu vou dar o meu próprio jeito de ajeitar as coisas, mas você não precisa se preocupar com isso, tudo bem? Eu sei que é difícil ficar de fora, e eu sei que você tem esse espírito justiceiro, mas podemos trabalhar nisso com o tempo! - semicerrou os olhos entre preocupação e diversão, porque embora seu tom fosse sério, suas últimas palavras tiveram um toque de bom humor. Cada uma delas, cada palavrinha, meu cérebro já tinha guardado em um lugarzinho especial.
- Eu tenho espírito justiceiro? Olha só quem fala! - funguei, tombando a cabeça pro lado num charminho e ri fraco, semicerrando os olhos também, entrando naquele joguinho do bom humor com ele, até porque cada palavra que saiu de sua boca me causou um sentimento tão gostoso e único, que mesmo as lágrimas ainda caindo pela minha bochecha, eu já não chorava mais da maneira desesperada como antes.
- Sabia que o que eu mais gosto em você é da sua capacidade de rir de tudo? - seus polegares iniciaram um carinho gostoso em minha bochecha, e eu quis cada vez mais me aninhar ali, no seu toque.
- Estou sabendo agora. - sorri sem mostrar os dentes, fechando os olhos e os apertando, fazendo cair os últimos rastros de lágrimas que estavam nas beiradas dos meus olhos.
- É a verdade. Eu não acho que sou tão bom nisso, mas preciso admitir que você foi a melhor coisa que me aconteceu nessa loucura toda. Você me devolveu muito da leveza do mundo desde que chegou aqui.
Meu sorriso se escancarou no mesmo instante. Só meu coração sabe o quanto sempre me encantou e continua a encantar, e mesmo se eu comentasse sobre isso, não seria o suficiente. Nada seria. As mãos de despencaram, descendo até minha cintura e puxando meu corpo pra mais perto, e o mesmo obedeceu sem esforço nenhum. Uma de suas mãos empurrou uma mecha do meu cabelo até minha orelha, e logo a mesma mão caminhou até minha nuca, fazendo um carinho gostoso ali também. Nossos rostos se aproximaram, assim como nossas bocas, e era sempre uma surpresa nova quando nossos lábios se tocavam. O jeito como nos encaixávamos perfeitamente sempre me fazia sorrir. A intensidade e todas as informações que eram passadas através das nossas bocas se beijando sempre me leva a crer que, caramba, eu sou louca por ele de verdade!
——
Há semanas eu e minha mãe não tínhamos uma conversa suave, sem os dramas de The Lions contra Ghosts e vice-versa. Não quis gastar o pouco tempo que tínhamos dizendo que ontem chorei feito um bebê e que a única coisa que me acalmou foi um homem com os olhos cor de âmbar e dono de um sorriso que é capaz de acabar com todas as guerras do mundo. Nossas despedidas eram sempre duras. Eu queria poder colocá-la no meu bolso e ir embora, mas não era assim que funcionava, e quem me dera se fosse. Saí dali do mesmo jeito que saía sempre: arrasada. Coloquei meus fones de ouvido e comecei a caminhar, já concentrada em Saturday Nights, do Khalid, que tocava no último volume. Não demorou nada até meu pensamento parar em . Eu nunca na vida tinha sentido aquilo, então era especial. Já tinha plena ciência e ele também que eu gosto dele, mas eu disse que não estava apaixonada, mas e se estiver? Se eu fizesse uma lista das coisas que dizem que você sente quando está apaixonada, eu confirmaria todas.
Então... É isso?
Sorri feito boba comigo mesma, sendo impedida de chegar à uma conclusão. Meu braço foi puxado sem gentileza nenhuma e assim que me virei, levei um susto de verdade.
- O que voc...
- , não é? - a mulher estava com um conjunto de moletom largo, e por mais que a touca estivesse cobrindo e seu cabelo parecendo estar preso, era loiro. Um óculos gigante também estava ali em sua cara e eu tombei a cabeça em total confusão, mas logo dei alguns passos pra trás quando meu nome foi citado.
- Quem é você?
- Eu não tenho muito tempo agora! Você é a , não é? Filha do Voight? - ela quase tropeçou nas próprias palavras de tão rápido que falava e a primeira hipótese que minha mente elaborou foi: era alguém precisando de ajuda da gangue.
- Sou eu mesma. Você precisa de ajuda? - perguntei cuidadosa, a observando bem, tentando gravar qualquer detalhe que me parecesse importante.
- Megan Rae. Eu sou Megan Rae! Preciso que você me ajude com uma coisa, é sobre Paul!
Meus olhos se arregalaram no mesmo instante. O nome não me era estranho e eu busquei rapidamente em minha mente de onde eu já tinha o ouvido. A mulher estava claramente aflita e me empurrou de maneira desengonçada até encostarmos na parede da esquina, nos tirando do meio da calçada.
- Paul? Paul dos Ghosts? - questionei em um breve desespero de curiosidade.
- Ele mesmo, agora preciso que você preste atenção!
A mulher disparou a falar mas não compreendi uma palavra sequer. Meu cérebro entrou em alerta e dei um passo grande pra trás, fazendo a mulher me olhar confusa.
- Isso é uma armação, não é? Paul está tentando fazer algo e quer me usar como distração! Quem é você, ein? - disparei de uma vez com um tom grosseiro, e a mulher olhou pra todos os cantos da rua com cuidado e deu um passo grande pra frente, ficando próxima a mim novamente.
- Não é uma armação, , eu te juro! Eu só preciso que você me escute, por fav...
- Então prova que não é uma armação! - meu tom de voz se alterou e mais uma vez, dei um passo grande pra trás e eu que comecei a analisar cada canto da rua, tentando notar qualquer movimentação estranha.
- Merda, eu sabia que seria assim! - a mulher resmungou e deu um longo suspiro - Olha, me dê o endereço de algum lugar que a gente possa se encontrar, você mesma pode escolher onde se sente mais segura, mas por favor, não escolha um lugar tão público e de preferência longe, mas nem tanto. Eu literalmente só posso hoje, então você precisa me dar um lugar agora mesmo, tudo bem? Eu te juro que vou explicar tudo, só preciso de uma conversa pra isso! - ela realmente se mostrou desesperada e cada segundo mais aflita.
Merda. Ela não parecia ser perigosa e pelo seu nervoso aparente, parecia estar mesmo falando a verdade, mas ao mesmo tempo que eu queria continuar desconfiando, ela disse que queria falar sobre Paul. Talvez eu devesse me conformar que essa confusão não está ao meu alcance pra consertar, mas o meu espírito justiceiro, como diz , me impede de verdade.
- Se isso for uma armação, torça pra que eu não descubra, caso contrário, eu vou te encher de porrada! - ameacei sem nenhum rastro de gentileza em minha voz.
- Não é, você vai ver! - ela puxou o celular do bolso, me entregando o mesmo, que já estava no bloco de notas - Pode colocar qualquer lugar, mas precisa ser hoje, tudo bem?
Minha mente se embaralhou, porque eu literalmente não tinha nenhum lugar, mas tinha. Anotei o endereço com pressa, devolvendo o celular e engolindo todo o nervoso que estava sentindo.
Pensar muito ou nem pensar. Fazer muito ou nem fazer. Dois extremos. Eu vivia sempre por um.
- Apareça às sete! - demandei rápido, pronta pra sair dali, mas ela agiu primeiro, andando na direção contrária sem nem olhar pra trás, como se nem mesmo tivesse me conhecido.
- Ela é dona de um carro que usaram pra seguir eu e uma noite. Dave até pesquisou, mas essa Megan não tem nenhuma ligação com Paul que conste em documentos. - expliquei enquanto arrumávamos as almofadas no sofá do estúdio de onde eu conhecia o nome da tal Megan Rae.
- Eu consegui pegar a arma que Holt guarda em casa, mas eu juro que não estou afim de gastar meu réu primário com essa mulher. - espalmou as mãos no ar, junto com uma expressão até engraçada, mas no fundo, estávamos preocupadas de verdade.
- Eu vou me certificar que ela não tenha nada que possa me machucar e aí você aparece, tudo bem? - repeti o plano pela milésima vez e assim que minha boca se fechou, a campainha tocou. arregalou os olhos em susto mas logo se enfiou dentro da primeira cabine, se escondendo.
Ok, eu aceitei, dei início e precisava terminar. Peguei as chaves e abri tudo, torcendo mentalmente pra Megan não estar me sacaneando, mas assim que abri a porta, só tinha ela. Megan entrou rápido, feito um furacão, e eu coloquei minha cabeça alguns centímetros pra fora pra ter certeza que não tinha mais ninguém. Fechei tudo com pressa, observando que ela já tinha entrado de uma vez e se sentado, com o mesmo olhar nervoso e aflito que tinha de tarde. Nos encaramos por longos segundos e ela pareceu se tocar de que o momento era real mesmo.
- Você canta? - Megan virou o rosto e começou a observar cada cantinho do estúdio que seu olhar era capaz de captar.
- Não. - ainda estava de pé, de maneira firme e dura, pronta pra me defender de um possível ataque - Eu posso... É... Te revistar? - cocei minha nuca meio sem jeito e a mulher abriu a boca em surpresa mas logo soltou uma risada fraca, se levantando.
- Pode. Eu sei que é estranho, afinal, eu sou uma total desconhecida, mas você vai ver que isso não é uma armação. - ela ergueu os braços pra cima e eu logo comecei, me certificando de que pelo menos uma arma não tinha ali, e não tinha mesmo.
- É, vamos ver. - sorri meio sem jeito, a observando sentar de novo e dei um assobio alto, que era o sinal pra sair do "esconderijo".
- Quem é essa? - Megan quase pulou de susto, se levantando no mesmo instante e me olhando apavorada.
- Calma! Essa é a minha melhor amiga. Ela só está aqui por segurança, você entende, não é? - expliquei com calma, e embora ainda não confiasse totalmente na mulher, ela realmente não parecia estar ali na intenção de me machucar, mas também não era o suficiente pra me deixar segura por completo.
- Eu entendo, . Agora... Eu sei que é estranho, e na verdade eu queria tratar disso com sua mãe, mas é complicado pra mim. A maioria desses policiais conhecem Paul e se por acaso alguém me reconhecer, ele me mata no mesmo segundo, então sobrou você, mas eu acho que é melhor eu tratar isso direto com Voight ou Holt, porque...
- NÃO! - a interrompi com um grito desesperado, assustando ela e também. Puxei uma cadeirinha que tinha ao meu lado e me sentei em frente à Megan - Você me procurou então é comigo que você vai resolver. Voight não acreditaria em você, disso eu tenho certeza, por como as coisas estão agora, e mesmo eu não acreditando totalmente também, vou te dar uma chance. O que você quer, exatamente?
- Eu quero fugir. Eu preciso! Paul me deu um emprego anos atrás e estava tudo certo até desmoronar. Ele sempre me tratou bem, e não pensei duas vezes em voltar pra pedir a ajuda dele, e esse é o meu maior arrependimento. - Megan suspirou - Ele me tratava muito bem e estava me ajudando com tudo, até que começamos a nos envolver e agora eu não sou nada menos que uma prisioneira dele. Ele faz isso com todas na verdade, só que eu não aguento mais, preciso da minha vida de volta! Nesses dois anos com ele eu já vi de tudo, e de uma coisa eu tenho certeza; Paul é um monstro em absolutamente todos os sentidos e eu preciso me livrar dele!
- Espera... E como você achou que minha mãe te ajudaria com isso? - cerrei os olhos, e embora tudo o que ela tinha dito tivesse me dado um aperto no coração, eu precisava ser firme, precisava ter certeza de que Megan estava falando pelo menos o mínimo da verdade.
- Olha, eu sei que os The Lions não são anjos, mas pelo o que eu sei, Voight e Holt não são grotescos como Paul, que coloca até meninas menos de idade pra se prostituirem. Sua mãe é a mulher de Voight, então deduzi que os valores fossem os mesmos, e por ser mulher, seria mais fácil dela me ajudar também. Eu só quero poder ir embora daqui sem deixar rastros, só isso! - Megan disparou com a feição abatida e sinceramente, eu já não tinha mais como duvidar tanto. Ninguém conseguiria fingir tão bem assim.
- Quantos anos você tem? - questionou com a testa franzida.
- Vinte e oito! - Megan murmurou, claramente sem graça e meu queixo quase foi pro chão.
Nova demais pra ter a vida completamente fodida por um animal como Paul. Minha mente já pensou logo em Dave, que tinha contatos que faziam documentos falsos e por alguns instantes me permiti imaginar Megan longe de Londres e vivendo a vida como um ser humano merece viver: livre.
- Ok, olha...
- Eu vou te ajudar! Paul me mantém longe de coisas importantes como reuniões e trabalhos, mas eu consegui algumas coisas. Eu tiro foto de tudo! Posso te mandar e continuar coletando algumas informações até você conseguir me ajudar, o que acha? - Megan sugeriu energizada e esperançosa.
- Isso vai dar uma merda gigante, tipo, gigante mesmo, do tamanho do universo! - tagarelou sem vergonha alguma e eu lancei um olhar surpreso, mas logo a repreendi com uma expressão nada agradável.
- Eu sei que as chances de dar errado são enormes, porque infelizmente as pessoas ruins de alguma maneira sempre conseguem sair impunes por um longo tempo enquanto as boas se ferram, mas eu preciso tentar!
- Você acha que com essas informações que você tem já é o suficiente pra prendê-lo? - perguntei.
- Eu não sei, não entendo de crime, mas sei que não pode ser uma denúncia feita na delegacia do bairro ou até dessa cidade, porque são todos comprados. Precisamos de algo maior pra funcionar! - a empolgação começou a tomar conta da voz de Megan.
- E por que você só pôde me procurar hoje? - continuei com as perguntas. Precisava de tudo esclarecido.
- Porque Paul está fora da cidade por conta de negócios. Ele ao mesmo tempo que não liga pra mim, também me maltrata e me vigia, mas também tem momentos em que ele me deixa livre só pra ter o prazer de me prender novamente.
- Você consegue me mandar as fotos que você tem?
- Elas ficam num outro celular que comprei escondido. Tenho certeza que esse celular aqui ele deve ter feito algo pra ter acesso a tudo que tem nele. Mas eu posso te trazer amanhã, só não sei o horário exato, porque Paul volta amanhã e eu não sei a hora exata que ele chega, mas darei um jeito.
- Deixa tudo na caixa de correios daqui e eu pego a noite. E quando quiser se comunicar novamente, você passa no meu trabalho e me entrega num papel quando você pode vir pra cá junto com o horário, ok? Não vamos arriscar trocar mensagens ou ligações porque isso é dar sorte ao azar, se for pra isso funcionar, precisamos agir com muito cuidado! - jogou as cartas na mesa de uma vez e mesmo estando surpresa, dei um sorrisinho contente pra ela. Óbvio que ela toparia, ela jamais me deixaria nisso sozinha.
Megan também sorriu, e talvez eu esteja errada, talvez seja uma grande mentira, talvez seja só mais um plano de Paul, e se for, eu vou me certificar de dar um soco na minha própria cara, pois o olhar sem vida porém o sorriso ainda vivo de Megan me dizia que aquilo era o certo a se fazer, mesmo sabendo que teríamos que ser cuidadosas demais.
- Acho que agora ele dorme. - pareceu realmente esperançosa, mas o bebê em seus braços claramente dizia o contrário.
- Acho que... - Keith cuspiu a chupeta, voltando a chorar - Não. - ri fraco, me levantando da única cadeira que tinha no trailer da e peguei o garoto do seu colo.
- E se a gente sair com ele? Ficar aqui não tá ajudando muito, talvez ele queira passear. - a garota sugeriu ainda esperançosa, fazendo uma careta engraçada quando o bebê chorou ainda mais alto.
Ela tinha um bom ponto. Talvez sair ajudasse em algo. Concordei e pegou a bolsa dele. Saímos a pé mesmo, tinha uma pracinha não tão longe dali, dando tranquilamente pra ir a pé, e por incrível que pareça, só de estar na rua o bebê já parecia mais calmo. Nos sentamos num banco de madeira que tinha ali, observando em silêncio as pessoas que passavam. Keith estava sentado em meu colo atento aos movimentos que passavam em sua frente. O moleque é uma graça. estava quieta, as únicas coisas que ela falava eram sobre Keith. As vezes parece que eu deixo a garota apavorada. O que aconteceu, há dois dias atrás, tinha a afastado levemente de mim, ou melhor, eu tinha a afastado.
- . - chamei sua atenção.
- Hm? - ela não me olhou, continuou com o olhar fixo em algo ou alguém.
- Você conversou com ?
- Sobre o que? - ela finalmente me olhou, com a carinha confusa.
- Sobre Grant. Vimos a mesma coisa, não foi? Sei que não comentamos sobre isso, mas... - dei um olhar firme e óbvio, tendo certeza de que ela lembraria exatamente do que eu estava falando.
- SIM! - ela respondeu energizada - Ontem eu passei o dia com ela e perguntei sobre aquilo. Ela disse que Grant usa drogas às vezes. - ela fez aspas nas duas últimas palavras e seu olhar totalmente desconfiado estava presente - Eu fui um pouco dura, mas é que não gosta muito dessas coisas mas ela tá super encantada por Grant, fiz ela jurar que não vai se meter com essas coisas, mas preciso ficar de olho!
- Vocês duas... - ri fraco e fez o mesmo.
- Você está pensando em voltar pra faculdade em breve? - a garota estava claramente insegura com aquela pergunta porque foi algo que eu disse dois dias atrás, e não tínhamos conversado sobre nada daquela noite. iria comer pelas beiradas até chegar onde queria e isso me deixou incomodado por ela. Ela é a última pessoa na vida que eu quero que fique insegura ao conversar comigo.
- Eu queria muito, mas está complicado agora, você sabe. - usei meu tom mais bem humorado, observando aquele sorriso lindo que tinha se abrir.
- É, sei bem. - ela deu um longo suspiro.
- Bem, acho que chegou a hora de falar que você dá um soco muito bem dado! - o olhar da garota praticamente se iluminou e ela explodiu em risadas, e sinceramente, não tinha como não rir junto - Obrigado por ter feito aquilo, .
- É, você também não é nada mal. - ela balançou os cabelos de maneira proposital, junto a um olhar convencido, mas logo riu novamente.
- Obrigado por me dar espaço também. Eu fui grosso com você e...
- Você estava chateado, . Eu entendo, de verdade. Paul já fez questão de espalhar essas coisas pra poder te provocar ainda mais, só que isso só te prejudica, porque ele continua intacto. É uma merda, eu sei, e você tem direito de ficar bravo, chateado, o que for, mas isso não pode te dominar, entende? - ela me interrompeu numa baita seriedade. sabia muito bem separar os momentos de fazer graça e falar sério, e por mais ridículo que seja achar isso, eu já acho raro. Muita gente só fala sem pensar ou não consegue levar certos assuntos a sério, enquanto sabia muito bem.
- Você não faz ideia do quanto eu me senti aliviado em socar aquele cara! - admitir aquilo em voz alta me trouxe uma puta sensação estranha.
- Eu sei, deu pra perceber. - ela estava sem graça, provavelmente pensando o mesmo que eu.
- Eu sei que isso não é legal em nenhum sentido. Não quero perder o controle, não quero ficar maluco por causa dessa merda toda. - respirei fundo, ajeitando Keith no meu colo, que agora brincava com o mordedor que tinha entregado pra ele.
- É difícil, .
- É sim, mas eu não sou isso. Eu tinha uma vida totalmente diferente dessa antes de vir pra cá. Não era perfeita, tinha dificuldades, mas não tinha isso tudo, entende? Não tinha alguém enchendo o meu saco e me culpando toda hora. Eu tô bem exausto, de verdade.
- Do que mais você sente falta da sua vida antiga? - perguntou cuidadosa.
- Sinto falta de mim mesmo. Sinto falta dos objetivos que eu tinha, mesmo ainda tendo eles, mas que precisei adiar. - respondi sincero, e a garota prestava atenção de verdade, não só no que eu falava, mas em cada gesto cuidadoso que eu fazia por conta do bebê no meu colo - E você, , sente falta de alguma coisa?
- Às vezes sinto falta de mim mesma também. Quem eu era quanto tinha uns doze anos. É ridículo, eu sei, mas era menos complicado. As vezes me sinto totalmente despreparada pra vida, eu questiono muita coisa e tenho poucas respostas e isso acaba comigo, então eu fico querendo voltar no tempo pra quando tudo ainda não era tão complicado assim. Mas eu sei que faz parte também, e que essas crises ainda vão me acompanhar por muito tempo, afinal, todo mundo tem isso, não é? - ela tombou a cabeça um pouco, e eu podia ver o quanto falar daquilo a deixava vulnerável, mas não de maneira ruim.
- Claro, ! - sorri feito um bobo pra garota, pronto pra continuar, mas Keith derrubou o mordedor e assim que abaixou pra pegar, fez uma carinha entre fofa e diabólica, porque fingiu com as mãos estar apertando as bochechas do menino - O que foi?
- Ele tá cochilando! Calma, não se mexe! - ela pegou o celular no mesmo instante, tirando varias fotos e me mostrando com animação.
Decidimos voltar, afinal, era desconfortável pra Keith dormir muito tempo no colo e desconfortável pra gente carregá-lo, já estava um bebê pesado. Passamos no mercado rapidamente pra comprar nosso almoço, e assim que chegamos, ajeitou sua cama e deitei o garoto que dormia tranquilo.
- Finalmente!
tirava das sacolas as coisas que compramos e colocava nos pratos.
- Você... - me entregou o prato, caminhando até a cama e colocando um dedo debaixo do nariz do garoto, se certificando de que ele estava respirando e se virou novamente pra pegar sua comida - Quer ter filhos?
Eu sorri com aquilo porque era cuidadosa até demais.
- Quero. E você?
- Acho que sim. Fico meio pirada em pensar em trazer alguém pra esse mundo do jeito que ele está. - ela deu a primeira garfada na comida e deu os ombros, mas eu podia ver claramente que aquilo realmente era uma preocupação.
Eu poderia facilmente sorrir com qualquer ato de . Qualquer palavrinha também. A sensação de algo novo e excitante não passava de jeito nenhum, até mesmo quando ela fazia coisas que não devia. Talvez seja porque antes daqui, antes disso, e antes de conhecê-la, eu já não tinha muita coisa pra me importar. Eu tinha minha vida, mas estava ainda tentando colocá-la nos trilhos sem Sienna e sem muita coisa que eu estava acostumado. tinha esse jeitinho meio maluco de querer gritar o que nem ela mesma colocou em ordem, ao contrário de Sienna, que estava sempre decidida em relação a tudo, desde organização de viagens até as cores de roupas. Não que isso seja um defeito, porque não é, mas chega a ser engraçado em como podemos gostar de coisas tão diferentes.
's POV
Keith dava gargalhadas altas e eu me acabava de rir também.
- Baby Shark... - voltei a cantar novamente enquanto tocava a melodia de maneira desgraçada no teclado que tinha ali, mas Keith ria do mesmo jeitinho.
Estávamos mais uma vez todos no estúdio, até Grant. Lydia estava prestes a chegar pra buscar Keith, mas já tínhamos conversado bastante. Eu me sentia a vontade com eles, gostava da companhia de cada um. O dia com tinha sido incrível. Amava o jeitinho amigo dele, que ouvia bem e falava o necessário, mas eu entendo que cada um tem seu encanto. Cohen e Scott pareciam irmãos de verdade, além de sempre estarem juntos, a personalidade era parecida. O tanto que ríamos com os dois não pode ser explicado. tinha esse jeitinho espontâneo e abusado, não tinha como não se encantar. Lydia era um pouquinho mais séria, mas também sabia ser uma filha da mãe cheia de graça também. Grant ainda não era algo muito definido, mas nada é. Éramos parecidos e ao mesmo tempo não, e tudo bem.
2 SEMANAS DEPOIS.
Acho que de alguma maneira, seu cérebro e seu corpo vão adivinhando que algo vai dar errado ou que algo ruim está vindo.
encarava aquilo com raiva e dava pra perceber pelo tanto de força que ele depositava no volante, o apertando até demais. Eu queria fazer o mesmo, mas com a cara de Paul. Aquilo tinha sido demais, tanto pra mim quanto pra , que acelerou o carro de uma vez para voltarmos. Minha mente estava uma loucura já pensando no quanto aquilo desencadearia, mais uma vez, discussões terríveis entre e Voight. Assim que o carro parou e tirou o cinto de segurança, segurei firme em sua mão.
- Me deixa conversar com ele primeiro, por favor! - pedi pronta pra implorar porque sua expressão cheia de raiva não se desfazia de maneira alguma, mas por incrível que pareça, ele concordou de primeira.
Eu estava cansada por ele. Estava cansada de pegar tanta culpa por coisas que não eram, de fato, e nem de longe, sua culpa. Descemos do carro e eu pensei muito em não ir até o escritório, mas fui. Olhei pra trás e vi caminhando em direção ao seu trailer até sumir do meu campo de visão. Respirei fundo antes de me aproximar cada vez mais, ouvindo uma baita gritaria vindo do escritório e logo em seguida Holt saindo dali furioso, quase esbarrando em mim.
- Eu não terminei, porra! - Voight apareceu na porta também furioso, e logo que pousou o olhar em mim ao notar minha presença, passou a mão pelo rosto com força - Aconteceu alguma coisa, ?
Quis dar meia volta na hora, mas minhas pernas não me obedeceram, ao contrário da minha boca, que resolveu falar de uma vez.
- Por que tem duas mulheres praticamente semi nuas na mesma esquina onde aquele homem agora vende drogas?
Voight soltou um suspiro pesado e claramente incomodado. Me arrependi no mesmo instante, mas não tinha como voltar. Eu ainda sentia raiva, muita raiva. Paul era baixo, tudo que é ruim tinha dedo dele no meio. Drogas, prostituição, assassinatos? Isso e mais um monte.
- , eu estou exausto, está bem? - foi a única coisa que Voight disse antes de entrar novamente no escritório e fechar a porta com tudo, nem mesmo me dando oportunidade de tentar retrucar.
Uma dorzinha no peito chegou no mesmo instante, se tornando um incômodo gigante. O que eu estava querendo? O que eu estava pensando?
Eu não lembro quando foi ou como foi, só veio. A busca desenfreada por colocar em ordem o caos. Acho que o problema foi eu ter tentado negar tanto pra mim mesma que tinha algo errado. Toda a culpa, o desconforto, a raiva, e até coisas que eu nunca consegui colocar um nome. Eu tentei esconder, colocar debaixo do tapete na esperança de que sumisse, mas não, só me fez bagunçar tudo ainda mais. Também tem essa coisa que me faz sofrer antecipadamente e me preocupar com coisas que nem merecem tanta atenção assim. Não sei quando foi que perdi o controle também, mas eu sempre me vi em dois extremos: não fazer nada ou fazer até demais. Não falar nada ou falar até o que não devo. Talvez tenha isso de que me acostumei a sentir o que eu não queria sentir, mas sinto. Também tem a questão que eu não sei como evitar o cansaço que eu provoco nas pessoas. Tudo bem, eu não sei me expressar bem na maioria das vezes, mas eu não deveria ser a única tentando, certo?
Tanto faz.
Saí do banheiro esperando deixar meus pensamentos lá mesmo, mas não tive tempo de saber porque a gritaria foi ficando cada vez mais alta em meus ouvidos conforme eu andava. Eu tentei respirar fundo mas nem isso consegui. Corri o pouco que faltava até a porta do galpão, que estava aberta.
- Eu tô tentando, ! Você acha mesmo que eu queria que você estivesse nessa situação? Você acha que eu já não teria ajeitado tudo se tivesse como? Eu tô cansado de ouvir a mesma merda, porra! - Voight berrava nervoso.
- Ele enfiou duas prostitutas no bairro, Voight! Você tem noção do que é isso? - devolveu no mesmo tom, cheio de raiva.
- Sei, claro que sei! Paul trabalha com isso e ele vai continuar enfiando as merdas dele no meu bairro e eu vou deixar, porque não vou arriscar sua vida, !
- Você tem noção que ele já podia ter me matado? Toda noite eu saio daqui pra ficar de olho nessas malditas ruas e nada aconteceu. Ele já podia ter feito algo mas não fez, então talvez quem deva fazer sou eu! Então que tal eu simplesmente sumir igual meu pai? Essa bagunça querendo ou não é por causa dele mesmo sendo inocente, não é? Então pronto, eu vou simplesmente desaparecer e você vai poder revidar. - me atrevi a olhar aquela cena, da maneira mais discreta possível. cuspiu as palavras de maneira forte, exausta e raivosa e Voight recebeu aquilo como um soco na cara, já que sua boca se abriu. Nem se eu colocasse minha cabeça inteira pra xeretar, eles notariam. Estavam entretidos demais um no nervoso do outro.
- , porra! Não é fácil assim! Se as coisas fossem fáceis de resolver, eu já teria resolvido, mas tem uma porrada de coisa envolvida. Você precisa entender que eu não sou um anjo da guarda que vai salvar tudo e todos. Um dos lados vai perder, e eu preciso garantir que seja o lado de Paul. Eu sou chefe de uma gangue, entenda isso!
- Eu já entendi.
- Eu tenho um encontro com Zane. É um informante meu infiltrado nos Ghosts. Eu preciso ser cuidadoso e você precisa ter paciência. É a última vez que vou te pedir isso e é a última vez que vamos ter essa conversa, entendeu? - a voz de Voight era um mix de autoritarismo, culpa, exaustão e raiva.
- Você tem noção de que isso não afeta só a mim? Isso afeta também. Se você visse o olhar dela quando viu aquelas duas mulheres ontem... No fundo, sabe que elas não estão ali porque gostam, e isso acaba com ela. - meus olhos se arregalaram e me encolhi no mesmo instante que citou meu nome.
- Se eu fizesse aquelas duas mulheres sumirem dali, não mudaria nada. Paul simplesmente mandaria as duas pra outra esquina, alguma boate ou sei lá. Só porque ficou chateada e quer fazer elas sumirem, não significa que o problema vai desaparecer.
Isso foi duro até demais e o suficiente. Um soco na boca do estômago talvez doeria menos porque sinceramente, a verdade é dolorida demais. Dei passos largos e quase que desconsertados até meu trailer, entrando no mesmo e me sentando na cama com rapidez. Meu peito se apertou e minha garganta formou um nó gigantesco. Respirei fundo diversas vezes seguidas, implorando em silêncio pra sensação passar, mas não passou. Meus olhos estavam marejados e bastou mais algumas piscadas para as lágrimas caírem de uma vez.
- ... - eu quase dei um pulo ao ver a porta se abrindo de repente e adentrar sem nem bater antes, porque já estava virando um hábito quando nossas portas estavam destrancadas. Só entrávamos e pronto.
Dessa vez, eu queria muito que ele tivesse batido. Passei a mão de maneira ágil em meu rosto, tirando as lágrimas dali, mas já era tarde. me encarava confuso e tudo o que eu não queria era ele comigo nesse estado.
- Não é nada. - me adiantei, já me justificando e limpando as lágrimas teimosas que ainda caíam dos meus olhos.
- O que aconteceu? Alguém te fez alguma coisa? - sua confusão se transformou numa preocupação gigante. Ele se sentou ao meu lado com pressa, segurando em minhas duas mãos e as entrelaçando.
- Eu estou cansada! Eu sou uma confusão! Na verdade, eu sei que todo mundo é, mas quando eu acho que tô um pouco melhor, desmorona tudo. Eu fico tentando ignorar os fatos pra doer menos, mas eles sempre vem como um tapa na minha cara. - senti minha voz sair raspando do fundo da garganta, e numa breve coragem de abrir a boca e falar, me agarrei nela com força, falando de uma vez.
- , do que você está falando exatamente? O que aconteceu que te deixou assim? - me encarava atônito, tentando desvendar meu pensamento.
- Eu ouvi os seus berros com Voight. - entreguei a verdade de uma vez.
- Voc...
- Eu quero fazer a diferença e acho que levo isso muito a sério, entende? Voight mesmo disse, ele é o chefe daqui, de uma gangue, e eu não sou absolutamente nada! Não tem como eu ajudar ele ou você, porque não tem o que fazer! Fora os problemas que mesmo se desaparecerem da nossa frente, vão continuar existindo em outro lugar, e isso simplesmente... Me mata. - o interrompi chorosa, puxando minhas mãos com certa força, limpando as lágrimas com rapidez, me sentindo ridícula demais, boba demais, burra demais.
- , presta bem atenção em mim agora! - segurou meu rosto com as duas mãos, com um olhar firme, sério e cheio de carinho - Tudo bem você se sentir assim, tudo bem chorar, tá tudo bem! Olha só o tanto de merda acontecendo, você seria maluca se não se sentisse abalada! Eu sei que todo esse peso e essa sensação de obrigação em ajudar e mudar certas coisas se tornam um fardo pesado demais, só que você não precisa carregá-los! Eu vou dar o meu próprio jeito de ajeitar as coisas, mas você não precisa se preocupar com isso, tudo bem? Eu sei que é difícil ficar de fora, e eu sei que você tem esse espírito justiceiro, mas podemos trabalhar nisso com o tempo! - semicerrou os olhos entre preocupação e diversão, porque embora seu tom fosse sério, suas últimas palavras tiveram um toque de bom humor. Cada uma delas, cada palavrinha, meu cérebro já tinha guardado em um lugarzinho especial.
- Eu tenho espírito justiceiro? Olha só quem fala! - funguei, tombando a cabeça pro lado num charminho e ri fraco, semicerrando os olhos também, entrando naquele joguinho do bom humor com ele, até porque cada palavra que saiu de sua boca me causou um sentimento tão gostoso e único, que mesmo as lágrimas ainda caindo pela minha bochecha, eu já não chorava mais da maneira desesperada como antes.
- Sabia que o que eu mais gosto em você é da sua capacidade de rir de tudo? - seus polegares iniciaram um carinho gostoso em minha bochecha, e eu quis cada vez mais me aninhar ali, no seu toque.
- Estou sabendo agora. - sorri sem mostrar os dentes, fechando os olhos e os apertando, fazendo cair os últimos rastros de lágrimas que estavam nas beiradas dos meus olhos.
- É a verdade. Eu não acho que sou tão bom nisso, mas preciso admitir que você foi a melhor coisa que me aconteceu nessa loucura toda. Você me devolveu muito da leveza do mundo desde que chegou aqui.
Meu sorriso se escancarou no mesmo instante. Só meu coração sabe o quanto sempre me encantou e continua a encantar, e mesmo se eu comentasse sobre isso, não seria o suficiente. Nada seria. As mãos de despencaram, descendo até minha cintura e puxando meu corpo pra mais perto, e o mesmo obedeceu sem esforço nenhum. Uma de suas mãos empurrou uma mecha do meu cabelo até minha orelha, e logo a mesma mão caminhou até minha nuca, fazendo um carinho gostoso ali também. Nossos rostos se aproximaram, assim como nossas bocas, e era sempre uma surpresa nova quando nossos lábios se tocavam. O jeito como nos encaixávamos perfeitamente sempre me fazia sorrir. A intensidade e todas as informações que eram passadas através das nossas bocas se beijando sempre me leva a crer que, caramba, eu sou louca por ele de verdade!
——
Há semanas eu e minha mãe não tínhamos uma conversa suave, sem os dramas de The Lions contra Ghosts e vice-versa. Não quis gastar o pouco tempo que tínhamos dizendo que ontem chorei feito um bebê e que a única coisa que me acalmou foi um homem com os olhos cor de âmbar e dono de um sorriso que é capaz de acabar com todas as guerras do mundo. Nossas despedidas eram sempre duras. Eu queria poder colocá-la no meu bolso e ir embora, mas não era assim que funcionava, e quem me dera se fosse. Saí dali do mesmo jeito que saía sempre: arrasada. Coloquei meus fones de ouvido e comecei a caminhar, já concentrada em Saturday Nights, do Khalid, que tocava no último volume. Não demorou nada até meu pensamento parar em . Eu nunca na vida tinha sentido aquilo, então era especial. Já tinha plena ciência e ele também que eu gosto dele, mas eu disse que não estava apaixonada, mas e se estiver? Se eu fizesse uma lista das coisas que dizem que você sente quando está apaixonada, eu confirmaria todas.
Então... É isso?
Sorri feito boba comigo mesma, sendo impedida de chegar à uma conclusão. Meu braço foi puxado sem gentileza nenhuma e assim que me virei, levei um susto de verdade.
- O que voc...
- , não é? - a mulher estava com um conjunto de moletom largo, e por mais que a touca estivesse cobrindo e seu cabelo parecendo estar preso, era loiro. Um óculos gigante também estava ali em sua cara e eu tombei a cabeça em total confusão, mas logo dei alguns passos pra trás quando meu nome foi citado.
- Quem é você?
- Eu não tenho muito tempo agora! Você é a , não é? Filha do Voight? - ela quase tropeçou nas próprias palavras de tão rápido que falava e a primeira hipótese que minha mente elaborou foi: era alguém precisando de ajuda da gangue.
- Sou eu mesma. Você precisa de ajuda? - perguntei cuidadosa, a observando bem, tentando gravar qualquer detalhe que me parecesse importante.
- Megan Rae. Eu sou Megan Rae! Preciso que você me ajude com uma coisa, é sobre Paul!
Meus olhos se arregalaram no mesmo instante. O nome não me era estranho e eu busquei rapidamente em minha mente de onde eu já tinha o ouvido. A mulher estava claramente aflita e me empurrou de maneira desengonçada até encostarmos na parede da esquina, nos tirando do meio da calçada.
- Paul? Paul dos Ghosts? - questionei em um breve desespero de curiosidade.
- Ele mesmo, agora preciso que você preste atenção!
A mulher disparou a falar mas não compreendi uma palavra sequer. Meu cérebro entrou em alerta e dei um passo grande pra trás, fazendo a mulher me olhar confusa.
- Isso é uma armação, não é? Paul está tentando fazer algo e quer me usar como distração! Quem é você, ein? - disparei de uma vez com um tom grosseiro, e a mulher olhou pra todos os cantos da rua com cuidado e deu um passo grande pra frente, ficando próxima a mim novamente.
- Não é uma armação, , eu te juro! Eu só preciso que você me escute, por fav...
- Então prova que não é uma armação! - meu tom de voz se alterou e mais uma vez, dei um passo grande pra trás e eu que comecei a analisar cada canto da rua, tentando notar qualquer movimentação estranha.
- Merda, eu sabia que seria assim! - a mulher resmungou e deu um longo suspiro - Olha, me dê o endereço de algum lugar que a gente possa se encontrar, você mesma pode escolher onde se sente mais segura, mas por favor, não escolha um lugar tão público e de preferência longe, mas nem tanto. Eu literalmente só posso hoje, então você precisa me dar um lugar agora mesmo, tudo bem? Eu te juro que vou explicar tudo, só preciso de uma conversa pra isso! - ela realmente se mostrou desesperada e cada segundo mais aflita.
Merda. Ela não parecia ser perigosa e pelo seu nervoso aparente, parecia estar mesmo falando a verdade, mas ao mesmo tempo que eu queria continuar desconfiando, ela disse que queria falar sobre Paul. Talvez eu devesse me conformar que essa confusão não está ao meu alcance pra consertar, mas o meu espírito justiceiro, como diz , me impede de verdade.
- Se isso for uma armação, torça pra que eu não descubra, caso contrário, eu vou te encher de porrada! - ameacei sem nenhum rastro de gentileza em minha voz.
- Não é, você vai ver! - ela puxou o celular do bolso, me entregando o mesmo, que já estava no bloco de notas - Pode colocar qualquer lugar, mas precisa ser hoje, tudo bem?
Minha mente se embaralhou, porque eu literalmente não tinha nenhum lugar, mas tinha. Anotei o endereço com pressa, devolvendo o celular e engolindo todo o nervoso que estava sentindo.
Pensar muito ou nem pensar. Fazer muito ou nem fazer. Dois extremos. Eu vivia sempre por um.
- Apareça às sete! - demandei rápido, pronta pra sair dali, mas ela agiu primeiro, andando na direção contrária sem nem olhar pra trás, como se nem mesmo tivesse me conhecido.
- Ela é dona de um carro que usaram pra seguir eu e uma noite. Dave até pesquisou, mas essa Megan não tem nenhuma ligação com Paul que conste em documentos. - expliquei enquanto arrumávamos as almofadas no sofá do estúdio de onde eu conhecia o nome da tal Megan Rae.
- Eu consegui pegar a arma que Holt guarda em casa, mas eu juro que não estou afim de gastar meu réu primário com essa mulher. - espalmou as mãos no ar, junto com uma expressão até engraçada, mas no fundo, estávamos preocupadas de verdade.
- Eu vou me certificar que ela não tenha nada que possa me machucar e aí você aparece, tudo bem? - repeti o plano pela milésima vez e assim que minha boca se fechou, a campainha tocou. arregalou os olhos em susto mas logo se enfiou dentro da primeira cabine, se escondendo.
Ok, eu aceitei, dei início e precisava terminar. Peguei as chaves e abri tudo, torcendo mentalmente pra Megan não estar me sacaneando, mas assim que abri a porta, só tinha ela. Megan entrou rápido, feito um furacão, e eu coloquei minha cabeça alguns centímetros pra fora pra ter certeza que não tinha mais ninguém. Fechei tudo com pressa, observando que ela já tinha entrado de uma vez e se sentado, com o mesmo olhar nervoso e aflito que tinha de tarde. Nos encaramos por longos segundos e ela pareceu se tocar de que o momento era real mesmo.
- Você canta? - Megan virou o rosto e começou a observar cada cantinho do estúdio que seu olhar era capaz de captar.
- Não. - ainda estava de pé, de maneira firme e dura, pronta pra me defender de um possível ataque - Eu posso... É... Te revistar? - cocei minha nuca meio sem jeito e a mulher abriu a boca em surpresa mas logo soltou uma risada fraca, se levantando.
- Pode. Eu sei que é estranho, afinal, eu sou uma total desconhecida, mas você vai ver que isso não é uma armação. - ela ergueu os braços pra cima e eu logo comecei, me certificando de que pelo menos uma arma não tinha ali, e não tinha mesmo.
- É, vamos ver. - sorri meio sem jeito, a observando sentar de novo e dei um assobio alto, que era o sinal pra sair do "esconderijo".
- Quem é essa? - Megan quase pulou de susto, se levantando no mesmo instante e me olhando apavorada.
- Calma! Essa é a minha melhor amiga. Ela só está aqui por segurança, você entende, não é? - expliquei com calma, e embora ainda não confiasse totalmente na mulher, ela realmente não parecia estar ali na intenção de me machucar, mas também não era o suficiente pra me deixar segura por completo.
- Eu entendo, . Agora... Eu sei que é estranho, e na verdade eu queria tratar disso com sua mãe, mas é complicado pra mim. A maioria desses policiais conhecem Paul e se por acaso alguém me reconhecer, ele me mata no mesmo segundo, então sobrou você, mas eu acho que é melhor eu tratar isso direto com Voight ou Holt, porque...
- NÃO! - a interrompi com um grito desesperado, assustando ela e também. Puxei uma cadeirinha que tinha ao meu lado e me sentei em frente à Megan - Você me procurou então é comigo que você vai resolver. Voight não acreditaria em você, disso eu tenho certeza, por como as coisas estão agora, e mesmo eu não acreditando totalmente também, vou te dar uma chance. O que você quer, exatamente?
- Eu quero fugir. Eu preciso! Paul me deu um emprego anos atrás e estava tudo certo até desmoronar. Ele sempre me tratou bem, e não pensei duas vezes em voltar pra pedir a ajuda dele, e esse é o meu maior arrependimento. - Megan suspirou - Ele me tratava muito bem e estava me ajudando com tudo, até que começamos a nos envolver e agora eu não sou nada menos que uma prisioneira dele. Ele faz isso com todas na verdade, só que eu não aguento mais, preciso da minha vida de volta! Nesses dois anos com ele eu já vi de tudo, e de uma coisa eu tenho certeza; Paul é um monstro em absolutamente todos os sentidos e eu preciso me livrar dele!
- Espera... E como você achou que minha mãe te ajudaria com isso? - cerrei os olhos, e embora tudo o que ela tinha dito tivesse me dado um aperto no coração, eu precisava ser firme, precisava ter certeza de que Megan estava falando pelo menos o mínimo da verdade.
- Olha, eu sei que os The Lions não são anjos, mas pelo o que eu sei, Voight e Holt não são grotescos como Paul, que coloca até meninas menos de idade pra se prostituirem. Sua mãe é a mulher de Voight, então deduzi que os valores fossem os mesmos, e por ser mulher, seria mais fácil dela me ajudar também. Eu só quero poder ir embora daqui sem deixar rastros, só isso! - Megan disparou com a feição abatida e sinceramente, eu já não tinha mais como duvidar tanto. Ninguém conseguiria fingir tão bem assim.
- Quantos anos você tem? - questionou com a testa franzida.
- Vinte e oito! - Megan murmurou, claramente sem graça e meu queixo quase foi pro chão.
Nova demais pra ter a vida completamente fodida por um animal como Paul. Minha mente já pensou logo em Dave, que tinha contatos que faziam documentos falsos e por alguns instantes me permiti imaginar Megan longe de Londres e vivendo a vida como um ser humano merece viver: livre.
- Ok, olha...
- Eu vou te ajudar! Paul me mantém longe de coisas importantes como reuniões e trabalhos, mas eu consegui algumas coisas. Eu tiro foto de tudo! Posso te mandar e continuar coletando algumas informações até você conseguir me ajudar, o que acha? - Megan sugeriu energizada e esperançosa.
- Isso vai dar uma merda gigante, tipo, gigante mesmo, do tamanho do universo! - tagarelou sem vergonha alguma e eu lancei um olhar surpreso, mas logo a repreendi com uma expressão nada agradável.
- Eu sei que as chances de dar errado são enormes, porque infelizmente as pessoas ruins de alguma maneira sempre conseguem sair impunes por um longo tempo enquanto as boas se ferram, mas eu preciso tentar!
- Você acha que com essas informações que você tem já é o suficiente pra prendê-lo? - perguntei.
- Eu não sei, não entendo de crime, mas sei que não pode ser uma denúncia feita na delegacia do bairro ou até dessa cidade, porque são todos comprados. Precisamos de algo maior pra funcionar! - a empolgação começou a tomar conta da voz de Megan.
- E por que você só pôde me procurar hoje? - continuei com as perguntas. Precisava de tudo esclarecido.
- Porque Paul está fora da cidade por conta de negócios. Ele ao mesmo tempo que não liga pra mim, também me maltrata e me vigia, mas também tem momentos em que ele me deixa livre só pra ter o prazer de me prender novamente.
- Você consegue me mandar as fotos que você tem?
- Elas ficam num outro celular que comprei escondido. Tenho certeza que esse celular aqui ele deve ter feito algo pra ter acesso a tudo que tem nele. Mas eu posso te trazer amanhã, só não sei o horário exato, porque Paul volta amanhã e eu não sei a hora exata que ele chega, mas darei um jeito.
- Deixa tudo na caixa de correios daqui e eu pego a noite. E quando quiser se comunicar novamente, você passa no meu trabalho e me entrega num papel quando você pode vir pra cá junto com o horário, ok? Não vamos arriscar trocar mensagens ou ligações porque isso é dar sorte ao azar, se for pra isso funcionar, precisamos agir com muito cuidado! - jogou as cartas na mesa de uma vez e mesmo estando surpresa, dei um sorrisinho contente pra ela. Óbvio que ela toparia, ela jamais me deixaria nisso sozinha.
Megan também sorriu, e talvez eu esteja errada, talvez seja uma grande mentira, talvez seja só mais um plano de Paul, e se for, eu vou me certificar de dar um soco na minha própria cara, pois o olhar sem vida porém o sorriso ainda vivo de Megan me dizia que aquilo era o certo a se fazer, mesmo sabendo que teríamos que ser cuidadosas demais.
Capítulo 21
's POV
Dei duas batidas na porta antes de entrar. Por um milagre, Voight tinha ido pra casa mais cedo. Holt subiu com o olhar, me analisando.
- Precisa de alguma coisa, mocinha?
- Na verdade sim. - sorri de um jeitinho sapeca, me sentando rapidamente - Em primeiro lugar, Voight disse que tinha um encontro com Zane ontem, e estou supondo que você foi junto, estou certa?
- ... - ele cerrou os olhos junto a um olhar divertido, como se eu tivesse aprontando algo.
- Foi que eu sei! Alguma novidade?
- Você sabe que eu te considero uma criança ainda, não sabe? - uma gargalhada gostosa foi dada - Ocorreu tudo bem na medida do possível. - Holt me deu uma piscadela e isso foi o suficiente pra eu entender que não teria mais nenhuma informação além daquela, e afinal, por que ele me contaria, não é?
- Ok, segunda coisa... - limpei a garganta - Eu sei que sempre mostrei desinteresse pelas coisas que acontecem aqui, mas eu realmente gostaria de saber o que faria Paul ser preso? - finalizei com um sorriso beirando a falsa inocência, esperando Holt não estranhar tal pergunta, mas ele só riu, de verdade mesmo, uma gargalhada alta que vem com força.
- Tá doida, ? - ele continuava a rir mas seu rosto foi ficando sério a medida que foi percebendo que eu não ria, na verdade nem esboçava mais nada em minha face, deixando ele um tanto quanto sem graça - Não é bem por aí, . Ele tem dinheiro, e você sabe o que o dinheiro fez? Compra as pessoas. Você imagina o quanto ele tem? Pois então, com todo esse dinheiro, qualquer prisão daqui que ele for se torna um hotel. Ele ser preso e nada seria a mesma coisa.
- Como assim? Então não tem jeito?
- Tudo tem um jeito, mas nesse caso, é um pouco mais complicado.
Ok, nunca é tarde pra tentar entender. Holt mantinha o olhar de quem não queria dizer muito, ou seja, eu tinha que mudar aquilo. Eu nunca mostrei interesse e precisava mudar isso com urgência.
- Olha, repetindo, eu sei que mostrei um baita desinteresse com as coisas que acontecem aqui, mas eu realmente queria saber, entende? Eu vivo aqui, trabalho aqui... É o mínimo, não é? - arrisquei um biquinho pidão, fazendo mais uma vez o homem gargalhar. Holt e Voight eram super diferentes e isso todos conseguem notar.
- Saber o que rola aqui não vai te trazer nenhum benefício, . Só revolta. Se tem uma coisa que eu posso te dizer, é que a gente já desistiu de defender a normalidade. Não há mais normalidade alguma. O mundo em geral precisa fazer uma autocrítica da própria incompetência. A polícia deveria nos ajudar, não é? Mas não se engane, porque as vezes eles são até piores. A gente tá na merda e precisamos trabalhar dentro dela.
- Mas... O que pararia Paul? A morte? - eu nem precisei de uma resposta de volta, seu olhar duro foi o suficiente. Eu já tinha tido o suficiente.
Me despedi e saí dali rapidamente, indo até meu trailer totalmente atordoada. Simplesmente não há solução porque talvez na real ninguém entende nem a extensão do problema. Ou seja, eu devo simplesmente perder as esperanças e aceitar que estamos todos no inferno e que nada tem salvação, livramento ou sei lá?
Bufei emburrada, me sentando na cama e pegando o envelope que tinha me entregado mais cedo mas ainda não tinha aberto. Megan tinha mesmo deixado as fotos impressas na caixa de correios do estúdio, e assim que abri, me senti frustrada. Que diabos eu faria com um monte de anotações de mercadorias que estavam basicamente em códigos? A vida do crime realmente exige inteligência, um nível que eu não tinha noção de como alcançar, e no fundo, nem queria. Me lembrei do seu olhar desesperado porém até esperançoso em alguns momentos. Megan merecia sua vida de volta e estava se esforçando.
4 SEMANAS DEPOIS.
- Meu Deus, que merda eu fiz? - comecei a rir descontroladamente e riu de mim. Encarei a parede com o meu projeto de grafitagem que deu errado até demais.
- Acho que já está bom por hoje. - pegou o spray da minha mão, prendendo o riso.
- Ok, temos o dia todo pela frente. Podemos plantar uma árvore, ir naquele abrigo visitar os cachorrinhos de novo, sair sem rumo na sua moto, mas aí estaríamos gastando gasolina, então...
- Ou eu posso te levar ao cinema.
- Oi? - paralisei no mesmo instante, incerta se tinha ouvido aquele convite mesmo.
- É isso que pessoas normais fazem, não é? - ele soltou uma risadinha fraca, me puxando pela cintura com gentileza - Até demorei pra fazer isso, mas a vida aqui é meio... Sei lá, as vezes as coisas aqui me sugam demais e eu não quero que isso tome conta de mim totalmente, quero fazer coisas diferentes e isso pode incluir plantar árvores, visitar os cachorrinhos ou sair sem rumo na minha moto com você, mas hoje eu tava afim de um cinema, você topa?
- Engraçadinho! - encostei nossos narizes junto com um sorriso largo - Com você eu vou pra qualquer lugar!
Ok, algumas lágrimas escaparam durante O Rei Leão, mesmo eu tendo crescido assistindo esse filme e tendo total noção de tudo o que acontece. Paramos pra comer, e eu não conseguia parar de observar cada detalhe, gesto que ele fazia ou palavra que saía da boca de .
- Parecemos normais aqui no meio desse tanto de gente. - ele deu a primeira bocada no lanche, fazendo uma carinha linda de satisfeito com o gosto.
- Nós somos normais!
- Eu sei, mas digo, quantos daqui fazem parte de uma gangue? - ele retrucou pensativo.
- E quantos daqui podem ser algo a mais do que um simples membro de uma gangue? - arqueei uma sobrancelha de maneira abusada, mas cheia de graça - Não dá pra saber!
- É, você tem razão. - deu os ombros, voltando a comer seu lanche.
"Encontro hoje com N.E. às oito! xx ."
Observei a mensagem em meu celular e logo bloqueei o mesmo com pressa, mesmo sabendo que não corria o risco de ver porque ele estava concentrado demais em seu lanche. passou a se referir à Megan Rae pelas últimas letras de seu nome, tudo por precaução, afinal, ninguém sabe do que Paul é capaz ou até onde ele seria capaz de desconfiar de algo. Assim que terminamos de comer, sugeriu que fôssemos no fliperama do shopping e obviamente concordei com a ideia. De longe dava pra perceber que ele estava num dia bom, aquele tipo de dia em que você sabe que tudo está uma bagunça, mas que tem muita esperança de que tudo se ajeite. Eu podia sentia que ele estava tranquilo. Eu sorri feito uma boba, não dava pra me aguentar. Relacionamento bom não cai do céu, é uma construção que exige muitas coisas, mas acho que todo dia a gente se dá isso. tem um jeitinho mais recluso e eu entendo, aprendi a entender. Tudo o que rolou com Sienna não foi fácil. Agora eu... Eu posso ver claramente transbordar em tanto sentimento que tenho por ele, mas não sei se ele realmente sente isso, não sei se mostro tanto. Mas talvez esse tipo de coisa a gente adquira com experiência, amor, cumplicidade, conversa, parceria e vontade de fazer dar certo. Eu quero que dê certo, porque querendo ou não, ele é o ombro que eu procuro, é dele que vem minha segurança e bem estar.
É ele!
Eu posso ver o tanto de coisa que temos em comum, mas a real é que comum é a última coisa que nos resume, porque comum não é o suficiente.
——
- Como estão as coisas? - perguntou enquanto oferecia a porção de batatas fritas que estava em sua mão, mas Megan recusou com a cabeça.
- Um inferno! Pelo o que eu entendi, tem gangues rivais em cima dos Ghosts, e creio que dos The Lions também. Eles realmente pressionam até começar uma guerra, desestabiliza um lado e quando o outro acha que está livre, eles atacam. É um verdadeiro inferno! Paul está mais insuportável que nunca. - Megan encostou o corpo todo no sofá, jogando a cabeça pra trás e passando a mão por eles de modo nervoso.
- Bem, temos que te dizer algo, uma decisão nossa... - começou de modo quase que tímido, algo quase surreal. Ela mordeu o lábio sem graça, dando um longo suspiro antes de continuar - Eu e achamos melhor pararmos com isso aqui. A gente conversou e pelo visto não é possível prender Paul, ele tem muitos contatos com a polícia e colocá-lo na cadeia continuaria sendo um risco pra você, porque ele pode te atacar de lá mesmo.
- Vocês estão... me dispensando? Eu pensei que tivéssemos um acordo e...
- Megan, nesse último mês a gente sabe o quanto você se esforçou! Todas as fotos que você tirou provavelmente te exigiram um cuidado enorme, mas eu mesma conversei com Holt e pelo jeito que ele falou, só matando o Paul pra isso tudo acabar de vez e olhe lá! - a interrompi, sentindo meu coração totalmente acelerado - Eu sei que é decepcionante, você está presa à um monstro, mas se ele descobrir que você está envolvida conosco, ele não vai pensar duas vezes, vai te matar no mesmo segundo!
- Mas... Inferno! - Megan se levantou de maneira brusca, caminhando de um lado pro outro com a mão na testa, como se estivesse se forçando a pensar - Eu fui burra demais em achar que essas míseras fotos de recibos que ele queima dias depois de receber mudariam alguma coisa, e pior ainda, de achar que vocês poderiam me ajudar, sendo que ninguém pode! - ela chutou o sofá totalmente nervosa e eu dei um pulinho de susto.
- Eu não sei qual é a história dele, mas Paul se convenceu que por ser inteligente, bem sucedido logicamente e financeiramente, o mundo é dele. A gente ainda pode te ajudar, eu posso conseguir os documentos falsos pra você, mas eu realmente acho que essas reuniões aqui devem acabar pra o seu próprio bem! - era o máximo que eu podia fazer por Megan, e mesmo não sendo o suficiente pra mim, pareceu pra ela, já que seus olhinhos se ergueram numa esperança explícita.
- Vocês duas são incríveis! Eu sei que não pude dar muito durante essas semanas, mas eu vou estar mais atenta! Me diga algo que vocês precisam, uma informação específica ou alguém, eu vou tentar mais! - ela verbalizava tudo de maneira elétrica, desesperada pra poder retribuir.
- Megan, não precis...
- Por favor, me deixa ajudar, ou pelo menos tentar! - ela juntou as mãos numa forma de pedido, junto a um olhar adorável que eu nem sabia até então que ela tinha, e juro, qualquer olhar de Megan te faz concordar ou deixar qualquer coisa, de verdade!
- Ok, tem esse homem... - bufei alto em derrota, mas já pensando que talvez, bem talvez, Megan conseguisse algo útil - Yaser . Tudo começou quando o sócio dele roubou uma mercadoria de Paul, mas ele desapareceu e sobrou pra ele. Paul propôs um acordo absurdo e hoje em dia Yaser está fugindo como o diabo foge da cruz e tudo isso está afetando o filho dele.
- E você gosta dele? - Megan semicerrou os olhos, se sentando ao meu lado cheia de curiosidade.
- Quem? Do Yaser? - forcei uma voz e um olhar de desentendida, arrancando gargalhadas altas das duas pela minha péssima atuação proposital.
- Bobinha! Mas toma cuidado, ok? Se essa relação demandar muito esforço, se você precisar deixar de ser você ou precisar minimizar suas falas, caia fora, ouviu? - ela alertou enquanto segurava minhas mãos de um jeito firme, e mais uma vez, seu olhar me trouxe informações e sentimentos que eu sabia que podia confiar de verdade.
- É... Obrigada!
——
Dizem que você precisa, antes de tudo, se conhecer. Saber aquilo que te acalma, o que te deixa feliz e o que te apavora. Acho que eu descobri... O que me acalma é isso: , , Cohen, Scott e Lydia comigo depois de uma sessão de cinema todos juntinhos. Pessoas companheiras que numa quarta à noite toparam um cinema mesmo sem nenhum filme tão interessante em cartaz, apenas sabendo que seria legal só pela companhia. Óbvio, se conhecer também tem essa parte de descobrir os seus detalhes quase escondidos e os seus medos nunca explorados. Mas é parte do processo todo, não? Ninguém se conhece totalmente e pronto, o processo acaba. Se conhecer é algo que dura pro resto da vida, durante todos os dias dela.
- E vocês estão convidados, óbvio. - falava de um jeito embolado por estar segurando o potinho de sorvete que tinha acabado de comprar enquanto fuçava em sua bolsa procurando seu celular, que estava tocando - Alô?
passou o braço ao meu redor, segurando minha cintura de maneira leve, e óbvio que um sorrisinho inevitável escapou e ele retribuiu. Assim que finalizou a ligação, um olhar estanho estava presente.
- O que foi?
- Holt está me chamando no escritório, tipo, agora mesmo! - ela revelou confusa.
Scott deixou Lydia em casa enquanto nós quatro seguimos direto de volta pra casa. Nosso encontro tinha sido tão legal e eu me recusava a acreditar que algo pudesse estragar. Holt provavelmente só queria conversar sobre algo não muito sério. Assim que descemos da moto, tia Ellie estava em frente ao escritório com uma cara nada agradável e veio em nossa direção no mesmo instante.
- Você duas! - ela apontou firme pra nós, de um modo nada simpático - Entrem naquele escritório AGORA!
Tia Ellie era legal, incrível, educada, engraçada, bem humorada, tudo de bom, mas quando ela fica estressada... Jogue todas essas coisas no lixo e se prepare pra ver o demônio, sem exageros!
e Cohen nos olharam confusos e eu só soube olhar pra como se pedisse socorro, mesmo sabendo que nada podia ser feito. Começamos a andar até o escritório de maneira lenta, feito criança com medo da surra, e assim que entramos, Voight e Holt se encontravam em pé e com olhares nada bacanas também.
- Eu vou ser direto até demais porque eu não estou com paciência nenhuma pra isso hoje. - Holt começou, coçando a barba e evitando nos olhar muito, pegando um envelope branco que estava em cima da mesa e o abrindo, jogando os papéis na ponta da mesa, e embora alguns tenham caído, eu sabia bem do que se tratava e meu corpo gelou da cabeça aos pés.
- Que merda é essa aqui, ? E , você só está aqui porque eu sei que você provavelmente tem algo a ver com isso, vocês não fazem nada sozinhas, então falem, por que vocês tem isso? - tia Ellie berrou sem dó.
Eram as fotos impressas de Megan sobre os recibos de Paul. Eu olhei pra com puro desespero, observando que ela estava na mesma situação.
- Onde você achou isso? - a voz de saiu como um sussurro.
- Onde você deixou, oras! Debaixo do seu notebook, e sabe o que mais eu achei? - tia Ellie agora usava um tom um pouco mais debochado - Isso aqui! - ela abriu a mão, revelando um pacotinho pequeno com um pó branco e minha respiração foi pra puta que pariu de vez.
- E-eu... Eu não...
A voz de literalmente sumiu e eu sentia que o mundo estava me esmagando. Ok, tirávamos cópias das fotos de Megan mas eu sempre queimava as minhas e deixava as originais com , afinal, não podia correr o risco de ou qualquer outra pessoa achar as fotos, até porque ninguém sabia do nosso lance com Megan, absolutamente ninguém. Eu só não imaginava que seria burra o bastante pra deixar essa porcaria debaixo do notebook, e pior, estar com drogas no quarto também, e PIOR que isso é que eu realmente não fazia ideia se era algo de Grant o dela mesmo, até porque...
- , você sabe algo sobre essas fotos? Porque eu duvido que tenha conseguido isso sozinha. Eu sei muito bem as coisas que estão aqui, são drogas, armas e um monte de coisa que você não entende, mas eu preciso saber, onde vocês conseguiram isso? - Voight falou cada palavra numa falsa tranquilidade que acabou comigo. Ele estava tentando manter a calma, mas dava pra ver claramente em seu olhar a sua raiva e decepção.
- Conhecemos uma pessoa e ela nos deu isso. - eu falei de uma vez, sem pensar e com os olhos fechados. Assim que os abri e encarei , ela continuava desesperada e totalmente paralisada, como se nem estivesse respirando.
Um nó gigante se formou em minha garganta e eu engoli o choro que queria vir.
- Que pessoa? - Voight levantou o tom, já desistindo de fingir paciência.
- , de quem é isso? Eu juro que se for seu... - tia Ellie gritou mais uma vez, jogando o saquinho em cima da mesa e dando um passo à frente, ficando de frente pra .
Eu nunca me senti tão sufocada, presa, encurralada e nervosa. Fechei os olhos e os apertei, tendo a doce esperança de abri-los e tudo sumir, mas não, tudo permanecia lá: os três totalmente nervosos.
- Vocês não vão conseguir nada berrando no nosso ouvido! - choramingou com a voz falha.
Eu coloquei as mãos no ouvido feito uma criancinha fugindo do barulho. Mesmo com os olhos fechados, senti as lágrimas teimosas chegando.
- Quem deu isso pra vocês? - Voight repetiu ainda mais grosseiro e ainda mais alto. Mesmo tampando os ouvidos, eu ouvia sua voz como se ele estivesse dentro da minha cabeça.
- Megan Rae. Ela é a mulher do Paul, veio atrás de mim por ajuda porque ele prende ela feito um animal, a vida dela acabou por conta dele. Ela começou a tirar fotos do que pode pra nos ajudar em uma possível prisão dele, mas pelo visto, nem sendo preso ele pararia, então nós decidimos parar de nos encontrar pro bem dela, mas eu disse que conseguiria os documentos falsos que ela precisa pra poder fugir, porque caramba, ela é jovem demais e não merece continuar nessa bosta de vida! - eu disparei de uma vez com todas as informações. Meu queixo tremia enquanto eu respirava fundo ao finalizar, totalmente nervosa e chorosa, tendo a atenção de todos em mim como se eu fosse uma atração de circo.
- Ela achou que prenderia ele com isso? E foi por isso que você me perguntou sobre isso também? - Holt questionou chocado e uma pitada de deboche veio junto, como se aquilo fosse realmente uma piada.
- Me desculpa se alguém ainda acredita em justiça nesse mundo! - retruquei respondona, sentindo o nó na minha garganta me sufocar mais e mais.
- Vocês são... Puta que pariu! - Ellie bufou enquanto balançava a cabeça negativamente - Mas ... - ela estava prestes a encurralar mais ainda pra saber de quem era aquela droga e ela estava tão nervosa quanto eu ou mais, porque ela estava em choque total, não conseguia mexer um músculo sequer.
- Isso é...
- Você não! Você vai tentar inventar algo pra proteger ela e vocês não tem mais treze anos pra fazer esse tipo de coisa! - tia Ellie me cortou no mesmo instante, e sinceramente, eu realmente ia mentir, o desespero no olhar de já estava ficando insuportável de encarar mas não deu e ela voltou a olhar pra - Filha, de quem é isso?
- Do Grant. - mais uma vez, um sussurro quase inaudível veio da sua boca e minha respiração se perdeu pela milésima vez.
- Grant não é o...
- Sim, ele mesmo, o garoto que eu estou conhecendo. Ele usa drogas mas está tentando parar, eu juro! Eu trouxe isso pra casa porque ele me entregou pra não usar mais, só que eu esqueci de jogar fora e... - interrompeu Holt com a mão no coração, provavelmente sentindo que o mesmo pararia e aquilo me doeu mais ainda. Ela começou a chorar de uma vez, num desespero absoluto e minhas lágrimas desceram também, como se nossos choros fossem sincronizados.
Mesmo sem coragem ou forças, minhas pernas me obedeceram. Peguei na mão de e a puxei, dando os pequenos passos que faltavam até a porta e abri a mesma, dando de cara com , Scott e Cohen ali com expressões assustadas e em menos de dois segundos, Voight empurrou a porta com toda a força, nos dando um susto.
- Eu preciso dessa tal de Megan, ok? Você vai ligar pra ela ou sei lá o que vocês fazem e vai dizer que eu vou lidar com essa situação a partir de agora, me entendeu bem?
- O que? Claro que não! Eu pedi um único e último favor pra Megan porque ela insistiu e eu vou dar os documentos, depois disso acaba tudo! Você não pode colocar a vida dela em risco! - eu literalmente gritava de desespero porque aquele Voight, totalmente sem escrúpulos na minha frente não parecia ser real. Ele podia estar bravo, mas não tinha esse direito de ser tão ruim.
- E que favor você pediu, ein? Aposto que foi algo pra ajudar o , não é? Como se eu não fosse nada, como se eu não prestasse pra ajudá-lo. Não é a primeira vez que você faz isso e eu tô cansado! Essa Megan pode ser útil pra gente se dermos instruções reais pra ela, porque eu tenho certeza que vocês nem mesmo souberam o que exigir dela, não é mesmo?
Meu lado racional esperneava de maneira absurda mas o emocional me venceu. As lágrimas desciam de maneira descontrolada e cada palavrinha de Voight me doeu na alma de verdade. Ele podia estar bravo, mas não podia ser tão ruim assim comigo, simplesmente não podia!
- Você não tem moral pra falar disso! - eu berrei, sentindo cada palavra arranhar minha garganta pelo esforço por conta do choro desenfreado - Minha mãe tentou te ajudar e acabou sendo presa! Você não pode julgar o que eu faço pelo , você não pode! - eu queria socar sua cara de verdade e pensei nisso, mas meus braços não me obedeceram e passou os braços ao redor do meu corpo, me puxando com força e abrindo a porta de uma vez, nos tirando dali.
, Cohen e Scott ainda estavam ali do lado de fora, mas não encarei nenhum deles. Passei feito um furacão com , com passos rápidos até meu trailer, onde eu finalmente respirei como um ser humano normal.
- , você...
- Eu sei, eu sei!
- NÃO! - gritei, chamando sua atenção completamente - Aquela cocaína...
- É do Grant! Eu realmente esqueci de jogar fora, ! - ela se sentiu totalmente ofendida com aquilo, usando um tom grosseiro em resposta. Sua voz já estava mais firme, o choro controlado e eu estava com raiva.
- Ninguém esqueceria de jogar isso fora, pelo amor de Deus! É cocaína, não um recibo de uma compra que você não vai usar mais! Você tem que...
- Você é louca, porra? Olha como a gente cresceu! Se fosse pra eu usar alguma droga, eu já teria usado há muito tempo atrás e aqui mesmo! - ela levantou elétrica e desacreditada, e por um segundo eu me senti esmagada em culpa, mesmo sabendo que essa história ainda estava estranha.
- , eu...
- Quer saber? Eu vou embora! Eu já fui massacrada demais hoje, e desculpa se minha mãe resolveu xeretar o meu quarto, coisa que ela nunca faz, mas acabou fazendo e a casa caiu pra gente, mas você desconfiar de mim pra mim é demais, !
Eu não tive tempo de responder porque ela simplesmente abriu a porta e saiu de uma vez. Eu grunhi de ódio, chutando a única cadeira que tinha ali com força, puxando meus cabelos em seguida.
- ... - me virei no mesmo segundo em que ouvi sua voz. Talvez um abraço de ou um dos seus carinhos me ajudassem em algo, mas pelo seu olhar, não viria nada disso.
- O que foi? - limpei o rastro de lágrima que estava em minha bochecha, limpando minha garganta e esperando mentalmente que toda confusão tenha acabado.
- Eu ouvi tudo e... - seu olhar já denunciava o que eu já tinha ouvido antes, e por Deus, eu não mereço!
- , eu adoro você, mas por favor, agora não! Eu realmente pedi pra Megan tentar descobrir algo sobre o seu pai, mas se você vier com alguma bronca pra cima de mim agora, eu juro que vou arrancar o seu pescoço fora porque é a última coisa que eu preciso agora!
- , pelo amor de Deus! Você precisa entender que eu não preciso e não quero que você faça nada por mim! Eu não posso ter você se arriscando dessa maneira! Eu já falei, você não gostou, mas eu vou repetir, o problema de gostar de alguém é fazer essas loucuras, e porra, eu não quero ver você fazendo isso, é tão difícil entender? Eu acabei de ver você sendo encurralada por três pessoas que conhecem como essa merda toda funciona e acredite, tudo o que eu queria era te tirar de lá, mas...
- Mas o que, inferno? Você fala como se fosse fácil ficar parada de braços cruzados esperando que algo aqui mude! Nem você acredita nisso, ! Você é doido pra sair investigando qualquer pista pra descobrir algo sobre seu pai, mas quando eu faço isso você já vem com mil e uma desculpas. Você usa as minhas ações e o fato de gostar de você pra ficar nessa picuinha de que isso me faz cometer loucuras, e quer saber? Você está certo, mas eu tenho certeza que você faria o mesmo se fosse o contrário! Eu não sou uma donzela que precisa de proteção o tempo inteiro, se fosse assim, eu nem teria aceitado voltar pra cá, mas aceitei, com emprego e tudo! Você PRECISA parar de usar o meu carinho por você contra você mesmo! Eu tô cansada de ser compreensiva, caralho! Você precisa entender que eu não sou a Sienna, que eu não vou saturar de você e te largar!
Do mesmo jeito que ele entrou, saiu. Ele foi sem dizer nada, nem mesmo pelo olhar. As lágrimas voltaram com tudo de maneira avassaladora, assim como uma dor aguda no meu coração, aquela dorzinha que você sente quando faz merda.
's POV
Em vinte e seis anos, eu tive cinco namoradas. Eu já pensei nisso varias vezes mas o pensamento sempre volta. A capacidade de amar pessoas novas e diferentes. Amores diferentes, sentimentos diferentes. Eu não amei as cinco igualmente, toda vez que rolava o término eu pensava "nunca vou conseguir amar alguém dessa maneira" e nunca consegui mesmo, ainda bem!
O problema é que sempre tem o amor que mais te marca. Comigo, definitivamente foi o meu namoro com Sienna. Agora eu enxergo claramente como cada fase foi incrível, mas não perfeita, e ainda assim, meu amor por ela só crescia, com cada parte do meu ser. Eu não a esqueci, e sinceramente, acho que jamais serei capaz de esquecer, mas aprendi a viver sem ela. Depois de todo esse tempo e de cinco namoros, agora eu também entendo que a cada relacionamento que temos, ensina a sermos melhores no próximo.
Quer dizer... É pra ser assim, certo?
Lembro da minha segunda namorada, a Holly. Eu tinha dezesseis anos e jurava que nunca mais ia conseguir gostar de alguém depois da primeira, então eu comecei a agir feito um babaca, e por algum motivo, Holly gostou. Não, não da minha babaquice, mas de mim, algo que ela viu através de toda a minha insegurança. E aí começou a saga... Eu fiz de tudo pra parecer desinteressado, mas mesmo a realidade sendo outra, eu não me sentia nada pronto, pelo menos eu achava que não, porque já imaginava Holly terminando comigo. Foram meses e meses, até que Holly foi desistindo, se afastando. Ela gostava de mim e não escondia, mas paciência tem limite! Aí doeu, doeu bem lá no fundinho, e quando eu vi que estava quase perdendo Holly de verdade, vi que não é nada fodão ser desinteressado. É chato. Foi chato porque eu perdi de viver um monte de coisa legal pra entrar nesse jogo bocó que quase me fez perder Holly. Tudo bem, eu só tinha dezesseis, mas foda se. Eu preferi ser um idiota e fiquei fazendo joguinhos, esperando ela falar comigo primeiro, me ligar primeiro, mas ela também esperava isso, então foram meses nesse joguinho. Vejo que hoje em dia não mudou muita coisa, devo admitir... Muitas relações superficiais onde ficou ainda pior esse joguinho do falso desinteresse quando demoram mais de dois minutos pra responderem uma mensagem de volta. Fútil e entediante, mas é assim hoje.
Não comigo.
Eu tive sorte - digo sorte porque sei que milhares de pessoas não tiveram esse privilégio - de crescer em uma família boa e bem estruturada emocionalmente. Meus pais nunca tiveram medo ou vergonha de conversar sobre sentimentos. Eu e minhas irmãs crescemos num ambiente cheio de afeto e demonstrações, então era fácil pra mim lidar com isso, sempre foi, até que a vida veio com um monte de soco na minha cara. A gente se fecha por proteção, por necessidade, por medo.
Desliguei o chuveiro e me troquei rapidamente. Tantos pensamentos que foram destrancados, libertados e finalmente organizados.
Tudo isso porque Sienna estava namorando.
É, eu vi ela escancarando o novo namoro nas redes sociais dois dias atrás, no mesmo dia da minha discussão com , a mesma que eu simplesmente dei as costas e não disse nada. Ela não apareceu desde então, não me responde e não vem trabalhar. Cohen estava trabalhando comigo.
Saí do banheiro de uma vez, encontrando Voight no meio do caminho enquanto ele ia até o escritório. O jeito que ele me olhava era diferente, algo novo. Apertei o passo até meu trailer, mas observei de canto que ele desfez todos os passos pra me acompanhar.
- Ei! - ele chamou minha atenção e respirei fundo antes de me virar e encarar seu rosto com a feição nitidamente preocupada - andou falando com você esses dias? - ele parecia realmente preocupado.
- Não. - respondi um tanto quanto ríspido, pronto pra me virar novamente e seguir até meu trailer, mas Voight continuou.
- Eu vou fazer a coisa certa agora, . - aquilo saiu em forma de um anúncio bem sério, e eu tinha tanta coisa pra dizer, mas preferi não o fazer.
Voight era ruim e bom do mesmo jeito. Do mesmo jeito que dá, também tira, e não falo só de . Em meses, isso ficou mais do que claro pra mim, mas eu não estava tão afim de fazer uma análise inútil de Voight, minha prioridade é completamente outra. Entrei no meu trailer de uma vez, encontrando Cohen jogado na minha cama e Scott sentado no chão largado mexendo no celular e comendo asinhas de frango. Com eles sempre tinha todo tipo de conversa o tempo todo. Assuntos aleatórios que chegavam atropelando outros assuntos aleatórios e vivíamos na gargalhada, mas pela primeira vez, nos contentamos com o silêncio e eu agradeci mentalmente por isso.
's POV
O sofá da casa da mãe de Lydia era incrivelmente confortável. Dois dias nele, longe da barulheira das portas dos trailers alheios batendo e do portão de entrada mais barulhento ainda, senti que tive dois dias de rainha, embora Keith tenha chorado um pouco na primeira madrugada. Eu não quis falar com ninguém, literalmente ninguém, até vir aqui ontem choramingando como se o que rolou tivesse sido uma das brigas que rolava quando tínhamos uns doze anos. Eu não corri atrás porque sabia que precisávamos de um tempo pra pensar, e ela voltou dizendo que jamais brigaria comigo por conta de um homem, mesmo estando apaixonada por Grant.
- Vamos? - Lydia me chamou, me tirando dos meus devaneios.
Descemos as escadas e nos despedimos de sua mãe e de Keith, entrando no Uber que nos esperava na porta que nos levaria até a casa de show que cantaria hoje. Confesso que a moto de me fazia falta, era mais emocionante.
... Ele me mandou diversas mensagens e eu juro que não sei como consegui ignorar todas, exceto a primeira, onde respondi que estava dormindo na casa de Lydia. Voight também me lotou de mensagens e ligações, mas essas eu ignorei completamente. Eu estava com raiva, mas não deles, e sim de mim mesma.
Assim que descemos do carro e entramos no local ainda não tão cheio, aproveitamos pra beber algo. Não gosto da ideia de ficar bêbada, mas por diversos motivos, me parecia uma boa opção. Simplesmente... Dane-se. Eu mereço jogar tudo pro alto, não é? Ou talvez eu deva simplesmente correr pra , Voight, Holt e pedir desculpas por ser irresponsável? Talvez...
Eu sei que não existe um protocolo certo pra lidar com situações complicadas da vida, mas eu só queria não sentir tanto. Queria que essas situações não se transformassem numa novela onde dá a entender que porra, eu sou uma coitadinha. Eu não sou! Eu só não sei lidar com provavelmente bosta nenhuma e talvez e seja um saco por isso.
Virei um shot de vodka com Lydia, sentindo a bebida se arrastar e queimar minha garganta enquanto descia. Ok, nada de ficar bêbada, meu lado sensato já estava martelando! A casa começou a encher cada vez mais e Grant chegou com uma porrada de amigos e em seguida os garotos chegaram. Porra, eu queria socar a cara de todinha por ele ser tão ridiculamente lindo. Como pode?
Nossos olhares se encontraram da maneira mais clichê possível e eu queria simplesmente desviar e fingir que ele não estava ali, mas não dava. Lydia segurou minha mão e a puxou com gentileza até eu me levantar e seguir com ela até onde os garotos estavam.
- Quem é essa? - Cohen perguntou numa falsa atuação pra Lydia, apontando o dedo pra mim.
- Acho que te conheço de algum lugar... - Scott entrou na brincadeira, soltando uma risada e me dando um abraço forte.
O olhar de Cohen intercalava entre eu e e por um segundo eu me senti desconfortável, mas eles são amigos dele também e provavelmente já sabiam de tudo o que eu disse pra . Eu olhei rápido pra ele, tentando e falhando miseravelmente identificar algum rastro de rancor ou raiva por ali, mas tinha a mesma expressão serena e cheia de força que eram só dele.
As luzes foram apagadas e a intro de começou e logo ela se apresentou, arrancando vários gritos. Grant estava um pouco longe mas acenou simpático e voltamos a atenção pra minha amiga. possuía musicas viciantes e a maioria das pessoas já cantavam junto. Aos poucos, ela estava construindo seu legado e eu não podia estar mais feliz. Assim que a quarta música terminou, ela chamou a atenção de todos.
- Essa próxima música se chama Escape e eu finalizei ela no começo dessa semana e quero mostrar pra vocês. Ela é muito especial pra mim e surgiu de uma frase que ouvi durante uma conversa com alguém muito especial. Espero que gostem! - ela deu um sorrisinho sapeca enquanto me olhava discretamente e eu gelei de nervoso, mas um nervoso gostoso, animado. Sussurrei um "não acredito" pra mim mesma enquanto sorria sem parar pra ela.
Never did I think I'd want you
(Nunca pensei que eu ia querer você)
Always seen you 'round my way
(Sempre te vi a minha volta)
Never had the strength to tell you
(Nunca tive forças para te dizer)
I kinda, sorta think you're great
(Eu meio que acho você ótimo)
Strange for me to wanna love someone who's better by themselves
(Estranho para mim querer amar alguém que é melhor sozinho)
Hate to know that I made you crazy for myself
(Odeio saber que eu fiz você louco por mim)
'Cause I don't want you thinking that my love's in vain
(Porque eu não quero que você pense que meu amor é em vão)
Baby I've been falling for you but falling back up out your way
(Baby, eu tenho uma queda por você, mas está saindo fora de seu caminho)
'Cause I can't make you lose yourself
(Porque eu não posso fazer você se perder)
Looking for me
(Procurando por mim)
And I can't let you make me your, your everything
(E eu não posso deixar você me fazer seu, seu tudo)
I just wanna be an escape
(Eu só quero ser uma fuga)
I just wanna be an escape
(Eu só quero ser uma fuga)
Baby can we escape, escape, escape?
(Baby, podemos escapar, escapar, escapar?)
Meu coração batia mais forte a cada batida da música acompanhada da voz de . Arrisco dizer que absolutamente todos os pelos do meu corpo, absolutamente todos, estavam arrepiados também. Eu quis chorar. Ela realmente tinha usado uma de nossas conversas pra escrever uma música!
Eu senti o olhar de me queimando e não tive a coragem de virar o rosto, mas ele teve a coragem de se aproximar até demais. me abraçou por trás tranquilamente, numa calmaria de quem sabia que eu jamais negaria seu corpo colado ao meu. Suas mãos pousaram em minha cintura e um beijo foi depositado no topo da minha cabeça e eu quis chorar mais ainda. Ele balançava nossos corpos num ritmo lento, e eu não precisava olhar pra saber que ele estava prestando atenção em e na letra da música tanto quanto eu.
'Cause I've been staying low, holding back
(Porque eu tenho ficado na minha, segurando)
Fighting the feelings that you've been giving
(Lutando contra os sentimentos que você tem dando)
And I've been trying to put it all into words
(E eu tenho tentado colocar tudo em palavras)
But I can't so I'm singing
(Mas eu não posso, então eu estou cantando)
Assim que a ponte da música terminou, eu realmente pensei que meu coração pararia de verdade. conseguiu transformar tantos sentimentos em arte pura, numa caralha de uma música linda! Uma lágrima ligeira escapou dos meus olhos e eu a limpei rapidamente, não querendo correr o risco de ninguém ver. Assim que terminou de cantar e quase fizemos nossas mãos caírem de tanto que aplaudimos, me desvinculei dos braços de e andei até a ponta do palco sem nem olhar pra trás, apenas esperando que desceu sorridente e quase me derrubando com um abraço apertado.
- Você gostou? - ela perguntou elétrica.
- Garota! - a iluminação foi ligada novamente mas ainda assim era bem fraca, então não daria pra ela ver meus olhos marejados, mas dava pra notar minha voz chorosa - Eu não acredito que você fez isso, sério! É claro que eu gostei! Eu amei, eu fico tão orgulhosa de você, do seu talento e de todas as coisas que você está conquistando e... - minha voz foi sumindo - Eu to morrendo de raiva de mim mesma porque puta que pariu, é demais pra mim, sabe? Eu não sei se consigo lidar com isso e...
- Ai mulher, você vai entrar nessa? - colocou as duas mãos em meu rosto e segurou o riso. Apertei os olhos e me entreguei àquilo e começamos a rir juntas. Umas três lágrimas traiçoeiras escaparam enquanto ríamos juntas e ela limpou as três - Eu vi vocês agarradinhos! Vocês só precisam conversar, tá bem? - ela acelerou a fala cada vez mais, soltando meu rosto e sendo puxada de uma vez por Grant, que deu um selinho demorado em seus lábios e a abraçou.
, Cohen, Scott e Lydia se aproximaram também, enchendo de elogios e abraços, e mais uma vez, nossos malditos olhares se cruzaram. Eu queria não ter me rendido tanto a esse sentimento. estava certo em um ponto, gostar de alguém te faz cometer algumas loucuras e pior, você nem percebe. Eu não fiquei esses dias sem falar com ele por raiva dele, e sim por raiva de mim. A realidade é que mesmo tudo o que eu disse tenha sido realmente verdade, eu nunca vou entender como funciona. Eu nunca vou entender de verdade o que Sienna foi pra e não posso competir com isso, não posso querer exigir que ele a esqueça totalmente. Acho que no final é sempre a mesma coisa: sai todo mundo ferrado e com o coração partido.
Me enfiei no meio da multidão, indo até o bar e pedindo uma bebida forte. Acontece que não adiantava fugir porque o lugar não era tão grande e obviamente pediríamos as bebidas no mesmo lugar, então não dava pra fugir de . Grant chegou com o batalhão de amigos e pediu varias bebidas também. Um deles me cumprimentou e ofereceu a bebida que estava em seu copo mas recusei. Fomos todos pra uma grande mesa onde nem dava pra todos ficarmos sentados, mas pior que isso é que mesmo com a música ótima, eu não queria dançar, não queria me mexer, não queria fazer nada. Eu só queria... sumir.
As coisas se desenrolaram rápido até demais. Bebidas, o pessoal gritando, Lydia sendo super simpática e os garotos também, até Grant e mais dois amigos jogarem um pó branco na mesa.
- Ei! - chamou a atenção de Grant numa bronca, e mesmo com a iluminação precária, dava pra ver claramente sua expressão nervosa.
- Qual foi? Não quer experimentar? - Grant sugeriu sorridente e quase ficou transparente de tanta vergonha.
- Grant... - ela disse baixo mas o suficiente pra ele a ouvir, e embora ele tenha entendido que aquilo não a agradava, continuou.
- Babe, não é nada demais! - ele retrucou bem humorado e rolou os olhos.
- Ok, isso não é pra mim. - Lydia levantou os braços como se estivesse se rendendo e começou a andar. Scott e Cohen a seguiram numa fúria explícita em seus rostos.
- Vocês não querem tentar? - um dos amigos de Grant ofereceu calmo, ajeitando o pó em fileirinhas e deu um passo largo pra frente mas me coloquei no meio, segurando em seu peitoral.
- Melhor não! - alertei assustada, vendo seu punho direito muito bem fechado, mas que se abriu rapidamente e ele se virou, entrelaçando nossas mãos.
Olhei pra trás uma última vez e vi claramente sussurrando um "me desculpa". Teríamos uma longa conversa.
foi me puxando pela multidão até chegarmos no bar novamente, onde ele pediu uma bebida forte e a tomou em questão de segundos. O encarei firme por alguns instantes sem saber o que fazer. Virei meu corpo e dei um passo junto, cerrando minha visão na esperança de enxergar , mas não consegui ver nada. Uma das mãos de me segurou firme, me dando um pequeno susto.
- Não vai. - ele pediu sem jeito, totalmente desarmado e com um olhar lotado de informações. Ele achou que eu tinha me virado pra sair de perto dele.
- Não vou pra lugar nenhum, é só que...
- A gente precisa conversar. - ele puxou meu corpo pra mais perto, sussurrando no meu ouvido de maneira que beirava a preocupação e meu corpo gelou.
- Eu sei que falei demais, mas eu precisei. Desculpa se eu passei um pouco do...
Ele colou nossas bocas num selinho longo, arrumando meu cabelo em seguida e dando um sorriso fraco, mas ainda assim, lindo de morrer.
- Eu mereci ouvir tudo aquilo, . Eu queria te puxar agora mesmo pra irmos pra algum canto, mas não vou conseguir ir embora sabendo que tá aqui com esse cara que... - bufou indignado, balançando a cabeça negativamente.
- O pior é que ela detesta essas coisas, sabe? Eu não sei o que rola de verdade, mas agora eu estou com medo dela acabar cedendo e cair nisso também. Grant não parece ser uma pessoa ruim, mas quando se tem um vicio...
concordou com o olhar e pediu mais duas bebidas, me entregando uma delas. Em seguida, ele nos levou até onde Lydia estava com os garotos em uma outra mesa num papo engraçado e agradável. as vezes saía, se aproximava da mesa de Grant e voltava avisando que não estava fazendo nenhuma besteira. Eu senti meu coração esquentar por ver que ele estava preocupado com ela também e por ver ele super solto durante a conversa na nossa mesa. Quando todos decidiram levantar pra dançar um pouco ele relutou um pouquinho mas me seguiu e arriscou alguns passos engraçados, me fazendo gargalhar alto. Definitivamente não tem ninguém como ele.
O vento gelado batia em nossos corpos enquanto voltávamos pro lugar onde chamávamos de casa. foi cuidadoso, perguntou se eu me sentia pronta pra voltar, e mesmo se eu não estivesse, tinha que voltar. Scott e Cohen trabalharam no meu lugar junto com enquanto eu corri pra casa de Lydia feito uma criança assustada. Mesmo sabendo que o que eu fiz não era o ideal, Voight não podia ter sido tão rude comigo. Quero dizer... Não precisa, sabe? Eu já faço isso por mim mesma.
Primeiro passamos na casa de Lydia pra pegar as minhas coisas e seguimos caminho. Embora tenha ficado espiando por horas pra conferir se ela não estava se drogando também, ela foi embora com Grant e infelizmente não daria pra adivinhar o que rolaria. Descemos da moto e entramos no trailer de . Arrumadinho como sempre e o pequeno lugar tinha o seu cheiro impregnado. Me joguei em sua cama de uma vez, morrendo de cansaço mas sabendo que rolaria uma conversa séria.
- Você é linda, . - ele disse em alto e bom som, completamente do nada, me olhando sem nem piscar.
- Você... - cerrei os olhos, balançando a cabeça de maneira quase tímida - Não existe!
- Você tem alguma noção do que estamos fazendo? - ele se sentou no fim da cama e eu fiz o mesmo, ficando ao seu lado e decifrando que, pelo seu olhar, ele se referia a nós.
- Eu não faço ideia.
- A música nova que cantou hoje... - ele cerrou os olhos de leve e eu sorri sem graça.
- Estávamos conversando um dia e eu disse que caso você se entregue à isso que temos, não quero que se perca procurando por mim. Não que eu me ache o máximo, eu só quero que você sinta livre. - minha voz foi abaixando conforme eu respondia. Estava totalmente sem graça.
- Sabe, , esses dias foram complicados e decisivos. Eu jurava por tudo que jamais conseguiria me envolver com ninguém depois de Sienna e olha só... Mas o problema nem foi esse, o problema foi reconhecer que as coisas seguem um caminho geralmente parecido. As pessoas se conhecem, ficam, se gostam e se amam. Eu me sinto receoso porque você mesma diz que nunca se apaixonou e quando eu vejo você cometendo certas loucuras eu me sinto um bosta, entende? Eu não quero que nada te aconteça!
- Você é o meu primeiro amor. Eu não sou o seu e tudo bem. Eu juro, as vezes quando eu paro e penso em nós, eu me vejo como uma maluca. A minha mente é a minha própria arma, então não me ajuda muito nesse pensamento, mas às vezes sinto que sou meio que obcecada por você, então se a gente parar pra pensar, as coisas se inverteram. Talvez eu te sufoque e não saiba. Talvez EU fique totalmente dependente de você, sabe? São tantas coisas pra pensar... - meu coração estava quase saindo pela boca de tanto nervoso pelo rumo que a conversa estava tomando. permanecia totalmente sério e firme em cada palavra, mas também com um toque de carinho em cada uma delas.
- Eu não sou o único homem no mundo, . Talvez você encontre o amor da sua vida amanhã no mercado, entende? O que você sente por mim, pode sentir por qualquer outro, mas de maneira diferente. - ele não conseguia esconder o olhar aflito e eu já não consegui mais esconder meu desespero. Meu olho se encheu no mesmo instante.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu não tenho vergonha de falar sobre meus sentimentos, eu fui criado assim, então vou ser extremamente sincero com você. Tenho medo de fazer com que você me ame a ponto de ficar comigo por sentir que eu não vou conseguir mais viver sem o seu amor. Medo de um dia você acordar e não conseguir mais lidar comigo. - eu sentia em mim, até fisicamente, o peso das suas palavras. A dor dele. O trauma. Os olhos de estavam carregados, assim como suas palavras e por um instante eu pensei em correr e fugir, parecia muito pra aguentar, ouvir e absorver, mas uma partezinha de mim estava grata pela confiança, pelo momento, por nós, mas o desespero foi maior e me engoliu de vez.
- ... - me aproximei ainda mais, acabando com qualquer rastro de distância entre nossos corpos. Segurei firme em seu rosto, sentindo uma lágrima cair do meu olho e eu não tive forças nem pra tentar esconder, porque era impossível a essa altura.
- A gente é uma bagunça, . Dentro da sua cabeça tem uma confusão tão grande que você é incapaz de explicar, e é assim comigo também. Do mesmo jeito que você faz coisas que doem em mim por saber que é consequência dessa coisa louca que temos, eu devo te deixar maluca também, brava principalmente, mas nós somos assim e eu acho que dá pra gente ir levando desse jeitinho. - ele levou suas mãos até meu rosto também, me encarando profundamente, mas de um jeito completamente diferente. Ele esfregou o polegar na minha bochecha esquerda, tirando o rastro da lágrima e abrindo um sorrisinho fraco porém poderoso em seguida.
- Você não tá terminando comigo?
- Na quarta feira eu descobri que Sienna começou a namorar de novo e...
- , pelo amor de Deus, você tá terminando comigo ou não? - eu o interrompi com os olhos totalmente arregalados e segurei em suas mãos, as tirando do meu rosto rapidamente e me levantei feito um furacão.
Não podia ser! Sienna não podia ficar entre nós pra sempre. Não podia!
- Ficou maluca, ? - ele levantou ligeiro, grudando seu corpo no meu e dando um passo grande, me forçando a fazer o mesmo, consequentemente me fazendo também bater meu corpo na parede - Esse é o nosso paraíso e nossa zona de guerra, a gente vai ter que se virar. Eu pensei que nunca estaria pronto pra ver ela namorando de novo, mas acontece que eu não me afetei com a notícia por sua causa, pelo o que eu sinto por você. - ele abriu um sorriso completo, de orelha a orelha, totalmente orgulhoso de si mesmo, dava pra perceber. Suas palavras saíram da maneira mais alegre e limpas possíveis e mais uma vez, meus olhos se arregalaram na surpresa mais linda que eu poderia ouvir.
- Você não tá terminando comigo! - comecei a gargalhar desacreditada e disparou a me das inúmeros selinhos, me segurando firme pela cintura.
E agora eu posso confirmar numa boa: estou definitivamente apaixonada por .
Dei duas batidas na porta antes de entrar. Por um milagre, Voight tinha ido pra casa mais cedo. Holt subiu com o olhar, me analisando.
- Precisa de alguma coisa, mocinha?
- Na verdade sim. - sorri de um jeitinho sapeca, me sentando rapidamente - Em primeiro lugar, Voight disse que tinha um encontro com Zane ontem, e estou supondo que você foi junto, estou certa?
- ... - ele cerrou os olhos junto a um olhar divertido, como se eu tivesse aprontando algo.
- Foi que eu sei! Alguma novidade?
- Você sabe que eu te considero uma criança ainda, não sabe? - uma gargalhada gostosa foi dada - Ocorreu tudo bem na medida do possível. - Holt me deu uma piscadela e isso foi o suficiente pra eu entender que não teria mais nenhuma informação além daquela, e afinal, por que ele me contaria, não é?
- Ok, segunda coisa... - limpei a garganta - Eu sei que sempre mostrei desinteresse pelas coisas que acontecem aqui, mas eu realmente gostaria de saber o que faria Paul ser preso? - finalizei com um sorriso beirando a falsa inocência, esperando Holt não estranhar tal pergunta, mas ele só riu, de verdade mesmo, uma gargalhada alta que vem com força.
- Tá doida, ? - ele continuava a rir mas seu rosto foi ficando sério a medida que foi percebendo que eu não ria, na verdade nem esboçava mais nada em minha face, deixando ele um tanto quanto sem graça - Não é bem por aí, . Ele tem dinheiro, e você sabe o que o dinheiro fez? Compra as pessoas. Você imagina o quanto ele tem? Pois então, com todo esse dinheiro, qualquer prisão daqui que ele for se torna um hotel. Ele ser preso e nada seria a mesma coisa.
- Como assim? Então não tem jeito?
- Tudo tem um jeito, mas nesse caso, é um pouco mais complicado.
Ok, nunca é tarde pra tentar entender. Holt mantinha o olhar de quem não queria dizer muito, ou seja, eu tinha que mudar aquilo. Eu nunca mostrei interesse e precisava mudar isso com urgência.
- Olha, repetindo, eu sei que mostrei um baita desinteresse com as coisas que acontecem aqui, mas eu realmente queria saber, entende? Eu vivo aqui, trabalho aqui... É o mínimo, não é? - arrisquei um biquinho pidão, fazendo mais uma vez o homem gargalhar. Holt e Voight eram super diferentes e isso todos conseguem notar.
- Saber o que rola aqui não vai te trazer nenhum benefício, . Só revolta. Se tem uma coisa que eu posso te dizer, é que a gente já desistiu de defender a normalidade. Não há mais normalidade alguma. O mundo em geral precisa fazer uma autocrítica da própria incompetência. A polícia deveria nos ajudar, não é? Mas não se engane, porque as vezes eles são até piores. A gente tá na merda e precisamos trabalhar dentro dela.
- Mas... O que pararia Paul? A morte? - eu nem precisei de uma resposta de volta, seu olhar duro foi o suficiente. Eu já tinha tido o suficiente.
Me despedi e saí dali rapidamente, indo até meu trailer totalmente atordoada. Simplesmente não há solução porque talvez na real ninguém entende nem a extensão do problema. Ou seja, eu devo simplesmente perder as esperanças e aceitar que estamos todos no inferno e que nada tem salvação, livramento ou sei lá?
Bufei emburrada, me sentando na cama e pegando o envelope que tinha me entregado mais cedo mas ainda não tinha aberto. Megan tinha mesmo deixado as fotos impressas na caixa de correios do estúdio, e assim que abri, me senti frustrada. Que diabos eu faria com um monte de anotações de mercadorias que estavam basicamente em códigos? A vida do crime realmente exige inteligência, um nível que eu não tinha noção de como alcançar, e no fundo, nem queria. Me lembrei do seu olhar desesperado porém até esperançoso em alguns momentos. Megan merecia sua vida de volta e estava se esforçando.
4 SEMANAS DEPOIS.
- Meu Deus, que merda eu fiz? - comecei a rir descontroladamente e riu de mim. Encarei a parede com o meu projeto de grafitagem que deu errado até demais.
- Acho que já está bom por hoje. - pegou o spray da minha mão, prendendo o riso.
- Ok, temos o dia todo pela frente. Podemos plantar uma árvore, ir naquele abrigo visitar os cachorrinhos de novo, sair sem rumo na sua moto, mas aí estaríamos gastando gasolina, então...
- Ou eu posso te levar ao cinema.
- Oi? - paralisei no mesmo instante, incerta se tinha ouvido aquele convite mesmo.
- É isso que pessoas normais fazem, não é? - ele soltou uma risadinha fraca, me puxando pela cintura com gentileza - Até demorei pra fazer isso, mas a vida aqui é meio... Sei lá, as vezes as coisas aqui me sugam demais e eu não quero que isso tome conta de mim totalmente, quero fazer coisas diferentes e isso pode incluir plantar árvores, visitar os cachorrinhos ou sair sem rumo na minha moto com você, mas hoje eu tava afim de um cinema, você topa?
- Engraçadinho! - encostei nossos narizes junto com um sorriso largo - Com você eu vou pra qualquer lugar!
Ok, algumas lágrimas escaparam durante O Rei Leão, mesmo eu tendo crescido assistindo esse filme e tendo total noção de tudo o que acontece. Paramos pra comer, e eu não conseguia parar de observar cada detalhe, gesto que ele fazia ou palavra que saía da boca de .
- Parecemos normais aqui no meio desse tanto de gente. - ele deu a primeira bocada no lanche, fazendo uma carinha linda de satisfeito com o gosto.
- Nós somos normais!
- Eu sei, mas digo, quantos daqui fazem parte de uma gangue? - ele retrucou pensativo.
- E quantos daqui podem ser algo a mais do que um simples membro de uma gangue? - arqueei uma sobrancelha de maneira abusada, mas cheia de graça - Não dá pra saber!
- É, você tem razão. - deu os ombros, voltando a comer seu lanche.
"Encontro hoje com N.E. às oito! xx ."
Observei a mensagem em meu celular e logo bloqueei o mesmo com pressa, mesmo sabendo que não corria o risco de ver porque ele estava concentrado demais em seu lanche. passou a se referir à Megan Rae pelas últimas letras de seu nome, tudo por precaução, afinal, ninguém sabe do que Paul é capaz ou até onde ele seria capaz de desconfiar de algo. Assim que terminamos de comer, sugeriu que fôssemos no fliperama do shopping e obviamente concordei com a ideia. De longe dava pra perceber que ele estava num dia bom, aquele tipo de dia em que você sabe que tudo está uma bagunça, mas que tem muita esperança de que tudo se ajeite. Eu podia sentia que ele estava tranquilo. Eu sorri feito uma boba, não dava pra me aguentar. Relacionamento bom não cai do céu, é uma construção que exige muitas coisas, mas acho que todo dia a gente se dá isso. tem um jeitinho mais recluso e eu entendo, aprendi a entender. Tudo o que rolou com Sienna não foi fácil. Agora eu... Eu posso ver claramente transbordar em tanto sentimento que tenho por ele, mas não sei se ele realmente sente isso, não sei se mostro tanto. Mas talvez esse tipo de coisa a gente adquira com experiência, amor, cumplicidade, conversa, parceria e vontade de fazer dar certo. Eu quero que dê certo, porque querendo ou não, ele é o ombro que eu procuro, é dele que vem minha segurança e bem estar.
É ele!
Eu posso ver o tanto de coisa que temos em comum, mas a real é que comum é a última coisa que nos resume, porque comum não é o suficiente.
- Como estão as coisas? - perguntou enquanto oferecia a porção de batatas fritas que estava em sua mão, mas Megan recusou com a cabeça.
- Um inferno! Pelo o que eu entendi, tem gangues rivais em cima dos Ghosts, e creio que dos The Lions também. Eles realmente pressionam até começar uma guerra, desestabiliza um lado e quando o outro acha que está livre, eles atacam. É um verdadeiro inferno! Paul está mais insuportável que nunca. - Megan encostou o corpo todo no sofá, jogando a cabeça pra trás e passando a mão por eles de modo nervoso.
- Bem, temos que te dizer algo, uma decisão nossa... - começou de modo quase que tímido, algo quase surreal. Ela mordeu o lábio sem graça, dando um longo suspiro antes de continuar - Eu e achamos melhor pararmos com isso aqui. A gente conversou e pelo visto não é possível prender Paul, ele tem muitos contatos com a polícia e colocá-lo na cadeia continuaria sendo um risco pra você, porque ele pode te atacar de lá mesmo.
- Vocês estão... me dispensando? Eu pensei que tivéssemos um acordo e...
- Megan, nesse último mês a gente sabe o quanto você se esforçou! Todas as fotos que você tirou provavelmente te exigiram um cuidado enorme, mas eu mesma conversei com Holt e pelo jeito que ele falou, só matando o Paul pra isso tudo acabar de vez e olhe lá! - a interrompi, sentindo meu coração totalmente acelerado - Eu sei que é decepcionante, você está presa à um monstro, mas se ele descobrir que você está envolvida conosco, ele não vai pensar duas vezes, vai te matar no mesmo segundo!
- Mas... Inferno! - Megan se levantou de maneira brusca, caminhando de um lado pro outro com a mão na testa, como se estivesse se forçando a pensar - Eu fui burra demais em achar que essas míseras fotos de recibos que ele queima dias depois de receber mudariam alguma coisa, e pior ainda, de achar que vocês poderiam me ajudar, sendo que ninguém pode! - ela chutou o sofá totalmente nervosa e eu dei um pulinho de susto.
- Eu não sei qual é a história dele, mas Paul se convenceu que por ser inteligente, bem sucedido logicamente e financeiramente, o mundo é dele. A gente ainda pode te ajudar, eu posso conseguir os documentos falsos pra você, mas eu realmente acho que essas reuniões aqui devem acabar pra o seu próprio bem! - era o máximo que eu podia fazer por Megan, e mesmo não sendo o suficiente pra mim, pareceu pra ela, já que seus olhinhos se ergueram numa esperança explícita.
- Vocês duas são incríveis! Eu sei que não pude dar muito durante essas semanas, mas eu vou estar mais atenta! Me diga algo que vocês precisam, uma informação específica ou alguém, eu vou tentar mais! - ela verbalizava tudo de maneira elétrica, desesperada pra poder retribuir.
- Megan, não precis...
- Por favor, me deixa ajudar, ou pelo menos tentar! - ela juntou as mãos numa forma de pedido, junto a um olhar adorável que eu nem sabia até então que ela tinha, e juro, qualquer olhar de Megan te faz concordar ou deixar qualquer coisa, de verdade!
- Ok, tem esse homem... - bufei alto em derrota, mas já pensando que talvez, bem talvez, Megan conseguisse algo útil - Yaser . Tudo começou quando o sócio dele roubou uma mercadoria de Paul, mas ele desapareceu e sobrou pra ele. Paul propôs um acordo absurdo e hoje em dia Yaser está fugindo como o diabo foge da cruz e tudo isso está afetando o filho dele.
- E você gosta dele? - Megan semicerrou os olhos, se sentando ao meu lado cheia de curiosidade.
- Quem? Do Yaser? - forcei uma voz e um olhar de desentendida, arrancando gargalhadas altas das duas pela minha péssima atuação proposital.
- Bobinha! Mas toma cuidado, ok? Se essa relação demandar muito esforço, se você precisar deixar de ser você ou precisar minimizar suas falas, caia fora, ouviu? - ela alertou enquanto segurava minhas mãos de um jeito firme, e mais uma vez, seu olhar me trouxe informações e sentimentos que eu sabia que podia confiar de verdade.
- É... Obrigada!
Dizem que você precisa, antes de tudo, se conhecer. Saber aquilo que te acalma, o que te deixa feliz e o que te apavora. Acho que eu descobri... O que me acalma é isso: , , Cohen, Scott e Lydia comigo depois de uma sessão de cinema todos juntinhos. Pessoas companheiras que numa quarta à noite toparam um cinema mesmo sem nenhum filme tão interessante em cartaz, apenas sabendo que seria legal só pela companhia. Óbvio, se conhecer também tem essa parte de descobrir os seus detalhes quase escondidos e os seus medos nunca explorados. Mas é parte do processo todo, não? Ninguém se conhece totalmente e pronto, o processo acaba. Se conhecer é algo que dura pro resto da vida, durante todos os dias dela.
- E vocês estão convidados, óbvio. - falava de um jeito embolado por estar segurando o potinho de sorvete que tinha acabado de comprar enquanto fuçava em sua bolsa procurando seu celular, que estava tocando - Alô?
passou o braço ao meu redor, segurando minha cintura de maneira leve, e óbvio que um sorrisinho inevitável escapou e ele retribuiu. Assim que finalizou a ligação, um olhar estanho estava presente.
- O que foi?
- Holt está me chamando no escritório, tipo, agora mesmo! - ela revelou confusa.
Scott deixou Lydia em casa enquanto nós quatro seguimos direto de volta pra casa. Nosso encontro tinha sido tão legal e eu me recusava a acreditar que algo pudesse estragar. Holt provavelmente só queria conversar sobre algo não muito sério. Assim que descemos da moto, tia Ellie estava em frente ao escritório com uma cara nada agradável e veio em nossa direção no mesmo instante.
- Você duas! - ela apontou firme pra nós, de um modo nada simpático - Entrem naquele escritório AGORA!
Tia Ellie era legal, incrível, educada, engraçada, bem humorada, tudo de bom, mas quando ela fica estressada... Jogue todas essas coisas no lixo e se prepare pra ver o demônio, sem exageros!
e Cohen nos olharam confusos e eu só soube olhar pra como se pedisse socorro, mesmo sabendo que nada podia ser feito. Começamos a andar até o escritório de maneira lenta, feito criança com medo da surra, e assim que entramos, Voight e Holt se encontravam em pé e com olhares nada bacanas também.
- Eu vou ser direto até demais porque eu não estou com paciência nenhuma pra isso hoje. - Holt começou, coçando a barba e evitando nos olhar muito, pegando um envelope branco que estava em cima da mesa e o abrindo, jogando os papéis na ponta da mesa, e embora alguns tenham caído, eu sabia bem do que se tratava e meu corpo gelou da cabeça aos pés.
- Que merda é essa aqui, ? E , você só está aqui porque eu sei que você provavelmente tem algo a ver com isso, vocês não fazem nada sozinhas, então falem, por que vocês tem isso? - tia Ellie berrou sem dó.
