Capítulo 20
respirou fundo, aliviada por finalmente se ver livre de sua última prova. Era a única que faltava para o semestre poder ser finalizado e ela não via a hora de curtir seu merecido descanso e ter mais tempo para aproveitar. Aquelas semanas pareciam ter se arrastado. Mal havia visto os amigos nesse longo período de provas, no máximo em sala de aula enquanto faziam a prova e logo depois saíam correndo para trocar o material e poder dar uma última revisada antes da próxima. Nem mesmo sua irmã havia visto muito, as duas dificilmente gostavam de estudar juntas e ficaram cada uma em seu cantinho para se ajudar. Confessava que estava mentalmente exausta e com sono acumulado depois de algumas noites mal dormidas, mas o sentimento de dever cumprido e de confiança a dominava ao mesmo tempo a deixando feliz.
— Já posso jogar essas anotações pra cima e berrar “férias”? — saiu da sala, se aproximando da irmã com um bolo de papel em mãos junto com o caderno. A expressão preocupada de antes da aula havia sumido e dado lugar para um sorriso animado. Aliás, todos os alunos que vagavam por ali não escondiam o alívio de se verem finalmente livres.
— Não se esqueça que não estamos no Brasil, férias de verdade mesmo só ano que vem. — relembrou em tom de provocação, mas também se segurando para não ter a mesma atitude da irmã.
— Aff! O que importa é que teremos bons dias de descanso. — a primogênita deu de ombros, socando tudo dentro da mochila e a jogando nas costas.
— Falou tudo, ! — apareceu junto com e Dylan atrás das duas. instantaneamente prendeu a respiração por alguns segundos para se controlar e poder agir normalmente. Desde o último ocorrido, os dois mal haviam trocado mais que dez palavras. Primeiro por causa da falta de tempo e segundo porque ela sempre se esquivava quando o clima começava a pesar.
— Não serão tantos dias, mas teremos muita comemoração! — Dylan fez uma dancinha desengonçada enquanto caminhavam para fora da escola.
— É, tem aniversário de certas pessoas... — mandou uma piscada para as gêmeas, mostrando que estavam cientes que em pouquíssimos dias elas completariam ano.
— Quem contou pra vocês? — perguntou curiosa, parando de andar quando se encontravam no estacionamento da escola.
— Eu.
— A .
respondeu se culpando no mesmo momento em que os três falavam o nome da amiga. rolou os olhos botando a língua pra fora.
— A e esse amor por aniversários. Não te falaram que é falta de educação ficar falando assim? Parece que tá desesperada pra ganhar parabéns. — a primogênita deu um pedala na mais nova.
— Ei! Não tem nada de mal-educado. Eu só não quero que todo mundo esqueça e a gente fique desolada sem receber nem um mísero parabéns. — ela deu de ombros, ignorando a opinião da irmã e as risadas dos amigos. — E como assim a falou pra vocês? Desde quando vocês são amiguinhos?
— Eu sou amigo dela mesmo e não quero esse papo de gente ciumenta. — Dylan arqueou a sobrancelha autoritário. — Mas quem pegou essa informação e nos passou foi o .
— É, os dois conversam quase todo dia. — aproveitou para entregar mais ainda o amigo, o empurrando sugestivamente pelo ombro enquanto lançava um sorriso malicioso.
— Fui eu mesmo que espalhei, tô nem aí. — deu de ombros divertido. — E o que tem demais em conversarmos tanto? Foram vocês que começaram com isso.
— Calma aí, príncipe. Não tem ninguém te crucificando aqui. — riu debochada, erguendo as mãos em rendição.
— É, você eu deixo conversar com ela todo dia e, se prometer cuidar bem dela, pode até pegar pra você. — passou o braço pelo pescoço dele em um abraço desengonçado.
— Não que eu fosse achar ruim, mas espera pra ver se ela descobre que você tá entregando ela de bandeja assim. — gargalhou divertido ao notar o olhar ameaçador da caçula, claramente demonstrando que aquela conversa não era pra sair dali.
— Por falar nela, é amanhã que ela chega, né? — Dylan fechou a rodinha, usando o ombro de como apoio.
— Sim. vai dar carona pra mim e pra . Quero todos vocês nos esperando lá em casa!
— E eu quero que vocês façam uma festa de aniversário. — lançou um sorriso animado, recebendo confirmações dos outros dois garotos.
— Antes que esse assunto se prolongue ou a festa seja toda programada aqui, será que podemos decidir para onde vamos agora e sair desse sol? Minha cabeça tá fritando. — reclamou, colocando o caderno na cabeça como chapéu. Só restavam eles e poucas pessoas no meio do estacionamento.
— É pra já, madame. — respondeu enquanto destravava o carro para entrarem. — Sorveteria, aí vamos nós.
As gêmeas desceram do carro às pressas com a certeza de que estavam muito atrasadas, sem ao menos se importarem em falar qualquer palavra antes a , o deixando a muitos passos atrás delas perdido. Elas poderiam tentar culpar o trânsito ou a distância, mas sabiam que a culpa havia sido completamente delas ao esquecerem da hora assistindo filme. Correram o máximo que puderam e finalmente chegaram à área de desembarque, avistando de longe uma garota sentada sozinha em um banco rodeada de duas malas.
— AMIGAAAAAA! — correram a pequena distância gritando juntas e chamando a atenção das poucas pessoas que estavam ao redor. Se jogaram em cima da garota sem dar tempo para que ela pensasse.
— Vacas! Mais um minuto e eu juro que tinha me arrependido de ter pedido essa viagem de presente pro meu pai. — ela saiu do abraço, cruzando o braço e encarando séria as duas.
— Desculpa, ! A gente não fez por querer. — começou com a ladainha, forçando a boca em um bico triste e infantil.
— É, você sabe como a gente consegue ser atrapalhada. — juntou o rosto de lado com o da irmã e lançaram um olhar triste para a amiga. — Perdoa a gente e não deixa de nos amar.
— Argh! Não acredito que tava com saudade até desse poder de convencimento de vocês duas. — rolou os olhos com um sorriso nos lábios, voltando a encarar as duas em um respiro fundo e abrindo os braços. — Me dá um abraço aqui, suas chatas!
Finalmente fizeram tudo que sempre faziam quando passavam muito tempo sem se ver: se abraçaram por bons minutos enquanto davam gritinhos animados e falavam sem parar de diversos assuntos e fazendo milhares de planos. Somente quando pigarreou próximo das três que elas se deram conta de onde ainda estavam.
— Ah, me deixe apresentar vocês logo. esse é o , essa é a . — tomou a frente, apresentando os dois.
— Ah, então você é o famoso ?! — perguntou divertida, cumprimentando com um aperto de mão. Não pôde evitar um olhar sacana na direção da primogênita.
— Famoso é? — ele ergueu uma das sobrancelhas curioso com um sorriso de lado.
— Sim! A fica...
— Ei! Acho que já podemos ir. — cortou o assunto, lançando um olhar assassino antes que a amiga terminasse a frase.
— Podemos sim, mas não se preocupem. Teremos muito tempo para terminar esse assunto. — completou apenas para se divertir com a cara da irmã, a única a não rir de sua resposta.
Eles finalmente seguiram até o carro e foram em direção à casa das gêmeas. Como combinado antes, todos os amigos estariam lá para poderem começar a viagem de bem animada. E também para que todos pudessem logo conhece-la. Kath havia se prontificado para fazer o almoço para todos e o cheiro bom de comida estava invadindo até mesmo a rua.
— Chegamoooooos! — falou alto ao abrir a porta e entrar.
— Finalmente! A gente tá morrendo de fome. — Dylan ergueu as mãos em agradecimento. Estava largado no sofá com e . estava na poltrona ao lado.
— Verdade. O quase convenceu todo mundo a comer e deixar vocês comerem sozinhos depois. — fez piada, vendo todos concordarem, com exceção do citado.
— Não adianta tentar jogar a culpa em mim, . Eu vi você cochichando com a tia Kath, doido pra ela te dar um pedaço da lasanha escondido. — arremessou uma almofada no amigo.
— Ei! Que baderna é essa na minha casa? A gente não pode sair um pouquinho que vocês já tomam de conta. Intimidade é uma merda, viu? — perguntou (quase gritando) para chamar a atenção de todos dali quando passou pela porta, recebendo apenas beijos e risadas debochadas para ela. —Enfim, aproveitando que tá todo mundo prestando atenção, conheçam minha amada amiga . Ela é pequena assim mas dá mais trabalho que gente grande. Ah, deve ser alimentada de uma em uma hora para a segurança de todos e de preferência sempre com um chocolate por perto.
— , eu agradeço pela apresentação, mas juro que se você falar mais uma frase dessas eu começo minha palestra sobre todos os seus podres. — entrou no campo de visão de todos, sorrindo tímida e dando um aceno com a mão após mandar língua para a amiga. Soltou uma risada fraca ao escutar o coro dos quatro juntos. — Oi, gente.
— Oooi, !
— Esse é o , e o Dylan. — tomou a frente antes que iniciasse uma discussão boba e apontou para cada um na apresentação. Parou por alguns segundos e lançou um sorriso malicioso antes de se aproximar de , o puxando para ficar de pé e passando o braço por seus ombros. — , esse aqui é o . , essa é a . Podem se abraçar.
— Ou se beijar. — Dylan forçou uma tosse e falou baixo, mesmo que todos ainda tenham conseguido escutar e rir depois.
— Vocês poderiam ser menos inconvenientes? — rolou os olhos visivelmente envergonhado.
— Não! — responderam em coro em meio a risadas, até mesmo que havia acabado de largar as malas no canto e entrado na sala.
— Agora, eu que digo: intimidade é uma merda, viu? — mandou dedo para eles, ignorando todas as vaias e gritinhos ao cumprimentar com um aperto de mão. Ele até poderia tentar um abraço, sabia que no Brasil era comum, mas a vermelhidão no rosto da garota o impediu.
— , querida! — Kath cortou o clima, para alegria dos dois que estavam em foco, e puxou a garota para um abraço caloroso. Ainda guardava muito carinho pela amiga das netas desde sua última visita ao Brasil. — Que bom que você está aqui!
— Tia Kath, não poderia estar mais feliz! — retribuiu o abraço com agrado, gostava da senhora como se fosse sua avó também. — Estava com saudades de você.
— Eu também. Depois que convenci as meninas de virem, deixei de me programar para ir lá, ainda bem que você veio e não esperou por mim. — soltou uma risada divertida.
— Amo vocês duas, mas além de estar começando a me dar ciúme desse amor todo, preciso lembrar que está todo mundo com fome. — interrompeu o abraço, guiando as duas na direção da cozinha com a concordância de todos.
— Não seja por isso, vamos todos comer! — Kath respondeu.
— , você deve tá morrendo de sono. Quer ir deitar logo? — perguntou ao notar a garota com os pensamentos longe e a cabeça apoiada em seu ombro. Fazia duas horas que tinham comido, em meio a muita conversa e piadas que fizeram a turista se sentir em casa, e estavam todos largados na sala em uma competição de mortal kombat.
— Se eu deitar agora não consigo nem pensar em que horas vou levantar. É melhor me manter ocupada e deixar para dormir na hora certa, se não fico presa pra sempre nesse jet lag. — ela levantou a cabeça, coçando os olhos.
— Só foi ela conversar um pouquinho com o que já ficou entediada. — fez piada arrancando risadas de todos, menos do citado. Os dois engataram em uma conversa depois dos primeiros momentos constrangedores e tinham parado apenas porque chegara a vez dele jogar.
— Não vou nem retrucar pra não acabar perdendo aqui. — falou sem desgrudar os olhos da televisão.
— É bom mesmo, . Se não ia ficar fácil demais pra mim. — atiçou o concorrente enquanto fazia mais um golpe no jogo e vencia o primeiro round.
— Tadinho, gente! — respondeu, rolando os olhos com o coro de “awn” que surgiu. — Ficaria com sono conversando com qualquer um na situação que estou. Por isso, vamos falar de coisa animada pra me ajudar. Como por exemplo, o aniversário das gêmeas mais chatas dessa sala. Tudo certo pra festa?
Mesmo na correria pra viagem, conseguiu acompanhar a decisão das duas por fazer uma comemoração do dia. Decisão que partiu mais de , completamente apaixonada por comemorar aniversários enquanto estavam na sorveteria no dia anterior, e que foi aceita de bom grado por , que não recusava festa. Era até de duvidar quem em menos de 24 horas tinham resolvido tudo, mas seria algo apenas para os mais próximos na casa de , para poderem aproveitar a piscina em uma clássica “festa na piscina”. Graças aos bons contatos dos garotos, haviam conseguido garantir as bebidas, petiscos, som e grande parte dos convidados. Não fosse isso, nunca teriam levado para frente a ideia, já que a comemoração seria logo dali a dois dias.
— Não vejo a hora dessa festa chegar. — largou o celular e se sentou direito na poltrona para prestar atenção.
— Nem eu! Parece que falta um ano. — rolou os olhos enquanto aproveitava o cafuné que mesmo fazia em seus cabelos.
— A melhor ideia com certeza foi a minha: festa na piscina. Esse calor de Califórnia tá pedindo por algo assim. — falou após ganhar mais uma partida do jogo, eliminando e esperando que tomasse o lugar.
— Eu também acho o máximo. — Dy concordou.
— O que você não acha o máximo, Dy? — soltou uma risada divertida ao notar que ele a mandava dedo, voltando a responder enquanto selecionava o personagem no jogo. — Mas falando sério, foi uma boa ideia mesmo.
— Curti desde que ouvi pela primeira vez. — respondeu instantaneamente mais animada. — Inclusive, espero que providenciem balões d’água.
— Uou, seria muito legal uma guerra desses balões pra animar a festa! — concordou também animado. Tinha voltado para o seu lugar no sofá, ao lado de , e engatado em uma conversa boba sobre festas.
Em poucos segundos, e Dylan assistiam a um vídeo de compilados de quedas no celular e se matavam de rir, e conversavam entre si, e se curtiam em sua própria bolha às carícias e beijos. iniciou a partida e tentou não se desconcentrar por estar tão próxima de novo de . Ainda ficava agradecida por ele não tocar no assunto do quase beijo desde então, não estava preparada e com certeza não saberia o que falar.
— O que você quer de aniversário, ? — cortou o silêncio entre os dois, mantendo os olhos no jogo para mais um golpe.
— Essa é uma pergunta que não se faz, . — respondeu enquanto se concentrava em mexer os dedos sem parar. Aquele não era definitivamente um jogo em que se saísse bem, mas mexer freneticamente com o controle parecia funcionar. Estava quase ganhando o primeiro round.
— E porque não? — ele aproveitou que havia perdido após um golpe dela e estava na troca de round para a lançar um olhar curioso por alguns segundos. — Eu quero mesmo saber.
— Porque é falta de educação ficar escolhendo presente. E outra, nem precisa de presente. Apenas esteja na festa e já vai me deixar feliz. — ela deu de ombros e soltou um palavrão ao ver que ele havia lançado o especial em seu personagem.
— Ah, não tem nada disso. Eu quero te dar algo, . — ele respondeu manhoso e ela teve que se segurar para não acabar pedindo um beijo como tal.
— Não se preocupa com isso, . — ela bufou quando ele venceu o segundo round, lançando um sorriso malicioso pra ele depois. — Ou então pode me deixar ganhar como presente.
— Nem pensar! Estou construindo o meu legado aqui, só falta ganhar de você e da para eu ser o melhor de todos.
— Mas não vai ter oportunidade pra isso. — se meteu na conversa, agora sentada no sofá e com caderno e caneta em mãos. Não sabiam de onde e que horas ela havia tirado aquilo, e só percebiam naquele momento que todos tinham parado suas distrações para prestar atenção nela. Pausaram o jogo e se viraram para o centro da roda. — Vocês estavam concentrados aí em matar o outro que nem me ouviram. Nós vamos tirar o amigo secreto agora, pra termos um tempinho legal para comprar os presentes.
— AAAAAAH, eu tinha me esquecido! — não controlou o tom de voz enquanto batia palmas rápido, recebendo uma série de olhares assustados. — Desculpa, gente. Me exaltei.
— Eu te entendo. — deu uma piscada para a caçula.
— Eu não... — falou tão perdido quanto os outros, arrancando risada das gêmeas.
— Se vocês acham que a gosta do aniversário, é porque nunca viram essas duas no Natal. Parecem duas criancinhas quando a mãe leva no parque. Principalmente quando o assunto é amigo secreto. — explicou enquanto se levantava com um potinho em mãos, já com todos os nomes dobrados dentro.
— E como vai rolar isso aí? Pode ter sacanagem, né? — perguntou ligeiramente mais animado.
— Se não tiver, não tem graça. — Dylan respondeu com um sorriso malicioso.
— Atenção! Vale tudo como presente, inclusive um carro ou algo mais caro para mim. — deu alguns pulinhos animadas, rolando os olhos quando todos a vaiaram. Deu de ombros e começou a passar com o potinho. — Lembrem-se de conferir se não tiraram vocês mesmos.
— Seria bom alguém conferir pro , do jeito que ele é lerdo não duvido nada dele comprar presente pra ele mesmo. — provocou o outro, pegando o último papel disponível e olhando. — Algo me diz que esse amigo secreto será muito divertido.
— Se o tiver me tirado eu vou ficar muito puto. — negou com um aceno mesmo sem tirar um riso frouxo do rosto.
— O meu é difícil. — falou depois de guardar o papel, fazendo um bico com a boca pensativa.
— Na dúvida vai de cachaça, agrada sempre. — mandou uma piscadela divertida para a amiga.
— Principalmente pra tu, né? — lançou um sorriso malicioso com a pergunta retórica.
— Nunca neguei. — a caçula deu de ombros.
Continuaram por boas horas apenas passando o tempo juntos e engatando em uma escolha de melhores/piores presentes para cada um de acordo com a personalidade. Surgiram coisas extremamente vergonhosas e que fizeram a maioria passar grande parte do momento rindo. Depois de tanta risadas e planos eles só tinham uma certeza: aquele natal também iria ser memorável.
— Já posso jogar essas anotações pra cima e berrar “férias”? — saiu da sala, se aproximando da irmã com um bolo de papel em mãos junto com o caderno. A expressão preocupada de antes da aula havia sumido e dado lugar para um sorriso animado. Aliás, todos os alunos que vagavam por ali não escondiam o alívio de se verem finalmente livres.
— Não se esqueça que não estamos no Brasil, férias de verdade mesmo só ano que vem. — relembrou em tom de provocação, mas também se segurando para não ter a mesma atitude da irmã.
— Aff! O que importa é que teremos bons dias de descanso. — a primogênita deu de ombros, socando tudo dentro da mochila e a jogando nas costas.
— Falou tudo, ! — apareceu junto com e Dylan atrás das duas. instantaneamente prendeu a respiração por alguns segundos para se controlar e poder agir normalmente. Desde o último ocorrido, os dois mal haviam trocado mais que dez palavras. Primeiro por causa da falta de tempo e segundo porque ela sempre se esquivava quando o clima começava a pesar.
— Não serão tantos dias, mas teremos muita comemoração! — Dylan fez uma dancinha desengonçada enquanto caminhavam para fora da escola.
— É, tem aniversário de certas pessoas... — mandou uma piscada para as gêmeas, mostrando que estavam cientes que em pouquíssimos dias elas completariam ano.
— Quem contou pra vocês? — perguntou curiosa, parando de andar quando se encontravam no estacionamento da escola.
— Eu.
— A .
respondeu se culpando no mesmo momento em que os três falavam o nome da amiga. rolou os olhos botando a língua pra fora.
— A e esse amor por aniversários. Não te falaram que é falta de educação ficar falando assim? Parece que tá desesperada pra ganhar parabéns. — a primogênita deu um pedala na mais nova.
— Ei! Não tem nada de mal-educado. Eu só não quero que todo mundo esqueça e a gente fique desolada sem receber nem um mísero parabéns. — ela deu de ombros, ignorando a opinião da irmã e as risadas dos amigos. — E como assim a falou pra vocês? Desde quando vocês são amiguinhos?
— Eu sou amigo dela mesmo e não quero esse papo de gente ciumenta. — Dylan arqueou a sobrancelha autoritário. — Mas quem pegou essa informação e nos passou foi o .
— É, os dois conversam quase todo dia. — aproveitou para entregar mais ainda o amigo, o empurrando sugestivamente pelo ombro enquanto lançava um sorriso malicioso.
— Fui eu mesmo que espalhei, tô nem aí. — deu de ombros divertido. — E o que tem demais em conversarmos tanto? Foram vocês que começaram com isso.
— Calma aí, príncipe. Não tem ninguém te crucificando aqui. — riu debochada, erguendo as mãos em rendição.
— É, você eu deixo conversar com ela todo dia e, se prometer cuidar bem dela, pode até pegar pra você. — passou o braço pelo pescoço dele em um abraço desengonçado.
— Não que eu fosse achar ruim, mas espera pra ver se ela descobre que você tá entregando ela de bandeja assim. — gargalhou divertido ao notar o olhar ameaçador da caçula, claramente demonstrando que aquela conversa não era pra sair dali.
— Por falar nela, é amanhã que ela chega, né? — Dylan fechou a rodinha, usando o ombro de como apoio.
— Sim. vai dar carona pra mim e pra . Quero todos vocês nos esperando lá em casa!
— E eu quero que vocês façam uma festa de aniversário. — lançou um sorriso animado, recebendo confirmações dos outros dois garotos.
— Antes que esse assunto se prolongue ou a festa seja toda programada aqui, será que podemos decidir para onde vamos agora e sair desse sol? Minha cabeça tá fritando. — reclamou, colocando o caderno na cabeça como chapéu. Só restavam eles e poucas pessoas no meio do estacionamento.
— É pra já, madame. — respondeu enquanto destravava o carro para entrarem. — Sorveteria, aí vamos nós.
As gêmeas desceram do carro às pressas com a certeza de que estavam muito atrasadas, sem ao menos se importarem em falar qualquer palavra antes a , o deixando a muitos passos atrás delas perdido. Elas poderiam tentar culpar o trânsito ou a distância, mas sabiam que a culpa havia sido completamente delas ao esquecerem da hora assistindo filme. Correram o máximo que puderam e finalmente chegaram à área de desembarque, avistando de longe uma garota sentada sozinha em um banco rodeada de duas malas.
— AMIGAAAAAA! — correram a pequena distância gritando juntas e chamando a atenção das poucas pessoas que estavam ao redor. Se jogaram em cima da garota sem dar tempo para que ela pensasse.
— Vacas! Mais um minuto e eu juro que tinha me arrependido de ter pedido essa viagem de presente pro meu pai. — ela saiu do abraço, cruzando o braço e encarando séria as duas.
— Desculpa, ! A gente não fez por querer. — começou com a ladainha, forçando a boca em um bico triste e infantil.
— É, você sabe como a gente consegue ser atrapalhada. — juntou o rosto de lado com o da irmã e lançaram um olhar triste para a amiga. — Perdoa a gente e não deixa de nos amar.
— Argh! Não acredito que tava com saudade até desse poder de convencimento de vocês duas. — rolou os olhos com um sorriso nos lábios, voltando a encarar as duas em um respiro fundo e abrindo os braços. — Me dá um abraço aqui, suas chatas!
Finalmente fizeram tudo que sempre faziam quando passavam muito tempo sem se ver: se abraçaram por bons minutos enquanto davam gritinhos animados e falavam sem parar de diversos assuntos e fazendo milhares de planos. Somente quando pigarreou próximo das três que elas se deram conta de onde ainda estavam.
— Ah, me deixe apresentar vocês logo. esse é o , essa é a . — tomou a frente, apresentando os dois.
— Ah, então você é o famoso ?! — perguntou divertida, cumprimentando com um aperto de mão. Não pôde evitar um olhar sacana na direção da primogênita.
— Famoso é? — ele ergueu uma das sobrancelhas curioso com um sorriso de lado.
— Sim! A fica...
— Ei! Acho que já podemos ir. — cortou o assunto, lançando um olhar assassino antes que a amiga terminasse a frase.
— Podemos sim, mas não se preocupem. Teremos muito tempo para terminar esse assunto. — completou apenas para se divertir com a cara da irmã, a única a não rir de sua resposta.
Eles finalmente seguiram até o carro e foram em direção à casa das gêmeas. Como combinado antes, todos os amigos estariam lá para poderem começar a viagem de bem animada. E também para que todos pudessem logo conhece-la. Kath havia se prontificado para fazer o almoço para todos e o cheiro bom de comida estava invadindo até mesmo a rua.
— Chegamoooooos! — falou alto ao abrir a porta e entrar.
— Finalmente! A gente tá morrendo de fome. — Dylan ergueu as mãos em agradecimento. Estava largado no sofá com e . estava na poltrona ao lado.
— Verdade. O quase convenceu todo mundo a comer e deixar vocês comerem sozinhos depois. — fez piada, vendo todos concordarem, com exceção do citado.
— Não adianta tentar jogar a culpa em mim, . Eu vi você cochichando com a tia Kath, doido pra ela te dar um pedaço da lasanha escondido. — arremessou uma almofada no amigo.
— Ei! Que baderna é essa na minha casa? A gente não pode sair um pouquinho que vocês já tomam de conta. Intimidade é uma merda, viu? — perguntou (quase gritando) para chamar a atenção de todos dali quando passou pela porta, recebendo apenas beijos e risadas debochadas para ela. —Enfim, aproveitando que tá todo mundo prestando atenção, conheçam minha amada amiga . Ela é pequena assim mas dá mais trabalho que gente grande. Ah, deve ser alimentada de uma em uma hora para a segurança de todos e de preferência sempre com um chocolate por perto.
— , eu agradeço pela apresentação, mas juro que se você falar mais uma frase dessas eu começo minha palestra sobre todos os seus podres. — entrou no campo de visão de todos, sorrindo tímida e dando um aceno com a mão após mandar língua para a amiga. Soltou uma risada fraca ao escutar o coro dos quatro juntos. — Oi, gente.
— Oooi, !
— Esse é o , e o Dylan. — tomou a frente antes que iniciasse uma discussão boba e apontou para cada um na apresentação. Parou por alguns segundos e lançou um sorriso malicioso antes de se aproximar de , o puxando para ficar de pé e passando o braço por seus ombros. — , esse aqui é o . , essa é a . Podem se abraçar.
— Ou se beijar. — Dylan forçou uma tosse e falou baixo, mesmo que todos ainda tenham conseguido escutar e rir depois.
— Vocês poderiam ser menos inconvenientes? — rolou os olhos visivelmente envergonhado.
— Não! — responderam em coro em meio a risadas, até mesmo que havia acabado de largar as malas no canto e entrado na sala.
— Agora, eu que digo: intimidade é uma merda, viu? — mandou dedo para eles, ignorando todas as vaias e gritinhos ao cumprimentar com um aperto de mão. Ele até poderia tentar um abraço, sabia que no Brasil era comum, mas a vermelhidão no rosto da garota o impediu.
— , querida! — Kath cortou o clima, para alegria dos dois que estavam em foco, e puxou a garota para um abraço caloroso. Ainda guardava muito carinho pela amiga das netas desde sua última visita ao Brasil. — Que bom que você está aqui!
— Tia Kath, não poderia estar mais feliz! — retribuiu o abraço com agrado, gostava da senhora como se fosse sua avó também. — Estava com saudades de você.
— Eu também. Depois que convenci as meninas de virem, deixei de me programar para ir lá, ainda bem que você veio e não esperou por mim. — soltou uma risada divertida.
— Amo vocês duas, mas além de estar começando a me dar ciúme desse amor todo, preciso lembrar que está todo mundo com fome. — interrompeu o abraço, guiando as duas na direção da cozinha com a concordância de todos.
— Não seja por isso, vamos todos comer! — Kath respondeu.
— , você deve tá morrendo de sono. Quer ir deitar logo? — perguntou ao notar a garota com os pensamentos longe e a cabeça apoiada em seu ombro. Fazia duas horas que tinham comido, em meio a muita conversa e piadas que fizeram a turista se sentir em casa, e estavam todos largados na sala em uma competição de mortal kombat.
— Se eu deitar agora não consigo nem pensar em que horas vou levantar. É melhor me manter ocupada e deixar para dormir na hora certa, se não fico presa pra sempre nesse jet lag. — ela levantou a cabeça, coçando os olhos.
— Só foi ela conversar um pouquinho com o que já ficou entediada. — fez piada arrancando risadas de todos, menos do citado. Os dois engataram em uma conversa depois dos primeiros momentos constrangedores e tinham parado apenas porque chegara a vez dele jogar.
— Não vou nem retrucar pra não acabar perdendo aqui. — falou sem desgrudar os olhos da televisão.
— É bom mesmo, . Se não ia ficar fácil demais pra mim. — atiçou o concorrente enquanto fazia mais um golpe no jogo e vencia o primeiro round.
— Tadinho, gente! — respondeu, rolando os olhos com o coro de “awn” que surgiu. — Ficaria com sono conversando com qualquer um na situação que estou. Por isso, vamos falar de coisa animada pra me ajudar. Como por exemplo, o aniversário das gêmeas mais chatas dessa sala. Tudo certo pra festa?
Mesmo na correria pra viagem, conseguiu acompanhar a decisão das duas por fazer uma comemoração do dia. Decisão que partiu mais de , completamente apaixonada por comemorar aniversários enquanto estavam na sorveteria no dia anterior, e que foi aceita de bom grado por , que não recusava festa. Era até de duvidar quem em menos de 24 horas tinham resolvido tudo, mas seria algo apenas para os mais próximos na casa de , para poderem aproveitar a piscina em uma clássica “festa na piscina”. Graças aos bons contatos dos garotos, haviam conseguido garantir as bebidas, petiscos, som e grande parte dos convidados. Não fosse isso, nunca teriam levado para frente a ideia, já que a comemoração seria logo dali a dois dias.
— Não vejo a hora dessa festa chegar. — largou o celular e se sentou direito na poltrona para prestar atenção.
— Nem eu! Parece que falta um ano. — rolou os olhos enquanto aproveitava o cafuné que mesmo fazia em seus cabelos.
— A melhor ideia com certeza foi a minha: festa na piscina. Esse calor de Califórnia tá pedindo por algo assim. — falou após ganhar mais uma partida do jogo, eliminando e esperando que tomasse o lugar.
— Eu também acho o máximo. — Dy concordou.
— O que você não acha o máximo, Dy? — soltou uma risada divertida ao notar que ele a mandava dedo, voltando a responder enquanto selecionava o personagem no jogo. — Mas falando sério, foi uma boa ideia mesmo.
— Curti desde que ouvi pela primeira vez. — respondeu instantaneamente mais animada. — Inclusive, espero que providenciem balões d’água.
— Uou, seria muito legal uma guerra desses balões pra animar a festa! — concordou também animado. Tinha voltado para o seu lugar no sofá, ao lado de , e engatado em uma conversa boba sobre festas.
Em poucos segundos, e Dylan assistiam a um vídeo de compilados de quedas no celular e se matavam de rir, e conversavam entre si, e se curtiam em sua própria bolha às carícias e beijos. iniciou a partida e tentou não se desconcentrar por estar tão próxima de novo de . Ainda ficava agradecida por ele não tocar no assunto do quase beijo desde então, não estava preparada e com certeza não saberia o que falar.
— O que você quer de aniversário, ? — cortou o silêncio entre os dois, mantendo os olhos no jogo para mais um golpe.
— Essa é uma pergunta que não se faz, . — respondeu enquanto se concentrava em mexer os dedos sem parar. Aquele não era definitivamente um jogo em que se saísse bem, mas mexer freneticamente com o controle parecia funcionar. Estava quase ganhando o primeiro round.
— E porque não? — ele aproveitou que havia perdido após um golpe dela e estava na troca de round para a lançar um olhar curioso por alguns segundos. — Eu quero mesmo saber.
— Porque é falta de educação ficar escolhendo presente. E outra, nem precisa de presente. Apenas esteja na festa e já vai me deixar feliz. — ela deu de ombros e soltou um palavrão ao ver que ele havia lançado o especial em seu personagem.
— Ah, não tem nada disso. Eu quero te dar algo, . — ele respondeu manhoso e ela teve que se segurar para não acabar pedindo um beijo como tal.
— Não se preocupa com isso, . — ela bufou quando ele venceu o segundo round, lançando um sorriso malicioso pra ele depois. — Ou então pode me deixar ganhar como presente.
— Nem pensar! Estou construindo o meu legado aqui, só falta ganhar de você e da para eu ser o melhor de todos.
— Mas não vai ter oportunidade pra isso. — se meteu na conversa, agora sentada no sofá e com caderno e caneta em mãos. Não sabiam de onde e que horas ela havia tirado aquilo, e só percebiam naquele momento que todos tinham parado suas distrações para prestar atenção nela. Pausaram o jogo e se viraram para o centro da roda. — Vocês estavam concentrados aí em matar o outro que nem me ouviram. Nós vamos tirar o amigo secreto agora, pra termos um tempinho legal para comprar os presentes.
— AAAAAAH, eu tinha me esquecido! — não controlou o tom de voz enquanto batia palmas rápido, recebendo uma série de olhares assustados. — Desculpa, gente. Me exaltei.
— Eu te entendo. — deu uma piscada para a caçula.
— Eu não... — falou tão perdido quanto os outros, arrancando risada das gêmeas.
— Se vocês acham que a gosta do aniversário, é porque nunca viram essas duas no Natal. Parecem duas criancinhas quando a mãe leva no parque. Principalmente quando o assunto é amigo secreto. — explicou enquanto se levantava com um potinho em mãos, já com todos os nomes dobrados dentro.
— E como vai rolar isso aí? Pode ter sacanagem, né? — perguntou ligeiramente mais animado.
— Se não tiver, não tem graça. — Dylan respondeu com um sorriso malicioso.
— Atenção! Vale tudo como presente, inclusive um carro ou algo mais caro para mim. — deu alguns pulinhos animadas, rolando os olhos quando todos a vaiaram. Deu de ombros e começou a passar com o potinho. — Lembrem-se de conferir se não tiraram vocês mesmos.
— Seria bom alguém conferir pro , do jeito que ele é lerdo não duvido nada dele comprar presente pra ele mesmo. — provocou o outro, pegando o último papel disponível e olhando. — Algo me diz que esse amigo secreto será muito divertido.
— Se o tiver me tirado eu vou ficar muito puto. — negou com um aceno mesmo sem tirar um riso frouxo do rosto.
— O meu é difícil. — falou depois de guardar o papel, fazendo um bico com a boca pensativa.
— Na dúvida vai de cachaça, agrada sempre. — mandou uma piscadela divertida para a amiga.
— Principalmente pra tu, né? — lançou um sorriso malicioso com a pergunta retórica.
— Nunca neguei. — a caçula deu de ombros.
Continuaram por boas horas apenas passando o tempo juntos e engatando em uma escolha de melhores/piores presentes para cada um de acordo com a personalidade. Surgiram coisas extremamente vergonhosas e que fizeram a maioria passar grande parte do momento rindo. Depois de tanta risadas e planos eles só tinham uma certeza: aquele natal também iria ser memorável.
Capítulo 21
— HOJE, VAI TER UMA FESTAAAA! BOLO E GUANARÁ, MUITOS DOCES PRA VOCÊS. É O SEU ANIVERSÁRIO, VAMOS FESTEJAR COM... — começou a gritar a música enquanto pulava na cama de , onde estava dormindo as duas irmãs.
— Caralho, . Todo ano a mesma coisa? — perguntou enquanto tentava empurrar a garota com as pernas. Era quase uma tradição desde que eram amigas, sempre passava a noite anterior com elas, todas em uma única cama, e as acordava com uma animação pra lá de exagerada.
— Essa é com certeza a única hora do meu aniversário que eu poderia ficar sem. — respondeu ainda com a voz rouca enquanto puxava o cobertor para tampar o rosto.
— Alegria, meus chuchus! O dia tá lindo, vocês tão mais velhas e tem festa! — não se deixou abalar, saltando da cama antes que a derrubassem e abrindo as cortinas para a luz entrar. Depois voltou a se deitar no meio das duas mesmo com seus resmungos, passando o braço pelo pescoço de cada uma e as abraçando simultaneamente. — Parabéns, . Que essa nova idade traga muitas coisas boas pra vocês e que vocês sejam sempre muito felizes porque merecem muito. Que a gente possa também passar mais tempo juntas porque eu morro de saudade de vocês. Enfim, eu amo muito vocês e sempre estarei aqui pra qualquer coisa, mesmo que seja por telefone ou Skype ou que seja necessário contratar alguém para fazer meu serviço de bater em quem fizer mal a vocês.
— Droga, tinha esquecido da parte que ela sempre nos faz chorar quando ainda nem acordamos direito. — esfregou o olho para disfarçar e abraçou a amiga com força enquanto fazia o mesmo do outro lado.
— Obrigada, . Você vai ser sempre nossa melhor amiga.
— Isso mesmo. E fique sabendo que a qualquer indício de que você esteja querendo colocar alguém em nosso lugar, contrataremos essa mesma pessoa que você mencionou. — falou séria, arrancando risada das duas.
— Eu sabia que vocês não deixariam esse momento ficar meloso por muito tempo. — retrucou animada, voltando a se levantar. — Agora, vamos todas reagir e nos arrumar, temos uma super festa na piscina nos esperando.
Muita gente já havia chegado e o som tocava alto na área de lazer dos . Todos vestiam roupas de banho e leves, apenas esperando pelo momento em que a piscina seria “aberta”. A decoração organizada na noite do dia anterior era toda colorida e simples. O grande charme do lugar eram as várias boias divertidas na água e ao seu redor. O sol da Califórnia não decepcionava e deixava o dia mais bonito.
— É a primeira vez que elas se atrasam pra uma festa e não nós. — falou enquanto tomava mais um gole de seu drink. Um bar improvisado próximo à piscina tinha uma dezena de drinks diferentes no cardápio.
— não vê a hora de se encontrar com a . — sorriu malicioso. Todos tinham percebido que eles se aproximaram rapidamente nos dois dias anteriores e que não demoraria muito tempo para algo rolar.
— disse que elas acabaram se enrolando na hora de se arrumar, mas já saíram de casa. — informou com o celular na mão. A pedido da garota, ele havia recebido os profissionais responsáveis pela festa e encaminhado os convidados para o lugar.
— Ansioso, ? — perguntou para provocar, sabendo o que se passava na mente do amigo. Ele não havia parado nenhum minuto e a todo momento checava as horas.
— Vou ficar mais se você ficar fazendo essa pergunta. — ele respondeu rabugento.
— Ansioso para que? — Dylan chegou na roda curioso, sempre entrando na conversa do momento. Ele tinha acabado de chegar, mas já estava com uma garrafa em mãos.
— Mais tarde você vai saber. — aproveitou o momento para mudar de assunto, apontando para a entrada. — Acho que o atraso foi mais do que justificado agora.
As gêmeas e tinham acabado de chegar no lugar e não podiam estar mais bonitas. As aniversariantes usavam saída de banho branca de crochê curta, sem muita transparência e com as mangas quase caídas pelos ombros. vestia um vestido soltinho todo estampado de flores. Esta rapidamente achou um jeito de ir até os amigos e deixou que as outras duas fossem cumprimentar os convidados.
— Olá, gente! — ela chegou animada, abraçando um por vez.
— Finalmente, chegaram! — Dylan falou no meio do abraço.
— É, já tinha gente aqui não se aguentando de tanta ansiedade pra você chegar logo. — provocou, sem disfarçar uma olhada direta para e fazendo o garoto fica mais vermelho que o normal.
— , porque você não cala a boca? — ele respondeu bravo.
— Bom, não seja por isso. Vamos dar uma volta juntos então. — deu de ombros, ignorando a fala do garoto e o puxando pela mão para o meio das pessoas sem que ele pudesse ao menos pensar. Não que ele fosse negar.
— Já sabemos quem vai comandar a relação. — gargalhou da cena, tomando mais um gole de sua cerveja.
— Olha se não são as aniversariantes mais gatas dessa cidade. — Dylan puxou as gêmeas, que tinham acabado de chegar à rodinha, para um abraço simultâneo. — Parabéns, meus amores.
— Obrigada, Dy! — responderam em coro, voltando a cumprimentar os outros.
— Cadê o ? — perguntou depois de dar vários selinhos em .
— foi mais rápida e já o sequestrou pra fazer sabe-se lá o que. — deu um sorriso frouxo de lado.
— Essa não decepciona. — comentou divertida.
— Mas, agora que vocês chegarem, queremos saber o mais importante: que horas essa piscina vai ser aberta? — ergueu uma sobrancelha, sendo acompanhado pelos amigos ao as encararem curiosos.
— Vamos resolver isso agora mesmo. — piscou divertida.
— Por favor, só não nos deixe fazer papel de boba e nos acompanhem depois. — pediu sem dar tempo para eles pensaram, puxando simultaneamente com a irmã a saída de banho do corpo e ficando apenas de roupa de banho.
Conseguiu sentir o peso dos olhares dos amigos e também de todos ao redor nas duas. usava um biquíni pequeno e branco, bem estilo dos brasileiros, com uma transparência no contorno do sutiã e nas pontas laterais da calcinha que era fechada por laços finos. usava um maiô preto de costas nuas que tinha como principal detalhe uma série de tiras finas que formavam um decote super cavado na frente. Caminharam até a beira da piscina, fazendo sinal para que todos prestassem atenção nelas naquele momento, não que já não tivessem. Ora, elas eram muito bonitas, não tinha quem não olhasse!
— Oi, gente! — começou a falar alto, escutando alguns gritos em resposta. — Eu e a queremos agradecer a presença de cada um aqui.
— É, é uma data muito importante pra nós e não teria a mesma graça sem todos vocês. — a caçula continuou.
— Enfim, é basicamente isso que queríamos falar. — elas revezavam na fala.
— Ah, e claro: que realmente comece essa festa na piscina! — finalizou, fazendo sinal para que aumentassem o som. Quando foi feito, pegou impulso e pulou na piscina com a irmã.
Todos gritaram, assoviaram e fizeram tudo diante da animação. Rapidamente os garotos, seguindo o pedido delas, arrancaram suas camisas e também saltaram na piscina. Pronto, em menos de um minuto grande parte da festa estava na água se divertindo, inclusive e que tinham aparecido de repente.
— Finalmente te encontrei. — falou ao chegar perto de . Tinha passado os últimos minutos rodando a festa toda para a encontrar num dos bancos mais afastados do bar.
Havia poucas horas que tinham saído da piscina, depois de muito banho, brincadeiras e briga de galo lá dentro. Até a guerra de balão de água tinha rolado, mais pela diversão de jogar na cara de alguém do que realmente se molharem, afinal para isso tinha piscina. Agora, e tinham sumido para algum lugar e só restaram , Dylan, e brincando feito crianças com uma boia gigante de jacaré.
— Eu vi você rodando por um tempão aí. Só não sabia que tava atrás de mim. — ela deu de ombros divertida, finalizando mais um drink daquela tarde e colocando o copo vazio no pequeno balcão. Se virou de lado para ficar de frente para ele.
— Pois eu estava. — ele sentou ao seu lado e se manteve de frente, largando também a própria bebida ao lado do seu.
— E posso saber o motivo? — perguntou curiosa, afastando uma mecha de cabelo da frente do rosto.
— Antes, eu quero saber o que a senhorita está fazendo aqui em vez de estar aproveitando a festa. — ele a fitou nos olhos a fazendo respirar fundo. não tinha colocado a camisa de volta e isso apenas dificultava tudo.
— Quem disse que eu não estava aproveitando? — ela perguntou maliciosa, apontando para o copo vazio e gargalhando ao notar rolar os olhos. Mordeu o lábio antes de falar séria. — Não é nada demais, apenas gosto de tirar um tempinho pra refletir quando chega essa data. Fazer aquela contagem do que consegui conquistar e crescer mentalmente, sabe?
— Sei bem como é. Acho que é uma consequência dos aniversários que atinge todo mundo. — ele deu de ombros, largando um olhar perdido antes de lhe lançar um sorriso sincero. — Você está linda.
— Você tá mesmo olhando pra mim? — perguntou divertida para espantar a vergonha ao ter sido pega de surpresa com aquele elogio. Tinha vestido apenas um short jeans e continuava com o sutiã do biquíni. Seus cabelos ainda estavam úmidos e soltos pelos ombros.
— Sim, por isso estou falando com toda a certeza. — ele respondeu com uma expressão confiante. Notou que ela não falaria mais nada, visivelmente envergonhada, e prosseguiu com o assunto. — Enfim, tenho algo para te dar.
— Não acredito! , eu falei que não precisava de nada. — resmungou, dando um tapa leve em seu ombro.
— Eu sei, mas preferi te ignorar. — deu de ombros, gargalhando ao notar a expressão forçada de choque da amiga. Ele respirou fundo e puxou uma caixinha média do bolso da bermuda, estendendo para ela enquanto falava. — É algo simbólico, espero que goste e parabéns, .
apenas o lançou um olhar agradecido e pegou a caixa. Ela era preta e fina, fechada com um pequeno laço laranja. O desfez e abriu, sentindo o olhar atento dele sobre si e não controlando a velocidade do coração, que acelerava cada vez mais. Soltou um “ah” surpreso e pegou a pequena pulseira de dentro. Era uma correte prata e delicada com três pingentes pendurados. Uma câmera fotográfica, um microfone e uma bandeira do Brasil.
— , é linda! Eu amei muito. — foi o máximo que conseguiu falar tamanha emoção.
— Foi a melhor coisa que consegui pensar e confesso que fiquei orgulhoso de mim depois de convencer o moço a montar ela desse jeito, por mais que ele tenha me odiado porque demorou para conseguir o pingente da bandeira. Nada é mais a sua cara do que música e fotos, e o último fala por si só. — ele deu de ombros, pegando a pulseira de sua mão e fechando ao redor de seu pulso.
— Eu não tenho nem palavras para agradecer. — suspirou, apreciando o presente em seu braço. Não poderia ter desejado algo melhor. — Muito obrigada!
— Por nada! Bom, também tem outra coisa que quero te dar. — mexeu com os dedos, transparecendo ansiedade.
— Ah não, aí já é demais, . Você já me presenteou quando eu tinha falado que não precisava aí se você...
— , respira! — ele interrompeu antes que ela iniciasse um falatório sem fim, soltando uma risada fraca. — Não é bem um presente. E talvez possa ser até egoísta da minha parte.
— Acho que não estou entendendo... — ela o olhou confusa com a sobrancelha franzida.
— Isso que quero te dar, estou para entregar há um tempo. Eu sei que quero, mas não sei você vai aceitar bem.
— , não acho que eu recusaria algo vindo de você. — deu de ombros, sentindo o estômago esfriar ligeiramente. Algo em sua mente soava e no seu íntimo ela podia entender o que ele queria dizer.
— Certo. Lembre-se de que você disse isso depois.
E sem dar tempo para ela pensar, se aproximou, tomou seu rosto nas mãos e encostou suas bocas. sentiu as costas enrijecerem por alguns segundos antes da sensação eufórica tomar conta de seu corpo. Sentia suas mãos geladas e o peito batendo tão forte que ela poderia jurar que ele sentia. Os lábios de eram ainda mais macios do que ela imaginava e a fazia ter vontade de nunca os desencostar do seus. Sentiu uma mão de entrar nos seus cabelos pela nuca, fazendo todo o seu corpo se arrepiar, e a outra a puxar para mais perto pela cintura. Ao mesmo tempo, levou suas mãos até o peito dele, abrindo a boca devagar para poderem aprofundar o beijo.
O pequeno selinho se transformou num beijo intenso com as línguas misturando os sabores de menta e morango do drink de cada um. Ela podia sentir a emoção daquilo estar acontecendo e de ter sido por iniciativa DELE. A cada vez que suas línguas encostavam uma sensação de conforto e encaixe a atingia, como se suas bocas fossem feitas uma para outra ainda que soasse apenas como um clichê. Depois de bons segundos, eles se afastaram por alguns centímetros e se mantiveram com as testas encostadas.
— Eu sabia que não iria recusar. — ela falou tímida, mordendo o próprio lábio e se afastando para o ver melhor.
— Você já sabia que... — não terminou a frase, apenas apontou para suas bocas.
— Hmm...não exatamente. Mas não é como se eu não quisesse há algum tempo. — mais uma vez sentiu a vergonha a atingir.
— Bom saber. — ele respondeu com um sorriso de lado, depositando mais um selinho em seus lábios. Ao se afastarem, respirou fundo e a lançou um olhar curioso. — Hmm, nós precisamos conversar sobre isso ou...tudo bem?
— Eu acho que...
A garota foi interrompida por uma gritaria animada repentina no canto da piscina. Haviam formado uma rodinha por lá, pelo que podia ver, e se bem se lembrava, era onde seus amigos estavam.
— Vamos ver o que é. — a puxou pela mão até o lugar, deixando o papo dos dois para trás.
Atravessaram o pequeno aglomerado e chegaram ao centro da bagunça, encontrando e em um beijo completamente apaixonado na beira da piscina e e da mesma maneira, mas dentro da piscina. Os outros dois amigos estavam fazendo dancinhas ridículas de comemoração para espirrar água pra cima.
— Ei! Arrumem um quarto vocês quatro! — se aproximou, parando próxima da irmã com as mãos na cintura. Sentiu se aproximar às suas costas. — O que tá acontecendo aqui?
— Ih, , o bicho pegou agora. Vai ter que pedir autorização. — comentou animado quando os casais se separaram.
— Autorização? Que história é essa? — lerda como sempre, a caçula continuou os olhando sem entender.
— Aah, não é que ele teve coragem mesmo? — falou de repente, fazendo um toque bobo com um mais sorridente que o normal.
— Você também sabia? — perguntou com a boca escancarada e repuxada em um leve sorriso.
— Certo. Quem sabia o que? — rolou os olhos, quase implorando por uma explicação. Todos pararam e encararam , que puxou e se aproximou dela.
— O pedido oficial já foi feito e aceito. Por mim eu nem faria mais nada. — bufou ao escutar todos o mandando fazer, apenas por provocação. Ele voltou a falar, passando a mão nos cabelos. — Como você é a parte da família mais próxima de uma mãe da , vou precisar perguntar. Me concede a mão da sua irmã em namoro?
— Eu ouvi certo? — arregalou os olhos por alguns segundos, surpresa com o que estava acontecendo, e encarou a irmã.
— Sim! — lançou um olhar carregado pra irmã. As duas não precisavam de palavras pra saber que a primogênita estava mais que feliz com o ocorrido. E bem, era isso que bastava.
— Olha, eu sinceramente estou chocada com essa pergunta porque pra mim vocês já namoravam. — a caçula fez piada apenas para provocar os dois, que nunca se assumiam, arrancando risadas de todos. — Mas, como resolveram finalmente dar nome às coisas, eu não poderia dizer outra coisa a não ser “sim”!
Mais um coro de gritos foi feito pelos amigos, afinal os demais convidados tinham voltado à festa, e aproveitou a bagunça para se aproximar do novo cunhado.
— Sou cem por cento a favor de vocês dois. Não me decepcione e, principalmente, não decepcione minha irmã. Você não vai querer ver como sei usar uma arma, então evite que lágrimas de tristeza saiam daqueles belos olhos. — falou baixo para que apenas ele ouvisse e lançou um sorriso largo em sua direção antes de ir até .
— O que você falou pro coitado? Ele tá meio branco agora. — a amiga soltou uma gargalhada enquanto observava um engolindo em seco e forçando um sorriso.
— Só aquele nosso velho texto para novos namorados. — deu de ombros, puxando o short do corpo e entrando na piscina. — Mas e aí, você e o , ein?
— Nem adianta fazer essa cara safada, você que começou empurrando a gente. Só aproveitei a situação porque convenhamos, ele é maravilhoso. — a empurrou com o ombro sem consegui segurar uma risada.
— Não estou achando ruim, pelo contrário, continuo como fã número um do casal e torço pra que dê mais que certo. Tenho certeza que vocês nasceram um pro outro. — mandou um piscada divertida e sentiu respingos caírem em seu rosto. Poucos segundos depois, sentiu dois braços envolvendo sua cintura e não prendeu uma gargalhada ao ver arregalar seus olhos e escancarar a boca. Só podia ser atrás de si.
— O que vocês estavam fofocando aí? — ele perguntou com a boca próxima ao ouvido de , fazendo todos seus pelos da nuca se arrepiarem.
— Nada demais. , não vai desmanchar essa cara, não? — perguntou divertida ao ver que a garota não havia mexido nenhum músculo. Deu de ombros e se virou para , passando os braços por seu pescoço depois de falar. — Pois então fique aí pro vento.
— Percebi que não falamos se iríamos conversar ou não sobre isso, mas se quer saber, acho que está bom assim. — ele cochichou no seu ouvido enquanto passava a mão por suas costas em um carinho.
— É, deixa essa conversa pra lá. — soltou um sorriso fraco antes de aproximar seus rostos e iniciarem mais um beijo.
Não passou nem cinco segundos e puderam escutar uma série de gritos, comentários do tipo “não acredito” e algumas comemorações. Continuaram se beijando sem se importar, ainda que sentissem suas bocas repuxadas em um sorriso. Só não ficaram mais tempo daquela maneira porque rapidamente muita água começou a ser jogada neles e poderiam morrer afogados. puxou pra mais perto e passou uma mão por sua cabeça, tampando um ouvido e deixando o outro pressionado no peito. Ela jurava que tinha ficado mais sem ar naquele momento e o motivo nada tinha a ver com a quantidade de água que a acertava.
— Cara, até o tá beijando e eu não. — resmungou arrancando risada de todos.
— Pelo que tô vendo, vamos ter muita conversa essa noite, meninas. — comentou e recebeu um aceno positivo das outras duas.
— Eu tô me sentindo muito excluído com tanto casal aqui. Nada contra a felicidade alheia, só vou atrás da minha. — Dylan fez uma continência e se enfiou no meio das pessoas que dançavam.
— É, vamos aproveitar antes que essa festa acabe. — chamou e todos voltaram à piscina em mais uma rodada de briga de galo.
— , chegamos. — passou a mão pelos cabelos dela, tentando a fazer despertar.
Ela estava no colo dele, dividindo o espaço do banco de trás com Dylan, e , os dois últimos da mesma maneira que eles. Na frente, ia com . A diferença da casa de para a das gêmeas não era nem de cinco quarteirões, mas estava tão cansada por passar o dia festejando e ter que arrumar toda a bagunça antes de ir, que não conseguiu se segurar e acabou cochilando no instante em que se acomodou no peito de . Saíram do carro e esperou que as outras se despedissem dele para poder ter a sua vez, aproveitando para dar tchau aos outros dois no automóvel.
— Obrigada por hoje e pelos presentes, eu amei. — agradeceu enquanto entrelaçava suas mãos quando estavam sozinhos próximo ao carro.
— Não precisa agradecer, . — ele sorriu fraco antes de a puxar para um abraço e emendar com um beijo calmo.
— Ei, vocês dois! Nada de pornografia na minha porta. — falou para provocar a irmã, interrompendo o momento dos dois. Recebeu apenas o dedo do meio da caçula como resposta.
— Preciso ir. A gente se vê amanhã? — mordeu o lábio e o lançou um olhar curioso.
— Com certeza. Agora, vá descansar. — depositou um selinho em seu lábio e entrou no carro, baixando o vidro apenas para mandar um último comentário em um aceno. — Feliz aniversário, !
O carro finalmente se afastou e ela foi de encontro às outras duas, na entrada da casa. Sabia que tinha um sorriso bobo no rosto e tinha certeza de que ele não sairia tão cedo de seus lábios. Aquele dia tinha mesmo acontecido ou ela iria acordar em sua cama de um sonho a qualquer momento?
— Garotas, preparem o brigadeiro e espantem qualquer resquício de sono. Chegou a hora da fofoca. — falou antes de entrarem na casa.
— Caralho, . Todo ano a mesma coisa? — perguntou enquanto tentava empurrar a garota com as pernas. Era quase uma tradição desde que eram amigas, sempre passava a noite anterior com elas, todas em uma única cama, e as acordava com uma animação pra lá de exagerada.
— Essa é com certeza a única hora do meu aniversário que eu poderia ficar sem. — respondeu ainda com a voz rouca enquanto puxava o cobertor para tampar o rosto.
— Alegria, meus chuchus! O dia tá lindo, vocês tão mais velhas e tem festa! — não se deixou abalar, saltando da cama antes que a derrubassem e abrindo as cortinas para a luz entrar. Depois voltou a se deitar no meio das duas mesmo com seus resmungos, passando o braço pelo pescoço de cada uma e as abraçando simultaneamente. — Parabéns, . Que essa nova idade traga muitas coisas boas pra vocês e que vocês sejam sempre muito felizes porque merecem muito. Que a gente possa também passar mais tempo juntas porque eu morro de saudade de vocês. Enfim, eu amo muito vocês e sempre estarei aqui pra qualquer coisa, mesmo que seja por telefone ou Skype ou que seja necessário contratar alguém para fazer meu serviço de bater em quem fizer mal a vocês.
— Droga, tinha esquecido da parte que ela sempre nos faz chorar quando ainda nem acordamos direito. — esfregou o olho para disfarçar e abraçou a amiga com força enquanto fazia o mesmo do outro lado.
— Obrigada, . Você vai ser sempre nossa melhor amiga.
— Isso mesmo. E fique sabendo que a qualquer indício de que você esteja querendo colocar alguém em nosso lugar, contrataremos essa mesma pessoa que você mencionou. — falou séria, arrancando risada das duas.
— Eu sabia que vocês não deixariam esse momento ficar meloso por muito tempo. — retrucou animada, voltando a se levantar. — Agora, vamos todas reagir e nos arrumar, temos uma super festa na piscina nos esperando.
Muita gente já havia chegado e o som tocava alto na área de lazer dos . Todos vestiam roupas de banho e leves, apenas esperando pelo momento em que a piscina seria “aberta”. A decoração organizada na noite do dia anterior era toda colorida e simples. O grande charme do lugar eram as várias boias divertidas na água e ao seu redor. O sol da Califórnia não decepcionava e deixava o dia mais bonito.
— É a primeira vez que elas se atrasam pra uma festa e não nós. — falou enquanto tomava mais um gole de seu drink. Um bar improvisado próximo à piscina tinha uma dezena de drinks diferentes no cardápio.
— não vê a hora de se encontrar com a . — sorriu malicioso. Todos tinham percebido que eles se aproximaram rapidamente nos dois dias anteriores e que não demoraria muito tempo para algo rolar.
— disse que elas acabaram se enrolando na hora de se arrumar, mas já saíram de casa. — informou com o celular na mão. A pedido da garota, ele havia recebido os profissionais responsáveis pela festa e encaminhado os convidados para o lugar.
— Ansioso, ? — perguntou para provocar, sabendo o que se passava na mente do amigo. Ele não havia parado nenhum minuto e a todo momento checava as horas.
— Vou ficar mais se você ficar fazendo essa pergunta. — ele respondeu rabugento.
— Ansioso para que? — Dylan chegou na roda curioso, sempre entrando na conversa do momento. Ele tinha acabado de chegar, mas já estava com uma garrafa em mãos.
— Mais tarde você vai saber. — aproveitou o momento para mudar de assunto, apontando para a entrada. — Acho que o atraso foi mais do que justificado agora.
As gêmeas e tinham acabado de chegar no lugar e não podiam estar mais bonitas. As aniversariantes usavam saída de banho branca de crochê curta, sem muita transparência e com as mangas quase caídas pelos ombros. vestia um vestido soltinho todo estampado de flores. Esta rapidamente achou um jeito de ir até os amigos e deixou que as outras duas fossem cumprimentar os convidados.
— Olá, gente! — ela chegou animada, abraçando um por vez.
— Finalmente, chegaram! — Dylan falou no meio do abraço.
— É, já tinha gente aqui não se aguentando de tanta ansiedade pra você chegar logo. — provocou, sem disfarçar uma olhada direta para e fazendo o garoto fica mais vermelho que o normal.
— , porque você não cala a boca? — ele respondeu bravo.
— Bom, não seja por isso. Vamos dar uma volta juntos então. — deu de ombros, ignorando a fala do garoto e o puxando pela mão para o meio das pessoas sem que ele pudesse ao menos pensar. Não que ele fosse negar.
— Já sabemos quem vai comandar a relação. — gargalhou da cena, tomando mais um gole de sua cerveja.
— Olha se não são as aniversariantes mais gatas dessa cidade. — Dylan puxou as gêmeas, que tinham acabado de chegar à rodinha, para um abraço simultâneo. — Parabéns, meus amores.
— Obrigada, Dy! — responderam em coro, voltando a cumprimentar os outros.
— Cadê o ? — perguntou depois de dar vários selinhos em .
— foi mais rápida e já o sequestrou pra fazer sabe-se lá o que. — deu um sorriso frouxo de lado.
— Essa não decepciona. — comentou divertida.
— Mas, agora que vocês chegarem, queremos saber o mais importante: que horas essa piscina vai ser aberta? — ergueu uma sobrancelha, sendo acompanhado pelos amigos ao as encararem curiosos.
— Vamos resolver isso agora mesmo. — piscou divertida.
— Por favor, só não nos deixe fazer papel de boba e nos acompanhem depois. — pediu sem dar tempo para eles pensaram, puxando simultaneamente com a irmã a saída de banho do corpo e ficando apenas de roupa de banho.
Conseguiu sentir o peso dos olhares dos amigos e também de todos ao redor nas duas. usava um biquíni pequeno e branco, bem estilo dos brasileiros, com uma transparência no contorno do sutiã e nas pontas laterais da calcinha que era fechada por laços finos. usava um maiô preto de costas nuas que tinha como principal detalhe uma série de tiras finas que formavam um decote super cavado na frente. Caminharam até a beira da piscina, fazendo sinal para que todos prestassem atenção nelas naquele momento, não que já não tivessem. Ora, elas eram muito bonitas, não tinha quem não olhasse!
— Oi, gente! — começou a falar alto, escutando alguns gritos em resposta. — Eu e a queremos agradecer a presença de cada um aqui.
— É, é uma data muito importante pra nós e não teria a mesma graça sem todos vocês. — a caçula continuou.
— Enfim, é basicamente isso que queríamos falar. — elas revezavam na fala.
— Ah, e claro: que realmente comece essa festa na piscina! — finalizou, fazendo sinal para que aumentassem o som. Quando foi feito, pegou impulso e pulou na piscina com a irmã.
Todos gritaram, assoviaram e fizeram tudo diante da animação. Rapidamente os garotos, seguindo o pedido delas, arrancaram suas camisas e também saltaram na piscina. Pronto, em menos de um minuto grande parte da festa estava na água se divertindo, inclusive e que tinham aparecido de repente.
— Finalmente te encontrei. — falou ao chegar perto de . Tinha passado os últimos minutos rodando a festa toda para a encontrar num dos bancos mais afastados do bar.
Havia poucas horas que tinham saído da piscina, depois de muito banho, brincadeiras e briga de galo lá dentro. Até a guerra de balão de água tinha rolado, mais pela diversão de jogar na cara de alguém do que realmente se molharem, afinal para isso tinha piscina. Agora, e tinham sumido para algum lugar e só restaram , Dylan, e brincando feito crianças com uma boia gigante de jacaré.
— Eu vi você rodando por um tempão aí. Só não sabia que tava atrás de mim. — ela deu de ombros divertida, finalizando mais um drink daquela tarde e colocando o copo vazio no pequeno balcão. Se virou de lado para ficar de frente para ele.
— Pois eu estava. — ele sentou ao seu lado e se manteve de frente, largando também a própria bebida ao lado do seu.
— E posso saber o motivo? — perguntou curiosa, afastando uma mecha de cabelo da frente do rosto.
— Antes, eu quero saber o que a senhorita está fazendo aqui em vez de estar aproveitando a festa. — ele a fitou nos olhos a fazendo respirar fundo. não tinha colocado a camisa de volta e isso apenas dificultava tudo.
— Quem disse que eu não estava aproveitando? — ela perguntou maliciosa, apontando para o copo vazio e gargalhando ao notar rolar os olhos. Mordeu o lábio antes de falar séria. — Não é nada demais, apenas gosto de tirar um tempinho pra refletir quando chega essa data. Fazer aquela contagem do que consegui conquistar e crescer mentalmente, sabe?
— Sei bem como é. Acho que é uma consequência dos aniversários que atinge todo mundo. — ele deu de ombros, largando um olhar perdido antes de lhe lançar um sorriso sincero. — Você está linda.
— Você tá mesmo olhando pra mim? — perguntou divertida para espantar a vergonha ao ter sido pega de surpresa com aquele elogio. Tinha vestido apenas um short jeans e continuava com o sutiã do biquíni. Seus cabelos ainda estavam úmidos e soltos pelos ombros.
— Sim, por isso estou falando com toda a certeza. — ele respondeu com uma expressão confiante. Notou que ela não falaria mais nada, visivelmente envergonhada, e prosseguiu com o assunto. — Enfim, tenho algo para te dar.
— Não acredito! , eu falei que não precisava de nada. — resmungou, dando um tapa leve em seu ombro.
— Eu sei, mas preferi te ignorar. — deu de ombros, gargalhando ao notar a expressão forçada de choque da amiga. Ele respirou fundo e puxou uma caixinha média do bolso da bermuda, estendendo para ela enquanto falava. — É algo simbólico, espero que goste e parabéns, .
apenas o lançou um olhar agradecido e pegou a caixa. Ela era preta e fina, fechada com um pequeno laço laranja. O desfez e abriu, sentindo o olhar atento dele sobre si e não controlando a velocidade do coração, que acelerava cada vez mais. Soltou um “ah” surpreso e pegou a pequena pulseira de dentro. Era uma correte prata e delicada com três pingentes pendurados. Uma câmera fotográfica, um microfone e uma bandeira do Brasil.
— , é linda! Eu amei muito. — foi o máximo que conseguiu falar tamanha emoção.
— Foi a melhor coisa que consegui pensar e confesso que fiquei orgulhoso de mim depois de convencer o moço a montar ela desse jeito, por mais que ele tenha me odiado porque demorou para conseguir o pingente da bandeira. Nada é mais a sua cara do que música e fotos, e o último fala por si só. — ele deu de ombros, pegando a pulseira de sua mão e fechando ao redor de seu pulso.
— Eu não tenho nem palavras para agradecer. — suspirou, apreciando o presente em seu braço. Não poderia ter desejado algo melhor. — Muito obrigada!
— Por nada! Bom, também tem outra coisa que quero te dar. — mexeu com os dedos, transparecendo ansiedade.
— Ah não, aí já é demais, . Você já me presenteou quando eu tinha falado que não precisava aí se você...
— , respira! — ele interrompeu antes que ela iniciasse um falatório sem fim, soltando uma risada fraca. — Não é bem um presente. E talvez possa ser até egoísta da minha parte.
— Acho que não estou entendendo... — ela o olhou confusa com a sobrancelha franzida.
— Isso que quero te dar, estou para entregar há um tempo. Eu sei que quero, mas não sei você vai aceitar bem.
— , não acho que eu recusaria algo vindo de você. — deu de ombros, sentindo o estômago esfriar ligeiramente. Algo em sua mente soava e no seu íntimo ela podia entender o que ele queria dizer.
— Certo. Lembre-se de que você disse isso depois.
E sem dar tempo para ela pensar, se aproximou, tomou seu rosto nas mãos e encostou suas bocas. sentiu as costas enrijecerem por alguns segundos antes da sensação eufórica tomar conta de seu corpo. Sentia suas mãos geladas e o peito batendo tão forte que ela poderia jurar que ele sentia. Os lábios de eram ainda mais macios do que ela imaginava e a fazia ter vontade de nunca os desencostar do seus. Sentiu uma mão de entrar nos seus cabelos pela nuca, fazendo todo o seu corpo se arrepiar, e a outra a puxar para mais perto pela cintura. Ao mesmo tempo, levou suas mãos até o peito dele, abrindo a boca devagar para poderem aprofundar o beijo.
O pequeno selinho se transformou num beijo intenso com as línguas misturando os sabores de menta e morango do drink de cada um. Ela podia sentir a emoção daquilo estar acontecendo e de ter sido por iniciativa DELE. A cada vez que suas línguas encostavam uma sensação de conforto e encaixe a atingia, como se suas bocas fossem feitas uma para outra ainda que soasse apenas como um clichê. Depois de bons segundos, eles se afastaram por alguns centímetros e se mantiveram com as testas encostadas.
— Eu sabia que não iria recusar. — ela falou tímida, mordendo o próprio lábio e se afastando para o ver melhor.
— Você já sabia que... — não terminou a frase, apenas apontou para suas bocas.
— Hmm...não exatamente. Mas não é como se eu não quisesse há algum tempo. — mais uma vez sentiu a vergonha a atingir.
— Bom saber. — ele respondeu com um sorriso de lado, depositando mais um selinho em seus lábios. Ao se afastarem, respirou fundo e a lançou um olhar curioso. — Hmm, nós precisamos conversar sobre isso ou...tudo bem?
— Eu acho que...
A garota foi interrompida por uma gritaria animada repentina no canto da piscina. Haviam formado uma rodinha por lá, pelo que podia ver, e se bem se lembrava, era onde seus amigos estavam.
— Vamos ver o que é. — a puxou pela mão até o lugar, deixando o papo dos dois para trás.
Atravessaram o pequeno aglomerado e chegaram ao centro da bagunça, encontrando e em um beijo completamente apaixonado na beira da piscina e e da mesma maneira, mas dentro da piscina. Os outros dois amigos estavam fazendo dancinhas ridículas de comemoração para espirrar água pra cima.
— Ei! Arrumem um quarto vocês quatro! — se aproximou, parando próxima da irmã com as mãos na cintura. Sentiu se aproximar às suas costas. — O que tá acontecendo aqui?
— Ih, , o bicho pegou agora. Vai ter que pedir autorização. — comentou animado quando os casais se separaram.
— Autorização? Que história é essa? — lerda como sempre, a caçula continuou os olhando sem entender.
— Aah, não é que ele teve coragem mesmo? — falou de repente, fazendo um toque bobo com um mais sorridente que o normal.
— Você também sabia? — perguntou com a boca escancarada e repuxada em um leve sorriso.
— Certo. Quem sabia o que? — rolou os olhos, quase implorando por uma explicação. Todos pararam e encararam , que puxou e se aproximou dela.
— O pedido oficial já foi feito e aceito. Por mim eu nem faria mais nada. — bufou ao escutar todos o mandando fazer, apenas por provocação. Ele voltou a falar, passando a mão nos cabelos. — Como você é a parte da família mais próxima de uma mãe da , vou precisar perguntar. Me concede a mão da sua irmã em namoro?
— Eu ouvi certo? — arregalou os olhos por alguns segundos, surpresa com o que estava acontecendo, e encarou a irmã.
— Sim! — lançou um olhar carregado pra irmã. As duas não precisavam de palavras pra saber que a primogênita estava mais que feliz com o ocorrido. E bem, era isso que bastava.
— Olha, eu sinceramente estou chocada com essa pergunta porque pra mim vocês já namoravam. — a caçula fez piada apenas para provocar os dois, que nunca se assumiam, arrancando risadas de todos. — Mas, como resolveram finalmente dar nome às coisas, eu não poderia dizer outra coisa a não ser “sim”!
Mais um coro de gritos foi feito pelos amigos, afinal os demais convidados tinham voltado à festa, e aproveitou a bagunça para se aproximar do novo cunhado.
— Sou cem por cento a favor de vocês dois. Não me decepcione e, principalmente, não decepcione minha irmã. Você não vai querer ver como sei usar uma arma, então evite que lágrimas de tristeza saiam daqueles belos olhos. — falou baixo para que apenas ele ouvisse e lançou um sorriso largo em sua direção antes de ir até .
— O que você falou pro coitado? Ele tá meio branco agora. — a amiga soltou uma gargalhada enquanto observava um engolindo em seco e forçando um sorriso.
— Só aquele nosso velho texto para novos namorados. — deu de ombros, puxando o short do corpo e entrando na piscina. — Mas e aí, você e o , ein?
— Nem adianta fazer essa cara safada, você que começou empurrando a gente. Só aproveitei a situação porque convenhamos, ele é maravilhoso. — a empurrou com o ombro sem consegui segurar uma risada.
— Não estou achando ruim, pelo contrário, continuo como fã número um do casal e torço pra que dê mais que certo. Tenho certeza que vocês nasceram um pro outro. — mandou um piscada divertida e sentiu respingos caírem em seu rosto. Poucos segundos depois, sentiu dois braços envolvendo sua cintura e não prendeu uma gargalhada ao ver arregalar seus olhos e escancarar a boca. Só podia ser atrás de si.
— O que vocês estavam fofocando aí? — ele perguntou com a boca próxima ao ouvido de , fazendo todos seus pelos da nuca se arrepiarem.
— Nada demais. , não vai desmanchar essa cara, não? — perguntou divertida ao ver que a garota não havia mexido nenhum músculo. Deu de ombros e se virou para , passando os braços por seu pescoço depois de falar. — Pois então fique aí pro vento.
— Percebi que não falamos se iríamos conversar ou não sobre isso, mas se quer saber, acho que está bom assim. — ele cochichou no seu ouvido enquanto passava a mão por suas costas em um carinho.
— É, deixa essa conversa pra lá. — soltou um sorriso fraco antes de aproximar seus rostos e iniciarem mais um beijo.
Não passou nem cinco segundos e puderam escutar uma série de gritos, comentários do tipo “não acredito” e algumas comemorações. Continuaram se beijando sem se importar, ainda que sentissem suas bocas repuxadas em um sorriso. Só não ficaram mais tempo daquela maneira porque rapidamente muita água começou a ser jogada neles e poderiam morrer afogados. puxou pra mais perto e passou uma mão por sua cabeça, tampando um ouvido e deixando o outro pressionado no peito. Ela jurava que tinha ficado mais sem ar naquele momento e o motivo nada tinha a ver com a quantidade de água que a acertava.
— Cara, até o tá beijando e eu não. — resmungou arrancando risada de todos.
— Pelo que tô vendo, vamos ter muita conversa essa noite, meninas. — comentou e recebeu um aceno positivo das outras duas.
— Eu tô me sentindo muito excluído com tanto casal aqui. Nada contra a felicidade alheia, só vou atrás da minha. — Dylan fez uma continência e se enfiou no meio das pessoas que dançavam.
— É, vamos aproveitar antes que essa festa acabe. — chamou e todos voltaram à piscina em mais uma rodada de briga de galo.
— , chegamos. — passou a mão pelos cabelos dela, tentando a fazer despertar.
Ela estava no colo dele, dividindo o espaço do banco de trás com Dylan, e , os dois últimos da mesma maneira que eles. Na frente, ia com . A diferença da casa de para a das gêmeas não era nem de cinco quarteirões, mas estava tão cansada por passar o dia festejando e ter que arrumar toda a bagunça antes de ir, que não conseguiu se segurar e acabou cochilando no instante em que se acomodou no peito de . Saíram do carro e esperou que as outras se despedissem dele para poder ter a sua vez, aproveitando para dar tchau aos outros dois no automóvel.
— Obrigada por hoje e pelos presentes, eu amei. — agradeceu enquanto entrelaçava suas mãos quando estavam sozinhos próximo ao carro.
— Não precisa agradecer, . — ele sorriu fraco antes de a puxar para um abraço e emendar com um beijo calmo.
— Ei, vocês dois! Nada de pornografia na minha porta. — falou para provocar a irmã, interrompendo o momento dos dois. Recebeu apenas o dedo do meio da caçula como resposta.
— Preciso ir. A gente se vê amanhã? — mordeu o lábio e o lançou um olhar curioso.
— Com certeza. Agora, vá descansar. — depositou um selinho em seu lábio e entrou no carro, baixando o vidro apenas para mandar um último comentário em um aceno. — Feliz aniversário, !
O carro finalmente se afastou e ela foi de encontro às outras duas, na entrada da casa. Sabia que tinha um sorriso bobo no rosto e tinha certeza de que ele não sairia tão cedo de seus lábios. Aquele dia tinha mesmo acontecido ou ela iria acordar em sua cama de um sonho a qualquer momento?
— Garotas, preparem o brigadeiro e espantem qualquer resquício de sono. Chegou a hora da fofoca. — falou antes de entrarem na casa.
Capítulo 22
— Boa noite, garotos! Feliz Natal! — as três amigas falaram em sincronia ao abrir a porta de casa, encontrando todo o McFly e Dylan.
— Uow, tudo isso é pra nós? — Dy assobiou impactado com a cena. Todas elas vestiam uma roupa de mamãe noel sexy, bem estilo "Meninas Malvadas", com decotes, saias curtas, chapéus de noel e botas de cano alto. Estavam finalmente realizando o desejo de comemorarem a data juntas — afinal, a família de sempre acabava a arrastando para o interior para comemorar com todos os parentes — e queriam fazer aquilo com estilo.
— Digamos que só para três de vocês. — respondeu divertida, dando espaço para que eles entrassem.
Havia passado de meia noite e as ceias de Natal tinham acontecido. As gêmeas e cearam com Kath e trocaram presentes entre si, além de passarem um bom tempo na ligação com os pais para desejarem bons votos. Logo depois, sabendo que a casa ficaria cheia com os jovens, a senhora preferiu comemorar o resto da data na casa da irmã, onde passaria a noite. Como teriam a casa livre para eles, e sabendo que nenhum pai abriria mão de passar o momento com seus filhos, cada um aproveitou para comer e trocar os presentes com suas famílias. Depois, se encontrariam na casa das para o amigo secreto, pouco se importando se seria madrugada ou não, pois todos passariam a noite lá.
— Estou me sentindo privilegiado. — falou antes de cumprimentar a namorada com um beijo daqueles. Desde a oficialização, eles pareciam ainda mais fogosos que antes. Mal tinham passado 24h sem se ver!
— Os outros dois casais, façam logo o mesmo. Assim não seguro vela depois. — abanou a mão e saiu de perto, indo para a sala enquanto eles apenas riam.
— Eu, que não sou castiçal nem nada, também vou me adiantando. — Dy concordou, seguindo para onde o amigo foi.
— Bom, já que não tem como fugir... — deu de ombros, fingindo ser realmente um esforço aproveitar aqueles segundos com . Eles estavam aproveitando o máximo que podiam desde a festa, se vendo nos horários livres e conversando por mensagens sempre que estavam longes.
— É, vamos fazer esse sacrifício pra ele. — fez piada antes de juntar seus lábios com o da garota. Não podia estar mais feliz de ter alguém como ela por perto. Além de terem muito em comum, ela não dava espaço para bobeira e eles não criavam drama para o que não precisavam. Queriam se curtir e nada mais, e era isso que fariam enquanto pudessem.
— Não sei você, mamãe noel, mas não quero ficar de vela pra esses dois. — finalmente se aproximou da caçula, puxando-a para perto pela cintura enquanto falava baixo em seu ouvido. — Você está maravilhosa.
— Se antes eu não queria perder tempo, imagine depois disso. — ela fez menção ao sussurro em seu ouvido, que despertou uma série de arrepios por seu corpo. Ainda ficava impressionada com os efeitos de em si, mesmo estando nessa há alguns dias. Não se preocuparam em discutir o que estava rolando entre os dois — mesmo que a mente de alertasse em alguns momentos — e apenas deixavam as coisas rolarem sem compromisso. Estava bom daquela maneira e era isso que importava. Sem aguentar mais, ela juntou seus lábios em um selinho que rapidamente foi aprofundado em um beijo calmo e intenso. Parecia que faziam anos desde a última vez. Com certeza estava se tornando dependente daquelas sensações tão boas.
— Se demorarem mais um minuto, eu mando cada um para um quarto e vou embora com os presentes.
— E eu faço questão de ajudar o Dylan.
Os três casais se separaram ao escutarem as vozes dos amigos, soltando algumas risadas e finalmente se encaminhando para a sala. Graças ao grande amor pela comemoração, as garotas enfeitaram o ambiente com tudo que tinham direito. Uma grande árvore estava no canto, rodeada dos presentes, na lareira tinham quatro meias vermelhas penduradas com os nomes das , de Kath e de . Além disso, alguns Papais Noéis de todos os tipos estavam espalhados pelos móveis.
— Antes que eu me esqueça, vovó fez biscoitos de chocolate extras para deixar pra vocês. — avisou e foi até a cozinha buscar, voltando com uma travessa recheada deles.
— Finalmente algo doce! — exclamou alto antes de atacar, se explicando ao notar os olhares confusos em cima de si. — Minha família tá numa onda "sou saudável" e resolveu que a sobremesa desse ano seria fruta. Isso é ridículo! Que tipo de pessoa acha que uma ameixa pode ser comparada com um pudim?
— Pois eu não aguento nem olhar mais pra comida. Minha vó fez questão de montar um banquete pra vinte pessoas, quando na verdade só éramos seis. Comi pela semana inteira. — respondeu antes de passar o braço pelo encosto e apoiar nos ombros de , que tinha acabado de se sentar ao seu lado no sofá.
— Mas aposto que beber você aguenta. — gargalhou e puxou uma das garrafas debaixo da mesinha de centro, estendendo para o garoto.
— Ainda bem que você sabe. — ele respondeu divertido ao pegar o objeto.
— Já rodem os copos aí, quero todo mundo tomando uma dose antes de começar a brincadeira. — pediu, esfregando as mãos animado.
— Concordo! Quanto mais álcool, mais besteiras serão ditas na hora de revelar o amigo e, consequentemente, mais engraçado será. — Dylan distribuiu os copos que recebeu da primogênita.
— Só eu que tô com muito medo disso? — se referiu ao amigo secreto.
— E porque estaria? — lançou um olhar curioso.
— Você não tem motivos mesmo, mas eu mal consigo imaginar as merdas que podem vir se um desses idiotas tiverem me tirado. — apontou para , e .
— Na verdade, levando em consideração a mente maquiavélica que essas gêmeas têm, a tem que temer sim caso uma delas tenha saído com o nome dela. — deu de ombros depois de tomar um gole de sua bebida.
— Tendo medo ou não, nós vamos começar. — riu do olhar assustado da amiga depois de refletir no que o garoto falou. — Mas, antes, vamos brindar!
— Isso mesmo, todos de pé. — pediu enquanto se posicionava na frente de , sentindo ele a envolver com o braço, e esticou seu copo à frente. — Um brinde a esse natal em amigos. Que venham muitos momentos felizes de nós juntos como esse!
— Saúde! — brindaram em coro enquanto tocavam os copos ao mesmo tempo.
— Tá ok, chega de enrolação! Quem vai começar? — perguntou animado depois que todos se acomodaram novamente.
— EU! — tomou a frente antes da irmã, saltando do sofá e pegando um embrulho médio de baixo da árvore. Parou no canto da sala, ficando de frente para todos e começou animada. — A pessoa que eu tirei é alguém que se tornou bastante especial, principalmente nos últimos dias, e que vai ter que ter muito fôlego pra aguentar a nova fase da vida dela.
— Fôlego? Mas que merda de dica é essa, ? — perguntou confuso.
— Essa tá difícil. — passou a mão pelos cabelos.
— Tem alguém fazendo atletismo por aqui? — estava tão perdido quanto o outro.
— Ei, acho que entendi! — anunciou antes de entrar numa crise de gargalhadas apontando para , fazendo-a encarar confusa de volta por alguns segundos antes de entender.
— Não acredito, ! — a primogênita ralhou, mas sem conseguir conter a risada.
— Alguém pode explicar o que tá rolando? — Dylan pediu para as três.
— A tirou o ! Tá falando que ele precisa de fôlego pra aguentar esse fogo eterno da . — a amiga finalmente explicou, fazendo todos se entregarem às risadas, menos a gêmea zoada.
— Quer dizer que me tornei especial, é? — sorriu de lado antes de abraçar a amiga e receber o presente.
— É claro, agora, você é meu cunhado. Tem coisa mais especial do que poder zoar sua irmã com o cara que ela tá namorando? — mordeu o lábio, lançando um olhar malicioso para ele. Cruzou os braços e esperou que ele abrisse o presente.
— Mostra logo o que é, ! — pediu sem aguentar a curiosidade quando o namorado desatou a rir ao ver o presente.
— Parece que sua irmã está disposta a me ajudar mesmo, amor. — ele avisou antes de mostrar o que tinha em mãos. Um par de dados do amor, daqueles com parte do corpo e o tipo de carinho que teria que fazer, e um bloco preto com o título de “Manual de bom convívio com ”.
— Uh, vou querer emprestado esses dados aí. — falou malicioso, arrancando risadas de todos.
— Que tipo de pessoa que você acha que eu sou, Dona ? E que história de manual é esse? Me deixe ver. — a primogênita quase pulou em cima dos dois para conseguir pegar o objeto. Em vão.
— Nem pensar! Foi feito com muita dedicação com todos os seus podres e dicas para salvar o quando você tiver naqueles dias péssimos. Só ele pode ver! — tomou a frente, empurrando a mais velha de volta para o lugar dela.
— Só de ver esses primeiros presentes, já sei que o negócio vai ser bom daqui pra frente! — comentou entre risadas.
— Sei que você realmente vai se divertir com eles, , mas seu presente mesmo está aqui. — a caçula confessou antes de entregar uma caixa vermelha.
— Cara, não acredito! — ele arregalou os olhos ao desempacotar o box com todos os filmes de Star Wars.
— Consegui me lembrar de um comentário da falando que você era muito fã e fui correndo atrás.
— Até eu queria que a tivesse me tirado agora. — Dylan falou com os olhos brilhando para os filmes.
— Eu também. — concordou.
— Muito obrigado, . Amei todos os três. — agradeceu com um abraço antes de colocar os presentes no sofá e tomar a frente da brincadeira. Segurava apenas um envelope verde nas mãos. — Bom, quem eu tirei, eu já conhecia há algum tempo, só não sabia que era tão legal assim.
— É essa a sua dica? — perguntou com as sobrancelhas unidas quando o garoto ficou em silêncio apenas os encarando.
— O consegue ser pior que o . — deu um tapa na própria testa.
— Parem de falar de mim, eu nem fui ainda. — o garoto se defendeu, arremessando uma almofada no amigo.
— Sério, amor, vai ter que melhorar se quiser tirar algo de nós. — pediu ao notar o silencio de .
— Ai, gente, eu sou péssimo com isso e não vou conseguir pensar em nada melhor. Dylan, é você! — ele desistiu, dando de ombros e chamando o amigo para frente.
— Credo, cunhado, bota emoção aí! — comentou entre risadas enquanto os dois se cumprimentavam.
— Ninguém entendeu nada, mas já agradeço pelas palavras. — Dy falou ao pegar o envelope.
— Também aviso que não fui original igual a , mas me esforcei. — ele sorriu de lado e foi sentar em seu lugar.
— Tudo bem, vamos ver o que temos aqui. — Dylan narrou enquanto abria e puxava dois papéis de dentro, abrindo um sorriso largo ao mostrar os ingressos para o próximo show do John Mayer na cidade. — Uooou, você realmente se esforçou! Eu tentei procurar esses ingressos no segundo dia de venda e já tinha esgotado!
— Eu tenho meus contatos. — respondeu com um sorriso de lado.
— Mandou bem, ainda vai levar acompanhante. — mandou um joinha para eles.
— Tomara que o Dy tenha me tirado, quero que chegue logo minha vez e que eu fique livre do e do . — pediu com um olhar amedrontado, arrancando risadas de todos.
— , controle seu homem! Vamos continuar... — Dylan respondeu e pegou uma sacola estampada grande da árvore. — Eu tirei uma pessoa muito talentosa e que poderia fazer alguém chorar com suas criações.
— Opa, já sabemos então que estou fora dessa. — ergueu as mãos em rendição.
— Dentre nós, as criações que poderiam entrar nessa descrição seriam as músicas... — iniciou o raciocínio.
— E levando em consideração as pessoas que compõe aqui... — continuou.
— Ou é a ou o . — apontou para os dois.
— O Dy só viu uma música minha. Eu voto no . — a caçula ergueu a mão, sendo seguida pelos demais.
— Acertaram! Pode vir, . — Dylan anunciou sorridente, abraçando o amigo antes de entregar o presente. — Espero que você use com muito carinho tudo que tem aí.
— Só dou certeza depois que conferir. — piscou divertindo, abrindo a sacola e pegando a caixa que estava em cima, com os dizeres “Kit composição”. Dentro tinha uma caneta, um caderno e um headfone preto. — Como você sabia que eu estava precisando?
— Não sabia, mas quis ajudar pra você continuar nos iluminando com suas letras. — ele respondeu dando de ombros.
— Olha o que mais tem aí dentro, . — pediu, apontando para sacola. O garoto concordou, puxando do fundo e abrindo uma cueca fina com o rosto de um elefante de pelúcia grande e rosa na parte da frente, fazendo todos entrarem em uma crise de risos. — Mano, quais as chances de você não botar isso agora?
— Qual a chance de eu não vestir você a força com isso? — perguntou vingativo, com um sorriso sacana no rosto. — Poxa, Dylan, você estava indo tão bem...
— Eu achei que ele arrasou! — concordou entre risos.
— Eu também! — responderam em coro.
— Se a plateia disse, está resolvido. E eu achei a sua cara quando vi, não resisti. — Dylan deu dois tapinhas em suas costas antes de voltar ao seu lugar aos risos.
— Só não vou levar pro lado pessoal porque tô muito feliz com esse momento. — riu fraco e pegou o presente de seu amigo secreto. — Esse presente aqui vai para a pessoa mais intensa dessa sala e que vai fazer alguém vivenciar uma prova de atletismo nessa nova fase.
— ! — todos falaram em coro, menos a citada que apenas ria.
— Casal tirando casal? Que marmelada! — comentou enquanto apontava para , , e .
— Essa sua cara de atentado tá me deixando com medo de abrir isso aqui, . — avisou com o presente em mãos ao parar ao lado dele.
— Anda logo com isso! — pediu, tomando mais gole de sua bebida.
— Tá bom, apressadinhos. — a primogênita rolou os olhos e abriu o embrulho, ficando momentaneamente vermelha antes de começar a gargalhar sem parar. — Eu tô começando a achar que tô passando a impressão errada pra vocês!
— Que nada, eu sei que você gostou. Talvez só não mais do que o vai gostar. — deu de ombros divertido.
— Eu quero ver o que é!
— Eu também! — pediu com .
puxou para fora e mostrou dois pacotes de calcinhas comestíveis, de chocolate e morango, fazendo todos rirem.
— Espero que eu ganhe uma boa recompensa pela vergonha que estou passando, . — ela o olhou sugestiva com os olhos semicerrados enquanto todos apenas riam.
— Se você olhar direito em baixo dessas embalagens, vai ver que sim. — ele apontou para o pacote que ela tinha em mãos. o lançou um olhar temeroso antes de fazer o que ele falou. Encontrou uma pequena caixinha com uma tornozeleira dourada de estrelas dentro.
— Está perdoado pela palhaçada. — ela sorriu largo o dando mais um abraço.
— Sabe que vai ter que me emprestar, né? — falou com cara convencida.
— Vai me emprestar sua pulseira? — a outra retrucou, lançando um olhar desafiador e deixando a caçula com cara de bosta.
— Emprestando ou não, sigam com isso! — ralhou mais uma vez, agradecendo quando voltou para o lugar e pegou o presente para voltar a brincadeira.
— Façam silêncio que eu começo. — ela pediu quando todos a apressavam. Mordeu o lábio sapeca antes de voltar a falar. — Eu tirei um cara muito talentoso e não tão sensato quando o assunto é mulher compromissada em festa.
— Ela só pode tá falando do incidente da piscina. — riu ao se lembrar da primeira festa que foram ali.
— Eu estou fora disso, quem foi jogado na piscina foram esses dois. — Dylan apontou para e .
