Última atualização: História Finalizada

Capítulo 01

null estava jogada no sofá da sala - cansada, obviamente por passar horas em frente ao computador e acordar cedo para ir à escola.
- "Não é uma história de amor, não é uma história de contos de fadas, não é uma perfeita história, mas é a minha história!" – leu em voz alta.
Nada atraente para um livro – null pensou. Mas de tanto sua amiga insistir resolveu ler.
Folheava página por página, na espera de encontrar algo que realmente lhe interessasse. Até que ouviu seu celular tocar e correu para atender.
- null?!
Depois de ficar um bom tempo conversando com a amiga, null decidiu voltar para o livro. Leu a capa, contracapa, orelhas, e nada. Nada parecia chamar sua atenção, mais por algum motivo não queria o largar.
Pensou em um número. Noventa e sete. Foi até a página, e leu a seguinte frase:
- "Percebi que estava gostando de você, a partir do momento que olhei para outra garota, e não vi graça alguma".
Tirou sua conclusão. Aquilo era clichê. Logo percebeu sobre o que o livro se tratava. Amor. Então, tentou fazer uma breve relação entre o que parecia ser o assunto principal da história e o título. "Valeu, irmão".
Não era muito ligada nessa coisa de amor, era nova, tinha dezesseis anos e nunca se sentiu realmente apaixonada. Já teve dois namorados, mas realmente nunca gostou deles de verdade.
Até agora não entendia o motivo de null ter indicado esse livro. Sobre amor. Ela não é tão melosa assim, a ponto de ler, gostar e ainda indicar esse tipo de história. Mas ultimamente, null percebeu algo diferente, em sua amiga. Arrisco um palpite – pensou. – null deve estar apaixonada. Só preciso descobrir por quem e se realmente estou certa. Percebeu que alguém estava chegando, era seu irmão mais velho, null.
- Oi, oi, oi – disse empolgado.
- Oi, maninho – null respondeu sem dar muita atenção.
- Sabe que horas o pai chega?
null sacudiu os ombros.
- Nossa! Nem fala mais comigo direito. Tenho uma ótima notícia para você mas, acho que vou deixar para contar mais tarde – null continuou.
null começou a pensar, qual notícia seria? Será alguma surpresa dos pais? Uma viagem? Ou será que null dissera apenas para receber mais atenção? Conhecia o irmão, se fosse algo realmente importante, ele já teria dito. Apesar de brigarem muito, os dois eram amigos, tinham uma diferença de idade pouca. Apenas um ano e alguns meses. Por isso, eles tinham uma boa relação.
- O que foi, null? – perguntou sem parecer muito animada com a tal noticia.
- Arrumei um namorado para você! – ele disse gargalhando.
- Como é que é? – null perguntou num tom de surpresa e indignada, ao mesmo tempo.
- É isso mesmo que você ouviu, Barbie – como o irmão costumava chama lá. – Agora, você tem um namorado.
null começou a rir e depois disse:
- Você só pode estar de brincadeira comigo.
- Muito pelo contrário, estou falando sério.
Ela tirou o sorriso do rosto e perguntou curiosa:
- Como assim? Não estou entendendo nada.
- Simples. Preciso que você namore o null por um mês, ou... – antes que pudesse terminar a frase, foi interrompido.
- Namorar o null? O seu amigo? null null? Por quê?
- É simples, sis. Basta você aceitar, ou... – foi interrompido novamente.
- Ou? Ou o que? Vai me chantagear agora? Me ameaçar? E como assim, precisa que eu namore o null?
- Ou eu vou contar para os nossos pais, que na semana passada, você disse que iria dormir na casa da null e na verdade, foi para uma festa e precisou voltar para a casa dela carregada, com a ajuda dos nossos amigos, porque bebeu demais até cair.
- Sabia! Eu sabia, que algum dia você ia me chantagear e jogar isso na minha cara. Experimente fazer isso, null e eu conto para os nossos pais, alguma coisa que você aprontou. Você sempre apronta, não será difícil eu me lembrar de alguma coisa.
- Tenta a sorte, Barbie. Eu posso até aprontar muito, por isso o pai e a mãe, nem vão se importar se você contar algo sobre mim. Eles irão se preocupar mais, em dar um castigo para você, porque sempre foi a menina certinha.
- Tá bom. Eu não digo nada, nem você. Agora me diga o motivo, para que precise que eu seja namorada do null.
- Você é a garota mais popular do colégio, é chefe das cheerleaders...
- Capitã! – ela interrompeu novamente, adorava fazer isso.
- Tanto faz – ele disse e prosseguiu. – Todos os caras da escola querem sair com você, e agora que entramos para o time de futebol da escola, precisamos de alguém a nossa altura, você me entendeu, não é?
- Ah, é por isso? Seu amigo está encalhado e precisa que eu finja ser a namorada dele, por status na escola? Por um mês? Só porque agora ele faz parte do time do colégio? Que coisa mais ridícula é essa? O melhor jogador do time, que arranca suspiros de todas as garotas do colégio, namora com a capitã das cheerleaders, a garota mais gata e popular... Isso aqui virou algum filme daqueles com a história bem brega? Ah e mais uma coisa, você também está solteiro. Porque em vez de ficar me empurrando para o seu amigo, você não arruma uma namorada?
- Vejo que se empolgou, Barbie. Está até questionando o prazo da brincadeira. Eu já tenho uma namorada, estou saindo com a Danielle. E eu sou o melhor do time, tá?
- Com a Danielle? Danielle Campos? É essa que você chama de “alguém a sua altura”? Boa sorte pra não ficar com fama de corno. Essa garota já pegou a escola toda. Mas voltando ao assunto, não foi isso que eu quis dizer. Estou apenas falando que se o null acha que passar um mês “namorando” – null fez aspas com os dedos. – Comigo vai torna-lo popular, ele está enganado. E porque um mês? Você ainda não me disse. Eu acho que seria necessário mais que isso para convencer as pessoas. Se vamos fingir, vamos fingir direito, então.
- Um mês porque, daqui um mês acaba o semestre, e quando acaba o semestre...
- ... A escola faz um baile – null continuou a frase. – Agora entendi. Mas o plano do seu amiguinho é esse? Ele me usa um mês, até o dia do baile e depois ele me dá um pé na bunda?
- O trato é esse, você finge ser namorada dele por um mês e eu não conto nada para os nossos pais. Mas se quiser continuar com ele depois disso Barbie, é você quem sabe. Aceita o trato? – null disse com um sorriso malicioso.
- Bom, e eu tenho escolha? – perguntou com um tom de ironia.
- Não muita – o irmão gargalhou. – Divirta-se com o null, ele é seu por um mês – disse subindo as escadas.
- Vá se f... – antes de terminar a frase, null viu que sua mãe se aproximava e então resolveu não continuar.
- Oi filha, como foi seu dia hoje?
- Normal, mãe – disse pegando o livro, subindo as escadas e indo em direção ao seu quarto.
- Espera filha, eu já vou servir o jantar.
- Depois eu desço e como um pouco, estou sem fome.
Assim que null chegou até o quarto pegou o celular e ligou para null, precisava contar tudo para a amiga.
- null, aconteceu uma coisa muito chata.
- null? Tá tudo bem? O que aconteceu?
- Ah, é o null. Ele está me chantageando, e me disse que se eu não fingir ser namorada do amigo dele, vai contar toda aquela história da festa para os nossos pais.
- Como assim?null perguntou surpresa. – Qual amigo?
- O null, amiga. O null null. Dá pra acreditar?
- Ah null, até que ele é gatinhonull começou a rir. – Você aguenta um mês ao lado dele fácil, fácil. O único problema é a fama de bad boy, pegador, mas isso você supera.
- Não tem graça nenhuma! – falou com raiva. – Você só diz isso porque não é você que precisa fingir ser namorada dele.
- Olha pelo lado bom, seu irmão podia ter pedido para você namorar o João.
- Ele é um nerd, amiga.
- Mas mesmo assim, ele é amigo do seu irmão também. Ou era?
- O null não conversa com ele faz uns dois anos, null. Desde aquela briga por causa do jogo.
null riu e depois disse:
- É verdade. Agora eu me lembro.
- Ah, mas te liguei também por outro motivo. Qual o lance de você ter me indicado aquele livro?
- Lance? Não tem lance nenhum – ela disse segurando o riso.
- Nem vem, nem adianta tentar me enganar. Eu te conheço, você não gosta desse tipo de livro, só de eu ler uma única frase e imaginar você... – antes de terminar, foi interrompida.
- Está bem, está bem. O lance é o seguinte, uma prima minha me emprestou, eu li, e gostei. Foi só isso.
- É mesmo? – perguntou desconfiada – Eu percebi. Você está diferente esses dias.
- Eu? Diferente? Diferente como?
- Você me entendeu, null. Mas se não quiser falar, eu descubro.
- Boa sorte! – ela riu. – Não tem nada para descobrir.
- Então tá! O que acha de irmos ao shopping amanha depois da aula?
- Ótima ideia. Não se esqueça de falar com a null, ok? Beijos.
- Vou ligar pra ela agora. Beijos.
null desligou o telefone e discou o número de null.
- Alô, amiga?
- Oi null, tudo bem?
- Ah, tudo sim e com você? – perguntou desanimada.
- Tudo bem mesmo? Eu to legal.
- É uma longa história, amanhã te conto tudo. Marquei com a null de irmos ao shopping depois da aula, vamos?
null riu e depois falou:
- Você ainda pergunta, amiga? É claro que vamos!
- Ok, então até amanhã! Beijos.
- Até. Beijos.
null desligou o telefone e deitou em sua cama. Começou a pensar no que null dissera. Era apenas um mês, apenas quatro semanas fingindo namorar o null. Ela tinha razão, podia ser algo pior. Não seria assim tão ruim, é claro que ficar com ele, podia manchar um pouco da sua imagem, afinal ele é o bad boy pegador, e agora que entrou no time da escola, também seria metido. Mas nesse momento, o que mais importava eram seus pais não saberem de nada sobre a festa.
Levantou-se e começou a arrumar o quarto, estava uma bagunça. Juntou alguns papeis que estavam em cima da mesa onde ficava o notebook. Eram folhas de exercícios antigos da escola que tinha guardado há uns dois anos, caso precisasse relembrar alguma matéria. Pegou uma caixa que estava em cima do guarda roupa, onde guardava esses papeis, e começou a tirar tudo o que tinha lá dentro. Exercícios, provas, até um livro de inglês achou naquela caixa. Pegou uma pasta que estava lá dentro. Estava escrito na capa: “Relatório de biologia”. Então se lembrou de uma única vez que realmente tinha se aproximado de null. Quando fizeram um trabalho de biologia juntos. Mesmo ele sempre vindo em casa com o null e os outros amigos, nunca trocaram uma palavra, com exceção de um "oi" ou um "bom dia".
Quando se deu conta da bagunça maior ainda que tinha feito, guardou tudo. Colocou as coisas em seu lugar e juntou algumas roupas que estavam jogadas no chão. Tomou um banho rápido, desceu até a cozinha e comeu um pouco. Depois de algum tempo vendo tv na sala, subiu para o quarto e finalmente dormiu.
- Filha, acorda! – disse a mãe de null, entrando no quarto.
- Mãe? Já tá na hora de levantar? – perguntou sonolenta. – O despertador nem tocou.
- Parece que a bateria acabou. Levanta, se arruma e desce para tomar café.
null tomou banho, vestiu o uniforme e prendeu o cabelo com um coque. Pegou alguns materiais, colocou na mochila e desceu.
- Bom dia, Barbie – disse null sorrindo.
- Não fala comigo! – respondeu com raiva.
- Que mau humor.
- Me erra null. Mãe cadê o papai?
- Ele precisou viajar ás pressas ontem, parece que ocorreu um problema com uma empresa de outra cidade. Você dormiu cedo, ele achou melhor não te acordar – disse a Sra. null.
- Ontem eu estava muito cansada. Ah, depois da aula vou ao shopping com as meninas, tá? Eu aproveito e almoço por lá.
- Tudo bem, só não vá chegar tarde. Agora vão, vocês já estão atrasados!