Eram as fotos impressas de Megan sobre os recibos de Paul. Eu olhei pra com puro desespero, observando que ela estava na mesma situação.
- Onde você achou isso? - a voz de saiu como um sussurro.
- Onde você deixou, oras! Debaixo do seu notebook, e sabe o que mais eu achei? - tia Ellie agora usava um tom um pouco mais debochado - Isso aqui! - ela abriu a mão, revelando um pacotinho pequeno com um pó branco e minha respiração foi pra puta que pariu de vez.
- E-eu... Eu não...
A voz de literalmente sumiu e eu sentia que o mundo estava me esmagando. Ok, tirávamos cópias das fotos de Megan mas eu sempre queimava as minhas e deixava as originais com , afinal, não podia correr o risco de ou qualquer outra pessoa achar as fotos, até porque ninguém sabia do nosso lance com Megan, absolutamente ninguém. Eu só não imaginava que seria burra o bastante pra deixar essa porcaria debaixo do notebook, e pior, estar com drogas no quarto também, e PIOR que isso é que eu realmente não fazia ideia se era algo de Grant o dela mesmo, até porque...
- , você sabe algo sobre essas fotos? Porque eu duvido que tenha conseguido isso sozinha. Eu sei muito bem as coisas que estão aqui, são drogas, armas e um monte de coisa que você não entende, mas eu preciso saber, onde vocês conseguiram isso? - Voight falou cada palavra numa falsa tranquilidade que acabou comigo. Ele estava tentando manter a calma, mas dava pra ver claramente em seu olhar a sua raiva e decepção.
- Conhecemos uma pessoa e ela nos deu isso. - eu falei de uma vez, sem pensar e com os olhos fechados. Assim que os abri e encarei , ela continuava desesperada e totalmente paralisada, como se nem estivesse respirando.
Um nó gigante se formou em minha garganta e eu engoli o choro que queria vir.
- Que pessoa? - Voight levantou o tom, já desistindo de fingir paciência.
- , de quem é isso? Eu juro que se for seu... - tia Ellie gritou mais uma vez, jogando o saquinho em cima da mesa e dando um passo à frente, ficando de frente pra .
Eu nunca me senti tão sufocada, presa, encurralada e nervosa. Fechei os olhos e os apertei, tendo a doce esperança de abri-los e tudo sumir, mas não, tudo permanecia lá: os três totalmente nervosos.
- Vocês não vão conseguir nada berrando no nosso ouvido! - choramingou com a voz falha.
Eu coloquei as mãos no ouvido feito uma criancinha fugindo do barulho. Mesmo com os olhos fechados, senti as lágrimas teimosas chegando.
- Quem deu isso pra vocês? - Voight repetiu ainda mais grosseiro e ainda mais alto. Mesmo tampando os ouvidos, eu ouvia sua voz como se ele estivesse dentro da minha cabeça.
- Megan Rae. Ela é a mulher do Paul, veio atrás de mim por ajuda porque ele prende ela feito um animal, a vida dela acabou por conta dele. Ela começou a tirar fotos do que pode pra nos ajudar em uma possível prisão dele, mas pelo visto, nem sendo preso ele pararia, então nós decidimos parar de nos encontrar pro bem dela, mas eu disse que conseguiria os documentos falsos que ela precisa pra poder fugir, porque caramba, ela é jovem demais e não merece continuar nessa bosta de vida! - eu disparei de uma vez com todas as informações. Meu queixo tremia enquanto eu respirava fundo ao finalizar, totalmente nervosa e chorosa, tendo a atenção de todos em mim como se eu fosse uma atração de circo.
- Ela achou que prenderia ele com isso? E foi por isso que você me perguntou sobre isso também? - Holt questionou chocado e uma pitada de deboche veio junto, como se aquilo fosse realmente uma piada.
- Me desculpa se alguém ainda acredita em justiça nesse mundo! - retruquei respondona, sentindo o nó na minha garganta me sufocar mais e mais.
- Vocês são... Puta que pariu! - Ellie bufou enquanto balançava a cabeça negativamente - Mas ... - ela estava prestes a encurralar mais ainda pra saber de quem era aquela droga e ela estava tão nervosa quanto eu ou mais, porque ela estava em choque total, não conseguia mexer um músculo sequer.
- Isso é...
- Você não! Você vai tentar inventar algo pra proteger ela e vocês não tem mais treze anos pra fazer esse tipo de coisa! - tia Ellie me cortou no mesmo instante, e sinceramente, eu realmente ia mentir, o desespero no olhar de já estava ficando insuportável de encarar mas não deu e ela voltou a olhar pra - Filha, de quem é isso?
- Do Grant. - mais uma vez, um sussurro quase inaudível veio da sua boca e minha respiração se perdeu pela milésima vez.
- Grant não é o...
- Sim, ele mesmo, o garoto que eu estou conhecendo. Ele usa drogas mas está tentando parar, eu juro! Eu trouxe isso pra casa porque ele me entregou pra não usar mais, só que eu esqueci de jogar fora e... - interrompeu Holt com a mão no coração, provavelmente sentindo que o mesmo pararia e aquilo me doeu mais ainda. Ela começou a chorar de uma vez, num desespero absoluto e minhas lágrimas desceram também, como se nossos choros fossem sincronizados.
Mesmo sem coragem ou forças, minhas pernas me obedeceram. Peguei na mão de e a puxei, dando os pequenos passos que faltavam até a porta e abri a mesma, dando de cara com , Scott e Cohen ali com expressões assustadas e em menos de dois segundos, Voight empurrou a porta com toda a força, nos dando um susto.
- Eu preciso dessa tal de Megan, ok? Você vai ligar pra ela ou sei lá o que vocês fazem e vai dizer que eu vou lidar com essa situação a partir de agora, me entendeu bem?
- O que? Claro que não! Eu pedi um único e último favor pra Megan porque ela insistiu e eu vou dar os documentos, depois disso acaba tudo! Você não pode colocar a vida dela em risco! - eu literalmente gritava de desespero porque aquele Voight, totalmente sem escrúpulos na minha frente não parecia ser real. Ele podia estar bravo, mas não tinha esse direito de ser tão ruim.
- E que favor você pediu, ein? Aposto que foi algo pra ajudar o , não é? Como se eu não fosse nada, como se eu não prestasse pra ajudá-lo. Não é a primeira vez que você faz isso e eu tô cansado! Essa Megan pode ser útil pra gente se dermos instruções reais pra ela, porque eu tenho certeza que vocês nem mesmo souberam o que exigir dela, não é mesmo?
Meu lado racional esperneava de maneira absurda mas o emocional me venceu. As lágrimas desciam de maneira descontrolada e cada palavrinha de Voight me doeu na alma de verdade. Ele podia estar bravo, mas não podia ser tão ruim assim comigo, simplesmente não podia!
- Você não tem moral pra falar disso! - eu berrei, sentindo cada palavra arranhar minha garganta pelo esforço por conta do choro desenfreado - Minha mãe tentou te ajudar e acabou sendo presa! Você não pode julgar o que eu faço pelo , você não pode! - eu queria socar sua cara de verdade e pensei nisso, mas meus braços não me obedeceram e passou os braços ao redor do meu corpo, me puxando com força e abrindo a porta de uma vez, nos tirando dali.
, Cohen e Scott ainda estavam ali do lado de fora, mas não encarei nenhum deles. Passei feito um furacão com , com passos rápidos até meu trailer, onde eu finalmente respirei como um ser humano normal.
- , você...
- Eu sei, eu sei!
- NÃO! - gritei, chamando sua atenção completamente - Aquela cocaína...
- É do Grant! Eu realmente esqueci de jogar fora, ! - ela se sentiu totalmente ofendida com aquilo, usando um tom grosseiro em resposta. Sua voz já estava mais firme, o choro controlado e eu estava com raiva.
- Ninguém esqueceria de jogar isso fora, pelo amor de Deus! É cocaína, não um recibo de uma compra que você não vai usar mais! Você tem que...
- Você é louca, porra? Olha como a gente cresceu! Se fosse pra eu usar alguma droga, eu já teria usado há muito tempo atrás e aqui mesmo! - ela levantou elétrica e desacreditada, e por um segundo eu me senti esmagada em culpa, mesmo sabendo que essa história ainda estava estranha.
- , eu...
- Quer saber? Eu vou embora! Eu já fui massacrada demais hoje, e desculpa se minha mãe resolveu xeretar o meu quarto, coisa que ela nunca faz, mas acabou fazendo e a casa caiu pra gente, mas você desconfiar de mim pra mim é demais, !
Eu não tive tempo de responder porque ela simplesmente abriu a porta e saiu de uma vez. Eu grunhi de ódio, chutando a única cadeira que tinha ali com força, puxando meus cabelos em seguida.
- ... - me virei no mesmo segundo em que ouvi sua voz. Talvez um abraço de ou um dos seus carinhos me ajudassem em algo, mas pelo seu olhar, não viria nada disso.
- O que foi? - limpei o rastro de lágrima que estava em minha bochecha, limpando minha garganta e esperando mentalmente que toda confusão tenha acabado.
- Eu ouvi tudo e... - seu olhar já denunciava o que eu já tinha ouvido antes, e por Deus, eu não mereço!
- , eu adoro você, mas por favor, agora não! Eu realmente pedi pra Megan tentar descobrir algo sobre o seu pai, mas se você vier com alguma bronca pra cima de mim agora, eu juro que vou arrancar o seu pescoço fora porque é a última coisa que eu preciso agora!
- , pelo amor de Deus! Você precisa entender que eu não preciso e não quero que você faça nada por mim! Eu não posso ter você se arriscando dessa maneira! Eu já falei, você não gostou, mas eu vou repetir, o problema de gostar de alguém é fazer essas loucuras, e porra, eu não quero ver você fazendo isso, é tão difícil entender? Eu acabei de ver você sendo encurralada por três pessoas que conhecem como essa merda toda funciona e acredite, tudo o que eu queria era te tirar de lá, mas...
- Mas o que, inferno? Você fala como se fosse fácil ficar parada de braços cruzados esperando que algo aqui mude! Nem você acredita nisso, ! Você é doido pra sair investigando qualquer pista pra descobrir algo sobre seu pai, mas quando eu faço isso você já vem com mil e uma desculpas. Você usa as minhas ações e o fato de gostar de você pra ficar nessa picuinha de que isso me faz cometer loucuras, e quer saber? Você está certo, mas eu tenho certeza que você faria o mesmo se fosse o contrário! Eu não sou uma donzela que precisa de proteção o tempo inteiro, se fosse assim, eu nem teria aceitado voltar pra cá, mas aceitei, com emprego e tudo! Você PRECISA parar de usar o meu carinho por você contra você mesmo! Eu tô cansada de ser compreensiva, caralho! Você precisa entender que eu não sou a Sienna, que eu não vou saturar de você e te largar!
Do mesmo jeito que ele entrou, saiu. Ele foi sem dizer nada, nem mesmo pelo olhar. As lágrimas voltaram com tudo de maneira avassaladora, assim como uma dor aguda no meu coração, aquela dorzinha que você sente quando faz merda.
's POV
Em vinte e seis anos, eu tive cinco namoradas. Eu já pensei nisso varias vezes mas o pensamento sempre volta. A capacidade de amar pessoas novas e diferentes. Amores diferentes, sentimentos diferentes. Eu não amei as cinco igualmente, toda vez que rolava o término eu pensava "nunca vou conseguir amar alguém dessa maneira" e nunca consegui mesmo, ainda bem!
O problema é que sempre tem o amor que mais te marca. Comigo, definitivamente foi o meu namoro com Sienna. Agora eu enxergo claramente como cada fase foi incrível, mas não perfeita, e ainda assim, meu amor por ela só crescia, com cada parte do meu ser. Eu não a esqueci, e sinceramente, acho que jamais serei capaz de esquecer, mas aprendi a viver sem ela. Depois de todo esse tempo e de cinco namoros, agora eu também entendo que a cada relacionamento que temos, ensina a sermos melhores no próximo.
Quer dizer... É pra ser assim, certo?
Lembro da minha segunda namorada, a Holly. Eu tinha dezesseis anos e jurava que nunca mais ia conseguir gostar de alguém depois da primeira, então eu comecei a agir feito um babaca, e por algum motivo, Holly gostou. Não, não da minha babaquice, mas de mim, algo que ela viu através de toda a minha insegurança. E aí começou a saga... Eu fiz de tudo pra parecer desinteressado, mas mesmo a realidade sendo outra, eu não me sentia nada pronto, pelo menos eu achava que não, porque já imaginava Holly terminando comigo. Foram meses e meses, até que Holly foi desistindo, se afastando. Ela gostava de mim e não escondia, mas paciência tem limite! Aí doeu, doeu bem lá no fundinho, e quando eu vi que estava quase perdendo Holly de verdade, vi que não é nada fodão ser desinteressado. É chato. Foi chato porque eu perdi de viver um monte de coisa legal pra entrar nesse jogo bocó que quase me fez perder Holly. Tudo bem, eu só tinha dezesseis, mas foda se. Eu preferi ser um idiota e fiquei fazendo joguinhos, esperando ela falar comigo primeiro, me ligar primeiro, mas ela também esperava isso, então foram meses nesse joguinho. Vejo que hoje em dia não mudou muita coisa, devo admitir... Muitas relações superficiais onde ficou ainda pior esse joguinho do falso desinteresse quando demoram mais de dois minutos pra responderem uma mensagem de volta. Fútil e entediante, mas é assim hoje.
Não comigo.
Eu tive sorte - digo sorte porque sei que milhares de pessoas não tiveram esse privilégio - de crescer em uma família boa e bem estruturada emocionalmente. Meus pais nunca tiveram medo ou vergonha de conversar sobre sentimentos. Eu e minhas irmãs crescemos num ambiente cheio de afeto e demonstrações, então era fácil pra mim lidar com isso, sempre foi, até que a vida veio com um monte de soco na minha cara. A gente se fecha por proteção, por necessidade, por medo.
Desliguei o chuveiro e me troquei rapidamente. Tantos pensamentos que foram destrancados, libertados e finalmente organizados.
Tudo isso porque Sienna estava namorando.
É, eu vi ela escancarando o novo namoro nas redes sociais dois dias atrás, no mesmo dia da minha discussão com , a mesma que eu simplesmente dei as costas e não disse nada. Ela não apareceu desde então, não me responde e não vem trabalhar. Cohen estava trabalhando comigo.
Saí do banheiro de uma vez, encontrando Voight no meio do caminho enquanto ele ia até o escritório. O jeito que ele me olhava era diferente, algo novo. Apertei o passo até meu trailer, mas observei de canto que ele desfez todos os passos pra me acompanhar.
- Ei! - ele chamou minha atenção e respirei fundo antes de me virar e encarar seu rosto com a feição nitidamente preocupada - andou falando com você esses dias? - ele parecia realmente preocupado.
- Não. - respondi um tanto quanto ríspido, pronto pra me virar novamente e seguir até meu trailer, mas Voight continuou.
- Eu vou fazer a coisa certa agora, . - aquilo saiu em forma de um anúncio bem sério, e eu tinha tanta coisa pra dizer, mas preferi não o fazer.
Voight era ruim e bom do mesmo jeito. Do mesmo jeito que dá, também tira, e não falo só de . Em meses, isso ficou mais do que claro pra mim, mas eu não estava tão afim de fazer uma análise inútil de Voight, minha prioridade é completamente outra. Entrei no meu trailer de uma vez, encontrando Cohen jogado na minha cama e Scott sentado no chão largado mexendo no celular e comendo asinhas de frango. Com eles sempre tinha todo tipo de conversa o tempo todo. Assuntos aleatórios que chegavam atropelando outros assuntos aleatórios e vivíamos na gargalhada, mas pela primeira vez, nos contentamos com o silêncio e eu agradeci mentalmente por isso.
's POV
O sofá da casa da mãe de Lydia era incrivelmente confortável. Dois dias nele, longe da barulheira das portas dos trailers alheios batendo e do portão de entrada mais barulhento ainda, senti que tive dois dias de rainha, embora Keith tenha chorado um pouco na primeira madrugada. Eu não quis falar com ninguém, literalmente ninguém, até vir aqui ontem choramingando como se o que rolou tivesse sido uma das brigas que rolava quando tínhamos uns doze anos. Eu não corri atrás porque sabia que precisávamos de um tempo pra pensar, e ela voltou dizendo que jamais brigaria comigo por conta de um homem, mesmo estando apaixonada por Grant.
- Vamos? - Lydia me chamou, me tirando dos meus devaneios.
Descemos as escadas e nos despedimos de sua mãe e de Keith, entrando no Uber que nos esperava na porta que nos levaria até a casa de show que cantaria hoje. Confesso que a moto de me fazia falta, era mais emocionante.
... Ele me mandou diversas mensagens e eu juro que não sei como consegui ignorar todas, exceto a primeira, onde respondi que estava dormindo na casa de Lydia. Voight também me lotou de mensagens e ligações, mas essas eu ignorei completamente. Eu estava com raiva, mas não deles, e sim de mim mesma.
Assim que descemos do carro e entramos no local ainda não tão cheio, aproveitamos pra beber algo. Não gosto da ideia de ficar bêbada, mas por diversos motivos, me parecia uma boa opção. Simplesmente... Dane-se. Eu mereço jogar tudo pro alto, não é? Ou talvez eu deva simplesmente correr pra , Voight, Holt e pedir desculpas por ser irresponsável? Talvez...
Eu sei que não existe um protocolo certo pra lidar com situações complicadas da vida, mas eu só queria não sentir tanto. Queria que essas situações não se transformassem numa novela onde dá a entender que porra, eu sou uma coitadinha. Eu não sou! Eu só não sei lidar com provavelmente bosta nenhuma e talvez e seja um saco por isso.
Virei um shot de vodka com Lydia, sentindo a bebida se arrastar e queimar minha garganta enquanto descia. Ok, nada de ficar bêbada, meu lado sensato já estava martelando! A casa começou a encher cada vez mais e Grant chegou com uma porrada de amigos e em seguida os garotos chegaram. Porra, eu queria socar a cara de todinha por ele ser tão ridiculamente lindo. Como pode?
Nossos olhares se encontraram da maneira mais clichê possível e eu queria simplesmente desviar e fingir que ele não estava ali, mas não dava. Lydia segurou minha mão e a puxou com gentileza até eu me levantar e seguir com ela até onde os garotos estavam.
- Quem é essa? - Cohen perguntou numa falsa atuação pra Lydia, apontando o dedo pra mim.
- Acho que te conheço de algum lugar... - Scott entrou na brincadeira, soltando uma risada e me dando um abraço forte.
O olhar de Cohen intercalava entre eu e e por um segundo eu me senti desconfortável, mas eles são amigos dele também e provavelmente já sabiam de tudo o que eu disse pra . Eu olhei rápido pra ele, tentando e falhando miseravelmente identificar algum rastro de rancor ou raiva por ali, mas tinha a mesma expressão serena e cheia de força que eram só dele.
As luzes foram apagadas e a intro de começou e logo ela se apresentou, arrancando vários gritos. Grant estava um pouco longe mas acenou simpático e voltamos a atenção pra minha amiga. possuía musicas viciantes e a maioria das pessoas já cantavam junto. Aos poucos, ela estava construindo seu legado e eu não podia estar mais feliz. Assim que a quarta música terminou, ela chamou a atenção de todos.
- Essa próxima música se chama Escape e eu finalizei ela no começo dessa semana e quero mostrar pra vocês. Ela é muito especial pra mim e surgiu de uma frase que ouvi durante uma conversa com alguém muito especial. Espero que gostem! - ela deu um sorrisinho sapeca enquanto me olhava discretamente e eu gelei de nervoso, mas um nervoso gostoso, animado. Sussurrei um "não acredito" pra mim mesma enquanto sorria sem parar pra ela.
(Nunca pensei que eu ia querer você)
Always seen you 'round my way
(Sempre te vi a minha volta)
Never had the strength to tell you
(Nunca tive forças para te dizer)
I kinda, sorta think you're great
(Eu meio que acho você ótimo)
Strange for me to wanna love someone who's better by themselves
(Estranho para mim querer amar alguém que é melhor sozinho)
Hate to know that I made you crazy for myself
(Odeio saber que eu fiz você louco por mim)
'Cause I don't want you thinking that my love's in vain
(Porque eu não quero que você pense que meu amor é em vão)
Baby I've been falling for you but falling back up out your way
(Baby, eu tenho uma queda por você, mas está saindo fora de seu caminho)
'Cause I can't make you lose yourself
(Porque eu não posso fazer você se perder)
Looking for me
(Procurando por mim)
And I can't let you make me your, your everything
(E eu não posso deixar você me fazer seu, seu tudo)
I just wanna be an escape
(Eu só quero ser uma fuga)
I just wanna be an escape
(Eu só quero ser uma fuga)
Baby can we escape, escape, escape?
(Baby, podemos escapar, escapar, escapar?)
Meu coração batia mais forte a cada batida da música acompanhada da voz de . Arrisco dizer que absolutamente todos os pelos do meu corpo, absolutamente todos, estavam arrepiados também. Eu quis chorar. Ela realmente tinha usado uma de nossas conversas pra escrever uma música!
Eu senti o olhar de me queimando e não tive a coragem de virar o rosto, mas ele teve a coragem de se aproximar até demais. me abraçou por trás tranquilamente, numa calmaria de quem sabia que eu jamais negaria seu corpo colado ao meu. Suas mãos pousaram em minha cintura e um beijo foi depositado no topo da minha cabeça e eu quis chorar mais ainda. Ele balançava nossos corpos num ritmo lento, e eu não precisava olhar pra saber que ele estava prestando atenção em e na letra da música tanto quanto eu.
(Porque eu tenho ficado na minha, segurando)
Fighting the feelings that you've been giving
(Lutando contra os sentimentos que você tem dando)
And I've been trying to put it all into words
(E eu tenho tentado colocar tudo em palavras)
But I can't so I'm singing
(Mas eu não posso, então eu estou cantando)
Assim que a ponte da música terminou, eu realmente pensei que meu coração pararia de verdade. conseguiu transformar tantos sentimentos em arte pura, numa caralha de uma música linda! Uma lágrima ligeira escapou dos meus olhos e eu a limpei rapidamente, não querendo correr o risco de ninguém ver. Assim que terminou de cantar e quase fizemos nossas mãos caírem de tanto que aplaudimos, me desvinculei dos braços de e andei até a ponta do palco sem nem olhar pra trás, apenas esperando que desceu sorridente e quase me derrubando com um abraço apertado.
- Você gostou? - ela perguntou elétrica.
- Garota! - a iluminação foi ligada novamente mas ainda assim era bem fraca, então não daria pra ela ver meus olhos marejados, mas dava pra notar minha voz chorosa - Eu não acredito que você fez isso, sério! É claro que eu gostei! Eu amei, eu fico tão orgulhosa de você, do seu talento e de todas as coisas que você está conquistando e... - minha voz foi sumindo - Eu to morrendo de raiva de mim mesma porque puta que pariu, é demais pra mim, sabe? Eu não sei se consigo lidar com isso e...
- Ai mulher, você vai entrar nessa? - colocou as duas mãos em meu rosto e segurou o riso. Apertei os olhos e me entreguei àquilo e começamos a rir juntas. Umas três lágrimas traiçoeiras escaparam enquanto ríamos juntas e ela limpou as três - Eu vi vocês agarradinhos! Vocês só precisam conversar, tá bem? - ela acelerou a fala cada vez mais, soltando meu rosto e sendo puxada de uma vez por Grant, que deu um selinho demorado em seus lábios e a abraçou.
, Cohen, Scott e Lydia se aproximaram também, enchendo de elogios e abraços, e mais uma vez, nossos malditos olhares se cruzaram. Eu queria não ter me rendido tanto a esse sentimento. estava certo em um ponto, gostar de alguém te faz cometer algumas loucuras e pior, você nem percebe. Eu não fiquei esses dias sem falar com ele por raiva dele, e sim por raiva de mim. A realidade é que mesmo tudo o que eu disse tenha sido realmente verdade, eu nunca vou entender como funciona. Eu nunca vou entender de verdade o que Sienna foi pra e não posso competir com isso, não posso querer exigir que ele a esqueça totalmente. Acho que no final é sempre a mesma coisa: sai todo mundo ferrado e com o coração partido.
Me enfiei no meio da multidão, indo até o bar e pedindo uma bebida forte. Acontece que não adiantava fugir porque o lugar não era tão grande e obviamente pediríamos as bebidas no mesmo lugar, então não dava pra fugir de . Grant chegou com o batalhão de amigos e pediu varias bebidas também. Um deles me cumprimentou e ofereceu a bebida que estava em seu copo mas recusei. Fomos todos pra uma grande mesa onde nem dava pra todos ficarmos sentados, mas pior que isso é que mesmo com a música ótima, eu não queria dançar, não queria me mexer, não queria fazer nada. Eu só queria... sumir.
As coisas se desenrolaram rápido até demais. Bebidas, o pessoal gritando, Lydia sendo super simpática e os garotos também, até Grant e mais dois amigos jogarem um pó branco na mesa.
- Ei! - chamou a atenção de Grant numa bronca, e mesmo com a iluminação precária, dava pra ver claramente sua expressão nervosa.
- Qual foi? Não quer experimentar? - Grant sugeriu sorridente e quase ficou transparente de tanta vergonha.
- Grant... - ela disse baixo mas o suficiente pra ele a ouvir, e embora ele tenha entendido que aquilo não a agradava, continuou.
- Babe, não é nada demais! - ele retrucou bem humorado e rolou os olhos.
- Ok, isso não é pra mim. - Lydia levantou os braços como se estivesse se rendendo e começou a andar. Scott e Cohen a seguiram numa fúria explícita em seus rostos.
- Vocês não querem tentar? - um dos amigos de Grant ofereceu calmo, ajeitando o pó em fileirinhas e deu um passo largo pra frente mas me coloquei no meio, segurando em seu peitoral.
- Melhor não! - alertei assustada, vendo seu punho direito muito bem fechado, mas que se abriu rapidamente e ele se virou, entrelaçando nossas mãos.
Olhei pra trás uma última vez e vi claramente sussurrando um "me desculpa". Teríamos uma longa conversa.
foi me puxando pela multidão até chegarmos no bar novamente, onde ele pediu uma bebida forte e a tomou em questão de segundos. O encarei firme por alguns instantes sem saber o que fazer. Virei meu corpo e dei um passo junto, cerrando minha visão na esperança de enxergar , mas não consegui ver nada. Uma das mãos de me segurou firme, me dando um pequeno susto.
- Não vai. - ele pediu sem jeito, totalmente desarmado e com um olhar lotado de informações. Ele achou que eu tinha me virado pra sair de perto dele.
- Não vou pra lugar nenhum, é só que...
- A gente precisa conversar. - ele puxou meu corpo pra mais perto, sussurrando no meu ouvido de maneira que beirava a preocupação e meu corpo gelou.
- Eu sei que falei demais, mas eu precisei. Desculpa se eu passei um pouco do...
Ele colou nossas bocas num selinho longo, arrumando meu cabelo em seguida e dando um sorriso fraco, mas ainda assim, lindo de morrer.
- Eu mereci ouvir tudo aquilo, . Eu queria te puxar agora mesmo pra irmos pra algum canto, mas não vou conseguir ir embora sabendo que tá aqui com esse cara que... - bufou indignado, balançando a cabeça negativamente.
- O pior é que ela detesta essas coisas, sabe? Eu não sei o que rola de verdade, mas agora eu estou com medo dela acabar cedendo e cair nisso também. Grant não parece ser uma pessoa ruim, mas quando se tem um vicio...
concordou com o olhar e pediu mais duas bebidas, me entregando uma delas. Em seguida, ele nos levou até onde Lydia estava com os garotos em uma outra mesa num papo engraçado e agradável. as vezes saía, se aproximava da mesa de Grant e voltava avisando que não estava fazendo nenhuma besteira. Eu senti meu coração esquentar por ver que ele estava preocupado com ela também e por ver ele super solto durante a conversa na nossa mesa. Quando todos decidiram levantar pra dançar um pouco ele relutou um pouquinho mas me seguiu e arriscou alguns passos engraçados, me fazendo gargalhar alto. Definitivamente não tem ninguém como ele.
O vento gelado batia em nossos corpos enquanto voltávamos pro lugar onde chamávamos de casa. foi cuidadoso, perguntou se eu me sentia pronta pra voltar, e mesmo se eu não estivesse, tinha que voltar. Scott e Cohen trabalharam no meu lugar junto com enquanto eu corri pra casa de Lydia feito uma criança assustada. Mesmo sabendo que o que eu fiz não era o ideal, Voight não podia ter sido tão rude comigo. Quero dizer... Não precisa, sabe? Eu já faço isso por mim mesma.
Primeiro passamos na casa de Lydia pra pegar as minhas coisas e seguimos caminho. Embora tenha ficado espiando por horas pra conferir se ela não estava se drogando também, ela foi embora com Grant e infelizmente não daria pra adivinhar o que rolaria. Descemos da moto e entramos no trailer de . Arrumadinho como sempre e o pequeno lugar tinha o seu cheiro impregnado. Me joguei em sua cama de uma vez, morrendo de cansaço mas sabendo que rolaria uma conversa séria.
- Você é linda, . - ele disse em alto e bom som, completamente do nada, me olhando sem nem piscar.
- Você... - cerrei os olhos, balançando a cabeça de maneira quase tímida - Não existe!
- Você tem alguma noção do que estamos fazendo? - ele se sentou no fim da cama e eu fiz o mesmo, ficando ao seu lado e decifrando que, pelo seu olhar, ele se referia a nós.
- Eu não faço ideia.
- A música nova que cantou hoje... - ele cerrou os olhos de leve e eu sorri sem graça.
- Estávamos conversando um dia e eu disse que caso você se entregue à isso que temos, não quero que se perca procurando por mim. Não que eu me ache o máximo, eu só quero que você sinta livre. - minha voz foi abaixando conforme eu respondia. Estava totalmente sem graça.
- Sabe, , esses dias foram complicados e decisivos. Eu jurava por tudo que jamais conseguiria me envolver com ninguém depois de Sienna e olha só... Mas o problema nem foi esse, o problema foi reconhecer que as coisas seguem um caminho geralmente parecido. As pessoas se conhecem, ficam, se gostam e se amam. Eu me sinto receoso porque você mesma diz que nunca se apaixonou e quando eu vejo você cometendo certas loucuras eu me sinto um bosta, entende? Eu não quero que nada te aconteça!
- Você é o meu primeiro amor. Eu não sou o seu e tudo bem. Eu juro, as vezes quando eu paro e penso em nós, eu me vejo como uma maluca. A minha mente é a minha própria arma, então não me ajuda muito nesse pensamento, mas às vezes sinto que sou meio que obcecada por você, então se a gente parar pra pensar, as coisas se inverteram. Talvez eu te sufoque e não saiba. Talvez EU fique totalmente dependente de você, sabe? São tantas coisas pra pensar... - meu coração estava quase saindo pela boca de tanto nervoso pelo rumo que a conversa estava tomando. permanecia totalmente sério e firme em cada palavra, mas também com um toque de carinho em cada uma delas.
- Eu não sou o único homem no mundo, . Talvez você encontre o amor da sua vida amanhã no mercado, entende? O que você sente por mim, pode sentir por qualquer outro, mas de maneira diferente. - ele não conseguia esconder o olhar aflito e eu já não consegui mais esconder meu desespero. Meu olho se encheu no mesmo instante.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu não tenho vergonha de falar sobre meus sentimentos, eu fui criado assim, então vou ser extremamente sincero com você. Tenho medo de fazer com que você me ame a ponto de ficar comigo por sentir que eu não vou conseguir mais viver sem o seu amor. Medo de um dia você acordar e não conseguir mais lidar comigo. - eu sentia em mim, até fisicamente, o peso das suas palavras. A dor dele. O trauma. Os olhos de estavam carregados, assim como suas palavras e por um instante eu pensei em correr e fugir, parecia muito pra aguentar, ouvir e absorver, mas uma partezinha de mim estava grata pela confiança, pelo momento, por nós, mas o desespero foi maior e me engoliu de vez.
- ... - me aproximei ainda mais, acabando com qualquer rastro de distância entre nossos corpos. Segurei firme em seu rosto, sentindo uma lágrima cair do meu olho e eu não tive forças nem pra tentar esconder, porque era impossível a essa altura.
- A gente é uma bagunça, . Dentro da sua cabeça tem uma confusão tão grande que você é incapaz de explicar, e é assim comigo também. Do mesmo jeito que você faz coisas que doem em mim por saber que é consequência dessa coisa louca que temos, eu devo te deixar maluca também, brava principalmente, mas nós somos assim e eu acho que dá pra gente ir levando desse jeitinho. - ele levou suas mãos até meu rosto também, me encarando profundamente, mas de um jeito completamente diferente. Ele esfregou o polegar na minha bochecha esquerda, tirando o rastro da lágrima e abrindo um sorrisinho fraco porém poderoso em seguida.
- Você não tá terminando comigo?
- Na quarta feira eu descobri que Sienna começou a namorar de novo e...
- , pelo amor de Deus, você tá terminando comigo ou não? - eu o interrompi com os olhos totalmente arregalados e segurei em suas mãos, as tirando do meu rosto rapidamente e me levantei feito um furacão.
Não podia ser! Sienna não podia ficar entre nós pra sempre. Não podia!
- Ficou maluca, ? - ele levantou ligeiro, grudando seu corpo no meu e dando um passo grande, me forçando a fazer o mesmo, consequentemente me fazendo também bater meu corpo na parede - Esse é o nosso paraíso e nossa zona de guerra, a gente vai ter que se virar. Eu pensei que nunca estaria pronto pra ver ela namorando de novo, mas acontece que eu não me afetei com a notícia por sua causa, pelo o que eu sinto por você. - ele abriu um sorriso completo, de orelha a orelha, totalmente orgulhoso de si mesmo, dava pra perceber. Suas palavras saíram da maneira mais alegre e limpas possíveis e mais uma vez, meus olhos se arregalaram na surpresa mais linda que eu poderia ouvir.
- Você não tá terminando comigo! - comecei a gargalhar desacreditada e disparou a me das inúmeros selinhos, me segurando firme pela cintura.
E agora eu posso confirmar numa boa: estou definitivamente apaixonada por .
Capítulo 22
's POV
não estava na cama quando acordei. Tomei um banho fresquinho, dando boa tarde pra o pessoal que entrava e saía dos trailers. Caminhei até o trailer de novamente na esperança de encontrá-lo. Abri a porta, dando de cara com aquela coisa horrível atrás da porta e berrando o provável grito mais escandaloso que já havia dado em toda a minha vida por conta do susto.
- PUTA QUE PARIU, PORRA!
explodiu em gargalhadas, tirando a máscara bizarra do Pennywise, palhaço do filme "IT - A Coisa". Voei nele, dando um tapa certeiro em seu braço, rindo junto.
- Meu Deus, ainda bem que eu gravei isso! - ele me puxou pela cintura com uma mão ainda rindo e pegando o celular que estava posicionado em cima do microondas.
- Você é um... - ele me encarou numa falsa repreensão e voltou a gargalhar, rolando o vídeo e rindo ainda mais.
- Fala sério, foi demais!
- Vai ter volta, ! - semicerrei os olhos, declarando guerra com o olhar e ele me deu um selinho - De onde você tirou essa máscara?
- Teve uma festa à fantasia de um dos amigos de Cohen e fomos os três iguais. Foi bem...
- Bizarro? - interrompi com uma careta, afinal, não era a melhor fantasia pra se ir numa festa, certo?
- Interessante! Tipo, é só uma máscara e ainda assim teve um monte de gente que ficou com medo mesmo! A gente riu pra caralho. - seu olhar se perdeu por um instante, provavelmente se recordando da tal festa e eu soltei uma risadinha.
Batidas na porta foram dadas e me soltou pra abri-la, e só de me virar e perceber que era Voight, desejei ainda estar dormindo ou na casa de Lydia pra não precisar o olhar.
- Francia me disse que você tava aqui, . - ele disse num tom agradável, me encarando de maneira energizada, como se estivesse se controlando pra não falar ou fazer algo - E eu vim chamar vocês pra almoçarem, Ellie nos convidou. Chamei Scott e Cohen também. - ele esbanjou o convite numa calmaria nunca vista, me fazendo ter certeza de que algo provavelmente estava rolando.
me lançou um olhar sério, como se a decisão fosse totalmente minha.
- Tudo bem. - forcei um sorriso simpático e a informação parece ter demorado de chegar no cérebro de Voight, que permaneceu ali por mais alguns segundos, como se estivesse esperando algo a mais, e assim que percebeu que não teria, deu as costas e disse que sairia em 10 minutos.
Soltei um longo suspiro, fechando a porta novamente.
- ... - me chamou do jeitinho que eu conhecia bem, o jeitinho de quem já estava pronto pra mergulhar no assunto, mas com um pouco de receio, como se falar de Voight fosse um assunto restrito.
- Eu sei que Voight me ama, mas ele nunca vai me explicar algumas coisas que acontecem aqui porque acha que tem que me proteger, sendo que eu estou aqui, eu trabalho aqui e eu moro aqui! Não tem sentido, ! Eu quero saber, eu quero ajudar de alguma forma e eu quero te ajudar também! - esbravejei de uma vez o primeiro pensamento que me parou na cabeça.
- ...
- Ele me treinou, sabia? Ele me ensinou a me defender, me ensinou a dar um belo soco na cara de alguém se essa pessoa me fizesse mal, e eu sei que as coisas assim não funcionam com violência, sei que as coisas aqui vão muito além, só que eu não sou uma princesinha indefesa! Eu posso ajudar!
- ! - gritou, me fazendo parar de falar e chamando minha atenção no mesmo instante - Voight é o seu pai, e pais pensam em proteger seus filhos! Paul é um homem perigoso e a sua segurança com certeza é a coisa mais importante pra Voight, e sendo extremamente sincero, essa sua sede de ajudar o tempo inteiro tem a ver com toda essa culpa que você carrega que eu sei!
- E tudo o que a gente faz nessa vida não é baseada em pelo menos um pouquinho de culpa, ? - cruzei os braços, quase o desafiando.
- O que? Claro que não, ! - ele respondeu quase que indignado.
- Ok, eu entendo, eu me culpo por um monte de coisa e eu penso que talvez essa culpa diminua se eu ajudar as pessoas próximas a mim ou nem tão próximas, mas não é assim que funciona? Você quer ser professor por que?
- Porque eu quero ajudar as pessoas na educação delas.
- Só isso? Não é porque o sistema as vezes é injusto e algumas pessoas têm mais acesso e outras menos, e por isso, de alguma forma, você acha que é sua responsabilidade ajudar o sistema a ser menos ruim? - arqueei as sobrancelhas, jurando mentalmente que conseguiria pegar no pulo e que de alguma maneira ele admitisse que minha teoria estava certa.
- Não, eu não penso por esse lado! Você já parou pra pensar que as pessoas seguem profissões simplesmente por empatia? Por gosto? Nem tudo tem rastros de culpa, . - foi a vez dele de arquear as sobrancelhas de um modo levemente debochado, mas não esnobe, e sim de maneira divertida, sabendo que tinha me desarmado. Bufei, balançando a cabeça e fingindo dar um beliscão em seu braço, o fazendo rir.
Eu tento não pensar muito porque sei que isso vai acabar comigo cada vez mais. Tento me controlar, mas ainda não sei muito bem como. As vezes me sinto completamente perdida de mim mesma nessa jornada de tentativas. As vezes, notícias infelizmente que já se tornaram normais banhadas a injustiça me machucam como se fosse um tiro no peito.
Voight foi sozinho no carro enquanto fomos todos de moto atrás. Tia Ellie nos cumprimentou ainda na porta e logo nos acomodamos ao sentar pra almoçar. se sentou ao meu lado e do outro, e por um segundinho me permiti babar nas minhas duas pessoas favoritas. tirou algumas fotos nossas ali mesmo e fizemos questão de fazer caretas engraçadas. Holt ajudava tia Ellie a colocar as travessas na mesa e se sentaram. Quem visse de fora, jamais imaginaria que Holt era o chefe de uma gangue e que Ellie era praticamente uma chefe também, já que ela o ajudava muito de casa.
- Eles vão pedir desculpas, você vai ver! - sussurrou discretamente e começou a pegar a comida.
Observei cada um, e embora estivessem distraídos cada um enchendo seu prato, eu podia sentir que aquele almoço tinha algum propósito. Não demorou nada pra uma conversa aleatória se iniciar e Cohen e Scott embarcarem de cabeça nela.
- Eu vou voltar pra faculdade semana que vem. - Scott anunciou animado, recebendo sorrisos e vários elogios.
- Fico muito feliz por você, de verdade! - Holt se mostrou totalmente sincero, com um sorriso alegre no rosto.
Holt e Voight são iguais nisso. Isso é música para o ouvido dos dois, saber que alguém vai estudar, se esforçar e provavelmente não vai ficar encalhado nessa vida com os The Lions pra sempre. As pessoas não querem que você tente porque tem medo que você possa conseguir e crescer. Fora que nem sempre somos incentivados a estudar porque bem, é óbvio, fica mais fácil de manipular alguém com pouco conhecimento. Eu cresci ouvindo isso e hoje sei que é a mais pura verdade por tudo que já vi.
- ... - Voight a chamou num tom tranquilo, bebericando um pouco do suco - Como Grant está?
parou de mastigar a comida que estava na boca no mesmo instante, erguendo o rosto e encarando Voight de maneira séria.
- Ele está bem. - respondeu ríspida, me lançando um olhar nada bom em seguida.
Talvez o almoço não fosse pra ninguém pedir desculpa.
- E ele ainda... Você sabe... - Voight continuou, dando um olhar óbvio, claramente querendo perguntar se Grant ainda estava se drogando e rolou os olhos de maneira irritada no mesmo segundo.
- Vocês berraram e brigaram com a gente por algo que poderia ser resolvido apenas numa conversa, hoje estão todos aqui nesse almoço fingindo que nada aconteceu e agora você, Voight, vem me perguntar sobre o rapaz que eu estou me relacionando só porque ele usa drogas? Será que eu preciso lembrar que VOCÊS vendem drogas? - esbravejou sem freio, encarando Voight, Ellie e Holt, que estavam do outro lado da mesa com os olhos levemente arregalados com o que ela disse.
- ! - tia Ellie chamou sua atenção, mas não de modo grosseiro ou raivoso, e sim de modo tranquilo, querendo acalmar a filha.
- Vocês não conhecem ele! Grant usa drogas mas ele está tentando parar e ninguém liga pra essa parte. - ela continuou.
- Calma! A gente não quer brigar de novo, e se você quiser, podemos ajudar Grant, beleza? De verdade, a gente pode tentar ajudar mesmo! - Holt entrou na conversa de modo acanhado, claramente não querendo levar nenhum xingo ou grito de - E nós erramos com vocês, sabemos disso. Não foi nada justo o jeito que tratamos vocês pra conseguirmos as respostas que queríamos. - ele seguiu, numa sinceridade totalmente explícita e tocante, de modo que até fez relaxar novamente na cadeira.
- Toda vez que fizermos algo que vocês julgam perigoso demais pra nós, vocês vão surtar, e não vai ter almoço que repare esse tipo de coisa. - abri minha boca pela primeira vez e calei a do resto no mesmo segundo. Voight me encarava sério, mas também decepcionado.
- Só queremos proteger vocês, ! O que você quer? Saber que a gente tá fodido e temos que trabalhar pro Paul lavando dinheiro, transportando mercadorias deles e um monte de outras coisas que somos obrigados a fazer pra manter pelo menos o mínimo de paz que temos enquanto não conseguimos nada mais forte contra ele? - eu pude notar o controle na voz de Voight em cada palavra. Aquilo pra ele era um assunto sério e delicado e às vezes ele achava que eu só entenderia de vez berrando aos quatro cantos sobre isso, mas ele se controlou.
Aquilo chegou com a mesma dorzinha fina e desgastante no peito.
- Paul é um homem imprevisível. Ele pode cansar disso tudo, aparecer aqui e matar todo mundo, e a gente precisa pensar em como evitar isso. - tia Ellie se manifestou também.
Olhei pro lado, vendo observar aquilo tudo de maneira séria. Ele me olhou rápido, dando um sorriso fraco e tombando uma mão em minha coxa esquerda, e não perdi tempo em entrelaçar as mesmas. Scott e Cohen se mantinham firmes e atentos a cada palavra que saía das nossas bocas também.
- Olha, eu sei que é difícil, mas precisamos de uma coisa que vocês duas conseguiram. - Holt nos lançou um olhar mais sério ainda. Olhei pra no mesmo instante, confusa por um segundo e pensando rapidamente no que poderia ser e não demorei pra chegar numa conclusão, sentindo um arrepio lotado de medo pelo meu corpo.
- Megan, não é?
- ... - Voight tombou o olhar quase que derrotado - Zane não está conseguindo nenhuma informação relevante. Paul muda a função dele toda semana, então fica difícil. Precisaríamos de alguém mais próximo e...
- Megan tem 28 anos! - foi a primeira coisa que saiu da minha boca em total indignação, querendo lembrar o quão jovem ela era pra se arriscar por qualquer coisa - Ela até hoje só conseguiu fotos de recibos! Eu não vou entregá-la assim de bandeja pra vocês porque não vai mudar nada! E eu disse que era arriscado continuarmos com isso, e tudo o que ela quer são documentos falsos pra conseguir fugir em paz. Vocês não podem pedir por ela!
- ! - tia Ellie chamou minha atenção - Eu sei que é difícil, mas ela é uma pessoa mais próxima de Paul e se ela receber as instruções certas, talvez ela ajude mais, entende?
- Gente, pelo amor de Deus! - passou a mão pelos cabelos de maneira nervosa. Aquilo tudo o afetava diretamente e meu coração doía só de lembrar.
- Eu sei que é difícil, mas precisamos disso. No fim, estamos aqui pedindo a ajuda de vocês, olha que loucura! - Holt riu sem jeito, tentando espantar a tensão.
- Vocês acham que somos crianças? Se dissermos que não, vocês vão atrás da Megan de qualquer jeito! Vocês não precisam de nós, mas precisam da nossa permissão pra se sentirem menos mal com a situação. Quando que vocês precisariam da ajuda de duas garotinhas como nós? - se levantou nervosa, quase derrubando a cadeira. Todos a encaravam incrédulos, mas ninguém se atreveu a tentar impedi-la de ter seu momento de revolta.
Senti apertando minha mão, claramente nervoso, e tudo o que eu queria era abraçá-lo, mas precisei pensar rápido em uma outra coisa.
- Vocês vão atrás da Megan de qualquer jeito, mas eu tenho duas exigências. - me levantei também, mas não com a mesma agressividade de . Respirei fundo, observando as três testas franzidas em minha frente - Primeiro: se ela não aceitar, vocês não vão insistir, tudo bem? E em segundo... Se ela aceitar, nós vamos estar em todos os encontros que vocês tiverem.
Meu coração estava prestes a explodir. me olhou confusa mas logo abriu um sorrisinho animado.
- Tá, por mim tudo bem. - Holt concordou primeiro, espalmando as mãos no ar em sinal de quem não tinha muita opção e me permiti rir um pouco.
- Temos um trato, ! - Voight se levantou e estendeu a mão pra mim e apertei a mesma, rindo mais ainda em seguida e um sorriso escapou dos lábios dele também.
O que é necessário para unir as pessoas? Nem sempre o que nos une é só coisa boa, mas no fim, o que nos une é sempre uma história, um problema, e as vezes até o chefe de uma gangue rival. No fim, estamos sempre unidos, querendo ou não, e isso é mais poderoso do que imaginamos.
——
Li a mensagem de dizendo que tinha ido pra academia e não quis me acordar. Sorri pra tela do celular, saindo do meu trailer com as roupas na mão, indo pro banho.
Uma joaninha pousou em minha mão enquanto eu saía do banheiro. Parei de andar no mesmo segundo, observando a pequena de perto, acompanhando ela caminhando até a metade do meu braço, voando em seguida. Sorri feito boba, me sentindo um tanto quanto diferente, mas não pela joaninha, e sim pelo dia, pela maneira como acordei. Preferi não pensar muito e voltei a andar até meu trailer, encontrando Scott almoçando sozinho sentado em uma das mesas que tinha por ali.
- Pensei que estivesse na academia com . - cheguei puxando assunto, sentando junto com ele, sendo recebida por um sorriso simpático.
- Preciso ir na faculdade agora a tarde. - ele respondeu orgulhoso, deixando bem claro sua animação e foi impossível não sorrir também.
- Estou feliz por você, sabia? Acho incrível você voltar pra faculdade e pensar num futuro pra si mesmo.
- Bem, é isso ou ficar aqui pra sempre aguentando Voight e Holt, não é? - ele soltou uma gargalhada divertida.
- Agora entendi tudo! - semicerrei os olhos, rindo com ele - Mas sério, parabéns! Sei que não vale muito, mas estou orgulhosa de você.
- Claro que vale, ! Mas e você, ein? Poderia voltar e também! - ele sugeriu animado e energizado.
- Não ando com cabeça pra pensar nisso. - dei os ombros, observando ele dar a última garfada em sua comida.
Realmente não ando com disposição nenhuma pra pensar em faculdade e também não, mas a diferença é que ele gostaria muito de voltar, mesmo no meio de todas as confusões que encontramos até aqui e todas as outras que provavelmente vão aparecer, já eu...
- É, você está ocupada demais tentando salvar a mulher do Paul. Eu entendo, não deve ser fácil. - Scott usou um tom divertido e eu agradeci mentalmente por isso. O jeitinho dele de deixar um assunto sério ficar menos tenso me encantava o tempo todo.
- Ela é bem corajosa e cheia de vontade de viver, sabe? Eu ainda não conversei com Voight sobre isso, mas antes de dormir eu pensei tanto nisso e acho que não é uma boa ideia meter ela em mais nada, eu temo pelo o que pode acontecer se Paul descobrir. E o pior é que mesmo eu tendo feito minhas exigências, sei que Voight vai tentar me convencer a ficar fora disso e bla bla bla... - desabafei de uma vez só, dando um longo suspiro ao finalizar.
- Eu entendo o lance da proteção, sabe? Mas acho que ele acaba confundindo um pouco. Ele quer te proteger tanto que acaba querendo que você não se envolva pra não se corromper, porque querendo ou não, a realidade daqui não é nada bonita, mas não tem o que corromper, entende? A verdade nua e crua precisa ser vista pra que você trilhe o caminho menos pior, e também ele vai te ensinar um monte de coisas, porque querendo ou não, mesmo no meio de toda essa bagunça, somos cheios de privilégios, sabe? Tanto eu quanto você podemos escolher sair daqui, enquanto tem gente que não tem esse tipo de escolha.
Eu não consegui mais abrir minha boca. A sensatez de Scott tinha me calado de uma maneira boa, que me fez mergulhar num pensamento profundo no mesmo instante.
——
DIAS DEPOIS...
Essa ideia maluca de que eu posso resolver coisas que nem mesmo estão ao meu alcance sempre me perseguiu.
- ? - estalou os dedos na frente do meu rosto inúmeras vezes, me dispersando do transe em que estava.
Olhei para o sofá rapidamente, ainda não acreditando que estava mesmo acontecendo. Megan levaria um susto gigante e eu estava torcendo mentalmente pra ela não aceitar nada que Voight e Holt estavam prestes a propor.
Megan tinha entrado em contato, marcando um novo encontro. Fui até a cabine onde gravava e me sentei em uma cadeira ali, respirando fundo, mas não parecia o suficiente.
- Ei. - Voight apareceu na porta, se apoiando o corpo na mesma - Eu sei como você se sente, e juro, eu entendo, mas coisas ruins acontecem o tempo inteiro e com todo mundo. Você não vai consertar o mundo inteiro, mas vai ajudá-lo a ser menos pior, sabia?
- Que merda você tá falando? - me virei de uma vez só com a testa totalmente franzida, me perguntando de onde diabos tinha vindo aquilo. Voight tinha um olhar cheio de compreensão e puta que pariu, eu via claramente vestígios de dó ali.
- Eu sei como você se sente, . Eu sei que você quer salvar Megan dessa vida horrível, mas eu juro, se ela puder nos ajudar de alguma maneira, vamos nos encarregar de mandá-la pra um lugar longe e seguro até acabarmos com Paul de uma vez.
- Quantas pessoas você já matou? - Voight arregalou os olhos e engoliu em seco, completamente impactado pela minha pergunta que chegou de repente.
- Que pergunta é essa?
- Até onde eu sei, não se tem muitas opções pra acabar com Paul... Ele tem muitos contatos na polícia, então ele dificilmente seria preso, e eu não consigo ver nenhum outro tipo de justiça, então acho que ele só pararia se morresse, não é? Então eu acho que...
- Matar alguém é horrível, mesmo quando a pessoa merece. - ele me interrompeu ríspido, com a voz carregada numa energia pesada - Mas existem outras maneiras de derrubar Paul, e mesmo se não existisse, eu inventaria uma. - sua voz foi as suavizando, mas a energia tensa que pairava em nós permaneceu, e estava claro que mesmo que tudo estivesse fodido no momento, Voight tentava se convencer com as próprias palavras, caso contrário ele provavelmente enlouqueceria.
Não tive tempo de me abalar sobre o que ele disse sobre matar alguém porque observamos pelo grande vidro a movimentação de , claramente saindo pra abrir a porta pra Megan, que assim que adentrou o estúdio e observou as presenças ainda inéditas, deu um passo pra trás num pequeno susto.
- Calma! - disse baixinho, entrelaçando seu braço no de Megan - Esses são Voight e Holt - ela apontou pra cada um - E eles querem te conhecer e... fazer uma proposta. - ela tossiu fraco limpando a garganta, mas estava óbvio que ela estava tão nervosa quanto eu.
Voight e Holt se apresentaram e por mais que Megan permaneceu desconfiada pelos primeiros minutos, senti que as coisas melhoraram pelo menos um pouquinho quando eu e nos sentamos ao seu lado. A cada palavra que eles falavam com Megan eu torcia mais e mais pra ela decidir de maneira rápida que ajudá-los era loucura.
- O que eu ganharia com isso? - Megan questionou séria.
- Dinheiro, e claro, te ajudaríamos a fugir ou te protegeríamos caso queira continuar em Londres. - Holt respondeu rápido e tão sério quanto ela e meus olhos se arregalaram com o de .
- Mas você não precisa se não quiser. até mesmo já tinha ido atrás de um amigo pra conseguir seus documentos falsos, e não demoraria pra ficarem prontos. - debateu como se estivessem numa briga pela melhor proposta pra Megan, que intercalava o olhar entre todos nós de maneira desesperada e até um pouco engraçada.
A pausa dela me desesperou.
- Bem, pelo jeito eu só tenho opções ruins, mas preciso escolher. - ela riu fraco e sem humor, dando uma mão pra mim e outra pra , mas olhou fixo pra Holt e Voight, que estavam sentados em nossa frente - Mesmo se eu não conseguir nenhuma informação importante vocês ainda vão me pagar?
Apertei os olhos e encostei meu corpo inteiro no sofá, respirando derrotada e xingando tudo e a todos mentalmente.
- Claro! - Holt respondeu já levemente animado.
- Eu... - Megan deu uma breve pausa, apertando minha mão, me fazendo abrir os olhos novamente - Eu preciso muito de dinheiro, tá legal? Vocês duas são incríveis, mas eu preciso continuar nisso pra pelo menos ter um dinheirinho pra poder me virar quando for embora. - ela se explicou um tanto quanto triste pra mim e pra , com os olhos marejados.
Merda, merda e merda. Eu queria gritar e espernear mas me lembrei do que Voight havia me dito;
"Coisas ruins acontecem o tempo inteiro e com todo mundo. Você não vai consertar o mundo inteiro, mas vai ajudá-lo a ser menos pior, sabia?"
's POV
passava os dedos por diversos livros e pegava alguns de maneira totalmente aleatória, lia a sinopse e os colocava de volta no lugar.
- Era esse o encontro mais conceitual que você queria pra nós?
- Sim, porque coisas ruins acontecem o tempo inteiro e com todo mundo, mas eu não vou consertar o mundo inteiro, mas vou ajudá-lo a ser menos pior, e pensei que isso poderia começar assim, saindo pra lugares mais interessantes como...
- Como uma das bibliotecas da cidade? - arqueei a sobrancelha junto a uma risadinha - E o que foi isso? Você finalmente está aprendendo a lidar com toda essa sua culpa? - aquilo me surpreendeu por um segundo e me lotou de esperanças, mas a verdade estava óbvia no olhar engraçadinho de .
- Não, mas Voight me disse isso e eu estou repetindo pra mim há dias pra ver se entra na minha cabeça e eu aceito de uma vez. - ela deu os ombros, ainda passando os dedos por diversos livros.
- Você ainda está abalada com o fato da Megan ter aceitado trabalhar com Voight, não é? - ela nem precisou responder, sua expressão derrotada e decepcionada já diziam que sim - Ok, vamos passar em algum lugar, comprar algo pra comer e levar pra casa. Temos algumas horas pra matar até a hora da tal festa.
não discordou da ideia. Dias atrás, nos convidou pra mais um de seus shows, mas esse era diferente, era como um mini festival com alguns cantores novos e ao ar livre, num lugar um tanto quanto longe, mas fez uma baita propaganda dizendo que era incrível, e mais: precisávamos levar roupa de banho porque tem um bendito rio no lugar.
Paramos em uma lanchonete que vivíamos frequentando e pedimos lanches e cookies. Os olhos de brilhavam toda vez que ela via os cookies na vitrine da lanchonete, eram os seus favoritos. O lance é que eu não tinha um sábado tão confortável assim há tempos. Digo, todo sábado desde quando conheci tem sido incrível, assim como todos os outros dias, mas agora que já não tem mais nenhuma insegurança entre nós porque já declaramos oficialmente que nos gostamos, a nossa relação passou a ficar mais... leve. A primeira coisa que ela fez hoje foi acordar emburrada sem motivo nenhum e dizer que devíamos fazer algo diferente e foi me ditando o caminho até chegarmos na biblioteca. Eu sei que preciso parar de comparar, mas porra... A diferença gritante entre duas pessoas, dois relacionamentos. Eu passei tempos ocupado em achar respostas pra questões que nem mesmo me questiono mais porque uma parte de mim já não se importa mais por causa da . Questões que só me deixavam mais confusos, mas quando parei de tentar buscar as respostas, a coisa com só... fluiu.
Não, eu não organizei meu caos, ainda me sinto exausto e confuso com uma caralhada de coisas, mas se for pra explicar, diria que a desordem está se organizando. Eu sei muito bem onde isso tudo pode dar, e de maneira ridiculamente destemida, eu me sinto pronto novamente, ainda no meio da urgência e desespero em proteger de coisas que... Porra... Eu nem mesmo sei direito do que a devo protegê-la, mas preciso. Só que, honestamente, se estivéssemos nos conhecendo pela primeira vez agora, eu faria tudo de novo sem sombra de dúvidas. As discussões ridículas por ela não querer dirigir, as provocações, as transas, tudo.
Talvez eu deva simplesmente agir como se o mundo estivesse prestes a explodir ou acabar - mas se pensar bem, ele realmente está - então... Bem, eu escolho isso aqui, escolho ela.
Chegamos e entramos em meu trailer, já abrindo as sacolas com os nossos lanches dentro. começou a falar sobre coisas aleatórios até parar em Grant. tinha conversado com Holt sobre a tal ajuda que eles poderiam dar pra Grant em relação ao seu vício e eles recomendaram um grupo que parecia ser ótimo, fora os profissionais também. comentou o quanto riu alto de tão desacreditada que ficou, porque sejamos francos... É uma situação bizarra e cheia de ironia, mas no final ela aceitou, mas ainda não tinha comentado sobre a decisão de Grant.
- Eu espero que ele aceite. gosta muito dele, talvez isso também ajude ele a querer melhorar também. - comentei com a voz branda, totalmente concentrado no lanche aparentemente gostoso no meu prato.
Me sentei na cama e estava na minha frente, mas numa cadeira.
- ... - a voz fraca e a expressão desgostosa vieram junto a uma tosse - Eu... Não consigo... - ela parecia estar se afogando, mas no seco.
Me levantei no mesmo instante no maior susto da minha vida, segurando em seu rosto de maneira firme, mas ela ainda parecia sem ar.
- ! - bati em suas costas, pensando que ela pudesse estar engasgada, mas pelo tanto que ela tossia e já estava levemente vermelha, parecia mais uma crise alérgica - Calma, você... - ela buscava ar mas não conseguia respirar fundo e eu a peguei no colo no mesmo segundo, abrindo a porta de maneira desajeitada e desesperada.
Andei rápido com ela nos braços até perceber, na metade do caminho até o escritório, que ela já não tossia e nem tentava buscar ar. Parei no mesmo instante, ainda com ela no colo, e abriu o maior dos sorrisos já dados pra mim, seguido de uma gargalhada alta.
- Meu Deus, ainda bem que eu gravei pra você poder ver a cara de desespero que tava no seu rosto! - ela continuou gargalhando e jogou a cabeça pra trás. Coloquei seu corpo no chão, me sentindo um belo de um palhaço e mesmo tendo sido enganado, não deu pra não rir.
- Você... - parei minha fala assim que lembrei que eu que tinha começado com essa brincadeira dias atrás e tinha dito que teria volta. E teve - Garota, você quer mesmo continuar com isso? - questionei numa tentativa de ficar sério mas falhei, ainda rindo junto com ela.
- Mas é óbvio! Estamos em guerra, !
——
Cohen pediu um dos carros pra Holt pra poder irmos na tal festa de maneira mais confortável, já que era um tanto quanto longe. Uma playlist de R&B montada por Scott começou a tocar e nós cantávamos alto até chegarmos na casa de Grant porque iríamos todos juntos. Na verdade, , Grant e outro amigos dele iriam em um carro e apenas os seguiríamos porque não sabíamos o caminho exato até o local. Scott estava dirigindo e parou em frente ao endereço que tinha me mandado, nos mostrando a casa de Grant. Saímos todos do carro e abriu a porta pra nós e fez uma careta engraçada pelo cheiro forte de maconha.
A casa era, literalmente, a mais bagunçada que já tinha visto em 26 anos. Grant morava com mais três amigos mas a bagunça parecia ter sido feita por trinta homens.
- Drew, desce logo! - Grant berrou na ponta da escada e o amigo veio descendo às pressas enquanto ajeitava uma jaqueta no corpo.
- Meu Deus do céu... - sussurrou desacreditava, observando cada canto que era possível de maneira nada discreta e pareceu sem graça, assim como Grant, que se colocou ao lado dela.
- É... Eu juro que não é tão ruim assim no dia a dia. - Grant percebeu nosso julgamento e já se defendeu, coçando a cabeça de modo sem jeito, mas também divertido.
- Grant, eu... - o olhar desesperado de arrependimento se fez presente em , mas Grant fez um sinal com a mão de que estava tudo bem e ela abandonou a fala no mesmo instante, de um jeitinho sem graça, então envolvi meus braços em sua volta, dando um beijo no topo de sua cabeça.
Drew subiu novamente as escadas berrando por um outro amigo e Grant rolou os olhos pela confusão e atraso, indo até a cozinha e pegando dois engradados de cerveja e decidi ajudar, pegando os outros dois que faltavam. Saímos até o carro de Grant, ajeitando os engradados no porta malas.
- Eu não sou tão ferrado quanto essa casa é, sério. - Grant comentou com a voz baixa, levemente envergonhado, batendo o porta malas e encostando no mesmo, puxando a carteira de cigarros pra fora e me oferecendo um.
- Eu não estou te julgando, Grant. - puxei um cigarro, acendendo o mesmo assim que ele me passou o isqueiro.
- Qual é, ?! - ele riu sem graça - Eu sei que você sabe, e é complicado porque nessa casa é um pior que o outro, então é complicado sair disso, entende? - ele estava claramente se referindo ao seu vício em drogas.
- Você não vai melhorar se continuar num lugar onde só tem as coisas que te façam mal.
- Eu sei, de verdade, mas é foda. Eu não tenho como me mudar daqui agora, e mesmo se tivesse, ainda preciso cuidar do Drew, ele é o meu irmão mais novo, acabou de fazer 18. falou comigo sobre o padrasto dela ter oferecido ajuda e eu aceitei. Relutei muito contra isso de primeira quando ela tocou no assunto, mas meu Deus, essa mulher... Ela me fez enxergar que aceitar ajuda é uma honra, não uma vergonha, então eu aceitei, e prometo que vou fazer valer a pena. - ele terminou o discurso com um sorriso nos lábios, dando mais uma tragada no cigarro.
- Sua promessa não vale muita coisa até que você a cumpra, então... - reforcei o óbvio de maneira tranquila e Grant acenou a cabeça positivamente no mesmo instante, sem mais o que dizer.
Grant não parecia ser uma pessoa ruim nem de longe, mas tinha algo nele que me intrigava de maneira inquieta, mas eu não tinha nenhum rastro que me levasse a desconfiar de nada relacionado a ele.
O pessoal saiu da casa de uma vez e começaram a entrar nos carros. Foi pouco mais de uma hora ouvindo Cohen e Scott contarem entre histórias bizarras e histórias extremamente engraçadas. Assim que o carro foi estacionado e descemos, parecia encantada com a decoração. Não era nada chique ou caro demais, apenas algumas luzes em volta de algumas árvores e o pequeno palco estava todo enfeitado também. se juntou com mais duas cantoras que tinha pra se apresentar e uma banda, e foram todos pra um tipo de camarim. Começamos a beber e conversar, observando e explorando o lugar aos poucos até o lugar lotar cada vez mais e a primeira cantora entrar no palco. A garota cantava bem demais e foi muito aplaudida, assim como a segunda. Assim que entrou no palco, os aplausos e os gritos poderiam facilmente ecoar na cidade inteira de tão altos.
tinha uma mente e uma criatividade que ainda não tem nome pra definir. O jeitinho confortável dela no palco enquanto canta e dança mostra bem que não tem nada na vida que ela ame mais do que estar ali. , Cohen e Scott dançavam juntos e riam enquanto cantavam alto.
Foi incrível do começo ao fim e quando saiu do palco, varias pessoas correram atrás dela pra tirar foto, abraçar ou só conversar mesmo. Esse tipo de coisa estava ficando cada vez maior e mais frequente desde a primeira vez que vi uma apresentação dela e me deixava feliz saber que tudo estava indo bem nesse seu começo de carreira.
E francamente... Quem não amaria uma pessoa talentosa como ?
's POV
Curtimos o show da banda juntinhos, dançando, rindo e bebendo. Eu sei que muita coisa na vida é importante e é difícil classificar, mas a coisa mais importante pra mim, atualmente, é isso; eu com as pessoas que amo.
Em momentos assim eu me sinto outra , uma que não se sente tão pesada com os problemas do mundo. Assim que o show terminou, as pessoas começaram a se separar em direções aleatórias. Algumas foram embora, algumas iam até seu carro buscar mais bebidas e outras já voltavam apenas de biquíni.
- E então? - semicerrou os olhos enquanto seguia uma garota de biquíni com o olhar, nos lançando um claro convite pra fazermos o mesmo.
Fomos até onde nossos carros estavam estacionados, pegando nossas roupas de banho dentro de nossas mochilas e correndo até os banheiros pra nos trocarmos feito crianças. Grant pegou no colo e começou a correr e fez o mesmo. Eu ria feito criança mas parei assim que chegamos na beirada do rio. O clima nos permitia entrar ali numa boa mas eu imaginei o quão gelada a água poderia estar.
- ... - o olhei com piedade e ele riu - Vamos ver se está gelada primeiro.
- Ok. - ele me colocou no chão no mesmo instante mas me abraçou e nos jogou no rio de uma vez.
- ! - meu grito de bronca saiu falho, tentando recuperar minha respiração enquanto ele se acabava na risada.
- Não está tão gelada assim, .
Tinha no mínimo umas trinta pessoas no rio, todas rindo, gritando em diversão e aproveitando o momento. Ficamos um tempão ali, o suficiente pra fazer nossos dedinhos dos pés e das mãos enrugarem. Saímos juntos do rio pra comermos algo, e foi adorável ver todo mundo juntinho em uma rodinha enquanto comíamos os lanches que tinha preparado.
- O refrigerante, mulher! - exclamei em alerta pra , que fez uma careta engraçada porque tinha esquecido e eu já me levantei, indo até o carro pra buscar o mesmo.
- Ei. - um rapaz alto e só pela misericórdia de bonito surgiu do meu lado assim que fechei o porta malas com o refrigerante e copos descartáveis em mãos.
- Hmm... Oi?
- Você tá sozinha? - o rapaz me lançou um olhar que eu conhecia bem a intenção através dele e eu prendi o riso no mesmo instante porque aquilo não teve absolutamente nenhuma reação em mim.
- Não. - dei um passo largo e ele fez o mesmo, mas dando um passo pra frente, ficando em minha frente - Olha, tem gente me esperando e...
- Você não vai nem me deixar falar? - ele deu uma risada um tanto quanto agradável, com o mesmo olhar firme de sedução ali.
- Eu sou muito esperta pra você me seduzir, e fora isso, meus amigos e meu namorado estão me esperando, então se você me dá licença... - dei um passo pro lado, me permitindo sair da frente do rapaz que eu nem mesmo sabia o nome e nem me interessava, começando a andar em direção ao pessoal.
Meu coração estava levemente acelerado e eu sabia que era exclusivamente porque tinha me referido a como meu namorado. De longe eu podia ver o pessoal rindo de alguma coisa e só eu sei o quanto ver sorrindo me deixa extremamente feliz, como se aquilo de alguma maneira me alimentasse em todos os sentidos. Ver a nossa evolução me fazia sorrir também, e embora ele não seja o meu namorado de verdade, eu posso ter a certeza que ele sempre será algo maior que isso pra mim. Acho que eu posso dizer com toda a certeza que não tem jeito e não adianta bancar mais nenhum tipo de joguinho, porque o amor veio pra me dilacerar por inteiro.
Cheguei com o refrigerante e depois de terminarmos de comer e conversar, voltamos pro rio, só que mais animados. dava altas cambalhotas pra pular e Cohen era o único que não conseguia, então os garotos o seguravam de cabeça pra baixo e o soltavam, e bem... o tanto que a gente riu junto não é possível descrever.
- . - me puxou pela cintura, me dando um selinho longo.
- . - sorri feito boba ao pronunciar seu nome, envolvendo meus braços em volta do seu pescoço. Observei cada detalhe do seu rosto, abaixando meu olhar até chegar em seu peitoral, observando a tatuagem com os olhos de Sienna e soltei uma risadinha fraca.
- Te incomoda? - ele foi cuidadoso ao questionar, e minha risadinha se transformou mais uma vez num sorriso, porque por mais que eu sorrisse pra ele o tempo inteiro, nunca parecia o suficiente e eu queria mostrar o quão feliz ele me fazia, mesmo com a tatuagem dos olhos da ex no peitoral, porque honestamente...
- Não, nem um pouquinho. - encostei nossos narizes - Eu só espero que comigo você tatue o meu rosto inteiro. - fiz graça, segurando o riso e jogou a cabeça pra trás rindo pra valer.
Juntos, felizes e aproveitando o momento. Digo... Aproveitando mesmo!
Passamos mais de uma hora e meia no rio, puxamos assunto com varias outras pessoas e acho que o Bellamy River nunca esteve tão alegre, mas já estava tarde e o tempo esfriou o suficiente pra nos tirar do rio, mas não parecia ter afetado muita gente, porque a grande maioria permaneceu dentro do mesmo.
- Vou buscar as toalhas. - anunciou antes de andar em direção ao estacionamento e os garotos continuaram brincando na água feito crianças, enquanto já estava fora do rio comigo.
- Eu vivo por momentos como esse. - comentou com uma expressão linda no rosto, totalmente encantada ao ver nossos amigos se divertindo como se nada mais no mundo importasse.
Abri um sorriso largo, encostando meu rosto em seu ombro, observando toda aquela cena por minutos. Longos minutos.
- está demorando demais. - comentei com a testa franzida, o procurando com o olhar, mas não tinha sinal nenhum dele.
- Vou dar uma paulada na cabeça dele. Estou com frio! - respondeu fazendo graça, virando o rosto pra mim e toda a sua animação sumiu no instante em que ela me olhou e notou que eu não estava no clima pra brincadeirinhas.
- Vou procurar ele. - comecei a andar com passos firmes e ouvi fazendo o mesmo atrás de mim.
Não tinha ninguém no nosso carro, mas tinha o rapaz que falou comigo quando fui buscar o refrigerante numa roda de amigos no carro ao lado. Ele notou minha presença ali e abriu um sorriso, levantando a garrafa de cerveja que estava em suas mãos.
- Mudou de ideia, moça? - ele riu, e talvez se eu não tivesse tão nervosa o mandaria ir pra puta que pariu, mas precisava saber de .
- Você viu um homem vindo até esse carro aqui? - perguntei rápido quase atropelando as palavras.
- Sim, ele até abriu o porta malas mas saiu num carro com outros dois amigos. Não faz muito tempo não. - o rapaz deu os ombros e tinha uma expressão de confusão esboçada em seu olhar.
- NARRAÇÃO - O copo de Whiskey na mão de Voight era sua melhor companhia na madrugada. Ele mantinha o olhar atento em toda a papelada em sua frente e tentava afastar os pensamentos malucos e confusos dando um gole na bebida.
O celular tocou alto e ele resmungou um "porra" alto, afinal, a casa estava completamente vazia. O coração do homem errou as batidas assim que viu o nome de na tela porque nunca, nenhuma vez sequer, uma ligação da garota ou de qualquer outra pessoa no meio da madrugada era pra vir uma boa notícia.
- ? - ele atendeu incerto se era ela mesma ou um erro, um toque errado na tela do celular ou qualquer outra coisa que por um segundo o desse esperança de que nada tivesse acontecido.
- O sumiu! Levaram ele!
Voight sabia que era algo ruim, mas não imaginou que o que ele mais temia por meses finalmente tinha acontecido. O homem imediatamente ligou os pontos e já criou mil teorias em sua cabeça, mas com o pensamento forte que o rondava há tempos.
"Eles tem as pessoas certos nos lugares certos, então, sim, nós estamos indo pra baixo."
não estava na cama quando acordei. Tomei um banho fresquinho, dando boa tarde pra o pessoal que entrava e saía dos trailers. Caminhei até o trailer de novamente na esperança de encontrá-lo. Abri a porta, dando de cara com aquela coisa horrível atrás da porta e berrando o provável grito mais escandaloso que já havia dado em toda a minha vida por conta do susto.
- PUTA QUE PARIU, PORRA!
explodiu em gargalhadas, tirando a máscara bizarra do Pennywise, palhaço do filme "IT - A Coisa". Voei nele, dando um tapa certeiro em seu braço, rindo junto.
- Meu Deus, ainda bem que eu gravei isso! - ele me puxou pela cintura com uma mão ainda rindo e pegando o celular que estava posicionado em cima do microondas.
- Você é um... - ele me encarou numa falsa repreensão e voltou a gargalhar, rolando o vídeo e rindo ainda mais.
- Fala sério, foi demais!
- Vai ter volta, ! - semicerrei os olhos, declarando guerra com o olhar e ele me deu um selinho - De onde você tirou essa máscara?
- Teve uma festa à fantasia de um dos amigos de Cohen e fomos os três iguais. Foi bem...
- Bizarro? - interrompi com uma careta, afinal, não era a melhor fantasia pra se ir numa festa, certo?
- Interessante! Tipo, é só uma máscara e ainda assim teve um monte de gente que ficou com medo mesmo! A gente riu pra caralho. - seu olhar se perdeu por um instante, provavelmente se recordando da tal festa e eu soltei uma risadinha.
Batidas na porta foram dadas e me soltou pra abri-la, e só de me virar e perceber que era Voight, desejei ainda estar dormindo ou na casa de Lydia pra não precisar o olhar.
- Francia me disse que você tava aqui, . - ele disse num tom agradável, me encarando de maneira energizada, como se estivesse se controlando pra não falar ou fazer algo - E eu vim chamar vocês pra almoçarem, Ellie nos convidou. Chamei Scott e Cohen também. - ele esbanjou o convite numa calmaria nunca vista, me fazendo ter certeza de que algo provavelmente estava rolando.
me lançou um olhar sério, como se a decisão fosse totalmente minha.
- Tudo bem. - forcei um sorriso simpático e a informação parece ter demorado de chegar no cérebro de Voight, que permaneceu ali por mais alguns segundos, como se estivesse esperando algo a mais, e assim que percebeu que não teria, deu as costas e disse que sairia em 10 minutos.
Soltei um longo suspiro, fechando a porta novamente.
- ... - me chamou do jeitinho que eu conhecia bem, o jeitinho de quem já estava pronto pra mergulhar no assunto, mas com um pouco de receio, como se falar de Voight fosse um assunto restrito.
- Eu sei que Voight me ama, mas ele nunca vai me explicar algumas coisas que acontecem aqui porque acha que tem que me proteger, sendo que eu estou aqui, eu trabalho aqui e eu moro aqui! Não tem sentido, ! Eu quero saber, eu quero ajudar de alguma forma e eu quero te ajudar também! - esbravejei de uma vez o primeiro pensamento que me parou na cabeça.
- ...
- Ele me treinou, sabia? Ele me ensinou a me defender, me ensinou a dar um belo soco na cara de alguém se essa pessoa me fizesse mal, e eu sei que as coisas assim não funcionam com violência, sei que as coisas aqui vão muito além, só que eu não sou uma princesinha indefesa! Eu posso ajudar!
- ! - gritou, me fazendo parar de falar e chamando minha atenção no mesmo instante - Voight é o seu pai, e pais pensam em proteger seus filhos! Paul é um homem perigoso e a sua segurança com certeza é a coisa mais importante pra Voight, e sendo extremamente sincero, essa sua sede de ajudar o tempo inteiro tem a ver com toda essa culpa que você carrega que eu sei!
- E tudo o que a gente faz nessa vida não é baseada em pelo menos um pouquinho de culpa, ? - cruzei os braços, quase o desafiando.
- O que? Claro que não, ! - ele respondeu quase que indignado.
- Ok, eu entendo, eu me culpo por um monte de coisa e eu penso que talvez essa culpa diminua se eu ajudar as pessoas próximas a mim ou nem tão próximas, mas não é assim que funciona? Você quer ser professor por que?
- Porque eu quero ajudar as pessoas na educação delas.
- Só isso? Não é porque o sistema as vezes é injusto e algumas pessoas têm mais acesso e outras menos, e por isso, de alguma forma, você acha que é sua responsabilidade ajudar o sistema a ser menos ruim? - arqueei as sobrancelhas, jurando mentalmente que conseguiria pegar no pulo e que de alguma maneira ele admitisse que minha teoria estava certa.
- Não, eu não penso por esse lado! Você já parou pra pensar que as pessoas seguem profissões simplesmente por empatia? Por gosto? Nem tudo tem rastros de culpa, . - foi a vez dele de arquear as sobrancelhas de um modo levemente debochado, mas não esnobe, e sim de maneira divertida, sabendo que tinha me desarmado. Bufei, balançando a cabeça e fingindo dar um beliscão em seu braço, o fazendo rir.
Eu tento não pensar muito porque sei que isso vai acabar comigo cada vez mais. Tento me controlar, mas ainda não sei muito bem como. As vezes me sinto completamente perdida de mim mesma nessa jornada de tentativas. As vezes, notícias infelizmente que já se tornaram normais banhadas a injustiça me machucam como se fosse um tiro no peito.
Voight foi sozinho no carro enquanto fomos todos de moto atrás. Tia Ellie nos cumprimentou ainda na porta e logo nos acomodamos ao sentar pra almoçar. se sentou ao meu lado e do outro, e por um segundinho me permiti babar nas minhas duas pessoas favoritas. tirou algumas fotos nossas ali mesmo e fizemos questão de fazer caretas engraçadas. Holt ajudava tia Ellie a colocar as travessas na mesa e se sentaram. Quem visse de fora, jamais imaginaria que Holt era o chefe de uma gangue e que Ellie era praticamente uma chefe também, já que ela o ajudava muito de casa.
- Eles vão pedir desculpas, você vai ver! - sussurrou discretamente e começou a pegar a comida.
Observei cada um, e embora estivessem distraídos cada um enchendo seu prato, eu podia sentir que aquele almoço tinha algum propósito. Não demorou nada pra uma conversa aleatória se iniciar e Cohen e Scott embarcarem de cabeça nela.
- Eu vou voltar pra faculdade semana que vem. - Scott anunciou animado, recebendo sorrisos e vários elogios.
- Fico muito feliz por você, de verdade! - Holt se mostrou totalmente sincero, com um sorriso alegre no rosto.
Holt e Voight são iguais nisso. Isso é música para o ouvido dos dois, saber que alguém vai estudar, se esforçar e provavelmente não vai ficar encalhado nessa vida com os The Lions pra sempre. As pessoas não querem que você tente porque tem medo que você possa conseguir e crescer. Fora que nem sempre somos incentivados a estudar porque bem, é óbvio, fica mais fácil de manipular alguém com pouco conhecimento. Eu cresci ouvindo isso e hoje sei que é a mais pura verdade por tudo que já vi.
- ... - Voight a chamou num tom tranquilo, bebericando um pouco do suco - Como Grant está?
parou de mastigar a comida que estava na boca no mesmo instante, erguendo o rosto e encarando Voight de maneira séria.
- Ele está bem. - respondeu ríspida, me lançando um olhar nada bom em seguida.
Talvez o almoço não fosse pra ninguém pedir desculpa.
- E ele ainda... Você sabe... - Voight continuou, dando um olhar óbvio, claramente querendo perguntar se Grant ainda estava se drogando e rolou os olhos de maneira irritada no mesmo segundo.
- Vocês berraram e brigaram com a gente por algo que poderia ser resolvido apenas numa conversa, hoje estão todos aqui nesse almoço fingindo que nada aconteceu e agora você, Voight, vem me perguntar sobre o rapaz que eu estou me relacionando só porque ele usa drogas? Será que eu preciso lembrar que VOCÊS vendem drogas? - esbravejou sem freio, encarando Voight, Ellie e Holt, que estavam do outro lado da mesa com os olhos levemente arregalados com o que ela disse.
- ! - tia Ellie chamou sua atenção, mas não de modo grosseiro ou raivoso, e sim de modo tranquilo, querendo acalmar a filha.
- Vocês não conhecem ele! Grant usa drogas mas ele está tentando parar e ninguém liga pra essa parte. - ela continuou.
- Calma! A gente não quer brigar de novo, e se você quiser, podemos ajudar Grant, beleza? De verdade, a gente pode tentar ajudar mesmo! - Holt entrou na conversa de modo acanhado, claramente não querendo levar nenhum xingo ou grito de - E nós erramos com vocês, sabemos disso. Não foi nada justo o jeito que tratamos vocês pra conseguirmos as respostas que queríamos. - ele seguiu, numa sinceridade totalmente explícita e tocante, de modo que até fez relaxar novamente na cadeira.
- Toda vez que fizermos algo que vocês julgam perigoso demais pra nós, vocês vão surtar, e não vai ter almoço que repare esse tipo de coisa. - abri minha boca pela primeira vez e calei a do resto no mesmo segundo. Voight me encarava sério, mas também decepcionado.
- Só queremos proteger vocês, ! O que você quer? Saber que a gente tá fodido e temos que trabalhar pro Paul lavando dinheiro, transportando mercadorias deles e um monte de outras coisas que somos obrigados a fazer pra manter pelo menos o mínimo de paz que temos enquanto não conseguimos nada mais forte contra ele? - eu pude notar o controle na voz de Voight em cada palavra. Aquilo pra ele era um assunto sério e delicado e às vezes ele achava que eu só entenderia de vez berrando aos quatro cantos sobre isso, mas ele se controlou.
Aquilo chegou com a mesma dorzinha fina e desgastante no peito.
- Paul é um homem imprevisível. Ele pode cansar disso tudo, aparecer aqui e matar todo mundo, e a gente precisa pensar em como evitar isso. - tia Ellie se manifestou também.
Olhei pro lado, vendo observar aquilo tudo de maneira séria. Ele me olhou rápido, dando um sorriso fraco e tombando uma mão em minha coxa esquerda, e não perdi tempo em entrelaçar as mesmas. Scott e Cohen se mantinham firmes e atentos a cada palavra que saía das nossas bocas também.
- Olha, eu sei que é difícil, mas precisamos de uma coisa que vocês duas conseguiram. - Holt nos lançou um olhar mais sério ainda. Olhei pra no mesmo instante, confusa por um segundo e pensando rapidamente no que poderia ser e não demorei pra chegar numa conclusão, sentindo um arrepio lotado de medo pelo meu corpo.
- Megan, não é?
- ... - Voight tombou o olhar quase que derrotado - Zane não está conseguindo nenhuma informação relevante. Paul muda a função dele toda semana, então fica difícil. Precisaríamos de alguém mais próximo e...
- Megan tem 28 anos! - foi a primeira coisa que saiu da minha boca em total indignação, querendo lembrar o quão jovem ela era pra se arriscar por qualquer coisa - Ela até hoje só conseguiu fotos de recibos! Eu não vou entregá-la assim de bandeja pra vocês porque não vai mudar nada! E eu disse que era arriscado continuarmos com isso, e tudo o que ela quer são documentos falsos pra conseguir fugir em paz. Vocês não podem pedir por ela!
- ! - tia Ellie chamou minha atenção - Eu sei que é difícil, mas ela é uma pessoa mais próxima de Paul e se ela receber as instruções certas, talvez ela ajude mais, entende?
- Gente, pelo amor de Deus! - passou a mão pelos cabelos de maneira nervosa. Aquilo tudo o afetava diretamente e meu coração doía só de lembrar.
- Eu sei que é difícil, mas precisamos disso. No fim, estamos aqui pedindo a ajuda de vocês, olha que loucura! - Holt riu sem jeito, tentando espantar a tensão.
- Vocês acham que somos crianças? Se dissermos que não, vocês vão atrás da Megan de qualquer jeito! Vocês não precisam de nós, mas precisam da nossa permissão pra se sentirem menos mal com a situação. Quando que vocês precisariam da ajuda de duas garotinhas como nós? - se levantou nervosa, quase derrubando a cadeira. Todos a encaravam incrédulos, mas ninguém se atreveu a tentar impedi-la de ter seu momento de revolta.
Senti apertando minha mão, claramente nervoso, e tudo o que eu queria era abraçá-lo, mas precisei pensar rápido em uma outra coisa.
- Vocês vão atrás da Megan de qualquer jeito, mas eu tenho duas exigências. - me levantei também, mas não com a mesma agressividade de . Respirei fundo, observando as três testas franzidas em minha frente - Primeiro: se ela não aceitar, vocês não vão insistir, tudo bem? E em segundo... Se ela aceitar, nós vamos estar em todos os encontros que vocês tiverem.
Meu coração estava prestes a explodir. me olhou confusa mas logo abriu um sorrisinho animado.
- Tá, por mim tudo bem. - Holt concordou primeiro, espalmando as mãos no ar em sinal de quem não tinha muita opção e me permiti rir um pouco.
- Temos um trato, ! - Voight se levantou e estendeu a mão pra mim e apertei a mesma, rindo mais ainda em seguida e um sorriso escapou dos lábios dele também.
O que é necessário para unir as pessoas? Nem sempre o que nos une é só coisa boa, mas no fim, o que nos une é sempre uma história, um problema, e as vezes até o chefe de uma gangue rival. No fim, estamos sempre unidos, querendo ou não, e isso é mais poderoso do que imaginamos.
Li a mensagem de dizendo que tinha ido pra academia e não quis me acordar. Sorri pra tela do celular, saindo do meu trailer com as roupas na mão, indo pro banho.
Uma joaninha pousou em minha mão enquanto eu saía do banheiro. Parei de andar no mesmo segundo, observando a pequena de perto, acompanhando ela caminhando até a metade do meu braço, voando em seguida. Sorri feito boba, me sentindo um tanto quanto diferente, mas não pela joaninha, e sim pelo dia, pela maneira como acordei. Preferi não pensar muito e voltei a andar até meu trailer, encontrando Scott almoçando sozinho sentado em uma das mesas que tinha por ali.
- Pensei que estivesse na academia com . - cheguei puxando assunto, sentando junto com ele, sendo recebida por um sorriso simpático.
- Preciso ir na faculdade agora a tarde. - ele respondeu orgulhoso, deixando bem claro sua animação e foi impossível não sorrir também.
- Estou feliz por você, sabia? Acho incrível você voltar pra faculdade e pensar num futuro pra si mesmo.
- Bem, é isso ou ficar aqui pra sempre aguentando Voight e Holt, não é? - ele soltou uma gargalhada divertida.
- Agora entendi tudo! - semicerrei os olhos, rindo com ele - Mas sério, parabéns! Sei que não vale muito, mas estou orgulhosa de você.
- Claro que vale, ! Mas e você, ein? Poderia voltar e também! - ele sugeriu animado e energizado.
- Não ando com cabeça pra pensar nisso. - dei os ombros, observando ele dar a última garfada em sua comida.
Realmente não ando com disposição nenhuma pra pensar em faculdade e também não, mas a diferença é que ele gostaria muito de voltar, mesmo no meio de todas as confusões que encontramos até aqui e todas as outras que provavelmente vão aparecer, já eu...
- É, você está ocupada demais tentando salvar a mulher do Paul. Eu entendo, não deve ser fácil. - Scott usou um tom divertido e eu agradeci mentalmente por isso. O jeitinho dele de deixar um assunto sério ficar menos tenso me encantava o tempo todo.
- Ela é bem corajosa e cheia de vontade de viver, sabe? Eu ainda não conversei com Voight sobre isso, mas antes de dormir eu pensei tanto nisso e acho que não é uma boa ideia meter ela em mais nada, eu temo pelo o que pode acontecer se Paul descobrir. E o pior é que mesmo eu tendo feito minhas exigências, sei que Voight vai tentar me convencer a ficar fora disso e bla bla bla... - desabafei de uma vez só, dando um longo suspiro ao finalizar.
- Eu entendo o lance da proteção, sabe? Mas acho que ele acaba confundindo um pouco. Ele quer te proteger tanto que acaba querendo que você não se envolva pra não se corromper, porque querendo ou não, a realidade daqui não é nada bonita, mas não tem o que corromper, entende? A verdade nua e crua precisa ser vista pra que você trilhe o caminho menos pior, e também ele vai te ensinar um monte de coisas, porque querendo ou não, mesmo no meio de toda essa bagunça, somos cheios de privilégios, sabe? Tanto eu quanto você podemos escolher sair daqui, enquanto tem gente que não tem esse tipo de escolha.
Eu não consegui mais abrir minha boca. A sensatez de Scott tinha me calado de uma maneira boa, que me fez mergulhar num pensamento profundo no mesmo instante.
DIAS DEPOIS...
Essa ideia maluca de que eu posso resolver coisas que nem mesmo estão ao meu alcance sempre me perseguiu.
- ? - estalou os dedos na frente do meu rosto inúmeras vezes, me dispersando do transe em que estava.
Olhei para o sofá rapidamente, ainda não acreditando que estava mesmo acontecendo. Megan levaria um susto gigante e eu estava torcendo mentalmente pra ela não aceitar nada que Voight e Holt estavam prestes a propor.
Megan tinha entrado em contato, marcando um novo encontro. Fui até a cabine onde gravava e me sentei em uma cadeira ali, respirando fundo, mas não parecia o suficiente.
- Ei. - Voight apareceu na porta, se apoiando o corpo na mesma - Eu sei como você se sente, e juro, eu entendo, mas coisas ruins acontecem o tempo inteiro e com todo mundo. Você não vai consertar o mundo inteiro, mas vai ajudá-lo a ser menos pior, sabia?
- Que merda você tá falando? - me virei de uma vez só com a testa totalmente franzida, me perguntando de onde diabos tinha vindo aquilo. Voight tinha um olhar cheio de compreensão e puta que pariu, eu via claramente vestígios de dó ali.
- Eu sei como você se sente, . Eu sei que você quer salvar Megan dessa vida horrível, mas eu juro, se ela puder nos ajudar de alguma maneira, vamos nos encarregar de mandá-la pra um lugar longe e seguro até acabarmos com Paul de uma vez.
- Quantas pessoas você já matou? - Voight arregalou os olhos e engoliu em seco, completamente impactado pela minha pergunta que chegou de repente.
- Que pergunta é essa?
- Até onde eu sei, não se tem muitas opções pra acabar com Paul... Ele tem muitos contatos na polícia, então ele dificilmente seria preso, e eu não consigo ver nenhum outro tipo de justiça, então acho que ele só pararia se morresse, não é? Então eu acho que...
- Matar alguém é horrível, mesmo quando a pessoa merece. - ele me interrompeu ríspido, com a voz carregada numa energia pesada - Mas existem outras maneiras de derrubar Paul, e mesmo se não existisse, eu inventaria uma. - sua voz foi as suavizando, mas a energia tensa que pairava em nós permaneceu, e estava claro que mesmo que tudo estivesse fodido no momento, Voight tentava se convencer com as próprias palavras, caso contrário ele provavelmente enlouqueceria.
Não tive tempo de me abalar sobre o que ele disse sobre matar alguém porque observamos pelo grande vidro a movimentação de , claramente saindo pra abrir a porta pra Megan, que assim que adentrou o estúdio e observou as presenças ainda inéditas, deu um passo pra trás num pequeno susto.
- Calma! - disse baixinho, entrelaçando seu braço no de Megan - Esses são Voight e Holt - ela apontou pra cada um - E eles querem te conhecer e... fazer uma proposta. - ela tossiu fraco limpando a garganta, mas estava óbvio que ela estava tão nervosa quanto eu.
Voight e Holt se apresentaram e por mais que Megan permaneceu desconfiada pelos primeiros minutos, senti que as coisas melhoraram pelo menos um pouquinho quando eu e nos sentamos ao seu lado. A cada palavra que eles falavam com Megan eu torcia mais e mais pra ela decidir de maneira rápida que ajudá-los era loucura.
- O que eu ganharia com isso? - Megan questionou séria.
- Dinheiro, e claro, te ajudaríamos a fugir ou te protegeríamos caso queira continuar em Londres. - Holt respondeu rápido e tão sério quanto ela e meus olhos se arregalaram com o de .
- Mas você não precisa se não quiser. até mesmo já tinha ido atrás de um amigo pra conseguir seus documentos falsos, e não demoraria pra ficarem prontos. - debateu como se estivessem numa briga pela melhor proposta pra Megan, que intercalava o olhar entre todos nós de maneira desesperada e até um pouco engraçada.
A pausa dela me desesperou.
- Bem, pelo jeito eu só tenho opções ruins, mas preciso escolher. - ela riu fraco e sem humor, dando uma mão pra mim e outra pra , mas olhou fixo pra Holt e Voight, que estavam sentados em nossa frente - Mesmo se eu não conseguir nenhuma informação importante vocês ainda vão me pagar?
Apertei os olhos e encostei meu corpo inteiro no sofá, respirando derrotada e xingando tudo e a todos mentalmente.
- Claro! - Holt respondeu já levemente animado.
- Eu... - Megan deu uma breve pausa, apertando minha mão, me fazendo abrir os olhos novamente - Eu preciso muito de dinheiro, tá legal? Vocês duas são incríveis, mas eu preciso continuar nisso pra pelo menos ter um dinheirinho pra poder me virar quando for embora. - ela se explicou um tanto quanto triste pra mim e pra , com os olhos marejados.
Merda, merda e merda. Eu queria gritar e espernear mas me lembrei do que Voight havia me dito;
"Coisas ruins acontecem o tempo inteiro e com todo mundo. Você não vai consertar o mundo inteiro, mas vai ajudá-lo a ser menos pior, sabia?"
's POV
passava os dedos por diversos livros e pegava alguns de maneira totalmente aleatória, lia a sinopse e os colocava de volta no lugar.
- Era esse o encontro mais conceitual que você queria pra nós?
- Sim, porque coisas ruins acontecem o tempo inteiro e com todo mundo, mas eu não vou consertar o mundo inteiro, mas vou ajudá-lo a ser menos pior, e pensei que isso poderia começar assim, saindo pra lugares mais interessantes como...
- Como uma das bibliotecas da cidade? - arqueei a sobrancelha junto a uma risadinha - E o que foi isso? Você finalmente está aprendendo a lidar com toda essa sua culpa? - aquilo me surpreendeu por um segundo e me lotou de esperanças, mas a verdade estava óbvia no olhar engraçadinho de .
- Não, mas Voight me disse isso e eu estou repetindo pra mim há dias pra ver se entra na minha cabeça e eu aceito de uma vez. - ela deu os ombros, ainda passando os dedos por diversos livros.
- Você ainda está abalada com o fato da Megan ter aceitado trabalhar com Voight, não é? - ela nem precisou responder, sua expressão derrotada e decepcionada já diziam que sim - Ok, vamos passar em algum lugar, comprar algo pra comer e levar pra casa. Temos algumas horas pra matar até a hora da tal festa.
não discordou da ideia. Dias atrás, nos convidou pra mais um de seus shows, mas esse era diferente, era como um mini festival com alguns cantores novos e ao ar livre, num lugar um tanto quanto longe, mas fez uma baita propaganda dizendo que era incrível, e mais: precisávamos levar roupa de banho porque tem um bendito rio no lugar.
Paramos em uma lanchonete que vivíamos frequentando e pedimos lanches e cookies. Os olhos de brilhavam toda vez que ela via os cookies na vitrine da lanchonete, eram os seus favoritos. O lance é que eu não tinha um sábado tão confortável assim há tempos. Digo, todo sábado desde quando conheci tem sido incrível, assim como todos os outros dias, mas agora que já não tem mais nenhuma insegurança entre nós porque já declaramos oficialmente que nos gostamos, a nossa relação passou a ficar mais... leve. A primeira coisa que ela fez hoje foi acordar emburrada sem motivo nenhum e dizer que devíamos fazer algo diferente e foi me ditando o caminho até chegarmos na biblioteca. Eu sei que preciso parar de comparar, mas porra... A diferença gritante entre duas pessoas, dois relacionamentos. Eu passei tempos ocupado em achar respostas pra questões que nem mesmo me questiono mais porque uma parte de mim já não se importa mais por causa da . Questões que só me deixavam mais confusos, mas quando parei de tentar buscar as respostas, a coisa com só... fluiu.
Não, eu não organizei meu caos, ainda me sinto exausto e confuso com uma caralhada de coisas, mas se for pra explicar, diria que a desordem está se organizando. Eu sei muito bem onde isso tudo pode dar, e de maneira ridiculamente destemida, eu me sinto pronto novamente, ainda no meio da urgência e desespero em proteger de coisas que... Porra... Eu nem mesmo sei direito do que a devo protegê-la, mas preciso. Só que, honestamente, se estivéssemos nos conhecendo pela primeira vez agora, eu faria tudo de novo sem sombra de dúvidas. As discussões ridículas por ela não querer dirigir, as provocações, as transas, tudo.
Talvez eu deva simplesmente agir como se o mundo estivesse prestes a explodir ou acabar - mas se pensar bem, ele realmente está - então... Bem, eu escolho isso aqui, escolho ela.
Chegamos e entramos em meu trailer, já abrindo as sacolas com os nossos lanches dentro. começou a falar sobre coisas aleatórios até parar em Grant. tinha conversado com Holt sobre a tal ajuda que eles poderiam dar pra Grant em relação ao seu vício e eles recomendaram um grupo que parecia ser ótimo, fora os profissionais também. comentou o quanto riu alto de tão desacreditada que ficou, porque sejamos francos... É uma situação bizarra e cheia de ironia, mas no final ela aceitou, mas ainda não tinha comentado sobre a decisão de Grant.
- Eu espero que ele aceite. gosta muito dele, talvez isso também ajude ele a querer melhorar também. - comentei com a voz branda, totalmente concentrado no lanche aparentemente gostoso no meu prato.
Me sentei na cama e estava na minha frente, mas numa cadeira.
- ... - a voz fraca e a expressão desgostosa vieram junto a uma tosse - Eu... Não consigo... - ela parecia estar se afogando, mas no seco.
Me levantei no mesmo instante no maior susto da minha vida, segurando em seu rosto de maneira firme, mas ela ainda parecia sem ar.
- ! - bati em suas costas, pensando que ela pudesse estar engasgada, mas pelo tanto que ela tossia e já estava levemente vermelha, parecia mais uma crise alérgica - Calma, você... - ela buscava ar mas não conseguia respirar fundo e eu a peguei no colo no mesmo segundo, abrindo a porta de maneira desajeitada e desesperada.
Andei rápido com ela nos braços até perceber, na metade do caminho até o escritório, que ela já não tossia e nem tentava buscar ar. Parei no mesmo instante, ainda com ela no colo, e abriu o maior dos sorrisos já dados pra mim, seguido de uma gargalhada alta.
- Meu Deus, ainda bem que eu gravei pra você poder ver a cara de desespero que tava no seu rosto! - ela continuou gargalhando e jogou a cabeça pra trás. Coloquei seu corpo no chão, me sentindo um belo de um palhaço e mesmo tendo sido enganado, não deu pra não rir.
- Você... - parei minha fala assim que lembrei que eu que tinha começado com essa brincadeira dias atrás e tinha dito que teria volta. E teve - Garota, você quer mesmo continuar com isso? - questionei numa tentativa de ficar sério mas falhei, ainda rindo junto com ela.
- Mas é óbvio! Estamos em guerra, !
Cohen pediu um dos carros pra Holt pra poder irmos na tal festa de maneira mais confortável, já que era um tanto quanto longe. Uma playlist de R&B montada por Scott começou a tocar e nós cantávamos alto até chegarmos na casa de Grant porque iríamos todos juntos. Na verdade, , Grant e outro amigos dele iriam em um carro e apenas os seguiríamos porque não sabíamos o caminho exato até o local. Scott estava dirigindo e parou em frente ao endereço que tinha me mandado, nos mostrando a casa de Grant. Saímos todos do carro e abriu a porta pra nós e fez uma careta engraçada pelo cheiro forte de maconha.
A casa era, literalmente, a mais bagunçada que já tinha visto em 26 anos. Grant morava com mais três amigos mas a bagunça parecia ter sido feita por trinta homens.
- Drew, desce logo! - Grant berrou na ponta da escada e o amigo veio descendo às pressas enquanto ajeitava uma jaqueta no corpo.
- Meu Deus do céu... - sussurrou desacreditava, observando cada canto que era possível de maneira nada discreta e pareceu sem graça, assim como Grant, que se colocou ao lado dela.
- É... Eu juro que não é tão ruim assim no dia a dia. - Grant percebeu nosso julgamento e já se defendeu, coçando a cabeça de modo sem jeito, mas também divertido.
- Grant, eu... - o olhar desesperado de arrependimento se fez presente em , mas Grant fez um sinal com a mão de que estava tudo bem e ela abandonou a fala no mesmo instante, de um jeitinho sem graça, então envolvi meus braços em sua volta, dando um beijo no topo de sua cabeça.
Drew subiu novamente as escadas berrando por um outro amigo e Grant rolou os olhos pela confusão e atraso, indo até a cozinha e pegando dois engradados de cerveja e decidi ajudar, pegando os outros dois que faltavam. Saímos até o carro de Grant, ajeitando os engradados no porta malas.
- Eu não sou tão ferrado quanto essa casa é, sério. - Grant comentou com a voz baixa, levemente envergonhado, batendo o porta malas e encostando no mesmo, puxando a carteira de cigarros pra fora e me oferecendo um.
- Eu não estou te julgando, Grant. - puxei um cigarro, acendendo o mesmo assim que ele me passou o isqueiro.
- Qual é, ?! - ele riu sem graça - Eu sei que você sabe, e é complicado porque nessa casa é um pior que o outro, então é complicado sair disso, entende? - ele estava claramente se referindo ao seu vício em drogas.
- Você não vai melhorar se continuar num lugar onde só tem as coisas que te façam mal.
- Eu sei, de verdade, mas é foda. Eu não tenho como me mudar daqui agora, e mesmo se tivesse, ainda preciso cuidar do Drew, ele é o meu irmão mais novo, acabou de fazer 18. falou comigo sobre o padrasto dela ter oferecido ajuda e eu aceitei. Relutei muito contra isso de primeira quando ela tocou no assunto, mas meu Deus, essa mulher... Ela me fez enxergar que aceitar ajuda é uma honra, não uma vergonha, então eu aceitei, e prometo que vou fazer valer a pena. - ele terminou o discurso com um sorriso nos lábios, dando mais uma tragada no cigarro.
- Sua promessa não vale muita coisa até que você a cumpra, então... - reforcei o óbvio de maneira tranquila e Grant acenou a cabeça positivamente no mesmo instante, sem mais o que dizer.
Grant não parecia ser uma pessoa ruim nem de longe, mas tinha algo nele que me intrigava de maneira inquieta, mas eu não tinha nenhum rastro que me levasse a desconfiar de nada relacionado a ele.
O pessoal saiu da casa de uma vez e começaram a entrar nos carros. Foi pouco mais de uma hora ouvindo Cohen e Scott contarem entre histórias bizarras e histórias extremamente engraçadas. Assim que o carro foi estacionado e descemos, parecia encantada com a decoração. Não era nada chique ou caro demais, apenas algumas luzes em volta de algumas árvores e o pequeno palco estava todo enfeitado também. se juntou com mais duas cantoras que tinha pra se apresentar e uma banda, e foram todos pra um tipo de camarim. Começamos a beber e conversar, observando e explorando o lugar aos poucos até o lugar lotar cada vez mais e a primeira cantora entrar no palco. A garota cantava bem demais e foi muito aplaudida, assim como a segunda. Assim que entrou no palco, os aplausos e os gritos poderiam facilmente ecoar na cidade inteira de tão altos.
tinha uma mente e uma criatividade que ainda não tem nome pra definir. O jeitinho confortável dela no palco enquanto canta e dança mostra bem que não tem nada na vida que ela ame mais do que estar ali. , Cohen e Scott dançavam juntos e riam enquanto cantavam alto.
Foi incrível do começo ao fim e quando saiu do palco, varias pessoas correram atrás dela pra tirar foto, abraçar ou só conversar mesmo. Esse tipo de coisa estava ficando cada vez maior e mais frequente desde a primeira vez que vi uma apresentação dela e me deixava feliz saber que tudo estava indo bem nesse seu começo de carreira.
E francamente... Quem não amaria uma pessoa talentosa como ?
's POV
Curtimos o show da banda juntinhos, dançando, rindo e bebendo. Eu sei que muita coisa na vida é importante e é difícil classificar, mas a coisa mais importante pra mim, atualmente, é isso; eu com as pessoas que amo.
Em momentos assim eu me sinto outra , uma que não se sente tão pesada com os problemas do mundo. Assim que o show terminou, as pessoas começaram a se separar em direções aleatórias. Algumas foram embora, algumas iam até seu carro buscar mais bebidas e outras já voltavam apenas de biquíni.
- E então? - semicerrou os olhos enquanto seguia uma garota de biquíni com o olhar, nos lançando um claro convite pra fazermos o mesmo.
Fomos até onde nossos carros estavam estacionados, pegando nossas roupas de banho dentro de nossas mochilas e correndo até os banheiros pra nos trocarmos feito crianças. Grant pegou no colo e começou a correr e fez o mesmo. Eu ria feito criança mas parei assim que chegamos na beirada do rio. O clima nos permitia entrar ali numa boa mas eu imaginei o quão gelada a água poderia estar.
- ... - o olhei com piedade e ele riu - Vamos ver se está gelada primeiro.
- Ok. - ele me colocou no chão no mesmo instante mas me abraçou e nos jogou no rio de uma vez.
- ! - meu grito de bronca saiu falho, tentando recuperar minha respiração enquanto ele se acabava na risada.
- Não está tão gelada assim, .
Tinha no mínimo umas trinta pessoas no rio, todas rindo, gritando em diversão e aproveitando o momento. Ficamos um tempão ali, o suficiente pra fazer nossos dedinhos dos pés e das mãos enrugarem. Saímos juntos do rio pra comermos algo, e foi adorável ver todo mundo juntinho em uma rodinha enquanto comíamos os lanches que tinha preparado.
- O refrigerante, mulher! - exclamei em alerta pra , que fez uma careta engraçada porque tinha esquecido e eu já me levantei, indo até o carro pra buscar o mesmo.
- Ei. - um rapaz alto e só pela misericórdia de bonito surgiu do meu lado assim que fechei o porta malas com o refrigerante e copos descartáveis em mãos.
- Hmm... Oi?
- Você tá sozinha? - o rapaz me lançou um olhar que eu conhecia bem a intenção através dele e eu prendi o riso no mesmo instante porque aquilo não teve absolutamente nenhuma reação em mim.
- Não. - dei um passo largo e ele fez o mesmo, mas dando um passo pra frente, ficando em minha frente - Olha, tem gente me esperando e...
- Você não vai nem me deixar falar? - ele deu uma risada um tanto quanto agradável, com o mesmo olhar firme de sedução ali.
- Eu sou muito esperta pra você me seduzir, e fora isso, meus amigos e meu namorado estão me esperando, então se você me dá licença... - dei um passo pro lado, me permitindo sair da frente do rapaz que eu nem mesmo sabia o nome e nem me interessava, começando a andar em direção ao pessoal.
Meu coração estava levemente acelerado e eu sabia que era exclusivamente porque tinha me referido a como meu namorado. De longe eu podia ver o pessoal rindo de alguma coisa e só eu sei o quanto ver sorrindo me deixa extremamente feliz, como se aquilo de alguma maneira me alimentasse em todos os sentidos. Ver a nossa evolução me fazia sorrir também, e embora ele não seja o meu namorado de verdade, eu posso ter a certeza que ele sempre será algo maior que isso pra mim. Acho que eu posso dizer com toda a certeza que não tem jeito e não adianta bancar mais nenhum tipo de joguinho, porque o amor veio pra me dilacerar por inteiro.
Cheguei com o refrigerante e depois de terminarmos de comer e conversar, voltamos pro rio, só que mais animados. dava altas cambalhotas pra pular e Cohen era o único que não conseguia, então os garotos o seguravam de cabeça pra baixo e o soltavam, e bem... o tanto que a gente riu junto não é possível descrever.
- . - me puxou pela cintura, me dando um selinho longo.
- . - sorri feito boba ao pronunciar seu nome, envolvendo meus braços em volta do seu pescoço. Observei cada detalhe do seu rosto, abaixando meu olhar até chegar em seu peitoral, observando a tatuagem com os olhos de Sienna e soltei uma risadinha fraca.