— Convenhamos que sou mais talentoso que o , então acho que sou eu. — deu de ombros convencido.
— Eu não sei como ainda fico impressionado com a capacidade de vocês acabarem comigo a cada minuto. — bufou, rolando os olhos.
— Não liga pra eles, eu sei que você é talentoso sim. — passou a mão pelos cabelos dele, arrancando uma série de "awn" de todos.
— Eu sou impaciente e vocês demoraram demais. Eu tirei o ! — anunciou sem se aguentar mais, abraçando o amigo e o entregando o presente antes de se sentar.
— Obrigado pela parte do "talentoso", . A outra é melhor deixar pra lá. — ele falou aos risos enquanto abria o presente. faltou soltar um grito quando viu os quatro jogos originais de PS, lançados a pouco tempo, em suas mãos. Correu até a amiga para a apertar entre os braços mais uma vez. — Mereceu mais um abraço, sim.
— Não abusa não, . — falou enciumado.
— É minha vez de falar: sabe que vai ter que me emprestar, né? — apontou sorridente para os jogos.
— Vou pensar no seu caso depois, docinho. — mandou um beijo em uma expressão forçadamente sexy, fazendo todos rirem e o garoto apenas rolar os olhos. Sem sair da brincadeira, pegou uma caixa fina e comprida de baixo da árvore e voltou a atenção aos amigos. — Antes que pensem, não, isso não é uma varinha de Harry Potter.
— Mas bem que podia ser. — fez um bico com a boca.
— Ah, não faça eu me arrepender de não ter escolhido isso. — ele murchou os ombros decepcionado, fazendo quase todos começarem a vaiar ou se dar tapas na testa ao mesmo tempo. — O que foi?
— , você praticamente entregou que tirou ela! — Dylan explicou exagerado, mas sem controlar o riso.
— Eu não entreguei nada, vocês que estão tirando conclusões precipitadas. — arregalou os olhos assustado, claramente uma criança que faz algo errado sem querer.
— Então você não tirou a ? — e perguntaram juntos com um olhar desafiador.
— Tirei. — ele passou a mão pelos cabelos sem jeito. não se importou com a falta de mistério, na verdade achou bem fofo e engraçado o jeito do garoto, apenas se levantou e foi até ele o abraçar. — Desculpe por isso.
— Tudo bem, o que vale é a intenção. — ela gargalhou, passando a mão pelo cabelo do amigo antes de abrir a caixa e tirar um par de baquetas levemente esverdeadas de dentro. Sorriu fraco para ele. — Ah, obrigada, !
— Aposto que a queria mais que tudo que fosse a varinha do Potter agora. — apontou divertido para o sorriso amarelo da garota, que apenas o respondeu com o dedo do meio.
— Não escute o que ele está dizendo, . Eu gostei, sério. Só estou meio assim porque tenho mais dois pares em casa. — ela deu de ombros sendo sincera.
— Eu sei, escutei você falando com o sobre como gostava de gastar dinheiro com isso e como estava cada vez mais apaixonada pela bateria, por isso escolhi esse presente, pra não correr o risco de te dar algo que não gostava. — ele mordeu o lábio empolgado, fazendo sinal para que todos parassem com os murmúrios sobre o tiro ter saído pela culatra. — Mas eu também não sou tão idiota. Então, primeiro, se você ver direito vai encontrar seu nome e sobrenome gravado em cada uma.
— Opa, isso é novo! — só então ela rodou os objetos nos dedos, encontrando as marcas que ele tinha falado. As palavras eram em tamanho médio e tinham uma estrela preta pintada no canto de cada uma. Sorriu largo depois de analisar por alguns segundos. — Tá ok, eu realmente gostei mais agora! Isso as fazem superexclusivas.
— Que bom que gostou, mas vamos ver depois disso. , apaga a luz aí! — ele pediu para a gêmea que estava mais perto do interruptor.
— , esse não é o momento pra você tirar a roupa e tentar impressionar ela. — explicou com os olhos levemente arregalados.
— Nem esse, nem nenhum momento! — tomou a frente na conversa.
— Tô sentindo cheiro de ciúmes no ar. — colocou mais lenha na fogueira, apenas rindo de seu canto.
— Dá pra vocês calarem a boca? E deixem que eu mesmo faço. — bufou impaciente, saltando pela poltrona e correndo até o interruptor para apagar a luz. No momento em que tudo ficaria escuro e todos começariam a reclamar, as duas baquetas que estavam nas mãos da garota começaram a brilhar com uma luz neon forte, iluminando levemente o que estava ao redor e dando contraste nas gravações pretas que tinha.
— CARALHO! TÁ BRILHANDO! E NO ESCURO! — não conseguiu se controlar, começando a sacudir as baquetas no ar e pular animada junto, fazendo todos rirem. — , EU TE AMO E ESSE É O PRESENTE MAIS LEGAL QUE EU JÁ GANHEI! MUITO OBRIGADA!
— Chora, . — ele respondeu convencido depois de acender a luz e voltar para o próprio lugar, completamente satisfeito por ter pensado naquilo e conseguido encontrar a tempo da data. — Por nada, !
— , para de babar em cima delas e começa logo sua vez. — Dy pediu (ou impôs), tomando os novos brinquedinhos da mão da garota para não perderem tempo.
— Chato! — ela ralhou antes de se recompor e voltar com o jogo. Sorriu confiante e lançou a dica. — Eu tirei a pessoa mais injustiçada do bonde.
— EEEEU! OBRIGADO, UNIVERSO, POR NÃO PERMITIR QUE NENHUM BABACA TENHA ME TIRADO. EU SABIA QUE CHEGARIA O MOMENTO EM QUE OS HUMILHADOS SERIAM...
— Cala a boca, ! — interromperam em coro o garoto, mais pela graça de provoca-lo do que outra coisa.
— Vem logo, ! — chamou animada ele que tinha fechado a cara, entregando o presente junto com um selinho para ele.
— Você tirou o cara que tá pegando? Que marmelada! — afinou a voz para imitar a da garota, fazendo menção ao comentário dela mais cedo.
— Ignore ele. — abanou a mão, rasgando de qualquer jeito a embalagem de papel e sorrindo animado ao descobrir o box de The Rolling Stones com os maiores CDs da carreira deles. — Olha isso, dudes! Que sonhooooo! Você é dez, . Muito obrigado.
— Que irado! Depois, já coloca pra rodar um aí no som! — fez sinal para o aparelho atrás dele.
acenou animado, colocando o box com todo cuidado na mesa de centro depois de beijar mais uma vez e antes de pegar o último presente da árvore.
— É realmente necessário eu fazer isso quando só sobrou a ? — ele perguntou com um riso debochado.
— Para de excluir minha irmã! — fingiu estar brava, arrancando risada deles.
— É isso aí! Só porque sou a última, acho que tenho direito de receber uma declaração bem linda. — a caçula cruzou os braços e o encarou confiante.
— Do jeito que o é meloso, se ele realmente fizer isso é capaz de sair um poema brega estilo cinco anos. — pirraçou.
— Um daqueles clássicos de “batatinha quando nasce...” — continuou.
— Ei, já deu! Só vou fazer isso porque é você, . — respirou fundo cansado antes de voltar a falar. — A pessoa que eu tirei, me mostrou que não só amizade entre homem e mulher é possível, como é uma das mais legais. Ela também é uma pessoa superinteligente, que aguenta meus momentos difíceis e que é tão talentosa quanto qualquer outro dessa sala. Sem contar que é uma das sete pessoas mais importantes da minha vida. , pode vir antes que essas suas lágrimas caiam.
— Você é ridículo, . — ela falou com a voz embargada, abraçando forte o amigo. Era emotiva o suficiente para se emocionar com programas de televisão, imagina ouvindo aquelas palavras singelas de alguém que ela tinha tanto carinho. — Obrigada pelas palavras e você também é muito importante pra mim!
— Abre esse presente e para com esse chororô, mulher. — Dy falou divertido.
— Calma lá! E eu acabei de ganhar um....chá de camomila?! — perguntou confusa ao desembrulhar o presente e encarar a pequena caixinha. O resto estava estranhando tanto quanto ela.
— Ele conseguiu deixar até o presente esquisito. — comentou com a sobrancelha arqueada.
— É aí que vocês se enganam! Isso não é só um chá de camomila, é o seu ingresso diário pra poder aguentar o daqui pra frente. Convenhamos, haja paciência! — explicou, finalmente fazendo todos entenderem e entrarem em uma crise de riso com a cara de tacho de .
— Não vi graça nenhuma. — ele respondeu mal humorado.
— Nem eu consegui aguentar, desculpe, . — falou enquanto secava uma lágrima teimosa no canto do olho depois de tanto rir. — Obrigada, .
— Ei! Tudo bem que foi engraçado e tal, mas o presente não é mesmo esse. Isso aí só foi pra zoar o na frente de todo mundo. — ele confessou divertido, indo até atrás do sofá e puxando uma caixa de lá. Entregou para a amiga e a abraçou uma última vez antes de se sentar.
— Essa caixa tá bem bonita, abre aí que eu tô curiosa. — comentou, esticando o pescoço para ver mais rápido o que tinha dentro.
— PUTA MERDA CARAMBA DO CARALHO EU VOU CAIR QUE FODA! — a caçula nem contou quantos palavrões falou na mesma frase, estava empolgada demais admirando a pequena câmera analógica clássica que tinha em mãos. — , EU AMEI MUITO! MUITO MUITO MUITO MUITO OBRIGADA!
— Alguém avisa pra ela que ela tá gritando. — pediu assustado.
— Sério, ? Não basta ela registrando nossa cara toda hora com as outras duas? — perguntou, rolando os olhos. ainda falava sozinha em pé, mexendo em cada botão da câmera.
— Qual é? Eu só apostei no maior gosto dela. — ele deu de ombros inocente.
— É impressão minha ou os olhos dela estão maiores? — perguntou temeroso.
— Parece até que tem mais dente naquele sorriso. — continuou com os olhos semicerrados.
— , você criou um monstro! — Dylan anunciou, lançando um olhar assustado para a garota.
— Vocês podem calar a boca? Estou ouvindo tudo! — finalmente os interrompeu, rolando os olhos com tanto exagero e voltando a sorrir depois que eles apenas ergueram as mãos em rendição e voltaram a prestar atenção nela realmente. — Quero aproveitar esse momento pra estrear meu presente. Anda, todo mundo fica aqui perto da árvore.
Sabendo que era uma luta perdida, se arrastaram até onde a caçula pediu e perderam bons minutos se empurrando, reclamando de algo ou apenas atrapalhando o outro até que estivessem bem posicionados e pudesse ativar o temporizador da câmera e disparar. É claro que inventaram de trocar de poses nos últimos segundos, o que provavelmente resultaria em uma foto espontânea e esquisita e uma brava na hora de pegar a imagem revelada, isso se não tivesse trocado sua pose sorridente para uma em que depositava um beijo de surpresa nos lábios da garota. Ela, e todos os outros, não poderiam estar mais radiantes ali.
Foi uma madrugada de Natal animada com mais fotos, brincadeiras, bebidas, beijos e inaugurações de presentes — de um dos Cds de até as calcinhas comestíveis de , que foram cortadas em pedaços e distribuídas para todos — além de muitos agradecimentos e declarações quando estavam todos bem altos. Era um Natal incomum para a maioria, mas os faziam feliz e mais ansiosos sobre o que poderiam esperar do Ano Novo.
— Uow, tudo isso é pra nós? — Dy assobiou impactado com a cena. Todas elas vestiam uma roupa de mamãe noel sexy, bem estilo "Meninas Malvadas", com decotes, saias curtas, chapéus de noel e botas de cano alto. Estavam finalmente realizando o desejo de comemorarem a data juntas — afinal, a família de sempre acabava a arrastando para o interior para comemorar com todos os parentes — e queriam fazer aquilo com estilo.
— Digamos que só para três de vocês. — respondeu divertida, dando espaço para que eles entrassem.
Havia passado de meia noite e as ceias de Natal tinham acontecido. As gêmeas e cearam com Kath e trocaram presentes entre si, além de passarem um bom tempo na ligação com os pais para desejarem bons votos. Logo depois, sabendo que a casa ficaria cheia com os jovens, a senhora preferiu comemorar o resto da data na casa da irmã, onde passaria a noite. Como teriam a casa livre para eles, e sabendo que nenhum pai abriria mão de passar o momento com seus filhos, cada um aproveitou para comer e trocar os presentes com suas famílias. Depois, se encontrariam na casa das para o amigo secreto, pouco se importando se seria madrugada ou não, pois todos passariam a noite lá.
— Estou me sentindo privilegiado. — falou antes de cumprimentar a namorada com um beijo daqueles. Desde a oficialização, eles pareciam ainda mais fogosos que antes. Mal tinham passado 24h sem se ver!
— Os outros dois casais, façam logo o mesmo. Assim não seguro vela depois. — abanou a mão e saiu de perto, indo para a sala enquanto eles apenas riam.
— Eu, que não sou castiçal nem nada, também vou me adiantando. — Dy concordou, seguindo para onde o amigo foi.
— Bom, já que não tem como fugir... — deu de ombros, fingindo ser realmente um esforço aproveitar aqueles segundos com . Eles estavam aproveitando o máximo que podiam desde a festa, se vendo nos horários livres e conversando por mensagens sempre que estavam longes.
— É, vamos fazer esse sacrifício pra ele. — fez piada antes de juntar seus lábios com o da garota. Não podia estar mais feliz de ter alguém como ela por perto. Além de terem muito em comum, ela não dava espaço para bobeira e eles não criavam drama para o que não precisavam. Queriam se curtir e nada mais, e era isso que fariam enquanto pudessem.
— Não sei você, mamãe noel, mas não quero ficar de vela pra esses dois. — finalmente se aproximou da caçula, puxando-a para perto pela cintura enquanto falava baixo em seu ouvido. — Você está maravilhosa.
— Se antes eu não queria perder tempo, imagine depois disso. — ela fez menção ao sussurro em seu ouvido, que despertou uma série de arrepios por seu corpo. Ainda ficava impressionada com os efeitos de em si, mesmo estando nessa há alguns dias. Não se preocuparam em discutir o que estava rolando entre os dois — mesmo que a mente de alertasse em alguns momentos — e apenas deixavam as coisas rolarem sem compromisso. Estava bom daquela maneira e era isso que importava. Sem aguentar mais, ela juntou seus lábios em um selinho que rapidamente foi aprofundado em um beijo calmo e intenso. Parecia que faziam anos desde a última vez. Com certeza estava se tornando dependente daquelas sensações tão boas.
— Se demorarem mais um minuto, eu mando cada um para um quarto e vou embora com os presentes.
— E eu faço questão de ajudar o Dylan.
Os três casais se separaram ao escutarem as vozes dos amigos, soltando algumas risadas e finalmente se encaminhando para a sala. Graças ao grande amor pela comemoração, as garotas enfeitaram o ambiente com tudo que tinham direito. Uma grande árvore estava no canto, rodeada dos presentes, na lareira tinham quatro meias vermelhas penduradas com os nomes das , de Kath e de . Além disso, alguns Papais Noéis de todos os tipos estavam espalhados pelos móveis.
— Antes que eu me esqueça, vovó fez biscoitos de chocolate extras para deixar pra vocês. — avisou e foi até a cozinha buscar, voltando com uma travessa recheada deles.
— Finalmente algo doce! — exclamou alto antes de atacar, se explicando ao notar os olhares confusos em cima de si. — Minha família tá numa onda "sou saudável" e resolveu que a sobremesa desse ano seria fruta. Isso é ridículo! Que tipo de pessoa acha que uma ameixa pode ser comparada com um pudim?
— Pois eu não aguento nem olhar mais pra comida. Minha vó fez questão de montar um banquete pra vinte pessoas, quando na verdade só éramos seis. Comi pela semana inteira. — respondeu antes de passar o braço pelo encosto e apoiar nos ombros de , que tinha acabado de se sentar ao seu lado no sofá.
— Mas aposto que beber você aguenta. — gargalhou e puxou uma das garrafas debaixo da mesinha de centro, estendendo para o garoto.
— Ainda bem que você sabe. — ele respondeu divertido ao pegar o objeto.
— Já rodem os copos aí, quero todo mundo tomando uma dose antes de começar a brincadeira. — pediu, esfregando as mãos animado.
— Concordo! Quanto mais álcool, mais besteiras serão ditas na hora de revelar o amigo e, consequentemente, mais engraçado será. — Dylan distribuiu os copos que recebeu da primogênita.
— Só eu que tô com muito medo disso? — se referiu ao amigo secreto.
— E porque estaria? — lançou um olhar curioso.
— Você não tem motivos mesmo, mas eu mal consigo imaginar as merdas que podem vir se um desses idiotas tiverem me tirado. — apontou para , e .
— Na verdade, levando em consideração a mente maquiavélica que essas gêmeas têm, a tem que temer sim caso uma delas tenha saído com o nome dela. — deu de ombros depois de tomar um gole de sua bebida.
— Tendo medo ou não, nós vamos começar. — riu do olhar assustado da amiga depois de refletir no que o garoto falou. — Mas, antes, vamos brindar!
— Isso mesmo, todos de pé. — pediu enquanto se posicionava na frente de , sentindo ele a envolver com o braço, e esticou seu copo à frente. — Um brinde a esse natal em amigos. Que venham muitos momentos felizes de nós juntos como esse!
— Saúde! — brindaram em coro enquanto tocavam os copos ao mesmo tempo.
— Tá ok, chega de enrolação! Quem vai começar? — perguntou animado depois que todos se acomodaram novamente.
— EU! — tomou a frente antes da irmã, saltando do sofá e pegando um embrulho médio de baixo da árvore. Parou no canto da sala, ficando de frente para todos e começou animada. — A pessoa que eu tirei é alguém que se tornou bastante especial, principalmente nos últimos dias, e que vai ter que ter muito fôlego pra aguentar a nova fase da vida dela.
— Fôlego? Mas que merda de dica é essa, ? — perguntou confuso.
— Essa tá difícil. — passou a mão pelos cabelos.
— Tem alguém fazendo atletismo por aqui? — estava tão perdido quanto o outro.
— Ei, acho que entendi! — anunciou antes de entrar numa crise de gargalhadas apontando para , fazendo-a encarar confusa de volta por alguns segundos antes de entender.
— Não acredito, ! — a primogênita ralhou, mas sem conseguir conter a risada.
— Alguém pode explicar o que tá rolando? — Dylan pediu para as três.
— A tirou o ! Tá falando que ele precisa de fôlego pra aguentar esse fogo eterno da . — a amiga finalmente explicou, fazendo todos se entregarem às risadas, menos a gêmea zoada.
— Quer dizer que me tornei especial, é? — sorriu de lado antes de abraçar a amiga e receber o presente.
— É claro, agora, você é meu cunhado. Tem coisa mais especial do que poder zoar sua irmã com o cara que ela tá namorando? — mordeu o lábio, lançando um olhar malicioso para ele. Cruzou os braços e esperou que ele abrisse o presente.
— Mostra logo o que é, ! — pediu sem aguentar a curiosidade quando o namorado desatou a rir ao ver o presente.
— Parece que sua irmã está disposta a me ajudar mesmo, amor. — ele avisou antes de mostrar o que tinha em mãos. Um par de dados do amor, daqueles com parte do corpo e o tipo de carinho que teria que fazer, e um bloco preto com o título de “Manual de bom convívio com ”.
— Uh, vou querer emprestado esses dados aí. — falou malicioso, arrancando risadas de todos.
— Que tipo de pessoa que você acha que eu sou, Dona ? E que história de manual é esse? Me deixe ver. — a primogênita quase pulou em cima dos dois para conseguir pegar o objeto. Em vão.
— Nem pensar! Foi feito com muita dedicação com todos os seus podres e dicas para salvar o quando você tiver naqueles dias péssimos. Só ele pode ver! — tomou a frente, empurrando a mais velha de volta para o lugar dela.
— Só de ver esses primeiros presentes, já sei que o negócio vai ser bom daqui pra frente! — comentou entre risadas.
— Sei que você realmente vai se divertir com eles, , mas seu presente mesmo está aqui. — a caçula confessou antes de entregar uma caixa vermelha.
— Cara, não acredito! — ele arregalou os olhos ao desempacotar o box com todos os filmes de Star Wars.
— Consegui me lembrar de um comentário da falando que você era muito fã e fui correndo atrás.
— Até eu queria que a tivesse me tirado agora. — Dylan falou com os olhos brilhando para os filmes.
— Eu também. — concordou.
— Muito obrigado, . Amei todos os três. — agradeceu com um abraço antes de colocar os presentes no sofá e tomar a frente da brincadeira. Segurava apenas um envelope verde nas mãos. — Bom, quem eu tirei, eu já conhecia há algum tempo, só não sabia que era tão legal assim.
— É essa a sua dica? — perguntou com as sobrancelhas unidas quando o garoto ficou em silêncio apenas os encarando.
— O consegue ser pior que o . — deu um tapa na própria testa.
— Parem de falar de mim, eu nem fui ainda. — o garoto se defendeu, arremessando uma almofada no amigo.
— Sério, amor, vai ter que melhorar se quiser tirar algo de nós. — pediu ao notar o silencio de .
— Ai, gente, eu sou péssimo com isso e não vou conseguir pensar em nada melhor. Dylan, é você! — ele desistiu, dando de ombros e chamando o amigo para frente.
— Credo, cunhado, bota emoção aí! — comentou entre risadas enquanto os dois se cumprimentavam.
— Ninguém entendeu nada, mas já agradeço pelas palavras. — Dy falou ao pegar o envelope.
— Também aviso que não fui original igual a , mas me esforcei. — ele sorriu de lado e foi sentar em seu lugar.
— Tudo bem, vamos ver o que temos aqui. — Dylan narrou enquanto abria e puxava dois papéis de dentro, abrindo um sorriso largo ao mostrar os ingressos para o próximo show do John Mayer na cidade. — Uooou, você realmente se esforçou! Eu tentei procurar esses ingressos no segundo dia de venda e já tinha esgotado!
— Eu tenho meus contatos. — respondeu com um sorriso de lado.
— Mandou bem, ainda vai levar acompanhante. — mandou um joinha para eles.
— Tomara que o Dy tenha me tirado, quero que chegue logo minha vez e que eu fique livre do e do . — pediu com um olhar amedrontado, arrancando risadas de todos.
— , controle seu homem! Vamos continuar... — Dylan respondeu e pegou uma sacola estampada grande da árvore. — Eu tirei uma pessoa muito talentosa e que poderia fazer alguém chorar com suas criações.
— Opa, já sabemos então que estou fora dessa. — ergueu as mãos em rendição.
— Dentre nós, as criações que poderiam entrar nessa descrição seriam as músicas... — iniciou o raciocínio.
— E levando em consideração as pessoas que compõe aqui... — continuou.
— Ou é a ou o . — apontou para os dois.
— O Dy só viu uma música minha. Eu voto no . — a caçula ergueu a mão, sendo seguida pelos demais.
— Acertaram! Pode vir, . — Dylan anunciou sorridente, abraçando o amigo antes de entregar o presente. — Espero que você use com muito carinho tudo que tem aí.
— Só dou certeza depois que conferir. — piscou divertindo, abrindo a sacola e pegando a caixa que estava em cima, com os dizeres “Kit composição”. Dentro tinha uma caneta, um caderno e um headfone preto. — Como você sabia que eu estava precisando?
— Não sabia, mas quis ajudar pra você continuar nos iluminando com suas letras. — ele respondeu dando de ombros.
— Olha o que mais tem aí dentro, . — pediu, apontando para sacola. O garoto concordou, puxando do fundo e abrindo uma cueca fina com o rosto de um elefante de pelúcia grande e rosa na parte da frente, fazendo todos entrarem em uma crise de risos. — Mano, quais as chances de você não botar isso agora?
— Qual a chance de eu não vestir você a força com isso? — perguntou vingativo, com um sorriso sacana no rosto. — Poxa, Dylan, você estava indo tão bem...
— Eu achei que ele arrasou! — concordou entre risos.
— Eu também! — responderam em coro.
— Se a plateia disse, está resolvido. E eu achei a sua cara quando vi, não resisti. — Dylan deu dois tapinhas em suas costas antes de voltar ao seu lugar aos risos.
— Só não vou levar pro lado pessoal porque tô muito feliz com esse momento. — riu fraco e pegou o presente de seu amigo secreto. — Esse presente aqui vai para a pessoa mais intensa dessa sala e que vai fazer alguém vivenciar uma prova de atletismo nessa nova fase.
— ! — todos falaram em coro, menos a citada que apenas ria.
— Casal tirando casal? Que marmelada! — comentou enquanto apontava para , , e .
— Essa sua cara de atentado tá me deixando com medo de abrir isso aqui, . — avisou com o presente em mãos ao parar ao lado dele.
— Anda logo com isso! — pediu, tomando mais gole de sua bebida.
— Tá bom, apressadinhos. — a primogênita rolou os olhos e abriu o embrulho, ficando momentaneamente vermelha antes de começar a gargalhar sem parar. — Eu tô começando a achar que tô passando a impressão errada pra vocês!
— Que nada, eu sei que você gostou. Talvez só não mais do que o vai gostar. — deu de ombros divertido.
— Eu quero ver o que é!
— Eu também! — pediu com .
puxou para fora e mostrou dois pacotes de calcinhas comestíveis, de chocolate e morango, fazendo todos rirem.
— Espero que eu ganhe uma boa recompensa pela vergonha que estou passando, . — ela o olhou sugestiva com os olhos semicerrados enquanto todos apenas riam.
— Se você olhar direito em baixo dessas embalagens, vai ver que sim. — ele apontou para o pacote que ela tinha em mãos. o lançou um olhar temeroso antes de fazer o que ele falou. Encontrou uma pequena caixinha com uma tornozeleira dourada de estrelas dentro.
— Está perdoado pela palhaçada. — ela sorriu largo o dando mais um abraço.
— Sabe que vai ter que me emprestar, né? — falou com cara convencida.
— Vai me emprestar sua pulseira? — a outra retrucou, lançando um olhar desafiador e deixando a caçula com cara de bosta.
— Emprestando ou não, sigam com isso! — ralhou mais uma vez, agradecendo quando voltou para o lugar e pegou o presente para voltar a brincadeira.
— Façam silêncio que eu começo. — ela pediu quando todos a apressavam. Mordeu o lábio sapeca antes de voltar a falar. — Eu tirei um cara muito talentoso e não tão sensato quando o assunto é mulher compromissada em festa.
— Ela só pode tá falando do incidente da piscina. — riu ao se lembrar da primeira festa que foram ali.
— Eu estou fora disso, quem foi jogado na piscina foram esses dois. — Dylan apontou para e .
— Convenhamos que sou mais talentoso que o , então acho que sou eu. — deu de ombros convencido.
— Eu não sei como ainda fico impressionado com a capacidade de vocês acabarem comigo a cada minuto. — bufou, rolando os olhos.
— Não liga pra eles, eu sei que você é talentoso sim. — passou a mão pelos cabelos dele, arrancando uma série de "awn" de todos.
— Eu sou impaciente e vocês demoraram demais. Eu tirei o ! — anunciou sem se aguentar mais, abraçando o amigo e o entregando o presente antes de se sentar.
— Obrigado pela parte do "talentoso", . A outra é melhor deixar pra lá. — ele falou aos risos enquanto abria o presente. faltou soltar um grito quando viu os quatro jogos originais de PS, lançados a pouco tempo, em suas mãos. Correu até a amiga para a apertar entre os braços mais uma vez. — Mereceu mais um abraço, sim.
— Não abusa não, . — falou enciumado.
— É minha vez de falar: sabe que vai ter que me emprestar, né? — apontou sorridente para os jogos.
— Vou pensar no seu caso depois, docinho. — mandou um beijo em uma expressão forçadamente sexy, fazendo todos rirem e o garoto apenas rolar os olhos. Sem sair da brincadeira, pegou uma caixa fina e comprida de baixo da árvore e voltou a atenção aos amigos. — Antes que pensem, não, isso não é uma varinha de Harry Potter.
— Mas bem que podia ser. — fez um bico com a boca.
— Ah, não faça eu me arrepender de não ter escolhido isso. — ele murchou os ombros decepcionado, fazendo quase todos começarem a vaiar ou se dar tapas na testa ao mesmo tempo. — O que foi?
— , você praticamente entregou que tirou ela! — Dylan explicou exagerado, mas sem controlar o riso.
— Eu não entreguei nada, vocês que estão tirando conclusões precipitadas. — arregalou os olhos assustado, claramente uma criança que faz algo errado sem querer.
— Então você não tirou a ? — e perguntaram juntos com um olhar desafiador.
— Tirei. — ele passou a mão pelos cabelos sem jeito. não se importou com a falta de mistério, na verdade achou bem fofo e engraçado o jeito do garoto, apenas se levantou e foi até ele o abraçar. — Desculpe por isso.
— Tudo bem, o que vale é a intenção. — ela gargalhou, passando a mão pelo cabelo do amigo antes de abrir a caixa e tirar um par de baquetas levemente esverdeadas de dentro. Sorriu fraco para ele. — Ah, obrigada, !
— Aposto que a queria mais que tudo que fosse a varinha do Potter agora. — apontou divertido para o sorriso amarelo da garota, que apenas o respondeu com o dedo do meio.
— Não escute o que ele está dizendo, . Eu gostei, sério. Só estou meio assim porque tenho mais dois pares em casa. — ela deu de ombros sendo sincera.
— Eu sei, escutei você falando com o sobre como gostava de gastar dinheiro com isso e como estava cada vez mais apaixonada pela bateria, por isso escolhi esse presente, pra não correr o risco de te dar algo que não gostava. — ele mordeu o lábio empolgado, fazendo sinal para que todos parassem com os murmúrios sobre o tiro ter saído pela culatra. — Mas eu também não sou tão idiota. Então, primeiro, se você ver direito vai encontrar seu nome e sobrenome gravado em cada uma.
— Opa, isso é novo! — só então ela rodou os objetos nos dedos, encontrando as marcas que ele tinha falado. As palavras eram em tamanho médio e tinham uma estrela preta pintada no canto de cada uma. Sorriu largo depois de analisar por alguns segundos. — Tá ok, eu realmente gostei mais agora! Isso as fazem superexclusivas.
— Que bom que gostou, mas vamos ver depois disso. , apaga a luz aí! — ele pediu para a gêmea que estava mais perto do interruptor.
— , esse não é o momento pra você tirar a roupa e tentar impressionar ela. — explicou com os olhos levemente arregalados.
— Nem esse, nem nenhum momento! — tomou a frente na conversa.
— Tô sentindo cheiro de ciúmes no ar. — colocou mais lenha na fogueira, apenas rindo de seu canto.
— Dá pra vocês calarem a boca? E deixem que eu mesmo faço. — bufou impaciente, saltando pela poltrona e correndo até o interruptor para apagar a luz. No momento em que tudo ficaria escuro e todos começariam a reclamar, as duas baquetas que estavam nas mãos da garota começaram a brilhar com uma luz neon forte, iluminando levemente o que estava ao redor e dando contraste nas gravações pretas que tinha.
— CARALHO! TÁ BRILHANDO! E NO ESCURO! — não conseguiu se controlar, começando a sacudir as baquetas no ar e pular animada junto, fazendo todos rirem. — , EU TE AMO E ESSE É O PRESENTE MAIS LEGAL QUE EU JÁ GANHEI! MUITO OBRIGADA!
— Chora, . — ele respondeu convencido depois de acender a luz e voltar para o próprio lugar, completamente satisfeito por ter pensado naquilo e conseguido encontrar a tempo da data. — Por nada, !
— , para de babar em cima delas e começa logo sua vez. — Dy pediu (ou impôs), tomando os novos brinquedinhos da mão da garota para não perderem tempo.
— Chato! — ela ralhou antes de se recompor e voltar com o jogo. Sorriu confiante e lançou a dica. — Eu tirei a pessoa mais injustiçada do bonde.
— EEEEU! OBRIGADO, UNIVERSO, POR NÃO PERMITIR QUE NENHUM BABACA TENHA ME TIRADO. EU SABIA QUE CHEGARIA O MOMENTO EM QUE OS HUMILHADOS SERIAM...
— Cala a boca, ! — interromperam em coro o garoto, mais pela graça de provoca-lo do que outra coisa.
— Vem logo, ! — chamou animada ele que tinha fechado a cara, entregando o presente junto com um selinho para ele.
— Você tirou o cara que tá pegando? Que marmelada! — afinou a voz para imitar a da garota, fazendo menção ao comentário dela mais cedo.
— Ignore ele. — abanou a mão, rasgando de qualquer jeito a embalagem de papel e sorrindo animado ao descobrir o box de The Rolling Stones com os maiores CDs da carreira deles. — Olha isso, dudes! Que sonhooooo! Você é dez, . Muito obrigado.
— Que irado! Depois, já coloca pra rodar um aí no som! — fez sinal para o aparelho atrás dele.
acenou animado, colocando o box com todo cuidado na mesa de centro depois de beijar mais uma vez e antes de pegar o último presente da árvore.
— É realmente necessário eu fazer isso quando só sobrou a ? — ele perguntou com um riso debochado.
— Para de excluir minha irmã! — fingiu estar brava, arrancando risada deles.
— É isso aí! Só porque sou a última, acho que tenho direito de receber uma declaração bem linda. — a caçula cruzou os braços e o encarou confiante.
— Do jeito que o é meloso, se ele realmente fizer isso é capaz de sair um poema brega estilo cinco anos. — pirraçou.
— Um daqueles clássicos de “batatinha quando nasce...” — continuou.
— Ei, já deu! Só vou fazer isso porque é você, . — respirou fundo cansado antes de voltar a falar. — A pessoa que eu tirei, me mostrou que não só amizade entre homem e mulher é possível, como é uma das mais legais. Ela também é uma pessoa superinteligente, que aguenta meus momentos difíceis e que é tão talentosa quanto qualquer outro dessa sala. Sem contar que é uma das sete pessoas mais importantes da minha vida. , pode vir antes que essas suas lágrimas caiam.
— Você é ridículo, . — ela falou com a voz embargada, abraçando forte o amigo. Era emotiva o suficiente para se emocionar com programas de televisão, imagina ouvindo aquelas palavras singelas de alguém que ela tinha tanto carinho. — Obrigada pelas palavras e você também é muito importante pra mim!
— Abre esse presente e para com esse chororô, mulher. — Dy falou divertido.
— Calma lá! E eu acabei de ganhar um....chá de camomila?! — perguntou confusa ao desembrulhar o presente e encarar a pequena caixinha. O resto estava estranhando tanto quanto ela.
— Ele conseguiu deixar até o presente esquisito. — comentou com a sobrancelha arqueada.
— É aí que vocês se enganam! Isso não é só um chá de camomila, é o seu ingresso diário pra poder aguentar o daqui pra frente. Convenhamos, haja paciência! — explicou, finalmente fazendo todos entenderem e entrarem em uma crise de riso com a cara de tacho de .
— Não vi graça nenhuma. — ele respondeu mal humorado.
— Nem eu consegui aguentar, desculpe, . — falou enquanto secava uma lágrima teimosa no canto do olho depois de tanto rir. — Obrigada, .
— Ei! Tudo bem que foi engraçado e tal, mas o presente não é mesmo esse. Isso aí só foi pra zoar o na frente de todo mundo. — ele confessou divertido, indo até atrás do sofá e puxando uma caixa de lá. Entregou para a amiga e a abraçou uma última vez antes de se sentar.
— Essa caixa tá bem bonita, abre aí que eu tô curiosa. — comentou, esticando o pescoço para ver mais rápido o que tinha dentro.
— PUTA MERDA CARAMBA DO CARALHO EU VOU CAIR QUE FODA! — a caçula nem contou quantos palavrões falou na mesma frase, estava empolgada demais admirando a pequena câmera analógica clássica que tinha em mãos. — , EU AMEI MUITO! MUITO MUITO MUITO MUITO OBRIGADA!
— Alguém avisa pra ela que ela tá gritando. — pediu assustado.
— Sério, ? Não basta ela registrando nossa cara toda hora com as outras duas? — perguntou, rolando os olhos. ainda falava sozinha em pé, mexendo em cada botão da câmera.
— Qual é? Eu só apostei no maior gosto dela. — ele deu de ombros inocente.
— É impressão minha ou os olhos dela estão maiores? — perguntou temeroso.
— Parece até que tem mais dente naquele sorriso. — continuou com os olhos semicerrados.
— , você criou um monstro! — Dylan anunciou, lançando um olhar assustado para a garota.
— Vocês podem calar a boca? Estou ouvindo tudo! — finalmente os interrompeu, rolando os olhos com tanto exagero e voltando a sorrir depois que eles apenas ergueram as mãos em rendição e voltaram a prestar atenção nela realmente. — Quero aproveitar esse momento pra estrear meu presente. Anda, todo mundo fica aqui perto da árvore.
Sabendo que era uma luta perdida, se arrastaram até onde a caçula pediu e perderam bons minutos se empurrando, reclamando de algo ou apenas atrapalhando o outro até que estivessem bem posicionados e pudesse ativar o temporizador da câmera e disparar. É claro que inventaram de trocar de poses nos últimos segundos, o que provavelmente resultaria em uma foto espontânea e esquisita e uma brava na hora de pegar a imagem revelada, isso se não tivesse trocado sua pose sorridente para uma em que depositava um beijo de surpresa nos lábios da garota. Ela, e todos os outros, não poderiam estar mais radiantes ali.
Foi uma madrugada de Natal animada com mais fotos, brincadeiras, bebidas, beijos e inaugurações de presentes — de um dos Cds de até as calcinhas comestíveis de , que foram cortadas em pedaços e distribuídas para todos — além de muitos agradecimentos e declarações quando estavam todos bem altos. Era um Natal incomum para a maioria, mas os faziam feliz e mais ansiosos sobre o que poderiam esperar do Ano Novo.
Capítulo 23
— Gente, não vai dar tempo. — falou manhosa ao ver a quantidade de carros os rodeando.
— , vira essa boca pra lá! — pediu ao volante. Ele tentava manter a calma junto com , mas as gêmeas percebiam que eles estavam prestes a ficar nervosos com o tempo e aquele engarrafamento eterno.
— Quem deu essa ideia de gênio de virmos de carro mesmo? — rolou os olhos, se sentando de lado no banco do carona. Tinha perdido a paciência na primeira hora dentro do carro.
— Eu fui o primeiro a falar para virmos de metrô. — deu de ombros, passando a mão pelos cabelos ao escutar e outros vários carros buzinarem. — Isso é coisa do otimista.
— Olha, só falta quarenta minutos pra começar a queima de fogos. Tá muito claro pra mim que não vamos andar mais que dez metros nesse carro nos próximos minutos. Eu acho que devíamos estacionar o carro numa dessas ruas laterais e ir correndo. — sugeriu enquanto fuçava no celular, olhando o mapa para se situar.
Tinham resolvido ver a famosa queima de fogos no Embarcadero assim que o assunto sobre onde passariam a virada surgiu. A ideia era chegar cedo, levar toalhas e almofadas para se acomodarem na grama e aproveitarem a noite por ali. As coisas começaram a dar errado no momento em que passaram horas discutindo na manhã sobre como iriam. Depois de convencer a todos de que o carro era a melhor opção, tudo seguiu bem. E provavelmente seguiria, se o mesmo não tivesse se atrasado duas horas para chegar à casa das gêmeas e poderem sair. Até tentaram se manter otimistas de início, mas qualquer leigo em matemática conseguia calcular que as chances de comemorarem a virada do ano dentro do carro era bem maior que chegarem ao destino de carro.
— Eu já desisti faz tempo disso aqui. — apontou para o trânsito. — Tô contigo, !
— Vocês sabem que estamos a algumas boas quadras de distância ainda né? — ergueu a sobrancelha, claramente questionando aquela decisão.
— Faço a mesma pergunta pra você, amor. — ela rebateu, cruzando os braços.
— , elas têm razão. Se a gente for correndo, pelo menos temos a chance de ver metade ou final da queima de fogos. — deu dois tapinhas no ombro do amigo. — , liga aí pro e avisa eles.
Não bastasse terem se enfiado de carro no lugar mais lotado da cidade, tinham se dividido em dois para se acomodarem melhor. Enquanto e acompanhavam o casal vinte, , e Dylan estavam com . Tinham saído juntos e se mantinham um na frente do outro durante grande parte do percurso, entretanto com a bagunça e o fluxo intenso por onde passaram acabaram se distanciando e se perdendo um do outro. Mantinham a esperança de que estivessem a poucos carros de distância.
— Alô, ? — perguntou com o celular no ouvido.
— ! Cadê vocês? Perdemos vocês de vista naquele cruzamento. — ele explicou.
— , bota no viva-voz. — pediu e a caçula fez, também pedindo para que o amigo fizesse o mesmo do outro lado.
— Oi, gente. Eu tô muito triste e eu quero matar o por ter atrasado. A gente não vai chegar nunca pelo que o Dy me mostrou no mapa agora. E eu não quero desejar feliz ano novo dentro desse carro bagunçado do . — começou a falar sem parar em um exagerado desespero.
— EI! Não fala assim do meu carro.
— , tem uma casinha de cachorro nos meus pés e metade do seu guarda-roupa em cima de nós, eu falo sim! Mas voltando ao que importa, o que vamos fazer? — só então a garota parou para respirar.
— Eu acho que o trânsito deixou alguém estressada. — fez piada.
— Primeiro de tudo, , se acalma! — puxou o celular para perto e desandou a falar. — Segundo, a deu a única ideia que ainda pode salvar nossa noite. Vamos estacionar o carro em uma dessas ruas menores e ir correndo. A chance de vermos os fogos é maior.
— Correndo tipo com as pernas? — Dylan perguntou desanimado.
— Cara, isso não vai dar certo. — escutaram reclamar.
— A não ser que você seja equilibrista e corra com as mãos, é com as pernas mesmo. — bufou impaciente. — E , o que tinha que dar errado, já deu.
— Vocês estão brigando e não estão resolvendo nada! — reclamou, pegando o celular de volta e falando antes que alguém a interrompesse. — , nós estamos perto desse mercado grande e azul. Vamos estacionar na rua depois dele que é a mais próxima. Você estaciona aí na rua mais perto e nos encontramos numa banca de revista laranja que fica em uma esquina.
— Certo! Já estou dando sinal para entrar na rua. — confirmou.
— Ótimo. Fiquem com o celular na mão. Já nos encontramos. Tchau. — a caçula nem esperou por uma resposta, apenas encerrando a ligação e botando o aparelho no bolso.
— Mandou bem, . — depositou um selinho em seus lábios antes de se enfiar no meio dos bancos da frente. — , só mais dois metros e entramos na rua. Mete a mão nessa buzina!
— CADÊ ELES? Eu tô ficando nervosa! — reclamou pela quinta vez no mesmo minuto, andando de um lado para o outro em frente a banca. Estavam no lugar em que haviam combinado, esperando pelo resto dos amigos que, além de não atender o celular, também não chegavam.
— Tá ficando ou já tá? — perguntou com um sorriso frouxo, ficando sério no mesmo segundo que a namorada o lançou um olhar raivoso. Passou a mão pelo cabelo sem jeito e voltou ao assunto principal. — Estou começando a achar que eles estavam em outra avenida.
— Do jeito que o é lerdo, eu não duvido nada. — respondeu preocupado, voltando a apoiar o rosto no ombro da caçula. Estava a abraçando por trás com as mãos em sua cintura.
— ALI! — saltou de uma vez, apontando para os quatro amigos correndo feito desesperados até eles, assustando a todos e fazendo levar um baque no queixo. — Ai, me desculpe, !
— Tudo bem, não machucou. — ele disfarçou, passando a mão pelo local e sorrindo de lado para desviar do olhar preocupado da garota. Ela provavelmente perderia bons minutos se certificando de que não o havia machucado se o amigo não tivesse chegado quase pulando em cima dela.
— Eu vou matar você, ! — Dylan chegou reclamando com os demais.
— Onde vocês estavam? — ignorou eles, indo direto ao assunto.
— Ei, e cadê a bolsa com os lençóis e comidas? — perguntou junto, observando que ninguém carregava nada nas mãos.
— Não era vocês também que estavam com os espumantes? — a caçula foi a última a questionar.
— AH, QUANTAS PERGUNTAS! — falou alto, fazendo todos se calarem. Bufou irritado antes de começar a responder. — A gente tava em frente a banca laranja que a falou, só pensamos que poderia ser outra depois que não vimos nem sinal de vocês. Tivemos que andar uma quadra ainda.
— E como assim cadê os espumantes? Eu deixei em cima do sofá pra vocês pegarem! — se explicou, apontando para as gêmeas.
— Pra nós? Você não disse nada disso. — rolou os olhos.
— Calma, gente! Na bolsa do lençol tinha uma garrafa de vinho, já é algo. Cadê ela, ? — perguntou mais uma vez, tentando manter a calma no local.
— , você ficou encarregado de pegar. — ele desviou a atenção para o garoto.
— Quem ficou foi o Dylan, eu estava encarregado de ficar com o celular pra entrar em contato com a ! — se explicou.
— E porque não atendeu quando ligamos? — interrompeu.
— Porque a bateria acabou depois de tantos jogos. — ele sorriu amarelo, mostrando o aparelho apagado nas mãos e fazendo todos rolarem os olhos.
— Antes que me perguntem, eu não lembrei de pegar a bolsa, ok? Achei que o ia pegar. — Dylan ergueu as mãos inocente.
Todos bufaram em sincronia, começando uma série de palavrões e reclamações dirigidas para alguém diferente. Era uma bagunça de vozes com os sons de buzinas ao lado se misturando.
— JÁ DEU! — gritou, fazendo todos se calarem juntos. Olhou o relógio no pulso impaciente e voltou a falar. — A gente já cagou a noite quase toda, mas temos vinte minutos para concertar uma parte. Se todo mundo colaborar, calar a boca e começar a correr, nós vemos os últimos minutos de fogos. Agora, será que podemos ou vocês preferem passar a meia noite gritando uns com os outros?
— É a primeira vez que vejo o falando tão sério. — não se controlou, arrancando risadas de todos.
— Ele tem razão. Vamos parar de besteira e ir logo, o que tinha que dar errado já deu e vai ficar pra trás. Não vamos nos estressar. — concordou, vendo todos afirmarem também.
— Nesse caso, que comece a corrida! — falou e deu a mão para , começando a correr com outras seis pessoas atrás.
A cena era completamente ridícula: oito jovens bem arrumados correndo feito desesperados pela rua, gritando desculpa e pedindo licença a cada pessoa que esbarravam e passavam ao lado. A caçula sentia o pulmão reclamar depois das três quadras e mal podia imaginar como estava difícil respirar para os amigos que já tinham caminhado para encontrar com ela. Tinha desistido de manter a mão na de no momento em que começou a suar e ele, com um físico bem conservado, passou a ficar alguns passos a sua frente enquanto ela faltava morrer. Era provavelmente a mais sedentária do grupo e isso ficava comprovado naquele minuto.
Os quatro do McFly se mantinham muito bem gastando e repondo energia a cada ensaio e apresentação, sempre pulando e dando o máximo de si. era uma líder de torcida, seu corpo estava bem acostumado a exercícios intensos por duas horas seguidas. era elétrica por si só, sempre praticando esporte na escola e fazendo aula de dança. Dylan levava uma vida fitness de dar inveja, com direito a academia e corridas quase todos os dias. Chegava a ser humilhante para , que já era a mais atrás na corrida, quando todos ainda a apressavam e vez ou outra desaceleravam o passo para a incentivar e puxar mais rápido.
Sem aguentar mais, parou com as mãos no joelho e respirou ofegante.
— GENTE! — usou o último fio de ar para chamar a atenção dos amigos, que rapidamente pararam e voltaram até ela. Sentia o peito queimar e subir e descer rápido em busca de mais ar. O coração batia tão forte que ela sentia ecoar por todo seu corpo.
— Tá tudo bem, ? — foi o primeiro a perguntar, apoiando a mão nas costas da amiga.
— Eu não aguento mais correr. — ela ergueu o tronco, apoiando as mãos na cintura e controlando a respiração.
— Isso que dá ser sedentária. Eu falo um monte de vezes que você precisa fazer... — começou o sermão ali mesmo, olhando preocupada para a caçula.
— , tá bom. — interrompeu educada, sabendo que aquilo apenas desencadearia uma discussão boba entre as duas.
— Tá melhor, ? — se aproximou da garota, colocando a mão nas suas costas como apoio.
— Tá sim. Só não sei se consigo voltar pra essa maratona.
— Eu avisei que era longe! — bufou baixo.
— Todo mundo sabia, , mas você queria o que? Ficar trancado dentro do carro a noite toda? — rolou os olhos impaciente.
— Ei ei ei, não vamos iniciar outra briga boba aqui. — Dylan entrou entre os dois, falando calmo para manter a paz entre todos. Conferiu o relógio antes de voltar a falar. — A queima de fogos deve começar a qualquer momento, mas não vamos desanimar. Acredito que falta só um quarteirão para chegarmos, se formos caminhando rápido, dá tempo de pegar até metade do espetáculo.
— O Dy tem razão. — concordou.
— Isso, não vamos desanimar! — ergueu os braços animado, arrancando risadas de todos.
— , apenas ande o mais rápido que conseguir, ok? — pediu. — Quando cansar, sobe nas minhas costas que eu te levo.
— Tudo bem, acho que dá pra chegar. — concordou com um sorriso de lado, ainda que tivesse vontade de se jogar no chão naquele momento apenas para que o garoto a colocasse em suas costas e ela pudesse ficar mais perto dele.
— É isso aí, ânimo, galera! Tudo vai dar certo! — comemorou, batendo palma para incentivar todos.
E como uma grande pegadinha do destino, no momento em que todos concordaram o som de fogos estourando ao longe ecoou pelo ambiente. Fazendo todos se calarem.
— Tudo bem, gente. Vamos focar no que o Dylan falou e começar a andar, vai dar tempo. — retomou o incentivo ao notar que todos se preparavam para reclamar.
E novamente, numa cena digna de filme, quando todos concordaram mais uma coisa aconteceu. Puderam sentir aos poucos, quando já estavam caminhando. De início cada um ficou na sua, se convencendo de que não passava de uma má impressão. Mas não puderam controlar quando os pequenos pingos de um chuvisco, começaram a se intensificar em uma chuva fraca.
— Tá ok! Que pegadinha é essa? — reclamou irônica, sem parar de andar e com o rosto baixo.
— É só uma chuvinha passageira, vamos continuar! — pediu antes que todos desanimassem de vez.
Apenas concordaram e voltaram a caminhar, torcendo para que o amigo estivesse certo.
— Chuvinha passageira, né, ? — bufou irritada, cruzando os braços. Se aproximou de e apoiou o corpo em seu tronco, sentindo ele a abraçar por trás.
Estavam todos em baixo da cobertura da frente de uma loja, tentando evitar a chuva que havia ganhado proporções enormes. Estavam um pouco molhados e com os cabelos levemente úmidos depois de bons minutos enfrentando o início da chuva. O vento soprava forte contra eles e o barulho da água impossibilitava escutar sons muito longe, até a luz dos fogos havia desaparecido no céu.
— Aqui é a terra do sol, do calor! Como eu ia imaginar que iria chover desse jeito logo hoje? — ele falou contrariado, dando de ombros.
— Olha, eu não sei vocês, mas eu já desisti. Faltam dois minutos para dar meia noite, eles provavelmente pararam com a queima de fogos por causa dessa chuva e não para de passar gente por aqui indo embora. Por mim podemos ir para o carro e voltar pra casa. — ergueu os braços em rendição, se sentando no degrau de entrada da loja.
— Eu tô com a ! — fez o mesmo que ela, sentando ao seu lado e apoiando a cabeça em seu ombro.
Um por um, foram todos os outros concordando e se dando por vencidos. sentiu depositar um beijo em seu pescoço e ir para mais perto dos amigos, se apoiando na parede enquanto iniciavam uma conversa boba, apenas esperando que a chuva diminuísse para que fossem embora. Sua mente começou a trabalhar e a processar a situação. De longe, não era aquilo que imaginara e queria como comemoração de ano novo. Estava feliz demais com tudo que tinha acontecido desde então e sabia que merecia uma virada cheia de alegria, assim como todos os seus amigos mereciam, principalmente que havia saído de seu país apenas para comemorarem juntos. Queria que aquele novo ano se iniciasse sem frustrações e com muita realização. Queria aproveitar com os amigos como sempre faziam, independente do lugar ou modo. E, bem, era isso que ela faria.
Mordeu o lábio sapeca e se aproximou dos amigos com um sorriso no rosto. Só precisava de uma vítima. Sorriu de lado e parou em frente à irmã, estendendo a mão para que ela pegasse. era uma ótima opção, sabia que se ela não se animasse totalmente, ficaria brava nos primeiros segundos e arrastaria a todos juntos para se sentir vingada. A primogênita a encarou confusa, sem se mover. Os outros pararam a conversa e apenas ficaram as observando. bufou baixo e fez força, puxando para fora da cobertura antes que ela processasse o que estava acontecendo.
— Mas que porra é essa, ? — ela ralhou assim que as duas entraram na chuva, ficando completamente ensopadas em segundos. soltou a mão e tentou correr para o abrigo novamente, sendo interrompida pela caçula que parou à sua frente.
— Não vamos deixar nossa comemoração estragar. — ela quase teve que gritar devido ao barulho da água, fazendo uma expressão forçada de tristeza enquanto encarava a irmão.
— Precisava ser nessa chuva? — rolou os olhos, sem conseguir controlar um sorriso de lado. Apenas observou os amigos as encarando sem entender nada e voltou o olhar para a irmã.
— Você sabe que eu gosto do caminho mais sem noção. — deu de ombros, gargalhando com a irmã antes de a encarar divertida. — Será se dá pra me ajudar a arrastar aqueles cara-de-tacho até aqui?
Ela não precisou pedir duas vezes. Em menos de um minuto, estavam todos os oito na chuva gritando, brincando e correndo feito crianças. A brincadeira de pega-pega se iniciou do nada e quando perceberam já estavam correndo tão longe que haviam chegado no Embarcadero, o destino inicial deles. Totalmente ensopados, agora com uma chuva mais fina e devagar, pararam lado a lado no meio da rua quase deserta e ficaram bons minutos encarando o jardim e a água à frente. As pessoas pareciam ter se abrigado nos restaurantes da frente e restavam poucos corajosos ainda no espaço livre com seus guarda-chuvas.
Sem que precisassem falar mais nada, apenas se encararam divertidos e foram andando juntos até a ponta do jardim, próximo à água, e se jogaram ali na grama de qualquer jeito. Os corações batiam forte devido a corrida e pela adrenalina de todas as brincadeiras e diversão nos últimos minutos. A chuva era quase nula agora, restando apenas alguns pingos aqui e ali.
— É meia noite e vinte. — cortou o silêncio calmo entre eles, sorrindo de lado na rodinha desengonçada que haviam feito.
— Acho que essa foi uma das melhores viradas de ano que já passei. — confessou enquanto abraçava .
— É, mesmo com aquela reclamação toda, foi bastante divertido. — continuou.
— Sem contar que é de dar inveja, em qualquer um, tanta coisa diferente acontecendo em uma mesma noite. — Dylan soltou uma risada divertida, fazendo todos concordarem entre risos.
— O importante é que estamos juntos e muito felizes como sempre. — trocou um high five com , que estava do seu lado.
— E que a gente iniciou esse ano juntos. Dizem que isso faz com que essas pessoas nunca saiam da sua vida. — mandou uma piscadela divertida.
— Aff! Logo agora que achei que poderia me livrar do . — rolou os olhos forçado, desviando do tapa do amigo entre risos e arrancando risadas de todos.
— Feliz ano novo, gente! — desejou baixo depois de alguns minutos em silêncio, encarando a todos e suspirando com um sorriso.
— Feliz ano novo! — desejaram em coro, formando um abraço em grupo desajeitado em seguida.
Permaneceram em silêncio e voltaram a se sentar normalmente, apenas aproveitando o momento. A brisa corria leve e o único indício de que uma chuva forte havia passado por ali, eram eles e a grama molhados. A água reluzia ao longe as luzes e o brilho da lua no céu. Não era nada da maneira que imaginaram, era melhor.
— Feliz ano novo, . — sibilou no ouvido do garoto, aproveitando a posição do abraço ao seu lado. Sentiu ele apertar os braços ao seu redor em um abraço mais firme. Nem mesmo suas roupas grudando e cabelos pingando a faria sair dali.
— Feliz ano novo, . — ele pegou leve em seu queixo, a puxando para um selinho que se transformou em um beijo delicado segundos depois. Não poderiam negar nunca como suas bocas se completavam tão bem e a intensidade das sensações que sentiam a cada vez que se encostavam.
— O que você deseja pra esse ano? — ela perguntou baixo, notando que os amigos também estavam distraídos e aquele momento era todo deles. Encarou os olhos do garoto, brincando com seus dedos entrelaçados. Quando criança, adora fazer listas de desejos e metas para o ano que iniciava. Quase nunca conseguia cumprir ao menos duas, mas se sentia animada em ter um foco durante os meses. Nunca perdera o gosto por essas atitudes e sempre tinha curiosidade em saber as prioridades dos outros.
— Não sou muito de pensar nessas coisas. — respondeu sincero, se calando por uns segundos enquanto pensava. O olhar ao longe na água e os lábios apertados levemente indicavam que ele estava varrendo a mente atrás de algo. Ele levou a mão até o braço da caçula, fazendo um carinho leve e respondeu. — Eu normalmente tenho medo de pensar muito alto porque crio muitas expectativas e nem sempre consigo alcança-las. Vez ou outra, acabo quebrando a cara. Por isso, meus desejos não são nada exagerados: uma boa oportunidade para o McFly, que nos faça crescer finalmente, muita saúde para fazer as coisas que amo e que eu tenha muitos motivos para comemorar com meus amigos.
— Não são desejos exagerados, mas acredito que são o suficiente. — sorriu singela, passando a mão pelo rosto dele.
— E o seus? — a encarou curioso.
— Dessa vez ficou meio complicado de decidir, afinal minha vida tá meio incerta. Só falta um semestre pro ano letivo acabar e não sei se vou ficar aqui ou voltar pro Brasil. Sem contar que nenhuma profissão me atrai da maneira que o canto faz. — desabafou tímida, finalmente colocando para fora suas aflições. É certo que toda a história com ocupava grande parte da sua mente em todas as horas, mas no tempinho que sobrava, as decisões importantes do seu futuro ficavam lá martelando até que ela cansasse. Balançou a mente leve, espantando qualquer pensamento triste para o momento e voltou a responder. — Mas, eu gostaria muito de ainda ter muitos momentos como esse, todos nós juntos aproveitando. Ah, e que eu escute mais ainda o McFly tocar!
— Se depender de mim, vai poder escutar todos os dias! — ele riu de lado. Ele mordeu o lábio e voltou a falar tímido. — Sabe, com você falando essas coisas todas, percebi que um dos meus desejos também é que você, sua irmã e até a , não se afastem de nós. Acredito que os garotos também concordariam comigo quando digo que nada tem mais graça sem o toque feminino de vocês.
Ela poderia jurar que sentiu o estômago contorcer de felicidade naquele momento. Ainda que fosse uma declaração simples e não só para ela, não pôde conter a alegria ao escutar que ele desejava a presença delas em sua vida, tanto quanto ela. encarou por alguns segundos e não se segurou mais, iniciando mais um beijo com ele ali.
Finalmente tinha para si, ainda que com toda falta de rótulos e conversa sobre a situação, quem quis desde que pisou na escola e, agora, podia escutar tanta coisa boa do também dono da boca que mais gostava. Era o início de um ano que tinha tudo pra dar certo, a julgar pelos primeiros minutos do dia, e tinha certeza de que poderia esquecer qualquer lista de desejos para o resto dele. Seu maior desejo a tinha nos braços e os lábios nos seus, ela não precisava de mais nada.
— , vira essa boca pra lá! — pediu ao volante. Ele tentava manter a calma junto com , mas as gêmeas percebiam que eles estavam prestes a ficar nervosos com o tempo e aquele engarrafamento eterno.
— Quem deu essa ideia de gênio de virmos de carro mesmo? — rolou os olhos, se sentando de lado no banco do carona. Tinha perdido a paciência na primeira hora dentro do carro.
— Eu fui o primeiro a falar para virmos de metrô. — deu de ombros, passando a mão pelos cabelos ao escutar e outros vários carros buzinarem. — Isso é coisa do otimista.
— Olha, só falta quarenta minutos pra começar a queima de fogos. Tá muito claro pra mim que não vamos andar mais que dez metros nesse carro nos próximos minutos. Eu acho que devíamos estacionar o carro numa dessas ruas laterais e ir correndo. — sugeriu enquanto fuçava no celular, olhando o mapa para se situar.
Tinham resolvido ver a famosa queima de fogos no Embarcadero assim que o assunto sobre onde passariam a virada surgiu. A ideia era chegar cedo, levar toalhas e almofadas para se acomodarem na grama e aproveitarem a noite por ali. As coisas começaram a dar errado no momento em que passaram horas discutindo na manhã sobre como iriam. Depois de convencer a todos de que o carro era a melhor opção, tudo seguiu bem. E provavelmente seguiria, se o mesmo não tivesse se atrasado duas horas para chegar à casa das gêmeas e poderem sair. Até tentaram se manter otimistas de início, mas qualquer leigo em matemática conseguia calcular que as chances de comemorarem a virada do ano dentro do carro era bem maior que chegarem ao destino de carro.
— Eu já desisti faz tempo disso aqui. — apontou para o trânsito. — Tô contigo, !
— Vocês sabem que estamos a algumas boas quadras de distância ainda né? — ergueu a sobrancelha, claramente questionando aquela decisão.
— Faço a mesma pergunta pra você, amor. — ela rebateu, cruzando os braços.
— , elas têm razão. Se a gente for correndo, pelo menos temos a chance de ver metade ou final da queima de fogos. — deu dois tapinhas no ombro do amigo. — , liga aí pro e avisa eles.
Não bastasse terem se enfiado de carro no lugar mais lotado da cidade, tinham se dividido em dois para se acomodarem melhor. Enquanto e acompanhavam o casal vinte, , e Dylan estavam com . Tinham saído juntos e se mantinham um na frente do outro durante grande parte do percurso, entretanto com a bagunça e o fluxo intenso por onde passaram acabaram se distanciando e se perdendo um do outro. Mantinham a esperança de que estivessem a poucos carros de distância.
— Alô, ? — perguntou com o celular no ouvido.
— ! Cadê vocês? Perdemos vocês de vista naquele cruzamento. — ele explicou.
— , bota no viva-voz. — pediu e a caçula fez, também pedindo para que o amigo fizesse o mesmo do outro lado.
— Oi, gente. Eu tô muito triste e eu quero matar o por ter atrasado. A gente não vai chegar nunca pelo que o Dy me mostrou no mapa agora. E eu não quero desejar feliz ano novo dentro desse carro bagunçado do . — começou a falar sem parar em um exagerado desespero.
— EI! Não fala assim do meu carro.
— , tem uma casinha de cachorro nos meus pés e metade do seu guarda-roupa em cima de nós, eu falo sim! Mas voltando ao que importa, o que vamos fazer? — só então a garota parou para respirar.
— Eu acho que o trânsito deixou alguém estressada. — fez piada.
— Primeiro de tudo, , se acalma! — puxou o celular para perto e desandou a falar. — Segundo, a deu a única ideia que ainda pode salvar nossa noite. Vamos estacionar o carro em uma dessas ruas menores e ir correndo. A chance de vermos os fogos é maior.
— Correndo tipo com as pernas? — Dylan perguntou desanimado.
— Cara, isso não vai dar certo. — escutaram reclamar.
— A não ser que você seja equilibrista e corra com as mãos, é com as pernas mesmo. — bufou impaciente. — E , o que tinha que dar errado, já deu.
— Vocês estão brigando e não estão resolvendo nada! — reclamou, pegando o celular de volta e falando antes que alguém a interrompesse. — , nós estamos perto desse mercado grande e azul. Vamos estacionar na rua depois dele que é a mais próxima. Você estaciona aí na rua mais perto e nos encontramos numa banca de revista laranja que fica em uma esquina.
— Certo! Já estou dando sinal para entrar na rua. — confirmou.
— Ótimo. Fiquem com o celular na mão. Já nos encontramos. Tchau. — a caçula nem esperou por uma resposta, apenas encerrando a ligação e botando o aparelho no bolso.
— Mandou bem, . — depositou um selinho em seus lábios antes de se enfiar no meio dos bancos da frente. — , só mais dois metros e entramos na rua. Mete a mão nessa buzina!
— CADÊ ELES? Eu tô ficando nervosa! — reclamou pela quinta vez no mesmo minuto, andando de um lado para o outro em frente a banca. Estavam no lugar em que haviam combinado, esperando pelo resto dos amigos que, além de não atender o celular, também não chegavam.
— Tá ficando ou já tá? — perguntou com um sorriso frouxo, ficando sério no mesmo segundo que a namorada o lançou um olhar raivoso. Passou a mão pelo cabelo sem jeito e voltou ao assunto principal. — Estou começando a achar que eles estavam em outra avenida.
— Do jeito que o é lerdo, eu não duvido nada. — respondeu preocupado, voltando a apoiar o rosto no ombro da caçula. Estava a abraçando por trás com as mãos em sua cintura.
— ALI! — saltou de uma vez, apontando para os quatro amigos correndo feito desesperados até eles, assustando a todos e fazendo levar um baque no queixo. — Ai, me desculpe, !
— Tudo bem, não machucou. — ele disfarçou, passando a mão pelo local e sorrindo de lado para desviar do olhar preocupado da garota. Ela provavelmente perderia bons minutos se certificando de que não o havia machucado se o amigo não tivesse chegado quase pulando em cima dela.
— Eu vou matar você, ! — Dylan chegou reclamando com os demais.
— Onde vocês estavam? — ignorou eles, indo direto ao assunto.
— Ei, e cadê a bolsa com os lençóis e comidas? — perguntou junto, observando que ninguém carregava nada nas mãos.
— Não era vocês também que estavam com os espumantes? — a caçula foi a última a questionar.
— AH, QUANTAS PERGUNTAS! — falou alto, fazendo todos se calarem. Bufou irritado antes de começar a responder. — A gente tava em frente a banca laranja que a falou, só pensamos que poderia ser outra depois que não vimos nem sinal de vocês. Tivemos que andar uma quadra ainda.
— E como assim cadê os espumantes? Eu deixei em cima do sofá pra vocês pegarem! — se explicou, apontando para as gêmeas.
— Pra nós? Você não disse nada disso. — rolou os olhos.
— Calma, gente! Na bolsa do lençol tinha uma garrafa de vinho, já é algo. Cadê ela, ? — perguntou mais uma vez, tentando manter a calma no local.
— , você ficou encarregado de pegar. — ele desviou a atenção para o garoto.
— Quem ficou foi o Dylan, eu estava encarregado de ficar com o celular pra entrar em contato com a ! — se explicou.
— E porque não atendeu quando ligamos? — interrompeu.
— Porque a bateria acabou depois de tantos jogos. — ele sorriu amarelo, mostrando o aparelho apagado nas mãos e fazendo todos rolarem os olhos.
— Antes que me perguntem, eu não lembrei de pegar a bolsa, ok? Achei que o ia pegar. — Dylan ergueu as mãos inocente.
Todos bufaram em sincronia, começando uma série de palavrões e reclamações dirigidas para alguém diferente. Era uma bagunça de vozes com os sons de buzinas ao lado se misturando.
— JÁ DEU! — gritou, fazendo todos se calarem juntos. Olhou o relógio no pulso impaciente e voltou a falar. — A gente já cagou a noite quase toda, mas temos vinte minutos para concertar uma parte. Se todo mundo colaborar, calar a boca e começar a correr, nós vemos os últimos minutos de fogos. Agora, será que podemos ou vocês preferem passar a meia noite gritando uns com os outros?
— É a primeira vez que vejo o falando tão sério. — não se controlou, arrancando risadas de todos.
— Ele tem razão. Vamos parar de besteira e ir logo, o que tinha que dar errado já deu e vai ficar pra trás. Não vamos nos estressar. — concordou, vendo todos afirmarem também.
— Nesse caso, que comece a corrida! — falou e deu a mão para , começando a correr com outras seis pessoas atrás.
A cena era completamente ridícula: oito jovens bem arrumados correndo feito desesperados pela rua, gritando desculpa e pedindo licença a cada pessoa que esbarravam e passavam ao lado. A caçula sentia o pulmão reclamar depois das três quadras e mal podia imaginar como estava difícil respirar para os amigos que já tinham caminhado para encontrar com ela. Tinha desistido de manter a mão na de no momento em que começou a suar e ele, com um físico bem conservado, passou a ficar alguns passos a sua frente enquanto ela faltava morrer. Era provavelmente a mais sedentária do grupo e isso ficava comprovado naquele minuto.
Os quatro do McFly se mantinham muito bem gastando e repondo energia a cada ensaio e apresentação, sempre pulando e dando o máximo de si. era uma líder de torcida, seu corpo estava bem acostumado a exercícios intensos por duas horas seguidas. era elétrica por si só, sempre praticando esporte na escola e fazendo aula de dança. Dylan levava uma vida fitness de dar inveja, com direito a academia e corridas quase todos os dias. Chegava a ser humilhante para , que já era a mais atrás na corrida, quando todos ainda a apressavam e vez ou outra desaceleravam o passo para a incentivar e puxar mais rápido.
Sem aguentar mais, parou com as mãos no joelho e respirou ofegante.
— GENTE! — usou o último fio de ar para chamar a atenção dos amigos, que rapidamente pararam e voltaram até ela. Sentia o peito queimar e subir e descer rápido em busca de mais ar. O coração batia tão forte que ela sentia ecoar por todo seu corpo.
— Tá tudo bem, ? — foi o primeiro a perguntar, apoiando a mão nas costas da amiga.
— Eu não aguento mais correr. — ela ergueu o tronco, apoiando as mãos na cintura e controlando a respiração.
— Isso que dá ser sedentária. Eu falo um monte de vezes que você precisa fazer... — começou o sermão ali mesmo, olhando preocupada para a caçula.
— , tá bom. — interrompeu educada, sabendo que aquilo apenas desencadearia uma discussão boba entre as duas.
— Tá melhor, ? — se aproximou da garota, colocando a mão nas suas costas como apoio.
— Tá sim. Só não sei se consigo voltar pra essa maratona.
— Eu avisei que era longe! — bufou baixo.
— Todo mundo sabia, , mas você queria o que? Ficar trancado dentro do carro a noite toda? — rolou os olhos impaciente.
— Ei ei ei, não vamos iniciar outra briga boba aqui. — Dylan entrou entre os dois, falando calmo para manter a paz entre todos. Conferiu o relógio antes de voltar a falar. — A queima de fogos deve começar a qualquer momento, mas não vamos desanimar. Acredito que falta só um quarteirão para chegarmos, se formos caminhando rápido, dá tempo de pegar até metade do espetáculo.
— O Dy tem razão. — concordou.
— Isso, não vamos desanimar! — ergueu os braços animado, arrancando risadas de todos.
— , apenas ande o mais rápido que conseguir, ok? — pediu. — Quando cansar, sobe nas minhas costas que eu te levo.
— Tudo bem, acho que dá pra chegar. — concordou com um sorriso de lado, ainda que tivesse vontade de se jogar no chão naquele momento apenas para que o garoto a colocasse em suas costas e ela pudesse ficar mais perto dele.
— É isso aí, ânimo, galera! Tudo vai dar certo! — comemorou, batendo palma para incentivar todos.
E como uma grande pegadinha do destino, no momento em que todos concordaram o som de fogos estourando ao longe ecoou pelo ambiente. Fazendo todos se calarem.
— Tudo bem, gente. Vamos focar no que o Dylan falou e começar a andar, vai dar tempo. — retomou o incentivo ao notar que todos se preparavam para reclamar.
E novamente, numa cena digna de filme, quando todos concordaram mais uma coisa aconteceu. Puderam sentir aos poucos, quando já estavam caminhando. De início cada um ficou na sua, se convencendo de que não passava de uma má impressão. Mas não puderam controlar quando os pequenos pingos de um chuvisco, começaram a se intensificar em uma chuva fraca.
— Tá ok! Que pegadinha é essa? — reclamou irônica, sem parar de andar e com o rosto baixo.
— É só uma chuvinha passageira, vamos continuar! — pediu antes que todos desanimassem de vez.
Apenas concordaram e voltaram a caminhar, torcendo para que o amigo estivesse certo.
— Chuvinha passageira, né, ? — bufou irritada, cruzando os braços. Se aproximou de e apoiou o corpo em seu tronco, sentindo ele a abraçar por trás.
Estavam todos em baixo da cobertura da frente de uma loja, tentando evitar a chuva que havia ganhado proporções enormes. Estavam um pouco molhados e com os cabelos levemente úmidos depois de bons minutos enfrentando o início da chuva. O vento soprava forte contra eles e o barulho da água impossibilitava escutar sons muito longe, até a luz dos fogos havia desaparecido no céu.
— Aqui é a terra do sol, do calor! Como eu ia imaginar que iria chover desse jeito logo hoje? — ele falou contrariado, dando de ombros.
— Olha, eu não sei vocês, mas eu já desisti. Faltam dois minutos para dar meia noite, eles provavelmente pararam com a queima de fogos por causa dessa chuva e não para de passar gente por aqui indo embora. Por mim podemos ir para o carro e voltar pra casa. — ergueu os braços em rendição, se sentando no degrau de entrada da loja.
— Eu tô com a ! — fez o mesmo que ela, sentando ao seu lado e apoiando a cabeça em seu ombro.
Um por um, foram todos os outros concordando e se dando por vencidos. sentiu depositar um beijo em seu pescoço e ir para mais perto dos amigos, se apoiando na parede enquanto iniciavam uma conversa boba, apenas esperando que a chuva diminuísse para que fossem embora. Sua mente começou a trabalhar e a processar a situação. De longe, não era aquilo que imaginara e queria como comemoração de ano novo. Estava feliz demais com tudo que tinha acontecido desde então e sabia que merecia uma virada cheia de alegria, assim como todos os seus amigos mereciam, principalmente que havia saído de seu país apenas para comemorarem juntos. Queria que aquele novo ano se iniciasse sem frustrações e com muita realização. Queria aproveitar com os amigos como sempre faziam, independente do lugar ou modo. E, bem, era isso que ela faria.
Mordeu o lábio sapeca e se aproximou dos amigos com um sorriso no rosto. Só precisava de uma vítima. Sorriu de lado e parou em frente à irmã, estendendo a mão para que ela pegasse. era uma ótima opção, sabia que se ela não se animasse totalmente, ficaria brava nos primeiros segundos e arrastaria a todos juntos para se sentir vingada. A primogênita a encarou confusa, sem se mover. Os outros pararam a conversa e apenas ficaram as observando. bufou baixo e fez força, puxando para fora da cobertura antes que ela processasse o que estava acontecendo.
— Mas que porra é essa, ? — ela ralhou assim que as duas entraram na chuva, ficando completamente ensopadas em segundos. soltou a mão e tentou correr para o abrigo novamente, sendo interrompida pela caçula que parou à sua frente.
— Não vamos deixar nossa comemoração estragar. — ela quase teve que gritar devido ao barulho da água, fazendo uma expressão forçada de tristeza enquanto encarava a irmão.
— Precisava ser nessa chuva? — rolou os olhos, sem conseguir controlar um sorriso de lado. Apenas observou os amigos as encarando sem entender nada e voltou o olhar para a irmã.
— Você sabe que eu gosto do caminho mais sem noção. — deu de ombros, gargalhando com a irmã antes de a encarar divertida. — Será se dá pra me ajudar a arrastar aqueles cara-de-tacho até aqui?
Ela não precisou pedir duas vezes. Em menos de um minuto, estavam todos os oito na chuva gritando, brincando e correndo feito crianças. A brincadeira de pega-pega se iniciou do nada e quando perceberam já estavam correndo tão longe que haviam chegado no Embarcadero, o destino inicial deles. Totalmente ensopados, agora com uma chuva mais fina e devagar, pararam lado a lado no meio da rua quase deserta e ficaram bons minutos encarando o jardim e a água à frente. As pessoas pareciam ter se abrigado nos restaurantes da frente e restavam poucos corajosos ainda no espaço livre com seus guarda-chuvas.
Sem que precisassem falar mais nada, apenas se encararam divertidos e foram andando juntos até a ponta do jardim, próximo à água, e se jogaram ali na grama de qualquer jeito. Os corações batiam forte devido a corrida e pela adrenalina de todas as brincadeiras e diversão nos últimos minutos. A chuva era quase nula agora, restando apenas alguns pingos aqui e ali.
— É meia noite e vinte. — cortou o silêncio calmo entre eles, sorrindo de lado na rodinha desengonçada que haviam feito.
— Acho que essa foi uma das melhores viradas de ano que já passei. — confessou enquanto abraçava .
— É, mesmo com aquela reclamação toda, foi bastante divertido. — continuou.
— Sem contar que é de dar inveja, em qualquer um, tanta coisa diferente acontecendo em uma mesma noite. — Dylan soltou uma risada divertida, fazendo todos concordarem entre risos.
— O importante é que estamos juntos e muito felizes como sempre. — trocou um high five com , que estava do seu lado.
— E que a gente iniciou esse ano juntos. Dizem que isso faz com que essas pessoas nunca saiam da sua vida. — mandou uma piscadela divertida.
— Aff! Logo agora que achei que poderia me livrar do . — rolou os olhos forçado, desviando do tapa do amigo entre risos e arrancando risadas de todos.
— Feliz ano novo, gente! — desejou baixo depois de alguns minutos em silêncio, encarando a todos e suspirando com um sorriso.
— Feliz ano novo! — desejaram em coro, formando um abraço em grupo desajeitado em seguida.
Permaneceram em silêncio e voltaram a se sentar normalmente, apenas aproveitando o momento. A brisa corria leve e o único indício de que uma chuva forte havia passado por ali, eram eles e a grama molhados. A água reluzia ao longe as luzes e o brilho da lua no céu. Não era nada da maneira que imaginaram, era melhor.
— Feliz ano novo, . — sibilou no ouvido do garoto, aproveitando a posição do abraço ao seu lado. Sentiu ele apertar os braços ao seu redor em um abraço mais firme. Nem mesmo suas roupas grudando e cabelos pingando a faria sair dali.
— Feliz ano novo, . — ele pegou leve em seu queixo, a puxando para um selinho que se transformou em um beijo delicado segundos depois. Não poderiam negar nunca como suas bocas se completavam tão bem e a intensidade das sensações que sentiam a cada vez que se encostavam.
— O que você deseja pra esse ano? — ela perguntou baixo, notando que os amigos também estavam distraídos e aquele momento era todo deles. Encarou os olhos do garoto, brincando com seus dedos entrelaçados. Quando criança, adora fazer listas de desejos e metas para o ano que iniciava. Quase nunca conseguia cumprir ao menos duas, mas se sentia animada em ter um foco durante os meses. Nunca perdera o gosto por essas atitudes e sempre tinha curiosidade em saber as prioridades dos outros.
— Não sou muito de pensar nessas coisas. — respondeu sincero, se calando por uns segundos enquanto pensava. O olhar ao longe na água e os lábios apertados levemente indicavam que ele estava varrendo a mente atrás de algo. Ele levou a mão até o braço da caçula, fazendo um carinho leve e respondeu. — Eu normalmente tenho medo de pensar muito alto porque crio muitas expectativas e nem sempre consigo alcança-las. Vez ou outra, acabo quebrando a cara. Por isso, meus desejos não são nada exagerados: uma boa oportunidade para o McFly, que nos faça crescer finalmente, muita saúde para fazer as coisas que amo e que eu tenha muitos motivos para comemorar com meus amigos.
— Não são desejos exagerados, mas acredito que são o suficiente. — sorriu singela, passando a mão pelo rosto dele.
— E o seus? — a encarou curioso.
— Dessa vez ficou meio complicado de decidir, afinal minha vida tá meio incerta. Só falta um semestre pro ano letivo acabar e não sei se vou ficar aqui ou voltar pro Brasil. Sem contar que nenhuma profissão me atrai da maneira que o canto faz. — desabafou tímida, finalmente colocando para fora suas aflições. É certo que toda a história com ocupava grande parte da sua mente em todas as horas, mas no tempinho que sobrava, as decisões importantes do seu futuro ficavam lá martelando até que ela cansasse. Balançou a mente leve, espantando qualquer pensamento triste para o momento e voltou a responder. — Mas, eu gostaria muito de ainda ter muitos momentos como esse, todos nós juntos aproveitando. Ah, e que eu escute mais ainda o McFly tocar!
— Se depender de mim, vai poder escutar todos os dias! — ele riu de lado. Ele mordeu o lábio e voltou a falar tímido. — Sabe, com você falando essas coisas todas, percebi que um dos meus desejos também é que você, sua irmã e até a , não se afastem de nós. Acredito que os garotos também concordariam comigo quando digo que nada tem mais graça sem o toque feminino de vocês.
Ela poderia jurar que sentiu o estômago contorcer de felicidade naquele momento. Ainda que fosse uma declaração simples e não só para ela, não pôde conter a alegria ao escutar que ele desejava a presença delas em sua vida, tanto quanto ela. encarou por alguns segundos e não se segurou mais, iniciando mais um beijo com ele ali.
Finalmente tinha para si, ainda que com toda falta de rótulos e conversa sobre a situação, quem quis desde que pisou na escola e, agora, podia escutar tanta coisa boa do também dono da boca que mais gostava. Era o início de um ano que tinha tudo pra dar certo, a julgar pelos primeiros minutos do dia, e tinha certeza de que poderia esquecer qualquer lista de desejos para o resto dele. Seu maior desejo a tinha nos braços e os lábios nos seus, ela não precisava de mais nada.
Capítulo 24
— Estava com tanta saudade disso. — apontou para elas com um sorriso no rosto.
As três amigas estavam sentadas em uma das mesas da sorveteria devorando seus sundays e conversando. iria embora no dia seguinte e elas queriam aproveitar parte dos últimos dias de sua companhia como faziam no Brasil: reunidas com doces e fofocando.
— Nem me fale! Vocês, pelo menos tem uma a outra, mas e eu? Fiquei sozinha e desolada! — apertou a boca em um bico triste.
— Não seja tão dramática, você também tem ao Gabriel e Matheus. — a encarou com os olhos semicerrados.
— Mas você sabe que é diferente, . — Ela deu de ombros, pegando mais uma colher do seu sorvete ao caírem no silêncio. Elas assumiram que era realmente daquele jeito. Afinal, elas sentiam falta da companhia da amiga mesmo tendo conquistado novas amizades em São Francisco, entendiam que não era a questão de ter outras pessoas por perto, mas sim de não ter aquela específica.
— Enfim, o mundo é mesmo muito doido, né? — soltou em um suspiro do nada, fazendo as duas a encararem em dúvida e segurarem a risada.
— Que isso, ? Deu pra ficar pensativa agora? — debochou, soltando um riso fraco.
— Vai ver é o efeito dos beijos do . — fez piada, voltando a descontrair o clima.
— É sério, gente. Ainda que eu e a tenhamos vindo a passeio pra cá outras vezes, pensem só: Quando vocês imaginariam que estaríamos aqui em São Francisco curtindo o recesso de fim de ano e estando muito ou quase compromissadas com caras tão gatos? — perguntou enumerando os fatos nos dedos.
— É meio louco mesmo. Já pensaram também no quanto vocês mudaram? — perguntou pra elas e rolou os olhos ao receber suas respostas negativas. — Vejam só: Você, , ainda sofria pelo babaca do Pedro, morria de medo de cantar na frente de mais de 5 pessoas que não fossem íntimas de você e era uma verdadeira preguiçosa quando o assunto era correr atrás de alguém que você gostava.
— Ei! Não era bem assim! — escancarou a boca em uma expressão forçada de indignação.
— Era sim! — atacou, filtrando o que a amiga tinha falado e concordando, apontando a colher de seu sorvete pra irmã em acusação. — Você podia morrer de amores por alguém que, ainda assim, não faria nada se a pessoa não viesse até você!
— E você vomitou quando teve que fazer aquela apresentação na escola pra duas turmas diferentes. — completou com uma gargalhada.
— Foi mesmo! Lembra da cara dela? —a primogênita também começou a gargalhar.
— Em que momento da conversa a gente passou de pensamentos nostálgicos para insultos à minha pessoa? — perguntou irônica, cruzando os braços na altura do peito.
— Calma, . A gente só tá comparando pra você ver que mudou mesmo, e pra melhor! — respondeu depois de controlar o riso.
— Não sei não... — ainda estava relutante, as encarando de lado.
— Mas é verdade! Você teve coragem pra seguir nossas ideias malucas pra conseguir chamar a atenção do , se apresentou em uma festa sem nem ficar pálida ou vomitar antes. — a amiga enumerava as coisas nos dedos.
— Sem contar que, além de ter conseguido conquistar o , também superou de vez o Pedro. — completou, encarando-a e esperando por sua resposta.
— Tá ok, vocês tem razão. — ela confessou, mordendo o lábio e brincando com o restinho de calda que tinha no pote do sorvete. — E eu realmente senti essas mudanças e fiquei feliz com elas, mas sei que não dependeram só de mim. Essa mudança de cenário, a vontade de fazer desse ano algo diferente e até o incentivo de vocês me fizeram chegar até aqui. Ah, e claro, a nova amizade com os meninos também.
— Isso foi bem fofo. Se você não tivesse do outro lado da mesa eu até te abraçaria. — apertou as próprias bochechas, arrancando uma risada das gêmeas.
— Tudo mudou pra melhor mesmo, mana.
— Tá falando da , mas você não foi diferente, senhora ! — apontou para ela com os olhos semicerrados. — Mal chegou aqui e já prendeu o gato com unhas e dentes, bem diferente do que fazia no Brasil onde era só pregando o “pega e não se apega”.
— Exatamente! Desde quando namora? Desde quando é romântica? — perguntou debochada antes que ela pudesse negar a acusação da amiga.
— Eu sei bem disso, tá? Não precisa jogar na cara. E se querem saber, tô bem feliz com essa minha nova fase. — a primogênita deu de ombros, sorrindo orgulhosa para as duas.
— Nós também estamos felizes. É muito bom ver você dando chance pro seu coração se envolver de uma forma tão forte com alguém, principalmente por esse alguém estar da mesma maneira e ser uma pessoa tão legal. Você merece. — respondeu, abraçando a irmã de lado e apoiando a cabeça em seu ombro.
— A falou tudo! E, se querem saber, parece até que vocês duas trocaram de lugar. Enquanto você, , se meteu com tudo em um relacionamento sério pela primeira vez, a se permitiu curtir o romance sem amarras. — comentou com uma expressão de quem sabia das coisas.
— Pois é... — a caçula mordeu o lábio, disfarçando a expressão e tentando conter os milhares de pensamentos. Nos últimos dias, mesmo com toda alegria, a questão de não saber o que de fato estava tendo com e que caminho estavam seguindo, estava a incomodando mais e mais. Mas, conhecendo bem os sermões das duas companheiras, não abriria a boca tão cedo com elas sobre isso. Era melhor se resolver com quem estava envolvido de fato no assunto.
— Acredito que tudo acontece na hora certa e você soube enxergar isso e aproveitar as oportunidades. — completou sem notar o desconforto da amiga.
— Falando em aproveitar oportunidade, você não perdeu a sua, né? Fisgou o mesmo estando longe. — sorriu maliciosa desviando o assunto para alegria da irmã.
— A não perde tempo mesmo! — gargalhou da cara quase envergonhada amiga, deixando de lado sua confusão mental e se concentrando na conversa novamente.
— Eu não podia passar um cara daqueles, né? — ela suspirou com um sorriso de lado. — Ai, gente! Eu tô com meus quatro pneus completamente arriados por esse inglês!
— Qual de nós não está pelos seus? — perguntou retoricamente, suspirando.
As três se encararam e começaram a gargalhar no mesmo instante de suas caras, estavam com expressões tão bobas apaixonadas no fim da conversa que pareciam loucas fitando o nada. Ficaram bons minutos se recuperando, assim como sempre era quando entravam em uma crise de riso onde qualquer bobeira era mais motivo para risadas. Só voltaram ao normal quando notaram que a sorveteria enchia e resolveram ir embora.
— Sabe outra coisa que mudou? — perguntou enquanto caminhavam devagar para casa. Ela respondeu ao notar o olhar curioso das gêmeas esperando. — Vocês estão mais evoluídas e envolvidas com a música.
— Como assim? — a encarou curiosa.
— Bom, no Brasil vocês apenas gravavam os covers e postavam, vez ou outra cantando uma música na nossa rodinha de amigos ou pra algum trabalho da escola, mas nada profissional. Aqui, já se apresentaram em festa grande, escreveram músicas novas e terminaram algumas antigas. Sem contar que vez ou outra participam do ensaio dos meninos, que querendo ou não é uma banda mesmo.
— Verdade. Eu mesmo me sinto muito mais próxima e com mais vontade de cantar e estar envolvida com composição, apresentações...Enfim, música em si. — mordeu o lábio, encarando a rua a frente. — Desde que me apresentei no halloween eu me sinto mais tentada a investir mais nisso.
— Eu acho que você deveria. Aliás, NÓS deveríamos. Eu amei aquela apresentação e amo também quando tocamos com os meninos e sei que temos potencial. — completou animada.
— Montem uma banda logo! — pulou animada.
— Calma aí, bonita. As coisas não são tão fáceis assim. — ergueu as mãos ao falar.
— Só não é porque você dificulta. Sei que incentivo não ia faltar. — deu de ombros, voltando a rir maliciosa depois. — Principalmente da parte dos meninos.
— O não deixa falta incentivo nem nada mais se querem saber. — respondeu com uma piscadela divertida, logo gargalhando com a expressão chocada e risonha das duas.
— tá com as garrinhas pra fora, viu?! — bateu seu ombro no da irmã, a empurrando de lado. — Mas preciso comentar que o não é pra brincadeira também.
— Gente, só de ver o já me dá vontade de colar minha boca na dele porque vocês não têm ideia do que é o beijo dele. — completou se abanando com as mãos.
— E convenhamos que nenhum deles é de se jogar fora. O mesmo... — parou de falar ao notar a irmã erguer a mão e pegar o celular que tocava.
— Falando no deus-grego. — a caçula sorriu de lado, mostrando a tela do celular com a foto de um fazendo careta e o sinal de ligação, recebendo olhares maliciosos das duas. Ignorou-as e atendeu, contendo uma risada. — Oi, !
— Oi, ! Tudo bem? — escutou a voz dele soar do outro lado da linha e instantaneamente seu estômago deu mais três voltas. Conseguiu concordar e devolver a pergunta. — Tô bem.
— Hmm..., qual o motivo da ligação? — cortou o silêncio que se instalou, esperando curiosa pela resposta do garoto.
— Ah, é porque eu tava aqui atoa, sabe? E pensei se, por acaso, você não queria vir pra cá pra gente passar o tempo, jantar ou algo assim... — ela teve que morder o próprio lábio para conter uma fala fofa ao notar que estava envergonhado na ligação. Se desvencilhou dos braços das amigas, que a puxavam tentando chegar próximo ao celular e escutar algo depois de notarem sua expressão e se afastou alguns passos. — ? Tá aí?
— Oi, estou aqui! Tava só arrumando um negócio. Eu topo sim, . Estou chegando em casa, vou apenas tomar um banho e sigo para aí. Preciso levar algo? — ela falou de uma vez, sentindo o frio na barriga retornar pela ansiedade.