Capítulo 02

null's POV


Eu já estava saindo, mas null me puxou pelo braço e disse:
- Ei Barbie, começa hoje. Divirta-se.
- Só quero deixar uma coisa bem clara, null. Essa palhaçada só dura durante as aulas e na escola, ok? Fora de lá, eu não namoro ninguém!
- Eu sei, mas tenho certeza que você não vai querer dar uma de vadia, e sair pegando todos os caras no shopping.
- Não foi isso que eu disse, só estou avisando que, não tem encontros, não tem saídas, nem nada disso. Essa brincadeira – de mau gosto, sussurrei. – Fica apenas na escola. Agora eu preciso ir, sou responsável e não quero chegar atrasada na aula.
- Tudo bem, até mais, Barbie.
Cheguei à escola e fui procurar as minhas amigas. Fui até a quadra. Sabia que encontraria null e null por lá, assistindo o treino dos garotos, antes das aulas começarem.
- Meninas! – gritei.
- Oi null, vem aqui – disse null.
- Tá tudo bem, null? – perguntou null. – Você tá com uma carinha triste.
- Ah, triste não amiga, mas com raiva. É sobre aquilo de ontem.
- Ei, eu ainda estou aqui – null disse emburrada. – Podem me contar, sobre o que estão falando?
- É o seguinte null, o null disse que se eu não fingir ser namorada do null, ele vai contar tudo o que aconteceu naquela festa, para os nossos pais.
- Namorar o null? null null? Como assim amiga? Logo ele? Nossa seu irmão só te coloca em roubada – null disse surpresa, com um pouco de raiva, bem no fundo. Eu percebi, mas resolvi não comentar sobre isso.
- Nossa amiga, tá bem? – perguntei, mas sabia o que ela iria responder.
- Estou ótima. Mas que droga, hein... – null começou a rir. – Ah amiga, mas se pensar bem, nem é tão ruim assim. O null é um gato. É só a má fama dele, que atrapalha.
- Vocês combinaram isso? A null me disse a mesma coisa ontem.
Nós três começamos a rir.
O sinal tocou e fomos para a sala. A primeira aula do dia era Artes.
Ainda bem que é uma aula mais tranquila, e o professor nem é tão chato. Mas seria melhor ainda, eu não ter que olhar para o null agora. Logo no começo da manhã. Ao menos, estou com minhas amigas.
O professor pegou a caneta e começou a escrever na lousa: "Trabalho sobre: Artistas do Renascimento". E logo abaixo todos os detalhes do trabalho. Depois que terminou de escrever, se virou para a turma e começou a explicar. Por fim, disse que poderia ser feito em dupla.
Então pensei com quem fazer. Provavelmente null e null fariam o trabalho juntas. Sempre fazem. Eu sempre faço sozinha. Odeio trabalhos em grupo. Mas dessa vez seria bom dividir aquele tanto de tarefas.
Pensei em chamar Clara, minha colega de torcida, vi que ela também estava sem dupla, mas ela era muito enrolada com trabalhos. Já estava querendo desistir, e fazer tudo sozinha, até que senti alguém tocar meu ombro. Me assustei e dei um pulo. Quando me virei para ver quem era, me decepcionei. Era o null.
- O que foi? – perguntei brava.
- Bom dia para você também! – ele respondeu com um tom de ironia. – Só ia te chamar para fazer o trabalho comigo. Percebi que estava sem dupla.
- Fazer o trabalho com você? – nesse momento, pensei que seria melhor chamar a Clara, ela era enrolada, mas nem tanto como null. – Não, obrigada.
- Por que não?
- Porque você é enrolado. Prefiro fazer sozinha.
- Faça comigo, não vou enrolar. E também, a gente já resolve logo como vai funcionar nosso namoro.
- Tá bom null, eu faço com você. Mas se enrolar, eu largo tudo e continuo sozinha.
- Tudo bem, meu amor. E me chama de null – ele começou a rir. – Eu desenho, e você faz a pesquisa, pode ser?
- Nunca mais me chama de amor, entendeu? E por um acaso, você sabe desenhar?
- Muito mais do que você imagina – ele tirou uma pasta de sua mochila e me entregou. – Pode ver.
- Tudo bem – disse analisando a pasta. Tinham vários desenhos. É, ele era bom. Devolvi a ele, e decidi que eu faria a pesquisa, já que eu só sei desenhar bonequinhos de palito mesmo. – Eu faço a pesquisa, e você desenha.
- Tudo certo, então? Podemos falar sobre aquilo?
- Claro. Qual seu plano? – disse entediada.
- Meu plano?
- Sim, seu plano. A ideia não foi sua?
- Na verdade a ideia foi do seu irmão. Ah, tenho uma coisa que quero perguntar, como ele te convenceu?
- Ele tá me chantageando... Vai dizer que você não sabia?
- Sério? Ele ta fazendo isso mesmo? – ele disse surpreso. Talvez, null realmente não soubesse.
- Sério. Seu amigo te ama muito, null. Chantageou a própria irmã. Valorize-o.
- Poxa null, eu não sabia, não sabia mesmo. Se soubesse não deixaria.
- Aham... Então eu estou livre? Não preciso mais fingir?
- Nada disso, você ainda é minha – null sorriu, maliciosamente.
- Sua nada, baby. Só em sonho – sorri junto. – Bom, então em relação ao plano, eu só tenho uma regra. Isso é só durante o período das aulas e até o baile.
- Então foi isso que vocês combinaram? Um semestre. O null é bem esperto.
- É isso. Só na escola, ok? Não tem encontro, nem nada.
- Tudo bem.
- Ah, e mais uma coisa, não tem beijo de verdade.
- Sem beijo? Ninguém vai acreditar no nosso namoro assim.
- Eu não vou fazer feio. Um selinho de vez em quando, ok? Só pra enrolar as pessoas.
- De vez em quando?
- Eu não vou ficar te beijando, null. Você tem sorte, sou ótima atriz.
- Então, tá. É só isso ou tem mais alguma coisa?
- Por enquanto, é só isso.
- Por enquanto?
- Sim, quando eu me lembrar de outra coisa, eu digo – sorri novamente. – Quando começamos?
- Não sei, o null me disse pra começar hoje mesmo. Um mês passa muito rápido.
- Então do nada, a gente vai começar a sair pela escola de mãos dadas e se abraçando?
- Tive uma ideia. Quebre as regras do nosso acordo, só uma vez.
- Que ideia?
- A gente marca de sair com a galera, o null vai com a Danielle, você leva suas amigas e o namorado delas e a gente bate uma foto junto e posta no... Instagram, sei lá.
- Minhas amigas não namoram.
- Então vamos nós quatro mesmo. Pode admitir, você gostou da minha ideia.
- Na verdade é uma ideia bem ridícula, mas tudo bem – eu não sou muito fã de redes sociais, não tenho conta em quase nenhuma. – Hoje eu vou ao shopping com as meninas, vocês nos encontram lá? As cinco?
- Tudo bem. Nos vemos no shopping. As cinco – o sinal bateu. – A aula passou rápido.
- O tempo voou. Temos mais alguma aula juntos depois dessa?
- Acho que não.
- Então, até no shopping – ele disse e me deu um beijo na bochecha.
- Até – disse e retribui o beijo.
Encontrei com null e null na saída da sala e fomos caminhando até lanchonete da escola.
- A aula passou tão rápido hoje, né? – disse sorrindo.
- Só passou rápido pra você então né, null? Ficou a aula inteira conversando com o null, rindo o tempo todo, trocando beijinhos, pareciam até que eram namorados mesmo, enquanto eu e a null tivemos que aguentar o professor no nosso pé, ensinando como se desenhava um círculo – disse null, com raiva, mordendo a maçã que havia levado.
- Nossa, null. Parece até que ficou com raiva da gente – dessa vez não aguentei, parecia mesmo que a null estava com raiva. Será que tá acontecendo alguma coisa? Mudei rápido de assunto. – Um círculo? Mas porque, um círculo? – comecei a rir.
- Eu com raiva? De vocês? Tá louca, null? – null riu. – Porque a null disse que o... O artista lá, o... Ah, esqueci o nome. Porque ela disse, que ele só desenhava usando círculos e o professor ouviu e ficou a aula inteira, praticamente, ensinando – null respondeu indo em direção à quadra.
- Não foi por mal – null disse rindo. – Mas porque vamos até a quadra, null?
- Para ver o treino dos garotos – respondi por ela. – Eles devem começar agora.
Depois que o novo time de boys foi definido, null não perdia um treino. Sempre que sobrava algum tempo ela ia até a quadra. Eles estavam sempre treinando, mesmo que não fosse no horário.
Bom, me parece que null também está a fim de alguém. Desconfio que seja um dos garotos. Será qual deles hein, null? Quando comecei a rever minha lista de motivos para pensar que ela estava mesmo apaixonada, alguém me tocou e deixei os pensamentos de lado.
É o null.
- Hey, Barbie! – disse ele. – Melhorou o humor? Pelo visto, sim.
- O que você quer, null? – perguntei entediada.
- Parece que me enganei, não é mesmo? Só queria saber como você tá.
- Estou bem, é só isso?
- Preciso da receita.
- Que receita? - disse sem entender nada.
- A receita da fórmula.
- Do que você tá falando? – meu irmão é maluco, só falta querer me meter em mais problemas.
- Preciso da fórmula, que deixa o null de bom humor.
- Ah, mas o que eu tenho a ver com isso? – perguntei ainda sem entender.
- Ué, pensei que fosse coisa sua, já que ele passou o começo da manhã com você e ficou todo alegre, e depois eu te encontro aqui toda sorridente.
- Ué digo eu, a gente só conversou umas coisas e não tem nada a ver, eu estar sorridente como você disse. Não posso mais? – disse tentando mudar de assunto. Não, null, você não está tentando me empurrar para seu amigo. Já não basta aquela brincadeira idiota, agora isso?
- Tudo bem então Barbie, vou falar com ele.
- Vocês não deviam estar treinando? Todos os outros caras estão.
- Não, não devíamos, agora não é o horário. Nem sei por que eles estão lá.
- Então vai comer alguma coisa, vai pegar a Danielle, vai conversar com os seus amigos, mas me deixa, vai.
- Nossa, também te amo, viu – ele disse saindo e mandando um beijo.
- Beijo pra você também – disse rindo.
Quando me virei, vi null e null sussurrando alguma coisa.
- O que foi, gente? – perguntei curiosa.
- Nada, nós só estávamos falando da péssima ideia do seu irmão de ficar com a Danielle – null disse rindo.
- Foi mal amiga, mas a gente ouviu a conversa – null completou.
- Não faz mal, não tenho segredos com vocês – disse sorrindo.
- O sinal já vai bater – null disse olhando para o relógio em seu pulso. – Vamos?
Seguimos andando em direção as salas, passando pelos corredores em meio a vários alunos. Passamos pela cantina e o local onde ficavam os armários. No próximo espaço, estavam as salas de aula.
null ia andando, null estava ao seu lado, estavam um pouco à minha frente. Estava quase alcançando minhas amigas quando senti alguém me puxando pelo braço. Atrás de um armário.
Tentei gritar, mas pelo visto, ninguém ouviu. Então null colocou a mão em minha boca.
- Ei, shhh! – disse ele, tirando a mão. – Sou eu.
- Ah, o que foi?
- Nós não combinamos a hora.
- Hora de que?
- De nos encontrar no shopping.
- Isso não é um encontro de verdade, você sabe, não é? Não podia ter mandado um sms, em vez... Espera ai, combinamos sim. As cinco.
- As cinco? É, verdade. Eu me esqueci.
Olhei desconfiada. O que null realmente queria?
- É só isso?
- Não.
- Não? O que mais então? – ah, sabia. Sabia que ele queria dizer outra coisa.