- Te incomoda? - ele foi cuidadoso ao questionar, e minha risadinha se transformou mais uma vez num sorriso, porque por mais que eu sorrisse pra ele o tempo inteiro, nunca parecia o suficiente e eu queria mostrar o quão feliz ele me fazia, mesmo com a tatuagem dos olhos da ex no peitoral, porque honestamente...
- Não, nem um pouquinho. - encostei nossos narizes - Eu só espero que comigo você tatue o meu rosto inteiro. - fiz graça, segurando o riso e jogou a cabeça pra trás rindo pra valer.
Juntos, felizes e aproveitando o momento. Digo... Aproveitando mesmo!
Passamos mais de uma hora e meia no rio, puxamos assunto com varias outras pessoas e acho que o Bellamy River nunca esteve tão alegre, mas já estava tarde e o tempo esfriou o suficiente pra nos tirar do rio, mas não parecia ter afetado muita gente, porque a grande maioria permaneceu dentro do mesmo.
- Vou buscar as toalhas. - anunciou antes de andar em direção ao estacionamento e os garotos continuaram brincando na água feito crianças, enquanto já estava fora do rio comigo.
- Eu vivo por momentos como esse. - comentou com uma expressão linda no rosto, totalmente encantada ao ver nossos amigos se divertindo como se nada mais no mundo importasse.
Abri um sorriso largo, encostando meu rosto em seu ombro, observando toda aquela cena por minutos. Longos minutos.
- está demorando demais. - comentei com a testa franzida, o procurando com o olhar, mas não tinha sinal nenhum dele.
- Vou dar uma paulada na cabeça dele. Estou com frio! - respondeu fazendo graça, virando o rosto pra mim e toda a sua animação sumiu no instante em que ela me olhou e notou que eu não estava no clima pra brincadeirinhas.
- Vou procurar ele. - comecei a andar com passos firmes e ouvi fazendo o mesmo atrás de mim.
Não tinha ninguém no nosso carro, mas tinha o rapaz que falou comigo quando fui buscar o refrigerante numa roda de amigos no carro ao lado. Ele notou minha presença ali e abriu um sorriso, levantando a garrafa de cerveja que estava em suas mãos.
- Mudou de ideia, moça? - ele riu, e talvez se eu não tivesse tão nervosa o mandaria ir pra puta que pariu, mas precisava saber de .
- Você viu um homem vindo até esse carro aqui? - perguntei rápido quase atropelando as palavras.
- Sim, ele até abriu o porta malas mas saiu num carro com outros dois amigos. Não faz muito tempo não. - o rapaz deu os ombros e tinha uma expressão de confusão esboçada em seu olhar.
- NARRAÇÃO - O copo de Whiskey na mão de Voight era sua melhor companhia na madrugada. Ele mantinha o olhar atento em toda a papelada em sua frente e tentava afastar os pensamentos malucos e confusos dando um gole na bebida.
O celular tocou alto e ele resmungou um "porra" alto, afinal, a casa estava completamente vazia. O coração do homem errou as batidas assim que viu o nome de na tela porque nunca, nenhuma vez sequer, uma ligação da garota ou de qualquer outra pessoa no meio da madrugada era pra vir uma boa notícia.
- ? - ele atendeu incerto se era ela mesma ou um erro, um toque errado na tela do celular ou qualquer outra coisa que por um segundo o desse esperança de que nada tivesse acontecido.
- O sumiu! Levaram ele!
Voight sabia que era algo ruim, mas não imaginou que o que ele mais temia por meses finalmente tinha acontecido. O homem imediatamente ligou os pontos e já criou mil teorias em sua cabeça, mas com o pensamento forte que o rondava há tempos.
"Eles tem as pessoas certos nos lugares certos, então, sim, nós estamos indo pra baixo."
Capítulo 23
's POV
Eu pensei que todo o meu azar já tivesse esgotado, mas não. Não só o meu como o de também.
- Você precisa...
- , se você me pedir pra ter calma mais uma vez, eu juro que vou te jogar dessa janela! - minha fala saiu alta e desesperada, assim como a minha respiração.
O quarto de me parecia desconfortável. Na verdade, o momento, o acontecimento, o nervoso... Tudo estava desconfortável. Viemos embora voando depois que liguei pra Voight contando que havia sumido. Voight e Holt já tinham ligado e ido em diversos lugares pra tentar descobrir onde ele estava, mas... Nada.
Quer dizer... Sabíamos muito bem quem estava por trás disso tudo.
- ... - minha melhor amiga se colocou em frente à mim, me impedindo de continuar andando de um canto pra o outro feito uma barata tonta - Eu sei o que você está pensando e...
- Eu tenho certeza que Paul descobriu que estamos nos encontrando com Megan e sequestrou como vingança. Vão acabar com ele, ... Vão acabar com o ! - eu mal sentia minha própria respiração. Sentia que a cada segundo, o mundo estava diminuindo e me sufocando cada vez mais.
Horas já tinham se passado e absolutamente nenhuma notícia tinha chegado. Nem Voight e nem Holt atendiam os celulares e no meio disso eu quis correr e procurar por conta própria, mesmo sem ter ideia de onde procuraria. Paul com certeza o teria levado pra algum lugar longe, de difícil acesso, e pensar na possibilidade me matava aos poucos.
Até que o celular tocou. atendeu.
O misto de expressões em seu rosto me apavorou, mas no fim ela abriu um sorriso entre alívio e angústia ainda pelo susto, o que me fez respirar fundo e de maneira decente depois de horas.
- Ele está bem! - disse enquanto fungava, tentando controlar o choro que estava entalado há horas e correu pra me abraçar.
's POV
Talvez eu estivesse bem preparado caso não esperasse nada. Eu já deveria saber que a vida aqui funciona dessa maneira. Eu não deveria esperar coisas boas, mas também não deveria pensar tanto nas ruins. Acontece que as coisas vem e... acontecem.
Assim que fui ameaçado e obrigado a entrar no carro com homens que eu nunca havia visto na vida, eu pensei no mesmo segundo que era algo de Paul, só podia ser, só que mais uma vez, a vida e as confusões daqui me surpreenderam. Esse sequestro relâmpago executado de forma ridícula foi algo dos Crips. As falas do chefe da gangue ainda rondavam em minha mente sem parar.
"Sua vida durante o dia acabou. Estão te vigiando em todos os lugares, você sabe disso, né? Eu estou te vigiando. Meus homens estão te vigiando. Você sabe seus companheiros? Estão bravos, estão loucos com você. Seu nome virou lama nas ruas."
Por incrível que pareça, eu não respondi a nenhuma provocação. Estavam claramente me usando pra atingir Voight e Holt. Inicialmente, obviamente todos achavam que era coisa de Paul, mas não, era só o pessoal dos Crips querendo dar um susto, pelo o que entendi, Voight tem problemas não resolvidos com eles, e de alguma forma, por algum motivo, acharam que me sequestrando e literalmente me jogando porta à fora mudaria algo.
Porra, óbvio que vai mudar algo: mais nervoso, mais medo, mais confusão, mais coisa pra pensar, se preocupar e resolver.
E novamente, por algum motivo, sobrou pra mim.
- Você não vai entrar! Deixa ele em paz, precisa descansar! - pude ouvir os gritos de do lado de fora do trailer.
Desde a hora em que me jogaram do carro, literalmente na rua que o terreno onde era mais conhecido como minha casa fica e Voight e Holt foram avisados, a correria começou. Eu levei um soco no primeiro instante porque lutei contra entrar no carro, mas eram três caras me forçando a entrar. Me levaram pra um galpão vazio e começaram a conversar sobre coisas aleatórios e sem importância por horas, até o chefe da gangue aparecer e falar coisas infelizes que eu não deveria me importar. Não demorou pra eles saberem que os The Lions já estavam me procurando em todo canto, me enfiando no carro novamente e me jogando praticamente na porta de casa, e comigo veio uma mensagem e eu sabia.
Voight chegou ainda apavorado e Holt aliviado. Não conseguimos conversar nada porque chegou em seguida e toda a precipitação a flor da pele quase me quebrou no meio.
- , eu preciso e vou conversar com ele! Preciso explicar algumas coisas e...
- Ele sabe! - o interrompeu com o tom forte e decidido, e eu podia imaginar claramente o seu corpo firme e seguro, mostrando de vez que não o deixaria passar mesmo - Ele sabe que mais uma vez, vieram atrás dele por algo que ele não tem envolvimento, e a menos que você dê certeza absoluta que esse tipo de coisa não vai acontecer de novo, você não vai entrar aí!
estava... furiosa.
Me levantei de maneira rápido e abri a porta antes que uma discussão maior começasse, era tudo o que não precisávamos no momento.
- ... - a garota ergueu o olhar pra mim no mesmo segundo em que abri a porta e nossos olhares se comunicaram rapidamente, até que ela acabou tombando o rosto um pouco pro lado e semicerrando os olhos de leve, querendo ter certeza que era aquilo mesmo que eu queria e assenti positivamente.
- Eu vou... ali. - ela anunciou antes de dar passos lentos e incertos, ainda me encarando pra ter certeza de que era aquilo mesmo que eu queria, até que seu corpo foi sumindo do meu campo de vista e só sobrou Voight em minha frente, mais sério do que nunca.
- , eu... - ele abandonou a frase logo no começo, tendo uma longa pausa pra passar as mãos pelos cabelos de maneira claramente nervosa e tensa - Eu não sabia de verdade! O meu lance com os Crips é algo antigo, mas não tinha ideia que eles fariam isso justo com você depois de tanto tempo, de verdade! É briga de acordos, entende? Mas é algo antigo mesmo, pensei que eles já tivessem esquecido isso, mas eu vou resolver de uma vez!
Dava pra sentir a sinceridade em sua voz, em seu olhar, e por mais ridículo que pareça, posso jurar que vi até um certo medo no olhar de Voight, e por um segundo, isso fez desaparecer toda a minha raiva.
- Olha cara, de verdade, eu já nem tenho o que falar. Não é a primeira merda que acontece e nem a última, certo? - foi mais forte que eu e saiu rude demais. Voight soltou o ar preso em seu pulmão aos poucos de maneira nervosa, quase que chocado comigo e ao mesmo tempo bravo também.
Óbvio, ele esperava compreensão mas um lado dele também entendia a minha raiva. Eu acho. Eu espero. Ele apenas bufou, me lançando um olhar misturado de sentimentos e se virou dizendo um "Se cuida, se precisar de algo, me avisa na mesma hora". Me sentei ali mesmo, no degrau do trailer, observando algumas pessoas saindo e entrando. Estava tarde demais, quase amanhecendo de vez e meu pensamento parou na última pessoa que eu queria pensar pra o meu próprio bem: meu pai.
——
DIAS DEPOIS.
enfiou o comprimido de antibiótico na boca junto à um gole d'água. Por quase três dias seguidos ela ficou com uma febre que ia e voltava o tempo inteiro, mas claro, a teimosia foi maior até ela finalmente ir pro hospital. Acontece que a saúde da garota não está das melhores há aparentemente muito tempo, mas ela nunca pareceu ligar até então. Nos últimos dias ela estava comendo melhor, acordando mais cedo, conversando mais e indo comigo pra absolutamente todos os lugares que davam pra ir, sem exagero nenhum.
Ela cantarolava Hundred, do Khalid, bem baixinho e de modo sonolento.
- ? - chamei por ela um pouco alto, fazendo ela tomar um pequeno susto e olhar pra mim no mesmo instante.
- O que foi?
- Nada, é só que... - observei seu rosto lindo e cansado, e embora estivesse me controlando pra não gritar de vez de tanta raiva que ainda estava sentindo de outras coisas, olhar pra ele me trouxe uma paz momentânea que foi o suficiente pra me manter com os pés no chão - Se quiser dormir, pode dormir. Falta pouco pra o nosso horário acabar, mas posso te levar no colo se quiser. - arrisquei fazer graça, arrancando um sorrisinho carinhoso da garota.
A raiva ainda me acompanhava de maneira incansável nos últimos dias. Eu pensava tanto no meu pai e isso estava me levando a loucura. "E se...?" era o que me atormentava. Eu sei que algumas guerras nunca terminam. Talvez o que aconteça nas gangues nunca acabe. Talvez rolem tréguas desconfortáveis também, mas eu não sei, não tenho como saber, não cresci numa gangue, mas a ideia de continuar em uma me deixava furioso. Eu deveria estar no controle da minha própria vida, deveria estar me formando e fazendo o que gosto, mas não... Um erro do ex sócio do meu pai e é isso o que acontece comigo? Não pode ser!
São vários tipos de guerras, eu sei. Algumas acabam com paz, e é o que mais tem acontecido com os The Lions, mas comigo, a pior de todas é essa guerra diária que tenho que lutar pra manter a cabeça no lugar. Ou não.
Precisei freiar o carro com tudo, fazendo os nossos corpos irem pra frente com tudo, e graças ao cinto de segurança fomos impedidos de irmos ainda mais pra frente. A respiração abafada, assustada e angustiada de nem mesmo me importou, porque o que estava em minha frente tinha consumido toda a minha atenção.
- O QUE FOI ISSO? - gritou.
Estacionei o carro rapidamente, sem tirar o olho do carro há poucos metros de distância e do homem que estava encostado nele. Tirei o cinto rapidamente e abri a porta.
's POV
Ele simplesmente me ignorou. Tirei o cinto de segurança bufando de ódio, saindo do carro de uma vez e seguindo , que dava passos rápidos até o carro que estava estacionado no final da esquina.
- Seu filho da... - praticamente gritou, parando de falar no mesmo instante em que provavelmente percebeu algo, já que sua expressão congelou.
- Que porra é essa, cara? - o rapaz encostado no carro se desencostou, com uma expressão nada amigável e confusa.
- Caralho! Eu... - estava perdido em si mesmo, dando alguns passos pra trás e finalmente virando o rosto, encontrando meu olhar e franzindo a testa de um jeito nada bom.
- Quem é você e o que você quer? Você é louco de chegar desse jeito em mim? Você nem me conhece! - o homem já nervoso deu um passo largo pra frente e o seu punho já fechado me desesperou.
Por um segundo minhas pernas se recusaram a me obedecer, mas obedeceram. Mesmo com medo, dei passos longos até os dois, com os braços já erguidos indo de encontro aos braços de , onde agarrei com força.
- Moço, me desculpa! Ele te confundiu com uma pessoa. Desculpa mesmo! - tentei não demonstrar todo o pânico que estava sentindo e fui razoavelmente calma, puxando com força e acenando pra o homem ainda de cara feia.
- Que merda você tá fazendo? - puxou o próprio braço sem nenhum pingo de gentileza, se desvinculando do meu toque e me olhando como se eu fosse maluca.
- Que merda VOCÊ tá fazendo? Você confundiu aquele homem, não foi? Puta que pariu, !
- Eu não... - ele foi pego de surpresa por si mesmo, não conseguiu prosseguir porque provavelmente ainda nem tinha entendido o que tinha acabado de acontecer.
Entramos no carro novamente e eu esperava uma resposta, mas a única coisa que tive foi acelerando o carro feito um louco. Eu me segurei pra não reclamar, apenas apertei os olhos nervosa, e assim que chegamos e passamos pelo portão, agarrei em seu braço novamente.
- , o que foi aquilo?
- Mas que porra, , eu não estou com saco pra isso hoje! - ele mais uma vez puxou o braço e gritou mesmo, sem nenhum tipo de restrição na voz.
- O que está acontecendo com você?
Aquilo apertou meu coração de verdade. Nos últimos dias eu me certifiquei de estar bem o suficiente pra poder estar com para... Bem... Como posso dizer?
- Tudo está acontecendo, ! Tudo! Eu estou nervoso, e sabe por que? Porque você está há dias atrás de mim como se eu fosse um bebê de colo, como se fosse minha babá!
me entregou a verdade nua e crua numa bandeja e a única coisa que eu podia fazer era engolir, mas não do jeito que ele queria.
- Eu estava...
- Tentando me proteger? Cuidar de mim? O que, ? Me fala! - ele continuou gritando pra quem quisesse ouvir e aquilo me esmagou.
Eu deveria ter uma resposta na ponta da língua, alto tão grosseiro a altura, mas eu me senti pequena, e o medo que eu vinha sentindo há dias se transformou em um aperto dolorido no coração.
- Eu estava com medo, ! Você sumiu, sequestraram você por horas e tudo o que eu pensava era que você ia morrer! Me desculpa se eu ficar perto estava te incomodando tanto, eu só queria ter certeza de que...
- Eu não consigo parar de pensar no meu pai. Eu não consigo parar de pensar em como eu não tenho mais o controle de nada e eu não consigo parar de pensar no quanto eu acabei de te magoar com toda essa merda! - ele me interrompeu totalmente sentido e com um olhar visivelmente triste. Eu não sabia nem por onde começar.
- O que tem o seu pai? E o que eu em você com aquele cara quase agora? Você o confundiu com quem? - eu ignorei totalmente a última parte da sua frase, porque francamente, as palavras duras de me doíam, mas eu pensava rapidamente que em meio a essas palavras, estava saindo a verdade junto.
- O carro era igual ao dos homens que me sequestram no fim de semana. Eu vi aquele homem de longe e pensei que...
- Você achou que era um deles?
- Eu tomei uma decisão, ! Eu achei que era e saí do carro pra confirmar, só isso!
- Você chama isso de decisão? Nunca ouviu falar que decisões baseadas em emoções não são decisões, e sim instintos? Puta que pariu, ! Aquele homem poderia ser qualquer pessoa, poderia estar armado, poderia te fazer algo! - minha voz saía rasgando em puro desespero. Dei um passo pra frente com as mãos erguidas pra segurar no rosto de , mas ele se afastou no mesmo segundo.
——
Minha mãe foi ótima. Ela sempre disse que não importa o jeito que lidamos com as coisas, os traumas sempre deixam uma cicatriz, seja ele grande ou pequeno. As vezes eles literalmente mudam nossas vidas. Acho que agora entendo melhor de que em algumas situações, toda a dor, o medo, o trauma e a vontade de melhorar, nos impulsiona a seguir adiante. Mas não todas as vezes. Claro que a gente cai pra se levantar novamente, mas as vezes, a maioria delas, eu só quero ficar caída mesmo. É mais fácil. É desconfortável, porém mais fácil. As vezes acho que a vida foi muito injusta com a minha mãe ou muito boa comigo, pelo menos nesse ponto. Não sinto que é algo tão balanceado quando se trata da minha mãe. Ela é boa demais e eu não acho que tenha correspondido todas as expectativas dela como filha.
Por breves minutos, me lembrei de quando ela disse que talvez seria melhor se eu voltasse a ter ajuda profissional pra lidar com toda essa bagunça. E talvez precise mesmo. E também. E todo mundo.
Mais uma reunião com Megan estava rolando e eu não conseguia prestar atenção em nada. bebericava o refrigerante ao seu lado o tempo todo enquanto Voight e Hunt perguntavam inúmeras coisas. Megan parecia sempre com medo, mas ao mesmo tempo decidida e forte em continuar com aquilo.
- Você entendeu tudo direitinho, não é? Da próxima vez eu espero que as coisas já tenham andado mais pra frente. - Holt dizia cuidadoso, tenso, mas também totalmente decidido e focado em Megan, tendo certeza de que a mulher tinha entendido bem.
- Ele tem feito coisas horríveis nesses últimos dias, horríveis mesmo! - a expressão de puro nervoso de Megan deixava óbvio que ela se referia à algo horrível no sentido mais cruel da palavra. Ela deu um longo suspiro antes de continuar - Mas de verdade, eu não sei o que vocês tem, não sei se é pela gangue ou algo do tipo, mas se ele quisesse matar ou machucar vocês, ele já teria feito isso. Paul é cruel demais pra esperar, então isso me leva a crer que de alguma maneira, vocês tem algo... Podemos dizer que... Especial! - ela finalizou tensa, mas com um suspiro longo e aliviado, recebendo olhares confusos porém quase restritivos, como se aquilo fosse informação demais pra ela dar assim, do nada.
- É, por hoje é só. - Voight se levantou rápido, sendo seguido por Holt, que esperava que Megan fizesse o mesmo, mas não fez. A mulher olhou pra mim como se pedisse pra eu intervir.
- Podem ir na frente. Preciso conversar com Megan sobre algo. - pedi com a voz agradável, recebendo um olhar desconfiado e a testa franzida de Voight logo ao finalizar minha frase.
- Sobre o que?
- Sobre algo! - respondi curta e levemente grossa, tendo como resposta o olhar de Voight de modo nada bacana e ainda desconfiado, mas ele finalmente decidiu que a melhor decisão era não entrar em uma discussão comigo por isso.
Os dois saíram pedindo pra não demorarmos, mas saíram. Megan acompanhou cada passo deles até eles saírem de vez do estúdio antes de começar a falar.
- , eu sei que falei que tentaria te ajudar, prestei atenção em tudo o que pude, mas Paul é um homem desconfiado de tudo! Ele é muito cuidadoso pra falar sobre os negócios e pessoas, sejam amigos ou inimigos. Eu tentei muito escutá-lo em seus milhares de telefonemas diários pra conseguir ouvir o nome do Yaser mas não consegui nada! - ela estava aflita, como se tivesse cometido um erro grande, e por um longo segundo, me senti culpada por isso.
- Megan, tudo bem, de verdade mesmo! E você não precisa se arriscar por isso! Você mesma disse que se Paul quisesse fazer algo, ele faria! Yaser está desaparecido, mas com certeza Paul deve saber de algo, não é? Então não se arrisque por isso, por favor! - a verdade é que eu não tinha certeza de merda nenhuma, mas aquilo precisava ser dito pra Megan se tranquilizar.
Onde Yaser estava? Ninguém sabia. Se Paul sabia onde ele estava? Ninguém sabia também, mas uma grande parte de mim também acreditava que se Paul quisesse fazer algo, já teria feito. Ele poderia fazer algo com pra forçar Yaser a aparecer, mas nunca o fez.
Merda.
Detestava com todas as forças pensar nisso. Não gostava, nem por um segundo, imaginar que Yaser poderia estar metido com essa história toda de maneira errada. falava tão bem do pai que me custava a acreditar que ele realmente pudesse estar metido com isso.
- Megan, posso te perguntar uma coisinha? - a voz séria e um pouco sem graça de me tirou daqueles pensamentos bizarros e agradeci mentalmente por isso.
- Claro!
- É que... Você sabe que Paul é realmente perigoso e mesmo tendo a opção de pegar os documentos falsos e ir embora, você quis ficar pelo dinheiro. Eu sei que é importante, não dá pra você ir embora sem dinheiro nenhum, mas ter sua liberdade não seria melhor? Eu e poderíamos te dar um dinheiro pra ir embora, sabe? Não gosto da ideia da sua vida correndo tanto risco assim.
- ... - Megan tombou a cabeça pro lado entre encantada e cruelmente decepcionada pela realidade - Eu sempre escolheria minha liberdade, mas a partir do momento em que eu fugir, vou precisar de inúmeros cuidados por um bom tempo, e isso vai me exigir um dinheiro grande. Eu fico extremamente grata pela preocupação de vocês, de verdade mesmo, mas eu realmente não posso ir embora sem o dinheiro.
Eu não queria pensar em como a vida era cruel com Megan, mas já estava pensando. O quanto as coisas se tornaram terríveis e absolutamente tudo o que ela jamais imaginou que fosse viver. Eu sei que a vida nem sempre é injusta, mas também não é só justa e isso ainda me frustra de maneira gritante.
Voight me esperava sentado no degrau do meu trailer. Rolei os olhos, respirando fundo e já buscando a paciência que provavelmente seria necessária pra ouvir o que ele tinha a dizer, até me sentir uma completa ridícula por isso.
Ok, a segurança de e nem de ninguém estava garantida ali com tantas coisas acontecendo, mas se fosse pra ficar com raiva, precisava ficar com raiva de também.
Tudo bem, traumas são traumas, ele foi sequestrado e por algum motivo ele não parava de pensar no pai, mas ele simplesmente jogar na minha cara que eu não tinha desgrudado dele em dias foi bastante cruel. Não se dá pra comparar, mas eu estava com tanto medo de alguém levá-lo pra longe e machucá-lo de novo. Medo de fazerem o pior. E ele simplesmente... não se importou com a minha preocupação. Acho que depois de tudo isso, todas os dias em que dei espaço pra ele se sentir confortável em me dizer algo e todas as esperas me dão pelo menos um pouquinho de direito de ficar chateada e brava dessa vez.
- Ainda está brava comigo? - ele se levantou, ficando em minha frente.
- Não sei. - fui sincera, mexendo em meu cabelo.
- Eu só quero que você saiba que a situação com os Crips já está resolvida. Eu sei que o sequestro de mexeu muito com você, mas pode ficar tranquila, eles não vão mexer com a gente por um bom tempo. - as palavras de Voight foram sumindo em meus ouvidos, como se eu estivesse distante dele e impossibilitada de ouvir por conta da falta de atenção tremenda, pois tudo o que eu conseguia pensar era em . Queria falar com ele e ao mesmo tempo queria, como sempre, dar espaço, mas não sabia se era o melhor a se fazer, estava magoada de verdade.
- Tá bem, entendi. - foi só o que eu consegui dizer, querendo acabar logo com a conversa.
- ? - ele me encarou de maneira analítica, buscando o que tinha de errado em mim - O que foi? Aconteceu algo entre vocês?
Filho duma mãe! Como pode? Como ele sabia?
- É... - me embolei em minha fala, pensando seriamente em mentir e dizer que estava tudo numa boa, mas estava cansada e sem disposição até pra isso. Relaxei os ombros, joguei a cabeça pra trás e respirei fundo, ajeitando minha postura - Eu fiquei com medo, sabe? Eu literalmente não saí de perto do esses dias por medo de acontecer de novo, de alguém levar ele e fazer algo pior, e ele simplesmente jogou isso na minha cara como se fosse um erro ou algo terrível, como se meu medo não fosse nada! Ontem ele desceu do carro de uma vez e foi atrás de um homem parado na calçada pensando que era um dos homens que sequestrou ele e... Sei lá, estava tudo indo tão bem e agora tá tudo uma porcaria. Ele também disse que anda pensando muito no pai dele e eu não gosto de pensar nisso.
- Por que?
- O que?
- Porque não gosta de pensar nisso? - Voight semicerrou os olhos.
- Porque o pai dele é bom, digo, bom mesmo. Nunca ouvi reclamando do pai em relação a nada e eu quero acreditar que seja isso mesmo, até porque se fosse o contrário, você estaria metido nisso, não é? - é óbvio, eu não perderia essa alfinetada por nada. Ter Megan em busca de algo que comprometesse Yaser não era o bastante, mas pensei que com Voight eu teria alguma sorte, mas eu só consegui uma gargalhada fraca, sem humor, fria e sem sentimento nenhum, e por mais que algo nele ainda trouxesse uma certa resistência, Voight permanecia firme, me olhando bem nos olhos.
- Essa é a parte que eu detesto. A parte em que viver essa vida aqui mexe tanto com os seus sentimentos que te fazem até duvidar do próprio pai. - ele me encarou com o olhar de advertência, me arrancando arrepios do corpo todo. Falar sobre aquilo sempre parecia um campo minado.
- Bem, mas ele tem o direito de se sentir assim às vezes, não é? A vida dele mudou tanto... - decidi contornar o assunto, talvez usar mais o sentimentalismo funcionasse melhor.
- Você gosta mesmo dele, né? - e realmente funcionou. Voight abriu um sorriso fraco, quase prevendo que sua pergunta me faria fazer o mesmo. E fez.
- Muito mesmo!
O ar que pairava em nós não era confortável e nem desconfortável, mas a conversa parecia não ter mais como prosseguir. O olhar ainda animado, surpreso, encantado e preocupado de Voight ainda estava ali, mas me senti à vontade pra virar e seguir meu caminho até meu trailer. Eu não conseguiria nada de Voight, não desse jeito.
- . - a voz dele me chamou, me obrigando a virar novamente - Posso te falar mais uma coisa?
- Você já está falando, papai. - frisei bem a última palavra, sorrindo sapeca e arrancando uma risada alta e gostosa de ouvir do homem.
- Você não tem jeito!
- Bom, disso eu já sei!
- Para de palhaçada, vai. - ele pediu ainda gargalhando fraco, dando alguns passos que faltavam pra me alcançar e continuar a andar até uma das mesinhas que tinham ali, sentando ali primeiro e fiz o mesmo - Você ainda tem algumas horas até o seu horário de trabalho, mas quero falar com você sobre mim, sobre nós, sobre os The Lions. - se antes não tinha tensão, agora tinha. Aquilo veio com um peso que nem eu entendia, porque sinceramente, nunca foi meu assunto favorito, estava longe de ser.
- Por que?
- Porque nunca conversamos sobre isso, não do jeito que deveríamos. Eu sei que tudo o que rola por aqui não te agrada e eu entendo, mas acho que você precisa me entender também.
- Tudo bem. - minha voz saiu num fiapo. Voight estava numa sinceridade crua e nunca vista por mim, e embora o nervoso estivesse quase se apossando por inteiro, uma parte de mim estava extasiada pela sinceridade, vontade e coragem dele em querer conversar sobre isso.
- Eu não sou um anjo, tenho mil defeitos e nem sempre sou um bom líder, e pra ser franco, nem mesmo gosto dessa palavra, mas eu moldei essa gangue pra ser diferente, sabia? Eu reinvesti meus lucros na comunidade e nas pessoas, e...
- Então você é o Robin Hood de Londres?
- Não, Robin Hood roubou dos ricos e deu pra os pobres. Hipoteticamente falando, eu tiro dos mais fracos e dou aos fortes, para que fiquem mais fortes. Eu sei, é horrível, afinal, são drogas e negócios pesados, mas com esse dinheiro eu invisto em pessoas que possuem chances, que são inteligentes, e que estão dispostos a usar bem o seu tempo e se esforçarem pra se tornarem alguém. É a única maneira das pessoas aqui saírem das ruas, saírem de casa, saírem de uma vida mínima, sem saída. Não é bonito, não é elegante de dizer em voz alta, mas é a verdade, e os homens de farda não querem acreditar nisso, mas eu faço bem pra essa cidade.
- Você está falando da polícia por que? - a minha voz veio raspando do fundo da garganta. As palavras de Voight tinham mexido comigo de maneira gigante.
- Como eu disse, não é bonito... Em lugar nenhum, área nenhuma, mas o dinheiro muda tudo. O meu acordo com a polícia não me faz mal, mas coloca em dúvida o caráter deles justamente por esse acordo. - eu nunca tinha o visto tão cru, tão sério, tão sincero e vulnerável. Eu podia sentir o esforço em cada palavra que saía de sua boca.
- Você está... reclamando? - franzi levemente minha testa, tentando entender bem.
- Não, é só uma observação, mas é uma coisa que não vai mudar. A polícia não é perfeita e certa o tempo todo, e nem ninguém. - ele soltou o ar em seu peito de maneira audível, como se estivesse liberando toda a tensão ali. O olhar sincero me acompanhava junto com suas palavras e eu mal conseguia pensar em falar, porque era muito pra se pensar no momento.
- Por que você decidiu me contar tudo isso agora?
- Porque você sempre precisa de algo pra consertar, mas tem coisas que você não pode e nunca vai poder, então pensei que talvez você possa consertar o jeito que você olha pra mim. Eu sei que não sou seu pai, mas eu realmente te considero minha filha, e não importa o que aconteça, eu sempre vou fazer as coisas pensando no melhor pra você e pra sua mãe.
Comunicação é a primeira coisa que realmente aprendemos na nossa vida. Ironicamente depois que crescemos, aprendemos as palavras e realmente começamos a falar, fica mais difícil saber o que dizer ou como pedir aquilo que realmente precisamos. Eu odeio essa parte, mas também tem as vezes em que nem sabemos do que precisamos de verdade. Eu tinha a sensação de estar boiando sobre a água, de maneira calma, sútil e tranquila. Eu me sentia um pouco menos pior em saber que apesar de tudo, Voight estava do meu lado e do lado de um monte de gente por um bem maior.
Me arrastei pelo banco largo, ficando bem ao lado de Voight e o abracei. Depois de tanto falarmos, alguns atos falam por si só. Agradeci pela sinceridade, pelo momento, pela conversa e me levantei. Ele me deu um beijo na testa e desejou uma boa noite de trabalho, e foi aí que me virei em direção ao meu trailer, mas o trailer de parecia tentador. Eu podia enxergar a porta brilhando pra mim, chamando minha atenção pra entrar ali, e foi bem o que fiz. Dessa vez dei três batidas na porta antes de ouvi-lo gritar, autorizando a entrada. Ele me observou por inteiro assim que entrei de vez.
- Oi.
Eu queria o mesmo de sempre; estar bem com ele. Me quebrava estar num clima péssimo desse jeito e por mais que mereça ter seu espaço, assim como eu, grande parte de mim adoraria se resolvêssemos as coisas conversando mais, compartilhando mais, consertando mais.
- . - sua voz saiu quase num sussurro - Eu pretendia conversar com você antes de sairmos, sabia? - ele abriu um sorriso fraco, totalmente sem graça, mas aquilo já me fez ficar de pernas bambas e coração acelerado.
- Eu estou brava com você. - falei firme, cruzando os braços de maneira quase agressiva, porém estava mais parecendo uma criança fazendo birra já que ele soltou uma risada fraca de quem sabia que eu não estava falando totalmente sério - Eu senti medo por você, , medo de verdade! Eu sei que você que foi sequestrado, seu desespero deve ter sido mil vezes maior do que o meu, mas não significa que você tem que invalidar o meu sofrimento, ok? Eu fiquei com medo, caramba! Eu não queria largar de você porque eu só conseguia imaginar o pior, alguém te sequestrando de novo e acabando com a sua vida! - quando terminei de proferir tais palavras banhadas a puro desespero, raiva e alívio, me abraçou. O abraço mais forte que já tinha me dado até então.
- Me desculpa, tá legal? Eu sei que fui um filho da puta em descontar tudo aquilo em você e eu sei que não posso deixar as coisas se misturarem, mas eu deixei. Eu fiquei maluco com isso, pra todo canto que eu olhava, eu via o pessoal dos Crips. Eu também pensei tanto no meu pai que isso estava quase fritando meu cérebro e... Eu sei que fui um imbecil, mas eu espero que você me desculpe. Eu não quero que você sinta que seus sentimentos vão ser esmagados e deixados de lado comigo, tá me entendendo? - estava levemente ofegante quando segurou meu rosto com a maior gentileza do mundo com as duas mãos, me fazendo olhá-lo bem nos olhos.
Eu nunca, em vinte anos, imaginei que uma pessoa pudesse me tirar o ar com um olhar, com um toque... não era qualquer um e jamais poderia ser comparado.
- ... - um sorriso bobo se formou em meus lábios - É claro que eu te desculpo. Eu quero que você saiba que acima de qualquer coisa, eu sou sua amiga! Eu sei que não é fácil, mas eu estou aqui pra você, ok? Eu... Eu estou aqui! - eu jamais conseguiria colocar em palavras qualquer coisa pra porque nada seria o suficiente, então dei um selinho longo e cheio de carinho em seus lábios - E se por acaso te acalma em algo, a Megan disse que não ouviu nada sobre seu pai, então é um bom sinal!
- Você nem imagina como isso me pegou de jeito dessa vez. Eu odeio mais do que tudo pensar nessa merda. - as mãos dele saírem do meu rosto e levei minhas mãos até sua nuca, as entrelaçando enquanto o ouvia em um incômodo visivelmente grande.
- Você acha que seu pai seria capaz de se meter em algo tão sujo assim? - mesmo receosa, perguntei. O olhar atento de se arregalou no mesmo instante.
- Não! Meu Deus... Não!
- Então você precisa se lembrar do homem que sempre esteve ao seu lado sendo um bom pai! - depositei mais um selinho em seus lábios.
- Acho que esse é o meu maior medo, . Estar cego por essa figura paternal incrível como referência... - a dúvida e a angústia estavam totalmente presentes, mas realmente me chocou por ele levar o pensamento tão adiante. Aquilo estava impregnado em sua mente de verdade.
- Eu espero que tudo isso acabe logo ou que pelo menos vocês se encontrem em breve pra vocês conversarem.
Gastamos nossas últimas horas restantes conversando sobre tudo. me pegou no colo ao sairmos do trailer, me fazendo gargalhar até a barriga doer por conta de toda a zoação que ele estava fazendo só porque eu já estava dizendo que estava cansada. Em minha defesa, retruquei dizendo que passei os últimos dias doente e por isso estava tão cansada, o que fez ele tirar mais sarro ainda de mim. Ele finalmente me colocou no chão só quando estávamos no portão, dando tchau pra os dois rapazes que estavam ali na entrada e atravessamos a rua fazendo graça um com o outro feito duas crianças.
- Mas falando sério, eu estou com fome mesmo! - ele emendou o comentário com algo aleatório que estávamos falando, destravando o carro com o controle, mas nenhum de nós entrou.
Eu prendi o ar no mesmo instante em que vi o carro praticamente voando, provavelmente na maior velocidade possível, e uma das mãos do passageiro estava totalmente pra fora e pra cima, dando tiros sem parar. Eu queria pensar, queria fazer algo, mas paralisei ali mesmo, com a mão na porta do carro, pronta pra abri-lo, mas não abri. Eu consegui gritar. E muito. Por sorte, teve forças pra se mexer. Ele deu a volta numa velocidade absurda e me agarrou com força, me abraçado e me forçando a abaixar, e os tiros ficaram cada vez mais altos.
's POV
O ser humano é difícil, mas nem sempre é porque queremos. passou o resto da semana da maneira mais normal possível. No dia do tiroteio, no qual ninguém se machucou e, ironicamente de maneira ridícula, foi o pessoal do Crips, mesmo depois de Voight ter conversado e resolvido tudo com eles, não gritou com ele e nem com ninguém, só quis entender porque eles tinham feito aquilo e Voight jurou que consertaria tudo, e talvez tivesse consertado mesmo. Os últimos dias foram de uma paz enorme, ou talvez fosse só o medo de geral acumulado e reprimido.
Tudo o que sei é que não reclamou, não gritou, não ficou brava, mas também não quis falar sobre o assunto. Pra ser sincero, mesmo depois de aparentemente Voight ter resolvido a coisa de vez e uma paz bizarra ter se instalado, acho que nunca vi tão exausta, mesmo quieta. Beleza, vamos lá... sua saúde não estava das melhores, mas era algo além. Eu entendo, é assustador revelar algo sobre nós mesmos, ainda mais explicar como estamos nos sentido.
- ... - sentei na ponta da cama com cuidado, dizendo seu nome baixo, na esperança real de que ela pelo menos se mexesse, mas não. Ela estava totalmente encolhida e coberta, dormindo de maneira serena. Me senti cruel demais por estar tentando acordá-la, mas já tinha passado de uma da tarde e eu sabia que ela detestava dormir tanto assim porque sentia que estava perdendo muito tempo - ! - chamei de novo, dessa vez passando a mão de leve em seu rosto, observando seus olhos se abrindo de leve.
- O que é? - a voz totalmente sonolenta e levemente emburrada tomou conta dos meus ouvidos.
- Já é mais de uma hora e...
- Preciso dormir pelo menos até às três! - o pouco que seu corpo tinha se virado pra mim já tinha desvirado de novo, onde ela voltou a se encolher e fechar os olhos.
- O que foi? Eu sei que hoje é sábado, mas você detesta dormir até tão tarde assim!
- Só estou cansada, ! Mas se você quiser que eu levante agora, tenho uma condição... - ela novamente se virou, agora um pouco mais animada e com um sorriso sapeca nos lábios, e tinha ficado a coisa mais engraçada e adorável por conta da cara inchada de sono.
- Qual o golpe dessa vez, mocinha?
- Se você trouxer aquele suco de melancia que eu gosto... Talvez eu levante e faça o que você quiser... Podemos ir pra academia se quiser, ao cinema... - ela respondeu animada, soltando uma risadinha fraca ainda pelo sono, mas me arrancou um sorriso do mesmo jeito.
- Eu queria que você pudesse ver essa carinha de sono do jeito que eu vejo! É claro que eu busco seu suco de melancia, , o que eu não faço por você? - minha voz energizada e cheia de bom humor fez ela rir de verdade, e juro, eu iria em qualquer canto da cidade por qualquer suco que ela quisesse.
Saí do trailer bem disposto, caminhando até a saída, encontrando Voight no caminho.
- . - por um segundo ele pareceu surpreso ao me ver, e no segundo seguinte pareceu lembrar de algo que precisava me falar - A tá bem? - ele perguntou visivelmente preocupado.
- Sim, só está dormindo ainda.
- É que... Você sabe. - ele me lançou um olhar óbvio - Ela não me perguntou nada sobre o dia dos tiros. Ela comentou algo com você?
- Não. Também achei estranho, mas acho que ela só quis se poupar de mais um drama que não a levaria a lugar nenhum, porque não é algo que ela possa mudar. - dei os ombros mas não de maneira grosseira, mas foi a melhor maneira de explicar. Voight pareceu chocado por um segundo, mas se recompôs.
- Olha, já está tudo resolvido de verdade dessa vez. Era um negócio inacabado há muito tempo e o chefe dos Crips achou a oportunidade perfeita pra me convencer a dar o que ele queria, e eu não estou podendo me dar o luxo de me enfiar em guerra com mais ninguém, então dei o que queriam, então eu garanto, pelo menos isso já acabou.
- E o que você deu?
- Dinheiro. - ele riu entre derrota e diversão mesmo, provavelmente lembrando do quando as coisas estavam fora do controle.
- E por que está me contando isso?
- Porque não quero vocês com medo ou inseguros. Essa é a primeira vez que não me cobra algo e talvez isso tenha acontecido porque ela esteja com medo de lembrar ou algo do tipo. - ele pareceu realmente preocupado.
- Ela não conversou comigo sobre isso, não tenho muito o que dizer. - novamente dei os ombros, não tinha muito o que dizer de verdade, mas Voight me encarou por longos segundos, como se estivesse tentando buscar algo que estava exclusivamente dentro de mim.
- Você gosta muito dela, não é? - ele riu novamente de um jeito engraçado e óbvio, e seu olhar era tão forte que me impedia até de pensar na possibilidade de negar, e sinceramente, eu já não tinha condições nenhuma em negar mesmo, mas pareceu estranho demais.
- O que?
- Conversamos um pouco alguns dias atrás e ela disse que gostava de você, e eu sei que acabei de perguntar mas na verdade eu nem preciso da sua resposta porque sei que você também gosta dela. - foi a vez dele em dar os ombros, respondendo como se fosse óbvio também.
- E onde você quer chegar com isso?
- É um clichê gigante, mas é muito bom ter alguém do seu lado, . É uma das coisas mais importantes da vida.
- Eu sei, mas é que...
- Eu não sou seu pai e nem quero que você pense que quero substituir ele, mas a comunicação entre vocês anda muito fodida, então eu estou aqui pra te ouvir, beleza? De homem pra homem... - Voight pareceu precisar de um esforço grande pra falar, mas eu também podia notar claramente que ele estava feliz por ter o feito. O jeito diferente que ele me olhava era novo, mas já me deixava longe do desconforto. Ele estava ali, totalmente numa boa, se oferecendo pra basicamente ser algo que eu não tinha há meses: meu pai.
- Você é o pai da , não tem nada mais estranho que isso. - decidi tirar onda com a cara dele primeiro, arrancando uma risada do homem.
- É aí que você se engana! Justamente por ser o pai dela que eu sou a melhor pessoa pra você falar sobre ela!
De maneira única, surpreendente, engraçada e nova, Voight estava ali pra mim. Ele não era Voight, o chefe de uma gangue, ele era só... o Voight. Pensei em meu pai por pequenos segundos e não mexeu comigo. Ele estava longe e eu sentia sua falta, mas não podia negar a companhia e os ouvidos de alguém que estava disposto a me ouvir, ainda mais sabendo que falar sobre também era o assunto favorito de Voight.
- Eu gosto dela pra caramba, Voight, e as vezes isso pesa pra caralho. O problema não é ela, tá longe de ser, é incrível, mas eu quero acreditar em mim, quero confiar que sou capaz de conseguir o que eu quero, principalmente sair daqui, dessa vida. Eu ainda não acredito que estou passando por isso, entende? Minha vida toda parou por um erro que não foi meu, um erro que eu nem entendo direito como aconteceu. Isso me faz pensar que talvez eu não seja essa pessoa tão boa que eu penso que sou e esse é o meu castigo, mas ao mesmo tempo quero ter certeza de que mereço muito a minha antiga vida de volta, tanto quanto tenho certeza de que quem eu gosto merece. também precisa da vida dela, e eu nunca falei com ela sobre isso, mas às vezes eu sinto que ela ainda está aqui por mim, pra tentar me ajudar com algo, mas eu não quero quero perca o tempo dela comigo, com isso...
E saiu, e provavelmente saiu mais do que eu imaginava. Voight parecia chocado.
- Eu imagino o quanto isso tudo pese em você, mas você se ouviu? Eu tenho certeza de que você sabe disso, mas só porque a vida saiu do percurso planejado, não significa que não esteja valendo! Sua vida não está funcionando só quando você tá na faculdade, num emprego ou perto da sua família. Você está vivendo aqui também e conhecendo outro lado da vida. E sobre ... Cara... Se você ficar procurando razões pra não ficar com alguém, é só o que você vai encontrar, mas confie em mim, vocês terem um ao outro já significa muito. - o jeito que Voight falava sobre o amor em geral poderia facilmente me espantar, mas de alguma maneira, eu sempre soube que por traz de toda a dureza de um chefe de gangue tinha um homem que ama poder amar e ser amado. Sempre esteve óbvio e eu tive que rir um pouco porque... Porra, falamos sobre isso!
- O que é isso? Você está oficialmente dando a bênção pra o nosso relacionamento? - usei meu tom mais bem humorado, mesclando numa falsa dúvida, porque eu já sabia da resposta.
- Eu sempre dei. - ele riu - Mas toma cuidado, ok? Você faz coisas boas por ela e aparentemente não consegue sentir isso. Vocês são bons um pro outro, !
E com isso ele continuou a andar, me dando um tapinha no ombro antes. Ainda fiquei parado, congelado, como se ainda faltasse algo pra pensar, ou sentir... Ou talvez era um alerta do que eu já sentia mas nem mesmo me permitia pensar, porque uma vez que a verdade é dita, nós temos que encará-la. Quase sempre, aquilo que você mais quer é aquilo que não se pode ter e isso acaba com a gente, mas acho que pior é não saber o que quer, e porra, eu sei muito bem o que quero.
's POV
O som estava tão alto e eu já tinha bebido mais que o ideal, então mal conseguia entender as coisas que eram sussurradas em meu ouvido por , ou qualquer outra pessoa. Eu passei a semana inteira com medo, mas não hesitei em aceitar o convite de e Grant quando nos convidaram pra vir numa boate nova.
- ! - praticamente gritou no meu ouvido.
- O que foi?
- Já está tarde demais. - ele virou o resto do líquido que estava em seu copo, já nem fazendo nenhum tipo de careta de tanto que tinha bebido.
Não tanto quanto eu, mas bebeu. Precisei cerrar os olhos pra encontrar , que já estava novamente na pista de dança com Grant e alguns amigos dele. Cohen tinha ido embora com uma garota há tempos e Scott tinha sumido, pelo menos do meu campo de visão. Ignorei e encarei o barman, que me olhou um pouco torto mas logo riu alto, me entregando mais uma dose de tequila. não me deixou beber, segurou em meu braço que estava na metade do caminho até minha boca.
- ! - resmunguei manhosa.
- O que tá acontecendo? Você não faz isso, você não bebe pra ficar bêbada! - ele pegou o copo da minha mão, o devolvendo cheio no balcão, onde apenas deu um sorriso torto pra o barman e me puxou com gentileza até um canto perto dos banheiros, onde o som não chegava tão alto.
Como é que dizem mesmo? Ah sim... A gente vê a linha e no mesmo instante queremos cruzá-la. Chega a ser ridículo, mas a excitação em trocar o conhecido pelo desconhecido é um tipo de ousadia que ninguém pode explicar. E como é que dizem também? Que você precisa se permitir ser venerável. Não deixar que a dureza do mundo afete sua capacidade sentir, de viver, de dar, de receber, e principalmente de amar. Bem, se eu puder encaixar isso do meu jeito, talvez essa permissão de vulnerabilidade me dê razão em dizer aquilo que eu me toquei de maneira clara ao longo da semana.
- É muito clichê se eu falar que te amo agora? Dizer que é isso o que está acontecendo? - em meio à uma leve tontura, gosto de álcool na minha boca, uma música aleatória no fundo de uma boate, eu falei, e uma linha foi cruzada. O único problema é que uma vez cruzada, é impossível voltar atrás.
estava incrédulo, e grande parte de mim pensou que nem mesmo respirar ele estava respirando. Seu olhar passou por todos os cantos do local antes de voltar pra mim, ainda num susto, como se aquilo não tivesse sido dito de verdade, como se fosse apenas uma voz em sua cabeça.
E doeu. Como doeu. Ele provavelmente não aceitaria esse amor porque... Vamos lá... É o !
- , você...
- Eu te amo, . Não vou esconder ou tentar enterrar esse sentimento, tá legal? E esse é um caso de amor estranho, porque você provavelmente não me ama também e... Não tem como fugir. Eu posso dormir e amanhã dizer que não lembro de nada, mas não estou tão bêbada assim e nós sabemos que quando o álcool entra, a verdade sai, ou seja, você vai ter que lidar com o fato de que eu te amo de um jeito ou de outro.
Eu disse com todas as letras! ainda estava paralisado, mas soltou uma gargalhada tão, mas tão gostosa, que por alguns segundos eu mesma me perdi e esqueci de tudo que tinha falado. O sorriso dele que parece ter congelado em seu rosto, porque ficou ali por segundos longos, mais do que eu era capaz de contar no momento.
- Como você soube? - ele levou as mãos até minha cintura com vontade, encostando nossos corpos com uma necessidade gigante, me fazendo franzir a testa totalmente confusa.
- Do que você tá falando? - questionei mil vezes mais confusa, sentindo as mãos de acariciando a região da minha cintura enquanto ele sorria feito um bobo.
- Eu soube hoje que te amava, . Esse caso de amor é totalmente estranho mesmo, afinal, olha pra nós dois, mas a parte do amor definitivamente não é estranha. Eu amo você, , e sim, é um clichê enorme essa declaração no meio dessa boate que já está cheirando a suor alheio, mas eu te amo e você vai ter que lidar com isso também!
Nunca em vinte anos eu dei um sorriso tão largo e falo sério. Os lábios de se encostaram nos meus em seguida da maneira mais doce, com urgência, com carinho e com muito amor. Talvez nunca na vida eu supere o fato das nossas bocas se encaixarem perfeitamente e talvez eu nunca supere o quão clichê e transbordando sentimentos me deixa, mas é a minha verdade sobre ele. E óbvio, o mais clichê não podia faltar: alguém atrapalhando.
Um dos amigos de Grant nos chamaram pra irmos embora, dizendo que já estavam prontos pra sair, e como tínhamos pegado carona, não podíamos deixar eles irem sem nós, e claro que nem queríamos, porque o tanto que estava apertando minha bunda enquanto o rapaz falava com a gente já deixava óbvio que todos os desejos e hormônios estavam a flor da pele.
Ironicamente o carro estava cheio porque um amigo deles chegou depois na boate mas iria embora conosco pra aproveitar a carona, e mais ironicamente ainda era o fato de que eu teria que ir no colo de pra caber todo mundo. E minha nossa senhora do tesão... A barraca estava armada. Muito armada.
estava mais bêbada que eu e fazia piadas e gracinhas que faziam o pessoal rir, mas eu nem mesmo estava prestando atenção, porque... bem... as mãos de pousaram de maneira quente em minhas coxas, fazendo um carinho simples mas cheio de intenções. Toda a conversa que estava rolando não me chamava atenção, eu estava concentrada em seu toque. Me remexi de leve em seu colo e virei o rosto pra trás, observado seus olhos se fecharem e se abrirem de maneira furiosa pela provocação. Me remexi mais uma vez, rebolando de leve em seu colo de maneira discreta, não deixando de olhá-lo, sorrindo pelo fato de mexer e puxar os próprios cabelos, se segurando pra não falar nada.
Eu fiz isso o caminho todo.
Assim que descemos do carro, me abraçou por trás, dando inúmeros beijos em meu rosto.
- Agora você me paga. - ele sussurrou em meu ouvido de maneira divertida, disposta e maliciosa.
Andávamos de forma desengonçada até passarmos o portão e ele me agarrar ali mesmo, me beijando de maneira tão profunda que eu nem sabia que era possível. Quente, desesperado, mas profundo, e em cada beijo, pegava um pedaço de mim, do meu coração, pra si. As mãos atrevidas dele apertaram minha bunda sem dó. Partimos o beijo e sorri feito besta, sentindo seu corpo grudado no meu.
- Te amo. - falei sorrindo, com todas as letras novamente, me certificando que o momento era real.
- Eu também te amo, , mas não pense que vai escapar disso. Me provocar daquele jeito num carro cheio de gente? - sua voz arrastada, atrevida e maliciosa foi soprada em meu ouvido e o efeito dessas meras palavras fez todo o meu corpo amolecer de tão quente que se encontrava, mas ao mesmo tempo eu sentia um nervoso gostoso, uma ansiedade que me invadia de modo certeiro, mas eu sabia que só podia esperar coisas boas, porque é bom.
Nos encaramos maliciosamente por longos segundos até ele envolveu o braço em minha cintura e começar a andar de maneira rápida até entrarmos em seu trailer de maneira desengonçada. me prensou na parede de modo levemente forte, porém cuidadoso. O jeito dominador dele me agradava até demais, mas nada se compara ao encanto em ver o cuidado que ele tem em todos os momentos. Ele puxou meus cabelos, me fazendo olhar bem pra ele e me beijou, mais uma vez, intensamente. O gosto do álcool ainda presente em nossas bocas se misturavam. Puxei seu lábio devagar, fazendo o mesmo escorregar entre meus dentes. apertou minha cintura com força, me encarando enquanto recuperávamos nosso fôlego. Ele grudou nossa testa por um segundo antes de me puxar, me fazendo dar alguns passos e, sem muita gentileza, tirar sua própria camiseta e a minha também.
Era apressado, desesperado, e cada ato era prazeroso. Em meio a mais um beijo, começamos a tirar nossos tênis. Levei minhas mãos até o botão de sua calça, o desabotoando e puxando o zíper pra baixo, onde se mexeu rapidamente pra se livrar da peça. Sorri olhando pra ele, que encarava meu corpo com desejo. Eu mesma abri meu shorts, me livrando da peça igualmente e me empurrou pra cama, onde deitei com um sorriso convidativo no rosto. Paciência não era o nosso forte, então ele tratou de se livrar logo do meu sutiã, e assim que ele deitou por cima de mim, tentei levar minha mão até seu membro que se encontrava completamente duro e vivo - muito vivo - mas ele não me permitiu. prendeu minhas duas mãos pra cima com uma de suas mãos, me dando um selinho demorado.
Assim que meus braços foram liberados, eu apertei os lençóis quando passou a descer beijos pelo meu corpo. Ele apertou meus dois seios com vontade e me deu um olhar de quem sabia o que estava fazendo, e estava mesmo. Ele não precisava fazer muito, qualquer toque me deixava a beira da loucura. Suas mãos arrastaram minha calcinha até a peça sair completamente do meu corpo com maestria, e pra provar, mais uma vez, que sabia o que estava fazendo e era o melhor, ele deu uma longa lambida por toda a extensão da minha intimidade. Arquear as costas foi inevitável. não me deu tempo pra raciocinar, me chupando com sugadas fortes sobre meu clitóris e mesmo super concentrado em me deixar maluca e arrancar inúmeros gemidos da minha garganta, ele levantou o rosto pra me encarar e sorrir, pressionando meu clitóris com o dedo, me fazendo gemer ainda mais conforme ele pressionava, mas de repente, ele parou.
- ... - resmunguei manhosa e ofegante, tentando o repreender, mas eu só queria aquilo de novo.
- Linda... Você é linda, . - os olhos cor de âmbar de queimavam enquanto observava cada parte do meu corpo, travando o olhar sobre o meu.
acariciou uma das minhas coxas, subindo a mesma, levando dois dedos à minha entrada de maneira rápida. Seus dedos me penetravam de maneira lenta, e mesmo resmungado para que ele aumentasse a velocidade, o jeito como ele sempre colocava o dedão em meu clitóris, o pressionando, enquanto os outros dois dedos abusados me arrancavam altos gemidos... sabia o que fazia. Eu me mexia em seus dedos de maneira desesperada, os sentindo completamente dentro de mim enquanto seu dedão continuava a me pressionar. segurou forte minha cintura, tirando os dedos de dentro de mim e levando até a própria boca, os lambendo com vontade e sorrindo safado. Tentei erguer o corpo um pouco pra cima, mas ele não permitiu, com uma mão, me deitou completamente e voltou com dois dedos até meu clitóris, brincando ali totalmente sem vergonha, sem perder o contato visual nem um segundo sequer. Murmurei incoerências desesperada de tesão, sabendo que estava pingando por ele. tinha tanto efeito sobre mim que nem mesmo imaginei que poderia ser possível ser tão entregue assim à uma pessoa. Talvez seja o amor? Não sei.
- Porra!
- Primeiro, eu vou te fazer gozar bem gostoso na minha mão, e só depois eu vou te foder, escutou bem? - perguntou rígido, com um sorriso pra lá de malicioso nos lábios assim que concordei no mesmo instante, sedenta pelo seu toque.
Seus dedos trabalhavam com agilidade, enquanto eu mesma massageava meus próprios seios, mergulhada em puro prazer. segurava forte em meu quadril com uma mão, enquanto a outra me levava do céu ao inferno. Minha intimidade estava completamente molhada, de modo que seus dedos deslizavam com facilidade, e foi aí que ele pressionou o polegar em meu clitóris com força, me fazendo, mais uma vez, arquear minhas costas e soltar um gemido alto até demais.
- Porra , por favor, acaba logo com isso, eu vou enlouquecer! - pedi desesperada em meio a gemidos que eu já nem tinha mais controle.
- Você sempre com pressa, ... - retrucou impaciente.
Ele pressionou meu clitóris com vontade, me fazendo ver estrelas, e de modo totalmente cruel, parou todos os movimentos. Eu estava me recuperando dos espasmos do meu corpo, mas me ergui com calma, apoiando em meus cotovelos, olhando confusa pra , que se levantou e continuou sério, tirando a última peça que faltava: sua boxer. Me levantei, espalmando as mãos em seu peitoral, olhando pra cada parte do seu corpo, respirando fundo e sentindo o cheiro natural de sua pele. Ele me agarrou pela cintura com força, virando meu corpo e me abraçando por trás, me obrigando a sentir todo o seu volume já fora da boxer.
- Eu...
- Shhh. - bateu o membro endurecido em minha entrada, esfregando em minha intimidade de maneira cafajeste. Eu estava tão molhada e mesmo de costas, eu podia visualizar muito bem o sorriso satisfeito de ao colocar o seu pênis bem na entrada da minha vagina. Ele puxou minha cintura ainda mais pra trás, quase entrando de uma vez em mim, mas deixou o membro ir pra frente, o encostando no meu clitóris e batendo sua glande ali.
- , por Deus! - implorei desesperada, me forçando contra seu corpo na esperança de que ele metesse de uma vez, mas não.
Ele virou meu corpo novamente, já com as mãos em minha cintura, me forçando a andar pra trás até batermos na única e pequena mesa que tinha ali, me fazendo sentar na mesma. Ele abriu minhas pernas com pressa, voltando a bater seu membro em meu clitóris, logo levando três dedos de uma vez pra dentro de mim. Eu me apoiava em seus ombros e com a cabeça jogada pra trás.
- Vamos, goza pra mim, . Goza pra eu poder meter em você, bem do jeitinho que você gosta. - sussurrou enquanto com uma mão me penetrava e com a outra batia a cabeça do seu pau em meu clitóris.
Não precisou de muito pra eu me derramar nele. Estávamos pegando fogo, mas eu me sentia completamente desnorteada e totalmente extasiada pelo orgasmo, puxando pelos ombros para que pudesse me apoiar totalmente nele, ainda sentindo os espasmos em meu corpo. Ele levantou a mão coberta pelo meu gozo, segurando meu rosto com uma mão e levando dois dedos até minha boca, me fazendo provar do meu próprio gosto e sorrindo ainda mais satisfeito. Meu corpo foi abraçado em seguida e com certa força, me puxou pra fora da mesa, dando pequenos passos e me soltando, e não resisti em beijá-lo de maneira quase que desesperada, partindo o beijo ainda cheia de calor, de fogo, de tesão.
- Eu quero o seu pau. Agora. - sussurrei em seu ouvido num ato covarde, num tom claro e decidido. Desci as mãos pelo seu peitoral, decidida a pegar em seu pênis, mas segurou minha mão antes que eu chegasse lá.
- Agora senta. - demandou sério e autoritário, ainda segurando uma das minhas mãos. Ele intercalava o olhar entre o meu corpo, meus olhos e a cama atrás de mim, e nem cinco segundos tinham se passado quando ele arqueou as sobrancelhas, como se eu estivesse demorando demais em obedecê-lo, e foi aí que meu sorriso sapeca surgiu, mas não sorriu de volta.
Antes mesmo de poder brincar ou dizer que não pra ver até onde seus limites iam, me empurrou de maneira certeira, me fazendo sentar. Por Deus! Como ele consegue ser tão... sexy? Eu sentada, ele em pé, e seu pau duro literalmente quase que na minha cara. Estava óbvio o que eu tinha que fazer, mas olhei pra cima e o vi com um sorriso quase satisfeito nos lábios. Não pensei duas vezes até segurar o membro duro que estava na minha frente com uma mão e levar meu corpo um pouco mais pra beirada da cama, abocanhando o mesmo sem vergonha nenhuma. Os movimentos que minha boca e minha mão faziam ao mesmo tempo arrancou um gemido alto, grosso e cheio de tesão de , e sorri mentalmente, mas em seguida dei um selinho atrevido em sua sua glande, olhando pra cima e encarando os olhos cheios de vontade, tesão e luxúria dele. Percorri com minha boca por todo o seu pênis, distribuindo lambidas gulosas e cheguei em seus testículos, acariciando um enquanto chupava o outro. Minha nossa senhora... O quase descontrole de o fez segurar forte em minha nuca, me forçando ali nele por longos segundos, mandando minha respiração pra casa do caralho. Assim que sua mão afrouxou, continuei a chupá-lo de maneira frenética, disposta a sentir seu gozo na minha boca, e pude até observar a cabeça do meu homem jogada pra trás em prazer, mas ele me agarrou novamente, me forçou em si por longos segundos e me afastou com um leve puxão de cabelo da maneira mais sexy e filha da puta possível. Demorei alguns segundos pra recuperar minha respiração, mas foi se abaixando aos poucos, me fazendo deitar, ficando por cima de mim. Seus dedos foram de reencontro com minha intimidade, entrando em mim de uma vez.
- Eu amo saber o que faço com você, com o seu corpo... A gente combina tanto, , você não faz ideia... - ele sussurrou rouco e sem vergonha no meu ouvido, molhando os dedos na minha umidade.
Ele deu uma última pressionada em meu clitóris antes de abandonar o local, mas eu já estava além de arrepiada, além de excitada, além de ansiosa. Dei um selinho em seus lábios, pegando em seu pênis com uma mão, o encaminhando pra minha entrada, em tamanho desespero por querer que ele metesse em mim logo.
- ... Por favor. - choraminguei, olhando em seu olhar de modo firme e acho que comecei a tremer de ansiedade por ele, já que ele tratou de começar a se mexer.
- Agora eu vou foder essa tua bucetinha, . Bem fundo, bem gostoso.
Senti a cabecinha de seu pau se encostar em mim, passeando e se lambuzando com a minha umidade, me atiçando mais do que eu podia aguentar. Me empurrei pra o corpo dele, fazendo de tudo pra sentir todo aquele volume em mim, mas assim que entrou, foi de uma vez só. Meus gemidos foram quase gritos, sentindo todo o seu pau me preenchendo. As estocadas firmes e fortes começaram, e a cada uma delas me fazia revirar os olhos de prazer. O sexo com sempre era algo de outro mundo, ia além de simplesmente mandar bem ou saber o que fazer. Nossos gemidos misturados com o nosso prazer já me deixava arfante, quase perto de gozar. Em um ato rápido e sacana, empurrei pro lado, sentindo seu membro saindo de mim e por um segundo me frustrei, mas em seguida me ajustei ali, ficando por cima dele, me apoiando em seu peitoral, sentindo suas mãos fortes em meus quadris rapidamente.
- Eu sei que você gosta desse jeitinho, babe. - frisei bem a última palavra.
O meu jeito desesperado de rebolar nele estava quase nos levando ao limite. adorava quando eu ficava por cima, e eu adorava toda a sensação de tê-lo tão dentro de mim. Um tapa forte e ardido foi dado na minha nádega direita, me fazendo dar um grito mais escandaloso.
- Vai acabar acordando todo mundo, gatinha. - sorriu maroto, e óbvio que ele não ligava. Propositalmente, ele segurou firme em minha cintura e acelerou os movimentos, me fazendo gemer tanto, que assim que ele parou, só um grunhido excitado, cansado e desesperado saiu da minha boca por último.
- ...
- Nunca mais alguém vai te marcar desse jeito, você sabe, não sabe? - ele perguntou com uma dificuldade enorme, segurando em minha cintura novamente e acelerando pra caramba os movimentos em mim que... Por Deus!
- Eu... Sei. - confirmei o que foi perguntado de maneira ofegante, que mais parecia um gemido, gemendo alto com todas as estocadas fortes e fundas, sentindo seu pau atingindo o ponto mais prazeroso - ... Mais rápido, caralho, mais rápido!
agarrou minha cintura ainda mais e passou a meter mais rápido, causando fricção e aquele som maravilhoso de corpos se chocando. O tanto que eu arfava e gemia era música pra os ouvidos dele. Eu estava quase gritando aos sete ventos, sentindo a ponta do meu estômago começar a formigar, praticamente me derretendo, indo ao paraíso e finalmente explodindo num orgasmo delicioso. Os meus espasmos e a moleza quase me fez deitar no peitoral de , mas faltava pouco pra o seu orgasmo. Continuei ali, apoiada em seu peitoral enquanto as estocadas fundas, fortes e certeiras o fizeram apertar minha cintura de modo atento, seu gozo quente escorrendo dentro de mim anunciava seu ápice.
Sem forças pra muito, apenas me joguei pro lado, me enterrando em seu pescoço enquanto recuperava a respiração, sentindo o seu cheiro suado, o cheiro de nós. Ficamos largados, nos recuperando do furacão de sentimentos e prazeres que tínhamos acabado de sentir.
Definitivamente eu não teria como fugir ou como não amar .
Eu pensei que todo o meu azar já tivesse esgotado, mas não. Não só o meu como o de também.
- Você precisa...
- , se você me pedir pra ter calma mais uma vez, eu juro que vou te jogar dessa janela! - minha fala saiu alta e desesperada, assim como a minha respiração.
O quarto de me parecia desconfortável. Na verdade, o momento, o acontecimento, o nervoso... Tudo estava desconfortável. Viemos embora voando depois que liguei pra Voight contando que havia sumido. Voight e Holt já tinham ligado e ido em diversos lugares pra tentar descobrir onde ele estava, mas... Nada.
Quer dizer... Sabíamos muito bem quem estava por trás disso tudo.
- ... - minha melhor amiga se colocou em frente à mim, me impedindo de continuar andando de um canto pra o outro feito uma barata tonta - Eu sei o que você está pensando e...
- Eu tenho certeza que Paul descobriu que estamos nos encontrando com Megan e sequestrou como vingança. Vão acabar com ele, ... Vão acabar com o ! - eu mal sentia minha própria respiração. Sentia que a cada segundo, o mundo estava diminuindo e me sufocando cada vez mais.
Horas já tinham se passado e absolutamente nenhuma notícia tinha chegado. Nem Voight e nem Holt atendiam os celulares e no meio disso eu quis correr e procurar por conta própria, mesmo sem ter ideia de onde procuraria. Paul com certeza o teria levado pra algum lugar longe, de difícil acesso, e pensar na possibilidade me matava aos poucos.
Até que o celular tocou. atendeu.
O misto de expressões em seu rosto me apavorou, mas no fim ela abriu um sorriso entre alívio e angústia ainda pelo susto, o que me fez respirar fundo e de maneira decente depois de horas.
- Ele está bem! - disse enquanto fungava, tentando controlar o choro que estava entalado há horas e correu pra me abraçar.
's POV
Talvez eu estivesse bem preparado caso não esperasse nada. Eu já deveria saber que a vida aqui funciona dessa maneira. Eu não deveria esperar coisas boas, mas também não deveria pensar tanto nas ruins. Acontece que as coisas vem e... acontecem.
Assim que fui ameaçado e obrigado a entrar no carro com homens que eu nunca havia visto na vida, eu pensei no mesmo segundo que era algo de Paul, só podia ser, só que mais uma vez, a vida e as confusões daqui me surpreenderam. Esse sequestro relâmpago executado de forma ridícula foi algo dos Crips. As falas do chefe da gangue ainda rondavam em minha mente sem parar.
"Sua vida durante o dia acabou. Estão te vigiando em todos os lugares, você sabe disso, né? Eu estou te vigiando. Meus homens estão te vigiando. Você sabe seus companheiros? Estão bravos, estão loucos com você. Seu nome virou lama nas ruas."
Por incrível que pareça, eu não respondi a nenhuma provocação. Estavam claramente me usando pra atingir Voight e Holt. Inicialmente, obviamente todos achavam que era coisa de Paul, mas não, era só o pessoal dos Crips querendo dar um susto, pelo o que entendi, Voight tem problemas não resolvidos com eles, e de alguma forma, por algum motivo, acharam que me sequestrando e literalmente me jogando porta à fora mudaria algo.
Porra, óbvio que vai mudar algo: mais nervoso, mais medo, mais confusão, mais coisa pra pensar, se preocupar e resolver.
E novamente, por algum motivo, sobrou pra mim.
- Você não vai entrar! Deixa ele em paz, precisa descansar! - pude ouvir os gritos de do lado de fora do trailer.
Desde a hora em que me jogaram do carro, literalmente na rua que o terreno onde era mais conhecido como minha casa fica e Voight e Holt foram avisados, a correria começou. Eu levei um soco no primeiro instante porque lutei contra entrar no carro, mas eram três caras me forçando a entrar. Me levaram pra um galpão vazio e começaram a conversar sobre coisas aleatórios e sem importância por horas, até o chefe da gangue aparecer e falar coisas infelizes que eu não deveria me importar. Não demorou pra eles saberem que os The Lions já estavam me procurando em todo canto, me enfiando no carro novamente e me jogando praticamente na porta de casa, e comigo veio uma mensagem e eu sabia.
Voight chegou ainda apavorado e Holt aliviado. Não conseguimos conversar nada porque chegou em seguida e toda a precipitação a flor da pele quase me quebrou no meio.
- , eu preciso e vou conversar com ele! Preciso explicar algumas coisas e...
- Ele sabe! - o interrompeu com o tom forte e decidido, e eu podia imaginar claramente o seu corpo firme e seguro, mostrando de vez que não o deixaria passar mesmo - Ele sabe que mais uma vez, vieram atrás dele por algo que ele não tem envolvimento, e a menos que você dê certeza absoluta que esse tipo de coisa não vai acontecer de novo, você não vai entrar aí!
estava... furiosa.
Me levantei de maneira rápido e abri a porta antes que uma discussão maior começasse, era tudo o que não precisávamos no momento.
- ... - a garota ergueu o olhar pra mim no mesmo segundo em que abri a porta e nossos olhares se comunicaram rapidamente, até que ela acabou tombando o rosto um pouco pro lado e semicerrando os olhos de leve, querendo ter certeza que era aquilo mesmo que eu queria e assenti positivamente.
- Eu vou... ali. - ela anunciou antes de dar passos lentos e incertos, ainda me encarando pra ter certeza de que era aquilo mesmo que eu queria, até que seu corpo foi sumindo do meu campo de vista e só sobrou Voight em minha frente, mais sério do que nunca.
- , eu... - ele abandonou a frase logo no começo, tendo uma longa pausa pra passar as mãos pelos cabelos de maneira claramente nervosa e tensa - Eu não sabia de verdade! O meu lance com os Crips é algo antigo, mas não tinha ideia que eles fariam isso justo com você depois de tanto tempo, de verdade! É briga de acordos, entende? Mas é algo antigo mesmo, pensei que eles já tivessem esquecido isso, mas eu vou resolver de uma vez!
Dava pra sentir a sinceridade em sua voz, em seu olhar, e por mais ridículo que pareça, posso jurar que vi até um certo medo no olhar de Voight, e por um segundo, isso fez desaparecer toda a minha raiva.
- Olha cara, de verdade, eu já nem tenho o que falar. Não é a primeira merda que acontece e nem a última, certo? - foi mais forte que eu e saiu rude demais. Voight soltou o ar preso em seu pulmão aos poucos de maneira nervosa, quase que chocado comigo e ao mesmo tempo bravo também.
Óbvio, ele esperava compreensão mas um lado dele também entendia a minha raiva. Eu acho. Eu espero. Ele apenas bufou, me lançando um olhar misturado de sentimentos e se virou dizendo um "Se cuida, se precisar de algo, me avisa na mesma hora". Me sentei ali mesmo, no degrau do trailer, observando algumas pessoas saindo e entrando. Estava tarde demais, quase amanhecendo de vez e meu pensamento parou na última pessoa que eu queria pensar pra o meu próprio bem: meu pai.
DIAS DEPOIS.
enfiou o comprimido de antibiótico na boca junto à um gole d'água. Por quase três dias seguidos ela ficou com uma febre que ia e voltava o tempo inteiro, mas claro, a teimosia foi maior até ela finalmente ir pro hospital. Acontece que a saúde da garota não está das melhores há aparentemente muito tempo, mas ela nunca pareceu ligar até então. Nos últimos dias ela estava comendo melhor, acordando mais cedo, conversando mais e indo comigo pra absolutamente todos os lugares que davam pra ir, sem exagero nenhum.
Ela cantarolava Hundred, do Khalid, bem baixinho e de modo sonolento.
- ? - chamei por ela um pouco alto, fazendo ela tomar um pequeno susto e olhar pra mim no mesmo instante.
- O que foi?
- Nada, é só que... - observei seu rosto lindo e cansado, e embora estivesse me controlando pra não gritar de vez de tanta raiva que ainda estava sentindo de outras coisas, olhar pra ele me trouxe uma paz momentânea que foi o suficiente pra me manter com os pés no chão - Se quiser dormir, pode dormir. Falta pouco pra o nosso horário acabar, mas posso te levar no colo se quiser. - arrisquei fazer graça, arrancando um sorrisinho carinhoso da garota.
A raiva ainda me acompanhava de maneira incansável nos últimos dias. Eu pensava tanto no meu pai e isso estava me levando a loucura. "E se...?" era o que me atormentava. Eu sei que algumas guerras nunca terminam. Talvez o que aconteça nas gangues nunca acabe. Talvez rolem tréguas desconfortáveis também, mas eu não sei, não tenho como saber, não cresci numa gangue, mas a ideia de continuar em uma me deixava furioso. Eu deveria estar no controle da minha própria vida, deveria estar me formando e fazendo o que gosto, mas não... Um erro do ex sócio do meu pai e é isso o que acontece comigo? Não pode ser!
São vários tipos de guerras, eu sei. Algumas acabam com paz, e é o que mais tem acontecido com os The Lions, mas comigo, a pior de todas é essa guerra diária que tenho que lutar pra manter a cabeça no lugar. Ou não.
Precisei freiar o carro com tudo, fazendo os nossos corpos irem pra frente com tudo, e graças ao cinto de segurança fomos impedidos de irmos ainda mais pra frente. A respiração abafada, assustada e angustiada de nem mesmo me importou, porque o que estava em minha frente tinha consumido toda a minha atenção.
- O QUE FOI ISSO? - gritou.
Estacionei o carro rapidamente, sem tirar o olho do carro há poucos metros de distância e do homem que estava encostado nele. Tirei o cinto rapidamente e abri a porta.
's POV
Ele simplesmente me ignorou. Tirei o cinto de segurança bufando de ódio, saindo do carro de uma vez e seguindo , que dava passos rápidos até o carro que estava estacionado no final da esquina.
- Seu filho da... - praticamente gritou, parando de falar no mesmo instante em que provavelmente percebeu algo, já que sua expressão congelou.
- Que porra é essa, cara? - o rapaz encostado no carro se desencostou, com uma expressão nada amigável e confusa.
- Caralho! Eu... - estava perdido em si mesmo, dando alguns passos pra trás e finalmente virando o rosto, encontrando meu olhar e franzindo a testa de um jeito nada bom.
- Quem é você e o que você quer? Você é louco de chegar desse jeito em mim? Você nem me conhece! - o homem já nervoso deu um passo largo pra frente e o seu punho já fechado me desesperou.
Por um segundo minhas pernas se recusaram a me obedecer, mas obedeceram. Mesmo com medo, dei passos longos até os dois, com os braços já erguidos indo de encontro aos braços de , onde agarrei com força.
- Moço, me desculpa! Ele te confundiu com uma pessoa. Desculpa mesmo! - tentei não demonstrar todo o pânico que estava sentindo e fui razoavelmente calma, puxando com força e acenando pra o homem ainda de cara feia.
- Que merda você tá fazendo? - puxou o próprio braço sem nenhum pingo de gentileza, se desvinculando do meu toque e me olhando como se eu fosse maluca.
- Que merda VOCÊ tá fazendo? Você confundiu aquele homem, não foi? Puta que pariu, !
- Eu não... - ele foi pego de surpresa por si mesmo, não conseguiu prosseguir porque provavelmente ainda nem tinha entendido o que tinha acabado de acontecer.
Entramos no carro novamente e eu esperava uma resposta, mas a única coisa que tive foi acelerando o carro feito um louco. Eu me segurei pra não reclamar, apenas apertei os olhos nervosa, e assim que chegamos e passamos pelo portão, agarrei em seu braço novamente.
- , o que foi aquilo?
- Mas que porra, , eu não estou com saco pra isso hoje! - ele mais uma vez puxou o braço e gritou mesmo, sem nenhum tipo de restrição na voz.
- O que está acontecendo com você?
Aquilo apertou meu coração de verdade. Nos últimos dias eu me certifiquei de estar bem o suficiente pra poder estar com para... Bem... Como posso dizer?
- Tudo está acontecendo, ! Tudo! Eu estou nervoso, e sabe por que? Porque você está há dias atrás de mim como se eu fosse um bebê de colo, como se fosse minha babá!
me entregou a verdade nua e crua numa bandeja e a única coisa que eu podia fazer era engolir, mas não do jeito que ele queria.
- Eu estava...
- Tentando me proteger? Cuidar de mim? O que, ? Me fala! - ele continuou gritando pra quem quisesse ouvir e aquilo me esmagou.
Eu deveria ter uma resposta na ponta da língua, alto tão grosseiro a altura, mas eu me senti pequena, e o medo que eu vinha sentindo há dias se transformou em um aperto dolorido no coração.
- Eu estava com medo, ! Você sumiu, sequestraram você por horas e tudo o que eu pensava era que você ia morrer! Me desculpa se eu ficar perto estava te incomodando tanto, eu só queria ter certeza de que...
- Eu não consigo parar de pensar no meu pai. Eu não consigo parar de pensar em como eu não tenho mais o controle de nada e eu não consigo parar de pensar no quanto eu acabei de te magoar com toda essa merda! - ele me interrompeu totalmente sentido e com um olhar visivelmente triste. Eu não sabia nem por onde começar.
- O que tem o seu pai? E o que eu em você com aquele cara quase agora? Você o confundiu com quem? - eu ignorei totalmente a última parte da sua frase, porque francamente, as palavras duras de me doíam, mas eu pensava rapidamente que em meio a essas palavras, estava saindo a verdade junto.
- O carro era igual ao dos homens que me sequestram no fim de semana. Eu vi aquele homem de longe e pensei que...
- Você achou que era um deles?
- Eu tomei uma decisão, ! Eu achei que era e saí do carro pra confirmar, só isso!
- Você chama isso de decisão? Nunca ouviu falar que decisões baseadas em emoções não são decisões, e sim instintos? Puta que pariu, ! Aquele homem poderia ser qualquer pessoa, poderia estar armado, poderia te fazer algo! - minha voz saía rasgando em puro desespero. Dei um passo pra frente com as mãos erguidas pra segurar no rosto de , mas ele se afastou no mesmo segundo.
Minha mãe foi ótima. Ela sempre disse que não importa o jeito que lidamos com as coisas, os traumas sempre deixam uma cicatriz, seja ele grande ou pequeno. As vezes eles literalmente mudam nossas vidas. Acho que agora entendo melhor de que em algumas situações, toda a dor, o medo, o trauma e a vontade de melhorar, nos impulsiona a seguir adiante. Mas não todas as vezes. Claro que a gente cai pra se levantar novamente, mas as vezes, a maioria delas, eu só quero ficar caída mesmo. É mais fácil. É desconfortável, porém mais fácil. As vezes acho que a vida foi muito injusta com a minha mãe ou muito boa comigo, pelo menos nesse ponto. Não sinto que é algo tão balanceado quando se trata da minha mãe. Ela é boa demais e eu não acho que tenha correspondido todas as expectativas dela como filha.
Por breves minutos, me lembrei de quando ela disse que talvez seria melhor se eu voltasse a ter ajuda profissional pra lidar com toda essa bagunça. E talvez precise mesmo. E também. E todo mundo.
Mais uma reunião com Megan estava rolando e eu não conseguia prestar atenção em nada. bebericava o refrigerante ao seu lado o tempo todo enquanto Voight e Hunt perguntavam inúmeras coisas. Megan parecia sempre com medo, mas ao mesmo tempo decidida e forte em continuar com aquilo.
- Você entendeu tudo direitinho, não é? Da próxima vez eu espero que as coisas já tenham andado mais pra frente. - Holt dizia cuidadoso, tenso, mas também totalmente decidido e focado em Megan, tendo certeza de que a mulher tinha entendido bem.
- Ele tem feito coisas horríveis nesses últimos dias, horríveis mesmo! - a expressão de puro nervoso de Megan deixava óbvio que ela se referia à algo horrível no sentido mais cruel da palavra. Ela deu um longo suspiro antes de continuar - Mas de verdade, eu não sei o que vocês tem, não sei se é pela gangue ou algo do tipo, mas se ele quisesse matar ou machucar vocês, ele já teria feito isso. Paul é cruel demais pra esperar, então isso me leva a crer que de alguma maneira, vocês tem algo... Podemos dizer que... Especial! - ela finalizou tensa, mas com um suspiro longo e aliviado, recebendo olhares confusos porém quase restritivos, como se aquilo fosse informação demais pra ela dar assim, do nada.
- É, por hoje é só. - Voight se levantou rápido, sendo seguido por Holt, que esperava que Megan fizesse o mesmo, mas não fez. A mulher olhou pra mim como se pedisse pra eu intervir.
- Podem ir na frente. Preciso conversar com Megan sobre algo. - pedi com a voz agradável, recebendo um olhar desconfiado e a testa franzida de Voight logo ao finalizar minha frase.
- Sobre o que?
- Sobre algo! - respondi curta e levemente grossa, tendo como resposta o olhar de Voight de modo nada bacana e ainda desconfiado, mas ele finalmente decidiu que a melhor decisão era não entrar em uma discussão comigo por isso.
Os dois saíram pedindo pra não demorarmos, mas saíram. Megan acompanhou cada passo deles até eles saírem de vez do estúdio antes de começar a falar.
- , eu sei que falei que tentaria te ajudar, prestei atenção em tudo o que pude, mas Paul é um homem desconfiado de tudo! Ele é muito cuidadoso pra falar sobre os negócios e pessoas, sejam amigos ou inimigos. Eu tentei muito escutá-lo em seus milhares de telefonemas diários pra conseguir ouvir o nome do Yaser mas não consegui nada! - ela estava aflita, como se tivesse cometido um erro grande, e por um longo segundo, me senti culpada por isso.
- Megan, tudo bem, de verdade mesmo! E você não precisa se arriscar por isso! Você mesma disse que se Paul quisesse fazer algo, ele faria! Yaser está desaparecido, mas com certeza Paul deve saber de algo, não é? Então não se arrisque por isso, por favor! - a verdade é que eu não tinha certeza de merda nenhuma, mas aquilo precisava ser dito pra Megan se tranquilizar.
Onde Yaser estava? Ninguém sabia. Se Paul sabia onde ele estava? Ninguém sabia também, mas uma grande parte de mim também acreditava que se Paul quisesse fazer algo, já teria feito. Ele poderia fazer algo com pra forçar Yaser a aparecer, mas nunca o fez.
Merda.
Detestava com todas as forças pensar nisso. Não gostava, nem por um segundo, imaginar que Yaser poderia estar metido com essa história toda de maneira errada. falava tão bem do pai que me custava a acreditar que ele realmente pudesse estar metido com isso.
- Megan, posso te perguntar uma coisinha? - a voz séria e um pouco sem graça de me tirou daqueles pensamentos bizarros e agradeci mentalmente por isso.
- Claro!
- É que... Você sabe que Paul é realmente perigoso e mesmo tendo a opção de pegar os documentos falsos e ir embora, você quis ficar pelo dinheiro. Eu sei que é importante, não dá pra você ir embora sem dinheiro nenhum, mas ter sua liberdade não seria melhor? Eu e poderíamos te dar um dinheiro pra ir embora, sabe? Não gosto da ideia da sua vida correndo tanto risco assim.
- ... - Megan tombou a cabeça pro lado entre encantada e cruelmente decepcionada pela realidade - Eu sempre escolheria minha liberdade, mas a partir do momento em que eu fugir, vou precisar de inúmeros cuidados por um bom tempo, e isso vai me exigir um dinheiro grande. Eu fico extremamente grata pela preocupação de vocês, de verdade mesmo, mas eu realmente não posso ir embora sem o dinheiro.
Eu não queria pensar em como a vida era cruel com Megan, mas já estava pensando. O quanto as coisas se tornaram terríveis e absolutamente tudo o que ela jamais imaginou que fosse viver. Eu sei que a vida nem sempre é injusta, mas também não é só justa e isso ainda me frustra de maneira gritante.
Voight me esperava sentado no degrau do meu trailer. Rolei os olhos, respirando fundo e já buscando a paciência que provavelmente seria necessária pra ouvir o que ele tinha a dizer, até me sentir uma completa ridícula por isso.
Ok, a segurança de e nem de ninguém estava garantida ali com tantas coisas acontecendo, mas se fosse pra ficar com raiva, precisava ficar com raiva de também.
Tudo bem, traumas são traumas, ele foi sequestrado e por algum motivo ele não parava de pensar no pai, mas ele simplesmente jogar na minha cara que eu não tinha desgrudado dele em dias foi bastante cruel. Não se dá pra comparar, mas eu estava com tanto medo de alguém levá-lo pra longe e machucá-lo de novo. Medo de fazerem o pior. E ele simplesmente... não se importou com a minha preocupação. Acho que depois de tudo isso, todas os dias em que dei espaço pra ele se sentir confortável em me dizer algo e todas as esperas me dão pelo menos um pouquinho de direito de ficar chateada e brava dessa vez.
- Ainda está brava comigo? - ele se levantou, ficando em minha frente.
- Não sei. - fui sincera, mexendo em meu cabelo.
- Eu só quero que você saiba que a situação com os Crips já está resolvida. Eu sei que o sequestro de mexeu muito com você, mas pode ficar tranquila, eles não vão mexer com a gente por um bom tempo. - as palavras de Voight foram sumindo em meus ouvidos, como se eu estivesse distante dele e impossibilitada de ouvir por conta da falta de atenção tremenda, pois tudo o que eu conseguia pensar era em . Queria falar com ele e ao mesmo tempo queria, como sempre, dar espaço, mas não sabia se era o melhor a se fazer, estava magoada de verdade.
- Tá bem, entendi. - foi só o que eu consegui dizer, querendo acabar logo com a conversa.
- ? - ele me encarou de maneira analítica, buscando o que tinha de errado em mim - O que foi? Aconteceu algo entre vocês?
Filho duma mãe! Como pode? Como ele sabia?
- É... - me embolei em minha fala, pensando seriamente em mentir e dizer que estava tudo numa boa, mas estava cansada e sem disposição até pra isso. Relaxei os ombros, joguei a cabeça pra trás e respirei fundo, ajeitando minha postura - Eu fiquei com medo, sabe? Eu literalmente não saí de perto do esses dias por medo de acontecer de novo, de alguém levar ele e fazer algo pior, e ele simplesmente jogou isso na minha cara como se fosse um erro ou algo terrível, como se meu medo não fosse nada! Ontem ele desceu do carro de uma vez e foi atrás de um homem parado na calçada pensando que era um dos homens que sequestrou ele e... Sei lá, estava tudo indo tão bem e agora tá tudo uma porcaria. Ele também disse que anda pensando muito no pai dele e eu não gosto de pensar nisso.
- Por que?
- O que?
- Porque não gosta de pensar nisso? - Voight semicerrou os olhos.
- Porque o pai dele é bom, digo, bom mesmo. Nunca ouvi reclamando do pai em relação a nada e eu quero acreditar que seja isso mesmo, até porque se fosse o contrário, você estaria metido nisso, não é? - é óbvio, eu não perderia essa alfinetada por nada. Ter Megan em busca de algo que comprometesse Yaser não era o bastante, mas pensei que com Voight eu teria alguma sorte, mas eu só consegui uma gargalhada fraca, sem humor, fria e sem sentimento nenhum, e por mais que algo nele ainda trouxesse uma certa resistência, Voight permanecia firme, me olhando bem nos olhos.
- Essa é a parte que eu detesto. A parte em que viver essa vida aqui mexe tanto com os seus sentimentos que te fazem até duvidar do próprio pai. - ele me encarou com o olhar de advertência, me arrancando arrepios do corpo todo. Falar sobre aquilo sempre parecia um campo minado.
- Bem, mas ele tem o direito de se sentir assim às vezes, não é? A vida dele mudou tanto... - decidi contornar o assunto, talvez usar mais o sentimentalismo funcionasse melhor.
- Você gosta mesmo dele, né? - e realmente funcionou. Voight abriu um sorriso fraco, quase prevendo que sua pergunta me faria fazer o mesmo. E fez.
- Muito mesmo!
O ar que pairava em nós não era confortável e nem desconfortável, mas a conversa parecia não ter mais como prosseguir. O olhar ainda animado, surpreso, encantado e preocupado de Voight ainda estava ali, mas me senti à vontade pra virar e seguir meu caminho até meu trailer. Eu não conseguiria nada de Voight, não desse jeito.
- . - a voz dele me chamou, me obrigando a virar novamente - Posso te falar mais uma coisa?
- Você já está falando, papai. - frisei bem a última palavra, sorrindo sapeca e arrancando uma risada alta e gostosa de ouvir do homem.
- Você não tem jeito!
- Bom, disso eu já sei!
- Para de palhaçada, vai. - ele pediu ainda gargalhando fraco, dando alguns passos que faltavam pra me alcançar e continuar a andar até uma das mesinhas que tinham ali, sentando ali primeiro e fiz o mesmo - Você ainda tem algumas horas até o seu horário de trabalho, mas quero falar com você sobre mim, sobre nós, sobre os The Lions. - se antes não tinha tensão, agora tinha. Aquilo veio com um peso que nem eu entendia, porque sinceramente, nunca foi meu assunto favorito, estava longe de ser.
- Por que?
- Porque nunca conversamos sobre isso, não do jeito que deveríamos. Eu sei que tudo o que rola por aqui não te agrada e eu entendo, mas acho que você precisa me entender também.
- Tudo bem. - minha voz saiu num fiapo. Voight estava numa sinceridade crua e nunca vista por mim, e embora o nervoso estivesse quase se apossando por inteiro, uma parte de mim estava extasiada pela sinceridade, vontade e coragem dele em querer conversar sobre isso.
- Eu não sou um anjo, tenho mil defeitos e nem sempre sou um bom líder, e pra ser franco, nem mesmo gosto dessa palavra, mas eu moldei essa gangue pra ser diferente, sabia? Eu reinvesti meus lucros na comunidade e nas pessoas, e...
- Então você é o Robin Hood de Londres?
- Não, Robin Hood roubou dos ricos e deu pra os pobres. Hipoteticamente falando, eu tiro dos mais fracos e dou aos fortes, para que fiquem mais fortes. Eu sei, é horrível, afinal, são drogas e negócios pesados, mas com esse dinheiro eu invisto em pessoas que possuem chances, que são inteligentes, e que estão dispostos a usar bem o seu tempo e se esforçarem pra se tornarem alguém. É a única maneira das pessoas aqui saírem das ruas, saírem de casa, saírem de uma vida mínima, sem saída. Não é bonito, não é elegante de dizer em voz alta, mas é a verdade, e os homens de farda não querem acreditar nisso, mas eu faço bem pra essa cidade.
- Você está falando da polícia por que? - a minha voz veio raspando do fundo da garganta. As palavras de Voight tinham mexido comigo de maneira gigante.
- Como eu disse, não é bonito... Em lugar nenhum, área nenhuma, mas o dinheiro muda tudo. O meu acordo com a polícia não me faz mal, mas coloca em dúvida o caráter deles justamente por esse acordo. - eu nunca tinha o visto tão cru, tão sério, tão sincero e vulnerável. Eu podia sentir o esforço em cada palavra que saía de sua boca.
- Você está... reclamando? - franzi levemente minha testa, tentando entender bem.
- Não, é só uma observação, mas é uma coisa que não vai mudar. A polícia não é perfeita e certa o tempo todo, e nem ninguém. - ele soltou o ar em seu peito de maneira audível, como se estivesse liberando toda a tensão ali. O olhar sincero me acompanhava junto com suas palavras e eu mal conseguia pensar em falar, porque era muito pra se pensar no momento.
- Por que você decidiu me contar tudo isso agora?
- Porque você sempre precisa de algo pra consertar, mas tem coisas que você não pode e nunca vai poder, então pensei que talvez você possa consertar o jeito que você olha pra mim. Eu sei que não sou seu pai, mas eu realmente te considero minha filha, e não importa o que aconteça, eu sempre vou fazer as coisas pensando no melhor pra você e pra sua mãe.
Comunicação é a primeira coisa que realmente aprendemos na nossa vida. Ironicamente depois que crescemos, aprendemos as palavras e realmente começamos a falar, fica mais difícil saber o que dizer ou como pedir aquilo que realmente precisamos. Eu odeio essa parte, mas também tem as vezes em que nem sabemos do que precisamos de verdade. Eu tinha a sensação de estar boiando sobre a água, de maneira calma, sútil e tranquila. Eu me sentia um pouco menos pior em saber que apesar de tudo, Voight estava do meu lado e do lado de um monte de gente por um bem maior.
Me arrastei pelo banco largo, ficando bem ao lado de Voight e o abracei. Depois de tanto falarmos, alguns atos falam por si só. Agradeci pela sinceridade, pelo momento, pela conversa e me levantei. Ele me deu um beijo na testa e desejou uma boa noite de trabalho, e foi aí que me virei em direção ao meu trailer, mas o trailer de parecia tentador. Eu podia enxergar a porta brilhando pra mim, chamando minha atenção pra entrar ali, e foi bem o que fiz. Dessa vez dei três batidas na porta antes de ouvi-lo gritar, autorizando a entrada. Ele me observou por inteiro assim que entrei de vez.
- Oi.
Eu queria o mesmo de sempre; estar bem com ele. Me quebrava estar num clima péssimo desse jeito e por mais que mereça ter seu espaço, assim como eu, grande parte de mim adoraria se resolvêssemos as coisas conversando mais, compartilhando mais, consertando mais.
- . - sua voz saiu quase num sussurro - Eu pretendia conversar com você antes de sairmos, sabia? - ele abriu um sorriso fraco, totalmente sem graça, mas aquilo já me fez ficar de pernas bambas e coração acelerado.
- Eu estou brava com você. - falei firme, cruzando os braços de maneira quase agressiva, porém estava mais parecendo uma criança fazendo birra já que ele soltou uma risada fraca de quem sabia que eu não estava falando totalmente sério - Eu senti medo por você, , medo de verdade! Eu sei que você que foi sequestrado, seu desespero deve ter sido mil vezes maior do que o meu, mas não significa que você tem que invalidar o meu sofrimento, ok? Eu fiquei com medo, caramba! Eu não queria largar de você porque eu só conseguia imaginar o pior, alguém te sequestrando de novo e acabando com a sua vida! - quando terminei de proferir tais palavras banhadas a puro desespero, raiva e alívio, me abraçou. O abraço mais forte que já tinha me dado até então.
- Me desculpa, tá legal? Eu sei que fui um filho da puta em descontar tudo aquilo em você e eu sei que não posso deixar as coisas se misturarem, mas eu deixei. Eu fiquei maluco com isso, pra todo canto que eu olhava, eu via o pessoal dos Crips. Eu também pensei tanto no meu pai que isso estava quase fritando meu cérebro e... Eu sei que fui um imbecil, mas eu espero que você me desculpe. Eu não quero que você sinta que seus sentimentos vão ser esmagados e deixados de lado comigo, tá me entendendo? - estava levemente ofegante quando segurou meu rosto com a maior gentileza do mundo com as duas mãos, me fazendo olhá-lo bem nos olhos.
Eu nunca, em vinte anos, imaginei que uma pessoa pudesse me tirar o ar com um olhar, com um toque... não era qualquer um e jamais poderia ser comparado.
- ... - um sorriso bobo se formou em meus lábios - É claro que eu te desculpo. Eu quero que você saiba que acima de qualquer coisa, eu sou sua amiga! Eu sei que não é fácil, mas eu estou aqui pra você, ok? Eu... Eu estou aqui! - eu jamais conseguiria colocar em palavras qualquer coisa pra porque nada seria o suficiente, então dei um selinho longo e cheio de carinho em seus lábios - E se por acaso te acalma em algo, a Megan disse que não ouviu nada sobre seu pai, então é um bom sinal!
- Você nem imagina como isso me pegou de jeito dessa vez. Eu odeio mais do que tudo pensar nessa merda. - as mãos dele saírem do meu rosto e levei minhas mãos até sua nuca, as entrelaçando enquanto o ouvia em um incômodo visivelmente grande.
- Você acha que seu pai seria capaz de se meter em algo tão sujo assim? - mesmo receosa, perguntei. O olhar atento de se arregalou no mesmo instante.
- Não! Meu Deus... Não!
- Então você precisa se lembrar do homem que sempre esteve ao seu lado sendo um bom pai! - depositei mais um selinho em seus lábios.
- Acho que esse é o meu maior medo, . Estar cego por essa figura paternal incrível como referência... - a dúvida e a angústia estavam totalmente presentes, mas realmente me chocou por ele levar o pensamento tão adiante. Aquilo estava impregnado em sua mente de verdade.
- Eu espero que tudo isso acabe logo ou que pelo menos vocês se encontrem em breve pra vocês conversarem.
Gastamos nossas últimas horas restantes conversando sobre tudo. me pegou no colo ao sairmos do trailer, me fazendo gargalhar até a barriga doer por conta de toda a zoação que ele estava fazendo só porque eu já estava dizendo que estava cansada. Em minha defesa, retruquei dizendo que passei os últimos dias doente e por isso estava tão cansada, o que fez ele tirar mais sarro ainda de mim. Ele finalmente me colocou no chão só quando estávamos no portão, dando tchau pra os dois rapazes que estavam ali na entrada e atravessamos a rua fazendo graça um com o outro feito duas crianças.
- Mas falando sério, eu estou com fome mesmo! - ele emendou o comentário com algo aleatório que estávamos falando, destravando o carro com o controle, mas nenhum de nós entrou.
Eu prendi o ar no mesmo instante em que vi o carro praticamente voando, provavelmente na maior velocidade possível, e uma das mãos do passageiro estava totalmente pra fora e pra cima, dando tiros sem parar. Eu queria pensar, queria fazer algo, mas paralisei ali mesmo, com a mão na porta do carro, pronta pra abri-lo, mas não abri. Eu consegui gritar. E muito. Por sorte, teve forças pra se mexer. Ele deu a volta numa velocidade absurda e me agarrou com força, me abraçado e me forçando a abaixar, e os tiros ficaram cada vez mais altos.
's POV
O ser humano é difícil, mas nem sempre é porque queremos. passou o resto da semana da maneira mais normal possível. No dia do tiroteio, no qual ninguém se machucou e, ironicamente de maneira ridícula, foi o pessoal do Crips, mesmo depois de Voight ter conversado e resolvido tudo com eles, não gritou com ele e nem com ninguém, só quis entender porque eles tinham feito aquilo e Voight jurou que consertaria tudo, e talvez tivesse consertado mesmo. Os últimos dias foram de uma paz enorme, ou talvez fosse só o medo de geral acumulado e reprimido.
Tudo o que sei é que não reclamou, não gritou, não ficou brava, mas também não quis falar sobre o assunto. Pra ser sincero, mesmo depois de aparentemente Voight ter resolvido a coisa de vez e uma paz bizarra ter se instalado, acho que nunca vi tão exausta, mesmo quieta. Beleza, vamos lá... sua saúde não estava das melhores, mas era algo além. Eu entendo, é assustador revelar algo sobre nós mesmos, ainda mais explicar como estamos nos sentido.
- ... - sentei na ponta da cama com cuidado, dizendo seu nome baixo, na esperança real de que ela pelo menos se mexesse, mas não. Ela estava totalmente encolhida e coberta, dormindo de maneira serena. Me senti cruel demais por estar tentando acordá-la, mas já tinha passado de uma da tarde e eu sabia que ela detestava dormir tanto assim porque sentia que estava perdendo muito tempo - ! - chamei de novo, dessa vez passando a mão de leve em seu rosto, observando seus olhos se abrindo de leve.
- O que é? - a voz totalmente sonolenta e levemente emburrada tomou conta dos meus ouvidos.
- Já é mais de uma hora e...
- Preciso dormir pelo menos até às três! - o pouco que seu corpo tinha se virado pra mim já tinha desvirado de novo, onde ela voltou a se encolher e fechar os olhos.
- O que foi? Eu sei que hoje é sábado, mas você detesta dormir até tão tarde assim!
- Só estou cansada, ! Mas se você quiser que eu levante agora, tenho uma condição... - ela novamente se virou, agora um pouco mais animada e com um sorriso sapeca nos lábios, e tinha ficado a coisa mais engraçada e adorável por conta da cara inchada de sono.
- Qual o golpe dessa vez, mocinha?
- Se você trouxer aquele suco de melancia que eu gosto... Talvez eu levante e faça o que você quiser... Podemos ir pra academia se quiser, ao cinema... - ela respondeu animada, soltando uma risadinha fraca ainda pelo sono, mas me arrancou um sorriso do mesmo jeito.
- Eu queria que você pudesse ver essa carinha de sono do jeito que eu vejo! É claro que eu busco seu suco de melancia, , o que eu não faço por você? - minha voz energizada e cheia de bom humor fez ela rir de verdade, e juro, eu iria em qualquer canto da cidade por qualquer suco que ela quisesse.
Saí do trailer bem disposto, caminhando até a saída, encontrando Voight no caminho.
- . - por um segundo ele pareceu surpreso ao me ver, e no segundo seguinte pareceu lembrar de algo que precisava me falar - A tá bem? - ele perguntou visivelmente preocupado.
- Sim, só está dormindo ainda.
- É que... Você sabe. - ele me lançou um olhar óbvio - Ela não me perguntou nada sobre o dia dos tiros. Ela comentou algo com você?
- Não. Também achei estranho, mas acho que ela só quis se poupar de mais um drama que não a levaria a lugar nenhum, porque não é algo que ela possa mudar. - dei os ombros mas não de maneira grosseira, mas foi a melhor maneira de explicar. Voight pareceu chocado por um segundo, mas se recompôs.
- Olha, já está tudo resolvido de verdade dessa vez. Era um negócio inacabado há muito tempo e o chefe dos Crips achou a oportunidade perfeita pra me convencer a dar o que ele queria, e eu não estou podendo me dar o luxo de me enfiar em guerra com mais ninguém, então dei o que queriam, então eu garanto, pelo menos isso já acabou.
- E o que você deu?
- Dinheiro. - ele riu entre derrota e diversão mesmo, provavelmente lembrando do quando as coisas estavam fora do controle.
- E por que está me contando isso?
- Porque não quero vocês com medo ou inseguros. Essa é a primeira vez que não me cobra algo e talvez isso tenha acontecido porque ela esteja com medo de lembrar ou algo do tipo. - ele pareceu realmente preocupado.
- Ela não conversou comigo sobre isso, não tenho muito o que dizer. - novamente dei os ombros, não tinha muito o que dizer de verdade, mas Voight me encarou por longos segundos, como se estivesse tentando buscar algo que estava exclusivamente dentro de mim.
- Você gosta muito dela, não é? - ele riu novamente de um jeito engraçado e óbvio, e seu olhar era tão forte que me impedia até de pensar na possibilidade de negar, e sinceramente, eu já não tinha condições nenhuma em negar mesmo, mas pareceu estranho demais.
- O que?
- Conversamos um pouco alguns dias atrás e ela disse que gostava de você, e eu sei que acabei de perguntar mas na verdade eu nem preciso da sua resposta porque sei que você também gosta dela. - foi a vez dele em dar os ombros, respondendo como se fosse óbvio também.
- E onde você quer chegar com isso?
- É um clichê gigante, mas é muito bom ter alguém do seu lado, . É uma das coisas mais importantes da vida.
- Eu sei, mas é que...
- Eu não sou seu pai e nem quero que você pense que quero substituir ele, mas a comunicação entre vocês anda muito fodida, então eu estou aqui pra te ouvir, beleza? De homem pra homem... - Voight pareceu precisar de um esforço grande pra falar, mas eu também podia notar claramente que ele estava feliz por ter o feito. O jeito diferente que ele me olhava era novo, mas já me deixava longe do desconforto. Ele estava ali, totalmente numa boa, se oferecendo pra basicamente ser algo que eu não tinha há meses: meu pai.
- Você é o pai da , não tem nada mais estranho que isso. - decidi tirar onda com a cara dele primeiro, arrancando uma risada do homem.
- É aí que você se engana! Justamente por ser o pai dela que eu sou a melhor pessoa pra você falar sobre ela!
De maneira única, surpreendente, engraçada e nova, Voight estava ali pra mim. Ele não era Voight, o chefe de uma gangue, ele era só... o Voight. Pensei em meu pai por pequenos segundos e não mexeu comigo. Ele estava longe e eu sentia sua falta, mas não podia negar a companhia e os ouvidos de alguém que estava disposto a me ouvir, ainda mais sabendo que falar sobre também era o assunto favorito de Voight.
- Eu gosto dela pra caramba, Voight, e as vezes isso pesa pra caralho. O problema não é ela, tá longe de ser, é incrível, mas eu quero acreditar em mim, quero confiar que sou capaz de conseguir o que eu quero, principalmente sair daqui, dessa vida. Eu ainda não acredito que estou passando por isso, entende? Minha vida toda parou por um erro que não foi meu, um erro que eu nem entendo direito como aconteceu. Isso me faz pensar que talvez eu não seja essa pessoa tão boa que eu penso que sou e esse é o meu castigo, mas ao mesmo tempo quero ter certeza de que mereço muito a minha antiga vida de volta, tanto quanto tenho certeza de que quem eu gosto merece. também precisa da vida dela, e eu nunca falei com ela sobre isso, mas às vezes eu sinto que ela ainda está aqui por mim, pra tentar me ajudar com algo, mas eu não quero quero perca o tempo dela comigo, com isso...
E saiu, e provavelmente saiu mais do que eu imaginava. Voight parecia chocado.
- Eu imagino o quanto isso tudo pese em você, mas você se ouviu? Eu tenho certeza de que você sabe disso, mas só porque a vida saiu do percurso planejado, não significa que não esteja valendo! Sua vida não está funcionando só quando você tá na faculdade, num emprego ou perto da sua família. Você está vivendo aqui também e conhecendo outro lado da vida. E sobre ... Cara... Se você ficar procurando razões pra não ficar com alguém, é só o que você vai encontrar, mas confie em mim, vocês terem um ao outro já significa muito. - o jeito que Voight falava sobre o amor em geral poderia facilmente me espantar, mas de alguma maneira, eu sempre soube que por traz de toda a dureza de um chefe de gangue tinha um homem que ama poder amar e ser amado. Sempre esteve óbvio e eu tive que rir um pouco porque... Porra, falamos sobre isso!
- O que é isso? Você está oficialmente dando a bênção pra o nosso relacionamento? - usei meu tom mais bem humorado, mesclando numa falsa dúvida, porque eu já sabia da resposta.
- Eu sempre dei. - ele riu - Mas toma cuidado, ok? Você faz coisas boas por ela e aparentemente não consegue sentir isso. Vocês são bons um pro outro, !
E com isso ele continuou a andar, me dando um tapinha no ombro antes. Ainda fiquei parado, congelado, como se ainda faltasse algo pra pensar, ou sentir... Ou talvez era um alerta do que eu já sentia mas nem mesmo me permitia pensar, porque uma vez que a verdade é dita, nós temos que encará-la. Quase sempre, aquilo que você mais quer é aquilo que não se pode ter e isso acaba com a gente, mas acho que pior é não saber o que quer, e porra, eu sei muito bem o que quero.
's POV
O som estava tão alto e eu já tinha bebido mais que o ideal, então mal conseguia entender as coisas que eram sussurradas em meu ouvido por , ou qualquer outra pessoa. Eu passei a semana inteira com medo, mas não hesitei em aceitar o convite de e Grant quando nos convidaram pra vir numa boate nova.
- ! - praticamente gritou no meu ouvido.
- O que foi?
- Já está tarde demais. - ele virou o resto do líquido que estava em seu copo, já nem fazendo nenhum tipo de careta de tanto que tinha bebido.
Não tanto quanto eu, mas bebeu. Precisei cerrar os olhos pra encontrar , que já estava novamente na pista de dança com Grant e alguns amigos dele. Cohen tinha ido embora com uma garota há tempos e Scott tinha sumido, pelo menos do meu campo de visão. Ignorei e encarei o barman, que me olhou um pouco torto mas logo riu alto, me entregando mais uma dose de tequila. não me deixou beber, segurou em meu braço que estava na metade do caminho até minha boca.