— Claro que não, . Apenas apareça que estarei te esperando. Beijos. — ele mal deu tempo dela retrucar e já desligou a ligação, provavelmente sabendo que ela insistiria em ajudar com algo. deu de ombros e guardou o celular, voltando para perto das amigas.
— E então? O que ele queria? — foi logo prendendo um braço no seu, a encarando curiosa.
— Ah, nada demais...Apenas acho que tenho um encontro agora. — deu uma piscadela divertida e gargalhou da expressão das amigas.
É claro que elas fizeram a caçula repassar toda a conversa, com direito a entonação de voz e tudo mais. E ela fez de bom grado, tudo que envolvesse não a cansaria. Ficaram de brincadeiras todo o caminho até casa, onde quando chegaram as outras duas correram para combinar algo com seus respectivos companheiros também. De acordo com elas, não ficariam em casa chupando dedo enquanto só a mais nova se divertia. Poucos minutos depois e estavam as três revirando todas as roupas do guarda roupa para se arrumarem.
— Por um minuto achei que ia levar bolo. — brincou assim que abriu a porta. Deu espaço para passar e depois depositou um selinho em seus lábios.
— Perdoe meu atraso, tive que ajudar as meninas a escolherem as roupas. — ela explicou rindo leve, se lembrando da amiga e da irmã surtando por não terem tempo de pensarem com calma no que vestiriam naquele encontro em cima da hora, que por acaso elas mesmas tinham arranjado.
— me ligou há poucos minutos perguntando se eu não poderia ir na casa dele preparar um jantar também, já que ele fora pego de surpresa pela . — confessou, fazendo gargalhar.
— E você não foi ajudar o pobre rapaz despreparado? — ela o encarou irônica com os olhos semicerrados.
— O que eu podia fazer? Gastei todo meu limitado conhecimento nesse jantar e você já estava a caminho. Sem contar que ele mencionou que sabia só uma receita antiga com brócolis, então fome não passariam. — deu uma piscadela divertida, a tomando pela mão e guiando pela casa.
Ao que indicava pelo silêncio e vazio dos cômodos, a família dele não estava por ali. A casa estava completamente limpa e apenas algumas luzes acesas. foi seguindo o garoto e o encarou curiosa ao notar que passaram reto pela sala de jantar, ele apenas sorriu de lado e continuou a puxando. Só quando chegaram aos fundos da casa, ela entendeu. O pergolato mais à frente estava iluminado levemente e sob ele a mesa de madeira recheada de comida. Graças ao jardim descoberto, ela ainda pôde admirar por alguns segundos o céu estrelado e sem nenhuma nuvem.
— Eu não acredito que você fez isso tudo só no tempo em que demorei para aceitar o convite e chegar aqui. — o encarou boquiaberta ao se aproximarem da mesa. Além de estar completamente organizada com a louça, havia uma travessa com macarrão e almôndegas (que cheiravam muito bem, obrigada) no centro.
— Eu já havia feito o jantar, afinal com meus pais fora de casa tinha que me virar de algum jeito. — ele se aproximou, puxando a cadeira para ela se sentar e a dando espaço para passar. Soltou uma risada leve com o olhar que recebeu de , nitidamente com um “conta outra, ” escrito na testa, e rolou os olhos antes de se sentar ao seu lado e falar a verdade. — Tá okay. Digamos que eu estava contando com sua presença mesmo alguns minutos antes de ligar, por isso caprichei na comida e dispensei o ovo frito. Se você falasse que não vinha eu pelo menos poderia deixar minha mãe orgulhosa quando ela visse o resto de comida na panela. Mas essa organização foi de última hora, por isso espero que você seja compreensiva ao julgar meus dotes de decorador.
— Prometo ser uma crítica boazinha. — piscou divertida, sentindo o sorriso murchar aos poucos ao notar que ele apenas a encarava com um sorriso de lado em silêncio. Arqueou a sobrancelha e perguntou curiosa. — O que foi, ?
— Você está linda! — ele respondeu sem desviar o olhar.
pode sentir seus lábios se abrindo em um sorriso e a vergonha tomando conta de si. Mordeu o canto da boca sem conseguir responder naquele momento e apenas se aproximou de , deixando o cheiro dele encher seus pulmões de verdade pela primeira vez na noite. Notou ele mais próximo ainda e sentiu seus lábios e testas se encostando levemente. soltou um suspiro leve e finalmente uniu suas bocas em um beijo calmo. Ela passou a mão pela bochecha dele devagar e só então se separaram.
— Espero que não tenha me feito vir aqui apenas para me deixar com vergonha, . Estou com fome. — a caçula soltou uma piadinha, mordendo o lábio divertida ao ver o garoto gargalhar.
— Achei que você soubesse que não costumo decepcionar, . — piscou de lado e pegou os pratos.
serviu a comida dos dois e pegou a jarra de suco no frigobar próximo à mesa, também os servindo. Ficaram os primeiros minutos apenas em silêncio, se deliciando com a comida, que fez questão de elogiar após a primeira garfada. Ela mal conseguia disfarçar sua felicidade quando estavam juntos, o sorriso quase sempre presente no rosto e o olhar constantemente fixado nos de . Era muito bom estar com ele, sentir os carinhos e voltar a ter alguém para compartilhar momentos que só eram possíveis nessas situações. Não pôde evitar, entretanto, que os pensamentos se desviassem e a insegura a atingisse, relembrando do que se questionara na sorveteria horas antes.
Sabia que estava ali com ela naquele momento e que, pelo que demonstrava, também estava feliz. Mas, até onde iria aquilo que tinha? Mal sabia se poderia chamar de relação ou algo assim. Certamente havia um motivo para ser a gêmea que tende a rótulos e coisas bem organizadas, sua mente confusa apenas piorava quando estava nessa posição. Conteve um suspiro pesado e recobrou a calma antes que começasse a surtar feito doida do nada e vomitasse tudo em cima de de uma vez. Esperou que ele retirasse os pratos e voltasse até ela. Era fato que não aguentaria muito tempo com aquelas dúvidas na cabeça, esperava só a oportunidade perfeita naquela noite.
— Para onde vamos? — o encarou curiosa quando notou a mão estendida de a sua frente.
— Vem, vou te mostrar meu lugar preferido daqui. — ele a puxou delicadamente pela mão e a guiou de volta à casa.
Eles seguiram pela cozinha, sala de jantar, sala, subiram as escadas e atravessaram o longo corredor. Ela mordeu o lábio curiosa ao reconhecer o violão de sobre uma cama pela porta entreaberta de um dos quartos que passaram, provavelmente o do garoto. Continuaram andando até o final do corredor e ele puxou uma cordinha quase imperceptível do teto de madeira. Uma pequena escada rangeu antes de se esticar completamente à frente dos dois. encarou duvidosa o espaço quadrado em cima de sua cabeça ao notar que era bastante escuro.
— Não precisa ter medo, é só uma salinha. Se quiser posso ir na frente e acender a luz. — sugeriu ao notar o semblante da garota.
— Não precisa, estou indo. — sorriu de lado e subiu a escadas, sempre sentindo a mão de cuidadosa em sua cintura a ajudando a manter o equilíbrio.
firmou os pés no chão e segundos depois sentiu a presença de atrás de si. O ambiente era menos escuro do que parecia de baixo, ela pôde reconhecer uma estante grande com algumas coisas e uma cortina contornada pela luz de uma janela atrás. Foi justamente para lá que voltou a caminhar, tocando em sua mão no caminho e fazendo sinal para que ela o seguisse. Só quando estavam em frente à cortina ela percebeu que era maior do que parecia. Sem esperar mais, puxou o pano e a luz fraca do céu noturno iluminou os dois. O vidro transparente permitiu que ela visse onde estavam antes mesmo da janela ser aberta. Deu um sorriso animado, lembrando de todas as cenas que vira como essa em filmes e séries e seguiu o garoto janela à fora depois dele. Sem soltar sua mão, ela seguiu com cuidado por algumas telhas e finalmente pararam e se sentaram no telhado da casa. A vista era simples e bonita, o céu estrelado acima e as casas da vizinhança com algumas luzes acesas contrastavam com a luz amarelada dos postes das calçadas. Como estavam virados para o fundo, também conseguiam ver a mesa onde estavam durante o jantar, todo o jardim e a árvore grande que ficava ao fundo do quintal.
— Não é lá uma vista hollywoodiana, mas eu gosto. — ele cortou o silêncio sem desviar os olhos do ambiente a frente. Só de escutar seu tom de voz ela soube que ele estava sorrindo.
— Eu achei lindo e confesso que fiquei com uma pontinha de inveja por você ter um lugar tão legal pra se isolar quando quer. — ela respondeu com um sorriso, aproveitando que estavam lado a lado para apoiar o rosto no ombro dele por alguns minutos.
— É, é bem legal mesmo. — soltou uma risada nasalada, passando o braço pela cintura de e depositando um beijo no topo de sua cabeça. Ficaram assim por alguns minutos até ela voltar a falar.
— . — ela chamou, sabendo que aquele era um ótimo momento para falar o que vinha pensando. Só precisava de coragem. Continuou na mesma posição, o olhar fixo no céu, para evitar os olhos que facilmente a fazia tremer.
— Oi.
— O que nós dois somos ou temos?
O silêncio caiu entre eles no mesmo momento. mordeu o lábio insegura e sentiu suspirar ao seu lado. Sabia que talvez não tivesse sido boa ideia entrar naquele assunto quando tudo estava indo tão bem, mas simplesmente não poderia aguentar muito tempo com seus pensamentos a deixando tão confusa. Se preparou para levantar, entendendo que não falaria sobre aquilo ou apenas estivesse desenhando um grande “nada” no silêncio, quando ouviu a voz dele responder baixa.
— Eu acho que não sei, . Quando aconteceu pareceu tão certo que não me dei o trabalho de pensar. Eu encaro como uma diversão entre nós dois e um bom aproveitamento de tempo, mas tenho plena noção de que não somos apenas amigos. — ela sentiu o olhar de em si e finalmente criou coragem para o encarar, se afastando e sentando de frente para ele. Ele estava sério e tinha uma expressão pensativa. — Eu gosto de você, , mas não sei de qual modo. A única coisa que eu sei e que posso e devo te alertar é que eu não estou preparado para entrar em um relacionamento sério. Não sei se só por agora ou por um período mais longo. Você, mais do que ninguém, sabe como eu estava envolvido no meu último namoro e como fiquei. Enfim, é isso... não posso te dar uma garantia se seremos algo concreto amanhã ou depois, mas posso te dar a certeza de que gosto de como estamos e de passar o tempo com você, mas a escolha é sua em seguir assim ou botar logo um ponto final.
— Uou. — foi o que conseguiu falar nos primeiros segundos, ainda absorvendo tudo que tinha escutado. Era certo que lá no fundo ela sentia que seria algo assim a resposta de . Como ele mesmo havia falado, ela acompanhou de perto todo o drama -Karoline para saber. Ela queria aquilo, mas também não estava desesperada e passava muito bem da maneira em que estavam. Só havia um porém, diferente dele, ela sabia o que sentia. Sabia que gostava dele de verdade e que estava apaixonada bem antes de sequer darem um beijo. Suspirou, tentando clarear a mente e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de responder, mexendo nos dedos. — Eu compreendo o seu lado, nem te cobro nada por isso. Sei também que gosto de você e do que está acontecendo entre nós, ainda que não seja tão bem definido. Você me deu a responsabilidade de escolher entre continuarmos assim ou não, mas precisa saber que a escolha mais importante eu fiz há algum tempo quando decidi me permitir gostar de você. Seria um tiro no pé ou um medo bobo voltar atrás e nos privar de algo tão bom que estamos vivendo.
— Bom, então estamos felizes e estamos bem um com outro. Isso que importa, certo? — perguntou baixo, se aproximando e encostando suas testas. Podiam sentir a respiração um do outro e os lábios roçando levemente.
— Você nunca esteve tão certo, . — respondeu baixo, colando seus lábios e se perdendo em mais um beijo. Podia continuar sentindo uma pontada de insegurança, podia continuar com medo do que os esperava mais à frente, mas não abriria mão de ter diariamente aquelas sensações que só poderia a proporcionar. Continuariam ali do jeitinho que estavam e seguiriam felizes assim pelo tempo que fosse permitido.
As três amigas estavam sentadas em uma das mesas da sorveteria devorando seus sundays e conversando. iria embora no dia seguinte e elas queriam aproveitar parte dos últimos dias de sua companhia como faziam no Brasil: reunidas com doces e fofocando.
— Nem me fale! Vocês, pelo menos tem uma a outra, mas e eu? Fiquei sozinha e desolada! — apertou a boca em um bico triste.
— Não seja tão dramática, você também tem ao Gabriel e Matheus. — a encarou com os olhos semicerrados.
— Mas você sabe que é diferente, . — Ela deu de ombros, pegando mais uma colher do seu sorvete ao caírem no silêncio. Elas assumiram que era realmente daquele jeito. Afinal, elas sentiam falta da companhia da amiga mesmo tendo conquistado novas amizades em São Francisco, entendiam que não era a questão de ter outras pessoas por perto, mas sim de não ter aquela específica.
— Enfim, o mundo é mesmo muito doido, né? — soltou em um suspiro do nada, fazendo as duas a encararem em dúvida e segurarem a risada.
— Que isso, ? Deu pra ficar pensativa agora? — debochou, soltando um riso fraco.
— Vai ver é o efeito dos beijos do . — fez piada, voltando a descontrair o clima.
— É sério, gente. Ainda que eu e a tenhamos vindo a passeio pra cá outras vezes, pensem só: Quando vocês imaginariam que estaríamos aqui em São Francisco curtindo o recesso de fim de ano e estando muito ou quase compromissadas com caras tão gatos? — perguntou enumerando os fatos nos dedos.
— É meio louco mesmo. Já pensaram também no quanto vocês mudaram? — perguntou pra elas e rolou os olhos ao receber suas respostas negativas. — Vejam só: Você, , ainda sofria pelo babaca do Pedro, morria de medo de cantar na frente de mais de 5 pessoas que não fossem íntimas de você e era uma verdadeira preguiçosa quando o assunto era correr atrás de alguém que você gostava.
— Ei! Não era bem assim! — escancarou a boca em uma expressão forçada de indignação.
— Era sim! — atacou, filtrando o que a amiga tinha falado e concordando, apontando a colher de seu sorvete pra irmã em acusação. — Você podia morrer de amores por alguém que, ainda assim, não faria nada se a pessoa não viesse até você!
— E você vomitou quando teve que fazer aquela apresentação na escola pra duas turmas diferentes. — completou com uma gargalhada.
— Foi mesmo! Lembra da cara dela? —a primogênita também começou a gargalhar.
— Em que momento da conversa a gente passou de pensamentos nostálgicos para insultos à minha pessoa? — perguntou irônica, cruzando os braços na altura do peito.
— Calma, . A gente só tá comparando pra você ver que mudou mesmo, e pra melhor! — respondeu depois de controlar o riso.
— Não sei não... — ainda estava relutante, as encarando de lado.
— Mas é verdade! Você teve coragem pra seguir nossas ideias malucas pra conseguir chamar a atenção do , se apresentou em uma festa sem nem ficar pálida ou vomitar antes. — a amiga enumerava as coisas nos dedos.
— Sem contar que, além de ter conseguido conquistar o , também superou de vez o Pedro. — completou, encarando-a e esperando por sua resposta.
— Tá ok, vocês tem razão. — ela confessou, mordendo o lábio e brincando com o restinho de calda que tinha no pote do sorvete. — E eu realmente senti essas mudanças e fiquei feliz com elas, mas sei que não dependeram só de mim. Essa mudança de cenário, a vontade de fazer desse ano algo diferente e até o incentivo de vocês me fizeram chegar até aqui. Ah, e claro, a nova amizade com os meninos também.
— Isso foi bem fofo. Se você não tivesse do outro lado da mesa eu até te abraçaria. — apertou as próprias bochechas, arrancando uma risada das gêmeas.
— Tudo mudou pra melhor mesmo, mana.
— Tá falando da , mas você não foi diferente, senhora ! — apontou para ela com os olhos semicerrados. — Mal chegou aqui e já prendeu o gato com unhas e dentes, bem diferente do que fazia no Brasil onde era só pregando o “pega e não se apega”.
— Exatamente! Desde quando namora? Desde quando é romântica? — perguntou debochada antes que ela pudesse negar a acusação da amiga.
— Eu sei bem disso, tá? Não precisa jogar na cara. E se querem saber, tô bem feliz com essa minha nova fase. — a primogênita deu de ombros, sorrindo orgulhosa para as duas.
— Nós também estamos felizes. É muito bom ver você dando chance pro seu coração se envolver de uma forma tão forte com alguém, principalmente por esse alguém estar da mesma maneira e ser uma pessoa tão legal. Você merece. — respondeu, abraçando a irmã de lado e apoiando a cabeça em seu ombro.
— A falou tudo! E, se querem saber, parece até que vocês duas trocaram de lugar. Enquanto você, , se meteu com tudo em um relacionamento sério pela primeira vez, a se permitiu curtir o romance sem amarras. — comentou com uma expressão de quem sabia das coisas.
— Pois é... — a caçula mordeu o lábio, disfarçando a expressão e tentando conter os milhares de pensamentos. Nos últimos dias, mesmo com toda alegria, a questão de não saber o que de fato estava tendo com e que caminho estavam seguindo, estava a incomodando mais e mais. Mas, conhecendo bem os sermões das duas companheiras, não abriria a boca tão cedo com elas sobre isso. Era melhor se resolver com quem estava envolvido de fato no assunto.
— Acredito que tudo acontece na hora certa e você soube enxergar isso e aproveitar as oportunidades. — completou sem notar o desconforto da amiga.
— Falando em aproveitar oportunidade, você não perdeu a sua, né? Fisgou o mesmo estando longe. — sorriu maliciosa desviando o assunto para alegria da irmã.
— A não perde tempo mesmo! — gargalhou da cara quase envergonhada amiga, deixando de lado sua confusão mental e se concentrando na conversa novamente.
— Eu não podia passar um cara daqueles, né? — ela suspirou com um sorriso de lado. — Ai, gente! Eu tô com meus quatro pneus completamente arriados por esse inglês!
— Qual de nós não está pelos seus? — perguntou retoricamente, suspirando.
As três se encararam e começaram a gargalhar no mesmo instante de suas caras, estavam com expressões tão bobas apaixonadas no fim da conversa que pareciam loucas fitando o nada. Ficaram bons minutos se recuperando, assim como sempre era quando entravam em uma crise de riso onde qualquer bobeira era mais motivo para risadas. Só voltaram ao normal quando notaram que a sorveteria enchia e resolveram ir embora.
— Sabe outra coisa que mudou? — perguntou enquanto caminhavam devagar para casa. Ela respondeu ao notar o olhar curioso das gêmeas esperando. — Vocês estão mais evoluídas e envolvidas com a música.
— Como assim? — a encarou curiosa.
— Bom, no Brasil vocês apenas gravavam os covers e postavam, vez ou outra cantando uma música na nossa rodinha de amigos ou pra algum trabalho da escola, mas nada profissional. Aqui, já se apresentaram em festa grande, escreveram músicas novas e terminaram algumas antigas. Sem contar que vez ou outra participam do ensaio dos meninos, que querendo ou não é uma banda mesmo.
— Verdade. Eu mesmo me sinto muito mais próxima e com mais vontade de cantar e estar envolvida com composição, apresentações...Enfim, música em si. — mordeu o lábio, encarando a rua a frente. — Desde que me apresentei no halloween eu me sinto mais tentada a investir mais nisso.
— Eu acho que você deveria. Aliás, NÓS deveríamos. Eu amei aquela apresentação e amo também quando tocamos com os meninos e sei que temos potencial. — completou animada.
— Montem uma banda logo! — pulou animada.
— Calma aí, bonita. As coisas não são tão fáceis assim. — ergueu as mãos ao falar.
— Só não é porque você dificulta. Sei que incentivo não ia faltar. — deu de ombros, voltando a rir maliciosa depois. — Principalmente da parte dos meninos.
— O não deixa falta incentivo nem nada mais se querem saber. — respondeu com uma piscadela divertida, logo gargalhando com a expressão chocada e risonha das duas.
— tá com as garrinhas pra fora, viu?! — bateu seu ombro no da irmã, a empurrando de lado. — Mas preciso comentar que o não é pra brincadeira também.
— Gente, só de ver o já me dá vontade de colar minha boca na dele porque vocês não têm ideia do que é o beijo dele. — completou se abanando com as mãos.
— E convenhamos que nenhum deles é de se jogar fora. O mesmo... — parou de falar ao notar a irmã erguer a mão e pegar o celular que tocava.
— Falando no deus-grego. — a caçula sorriu de lado, mostrando a tela do celular com a foto de um fazendo careta e o sinal de ligação, recebendo olhares maliciosos das duas. Ignorou-as e atendeu, contendo uma risada. — Oi, !
— Oi, ! Tudo bem? — escutou a voz dele soar do outro lado da linha e instantaneamente seu estômago deu mais três voltas. Conseguiu concordar e devolver a pergunta. — Tô bem.
— Hmm..., qual o motivo da ligação? — cortou o silêncio que se instalou, esperando curiosa pela resposta do garoto.
— Ah, é porque eu tava aqui atoa, sabe? E pensei se, por acaso, você não queria vir pra cá pra gente passar o tempo, jantar ou algo assim... — ela teve que morder o próprio lábio para conter uma fala fofa ao notar que estava envergonhado na ligação. Se desvencilhou dos braços das amigas, que a puxavam tentando chegar próximo ao celular e escutar algo depois de notarem sua expressão e se afastou alguns passos. — ? Tá aí?
— Oi, estou aqui! Tava só arrumando um negócio. Eu topo sim, . Estou chegando em casa, vou apenas tomar um banho e sigo para aí. Preciso levar algo? — ela falou de uma vez, sentindo o frio na barriga retornar pela ansiedade.
— Claro que não, . Apenas apareça que estarei te esperando. Beijos. — ele mal deu tempo dela retrucar e já desligou a ligação, provavelmente sabendo que ela insistiria em ajudar com algo. deu de ombros e guardou o celular, voltando para perto das amigas.
— E então? O que ele queria? — foi logo prendendo um braço no seu, a encarando curiosa.
— Ah, nada demais...Apenas acho que tenho um encontro agora. — deu uma piscadela divertida e gargalhou da expressão das amigas.
É claro que elas fizeram a caçula repassar toda a conversa, com direito a entonação de voz e tudo mais. E ela fez de bom grado, tudo que envolvesse não a cansaria. Ficaram de brincadeiras todo o caminho até casa, onde quando chegaram as outras duas correram para combinar algo com seus respectivos companheiros também. De acordo com elas, não ficariam em casa chupando dedo enquanto só a mais nova se divertia. Poucos minutos depois e estavam as três revirando todas as roupas do guarda roupa para se arrumarem.
— Por um minuto achei que ia levar bolo. — brincou assim que abriu a porta. Deu espaço para passar e depois depositou um selinho em seus lábios.
— Perdoe meu atraso, tive que ajudar as meninas a escolherem as roupas. — ela explicou rindo leve, se lembrando da amiga e da irmã surtando por não terem tempo de pensarem com calma no que vestiriam naquele encontro em cima da hora, que por acaso elas mesmas tinham arranjado.
— me ligou há poucos minutos perguntando se eu não poderia ir na casa dele preparar um jantar também, já que ele fora pego de surpresa pela . — confessou, fazendo gargalhar.
— E você não foi ajudar o pobre rapaz despreparado? — ela o encarou irônica com os olhos semicerrados.
— O que eu podia fazer? Gastei todo meu limitado conhecimento nesse jantar e você já estava a caminho. Sem contar que ele mencionou que sabia só uma receita antiga com brócolis, então fome não passariam. — deu uma piscadela divertida, a tomando pela mão e guiando pela casa.
Ao que indicava pelo silêncio e vazio dos cômodos, a família dele não estava por ali. A casa estava completamente limpa e apenas algumas luzes acesas. foi seguindo o garoto e o encarou curiosa ao notar que passaram reto pela sala de jantar, ele apenas sorriu de lado e continuou a puxando. Só quando chegaram aos fundos da casa, ela entendeu. O pergolato mais à frente estava iluminado levemente e sob ele a mesa de madeira recheada de comida. Graças ao jardim descoberto, ela ainda pôde admirar por alguns segundos o céu estrelado e sem nenhuma nuvem.
— Eu não acredito que você fez isso tudo só no tempo em que demorei para aceitar o convite e chegar aqui. — o encarou boquiaberta ao se aproximarem da mesa. Além de estar completamente organizada com a louça, havia uma travessa com macarrão e almôndegas (que cheiravam muito bem, obrigada) no centro.
— Eu já havia feito o jantar, afinal com meus pais fora de casa tinha que me virar de algum jeito. — ele se aproximou, puxando a cadeira para ela se sentar e a dando espaço para passar. Soltou uma risada leve com o olhar que recebeu de , nitidamente com um “conta outra, ” escrito na testa, e rolou os olhos antes de se sentar ao seu lado e falar a verdade. — Tá okay. Digamos que eu estava contando com sua presença mesmo alguns minutos antes de ligar, por isso caprichei na comida e dispensei o ovo frito. Se você falasse que não vinha eu pelo menos poderia deixar minha mãe orgulhosa quando ela visse o resto de comida na panela. Mas essa organização foi de última hora, por isso espero que você seja compreensiva ao julgar meus dotes de decorador.
— Prometo ser uma crítica boazinha. — piscou divertida, sentindo o sorriso murchar aos poucos ao notar que ele apenas a encarava com um sorriso de lado em silêncio. Arqueou a sobrancelha e perguntou curiosa. — O que foi, ?
— Você está linda! — ele respondeu sem desviar o olhar.
pode sentir seus lábios se abrindo em um sorriso e a vergonha tomando conta de si. Mordeu o canto da boca sem conseguir responder naquele momento e apenas se aproximou de , deixando o cheiro dele encher seus pulmões de verdade pela primeira vez na noite. Notou ele mais próximo ainda e sentiu seus lábios e testas se encostando levemente. soltou um suspiro leve e finalmente uniu suas bocas em um beijo calmo. Ela passou a mão pela bochecha dele devagar e só então se separaram.
— Espero que não tenha me feito vir aqui apenas para me deixar com vergonha, . Estou com fome. — a caçula soltou uma piadinha, mordendo o lábio divertida ao ver o garoto gargalhar.
— Achei que você soubesse que não costumo decepcionar, . — piscou de lado e pegou os pratos.
serviu a comida dos dois e pegou a jarra de suco no frigobar próximo à mesa, também os servindo. Ficaram os primeiros minutos apenas em silêncio, se deliciando com a comida, que fez questão de elogiar após a primeira garfada. Ela mal conseguia disfarçar sua felicidade quando estavam juntos, o sorriso quase sempre presente no rosto e o olhar constantemente fixado nos de . Era muito bom estar com ele, sentir os carinhos e voltar a ter alguém para compartilhar momentos que só eram possíveis nessas situações. Não pôde evitar, entretanto, que os pensamentos se desviassem e a insegura a atingisse, relembrando do que se questionara na sorveteria horas antes.
Sabia que estava ali com ela naquele momento e que, pelo que demonstrava, também estava feliz. Mas, até onde iria aquilo que tinha? Mal sabia se poderia chamar de relação ou algo assim. Certamente havia um motivo para ser a gêmea que tende a rótulos e coisas bem organizadas, sua mente confusa apenas piorava quando estava nessa posição. Conteve um suspiro pesado e recobrou a calma antes que começasse a surtar feito doida do nada e vomitasse tudo em cima de de uma vez. Esperou que ele retirasse os pratos e voltasse até ela. Era fato que não aguentaria muito tempo com aquelas dúvidas na cabeça, esperava só a oportunidade perfeita naquela noite.
— Para onde vamos? — o encarou curiosa quando notou a mão estendida de a sua frente.
— Vem, vou te mostrar meu lugar preferido daqui. — ele a puxou delicadamente pela mão e a guiou de volta à casa.
Eles seguiram pela cozinha, sala de jantar, sala, subiram as escadas e atravessaram o longo corredor. Ela mordeu o lábio curiosa ao reconhecer o violão de sobre uma cama pela porta entreaberta de um dos quartos que passaram, provavelmente o do garoto. Continuaram andando até o final do corredor e ele puxou uma cordinha quase imperceptível do teto de madeira. Uma pequena escada rangeu antes de se esticar completamente à frente dos dois. encarou duvidosa o espaço quadrado em cima de sua cabeça ao notar que era bastante escuro.
— Não precisa ter medo, é só uma salinha. Se quiser posso ir na frente e acender a luz. — sugeriu ao notar o semblante da garota.
— Não precisa, estou indo. — sorriu de lado e subiu a escadas, sempre sentindo a mão de cuidadosa em sua cintura a ajudando a manter o equilíbrio.
firmou os pés no chão e segundos depois sentiu a presença de atrás de si. O ambiente era menos escuro do que parecia de baixo, ela pôde reconhecer uma estante grande com algumas coisas e uma cortina contornada pela luz de uma janela atrás. Foi justamente para lá que voltou a caminhar, tocando em sua mão no caminho e fazendo sinal para que ela o seguisse. Só quando estavam em frente à cortina ela percebeu que era maior do que parecia. Sem esperar mais, puxou o pano e a luz fraca do céu noturno iluminou os dois. O vidro transparente permitiu que ela visse onde estavam antes mesmo da janela ser aberta. Deu um sorriso animado, lembrando de todas as cenas que vira como essa em filmes e séries e seguiu o garoto janela à fora depois dele. Sem soltar sua mão, ela seguiu com cuidado por algumas telhas e finalmente pararam e se sentaram no telhado da casa. A vista era simples e bonita, o céu estrelado acima e as casas da vizinhança com algumas luzes acesas contrastavam com a luz amarelada dos postes das calçadas. Como estavam virados para o fundo, também conseguiam ver a mesa onde estavam durante o jantar, todo o jardim e a árvore grande que ficava ao fundo do quintal.
— Não é lá uma vista hollywoodiana, mas eu gosto. — ele cortou o silêncio sem desviar os olhos do ambiente a frente. Só de escutar seu tom de voz ela soube que ele estava sorrindo.
— Eu achei lindo e confesso que fiquei com uma pontinha de inveja por você ter um lugar tão legal pra se isolar quando quer. — ela respondeu com um sorriso, aproveitando que estavam lado a lado para apoiar o rosto no ombro dele por alguns minutos.
— É, é bem legal mesmo. — soltou uma risada nasalada, passando o braço pela cintura de e depositando um beijo no topo de sua cabeça. Ficaram assim por alguns minutos até ela voltar a falar.
— . — ela chamou, sabendo que aquele era um ótimo momento para falar o que vinha pensando. Só precisava de coragem. Continuou na mesma posição, o olhar fixo no céu, para evitar os olhos que facilmente a fazia tremer.
— Oi.
— O que nós dois somos ou temos?
O silêncio caiu entre eles no mesmo momento. mordeu o lábio insegura e sentiu suspirar ao seu lado. Sabia que talvez não tivesse sido boa ideia entrar naquele assunto quando tudo estava indo tão bem, mas simplesmente não poderia aguentar muito tempo com seus pensamentos a deixando tão confusa. Se preparou para levantar, entendendo que não falaria sobre aquilo ou apenas estivesse desenhando um grande “nada” no silêncio, quando ouviu a voz dele responder baixa.
— Eu acho que não sei, . Quando aconteceu pareceu tão certo que não me dei o trabalho de pensar. Eu encaro como uma diversão entre nós dois e um bom aproveitamento de tempo, mas tenho plena noção de que não somos apenas amigos. — ela sentiu o olhar de em si e finalmente criou coragem para o encarar, se afastando e sentando de frente para ele. Ele estava sério e tinha uma expressão pensativa. — Eu gosto de você, , mas não sei de qual modo. A única coisa que eu sei e que posso e devo te alertar é que eu não estou preparado para entrar em um relacionamento sério. Não sei se só por agora ou por um período mais longo. Você, mais do que ninguém, sabe como eu estava envolvido no meu último namoro e como fiquei. Enfim, é isso... não posso te dar uma garantia se seremos algo concreto amanhã ou depois, mas posso te dar a certeza de que gosto de como estamos e de passar o tempo com você, mas a escolha é sua em seguir assim ou botar logo um ponto final.
— Uou. — foi o que conseguiu falar nos primeiros segundos, ainda absorvendo tudo que tinha escutado. Era certo que lá no fundo ela sentia que seria algo assim a resposta de . Como ele mesmo havia falado, ela acompanhou de perto todo o drama -Karoline para saber. Ela queria aquilo, mas também não estava desesperada e passava muito bem da maneira em que estavam. Só havia um porém, diferente dele, ela sabia o que sentia. Sabia que gostava dele de verdade e que estava apaixonada bem antes de sequer darem um beijo. Suspirou, tentando clarear a mente e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de responder, mexendo nos dedos. — Eu compreendo o seu lado, nem te cobro nada por isso. Sei também que gosto de você e do que está acontecendo entre nós, ainda que não seja tão bem definido. Você me deu a responsabilidade de escolher entre continuarmos assim ou não, mas precisa saber que a escolha mais importante eu fiz há algum tempo quando decidi me permitir gostar de você. Seria um tiro no pé ou um medo bobo voltar atrás e nos privar de algo tão bom que estamos vivendo.
— Bom, então estamos felizes e estamos bem um com outro. Isso que importa, certo? — perguntou baixo, se aproximando e encostando suas testas. Podiam sentir a respiração um do outro e os lábios roçando levemente.
— Você nunca esteve tão certo, . — respondeu baixo, colando seus lábios e se perdendo em mais um beijo. Podia continuar sentindo uma pontada de insegurança, podia continuar com medo do que os esperava mais à frente, mas não abriria mão de ter diariamente aquelas sensações que só poderia a proporcionar. Continuariam ali do jeitinho que estavam e seguiriam felizes assim pelo tempo que fosse permitido.
Capítulo 25
Era mais uma manhã ensolarada da Califórnia digna de um bom cenário de filme hollywoodiano, uma brisa leve corria e o sol se espalhava por todo canto, dando um toque acolhedor aos lugares. O ambiente era tão feliz que o contraste entre ele e as pessoas naquele laboratório se tornava gritante. Afinal, não tinha nada de alegre nas expressões dos jovens que estavam ali completamente obrigados a retornarem para suas rotinas. Nem mesmo o professor estava se esforçando para disfarçar o desânimo, a baba quase escorrendo por debaixo da mão que segurava seu rosto tampado sobre a mesa era prova disso. As palavras no quadro haviam sido escritas com uma rapidez excepcional em um tempo claramente bem cronometrado para o dar bons minutos (se não todo o resto da aula) de folga em sua cadeira enquanto os jovens apenas copiavam em seus cadernos. Ou pelo menos fingiam que o faziam.
— Você sabe que ficar olhando essa foto só vai piorar tudo, né? — comentou e cutucou o ombro de ao seu lado. Eles haviam formado duplas nessa aula já que não estava. O garoto era certamente o mais triste da escola. A foto dele com no celular não deixava dúvidas de que o maior sofrimento dos últimos dias não havia sido a volta às aulas, mas sim ter que se despedir da garota.
tinha embarcado de volta ao Brasil havia apenas dois dias, com direito a uma grande despedida antes. Todos os amigos se reuniram na casa das gêmeas em uma mini confraternização, que foi bastante animada porque os tinham feito prometer que não deixariam a tristeza do “tchau” aparecer antes da hora. Com direito a cantoria, bebidas, muita música e muita idiotice que os alegrava. O desejo de aproveitar o restinho de férias também foi um bom combustível para manter a animação num nível maior do que o comum. Afinal, a festa se estendeu até o Ezra, que foi obrigado a os expulsarem para conseguir fechar o bar, e depois ainda se deram o luxo de apreciar o fim de noite e nascer do dia na Golden Gate. Parados na passarela apenas admirando a vista em silêncio enquanto poucos carros passavam nas pistas atrás.
Se empolgaram tanto que quando perceberam estava de manhã e faltava poucas horas para o voo de . Os amigos ainda fizeram questão de a acompanhar de volta à casa das gêmeas para que ela se arrumasse e pegasse as malas que já estavam prontas. A despedida que finalmente aconteceu no aeroporto foi com tudo que tinha direito: choros (principalmente de e das irmãs), abraço em grupo e promessas de que a visitariam ou que a fariam voltar o quanto antes. Desde então, o grupo não havia se reunido mais, mas pela cara de , não precisava nem perguntar para confirmar que ele passara os dias que se seguiram apenas em casa sofrendo. Não precisava confirmar principalmente porque além de ter falado isso, estava do mesmo jeito no outro país. Com a diferença que se lamentava por telefone também com as amigas.
voltou a atenção para ao seu lado que havia apenas dado de ombros e ignorado qualquer outra resposta bem trabalhada.
— , olha pra mim e larga esse celular. — ela quase ordenou, puxando o aparelho da mão do amigo.
— Ei, , me devolve! — ele bufou e se esticou por cima da amiga, tentando puxar o celular de volta da mão dela.
— Só devolvo depois que você me escutar e conversar direito sobre isso. — ela apontou o dedo autoritária e impaciente e colocou o telefone no seu bolso. Mais um pouco e estaria parecendo mãe do garoto.
— Estou escutando. — rolou os olhos e se rendeu ao assunto, ainda que estivesse completamente desanimado. — Eu sei que você vai me falar que eu não posso ficar assim ou que foi tudo um caso de férias ou até que existem outras dezenas de garotas e que eu não preciso ficar sofrendo. Eu já entendi isso porque escutei da boca de todo mundo.
— Não sei a sua mãe, mas a minha me ensinou muito bem que eu não sou todo mundo. A prova disso é que meu discurso é bem melhor do que esse de gente preguiçosa! — cruzou os braços sobre a mesa e voltou a falar com mais delicadeza ao notar que o amigo parecia mais interessado. — Eu queria te falar que eu entendo você. Entendo que você encontrou algo especial na e no que vocês são juntos, principalmente porque eu já tinha notado isso muito tempo atrás. Então, é claro que eu sei que tá sendo muito difícil pra vocês dois. Mas eu preciso falar pra você a mesma coisa que falei pra ela: ficar se torturando assim só vai piorar as coisas. Você tem que se ajudar nesse momento. Pense nela, tenha saudades e se esforce pra manter o máximo de contato durante o dia, mas não viva somente pra isso!
— ... — tentou interromper entre uma pausa da garota, mas foi em vão.
— Eu tô falando sério, . Você não pode deixar que tudo gire ao redor da porque ela não tá aqui e você tem uma vida pra viver diante do seu nariz. Busca se ocupar com suas coisas também, assim o tempo passa mais rápido e a saudade vai machucando menos. Quando você menos perceber, já estarão juntos fisicamente de novo!
— ... — ele começou a falar e esperou alguns segundos em silêncio, queria se certificar de que a gêmea não voltaria a despejar fala em cima dele. Mas ela apenas o encarou com uma expressão pidona. - Só queria dizer obrigado.
É claro que depois disso ela não conseguiu se conter e se jogou em um abraço apertado no amigo, quase esbarrando nos vidros sobre o balcão. Os dois riram fraco e se distanciaram novamente.
— Tô aqui sempre! — ela respondeu com um sorriso e balançou a cabeça rápido depois para afastar a emotividade do momento. Espalmou as mãos no balcão e falou em tom brincalhão. — Agora que já resolvemos o seu drama, vamos voltar pro drama da Química que tanto me faz sofrer!
— Bom dia, . — chegou na mesa cumprimentando-a com um selinho. Ela sentiu seus pelos da nuca se arrepiarem ao ouvir a voz de tão perto de seu ouvido e riu boba. Nunca se acostumaria com aquelas sensações que ele a causava. Ele se sentou ao seu lado e também falou com Dylan e . — Bom dia pra vocês também, donzelas!
— E aí, cara. Pela cara boa já vi que seu plano deu certo, ein?! — Dylan sorriu divertido e fez um high five com o loiro.
— Sobre o que estão falando? — os encarou curioso, assim como .
— Opa, parece que alguém resolveu sair da bolha e voltou a socializar. Tô até orgulhoso! — brincou dando vários soquinhos no ombro do amigo.
— Vai à merda, ! — o empurrou de leve e rolou os olhos, queria ficar sério pra não perder a moral, mas não conseguiu conter um sorriso.
— , dá pra voltar pra conversa e contar logo o que aconteceu? Não temos o dia todo. — bufou impaciente.
— Eita, é só a não tá na rodinha que a dá logo um jeito de representar ela. Só faltou chamar o de . — Dylan riu da cara de tédio da amiga.
— Falar nisso, por qual motivo mesmo ela não está aqui? — desviou o foco da conversa.
— As líderes de torcidas foram liberadas hoje das aulas porque a treinadora quis fazer um treinamento intenso de boas vindas com elas já que ficaram tanto tempo sem ensaios. — explicou e voltou a sua atenção ao pedaço de bolo de chocolate. Por um segundo tinha até se esquecido do assunto anterior. — Ei! Conta logo que plano é esse!
— Pela enrolação pra contar, deve ser bobeira. — encarou o amigo com os olhos semicerrados.
— Vocês dois estão difíceis hoje, viu? — rolou os olhos impaciente antes de finalmente explicar a situação. — Dylan e eu pegamos física juntos no primeiro horário. O professor tava com aquela ladainha chata de que temos que nos esforçar e todas as responsabilidades que temos nesse fim de último ano. E aí, na metade da aula ele simplesmente disse que tínhamos um trabalho pra entregar semana que vem e que já tinha dividido as duplas. Claro que com a sorte que eu tenho acabei caindo com o idiota do Jason. — ele contava como se fosse o maior absurdo do mundo, chegando até a ser engraçado.
— Jason do time? — perguntou sem conseguir controlar a risada ao ver e Dylan concordarem.
— Metade de um ano estudando na escola e nessas horas percebo que não conheço ninguém. — mordeu o canto da boca e encarou perdida os três.
— Não tá perdendo nada! É só um idiota muito chato e convencido. — Dylan rolou os olhos impaciente ao falar do tal Jason. — Mas enfim, o passou a aula toda reclamando e montando um plano pra convencer o professor a mudar a dupla dele.
— Esse idiota eu não conheço, mas o professor sim. Se você falar que conseguiu fazer ele mudar de opinião eu vou até bater palmas. — falou com os olhos arregalados.
— Bom, eu não, mas o Jason sim. — sorriu com todos os dentes enquanto encarava as expressões de quem não estava entendendo nada da garota e de . — Eu sabia que o professor não me levaria a sério considerando meu histórico com ele, mas eu também sabia que ele é um puxa saco do Jason. Então, no final da aula fui lá no babaca e falei que a Karen, que por acaso era dupla do Dylan, estava de olho nele. Não levou nem um minuto pra ele correr atrás do professor e voltar com a confirmação da troca.
— Ou seja, você se livrou do Jason e conseguiu o Dy como dupla. — concluiu, finalmente entendendo tudo.
— Que ótimo pra você, ! E sinto muito, Dylan, você vai ter muito trabalho pela frente. — sorriu debochado, dando tapinhas no ombro do amigo.
— Não tinha pensado por esse lado. A Karen pelo menos tira umas notas boas. — Dylan falou pensativo, ignorando a cara de tacho de por pura diversão.
— Nossa, como essa mesa tá engraçada hoje. Dois minutos com vocês e a gente já se mata de rir. — deu dedo para os dois, fazendo-os rirem mais ainda.
— Mudando de assunto antes que eu me esqueça, vocês escutaram o aviso no informativo da rádio na aula passada? — Dy encarou curioso os três.
— Sobre a reunião no fim das aulas, né? — quis confirmar.
— Devem bem falar sobre a formatura e viagem. — concluiu. Ele estava seguindo o conselho da amiga e mal havia tocado no celular durante esse intervalo.
— Mas já? — a garota arregalou os olhos surpresa.
— Eles até que demoraram dessa vez. — riu da cara da amiga.
— O pessoal aqui é bem animado com isso. Com a formatura em si nem tanto, mas a viagem é tipo o desejo de consumo de todo estudante da Dynamic. — explicou com um sorriso de lado. — Todo mundo sabe que os professores que acompanham a turma simplesmente desistem de cuidar de trinta jovens ao mesmo tempo e só se responsabilizam por casos graves.
— Por aí você já deve imaginar que rola de tudo nessa viagem. — Dy piscou divertido pra amiga.
— Acho que prefiro nem imaginar... — mordeu o lábio e ergueu a sobrancelha. Muitos jovens reunidos em um lugar longe de supervisão não costumava dar em muitas coisas boas.
— Que isso, . Você vai curtir quando chegar a hora! — a empurrou devagar pelo ombro, rindo divertido.
Ela apenas deu de ombros e o encarou com uma de expressão de “É, vamos ver” que o arrancou um sorriso de lado. Assim como o assunto surgiu, rapidamente ele foi substituído por outro, mas continuou pensando sobre a tal viagem de formatura. A ansiedade querendo despontar e uma animação surgindo ao pensar que seria uma ótima oportunidade de se divertir com os amigos dali. Talvez realmente não fosse tão cedo para pensar nisso.
— Cheguei, amores! — se aproximou meio ofegante dos amigos na arquibancada, sentando entre Dylan e a irmã. Ela ainda vestia o uniforme de líder de torcida e tinha os cabelos meio desgrenhados no rabo de cavalo.
— Ué, achei que você não ia vir. — a encarou sem entender, esperando pela explicação.
— Nunca pensei que falaria isso, mas: Eu amo o diretor! — confessou ignorando os olhares estranhos dos amigos. — Ele apareceu na quadra e exigiu que a treinadora encerrasse o treino porque essa reunião de hoje é de extrema importância.
— A Header deve ter ficado brava. — riu falando da treinadora que tinha fama por seu mau humor.
— Você não imagina o quanto. — rolou os olhos impacientes e apontou para o centro do gramado. Estavam todos os alunos do último ano sentados na arquibancada do campo externo. No centro do campo havia apenas uma pequena estrutura de palco com microfone e algumas cadeiras onde estavam alguns professores e o diretor. — Alguém sabe o que de tão importante vai ser falado aí?
— Os primeiros informativos sobre a viagem de formandos e a formatura. — Dylan resumiu o que tinham debatido mais cedo.
— Viagem? Opa, gosto dessa palavra. — a primogênita sorriu animada.
— Vocês duas são realmente diferentes quando querem. — riu ao fazer uma comparação mental da reação das duas ao assunto.
— Atenção, todos! — a voz do diretor saiu pelas caixas de som, atraindo os olhares de todos e fazendo as conversas se encerrarem. Ele estava parado em frente ao microfone com as mãos dadas atrás do corpo. Tinha uma expressão série e levemente impaciente. Pigarreou baixo e voltou a falar. — Bom dia, jovens. Agradeço a presença de todos nessa primeira reunião do ano. Como devem imaginar, nada tem a ver com as tradicionais mensagens de boas-vindas já que apenas os estudantes formandos deste ano estão aqui. Nós vamos tratar de alguns assuntos iniciais sobre os eventos de formatura de vocês, pra isso convido a aluna Nathalie Forben, representante do grupo de eventos, para falar à frente com vocês.
Uma garota baixinha surgiu da arquibancada e caminhou até o pequeno palco. Ela tinha uma expressão confiante no rosto e carregava um pequeno bloco de papel em mãos. já tinha a visto algumas vezes pela escola, ela estava sempre correndo de um lado pro outro com dezenas de coisas à mão. Nathalie falou algo com o diretor e professores antes de se aproximar do microfone e sorrir para a arquibancada.
— Olá, gente! — fez uma pequena pausa e escutou alguns cumprimentos de volta. Abriu o bloco que tinha em mãos e parou algumas páginas depois, voltando a prestar atenção em todos enquanto falava. — Não quero tomar muito tempo de vocês, afinal imagino a vontade que estão de correr para casa e fazerem suas coisas. Então, prometo ser rápida. — ela parou mais uma vez e leu algo que estava escrito no papel em sua mão. Ainda que fosse pequena, tinha uma porte e maneira de falar que a dava um poder a mais e fazia com que a levassem mais a sério. — Como vocês sabem, e sonham tanto, com o fim dos nossos estudos nós temos dois grandes eventos. Primeiro, a nossa querida viagem para Santa Cruz. — alguns gritos animados saíram da arquibancada, arrancando um sorriso da garota. — E em segundo, nossa colação de grau oficial. Ainda que a prioridade da maioria seja a viagem, é importante sabermos que ela é o lado mais incerto desse evento. E exatamente por isso que estamos aqui hoje. Preciso explicar como vai ser o processo para garantirmos nossa viagem até a nossa formatura.
Ainda que fosse difícil controlar muitos alunos juntos no mesmo ambiente, o assunto de interesse geral estava mantendo todos completamente concentrados em Nathalie. Afinal, era a maior chance de uma despedida divertida da escola que teriam que estava em jogo.
— Primeiro, todos precisam estar cientes de que o dinheiro usado para custear os principais elementos da viagem, como ônibus, gasolina, reserva do resort e alimentação, é de inteira responsabilidade nossa. Pra isso, precisaremos fazer alguns eventos de arrecadação durante esse semestre. É importante também que possamos contar com a presença de todos para ficar menos trabalhoso. — alguns alunos concordaram em aceno e todos continuaram em silêncio. — O nosso primeiro evento de arrecadação será um cinema a céu aberto. É responsabilidade nossa conseguir também as doações dos equipamentos que a escola não tem para nos emprestar. Além disso, montaremos alguns times de atuação para o dia. Alguns ficarão responsáveis pela ornamentação, outros para cuidar dos equipamentos, outros nas barraquinhas de pipoca...Enfim, teremos algumas opções de atuação. Quem tiver uma área de prioridade para trabalhar deverá ir até a sala de audiovisual no terceiro andar pra colocar o nome na lista e definir onde ficará. Aqueles que não fizerem esse processo terão seus postos definidos por sorteio. Alguma dúvida? — Nathalie perguntou e ficou alguns segundos em silêncio, ainda que fosse inocência acreditar que escutaria qualquer coisa que alguém falasse da arquibancada àquela distância.
— Minha dúvida é saber que horas a gente vai ficar livre pra curtir o filme, mas acho que se eu perguntar isso vou acabar recebendo aquele bloco de anotações na cabeça. — cochichou no ouvido de , a fazendo morder o lábio para não soltar uma risada alta ao imaginar a cena.
— Tendo ou não definido esse horário, aposto que conseguimos dar um jeito de aproveitar sem que ninguém perceba. — ela piscou marota e deu um pedala no garoto ao notar que ele a encarava com uma expressão safada no rosto.
— Ei! O que vocês tão sussurrando aí? Se estiverem fazendo planos de ficarem juntos em algum dos postos já podem ir soltando porque é pra todo mundo ficar junto! — ralhou com eles, os fazendo rolar os olhos ao notar que e Dylan também haviam escutado (afinal, ele não tinha se esforçado muito para passar despercebido) e acenavam em concordância.
— Burlar o sistema da Nathalie vai ser fácil perto de conseguirmos nos livrar desses três. — bufou baixo.
— Só quero ficar no lugar mais perto do público, caso contrário arrasto o comigo pra onde for. — deu de ombros.
— Bom, já que ninguém tem dúvida, vamos prosseguir. — Nathalie voltou a falar um pouco mais alto no microfone, provavelmente percebendo que o espaço só serviu para que conversas se iniciassem. As pessoas foram se calando de acordo com que ela prosseguia. — Nosso evento acontecerá daqui a duas semanas no estacionamento externo da escola e terá início às sete da noite. Todas as pessoas de fora e alunos de outros anos deverão pagar o valor cobrado na entrada. Será proibida a permanência ou entrada de qualquer dessas pessoas nas nossas áreas de trabalho e aquele que for notado como responsável será suspenso da participação dos outros eventos. Entendidos?
Algumas reclamações se fizeram na arquibancada e muita gente fechou a cara sem conseguir disfarçar que não havia gostado dessa última regra. foi uma dessas, faltando erguer o dedo do meio para o palco ao notar que seu plano de ficar com não daria certo. Por sorte Dylan foi mais rápido e abaixou a mão da garota antes que algum professor ou o diretor notasse. Por falar nele, o homem se levantou e foi até Nathalie, falando mais uma coisa no ouvido dela que a fez sorrir amarelo e encarar com tédio as pessoas ao se virar. Ela ergueu a mão para chamar a atenção de todos e voltou a falar, dessa vez sem conseguir esconder o desânimo da própria voz.
— Mais uma coisa, gente: É estritamente proibido o consumo ou porte de qualquer bebida alcóolica em todos os eventos. É isso, obrigada.
Ninguém mal conseguiu ouvir seu agradecimento diante de tantas conversas que se iniciaram com a última informação. A grande maioria reclamava dessa regra claramente inventada pelo diretor, que sequer havia tido coragem de anunciá-la, e os mais ousados já planejavam como esconderiam as garrafas ou onde se encontrariam para beber tudo que quisessem antes de ir até o cinema. Virou uma verdadeira confusão e o diretor até desistiu de dar o último aviso, metade dos alunos haviam até levantado e começado a ir embora. Os cinco amigos permaneceram sentados encarando o gramado sem falar nada, também não tinham gostado tanto da última regra anunciada, só não sabiam o que comentar.
— É, mais um dia normal na Dynamic. — Dylan deu de ombros e ficou de pé, fazendo sinal para que fossem embora também.
— Pelo menos vai ter pipoca. — deu de ombros com uma expressão inocente.
— Isso aí, . Pensamento positivo! — fez joinha antes de se aproximar e abraçar o amigo enquanto estavam indo embora.
— Ok, mãe. Pode deixar que passamos o recado pra vovó! — afirmou e mandou um joinha para a câmera do notebook, mais precisamente para a mãe que estava do outro lado da chamada de vídeo.
— Beijos, mãe! Te amamos! — finalizou a chamada, acenando em tchau após ver a mulher fazer gesto de beijos.
As duas suspiraram e se largaram de qualquer jeito na cama. Fora mais uma daquelas conversas de mais de uma hora, com direito ao detalhamento de cada passo dos últimos três dias e novidades. Ana fazia questão de se manter por dentro da vida das duas mesmo de longe. Seu pai mal havia permanecido por meia hora, mas não por falta de interesse e sim por não ter espaço para falar mais de uma frase completa perto da empolgação da esposa. Pelo menos estavam acostumados, apenas viam graça nessa situação agora.
As gêmeas se encararam em silêncio conseguindo se entender mesmo sem falar nada. O contato com os pais não era mais tão doloroso quanto no início da viagem, mas sempre restava uma saudade incômoda no peito após cada conversa. Não viam a hora de poder abraçar o casal e encher o irmãozinho de beijos, mas pensar na partida para o Brasil também não era um assunto fácil. Seria tão melhor se a família fosse até elas e não o contrário.
— Então, vamos fazer a live ou não? — cortou o silêncio, tentando fugir do clima pesado. mordeu o lábio tentando decidir o que fariam. De certo, haviam prometido aos inscritos uma live naquele dia, só não sabia ainda se estava com ânimo suficiente praquilo naquela hora. A primogênita voltou a falar ao notar sua cara. — Eu sei o que você tá pensando, mocinha! Mas veja bem, fazendo a essa live a gente acaba esquecendo esse assunto e dando umas risadas. A galera nunca decepciona nas piadas.
— É, você tem razão. Vamos! — agradeceu mentalmente mais uma vez pela intimidade e ligação que tinha com a irmã. Era tão bom não precisar verbalizar tudo que pensava, as coisas fluíam como uma transmissão de pensamentos entre as duas.
As duas voltaram a se sentar e anunciaram nas redes sociais que iniciariam a transmissão, compartilhando o link e tudo mais. Foi preciso apenas um minuto de live pra que mais de mil pessoas já tivessem assistindo as duas.
— Oooi, gente! — cumprimentaram juntas, acenando para a câmera e prestando atenção nos comentários que subiam na tela. A quantidade de pessoas falando era tanta que dificultava a leitura.
— Olha, o @AsGêmeasFC já tá aqui! - apontou para o login na tela. Era de um dos poucos FCs que tinham. Chegava a ser surreal ainda para as duas que chegasse a ter pessoas que gostavam do que faziam daquela maneira. Elas estavam constantemente comentando nas fotos e postagens que faziam, dando apoio e xingando de volta todos os haters que surgiam.
— Olá, vocês! Bom, é o seguinte, nós vamos responder algumas perguntas que selecionamos nos comentários do vídeo de ontem e algumas que vocês fizerem por aqui. Depois, se ainda nos restar tempo, nós cantamos! — explicou e pegou o celular, vasculhando entre todos os comentários algum que fosse legal de mencionar.
— Enquanto a tá caçando ali eu vou escolher pela live mesmo. Vamos ver… — passou a ler com mais atenção o que as pessoas mandavam, tentando selecionar uma pergunta. No meio da multidão de palavras, conseguiu a primeira. — Olha, o @LeoYumiT tá perguntando o que estamos achando de São Francisco.
— Melhor impossível! — a primogênita respondeu na lata, desviando o olhar do celular para sorrir para a web cam.
— É, nós estamos gostando muito. Agora principalmente, já acostumamos com o clima, com a língua, com a escola...Enfim, estamos na fase totalmente boa! — também não conseguiu conter o sorriso ao notar o sentimento de gratidão e alegria que tinha ao falar aquilo, afinal era tudo sincero.
— Isso aí! Agora, próxima pergunta! — anunciou e leu pela tela do celular. — A @GemIah quer saber qual vai ser o próximo cover que vamos gravar.
— Ah, isso é interessante! — a caçula apontou para o celular da irmã, respondendo a pergunta enquanto prendia o cabelo em um coque. — Na verdade, nós não decidimos isso ainda. As músicas que nós escolhemos vai muito do momento que estamos vivendo ou que estamos escutando no momento.
— E dessa vez nós estamos em dúvida no que escolher, então pensamos que talvez vocês pudessem nos ajudar. Mandem sugestões do que vocês gostariam de nos ouvir cantar.
— Lembrando que aceitamos de tudo, internacional ou nacional e qualquer estilo musical. Só é importante que saibam que a música que for, acabaremos adaptando pro nosso estilo. — deu de ombros e encarou a irmã, esperando para ver se ela completaria com mais algo, mas ela apenas sorriu e mandou mais um joinha. — Deixem as sugestões no tweet dessa live!
continuou a ler atentamente aos comentários que subiam na tela, tentando encontrar algo legal para comentar. Viu que alguém havia feito uma pergunta mais pessoal e em menos de um minuto todos estavam copiando e debatendo a mesma questão. Começou a rir e cutucou a irmã para chamar sua atenção.
—Tem muita gente aqui...Aliás, basicamente todo mundo tá querendo saber se você tá namorando com o cara com quem postou uma foto recentemente. Que, por a caso, já estão stalkeando e informando toda a ficha por aqui do . — a caçula começou a rir com a expressão sem jeito de , que de fato ainda não tinha se pronunciado sobre isso nas redes sociais oficialmente porque não via necessidade.
— Como assim esse é o único assunto que vocês tem pra falar? — tentou falar mais descontraída pra amenizar a vergonha boba que sentia. ao notar apenas começou a gargalhar mais da cena o que acabou tirando alguns créditos da primogênita. Os comentários subiam na live, variando entre questionamentos fervorosos sobre o tal romance e pedidos da parte dos mais contidos para que dessem espaço para a garota e deixassem que ela falasse sobre aquilo apenas quando se sentisse confortável. — Não sei se devo comentar esse assunto. Essa live é pra gente falar de bobeiras e músicas! — ela até tentou falar mais séria, mas o sorriso de canto divertido desmanchava a postura.
— Na minha humilde opinião, você tinha é... — ia tentar amenizar a situação com mais uma piada, mas acabou sendo interrompida pelo toque do celular da primogênita. Encarou a tela do aparelho, que mostrava com os olhos arregalados e prendendo a risada e fez sinal para que ela atendesse. Conferiu a live mais uma vez apenas para confirmar que as pessoas estavam mais curiosas ainda com o que estava acontecendo.
— Alô? — perguntou e voltou a falar em inglês, lembrando de não mencionar o nome de quem estava na ligação ou qualquer apelido que fizesse ficar mais frenéticos quem estava as assistindo.
— Porque não conta logo que somos namorados? — a voz do garoto soou divertida do outro lado.
— Como vo...VOCÊ TÁ ASSISTINDO? — a primogênita quase berrou ao telefone, só depois se lembrando que estava sendo filmada e tampando a boca.
— É claro que eu tô, mesmo que não esteja tendo a mínima ideia do que estão falando. Mas em algum momento consegui escutar meu nome e queria saber se isso está ligado com o fato de centenas de pessoas estarem comentando nas minhas fotos. — falou divertido do outro lado da ligação e arrancou uma risada da namorada.
— Desculpe por isso, as pessoas que nos acompanham podem ser meio animadas.... — ela mordeu o lábio inferior e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. apenas ficava em silêncio e continuava acompanhando o que as pessoas falavam pelo notebook, vez ou outra tendo que segurar uma gargalhada devido a alguns comentários.
— Mas então, só me diz por qual motivo eu sou o assunto e eu deixo você livre desse papo. — pediu e só pela entonação de voz dele sabia que ele tinha um sorriso de lado no rosto.
— Bom, basicamente estão querendo saber se você é meu namorado. — ela falou de uma vez e soube naquele momento que todos que acompanhavam a live e entendiam o básico do inglês já estariam fazendo uma zona nos comentários e informando todos os outros. A confirmação veio quando não conseguiu prender a risada.
— Você conseguiu botar fogo nisso aqui! — a caçula fez piada enquanto indicava a tela do notebook. — Agora que não consigo acompanhar nada mesmo.
Ela mal prestou atenção nas últimas palavras da irmã antes de ela desligar. Quando voltou a encará-la ela já estava ao seu lado com um sorriso contido. Apenas ergueu a sobrancelha em um pedido silencioso por uma explicação.
— Não só ele como todos os outros estão nos assistindo nesse exato momento. E sim, até ele. — voltou ao português e se adiantou quando viu a irmã arregalar os olhos, sabia que ela perguntaria de .
— Entendi... — mordeu o lábio e ficou alguns segundos sem jeito e sem saber o que falar. Saber que estava acompanhando ela fazendo suas bobeiras na internet, mesmo sem entender nada direito, a deixava envergonhada. Só não ficou mais tempo calada porque se lembrou do assunto da vez. Sorriu maliciosa e voltou à conversa. — Mas então, o que ele queria falar mesmo? — a encarou com os olhos semicerrados antes de responder.
— Ah, nada demais...O queria saber se ele ser meu namorado tinha alguma coisa a ver com o fato de um monte de gente estar invadindo o perfil dele... — a primogênita deu de ombros divertida e começou a rir com o a expressão da caçula.
— Senhoras e senhores, é assim que se coloca fogo no parquinho. — fez a piada antes de começar a rir e a live começar a travar com a grande movimentação dos comentários. Depois daquela notícia, sabiam que teriam uma longa noite pela frente.
— Você sabe que ficar olhando essa foto só vai piorar tudo, né? — comentou e cutucou o ombro de ao seu lado. Eles haviam formado duplas nessa aula já que não estava. O garoto era certamente o mais triste da escola. A foto dele com no celular não deixava dúvidas de que o maior sofrimento dos últimos dias não havia sido a volta às aulas, mas sim ter que se despedir da garota.
tinha embarcado de volta ao Brasil havia apenas dois dias, com direito a uma grande despedida antes. Todos os amigos se reuniram na casa das gêmeas em uma mini confraternização, que foi bastante animada porque os tinham feito prometer que não deixariam a tristeza do “tchau” aparecer antes da hora. Com direito a cantoria, bebidas, muita música e muita idiotice que os alegrava. O desejo de aproveitar o restinho de férias também foi um bom combustível para manter a animação num nível maior do que o comum. Afinal, a festa se estendeu até o Ezra, que foi obrigado a os expulsarem para conseguir fechar o bar, e depois ainda se deram o luxo de apreciar o fim de noite e nascer do dia na Golden Gate. Parados na passarela apenas admirando a vista em silêncio enquanto poucos carros passavam nas pistas atrás.
Se empolgaram tanto que quando perceberam estava de manhã e faltava poucas horas para o voo de . Os amigos ainda fizeram questão de a acompanhar de volta à casa das gêmeas para que ela se arrumasse e pegasse as malas que já estavam prontas. A despedida que finalmente aconteceu no aeroporto foi com tudo que tinha direito: choros (principalmente de e das irmãs), abraço em grupo e promessas de que a visitariam ou que a fariam voltar o quanto antes. Desde então, o grupo não havia se reunido mais, mas pela cara de , não precisava nem perguntar para confirmar que ele passara os dias que se seguiram apenas em casa sofrendo. Não precisava confirmar principalmente porque além de ter falado isso, estava do mesmo jeito no outro país. Com a diferença que se lamentava por telefone também com as amigas.
voltou a atenção para ao seu lado que havia apenas dado de ombros e ignorado qualquer outra resposta bem trabalhada.
— , olha pra mim e larga esse celular. — ela quase ordenou, puxando o aparelho da mão do amigo.
— Ei, , me devolve! — ele bufou e se esticou por cima da amiga, tentando puxar o celular de volta da mão dela.
— Só devolvo depois que você me escutar e conversar direito sobre isso. — ela apontou o dedo autoritária e impaciente e colocou o telefone no seu bolso. Mais um pouco e estaria parecendo mãe do garoto.
— Estou escutando. — rolou os olhos e se rendeu ao assunto, ainda que estivesse completamente desanimado. — Eu sei que você vai me falar que eu não posso ficar assim ou que foi tudo um caso de férias ou até que existem outras dezenas de garotas e que eu não preciso ficar sofrendo. Eu já entendi isso porque escutei da boca de todo mundo.
— Não sei a sua mãe, mas a minha me ensinou muito bem que eu não sou todo mundo. A prova disso é que meu discurso é bem melhor do que esse de gente preguiçosa! — cruzou os braços sobre a mesa e voltou a falar com mais delicadeza ao notar que o amigo parecia mais interessado. — Eu queria te falar que eu entendo você. Entendo que você encontrou algo especial na e no que vocês são juntos, principalmente porque eu já tinha notado isso muito tempo atrás. Então, é claro que eu sei que tá sendo muito difícil pra vocês dois. Mas eu preciso falar pra você a mesma coisa que falei pra ela: ficar se torturando assim só vai piorar as coisas. Você tem que se ajudar nesse momento. Pense nela, tenha saudades e se esforce pra manter o máximo de contato durante o dia, mas não viva somente pra isso!
— ... — tentou interromper entre uma pausa da garota, mas foi em vão.
— Eu tô falando sério, . Você não pode deixar que tudo gire ao redor da porque ela não tá aqui e você tem uma vida pra viver diante do seu nariz. Busca se ocupar com suas coisas também, assim o tempo passa mais rápido e a saudade vai machucando menos. Quando você menos perceber, já estarão juntos fisicamente de novo!
— ... — ele começou a falar e esperou alguns segundos em silêncio, queria se certificar de que a gêmea não voltaria a despejar fala em cima dele. Mas ela apenas o encarou com uma expressão pidona. - Só queria dizer obrigado.
É claro que depois disso ela não conseguiu se conter e se jogou em um abraço apertado no amigo, quase esbarrando nos vidros sobre o balcão. Os dois riram fraco e se distanciaram novamente.
— Tô aqui sempre! — ela respondeu com um sorriso e balançou a cabeça rápido depois para afastar a emotividade do momento. Espalmou as mãos no balcão e falou em tom brincalhão. — Agora que já resolvemos o seu drama, vamos voltar pro drama da Química que tanto me faz sofrer!
— Bom dia, . — chegou na mesa cumprimentando-a com um selinho. Ela sentiu seus pelos da nuca se arrepiarem ao ouvir a voz de tão perto de seu ouvido e riu boba. Nunca se acostumaria com aquelas sensações que ele a causava. Ele se sentou ao seu lado e também falou com Dylan e . — Bom dia pra vocês também, donzelas!
— E aí, cara. Pela cara boa já vi que seu plano deu certo, ein?! — Dylan sorriu divertido e fez um high five com o loiro.
— Sobre o que estão falando? — os encarou curioso, assim como .
— Opa, parece que alguém resolveu sair da bolha e voltou a socializar. Tô até orgulhoso! — brincou dando vários soquinhos no ombro do amigo.
— Vai à merda, ! — o empurrou de leve e rolou os olhos, queria ficar sério pra não perder a moral, mas não conseguiu conter um sorriso.
— , dá pra voltar pra conversa e contar logo o que aconteceu? Não temos o dia todo. — bufou impaciente.
— Eita, é só a não tá na rodinha que a dá logo um jeito de representar ela. Só faltou chamar o de . — Dylan riu da cara de tédio da amiga.
— Falar nisso, por qual motivo mesmo ela não está aqui? — desviou o foco da conversa.
— As líderes de torcidas foram liberadas hoje das aulas porque a treinadora quis fazer um treinamento intenso de boas vindas com elas já que ficaram tanto tempo sem ensaios. — explicou e voltou a sua atenção ao pedaço de bolo de chocolate. Por um segundo tinha até se esquecido do assunto anterior. — Ei! Conta logo que plano é esse!
— Pela enrolação pra contar, deve ser bobeira. — encarou o amigo com os olhos semicerrados.
— Vocês dois estão difíceis hoje, viu? — rolou os olhos impaciente antes de finalmente explicar a situação. — Dylan e eu pegamos física juntos no primeiro horário. O professor tava com aquela ladainha chata de que temos que nos esforçar e todas as responsabilidades que temos nesse fim de último ano. E aí, na metade da aula ele simplesmente disse que tínhamos um trabalho pra entregar semana que vem e que já tinha dividido as duplas. Claro que com a sorte que eu tenho acabei caindo com o idiota do Jason. — ele contava como se fosse o maior absurdo do mundo, chegando até a ser engraçado.
— Jason do time? — perguntou sem conseguir controlar a risada ao ver e Dylan concordarem.
— Metade de um ano estudando na escola e nessas horas percebo que não conheço ninguém. — mordeu o canto da boca e encarou perdida os três.
— Não tá perdendo nada! É só um idiota muito chato e convencido. — Dylan rolou os olhos impaciente ao falar do tal Jason. — Mas enfim, o passou a aula toda reclamando e montando um plano pra convencer o professor a mudar a dupla dele.
— Esse idiota eu não conheço, mas o professor sim. Se você falar que conseguiu fazer ele mudar de opinião eu vou até bater palmas. — falou com os olhos arregalados.
— Bom, eu não, mas o Jason sim. — sorriu com todos os dentes enquanto encarava as expressões de quem não estava entendendo nada da garota e de . — Eu sabia que o professor não me levaria a sério considerando meu histórico com ele, mas eu também sabia que ele é um puxa saco do Jason. Então, no final da aula fui lá no babaca e falei que a Karen, que por acaso era dupla do Dylan, estava de olho nele. Não levou nem um minuto pra ele correr atrás do professor e voltar com a confirmação da troca.
— Ou seja, você se livrou do Jason e conseguiu o Dy como dupla. — concluiu, finalmente entendendo tudo.
— Que ótimo pra você, ! E sinto muito, Dylan, você vai ter muito trabalho pela frente. — sorriu debochado, dando tapinhas no ombro do amigo.
— Não tinha pensado por esse lado. A Karen pelo menos tira umas notas boas. — Dylan falou pensativo, ignorando a cara de tacho de por pura diversão.
— Nossa, como essa mesa tá engraçada hoje. Dois minutos com vocês e a gente já se mata de rir. — deu dedo para os dois, fazendo-os rirem mais ainda.
— Mudando de assunto antes que eu me esqueça, vocês escutaram o aviso no informativo da rádio na aula passada? — Dy encarou curioso os três.
— Sobre a reunião no fim das aulas, né? — quis confirmar.
— Devem bem falar sobre a formatura e viagem. — concluiu. Ele estava seguindo o conselho da amiga e mal havia tocado no celular durante esse intervalo.
— Mas já? — a garota arregalou os olhos surpresa.
— Eles até que demoraram dessa vez. — riu da cara da amiga.
— O pessoal aqui é bem animado com isso. Com a formatura em si nem tanto, mas a viagem é tipo o desejo de consumo de todo estudante da Dynamic. — explicou com um sorriso de lado. — Todo mundo sabe que os professores que acompanham a turma simplesmente desistem de cuidar de trinta jovens ao mesmo tempo e só se responsabilizam por casos graves.
— Por aí você já deve imaginar que rola de tudo nessa viagem. — Dy piscou divertido pra amiga.
— Acho que prefiro nem imaginar... — mordeu o lábio e ergueu a sobrancelha. Muitos jovens reunidos em um lugar longe de supervisão não costumava dar em muitas coisas boas.
— Que isso, . Você vai curtir quando chegar a hora! — a empurrou devagar pelo ombro, rindo divertido.
Ela apenas deu de ombros e o encarou com uma de expressão de “É, vamos ver” que o arrancou um sorriso de lado. Assim como o assunto surgiu, rapidamente ele foi substituído por outro, mas continuou pensando sobre a tal viagem de formatura. A ansiedade querendo despontar e uma animação surgindo ao pensar que seria uma ótima oportunidade de se divertir com os amigos dali. Talvez realmente não fosse tão cedo para pensar nisso.
— Cheguei, amores! — se aproximou meio ofegante dos amigos na arquibancada, sentando entre Dylan e a irmã. Ela ainda vestia o uniforme de líder de torcida e tinha os cabelos meio desgrenhados no rabo de cavalo.
— Ué, achei que você não ia vir. — a encarou sem entender, esperando pela explicação.
— Nunca pensei que falaria isso, mas: Eu amo o diretor! — confessou ignorando os olhares estranhos dos amigos. — Ele apareceu na quadra e exigiu que a treinadora encerrasse o treino porque essa reunião de hoje é de extrema importância.
— A Header deve ter ficado brava. — riu falando da treinadora que tinha fama por seu mau humor.
— Você não imagina o quanto. — rolou os olhos impacientes e apontou para o centro do gramado. Estavam todos os alunos do último ano sentados na arquibancada do campo externo. No centro do campo havia apenas uma pequena estrutura de palco com microfone e algumas cadeiras onde estavam alguns professores e o diretor. — Alguém sabe o que de tão importante vai ser falado aí?
— Os primeiros informativos sobre a viagem de formandos e a formatura. — Dylan resumiu o que tinham debatido mais cedo.
— Viagem? Opa, gosto dessa palavra. — a primogênita sorriu animada.
— Vocês duas são realmente diferentes quando querem. — riu ao fazer uma comparação mental da reação das duas ao assunto.
— Atenção, todos! — a voz do diretor saiu pelas caixas de som, atraindo os olhares de todos e fazendo as conversas se encerrarem. Ele estava parado em frente ao microfone com as mãos dadas atrás do corpo. Tinha uma expressão série e levemente impaciente. Pigarreou baixo e voltou a falar. — Bom dia, jovens. Agradeço a presença de todos nessa primeira reunião do ano. Como devem imaginar, nada tem a ver com as tradicionais mensagens de boas-vindas já que apenas os estudantes formandos deste ano estão aqui. Nós vamos tratar de alguns assuntos iniciais sobre os eventos de formatura de vocês, pra isso convido a aluna Nathalie Forben, representante do grupo de eventos, para falar à frente com vocês.
Uma garota baixinha surgiu da arquibancada e caminhou até o pequeno palco. Ela tinha uma expressão confiante no rosto e carregava um pequeno bloco de papel em mãos. já tinha a visto algumas vezes pela escola, ela estava sempre correndo de um lado pro outro com dezenas de coisas à mão. Nathalie falou algo com o diretor e professores antes de se aproximar do microfone e sorrir para a arquibancada.
— Olá, gente! — fez uma pequena pausa e escutou alguns cumprimentos de volta. Abriu o bloco que tinha em mãos e parou algumas páginas depois, voltando a prestar atenção em todos enquanto falava. — Não quero tomar muito tempo de vocês, afinal imagino a vontade que estão de correr para casa e fazerem suas coisas. Então, prometo ser rápida. — ela parou mais uma vez e leu algo que estava escrito no papel em sua mão. Ainda que fosse pequena, tinha uma porte e maneira de falar que a dava um poder a mais e fazia com que a levassem mais a sério. — Como vocês sabem, e sonham tanto, com o fim dos nossos estudos nós temos dois grandes eventos. Primeiro, a nossa querida viagem para Santa Cruz. — alguns gritos animados saíram da arquibancada, arrancando um sorriso da garota. — E em segundo, nossa colação de grau oficial. Ainda que a prioridade da maioria seja a viagem, é importante sabermos que ela é o lado mais incerto desse evento. E exatamente por isso que estamos aqui hoje. Preciso explicar como vai ser o processo para garantirmos nossa viagem até a nossa formatura.
Ainda que fosse difícil controlar muitos alunos juntos no mesmo ambiente, o assunto de interesse geral estava mantendo todos completamente concentrados em Nathalie. Afinal, era a maior chance de uma despedida divertida da escola que teriam que estava em jogo.
— Primeiro, todos precisam estar cientes de que o dinheiro usado para custear os principais elementos da viagem, como ônibus, gasolina, reserva do resort e alimentação, é de inteira responsabilidade nossa. Pra isso, precisaremos fazer alguns eventos de arrecadação durante esse semestre. É importante também que possamos contar com a presença de todos para ficar menos trabalhoso. — alguns alunos concordaram em aceno e todos continuaram em silêncio. — O nosso primeiro evento de arrecadação será um cinema a céu aberto. É responsabilidade nossa conseguir também as doações dos equipamentos que a escola não tem para nos emprestar. Além disso, montaremos alguns times de atuação para o dia. Alguns ficarão responsáveis pela ornamentação, outros para cuidar dos equipamentos, outros nas barraquinhas de pipoca...Enfim, teremos algumas opções de atuação. Quem tiver uma área de prioridade para trabalhar deverá ir até a sala de audiovisual no terceiro andar pra colocar o nome na lista e definir onde ficará. Aqueles que não fizerem esse processo terão seus postos definidos por sorteio. Alguma dúvida? — Nathalie perguntou e ficou alguns segundos em silêncio, ainda que fosse inocência acreditar que escutaria qualquer coisa que alguém falasse da arquibancada àquela distância.
— Minha dúvida é saber que horas a gente vai ficar livre pra curtir o filme, mas acho que se eu perguntar isso vou acabar recebendo aquele bloco de anotações na cabeça. — cochichou no ouvido de , a fazendo morder o lábio para não soltar uma risada alta ao imaginar a cena.
— Tendo ou não definido esse horário, aposto que conseguimos dar um jeito de aproveitar sem que ninguém perceba. — ela piscou marota e deu um pedala no garoto ao notar que ele a encarava com uma expressão safada no rosto.
— Ei! O que vocês tão sussurrando aí? Se estiverem fazendo planos de ficarem juntos em algum dos postos já podem ir soltando porque é pra todo mundo ficar junto! — ralhou com eles, os fazendo rolar os olhos ao notar que e Dylan também haviam escutado (afinal, ele não tinha se esforçado muito para passar despercebido) e acenavam em concordância.
— Burlar o sistema da Nathalie vai ser fácil perto de conseguirmos nos livrar desses três. — bufou baixo.
— Só quero ficar no lugar mais perto do público, caso contrário arrasto o comigo pra onde for. — deu de ombros.
— Bom, já que ninguém tem dúvida, vamos prosseguir. — Nathalie voltou a falar um pouco mais alto no microfone, provavelmente percebendo que o espaço só serviu para que conversas se iniciassem. As pessoas foram se calando de acordo com que ela prosseguia. — Nosso evento acontecerá daqui a duas semanas no estacionamento externo da escola e terá início às sete da noite. Todas as pessoas de fora e alunos de outros anos deverão pagar o valor cobrado na entrada. Será proibida a permanência ou entrada de qualquer dessas pessoas nas nossas áreas de trabalho e aquele que for notado como responsável será suspenso da participação dos outros eventos. Entendidos?
Algumas reclamações se fizeram na arquibancada e muita gente fechou a cara sem conseguir disfarçar que não havia gostado dessa última regra. foi uma dessas, faltando erguer o dedo do meio para o palco ao notar que seu plano de ficar com não daria certo. Por sorte Dylan foi mais rápido e abaixou a mão da garota antes que algum professor ou o diretor notasse. Por falar nele, o homem se levantou e foi até Nathalie, falando mais uma coisa no ouvido dela que a fez sorrir amarelo e encarar com tédio as pessoas ao se virar. Ela ergueu a mão para chamar a atenção de todos e voltou a falar, dessa vez sem conseguir esconder o desânimo da própria voz.
— Mais uma coisa, gente: É estritamente proibido o consumo ou porte de qualquer bebida alcóolica em todos os eventos. É isso, obrigada.
Ninguém mal conseguiu ouvir seu agradecimento diante de tantas conversas que se iniciaram com a última informação. A grande maioria reclamava dessa regra claramente inventada pelo diretor, que sequer havia tido coragem de anunciá-la, e os mais ousados já planejavam como esconderiam as garrafas ou onde se encontrariam para beber tudo que quisessem antes de ir até o cinema. Virou uma verdadeira confusão e o diretor até desistiu de dar o último aviso, metade dos alunos haviam até levantado e começado a ir embora. Os cinco amigos permaneceram sentados encarando o gramado sem falar nada, também não tinham gostado tanto da última regra anunciada, só não sabiam o que comentar.
— É, mais um dia normal na Dynamic. — Dylan deu de ombros e ficou de pé, fazendo sinal para que fossem embora também.
— Pelo menos vai ter pipoca. — deu de ombros com uma expressão inocente.
— Isso aí, . Pensamento positivo! — fez joinha antes de se aproximar e abraçar o amigo enquanto estavam indo embora.
— Ok, mãe. Pode deixar que passamos o recado pra vovó! — afirmou e mandou um joinha para a câmera do notebook, mais precisamente para a mãe que estava do outro lado da chamada de vídeo.
— Beijos, mãe! Te amamos! — finalizou a chamada, acenando em tchau após ver a mulher fazer gesto de beijos.
As duas suspiraram e se largaram de qualquer jeito na cama. Fora mais uma daquelas conversas de mais de uma hora, com direito ao detalhamento de cada passo dos últimos três dias e novidades. Ana fazia questão de se manter por dentro da vida das duas mesmo de longe. Seu pai mal havia permanecido por meia hora, mas não por falta de interesse e sim por não ter espaço para falar mais de uma frase completa perto da empolgação da esposa. Pelo menos estavam acostumados, apenas viam graça nessa situação agora.
As gêmeas se encararam em silêncio conseguindo se entender mesmo sem falar nada. O contato com os pais não era mais tão doloroso quanto no início da viagem, mas sempre restava uma saudade incômoda no peito após cada conversa. Não viam a hora de poder abraçar o casal e encher o irmãozinho de beijos, mas pensar na partida para o Brasil também não era um assunto fácil. Seria tão melhor se a família fosse até elas e não o contrário.
— Então, vamos fazer a live ou não? — cortou o silêncio, tentando fugir do clima pesado. mordeu o lábio tentando decidir o que fariam. De certo, haviam prometido aos inscritos uma live naquele dia, só não sabia ainda se estava com ânimo suficiente praquilo naquela hora. A primogênita voltou a falar ao notar sua cara. — Eu sei o que você tá pensando, mocinha! Mas veja bem, fazendo a essa live a gente acaba esquecendo esse assunto e dando umas risadas. A galera nunca decepciona nas piadas.
— É, você tem razão. Vamos! — agradeceu mentalmente mais uma vez pela intimidade e ligação que tinha com a irmã. Era tão bom não precisar verbalizar tudo que pensava, as coisas fluíam como uma transmissão de pensamentos entre as duas.
As duas voltaram a se sentar e anunciaram nas redes sociais que iniciariam a transmissão, compartilhando o link e tudo mais. Foi preciso apenas um minuto de live pra que mais de mil pessoas já tivessem assistindo as duas.
— Oooi, gente! — cumprimentaram juntas, acenando para a câmera e prestando atenção nos comentários que subiam na tela. A quantidade de pessoas falando era tanta que dificultava a leitura.
— Olha, o @AsGêmeasFC já tá aqui! - apontou para o login na tela. Era de um dos poucos FCs que tinham. Chegava a ser surreal ainda para as duas que chegasse a ter pessoas que gostavam do que faziam daquela maneira. Elas estavam constantemente comentando nas fotos e postagens que faziam, dando apoio e xingando de volta todos os haters que surgiam.
— Olá, vocês! Bom, é o seguinte, nós vamos responder algumas perguntas que selecionamos nos comentários do vídeo de ontem e algumas que vocês fizerem por aqui. Depois, se ainda nos restar tempo, nós cantamos! — explicou e pegou o celular, vasculhando entre todos os comentários algum que fosse legal de mencionar.
— Enquanto a tá caçando ali eu vou escolher pela live mesmo. Vamos ver… — passou a ler com mais atenção o que as pessoas mandavam, tentando selecionar uma pergunta. No meio da multidão de palavras, conseguiu a primeira. — Olha, o @LeoYumiT tá perguntando o que estamos achando de São Francisco.
— Melhor impossível! — a primogênita respondeu na lata, desviando o olhar do celular para sorrir para a web cam.
— É, nós estamos gostando muito. Agora principalmente, já acostumamos com o clima, com a língua, com a escola...Enfim, estamos na fase totalmente boa! — também não conseguiu conter o sorriso ao notar o sentimento de gratidão e alegria que tinha ao falar aquilo, afinal era tudo sincero.
— Isso aí! Agora, próxima pergunta! — anunciou e leu pela tela do celular. — A @GemIah quer saber qual vai ser o próximo cover que vamos gravar.
— Ah, isso é interessante! — a caçula apontou para o celular da irmã, respondendo a pergunta enquanto prendia o cabelo em um coque. — Na verdade, nós não decidimos isso ainda. As músicas que nós escolhemos vai muito do momento que estamos vivendo ou que estamos escutando no momento.
— E dessa vez nós estamos em dúvida no que escolher, então pensamos que talvez vocês pudessem nos ajudar. Mandem sugestões do que vocês gostariam de nos ouvir cantar.
— Lembrando que aceitamos de tudo, internacional ou nacional e qualquer estilo musical. Só é importante que saibam que a música que for, acabaremos adaptando pro nosso estilo. — deu de ombros e encarou a irmã, esperando para ver se ela completaria com mais algo, mas ela apenas sorriu e mandou mais um joinha. — Deixem as sugestões no tweet dessa live!
continuou a ler atentamente aos comentários que subiam na tela, tentando encontrar algo legal para comentar. Viu que alguém havia feito uma pergunta mais pessoal e em menos de um minuto todos estavam copiando e debatendo a mesma questão. Começou a rir e cutucou a irmã para chamar sua atenção.
—Tem muita gente aqui...Aliás, basicamente todo mundo tá querendo saber se você tá namorando com o cara com quem postou uma foto recentemente. Que, por a caso, já estão stalkeando e informando toda a ficha por aqui do . — a caçula começou a rir com a expressão sem jeito de , que de fato ainda não tinha se pronunciado sobre isso nas redes sociais oficialmente porque não via necessidade.
— Como assim esse é o único assunto que vocês tem pra falar? — tentou falar mais descontraída pra amenizar a vergonha boba que sentia. ao notar apenas começou a gargalhar mais da cena o que acabou tirando alguns créditos da primogênita. Os comentários subiam na live, variando entre questionamentos fervorosos sobre o tal romance e pedidos da parte dos mais contidos para que dessem espaço para a garota e deixassem que ela falasse sobre aquilo apenas quando se sentisse confortável. — Não sei se devo comentar esse assunto. Essa live é pra gente falar de bobeiras e músicas! — ela até tentou falar mais séria, mas o sorriso de canto divertido desmanchava a postura.
— Na minha humilde opinião, você tinha é... — ia tentar amenizar a situação com mais uma piada, mas acabou sendo interrompida pelo toque do celular da primogênita. Encarou a tela do aparelho, que mostrava com os olhos arregalados e prendendo a risada e fez sinal para que ela atendesse. Conferiu a live mais uma vez apenas para confirmar que as pessoas estavam mais curiosas ainda com o que estava acontecendo.
— Alô? — perguntou e voltou a falar em inglês, lembrando de não mencionar o nome de quem estava na ligação ou qualquer apelido que fizesse ficar mais frenéticos quem estava as assistindo.
— Porque não conta logo que somos namorados? — a voz do garoto soou divertida do outro lado.
— Como vo...VOCÊ TÁ ASSISTINDO? — a primogênita quase berrou ao telefone, só depois se lembrando que estava sendo filmada e tampando a boca.
— É claro que eu tô, mesmo que não esteja tendo a mínima ideia do que estão falando. Mas em algum momento consegui escutar meu nome e queria saber se isso está ligado com o fato de centenas de pessoas estarem comentando nas minhas fotos. — falou divertido do outro lado da ligação e arrancou uma risada da namorada.
— Desculpe por isso, as pessoas que nos acompanham podem ser meio animadas.... — ela mordeu o lábio inferior e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. apenas ficava em silêncio e continuava acompanhando o que as pessoas falavam pelo notebook, vez ou outra tendo que segurar uma gargalhada devido a alguns comentários.
— Mas então, só me diz por qual motivo eu sou o assunto e eu deixo você livre desse papo. — pediu e só pela entonação de voz dele sabia que ele tinha um sorriso de lado no rosto.
— Bom, basicamente estão querendo saber se você é meu namorado. — ela falou de uma vez e soube naquele momento que todos que acompanhavam a live e entendiam o básico do inglês já estariam fazendo uma zona nos comentários e informando todos os outros. A confirmação veio quando não conseguiu prender a risada.
— Você conseguiu botar fogo nisso aqui! — a caçula fez piada enquanto indicava a tela do notebook. — Agora que não consigo acompanhar nada mesmo.
Ela mal prestou atenção nas últimas palavras da irmã antes de ela desligar. Quando voltou a encará-la ela já estava ao seu lado com um sorriso contido. Apenas ergueu a sobrancelha em um pedido silencioso por uma explicação.
— Não só ele como todos os outros estão nos assistindo nesse exato momento. E sim, até ele. — voltou ao português e se adiantou quando viu a irmã arregalar os olhos, sabia que ela perguntaria de .
— Entendi... — mordeu o lábio e ficou alguns segundos sem jeito e sem saber o que falar. Saber que estava acompanhando ela fazendo suas bobeiras na internet, mesmo sem entender nada direito, a deixava envergonhada. Só não ficou mais tempo calada porque se lembrou do assunto da vez. Sorriu maliciosa e voltou à conversa. — Mas então, o que ele queria falar mesmo? — a encarou com os olhos semicerrados antes de responder.
— Ah, nada demais...O queria saber se ele ser meu namorado tinha alguma coisa a ver com o fato de um monte de gente estar invadindo o perfil dele... — a primogênita deu de ombros divertida e começou a rir com o a expressão da caçula.
— Senhoras e senhores, é assim que se coloca fogo no parquinho. — fez a piada antes de começar a rir e a live começar a travar com a grande movimentação dos comentários. Depois daquela notícia, sabiam que teriam uma longa noite pela frente.
Capítulo 26
escutou o solo de guitarra iniciar e ergueu os olhos do celular, voltando a encarar com um sorriso no rosto. Estava no estúdio deles acompanhando mais um ensaio do McFly. Eles estavam cada vez melhores e muito focados, principalmente porque havia aparecido uma oportunidade de gravarem seu primeiro EP caseiro com um amigo de . Ele tinha alguns equipamentos bons e dominava o suficiente dos programas para produzir a mídia. Gravariam no dia seguinte e em seguida já enviariam para todos os grandes estúdios e gravadoras que conheciam. Era a primeira chance que o McFly teria de tentar crescer.— Vou aproveitar que eles estão focados e que a tá entretida com a música pra finalmente conversarmos. — Dylan chegou ao seu lado se jogando no puff e quase sentando em cima de sua perna já que não tinha muito espaço.