Capítulo 03

- Quer ir lá em casa amanhã? – ele perguntou encarando o chão, como se estivesse com vergonha do que acabara de dizer.
- Ir à sua casa? Por quê?
- Ora... Para fazer o trabalho de artes.
- Por que você não vai lá em casa? – disse desanimada, mas queria saber, por que isso agora? null era muito enrolado com trabalhos, e esse tinha até tem um bom prazo de entrega.
- Pode ser também, quero fazer de uma vez, sabe? Então, posso ir amanhã? Depois da aula?
- Pode... Agora, falando em aula, vamos para a sala?
- Vamos, vamos sim – ele disse soltando o meu braço.
Andei um pouco e logo entrei na sala. Ele entrou na sala ao lado.
As últimas aulas passaram voando, com exceção de educação física. A nossa treinadora de torcida tirou o dia para acompanhar, ou melhor, para falar mal da nossa dança, dizendo que os passos eram péssimos. E eu levei toda a culpa, por ser a capitã. Mas não me importei nem um pouco.
O sinal tocou e fui até o corredor onde ficavam os armários, esperar minhas amigas. Peguei minha roupa que trouxe de casa para ir ao shopping e guardei os materiais que não usaria na aula de amanhã. Logo null e null já estavam atrás de mim. Decidimos passar na casa de null para nos arrumarmos, por ser a mais próxima da escola.
Chegamos e tomamos banho, pensamos em comer algo antes, mas deixamos para o shopping. Enquanto nos arrumávamos, estávamos ouvindo música e conversando assuntos aleatórios. Até que eu lembrei, que mais cedo tinha marcado com o null para nos encontrarmos e tirarmos a droga da foto. Ainda achava essa ideia ridícula, mas como não havia pensado em nada melhor, estava valendo.
- Vou me encontrar com o null, às cinco no shopping, tá gente?
- Tá dispensando a gente, null? – null perguntou entediada.
- Se encontrar? Ui, null, admite vai, você tá gostando de namorar ele, não tá? – null perguntou com um sorriso malicioso.
- Não, null! Tá louca? – null devia estar louca mesmo, eu estava odiando tudo isso.
- Meninas, minha roupa tá boa? – null perguntou, ignorando totalmente o assunto. Ela sempre ficava estranha quando falávamos sobre o null.
- Tá linda, amiga. Vem aqui, que eu vou passar uma sombra em você. – eu respondi, pegando o estojo de maquiagem na minha bolsa. Ela estava linda mesmo. Usava um vestido azul, tomara que caia, com uma renda na borda e uma sapatilha Chanel preta. Estava com um colar e um par de brincos que ganhara dos pais em sua festa de quinze anos. Ainda me lembro muito bem dessa festa.
- Obrigada, null – ela respondeu sorrindo.
Enquanto passava a sombra em null e terminávamos de nos arrumar, ficamos sem trocar uma palavra. Decidi quebrar o silêncio, estava ficando chato.
- Gente, tá bom? – perguntei apontando para minha roupa. Estava usando uma calça jeans de couro vinho, uma blusa cinza com um detalhe de lantejoulas e um sapato de salto, não muito alto, preto.
- Mais diva que nunca. O null vai amar – null disse sorrindo. Ela também usava uma calça de couro, mas era legging e preta. Uma blusa rosa choque com uma estampa de cruz e uma sandália de salto dourada.
- Ai, null, você não cansa, não é mesmo? Obrigada, vocês também estão lindas.
Caminhamos pela casa até a garagem, entramos no carro de null e seguimos até o shopping.
Nós três íamos andando pelos corredores enormes e cheios de lojas, entrando em todas e comprando tudo o que podíamos, e chamando muita atenção. Como sempre.
- Gente, eu quero um sorvete – null disse apontando para o estande de sorvete do McDonald's que ficava no meio do corredor.
- Tá louca, null? – null perguntou. Ela tinha essa mania irritante de chamar todo mundo de louco. Eu odiava isso, mesmo que às vezes eu também fizesse. – Quer engordar? Você tomou muito sorvete semana passada, esqueceu?
- Ah, qual o problema, null? Vamos lá, tomar um sorvetinho – disse puxando-a para mais perto do estande.
- O problema é que nós não podemos ficar comendo muito, poxa. Somos atletas, vocês se esqueceram?
- De vez em quando não faz mal. Vamos, eu sei que você também quer – falei rindo e ela me acompanhou.
- Três casquinhas de chocolate, por favor – null disse para a mulher atrás do balcão, entregando o dinheiro.
- Aqui está – depois de uns dois minutos, ela nos entregou os sorvetes que seu colega de trabalho acabara de preparar.
- Gente, PARA TUDO – null disse apontando para a loja em nossa frente. – Eu preciso daquele vestido, e daqueles sapatos, e daquela bolsa... Que lindos.
- null, você não acha que já gastou demais hoje? – eu perguntei, apontando para todas as sete sacolas que ela carregava.
- Ah, nullzinha, linda do meu coração, vamos lá, só mais uma loja. Eu comprei o sorvete porque você me convenceu. Daqui a pouco também, vai dar cinco horas e você vai se encontrar com seu null e nós vamos embora.
- Meu null? – perguntei em tom de ironia. Olhei para o relógio em meu pulso. Já eram 16h23min, dava tempo, tínhamos dinheiro e eu havia acabado de ver uma jaqueta cor de rosa, super linda, que casaria perfeitamente com o conjunto que ganhara da minha tia na semana anterior. – Vamos. Eu amei aquela jaqueta!