- ! - resmunguei manhosa.
- O que tá acontecendo? Você não faz isso, você não bebe pra ficar bêbada! - ele pegou o copo da minha mão, o devolvendo cheio no balcão, onde apenas deu um sorriso torto pra o barman e me puxou com gentileza até um canto perto dos banheiros, onde o som não chegava tão alto.
Como é que dizem mesmo? Ah sim... A gente vê a linha e no mesmo instante queremos cruzá-la. Chega a ser ridículo, mas a excitação em trocar o conhecido pelo desconhecido é um tipo de ousadia que ninguém pode explicar. E como é que dizem também? Que você precisa se permitir ser venerável. Não deixar que a dureza do mundo afete sua capacidade sentir, de viver, de dar, de receber, e principalmente de amar. Bem, se eu puder encaixar isso do meu jeito, talvez essa permissão de vulnerabilidade me dê razão em dizer aquilo que eu me toquei de maneira clara ao longo da semana.
- É muito clichê se eu falar que te amo agora? Dizer que é isso o que está acontecendo? - em meio à uma leve tontura, gosto de álcool na minha boca, uma música aleatória no fundo de uma boate, eu falei, e uma linha foi cruzada. O único problema é que uma vez cruzada, é impossível voltar atrás.
estava incrédulo, e grande parte de mim pensou que nem mesmo respirar ele estava respirando. Seu olhar passou por todos os cantos do local antes de voltar pra mim, ainda num susto, como se aquilo não tivesse sido dito de verdade, como se fosse apenas uma voz em sua cabeça.
E doeu. Como doeu. Ele provavelmente não aceitaria esse amor porque... Vamos lá... É o !
- , você...
- Eu te amo, . Não vou esconder ou tentar enterrar esse sentimento, tá legal? E esse é um caso de amor estranho, porque você provavelmente não me ama também e... Não tem como fugir. Eu posso dormir e amanhã dizer que não lembro de nada, mas não estou tão bêbada assim e nós sabemos que quando o álcool entra, a verdade sai, ou seja, você vai ter que lidar com o fato de que eu te amo de um jeito ou de outro.
Eu disse com todas as letras! ainda estava paralisado, mas soltou uma gargalhada tão, mas tão gostosa, que por alguns segundos eu mesma me perdi e esqueci de tudo que tinha falado. O sorriso dele que parece ter congelado em seu rosto, porque ficou ali por segundos longos, mais do que eu era capaz de contar no momento.
- Como você soube? - ele levou as mãos até minha cintura com vontade, encostando nossos corpos com uma necessidade gigante, me fazendo franzir a testa totalmente confusa.
- Do que você tá falando? - questionei mil vezes mais confusa, sentindo as mãos de acariciando a região da minha cintura enquanto ele sorria feito um bobo.
- Eu soube hoje que te amava, . Esse caso de amor é totalmente estranho mesmo, afinal, olha pra nós dois, mas a parte do amor definitivamente não é estranha. Eu amo você, , e sim, é um clichê enorme essa declaração no meio dessa boate que já está cheirando a suor alheio, mas eu te amo e você vai ter que lidar com isso também!
Nunca em vinte anos eu dei um sorriso tão largo e falo sério. Os lábios de se encostaram nos meus em seguida da maneira mais doce, com urgência, com carinho e com muito amor. Talvez nunca na vida eu supere o fato das nossas bocas se encaixarem perfeitamente e talvez eu nunca supere o quão clichê e transbordando sentimentos me deixa, mas é a minha verdade sobre ele. E óbvio, o mais clichê não podia faltar: alguém atrapalhando.
Um dos amigos de Grant nos chamaram pra irmos embora, dizendo que já estavam prontos pra sair, e como tínhamos pegado carona, não podíamos deixar eles irem sem nós, e claro que nem queríamos, porque o tanto que estava apertando minha bunda enquanto o rapaz falava com a gente já deixava óbvio que todos os desejos e hormônios estavam a flor da pele.
Ironicamente o carro estava cheio porque um amigo deles chegou depois na boate mas iria embora conosco pra aproveitar a carona, e mais ironicamente ainda era o fato de que eu teria que ir no colo de pra caber todo mundo. E minha nossa senhora do tesão... A barraca estava armada. Muito armada.
estava mais bêbada que eu e fazia piadas e gracinhas que faziam o pessoal rir, mas eu nem mesmo estava prestando atenção, porque... bem... as mãos de pousaram de maneira quente em minhas coxas, fazendo um carinho simples mas cheio de intenções. Toda a conversa que estava rolando não me chamava atenção, eu estava concentrada em seu toque. Me remexi de leve em seu colo e virei o rosto pra trás, observado seus olhos se fecharem e se abrirem de maneira furiosa pela provocação. Me remexi mais uma vez, rebolando de leve em seu colo de maneira discreta, não deixando de olhá-lo, sorrindo pelo fato de mexer e puxar os próprios cabelos, se segurando pra não falar nada.
Eu fiz isso o caminho todo.
Assim que descemos do carro, me abraçou por trás, dando inúmeros beijos em meu rosto.
- Agora você me paga. - ele sussurrou em meu ouvido de maneira divertida, disposta e maliciosa.
Andávamos de forma desengonçada até passarmos o portão e ele me agarrar ali mesmo, me beijando de maneira tão profunda que eu nem sabia que era possível. Quente, desesperado, mas profundo, e em cada beijo, pegava um pedaço de mim, do meu coração, pra si. As mãos atrevidas dele apertaram minha bunda sem dó. Partimos o beijo e sorri feito besta, sentindo seu corpo grudado no meu.
- Te amo. - falei sorrindo, com todas as letras novamente, me certificando que o momento era real.
- Eu também te amo, , mas não pense que vai escapar disso. Me provocar daquele jeito num carro cheio de gente? - sua voz arrastada, atrevida e maliciosa foi soprada em meu ouvido e o efeito dessas meras palavras fez todo o meu corpo amolecer de tão quente que se encontrava, mas ao mesmo tempo eu sentia um nervoso gostoso, uma ansiedade que me invadia de modo certeiro, mas eu sabia que só podia esperar coisas boas, porque é bom.
Nos encaramos maliciosamente por longos segundos até ele envolveu o braço em minha cintura e começar a andar de maneira rápida até entrarmos em seu trailer de maneira desengonçada. me prensou na parede de modo levemente forte, porém cuidadoso. O jeito dominador dele me agradava até demais, mas nada se compara ao encanto em ver o cuidado que ele tem em todos os momentos. Ele puxou meus cabelos, me fazendo olhar bem pra ele e me beijou, mais uma vez, intensamente. O gosto do álcool ainda presente em nossas bocas se misturavam. Puxei seu lábio devagar, fazendo o mesmo escorregar entre meus dentes. apertou minha cintura com força, me encarando enquanto recuperávamos nosso fôlego. Ele grudou nossa testa por um segundo antes de me puxar, me fazendo dar alguns passos e, sem muita gentileza, tirar sua própria camiseta e a minha também.
Era apressado, desesperado, e cada ato era prazeroso. Em meio a mais um beijo, começamos a tirar nossos tênis. Levei minhas mãos até o botão de sua calça, o desabotoando e puxando o zíper pra baixo, onde se mexeu rapidamente pra se livrar da peça. Sorri olhando pra ele, que encarava meu corpo com desejo. Eu mesma abri meu shorts, me livrando da peça igualmente e me empurrou pra cama, onde deitei com um sorriso convidativo no rosto. Paciência não era o nosso forte, então ele tratou de se livrar logo do meu sutiã, e assim que ele deitou por cima de mim, tentei levar minha mão até seu membro que se encontrava completamente duro e vivo - muito vivo - mas ele não me permitiu. prendeu minhas duas mãos pra cima com uma de suas mãos, me dando um selinho demorado.
Assim que meus braços foram liberados, eu apertei os lençóis quando passou a descer beijos pelo meu corpo. Ele apertou meus dois seios com vontade e me deu um olhar de quem sabia o que estava fazendo, e estava mesmo. Ele não precisava fazer muito, qualquer toque me deixava a beira da loucura. Suas mãos arrastaram minha calcinha até a peça sair completamente do meu corpo com maestria, e pra provar, mais uma vez, que sabia o que estava fazendo e era o melhor, ele deu uma longa lambida por toda a extensão da minha intimidade. Arquear as costas foi inevitável. não me deu tempo pra raciocinar, me chupando com sugadas fortes sobre meu clitóris e mesmo super concentrado em me deixar maluca e arrancar inúmeros gemidos da minha garganta, ele levantou o rosto pra me encarar e sorrir, pressionando meu clitóris com o dedo, me fazendo gemer ainda mais conforme ele pressionava, mas de repente, ele parou.
- ... - resmunguei manhosa e ofegante, tentando o repreender, mas eu só queria aquilo de novo.
- Linda... Você é linda, . - os olhos cor de âmbar de queimavam enquanto observava cada parte do meu corpo, travando o olhar sobre o meu.
acariciou uma das minhas coxas, subindo a mesma, levando dois dedos à minha entrada de maneira rápida. Seus dedos me penetravam de maneira lenta, e mesmo resmungado para que ele aumentasse a velocidade, o jeito como ele sempre colocava o dedão em meu clitóris, o pressionando, enquanto os outros dois dedos abusados me arrancavam altos gemidos... sabia o que fazia. Eu me mexia em seus dedos de maneira desesperada, os sentindo completamente dentro de mim enquanto seu dedão continuava a me pressionar. segurou forte minha cintura, tirando os dedos de dentro de mim e levando até a própria boca, os lambendo com vontade e sorrindo safado. Tentei erguer o corpo um pouco pra cima, mas ele não permitiu, com uma mão, me deitou completamente e voltou com dois dedos até meu clitóris, brincando ali totalmente sem vergonha, sem perder o contato visual nem um segundo sequer. Murmurei incoerências desesperada de tesão, sabendo que estava pingando por ele. tinha tanto efeito sobre mim que nem mesmo imaginei que poderia ser possível ser tão entregue assim à uma pessoa. Talvez seja o amor? Não sei.
- Porra!
- Primeiro, eu vou te fazer gozar bem gostoso na minha mão, e só depois eu vou te foder, escutou bem? - perguntou rígido, com um sorriso pra lá de malicioso nos lábios assim que concordei no mesmo instante, sedenta pelo seu toque.
Seus dedos trabalhavam com agilidade, enquanto eu mesma massageava meus próprios seios, mergulhada em puro prazer. segurava forte em meu quadril com uma mão, enquanto a outra me levava do céu ao inferno. Minha intimidade estava completamente molhada, de modo que seus dedos deslizavam com facilidade, e foi aí que ele pressionou o polegar em meu clitóris com força, me fazendo, mais uma vez, arquear minhas costas e soltar um gemido alto até demais.
- Porra , por favor, acaba logo com isso, eu vou enlouquecer! - pedi desesperada em meio a gemidos que eu já nem tinha mais controle.
- Você sempre com pressa, ... - retrucou impaciente.
Ele pressionou meu clitóris com vontade, me fazendo ver estrelas, e de modo totalmente cruel, parou todos os movimentos. Eu estava me recuperando dos espasmos do meu corpo, mas me ergui com calma, apoiando em meus cotovelos, olhando confusa pra , que se levantou e continuou sério, tirando a última peça que faltava: sua boxer. Me levantei, espalmando as mãos em seu peitoral, olhando pra cada parte do seu corpo, respirando fundo e sentindo o cheiro natural de sua pele. Ele me agarrou pela cintura com força, virando meu corpo e me abraçando por trás, me obrigando a sentir todo o seu volume já fora da boxer.
- Eu...
- Shhh. - bateu o membro endurecido em minha entrada, esfregando em minha intimidade de maneira cafajeste. Eu estava tão molhada e mesmo de costas, eu podia visualizar muito bem o sorriso satisfeito de ao colocar o seu pênis bem na entrada da minha vagina. Ele puxou minha cintura ainda mais pra trás, quase entrando de uma vez em mim, mas deixou o membro ir pra frente, o encostando no meu clitóris e batendo sua glande ali.
- , por Deus! - implorei desesperada, me forçando contra seu corpo na esperança de que ele metesse de uma vez, mas não.
Ele virou meu corpo novamente, já com as mãos em minha cintura, me forçando a andar pra trás até batermos na única e pequena mesa que tinha ali, me fazendo sentar na mesma. Ele abriu minhas pernas com pressa, voltando a bater seu membro em meu clitóris, logo levando três dedos de uma vez pra dentro de mim. Eu me apoiava em seus ombros e com a cabeça jogada pra trás.
- Vamos, goza pra mim, . Goza pra eu poder meter em você, bem do jeitinho que você gosta. - sussurrou enquanto com uma mão me penetrava e com a outra batia a cabeça do seu pau em meu clitóris.
Não precisou de muito pra eu me derramar nele. Estávamos pegando fogo, mas eu me sentia completamente desnorteada e totalmente extasiada pelo orgasmo, puxando pelos ombros para que pudesse me apoiar totalmente nele, ainda sentindo os espasmos em meu corpo. Ele levantou a mão coberta pelo meu gozo, segurando meu rosto com uma mão e levando dois dedos até minha boca, me fazendo provar do meu próprio gosto e sorrindo ainda mais satisfeito. Meu corpo foi abraçado em seguida e com certa força, me puxou pra fora da mesa, dando pequenos passos e me soltando, e não resisti em beijá-lo de maneira quase que desesperada, partindo o beijo ainda cheia de calor, de fogo, de tesão.
- Eu quero o seu pau. Agora. - sussurrei em seu ouvido num ato covarde, num tom claro e decidido. Desci as mãos pelo seu peitoral, decidida a pegar em seu pênis, mas segurou minha mão antes que eu chegasse lá.
- Agora senta. - demandou sério e autoritário, ainda segurando uma das minhas mãos. Ele intercalava o olhar entre o meu corpo, meus olhos e a cama atrás de mim, e nem cinco segundos tinham se passado quando ele arqueou as sobrancelhas, como se eu estivesse demorando demais em obedecê-lo, e foi aí que meu sorriso sapeca surgiu, mas não sorriu de volta.
Antes mesmo de poder brincar ou dizer que não pra ver até onde seus limites iam, me empurrou de maneira certeira, me fazendo sentar. Por Deus! Como ele consegue ser tão... sexy? Eu sentada, ele em pé, e seu pau duro literalmente quase que na minha cara. Estava óbvio o que eu tinha que fazer, mas olhei pra cima e o vi com um sorriso quase satisfeito nos lábios. Não pensei duas vezes até segurar o membro duro que estava na minha frente com uma mão e levar meu corpo um pouco mais pra beirada da cama, abocanhando o mesmo sem vergonha nenhuma. Os movimentos que minha boca e minha mão faziam ao mesmo tempo arrancou um gemido alto, grosso e cheio de tesão de , e sorri mentalmente, mas em seguida dei um selinho atrevido em sua sua glande, olhando pra cima e encarando os olhos cheios de vontade, tesão e luxúria dele. Percorri com minha boca por todo o seu pênis, distribuindo lambidas gulosas e cheguei em seus testículos, acariciando um enquanto chupava o outro. Minha nossa senhora... O quase descontrole de o fez segurar forte em minha nuca, me forçando ali nele por longos segundos, mandando minha respiração pra casa do caralho. Assim que sua mão afrouxou, continuei a chupá-lo de maneira frenética, disposta a sentir seu gozo na minha boca, e pude até observar a cabeça do meu homem jogada pra trás em prazer, mas ele me agarrou novamente, me forçou em si por longos segundos e me afastou com um leve puxão de cabelo da maneira mais sexy e filha da puta possível. Demorei alguns segundos pra recuperar minha respiração, mas foi se abaixando aos poucos, me fazendo deitar, ficando por cima de mim. Seus dedos foram de reencontro com minha intimidade, entrando em mim de uma vez.
- Eu amo saber o que faço com você, com o seu corpo... A gente combina tanto, , você não faz ideia... - ele sussurrou rouco e sem vergonha no meu ouvido, molhando os dedos na minha umidade.
Ele deu uma última pressionada em meu clitóris antes de abandonar o local, mas eu já estava além de arrepiada, além de excitada, além de ansiosa. Dei um selinho em seus lábios, pegando em seu pênis com uma mão, o encaminhando pra minha entrada, em tamanho desespero por querer que ele metesse em mim logo.
- ... Por favor. - choraminguei, olhando em seu olhar de modo firme e acho que comecei a tremer de ansiedade por ele, já que ele tratou de começar a se mexer.
- Agora eu vou foder essa tua bucetinha, . Bem fundo, bem gostoso.
Senti a cabecinha de seu pau se encostar em mim, passeando e se lambuzando com a minha umidade, me atiçando mais do que eu podia aguentar. Me empurrei pra o corpo dele, fazendo de tudo pra sentir todo aquele volume em mim, mas assim que entrou, foi de uma vez só. Meus gemidos foram quase gritos, sentindo todo o seu pau me preenchendo. As estocadas firmes e fortes começaram, e a cada uma delas me fazia revirar os olhos de prazer. O sexo com sempre era algo de outro mundo, ia além de simplesmente mandar bem ou saber o que fazer. Nossos gemidos misturados com o nosso prazer já me deixava arfante, quase perto de gozar. Em um ato rápido e sacana, empurrei pro lado, sentindo seu membro saindo de mim e por um segundo me frustrei, mas em seguida me ajustei ali, ficando por cima dele, me apoiando em seu peitoral, sentindo suas mãos fortes em meus quadris rapidamente.
- Eu sei que você gosta desse jeitinho, babe. - frisei bem a última palavra.
O meu jeito desesperado de rebolar nele estava quase nos levando ao limite. adorava quando eu ficava por cima, e eu adorava toda a sensação de tê-lo tão dentro de mim. Um tapa forte e ardido foi dado na minha nádega direita, me fazendo dar um grito mais escandaloso.
- Vai acabar acordando todo mundo, gatinha. - sorriu maroto, e óbvio que ele não ligava. Propositalmente, ele segurou firme em minha cintura e acelerou os movimentos, me fazendo gemer tanto, que assim que ele parou, só um grunhido excitado, cansado e desesperado saiu da minha boca por último.
- ...
- Nunca mais alguém vai te marcar desse jeito, você sabe, não sabe? - ele perguntou com uma dificuldade enorme, segurando em minha cintura novamente e acelerando pra caramba os movimentos em mim que... Por Deus!
- Eu... Sei. - confirmei o que foi perguntado de maneira ofegante, que mais parecia um gemido, gemendo alto com todas as estocadas fortes e fundas, sentindo seu pau atingindo o ponto mais prazeroso - ... Mais rápido, caralho, mais rápido!
agarrou minha cintura ainda mais e passou a meter mais rápido, causando fricção e aquele som maravilhoso de corpos se chocando. O tanto que eu arfava e gemia era música pra os ouvidos dele. Eu estava quase gritando aos sete ventos, sentindo a ponta do meu estômago começar a formigar, praticamente me derretendo, indo ao paraíso e finalmente explodindo num orgasmo delicioso. Os meus espasmos e a moleza quase me fez deitar no peitoral de , mas faltava pouco pra o seu orgasmo. Continuei ali, apoiada em seu peitoral enquanto as estocadas fundas, fortes e certeiras o fizeram apertar minha cintura de modo atento, seu gozo quente escorrendo dentro de mim anunciava seu ápice.
Sem forças pra muito, apenas me joguei pro lado, me enterrando em seu pescoço enquanto recuperava a respiração, sentindo o seu cheiro suado, o cheiro de nós. Ficamos largados, nos recuperando do furacão de sentimentos e prazeres que tínhamos acabado de sentir.
Definitivamente eu não teria como fugir ou como não amar .
Capítulo 24
's POV
Fomos no cinema com mais frequência, saímos pra comer em lugares diferentes, saímos sem rumo na moto de , fomos até o abrigo brincar com os cachorrinhos, ele me acompanhou em algumas visitas que fiz pra minha mãe, transamos muito e o sentimento de amá-lo pareceu crescer ainda mais nesse último mês. Digo, cresceu mesmo, tenho certeza absoluta!
Nesse último mês eu aprendi algo novo com todo esse amor, e uma das coisas que eu sempre soube mas só agora sinto de verdade que foi algo que teve impacto na minha vida, é que uma hora você tem que tomar uma decisão. Eu sei, é um clichê bizarro, mas agora todos os clichês fazem sentido. A vida é confusa mesmo, é assim que fomos feitos e não tem como pular isso, mas existem linhas que temos medo de cruzar, mas que precisamos. É difícil se arriscar, sempre vai ser, e talvez nem sempre valha a pena, mas sempre vamos tirar uma lição do risco, mesmo que seja algo mínimo. se jogou nesse mar de sentimentos junto comigo, se afogando junto. Com ele eu percebo que, não importa de verdade a idade que temos, os problemas sempre estarão presentes, mas que sempre ficará menos difícil se tivermos alguém ao nosso lado.
Me espreguicei, corrigindo minha postura ainda sentada, colocando o notebook um pouco mais pra trás em cima das minhas coxas. Ouvi a porta se abrindo e meu sorriso surgiu instantaneamente assim que vi entrando com o copo enorme de suco de melancia em mãos.
- Aqui está. - ele andou em minha direção já erguendo o copo pra mim, se sentando ao meu lado e fechei o notebook lentamente, mas não por querer esconder o que estava pesquisando.
- Obrigada. - dei um selinho em seus lábios, tirando a tampa do copo e bebericando o melhor suco do mundo, mas permaneceu com um olhar intrigante.
- Está escondendo algo de mim, mocinha? - ele cerrou os olhos divertido, encarando o notebook por alguns segundos.
- O que? - eu ri fraco, balançando a cabeça negativamente e sentindo de leve a sensação de ser pega no pulo, porque ok, eu não estava afim de que visse porque não estava afim de ter tal conversa, simplesmente porque eu estava miseravelmente perdida no assunto, mas continuou ali, com um olhar tranquilo mas também curioso, quebrando minhas paredes segundo após segundo, e bufei derrotada - Não era nada, eu só estava pesquisando algumas coisas sobre o curso de tecnologia e... Eu jurei que não ficaria aqui por muito tempo, sabe? Eu vim pra cá porque todo o meu dinheiro tinha acabado, fui demitida do trabalho e vir pra cá foi o que me restou, e aí teve as confusões e eu esqueci totalmente de que eu ainda tenho uma vida, entende?
- Eu entendo, , mas até onde eu me lembro, você ainda estava na neura e na teimosia de fazer letras por motivos que na verdade nem são motivos, e agora você me diz que estava procurando sobre o curso que realmente gosta? É isso mesmo? - o sorriso de vitória estava em seus lábios de maneira carinhosa.
- Eu só estava dando uma olhadinha, .
- , é o que você gosta, não é um erro dar uma olhadinha ou querer seguir isso, sabia? Eu entendo que esse seu problema com culpa e tudo mais é uma coisa horrível e que te deixa presa em certas coisas, mas eu te juro, a última coisa que você vai querer é seguir uma profissão que nem mesmo quer de verdade.
Esse amor me abriu a mente no último mês. Esse amor me ensinou muito. Nesses vinte anos, tudo o que eu já ouvi de bom e de ruim sobre o amor eu ainda estou aprendendo, mas uma coisa agora eu entendo um pouco melhor: o romance não é absolutamente tudo, mas todo o amor envolvido te ensina coisas que talvez fossem mais difíceis de aprender sem ele.
- Eu ando pensando sobre voltar pra psicóloga. Essas últimas semanas foram incríveis e eu sou feliz em cada segundo que passamos juntos, mas eu te ouço falando sobre tantas coisas inteligentes e de maneira tão livre... Eu fico admirada de verdade, , e no meio disso eu enxerguei que talvez eu precise me ajudar um pouco mais, pelo menos tentar, entende? Eu sinto coisas horríveis e pesos de acontecimentos que não cabe à mim ajustar ou melhorar, e eu sei que não é normal e nem saudável, e mesmo sabendo que você não curte muito a ideia da psicologia, eu quero que você saiba que amar você me dá vontade de melhorar, e acho que esse é o melhor caminho pra isso. - senti meu coração espernear de nervoso em cada palavra que foi dita, e o jeito que disparei tudo de uma vez me fez dar um longo suspiro ao terminar, em seguida engolindo um gole enorme do suco. O olhar de era um misto de coisas que eu estava tendo dificuldade de decifrar pelo meu próprio nervoso.
- , seja qual seja a coisa que for te ajudar e te fazer bem, eu vou te apoiar! - os olhos dele também sorriam junto com o sorriso nos lábios com pureza e compaixão.
Afinal... é mesmo real?
——
Uma quinta-feira nunca pareceu tão confortável. Tínhamos jantado com Cohen e Scott, e como sempre não faltou história boa e engraçada. Os dois estavam felizes por mim e por , zoaram bastante dizendo que o amigo tinha demorado demais pra seguir os conselhos que tinham dado, mas que tudo bem, porque antes tarde do que nunca.
estava sentado na cama no FaceTime com sua mãe enquanto eu terminava de colocar meu tênis. O papo entre eles era leve e divertido, até meus olhos se arregalarem com os diálogos seguintes.
- Ela está aí com você?
- Quem?
- Sua namorada, a ! Inclusive, você precisa me apresentá-la, filho! - a voz divertida e as risadas de fundo provavelmente de suas irmãs me arregalaram os olhos ainda mais.
me encarou segurando o riso, com o celular em frente ao seu rosto. Eu congelei. Eu sabia que ele contava quase tudo pra mãe, inclusive sobre mim, mas confesso que sempre fugia quando os dois conversavam por chamada de vídeo por medo dela pedir pra me ver porque... Francamente, quem não ficaria nervosa e com um certo medo? Eu tinha medo de não atender todas as expectativas que Trisha tinha em alguém pra o filho e essa parte me apavorava.
- Só um minuto. - apertou algo na tela do celular e colocou o mesmo no peito, se arrastando pra o final da cama, ficando mais próximo da cadeira em que eu estava sentada - Amor, chegou a hora. - ele continuava segurando a risada e eu queria rir só por isso, porque ele sabia muito bem o que eu achava sobre conhecer sua mãe, irmãs e família em geral - Minha mãe quer te conhecer. - ele explodiu em gargalhadas como se aquilo fosse a coisa mais hilária do mundo e ameacei jogar o meu outro tênis nele, mas eu já estava rindo também.
- , pelo amor de Deus! - dei um tapa de leve em seu ombro.
- , ela vai te amar, e é só uma chamada de vídeo! - ele tentou me acalmar em meio às risadas, me obrigando a dar outro tapa em seu ombro, mas ele agarrou meu braço de maneira gentil, me puxando para que eu levantasse e sentasse ao seu lado.
- Tudo bem. - concordei apertando os olhos.
Assim que tirou a chamada do mudo e segurou o celular de maneira que mostrava nós dois, Trisha abriu um sorriso largo e simpático, me cumprimentando com um "oi" entusiasmado. Pude observar que ela estava apoiada no balcão da cozinha, onde as três irmãs de deram um jeitinho de se enfiar ao lado da mãe e disseram um "Oi, " em coro. Pra ser honesta, eu me senti extremamente querida e o nervoso na boca do meu estômago se tornou uma sensação não tão ruim conforme Trisha puxava assunto e fazia algumas piadas. Não foi um interrogatório, foi uma conversa natural que durou longos minutos.
- Eu tô feliz que o esteja namorando novamente, juro que achei que mais ninguém conseguiria o aguentar. - Waliyha dividiu a tela do celular com a mãe, rindo da própria gracinha e fingiu uma risada sem humor, mas estava claro que ele também tinha achado graça.
- Já você é um caso perdido, minha filha. Não tem quem aguente mesmo! - retrucou feito uma criança e todas as nossas risadas se misturaram.
- Ok crianças, agora vou desligar porque já está tarde. Adorei te conhecer, , e espero que a gente possa se conhecer pessoalmente em breve também! - Trisha comentou com carinho.
A ligação foi finalizada e eu estava encantada com todas. Encarei , que parecia buscar algo perdido na cama, até que meu cérebro me alertou e lembrou de algo.
- ... - o chamei já com a testa franzida, ouvindo um murmuro dele que me dava permissão pra continuar - A palavra namorada foi usada mais de uma vez em toda conversa, e óbvio que eu não corrigiria sua mãe ou suas irmãs, mas por acaso você disse que estamos namorando? Digo, namorando mesmo? - me senti um pouco sem jeito em questionar tal coisa, mas eu realmente precisava saber porque porra, estávamos na mesma página ou não?
- Ué, e não estamos? - parou de procurar a tal coisa na cama e me encarou sério, chocando todos os músculos do meu corpo com a resposta.
- É... Não? - questionei o óbvio e foi a vez de franzir a testa em confusão, e antes que saísse mais alguma coisa de sua boca, acrescentei - Tipo, você nunca pediu, sabe?
- , já estamos juntos há alguns meses, a gente se ama e tudo está indo bem, isso pra mim já é um namoro. - ele respondeu sério mas com um leve tom de deboche, como se eu fosse lerda demais pra acompanhá-lo ou entender como as coisas realmente estavam funcionando entre nós - Agora vamos, já está na hora.
Saímos porta a fora sem dizer mais nada. Afinal, tem o que dizer depois disso?
Entramos no carro num silêncio bizarro. Eu não queria cair nas armadilhas da minha própria cabeça, mas como é que se evita isso? Eu já estava pensando longe. E se na verdade, mesmo me amando, não estivesse totalmente preparado pra uma relação de verdade?
Free Spirit estava tocando. Nosso gosto musical era muito parecido, ou seja, as playlists eram sempre agradáveis para os dois, mas Khalid sempre estava presente.
- Estou com fome. - meu aviso foi a única coisa que quebrou o silêncio depois da música. Eu estava me afundando em teorias e alguns donuts cairiam bem pra me ajudar no processo em pirar de vez.
continuava a dirigir tranquilamente, dando entrada na rua onde se localizava nossa lanchonete favorita, a que tinha os melhores donuts, lanches e besteiras pra enfrentar a madrugada. O carro foi estacionado. Eu estava pronta pra abrir a porta, mas meu braço foi tocado. A mão de foi escorregando até encostar na minha, a entrelaçando de leve. Virei meu corpo pro lado feito uma boba, ficando de frente pra ele e tentando decifrar seu olhar.
- O que foi, ?
- Oi? - me fiz de desentendida, sabendo muito bem que se referia ao meu silêncio, mas o que passou a me irritar foi que, por Deus, ele não havia percebido ainda! Ele continuou me encarando, procurando a resposta em meu olhar e rolei os olhos, decidindo que seria melhor engolir o assunto pra não falar bobeira - Não é nada, só estou com fome.
- , eu te conheço muito bem! - ele soltou minha mão, me olhando de maneira analítica, ainda caçando a resposta, e mesmo me dando espaço e tempo pra responder, não o fiz - Ok, eu tenho uma surpresa pra você que com certeza vai te fazer abrir o bico. - ele riu fraco, mexendo num bolso interno da jaqueta azul que usava.
Ele me entregou dois ingressos.
Dois ingressos pra o show do Khalid.
- ... - meus olhos estavam arregalados em surpresa e alegria - Calma, como assim? Puta que pariu! - eu revirei os ingressos, observando cada detalhe pra me certificar de que era real mesmo - Eu não acredito que você fez isso! - comecei a rir feito boba, pronta pra abraçá-lo.
- Mas calma! - ele chamou minha atenção sério mas logo soltou uma risada fraca - Tem uma condição, . - ele voltou a ficar sério, até ajeitando a postura, me olhando nos olhos - Eu só te levo mesmo pra esse show se você aceitar namorar comigo.
E foi assim que meu mundo... Eu não sei. Girou, capotou, se iluminou, se despencou e se levantou tudo no mesmo segundo.
- Que? - franzi a testa confusa, incerta se tinha ouvido bem - Você... Calma... Eu ouvi direito?
- Eu estou há dias pensando em como te pedir isso e hoje apareceu a oportunidade perfeita. Você achou mesmo que eu não pediria, ? Sério mesmo? - ele começou a rir e eu abri a boca em uma falsa indignação me lembrando da nossa conversa que me causou paranóias, mas que ele apenas tinha feito pra, mais uma vez, zoar com a minha cara.
- ! - o repreendi rindo, sentindo meus olhos marejarem de pura emoção, numa montanha russa de sentimentos incríveis.
- E claro que eu precisava de uma garantia! Eu sei que você vai aceitar porque você adora o Khalid e comentou algumas vezes sobre querer ir num show dele, e pra ser sincero, eu também aceitaria meu pedido se isso me levasse pra esse show. - me fez explodir em gargalhadas - Mas de verdade, sem brincadeiras, você aceita namorar comigo, ?
's POV
Você nunca acha que vai se recuperar de um término. Seguir minha vida sem Sienna foi reaprender a ver tudo com outros olhos, mas também me fez enxergar da maneira mais dura de que eu precisava desse tempo sozinho. Depois de tanto tempo eu percebi que eu ainda tinha escolha, e claro, a gente nunca acha que merece o melhor, mas caralho, como e de que maneira seria possível não sentir nada por ? Não ser engolido por esse amor?
continuou dormindo e eu saí do trailer, andando direto até a mesa onde Scott e Cohen estavam sentados almoçando.
- Já me dei mal muitas vezes por achar que o que está na minha frente é a verdade. - Scott falou em alerta, olhando sério pra Cohen.
- Do que vocês estão falando? - me sentei.
- Dos acontecimentos nas gangues, as coisas que acontecem, os limites... - Cohen respondeu.
- Você também acha que quando o governo falha conosco, é nosso dever proteger aqueles que não podem? De ajudar? - a pergunta de Scott veio com tudo, mas já não era a primeira vez que conversávamos sobre o assunto.
- Sim. O problema é que pra fazer isso às vezes algumas leis são quebradas e coisas ruins ficam em volta, mas faz parte, nada é só bom. O problema é que, vocês sabem, os grandões continuam não ligando pra merda nenhuma, inclusive, eles quebram as leis também, talvez mais do que as gangues.
- É aquilo, eles tentam tanto convencer a população e a si mesmos de que não tem nada de errado, mas o errado não deixa de ser errado porque a maioria concorda e finge que não vê. - Cohen deu os ombros, com a expressão levemente estressada.
- Pelo menos as coisas aqui andam calmas até. - comentei.
- Pra você tá tudo uma maravilha, né filhão? Tá namorando... - Scott não deixou a oportunidade passar.
Desde o dia em que contei que pedi em namoro e que ela aceitou, os dois, mas principalmente Scott, não me deixava em paz com as brincadeiras. Óbvio que eles tinham ficado felizes, tão felizes a ponto de infernizar.
- Vai se fuder, vai! - resmunguei num falso mal humor, rindo em seguida.
- Mas falando sério de verdade, eu tenho que perguntar... - Scott foi parando de rir aos poucos até ficar sério de vez, me encarando por um segundo e dando um gole no refrigerante que estava em sua frente - Que porra você vai fazer com essa tatuagem no seu peito com os olhos da sua ex?
's POV
- No fim, todas as baboseiras escritas em redes sociais ou qualquer outro lugar sobre as coisas melhorarem, é tudo verdade, não é? - minha mãe sorria tanto que o rosto poderia se rasgar.
- É... Sim. Eu acho que sim.
- Eu estou tão feliz por vocês! - a notícia do namoro tinha a deixado totalmente contente e emocionada, e eu podia jurar estar vendo algumas lágrimas em seus olhos.
- Você não vai chorar, né? - minha testa se franziu e meu queixo se tremeu. Eu quem iria chorar. Minha mãe me olhou, tombando o rosto pro lado e encarou o teto na intenção de conter as lágrimas e fiz o mesmo - Mãe, eu só te contei que estou namorando!
- Eu sei, mas eu estou perdendo uma parte da sua vida e... Você já tem vinte anos, , mas eu sempre vou estar do seu lado, entende? Eu sempre quero estar. Eu sempre quero te acompanhar. Eu estou feliz por você ter encontrado alguém bom pra você, e embora o amor seja uma confusão, é a melhor coisa da vida! - a voz trêmula e as lágrimas teimosas dela caíram, e não teve jeito, as minhas lágrimas caíram junto.
- Para com isso! - eu ri de nervoso, limpando as lágrimas rapidamente.
- É que a gente cresce, casa, forma uma família... Não foi o meu caso, mas geralmente é assim. Mas os problemas nem sempre mudam, sabia? E no fundo não importa o quanto a gente cresça e envelheça, ainda estamos sempre tropeçando como se fôssemos jovens enfrentando os problemas pela primeira vez.
- Do que você está falando? - gargalhei de verdade, sentindo algumas lágrimas ainda descendo. O mix de emoções que nós duas estávamos sentindo ninguém seria capaz de explicar, e mesmo a conversa tomando um rumo totalmente diferente, eu estava atenta.
- Estou falando da vida, minha filha. Ela é confusa e dura, mas ter alguém ao seu lado deixa as coisas um pouco menos feias e cruéis.
- Disso eu já sei, você sempre falou isso!
- E estou repetindo! Você é completa, , você tem tudo o que precisa em si mesma, mas ter alguém que acrescenta valores na sua vida e te faz feliz também é uma coisa boa e tanto!
E nesse momento eu notei o quanto minha mãe amava Voight. Não era apenas um conselho ou um lembrete sobre a vida e o amor, era também um desabafo.
Eu choraria por horas em sua frente sem vergonha nenhuma e ouviria todos os conselhos, até o horário de visitas acabar, me fazendo chorar mais ainda.
——
McBroom é uma pessoa fácil de lidar até deixar de ser. Na maior parte do tempo, ela é. O jeitinho extrovertido sempre foi o seu forte, e óbvio, isso todo mundo já sabe. O negócio é que quando ela entra num assunto, ele não acaba até ela conseguir ao menos uma resposta, mas o problema dela com Grant eu não sabia muito em como ajudar.
- E sem querer ser uma cuzona, mas até o te pediu em namoro e Grant não! E sabe, a gente se gosta de verdade, mas eu fico me perguntando várias coisas e repassando tudo o que rolou entre nós na minha cabeça. Talvez seja o fato de que estávamos solitários e essa não é uma boa base pra começar algo. Quer dizer, eu não quis admitir na época que estava me sentindo sozinha, mas estava, e aí encontrei ele e... Não sei. Será que o que acontece é aquele bla bla bla de que somos almas solitárias tapando um vazio e bla bla bla?
- Talvez ele não seja o homem certo pra você. - fui cuidadosa ao extremo no meu palpite, sabendo que ela iria analisar a situação por inteiro e demoraria horas se necessário.
- E se eu vou a mulher certa pra ele?
- Eu não sei, , e talvez nem ele saiba.
- Eu gosto dele, , mas é sempre a mesma coisa, sabe? Eu entendo que a vida dele é toda fodida, e mesmo querendo ajudar, ele sempre termina numa recaída. Ele estava indo direitinho nas reuniões e eu estava tentando ajudar com o lance das drogas, mas eu não sou uma profissional e muito menos uma babá, mas aí sobra pra mim. O tanto que ele fica nervoso e acaba xingando tudo e todos... Isso me magoa tanto!
- E quantas vezes vai deixar ele te magoar?
- Até eu aprender, talvez? - ela arriscou um bom humor que não acompanhei. Precisava ser séria porque de fato era um assunto sério.
- Aprender o que, ? Não tem o que aprender! Grant é um viciado, ele tem um problema, uma dependência, e mesmo você gostando muito dele, isso não é o suficiente. Como você mesma disse, você não é uma profissional e nem deve tentar ser! Você não tem que ser a salvadora de ninguém e talvez infelizmente Grant precise te perder pra acordar pra vida e pensar em melhorar, mas não por você, por ele mesmo!
- É... Você tem razão.
se afundou no próprio pensamento por alguns minutos até Holt e Voight chegarem. Não demorou muito até Megan chegar, dando início a mais uma reunião.
- Nada? - Voight questionou bravo, com a testa franzida - Você não conseguiu nada?
- Desculpa, é que...
- Megan, já tem mais de um mês! Você deveria ter conseguido pelo menos o mínimo do mínimo! - Voight interrompeu Megan com o nervosismo explícito em uma grosseria sem tamanho.
- Voight! - o repreendeu com os braços cruzados e cara feia, sem medo nenhum.
- Eu não tenho culpa de que ele não fala coisas importantes perto de mim ou que me manda sair do cômodo quando recebe alguma ligação! - Megan tratou de se defender, e em meio ao nervosismo também tinha uma raiva que me parecia totalmente compreensível. Megan já era esculachada por Paul e pela a vida infeliz que estava levando, então ter a atenção chamada por alguém de fora parecia atrevimento demais pra ela aguentar.
- Calma! - Holt tentou acalmar a situação.
- Porra, eu tenho você, eu tenho Zane e até agora nada! Nenhuma informação! Eu sei que não é sua culpa, mas caralho... - Voight passou a mão pelo rosto totalmente incomodado e nervoso, andando de um lado pro outro - Eu preciso acabar logo com isso!
Eu podia jurar que vi, mesmo que de leve, Megan totalmente incomodada e ao mesmo atenta assim que o nome de Zane apareceu na conversa.
- Eu sei que vocês estão esperando uma coisa grande, mas não tem nada que sirva pra vocês. Literalmente a única coisa que eu ouvi de diferente foi um nome de um homem, Leon. - foi a vez de Voight e Holt ficarem desconcertados após ouvir um nome - Mas eu vou descobrir algo, nem que pra isso eu precise colocar uma escuta naquela casa pra poder conseguir ouvir algo, mas eu vou conseguir, prometo!
O desespero, o desconforto e o silêncio incômodo parecia ser demais pra qualquer um de nós aguentarmos. Voight e Holt se despediram primeiro, saindo do estúdio de uma vez, dizendo, como sempre, para não demorarmos muito tempo juntas ali dentro. Em seguida, sem muito o que falar pelo clima horroroso que nos restou, se despediu de Megan com um abraço e eu fiz o mesmo. Era um abraço apertado, urgente e preciso.
——
- Você não está sentindo essa sensação estranha também? Tem certeza? - perguntei pela milésima vez. rolou os olhos um tanto quanto impaciente, se levantando da cama.
- Não, e eu sinceramente acho que isso deve ser coisa da sua cabeça. Na verdade, tenho certeza. - ele segurou em meu rosto, me analisando.
- E como você tem certeza?
- Porque eu estou completamente tomado por toda essa felicidade que você me proporciona, . Há muito tempo eu não me sentia feliz desse jeito de maneira tão genuína, e sendo completamente honesto, desde quando vim pra cá eu aprendi a só esperar coisas ruins, então toda essa onda de felicidade me tirou um pouco dos trilhos, e eu sei que você está sentindo o mesmo, não é? - colocou uma mecha de cabelo minha pra trás da orelha e sorriu em vitória, sabendo que eu concordaria.
É claro, eu só precisava me desligar dessa coisa que me faz esperar só coisa ruim. estava certo. Tanta felicidade não era algo comum pra nós, ainda mais em meio à tanto caos.
- Ok, agora... - dei um selinho em seus lábios - Eu estou indo. está em crise com Grant e acho que pelo menos um cineminha vai ajudá-la a esquecer disso, pelo menos um pouco.
- O que tá rolando?
- É que é difícil pra . Ela quer ajudá-lo mas nem tudo depende dela, sabe? - peguei a jaqueta jeans que estava em cima da mesa, voltando e dando outro selinho em meu namorado.
- Você não quer que eu te leve? - perguntou gentil.
- Não precisa. Vamos nos encontrar no caminho, mas obrigada, babe.
Confesso que depois de todas as loucuras, ando mais atenta ao andar na rua. O medo de ser seguida ou de mais uma mulher totalmente vulnerável e desesperada me parar sempre me rondava. Mandei mensagem pra , a procurando com o olhar mesmo de longe, mas não a localizei no parque. Iríamos pegar um ônibus até o shopping. Assim que a mensagem foi respondida, pude notar ela sentada em um banco um pouco longe da central da praça e tomando uma latinha de energético. Assim que fui chegando mais perto, a carinha de exausta da minha amiga denunciava possíveis noites mal dormidas e eu estava pronta pra me dedicar ao máximo para distraí-la.
- Oi, meu amor! - abracei ela de um jeito desengonçado, me sentando ao seu lado - Como você está?
- Eu...
Meu celular começou a tocar e eu fiz cara feia. Peguei o aparelho e olhei o número desconhecido na tela e pensei em ignorar, mas nunca se sabe.
- Alô?
- ? Oi! É a Megan. Eu preciso te encontrar, preciso contar tudo... Eu descobri algo sobre Yaser! Eu descobri sobre um monte de coisa na verdade e... Meu Deus, , eu consegui! - a voz energizada, cheia de empolgação e nervosismo de Megan quase me fez engasgar com a minha própria saliva - Mas precisa ser hoje! Paul vai sair daqui a pouco pra uma das viagens dele e vou poder sair! Encontro vocês no estúdio em no máximo quarenta minutos, ok? - e desligou.
- ? Quem era? - perguntou cuidadosa.
- Megan! Ela disse que descobriu um monte de coisa, disse pra irmos pra o estúdio e que ela chega lá em no máximo quarenta minutos. - dei um longo suspiro - , ela disse que descobriu algo do Yaser! - a euforia que me dominou no primeiro instante não tinha nem explicação, até que veio um banho de água fria ao lembrar que, óbvio, Megan não traria boas notícias sobre Yaser. Eu deveria pensar o contrário, mas eu só conseguia, mais uma vez, esperar pelo pior.
Por um segundo me senti eufórica por pelo menos isso ter dado certo. Pelo menos eu conseguiria algo sobre Yaser e sobre Paul, e por mais que tal revelação pudesse arrasar com , por outro lado, algumas outras informações sobre Paul poderiam levá-lo ao seu fim.
- ... - sussurrou, com um olhar angustiado, claramente no mesmo estado de preocupação que eu.
- Eu sei, eu sei. Já tem quase uma hora e meia e nada.
- E se tiver acontecido algo? Talvez seja melhor a gente ligar pro Holt e...
- NÃO! - meus olhos se arregalaram em desespero - Não! Se eles souberem e aparecerem aqui ou procurarem por ela, talvez Paul desconfie de algo ou talvez ela nem queira falar na frente deles ainda! Megan confia mais em nós duas e...
Meu celular tocou. Eu quase o deixei cair depois de tirá-lo do bolso de trás da minha calça, já esperando atender e Megan me dar uma boa explicação pra todo o atraso, mas era Voight. Ironicamente, era justo Voight.
- Alô?
- ! - aquela voz me tirou a respiração no mesmo segundo. A felicidade dele em falar meu nome quase me desmontou - Eu só estou ligando pra avisar que... Porra, você já deve saber, não é? - uma risada podre banhada a ironia e deboche foi dada e eu podia visualizar bem a imagem de Paul rindo.
Apertei os olhos. Não podia ser! Paul estava com Voight. Paul... Talvez Megan estivesse... morta.
- O que você quer? - senti meu corpo mole feito uma geleia, sentindo minhas forças sendo completamente sugadas - Onde você está? Cadê o Voight?
ficou em minha frente, perguntando baixo quem era e respondi mais baixo ainda. Os olhos dela se arregalaram e rapidamente ela puxou o celular da minha mão, o colocando no viva voz.
- Eu quero que você e venham pra casa. Tenho uma surpresa pra vocês. - todo o deboche e a alegria suja na voz de Paul se foi, deixando só um autoritarismo que eu jamais ousaria desobedecer de tamanho nervoso e medo.
Antes da ligação ser finalizada, deu pra ouvir um grito de Holt no fundo dizendo pra não irmos. estava no mesmo estado de choque que eu.
- Meu Deus! O Voight... O ! Está todo mundo lá e... Ele quer a gente, ! Será que ele matou a Megan? Será que ele descobriu tudo? - atropelando quase que todas as minhas próprias palavras, eu estava em puro desespero.
Eu sabia! tentou ser otimista e me convencer de que eu só estava desacostumada em esperar coisas boas, que eu estava acostumada com esse mecanismo de esperar coisas ruins, mas eu estava certa, eu sabia! A sensação estranha que me acompanhava desde cedo era sobre isso!
——
Andávamos rápido mas com cuidado. A rua estava cheia de carros desconhecidos. O portão estava escancarado e assim que entramos e nos viramos em direção ao escritório, a presença de todos aqueles homens desconhecidos quase fizeram as minhas pernas falharem. Havia mais de cinco homens ali fora, numa posição nada simpática. A janela estava aberta e eu pude ver Paul de costas, mas um dos homens bateu na porta e avisou algo, o fazendo virar o corpo e nos olhar de longe. O sorriso satisfeito que ele abriu foi uma das piores coisas que eu já tinha visto na vida.
entrelaçou o braço no meu e começou a andar, praticamente me puxando. Ela queria se mostrar destemida, claro, mas eu sentia todo o medo que ela estava sentindo também. Um dos homens abriu a porta, nos olhando feio, como se nos apressasse para entrarmos logo. Apertei os olhos antes de adentrar ali de vez, sentindo meu coração parar de verdade e a minha respiração ser tirada de mim. Paul estava de pé enquanto Voight, Holt, e estavam sentados. Cohen e Scott estavam de pé em um canto do escritório com dois homens do lado, provavelmente os impedindo de fazer qualquer coisa.
- ! - Voight disse meu nome com peso, com dor e com angústia, recebendo um soco na cara de Paul no mesmo segundo.
- NÃO! - tentei me aproximar para evitar que algo mais sério acontecesse mas me segurou firme, quase que num abraço desesperado, sem jeito e medroso. Um dos homens também se aproximou, temendo que algo acontecesse com a nossa movimentação, mas não chegou a encostar em nós.
me encarava desesperado. Todas as informações em seus olhos pareciam demais pra entrar na minha cabeça.
- O que você quer? - gritou estressada e com os olhos marejados. Ela procurou meu corpo como apoio novamente, se segurando em mim bem forte, como se a única coisa que pudesse nos sustentar, fosse uma a outra.
- Eu vim dar um presente pra vocês duas, oras! Não deveriam estar com essas carinhas, porque o que eu tenho pra falar é muito bom. - mais uma vez o seu tom irônico estava presente - Pelo menos pra mim é bom. - a risada de Paul tomou conta dos nossos ouvidos. Uma risada cínica e carregada de más intenções.
- CALA ESSA BOCA! - Holt se levantou com força e espumando de ódio. Ele tentou acertar Paul, mas os dois capangas que estavam com Cohen e Scott o seguraram e cada um lhe deu um soco.
gritou. Na verdade, berrou. Paul deu um chute no estômago de Holt, o fazendo sentar novamente, e soltou seu braço do meu corpo e se aproximou de Holt, mas Paul a empurrou forte, quase a fazendo cair pra trás, mas a segurei.
- VOCÊ É LOUCO? - foi a minha vez de gritar.
- Mas que caralho! - Paul tirou uma arma de trás da calça, segurando a mesma como se fosse um brinquedinho inofensivo e deu um longo passo pra trás, chocando o corpo totalmente no meu - Eu vou precisar usar isso pra vocês calarem a boca e me ouvir? Vou precisar fazer o mesmo que fiz com Zane?
Eu me senti completamente perdida. Mais do que já estive em toda a minha vida. Eu queria falar, queria gritar, queria perguntar, mas nada saía. Encarei mais uma vez e seu olhar desesperado foi o suficiente pra deixar subentendido de que eu deveria ficar quieta.
- O que? - a voz de saiu como um fiapo, quase inaudível.
- Eu tive que matá-lo, vocês me entendem? Foi a única escolha que eu tinha! Acharam mesmo que eu não descobriria que tinha um infiltrado no meio do meu pessoal? E pior, um infiltrado que ainda por cima teve a coragem e a burrice de se envolver justo com a minha mulher? - Paul riu de verdade, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo de verdade, guardando a arma novamente - De verdade, eu não sei quem foi mais inocente nessa história; Zane ou Megan. Eles realmente acharam que eu não perceberia? Puta que pariu!
Um soco na boca do estômago. Foi assim que a notícia caiu sobre mim, como se alguém tivesse me socado. Meu queixo tremia e meus olhos se enchiam. Abri a boca várias vezes tentando dizer algo mas a voz não saía. Busquei forças em novamente, e mais do que nunca, o seu desespero estava quase o fazendo explodir, eu podia sentir. Ele balançou a cabeça negativamente, praticamente me implorando pra não dizer nada. Mas como? Por que? Megan estava morta!
- Você... - apontou pra ele com uma expressão completamente desprezível e enojada, sem condições de continuar sua fala.
- Eu precisei, ! Eles me forçaram a isso! Mas sabe o que é pior? - ele respirou fundo como se tudo aquilo fosse uma conversa estressante só pra ele - O pior, , é que isso me lembrou de quando matei o seu pai. - mais uma vez, um longo suspiro - Eu também não tive escolha, tive que matá-lo! - uma falsa expressão de pena tomou conta do seu rosto, dando alguns passos pra frente, ficando cada vez mais próximo de nós - E você, ... Meu Deus, realmente é triste porque tenho certeza que o seu tio não te contou a verdade, não é? - ele virou o olhar bruscamente até Voight, que mantinha a cabeça abaixada o tempo inteiro - É, ele não contou, eu imaginava. Mas agora vocês sabem da verdade! Eu dei esse presente pra vocês!
Eu cresci com isso. Eu cresci com esse sentimento de que as vezes, bem às vezes, somos forçados a driblar a verdade porque somos colocados à frente de coisas que não foram criadas por nós. Verdades alheias que as vezes deveriam ter continuado enterradas. Só que às vezes, essas verdades simplesmente chega até nós. Ela chega chutando a porta com tudo, e nisso entra a angústia, o medo, o desespero, a negação imediata e um buraco que... Talvez seja impossível tapar.
- Eu. vou. te. matar. - Voight resmungou cada palavra pausadamente e cheio, lotado, transbordando ódio.
Paul o deu mais um soco.
- Não, você não vai me matar porra nenhuma, e sabe por que? Porque eu tenho métodos ágeis de gestão. Eu tenho uma gangue que sempre ganhou tudo, e você com essa história de moldar cidadãos de bem nunca funcionou! Vocês são lentos e burocráticos, Voight. Nós não tememos a morte, já vocês, morrem de medo. A gente ataca enquanto vocês estão na defesa, é só você reparar bem no que está acontecendo nesse exato momento! Essa sua mania de humanismo nunca te levou pra frente, pode analisar que nós, os Ghosts, fazemos vocês de palhaços.
As palavras de Paul martelavam minha cabeça. já não estava agarrada ao meu braço e eu sentia que perderia a força nas pernas a qualquer segundo.
- Espere e verá. - Holt cuspiu as palavras sem medo. Eu só ouvia, porque já não conseguia olhar nem pra ele e nem pra Voight.
- Verei o que? - Paul forçou uma gargalhada totalmente sem humor.
- O que um homem é capaz de fazer com outro homem. Você vir aqui desse jeito e forçar todo mundo a ouvir esse monte de merda que...
- Monte de merda? Eu só falei a verdade! E não tenho culpa que vocês ficaram brincando de papai e filhinha todos esses anos sem contarem a verdade para as garotas! - aquilo pareceu ter tirado Paul dos eixos, o fazendo pegar a arma novamente e coçar a testa de maneira pensativa - Mas não se preocupem, tudo bem? - ele virou o olhar pra nós novamente - , seu pai era um viciado de merda que nunca prestou pra porra nenhuma. E ... Seu pai era um inútil filho da puta, mas o engraçado é que... Bem, se eu te contar que eu deveria ter sido seu pai talvez você não acredite, mas sua mãe ou o titio podem te explicar tudo depois, e se não contarem, estou aqui pra te falar a verdade sempre!
Paul deu um sinal para que todos os homens saíssem da sala enquanto ele dizia que as coisas ainda não tinham terminado, saindo porta afora por último com toda a verdade sobre a minha vida que eu conhecia. Paul saiu e levou um pedaço de mim.
Fomos no cinema com mais frequência, saímos pra comer em lugares diferentes, saímos sem rumo na moto de , fomos até o abrigo brincar com os cachorrinhos, ele me acompanhou em algumas visitas que fiz pra minha mãe, transamos muito e o sentimento de amá-lo pareceu crescer ainda mais nesse último mês. Digo, cresceu mesmo, tenho certeza absoluta!
Nesse último mês eu aprendi algo novo com todo esse amor, e uma das coisas que eu sempre soube mas só agora sinto de verdade que foi algo que teve impacto na minha vida, é que uma hora você tem que tomar uma decisão. Eu sei, é um clichê bizarro, mas agora todos os clichês fazem sentido. A vida é confusa mesmo, é assim que fomos feitos e não tem como pular isso, mas existem linhas que temos medo de cruzar, mas que precisamos. É difícil se arriscar, sempre vai ser, e talvez nem sempre valha a pena, mas sempre vamos tirar uma lição do risco, mesmo que seja algo mínimo. se jogou nesse mar de sentimentos junto comigo, se afogando junto. Com ele eu percebo que, não importa de verdade a idade que temos, os problemas sempre estarão presentes, mas que sempre ficará menos difícil se tivermos alguém ao nosso lado.
Me espreguicei, corrigindo minha postura ainda sentada, colocando o notebook um pouco mais pra trás em cima das minhas coxas. Ouvi a porta se abrindo e meu sorriso surgiu instantaneamente assim que vi entrando com o copo enorme de suco de melancia em mãos.
- Aqui está. - ele andou em minha direção já erguendo o copo pra mim, se sentando ao meu lado e fechei o notebook lentamente, mas não por querer esconder o que estava pesquisando.
- Obrigada. - dei um selinho em seus lábios, tirando a tampa do copo e bebericando o melhor suco do mundo, mas permaneceu com um olhar intrigante.
- Está escondendo algo de mim, mocinha? - ele cerrou os olhos divertido, encarando o notebook por alguns segundos.
- O que? - eu ri fraco, balançando a cabeça negativamente e sentindo de leve a sensação de ser pega no pulo, porque ok, eu não estava afim de que visse porque não estava afim de ter tal conversa, simplesmente porque eu estava miseravelmente perdida no assunto, mas continuou ali, com um olhar tranquilo mas também curioso, quebrando minhas paredes segundo após segundo, e bufei derrotada - Não era nada, eu só estava pesquisando algumas coisas sobre o curso de tecnologia e... Eu jurei que não ficaria aqui por muito tempo, sabe? Eu vim pra cá porque todo o meu dinheiro tinha acabado, fui demitida do trabalho e vir pra cá foi o que me restou, e aí teve as confusões e eu esqueci totalmente de que eu ainda tenho uma vida, entende?
- Eu entendo, , mas até onde eu me lembro, você ainda estava na neura e na teimosia de fazer letras por motivos que na verdade nem são motivos, e agora você me diz que estava procurando sobre o curso que realmente gosta? É isso mesmo? - o sorriso de vitória estava em seus lábios de maneira carinhosa.
- Eu só estava dando uma olhadinha, .
- , é o que você gosta, não é um erro dar uma olhadinha ou querer seguir isso, sabia? Eu entendo que esse seu problema com culpa e tudo mais é uma coisa horrível e que te deixa presa em certas coisas, mas eu te juro, a última coisa que você vai querer é seguir uma profissão que nem mesmo quer de verdade.
Esse amor me abriu a mente no último mês. Esse amor me ensinou muito. Nesses vinte anos, tudo o que eu já ouvi de bom e de ruim sobre o amor eu ainda estou aprendendo, mas uma coisa agora eu entendo um pouco melhor: o romance não é absolutamente tudo, mas todo o amor envolvido te ensina coisas que talvez fossem mais difíceis de aprender sem ele.
- Eu ando pensando sobre voltar pra psicóloga. Essas últimas semanas foram incríveis e eu sou feliz em cada segundo que passamos juntos, mas eu te ouço falando sobre tantas coisas inteligentes e de maneira tão livre... Eu fico admirada de verdade, , e no meio disso eu enxerguei que talvez eu precise me ajudar um pouco mais, pelo menos tentar, entende? Eu sinto coisas horríveis e pesos de acontecimentos que não cabe à mim ajustar ou melhorar, e eu sei que não é normal e nem saudável, e mesmo sabendo que você não curte muito a ideia da psicologia, eu quero que você saiba que amar você me dá vontade de melhorar, e acho que esse é o melhor caminho pra isso. - senti meu coração espernear de nervoso em cada palavra que foi dita, e o jeito que disparei tudo de uma vez me fez dar um longo suspiro ao terminar, em seguida engolindo um gole enorme do suco. O olhar de era um misto de coisas que eu estava tendo dificuldade de decifrar pelo meu próprio nervoso.
- , seja qual seja a coisa que for te ajudar e te fazer bem, eu vou te apoiar! - os olhos dele também sorriam junto com o sorriso nos lábios com pureza e compaixão.
Afinal... é mesmo real?
Uma quinta-feira nunca pareceu tão confortável. Tínhamos jantado com Cohen e Scott, e como sempre não faltou história boa e engraçada. Os dois estavam felizes por mim e por , zoaram bastante dizendo que o amigo tinha demorado demais pra seguir os conselhos que tinham dado, mas que tudo bem, porque antes tarde do que nunca.
estava sentado na cama no FaceTime com sua mãe enquanto eu terminava de colocar meu tênis. O papo entre eles era leve e divertido, até meus olhos se arregalarem com os diálogos seguintes.
- Ela está aí com você?
- Quem?
- Sua namorada, a ! Inclusive, você precisa me apresentá-la, filho! - a voz divertida e as risadas de fundo provavelmente de suas irmãs me arregalaram os olhos ainda mais.
me encarou segurando o riso, com o celular em frente ao seu rosto. Eu congelei. Eu sabia que ele contava quase tudo pra mãe, inclusive sobre mim, mas confesso que sempre fugia quando os dois conversavam por chamada de vídeo por medo dela pedir pra me ver porque... Francamente, quem não ficaria nervosa e com um certo medo? Eu tinha medo de não atender todas as expectativas que Trisha tinha em alguém pra o filho e essa parte me apavorava.
- Só um minuto. - apertou algo na tela do celular e colocou o mesmo no peito, se arrastando pra o final da cama, ficando mais próximo da cadeira em que eu estava sentada - Amor, chegou a hora. - ele continuava segurando a risada e eu queria rir só por isso, porque ele sabia muito bem o que eu achava sobre conhecer sua mãe, irmãs e família em geral - Minha mãe quer te conhecer. - ele explodiu em gargalhadas como se aquilo fosse a coisa mais hilária do mundo e ameacei jogar o meu outro tênis nele, mas eu já estava rindo também.
- , pelo amor de Deus! - dei um tapa de leve em seu ombro.
- , ela vai te amar, e é só uma chamada de vídeo! - ele tentou me acalmar em meio às risadas, me obrigando a dar outro tapa em seu ombro, mas ele agarrou meu braço de maneira gentil, me puxando para que eu levantasse e sentasse ao seu lado.
- Tudo bem. - concordei apertando os olhos.
Assim que tirou a chamada do mudo e segurou o celular de maneira que mostrava nós dois, Trisha abriu um sorriso largo e simpático, me cumprimentando com um "oi" entusiasmado. Pude observar que ela estava apoiada no balcão da cozinha, onde as três irmãs de deram um jeitinho de se enfiar ao lado da mãe e disseram um "Oi, " em coro. Pra ser honesta, eu me senti extremamente querida e o nervoso na boca do meu estômago se tornou uma sensação não tão ruim conforme Trisha puxava assunto e fazia algumas piadas. Não foi um interrogatório, foi uma conversa natural que durou longos minutos.
- Eu tô feliz que o esteja namorando novamente, juro que achei que mais ninguém conseguiria o aguentar. - Waliyha dividiu a tela do celular com a mãe, rindo da própria gracinha e fingiu uma risada sem humor, mas estava claro que ele também tinha achado graça.
- Já você é um caso perdido, minha filha. Não tem quem aguente mesmo! - retrucou feito uma criança e todas as nossas risadas se misturaram.
- Ok crianças, agora vou desligar porque já está tarde. Adorei te conhecer, , e espero que a gente possa se conhecer pessoalmente em breve também! - Trisha comentou com carinho.
A ligação foi finalizada e eu estava encantada com todas. Encarei , que parecia buscar algo perdido na cama, até que meu cérebro me alertou e lembrou de algo.
- ... - o chamei já com a testa franzida, ouvindo um murmuro dele que me dava permissão pra continuar - A palavra namorada foi usada mais de uma vez em toda conversa, e óbvio que eu não corrigiria sua mãe ou suas irmãs, mas por acaso você disse que estamos namorando? Digo, namorando mesmo? - me senti um pouco sem jeito em questionar tal coisa, mas eu realmente precisava saber porque porra, estávamos na mesma página ou não?
- Ué, e não estamos? - parou de procurar a tal coisa na cama e me encarou sério, chocando todos os músculos do meu corpo com a resposta.
- É... Não? - questionei o óbvio e foi a vez de franzir a testa em confusão, e antes que saísse mais alguma coisa de sua boca, acrescentei - Tipo, você nunca pediu, sabe?
- , já estamos juntos há alguns meses, a gente se ama e tudo está indo bem, isso pra mim já é um namoro. - ele respondeu sério mas com um leve tom de deboche, como se eu fosse lerda demais pra acompanhá-lo ou entender como as coisas realmente estavam funcionando entre nós - Agora vamos, já está na hora.
Saímos porta a fora sem dizer mais nada. Afinal, tem o que dizer depois disso?
Entramos no carro num silêncio bizarro. Eu não queria cair nas armadilhas da minha própria cabeça, mas como é que se evita isso? Eu já estava pensando longe. E se na verdade, mesmo me amando, não estivesse totalmente preparado pra uma relação de verdade?
Free Spirit estava tocando. Nosso gosto musical era muito parecido, ou seja, as playlists eram sempre agradáveis para os dois, mas Khalid sempre estava presente.
- Estou com fome. - meu aviso foi a única coisa que quebrou o silêncio depois da música. Eu estava me afundando em teorias e alguns donuts cairiam bem pra me ajudar no processo em pirar de vez.
continuava a dirigir tranquilamente, dando entrada na rua onde se localizava nossa lanchonete favorita, a que tinha os melhores donuts, lanches e besteiras pra enfrentar a madrugada. O carro foi estacionado. Eu estava pronta pra abrir a porta, mas meu braço foi tocado. A mão de foi escorregando até encostar na minha, a entrelaçando de leve. Virei meu corpo pro lado feito uma boba, ficando de frente pra ele e tentando decifrar seu olhar.
- O que foi, ?
- Oi? - me fiz de desentendida, sabendo muito bem que se referia ao meu silêncio, mas o que passou a me irritar foi que, por Deus, ele não havia percebido ainda! Ele continuou me encarando, procurando a resposta em meu olhar e rolei os olhos, decidindo que seria melhor engolir o assunto pra não falar bobeira - Não é nada, só estou com fome.
- , eu te conheço muito bem! - ele soltou minha mão, me olhando de maneira analítica, ainda caçando a resposta, e mesmo me dando espaço e tempo pra responder, não o fiz - Ok, eu tenho uma surpresa pra você que com certeza vai te fazer abrir o bico. - ele riu fraco, mexendo num bolso interno da jaqueta azul que usava.
Ele me entregou dois ingressos.
Dois ingressos pra o show do Khalid.
- ... - meus olhos estavam arregalados em surpresa e alegria - Calma, como assim? Puta que pariu! - eu revirei os ingressos, observando cada detalhe pra me certificar de que era real mesmo - Eu não acredito que você fez isso! - comecei a rir feito boba, pronta pra abraçá-lo.
- Mas calma! - ele chamou minha atenção sério mas logo soltou uma risada fraca - Tem uma condição, . - ele voltou a ficar sério, até ajeitando a postura, me olhando nos olhos - Eu só te levo mesmo pra esse show se você aceitar namorar comigo.
E foi assim que meu mundo... Eu não sei. Girou, capotou, se iluminou, se despencou e se levantou tudo no mesmo segundo.
- Que? - franzi a testa confusa, incerta se tinha ouvido bem - Você... Calma... Eu ouvi direito?
- Eu estou há dias pensando em como te pedir isso e hoje apareceu a oportunidade perfeita. Você achou mesmo que eu não pediria, ? Sério mesmo? - ele começou a rir e eu abri a boca em uma falsa indignação me lembrando da nossa conversa que me causou paranóias, mas que ele apenas tinha feito pra, mais uma vez, zoar com a minha cara.
- ! - o repreendi rindo, sentindo meus olhos marejarem de pura emoção, numa montanha russa de sentimentos incríveis.
- E claro que eu precisava de uma garantia! Eu sei que você vai aceitar porque você adora o Khalid e comentou algumas vezes sobre querer ir num show dele, e pra ser sincero, eu também aceitaria meu pedido se isso me levasse pra esse show. - me fez explodir em gargalhadas - Mas de verdade, sem brincadeiras, você aceita namorar comigo, ?
's POV
Você nunca acha que vai se recuperar de um término. Seguir minha vida sem Sienna foi reaprender a ver tudo com outros olhos, mas também me fez enxergar da maneira mais dura de que eu precisava desse tempo sozinho. Depois de tanto tempo eu percebi que eu ainda tinha escolha, e claro, a gente nunca acha que merece o melhor, mas caralho, como e de que maneira seria possível não sentir nada por ? Não ser engolido por esse amor?
continuou dormindo e eu saí do trailer, andando direto até a mesa onde Scott e Cohen estavam sentados almoçando.
- Já me dei mal muitas vezes por achar que o que está na minha frente é a verdade. - Scott falou em alerta, olhando sério pra Cohen.
- Do que vocês estão falando? - me sentei.
- Dos acontecimentos nas gangues, as coisas que acontecem, os limites... - Cohen respondeu.
- Você também acha que quando o governo falha conosco, é nosso dever proteger aqueles que não podem? De ajudar? - a pergunta de Scott veio com tudo, mas já não era a primeira vez que conversávamos sobre o assunto.
- Sim. O problema é que pra fazer isso às vezes algumas leis são quebradas e coisas ruins ficam em volta, mas faz parte, nada é só bom. O problema é que, vocês sabem, os grandões continuam não ligando pra merda nenhuma, inclusive, eles quebram as leis também, talvez mais do que as gangues.
- É aquilo, eles tentam tanto convencer a população e a si mesmos de que não tem nada de errado, mas o errado não deixa de ser errado porque a maioria concorda e finge que não vê. - Cohen deu os ombros, com a expressão levemente estressada.
- Pelo menos as coisas aqui andam calmas até. - comentei.
- Pra você tá tudo uma maravilha, né filhão? Tá namorando... - Scott não deixou a oportunidade passar.
Desde o dia em que contei que pedi em namoro e que ela aceitou, os dois, mas principalmente Scott, não me deixava em paz com as brincadeiras. Óbvio que eles tinham ficado felizes, tão felizes a ponto de infernizar.
- Vai se fuder, vai! - resmunguei num falso mal humor, rindo em seguida.
- Mas falando sério de verdade, eu tenho que perguntar... - Scott foi parando de rir aos poucos até ficar sério de vez, me encarando por um segundo e dando um gole no refrigerante que estava em sua frente - Que porra você vai fazer com essa tatuagem no seu peito com os olhos da sua ex?
's POV
- No fim, todas as baboseiras escritas em redes sociais ou qualquer outro lugar sobre as coisas melhorarem, é tudo verdade, não é? - minha mãe sorria tanto que o rosto poderia se rasgar.
- É... Sim. Eu acho que sim.
- Eu estou tão feliz por vocês! - a notícia do namoro tinha a deixado totalmente contente e emocionada, e eu podia jurar estar vendo algumas lágrimas em seus olhos.
- Você não vai chorar, né? - minha testa se franziu e meu queixo se tremeu. Eu quem iria chorar. Minha mãe me olhou, tombando o rosto pro lado e encarou o teto na intenção de conter as lágrimas e fiz o mesmo - Mãe, eu só te contei que estou namorando!
- Eu sei, mas eu estou perdendo uma parte da sua vida e... Você já tem vinte anos, , mas eu sempre vou estar do seu lado, entende? Eu sempre quero estar. Eu sempre quero te acompanhar. Eu estou feliz por você ter encontrado alguém bom pra você, e embora o amor seja uma confusão, é a melhor coisa da vida! - a voz trêmula e as lágrimas teimosas dela caíram, e não teve jeito, as minhas lágrimas caíram junto.
- Para com isso! - eu ri de nervoso, limpando as lágrimas rapidamente.
- É que a gente cresce, casa, forma uma família... Não foi o meu caso, mas geralmente é assim. Mas os problemas nem sempre mudam, sabia? E no fundo não importa o quanto a gente cresça e envelheça, ainda estamos sempre tropeçando como se fôssemos jovens enfrentando os problemas pela primeira vez.
- Do que você está falando? - gargalhei de verdade, sentindo algumas lágrimas ainda descendo. O mix de emoções que nós duas estávamos sentindo ninguém seria capaz de explicar, e mesmo a conversa tomando um rumo totalmente diferente, eu estava atenta.
- Estou falando da vida, minha filha. Ela é confusa e dura, mas ter alguém ao seu lado deixa as coisas um pouco menos feias e cruéis.
- Disso eu já sei, você sempre falou isso!
- E estou repetindo! Você é completa, , você tem tudo o que precisa em si mesma, mas ter alguém que acrescenta valores na sua vida e te faz feliz também é uma coisa boa e tanto!
E nesse momento eu notei o quanto minha mãe amava Voight. Não era apenas um conselho ou um lembrete sobre a vida e o amor, era também um desabafo.
Eu choraria por horas em sua frente sem vergonha nenhuma e ouviria todos os conselhos, até o horário de visitas acabar, me fazendo chorar mais ainda.
McBroom é uma pessoa fácil de lidar até deixar de ser. Na maior parte do tempo, ela é. O jeitinho extrovertido sempre foi o seu forte, e óbvio, isso todo mundo já sabe. O negócio é que quando ela entra num assunto, ele não acaba até ela conseguir ao menos uma resposta, mas o problema dela com Grant eu não sabia muito em como ajudar.
- E sem querer ser uma cuzona, mas até o te pediu em namoro e Grant não! E sabe, a gente se gosta de verdade, mas eu fico me perguntando várias coisas e repassando tudo o que rolou entre nós na minha cabeça. Talvez seja o fato de que estávamos solitários e essa não é uma boa base pra começar algo. Quer dizer, eu não quis admitir na época que estava me sentindo sozinha, mas estava, e aí encontrei ele e... Não sei. Será que o que acontece é aquele bla bla bla de que somos almas solitárias tapando um vazio e bla bla bla?
- Talvez ele não seja o homem certo pra você. - fui cuidadosa ao extremo no meu palpite, sabendo que ela iria analisar a situação por inteiro e demoraria horas se necessário.
- E se eu vou a mulher certa pra ele?
- Eu não sei, , e talvez nem ele saiba.
- Eu gosto dele, , mas é sempre a mesma coisa, sabe? Eu entendo que a vida dele é toda fodida, e mesmo querendo ajudar, ele sempre termina numa recaída. Ele estava indo direitinho nas reuniões e eu estava tentando ajudar com o lance das drogas, mas eu não sou uma profissional e muito menos uma babá, mas aí sobra pra mim. O tanto que ele fica nervoso e acaba xingando tudo e todos... Isso me magoa tanto!
- E quantas vezes vai deixar ele te magoar?
- Até eu aprender, talvez? - ela arriscou um bom humor que não acompanhei. Precisava ser séria porque de fato era um assunto sério.
- Aprender o que, ? Não tem o que aprender! Grant é um viciado, ele tem um problema, uma dependência, e mesmo você gostando muito dele, isso não é o suficiente. Como você mesma disse, você não é uma profissional e nem deve tentar ser! Você não tem que ser a salvadora de ninguém e talvez infelizmente Grant precise te perder pra acordar pra vida e pensar em melhorar, mas não por você, por ele mesmo!
- É... Você tem razão.
se afundou no próprio pensamento por alguns minutos até Holt e Voight chegarem. Não demorou muito até Megan chegar, dando início a mais uma reunião.
- Nada? - Voight questionou bravo, com a testa franzida - Você não conseguiu nada?
- Desculpa, é que...
- Megan, já tem mais de um mês! Você deveria ter conseguido pelo menos o mínimo do mínimo! - Voight interrompeu Megan com o nervosismo explícito em uma grosseria sem tamanho.
- Voight! - o repreendeu com os braços cruzados e cara feia, sem medo nenhum.
- Eu não tenho culpa de que ele não fala coisas importantes perto de mim ou que me manda sair do cômodo quando recebe alguma ligação! - Megan tratou de se defender, e em meio ao nervosismo também tinha uma raiva que me parecia totalmente compreensível. Megan já era esculachada por Paul e pela a vida infeliz que estava levando, então ter a atenção chamada por alguém de fora parecia atrevimento demais pra ela aguentar.
- Calma! - Holt tentou acalmar a situação.
- Porra, eu tenho você, eu tenho Zane e até agora nada! Nenhuma informação! Eu sei que não é sua culpa, mas caralho... - Voight passou a mão pelo rosto totalmente incomodado e nervoso, andando de um lado pro outro - Eu preciso acabar logo com isso!
Eu podia jurar que vi, mesmo que de leve, Megan totalmente incomodada e ao mesmo atenta assim que o nome de Zane apareceu na conversa.
- Eu sei que vocês estão esperando uma coisa grande, mas não tem nada que sirva pra vocês. Literalmente a única coisa que eu ouvi de diferente foi um nome de um homem, Leon. - foi a vez de Voight e Holt ficarem desconcertados após ouvir um nome - Mas eu vou descobrir algo, nem que pra isso eu precise colocar uma escuta naquela casa pra poder conseguir ouvir algo, mas eu vou conseguir, prometo!
O desespero, o desconforto e o silêncio incômodo parecia ser demais pra qualquer um de nós aguentarmos. Voight e Holt se despediram primeiro, saindo do estúdio de uma vez, dizendo, como sempre, para não demorarmos muito tempo juntas ali dentro. Em seguida, sem muito o que falar pelo clima horroroso que nos restou, se despediu de Megan com um abraço e eu fiz o mesmo. Era um abraço apertado, urgente e preciso.
- Você não está sentindo essa sensação estranha também? Tem certeza? - perguntei pela milésima vez. rolou os olhos um tanto quanto impaciente, se levantando da cama.
- Não, e eu sinceramente acho que isso deve ser coisa da sua cabeça. Na verdade, tenho certeza. - ele segurou em meu rosto, me analisando.
- E como você tem certeza?
- Porque eu estou completamente tomado por toda essa felicidade que você me proporciona, . Há muito tempo eu não me sentia feliz desse jeito de maneira tão genuína, e sendo completamente honesto, desde quando vim pra cá eu aprendi a só esperar coisas ruins, então toda essa onda de felicidade me tirou um pouco dos trilhos, e eu sei que você está sentindo o mesmo, não é? - colocou uma mecha de cabelo minha pra trás da orelha e sorriu em vitória, sabendo que eu concordaria.
É claro, eu só precisava me desligar dessa coisa que me faz esperar só coisa ruim. estava certo. Tanta felicidade não era algo comum pra nós, ainda mais em meio à tanto caos.
- Ok, agora... - dei um selinho em seus lábios - Eu estou indo. está em crise com Grant e acho que pelo menos um cineminha vai ajudá-la a esquecer disso, pelo menos um pouco.
- O que tá rolando?
- É que é difícil pra . Ela quer ajudá-lo mas nem tudo depende dela, sabe? - peguei a jaqueta jeans que estava em cima da mesa, voltando e dando outro selinho em meu namorado.
- Você não quer que eu te leve? - perguntou gentil.
- Não precisa. Vamos nos encontrar no caminho, mas obrigada, babe.
Confesso que depois de todas as loucuras, ando mais atenta ao andar na rua. O medo de ser seguida ou de mais uma mulher totalmente vulnerável e desesperada me parar sempre me rondava. Mandei mensagem pra , a procurando com o olhar mesmo de longe, mas não a localizei no parque. Iríamos pegar um ônibus até o shopping. Assim que a mensagem foi respondida, pude notar ela sentada em um banco um pouco longe da central da praça e tomando uma latinha de energético. Assim que fui chegando mais perto, a carinha de exausta da minha amiga denunciava possíveis noites mal dormidas e eu estava pronta pra me dedicar ao máximo para distraí-la.
- Oi, meu amor! - abracei ela de um jeito desengonçado, me sentando ao seu lado - Como você está?
- Eu...
Meu celular começou a tocar e eu fiz cara feia. Peguei o aparelho e olhei o número desconhecido na tela e pensei em ignorar, mas nunca se sabe.
- Alô?
- ? Oi! É a Megan. Eu preciso te encontrar, preciso contar tudo... Eu descobri algo sobre Yaser! Eu descobri sobre um monte de coisa na verdade e... Meu Deus, , eu consegui! - a voz energizada, cheia de empolgação e nervosismo de Megan quase me fez engasgar com a minha própria saliva - Mas precisa ser hoje! Paul vai sair daqui a pouco pra uma das viagens dele e vou poder sair! Encontro vocês no estúdio em no máximo quarenta minutos, ok? - e desligou.
- ? Quem era? - perguntou cuidadosa.
- Megan! Ela disse que descobriu um monte de coisa, disse pra irmos pra o estúdio e que ela chega lá em no máximo quarenta minutos. - dei um longo suspiro - , ela disse que descobriu algo do Yaser! - a euforia que me dominou no primeiro instante não tinha nem explicação, até que veio um banho de água fria ao lembrar que, óbvio, Megan não traria boas notícias sobre Yaser. Eu deveria pensar o contrário, mas eu só conseguia, mais uma vez, esperar pelo pior.
Por um segundo me senti eufórica por pelo menos isso ter dado certo. Pelo menos eu conseguiria algo sobre Yaser e sobre Paul, e por mais que tal revelação pudesse arrasar com , por outro lado, algumas outras informações sobre Paul poderiam levá-lo ao seu fim.
- ... - sussurrou, com um olhar angustiado, claramente no mesmo estado de preocupação que eu.
- Eu sei, eu sei. Já tem quase uma hora e meia e nada.
- E se tiver acontecido algo? Talvez seja melhor a gente ligar pro Holt e...
- NÃO! - meus olhos se arregalaram em desespero - Não! Se eles souberem e aparecerem aqui ou procurarem por ela, talvez Paul desconfie de algo ou talvez ela nem queira falar na frente deles ainda! Megan confia mais em nós duas e...
Meu celular tocou. Eu quase o deixei cair depois de tirá-lo do bolso de trás da minha calça, já esperando atender e Megan me dar uma boa explicação pra todo o atraso, mas era Voight. Ironicamente, era justo Voight.
- Alô?
- ! - aquela voz me tirou a respiração no mesmo segundo. A felicidade dele em falar meu nome quase me desmontou - Eu só estou ligando pra avisar que... Porra, você já deve saber, não é? - uma risada podre banhada a ironia e deboche foi dada e eu podia visualizar bem a imagem de Paul rindo.
Apertei os olhos. Não podia ser! Paul estava com Voight. Paul... Talvez Megan estivesse... morta.
- O que você quer? - senti meu corpo mole feito uma geleia, sentindo minhas forças sendo completamente sugadas - Onde você está? Cadê o Voight?
ficou em minha frente, perguntando baixo quem era e respondi mais baixo ainda. Os olhos dela se arregalaram e rapidamente ela puxou o celular da minha mão, o colocando no viva voz.
- Eu quero que você e venham pra casa. Tenho uma surpresa pra vocês. - todo o deboche e a alegria suja na voz de Paul se foi, deixando só um autoritarismo que eu jamais ousaria desobedecer de tamanho nervoso e medo.
Antes da ligação ser finalizada, deu pra ouvir um grito de Holt no fundo dizendo pra não irmos. estava no mesmo estado de choque que eu.
- Meu Deus! O Voight... O ! Está todo mundo lá e... Ele quer a gente, ! Será que ele matou a Megan? Será que ele descobriu tudo? - atropelando quase que todas as minhas próprias palavras, eu estava em puro desespero.
Eu sabia! tentou ser otimista e me convencer de que eu só estava desacostumada em esperar coisas boas, que eu estava acostumada com esse mecanismo de esperar coisas ruins, mas eu estava certa, eu sabia! A sensação estranha que me acompanhava desde cedo era sobre isso!
Andávamos rápido mas com cuidado. A rua estava cheia de carros desconhecidos. O portão estava escancarado e assim que entramos e nos viramos em direção ao escritório, a presença de todos aqueles homens desconhecidos quase fizeram as minhas pernas falharem. Havia mais de cinco homens ali fora, numa posição nada simpática. A janela estava aberta e eu pude ver Paul de costas, mas um dos homens bateu na porta e avisou algo, o fazendo virar o corpo e nos olhar de longe. O sorriso satisfeito que ele abriu foi uma das piores coisas que eu já tinha visto na vida.
entrelaçou o braço no meu e começou a andar, praticamente me puxando. Ela queria se mostrar destemida, claro, mas eu sentia todo o medo que ela estava sentindo também. Um dos homens abriu a porta, nos olhando feio, como se nos apressasse para entrarmos logo. Apertei os olhos antes de adentrar ali de vez, sentindo meu coração parar de verdade e a minha respiração ser tirada de mim. Paul estava de pé enquanto Voight, Holt, e estavam sentados. Cohen e Scott estavam de pé em um canto do escritório com dois homens do lado, provavelmente os impedindo de fazer qualquer coisa.
- ! - Voight disse meu nome com peso, com dor e com angústia, recebendo um soco na cara de Paul no mesmo segundo.
- NÃO! - tentei me aproximar para evitar que algo mais sério acontecesse mas me segurou firme, quase que num abraço desesperado, sem jeito e medroso. Um dos homens também se aproximou, temendo que algo acontecesse com a nossa movimentação, mas não chegou a encostar em nós.
me encarava desesperado. Todas as informações em seus olhos pareciam demais pra entrar na minha cabeça.
- O que você quer? - gritou estressada e com os olhos marejados. Ela procurou meu corpo como apoio novamente, se segurando em mim bem forte, como se a única coisa que pudesse nos sustentar, fosse uma a outra.
- Eu vim dar um presente pra vocês duas, oras! Não deveriam estar com essas carinhas, porque o que eu tenho pra falar é muito bom. - mais uma vez o seu tom irônico estava presente - Pelo menos pra mim é bom. - a risada de Paul tomou conta dos nossos ouvidos. Uma risada cínica e carregada de más intenções.
- CALA ESSA BOCA! - Holt se levantou com força e espumando de ódio. Ele tentou acertar Paul, mas os dois capangas que estavam com Cohen e Scott o seguraram e cada um lhe deu um soco.
gritou. Na verdade, berrou. Paul deu um chute no estômago de Holt, o fazendo sentar novamente, e soltou seu braço do meu corpo e se aproximou de Holt, mas Paul a empurrou forte, quase a fazendo cair pra trás, mas a segurei.
- VOCÊ É LOUCO? - foi a minha vez de gritar.
- Mas que caralho! - Paul tirou uma arma de trás da calça, segurando a mesma como se fosse um brinquedinho inofensivo e deu um longo passo pra trás, chocando o corpo totalmente no meu - Eu vou precisar usar isso pra vocês calarem a boca e me ouvir? Vou precisar fazer o mesmo que fiz com Zane?
Eu me senti completamente perdida. Mais do que já estive em toda a minha vida. Eu queria falar, queria gritar, queria perguntar, mas nada saía. Encarei mais uma vez e seu olhar desesperado foi o suficiente pra deixar subentendido de que eu deveria ficar quieta.
- O que? - a voz de saiu como um fiapo, quase inaudível.
- Eu tive que matá-lo, vocês me entendem? Foi a única escolha que eu tinha! Acharam mesmo que eu não descobriria que tinha um infiltrado no meio do meu pessoal? E pior, um infiltrado que ainda por cima teve a coragem e a burrice de se envolver justo com a minha mulher? - Paul riu de verdade, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo de verdade, guardando a arma novamente - De verdade, eu não sei quem foi mais inocente nessa história; Zane ou Megan. Eles realmente acharam que eu não perceberia? Puta que pariu!
Um soco na boca do estômago. Foi assim que a notícia caiu sobre mim, como se alguém tivesse me socado. Meu queixo tremia e meus olhos se enchiam. Abri a boca várias vezes tentando dizer algo mas a voz não saía. Busquei forças em novamente, e mais do que nunca, o seu desespero estava quase o fazendo explodir, eu podia sentir. Ele balançou a cabeça negativamente, praticamente me implorando pra não dizer nada. Mas como? Por que? Megan estava morta!
- Você... - apontou pra ele com uma expressão completamente desprezível e enojada, sem condições de continuar sua fala.
- Eu precisei, ! Eles me forçaram a isso! Mas sabe o que é pior? - ele respirou fundo como se tudo aquilo fosse uma conversa estressante só pra ele - O pior, , é que isso me lembrou de quando matei o seu pai. - mais uma vez, um longo suspiro - Eu também não tive escolha, tive que matá-lo! - uma falsa expressão de pena tomou conta do seu rosto, dando alguns passos pra frente, ficando cada vez mais próximo de nós - E você, ... Meu Deus, realmente é triste porque tenho certeza que o seu tio não te contou a verdade, não é? - ele virou o olhar bruscamente até Voight, que mantinha a cabeça abaixada o tempo inteiro - É, ele não contou, eu imaginava. Mas agora vocês sabem da verdade! Eu dei esse presente pra vocês!
Eu cresci com isso. Eu cresci com esse sentimento de que as vezes, bem às vezes, somos forçados a driblar a verdade porque somos colocados à frente de coisas que não foram criadas por nós. Verdades alheias que as vezes deveriam ter continuado enterradas. Só que às vezes, essas verdades simplesmente chega até nós. Ela chega chutando a porta com tudo, e nisso entra a angústia, o medo, o desespero, a negação imediata e um buraco que... Talvez seja impossível tapar.
- Eu. vou. te. matar. - Voight resmungou cada palavra pausadamente e cheio, lotado, transbordando ódio.
Paul o deu mais um soco.
- Não, você não vai me matar porra nenhuma, e sabe por que? Porque eu tenho métodos ágeis de gestão. Eu tenho uma gangue que sempre ganhou tudo, e você com essa história de moldar cidadãos de bem nunca funcionou! Vocês são lentos e burocráticos, Voight. Nós não tememos a morte, já vocês, morrem de medo. A gente ataca enquanto vocês estão na defesa, é só você reparar bem no que está acontecendo nesse exato momento! Essa sua mania de humanismo nunca te levou pra frente, pode analisar que nós, os Ghosts, fazemos vocês de palhaços.
As palavras de Paul martelavam minha cabeça. já não estava agarrada ao meu braço e eu sentia que perderia a força nas pernas a qualquer segundo.
- Espere e verá. - Holt cuspiu as palavras sem medo. Eu só ouvia, porque já não conseguia olhar nem pra ele e nem pra Voight.
- Verei o que? - Paul forçou uma gargalhada totalmente sem humor.
- O que um homem é capaz de fazer com outro homem. Você vir aqui desse jeito e forçar todo mundo a ouvir esse monte de merda que...
- Monte de merda? Eu só falei a verdade! E não tenho culpa que vocês ficaram brincando de papai e filhinha todos esses anos sem contarem a verdade para as garotas! - aquilo pareceu ter tirado Paul dos eixos, o fazendo pegar a arma novamente e coçar a testa de maneira pensativa - Mas não se preocupem, tudo bem? - ele virou o olhar pra nós novamente - , seu pai era um viciado de merda que nunca prestou pra porra nenhuma. E ... Seu pai era um inútil filho da puta, mas o engraçado é que... Bem, se eu te contar que eu deveria ter sido seu pai talvez você não acredite, mas sua mãe ou o titio podem te explicar tudo depois, e se não contarem, estou aqui pra te falar a verdade sempre!
Paul deu um sinal para que todos os homens saíssem da sala enquanto ele dizia que as coisas ainda não tinham terminado, saindo porta afora por último com toda a verdade sobre a minha vida que eu conhecia. Paul saiu e levou um pedaço de mim.
Capítulo 25
's POV
Meus punhos estavam fechados de ódio, pronto pra socar o irmão de Grant. Bati na porta do garoto mais de uma vez, óbvio que ele não ouviria! Bati mais algumas vezes, cada vez mais forte, até que ele abriu.
- , o qu...
- São uma e meia da manhã, caralho! Desliga a porra desse som, as garotas acabaram de dormir e vão acordar já já se você não desligar ou abaixar essa bosta!
Foda-se. O garoto já tava me enchendo a paciência há dias. Eu sei, a casa não é minha, mas até Grant disse que o irmão era folgado demais e só funcionava na base da bronca. Desci as escadas assim que o volume foi abaixado. A casa estava virada de cabeça pra baixo de tanta bagunça e me custou uns dois segundos pra perceber que Grant estava sentado em um dos bancos do balcão da cozinha. Me aproximei cada vez mais e ele nem mesmo tinha notado minha presença, mas quase deixou o celular cair assim que passei ao seu lado, praticamente dando um pulo de susto.
- Porra, cara!
- Foi mal. - espalmei as mãos no ar, abrindo uma das sacolas que estavam na mesa com alguns salgadinhos e guloseimas que havia comprado mais cedo.
Fiquei ali, de frente pra Grant, que voltou a se concentrar no celular, digitando o mais rápido que podia. Fiquei analisando a cozinha inteira enquanto comia as batatas que estavam em minha mão, pousando o olhar em uma coisa muito específica que estava literalmente na minha frente mas eu ainda não tinha notado. Bem no cantinho do balcão tinha um pacotinho com um pó branco dentro. Larguei o saco de batatas na pia e avancei até o balcão, pegando o pacotinho na mão e me certificando de que aquilo era o que eu estava desconfiando. Grant se desconcertou inteiro, largando o celular no balcão e levantando com a mão aberta, tentando pegar o pacote de volta.
- ...
- Que merda é essa?
- Você sabe... Esses últimos quatro dias foram foda e... Eu só precisava me aliviar de algum jeito! - ele respondeu totalmente sem graça, me deixando na beira de um surto de verdade.
Ele só podia estar de brincadeira.
- Se tá foda pra você, imagina pra que descobriu que o pai foi morto. Ela passou a vida inteira achando uma coisa e agora descobre a verdade da pior maneira possível. Você deveria estar mais do lado dela, Grant.
- Eu sei, mas...
- Você tem um vício e eu não posso falar que entendo porque não entendo, mas você sabe como é, você vive isso, mas você mesmo já disse algumas vezes que queria melhorar, que queria parar, mas ainda assim, em qualquer situação ruim você tem uma recaída. Eu não sei o que te levou até as drogas, mas acho que você deve pensar que agora você deva ter mais motivos pra parar do que pra continuar.
Eu precisava falar, não só por ele, mas por também. Nos últimos quatro dias eu pude ver de perto o quão perdido e despreparado pra ajudá-la ele estava.
- Eu gosto da , ela realmente me faz querer melhorar, mas tem algo que... - ele parecia perdido em todos os sentidos - Eu não sei. Eu juro que não sei.
- Talvez essa seja a fuga da autorresponsabilidade. - dei meu palpite com dureza e talvez até com um pingo de ignorância.
Ninguém tem que salvar ninguém, mas a gente tenta. estava tentando. Eu posso mesmo ser um tanto quanto ignorante nessa parte, mas se nem o fato de uma das piores coisas ter acabado de acontecer com e isso não comover Grant pra parar e pensar que talvez esteja na hora de se esforçar um pouco mais já me dizia muita coisa. O mundo não é só romance e amores que mudam tudo, eu sei, e eu também sei que com um assunto delicado desse, se demanda muita paciência e controle pra averiguar bem, mas eu não sou um profissional, eu sou só o . Não posso reforçar o pensamento de Grant que parece não ter saída porque nem ele mesmo sabe o que acontece.
- É cara, talvez seja isso também. - a expressão de Grant não era das melhores. Ele se levantou com raiva, encarando o pacote ainda em minhas mãos mas não disse nada, saindo da sala em direção às escadas com fúria.
——
Eu estava pronto pra entrar no quarto e tentar conversar com sobre estar na hora de pelo menos conversar com sua mãe. Cinco dias talvez sejam pouco pra ela, mas quanto mais demora, mais dói, e eu via de longe o quão magoada minha namorada estava.
Foi ridículo. O jeito como Paul chegou, cinco dias atrás, enfiando a verdade goela abaixo de todo mundo foi ridículo. Foi pior ainda o jeito autoritário como ele chegou, como se ter armas e capangas fosse o seu maior orgulho porque tinha como nos controlar. Ligar pra do celular de Voight quase me fez perder a cabeça. Eu queria ter feito algo. Não tínhamos pra onde ir de primeira mas Grant, totalmente em choque, nos convidou pra ficar também. Nesses cinco dias, eu nunca vi e tão juntas e tão distantes ao mesmo tempo. No primeiro dia as duas dormiram juntas como duas crianças com medo do escuro e da solidão. Elas não conseguiam conversar, só chorar.
Em alguns momentos eu me questionei pra caralho, tentando adivinhar porque mentiram nisso, mas é algo totalmente pessoal e que eu só descobriria quando decidisse voltar ou conversar com sua mãe. E claro, Voight ligou um bilhão de vezes. Eu atendi só uma vez, dizendo onde estávamos e que estava tudo bem até onde poderia estar. Ele praticamente me deu férias sem data pra terminar, me fazendo prometer que ajudaria nesse processo e que precisava da minha ajuda pra conseguir conversar com ela pra se explicar, porque afinal, agora mais do que pai, ele também é tio de .
Que se dane tanto pensamento e reflexão.
Subi as escadas de uma vez, dando algumas batidas na porta antes de entrar, encontrando e sentadas na cama. O olhar exausto das duas entregava de longe o sofrimento. Eu estava pronto pra vir com um papo horrível porém necessário de que você não pode escolher sua família, que você aceita o que a vida lhe dá, embora você não goste que as mentiras venham junto. Mas gostando da sua família ou não, você se adequa a eles e consequentemente um pingo de compreensão cai junto, te fazendo entender - ou não - os motivos de todas as mentiras e problemas. Não que eu quisesse ser falso com , mas ela precisava pelo menos de um pouco de esperança e de um motivo pra buscar a verdade, mas eu não precisei falar nenhuma dessas bobagens porque ela tomou sua decisão antes disso.
- Preciso ver minha mãe. Você me leva?
's POV
Dizem que a verdade irá te libertar.
- Filha? - a voz dela me trouxe de volta à mim mesma. Minha mãe me olhava com os olhos já marejados e eu rapidamente busquei pela mão de por debaixo da mesa.
Eu pedi pra ele ficar. Eu poderia ter essa conversa à sós com a minha mãe, mas eu o queria ali, eu queria que ele ouvisse pra não ter que repetir tudo depois. Eu queria que ele soubesse.
- Então...? - tentei introduzir o assunto da maneira mais perdida. Como começar?
- Eu estava preocupada, ! Voight me disse que você está ficando na casa do namorado da e... Por Deus, filha! Eu só...
- Mãe! - chamei sua atenção com certa braveza - Não temos muito tempo, então fala o que tem que falar.
Na verdade, eu queria surtar. Eu queria gritar enquanto questionava o porquê dela ter mentido durante vinte anos, mas não podia. Primeiro que toda a exaustão, dor nas costas, o sono e o incômodo por noites mal dormidas e desconfortáveis já me tirava toda a disposição em surtar, e outra, eu não podia, caso contrário também seria presa.
- Eu nunca quis mentir pra você, filha. - uma lágrima escapou e ela não se deu o trabalho em limpar o rastro.
A fúria instalada em meu coração continuava do mesmo jeitinho e uma parte de mim esperava que a justificativa fosse boa mesmo pra que toda a raiva fosse liberada, mas ela se calou e as lágrimas continuaram descendo, e minha raiva aumentando.
- Mas você mentiu, e mentiu por vinte anos, e agora eu estou aqui mesmo sem querer estar, mas eu preciso da verdade pra ver se as coisas fazem pelo menos o mínimo de sentido, então será que você pode, por favor, falar logo?
me encarou levemente abalado, como se fosse um alerta me dizendo de que talvez eu tivesse indo longe demais. De um jeito ou de outro, ela ainda é minha mãe, mesmo longe, mesmo presa.
- Você sabe, Ellie cresceu nos The Lions, os pais dela faziam parte, e como éramos melhores amigas, eu consequentemente fiquei muito próxima de todos. Lembro até hoje quando vi Voight pela primeira vez. Muito perdido, sério e muito marrento, cabeça dura até demais. Ninguém conseguia ter espaço pra entrar na vida daquele homem, então eu continuei vivendo. Nós saíamos muito, era um grande grupo de amigos e eu conheci Paul pessoalmente. Eu sabia que tinha que ficar longe, afinal, já tinha ouvido histórias de como mesmo sendo tecnicamente novo nos Ghosts, o passado dele não era nada bonito. Ele nunca foi agradável, simpático ou alguém que valesse a pena dar uma chance, você entende? Até que Ellie conheceu o Martin, pai da , e ela se deslumbrou. Ela se deslumbrou com o amor e com toda aquela explosão de sentimentos, até que deixou de ser incrível. Martin perdeu o controle da própria vida por conta de más companhias. Ele era um homem perdido e se perdeu mais ainda quando começou a usar drogas e tudo o que ele fez com Ellie... Simplesmente... - ela deu um longo suspiro - Ele se transformou.
- Mãe, o que ele fez com a tia Ellie?
- Ele se tornou completamente agressivo. Ellie ficou desesperada quando engravidou e não contou nada pra ninguém, nem da gravidez e nem das agressões. Voight sabia o que estava acontecendo, era o único que sabia e ele era louco pra pegar Martin e acabar com a raça dele, mas Ellie não deixava, dizia que não adiantaria uma surra nele. Ela tinha medo de contar pra os pais, mas um dia ela se decidiu, ela iria contar sobre a gravidez e sobre as agressões, afinal, os The Lions dariam um jeito, mas ele morreu antes, Paul o matou. Martin devia muito dinheiro pelas drogas em várias gangues, e naquela época não tinha muita conversa, era morte na certa, mas os Ghosts foram os primeiros a tomar uma atitude. Paul o matou sem pensar duas vezes.
Um silêncio arrebatador pairou sobre nós. Toda vez que eu a visitava o tempo parecia voar, mas dessa vez estava sendo completamente diferente. Uma parte de mim só queria ir embora, só queria sumir. Aquilo parecia muita informação pra se obter.
- E depois? - minha voz raspou, quase não saindo.
- E aí nós tivemos um bebê. - em meio a toda dor do passado, ela sorriu - Foi difícil, mas Ellie conseguiu. Os The Lions sempre a ajudaram em tudo, principalmente Voight. Ele continuava não me dando bola, e só quando fez dois anos que conseguimos engatar o comecinho de algo. Eu estava tão feliz... Eu sempre gostei dele e ele finalmente tinha me dado espaço pra entrar na vida dele, mas aí aconteceu algo. Ben, o seu pai, chegou. Ben era mais velho que Voight mas só de idade. Ele era completamente imaturo, mas também muito brincalhão, divertido, com ele não tinha nenhum momento de tensão e o meu maior erro foi cair naquilo. Ben era fácil de lidar e eu acabei me aproximando muito mais dele. Voight reprovou aquilo desde o primeiro segundo e mesmo ainda gostando dele, eu quis ir pelo caminho mais fácil. Eu era nova e não sabia da merda que tava fazendo, mas continuei.
- E onde Paul entra nisso? Ele me disse que... - apertei os olhos com força, sentindo meu coração sendo esmagado só de lembrar - Deveria ter sido meu pai. - a reação de choque da minha mãe me deixou pior ainda. O olhar perdido entre indignação e nostalgia.
- Por algum motivo, mesmo sendo totalmente contra as regras, Paul sempre me procurava quando estávamos no mesmo lugar. Tentava puxar assunto e eu nunca dava atenção, até porque eu tinha medo! Eu não sei se pra Paul aquilo era um desafio ou se era só ele tentando ter controle de algo, de alguém, mas eu nunca permiti que ele se aproximasse. - ela explicou tão rápido e tão desesperada, como se quisesse se livrar logo da parte do assunto que envolvia Paul. - Ele é um assassino, . Ele matou Martin, deixou sem pai. Eu nunca, nem nos meus pesadelos mais loucos, seria capaz de ter qualquer vínculo com Paul.
Aquilo doeu.
- Mas ele também matou o meu pai... - sussurrei.
- Sim. - ela afirmou com o queixo tremendo e fungou forte, engolindo todo o choro - Eu fui burra em me envolver demais com Ben, mas tivemos momentos que na época foram únicos e que me faziam sentir tanta coisa... Quando eu engravidei fiquei apavorada com tudo. Voight ficou tão decepcionado comigo, e pior, Ben também, mas de uma maneira totalmente inesperada. - minha mãe apertou os olhos.
- O que... Ele fez?
- Voight se focava na gangue, ele dizia que era a única coisa que o tinha restado, e Ben... Ele não levava nada a sério, . Eu tentei o ajudar, de verdade, e todo mundo tentou. Voight se esforçava em tentar melhorar e Ben simplesmente sumia até por dias. Ele não recebeu a notícia da gravidez da melhor maneira e... surtou. Na verdade ele já era surtado, mas estava tudo escondido atrás das suas palhaçadas, do bom humor encantador e da simpatia. Voight havia tentado me avisar e eu não me importei... Até que chegou um dia onde eu precisei tomar uma decisão e terminei aquela coisa que tínhamos, mas pra deixar claro, a gente não desiste do que gosta, a gente desiste do que dói! Eu disse que não precisava nada dele, afinal, eu tinha bastante gente comigo e tinha visto de perto que Ellie conseguia criar sem um pai, então eu também conseguiria, mas Ben se revoltou... Toda a sua revolta foi liberada violentamente.
- O que?
- Ele achou um absurdo a minha decisão em tentar excluí-lo da sua vida. Mesmo não gostando da ideia, ele ainda fazia questão de gritar que era o pai e que poderia fazer o que quisesse, e foi aí que ele... Ele perdeu todas as estribeiras e me bateu. - as lágrimas caíram sem parar - Voight bateu tanto nele quando descobriu, e ele foi expulso dos The Lions, mas não só por isso, e sim porque ele também estava roubando dinheiro. Ben teve que sair do bairro e me sobrou Voight. Ele fez tudo por mim, , tudo mesmo. Todas as noites em que eu tinha algum desejo maluco, ele estava lá por mim. - ela se permitiu dar um sorriso mínimo no final enquanto falava de Voight, mas as lágrimas continuavam a cair e eu sentia sua dor, eu sentia de verdade!
- ELE TE BATEU? - um grito rouco saltou da minha garganta e apertou minha mão e imediatamente colocou a outra em meu ombro, fazendo um carinho desesperado com o polegar.
- O pior não foi isso, filha. Eu estava com mais de oito meses quando ele apareceu de novo. Ben estava, da maneira mais cara de pau, tentando começar a própria gangue e por algum motivo, algum maldito motivo, eu senti que tinha falhado. Eu era uma adolescente que pensava que o amor pudesse curar e mudar tudo e isso me atormentou. Eu não tinha o mudado, você não conseguiu o mudar, e foi por isso que eu menti. Aquele dia Ben me bateu de verdade, mas as agressões já tinham chegado há tempos. Os puxões agressivos no meu braço, o quão forte ele agarrava o meu rosto enquanto gritava na minha cara... Eu não falava daquilo com ninguém por vergonha, por medo. Eu cheguei a pensar que, de algum jeito, aquele era o meu destino, era aquilo que eu merecia, mas eu pensei em você, pensei no que Ellie viveu... Não era justo com nenhuma de nós. Paul matou Ben pra impedi-lo de crescer com a gangue nova.
- Mãe...
- Eu menti pra você porque eu não aguentava a verdade. Eu sempre tentei fugir dela, e achei que enterrando essa versão e contando simplesmente que seu pai me abandonou fizesse doer menos. Eu não queria te contar que nenhuma de nós foi capaz de salvar Ben, mas hoje eu sei que não tínhamos obrigação nenhuma disso. Ben era um homem horrível e eu acredito que ninguém o mudaria. - sua voz transpareceu todo o arrependimento e toda a dor. Minha mãe ignorou completamente qualquer tentativa de impedimento interno que pudesse fazer ela parar de contar a verdade, e então ela saiu da maneira mais cruel, clara e dura. Ela fungou, limpando as lágrimas que ainda insistiam em cair sem piedade.
O que dizem é mentira. A verdade não te liberta merda nenhuma. Que diabos as pessoas sabem? A verdade é horrível. A verdade é mais do que você pode aguentar.
——
- Você tem certeza disso? - perguntou pela milésima vez no mesmo tom tenso e carregado de preocupação - Você acabou de ouvir tudo aquilo da sua mãe e...
- A verdade é horrível, mas eu preciso dela inteira. Eu quero ouvir Voight também. - minha resposta não parecia o ter acalmado, parecia ter deixado ele mais preocupado ainda. Me aproximei do corpo dele de um jeito manhoso, o abraçando forte - Está tudo bem, , de verdade. Eu passei dias me torturando e morrendo de raiva disso tudo e... Agora eu só quero saber tudo, eu preciso.
sorriu, me dando um longo selinho e logo entrelaçando nossas mãos. As coisas realmente estavam menos piores com ele ao meu lado, mas por um segundo, ao passar daquele portão, nem mesmo todo o nosso amor parecia ser capaz de me ajudar com aquele peso que automaticamente veio pra cima dos meus ombros, como se os erros e as inverdades do mundo inteiro estivessem em minha responsabilidade. A última vez que eu tinha estado ali, dias antes, pela mesma janela do escritório, eu tinha visto Paul. Por um momento pareceu uma realidade totalmente paralela, mas era Paul, prestes a acabar comigo de maneiras que eu não posso nem explicar. Agora, eu vejo Voight, meu tio.
Eu apertei os olhos assim que notei que ele tinha me visto. Eu estava com medo, morrendo, na verdade. Medo de ser injusta, de falhar, medo de enxergar Voight de uma maneira completamente diferente.
- ?
Eu precisei abrir os olhos e encará-lo, e acredite... doeu. Dava pra se notar de longe o medo e a vergonha que Voight sentia. No fim, você não pode se esconder, o corpo não mente, ele denuncia a tensão. A verdade está aqui.
- Eu acabei de conversar com a minha mãe e... Acho que a gente precisa fazer o mesmo. - repreendi a mim mesma em pensamento por falar baixo demais, mas ele conseguiu ouvir.
Voight olhou pra trás e ele parecia ter adivinhado meus pensamentos. O último lugar que eu estava interessada em ir era aquele escritório. Nós dois ao mesmo tempo começamos a andar em direção ao meu trailer, e numa rápida olhada pra trás vi murmurando um "boa sorte". Por onde eu começaria? A verdade estava escancarada e todo mundo já sabia. Talvez nem uma palavra precisasse ser dita de tamanha vergonha dos dois lados. O sufoco. O tanto que estava machucando.