— Não poderia ter escolhido um lugar em que sua bunda não estivesse me esmagando para isso? — o forçou um pouco para o lado e passou o braço pelos ombros do amigo para ficar minimamente mais confortável.
— Eu não dispensaria a oportunidade de ficarmos grudadinhos assim. — ele piscou divertido e teve que segurar uma gargalhada para não atrapalhar a música ao ver rolando os olhos.
— Tá, ok! Desembucha logo o que quer falar, Dy. — ela o encarou atenta. — Queria saber como estão as coisas entre você e o . Nós não conversamos verdadeiramente faz muito tempo, principalmente depois do que aconteceu no seu aniversário. E por mais que eu possa acompanhar vocês, queria saber de verdade o que você tá pensando. — Dylan a encarou e se sentiu até intimidada ao notar aqueles olhos claros tão pertos dela.
— Tá tudo bem entre nós. Ele tem sido muito carinhoso comigo e nós nos divertimos bastante. — ela falou e não conseguiu conter um sorriso sincero ao fazer menção a .
— Eu sempre soube que vocês formariam um bom casal. — Dylan também sorriu e mordeu o lábio antes de prosseguir. — Mas vocês já conversaram sobre isso que tá rolando? Chega a ser um namoro?
— Céus! Você tá até parecendo aquelas entrevistadoras de programa de fofoca. — retrucou com um sorriso meio forçado, tentando conseguir alguns segundos para aquela pergunta. Se lembrou que dias antes, ainda na live que tinha feito, também haviam perguntado se estava namorando. Ela, é claro, tratou logo de ignorar e começou a falar de outro assunto. Não sabia porque a incomodava tocar nesse assunto quando ela mesmo tinha concordado com tudo e aceitado bem a ideia de não rotularem nada de início. Mordeu o lábio e desviou os olhos de Dylan, que a encarava com a sobrancelha arqueada como quem falava que sabia que ela estava tentando o enrolar, e voltou a olhar , que agora conversava com os meninos sobre algum acorde que poderia ser alterado para a música ficar mais harmônica. — Nós não queremos nos preocupar com rótulos por enquanto. Estarmos aproveitando juntos já é o suficiente.
— Para os dois ou só pra ele? — Dylan perguntou na lata, o que fez a garota corar e ficar ansiosa instantaneamente com aquela conversa.
— , quer fazer a segunda voz nessa música com a ? Só pra gente testar uma coisa. — perguntou no microfone e a encarou com os olhos pidões, interrompendo a conversa.
— Claro! — ela confirmou e saltou do puff num pulo antes que Dylan pudesse falar mais alguma coisa, quase beijando por a ter tirado da forca. Foi até onde eles estavam e se posicionou atrás do microfone. Se permitiu olhar Dy rapidamente apenas para confirmar que ele a encarava descaradamente com os olhos semicerrados. Desviou o olhar e focou no solo da música que iniciava. Pelo menos por enquanto era melhor deixar aquele assunto de lado.
Os dias pareceram correr mais rápido após o aviso de Nathalie sobre os eventos e quando menos esperavam já havia chegado o dia do cinema a céu aberto. Durante a semana anterior tinham garantido seus lugares nas tarefas. , e ficariam na barraca de pipoca e e Dy na bilheteria. A estratégia dos dois era garantir que só teriam trabalho no início do evento e poderiam aproveitar o resto junto com o público, mais precisamente com no caso de . A estrutura montada para o evento tinha ficado sensacional, com cadeiras para dezenas de pessoas, um telão grande à frente, painel para fotos, faixas de incentivo ao apoio aos formandos e barraquinhas de refrigerante, doces e pipocas. O local já estava parcialmente cheio e faltava poucos minutos para o início da sessão.
Além do vestido, usava um avental obrigatório com um crachá com seu nome. Todos os que estavam envolvidos como ajudantes precisavam usar os acessórios de cada área para facilitar a identificação. Seu serviço era apenas o de recolher as fichas de pagamento e entregar os potinhos de pipoca, bem melhor que o e que tinham que lidar com a máquina e milhos.
— Oi, ! — chegou até a barraca com sorridentes.
— Oi, gente! Achei que vocês nem viriam mais. — ela comentou enquanto entregava o pedido de um casal ao lado.
— Tivemos que passar na casa do nosso amigo pra pegar as últimas cópias do EP e entregar na gravadora que encontramos ontem. — explicou também entregando a ficha do pedido depois que o local esvaziou.
— Ei, princesaaas! — e gritaram da parte mais atrás da barraca, acenando exageradamente para os dois.
— Olha só que gracinha os dois amiguinhos fazendo pipoca. — zombou alto para ser escutado, já sacando o celular do bolso e tirando uma foto dos dois. Teve que guardá-lo logo em seguida quando voltou com o pote de cada um.
— disse que ainda não tiveram novas respostas das outras. — ela comentou retomando ao assunto. O filme estava para começar então poucas pessoas ainda iam lá na barraca, a maioria já estava acomodada e comendo.
— É, algumas disseram que iriam avaliar e outras sequer deram algum sinal de vida. — deu de ombros desanimado.
— Mas não se preocupem, tenho certeza que a resposta irá aparecer no tempo certo e de quem vocês precisam. — falou mansa, queria confortar aos quatro e ajudá-los a manter a esperança mesmo que também tivesse com um frio na barriga. Sabia da importância disso para eles e por ter se tornado tão próxima da banda, passou a ser importante para ela também que eles tivessem uma oportunidade legal.
— É o que nós esperamos, . — respondeu com um sorriso fraco de lado.
— Ei, vocês! — surgiu a pouca distância assustando os dois garotos que estavam em pé. Ela usava uma camiseta do evento e crachá com seu nome. Se aproximou de e o abraçou de lado. — O que estão fazendo aqui ainda? O filme tá começando.
— Estávamos apenas conversando com a , mas podemos ir. — falou após depositar um beijo delicado em sua testa.
— O Dylan não ia ser liberado também? — perguntou curioso.
— Sim, mas precisaram de ajuda para conferir o caixa e aguentar as pontas por mais vinte minutos, tolerância para os atrasados. — deu de ombros.
— E você deixou ele sozinho? — ergueu a sobrancelha.
— Josh chegou para o ajudar e ele mesmo insistiu que eu podia sair. Eu que não ia recusar. — a primogênita explicou com um sorriso sapeca.
— Nesse caso, vamos logo sentar. — puxou os dois em direção às cadeiras e se despediram de .
A caçula se virou de costas, encostando no balcão e ficou observando e de longe. Eles tinham dado uma pausa na produção já que estava mais vazio e ainda tinham alguns potes de pipoca cheios a serem vendidos. Estavam sentados em um banco no fundo vendo alguma coisa no celular de que os fazia gargalhar, provavelmente mais um daqueles vídeos bobos de pessoas caindo que eles tanto achavam engraçado.
se preparava para ir até lá conversar um pouco ou apenas se sentar também quando escutou um boa noite às suas costas. Se virou sorrindo pronta para atender mais uma pessoa e sentiu o sorriso vacilar ao dar de cara com Karol.
— Er, oi.. Boa noite. — ela se embolou para conseguir cumprimentar a garota.
— Queria uma pipoca. — Karol estendeu a ficha do pedido e sorriu fraco, também parecia estar desconfortável com a situação. apenas acenou sem conseguir falar algo ainda e foi pegar um dos potes na mesa ao lado, a entregando em seguida.
— Obrigada e bom filme! — ela repetiu a frase treinada que devia ser dita a todos. Sentia o estômago revirando e uma infinita vontade de virar para trás para conferir se tinha ciência do que estava rolando ali ou se continuava com a cara enfiada no celular.
— Obrigada. — Karol pegou a pipoca e se distanciou um pouco, pronta para ir se sentar, mas voltou no meio do caminho sorrindo envergonhada e colocando a mão desocupada no bolso da calça. — A gente precisa ficar nessa situação desconfortável mesmo?
— Acho que não. — soltou o ar e mordeu o lábio. Karol parecia realmente sincera em perguntar aquilo, quase como um pedido de que pudessem derrubar aquela parede que as separavam e se tratar como as colegas que tinham se tornado meses atrás. A caçula sorriu de lado e deu de ombros. — Como você está? Não tenho te visto muito.
— Estou bem, ocupada com tantos projetos dentro e fora da escola. — a garota mordeu o lábio e soltou uma risada fraca. Indicou ela e o espaço mais atrás da barraca durante a pergunta. — E vocês? Como estão?
— Ah, estamos bem. — sorriu amarelo sem entender se a pergunta se referia a ela e ou ao grupo como um todo. Notou o olhar da garota parar por alguns segundos atrás de si antes de voltar a falar.
— Acho melhor eu ir antes que perca algo importante do filme. — ela apontou para onde as outras pessoas estavam e foi se distanciando após a caçula confirmar em um aceno. Karol parou no caminho por um momento para falar mais uma vez com um sorriso triste. — Sinto falta de vocês, de todos.
prensou os lábios em uma linha fina e a encarou sem saber como agir por um instante. Deixou que o lábio se curvasse em um sorriso pequeno antes de responder sincera.
— Apareça mais!
Karol acenou em concordância e voltou a andar em direção ao cinema, saindo da vista da caçula. sentiu o estômago revirar e os ombros ficarem mais leves, só então notando como estava tensa. Mordeu o lábio e se virou de costas, conseguindo encarar o local onde os dois garotos estavam. Sentiu a garganta travar por uns segundos ao encontrar o olhar de perdido onde antes estava Karol. Ele pareceu sentir que a encarava e desviou o olhar para ela, estava sério e não conseguiu sequer forçar um sorriso fraco. A caçula suspirou e voltou a se virar, ciente de que seu coração apertava e que as coisas haviam saído do trilho de alguma forma.
— Formandos, parabéns pelo evento e organização. Vocês se mostraram muito responsáveis em tudo, principalmente no cumprimento das regras. Acredito que se todos os demais eventos se assemelharem a esse, vocês terão sucesso na arrecadação. — o diretor fazia o seu tradicional discurso, encerrando a noite de cinema a céu aberto. Ele estava visivelmente feliz, provavelmente por não ter precisado lidar com nenhum problema adolescente naquele dia. Todos os alunos estavam sentados nas cadeiras e ele em pé em frente ao telão. Os convidados já haviam ido embora e restaram apenas os que trabalharam no evento, já que a responsabilidade de desmontar tudo também era deles. — Agora, vamos todos ajudar a guardar as últimas coisas e irmos cada um para sua casa!
Um burburinho se formou e todos se levantaram, começando a juntar as cadeiras e pegar as últimas coisas. avistou , e Dylan se encaminharem para perto do telão para ajudar a desmontar a estrutura. Aproveitou que apenas a fazia companhia para conversar.
— e foram embora mesmo? — perguntou curiosa. Os dois tinham sido obrigados a sair do espaço junto com os demais convidados após o encerramento do filme.
— foi para algum outro compromisso e disse que me esperaria no carro pra irmos comer em algum lugar. — explicou enquanto agrupava mais cadeiras.
— Ainda tem espaço no estômago de vocês depois de tanta pipoca? — riu e passou a ajudar com as cadeiras também.
— Comer pra gente nunca é demais, mas digamos que dessa vez é mais uma desculpa para aproveitarmos esse resto de noite juntos. — ela deu de ombros e sorriu divertida.
— Entendi… — mordeu o lábio enquanto o silêncio pairava e ela criava coragem para falar o que martelava em sua cabeça. Pensou na melhor maneira de introduzir aquele assunto sem que a irmã se exaltasse e chamasse atenção. Manteve-se ocupada com as cadeiras e para que ela não visse sua expressão e falou. — Sabe, encontrei com a Karol hoje e nós meio que tivemos uma conversa estranha.
— O que? Explica isso direito, . — pediu mais séria, agrupando a última cadeira e encostando na pilastra para encarar a irmã.
— É, ela apareceu lá na barraca logo depois que vocês saíram. De início foi meio estranho porque nós duas ficamos desconfortáveis, afinal era a ex do ali e ela provavelmente já tinha visto nós dois juntos na escola. Mas depois nós relaxamos e ela acabou falando que sentia falta de nós. Me pareceu bem sincero. — cruzou os braços e encolheu o ombro se sentindo desconfortável novamente com aquele assunto. Parou próxima à irmã e a encarou. tinha o olhar meio perdido, mas depois voltou a olhar a caçula, mordendo o lábio inferior e passando a mão de leve pela nuca.
— Talvez a gente tenha tomado suas dores e do demais, afinal também estabelecemos um contato legal com ela enquanto eles estavam juntos.
— É o que passou pela minha cabeça. — confessou.
— Mas é complicado, . Nós também não podíamos simplesmente chamar ela pra continuar andando com a gente sendo que o ainda estava mal e talvez achasse ruim. Manter ou não esse contato era uma decisão que tinha que partir primeiro entre os dois e não aconteceu. A culpa não é nossa. — se encostou mais próxima da irmã e passou o braço por cima de seus ombros. Ao notar que ela continuava calada com uma expressão preocupada soube que era um daqueles momentos que ela estava em um conflito interno. — Tem mais algo que queira contar?
— Sabe, depois que ela foi embora da barraca eu me virei pra ir falar com o , mas acabei desistindo. Ele tava com um olhar perdido onde a Karol estava antes e foi meio estranho. Não era um olhar de quem é pego de surpresa ou não sabe o que fazer. Era algo mais como admiração e...saudade. — contou o motivo de não ter prestado atenção em mais nada desde aquele momento. Sua mente, como sempre, fez um ótimo trabalho em criar dezenas de paranoias nas últimas horas. Ela encarou a irmã desanimada e até com medo de encontrar no olhar dela a mesma resposta que piscava em sua mente, mas se manteve de cabeça baixa escutando e quando voltou a encará-la tinha uma expressão confortadora.
— , não comece a tirar suas conclusões precipitadas. pode ter ficado assim por pura nostalgia. Assim como Karol no momento em que disse que sentia falta de nós. — a pegou pelos ombros e a virou para que ficassem de frente uma pra outra, logo em seguida apontando disfarçadamente para onde estava rindo com e Dylan. — Apenas foque no fato de que ele está com você!
— Tudo bem. — ela concordou sem saber o que mais falar. Só queria que estivesse certa ou que ela mesma não estragasse as coisas com suas conclusões.
estacionou o carro em frente a casa das gêmeas e se virou no banco para encarar . A garota estava quieta desde que saíram do evento. Dylan e tinham ido embora juntos e e ainda iriam para algum lugar. Restou então apenas o casal para irem juntos. achou que poderia ser uma oportunidade boa para conversarem suas bobeiras ou apenas se divertirem cantando as músicas do rádio como sempre faziam quando os amigos não estavam juntos, mas foi tudo bem diferente. A cada assunto que ele tentava iniciar tinha uma resposta mínima que acabava com o espaço para alongar o papo, sem contar que ela parecia estar com a cabeça nas nuvens já que sequer havia notado que uma de suas músicas favoritas havia tocado no caminho.
— , chegamos. — ele avisou ao notar que nem isso ela tinha percebido.
— Ai, é mesmo. — ela bateu de leve na própria testa e tirou o cinto, começando a catar suas coisas apressada.
— Ei, calma. Podemos conversar sobre você estar desse jeito antes? — ele pediu enquanto segurava o braço dela com delicadeza antes que ela saísse do carro.
— Como assim, ? — perguntou se fazendo de desentendida já que ela sabia que mal tinha dado atenção ao garoto todo o tempo. A cabeça estava longe com tantos pensamentos e suposições desde a conversa com .
— Bom, você não falou nada desde que saímos de lá. E antes mesmo já estava meio estranha. Aconteceu algo? — a encarou atento e falou com a voz mansa, transparecendo até um pouco de preocupação.
— Não sei… — ela respondeu vagamente sem tirar os olhos da rua vazia à frente e murchou os ombros. Parecia ter se rendido ao momento e desistido de correr do que quer que estivesse a atormentando.
— Agora eu quem pergunto: como assim, ? — ele soltou um riso fraco mas voltou a ficar sério quando ela virou o rosto e o encarou séria. Poucas vezes a vira com aquela expressão e algo o dizia que queria lhe contar algo. Achou importante dar esse espaço para ela sem forçar demais a barra. — Sabe que pode ser sincera, né?
— E você pode ser sincero comigo também? — a garota perguntou meio em tom de curiosidade, meio como um pedido, quase o pegando de surpresa. Seus olhos não desviavam do de em busca de sua sinceridade ali.
— Claro que sim, no que precisar. — ele também falou sério sem desviar o olhar e não pareceu se ofender com a pergunta.
— Nesse caso, eu preciso muito te fazer uma pergunta. Na verdade, eu preciso saber se isso é uma verdade ou não.
— Pode perguntar, . — ele confirmou em um aceno e entrelaçou os próprios dedos transparecendo a ansiedade que parecia ter surgido do nada com aquela conversa. Ficou esperando em silêncio enquanto ela respirava fundo, provavelmente criando coragem para dizer o que queria.
— Você ainda gosta da Karol? — foi direta, voltando a o encarar atenta e notando cada parte de sua reação. Primeiro, ele soltando o ar devagar e mordendo o lábio em seguida. Depois seus olhos correndo para a rua a frente e só então ele abaixando a cabeça. Notou também que ele passou bons segundos em silêncio, provavelmente pensando na resposta. Essa última parte fez seu coração apertar um pouco e ela sentir sua garganta fechando em um bolo. Afinal, se a resposta não fosse dolorosa ou se ele ao menos tivesse certeza de algo não deveria tê-la na ponta da língua?
— … — ele tentou falar com a voz mais contida ao notar que ela acenou em silêncio, confirmando consigo que havia lido as entrelinhas.
— , não precisa. Eu já entendi a resposta. — ela respirou fundo e afastou o cabelo do rosto. Percebeu que ele ia tentar falar de novo e foi direta. — Eu sei que você sempre foi sincero no fato de não saber se o que temos evoluiria ou não para algo a mais em algum momento e eu entendi isso. Eu até acreditei que poderia viver nessa incerteza por muito tempo. Mas em algum momento eu passei a acreditar que estava sendo suficiente para você estar totalmente comigo. Acho que fui ingênua. — ela sorriu triste e voltou a encará-lo.
— , não precisa ser tão radical. Você tem me feito muito feliz e é ótimo te ter comigo. Nós estamos nessa a quase três meses, isso não aconteceria se eu ou você não estivéssemos satisfeitos. Sempre busquei ser transparente com você e inclusive a pouco tempo, quase um mês atrás, nós tivemos uma conversa sobre isso e eu fui sincero com você sobre tudo isso que você falou. Eu realmente só não conseguia ver naquele momento o que eu percebi agora, que não sei se posso apagar tudo que senti por ela hoje ou em algum momento próximo. — ele ficou em silêncio por um tempo esperando uma reação da garota que não aconteceu. Chegou até a cogitar passar a mão em seus cabelos e rosto em um carinho para amenizar a situação, mas se conteve e voltou a falar mais calmo. — Eu estou muito feliz com você, mas eu sei também que é injusto pedir que você simplesmente suporte isso sendo que nem eu sei o que vai ser desse sentimento que tá em uma parte de mim que não consigo controlar. Enfim, eu não sei qual foi o propósito dessa conversa no início, mas entendo pra onde ela caminhou agora. Vou respeitar sua opinião ou o que for, de todas as formas a decisão do que vai acontecer daqui pra frente é totalmente sua, mas saiba que você tem sido bem mais que suficiente pra mim, tem sido essencial.
o encarou em silêncio por alguns segundos com os olhos marejados e voltou a pegar suas coisas, abrindo a porta e parando no caminho antes de sair do carro para voltar a falar.
— Eu te entendo, mas preciso colocar tudo isso em ordem na minha cabeça primeiro. A gente se fala. — ela bateu a porta do carro depois que apenas confirmou em um aceno em silêncio e seguiu até sua casa sem olhar para trás.
A vontade de chorar aumentava a cada passo que dava e o coração apertava com a conversa repassando várias vezes em sua cabeça. Sabia que podia ter metido os pés pelas mãos e que talvez as coisas mudassem bastantes depois daquele momento, mas uma parte sua se sentia aliviada em ter agido da maneira que sentia que precisava. Abriu a porta com dificuldade já que segurava algumas sacolas e bolsa e que as lágrimas já haviam começado a cair sem permissão e dificultavam sua visão. Deu de cara com a avó sentada no sofá encarando a televisão e notou ela iria falar algo mas parou assim que encarou seu rosto molhado. não precisou, nem conseguiria, falar nada naquele momento. Apenas largou as coisas de qualquer jeito no chão do hall e se jogou no sofá em um abraço acolhedor de Katherine. Sabia que aqueles braços quentes com o toque doce de suas mãos em seu cabelo era um dos melhores lugares para confortar um coração machucado.
A música saía do celular preenchendo o quarto e balançava o pé fora da cama no maior movimento que seu desânimo permitia fazer. O sol do domingo atravessava as cortinas e contrastava com o astral da garota. A noite anterior havia sido difícil o suficiente para fazê-la passar a noite em claro sozinha com os próprios pensamentos. Havia aproveitado o consolo silencioso da vó o quanto pôde até sentir todo o cansaço do dia pesar ainda mais seu corpo. Katherine não lhe cobrara nenhuma explicação sobre o que teria acontecido, e ela estava grata por isso, bem diferente do que a irmã faria. Provavelmente lhe cobrando que todos os pontos e vírgulas fossem repassados. Por esse motivo havia inclusive fingido que estava dormindo quando a mais velha chegou até seu quarto tarde da noite. Estava confusa o suficiente para ainda ter que contar aquela conversa com . . Havia sido esse o principal protagonista de seus pensamentos naquelas últimas sete horas. Tinha buscado uma resposta em cada fala dita dentro do carro, algo que fizesse seu coração se sentir menos dolorido. Ter suas suspeitas confirmadas sobre o sentimento de por Karol havia sido mais doloroso do que imaginava. Afinal, era o cara por quem estava perdidamente apaixonada e com quem passara ótimos momentos, falando na sua frente que seu coração ainda estava com a ex. Assim como dissera a ele, tinha cultivado esperanças de que pudesse estar fazendo a diferença na vida de , podendo até ocupar o lugar antigo de Karol. Ao que parece nada estava indo como imaginava.
Sua atenção foi desviada para seu celular quando o mesmo apitou o sinal de nova mensagem, interrompendo momentaneamente a música que tocava. Se esticou na cama e pegou o celular. Viu que a remetente da mensagem era e soltou um riso fraco, imaginando que a garota estava do outro lado do corredor criando coragem ou não de ir até lá.
— Ontem antes de me despedir do e entrar em casa, tivemos uma conversa. Eu sei que você me disse para fazer o contrário, mas eu precisei tocar naquele assunto com ele e a resposta que eu tive não foi muito motivadora. — ela desviou o olhar para a parede ao notar que a encarava atentamente e respirou fundo. — Eu fui direta e perguntei se ele sentia algo por ela ainda e ele disse que sim e que não sabia se algum dia isso ia mudar. Pra completar, deixou nas minhas mãos a decisão de como seguiríamos com o que quer que temos.
— Pelos seus olhos inchados posso concluir que a noite não foi muito fácil depois disso, né? — falou delicada e suspirou antes de passar a mão no cabelo da irmã. — , quando te aconselhei a deixar isso de lado eu já sabia que você não iria fazer, justamente por agir sempre de maneira oposta a mim. Estou chateada de saber o que disse e com muita vontade de bater nele por nunca ter se pronunciado sobre isso, mas acho que é importante levarmos em conta que ele provavelmente estava se convencendo do contrário. Então seria injusto o culpar e julgar por algo que acontece de maneira involuntária com a gente.
— Sei disso. Nesse tempo que passamos juntos aprendi a reconhecer a sinceridade dele quando conta algo e eu vi que ele estava assumindo até mesmo para ele que não superou a Karol. Só que mesmo pensando no lado dele, não deixou de doer. — ela confessou e sentiu os olhos marejarem. Não queria chorar mais uma vez por causa daquele assunto, mas fazia parte de quem ela era reagir assim a quase todas as situações difíceis de sua vida. Quem dera fosse um pouco mais forte como a irmã.
— Eu imagino e por isso mesmo minha parte raivosa está se remoendo aqui dentro. — apontou para o próprio peito com uma expressão brava, voltando ao normal ao notar que a caçula continuava prestes a chorar. — , você se doou bastante desde o início para viver o que está vivendo com o , todos nós vemos o quanto te faz feliz estar com ele. E acredito que você também proporciona muitos sentimentos bons a ele. Mas é importante você lembrar que é boa demais para entregar seu coração para alguém que não pode dar o dele em troca. Você merece ser feliz na mesma proporção que faz alguém feliz. Não acho que você vá conseguir decidir nada agora, mas pense nisso que eu te disse.
— Pode deixar. — a caçula acenou confirmando como podia e fungou baixo, permitindo que a irmã a envolvesse em um abraço.
— Agora, acho que podemos reagir, escovar os dentes, tomar um banho e colocar um pijama limpo para aproveitarmos esse domingo da maneira que o momento pede: com filmes dramáticos e comidas gordurosas. — falou em uma animação exageradamente forçada para arrancar um sorriso da irmã, o que conseguiu por alguns segundos.
— Parece até que você leu minha mente. — fungou e se levantou da cama antes que a primogênita a forçasse a fazê-lo.
O domingo se arrastou devagar com as duas irmãs juntas sem mais conversas sobre o assunto sério e com a companhia de Katherine em vários momentos. A avó sabia como agir bem como uma jovem quando estava com as duas netas, na verdade muitas vezes se mostrava até mais animada que qualquer outra amiga que pudessem ter. O fim de semana chegou ao fim sem mais muitas emoções, mas trouxe uma segunda-feira difícil já nas primeiras horas. havia lidado de certa forma bem com toda a situação enquanto tinha Kath e a mantendo ocupada com os filmes e comilanças. Porém, ao acordar no início daquela semana, a caçula soube que estava prestes a surtar em uma crise de ansiedade só de lembrar que precisaria encarar na escola. Tudo que tinha direito a atingiu: vontade de vomitar, mãos geladas e falta de ar. Tudo em questão de poucos minutos que foram o suficiente para que a encontrasse naquele estado e conseguisse a acalmar, garantindo que resolveria qualquer imprevisto que aparecesse na escola para que ela pudesse ficar em casa. Ainda levou um bom tempo até que ela se acalmasse de fato e conseguisse voltar a dormir, acordando novamente apenas durante a tarde. Foi um dia que aparentou levar mais tempo que o normal, com direito a uma visita de Dylan que não acreditou em nenhuma das desculpas de e foi conferir pessoalmente o que estava acontecendo.
Quando chegou a madrugada de terça feira ela apenas conseguia se revirar na cama enquanto seus pensamentos corriam a mil por hora tentando decidir que rumo tomaria pra sua vida. Próximo das três da madrugada, apenas desistiu de rolar nos lençóis e se levantou, catando o celular e seus chinelos na mão para não fazer muito barulho pela casa. Caminhou até o jardim de trás e se acomodou no banco que havia lá, fazendo um coque no cabelo e começando a mexer no celular. Enviou uma mensagem para quem poderia a ajudar naquele momento e torceu para que não fosse um horário ruim. se perdeu por um tempo vagando pelas postagens infinitas das redes sociais até que o convite de chamada de vídeo surgiu. Nem se preocupou em arrumar o cabelo ou tentar aparentar mais apresentável, apenas aceitou a ligação e viu surgir do outro lado.
— Até que você demorou pra me procurar dessa vez. — a amiga foi direta com uma expressão calma e um sorriso confortador no rosto. Pelo tempo que havia passado desde a conversa com , com certeza já havia a colocado a par da situação.
— Estava tentando acalmar meus pensamentos, mas não consegui chegar a lugar algum sem sua ajuda. — mordeu o lábio e soltou uma risada nasalada. O ambiente estava fresco e não havia nenhum barulho por perto além de sua própria voz e da de que saía pelo celular.
— Então vamos analisar tudo, afinal se ainda sou boa de cálculo, você não conseguiu dormir e nem vai conseguir tão cedo. — a amiga falou e em seguida pediu para que contasse todos os detalhes da conversa com , escutando atentamente sem a interromper. Voltou a falar só quando a gêmea se calou. — Isso é meio complicado.
— Nem me diga… — a caçula apenas levou a mão aos cabelos desgrenhados, perdendo o olhar pelo jardim por pouco tempo. — Eu realmente não sei o que pensar, . Eu gosto muito do , mais do que achava que gostava. Mas não sei se é o suficiente para aguentar ficar nessa sendo que ele ainda tá preso dessa maneira ao passado.
— Olha, , se fosse para eu me inspirar em minha própria realidade eu provavelmente te falaria para esquecer essa conversa e ficar com o só para aproveitar a oportunidade de ter por perto a pessoa que gosta, coisa que infelizmente não rola pra mim e pro . — suspirou do outro lado e apoiou o braço em alguma almofada onde estava, encostando a cabeça na mão em seguida. Só agora, depois dela fazer menção a ela e , percebia como a amiga parecia meio abatida em relação a antes. — Mas eu não acho que seja justo com você e tenho certeza que no fundo o e você também sabem disso. Vocês podem até tentar fazer dar certo, mas sempre vai ficar aquele pé atrás em saber pra onde estão indo e se todo o tempo que estão investindo no outro estará valendo a pena. E acredito que nenhum dos dois merecem isso.
— Algo dentro de mim sabia que você falaria isso — soltou um riso fraco ao falar depois de um tempo em silêncio. Poderia ter pensado e repensado sobre tudo aquilo durante os dois dias, mas lá no fundo ela sentia que tinha a resposta. — Acho que sabemos pra que caminho eu vou acabar indo, só não queria pagar pra ver o quão difícil vai ser essa escolha.
— Provavelmente muito, já que vocês terão que agir como pessoas maduras que são e não deixarem que isso interfira na amizade de vocês e na de todos. — deu de ombros com um sorriso desanimado. — Meu conselho é que você busque um refúgio pra descontar tudo que você tá sentindo.
— É, fiquei sabendo dessa sua tática com a bateria. — ergueu a sobrancelha e sorriu de lado. Se sentia mais leve só de ouvir poucas palavras da amiga. Aproveitou a deixa para tirar a atenção de si da conversa. — Tá funcionando? Aliás, como você tá com tudo isso? Me distraí tanto com minhas confusões que seu drama acabou ficando de lado.
— Continuo com muita saudade do e sentindo que vivi alguns dos melhores dias da minha vida enquanto estava aí. É meio louco porque nunca fiquei desse jeito com ninguém. — mordeu o lábio e deixou os ombros caírem. — Mas nós sabemos da nossa situação e aceitamos, pelo menos tenho me descoberto cada dia melhor na bateria e mais apaixonada por esse instrumento. Parece até que nasci pra tocar, sabe?
— Quem sabe não seja esse o seu destino? , a melhor baterista do Brasil. — exagerou na entonação imitando um desses apresentadores forçadamente simpáticos da internet e viu a amiga gargalhar pelo celular.
— Aceito o posto se for com você e a no palco comigo… — ela ergueu as sobrancelhas rápido, lançando um olhar malicioso e entregando a referência a todas as conversas sobre formação de banda que já haviam tido.
— Bom, talvez seja algo a se considerar. — a gêmea confessou e gargalhou ao ver a amiga comemorar com uma dancinha rápida. — Sabia que me faria bem conversar com você, mesmo às três da manhã.
sentiu as mãos extremamente geladas e respirou fundo. Andou de um lado para o outro sem realmente conseguir se sentar em um dos bancos da arquibancada e ficar calma. Tinha escolhido o ginásio como ponto de encontro porque sabia que só havia aulas ali nos últimas horários e era certamente um dos poucos lugares daquela escola em que poderiam ter privacidade. tinha respondido sua mensagem apenas quando o dia amanheceu, confirmando a presença sem dizer mais nada. Tudo bem que ela havia arrastado de casa uma hora antes do comum, mas começava a pensar se levaria um bolo do garoto ou se ele realmente queria ter aquela conversa. Quando estava prestes a sair correndo dali por puro nervosismo, escutou o barulho da porta do ginásio e se virou rapidamente, encontrando entrando por lá e já vagando o ambiente com o olhar em sua procura. Quando ele a viu, deu apenas um sorriso tímido e se aproximou com uma das mãos segurando a alça da mochila. Pararam um de frente pro outro em silêncio, os dois visivelmente desconfortáveis.
— Oi, . — cortou o silêncio e colocou a mão vaga no bolso da calça, também parecia nervoso.
— Oi, . — ela sorriu fraco e respirou fundo, apontando para o banco atrás deles. — Melhor a gente sentar.
— Ah, claro. — ele pareceu ter saído de um momento de distração e se sentou com ela. Sentindo que o silêncio ia voltar, tentou prosseguir com o assunto. — Então...acho que precisamos conversar, né?
— Sim, pelo nosso próprio bem. — ela falou o final da frase quase em um sussurro, tomando coragem e começando a colocar para fora o que vinha pensando nos últimos dias. — , foi muito difícil pra mim ter aquela conversa, e tem sido mais difícil ainda lidar com esse assunto.
— Pra mim também, . De verdade. — ele se apressou em confirmar e a encarou diretamente, sem desviar o foco. — Acredite quando digo que nunca tinha me permitido pensar naquele ponto até que você me perguntou no carro, só aí eu caí em mim sobre onde tinha me colocado. Aliás, sobre onde tinha nos colocado. E espero de coração que não me odeie.
— Eu acredito, . E justamente por acreditar em você que eu não te odeio. Pelo contrário, eu gosto muito de você. A cada dia que passamos juntos parece que o que eu sinto se transforma e evolui ainda mais. — ela suspirou passando a mão no rosto. Suas mãos não estavam mais geladas e sua respiração havia sido controlada, ter a encarando ali de perto de forma tão singela parecia ter surtido um efeito calmante em seu corpo. — Mas chegar nesse ponto que chegamos faz tudo ficar incerto…
— , antes de tudo eu só queria te falar mais uma vez, dessa vez de forma mais concreta, o que te disse ainda no carro. — ele interrompeu a garota e tocou em seu braço por um momento. Encarou seus olhos em silêncio por um tempo até que voltasse a falar. — Ainda que eu sinta algo pela Karoline, isso não diminui nem apaga todos os dias que passamos juntos. Você me faz muito feliz e digo isso não só como amigo.
precisou respirar fundo para se controlar naquele momento. A vontade de beijar a maltratou, mas ela já tinha em mente o que considerava certo e que devia ser feito, mesmo que isso significasse sacrifício e dificuldade para ela. Se levantou do banco de supetão para se afastar daqueles olhos e lábios chamativos e parou em pé com os braços cruzados na frente do garoto.
— Eu pensei muito pra chegar em uma decisão, . Muito mesmo. Em vários momentos pensei em deixar essa história pra lá, fingir que nunca havíamos tocado nesse assunto e seguir a vida contigo. Mas em uma hora eu vi que não conseguiria ignorar isso e provavelmente nem você. Eu percebi que por mais que eu me esforce, eu não consigo fazer o tipo desapegada e que eu busco algo que você não pode me dar no momento. — ela tirou uma mexa do cabelo atrás da orelha e mordeu o lábio inferior ansiosa. — Acho melhor a gente se distanciar um pouco. Claro que não vamos deixar de nos encontrar, nem de estar no mesmo ambiente, afinal temos amigos em comum e somos amigos também. Mas o melhor a se fazer é agir como tal: como amigos. Pelo menos até que você tenha certeza sobre o que sente e que caminho quer seguir também.
— Tudo bem. — suspirou e passou a mão pelos cabelos. Ele tinha uma expressão triste no rosto, mas ao mesmo tempo seu olhar passava conformismo sobre a decisão. A garota sentiu os olhos marejarem ao sentir ele se levantando e a abraçando, depositando um beijo em sua cabeça em seguida. Ele se afastou por alguns segundos e a encarou sério. — Eu respeito sua decisão e de grande parte concordo com ela. Você merece alguém que possa estar cem por cento contigo, se entregando da mesma maneira que você faz. Eu agradeço sua compreensão e torço pra que meus sentimentos colaborem pelo melhor porque você é incrível.
apenas confirmou com um aceno silencioso e aproveitou a posição para voltar ao abraço. Os dois sabiam que teriam que ser maduros a partir daquele momento para lidar com sua situação e contato com os amigos. Se agarravam a esperança de que, de certa forma, seus corações pudessem voltar a sincronizar juntos, mas com o pé no chão para encarar a realidade que viviam.
Capítulo 27
— , desse jeito você vai acabar abrindo um buraco no chão! — chamou a atenção do amigo. Já estava ficando impaciente de o ver andando de um lado para outro na sala da casa de . apenas bufou baixo e se jogou no lugar livre do sofá.
Era final da tarde e estavam todos, com exceção de , reunidos para aguardar a resposta da última gravadora restante. Tinham finalizado e entregado o EP uma semana antes. A maioria das respostas que tiveram foram negativas ou desanimadoras, sempre relacionadas a não serem o estilo de artistas que estavam procurando no momento ou pelo local não estar aberto a novos contratos naquele período. A única que não havia dado uma resposta definitiva tinha marcado uma reunião para aquele dia para falar sobre o assunto. era quem tinha ido junto com o amigo que tinha gravado o EP. estaria trabalhando no horário da reunião e os outros dois estariam na escola. É claro que tentou convencer os professores a adiarem as provas do dia, mas só serviu para se irritar já que todos se mostraram irredutíveis.
Agora, estavam todos ali na casa de aguardando a volta de da tal reunião. ainda vestia o uniforme de líder de torcida, afinal tinham ido para lá direto da escola. E tinha chegado a poucos minutos xingando de todos os nomes seu chefe que havia o liberado apenas naquele horário. rolou os olhos ao ver que não conseguiria fazer ficar quieto e voltou a se sentar na poltrona. Aproveitou a posição para observar de longe, ele estava visivelmente apreensivo e ela estava se sentindo sufocada com a briga interna que travava entre querer se aproximar para o confortar e se obrigar a se manter longe. Haviam tido a conversa final sobre eles há exatamente uma semana. Tinham sobrevivido bem aos questionários indiscretos dos amigos e a todas as aulas que tiveram juntos, mas era a primeira vez que se encontravam fora do ambiente escolar depois de tudo. poderia confirmar com toda sua certeza que estava sendo uma fase ainda mais difícil do que a da época em que ainda tentava o conquistar, afinal agora conhecia o beijo e companhia boa da qual tivera que se afastar. Era um sentimento de saudade que chegava a machucar, mas ela trabalhava bem isso em si para que os mais próximos não notassem.
Não estava sendo fácil para também, mas além de saber disfarçar bem, ele também tinha dramas maiores para lidar, como descobrir de fato o que seu coração queria. Ou melhor dizendo, quem queria. Ele perdera a conta de quantas noites mal dormidas vinha tendo e não sabia pensar em mais nada além do fato de que estava com saudades de e que sentia algo por Karol que o fazia querer se aproximar novamente dela também. Na realidade, a resposta da gravadora havia sido a única coisa que distraiu sua mente desde a conversa com . Os dois evitavam sentarem próximos pois sabiam que as chances de um clima desconfortável ser estabelecido era grande. Além disso, sentiam que deviam espaço um para o outro para lidarem das suas formas com esse rompimento de relação que tiveram.
— Já era para ele estar aqui. — passou a mão pelo rosto com uma expressão impaciente. cruzou as pernas e desviou o olhar, tentando controlar o próprio corpo e pensamentos que pareciam a forçar a ir até o garoto.
— Pensamento positivo, galera. A demora pode ser pelo fato de ele estar acertando tudo já com a gravadora. — Dylan sorriu esperançoso.
— O celular continua desligado. — informou desanimada e jogou o celular no sofá antes de se levantar e parar em pé na frente de todos. estava no sofá que ela ocupava anteriormente, Dylan, e no outro sofá e em uma das poltronas. — Escutem o que Dy falou, vamos ter pensamentos positivos. Acredito que eles não iriam demorar esse tempo todo para dizer um não.
— Sem contar que se eles marcaram essa reunião e não apenas responderam por ligação ou email, provavelmente tinham coisas importantes a falar. — também levantou e parou ao lado da irmã. Encarou , e com a sobrancelha arqueada e bateu palma para chamar atenção deles já que todos pareciam estar com os pensamentos perdidos. — Ei! Vocês são ótimos, confiem mais no potencial de vocês!
— Gente… — começou a falar desanimado negando com a cabeça, mas foi logo interrompido por Dylan.
— Gente nada! Levantem daí, vamos! — ele foi até o sofá onde eles estavam e puxou um por vez os obrigando a ficar de pé. — Vamos nos ocupar até que o volte em vez de ficarmos nos corroendo de ansiedade.
— Não ocupando a minha boca com a de vocês, por mim tudo bem. — brincou sorrindo minimamente.
— Eu não te daria esse benefício de provar do meu beijo. — Dy soltou uma piscadela divertida fazendo todos os outros rirem.
— Agora sim tô vendo os meus amigos e não um bando de gente molenga. — tentou fazer um high five em grupo com os três mas acabou virando uma confusão de braços entrelaçados e tapas em qualquer lugar, menos nas mãos.
— A gente podia assistir um filme ou jogar alguma coisa… — deu de ombros.
— Striper Poker! — falou animado, arrancando uma risada dos garotos e um rolar de olhos das garotas. — Que foi? Vocês não queriam nos ver animados?
— Sim, mas eu tava pensando em deixar animado o estado de espírito de vocês e não o...
— Epa! Vamos deixar esse jogo de lado e pensar em outra coisa que é melhor. — Dy interrompeu antes que ela pudesse concluir a frase.
— Acho que tenho um baralho em algum lugar aqui em casa, podemos jogar qualquer outra coisa que não envolva tirar a roupa. — deu de ombros.
— Ou então nós podemos apelar pro Just Dance. — deu um sorriso malicioso e indicou o video game próximo a televisão.
— Apoiado! — as gêmeas falaram juntas animadas sem se preocupar em esconder a preferência.
— Argh, vamos logo com isso se não elas não se contentarão. — rolou os olhos teatralmente para transparecer que estava sendo obrigado a fazer aquilo, mas não conseguiu conter um sorrisinho de canto.
Decidiram então pelo Just Dance sem mais problemas. Ligaram tudo e definiram as ordens das duplas. Estava tudo no ponto: e esperando a contagem regressiva terminar e iniciar Hot N Cold e todos os outros de fora com os celulares a posto para gravar as melhores partes que virariam meme na mão deles depois. Os dois da vez mal tinham feito dois passos diferentes quando a campainha soou e abriu a porta. , e se levantaram automaticamente e ficaram em silêncio o encarando, esperando pela notícia, mas ele ainda entrou na casa e deu espaço para que mais um garoto entrasse com ele. Os dois seguiram até onde todos estavam e lançou um sorriso pequeno para todos antes de seguir até a namorada e a cumprimentar com um selinho.
— E aí, galera. — ele finalmente cumprimentou a todos e se dirigiu às gêmeas e Dylan. — Gente, esse é meu amigo James. James, essa é minha namorada , minha amiga e irmã dela e ele é o Dylan.
— Prazer! — James acenou para todos meio tímido e depois foi cumprimentar os demais com um toque esquisito que eles pareciam saber muito bem. — E aí, caras!
— Oi, James! — cumprimentaram juntos, tentando serem os mais simpáticos possíveis que a ansiedade permitia.
— E então? — foi direto sem conseguir disfarçar o nervosismo.
— O que decidiram? — questionou em seguida.
— Eles não querem, né? — perguntou em tom retórico desanimado, se jogando no sofá.
— Calma aí, galera! — fez sinal para que eles ficassem quietos. Todos os demais na sala permaneceram em silêncio apenas assistindo tudo, também estavam ansiosos e nervosos, mas entendiam que aquele era o momento dos quatro. passou a mão pelo cabelo e se sentou, vendo os outros o imitarem. Ele respirou fundo e apoiou os cotovelos na perna, se inclinando para frente e lançando um sorriso pequeno. — Bom, eles curtiram muito o nosso som e estilo, falaram muitos elogios durante a reunião toda…
— Então eles aceitaram? — ficou de pé animado.
— Fica quieto, . Deixa o explicar. — puxou o amigo pra se sentar de volta, ficando em silêncio novamente e voltando a encarar .
— Eu fiz a mesma pergunta pra eles depois de tanto elogio e foi aí que veio a parte complicada. — respirou fundo e encostou as costas no sofá, passou o braço pelas costas de ao notar que ela havia sentado ao seu lado no braço do móvel. — Eles falaram que não podem fechar contrato com a gente porque eles são uma gravadora especialista em uma área de produção, então só pegam artistas do mesmo estilo e gênero, que não é o nosso caso…
— Que merda, cara. — passou a mão no rosto e bufou.
— Melhor esperar ele contar a história toda antes de já ir lamentando. — James o cutucou de leve com o cotovelo pra chamar sua atenção de volta pro assunto.
— Isso, me deixem falar tudo de uma vez! — rolou os olhos com tédio. — Enfim, eles falaram tudo isso e eu já tava quase saindo chorando da sala, mas tem um porém nisso tudo. O dono da gravadora é sócio de um grupo maior de produtoras e gravadoras, essa é só uma delas. Então, como ele gostou muito do nosso som, ele vai encaminhar nosso material pro sócio dele que pega bandas do nosso estilo. Ele garantiu que teremos uma resposta positiva e talvez até um contrato a ser assinado até o fim do ano. Então, caras, nós temos nossa primeira oportunidade de verdade.— não conseguiu controlar o sorriso grande ao anunciar a parte boa daquela conversa.
A primeira reação dos três foi ficar com a boca aberta em expressão de choque por uns segundos, mas então quando a ficha finalmente caiu foi uma mistura de pulos, abraços, xingamentos e dancinhas que incluíram James, Dylan e as gêmeas.
Em algum momento de toda essa comemoração e foram parar um de frente para o outro e um pouco mais distantes dos amigos que estavam distraídos. Ela mordeu o lábio indecisa, mas acabou se deixando levar e pulou pra um abraço com . Sentir os braços fortes dele a envolvendo novamente a fez perceber o tamanho da saudade que estava sentindo.
— Eu falei que ia dar certo! Sempre confiei no talento de vocês. — ela aproveitou a posição para falar sem que tivesse que encarar aqueles olhos castanhos.
— Obrigado, . De verdade. — foi o que ele conseguiu dizer antes de se afastar e a encarar com um sorriso tímido.
A interação entre os dois durou menos de um minuto e foi o suficiente para que os amigos atrapalhassem em seguida, pulando neles enquanto cantavam alguma música que inventavam na hora. O sentimento presente era de conquista, afinal por mais que não tivessem a certeza de um contrato naquele momento, terem uma oportunidade com um contato da área já era mais do que tiveram durante toda a vida. Por isso, se permitiram comemorar como crianças durante o resto do dia.
O sinal do intervalo tocou e automaticamente o corredor se encheu de conversas e alunos. , e Dylan saíram por último da sala de artes e seguiram o fluxo para o refeitório.
— Eu simplesmente não consigo acreditar que a professora teve coragem de nos passar uma prova surpresa tão difícil assim. — reclamou e cruzou os braços brava.
— Alguém aqui não está no melhor humor hoje. — Dylan ironizou dando uma risada no final, mas passou o braço pelo ombro da caçula em um abraço depois de notar o olhar cortante que ela o lançou.
— Péssimo dia para TPM, mana. — também provocou a mais nova, mas mandou um beijo em seguida para mostrar que era mais implicância. — Mas eu também estou bolada com isso. Ela era pra ser a mais boazinha daqui, agora vou ter que me esforçar em dobro no trabalho.
— Sim! — concordou como se finalmente alguém entendesse onde ela queria chegar.
— Relaxem, garotas. Nós iremos dar conta. — Dylan as abraçou em conjunto e as soltou quando chegaram na porta do refeitório. — Vamos apenas esquecer isso por hora e ficar conversando coisas inúteis com aquela dupla de doidos que chamamos de amigos.
As duas confirmaram em um aceno e entraram no espaço, já indo até a mesa que sempre ficavam. podia ouvir Dylan e comentando sobre alguma postagem de um cantor famoso que havia confessado sobre seu romance secreto, mas mal prestava atenção. Sua TPM realmente estava a matando naquele dia desde que acordara. Em poucas horas já havia sentido vontade de estrangular metade das pessoas que passavam na sua frente e de chorar por bobeiras como ter esquecido sua caneta em casa. Tentou prestar atenção no caminho pra esquecer as coisas que dançavam em sua mente e se sentiu melhor quando avistou de longe. Era sempre bom poder contar com o amigo pra rir de algumas besteiras e deixar de lado seus próprios pensamentos. Já ia apressar o passo para pular ao seu lado na cadeira quando notou que ele a encarou de volta, mas de maneira meio assustada. Parecia até estar se esforçando para não surtar. ergueu uma sobrancelha e continuou andando, só então escutando os muxoxos da irmã e Dylan ao seu lado.
— Sério que demorou só uma semana? — perguntou em tom sarcástico, rolando os olhos em seguida.
— , é só a gente ficar conversando sobre outra coisa. Podemos tratar isso com indiferença. — Dy tentou parecer calmo, mas não conseguiu disfarçar o sorriso amarelo que lançava.
— Do que vocês estão falando? — perguntou impaciente sem entender muita coisa e seguiu o olhar de Dylan que indicava sua mesa. Só então, com um cara alto saindo da frente, ela conseguiu avistar ao lado de conversando animado com Karol na mesa. Na mesa que ela sentava. Ela e seus amigos. E só. Balançou a cabeça e soltou um riso baixo incrédulo. — Hoje, não.
Apenas deu meia volta e ignorou as vozes de Dylan e . Apertou o passo e saiu do lugar, andando sem realmente pensar para onde estava indo. Provavelmente se fosse em outro dia, apenas se sentaria à mesa morrendo por dentro e ficaria triste consigo mesma como sempre fazia. Mas especialmente naquele momento só conseguia sentir raiva e vontade de bater nos dois, principalmente em . Que merda de amigo era aquele que não conseguia respeitar nem seu tempo? Ele poderia se atracar com Karol em qualquer outro lugar. Por que logo na sua mesa? O único lugar que ficavam todos juntos distraindo.
— Idiota! — ralhou consigo e só então percebeu que havia chegado à beira do jardim.
Deu meia volta e começou a subir as escadas mais próximas. O jardim era bonito demais para seu surto de raiva. Continuou subindo os degraus sem parar e só quando já estava sem fôlego avistou o final com uma porta enferrujada. Lembrou de Dylan e falando daquele lugar e forçou o ferro, saindo pelo espaço e dando de cara com o terraço vazio daquele bloco. Só então se permitiu respirar fundo e parar.
Sentiu seus pés darem passos mais lentos dessa vez e se aproximou da mureta mais a frente. O concreto batia na altura de sua barriga e dali ela tinha a vista de boa parte dos bairros mais próximos à escola. Respirou fundo e se permitiu se acalmar aos poucos. Não sabia se a culpa era somente de seus hormônios a mil, mas não conseguia explicar ou conter aquela frustração repentina ou muito menos saber o que pensar naquela hora. Só queria esvaziar a mente. Então, fechou os olhos e se concentrou para escutar os sons ao seu redor: carros ao longe, alguns pássaros da árvore próxima e pessoas circulando pela rua. Gostava daquela sensação de apenas escutar, principalmente quando o ambiente era calmo como ali. Já tinha até normalizado as batidas do coração e a velocidade com que respirava quando tudo voltou ao máximo com o som da porta de ferro se abrindo tão de repente.
Virou de uma vez para conferir quem era sua companhia, já esperando por e Dylan. Estava pronta para os colocar pra fora quando deu de cara com um sorrindo amarelo a alguns passos de distância.
— Prometo que vim em paz. — ele ergueu as mãos na altura dos ombros e soltou um riso fraco de lado. Ao notar que não o contrariaria e apenas tinha virado de costas, se aproximou. Foi até ela e ficou parado ao seu lado sem saber o que dizer, sabia que a amiga estava com raiva só pelos comentários de Dylan e ao chegarem na mesa. De certo, tentar abordar aquele assunto de cara não fosse a melhor ideia. — Sabe, estava pensando. Nunca levei você e a pra conhecer um dos meus lugares favoritos daqui.
— E onde seria? — entrou na conversa ao entender que ele tentaria a fazer pensar em outra coisa.
— Não espere muita coisa, ok? — ele avisou envergonhado. — É um paintball perto da minha casa. Costumava ir lá todos os fins de semana com meu pai quando nós não tínhamos tantos compromissos na vida.
— Eu nunca fui num paintball. — ela deu de ombros e o encarou sugestiva.
— Seria bom pra você descarregar essa energia ruim que tá te rondando. — piscou divertido, entendendo onde iriam chegar com aquela conversa.
— Você é sempre tão delicado, . — rolou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso que insistia em despontar.
— Então? Vamos aproveitar que os corredores estão vazios ou quer fazer do jeito mais difícil? — ele indicou a porta atrás de si.
Em questão de segundos eles saíram do terraço aos risos e começaram a atravessar a escola. Tentaram ser os mais discretos que conseguiram ao irem pegar as mochilas no armário, mas ainda assim precisaram se esconder por um tempo no banheiro feminino (sob muito protesto de , claro). Quando enfim conseguiram correr pelos fundos do colégio, escutaram o sinal indicando o final do intervalo tocar ao longe. Apenas se encararam divertidos e correram mais rápido ainda. De acordo com , que tinha experiência no assunto, o sinal indicava também que os assistentes da escola estariam de volta aos seus postos e poderiam acabar os vendo.
No total, foram necessários por volta de dez minutos para que estivessem afastados da escola e em segurança. Foi o momento que teve para pegar o celular e enviar uma mensagem à avisando que havia saído com . A irmã àquela altura já teria rodado todo canto atrás dela. e andaram por cerca de vinte minutos, afinal nenhum dos dois estavam de carro e o tal paintball não era tão próximo.
— Então é aqui o seu lugar. — comentou ao pararem em frente ao local. Ela aproveitou para observar o quanto conseguia. Parecia bastante velho e vazio.
— Eu disse pra não esperar muito. — lançou uma risada fraca e passou na frente, abrindo a porta e dando espaço para que ela entrasse.
Os dois entraram no espaço simples e tomou a frente, indo direto ao homem no balcão e solicitando a preparação pro jogo. preferiu ficar mais atrás apenas observando o que o amigo iria fazer.
— São apenas vocês dois? — o homem perguntou sem muita animação e negou com a cabeça ao ver confirmar. — Estamos sem outros jogadores agora para fechar time. Melhor vocês voltarem outra hora.
— A Suzan está aqui? — perguntou despreocupado e ignorou o que ele havia falado.
— Ela tá viajando, mas acho que eu posso resolver seu problema. — um rapaz alto saiu pelo corredor lateral atrás do atendente falando sério. já tinha certeza de que iriam ser despachados dali quando ele abriu um sorriso largo e estendeu a mão pra . — Achei que não fosse mais aparecer por aqui.
— Estive um pouco ocupado esse mês. — o cumprimentou também com um sorriso largo. Os dois pareciam se conhecer há um bom tempo e ter certa intimidade.
— E a amiga? Não vai apresentar? — o rapaz foi mais para o lado para finalmente poder ficar de frente à . Ele a encarou descaradamente enquanto os apresentava e eles apertavam as mãos.
— Sam, essa é a . , esse é o Sam, um velho amigo meu. — voltou ao foco ao notar que a amiga havia ficado envergonhada. — Mas e aí, será se rola aquele esquema de um contra um?
— Hoje eu vou deixar só porque você tá bem acompanhado. — Sam lançou uma piscadela e foi de volta para o corredor, fazendo sinal para que o seguissem. — Venham logo se preparar.
apenas seguiu os dois pelo corredor ainda calada e ignorou a olhada de . Já tinha percebido que Sam faria o tipo direto e engraçadinho pra cima dela, mas especialmente naquele dia ela não estava com tanta paciência pra isso. Só queria sentir adrenalina no corpo e se esvaziar da raiva que ainda apertava seu peito.
O local era maior do que parecia e o corredor acabou em uma espécie de vestiário. Uma parede era totalmente ocupada por prateleiras com equipamentos que ela não conseguiu decifrar de primeira e no outro lado três cabines tomavam espaço.
— Vocês vão jogar com essa roupa mesmo? — Sam indicou as calças jeans e camisetas que vestiam.
— É o jeito. Você tem pelo menos um casaco aí, ? Só pra tentar amortecer o impacto do tiro na pele. — passou a mão pelo cabelo e a encarou levemente preocupado. Tinha esquecido que estavam indo direto da escola e que não estavam com as roupas mais adequadas.
— Não, saí sem o meu hoje. — ela deu de ombros e encarou os dois em dúvida. — Vai machucar assim?
— O tiro só machuca se for lançado de muito perto e direto na sua pele. Pra sorte de vocês, eu tenho alguns casacos reservas que uso pra jogar aqui, posso emprestar. — Sam foi até uma mochila na prateleira sem esperar por uma resposta e puxou de lá os casacos, entregando um pra cada. Eles também pegaram coletes, máscaras, luvas, joelheiras e cotoveleiras. Os dois se vestiram e equiparam enquanto Sam pegava as chaves e preenchia o cadastro deles.
Alguns minutos depois e já estavam em um terreno grande aberto cheio de barris, muretas, carros velhos e o que mais desse para se esconder atrás. Sam explicou que o certo eram jogadas de times com mais pessoas, mas como estavam apenas em dois, as jogadas seriam diferentes. Ele colocaria uma bandeira de cada lado do terreno e cada um teria que proteger a sua e tentar pegar a do adversário. O objetivo era pegar a bandeira primeiro ou impedir que o adversário pegasse a sua antes que gastasse todos os tiros que tinha. Sam ficaria responsável por ser o juiz e julgar quando algum participante trapaceasse no jogo.
Só então eles começaram a jogar. demorou pra pegar o jeito e conseguir sair do esconderijo onde estava. Só quando estava muito próximo de sua bandeira que ela conseguiu reagir. ou alguns tiros e caiu ou tropeçou algumas vezes enquanto tentava fugir do amigo. Como esperado, perdeu a primeira partida facilmente para , ele claramente tinha experiência naquilo e uma série de estratégias quando a dela era apenas não se desesperar ou não entrar em uma crise de risos enquanto era atacada. Ainda perdeu duas partidas antes de finalmente ganhar uma. Não conseguiu pegar a bandeira, mas fez gastar todos os tiros sem conseguir pegar a sua graças a algumas dicas que Sam a passou enquanto o amigo recarregava a arma no intervalo. No final de tudo estavam suados, cansados, completamente sujos de tinta e terra, mas muito satisfeitos.
— Eu devia imaginar que o Sam ia roubar pra você. — rolou os olhos dramático enquanto os três voltavam à entrada do estabelecimento.
— Ele não roubou nada. Você que não aceita perder uma partida sequer. — o empurrou pelo ombro divertida.
— Mas eu ainda tinha o direito de tentar pegar a bandeira e ele simplesmente encerrou a partida. — reclamou enquanto apontava o dedo para Sam.
— Cara, não acredito que você tá tentando ir contra as regras que você mesmo ajudou a criar. — Sam cruzou os braços e parou quando chegaram ao balcão. Ele e tinham sorrisos divertidos no rosto ao notar que realmente estava levando tudo a sério.
— Não quero mais falar sobre isso, vocês estão de complô contra minha pessoa maravilhosa.
— Melhor ficar calado mesmo. Agora, vamos embora porque já estou morrendo de fome. — deu alguns tapinhas nas costas do amigo, indicando a saída e começando a andar para lá. Se virou para acenar para Sam. — Tchau, Sam!
— Volte mais vezes, . É divertido te ver cair...Opa, quis dizer jogar. — Sam acenou de volta e lançou uma última piscadela.
— Olha, não vou ficar repetindo pela milésima vez que aquela máscara tira toda minha visão periférica. — ela rolou os olhos fingindo estar sem paciência quando na verdade se divertia e saiu do local com o amigo a tempo de escutar apenas a gargalhada de Sam lá de dentro. Após iniciar o jogo, sua raiva foi amenizando e ela o foi achando mais legal e atraente e menos irritante como achou que seria.
— Você sabe que ele gostou de você, né? — interrompeu o silêncio da caminhada depois de um tempo. Ele a deu um leve empurrão pelo ombro e a encarou malicioso.
— É, percebi um pouco. — ela deu de ombros e ignorou a risada de . Não era porque o tinha achado legal que iria dar brecha para o amigo se aproveitar disso. O silêncio voltou a pairar por alguns minutos até ela se sentir confortável em falar o que realmente passava em sua mente. Se virou para encarar o amigo com um olhar singelo. — Muito obrigada, . Eu teria surtado hoje se não fosse você.
— Não precisa agradecer, . Eu só quero que você fique bem, assim como sei que você deseja isso pra mim. Não sei tanto a respeito do que rola como a e o Dylan, mas consigo ficar por dentro. E sei que são situações difíceis, mas a gente vai se ajudando, ok? É bem melhor do que enfrentar sozinha. — ele falou de forma calma e soltou uma risada fraca ao sentir a amiga se lançar contra ele em um abraço com os olhos marejados. — Ah, você não vai chorar né, ? Não era essa a intenção.
— Eu estou na TPM e você foi muito fofo agora. Não consegui controlar. — ela falou contra o peito dele, aproveitando para esconder o rosto até conseguir voltar ao normal. Mordeu o lábio e o encarou sem jeito ao se afastarem e voltarem a andar. — Sabe, , você é uma das minhas melhores alegrias de ter vindo pra São Francisco. A gente não costuma conversar muito sozinhos ou mesmo passar tempo juntos sem os outros, mas eu sinto que a amizade que a gente tem eu não tive com nenhum outro cara.
— Eu te entendo porque sinto o mesmo, . Deve ser porque nós somos idiotas iguais, aí conseguimos ter essa ligação fortíssima. — ele fez piada do assunto, arrancando uma risada dela. Eles caminhavam sem pressa pela rua e ignoravam os olhares das poucas pessoas pelas quais passavam. Estavam muito sujos e provavelmente parecendo bem esquisitos rindo a todo momento, mas não ligavam.
— Mas então, me explica aí o motivo de toda a intimidade com o Sam e porque você tem tanta moral naquele lugar. — puxou o assunto ao lembrar que havia ficado meio perdida de início ao ver que conseguiriam jogar mesmo contra a vontade do atendente.
— Como eu disse mais cedo, costumava ir ao paintball quase todos os fins de semana com meu pai desde mais novo. Mas como deve ter percebido, não é um jogo muito indicado para crianças. — ele apontou para a marca vermelha no braço da garota que apenas concordou e riu. — Então, graças à amizade do meu pai com a Stela, a dona, ele conseguiu que nós sempre pudéssemos ter um horário apenas pra nós dois. Ele saberia como jogar comigo sem me deixar machucar e ainda assim podendo nos divertir. Mas ninguém jogava com apenas duas pessoas lá, então tivemos que criar o nosso próprio modo e regras de jogar, que foi o que fizemos hoje. Como viramos clientes frequentes, adquirimos uma moral lá dentro, todos os sábados nossos horários ficavam reservados para caso aparecêssemos e ninguém atrapalhasse.
— E o Sam é filho da Stela. — ela chutou.
— Na verdade é sobrinho, mas ela não tem filhos então cuida dele como um. Ele morava em Los Angeles e sempre vinha passar as férias com a tia. Como eu vivia lá no paintball e a Stela já conhecia minha família, ela uma vez perguntou se eu não poderia brincar com o Sam já que ela estava preocupada em fazer o garoto perder as férias sozinho dentro daquele paintball ou em casa. A partir daí a gente ficou bem amigos. Ele se formou ano passado e resolveu passar um ano aqui antes de tomar algum rumo na vida.
— É uma história interessante. — ela lançou um sorriso pra ele.
— E uma pessoa interessante também. — rebateu sem conseguir controlar a risada. apenas rolou os olhos e segurou o riso. Sabia que o amigo estava apenas a provocando.
Os dois andaram mais um pouco e chegaram até a casa de . Ele ofereceu pra que ela entrasse, tomasse um banho e almoçasse com ele depois. Sem muita vontade de voltar para casa, ela aceitou de bom grado. Se sentiu aliviada ao poder tirar toda a tinta do corpo e do cabelo e vestir uma camiseta de depois junto com o short de ginástica que levava na mochila.
— Minha sorte é que minha mãe aceita que sou um péssimo cozinheiro e tem dó de mim. Então sempre deixa alguma coisa preparada antes de ir trabalhar. — explicou enquanto entregava o prato à . Eles se serviram e foram até a sala por insistência dele. Se sentaram no chão encostados no sofá e ele colocou um filme para rolar.
— A comida da sua mãe é muito boa. Me fez lembrar da minha. — sorriu com a lembrança da mais velha e de todos os almoços em família que passavam.
— Sente muita falta dela? — ignorou a televisão e a encarou curioso. Eles não costumavam tanto conversar sobre suas vidas íntimas. Os assuntos sempre envolviam os amigos, a escola ou relacionamentos.
— Todos os dias, mas não só dela. Meu pai e meu irmão também fazem meu coração apertar a cada vez que me lembro deles. — a garota confessou, rinco fraco com a imagem de seu irmão pequeno sorrindo em sua mente. — Nossa família sempre foi muito unida graças à minha mãe. Ela sempre bateu na tecla que devíamos fazer tudo juntos e estar presentes em todos os momentos importantes da vida de cada um. De tanto escutar, todo mundo lá em casa acabou tomando isso pra si, sabe? Foi um sacrifício pra eles nos deixarem vir.
— Eu nasci na Inglaterra na verdade. Morei meu primeiro ano de vida lá antes de nós termos que nos mudar para cá. — começou a contar sua parte da história. Parou de comer e ficou apenas brincando com o garfo no prato distraído, vez ou outra encarando a amiga com um sorriso tímido. — Eu era pequeno e não tinha noção de nada, mas sei que foi um período complicado pros meus pais só de ver e ouvir eles contarem sobre aqueles primeiros anos. Todos os nossos parentes ficaram lá, então ficamos nós por nós mesmos. Isso fez com que nos tornássemos unidos também.
— Quer dizer então que é britânico? — abriu a boca surpresa e soltou uma risada depois. — Deixa só a saber disso.
— Pois é, mas não tenho nem o sotaque pra parecer mais verídico já que saí de lá cedo. — ele deu de ombros e se virou para a encarar em dúvida depois de ter pensado no que ela tinha falado. — E o que tem a ver a nisso?
— Ela sempre disse que os britânicos são os mais encantadores e sei lá o que. Inclusive se corrigiu depois que te conheceu, falando que vocês conseguiam chegar ao mesmo nível facilmente. — sorriu de lado e rolou os olhos ao ver o amigo adquirir uma expressão convencida no rosto.
— Imagina então quem é um pouco de cada. Isso sim é sensacional. — estufou o peito exagerado e sorriu malicioso.
— Você não vale nada. — ela negou com a cabeça enquanto ria com ele e emendavam um novo assunto bobo na conversa.
andou até a cozinha ao notar que era a única parte da casa com barulho. Havia ficado com apenas mais o tempo do filme que passava terminar. Foi o caminho para casa todo rindo sozinha enquanto se lembrava das piadas e bobeiras do amigo. Seu dia tinha sido transformado e resgatado totalmente por em questão de pouco tempo e ela era muito grata por isso. Entrou na cozinha e encontrou a irmã encostada na pia enquanto lavava algumas louças e uma música calma tocava em seu celular na mesa.
— Cheguei! — a caçula falou depois de notar que sua irmã não havia percebido que estava ali.
— Aaaa! Puta merda, ! Quer me matar de susto? — deu um pulo no lugar onde estava e fez respingar água ao seu redor com o susto que tomou. Só então se virou e encarou a irmã com os olhos arregalados. — Desde que horas você tá aí?
— Acabei de chegar. — deu de ombros e soltou a risada que prendia com a cena. — Desculpe, achei que tivesse ao menos escutado a porta sendo aberta.
— Não ouvi. — deu de ombros e secou a mão no pano. Tinha terminado com as louças e seguiu para sala, pegando o celular no caminho e desligando a música. Se jogou no sofá e foi imitada pela irmã. — Que roupas são essas?
— Precisava me trocar depois que tomei banho na casa do . Ele me levou no paintball e saímos de lá imundos. — explicou enquanto se esticava no sofá, colocando os pés em cima das coxas da irmã, ignorando sua reclamação.
— Entendi… — afirmou leve com a cabeça e desviou a atenção para o controle, ligando a televisão e começando a zapear os canais. As duas caíram num silêncio desconfortável que conheciam bem.
— Anda logo, . Conta o que você quer conversar. — rolou os olhos e se deu por vencida. Sabia que a primogênita estava se segurando para não tocar no assunto que estava na sua cabeça. Provavelmente passaria o dia estranha para não obrigar a ter que falar sobre aquilo, mas ao mesmo tempo sem conseguir disfarçar a vontade de comentar.
a encarou de rabo de olho, provavelmente pensando se falava ou não, mas soltou o sorriso que prendia ao ver que afirmava com a cabeça em um indicação para que ela falasse. Se virou no sofá animada e desatou a contar.
— Quando a gente chegou na mesa, o ficou todo sem graça e a Karol demonstrou que ia levantar, mas o Dylan convenceu de que não precisava. Ele demonstrou que estava super afim de conversar com ela, mas na verdade só queria ver a interação dela com o de perto. — apoiou o braço no sofá e encostou a cabeça. O resquício de sorriso que tinha no rosto sumiu e ela ficou séria. — Ele percebeu de cara que você não tava lá, mas não sei se pensou que você tinha visto eles ou não. De qualquer maneira não perguntou nada. — apenas escutava séria sem saber o que sentir. A raiva que havia passado de manhã parecia ter levado todo resquício desse sentimento.
— Eles estão juntos ou estavam apenas conversando? — perguntou e fez uma careta rápida.
— Não sei...Me parecia que não era a primeira vez que estavam conversando depois de tudo. — deu de ombros e ficou em silêncio por um tempo. Olhava para baixo quando mordeu o lábio e depois voltou a falar. — Estando juntos ou não, tiveram intimidade suficiente pra se despedirem com um beijo no canto da boca que eu vi.
— Entendi… — se sentia completamente louca de TPM e especialmente naquele momento. Só na metade desse dia já tinha surtado de raiva, chorado de emoção, rido muito enquanto se divertia e agora se sentia apenas uma caixa oca. Nenhuma expressão, nenhuma pontada de sentimento exaltada. — A única coisa que passa pela minha cabeça agora é que estou muito cansada depois de toda a correria que passei com .
— Pra onde vocês foram mesmo? — aproveitou o gancho pra mudar de assunto. Já havia contado o que queria, não precisavam se manter naquela conversa quando sabia que não trazia benefícios nenhum pra irmã.
— Ele me levou num paintball. Foi bem legal. Nós jogamos por um bom tempo. — contou com um sorriso animado no rosto.
— Parece ter sido ótimo mesmo, queria ter ido mas eu precisava ir pra aula pegar o conteúdo pra você, se não provavelmente você morreria depois que se tocasse que faltou a aula de história. — rolou os olhos, mas não conseguiu segurar o riso ao ver a expressão de pânico na cara da irmã.
— Eu esqueci completamente disso! Diz que ele não cobrou aquele relatório ou que pelo menos passou pouco conteúdo. — se endireitou no sofá e prendeu o cabelo em um coque. Estava realmente preocupada com aquele assunto, sabia bem como o professor conseguia ser rígido. A raiva durante a manhã foi tanta que nem se importou de conferir quais as aulas do dia que perderia.
— Você sabe que normalmente eu já não entendo nada que ele explica, né? Mas como eu sei que você é esforçada, vai entender tranquilamente minhas anotações. Não foi uma aula tão importante. — deu de ombros despreocupada e viu a irmã respirar aliviada. Aproveitou para mudar de assunto. — O que acha da gente ligar lá em casa? Bateu uma saudade hoje…
— É sempre uma ótima ideia. E a mãe vai ficar até mais feliz pela iniciativa surpresa. — comentou animada.
— Sem contar que ontem teve almoço lá no tio Marcos. Deve estar cheia de fofocas pra contar. — riu ao lembrar das vezes em que ela e a irmã passavam horas na cama com a mãe apenas comentando sobre a família. — Vou buscar o notebook.
ficou com um sorriso nostálgico preso no rosto também com a lembrança. Se perdeu em pensamento naquele assunto e lembrou da conversa com mais cedo. Tudo parecia fazer sua saudade apertar naquele dia e ela só queria poder passar alguns dias com seus pais, mas sabia que seria um gasto muito grande para o momento que não estavam preparados. Sem falar que faltavam pouquíssimos meses para que fossem embora dali e estivessem de volta ao Brasil. O pensamento a confortou e ao mesmo tempo alfinetou seu coração. Parecia que só ali ela tinha se tocado de que o seu tempo em São Francisco era contado e que ela não teria outras oportunidades para aproveitar da forma que realmente queria. voltou pra sala a tirando de seus pensamentos, mas continuou com a cabeça martelando naquilo durante todo o resto do dia.
Era final da tarde e estavam todos, com exceção de , reunidos para aguardar a resposta da última gravadora restante. Tinham finalizado e entregado o EP uma semana antes. A maioria das respostas que tiveram foram negativas ou desanimadoras, sempre relacionadas a não serem o estilo de artistas que estavam procurando no momento ou pelo local não estar aberto a novos contratos naquele período. A única que não havia dado uma resposta definitiva tinha marcado uma reunião para aquele dia para falar sobre o assunto. era quem tinha ido junto com o amigo que tinha gravado o EP. estaria trabalhando no horário da reunião e os outros dois estariam na escola. É claro que tentou convencer os professores a adiarem as provas do dia, mas só serviu para se irritar já que todos se mostraram irredutíveis.
Agora, estavam todos ali na casa de aguardando a volta de da tal reunião. ainda vestia o uniforme de líder de torcida, afinal tinham ido para lá direto da escola. E tinha chegado a poucos minutos xingando de todos os nomes seu chefe que havia o liberado apenas naquele horário. rolou os olhos ao ver que não conseguiria fazer ficar quieto e voltou a se sentar na poltrona. Aproveitou a posição para observar de longe, ele estava visivelmente apreensivo e ela estava se sentindo sufocada com a briga interna que travava entre querer se aproximar para o confortar e se obrigar a se manter longe. Haviam tido a conversa final sobre eles há exatamente uma semana. Tinham sobrevivido bem aos questionários indiscretos dos amigos e a todas as aulas que tiveram juntos, mas era a primeira vez que se encontravam fora do ambiente escolar depois de tudo. poderia confirmar com toda sua certeza que estava sendo uma fase ainda mais difícil do que a da época em que ainda tentava o conquistar, afinal agora conhecia o beijo e companhia boa da qual tivera que se afastar. Era um sentimento de saudade que chegava a machucar, mas ela trabalhava bem isso em si para que os mais próximos não notassem.
Não estava sendo fácil para também, mas além de saber disfarçar bem, ele também tinha dramas maiores para lidar, como descobrir de fato o que seu coração queria. Ou melhor dizendo, quem queria. Ele perdera a conta de quantas noites mal dormidas vinha tendo e não sabia pensar em mais nada além do fato de que estava com saudades de e que sentia algo por Karol que o fazia querer se aproximar novamente dela também. Na realidade, a resposta da gravadora havia sido a única coisa que distraiu sua mente desde a conversa com . Os dois evitavam sentarem próximos pois sabiam que as chances de um clima desconfortável ser estabelecido era grande. Além disso, sentiam que deviam espaço um para o outro para lidarem das suas formas com esse rompimento de relação que tiveram.
— Já era para ele estar aqui. — passou a mão pelo rosto com uma expressão impaciente. cruzou as pernas e desviou o olhar, tentando controlar o próprio corpo e pensamentos que pareciam a forçar a ir até o garoto.
— Pensamento positivo, galera. A demora pode ser pelo fato de ele estar acertando tudo já com a gravadora. — Dylan sorriu esperançoso.
— O celular continua desligado. — informou desanimada e jogou o celular no sofá antes de se levantar e parar em pé na frente de todos. estava no sofá que ela ocupava anteriormente, Dylan, e no outro sofá e em uma das poltronas. — Escutem o que Dy falou, vamos ter pensamentos positivos. Acredito que eles não iriam demorar esse tempo todo para dizer um não.
— Sem contar que se eles marcaram essa reunião e não apenas responderam por ligação ou email, provavelmente tinham coisas importantes a falar. — também levantou e parou ao lado da irmã. Encarou , e com a sobrancelha arqueada e bateu palma para chamar atenção deles já que todos pareciam estar com os pensamentos perdidos. — Ei! Vocês são ótimos, confiem mais no potencial de vocês!
— Gente… — começou a falar desanimado negando com a cabeça, mas foi logo interrompido por Dylan.
— Gente nada! Levantem daí, vamos! — ele foi até o sofá onde eles estavam e puxou um por vez os obrigando a ficar de pé. — Vamos nos ocupar até que o volte em vez de ficarmos nos corroendo de ansiedade.
— Não ocupando a minha boca com a de vocês, por mim tudo bem. — brincou sorrindo minimamente.
— Eu não te daria esse benefício de provar do meu beijo. — Dy soltou uma piscadela divertida fazendo todos os outros rirem.
— Agora sim tô vendo os meus amigos e não um bando de gente molenga. — tentou fazer um high five em grupo com os três mas acabou virando uma confusão de braços entrelaçados e tapas em qualquer lugar, menos nas mãos.
— A gente podia assistir um filme ou jogar alguma coisa… — deu de ombros.
— Striper Poker! — falou animado, arrancando uma risada dos garotos e um rolar de olhos das garotas. — Que foi? Vocês não queriam nos ver animados?
— Sim, mas eu tava pensando em deixar animado o estado de espírito de vocês e não o...
— Epa! Vamos deixar esse jogo de lado e pensar em outra coisa que é melhor. — Dy interrompeu antes que ela pudesse concluir a frase.
— Acho que tenho um baralho em algum lugar aqui em casa, podemos jogar qualquer outra coisa que não envolva tirar a roupa. — deu de ombros.
— Ou então nós podemos apelar pro Just Dance. — deu um sorriso malicioso e indicou o video game próximo a televisão.
— Apoiado! — as gêmeas falaram juntas animadas sem se preocupar em esconder a preferência.
— Argh, vamos logo com isso se não elas não se contentarão. — rolou os olhos teatralmente para transparecer que estava sendo obrigado a fazer aquilo, mas não conseguiu conter um sorrisinho de canto.
Decidiram então pelo Just Dance sem mais problemas. Ligaram tudo e definiram as ordens das duplas. Estava tudo no ponto: e esperando a contagem regressiva terminar e iniciar Hot N Cold e todos os outros de fora com os celulares a posto para gravar as melhores partes que virariam meme na mão deles depois. Os dois da vez mal tinham feito dois passos diferentes quando a campainha soou e abriu a porta. , e se levantaram automaticamente e ficaram em silêncio o encarando, esperando pela notícia, mas ele ainda entrou na casa e deu espaço para que mais um garoto entrasse com ele. Os dois seguiram até onde todos estavam e lançou um sorriso pequeno para todos antes de seguir até a namorada e a cumprimentar com um selinho.
— E aí, galera. — ele finalmente cumprimentou a todos e se dirigiu às gêmeas e Dylan. — Gente, esse é meu amigo James. James, essa é minha namorada , minha amiga e irmã dela e ele é o Dylan.
— Prazer! — James acenou para todos meio tímido e depois foi cumprimentar os demais com um toque esquisito que eles pareciam saber muito bem. — E aí, caras!
— Oi, James! — cumprimentaram juntos, tentando serem os mais simpáticos possíveis que a ansiedade permitia.
— E então? — foi direto sem conseguir disfarçar o nervosismo.
— O que decidiram? — questionou em seguida.
— Eles não querem, né? — perguntou em tom retórico desanimado, se jogando no sofá.
— Calma aí, galera! — fez sinal para que eles ficassem quietos. Todos os demais na sala permaneceram em silêncio apenas assistindo tudo, também estavam ansiosos e nervosos, mas entendiam que aquele era o momento dos quatro. passou a mão pelo cabelo e se sentou, vendo os outros o imitarem. Ele respirou fundo e apoiou os cotovelos na perna, se inclinando para frente e lançando um sorriso pequeno. — Bom, eles curtiram muito o nosso som e estilo, falaram muitos elogios durante a reunião toda…
— Então eles aceitaram? — ficou de pé animado.
— Fica quieto, . Deixa o explicar. — puxou o amigo pra se sentar de volta, ficando em silêncio novamente e voltando a encarar .
— Eu fiz a mesma pergunta pra eles depois de tanto elogio e foi aí que veio a parte complicada. — respirou fundo e encostou as costas no sofá, passou o braço pelas costas de ao notar que ela havia sentado ao seu lado no braço do móvel. — Eles falaram que não podem fechar contrato com a gente porque eles são uma gravadora especialista em uma área de produção, então só pegam artistas do mesmo estilo e gênero, que não é o nosso caso…
— Que merda, cara. — passou a mão no rosto e bufou.
— Melhor esperar ele contar a história toda antes de já ir lamentando. — James o cutucou de leve com o cotovelo pra chamar sua atenção de volta pro assunto.
— Isso, me deixem falar tudo de uma vez! — rolou os olhos com tédio. — Enfim, eles falaram tudo isso e eu já tava quase saindo chorando da sala, mas tem um porém nisso tudo. O dono da gravadora é sócio de um grupo maior de produtoras e gravadoras, essa é só uma delas. Então, como ele gostou muito do nosso som, ele vai encaminhar nosso material pro sócio dele que pega bandas do nosso estilo. Ele garantiu que teremos uma resposta positiva e talvez até um contrato a ser assinado até o fim do ano. Então, caras, nós temos nossa primeira oportunidade de verdade.— não conseguiu controlar o sorriso grande ao anunciar a parte boa daquela conversa.
A primeira reação dos três foi ficar com a boca aberta em expressão de choque por uns segundos, mas então quando a ficha finalmente caiu foi uma mistura de pulos, abraços, xingamentos e dancinhas que incluíram James, Dylan e as gêmeas.
Em algum momento de toda essa comemoração e foram parar um de frente para o outro e um pouco mais distantes dos amigos que estavam distraídos. Ela mordeu o lábio indecisa, mas acabou se deixando levar e pulou pra um abraço com . Sentir os braços fortes dele a envolvendo novamente a fez perceber o tamanho da saudade que estava sentindo.
— Eu falei que ia dar certo! Sempre confiei no talento de vocês. — ela aproveitou a posição para falar sem que tivesse que encarar aqueles olhos castanhos.
— Obrigado, . De verdade. — foi o que ele conseguiu dizer antes de se afastar e a encarar com um sorriso tímido.
A interação entre os dois durou menos de um minuto e foi o suficiente para que os amigos atrapalhassem em seguida, pulando neles enquanto cantavam alguma música que inventavam na hora. O sentimento presente era de conquista, afinal por mais que não tivessem a certeza de um contrato naquele momento, terem uma oportunidade com um contato da área já era mais do que tiveram durante toda a vida. Por isso, se permitiram comemorar como crianças durante o resto do dia.
O sinal do intervalo tocou e automaticamente o corredor se encheu de conversas e alunos. , e Dylan saíram por último da sala de artes e seguiram o fluxo para o refeitório.
— Eu simplesmente não consigo acreditar que a professora teve coragem de nos passar uma prova surpresa tão difícil assim. — reclamou e cruzou os braços brava.
— Alguém aqui não está no melhor humor hoje. — Dylan ironizou dando uma risada no final, mas passou o braço pelo ombro da caçula em um abraço depois de notar o olhar cortante que ela o lançou.
— Péssimo dia para TPM, mana. — também provocou a mais nova, mas mandou um beijo em seguida para mostrar que era mais implicância. — Mas eu também estou bolada com isso. Ela era pra ser a mais boazinha daqui, agora vou ter que me esforçar em dobro no trabalho.
— Sim! — concordou como se finalmente alguém entendesse onde ela queria chegar.
— Relaxem, garotas. Nós iremos dar conta. — Dylan as abraçou em conjunto e as soltou quando chegaram na porta do refeitório. — Vamos apenas esquecer isso por hora e ficar conversando coisas inúteis com aquela dupla de doidos que chamamos de amigos.
As duas confirmaram em um aceno e entraram no espaço, já indo até a mesa que sempre ficavam. podia ouvir Dylan e comentando sobre alguma postagem de um cantor famoso que havia confessado sobre seu romance secreto, mas mal prestava atenção. Sua TPM realmente estava a matando naquele dia desde que acordara. Em poucas horas já havia sentido vontade de estrangular metade das pessoas que passavam na sua frente e de chorar por bobeiras como ter esquecido sua caneta em casa. Tentou prestar atenção no caminho pra esquecer as coisas que dançavam em sua mente e se sentiu melhor quando avistou de longe. Era sempre bom poder contar com o amigo pra rir de algumas besteiras e deixar de lado seus próprios pensamentos. Já ia apressar o passo para pular ao seu lado na cadeira quando notou que ele a encarou de volta, mas de maneira meio assustada. Parecia até estar se esforçando para não surtar. ergueu uma sobrancelha e continuou andando, só então escutando os muxoxos da irmã e Dylan ao seu lado.
— Sério que demorou só uma semana? — perguntou em tom sarcástico, rolando os olhos em seguida.
— , é só a gente ficar conversando sobre outra coisa. Podemos tratar isso com indiferença. — Dy tentou parecer calmo, mas não conseguiu disfarçar o sorriso amarelo que lançava.
— Do que vocês estão falando? — perguntou impaciente sem entender muita coisa e seguiu o olhar de Dylan que indicava sua mesa. Só então, com um cara alto saindo da frente, ela conseguiu avistar ao lado de conversando animado com Karol na mesa. Na mesa que ela sentava. Ela e seus amigos. E só. Balançou a cabeça e soltou um riso baixo incrédulo. — Hoje, não.
Apenas deu meia volta e ignorou as vozes de Dylan e . Apertou o passo e saiu do lugar, andando sem realmente pensar para onde estava indo. Provavelmente se fosse em outro dia, apenas se sentaria à mesa morrendo por dentro e ficaria triste consigo mesma como sempre fazia. Mas especialmente naquele momento só conseguia sentir raiva e vontade de bater nos dois, principalmente em . Que merda de amigo era aquele que não conseguia respeitar nem seu tempo? Ele poderia se atracar com Karol em qualquer outro lugar. Por que logo na sua mesa? O único lugar que ficavam todos juntos distraindo.
— Idiota! — ralhou consigo e só então percebeu que havia chegado à beira do jardim.
Deu meia volta e começou a subir as escadas mais próximas. O jardim era bonito demais para seu surto de raiva. Continuou subindo os degraus sem parar e só quando já estava sem fôlego avistou o final com uma porta enferrujada. Lembrou de Dylan e falando daquele lugar e forçou o ferro, saindo pelo espaço e dando de cara com o terraço vazio daquele bloco. Só então se permitiu respirar fundo e parar.
Sentiu seus pés darem passos mais lentos dessa vez e se aproximou da mureta mais a frente. O concreto batia na altura de sua barriga e dali ela tinha a vista de boa parte dos bairros mais próximos à escola. Respirou fundo e se permitiu se acalmar aos poucos. Não sabia se a culpa era somente de seus hormônios a mil, mas não conseguia explicar ou conter aquela frustração repentina ou muito menos saber o que pensar naquela hora. Só queria esvaziar a mente. Então, fechou os olhos e se concentrou para escutar os sons ao seu redor: carros ao longe, alguns pássaros da árvore próxima e pessoas circulando pela rua. Gostava daquela sensação de apenas escutar, principalmente quando o ambiente era calmo como ali. Já tinha até normalizado as batidas do coração e a velocidade com que respirava quando tudo voltou ao máximo com o som da porta de ferro se abrindo tão de repente.
Virou de uma vez para conferir quem era sua companhia, já esperando por e Dylan. Estava pronta para os colocar pra fora quando deu de cara com um sorrindo amarelo a alguns passos de distância.
— Prometo que vim em paz. — ele ergueu as mãos na altura dos ombros e soltou um riso fraco de lado. Ao notar que não o contrariaria e apenas tinha virado de costas, se aproximou. Foi até ela e ficou parado ao seu lado sem saber o que dizer, sabia que a amiga estava com raiva só pelos comentários de Dylan e ao chegarem na mesa. De certo, tentar abordar aquele assunto de cara não fosse a melhor ideia. — Sabe, estava pensando. Nunca levei você e a pra conhecer um dos meus lugares favoritos daqui.
— E onde seria? — entrou na conversa ao entender que ele tentaria a fazer pensar em outra coisa.
— Não espere muita coisa, ok? — ele avisou envergonhado. — É um paintball perto da minha casa. Costumava ir lá todos os fins de semana com meu pai quando nós não tínhamos tantos compromissos na vida.
— Eu nunca fui num paintball. — ela deu de ombros e o encarou sugestiva.
— Seria bom pra você descarregar essa energia ruim que tá te rondando. — piscou divertido, entendendo onde iriam chegar com aquela conversa.
— Você é sempre tão delicado, . — rolou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso que insistia em despontar.
— Então? Vamos aproveitar que os corredores estão vazios ou quer fazer do jeito mais difícil? — ele indicou a porta atrás de si.
Em questão de segundos eles saíram do terraço aos risos e começaram a atravessar a escola. Tentaram ser os mais discretos que conseguiram ao irem pegar as mochilas no armário, mas ainda assim precisaram se esconder por um tempo no banheiro feminino (sob muito protesto de , claro). Quando enfim conseguiram correr pelos fundos do colégio, escutaram o sinal indicando o final do intervalo tocar ao longe. Apenas se encararam divertidos e correram mais rápido ainda. De acordo com , que tinha experiência no assunto, o sinal indicava também que os assistentes da escola estariam de volta aos seus postos e poderiam acabar os vendo.
No total, foram necessários por volta de dez minutos para que estivessem afastados da escola e em segurança. Foi o momento que teve para pegar o celular e enviar uma mensagem à avisando que havia saído com . A irmã àquela altura já teria rodado todo canto atrás dela. e andaram por cerca de vinte minutos, afinal nenhum dos dois estavam de carro e o tal paintball não era tão próximo.
— Então é aqui o seu lugar. — comentou ao pararem em frente ao local. Ela aproveitou para observar o quanto conseguia. Parecia bastante velho e vazio.
— Eu disse pra não esperar muito. — lançou uma risada fraca e passou na frente, abrindo a porta e dando espaço para que ela entrasse.
Os dois entraram no espaço simples e tomou a frente, indo direto ao homem no balcão e solicitando a preparação pro jogo. preferiu ficar mais atrás apenas observando o que o amigo iria fazer.
— São apenas vocês dois? — o homem perguntou sem muita animação e negou com a cabeça ao ver confirmar. — Estamos sem outros jogadores agora para fechar time. Melhor vocês voltarem outra hora.
— A Suzan está aqui? — perguntou despreocupado e ignorou o que ele havia falado.
— Ela tá viajando, mas acho que eu posso resolver seu problema. — um rapaz alto saiu pelo corredor lateral atrás do atendente falando sério. já tinha certeza de que iriam ser despachados dali quando ele abriu um sorriso largo e estendeu a mão pra . — Achei que não fosse mais aparecer por aqui.
— Estive um pouco ocupado esse mês. — o cumprimentou também com um sorriso largo. Os dois pareciam se conhecer há um bom tempo e ter certa intimidade.