null's POV OFF


Entraram na loja, que era muito chique por sinal e todas as peçam eram lindas. Elas queriam tudo.
null foi correndo até o manequim onde estava a jaqueta e null foi para o lado oposto. Enquanto isso, null estava com um par de sapatos vermelhos na mão, procurando por um número menor.
- Ei moça, pode nos ajudar aqui? – null disse para a mulher com o uniforme da loja que estava passando ao seu lado.
- Claro, meninas – a mulher sorriu e se aproximou. – O que precisam?
- Preciso de um par desses, no tamanho 36 – null falou, mostrando o par que segurava.
- Eu quero experimentar esse vestido aqui – null falou, apontando o manequim.
- Eu quero está jaqueta – null apontou a jaqueta no manequim ao seu lado. – Posso pegá-la? É o meu tamanho!
- Claro, pode sim – a mulher disse se virando para null. – Você, mocinha, o vestido deste manequim está bem ali, e o provador é no fim da loja, em frente ao caixa – disse para null. – Vou buscar o sapato 36 – ela disse por fim e entrou por uma porta, onde tinha uma placa escrita "Somente Funcionários".
- Meninas, vou até o provador experimentar a roupa, e vocês vêm comigo? Ou me esperam aqui? – null perguntou.
- Eu vou esperar a mulher, ela vai trazer meu sapato – null disse.
- Eu vou com você – null disse, pegando a jaqueta e indo atrás da amiga.
null entrou no provador e null ficou do lado de fora, olhando algumas peças que estavam por perto, esperando a amiga.
- null, olha como ficou – null disse, abrindo a porta.
- Amiga, ficou linda! Acho que quero um vestido desse também.
- Ah, nem vem. Vi primeiro.
- Sua boba, é brincadeira. Mas vou querer emprestado.
- Quando quiser. Vou me trocar e nós vamos, ok?
- Ok. Vou ver se a null conseguiu o sapato.
- Beleza.
null voltou até onde deixou null e procurou a amiga. Ela não estava mais lá.
- null, vem aqui – null apareceu do nada e a puxou. – Olha estes pares, qual o mais bonito? Vermelho ou preto?
- Eu gostei do vermelho. É diferente. Sapato preto é muito comum.
- É verdade. Se eu colocar esse sapato vermelho, com aquele vestido que eu ganhei da null no meu aniversário, vai ficar legal? – null ganhara muitos presentes em sua festa de quinze anos, no começo do ano passado. Era a mais nova da turma e estava adiantada um ano porque pulara uma série quando era pequena.
- Eu nunca te vi com aquele vestido, e você gostou tanto dele. Por que não usa?
- Não sei. Vai, null, responde, vai ficar legal?
- Vai ficar lindo, amiga.
- Vou comprar. Adeus mesada – as duas riram. null chegou logo depois.
- Qual foi a piada?
- Ah, nada de mais. Eu gastei toda minha mesada hoje – null respondeu desanimada.
- Ai, amiga, você não é a única – null completou.
- Eu guardo toda a minha mesada, então, ainda tenho um dinheiro lá em casa.
- Ui, rica – null falou e as três riram. – Meu sorvete acabou, quero mais.
- O meu acabou faz tempo. Só a null que ainda está tomando. Essa lerda não acabou até agora.
- Ei, ei, eu estou ouvindo, sabia? Eu não sou lerda, eu só estou cheia – null disse, fingindo um tom de indignação.
- Cheia? Cheia de vento, né? Porque um sanduíche e um suco, não deixa ninguém satisfeito – null falou.
- Acontece que um sanduíche e um suco, me deixam satisfeita.
- Gente, vamos para o caixa pagar isso aqui, já são quase cinco horas. Vocês vão comprar mais alguma coisa? – null perguntou.
- Não – null e null disseram quase juntas.
As três não demoraram nem 10 minutos na fila. A loja não estava muito cheia.
- Eu vou comprar meu vestido para o baile aqui. Adorei essa loja. Como nós nunca vimos? – null disse, indo em direção à saída.
- Eu acho que essa loja é nova – null disse, mexendo no celular. – null, vamos? Já são dez para às cinco.
- Claro. Daqui a pouco a null tem um encontro. – null disse rindo.
- Ai meninas, parem de falar como se isso fosse sério. É só fingimento, vocês sabem.
- Tudo bem, null, a gente para. Beijos, até amanhã – null disse e deu um abraço na amiga. null repetiu o gesto.
- Beijos, até amanhã.
null continuou andando em direção à escada, tomando seu sorvete, que ainda, por mais que seja impossível, não havia derretido. Estava segurando quatro sacolas com a mesma mão, quando uma delas caiu. Abaixou-se bem rápido para pegá-la e levantou com tudo, trombou com um cara e sua casquinha se despedaçou na blusa branca dele.
- Você não olha por onde anda, não? Essa blusa é nova – o rapaz gritou apontando para a blusa.
- Ai, ai me descul... – ela parou no meio da frase, quando o reconheceu e começou a rir – null? É você? Bem feito.
- null? Fala sério, você fez isso de propósito não foi? – ele disse gritando e atraindo a atenção de todas as pessoas que passavam.
- Ei, dá para parar de gritar? Tá todo mundo olhando – ela disse um pouco mais baixo que ele.
- Não, não dá. Essa camisa é novinha e eu vou aparecer na droga da foto com a camisa manchada de chocolate – ele disse ainda gritando.
- Cala a boca, null. E para de ser mulherzinha. A ideia foi sua, esqueceu?
- Cala a boca, você. Mulherzinha nada, eu não vou tirar a foto com a blusa desse jeito.
- Eu não vou calar a boca. Quem tá fazendo um escândalo aqui é você – ela disse quase gritando. – Então não tira e pronto. Acaba com essa palhaçada aqui.
- Gente, vamos parar com o circo aqui. Tá todo mundo olhando – null apareceu atrás dele e disse.
- Isso é culpa do seu amigo, tá dando chilique à toa.
- Isso é culpa sua, null. Quem manchou minha blusa foi você.
- Ai que droga. A gente tá num shopping, se quiser eu compro outra blusa pra você – ela disse mais baixo.
- Não precisa – ele disse mais calmo.
- Me deixa comprar, vai. Eu manchei sua blusa nova.
- Não tem problema, de verdade.
- Então vamos ao banheiro, me deixa pelo menos tentar limpar, para não manchar mesmo.
- Não precisa, null. Não precisa mesmo.
- Vamos? Por favor, faço questão.
- Tudo bem. Mas acho que não vai dar muito certo uma garota no banheiro dos homens – os dois riram.
- Então vamos ao das mulheres e você fica do lado de fora – eles ainda riam. Ela o puxou pela mão. – Vamos.
- Eles são doidos, estavam discutindo agora há pouco – Danielle disse e null concordou.
Eles foram andando até o fim do corredor e ela ainda o puxava pela mão. Não demoraram muito e eles chegaram.
- Espera aqui, eu já volto.
- Sério, não precisa fazer isso, já disse. Tá tudo bem.
- Shhh, eu insisto.
Ela pegou um pedaço de papel molhando em seguida e voltou bem rápido.
- Voltei!
- Tô vendo.
- Chato.
Ele começou a rir. Ela se aproximou e apoiou uma das mãos em seu ombro e com a outra foi passando o papel molhado de leve sobre a mancha. Ele ficou a encarando por um tempo, em silêncio.
- Se eu pudesse lavar seria melhor – ela disse, virando de costas para ele e jogando o papel em uma lixeira que estava em sua frente.
- Eu não me importo em tirar a blusa aqui não – ele sorriu malicioso.
- É, por um minuto eu me esqueci com quem estava falando.
- Pode confessar, você queria muito me ver sem camisa.
- O que você acha de ir comigo tirar aquela foto, hein? Quero ir para casa logo.
- Tudo bem. Quer tirar agora ou quer esperar seu irmão e a Danielle?
- Quero esperar os dois. Vamos, eu mando um SMS para eles nos encontrarem na praça de alimentação.
- Ok.
Eles foram até a praça de alimentação e sentaram em frente a uma pizzaria. null e Danielle chegaram logo depois.
- Vamos pedir pizza, então? – null perguntou.
- Não sei, vamos? – null perguntou olhando para null ao seu lado e Danielle em sua frente.
- Tudo bem, eu peço. Qual sabor? – null continuou.
- Catupiry – null respondeu.
- Não. Portuguesa – null disse logo depois.
- Não. Ninguém gosta de pizza com cebola – null disse.
- Eu gosto. Pede portuguesa, null. Eu não gosto de catupiry.
- Eu não gosto de cebola.
- Então vai comer outra coisa.
- Gente, eu escolho o sabor, tudo bem? – null disse. – Parem com isso. Vocês brigam por tudo, parecem duas crianças.