Abri a porta do meu trailer, entrando primeiro e sentindo meu coração acelerar ainda mais quando ouvi a mesma se fechando. Me sentei na minha cama com cuidado, como se aquele espaço nem fosse mais meu.
- . - Voight chamou minha atenção enquanto puxou a cadeira e sentou bem na minha frente - Eu sei que sua mãe já deve ter esclarecido muitas coisas, mas eu quero que você me ouça bem agora, pode ser? - ele pediu com um cuidado extremo e não tinha outra escolha a não ser assentir positivamente, afinal, eu que fui em busca disso - Leah não queria ninguém perto por um bom tempo quando você nasceu. Ela se dedicou tanto em te criar bem pra te ensinar a ser forte. Ela fez de tudo de verdade. Eu lembro do dia em que descobri que Ben fez aquilo com ela e eu juro , eu não me importava se ele era o meu irmão ou não, eu mesmo queria matá-lo de tanto ódio.
- Mas ela sempre gostou foi de você. Ben foi um caminho mais fácil que ela acabou seguindo porque você era difícil demais. - comentei num tom divertido, o vendo rolar os olhos e soltar uma risadinha fraca. Era um assunto extremamente pesado mas que só dependia de nós pra conversarmos sobre ele sem desabarmos.
- Eu tinha medo, . Não da sua mãe, não do amor, mas medo de mim. Era tudo tão novo pra mim e tão angustiante. Eu precisei de muito tempo pra me sentir eu mesmo, pra tentar achar um caminho por aqui, um caminho pra sobreviver sozinho, porque eu já não tinha os meus pais, e Ben era o mesmo que nada, então eu tive que me virar. Eu não tive condições de me abrir de primeira mas assim que eu deixei... Eu nunca imaginei que era tão bom ser amado, mesmo que minha relação com sua mãe tenha demorado muitos anos pra finalmente acontecer, a gente sempre se amou. - ele sorriu leve, olhando pro além e com certeza lembrando dos velhos tempos - Ela ficou abalada com a morte de Ben e eu entendo. O jeito da sua mãe lidar com aquilo foi se convencer que ele nunca seria capaz de mudar e que nada na vida seria capaz de fazê-la perdoar ele.
- O que? - franzi a testa totalmente confusa - Ela sempre me disse o contrário! Sempre disse que perdoar e saber que as pessoas são sim capazes de mudar em meio a tantos erros é possível. - cerrei os olhos coberta em confusão, encarando Voight como se tivesse alguma possibilidade dele estar mentindo, e o que recebi foi um sorriso largo logo de cara.
- Ela mudou. Quer dizer, você a mudou.
Não pareceu certo. Pra ser honesta, pareceu mais do que errado e algo pesado pra se carregar no mesmo segundo.
- Eu a mudei? Sério? Ou será que ela simplesmente mentiu pra poder me criar bem? Será que ela passou por cima de si mesma por mim?
- , eu estava lá! - Voight exclamou alto e forte, querendo colocar meus pés no chão novamente - Eu vi a sua mãe se tornar uma mulher ainda mais incrível. Ela nunca, nunca mesmo, te enxergou como alguém que não valesse a pena ser amada. Ela nunca te olhou de maneira diferente por conta de Ben. Você mudou Leah pra melhor.
Continuou doendo.
- Eu ainda sou filha do homem que bateu nela, que a machucou mais de uma vez. - meu queixo começou a tremer e passei as mãos pelo cabelo nervosa, arrancando alguns bons fios com toda a certeza - E ele era o seu irmão, e você é o meu tio. Simplesmente tá tudo errado!
- Você pode não me considerar como um pai, mas você é minha filha, . Ben foi um filho da puta com Leah e ninguém nunca vai esquecer disso, mas ele fez um coisa certa, que foi você! Eu te vi crescendo, te vi aprendendo, te vi chorando, te vi sorrindo... Sua mãe sempre te deu prioridade e ela nunca se arrependeu disso do mesmo jeito que eu nunca me arrependi de esperar por ela. No fim deu tudo certo, e você pode até não me perdoar ou não falar comigo nunca mais, você vai continuar sendo minha filha, sobrinha ou seja lá o que for. - os olhos marejados de Voight foi o estopim pra me fazer desaguar de vez feito uma criança. Rapidamente ele sentou do meu lado na cama, me abraçando com toda a força.
- Eu preciso de um tempo. - foi a única coisa que consegui dizer em meio ao choro forte e cruel.
- O tempo que você precisar, .
——
- Eu nem sei como estou me sentindo e não acho que vou descobrir tão cedo. Eu passei a vida odiando uma pessoa morta, . - bufou triste e impaciente, se sentando na cama de uma vez enquanto eu fechava a mochila.
- Foram situações horríveis pra elas duas e... Não sei, , eu também não sei. - meu coração estava extremamente apertado e eu só queria chorar e chorar - Megan e Zane estão mortos! - dizer em voz alta me doeu ainda mais - Eles tinham um caso e isso os matou. Ela finalmente tinha conseguido algo e... morreu. Ela só queria ser livre e ela estava apaixonada e morreu! disse que Paul não a matou porque sabia que ela estava envolvida com a gente também, e sim pela coisa que ele chama de traição. - foi a minha vez de sentar, completamente sem forças e dominada por uma onda de sentimentos que me faziam querer desaparecer da face da terra na esperança que tais sentimentos sumissem também.
- Você contou pro que ela tinha algo sobre o pai dele pra contar? - virou o rosto triste pra mim.
- Não e nem vou contar, afinal, ela morreu, eu nunca vou saber o que ela tinha pra me falar. Não vou falar nada pra porque literalmente não tem nada pra falar.
- Você tem razão. - a cabeça de foi tombando até encostar em meu ombro, se ajeitando ali de maneira desesperada por um carinho - Você vai ficar bem?
- Eu não sei, mas acho que vai ser bom sair um pouco daqui, e afinal, vou conhecer minha sogra e minhas cunhadas, e pensando bem, esse vai ser o menor dos meus problemas depois de tudo o que aconteceu essa semana. - ri fraco, totalmente sem humor ou energia.
- Elas vão te amar, . - mesmo sem ver, eu podia jurar que estava com um sorriso simpático nos lábios, mas em seguida um silêncio arrebatador tomou conta do quarto até ela continuar a falar - Megan está morta. - um suspiro pesado e cheio de dor saiu da minha melhor amiga.
Ficamos ali por longos minutos em silêncio, apenas absorvendo as dores da perda, dos acontecimentos, das verdades e das mentiras.
DIAS DEPOIS...
- Babe? - passou a mão em frente ao meu rosto, me tirando de um baita transe - Tá tudo bem? - ele se deitou enquanto eu permanecia sentada na beirada da cama, mas assim que ele bateu a mão no colchão, me chamando pra deitar ao seu lado, não resisti. No fim, os braços de sempre eram o meu maior conforto.
- Eu só estava pensando.
- No que?
- Em tudo. Megan está morta, Voight é meu tio, meu pai era um monstro e... Eu ainda não sei o que sentir. Já tem quase uma semana que estamos aqui e eu simplesmente não sei de nada. Eu sempre disse pra mim mesma que nunca precisei de um pai por perto porque eu realmente nunca precisei, mas agora eu paro e penso que Voight sempre esteve por perto, sempre mesmo. Tudo o que a gente quer é amor, é o que a gente procura, principalmente da nossa própria família, mas agora... Eu não sei, eu só não sei. Eu ando me sentindo apavorada. - prestou atenção em cada palavra que saía da minha boca de maneira ofegante, desenfreada e cheia de angústia.
- Você tá com medo do seu sentimento por Voight mudar porque descobriu que ele é o seu tio?
Às vezes a realidade vem com tudo, como um beliscão. Eu deveria saber que essa bagagem de culpa, inverdades e verdades são uma jaula. Eu deveria saber e lembrar que só consigo mentir pra mim mesma e me desligar de todos os sentimentos indesejados só um tempo, um tempo mínimo. Eu me sentia cansada, apavorada e negar isso não mudaria a verdade. Cedo ou tarde, a gente tem que deixar a negação de lado e encarar o mundo e os próprios sentimentos. Acontece que... Porra, é demais pra se sentir.
- Não, . Acho que é o contrário. Agora eu sei que tenho amor, sempre tive. Voight sempre foi o meu pai, mas isso realmente parece aterrorizante porque o amor... Ele pode desaparecer também e eu vou voltar à estaca zero, sozinha de novo. - minha voz se embargou e os olhos se encheram, assim como o meu peito se encheu de todas as sensações que eu estava tentando ignorar nos últimos dias.
- , do que você tá falando? - a testa franzida em confusão e indignação imediata surgiu e ergueu o corpo rapidamente pra se sentar - Você não está sozinha agora e nem vai ficar! Voight te ama e nada vai fazer ele te amar menos, Você tem ele, tem sua mãe, , eu! A gente te ama, !
- ...
- Eu te amo no mínimo pra sempre, . Eu sei que veio uma coisa atrás da outra, mas eu estou aqui pra você! - a ternura e a genuinidade nas palavras do meu namorado fizeram as lágrimas caírem de vez, mas não tão pesadas e cheias de angústia.
puxou meu corpo pra mais perto e segurou em meu rosto com uma mão, colando os lábios na minha boca, num beijo lento e cheio de amor. A intensidade e continuidade nos rondava. Esse amor me deu forças de verdade eu sempre achei que era exagero quando ouvia sobre isso por aí, mas é verdade mesmo. Ter comigo não anulava toda a dor que eu estava sentindo, mas nele eu encontrava forças pra poder enfrentar e me manter firme. Saber que tenho um melhor amigo que vai me amar no mínimo pra sempre antes de tudo realmente me dá uma baita força.
's POV
O tanto que minha mãe soltou frases clichês pra no começo da semana e incrivelmente todas funcionaram me deixou surpreso. Minha namorada se permitiu passar o dia na cama chorando várias vezes e quando deu vontade. não se sentiu envergonhada, se sentiu acolhida.
Minha namorada... Ainda parece surreal quando eu lembro que essa parte é mesmo verdadeira. Porra, eu tenho sorte, e sorte pra caralho!
saiu com as minhas irmãs durante a semana quando todas estavam livres e todos os dias antes da minha mãe chegar do trabalho, ela fazia questão de deixar o jantar pronto e a casa arrumada, preocupadíssima em não dar a impressão de ser uma preguiçosa, embora minha mãe tenha repetido zilhões de vezes de que não precisava fazer nada daquilo. A gente também se divertiu o quanto deu. Mostrei meus lugares favoritos de Bradford pra ela e parecia ter se conectado com cada canto e cada história que eu contei de verdade. Eu me sentia feito um adolescente amando pela primeira vez porque tudo com ela era extremamente único e memorável, sem exageros.
A bagunça começou quando as garotas chegaram e desceu. Conversas e gargalhadas pra todo o canto. Estávamos comendo Trifle juntos quando Safaa, de modo bem filho da puta, entrou no assunto que provavelmente nenhum de nós gostava de comentar.
- Você anda conseguindo conversar com o nosso pai? - ela questionou de modo cínico e debochado, mas não querendo me atingir, ela só queria entrar no assunto mesmo e eu já sabia o que ela pensava da história toda.
- Safaa... - minha mãe a repreendeu com um olhar mas ela deu os ombros, como se fosse uma garotinha inocente. observava tudo calada.
- Eu só quero saber! Vocês sabem que eu simplesmente não consigo engolir essa história de...
- Saf, é o nosso pai! - Doniya a interrompeu.
- E? - ela retrucou mais rebelde ainda - Se ele não fosse culpado, não estaria se escondendo e vocês sabem disso, só não querem aceitar!
Um silêncio desconfortável tomou conta da sala por um tempão antes de Waliyha contornar a situação e mudar de assunto, mas Safaa continuou levemente estressada por alguns minutos. Conversamos e rimos por horas até chegar a hora de nos despedirmos. Eu estava tranquilo e realizado por ter se dado extremamente bem com a minha família.
- Tchau horroroso, se cuida, cuida da sua namorada e não se mete em confusão, agora você faz parte de uma gangue! - Safaa veio toda espoleta me abraçar em despedida, me apertando forte.
- Filha, o que mais tem ali é confusão. - respondi como se fosse óbvio - E você me chamou de horroroso? Eu? Olha pra esse rostinho aqui! - semicerrei os olhos enquanto apontava pra o meu próprio rosto, tirando onda com a cara dela, que rolou os olhos.
- Já olhei e continua horroroso. - ela forçou uma careta e rimos juntos.
Safaa é a mais nova e claramente a mais retardada.
Minha mãe me gritou da cozinha e quando cheguei já tinha uns 3 potes em cima da mesa com temperos, o resto do frango ao curry e o último com uma outra sobremesa que ela tinha feito. Eu ri alto e nem tentei contestar, ela socaria aquilo tudo no carro pra eu levar querendo ou não.
- Você se cuida, está me ouvindo? - ela ainda vasculhava o armário em busca de algo - Eu não quero saber se é uma gangue ou não, eu simplesmente não quero te ver envolvido em mais nada, ok? Essa bagunça é do seu pai e só dele! - ela foi bem dura ao falar aquilo, ainda caçando o que tanto procurava e dando um sorrisinho animado quando achou: era outro pote pequeno de tempero.
- Você concorda com ela? - minha mãe cruzou o olhar com o meu no mesmo segundo, sabendo muito bem do que eu estava falando.
- Filho, eu...
- Eu também já pensei nisso várias vezes, só que quando eu penso, parece que alguma coisa tá sendo tirada de mim. Eu não quero imaginar que ele realmente seja essa pessoa que fez isso tudo e mudou totalmente as nossas vidas.
- Eu também não quero e nem posso pensar nisso, . Seu pai não é perfeito mas não consigo imaginar que ele seja... assim. Mas às vezes eu acho que penso demais com o coração e isso atrapalha porque, você sabe, ele é o meu marido e eu provavelmente não deveria duvidar, mas... - ela caiu no choro no mesmo instante.
- Mãe, calma! - andei até o outro lado do balcão com pressa, a abraçando forte.
- Eu não quero imaginar que ele seja isso, . Não foi com esse homem que eu casei!
Aquilo com certeza foi um choro que estava guardado há tempos e que finalmente foi liberado. Assim que minha mãe se recompôs e teve que se despedir de nós, chorou de novo e quase foi no embalo. Foi um festival, mas conseguimos passar disso.
No meio da música que tocava e a estrada tomando todo o meu campo de visão enquanto dirigia, o que me restou foi pensar, já que acabou capotando assim que entrou no carro. Me lembrei dos provérbios, dos filósofos, do meu avô falando para não perder tempo na vida, assim como a gente lê por aí o quanto temos que aproveitar a vida como se fosse tudo fácil ou incrível.
Foda-se tudo isso, a gente tem que pagar para ver, pra viver.
Talvez estivesse na hora de realmente me abrir pra mim mesmo e chegar numa possível conclusão sobre o meu pai.
's POV
Parecia que eu tinha ficado longe por anos. O portão estava aberto e entrei primeiro enquanto pegava nossas malas do carro.
- Mas chamar Leon é basicamente...
- Eu sei, mas eu preciso e eu quero isso, Holt!
Eu juro que não foi por mal, mas ao ouvir o nome "Leon" me fez automaticamente me encostar na parede pra continuar ouvindo a conversa. Quer dizer... Eu não tenho culpa, a porta estava aberta e os dois não estavam falando nada baixo.
- Você não quer fazer isso, você quer simplesmente uma saída e eu te garanto que a saída não é essa. Você não pode deixar Paul entrar tanto assim na sua cabeça, não depois de tudo o que você conquistou! - eu podia visualizar claramente o olhar sério e cheio de razão de Holt pra Voight e me peguei prendendo minha própria respiração, como se a qualquer momento os dois pudessem me enxergar através da parede.
estava no portão conversando com Mackie e Jones e me olhou de longe com um olhar divertido, sabendo muito bem que eu estava sendo atrevida em ficar ouvindo conversa alheia, mas em minha defesa, eu repito: a porta estava aberta.
Megan falou sobre esse tal de Leon. Ok, ela literalmente só falou que tinha ouvido o nome dele, mas o que Voight tinha a ver com isso? E como Paul o conhecia?
- EU VOU MATAR VOCÊ! - uma voz completamente desconhecida, nasalada, irritante e desesperada berrou pra qualquer um ouvir - LANDON, TIRA ISSO DAQUI AGORA!
Meu olhar cruzou com o de no mesmo segundo e eu corri junto com ele e em menos de cinco segundos ouvi Voight gritando meu nome atrás de mim, mas nem mesmo olhei. Minhas pernas só pararam de correr quando cheguei até o trailer que ficava entre o meu e o do , encontrando uma garota que eu nunca tinha visto até então e outro garoto que eu também nunca tinha visto ali e nem em qualquer outro lugar na vida. Ele segurava o rabo de um rato sem nojo algum, ameaçando encostar o mesmo na garota que gritava de nojo mas também ria descontroladamente.
- O que foi agora? - Holt perguntou nervoso, confuso com a cena em sua frente.
- Não é nada, eu só estava brincando. - o rapaz alto jogou o rato no chão e caiu na risada com a garota, mas Voight e Holt estavam longe de rir também.
- Tem quatro dias que vocês estão aqui e já me estressaram de todas as maneiras possíveis! - Voight resmungou bravo, fazendo os dois pararem de rir no mesmo segundo.
- Voight, foi só uma brincadeira. - a garota se defendeu sem graça e a única coisa que passava na minha cabeça era o quanto sua voz não correspondia com a sua aparência. Ela era tatuada em todos os cantos que eu podia enxergar e tinha um olhar forte e penetrante, beirando a intimidador.
- Eu pensei que tinha... acontecido algo. - eu murmurei baixíssimo e provavelmente só ouviu, já que uma de suas mãos entrelaçou minha cintura.
Voight virou seu rosto pra me encarar, abrindo um sorriso sincero e animado, sumindo automaticamente qualquer rastro da braveza de segundos antes. tirou o braço da minha cintura e olhou pra Voight com um olhar cúmplice e o homem me abraçou no mesmo segundo.
- Essa é a sua filha? - o rapaz franziu a testa de leve enquanto perguntava.
- Sim, essa é a ! - assim que os braços de Voight me soltaram do seu abraço e eu me virei, o rapaz já estava com a mão erguida pra me cumprimentar, olhando fixamente nos olhos.
- Eu sou o Landon.
- E eu sou a Shyla! - a garota entrou no embalo e se apresentou com um sorrisinho maroto nos lábios e logo passou o olhar de maneira rápida em e sorriu pra ele também, mas nada convidativo ou atrevido, e sim simpático.
Holt me abraçou em seguida e eu tenho certeza que o olhar de confusão não tinha abandonado minha face. Duas pessoas novas não era novidade na gangue, mas assim, do nada? Eu só fiquei uma semana fora!
Landon e Shyla cumprimentaram em seguida e antes mesmo de tentarem puxar papo o meu celular começou a tocar e eu atendi rapidamente assim que vi o nome de ) da tela.
- Alô?
- ! - a voz completamente chorosa fez meu coração acelerar.
- O que foi? O que aconteceu? - dei alguns passos pra longe do pessoal enquanto não tentava pensar no pior nessa questão mínima de segundos.
- O Grant!
- O que tem ele? Aconteceu alguma coisa?
- Ele me traiu! 's POV
Meus punhos estavam fechados de ódio, pronto pra socar o irmão de Grant. Bati na porta do garoto mais de uma vez, óbvio que ele não ouviria! Bati mais algumas vezes, cada vez mais forte, até que ele abriu.
- , o qu...
- São uma e meia da manhã, caralho! Desliga a porra desse som, as garotas acabaram de dormir e vão acordar já já se você não desligar ou abaixar essa bosta!
Foda-se. O garoto já tava me enchendo a paciência há dias. Eu sei, a casa não é minha, mas até Grant disse que o irmão era folgado demais e só funcionava na base da bronca. Desci as escadas assim que o volume foi abaixado. A casa estava virada de cabeça pra baixo de tanta bagunça e me custou uns dois segundos pra perceber que Grant estava sentado em um dos bancos do balcão da cozinha. Me aproximei cada vez mais e ele nem mesmo tinha notado minha presença, mas quase deixou o celular cair assim que passei ao seu lado, praticamente dando um pulo de susto.
- Porra, cara!
- Foi mal. - espalmei as mãos no ar, abrindo uma das sacolas que estavam na mesa com alguns salgadinhos e guloseimas que havia comprado mais cedo.
Fiquei ali, de frente pra Grant, que voltou a se concentrar no celular, digitando o mais rápido que podia. Fiquei analisando a cozinha inteira enquanto comia as batatas que estavam em minha mão, pousando o olhar em uma coisa muito específica que estava literalmente na minha frente mas eu ainda não tinha notado. Bem no cantinho do balcão tinha um pacotinho com um pó branco dentro. Larguei o saco de batatas na pia e avancei até o balcão, pegando o pacotinho na mão e me certificando de que aquilo era o que eu estava desconfiando. Grant se desconcertou inteiro, largando o celular no balcão e levantando com a mão aberta, tentando pegar o pacote de volta.
- ...
- Que merda é essa?
- Você sabe... Esses últimos quatro dias foram foda e... Eu só precisava me aliviar de algum jeito! - ele respondeu totalmente sem graça, me deixando na beira de um surto de verdade.
Ele só podia estar de brincadeira.
- Se tá foda pra você, imagina pra que descobriu que o pai foi morto. Ela passou a vida inteira achando uma coisa e agora descobre a verdade da pior maneira possível. Você deveria estar mais do lado dela, Grant.
- Eu sei, mas...
- Você tem um vício e eu não posso falar que entendo porque não entendo, mas você sabe como é, você vive isso, mas você mesmo já disse algumas vezes que queria melhorar, que queria parar, mas ainda assim, em qualquer situação ruim você tem uma recaída. Eu não sei o que te levou até as drogas, mas acho que você deve pensar que agora você deva ter mais motivos pra parar do que pra continuar.
Eu precisava falar, não só por ele, mas por também. Nos últimos quatro dias eu pude ver de perto o quão perdido e despreparado pra ajudá-la ele estava.
- Eu gosto da , ela realmente me faz querer melhorar, mas tem algo que... - ele parecia perdido em todos os sentidos - Eu não sei. Eu juro que não sei.
- Talvez essa seja a fuga da autorresponsabilidade. - dei meu palpite com dureza e talvez até com um pingo de ignorância.
Ninguém tem que salvar ninguém, mas a gente tenta. estava tentando. Eu posso mesmo ser um tanto quanto ignorante nessa parte, mas se nem o fato de uma das piores coisas ter acabado de acontecer com e isso não comover Grant pra parar e pensar que talvez esteja na hora de se esforçar um pouco mais já me dizia muita coisa. O mundo não é só romance e amores que mudam tudo, eu sei, e eu também sei que com um assunto delicado desse, se demanda muita paciência e controle pra averiguar bem, mas eu não sou um profissional, eu sou só o . Não posso reforçar o pensamento de Grant que parece não ter saída porque nem ele mesmo sabe o que acontece.
- É cara, talvez seja isso também. - a expressão de Grant não era das melhores. Ele se levantou com raiva, encarando o pacote ainda em minhas mãos mas não disse nada, saindo da sala em direção às escadas com fúria.
——
Eu estava pronto pra entrar no quarto e tentar conversar com sobre estar na hora de pelo menos conversar com sua mãe. Cinco dias talvez sejam pouco pra ela, mas quanto mais demora, mais dói, e eu via de longe o quão magoada minha namorada estava.
Foi ridículo. O jeito como Paul chegou, cinco dias atrás, enfiando a verdade goela abaixo de todo mundo foi ridículo. Foi pior ainda o jeito autoritário como ele chegou, como se ter armas e capangas fosse o seu maior orgulho porque tinha como nos controlar. Ligar pra do celular de Voight quase me fez perder a cabeça. Eu queria ter feito algo. Não tínhamos pra onde ir de primeira mas Grant, totalmente em choque, nos convidou pra ficar também. Nesses cinco dias, eu nunca vi e tão juntas e tão distantes ao mesmo tempo. No primeiro dia as duas dormiram juntas como duas crianças com medo do escuro e da solidão. Elas não conseguiam conversar, só chorar.
Em alguns momentos eu me questionei pra caralho, tentando adivinhar porque mentiram nisso, mas é algo totalmente pessoal e que eu só descobriria quando decidisse voltar ou conversar com sua mãe. E claro, Voight ligou um bilhão de vezes. Eu atendi só uma vez, dizendo onde estávamos e que estava tudo bem até onde poderia estar. Ele praticamente me deu férias sem data pra terminar, me fazendo prometer que ajudaria nesse processo e que precisava da minha ajuda pra conseguir conversar com ela pra se explicar, porque afinal, agora mais do que pai, ele também é tio de .
Que se dane tanto pensamento e reflexão.
Subi as escadas de uma vez, dando algumas batidas na porta antes de entrar, encontrando e sentadas na cama. O olhar exausto das duas entregava de longe o sofrimento. Eu estava pronto pra vir com um papo horrível porém necessário de que você não pode escolher sua família, que você aceita o que a vida lhe dá, embora você não goste que as mentiras venham junto. Mas gostando da sua família ou não, você se adequa a eles e consequentemente um pingo de compreensão cai junto, te fazendo entender - ou não - os motivos de todas as mentiras e problemas. Não que eu quisesse ser falso com , mas ela precisava pelo menos de um pouco de esperança e de um motivo pra buscar a verdade, mas eu não precisei falar nenhuma dessas bobagens porque ela tomou sua decisão antes disso.
- Preciso ver minha mãe. Você me leva?
's POV
Dizem que a verdade irá te libertar.
- Filha? - a voz dela me trouxe de volta à mim mesma. Minha mãe me olhava com os olhos já marejados e eu rapidamente busquei pela mão de por debaixo da mesa.
Eu pedi pra ele ficar. Eu poderia ter essa conversa à sós com a minha mãe, mas eu o queria ali, eu queria que ele ouvisse pra não ter que repetir tudo depois. Eu queria que ele soubesse.
- Então...? - tentei introduzir o assunto da maneira mais perdida. Como começar?
- Eu estava preocupada, ! Voight me disse que você está ficando na casa do namorado da e... Por Deus, filha! Eu só...
- Mãe! - chamei sua atenção com certa braveza - Não temos muito tempo, então fala o que tem que falar.
Na verdade, eu queria surtar. Eu queria gritar enquanto questionava o porquê dela ter mentido durante vinte anos, mas não podia. Primeiro que toda a exaustão, dor nas costas, o sono e o incômodo por noites mal dormidas e desconfortáveis já me tirava toda a disposição em surtar, e outra, eu não podia, caso contrário também seria presa.
- Eu nunca quis mentir pra você, filha. - uma lágrima escapou e ela não se deu o trabalho em limpar o rastro.
A fúria instalada em meu coração continuava do mesmo jeitinho e uma parte de mim esperava que a justificativa fosse boa mesmo pra que toda a raiva fosse liberada, mas ela se calou e as lágrimas continuaram descendo, e minha raiva aumentando.
- Mas você mentiu, e mentiu por vinte anos, e agora eu estou aqui mesmo sem querer estar, mas eu preciso da verdade pra ver se as coisas fazem pelo menos o mínimo de sentido, então será que você pode, por favor, falar logo?
me encarou levemente abalado, como se fosse um alerta me dizendo de que talvez eu tivesse indo longe demais. De um jeito ou de outro, ela ainda é minha mãe, mesmo longe, mesmo presa.
- Você sabe, Ellie cresceu nos The Lions, os pais dela faziam parte, e como éramos melhores amigas, eu consequentemente fiquei muito próxima de todos. Lembro até hoje quando vi Voight pela primeira vez. Muito perdido, sério e muito marrento, cabeça dura até demais. Ninguém conseguia ter espaço pra entrar na vida daquele homem, então eu continuei vivendo. Nós saíamos muito, era um grande grupo de amigos e eu conheci Paul pessoalmente. Eu sabia que tinha que ficar longe, afinal, já tinha ouvido histórias de como mesmo sendo tecnicamente novo nos Ghosts, o passado dele não era nada bonito. Ele nunca foi agradável, simpático ou alguém que valesse a pena dar uma chance, você entende? Até que Ellie conheceu o Martin, pai da , e ela se deslumbrou. Ela se deslumbrou com o amor e com toda aquela explosão de sentimentos, até que deixou de ser incrível. Martin perdeu o controle da própria vida por conta de más companhias. Ele era um homem perdido e se perdeu mais ainda quando começou a usar drogas e tudo o que ele fez com Ellie... Simplesmente... - ela deu um longo suspiro - Ele se transformou.
- Mãe, o que ele fez com a tia Ellie?
- Ele se tornou completamente agressivo. Ellie ficou desesperada quando engravidou e não contou nada pra ninguém, nem da gravidez e nem das agressões. Voight sabia o que estava acontecendo, era o único que sabia e ele era louco pra pegar Martin e acabar com a raça dele, mas Ellie não deixava, dizia que não adiantaria uma surra nele. Ela tinha medo de contar pra os pais, mas um dia ela se decidiu, ela iria contar sobre a gravidez e sobre as agressões, afinal, os The Lions dariam um jeito, mas ele morreu antes, Paul o matou. Martin devia muito dinheiro pelas drogas em várias gangues, e naquela época não tinha muita conversa, era morte na certa, mas os Ghosts foram os primeiros a tomar uma atitude. Paul o matou sem pensar duas vezes.
Um silêncio arrebatador pairou sobre nós. Toda vez que eu a visitava o tempo parecia voar, mas dessa vez estava sendo completamente diferente. Uma parte de mim só queria ir embora, só queria sumir. Aquilo parecia muita informação pra se obter.
- E depois? - minha voz raspou, quase não saindo.
- E aí nós tivemos um bebê. - em meio a toda dor do passado, ela sorriu - Foi difícil, mas Ellie conseguiu. Os The Lions sempre a ajudaram em tudo, principalmente Voight. Ele continuava não me dando bola, e só quando fez dois anos que conseguimos engatar o comecinho de algo. Eu estava tão feliz... Eu sempre gostei dele e ele finalmente tinha me dado espaço pra entrar na vida dele, mas aí aconteceu algo. Ben, o seu pai, chegou. Ben era mais velho que Voight mas só de idade. Ele era completamente imaturo, mas também muito brincalhão, divertido, com ele não tinha nenhum momento de tensão e o meu maior erro foi cair naquilo. Ben era fácil de lidar e eu acabei me aproximando muito mais dele. Voight reprovou aquilo desde o primeiro segundo e mesmo ainda gostando dele, eu quis ir pelo caminho mais fácil. Eu era nova e não sabia da merda que tava fazendo, mas continuei.
- E onde Paul entra nisso? Ele me disse que... - apertei os olhos com força, sentindo meu coração sendo esmagado só de lembrar - Deveria ter sido meu pai. - a reação de choque da minha mãe me deixou pior ainda. O olhar perdido entre indignação e nostalgia.
- Por algum motivo, mesmo sendo totalmente contra as regras, Paul sempre me procurava quando estávamos no mesmo lugar. Tentava puxar assunto e eu nunca dava atenção, até porque eu tinha medo! Eu não sei se pra Paul aquilo era um desafio ou se era só ele tentando ter controle de algo, de alguém, mas eu nunca permiti que ele se aproximasse. - ela explicou tão rápido e tão desesperada, como se quisesse se livrar logo da parte do assunto que envolvia Paul. - Ele é um assassino, . Ele matou Martin, deixou sem pai. Eu nunca, nem nos meus pesadelos mais loucos, seria capaz de ter qualquer vínculo com Paul.
Aquilo doeu.
- Mas ele também matou o meu pai... - sussurrei.
- Sim. - ela afirmou com o queixo tremendo e fungou forte, engolindo todo o choro - Eu fui burra em me envolver demais com Ben, mas tivemos momentos que na época foram únicos e que me faziam sentir tanta coisa... Quando eu engravidei fiquei apavorada com tudo. Voight ficou tão decepcionado comigo, e pior, Ben também, mas de uma maneira totalmente inesperada. - minha mãe apertou os olhos.
- O que... Ele fez?
- Voight se focava na gangue, ele dizia que era a única coisa que o tinha restado, e Ben... Ele não levava nada a sério, . Eu tentei o ajudar, de verdade, e todo mundo tentou. Voight se esforçava em tentar melhorar e Ben simplesmente sumia até por dias. Ele não recebeu a notícia da gravidez da melhor maneira e... surtou. Na verdade ele já era surtado, mas estava tudo escondido atrás das suas palhaçadas, do bom humor encantador e da simpatia. Voight havia tentado me avisar e eu não me importei... Até que chegou um dia onde eu precisei tomar uma decisão e terminei aquela coisa que tínhamos, mas pra deixar claro, a gente não desiste do que gosta, a gente desiste do que dói! Eu disse que não precisava nada dele, afinal, eu tinha bastante gente comigo e tinha visto de perto que Ellie conseguia criar sem um pai, então eu também conseguiria, mas Ben se revoltou... Toda a sua revolta foi liberada violentamente.
- O que?
- Ele achou um absurdo a minha decisão em tentar excluí-lo da sua vida. Mesmo não gostando da ideia, ele ainda fazia questão de gritar que era o pai e que poderia fazer o que quisesse, e foi aí que ele... Ele perdeu todas as estribeiras e me bateu. - as lágrimas caíram sem parar - Voight bateu tanto nele quando descobriu, e ele foi expulso dos The Lions, mas não só por isso, e sim porque ele também estava roubando dinheiro. Ben teve que sair do bairro e me sobrou Voight. Ele fez tudo por mim, , tudo mesmo. Todas as noites em que eu tinha algum desejo maluco, ele estava lá por mim. - ela se permitiu dar um sorriso mínimo no final enquanto falava de Voight, mas as lágrimas continuavam a cair e eu sentia sua dor, eu sentia de verdade!
- ELE TE BATEU? - um grito rouco saltou da minha garganta e apertou minha mão e imediatamente colocou a outra em meu ombro, fazendo um carinho desesperado com o polegar.
- O pior não foi isso, filha. Eu estava com mais de oito meses quando ele apareceu de novo. Ben estava, da maneira mais cara de pau, tentando começar a própria gangue e por algum motivo, algum maldito motivo, eu senti que tinha falhado. Eu era uma adolescente que pensava que o amor pudesse curar e mudar tudo e isso me atormentou. Eu não tinha o mudado, você não conseguiu o mudar, e foi por isso que eu menti. Aquele dia Ben me bateu de verdade, mas as agressões já tinham chegado há tempos. Os puxões agressivos no meu braço, o quão forte ele agarrava o meu rosto enquanto gritava na minha cara... Eu não falava daquilo com ninguém por vergonha, por medo. Eu cheguei a pensar que, de algum jeito, aquele era o meu destino, era aquilo que eu merecia, mas eu pensei em você, pensei no que Ellie viveu... Não era justo com nenhuma de nós. Paul matou Ben pra impedi-lo de crescer com a gangue nova.
- Mãe...
- Eu menti pra você porque eu não aguentava a verdade. Eu sempre tentei fugir dela, e achei que enterrando essa versão e contando simplesmente que seu pai me abandonou fizesse doer menos. Eu não queria te contar que nenhuma de nós foi capaz de salvar Ben, mas hoje eu sei que não tínhamos obrigação nenhuma disso. Ben era um homem horrível e eu acredito que ninguém o mudaria. - sua voz transpareceu todo o arrependimento e toda a dor. Minha mãe ignorou completamente qualquer tentativa de impedimento interno que pudesse fazer ela parar de contar a verdade, e então ela saiu da maneira mais cruel, clara e dura. Ela fungou, limpando as lágrimas que ainda insistiam em cair sem piedade.
O que dizem é mentira. A verdade não te liberta merda nenhuma. Que diabos as pessoas sabem? A verdade é horrível. A verdade é mais do que você pode aguentar.
——
- Você tem certeza disso? - perguntou pela milésima vez no mesmo tom tenso e carregado de preocupação - Você acabou de ouvir tudo aquilo da sua mãe e...
- A verdade é horrível, mas eu preciso dela inteira. Eu quero ouvir Voight também. - minha resposta não parecia o ter acalmado, parecia ter deixado ele mais preocupado ainda. Me aproximei do corpo dele de um jeito manhoso, o abraçando forte - Está tudo bem, , de verdade. Eu passei dias me torturando e morrendo de raiva disso tudo e... Agora eu só quero saber tudo, eu preciso.
sorriu, me dando um longo selinho e logo entrelaçando nossas mãos. As coisas realmente estavam menos piores com ele ao meu lado, mas por um segundo, ao passar daquele portão, nem mesmo todo o nosso amor parecia ser capaz de me ajudar com aquele peso que automaticamente veio pra cima dos meus ombros, como se os erros e as inverdades do mundo inteiro estivessem em minha responsabilidade. A última vez que eu tinha estado ali, dias antes, pela mesma janela do escritório, eu tinha visto Paul. Por um momento pareceu uma realidade totalmente paralela, mas era Paul, prestes a acabar comigo de maneiras que eu não posso nem explicar. Agora, eu vejo Voight, meu tio.
Eu apertei os olhos assim que notei que ele tinha me visto. Eu estava com medo, morrendo, na verdade. Medo de ser injusta, de falhar, medo de enxergar Voight de uma maneira completamente diferente.
- ?
Eu precisei abrir os olhos e encará-lo, e acredite... doeu. Dava pra se notar de longe o medo e a vergonha que Voight sentia. No fim, você não pode se esconder, o corpo não mente, ele denuncia a tensão. A verdade está aqui.
- Eu acabei de conversar com a minha mãe e... Acho que a gente precisa fazer o mesmo. - repreendi a mim mesma em pensamento por falar baixo demais, mas ele conseguiu ouvir.
Voight olhou pra trás e ele parecia ter adivinhado meus pensamentos. O último lugar que eu estava interessada em ir era aquele escritório. Nós dois ao mesmo tempo começamos a andar em direção ao meu trailer, e numa rápida olhada pra trás vi murmurando um "boa sorte". Por onde eu começaria? A verdade estava escancarada e todo mundo já sabia. Talvez nem uma palavra precisasse ser dita de tamanha vergonha dos dois lados. O sufoco. O tanto que estava machucando.
Abri a porta do meu trailer, entrando primeiro e sentindo meu coração acelerar ainda mais quando ouvi a mesma se fechando. Me sentei na minha cama com cuidado, como se aquele espaço nem fosse mais meu.
- . - Voight chamou minha atenção enquanto puxou a cadeira e sentou bem na minha frente - Eu sei que sua mãe já deve ter esclarecido muitas coisas, mas eu quero que você me ouça bem agora, pode ser? - ele pediu com um cuidado extremo e não tinha outra escolha a não ser assentir positivamente, afinal, eu que fui em busca disso - Leah não queria ninguém perto por um bom tempo quando você nasceu. Ela se dedicou tanto em te criar bem pra te ensinar a ser forte. Ela fez de tudo de verdade. Eu lembro do dia em que descobri que Ben fez aquilo com ela e eu juro , eu não me importava se ele era o meu irmão ou não, eu mesmo queria matá-lo de tanto ódio.
- Mas ela sempre gostou foi de você. Ben foi um caminho mais fácil que ela acabou seguindo porque você era difícil demais. - comentei num tom divertido, o vendo rolar os olhos e soltar uma risadinha fraca. Era um assunto extremamente pesado mas que só dependia de nós pra conversarmos sobre ele sem desabarmos.
- Eu tinha medo, . Não da sua mãe, não do amor, mas medo de mim. Era tudo tão novo pra mim e tão angustiante. Eu precisei de muito tempo pra me sentir eu mesmo, pra tentar achar um caminho por aqui, um caminho pra sobreviver sozinho, porque eu já não tinha os meus pais, e Ben era o mesmo que nada, então eu tive que me virar. Eu não tive condições de me abrir de primeira mas assim que eu deixei... Eu nunca imaginei que era tão bom ser amado, mesmo que minha relação com sua mãe tenha demorado muitos anos pra finalmente acontecer, a gente sempre se amou. - ele sorriu leve, olhando pro além e com certeza lembrando dos velhos tempos - Ela ficou abalada com a morte de Ben e eu entendo. O jeito da sua mãe lidar com aquilo foi se convencer que ele nunca seria capaz de mudar e que nada na vida seria capaz de fazê-la perdoar ele.
- O que? - franzi a testa totalmente confusa - Ela sempre me disse o contrário! Sempre disse que perdoar e saber que as pessoas são sim capazes de mudar em meio a tantos erros é possível. - cerrei os olhos coberta em confusão, encarando Voight como se tivesse alguma possibilidade dele estar mentindo, e o que recebi foi um sorriso largo logo de cara.
- Ela mudou. Quer dizer, você a mudou.
Não pareceu certo. Pra ser honesta, pareceu mais do que errado e algo pesado pra se carregar no mesmo segundo.
- Eu a mudei? Sério? Ou será que ela simplesmente mentiu pra poder me criar bem? Será que ela passou por cima de si mesma por mim?
- , eu estava lá! - Voight exclamou alto e forte, querendo colocar meus pés no chão novamente - Eu vi a sua mãe se tornar uma mulher ainda mais incrível. Ela nunca, nunca mesmo, te enxergou como alguém que não valesse a pena ser amada. Ela nunca te olhou de maneira diferente por conta de Ben. Você mudou Leah pra melhor.
Continuou doendo.
- Eu ainda sou filha do homem que bateu nela, que a machucou mais de uma vez. - meu queixo começou a tremer e passei as mãos pelo cabelo nervosa, arrancando alguns bons fios com toda a certeza - E ele era o seu irmão, e você é o meu tio. Simplesmente tá tudo errado!
- Você pode não me considerar como um pai, mas você é minha filha, . Ben foi um filho da puta com Leah e ninguém nunca vai esquecer disso, mas ele fez um coisa certa, que foi você! Eu te vi crescendo, te vi aprendendo, te vi chorando, te vi sorrindo... Sua mãe sempre te deu prioridade e ela nunca se arrependeu disso do mesmo jeito que eu nunca me arrependi de esperar por ela. No fim deu tudo certo, e você pode até não me perdoar ou não falar comigo nunca mais, você vai continuar sendo minha filha, sobrinha ou seja lá o que for. - os olhos marejados de Voight foi o estopim pra me fazer desaguar de vez feito uma criança. Rapidamente ele sentou do meu lado na cama, me abraçando com toda a força.
- Eu preciso de um tempo. - foi a única coisa que consegui dizer em meio ao choro forte e cruel.
- O tempo que você precisar, .
——
- Eu nem sei como estou me sentindo e não acho que vou descobrir tão cedo. Eu passei a vida odiando uma pessoa morta, . - bufou triste e impaciente, se sentando na cama de uma vez enquanto eu fechava a mochila.
- Foram situações horríveis pra elas duas e... Não sei, , eu também não sei. - meu coração estava extremamente apertado e eu só queria chorar e chorar - Megan e Zane estão mortos! - dizer em voz alta me doeu ainda mais - Eles tinham um caso e isso os matou. Ela finalmente tinha conseguido algo e... morreu. Ela só queria ser livre e ela estava apaixonada e morreu! disse que Paul não a matou porque sabia que ela estava envolvida com a gente também, e sim pela coisa que ele chama de traição. - foi a minha vez de sentar, completamente sem forças e dominada por uma onda de sentimentos que me faziam querer desaparecer da face da terra na esperança que tais sentimentos sumissem também.
- Você contou pro que ela tinha algo sobre o pai dele pra contar? - virou o rosto triste pra mim.
- Não e nem vou contar, afinal, ela morreu, eu nunca vou saber o que ela tinha pra me falar. Não vou falar nada pra porque literalmente não tem nada pra falar.
- Você tem razão. - a cabeça de foi tombando até encostar em meu ombro, se ajeitando ali de maneira desesperada por um carinho - Você vai ficar bem?
- Eu não sei, mas acho que vai ser bom sair um pouco daqui, e afinal, vou conhecer minha sogra e minhas cunhadas, e pensando bem, esse vai ser o menor dos meus problemas depois de tudo o que aconteceu essa semana. - ri fraco, totalmente sem humor ou energia.
- Elas vão te amar, . - mesmo sem ver, eu podia jurar que estava com um sorriso simpático nos lábios, mas em seguida um silêncio arrebatador tomou conta do quarto até ela continuar a falar - Megan está morta. - um suspiro pesado e cheio de dor saiu da minha melhor amiga.
Ficamos ali por longos minutos em silêncio, apenas absorvendo as dores da perda, dos acontecimentos, das verdades e das mentiras.
DIAS DEPOIS...
- Babe? - passou a mão em frente ao meu rosto, me tirando de um baita transe - Tá tudo bem? - ele se deitou enquanto eu permanecia sentada na beirada da cama, mas assim que ele bateu a mão no colchão, me chamando pra deitar ao seu lado, não resisti. No fim, os braços de sempre eram o meu maior conforto.
- Eu só estava pensando.
- No que?
- Em tudo. Megan está morta, Voight é meu tio, meu pai era um monstro e... Eu ainda não sei o que sentir. Já tem quase uma semana que estamos aqui e eu simplesmente não sei de nada. Eu sempre disse pra mim mesma que nunca precisei de um pai por perto porque eu realmente nunca precisei, mas agora eu paro e penso que Voight sempre esteve por perto, sempre mesmo. Tudo o que a gente quer é amor, é o que a gente procura, principalmente da nossa própria família, mas agora... Eu não sei, eu só não sei. Eu ando me sentindo apavorada. - prestou atenção em cada palavra que saía da minha boca de maneira ofegante, desenfreada e cheia de angústia.
- Você tá com medo do seu sentimento por Voight mudar porque descobriu que ele é o seu tio?
Às vezes a realidade vem com tudo, como um beliscão. Eu deveria saber que essa bagagem de culpa, inverdades e verdades são uma jaula. Eu deveria saber e lembrar que só consigo mentir pra mim mesma e me desligar de todos os sentimentos indesejados só um tempo, um tempo mínimo. Eu me sentia cansada, apavorada e negar isso não mudaria a verdade. Cedo ou tarde, a gente tem que deixar a negação de lado e encarar o mundo e os próprios sentimentos. Acontece que... Porra, é demais pra se sentir.
- Não, . Acho que é o contrário. Agora eu sei que tenho amor, sempre tive. Voight sempre foi o meu pai, mas isso realmente parece aterrorizante porque o amor... Ele pode desaparecer também e eu vou voltar à estaca zero, sozinha de novo. - minha voz se embargou e os olhos se encheram, assim como o meu peito se encheu de todas as sensações que eu estava tentando ignorar nos últimos dias.
- , do que você tá falando? - a testa franzida em confusão e indignação imediata surgiu e ergueu o corpo rapidamente pra se sentar - Você não está sozinha agora e nem vai ficar! Voight te ama e nada vai fazer ele te amar menos, Você tem ele, tem sua mãe, , eu! A gente te ama, !
- ...
- Eu te amo no mínimo pra sempre, . Eu sei que veio uma coisa atrás da outra, mas eu estou aqui pra você! - a ternura e a genuinidade nas palavras do meu namorado fizeram as lágrimas caírem de vez, mas não tão pesadas e cheias de angústia.
puxou meu corpo pra mais perto e segurou em meu rosto com uma mão, colando os lábios na minha boca, num beijo lento e cheio de amor. A intensidade e continuidade nos rondava. Esse amor me deu forças de verdade eu sempre achei que era exagero quando ouvia sobre isso por aí, mas é verdade mesmo. Ter comigo não anulava toda a dor que eu estava sentindo, mas nele eu encontrava forças pra poder enfrentar e me manter firme. Saber que tenho um melhor amigo que vai me amar no mínimo pra sempre antes de tudo realmente me dá uma baita força.
's POV
O tanto que minha mãe soltou frases clichês pra no começo da semana e incrivelmente todas funcionaram me deixou surpreso. Minha namorada se permitiu passar o dia na cama chorando várias vezes e quando deu vontade. não se sentiu envergonhada, se sentiu acolhida.
Minha namorada... Ainda parece surreal quando eu lembro que essa parte é mesmo verdadeira. Porra, eu tenho sorte, e sorte pra caralho!
saiu com as minhas irmãs durante a semana quando todas estavam livres e todos os dias antes da minha mãe chegar do trabalho, ela fazia questão de deixar o jantar pronto e a casa arrumada, preocupadíssima em não dar a impressão de ser uma preguiçosa, embora minha mãe tenha repetido zilhões de vezes de que não precisava fazer nada daquilo. A gente também se divertiu o quanto deu. Mostrei meus lugares favoritos de Bradford pra ela e parecia ter se conectado com cada canto e cada história que eu contei de verdade. Eu me sentia feito um adolescente amando pela primeira vez porque tudo com ela era extremamente único e memorável, sem exageros.
A bagunça começou quando as garotas chegaram e desceu. Conversas e gargalhadas pra todo o canto. Estávamos comendo Trifle juntos quando Safaa, de modo bem filho da puta, entrou no assunto que provavelmente nenhum de nós gostava de comentar.
- Você anda conseguindo conversar com o nosso pai? - ela questionou de modo cínico e debochado, mas não querendo me atingir, ela só queria entrar no assunto mesmo e eu já sabia o que ela pensava da história toda.
- Safaa... - minha mãe a repreendeu com um olhar mas ela deu os ombros, como se fosse uma garotinha inocente. observava tudo calada.
- Eu só quero saber! Vocês sabem que eu simplesmente não consigo engolir essa história de...
- Saf, é o nosso pai! - Doniya a interrompeu.
- E? - ela retrucou mais rebelde ainda - Se ele não fosse culpado, não estaria se escondendo e vocês sabem disso, só não querem aceitar!
Um silêncio desconfortável tomou conta da sala por um tempão antes de Waliyha contornar a situação e mudar de assunto, mas Safaa continuou levemente estressada por alguns minutos. Conversamos e rimos por horas até chegar a hora de nos despedirmos. Eu estava tranquilo e realizado por ter se dado extremamente bem com a minha família.
- Tchau horroroso, se cuida, cuida da sua namorada e não se mete em confusão, agora você faz parte de uma gangue! - Safaa veio toda espoleta me abraçar em despedida, me apertando forte.
- Filha, o que mais tem ali é confusão. - respondi como se fosse óbvio - E você me chamou de horroroso? Eu? Olha pra esse rostinho aqui! - semicerrei os olhos enquanto apontava pra o meu próprio rosto, tirando onda com a cara dela, que rolou os olhos.
- Já olhei e continua horroroso. - ela forçou uma careta e rimos juntos.
Safaa é a mais nova e claramente a mais retardada.
Minha mãe me gritou da cozinha e quando cheguei já tinha uns 3 potes em cima da mesa com temperos, o resto do frango ao curry e o último com uma outra sobremesa que ela tinha feito. Eu ri alto e nem tentei contestar, ela socaria aquilo tudo no carro pra eu levar querendo ou não.
- Você se cuida, está me ouvindo? - ela ainda vasculhava o armário em busca de algo - Eu não quero saber se é uma gangue ou não, eu simplesmente não quero te ver envolvido em mais nada, ok? Essa bagunça é do seu pai e só dele! - ela foi bem dura ao falar aquilo, ainda caçando o que tanto procurava e dando um sorrisinho animado quando achou: era outro pote pequeno de tempero.
- Você concorda com ela? - minha mãe cruzou o olhar com o meu no mesmo segundo, sabendo muito bem do que eu estava falando.
- Filho, eu...
- Eu também já pensei nisso várias vezes, só que quando eu penso, parece que alguma coisa tá sendo tirada de mim. Eu não quero imaginar que ele realmente seja essa pessoa que fez isso tudo e mudou totalmente as nossas vidas.
- Eu também não quero e nem posso pensar nisso, . Seu pai não é perfeito mas não consigo imaginar que ele seja... assim. Mas às vezes eu acho que penso demais com o coração e isso atrapalha porque, você sabe, ele é o meu marido e eu provavelmente não deveria duvidar, mas... - ela caiu no choro no mesmo instante.
- Mãe, calma! - andei até o outro lado do balcão com pressa, a abraçando forte.
- Eu não quero imaginar que ele seja isso, . Não foi com esse homem que eu casei!
Aquilo com certeza foi um choro que estava guardado há tempos e que finalmente foi liberado. Assim que minha mãe se recompôs e teve que se despedir de nós, chorou de novo e quase foi no embalo. Foi um festival, mas conseguimos passar disso.
No meio da música que tocava e a estrada tomando todo o meu campo de visão enquanto dirigia, o que me restou foi pensar, já que acabou capotando assim que entrou no carro. Me lembrei dos provérbios, dos filósofos, do meu avô falando para não perder tempo na vida, assim como a gente lê por aí o quanto temos que aproveitar a vida como se fosse tudo fácil ou incrível.
Foda-se tudo isso, a gente tem que pagar para ver, pra viver.
Talvez estivesse na hora de realmente me abrir pra mim mesmo e chegar numa possível conclusão sobre o meu pai.
's POV
Parecia que eu tinha ficado longe por anos. O portão estava aberto e entrei primeiro enquanto pegava nossas malas do carro.
- Mas chamar Leon é basicamente...
- Eu sei, mas eu preciso e eu quero isso, Holt!
Eu juro que não foi por mal, mas ao ouvir o nome "Leon" me fez automaticamente me encostar na parede pra continuar ouvindo a conversa. Quer dizer... Eu não tenho culpa, a porta estava aberta e os dois não estavam falando nada baixo.
- Você não quer fazer isso, você quer simplesmente uma saída e eu te garanto que a saída não é essa. Você não pode deixar Paul entrar tanto assim na sua cabeça, não depois de tudo o que você conquistou! - eu podia visualizar claramente o olhar sério e cheio de razão de Holt pra Voight e me peguei prendendo minha própria respiração, como se a qualquer momento os dois pudessem me enxergar através da parede.
estava no portão conversando com Mackie e Jones e me olhou de longe com um olhar divertido, sabendo muito bem que eu estava sendo atrevida em ficar ouvindo conversa alheia, mas em minha defesa, eu repito: a porta estava aberta.
Megan falou sobre esse tal de Leon. Ok, ela literalmente só falou que tinha ouvido o nome dele, mas o que Voight tinha a ver com isso? E como Paul o conhecia?
- EU VOU MATAR VOCÊ! - uma voz completamente desconhecida, nasalada, irritante e desesperada berrou pra qualquer um ouvir - LANDON, TIRA ISSO DAQUI AGORA!
Meu olhar cruzou com o de no mesmo segundo e eu corri junto com ele e em menos de cinco segundos ouvi Voight gritando meu nome atrás de mim, mas nem mesmo olhei. Minhas pernas só pararam de correr quando cheguei até o trailer que ficava entre o meu e o do , encontrando uma garota que eu nunca tinha visto até então e outro garoto que eu também nunca tinha visto ali e nem em qualquer outro lugar na vida. Ele segurava o rabo de um rato sem nojo algum, ameaçando encostar o mesmo na garota que gritava de nojo mas também ria descontroladamente.
- O que foi agora? - Holt perguntou nervoso, confuso com a cena em sua frente.
- Não é nada, eu só estava brincando. - o rapaz alto jogou o rato no chão e caiu na risada com a garota, mas Voight e Holt estavam longe de rir também.
- Tem quatro dias que vocês estão aqui e já me estressaram de todas as maneiras possíveis! - Voight resmungou bravo, fazendo os dois pararem de rir no mesmo segundo.
- Voight, foi só uma brincadeira. - a garota se defendeu sem graça e a única coisa que passava na minha cabeça era o quanto sua voz não correspondia com a sua aparência. Ela era tatuada em todos os cantos que eu podia enxergar e tinha um olhar forte e penetrante, beirando a intimidador.
- Eu pensei que tinha... acontecido algo. - eu murmurei baixíssimo e provavelmente só ouviu, já que uma de suas mãos entrelaçou minha cintura.
Voight virou seu rosto pra me encarar, abrindo um sorriso sincero e animado, sumindo automaticamente qualquer rastro da braveza de segundos antes. tirou o braço da minha cintura e olhou pra Voight com um olhar cúmplice e o homem me abraçou no mesmo segundo.
- Essa é a sua filha? - o rapaz franziu a testa de leve enquanto perguntava.
- Sim, essa é a ! - assim que os braços de Voight me soltaram do seu abraço e eu me virei, o rapaz já estava com a mão erguida pra me cumprimentar, olhando fixamente nos olhos.
- Eu sou o Landon.
- E eu sou a Shyla! - a garota entrou no embalo e se apresentou com um sorrisinho maroto nos lábios e logo passou o olhar de maneira rápida em e sorriu pra ele também, mas nada convidativo ou atrevido, e sim simpático.
Holt me abraçou em seguida e eu tenho certeza que o olhar de confusão não tinha abandonado minha face. Duas pessoas novas não era novidade na gangue, mas assim, do nada? Eu só fiquei uma semana fora!
Landon e Shyla cumprimentaram em seguida e antes mesmo de tentarem puxar papo o meu celular começou a tocar e eu atendi rapidamente assim que vi o nome de ) da tela.
- Alô?
- ! - a voz completamente chorosa fez meu coração acelerar.
- O que foi? O que aconteceu? - dei alguns passos pra longe do pessoal enquanto não tentava pensar no pior nessa questão mínima de segundos.
- O Grant!
- O que tem ele? Aconteceu alguma coisa?
- Ele me traiu!
Meus punhos estavam fechados de ódio, pronto pra socar o irmão de Grant. Bati na porta do garoto mais de uma vez, óbvio que ele não ouviria! Bati mais algumas vezes, cada vez mais forte, até que ele abriu.
- , o qu...
- São uma e meia da manhã, caralho! Desliga a porra desse som, as garotas acabaram de dormir e vão acordar já já se você não desligar ou abaixar essa bosta!
Foda-se. O garoto já tava me enchendo a paciência há dias. Eu sei, a casa não é minha, mas até Grant disse que o irmão era folgado demais e só funcionava na base da bronca. Desci as escadas assim que o volume foi abaixado. A casa estava virada de cabeça pra baixo de tanta bagunça e me custou uns dois segundos pra perceber que Grant estava sentado em um dos bancos do balcão da cozinha. Me aproximei cada vez mais e ele nem mesmo tinha notado minha presença, mas quase deixou o celular cair assim que passei ao seu lado, praticamente dando um pulo de susto.
- Porra, cara!
- Foi mal. - espalmei as mãos no ar, abrindo uma das sacolas que estavam na mesa com alguns salgadinhos e guloseimas que havia comprado mais cedo.
Fiquei ali, de frente pra Grant, que voltou a se concentrar no celular, digitando o mais rápido que podia. Fiquei analisando a cozinha inteira enquanto comia as batatas que estavam em minha mão, pousando o olhar em uma coisa muito específica que estava literalmente na minha frente mas eu ainda não tinha notado. Bem no cantinho do balcão tinha um pacotinho com um pó branco dentro. Larguei o saco de batatas na pia e avancei até o balcão, pegando o pacotinho na mão e me certificando de que aquilo era o que eu estava desconfiando. Grant se desconcertou inteiro, largando o celular no balcão e levantando com a mão aberta, tentando pegar o pacote de volta.
- ...
- Que merda é essa?
- Você sabe... Esses últimos quatro dias foram foda e... Eu só precisava me aliviar de algum jeito! - ele respondeu totalmente sem graça, me deixando na beira de um surto de verdade.
Ele só podia estar de brincadeira.
- Se tá foda pra você, imagina pra que descobriu que o pai foi morto. Ela passou a vida inteira achando uma coisa e agora descobre a verdade da pior maneira possível. Você deveria estar mais do lado dela, Grant.
- Eu sei, mas...
- Você tem um vício e eu não posso falar que entendo porque não entendo, mas você sabe como é, você vive isso, mas você mesmo já disse algumas vezes que queria melhorar, que queria parar, mas ainda assim, em qualquer situação ruim você tem uma recaída. Eu não sei o que te levou até as drogas, mas acho que você deve pensar que agora você deva ter mais motivos pra parar do que pra continuar.
Eu precisava falar, não só por ele, mas por também. Nos últimos quatro dias eu pude ver de perto o quão perdido e despreparado pra ajudá-la ele estava.
- Eu gosto da , ela realmente me faz querer melhorar, mas tem algo que... - ele parecia perdido em todos os sentidos - Eu não sei. Eu juro que não sei.
- Talvez essa seja a fuga da autorresponsabilidade. - dei meu palpite com dureza e talvez até com um pingo de ignorância.
Ninguém tem que salvar ninguém, mas a gente tenta. estava tentando. Eu posso mesmo ser um tanto quanto ignorante nessa parte, mas se nem o fato de uma das piores coisas ter acabado de acontecer com e isso não comover Grant pra parar e pensar que talvez esteja na hora de se esforçar um pouco mais já me dizia muita coisa. O mundo não é só romance e amores que mudam tudo, eu sei, e eu também sei que com um assunto delicado desse, se demanda muita paciência e controle pra averiguar bem, mas eu não sou um profissional, eu sou só o . Não posso reforçar o pensamento de Grant que parece não ter saída porque nem ele mesmo sabe o que acontece.
- É cara, talvez seja isso também. - a expressão de Grant não era das melhores. Ele se levantou com raiva, encarando o pacote ainda em minhas mãos mas não disse nada, saindo da sala em direção às escadas com fúria.
Eu estava pronto pra entrar no quarto e tentar conversar com sobre estar na hora de pelo menos conversar com sua mãe. Cinco dias talvez sejam pouco pra ela, mas quanto mais demora, mais dói, e eu via de longe o quão magoada minha namorada estava.
Foi ridículo. O jeito como Paul chegou, cinco dias atrás, enfiando a verdade goela abaixo de todo mundo foi ridículo. Foi pior ainda o jeito autoritário como ele chegou, como se ter armas e capangas fosse o seu maior orgulho porque tinha como nos controlar. Ligar pra do celular de Voight quase me fez perder a cabeça. Eu queria ter feito algo. Não tínhamos pra onde ir de primeira mas Grant, totalmente em choque, nos convidou pra ficar também. Nesses cinco dias, eu nunca vi e tão juntas e tão distantes ao mesmo tempo. No primeiro dia as duas dormiram juntas como duas crianças com medo do escuro e da solidão. Elas não conseguiam conversar, só chorar.
Em alguns momentos eu me questionei pra caralho, tentando adivinhar porque mentiram nisso, mas é algo totalmente pessoal e que eu só descobriria quando decidisse voltar ou conversar com sua mãe. E claro, Voight ligou um bilhão de vezes. Eu atendi só uma vez, dizendo onde estávamos e que estava tudo bem até onde poderia estar. Ele praticamente me deu férias sem data pra terminar, me fazendo prometer que ajudaria nesse processo e que precisava da minha ajuda pra conseguir conversar com ela pra se explicar, porque afinal, agora mais do que pai, ele também é tio de .
Que se dane tanto pensamento e reflexão.
Subi as escadas de uma vez, dando algumas batidas na porta antes de entrar, encontrando e sentadas na cama. O olhar exausto das duas entregava de longe o sofrimento. Eu estava pronto pra vir com um papo horrível porém necessário de que você não pode escolher sua família, que você aceita o que a vida lhe dá, embora você não goste que as mentiras venham junto. Mas gostando da sua família ou não, você se adequa a eles e consequentemente um pingo de compreensão cai junto, te fazendo entender - ou não - os motivos de todas as mentiras e problemas. Não que eu quisesse ser falso com , mas ela precisava pelo menos de um pouco de esperança e de um motivo pra buscar a verdade, mas eu não precisei falar nenhuma dessas bobagens porque ela tomou sua decisão antes disso.
- Preciso ver minha mãe. Você me leva?
's POV
Dizem que a verdade irá te libertar.
- Filha? - a voz dela me trouxe de volta à mim mesma. Minha mãe me olhava com os olhos já marejados e eu rapidamente busquei pela mão de por debaixo da mesa.
Eu pedi pra ele ficar. Eu poderia ter essa conversa à sós com a minha mãe, mas eu o queria ali, eu queria que ele ouvisse pra não ter que repetir tudo depois. Eu queria que ele soubesse.
- Então...? - tentei introduzir o assunto da maneira mais perdida. Como começar?
- Eu estava preocupada, ! Voight me disse que você está ficando na casa do namorado da e... Por Deus, filha! Eu só...
- Mãe! - chamei sua atenção com certa braveza - Não temos muito tempo, então fala o que tem que falar.
Na verdade, eu queria surtar. Eu queria gritar enquanto questionava o porquê dela ter mentido durante vinte anos, mas não podia. Primeiro que toda a exaustão, dor nas costas, o sono e o incômodo por noites mal dormidas e desconfortáveis já me tirava toda a disposição em surtar, e outra, eu não podia, caso contrário também seria presa.
- Eu nunca quis mentir pra você, filha. - uma lágrima escapou e ela não se deu o trabalho em limpar o rastro.
A fúria instalada em meu coração continuava do mesmo jeitinho e uma parte de mim esperava que a justificativa fosse boa mesmo pra que toda a raiva fosse liberada, mas ela se calou e as lágrimas continuaram descendo, e minha raiva aumentando.
- Mas você mentiu, e mentiu por vinte anos, e agora eu estou aqui mesmo sem querer estar, mas eu preciso da verdade pra ver se as coisas fazem pelo menos o mínimo de sentido, então será que você pode, por favor, falar logo?
me encarou levemente abalado, como se fosse um alerta me dizendo de que talvez eu tivesse indo longe demais. De um jeito ou de outro, ela ainda é minha mãe, mesmo longe, mesmo presa.
- Você sabe, Ellie cresceu nos The Lions, os pais dela faziam parte, e como éramos melhores amigas, eu consequentemente fiquei muito próxima de todos. Lembro até hoje quando vi Voight pela primeira vez. Muito perdido, sério e muito marrento, cabeça dura até demais. Ninguém conseguia ter espaço pra entrar na vida daquele homem, então eu continuei vivendo. Nós saíamos muito, era um grande grupo de amigos e eu conheci Paul pessoalmente. Eu sabia que tinha que ficar longe, afinal, já tinha ouvido histórias de como mesmo sendo tecnicamente novo nos Ghosts, o passado dele não era nada bonito. Ele nunca foi agradável, simpático ou alguém que valesse a pena dar uma chance, você entende? Até que Ellie conheceu o Martin, pai da , e ela se deslumbrou. Ela se deslumbrou com o amor e com toda aquela explosão de sentimentos, até que deixou de ser incrível. Martin perdeu o controle da própria vida por conta de más companhias. Ele era um homem perdido e se perdeu mais ainda quando começou a usar drogas e tudo o que ele fez com Ellie... Simplesmente... - ela deu um longo suspiro - Ele se transformou.
- Mãe, o que ele fez com a tia Ellie?
- Ele se tornou completamente agressivo. Ellie ficou desesperada quando engravidou e não contou nada pra ninguém, nem da gravidez e nem das agressões. Voight sabia o que estava acontecendo, era o único que sabia e ele era louco pra pegar Martin e acabar com a raça dele, mas Ellie não deixava, dizia que não adiantaria uma surra nele. Ela tinha medo de contar pra os pais, mas um dia ela se decidiu, ela iria contar sobre a gravidez e sobre as agressões, afinal, os The Lions dariam um jeito, mas ele morreu antes, Paul o matou. Martin devia muito dinheiro pelas drogas em várias gangues, e naquela época não tinha muita conversa, era morte na certa, mas os Ghosts foram os primeiros a tomar uma atitude. Paul o matou sem pensar duas vezes.
Um silêncio arrebatador pairou sobre nós. Toda vez que eu a visitava o tempo parecia voar, mas dessa vez estava sendo completamente diferente. Uma parte de mim só queria ir embora, só queria sumir. Aquilo parecia muita informação pra se obter.
- E depois? - minha voz raspou, quase não saindo.
- E aí nós tivemos um bebê. - em meio a toda dor do passado, ela sorriu - Foi difícil, mas Ellie conseguiu. Os The Lions sempre a ajudaram em tudo, principalmente Voight. Ele continuava não me dando bola, e só quando fez dois anos que conseguimos engatar o comecinho de algo. Eu estava tão feliz... Eu sempre gostei dele e ele finalmente tinha me dado espaço pra entrar na vida dele, mas aí aconteceu algo. Ben, o seu pai, chegou. Ben era mais velho que Voight mas só de idade. Ele era completamente imaturo, mas também muito brincalhão, divertido, com ele não tinha nenhum momento de tensão e o meu maior erro foi cair naquilo. Ben era fácil de lidar e eu acabei me aproximando muito mais dele. Voight reprovou aquilo desde o primeiro segundo e mesmo ainda gostando dele, eu quis ir pelo caminho mais fácil. Eu era nova e não sabia da merda que tava fazendo, mas continuei.
- E onde Paul entra nisso? Ele me disse que... - apertei os olhos com força, sentindo meu coração sendo esmagado só de lembrar - Deveria ter sido meu pai. - a reação de choque da minha mãe me deixou pior ainda. O olhar perdido entre indignação e nostalgia.
- Por algum motivo, mesmo sendo totalmente contra as regras, Paul sempre me procurava quando estávamos no mesmo lugar. Tentava puxar assunto e eu nunca dava atenção, até porque eu tinha medo! Eu não sei se pra Paul aquilo era um desafio ou se era só ele tentando ter controle de algo, de alguém, mas eu nunca permiti que ele se aproximasse. - ela explicou tão rápido e tão desesperada, como se quisesse se livrar logo da parte do assunto que envolvia Paul. - Ele é um assassino, . Ele matou Martin, deixou sem pai. Eu nunca, nem nos meus pesadelos mais loucos, seria capaz de ter qualquer vínculo com Paul.
Aquilo doeu.
- Mas ele também matou o meu pai... - sussurrei.
- Sim. - ela afirmou com o queixo tremendo e fungou forte, engolindo todo o choro - Eu fui burra em me envolver demais com Ben, mas tivemos momentos que na época foram únicos e que me faziam sentir tanta coisa... Quando eu engravidei fiquei apavorada com tudo. Voight ficou tão decepcionado comigo, e pior, Ben também, mas de uma maneira totalmente inesperada. - minha mãe apertou os olhos.
- O que... Ele fez?
- Voight se focava na gangue, ele dizia que era a única coisa que o tinha restado, e Ben... Ele não levava nada a sério, . Eu tentei o ajudar, de verdade, e todo mundo tentou. Voight se esforçava em tentar melhorar e Ben simplesmente sumia até por dias. Ele não recebeu a notícia da gravidez da melhor maneira e... surtou. Na verdade ele já era surtado, mas estava tudo escondido atrás das suas palhaçadas, do bom humor encantador e da simpatia. Voight havia tentado me avisar e eu não me importei... Até que chegou um dia onde eu precisei tomar uma decisão e terminei aquela coisa que tínhamos, mas pra deixar claro, a gente não desiste do que gosta, a gente desiste do que dói! Eu disse que não precisava nada dele, afinal, eu tinha bastante gente comigo e tinha visto de perto que Ellie conseguia criar sem um pai, então eu também conseguiria, mas Ben se revoltou... Toda a sua revolta foi liberada violentamente.
- O que?
- Ele achou um absurdo a minha decisão em tentar excluí-lo da sua vida. Mesmo não gostando da ideia, ele ainda fazia questão de gritar que era o pai e que poderia fazer o que quisesse, e foi aí que ele... Ele perdeu todas as estribeiras e me bateu. - as lágrimas caíram sem parar - Voight bateu tanto nele quando descobriu, e ele foi expulso dos The Lions, mas não só por isso, e sim porque ele também estava roubando dinheiro. Ben teve que sair do bairro e me sobrou Voight. Ele fez tudo por mim, , tudo mesmo. Todas as noites em que eu tinha algum desejo maluco, ele estava lá por mim. - ela se permitiu dar um sorriso mínimo no final enquanto falava de Voight, mas as lágrimas continuavam a cair e eu sentia sua dor, eu sentia de verdade!
- ELE TE BATEU? - um grito rouco saltou da minha garganta e apertou minha mão e imediatamente colocou a outra em meu ombro, fazendo um carinho desesperado com o polegar.
- O pior não foi isso, filha. Eu estava com mais de oito meses quando ele apareceu de novo. Ben estava, da maneira mais cara de pau, tentando começar a própria gangue e por algum motivo, algum maldito motivo, eu senti que tinha falhado. Eu era uma adolescente que pensava que o amor pudesse curar e mudar tudo e isso me atormentou. Eu não tinha o mudado, você não conseguiu o mudar, e foi por isso que eu menti. Aquele dia Ben me bateu de verdade, mas as agressões já tinham chegado há tempos. Os puxões agressivos no meu braço, o quão forte ele agarrava o meu rosto enquanto gritava na minha cara... Eu não falava daquilo com ninguém por vergonha, por medo. Eu cheguei a pensar que, de algum jeito, aquele era o meu destino, era aquilo que eu merecia, mas eu pensei em você, pensei no que Ellie viveu... Não era justo com nenhuma de nós. Paul matou Ben pra impedi-lo de crescer com a gangue nova.
- Mãe...
- Eu menti pra você porque eu não aguentava a verdade. Eu sempre tentei fugir dela, e achei que enterrando essa versão e contando simplesmente que seu pai me abandonou fizesse doer menos. Eu não queria te contar que nenhuma de nós foi capaz de salvar Ben, mas hoje eu sei que não tínhamos obrigação nenhuma disso. Ben era um homem horrível e eu acredito que ninguém o mudaria. - sua voz transpareceu todo o arrependimento e toda a dor. Minha mãe ignorou completamente qualquer tentativa de impedimento interno que pudesse fazer ela parar de contar a verdade, e então ela saiu da maneira mais cruel, clara e dura. Ela fungou, limpando as lágrimas que ainda insistiam em cair sem piedade.
O que dizem é mentira. A verdade não te liberta merda nenhuma. Que diabos as pessoas sabem? A verdade é horrível. A verdade é mais do que você pode aguentar.
- Você tem certeza disso? - perguntou pela milésima vez no mesmo tom tenso e carregado de preocupação - Você acabou de ouvir tudo aquilo da sua mãe e...
- A verdade é horrível, mas eu preciso dela inteira. Eu quero ouvir Voight também. - minha resposta não parecia o ter acalmado, parecia ter deixado ele mais preocupado ainda. Me aproximei do corpo dele de um jeito manhoso, o abraçando forte - Está tudo bem, , de verdade. Eu passei dias me torturando e morrendo de raiva disso tudo e... Agora eu só quero saber tudo, eu preciso.
sorriu, me dando um longo selinho e logo entrelaçando nossas mãos. As coisas realmente estavam menos piores com ele ao meu lado, mas por um segundo, ao passar daquele portão, nem mesmo todo o nosso amor parecia ser capaz de me ajudar com aquele peso que automaticamente veio pra cima dos meus ombros, como se os erros e as inverdades do mundo inteiro estivessem em minha responsabilidade. A última vez que eu tinha estado ali, dias antes, pela mesma janela do escritório, eu tinha visto Paul. Por um momento pareceu uma realidade totalmente paralela, mas era Paul, prestes a acabar comigo de maneiras que eu não posso nem explicar. Agora, eu vejo Voight, meu tio.
Eu apertei os olhos assim que notei que ele tinha me visto. Eu estava com medo, morrendo, na verdade. Medo de ser injusta, de falhar, medo de enxergar Voight de uma maneira completamente diferente.
- ?
Eu precisei abrir os olhos e encará-lo, e acredite... doeu. Dava pra se notar de longe o medo e a vergonha que Voight sentia. No fim, você não pode se esconder, o corpo não mente, ele denuncia a tensão. A verdade está aqui.
- Eu acabei de conversar com a minha mãe e... Acho que a gente precisa fazer o mesmo. - repreendi a mim mesma em pensamento por falar baixo demais, mas ele conseguiu ouvir.
Voight olhou pra trás e ele parecia ter adivinhado meus pensamentos. O último lugar que eu estava interessada em ir era aquele escritório. Nós dois ao mesmo tempo começamos a andar em direção ao meu trailer, e numa rápida olhada pra trás vi murmurando um "boa sorte". Por onde eu começaria? A verdade estava escancarada e todo mundo já sabia. Talvez nem uma palavra precisasse ser dita de tamanha vergonha dos dois lados. O sufoco. O tanto que estava machucando.
Abri a porta do meu trailer, entrando primeiro e sentindo meu coração acelerar ainda mais quando ouvi a mesma se fechando. Me sentei na minha cama com cuidado, como se aquele espaço nem fosse mais meu.
- . - Voight chamou minha atenção enquanto puxou a cadeira e sentou bem na minha frente - Eu sei que sua mãe já deve ter esclarecido muitas coisas, mas eu quero que você me ouça bem agora, pode ser? - ele pediu com um cuidado extremo e não tinha outra escolha a não ser assentir positivamente, afinal, eu que fui em busca disso - Leah não queria ninguém perto por um bom tempo quando você nasceu. Ela se dedicou tanto em te criar bem pra te ensinar a ser forte. Ela fez de tudo de verdade. Eu lembro do dia em que descobri que Ben fez aquilo com ela e eu juro , eu não me importava se ele era o meu irmão ou não, eu mesmo queria matá-lo de tanto ódio.
- Mas ela sempre gostou foi de você. Ben foi um caminho mais fácil que ela acabou seguindo porque você era difícil demais. - comentei num tom divertido, o vendo rolar os olhos e soltar uma risadinha fraca. Era um assunto extremamente pesado mas que só dependia de nós pra conversarmos sobre ele sem desabarmos.
- Eu tinha medo, . Não da sua mãe, não do amor, mas medo de mim. Era tudo tão novo pra mim e tão angustiante. Eu precisei de muito tempo pra me sentir eu mesmo, pra tentar achar um caminho por aqui, um caminho pra sobreviver sozinho, porque eu já não tinha os meus pais, e Ben era o mesmo que nada, então eu tive que me virar. Eu não tive condições de me abrir de primeira mas assim que eu deixei... Eu nunca imaginei que era tão bom ser amado, mesmo que minha relação com sua mãe tenha demorado muitos anos pra finalmente acontecer, a gente sempre se amou. - ele sorriu leve, olhando pro além e com certeza lembrando dos velhos tempos - Ela ficou abalada com a morte de Ben e eu entendo. O jeito da sua mãe lidar com aquilo foi se convencer que ele nunca seria capaz de mudar e que nada na vida seria capaz de fazê-la perdoar ele.
- O que? - franzi a testa totalmente confusa - Ela sempre me disse o contrário! Sempre disse que perdoar e saber que as pessoas são sim capazes de mudar em meio a tantos erros é possível. - cerrei os olhos coberta em confusão, encarando Voight como se tivesse alguma possibilidade dele estar mentindo, e o que recebi foi um sorriso largo logo de cara.
- Ela mudou. Quer dizer, você a mudou.
Não pareceu certo. Pra ser honesta, pareceu mais do que errado e algo pesado pra se carregar no mesmo segundo.
- Eu a mudei? Sério? Ou será que ela simplesmente mentiu pra poder me criar bem? Será que ela passou por cima de si mesma por mim?
- , eu estava lá! - Voight exclamou alto e forte, querendo colocar meus pés no chão novamente - Eu vi a sua mãe se tornar uma mulher ainda mais incrível. Ela nunca, nunca mesmo, te enxergou como alguém que não valesse a pena ser amada. Ela nunca te olhou de maneira diferente por conta de Ben. Você mudou Leah pra melhor.
Continuou doendo.
- Eu ainda sou filha do homem que bateu nela, que a machucou mais de uma vez. - meu queixo começou a tremer e passei as mãos pelo cabelo nervosa, arrancando alguns bons fios com toda a certeza - E ele era o seu irmão, e você é o meu tio. Simplesmente tá tudo errado!
- Você pode não me considerar como um pai, mas você é minha filha, . Ben foi um filho da puta com Leah e ninguém nunca vai esquecer disso, mas ele fez um coisa certa, que foi você! Eu te vi crescendo, te vi aprendendo, te vi chorando, te vi sorrindo... Sua mãe sempre te deu prioridade e ela nunca se arrependeu disso do mesmo jeito que eu nunca me arrependi de esperar por ela. No fim deu tudo certo, e você pode até não me perdoar ou não falar comigo nunca mais, você vai continuar sendo minha filha, sobrinha ou seja lá o que for. - os olhos marejados de Voight foi o estopim pra me fazer desaguar de vez feito uma criança. Rapidamente ele sentou do meu lado na cama, me abraçando com toda a força.
- Eu preciso de um tempo. - foi a única coisa que consegui dizer em meio ao choro forte e cruel.
- O tempo que você precisar, .
- Eu nem sei como estou me sentindo e não acho que vou descobrir tão cedo. Eu passei a vida odiando uma pessoa morta, . - bufou triste e impaciente, se sentando na cama de uma vez enquanto eu fechava a mochila.
- Foram situações horríveis pra elas duas e... Não sei, , eu também não sei. - meu coração estava extremamente apertado e eu só queria chorar e chorar - Megan e Zane estão mortos! - dizer em voz alta me doeu ainda mais - Eles tinham um caso e isso os matou. Ela finalmente tinha conseguido algo e... morreu. Ela só queria ser livre e ela estava apaixonada e morreu! disse que Paul não a matou porque sabia que ela estava envolvida com a gente também, e sim pela coisa que ele chama de traição. - foi a minha vez de sentar, completamente sem forças e dominada por uma onda de sentimentos que me faziam querer desaparecer da face da terra na esperança que tais sentimentos sumissem também.
- Você contou pro que ela tinha algo sobre o pai dele pra contar? - virou o rosto triste pra mim.
- Não e nem vou contar, afinal, ela morreu, eu nunca vou saber o que ela tinha pra me falar. Não vou falar nada pra porque literalmente não tem nada pra falar.
- Você tem razão. - a cabeça de foi tombando até encostar em meu ombro, se ajeitando ali de maneira desesperada por um carinho - Você vai ficar bem?
- Eu não sei, mas acho que vai ser bom sair um pouco daqui, e afinal, vou conhecer minha sogra e minhas cunhadas, e pensando bem, esse vai ser o menor dos meus problemas depois de tudo o que aconteceu essa semana. - ri fraco, totalmente sem humor ou energia.
- Elas vão te amar, . - mesmo sem ver, eu podia jurar que estava com um sorriso simpático nos lábios, mas em seguida um silêncio arrebatador tomou conta do quarto até ela continuar a falar - Megan está morta. - um suspiro pesado e cheio de dor saiu da minha melhor amiga.
Ficamos ali por longos minutos em silêncio, apenas absorvendo as dores da perda, dos acontecimentos, das verdades e das mentiras.
DIAS DEPOIS...
- Babe? - passou a mão em frente ao meu rosto, me tirando de um baita transe - Tá tudo bem? - ele se deitou enquanto eu permanecia sentada na beirada da cama, mas assim que ele bateu a mão no colchão, me chamando pra deitar ao seu lado, não resisti. No fim, os braços de sempre eram o meu maior conforto.
- Eu só estava pensando.
- No que?
- Em tudo. Megan está morta, Voight é meu tio, meu pai era um monstro e... Eu ainda não sei o que sentir. Já tem quase uma semana que estamos aqui e eu simplesmente não sei de nada. Eu sempre disse pra mim mesma que nunca precisei de um pai por perto porque eu realmente nunca precisei, mas agora eu paro e penso que Voight sempre esteve por perto, sempre mesmo. Tudo o que a gente quer é amor, é o que a gente procura, principalmente da nossa própria família, mas agora... Eu não sei, eu só não sei. Eu ando me sentindo apavorada. - prestou atenção em cada palavra que saía da minha boca de maneira ofegante, desenfreada e cheia de angústia.
- Você tá com medo do seu sentimento por Voight mudar porque descobriu que ele é o seu tio?
Às vezes a realidade vem com tudo, como um beliscão. Eu deveria saber que essa bagagem de culpa, inverdades e verdades são uma jaula. Eu deveria saber e lembrar que só consigo mentir pra mim mesma e me desligar de todos os sentimentos indesejados só um tempo, um tempo mínimo. Eu me sentia cansada, apavorada e negar isso não mudaria a verdade. Cedo ou tarde, a gente tem que deixar a negação de lado e encarar o mundo e os próprios sentimentos. Acontece que... Porra, é demais pra se sentir.
- Não, . Acho que é o contrário. Agora eu sei que tenho amor, sempre tive. Voight sempre foi o meu pai, mas isso realmente parece aterrorizante porque o amor... Ele pode desaparecer também e eu vou voltar à estaca zero, sozinha de novo. - minha voz se embargou e os olhos se encheram, assim como o meu peito se encheu de todas as sensações que eu estava tentando ignorar nos últimos dias.
- , do que você tá falando? - a testa franzida em confusão e indignação imediata surgiu e ergueu o corpo rapidamente pra se sentar - Você não está sozinha agora e nem vai ficar! Voight te ama e nada vai fazer ele te amar menos, Você tem ele, tem sua mãe, , eu! A gente te ama, !
- ...
- Eu te amo no mínimo pra sempre, . Eu sei que veio uma coisa atrás da outra, mas eu estou aqui pra você! - a ternura e a genuinidade nas palavras do meu namorado fizeram as lágrimas caírem de vez, mas não tão pesadas e cheias de angústia.
puxou meu corpo pra mais perto e segurou em meu rosto com uma mão, colando os lábios na minha boca, num beijo lento e cheio de amor. A intensidade e continuidade nos rondava. Esse amor me deu forças de verdade eu sempre achei que era exagero quando ouvia sobre isso por aí, mas é verdade mesmo. Ter comigo não anulava toda a dor que eu estava sentindo, mas nele eu encontrava forças pra poder enfrentar e me manter firme. Saber que tenho um melhor amigo que vai me amar no mínimo pra sempre antes de tudo realmente me dá uma baita força.
's POV
O tanto que minha mãe soltou frases clichês pra no começo da semana e incrivelmente todas funcionaram me deixou surpreso. Minha namorada se permitiu passar o dia na cama chorando várias vezes e quando deu vontade. não se sentiu envergonhada, se sentiu acolhida.
Minha namorada... Ainda parece surreal quando eu lembro que essa parte é mesmo verdadeira. Porra, eu tenho sorte, e sorte pra caralho!
saiu com as minhas irmãs durante a semana quando todas estavam livres e todos os dias antes da minha mãe chegar do trabalho, ela fazia questão de deixar o jantar pronto e a casa arrumada, preocupadíssima em não dar a impressão de ser uma preguiçosa, embora minha mãe tenha repetido zilhões de vezes de que não precisava fazer nada daquilo. A gente também se divertiu o quanto deu. Mostrei meus lugares favoritos de Bradford pra ela e parecia ter se conectado com cada canto e cada história que eu contei de verdade. Eu me sentia feito um adolescente amando pela primeira vez porque tudo com ela era extremamente único e memorável, sem exageros.
A bagunça começou quando as garotas chegaram e desceu. Conversas e gargalhadas pra todo o canto. Estávamos comendo Trifle juntos quando Safaa, de modo bem filho da puta, entrou no assunto que provavelmente nenhum de nós gostava de comentar.
- Você anda conseguindo conversar com o nosso pai? - ela questionou de modo cínico e debochado, mas não querendo me atingir, ela só queria entrar no assunto mesmo e eu já sabia o que ela pensava da história toda.
- Safaa... - minha mãe a repreendeu com um olhar mas ela deu os ombros, como se fosse uma garotinha inocente. observava tudo calada.
- Eu só quero saber! Vocês sabem que eu simplesmente não consigo engolir essa história de...
- Saf, é o nosso pai! - Doniya a interrompeu.
- E? - ela retrucou mais rebelde ainda - Se ele não fosse culpado, não estaria se escondendo e vocês sabem disso, só não querem aceitar!
Um silêncio desconfortável tomou conta da sala por um tempão antes de Waliyha contornar a situação e mudar de assunto, mas Safaa continuou levemente estressada por alguns minutos. Conversamos e rimos por horas até chegar a hora de nos despedirmos. Eu estava tranquilo e realizado por ter se dado extremamente bem com a minha família.
- Tchau horroroso, se cuida, cuida da sua namorada e não se mete em confusão, agora você faz parte de uma gangue! - Safaa veio toda espoleta me abraçar em despedida, me apertando forte.
- Filha, o que mais tem ali é confusão. - respondi como se fosse óbvio - E você me chamou de horroroso? Eu? Olha pra esse rostinho aqui! - semicerrei os olhos enquanto apontava pra o meu próprio rosto, tirando onda com a cara dela, que rolou os olhos.
- Já olhei e continua horroroso. - ela forçou uma careta e rimos juntos.
Safaa é a mais nova e claramente a mais retardada.
Minha mãe me gritou da cozinha e quando cheguei já tinha uns 3 potes em cima da mesa com temperos, o resto do frango ao curry e o último com uma outra sobremesa que ela tinha feito. Eu ri alto e nem tentei contestar, ela socaria aquilo tudo no carro pra eu levar querendo ou não.
- Você se cuida, está me ouvindo? - ela ainda vasculhava o armário em busca de algo - Eu não quero saber se é uma gangue ou não, eu simplesmente não quero te ver envolvido em mais nada, ok? Essa bagunça é do seu pai e só dele! - ela foi bem dura ao falar aquilo, ainda caçando o que tanto procurava e dando um sorrisinho animado quando achou: era outro pote pequeno de tempero.
- Você concorda com ela? - minha mãe cruzou o olhar com o meu no mesmo segundo, sabendo muito bem do que eu estava falando.
- Filho, eu...
- Eu também já pensei nisso várias vezes, só que quando eu penso, parece que alguma coisa tá sendo tirada de mim. Eu não quero imaginar que ele realmente seja essa pessoa que fez isso tudo e mudou totalmente as nossas vidas.
- Eu também não quero e nem posso pensar nisso, . Seu pai não é perfeito mas não consigo imaginar que ele seja... assim. Mas às vezes eu acho que penso demais com o coração e isso atrapalha porque, você sabe, ele é o meu marido e eu provavelmente não deveria duvidar, mas... - ela caiu no choro no mesmo instante.
- Mãe, calma! - andei até o outro lado do balcão com pressa, a abraçando forte.
- Eu não quero imaginar que ele seja isso, . Não foi com esse homem que eu casei!
Aquilo com certeza foi um choro que estava guardado há tempos e que finalmente foi liberado. Assim que minha mãe se recompôs e teve que se despedir de nós, chorou de novo e quase foi no embalo. Foi um festival, mas conseguimos passar disso.
No meio da música que tocava e a estrada tomando todo o meu campo de visão enquanto dirigia, o que me restou foi pensar, já que acabou capotando assim que entrou no carro. Me lembrei dos provérbios, dos filósofos, do meu avô falando para não perder tempo na vida, assim como a gente lê por aí o quanto temos que aproveitar a vida como se fosse tudo fácil ou incrível.
Foda-se tudo isso, a gente tem que pagar para ver, pra viver.
Talvez estivesse na hora de realmente me abrir pra mim mesmo e chegar numa possível conclusão sobre o meu pai.
's POV
Parecia que eu tinha ficado longe por anos. O portão estava aberto e entrei primeiro enquanto pegava nossas malas do carro.
- Mas chamar Leon é basicamente...
- Eu sei, mas eu preciso e eu quero isso, Holt!
Eu juro que não foi por mal, mas ao ouvir o nome "Leon" me fez automaticamente me encostar na parede pra continuar ouvindo a conversa. Quer dizer... Eu não tenho culpa, a porta estava aberta e os dois não estavam falando nada baixo.
- Você não quer fazer isso, você quer simplesmente uma saída e eu te garanto que a saída não é essa. Você não pode deixar Paul entrar tanto assim na sua cabeça, não depois de tudo o que você conquistou! - eu podia visualizar claramente o olhar sério e cheio de razão de Holt pra Voight e me peguei prendendo minha própria respiração, como se a qualquer momento os dois pudessem me enxergar através da parede.
estava no portão conversando com Mackie e Jones e me olhou de longe com um olhar divertido, sabendo muito bem que eu estava sendo atrevida em ficar ouvindo conversa alheia, mas em minha defesa, eu repito: a porta estava aberta.
Megan falou sobre esse tal de Leon. Ok, ela literalmente só falou que tinha ouvido o nome dele, mas o que Voight tinha a ver com isso? E como Paul o conhecia?
- EU VOU MATAR VOCÊ! - uma voz completamente desconhecida, nasalada, irritante e desesperada berrou pra qualquer um ouvir - LANDON, TIRA ISSO DAQUI AGORA!
Meu olhar cruzou com o de no mesmo segundo e eu corri junto com ele e em menos de cinco segundos ouvi Voight gritando meu nome atrás de mim, mas nem mesmo olhei. Minhas pernas só pararam de correr quando cheguei até o trailer que ficava entre o meu e o do , encontrando uma garota que eu nunca tinha visto até então e outro garoto que eu também nunca tinha visto ali e nem em qualquer outro lugar na vida. Ele segurava o rabo de um rato sem nojo algum, ameaçando encostar o mesmo na garota que gritava de nojo mas também ria descontroladamente.
- O que foi agora? - Holt perguntou nervoso, confuso com a cena em sua frente.
- Não é nada, eu só estava brincando. - o rapaz alto jogou o rato no chão e caiu na risada com a garota, mas Voight e Holt estavam longe de rir também.
- Tem quatro dias que vocês estão aqui e já me estressaram de todas as maneiras possíveis! - Voight resmungou bravo, fazendo os dois pararem de rir no mesmo segundo.
- Voight, foi só uma brincadeira. - a garota se defendeu sem graça e a única coisa que passava na minha cabeça era o quanto sua voz não correspondia com a sua aparência. Ela era tatuada em todos os cantos que eu podia enxergar e tinha um olhar forte e penetrante, beirando a intimidador.
- Eu pensei que tinha... acontecido algo. - eu murmurei baixíssimo e provavelmente só ouviu, já que uma de suas mãos entrelaçou minha cintura.
Voight virou seu rosto pra me encarar, abrindo um sorriso sincero e animado, sumindo automaticamente qualquer rastro da braveza de segundos antes. tirou o braço da minha cintura e olhou pra Voight com um olhar cúmplice e o homem me abraçou no mesmo segundo.
- Essa é a sua filha? - o rapaz franziu a testa de leve enquanto perguntava.
- Sim, essa é a ! - assim que os braços de Voight me soltaram do seu abraço e eu me virei, o rapaz já estava com a mão erguida pra me cumprimentar, olhando fixamente nos olhos.
- Eu sou o Landon.
- E eu sou a Shyla! - a garota entrou no embalo e se apresentou com um sorrisinho maroto nos lábios e logo passou o olhar de maneira rápida em e sorriu pra ele também, mas nada convidativo ou atrevido, e sim simpático.
Holt me abraçou em seguida e eu tenho certeza que o olhar de confusão não tinha abandonado minha face. Duas pessoas novas não era novidade na gangue, mas assim, do nada? Eu só fiquei uma semana fora!
Landon e Shyla cumprimentaram em seguida e antes mesmo de tentarem puxar papo o meu celular começou a tocar e eu atendi rapidamente assim que vi o nome de ) da tela.
- Alô?
- ! - a voz completamente chorosa fez meu coração acelerar.
- O que foi? O que aconteceu? - dei alguns passos pra longe do pessoal enquanto não tentava pensar no pior nessa questão mínima de segundos.
- O Grant!
- O que tem ele? Aconteceu alguma coisa?
- Ele me traiu! 's POV
Meus punhos estavam fechados de ódio, pronto pra socar o irmão de Grant. Bati na porta do garoto mais de uma vez, óbvio que ele não ouviria! Bati mais algumas vezes, cada vez mais forte, até que ele abriu.
- , o qu...
- São uma e meia da manhã, caralho! Desliga a porra desse som, as garotas acabaram de dormir e vão acordar já já se você não desligar ou abaixar essa bosta!
Foda-se. O garoto já tava me enchendo a paciência há dias. Eu sei, a casa não é minha, mas até Grant disse que o irmão era folgado demais e só funcionava na base da bronca. Desci as escadas assim que o volume foi abaixado. A casa estava virada de cabeça pra baixo de tanta bagunça e me custou uns dois segundos pra perceber que Grant estava sentado em um dos bancos do balcão da cozinha. Me aproximei cada vez mais e ele nem mesmo tinha notado minha presença, mas quase deixou o celular cair assim que passei ao seu lado, praticamente dando um pulo de susto.
- Porra, cara!
- Foi mal. - espalmei as mãos no ar, abrindo uma das sacolas que estavam na mesa com alguns salgadinhos e guloseimas que havia comprado mais cedo.
Fiquei ali, de frente pra Grant, que voltou a se concentrar no celular, digitando o mais rápido que podia. Fiquei analisando a cozinha inteira enquanto comia as batatas que estavam em minha mão, pousando o olhar em uma coisa muito específica que estava literalmente na minha frente mas eu ainda não tinha notado. Bem no cantinho do balcão tinha um pacotinho com um pó branco dentro. Larguei o saco de batatas na pia e avancei até o balcão, pegando o pacotinho na mão e me certificando de que aquilo era o que eu estava desconfiando. Grant se desconcertou inteiro, largando o celular no balcão e levantando com a mão aberta, tentando pegar o pacote de volta.
- ...
- Que merda é essa?
- Você sabe... Esses últimos quatro dias foram foda e... Eu só precisava me aliviar de algum jeito! - ele respondeu totalmente sem graça, me deixando na beira de um surto de verdade.
Ele só podia estar de brincadeira.
- Se tá foda pra você, imagina pra que descobriu que o pai foi morto. Ela passou a vida inteira achando uma coisa e agora descobre a verdade da pior maneira possível. Você deveria estar mais do lado dela, Grant.
- Eu sei, mas...
- Você tem um vício e eu não posso falar que entendo porque não entendo, mas você sabe como é, você vive isso, mas você mesmo já disse algumas vezes que queria melhorar, que queria parar, mas ainda assim, em qualquer situação ruim você tem uma recaída. Eu não sei o que te levou até as drogas, mas acho que você deve pensar que agora você deva ter mais motivos pra parar do que pra continuar.
Eu precisava falar, não só por ele, mas por também. Nos últimos quatro dias eu pude ver de perto o quão perdido e despreparado pra ajudá-la ele estava.
- Eu gosto da , ela realmente me faz querer melhorar, mas tem algo que... - ele parecia perdido em todos os sentidos - Eu não sei. Eu juro que não sei.
- Talvez essa seja a fuga da autorresponsabilidade. - dei meu palpite com dureza e talvez até com um pingo de ignorância.
Ninguém tem que salvar ninguém, mas a gente tenta. estava tentando. Eu posso mesmo ser um tanto quanto ignorante nessa parte, mas se nem o fato de uma das piores coisas ter acabado de acontecer com e isso não comover Grant pra parar e pensar que talvez esteja na hora de se esforçar um pouco mais já me dizia muita coisa. O mundo não é só romance e amores que mudam tudo, eu sei, e eu também sei que com um assunto delicado desse, se demanda muita paciência e controle pra averiguar bem, mas eu não sou um profissional, eu sou só o . Não posso reforçar o pensamento de Grant que parece não ter saída porque nem ele mesmo sabe o que acontece.
- É cara, talvez seja isso também. - a expressão de Grant não era das melhores. Ele se levantou com raiva, encarando o pacote ainda em minhas mãos mas não disse nada, saindo da sala em direção às escadas com fúria.
Eu estava pronto pra entrar no quarto e tentar conversar com sobre estar na hora de pelo menos conversar com sua mãe. Cinco dias talvez sejam pouco pra ela, mas quanto mais demora, mais dói, e eu via de longe o quão magoada minha namorada estava.
Foi ridículo. O jeito como Paul chegou, cinco dias atrás, enfiando a verdade goela abaixo de todo mundo foi ridículo. Foi pior ainda o jeito autoritário como ele chegou, como se ter armas e capangas fosse o seu maior orgulho porque tinha como nos controlar. Ligar pra do celular de Voight quase me fez perder a cabeça. Eu queria ter feito algo. Não tínhamos pra onde ir de primeira mas Grant, totalmente em choque, nos convidou pra ficar também. Nesses cinco dias, eu nunca vi e tão juntas e tão distantes ao mesmo tempo. No primeiro dia as duas dormiram juntas como duas crianças com medo do escuro e da solidão. Elas não conseguiam conversar, só chorar.
Em alguns momentos eu me questionei pra caralho, tentando adivinhar porque mentiram nisso, mas é algo totalmente pessoal e que eu só descobriria quando decidisse voltar ou conversar com sua mãe. E claro, Voight ligou um bilhão de vezes. Eu atendi só uma vez, dizendo onde estávamos e que estava tudo bem até onde poderia estar. Ele praticamente me deu férias sem data pra terminar, me fazendo prometer que ajudaria nesse processo e que precisava da minha ajuda pra conseguir conversar com ela pra se explicar, porque afinal, agora mais do que pai, ele também é tio de .
Que se dane tanto pensamento e reflexão.
Subi as escadas de uma vez, dando algumas batidas na porta antes de entrar, encontrando e sentadas na cama. O olhar exausto das duas entregava de longe o sofrimento. Eu estava pronto pra vir com um papo horrível porém necessário de que você não pode escolher sua família, que você aceita o que a vida lhe dá, embora você não goste que as mentiras venham junto. Mas gostando da sua família ou não, você se adequa a eles e consequentemente um pingo de compreensão cai junto, te fazendo entender - ou não - os motivos de todas as mentiras e problemas. Não que eu quisesse ser falso com , mas ela precisava pelo menos de um pouco de esperança e de um motivo pra buscar a verdade, mas eu não precisei falar nenhuma dessas bobagens porque ela tomou sua decisão antes disso.
- Preciso ver minha mãe. Você me leva?
's POV
Dizem que a verdade irá te libertar.
- Filha? - a voz dela me trouxe de volta à mim mesma. Minha mãe me olhava com os olhos já marejados e eu rapidamente busquei pela mão de por debaixo da mesa.
Eu pedi pra ele ficar. Eu poderia ter essa conversa à sós com a minha mãe, mas eu o queria ali, eu queria que ele ouvisse pra não ter que repetir tudo depois. Eu queria que ele soubesse.
- Então...? - tentei introduzir o assunto da maneira mais perdida. Como começar?
- Eu estava preocupada, ! Voight me disse que você está ficando na casa do namorado da e... Por Deus, filha! Eu só...
- Mãe! - chamei sua atenção com certa braveza - Não temos muito tempo, então fala o que tem que falar.
Na verdade, eu queria surtar. Eu queria gritar enquanto questionava o porquê dela ter mentido durante vinte anos, mas não podia. Primeiro que toda a exaustão, dor nas costas, o sono e o incômodo por noites mal dormidas e desconfortáveis já me tirava toda a disposição em surtar, e outra, eu não podia, caso contrário também seria presa.
- Eu nunca quis mentir pra você, filha. - uma lágrima escapou e ela não se deu o trabalho em limpar o rastro.
A fúria instalada em meu coração continuava do mesmo jeitinho e uma parte de mim esperava que a justificativa fosse boa mesmo pra que toda a raiva fosse liberada, mas ela se calou e as lágrimas continuaram descendo, e minha raiva aumentando.
- Mas você mentiu, e mentiu por vinte anos, e agora eu estou aqui mesmo sem querer estar, mas eu preciso da verdade pra ver se as coisas fazem pelo menos o mínimo de sentido, então será que você pode, por favor, falar logo?
me encarou levemente abalado, como se fosse um alerta me dizendo de que talvez eu tivesse indo longe demais. De um jeito ou de outro, ela ainda é minha mãe, mesmo longe, mesmo presa.
- Você sabe, Ellie cresceu nos The Lions, os pais dela faziam parte, e como éramos melhores amigas, eu consequentemente fiquei muito próxima de todos. Lembro até hoje quando vi Voight pela primeira vez. Muito perdido, sério e muito marrento, cabeça dura até demais. Ninguém conseguia ter espaço pra entrar na vida daquele homem, então eu continuei vivendo. Nós saíamos muito, era um grande grupo de amigos e eu conheci Paul pessoalmente. Eu sabia que tinha que ficar longe, afinal, já tinha ouvido histórias de como mesmo sendo tecnicamente novo nos Ghosts, o passado dele não era nada bonito. Ele nunca foi agradável, simpático ou alguém que valesse a pena dar uma chance, você entende? Até que Ellie conheceu o Martin, pai da , e ela se deslumbrou. Ela se deslumbrou com o amor e com toda aquela explosão de sentimentos, até que deixou de ser incrível. Martin perdeu o controle da própria vida por conta de más companhias. Ele era um homem perdido e se perdeu mais ainda quando começou a usar drogas e tudo o que ele fez com Ellie... Simplesmente... - ela deu um longo suspiro - Ele se transformou.
- Mãe, o que ele fez com a tia Ellie?
- Ele se tornou completamente agressivo. Ellie ficou desesperada quando engravidou e não contou nada pra ninguém, nem da gravidez e nem das agressões. Voight sabia o que estava acontecendo, era o único que sabia e ele era louco pra pegar Martin e acabar com a raça dele, mas Ellie não deixava, dizia que não adiantaria uma surra nele. Ela tinha medo de contar pra os pais, mas um dia ela se decidiu, ela iria contar sobre a gravidez e sobre as agressões, afinal, os The Lions dariam um jeito, mas ele morreu antes, Paul o matou. Martin devia muito dinheiro pelas drogas em várias gangues, e naquela época não tinha muita conversa, era morte na certa, mas os Ghosts foram os primeiros a tomar uma atitude. Paul o matou sem pensar duas vezes.
Um silêncio arrebatador pairou sobre nós. Toda vez que eu a visitava o tempo parecia voar, mas dessa vez estava sendo completamente diferente. Uma parte de mim só queria ir embora, só queria sumir. Aquilo parecia muita informação pra se obter.
- E depois? - minha voz raspou, quase não saindo.
- E aí nós tivemos um bebê. - em meio a toda dor do passado, ela sorriu - Foi difícil, mas Ellie conseguiu. Os The Lions sempre a ajudaram em tudo, principalmente Voight. Ele continuava não me dando bola, e só quando fez dois anos que conseguimos engatar o comecinho de algo. Eu estava tão feliz... Eu sempre gostei dele e ele finalmente tinha me dado espaço pra entrar na vida dele, mas aí aconteceu algo. Ben, o seu pai, chegou. Ben era mais velho que Voight mas só de idade. Ele era completamente imaturo, mas também muito brincalhão, divertido, com ele não tinha nenhum momento de tensão e o meu maior erro foi cair naquilo. Ben era fácil de lidar e eu acabei me aproximando muito mais dele. Voight reprovou aquilo desde o primeiro segundo e mesmo ainda gostando dele, eu quis ir pelo caminho mais fácil. Eu era nova e não sabia da merda que tava fazendo, mas continuei.
- E onde Paul entra nisso? Ele me disse que... - apertei os olhos com força, sentindo meu coração sendo esmagado só de lembrar - Deveria ter sido meu pai. - a reação de choque da minha mãe me deixou pior ainda. O olhar perdido entre indignação e nostalgia.
- Por algum motivo, mesmo sendo totalmente contra as regras, Paul sempre me procurava quando estávamos no mesmo lugar. Tentava puxar assunto e eu nunca dava atenção, até porque eu tinha medo! Eu não sei se pra Paul aquilo era um desafio ou se era só ele tentando ter controle de algo, de alguém, mas eu nunca permiti que ele se aproximasse. - ela explicou tão rápido e tão desesperada, como se quisesse se livrar logo da parte do assunto que envolvia Paul. - Ele é um assassino, . Ele matou Martin, deixou sem pai. Eu nunca, nem nos meus pesadelos mais loucos, seria capaz de ter qualquer vínculo com Paul.
Aquilo doeu.
- Mas ele também matou o meu pai... - sussurrei.
- Sim. - ela afirmou com o queixo tremendo e fungou forte, engolindo todo o choro - Eu fui burra em me envolver demais com Ben, mas tivemos momentos que na época foram únicos e que me faziam sentir tanta coisa... Quando eu engravidei fiquei apavorada com tudo. Voight ficou tão decepcionado comigo, e pior, Ben também, mas de uma maneira totalmente inesperada. - minha mãe apertou os olhos.
- O que... Ele fez?
- Voight se focava na gangue, ele dizia que era a única coisa que o tinha restado, e Ben... Ele não levava nada a sério, . Eu tentei o ajudar, de verdade, e todo mundo tentou. Voight se esforçava em tentar melhorar e Ben simplesmente sumia até por dias. Ele não recebeu a notícia da gravidez da melhor maneira e... surtou. Na verdade ele já era surtado, mas estava tudo escondido atrás das suas palhaçadas, do bom humor encantador e da simpatia. Voight havia tentado me avisar e eu não me importei... Até que chegou um dia onde eu precisei tomar uma decisão e terminei aquela coisa que tínhamos, mas pra deixar claro, a gente não desiste do que gosta, a gente desiste do que dói! Eu disse que não precisava nada dele, afinal, eu tinha bastante gente comigo e tinha visto de perto que Ellie conseguia criar sem um pai, então eu também conseguiria, mas Ben se revoltou... Toda a sua revolta foi liberada violentamente.
- O que?
- Ele achou um absurdo a minha decisão em tentar excluí-lo da sua vida. Mesmo não gostando da ideia, ele ainda fazia questão de gritar que era o pai e que poderia fazer o que quisesse, e foi aí que ele... Ele perdeu todas as estribeiras e me bateu. - as lágrimas caíram sem parar - Voight bateu tanto nele quando descobriu, e ele foi expulso dos The Lions, mas não só por isso, e sim porque ele também estava roubando dinheiro. Ben teve que sair do bairro e me sobrou Voight. Ele fez tudo por mim, , tudo mesmo. Todas as noites em que eu tinha algum desejo maluco, ele estava lá por mim. - ela se permitiu dar um sorriso mínimo no final enquanto falava de Voight, mas as lágrimas continuavam a cair e eu sentia sua dor, eu sentia de verdade!
- ELE TE BATEU? - um grito rouco saltou da minha garganta e apertou minha mão e imediatamente colocou a outra em meu ombro, fazendo um carinho desesperado com o polegar.
- O pior não foi isso, filha. Eu estava com mais de oito meses quando ele apareceu de novo. Ben estava, da maneira mais cara de pau, tentando começar a própria gangue e por algum motivo, algum maldito motivo, eu senti que tinha falhado. Eu era uma adolescente que pensava que o amor pudesse curar e mudar tudo e isso me atormentou. Eu não tinha o mudado, você não conseguiu o mudar, e foi por isso que eu menti. Aquele dia Ben me bateu de verdade, mas as agressões já tinham chegado há tempos. Os puxões agressivos no meu braço, o quão forte ele agarrava o meu rosto enquanto gritava na minha cara... Eu não falava daquilo com ninguém por vergonha, por medo. Eu cheguei a pensar que, de algum jeito, aquele era o meu destino, era aquilo que eu merecia, mas eu pensei em você, pensei no que Ellie viveu... Não era justo com nenhuma de nós. Paul matou Ben pra impedi-lo de crescer com a gangue nova.