— E a amiga? Não vai apresentar? — o rapaz foi mais para o lado para finalmente poder ficar de frente à . Ele a encarou descaradamente enquanto os apresentava e eles apertavam as mãos.
— Sam, essa é a . , esse é o Sam, um velho amigo meu. — voltou ao foco ao notar que a amiga havia ficado envergonhada. — Mas e aí, será se rola aquele esquema de um contra um?
— Hoje eu vou deixar só porque você tá bem acompanhado. — Sam lançou uma piscadela e foi de volta para o corredor, fazendo sinal para que o seguissem. — Venham logo se preparar.
apenas seguiu os dois pelo corredor ainda calada e ignorou a olhada de . Já tinha percebido que Sam faria o tipo direto e engraçadinho pra cima dela, mas especialmente naquele dia ela não estava com tanta paciência pra isso. Só queria sentir adrenalina no corpo e se esvaziar da raiva que ainda apertava seu peito.
O local era maior do que parecia e o corredor acabou em uma espécie de vestiário. Uma parede era totalmente ocupada por prateleiras com equipamentos que ela não conseguiu decifrar de primeira e no outro lado três cabines tomavam espaço.
— Vocês vão jogar com essa roupa mesmo? — Sam indicou as calças jeans e camisetas que vestiam.
— É o jeito. Você tem pelo menos um casaco aí, ? Só pra tentar amortecer o impacto do tiro na pele. — passou a mão pelo cabelo e a encarou levemente preocupado. Tinha esquecido que estavam indo direto da escola e que não estavam com as roupas mais adequadas.
— Não, saí sem o meu hoje. — ela deu de ombros e encarou os dois em dúvida. — Vai machucar assim?
— O tiro só machuca se for lançado de muito perto e direto na sua pele. Pra sorte de vocês, eu tenho alguns casacos reservas que uso pra jogar aqui, posso emprestar. — Sam foi até uma mochila na prateleira sem esperar por uma resposta e puxou de lá os casacos, entregando um pra cada. Eles também pegaram coletes, máscaras, luvas, joelheiras e cotoveleiras. Os dois se vestiram e equiparam enquanto Sam pegava as chaves e preenchia o cadastro deles.
Alguns minutos depois e já estavam em um terreno grande aberto cheio de barris, muretas, carros velhos e o que mais desse para se esconder atrás. Sam explicou que o certo eram jogadas de times com mais pessoas, mas como estavam apenas em dois, as jogadas seriam diferentes. Ele colocaria uma bandeira de cada lado do terreno e cada um teria que proteger a sua e tentar pegar a do adversário. O objetivo era pegar a bandeira primeiro ou impedir que o adversário pegasse a sua antes que gastasse todos os tiros que tinha. Sam ficaria responsável por ser o juiz e julgar quando algum participante trapaceasse no jogo.
Só então eles começaram a jogar. demorou pra pegar o jeito e conseguir sair do esconderijo onde estava. Só quando estava muito próximo de sua bandeira que ela conseguiu reagir. ou alguns tiros e caiu ou tropeçou algumas vezes enquanto tentava fugir do amigo. Como esperado, perdeu a primeira partida facilmente para , ele claramente tinha experiência naquilo e uma série de estratégias quando a dela era apenas não se desesperar ou não entrar em uma crise de risos enquanto era atacada. Ainda perdeu duas partidas antes de finalmente ganhar uma. Não conseguiu pegar a bandeira, mas fez gastar todos os tiros sem conseguir pegar a sua graças a algumas dicas que Sam a passou enquanto o amigo recarregava a arma no intervalo. No final de tudo estavam suados, cansados, completamente sujos de tinta e terra, mas muito satisfeitos.
— Eu devia imaginar que o Sam ia roubar pra você. — rolou os olhos dramático enquanto os três voltavam à entrada do estabelecimento.
— Ele não roubou nada. Você que não aceita perder uma partida sequer. — o empurrou pelo ombro divertida.
— Mas eu ainda tinha o direito de tentar pegar a bandeira e ele simplesmente encerrou a partida. — reclamou enquanto apontava o dedo para Sam.
— Cara, não acredito que você tá tentando ir contra as regras que você mesmo ajudou a criar. — Sam cruzou os braços e parou quando chegaram ao balcão. Ele e tinham sorrisos divertidos no rosto ao notar que realmente estava levando tudo a sério.
— Não quero mais falar sobre isso, vocês estão de complô contra minha pessoa maravilhosa.
— Melhor ficar calado mesmo. Agora, vamos embora porque já estou morrendo de fome. — deu alguns tapinhas nas costas do amigo, indicando a saída e começando a andar para lá. Se virou para acenar para Sam. — Tchau, Sam!
— Volte mais vezes, . É divertido te ver cair...Opa, quis dizer jogar. — Sam acenou de volta e lançou uma última piscadela.
— Olha, não vou ficar repetindo pela milésima vez que aquela máscara tira toda minha visão periférica. — ela rolou os olhos fingindo estar sem paciência quando na verdade se divertia e saiu do local com o amigo a tempo de escutar apenas a gargalhada de Sam lá de dentro. Após iniciar o jogo, sua raiva foi amenizando e ela o foi achando mais legal e atraente e menos irritante como achou que seria.
— Você sabe que ele gostou de você, né? — interrompeu o silêncio da caminhada depois de um tempo. Ele a deu um leve empurrão pelo ombro e a encarou malicioso.
— É, percebi um pouco. — ela deu de ombros e ignorou a risada de . Não era porque o tinha achado legal que iria dar brecha para o amigo se aproveitar disso. O silêncio voltou a pairar por alguns minutos até ela se sentir confortável em falar o que realmente passava em sua mente. Se virou para encarar o amigo com um olhar singelo. — Muito obrigada, . Eu teria surtado hoje se não fosse você.
— Não precisa agradecer, . Eu só quero que você fique bem, assim como sei que você deseja isso pra mim. Não sei tanto a respeito do que rola como a e o Dylan, mas consigo ficar por dentro. E sei que são situações difíceis, mas a gente vai se ajudando, ok? É bem melhor do que enfrentar sozinha. — ele falou de forma calma e soltou uma risada fraca ao sentir a amiga se lançar contra ele em um abraço com os olhos marejados. — Ah, você não vai chorar né, ? Não era essa a intenção.
— Eu estou na TPM e você foi muito fofo agora. Não consegui controlar. — ela falou contra o peito dele, aproveitando para esconder o rosto até conseguir voltar ao normal. Mordeu o lábio e o encarou sem jeito ao se afastarem e voltarem a andar. — Sabe, , você é uma das minhas melhores alegrias de ter vindo pra São Francisco. A gente não costuma conversar muito sozinhos ou mesmo passar tempo juntos sem os outros, mas eu sinto que a amizade que a gente tem eu não tive com nenhum outro cara.
— Eu te entendo porque sinto o mesmo, . Deve ser porque nós somos idiotas iguais, aí conseguimos ter essa ligação fortíssima. — ele fez piada do assunto, arrancando uma risada dela. Eles caminhavam sem pressa pela rua e ignoravam os olhares das poucas pessoas pelas quais passavam. Estavam muito sujos e provavelmente parecendo bem esquisitos rindo a todo momento, mas não ligavam.
— Mas então, me explica aí o motivo de toda a intimidade com o Sam e porque você tem tanta moral naquele lugar. — puxou o assunto ao lembrar que havia ficado meio perdida de início ao ver que conseguiriam jogar mesmo contra a vontade do atendente.
— Como eu disse mais cedo, costumava ir ao paintball quase todos os fins de semana com meu pai desde mais novo. Mas como deve ter percebido, não é um jogo muito indicado para crianças. — ele apontou para a marca vermelha no braço da garota que apenas concordou e riu. — Então, graças à amizade do meu pai com a Stela, a dona, ele conseguiu que nós sempre pudéssemos ter um horário apenas pra nós dois. Ele saberia como jogar comigo sem me deixar machucar e ainda assim podendo nos divertir. Mas ninguém jogava com apenas duas pessoas lá, então tivemos que criar o nosso próprio modo e regras de jogar, que foi o que fizemos hoje. Como viramos clientes frequentes, adquirimos uma moral lá dentro, todos os sábados nossos horários ficavam reservados para caso aparecêssemos e ninguém atrapalhasse.
— E o Sam é filho da Stela. — ela chutou.
— Na verdade é sobrinho, mas ela não tem filhos então cuida dele como um. Ele morava em Los Angeles e sempre vinha passar as férias com a tia. Como eu vivia lá no paintball e a Stela já conhecia minha família, ela uma vez perguntou se eu não poderia brincar com o Sam já que ela estava preocupada em fazer o garoto perder as férias sozinho dentro daquele paintball ou em casa. A partir daí a gente ficou bem amigos. Ele se formou ano passado e resolveu passar um ano aqui antes de tomar algum rumo na vida.
— É uma história interessante. — ela lançou um sorriso pra ele.
— E uma pessoa interessante também. — rebateu sem conseguir controlar a risada. apenas rolou os olhos e segurou o riso. Sabia que o amigo estava apenas a provocando.
Os dois andaram mais um pouco e chegaram até a casa de . Ele ofereceu pra que ela entrasse, tomasse um banho e almoçasse com ele depois. Sem muita vontade de voltar para casa, ela aceitou de bom grado. Se sentiu aliviada ao poder tirar toda a tinta do corpo e do cabelo e vestir uma camiseta de depois junto com o short de ginástica que levava na mochila.
— Minha sorte é que minha mãe aceita que sou um péssimo cozinheiro e tem dó de mim. Então sempre deixa alguma coisa preparada antes de ir trabalhar. — explicou enquanto entregava o prato à . Eles se serviram e foram até a sala por insistência dele. Se sentaram no chão encostados no sofá e ele colocou um filme para rolar.
— A comida da sua mãe é muito boa. Me fez lembrar da minha. — sorriu com a lembrança da mais velha e de todos os almoços em família que passavam.
— Sente muita falta dela? — ignorou a televisão e a encarou curioso. Eles não costumavam tanto conversar sobre suas vidas íntimas. Os assuntos sempre envolviam os amigos, a escola ou relacionamentos.
— Todos os dias, mas não só dela. Meu pai e meu irmão também fazem meu coração apertar a cada vez que me lembro deles. — a garota confessou, rinco fraco com a imagem de seu irmão pequeno sorrindo em sua mente. — Nossa família sempre foi muito unida graças à minha mãe. Ela sempre bateu na tecla que devíamos fazer tudo juntos e estar presentes em todos os momentos importantes da vida de cada um. De tanto escutar, todo mundo lá em casa acabou tomando isso pra si, sabe? Foi um sacrifício pra eles nos deixarem vir.
— Eu nasci na Inglaterra na verdade. Morei meu primeiro ano de vida lá antes de nós termos que nos mudar para cá. — começou a contar sua parte da história. Parou de comer e ficou apenas brincando com o garfo no prato distraído, vez ou outra encarando a amiga com um sorriso tímido. — Eu era pequeno e não tinha noção de nada, mas sei que foi um período complicado pros meus pais só de ver e ouvir eles contarem sobre aqueles primeiros anos. Todos os nossos parentes ficaram lá, então ficamos nós por nós mesmos. Isso fez com que nos tornássemos unidos também.
— Quer dizer então que é britânico? — abriu a boca surpresa e soltou uma risada depois. — Deixa só a saber disso.
— Pois é, mas não tenho nem o sotaque pra parecer mais verídico já que saí de lá cedo. — ele deu de ombros e se virou para a encarar em dúvida depois de ter pensado no que ela tinha falado. — E o que tem a ver a nisso?
— Ela sempre disse que os britânicos são os mais encantadores e sei lá o que. Inclusive se corrigiu depois que te conheceu, falando que vocês conseguiam chegar ao mesmo nível facilmente. — sorriu de lado e rolou os olhos ao ver o amigo adquirir uma expressão convencida no rosto.
— Imagina então quem é um pouco de cada. Isso sim é sensacional. — estufou o peito exagerado e sorriu malicioso.
— Você não vale nada. — ela negou com a cabeça enquanto ria com ele e emendavam um novo assunto bobo na conversa.
andou até a cozinha ao notar que era a única parte da casa com barulho. Havia ficado com apenas mais o tempo do filme que passava terminar. Foi o caminho para casa todo rindo sozinha enquanto se lembrava das piadas e bobeiras do amigo. Seu dia tinha sido transformado e resgatado totalmente por em questão de pouco tempo e ela era muito grata por isso. Entrou na cozinha e encontrou a irmã encostada na pia enquanto lavava algumas louças e uma música calma tocava em seu celular na mesa.
— Cheguei! — a caçula falou depois de notar que sua irmã não havia percebido que estava ali.
— Aaaa! Puta merda, ! Quer me matar de susto? — deu um pulo no lugar onde estava e fez respingar água ao seu redor com o susto que tomou. Só então se virou e encarou a irmã com os olhos arregalados. — Desde que horas você tá aí?
— Acabei de chegar. — deu de ombros e soltou a risada que prendia com a cena. — Desculpe, achei que tivesse ao menos escutado a porta sendo aberta.
— Não ouvi. — deu de ombros e secou a mão no pano. Tinha terminado com as louças e seguiu para sala, pegando o celular no caminho e desligando a música. Se jogou no sofá e foi imitada pela irmã. — Que roupas são essas?
— Precisava me trocar depois que tomei banho na casa do . Ele me levou no paintball e saímos de lá imundos. — explicou enquanto se esticava no sofá, colocando os pés em cima das coxas da irmã, ignorando sua reclamação.
— Entendi… — afirmou leve com a cabeça e desviou a atenção para o controle, ligando a televisão e começando a zapear os canais. As duas caíram num silêncio desconfortável que conheciam bem.
— Anda logo, . Conta o que você quer conversar. — rolou os olhos e se deu por vencida. Sabia que a primogênita estava se segurando para não tocar no assunto que estava na sua cabeça. Provavelmente passaria o dia estranha para não obrigar a ter que falar sobre aquilo, mas ao mesmo tempo sem conseguir disfarçar a vontade de comentar.
a encarou de rabo de olho, provavelmente pensando se falava ou não, mas soltou o sorriso que prendia ao ver que afirmava com a cabeça em um indicação para que ela falasse. Se virou no sofá animada e desatou a contar.
— Quando a gente chegou na mesa, o ficou todo sem graça e a Karol demonstrou que ia levantar, mas o Dylan convenceu de que não precisava. Ele demonstrou que estava super afim de conversar com ela, mas na verdade só queria ver a interação dela com o de perto. — apoiou o braço no sofá e encostou a cabeça. O resquício de sorriso que tinha no rosto sumiu e ela ficou séria. — Ele percebeu de cara que você não tava lá, mas não sei se pensou que você tinha visto eles ou não. De qualquer maneira não perguntou nada. — apenas escutava séria sem saber o que sentir. A raiva que havia passado de manhã parecia ter levado todo resquício desse sentimento.
— Eles estão juntos ou estavam apenas conversando? — perguntou e fez uma careta rápida.
— Não sei...Me parecia que não era a primeira vez que estavam conversando depois de tudo. — deu de ombros e ficou em silêncio por um tempo. Olhava para baixo quando mordeu o lábio e depois voltou a falar. — Estando juntos ou não, tiveram intimidade suficiente pra se despedirem com um beijo no canto da boca que eu vi.
— Entendi… — se sentia completamente louca de TPM e especialmente naquele momento. Só na metade desse dia já tinha surtado de raiva, chorado de emoção, rido muito enquanto se divertia e agora se sentia apenas uma caixa oca. Nenhuma expressão, nenhuma pontada de sentimento exaltada. — A única coisa que passa pela minha cabeça agora é que estou muito cansada depois de toda a correria que passei com .
— Pra onde vocês foram mesmo? — aproveitou o gancho pra mudar de assunto. Já havia contado o que queria, não precisavam se manter naquela conversa quando sabia que não trazia benefícios nenhum pra irmã.
— Ele me levou num paintball. Foi bem legal. Nós jogamos por um bom tempo. — contou com um sorriso animado no rosto.
— Parece ter sido ótimo mesmo, queria ter ido mas eu precisava ir pra aula pegar o conteúdo pra você, se não provavelmente você morreria depois que se tocasse que faltou a aula de história. — rolou os olhos, mas não conseguiu segurar o riso ao ver a expressão de pânico na cara da irmã.
— Eu esqueci completamente disso! Diz que ele não cobrou aquele relatório ou que pelo menos passou pouco conteúdo. — se endireitou no sofá e prendeu o cabelo em um coque. Estava realmente preocupada com aquele assunto, sabia bem como o professor conseguia ser rígido. A raiva durante a manhã foi tanta que nem se importou de conferir quais as aulas do dia que perderia.
— Você sabe que normalmente eu já não entendo nada que ele explica, né? Mas como eu sei que você é esforçada, vai entender tranquilamente minhas anotações. Não foi uma aula tão importante. — deu de ombros despreocupada e viu a irmã respirar aliviada. Aproveitou para mudar de assunto. — O que acha da gente ligar lá em casa? Bateu uma saudade hoje…
— É sempre uma ótima ideia. E a mãe vai ficar até mais feliz pela iniciativa surpresa. — comentou animada.
— Sem contar que ontem teve almoço lá no tio Marcos. Deve estar cheia de fofocas pra contar. — riu ao lembrar das vezes em que ela e a irmã passavam horas na cama com a mãe apenas comentando sobre a família. — Vou buscar o notebook.
ficou com um sorriso nostálgico preso no rosto também com a lembrança. Se perdeu em pensamento naquele assunto e lembrou da conversa com mais cedo. Tudo parecia fazer sua saudade apertar naquele dia e ela só queria poder passar alguns dias com seus pais, mas sabia que seria um gasto muito grande para o momento que não estavam preparados. Sem falar que faltavam pouquíssimos meses para que fossem embora dali e estivessem de volta ao Brasil. O pensamento a confortou e ao mesmo tempo alfinetou seu coração. Parecia que só ali ela tinha se tocado de que o seu tempo em São Francisco era contado e que ela não teria outras oportunidades para aproveitar da forma que realmente queria. voltou pra sala a tirando de seus pensamentos, mas continuou com a cabeça martelando naquilo durante todo o resto do dia.
Capítulo 28
alisou o vestido no corpo e conferiu mais uma vez pelo espelho se não havia nada fora do lugar. Estava tão acostumada com seus jeans e camisetas que tinha até se esquecido de algumas roupas no fundo da gaveta. O tubinho preto de alça que vestia estava no mesmo lugar onde fora colocado quando desfez suas malas do Brasil. Nem se lembrava que ele ficava tão bem em seu corpo. Pegou seu tênis branco básico e calçou, evitando sandálias para não parecer tão arrumada pra ocasião. Afinal, só iria ao Ezra matar o tempo e assistir o McFly abrir o karaokê.
Passou perfume e catou seu casaco e sua bolsa no caminho até a porta de casa. O táxi estava chegando para a levar até lá. A irmã tinha ido mais cedo com e ela havia dispensado a carona de Dylan, que também saíra cedo. Ela preferiu se arrumar com calma e ir no seu tempo, mesmo que isso significasse chegar um pouco atrasada. O motivo disso tudo não poderia ser diferente: a presença de .
queria chegar de preferência quando o garoto já estivesse no palco para evitar mais alguns minutos de conversa além dos que teriam que ter após o show e todo o fim da noite. Desde o dia em que foi embora da escola mais cedo, os dois vinham conversando cada vez menos diretamente e se dirigindo um ao outro nas conversas de grupo somente quando realmente necessário. Ninguém tinha tocado mais no assunto e tudo que sabia sobre ele e Karol era o que via em alguns momentos na escola: os dois andando pelos corredores juntos e conversando a sós quando não estavam na sala. Claro que tudo isso havia sido flagrado sem querer já que ele parecia querer evitar novos contatos com Karol na frente de todos juntos.
O táxi chegou e em pouco tempo ela estava entrando no bar. O ambiente continuava o mesmo, mas estava mais cheio do que de costume. Ela sorriu involuntariamente com o barulho de pessoas conversando, Ezra no balcão gargalhando e o cheiro de petiscos no ar. O bar tinha a conquistado depois de tantos momentos que passou ali e se tornou um de seus lugares preferidos na cidade. Ela andou pelo ambiente a procura dos amigos e notou que a banda subia ao palco para a apresentação. Alguns clientes gritaram animados e logo os garotos iniciaram com Broccoli, uma das músicas novas que vinham ensaiando nos últimos meses. logo encontrou a irmã e Dylan em uma das mesas e os cumprimentou com um abraço em conjunto apertado.
— Não acredito que você desenterrou esse vestido! Você tá incrivelmente gostosa. — comentou alto para que os dois ouvissem e gargalhou exagerada. Provavelmente a cerveja na mão da garota não era nem a primeira nem a segunda.
— Acho que alguém já bebeu um pouco, ein?! — ironizou sem conseguir conter uma risada. A gargalhada da irmã era algo que arrancava riso de todos.
— Sim! E logo mais é você! Vai ter que correr pra nos alcançar já que se atrasou, então pode ir começando. — Dylan estendeu uma garrafa aberta para ela e brindou com a sua quando ela aceitou. — E só pra constar, tem razão. Seu atraso vai ser perdoado de bom grado porque valeu muito a pena te ver gata desse jeito.
— Mais um pouco e vocês conseguem me deixar sem graça. — ela deu um riso fraco e tomou um gole da bebida, sentindo seu corpo esfriar. Desviou a atenção da risada dos dois e prestou atenção no palco. Estavam os quatro muito felizes, como sempre ficavam quando estavam tocando em público, e bem entrosados com caretas e dancinhas. Encarou por um momento e desviou o olhar quando ele a notou. Eles começaram outra música e sentiu Dylan a cutucar.
— Então, algum motivo especial para essa produção toda? — ele tinha um sorriso de lado e os olhos meio caídos, provavelmente havia começado a beber junto com .
— Não teve tanta produção assim, você só não tinha me visto com esse tipo de roupa ainda. — ela deu de ombros e tomou o último gole da bebida. — E eu apenas quis me sentir bem.
— E está certíssima! Sem contar que mesmo não tendo sido sua intenção, tá chamando a atenção de uma galera por aqui. — a primogênita indicou o salão totalmente indiscreta, quase fazendo se enfiar embaixo da mesa ao ver que se não estavam mesmo prestando atenção, passaram a olhar após a fala dela.
— Agradeço a parte que me toca, mas fica de boca fechada, chuchu. — enfiou um amendoim que tinha na mesa direto na boca da irmã.
Os três continuaram a conversar e curtir o show enquanto bebiam. mal sabia como surgiram tantas garrafas e drinks rapidamente em sua mesa, mas apenas aceitava. Também não entendia porque todos estavam tão felizes quando não tinham nenhum motivo especial para comemorar, mas ela estava curtindo e era isso que importava. Já estava quase tão animada quanto os dois amigos e mal prestava atenção nas coisas ao redor a não ser as conversas toscas que tinham, tanto que se assustou ao notar os outros quatro amigos chegando até a mesa. O show havia acabado e ela nem tinha percebido. Se lembrava apenas de ter dançado algumas músicas com e voltado a conversar alguma bobeira com eles.
— Oi, ! — chegou a apertando em um abraço caloroso. Ele a puxou para ficar em pé e dar uma volta ao redor de si mesma enquanto ele assobiava. — Caprichou hoje, ein? Tudo isso é pra gente?
— Na verdade é pra mim, mas você pode aproveitar por tabela. — ela deu uma piscadela divertida, surpreendendo o amigo com a ousadia.
— Vai brincando pra você ver, hoje as gêmeas estão um fogo. — Dylan alertou e riu da cara de bobo de .
— Já vi que vou ter que ficar sóbrio pra cuidar da madame. — ele passou a mão pelo cabelo.
— Fica calma, zito. Só aproveita, ok? — soltou uma risada fraca e passou um braço por seus ombros em um abraço torto.
— Certo. Vou ficar aqui ao seu lado só por garantia então. — ele riu da cara da amiga e se sentou ao seu lado.
— Só fala com o agora é, ? — pirraçou com um sorriso no rosto. Ele se sentou do outro lado da mesa junto com . estava aos beijos intensos com na ponta da mesa. A irmã havia o puxado rápido assim que ele chegou ao local.
— Falo com quem quiser falar comigo. — ela deu de ombros divertida e pegou a cerveja da irmã que ficou de lado, tomando mais um gole.
— Hoje ela tá que tá! — Dylan comentou para aqueles que haviam chegado. — Acho que nunca vi ela tão bêbada assim. — falou encarando a garota, que arqueou a sobrancelha desafiadora.
— Tenho meus motivos, . — e voltou sua atenção para a garrafa, ignorando quais foram as reações dos demais na mesa.
— E então, qual o assunto? — perguntou animada depois de se soltar de . Sua boca estava vermelha e seu cabelo levemente assanhado. virava uma garrafa de água de uma vez.
— O assunto é: por que raios vocês duas estão tão animadas hoje e mal nos deram bola? — soltou o que provavelmente os quatro pensavam, afinal, haviam notado durante o show o quanto elas ficaram distraídas comparada com as outras vezes que se reuniam em ocasiões assim.
— É proibido estar feliz? — questionou com um sorriso sarcástico no rosto e não esperou uma resposta para voltar a alfinetar. — E desde quando somos obrigadas a prestar atenção somente em vocês todo o tempo?
— Já vi que as ficam atacadas com cerveja demais. — soltou uma risada, não levando a mal as respostas que elas davam.
— Enquanto vocês ficam aí nesse assunto, eu vou providenciar mais coisas pra essa mesa. — anunciou e não esperou que alguém se manifestasse, se levantou sozinha e foi até o balcão. Sentiu a cabeça rodar levemente e seu equilíbrio vacilar no primeiro momento, voltando ao normal depois. Ou pelo menos o mais normal que conseguia. Tinha plena consciência de que já estava tonta, mas também sabia que ainda estava longe do limite que conseguia chegar. Precisava apenas comer alguma coisa para aguentar as próximas horas.
Pediu a Ezra que mandasse seu melhor prato de petiscos e mais algumas garrafas de cerveja para sua mesa. Garantiu antes um drink cítrico para si. Estava aguardando ficar pronto quando sentiu uma presença se aproximando. Se virou para conferir quem era e voltou a prestar atenção na bebida sendo feita.
— Está me seguindo, ? — perguntou divertida.
— Talvez...Tenho certeza de que uma companhia amiga não seria uma coisa ruim pra você nesse estado. — ele a cutucou na cintura por pura provocação, soltando um riso fraco em seguida e parando ao seu lado.
— Não estou tão bêbada, sabe? Vocês todos podem ficar tranquilos, não é como se eu fosse cair a qualquer momento. — falou com segurança e se concentrou para não deixar a língua enrolar durante a fala. Queria passar credibilidade para que ninguém ficasse em seu pé. Estava se divertindo demais.
— Estou percebendo. Parece tão sóbria que poderia se garantir em cima daquele palco ainda. — ele fez menção ao karaokê e a encarou malicioso, apoiando o cotovelo no balcão em seguida.
— Tá me desafiando, ? — ela semicerrou os olhos e segurou um sorriso ao notar ele dar de ombros divertido. — Devia se lembrar que não costumo desapontar nos desafios. Dei uma surra em você no videogame aquele dia que você ainda não conseguiu superar.
— Contra fatos não há argumentos. — confirmou e a encarou com os olhos semicerrados ao ver que ela pegava o drink, sem disfarçar o julgamento.
— Para de me olhar assim! Eu sei que você veio aqui bisbilhotar se eu já não tava vomitando ou algo do tipo. Você e o precisam sair do meu pé e apenas se divertirem comigo hoje, ok? Acordei feliz e quero aproveitar isso. — ela pediu sincera e viu que o amigo a levou a sério. Não conseguia entender bem de onde tinha saído todo aquele seu bom humor ou vontade de aproveitar. Era apenas mais um daqueles dias em que você acorda se sentindo bem e com vontade de fazer tudo que tem vontade, aproveitando cada momento de forma boba e feliz. E era isso que estava tentando fazer.
— Tudo bem! Estávamos apenas preocupados, mas você me convenceu. — ele também pegou uma bebida no balcão e estendeu o braço pra ela. — Vamos voltar pra nossa mesa e aproveitar juntos.
— Será que as pessoas não vão cansar nunca de cantar essa música em karaokês? — perguntou e tampou os ouvidos enquanto uma moça bem desafinada cantava My Heart Will Go On a plenos pulmões.
— Isso porque você não conhece o clássico evidências lá no Brasil. — riu sozinha com a irmã ao lembrar sobre o que falavam.
— Mas e aí, quando que vai ter outro evento legal daqueles na escola de vocês? — os encarou curioso.
— Se não me engano é daqui duas semanas, vai ser o último. — respondeu e depois tomou uma expressão de dúvida no rosto. — Vai ser o último, né?
— Sim. O semestre tá perto de acabar já. — Dylan respondeu meio distraído.
— É, ta cada vez mais perto de ir embora. — finalmente se pronunciou. Passara boa parte do tempo apenas prestando atenção nas conversas e beliscando os petiscos tentando se manter sóbria. Não parecia ter adiantado muito já que sentia a língua começar a enrolar enquanto falava.
— Ah, não, ! Você mesmo disse que hoje é dia de alegria. Não vamos entrar nesse assunto triste sobre vocês voltarem pro Brasil. — rolou os olhos e voltou a beber.
— Exatamente! Sem contar que vocês mesmo falaram que tem uma chance mínima de não precisarem ir. — lembrou de outra conversa que tiveram sobre aquele mesmo assunto.
— Gente, esqueçam isso. Vamos jogar verdade ou consequência! — desviou o assunto totalmente e sugeriu extremamente animada.
— Que? Que ideia é essa, ? — questionou enquanto os outros apenas riam da garota. Ela estava mais bêbada que o normal e não conseguia disfarçar isso.
— Eu acho legal! — Dylan deu de ombros e cruzou os braços sobre a mesa, encarando divertido a amiga.
— Não sei se gosto da ideia de você beijar outra pessoa. — comenta enciumado.
— Amor, é apenas pela diversão. Não é como se eu quisesse ver a te beijar também. — falou enquanto se aninhava em seu ombro.
— Seria bizarro! — comentou com a cara de nojo, voltando ao normal quando viu a cara de ofendido de . — Não me leve a mal, cunhado. Mas eu acho que podemos resolver isso. É só ninguém botar como consequência um beijão em qualquer um de vocês dois. Somente selinho.
— É uma boa ideia. — confirmou também se animando. e se encararam por um tempo.
— Então vamos jogar! — a primogênita comemorou e colocou uma das garrafas vazias no centro da mesa.
— Só eu tô achando isso tudo estranho? — questionou.
— Também não sei se é uma boa ideia. — comentou e passou a mão pelos cabelos sem jeito. entendeu na hora o porquê de ele estar com o pé atrás.
— Tão com medinho? — ela alfinetou os dois com um sorriso malicioso, mas não desviou o olhar de . A verdade é que nem ela estava tão afim assim de jogar, mas a vibe de “não estou ligando pra nada” estava ótima. Escutou a gargalhada de Dylan antes de ele voltar a falar.
— Tá certo, vamos logo com isso. — deu de ombros e desviou o olhar com indiferença.
— Quem vai começar? — perguntou e rolou os olhos. Não tinha como dar pra trás quando resolveu o abandonar.
— Deixa comigo! — falou animado e se arrumou na cadeira antes de rodar a garrafa. Dylan para .
— Verdade ou consequência, ? — Dy sorriu malicioso.
— Essa sua cara está me assustando. — fez careta. — Verdade.
— Já ficou com outra enquanto estava com a ? — ele perguntou sem tirar o sorriso do rosto. Todos observavam atentos e intercalavam o olhar entre e que estava sérios.
— Já vi que o nível vai ser pesado. — comentou baixo.
— Não. — foi direto, desviou a atenção de Dylan para . — Nem mesmo antes de namorarmos.
— Tá ok! Isso foi bem fofo. — o puxou para um selinho.
— Foi mesmo, mas vamos continuar com isso antes que vocês se empolguem demais. — bateu palmas e depois jogou uma bolinha de guardanapo no cunhado.
— Já vou! — ele pegou a garrafa e rodou. Soltou uma risada em seguida. — para .
— E aí, ? Verdade ou consequência? — o encarou divertida.
— Verdade. — ele respondeu.
— Frouxo! — zoou.
— Certo. — confirmou e pensou por uns segundos. — Tá apaixonado por alguém no momento?
O garoto ficou em silêncio por um tempo e logo todos da mesa começaram a pegar no seu pé o apressando. Uma mistura de “assume logo”, “anda, !” e “responde!” foi quase gritada para ele, que respondeu impaciente.
— Calem a boca! Eu estou, ok?
— É pela ? — emendou a pergunta.
— Boa tentativa, . Mas é apenas uma pergunta por vez. — ele ergueu a sobrancelha e a encarou esperto. Não esperou uma resposta e girou a garrafa..
— Parece que somos nós, . — piscou esperto ao ver que a garrafa tinha parado com os dois. Ela apenas ergueu a sobrancelha em desafio e tomou um gole de sua bebida. — Verdade ou consequência?
— Vamos animar isso. Consequência. — os amigos comemoraram com gritinhos e batidas na mesa. Ela preferiu fingir que não tinha notado ficar sério após sua resposta. Assim como fingia ter escolhido consequência por pura diversão quando, na verdade, só não estava preparada para falar em público as coisas que provavelmente queriam saber.
— Já que é assim, sua consequência é ir bem ali na sinuca e conseguir pelo menos o telefone do carinha de branco. Sem enrolação e usando pelo menos uma cantada.
mordeu o lábio pensativa e encarou o tal cara que indicou. Ignorou os comentários dos amigos e o analisou com calma. Parecia ser poucos anos mais velho que ela, tinha um estilo básico e estava acompanhado de alguns outros caras. Sem contar que era até bonitinho. Ela voltou a prestar atenção nos amigos a tempo de ouvir a pirraçar.
— Acho que ela não tem coragem. Não com toda essa timidez que…
— Tudo bem. — o cortou e não esperou para ver a reação dos demais. Levantou do banco em um pulo e seguiu o mais firme que conseguiu até a parte das sinucas. Talvez não devesse ter bebido tanto, não estaria tropeçando e prestes a cair na frente de um cara que nem conhecia. Na verdade, não estaria nem participando dessa brincadeira.
— Boa noite! — ela chegou até o cara e se encostou na sinuca ao seu lado. Agradeceu mentalmente pela posição a deixar de costas para os amigos. Não queria ver suas caras e bocas nem por visão periférica.
— Boa noite! — ele a encarou de rabo de olho dos pés a cabeça e voltou a atenção para o jogo. Ela se sentiu desconfortável naquele vestido pela primeira vez e o cara era mais sério do que parecia. — Posso te ajudar em alguma coisa?
— Na verdade, sim. — ela falou em tom despreocupado e passou a mão pela nuca. Viu os amigos dele se distanciarem com a desculpa de que iriam pegar bebidas e se sentiu mais aliviada. Notou que agora ele prestava atenção apenas nela. Engoliu a vergonha e explicou. — Bom, é que eu tô jogando com meus amigos e eles me desafiaram a vir aqui te passar uma cantada pra conseguir chegar lá com seu telefone.
Ele escutou atento e ela percebeu seu olhar seguir sem muita discrição para onde estava sua mesa com seus amigos. Desejou que eles estivessem distraídos ou bêbados o suficiente para não notar que ela estava burlando as regras ao contar a verdade.
— Vocês são barulhentos. — ele comentou como se confirmasse um fato. Voltou a encarar interessado. — E o que eu ganho com isso? Digo, te ajudando e passando meu número.
— Boa pergunta. — estalou a língua e fez um bico com a boca. Não tinha parado pra pensar que ele poderia querer uma recompensa. A realidade é que não estava pensando em nada. Deu de ombros e retibuiu o olhar curioso. — O que você quer em troca?
— Nada demais. Mas não sei se é uma boa ideia pro momento. Você parece estar bastante bêbada. — ele riu de lado e demorou o olhar por mais tempo em sua boca.
— Bom, eu ainda sei meu nome, onde estou e estou conseguindo manter uma conversa normal com alguém que não conheço. Aliás, nem tão normal. — soltou uma risada e ergueu a sobrancelha em seguida. Talvez em outro dia a ideia nem passasse por sua cabeça, mas não naquela noite. Não com a observando e com as imagens dele e Karol em sua cabeça. Encarou o cara em desafio. — E então?
— Eu não acredito que você beijou ele! — fez um mini escândalo assim que a irmã chegou na mesa com um sorriso no rosto.
— E a consequência foi cumprida. — balançou o celular com o número salvo na frente de .
— Mandou bem, ! — Dy comentou animado e esticou a mão para um high-five.
— Dá pra gente voltar pro jogo? — pediu mal humorado sem olhar direito para ela.
— Minha vez. — tomou a frente e girou a garrafa. Teve que disfarçar um sorriso satisfeito ao ver de quem seria a vez. — para .
— Verdade ou consequência, cara?
— Consequência. — ele anunciou sem pensar muito. Os amigos comemoraram e ele aproveitou para encarar por alguns segundos. Notou que ela já estava o observando e que desviou o olhar em seguida. Pareciam duas crianças naquele jogo de demonstrar desinteresse. só não queria ser o primeiro a dar o braço a torcer.
— Pensa bem, . É uma chance de ouro. — fez piada.
— É, não é sempre que ele tá disposta a fazer o que queremos. — entrou na onda.
— Não abusem, ok? Quem escolhe é o . — os interrompeu antes que aquilo virasse o único assunto da mesa.
— Acho que tenho algo. — conseguiu a atenção de todos, que se calaram e o encararam atentos. Ele soltou um riso nasalado antes de encarar em desfio. — A consequência é você beijar a .
e se encararam instantaneamente e uma mistura de comentários começaram a surgir. Coisa como “pegou pesado, ”, “esse jogo tá pegando fogo” e “pediu, vai ter que aguentar” foram faladas. poderia jurar que vira de relance virar uma garrafa quase toda de uma vez em nervosismo. continuava a olhar em silêncio assim como ele fazia com ela. Pareciam estar em uma bolha tentando entender o que se passava em sua cabeça. A gêmea estava pronta pra falar que não queria fazer parte daquilo ou pedir que não envolvessem uns aos outros nas consequências, afinal ela sabia que não conseguiria lidar com aquilo mesmo sendo parte de uma brincadeira e ela estando bêbada. Não precisava deixar tão a mostra o poder que ainda tinha sobre ela. Enfim tomou ar pra se pronunciar, mas foi mais rápido.
— Não vou beijar ela. — respondeu seco sem a encarar. Ela não esperava por aquela resposta, mas a sentiu como uma bofetada.
— Calma aí, . — Dylan interviu sério.
— Vai dizer que agora tá namorando? Se não queria entrar na onda porque aceitou participar? — questionou meio fora de si, mas brava. Tomava as dores da irmã facilmente depois de algumas bebidas.
— A Karol não tem nada a ver com isso. — ele cruzou os braços na altura do peito.
— Ninguém falou em Karol. — indicou séria e ficou em pé. — Pra mim já deu por hoje.
Ela pegou o celular e o último copo cheio da mesa e saiu. Não deu ouvidos para os amigos a chamando e caminhou sem olhar para trás até estar do lado de fora. Andou um pouco e encostou na parede. Virou de uma vez a bebida que segurava e sentiu a garganta queimar. Deixou o copo vazio no chão e envolveu o corpo com os próprios braços, encarando a rua em silêncio.
Tinha saído de lá porque se sentira fraca e envergonhada com a cena. Ser negada por ele daquela maneira e ainda saber que ele tinha Karol na cabeça e nem havia disfarçado pros outros tinha sido mais do que estava preparada para aguentar. Suspirou e pegou o celular. Ficou o encarando sem saber o que fazer. Se sentia triste, pequena, perdida e bastante bêbada. Escutou um barulho ao seu lado e soube quem era.
— Eu sei que pareceu outra coisa, mas eu neguei porque não conseguiria lidar com esse contato todo de volta com você. Não na frente de todo mundo. Eu sei também que ando muito próximo da Karol, mas isso não quer dizer que eu não sinta nada por você. Eu só estou tentando entender realmente o que eu quero. — falou de uma vez e calmo. Encarava a rua assim como a garota. continuou em silêncio com o olhar focado na rua. — Não pense que eu negar aquele desafio significa que você não importa pra mim. Pelo contrário, você ainda mexe muito comigo.
— Não sei se consigo ir pra casa sozinha. — foi a única coisa que passou pela sua cabeça pra responder naquele momento. E ela sabia que era melhor não aprofundar naquilo. Estava cansada daquele discurso, mesmo sabendo que o escutaria quantas vezes ele quisesse falar. O encarou de forma singela, ou talvez meio torta, e suspirou.
— Eu posso te levar, mas acha que é uma boa ideia sua avó te ver assim? — perguntou preocupado. Ele também parecia aliviado do assunto ter ficado pra trás.
— Com certeza não, mas não tenho outra opção. — gargalhou e deu de ombros. Não sabia porque, mas tinha a impressão de que a conversa tinha ficado consideravelmente mais engraçada. Ela deu um passo na direção dele e acabou tropeçando. Teria caído se ele não tivesse a pegado pelo braço. O que tinha mesmo naquele copo que ela pegou?
— Melhor ir devagar, . — ele constatou o óbvio enquanto tentava a segurar. Ela mal deixava o corpo reto e não parava quieta. Sem contar que ria sem parar.
— Ai, isso aqui até parece uma cena de filme, sabia? — ela tentou falar séria, mas acabou deixando a risada escapar entre os lábios.
— Vamos pro carro. — pediu, mas não esperou resposta. Começou a guiá—la pela rua com o braço em sua cintura e sua outra mão segurando a dela.
— Ei, para! — ela firmou os pés de uma vez e o encarou curiosa. — Eu tenho que avisar minha irmã. Ela pode achar que você me sequestrou e vai me criar em cárcere privado. Não que eu acharia ruim ficar presa só com você, mas acho que uma hora ou outra ela ia ficar preocupada.
— Eu avisei ela. Fica tranquila, tá bom? — respondeu sem aguentar segurar uma gargalhada. Ainda não tinha conhecido essa aérea e estava sendo divertido. Não era o tipo de cena que imaginou que aconteceria entre os dois quando saiu do bar atrás dela. Mas estava sendo bem melhor.
— Promete que avisou? — perguntou e fez um bico infantil com a boca. O encarou diretamente sem notar o quão próxima tinha ficado.
— Prometo. — respondeu e se perdeu por alguns segundos no rosto da amiga. Ela estava especialmente linda naquela noite e a ter tão perto fazia seu coração sair do eixo. Se ela não tivesse bebido tanto, ou se ele não tivesse tantos "e se" em sua cabeça, provavelmente já estaria a beijando. Queria engolir o ciúme que sentira mais cedo com um beijo dela, tão longo ou mais quanto o que ela havia dado naquele cara estranho. Queria matar a saudade do perfume dela dominar suas blusas e sentir os braços dela a envolvendo em um abraço calmo. Basicamente queria tudo que ele mesmo tinha impedido de poder aproveitar. saiu do devaneio momentâneo que tinha entrado e se afastou. A garota já não prestava mais atenção nele e estava quase dormindo em pé. Ele deu um sorriso triste pra si mesmo e voltou a andar com ela. — Vamos, .
acordou e sentiu as pálpebras pesarem como se tivessem muitos quilos de areia sobre cada uma. Com muito esforço conseguiu abrir os olhos e encarar o ambiente ao redor. Se sentiu extremamente perdida ao não reconhecer onde estava. A cama era bastante confortável, mas não estava em casa quando sabia que precisava estar. Forçou o corpo para se levantar e quase chorou de arrependimento ao fazê-lo, sua cabeça doía e se sentia levemente tonta. Ignorou o incômodo e começou a procurar algo que a ajudasse a se localizar. Parou o olhar na pequena cômoda ao lado de onde estava e encontrou um porta retrato pequeno, a foto mostrava um pouco mais novo do que conhecia abraçado com uma senhora. perdeu alguns segundos apenas admirando a imagem bonita, mas voltou a si quando entendeu que tinha não só dormido na casa de , como estava na cama dele. Sentiu a garganta secar mais ainda e se levantou assustada. Se lembrava de estar conversando com ele e dos dois abraçados, o resto da noite depois disso era um completo buraco em sua mente. Ainda estava com a roupa do dia anterior e seu tênis estava largado ao lado da cama. Os calçou e foi até o banheiro do quarto, quase se assustando ao ver sua aparência no espelho. Seu cabelo mais parecia um ninho de passarinho e sua maquiagem estava bastante borrada.
Deu um jeito em tudo e fez sua higiene da melhor maneira que conseguia, saindo do quarto em seguida. Ela desceu as escadas em silêncio e encontrou a sala vazia, indo para a cozinha depois, de onde tinha escutado barulho.
— Oi. — ela falou baixo assim que entrou no local e encontrou fazendo alguma coisa no liquidificador. Não pode deixar de notar que ele estava sem camisa. Cruzou os braços envergonhada com a situação e por mal conseguir disfarçar que encarava sua barriga.
— Oi, . Como está? — ele se virou com o copo do aparelho na mão e a encarou com um sorriso de lado.
— Péssima. — confessou e se sentou em um dos bancos do balcão. Viu ele servir o líquido grosso e verde em um copo e a entregar. Encarou com nojo. — O que é isso?
— Minha receita de “cura ressaca”. Bebe tudinho e você estará nova em folha em poucas horas. — a olhou sério como um pai e com um impulso se sentou no balcão.
— Certo. — não disfarçou outra careta e teve que tampar o nariz para conseguir tomar pelo menos um gole. Se impressionou ao notar depois que o gosto não era tão ruim quanto parecia. — Não é dos piores.
— Eu sei. — sorriu convencido e ela rolou os olhos com um sorriso no rosto. Os dois caíram num silêncio por um tempo.
— Não me lembro de como vim parar aqui. Ou melhor, nada contra você, mas porque aqui e não com os outros? — ela mordeu o lábio e o olhou insegura. também devia concordar que ele não era a melhor opção de companhia para ela sozinha.
— Você não poderia ir pra casa naquele estado e também não queria voltar para o bar. Eu precisaria falar com algum deles e não dava pra te largar sozinha lá fora. Até tentei ligar quando chegamos ao carro, mas foi questão de segundos pra você apagar no banco. Ficamos com dó de te acordar e te trocar de carro ia dar muito trabalho. — ele deu de ombros.
— Minha avó vai me matar. — ela suspirou e apoiou a testa na mão. Sabia que Kath era tranquila em relação a tudo, mas odiava que a deixassem preocupada. Com sorte seus pais não saberiam da história.
— Não se preocupe. também apagou, mas foi quando ainda estava no Ezra. ligou pra Kath dizendo que tínhamos ido pra casa dele mais cedo depois do bar e vocês duas acabaram capotando. Ela pareceu ter sido convencida. — a lançou um sorriso confortante.
— E seus pais? — ergueu a sobrancelha. Só então tinha se lembrado deles, esperava de coração que não tivessem a visto no estado que estava noite anterior. Com o resultado de hoje, tinha certeza que não tinha sido um de seus melhores momentos.
— Quando chegamos eles já tinham deitado, mas questionaram quando me viram deitado no sofá de manhã. Expliquei mais ou menos a situação e eles não acharam ruim.
— Você dormiu no sofá? — perguntou espantada e morrendo de vergonha. Não só tinha dado trabalho como também havia tirado o amigo da própria cama, provavelmente o livrando de uma boa noite de sono que ele também merecia.
— , já disse pra não se preocupar. O sofá daqui é extremamente confortável e muitas vezes passo a noite nele por vontade própria. Não faça alarde com isso, ok? Aliás, fique tranquila com tudo e foque em curar essa sua ressaca. — ele pulou do balcão e passou a mão por seu ombro, apertando fraco antes de se distanciar. — Enquanto você aproveita sua vitamina, vou tomar um banho. Se quiser ir também, posso conseguir alguma roupa pra você.
— Não precisa, deixa pra quando eu chegar em casa mesmo. — ela mordeu o lábio. Não queria dar mais trabalho do que já tinha dado.
— Certo. Vou indo e quando eu voltar te deixo em casa, ok? — perguntou, mas não esperou por uma resposta. Saiu da cozinha e seguiu para o andar de cima.
O silêncio voltou a pairar no ambiente e apoiou a testa na mão. Aproveitou o momento para fechar os olhos e tentar se concentrar na noite anterior. Se lembrou dos meninos tocando e de como ela e a irmã estavam animadas. Em algum momento o McFly tinha parado de tocar e já estavam na mesa com elas e Dylan. Se lembrava também da grande quantidade de bebida e de como parecia uma ótima ideia eles jogarem verdade ou consequência, mesmo que ela e estivessem na brincadeira.
Sentiu o rosto esquentar de vergonha com a cena dela conversando com o tal cara da sinuca e depois ele a segurando pela cintura e a puxando para um beijo na frente de todos. Tinha sido bom e ele era bonito, mas desde quando ficava tão desinibida bêbada? Voltou a vasculhar a mente e seu coração acelerou com todos os últimos acontecimentos da noite. negando a beijar na frente de todos. Ela indo embora. indo atrás dela e os dois conversando sozinhos. Ele falando muita coisa de uma vez e depois a aparando quando ela quase caiu e tudo começou a ficar muito engraçado. Não se lembrava das palavras detalhadas que escutou dele, mas tinha certeza de que ele falara algo sobre ainda se importar com ela.
O gosto da vitamina preso em sua garganta pareceu mil vezes pior e até seu estômago apertou de nervosismo. não tinha se aprofundado no assunto, mas sabia que estava próximo de Karol. Ainda assim, ele tinha ido atrás dela, tinha se preocupado e cuidado dela. ainda se importava, talvez até se sentisse assim como ela. Sua cabeça pareceu pesar o triplo desde que acordara e ela sabia que precisava sair dali. Tinha que se recompor e se afastar de pelo menos por um momento. Queria colocar seus pensamentos em ordem para saber o que iria fazer. Vinha acreditando fielmente nas últimas semanas que ele já tinha desistido de tudo que sentia por ela e que tinha feito a escolha, que ficaria com Karol. Ao que parecia, porém, ele ainda estava tão confuso quanto ela e talvez nem tivesse superado de vez o que tiveram.
Não queria quebrar a cara ou muito menos passar por todas as dores que sentiu novamente, mas a fagulha de esperança estava acesa de novo. Era sua segunda chance de não deixar seus últimos meses na Califórnia continuarem indo por água abaixo.
Passou perfume e catou seu casaco e sua bolsa no caminho até a porta de casa. O táxi estava chegando para a levar até lá. A irmã tinha ido mais cedo com e ela havia dispensado a carona de Dylan, que também saíra cedo. Ela preferiu se arrumar com calma e ir no seu tempo, mesmo que isso significasse chegar um pouco atrasada. O motivo disso tudo não poderia ser diferente: a presença de .
queria chegar de preferência quando o garoto já estivesse no palco para evitar mais alguns minutos de conversa além dos que teriam que ter após o show e todo o fim da noite. Desde o dia em que foi embora da escola mais cedo, os dois vinham conversando cada vez menos diretamente e se dirigindo um ao outro nas conversas de grupo somente quando realmente necessário. Ninguém tinha tocado mais no assunto e tudo que sabia sobre ele e Karol era o que via em alguns momentos na escola: os dois andando pelos corredores juntos e conversando a sós quando não estavam na sala. Claro que tudo isso havia sido flagrado sem querer já que ele parecia querer evitar novos contatos com Karol na frente de todos juntos.
O táxi chegou e em pouco tempo ela estava entrando no bar. O ambiente continuava o mesmo, mas estava mais cheio do que de costume. Ela sorriu involuntariamente com o barulho de pessoas conversando, Ezra no balcão gargalhando e o cheiro de petiscos no ar. O bar tinha a conquistado depois de tantos momentos que passou ali e se tornou um de seus lugares preferidos na cidade. Ela andou pelo ambiente a procura dos amigos e notou que a banda subia ao palco para a apresentação. Alguns clientes gritaram animados e logo os garotos iniciaram com Broccoli, uma das músicas novas que vinham ensaiando nos últimos meses. logo encontrou a irmã e Dylan em uma das mesas e os cumprimentou com um abraço em conjunto apertado.
— Não acredito que você desenterrou esse vestido! Você tá incrivelmente gostosa. — comentou alto para que os dois ouvissem e gargalhou exagerada. Provavelmente a cerveja na mão da garota não era nem a primeira nem a segunda.
— Acho que alguém já bebeu um pouco, ein?! — ironizou sem conseguir conter uma risada. A gargalhada da irmã era algo que arrancava riso de todos.
— Sim! E logo mais é você! Vai ter que correr pra nos alcançar já que se atrasou, então pode ir começando. — Dylan estendeu uma garrafa aberta para ela e brindou com a sua quando ela aceitou. — E só pra constar, tem razão. Seu atraso vai ser perdoado de bom grado porque valeu muito a pena te ver gata desse jeito.
— Mais um pouco e vocês conseguem me deixar sem graça. — ela deu um riso fraco e tomou um gole da bebida, sentindo seu corpo esfriar. Desviou a atenção da risada dos dois e prestou atenção no palco. Estavam os quatro muito felizes, como sempre ficavam quando estavam tocando em público, e bem entrosados com caretas e dancinhas. Encarou por um momento e desviou o olhar quando ele a notou. Eles começaram outra música e sentiu Dylan a cutucar.
— Então, algum motivo especial para essa produção toda? — ele tinha um sorriso de lado e os olhos meio caídos, provavelmente havia começado a beber junto com .
— Não teve tanta produção assim, você só não tinha me visto com esse tipo de roupa ainda. — ela deu de ombros e tomou o último gole da bebida. — E eu apenas quis me sentir bem.
— E está certíssima! Sem contar que mesmo não tendo sido sua intenção, tá chamando a atenção de uma galera por aqui. — a primogênita indicou o salão totalmente indiscreta, quase fazendo se enfiar embaixo da mesa ao ver que se não estavam mesmo prestando atenção, passaram a olhar após a fala dela.
— Agradeço a parte que me toca, mas fica de boca fechada, chuchu. — enfiou um amendoim que tinha na mesa direto na boca da irmã.
Os três continuaram a conversar e curtir o show enquanto bebiam. mal sabia como surgiram tantas garrafas e drinks rapidamente em sua mesa, mas apenas aceitava. Também não entendia porque todos estavam tão felizes quando não tinham nenhum motivo especial para comemorar, mas ela estava curtindo e era isso que importava. Já estava quase tão animada quanto os dois amigos e mal prestava atenção nas coisas ao redor a não ser as conversas toscas que tinham, tanto que se assustou ao notar os outros quatro amigos chegando até a mesa. O show havia acabado e ela nem tinha percebido. Se lembrava apenas de ter dançado algumas músicas com e voltado a conversar alguma bobeira com eles.
— Oi, ! — chegou a apertando em um abraço caloroso. Ele a puxou para ficar em pé e dar uma volta ao redor de si mesma enquanto ele assobiava. — Caprichou hoje, ein? Tudo isso é pra gente?
— Na verdade é pra mim, mas você pode aproveitar por tabela. — ela deu uma piscadela divertida, surpreendendo o amigo com a ousadia.
— Vai brincando pra você ver, hoje as gêmeas estão um fogo. — Dylan alertou e riu da cara de bobo de .
— Já vi que vou ter que ficar sóbrio pra cuidar da madame. — ele passou a mão pelo cabelo.
— Fica calma, zito. Só aproveita, ok? — soltou uma risada fraca e passou um braço por seus ombros em um abraço torto.
— Certo. Vou ficar aqui ao seu lado só por garantia então. — ele riu da cara da amiga e se sentou ao seu lado.
— Só fala com o agora é, ? — pirraçou com um sorriso no rosto. Ele se sentou do outro lado da mesa junto com . estava aos beijos intensos com na ponta da mesa. A irmã havia o puxado rápido assim que ele chegou ao local.
— Falo com quem quiser falar comigo. — ela deu de ombros divertida e pegou a cerveja da irmã que ficou de lado, tomando mais um gole.
— Hoje ela tá que tá! — Dylan comentou para aqueles que haviam chegado. — Acho que nunca vi ela tão bêbada assim. — falou encarando a garota, que arqueou a sobrancelha desafiadora.
— Tenho meus motivos, . — e voltou sua atenção para a garrafa, ignorando quais foram as reações dos demais na mesa.
— E então, qual o assunto? — perguntou animada depois de se soltar de . Sua boca estava vermelha e seu cabelo levemente assanhado. virava uma garrafa de água de uma vez.
— O assunto é: por que raios vocês duas estão tão animadas hoje e mal nos deram bola? — soltou o que provavelmente os quatro pensavam, afinal, haviam notado durante o show o quanto elas ficaram distraídas comparada com as outras vezes que se reuniam em ocasiões assim.
— É proibido estar feliz? — questionou com um sorriso sarcástico no rosto e não esperou uma resposta para voltar a alfinetar. — E desde quando somos obrigadas a prestar atenção somente em vocês todo o tempo?
— Já vi que as ficam atacadas com cerveja demais. — soltou uma risada, não levando a mal as respostas que elas davam.
— Enquanto vocês ficam aí nesse assunto, eu vou providenciar mais coisas pra essa mesa. — anunciou e não esperou que alguém se manifestasse, se levantou sozinha e foi até o balcão. Sentiu a cabeça rodar levemente e seu equilíbrio vacilar no primeiro momento, voltando ao normal depois. Ou pelo menos o mais normal que conseguia. Tinha plena consciência de que já estava tonta, mas também sabia que ainda estava longe do limite que conseguia chegar. Precisava apenas comer alguma coisa para aguentar as próximas horas.
Pediu a Ezra que mandasse seu melhor prato de petiscos e mais algumas garrafas de cerveja para sua mesa. Garantiu antes um drink cítrico para si. Estava aguardando ficar pronto quando sentiu uma presença se aproximando. Se virou para conferir quem era e voltou a prestar atenção na bebida sendo feita.
— Está me seguindo, ? — perguntou divertida.
— Talvez...Tenho certeza de que uma companhia amiga não seria uma coisa ruim pra você nesse estado. — ele a cutucou na cintura por pura provocação, soltando um riso fraco em seguida e parando ao seu lado.
— Não estou tão bêbada, sabe? Vocês todos podem ficar tranquilos, não é como se eu fosse cair a qualquer momento. — falou com segurança e se concentrou para não deixar a língua enrolar durante a fala. Queria passar credibilidade para que ninguém ficasse em seu pé. Estava se divertindo demais.
— Estou percebendo. Parece tão sóbria que poderia se garantir em cima daquele palco ainda. — ele fez menção ao karaokê e a encarou malicioso, apoiando o cotovelo no balcão em seguida.
— Tá me desafiando, ? — ela semicerrou os olhos e segurou um sorriso ao notar ele dar de ombros divertido. — Devia se lembrar que não costumo desapontar nos desafios. Dei uma surra em você no videogame aquele dia que você ainda não conseguiu superar.
— Contra fatos não há argumentos. — confirmou e a encarou com os olhos semicerrados ao ver que ela pegava o drink, sem disfarçar o julgamento.
— Para de me olhar assim! Eu sei que você veio aqui bisbilhotar se eu já não tava vomitando ou algo do tipo. Você e o precisam sair do meu pé e apenas se divertirem comigo hoje, ok? Acordei feliz e quero aproveitar isso. — ela pediu sincera e viu que o amigo a levou a sério. Não conseguia entender bem de onde tinha saído todo aquele seu bom humor ou vontade de aproveitar. Era apenas mais um daqueles dias em que você acorda se sentindo bem e com vontade de fazer tudo que tem vontade, aproveitando cada momento de forma boba e feliz. E era isso que estava tentando fazer.
— Tudo bem! Estávamos apenas preocupados, mas você me convenceu. — ele também pegou uma bebida no balcão e estendeu o braço pra ela. — Vamos voltar pra nossa mesa e aproveitar juntos.
— Será que as pessoas não vão cansar nunca de cantar essa música em karaokês? — perguntou e tampou os ouvidos enquanto uma moça bem desafinada cantava My Heart Will Go On a plenos pulmões.
— Isso porque você não conhece o clássico evidências lá no Brasil. — riu sozinha com a irmã ao lembrar sobre o que falavam.
— Mas e aí, quando que vai ter outro evento legal daqueles na escola de vocês? — os encarou curioso.
— Se não me engano é daqui duas semanas, vai ser o último. — respondeu e depois tomou uma expressão de dúvida no rosto. — Vai ser o último, né?
— Sim. O semestre tá perto de acabar já. — Dylan respondeu meio distraído.
— É, ta cada vez mais perto de ir embora. — finalmente se pronunciou. Passara boa parte do tempo apenas prestando atenção nas conversas e beliscando os petiscos tentando se manter sóbria. Não parecia ter adiantado muito já que sentia a língua começar a enrolar enquanto falava.
— Ah, não, ! Você mesmo disse que hoje é dia de alegria. Não vamos entrar nesse assunto triste sobre vocês voltarem pro Brasil. — rolou os olhos e voltou a beber.
— Exatamente! Sem contar que vocês mesmo falaram que tem uma chance mínima de não precisarem ir. — lembrou de outra conversa que tiveram sobre aquele mesmo assunto.
— Gente, esqueçam isso. Vamos jogar verdade ou consequência! — desviou o assunto totalmente e sugeriu extremamente animada.
— Que? Que ideia é essa, ? — questionou enquanto os outros apenas riam da garota. Ela estava mais bêbada que o normal e não conseguia disfarçar isso.
— Eu acho legal! — Dylan deu de ombros e cruzou os braços sobre a mesa, encarando divertido a amiga.
— Não sei se gosto da ideia de você beijar outra pessoa. — comenta enciumado.
— Amor, é apenas pela diversão. Não é como se eu quisesse ver a te beijar também. — falou enquanto se aninhava em seu ombro.
— Seria bizarro! — comentou com a cara de nojo, voltando ao normal quando viu a cara de ofendido de . — Não me leve a mal, cunhado. Mas eu acho que podemos resolver isso. É só ninguém botar como consequência um beijão em qualquer um de vocês dois. Somente selinho.
— É uma boa ideia. — confirmou também se animando. e se encararam por um tempo.
— Então vamos jogar! — a primogênita comemorou e colocou uma das garrafas vazias no centro da mesa.
— Só eu tô achando isso tudo estranho? — questionou.
— Também não sei se é uma boa ideia. — comentou e passou a mão pelos cabelos sem jeito. entendeu na hora o porquê de ele estar com o pé atrás.
— Tão com medinho? — ela alfinetou os dois com um sorriso malicioso, mas não desviou o olhar de . A verdade é que nem ela estava tão afim assim de jogar, mas a vibe de “não estou ligando pra nada” estava ótima. Escutou a gargalhada de Dylan antes de ele voltar a falar.
— Tá certo, vamos logo com isso. — deu de ombros e desviou o olhar com indiferença.
— Quem vai começar? — perguntou e rolou os olhos. Não tinha como dar pra trás quando resolveu o abandonar.
— Deixa comigo! — falou animado e se arrumou na cadeira antes de rodar a garrafa. Dylan para .
— Verdade ou consequência, ? — Dy sorriu malicioso.
— Essa sua cara está me assustando. — fez careta. — Verdade.
— Já ficou com outra enquanto estava com a ? — ele perguntou sem tirar o sorriso do rosto. Todos observavam atentos e intercalavam o olhar entre e que estava sérios.
— Já vi que o nível vai ser pesado. — comentou baixo.
— Não. — foi direto, desviou a atenção de Dylan para . — Nem mesmo antes de namorarmos.
— Tá ok! Isso foi bem fofo. — o puxou para um selinho.
— Foi mesmo, mas vamos continuar com isso antes que vocês se empolguem demais. — bateu palmas e depois jogou uma bolinha de guardanapo no cunhado.
— Já vou! — ele pegou a garrafa e rodou. Soltou uma risada em seguida. — para .
— E aí, ? Verdade ou consequência? — o encarou divertida.
— Verdade. — ele respondeu.
— Frouxo! — zoou.
— Certo. — confirmou e pensou por uns segundos. — Tá apaixonado por alguém no momento?
O garoto ficou em silêncio por um tempo e logo todos da mesa começaram a pegar no seu pé o apressando. Uma mistura de “assume logo”, “anda, !” e “responde!” foi quase gritada para ele, que respondeu impaciente.
— Calem a boca! Eu estou, ok?
— É pela ? — emendou a pergunta.
— Boa tentativa, . Mas é apenas uma pergunta por vez. — ele ergueu a sobrancelha e a encarou esperto. Não esperou uma resposta e girou a garrafa..
— Parece que somos nós, . — piscou esperto ao ver que a garrafa tinha parado com os dois. Ela apenas ergueu a sobrancelha em desafio e tomou um gole de sua bebida. — Verdade ou consequência?
— Vamos animar isso. Consequência. — os amigos comemoraram com gritinhos e batidas na mesa. Ela preferiu fingir que não tinha notado ficar sério após sua resposta. Assim como fingia ter escolhido consequência por pura diversão quando, na verdade, só não estava preparada para falar em público as coisas que provavelmente queriam saber.
— Já que é assim, sua consequência é ir bem ali na sinuca e conseguir pelo menos o telefone do carinha de branco. Sem enrolação e usando pelo menos uma cantada.
mordeu o lábio pensativa e encarou o tal cara que indicou. Ignorou os comentários dos amigos e o analisou com calma. Parecia ser poucos anos mais velho que ela, tinha um estilo básico e estava acompanhado de alguns outros caras. Sem contar que era até bonitinho. Ela voltou a prestar atenção nos amigos a tempo de ouvir a pirraçar.
— Acho que ela não tem coragem. Não com toda essa timidez que…
— Tudo bem. — o cortou e não esperou para ver a reação dos demais. Levantou do banco em um pulo e seguiu o mais firme que conseguiu até a parte das sinucas. Talvez não devesse ter bebido tanto, não estaria tropeçando e prestes a cair na frente de um cara que nem conhecia. Na verdade, não estaria nem participando dessa brincadeira.
— Boa noite! — ela chegou até o cara e se encostou na sinuca ao seu lado. Agradeceu mentalmente pela posição a deixar de costas para os amigos. Não queria ver suas caras e bocas nem por visão periférica.
— Boa noite! — ele a encarou de rabo de olho dos pés a cabeça e voltou a atenção para o jogo. Ela se sentiu desconfortável naquele vestido pela primeira vez e o cara era mais sério do que parecia. — Posso te ajudar em alguma coisa?
— Na verdade, sim. — ela falou em tom despreocupado e passou a mão pela nuca. Viu os amigos dele se distanciarem com a desculpa de que iriam pegar bebidas e se sentiu mais aliviada. Notou que agora ele prestava atenção apenas nela. Engoliu a vergonha e explicou. — Bom, é que eu tô jogando com meus amigos e eles me desafiaram a vir aqui te passar uma cantada pra conseguir chegar lá com seu telefone.
Ele escutou atento e ela percebeu seu olhar seguir sem muita discrição para onde estava sua mesa com seus amigos. Desejou que eles estivessem distraídos ou bêbados o suficiente para não notar que ela estava burlando as regras ao contar a verdade.
— Vocês são barulhentos. — ele comentou como se confirmasse um fato. Voltou a encarar interessado. — E o que eu ganho com isso? Digo, te ajudando e passando meu número.
— Boa pergunta. — estalou a língua e fez um bico com a boca. Não tinha parado pra pensar que ele poderia querer uma recompensa. A realidade é que não estava pensando em nada. Deu de ombros e retibuiu o olhar curioso. — O que você quer em troca?
— Nada demais. Mas não sei se é uma boa ideia pro momento. Você parece estar bastante bêbada. — ele riu de lado e demorou o olhar por mais tempo em sua boca.
— Bom, eu ainda sei meu nome, onde estou e estou conseguindo manter uma conversa normal com alguém que não conheço. Aliás, nem tão normal. — soltou uma risada e ergueu a sobrancelha em seguida. Talvez em outro dia a ideia nem passasse por sua cabeça, mas não naquela noite. Não com a observando e com as imagens dele e Karol em sua cabeça. Encarou o cara em desafio. — E então?
— Eu não acredito que você beijou ele! — fez um mini escândalo assim que a irmã chegou na mesa com um sorriso no rosto.
— E a consequência foi cumprida. — balançou o celular com o número salvo na frente de .
— Mandou bem, ! — Dy comentou animado e esticou a mão para um high-five.
— Dá pra gente voltar pro jogo? — pediu mal humorado sem olhar direito para ela.
— Minha vez. — tomou a frente e girou a garrafa. Teve que disfarçar um sorriso satisfeito ao ver de quem seria a vez. — para .
— Verdade ou consequência, cara?
— Consequência. — ele anunciou sem pensar muito. Os amigos comemoraram e ele aproveitou para encarar por alguns segundos. Notou que ela já estava o observando e que desviou o olhar em seguida. Pareciam duas crianças naquele jogo de demonstrar desinteresse. só não queria ser o primeiro a dar o braço a torcer.
— Pensa bem, . É uma chance de ouro. — fez piada.
— É, não é sempre que ele tá disposta a fazer o que queremos. — entrou na onda.
— Não abusem, ok? Quem escolhe é o . — os interrompeu antes que aquilo virasse o único assunto da mesa.
— Acho que tenho algo. — conseguiu a atenção de todos, que se calaram e o encararam atentos. Ele soltou um riso nasalado antes de encarar em desfio. — A consequência é você beijar a .
e se encararam instantaneamente e uma mistura de comentários começaram a surgir. Coisa como “pegou pesado, ”, “esse jogo tá pegando fogo” e “pediu, vai ter que aguentar” foram faladas. poderia jurar que vira de relance virar uma garrafa quase toda de uma vez em nervosismo. continuava a olhar em silêncio assim como ele fazia com ela. Pareciam estar em uma bolha tentando entender o que se passava em sua cabeça. A gêmea estava pronta pra falar que não queria fazer parte daquilo ou pedir que não envolvessem uns aos outros nas consequências, afinal ela sabia que não conseguiria lidar com aquilo mesmo sendo parte de uma brincadeira e ela estando bêbada. Não precisava deixar tão a mostra o poder que ainda tinha sobre ela. Enfim tomou ar pra se pronunciar, mas foi mais rápido.
— Não vou beijar ela. — respondeu seco sem a encarar. Ela não esperava por aquela resposta, mas a sentiu como uma bofetada.
— Calma aí, . — Dylan interviu sério.
— Vai dizer que agora tá namorando? Se não queria entrar na onda porque aceitou participar? — questionou meio fora de si, mas brava. Tomava as dores da irmã facilmente depois de algumas bebidas.
— A Karol não tem nada a ver com isso. — ele cruzou os braços na altura do peito.
— Ninguém falou em Karol. — indicou séria e ficou em pé. — Pra mim já deu por hoje.
Ela pegou o celular e o último copo cheio da mesa e saiu. Não deu ouvidos para os amigos a chamando e caminhou sem olhar para trás até estar do lado de fora. Andou um pouco e encostou na parede. Virou de uma vez a bebida que segurava e sentiu a garganta queimar. Deixou o copo vazio no chão e envolveu o corpo com os próprios braços, encarando a rua em silêncio.
Tinha saído de lá porque se sentira fraca e envergonhada com a cena. Ser negada por ele daquela maneira e ainda saber que ele tinha Karol na cabeça e nem havia disfarçado pros outros tinha sido mais do que estava preparada para aguentar. Suspirou e pegou o celular. Ficou o encarando sem saber o que fazer. Se sentia triste, pequena, perdida e bastante bêbada. Escutou um barulho ao seu lado e soube quem era.
— Eu sei que pareceu outra coisa, mas eu neguei porque não conseguiria lidar com esse contato todo de volta com você. Não na frente de todo mundo. Eu sei também que ando muito próximo da Karol, mas isso não quer dizer que eu não sinta nada por você. Eu só estou tentando entender realmente o que eu quero. — falou de uma vez e calmo. Encarava a rua assim como a garota. continuou em silêncio com o olhar focado na rua. — Não pense que eu negar aquele desafio significa que você não importa pra mim. Pelo contrário, você ainda mexe muito comigo.
— Não sei se consigo ir pra casa sozinha. — foi a única coisa que passou pela sua cabeça pra responder naquele momento. E ela sabia que era melhor não aprofundar naquilo. Estava cansada daquele discurso, mesmo sabendo que o escutaria quantas vezes ele quisesse falar. O encarou de forma singela, ou talvez meio torta, e suspirou.
— Eu posso te levar, mas acha que é uma boa ideia sua avó te ver assim? — perguntou preocupado. Ele também parecia aliviado do assunto ter ficado pra trás.
— Com certeza não, mas não tenho outra opção. — gargalhou e deu de ombros. Não sabia porque, mas tinha a impressão de que a conversa tinha ficado consideravelmente mais engraçada. Ela deu um passo na direção dele e acabou tropeçando. Teria caído se ele não tivesse a pegado pelo braço. O que tinha mesmo naquele copo que ela pegou?
— Melhor ir devagar, . — ele constatou o óbvio enquanto tentava a segurar. Ela mal deixava o corpo reto e não parava quieta. Sem contar que ria sem parar.
— Ai, isso aqui até parece uma cena de filme, sabia? — ela tentou falar séria, mas acabou deixando a risada escapar entre os lábios.
— Vamos pro carro. — pediu, mas não esperou resposta. Começou a guiá—la pela rua com o braço em sua cintura e sua outra mão segurando a dela.
— Ei, para! — ela firmou os pés de uma vez e o encarou curiosa. — Eu tenho que avisar minha irmã. Ela pode achar que você me sequestrou e vai me criar em cárcere privado. Não que eu acharia ruim ficar presa só com você, mas acho que uma hora ou outra ela ia ficar preocupada.
— Eu avisei ela. Fica tranquila, tá bom? — respondeu sem aguentar segurar uma gargalhada. Ainda não tinha conhecido essa aérea e estava sendo divertido. Não era o tipo de cena que imaginou que aconteceria entre os dois quando saiu do bar atrás dela. Mas estava sendo bem melhor.
— Promete que avisou? — perguntou e fez um bico infantil com a boca. O encarou diretamente sem notar o quão próxima tinha ficado.
— Prometo. — respondeu e se perdeu por alguns segundos no rosto da amiga. Ela estava especialmente linda naquela noite e a ter tão perto fazia seu coração sair do eixo. Se ela não tivesse bebido tanto, ou se ele não tivesse tantos "e se" em sua cabeça, provavelmente já estaria a beijando. Queria engolir o ciúme que sentira mais cedo com um beijo dela, tão longo ou mais quanto o que ela havia dado naquele cara estranho. Queria matar a saudade do perfume dela dominar suas blusas e sentir os braços dela a envolvendo em um abraço calmo. Basicamente queria tudo que ele mesmo tinha impedido de poder aproveitar. saiu do devaneio momentâneo que tinha entrado e se afastou. A garota já não prestava mais atenção nele e estava quase dormindo em pé. Ele deu um sorriso triste pra si mesmo e voltou a andar com ela. — Vamos, .
acordou e sentiu as pálpebras pesarem como se tivessem muitos quilos de areia sobre cada uma. Com muito esforço conseguiu abrir os olhos e encarar o ambiente ao redor. Se sentiu extremamente perdida ao não reconhecer onde estava. A cama era bastante confortável, mas não estava em casa quando sabia que precisava estar. Forçou o corpo para se levantar e quase chorou de arrependimento ao fazê-lo, sua cabeça doía e se sentia levemente tonta. Ignorou o incômodo e começou a procurar algo que a ajudasse a se localizar. Parou o olhar na pequena cômoda ao lado de onde estava e encontrou um porta retrato pequeno, a foto mostrava um pouco mais novo do que conhecia abraçado com uma senhora. perdeu alguns segundos apenas admirando a imagem bonita, mas voltou a si quando entendeu que tinha não só dormido na casa de , como estava na cama dele. Sentiu a garganta secar mais ainda e se levantou assustada. Se lembrava de estar conversando com ele e dos dois abraçados, o resto da noite depois disso era um completo buraco em sua mente. Ainda estava com a roupa do dia anterior e seu tênis estava largado ao lado da cama. Os calçou e foi até o banheiro do quarto, quase se assustando ao ver sua aparência no espelho. Seu cabelo mais parecia um ninho de passarinho e sua maquiagem estava bastante borrada.
Deu um jeito em tudo e fez sua higiene da melhor maneira que conseguia, saindo do quarto em seguida. Ela desceu as escadas em silêncio e encontrou a sala vazia, indo para a cozinha depois, de onde tinha escutado barulho.
— Oi. — ela falou baixo assim que entrou no local e encontrou fazendo alguma coisa no liquidificador. Não pode deixar de notar que ele estava sem camisa. Cruzou os braços envergonhada com a situação e por mal conseguir disfarçar que encarava sua barriga.
— Oi, . Como está? — ele se virou com o copo do aparelho na mão e a encarou com um sorriso de lado.
— Péssima. — confessou e se sentou em um dos bancos do balcão. Viu ele servir o líquido grosso e verde em um copo e a entregar. Encarou com nojo. — O que é isso?
— Minha receita de “cura ressaca”. Bebe tudinho e você estará nova em folha em poucas horas. — a olhou sério como um pai e com um impulso se sentou no balcão.
— Certo. — não disfarçou outra careta e teve que tampar o nariz para conseguir tomar pelo menos um gole. Se impressionou ao notar depois que o gosto não era tão ruim quanto parecia. — Não é dos piores.
— Eu sei. — sorriu convencido e ela rolou os olhos com um sorriso no rosto. Os dois caíram num silêncio por um tempo.
— Não me lembro de como vim parar aqui. Ou melhor, nada contra você, mas porque aqui e não com os outros? — ela mordeu o lábio e o olhou insegura. também devia concordar que ele não era a melhor opção de companhia para ela sozinha.
— Você não poderia ir pra casa naquele estado e também não queria voltar para o bar. Eu precisaria falar com algum deles e não dava pra te largar sozinha lá fora. Até tentei ligar quando chegamos ao carro, mas foi questão de segundos pra você apagar no banco. Ficamos com dó de te acordar e te trocar de carro ia dar muito trabalho. — ele deu de ombros.
— Minha avó vai me matar. — ela suspirou e apoiou a testa na mão. Sabia que Kath era tranquila em relação a tudo, mas odiava que a deixassem preocupada. Com sorte seus pais não saberiam da história.
— Não se preocupe. também apagou, mas foi quando ainda estava no Ezra. ligou pra Kath dizendo que tínhamos ido pra casa dele mais cedo depois do bar e vocês duas acabaram capotando. Ela pareceu ter sido convencida. — a lançou um sorriso confortante.
— E seus pais? — ergueu a sobrancelha. Só então tinha se lembrado deles, esperava de coração que não tivessem a visto no estado que estava noite anterior. Com o resultado de hoje, tinha certeza que não tinha sido um de seus melhores momentos.
— Quando chegamos eles já tinham deitado, mas questionaram quando me viram deitado no sofá de manhã. Expliquei mais ou menos a situação e eles não acharam ruim.
— Você dormiu no sofá? — perguntou espantada e morrendo de vergonha. Não só tinha dado trabalho como também havia tirado o amigo da própria cama, provavelmente o livrando de uma boa noite de sono que ele também merecia.
— , já disse pra não se preocupar. O sofá daqui é extremamente confortável e muitas vezes passo a noite nele por vontade própria. Não faça alarde com isso, ok? Aliás, fique tranquila com tudo e foque em curar essa sua ressaca. — ele pulou do balcão e passou a mão por seu ombro, apertando fraco antes de se distanciar. — Enquanto você aproveita sua vitamina, vou tomar um banho. Se quiser ir também, posso conseguir alguma roupa pra você.
— Não precisa, deixa pra quando eu chegar em casa mesmo. — ela mordeu o lábio. Não queria dar mais trabalho do que já tinha dado.
— Certo. Vou indo e quando eu voltar te deixo em casa, ok? — perguntou, mas não esperou por uma resposta. Saiu da cozinha e seguiu para o andar de cima.
O silêncio voltou a pairar no ambiente e apoiou a testa na mão. Aproveitou o momento para fechar os olhos e tentar se concentrar na noite anterior. Se lembrou dos meninos tocando e de como ela e a irmã estavam animadas. Em algum momento o McFly tinha parado de tocar e já estavam na mesa com elas e Dylan. Se lembrava também da grande quantidade de bebida e de como parecia uma ótima ideia eles jogarem verdade ou consequência, mesmo que ela e estivessem na brincadeira.
Sentiu o rosto esquentar de vergonha com a cena dela conversando com o tal cara da sinuca e depois ele a segurando pela cintura e a puxando para um beijo na frente de todos. Tinha sido bom e ele era bonito, mas desde quando ficava tão desinibida bêbada? Voltou a vasculhar a mente e seu coração acelerou com todos os últimos acontecimentos da noite. negando a beijar na frente de todos. Ela indo embora. indo atrás dela e os dois conversando sozinhos. Ele falando muita coisa de uma vez e depois a aparando quando ela quase caiu e tudo começou a ficar muito engraçado. Não se lembrava das palavras detalhadas que escutou dele, mas tinha certeza de que ele falara algo sobre ainda se importar com ela.
O gosto da vitamina preso em sua garganta pareceu mil vezes pior e até seu estômago apertou de nervosismo. não tinha se aprofundado no assunto, mas sabia que estava próximo de Karol. Ainda assim, ele tinha ido atrás dela, tinha se preocupado e cuidado dela. ainda se importava, talvez até se sentisse assim como ela. Sua cabeça pareceu pesar o triplo desde que acordara e ela sabia que precisava sair dali. Tinha que se recompor e se afastar de pelo menos por um momento. Queria colocar seus pensamentos em ordem para saber o que iria fazer. Vinha acreditando fielmente nas últimas semanas que ele já tinha desistido de tudo que sentia por ela e que tinha feito a escolha, que ficaria com Karol. Ao que parecia, porém, ele ainda estava tão confuso quanto ela e talvez nem tivesse superado de vez o que tiveram.
Não queria quebrar a cara ou muito menos passar por todas as dores que sentiu novamente, mas a fagulha de esperança estava acesa de novo. Era sua segunda chance de não deixar seus últimos meses na Califórnia continuarem indo por água abaixo.
Capítulo 29
2 meses depois
O clima no colégio era agradável para a época e os alunos pareciam estar divididos entre o surto com as provas e o fechamento do ano letivo chegando. Ao mesmo tempo, também estavam eufóricos com a ideia de encerrar aquele período e poderem ter seus merecidos descansos e comemorações.
— Nem consigo acreditar que estamos na última dessas reuniões chatas. — anunciou com alívio. Estavam sentados na arquibancada da quadra aguardando Nathalie iniciar mais um de seus discursos.
— Para mim passou rápido. — Dylan deu de ombros. — Parece que os eventos aconteceram ontem. O cinema a céu aberto mesmo poderia ter sido antes de ontem.
— Nem fale. — soltou um muxoxo ao se lembrar daquele dia. Tinha sido uma noite complicada com conversas e decisões difíceis que até hoje ela colhia as consequências. Ela desviou o olhar para o seu lado e viu e se aproximando. Antes do segundo seguir até onde estava, conseguiu o ver parando no caminho e depositando um beijo na testa de Karol. Mordeu o lábio e voltou a olhar para a irmã e Dylan, conversavam distraídos. Era incrível como mesmo meses atrás, ainda naquele dia em que acordou na cama de depois de um porre, ela acreditou que fosse tomar mais um pouco de coragem para tentar fazer as coisas mudarem. É claro que depois de um banho e boas horas de sono, tudo pareceu mais difícil. Além disso, com o passar dos dias, foi se mostrando cada vez mais como o que conhecera nos seus primeiros dias de aula. Ele fazia piadas com ela, se mantinha próximo e falava bobeiras sem transparecer segundas intenções. Ela não sabia se ele fingia muito bem ou se não sobrara nada de sentimento por lá, mas Karol não era mais uma peça tão crucial nessa questão. Ele também parou de aparecer sozinho com ela e há um bom tempo ninguém os via juntos sozinhos pelos cantos. Não sabia de fato o que havia acontecido, mas parecia que tinha voltado quase um ano atrás e eram todos apenas bons amigos.
— O que tem de adolescente do primeiro ano tentando vir para cá matar aula, não cabem nos dedos. — Foi o que disse assim que chegou até eles e se sentou ao seu lado.
— Acho mais fácil o motivo ser outro. Esses novinhos são muito assanhados pra cima dos veteranos. Um moleque um dia me perguntou se eu não queria dar uma volta com ele no almoxarifado. — rolou os olhos impaciente e Dylan gargalhou.
— Ninguém manda ser a líder de torcida mais gata. É o sonho perfeito de todos eles. — Dy deu de ombros e a encarou com uma expressão de quem sabia de tudo.
— Esse negócio não vai começar, não? Tava feliz que tinha me atrasado para chegar aqui, jurando que tinha perdido pelo menos metade de toda a falação da Nath. — soltou uma risada fraca e sentou na arquibancada.
— Não vejo a hora de ir embora também. Tá calor demais e eu quero um banho e cama. — bufou baixo, mas fez uma mini comemoração em seguida ao ver Nathalie se aproximar do microfone.
— Parece que pelo menos um dos pedidos vai ser atendido. — comentou.
Bastou ela se calar para que Nathalie começasse a falar. Seu discurso se iniciou como todos os outros: cumprimentando e agradecendo a todos pela ajuda nos últimos eventos. O diretor também teve seu momento breve de fala antes de, enfim, entrarem no assunto pelo qual todos estavam esperando.
— Agora, sobre a viagem de formatura. — Nath iniciou e alguns gritinhos de comemoração saíram da arquibancada. — Como vocês devem ter visto nos informativos espalhados pela escola, ela vai acontecer no próximo fim de semana. Graças ao esforço de todos, conseguimos todo o dinheiro necessário para fazê-la acontecer. Porém, antes de qualquer coisa, todos os interessados em participar devem ir até a secretaria até terça-feira. Lá vocês vão fazer as inscrições e pegar alguns comprovantes importantes. Não se esqueçam também de conferir a lista de materiais e objetos que não serão permitidos. — ela fez uma pausa e puxou a pasta debaixo do braço para consulta-la, anunciando animada em seguida. — Era segredo até então, mas já podemos divulgar que nosso destino é um resort fechado em Santa Cruz!
— Nunca ouvi falar. — fez um bico com a boca e os amigos riram.
— Já passei algumas férias lá. É um verdadeiro paraíso. — contou animado.
— Quero saber é o que vai rolar nesse resort. Essa viagem tem tudo pra ser incrível. — sorriu de lado e ergueu a sobrancelha.
— Não sei o que você tá tramando, mas aposto que a Nath tem uma programação bem cronometrada e rígida para atrapalhar seus planos. — Dylan debochou.
— Antes que vocês se dispersem demais, um último aviso. — Nathalie retomou a fala e todos voltaram a prestar atenção. — Estejam atentos ao horário de saída. Iremos reforçar durante a semana, mas é importante que todos já comecem a se organizar para estarem aqui no horário certo de sexta-feira. Sairemos cedo. Além disso, todos receberão um guia com o cronograma básico e instruções sobre a viagem no momento de inscrição. Obrigada!
— Às vezes eu acho que a Nath deixaria a Monica Geller com inveja no quesito organização. — comentou, arrancando risadas de todos.
Assim que a garota e o diretor deixaram o local, levando os equipamentos, as pessoas começaram a se dispersar pelo local. Os cinco continuaram na arquibancada em silêncio, cada um em seus próprios pensamentos.
— Vocês já pararam pra pensar no que vão fazer depois que isso aqui acabar? — Dy perguntou sem desviar o olhar da frente. Ele olhava para um ponto específico, parecendo estar com a mente mais distante do que ali.
— A gente podia ir pra beira da Golden Gate. — sugeriu animado.
— , acho que o Dy tá se referindo a algo maior. — explicou enquanto os outros riam. O garoto a encarou em dúvida por alguns segundos, sem saber onde tinha errado, mas depois ergueu a sobrancelha e abriu a boca em uma expressão de quem finalmente tinha entendido.
— Eu só quero me dedicar totalmente ao McFly. Ainda aposto meu futuro na banda sem temer. — tinha um tom de voz seguro. Era só olhar pros seus olhos brilhando cada vez que falava sobre a banda para saber que era a coisa pela qual mais se entregaria na vida.
— Quem sou eu pra não confiar no futuro do McFly também. — deu de ombros como quem não tivesse outra opção senão aquela.
O ambiente caiu no silêncio de novo e Dylan encarou as gêmeas, esperando por uma resposta.
— Eu não tenho ideia. — suspirou e soltou um riso frouxo e desanimado. — Às vezes fico pensando nisso por um bom tempo. Penso em tudo que eu amo fazer e que poderia talvez virar uma profissão, mas não chego em lugar nenhum. Acho que só saberei com o passar do tempo.
— Vocês deveriam começar uma banda. — sugeriu em tom de quem já havia avisado e teve o apoio dos outros dois garotos que acenaram concordando. As duas apenas rolaram os olhos em sincronia, não era a primeira vez que tinham que aguentá-los argumentando sobre aquilo.
— Eu espero conseguir trabalhar com música. Não necessariamente uma banda. — se apressou em dizer antes que se animassem demais. — Mas não sei...É tudo bem difícil. Talvez eu só volte para o Brasil e comece a estudar para virar advogada.
— Isso realmente não é o seu perfil. Você provavelmente acabaria com todos os casos puramente por estresse e falta de paciência. — brincou e a cutucou fraco, arrancando uma risada baixa dela.
— Acho que podemos ir embora. — Dylan sugeriu ao notar que voltariam a cair no mesmo silêncio de antes. Apontou ao redor para mostrar que o local estava vazio.
— Vocês vão pra casa? — perguntou enquanto todos pegavam suas mochilas e desciam da arquibancada.
— Até então, sim. — deu de ombros e o encarou curiosa. — Por que, ?
— e eu pensamos em chamar vocês para fazer alguma coisa quando estávamos vindo. Nem que seja sair sem rumo por aí. — ele também deu de ombros.
— Eu topo. Estou de carro, hoje. Podíamos ir para beira da Golden Gate. — Dylan sugeriu.
— Amei a ideia! e também podiam ir. Talvez fazermos um piquenique improvisado? — sugeriu animada.
— Tem um violão no meu porta-malas e vários mercados no caminho. Por mim, aceito tudo! — fez um high-five com a primogênita.
— Ótimo! Eles devem estar tirando horário de almoço mesmo. Vou ligar para o no caminho pra gente se encontrar lá. — comemorou com uma dancinha boba, fazendo todos rirem enquanto seguiam para fora da escola.
— Certo, prestem atenção na câmera e falem devagar pra ficar fácil de pegar a legenda depois. — instruiu os amigos. Estavam todos sentados em um lençol na sombra de uma árvore perto da beira da água. Dali eles tinham a vista próxima da Golden Gate e uma distância considerável de onde as pessoas e ciclistas passeavam. Tinham chegado há um bom tempo e comido quase todas as besteiras que compraram no mercado. Com o violão de ali, foi questão de poucos minutos para que começassem a cantar e tocar. Quando chegou com o dele, o esquema estava fechado. Cantavam hora baixinho e hora completamente animados. A empolgação fez as gêmeas pegarem o celular para gravar aquele momento como recordação e de quebra ter mais material para soltar em suas redes.
— A gente vai ficar famoso depois disso? — perguntou divertido com uma animação exagerada.
— Quero pelo menos algumas seguidoras novas. — deu uma piscadela.
— Ei, sendo assim eu acho que também quero aparecer nessa introdução pelo menos. — Dylan era o responsável pela gravação já que não fazia muita questão de cantar.
— Nem nós somos famosas, imagina vocês. É melhor nem empolgar. — rolou os olhos mas manteve o sorriso nos lábios.