Não demorou muito a pizza chegou e eles comeram. Foi melhor do que null pensava. Estava se divertindo com as piadas idiotas que seu irmão e null contavam e as histórias de Danielle, sobre sua família. A garota tinha cinco irmãos, todos da mesma mãe e cada um de um pai. Ela puxou seu gênio de algum lugar. Eles tiraram a foto, null postou em seu Twitter e null retweetou. Pronto. Agora a escola inteira sabia que eles namoravam. Já eram quase 21hr, eles decidiram ir embora.
- Vamos, null? – null disse.
- Então, null, eu vou dar uma carona para a Danielle. Você a leva, cara? – null disse, olhando para o amigo.
- Não precisa. Eu pego um táxi – null disse se levantando.
- Não. Eu levo você – null falou, segurando a mão da garota.
- Não precisa, obrigada.
- Àquela hora eu deixei você limpar minha blusa.
- Limpar? Não sei o quê, ainda tem uma mancha enorme – eles riram.
- null, vai com ele. Eu já vou indo com a Danielle, ela não pode chegar muito tarde – null disse se levantando e indo em direção à escada segurando a mão da garota.
- Vamos? – null disse, esticando o braço para que ela segurasse sua mão. Ela passou direto. – Obrigado pelo vácuo.
- Ai meu Deus, que dó, ficou no vácuo. Acho que sou a primeira garota a recusar segurar a sua mão.
- Como assim?
- Ah, você sabe. Toda semana você está com uma garota diferente. Todas querem ficar com você. Por que agora você quer namorar sério?
- O que o null disse pra você?
Eles saíram do shopping e foram caminhando em silêncio pelo estacionamento, no setor onde estava o carro dele. O shopping não era tão longe do condomínio onde null morava, mas iria demorar até eles chegarem devido ao trânsito do Rio, que devia estar um caos àquela hora. Ele tentou puxar assunto.
- O que o null disse para você? – ele repetiu a pergunta quando entraram no carro.
- Ah, o que importa o que o null disse? Eu quero saber de você.
- Não sei direito. Foi tudo ideia dele e eu concordei.
- Sério? Eu não acredito que você largou várias garotas, para ganhar tipo um status na escola.
- Status?
- É o que eu penso. Não tem outro motivo, mesmo sendo um motivo muito idiota. Fala, por que aceitou isso?
- Sério mesmo, não pensei muito. Mas também não arrependi – ele começou a rir.
- Tarado.
- Tarado nada. É sério, todos saem ganhando nisso. Você é gata, eu sou gato. E você não vai precisar se compromissar de verdade, nem eu. Então não precisa ficar só comigo. Mas quando quiser, eu aceito.
- Sério, você é muito convencido. Nem vem com essa coisa que não tem compromisso, eu não quero você com outra garota. Não quero ser corna, já basta meu irmão.
- Já está com ciúme de mim, null? – ele começou a rir de novo. – Mas o que o null tem a ver?
- null? Cadê o null? – ela riu junto com ele. – Ah, porque o null está saindo com a Danielle, e você conhece a fama dela. Espera aí, você também já ficou com ela.
- Nem me lembra, isso faz tempo. Ela é muito grudenta. Mandava um SMS de meia em meia hora.
- Bem feito. Quer tentar pegar a escola inteira também.
- Eu já peguei a escola inteira.
- Negativo. Você nunca ficou com nenhuma das minhas amigas.
- Eu nunca tentei nada com a null por causa do null. Mas eu já beijei a null.
- O QUÊ? VOCÊ A BEIJOU E AQUELA VACA NEM ME CONTOU? QUANDO FOI ISSO? – ela começou a gritar e depois riu. – Não, espera. O null? O que o null tem a ver com a null?
- Eu beijei a null na festa de quinze anos dela, no ano passado. Já o null me disse uma vez que estava gostando da null.
- Ah, é por isso. Agora as coisas fazem mais sentido.
- Sentido?
- A null gosta de você. É por isso que ela fica estranha quando eu e a null falamos.
- Espera? Vocês falam sobre mim? Falam o quê? – ele riu. – Não acho que a null goste de mim.
- Nossa, convencido. Só falamos quando eu contei sobre essa brincadeira idiota. Mas pode apostar, a null gosta mesmo de você.
- Eu não esperava por essa. Mas voltando ao assunto de antes, se eu já peguei a null e a null não conta, sim, eu já peguei toda a escola. Todo o Ensino Médio na verdade, as pequenas não valem.
- Não, não. Você nunca me pegou. Você pode até ter pegado o Ensino Médio inteiro, menos eu.
- Você também não vale. Nunca tentei nada com você por causa do null.
- O null não gosta de mim. Isso não é desculpa.
- Mas o null é o seu irmão, e é o meu melhor amigo. Então sim, isso é desculpa.
- É meu irmão, mas ele não manda em mim.
- Você também namorava, esqueceu?
- Namorava. Não namoro mais desde o ano passado. Pode falar, você sabe que pode pegar toda a escola, mas nunca vai conseguir nada comigo.
- Isso foi um desafio?
- Não.
- Eu sei. Você sabe que se eu tentasse, você ia acabar se apaixonando de cara.
- Você não me conhece.
- Eu conheço as garotas. Então sim, eu te conheço.
- Eu não sou como as outras garotas. Acho que sou a única capitã de cheerleaders que não é uma loira patricinha, popular, vadia e que fica babando o capitão do time da escola.
- Tirando a parte do patricinha e vadia, você é quase. Isso é coisa de filme.
- Quase? Eu não fico babando o capitão do time. Sim, coisa de filme, daqueles bem ruins.
- Não fica babando o capitão do time, mas namora um dos integrantes.
- Não namoro. Não de verdade. Viu, você não me conhece.
- Acho que vou passar a conhecer então... namorada. Vamos passar muito tempo juntos daqui para frente. Mas e o desafio? Tá de pé?
- Que desafio?
- Aquele que eu fico com você – ele sorriu malicioso e logo estacionou o carro em frente à casa de null. – Chegamos. Deixa que eu abro a porta, meu amor.
- Você não vai conseguir – ela disse, saindo do carro e ficando na frente dele. – Valeu pela carona.
- De nada. Mas e o desafio?
- Você quer tentar mesmo? Não vai conseguir.
- Eu acho que eu já consegui – ele a puxou pela cintura e antes que ela pudesse dizer algo, colou seus lábios nos dela. Depois de uns segundos, ele a soltou.
- Ai, seu idiota, nunca mais faz isso. – ela disse, acertando a bolsa na cabeça dele.
- Pode falar, eu não vou me achar. Você gostou.
- Não, eu não gostei. E da próxima vez que você tentar fazer algo assim, pode se preparar.
- Ai que medo de você. Vai fazer o quê?
- Isso foi muito gay.
- Tá me chamando de gay? Acho que vou precisar te beijar de novo.
- Isso nem foi um beijo de verdade.
- Eu sei. Não foi porque você não quis, não sabe o que está perdendo. Não sabe a quantidade de garotas que queriam estar no seu lugar agora.
- É impressionante a maneira como você se acha.
- Eu não me acho, eu sou.
- Isso foi ridículo.
- Não vai entrar, não? Já tá na hora de você ir para caminha.
- Me erra, null.
- Me erra você, null.
- Tá, já chega, vou entrar. Valeu pela carona e desculpe de novo por manchar a blusa.
- Já disse que não tem problema – ele disse e deu um beijo na bochecha dela. Seu pai abriu a porta na mesma hora e ele sussurrou. – Seu pai tá me encarando.
- Melhor eu entrar. Até amanhã – ela virou de frente para a porta da sua casa. – Pai, você já chegou. Que saudade.
null, entra – ele fez um sinal com a cabeça para a porta. – Quero falar com você.
Ela entrou e foi seguindo seu pai até a sala.
- O que foi? – ela perguntou sem entender.
- Não quero mais ver você junto com esse rapaz.
- Eu não estava com ele. Eu estava no shopping com as minhas amigas, nos encontramos lá por acaso e ele só me deu uma carona. Você conhece o null, pai. Ele é amigo do null, sempre vem aqui em casa.
- Eu sei, null. Mas não quero você andando com ele, me entendeu?
- Não sei o motivo de tanta implicância com ele, agora. Do nada.
- null, vá para o seu quarto.
- Por quê? Estou de castigo? Mas eu não fiz nada.
- Vai, sobe.
Ela pegou as sacolas e a bolsa em cima do sofá e subiu as escadas indo em direção ao quarto, sem entender nada. Mas não voltaria lá em baixo para perguntar o motivo de seu pai ter agido assim.