- Mãe...
- Eu menti pra você porque eu não aguentava a verdade. Eu sempre tentei fugir dela, e achei que enterrando essa versão e contando simplesmente que seu pai me abandonou fizesse doer menos. Eu não queria te contar que nenhuma de nós foi capaz de salvar Ben, mas hoje eu sei que não tínhamos obrigação nenhuma disso. Ben era um homem horrível e eu acredito que ninguém o mudaria. - sua voz transpareceu todo o arrependimento e toda a dor. Minha mãe ignorou completamente qualquer tentativa de impedimento interno que pudesse fazer ela parar de contar a verdade, e então ela saiu da maneira mais cruel, clara e dura. Ela fungou, limpando as lágrimas que ainda insistiam em cair sem piedade.
O que dizem é mentira. A verdade não te liberta merda nenhuma. Que diabos as pessoas sabem? A verdade é horrível. A verdade é mais do que você pode aguentar.
- Você tem certeza disso? - perguntou pela milésima vez no mesmo tom tenso e carregado de preocupação - Você acabou de ouvir tudo aquilo da sua mãe e...
- A verdade é horrível, mas eu preciso dela inteira. Eu quero ouvir Voight também. - minha resposta não parecia o ter acalmado, parecia ter deixado ele mais preocupado ainda. Me aproximei do corpo dele de um jeito manhoso, o abraçando forte - Está tudo bem, , de verdade. Eu passei dias me torturando e morrendo de raiva disso tudo e... Agora eu só quero saber tudo, eu preciso.
sorriu, me dando um longo selinho e logo entrelaçando nossas mãos. As coisas realmente estavam menos piores com ele ao meu lado, mas por um segundo, ao passar daquele portão, nem mesmo todo o nosso amor parecia ser capaz de me ajudar com aquele peso que automaticamente veio pra cima dos meus ombros, como se os erros e as inverdades do mundo inteiro estivessem em minha responsabilidade. A última vez que eu tinha estado ali, dias antes, pela mesma janela do escritório, eu tinha visto Paul. Por um momento pareceu uma realidade totalmente paralela, mas era Paul, prestes a acabar comigo de maneiras que eu não posso nem explicar. Agora, eu vejo Voight, meu tio.
Eu apertei os olhos assim que notei que ele tinha me visto. Eu estava com medo, morrendo, na verdade. Medo de ser injusta, de falhar, medo de enxergar Voight de uma maneira completamente diferente.
- ?
Eu precisei abrir os olhos e encará-lo, e acredite... doeu. Dava pra se notar de longe o medo e a vergonha que Voight sentia. No fim, você não pode se esconder, o corpo não mente, ele denuncia a tensão. A verdade está aqui.
- Eu acabei de conversar com a minha mãe e... Acho que a gente precisa fazer o mesmo. - repreendi a mim mesma em pensamento por falar baixo demais, mas ele conseguiu ouvir.
Voight olhou pra trás e ele parecia ter adivinhado meus pensamentos. O último lugar que eu estava interessada em ir era aquele escritório. Nós dois ao mesmo tempo começamos a andar em direção ao meu trailer, e numa rápida olhada pra trás vi murmurando um "boa sorte". Por onde eu começaria? A verdade estava escancarada e todo mundo já sabia. Talvez nem uma palavra precisasse ser dita de tamanha vergonha dos dois lados. O sufoco. O tanto que estava machucando.
Abri a porta do meu trailer, entrando primeiro e sentindo meu coração acelerar ainda mais quando ouvi a mesma se fechando. Me sentei na minha cama com cuidado, como se aquele espaço nem fosse mais meu.
- . - Voight chamou minha atenção enquanto puxou a cadeira e sentou bem na minha frente - Eu sei que sua mãe já deve ter esclarecido muitas coisas, mas eu quero que você me ouça bem agora, pode ser? - ele pediu com um cuidado extremo e não tinha outra escolha a não ser assentir positivamente, afinal, eu que fui em busca disso - Leah não queria ninguém perto por um bom tempo quando você nasceu. Ela se dedicou tanto em te criar bem pra te ensinar a ser forte. Ela fez de tudo de verdade. Eu lembro do dia em que descobri que Ben fez aquilo com ela e eu juro , eu não me importava se ele era o meu irmão ou não, eu mesmo queria matá-lo de tanto ódio.
- Mas ela sempre gostou foi de você. Ben foi um caminho mais fácil que ela acabou seguindo porque você era difícil demais. - comentei num tom divertido, o vendo rolar os olhos e soltar uma risadinha fraca. Era um assunto extremamente pesado mas que só dependia de nós pra conversarmos sobre ele sem desabarmos.
- Eu tinha medo, . Não da sua mãe, não do amor, mas medo de mim. Era tudo tão novo pra mim e tão angustiante. Eu precisei de muito tempo pra me sentir eu mesmo, pra tentar achar um caminho por aqui, um caminho pra sobreviver sozinho, porque eu já não tinha os meus pais, e Ben era o mesmo que nada, então eu tive que me virar. Eu não tive condições de me abrir de primeira mas assim que eu deixei... Eu nunca imaginei que era tão bom ser amado, mesmo que minha relação com sua mãe tenha demorado muitos anos pra finalmente acontecer, a gente sempre se amou. - ele sorriu leve, olhando pro além e com certeza lembrando dos velhos tempos - Ela ficou abalada com a morte de Ben e eu entendo. O jeito da sua mãe lidar com aquilo foi se convencer que ele nunca seria capaz de mudar e que nada na vida seria capaz de fazê-la perdoar ele.
- O que? - franzi a testa totalmente confusa - Ela sempre me disse o contrário! Sempre disse que perdoar e saber que as pessoas são sim capazes de mudar em meio a tantos erros é possível. - cerrei os olhos coberta em confusão, encarando Voight como se tivesse alguma possibilidade dele estar mentindo, e o que recebi foi um sorriso largo logo de cara.
- Ela mudou. Quer dizer, você a mudou.
Não pareceu certo. Pra ser honesta, pareceu mais do que errado e algo pesado pra se carregar no mesmo segundo.
- Eu a mudei? Sério? Ou será que ela simplesmente mentiu pra poder me criar bem? Será que ela passou por cima de si mesma por mim?
- , eu estava lá! - Voight exclamou alto e forte, querendo colocar meus pés no chão novamente - Eu vi a sua mãe se tornar uma mulher ainda mais incrível. Ela nunca, nunca mesmo, te enxergou como alguém que não valesse a pena ser amada. Ela nunca te olhou de maneira diferente por conta de Ben. Você mudou Leah pra melhor.
Continuou doendo.
- Eu ainda sou filha do homem que bateu nela, que a machucou mais de uma vez. - meu queixo começou a tremer e passei as mãos pelo cabelo nervosa, arrancando alguns bons fios com toda a certeza - E ele era o seu irmão, e você é o meu tio. Simplesmente tá tudo errado!
- Você pode não me considerar como um pai, mas você é minha filha, . Ben foi um filho da puta com Leah e ninguém nunca vai esquecer disso, mas ele fez um coisa certa, que foi você! Eu te vi crescendo, te vi aprendendo, te vi chorando, te vi sorrindo... Sua mãe sempre te deu prioridade e ela nunca se arrependeu disso do mesmo jeito que eu nunca me arrependi de esperar por ela. No fim deu tudo certo, e você pode até não me perdoar ou não falar comigo nunca mais, você vai continuar sendo minha filha, sobrinha ou seja lá o que for. - os olhos marejados de Voight foi o estopim pra me fazer desaguar de vez feito uma criança. Rapidamente ele sentou do meu lado na cama, me abraçando com toda a força.
- Eu preciso de um tempo. - foi a única coisa que consegui dizer em meio ao choro forte e cruel.
- O tempo que você precisar, .
- Eu nem sei como estou me sentindo e não acho que vou descobrir tão cedo. Eu passei a vida odiando uma pessoa morta, . - bufou triste e impaciente, se sentando na cama de uma vez enquanto eu fechava a mochila.
- Foram situações horríveis pra elas duas e... Não sei, , eu também não sei. - meu coração estava extremamente apertado e eu só queria chorar e chorar - Megan e Zane estão mortos! - dizer em voz alta me doeu ainda mais - Eles tinham um caso e isso os matou. Ela finalmente tinha conseguido algo e... morreu. Ela só queria ser livre e ela estava apaixonada e morreu! disse que Paul não a matou porque sabia que ela estava envolvida com a gente também, e sim pela coisa que ele chama de traição. - foi a minha vez de sentar, completamente sem forças e dominada por uma onda de sentimentos que me faziam querer desaparecer da face da terra na esperança que tais sentimentos sumissem também.
- Você contou pro que ela tinha algo sobre o pai dele pra contar? - virou o rosto triste pra mim.
- Não e nem vou contar, afinal, ela morreu, eu nunca vou saber o que ela tinha pra me falar. Não vou falar nada pra porque literalmente não tem nada pra falar.
- Você tem razão. - a cabeça de foi tombando até encostar em meu ombro, se ajeitando ali de maneira desesperada por um carinho - Você vai ficar bem?
- Eu não sei, mas acho que vai ser bom sair um pouco daqui, e afinal, vou conhecer minha sogra e minhas cunhadas, e pensando bem, esse vai ser o menor dos meus problemas depois de tudo o que aconteceu essa semana. - ri fraco, totalmente sem humor ou energia.
- Elas vão te amar, . - mesmo sem ver, eu podia jurar que estava com um sorriso simpático nos lábios, mas em seguida um silêncio arrebatador tomou conta do quarto até ela continuar a falar - Megan está morta. - um suspiro pesado e cheio de dor saiu da minha melhor amiga.
Ficamos ali por longos minutos em silêncio, apenas absorvendo as dores da perda, dos acontecimentos, das verdades e das mentiras.
DIAS DEPOIS...
- Babe? - passou a mão em frente ao meu rosto, me tirando de um baita transe - Tá tudo bem? - ele se deitou enquanto eu permanecia sentada na beirada da cama, mas assim que ele bateu a mão no colchão, me chamando pra deitar ao seu lado, não resisti. No fim, os braços de sempre eram o meu maior conforto.
- Eu só estava pensando.
- No que?
- Em tudo. Megan está morta, Voight é meu tio, meu pai era um monstro e... Eu ainda não sei o que sentir. Já tem quase uma semana que estamos aqui e eu simplesmente não sei de nada. Eu sempre disse pra mim mesma que nunca precisei de um pai por perto porque eu realmente nunca precisei, mas agora eu paro e penso que Voight sempre esteve por perto, sempre mesmo. Tudo o que a gente quer é amor, é o que a gente procura, principalmente da nossa própria família, mas agora... Eu não sei, eu só não sei. Eu ando me sentindo apavorada. - prestou atenção em cada palavra que saía da minha boca de maneira ofegante, desenfreada e cheia de angústia.
- Você tá com medo do seu sentimento por Voight mudar porque descobriu que ele é o seu tio?
Às vezes a realidade vem com tudo, como um beliscão. Eu deveria saber que essa bagagem de culpa, inverdades e verdades são uma jaula. Eu deveria saber e lembrar que só consigo mentir pra mim mesma e me desligar de todos os sentimentos indesejados só um tempo, um tempo mínimo. Eu me sentia cansada, apavorada e negar isso não mudaria a verdade. Cedo ou tarde, a gente tem que deixar a negação de lado e encarar o mundo e os próprios sentimentos. Acontece que... Porra, é demais pra se sentir.
- Não, . Acho que é o contrário. Agora eu sei que tenho amor, sempre tive. Voight sempre foi o meu pai, mas isso realmente parece aterrorizante porque o amor... Ele pode desaparecer também e eu vou voltar à estaca zero, sozinha de novo. - minha voz se embargou e os olhos se encheram, assim como o meu peito se encheu de todas as sensações que eu estava tentando ignorar nos últimos dias.
- , do que você tá falando? - a testa franzida em confusão e indignação imediata surgiu e ergueu o corpo rapidamente pra se sentar - Você não está sozinha agora e nem vai ficar! Voight te ama e nada vai fazer ele te amar menos, Você tem ele, tem sua mãe, , eu! A gente te ama, !
- ...
- Eu te amo no mínimo pra sempre, . Eu sei que veio uma coisa atrás da outra, mas eu estou aqui pra você! - a ternura e a genuinidade nas palavras do meu namorado fizeram as lágrimas caírem de vez, mas não tão pesadas e cheias de angústia.
puxou meu corpo pra mais perto e segurou em meu rosto com uma mão, colando os lábios na minha boca, num beijo lento e cheio de amor. A intensidade e continuidade nos rondava. Esse amor me deu forças de verdade eu sempre achei que era exagero quando ouvia sobre isso por aí, mas é verdade mesmo. Ter comigo não anulava toda a dor que eu estava sentindo, mas nele eu encontrava forças pra poder enfrentar e me manter firme. Saber que tenho um melhor amigo que vai me amar no mínimo pra sempre antes de tudo realmente me dá uma baita força.
's POV
O tanto que minha mãe soltou frases clichês pra no começo da semana e incrivelmente todas funcionaram me deixou surpreso. Minha namorada se permitiu passar o dia na cama chorando várias vezes e quando deu vontade. não se sentiu envergonhada, se sentiu acolhida.
Minha namorada... Ainda parece surreal quando eu lembro que essa parte é mesmo verdadeira. Porra, eu tenho sorte, e sorte pra caralho!
saiu com as minhas irmãs durante a semana quando todas estavam livres e todos os dias antes da minha mãe chegar do trabalho, ela fazia questão de deixar o jantar pronto e a casa arrumada, preocupadíssima em não dar a impressão de ser uma preguiçosa, embora minha mãe tenha repetido zilhões de vezes de que não precisava fazer nada daquilo. A gente também se divertiu o quanto deu. Mostrei meus lugares favoritos de Bradford pra ela e parecia ter se conectado com cada canto e cada história que eu contei de verdade. Eu me sentia feito um adolescente amando pela primeira vez porque tudo com ela era extremamente único e memorável, sem exageros.
A bagunça começou quando as garotas chegaram e desceu. Conversas e gargalhadas pra todo o canto. Estávamos comendo Trifle juntos quando Safaa, de modo bem filho da puta, entrou no assunto que provavelmente nenhum de nós gostava de comentar.
- Você anda conseguindo conversar com o nosso pai? - ela questionou de modo cínico e debochado, mas não querendo me atingir, ela só queria entrar no assunto mesmo e eu já sabia o que ela pensava da história toda.
- Safaa... - minha mãe a repreendeu com um olhar mas ela deu os ombros, como se fosse uma garotinha inocente. observava tudo calada.
- Eu só quero saber! Vocês sabem que eu simplesmente não consigo engolir essa história de...
- Saf, é o nosso pai! - Doniya a interrompeu.
- E? - ela retrucou mais rebelde ainda - Se ele não fosse culpado, não estaria se escondendo e vocês sabem disso, só não querem aceitar!
Um silêncio desconfortável tomou conta da sala por um tempão antes de Waliyha contornar a situação e mudar de assunto, mas Safaa continuou levemente estressada por alguns minutos. Conversamos e rimos por horas até chegar a hora de nos despedirmos. Eu estava tranquilo e realizado por ter se dado extremamente bem com a minha família.
- Tchau horroroso, se cuida, cuida da sua namorada e não se mete em confusão, agora você faz parte de uma gangue! - Safaa veio toda espoleta me abraçar em despedida, me apertando forte.
- Filha, o que mais tem ali é confusão. - respondi como se fosse óbvio - E você me chamou de horroroso? Eu? Olha pra esse rostinho aqui! - semicerrei os olhos enquanto apontava pra o meu próprio rosto, tirando onda com a cara dela, que rolou os olhos.
- Já olhei e continua horroroso. - ela forçou uma careta e rimos juntos.
Safaa é a mais nova e claramente a mais retardada.
Minha mãe me gritou da cozinha e quando cheguei já tinha uns 3 potes em cima da mesa com temperos, o resto do frango ao curry e o último com uma outra sobremesa que ela tinha feito. Eu ri alto e nem tentei contestar, ela socaria aquilo tudo no carro pra eu levar querendo ou não.
- Você se cuida, está me ouvindo? - ela ainda vasculhava o armário em busca de algo - Eu não quero saber se é uma gangue ou não, eu simplesmente não quero te ver envolvido em mais nada, ok? Essa bagunça é do seu pai e só dele! - ela foi bem dura ao falar aquilo, ainda caçando o que tanto procurava e dando um sorrisinho animado quando achou: era outro pote pequeno de tempero.
- Você concorda com ela? - minha mãe cruzou o olhar com o meu no mesmo segundo, sabendo muito bem do que eu estava falando.
- Filho, eu...
- Eu também já pensei nisso várias vezes, só que quando eu penso, parece que alguma coisa tá sendo tirada de mim. Eu não quero imaginar que ele realmente seja essa pessoa que fez isso tudo e mudou totalmente as nossas vidas.
- Eu também não quero e nem posso pensar nisso, . Seu pai não é perfeito mas não consigo imaginar que ele seja... assim. Mas às vezes eu acho que penso demais com o coração e isso atrapalha porque, você sabe, ele é o meu marido e eu provavelmente não deveria duvidar, mas... - ela caiu no choro no mesmo instante.
- Mãe, calma! - andei até o outro lado do balcão com pressa, a abraçando forte.
- Eu não quero imaginar que ele seja isso, . Não foi com esse homem que eu casei!
Aquilo com certeza foi um choro que estava guardado há tempos e que finalmente foi liberado. Assim que minha mãe se recompôs e teve que se despedir de nós, chorou de novo e quase foi no embalo. Foi um festival, mas conseguimos passar disso.
No meio da música que tocava e a estrada tomando todo o meu campo de visão enquanto dirigia, o que me restou foi pensar, já que acabou capotando assim que entrou no carro. Me lembrei dos provérbios, dos filósofos, do meu avô falando para não perder tempo na vida, assim como a gente lê por aí o quanto temos que aproveitar a vida como se fosse tudo fácil ou incrível.
Foda-se tudo isso, a gente tem que pagar para ver, pra viver.
Talvez estivesse na hora de realmente me abrir pra mim mesmo e chegar numa possível conclusão sobre o meu pai.
's POV
Parecia que eu tinha ficado longe por anos. O portão estava aberto e entrei primeiro enquanto pegava nossas malas do carro.
- Mas chamar Leon é basicamente...
- Eu sei, mas eu preciso e eu quero isso, Holt!
Eu juro que não foi por mal, mas ao ouvir o nome "Leon" me fez automaticamente me encostar na parede pra continuar ouvindo a conversa. Quer dizer... Eu não tenho culpa, a porta estava aberta e os dois não estavam falando nada baixo.
- Você não quer fazer isso, você quer simplesmente uma saída e eu te garanto que a saída não é essa. Você não pode deixar Paul entrar tanto assim na sua cabeça, não depois de tudo o que você conquistou! - eu podia visualizar claramente o olhar sério e cheio de razão de Holt pra Voight e me peguei prendendo minha própria respiração, como se a qualquer momento os dois pudessem me enxergar através da parede.
estava no portão conversando com Mackie e Jones e me olhou de longe com um olhar divertido, sabendo muito bem que eu estava sendo atrevida em ficar ouvindo conversa alheia, mas em minha defesa, eu repito: a porta estava aberta.
Megan falou sobre esse tal de Leon. Ok, ela literalmente só falou que tinha ouvido o nome dele, mas o que Voight tinha a ver com isso? E como Paul o conhecia?
- EU VOU MATAR VOCÊ! - uma voz completamente desconhecida, nasalada, irritante e desesperada berrou pra qualquer um ouvir - LANDON, TIRA ISSO DAQUI AGORA!
Meu olhar cruzou com o de no mesmo segundo e eu corri junto com ele e em menos de cinco segundos ouvi Voight gritando meu nome atrás de mim, mas nem mesmo olhei. Minhas pernas só pararam de correr quando cheguei até o trailer que ficava entre o meu e o do , encontrando uma garota que eu nunca tinha visto até então e outro garoto que eu também nunca tinha visto ali e nem em qualquer outro lugar na vida. Ele segurava o rabo de um rato sem nojo algum, ameaçando encostar o mesmo na garota que gritava de nojo mas também ria descontroladamente.
- O que foi agora? - Holt perguntou nervoso, confuso com a cena em sua frente.
- Não é nada, eu só estava brincando. - o rapaz alto jogou o rato no chão e caiu na risada com a garota, mas Voight e Holt estavam longe de rir também.
- Tem quatro dias que vocês estão aqui e já me estressaram de todas as maneiras possíveis! - Voight resmungou bravo, fazendo os dois pararem de rir no mesmo segundo.
- Voight, foi só uma brincadeira. - a garota se defendeu sem graça e a única coisa que passava na minha cabeça era o quanto sua voz não correspondia com a sua aparência. Ela era tatuada em todos os cantos que eu podia enxergar e tinha um olhar forte e penetrante, beirando a intimidador.
- Eu pensei que tinha... acontecido algo. - eu murmurei baixíssimo e provavelmente só ouviu, já que uma de suas mãos entrelaçou minha cintura.
Voight virou seu rosto pra me encarar, abrindo um sorriso sincero e animado, sumindo automaticamente qualquer rastro da braveza de segundos antes. tirou o braço da minha cintura e olhou pra Voight com um olhar cúmplice e o homem me abraçou no mesmo segundo.
- Essa é a sua filha? - o rapaz franziu a testa de leve enquanto perguntava.
- Sim, essa é a ! - assim que os braços de Voight me soltaram do seu abraço e eu me virei, o rapaz já estava com a mão erguida pra me cumprimentar, olhando fixamente nos olhos.
- Eu sou o Landon.
- E eu sou a Shyla! - a garota entrou no embalo e se apresentou com um sorrisinho maroto nos lábios e logo passou o olhar de maneira rápida em e sorriu pra ele também, mas nada convidativo ou atrevido, e sim simpático.
Holt me abraçou em seguida e eu tenho certeza que o olhar de confusão não tinha abandonado minha face. Duas pessoas novas não era novidade na gangue, mas assim, do nada? Eu só fiquei uma semana fora!
Landon e Shyla cumprimentaram em seguida e antes mesmo de tentarem puxar papo o meu celular começou a tocar e eu atendi rapidamente assim que vi o nome de ) da tela.
- Alô?
- ! - a voz completamente chorosa fez meu coração acelerar.
- O que foi? O que aconteceu? - dei alguns passos pra longe do pessoal enquanto não tentava pensar no pior nessa questão mínima de segundos.
- O Grant!
- O que tem ele? Aconteceu alguma coisa?
- Ele me traiu!
Capítulo 26
's POV
Essa é a coisa sobre : ela pode até se chatear, mas a vontade de se vingar é maior.
Lydia foi a pessoa que deu a notícia pra . De maneira realmente incrível e triste, o universo levou Grant para o mesmo bar onde Lydia estava com alguns colegas de trabalho.
É, eu sei, a maioria dos homens não presta nem pra trair.
- Ele me traiu praticamente na minha cara, ! Ele mentiu, disse que estava ocupado com algumas coisas em casa por conta daquele retardado do irmão dele, mas ele estava simplesmente indo pra uma merda de um bar que não fica nem a meia hora daqui pra se esfregar com outra pessoa! - ela gritava nervosa, batendo no volante do carro.
literalmente não perde tempo. Eu consegui conter sua fúria por um dia mas foi só o que eu consegui. Estávamos em frente à casa de Grant e olhava o local com sangue nos olhos.
- O que você vai fazer? - me encolhi no banco do passageiro, apertando os olhos.
Bem... Ela tinha até pegado o carro de Holt emprestado pra fazer não sei o que. Estávamos ali há pouco mais de dez minutos e eu já tinha ouvido as mesmas coisas milhares de vezes e tudo bem, afinal, ela tinha sido traída e estava muito bem provado: Lydia tinha gravado vídeos e tirado fotos.
- Fica aqui! - ordenou, saindo do carro em seguida.
Ela abriu o porta malas, tirando um pé de cabra dali. Ou ela mataria Grant ou quebraria a casa dele.
Ou...
foi arrastando o pé de cabra pelo asfalto até segurar o mesmo com força e bater no capô do carro de Grant, que acionou o alarme barulhento no mesmo segundo. se encostou no carro e observou as unhas como se nada tivesse acontecendo e como se estivesse esperando Grant sair. E ele saiu. Grant estava espantado, nervoso e mesmo estando longe eu podia imaginar o quão alto ele estava gritando com , mas ela simplesmente deu um soco na cara dele com a maior vontade do mundo inteiro.
Foi a melhor cena da minha vida.
Eles começaram a bater boca e em um momento Grant se calou de vez e ficou imóvel. Eu desejei ser uma mosquinha só pra estar ouvindo tudo, mas o que deixou meu coração quente e satisfeito foi ver voltando com uma expressão de alma lavada, embora eu soubesse que ela desabaria logo em seguida.
——
estava indignado com a história toda. Ele continuava com comentários cheios de raiva contra Grant e outros cheios de compaixão por , dizendo que teria ajudado ela a bater em Grant.
Estávamos saindo do trailer pra fazer o que eu mais gostava: comprar suco de melancia e comer donuts. Tudo bem que a dor na minha lombar e o cansaço por noites ainda mal dormidas e um mal estar incômodo que estava me acompanhando nos últimos dias estava me atrapalhando e muito, mas eu estava sendo forte pelo suco e pelos donuts.
Meu coração quase saltou pela boca quando eu vi alguns policiais entrando com expressões nada bacanas. Eram os mesmos policiais que Voight já conhecia, e como sempre, já estava óbvio que não estavam ali por boas notícias. Apertei o passo e tentou me segurar mas fui desviando do seu toque. Eu queria e precisava saber o que estava acontecendo e fui seguindo até o escritório sem vergonha ou medo.
- Voight, uma coisa é vender drogas, outra é vender carfentanil. Que merda você tá fazendo, porra? - um dos policiais cuspiu as palavras numa seriedade de outro mundo e uma grosseria avassaladora.
Eu estava bem no cantinho da porta, quase que totalmente pra fora, mas sem coragem pra brigar por espaço com um dos policiais que estava ao meu lado. Minha coragem durava até certo ponto.
- Carfentanil? Você acha que eu sou louco, caralho? Eu nunca vendi essa merda. - Voight devolveu no mesmo tom de grosseria.
- E ainda assim eu tenho dois casos de ontem por conta dessa droga. Dois jovens, Voight, eles tinham dezenove anos! - o policial ergueu o celular, forçando Voight ver uma imagem que o fez engolir em seco.
- Eu não vendo essa merda aqui!
- É o seu bairro, sua responsabilidade! Se você não der um jeito de parar com isso ou me entregar quem está fazendo, você sabe muito bem o que vai acontecer! - o policial disse tudo numa calmaria sem igual, me fazendo franzir a testa em confusão pela mudança no humor e no tom de voz em tão pouco tempo, e claro, o nervoso que automaticamente me atingiu em uma intimidação sem igual, como se aquilo tivesse sido dito pra mim.
- Você sabe o que tá acontecendo e você sabe muito bem quem é que tá fazendo isso, eu não preciso te explicar! - Voight se defendeu de imediato.
- Voight, eu não me importo, continua sendo o seu bairro!
- Você sabe muito bem quem está fazendo isso! - Voight repetiu.
- Será que eu sei mesmo? Ironicamente, Leon foi solto há pouco tempo e até onde eu me lembro ele também vendia carfentanil. - a ironia e o deboche extrapolaram os limites com a frase que o policial soltou.
- Eu tenho certeza que você sabe que a venda de carfentanil aqui não durou nem três meses e isso já tem anos! Você sabe que Paul está fazendo isso pra causar mais uma guerra!
- VOIGHT! - o policial bateu na mesa com força e sem paciência, me atropelando de agonia e susto pela nova mudança de humor - Eu já falei que não me importo! Dá logo um jeito nisso!
DIAS DEPOIS...
O dia tinha começado péssimo desde o mal estar que senti durante a manhã toda, o que me deu um leve desespero porque da última vez que fui pro hospital estava mais que provado que eu precisava me cuidar mais, mudar minha alimentação e uma porrada de coisas que, honestamente, não fiz direito, mas claro, eu sempre teria um tempo pra . Tagarelávamos entre os corredores do mercado sobre assuntos aleatórios, principalmente sobre Shyla e Landon. Dias atrás decidimos jantar todos juntos e os dois nem mesmo saíram de seus trailers pra se juntarem conosco. Voight dizia que era a adaptação que estava sendo difícil, principalmente pra Landon, que tinha acabado de sair de uma clínica de reabilitação por drogas e alcoolismo, e ele só tem vinte e três anos. A história de Shyla era algo parecido, mas não com ela, e sim com a mãe, que estava numa clínica também e ela literalmente não tinha mais nada e mais ninguém. Só vinte e um anos, só um ano mais velha que eu.
- Quer dizer... Landon está literalmente em um lugar onde vende o que faz parte do vício dele. Sinceramente, parece até brincadeira o que Voight e Holt fazem com as pessoas. - jogou mais um salgadinho na cesta de compras, bufando de estresse.
- Ele acabou de sair de uma clínica, . Eles provavelmente devem estar tentando arrumar algum lugar melhor e um emprego pra ele, é o que eles fazem, você sabe! - eu nunca imaginei que os defenderia, mas o momento havia chegado.
ainda estava nervosa, chateada, virada do avesso em raiva e afogada nos sentimentos ruins pós término. E pós traição. Ela mesma disse que a única parte boa disso tudo foram as musicas que ela conseguiu escrever por conta do coração partido e depois de dias ela estava se permitindo chorar e sentir toda a onda dolorosa do acontecimento.
- Eu sei, mas é que... Você sabe. Eu precisei me encontrar com Grant de novo hoje porque mesmo ele sendo um babaca, ele ainda tem um problema e eu não conseguiria viver sabendo que ele poderia piorar, entende? Eu quero que do fundo do meu coração ele se lasque e que a próxima garota que ficar com ele meta um belo par de chifres, mas eu não posso misturar as coisas, ele ainda tem vícios e precisa de ajuda, mas eu estabeleci limites e inclusive Holt me indicou uma pessoa confiável que pode cuidar dele de perto pra eu não ter a infelicidade de continuar olhando pra cara dele.
e seu coração maior do que cabe no peito.
- Ele tentou conversar com você sobre toda a palhaçada que ele fez? - perguntei cuidadosa.
- Tentou e eu não deixei ele continuar. Não tem o que explicar ou conversar, , ele simplesmente me traiu e não tem justificativa pra isso. - ela respondeu firme e revoltada, claramente ainda morrendo de ódio e com razão.
continuou pegando as coisas que precisava de cada corredor quando parou de andar assim que leu algo que parecia chocante em seu celular.
- ? - a chamei com cuidado, com medo de um possível surto por ser algo relacionamento a Grant de novo. Ser traída uma vez já era o suficiente, não?
- Glenn Travis acabou de me mandar um e-mail! - ela pontuou cada palavra num tom duvidoso, como se não acreditasse no que estava lendo até erguer o olhar - Glenn Travis me mandou um e-mail falando do meu trabalho como cantora, !
Ela explodiu em sorrisos e alguns gritinhos extremamente animados e os olhos marejados. amava a música de Glenn e literalmente não teve como não vibrar junto com a notícia. Minha melhor amiga estava crescendo no ramo musical! O nosso abraço desajeitado, animado e cheio de sentimentos e palavras desconexas era tudo o que precisávamos pra espantar o clima horroroso que pairava sobre nós, até meu olhar se focar em algo que estava no corredor da frente e um frio na barriga quase me engolir.
- Você merece tanto! - eu realmente falei aquilo de todo o meu coração, e ainda abraçada com , eu não conseguia soltá-la porque não conseguia parar de encarar a porcaria dos absorventes nas prateleiras.
Quer dizer... Como? Não é possível!
Calma, eu sei que é, eu sei o que eu faço, mas... Não pode ser!
- Ele disse que andou prestando atenção no meu trabalho e que gostou do que viu e... Meu Deus, , minha hora chegou, eu consigo sentir de verdade! - ela foi saindo do meu abraço aos poucos sem perder a animação enquanto eu nem me mexi, tentando fazer uma conta imbecil na minha cabeça que só estava me deixando mais confusa ainda.
me cutucou com a testa franzida e confusa, estranhando o quão aérea eu fiquei em questão de segundos e eu senti o desespero tomando conta de mim.
- , você merece de verdade e eu estou muito feliz por você, eu sei o quanto isso é grande e importante, eu sei de todo o seu esforço e me sinto orgulhosa e sortuda por ter acompanhado tudo até aqui, mas eu realmente preciso que a gente passe logo no caixa porque preciso passar em uma farmácia o mais rápido possível!
——
Eu nem conseguia chorar ou sentir nada além de uma sensação bizarra de que tinha algo me amassando em todos os sentidos possíveis e imagináveis. nem mesmo tentou me consolar ou dizer algo bonito, ela sabia que não era o que eu precisava no momento e mesmo insistindo em me levar até em casa, eu preferi que não, e mesmo sendo teimosa, ela seguiu o caminho dela até o estúdio pra finalizar algumas coisas enquanto eu segui o resto do percurso sozinha. Afinal, poderia ser um falso positivo, eu não queria deixá-la preocupada ou desesperada antes de ter uma confirmação oficial a não ser um simples teste de farmácia.
Merda, não podia ser, simplesmente não podia, não assim, não agora!
Eu continuava martelando na minha cabeça quando foi que isso poderia ter acontecido e fui brutalmente interrompida por um carro freando com tudo na minha frente, quase que me encurralando na parede da calçada.
- VOCÊ É CEGO? - os faróis ligados bem na minha cara me fez ficar ainda mais irritada, e por um segundo desejei ter sido atropelada, teria sido melhor do que estar de frente com ele.
Imediatamente virei pra trás na esperança de correr como nunca, mas um homem alto e forte já estava na calçada parado, prontíssimo pra me impedir de fazer qualquer coisa. Senti meus olhos marejarem e me virei novamente em pânico, vendo Paul sorrindo com a cabeça pra fora do carro.
- Você tem cinco segundos pra entrar nesse carro antes que eu passe com ele em cima de você! - ele demandou animado, feliz e com um olhar totalmente tenebroso, como se o meu medo o alimentasse.
Não tinha Deus, não tinha santo, não tinha religião que eu pudesse recorrer. Eu simplesmente estava sozinha numa rua pouco movimentada com um dos homens mais perigosos que eu conhecia na vida. Óbvio que eu entrei no carro, com as pernas bambas e tudo, mas entrei. O outro homem também entrou no banco traseiro, com uma expressão nada amigável e longe de ser simpático. Eu pensei em simplesmente abrir a porta do carro e me jogar de uma vez, mas a arma nas mãos do homem ao meu lado me fez apenas congelar, me deixando com medo até de respirar fundo demais.
Eu pude ver no rádio do painel do carro que ficamos dentro dele por pouco mais de dez minutos até Paul parar o carro em uma rua totalmente escura e sem saída. Ele pediu pra o homem descer do carro e pra eu me mudar pra o banco do passageiro, e mais uma vez, com as pernas bambas, eu fiz o que ele mandou. O olhar frio e ao mesmo tempo em chamas de Paul me fez perder a respiração por alguns segundos.
- Se você for me matar, é melhor matar logo. - apertei os olhos com força, quase me engasgando no meio da frase de puro pânico.
Eu estava pronta pra um tiro no meio da testa. Quer dizer, ninguém está pronto pra essa merda, mas Paul me mataria pra mais uma vez tirar algo de Voight por toda essa rivalidade podre de gangues e... Puta que pariu, uma morte totalmente ridícula, já que alguém tão baixo e podre como Paul seria o assassino.
- Credo, , você acha mesmo que eu te trouxe pra esse passeio pra te matar? Eu teria feito isso há muito tempo atrás e até mesmo na frente do seu titio. - ele realmente pareceu indignado comigo, como se eu estivesse sendo cruel demais em pensar o pior.
Eu o encarei de leve e uma vontade gigante de socar sua cara me surgiu, mas aí que eu realmente levaria um tiro. A respiração totalmente descompassada denunciava meu nervoso há quilômetros de distância.
- Então o que você quer?
- Só conversar, esclarecer algumas coisas.
- Você estava me seguindo? - disparei um tanto quanto curiosa e indignada diante de sua figura totalmente cínica e debochada.
- Estive te seguindo o dia todo, . Você deveria ser mais atenta! - ele chamou minha atenção em puro deboche, respirando fundo e mexendo no bolso da calça, tirando de lá um celular - Agora vamos pra o que realmente interessa.
"Yaser acha que está brincando com a minha cara, mas eu só estou dando tempo pra ele mesmo se queimar. Quem é inocente não foge, e eu nem mesmo estou me esforçando porque ele mesmo está fazendo tudo desmoronar com todas essas mentiras, e o pior é que aqueles dois filhos da puta do Voight e do Holt tentam o ajudar como se isso mudasse alguma merda! (...) Eu também estou satisfeito com o que eu estou fazendo com aqueles dois, fazendo eles trabalharem pra mim feito duas putinhas. Eles lavam meu dinheiro, movem os meus equipamentos, e tudo isso sem reclamar, porque se reclamarem, já sabe, né?"
A gravação do celular terminou e eu senti minha barriga se embrulhar em nojo.
- O que é isso?
- Isso é a gravação que Megan fez antes de morrer. Eu vou confessar uma coisa pra você, ... Eu juro que não sabia que ela estava trabalhando pra vocês até esse áudio, sabia? Aí eu liguei os pontos e faz todo o sentido. Ela andava estranha, tentava ficar mais perto de mim, e quando eu descobri que ela estava me traindo com Zane eu a matei sem pensar duas vezes, mas nem imaginei que ela estava sendo tão baixa a esse nível. - quando ele terminou de proferir tais palavras como se fosse algo completamente normal e aceitável e o seu olhar pousou forte em mim, claramente esperando uma reação explosiva, eu realmente quase explodi de vez. Não importava, eu odiaria Paul pro resto de vida e ele não se importava com isso então fazia questão de ser claro como a luz do dia em sua crueldade.
- Paul... - eu apertei os olhos em puro ódio e angústia, por um lado torcendo pra ele me matar de uma vez pra não precisar ouvir mais nenhuma atrocidade e outro lado tentando se conter pra não fazer nenhuma besteira.
- Você sabe por que Voight tem esquinas pra vender as droguinhas dele, ? Porque eu deixo ter. Ele sempre se achou maior que eu, mas sabe como funciona? Eu simplesmente ameaço as pessoas que ele ama e ele simplesmente me obedece, e não tem gangue ou polícia que me pare, porque eu mando.
Eu literalmente senti todo o calor da raiva me envolver de uma vez e eu poderia facilmente pegar fogo de verdade de tanto ódio.
- E você se aproveita disso porque não tem ninguém nessa vida que te ame ou te suporte, por isso não tem como você amar ou se importar com alguém, não é? - eu não me arrependi de imediato pela minha resposta rebelde, eu até esperei uma reação violenta ou mais alguma crueldade saindo de sua boca com tranquilidade, mas não, nenhum dos dois aconteceu. Paul estava sorrindo largo, como se o meu atrevimento em enfrentá-lo, nem que fosse só um pouco, o tivesse feito bem.
- Olha só, até que você pensa!
- E o que eu tenho a ver com isso? Pra que você me trouxe aqui?
- Porque eu sei que você anda buscando a verdade há muito tempo, , e como sempre o Voight só mentiu pra você, assim como mentiu pra o , não é? Ele realmente acredita que a merda do pai dele é inocente?
- E você acha que está me fazendo um favor por acaso? Você acha que por acaso eu vou ter o mínimo de simpatia por você por conta dessas informações? - retruquei nervosa, não enxergando mais nenhuma linha de limite que pudesse existir na nossa discussão, o que poderia me colocar em um grande problema, mas... que se foda.
- Meu Deus, você realmente é filha da sua mãe! - ele riu fraco totalmente inabalável com todo o nojo que eu deixei bem explícito - Agora me responde, , o que é um homem de valor?
Ele estava me testando.
- O oposto de você. - respondi em alto e bom som, sentindo a maior onda de medo misturada com raiva que já tinha sentido em toda a minha vida.
- Essa doeu! - ele colocou a mão no peito bum falso teatro de ofensa - Agora eu encerro aqui o nosso papo da noite. Foi ótimo conversar com você e eu te deixaria no portão de casa sem problema nenhum, mas não vai ser bacana o seu tio te ver comigo, não é? Agora sai do meu carro.
- Como eu sei que não vai voltar? Como eu sei que você não vai me seguir e despejar todos esses absurdos em mim como se eu não soubesse que você está tramando algo? - Paul tinha praticamente ordenado que eu saísse do seu carro com grosseria extrema e eu deveria ter simplesmente saído, mas não. Mesmo sentindo um nó na garganta e um medo misturado com raiva que poderia claramente me fazer cometer uma loucura, me senti destemida o suficiente pra questionar. Quer dizer... era literalmente só um fiapo de coragem que eu tinha e eu usei pra perguntar, eu realmente precisava.
- Você não sabe, é assim que funciona. - ele deu uma piscadinha junto com um sorriso nojento e eu quis morrer - Eu te trouxe as verdades que te faltavam, e eu não sei o que você vai fazer com elas, mas eu só queria te deixar informada porque eu sei que Voight te deixa por fora de tudo, como se você fosse uma menininha inocente, mas você não é. Como eu já disse, você parece muito com a sua mãe e eu não falo só de aparência.
- Você não conhece a minha mãe! - retruquei num tom óbvio e indignado, com absolutamente todos os meus sentidos e sentimentos fora dos eixos por Paul achar que tinha alguma propriedade sobre a minha mãe, como se ele a conhecesse de verdade pra falar coisas assim.
- Não mesmo, mas eu conheço Voight e isso já é o suficiente!
——
Eu chorei de desespero o caminho inteiro e o motorista do Uber tentou me acalmar o tempo todo. Eu não tinha forças pra andar de volta pra casa e aparentemente não tinha forças pra encarar , Voight ou qualquer outra pessoa, mas eu precisava lidar com essa porcaria. Como caralhos eu contaria isso pro meu namorado? Como eu conto que o pai incrível que sempre foi amigo dele, também é um homem metido com coisas muito erradas? E como eu chego em Voight e explico que Paul veio atrás de mim e mais uma vez me entregou a verdade como se ele fosse uma espécie de Deus?
E puta que pariu... ainda tem a gravidez.
Assim que desci do carro, senti como se meu coração estivesse sendo esmagado de verdade. Quando foi que eu perdi tanto assim o controle de absolutamente tudo? Pra onde foram os planos que eu tinha? Eu sei que não importa o quanto a gente tente ignorar ou negar, a mentira cai terra abaixo, mas por algum motivo, eu não estava com raiva de Voight por ter escondido tudo isso. Às vezes fazer algo ruim por uma boa razão é certo, não é? Talvez esconder a verdade seja o melhor, pelo menos por um tempinho.
O que eu estou falando? Eu sempre odiei mentiras e agora estou pensando nisso porque... Merda, esquece.
Engoli todo o meu choro e passei pelo portão, com passos fortes e largos na intenção de chegar rápido em meu trailer sem correr o risco de esbarrar com . Eu precisava chorar pelas horas restantes que ainda tinha antes de entrarmos naquele carro e ficarmos juntos por horas enquanto eu terei que fingir que tudo está bem.
Espera, que porcaria eu estou pensando de novo? Eu preciso contar isso pra ele! Ele precisa saber sobre o pai!
- ! - a voz grossa de Cohen me fez parar de andar no mesmo segundo e fui virando meu corpo bem devagar, torcendo de verdade para que ele não reparasse na minha cara de choro, mas não teve como - Tá tudo bem?
- É... Tá sim. É a , você sabe... Se ela está sofrendo então eu estou sofrendo e bla bla bla. - forcei uma risada fraca e totalmente nervosa, implorando mentalmente pra ele não prosseguir ou perceber que menti.
- Eu entendo, aquele ex dela foi um filho da puta mesmo. - ele comentou indignado, mas balançou a cabeça e se aproximou, olhando pra os cantos, como se estivesse se certificando que ninguém estivesse por perto - Yaser está com .
- O QUE?
- Ele está com no trailer dele. Ele veio o visitar, . Estão conversando tem uns trinta minutos e Voight pediu pra que eu ficasse de olho, porque assim que ele sair, vai precisar correr pra ir embora em segurança.
Eu refiz todos os meus passos até o trailer de , sem me importar com merda nenhuma. Eu precisava ver com os meus próprios olhos. Bati na porta de maneira desesperada até abri-la e sorrir largo, quase me desmontando com seu sorriso. Ele estava sem camisa e, pelo amor de Deus, uma tatuagem nova estava em seu peito. Ele tinha tampado os olhos de Sienna e fechado outra mandala, com um pequeno girassol embaixo, como se o girassol estivesse fechando a mandala e meu coração parou. Juro, ele parou por uns 5 segundos de verdade!
- Você... - apontei para o seu peitoral com os olhos marejados e ele sorriu novamente.
- Era pra ser uma surpresa, babe! - ele riu gostoso e me abraçou de lado, me dando um beijo na testa - Você não vai acreditar quem está aqui! - ele se animou, ficando completamente na minha frente e me encarando animado, mas seu olhar feliz logo se despencou - Você estava chorando?
Por Deus...
- . Ela fez uma música nova linda e super triste, então eu desmoronei com ela. Você sabe... Grant e tudo mais. - foi a primeira coisa que surgiu na minha mente e mesmo morrendo de nervoso, meu namorado pareceu ter acreditado. Quer dizer... Ele estava tão animado pelo pai que ele provavelmente acreditaria em qualquer porcaria que eu falasse.
- Vem, entra, quero que você conheça meu pai! - entrelaçou nossas mãos, abriu a porta por inteiro e me colocou pra dentro e eu senti que desabaria no choro novamente assim que meus olhos se encontraram com Yaser sentado na cama.
- Então você é a ! - ele se levantou com um sorriso largo e no mesmo instante eu notei de quem tinha puxado o sorriso, mas assim que ele me abraçou forte eu quis desaparecer.
me amava de verdade. Ele se deu tempo, ele se entregou e até mesmo tapou a droga da tatuagem e justo agora eu tinha duas bombas pra jogar em cima dele.
"Oi , sabe seu pai incrível que se arriscou pra vir te ver? Então, na verdade ele não é tão incrível ou inocente como você pensa. Ah, e a propósito, você também vai ser pai. Eu ainda não sei aonde erramos, mas não fomos cuidadosos o bastante."
Eu entendo Voight agora. Eu entendo a minha mãe. A verdade é horrível, então a gente simplesmente mente.
Essa é a coisa sobre : ela pode até se chatear, mas a vontade de se vingar é maior.
Lydia foi a pessoa que deu a notícia pra . De maneira realmente incrível e triste, o universo levou Grant para o mesmo bar onde Lydia estava com alguns colegas de trabalho.
É, eu sei, a maioria dos homens não presta nem pra trair.
- Ele me traiu praticamente na minha cara, ! Ele mentiu, disse que estava ocupado com algumas coisas em casa por conta daquele retardado do irmão dele, mas ele estava simplesmente indo pra uma merda de um bar que não fica nem a meia hora daqui pra se esfregar com outra pessoa! - ela gritava nervosa, batendo no volante do carro.
literalmente não perde tempo. Eu consegui conter sua fúria por um dia mas foi só o que eu consegui. Estávamos em frente à casa de Grant e olhava o local com sangue nos olhos.
- O que você vai fazer? - me encolhi no banco do passageiro, apertando os olhos.
Bem... Ela tinha até pegado o carro de Holt emprestado pra fazer não sei o que. Estávamos ali há pouco mais de dez minutos e eu já tinha ouvido as mesmas coisas milhares de vezes e tudo bem, afinal, ela tinha sido traída e estava muito bem provado: Lydia tinha gravado vídeos e tirado fotos.
- Fica aqui! - ordenou, saindo do carro em seguida.
Ela abriu o porta malas, tirando um pé de cabra dali. Ou ela mataria Grant ou quebraria a casa dele.
Ou...
foi arrastando o pé de cabra pelo asfalto até segurar o mesmo com força e bater no capô do carro de Grant, que acionou o alarme barulhento no mesmo segundo. se encostou no carro e observou as unhas como se nada tivesse acontecendo e como se estivesse esperando Grant sair. E ele saiu. Grant estava espantado, nervoso e mesmo estando longe eu podia imaginar o quão alto ele estava gritando com , mas ela simplesmente deu um soco na cara dele com a maior vontade do mundo inteiro.
Foi a melhor cena da minha vida.
Eles começaram a bater boca e em um momento Grant se calou de vez e ficou imóvel. Eu desejei ser uma mosquinha só pra estar ouvindo tudo, mas o que deixou meu coração quente e satisfeito foi ver voltando com uma expressão de alma lavada, embora eu soubesse que ela desabaria logo em seguida.
estava indignado com a história toda. Ele continuava com comentários cheios de raiva contra Grant e outros cheios de compaixão por , dizendo que teria ajudado ela a bater em Grant.
Estávamos saindo do trailer pra fazer o que eu mais gostava: comprar suco de melancia e comer donuts. Tudo bem que a dor na minha lombar e o cansaço por noites ainda mal dormidas e um mal estar incômodo que estava me acompanhando nos últimos dias estava me atrapalhando e muito, mas eu estava sendo forte pelo suco e pelos donuts.
Meu coração quase saltou pela boca quando eu vi alguns policiais entrando com expressões nada bacanas. Eram os mesmos policiais que Voight já conhecia, e como sempre, já estava óbvio que não estavam ali por boas notícias. Apertei o passo e tentou me segurar mas fui desviando do seu toque. Eu queria e precisava saber o que estava acontecendo e fui seguindo até o escritório sem vergonha ou medo.
- Voight, uma coisa é vender drogas, outra é vender carfentanil. Que merda você tá fazendo, porra? - um dos policiais cuspiu as palavras numa seriedade de outro mundo e uma grosseria avassaladora.
Eu estava bem no cantinho da porta, quase que totalmente pra fora, mas sem coragem pra brigar por espaço com um dos policiais que estava ao meu lado. Minha coragem durava até certo ponto.
- Carfentanil? Você acha que eu sou louco, caralho? Eu nunca vendi essa merda. - Voight devolveu no mesmo tom de grosseria.
- E ainda assim eu tenho dois casos de ontem por conta dessa droga. Dois jovens, Voight, eles tinham dezenove anos! - o policial ergueu o celular, forçando Voight ver uma imagem que o fez engolir em seco.
- Eu não vendo essa merda aqui!
- É o seu bairro, sua responsabilidade! Se você não der um jeito de parar com isso ou me entregar quem está fazendo, você sabe muito bem o que vai acontecer! - o policial disse tudo numa calmaria sem igual, me fazendo franzir a testa em confusão pela mudança no humor e no tom de voz em tão pouco tempo, e claro, o nervoso que automaticamente me atingiu em uma intimidação sem igual, como se aquilo tivesse sido dito pra mim.
- Você sabe o que tá acontecendo e você sabe muito bem quem é que tá fazendo isso, eu não preciso te explicar! - Voight se defendeu de imediato.
- Voight, eu não me importo, continua sendo o seu bairro!
- Você sabe muito bem quem está fazendo isso! - Voight repetiu.
- Será que eu sei mesmo? Ironicamente, Leon foi solto há pouco tempo e até onde eu me lembro ele também vendia carfentanil. - a ironia e o deboche extrapolaram os limites com a frase que o policial soltou.
- Eu tenho certeza que você sabe que a venda de carfentanil aqui não durou nem três meses e isso já tem anos! Você sabe que Paul está fazendo isso pra causar mais uma guerra!
- VOIGHT! - o policial bateu na mesa com força e sem paciência, me atropelando de agonia e susto pela nova mudança de humor - Eu já falei que não me importo! Dá logo um jeito nisso!
DIAS DEPOIS...
O dia tinha começado péssimo desde o mal estar que senti durante a manhã toda, o que me deu um leve desespero porque da última vez que fui pro hospital estava mais que provado que eu precisava me cuidar mais, mudar minha alimentação e uma porrada de coisas que, honestamente, não fiz direito, mas claro, eu sempre teria um tempo pra . Tagarelávamos entre os corredores do mercado sobre assuntos aleatórios, principalmente sobre Shyla e Landon. Dias atrás decidimos jantar todos juntos e os dois nem mesmo saíram de seus trailers pra se juntarem conosco. Voight dizia que era a adaptação que estava sendo difícil, principalmente pra Landon, que tinha acabado de sair de uma clínica de reabilitação por drogas e alcoolismo, e ele só tem vinte e três anos. A história de Shyla era algo parecido, mas não com ela, e sim com a mãe, que estava numa clínica também e ela literalmente não tinha mais nada e mais ninguém. Só vinte e um anos, só um ano mais velha que eu.
- Quer dizer... Landon está literalmente em um lugar onde vende o que faz parte do vício dele. Sinceramente, parece até brincadeira o que Voight e Holt fazem com as pessoas. - jogou mais um salgadinho na cesta de compras, bufando de estresse.
- Ele acabou de sair de uma clínica, . Eles provavelmente devem estar tentando arrumar algum lugar melhor e um emprego pra ele, é o que eles fazem, você sabe! - eu nunca imaginei que os defenderia, mas o momento havia chegado.
ainda estava nervosa, chateada, virada do avesso em raiva e afogada nos sentimentos ruins pós término. E pós traição. Ela mesma disse que a única parte boa disso tudo foram as musicas que ela conseguiu escrever por conta do coração partido e depois de dias ela estava se permitindo chorar e sentir toda a onda dolorosa do acontecimento.
- Eu sei, mas é que... Você sabe. Eu precisei me encontrar com Grant de novo hoje porque mesmo ele sendo um babaca, ele ainda tem um problema e eu não conseguiria viver sabendo que ele poderia piorar, entende? Eu quero que do fundo do meu coração ele se lasque e que a próxima garota que ficar com ele meta um belo par de chifres, mas eu não posso misturar as coisas, ele ainda tem vícios e precisa de ajuda, mas eu estabeleci limites e inclusive Holt me indicou uma pessoa confiável que pode cuidar dele de perto pra eu não ter a infelicidade de continuar olhando pra cara dele.
e seu coração maior do que cabe no peito.
- Ele tentou conversar com você sobre toda a palhaçada que ele fez? - perguntei cuidadosa.
- Tentou e eu não deixei ele continuar. Não tem o que explicar ou conversar, , ele simplesmente me traiu e não tem justificativa pra isso. - ela respondeu firme e revoltada, claramente ainda morrendo de ódio e com razão.
continuou pegando as coisas que precisava de cada corredor quando parou de andar assim que leu algo que parecia chocante em seu celular.
- ? - a chamei com cuidado, com medo de um possível surto por ser algo relacionamento a Grant de novo. Ser traída uma vez já era o suficiente, não?
- Glenn Travis acabou de me mandar um e-mail! - ela pontuou cada palavra num tom duvidoso, como se não acreditasse no que estava lendo até erguer o olhar - Glenn Travis me mandou um e-mail falando do meu trabalho como cantora, !
Ela explodiu em sorrisos e alguns gritinhos extremamente animados e os olhos marejados. amava a música de Glenn e literalmente não teve como não vibrar junto com a notícia. Minha melhor amiga estava crescendo no ramo musical! O nosso abraço desajeitado, animado e cheio de sentimentos e palavras desconexas era tudo o que precisávamos pra espantar o clima horroroso que pairava sobre nós, até meu olhar se focar em algo que estava no corredor da frente e um frio na barriga quase me engolir.
- Você merece tanto! - eu realmente falei aquilo de todo o meu coração, e ainda abraçada com , eu não conseguia soltá-la porque não conseguia parar de encarar a porcaria dos absorventes nas prateleiras.
Quer dizer... Como? Não é possível!
Calma, eu sei que é, eu sei o que eu faço, mas... Não pode ser!
- Ele disse que andou prestando atenção no meu trabalho e que gostou do que viu e... Meu Deus, , minha hora chegou, eu consigo sentir de verdade! - ela foi saindo do meu abraço aos poucos sem perder a animação enquanto eu nem me mexi, tentando fazer uma conta imbecil na minha cabeça que só estava me deixando mais confusa ainda.
me cutucou com a testa franzida e confusa, estranhando o quão aérea eu fiquei em questão de segundos e eu senti o desespero tomando conta de mim.
- , você merece de verdade e eu estou muito feliz por você, eu sei o quanto isso é grande e importante, eu sei de todo o seu esforço e me sinto orgulhosa e sortuda por ter acompanhado tudo até aqui, mas eu realmente preciso que a gente passe logo no caixa porque preciso passar em uma farmácia o mais rápido possível!
Eu nem conseguia chorar ou sentir nada além de uma sensação bizarra de que tinha algo me amassando em todos os sentidos possíveis e imagináveis. nem mesmo tentou me consolar ou dizer algo bonito, ela sabia que não era o que eu precisava no momento e mesmo insistindo em me levar até em casa, eu preferi que não, e mesmo sendo teimosa, ela seguiu o caminho dela até o estúdio pra finalizar algumas coisas enquanto eu segui o resto do percurso sozinha. Afinal, poderia ser um falso positivo, eu não queria deixá-la preocupada ou desesperada antes de ter uma confirmação oficial a não ser um simples teste de farmácia.
Merda, não podia ser, simplesmente não podia, não assim, não agora!
Eu continuava martelando na minha cabeça quando foi que isso poderia ter acontecido e fui brutalmente interrompida por um carro freando com tudo na minha frente, quase que me encurralando na parede da calçada.
- VOCÊ É CEGO? - os faróis ligados bem na minha cara me fez ficar ainda mais irritada, e por um segundo desejei ter sido atropelada, teria sido melhor do que estar de frente com ele.
Imediatamente virei pra trás na esperança de correr como nunca, mas um homem alto e forte já estava na calçada parado, prontíssimo pra me impedir de fazer qualquer coisa. Senti meus olhos marejarem e me virei novamente em pânico, vendo Paul sorrindo com a cabeça pra fora do carro.
- Você tem cinco segundos pra entrar nesse carro antes que eu passe com ele em cima de você! - ele demandou animado, feliz e com um olhar totalmente tenebroso, como se o meu medo o alimentasse.
Não tinha Deus, não tinha santo, não tinha religião que eu pudesse recorrer. Eu simplesmente estava sozinha numa rua pouco movimentada com um dos homens mais perigosos que eu conhecia na vida. Óbvio que eu entrei no carro, com as pernas bambas e tudo, mas entrei. O outro homem também entrou no banco traseiro, com uma expressão nada amigável e longe de ser simpático. Eu pensei em simplesmente abrir a porta do carro e me jogar de uma vez, mas a arma nas mãos do homem ao meu lado me fez apenas congelar, me deixando com medo até de respirar fundo demais.
Eu pude ver no rádio do painel do carro que ficamos dentro dele por pouco mais de dez minutos até Paul parar o carro em uma rua totalmente escura e sem saída. Ele pediu pra o homem descer do carro e pra eu me mudar pra o banco do passageiro, e mais uma vez, com as pernas bambas, eu fiz o que ele mandou. O olhar frio e ao mesmo tempo em chamas de Paul me fez perder a respiração por alguns segundos.
- Se você for me matar, é melhor matar logo. - apertei os olhos com força, quase me engasgando no meio da frase de puro pânico.
Eu estava pronta pra um tiro no meio da testa. Quer dizer, ninguém está pronto pra essa merda, mas Paul me mataria pra mais uma vez tirar algo de Voight por toda essa rivalidade podre de gangues e... Puta que pariu, uma morte totalmente ridícula, já que alguém tão baixo e podre como Paul seria o assassino.
- Credo, , você acha mesmo que eu te trouxe pra esse passeio pra te matar? Eu teria feito isso há muito tempo atrás e até mesmo na frente do seu titio. - ele realmente pareceu indignado comigo, como se eu estivesse sendo cruel demais em pensar o pior.
Eu o encarei de leve e uma vontade gigante de socar sua cara me surgiu, mas aí que eu realmente levaria um tiro. A respiração totalmente descompassada denunciava meu nervoso há quilômetros de distância.
- Então o que você quer?
- Só conversar, esclarecer algumas coisas.
- Você estava me seguindo? - disparei um tanto quanto curiosa e indignada diante de sua figura totalmente cínica e debochada.
- Estive te seguindo o dia todo, . Você deveria ser mais atenta! - ele chamou minha atenção em puro deboche, respirando fundo e mexendo no bolso da calça, tirando de lá um celular - Agora vamos pra o que realmente interessa.
"Yaser acha que está brincando com a minha cara, mas eu só estou dando tempo pra ele mesmo se queimar. Quem é inocente não foge, e eu nem mesmo estou me esforçando porque ele mesmo está fazendo tudo desmoronar com todas essas mentiras, e o pior é que aqueles dois filhos da puta do Voight e do Holt tentam o ajudar como se isso mudasse alguma merda! (...) Eu também estou satisfeito com o que eu estou fazendo com aqueles dois, fazendo eles trabalharem pra mim feito duas putinhas. Eles lavam meu dinheiro, movem os meus equipamentos, e tudo isso sem reclamar, porque se reclamarem, já sabe, né?"
A gravação do celular terminou e eu senti minha barriga se embrulhar em nojo.
- O que é isso?
- Isso é a gravação que Megan fez antes de morrer. Eu vou confessar uma coisa pra você, ... Eu juro que não sabia que ela estava trabalhando pra vocês até esse áudio, sabia? Aí eu liguei os pontos e faz todo o sentido. Ela andava estranha, tentava ficar mais perto de mim, e quando eu descobri que ela estava me traindo com Zane eu a matei sem pensar duas vezes, mas nem imaginei que ela estava sendo tão baixa a esse nível. - quando ele terminou de proferir tais palavras como se fosse algo completamente normal e aceitável e o seu olhar pousou forte em mim, claramente esperando uma reação explosiva, eu realmente quase explodi de vez. Não importava, eu odiaria Paul pro resto de vida e ele não se importava com isso então fazia questão de ser claro como a luz do dia em sua crueldade.
- Paul... - eu apertei os olhos em puro ódio e angústia, por um lado torcendo pra ele me matar de uma vez pra não precisar ouvir mais nenhuma atrocidade e outro lado tentando se conter pra não fazer nenhuma besteira.
- Você sabe por que Voight tem esquinas pra vender as droguinhas dele, ? Porque eu deixo ter. Ele sempre se achou maior que eu, mas sabe como funciona? Eu simplesmente ameaço as pessoas que ele ama e ele simplesmente me obedece, e não tem gangue ou polícia que me pare, porque eu mando.
Eu literalmente senti todo o calor da raiva me envolver de uma vez e eu poderia facilmente pegar fogo de verdade de tanto ódio.
- E você se aproveita disso porque não tem ninguém nessa vida que te ame ou te suporte, por isso não tem como você amar ou se importar com alguém, não é? - eu não me arrependi de imediato pela minha resposta rebelde, eu até esperei uma reação violenta ou mais alguma crueldade saindo de sua boca com tranquilidade, mas não, nenhum dos dois aconteceu. Paul estava sorrindo largo, como se o meu atrevimento em enfrentá-lo, nem que fosse só um pouco, o tivesse feito bem.
- Olha só, até que você pensa!
- E o que eu tenho a ver com isso? Pra que você me trouxe aqui?
- Porque eu sei que você anda buscando a verdade há muito tempo, , e como sempre o Voight só mentiu pra você, assim como mentiu pra o , não é? Ele realmente acredita que a merda do pai dele é inocente?
- E você acha que está me fazendo um favor por acaso? Você acha que por acaso eu vou ter o mínimo de simpatia por você por conta dessas informações? - retruquei nervosa, não enxergando mais nenhuma linha de limite que pudesse existir na nossa discussão, o que poderia me colocar em um grande problema, mas... que se foda.
- Meu Deus, você realmente é filha da sua mãe! - ele riu fraco totalmente inabalável com todo o nojo que eu deixei bem explícito - Agora me responde, , o que é um homem de valor?
Ele estava me testando.
- O oposto de você. - respondi em alto e bom som, sentindo a maior onda de medo misturada com raiva que já tinha sentido em toda a minha vida.
- Essa doeu! - ele colocou a mão no peito bum falso teatro de ofensa - Agora eu encerro aqui o nosso papo da noite. Foi ótimo conversar com você e eu te deixaria no portão de casa sem problema nenhum, mas não vai ser bacana o seu tio te ver comigo, não é? Agora sai do meu carro.
- Como eu sei que não vai voltar? Como eu sei que você não vai me seguir e despejar todos esses absurdos em mim como se eu não soubesse que você está tramando algo? - Paul tinha praticamente ordenado que eu saísse do seu carro com grosseria extrema e eu deveria ter simplesmente saído, mas não. Mesmo sentindo um nó na garganta e um medo misturado com raiva que poderia claramente me fazer cometer uma loucura, me senti destemida o suficiente pra questionar. Quer dizer... era literalmente só um fiapo de coragem que eu tinha e eu usei pra perguntar, eu realmente precisava.
- Você não sabe, é assim que funciona. - ele deu uma piscadinha junto com um sorriso nojento e eu quis morrer - Eu te trouxe as verdades que te faltavam, e eu não sei o que você vai fazer com elas, mas eu só queria te deixar informada porque eu sei que Voight te deixa por fora de tudo, como se você fosse uma menininha inocente, mas você não é. Como eu já disse, você parece muito com a sua mãe e eu não falo só de aparência.
- Você não conhece a minha mãe! - retruquei num tom óbvio e indignado, com absolutamente todos os meus sentidos e sentimentos fora dos eixos por Paul achar que tinha alguma propriedade sobre a minha mãe, como se ele a conhecesse de verdade pra falar coisas assim.
- Não mesmo, mas eu conheço Voight e isso já é o suficiente!
Eu chorei de desespero o caminho inteiro e o motorista do Uber tentou me acalmar o tempo todo. Eu não tinha forças pra andar de volta pra casa e aparentemente não tinha forças pra encarar , Voight ou qualquer outra pessoa, mas eu precisava lidar com essa porcaria. Como caralhos eu contaria isso pro meu namorado? Como eu conto que o pai incrível que sempre foi amigo dele, também é um homem metido com coisas muito erradas? E como eu chego em Voight e explico que Paul veio atrás de mim e mais uma vez me entregou a verdade como se ele fosse uma espécie de Deus?
E puta que pariu... ainda tem a gravidez.
Assim que desci do carro, senti como se meu coração estivesse sendo esmagado de verdade. Quando foi que eu perdi tanto assim o controle de absolutamente tudo? Pra onde foram os planos que eu tinha? Eu sei que não importa o quanto a gente tente ignorar ou negar, a mentira cai terra abaixo, mas por algum motivo, eu não estava com raiva de Voight por ter escondido tudo isso. Às vezes fazer algo ruim por uma boa razão é certo, não é? Talvez esconder a verdade seja o melhor, pelo menos por um tempinho.
O que eu estou falando? Eu sempre odiei mentiras e agora estou pensando nisso porque... Merda, esquece.
Engoli todo o meu choro e passei pelo portão, com passos fortes e largos na intenção de chegar rápido em meu trailer sem correr o risco de esbarrar com . Eu precisava chorar pelas horas restantes que ainda tinha antes de entrarmos naquele carro e ficarmos juntos por horas enquanto eu terei que fingir que tudo está bem.
Espera, que porcaria eu estou pensando de novo? Eu preciso contar isso pra ele! Ele precisa saber sobre o pai!
- ! - a voz grossa de Cohen me fez parar de andar no mesmo segundo e fui virando meu corpo bem devagar, torcendo de verdade para que ele não reparasse na minha cara de choro, mas não teve como - Tá tudo bem?
- É... Tá sim. É a , você sabe... Se ela está sofrendo então eu estou sofrendo e bla bla bla. - forcei uma risada fraca e totalmente nervosa, implorando mentalmente pra ele não prosseguir ou perceber que menti.
- Eu entendo, aquele ex dela foi um filho da puta mesmo. - ele comentou indignado, mas balançou a cabeça e se aproximou, olhando pra os cantos, como se estivesse se certificando que ninguém estivesse por perto - Yaser está com .
- O QUE?
- Ele está com no trailer dele. Ele veio o visitar, . Estão conversando tem uns trinta minutos e Voight pediu pra que eu ficasse de olho, porque assim que ele sair, vai precisar correr pra ir embora em segurança.
Eu refiz todos os meus passos até o trailer de , sem me importar com merda nenhuma. Eu precisava ver com os meus próprios olhos. Bati na porta de maneira desesperada até abri-la e sorrir largo, quase me desmontando com seu sorriso. Ele estava sem camisa e, pelo amor de Deus, uma tatuagem nova estava em seu peito. Ele tinha tampado os olhos de Sienna e fechado outra mandala, com um pequeno girassol embaixo, como se o girassol estivesse fechando a mandala e meu coração parou. Juro, ele parou por uns 5 segundos de verdade!
- Você... - apontei para o seu peitoral com os olhos marejados e ele sorriu novamente.
- Era pra ser uma surpresa, babe! - ele riu gostoso e me abraçou de lado, me dando um beijo na testa - Você não vai acreditar quem está aqui! - ele se animou, ficando completamente na minha frente e me encarando animado, mas seu olhar feliz logo se despencou - Você estava chorando?
Por Deus...
- . Ela fez uma música nova linda e super triste, então eu desmoronei com ela. Você sabe... Grant e tudo mais. - foi a primeira coisa que surgiu na minha mente e mesmo morrendo de nervoso, meu namorado pareceu ter acreditado. Quer dizer... Ele estava tão animado pelo pai que ele provavelmente acreditaria em qualquer porcaria que eu falasse.
- Vem, entra, quero que você conheça meu pai! - entrelaçou nossas mãos, abriu a porta por inteiro e me colocou pra dentro e eu senti que desabaria no choro novamente assim que meus olhos se encontraram com Yaser sentado na cama.
- Então você é a ! - ele se levantou com um sorriso largo e no mesmo instante eu notei de quem tinha puxado o sorriso, mas assim que ele me abraçou forte eu quis desaparecer.
me amava de verdade. Ele se deu tempo, ele se entregou e até mesmo tapou a droga da tatuagem e justo agora eu tinha duas bombas pra jogar em cima dele.
"Oi , sabe seu pai incrível que se arriscou pra vir te ver? Então, na verdade ele não é tão incrível ou inocente como você pensa. Ah, e a propósito, você também vai ser pai. Eu ainda não sei aonde erramos, mas não fomos cuidadosos o bastante."
Eu entendo Voight agora. Eu entendo a minha mãe. A verdade é horrível, então a gente simplesmente mente.
Capítulo 27
's POV
Não tem harpas tocando, não tem passarinhos cantando felizes em volta como em um filme e muito menos aquela felicidade que te faz pensar que tem pétalas de rosa caindo do céu. Simplesmente pareceu que tudo estava morto, inclusive o romance. Eu não queria entrar numa bolha de sentimentos ruins onde eu tinha certeza que seria complicado de sair, mas aconteceu sem a minha permissão, sem que eu pudesse debater ou evitar. Eu só conseguia me perguntar como alguém tão incrível como poderia me olhar daquele jeito, com tanto amor e carinho? Em um dia, tudo o que eu fiz foi questionar absolutamente tudo.
- ? - me tirou do meu transe - Eu sei o que você deve estar pensando, mas poxa, é um cara bom, ele com certeza vai querer esse bebê. É complicado porque não é o momento ideal, tem muita coisa acontecendo, mas ele vai te apoiar, eu tenho certeza!
- O problema não é só ele, . Eu quero ser mãe, mas não agora, não assim. - dei um longo suspiro - Eu não sei o que fazer, eu não sei como contar. Eu tive que suportar Yaser fingindo ser um homem incrível ontem por mais de uma hora e acreditando e sorrindo como se o pai fosse um anjo sem asas. Eu tenho duas coisas comigo e eu não faço ideia de como contar isso pra ele nem pra ninguém!
- Você vai precisar contar pra Voight sobre isso. Paul não fez isso à toa, ele com certeza tem algo por trás disso. Por que diabos ele te diria tudo isso? Não tem sentido nenhum! - me encarou em advertência e alerta.
- Nada faz sentido, . - bufei.
- Podemos conversar com ele, . Eu vou com você, eu posso estar lá pra te ajudar. Você não pode correr o risco de Paul aparecer de novo e te falar o que quiser como se fosse dono de toda a verdade, você precisa deixar Voight te contar e te ajudar, você precisa dar oportunidade pra ele ser verdadeiro também! Quando você falar sobre o que Paul te disse, Voight com certeza vai te falar a verdade e aí vocês podem chegar a uma conclusão em como vão contar isso pra antes que ele descubra de outra forma. - realmente se esforçou em tentar me mostrar uma luz no fim do túnel.
- Eu vou pensar.
- E sobre... o bebê? - ela coçou o cabelo levemente sem graça ao perguntar.
- Eu vou pensar também. - fechei os olhos por alguns segundos e respirei fundo na esperança de toda a angústia sumir, mas não sumiu e o melhor que eu poderia fazer por mim mesma era pelo menos tentar me distrair um pouco - Glenn te respondeu?
estava com o notebook no colo toda esparramada no sofá do estúdio, atenta à mim e ao notebook.
- Sim, ele gostou da música nova que mandei pra ele e também disse que consegue vir pra cá no fim do mês. Eu ainda nem acredito! - a animação e emoção de realmente deixava meu coração um pouco mais leve.
- Você ainda não me mostrou essa música nova... - dei um sorriso desentendido assim que soltei a indireta e ela gargalhou.
- Vou mostrar agora mesmo! - ela sorriu animada e juntou forças pra se mover no sofá, ficando bem ao meu lado.
——
Passei pelo portão com pressa mas passei o olhar rapidamente pelo escritório com a janela aberta escancarada, revelando até ali dentro com Cohen e Scott, todos rindo alto. Pelo menos alguém estava se divertindo.
- ! - Voight gritou meu nome bem alto, com alguns passos pra fora do escritório e eu já estava quase entre os trailers quando parei pra encará-lo confusa - Vem aqui!
Por Deus, que não seja a notícia de Yaser estar visitando novamente! Eu precisei ouvir noite passada totalmente encantado pelo pai ter se arriscado por ter vindo vê-lo e eu não aguentaria isso de novo sem explodir no choro ou no ódio.
Dei passos preguiçosos até onde ele estava.
- O que foi?
- Preciso que você me faça um favor! Shyla não está tendo uma boa adaptação aqui, e bem, você é mulher, vocês só tem um ano de diferença de idade, então acho que vai ser mais fácil se você tentar ajudá-la nesse processo, pode ser? - ele pediu com tanta preocupação e educação que seria impossível dizer não nem se eu quisesse.
Assenti positivamente e fui até o trailer de Shyla. Eu precisava mesmo de algo pra fazer a não ser pirar dentro da minha própria cabeça. Bati na porta algumas vezes e nada. Bati de novo e ela simplesmente gritou um "estou tentando dormir". Tudo bem, a adaptação é realmente horrível e é aceitável que no começo ela não queira se enturmar.
- Ei. - Landon abriu a porta do trailer dele, saindo do mesmo apenas com uma bermuda preta, exibindo um baita peitoral que poderia brilhar de longe - Ela é assim mesmo. Nos primeiros dias ela até estava de boa, pareceu uma pessoa bem legal e aberta, mas agora ela simplesmente se fechou. Quase não a vejo fora desse trailer. - ele finalizou dando os ombros, encarando a porta de Shyla.
- Eu entendo, é normal, aqui não é o lugar ideal ou o plano de vida de ninguém. - sorri fraco, levemente feliz por ele estar puxando assunto e decidi fazer o mesmo - Mas e você, como está se sentindo aqui?
- Já estive em lugares piores. - ele deu os ombros junto a uma risadinha fraca e sem humor algum. Por um segundo tentei imaginar todos os perrengues que Landon já deve ter passado na vida e o olhar que ele me deu pareceu adivinhar que eu estava imaginando tal coisa. Seu olhar não era de repreensão, mas sim de um leve incômodo.
- Bem, se você precisar de algo pode me falar, está bem? E pega leve com a Shyla, ela é sua vizinha de trailer e vocês precisam se dar bem. - mudei de assunto rapidamente visivelmente sem graça enquanto já dava alguns passos pra trás em direção ao meu próprio trailer.
- Pode deixar, eu aviso sim.
DIAS DEPOIS...
A casa de show estava mais lotada que o normal. As pessoas realmente estavam animadas pra assistir e por um segundo isso foi o suficiente pra me deixar completa e feliz, esquecendo de todo o resto. Estávamos em grupo que incluía Shyla e Landon, que aceitaram o convite de numa certa desconfiança. Talvez eles achassem que ela estivesse com pena por serem novatos, mas mesmo assim foram, mas todo mundo muito atento com Landon. Sabíamos que ele tinha acabado de sair de uma clínica de reabilitação e Voight nem mesmo achou uma boa ideia de início em trazermos ele conosco, mas seria horrível, Landon se sentiria excluído e não queríamos que ele se sentisse assim por conta do seu problema. No fim, beirando a ironia até, todos decidiram que não beberiam álcool. Estavam fazendo um favor pra mim também sem nem saberem, mesmo eu nem mesmo me importando. Minha vontade era ficar completamente bêbada até esquecer dessa gravidez.
subiu no palco e algumas luzes se apagaram, deixando o clima mais íntimo. me abraçou por trás e encostou a cabeça no meu ombro de um jeito confortável e o perfume dele invadiu minhas narinas.
You have a way with words
(Você tem um jeito com as palavras)
Your silence is a curse
(Seu silêncio é uma maldição)
You always seem to break me down, down, down
(Você sempre parece me quebrar, quebrar, quebrar)
My swollen heart you curve
(Meu coração inchado você torce)
Your comfort makes it worse
(Seu conforto torna pior)
I don't want you around, 'round, 'round, 'round
(Eu não quero você por perto, perto, perto, perto)
Cause how is the man of my dreams not a man of his words?
(Porque como pode o homem dos meus sonhos não ser um homem de suas palavras?)
And how is the man for me Just a man that makes me hurt?
(E como pode ser o homem para mim apenas um homem que me faz mal?)
It's time to take my own
(É hora de seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
Need me to take my own
(Preciso seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
I almost lost my mind
(Eu quase enlouqueci)
I left myself behind
(Eu me deixei para trás)
I almost crashed and fell right from the sky
(Eu quase bati e caí bem lá do céu)
I took a chance on this
(Eu dei uma chance a isso)
I took too big a risk
(Eu tomei um grande risco)
And now I'm left with pain to get me high
(E agora eu fico com dor para me anestesiar)
(...)
You had to break me, take me, to make me better
(Você teve que me quebrar, me possuir, para me fazer melhor)
But I had to save me, baby, now or never
(Mas eu tive que me salvar, baby, agora ou nunca)
Cause how is the man of my dreams not a man of his words?
(Porque como pode o homem dos meus sonhos não ser um homem de suas palavras?)
And how is the man for me Just a man that makes me hurt?
(E como pode ser o homem para mim apenas um homem que me faz mal?)
It's time to take my own
(É hora de seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
Need me to take my own
(Preciso seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
As lágrimas caíram dos meus olhos do mesmo jeitinho que caíram quando me deixou ouvir Advice pela primeira vez dias atrás. A música cheia de dor me dava um passe livre pra chorar à vontade mesmo tendo mais umas duzentas coisas envolvidas no meu choro. me abraçou forte e me deu inúmeros beijos na bochecha até chegar na minha boca com um selinho demorado. Me virei completamente, o abraçando forte e me afogando em seu pescoço, engolindo o choro.
- Eu juro que eu posso magoar qualquer um, mas não aceitaria a ideia de magoar você, . - sussurrei em seu ouvido com dor no coração.
- Do que você tá falando? Vai dizer que me traiu também? - ele gargalhou alto e da maneira mais gostosa do mundo, totalmente brincalhão, e foi nisso que meu coração doeu mais ainda. confiava em mim de verdade enquanto eu estava segurando a verdade horrível sobre seu pai e também sobre a porcaria da gravidez.
- Nem se eu fosse maluca te trairia, . Eu só quero que você saiba que eu nunca quero te magoar, tá legal? Nunca mesmo. Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida e mesmo achando uma loucura você me amar, você continua sendo a melhor pessoa que eu tenho. Eu te amo demais, demais mesmo, até dói!
- Eu também te amo, meu amor. Tô feliz que você não tenha me metido um chifre. - me puxou de leve pela cintura pra poder olhar pro meu rosto, me encarando de maneira genuína.
Eu tive que rir e beijá-lo em seguida. Eu precisava conversar com Voight sobre tudo, precisávamos chegar a uma solução. Do mesmo jeito que Paul chegou e jogou verdades sobre a minha vida que eu nem mesmo conhecia, ele podia fazer o mesmo com e me colocar como a vilã da história. Eu precisava contar por mais duro que fosse.
Me esforcei pra entrar no clima. O show de foi, como sempre, incrível. Todos aplaudiram e ela saiu do palco sorrindo de orelha a orelha. Cohen e Scott contavam coisas engraçadas como sempre e ríamos alto, mas eu parei de rir no mesmo segundo que vi andar até nós quase saltitante com ninguém menos que Glenn Travis ao seu lado.
- Mas... Como? - meus olhos arregalados em surpresa e confusão fez os dois rirem. Glenn tinha dito que só viria no fim do mês!
- Ele veio de surpresa! Ele assistiu meu show e tudo! - respondeu elétrica e risonha, com o jeitinho de quem ainda não estava acreditando no que estava acontecendo.
- Meu Deus! Oi! - eu desabrochei em risos, cumprimentando Glenn com um aperto de mão mas ele logo puxou pra um abraço totalmente simpático.
Ele realmente estava presente! Glenn cumprimentou todo mundo esbanjando simpatia, elogiando da melhor maneira possível e ela parecia uma criança encantada com algo pela primeira vez. Eu nunca tinha ficado tão perto de um cantor e produtor e nem mesmo imaginava o quão simpáticos eles poderiam ser até ver Glenn conversando com todos numa boa, como se já nos conhecesse há tempos. Glenn tinha um álbum incrível chamado Prelude. dizia que queria fazer algo tão importante e bem pensado como esse álbum. Prelude é o começo de algo, uma introdução, a ponte para algo mais importante. Olhando pra Glenn conversando sobre sua música, prestando atenção e sorrindo realizada e sentindo os braços de envolvendo minha cintura me trouxe algo diferente. Por um segundo eu me permiti imaginar que tudo ficaria bem. Talvez a gravidez pudesse ser uma ponte pra algo mais importante pra mim e pra . Talvez.
Eu nunca me acostumaria com o toque de . Todo o choque, o desejo, o amor e as sensações que ele me causava eram sempre surpreendentes. Agora eu entendo melhor... Coisas vão acontecer, o romance talvez esfrie, talvez o amor até morra, mas hoje não e talvez nunca. Não com a gente.
- Eu te amo, . Pelo resto da minha vida. Pelo resto da sua. Pelo resto da nossa. - sussurrou enquanto me empurrava de leve até me encostar completamente na parede do meu trailer, me prendendo ali.
- Um dia você ainda vai me matar com todo esse amor! - eu o encarei, admirando cada detalhe do seu rosto perfeito e me perguntei rapidamente como foi que eu consegui logo esse homem? Quando e como veio toda essa sorte?
espalmou as mãos na minha cintura, puxando meu corpo com força, grudando um no outro. Eu fui ao céu só de sentir sua ereção contra a minha coxa. deu alguns passos pra trás, me forçando a fazer o mesmo até esbarrar na pequena mesinha que tinha ali, me fazendo sentar na mesma e se fazendo confortável entre as minhas pernas. Sua boca foi de encontro ao meu pescoço, depositando beijos atrevidos até chegar na minha boca. Minhas mãos se entrelaçaram ao redor do seu pescoço, puxando seu cabelo de leve numa provocação barata, e a todo instante eu sorria, sabendo que mais uma vez, ele me daria tudo.
Aquele trailer era pequeno pra nós, era pequeno pra todos os nossos desejos, vontades, tesão e amor.
——
Eu sorri assim que vi um copo enorme de suco de melancia em cima da mesinha. não pode ser real! Tomei o suco inteiro e saí pra tomar um banho morno. Eu precisava conversar com Voight e não podia mais perder tempo, e foi o que fiz. Ao entrar no escritório senti o peso do mundo em meus ombros.
Eu quero acreditar que o amor tem limites e ao mesmo tempo não. Eu sabia da verdade e estava grávida. Eu queria acreditar que poderia derrubar os limites pelo menos dessa vez. Eu preciso de coragem, preciso acreditar. No fundo, eu sei que isso sempre foi o que mais me faltou: coragem pra inúmeras coisas. Eu não quero escolher não ver os limites. Eu quero acreditar que eu e podemos passar por isso juntos, porque a verdade é que eu nunca vou conseguir fazer isso sozinha. Ele merecia a verdade e eu precisava do seu apoio.
-Voight? - ele ergueu o olhar assim que me viu no batente da porta, me pedindo pra entrar no mesmo instante.
Eu sentei e chorei de imediato. O olhar apavorado de Voight o fez levantar e fechar a janela e a porta, se sentando novamente e com a maior paciência do mundo, esperou que eu me acalmasse, ou pelo menos parasse de chorar.
E então eu contei.
's POV
A questão é: se você imaginar o pior, só verá isso.
Beleza, confesso que me forcei muito a pensar no lado bom do meu pai e finalmente foi algo certo a se fazer. Dias atrás ele veio, apareceu do nada, se arriscou e confirmou o que eu sempre soube e o que sempre me foi mostrado: que ele é um homem bom, de caráter.
Eu estava acostumado a imaginar o pior depois de tanta porcaria que aconteceu nos últimos meses, mas ultimamente as coisas têm andado bem, e eu digo bem de verdade. O caos daqui parece ser algo fixo e sinceramente, eu não faço ideia de como toda essa história com Paul vai terminar, mas se eu fingir que toda essa merda não existe, sobra a minha namorada, os meus amigos, os momentos... Sério, eu andei tendo muita sorte também. É um clichê desgraçado, mas eu realmente andei enxergando as coisas boas em meio às ruins. The Lions me tirou muita coisa, mas ao mesmo tempo também me trouxe. Aqui tem todo o tipo de conversa e experiência e pelo menos eu sempre gosto de ouvir e as vezes até de falar. Eu gosto de confirmar que as coisas que se passam na minha cabeça realmente fazem sentido. Eu gosto de ouvir pra poder também me identificar. Foi aqui que eu cheguei com medo e até vergonha do quanto ainda sofria por Sienna, mas estranhamente também foi aqui que de uma maneira tão completa eu perdi o meu medo de compartilhar minha tristeza com alguém. Era algo tão único e tão meu que eu tinha medo de dizer em voz alta, até saber que por aqui também tem histórias similares, piores e melhores, assim como teria em qualquer outro lugar, mas também foi aqui que eu ganhei .
Mas nem tudo tá tão bom e perfeito assim.
Nunca está.
Me desencostei do portão do galpão e joguei a bituca de cigarro fora, andando rápido e adentrando ao trailer da minha namorada, que estava trancado.
- ? - a chamei enquanto batia na porta que não demorou muito em ser aberta.
- Sim? - ela me deu um sorriso desanimado mas eu pude ver que ela estava se esforçando, mas não tinha como esconder.
Tinha algo errado e já estava errado há dias.
- Aconteceu alguma coisa? - questionei de uma vez a pergunta que já tava entalada na minha garganta há dias enquanto entrava no trailer de uma vez.
- O que? - ela rebateu num apavoro imediato, com os olhos arregalados.
- Você tá estranha, . O que tá rolando? - me sentei na cama e a chamei com a mão e ela ergueu a mesma e não perdi a oportunidade de puxá-la um pouco forte, a fazendo sentar no meu colo. Ela deu um sorriso mais verdadeiro mas ele foi embora em poucos segundos e eu sabia que ela estava pensando em alguma coisa pra adiar ou enrolar a conversa. Eu simplesmente sabia - É sério, me conta o que tá acontecendo, por favor. Eu quero te ajudar!
Ou eu falei o que ela precisava ouvir ou foi completamente tudo o que ela não precisava. Os olhos de se encheram e ela me abraçou forte, dando uma fungadinha enquanto se aninhava no meu ombro.
- Eu estou me sentindo completamente fora de sintonia da vida. Eu me sinto... Sei lá, desconectada de várias coisas.
E definitivamente tinha algo de errado, mas não parecia ser só algo com . O peso da sua voz me trouxe um sentimento tão macabro que a única coisa que eu fiz de imediato foi abraçá-la.
Algo estava acontecendo.
's POV
- Voight! - entrei no escritório feito um furacão - Já tem dois dias! Você tem noção que foram mais dois dias em que eu menti pro meu namorado? Eu não aguento isso, eu não aguento mais! Ele veio ontem com um papo de que eu estou estranha, ou seja, ele está percebendo algo! - eu falei tão rápido que ele demorou alguns segundos pra entender tudo.
- , eu preciso de pelo menos mais um dia! Eu preciso falar com Yaser e...
- Eu não me importo! Eu preciso que você conte pra ele, Yaser deixando ou não, querendo ou não! Ele é uma pessoa que mentiu pra todo mundo por um erro dele e... Eu poderia ter ficado brava com você, mas não fiquei! Quantas vezes você precisa cometer o mesmo erro pra perceber que não dá certo? Você mentiu pra mim e está fazendo o mesmo com . Quanto mais você demorar, pior vai ser! Eu preciso que ele saiba da verdade, eu...
- ! - Voight praticamente berrou o meu nome, levantando da cadeira de uma vez - Eu fiz uma besteira gigante em mentir pra você, mas eu só fiz isso porque sua mãe escolheu fazer isso. Não estou a culpando, mas eu simplesmente a respeitei e fiz o que ela quis que eu fizesse. A história com Yaser é muito mais complexa, tem muita coisa envolvida e porra, eu estou exausto, ! Eu não quero ser a pessoa que vai acabar com a vida de , então eu estive esses dois últimos dias tentando convencer Yaser a contar a verdade por conta própria. - ele carregava indignação e tristeza na voz. O olhar quase derrotado foi o que amassou meu coração.
- Mas ele não quer, não é? - questionei o óbvio. O olhar triste de Voight trazia todo o peso de que ele, mais uma vez, estragaria algo mesmo não sendo inteiramente culpa dele.
- É complicado!
- Pais são complicados! - bufei, jogando a cabeça pra trás e ele deu alguns passos até ficar em minha frente, se encostando na mesa.
- E filhos também, e você vai entender direitinho quando tiver o seu! - ele me lançou um olhar firme e meus olhos se arregalaram minimamente como se de algum jeito ele pudesse saber da minha gravidez, mas não, era só ele falando o que todos falam e eu não pude evitar uma expressão totalmente confusa, chocada e perdida - E não me olha assim porque você sabe que eu me considero o seu pai, ! - por um segundo eu suspirei em alívio porque todo o meu mix de expressões não tinha denunciado o que realmente tinha as causado e Voight até mesmo se permitiu dar um sorrisinho rápido - Eu vou conversar com Yaser e mesmo se ele não permitir, eu vou contar toda a verdade pro !
Eu me senti mais perdida ainda. Eu estava em busca de respostas pra um problema que eu mesma deveria ter resolvido sozinha. Saí do escritório no meio da raiva e da tristeza, sentindo que poderia chorar o resto do dia inteiro. Entrei em meu trailer e tranquei a porta do mesmo pra garantir que ninguém me pegaria de surpresa enquanto todas as minhas lágrimas vão embora.
E elas não demoraram a rolar, e meu celular tocou. Número desconhecido.
- Alô?
- !
- Não! Puta que pariu, você não! - a voz de Paul me fez prender a respiração involuntariamente, como se ele tivesse alguma espécie de controle sobre mim.
- Você poderia ser mais agradável, sabia? Eu até fui legal o bastante pra te ligar e não te levar pra outro passeio. Sei que você deve ser muito ocupada por aí. - ele riu debochado - Mas vou direto ao ponto... Preciso que você me faça algo.
- Você é louco?
- Eu vou te mandar um endereço algum dia dessa semana e você vai parar qualquer merda que estiver fazendo pra ir lá, está me ouvindo? E se você contar pra alguém ou levar alguém junto, se eu ao menos suspeitar que alguém tenha ido pra te ajudar em algo, eu juro que mato a do jeitinho que você sabe que eu mato: sem piedade nenhuma. - sua voz saiu mais fria, indelicada e grosseira que o normal. O final da frase trouxe lágrimas de imediato aos meus olhos.
- Eu não... Eu não entendo! Por que você tá fazendo isso comigo? - me forcei a engolir o choro como nunca. Eu não podia dar esse gostinho pra Paul.
- Em caso de dúvida, cale a boca. Você só me obedece e ponto final, eu quem faço as perguntas! Agora me responde, ... Já contou pro seu namoradinho que o pai dele é um bandidinho de merda? - o tom completamente intimidador e ao mesmo tempo banhado a deboche me tirava do sério e me trazia um medo surreal.
- Eu...
- Claro que não, né? Eu sabia! - ele me interrompeu bruto e riu alto - Agora eu vou ter que desligar, mocinha. É sempre um prazer conversar com você, mas eu realmente estou ocupado!
- ESPERA! - pedi desesperada e forçando o celular ainda mais contra o meu ouvido - Você precisa me dizer o dia! Eu não posso... Você não pode brincar comigo assim! O que você tá querendo?
- Eu já te falei que quem faz as perguntas sou eu, , mas pra sua sorte hoje eu levantei bem humorado e tudo o que eu tenho pra dizer é que não é importante quem começa o jogo, mas sim quem o termina. Eu já tirei Leon do meu caminho e já já eu chego o seu titio, mas antes disso, eu tenho tempo pra brincar mais um pouco!
E mais uma vez, mesmo só com um telefonema, Paul levou uma pequena parte de mim também.
——
Eu mal consegui dormir. Por sorte, saiu com os meninos noite passada e demorou muito pra chegar e eu nem mesmo me lembro da hora, mas já era madrugada e eu fingi estar dormindo e ele deitou com cuidado e dormiu rápido. Eu o evitei o máximo ontem depois de ter recebido aquela ligação horrenda de Paul. Horrenda de verdade, no pior sentido. Como ele se sentia no direito de me manipular desse jeito? Como eu poderia me arriscar desse jeito o obedecendo?
Eu deveria contar pra Voight e Holt e deveríamos montar um plano... Mas tem . Eu não posso arriscar, simplesmente não posso. Paul só queria brincar comigo, mexer com a minha cabeça, porque se quisesse me matar já teria matado. Ele quer o de sempre: causar infelicidade, angústia e surtos que provavelmente dure pro resto da vida de tanto nervoso.
Quer dizer... Ele já causou, mas nem Voight e muito menos Holt demonstraram nada pela morte do tal Leon. Talvez ele não fosse alguém tão importante ou sei lá, mas Paul o matou por algum motivo e também imaginou que eu soubesse quem o tal homem é, já que o usou pra me amedrontar ainda mais.
Já passava de sete da noite e eu nem mesmo tinha me dado o trabalho de levantar. dormiu até tarde mas assim que levantou, tomou banho e foi pra academia com os meninos. De domingo eles aproveitavam que a academia era fechada pra os clientes e faziam a festa lá dentro e eu agradeci por isso. Estava me sufocando olhar pra e não contar a verdade. Estava me sufocando estar nas mãos de Paul e não poder fazer nada porque a vida de estava em risco.
Mesmo sem forças, levantei pra tomar um banho e em seguida fui até o galpão pra pegar alguns sprays. Fui até os fundos, no muro onde adorava grafitar coisas aleatorias e comecei a fazer o mesmo. Talvez eu devesse sim contar pra Voight e pedir ajuda. Paul queria me usar, queria me enlouquecer e eu não podia deixar um homem tão podre me manipular assim.
É isso.
Respirei fundo, juntando as migalhas de determinação que me sobrou e dei no máximo três passos até meu celular começar a tocar.
Número desconhecido.
- Alô? - minha voz saiu pesada e cheia de medo, pedindo misericórdia mentalmente.
- Você achou mesmo que eu demoraria alguns dias pra te procurar, não é? - Paul gargalhou - Mas não me aguentei, , estou com um pouco de pressa. Como eu já disse, quero que você pare o que estiver fazendo e vá imediatamente pra Regent Street, número quinze. Você vai entrar, pegar a única coisa que está dentro do galpão e vai entregá-la na Abbey Street, número duzentos e dois, pra um rapaz chamado Rob. Se tudo der certo eu te deixo em paz. Agora se tudo der errado, se você contar pra alguém... Terei que matar a sua amiga que não tem nada a ver com isso tudo. Nesse exato momento a está no estúdio e se alguma coisa der errado, os meus homens que estão lá na frente vão entrar naquela merda e vão grudar uma bala bem no meio da cabeça dela, entendeu bem?
- Você... Calma! Eu vou fazer tudo o que você está me pedindo, apenas deixa a fora disso, ok? - minha respiração já estava completamente descompassada - Você quer que eu faça uma entrega pra você, é isso? São drogas? Armas?
- Você vai ver na hora, . - ele respondeu impaciente.
- Regent Street, número quinze, e depois Abbey Street, número duzentos e dois, certo? - ditei os endereços pra confirmar quase atropelando todas as minhas próprias palavras de tanto desespero.
- Isso mesmo.
- Eu... Eu não sei dirigir! Talvez demore um pouco, mas eu vou fazer, ok? Você já pode pedir pra quem quer que esteja na frente ou perto do estúdio ir embora!
Ele riu.
- Eu não me importo como você vai se virar pra fazer isso, , eu só quero que você faça! - ele disse autoritário antes de desligar.
Eu senti meu corpo inteiro gelar e uma sensação horrível me abraçar forte. Digitei rápido uma mensagem pra :
"Você está no estúdio?"
Ela não demorou pra responder.
"Sim. Vai vir pra cá?"
Era real mesmo. Paul sabia onde estava.
Eu pedi pro motorista do uber parar e estacionar um quarteirão antes. Todo bairro tem suas partes ruins e macabras e eu estava caminhando pra uma delas. Apertei minha jaqueta em mim mesma pela décima vez, sentindo o vento gelado ficar ainda mais gelado de tanto nervosismo. Regent Street, número quinze. Um galpão de esquina, pichado, com pouca iluminação e pouquíssimo movimento humano. Analisei o galpão grande por fora, indo até pro outro lado da rua pra ter noção do quão grande ele era. Havia três portas pequenas e duas grandes.
Ok, às vezes a gente se mete em confusão e tomamos decisões. Más decisões. Decisões que sabemos que provavelmente vamos nos arrepender no segundo, minuto, hora ou dia seguinte.
Andei até a porta mais próxima de mim, analisando a rua totalmente deserta antes de encostar na maçaneta velha e empurrar a porta pra abrir com os olhos apertados. O que eu quero dizer é... Não é bem se arrepender, eu tenho um motivo pra estar fazendo isso. Estou sendo obrigada. Chantageada. Estou fazendo isso pra salvar a vida de .
Abri os olhos lentamente, observando o galpão enorme sem nada a não ser algumas madeiras velhas jogadas por ele e uma mesa grande alguns passos longe de mim. A iluminação precária não me ajudava muito, mas foi possível ver uma escada no canto esquerdo que dava acesso ao segundo andar. Respirei fundo, praticamente correndo até a mesa e olhei pra grande bolsa azul escura ali. Nem mesmo tentei desejar pra que tudo fosse um pesadelo e que não tivesse nada de tão ruim dentro da bolsa porque eu sabia que era real e que tinha algo ruim ali. Balancei a cabeça negativamente, indignada, nervosa, triste e com raiva de toda a situação e abri a bolsa de uma vez. Os pacotes grandes cheios de um pó branco e muito bem embalados estavam ali. Paul estava mesmo me usando pra mover drogas?
Fechei a bolsa novamente e a puxei comigo, dando passos largos até a porta e não tive mais tempo pra pensar em nada. O barulho alto de carro foi ficando cada vez mais próximo e eu arregalei os olhos em desespero. A porta bateu atrás de mim e eu estava pronta pra entrar novamente pra me esconder, mas assim que os dois carros pararam e eu os reconheci, pareceu ser coisa de outro mundo.
Ainda assim... Mesmo depois de tudo, alguma coisa dentro de mim decidiu fazer uma coisa louca. Decidiu obedecer Paul. Uma coisa que eu já sabia que provavelmente iria se voltar contra mim e me pegar desse jeitinho: desprevenida.
- O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI? - eu berrei desesperada, ajeitando a alça da bolsa no meu ombro e me aproximando do carro.
Simplesmente não é possível! Não tem como!
- VOCÊ PERDEU O JUÍZO? PELO AMOR DE DEUS! - Voight bateu a porta do carro e veio em minha direção furioso.
É aquilo... Aqui se faz, aqui se paga. A verdade aparece de algum jeitinho toda vez.
- Como você me encontrou aqui? Voight, pelo amor de Deus, eu preciso...
- Landon te ouviu no telefone e por sorte me contou tudo. Pelo amor de Deus, , que merda você tá fazendo?
- Você não enten...
Um tiro foi disparado. Eu nem mesmo me mexi ou ousei respirar, mas a grande bolsa que eu segurava se mexeu e o pó branco começou a escorrer. Mais um tiro foi disparado e meus olhos se arregalaram ao olhar bem pra trás e ver que Holt tinha atirado em um homem que saiu de dentro do galpão. Tinha a porra de um homem no galpão!
- Solta! Solta essa bolsa agora! - Voight se desesperou e não foi nada gentil ao segurar a alça da mesma ainda em meu braço e puxar com força até tirar de uma vez e me empurrar de leve com uma mão enquanto jogava a bolsa o mais longe que conseguiu com a outra e correu rápido na direção contrária e me puxou pra correr junto.
- EU PRECISO DAQUILO! - eu berrei enquanto minha mão era puxada sem nenhuma delicadeza até o fim da rua, onde Voight só parou quando decidiu que aquela distância estranha era o suficiente e passou a observar cada centímetro do meu corpo.
Holt ainda apontava a arma pra o homem que disparou o primeiro tiro, com o pé em seu peito e mesmo um pouco distante, deu pra ouvir seu urro de dor pelo tiro na perna de onde eu estava. Eu olhei pra bolsa jogada no canto da rua e pensei em correr e até dei um passo, mas Voight me segurou firme.
Eu paralisei por longos segundos perdida em mim mesma e na situação.
Eu precisava da bolsa!
- Você tá be...
- POR QUE VOCÊ VEIO? - eu berrei na cara de Voight com raiva, sem saber se olhava pra Holt, para os dois homens que tinham saído do carro dele e entrado no galpão, pra bolsa jogada ou um pouco do pó branco que ficou no asfalto e que fez meu coração quase salvar pela boca porque era droga perdida e Paul iria mandar matar - EU TENHO QUE TERMINAR ISSO! PORQUE VOCÊ VEIO, HEIN? VOCÊ ESTRAGOU TUDO, VOCÊ APARECEU E O HOMEM ATIROU NA DROGA DA BOLSA E AGORA PAUL VAI...
- AQUILO É CARFENTANIL! - Voight berrou de verdade na minha cara totalmente exaltado, colocando as duas mãos em meus braços - Ele atirou na bolsa de propósito! Se você inalasse mais três segundos daquela merda, você iria morrer na hora, ! - ele explicou totalmente sem fôlego e desesperado - Eu preciso te levar pra um hospital, eu preciso saber se...
- O QUE? Eu estou bem! Eu preciso... - eu olhei pra bolsa jogada e meu queixo começou a tremer pelo choro forte que estava prestes a tomar conta de mim - Ele disse que eu tinha que levar essa bolsa pra... Abbey Street. Eu preciso levar, eu preciso! Ele vai matar ! Ele... Ele deixou um homem aqui pra me vigiar! Ele com certeza avisou pra ele que vocês estavam comigo e... Paul vai mandar matar a !
Minhas mãos tremiam.
Meu estômago se embrulhou.
Minha visão ficou turva por alguns segundos.
- O que ele te disse? O que ele te mandou fazer, ? - Voight perguntou nervoso, aflito e desesperado, com o olhar urgente.
- Eu tinha que levar essa merda até Abbey Street sozinha e não podia falar pra absolutamente ninguém o que eu estava fazendo ou então ele mandaria matar . Tem capangas dele na frente do estúdio, é onde está!
Voight me puxou pela mão novamente desesperado até chegarmos em Holt, que cuspia xingamentos no homem que estava prestes a desmaiar de tanta dor.
- VOCÊ CONTOU PRA ELE QUE ESTAMOS AQUI? - Voight se abaixou, ficando cara a cara com o homem que abriu um sorriso debochado que quase me fez perder as estribeiras. Ele estava literalmente urrando de dor mas teve a frieza de ainda abrir um sorriso podre cheio de deboche como se ele estivesse em condições pra agir assim.
- É óbvio! - a resposta curta, grossa e debochada foi o que fez o mundo de Voight cair e o seu olhar encontrou com o de Holt em puro desespero.
- O que? - Holt questionou perdido.
Voight se levantou e num ato extremo de raiva, pisou sem dó e com força na perna do homem, exatamente onde o tiro foi dado. Ele desmaiou.
Corpo tremendo e suando frio, lágrimas rolando, estômago embrulhado e o maior nervosismo de toda a minha vida.
Voight explicou rapidamente o que estava realmente acontecendo. Holt se permitiu sentir o choque da notícia apenas por um segundo e puxou o celular do bolso, ligando pra alguém correr até o estúdio em carros diferentes com mais três pessoas. Os dois rapazes que estavam no galpão saíram e Voight gritou pra eles cuidarem da coisa toda; o corpo do homem e a bolsa furada cheia de carfentanil. Voight mais uma vez, me puxou pela mão, me fazendo correr até o carro e entrar no mesmo e começou a acelerar atrás do carro de Holt que estava na frente. Peguei meu celular e ele quase não parou nas minhas mãos pela tremedeira mas consegui chegar no contato de . Meu dedo parou antes de apertar pra iniciar uma ligação porque eu estava recebendo uma.
Número desconhecido. Era Paul.
- Ele... ta me ligando! - anunciei chorosa e o olhar nervoso de Voight sobre mim pesou ainda mais.
- Coloca no viva voz! - ele pediu rápido.
Atendi a ligação.
- Deve ser enlouquecedor ser tão previsível, . Eu pensei que você fosse melhor que isso. - Paul esticou cada palavra num tom debochado absurdo e ao mesmo tempo horrendo.
- Por fav... Por favor! Ela não tem nada a ver com isso tudo! Eu não sabia que...
- Você fez merda, , e alguém tem que pagar por isso. E adivinha só? Da próxima vez que qualquer um estragar tudo de novo, você vai ser a próxima pessoa a morrer, mesmo não tendo nada a ver com a história também. Assim fica mais divertido. Agora... Preciso fazer algo.
- NÃO! - Voight gritou - Seu filho da puta, se você encostar um dedo em eu juro que te mato de uma vez, caralho!
- Boa sorte pra vocês dois. - foi a última coisa que ele disse antes de desligar.
- Não, não, não, não, não!!! - eu gritei repetidamente, completamente desnorteada e sentindo as lágrimas descendo pelo meu rosto no mesmo instante. Todo o desespero, a ardência na alma pelo nervosismo, as mãos tremendo e cada músculo atento e contraído ia acabar me fazendo explodir por tantas reações que meu corpo estava dando.
Voight dirigia tão rápido e eu nem mesmo estava me importando, afinal, tínhamos mesmo que chegar o mais rápido possível. Mais uma vez, eu estava prestes a iniciar uma ligação com , mas o celular tocou. Não o meu, mas sim o de Voight. Ele o tirou de maneira rápida do bolso e me entregou.
- Alô?
- Tyler está com . Vão levá-la embora agora antes que possa acontecer alguma coisa. - acho que nunca em todos esses anos eu fiquei tão feliz de ouvir a voz de Holt trazendo uma notícia.
As lágrimas caíram dos meus olhos ainda mais fortes.
- O que foi, ? Quem era? - Voight perguntou aos berros e no desespero urgente.
- Tyler está com . Ela está bem! - eu desabei num choro desesperado e profundo, sentindo um alívio percorrer cada pedacinho de mim e eu finalmente pude respirar fundo sem a sensação do ar estar sendo roubado de mim, assim como o controle da situação toda foi - Paul ia matar ela. Ele ia! Ele matou Leon e... Eu nem mesmo sei quem é esse Leon mas Megan falou o nome dele e eu acho que ele era alguém importante porque Paul o usou como exemplo e... Ele ia matar a ! Por Deus, como ele consegue ser assim? - meu coração ainda estava tão acelerado que por um segundo pensei que algo estivesse errado. As lágrimas ferozes e pesadas caíam sem dó e eu nem mesmo pensei em me dar o luxo de tentar engolir o choro. Minha melhor amiga estava a salvo e eu choraria na frente de qualquer um por isso.
- ? - Voight me chamou baixo depois de longos segundos, como se ele tivesse me dado um tempo pra me recompor pelo menos um pouco pra continuarmos algum tipo de conversa, mas eu seguia chorando feito um bebê, mas funguei e sequei algumas lágrimas de modo desajeitado e o olhei - Leon não está morto.
Eu gelei.
- O que? Mas... Espera... Quem é Leon? Eu não o conheço, mas Paul... - eu estava extremamente perdida em todos os sentidos - Paul disse que o matou!
- Eu prometo que te conto tudo mais tarde! - Voight anunciou firme e confiante, me dando um sorriso simpático numa tentativa de me transferir algum tipo de força e confiança.
Mais alguns minutos e eu saltei do carro quando o mesmo foi estacionado. Corri e passei pelo portão desesperada e meu coração quase parou de vez quando vi em frente ao escritório conversando com Tyler. Eu acho que nunca, em vinte anos, fiquei tão feliz em ver uma pessoa. O nosso abraço cheio de amor poderia facilmente ser a minha casa pra o resto da vida.
- , pelo amor de Deus, por que você não me contou? Quando Tyler apareceu eu imaginei tanta merda! Você deveria ter me contado! - já foi logo me dando uma bronca em advertência, mas sua cabeça tombou para o lado e pude ver que ela lutava contra um sorriso. Claramente um sorriso nervoso, mas sincero e aliviado depois de toda a confusão. Ela estava assustada e eu sabia, mas também estava feliz que tudo tinha terminado bem.
- Eu não podia! - rebati.
Eu a abracei novamente e meu celular tocou. O número desconhecido já era conhecido. perguntou se era Paul e assenti, e ela mesma pegou o celular da minha mão e atendeu, colocando a ligação no viva voz.