— Ah, mas nós somos mais bonitos. Aposto que quando verem nossos rostinhos lindos vão até esquecer de vocês. — comentou convencido.
— Será que nós podemos começar logo com isso? — pediu.
— Ei, calma aí, mocinha. Hoje é a gente quem manda nisso aqui. — tomou a frente e pegou o celular da mão de Dy. Se aproximou dos outros meninos e fez questão de pegar todos na imagem da câmera frontal, menos as gêmeas. Apertou o play. — Olá, Brasil!
— Oi, meninas bonitas! — gargalhou da própria bobeira.
— E todo os demais que acompanham as também. — deu um tchauzinho lá de trás.
— Hoje nós estamos aqui com essa vista maravilhosa de São Francisco para dizer que nós estaremos substituindo as gêmeas por tempo indeterminado. — anunciou com uma seriedade que não combinava com as risadas dos demais. As garotas apenas observavam de fora.
— Isso aí! Além de sermos mais bonitos, nós temos aqui uma banda completa que arrasam tanto quanto as duas. — Dy fez um joinha pra câmera.
— É, aproveita pra acompanhar as nossas redes sociais! — pediu animado.
— A gente tem umas fotos bem bonitas. — comentou.
— É, não chega aos pés das fotos das duas na praia, mas não decepcionamos. — confirmou.
— Tá okay! Já chega, falaram demais. — interrompeu eles e foi para cima do namorado para tentar pegar o celular. Claro que ele a afastou facilmente com a mão livre enquanto os demais riam.
— Sai fora, . Deixa a gente terminar. — ralhou com a primogênita também. Ela apenas rolou os olhos e se sentou afastada novamente, cruzando os braços feito criança.
— Então acabem logo. — pediu também ficando impaciente. Recebeu apenas língua de e Dylan e rolou os olhos.
— É o seguinte, gente. — tomou a frente e se dirigiu à câmera. — Nós vamos fazer um acústico aqui de uma música porque estamos inspirados, com tempo e instrumentos.
— E porque a gente gosta de aparecer também. — Dylan acrescentou sorridente. Eles estavam realmente se divertindo com tudo aquilo.
— Vamos para o que interessa. Antes que elas no matem! — pediu ao notar rolando os olhos.
Eles apenas confirmaram e se arrumaram melhor sobre o lençol. Eram dois violões, muitas vozes e o som do ambiente ao redor. Dessa vez, as gêmeas permitiram que eles tivessem a frente e se mantiveram mais discretas, fazendo quase uma segunda voz. Até Dy tinha se animado durante a música e entrado na cantoria. Cantaram um cover de Wonderwall sem se preocuparem com afinações e notas perfeitas.
— Eu amo isso aqui tanto quanto estar em cima do palco, sabe? Cantar todo mundo junto só curtindo o momento é bom demais. Ainda mais sendo com vocês. — confessou assim que terminaram a gravação e música.
— Awn, isso foi extremamente fofo, ! — quase sufocou o amigo em um abraço apertado, não pode se conter ao ver a cara fofa que ele fez ao falar.
— Eu achei meio forçado. — fingiu desdém dando de ombros, mas caiu na gargalhada ao ver com cara de poucos amigos. — Brincadeira, amor.
— Mudando de assunto, como foi hoje lá na escola? Já sabem sobre a viagem de fim de ano? — perguntou curioso. Havia deitado no lençol e apoiado a cabeça nas pernas da namorada.
— Sim! Resort em Santa Cruz! — resumiu o que ele queria saber.
— Parece que vai ser bom. Queria ir também. — comentou e fez um bico com a boca.
— A gente chegou a perguntar se ex-aluno não podia ir como monitor ou algo assim, mas não liberaram. — explicou.
Os sete caíram no silêncio e cada um ficou divagando com seus próprios pensamentos enquanto admiravam o céu e a paisagem.
— Só sei de uma coisa: Essa viagem vai servir bem como uma despedida, mas ainda assim teremos que fazer nossa festinha exclusiva antes de irmos embora. — fez menção a ela e a irmã. Automaticamente os sorrisos animados se transformam em forçados.
— Ainda não me acostumei com a ideia de vocês irem. — bufou sem se preocupar em disfarçar o desânimo.
— Nem eu! Não sei porque não ficam de uma vez aqui. Vocês já até assumiram para mim que amam estar aqui. — Dylan deu de ombros.
— E a gente ama! — confirmou e bufou em seguida. levantou de suas coxas e ela cruzou as pernas, olhando baixo. — Não está sendo fácil pra gente lidar com isso e aceitar, mas é o que temos que fazer. A gente precisa ir pro Brasil, ver nossa família, pensar um pouco na gente e no nosso futuro pra saber que caminho vamos seguir daqui pra frente. A gente pode ir e ver que é aqui mesmo que queremos morar, e acabar voltando antes do fim do ano. Mas ainda assim precisamos ir. Esse foi o trato com nossos pais: um ano letivo. — ela explicou em tom de desabafo. Se sentia triste a cada vez que lembrava que a data de partir estava mais próxima. Ainda mal tinha conversado com sobre isso, sobre como ficariam. E isso estava a matando aos poucos. Pensar que possivelmente o término do namoro que tanto gostava estava perto, fazia seu coração apertar.
O clima pesou assim que todos eles finalmente notaram que aquela mudança seria mais difícil para as duas do que para eles. O silêncio voltou a cair e dessa vez todos podiam imaginar no que estavam pensando. pegou o vilão e começou a dedilhar. Odiava pensar naquele assunto, não queria estragar seus últimos dias ali sofrendo. Preferia deixar acontecer dessa vez.
— You just call out my name and you know wherever I am... (Apenas chame o meu nome e você sabe, onde quer que eu esteja) — ela começou a cantar e notou os amigos ficarem mais alertas. Só queria amenizar o clima chato que tinha se instaurado e música era sempre uma boa opção pra eles. — I'll come running to see you again (Eu virei correndo para te ver novamente).
— Winter, spring, summer or fall, all you got to do is call and I'll be there… (Inverno, primavera, verão ou outono, tudo o que você tem de fazer é chamar e eu estarei lá) — começaram a cantar juntos e logo voltaram a aproveitar o momento leve juntos como era o plano desde o início.
— You’ve got a friend (Você tem um amigo)...
A porta se abriu e Dylan pôde ver uma com cara de sapeca do outro lado. Entrou assim que ela deu espaço.
— Eu juro que te amo e amo mais ainda vir aqui para aproveitar a companhia de vocês e comer os lanches da sua avó, mas pra que diabos você me fez vir aqui em plena noite de domingo? — ele questionou de uma vez enquanto se jogava no sofá ao lado de , que estava com uma expressão tão confusa quanto.
— Também tô querendo entender o que tá rolando. — confirmou e teve que se explicar ao notar a cara mais confusa ainda de Dylan. — Ela não me deixou ir deitar na minha cama. Eu já estava pronta para ir dormir!
— Calma, amados! Falta só mais uma. — disse animada e seguiu para o quarto. — Venham!
— Mas que por… — Dylan ralhou ao mesmo tempo que levantou e saiu o arrastando atrás da outra.
— Tcharam! — foi o que q caçula falou assim que os dois entraram no lugar. A cama tinha uma mala aberta e dezenas de roupas amontoadas por ali. Na escrivaninha, o notebook estava ligado e uma garota animada acenava pela tela.
— ? Gente, que que est… — começou a questionar e no mesmo momento se ligou no que estava acontecendo. Aquela cena dos quatro reunidos ali naquele quarto não era tão diferente assim. Mordeu o lábio animada para conter um gritinho.
— Isso é realmente o que eu tô pensando que é? — Dylan perguntou com um sorriso despontando. deu de ombros com a mesma expressão sapeca de antes e uma mais animada ainda gritou pelo aparelho.
— PLANO DE ATAQUE 2.0 — A TENTATIVA FINAL!
O clima no colégio era agradável para a época e os alunos pareciam estar divididos entre o surto com as provas e o fechamento do ano letivo chegando. Ao mesmo tempo, também estavam eufóricos com a ideia de encerrar aquele período e poderem ter seus merecidos descansos e comemorações.
— Nem consigo acreditar que estamos na última dessas reuniões chatas. — anunciou com alívio. Estavam sentados na arquibancada da quadra aguardando Nathalie iniciar mais um de seus discursos.
— Para mim passou rápido. — Dylan deu de ombros. — Parece que os eventos aconteceram ontem. O cinema a céu aberto mesmo poderia ter sido antes de ontem.
— Nem fale. — soltou um muxoxo ao se lembrar daquele dia. Tinha sido uma noite complicada com conversas e decisões difíceis que até hoje ela colhia as consequências. Ela desviou o olhar para o seu lado e viu e se aproximando. Antes do segundo seguir até onde estava, conseguiu o ver parando no caminho e depositando um beijo na testa de Karol. Mordeu o lábio e voltou a olhar para a irmã e Dylan, conversavam distraídos. Era incrível como mesmo meses atrás, ainda naquele dia em que acordou na cama de depois de um porre, ela acreditou que fosse tomar mais um pouco de coragem para tentar fazer as coisas mudarem. É claro que depois de um banho e boas horas de sono, tudo pareceu mais difícil. Além disso, com o passar dos dias, foi se mostrando cada vez mais como o que conhecera nos seus primeiros dias de aula. Ele fazia piadas com ela, se mantinha próximo e falava bobeiras sem transparecer segundas intenções. Ela não sabia se ele fingia muito bem ou se não sobrara nada de sentimento por lá, mas Karol não era mais uma peça tão crucial nessa questão. Ele também parou de aparecer sozinho com ela e há um bom tempo ninguém os via juntos sozinhos pelos cantos. Não sabia de fato o que havia acontecido, mas parecia que tinha voltado quase um ano atrás e eram todos apenas bons amigos.
— O que tem de adolescente do primeiro ano tentando vir para cá matar aula, não cabem nos dedos. — Foi o que disse assim que chegou até eles e se sentou ao seu lado.
— Acho mais fácil o motivo ser outro. Esses novinhos são muito assanhados pra cima dos veteranos. Um moleque um dia me perguntou se eu não queria dar uma volta com ele no almoxarifado. — rolou os olhos impaciente e Dylan gargalhou.
— Ninguém manda ser a líder de torcida mais gata. É o sonho perfeito de todos eles. — Dy deu de ombros e a encarou com uma expressão de quem sabia de tudo.
— Esse negócio não vai começar, não? Tava feliz que tinha me atrasado para chegar aqui, jurando que tinha perdido pelo menos metade de toda a falação da Nath. — soltou uma risada fraca e sentou na arquibancada.
— Não vejo a hora de ir embora também. Tá calor demais e eu quero um banho e cama. — bufou baixo, mas fez uma mini comemoração em seguida ao ver Nathalie se aproximar do microfone.
— Parece que pelo menos um dos pedidos vai ser atendido. — comentou.
Bastou ela se calar para que Nathalie começasse a falar. Seu discurso se iniciou como todos os outros: cumprimentando e agradecendo a todos pela ajuda nos últimos eventos. O diretor também teve seu momento breve de fala antes de, enfim, entrarem no assunto pelo qual todos estavam esperando.
— Agora, sobre a viagem de formatura. — Nath iniciou e alguns gritinhos de comemoração saíram da arquibancada. — Como vocês devem ter visto nos informativos espalhados pela escola, ela vai acontecer no próximo fim de semana. Graças ao esforço de todos, conseguimos todo o dinheiro necessário para fazê-la acontecer. Porém, antes de qualquer coisa, todos os interessados em participar devem ir até a secretaria até terça-feira. Lá vocês vão fazer as inscrições e pegar alguns comprovantes importantes. Não se esqueçam também de conferir a lista de materiais e objetos que não serão permitidos. — ela fez uma pausa e puxou a pasta debaixo do braço para consulta-la, anunciando animada em seguida. — Era segredo até então, mas já podemos divulgar que nosso destino é um resort fechado em Santa Cruz!
— Nunca ouvi falar. — fez um bico com a boca e os amigos riram.
— Já passei algumas férias lá. É um verdadeiro paraíso. — contou animado.
— Quero saber é o que vai rolar nesse resort. Essa viagem tem tudo pra ser incrível. — sorriu de lado e ergueu a sobrancelha.
— Não sei o que você tá tramando, mas aposto que a Nath tem uma programação bem cronometrada e rígida para atrapalhar seus planos. — Dylan debochou.
— Antes que vocês se dispersem demais, um último aviso. — Nathalie retomou a fala e todos voltaram a prestar atenção. — Estejam atentos ao horário de saída. Iremos reforçar durante a semana, mas é importante que todos já comecem a se organizar para estarem aqui no horário certo de sexta-feira. Sairemos cedo. Além disso, todos receberão um guia com o cronograma básico e instruções sobre a viagem no momento de inscrição. Obrigada!
— Às vezes eu acho que a Nath deixaria a Monica Geller com inveja no quesito organização. — comentou, arrancando risadas de todos.
Assim que a garota e o diretor deixaram o local, levando os equipamentos, as pessoas começaram a se dispersar pelo local. Os cinco continuaram na arquibancada em silêncio, cada um em seus próprios pensamentos.
— Vocês já pararam pra pensar no que vão fazer depois que isso aqui acabar? — Dy perguntou sem desviar o olhar da frente. Ele olhava para um ponto específico, parecendo estar com a mente mais distante do que ali.
— A gente podia ir pra beira da Golden Gate. — sugeriu animado.
— , acho que o Dy tá se referindo a algo maior. — explicou enquanto os outros riam. O garoto a encarou em dúvida por alguns segundos, sem saber onde tinha errado, mas depois ergueu a sobrancelha e abriu a boca em uma expressão de quem finalmente tinha entendido.
— Eu só quero me dedicar totalmente ao McFly. Ainda aposto meu futuro na banda sem temer. — tinha um tom de voz seguro. Era só olhar pros seus olhos brilhando cada vez que falava sobre a banda para saber que era a coisa pela qual mais se entregaria na vida.
— Quem sou eu pra não confiar no futuro do McFly também. — deu de ombros como quem não tivesse outra opção senão aquela.
O ambiente caiu no silêncio de novo e Dylan encarou as gêmeas, esperando por uma resposta.
— Eu não tenho ideia. — suspirou e soltou um riso frouxo e desanimado. — Às vezes fico pensando nisso por um bom tempo. Penso em tudo que eu amo fazer e que poderia talvez virar uma profissão, mas não chego em lugar nenhum. Acho que só saberei com o passar do tempo.
— Vocês deveriam começar uma banda. — sugeriu em tom de quem já havia avisado e teve o apoio dos outros dois garotos que acenaram concordando. As duas apenas rolaram os olhos em sincronia, não era a primeira vez que tinham que aguentá-los argumentando sobre aquilo.
— Eu espero conseguir trabalhar com música. Não necessariamente uma banda. — se apressou em dizer antes que se animassem demais. — Mas não sei...É tudo bem difícil. Talvez eu só volte para o Brasil e comece a estudar para virar advogada.
— Isso realmente não é o seu perfil. Você provavelmente acabaria com todos os casos puramente por estresse e falta de paciência. — brincou e a cutucou fraco, arrancando uma risada baixa dela.
— Acho que podemos ir embora. — Dylan sugeriu ao notar que voltariam a cair no mesmo silêncio de antes. Apontou ao redor para mostrar que o local estava vazio.
— Vocês vão pra casa? — perguntou enquanto todos pegavam suas mochilas e desciam da arquibancada.
— Até então, sim. — deu de ombros e o encarou curiosa. — Por que, ?
— e eu pensamos em chamar vocês para fazer alguma coisa quando estávamos vindo. Nem que seja sair sem rumo por aí. — ele também deu de ombros.
— Eu topo. Estou de carro, hoje. Podíamos ir para beira da Golden Gate. — Dylan sugeriu.
— Amei a ideia! e também podiam ir. Talvez fazermos um piquenique improvisado? — sugeriu animada.
— Tem um violão no meu porta-malas e vários mercados no caminho. Por mim, aceito tudo! — fez um high-five com a primogênita.
— Ótimo! Eles devem estar tirando horário de almoço mesmo. Vou ligar para o no caminho pra gente se encontrar lá. — comemorou com uma dancinha boba, fazendo todos rirem enquanto seguiam para fora da escola.
— Certo, prestem atenção na câmera e falem devagar pra ficar fácil de pegar a legenda depois. — instruiu os amigos. Estavam todos sentados em um lençol na sombra de uma árvore perto da beira da água. Dali eles tinham a vista próxima da Golden Gate e uma distância considerável de onde as pessoas e ciclistas passeavam. Tinham chegado há um bom tempo e comido quase todas as besteiras que compraram no mercado. Com o violão de ali, foi questão de poucos minutos para que começassem a cantar e tocar. Quando chegou com o dele, o esquema estava fechado. Cantavam hora baixinho e hora completamente animados. A empolgação fez as gêmeas pegarem o celular para gravar aquele momento como recordação e de quebra ter mais material para soltar em suas redes.
— A gente vai ficar famoso depois disso? — perguntou divertido com uma animação exagerada.
— Quero pelo menos algumas seguidoras novas. — deu uma piscadela.
— Ei, sendo assim eu acho que também quero aparecer nessa introdução pelo menos. — Dylan era o responsável pela gravação já que não fazia muita questão de cantar.
— Nem nós somos famosas, imagina vocês. É melhor nem empolgar. — rolou os olhos mas manteve o sorriso nos lábios.
— Ah, mas nós somos mais bonitos. Aposto que quando verem nossos rostinhos lindos vão até esquecer de vocês. — comentou convencido.
— Será que nós podemos começar logo com isso? — pediu.
— Ei, calma aí, mocinha. Hoje é a gente quem manda nisso aqui. — tomou a frente e pegou o celular da mão de Dy. Se aproximou dos outros meninos e fez questão de pegar todos na imagem da câmera frontal, menos as gêmeas. Apertou o play. — Olá, Brasil!
— Oi, meninas bonitas! — gargalhou da própria bobeira.
— E todo os demais que acompanham as também. — deu um tchauzinho lá de trás.
— Hoje nós estamos aqui com essa vista maravilhosa de São Francisco para dizer que nós estaremos substituindo as gêmeas por tempo indeterminado. — anunciou com uma seriedade que não combinava com as risadas dos demais. As garotas apenas observavam de fora.
— Isso aí! Além de sermos mais bonitos, nós temos aqui uma banda completa que arrasam tanto quanto as duas. — Dy fez um joinha pra câmera.
— É, aproveita pra acompanhar as nossas redes sociais! — pediu animado.
— A gente tem umas fotos bem bonitas. — comentou.
— É, não chega aos pés das fotos das duas na praia, mas não decepcionamos. — confirmou.
— Tá okay! Já chega, falaram demais. — interrompeu eles e foi para cima do namorado para tentar pegar o celular. Claro que ele a afastou facilmente com a mão livre enquanto os demais riam.
— Sai fora, . Deixa a gente terminar. — ralhou com a primogênita também. Ela apenas rolou os olhos e se sentou afastada novamente, cruzando os braços feito criança.
— Então acabem logo. — pediu também ficando impaciente. Recebeu apenas língua de e Dylan e rolou os olhos.
— É o seguinte, gente. — tomou a frente e se dirigiu à câmera. — Nós vamos fazer um acústico aqui de uma música porque estamos inspirados, com tempo e instrumentos.
— E porque a gente gosta de aparecer também. — Dylan acrescentou sorridente. Eles estavam realmente se divertindo com tudo aquilo.
— Vamos para o que interessa. Antes que elas no matem! — pediu ao notar rolando os olhos.
Eles apenas confirmaram e se arrumaram melhor sobre o lençol. Eram dois violões, muitas vozes e o som do ambiente ao redor. Dessa vez, as gêmeas permitiram que eles tivessem a frente e se mantiveram mais discretas, fazendo quase uma segunda voz. Até Dy tinha se animado durante a música e entrado na cantoria. Cantaram um cover de Wonderwall sem se preocuparem com afinações e notas perfeitas.
— Eu amo isso aqui tanto quanto estar em cima do palco, sabe? Cantar todo mundo junto só curtindo o momento é bom demais. Ainda mais sendo com vocês. — confessou assim que terminaram a gravação e música.
— Awn, isso foi extremamente fofo, ! — quase sufocou o amigo em um abraço apertado, não pode se conter ao ver a cara fofa que ele fez ao falar.
— Eu achei meio forçado. — fingiu desdém dando de ombros, mas caiu na gargalhada ao ver com cara de poucos amigos. — Brincadeira, amor.
— Mudando de assunto, como foi hoje lá na escola? Já sabem sobre a viagem de fim de ano? — perguntou curioso. Havia deitado no lençol e apoiado a cabeça nas pernas da namorada.
— Sim! Resort em Santa Cruz! — resumiu o que ele queria saber.
— Parece que vai ser bom. Queria ir também. — comentou e fez um bico com a boca.
— A gente chegou a perguntar se ex-aluno não podia ir como monitor ou algo assim, mas não liberaram. — explicou.
Os sete caíram no silêncio e cada um ficou divagando com seus próprios pensamentos enquanto admiravam o céu e a paisagem.
— Só sei de uma coisa: Essa viagem vai servir bem como uma despedida, mas ainda assim teremos que fazer nossa festinha exclusiva antes de irmos embora. — fez menção a ela e a irmã. Automaticamente os sorrisos animados se transformam em forçados.
— Ainda não me acostumei com a ideia de vocês irem. — bufou sem se preocupar em disfarçar o desânimo.
— Nem eu! Não sei porque não ficam de uma vez aqui. Vocês já até assumiram para mim que amam estar aqui. — Dylan deu de ombros.
— E a gente ama! — confirmou e bufou em seguida. levantou de suas coxas e ela cruzou as pernas, olhando baixo. — Não está sendo fácil pra gente lidar com isso e aceitar, mas é o que temos que fazer. A gente precisa ir pro Brasil, ver nossa família, pensar um pouco na gente e no nosso futuro pra saber que caminho vamos seguir daqui pra frente. A gente pode ir e ver que é aqui mesmo que queremos morar, e acabar voltando antes do fim do ano. Mas ainda assim precisamos ir. Esse foi o trato com nossos pais: um ano letivo. — ela explicou em tom de desabafo. Se sentia triste a cada vez que lembrava que a data de partir estava mais próxima. Ainda mal tinha conversado com sobre isso, sobre como ficariam. E isso estava a matando aos poucos. Pensar que possivelmente o término do namoro que tanto gostava estava perto, fazia seu coração apertar.
O clima pesou assim que todos eles finalmente notaram que aquela mudança seria mais difícil para as duas do que para eles. O silêncio voltou a cair e dessa vez todos podiam imaginar no que estavam pensando. pegou o vilão e começou a dedilhar. Odiava pensar naquele assunto, não queria estragar seus últimos dias ali sofrendo. Preferia deixar acontecer dessa vez.
— You just call out my name and you know wherever I am... (Apenas chame o meu nome e você sabe, onde quer que eu esteja) — ela começou a cantar e notou os amigos ficarem mais alertas. Só queria amenizar o clima chato que tinha se instaurado e música era sempre uma boa opção pra eles. — I'll come running to see you again (Eu virei correndo para te ver novamente).
— Winter, spring, summer or fall, all you got to do is call and I'll be there… (Inverno, primavera, verão ou outono, tudo o que você tem de fazer é chamar e eu estarei lá) — começaram a cantar juntos e logo voltaram a aproveitar o momento leve juntos como era o plano desde o início.
— You’ve got a friend (Você tem um amigo)...
A porta se abriu e Dylan pôde ver uma com cara de sapeca do outro lado. Entrou assim que ela deu espaço.
— Eu juro que te amo e amo mais ainda vir aqui para aproveitar a companhia de vocês e comer os lanches da sua avó, mas pra que diabos você me fez vir aqui em plena noite de domingo? — ele questionou de uma vez enquanto se jogava no sofá ao lado de , que estava com uma expressão tão confusa quanto.
— Também tô querendo entender o que tá rolando. — confirmou e teve que se explicar ao notar a cara mais confusa ainda de Dylan. — Ela não me deixou ir deitar na minha cama. Eu já estava pronta para ir dormir!
— Calma, amados! Falta só mais uma. — disse animada e seguiu para o quarto. — Venham!
— Mas que por… — Dylan ralhou ao mesmo tempo que levantou e saiu o arrastando atrás da outra.
— Tcharam! — foi o que q caçula falou assim que os dois entraram no lugar. A cama tinha uma mala aberta e dezenas de roupas amontoadas por ali. Na escrivaninha, o notebook estava ligado e uma garota animada acenava pela tela.
— ? Gente, que que est… — começou a questionar e no mesmo momento se ligou no que estava acontecendo. Aquela cena dos quatro reunidos ali naquele quarto não era tão diferente assim. Mordeu o lábio animada para conter um gritinho.
— Isso é realmente o que eu tô pensando que é? — Dylan perguntou com um sorriso despontando. deu de ombros com a mesma expressão sapeca de antes e uma mais animada ainda gritou pelo aparelho.
— PLANO DE ATAQUE 2.0 — A TENTATIVA FINAL!
Capítulo 30
desceu do táxi com a irmã e jogou a mochila nos ombros enquanto aguardavam o taxista tirar as duas bolsas grandes do porta-malas. Assim que as pegaram, as duas caminharam até a aglomeração de pessoas na frente da escola. Ainda que fosse mais cedo do que estavam acostumados, todos os alunos ali pareciam estar animados. Procuraram os amigos entre todos e avistaram Dylan conversando encostado na árvore próxima ao portão.
— Chegamos, amores! — anunciou em alto e bom som assim que parou ao lado dos garotos. Tinha notado que estavam envolvidos na conversa e não tinham reparado que se aproximavam.
— Bom dia, gente. — cumprimentou com um sorriso meio sonolenta. O fim das provas e trabalhos tinha a deixado relaxada a ponto de maratonar Friends até altas horas da madrugada.
— Bom dia, flores do dia! — Dylan falou animado e abriu os braços para receber o abraço das duas.
— Bom dia, gente linda! — completou no mesmo tom. Claramente eram os mais animados por ali.
— Eu sinto que devia estar no mesmo nível de animação de vocês, mas com o sono que eu tô sentindo provavelmente só desperto de verdade lá em Santa Cruz. — coçou os olhos e abraçou . Os dois aproveitaram a posição para continuar juntos de lado e ela encostou a cabeça em seu ombro.
— Eu só quero chegar logo e tomar um banho de mar. — pediu e ergueu os braços para o céu, respirando fundo. O sol californiano não deixava a desejar naquela sexta, um clima perfeito para aproveitar a praia.
— Seus pedidos logo serão atendidos. Liberaram os ônibus. — indicou os automóveis com as portas abertas e os alunos começando a se movimentar para entrarem. Começaram a seguir o fluxo.
— Alguém contou para aquelas meninas que é só um fim de semana? — Dylan indicou com ironia e discrição a dupla que arrastava malas gigantescas pelo local.
— É possível que tudo que precisaremos esteja realmente apenas nessas nossas bolsas? — perguntou assustada para a irmã. Talvez não fossem as tais garotas que tinham exagerado e sim elas que não pegaram tudo.
— Não sei, eu sempre fico com a sensação de que esqueci algo. — deu de ombros e só então foi procurar ver quem eram as garotas. As encontrou já próximas ao ônibus e soltou um riso fraco. Era realmente muita coisa para o curto período que ficariam fora.
Continuaram se aproximando dos ônibus e passou a perceber quem seriam suas companhias naquela viagem. Reconheceu alguns alunos da aula de história, algumas líderes de torcida e a galera da equipe de teatro. É claro que Karoline estava entre eles, bonita como sempre e rindo com as amigas. controlou um suspiro ao morder o lábio e desviou a atenção. Preferiu nem conferir se havia a visto também, estava cedo demais para dramas.
Eles caminharam, e mais se arrastando do que de fato caminhando, até o automóvel e entraram na fila. Quando conseguiram subir em um dos ônibus, ainda tinham alguns lugares disponíveis no fundo. se apressou em ocupar o local ao lado de Dylan, e se sentou onde estava mais perto, se encostando e quase começando a cochilar no mesmo momento. apenas riu sem graça e foi para a fileira seguinte, se sentando na janela e esperando para ver quem seria sua companhia. Conteve um sorriso ao ver se sentar ao seu lado como desejava e disfarçou. Tinha conversado muito com , Dy e nos últimos dias sobre querer tentar uma última vez algo certo com o garoto. Dessa vez, porém, seria diferente. Agiria de maneira mais contida até chegar o momento em que estivesse mais confortável para ser sincera com ele. Não seriam só looks bem pensados ou cantadas fajutas, seria principalmente sinceridade e sentimento.
Ignorou a movimentação que ainda acontecia na frente do ônibus e se acomodou melhor na poltrona, procurando uma posição confortável. Sabia que o sono que sentia iria se intensificar durante a viagem e queria garantir que não acabasse dormindo de boca aberta para cima logo ao lado de .
— Viagem sem música, não é viagem. — ele ofereceu um lado de seu fone com um sorriso de lado.
— Verdade seja dita. — Ela aceitou envergonhada e mordeu o lábio ao notar a expressão fofa que ele fez ao dar de ombros. Colocou o fone e escutou o solo de X começar. Sorriu para ele e fechou os olhos.
— Eu ainda não acredito que vocês não acordaram. — gargalhou da irmã e de .
— Nem teve essa bagunça toda que vocês estão falando. — ele cruzou os braços e fingiu desdém. concordou.
— Cara, o Dy tem vídeo. O ônibus inteiro estava cantando, dançando e vocês dois mortinhos sem mover um músculo. — também entrou na zoeira e gargalhou. Desde o momento que haviam chegado, estavam rindo da dupla. Na metade da viagem alguém surgiu com um violão e o passou a pedindo por música, o que começou com um momento acústico foi tomando proporções maiores e no final tinha até gente em pé no corredor dançando e todos cantando juntos. E e ? Dormindo feito crianças cansadas.
— Eu tenho mesmo. Só não envio agora porque sei que todo mundo ainda vai passar muita vergonha nessa viagem e terei mais material para juntar. — Dylan sorriu malvado e esfregou uma mão na outra rapidamente, feito criança que vai aprontar.
— Cansei desse assunto. Quando vamos sair desse sol e ter um lugar para colocar essas bolsas? — puxou outra conversa para livrar a barra dela e do amigo.
— Acho que estão pegando os avisos. — comentou incerta e ficou na ponta dos pés para tentar enxergar o que acontecia mais à frente. Os ônibus já tinham ido embora e estavam todos reunidos na frente do resort. A pedido da coordenadora, apenas ela e mais dois professores eram os responsáveis os acompanhando, esperavam as primeiras instruções do fim de semana. Além dos alunos e responsáveis, as únicas pessoas passando por ali eram os funcionários do local.
— Galera, quem tiver mais atrás tenta chegar mais perto pra me escutar melhor. — A professora de artes, uma das responsáveis, subiu em um banco e fez sinal para que todos prestassem atenção nela. Rapidamente todos se calaram. — Sei que estão todos eufóricos para começar a aproveitar tudo, mas temos apenas que definir algumas coisas antes disso. — ela estendeu à mão para Nathalie e pegou uma prancheta. A garota iria ajudar na organização apenas nesse início e depois iria apenas curtir como os demais. — Primeira coisa: o resort tem uma divisão de quatro quartos por chalé, cada um para um trio. Do lado direito do terreno, ficarão os chalés femininos. Do lado esquerdo, os masculinos. É extremamente proibido que vocês frequentem ou permaneçam nos chalés de sexo contrário. Aqueles que forem pegos nessa situação, terão que passar o resto da viagem sendo minha parceira de quarto ou do professor Thompson. Nós queríamos garantir que ninguém passasse por uma situação desconfortável ou ficasse chateado logo na viagem que tanto esperaram, então a Nathalie fez umas pesquisas e dividiu os quartos entre quem ela viu que eram amigos. Então, evitem ficar no nosso pé para fazer as trocas. Segunda coisa: o resort é bem grande e tem algumas áreas que são privadas, por favor não tentem invadir. Nossa concentração sempre irá acontecer na cabana principal, que fica aqui atrás. — a mulher tomou fôlego e se abanou rapidamente. — Tá ok, acho que por enquanto é isso. Vocês podem se encaminhar para os chalés, na porta de cada quarto tem os nomes dos trios. Hoje o dia será off de programações fixas, então aproveitem as piscinas, praia e áreas de lazer. Se tiverem alguma dúvida, basta procurar um de nós responsáveis. Agora, vamos aproveitar!
Os alunos comemoraram e os mais animados assoviaram e aplaudiram. Em seguida, meninos e meninas se dividiram e foram à procura de seus quartos. As gêmeas combinaram com os amigos de guardarem suas coisas, se trocarem e encontrarem na cabana principal para irem para a praia. À medida que andavam pelo local, notavam a beleza e grandeza de lá. Era tudo muito verde e bem cuidado. Os caminhos de pedra garantiam que os jardins se mantivessem intactos. Além disso, um pequeno lago passava por dentro de todo o resort, possibilitando que todos apreciassem os peixes que viviam por lá.
Elas chegaram à área de chalés junto com as outras meninas e os comentários foram os mesmos por toda parte, sobre como o local era lindo e aconchegante.
— Esse quarto nunca me pareceu tão longe. — franziu o cenho para conseguir enxergar melhor a irmã com o sol batendo em seu rosto. Não era a melhor programação ter que andar com bolsas pesadas enquanto morria de calor.
— Só espero que a gente realmente tenha ficado no mesmo quarto como pensamos. — suspirou assim que chegaram até a sombra. Estavam no meio de uma confusão, muitas garotas vagando pelos corredores animadas, algumas escancarando as portas e pulando nas camas, outras largando as bolsas no chão e comemorando com as amigas que estavam juntas e principalmente muita conversa e gritinhos rolando por todo lado. — Céus, que zona isso aqui!
— Que vontade de matar todo mundo. Eu só quero meu quarto! — a primogênita resmungou e puxou a irmã por entre as demais, passando pelas portas e procurando seus nomes. — E não é possível que a Nath tenha errado tanto a ponto de não saber que o certo é ficarmos juntas. No máximo deve ter colocado alguma garota que sobrou pra ficar com a gente.
Continuaram andando e passando de chalé por chalé, até finalmente encontrarem o seu. parou em frente a porta e encostou ao seu lado para ler os nomes no papel. Instantaneamente a boca das duas se abriu e arregalou os olhos para a irmã.
— A Nathalie só pode ter COMIDO BOSTA pra fazer uma merda dessas! — a caçula se exaltou ao entender que sua companhia no quarto seria ninguém menos que Karoline. Abriu a porta de uma vez, jogando as bolsas de qualquer jeito na primeira cama que avistou.
— , calma! Ela deve ter pensado só no período que ela andava com a gente e achou que ainda estava tudo bem. — se apressou e foi até a irmã para tentar amenizar a situação. Colocou as mãos em seus ombros e a encarou. — Não vamos deixar isso estragar nosso fim de semana, tá? Podemos falar com a coordenação e pedirem pra trocar também.
— Pra isso parar no ouvido de todo mundo e ser a fofoca do dia? Não, obrigada. — bufou chorosa. Não poderia mesmo ter um período tranquilo sem que suas maiores dores de cabeça estivessem a atormentando de forma tão direta?
— Então vamos apenas fingir que isso não nos atinge e viver normalmente, como realmente deve ser. — procurou o olhar da irmã em um pedido que a escutasse e soltou um riso fraco ao ver a caçula concordar e respirar fundo. — Ótimo, agora pegue seu biquíni e se troque, não vamos mais perder tempo aqui.
obedeceu e fez exatamente o que a irmã pediu, seguindo até o banheiro da suíte para se trocar. É claro que, mesmo tendo concordado, sua cabeça ainda estava martelando com aquela situação, mas iria se esforçar para não deixar aquilo ser maior que tudo. Afinal, era mesmo um problema ter que ficar hospedada no mesmo quarto que a ex do cara com quem teve um quase namoro e pelo qual ainda estava totalmente apaixonada e disposta a tentar algo de novo mesmo que tivesse a chance de ele ainda querer ficar com a tal ex? Claro que sim! Mas teria que fazer uma pose perfeita para transparecer que não. Rolou os olhos sozinha e bufou com os próprios pensamentos.
— Sua vida é tão patética que dá dó! — falou para si mesmo sabendo o quão louco poderia parecer se alguém a visse o fazendo.
Colocou o biquíni e parou um momento em frente ao espelho para o arrumar melhor no corpo. Tinha o comprado especialmente para a viagem e conferindo como estava, percebeu que realmente havia feito uma escolha perfeita. Além de valorizar suas curvas e seus seios, o tecido de cor azul contrastava bem com seu tom de pele. Parou de se analisar e começou a vestir o short curto. Quando estava terminando de colocar sua regata, percebeu vozes abafadas vindo do quarto. Respirou fundo sabendo o que a aguardava do lado de fora e saiu do banheiro.
— Eu fiquei sem entender também. Sei que pode ser meio chato então se preferirem eu posso pedir para trocar com alguém. — Karol continuou sua fala ao notar saindo do banheiro. A encarou envergonhada e tentou sorrir. — Oi!
— Oi! — cumprimentou e forçou um sorriso fechado, provavelmente não conseguiria esconder mesmo sua frustração, mas seguiu até suas bolsas para guardar as outras roupas.
— Nós entendemos, Karol. — deu continuidade na conversa ao notar que a irmã não se intrometeria. Também estava se sentindo desconfortável ali, mas entre as três era a que estava na melhor. Sorriu de lado e estalou os dedos gesticulando em seguida. — Mas não precisa se preocupar, pode ficar aqui com a gente mesmo. Só seria um trabalho desnecessário pra você.
— Uh, tem certeza? — Karol questionou incerta e pôde sentir o peso de seu olhar em suas costas.
— Sim! Não é, ? — confirmou e se aproximou da irmã, dando a deixa para ela participar da conversa.
— Ah, sim! Sem problemas, pode até ficar na cama do lado da janela. — engoliu o orgulho e tentou soar sincera. Notou que a garota ainda a encarava em dúvida, mas respirou mais aliviada quando sorriu fraco.
— Nesse caso, tudo bem. — ela se encaminhou para a cama e encostou a pequena mala ao lado no chão, já puxando o celular do bolso para evitar mais uma conversa esquisita e carregada de desconforto.
— Bom, nós vamos sair já. Então fica a vontade aí. — lançou um joia rapidamente e começou a caminhar para o corredor, só então lembrando que a irmã ainda ia colocar o biquíni. — , vou te esperar ali na árvore enquanto você se troca.
E sem aguardar por uma resposta, apenas saiu às pressas do quarto. Só queria ar puro e água salgada para relaxar.
— Vocês demoraram. — comentou assim que elas chegaram na cabana.
— Demoramos para achar nosso quarto e para lidar com o fato de que Karol é a terceira integrante do trio. — falou sem humor, sem se importar com o que acharia, que por sinal ficou apenas a encarando assustado.
— É sério? — Dylan perguntou direto para , soltando um riso nervoso ao vê-la confirmando. — Puta merda, ein…
— É isso aí, mas sem dar muito ibope pra esse assunto. Vamos para praia! — mandou e pendurou seu braço no de Dy, o puxando para andarem.
— Seria muita maldade da minha parte rir da sua falta de sorte? — provocou falando baixo próximo ao ouvido de enquanto caminhavam para a praia.
— Um pouco, mas tudo bem, até eu riria no seu lugar. — ela deu de ombros sem se importar com a brincadeira, soltando um riso fraco.
Continuaram o caminho em silêncio e em poucos passos atravessaram o resto do resort e chegaram até a areia. Notou que tinha parado no meio do lugar encarando a imensidão a frente e encostou ao seu lado.
— Só consigo me lembrar das nossas férias com a galera. — fez menção à viagem que sempre faziam com e os outros amigos quando estavam de férias.
— Exatamente. Estava morrendo de saudades disso. — a primogênita abriu os braços e sorriu pro céu.
— As princesas vão ficar só aí de roupa pegando sol ou vão aproveitar de verdade? — provocou ao passar pelas duas com Dylan e correndo. Eles arrancaram as camisas no caminho e entraram no mar.
— Eu que não vou perder tempo. — deu de ombros e começou a tirar a roupa, ficando só de biquíni e correndo pro mar em seguida.
Em poucos segundos ela já estava no mar, sentindo a água gelada a arrepiar ao bater em seu corpo quente. Estava quase chegando até os garotos quando sentiu um peso repentino em suas costas e braços enlaçando seu pescoço. Gritou assustada mas logo começou a rir ao escutar a gargalhada de e dos garotos que viam a cena.
— Folgada! — acusou mesmo começando a andar devagar com a irmã em suas costas.
— Pelos velhos tempos, . — a primogênita argumentou em tom divertido.
— Venham logo pra cá! Vão acabar tomando uma onda aí! — Dylan chamou para onde estavam, pouco antes das ondas quebrarem.
— Nesse caso… — largou as pernas da irmã e a impulsionou para fora assim que a onda chegou. A ideia era deixar apenas a outra tomar o banho, mas fez questão de forçar os braços ao seu redor.
A cena foi hilária: as duas sendo arrastadas pela onda e levantando só mais a frente com o cabelo todo bagunçado e por pouco o biquíni não mostrando mais do que devia. Os garotos gargalhavam alto sem tentar disfarçar.
— Puta merda, ! — xingou em português assim que levantou.
— Você quis me matar! — se defendeu enquanto jogava o cabelo para fora do rosto.
— Achei que vocês sabiam tomar banho de mar. — pirraçou quando as duas finalmente chegaram até eles. As ondas ali eram maiores, mas menos violentas e eles ficavam apenas tomando impulso para não entrar nela.
— Tô achando que essa história de ser brasileira é tudo mentira. — entrou na onda rindo. Dylan ainda ria descaradamente da queda das duas.
— Dá pra parar? — olhou pra ele com cara de tacho. E ele confirmou tomando fôlego e tentando se controlar, mas gargalhando em seguida sem conseguir.
— Ele não vai parar tão cedo. Vamos logo tomar banho de verdade. — puxou a irmã mais para dentro.
— Ei, não é meio perigoso aí? — adotou um tom preocupado observando elas irem.
— É! Vocês podem se afogar. — Dylan falou sério ao notar o que estava rolando.
— Meninas, estamos falando com vocês! — chamou mas elas apenas olharam para eles e riram.
Deram apenas mais alguns passos curtos e se entreolharam divertidas quando uma onda começou a se formar mais a frente. Assim que ela se aproximou, soltaram as mãos e tomaram fôlego para passar por dentro da mesma. Se ergueram segundos depois e encontraram os três amigos assustados.
— Parem com isso, vocês vão morrer e ninguém aqui vai conseguir salvar vocês! — ralhou feito pai sem coragem para se aproximar de onde estavam.
— Achei que a gente que não sabia tomar banho de mar. — os encarou debochada e mandou um beijo para antes de entrar na próxima onda.
Fizeram isso algumas vezes antes de convencerem os outros três a irem até elas e tentarem ensiná-los a fazer o mesmo. Houve momentos de desespero com gritinhos de e momentos em que quase todos se afogaram quando puxou Dylan, ele puxou a caçula e assim por diante, formando uma corrente de tragédia. Mas quando já estavam cansados, já reclamava de dor no nariz depois de tanta água que havia respirado, finalmente conseguiram. E duas vezes foram suficientes para que cansassem e voltassem para a parte mais rasa, apenas brincando de jogarem água um no outro, de pique pega e cavalinho.
se afastou tempo depois cansada e rindo sozinha dos amigos e se sentou na areia para ficar apenas os observando. Se tinha uma coisa que amava fazer e que renovava suas energias, era poder ficar admirando o mar. O barulho das ondas, o cheiro característico da praia e até o sol devolvendo um tom dourado e brilhoso para sua pele eram o pacote de um dia perfeito. Conseguia ficar horas só assistindo a água se movimentando sem se preocupar com mais nada. Saiu de sua distração ao notar se aproximando. , Dylan e continuavam entretidos correndo pela areia e água. Observou o garoto sentar ao seu lado e lançou um sorriso curto, voltando a atenção para frente depois que ele tinha se acomodado.
— Estava precisando desse banho salgado. — ele disse sorrindo e passou a mão pelos cabelos rapidamente e gotas de água voaram no braço de .
— Nossa, eu também! Já tinha um bom tempo desde a última vez. — respondeu nostálgica e eles caíram no silêncio. Não era um silêncio tão desconfortável, mas ela podia sentir que ele se preparava para falar algo. Preferiu se manter calada e aguardar para não acabar atrapalhando.
— Sabe, , estou muito feliz… — ele começou e fez uma pausa para a encarar e lançar um sorriso envergonhado. Ela ergueu a sobrancelha e soltou um riso fraco sem saber onde ele queria chegar. — Feliz de estarmos felizes e curtindo esse momento em amigos juntos. Fiquei com medo de nós nos afastarmos a ponto de não conseguirmos aproveitar mais a companhia um do outro. Mas acabou que não, pudemos celebrar o fim dessa fase com todos juntos sem chateações. Então é isso, só queria que soubesse que estou realmente feliz de não termos deixado tudo que aconteceu atrapalhar nossa amizade porque, como você já sabe, você é muito importante pra mim.
— Você também é muito importante para mim, não é novidade. — ela o encarou singela e mordeu o lábio sentindo vergonha ao notar que ele a observava com atenção tão de perto. — Obrigada por também não deixar as coisas ficarem estranhas.
— Faço porque gosto. — ele lançou uma piscadela e um sorriso de lado que aguçaram mais ainda a vontade da garota em o beijar. Ela desviou o olhar para frente tentando se controlar e mal percebeu ele a analisando dos pés à cabeça. — Gostei do biquíni.
— Nem começa, . — controlou o sorriso que queria escancarar e nem ousou olhar para ele, sabia que ele estaria com aquela expressão maliciosa de sempre. Nunca se acostumaria a ter a elogiando ou algo do tipo, e tinha plena noção que o comentário sobre os pequenos pedaços de pano que usava era só um disfarce, nada indireto, para outra coisa.
— Ora, mas eu só fiz um comentário! Não posso fazer nada se ele é bonito. — deu de ombros cínico sem controlar o tom de voz divertido e o encarou com os olhos semicerrados.
— Pra cima de mim, ? — ela riu na cara dele e se levantou, dando batidas em seu corpo para tirar a areia. Voltou a olhar para o garoto e o pegou no flagra encarando toda sua parte de trás. — O biquíni fica aqui em cima, .
— Já não está mais aqui quem olhou. — ele ergueu as mãos na altura do rosto antes de se levantar e começar a andar em direção à cabana. Não pôde evitar, porém, a encarar ao longe com um sorriso sacana.
— Qualquer dia você me mata, . — comentou baixo sozinha e mordeu o lábio. Escutou as vozes dos amigos se aproximando e catou suas roupas para irem fazer alguma outra coisa, de preferência onde quer que tivesse ido.
O dia foi passando, mais rápido do que o normal, à medida que se divertiam. Aproveitaram as piscinas do local e fizeram todas as refeições que tinham direito junto com os outros colegas. As turmas também se reuniram na praia para assistir ao pôr do sol e em seguida cada grupo foi para um canto fazer algo. Com muita insistência de Dylan, eles acabaram ficando em uma das mesinhas do jardim, dando vista para a praia e para a área de piscina.
— Tô com saudade dos meninos. — falou distraída depois de caírem no silêncio e ficarem apenas encarando o ambiente.
— Dos meninos ou do ? — Dylan provocou com um sorriso malicioso e os demais riram.
— Dos dois. — rolou os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso. — Mas claro que mais do meu namorado, né?
— Eles realmente fazem falta, nosso bonde fica incompleto. — fez um bico triste com a boca.
— Sim, mas não se apeguem a isso, vocês têm o mais bonito de todos em sua companhia. — estufou o peito e as encarou convencido.
— Não precisava ser tão indiscreto assim, mas nesse caso, obrigado, . Estou de acordo. — aproveitou a deixa e sorriu abobalhado. Os outros da mesa riam enquanto o dava um pedala.
— Enfim, falando de algo que realmente interessa...Podíamos fazer algo mais divertido, né? Talvez jogar alguma coisa. — Dy sugeriu e batucou os dedos na mesa.
— Eu trouxe um baralho! — anunciou animada.
— Striper Poker! — falou do mesmo jeito, arrancando risadas dos garotos.
— Continuem insistindo em todas as oportunidades, vai que um dia cola. — debochou e deu uns tapinhas no ombro da irmã, desviando o assunto. — Nesse caso, , pode ir lá buscar. Teremos várias opções de jogos pra matar nosso tempo.
— Ah não, mas eu tô cansada. — ela dramatizou, se esparramando mais ainda na cadeira.
— Infelizmente dessa vez não tem como defender, . Só você sabe onde está e a única pessoa que poderia ir em seu lugar é a . — explicou e não aguentou segurar o riso ao ver a amiga rolando os olhos exageradamente.
— Quanto mais você demorar, mais preguiça vai bater. — Dylan tentou incentivar, mas queria mesmo era rir da cena.
— Se os professores não estivessem tão dedicados em vigiar a área dos dormitórios eu ia. — deu de ombros e logo em seguida sorriu malicioso. — Não seria nada ruim espiar os chalés de vocês.
— Tá, ok! Estou convencida. Já volto. — se ergueu de uma vez e saiu da mesa, apenas ignorando as risadas dos amigos.
Podia até ter exagerado na encenação, mas não mentira quando disse que estava cansada. Eles mal tinham parado durante todo o dia e seu sono da noite anterior tinha sido todo picado e mal aproveitado. Só havia descansado mesmo no ônibus de manhã e por pouco tempo. Respirou fundo e se concentrou em observar por onde andava, tentando espantar a preguiça. O resort inteiro estava iluminado por pequenas luzes no chão durante todo o caminho de pedra. Além disso, as árvores maiores também recebiam uma iluminação especial que dava ao lugar um ar aconchegante e típico de luau. Se tinha uma coisa que a equipe de organização tinha feito bem, era ter escolhido ali como destino da viagem. Mal conseguia se lembrar de quando estivera em um lugar tão bonito e paradisíaco como aquele, provavelmente nunca.
Continuou andando e em pouco tempo chegou até os chalés femininos. Algumas garotas passavam por ali, umas a caminho de seus quartos e outras saindo de lá arrumadas e perfumadas. Não sabia se era impressão sua, mas achava que naquele fim de semana em especial as pessoas estavam mais dedicadas em conquistarem umas às outras. Perdeu as contas de quantos casais tinham surgido desde que tinham chegado ali, alguns bastante inesperados inclusive.
chegou até seu corredor e abriu a porta cantarolando uma música que mal conhecia, mas que tinha grudado em sua mente em algum momento do dia. Assim que entrou no local parou com a música, se deparando com Karol na beira da cama procurando alguma coisa em sua mala. Por um momento tinha até se esquecido que estavam no mesmo quarto, aliás, que ela também participava da viagem. Não tinha a visto em momento nenhum depois da conversa que tiveram, nem mesmo quando todos os outros alunos estavam no pôr do sol.
— Oi, ! — ela cumprimentou envergonhada, desviando a atenção e parando por um momento para a lançar um sorriso sem graça assim que entrou no cômodo. — Estava apenas procurando meu colar para terminar de me arrumar, já estou quase de saída. — ela se justificou por algum motivo.
— Oi! Sem problemas, vim apenas pegar um baralho. — foi curta na resposta, mas se forçou a sorrir fechado de volta. Passou pela garota, que inclusive estava não só muito bonita, mas também cheirosa, e puxou sua bolsa do chão. O silêncio que pairou no ambiente era claramente desconfortável, mas dificilmente tentaria algo para amenizar. Se abrisse a boca para forçar uma conversa, provavelmente iria perder o controle e começar a vomitar todas as questões que se passavam em sua mente quando encontrava com Karoline. “Você e ainda estão conversando?”, “Existe alguma chance de vocês reatarem?”, “Você o amou?”, “Você ainda o ama?”. Podia ouvir sua mente gritar uma coisa depois da outra e segurou firme, quase mordendo a língua para se controlar. Focou em encontrar o baralho no meio da bagunça que havia virado dentro da sua bolsa e quase suspirou de alívio ao tê-lo nas mãos. Largou suas coisas de volta e se virou para sair logo dali.
— Terminei aqui, também estou de saída. — Karol anunciou assim que a caçula passou ao seu lado e começou a seguir o mesmo caminho.
— Sabe, não precisa ficar se justificando nem nada. O quarto também é seu. — ela quis ser educada, mas teve certeza de que acabou soando um pouco grossa ao notar Karol erguer a sobrancelha e abrir a boca minimamente. Desviou o olhar para fechar a porta quando saíram e retomou a postura mais tranquila em seguida para amenizar sua fala. — Quer dizer, não precisamos piorar essa situação.
— Tem razão. As vezes só vou agindo de forma cautelosa demais com tudo e acaba sendo pior. — Karol passou a mão pelos cachos e manteve o olhar no caminho de pedra pelo qual passavam. Ela respirou fundo e começou a mexer nos dedos ansiosa em seguida. notou calada. — Mas então, você e o , hm?! Como estão?
Se estivesse bebendo qualquer coisa, sabia que teria cuspido tudo fora naquele momento tamanha surpresa. Esperava que Karol bancasse a educada e puxasse assunto até que se separassem no caminho, mas aquilo? Não tinha nem ideia de onde ela queria chegar. Não sabia se estava tentando demonstrar alguma coisa, se sondava o território ou se apenas agiu por puro nervosismo. A caçula por sua vez, mal sabia que resposta dar. Fora pega tão de surpresa que não tinha tempo nem para fazer seu filtro funcionar.
— Estamos bem, somos bons amigos. — respondeu e se arrependeu no segundo seguinte. Se já queria sumir dali antes, agora ela queria se bater. Que raios queria dizer com “bons amigos”? Por qual motivo mesmo não tinha parado na primeira parte da fala? Era quase como um anúncio de sinal verde para Karol, ela sabia. Mais um pouco e arranjaria um encontro dos dois. Rolou os olhos discreta.
— Entendo… — Karol falou estranhando a postura inquieta da outra, mas sem falar mais nada. Parecia estar pensando na resposta, ou sabe-se lá em o que mais. Ela sorriu e indicou o caminho contrário, já se afastando. — Eu vou por ali…
— Ah, ok! A gente se esbarra por aí. — balançou a cabeça devagar em cumprimento e seguiu até a mesa onde os amigos estavam.
Chegou até lá e se sentou sem falar nada, aproveitando que estavam todos entretidos em uma conversa aleatória e já se organizavam para começar a jogar. Encarou por alguns segundos sem que ele percebesse, vagando seus pensamentos por caminhos que nem sabia naquele momento. Respirou fundo e passou a mão nos cabelos. Só precisava voltar ao ritmo calmo que estava e se concentrar naquilo que estava acontecendo, de preferência antes que alguém notasse algo e a questionasse. Forçou uma risada fraca ao notar os amigos rindo de algo que Dylan tinha dito e voltou sua atenção para a conversa e cartas que eram distribuídas, era o melhor a se fazer naquele momento.
— Chegamos, amores! — anunciou em alto e bom som assim que parou ao lado dos garotos. Tinha notado que estavam envolvidos na conversa e não tinham reparado que se aproximavam.
— Bom dia, gente. — cumprimentou com um sorriso meio sonolenta. O fim das provas e trabalhos tinha a deixado relaxada a ponto de maratonar Friends até altas horas da madrugada.
— Bom dia, flores do dia! — Dylan falou animado e abriu os braços para receber o abraço das duas.
— Bom dia, gente linda! — completou no mesmo tom. Claramente eram os mais animados por ali.
— Eu sinto que devia estar no mesmo nível de animação de vocês, mas com o sono que eu tô sentindo provavelmente só desperto de verdade lá em Santa Cruz. — coçou os olhos e abraçou . Os dois aproveitaram a posição para continuar juntos de lado e ela encostou a cabeça em seu ombro.
— Eu só quero chegar logo e tomar um banho de mar. — pediu e ergueu os braços para o céu, respirando fundo. O sol californiano não deixava a desejar naquela sexta, um clima perfeito para aproveitar a praia.
— Seus pedidos logo serão atendidos. Liberaram os ônibus. — indicou os automóveis com as portas abertas e os alunos começando a se movimentar para entrarem. Começaram a seguir o fluxo.
— Alguém contou para aquelas meninas que é só um fim de semana? — Dylan indicou com ironia e discrição a dupla que arrastava malas gigantescas pelo local.
— É possível que tudo que precisaremos esteja realmente apenas nessas nossas bolsas? — perguntou assustada para a irmã. Talvez não fossem as tais garotas que tinham exagerado e sim elas que não pegaram tudo.
— Não sei, eu sempre fico com a sensação de que esqueci algo. — deu de ombros e só então foi procurar ver quem eram as garotas. As encontrou já próximas ao ônibus e soltou um riso fraco. Era realmente muita coisa para o curto período que ficariam fora.
Continuaram se aproximando dos ônibus e passou a perceber quem seriam suas companhias naquela viagem. Reconheceu alguns alunos da aula de história, algumas líderes de torcida e a galera da equipe de teatro. É claro que Karoline estava entre eles, bonita como sempre e rindo com as amigas. controlou um suspiro ao morder o lábio e desviou a atenção. Preferiu nem conferir se havia a visto também, estava cedo demais para dramas.
Eles caminharam, e mais se arrastando do que de fato caminhando, até o automóvel e entraram na fila. Quando conseguiram subir em um dos ônibus, ainda tinham alguns lugares disponíveis no fundo. se apressou em ocupar o local ao lado de Dylan, e se sentou onde estava mais perto, se encostando e quase começando a cochilar no mesmo momento. apenas riu sem graça e foi para a fileira seguinte, se sentando na janela e esperando para ver quem seria sua companhia. Conteve um sorriso ao ver se sentar ao seu lado como desejava e disfarçou. Tinha conversado muito com , Dy e nos últimos dias sobre querer tentar uma última vez algo certo com o garoto. Dessa vez, porém, seria diferente. Agiria de maneira mais contida até chegar o momento em que estivesse mais confortável para ser sincera com ele. Não seriam só looks bem pensados ou cantadas fajutas, seria principalmente sinceridade e sentimento.
Ignorou a movimentação que ainda acontecia na frente do ônibus e se acomodou melhor na poltrona, procurando uma posição confortável. Sabia que o sono que sentia iria se intensificar durante a viagem e queria garantir que não acabasse dormindo de boca aberta para cima logo ao lado de .
— Viagem sem música, não é viagem. — ele ofereceu um lado de seu fone com um sorriso de lado.
— Verdade seja dita. — Ela aceitou envergonhada e mordeu o lábio ao notar a expressão fofa que ele fez ao dar de ombros. Colocou o fone e escutou o solo de X começar. Sorriu para ele e fechou os olhos.
— Eu ainda não acredito que vocês não acordaram. — gargalhou da irmã e de .
— Nem teve essa bagunça toda que vocês estão falando. — ele cruzou os braços e fingiu desdém. concordou.
— Cara, o Dy tem vídeo. O ônibus inteiro estava cantando, dançando e vocês dois mortinhos sem mover um músculo. — também entrou na zoeira e gargalhou. Desde o momento que haviam chegado, estavam rindo da dupla. Na metade da viagem alguém surgiu com um violão e o passou a pedindo por música, o que começou com um momento acústico foi tomando proporções maiores e no final tinha até gente em pé no corredor dançando e todos cantando juntos. E e ? Dormindo feito crianças cansadas.
— Eu tenho mesmo. Só não envio agora porque sei que todo mundo ainda vai passar muita vergonha nessa viagem e terei mais material para juntar. — Dylan sorriu malvado e esfregou uma mão na outra rapidamente, feito criança que vai aprontar.
— Cansei desse assunto. Quando vamos sair desse sol e ter um lugar para colocar essas bolsas? — puxou outra conversa para livrar a barra dela e do amigo.
— Acho que estão pegando os avisos. — comentou incerta e ficou na ponta dos pés para tentar enxergar o que acontecia mais à frente. Os ônibus já tinham ido embora e estavam todos reunidos na frente do resort. A pedido da coordenadora, apenas ela e mais dois professores eram os responsáveis os acompanhando, esperavam as primeiras instruções do fim de semana. Além dos alunos e responsáveis, as únicas pessoas passando por ali eram os funcionários do local.
— Galera, quem tiver mais atrás tenta chegar mais perto pra me escutar melhor. — A professora de artes, uma das responsáveis, subiu em um banco e fez sinal para que todos prestassem atenção nela. Rapidamente todos se calaram. — Sei que estão todos eufóricos para começar a aproveitar tudo, mas temos apenas que definir algumas coisas antes disso. — ela estendeu à mão para Nathalie e pegou uma prancheta. A garota iria ajudar na organização apenas nesse início e depois iria apenas curtir como os demais. — Primeira coisa: o resort tem uma divisão de quatro quartos por chalé, cada um para um trio. Do lado direito do terreno, ficarão os chalés femininos. Do lado esquerdo, os masculinos. É extremamente proibido que vocês frequentem ou permaneçam nos chalés de sexo contrário. Aqueles que forem pegos nessa situação, terão que passar o resto da viagem sendo minha parceira de quarto ou do professor Thompson. Nós queríamos garantir que ninguém passasse por uma situação desconfortável ou ficasse chateado logo na viagem que tanto esperaram, então a Nathalie fez umas pesquisas e dividiu os quartos entre quem ela viu que eram amigos. Então, evitem ficar no nosso pé para fazer as trocas. Segunda coisa: o resort é bem grande e tem algumas áreas que são privadas, por favor não tentem invadir. Nossa concentração sempre irá acontecer na cabana principal, que fica aqui atrás. — a mulher tomou fôlego e se abanou rapidamente. — Tá ok, acho que por enquanto é isso. Vocês podem se encaminhar para os chalés, na porta de cada quarto tem os nomes dos trios. Hoje o dia será off de programações fixas, então aproveitem as piscinas, praia e áreas de lazer. Se tiverem alguma dúvida, basta procurar um de nós responsáveis. Agora, vamos aproveitar!
Os alunos comemoraram e os mais animados assoviaram e aplaudiram. Em seguida, meninos e meninas se dividiram e foram à procura de seus quartos. As gêmeas combinaram com os amigos de guardarem suas coisas, se trocarem e encontrarem na cabana principal para irem para a praia. À medida que andavam pelo local, notavam a beleza e grandeza de lá. Era tudo muito verde e bem cuidado. Os caminhos de pedra garantiam que os jardins se mantivessem intactos. Além disso, um pequeno lago passava por dentro de todo o resort, possibilitando que todos apreciassem os peixes que viviam por lá.
Elas chegaram à área de chalés junto com as outras meninas e os comentários foram os mesmos por toda parte, sobre como o local era lindo e aconchegante.
— Esse quarto nunca me pareceu tão longe. — franziu o cenho para conseguir enxergar melhor a irmã com o sol batendo em seu rosto. Não era a melhor programação ter que andar com bolsas pesadas enquanto morria de calor.
— Só espero que a gente realmente tenha ficado no mesmo quarto como pensamos. — suspirou assim que chegaram até a sombra. Estavam no meio de uma confusão, muitas garotas vagando pelos corredores animadas, algumas escancarando as portas e pulando nas camas, outras largando as bolsas no chão e comemorando com as amigas que estavam juntas e principalmente muita conversa e gritinhos rolando por todo lado. — Céus, que zona isso aqui!
— Que vontade de matar todo mundo. Eu só quero meu quarto! — a primogênita resmungou e puxou a irmã por entre as demais, passando pelas portas e procurando seus nomes. — E não é possível que a Nath tenha errado tanto a ponto de não saber que o certo é ficarmos juntas. No máximo deve ter colocado alguma garota que sobrou pra ficar com a gente.
Continuaram andando e passando de chalé por chalé, até finalmente encontrarem o seu. parou em frente a porta e encostou ao seu lado para ler os nomes no papel. Instantaneamente a boca das duas se abriu e arregalou os olhos para a irmã.
— A Nathalie só pode ter COMIDO BOSTA pra fazer uma merda dessas! — a caçula se exaltou ao entender que sua companhia no quarto seria ninguém menos que Karoline. Abriu a porta de uma vez, jogando as bolsas de qualquer jeito na primeira cama que avistou.
— , calma! Ela deve ter pensado só no período que ela andava com a gente e achou que ainda estava tudo bem. — se apressou e foi até a irmã para tentar amenizar a situação. Colocou as mãos em seus ombros e a encarou. — Não vamos deixar isso estragar nosso fim de semana, tá? Podemos falar com a coordenação e pedirem pra trocar também.
— Pra isso parar no ouvido de todo mundo e ser a fofoca do dia? Não, obrigada. — bufou chorosa. Não poderia mesmo ter um período tranquilo sem que suas maiores dores de cabeça estivessem a atormentando de forma tão direta?
— Então vamos apenas fingir que isso não nos atinge e viver normalmente, como realmente deve ser. — procurou o olhar da irmã em um pedido que a escutasse e soltou um riso fraco ao ver a caçula concordar e respirar fundo. — Ótimo, agora pegue seu biquíni e se troque, não vamos mais perder tempo aqui.
obedeceu e fez exatamente o que a irmã pediu, seguindo até o banheiro da suíte para se trocar. É claro que, mesmo tendo concordado, sua cabeça ainda estava martelando com aquela situação, mas iria se esforçar para não deixar aquilo ser maior que tudo. Afinal, era mesmo um problema ter que ficar hospedada no mesmo quarto que a ex do cara com quem teve um quase namoro e pelo qual ainda estava totalmente apaixonada e disposta a tentar algo de novo mesmo que tivesse a chance de ele ainda querer ficar com a tal ex? Claro que sim! Mas teria que fazer uma pose perfeita para transparecer que não. Rolou os olhos sozinha e bufou com os próprios pensamentos.
— Sua vida é tão patética que dá dó! — falou para si mesmo sabendo o quão louco poderia parecer se alguém a visse o fazendo.
Colocou o biquíni e parou um momento em frente ao espelho para o arrumar melhor no corpo. Tinha o comprado especialmente para a viagem e conferindo como estava, percebeu que realmente havia feito uma escolha perfeita. Além de valorizar suas curvas e seus seios, o tecido de cor azul contrastava bem com seu tom de pele. Parou de se analisar e começou a vestir o short curto. Quando estava terminando de colocar sua regata, percebeu vozes abafadas vindo do quarto. Respirou fundo sabendo o que a aguardava do lado de fora e saiu do banheiro.
— Eu fiquei sem entender também. Sei que pode ser meio chato então se preferirem eu posso pedir para trocar com alguém. — Karol continuou sua fala ao notar saindo do banheiro. A encarou envergonhada e tentou sorrir. — Oi!
— Oi! — cumprimentou e forçou um sorriso fechado, provavelmente não conseguiria esconder mesmo sua frustração, mas seguiu até suas bolsas para guardar as outras roupas.
— Nós entendemos, Karol. — deu continuidade na conversa ao notar que a irmã não se intrometeria. Também estava se sentindo desconfortável ali, mas entre as três era a que estava na melhor. Sorriu de lado e estalou os dedos gesticulando em seguida. — Mas não precisa se preocupar, pode ficar aqui com a gente mesmo. Só seria um trabalho desnecessário pra você.
— Uh, tem certeza? — Karol questionou incerta e pôde sentir o peso de seu olhar em suas costas.
— Sim! Não é, ? — confirmou e se aproximou da irmã, dando a deixa para ela participar da conversa.
— Ah, sim! Sem problemas, pode até ficar na cama do lado da janela. — engoliu o orgulho e tentou soar sincera. Notou que a garota ainda a encarava em dúvida, mas respirou mais aliviada quando sorriu fraco.
— Nesse caso, tudo bem. — ela se encaminhou para a cama e encostou a pequena mala ao lado no chão, já puxando o celular do bolso para evitar mais uma conversa esquisita e carregada de desconforto.
— Bom, nós vamos sair já. Então fica a vontade aí. — lançou um joia rapidamente e começou a caminhar para o corredor, só então lembrando que a irmã ainda ia colocar o biquíni. — , vou te esperar ali na árvore enquanto você se troca.
E sem aguardar por uma resposta, apenas saiu às pressas do quarto. Só queria ar puro e água salgada para relaxar.
— Vocês demoraram. — comentou assim que elas chegaram na cabana.
— Demoramos para achar nosso quarto e para lidar com o fato de que Karol é a terceira integrante do trio. — falou sem humor, sem se importar com o que acharia, que por sinal ficou apenas a encarando assustado.
— É sério? — Dylan perguntou direto para , soltando um riso nervoso ao vê-la confirmando. — Puta merda, ein…
— É isso aí, mas sem dar muito ibope pra esse assunto. Vamos para praia! — mandou e pendurou seu braço no de Dy, o puxando para andarem.
— Seria muita maldade da minha parte rir da sua falta de sorte? — provocou falando baixo próximo ao ouvido de enquanto caminhavam para a praia.
— Um pouco, mas tudo bem, até eu riria no seu lugar. — ela deu de ombros sem se importar com a brincadeira, soltando um riso fraco.
Continuaram o caminho em silêncio e em poucos passos atravessaram o resto do resort e chegaram até a areia. Notou que tinha parado no meio do lugar encarando a imensidão a frente e encostou ao seu lado.
— Só consigo me lembrar das nossas férias com a galera. — fez menção à viagem que sempre faziam com e os outros amigos quando estavam de férias.
— Exatamente. Estava morrendo de saudades disso. — a primogênita abriu os braços e sorriu pro céu.
— As princesas vão ficar só aí de roupa pegando sol ou vão aproveitar de verdade? — provocou ao passar pelas duas com Dylan e correndo. Eles arrancaram as camisas no caminho e entraram no mar.
— Eu que não vou perder tempo. — deu de ombros e começou a tirar a roupa, ficando só de biquíni e correndo pro mar em seguida.
Em poucos segundos ela já estava no mar, sentindo a água gelada a arrepiar ao bater em seu corpo quente. Estava quase chegando até os garotos quando sentiu um peso repentino em suas costas e braços enlaçando seu pescoço. Gritou assustada mas logo começou a rir ao escutar a gargalhada de e dos garotos que viam a cena.
— Folgada! — acusou mesmo começando a andar devagar com a irmã em suas costas.
— Pelos velhos tempos, . — a primogênita argumentou em tom divertido.
— Venham logo pra cá! Vão acabar tomando uma onda aí! — Dylan chamou para onde estavam, pouco antes das ondas quebrarem.
— Nesse caso… — largou as pernas da irmã e a impulsionou para fora assim que a onda chegou. A ideia era deixar apenas a outra tomar o banho, mas fez questão de forçar os braços ao seu redor.
A cena foi hilária: as duas sendo arrastadas pela onda e levantando só mais a frente com o cabelo todo bagunçado e por pouco o biquíni não mostrando mais do que devia. Os garotos gargalhavam alto sem tentar disfarçar.
— Puta merda, ! — xingou em português assim que levantou.
— Você quis me matar! — se defendeu enquanto jogava o cabelo para fora do rosto.
— Achei que vocês sabiam tomar banho de mar. — pirraçou quando as duas finalmente chegaram até eles. As ondas ali eram maiores, mas menos violentas e eles ficavam apenas tomando impulso para não entrar nela.
— Tô achando que essa história de ser brasileira é tudo mentira. — entrou na onda rindo. Dylan ainda ria descaradamente da queda das duas.
— Dá pra parar? — olhou pra ele com cara de tacho. E ele confirmou tomando fôlego e tentando se controlar, mas gargalhando em seguida sem conseguir.
— Ele não vai parar tão cedo. Vamos logo tomar banho de verdade. — puxou a irmã mais para dentro.
— Ei, não é meio perigoso aí? — adotou um tom preocupado observando elas irem.
— É! Vocês podem se afogar. — Dylan falou sério ao notar o que estava rolando.
— Meninas, estamos falando com vocês! — chamou mas elas apenas olharam para eles e riram.
Deram apenas mais alguns passos curtos e se entreolharam divertidas quando uma onda começou a se formar mais a frente. Assim que ela se aproximou, soltaram as mãos e tomaram fôlego para passar por dentro da mesma. Se ergueram segundos depois e encontraram os três amigos assustados.
— Parem com isso, vocês vão morrer e ninguém aqui vai conseguir salvar vocês! — ralhou feito pai sem coragem para se aproximar de onde estavam.
— Achei que a gente que não sabia tomar banho de mar. — os encarou debochada e mandou um beijo para antes de entrar na próxima onda.
Fizeram isso algumas vezes antes de convencerem os outros três a irem até elas e tentarem ensiná-los a fazer o mesmo. Houve momentos de desespero com gritinhos de e momentos em que quase todos se afogaram quando puxou Dylan, ele puxou a caçula e assim por diante, formando uma corrente de tragédia. Mas quando já estavam cansados, já reclamava de dor no nariz depois de tanta água que havia respirado, finalmente conseguiram. E duas vezes foram suficientes para que cansassem e voltassem para a parte mais rasa, apenas brincando de jogarem água um no outro, de pique pega e cavalinho.
se afastou tempo depois cansada e rindo sozinha dos amigos e se sentou na areia para ficar apenas os observando. Se tinha uma coisa que amava fazer e que renovava suas energias, era poder ficar admirando o mar. O barulho das ondas, o cheiro característico da praia e até o sol devolvendo um tom dourado e brilhoso para sua pele eram o pacote de um dia perfeito. Conseguia ficar horas só assistindo a água se movimentando sem se preocupar com mais nada. Saiu de sua distração ao notar se aproximando. , Dylan e continuavam entretidos correndo pela areia e água. Observou o garoto sentar ao seu lado e lançou um sorriso curto, voltando a atenção para frente depois que ele tinha se acomodado.
— Estava precisando desse banho salgado. — ele disse sorrindo e passou a mão pelos cabelos rapidamente e gotas de água voaram no braço de .
— Nossa, eu também! Já tinha um bom tempo desde a última vez. — respondeu nostálgica e eles caíram no silêncio. Não era um silêncio tão desconfortável, mas ela podia sentir que ele se preparava para falar algo. Preferiu se manter calada e aguardar para não acabar atrapalhando.
— Sabe, , estou muito feliz… — ele começou e fez uma pausa para a encarar e lançar um sorriso envergonhado. Ela ergueu a sobrancelha e soltou um riso fraco sem saber onde ele queria chegar. — Feliz de estarmos felizes e curtindo esse momento em amigos juntos. Fiquei com medo de nós nos afastarmos a ponto de não conseguirmos aproveitar mais a companhia um do outro. Mas acabou que não, pudemos celebrar o fim dessa fase com todos juntos sem chateações. Então é isso, só queria que soubesse que estou realmente feliz de não termos deixado tudo que aconteceu atrapalhar nossa amizade porque, como você já sabe, você é muito importante pra mim.
— Você também é muito importante para mim, não é novidade. — ela o encarou singela e mordeu o lábio sentindo vergonha ao notar que ele a observava com atenção tão de perto. — Obrigada por também não deixar as coisas ficarem estranhas.
— Faço porque gosto. — ele lançou uma piscadela e um sorriso de lado que aguçaram mais ainda a vontade da garota em o beijar. Ela desviou o olhar para frente tentando se controlar e mal percebeu ele a analisando dos pés à cabeça. — Gostei do biquíni.
— Nem começa, . — controlou o sorriso que queria escancarar e nem ousou olhar para ele, sabia que ele estaria com aquela expressão maliciosa de sempre. Nunca se acostumaria a ter a elogiando ou algo do tipo, e tinha plena noção que o comentário sobre os pequenos pedaços de pano que usava era só um disfarce, nada indireto, para outra coisa.
— Ora, mas eu só fiz um comentário! Não posso fazer nada se ele é bonito. — deu de ombros cínico sem controlar o tom de voz divertido e o encarou com os olhos semicerrados.
— Pra cima de mim, ? — ela riu na cara dele e se levantou, dando batidas em seu corpo para tirar a areia. Voltou a olhar para o garoto e o pegou no flagra encarando toda sua parte de trás. — O biquíni fica aqui em cima, .
— Já não está mais aqui quem olhou. — ele ergueu as mãos na altura do rosto antes de se levantar e começar a andar em direção à cabana. Não pôde evitar, porém, a encarar ao longe com um sorriso sacana.
— Qualquer dia você me mata, . — comentou baixo sozinha e mordeu o lábio. Escutou as vozes dos amigos se aproximando e catou suas roupas para irem fazer alguma outra coisa, de preferência onde quer que tivesse ido.
O dia foi passando, mais rápido do que o normal, à medida que se divertiam. Aproveitaram as piscinas do local e fizeram todas as refeições que tinham direito junto com os outros colegas. As turmas também se reuniram na praia para assistir ao pôr do sol e em seguida cada grupo foi para um canto fazer algo. Com muita insistência de Dylan, eles acabaram ficando em uma das mesinhas do jardim, dando vista para a praia e para a área de piscina.
— Tô com saudade dos meninos. — falou distraída depois de caírem no silêncio e ficarem apenas encarando o ambiente.
— Dos meninos ou do ? — Dylan provocou com um sorriso malicioso e os demais riram.
— Dos dois. — rolou os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso. — Mas claro que mais do meu namorado, né?
— Eles realmente fazem falta, nosso bonde fica incompleto. — fez um bico triste com a boca.
— Sim, mas não se apeguem a isso, vocês têm o mais bonito de todos em sua companhia. — estufou o peito e as encarou convencido.
— Não precisava ser tão indiscreto assim, mas nesse caso, obrigado, . Estou de acordo. — aproveitou a deixa e sorriu abobalhado. Os outros da mesa riam enquanto o dava um pedala.
— Enfim, falando de algo que realmente interessa...Podíamos fazer algo mais divertido, né? Talvez jogar alguma coisa. — Dy sugeriu e batucou os dedos na mesa.
— Eu trouxe um baralho! — anunciou animada.
— Striper Poker! — falou do mesmo jeito, arrancando risadas dos garotos.
— Continuem insistindo em todas as oportunidades, vai que um dia cola. — debochou e deu uns tapinhas no ombro da irmã, desviando o assunto. — Nesse caso, , pode ir lá buscar. Teremos várias opções de jogos pra matar nosso tempo.
— Ah não, mas eu tô cansada. — ela dramatizou, se esparramando mais ainda na cadeira.
— Infelizmente dessa vez não tem como defender, . Só você sabe onde está e a única pessoa que poderia ir em seu lugar é a . — explicou e não aguentou segurar o riso ao ver a amiga rolando os olhos exageradamente.
— Quanto mais você demorar, mais preguiça vai bater. — Dylan tentou incentivar, mas queria mesmo era rir da cena.
— Se os professores não estivessem tão dedicados em vigiar a área dos dormitórios eu ia. — deu de ombros e logo em seguida sorriu malicioso. — Não seria nada ruim espiar os chalés de vocês.
— Tá, ok! Estou convencida. Já volto. — se ergueu de uma vez e saiu da mesa, apenas ignorando as risadas dos amigos.
Podia até ter exagerado na encenação, mas não mentira quando disse que estava cansada. Eles mal tinham parado durante todo o dia e seu sono da noite anterior tinha sido todo picado e mal aproveitado. Só havia descansado mesmo no ônibus de manhã e por pouco tempo. Respirou fundo e se concentrou em observar por onde andava, tentando espantar a preguiça. O resort inteiro estava iluminado por pequenas luzes no chão durante todo o caminho de pedra. Além disso, as árvores maiores também recebiam uma iluminação especial que dava ao lugar um ar aconchegante e típico de luau. Se tinha uma coisa que a equipe de organização tinha feito bem, era ter escolhido ali como destino da viagem. Mal conseguia se lembrar de quando estivera em um lugar tão bonito e paradisíaco como aquele, provavelmente nunca.
Continuou andando e em pouco tempo chegou até os chalés femininos. Algumas garotas passavam por ali, umas a caminho de seus quartos e outras saindo de lá arrumadas e perfumadas. Não sabia se era impressão sua, mas achava que naquele fim de semana em especial as pessoas estavam mais dedicadas em conquistarem umas às outras. Perdeu as contas de quantos casais tinham surgido desde que tinham chegado ali, alguns bastante inesperados inclusive.
chegou até seu corredor e abriu a porta cantarolando uma música que mal conhecia, mas que tinha grudado em sua mente em algum momento do dia. Assim que entrou no local parou com a música, se deparando com Karol na beira da cama procurando alguma coisa em sua mala. Por um momento tinha até se esquecido que estavam no mesmo quarto, aliás, que ela também participava da viagem. Não tinha a visto em momento nenhum depois da conversa que tiveram, nem mesmo quando todos os outros alunos estavam no pôr do sol.
— Oi, ! — ela cumprimentou envergonhada, desviando a atenção e parando por um momento para a lançar um sorriso sem graça assim que entrou no cômodo. — Estava apenas procurando meu colar para terminar de me arrumar, já estou quase de saída. — ela se justificou por algum motivo.
— Oi! Sem problemas, vim apenas pegar um baralho. — foi curta na resposta, mas se forçou a sorrir fechado de volta. Passou pela garota, que inclusive estava não só muito bonita, mas também cheirosa, e puxou sua bolsa do chão. O silêncio que pairou no ambiente era claramente desconfortável, mas dificilmente tentaria algo para amenizar. Se abrisse a boca para forçar uma conversa, provavelmente iria perder o controle e começar a vomitar todas as questões que se passavam em sua mente quando encontrava com Karoline. “Você e ainda estão conversando?”, “Existe alguma chance de vocês reatarem?”, “Você o amou?”, “Você ainda o ama?”. Podia ouvir sua mente gritar uma coisa depois da outra e segurou firme, quase mordendo a língua para se controlar. Focou em encontrar o baralho no meio da bagunça que havia virado dentro da sua bolsa e quase suspirou de alívio ao tê-lo nas mãos. Largou suas coisas de volta e se virou para sair logo dali.
— Terminei aqui, também estou de saída. — Karol anunciou assim que a caçula passou ao seu lado e começou a seguir o mesmo caminho.
— Sabe, não precisa ficar se justificando nem nada. O quarto também é seu. — ela quis ser educada, mas teve certeza de que acabou soando um pouco grossa ao notar Karol erguer a sobrancelha e abrir a boca minimamente. Desviou o olhar para fechar a porta quando saíram e retomou a postura mais tranquila em seguida para amenizar sua fala. — Quer dizer, não precisamos piorar essa situação.
— Tem razão. As vezes só vou agindo de forma cautelosa demais com tudo e acaba sendo pior. — Karol passou a mão pelos cachos e manteve o olhar no caminho de pedra pelo qual passavam. Ela respirou fundo e começou a mexer nos dedos ansiosa em seguida. notou calada. — Mas então, você e o , hm?! Como estão?
Se estivesse bebendo qualquer coisa, sabia que teria cuspido tudo fora naquele momento tamanha surpresa. Esperava que Karol bancasse a educada e puxasse assunto até que se separassem no caminho, mas aquilo? Não tinha nem ideia de onde ela queria chegar. Não sabia se estava tentando demonstrar alguma coisa, se sondava o território ou se apenas agiu por puro nervosismo. A caçula por sua vez, mal sabia que resposta dar. Fora pega tão de surpresa que não tinha tempo nem para fazer seu filtro funcionar.
— Estamos bem, somos bons amigos. — respondeu e se arrependeu no segundo seguinte. Se já queria sumir dali antes, agora ela queria se bater. Que raios queria dizer com “bons amigos”? Por qual motivo mesmo não tinha parado na primeira parte da fala? Era quase como um anúncio de sinal verde para Karol, ela sabia. Mais um pouco e arranjaria um encontro dos dois. Rolou os olhos discreta.
— Entendo… — Karol falou estranhando a postura inquieta da outra, mas sem falar mais nada. Parecia estar pensando na resposta, ou sabe-se lá em o que mais. Ela sorriu e indicou o caminho contrário, já se afastando. — Eu vou por ali…
— Ah, ok! A gente se esbarra por aí. — balançou a cabeça devagar em cumprimento e seguiu até a mesa onde os amigos estavam.
Chegou até lá e se sentou sem falar nada, aproveitando que estavam todos entretidos em uma conversa aleatória e já se organizavam para começar a jogar. Encarou por alguns segundos sem que ele percebesse, vagando seus pensamentos por caminhos que nem sabia naquele momento. Respirou fundo e passou a mão nos cabelos. Só precisava voltar ao ritmo calmo que estava e se concentrar naquilo que estava acontecendo, de preferência antes que alguém notasse algo e a questionasse. Forçou uma risada fraca ao notar os amigos rindo de algo que Dylan tinha dito e voltou sua atenção para a conversa e cartas que eram distribuídas, era o melhor a se fazer naquele momento.
Capítulo 31
Para esse capítulo, indico duas músicas para momentos específicos. Caso queira escutar, coloque "essa (1)" e "essa (2)" para carregar. Na hora certa irei indicar para dar play!
Tão rápido quanto ela passou, a sexta-feira ficou para trás dando lugar para um sábado ensolarado. O clima de fim de semana fez todos acordarem mais animados e dispostos a aproveitar bem o dia, afinal partiriam dali na noite de domingo. As gêmeas encontraram com os amigos na cabana principal onde tomaram café-da-manhã junto com os demais em meio a conversas e risadas. Em seguida, todos foram instruídos pelos professores a se prepararem para a primeira programação do dia na área de piscinas. Com equipes montadas, acessórios para jogos e uma Madson, professora de artes, extremamente animada em guiar as brincadeiras, foi feita uma espécie de gincana.
— Preparados para chorar? — amarrou a faixa amarela no braço e passou debochada pelos outros.
— Queridinha, se coloca no seu lugar. Esse prêmio já é nosso. — Dylan fez um high-five com , pois estavam no mesmo time, o vermelho.
— Vai ter prêmio? — perguntou perdido com uma faixa verde amarrada na cabeça.
— Parece que é uma trilha na montanha pra essa tarde. — explicou enquanto arrumava sua faixa azul no punho. Esfregou as mãos animado. — Espero ganhar só pra rir da cara de vocês.
— Considerando que a maioria dos atletas daquela escola caíram no nosso time, eu não teria muita esperança. — cruzou os braços e ergueu a sobrancelha em uma expressão desafiadora.
— Não tinha avaliado isso. Se as provas forem basicamente exercícios físicos, o único que não precisa criar expectativas de uma vitória é o . — comentou rindo enquanto indicava o time do amigo.
— Não preciso de músculos, inteligência já é o suficiente. — deu de ombros para os amigos rindo ao notar também que seu grupo era o único que destoava. Os integrantes faziam mais o tipo clube da leitura e olimpíadas de matemática.
— Nesse caso, você tá no time errado porque não tem nem um, nem outro. — deu um soco leve em seu ombro gargalhando quando o amigo apenas o deu dedo.
— Só sei que a hora da verdade chegou. — Dylan anunciou ao indicar a professora chamando todos para começar as provas.
E em poucos minutos a mini gincana começou. Corrida de saco, prova de balão com tinta e um quizz sobre conhecimentos gerais deu a vitória para o time Verde, lê-se o time do e o mais desacreditado, e deixou todo mundo extremamente sujo. Estavam todos tão felizes com a oportunidade de viver aquele fim de semana e saber que suas preocupações de provas, trabalhos e tarefas tinham terminado que achavam graça de tudo. Os menos entrosados acabaram se reunindo com os mais populares e as pequenas panelinhas se misturavam em uma só. O clima entre os alunos era tão bom que nem pareciam os mesmos das intrigas e bobeiras vividas na escola. Santa Cruz parecia ter uma magia para melhorar tudo.
— Olha só se não são aqueles que estavam contando vitória antes da hora! — debochou animado assim que se aproximou dos amigos. Ainda estavam todos sujos de tintas na beira da piscina perto da muvuca que tinha se formado com o final da gincana.
— Perder, tudo bem. Agora, perder pro ninguém merece. — fingiu impaciência, mas acabou rindo no final da frase.
— Essa eu realmente não esperava. — Dylan confessou divertido. — Inclusive, adorei sua contribuição pro time ao cair na corrida de saco.
— Sim! O Marcus tava filmando na hora, não posso esquecer de pegar com ele depois. — comentou animada e gargalhou.
— Podem me perturbar como quiser. Eu tenho um super passeio durante a tarde e vocês não. — ele sorriu bobo feliz e deu de ombros. Voltou a falar e olhou para meio envergonhado. — Sem contar que comecei a conversar com uma menina de uma das minhas matérias e ela é super legal.
— Vai com tudo, amigo. Tá na hora de seguir em frente. — o lançou um sorriso enquanto o abraçava de lado. A intimidade entre os dois facilitou para que ela entendesse que ele pensava em e em como ficaria a situação com a amiga em comum dos dois no meio.
— Aproveita e beija na boca por mim. — brincou também o incentivando.
— Se for beijar por mim vai aproveitar muito porque meu nível já está o de bv voltando. — Dylan brincou.
— Já vi que o vai ser o único a se dar de bem nessa viagem. — sorriu irônico e desviou a atenção para as pessoas que pulavam na piscina. apenas mordeu o lábio envergonhada e ignorou os olhares indiscretos de Dylan e .
— Ah, tenho certeza que você vai arranjar um jeito de resolver isso. — falou despreocupado sem tirar os olhos de também, aproveitando que estava distraído com a movimentação. A caçula arregalou os olhos para e o deu um beliscão leve.
— E então, vamos tomar um banho e tirar essa tinta toda do corpo? — chamou para mudar de assunto.
— Sim! A gente pode ir e depois se encontrar pra fazer alguma outra coisa. — Dy sugeriu.
— Vamos, preciso ficar cheiroso e bonito pro meu passeio. — estufou o peito amostrado.
— Vai precisar de mais do que um banho. — brincou e abraçou o amigo em seguida quando ele a lançou uma expressão forçada de surpresa.
— Até você?
— Gente, pode ir indo. Só vou resolver um negócio e encontro vocês depois. — interrompeu a brincadeira e mal deu tempo para que o questionassem. Se afastou e fugiu da vista ao entrar na muvuca de pessoas.
— Nesse caso, vamos logo. — puxou Dy pelo braço e começaram a andar.
— Vem, . — a chamou, a tirando do pequeno transe que tinha entrado. Confirmou e o seguiu, lançando um olhar para trás mais uma vez apenas para confirmar se não encontrava no meio de todos. Sem sucesso.
— Quer dizer que tem outra garota na jogada? — deu a deixa para que o amigo engatasse em uma conversa e a ajudasse a ocupar sua mente para não dar espaço para os pensamentos que queriam invadir.
A cabana estava com uma iluminação especial aquela noite, dividida em tons de amarelo e vermelho. Um pequeno palco com microfones e banquinhos também surgiu para completar o ambiente. Todos os alunos estavam ali, a pedido dos organizadores, para a última programação do dia. Como orientado, todos tinham se produzido de forma especial e deixado de lado os biquínis e saídas de banho dessa vez. As mesinhas pequenas e altas permitiam que os alunos circulassem pelo local de forma descontraída, todos falando uns com os outros alegres. Bom, todos com exceção de seis.
Um pouco mais distante dali, no jardim fechado atrás da área das piscinas, os seis amigos tentavam se esconder atrás dos coqueiros altos e falavam aos sussurros.
— Por qual motivo mesmo nós tivemos que vir logo para o meio desse jardim? Tá meio escuro aqui. — mordeu a boca e fez uma cara inocente de quem tentava disfarçar o medo.
— Porque precisávamos de um lugar que não pudessem nos ver facilmente. Se alguém da organização pega a gente com essas garrafas estamos ferrados. — tinha ficado a tarde toda sumido e voltado minutos antes quando fora chamar as gêmeas. Não tinha dado nenhuma explicação e ninguém o questionou já que tudo parecia normal. Ele entregou uma garrafa para Dylan e outra para , ficando com uma e a abrindo.