Capítulo 04

O despertador tocou, mas null nem se mexeu. Estava com dor de cabeça e não queria ir para a escola. O sol começava a invadir o quarto pelo lado aberto da cortina, iluminando o rosto da garota.
- Mas que droga de sol – ela gritou, se levantando e indo até a janela.
- Falando sozinha, Barbie? – null perguntou, entrando no quarto.
- Ninguém te ensinou a bater antes de entrar, não?
- Nossa! Está tudo bem?
- Me desculpe, só estou com um pouco de dor de cabeça – ela abraçou o garoto.
- É só isso mesmo?
- É sim.
- Então se troca, senão você vai ficar sem tomar café – ele foi até a porta.
- null, espera.
- O que foi?
- É uma pergunta meio estranha, mas o papai já implicou com o null? Quero dizer, quando ele está aqui. Ele já falou alguma coisa?
- Não, null. Mas por quê? Ele falou alguma coisa com você?
- Não. Esquece – ela pegou o uniforme em cima da cadeira e foi até a porta do banheiro. – Fala para a mamãe que eu já estou descendo.
- Tudo bem.
- Ah, e mais uma coisa. Não me chama de null, é estranho – eles riram.
Ela entrou no banheiro e tomou um banho rápido. Vestiu o uniforme e prendeu o cabelo num rabo de cavalo alto. Separou alguns materiais, pegou a mochila e desceu para tomar café.
- Filha eu já estou atrasada, preciso ir. Tome ao menos um café antes de sair, tudo bem? – a Sra. null disse, abraçando a filha.
- Tudo bem, mãe.
- Você também, null – ela disse, pegando as chaves do carro na mesa da sala.
- Tudo bem, mãe – ele repetiu a frase que a irmã acabara de dizer.
- Não quero ir para a escola hoje. Se eu matar aula, você vai me dedurar? – null disse, fazendo bico.
- Vou sim, Barbie – ele riu e ela deu língua. – Mas falando sério, você não tá bem mesmo, não é?
- Ah, vou ficar legal. Eu só estou com um pouco de preguiça. Queria faltar ao treino hoje.
- É só falar que não tá bem.
- Mas eu sou a capitã, esqueceu?
- Você adora isso, não é?
- O quê?
- Falar que é a capitã das cheerleaders.
- Adoro – a garota disse e eles riram.
- Sério, eu acho que nossa escola é a única.
- Como assim a única?
- As outras escolas não são assim, não tem time, nem cheerleaders, nem anuário, essas coisas... Entende?
- Mas a dona da escola era gringa, esqueceu? Você não se lembra da neta dela? Ela era americana, mas morava aqui. Ela participou de uma das peças com a gente.
- Eu me lembro dessa peça, eu não decorava o texto de jeito nenhum. Nem sei por que participei.
- Eu me lembro muito bem, foi a última peça que eu fiz. E você participou porque a menina era gata e você queria ficar com ela. Depois a Laura saiu da escola e eu virei a capitã.
- Você gostava tanto de atuar, por que virou cheerleader?
- Porque a null me arrastou para o teste, mas ela não fez porque passou mal no dia. Eu até falei para ela que não me importava, mas ela disse que eu deveria ficar, e bom... Eu fiquei. Um semestre depois, ela fez com a null e elas conseguiram, mas eu já era a capitã. Fazer as duas coisas estava me deixando cansada.
- Entendi... – null olhou para o relógio que ficava na cozinha, em cima da geladeira. –Vamos? Faltam dez minutos para a primeira aula.
- Ainda bem que moramos perto da escola.
- Eu sei, vamos.
Eles foram caminhando até a escola. null foi sozinha metade do caminho, porque null encontrou alguns amigos e ficaram conversando. Chegou três minutos atrasada e foi correndo até a sala.
- Com licença, professora. Desculpe o atraso – null disse, abrindo a porta da sala de aula.
- Tudo bem, Srta. null. Pode se sentar – a professora de meia idade respondeu sem dar muita atenção.
A garota atravessou a sala e se sentou na penúltima carteira, sem olhar para ninguém, ao contrário, todos estavam olhando para ela, com exceção de algumas pessoas. Logo a sala começou a conversar e a professora, brava, pediu silêncio, fazendo os alunos se calarem.
- Tudo isso por causa de uma foto idiota? – ela sussurrou para si mesma. Provavelmente sim. Estava recebendo olhares feios da maioria das garotas da sala.
- Falando sozinha, amor? – uma voz muito conhecida sussurrou perto de seu ouvido. Era null. null se virou e acertou um tapa na cabeça do garoto por tê-la assustado. – Outch! Doeu, null.
- Bem feito. Ninguém mandou me assustar – null disse brava.
- Bom dia para você também – ele sorriu. – O que você estava falando mesmo?
- A sala inteira tá olhando feio pra mim, null. E a maioria são garotas. Não tá vendo?
- Aproveite seus quinze minutos de fama. Você está namorando o garoto mais desejado da escola.
- Aproveitar? Sério? Eu preferia como era antes. Fala sério, qual o porquê disso tudo? Status é que não é mesmo. Olha isso, todo mundo tá olhando pra gente.
- null, meu amor – ele sorriu. Adorava ver como ela ficava irritada quando a chamava de amor. – Você está falando muito alto e está chamando ainda mais atenção.
- Ah, tá legal. Como se todo mundo aqui já não estivesse nos encarando – ela gargalhou irônica.
- Srta. null e Sr. null, não é melhor deixarem seus problemas pessoais para o intervalo e focar na aula? Essa matéria é importante e vai cair na prova, e eu não quero ter que reprovar alunos tão inteligentes como vocês – A Sra. Silvia se pronunciou.
- Me desculpe, Sra. Silvia. Não vamos mais interromper a aula – null disse com vergonha. Já não bastava a maioria da sala olhando para eles, agora tinham os olhares de todos.
- Eu disse que você estava falando muito alto. Você gosta de chamar atenção, não é? – null perguntou com um sorriso cínico.
- Eu? Tem certeza que sou eu quem gosta de chamar atenção aqui?
- Fale mais baixo, null. Meu Deus, quer que sejamos expulsos de sala?
- Seria uma boa. Ao menos eu me livraria de você.
- Você não vai ficar livre de mim assim tão fácil. Você é minha namorada e eu sou um dos melhores amigos do seu irmão.
- Opa! Essa coisa de namoro é só aqui na escola, esqueceu?
- Não, eu não esqueci. Mas me fala aí... Qual a cor do vestido que você vai usar no baile? Eu preciso de um terno que combine.
- É sério? – null começou a rir, mas segurou logo que percebeu que estava chamando atenção de algumas pessoas novamente. – Você é gay? Eu mal estou ligando para o baile, quem dirá meu vestido... [N/A: Gente, eu não acho que um cara que gosta de se arrumar é gay, ok? A culpa é toda dessa garota que não perde uma piada ;D]
- Gay? Se nós não estivéssemos na sala de aula, eu te mostraria quem é gay, null. E por favor, arrume um vestido bonito. Não gosto de garotas mal vestidas.
- Não gosta? Que ótimo. Acabamos com essa palhaçada aqui. Vou começar a me vestir como a Lady Gaga e a gente não precisa mais fingir. [N/A: Me desculpem a interrupção de novo. A Gaga é DIVA! Só citei o nome dela por que às vezes ela é bem extravagante. Quem se lembra da roupa de carne?]