- Oi, seu filho da puta, eu estou viva e bem, muito obrigada! - esbravejou num tom debochado misturado com muita raiva.
- E você acha mesmo que está viva porque eu falhei? Você está viva porque eu deixei, . Agora cadê a sua amiguinha? Esse número ainda é dela, não é? - eu me sentia completamente atacada e afetada com tanta frieza, deboche e autoridade.
- Eu quero que você vá pro inferno, seu desgraçado! Você nunca mais vai me usar pra nada! - eu berrei perto do celular com ódio.
- Mas eu já usei, . Você acha mesmo que está viva porque seu titio e aquele outro imbecil do Holt agiram mais rápido que eu? Você não percebeu ainda? Ou ele ainda não chegou?
- Do que você está falando?
- Você é realmente muito ingênua, ! O plano era te matar, sabia? O tiro que meu capanga deu claramente não te acertou mas tudo bem, porque a partir do momento em que ele me ligou e disse que tinha gente com você, eu tive que mudar tudo. Eu sabia que vocês correriam atrás de feito um bando de cachorrinho e então eu resolvi fazer mais uma bagunça. Fui atrás do seu namoradinho e dei um passeio com ele do mesmo jeitinho que dei com você dias atrás. E claro, eu não podia deixar ele sem saber da verdade, não é?
- O QUE VOCÊ FEZ? CADÊ ELE?
- Eu fui generoso e até deixei ele perto de casa, ! Ele ainda não chegou? Provavelmente deve estar cego de raiva por aí e não conseguiu acertar o resto do caminho. - ele riu.
- EU VOU TE...
- Você não vai nada, sua imbecil! Você não é nada e ninguém dessa merda dos The Lions é. Eu estou há meses deixando vocês desmoronarem e daqui a pouco não tem mais nada. Todos vocês já facilitaram todo o meu trabalho, sabia? Matar vocês não seria tão prazeroso quanto saber que vocês descobrem certas coisas logo de mim, e quando eu quiser, a hora que eu quiser, eu coloco uma bala na cabeça de qualquer um de vocês e pronto! - ele riu novamente - Você achou que eu precisaria de você pra mexer uma mala de drogas, ? Você acha mesmo que é especial assim?
desligou a ligação e segurou forte na minha mão no mesmo instante. Eu senti minhas pernas falharem e elas falharam mais ainda quando vi Cohen e Scott passarem pelo portão desesperados.
- Cadê ele? Cadê o ? Onde ele tá? - eu gritava enquanto corria em direção dos dois, que nem mesmo conseguiam falar direito.
Eles explicaram rapidamente como tudo estava completamente normal na academia até a porta de vidro de entrada ser estraçalhada por um tiro de um dos capangas de Paul. Eles não tiveram nem como fugir. Paul obrigou a ir com ele e mais outro cara enquanto o outro levou Scott e Cohen pra os fundos e os trancou na cozinha, levando os celulares dos dois e atirando no pneu das motos também.
- Ele precisa aparec... MEU DEUS! - no mesmo instante em que eu me virei pra entrada, entrou feito um furacão pelo portão, seguindo reto e com passos raivosos e largos, como se não tivesse enxergado ninguém.
- ! - Voight e Holt gritaram o nome de enquanto corríamos todos atrás dele, que abriu a porta do trailer com fúria, olhando pra trás com o olhar mais raivoso que alguém poderia ter na vida.
- O QUE É? - ele berrou.
- Cara, você... - Cohen começou a falar mas a porta do trailer foi batida com força na nossa cara.
Ele estava com ódio.
E ele tinha razão em estar.
Eu fiz tudo isso com intenções sinceras e até ingênuas, mas totalmente afundada na pressão de um homem horrível. Eu quis fazer o que é certo, ou pelo menos o que me parecia certo. E então... Os limites foram excedidos. As coisas foram longe demais.
Eu não pensei, apenas abri a porta do trailer de e entrei de uma vez, trancando a mesma e vendo ele se virar lentamente e me encarar feio. Muito feio.
Eu deveria ter pensado. Eu deveria ter contado. Eu deveria ter feito algo antes mesmo de causar danos tão terríveis.
- ...
- Você sabia mesmo? Você sabia do meu pai? Você sabia que ele era o culpado disso tudo e não me contou?
E tudo desmoronou. De novo.
- , eu juro que eu...
- SIM OU NÃO? - ele gritou, me dando um susto tão grande que no mesmo instante eu me encolhi e abaixei a cabeça em pura vergonha.
- Sim. Eu sabia. - doeu de verdade responder, digo, de verdade mesmo. Eu senti uma fisgada no peito, algo que foi me amassando e amassando cada vez mais e só foi piorando quando observei puxar uma bolsa de viagem grande debaixo da cama e comer a abrir as gavetas - O que você tá fazendo?
- Você é surda? Você por acaso não ouviu quando eu disse que odiava falta de comunicação? Você não ouviu? - ele juntou inúmeras camisetas de uma vez, jogando elas de qualquer jeito na bolsa e nem mesmo me olhando mais.
- , me perdoa! Eu não sabia como te contar e... Eu não sabia! Foi muito pra mim, foi mais uma coisa que Paul jogou em cima de mim e... Como eu te contaria, ? Como? Tem tanta coisa acontecendo e... O que você está fazendo? - eu coloquei a mão no meu próprio peito e comecei a massagear a área do coração. Estava doendo. Eu dei um passo pra me aproximar de e tentar fazê-lo parar de jogar as roupas na bolsa, mas ele me deu um sinal com a mão pra parar no mesmo segundo que eu ousei me aproximar ainda mais.
- Estou deixando esse lugar, você, tudo. Pra mim já deu, .
Não tem harpas tocando, não tem passarinhos cantando felizes em volta como em um filme e muito menos aquela felicidade que te faz pensar que tem pétalas de rosa caindo do céu. Simplesmente pareceu que tudo estava morto, inclusive o romance. Eu não queria entrar numa bolha de sentimentos ruins onde eu tinha certeza que seria complicado de sair, mas aconteceu sem a minha permissão, sem que eu pudesse debater ou evitar. Eu só conseguia me perguntar como alguém tão incrível como poderia me olhar daquele jeito, com tanto amor e carinho? Em um dia, tudo o que eu fiz foi questionar absolutamente tudo.
- ? - me tirou do meu transe - Eu sei o que você deve estar pensando, mas poxa, é um cara bom, ele com certeza vai querer esse bebê. É complicado porque não é o momento ideal, tem muita coisa acontecendo, mas ele vai te apoiar, eu tenho certeza!
- O problema não é só ele, . Eu quero ser mãe, mas não agora, não assim. - dei um longo suspiro - Eu não sei o que fazer, eu não sei como contar. Eu tive que suportar Yaser fingindo ser um homem incrível ontem por mais de uma hora e acreditando e sorrindo como se o pai fosse um anjo sem asas. Eu tenho duas coisas comigo e eu não faço ideia de como contar isso pra ele nem pra ninguém!
- Você vai precisar contar pra Voight sobre isso. Paul não fez isso à toa, ele com certeza tem algo por trás disso. Por que diabos ele te diria tudo isso? Não tem sentido nenhum! - me encarou em advertência e alerta.
- Nada faz sentido, . - bufei.
- Podemos conversar com ele, . Eu vou com você, eu posso estar lá pra te ajudar. Você não pode correr o risco de Paul aparecer de novo e te falar o que quiser como se fosse dono de toda a verdade, você precisa deixar Voight te contar e te ajudar, você precisa dar oportunidade pra ele ser verdadeiro também! Quando você falar sobre o que Paul te disse, Voight com certeza vai te falar a verdade e aí vocês podem chegar a uma conclusão em como vão contar isso pra antes que ele descubra de outra forma. - realmente se esforçou em tentar me mostrar uma luz no fim do túnel.
- Eu vou pensar.
- E sobre... o bebê? - ela coçou o cabelo levemente sem graça ao perguntar.
- Eu vou pensar também. - fechei os olhos por alguns segundos e respirei fundo na esperança de toda a angústia sumir, mas não sumiu e o melhor que eu poderia fazer por mim mesma era pelo menos tentar me distrair um pouco - Glenn te respondeu?
estava com o notebook no colo toda esparramada no sofá do estúdio, atenta à mim e ao notebook.
- Sim, ele gostou da música nova que mandei pra ele e também disse que consegue vir pra cá no fim do mês. Eu ainda nem acredito! - a animação e emoção de realmente deixava meu coração um pouco mais leve.
- Você ainda não me mostrou essa música nova... - dei um sorriso desentendido assim que soltei a indireta e ela gargalhou.
- Vou mostrar agora mesmo! - ela sorriu animada e juntou forças pra se mover no sofá, ficando bem ao meu lado.
Passei pelo portão com pressa mas passei o olhar rapidamente pelo escritório com a janela aberta escancarada, revelando até ali dentro com Cohen e Scott, todos rindo alto. Pelo menos alguém estava se divertindo.
- ! - Voight gritou meu nome bem alto, com alguns passos pra fora do escritório e eu já estava quase entre os trailers quando parei pra encará-lo confusa - Vem aqui!
Por Deus, que não seja a notícia de Yaser estar visitando novamente! Eu precisei ouvir noite passada totalmente encantado pelo pai ter se arriscado por ter vindo vê-lo e eu não aguentaria isso de novo sem explodir no choro ou no ódio.
Dei passos preguiçosos até onde ele estava.
- O que foi?
- Preciso que você me faça um favor! Shyla não está tendo uma boa adaptação aqui, e bem, você é mulher, vocês só tem um ano de diferença de idade, então acho que vai ser mais fácil se você tentar ajudá-la nesse processo, pode ser? - ele pediu com tanta preocupação e educação que seria impossível dizer não nem se eu quisesse.
Assenti positivamente e fui até o trailer de Shyla. Eu precisava mesmo de algo pra fazer a não ser pirar dentro da minha própria cabeça. Bati na porta algumas vezes e nada. Bati de novo e ela simplesmente gritou um "estou tentando dormir". Tudo bem, a adaptação é realmente horrível e é aceitável que no começo ela não queira se enturmar.
- Ei. - Landon abriu a porta do trailer dele, saindo do mesmo apenas com uma bermuda preta, exibindo um baita peitoral que poderia brilhar de longe - Ela é assim mesmo. Nos primeiros dias ela até estava de boa, pareceu uma pessoa bem legal e aberta, mas agora ela simplesmente se fechou. Quase não a vejo fora desse trailer. - ele finalizou dando os ombros, encarando a porta de Shyla.
- Eu entendo, é normal, aqui não é o lugar ideal ou o plano de vida de ninguém. - sorri fraco, levemente feliz por ele estar puxando assunto e decidi fazer o mesmo - Mas e você, como está se sentindo aqui?
- Já estive em lugares piores. - ele deu os ombros junto a uma risadinha fraca e sem humor algum. Por um segundo tentei imaginar todos os perrengues que Landon já deve ter passado na vida e o olhar que ele me deu pareceu adivinhar que eu estava imaginando tal coisa. Seu olhar não era de repreensão, mas sim de um leve incômodo.
- Bem, se você precisar de algo pode me falar, está bem? E pega leve com a Shyla, ela é sua vizinha de trailer e vocês precisam se dar bem. - mudei de assunto rapidamente visivelmente sem graça enquanto já dava alguns passos pra trás em direção ao meu próprio trailer.
- Pode deixar, eu aviso sim.
DIAS DEPOIS...
A casa de show estava mais lotada que o normal. As pessoas realmente estavam animadas pra assistir e por um segundo isso foi o suficiente pra me deixar completa e feliz, esquecendo de todo o resto. Estávamos em grupo que incluía Shyla e Landon, que aceitaram o convite de numa certa desconfiança. Talvez eles achassem que ela estivesse com pena por serem novatos, mas mesmo assim foram, mas todo mundo muito atento com Landon. Sabíamos que ele tinha acabado de sair de uma clínica de reabilitação e Voight nem mesmo achou uma boa ideia de início em trazermos ele conosco, mas seria horrível, Landon se sentiria excluído e não queríamos que ele se sentisse assim por conta do seu problema. No fim, beirando a ironia até, todos decidiram que não beberiam álcool. Estavam fazendo um favor pra mim também sem nem saberem, mesmo eu nem mesmo me importando. Minha vontade era ficar completamente bêbada até esquecer dessa gravidez.
subiu no palco e algumas luzes se apagaram, deixando o clima mais íntimo. me abraçou por trás e encostou a cabeça no meu ombro de um jeito confortável e o perfume dele invadiu minhas narinas.
(Você tem um jeito com as palavras)
Your silence is a curse
(Seu silêncio é uma maldição)
You always seem to break me down, down, down
(Você sempre parece me quebrar, quebrar, quebrar)
My swollen heart you curve
(Meu coração inchado você torce)
Your comfort makes it worse
(Seu conforto torna pior)
I don't want you around, 'round, 'round, 'round
(Eu não quero você por perto, perto, perto, perto)
Cause how is the man of my dreams not a man of his words?
(Porque como pode o homem dos meus sonhos não ser um homem de suas palavras?)
And how is the man for me Just a man that makes me hurt?
(E como pode ser o homem para mim apenas um homem que me faz mal?)
It's time to take my own
(É hora de seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
Need me to take my own
(Preciso seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
I almost lost my mind
(Eu quase enlouqueci)
I left myself behind
(Eu me deixei para trás)
I almost crashed and fell right from the sky
(Eu quase bati e caí bem lá do céu)
I took a chance on this
(Eu dei uma chance a isso)
I took too big a risk
(Eu tomei um grande risco)
And now I'm left with pain to get me high
(E agora eu fico com dor para me anestesiar)
(...)
You had to break me, take me, to make me better
(Você teve que me quebrar, me possuir, para me fazer melhor)
But I had to save me, baby, now or never
(Mas eu tive que me salvar, baby, agora ou nunca)
Cause how is the man of my dreams not a man of his words?
(Porque como pode o homem dos meus sonhos não ser um homem de suas palavras?)
And how is the man for me Just a man that makes me hurt?
(E como pode ser o homem para mim apenas um homem que me faz mal?)
It's time to take my own
(É hora de seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
Need me to take my own
(Preciso seguir os meus)
Take my own advice, take my own advice
(Seguir meus próprios conselhos, seguir meus próprios conselhos)
As lágrimas caíram dos meus olhos do mesmo jeitinho que caíram quando me deixou ouvir Advice pela primeira vez dias atrás. A música cheia de dor me dava um passe livre pra chorar à vontade mesmo tendo mais umas duzentas coisas envolvidas no meu choro. me abraçou forte e me deu inúmeros beijos na bochecha até chegar na minha boca com um selinho demorado. Me virei completamente, o abraçando forte e me afogando em seu pescoço, engolindo o choro.
- Eu juro que eu posso magoar qualquer um, mas não aceitaria a ideia de magoar você, . - sussurrei em seu ouvido com dor no coração.
- Do que você tá falando? Vai dizer que me traiu também? - ele gargalhou alto e da maneira mais gostosa do mundo, totalmente brincalhão, e foi nisso que meu coração doeu mais ainda. confiava em mim de verdade enquanto eu estava segurando a verdade horrível sobre seu pai e também sobre a porcaria da gravidez.
- Nem se eu fosse maluca te trairia, . Eu só quero que você saiba que eu nunca quero te magoar, tá legal? Nunca mesmo. Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida e mesmo achando uma loucura você me amar, você continua sendo a melhor pessoa que eu tenho. Eu te amo demais, demais mesmo, até dói!
- Eu também te amo, meu amor. Tô feliz que você não tenha me metido um chifre. - me puxou de leve pela cintura pra poder olhar pro meu rosto, me encarando de maneira genuína.
Eu tive que rir e beijá-lo em seguida. Eu precisava conversar com Voight sobre tudo, precisávamos chegar a uma solução. Do mesmo jeito que Paul chegou e jogou verdades sobre a minha vida que eu nem mesmo conhecia, ele podia fazer o mesmo com e me colocar como a vilã da história. Eu precisava contar por mais duro que fosse.
Me esforcei pra entrar no clima. O show de foi, como sempre, incrível. Todos aplaudiram e ela saiu do palco sorrindo de orelha a orelha. Cohen e Scott contavam coisas engraçadas como sempre e ríamos alto, mas eu parei de rir no mesmo segundo que vi andar até nós quase saltitante com ninguém menos que Glenn Travis ao seu lado.
- Mas... Como? - meus olhos arregalados em surpresa e confusão fez os dois rirem. Glenn tinha dito que só viria no fim do mês!
- Ele veio de surpresa! Ele assistiu meu show e tudo! - respondeu elétrica e risonha, com o jeitinho de quem ainda não estava acreditando no que estava acontecendo.
- Meu Deus! Oi! - eu desabrochei em risos, cumprimentando Glenn com um aperto de mão mas ele logo puxou pra um abraço totalmente simpático.
Ele realmente estava presente! Glenn cumprimentou todo mundo esbanjando simpatia, elogiando da melhor maneira possível e ela parecia uma criança encantada com algo pela primeira vez. Eu nunca tinha ficado tão perto de um cantor e produtor e nem mesmo imaginava o quão simpáticos eles poderiam ser até ver Glenn conversando com todos numa boa, como se já nos conhecesse há tempos. Glenn tinha um álbum incrível chamado Prelude. dizia que queria fazer algo tão importante e bem pensado como esse álbum. Prelude é o começo de algo, uma introdução, a ponte para algo mais importante. Olhando pra Glenn conversando sobre sua música, prestando atenção e sorrindo realizada e sentindo os braços de envolvendo minha cintura me trouxe algo diferente. Por um segundo eu me permiti imaginar que tudo ficaria bem. Talvez a gravidez pudesse ser uma ponte pra algo mais importante pra mim e pra . Talvez.
Eu nunca me acostumaria com o toque de . Todo o choque, o desejo, o amor e as sensações que ele me causava eram sempre surpreendentes. Agora eu entendo melhor... Coisas vão acontecer, o romance talvez esfrie, talvez o amor até morra, mas hoje não e talvez nunca. Não com a gente.
- Eu te amo, . Pelo resto da minha vida. Pelo resto da sua. Pelo resto da nossa. - sussurrou enquanto me empurrava de leve até me encostar completamente na parede do meu trailer, me prendendo ali.
- Um dia você ainda vai me matar com todo esse amor! - eu o encarei, admirando cada detalhe do seu rosto perfeito e me perguntei rapidamente como foi que eu consegui logo esse homem? Quando e como veio toda essa sorte?
espalmou as mãos na minha cintura, puxando meu corpo com força, grudando um no outro. Eu fui ao céu só de sentir sua ereção contra a minha coxa. deu alguns passos pra trás, me forçando a fazer o mesmo até esbarrar na pequena mesinha que tinha ali, me fazendo sentar na mesma e se fazendo confortável entre as minhas pernas. Sua boca foi de encontro ao meu pescoço, depositando beijos atrevidos até chegar na minha boca. Minhas mãos se entrelaçaram ao redor do seu pescoço, puxando seu cabelo de leve numa provocação barata, e a todo instante eu sorria, sabendo que mais uma vez, ele me daria tudo.
Aquele trailer era pequeno pra nós, era pequeno pra todos os nossos desejos, vontades, tesão e amor.
Eu quero acreditar que o amor tem limites e ao mesmo tempo não. Eu sabia da verdade e estava grávida. Eu queria acreditar que poderia derrubar os limites pelo menos dessa vez. Eu preciso de coragem, preciso acreditar. No fundo, eu sei que isso sempre foi o que mais me faltou: coragem pra inúmeras coisas. Eu não quero escolher não ver os limites. Eu quero acreditar que eu e podemos passar por isso juntos, porque a verdade é que eu nunca vou conseguir fazer isso sozinha. Ele merecia a verdade e eu precisava do seu apoio.
-Voight? - ele ergueu o olhar assim que me viu no batente da porta, me pedindo pra entrar no mesmo instante.
Eu sentei e chorei de imediato. O olhar apavorado de Voight o fez levantar e fechar a janela e a porta, se sentando novamente e com a maior paciência do mundo, esperou que eu me acalmasse, ou pelo menos parasse de chorar.
E então eu contei.
's POV
A questão é: se você imaginar o pior, só verá isso.
Beleza, confesso que me forcei muito a pensar no lado bom do meu pai e finalmente foi algo certo a se fazer. Dias atrás ele veio, apareceu do nada, se arriscou e confirmou o que eu sempre soube e o que sempre me foi mostrado: que ele é um homem bom, de caráter.
Eu estava acostumado a imaginar o pior depois de tanta porcaria que aconteceu nos últimos meses, mas ultimamente as coisas têm andado bem, e eu digo bem de verdade. O caos daqui parece ser algo fixo e sinceramente, eu não faço ideia de como toda essa história com Paul vai terminar, mas se eu fingir que toda essa merda não existe, sobra a minha namorada, os meus amigos, os momentos... Sério, eu andei tendo muita sorte também. É um clichê desgraçado, mas eu realmente andei enxergando as coisas boas em meio às ruins. The Lions me tirou muita coisa, mas ao mesmo tempo também me trouxe. Aqui tem todo o tipo de conversa e experiência e pelo menos eu sempre gosto de ouvir e as vezes até de falar. Eu gosto de confirmar que as coisas que se passam na minha cabeça realmente fazem sentido. Eu gosto de ouvir pra poder também me identificar. Foi aqui que eu cheguei com medo e até vergonha do quanto ainda sofria por Sienna, mas estranhamente também foi aqui que de uma maneira tão completa eu perdi o meu medo de compartilhar minha tristeza com alguém. Era algo tão único e tão meu que eu tinha medo de dizer em voz alta, até saber que por aqui também tem histórias similares, piores e melhores, assim como teria em qualquer outro lugar, mas também foi aqui que eu ganhei .
Mas nem tudo tá tão bom e perfeito assim.
Nunca está.
Me desencostei do portão do galpão e joguei a bituca de cigarro fora, andando rápido e adentrando ao trailer da minha namorada, que estava trancado.
- ? - a chamei enquanto batia na porta que não demorou muito em ser aberta.
- Sim? - ela me deu um sorriso desanimado mas eu pude ver que ela estava se esforçando, mas não tinha como esconder.
Tinha algo errado e já estava errado há dias.
- Aconteceu alguma coisa? - questionei de uma vez a pergunta que já tava entalada na minha garganta há dias enquanto entrava no trailer de uma vez.
- O que? - ela rebateu num apavoro imediato, com os olhos arregalados.
- Você tá estranha, . O que tá rolando? - me sentei na cama e a chamei com a mão e ela ergueu a mesma e não perdi a oportunidade de puxá-la um pouco forte, a fazendo sentar no meu colo. Ela deu um sorriso mais verdadeiro mas ele foi embora em poucos segundos e eu sabia que ela estava pensando em alguma coisa pra adiar ou enrolar a conversa. Eu simplesmente sabia - É sério, me conta o que tá acontecendo, por favor. Eu quero te ajudar!
Ou eu falei o que ela precisava ouvir ou foi completamente tudo o que ela não precisava. Os olhos de se encheram e ela me abraçou forte, dando uma fungadinha enquanto se aninhava no meu ombro.
- Eu estou me sentindo completamente fora de sintonia da vida. Eu me sinto... Sei lá, desconectada de várias coisas.
E definitivamente tinha algo de errado, mas não parecia ser só algo com . O peso da sua voz me trouxe um sentimento tão macabro que a única coisa que eu fiz de imediato foi abraçá-la.
Algo estava acontecendo.
's POV
- Voight! - entrei no escritório feito um furacão - Já tem dois dias! Você tem noção que foram mais dois dias em que eu menti pro meu namorado? Eu não aguento isso, eu não aguento mais! Ele veio ontem com um papo de que eu estou estranha, ou seja, ele está percebendo algo! - eu falei tão rápido que ele demorou alguns segundos pra entender tudo.
- , eu preciso de pelo menos mais um dia! Eu preciso falar com Yaser e...
- Eu não me importo! Eu preciso que você conte pra ele, Yaser deixando ou não, querendo ou não! Ele é uma pessoa que mentiu pra todo mundo por um erro dele e... Eu poderia ter ficado brava com você, mas não fiquei! Quantas vezes você precisa cometer o mesmo erro pra perceber que não dá certo? Você mentiu pra mim e está fazendo o mesmo com . Quanto mais você demorar, pior vai ser! Eu preciso que ele saiba da verdade, eu...
- ! - Voight praticamente berrou o meu nome, levantando da cadeira de uma vez - Eu fiz uma besteira gigante em mentir pra você, mas eu só fiz isso porque sua mãe escolheu fazer isso. Não estou a culpando, mas eu simplesmente a respeitei e fiz o que ela quis que eu fizesse. A história com Yaser é muito mais complexa, tem muita coisa envolvida e porra, eu estou exausto, ! Eu não quero ser a pessoa que vai acabar com a vida de , então eu estive esses dois últimos dias tentando convencer Yaser a contar a verdade por conta própria. - ele carregava indignação e tristeza na voz. O olhar quase derrotado foi o que amassou meu coração.
- Mas ele não quer, não é? - questionei o óbvio. O olhar triste de Voight trazia todo o peso de que ele, mais uma vez, estragaria algo mesmo não sendo inteiramente culpa dele.
- É complicado!
- Pais são complicados! - bufei, jogando a cabeça pra trás e ele deu alguns passos até ficar em minha frente, se encostando na mesa.
- E filhos também, e você vai entender direitinho quando tiver o seu! - ele me lançou um olhar firme e meus olhos se arregalaram minimamente como se de algum jeito ele pudesse saber da minha gravidez, mas não, era só ele falando o que todos falam e eu não pude evitar uma expressão totalmente confusa, chocada e perdida - E não me olha assim porque você sabe que eu me considero o seu pai, ! - por um segundo eu suspirei em alívio porque todo o meu mix de expressões não tinha denunciado o que realmente tinha as causado e Voight até mesmo se permitiu dar um sorrisinho rápido - Eu vou conversar com Yaser e mesmo se ele não permitir, eu vou contar toda a verdade pro !
Eu me senti mais perdida ainda. Eu estava em busca de respostas pra um problema que eu mesma deveria ter resolvido sozinha. Saí do escritório no meio da raiva e da tristeza, sentindo que poderia chorar o resto do dia inteiro. Entrei em meu trailer e tranquei a porta do mesmo pra garantir que ninguém me pegaria de surpresa enquanto todas as minhas lágrimas vão embora.
E elas não demoraram a rolar, e meu celular tocou. Número desconhecido.
- Alô?
- !
- Não! Puta que pariu, você não! - a voz de Paul me fez prender a respiração involuntariamente, como se ele tivesse alguma espécie de controle sobre mim.
- Você poderia ser mais agradável, sabia? Eu até fui legal o bastante pra te ligar e não te levar pra outro passeio. Sei que você deve ser muito ocupada por aí. - ele riu debochado - Mas vou direto ao ponto... Preciso que você me faça algo.
- Você é louco?
- Eu vou te mandar um endereço algum dia dessa semana e você vai parar qualquer merda que estiver fazendo pra ir lá, está me ouvindo? E se você contar pra alguém ou levar alguém junto, se eu ao menos suspeitar que alguém tenha ido pra te ajudar em algo, eu juro que mato a do jeitinho que você sabe que eu mato: sem piedade nenhuma. - sua voz saiu mais fria, indelicada e grosseira que o normal. O final da frase trouxe lágrimas de imediato aos meus olhos.
- Eu não... Eu não entendo! Por que você tá fazendo isso comigo? - me forcei a engolir o choro como nunca. Eu não podia dar esse gostinho pra Paul.
- Em caso de dúvida, cale a boca. Você só me obedece e ponto final, eu quem faço as perguntas! Agora me responde, ... Já contou pro seu namoradinho que o pai dele é um bandidinho de merda? - o tom completamente intimidador e ao mesmo tempo banhado a deboche me tirava do sério e me trazia um medo surreal.
- Eu...
- Claro que não, né? Eu sabia! - ele me interrompeu bruto e riu alto - Agora eu vou ter que desligar, mocinha. É sempre um prazer conversar com você, mas eu realmente estou ocupado!
- ESPERA! - pedi desesperada e forçando o celular ainda mais contra o meu ouvido - Você precisa me dizer o dia! Eu não posso... Você não pode brincar comigo assim! O que você tá querendo?
- Eu já te falei que quem faz as perguntas sou eu, , mas pra sua sorte hoje eu levantei bem humorado e tudo o que eu tenho pra dizer é que não é importante quem começa o jogo, mas sim quem o termina. Eu já tirei Leon do meu caminho e já já eu chego o seu titio, mas antes disso, eu tenho tempo pra brincar mais um pouco!
E mais uma vez, mesmo só com um telefonema, Paul levou uma pequena parte de mim também.
Eu deveria contar pra Voight e Holt e deveríamos montar um plano... Mas tem . Eu não posso arriscar, simplesmente não posso. Paul só queria brincar comigo, mexer com a minha cabeça, porque se quisesse me matar já teria matado. Ele quer o de sempre: causar infelicidade, angústia e surtos que provavelmente dure pro resto da vida de tanto nervoso.
Quer dizer... Ele já causou, mas nem Voight e muito menos Holt demonstraram nada pela morte do tal Leon. Talvez ele não fosse alguém tão importante ou sei lá, mas Paul o matou por algum motivo e também imaginou que eu soubesse quem o tal homem é, já que o usou pra me amedrontar ainda mais.
Já passava de sete da noite e eu nem mesmo tinha me dado o trabalho de levantar. dormiu até tarde mas assim que levantou, tomou banho e foi pra academia com os meninos. De domingo eles aproveitavam que a academia era fechada pra os clientes e faziam a festa lá dentro e eu agradeci por isso. Estava me sufocando olhar pra e não contar a verdade. Estava me sufocando estar nas mãos de Paul e não poder fazer nada porque a vida de estava em risco.
Mesmo sem forças, levantei pra tomar um banho e em seguida fui até o galpão pra pegar alguns sprays. Fui até os fundos, no muro onde adorava grafitar coisas aleatorias e comecei a fazer o mesmo. Talvez eu devesse sim contar pra Voight e pedir ajuda. Paul queria me usar, queria me enlouquecer e eu não podia deixar um homem tão podre me manipular assim.
É isso.
Respirei fundo, juntando as migalhas de determinação que me sobrou e dei no máximo três passos até meu celular começar a tocar.
Número desconhecido.
- Alô? - minha voz saiu pesada e cheia de medo, pedindo misericórdia mentalmente.
- Você achou mesmo que eu demoraria alguns dias pra te procurar, não é? - Paul gargalhou - Mas não me aguentei, , estou com um pouco de pressa. Como eu já disse, quero que você pare o que estiver fazendo e vá imediatamente pra Regent Street, número quinze. Você vai entrar, pegar a única coisa que está dentro do galpão e vai entregá-la na Abbey Street, número duzentos e dois, pra um rapaz chamado Rob. Se tudo der certo eu te deixo em paz. Agora se tudo der errado, se você contar pra alguém... Terei que matar a sua amiga que não tem nada a ver com isso tudo. Nesse exato momento a está no estúdio e se alguma coisa der errado, os meus homens que estão lá na frente vão entrar naquela merda e vão grudar uma bala bem no meio da cabeça dela, entendeu bem?
- Você... Calma! Eu vou fazer tudo o que você está me pedindo, apenas deixa a fora disso, ok? - minha respiração já estava completamente descompassada - Você quer que eu faça uma entrega pra você, é isso? São drogas? Armas?
- Você vai ver na hora, . - ele respondeu impaciente.
- Regent Street, número quinze, e depois Abbey Street, número duzentos e dois, certo? - ditei os endereços pra confirmar quase atropelando todas as minhas próprias palavras de tanto desespero.
- Isso mesmo.
- Eu... Eu não sei dirigir! Talvez demore um pouco, mas eu vou fazer, ok? Você já pode pedir pra quem quer que esteja na frente ou perto do estúdio ir embora!
Ele riu.
- Eu não me importo como você vai se virar pra fazer isso, , eu só quero que você faça! - ele disse autoritário antes de desligar.
Eu senti meu corpo inteiro gelar e uma sensação horrível me abraçar forte. Digitei rápido uma mensagem pra :
"Você está no estúdio?"
Ela não demorou pra responder.
"Sim. Vai vir pra cá?"
Era real mesmo. Paul sabia onde estava.
Eu pedi pro motorista do uber parar e estacionar um quarteirão antes. Todo bairro tem suas partes ruins e macabras e eu estava caminhando pra uma delas. Apertei minha jaqueta em mim mesma pela décima vez, sentindo o vento gelado ficar ainda mais gelado de tanto nervosismo. Regent Street, número quinze. Um galpão de esquina, pichado, com pouca iluminação e pouquíssimo movimento humano. Analisei o galpão grande por fora, indo até pro outro lado da rua pra ter noção do quão grande ele era. Havia três portas pequenas e duas grandes.
Ok, às vezes a gente se mete em confusão e tomamos decisões. Más decisões. Decisões que sabemos que provavelmente vamos nos arrepender no segundo, minuto, hora ou dia seguinte.
Andei até a porta mais próxima de mim, analisando a rua totalmente deserta antes de encostar na maçaneta velha e empurrar a porta pra abrir com os olhos apertados. O que eu quero dizer é... Não é bem se arrepender, eu tenho um motivo pra estar fazendo isso. Estou sendo obrigada. Chantageada. Estou fazendo isso pra salvar a vida de .
Abri os olhos lentamente, observando o galpão enorme sem nada a não ser algumas madeiras velhas jogadas por ele e uma mesa grande alguns passos longe de mim. A iluminação precária não me ajudava muito, mas foi possível ver uma escada no canto esquerdo que dava acesso ao segundo andar. Respirei fundo, praticamente correndo até a mesa e olhei pra grande bolsa azul escura ali. Nem mesmo tentei desejar pra que tudo fosse um pesadelo e que não tivesse nada de tão ruim dentro da bolsa porque eu sabia que era real e que tinha algo ruim ali. Balancei a cabeça negativamente, indignada, nervosa, triste e com raiva de toda a situação e abri a bolsa de uma vez. Os pacotes grandes cheios de um pó branco e muito bem embalados estavam ali. Paul estava mesmo me usando pra mover drogas?
Fechei a bolsa novamente e a puxei comigo, dando passos largos até a porta e não tive mais tempo pra pensar em nada. O barulho alto de carro foi ficando cada vez mais próximo e eu arregalei os olhos em desespero. A porta bateu atrás de mim e eu estava pronta pra entrar novamente pra me esconder, mas assim que os dois carros pararam e eu os reconheci, pareceu ser coisa de outro mundo.
Ainda assim... Mesmo depois de tudo, alguma coisa dentro de mim decidiu fazer uma coisa louca. Decidiu obedecer Paul. Uma coisa que eu já sabia que provavelmente iria se voltar contra mim e me pegar desse jeitinho: desprevenida.
- O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI? - eu berrei desesperada, ajeitando a alça da bolsa no meu ombro e me aproximando do carro.
Simplesmente não é possível! Não tem como!
- VOCÊ PERDEU O JUÍZO? PELO AMOR DE DEUS! - Voight bateu a porta do carro e veio em minha direção furioso.
É aquilo... Aqui se faz, aqui se paga. A verdade aparece de algum jeitinho toda vez.
- Como você me encontrou aqui? Voight, pelo amor de Deus, eu preciso...
- Landon te ouviu no telefone e por sorte me contou tudo. Pelo amor de Deus, , que merda você tá fazendo?
- Você não enten...
Um tiro foi disparado. Eu nem mesmo me mexi ou ousei respirar, mas a grande bolsa que eu segurava se mexeu e o pó branco começou a escorrer. Mais um tiro foi disparado e meus olhos se arregalaram ao olhar bem pra trás e ver que Holt tinha atirado em um homem que saiu de dentro do galpão. Tinha a porra de um homem no galpão!
- Solta! Solta essa bolsa agora! - Voight se desesperou e não foi nada gentil ao segurar a alça da mesma ainda em meu braço e puxar com força até tirar de uma vez e me empurrar de leve com uma mão enquanto jogava a bolsa o mais longe que conseguiu com a outra e correu rápido na direção contrária e me puxou pra correr junto.
- EU PRECISO DAQUILO! - eu berrei enquanto minha mão era puxada sem nenhuma delicadeza até o fim da rua, onde Voight só parou quando decidiu que aquela distância estranha era o suficiente e passou a observar cada centímetro do meu corpo.
Holt ainda apontava a arma pra o homem que disparou o primeiro tiro, com o pé em seu peito e mesmo um pouco distante, deu pra ouvir seu urro de dor pelo tiro na perna de onde eu estava. Eu olhei pra bolsa jogada no canto da rua e pensei em correr e até dei um passo, mas Voight me segurou firme.
Eu paralisei por longos segundos perdida em mim mesma e na situação.
Eu precisava da bolsa!
- Você tá be...
- POR QUE VOCÊ VEIO? - eu berrei na cara de Voight com raiva, sem saber se olhava pra Holt, para os dois homens que tinham saído do carro dele e entrado no galpão, pra bolsa jogada ou um pouco do pó branco que ficou no asfalto e que fez meu coração quase salvar pela boca porque era droga perdida e Paul iria mandar matar - EU TENHO QUE TERMINAR ISSO! PORQUE VOCÊ VEIO, HEIN? VOCÊ ESTRAGOU TUDO, VOCÊ APARECEU E O HOMEM ATIROU NA DROGA DA BOLSA E AGORA PAUL VAI...
- AQUILO É CARFENTANIL! - Voight berrou de verdade na minha cara totalmente exaltado, colocando as duas mãos em meus braços - Ele atirou na bolsa de propósito! Se você inalasse mais três segundos daquela merda, você iria morrer na hora, ! - ele explicou totalmente sem fôlego e desesperado - Eu preciso te levar pra um hospital, eu preciso saber se...
- O QUE? Eu estou bem! Eu preciso... - eu olhei pra bolsa jogada e meu queixo começou a tremer pelo choro forte que estava prestes a tomar conta de mim - Ele disse que eu tinha que levar essa bolsa pra... Abbey Street. Eu preciso levar, eu preciso! Ele vai matar ! Ele... Ele deixou um homem aqui pra me vigiar! Ele com certeza avisou pra ele que vocês estavam comigo e... Paul vai mandar matar a !
Minhas mãos tremiam.
Meu estômago se embrulhou.
Minha visão ficou turva por alguns segundos.
- O que ele te disse? O que ele te mandou fazer, ? - Voight perguntou nervoso, aflito e desesperado, com o olhar urgente.
- Eu tinha que levar essa merda até Abbey Street sozinha e não podia falar pra absolutamente ninguém o que eu estava fazendo ou então ele mandaria matar . Tem capangas dele na frente do estúdio, é onde está!
Voight me puxou pela mão novamente desesperado até chegarmos em Holt, que cuspia xingamentos no homem que estava prestes a desmaiar de tanta dor.
- VOCÊ CONTOU PRA ELE QUE ESTAMOS AQUI? - Voight se abaixou, ficando cara a cara com o homem que abriu um sorriso debochado que quase me fez perder as estribeiras. Ele estava literalmente urrando de dor mas teve a frieza de ainda abrir um sorriso podre cheio de deboche como se ele estivesse em condições pra agir assim.
- É óbvio! - a resposta curta, grossa e debochada foi o que fez o mundo de Voight cair e o seu olhar encontrou com o de Holt em puro desespero.
- O que? - Holt questionou perdido.
Voight se levantou e num ato extremo de raiva, pisou sem dó e com força na perna do homem, exatamente onde o tiro foi dado. Ele desmaiou.
Corpo tremendo e suando frio, lágrimas rolando, estômago embrulhado e o maior nervosismo de toda a minha vida.
Voight explicou rapidamente o que estava realmente acontecendo. Holt se permitiu sentir o choque da notícia apenas por um segundo e puxou o celular do bolso, ligando pra alguém correr até o estúdio em carros diferentes com mais três pessoas. Os dois rapazes que estavam no galpão saíram e Voight gritou pra eles cuidarem da coisa toda; o corpo do homem e a bolsa furada cheia de carfentanil. Voight mais uma vez, me puxou pela mão, me fazendo correr até o carro e entrar no mesmo e começou a acelerar atrás do carro de Holt que estava na frente. Peguei meu celular e ele quase não parou nas minhas mãos pela tremedeira mas consegui chegar no contato de . Meu dedo parou antes de apertar pra iniciar uma ligação porque eu estava recebendo uma.
Número desconhecido. Era Paul.
- Ele... ta me ligando! - anunciei chorosa e o olhar nervoso de Voight sobre mim pesou ainda mais.
- Coloca no viva voz! - ele pediu rápido.
Atendi a ligação.
- Deve ser enlouquecedor ser tão previsível, . Eu pensei que você fosse melhor que isso. - Paul esticou cada palavra num tom debochado absurdo e ao mesmo tempo horrendo.
- Por fav... Por favor! Ela não tem nada a ver com isso tudo! Eu não sabia que...
- Você fez merda, , e alguém tem que pagar por isso. E adivinha só? Da próxima vez que qualquer um estragar tudo de novo, você vai ser a próxima pessoa a morrer, mesmo não tendo nada a ver com a história também. Assim fica mais divertido. Agora... Preciso fazer algo.
- NÃO! - Voight gritou - Seu filho da puta, se você encostar um dedo em eu juro que te mato de uma vez, caralho!
- Boa sorte pra vocês dois. - foi a última coisa que ele disse antes de desligar.
- Não, não, não, não, não!!! - eu gritei repetidamente, completamente desnorteada e sentindo as lágrimas descendo pelo meu rosto no mesmo instante. Todo o desespero, a ardência na alma pelo nervosismo, as mãos tremendo e cada músculo atento e contraído ia acabar me fazendo explodir por tantas reações que meu corpo estava dando.
Voight dirigia tão rápido e eu nem mesmo estava me importando, afinal, tínhamos mesmo que chegar o mais rápido possível. Mais uma vez, eu estava prestes a iniciar uma ligação com , mas o celular tocou. Não o meu, mas sim o de Voight. Ele o tirou de maneira rápida do bolso e me entregou.
- Alô?
- Tyler está com . Vão levá-la embora agora antes que possa acontecer alguma coisa. - acho que nunca em todos esses anos eu fiquei tão feliz de ouvir a voz de Holt trazendo uma notícia.
As lágrimas caíram dos meus olhos ainda mais fortes.
- O que foi, ? Quem era? - Voight perguntou aos berros e no desespero urgente.
- Tyler está com . Ela está bem! - eu desabei num choro desesperado e profundo, sentindo um alívio percorrer cada pedacinho de mim e eu finalmente pude respirar fundo sem a sensação do ar estar sendo roubado de mim, assim como o controle da situação toda foi - Paul ia matar ela. Ele ia! Ele matou Leon e... Eu nem mesmo sei quem é esse Leon mas Megan falou o nome dele e eu acho que ele era alguém importante porque Paul o usou como exemplo e... Ele ia matar a ! Por Deus, como ele consegue ser assim? - meu coração ainda estava tão acelerado que por um segundo pensei que algo estivesse errado. As lágrimas ferozes e pesadas caíam sem dó e eu nem mesmo pensei em me dar o luxo de tentar engolir o choro. Minha melhor amiga estava a salvo e eu choraria na frente de qualquer um por isso.
- ? - Voight me chamou baixo depois de longos segundos, como se ele tivesse me dado um tempo pra me recompor pelo menos um pouco pra continuarmos algum tipo de conversa, mas eu seguia chorando feito um bebê, mas funguei e sequei algumas lágrimas de modo desajeitado e o olhei - Leon não está morto.
Eu gelei.
- O que? Mas... Espera... Quem é Leon? Eu não o conheço, mas Paul... - eu estava extremamente perdida em todos os sentidos - Paul disse que o matou!
- Eu prometo que te conto tudo mais tarde! - Voight anunciou firme e confiante, me dando um sorriso simpático numa tentativa de me transferir algum tipo de força e confiança.
Mais alguns minutos e eu saltei do carro quando o mesmo foi estacionado. Corri e passei pelo portão desesperada e meu coração quase parou de vez quando vi em frente ao escritório conversando com Tyler. Eu acho que nunca, em vinte anos, fiquei tão feliz em ver uma pessoa. O nosso abraço cheio de amor poderia facilmente ser a minha casa pra o resto da vida.
- , pelo amor de Deus, por que você não me contou? Quando Tyler apareceu eu imaginei tanta merda! Você deveria ter me contado! - já foi logo me dando uma bronca em advertência, mas sua cabeça tombou para o lado e pude ver que ela lutava contra um sorriso. Claramente um sorriso nervoso, mas sincero e aliviado depois de toda a confusão. Ela estava assustada e eu sabia, mas também estava feliz que tudo tinha terminado bem.
- Eu não podia! - rebati.
Eu a abracei novamente e meu celular tocou. O número desconhecido já era conhecido. perguntou se era Paul e assenti, e ela mesma pegou o celular da minha mão e atendeu, colocando a ligação no viva voz.
- Oi, seu filho da puta, eu estou viva e bem, muito obrigada! - esbravejou num tom debochado misturado com muita raiva.
- E você acha mesmo que está viva porque eu falhei? Você está viva porque eu deixei, . Agora cadê a sua amiguinha? Esse número ainda é dela, não é? - eu me sentia completamente atacada e afetada com tanta frieza, deboche e autoridade.
- Eu quero que você vá pro inferno, seu desgraçado! Você nunca mais vai me usar pra nada! - eu berrei perto do celular com ódio.
- Mas eu já usei, . Você acha mesmo que está viva porque seu titio e aquele outro imbecil do Holt agiram mais rápido que eu? Você não percebeu ainda? Ou ele ainda não chegou?
- Do que você está falando?
- Você é realmente muito ingênua, ! O plano era te matar, sabia? O tiro que meu capanga deu claramente não te acertou mas tudo bem, porque a partir do momento em que ele me ligou e disse que tinha gente com você, eu tive que mudar tudo. Eu sabia que vocês correriam atrás de feito um bando de cachorrinho e então eu resolvi fazer mais uma bagunça. Fui atrás do seu namoradinho e dei um passeio com ele do mesmo jeitinho que dei com você dias atrás. E claro, eu não podia deixar ele sem saber da verdade, não é?
- O QUE VOCÊ FEZ? CADÊ ELE?
- Eu fui generoso e até deixei ele perto de casa, ! Ele ainda não chegou? Provavelmente deve estar cego de raiva por aí e não conseguiu acertar o resto do caminho. - ele riu.
- EU VOU TE...
- Você não vai nada, sua imbecil! Você não é nada e ninguém dessa merda dos The Lions é. Eu estou há meses deixando vocês desmoronarem e daqui a pouco não tem mais nada. Todos vocês já facilitaram todo o meu trabalho, sabia? Matar vocês não seria tão prazeroso quanto saber que vocês descobrem certas coisas logo de mim, e quando eu quiser, a hora que eu quiser, eu coloco uma bala na cabeça de qualquer um de vocês e pronto! - ele riu novamente - Você achou que eu precisaria de você pra mexer uma mala de drogas, ? Você acha mesmo que é especial assim?
desligou a ligação e segurou forte na minha mão no mesmo instante. Eu senti minhas pernas falharem e elas falharam mais ainda quando vi Cohen e Scott passarem pelo portão desesperados.
- Cadê ele? Cadê o ? Onde ele tá? - eu gritava enquanto corria em direção dos dois, que nem mesmo conseguiam falar direito.
Eles explicaram rapidamente como tudo estava completamente normal na academia até a porta de vidro de entrada ser estraçalhada por um tiro de um dos capangas de Paul. Eles não tiveram nem como fugir. Paul obrigou a ir com ele e mais outro cara enquanto o outro levou Scott e Cohen pra os fundos e os trancou na cozinha, levando os celulares dos dois e atirando no pneu das motos também.
- Ele precisa aparec... MEU DEUS! - no mesmo instante em que eu me virei pra entrada, entrou feito um furacão pelo portão, seguindo reto e com passos raivosos e largos, como se não tivesse enxergado ninguém.
- ! - Voight e Holt gritaram o nome de enquanto corríamos todos atrás dele, que abriu a porta do trailer com fúria, olhando pra trás com o olhar mais raivoso que alguém poderia ter na vida.
- O QUE É? - ele berrou.
- Cara, você... - Cohen começou a falar mas a porta do trailer foi batida com força na nossa cara.
Ele estava com ódio.
E ele tinha razão em estar.
Eu fiz tudo isso com intenções sinceras e até ingênuas, mas totalmente afundada na pressão de um homem horrível. Eu quis fazer o que é certo, ou pelo menos o que me parecia certo. E então... Os limites foram excedidos. As coisas foram longe demais.
Eu não pensei, apenas abri a porta do trailer de e entrei de uma vez, trancando a mesma e vendo ele se virar lentamente e me encarar feio. Muito feio.
Eu deveria ter pensado. Eu deveria ter contado. Eu deveria ter feito algo antes mesmo de causar danos tão terríveis.
- ...
- Você sabia mesmo? Você sabia do meu pai? Você sabia que ele era o culpado disso tudo e não me contou?
E tudo desmoronou. De novo.
- , eu juro que eu...
- SIM OU NÃO? - ele gritou, me dando um susto tão grande que no mesmo instante eu me encolhi e abaixei a cabeça em pura vergonha.
- Sim. Eu sabia. - doeu de verdade responder, digo, de verdade mesmo. Eu senti uma fisgada no peito, algo que foi me amassando e amassando cada vez mais e só foi piorando quando observei puxar uma bolsa de viagem grande debaixo da cama e comer a abrir as gavetas - O que você tá fazendo?
- Você é surda? Você por acaso não ouviu quando eu disse que odiava falta de comunicação? Você não ouviu? - ele juntou inúmeras camisetas de uma vez, jogando elas de qualquer jeito na bolsa e nem mesmo me olhando mais.
- , me perdoa! Eu não sabia como te contar e... Eu não sabia! Foi muito pra mim, foi mais uma coisa que Paul jogou em cima de mim e... Como eu te contaria, ? Como? Tem tanta coisa acontecendo e... O que você está fazendo? - eu coloquei a mão no meu próprio peito e comecei a massagear a área do coração. Estava doendo. Eu dei um passo pra me aproximar de e tentar fazê-lo parar de jogar as roupas na bolsa, mas ele me deu um sinal com a mão pra parar no mesmo segundo que eu ousei me aproximar ainda mais.
- Estou deixando esse lugar, você, tudo. Pra mim já deu, .
Capítulo 28
's POV
Existem as coisas ruins do amor, de relacionamentos e do convívio diário. Minha rotina estava moldada em ter por perto todo dia, o tempo todo, e agora... Eu estou perdida. E sem ele.
Ele realmente foi embora.
Quatro dias sem ele e eu sentia meu peito doer de verdade, o tipo de dor tão grande que se tornou física. Acho que não há desespero tão absoluto como esse, o desespero da minha primeira grande tristeza amorosa. Eu nunca passei por isso. Eu não sei quando é que se cura disso, e talvez nem saiba. Talvez seja melhor eu não saber. Talvez seja mesmo melhor ficar em Bradford e seguir a vida dele longe, porque sinceramente, o que a vida nos The Lions trouxe de bom pra ele? Absolutamente nada.
foi a melhor coisa que me aconteceu e eu deixei escorrer pelos dedos por não estar acostumada com coisas boas, por não estar acostumada a isso. Eu sei, brigas, discussões e todas as complicações de um namoro fazem parte, mas talvez isso nem mesmo deveria ter começo. Talvez isso tudo tenha acontecido pra chegarmos exatamente onde estamos: separados.
- ? - tia Ellie abriu a porta do quarto e entrou devagar, como se estivesse pisando em ovos - Voight está subindo, ok? - ela avisou baixo, me encarando com aquela cara de dó que eu não aguentava mais.
- Tudo bem.
Ela saiu rápido do quarto e fechou a porta. Me sentei na cama e respirei fundo. Parecia que alguém tinha morrido. Estavam me tratando com tanta delicadeza, dó e cuidado que eu me sentia sufocada. Não que fosse ruim, afinal, era o melhor jeito que encontraram pra lidar comigo, mas eu não deveria merecer todo esse cuidado. Eu cometi uma série de erros que fez meu namorado ir embora e me deixando tão mal a ponto de nem mesmo ter forças pra me levantar da cama direito. Um término é difícil, eu fiz merda, mas não deveria ser assim, não é? Não deveria me deixar tão mal a ponto de me fazer sentir como se minha vida tivesse sido sugada de mim.
- Ei! - Voight abriu a porta com cuidado e entrou com passos leves, sorrindo simpático com um saco em mãos - Trouxe alguns donuts pra você! - ele se sentou na beirada da cama - Mas me conta, está se sentindo melhor?
- Não. - joguei meu corpo pra frente, pegando o saco das mãos dele - Parece que alguém morreu, vocês estão me tratando como um cristal quebrado. - Voight me encarou confuso, provavelmente se perguntando se aquilo se encaixava em ingratidão ou loucura mesmo e prossegui antes do julgamento - Eu sei que vocês estão preocupados, mas eu também fiz merda. Eu não deveria ter sido tão burra como fui e agora foi embora e aconteceu, não adianta, nada vai mudar isso!
- Eu não tenho como tirar esse sentimento de você, mas eu posso estar aqui pra te ouvir. Eu te conheço desde sempre, , e o seu problema não é só ter ido embora, o problema são as coisas que sempre te acompanharam voltarem agora em peso porque ele se foi, não é? - eu estava prestes a abrir o saco pra pegar um donut mas meu corpo congelou com as palavras de Voight, que se arrastou um pouco pela cama, ficando mais próximo a mim - Coisas horríveis aconteceram, filha, e eu quero poder te ajudar. Eu sei que você não queria nada disso mas as opções não eram muito boas, não é mesmo? Agora só me resta estar aqui pra você e é isso o que eu vou fazer.
Existem sentimentos que se recusam a ir embora, e muitas vezes esses sentimentos são como pequenos demônios sussurrando em seu ouvido. Voight realmente me conhecia e confiava em mim. Eu sabia que ele estava se esforçando muito pra não deixar toda a raiva por Paul o dominar, ele até mesmo me contou toda a verdade sobre Leon e... Voight estava sendo Voight, ou seja, ele estava sendo meu pai. Ele realmente estava ali por mim e isso também me esmagou num sentimento bizarro onde eu já não sabia onde ficava a linha da felicidade ou da culpa por ele estar sendo tão bom comigo sem eu merecer. Meus olhos se encheram de lágrimas, as mesmas que eu tinha tentado ignorar o dia todo.
- Eu tô grávida. - um choro dolorido se iniciou e eu sabia que seria uma tarefa difícil parar, mas eu tinha que chorar - E foi embora, minha mãe está presa e Paul não deixa ninguém em paz e eu não consigo entender o motivo. Eu passei a minha vida inteira me sentindo mal por coisas que eu nunca nem entendi direito e agora... Eu simplesmente não aguento mais! Eu não quero que ninguém me console porque eu fiz minhas escolhas e foram escolhas burras e estúpidas, mas eu tô grávida e o foi embora e eu sinto que ele levou minha alma junto!
's POV
Ele não teve o cuidado de tentar evitar uma guerra, no fundo, ele só pensou que talvez pudesse ganhá-la, mesmo sabendo que poderia perder todo o resto: a própria família.
Caralho, ele simplesmente não ligou! Ele mentiu por anos.
Eu me senti um merda em todos os sentidos. Voltar pra Bradford, pra casa da minha mãe, como se eu tivesse perdido absolutamente tudo. A sensação de me sentir enganado não estava sendo maior do que a sensação de estar me sentindo inútil. Quando foi que minha vida ficou tão em último plano assim? Quando foi que eu larguei de vez em tentar ao menos voltar pra faculdade ou retomar pelo menos um pouco da minha vida de volta?
E tudo isso por culpa dele.
Safaa estava na escola e minhas outras irmãs vinham jantar todo dia pra não deixar minha mãe sozinha. Nesses últimos quatro dias ela foi bem transparente com si mesma e conosco, não estava escondendo a raiva e a tristeza por conta da verdade. Ela também não sabia e quase teve um ataque quando eu apareci do nada, trazendo a bomba junto comigo. O pior mesmo foi que Yaser nem mesmo se deu o trabalho em tentar entrar em contato ou retornar as ligações da minha mãe ou de qualquer um. Voight com certeza o avisou que já sabíamos de tudo e mesmo assim ele simplesmente não se importou em aparecer pra tentar se explicar.
Dias atrás, quando mais uma vez Paul apareceu pra tornar tudo um inferno, eu não imaginava que a verdade viria de uma forma tão desgraçada. Ele não me contou todos os detalhes mas deixou claro quem poderia me contar. Antes de vir embora eu nem mesmo precisei pedir pela verdade porque Voight esclareceu tudo de uma vez porque literalmente já não tinha mais como esconder. Em meio à toda raiva, ele me esclareceu tudo de uma vez e me lembrei que todas as vezes que eu bloqueei a mim mesmo de desconfiar do meu pai foi um erro gigantesco. Wilmer, o sócio dele, nunca teve a culpa como ele sempre alegou, foi exatamente o contrário. Meu pai fez parte dos Ghosts e literalmente quase morreu quando saiu de lá. Quer dizer, ele foi expulso. E preso. Ele conheceu Leon na prisão, que na época era o chefe dos The Lions e que quase matou o meu pai, quase mesmo, afinal, ele era um ex membro dos Ghosts, mas por algum motivo que talvez nem eles entendam, algo aconteceu e Leon enxergou um rastro de utilidade no meu pai e para não matá-lo, fez dele um membro dos The Lions. Isso mesmo. Chega a ser tão ridículo... Leon foi contra tudo o que era permitido pelo meu pai porque ele era uma peça importante pra ele. Paul tinha colocado Leon na cadeia e estava complicado sair. Quer dizer, o dinheiro estava complicado. Meu pai serviu pra contar sobre absolutamente tudo que sabia sobre Paul e os Ghosts, e acredite, ele sabia de muito. Ele era mais que um informante - ou x9. Meu pai saiu primeiro da cadeia e Leon em seguida, e assim ele foi apresentado aos The Lions oficialmente e nem todo mundo o aceitou bem, mas tiveram que suportar.
Sair de uma gangue não é fácil e eu deveria ter sentido pelo menos um pingo de dó pelo o que o meu pai teve que passar pra poder sair, mas eu não senti nada. Ele conheceu minha mãe e aparentemente tinha muita vergonha da sua trajetória nada limpa ou admirável, então ele saiu da gangue, enterrou o próprio passado, abriu um bar e viveu a vida até o dia em que ele decidiu abrir mais um bar e no meio disso quebrou o negócio todo. Ele literalmente poderia ter feito um empréstimo ou qualquer caralho que fosse, mas aí veio Voight, com uma mercadoria gigante e roubada de Paul, pedindo ajuda do meu pai pra poder esconder e despachar, dizendo que o dinheiro que ele receberia por isso seria o dinheiro mais fácil que ele ganharia na vida.
Meu pai poderia ter dito não e Voight poderia ter escolhido outra pessoa, mas não.
Wilmer nunca teve nada a ver com essa história de merda. Quando descobriu aquele endereço dele em Oxford, Voight e meu pai o tiraram de lá rapidamente com medo dele nos contar a verdade. Eles davam proteção à Wilmer porque Paul seria capaz de matá-lo mesmo não tendo envolvimento nenhum com a mercadoria roubada, mas ele era um conhecido do meu pai e isso já bastava pra Paul querer matá-lo. Voight no começo nem mesmo queria me colocar pra trabalhar nos The Lions por pura culpa em ter ferrado meu pai e consequentemente ter ferrado minha vida.
Todo mundo mentiu, todo mundo mesmo.
Eu estava mergulhado em pensamentos que só faziam eu me sentir mais inútil e enganado quando a campainha tocou e eu me senti salvo por um segundo, até abrir a porta e ver Voight.
- O que você tá fazendo aqui?
- Eu preciso falar com você.
- Cara, sério que...
-, é sério de verdade, mais do que você imagina! - ele logo me interrompeu completamente sério e até bruto.
Afinal, o que mais poderia acontecer? Que escolha eu tinha? Simplesmente que se foda. Abri a porta ainda mais, dando espaço pra Voight passar e entrar e logo bati a mesma em seguida. Ficamos ali mesmo, em pé, nos encarando.
- Fala.
- A quase morreu. Paul literalmente falou com todas as letras que o plano era matar ela e eu já te falei isso e vou continuar repetindo pra ver se você entende que nada disso foi culpa dela. - ele iniciou um discurso sério e defensor, o que já estava ficando saturado de ouvir e até pensar.
- Eu nunca disse que foi. - respondi ríspido e respirei fundo, bem fundo mesmo, determinado em caçar paciência dentro de mim mesmo pra aguentar a conversa.
- Mas você veio embora e eu dirigi por quatro horas até chegar aqui pra tentar pelo menos arrumar um pouco dessa bagunça. Você pode ficar bravo comigo, com o seu pai, com Paul, mas não te contou por mal, ela estava perdida!
- Voight, eu...
- Eu sei que você precisa precisa de um tempo e eu entendo completamente, mas eu sei que você sabe que todo mundo vai te decepcionar. sua mãe, seu pai, sua namorada, sua amiga, suas irmãs... Eu não quero tirar a minha culpa ou a de Yaser dessa história porque não tem como, nós erramos pra caralho, mas não. - ele estava determinado de verdade em me convencer daquilo. Por toda a insistência e paciência, eu sabia que ele estava disposto a se esforçar pra defender pelo resto do dia se fosse necessário, mas foda-se, eu estava exausto pra caralho e precisava da porcaria do meu momento também pra colocar a cabeça no lugar.
- Ela escondeu isso de mim! - retruquei resmungão, sentindo como se a minha paciência fosse areia escorrendo pelos meus dedos.
- Porque eu pedi, eu insisti. Ela não queria ser a pessoa responsável por te contar como o seu pai é um verdadeiro filho da puta. Eu pedi pra ela esperar porque pedi pra Yaser te contar a verdade, mas ele não contou, foi usada e ameaçada e tudo saiu do controle. Você pode me culpar e me odiar, eu estou acostumado a viver com erros, olha bem pra mim! Mas ... , sério, você não pode fazer isso com a minha filha.
- Você fala como se ela estivesse morrendo ou sei lá. - respondi seco. Pelo amor de Deus, eu só queria paz! Pensar em era a última coisa que eu queria fazer.
- O lance é que a gente precisa parar de projetar perfeição nas pessoas porque as amamos. Pessoas são suscetíveis a erros. Você também pode magoar quem você ama. cometeu um erro só. - e ele continuou. E eu me irritei.
- Voight, eu já entendi. - bufei irritado, passando a mão pelo rosto.
- E você precisa voltar.
- Eu preciso de um tempo.
- Ela está grávida, .
Minha testa se franziu na maior confusão da minha vida e segundos depois meu celular vibrou no meu bolso e o peguei rapidamente. Era uma mensagem da .
Você tem razão em ir embora, aqui é o lugar onde coisas horríveis acontecem. Você é um sobrevivente no meio de toda essa bagunça, mas é o que dizem: existe clareza no caos. Talvez sua clareza tenha sido ir embora. Eu não sei quanto tempo você pretende ficar em Bradford, mas quero que você se recupere, que sinta a raiva que for e que você consiga lidar com esse turbilhão de sentimentos que provavelmente está sentindo agora. Se eu pudesse, faria tudo diferente, e eu sei que é ridículo dizer isso porque na retrospectiva as coisas sempre parecem óbvias e é fácil descobrir o que eu deveria ter feito quando tudo estava acontecendo, mas agora eu enxergo o meu erro e sei como corrigi-los. Tarde demais, mas eu consigo ver. Espero que você esteja, no mínimo, bem.
's POV
Tudo voltou, e voltou ainda mais forte, mais pesado e incomodando mais. Eu supliquei ao universo durante o banho que me desse uma oportunidade de voltar no tempo, só pra saber se dessa vez eu consigo enxergar algum sinal, perceber alguma coisa, mudar algo, fazer escolhas diferentes, qualquer coisa que me fizesse entender como, quando e porquê eu me tornei uma pessoa... Fodida. Incansavelmente fodida e incomodada com tudo.
Toda a culpa tinha voltado. Todas aquelas sensações ruins que eu achei que tinham melhorado e até sumido, voltaram.
Duas batidas foram dadas na porta e eu rolei os olhos levemente estressada. Voight estava me checando de cinco em cinco minutos. Eu vim embora justamente porque todo o tratamento que estava recebendo de Tia Ellie estava quase me sufocando, mas aqui não é diferente. Tudo bem, só faz um dia que eu voltei e ainda sinto como se algo em mim tivesse sido arrancado, mas toda essa preocupação sobre mim me deixava ainda pior.
Amor é assim mesmo? Vem toda essa dor, essa angústia e essa sensação de que você vai, literalmente, desmontar a qualquer segundo?
Coloquei a escova de cabelos que estava em minha mão na mesa e me levantei preguiçosa, abrindo a porta e encontrando Landon com uma expressão tensa.
Eu tentei fechar a porta no mesmo instante mas ele a segurou, me impedindo de fechá-la completamente.
- , por favor! - ele pediu desesperado.
- Seu fofoqueiro do caralho! - eu gritei brava e cheia de ódio, pensando de verdade por alguns milésimos de segundo se valeria a pena dar um soco na cara dele.
- Eu fiquei preocupado! Eu não te conheço muito bem mas desde que eu cheguei aqui fiquei sabendo que as coisas aqui não andam nada bem e eu vi o quanto aquele telefonema te deixou nervosa! Eu tinha saído do banheiro e te vi, estava indo conversar com você, puxar papo, até que seu celular tocou e tudo rolou. Eu contei pra Voight porque vi o quão apavorada você ficou, e eu sei que não deveria ter me metido, mas... Sei lá. Me desculpa, tá legal?
Ele estava nervoso de verdade. Preocupado. Seu olhar um pouquinho apavorado e atento ao meu me deu uma vontade gigante de chorar. Estava tudo uma merda e não tinha como voltar no tempo, já estava feito. Dei os ombros, jogando a cabeça pra trás e dando um longo suspiro, encostada no batente da porta enquanto Landon permanecia imóvel no segundo e último degrau.
- Já passou, Landon. Já foi. - suspirei derrotada.
- Você me desculpa? - ele perguntou inseguro e incerto se deveria mesmo ter perguntado.
- Vai mudar algo se eu não desculpar? - dei os ombros completamente desanimada e me sentindo uma pessoa terrível, observando Landon assentir positivamente e dar um longo suspiro, coçando a cabeça com confusão no olhar.
- Eu não quero me intrometer, mas já me intrometendo... Você sumiu por dias e também, mas você voltou e Voight e Holt não estão falando sobre isso de jeito nenhum, ent...
- Ele foi embora, Landon. O foi embora, eu fiquei na casa de e agora eu voltei, simples assim. - o interrompi grosseira, respondendo tudo de uma vez.
- O que?
- Ele foi embora.
- Porra! - ele xingou surpreso e confuso, mas logo se recompôs - Se você quiser conversar, pode me chamar, tá legal? Na verdade, eu venho aqui te chamar, pode ser? Podemos sair hoje, tomar algo, andar e conversar se você quiser.
- Landon! - o jeitinho empenhado e perdido dele me fez esquecer um pouco do estresse e me fez gargalhar de verdade pela primeira vez em dias - Eu agradeço por isso, mas agora eu realmente preciso dormir por pelo menos mais umas três horas. - usei meu tom mais tranquilo pra recusar numa boa e eu realmente não estava mentindo, eu precisava mesmo dormir mais.
- Tranquilo! Mas sério, me desculpa mesmo, tá legal? Eu não sabia que causaria tudo isso, e ir embora... Ele não é seu namorado? Como ele vai embora assim? - Landon voltou no assunto ainda indignado e confuso.
- Aparentemente não é mais. - ri fraco completamente sem humor.
- Vou deixar você dormir de novo. A noite eu volto e se você estiver afim, a gente sai!
Eu fechei a porta e estava pronta pra realmente voltar pra cama. Eu deveria visitar minha mãe, contar toda a verdade, chorar e ouvir seus conselhos, mas eu não estava pronta pra contar tudo. Eu não estava pronta pra nada, pra ser sincera. Estava doendo e muito, mas eu queria poder fazer o mesmo que : simplesmente ir embora.
A saudade dele estava esmagadora, mas ele tem o direito de ir. Ele tem o direito de ficar bravo. O erro foi meu e eu tenho que lidar com isso, doendo ou não, me matando de saudade ou não.
Algumas batidas foram dadas na porta novamente e dessa vez com certeza era Voight.
Mas não era.
Eu nem tive condições de abrir a porta inteira porque simplesmente congelei. estava ali, com um corte de cabelo novo. Raspado, pra ser mais exata. Ele continuava lindo, o perfume invadiu minhas narinas de imediato e... Seu semblante não estava nada feliz.
- ... !
- Posso entrar? - ele pediu sério.
- Claro! - eu respondi quase me engasgando de tão nervosa que estava, abrindo a porta completamente e ele entrou, ficando em pé mesmo, encostado no guarda roupa minúsculo que tinha ali.
- Eu sei muito bem o que você quer me perguntar e acho que você deve saber da resposta. Voight foi atrás de mim e aqui estou eu. Ele me contou sobre... a gravidez. - ele me encarava sério, fazendo com que eu quase perdesse todas as forças de tanto nervosismo que se apossou do meu corpo.
- É claro que ele contou! - resmunguei baixo.
- , há quanto tempo você sabe disso? - ele perguntou visivelmente sem graça, após clarear a garganta para chamar minha atenção e eu semicerrei os olhos no mesmo instante, ligando um ponto à outro e chegando numa conclusão rápida que me desesperou.
- NÃO! - eu gritei de imediato - Você não vai fazer isso! Você vai achar ruim que eu escondi isso de você, vai me cobrar e culpar como se isso fosse fazer alguma diferença!
- Do que você tá falando? Eu só quero saber há quanto tempo você sabe disso, e é óbvio que isso faz diferença, mas não porque eu quero te culpar ou te cobrar algo, e sim porque o que aconteceu foi horrível e... O que Paul fez com você foi horrível. Você já sabe há quanto tempo? - ele se defendeu de imediato.
- Eu não quero falar sobre isso.
- ! - ele chamou minha atenção.
- Eu não quero, !
- A gente precisa!
- Eu não quero pensar nisso, eu não quero pensar que estou grávida porque eu não quero estar! Você por acaso está feliz com essa notícia? Eu aposto que não!
- ... O que tá acontecendo?
- Você tá aqui por que exatamente? Você voltou porque Voight te contou do bebê, não é?
- É.
- Eu não quero isso! Eu quero que você sinta toda a raiva que precisar sentir. Eu menti pra você, eu escondi a verdade sobre o seu pai e eu não quero que você chegue aqui e simplesmente ignore isso por causa dessa gravidez!
- Eu estou com raiva, , mas eu também vou ser pai! Eu sei que não é uma notícia fácil, não assim desse jeito e nesse momento, mas precisamos conversar sobre isso! A gente...
- Você foi embora! Eu fiquei aqui quase me afogando nos meus próprios sentimentos! Todas as coisas que eu pensei que não sentiria de novo, voltaram com uma força absurda e parece que agora não tem como escapar disso. Eu fiz algo ruim, eu menti pra você, eu estou em um lugar onde apenas coisas ruins acontecem e o pior é que muita gente depende disso aqui. Eu não quero enxergar o mundo desse jeito e eu não quero sentir tudo o que eu estou sentindo e muito menos pensar que eu vou ter um bebê no meio dessa bagunça! Não tem um lado bom em nada disso, , e eu sei que quando conversarmos você vai tentar inventar um e o seu trabalho não é fazer notícias ruins soarem melhores. Você deveria... Ter ficado em Bradford!
- , por que você tá se culpando tanto assim? - e pronto, essa pergunta foi o auge pra mim.
- Porque eu sou assim, !
——
- O que você mais gostou do seu último relacionamento? - Glenn perguntou segurando o riso.
- O fim dele.
- Eu percebi pelo tanto de música triste que você me mandou. - a expressão de Glenn me fez rir alto.
Eu estava, mais uma vez, de volta à casa de . Eu corri pra cá assim que minha conversa com terminou mas não pretendia ficar pra passar a noite, mas eu precisava sair de lá, sair de perto dele. Quer dizer... Tudo o que eu mais queria era ficar perto dele, de verdade, mas simplesmente não dá. O peso nas minhas costas me força a acreditar que não é o ideal ficarmos juntos, não agora, não assim. E tudo bem. Toda essa culpa e esses sentimentos ruins sempre me acompanharam, o que é ridículo, certo? Eu tenho uma mãe incrível, um tio que é meu pai e me ama muito, uma melhor amiga fantástica como e ainda assim eu sempre senti que algo estava fora do lugar. Desconectado. Fora de sintonia.
e Glenn estavam conversando por chamada de vídeo há longos minutos, falando sobre futuros trabalhos juntos e algumas coisas pessoais. Glenn era extremamente simpático e acessível. O jeito que ele conversava com era completamente amigável.
A porta foi aberta e a figura de Voight se revelou.
- Você vai ficar? - ele perguntou discreto quando notou que estava em frente ao notebook conversando.
- Não.
- Eu vim porque Ellie me chamou pra jantar, mas que tal nós dois sairmos pra jantar juntos? Podemos até ir naquela lanchonete que vende os donuts que você gosta!
Eu me levantei de imediato. Não só pelos donuts, mas sim porque teria que ir mesmo. Me despedi com beijos no ar pra , que devolveu do mesmo jeito e gritou pra eu ligar caso acontecesse qualquer coisa. Voight e eu descemos as escadas e nos despedimos, saindo dali e entrando no carro, não demorando em chegar na lanchonete de tão rápido que ele dirigiu.
Eu realmente estava com fome. Um lanche já tinha sido comido e eu estava no meu segundo donut recheado. Voight falava sobre coisas aleatórias e eu sabia que ele só estava preparando o terreno pra entrar em certo assunto que exigia mais seriedade. Ele me olhava com tanto cuidado que me deixava sem jeito. Ele estava cuidando de mim, foi até atrás de , e mesmo não sendo o ideal, ele fez na melhor das intenções e tenho certeza disso. Meses atrás eu surtaria com ele e questionaria o motivo dele ter se metido e contado pra sobre a gravidez, mas não, pelo menos não mais. O amor e preocupação de Voight eram coisas realmente genuínas e eu estava exausta de brigar com ele.
- Esse bebê já tá comendo pra caramba. - ele brincou bem humorado mas visivelmente um pouco inseguro também e o seu sorriso sumiu assim que ele notou que eu nem tinha esboçado qualquer expressão sobre a brincadeira.
- É.
- Está pensando em contar pra sua mãe?
- Não.
- ...
- Eu tô cansada, não quero pensar nisso agora.
- Eu imagino.
- Eu disse que ele estava certo em ir embora. Eu disse que aqui é o lugar onde coisas terríveis acontecem. - falei de uma vez.
- Você está certa nisso, mas não completamente. Tenho muitas lembranças de pessoas, de momentos... Coisas que perdi para sempre e que talvez eu nunca supere, mas também tenho outras lembranças. Foi aqui que eu conheci sua mãe, foi aqui que eu ganhei você, foi aqui que encontrei a minha família e foi aqui que aprendi a ser uma pessoa. A ter responsabilidade com a vida alheia. Esse lugar me deu o mesmo tanto que me tirou.
- Você viveu o mesmo tanto que sobreviveu.
- Tudo depende da forma que você for analisar.
- Eu não quero precisar de uma grande perda pra ver o lado bom de tudo isso, entende? Eu só queria... Sei lá. Eu menti pro e ele deveria estar bravo comigo. Eu mesma estou brava comigo! Ele não pode simplesmente ignorar o que eu fiz e...
- , você está se escutando? - ele me cortou sério - Errado é enganar de propósito na intenção de magoar, mentir, trapacear, dar rasteira no sentimento alheio. O que você fez não foi nada disso e você sabe. Essa sua raiva e essa sua necessidade de ser punida não tem nada a ver com o , e sim consigo mesma. Eu te conheço!
- Você...
- Eu sou seu pai. Eu sei de tudo.
- É que... - bufei irritada e derrotada - Coisas ruins vão continuar acontecendo. Eu não vou mentir, eu não estou nenhum pouco feliz com essa gravidez e minha mãe provavelmente vai arrancar o meu pescoço por isso, mas o pior é o momento! Paul não vai parar de nos infernizar e eu não quero correr algum risco, entende? Eu não quero ter que tomar um susto, ser sequestrada ou quase ser morta pra me preocupar com esse bebê e o instinto maternal chegar no meio dessa confusão, sabe? Eu só quero um pouco de paz e de... sei lá, luz. Eu preciso me organizar.
- Você sabe que eu sempre vou estar aqui pra você, não sabe? Assim como Holt, Ellie, , e todo o resto, mas eu sei que temos que separar algumas coisas às vezes. Talvez só apoio familiar não seja o que você precisa, . - ele me lançou o olhar que eu conhecia bem.
- Você também acha que eu devo voltar pra terapia, não é?
- Pra ser sincero, eu acho que todo mundo precisa, e esse é um momento delicado e você precisa de alguém que te oriente com sabedoria.
- Você é...
- Incrível? Eu sei. - ele desmanchou em risos - E eu prometo que vou resolver toda essa história com Paul o mais rápido possível. E só pra deixar claro, tenho certeza que sua mãe vai ficar alegre com a notícia do netinho ou netinha.
- E você está?
- Claro! Eu sei que não é o melhor momento pra isso e você com certeza queria fazer muitas coisas antes de ser mãe, mas eu acho que você vai se dar muito bem nisso, . Você vai ser uma mãe incrível.
Mas eu não queria ser. Eu não queria pensar em ser. Não agora.
Nossa conversa tomou rumos aleatórios e Voight soube me distrair como ninguém. Em meio ao caos, ele teve um tempinho pra mim que valeu mais do que qualquer outra coisa, de verdade. Assim que voltamos, eu relutei em sair do carro. Teria , teria toda a tensão em relação à Paul, tinha... tudo.
- Eu posso... não trabalhar hoje? - pedi sem graça e feito uma criança ao mesmo tempo.
- Claro.
Ele entrelaçou nossos braços e entramos ali juntinhos de maneira nunca vista.
- Meu Deus, essa é a ? - um homem completamente bem vestido, com a barba curta porém branca e o cabelo grisalho estava ali do lado do portão. Ele não parecia tão velho assim e a sua voz era rouca.
- Quem é ele? - sussurrei pra Voight ainda encarando o homem.
- Esse é o Leon. - meus olhos se arregalaram no mesmo instante com a resposta.
- É você! - eu apontei pra Leon atenta e até chocada.
- Eu mesmo! - ele riu de maneira engraçada e por um segundo me senti ridícula por agir como se ele fosse alguém impossível de se ver até então.
O olhar dos dois me lançou o óbvio. Holt estava na porta do escritório olhando tudo de longe e os esperando. Eu não ousaria me meter no tal assunto nem em pensamento, mas dessa vez foi diferente, eu não senti que algo seria escondido de mim, seja qual fosse o tal assunto.
Continuei meu caminho com passos largos, encontrando rindo alto enquanto comia algo com Shyla em uma das mesas. Meu coração gelou. Não de ciúmes, não de paranóia, mas sim de saudade e... culpa.
Tratei de acelerar o passo ainda mais, vendo se levantando e me olhando, mas desviei o olhar rapidamente e entrei em meu trailer de uma vez, com a respiração descompassada como se tivesse corrido horrores.
E tudo pareceu reagir de madrugada. A consciência, os sentimentos, as sensações, as emoções. Cada pequena parte do meu corpo parecia chorar junto comigo. Eu não queria nada que fosse intelectual, esperançoso, formal e confortável. Eu queria sentir a dor. Quer dizer, eu precisava. Não porque eu simplesmente quero, mas porque é necessário. Eu entendo que não dá pra simplesmente pular a fase ruim do desconforto e da agonia, então eu chorei. Muito. Demais. Meu Deus... Como dói quando se abre uma ferida. É completamente aceitável não querer ver o que está por baixo porque sabemos que vai estar feio e machucado demais.
Ou talvez não seja nem o medo da dor e do choque de olharmos a ferida. Talvez o medo seja só perceber que pode realmente se curar.
——
Dois dias e eu nem mesmo estava saindo do trailer direito. me deixou em paz durante esses dois dias e eu não parei de pensar em como talvez ele deva estar se sentindo. Muita coisa aconteceu com nós dois, juntos e separados. Não precisava de muito pra saber que ele provavelmente ainda estava morrendo de raiva de Voight por ter acobertado a mentira de Yaser, mas ele ainda estava aqui. Talvez ele simplesmente quis ficar ou talvez ele esteja esperando uma reação minha, uma conversa.
Hoje eu enxergo que desde sempre o tratamento de Voight com sempre foi uma coisa mais cuidadosa e agora eu entendo. Será que também entende? Será que ele pelo menos enxerga que mesmo errando, isso tudo não foi culpa de Voight?
Sério, eu queria saber. Eu quero. Eu quero estar com ele, quero conversar, eu quero tudo. E ao mesmo tempo eu acho que simplesmente é menos pior se ficarmos separados.
Já passava de duas da tarde quando levantei e tomei um banho demorado. Eu estava morrendo de preguiça mas juntei o mínimo de disposição que tinha pra sair e comprar comida de verdade, nada de donuts ou lanche. Então eu pensei em pedir algo, muito mais fácil e eu não teria que sair e correr risco de Paul me achar por aí. Ah sim, eu estou com medo. Apavorada. O tempo todo.
A ideia de que de alguma forma Paul ainda estava me controlando esquentou meu corpo de raiva. Foda-se. Peguei algumas notas, enfiei no bolso e saí do meu trailer, mesmo sem coragem nenhuma, porém com muita raiva.
- !!! - a voz completamente embriagada e arrastada de Landon me fez parar de andar no mesmo instante e virar pra trás, observando ele intercalar o olhar entre o degrau que ele pisava com dificuldade, a garrafa de bebida em sua mão e em mim. Pra piorar, ele estava saindo do trailer da Shyla.
- Landon, pelo amor de Deus, o que você tá fazendo? - eu dei passos rápidos até alcançar ele, que quase caiu ao descer completamente e eu olhei rapidamente dentro do trailer e não tinha absolutamente ninguém - Landon, cadê a Shyla? Onde você achou isso? - eu encarei a garrafa de vodka em sua mão sem entender absolutamente nada enquanto ele sorria.
- VOCÊ QUER? - ele berrou risonho apontando pra garrafa, cambaleando pra lá e pra cá.
- Não Landon, eu não quero. - respondi chateada, observando o quão bêbado ele estava e já imaginando o quanto ele mesmo ficaria chateado com a própria recaída - Eu já venho! - dei alguns passos pra trás, pronta pra chamar Voight ou Holt, até encontrar , Shyla, Cohen e Scott assim que me virei.
Shyla veio correndo com os olhos arregalados quando notou a porta do seu trailer aberta. Landon virou a garrafa na boca e bebeu o resto que tinha e jogou a mesma no chão com irritação.
- COMO VOCÊ ENTROU? - Shyla gritou estressada, saindo do trailer com mais algumas garrafas pequenas de bebida vazias em suas mãos.
- Eu entrei... E bebi... Não sei. Eu só entrei. Você deve ter sido burra e deixado a porta aberta. - Landon gargalhou como se aquilo realmente fosse engraçado e ninguém estava com uma expressão boa em seus rostos.
- Ok, chega, vamos...
- SAI! - Landon berrou nervoso assim que ameaçou em se aproximar dele.
- Cara, é sério, a gente só quer te ajudar. - Cohen se aproximou também.
- Vem logo antes que alguém te veja assim! - se aproximou ainda mais, pegando no braço de Landon e tentando colocar em seu ombro pra ajudá-lo a andar, mas Landon o deu uma cabeçada. A porra de uma cabeçada!
- LANDON! - Shyla gritou em repreensão e susto, correndo junto comigo até . Ela pareceu sem graça quando me encarou, dando um passo pra trás e voltando a atenção pra Landon.
- Meu Deus! Machucou? - fiz uma careta de dor enquanto massageava a testa, me encarando de canto sem me dar muita bola.
- É melhor você chamar o Voight pra ele ver o estado desse cara pra poder ajudar ele depois. Essa clínica de reabilitação não deve ter ajudado muito. - ele respondeu grosseiro e eu fui compreensiva no mesmo instante, afinal, ele tinha acabado de levar uma cabeçada, mas ainda assim me doeu a alma o seu tom frio.
- Clínica de reabilitação não faz milagre, é um processo. - respondi baixo e suave - Tá doendo?
- , vai chamar o Voight! - ele repetiu ainda grosso, só que um pouco mais alto e tirando a mão da festa, me encarando feio também.
E eu fui rapidinho, não só porque ele disse, mas sim porque doeu ainda mais ser tratada daquele jeito. Eu chamei Voight e Holt, que saíram do escritório bufando e xingando, e assim que nos aproximamos novamente, Scott e Cohen estavam praticamente carregando Landon e estava entrando e fechando a porta do trailer de Shyla.
Completamente inquieta, sem sono e sendo martelada pelos meus próprios pensamentos. Olhei meu celular pela milésima vez. Uma e meia da manhã. tinha ficado até meia noite e me distraído horrores com todas as novidades em relação às músicas novas com Glenn, pedindo demissão do trabalho e também compartilhando a raiva por Paul e o apoio que me deu em relação ao bebê e a também, dizendo que eu tinha que falar com ele.
E tinha mesmo.
Levantei e fui no banheiro, determinada a esperar chegar pra conversar com ele. Por incrível que pareça ele também estava trabalhando como se nada tivesse acontecido. Cohen e Scott estavam sendo os companheiros dele enquanto eu só estava dentro da droga do meu trailer pensando no que não devia. Assim que saí do banheiro dei uma olhadinha no muro onde ele e os garotos gostavam de grafitar e não tinha nada novo ali. Simplesmente parecia que algumas coisas estavam desaparecendo ou morrendo e a sensação de estar perdendo o controle de tudo me dominou de novo. Andei com passos largos de volta e por ironia ou sorte do destino, a porta do trailer de estava aberta e eu não perdi um segundo, andando rápido até a mesma e pronta pra entrar com tudo e ter uma conversa séria, mas assim que cheguei na porta, já estava na ponta, pronto pra colocar o pé no primeiro degrau.
- Ei! - chamei sua atenção num tom suave e observando que ele levou um pequeno susto - Você não foi trabalhar hoje? - perguntei energizada e ele ainda tinha a expressão levemente assustada e confusa, sem saber o que falar direito e eu simplesmente tirei forças do além porque tudo o que eu queria era falar - Bem, não importa, o importante é que eu quero conversar com você. Eu sei que as coisas estão complicadas e... É difícil, você sabe, não sabe? Eu andei pensando e acho que sei quando aconteceu. Digo, a gravidez. Aquela semana em que eu estava doente, tomando os antibióticos e bla bla bla, pensando agora, eu acho que... - olhava pra trás a todo segundo e de maneira inquieta ele tentou fechar a porta mas eu subi o primeiro degrau rapidamente, ficando poucos centímetros mais baixa do que ele - Será que eu posso entrar? Eu realmente quero falar com você.
Ele deu um longo e fundo suspiro, daqueles que você precisa dar quando está prestes a se explicar de algo.
- , a Shyla está dormindo na minha cama, e antes que você surte e pense alguma besteira, eu só trouxe ela pra dormir aqui porque ela provavelmente perdeu a chave ou sei lá. Eu estava justamente saindo quando você chegou e é isso o que eu vou fazer agora, beleza? - ele falou quase que pausadamente como se eu fosse uma criança e meu coração gelou no mesmo instante.
- Que?
Ele fez um sinal com a mão pra que eu descesse do degrau e eu obedeci. fechou a porta e ficou de frente pra mim, sério, lindo, cheiroso e com o olhar cheio de informação.
- Ela tava num bar bebendo, enchendo a cara de verdade. Eu já tava na rua quando ela me ligou, mas na verdade não era ela, e sim uma bartender que ligou dizendo que ela não tinha condições nenhuma de ir embora sozinha. Eu busquei ela e a situação tava feia mesmo, por sorte a bartender se preocupou o suficiente com ela pra ligar pra alguém ir ajudar. Ela dormiu no carro mesmo, eu tive que trazer ela no colo e coloquei na minha cama porque eu não tenho como abrir o trailer dela.
- Por que ela tava bebendo?
- Eu não sei. Ela ficou muito chateada com o que aconteceu com Landon mais cedo, de alguma forma ela tava se culpando por ter bebidas dentro do próprio trailer e por ele ter invadido e bebido tudo.
- Mas ela não teve culpa! Ela foi encher a cara porque se sentiu culpada por Landon encher a cara? É isso? - franzi a testa desacreditada no que tinha acabado de ouvir.
- Bem familiar, não acha? - me lançou um olhar junto com um tom de voz irônico.
- O que você quer dizer com isso? - cruzei os braços, dando um passo à frente, ficando ainda mais perto dele.
- Que você foi machucada e agora tá me machucando também, .
- Eu não...
- Você sabe como é difícil pra mim ainda estar aqui? Eu não quero competir e medir nossas desgraças, , mas eu também perdi um monte! Meu pai era o homem que eu mais amava e admirava na vida e da noite pro dia eu descobri que ele não é nada disso! Eu não te culpo por ter escondido isso de mim e eu sei que fui muito duro em ir embora daquele jeito dias atrás, mas eu tava extremamente nervoso com tudo, só que eu voltei! Eu voltei por você e pelo bebê e tudo o que você fez até agora foi me evitar. - ele esbravejou nervoso.
- Eu só queria colocar a minha cabeça no lugar! - eu respondi quase que num sussurro.
- Isso não vai acontecer da noite pro dia, ! Nem pra você e nem pra mim, mas isso não significa que não podemos fazer isso juntos!
- , é uma criança! Eu não queria isso agora! Eu preciso processar e... Meu Deus, a gente não fez quase nada ainda! Eu pensei que seria eu e você por tanto tempo por aí acampando em vários lugares, visitando abrigos de animais, plantando árvores talvez, saindo mais pra beber e dançar e puft, um filho!!!
- ...
- Você acha que eu gosto da sensação que eu estou sentindo de que eu estou acabando com a sua vida? Que eu estou te fazendo sofrer? Olha pra esse lugar, ele não nos trouxe quase nada de bom! - eu praticamente berrei e senti minha garganta se fechando.
- Pelo amor de Deus, você tá se ouvindo? Esse lugar me trouxe você, ! Eu estou puto com tudo e não vou negar, mas eu te desculpo completamente por ter escondido o lance do meu pai de mim e você precisa fazer o mesmo! Não adianta você querer se punir e achar que eu vou te punir por isso também porque eu não vou! - ele respondeu mais alto do que eu, num tom completamente nervoso, desesperado e chateado.
- Você...
A figura de Yaser correndo até nós me interrompeu, me tirou o ar e me virou do avesso ao mesmo tempo. Ele literalmente correu tão rápido que eu me assustei. Voight e Holt estavam logo atrás, gritando pra ele parar, mas ele não parou até parar na frente de .
- QUE MERDA É ESSA? - berrou completamente nervoso, como se algo o possuísse de verdade. Quero dizer, óbvio que ele ainda estava com raiva do pai, mas não levou nem um segundo pra ele se exaltar tanto.
- Eu preciso falar com você, eu preciso me explicar, eu preciso! - Yaser quase atropelou as palavras de tão rápido que falava.
Eu fui recuando com passos largos até bater no corpo de Voight, que me abraçou de lado bem forte, como se precisasse de um apoio de verdade. Sua expressão não era das melhores e eu sabia o que estava por vir: confusão.
- AGORA? - gargalhou maléfico e debochado - Depois de todos esses dias? Eu não me importo com o que você tem pra dizer!
- Eu sou o seu pai! - Yaser retrucou com um dedo apontado na cara de e com um passo à frente, tentando mostrar autoritarismo.
- Eu não me importo, eu não quero ouvir! Você mentiu, colocou todo mundo em perigo e... Caralho, você fez tudo isso! Você sabe que minha vida inteira eu quis ser como você, mas hoje eu não consigo imaginar nada pior para ser. Eu não quero te ouvir, eu não quero te ver, eu só quero que você resolva toda essa confusão e me deixe em paz! - os punhos de estavam fechados e ele estava com tanta raiva que algumas lágrimas caíram dos seus olhos. Não eram lágrimas emocionadas ou só de nervosismo, eram lágrimas de ódio mesmo e eu sabia.
- ... - eu sussurrei baixo, com os olhos marejados.
amava o pai, era o seu maior exemplo de vida, de homem, de caráter. Sua raiva é compreensível, eu já estive assim com Voight. Todos nós já fizemos coisas que não são motivo de orgulho, eu entendo isso, entendo de verdade, mas como é que você vive com isso? Como você enfrenta o dia a dia sabendo que você poderia ter feito melhor? Que você deveria ter feito melhor? Será que se arrepender é o suficiente? Um pedido de desculpas quase não muda nada, mas as atitudes mudam, mas e se simplesmente não estiver disposto a isso? E se nada voltar a ser como antes? E se nada melhorar?
E se...
Existem as coisas ruins do amor, de relacionamentos e do convívio diário. Minha rotina estava moldada em ter por perto todo dia, o tempo todo, e agora... Eu estou perdida. E sem ele.
Ele realmente foi embora.
Quatro dias sem ele e eu sentia meu peito doer de verdade, o tipo de dor tão grande que se tornou física. Acho que não há desespero tão absoluto como esse, o desespero da minha primeira grande tristeza amorosa. Eu nunca passei por isso. Eu não sei quando é que se cura disso, e talvez nem saiba. Talvez seja melhor eu não saber. Talvez seja mesmo melhor ficar em Bradford e seguir a vida dele longe, porque sinceramente, o que a vida nos The Lions trouxe de bom pra ele? Absolutamente nada.
foi a melhor coisa que me aconteceu e eu deixei escorrer pelos dedos por não estar acostumada com coisas boas, por não estar acostumada a isso. Eu sei, brigas, discussões e todas as complicações de um namoro fazem parte, mas talvez isso nem mesmo deveria ter começo. Talvez isso tudo tenha acontecido pra chegarmos exatamente onde estamos: separados.
- ? - tia Ellie abriu a porta do quarto e entrou devagar, como se estivesse pisando em ovos - Voight está subindo, ok? - ela avisou baixo, me encarando com aquela cara de dó que eu não aguentava mais.
- Tudo bem.
Ela saiu rápido do quarto e fechou a porta. Me sentei na cama e respirei fundo. Parecia que alguém tinha morrido. Estavam me tratando com tanta delicadeza, dó e cuidado que eu me sentia sufocada. Não que fosse ruim, afinal, era o melhor jeito que encontraram pra lidar comigo, mas eu não deveria merecer todo esse cuidado. Eu cometi uma série de erros que fez meu namorado ir embora e me deixando tão mal a ponto de nem mesmo ter forças pra me levantar da cama direito. Um término é difícil, eu fiz merda, mas não deveria ser assim, não é? Não deveria me deixar tão mal a ponto de me fazer sentir como se minha vida tivesse sido sugada de mim.
- Ei! - Voight abriu a porta com cuidado e entrou com passos leves, sorrindo simpático com um saco em mãos - Trouxe alguns donuts pra você! - ele se sentou na beirada da cama - Mas me conta, está se sentindo melhor?
- Não. - joguei meu corpo pra frente, pegando o saco das mãos dele - Parece que alguém morreu, vocês estão me tratando como um cristal quebrado. - Voight me encarou confuso, provavelmente se perguntando se aquilo se encaixava em ingratidão ou loucura mesmo e prossegui antes do julgamento - Eu sei que vocês estão preocupados, mas eu também fiz merda. Eu não deveria ter sido tão burra como fui e agora foi embora e aconteceu, não adianta, nada vai mudar isso!
- Eu não tenho como tirar esse sentimento de você, mas eu posso estar aqui pra te ouvir. Eu te conheço desde sempre, , e o seu problema não é só ter ido embora, o problema são as coisas que sempre te acompanharam voltarem agora em peso porque ele se foi, não é? - eu estava prestes a abrir o saco pra pegar um donut mas meu corpo congelou com as palavras de Voight, que se arrastou um pouco pela cama, ficando mais próximo a mim - Coisas horríveis aconteceram, filha, e eu quero poder te ajudar. Eu sei que você não queria nada disso mas as opções não eram muito boas, não é mesmo? Agora só me resta estar aqui pra você e é isso o que eu vou fazer.
Existem sentimentos que se recusam a ir embora, e muitas vezes esses sentimentos são como pequenos demônios sussurrando em seu ouvido. Voight realmente me conhecia e confiava em mim. Eu sabia que ele estava se esforçando muito pra não deixar toda a raiva por Paul o dominar, ele até mesmo me contou toda a verdade sobre Leon e... Voight estava sendo Voight, ou seja, ele estava sendo meu pai. Ele realmente estava ali por mim e isso também me esmagou num sentimento bizarro onde eu já não sabia onde ficava a linha da felicidade ou da culpa por ele estar sendo tão bom comigo sem eu merecer. Meus olhos se encheram de lágrimas, as mesmas que eu tinha tentado ignorar o dia todo.
- Eu tô grávida. - um choro dolorido se iniciou e eu sabia que seria uma tarefa difícil parar, mas eu tinha que chorar - E foi embora, minha mãe está presa e Paul não deixa ninguém em paz e eu não consigo entender o motivo. Eu passei a minha vida inteira me sentindo mal por coisas que eu nunca nem entendi direito e agora... Eu simplesmente não aguento mais! Eu não quero que ninguém me console porque eu fiz minhas escolhas e foram escolhas burras e estúpidas, mas eu tô grávida e o foi embora e eu sinto que ele levou minha alma junto!
's POV
Ele não teve o cuidado de tentar evitar uma guerra, no fundo, ele só pensou que talvez pudesse ganhá-la, mesmo sabendo que poderia perder todo o resto: a própria família.
Caralho, ele simplesmente não ligou! Ele mentiu por anos.
Eu me senti um merda em todos os sentidos. Voltar pra Bradford, pra casa da minha mãe, como se eu tivesse perdido absolutamente tudo. A sensação de me sentir enganado não estava sendo maior do que a sensação de estar me sentindo inútil. Quando foi que minha vida ficou tão em último plano assim? Quando foi que eu larguei de vez em tentar ao menos voltar pra faculdade ou retomar pelo menos um pouco da minha vida de volta?
E tudo isso por culpa dele.
Safaa estava na escola e minhas outras irmãs vinham jantar todo dia pra não deixar minha mãe sozinha. Nesses últimos quatro dias ela foi bem transparente com si mesma e conosco, não estava escondendo a raiva e a tristeza por conta da verdade. Ela também não sabia e quase teve um ataque quando eu apareci do nada, trazendo a bomba junto comigo. O pior mesmo foi que Yaser nem mesmo se deu o trabalho em tentar entrar em contato ou retornar as ligações da minha mãe ou de qualquer um. Voight com certeza o avisou que já sabíamos de tudo e mesmo assim ele simplesmente não se importou em aparecer pra tentar se explicar.
Dias atrás, quando mais uma vez Paul apareceu pra tornar tudo um inferno, eu não imaginava que a verdade viria de uma forma tão desgraçada. Ele não me contou todos os detalhes mas deixou claro quem poderia me contar. Antes de vir embora eu nem mesmo precisei pedir pela verdade porque Voight esclareceu tudo de uma vez porque literalmente já não tinha mais como esconder. Em meio à toda raiva, ele me esclareceu tudo de uma vez e me lembrei que todas as vezes que eu bloqueei a mim mesmo de desconfiar do meu pai foi um erro gigantesco. Wilmer, o sócio dele, nunca teve a culpa como ele sempre alegou, foi exatamente o contrário. Meu pai fez parte dos Ghosts e literalmente quase morreu quando saiu de lá. Quer dizer, ele foi expulso. E preso. Ele conheceu Leon na prisão, que na época era o chefe dos The Lions e que quase matou o meu pai, quase mesmo, afinal, ele era um ex membro dos Ghosts, mas por algum motivo que talvez nem eles entendam, algo aconteceu e Leon enxergou um rastro de utilidade no meu pai e para não matá-lo, fez dele um membro dos The Lions. Isso mesmo. Chega a ser tão ridículo... Leon foi contra tudo o que era permitido pelo meu pai porque ele era uma peça importante pra ele. Paul tinha colocado Leon na cadeia e estava complicado sair. Quer dizer, o dinheiro estava complicado. Meu pai serviu pra contar sobre absolutamente tudo que sabia sobre Paul e os Ghosts, e acredite, ele sabia de muito. Ele era mais que um informante - ou x9. Meu pai saiu primeiro da cadeia e Leon em seguida, e assim ele foi apresentado aos The Lions oficialmente e nem todo mundo o aceitou bem, mas tiveram que suportar.
Sair de uma gangue não é fácil e eu deveria ter sentido pelo menos um pingo de dó pelo o que o meu pai teve que passar pra poder sair, mas eu não senti nada. Ele conheceu minha mãe e aparentemente tinha muita vergonha da sua trajetória nada limpa ou admirável, então ele saiu da gangue, enterrou o próprio passado, abriu um bar e viveu a vida até o dia em que ele decidiu abrir mais um bar e no meio disso quebrou o negócio todo. Ele literalmente poderia ter feito um empréstimo ou qualquer caralho que fosse, mas aí veio Voight, com uma mercadoria gigante e roubada de Paul, pedindo ajuda do meu pai pra poder esconder e despachar, dizendo que o dinheiro que ele receberia por isso seria o dinheiro mais fácil que ele ganharia na vida.
Meu pai poderia ter dito não e Voight poderia ter escolhido outra pessoa, mas não.
Wilmer nunca teve nada a ver com essa história de merda. Quando descobriu aquele endereço dele em Oxford, Voight e meu pai o tiraram de lá rapidamente com medo dele nos contar a verdade. Eles davam proteção à Wilmer porque Paul seria capaz de matá-lo mesmo não tendo envolvimento nenhum com a mercadoria roubada, mas ele era um conhecido do meu pai e isso já bastava pra Paul querer matá-lo. Voight no começo nem mesmo queria me colocar pra trabalhar nos The Lions por pura culpa em ter ferrado meu pai e consequentemente ter ferrado minha vida.
Todo mundo mentiu, todo mundo mesmo.
Eu estava mergulhado em pensamentos que só faziam eu me sentir mais inútil e enganado quando a campainha tocou e eu me senti salvo por um segundo, até abrir a porta e ver Voight.
- O que você tá fazendo aqui?
- Eu preciso falar com você.
- Cara, sério que...
-, é sério de verdade, mais do que você imagina! - ele logo me interrompeu completamente sério e até bruto.
Afinal, o que mais poderia acontecer? Que escolha eu tinha? Simplesmente que se foda. Abri a porta ainda mais, dando espaço pra Voight passar e entrar e logo bati a mesma em seguida. Ficamos ali mesmo, em pé, nos encarando.
- Fala.
- A quase morreu. Paul literalmente falou com todas as letras que o plano era matar ela e eu já te falei isso e vou continuar repetindo pra ver se você entende que nada disso foi culpa dela. - ele iniciou um discurso sério e defensor, o que já estava ficando saturado de ouvir e até pensar.
- Eu nunca disse que foi. - respondi ríspido e respirei fundo, bem fundo mesmo, determinado em caçar paciência dentro de mim mesmo pra aguentar a conversa.
- Mas você veio embora e eu dirigi por quatro horas até chegar aqui pra tentar pelo menos arrumar um pouco dessa bagunça. Você pode ficar bravo comigo, com o seu pai, com Paul, mas não te contou por mal, ela estava perdida!
- Voight, eu...
- Eu sei que você precisa precisa de um tempo e eu entendo completamente, mas eu sei que você sabe que todo mundo vai te decepcionar. sua mãe, seu pai, sua namorada, sua amiga, suas irmãs... Eu não quero tirar a minha culpa ou a de Yaser dessa história porque não tem como, nós erramos pra caralho, mas não. - ele estava determinado de verdade em me convencer daquilo. Por toda a insistência e paciência, eu sabia que ele estava disposto a se esforçar pra defender pelo resto do dia se fosse necessário, mas foda-se, eu estava exausto pra caralho e precisava da porcaria do meu momento também pra colocar a cabeça no lugar.
- Ela escondeu isso de mim! - retruquei resmungão, sentindo como se a minha paciência fosse areia escorrendo pelos meus dedos.
- Porque eu pedi, eu insisti. Ela não queria ser a pessoa responsável por te contar como o seu pai é um verdadeiro filho da puta. Eu pedi pra ela esperar porque pedi pra Yaser te contar a verdade, mas ele não contou, foi usada e ameaçada e tudo saiu do controle. Você pode me culpar e me odiar, eu estou acostumado a viver com erros, olha bem pra mim! Mas ... , sério, você não pode fazer isso com a minha filha.
- Você fala como se ela estivesse morrendo ou sei lá. - respondi seco. Pelo amor de Deus, eu só queria paz! Pensar em era a última coisa que eu queria fazer.
- O lance é que a gente precisa parar de projetar perfeição nas pessoas porque as amamos. Pessoas são suscetíveis a erros. Você também pode magoar quem você ama. cometeu um erro só. - e ele continuou. E eu me irritei.
- Voight, eu já entendi. - bufei irritado, passando a mão pelo rosto.
- E você precisa voltar.
- Eu preciso de um tempo.
- Ela está grávida, .
Minha testa se franziu na maior confusão da minha vida e segundos depois meu celular vibrou no meu bolso e o peguei rapidamente. Era uma mensagem da .
's POV
Tudo voltou, e voltou ainda mais forte, mais pesado e incomodando mais. Eu supliquei ao universo durante o banho que me desse uma oportunidade de voltar no tempo, só pra saber se dessa vez eu consigo enxergar algum sinal, perceber alguma coisa, mudar algo, fazer escolhas diferentes, qualquer coisa que me fizesse entender como, quando e porquê eu me tornei uma pessoa... Fodida. Incansavelmente fodida e incomodada com tudo.
Toda a culpa tinha voltado. Todas aquelas sensações ruins que eu achei que tinham melhorado e até sumido, voltaram.
Duas batidas foram dadas na porta e eu rolei os olhos levemente estressada. Voight estava me checando de cinco em cinco minutos. Eu vim embora justamente porque todo o tratamento que estava recebendo de Tia Ellie estava quase me sufocando, mas aqui não é diferente. Tudo bem, só faz um dia que eu voltei e ainda sinto como se algo em mim tivesse sido arrancado, mas toda essa preocupação sobre mim me deixava ainda pior.
Amor é assim mesmo? Vem toda essa dor, essa angústia e essa sensação de que você vai, literalmente, desmontar a qualquer segundo?
Coloquei a escova de cabelos que estava em minha mão na mesa e me levantei preguiçosa, abrindo a porta e encontrando Landon com uma expressão tensa.
Eu tentei fechar a porta no mesmo instante mas ele a segurou, me impedindo de fechá-la completamente.
- , por favor! - ele pediu desesperado.
- Seu fofoqueiro do caralho! - eu gritei brava e cheia de ódio, pensando de verdade por alguns milésimos de segundo se valeria a pena dar um soco na cara dele.
- Eu fiquei preocupado! Eu não te conheço muito bem mas desde que eu cheguei aqui fiquei sabendo que as coisas aqui não andam nada bem e eu vi o quanto aquele telefonema te deixou nervosa! Eu tinha saído do banheiro e te vi, estava indo conversar com você, puxar papo, até que seu celular tocou e tudo rolou. Eu contei pra Voight porque vi o quão apavorada você ficou, e eu sei que não deveria ter me metido, mas... Sei lá. Me desculpa, tá legal?
Ele estava nervoso de verdade. Preocupado. Seu olhar um pouquinho apavorado e atento ao meu me deu uma vontade gigante de chorar. Estava tudo uma merda e não tinha como voltar no tempo, já estava feito. Dei os ombros, jogando a cabeça pra trás e dando um longo suspiro, encostada no batente da porta enquanto Landon permanecia imóvel no segundo e último degrau.
- Já passou, Landon. Já foi. - suspirei derrotada.
- Você me desculpa? - ele perguntou inseguro e incerto se deveria mesmo ter perguntado.
- Vai mudar algo se eu não desculpar? - dei os ombros completamente desanimada e me sentindo uma pessoa terrível, observando Landon assentir positivamente e dar um longo suspiro, coçando a cabeça com confusão no olhar.
- Eu não quero me intrometer, mas já me intrometendo... Você sumiu por dias e também, mas você voltou e Voight e Holt não estão falando sobre isso de jeito nenhum, ent...
- Ele foi embora, Landon. O foi embora, eu fiquei na casa de e agora eu voltei, simples assim. - o interrompi grosseira, respondendo tudo de uma vez.
- O que?
- Ele foi embora.
- Porra! - ele xingou surpreso e confuso, mas logo se recompôs - Se você quiser conversar, pode me chamar, tá legal? Na verdade, eu venho aqui te chamar, pode ser? Podemos sair hoje, tomar algo, andar e conversar se você quiser.
- Landon! - o jeitinho empenhado e perdido dele me fez esquecer um pouco do estresse e me fez gargalhar de verdade pela primeira vez em dias - Eu agradeço por isso, mas agora eu realmente preciso dormir por pelo menos mais umas três horas. - usei meu tom mais tranquilo pra recusar numa boa e eu realmente não estava mentindo, eu precisava mesmo dormir mais.
- Tranquilo! Mas sério, me desculpa mesmo, tá legal? Eu não sabia que causaria tudo isso, e ir embora... Ele não é seu namorado? Como ele vai embora assim? - Landon voltou no assunto ainda indignado e confuso.
- Aparentemente não é mais. - ri fraco completamente sem humor.
- Vou deixar você dormir de novo. A noite eu volto e se você estiver afim, a gente sai!
Eu fechei a porta e estava pronta pra realmente voltar pra cama. Eu deveria visitar minha mãe, contar toda a verdade, chorar e ouvir seus conselhos, mas eu não estava pronta pra contar tudo. Eu não estava pronta pra nada, pra ser sincera. Estava doendo e muito, mas eu queria poder fazer o mesmo que : simplesmente ir embora.
A saudade dele estava esmagadora, mas ele tem o direito de ir. Ele tem o direito de ficar bravo. O erro foi meu e eu tenho que lidar com isso, doendo ou não, me matando de saudade ou não.
Algumas batidas foram dadas na porta novamente e dessa vez com certeza era Voight.
Mas não era.
Eu nem tive condições de abrir a porta inteira porque simplesmente congelei. estava ali, com um corte de cabelo novo. Raspado, pra ser mais exata. Ele continuava lindo, o perfume invadiu minhas narinas de imediato e... Seu semblante não estava nada feliz.