— A pergunta que não quer calar é: onde arranjaram essas bebidas? — perguntou desconfiada enquanto abria a garrafa em suas mãos.
— Jason e alguns outros caras do time conseguiram trazer escondido e aceitaram nos vender quando vimos no dormitório. — Dylan explicou e abriu a última garrafa de vodka restante.
— Não é bebida demais só pra nós seis? Teríamos que beber muito rápido pra não demorar a chegar lá e sentirem nossa falta. — perguntou desconfiada. Tinha escutado algumas meninas no dormitório falando sobre o que iria rolar na cabana e tinha tido uma ideia sobre como terminaria sua noite de forma perfeita. Um pouco de álcool seria bom para lhe dar coragem, muito apenas a atrapalharia.
— Não posso ficar muito bêbado, ainda estou em fase de conquista com Jenna e não quero arriscar nada. — cruzou os braços em uma expressão segura.
— Ah, falar nisso, como foi o passeio com ela? — perguntou animada.
— Gente, não vamos perder o foco, ok? — cortou o assunto antes que perdessem mais tempo que o necessário ali. — Todo mundo bebe só o que aguentar, se precisar a gente se livra do resto. Agora, vamos ou não vamos iniciar nossa noite?
— Vamos! — Dylan falou animado e esticou a garrafa. — Um brinde a essa viagem incrível!
— E à nossa amizade! — também esticou a garrafa em suas mãos.
— E ao fim da escola! — esticou a última garrafa. e apoiaram as mãos em uma delas e brindaram juntos.
As garrafas começaram a rodar de mãos em mãos e aos poucos foram sendo esvaziadas. foi o primeiro a parar, ainda no seu quarto gole. Algumas goladas depois e também se sentiu satisfeita, seu corpo já dava indícios de que estava mais leve e relaxado. , Dylan e finalizaram as outras metades das duas garrafas que sobraram e em seguida foram todos para a cabana.
As pessoas conversavam alto e animadas por ali. No palco, o professor Thompson cantava a plenos pulmões em uma cena esquisita e engraçada. O ambiente estava mais escuro que o normal e a pouca iluminação dava uma sensação diferente ao local. Os seis aproveitaram a distração de todos em filmarem o professor e fazerem piadas para se acomodar em uma mesa livre que encontraram nos fundos sem que notassem o atraso.
— Preciso comer. — falou e começou a atacar os aperitivos que o garçom tinha acabado de servir na mesa.
— E eu preciso ir ao banheiro. — Dylan anunciou e se levantou indo atrás do que queria.
— E você, ? Vai ficar paradão aí ou vai atrás da sua garota? — perguntou curioso.
— Ela não é minha garota. — ele respondeu e fez um bico desanimado. — A gente só conversou enquanto fazia a trilha. Achei até que ia rolar algo quando paramos no mirante para ver o pôr do sol, mas acho que ela é mais lerda que eu e não percebeu minhas intenções.
— Mais lerda que você? Isso é possível? — fez piada e gargalhou com .
— Muito engraçadinha você. Aprendeu com o ? — retrucou e sorriu vitorioso ao ver a amiga rolando os olhos.
— Se tiver aprendido, estou orgulhoso. — garantiu e logo em seguida chegou mais pra frente para falar mais baixo com os dois. — Sendo lerda ou não, ela parece estar vindo pra cá e acredito que isso é um bom sinal.
— Vai dar certo, . — incentivou animada e se calou junto com os três ao ver a menina se aproximando.
— Oi, ! Oi, gente! — ela cumprimentou tímida e parou em pé em frente a mesa.
— Oi, Jenna! — cumprimentou animado junto com os outros e puxou a cadeira vazia ao seu lado. — Senta aqui um pouco.
Ela foi até lá e assim que se sentou começou algum assunto entre os dois que , e não se preocuparam em participar. Dylan voltou até a mesa e fez uma cara engraçada ao ver o possível casal junto, mas também não se intrometeu e voltou ao seu lugar.
— E aí, . Vai cantar qual hoje? — indicou o palco.
— Hoje eu não vou, as pessoas já me ouviram demais. Deixa pros outros darem show. — ele respondeu e deu de ombros distraído, desviou a atenção para o salão.
As pessoas iam se apresentando em duplas, grupos e sozinhas em cima do palco. A cada hora que passava o público parecia mais animado com tudo. Talvez a bebida dos jogadores tinha chegado a mais pessoas do que imaginava. Soltou um risinho fraco ao pensar naquilo e encarou os amigos. parecia feliz ainda entretido na conversa com Jenna. estava chorando de rir de algo com Dylan e encarava o ambiente. notou que ele parecia meio inquieto do nada, batucando os dedos na mesa e prestando atenção ao seu redor e não neles. Provavelmente era consequência do álcool que tinha ingerido, afinal ele tinha sido um dos que mais tinha tomado.
Ela pensou no que queria fazer ainda naquela noite e sentiu o estômago contorcer e suas mãos suarem instantaneamente. Não queria desistir dessa vez e aquela noite parecia o momento perfeito. Só precisava de um pouco mais de coragem.
— Você não vai comer nada? — ela cutucou o braço de para ganhar sua atenção e perguntou um pouco preocupada. — Você bebeu demais.
— Ah, sim! — ele concordou depois de pensar um pouco. Pegou um salgado pequeno e jogou na boca.
— O que tá achando da viagem? — ela insistiu em uma conversa ao notar que ele não falaria mais nada. Aproveitou que estava ao seu lado e que tanto e Dylan quanto e Jenna estavam distraídos em suas conversas.
— Incrível! — ele pareceu se esforçar para se concentrar com ela ao notar que ela queria conversar. — Estou me divertindo tanto que algumas vezes até esqueço por qual motivo estamos aqui.
— Isso é verdade. Hoje, só durante a gincana que fui me ligar que provavelmente não vou ver mais nenhuma dessas pessoas que vieram com a gente. Afinal, acabou. — ela deu de ombros e se sentiu mais aliviada com interagindo com ela normalmente. Precisava dessa garantia de que estavam bem.
— Sim. É meio louco pensar que daqui um tempo a gente mal vai se lembrar do rosto desse povo. — ele falou pensativo e encarou algumas pessoas. Sorriu em seguida ao olhar para . — Ainda bem que tenho os mais legais ao meu lado. Principalmente você, brasileirinha. Fico feliz de estarmos bem um com o outro.
— Eu também, . — ela sorriu meio desnorteada e feliz. Era tudo que precisava ouvir naquela hora.
— Gente, olha quem vai cantar agora! — Dylan interrompeu a conversa dos dois e indicou o palco. Uma professora Madson animada e bem vestida subia lá.
— Agora o negócio vai ficar bom! — falou animada.
A professora começou a cantar What’s Up e os alunos gritaram animados. O salão ficava uma barulheira de palmas e assobios a cada vez que ela cantava uma nota mais prolongada. aplaudiu animada e logo voltou a prestar atenção em . Ele também aplaudia e ria das dancinhas da mulher à frente. Pouco tempo depois ele sentiu que estava sendo encarado e a olhou de volta, sorrindo fechado e mais tranquilo que antes. A animação do ambiente pareceu a contagiar e ela soube que era aquele o momento exato. Se levantou da mesa sem se explicar e sem pensar e apenas lançou uma piscadela discreta para Dy e , os deixando com cara de curiosos para trás junto com os outros.
Ela podia sentir sua espinha gelando e seus passos vacilando cada vez que se aproximava do palco. Sua pressão com certeza já tinha caído uns níveis já que sentia seu corpo suando frio e sua nuca gelando. Provavelmente nunca tinha se sentido tão nervosa como naquele momento. Desejou desistir e apenas voltar à mesa sem que ninguém notasse, mas era a chance que tinha esperado e não queria desperdiçar e se arrepender depois por ter desistido. Deu mais alguns passos e chegou à lateral do palco, assistindo a professora terminar a música e se encaminhar até ela para a entrega o microfone.
— Qual a música? — o homem que administrava o som a perguntou, pronto para botar o playblack. Ela chegou a se assustar quando escutou sua voz, saiu de seu devaneio.
— Ah...Eu não sei. — ela gaguejou e falou nervosa. Notou o homem franzir as sobrancelhas e se preparar para a pressionar quando avistou o violão encostado em sua mesinha. Pensou rápido e se decidiu ao indicar o instrumento. — Tudo bem se eu usar ele?
— Certo. Só me deixe conectá-lo. — ele respondeu meio a contragosto e ela mordeu o lábio nervosa. Se virou para trás e viu que estavam todos distraídos em suas conversas, menos seus amigos lá no fundo que a encaravam em um misto de curiosidade, ansiedade e dúvida. — Aqui, menina.
Ela agradeceu e pegou o instrumento. Precisou respirar fundo antes de subir no palco e se posicionar no pequeno banquinho que tinha ali. Prendeu o microfone no tripé com as mãos trêmulas enquanto escutava as pessoas aplaudirem. Garantiu que estava bem acomodada e só então levantou o olhar para a frente. A luz que a iluminava era forte o suficiente para atrapalhar sua visão do ambiente. Conseguia identificar somente até a terceira fileira de mesas enquanto o resto eram apenas contornos escuros. Sabia que sua mesa ficava no canto direito e tentou enxergar melhor lá, fechando levemente os olhos para forçar a vista. Não adiantou, mas talvez fosse melhor assim, sem ver a expressão de . Respirou fundo e sentiu sua perna começar a balançar. Notou os olhares já impacientes dos colegas à frente e respirou fundo tomando o resto de coragem que tinha.
— Boa noite, gente. — mal conseguiu sorrir tamanho nervosismo, sequer sabia se tinham a respondido ou não. Seu corpo parecia tremer inteiro por dentro e seus dedos estavam gelados. Prosseguiu mesmo assim. — Pra quem não me conhece, eu sou a . Er, a música que eu vou cantar agora… queria dedicar à uma pessoa. — mordeu o lábio e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Notou que sua irmã tinha se aproximado e parecia a tentar sinalizar algo, provavelmente estava tão nervosa quanto ela. Prosseguiu acreditando no incentivo da mais velha. — Essa pessoa se tornou alguém bem especial logo no início da minha estadia por aqui e fez da minha vida algo melhor desde então. Bom, espero que a música fale por si só.
(Dê play na 1)
Preferiu não se prolongar no discurso, melhor seria que a música falasse por ela como tantas vezes tinha feito. Mordeu o lábio e encarou o violão, começando a dedilhar da melhor forma que conseguia com o nervosismo. Respirou fundo e fechou os olhos começando a cantar.
How long will I love you?
(Por quanto tempo vou te amar?)
As long as stars are above you
(Enquanto as estrelas estiverem em cima de você)
And longer if I can
(E por muito mais tempo, se eu puder)
How long will I need you?
(Por quanto tempo eu vou precisar de você?)
As long as the seasons need to
(Enquanto as estações precisarem)
Follow their plan
(Seguir seus planos)
Podia sentir o silêncio que tinha se instaurado no local e se permitiu abrir os olhos para encarar as pessoas. Todos pareciam surpresos e alguns cochichavam entre si. Ela sentiu seu estômago se revirar e fechou os olhos novamente, se entregando em mais um verso.
How long will I be with you?
(Quanto tempo vou estar com você?)
As long as the sea is bound to
(Enquanto o mar for o encarregado de)
Wash upon the sand
(Lavar a areia)
How long will I want you?
(Quanto tempo vou te querer?)
As long as you want me to
(Enquanto você me quiser)
And longer by far
(E que seja muito tempo)
Provavelmente a única maneira de ser mais direta que aquilo seria anunciando o nome de , mas todos já deviam saber quem era, considerando seu histórico. E ele saberia. Não teria outra opção se não ele. Ela sabia que aquele era seu momento de entrega, de jogar tudo para o alto e finalmente tentar romper a barreira que os impedia de ficar juntos. Sentia cada verso saindo de sua boca como parte de sua declaração.
How long will I hold you?
(Por quanto tempo vou te abraçar?)
As long as your father told you
(Enquanto o seu pai te disser)
As long as you can
(Enquanto você puder)
How long will I give to you?
(Quanto tempo darei a você?)
As long as I live through you
(Enquanto eu viver com você)
However long you say
(Não importa por quanto tempo você diga)
Abriu os olhos e voltou o olhar para onde sua mesa ficava, podia notar uma pequena movimentação por perto, mas não sabia identificar o que seria e muito menos a reação de a tudo aquilo. Na verdade, mal conseguia filtrar o que acontecia ao seu redor. Só conseguia sentir seu coração falando por si e toda sua concentração em não errar e ser sincera com o que falar.
How long will I love you?
(Quanto tempo eu vou te amar?)
As long as stars are above you
(Enquanto as estrelas estiverem acima de você)
And longer if I may
(E mais, se eu puder)
How long will I love you?
(Quanto tempo eu vou te amar?)
As long as stars are above you
(Enquanto as estrelas estiverem acima de você)
Finalizou a música e por um breve momento todo o local caiu em silêncio absoluto, se preenchendo por palmas e gritos em seguida. Sorriu aliviada e se levantou do banquinho, fazendo um pequeno aceno e saindo do palco. Seu coração batia tão forte que sua blusa se movimentava. Só faltava uma coisa para tudo se completar. Seu corpo gritava pela necessidade de encontrar com e seu olhar já procurava pelo dele em meio às pessoas. Passou às pressas pelo corredor mais próximo e foi se aproximando de sua mesa. Sentia os olhares dos colegas de escola seguindo seu andar enquanto alguém começava a cantar algo no palco. Pressionou os lábios envergonhada mas sem conseguir conter um sorriso de alegria despontando de sua boca. Finalmente tinha se arriscado e tinha sido corajosa, aquele era seu momento!
(Dê play na 2!)
Continuou andando e encarou curiosa sua mesa. Avistou Dylan em pé a encarando como quem não sabia o que falar e estava mais branco que o normal, Jenna não estava mais por perto. Escutou alguém chamar seu nome logo atrás e se virou, vendo nervosa andando apressada até ela, mas olhando para mais além. Se virou sem entender o que acontecia e só então encontrou . Ele não estava mais na mesa, mas sim no corredor alguns passos à sua frente. Estava próximo da porta e em pé, o corpo virado como o de quem sairia do local. Prestou mais atenção e sentiu seu estômago apertar ao enxergar que Karol estava ao lado dele. Ela o encarava séria enquanto falava algo antes de soltar seu braço da mão dele e sair da cabana. encarou tudo e andou a passos lentos até sem pensar direito no que estava fazendo e no que estava acontecendo. Seu corpo reagia trêmulo num indício de alerta.
— Ah, ? Er, você viu o que… — falou baixo sem conseguir terminar a frase assim que se aproximou dele. Franziu a sobrancelha confusa e se sentiu envergonhada. Engoliu em seco ao notar o olhar duro que ele a lançou ao interrompê-la.
— E tinha como não ver, ? — ele questionou de uma vez e travou o maxilar em seguida. Seu olhar parecia perdido e bravo ao mesmo tempo. sentiu o estômago afundar e sua boca abrir em surpresa. Se preparou para questionar inocente de onde tudo aquilo tinha surgido, talvez fosse efeito da vodka quase inteira que tinha tomado. Ele foi mais rápido e voltou a falar. O tom de voz seco e alto, sem se importar que estavam na frente de todos. — Sabe, eu realmente não entendo qual o motivo de você sempre querer cutucar e mudar as coisas. Quando eu acho que finalmente algo pode se encaixar de volta aos trilhos, você dá um jeito de acabar com tudo.
— Mas, , eu não entendo. Você disse que estava feliz que nós… — ela sentiu seus olhos lacrimejarem e seu coração doer. Seu corpo se encolhia à medida que ele falava mais bravo, fazendo a se sentir pequena.
— Eu disse isso porque finalmente achei que poderia seguir minha vida. Achei que você tivesse sido madura também para aceitar que nós poderíamos ser apenas amigos. Mas não, você tinha que estragar tudo. Agora, eu não posso ter Karol e muito menos quero você por perto ou na minha frente qualquer outra vez. Você ferrou com tudo, . — ele soltou de uma vez e saiu do local a passos fundos.
sentiu suas pernas fraquejarem momentaneamente e lágrimas começarem a descer pelo seu rosto. Se abraçou devagar e encarou ao redor, notando os olhares, o silêncio da música e os cochichos de todos. O ar lhe faltou nos pulmões e as coisas pareceram acontecer de maneira turva à sua frente. Sentiu alguém a envolver e tentar fazê-la sentar, mas mal tinha forças para sair do lugar. Escutou uma voz, que parecia de , gritando para as pessoas. Não sabia se era ou outro cara, mas duas mãos seguravam seu rosto e chamavam seu nome de forma agoniada. Ela queria responder, queria principalmente forças para sair correndo daquele local, mas tinha simplesmente travado. Seu corpo tremia e ela sentia que já estava chorando de forma descontrolada e rápida. Seu peito doía tanto que ela poderia jurar que estava tendo algum tipo de ataque do coração. Afinal, era ali onde estava o maior problema.
Seu lado esquerdo parecia quebrado e esmagado por um coração que explodira. Sua mente brincava com sua sanidade passando e repassando as frases e desprezo de em sua cabeça. “Você dá um jeito de acabar com tudo”, “muito menos quero você por perto”, “você ferrou com tudo, ”. Sua respiração se descontrolou e ela puxou o ar com força sem realmente sentir que estava conseguindo respirar tamanha dor. Escutou a voz de e Dylan por perto e ao mesmo tempo tão longe. Segundos depois seu corpo foi tomado por dois braços fortes e ela soube que tinham a tirado da cabana. Seu choro se intensificou ao pensar na vergonha que sentia com tudo que tinha acontecido, no papel de idiota pelo qual tinha se prestado e no quão ridícula tinha sido em achar que algo ia dar certo. Tinha mesmo ferrado com tudo. Como não tinha notado que todo o comportamento de apontaria para aquilo? Quantas vezes ele devia estar fazendo planos com Karol sem que notasse? Quantas vezes se permitiu enganar, completamente cega pelo que sentia? Continuou chorando, agora em silêncio e fraca. Notou que tinham a colocado em uma cama e que estava abaixada a sua frente. Se concentrou no rosto da irmã e no que ela falava.
— , por favor, confie em mim, ok? Vai dar tudo certo. — a primogênita fungou e só então notou que ela também chorava. Podia sentir ela passando a mão carinhosa pelo seu rosto e cabelo. — A gente vai resolver tudo. Você não tem culpa de nada. é um idiota!
— Eu não deveria ter acreditado que isso ia dar certo. — usou todas as forças que tinha para responder, mas escutou sua voz sair apenas em um sussurro. Seu lábio tremeu e sua voz falhou. — Eu realmente acreditei, , mas ele escolheu ela.
— Ai, , você não errou em acreditar. Você é boa demais, mana. Você não merece as pessoas ao seu redor. — falou com a voz amarga de choro, o bolo em sua garganta apertando e algumas lágrimas teimosas ainda caindo de seu rosto. Ela mal podia acreditar no que estava acontecendo, no que tinha deixado acontecer. Devia ter puxado à força daquele palco assim que viu Karol chegar até a mesa e parecer instantaneamente mais animado. Ela não poderia imaginar que tudo se desenrolaria daquela maneira, claro, mas a bomba estava na sua cara e ela arriscou. Arriscou tudo e principalmente o coração da irmã.
Só de pensar na caçula completamente humilhada e pequena na frente de todas aquelas pessoas ela tinha vontade de arrancar cada membro de à força. Ele não tinha só quebrado ao fazer aquele papel ridículo, tinha quebrado cada parte de junto. Ela precisou respirar fundo muitas vezes e não se permitir descontrolar para conseguir amparar a irmã junto com e Dylan. Sua sobriedade tinha voltado completamente em poucos segundos. Mais lágrima escapavam de seus olhos a cada vez que se lembrava da caçula soluçando e quase caindo nos braços de Dy ou só de olhar para frente e vê-la desamparada e com a dor estampada em seus olhos.
A vontade que tinha era de pegar a dor da menor para si. Céus, ela sequer conseguia raciocinar como tudo tinha acontecido tão rápido tamanha agonia que sentia. Em poucos segundos já tinha ralhado com todos aqueles alunos que cochichavam da cena, tinha instruído Dy a pegar a irmã e as levá-las até o quarto dele já que era mais perto. Mesmo no ápice de seu nervosismo conseguiu ainda convencer de que garantisse quem nem nem Karoline cruzariam o caminho delas tão cedo, caso contrário, não responderia por seus atos. Suspirou pesado e passou a mão pelos olhos ainda continuando o carinho que fazia nos cabelos de . Viu a irmã fechar os olhos e continuar chorando baixinho. Desviou a atenção para Dylan que estava sentado na ponta da cama, ele a encarava abatido, mas com o maxilar travado.
— Vou dar um jeito nisso. — ele anunciou e levantou de uma vez. Se encaminhou até uma das outras camas do quarto e puxou uma bolsa do chão ao lado dela. Ele caminhou à passos largos até a porta e falou antes de sair, sem dar tempo para questionar algo. — Não se preocupe, já volto.
O quarto momentaneamente pareceu pequeno demais para as duas e a única coisa que se escutava era o choro baixinho de . se levantou e empurrou delicadamente o corpo da irmã para o canto da cama. Aproveitou o espaço livre e se deitou à sua frente, puxando o lençol aos seus pés e embrulhando as duas enquanto a abraçava com o braço livre. Respiraram fundo juntas e fecharam os olhos compartilhando a dor que sentiam naquele momento.
Tão rápido quanto ela passou, a sexta-feira ficou para trás dando lugar para um sábado ensolarado. O clima de fim de semana fez todos acordarem mais animados e dispostos a aproveitar bem o dia, afinal partiriam dali na noite de domingo. As gêmeas encontraram com os amigos na cabana principal onde tomaram café-da-manhã junto com os demais em meio a conversas e risadas. Em seguida, todos foram instruídos pelos professores a se prepararem para a primeira programação do dia na área de piscinas. Com equipes montadas, acessórios para jogos e uma Madson, professora de artes, extremamente animada em guiar as brincadeiras, foi feita uma espécie de gincana.
— Preparados para chorar? — amarrou a faixa amarela no braço e passou debochada pelos outros.
— Queridinha, se coloca no seu lugar. Esse prêmio já é nosso. — Dylan fez um high-five com , pois estavam no mesmo time, o vermelho.
— Vai ter prêmio? — perguntou perdido com uma faixa verde amarrada na cabeça.
— Parece que é uma trilha na montanha pra essa tarde. — explicou enquanto arrumava sua faixa azul no punho. Esfregou as mãos animado. — Espero ganhar só pra rir da cara de vocês.
— Considerando que a maioria dos atletas daquela escola caíram no nosso time, eu não teria muita esperança. — cruzou os braços e ergueu a sobrancelha em uma expressão desafiadora.
— Não tinha avaliado isso. Se as provas forem basicamente exercícios físicos, o único que não precisa criar expectativas de uma vitória é o . — comentou rindo enquanto indicava o time do amigo.
— Não preciso de músculos, inteligência já é o suficiente. — deu de ombros para os amigos rindo ao notar também que seu grupo era o único que destoava. Os integrantes faziam mais o tipo clube da leitura e olimpíadas de matemática.
— Nesse caso, você tá no time errado porque não tem nem um, nem outro. — deu um soco leve em seu ombro gargalhando quando o amigo apenas o deu dedo.
— Só sei que a hora da verdade chegou. — Dylan anunciou ao indicar a professora chamando todos para começar as provas.
E em poucos minutos a mini gincana começou. Corrida de saco, prova de balão com tinta e um quizz sobre conhecimentos gerais deu a vitória para o time Verde, lê-se o time do e o mais desacreditado, e deixou todo mundo extremamente sujo. Estavam todos tão felizes com a oportunidade de viver aquele fim de semana e saber que suas preocupações de provas, trabalhos e tarefas tinham terminado que achavam graça de tudo. Os menos entrosados acabaram se reunindo com os mais populares e as pequenas panelinhas se misturavam em uma só. O clima entre os alunos era tão bom que nem pareciam os mesmos das intrigas e bobeiras vividas na escola. Santa Cruz parecia ter uma magia para melhorar tudo.
— Olha só se não são aqueles que estavam contando vitória antes da hora! — debochou animado assim que se aproximou dos amigos. Ainda estavam todos sujos de tintas na beira da piscina perto da muvuca que tinha se formado com o final da gincana.
— Perder, tudo bem. Agora, perder pro ninguém merece. — fingiu impaciência, mas acabou rindo no final da frase.
— Essa eu realmente não esperava. — Dylan confessou divertido. — Inclusive, adorei sua contribuição pro time ao cair na corrida de saco.
— Sim! O Marcus tava filmando na hora, não posso esquecer de pegar com ele depois. — comentou animada e gargalhou.
— Podem me perturbar como quiser. Eu tenho um super passeio durante a tarde e vocês não. — ele sorriu bobo feliz e deu de ombros. Voltou a falar e olhou para meio envergonhado. — Sem contar que comecei a conversar com uma menina de uma das minhas matérias e ela é super legal.
— Vai com tudo, amigo. Tá na hora de seguir em frente. — o lançou um sorriso enquanto o abraçava de lado. A intimidade entre os dois facilitou para que ela entendesse que ele pensava em e em como ficaria a situação com a amiga em comum dos dois no meio.
— Aproveita e beija na boca por mim. — brincou também o incentivando.
— Se for beijar por mim vai aproveitar muito porque meu nível já está o de bv voltando. — Dylan brincou.
— Já vi que o vai ser o único a se dar de bem nessa viagem. — sorriu irônico e desviou a atenção para as pessoas que pulavam na piscina. apenas mordeu o lábio envergonhada e ignorou os olhares indiscretos de Dylan e .
— Ah, tenho certeza que você vai arranjar um jeito de resolver isso. — falou despreocupado sem tirar os olhos de também, aproveitando que estava distraído com a movimentação. A caçula arregalou os olhos para e o deu um beliscão leve.
— E então, vamos tomar um banho e tirar essa tinta toda do corpo? — chamou para mudar de assunto.
— Sim! A gente pode ir e depois se encontrar pra fazer alguma outra coisa. — Dy sugeriu.
— Vamos, preciso ficar cheiroso e bonito pro meu passeio. — estufou o peito amostrado.
— Vai precisar de mais do que um banho. — brincou e abraçou o amigo em seguida quando ele a lançou uma expressão forçada de surpresa.
— Até você?
— Gente, pode ir indo. Só vou resolver um negócio e encontro vocês depois. — interrompeu a brincadeira e mal deu tempo para que o questionassem. Se afastou e fugiu da vista ao entrar na muvuca de pessoas.
— Nesse caso, vamos logo. — puxou Dy pelo braço e começaram a andar.
— Vem, . — a chamou, a tirando do pequeno transe que tinha entrado. Confirmou e o seguiu, lançando um olhar para trás mais uma vez apenas para confirmar se não encontrava no meio de todos. Sem sucesso.
— Quer dizer que tem outra garota na jogada? — deu a deixa para que o amigo engatasse em uma conversa e a ajudasse a ocupar sua mente para não dar espaço para os pensamentos que queriam invadir.
A cabana estava com uma iluminação especial aquela noite, dividida em tons de amarelo e vermelho. Um pequeno palco com microfones e banquinhos também surgiu para completar o ambiente. Todos os alunos estavam ali, a pedido dos organizadores, para a última programação do dia. Como orientado, todos tinham se produzido de forma especial e deixado de lado os biquínis e saídas de banho dessa vez. As mesinhas pequenas e altas permitiam que os alunos circulassem pelo local de forma descontraída, todos falando uns com os outros alegres. Bom, todos com exceção de seis.
Um pouco mais distante dali, no jardim fechado atrás da área das piscinas, os seis amigos tentavam se esconder atrás dos coqueiros altos e falavam aos sussurros.
— Por qual motivo mesmo nós tivemos que vir logo para o meio desse jardim? Tá meio escuro aqui. — mordeu a boca e fez uma cara inocente de quem tentava disfarçar o medo.
— Porque precisávamos de um lugar que não pudessem nos ver facilmente. Se alguém da organização pega a gente com essas garrafas estamos ferrados. — tinha ficado a tarde toda sumido e voltado minutos antes quando fora chamar as gêmeas. Não tinha dado nenhuma explicação e ninguém o questionou já que tudo parecia normal. Ele entregou uma garrafa para Dylan e outra para , ficando com uma e a abrindo.
— A pergunta que não quer calar é: onde arranjaram essas bebidas? — perguntou desconfiada enquanto abria a garrafa em suas mãos.
— Jason e alguns outros caras do time conseguiram trazer escondido e aceitaram nos vender quando vimos no dormitório. — Dylan explicou e abriu a última garrafa de vodka restante.
— Não é bebida demais só pra nós seis? Teríamos que beber muito rápido pra não demorar a chegar lá e sentirem nossa falta. — perguntou desconfiada. Tinha escutado algumas meninas no dormitório falando sobre o que iria rolar na cabana e tinha tido uma ideia sobre como terminaria sua noite de forma perfeita. Um pouco de álcool seria bom para lhe dar coragem, muito apenas a atrapalharia.
— Não posso ficar muito bêbado, ainda estou em fase de conquista com Jenna e não quero arriscar nada. — cruzou os braços em uma expressão segura.
— Ah, falar nisso, como foi o passeio com ela? — perguntou animada.
— Gente, não vamos perder o foco, ok? — cortou o assunto antes que perdessem mais tempo que o necessário ali. — Todo mundo bebe só o que aguentar, se precisar a gente se livra do resto. Agora, vamos ou não vamos iniciar nossa noite?
— Vamos! — Dylan falou animado e esticou a garrafa. — Um brinde a essa viagem incrível!
— E à nossa amizade! — também esticou a garrafa em suas mãos.
— E ao fim da escola! — esticou a última garrafa. e apoiaram as mãos em uma delas e brindaram juntos.
As garrafas começaram a rodar de mãos em mãos e aos poucos foram sendo esvaziadas. foi o primeiro a parar, ainda no seu quarto gole. Algumas goladas depois e também se sentiu satisfeita, seu corpo já dava indícios de que estava mais leve e relaxado. , Dylan e finalizaram as outras metades das duas garrafas que sobraram e em seguida foram todos para a cabana.
As pessoas conversavam alto e animadas por ali. No palco, o professor Thompson cantava a plenos pulmões em uma cena esquisita e engraçada. O ambiente estava mais escuro que o normal e a pouca iluminação dava uma sensação diferente ao local. Os seis aproveitaram a distração de todos em filmarem o professor e fazerem piadas para se acomodar em uma mesa livre que encontraram nos fundos sem que notassem o atraso.
— Preciso comer. — falou e começou a atacar os aperitivos que o garçom tinha acabado de servir na mesa.
— E eu preciso ir ao banheiro. — Dylan anunciou e se levantou indo atrás do que queria.
— E você, ? Vai ficar paradão aí ou vai atrás da sua garota? — perguntou curioso.
— Ela não é minha garota. — ele respondeu e fez um bico desanimado. — A gente só conversou enquanto fazia a trilha. Achei até que ia rolar algo quando paramos no mirante para ver o pôr do sol, mas acho que ela é mais lerda que eu e não percebeu minhas intenções.
— Mais lerda que você? Isso é possível? — fez piada e gargalhou com .
— Muito engraçadinha você. Aprendeu com o ? — retrucou e sorriu vitorioso ao ver a amiga rolando os olhos.
— Se tiver aprendido, estou orgulhoso. — garantiu e logo em seguida chegou mais pra frente para falar mais baixo com os dois. — Sendo lerda ou não, ela parece estar vindo pra cá e acredito que isso é um bom sinal.
— Vai dar certo, . — incentivou animada e se calou junto com os três ao ver a menina se aproximando.
— Oi, ! Oi, gente! — ela cumprimentou tímida e parou em pé em frente a mesa.
— Oi, Jenna! — cumprimentou animado junto com os outros e puxou a cadeira vazia ao seu lado. — Senta aqui um pouco.
Ela foi até lá e assim que se sentou começou algum assunto entre os dois que , e não se preocuparam em participar. Dylan voltou até a mesa e fez uma cara engraçada ao ver o possível casal junto, mas também não se intrometeu e voltou ao seu lugar.
— E aí, . Vai cantar qual hoje? — indicou o palco.
— Hoje eu não vou, as pessoas já me ouviram demais. Deixa pros outros darem show. — ele respondeu e deu de ombros distraído, desviou a atenção para o salão.
As pessoas iam se apresentando em duplas, grupos e sozinhas em cima do palco. A cada hora que passava o público parecia mais animado com tudo. Talvez a bebida dos jogadores tinha chegado a mais pessoas do que imaginava. Soltou um risinho fraco ao pensar naquilo e encarou os amigos. parecia feliz ainda entretido na conversa com Jenna. estava chorando de rir de algo com Dylan e encarava o ambiente. notou que ele parecia meio inquieto do nada, batucando os dedos na mesa e prestando atenção ao seu redor e não neles. Provavelmente era consequência do álcool que tinha ingerido, afinal ele tinha sido um dos que mais tinha tomado.
Ela pensou no que queria fazer ainda naquela noite e sentiu o estômago contorcer e suas mãos suarem instantaneamente. Não queria desistir dessa vez e aquela noite parecia o momento perfeito. Só precisava de um pouco mais de coragem.
— Você não vai comer nada? — ela cutucou o braço de para ganhar sua atenção e perguntou um pouco preocupada. — Você bebeu demais.
— Ah, sim! — ele concordou depois de pensar um pouco. Pegou um salgado pequeno e jogou na boca.
— O que tá achando da viagem? — ela insistiu em uma conversa ao notar que ele não falaria mais nada. Aproveitou que estava ao seu lado e que tanto e Dylan quanto e Jenna estavam distraídos em suas conversas.
— Incrível! — ele pareceu se esforçar para se concentrar com ela ao notar que ela queria conversar. — Estou me divertindo tanto que algumas vezes até esqueço por qual motivo estamos aqui.
— Isso é verdade. Hoje, só durante a gincana que fui me ligar que provavelmente não vou ver mais nenhuma dessas pessoas que vieram com a gente. Afinal, acabou. — ela deu de ombros e se sentiu mais aliviada com interagindo com ela normalmente. Precisava dessa garantia de que estavam bem.
— Sim. É meio louco pensar que daqui um tempo a gente mal vai se lembrar do rosto desse povo. — ele falou pensativo e encarou algumas pessoas. Sorriu em seguida ao olhar para . — Ainda bem que tenho os mais legais ao meu lado. Principalmente você, brasileirinha. Fico feliz de estarmos bem um com o outro.
— Eu também, . — ela sorriu meio desnorteada e feliz. Era tudo que precisava ouvir naquela hora.
— Gente, olha quem vai cantar agora! — Dylan interrompeu a conversa dos dois e indicou o palco. Uma professora Madson animada e bem vestida subia lá.
— Agora o negócio vai ficar bom! — falou animada.
A professora começou a cantar What’s Up e os alunos gritaram animados. O salão ficava uma barulheira de palmas e assobios a cada vez que ela cantava uma nota mais prolongada. aplaudiu animada e logo voltou a prestar atenção em . Ele também aplaudia e ria das dancinhas da mulher à frente. Pouco tempo depois ele sentiu que estava sendo encarado e a olhou de volta, sorrindo fechado e mais tranquilo que antes. A animação do ambiente pareceu a contagiar e ela soube que era aquele o momento exato. Se levantou da mesa sem se explicar e sem pensar e apenas lançou uma piscadela discreta para Dy e , os deixando com cara de curiosos para trás junto com os outros.
Ela podia sentir sua espinha gelando e seus passos vacilando cada vez que se aproximava do palco. Sua pressão com certeza já tinha caído uns níveis já que sentia seu corpo suando frio e sua nuca gelando. Provavelmente nunca tinha se sentido tão nervosa como naquele momento. Desejou desistir e apenas voltar à mesa sem que ninguém notasse, mas era a chance que tinha esperado e não queria desperdiçar e se arrepender depois por ter desistido. Deu mais alguns passos e chegou à lateral do palco, assistindo a professora terminar a música e se encaminhar até ela para a entrega o microfone.
— Qual a música? — o homem que administrava o som a perguntou, pronto para botar o playblack. Ela chegou a se assustar quando escutou sua voz, saiu de seu devaneio.
— Ah...Eu não sei. — ela gaguejou e falou nervosa. Notou o homem franzir as sobrancelhas e se preparar para a pressionar quando avistou o violão encostado em sua mesinha. Pensou rápido e se decidiu ao indicar o instrumento. — Tudo bem se eu usar ele?
— Certo. Só me deixe conectá-lo. — ele respondeu meio a contragosto e ela mordeu o lábio nervosa. Se virou para trás e viu que estavam todos distraídos em suas conversas, menos seus amigos lá no fundo que a encaravam em um misto de curiosidade, ansiedade e dúvida. — Aqui, menina.
Ela agradeceu e pegou o instrumento. Precisou respirar fundo antes de subir no palco e se posicionar no pequeno banquinho que tinha ali. Prendeu o microfone no tripé com as mãos trêmulas enquanto escutava as pessoas aplaudirem. Garantiu que estava bem acomodada e só então levantou o olhar para a frente. A luz que a iluminava era forte o suficiente para atrapalhar sua visão do ambiente. Conseguia identificar somente até a terceira fileira de mesas enquanto o resto eram apenas contornos escuros. Sabia que sua mesa ficava no canto direito e tentou enxergar melhor lá, fechando levemente os olhos para forçar a vista. Não adiantou, mas talvez fosse melhor assim, sem ver a expressão de . Respirou fundo e sentiu sua perna começar a balançar. Notou os olhares já impacientes dos colegas à frente e respirou fundo tomando o resto de coragem que tinha.
— Boa noite, gente. — mal conseguiu sorrir tamanho nervosismo, sequer sabia se tinham a respondido ou não. Seu corpo parecia tremer inteiro por dentro e seus dedos estavam gelados. Prosseguiu mesmo assim. — Pra quem não me conhece, eu sou a . Er, a música que eu vou cantar agora… queria dedicar à uma pessoa. — mordeu o lábio e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Notou que sua irmã tinha se aproximado e parecia a tentar sinalizar algo, provavelmente estava tão nervosa quanto ela. Prosseguiu acreditando no incentivo da mais velha. — Essa pessoa se tornou alguém bem especial logo no início da minha estadia por aqui e fez da minha vida algo melhor desde então. Bom, espero que a música fale por si só.
(Dê play na 1)
Preferiu não se prolongar no discurso, melhor seria que a música falasse por ela como tantas vezes tinha feito. Mordeu o lábio e encarou o violão, começando a dedilhar da melhor forma que conseguia com o nervosismo. Respirou fundo e fechou os olhos começando a cantar.
(Por quanto tempo vou te amar?)
As long as stars are above you
(Enquanto as estrelas estiverem em cima de você)
And longer if I can
(E por muito mais tempo, se eu puder)
How long will I need you?
(Por quanto tempo eu vou precisar de você?)
As long as the seasons need to
(Enquanto as estações precisarem)
Follow their plan
(Seguir seus planos)
Podia sentir o silêncio que tinha se instaurado no local e se permitiu abrir os olhos para encarar as pessoas. Todos pareciam surpresos e alguns cochichavam entre si. Ela sentiu seu estômago se revirar e fechou os olhos novamente, se entregando em mais um verso.
(Quanto tempo vou estar com você?)
As long as the sea is bound to
(Enquanto o mar for o encarregado de)
Wash upon the sand
(Lavar a areia)
How long will I want you?
(Quanto tempo vou te querer?)
As long as you want me to
(Enquanto você me quiser)
And longer by far
(E que seja muito tempo)
Provavelmente a única maneira de ser mais direta que aquilo seria anunciando o nome de , mas todos já deviam saber quem era, considerando seu histórico. E ele saberia. Não teria outra opção se não ele. Ela sabia que aquele era seu momento de entrega, de jogar tudo para o alto e finalmente tentar romper a barreira que os impedia de ficar juntos. Sentia cada verso saindo de sua boca como parte de sua declaração.
(Por quanto tempo vou te abraçar?)
As long as your father told you
(Enquanto o seu pai te disser)
As long as you can
(Enquanto você puder)
How long will I give to you?
(Quanto tempo darei a você?)
As long as I live through you
(Enquanto eu viver com você)
However long you say
(Não importa por quanto tempo você diga)
Abriu os olhos e voltou o olhar para onde sua mesa ficava, podia notar uma pequena movimentação por perto, mas não sabia identificar o que seria e muito menos a reação de a tudo aquilo. Na verdade, mal conseguia filtrar o que acontecia ao seu redor. Só conseguia sentir seu coração falando por si e toda sua concentração em não errar e ser sincera com o que falar.
(Quanto tempo eu vou te amar?)
As long as stars are above you
(Enquanto as estrelas estiverem acima de você)
And longer if I may
(E mais, se eu puder)
How long will I love you?
(Quanto tempo eu vou te amar?)
As long as stars are above you
(Enquanto as estrelas estiverem acima de você)
Finalizou a música e por um breve momento todo o local caiu em silêncio absoluto, se preenchendo por palmas e gritos em seguida. Sorriu aliviada e se levantou do banquinho, fazendo um pequeno aceno e saindo do palco. Seu coração batia tão forte que sua blusa se movimentava. Só faltava uma coisa para tudo se completar. Seu corpo gritava pela necessidade de encontrar com e seu olhar já procurava pelo dele em meio às pessoas. Passou às pressas pelo corredor mais próximo e foi se aproximando de sua mesa. Sentia os olhares dos colegas de escola seguindo seu andar enquanto alguém começava a cantar algo no palco. Pressionou os lábios envergonhada mas sem conseguir conter um sorriso de alegria despontando de sua boca. Finalmente tinha se arriscado e tinha sido corajosa, aquele era seu momento!
(Dê play na 2!)
Continuou andando e encarou curiosa sua mesa. Avistou Dylan em pé a encarando como quem não sabia o que falar e estava mais branco que o normal, Jenna não estava mais por perto. Escutou alguém chamar seu nome logo atrás e se virou, vendo nervosa andando apressada até ela, mas olhando para mais além. Se virou sem entender o que acontecia e só então encontrou . Ele não estava mais na mesa, mas sim no corredor alguns passos à sua frente. Estava próximo da porta e em pé, o corpo virado como o de quem sairia do local. Prestou mais atenção e sentiu seu estômago apertar ao enxergar que Karol estava ao lado dele. Ela o encarava séria enquanto falava algo antes de soltar seu braço da mão dele e sair da cabana. encarou tudo e andou a passos lentos até sem pensar direito no que estava fazendo e no que estava acontecendo. Seu corpo reagia trêmulo num indício de alerta.
— Ah, ? Er, você viu o que… — falou baixo sem conseguir terminar a frase assim que se aproximou dele. Franziu a sobrancelha confusa e se sentiu envergonhada. Engoliu em seco ao notar o olhar duro que ele a lançou ao interrompê-la.
— E tinha como não ver, ? — ele questionou de uma vez e travou o maxilar em seguida. Seu olhar parecia perdido e bravo ao mesmo tempo. sentiu o estômago afundar e sua boca abrir em surpresa. Se preparou para questionar inocente de onde tudo aquilo tinha surgido, talvez fosse efeito da vodka quase inteira que tinha tomado. Ele foi mais rápido e voltou a falar. O tom de voz seco e alto, sem se importar que estavam na frente de todos. — Sabe, eu realmente não entendo qual o motivo de você sempre querer cutucar e mudar as coisas. Quando eu acho que finalmente algo pode se encaixar de volta aos trilhos, você dá um jeito de acabar com tudo.
— Mas, , eu não entendo. Você disse que estava feliz que nós… — ela sentiu seus olhos lacrimejarem e seu coração doer. Seu corpo se encolhia à medida que ele falava mais bravo, fazendo a se sentir pequena.
— Eu disse isso porque finalmente achei que poderia seguir minha vida. Achei que você tivesse sido madura também para aceitar que nós poderíamos ser apenas amigos. Mas não, você tinha que estragar tudo. Agora, eu não posso ter Karol e muito menos quero você por perto ou na minha frente qualquer outra vez. Você ferrou com tudo, . — ele soltou de uma vez e saiu do local a passos fundos.
sentiu suas pernas fraquejarem momentaneamente e lágrimas começarem a descer pelo seu rosto. Se abraçou devagar e encarou ao redor, notando os olhares, o silêncio da música e os cochichos de todos. O ar lhe faltou nos pulmões e as coisas pareceram acontecer de maneira turva à sua frente. Sentiu alguém a envolver e tentar fazê-la sentar, mas mal tinha forças para sair do lugar. Escutou uma voz, que parecia de , gritando para as pessoas. Não sabia se era ou outro cara, mas duas mãos seguravam seu rosto e chamavam seu nome de forma agoniada. Ela queria responder, queria principalmente forças para sair correndo daquele local, mas tinha simplesmente travado. Seu corpo tremia e ela sentia que já estava chorando de forma descontrolada e rápida. Seu peito doía tanto que ela poderia jurar que estava tendo algum tipo de ataque do coração. Afinal, era ali onde estava o maior problema.
Seu lado esquerdo parecia quebrado e esmagado por um coração que explodira. Sua mente brincava com sua sanidade passando e repassando as frases e desprezo de em sua cabeça. “Você dá um jeito de acabar com tudo”, “muito menos quero você por perto”, “você ferrou com tudo, ”. Sua respiração se descontrolou e ela puxou o ar com força sem realmente sentir que estava conseguindo respirar tamanha dor. Escutou a voz de e Dylan por perto e ao mesmo tempo tão longe. Segundos depois seu corpo foi tomado por dois braços fortes e ela soube que tinham a tirado da cabana. Seu choro se intensificou ao pensar na vergonha que sentia com tudo que tinha acontecido, no papel de idiota pelo qual tinha se prestado e no quão ridícula tinha sido em achar que algo ia dar certo. Tinha mesmo ferrado com tudo. Como não tinha notado que todo o comportamento de apontaria para aquilo? Quantas vezes ele devia estar fazendo planos com Karol sem que notasse? Quantas vezes se permitiu enganar, completamente cega pelo que sentia? Continuou chorando, agora em silêncio e fraca. Notou que tinham a colocado em uma cama e que estava abaixada a sua frente. Se concentrou no rosto da irmã e no que ela falava.
— , por favor, confie em mim, ok? Vai dar tudo certo. — a primogênita fungou e só então notou que ela também chorava. Podia sentir ela passando a mão carinhosa pelo seu rosto e cabelo. — A gente vai resolver tudo. Você não tem culpa de nada. é um idiota!
— Eu não deveria ter acreditado que isso ia dar certo. — usou todas as forças que tinha para responder, mas escutou sua voz sair apenas em um sussurro. Seu lábio tremeu e sua voz falhou. — Eu realmente acreditei, , mas ele escolheu ela.
— Ai, , você não errou em acreditar. Você é boa demais, mana. Você não merece as pessoas ao seu redor. — falou com a voz amarga de choro, o bolo em sua garganta apertando e algumas lágrimas teimosas ainda caindo de seu rosto. Ela mal podia acreditar no que estava acontecendo, no que tinha deixado acontecer. Devia ter puxado à força daquele palco assim que viu Karol chegar até a mesa e parecer instantaneamente mais animado. Ela não poderia imaginar que tudo se desenrolaria daquela maneira, claro, mas a bomba estava na sua cara e ela arriscou. Arriscou tudo e principalmente o coração da irmã.
Só de pensar na caçula completamente humilhada e pequena na frente de todas aquelas pessoas ela tinha vontade de arrancar cada membro de à força. Ele não tinha só quebrado ao fazer aquele papel ridículo, tinha quebrado cada parte de junto. Ela precisou respirar fundo muitas vezes e não se permitir descontrolar para conseguir amparar a irmã junto com e Dylan. Sua sobriedade tinha voltado completamente em poucos segundos. Mais lágrima escapavam de seus olhos a cada vez que se lembrava da caçula soluçando e quase caindo nos braços de Dy ou só de olhar para frente e vê-la desamparada e com a dor estampada em seus olhos.
A vontade que tinha era de pegar a dor da menor para si. Céus, ela sequer conseguia raciocinar como tudo tinha acontecido tão rápido tamanha agonia que sentia. Em poucos segundos já tinha ralhado com todos aqueles alunos que cochichavam da cena, tinha instruído Dy a pegar a irmã e as levá-las até o quarto dele já que era mais perto. Mesmo no ápice de seu nervosismo conseguiu ainda convencer de que garantisse quem nem nem Karoline cruzariam o caminho delas tão cedo, caso contrário, não responderia por seus atos. Suspirou pesado e passou a mão pelos olhos ainda continuando o carinho que fazia nos cabelos de . Viu a irmã fechar os olhos e continuar chorando baixinho. Desviou a atenção para Dylan que estava sentado na ponta da cama, ele a encarava abatido, mas com o maxilar travado.
— Vou dar um jeito nisso. — ele anunciou e levantou de uma vez. Se encaminhou até uma das outras camas do quarto e puxou uma bolsa do chão ao lado dela. Ele caminhou à passos largos até a porta e falou antes de sair, sem dar tempo para questionar algo. — Não se preocupe, já volto.
O quarto momentaneamente pareceu pequeno demais para as duas e a única coisa que se escutava era o choro baixinho de . se levantou e empurrou delicadamente o corpo da irmã para o canto da cama. Aproveitou o espaço livre e se deitou à sua frente, puxando o lençol aos seus pés e embrulhando as duas enquanto a abraçava com o braço livre. Respiraram fundo juntas e fecharam os olhos compartilhando a dor que sentiam naquele momento.
Capítulo 32
se mexeu desconfortável na cama e abriu os olhos para conferir o que era o peso que sentia na lateral de sua barriga. A primeira coisa que viu foi o rosto de próximo ao seu e o braço dela sendo o responsável pelo peso. Ela franziu a testa tentando se concentrar e sair do estado perdido e de lerdeza em que estava. Em poucos segundos ela se lembrou da noite anterior e de tudo que tinha acontecido e a levado àquele momento, fazendo seus olhos rapidamente se encheram d'água e seu corpo se encolher automaticamente. Ela quis voltar a dormir antes que tudo lhe atingisse totalmente, tentou apertar os olhos com força e os obrigá-los a fazerem dormir. Não adiantou e, antes que se preparasse, a voz de já tinha invadido sua mente com todo aquele discurso que a machucava. Sua respiração ficou descompassada e o bolo em sua garganta aumentou.
tomou impulso na cama para se sentar e tirou o braço da irmã de cima de si. Ela levantou da cama e parou em pé ao lado dela com os olhos fechados, precisava respirar direito antes que aquela sensação de que estava sendo esmagada a fizesse surtar. Foi a passos largos até o banheiro sem prestar atenção em nada e enfiou o rosto na pia com a água correndo, sequer se preocupando em acender a luz para conferir seu reflexo no espelho em seguida. Não precisava de um para saber que seus olhos estavam inchados, sua expressão abatida e seu cabelo um completo ninho.
Só então, com sua vista acostumada ao escuro do ambiente, ela reconheceu alguns produtos de barbear na pequena prateleira na parada. Ela ainda não tinha parado para pensar onde estava realmente, tinha apenas se acomodado onde tinham a colocado, mas agora sabia que aquele certamente não era seu quarto do chalé. Considerando as pessoas que poderiam ter a ajudado, aquele só poderia ser o quarto de , Dylan e . Um arrepio subiu por sua espinha. Sua irmã não aceitaria que dormissem ali com ele estando também, certo? Certo. Mas talvez só precisasse confirmar para poder voltar a respirar normalmente.
Girou devagar sob seus calcanhares e saiu do banheiro. Encarou primeiro a cama em que estava com , a primogênita tinha se mexido e agora estava em um sono pesado deitada de bruços ocupando todo o espaço em que ela estava antes. Passou o olhar mais para o lado e identificou na cama do meio, ele estava completamente torto e roncava baixinho. Só faltava conferir mais uma e estaria tudo certo, mas o medo de encarar a última cama apertou e ela fechou os olhos reunindo forças.
— Ele não está aqui. Tá tudo bem.
Ela pulou de susto no lugar ao escutar a voz baixinha de Dylan e teve que colocar uma mão na boca para controlar um grito. Só então olhou para o canto direito do quarto e viu o amigo sentado na ponta da cama com os cotovelos apoiados no joelho e a encarando com uma expressão sonolenta.
— Desculpe, não queria assustar. — ele continuou falando baixo e indicou sua cama em um convite para que ela se sentasse. Ela seguiu até lá ainda com o coração acalmando e se sentou ao seu lado. — Nós não íamos deixar que vocês ficassem próximos tão rápido assim.
— Obrigada. — ela agradeceu num sussurro e suspirou encarando o ambiente.
— Nós viemos para cá porque era o lugar mais perto e porque era mais fácil garantir que ele não aparecesse no próprio quarto do que Karoline. — Dy explicou e a encarou de forma singela, ele queria garantir que ela se sentisse segura com eles. Sem contar que conseguia imaginar as perguntas que passavam na mente de . Ela apenas afirmou com a cabeça em silêncio e prendeu as mãos no meio das coxas sem saber o que falar, mesmo tendo tanto para colocar pra fora. Ele resolveu prosseguir no assunto e falar o que estivera pensando desde o momento de toda a confusão. — , queria que você soubesse que não tem culpa dessa situação ter se desenrolado dessa maneira. Você apenas agiu com o coração como pessoas boas costumam fazer. Você foi mais corajosa do que qualquer pessoa, e qualquer um no lugar dele saberia que a escolha certa não foi a que ele escolheu. Imagino que deve ser difícil lidar com tudo isso, mas saiba que você não merece isso.
— Eu não quero ver ele. Tenho medo do que pode acontecer, da reação dele e até da minha reação. — ela falou baixinho, quase como se contasse um segredo. A sensação que tinha era de que ainda estava meio anestesiada com tudo e que aquela conversa com Dylan era um pequeno segredo dos dois. Estavam iluminados apenas pela luz fraca que vinha de alguma iluminação de fora da cabana, falando baixo para não acordar os outros dois e compartilhando sinceridades naquele momento de fragilidade dela. Mordeu o lábio ao sentir seus olhos marejarem e sua garganta apertar, a vontade de chorar voltando novamente. Ela soltou um suspiro se entregando e se permitindo sentir e ser sincera com o amigo, mesmo que não tivesse coragem de o encarar enquanto falava já que algumas lágrimas escapavam por seu rosto mesmo contra sua vontade. — Na verdade, eu não quero ver ninguém da escola também. Eu sei que me tornei o assunto da noite e da viagem. E sei também que não vou aguentar todos os olhares intrometidos e cochichos de novo, Dy.
— Eu concordo e imaginei que você pensaria assim porque no seu lugar me sentiria da mesma maneira. Então, não se preocupe porque já cuidei de tudo. Se depender de mim, você não vai precisar encontrar com ele tão cedo. — ele passou o braço pelos ombros dela ao notar o tom doído com o qual ela falava e as lágrimas escorrendo sem parar por seu rosto. A apertou levemente no abraço de lado. — Eu conversei com os professores, eles estavam lá na hora. Expliquei que você não estava se sentindo bem para continuar na viagem e que sua avó tinha pedido que você voltasse o quanto antes. Eles ficaram desconfiados, mas eu concordei que a gente assinaria um termo de compromisso antes de ir e que eles poderiam falar com Kath antes de sairmos para garantir.
— Com vovó? — ela sentiu seu coração acelerar e o desconforto e vergonha dominarem seu corpo. Se tinha sido ruim viver tudo aquilo, ter que contar e recontar aquela história seria pior ainda. Passou a mão pelo rosto agoniada. — Não vou conseguir falar com ela ainda.
— Ei, fica calma, tá? Eu e resolveremos isso e Kath irá entender, tenho certeza. — ele deu um leve apertão em seu ombro em apoio e com a mão livre descobriu o rosto dela e secou uma de suas lágrimas. — Eu falei com um primo meu e ele vai estar aqui cedinho para nos buscar.
— Você também vai? — ela mesma secou as outras lágrimas e fungou o encarando curiosa. Ela argumentou preocupada quando o amigo confirmou. — Dy, eu não quero estragar sua viagem, você não precisa ir. Ainda tem tanta coisa pra fazer e aproveitar aqui.
— , você não estragou minha viagem. Você é minha amiga e eu quero estar por perto, ok? Sem contar que se eu continuar aqui vou acabar perdendo a cabeça e quebrando a cara do . — ele bufou baixo mas soltou um sorriso irônico, mesmo que a amiga apenas tivesse feito uma careta com a menção do nome.
— Tudo bem. — ela confirmou apenas ignorando a última frase do amigo. Suas lágrimas já tinham secado e ela se sentia cansada e com uma leve dor de cabeça. Viu o amigo bocejar ao seu lado e se lembrou de que era de madrugada e ele também não tinha dormido por muito tempo. — Melhor voltarmos a dormir.
— Acha que consegue descansar? Vamos sair cedo amanhã. — ele a encarou com a sobrancelha arqueada.
— Sim, não se preocupe. — ela o abraçou apertado e se levantou antes que aqueles olhos claros vissem mais o que deviam nela. Se virou para seguir até a cama que dividia com a irmã e parou no meio do caminho. tinha se atravessado mais ainda no colchão, mal deixando espaço para que ela se sentasse. Voltou a se virar e encarou Dylan.
— Volta logo pra cá. Eu viro pro outro lado. — ele soltou um risinho fraco e se deitou encostado na parede, dando espaço para deitar também.
— Não é como se você fosse me atacar ou algo assim também. — brincou também e se deitou de lado, notando o amigo se virar e os dois ficarem costas com costas. Acomodou o rosto no travesseiro e respirou fundo, sentindo um perfume conhecido a atingir como uma faca. Apertou os olhos e perguntou em um sussurro apenas para confirmar. — Quem estava usando essa cama, Dy?
Escutou o amigo suspirar alto e soube que tinha sua resposta. Mas tudo bem, poderia lidar com aquele perfume preenchendo seus pulmões assim como o dono do mesmo fazia com seus pensamentos naquele momento. Talvez nem tivesse mais lágrimas para chorar ou o que ficar pensando e repensando. Só precisava se concentrar que dormiria e em poucas horas estaria longe daquele lugar.
conseguiu acompanhar o nascer do dia junto com os raios de sol que entravam pela janela. Obviamente ela não tinha pregado os olhos por um minuto sequer no resto da noite. Tinha visto a irmã mexer por toda cama, falar sozinho sobre algo que ela não entendeu e Dylan roncar baixinho várias vezes. Ela pensou por tanto tempo e reviveu as cenas da noite anterior tantas vezes que em determinado momento ela apenas ficou parada existindo no silêncio. O rosto seco, a mente vazia, um oco no peito e aquele perfume conhecido dominando seu organismo. O silêncio da noite se tornou sua companhia até que as movimentações do dia começaram.
Primeiro, notou o barulho de alguns passos e conversas masculinas próximo à porta e janela do quarto, provavelmente dos mais animados em aproveitar o domingo logo cedo. Em seguida, a movimentação foi dentro do quarto. despertou meio afobada ao notar que não estava com ela, mas a acalmou enquanto fingia que tinha acabado de acordar. Não precisava dar mais um motivo para sua irmã ficar preocupada. Depois disso uma série de coisas aconteceram. Dylan e acordaram, todo mundo ficou tentando verificar se ela estava bem a todo momento e Dy começou a apressá-las para arrumarem as coisas porque o tal primo já estava a caminho.
— Não sei como fazer isso. — foi sincera e encolheu os ombros se sentindo desconfortável só em pensar em ir até seu quarto e acabar encontrando com Karol. Não queria ter que passar por essa situação tão cedo, mas precisava de suas coisas. Ainda vestia a mesma roupa da noite anterior e não tinha nada consigo, não tinha nem pegado seu celular de volta com a irmã.
— Pode deixar que eu pego. — anunciou em tom cansado e saiu do quarto sem esperar por uma resposta. notou que o humor dela não estava num dos melhores e já conseguia imaginar a chance da primogênita explodir brava a qualquer momento.
— Vou ir atrás dela e aí já passamos lá no quarto dos professores. — Dylan fechou a mochila e deixou encostada na parede antes de sair do quarto.
encarou o ambiente e se sentou na beira da cama em que estava. Não estava conseguindo pensar em muita coisa ainda e acabou fitando o quarto em silêncio. saiu do banheiro usando outra roupa e com os cabelos molhados. Só quando estava na metade do quarto que pareceu ter notado que estavam sozinhos.
— Onde eles foram? — perguntou enquanto guardava a muda de roupa que usava antes na mala.
— Pegar minhas coisas e avisar aos professores que estamos indo. — explicou enquanto ele caminhava até ela e se sentava ao seu lado. Ele tinha um cheiro bom de shampoo e sabonete.
— , você já sabe o quanto eu te considero e o quanto você é importante pra mim, né? — ele perguntou depois de uns segundos em silêncio, mas não esperou por uma resposta. Passou a mão pelos cabelos nervoso. — Eu queria continuar ao seu lado e até ir embora com vocês porque essa viagem pra mim já acabou também.
— … — fez menção de falar mas ele fez sinal para que ela o deixasse continuar. Respirou fundo e escutou mesmo sabendo onde aquilo ia dar.
— É sério, . Eu sei que ele não precisava aceitar tudo, mas aquela reação exagerada foi totalmente desnecessária. Eu tô bravo de verdade com o e querendo entender o motivo pra ele ter agido daquele jeito. — bufou e a encarou, notando que mal conseguia esconder o desconforto que aquela conversa a dava. Balançou a cabeça e espanou o ar com a mão, fez uma careta de dor. — Enfim, só queria dizer que eu entendo a sua dor e tô do seu lado. Mas, eu não posso deixar de pensar que sou amigo do há anos e que nessa história ele acabou sozinho. Preciso ficar aqui nem que seja pra colocar algum juízo na cabeça dele.
— Eu não pediria que você fosse embora comigo. Não precisa disso pra eu saber que posso contar com você, . Tá tudo bem. — só de o escutar sabia que ele provavelmente estava com medo de ela encarar a decisão dele como uma traição. Ela passou o braço pelo seus ombros em um abraço, queria se certificar que o amigo acreditasse que ela o entendia.
— Chega a ser bobo que você esteja tentando me consolar e não o contrário — falou com um riso irônico no rosto.
— A vida tem dessas, né. — deu de ombros e sorriu triste. — E por favor não considere essa viagem como algo perdido, lembre-se que você tem a Jenna aqui.
— Não sei se tenho mais cabeça pra isso ou se ela ainda quer. — ele riu fraco. — Acabei não conseguindo disfarçar e no final da noite ela tava me perguntando quem era de quem eu tanto falava. Sem contar que eu deixei ela sozinha lá e vim embora na hora da confusão.
— ! Não acredito que ficou falando de outra garota pra ela enquanto vocês tavam juntos. — não aguentou a expressão de criança inocente do amigo e riu.
— , eu juro que foi involuntário! Eu nem achei que tivesse falado tanto a ponto dela se incomodar. É difícil gostar tanto de alguém e ter que se controlar porque não vai dar certo. — ele se explicou e só depois percebeu o que tinha falado.
— Eu sei bem como é isso. — a gêmea falou baixo e sentiu seu sorriso sumir com a volta à realidade.
— Desculpa, . Eu não falei por mal. — ele deu um tapa na própria testa e a encarou com pesar.
— Tudo bem. — ela sorriu pequeno para tentar o convencer do que falava, mesmo que o incômodo tivesse voltado para dentro de si. Os sentimentos da noite anterior ameaçando voltar e ela já não conseguia pensar em qualquer outro assunto que pudesse voltar a distraí-la.
— Vamos embora! — pediu assim que entrou no quarto de uma vez assustando os dois. Pela expressão brava da primogênita soube que tinha algo errado. Dylan também entrou no quarto com uma expressão impaciente.
— O que aconteceu? — se levantou e perguntou aos dois sem tirar o olho da irmã.
— Nada. Vamos logo embora. — respondeu querendo fugir do assunto. Ela arrumou a mochila nas costas e entregou a sua. — O primo de Dylan já chegou, já falamos com os professores e com a vovó. Vamos.
continuou encarando a irmã na espera de uma explicação para aquela afobação toda, mas bastou a encarar de volta pra que ela entendesse que não teria resposta. Elas sempre sabiam quando uma estava escondendo algo da outra e principalmente quando essa decisão era baseada na vontade de privar a outra de algo que a fizesse mal. Aquela com certeza era uma dessas situações, sabia. Encarou então Dylan na esperança de que ele falasse, mas o amigo evitou seus olhos e saiu do quarto carregando as próprias coisas. Ela sabia que tinha algo a ver com e também que se eles contassem, ela provavelmente teria que lidar com mais uma enxurrada de sentimentos ruins. Só que ainda assim algo dentro dela, talvez seu lado masoquista, queria saber sobre o garoto ou escutar qualquer notícia dele. Mas ela não iria atrás. Não dessa vez.
Pegou suas coisas que a irmã tinha levado e se despediu de , combinando que conversariam nos próximos dias. Saiu do quarto e seguiu e Dylan até o lado de fora do resort. Mesmo com o lugar sendo muito grande e com várias áreas diferentes, ainda tiveram que passar por alguns conhecidos no caminho até a saída. Como já esperado pela caçula, ninguém se preocupou em ser discreto e ela facilmente conseguiu notar os cochichos, olhares de pena e curiosidade. Sua vontade era de voltar correndo para o quarto e só sair de lá quando todos tivessem ido, ou quem sabe arranjar uma sacola para colocar na própria cabeça para que não visse os olhares que estava recebendo. Apertou o passo e ficou ao lado de sua irmã, pelo menos a expressão brava de fazia algumas pessoas evitarem encarar.
— Se eu ver mais um grupinho fazendo fofoca e te encarando, eu parto pra cima dessas desocupadas. — bufou impaciente e entrelaçou seus braços livres.
preferiu ficar calada e apenas seguir o caminho, não queria prolongar aquele assunto e dar mais motivo para que a irmã estourasse. Em poucos minutos chegaram no estacionamento do resort, dando à caçula a chance de respirar aliviada já que ela, Dylan e eram os únicos no local. Dy encarou alguma coisa no celular e as chamou para caminhar até a saída mais à frente onde seu primo estaria. não tinha ideia de quem era esse tal primo e muito menos o carro no qual ele viera, deixou que Dylan procurasse sozinho e apenas o acompanhou.
— Ali! — Dy apontou para um carro preto que havia buzinado próximo da saída. Eles seguiram até lá e ao se aproximar um garoto loiro saiu do automóvel sorrindo. Dylan o cumprimentou com um toque de mãos rápido e indicou as duas. — E aí, Fred! Essas são e , minhas amigas. Elas que vão com a gente.
— Se eu soubesse que a companhia era tão melhor que a do Lanlan eu tinha vindo mais rápido. — ele cumprimentou as duas com um aperto de mão e um sorriso grande simpático.
— Lanlan? — encarou Dylan divertida.
— É um apelido de infância, apenas ignore. — ele rolou os olhos já sabendo o que viria depois e seguiu até o porta malas.
— Não é o melhor momento para piadas, mas faço questão de guardar na memória, Lanlan. — desfez a expressão brava e sorriu fraco, cutucando o amigo na cintura quando ele passou ela.
— Ah, se estão se divertindo com esse, espere para conhecer todos os outros que a minha irmã usa. — Fred piscou divertido e pediu as bolsas delas para guardar. — Podem ir se acomodando no carro e quem quiser pode ir na frente.
— O Lanlan vai. — riu e entrou no banco de trás antes que o amigo pudesse a responder. Assim que sentou já foi se acomodando e se preparando para a pequena viagem que fariam. Viu fazer o mesmo ao seu lado, mesmo que o lugar ao meio fosse o mais desconfortável. A primogênita não desgrudaria dela. — Avisou a vó?
— Sim, ela está nos esperando. — confirmou e esticou a mão para que a irmã segurasse assim como faziam quando eram mais novas.
— Então, tudo certo? Podemos ir? — Fred questionou simpático assim que se sentou no banco do motorista. Dylan também entrou e se ajeitou no banco do carona. Elas confirmaram em um aceno. — Nesse caso, partiu São Francisco.
Fred parecia bem animado, não só pela situação, mas do tipo de pessoa que se alegra facilmente e se diverte a todo momento. Não sabia se Dylan tinha comentado o motivo para que ele fosse os buscar, mas ele foi bastante educado em não questionar ou tocar em qualquer assunto que envolvesse aquela viagem. Aliás, ele só abria a boca para oferecer água, avisar que pararia no posto ou fazer um comentário sobre a música que tocava na rádio. No geral, cada um ficou entretido em seus próprios pensamentos. em poucos minutos já estava cochilando em seu ombro, Dylan mexia no celular e de tempo em tempo a encarava pelo retrovisor para conferir se ela estava bem. apenas fingia que não notava e encarava a paisagem de fora, vez ou outra deixando que seus olhos fechassem demoradamente em uma tentativa de cochilar. Seu corpo estava cansado pelo pelas poucas horas de sono que tinha tido mas não conseguia dormir. Estava um misto de sentimentos e mal conseguia se entender. Em alguns momentos só queria chorar e precisava morder o lábio para controlar a vontade e não dar mais motivo para preocupação e em outros momentos se sentia oca, alheia à realidade em que estava.
A viagem era até curta, mas a vontade que tinha de chegar em casa e deitar em sua cama só fazia o percurso se tornar mais longo. Eles chegaram a fazer uma parada em uma lanchonete quando despertou do cochilo para comerem alguma coisa. Tinham saído às pressas do resort e ninguém tinha comido nada. Mesmo com a insistência da irmã, não conseguiu colocar nada além de dois goles de suco para dentro. Seguiram por mais um tempo de viagem e finalmente chegaram na casa das gêmeas.
Saíram do carro se espreguiçando e logo Katherine estava na porta. A senhora provavelmente estava atenta à movimentação da rua na espera das duas. Não precisaram sequer buzinar para que ela soubesse que tinham chegado.
— Oi, minhas meninas. — ela abriu os braços e as duas se encaixaram contra ela em um abraço apertado. Elas ficaram bons segundos apenas aproveitando o aconchego que a vó proporcionava antes de se afastarem. Dylan e Fred colocaram as bolsas ao lado da porta e pararam perto delas. — Olá, meninos. Obrigada por trazerem elas com segurança.
— Estamos às ordens. — Dylan e o primo fizeram menção de a cumprimentar com um aperto de mão, mas Kath fez questão de dar um abraço rápido em cada um. Ele demorou o olhar em ao voltar a falar. — Vocês vão ficar bem, né?
— Vou dar um jeito. — deu um riso triste e abraçou o amigo. — Obrigada, Dy.
— Estarei aqui antes que você sinta saudades para conferir. — Dylan deu um beijo em sua testa.
— Nós cuidaremos dela, pode confiar. — piscou divertida e também abraçou o amigo.
— Nesse caso, nós já vamos. — Dy se afastou em seguida e fez sinal para o primo para que fossem.
— Tchau, garotas! Sempre que precisarem de um motorista ou uma ajuda a mais basta falar. — ele também se despediu e saiu com o carro junto com Dylan. As três ficaram paradas no mesmo lugar até que o carro fizesse a curva e saísse da rua. sentiu a vó fazer um carinho em seu cabelo enquanto isso e soltou um suspiro curto se preparando para o resto daquele dia. Elas pegaram as coisas e entraram em casa com Kath em seu encalço.
— Preparei uma comida especial para vocês, estava só esperando. — ela falou carinhosa. A vó sempre costumava ser doce ao falar, mas sabia quando ela estava tentando ser cautelosa e melhorar a situação. Certamente aquela ela uma delas, já devia ter adiantado todo o assunto por telefone.
— Vovó, você sabe que amo sua comida e seu cuidado, né? — se adiantou antes que a arrastassem para a cozinha. Falou carinhosa para que a entendessem e continuou ao ver a vó afirmar em aceno. — Eu prometo que como mais tarde, mas agora eu só quero poder ficar um pouco quieta sozinha.
— , eu posso te fazer companhia e a gente pode tentar se distrair assistindo alguma coisa. — sugeriu preocupada mas tentando transmitir animação. Tinha medo de que a irmã se afundasse novamente naquele desespero e tristeza da noite anterior.
— Mana, eu estou bem. Ou pelo menos bem na medida do possível. — se corrigiu ao ver a mesma a lançar um olhar duvidoso. — Eu só preciso de um tempo comigo mesma. Quem sabe mais tarde a gente não faz algo assim?
— Mas… — a primogênita tentou responder mas foi interrompida pela avó.
— Deixa ela, . — falou carinhosa com ela e depois depositou um beijo na cabeça da caçula. — Tudo bem, querida. Tire seu tempo e quando se sentir pronta nós conversamos. Mais tarde preparo algo para você comer.
— Obrigada. — agradeceu e pegou suas coisas para seguir até o quarto. Parou na metade da escada e encarou as duas que ainda a observavam. — Amo vocês.
Ela seguiu o caminho até o quarto e colocou as coisas no canto ao lado da cama. Sabia que estava precisando de um banho tanto quanto precisava de uma refeição de verdade, mas não sentia vontade nenhuma de fazê-los. Fechou a porta e encarou o quarto em perfeito silêncio finalmente sentindo que estava sozinha. Desde o ocorrido se vira rodeada de pessoas preocupada com suas reações e estado.
Vinha se controlando e muito desde que acordara ainda na madrugada para não dar mais motivo para preocupações. Mas agora ali, no seu canto e sem mais ninguém por perto, ela se permitiu sentir. Sentir toda aquela confusão que a rodeava desde cedo, sentir as lágrimas que tinha prendido finalmente rolarem por seu rosto, sentir a dor de um coração partido. Sentir a falta dele. Caminhou a passos curtos até seu mural de fotos e permitiu que seus dedos passassem por ele acompanhando seu olhar. Viu suas fotos dos seus primeiros dias em São Francisco, no passeio com , e e notou sua felicidade em experimentar o novo.
Recordou de como se sentia com medo do que vinha pela frente e de como, ao mesmo tempo, acreditou na experiência que viveria e no ano incrível que seria mesmo que por meio de uma promessa com a irmã. Encontrou as fotos com todos os amigos reunidos no Ezra, na escola e seus momentos de fim de ano quando estava com eles. Ela e as meninas vestidas de mamãe noel e todos fazendo caretas engraçadas na foto que tinha estreado a câmera que tinha a dado. Passando o dedo por mais fotos encontrou uma de seu aniversário. Foi um registro feito por Dylan num momento de descontração. A foto mostrava ela e na piscina abraçados e rindo juntos. Se lembrava perfeitamente daquele dia, o primeiro em que tinham se permitido ficar juntos e finalmente se beijado. Era notável como sua felicidade ficava ainda mais nítida quando estava com ele.
Chegava a ser irônico pensar que a mesma pessoa que tirava o seu mais sincero sorriso tinha sido a mesma responsável por a deixar naquele estado em que estava. O rosto molhado por lágrimas, a expressão abatida e o sentimento de que estava quebrada a tomando. Decidiu por não mais ver aquelas imagens e se jogou de qualquer jeito na cama. Chorava baixinho pensando em como as coisas tinham mudado tão rapidamente, em como ela poderia ter evitado tudo ou como poderia estar vivendo outra realidade em que estivesse feliz. Abraçada ao cobertor encarou a pulseira delicada em seu pulso. O presente que ele lhe dera de aniversário dificilmente saía dali como uma lembrança boa daquele dia. Lembrança essa que agora só dificultava tudo. Puxou o lençol e cobriu parte do corpo, fechando os olhos para evitar encarar qualquer coisa que pudesse a machucar mais. Em meio ao choro contido e soluços curtos, acabou adormecendo.
tomou impulso na cama para se sentar e tirou o braço da irmã de cima de si. Ela levantou da cama e parou em pé ao lado dela com os olhos fechados, precisava respirar direito antes que aquela sensação de que estava sendo esmagada a fizesse surtar. Foi a passos largos até o banheiro sem prestar atenção em nada e enfiou o rosto na pia com a água correndo, sequer se preocupando em acender a luz para conferir seu reflexo no espelho em seguida. Não precisava de um para saber que seus olhos estavam inchados, sua expressão abatida e seu cabelo um completo ninho.
Só então, com sua vista acostumada ao escuro do ambiente, ela reconheceu alguns produtos de barbear na pequena prateleira na parada. Ela ainda não tinha parado para pensar onde estava realmente, tinha apenas se acomodado onde tinham a colocado, mas agora sabia que aquele certamente não era seu quarto do chalé. Considerando as pessoas que poderiam ter a ajudado, aquele só poderia ser o quarto de , Dylan e . Um arrepio subiu por sua espinha. Sua irmã não aceitaria que dormissem ali com ele estando também, certo? Certo. Mas talvez só precisasse confirmar para poder voltar a respirar normalmente.
Girou devagar sob seus calcanhares e saiu do banheiro. Encarou primeiro a cama em que estava com , a primogênita tinha se mexido e agora estava em um sono pesado deitada de bruços ocupando todo o espaço em que ela estava antes. Passou o olhar mais para o lado e identificou na cama do meio, ele estava completamente torto e roncava baixinho. Só faltava conferir mais uma e estaria tudo certo, mas o medo de encarar a última cama apertou e ela fechou os olhos reunindo forças.
— Ele não está aqui. Tá tudo bem.
Ela pulou de susto no lugar ao escutar a voz baixinha de Dylan e teve que colocar uma mão na boca para controlar um grito. Só então olhou para o canto direito do quarto e viu o amigo sentado na ponta da cama com os cotovelos apoiados no joelho e a encarando com uma expressão sonolenta.
— Desculpe, não queria assustar. — ele continuou falando baixo e indicou sua cama em um convite para que ela se sentasse. Ela seguiu até lá ainda com o coração acalmando e se sentou ao seu lado. — Nós não íamos deixar que vocês ficassem próximos tão rápido assim.
— Obrigada. — ela agradeceu num sussurro e suspirou encarando o ambiente.
— Nós viemos para cá porque era o lugar mais perto e porque era mais fácil garantir que ele não aparecesse no próprio quarto do que Karoline. — Dy explicou e a encarou de forma singela, ele queria garantir que ela se sentisse segura com eles. Sem contar que conseguia imaginar as perguntas que passavam na mente de . Ela apenas afirmou com a cabeça em silêncio e prendeu as mãos no meio das coxas sem saber o que falar, mesmo tendo tanto para colocar pra fora. Ele resolveu prosseguir no assunto e falar o que estivera pensando desde o momento de toda a confusão. — , queria que você soubesse que não tem culpa dessa situação ter se desenrolado dessa maneira. Você apenas agiu com o coração como pessoas boas costumam fazer. Você foi mais corajosa do que qualquer pessoa, e qualquer um no lugar dele saberia que a escolha certa não foi a que ele escolheu. Imagino que deve ser difícil lidar com tudo isso, mas saiba que você não merece isso.
— Eu não quero ver ele. Tenho medo do que pode acontecer, da reação dele e até da minha reação. — ela falou baixinho, quase como se contasse um segredo. A sensação que tinha era de que ainda estava meio anestesiada com tudo e que aquela conversa com Dylan era um pequeno segredo dos dois. Estavam iluminados apenas pela luz fraca que vinha de alguma iluminação de fora da cabana, falando baixo para não acordar os outros dois e compartilhando sinceridades naquele momento de fragilidade dela. Mordeu o lábio ao sentir seus olhos marejarem e sua garganta apertar, a vontade de chorar voltando novamente. Ela soltou um suspiro se entregando e se permitindo sentir e ser sincera com o amigo, mesmo que não tivesse coragem de o encarar enquanto falava já que algumas lágrimas escapavam por seu rosto mesmo contra sua vontade. — Na verdade, eu não quero ver ninguém da escola também. Eu sei que me tornei o assunto da noite e da viagem. E sei também que não vou aguentar todos os olhares intrometidos e cochichos de novo, Dy.
— Eu concordo e imaginei que você pensaria assim porque no seu lugar me sentiria da mesma maneira. Então, não se preocupe porque já cuidei de tudo. Se depender de mim, você não vai precisar encontrar com ele tão cedo. — ele passou o braço pelos ombros dela ao notar o tom doído com o qual ela falava e as lágrimas escorrendo sem parar por seu rosto. A apertou levemente no abraço de lado. — Eu conversei com os professores, eles estavam lá na hora. Expliquei que você não estava se sentindo bem para continuar na viagem e que sua avó tinha pedido que você voltasse o quanto antes. Eles ficaram desconfiados, mas eu concordei que a gente assinaria um termo de compromisso antes de ir e que eles poderiam falar com Kath antes de sairmos para garantir.
— Com vovó? — ela sentiu seu coração acelerar e o desconforto e vergonha dominarem seu corpo. Se tinha sido ruim viver tudo aquilo, ter que contar e recontar aquela história seria pior ainda. Passou a mão pelo rosto agoniada. — Não vou conseguir falar com ela ainda.
— Ei, fica calma, tá? Eu e resolveremos isso e Kath irá entender, tenho certeza. — ele deu um leve apertão em seu ombro em apoio e com a mão livre descobriu o rosto dela e secou uma de suas lágrimas. — Eu falei com um primo meu e ele vai estar aqui cedinho para nos buscar.
— Você também vai? — ela mesma secou as outras lágrimas e fungou o encarando curiosa. Ela argumentou preocupada quando o amigo confirmou. — Dy, eu não quero estragar sua viagem, você não precisa ir. Ainda tem tanta coisa pra fazer e aproveitar aqui.
— , você não estragou minha viagem. Você é minha amiga e eu quero estar por perto, ok? Sem contar que se eu continuar aqui vou acabar perdendo a cabeça e quebrando a cara do . — ele bufou baixo mas soltou um sorriso irônico, mesmo que a amiga apenas tivesse feito uma careta com a menção do nome.
— Tudo bem. — ela confirmou apenas ignorando a última frase do amigo. Suas lágrimas já tinham secado e ela se sentia cansada e com uma leve dor de cabeça. Viu o amigo bocejar ao seu lado e se lembrou de que era de madrugada e ele também não tinha dormido por muito tempo. — Melhor voltarmos a dormir.
— Acha que consegue descansar? Vamos sair cedo amanhã. — ele a encarou com a sobrancelha arqueada.
— Sim, não se preocupe. — ela o abraçou apertado e se levantou antes que aqueles olhos claros vissem mais o que deviam nela. Se virou para seguir até a cama que dividia com a irmã e parou no meio do caminho. tinha se atravessado mais ainda no colchão, mal deixando espaço para que ela se sentasse. Voltou a se virar e encarou Dylan.
— Volta logo pra cá. Eu viro pro outro lado. — ele soltou um risinho fraco e se deitou encostado na parede, dando espaço para deitar também.
— Não é como se você fosse me atacar ou algo assim também. — brincou também e se deitou de lado, notando o amigo se virar e os dois ficarem costas com costas. Acomodou o rosto no travesseiro e respirou fundo, sentindo um perfume conhecido a atingir como uma faca. Apertou os olhos e perguntou em um sussurro apenas para confirmar. — Quem estava usando essa cama, Dy?
Escutou o amigo suspirar alto e soube que tinha sua resposta. Mas tudo bem, poderia lidar com aquele perfume preenchendo seus pulmões assim como o dono do mesmo fazia com seus pensamentos naquele momento. Talvez nem tivesse mais lágrimas para chorar ou o que ficar pensando e repensando. Só precisava se concentrar que dormiria e em poucas horas estaria longe daquele lugar.
conseguiu acompanhar o nascer do dia junto com os raios de sol que entravam pela janela. Obviamente ela não tinha pregado os olhos por um minuto sequer no resto da noite. Tinha visto a irmã mexer por toda cama, falar sozinho sobre algo que ela não entendeu e Dylan roncar baixinho várias vezes. Ela pensou por tanto tempo e reviveu as cenas da noite anterior tantas vezes que em determinado momento ela apenas ficou parada existindo no silêncio. O rosto seco, a mente vazia, um oco no peito e aquele perfume conhecido dominando seu organismo. O silêncio da noite se tornou sua companhia até que as movimentações do dia começaram.
Primeiro, notou o barulho de alguns passos e conversas masculinas próximo à porta e janela do quarto, provavelmente dos mais animados em aproveitar o domingo logo cedo. Em seguida, a movimentação foi dentro do quarto. despertou meio afobada ao notar que não estava com ela, mas a acalmou enquanto fingia que tinha acabado de acordar. Não precisava dar mais um motivo para sua irmã ficar preocupada. Depois disso uma série de coisas aconteceram. Dylan e acordaram, todo mundo ficou tentando verificar se ela estava bem a todo momento e Dy começou a apressá-las para arrumarem as coisas porque o tal primo já estava a caminho.
— Não sei como fazer isso. — foi sincera e encolheu os ombros se sentindo desconfortável só em pensar em ir até seu quarto e acabar encontrando com Karol. Não queria ter que passar por essa situação tão cedo, mas precisava de suas coisas. Ainda vestia a mesma roupa da noite anterior e não tinha nada consigo, não tinha nem pegado seu celular de volta com a irmã.
— Pode deixar que eu pego. — anunciou em tom cansado e saiu do quarto sem esperar por uma resposta. notou que o humor dela não estava num dos melhores e já conseguia imaginar a chance da primogênita explodir brava a qualquer momento.
— Vou ir atrás dela e aí já passamos lá no quarto dos professores. — Dylan fechou a mochila e deixou encostada na parede antes de sair do quarto.
encarou o ambiente e se sentou na beira da cama em que estava. Não estava conseguindo pensar em muita coisa ainda e acabou fitando o quarto em silêncio. saiu do banheiro usando outra roupa e com os cabelos molhados. Só quando estava na metade do quarto que pareceu ter notado que estavam sozinhos.
— Onde eles foram? — perguntou enquanto guardava a muda de roupa que usava antes na mala.
— Pegar minhas coisas e avisar aos professores que estamos indo. — explicou enquanto ele caminhava até ela e se sentava ao seu lado. Ele tinha um cheiro bom de shampoo e sabonete.
— , você já sabe o quanto eu te considero e o quanto você é importante pra mim, né? — ele perguntou depois de uns segundos em silêncio, mas não esperou por uma resposta. Passou a mão pelos cabelos nervoso. — Eu queria continuar ao seu lado e até ir embora com vocês porque essa viagem pra mim já acabou também.
— … — fez menção de falar mas ele fez sinal para que ela o deixasse continuar. Respirou fundo e escutou mesmo sabendo onde aquilo ia dar.
— É sério, . Eu sei que ele não precisava aceitar tudo, mas aquela reação exagerada foi totalmente desnecessária. Eu tô bravo de verdade com o e querendo entender o motivo pra ele ter agido daquele jeito. — bufou e a encarou, notando que mal conseguia esconder o desconforto que aquela conversa a dava. Balançou a cabeça e espanou o ar com a mão, fez uma careta de dor. — Enfim, só queria dizer que eu entendo a sua dor e tô do seu lado. Mas, eu não posso deixar de pensar que sou amigo do há anos e que nessa história ele acabou sozinho. Preciso ficar aqui nem que seja pra colocar algum juízo na cabeça dele.
— Eu não pediria que você fosse embora comigo. Não precisa disso pra eu saber que posso contar com você, . Tá tudo bem. — só de o escutar sabia que ele provavelmente estava com medo de ela encarar a decisão dele como uma traição. Ela passou o braço pelo seus ombros em um abraço, queria se certificar que o amigo acreditasse que ela o entendia.
— Chega a ser bobo que você esteja tentando me consolar e não o contrário — falou com um riso irônico no rosto.
— A vida tem dessas, né. — deu de ombros e sorriu triste. — E por favor não considere essa viagem como algo perdido, lembre-se que você tem a Jenna aqui.
— Não sei se tenho mais cabeça pra isso ou se ela ainda quer. — ele riu fraco. — Acabei não conseguindo disfarçar e no final da noite ela tava me perguntando quem era de quem eu tanto falava. Sem contar que eu deixei ela sozinha lá e vim embora na hora da confusão.
— ! Não acredito que ficou falando de outra garota pra ela enquanto vocês tavam juntos. — não aguentou a expressão de criança inocente do amigo e riu.
— , eu juro que foi involuntário! Eu nem achei que tivesse falado tanto a ponto dela se incomodar. É difícil gostar tanto de alguém e ter que se controlar porque não vai dar certo. — ele se explicou e só depois percebeu o que tinha falado.
— Eu sei bem como é isso. — a gêmea falou baixo e sentiu seu sorriso sumir com a volta à realidade.
— Desculpa, . Eu não falei por mal. — ele deu um tapa na própria testa e a encarou com pesar.
— Tudo bem. — ela sorriu pequeno para tentar o convencer do que falava, mesmo que o incômodo tivesse voltado para dentro de si. Os sentimentos da noite anterior ameaçando voltar e ela já não conseguia pensar em qualquer outro assunto que pudesse voltar a distraí-la.
— Vamos embora! — pediu assim que entrou no quarto de uma vez assustando os dois. Pela expressão brava da primogênita soube que tinha algo errado. Dylan também entrou no quarto com uma expressão impaciente.
— O que aconteceu? — se levantou e perguntou aos dois sem tirar o olho da irmã.
— Nada. Vamos logo embora. — respondeu querendo fugir do assunto. Ela arrumou a mochila nas costas e entregou a sua. — O primo de Dylan já chegou, já falamos com os professores e com a vovó. Vamos.
continuou encarando a irmã na espera de uma explicação para aquela afobação toda, mas bastou a encarar de volta pra que ela entendesse que não teria resposta. Elas sempre sabiam quando uma estava escondendo algo da outra e principalmente quando essa decisão era baseada na vontade de privar a outra de algo que a fizesse mal. Aquela com certeza era uma dessas situações, sabia. Encarou então Dylan na esperança de que ele falasse, mas o amigo evitou seus olhos e saiu do quarto carregando as próprias coisas. Ela sabia que tinha algo a ver com e também que se eles contassem, ela provavelmente teria que lidar com mais uma enxurrada de sentimentos ruins. Só que ainda assim algo dentro dela, talvez seu lado masoquista, queria saber sobre o garoto ou escutar qualquer notícia dele. Mas ela não iria atrás. Não dessa vez.
Pegou suas coisas que a irmã tinha levado e se despediu de , combinando que conversariam nos próximos dias. Saiu do quarto e seguiu e Dylan até o lado de fora do resort. Mesmo com o lugar sendo muito grande e com várias áreas diferentes, ainda tiveram que passar por alguns conhecidos no caminho até a saída. Como já esperado pela caçula, ninguém se preocupou em ser discreto e ela facilmente conseguiu notar os cochichos, olhares de pena e curiosidade. Sua vontade era de voltar correndo para o quarto e só sair de lá quando todos tivessem ido, ou quem sabe arranjar uma sacola para colocar na própria cabeça para que não visse os olhares que estava recebendo. Apertou o passo e ficou ao lado de sua irmã, pelo menos a expressão brava de fazia algumas pessoas evitarem encarar.
— Se eu ver mais um grupinho fazendo fofoca e te encarando, eu parto pra cima dessas desocupadas. — bufou impaciente e entrelaçou seus braços livres.
preferiu ficar calada e apenas seguir o caminho, não queria prolongar aquele assunto e dar mais motivo para que a irmã estourasse. Em poucos minutos chegaram no estacionamento do resort, dando à caçula a chance de respirar aliviada já que ela, Dylan e eram os únicos no local. Dy encarou alguma coisa no celular e as chamou para caminhar até a saída mais à frente onde seu primo estaria. não tinha ideia de quem era esse tal primo e muito menos o carro no qual ele viera, deixou que Dylan procurasse sozinho e apenas o acompanhou.
— Ali! — Dy apontou para um carro preto que havia buzinado próximo da saída. Eles seguiram até lá e ao se aproximar um garoto loiro saiu do automóvel sorrindo. Dylan o cumprimentou com um toque de mãos rápido e indicou as duas. — E aí, Fred! Essas são e , minhas amigas. Elas que vão com a gente.