- Não vai ser tão fácil se livrar, eu já disse. E... Bom, eu sei que vocês garotas gostam de se arrumar, então eu acho meio impossível você começar a se vestir feito a Gaga.
- Nada é impossível.
- Nada é impossível – ele repetiu, sorrindo sem mostrar os dentes.
- Você sabe a matéria? – ela apontou para a lousa.
- Sei. Eu estudo.
- Não parece.
- O quê?
- Estudar. Não parece fazer parte do seu perfil.
- Mas eu preciso passar de ano, não é? Eu estudo. Mais em casa do que na escola.
- Então, você é tipo nerd?
- Não. Eu só entendo as coisas, reviso a matéria e faço uma boa prova.
- Preciso começar a estudar em casa também. Eu não consigo prestar atenção na aula. Só em matemática.
- Matemática? Eu não entendo nada – eles começaram a rir.
- Se precisar de uma ajuda, fala comigo. Aí nós marcamos de estudar juntos. As provas começam na próxima semana.
- Você também, se precisar de ajuda...
- E o trabalho de artes? Você disse que passaria lá em casa hoje.
- Ah, a gente tem tempo para fazer – eles riram de novo.
As horas foram passando mais rápido. Enquanto eles conversavam, estavam se divertindo. Algumas provocações, algumas gracinhas... Depois de dois horários de geografia e um de inglês, o sinal tocou anunciando o intervalo. null saiu da sala e foi procurar por suas amigas. Passou por alguns corredores e pelo pátio. Não estava mais aguentando todas aquelas meninas olhando para ela como se fossem matá-la apenas com a força do pensamento.
- Até que enfim – null disse quando finalmente encontrou null. – Onde está a null?
- Ela foi ao banheiro, mas já deve voltar.
- Vem, vamos esperá-la na escada. Eu mando um SMS para ela nos encontrar lá – null disse, puxando a amiga pelo braço.
Atravessaram o pátio da escola e foram até uma escada que dava passagem para os fundos do antigo auditório, onde as alunas mais novas faziam aulas de balé, e ficaram em silêncio esperando por null, que chegou alguns minutos depois.
- Por que demorou? – null perguntou quando a amiga se sentou ao lado dela.
- Porque o inspetor me perguntou onde eu estava indo e eu precisei inventar uma história para convencê-lo. Temos 5 minutos. Vocês sabem que os alunos não podem ficar por aqui – ela estava cansada, provavelmente veio correndo. – Mas por que estamos aqui?
- Meninas, eu não estou aguentando. Todas as garotas estão olhando feio para mim. Será que tudo isso é por causa da merda da foto? – null disse com raiva.
- Que foto? – null perguntou sem entender nada.
- Meu Deus, null. Que mundo você vive, honey? – null disse, pegando o celular no bolso. – Essa daqui.
- Nossa, null. Tava querendo o que também? Todas as garotas da escola querem se pegar com o cara e ele posta uma foto de mãos dadas com você.
- Ai que droga, eu sei. Mas eu não posso fazer nada. Não tem mais jeito de apagar também, todo mundo já viu – null deu de ombros.
- Então, minha querida, agora já foi. Vai lá ficar com ele – null falou.
- Gente, vamos voltar. Daqui a pouco o Carlos aparece aqui, ele já deve estar desconfiado que a null não voltou até agora – null disse, olhando para os lados.
- Vamos – null disse e as duas se levantaram. null continuou sentada. – Vem, null. Deixa aquelas vadias olharem. Aproveita que você tem o namorado mais querido da escola – null e null riram.
- Eu odeio vocês – null disse se levantando.
- A gente também te ama - elas responderam em uníssono e as três riram.
- Olha ali, null – null apontou. – É o null, nossa carona.
- Carona? Como assim? – null perguntou confusa.
- É, carona. Lá para a mesa do seu namorado, vamos – null disse, puxando as amigas pelo braço.
- Ah. É isso... – null fez cara de tédio, mas a seguiu.
- Ei, Barbie – null disse, indo de encontro as três e abraçando a irmã. – Me desculpe por te deixar vir sozinha.
- Tá tudo bem, mano – null disse calma e deu um sorriso.
- E então, vamos? – null disse apontando a mesa onde se encontravam os populares.
Mesmo null sendo capitã das cheers e suas amigas fazendo parte da equipe, elas não se encaixavam com essas pessoas ou com todo o time de futebol. null só se enturmava com alguns porque seu irmão começara a fazer parte da equipe e seus amigos também. Não eram excluídas, conheciam várias pessoas e tinham muitos amigos em toda a escola, mas não tinham nenhum tipo de fama. null era a mais social das três e sempre dizia a null que ela não honrava o papel que tinha como capitã. A garota sempre dizia que era bobagem da amiga e só fazia aquilo porque gostava e não por status.
Haviam três garotos sentados na mesa. Um deles era null, o outro null e ao seu lado estava null.
- E aí, caras – null disse aos amigos. – Sentem aí, meninas!
- Bom dia – as meninas disseram quase juntas e sorriram.
As três se sentaram de frente para eles, se sentindo um pouco desconfortáveis com aquela situação. Os sete comiam seus lanches em silêncio. Então null decidiu quebrar o gelo:
- Como vai a banda de vocês?
Eles tinham uma banda. Nada muito sério. Tocavam como um hobbie, mas eles eram bons. Já haviam se apresentado algumas vezes na escola. E todas as garotas adoravam.
- Vai bem – null disse. – Recebemos um convite da diretora para tocar no baile, no fim do semestre.
- Ah, o baile... – null suspirou.
- É. O baile – null disse sorrindo.
- O baile! – null disse e começou a gargalhar, seguido por null. Os outros não entenderam.
- Já sabem com quem vão? – null perguntou para todos.
- Eu já – null disse e em seguida piscou para null que rolou os olhos.
- Eu vou com a Danielle – null falou.
- Boa sorte pra conseguir segurar ela até lá, irmãozinho – null falou, arrancando risadas de todos, menos null.
- Barbie, menos, por favor.
- Ui, me desculpe por dizer a verdade.
- Infantil.
- Idiota.
- Ei, ei... Já chega – null falou séria. – E vocês, já sabem?
- Não – null e null disseram juntos.
- Eu também não – null disse. – Mas e você amiga, já sabe com quem vai?
- Já tinha escolhido uma pessoa para chamar, mas ele vai com outra – null disse um pouco sem graça e null olhou para null e os dois se lembraram da conversa que tiveram no carro.
- Quem amiga? – null perguntou.
- É... Ele... Ele não é da escola. Você não conhece – null respondeu, ainda mais sem graça.
Depois disso os garotos começaram a conversar sobre as músicas que tocariam no baile e até convidaram as meninas para assistirem algum ensaio deles. Ficaram mais algum tempo falando bobeiras e rindo das piadas que null contava. O sinal tocou e cada um foi para sua sala, já que não tinham mais nenhuma aula juntos.