- ... !
- Posso entrar? - ele pediu sério.
- Claro! - eu respondi quase me engasgando de tão nervosa que estava, abrindo a porta completamente e ele entrou, ficando em pé mesmo, encostado no guarda roupa minúsculo que tinha ali.
- Eu sei muito bem o que você quer me perguntar e acho que você deve saber da resposta. Voight foi atrás de mim e aqui estou eu. Ele me contou sobre... a gravidez. - ele me encarava sério, fazendo com que eu quase perdesse todas as forças de tanto nervosismo que se apossou do meu corpo.
- É claro que ele contou! - resmunguei baixo.
- , há quanto tempo você sabe disso? - ele perguntou visivelmente sem graça, após clarear a garganta para chamar minha atenção e eu semicerrei os olhos no mesmo instante, ligando um ponto à outro e chegando numa conclusão rápida que me desesperou.
- NÃO! - eu gritei de imediato - Você não vai fazer isso! Você vai achar ruim que eu escondi isso de você, vai me cobrar e culpar como se isso fosse fazer alguma diferença!
- Do que você tá falando? Eu só quero saber há quanto tempo você sabe disso, e é óbvio que isso faz diferença, mas não porque eu quero te culpar ou te cobrar algo, e sim porque o que aconteceu foi horrível e... O que Paul fez com você foi horrível. Você já sabe há quanto tempo? - ele se defendeu de imediato.
- Eu não quero falar sobre isso.
- ! - ele chamou minha atenção.
- Eu não quero, !
- A gente precisa!
- Eu não quero pensar nisso, eu não quero pensar que estou grávida porque eu não quero estar! Você por acaso está feliz com essa notícia? Eu aposto que não!
- ... O que tá acontecendo?
- Você tá aqui por que exatamente? Você voltou porque Voight te contou do bebê, não é?
- É.
- Eu não quero isso! Eu quero que você sinta toda a raiva que precisar sentir. Eu menti pra você, eu escondi a verdade sobre o seu pai e eu não quero que você chegue aqui e simplesmente ignore isso por causa dessa gravidez!
- Eu estou com raiva, , mas eu também vou ser pai! Eu sei que não é uma notícia fácil, não assim desse jeito e nesse momento, mas precisamos conversar sobre isso! A gente...
- Você foi embora! Eu fiquei aqui quase me afogando nos meus próprios sentimentos! Todas as coisas que eu pensei que não sentiria de novo, voltaram com uma força absurda e parece que agora não tem como escapar disso. Eu fiz algo ruim, eu menti pra você, eu estou em um lugar onde apenas coisas ruins acontecem e o pior é que muita gente depende disso aqui. Eu não quero enxergar o mundo desse jeito e eu não quero sentir tudo o que eu estou sentindo e muito menos pensar que eu vou ter um bebê no meio dessa bagunça! Não tem um lado bom em nada disso, , e eu sei que quando conversarmos você vai tentar inventar um e o seu trabalho não é fazer notícias ruins soarem melhores. Você deveria... Ter ficado em Bradford!
- , por que você tá se culpando tanto assim? - e pronto, essa pergunta foi o auge pra mim.
- Porque eu sou assim, !
- O que você mais gostou do seu último relacionamento? - Glenn perguntou segurando o riso.
- O fim dele.
- Eu percebi pelo tanto de música triste que você me mandou. - a expressão de Glenn me fez rir alto.
Eu estava, mais uma vez, de volta à casa de . Eu corri pra cá assim que minha conversa com terminou mas não pretendia ficar pra passar a noite, mas eu precisava sair de lá, sair de perto dele. Quer dizer... Tudo o que eu mais queria era ficar perto dele, de verdade, mas simplesmente não dá. O peso nas minhas costas me força a acreditar que não é o ideal ficarmos juntos, não agora, não assim. E tudo bem. Toda essa culpa e esses sentimentos ruins sempre me acompanharam, o que é ridículo, certo? Eu tenho uma mãe incrível, um tio que é meu pai e me ama muito, uma melhor amiga fantástica como e ainda assim eu sempre senti que algo estava fora do lugar. Desconectado. Fora de sintonia.
e Glenn estavam conversando por chamada de vídeo há longos minutos, falando sobre futuros trabalhos juntos e algumas coisas pessoais. Glenn era extremamente simpático e acessível. O jeito que ele conversava com era completamente amigável.
A porta foi aberta e a figura de Voight se revelou.
- Você vai ficar? - ele perguntou discreto quando notou que estava em frente ao notebook conversando.
- Não.
- Eu vim porque Ellie me chamou pra jantar, mas que tal nós dois sairmos pra jantar juntos? Podemos até ir naquela lanchonete que vende os donuts que você gosta!
Eu me levantei de imediato. Não só pelos donuts, mas sim porque teria que ir mesmo. Me despedi com beijos no ar pra , que devolveu do mesmo jeito e gritou pra eu ligar caso acontecesse qualquer coisa. Voight e eu descemos as escadas e nos despedimos, saindo dali e entrando no carro, não demorando em chegar na lanchonete de tão rápido que ele dirigiu.
Eu realmente estava com fome. Um lanche já tinha sido comido e eu estava no meu segundo donut recheado. Voight falava sobre coisas aleatórias e eu sabia que ele só estava preparando o terreno pra entrar em certo assunto que exigia mais seriedade. Ele me olhava com tanto cuidado que me deixava sem jeito. Ele estava cuidando de mim, foi até atrás de , e mesmo não sendo o ideal, ele fez na melhor das intenções e tenho certeza disso. Meses atrás eu surtaria com ele e questionaria o motivo dele ter se metido e contado pra sobre a gravidez, mas não, pelo menos não mais. O amor e preocupação de Voight eram coisas realmente genuínas e eu estava exausta de brigar com ele.
- Esse bebê já tá comendo pra caramba. - ele brincou bem humorado mas visivelmente um pouco inseguro também e o seu sorriso sumiu assim que ele notou que eu nem tinha esboçado qualquer expressão sobre a brincadeira.
- É.
- Está pensando em contar pra sua mãe?
- Não.
- ...
- Eu tô cansada, não quero pensar nisso agora.
- Eu imagino.
- Eu disse que ele estava certo em ir embora. Eu disse que aqui é o lugar onde coisas terríveis acontecem. - falei de uma vez.
- Você está certa nisso, mas não completamente. Tenho muitas lembranças de pessoas, de momentos... Coisas que perdi para sempre e que talvez eu nunca supere, mas também tenho outras lembranças. Foi aqui que eu conheci sua mãe, foi aqui que eu ganhei você, foi aqui que encontrei a minha família e foi aqui que aprendi a ser uma pessoa. A ter responsabilidade com a vida alheia. Esse lugar me deu o mesmo tanto que me tirou.
- Você viveu o mesmo tanto que sobreviveu.
- Tudo depende da forma que você for analisar.
- Eu não quero precisar de uma grande perda pra ver o lado bom de tudo isso, entende? Eu só queria... Sei lá. Eu menti pro e ele deveria estar bravo comigo. Eu mesma estou brava comigo! Ele não pode simplesmente ignorar o que eu fiz e...
- , você está se escutando? - ele me cortou sério - Errado é enganar de propósito na intenção de magoar, mentir, trapacear, dar rasteira no sentimento alheio. O que você fez não foi nada disso e você sabe. Essa sua raiva e essa sua necessidade de ser punida não tem nada a ver com o , e sim consigo mesma. Eu te conheço!
- Você...
- Eu sou seu pai. Eu sei de tudo.
- É que... - bufei irritada e derrotada - Coisas ruins vão continuar acontecendo. Eu não vou mentir, eu não estou nenhum pouco feliz com essa gravidez e minha mãe provavelmente vai arrancar o meu pescoço por isso, mas o pior é o momento! Paul não vai parar de nos infernizar e eu não quero correr algum risco, entende? Eu não quero ter que tomar um susto, ser sequestrada ou quase ser morta pra me preocupar com esse bebê e o instinto maternal chegar no meio dessa confusão, sabe? Eu só quero um pouco de paz e de... sei lá, luz. Eu preciso me organizar.
- Você sabe que eu sempre vou estar aqui pra você, não sabe? Assim como Holt, Ellie, , e todo o resto, mas eu sei que temos que separar algumas coisas às vezes. Talvez só apoio familiar não seja o que você precisa, . - ele me lançou o olhar que eu conhecia bem.
- Você também acha que eu devo voltar pra terapia, não é?
- Pra ser sincero, eu acho que todo mundo precisa, e esse é um momento delicado e você precisa de alguém que te oriente com sabedoria.
- Você é...
- Incrível? Eu sei. - ele desmanchou em risos - E eu prometo que vou resolver toda essa história com Paul o mais rápido possível. E só pra deixar claro, tenho certeza que sua mãe vai ficar alegre com a notícia do netinho ou netinha.
- E você está?
- Claro! Eu sei que não é o melhor momento pra isso e você com certeza queria fazer muitas coisas antes de ser mãe, mas eu acho que você vai se dar muito bem nisso, . Você vai ser uma mãe incrível.
Mas eu não queria ser. Eu não queria pensar em ser. Não agora.
Nossa conversa tomou rumos aleatórios e Voight soube me distrair como ninguém. Em meio ao caos, ele teve um tempinho pra mim que valeu mais do que qualquer outra coisa, de verdade. Assim que voltamos, eu relutei em sair do carro. Teria , teria toda a tensão em relação à Paul, tinha... tudo.
- Eu posso... não trabalhar hoje? - pedi sem graça e feito uma criança ao mesmo tempo.
- Claro.
Ele entrelaçou nossos braços e entramos ali juntinhos de maneira nunca vista.
- Meu Deus, essa é a ? - um homem completamente bem vestido, com a barba curta porém branca e o cabelo grisalho estava ali do lado do portão. Ele não parecia tão velho assim e a sua voz era rouca.
- Quem é ele? - sussurrei pra Voight ainda encarando o homem.
- Esse é o Leon. - meus olhos se arregalaram no mesmo instante com a resposta.
- É você! - eu apontei pra Leon atenta e até chocada.
- Eu mesmo! - ele riu de maneira engraçada e por um segundo me senti ridícula por agir como se ele fosse alguém impossível de se ver até então.
O olhar dos dois me lançou o óbvio. Holt estava na porta do escritório olhando tudo de longe e os esperando. Eu não ousaria me meter no tal assunto nem em pensamento, mas dessa vez foi diferente, eu não senti que algo seria escondido de mim, seja qual fosse o tal assunto.
Continuei meu caminho com passos largos, encontrando rindo alto enquanto comia algo com Shyla em uma das mesas. Meu coração gelou. Não de ciúmes, não de paranóia, mas sim de saudade e... culpa.
Tratei de acelerar o passo ainda mais, vendo se levantando e me olhando, mas desviei o olhar rapidamente e entrei em meu trailer de uma vez, com a respiração descompassada como se tivesse corrido horrores.
E tudo pareceu reagir de madrugada. A consciência, os sentimentos, as sensações, as emoções. Cada pequena parte do meu corpo parecia chorar junto comigo. Eu não queria nada que fosse intelectual, esperançoso, formal e confortável. Eu queria sentir a dor. Quer dizer, eu precisava. Não porque eu simplesmente quero, mas porque é necessário. Eu entendo que não dá pra simplesmente pular a fase ruim do desconforto e da agonia, então eu chorei. Muito. Demais. Meu Deus... Como dói quando se abre uma ferida. É completamente aceitável não querer ver o que está por baixo porque sabemos que vai estar feio e machucado demais.
Ou talvez não seja nem o medo da dor e do choque de olharmos a ferida. Talvez o medo seja só perceber que pode realmente se curar.
Dois dias e eu nem mesmo estava saindo do trailer direito. me deixou em paz durante esses dois dias e eu não parei de pensar em como talvez ele deva estar se sentindo. Muita coisa aconteceu com nós dois, juntos e separados. Não precisava de muito pra saber que ele provavelmente ainda estava morrendo de raiva de Voight por ter acobertado a mentira de Yaser, mas ele ainda estava aqui. Talvez ele simplesmente quis ficar ou talvez ele esteja esperando uma reação minha, uma conversa.
Hoje eu enxergo que desde sempre o tratamento de Voight com sempre foi uma coisa mais cuidadosa e agora eu entendo. Será que também entende? Será que ele pelo menos enxerga que mesmo errando, isso tudo não foi culpa de Voight?
Sério, eu queria saber. Eu quero. Eu quero estar com ele, quero conversar, eu quero tudo. E ao mesmo tempo eu acho que simplesmente é menos pior se ficarmos separados.
Já passava de duas da tarde quando levantei e tomei um banho demorado. Eu estava morrendo de preguiça mas juntei o mínimo de disposição que tinha pra sair e comprar comida de verdade, nada de donuts ou lanche. Então eu pensei em pedir algo, muito mais fácil e eu não teria que sair e correr risco de Paul me achar por aí. Ah sim, eu estou com medo. Apavorada. O tempo todo.
A ideia de que de alguma forma Paul ainda estava me controlando esquentou meu corpo de raiva. Foda-se. Peguei algumas notas, enfiei no bolso e saí do meu trailer, mesmo sem coragem nenhuma, porém com muita raiva.
- !!! - a voz completamente embriagada e arrastada de Landon me fez parar de andar no mesmo instante e virar pra trás, observando ele intercalar o olhar entre o degrau que ele pisava com dificuldade, a garrafa de bebida em sua mão e em mim. Pra piorar, ele estava saindo do trailer da Shyla.
- Landon, pelo amor de Deus, o que você tá fazendo? - eu dei passos rápidos até alcançar ele, que quase caiu ao descer completamente e eu olhei rapidamente dentro do trailer e não tinha absolutamente ninguém - Landon, cadê a Shyla? Onde você achou isso? - eu encarei a garrafa de vodka em sua mão sem entender absolutamente nada enquanto ele sorria.
- VOCÊ QUER? - ele berrou risonho apontando pra garrafa, cambaleando pra lá e pra cá.
- Não Landon, eu não quero. - respondi chateada, observando o quão bêbado ele estava e já imaginando o quanto ele mesmo ficaria chateado com a própria recaída - Eu já venho! - dei alguns passos pra trás, pronta pra chamar Voight ou Holt, até encontrar , Shyla, Cohen e Scott assim que me virei.
Shyla veio correndo com os olhos arregalados quando notou a porta do seu trailer aberta. Landon virou a garrafa na boca e bebeu o resto que tinha e jogou a mesma no chão com irritação.
- COMO VOCÊ ENTROU? - Shyla gritou estressada, saindo do trailer com mais algumas garrafas pequenas de bebida vazias em suas mãos.
- Eu entrei... E bebi... Não sei. Eu só entrei. Você deve ter sido burra e deixado a porta aberta. - Landon gargalhou como se aquilo realmente fosse engraçado e ninguém estava com uma expressão boa em seus rostos.
- Ok, chega, vamos...
- SAI! - Landon berrou nervoso assim que ameaçou em se aproximar dele.
- Cara, é sério, a gente só quer te ajudar. - Cohen se aproximou também.
- Vem logo antes que alguém te veja assim! - se aproximou ainda mais, pegando no braço de Landon e tentando colocar em seu ombro pra ajudá-lo a andar, mas Landon o deu uma cabeçada. A porra de uma cabeçada!
- LANDON! - Shyla gritou em repreensão e susto, correndo junto comigo até . Ela pareceu sem graça quando me encarou, dando um passo pra trás e voltando a atenção pra Landon.
- Meu Deus! Machucou? - fiz uma careta de dor enquanto massageava a testa, me encarando de canto sem me dar muita bola.
- É melhor você chamar o Voight pra ele ver o estado desse cara pra poder ajudar ele depois. Essa clínica de reabilitação não deve ter ajudado muito. - ele respondeu grosseiro e eu fui compreensiva no mesmo instante, afinal, ele tinha acabado de levar uma cabeçada, mas ainda assim me doeu a alma o seu tom frio.
- Clínica de reabilitação não faz milagre, é um processo. - respondi baixo e suave - Tá doendo?
- , vai chamar o Voight! - ele repetiu ainda grosso, só que um pouco mais alto e tirando a mão da festa, me encarando feio também.
E eu fui rapidinho, não só porque ele disse, mas sim porque doeu ainda mais ser tratada daquele jeito. Eu chamei Voight e Holt, que saíram do escritório bufando e xingando, e assim que nos aproximamos novamente, Scott e Cohen estavam praticamente carregando Landon e estava entrando e fechando a porta do trailer de Shyla.
Completamente inquieta, sem sono e sendo martelada pelos meus próprios pensamentos. Olhei meu celular pela milésima vez. Uma e meia da manhã. tinha ficado até meia noite e me distraído horrores com todas as novidades em relação às músicas novas com Glenn, pedindo demissão do trabalho e também compartilhando a raiva por Paul e o apoio que me deu em relação ao bebê e a também, dizendo que eu tinha que falar com ele.
E tinha mesmo.
Levantei e fui no banheiro, determinada a esperar chegar pra conversar com ele. Por incrível que pareça ele também estava trabalhando como se nada tivesse acontecido. Cohen e Scott estavam sendo os companheiros dele enquanto eu só estava dentro da droga do meu trailer pensando no que não devia. Assim que saí do banheiro dei uma olhadinha no muro onde ele e os garotos gostavam de grafitar e não tinha nada novo ali. Simplesmente parecia que algumas coisas estavam desaparecendo ou morrendo e a sensação de estar perdendo o controle de tudo me dominou de novo. Andei com passos largos de volta e por ironia ou sorte do destino, a porta do trailer de estava aberta e eu não perdi um segundo, andando rápido até a mesma e pronta pra entrar com tudo e ter uma conversa séria, mas assim que cheguei na porta, já estava na ponta, pronto pra colocar o pé no primeiro degrau.
- Ei! - chamei sua atenção num tom suave e observando que ele levou um pequeno susto - Você não foi trabalhar hoje? - perguntei energizada e ele ainda tinha a expressão levemente assustada e confusa, sem saber o que falar direito e eu simplesmente tirei forças do além porque tudo o que eu queria era falar - Bem, não importa, o importante é que eu quero conversar com você. Eu sei que as coisas estão complicadas e... É difícil, você sabe, não sabe? Eu andei pensando e acho que sei quando aconteceu. Digo, a gravidez. Aquela semana em que eu estava doente, tomando os antibióticos e bla bla bla, pensando agora, eu acho que... - olhava pra trás a todo segundo e de maneira inquieta ele tentou fechar a porta mas eu subi o primeiro degrau rapidamente, ficando poucos centímetros mais baixa do que ele - Será que eu posso entrar? Eu realmente quero falar com você.
Ele deu um longo e fundo suspiro, daqueles que você precisa dar quando está prestes a se explicar de algo.
- , a Shyla está dormindo na minha cama, e antes que você surte e pense alguma besteira, eu só trouxe ela pra dormir aqui porque ela provavelmente perdeu a chave ou sei lá. Eu estava justamente saindo quando você chegou e é isso o que eu vou fazer agora, beleza? - ele falou quase que pausadamente como se eu fosse uma criança e meu coração gelou no mesmo instante.
- Que?
Ele fez um sinal com a mão pra que eu descesse do degrau e eu obedeci. fechou a porta e ficou de frente pra mim, sério, lindo, cheiroso e com o olhar cheio de informação.
- Ela tava num bar bebendo, enchendo a cara de verdade. Eu já tava na rua quando ela me ligou, mas na verdade não era ela, e sim uma bartender que ligou dizendo que ela não tinha condições nenhuma de ir embora sozinha. Eu busquei ela e a situação tava feia mesmo, por sorte a bartender se preocupou o suficiente com ela pra ligar pra alguém ir ajudar. Ela dormiu no carro mesmo, eu tive que trazer ela no colo e coloquei na minha cama porque eu não tenho como abrir o trailer dela.
- Por que ela tava bebendo?
- Eu não sei. Ela ficou muito chateada com o que aconteceu com Landon mais cedo, de alguma forma ela tava se culpando por ter bebidas dentro do próprio trailer e por ele ter invadido e bebido tudo.
- Mas ela não teve culpa! Ela foi encher a cara porque se sentiu culpada por Landon encher a cara? É isso? - franzi a testa desacreditada no que tinha acabado de ouvir.
- Bem familiar, não acha? - me lançou um olhar junto com um tom de voz irônico.
- O que você quer dizer com isso? - cruzei os braços, dando um passo à frente, ficando ainda mais perto dele.
- Que você foi machucada e agora tá me machucando também, .
- Eu não...
- Você sabe como é difícil pra mim ainda estar aqui? Eu não quero competir e medir nossas desgraças, , mas eu também perdi um monte! Meu pai era o homem que eu mais amava e admirava na vida e da noite pro dia eu descobri que ele não é nada disso! Eu não te culpo por ter escondido isso de mim e eu sei que fui muito duro em ir embora daquele jeito dias atrás, mas eu tava extremamente nervoso com tudo, só que eu voltei! Eu voltei por você e pelo bebê e tudo o que você fez até agora foi me evitar. - ele esbravejou nervoso.
- Eu só queria colocar a minha cabeça no lugar! - eu respondi quase que num sussurro.
- Isso não vai acontecer da noite pro dia, ! Nem pra você e nem pra mim, mas isso não significa que não podemos fazer isso juntos!
- , é uma criança! Eu não queria isso agora! Eu preciso processar e... Meu Deus, a gente não fez quase nada ainda! Eu pensei que seria eu e você por tanto tempo por aí acampando em vários lugares, visitando abrigos de animais, plantando árvores talvez, saindo mais pra beber e dançar e puft, um filho!!!
- ...
- Você acha que eu gosto da sensação que eu estou sentindo de que eu estou acabando com a sua vida? Que eu estou te fazendo sofrer? Olha pra esse lugar, ele não nos trouxe quase nada de bom! - eu praticamente berrei e senti minha garganta se fechando.
- Pelo amor de Deus, você tá se ouvindo? Esse lugar me trouxe você, ! Eu estou puto com tudo e não vou negar, mas eu te desculpo completamente por ter escondido o lance do meu pai de mim e você precisa fazer o mesmo! Não adianta você querer se punir e achar que eu vou te punir por isso também porque eu não vou! - ele respondeu mais alto do que eu, num tom completamente nervoso, desesperado e chateado.
- Você...
A figura de Yaser correndo até nós me interrompeu, me tirou o ar e me virou do avesso ao mesmo tempo. Ele literalmente correu tão rápido que eu me assustei. Voight e Holt estavam logo atrás, gritando pra ele parar, mas ele não parou até parar na frente de .
- QUE MERDA É ESSA? - berrou completamente nervoso, como se algo o possuísse de verdade. Quero dizer, óbvio que ele ainda estava com raiva do pai, mas não levou nem um segundo pra ele se exaltar tanto.
- Eu preciso falar com você, eu preciso me explicar, eu preciso! - Yaser quase atropelou as palavras de tão rápido que falava.
Eu fui recuando com passos largos até bater no corpo de Voight, que me abraçou de lado bem forte, como se precisasse de um apoio de verdade. Sua expressão não era das melhores e eu sabia o que estava por vir: confusão.
- AGORA? - gargalhou maléfico e debochado - Depois de todos esses dias? Eu não me importo com o que você tem pra dizer!
- Eu sou o seu pai! - Yaser retrucou com um dedo apontado na cara de e com um passo à frente, tentando mostrar autoritarismo.
- Eu não me importo, eu não quero ouvir! Você mentiu, colocou todo mundo em perigo e... Caralho, você fez tudo isso! Você sabe que minha vida inteira eu quis ser como você, mas hoje eu não consigo imaginar nada pior para ser. Eu não quero te ouvir, eu não quero te ver, eu só quero que você resolva toda essa confusão e me deixe em paz! - os punhos de estavam fechados e ele estava com tanta raiva que algumas lágrimas caíram dos seus olhos. Não eram lágrimas emocionadas ou só de nervosismo, eram lágrimas de ódio mesmo e eu sabia.
- ... - eu sussurrei baixo, com os olhos marejados.
amava o pai, era o seu maior exemplo de vida, de homem, de caráter. Sua raiva é compreensível, eu já estive assim com Voight. Todos nós já fizemos coisas que não são motivo de orgulho, eu entendo isso, entendo de verdade, mas como é que você vive com isso? Como você enfrenta o dia a dia sabendo que você poderia ter feito melhor? Que você deveria ter feito melhor? Será que se arrepender é o suficiente? Um pedido de desculpas quase não muda nada, mas as atitudes mudam, mas e se simplesmente não estiver disposto a isso? E se nada voltar a ser como antes? E se nada melhorar?
E se...
Capítulo 29
's POV
Eu queria arrancar toda a culpa e angústia que estava sentindo. Eu queria que tudo ficasse bem. Eu queria socar Voight também, mesmo sabendo que o maior culpado dessa porcaria toda era meu pai.
- Ei! - a minha porta estava aberta e Shyla estava no degrau, num jeito envergonhado explícito que a impedia de entrar de vez ali dentro de novo.
Ela tinha acordado há algum tempo e saiu do trailer doida atrás de mim perguntando o que tinha acontecido e ela quase enfiou a cabeça no próprio cu de tanta vergonha. Voight me deixou dormir no quarto que tinha no escritório mas eu mal dormi depois do que aconteceu de madrugada. O cabelo molhado e a roupa trocada de Shyla anunciava o banho recém tomado. A cara de acabada denunciava a ressaca.
- Entra. - fiz um sinal com a mão pra ela entrar, mas ela só encostou no batente da porta.
- Cohen me contou o que aconteceu de madrugada. Você me desculpa? Puta que pariu, eu te dei um baita trabalho e você ainda teve que passar por mais esse sufoco com o seu pai e... Sério, me desculpa, tá legal? Eu não deveria ter bebido tanto, mas...
- Shyla, tá tudo bem! Eu deduzi que você tenha saído pra beber porque ficou se sentindo culpada com o que aconteceu com Landon, mas independente do que seja, já passou e tá tudo bem, de verdade! Eu fico feliz que a bartender tenha me ligado porque algo poderia ter acontecido com você! - a interrompi calmo, num tom de voz suave pra ela se acalmar de vez e entender que estava, de fato, tudo bem entre nós dois.
- Você sabe se vão fazer alguma coisa com ele? - ela mordeu os lábios de maneira apreensiva.
- Vão tentar ajudá-lo de alguma maneira, Shyla. Você não teve culpa do que aconteceu com ele, beleza? Eu juro! - me levantei, parando assim que fiquei de frente pra garota e a abracei sem pensar muito.
passou andando com em direção à saída, e óbvio, nossos olhares se cruzaram de maneira ridícula.
Eu tinha que fazer algo.
- Eu vou procurar ele. - Shyla murmurou ainda no meu abraço e logo afrouxei os braços, a soltando completamente - Obrigada de verdade por ter me buscado e cuidado de mim, . Você tá sendo muito mais que um amigo e eu nem sei como te agradecer! - ela praticamente sussurrou, ainda sem graça e eu dei um sorriso simpático e amigo, dando mais um abraço rápido e companheiro. Shyla estava a cada dia se soltando mais e se revelando uma pessoa incrível. Ela finalmente estava começando a se adaptar e cada um estava tendo um papel importante na adaptação dela.
Eu pensei em ir atrás de e tentar conversar. Eu não fui muito agradável com ela depois do meu pai simplesmente ter aparecido aqui do nada. Mais uma vez, fui cegado por todo o ódio que me consumiu de imediato. O negócio é que...
Meu celular tocou.
- Alô? - atendi direto mesmo não conhecendo o tal número.
- ? Filho? - só podia ser brincadeira.
- Puta que pariu, você é louco ou o que? - berrei enquanto batia a porta com tudo, me sentando na cama com raiva ao ouvir a voz do meu pai do outro lado da linha.
- A gente precisa conversar. Quer dizer, você precisa me ouvir, nem que seja por um minuto, tá bom? Eu... Eu tive que fazer isso! Eu devia um favor pra Leon e eu não podia dizer não! Eu sei que fui um covarde em não contar nem pra sua mãe sobre o meu passado, mas eu tava com vergonha, , vergonha! Nunca foi e nunca vai ser fácil pra mim olhar pra trás e lembrar de tudo o que eu fiz e pior ainda saber tudo o que eu te fiz passar. Me descu...
- Não, eu não vou cair nisso. Você podia até dever um favor pra Leon mas você me viu saindo de casa, viu minhas irmãs e minha mãe sofrerem pelo o que estava te acontecendo. Todos nós achamos que era só uma injustiça, um mal entendido, mas era exatamente o que parecia e não importa o que você fale agora porque já está tudo ferrado. Se você nunca fosse descoberto então nunca contaria a verdade, então não, eu não te desculpo e eu não quero mais falar com você, então nem mesmo tenta me ligar de novo porque eu não vou me dar o trabalho de atender.
Que se foda. Que se foda ele, Voight, Leon... Todo mundo. Por que ele simplesmente não assume a porra da responsabilidade?
Caralho, esse lugar simplesmente não tem salvação, proteção ou algo bom vindo, algo que mude a vida de todos. Simplesmente não tem, e eu juro que não sei como Voight planeja roteger as pessoas com ódio vindo de todos os lados. Por aqui é assim, você escolhe entre uma coisa ruim ou péssima. Não tem pra onde correr, não tem como mudar e dói ir embora do mesmo jeito que dói ficar.
E mesmo no meio desse lixo, eu só preciso de uma coisa. De uma pessoa.
's POV
O tanto que a tia Ellie falou ainda ecoava na minha cabeça. E o assunto veio à tona mais uma vez: "Talvez seja melhor buscar ajuda profissional". Mas dessa vez não foi só pra mim, e sim pra também. Ellie comentou o quão estressada e até agressiva estava e falou delicadamente sobre irmos atrás de terapia, e claro, ela não chegou nessa ideia sozinha, teve um dedinho da minha mãe nessa história. Tia Ellie disse que minha mãe estava me achando diferente há semanas e que não poder cuidar de mim de perto estava acabando com ela.
Por Deus, como é que eu vou contar dessa gravidez? Ela vai pirar de vez!
Mas até que foi... inspirador. Talvez realmente fosse a hora de buscar ajuda profissional pra lidar com toda essa loucura. Talvez fosse a hora de tentar, pelo menos tentar, colocar a cabeça no lugar. Talvez tentar esquecer os erros do passado e começar a pensar nos erros do futuro, até porque eles vão acontecer e não tem como controlar isso.
Tia Ellie me deu uma carona junto com , que estava completamente ciente da minha insegurança de andar na rua como se não tivesse um maluco por aí que me fez de besta e quis me matar. Óbvio que tia Ellie não sabia disso, porque se soubesse contaria pra minha mãe e a última coisa que eu queria era deixá-la preocupada, então ) apenas pediu uma carona até o estúdio e me deixaram em casa. Ou lugar que deveria ser minha casa. Eu não sei como chamar.
Passei pelo portão como um furacão, indo rápido em direção ao escritório.
- Voight, você... O QUE ACONTECEU? - eu gritei com os olhos arregalados enquanto me aproximava rápido dele. Seu rosto estava com varios curativos e alguns pequenos machucados descobertos - Foi o Paul? O que ele te fez? - disparei amedrontada e nervosa, puxando uma cadeira e me sentando ao seu lado, observando cada detalhe do seu corpo, tendo certeza que mais nada estava machucado, pelo menos não aparentemente.
- Não foi ele.
- Como assim não foi ele?
- Foi Leon. - o rosto dele se virou em pura raiva quando me olhou e meus olhos quase pularam de tanto choque.
- O que? Como assim? Por que ele fez isso? Ele é louco?
- , calma! - ele pediu baixo - É assim que funciona. Leon deixou a gangue nas minhas mãos e nas mãos de Holt, e digamos que não seguimos muito bem o que ele pediu.
- E só por isso ele te bateu? Pelo amor de Deus, você cuida de toda essa gente e faz de tudo pra não ter que tomar medidas drásticas na maioria das vezes e ele te bate por isso?
- Isso é uma gangue, , ou você esqueceu? Leon continua sendo maior que eu e ele continua sendo muito mais respeitado.
- Mas você e Holt cuidaram de tudo! - minha voz saiu num sussurro desapontado e indignado.
- Erramos muito também, filha. Você se lembra do Roy? - ele pausou e eu assenti positivamente já com a respiração acelerada - Ele era irmão do Leon, mas ele controlava algumas coisas daqui de longe mesmo, ele estava morando em Wales. Roy não era tão obcecado pela gangue como Leon é, então ele não se importava muito com o jeito que eu estava levando as coisas por aqui, mas ele voltou pra cá pra me ajudar em algumas coisas já que estava perto de Leon sair da prisão, mas mataram ele e... Você sabe, Leon ficou furioso comigo e com Holt e com razão.
- Mas você não teve culpa!
- Não importa! Leon sempre disse que eu sou sentimental demais em relação à família, mas ele também era, até que foi perdendo a família toda e só sobrou o Roy. Ele se focou completamente na gangue e não se importava muito com o próximo, sabe? Ele nunca pensou direito, tanto que teve uma época que ele até vendia carfentanil e não se importava se os jovens do bairro estavam morrendo por isso.
- E ele ainda acha que o seu modo de tocar as coisas por aqui não é o ideal? Meu Deus, ele é um desastre! - eu estava muito indignada.
- Mas ele continua sendo o verdadeiro líder, e eu sei que agora o caos vai ser ainda maior porque Paul mandou matarem ele e quase deu certo, quase mesmo, mas Leon está aqui e eu tenho certeza que tudo vai piorar. - Voight falava e eu sabia que ele estava sentindo inúmeras coisas, mas suas últimas palavras automaticamente me trouxeram um pânico ainda maior.
- Que?
- NÃO! Calma, não foi isso o que eu quis dizer! As coisas aqui no The Lions vão piorar, mas essa confusão toda com Paul eu vou resolver, já estou resolvendo, na verdade! - ele respondeu num rápido desespero em esclarecer tudo e colocou a mão no meu ombro, fazendo um carinho rápido ali.
- Yaser está fazendo a parte dele? - apertei os olhos ao perguntar.
- Ele... - Voight bufou derrotado - Ele está um lixo, , e não estou fazendo isso pra limpar a barra dele, mas sim porque ele realmente tá perdido. Ninguém da família quer falar com ele.
- Mas é óbvio, o que ele esperava? Não quero ser dura demais, mas ele deveria saber que isso aconteceria.
- Não importa, eu vou dar um jeito nisso tudo, eu vou acabar com toda essa palhaçada com Paul e depois eu vou viver minha vida. Ah, e só pra deixar claro, você não precisa se preocupar em trabalhar mais ou algo do tipo, tudo bem? Não quero você nessas ruas durante a madrugada.
- O que??? Você vai... Calma! O que você quer dizer com "vou viver minha vida"? - fiz aspas no ar - E como assim eu não vou mais trabalhar?
- É isso, o meu último trabalho aqui é acabar logo com Paul, e é exatamente o que você ouviu, não precisa mais trabalhar! Eu vou te ajudar no que for preciso com esse bebê e tenho certeza que sua mãe também, ainda mais agora que ela está perto de sair da cadeia!
- Mas como assim? Você pode simplesmente sair da gangue?
- Não, mas eu vou dar meu jeito.
- Voight!
- , eu estou falando sério! Eu não posso mais ficar aqui, eu não aguento mais! Leon voltou e isso aqui é dele, meu trabalho aqui já está feito!
- Mas você cuida tão bem de todo mundo!
- E tá na hora de cuidar bem de você, da sua mãe e do meu neto ou neta!
- Voight...
- Vai dar tudo certo!
Eu saí dali completamente atordoada com milhões de pensamentos. Voight estava pensando em mim, na nossa vida no futuro e já estava até incluindo o meu bebê nos planos. E como um balde de água fria na minha cabeça, vi de longe e Shyla rindo alto enquanto comiam algo juntos. Meu coração doeu de verdade e eu apertei o passo na esperança da dor passar, mas não.
Eu sei, eu entendo, quando você se importa com as pessoas e as ama, se machucar vem no pacote, mas eu não me sentia machucada por ciúmes ou algo do tipo, e sim porque era bom demais com qualquer um. Voight havia me pedido pra ajudar Shyla em sua adaptação e tudo o que eu consegui foi um grito dela de dentro do trailer, já ... Ele simplesmente é bom demais e eu entendo que o jeitinho dele encanta e anima qualquer um. E isso dói. Dói porque mesmo ele sendo bom demais, no meu coração não parece certo que ele fique com alguém como eu, alguém que simplesmente... Eu nem tenho palavras. Eu me sinto completamente desconectada de .
- ! - a voz séria de me chamou enquanto ele forçava a maçaneta e eu só encarava a mesma que não abria porque eu tinha trancado a porta rápido.
Eu levei alguns segundos pra decidir se abria ou não, e com o coração acelerado e nervoso, decidi abrir.
- Sim?
- A gente precisa conversar!
- Sobre?
- Você tá brincando comigo? - o olhar sério dele quase me quebrou no meio.
- Ok, o que você quer saber? - eu abri mais a porta e dei espaço pra ele entrar e ele se encostou na mesa. Bati a porta atrás de mim e fiquei em sua frente com os braços cruzados.
- Quero saber como você está, . Quero saber quando a gente vai tomar uma decisão sobre o bebê! - eu pude ver o olhar analítico dele, se esforçando pra tentar ver um sucinto sinal de esforço da minha parte em continuar com a conversa.
- Eu estou bem, minha tia Ellie passou horas falando sobre como eu e devemos considerar a ideia de fazer terapia e, sério, o tanto que eu pensei em nós e cheguei na conclusão que a gente não pode se consertar, colocar apenas nossas frustrações um no outro... Sei lá, a gente precisa de ajuda profissional, mas você mesmo já disse que não acredita nisso, então...
- Calma! Você diz terapia de casal? - ele franziu a testa.
- Não! Quero dizer, deveríamos ir separados, por nós mesmos e não só por nós como um casal e... Porra, nós nem somos um casal! - um peso absurdo tomou conta do meu peito.
- O que? - ele me olhou furioso como se eu tivesse o ofendido ou algo assim.
- Você foi embora! Você disse que estava me deixando e que estava deixando esse lugar! - esbravejei de uma vez, completamente incerta do que tava sentindo, mas também lembrando de que ouvir aquilo foi uma das coisas mais duras que tive que ouvir.
- Eu não terminei com você, ! - ele respondeu desesperado.
- Foi a mesma coisa!
- , pelo amor de Deus! Eu não terminei com você, eu jamais terminaria! - ele exclamou sério e cheio de sentimento. Um lado meu se sentiu completamente aliviado e o outro massacrado - Será que a gente pode voltar a falar sobre o que estávamos falando? Podemos ir por partes?
- Eu só preciso voltar a fazer terapia, . Eu não aguento mais olhar pra você e sentir que estou acabando com a sua vida! - eu fechei os olhos e disse de uma vez. Doeu mais do que tudo, mas eu disse, eu finalmente disse.
- Do que você está falando? É porque eu estou próximo da Shyla? É isso?
- VOCÊ É LOUCO?
- Eu só estou perguntando, !
- Eu não estou com ciúmes de vocês dois, , eu estou ocupada demais presa nos meus próprios pensamentos de merda!
- Você acha que eu estou feliz com tudo isso? Você acha que eu também não queria ter anos e anos com você só pra mim, só nós dois? Eu queria isso também e eu sei que parece desesperador a ideia de termos um filho porque não tem muito tempo que a gente tá junto e isso é assustador, então eu preciso saber o que você quer fazer de verdade! Seja qual for a sua decisão, eu vou respeitar! - ele começou praticamente gritando e com um olhar desesperado, do tipo que implorava pra que eu compreendesse seu lado, e no fim veio só o fiapo da sua voz, completamente entregue à todo o mar de pensamentos que estavam me rondando há dias. Suas últimas palavras me trouxe um arrepio dos pés à cabeça.
- Eu estive confortável em sentir desconforto a minha vida inteira. Eu não sei como é o outro lado, eu não sei como é ser só feliz. - mais uma vez, apertei os olhos, sem coragem de encarar ele, mas sendo completamente honesta.
- Ninguém sabe, . É bizarro, horrível e difícil aceitar, mas a tristeza é muito mais comum que a felicidade.
- É claro que eu quero ser mãe, é claro que eu quero um filho seu, mas... Eu me sinto tão culpada! Parece que eu estou estragando alguma coisa, algum momento!
- Por Deus, você não está estragando nada! Não é nada fácil criar uma criança, você planejando ou não vai ser difícil, mas eu estou aqui com você! - ele passou as mãos pelos cabelos completamente aflito.
- Tem como você me dar um tempo? Eu tenho que pensar e você tambem! Eu não quero te impedir de nada, então se você quiser... - eu não tinha planos de dar continuidade na frase porque simplesmente foi algo idiota a ser falar e a expressão brava e fechada de me calou de uma vez.
- Eu vou sair daqui agora pra não ter que ouvir o fim dessa frase, . Até mais!
——
Eu me senti mais desconectada ainda de tudo.
Os últimos dias não trouxe muita coisa nova. Voight tentava me deixar confortável me lembrando o tempo inteiro que estava disponível pra mim pra qualquer coisa; Eu ainda não tinha conversado com a minha mãe; estava ocupada ensaiando pra sua próxima apresentação e estava um pouco distante, estressada e até grossa; Voight e Holt estavam tentando decidir de vez o que fazer com Landon, que estava completamente desacreditado da sua própria recaída; Shyla continuava próxima de e dos meninos.
Falando em ...
Estava tudo a mesma coisa. Exatamente a mesma coisa. Saí do meu trailer e dei passos longos até o escritório, na esperança de encontrar Voight pra poder conversar, mas dei de cara com Leon sentado segurando alguns papéis na mão que foram colocados na mesa assim que entrei sem nem avisar.
- Que falta de educação é essa? - Leon sorriu de canto.
- Eu pensei que...
- Ele não está. Coloquei Voight pra trabalhar na rua um pouco pra ver se ele se lembra que aqui é uma gangue e não um centro comunitário. - ele foi logo falando e minhas sobrancelhas se arquearam.
- O conceito de uma gangue geralmente é proteger as pessoas que fazem parte dela e dos bairros que tomam conta, não é? Voight e Holt fazem um ótimo trabalho! - me encostei na parede e me segurando pra não rolar os olhos em irritação, sabendo que o rumo da conversa não seria nada bom.
- Não, eles não fazem. Dá pra proteger as pessoas sem esquecer do resto, . Isso aqui não é feito pra ter só paz, porque se fosse, não seria uma gangue. - ele levantou claramente irritado - E eles esqueceram que fazem parte de uma.
- Eles fazem um bom trabalho! - repeti ainda mais alto, dando um passo grande pra frente.
- Eu acabei de sair da cadeia e mesmo quando estava lá eu sabia que o número de gangues cresceu por aqui. Você não tá fazendo um bom trabalho se deixa que apareçam mais concorrentes, e você deve saber que cada esquina importa, cada rua! - ele se mostrou irritado rápido demais.
- E agora você voltou e tudo vai mudar? - e que se dane, minha voz veio carregada no deboche.
- Exato! - ele entrou na onda e respondeu sarcástico.
- Não foi você que quase morreu porque Paul mandou te matar? - semicerrei os olhos minimamente e dei um falso sorriso que logo se tornou verdadeiro ao ver a expressão do homem se fechar no mesmo segundo.
- Sim, mas ele não sabe que eu estou vivo, mas em breve vai saber.
- E você não tem medo de morrer de verdade? Ou de voltar pra cadeia?
- Claro que não! Lá da cadeia ninguém pode entrar e me matar, mas eu posso mandar matar qualquer um lá de dentro. - ele deu uma piscadela.
- Mas Voight me disse que você não gostava muito da ideia de ter parceria ou cooperar com a polícia, então como...? - arrisquei a pergunta, esperando ele dar continuidade. Leon não era tão difícil de conversar quanto Voight, não tinha cerimônias. Ele conseguia ser bizarro de um jeito completamente negativo e isso me dava raiva, mas o fato dele realmente falar me deixava presa ali.
- Eu não sou trouxa, . Eu odeio a polícia e sempre vou odiar, mas no fim do dia eu controlo quem eu quiser de lá com dinheiro. Meu sacrifício e minha cruz é ter que ter pelo menos o mínimo de contato com esses filhos da puta.
- Olha, eu vejo Voight e Holt cuidar dos The Lions há tanto tempo e sempre deu certo. Eu não sei o que você acha que pode mudar aqui, mas eu te garanto que ninguém vai gostar. - respirei fundo e mandei a verdade de uma vez. Com certeza ele já tinha ouvido isso, mas era bom ouvir de novo.
- Mudanças são necessárias, !
- O que você vai fazer de diferente? Você vai precisar se esforçar muito pra...
- Porra, você é mesmo parente do Voight! Eu sou o dono disso aqui e sei o que é melhor! Eles deixaram toda essa confusão com Paul chegar a esse ponto e outras gangues aproveitaram pra subir no nosso cangote e causar também! - ele ergueu a mão irritado, assim como o tom da sua voz.
- Ei, espera aí! Toda essa confusão com Paul começou com você e com Yaser! - rebati nervosa com o dedo apontado pra ele. Quem ele pensa que é?
- Eu não vou discutir com uma criança! - ele passou a mão pelos cabelos e exclamou com puro desdém, fazendo minha raiva aumentar ainda mais.
- Vai pro inferno então!
Eu gritei com raiva e ele fez sinal pra que eu saísse, mas um enjoo e uma ânsia de vômito completamente repentina e certeira me invadiu. Talvez fosse só a raiva que Leon tinha me causado ou fosse só a gravidez dando um oi, me lembrando que o bebê estava mesmo ali e estava me mandando um sinal, e um sinal nada agradável. Eu corri até a lixeira com a maior pressa do universo, segurando meu próprio cabelo e vomitando ali mesmo.
- Mas que porra? Puta que pariu, ! Você por acaso tá doente, grávida ou o que? Caralho, leva essa merda lá pra fora, pelo amor de Deus! - o escândalo que Leon fez foi impagável de verdade.
- Se você fosse tão bom assim, não teria nem sido preso. - foi a última coisa que eu disse antes de sair do escritório e deixar Leon com cara de tacho.
——
Eu decidi vir com um pouco mais cedo pra casa de shows porque as coisas com ainda estavam estranhas e eu não tinha a coragem de vir com ele, mesmo com toda a saudade de segurar firme nele enquanto ele dirige a moto.
Sério, eu nunca pensei que sentiria saudade de algo tão simples!
- Eles já estão chegando, Scott acabou de me avisar. - encarou o celular e logo levantou o olhar até me encarar. Ela pegou o copo de água que estava na mesinha do camarim e levou até a boca sem tirar os olhos de mim.
- Então já vou indo! Boa sorte! - dei um abraço apertado em mas não senti o mesmo de volta, muito pelo contrário, e assim que nossos corpos se afastaram eu franzi a testa ao observar seu olhar entre debochado e irritado - O que foi?
- , quando é que você vai se resolver com de uma vez?
- ...
- Eu sei, tem o bebê e é muito complicado e eu vou amar essa criança se você ter ela, mas você tem que se decidir. ama você!
- Você sabe que é complicado porque eu não estou pensando só em e...
- Eu sei , você pensa em todo mundo e em um monte de coisa. Eu sei que não somos iguais e eu não quero ser ridícula falando isso, mas eu fui traída! Meu pai morreu, mas eu tenho Holt. Eu me sinto com tanta raiva de Paul mas ao mesmo tempo eu paro e penso que não posso focar minha energia nisso porque eu tenho que cuidar do meu pedacinho de carreira. Eu quero surtar também, mas eu não posso. - a voz quase embargada e cheia de raiva de me chocou de maneira que eu nunca saberia explicar.
- Por que você tá...
- Porque eu te amo, ! Você é uma parte de mim e eu não aguento mais ver você sofrendo assim sendo que o te ama e você ama ele! Eu sei que passa um turbilhão de coisas pela sua cabeça, mas você mesma sabe reconhecer isso, você sabe que isso não te leva a nada, mas ainda assim confinua. Isso é comportamento impulsivo! Olha... Eu não sou a melhor pessoa pra isso, eu não tenho muita moral, mas eu preciso que pelo menos uma coisa se acerte, ok? Só uma! - ela estava desesperada e explicitamente triste. Quando foi que eu me tornei uma amiga tão ruim assim? estava contando comigo pra ela poder se sentir um pouquinho feliz, e não era nem por ela mesma, e sim por mim. Estar feliz por mim já seria algo grande pra ela. Simplesmente... inacreditável.
- Eu acho que a gente precisa de ajuda mesmo. Ajuda profissional. - foi só o que saiu da minha boca com o coração completamente pesado e dolorido - Boa sorte, .
Ok, vamos lá... A maioria das grandes tragédias e triunfos não acontecem porque as pessoas são boas ou más, mas mas sim porque as pessoas são, basicamente, pessoas. Coisas ruins sempre vão acontecer e tudo bem. Tudo bem mesmo. Minha respiração já estava na casa do chapéu e ainda assim eu andava pelas pessoas que já estavam se acomodando aos poucos e senti que pude respirar novamente quando avistei de longe.
Apertei o passo e fui me amassando entre as pessoas até chegar até ele e observando que todos estavam presentes exceto Landon. Scott foi o primeiro que me cumprimentou todo animado, em seguida Cohen, Shyla e por último , que me abraçou gostoso e envolveu os braços na minha cintura, me encarando por longos segundos e me dando um selinho demorado que me fez ir ao céu.
- Pelo menos aqui não tem como você me evitar. - ele sussurrou rápido no meu ouvido e riu em seguida. Ele riu!
- E você vai mesmo se aproveitar disso? - usei um falso tom de seriedade que ele jamais acreditaria, então ele entrou na brincadeira.
- Se você não quiser, está livre pra ficar longe de mim. - ele tirou as mãos da minha cintura e as colocou pra cima como se estivesse se rendendo.
Eu semicerrei os olhos e ri alto num falso humor, virando um pouco o corpo pra dar falsos indícios que sairia de perto, mas uma mão pousou no meu ombro bem de leve e eu tive que me virar de vez, dando de cara com Shyla.
- Meu Deus, oi! - eu gargalhei completamente surpresa.
- Eu vou buscar uma bebida, que ir comigo? - ela fez o convite de maneira extremamente simpática e era impossível dizer não.
Passamos por e fomos até o bar, onde eu mesma acabei pedindo uma bebida e rindo sozinha ao lembrar que não podia tomar. Shyla fez seu pedido e me olhou um pouco aflita, aquele jeitinho agoniado que te domina quando você quer começar a falar sobre alguma coisa mas não sabe por onde começar.
- Shyla, o que foi?
- Hm? - ela se fingiu de desentendida, dando um gole longo em sua bebida.
- Você tem algo pra me falar, não tem?
- Ok, eu tenho, e eu estou morrendo de vergonha de falar isso porque eu fui uma grossa naquele dia que você foi até o meu trailer e eu nem atendi a porta, aí coisas aconteceram e você nem mesmo sai do seu trailer e tem sido muito bacana comigo, muito mesmo, e todas as raras vezes que eu te vejo passando por lá eu me sinto um pouco mal porque não quero que pareça que... Meu Deus, é ridículo falar isso, mas eu não quero que fique um clima chato entre nós porque...
- Você acha que eu estou com ciúmes de você com ? - eu a interrompi rindo, mas não debochada nem nada, eu só ri mesmo porque o nervosismo dela estava sendo adorável.
- CALMA! Desculpa se isso parece ridículo, mas eu só... - ela parou de falar e deu mais um gole na sua bebida e por um segundo aquilo me apavorou.
- Shyla, pelo amor de Deus, o que é? Você tá gostando dele ou algo assim? Ou você só não quer ficar num clima chato comigo porque está sendo amigável?
- Pelo amor de Deus!!! - ela disparou a gargalhar de verdade, sem deboche, sem ironia, sem nada maldoso, ela apenas começou a rir - , sério, você precisa sair mais do seu trailer! Mulher, está sendo sim completamente amigável e eu fico muito feliz por isso, e não estou querendo puxar o saco, mas é que ele fala muito de você e às vezes eu me sinto mal porque eu não te conheço muito bem e não quero dar a impressão que estou dando em cima do seu namorado ou algo do tipo, até porque ele tem me ajudado com outra coisa e...
- Que coisa?
- É meio que um segredinho, ok? Scott e sabem e... Digamos que eu esteja um pouquinho afim do Cohen mas ele simplesmente não enxerga! e Scott estão tentando me ajudar com isso mas ele simplesmente não enxerga e eles até ficaram surpresos porque disseram que Cohen não é tão lerdo assim, mas comigo simplesmente não está rolando e eu não sei se ele só não percebeu mesmo ou não está interessado.
Foi a minha vez de rir. Muito. Tanto que Shyla começou a rir da minha risada.
- Você tá afim do Cohen?
- É!
- Meu Deus, eu realmente preciso sair mais do meu trailer! - eu passei a mão na barriga de tanto que eu ria.
- É, precisa mesmo!
- Meu Deus, como ele não percebeu ainda? Você já tentou algo? - eu arregalei os olhos assim que parei de rir e me concentrei no assunto, completamente sem entender como Cohen estava deixando isso passar.
- Eu não sou muito boa em flertar e esse tipo de coisa, mas eu acho que já deixei um pouco óbvio e... Sério que de tudo o que eu falei só isso chamou a sua atenção? - Shyla franziu a testa confusa.
- Claro! Como ele não percebeu ainda? - o mesmo olharzinho aflito estava presente como se ela já estivesse se preparando pra algo ruim - Quer dizer, é legal da sua parte me contar o que está acontecendo, mas não deveria ser uma coisa tão necessária, sabe? pode ter amigas mulheres, eu realmente não me importo, e eu fico feliz que ele esteja te ajudando a se adaptar melhor! - eu fui o mais transparente possível e imediatamente pude ver a expressão de Shyla se transformar.
- É que... Desculpa o pré julgamento, mas você sabe como é, né? Eu sei que são casos e casos, mas não quis deixar alguma impressão de que algo de errado poderia estar acontecendo, até porque ele gosta muito de você!
- Eu sei sim, Shyla, e eu entendo que deve ter sido estranho porque eu quase não apareço e... Não estamos no nosso melhor momento. - dei os ombros.
- Tá tudo bem? - chegou de mansinho, arregalando os olhos minimamente assim que olhou o copo de bebida ao meu lado e tentou, discretamente, me repreender com o olhar e eu ri fraco.
- Tá sim, eu falei o que tinha pra falar. - Shyla sorriu simpática.
- Que era...? - questionou com um sorrisinho maroto nos lábios.
- Que você me traiu. - eu fechei a cara no mesmo segundo que o respondi e ele só faltou dar um pulo de tanto susto.
- O QUE?
E mais risadas. Eu e Shyla quase não nos aguentamos de tanto rir enquanto nos encarava desacreditado até que começou a rir junto também.
- Porra, a sua cara foi demais! - Shyla comentou em meio aos risos que estavam quase a deixando sem ar.
- Cinco minutinhos de conversa e vocês já estão assim? - fingiu estar chateado, com uma carinha emburrada linda e eu dei um selinho rápido em seus lábios.
foi anunciada, as luzes se apagaram e ela entrou no palco de maneira graciosa como sempre. Eu não estava brava com ela nem nada do tipo, eu só estava sentida em como eu acabei sendo egoísta pensando tanto em mim nas últimas semanas. perdeu tanto quanto eu e ela não tinha o direito de desmoronar tanto quanto eu pela sua carreira. Não quero que pareça uma competição de sofrimento, mas ela merecia mais atenção de mim, merecia mais apoio também.
me abraçou por trás durante o show inteiro. Eu estava levemente feliz por saber que de alguma forma minha melhor amiga estava aliviando toda a tensão que estava sentindo ao cantar, e óbvio, também feliz por ter os braços de envolvidos em mim. E eu pensei que não poderia melhorar, mudar, ou trazer algo novo, mas veio tudo de uma vez. entrelaçou nossas mãos e as encostou em minha barriga. Não de um jeito usual, mas sim de uma maneira tão nova e cheia de luz que... Simplesmente não dá pra explicar. Eram literalmente só nossas mãos entrelaçadas na minha barriga mas com uma energia completamente diferente.
Quero dizer... Temos um bebê. Óbvio que é diferente, mas eu não sabia que seria tão diferente.
Era a primeira vez que eu encostava na minha barriga com o pensamento de que, ei, tem um bebê aqui dentro! E pior... Ou melhor... Não foi algo ruim de se sentir. Não precisávamos falar. Meu Deus, tudo o que não precisávamos no momento era falar.
cantou sua última música e o palco se apagou de uma vez, sem dar tempo dela agradecer. Por um segundo eu estranhei, mesmo estando dominada por toda a onda de carinho com que nos foi proporcionado, mas logo algumas luzes voltaram a iluminar o palco e todos gritaram feito loucos. e Glenn estavam ali juntos. Ele se apresentou caloroso e todos gritaram mais ainda. O começo de Feel My Love começou a tocar de fundo e... Por Deus, eu já estava fora de mim. sorria tão largo que eu não me aguentava de tanto que sorria também por ela.
Someone told me
(Alguém me disse)
Love was only
(Amor estava apenas)
In the movies
(Nos filmes)
It don't exist in real life these days now
(Ele não existe na vida real nesses dias de agora)
But you showed me
(Mas você me mostrou)
If I only just find the faith I need to believe
(Se eu apenas achar a fé que preciso pra acreditar)
Anything is possible
(Qualquer coisa é possível)
If you want it bad enough
(Se você realmente quer isso)
Know the sky, ain't too high
(Saiba que o céu não é tão alto)
Test your limits
(Teste seus limites)
You can feel unstoppable
(Você pode se sentir imparável)
Incredible
(Incrível)
Almost there, I can see I'm so ready
(Quase lá, eu posso ver, estou tão preparado)
Oh, this has gotta be the night that dreams come true
(Oh, essa tem que ser a noite em que os sonhos se tornam realidade)
Everything feels just right
(Tudo parece certo)
'Cause when I'm with you, you know, girl I'll be holdin' on
(Porque quando estou com você, você sabe, garota eu estarei segurando firme)
Said you feel my love
(Disse que você sentiu meu amor)
Did you feel my love
(Você sentiu meu amor)
E eu juro, é o maior clichê de todos os tempos da história da humanidade, mas o tempo parou. é tão ferrado que me faz fazer sentido. Nós nos encaixamos. Eu não digo isso num sentido bizarro onde nós dois somos pessoas quebradas e que se identificam só porque são pessoas quebradas, e sim, porque queremos melhorar. Agora eu enxergo que a gente tem uma chance de fazer isso de novo, e sabendo o que sei agora, é uma nova chance de fazer isso completamente diferente. A gente pode melhorar. Não só por nós dois como um casal, e sim como pessoas individuais em primeiro lugar pra poder sermos melhorar um para o outro.
Neste lugar, com essa música, com o seu corpo abraçando o meu da maneira mais carinhosa do mundo é que eu tenho a certeza que sim, a gente vai dar certo. Não temos absolutamente nenhuma obrigação de nos consertar, mas eu juro, amar me faz querer ser melhor e eu sei que ele sente o mesmo. A gente pensa tanto um no outro que a gente pensa em si também.
- ? - encostei minha cabeça em seu ombro de leve, sussurrando em seu pescoço.
e Glenn cantavam juntos da maneira mais conectada e linda que dois artistas poderiam cantar.
- Hm?
E fugiu. O que eu tinha pra falar pra ele fugiu da ponta da minha língua e algo maior me tomou a atenção novamente. A mão de acariciava a minha barriga com delicadeza e eu ri gostoso. Ri ao lembrar que, meu Deus, a primeira vez que nos falamos foi quando Keith não parava de chorar. Uma criança estava no meio do nosso primeiro contato. Talvez seja só ironia, bom humor ou um susto do destino, mas é completamente possível dar certo.
Vamos ter um bebê.
——
A gente tirou todo o atrasado. Meu Deus, e como tiramos!
dormia tranquilamente e eu observava seu peito subindo e descendo ao respirar feito boba. Dei um longo suspiro e um beijinho leve em seus lábios e me ajeitei na cama, puxando o edredom não tão grosso para me cobrir também enquanto me aninhava do jeito que dava pra ficar pertinho dele.
E o meu celular tocou.
acordou no mesmo segundo assustado, piscando inúmeras vezes enquanto eu me apoiava uma pouco no seu corpo pra poder pegar o celular que estava na mesinha do lado da minha cama. O brilho da tela me cegou por alguns segundos mas consegui ver que era antes de atender.
- ?
- !!!
- O que foi? - franzi a testa no mesmo instante que ouvi a voz completamente ofegante da minha amiga - Aconteceu alguma coisa?
- Holt e Voight! , pelo amor de Deus, eles estão no hospital! A gente... A gente precisa ir pra lá agora!
BOOM.
Não pode se preparar para um impacto repentino mas puta que pariu. Eu senti minha alma sair do corpo de verdade. Meu corpo ficou completamente quente e uma sensação de sufoco me atingiu no mesmo segundo. atropelava todas as palavras enquanto tentava dizer que algo tinha acontecido com eles mas não sabia direito o que tinha sido. começou a se vestir rápido e eu fiz o mesmo, provavelmente errando até o lado da calcinha.
Saímos do trailer às pressas e uma correria começou. Alguns rapazes que não moravam ali mas que trabalhavam pra Holt e Voight passaram pelo portão com pressa e gritando pra que todos ficassem tranquilos e que nada aconteceria com eles.
- SEM P NICO! - Scott e Cohen apareceram gritando também enquanto as pessoas abriam as portas mas eles vinham da direção dos seus próprios trailers.
- Cara, o que é isso? - perguntou confuso enquanto me puxava pela cintura como se quisesse me proteger de toda a gritaria.
- Leon ligou, disse que talvez os Ghosts tentem algo essa madrugada e que era pra gente se preparar. - Cohen respondeu atento a tudo o que estava acontecendo ao redor.
- Vocês não sabem? - perguntou confuso.
- Sabem do que? - Scott perguntou de volta.
- Holt e Voight. Aconteceu algo. Eles estão do hospital! Leon não falou nada sobre isso?
- Não! - eles responderam juntos e de imediato surgiu uma expressão nada boa em seus rostos.
- Vamos logo! - eu pedi alto.
- Ei! - Landon saiu de seu trailer com as mãos no ar e confuso, e logo em seguida Shyla também saiu.
Não deu tempo de explicar, simplesmente pediu pra que todo mundo ficasse quieto e colaborasse. Algo poderia acontecer ali e ele pensou rápido. Cohen e Scott conversaram rápido com dois outros rapazes e pegaram a chave de um carro. chamou Landon e Shyla para nos acompanharem sem nem explicar o que estava acontecendo e mesmo assim eles estavam vindo conosco.
Cohen dirigia numa velocidade absurda e eu nem mesmo estava me importando.
"Eles vão morrer"
Esse pensamento estava me perseguindo. Que merda eles estavam fazendo e o que aconteceu? Independente do que for, não pode acabar assim.
Voight vai ser... avô.
Eu dei um pulo do carro assim que o mesmo parou no estacionamento do hospital. Eu corri até a emergência e encontrei de cara a , tia Ellie, Leon e Yaser.
Pelo amor de Deus!
- O QUE ACONTECEU? - eu gritei desesperada.
- Pai? - questionou desacreditado, encarando o pai completamente confuso.
- Está tudo bem, os médicos estão...
- COMO ESTÁ TUDO BEM?! - eu interrompi Leon completamente chocada.
- Foi só a merda de um tiro no braço e outro na perna, eles estão bem, vão sobreviver, menina! - ele respondeu com a expressão brava e quase nada de preocupação em sua voz.
- Você! - eu apontei pra ele com lágrimas nos olhos - O que você fez?
- Eu? Você é maluca? - Leon não estava entendendo nada mas eu estava.
- , calma! Eles foram atrás do Paul, mas Leon já tinha planejado um ataque contra os Ghosts hoje e Voight e Holt não sabiam. Eles estavam no meio do tiroteio e foram atingidos mas não atingiu nenhum lugar que os deixasse em estado grave! - Yaser respondeu baixo, sem muita coragem de me olhar nos olhos.
- Você disse que tinha mandado meu pai pra rua pra ele voltar a entender como as coisas funcionam e ainda planeja a merda de um ataque sem avisar ele? - eu apontei o dedo na cara de Leon, que pela expressão raivosa poderia facilmente arrancar meu dedo junto com a mão fora.
- Eu não sabia que ele tinha ido atrás de Paul! - Leon se defendeu sem paciência nenhuma.
- Como não sabia? - continuei.
- O que você tá fazendo aqui? Você estava com eles? - questionou Yaser. - Sim, mas não aconteceu nada comigo, então eu só... Porra! - ele pareceu realmente incomodado e passou a mão pelo rosto.
- Como ele tá? O que aconteceu de verdade? Eu quero detalhes, inferno! - meu desespero já estava falando mais alto e nada no momento poderia me tirar tanta angústia.
- ! - chamou minha atenção enquanto tentava miseravelmente engolir o choro - Calma! Eles estão em cirurgia, vai ficar tudo bem!
E tudo foi ficando embaçado. Escuro. Meu corpo amoleceu. E escureceu de vez.
's POV
Eu mesmo coloquei deitada na maca e a doutora imediatamente puxou o carrinho com o aparelho de ultrassom.
Eu fodi tudo. Quer dizer, caralho, definitivamente vai me xingar pra caralho porque eu gritei aos quatro cantos que ela precisava de atendimento assim que ela caiu no chão pelo desmaio por conta da gravidez.
Olhei pra ela ainda desacordada e coloquei as duas mãos em seu rosto completamente dominado pela adrenalina, medo, angústia e desespero.
- Ei!!! - meus polegares se empenharam num carinho gostoso em seu rosto assim que seus olhos começaram a se abrir de leve - Tá tudo bem, você tá bem! - falei de imediato assim que ela começou a analisar os cantos do consultório e se sentou abruptamente no mesmo instante.
- O QUE ACONTECEU?
- Você desmaiou, babe. Você precisa... deitar. - eu pedi carinhoso, mas ela não obedeceu.
A doutora mediu sua pressão e o olhar confuso e amedrontado de quase me matou.
- O meu pai... Você tem notícias dele? Ele está em cirurgia! Ele vai ficar bem?
- Eu posso checar assim que der uma olhadinha no seu bebê, pode ser? - no crachá deu pra ler seu nome: Amy. Ela pediu educadamente pra se deitar, com doçura e calma na voz. obedeceu e esticou a mão para que eu a segurasse e foi o que eu fiz. Entrelacei nossos dedos enquanto a doutora subia a blusinha de frio de malha de e passava um gel em sua barriga - Você já começou a fazer seu pré natal, mamãe?
- Eu... Eu não fiz nada ainda. Descobri há pouco tempo. - balançava a cabeça como se quisesse se lembrar de se manter sã.
- Você pode marcar uma consulta aqui mesmo e conhecer os planos do hospital se quiser. Posso mandar alguém pra conversar com você depois também sobre todas as opções. - a doçura em sua voz realmente era algo a se admirar. Amy aparentemente tinha mais de 50 anos bem vividos mas tinha algo em seu olhar que chamava mais atenção do que as rugas, e digo isso no bom sentido. Ela mexia o aparelho na barriga de e nós olhávamos pra tela sem piscar - Parece estar tudo bem com o seu bebê. Ainda é muito pequeno, mas está tudo bem. O seu desmaio foi só um susto, mas agora... Estão preparados?
- Pra que? - perguntamos em coro.
- Pra isso aqui.
E o meu mundo parou do jeito mais bizarro e lindo. No meio de tudo isso, eu me senti mais vivo e abençoado do que nunca. me olhou com os olhos arregalados e sorriu no meio das lágrimas que já ameaçavam sair dos seus olhos.
O coração do nosso bebê batia forte.
Eu queria arrancar toda a culpa e angústia que estava sentindo. Eu queria que tudo ficasse bem. Eu queria socar Voight também, mesmo sabendo que o maior culpado dessa porcaria toda era meu pai.
- Ei! - a minha porta estava aberta e Shyla estava no degrau, num jeito envergonhado explícito que a impedia de entrar de vez ali dentro de novo.
Ela tinha acordado há algum tempo e saiu do trailer doida atrás de mim perguntando o que tinha acontecido e ela quase enfiou a cabeça no próprio cu de tanta vergonha. Voight me deixou dormir no quarto que tinha no escritório mas eu mal dormi depois do que aconteceu de madrugada. O cabelo molhado e a roupa trocada de Shyla anunciava o banho recém tomado. A cara de acabada denunciava a ressaca.
- Entra. - fiz um sinal com a mão pra ela entrar, mas ela só encostou no batente da porta.
- Cohen me contou o que aconteceu de madrugada. Você me desculpa? Puta que pariu, eu te dei um baita trabalho e você ainda teve que passar por mais esse sufoco com o seu pai e... Sério, me desculpa, tá legal? Eu não deveria ter bebido tanto, mas...
- Shyla, tá tudo bem! Eu deduzi que você tenha saído pra beber porque ficou se sentindo culpada com o que aconteceu com Landon, mas independente do que seja, já passou e tá tudo bem, de verdade! Eu fico feliz que a bartender tenha me ligado porque algo poderia ter acontecido com você! - a interrompi calmo, num tom de voz suave pra ela se acalmar de vez e entender que estava, de fato, tudo bem entre nós dois.
- Você sabe se vão fazer alguma coisa com ele? - ela mordeu os lábios de maneira apreensiva.
- Vão tentar ajudá-lo de alguma maneira, Shyla. Você não teve culpa do que aconteceu com ele, beleza? Eu juro! - me levantei, parando assim que fiquei de frente pra garota e a abracei sem pensar muito.
passou andando com em direção à saída, e óbvio, nossos olhares se cruzaram de maneira ridícula.
Eu tinha que fazer algo.
- Eu vou procurar ele. - Shyla murmurou ainda no meu abraço e logo afrouxei os braços, a soltando completamente - Obrigada de verdade por ter me buscado e cuidado de mim, . Você tá sendo muito mais que um amigo e eu nem sei como te agradecer! - ela praticamente sussurrou, ainda sem graça e eu dei um sorriso simpático e amigo, dando mais um abraço rápido e companheiro. Shyla estava a cada dia se soltando mais e se revelando uma pessoa incrível. Ela finalmente estava começando a se adaptar e cada um estava tendo um papel importante na adaptação dela.
Eu pensei em ir atrás de e tentar conversar. Eu não fui muito agradável com ela depois do meu pai simplesmente ter aparecido aqui do nada. Mais uma vez, fui cegado por todo o ódio que me consumiu de imediato. O negócio é que...
Meu celular tocou.
- Alô? - atendi direto mesmo não conhecendo o tal número.
- ? Filho? - só podia ser brincadeira.
- Puta que pariu, você é louco ou o que? - berrei enquanto batia a porta com tudo, me sentando na cama com raiva ao ouvir a voz do meu pai do outro lado da linha.
- A gente precisa conversar. Quer dizer, você precisa me ouvir, nem que seja por um minuto, tá bom? Eu... Eu tive que fazer isso! Eu devia um favor pra Leon e eu não podia dizer não! Eu sei que fui um covarde em não contar nem pra sua mãe sobre o meu passado, mas eu tava com vergonha, , vergonha! Nunca foi e nunca vai ser fácil pra mim olhar pra trás e lembrar de tudo o que eu fiz e pior ainda saber tudo o que eu te fiz passar. Me descu...
- Não, eu não vou cair nisso. Você podia até dever um favor pra Leon mas você me viu saindo de casa, viu minhas irmãs e minha mãe sofrerem pelo o que estava te acontecendo. Todos nós achamos que era só uma injustiça, um mal entendido, mas era exatamente o que parecia e não importa o que você fale agora porque já está tudo ferrado. Se você nunca fosse descoberto então nunca contaria a verdade, então não, eu não te desculpo e eu não quero mais falar com você, então nem mesmo tenta me ligar de novo porque eu não vou me dar o trabalho de atender.
Que se foda. Que se foda ele, Voight, Leon... Todo mundo. Por que ele simplesmente não assume a porra da responsabilidade?
Caralho, esse lugar simplesmente não tem salvação, proteção ou algo bom vindo, algo que mude a vida de todos. Simplesmente não tem, e eu juro que não sei como Voight planeja roteger as pessoas com ódio vindo de todos os lados. Por aqui é assim, você escolhe entre uma coisa ruim ou péssima. Não tem pra onde correr, não tem como mudar e dói ir embora do mesmo jeito que dói ficar.
E mesmo no meio desse lixo, eu só preciso de uma coisa. De uma pessoa.
's POV
O tanto que a tia Ellie falou ainda ecoava na minha cabeça. E o assunto veio à tona mais uma vez: "Talvez seja melhor buscar ajuda profissional". Mas dessa vez não foi só pra mim, e sim pra também. Ellie comentou o quão estressada e até agressiva estava e falou delicadamente sobre irmos atrás de terapia, e claro, ela não chegou nessa ideia sozinha, teve um dedinho da minha mãe nessa história. Tia Ellie disse que minha mãe estava me achando diferente há semanas e que não poder cuidar de mim de perto estava acabando com ela.
Por Deus, como é que eu vou contar dessa gravidez? Ela vai pirar de vez!
Mas até que foi... inspirador. Talvez realmente fosse a hora de buscar ajuda profissional pra lidar com toda essa loucura. Talvez fosse a hora de tentar, pelo menos tentar, colocar a cabeça no lugar. Talvez tentar esquecer os erros do passado e começar a pensar nos erros do futuro, até porque eles vão acontecer e não tem como controlar isso.
Tia Ellie me deu uma carona junto com , que estava completamente ciente da minha insegurança de andar na rua como se não tivesse um maluco por aí que me fez de besta e quis me matar. Óbvio que tia Ellie não sabia disso, porque se soubesse contaria pra minha mãe e a última coisa que eu queria era deixá-la preocupada, então ) apenas pediu uma carona até o estúdio e me deixaram em casa. Ou lugar que deveria ser minha casa. Eu não sei como chamar.
Passei pelo portão como um furacão, indo rápido em direção ao escritório.
- Voight, você... O QUE ACONTECEU? - eu gritei com os olhos arregalados enquanto me aproximava rápido dele. Seu rosto estava com varios curativos e alguns pequenos machucados descobertos - Foi o Paul? O que ele te fez? - disparei amedrontada e nervosa, puxando uma cadeira e me sentando ao seu lado, observando cada detalhe do seu corpo, tendo certeza que mais nada estava machucado, pelo menos não aparentemente.
- Não foi ele.
- Como assim não foi ele?
- Foi Leon. - o rosto dele se virou em pura raiva quando me olhou e meus olhos quase pularam de tanto choque.
- O que? Como assim? Por que ele fez isso? Ele é louco?
- , calma! - ele pediu baixo - É assim que funciona. Leon deixou a gangue nas minhas mãos e nas mãos de Holt, e digamos que não seguimos muito bem o que ele pediu.
- E só por isso ele te bateu? Pelo amor de Deus, você cuida de toda essa gente e faz de tudo pra não ter que tomar medidas drásticas na maioria das vezes e ele te bate por isso?
- Isso é uma gangue, , ou você esqueceu? Leon continua sendo maior que eu e ele continua sendo muito mais respeitado.
- Mas você e Holt cuidaram de tudo! - minha voz saiu num sussurro desapontado e indignado.
- Erramos muito também, filha. Você se lembra do Roy? - ele pausou e eu assenti positivamente já com a respiração acelerada - Ele era irmão do Leon, mas ele controlava algumas coisas daqui de longe mesmo, ele estava morando em Wales. Roy não era tão obcecado pela gangue como Leon é, então ele não se importava muito com o jeito que eu estava levando as coisas por aqui, mas ele voltou pra cá pra me ajudar em algumas coisas já que estava perto de Leon sair da prisão, mas mataram ele e... Você sabe, Leon ficou furioso comigo e com Holt e com razão.
- Mas você não teve culpa!
- Não importa! Leon sempre disse que eu sou sentimental demais em relação à família, mas ele também era, até que foi perdendo a família toda e só sobrou o Roy. Ele se focou completamente na gangue e não se importava muito com o próximo, sabe? Ele nunca pensou direito, tanto que teve uma época que ele até vendia carfentanil e não se importava se os jovens do bairro estavam morrendo por isso.
- E ele ainda acha que o seu modo de tocar as coisas por aqui não é o ideal? Meu Deus, ele é um desastre! - eu estava muito indignada.
- Mas ele continua sendo o verdadeiro líder, e eu sei que agora o caos vai ser ainda maior porque Paul mandou matarem ele e quase deu certo, quase mesmo, mas Leon está aqui e eu tenho certeza que tudo vai piorar. - Voight falava e eu sabia que ele estava sentindo inúmeras coisas, mas suas últimas palavras automaticamente me trouxeram um pânico ainda maior.
- Que?
- NÃO! Calma, não foi isso o que eu quis dizer! As coisas aqui no The Lions vão piorar, mas essa confusão toda com Paul eu vou resolver, já estou resolvendo, na verdade! - ele respondeu num rápido desespero em esclarecer tudo e colocou a mão no meu ombro, fazendo um carinho rápido ali.
- Yaser está fazendo a parte dele? - apertei os olhos ao perguntar.
- Ele... - Voight bufou derrotado - Ele está um lixo, , e não estou fazendo isso pra limpar a barra dele, mas sim porque ele realmente tá perdido. Ninguém da família quer falar com ele.
- Mas é óbvio, o que ele esperava? Não quero ser dura demais, mas ele deveria saber que isso aconteceria.
- Não importa, eu vou dar um jeito nisso tudo, eu vou acabar com toda essa palhaçada com Paul e depois eu vou viver minha vida. Ah, e só pra deixar claro, você não precisa se preocupar em trabalhar mais ou algo do tipo, tudo bem? Não quero você nessas ruas durante a madrugada.
- O que??? Você vai... Calma! O que você quer dizer com "vou viver minha vida"? - fiz aspas no ar - E como assim eu não vou mais trabalhar?
- É isso, o meu último trabalho aqui é acabar logo com Paul, e é exatamente o que você ouviu, não precisa mais trabalhar! Eu vou te ajudar no que for preciso com esse bebê e tenho certeza que sua mãe também, ainda mais agora que ela está perto de sair da cadeia!
- Mas como assim? Você pode simplesmente sair da gangue?
- Não, mas eu vou dar meu jeito.
- Voight!
- , eu estou falando sério! Eu não posso mais ficar aqui, eu não aguento mais! Leon voltou e isso aqui é dele, meu trabalho aqui já está feito!
- Mas você cuida tão bem de todo mundo!
- E tá na hora de cuidar bem de você, da sua mãe e do meu neto ou neta!
- Voight...
- Vai dar tudo certo!
Eu saí dali completamente atordoada com milhões de pensamentos. Voight estava pensando em mim, na nossa vida no futuro e já estava até incluindo o meu bebê nos planos. E como um balde de água fria na minha cabeça, vi de longe e Shyla rindo alto enquanto comiam algo juntos. Meu coração doeu de verdade e eu apertei o passo na esperança da dor passar, mas não.
Eu sei, eu entendo, quando você se importa com as pessoas e as ama, se machucar vem no pacote, mas eu não me sentia machucada por ciúmes ou algo do tipo, e sim porque era bom demais com qualquer um. Voight havia me pedido pra ajudar Shyla em sua adaptação e tudo o que eu consegui foi um grito dela de dentro do trailer, já ... Ele simplesmente é bom demais e eu entendo que o jeitinho dele encanta e anima qualquer um. E isso dói. Dói porque mesmo ele sendo bom demais, no meu coração não parece certo que ele fique com alguém como eu, alguém que simplesmente... Eu nem tenho palavras. Eu me sinto completamente desconectada de .
- ! - a voz séria de me chamou enquanto ele forçava a maçaneta e eu só encarava a mesma que não abria porque eu tinha trancado a porta rápido.
Eu levei alguns segundos pra decidir se abria ou não, e com o coração acelerado e nervoso, decidi abrir.
- Sim?
- A gente precisa conversar!
- Sobre?
- Você tá brincando comigo? - o olhar sério dele quase me quebrou no meio.
- Ok, o que você quer saber? - eu abri mais a porta e dei espaço pra ele entrar e ele se encostou na mesa. Bati a porta atrás de mim e fiquei em sua frente com os braços cruzados.
- Quero saber como você está, . Quero saber quando a gente vai tomar uma decisão sobre o bebê! - eu pude ver o olhar analítico dele, se esforçando pra tentar ver um sucinto sinal de esforço da minha parte em continuar com a conversa.
- Eu estou bem, minha tia Ellie passou horas falando sobre como eu e devemos considerar a ideia de fazer terapia e, sério, o tanto que eu pensei em nós e cheguei na conclusão que a gente não pode se consertar, colocar apenas nossas frustrações um no outro... Sei lá, a gente precisa de ajuda profissional, mas você mesmo já disse que não acredita nisso, então...
- Calma! Você diz terapia de casal? - ele franziu a testa.
- Não! Quero dizer, deveríamos ir separados, por nós mesmos e não só por nós como um casal e... Porra, nós nem somos um casal! - um peso absurdo tomou conta do meu peito.
- O que? - ele me olhou furioso como se eu tivesse o ofendido ou algo assim.
- Você foi embora! Você disse que estava me deixando e que estava deixando esse lugar! - esbravejei de uma vez, completamente incerta do que tava sentindo, mas também lembrando de que ouvir aquilo foi uma das coisas mais duras que tive que ouvir.
- Eu não terminei com você, ! - ele respondeu desesperado.
- Foi a mesma coisa!
- , pelo amor de Deus! Eu não terminei com você, eu jamais terminaria! - ele exclamou sério e cheio de sentimento. Um lado meu se sentiu completamente aliviado e o outro massacrado - Será que a gente pode voltar a falar sobre o que estávamos falando? Podemos ir por partes?
- Eu só preciso voltar a fazer terapia, . Eu não aguento mais olhar pra você e sentir que estou acabando com a sua vida! - eu fechei os olhos e disse de uma vez. Doeu mais do que tudo, mas eu disse, eu finalmente disse.
- Do que você está falando? É porque eu estou próximo da Shyla? É isso?
- VOCÊ É LOUCO?
- Eu só estou perguntando, !
- Eu não estou com ciúmes de vocês dois, , eu estou ocupada demais presa nos meus próprios pensamentos de merda!
- Você acha que eu estou feliz com tudo isso? Você acha que eu também não queria ter anos e anos com você só pra mim, só nós dois? Eu queria isso também e eu sei que parece desesperador a ideia de termos um filho porque não tem muito tempo que a gente tá junto e isso é assustador, então eu preciso saber o que você quer fazer de verdade! Seja qual for a sua decisão, eu vou respeitar! - ele começou praticamente gritando e com um olhar desesperado, do tipo que implorava pra que eu compreendesse seu lado, e no fim veio só o fiapo da sua voz, completamente entregue à todo o mar de pensamentos que estavam me rondando há dias. Suas últimas palavras me trouxe um arrepio dos pés à cabeça.
- Eu estive confortável em sentir desconforto a minha vida inteira. Eu não sei como é o outro lado, eu não sei como é ser só feliz. - mais uma vez, apertei os olhos, sem coragem de encarar ele, mas sendo completamente honesta.
- Ninguém sabe, . É bizarro, horrível e difícil aceitar, mas a tristeza é muito mais comum que a felicidade.
- É claro que eu quero ser mãe, é claro que eu quero um filho seu, mas... Eu me sinto tão culpada! Parece que eu estou estragando alguma coisa, algum momento!
- Por Deus, você não está estragando nada! Não é nada fácil criar uma criança, você planejando ou não vai ser difícil, mas eu estou aqui com você! - ele passou as mãos pelos cabelos completamente aflito.
- Tem como você me dar um tempo? Eu tenho que pensar e você tambem! Eu não quero te impedir de nada, então se você quiser... - eu não tinha planos de dar continuidade na frase porque simplesmente foi algo idiota a ser falar e a expressão brava e fechada de me calou de uma vez.
- Eu vou sair daqui agora pra não ter que ouvir o fim dessa frase, . Até mais!
Eu me senti mais desconectada ainda de tudo.
Os últimos dias não trouxe muita coisa nova. Voight tentava me deixar confortável me lembrando o tempo inteiro que estava disponível pra mim pra qualquer coisa; Eu ainda não tinha conversado com a minha mãe; estava ocupada ensaiando pra sua próxima apresentação e estava um pouco distante, estressada e até grossa; Voight e Holt estavam tentando decidir de vez o que fazer com Landon, que estava completamente desacreditado da sua própria recaída; Shyla continuava próxima de e dos meninos.
Falando em ...
Estava tudo a mesma coisa. Exatamente a mesma coisa. Saí do meu trailer e dei passos longos até o escritório, na esperança de encontrar Voight pra poder conversar, mas dei de cara com Leon sentado segurando alguns papéis na mão que foram colocados na mesa assim que entrei sem nem avisar.
- Que falta de educação é essa? - Leon sorriu de canto.
- Eu pensei que...
- Ele não está. Coloquei Voight pra trabalhar na rua um pouco pra ver se ele se lembra que aqui é uma gangue e não um centro comunitário. - ele foi logo falando e minhas sobrancelhas se arquearam.
- O conceito de uma gangue geralmente é proteger as pessoas que fazem parte dela e dos bairros que tomam conta, não é? Voight e Holt fazem um ótimo trabalho! - me encostei na parede e me segurando pra não rolar os olhos em irritação, sabendo que o rumo da conversa não seria nada bom.
- Não, eles não fazem. Dá pra proteger as pessoas sem esquecer do resto, . Isso aqui não é feito pra ter só paz, porque se fosse, não seria uma gangue. - ele levantou claramente irritado - E eles esqueceram que fazem parte de uma.
- Eles fazem um bom trabalho! - repeti ainda mais alto, dando um passo grande pra frente.
- Eu acabei de sair da cadeia e mesmo quando estava lá eu sabia que o número de gangues cresceu por aqui. Você não tá fazendo um bom trabalho se deixa que apareçam mais concorrentes, e você deve saber que cada esquina importa, cada rua! - ele se mostrou irritado rápido demais.
- E agora você voltou e tudo vai mudar? - e que se dane, minha voz veio carregada no deboche.
- Exato! - ele entrou na onda e respondeu sarcástico.
- Não foi você que quase morreu porque Paul mandou te matar? - semicerrei os olhos minimamente e dei um falso sorriso que logo se tornou verdadeiro ao ver a expressão do homem se fechar no mesmo segundo.
- Sim, mas ele não sabe que eu estou vivo, mas em breve vai saber.
- E você não tem medo de morrer de verdade? Ou de voltar pra cadeia?
- Claro que não! Lá da cadeia ninguém pode entrar e me matar, mas eu posso mandar matar qualquer um lá de dentro. - ele deu uma piscadela.
- Mas Voight me disse que você não gostava muito da ideia de ter parceria ou cooperar com a polícia, então como...? - arrisquei a pergunta, esperando ele dar continuidade. Leon não era tão difícil de conversar quanto Voight, não tinha cerimônias. Ele conseguia ser bizarro de um jeito completamente negativo e isso me dava raiva, mas o fato dele realmente falar me deixava presa ali.
- Eu não sou trouxa, . Eu odeio a polícia e sempre vou odiar, mas no fim do dia eu controlo quem eu quiser de lá com dinheiro. Meu sacrifício e minha cruz é ter que ter pelo menos o mínimo de contato com esses filhos da puta.
- Olha, eu vejo Voight e Holt cuidar dos The Lions há tanto tempo e sempre deu certo. Eu não sei o que você acha que pode mudar aqui, mas eu te garanto que ninguém vai gostar. - respirei fundo e mandei a verdade de uma vez. Com certeza ele já tinha ouvido isso, mas era bom ouvir de novo.
- Mudanças são necessárias, !
- O que você vai fazer de diferente? Você vai precisar se esforçar muito pra...
- Porra, você é mesmo parente do Voight! Eu sou o dono disso aqui e sei o que é melhor! Eles deixaram toda essa confusão com Paul chegar a esse ponto e outras gangues aproveitaram pra subir no nosso cangote e causar também! - ele ergueu a mão irritado, assim como o tom da sua voz.
- Ei, espera aí! Toda essa confusão com Paul começou com você e com Yaser! - rebati nervosa com o dedo apontado pra ele. Quem ele pensa que é?
- Eu não vou discutir com uma criança! - ele passou a mão pelos cabelos e exclamou com puro desdém, fazendo minha raiva aumentar ainda mais.
- Vai pro inferno então!
Eu gritei com raiva e ele fez sinal pra que eu saísse, mas um enjoo e uma ânsia de vômito completamente repentina e certeira me invadiu. Talvez fosse só a raiva que Leon tinha me causado ou fosse só a gravidez dando um oi, me lembrando que o bebê estava mesmo ali e estava me mandando um sinal, e um sinal nada agradável. Eu corri até a lixeira com a maior pressa do universo, segurando meu próprio cabelo e vomitando ali mesmo.
- Mas que porra? Puta que pariu, ! Você por acaso tá doente, grávida ou o que? Caralho, leva essa merda lá pra fora, pelo amor de Deus! - o escândalo que Leon fez foi impagável de verdade.
- Se você fosse tão bom assim, não teria nem sido preso. - foi a última coisa que eu disse antes de sair do escritório e deixar Leon com cara de tacho.
Eu decidi vir com um pouco mais cedo pra casa de shows porque as coisas com ainda estavam estranhas e eu não tinha a coragem de vir com ele, mesmo com toda a saudade de segurar firme nele enquanto ele dirige a moto.
Sério, eu nunca pensei que sentiria saudade de algo tão simples!
- Eles já estão chegando, Scott acabou de me avisar. - encarou o celular e logo levantou o olhar até me encarar. Ela pegou o copo de água que estava na mesinha do camarim e levou até a boca sem tirar os olhos de mim.
- Então já vou indo! Boa sorte! - dei um abraço apertado em mas não senti o mesmo de volta, muito pelo contrário, e assim que nossos corpos se afastaram eu franzi a testa ao observar seu olhar entre debochado e irritado - O que foi?
- , quando é que você vai se resolver com de uma vez?
- ...
- Eu sei, tem o bebê e é muito complicado e eu vou amar essa criança se você ter ela, mas você tem que se decidir. ama você!
- Você sabe que é complicado porque eu não estou pensando só em e...
- Eu sei , você pensa em todo mundo e em um monte de coisa. Eu sei que não somos iguais e eu não quero ser ridícula falando isso, mas eu fui traída! Meu pai morreu, mas eu tenho Holt. Eu me sinto com tanta raiva de Paul mas ao mesmo tempo eu paro e penso que não posso focar minha energia nisso porque eu tenho que cuidar do meu pedacinho de carreira. Eu quero surtar também, mas eu não posso. - a voz quase embargada e cheia de raiva de me chocou de maneira que eu nunca saberia explicar.
- Por que você tá...
- Porque eu te amo, ! Você é uma parte de mim e eu não aguento mais ver você sofrendo assim sendo que o te ama e você ama ele! Eu sei que passa um turbilhão de coisas pela sua cabeça, mas você mesma sabe reconhecer isso, você sabe que isso não te leva a nada, mas ainda assim confinua. Isso é comportamento impulsivo! Olha... Eu não sou a melhor pessoa pra isso, eu não tenho muita moral, mas eu preciso que pelo menos uma coisa se acerte, ok? Só uma! - ela estava desesperada e explicitamente triste. Quando foi que eu me tornei uma amiga tão ruim assim? estava contando comigo pra ela poder se sentir um pouquinho feliz, e não era nem por ela mesma, e sim por mim. Estar feliz por mim já seria algo grande pra ela. Simplesmente... inacreditável.
- Eu acho que a gente precisa de ajuda mesmo. Ajuda profissional. - foi só o que saiu da minha boca com o coração completamente pesado e dolorido - Boa sorte, .
Ok, vamos lá... A maioria das grandes tragédias e triunfos não acontecem porque as pessoas são boas ou más, mas mas sim porque as pessoas são, basicamente, pessoas. Coisas ruins sempre vão acontecer e tudo bem. Tudo bem mesmo. Minha respiração já estava na casa do chapéu e ainda assim eu andava pelas pessoas que já estavam se acomodando aos poucos e senti que pude respirar novamente quando avistei de longe.
Apertei o passo e fui me amassando entre as pessoas até chegar até ele e observando que todos estavam presentes exceto Landon. Scott foi o primeiro que me cumprimentou todo animado, em seguida Cohen, Shyla e por último , que me abraçou gostoso e envolveu os braços na minha cintura, me encarando por longos segundos e me dando um selinho demorado que me fez ir ao céu.
- Pelo menos aqui não tem como você me evitar. - ele sussurrou rápido no meu ouvido e riu em seguida. Ele riu!
- E você vai mesmo se aproveitar disso? - usei um falso tom de seriedade que ele jamais acreditaria, então ele entrou na brincadeira.
- Se você não quiser, está livre pra ficar longe de mim. - ele tirou as mãos da minha cintura e as colocou pra cima como se estivesse se rendendo.
Eu semicerrei os olhos e ri alto num falso humor, virando um pouco o corpo pra dar falsos indícios que sairia de perto, mas uma mão pousou no meu ombro bem de leve e eu tive que me virar de vez, dando de cara com Shyla.
- Meu Deus, oi! - eu gargalhei completamente surpresa.
- Eu vou buscar uma bebida, que ir comigo? - ela fez o convite de maneira extremamente simpática e era impossível dizer não.
Passamos por e fomos até o bar, onde eu mesma acabei pedindo uma bebida e rindo sozinha ao lembrar que não podia tomar. Shyla fez seu pedido e me olhou um pouco aflita, aquele jeitinho agoniado que te domina quando você quer começar a falar sobre alguma coisa mas não sabe por onde começar.
- Shyla, o que foi?
- Hm? - ela se fingiu de desentendida, dando um gole longo em sua bebida.
- Você tem algo pra me falar, não tem?
- Ok, eu tenho, e eu estou morrendo de vergonha de falar isso porque eu fui uma grossa naquele dia que você foi até o meu trailer e eu nem atendi a porta, aí coisas aconteceram e você nem mesmo sai do seu trailer e tem sido muito bacana comigo, muito mesmo, e todas as raras vezes que eu te vejo passando por lá eu me sinto um pouco mal porque não quero que pareça que... Meu Deus, é ridículo falar isso, mas eu não quero que fique um clima chato entre nós porque...
- Você acha que eu estou com ciúmes de você com ? - eu a interrompi rindo, mas não debochada nem nada, eu só ri mesmo porque o nervosismo dela estava sendo adorável.
- CALMA! Desculpa se isso parece ridículo, mas eu só... - ela parou de falar e deu mais um gole na sua bebida e por um segundo aquilo me apavorou.
- Shyla, pelo amor de Deus, o que é? Você tá gostando dele ou algo assim? Ou você só não quer ficar num clima chato comigo porque está sendo amigável?
- Pelo amor de Deus!!! - ela disparou a gargalhar de verdade, sem deboche, sem ironia, sem nada maldoso, ela apenas começou a rir - , sério, você precisa sair mais do seu trailer! Mulher, está sendo sim completamente amigável e eu fico muito feliz por isso, e não estou querendo puxar o saco, mas é que ele fala muito de você e às vezes eu me sinto mal porque eu não te conheço muito bem e não quero dar a impressão que estou dando em cima do seu namorado ou algo do tipo, até porque ele tem me ajudado com outra coisa e...
- Que coisa?
- É meio que um segredinho, ok? Scott e sabem e... Digamos que eu esteja um pouquinho afim do Cohen mas ele simplesmente não enxerga! e Scott estão tentando me ajudar com isso mas ele simplesmente não enxerga e eles até ficaram surpresos porque disseram que Cohen não é tão lerdo assim, mas comigo simplesmente não está rolando e eu não sei se ele só não percebeu mesmo ou não está interessado.
Foi a minha vez de rir. Muito. Tanto que Shyla começou a rir da minha risada.
- Você tá afim do Cohen?
- É!
- Meu Deus, eu realmente preciso sair mais do meu trailer! - eu passei a mão na barriga de tanto que eu ria.
- É, precisa mesmo!
- Meu Deus, como ele não percebeu ainda? Você já tentou algo? - eu arregalei os olhos assim que parei de rir e me concentrei no assunto, completamente sem entender como Cohen estava deixando isso passar.
- Eu não sou muito boa em flertar e esse tipo de coisa, mas eu acho que já deixei um pouco óbvio e... Sério que de tudo o que eu falei só isso chamou a sua atenção? - Shyla franziu a testa confusa.
- Claro! Como ele não percebeu ainda? - o mesmo olharzinho aflito estava presente como se ela já estivesse se preparando pra algo ruim - Quer dizer, é legal da sua parte me contar o que está acontecendo, mas não deveria ser uma coisa tão necessária, sabe? pode ter amigas mulheres, eu realmente não me importo, e eu fico feliz que ele esteja te ajudando a se adaptar melhor! - eu fui o mais transparente possível e imediatamente pude ver a expressão de Shyla se transformar.
- É que... Desculpa o pré julgamento, mas você sabe como é, né? Eu sei que são casos e casos, mas não quis deixar alguma impressão de que algo de errado poderia estar acontecendo, até porque ele gosta muito de você!
- Eu sei sim, Shyla, e eu entendo que deve ter sido estranho porque eu quase não apareço e... Não estamos no nosso melhor momento. - dei os ombros.
- Tá tudo bem? - chegou de mansinho, arregalando os olhos minimamente assim que olhou o copo de bebida ao meu lado e tentou, discretamente, me repreender com o olhar e eu ri fraco.
- Tá sim, eu falei o que tinha pra falar. - Shyla sorriu simpática.
- Que era...? - questionou com um sorrisinho maroto nos lábios.
- Que você me traiu. - eu fechei a cara no mesmo segundo que o respondi e ele só faltou dar um pulo de tanto susto.
- O QUE?
E mais risadas. Eu e Shyla quase não nos aguentamos de tanto rir enquanto nos encarava desacreditado até que começou a rir junto também.
- Porra, a sua cara foi demais! - Shyla comentou em meio aos risos que estavam quase a deixando sem ar.
- Cinco minutinhos de conversa e vocês já estão assim? - fingiu estar chateado, com uma carinha emburrada linda e eu dei um selinho rápido em seus lábios.
foi anunciada, as luzes se apagaram e ela entrou no palco de maneira graciosa como sempre. Eu não estava brava com ela nem nada do tipo, eu só estava sentida em como eu acabei sendo egoísta pensando tanto em mim nas últimas semanas. perdeu tanto quanto eu e ela não tinha o direito de desmoronar tanto quanto eu pela sua carreira. Não quero que pareça uma competição de sofrimento, mas ela merecia mais atenção de mim, merecia mais apoio também.
me abraçou por trás durante o show inteiro. Eu estava levemente feliz por saber que de alguma forma minha melhor amiga estava aliviando toda a tensão que estava sentindo ao cantar, e óbvio, também feliz por ter os braços de envolvidos em mim. E eu pensei que não poderia melhorar, mudar, ou trazer algo novo, mas veio tudo de uma vez. entrelaçou nossas mãos e as encostou em minha barriga. Não de um jeito usual, mas sim de uma maneira tão nova e cheia de luz que... Simplesmente não dá pra explicar. Eram literalmente só nossas mãos entrelaçadas na minha barriga mas com uma energia completamente diferente.
Quero dizer... Temos um bebê. Óbvio que é diferente, mas eu não sabia que seria tão diferente.
Era a primeira vez que eu encostava na minha barriga com o pensamento de que, ei, tem um bebê aqui dentro! E pior... Ou melhor... Não foi algo ruim de se sentir. Não precisávamos falar. Meu Deus, tudo o que não precisávamos no momento era falar.
cantou sua última música e o palco se apagou de uma vez, sem dar tempo dela agradecer. Por um segundo eu estranhei, mesmo estando dominada por toda a onda de carinho com que nos foi proporcionado, mas logo algumas luzes voltaram a iluminar o palco e todos gritaram feito loucos. e Glenn estavam ali juntos. Ele se apresentou caloroso e todos gritaram mais ainda. O começo de Feel My Love começou a tocar de fundo e... Por Deus, eu já estava fora de mim. sorria tão largo que eu não me aguentava de tanto que sorria também por ela.
(Alguém me disse)
Love was only
(Amor estava apenas)
In the movies
(Nos filmes)
It don't exist in real life these days now
(Ele não existe na vida real nesses dias de agora)
But you showed me
(Mas você me mostrou)
If I only just find the faith I need to believe
(Se eu apenas achar a fé que preciso pra acreditar)
Anything is possible
(Qualquer coisa é possível)
If you want it bad enough
(Se você realmente quer isso)
Know the sky, ain't too high
(Saiba que o céu não é tão alto)
Test your limits
(Teste seus limites)
You can feel unstoppable
(Você pode se sentir imparável)
Incredible
(Incrível)
Almost there, I can see I'm so ready
(Quase lá, eu posso ver, estou tão preparado)
Oh, this has gotta be the night that dreams come true
(Oh, essa tem que ser a noite em que os sonhos se tornam realidade)
Everything feels just right
(Tudo parece certo)
'Cause when I'm with you, you know, girl I'll be holdin' on
(Porque quando estou com você, você sabe, garota eu estarei segurando firme)
Said you feel my love
(Disse que você sentiu meu amor)
Did you feel my love
(Você sentiu meu amor)
Neste lugar, com essa música, com o seu corpo abraçando o meu da maneira mais carinhosa do mundo é que eu tenho a certeza que sim, a gente vai dar certo. Não temos absolutamente nenhuma obrigação de nos consertar, mas eu juro, amar me faz querer ser melhor e eu sei que ele sente o mesmo. A gente pensa tanto um no outro que a gente pensa em si também.
- ? - encostei minha cabeça em seu ombro de leve, sussurrando em seu pescoço.
e Glenn cantavam juntos da maneira mais conectada e linda que dois artistas poderiam cantar.
- Hm?
E fugiu. O que eu tinha pra falar pra ele fugiu da ponta da minha língua e algo maior me tomou a atenção novamente. A mão de acariciava a minha barriga com delicadeza e eu ri gostoso. Ri ao lembrar que, meu Deus, a primeira vez que nos falamos foi quando Keith não parava de chorar. Uma criança estava no meio do nosso primeiro contato. Talvez seja só ironia, bom humor ou um susto do destino, mas é completamente possível dar certo.
Vamos ter um bebê.
A gente tirou todo o atrasado. Meu Deus, e como tiramos!
dormia tranquilamente e eu observava seu peito subindo e descendo ao respirar feito boba. Dei um longo suspiro e um beijinho leve em seus lábios e me ajeitei na cama, puxando o edredom não tão grosso para me cobrir também enquanto me aninhava do jeito que dava pra ficar pertinho dele.
E o meu celular tocou.
acordou no mesmo segundo assustado, piscando inúmeras vezes enquanto eu me apoiava uma pouco no seu corpo pra poder pegar o celular que estava na mesinha do lado da minha cama. O brilho da tela me cegou por alguns segundos mas consegui ver que era antes de atender.
- ?
- !!!
- O que foi? - franzi a testa no mesmo instante que ouvi a voz completamente ofegante da minha amiga - Aconteceu alguma coisa?
- Holt e Voight! , pelo amor de Deus, eles estão no hospital! A gente... A gente precisa ir pra lá agora!
BOOM.
Não pode se preparar para um impacto repentino mas puta que pariu. Eu senti minha alma sair do corpo de verdade. Meu corpo ficou completamente quente e uma sensação de sufoco me atingiu no mesmo segundo. atropelava todas as palavras enquanto tentava dizer que algo tinha acontecido com eles mas não sabia direito o que tinha sido. começou a se vestir rápido e eu fiz o mesmo, provavelmente errando até o lado da calcinha.
Saímos do trailer às pressas e uma correria começou. Alguns rapazes que não moravam ali mas que trabalhavam pra Holt e Voight passaram pelo portão com pressa e gritando pra que todos ficassem tranquilos e que nada aconteceria com eles.
- SEM P NICO! - Scott e Cohen apareceram gritando também enquanto as pessoas abriam as portas mas eles vinham da direção dos seus próprios trailers.
- Cara, o que é isso? - perguntou confuso enquanto me puxava pela cintura como se quisesse me proteger de toda a gritaria.
- Leon ligou, disse que talvez os Ghosts tentem algo essa madrugada e que era pra gente se preparar. - Cohen respondeu atento a tudo o que estava acontecendo ao redor.
- Vocês não sabem? - perguntou confuso.
- Sabem do que? - Scott perguntou de volta.
- Holt e Voight. Aconteceu algo. Eles estão do hospital! Leon não falou nada sobre isso?
- Não! - eles responderam juntos e de imediato surgiu uma expressão nada boa em seus rostos.
- Vamos logo! - eu pedi alto.
- Ei! - Landon saiu de seu trailer com as mãos no ar e confuso, e logo em seguida Shyla também saiu.
Não deu tempo de explicar, simplesmente pediu pra que todo mundo ficasse quieto e colaborasse. Algo poderia acontecer ali e ele pensou rápido. Cohen e Scott conversaram rápido com dois outros rapazes e pegaram a chave de um carro. chamou Landon e Shyla para nos acompanharem sem nem explicar o que estava acontecendo e mesmo assim eles estavam vindo conosco.
Cohen dirigia numa velocidade absurda e eu nem mesmo estava me importando.
"Eles vão morrer"
Esse pensamento estava me perseguindo. Que merda eles estavam fazendo e o que aconteceu? Independente do que for, não pode acabar assim.
Voight vai ser... avô.
Eu dei um pulo do carro assim que o mesmo parou no estacionamento do hospital. Eu corri até a emergência e encontrei de cara a , tia Ellie, Leon e Yaser.
Pelo amor de Deus!
- O QUE ACONTECEU? - eu gritei desesperada.
- Pai? - questionou desacreditado, encarando o pai completamente confuso.
- Está tudo bem, os médicos estão...
- COMO ESTÁ TUDO BEM?! - eu interrompi Leon completamente chocada.
- Foi só a merda de um tiro no braço e outro na perna, eles estão bem, vão sobreviver, menina! - ele respondeu com a expressão brava e quase nada de preocupação em sua voz.
- Você! - eu apontei pra ele com lágrimas nos olhos - O que você fez?
- Eu? Você é maluca? - Leon não estava entendendo nada mas eu estava.
- , calma! Eles foram atrás do Paul, mas Leon já tinha planejado um ataque contra os Ghosts hoje e Voight e Holt não sabiam. Eles estavam no meio do tiroteio e foram atingidos mas não atingiu nenhum lugar que os deixasse em estado grave! - Yaser respondeu baixo, sem muita coragem de me olhar nos olhos.
- Você disse que tinha mandado meu pai pra rua pra ele voltar a entender como as coisas funcionam e ainda planeja a merda de um ataque sem avisar ele? - eu apontei o dedo na cara de Leon, que pela expressão raivosa poderia facilmente arrancar meu dedo junto com a mão fora.
- Eu não sabia que ele tinha ido atrás de Paul! - Leon se defendeu sem paciência nenhuma.
- Como não sabia? - continuei.
- O que você tá fazendo aqui? Você estava com eles? - questionou Yaser. - Sim, mas não aconteceu nada comigo, então eu só... Porra! - ele pareceu realmente incomodado e passou a mão pelo rosto.
- Como ele tá? O que aconteceu de verdade? Eu quero detalhes, inferno! - meu desespero já estava falando mais alto e nada no momento poderia me tirar tanta angústia.
- ! - chamou minha atenção enquanto tentava miseravelmente engolir o choro - Calma! Eles estão em cirurgia, vai ficar tudo bem!
E tudo foi ficando embaçado. Escuro. Meu corpo amoleceu. E escureceu de vez.
's POV
Eu mesmo coloquei deitada na maca e a doutora imediatamente puxou o carrinho com o aparelho de ultrassom.
Eu fodi tudo. Quer dizer, caralho, definitivamente vai me xingar pra caralho porque eu gritei aos quatro cantos que ela precisava de atendimento assim que ela caiu no chão pelo desmaio por conta da gravidez.
Olhei pra ela ainda desacordada e coloquei as duas mãos em seu rosto completamente dominado pela adrenalina, medo, angústia e desespero.
- Ei!!! - meus polegares se empenharam num carinho gostoso em seu rosto assim que seus olhos começaram a se abrir de leve - Tá tudo bem, você tá bem! - falei de imediato assim que ela começou a analisar os cantos do consultório e se sentou abruptamente no mesmo instante.
- O QUE ACONTECEU?
- Você desmaiou, babe. Você precisa... deitar. - eu pedi carinhoso, mas ela não obedeceu.
A doutora mediu sua pressão e o olhar confuso e amedrontado de quase me matou.
- O meu pai... Você tem notícias dele? Ele está em cirurgia! Ele vai ficar bem?
- Eu posso checar assim que der uma olhadinha no seu bebê, pode ser? - no crachá deu pra ler seu nome: Amy. Ela pediu educadamente pra se deitar, com doçura e calma na voz. obedeceu e esticou a mão para que eu a segurasse e foi o que eu fiz. Entrelacei nossos dedos enquanto a doutora subia a blusinha de frio de malha de e passava um gel em sua barriga - Você já começou a fazer seu pré natal, mamãe?
- Eu... Eu não fiz nada ainda. Descobri há pouco tempo. - balançava a cabeça como se quisesse se lembrar de se manter sã.
- Você pode marcar uma consulta aqui mesmo e conhecer os planos do hospital se quiser. Posso mandar alguém pra conversar com você depois também sobre todas as opções. - a doçura em sua voz realmente era algo a se admirar. Amy aparentemente tinha mais de 50 anos bem vividos mas tinha algo em seu olhar que chamava mais atenção do que as rugas, e digo isso no bom sentido. Ela mexia o aparelho na barriga de e nós olhávamos pra tela sem piscar - Parece estar tudo bem com o seu bebê. Ainda é muito pequeno, mas está tudo bem. O seu desmaio foi só um susto, mas agora... Estão preparados?
- Pra que? - perguntamos em coro.
- Pra isso aqui.
E o meu mundo parou do jeito mais bizarro e lindo. No meio de tudo isso, eu me senti mais vivo e abençoado do que nunca. me olhou com os olhos arregalados e sorriu no meio das lágrimas que já ameaçavam sair dos seus olhos.
O coração do nosso bebê batia forte.
Continua...
Nota da autora: Oi pessoal, tudo bem? Montei um grupo do whatsapp pra fic, então quem quiser participar, me manda uma mensagem no facebook ou entra por esse link aqui. Pra entrar no grupo do facebook, só clicar no ícone aqui embaixo! Espero vocês, e obrigada por acompanharem!
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