— Se eu soubesse que a companhia era tão melhor que a do Lanlan eu tinha vindo mais rápido. — ele cumprimentou as duas com um aperto de mão e um sorriso grande simpático.
— Lanlan? — encarou Dylan divertida.
— É um apelido de infância, apenas ignore. — ele rolou os olhos já sabendo o que viria depois e seguiu até o porta malas.
— Não é o melhor momento para piadas, mas faço questão de guardar na memória, Lanlan. — desfez a expressão brava e sorriu fraco, cutucando o amigo na cintura quando ele passou ela.
— Ah, se estão se divertindo com esse, espere para conhecer todos os outros que a minha irmã usa. — Fred piscou divertido e pediu as bolsas delas para guardar. — Podem ir se acomodando no carro e quem quiser pode ir na frente.
— O Lanlan vai. — riu e entrou no banco de trás antes que o amigo pudesse a responder. Assim que sentou já foi se acomodando e se preparando para a pequena viagem que fariam. Viu fazer o mesmo ao seu lado, mesmo que o lugar ao meio fosse o mais desconfortável. A primogênita não desgrudaria dela. — Avisou a vó?
— Sim, ela está nos esperando. — confirmou e esticou a mão para que a irmã segurasse assim como faziam quando eram mais novas.
— Então, tudo certo? Podemos ir? — Fred questionou simpático assim que se sentou no banco do motorista. Dylan também entrou e se ajeitou no banco do carona. Elas confirmaram em um aceno. — Nesse caso, partiu São Francisco.
Fred parecia bem animado, não só pela situação, mas do tipo de pessoa que se alegra facilmente e se diverte a todo momento. Não sabia se Dylan tinha comentado o motivo para que ele fosse os buscar, mas ele foi bastante educado em não questionar ou tocar em qualquer assunto que envolvesse aquela viagem. Aliás, ele só abria a boca para oferecer água, avisar que pararia no posto ou fazer um comentário sobre a música que tocava na rádio. No geral, cada um ficou entretido em seus próprios pensamentos. em poucos minutos já estava cochilando em seu ombro, Dylan mexia no celular e de tempo em tempo a encarava pelo retrovisor para conferir se ela estava bem. apenas fingia que não notava e encarava a paisagem de fora, vez ou outra deixando que seus olhos fechassem demoradamente em uma tentativa de cochilar. Seu corpo estava cansado pelo pelas poucas horas de sono que tinha tido mas não conseguia dormir. Estava um misto de sentimentos e mal conseguia se entender. Em alguns momentos só queria chorar e precisava morder o lábio para controlar a vontade e não dar mais motivo para preocupação e em outros momentos se sentia oca, alheia à realidade em que estava.
A viagem era até curta, mas a vontade que tinha de chegar em casa e deitar em sua cama só fazia o percurso se tornar mais longo. Eles chegaram a fazer uma parada em uma lanchonete quando despertou do cochilo para comerem alguma coisa. Tinham saído às pressas do resort e ninguém tinha comido nada. Mesmo com a insistência da irmã, não conseguiu colocar nada além de dois goles de suco para dentro. Seguiram por mais um tempo de viagem e finalmente chegaram na casa das gêmeas.
Saíram do carro se espreguiçando e logo Katherine estava na porta. A senhora provavelmente estava atenta à movimentação da rua na espera das duas. Não precisaram sequer buzinar para que ela soubesse que tinham chegado.
— Oi, minhas meninas. — ela abriu os braços e as duas se encaixaram contra ela em um abraço apertado. Elas ficaram bons segundos apenas aproveitando o aconchego que a vó proporcionava antes de se afastarem. Dylan e Fred colocaram as bolsas ao lado da porta e pararam perto delas. — Olá, meninos. Obrigada por trazerem elas com segurança.
— Estamos às ordens. — Dylan e o primo fizeram menção de a cumprimentar com um aperto de mão, mas Kath fez questão de dar um abraço rápido em cada um. Ele demorou o olhar em ao voltar a falar. — Vocês vão ficar bem, né?
— Vou dar um jeito. — deu um riso triste e abraçou o amigo. — Obrigada, Dy.
— Estarei aqui antes que você sinta saudades para conferir. — Dylan deu um beijo em sua testa.
— Nós cuidaremos dela, pode confiar. — piscou divertida e também abraçou o amigo.
— Nesse caso, nós já vamos. — Dy se afastou em seguida e fez sinal para o primo para que fossem.
— Tchau, garotas! Sempre que precisarem de um motorista ou uma ajuda a mais basta falar. — ele também se despediu e saiu com o carro junto com Dylan. As três ficaram paradas no mesmo lugar até que o carro fizesse a curva e saísse da rua. sentiu a vó fazer um carinho em seu cabelo enquanto isso e soltou um suspiro curto se preparando para o resto daquele dia. Elas pegaram as coisas e entraram em casa com Kath em seu encalço.
— Preparei uma comida especial para vocês, estava só esperando. — ela falou carinhosa. A vó sempre costumava ser doce ao falar, mas sabia quando ela estava tentando ser cautelosa e melhorar a situação. Certamente aquela ela uma delas, já devia ter adiantado todo o assunto por telefone.
— Vovó, você sabe que amo sua comida e seu cuidado, né? — se adiantou antes que a arrastassem para a cozinha. Falou carinhosa para que a entendessem e continuou ao ver a vó afirmar em aceno. — Eu prometo que como mais tarde, mas agora eu só quero poder ficar um pouco quieta sozinha.
— , eu posso te fazer companhia e a gente pode tentar se distrair assistindo alguma coisa. — sugeriu preocupada mas tentando transmitir animação. Tinha medo de que a irmã se afundasse novamente naquele desespero e tristeza da noite anterior.
— Mana, eu estou bem. Ou pelo menos bem na medida do possível. — se corrigiu ao ver a mesma a lançar um olhar duvidoso. — Eu só preciso de um tempo comigo mesma. Quem sabe mais tarde a gente não faz algo assim?
— Mas… — a primogênita tentou responder mas foi interrompida pela avó.
— Deixa ela, . — falou carinhosa com ela e depois depositou um beijo na cabeça da caçula. — Tudo bem, querida. Tire seu tempo e quando se sentir pronta nós conversamos. Mais tarde preparo algo para você comer.
— Obrigada. — agradeceu e pegou suas coisas para seguir até o quarto. Parou na metade da escada e encarou as duas que ainda a observavam. — Amo vocês.
Ela seguiu o caminho até o quarto e colocou as coisas no canto ao lado da cama. Sabia que estava precisando de um banho tanto quanto precisava de uma refeição de verdade, mas não sentia vontade nenhuma de fazê-los. Fechou a porta e encarou o quarto em perfeito silêncio finalmente sentindo que estava sozinha. Desde o ocorrido se vira rodeada de pessoas preocupada com suas reações e estado.
Vinha se controlando e muito desde que acordara ainda na madrugada para não dar mais motivo para preocupações. Mas agora ali, no seu canto e sem mais ninguém por perto, ela se permitiu sentir. Sentir toda aquela confusão que a rodeava desde cedo, sentir as lágrimas que tinha prendido finalmente rolarem por seu rosto, sentir a dor de um coração partido. Sentir a falta dele. Caminhou a passos curtos até seu mural de fotos e permitiu que seus dedos passassem por ele acompanhando seu olhar. Viu suas fotos dos seus primeiros dias em São Francisco, no passeio com , e e notou sua felicidade em experimentar o novo.
Recordou de como se sentia com medo do que vinha pela frente e de como, ao mesmo tempo, acreditou na experiência que viveria e no ano incrível que seria mesmo que por meio de uma promessa com a irmã. Encontrou as fotos com todos os amigos reunidos no Ezra, na escola e seus momentos de fim de ano quando estava com eles. Ela e as meninas vestidas de mamãe noel e todos fazendo caretas engraçadas na foto que tinha estreado a câmera que tinha a dado. Passando o dedo por mais fotos encontrou uma de seu aniversário. Foi um registro feito por Dylan num momento de descontração. A foto mostrava ela e na piscina abraçados e rindo juntos. Se lembrava perfeitamente daquele dia, o primeiro em que tinham se permitido ficar juntos e finalmente se beijado. Era notável como sua felicidade ficava ainda mais nítida quando estava com ele.
Chegava a ser irônico pensar que a mesma pessoa que tirava o seu mais sincero sorriso tinha sido a mesma responsável por a deixar naquele estado em que estava. O rosto molhado por lágrimas, a expressão abatida e o sentimento de que estava quebrada a tomando. Decidiu por não mais ver aquelas imagens e se jogou de qualquer jeito na cama. Chorava baixinho pensando em como as coisas tinham mudado tão rapidamente, em como ela poderia ter evitado tudo ou como poderia estar vivendo outra realidade em que estivesse feliz. Abraçada ao cobertor encarou a pulseira delicada em seu pulso. O presente que ele lhe dera de aniversário dificilmente saía dali como uma lembrança boa daquele dia. Lembrança essa que agora só dificultava tudo. Puxou o lençol e cobriu parte do corpo, fechando os olhos para evitar encarar qualquer coisa que pudesse a machucar mais. Em meio ao choro contido e soluços curtos, acabou adormecendo.
Capítulo 33
se encarou no espelho e passou a mão pelo tecido azul. A beca tinha lhe caído bem, melhor do que o esperado. O capelo era um pouco demais, mas era engraçado se ver vestida com aquela roupa tão diferente. E pensar que ela achou que não ia dar conta sequer de estar vivendo aquele momento. Os últimos dias tinham sido bastante difíceis. Em algumas horas achava que eles tinham passado voando, ela ainda podia sentir toda a vergonha e nervosismo daquela viagem como se tivesse acontecido no dia anterior. Porém, em outras horas, ela tinha a impressão de que cada dia tinha se arrastado e ela já estava há um mês naquela semana. Mas não, tinham sido seis dias difíceis e com duração comum que tinham a levado àquele momento de despedida.
Observou seu rosto com atenção, se certificando que a maquiagem tinha tampado bem suas olheiras. Notou que o inchaço dos olhos também já não estava mais lá. Tinha chorado tanto que suas lágrimas pareciam ter secado. Já não tinha mais vontade de chorar a todo momento ou muito menos de sorrir. Mesmo pensando em todas as experiências boas que tinham a levado até ali, ela não se sentia feliz. Forçou um sorriso para seu reflexo, mas o máximo que conseguiu foi uma expressão falsa que não enganaria ninguém, muito menos sua avó e irmã.
Por falar nelas, e Kath marcaram em cima o tempo todo. Depois dos dois primeiros dias, nos quais ela mal se alimentava ou saía da cama, as duas fizeram questão de não a deixar ficar sozinha por muito tempo. Elas também evitavam conversar sobre qualquer assunto que pudesse fazer menção ao que tinha acontecido. era a mais esforçada para fazer aquele clima ruim mudar. Ela constantemente tentava a convencer de fazer qualquer coisa que ocupasse sua mente, desde criar conteúdo pro canal até uma simples caminhada. Todas foram tentativas sem sucesso, claro. não tinha a menor vontade de sair de casa e da rotina monótona na qual tinha se enfiado. Encontrar com pessoas também não era uma opção, mesmo que seus amigos.
Desde domingo, tinha evitado encontrar com qualquer um deles. tinha sido uma exceção dos do McFly porque tinha aparecido em sua casa para buscar para sair. A primogênita ainda foi meio a contragosto e por muita insistência de , pois se dependesse dela não sairia tão cedo de perto da irmã, mesmo que tivesse que abrir mão de suas vontades. também tinha fugido de todas as tentativas de de se encontrarem. Ela sabia que ele poderia ficar chateado e desistir, mas não estava pronta. Encontrar com ele era dar brecha para assuntos e lembranças que ela não queria, afinal ele sempre estivera ligado à .
Dylan tinha sido o único com quem tinha se encontrado e por pura insistência dele. O garoto chegava em sua casa sem avisar, a tirava da cama à força e a obrigava a fazer alguma coisa juntos, nem que fosse assistir um filme. também se fez presente mesmo à distância. As duas conversaram por horas seguidas e ela consolou uma chorona pela web cam muitas vezes. Claro que sempre que possível, a amiga puxava a conversa para outro rumo. Conversavam principalmente sobre planos para quando estivessem juntas, já que era um momento que estava mais próximo de acontecer do que imaginaria semanas antes.
finalmente deixou de encarar seu reflexo no espelho e observou as caixas espalhadas pelo quarto e a pequena bagunça que estava o ambiente. Respirou fundo se sentindo desconfortável e espantou os pensamentos. Deixaria para pensar naquilo em outro momento.
— , o táxi chegou. — entrou no quarto também vestida com a beca e o capelo na mão. Encarou a irmã e sorriu para ela. — Você tá linda.
— Última moda em Paris esse vestido, sabia? — ela fez piada e riu com a irmã. Estava se esforçando para parecer bem e normal, não queria mais preocupar ninguém. Entrelaçou o braço no de . — Você tá linda também, como sempre.
— É o azul que me favorece. Agora, vamos! Vovó já está nos esperando lá fora.
Elas seguiram até o táxi e partiram da casa em direção à escola, onde aconteceria a colação de grau.
A escola estava cheia de alunos, familiares e amigos, todos felizes comemorando, se cumprimentando e tirando fotos. Alguns esperavam do lado de fora e outros já se encaminhavam para dentro. e desceram do táxi junto com Kath e esperaram na calçada por Dylan. Ele tinha passado uma mensagem avisando que já estava chegando.
— Veja só se não são minhas brasileiras preferidas. — ele cumprimentou assim que chegou sozinho.
— Você só tem essas mesmo, né? — ironizou arrancando uma gargalhada dele.
— Veio sozinho? — perguntou assim que ele parou ao seu lado a abraçando.
— Sim. Minha família sabe ser extremamente enrolada quando quer. Tive que vir na frente porque se não chegaria no meio da cerimônia. — ele rolou os olhos.
— Ah, sei bem como é isso. Nossos pais são exatamente assim. — riu ao lembrar de todos correndo pela casa tentando terminar de se arrumar a tempo.
— Falar em atrasos, acho que precisamos entrar. — Kath alertou ao conferir as horas no relógio. Estava apenas observando a conversa dos três sem querer se intrometer.
— Vamos! — Dylan concordou e estendeu o braço para que as duas se apoiassem.
Saíram da calçada e foram em direção ao ginásio, onde aconteceria a colação. Encontraram muitos conhecidos no caminho, alguns que demoravam mais o olhar em e cochichavam. Ela se esforçou para ignorar, pelo menos por algumas horas, aquele desconforto.
— Ei, vocês! — alguém gritou às suas costas e todos viraram, avistando e se aproximando.
— Achei que só ia te ver depois. — comentou sorridente quando se aproximou.
— Saí correndo pra conseguir te ver antes de você se misturar com todos. — ele a deu um selinho e fitou seu corpo dos pés à cabeça sorrindo. — Está linda como sempre.
— Vocês são bem melosos quando querem. — Dylan forçou uma careta de nojo os fazendo rir. Notou que estava mais quieto. — E aí, .
— Bom, agora que vocês estão se divertindo, vou ir procurar um lugar para mim. — Kath interrompeu para avisar as duas e deu um beijo na testa de cada uma.
— Tudo bem, te vemos lá de cima. — respondeu e mordeu o lábio quando a avó se afastou, tendo que voltar a encarar os amigos. Estava um pouco nervosa de encontrar com , tinha medo de ele estar bravo com ela por o ter evitado tantas vezes.
— Oi, vocês. — ele finalmente falou com todos e se aproximou da caçula. Cutucou de forma infantil e sorriu. — Oi, . Podemos conversar rapidinho?
— Ahn, claro! — ela concordou envergonhada e acompanhou ele até um canto menos movimentado do corredor.
— Posso saber por qual motivo você tá toda estranha comigo agora? — ele perguntou de uma vez curioso.
— Er, achei que você estivesse com raiva de mim. — ela deu de ombros e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Naquele momento, verbalizando o que pensava, ela se sentiu extremamente boba.
— Eu? Com raiva de você? Ai, , que vontade de te dar um cascudo só por pensar isso. — ele gargalhou e deu um tapa na própria testa.
— Ah, sei lá, eu meio que… — ela começou a se embolar ao tentar argumentar, mas foi interrompida.
— , escuta. Eu te entendo, tá? Eu sei que você precisava do seu tempo. — ele a segurou pelos ombros e falou olhando nos olhos dela. — Agora, faz o favor de me dar um abraço porque eu tava morto de saudade.
— Eu também, . — ela respondeu contra o peito dele quando foi puxada para o abraço. Sorriu feliz pela primeira vez no dia. Ela amava a amizade do garoto e o ter próximo de volta era bom demais. — Senti falta até das suas piadas ruins.
— São as suas preferidas. — ele gargalhou.
— Ei, vocês dois! Vamos logo! — chamou de longe os fazendo sair do abraço.
— Não podemos nem ter um momento de emoção sem alguém atrapalhar. — fez drama e rolou os olhos, arrancando uma risada de . Os dois se abraçaram de lado e se viraram para ir até os amigos, só então notando que e tinham chegado. firmou seu braço ao redor dos ombros da amiga em apoio e a lançou um olhar de incentivo ao irem até a rodinha.
— Aqui estão os demais formandos! — cumprimentou os dois e sorriu simpático. — Me dá até um orgulho em ver vocês todos nessas becas.
— Deixa de ser emocionado, . — pirraçou para manter o clima leve. Percebia o olhar indiscreto de em cima de e a amiga apenas encarando o corredor ao lado. Mesmo com seu comentário os amigos acabaram caindo no silêncio desconfortável, todos notando a mesma situação que ele. Dylan e tinham adotado uma postura mais rígida e sem sorrisos também.
— Bom, tá na nossa hora. Vamos antes que comecem sem a gente. — Dylan agilizou a todos e foi mais rápido que qualquer brecha que pudesse aparecer. Pegou pela mão e a puxou para saírem dali com pressa, deixando os amigos um pouco para trás. — Mantenha a postura, você é forte.
— Ainda bem que alguém aqui acredita nisso. — ela bufou desanimada e se deixou ser arrastada para o ginásio. A cerimônia logo começaria e sua mente ficaria ocupada.
O ginásio estava tão cheio quanto na temporada de jogos, mas dessa vez quem ocupava a quadra eram os formandos sentados em fileiras e um pequeno palco com os professores e diretor. Já tinha se passado um bom tempo desde o início da cerimônia com direito a entrada dos alunos, discurso do professor padrinho e do diretor. cruzou as pernas e balançou o pé se sentindo entediada e ansiosa, mal tinha prestado atenção no que tinham falado. Estava sentada entre e Dylan com a duas cadeiras de distância. Ela se esforçava a cada segundo para não se permitir virar e o encarar. Sentia que ele a fitava de longe vez ou outra, assim como fez quando se viram a primeira vez antes de entrarem. Ela ainda sentia seu estômago revirar e o peito apertar com a aproximação. Realmente não estava preparada para aquele encontro, mesmo que não tivessem trocado nenhuma palavra. Ao mesmo tempo que queria que ele sumisse dali e levasse junto todo aquele sentimento que a machucava, queria que ele tivesse a coragem de ir falar com ela e finalmente conversarem. Respirou fundo e se forçou a prestar atenção na movimentação em cima do palco antes que surtasse.
Notou Nathalie se dirigindo até o púlpito sob aplausos de todos. acompanhou as palmas e se concentrou na garota iniciando o discurso para os alunos.
— Boa tarde a todos. Bom, como anunciado anteriormente, fui a escolhida para o discurso aos alunos. Confesso que mesmo não me surpreendendo com o convite, fiquei muito nervosa pela responsabilidade. Afinal, é para os donos da festa que devo falar! — ela soltou um risinho nervosa e voltou a falar. Ela falava com calma e segurança sem se sentir envergonhada. — Eu pensei muito em como iniciar esse discurso ou sobre o que falar exatamente. Assisti a muitos filmes para me inspirar e, falar sobre a maravilha de estar vivendo esse momento, parecia sempre a saída mais fácil. Mas eu queria algo diferente. Todos nós já sabemos que essa é uma fase nova, que é incrível e assustador pensar que iremos ter uma experiência diferente nos esperando. Então, eu comecei a pensar em tudo que nos trouxe até aqui e finalmente encontrei a minha fala. — ela respirou fundo e sorriu para os colegas à sua frente. — Nós começamos a nossa trajetória escolar bem novos, sem entender muita coisa e apenas respeitando o que deve ser feito. A gente demora a se acostumar com a nova rotina e com as obrigações. Passamos a conviver com mais pessoas, a escutar mais e a aceitar que estamos aqui para aprender. Desde cedo é difícil essa adaptação e não vai melhorando ou ficando mais fácil com o passar do tempo. As horas dentro de sala, nos corredores e refeitório parecem se multiplicar e muitas vezes nós dividimos mais tempo com as pessoas daqui do que com nossa família. É claro que durante o caminho nós nos deparamos com algumas ajudas. Para muitos, é daqui que saem os melhores amigos e apoios da vida. Em certos momentos nós percebemos também que não estamos aqui para aprender apenas com os professores, mas sim com todos os demais que participam do nosso dia. — Nath fez uma pausa apenas para passar a página de sua impressão e não perdeu a atenção de ninguém por um segundo sequer. O ginásio continuava em completo silêncio e concentração em a ouvir. — O tempo passa e a gente vai evoluindo. Para os familiares, acredito eu, esse nosso crescimento acontece muito rápido. Para nós a história já é diferente. A cada avanço de turma, a cada ano que começa e termina é uma intensidade de sentimentos, de acontecimentos e de lutas. O ambiente que era para ser acolhedor e sinônimo de crescimento muitas vezes se faz desmotivação para nós. São fofocas, brigas, relacionamentos, provas, trabalhos, noites viradas em dedicação aos estudos, notas baixas e cansaço a cada ano. Mas tudo isso para nos trazer até aqui, até esse momento de agora. Hoje, mesmo com toda essa euforia sobre o amanhã, eu convido vocês a pensar um pouquinho no passado. A encarar tudo que vocês viveram durante esse tempo e principalmente durante esse ano. A pensar em todas as vezes em que pareceu mais fácil desistir e mesmo assim você não o fez. Hoje, eu quero te lembrar que nós somos vitoriosos. Sobrevivemos aos nossos melhores e piores dias aqui. Demos o nosso melhor quando conseguimos e usamos nossas últimas forças quando precisamos. Conseguimos passar por todas aquelas provas que pareciam impossíveis e nos livrar dos trabalhos que achávamos ser intermináveis. Conseguimos também sobreviver a todos os boatos, fofocas e situações que nos faziam mal. E tudo isso graças à sua dedicação. Hoje, eu desejo a todos nós que saibamos reconhecer que somos merecedores dessa comemoração e que sintamos orgulho de tudo que fizemos para chegar até aqui. Eu não sei o que vai ser de nós no dia de amanhã ou no futuro próximo, mas eu sei que cada um de nós vai conseguir lidar com o que vier. Eu acredito em nós e sei que não somos nós que devemos estar preparados para nosso futuro, mas sim ele que deve estar preparado para a gente.
Em questão de segundos todos estavam em pé aplaudindo, gritando e assobiando animados o discurso de Nath. tinha os olhos marejados e uma lágrima escorrendo pelo rosto. Encarou a irmã e Dylan ao seu lado e os abraçou animada, também notando que quase chorava. Ela respirou fundo pensando que precisava escutar aquilo depois de tudo pelo que tinha passado. Ela tinha sobrevivido a muitos dias ruins e era uma vitoriosa. Tinha sim muito orgulho da pessoa forte que tinha sido até ali e sabia que estaria preparada para suas novas decisões.
Depois de cada um subir ao palco para pegar o canudo de formatura e tirar muitas fotos, a cerimônia foi encerrada.
— Estou muito orgulhosa de vocês. E os pais de vocês também. — Kath parou no meio das duas e as abraçou sorridente.
— Obrigada, vovó. — depositou um beijo na bochecha da mais velha.
— Devemos isso a vocês. — fez o mesmo do outro lado. Elas começaram a andar até a saída do ambiente. Queriam se afastar logo de toda a bagunça que tinha se formado com familiares e formandos eufóricos.
Elas caminharam para fora da escola junto com . O garoto tinha tirado dezenas de fotos clichês e cafonas com apenas para a pirraçar. Os outros tinham ficado para trás com suas famílias e já tinha ido embora por causa de um compromisso.
— Posso pedir o táxi? — Kath perguntou para as duas sem saber se tinham algum outro compromisso.
— Não precisa, eu levo vocês em casa! — se ofereceu e olhou nervosa para a irmã.
— Na verdade, podemos conversar antes? — pediu a ele depois de receber um olhar de apoio da irmã. Ela mexia nos dedos nervosa e mordeu o lábio quando a encarou curioso.
— Claro. — ele entrelaçou seus dedos e se afastaram devagar para um lugar mais reservado.
ficou observando de longe até que eles sumissem na lateral da escola. Sentia o peito apertar e começava a ficar tão nervosa quanto a irmã, compartilhando do mesmo sentimento que ela como se estivesse em seu lugar. Sabia que aquela não seria uma conversa fácil.
— Ei, achei que tinham ido embora. — se aproximou sorridente e deixou que seus pais seguissem para o carro sem ele.
— Já já. — ela respondeu e viu Dylan se aproximar também. Kath fez sinal que atenderia o celular e se afastou deles.
— Achei que não ia me livrar nunca dos meus tios. — ele riu e se apoiou no ombro da amiga. — Fred mandou um abraço para vocês.
— Mande outro. — ela forçou um sorriso e começou a rodar o canudo nas mãos, vez ou outra olhando para o lado para conferir se a irmã já estava voltando.
— E aí, animada para a festa de amanhã? — perguntou divertido. Na noite seguinte aconteceria o baile de formatura, uma festa de gala exclusiva para os formandos e seus acompanhantes. Os alunos estavam eufóricos por isso.
— Ahn, eu não vou, . — ela prensou os lábios uns nos outros e encarou Dylan, que apenas passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar sem querer se intrometer.
— Deixa disso, , você tem que comemorar também. — ele a cutucou e soltou um riso nasalado.
— , eu só vim pra essa cerimônia por causa dos meus pais e minha vó, que ficariam muito chateados em não me ver de beca e pegando meu diploma. Não estou com clima para as pessoas dessa escola e muito menos para festa. — ela se mexeu desconfortável e suspirou. O amigo se preparava para argumentar e provavelmente ficar alguns bons minutos tentando a convencer quando ela resolveu contar de uma vez. Deu um sorriso de lado triste e o encarou. — E mesmo se eu quisesse ir, não conseguiria. Estou voltando pro Brasil amanhã.
— Que? Você tá brincando, né? — a olhou incrédulo e riu nervoso. Encarou a Dylan também quando apenas mordeu o lábio, o garoto tinha a mesma expressão triste dela. De todos os amigos dali, era o único que sabia dos planos das duas.
— Estou falando sério. — ela suspirou e passou a mão pelos cabelos. — nesse momento tá tendo uma conversa bem complicada com .
— Eu não entendo. — a olhou perdido e franziu a sobrancelha. — Vocês iam ficar aqui. tem o , você tem a gente. Tínhamos até feito alguns planos pro resto do ano.
— Eu sei, mas isso foi antes de tudo. — ela mordeu o lábio sentindo um bolo se formar em sua garganta. Ela e a irmã realmente tinham conversado com os pais para completarem o ano lá antes de terem que tomar qualquer decisão sobre seus futuros. Engoliu em seco e não se permitiu chorar ali. — De qualquer forma, nós precisaríamos voltar em algum momento. Só antecipamos.
— Você ia me contar? — perguntou chateado.
— Claro que sim! Só não parecia nunca ter um momento ideal pra isso. Eu não sairia daqui sem me despedir de você, bobo. — ela sorriu e o puxou para um abraço apertado. Tinha pensado a semana inteira em como falaria com ele, se sentia aliviada em finalmente contar e ao mesmo tempo o sentimento de despedida já a machucava.
— Vou sentir tanta saudade, . — ele falou contra seu cabelo, depositando um beijo em sua testa em seguida.
— Por favor, não vamos fazer uma cena de despedida aqui. Odeio chorar em público. — Dylan fingiu secar lágrimas e arrancou uma risada dos dois. — Deixe isso para amanhã no aeroporto.
— Dy está certo. Ainda podemos nos divertir hoje à noite. — retomou a postura e sorriu para a amiga.
— Eu vou me divertir muito tendo uma ajuda para terminar de fechar as caixas e malas. — ela riu sapeca.
— Muito abusada você. — Dylan a empurrou de leve com o ombro e riu junto quando ela gargalhou.
— Sem querer quebrar o clima, mas acho que você já vai, . — ficou sério e indicou e se aproximando.
Antes mesmo dos dois chegarem na roda, já tinha notado os olhos vermelhos dos dois. A expressão deles também não era das melhores, mas continuavam com as mãos entrelaçadas. Os amigos não conseguiram disfarçar e ficaram os encarando em silêncio, esperando que falassem alguma coisa.
— Er, eu e vamos sair. — anunciou envergonhada. Encarou a irmã e mordeu o lábio. — De noite te ajudo na organização, tudo bem?
— Sem problemas, pode ir sem preocupação. — abraçou a irmã de lado e deu um leve aperto em seu ombro. Sabia que essa mudança e todos os próximos acontecimentos estavam machucando e . O que pudesse fazer para amenizar isso e os ajudar, ela faria. — e Dylan também vão lá para casa mais tarde. Podemos fazer uma noite de pizza e arrumação.
— Certo. — ela concordou com um sorriso, mas sem conseguir disfarçar que não estava realmente feliz. Encarou numa troca de pensamento rápida e tirou a beca, deixando à mostra a calça jeans e blusa que usava. Entregou a roupa e acessórios para a irmã. — Leva isso também por favor.
apenas concordou e pegou tudo. O casal deu um tchau desanimado e se afastou, seguindo para o carro de . Kath se aproximou do trio que tinha caído num silêncio estranho e pegou as coisas da mão da neta.
— Vamos para casa? — Katherine sequer questionou sobre a saída de , sabia que ela precisava daquilo e que sabia se cuidar. concordou. — Vou pedir o táxi.
— Ahn, não precisa. — pareceu acordar do pequeno transe em que estava desde que vira abatido. Passou a mão pelo cabelo e tirou um molho de chaves do bolso por baixo da beca. — Estou de carro, levo vocês lá.
— Não vai te atrapalhar? — mordeu a boca sem jeito.
— Nah! Estou sem planos e sem pressa para mais uma rodada de fotos com minha mãe em casa. Vamos. — ele riu fraco.
— Bom, nesse caso, encontro vocês mais tarde. Ainda tenho que fazer sala lá em casa para todos os meus tios e fingir que estou adorando a festinha que minha mãe preparou. — Dylan deu um beijo da bochecha de e Kath, e fez um toque esquisito com . — Tchau, até de noite!
— Tchau, Dy. — a garota acenou e deu a mão para a vó, caminhando junto com para o carro.
— Essa foi a última. — anunciou quando colocou a caixa no chão da sala.
— Até que, pra quem veio passar só um ano, vocês trouxeram bastante coisa. — ele falou exagerando na encenação de cansaço apenas para arrancar risadas de todos.
A casa das gêmeas estava uma bagunça só. Dylan e estavam sentados nas poltronas da sala, e continuavam abraçados no sofá desde que ele tinha terminado de descer suas coisas e Kath já tinha se recolhido para dormir. e se juntaram aos amigos na sala e sentaram juntos no chão. Os garotos tinham ido até lá para aproveitarem um tempo juntos, mas acabaram tendo que ajudar a arrumar as coisas da mudança das duas. Já passavam das dez da noite e as caixas de pizza estavam reviradas com os restos na mesinha de centro.
— Eu ainda não acredito que vocês vão embora. — falou desanimado. tinha o dado a notícia quando ele chegara na casa do amigo para matar o tempo, resolvendo ir com ele para a casa das duas de noite.
— Eu nunca vou perdoar o por isso. — falou bravo e passou a mão livre pelo rosto. se encolheu no abraço dele e encarou a irmã.
— Se tiver que culpar alguém, melhor que seja eu. — soltou um riso nasalado e riu irônica. Não queria sair em defesa de , nem achava que ele merecia, mas não podia deixar de pensar na situação como um todo. Notou os olhares questionadores dos amigos em si e falou o que passava em sua cabeça desde que tinham tomado aquela decisão. — Eu que causei a situação e tudo isso. São só consequências.
— , nem começa. — rolou os olhos brava. — Já disse que você não tem culpa de nada. Nós iremos embora porque precisamos.
— Precisar é uma palavra meio forte, . — cruzou as pernas e ficou brincando com os fios do tapete com o olhar baixo. — Se não tivesse agido como babaca, aposto que vocês teriam reconsiderado continuar aqui. mordeu o lábio nervosa sentindo o corpo ficar desconfortável com a conversa. Esticou as pernas e apoiou os braços atrás do corpo, encarando o teto e apenas escutando a conversa.
— Não é bem assim. Elas têm família lá e nenhum outro plano concreto aqui. Grande parte da vida delas está lá, uma hora ou outra teriam que voltar. — Dylan entrou em defesa. Tinha acompanhado o sofrimento das duas em tomar aquela decisão e tinha também questionado muito feito os demais, mas em um momento entendeu que as coisas aconteceriam como tinha que ser e que ninguém precisava sair como culpado.
— Só não precisava ser tão rápido. — estalou a boca e apoiou o rosto na mão. A sala caiu em silêncio e cada um se perdeu nos próprios pensamentos por um tempo.
— Essa reunião virou um enterro. — bufou baixo fazendo os amigos rirem fraco do comentário.
— É, também acho. Considerando o pouco tempo que temos, devíamos estar tentando nos divertir. Vamos deixar as lamentações para o aeroporto. — Dylan se levantou e foi até a entrada para pegar a mochila que tinha deixado lá. Os amigos ficaram o observando.
— Que tipo de mágica você vai fazer para animar a gente? — perguntou meio a contragosto. Não achava que tinha motivos nenhum para celebrar ou ficar de festinha, mas o faria pelas amigas.
— Eu não consigo fazer mágica, mas trouxe algo que consegue. — ele gargalhou e puxou uma garrafa de tequila de dentro da mochila, fazendo os amigos rirem.
— Agora a conversa vai ficar interessante. — riu e esfregou uma mão na outra rapidamente.
— Vou pegar os copos. — levantou do chão em um pulo, se deixando levar pela animação de Dylan. Mais do que por si, ela queria que ficassem animados pelos amigos. Não queria ver ninguém sofrendo. Correu até a cozinha e escutou o barulho na sala aumentar em sinal de que estavam se movimentando. Catou os copos de shot que achou e segurou da maneira mais desengonçada que conseguia para os levar até a sala. — Opa, vocês são rápidos. — Riu ao notar que já estavam todos em roda no chão com a mesa de centro no meio deles.
— Senta logo. — pediu e ela voltou a sentar ao seu lado enquanto ele colocava uma música para colocar no celular. Boys Don't Cry começou a sair do alto-falante do aparelho e eles riram. — Trilha sonora perfeita.
— Vamos começar com uma rodada para esquentar todo mundo. — Dylan anunciou enquanto colocava uma dose generosa para cada um.
— Vou propor um brinde. — falou sorridente. Ele ergueu sua dose e fez sinal para que todos o imitassem. — Um brinde a todos os momentos bons que passamos juntos, à presença das meninas na nossa vida e à nossa amizade, que ela prevaleça mesmo com os caminhos diferentes.
— Saúde! — eles brindaram entre risos.
— Já que estamos em espírito de agradecimento, por que não relembramos os nossos momentos preferidos do ano? De preferência os que estávamos com as meninas. — sugeriu animado.
— Ah, gente, acho que não é pra tanto. — falou envergonhada.
— É pra tanto sim! Melhor que ficarmos lamentando. — Dylan ignorou as reclamações das duas e incentivou os outros. Indicou e começou a encher a dose dela novamente. — Você começa, depois vai pela ordem.
— Tudo bem. — ela sorriu momentaneamente animada e cruzou as pernas. — Meu momento preferido com vocês não foi bem com vocês. Foi na primeira festa que fui, se não me engano, e que tive coragem pra chegar no e a gente ficar.
— Aaah, eu me lembro bem! Todo mundo levou um susto. — gargalhou apontando para os dois.
— Eu já esperava. — deu de ombros divertida.
— Tudo bem, gostei dessa. Agora beba sua dose e deixe o . — Dylan prosseguiu com a brincadeira enquanto a amiga virava a bebida.
— Não sei se quero fazer isso. — finalmente o garoto voltou a falar e sem tirar a expressão de tristeza no rosto.
— Amor, por favor. — o encarou com um olhar pidão e deu um leve aperto na coxa do namorado.
— É, . Se esforça nem que seja pela . — também pediu de forma amigável. os encarou e respirou fundo antes de se permitir amenizar a expressão e sorrir fraco.
— Tudo bem. — ele passou a mão pelos cabelos e riu quando Dy bateu palmas e serviu mais uma dose para ele. Olhou envergonhado para antes de voltar a falar. — Meu dia preferido não teve lá tanta coisa especial para vocês, mas para mim foi incrível. A gente combinou de ir pro Ezra, mas acabamos desistindo e ficando lá no quintal de casa. Alguém pegou o violão e começou a tocar uma música e em pouco tempo tava todo mundo cantando. Eu parei um pouco e fiquei só observando tudo. Tava todo mundo feliz, rindo, cantando, algumas bebidas e lanches espalhados, a noite estrelada e a mulher da minha vida do meu lado. Eu não precisei de mais nada pra ser feliz. — ele terminou de falar e a sala caiu em um silêncio nostálgico. Deu uma risada fraca e virou sua dose.
— Tá bem, isso foi extremamente fofo. — cortou o silêncio e fingiu secar uma lágrima.
— O jogou baixo. Qualquer coisa que eu falar vai ser tosca depois disso. — fez piada.
— Mesmo se o tivesse ficado calado, você continuaria falando algo tosco. — pirraçou o amigo.
Eles riram fraco e voltaram ao jogo. sorriu nostálgica e parou para encarar cada um enquanto voltava a falar. Notou Dylan e rindo do que ele contava e teve vontade de rir junto pela risada contagiante. Passou o olhar devagar pela roda e notou que e estavam abraçados conversando aos sussurros sem prestar tanta atenção a eles. Era notável o carinho que tinham um pelo outro e o quanto estavam se curtindo naquele momento. chegou a sentir um aperto no peito ao pensar em como aquela partida faria mal a eles. Mordeu o lábio ansiosa e fingiu que estava prestando atenção quando a cutucou e fez uma piada. Soltou um riso fraco forçado e sentiu um incômodo no estômago. Estava sim muito feliz e agradecida por tudo que tinha vivido ali e pelas pessoas que a rodeava, mas não podia deixar de sentir a falta daquele que mais se fez presente no seu ano. Suspirou cansada e passou a mão pelo cabelo sem querer demonstrar o desconforto para os outros.
— , é sua vez! — , que já tinha voltado a prestar atenção ao jogo com , a encarou atenta.
— Tudo bem, estava pensando no meu momento. Obrigada, Dy! — ela disfarçou e riu fraco quando Dylan colocou uma dose cheia à sua frente. Respirou fundo e relembrou a cena. — Meu momento preferido do ano foi na virada do ano. Tudo estava dando errado, estávamos estressados e ninguém queria continuar. Mas, em um momento, a gente só parou de ligar e tomou banho de chuva. Eu me lembro de me sentir de alma lavada e ao mesmo tempo uma criança brincando com vocês sem me preocupar com nada. Foi um dos dias em que mais me senti feliz ao lado de vocês. — ela sorriu envergonhada sem olhar para os amigos.
— Estou começando a ficar emotivo demais. Vire essa cachaça logo! — Dylan fez os amigos rirem e a caçula tomou a bebida fazendo careta.
O sentimento de nostalgia tomou conta de e ela sorriu curto. Tinham sido muitos momentos de altos e baixos, mas os bons com certeza prevaleciam quando se lembrava da felicidade de cada um. Tinha sorte de ter vivido cada um daqueles momentos e de ainda ter com quem contar. Respirou fundo e se preparou para mais uma crise de risos que viria quando viu Dylan iniciar seu discurso. Era bom demais que as lágrimas que caíssem naquele momento não fossem mais de tristeza depois de tanto tempo.
Chamada para o vôo A3569 com destino ao Brasil. Embarque no portão 15 Sul.
— É o nosso. — confirmou quando o anúncio ecoou pelo aeroporto. Os amigos reclamaram.
— Ainda não estou pronto para isso. — falou choroso e abriu os braços para .
respirou fundo e sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto antes mesmo de abraçar o amigo. Tinha mentalizado a noite inteira que não iria chorar e que se manteria forte para fazer daquele momento algo mais fácil. Ela, e Kath tinham passado a madrugada em claro aproveitando o tempo juntas, fazendo promessas e se preparando para a despedida. Mas como se manter forte com sua irmã soluçando nos braços de , seus amigos com os olhos vermelhos e sua vó chorando baixinho ao seu lado? Não dava para aguentar.
— Droga, . Não sei se vou aguentar. — respirou fundo contra seu pescoço. — Por favor não esqueça que você é muito especial pra gente. Não suma das nossas vidas ou eu vou ter que ir atrás de você pelos cabelos lá no Brasil. Você vai sempre ser minha melhor amiga. — ameaçou e riu fraco mesmo com umas lágrimas escapando dos olhos. Deu um beijo na testa da amiga.
— Pode deixar! Você também vai ser sempre meu melhor amigo, mesmo quando o McFly ficar super famoso e você virar um astro. — ela falou entre soluços, vendo ele sorrir. Se lembrou do favor que o tinha pedido. — Por favor, não esqueça daquele pedido. É importante.
— Não vou, prometo! — ele suspirou e deu espaço para que se aproximasse.
— Sabia que até chorando você fica bonita? — ele brincou e riu sem conseguir falar nada antes de o abraçar. — Vocês são incríveis. A gente vai sofrer um bocado sem vocês aqui, mas eu torço pelo melhor na vida de vocês.
— Obrigada, . Também vou sofrer muito sem vocês pra me fazerem rir de cada coisa. — ela sorriu nostálgica e viu se afastar de e vir até ela com o rosto molhado. Mordeu o lábio e olhou com pesar pro garoto. Se aproximou dele e o abraçou. — Sinto muito por isso.
— Vamos ficar bem uma hora. Por favor cuida bem dela e não deixa ela sofrer por muito tempo. — ele pediu baixo durante o abraço. confirmou com um aceno. — Obrigada por tudo também, . Espero que você também encontre seu caminho e seja recompensada por todas as barras que enfrentou.
— Obrigada, . Não tenho outro para comparar, mas posso afirmar que você foi o melhor cunhado que poderia ter. — ela confessou e o viu rir fraco.
— Já chegou minha vez? — Dylan fez drama e puxou as duas para um abraço juntos. — Eu sinceramente não sei o que vai ser de mim sem vocês. Quem vai ficar fofocando comigo, me fazendo companhia em casa quando eu estiver no tédio ou até sair pra tomar sorvete nos momentos difíceis?
— Dy, a gente também não vai acostumar nunca mais a não ter ver você quase todos os dias. — apertou mais o abraço e soluçou.
— Mas a gente promete manter contato e fazer várias chamadas de vídeo pra acompanhar cada acontecimento da sua vida. Sem contar que vou continuar precisando dos seus conselhos. — também apertou o abraço e chorou no ombro do amigo.
— Eu achei que isso seria mais fácil. — ele falou quando saíram do abraço, também tinha o rosto tomado por lágrimas. Sorriu apertando a mão das duas. — Amo vocês. Prometo visitar vocês em breve se vocês demorarem pra voltar.
— Vai ser um prazer te receber lá. — sorriu.
Dylan sorriu triste e deu espaço para que Katherine se despedisse das duas. Elas engataram um abraço apertado com lágrimas e palavras de amor. Os amigos, logo atrás, tentavam controlar o choro com a cena. O aeroporto consideravelmente vazio parecia diminuí-los ainda mais diante do peso daquela despedida.
— Obrigada pela companhia, minhas meninas. Estarei esperando vocês de volta, os quartos ficarão do mesmo jeito. — Kath depositou um beijo na testa de cada um. — Dê um abraço nos seus pais e no meu netinho.
— Pode deixar, vovó. Obrigada por tudo! — agradeceu aos soluços.
— Você é a melhor. A gente te ama! — deu mais um abraço na mais velha e se afastou.
puxou a mochila do chão e jogou no ombro, esticando a mão para a irmã. As duas se afastaram com as mãos dadas e deram tchau para eles. Com a vista embaçada de lágrimas e sorrisos tristes no rosto, viram os amigos acenarem e mandarem beijos do mesmo lugar também na mesma situação. Finalmente se viraram e caminharam até o portão de embarque. sentiu o coração apertar quando, antes de entregar a passagem, viu seus amigos e avó irem embora. Se sentiu boba por acreditar por um último segundo que as coisas mudariam e ela veria ele chegando e parando perto dos amigos em busca de uma conversa ou despedida. Ela respirou fundo e entrou no avião com a irmã, controlando esse sentimento antes que piorasse.
Mesmo quando já estava acomodada na cadeira do avião, não conseguiu parar de chorar. Era difícil pensar que quase um ano atrás estava chegando naquele mesmo lugar com o peito carregado de esperança e medo do que iria viver ao lado da irmã na Califórnia. Sem realmente saber que não só iria viver alguns dos melhores momentos da sua vida, como iria conhecer pessoas incríveis com quem contaria pro que precisasse.
Sabia que precisava voltar para o Brasil, mas sentia como se estivesse deixando sua casa para trás. Quando tomou a decisão definitiva dessa mudança, pensou apenas em deixar para trás toda a insegurança, tristeza e lembranças de dias difíceis que passara ali, mas de brinde teria que aprender a lidar com a falta de tudo que a fazia bem, principalmente daqueles que tinham se tornado sua segunda família. Respirou fundo e olhou para a irmã que soluçava com a cabeça baixa.
Seu peito apertou e seu estômago se contorceu com a cena. era sempre a mais forte das duas e raramente chorava, era difícil a ver naquela situação. Para , era um amor que não dera certo que ficava para trás, para , era seu primeiro amor que dera certo e que agora ela tinha que abrir mão. Sim, abrir mão. tinha plena consciência de que não conseguiria manter um relacionamento a distância e sabia que seria egoísmo tentar o fazê-lo. Não sabiam se ou quando voltariam para Califórnia e não poderia prender o garoto até que resolvesse o que fariam da vida. Por isso, tinham decidido terminar o namoro mesmo que aquilo os machucassem profundamente.
respirou fundo e apertou a mão da irmã quando o avião começou a andar pela pista de decolagem.
— Nós vamos ficar bem. — ela falou baixo para que apenas ela escutasse.
— Sim, nós duas juntas sempre. — confirmou e sorriu fraco também apertando a mão dela.
Entre lágrimas, soluços silenciosos, conforto e saudade, as gêmeas partiram de São Francisco com destino a uma nova fase e na busca de um novo começo em suas vidas.
— Já vai! — falou bravo com o toque insistente da campainha em sua casa. Quem quer que fosse, merecia um soco pela falta de noção em plena dez horas da manhã. Correu até a porta vestindo apenas a calça do pijama e abriu a porta e se assustou com a presença. — ?
— Não fique tão animado. Ainda não quero conversar com você. Só vim entregar isso. — respondeu mal-humorado de uma vez e esticou um envelope.
o encarou em silêncio e engoliu em seco. Não tinha uma conversa decente com o amigo desde a viagem de formatura. Os dois tinham tido uma discussão chata por causa do acontecimento e desde então só falavam o necessário um com o outro. entendia que estava chateado com o rumo que as coisas tinham tomado, mas também não via como mudar a situação. Só esperava que com o tempo eles pudessem voltar ao normal. Por isso, se sentiu momentaneamente esperançoso quando o viu parado em sua porta, como fazia nos dias em que estavam de férias e o garoto ia até lá para jogarem vídeo game ou conversar sobre qualquer coisa. Claro que com a primeira fala de o balde de água fria o atingira e ele soube que ainda estavam na mesma estaca.
— O que é isso? — encarou curioso o papel sem o pegar.
— Apenas pegue, . — pediu cansado e esticou novamente a mão. Só então encarou o dono da casa e ele pôde ver que estava com os olhos vermelhos.
— Você estava chorando? De onde você tá vindo? — fez menção de continuar o interrogatório.
— Você sabe de onde estou vindo. Já sei que te contou. — ele suspirou. — , estou aqui não por você ou por mim. Então apenas facilite a nossa vida e pega a droga dessa carta. — o outro insistiu sem conseguir disfarçar o desconforto em estar fazendo aquilo. engoliu em seco e pegou o papel. — Obrigado.
acenou devagar e foi embora, deixando na porta encarando a rua, segurando o envelope que parecia pesar em sua mão. É claro que ele sabia que o amigo estava vindo do aeroporto, mal conseguiu dormir pensando naquilo. Ele respirou fundo e entrou em casa, se jogando no sofá e abrindo o envelope. Puxou um papel preenchido de dentro e respirou fundo ao reconhecer a letra. Leu a carta com lágrimas nos olhos e com a certeza no peito de que as coisas tinham finalmente recebido um ponto final.
“Eu ainda não sei porque estou fazendo isso. Talvez me despedir de você é o que falta para que eu possa finalmente ir embora e recomeçar. Mas, é claro, eu não tive coragem de o fazer cara a cara. E tudo bem. Você também não teve. Durante todos esses dias eu pensei muito. Pensei nos meus primeiros dias nessa cidade e em como você e nos receberam tão bem na escola e em suas vidas. Pensei muito na gente também, claro. E confesso que ainda não consigo saber se teria uma maneira de tudo acontecer de forma mais fácil.
Sabe, eu demorei muito para dar o braço a torcer e aceitar que tinha me apaixonado por você. Aguentei muitas situações difíceis até finalmente acontecer algo. Com o tempo passando, eu fui entregando cada vez mais meu coração a você. Até que chegamos onde estamos.
Nossos amigos dizem que não, mas hoje eu vejo que sim, eu errei. Talvez uma conversa direta e sincera teria resolvido muita coisa. De qualquer forma, me desculpe por insistir quando você já não queria mais. Espero superar esse meu erro e conviver com ele sem me machucar mais. Porque assumo que errei, mas você também errou. De certa forma, aquilo que você tanto dizia valorizar (nossa amizade) foi a primeira coisa que deixou de lado antes de fazer o que fez.
Enfim, pensando em tudo que passamos e vivemos juntos, deixo aqui minha despedida. Desejo muita sorte em sua vida e, quem sabe, até um dia!
P.s: Escrevi alguns versos dias atrás, talvez com o seu talento isso se torne mais uma música boa um dia. Me sentiria melhor em saber que todos os dias difíceis valeram a pena por algo.
Eu não posso mudar nada, também não sei muitas coisas
Mas sei que você me magoou
E magoou as pessoas que também se importam com você
Mas essa é a última vez
Eu desisto desse sentimento
Isso é um adeus”
Observou seu rosto com atenção, se certificando que a maquiagem tinha tampado bem suas olheiras. Notou que o inchaço dos olhos também já não estava mais lá. Tinha chorado tanto que suas lágrimas pareciam ter secado. Já não tinha mais vontade de chorar a todo momento ou muito menos de sorrir. Mesmo pensando em todas as experiências boas que tinham a levado até ali, ela não se sentia feliz. Forçou um sorriso para seu reflexo, mas o máximo que conseguiu foi uma expressão falsa que não enganaria ninguém, muito menos sua avó e irmã.
Por falar nelas, e Kath marcaram em cima o tempo todo. Depois dos dois primeiros dias, nos quais ela mal se alimentava ou saía da cama, as duas fizeram questão de não a deixar ficar sozinha por muito tempo. Elas também evitavam conversar sobre qualquer assunto que pudesse fazer menção ao que tinha acontecido. era a mais esforçada para fazer aquele clima ruim mudar. Ela constantemente tentava a convencer de fazer qualquer coisa que ocupasse sua mente, desde criar conteúdo pro canal até uma simples caminhada. Todas foram tentativas sem sucesso, claro. não tinha a menor vontade de sair de casa e da rotina monótona na qual tinha se enfiado. Encontrar com pessoas também não era uma opção, mesmo que seus amigos.
Desde domingo, tinha evitado encontrar com qualquer um deles. tinha sido uma exceção dos do McFly porque tinha aparecido em sua casa para buscar para sair. A primogênita ainda foi meio a contragosto e por muita insistência de , pois se dependesse dela não sairia tão cedo de perto da irmã, mesmo que tivesse que abrir mão de suas vontades. também tinha fugido de todas as tentativas de de se encontrarem. Ela sabia que ele poderia ficar chateado e desistir, mas não estava pronta. Encontrar com ele era dar brecha para assuntos e lembranças que ela não queria, afinal ele sempre estivera ligado à .
Dylan tinha sido o único com quem tinha se encontrado e por pura insistência dele. O garoto chegava em sua casa sem avisar, a tirava da cama à força e a obrigava a fazer alguma coisa juntos, nem que fosse assistir um filme. também se fez presente mesmo à distância. As duas conversaram por horas seguidas e ela consolou uma chorona pela web cam muitas vezes. Claro que sempre que possível, a amiga puxava a conversa para outro rumo. Conversavam principalmente sobre planos para quando estivessem juntas, já que era um momento que estava mais próximo de acontecer do que imaginaria semanas antes.
finalmente deixou de encarar seu reflexo no espelho e observou as caixas espalhadas pelo quarto e a pequena bagunça que estava o ambiente. Respirou fundo se sentindo desconfortável e espantou os pensamentos. Deixaria para pensar naquilo em outro momento.
— , o táxi chegou. — entrou no quarto também vestida com a beca e o capelo na mão. Encarou a irmã e sorriu para ela. — Você tá linda.
— Última moda em Paris esse vestido, sabia? — ela fez piada e riu com a irmã. Estava se esforçando para parecer bem e normal, não queria mais preocupar ninguém. Entrelaçou o braço no de . — Você tá linda também, como sempre.
— É o azul que me favorece. Agora, vamos! Vovó já está nos esperando lá fora.
Elas seguiram até o táxi e partiram da casa em direção à escola, onde aconteceria a colação de grau.
A escola estava cheia de alunos, familiares e amigos, todos felizes comemorando, se cumprimentando e tirando fotos. Alguns esperavam do lado de fora e outros já se encaminhavam para dentro. e desceram do táxi junto com Kath e esperaram na calçada por Dylan. Ele tinha passado uma mensagem avisando que já estava chegando.
— Veja só se não são minhas brasileiras preferidas. — ele cumprimentou assim que chegou sozinho.
— Você só tem essas mesmo, né? — ironizou arrancando uma gargalhada dele.
— Veio sozinho? — perguntou assim que ele parou ao seu lado a abraçando.
— Sim. Minha família sabe ser extremamente enrolada quando quer. Tive que vir na frente porque se não chegaria no meio da cerimônia. — ele rolou os olhos.
— Ah, sei bem como é isso. Nossos pais são exatamente assim. — riu ao lembrar de todos correndo pela casa tentando terminar de se arrumar a tempo.
— Falar em atrasos, acho que precisamos entrar. — Kath alertou ao conferir as horas no relógio. Estava apenas observando a conversa dos três sem querer se intrometer.
— Vamos! — Dylan concordou e estendeu o braço para que as duas se apoiassem.
Saíram da calçada e foram em direção ao ginásio, onde aconteceria a colação. Encontraram muitos conhecidos no caminho, alguns que demoravam mais o olhar em e cochichavam. Ela se esforçou para ignorar, pelo menos por algumas horas, aquele desconforto.
— Ei, vocês! — alguém gritou às suas costas e todos viraram, avistando e se aproximando.
— Achei que só ia te ver depois. — comentou sorridente quando se aproximou.
— Saí correndo pra conseguir te ver antes de você se misturar com todos. — ele a deu um selinho e fitou seu corpo dos pés à cabeça sorrindo. — Está linda como sempre.
— Vocês são bem melosos quando querem. — Dylan forçou uma careta de nojo os fazendo rir. Notou que estava mais quieto. — E aí, .
— Bom, agora que vocês estão se divertindo, vou ir procurar um lugar para mim. — Kath interrompeu para avisar as duas e deu um beijo na testa de cada uma.
— Tudo bem, te vemos lá de cima. — respondeu e mordeu o lábio quando a avó se afastou, tendo que voltar a encarar os amigos. Estava um pouco nervosa de encontrar com , tinha medo de ele estar bravo com ela por o ter evitado tantas vezes.
— Oi, vocês. — ele finalmente falou com todos e se aproximou da caçula. Cutucou de forma infantil e sorriu. — Oi, . Podemos conversar rapidinho?
— Ahn, claro! — ela concordou envergonhada e acompanhou ele até um canto menos movimentado do corredor.
— Posso saber por qual motivo você tá toda estranha comigo agora? — ele perguntou de uma vez curioso.
— Er, achei que você estivesse com raiva de mim. — ela deu de ombros e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Naquele momento, verbalizando o que pensava, ela se sentiu extremamente boba.
— Eu? Com raiva de você? Ai, , que vontade de te dar um cascudo só por pensar isso. — ele gargalhou e deu um tapa na própria testa.
— Ah, sei lá, eu meio que… — ela começou a se embolar ao tentar argumentar, mas foi interrompida.
— , escuta. Eu te entendo, tá? Eu sei que você precisava do seu tempo. — ele a segurou pelos ombros e falou olhando nos olhos dela. — Agora, faz o favor de me dar um abraço porque eu tava morto de saudade.
— Eu também, . — ela respondeu contra o peito dele quando foi puxada para o abraço. Sorriu feliz pela primeira vez no dia. Ela amava a amizade do garoto e o ter próximo de volta era bom demais. — Senti falta até das suas piadas ruins.
— São as suas preferidas. — ele gargalhou.
— Ei, vocês dois! Vamos logo! — chamou de longe os fazendo sair do abraço.
— Não podemos nem ter um momento de emoção sem alguém atrapalhar. — fez drama e rolou os olhos, arrancando uma risada de . Os dois se abraçaram de lado e se viraram para ir até os amigos, só então notando que e tinham chegado. firmou seu braço ao redor dos ombros da amiga em apoio e a lançou um olhar de incentivo ao irem até a rodinha.
— Aqui estão os demais formandos! — cumprimentou os dois e sorriu simpático. — Me dá até um orgulho em ver vocês todos nessas becas.
— Deixa de ser emocionado, . — pirraçou para manter o clima leve. Percebia o olhar indiscreto de em cima de e a amiga apenas encarando o corredor ao lado. Mesmo com seu comentário os amigos acabaram caindo no silêncio desconfortável, todos notando a mesma situação que ele. Dylan e tinham adotado uma postura mais rígida e sem sorrisos também.
— Bom, tá na nossa hora. Vamos antes que comecem sem a gente. — Dylan agilizou a todos e foi mais rápido que qualquer brecha que pudesse aparecer. Pegou pela mão e a puxou para saírem dali com pressa, deixando os amigos um pouco para trás. — Mantenha a postura, você é forte.
— Ainda bem que alguém aqui acredita nisso. — ela bufou desanimada e se deixou ser arrastada para o ginásio. A cerimônia logo começaria e sua mente ficaria ocupada.
O ginásio estava tão cheio quanto na temporada de jogos, mas dessa vez quem ocupava a quadra eram os formandos sentados em fileiras e um pequeno palco com os professores e diretor. Já tinha se passado um bom tempo desde o início da cerimônia com direito a entrada dos alunos, discurso do professor padrinho e do diretor. cruzou as pernas e balançou o pé se sentindo entediada e ansiosa, mal tinha prestado atenção no que tinham falado. Estava sentada entre e Dylan com a duas cadeiras de distância. Ela se esforçava a cada segundo para não se permitir virar e o encarar. Sentia que ele a fitava de longe vez ou outra, assim como fez quando se viram a primeira vez antes de entrarem. Ela ainda sentia seu estômago revirar e o peito apertar com a aproximação. Realmente não estava preparada para aquele encontro, mesmo que não tivessem trocado nenhuma palavra. Ao mesmo tempo que queria que ele sumisse dali e levasse junto todo aquele sentimento que a machucava, queria que ele tivesse a coragem de ir falar com ela e finalmente conversarem. Respirou fundo e se forçou a prestar atenção na movimentação em cima do palco antes que surtasse.
Notou Nathalie se dirigindo até o púlpito sob aplausos de todos. acompanhou as palmas e se concentrou na garota iniciando o discurso para os alunos.
— Boa tarde a todos. Bom, como anunciado anteriormente, fui a escolhida para o discurso aos alunos. Confesso que mesmo não me surpreendendo com o convite, fiquei muito nervosa pela responsabilidade. Afinal, é para os donos da festa que devo falar! — ela soltou um risinho nervosa e voltou a falar. Ela falava com calma e segurança sem se sentir envergonhada. — Eu pensei muito em como iniciar esse discurso ou sobre o que falar exatamente. Assisti a muitos filmes para me inspirar e, falar sobre a maravilha de estar vivendo esse momento, parecia sempre a saída mais fácil. Mas eu queria algo diferente. Todos nós já sabemos que essa é uma fase nova, que é incrível e assustador pensar que iremos ter uma experiência diferente nos esperando. Então, eu comecei a pensar em tudo que nos trouxe até aqui e finalmente encontrei a minha fala. — ela respirou fundo e sorriu para os colegas à sua frente. — Nós começamos a nossa trajetória escolar bem novos, sem entender muita coisa e apenas respeitando o que deve ser feito. A gente demora a se acostumar com a nova rotina e com as obrigações. Passamos a conviver com mais pessoas, a escutar mais e a aceitar que estamos aqui para aprender. Desde cedo é difícil essa adaptação e não vai melhorando ou ficando mais fácil com o passar do tempo. As horas dentro de sala, nos corredores e refeitório parecem se multiplicar e muitas vezes nós dividimos mais tempo com as pessoas daqui do que com nossa família. É claro que durante o caminho nós nos deparamos com algumas ajudas. Para muitos, é daqui que saem os melhores amigos e apoios da vida. Em certos momentos nós percebemos também que não estamos aqui para aprender apenas com os professores, mas sim com todos os demais que participam do nosso dia. — Nath fez uma pausa apenas para passar a página de sua impressão e não perdeu a atenção de ninguém por um segundo sequer. O ginásio continuava em completo silêncio e concentração em a ouvir. — O tempo passa e a gente vai evoluindo. Para os familiares, acredito eu, esse nosso crescimento acontece muito rápido. Para nós a história já é diferente. A cada avanço de turma, a cada ano que começa e termina é uma intensidade de sentimentos, de acontecimentos e de lutas. O ambiente que era para ser acolhedor e sinônimo de crescimento muitas vezes se faz desmotivação para nós. São fofocas, brigas, relacionamentos, provas, trabalhos, noites viradas em dedicação aos estudos, notas baixas e cansaço a cada ano. Mas tudo isso para nos trazer até aqui, até esse momento de agora. Hoje, mesmo com toda essa euforia sobre o amanhã, eu convido vocês a pensar um pouquinho no passado. A encarar tudo que vocês viveram durante esse tempo e principalmente durante esse ano. A pensar em todas as vezes em que pareceu mais fácil desistir e mesmo assim você não o fez. Hoje, eu quero te lembrar que nós somos vitoriosos. Sobrevivemos aos nossos melhores e piores dias aqui. Demos o nosso melhor quando conseguimos e usamos nossas últimas forças quando precisamos. Conseguimos passar por todas aquelas provas que pareciam impossíveis e nos livrar dos trabalhos que achávamos ser intermináveis. Conseguimos também sobreviver a todos os boatos, fofocas e situações que nos faziam mal. E tudo isso graças à sua dedicação. Hoje, eu desejo a todos nós que saibamos reconhecer que somos merecedores dessa comemoração e que sintamos orgulho de tudo que fizemos para chegar até aqui. Eu não sei o que vai ser de nós no dia de amanhã ou no futuro próximo, mas eu sei que cada um de nós vai conseguir lidar com o que vier. Eu acredito em nós e sei que não somos nós que devemos estar preparados para nosso futuro, mas sim ele que deve estar preparado para a gente.
Em questão de segundos todos estavam em pé aplaudindo, gritando e assobiando animados o discurso de Nath. tinha os olhos marejados e uma lágrima escorrendo pelo rosto. Encarou a irmã e Dylan ao seu lado e os abraçou animada, também notando que quase chorava. Ela respirou fundo pensando que precisava escutar aquilo depois de tudo pelo que tinha passado. Ela tinha sobrevivido a muitos dias ruins e era uma vitoriosa. Tinha sim muito orgulho da pessoa forte que tinha sido até ali e sabia que estaria preparada para suas novas decisões.
Depois de cada um subir ao palco para pegar o canudo de formatura e tirar muitas fotos, a cerimônia foi encerrada.
— Estou muito orgulhosa de vocês. E os pais de vocês também. — Kath parou no meio das duas e as abraçou sorridente.
— Obrigada, vovó. — depositou um beijo na bochecha da mais velha.
— Devemos isso a vocês. — fez o mesmo do outro lado. Elas começaram a andar até a saída do ambiente. Queriam se afastar logo de toda a bagunça que tinha se formado com familiares e formandos eufóricos.
Elas caminharam para fora da escola junto com . O garoto tinha tirado dezenas de fotos clichês e cafonas com apenas para a pirraçar. Os outros tinham ficado para trás com suas famílias e já tinha ido embora por causa de um compromisso.
— Posso pedir o táxi? — Kath perguntou para as duas sem saber se tinham algum outro compromisso.
— Não precisa, eu levo vocês em casa! — se ofereceu e olhou nervosa para a irmã.
— Na verdade, podemos conversar antes? — pediu a ele depois de receber um olhar de apoio da irmã. Ela mexia nos dedos nervosa e mordeu o lábio quando a encarou curioso.
— Claro. — ele entrelaçou seus dedos e se afastaram devagar para um lugar mais reservado.
ficou observando de longe até que eles sumissem na lateral da escola. Sentia o peito apertar e começava a ficar tão nervosa quanto a irmã, compartilhando do mesmo sentimento que ela como se estivesse em seu lugar. Sabia que aquela não seria uma conversa fácil.
— Ei, achei que tinham ido embora. — se aproximou sorridente e deixou que seus pais seguissem para o carro sem ele.
— Já já. — ela respondeu e viu Dylan se aproximar também. Kath fez sinal que atenderia o celular e se afastou deles.
— Achei que não ia me livrar nunca dos meus tios. — ele riu e se apoiou no ombro da amiga. — Fred mandou um abraço para vocês.
— Mande outro. — ela forçou um sorriso e começou a rodar o canudo nas mãos, vez ou outra olhando para o lado para conferir se a irmã já estava voltando.
— E aí, animada para a festa de amanhã? — perguntou divertido. Na noite seguinte aconteceria o baile de formatura, uma festa de gala exclusiva para os formandos e seus acompanhantes. Os alunos estavam eufóricos por isso.
— Ahn, eu não vou, . — ela prensou os lábios uns nos outros e encarou Dylan, que apenas passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar sem querer se intrometer.
— Deixa disso, , você tem que comemorar também. — ele a cutucou e soltou um riso nasalado.
— , eu só vim pra essa cerimônia por causa dos meus pais e minha vó, que ficariam muito chateados em não me ver de beca e pegando meu diploma. Não estou com clima para as pessoas dessa escola e muito menos para festa. — ela se mexeu desconfortável e suspirou. O amigo se preparava para argumentar e provavelmente ficar alguns bons minutos tentando a convencer quando ela resolveu contar de uma vez. Deu um sorriso de lado triste e o encarou. — E mesmo se eu quisesse ir, não conseguiria. Estou voltando pro Brasil amanhã.
— Que? Você tá brincando, né? — a olhou incrédulo e riu nervoso. Encarou a Dylan também quando apenas mordeu o lábio, o garoto tinha a mesma expressão triste dela. De todos os amigos dali, era o único que sabia dos planos das duas.
— Estou falando sério. — ela suspirou e passou a mão pelos cabelos. — nesse momento tá tendo uma conversa bem complicada com .
— Eu não entendo. — a olhou perdido e franziu a sobrancelha. — Vocês iam ficar aqui. tem o , você tem a gente. Tínhamos até feito alguns planos pro resto do ano.
— Eu sei, mas isso foi antes de tudo. — ela mordeu o lábio sentindo um bolo se formar em sua garganta. Ela e a irmã realmente tinham conversado com os pais para completarem o ano lá antes de terem que tomar qualquer decisão sobre seus futuros. Engoliu em seco e não se permitiu chorar ali. — De qualquer forma, nós precisaríamos voltar em algum momento. Só antecipamos.
— Você ia me contar? — perguntou chateado.
— Claro que sim! Só não parecia nunca ter um momento ideal pra isso. Eu não sairia daqui sem me despedir de você, bobo. — ela sorriu e o puxou para um abraço apertado. Tinha pensado a semana inteira em como falaria com ele, se sentia aliviada em finalmente contar e ao mesmo tempo o sentimento de despedida já a machucava.
— Vou sentir tanta saudade, . — ele falou contra seu cabelo, depositando um beijo em sua testa em seguida.
— Por favor, não vamos fazer uma cena de despedida aqui. Odeio chorar em público. — Dylan fingiu secar lágrimas e arrancou uma risada dos dois. — Deixe isso para amanhã no aeroporto.
— Dy está certo. Ainda podemos nos divertir hoje à noite. — retomou a postura e sorriu para a amiga.
— Eu vou me divertir muito tendo uma ajuda para terminar de fechar as caixas e malas. — ela riu sapeca.
— Muito abusada você. — Dylan a empurrou de leve com o ombro e riu junto quando ela gargalhou.
— Sem querer quebrar o clima, mas acho que você já vai, . — ficou sério e indicou e se aproximando.
Antes mesmo dos dois chegarem na roda, já tinha notado os olhos vermelhos dos dois. A expressão deles também não era das melhores, mas continuavam com as mãos entrelaçadas. Os amigos não conseguiram disfarçar e ficaram os encarando em silêncio, esperando que falassem alguma coisa.
— Er, eu e vamos sair. — anunciou envergonhada. Encarou a irmã e mordeu o lábio. — De noite te ajudo na organização, tudo bem?
— Sem problemas, pode ir sem preocupação. — abraçou a irmã de lado e deu um leve aperto em seu ombro. Sabia que essa mudança e todos os próximos acontecimentos estavam machucando e . O que pudesse fazer para amenizar isso e os ajudar, ela faria. — e Dylan também vão lá para casa mais tarde. Podemos fazer uma noite de pizza e arrumação.
— Certo. — ela concordou com um sorriso, mas sem conseguir disfarçar que não estava realmente feliz. Encarou numa troca de pensamento rápida e tirou a beca, deixando à mostra a calça jeans e blusa que usava. Entregou a roupa e acessórios para a irmã. — Leva isso também por favor.
apenas concordou e pegou tudo. O casal deu um tchau desanimado e se afastou, seguindo para o carro de . Kath se aproximou do trio que tinha caído num silêncio estranho e pegou as coisas da mão da neta.
— Vamos para casa? — Katherine sequer questionou sobre a saída de , sabia que ela precisava daquilo e que sabia se cuidar. concordou. — Vou pedir o táxi.
— Ahn, não precisa. — pareceu acordar do pequeno transe em que estava desde que vira abatido. Passou a mão pelo cabelo e tirou um molho de chaves do bolso por baixo da beca. — Estou de carro, levo vocês lá.
— Não vai te atrapalhar? — mordeu a boca sem jeito.
— Nah! Estou sem planos e sem pressa para mais uma rodada de fotos com minha mãe em casa. Vamos. — ele riu fraco.
— Bom, nesse caso, encontro vocês mais tarde. Ainda tenho que fazer sala lá em casa para todos os meus tios e fingir que estou adorando a festinha que minha mãe preparou. — Dylan deu um beijo da bochecha de e Kath, e fez um toque esquisito com . — Tchau, até de noite!
— Tchau, Dy. — a garota acenou e deu a mão para a vó, caminhando junto com para o carro.
— Essa foi a última. — anunciou quando colocou a caixa no chão da sala.
— Até que, pra quem veio passar só um ano, vocês trouxeram bastante coisa. — ele falou exagerando na encenação de cansaço apenas para arrancar risadas de todos.
A casa das gêmeas estava uma bagunça só. Dylan e estavam sentados nas poltronas da sala, e continuavam abraçados no sofá desde que ele tinha terminado de descer suas coisas e Kath já tinha se recolhido para dormir. e se juntaram aos amigos na sala e sentaram juntos no chão. Os garotos tinham ido até lá para aproveitarem um tempo juntos, mas acabaram tendo que ajudar a arrumar as coisas da mudança das duas. Já passavam das dez da noite e as caixas de pizza estavam reviradas com os restos na mesinha de centro.
— Eu ainda não acredito que vocês vão embora. — falou desanimado. tinha o dado a notícia quando ele chegara na casa do amigo para matar o tempo, resolvendo ir com ele para a casa das duas de noite.
— Eu nunca vou perdoar o por isso. — falou bravo e passou a mão livre pelo rosto. se encolheu no abraço dele e encarou a irmã.
— Se tiver que culpar alguém, melhor que seja eu. — soltou um riso nasalado e riu irônica. Não queria sair em defesa de , nem achava que ele merecia, mas não podia deixar de pensar na situação como um todo. Notou os olhares questionadores dos amigos em si e falou o que passava em sua cabeça desde que tinham tomado aquela decisão. — Eu que causei a situação e tudo isso. São só consequências.
— , nem começa. — rolou os olhos brava. — Já disse que você não tem culpa de nada. Nós iremos embora porque precisamos.
— Precisar é uma palavra meio forte, . — cruzou as pernas e ficou brincando com os fios do tapete com o olhar baixo. — Se não tivesse agido como babaca, aposto que vocês teriam reconsiderado continuar aqui. mordeu o lábio nervosa sentindo o corpo ficar desconfortável com a conversa. Esticou as pernas e apoiou os braços atrás do corpo, encarando o teto e apenas escutando a conversa.
— Não é bem assim. Elas têm família lá e nenhum outro plano concreto aqui. Grande parte da vida delas está lá, uma hora ou outra teriam que voltar. — Dylan entrou em defesa. Tinha acompanhado o sofrimento das duas em tomar aquela decisão e tinha também questionado muito feito os demais, mas em um momento entendeu que as coisas aconteceriam como tinha que ser e que ninguém precisava sair como culpado.
— Só não precisava ser tão rápido. — estalou a boca e apoiou o rosto na mão. A sala caiu em silêncio e cada um se perdeu nos próprios pensamentos por um tempo.
— Essa reunião virou um enterro. — bufou baixo fazendo os amigos rirem fraco do comentário.
— É, também acho. Considerando o pouco tempo que temos, devíamos estar tentando nos divertir. Vamos deixar as lamentações para o aeroporto. — Dylan se levantou e foi até a entrada para pegar a mochila que tinha deixado lá. Os amigos ficaram o observando.
— Que tipo de mágica você vai fazer para animar a gente? — perguntou meio a contragosto. Não achava que tinha motivos nenhum para celebrar ou ficar de festinha, mas o faria pelas amigas.
— Eu não consigo fazer mágica, mas trouxe algo que consegue. — ele gargalhou e puxou uma garrafa de tequila de dentro da mochila, fazendo os amigos rirem.
— Agora a conversa vai ficar interessante. — riu e esfregou uma mão na outra rapidamente.
— Vou pegar os copos. — levantou do chão em um pulo, se deixando levar pela animação de Dylan. Mais do que por si, ela queria que ficassem animados pelos amigos. Não queria ver ninguém sofrendo. Correu até a cozinha e escutou o barulho na sala aumentar em sinal de que estavam se movimentando. Catou os copos de shot que achou e segurou da maneira mais desengonçada que conseguia para os levar até a sala. — Opa, vocês são rápidos. — Riu ao notar que já estavam todos em roda no chão com a mesa de centro no meio deles.
— Senta logo. — pediu e ela voltou a sentar ao seu lado enquanto ele colocava uma música para colocar no celular. Boys Don't Cry começou a sair do alto-falante do aparelho e eles riram. — Trilha sonora perfeita.
— Vamos começar com uma rodada para esquentar todo mundo. — Dylan anunciou enquanto colocava uma dose generosa para cada um.
— Vou propor um brinde. — falou sorridente. Ele ergueu sua dose e fez sinal para que todos o imitassem. — Um brinde a todos os momentos bons que passamos juntos, à presença das meninas na nossa vida e à nossa amizade, que ela prevaleça mesmo com os caminhos diferentes.
— Saúde! — eles brindaram entre risos.
— Já que estamos em espírito de agradecimento, por que não relembramos os nossos momentos preferidos do ano? De preferência os que estávamos com as meninas. — sugeriu animado.
— Ah, gente, acho que não é pra tanto. — falou envergonhada.
— É pra tanto sim! Melhor que ficarmos lamentando. — Dylan ignorou as reclamações das duas e incentivou os outros. Indicou e começou a encher a dose dela novamente. — Você começa, depois vai pela ordem.
— Tudo bem. — ela sorriu momentaneamente animada e cruzou as pernas. — Meu momento preferido com vocês não foi bem com vocês. Foi na primeira festa que fui, se não me engano, e que tive coragem pra chegar no e a gente ficar.
— Aaah, eu me lembro bem! Todo mundo levou um susto. — gargalhou apontando para os dois.
— Eu já esperava. — deu de ombros divertida.
— Tudo bem, gostei dessa. Agora beba sua dose e deixe o . — Dylan prosseguiu com a brincadeira enquanto a amiga virava a bebida.
— Não sei se quero fazer isso. — finalmente o garoto voltou a falar e sem tirar a expressão de tristeza no rosto.
— Amor, por favor. — o encarou com um olhar pidão e deu um leve aperto na coxa do namorado.
— É, . Se esforça nem que seja pela . — também pediu de forma amigável. os encarou e respirou fundo antes de se permitir amenizar a expressão e sorrir fraco.
— Tudo bem. — ele passou a mão pelos cabelos e riu quando Dy bateu palmas e serviu mais uma dose para ele. Olhou envergonhado para antes de voltar a falar. — Meu dia preferido não teve lá tanta coisa especial para vocês, mas para mim foi incrível. A gente combinou de ir pro Ezra, mas acabamos desistindo e ficando lá no quintal de casa. Alguém pegou o violão e começou a tocar uma música e em pouco tempo tava todo mundo cantando. Eu parei um pouco e fiquei só observando tudo. Tava todo mundo feliz, rindo, cantando, algumas bebidas e lanches espalhados, a noite estrelada e a mulher da minha vida do meu lado. Eu não precisei de mais nada pra ser feliz. — ele terminou de falar e a sala caiu em um silêncio nostálgico. Deu uma risada fraca e virou sua dose.
— Tá bem, isso foi extremamente fofo. — cortou o silêncio e fingiu secar uma lágrima.
— O jogou baixo. Qualquer coisa que eu falar vai ser tosca depois disso. — fez piada.
— Mesmo se o tivesse ficado calado, você continuaria falando algo tosco. — pirraçou o amigo.
Eles riram fraco e voltaram ao jogo. sorriu nostálgica e parou para encarar cada um enquanto voltava a falar. Notou Dylan e rindo do que ele contava e teve vontade de rir junto pela risada contagiante. Passou o olhar devagar pela roda e notou que e estavam abraçados conversando aos sussurros sem prestar tanta atenção a eles. Era notável o carinho que tinham um pelo outro e o quanto estavam se curtindo naquele momento. chegou a sentir um aperto no peito ao pensar em como aquela partida faria mal a eles. Mordeu o lábio ansiosa e fingiu que estava prestando atenção quando a cutucou e fez uma piada. Soltou um riso fraco forçado e sentiu um incômodo no estômago. Estava sim muito feliz e agradecida por tudo que tinha vivido ali e pelas pessoas que a rodeava, mas não podia deixar de sentir a falta daquele que mais se fez presente no seu ano. Suspirou cansada e passou a mão pelo cabelo sem querer demonstrar o desconforto para os outros.
— , é sua vez! — , que já tinha voltado a prestar atenção ao jogo com , a encarou atenta.
— Tudo bem, estava pensando no meu momento. Obrigada, Dy! — ela disfarçou e riu fraco quando Dylan colocou uma dose cheia à sua frente. Respirou fundo e relembrou a cena. — Meu momento preferido do ano foi na virada do ano. Tudo estava dando errado, estávamos estressados e ninguém queria continuar. Mas, em um momento, a gente só parou de ligar e tomou banho de chuva. Eu me lembro de me sentir de alma lavada e ao mesmo tempo uma criança brincando com vocês sem me preocupar com nada. Foi um dos dias em que mais me senti feliz ao lado de vocês. — ela sorriu envergonhada sem olhar para os amigos.
— Estou começando a ficar emotivo demais. Vire essa cachaça logo! — Dylan fez os amigos rirem e a caçula tomou a bebida fazendo careta.
O sentimento de nostalgia tomou conta de e ela sorriu curto. Tinham sido muitos momentos de altos e baixos, mas os bons com certeza prevaleciam quando se lembrava da felicidade de cada um. Tinha sorte de ter vivido cada um daqueles momentos e de ainda ter com quem contar. Respirou fundo e se preparou para mais uma crise de risos que viria quando viu Dylan iniciar seu discurso. Era bom demais que as lágrimas que caíssem naquele momento não fossem mais de tristeza depois de tanto tempo.
— É o nosso. — confirmou quando o anúncio ecoou pelo aeroporto. Os amigos reclamaram.
— Ainda não estou pronto para isso. — falou choroso e abriu os braços para .
respirou fundo e sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto antes mesmo de abraçar o amigo. Tinha mentalizado a noite inteira que não iria chorar e que se manteria forte para fazer daquele momento algo mais fácil. Ela, e Kath tinham passado a madrugada em claro aproveitando o tempo juntas, fazendo promessas e se preparando para a despedida. Mas como se manter forte com sua irmã soluçando nos braços de , seus amigos com os olhos vermelhos e sua vó chorando baixinho ao seu lado? Não dava para aguentar.
— Droga, . Não sei se vou aguentar. — respirou fundo contra seu pescoço. — Por favor não esqueça que você é muito especial pra gente. Não suma das nossas vidas ou eu vou ter que ir atrás de você pelos cabelos lá no Brasil. Você vai sempre ser minha melhor amiga. — ameaçou e riu fraco mesmo com umas lágrimas escapando dos olhos. Deu um beijo na testa da amiga.
— Pode deixar! Você também vai ser sempre meu melhor amigo, mesmo quando o McFly ficar super famoso e você virar um astro. — ela falou entre soluços, vendo ele sorrir. Se lembrou do favor que o tinha pedido. — Por favor, não esqueça daquele pedido. É importante.
— Não vou, prometo! — ele suspirou e deu espaço para que se aproximasse.
— Sabia que até chorando você fica bonita? — ele brincou e riu sem conseguir falar nada antes de o abraçar. — Vocês são incríveis. A gente vai sofrer um bocado sem vocês aqui, mas eu torço pelo melhor na vida de vocês.
— Obrigada, . Também vou sofrer muito sem vocês pra me fazerem rir de cada coisa. — ela sorriu nostálgica e viu se afastar de e vir até ela com o rosto molhado. Mordeu o lábio e olhou com pesar pro garoto. Se aproximou dele e o abraçou. — Sinto muito por isso.
— Vamos ficar bem uma hora. Por favor cuida bem dela e não deixa ela sofrer por muito tempo. — ele pediu baixo durante o abraço. confirmou com um aceno. — Obrigada por tudo também, . Espero que você também encontre seu caminho e seja recompensada por todas as barras que enfrentou.
— Obrigada, . Não tenho outro para comparar, mas posso afirmar que você foi o melhor cunhado que poderia ter. — ela confessou e o viu rir fraco.
— Já chegou minha vez? — Dylan fez drama e puxou as duas para um abraço juntos. — Eu sinceramente não sei o que vai ser de mim sem vocês. Quem vai ficar fofocando comigo, me fazendo companhia em casa quando eu estiver no tédio ou até sair pra tomar sorvete nos momentos difíceis?
— Dy, a gente também não vai acostumar nunca mais a não ter ver você quase todos os dias. — apertou mais o abraço e soluçou.
— Mas a gente promete manter contato e fazer várias chamadas de vídeo pra acompanhar cada acontecimento da sua vida. Sem contar que vou continuar precisando dos seus conselhos. — também apertou o abraço e chorou no ombro do amigo.
— Eu achei que isso seria mais fácil. — ele falou quando saíram do abraço, também tinha o rosto tomado por lágrimas. Sorriu apertando a mão das duas. — Amo vocês. Prometo visitar vocês em breve se vocês demorarem pra voltar.
— Vai ser um prazer te receber lá. — sorriu.
Dylan sorriu triste e deu espaço para que Katherine se despedisse das duas. Elas engataram um abraço apertado com lágrimas e palavras de amor. Os amigos, logo atrás, tentavam controlar o choro com a cena. O aeroporto consideravelmente vazio parecia diminuí-los ainda mais diante do peso daquela despedida.
— Obrigada pela companhia, minhas meninas. Estarei esperando vocês de volta, os quartos ficarão do mesmo jeito. — Kath depositou um beijo na testa de cada um. — Dê um abraço nos seus pais e no meu netinho.
— Pode deixar, vovó. Obrigada por tudo! — agradeceu aos soluços.
— Você é a melhor. A gente te ama! — deu mais um abraço na mais velha e se afastou.
puxou a mochila do chão e jogou no ombro, esticando a mão para a irmã. As duas se afastaram com as mãos dadas e deram tchau para eles. Com a vista embaçada de lágrimas e sorrisos tristes no rosto, viram os amigos acenarem e mandarem beijos do mesmo lugar também na mesma situação. Finalmente se viraram e caminharam até o portão de embarque. sentiu o coração apertar quando, antes de entregar a passagem, viu seus amigos e avó irem embora. Se sentiu boba por acreditar por um último segundo que as coisas mudariam e ela veria ele chegando e parando perto dos amigos em busca de uma conversa ou despedida. Ela respirou fundo e entrou no avião com a irmã, controlando esse sentimento antes que piorasse.
Mesmo quando já estava acomodada na cadeira do avião, não conseguiu parar de chorar. Era difícil pensar que quase um ano atrás estava chegando naquele mesmo lugar com o peito carregado de esperança e medo do que iria viver ao lado da irmã na Califórnia. Sem realmente saber que não só iria viver alguns dos melhores momentos da sua vida, como iria conhecer pessoas incríveis com quem contaria pro que precisasse.
Sabia que precisava voltar para o Brasil, mas sentia como se estivesse deixando sua casa para trás. Quando tomou a decisão definitiva dessa mudança, pensou apenas em deixar para trás toda a insegurança, tristeza e lembranças de dias difíceis que passara ali, mas de brinde teria que aprender a lidar com a falta de tudo que a fazia bem, principalmente daqueles que tinham se tornado sua segunda família. Respirou fundo e olhou para a irmã que soluçava com a cabeça baixa.
Seu peito apertou e seu estômago se contorceu com a cena. era sempre a mais forte das duas e raramente chorava, era difícil a ver naquela situação. Para , era um amor que não dera certo que ficava para trás, para , era seu primeiro amor que dera certo e que agora ela tinha que abrir mão. Sim, abrir mão. tinha plena consciência de que não conseguiria manter um relacionamento a distância e sabia que seria egoísmo tentar o fazê-lo. Não sabiam se ou quando voltariam para Califórnia e não poderia prender o garoto até que resolvesse o que fariam da vida. Por isso, tinham decidido terminar o namoro mesmo que aquilo os machucassem profundamente.
respirou fundo e apertou a mão da irmã quando o avião começou a andar pela pista de decolagem.
— Nós vamos ficar bem. — ela falou baixo para que apenas ela escutasse.
— Sim, nós duas juntas sempre. — confirmou e sorriu fraco também apertando a mão dela.
Entre lágrimas, soluços silenciosos, conforto e saudade, as gêmeas partiram de São Francisco com destino a uma nova fase e na busca de um novo começo em suas vidas.
— Já vai! — falou bravo com o toque insistente da campainha em sua casa. Quem quer que fosse, merecia um soco pela falta de noção em plena dez horas da manhã. Correu até a porta vestindo apenas a calça do pijama e abriu a porta e se assustou com a presença. — ?
— Não fique tão animado. Ainda não quero conversar com você. Só vim entregar isso. — respondeu mal-humorado de uma vez e esticou um envelope.
o encarou em silêncio e engoliu em seco. Não tinha uma conversa decente com o amigo desde a viagem de formatura. Os dois tinham tido uma discussão chata por causa do acontecimento e desde então só falavam o necessário um com o outro. entendia que estava chateado com o rumo que as coisas tinham tomado, mas também não via como mudar a situação. Só esperava que com o tempo eles pudessem voltar ao normal. Por isso, se sentiu momentaneamente esperançoso quando o viu parado em sua porta, como fazia nos dias em que estavam de férias e o garoto ia até lá para jogarem vídeo game ou conversar sobre qualquer coisa. Claro que com a primeira fala de o balde de água fria o atingira e ele soube que ainda estavam na mesma estaca.
— O que é isso? — encarou curioso o papel sem o pegar.
— Apenas pegue, . — pediu cansado e esticou novamente a mão. Só então encarou o dono da casa e ele pôde ver que estava com os olhos vermelhos.
— Você estava chorando? De onde você tá vindo? — fez menção de continuar o interrogatório.
— Você sabe de onde estou vindo. Já sei que te contou. — ele suspirou. — , estou aqui não por você ou por mim. Então apenas facilite a nossa vida e pega a droga dessa carta. — o outro insistiu sem conseguir disfarçar o desconforto em estar fazendo aquilo. engoliu em seco e pegou o papel. — Obrigado.
acenou devagar e foi embora, deixando na porta encarando a rua, segurando o envelope que parecia pesar em sua mão. É claro que ele sabia que o amigo estava vindo do aeroporto, mal conseguiu dormir pensando naquilo. Ele respirou fundo e entrou em casa, se jogando no sofá e abrindo o envelope. Puxou um papel preenchido de dentro e respirou fundo ao reconhecer a letra. Leu a carta com lágrimas nos olhos e com a certeza no peito de que as coisas tinham finalmente recebido um ponto final.
Sabe, eu demorei muito para dar o braço a torcer e aceitar que tinha me apaixonado por você. Aguentei muitas situações difíceis até finalmente acontecer algo. Com o tempo passando, eu fui entregando cada vez mais meu coração a você. Até que chegamos onde estamos.
Nossos amigos dizem que não, mas hoje eu vejo que sim, eu errei. Talvez uma conversa direta e sincera teria resolvido muita coisa. De qualquer forma, me desculpe por insistir quando você já não queria mais. Espero superar esse meu erro e conviver com ele sem me machucar mais. Porque assumo que errei, mas você também errou. De certa forma, aquilo que você tanto dizia valorizar (nossa amizade) foi a primeira coisa que deixou de lado antes de fazer o que fez.
Enfim, pensando em tudo que passamos e vivemos juntos, deixo aqui minha despedida. Desejo muita sorte em sua vida e, quem sabe, até um dia!
P.s: Escrevi alguns versos dias atrás, talvez com o seu talento isso se torne mais uma música boa um dia. Me sentiria melhor em saber que todos os dias difíceis valeram a pena por algo.
Eu não posso mudar nada, também não sei muitas coisas
Mas sei que você me magoou
E magoou as pessoas que também se importam com você
Mas essa é a última vez
Eu desisto desse sentimento
Isso é um adeus”