***


- Ei, amor! – null sorriu, abraçando null por trás quando ela saía da sala de aula.
- Ai que droga, null. Não se cansa de me assustar, não?
- Não – ele gargalhou e ela se virou de frente para encará-lo, brava. – Tá, mas não foi pra isso que eu vim até aqui. Que tal estudar matemática hoje? Ou melhor... Agora?
- Agora?
- É. Eu vou lá para a sua casa ou você vai para minha. A primeira prova é de matemática e eu não sei praticamente nada.
- Tudo bem. Mas eu tenho treino hoje. Se você quiser ir agora com o null. Eu chego lá para às 14h.
- Não. Eu vou pra casa. Umas 14h eu apareço lá.
- Até lá... – null se surpreendeu quando null segurou seu rosto com as duas mãos e lhe deu um selinho demorado, no meio do pátio lotado. Ótimo. É amanhã que essas garotas me matam – ela pensou.
Eles se soltaram e perceberam que muitas pessoas olhavam. Despediram-se rápido e saíram correndo. null em direção à quadra e null ao portão da frente.
null chegou ao vestiário e encontrou suas amigas. null a encarava com um sorriso malicioso.
- Meninas? – null estalou os dedos, próximo ao rosto de null. null parecia distraída.
- Conta tudo – null disse animada.
- Tudo o quê?
- Sobre o beijo no pátio, oras.
- Que beijo? Aquilo foi só um selinho.
- Não interessa, null. Ele beija bem?
- Eu não o beijei, null.
- Ela está mentindo, não está, null?
- Fala sério, null. Ela disse que não o beijou e pronto – null disse. Ela estava realmente incomodada com aquele assunto.
- Aconteceu alguma coisa, null? – null estranhou a reação da amiga.
- Nada. É só TPM, tenho certeza.
- E então meninas, vamos treinar? Precisamos acertar aquela coreografia. A treinadora está no meu pé – null decidiu interferir, percebendo o desconforto de null.

***


Depois de quase três horas de treino, null chegou em casa. Estava cansada e tinha voltado a pé para casa. Mesmo estando acostumada, ela ficava cansada, principalmente depois dos treinos. Olhou o relógio da cozinha que marcava 13h30min. Ela tinha meia hora antes de null chegar, então decidiu tomar um banho. Vestiu um short jeans claro e uma camiseta preta com estampa da Minnie. E colocou suas pulseiras, sempre usava. Pegou o celular em cima da mesa onde ficava o computador e olhou as horas. Ainda tinha 15 minutos e estava morta de fome. Desceu até a cozinha e esquentou duas fatias de pizza congelada e comeu enquanto assistia a um noticiário qualquer na TV. Limpou a bagunça rapidamente e só então percebeu que o null não estava em casa e sua mãe ainda não havia chegado. Ótimo. Ela ficaria sozinha com null e era tudo o que ela não queria. Subiu até o quarto, pegou o material que usaria e voltou para a sala para esperar por ele. Dois minutos depois a campainha tocou e ela foi atender a porta.
- Oi – ele disse.
- Oi, entra – ela respondeu no mesmo tom. Ele entrou, ela fechou a porta e eles foram até a sala. – Senta aí... Quer uma água, um suco?
- Não, obrigado.
- Por nada – ela se sentou no sofá de frente para o que ele estava. – Pronto para estudar? É muita coisa.
- Pronto – ele disse desanimado.
- Manda o desânimo embora, senão vai ser difícil – eles riram. – Você viu o null? Acho que ele não veio em casa até agora...
- A última vez que o vi foi quando estávamos no intervalo, depois ele sumiu. Deve estar com a Danielle.
- É. Também pensei isso.
- Pensei que você estava brava comigo.
- Sério? Por quê?
- Porque eu te beijei na frente de todo mundo no pátio.
- Ah. Bom, um selinho de vez em quando pode. Mas ainda estou com medo daquelas garotas, parece que vão me matar.
- De vez em quando pode? – ele sorriu malicioso e ela rolou os olhos.
- Não sei mais, acho que vou deixar isso pra lá.
- Agora pode?
- Não. Não tem ninguém aqui.
- Mas você me deve isso. Você me chamou de gay, esqueceu?
- Você veio aqui para gente estudar ou para tentar me beijar? – ela o olhou confusa.
- Para estudar. Mas quem sabe eu não ganho um beijo?
- Idiota. Vamos estudar?
- Ah, qual é, null. Temos a tarde toda para estudar...
- Mas eu quero estudar agora.
- Pensa assim: Eu estou aqui, me entregando para você. A gente finge que namora, então não faz mal se a gente se beijar, e também não é nada sério. Isso não é ótimo?
- Se você vai continuar com isso, pode ir embora agora. E boa sorte na prova, amor – ela mandou um beijo no ar.
- Tá legal, chega de brincadeira, vamos estudar. Qual a primeira matéria?
- Expressões.
- De novo? Eu já estudei isso durante uns três anos.
- Pois é, de novo. Mas é fácil. Você sabe resolver?
- Me lembro de algumas coisas. Me passa um exemplo aí?
- Claro, olha esse aqui – ela o entregou o caderno, e a caneta que segurava caiu no chão. – Ai que droga, minha caneta rolou para debaixo do sofá – ela se sentou no tapete vermelho da sala, ficando de frente para o garoto. – Licença?
- Espera, deixa que eu pego – ele se sentou ao lado dela e se abaixou para olhar debaixo do sofá.
- Não estou vendo, você tá?
- Não. Licença, me deixa olhar aí onde você tá.
- Não tá aqui, eu já olhei.
- Posso olhar de novo?
- Por quê? Eu já olhei.
- Vai ver você não olhou direito, me deixa procurar – ele a empurrou pelo ombro e ela fez a mesma coisa.
- Achei, ela está bem aqui perto do pé do sofá – ela puxou o braço para o lado oposto com força e caiu em seguida. O garoto caiu sobre ela. Eles ficaram se encarando e depois começaram a rir. – Ai que droga, minha pulseira ficou presa na sua blusa – ela puxou com força algumas vezes e não conseguiu soltar. – Ai, não estou conseguindo soltar.
- Não é melhor a gente se sentar primeiro? – só então ela se deu conta que estava deitada no tapete e ele estava por cima dela. Começaram a rir de novo. A porta da bateu com força, eles se assustaram e pararam de rir.
- null, o que está acontecendo aqui? – o pai de null chegou até a porta da sala e começou a encarar os dois. Eles ficaram em silêncio por um tempo, depois se levantaram rapidamente e se sentaram no sofá. – Vamos, null. Eu quero uma explicação.
- O null veio aqui para a gente estudar matemática e... – ele não esperou ela terminar e interrompeu.
- Estudar, null? Não minta para mim. Eu vi o que vocês dois estavam fazendo.
- Que droga, pai. Eu não posso falar nada e você vem me cortar, você não entendeu nada. Vem, null. Vamos estudar lá no meu quarto – ela puxou a mão e a pulseira se soltou da blusa, juntou os cadernos e pegou a caneta no chão.
- Não. Vocês não vão a lugar nenhum – ele disse bravo.
- Vamos sim. Se você não confia em mim, o problema é seu – ela já estava com os olhos cheios d'água, mas não ia chorar. Não na frente dele. Pegou a mão direita de null que entrelaçou com sua e o puxou escada a cima.
- , VOLTE AQUI AGORA! – ele berrou, mas a garota nem ligou. Subiu para o quarto e trancou a porta.
- QUE DROGA! – null gritou assim que se jogou na cama. – UM DIA ELE ESTÁ TODO FELIZ, DEPOIS VIAJA E QUANDO VOLTA, VOLTA ASSIM.
- null, não vai dar problema para você não? – null se sentou na cadeira que estava em frente à mesa e a encarou.
- Não. Ai que droga, me desculpe por isso. Não sabia que ele ia chegar e... – algumas lágrimas começaram a cair, mas ela logo secou. – E também, nós não estávamos fazendo nada. Ele... – ela começou a chorar novamente. – Ele não confia em mim.
- Ei, ei... Não chora – ele se sentou ao lado dela na cama. – Ele só está com ciúme, null. Mas quem nos visse daquele jeito também pensaria outra coisa – eles riram. – Aí, está vendo, já consegui te animar. Se você quiser, a gente deixa para estudar outro dia.
- Amanhã, depois da aula, que tal? Eu não tenho treino.
- Pode ser. Mas amanhã, eu tenho treino. Passa lá em casa umas 14h30min? E mais tarde você chama suas amigas para ver nosso ensaio.
- Tudo bem. Vamos? Eu vou te levar até a porta.
- Não precisa, seu pai vai implicar com você. – ele se levantou.
- Não tem problema – ela se levantou, foi até a porta e a destrancou. Eles desceram as escadas e passaram pela sala.
- null, não pense que você escapou. Vamos conversar daqui a pouco. – o pai da garota se pronunciou.
- Pai, eu não tenho nada para conversar. Você não quis me ouvir, eu também não quero te ouvir – eles foram até a porta e null beijou a bochecha de null. – Até amanhã, null.
- Até amanhã – ele passou pela porta e ela fixou o olhar do outro lado da rua, onde se encontrava um casal, uma garota que aparentava ter mais ou menos a idade de null segurando um filhote de York Shire, e muitas caixas espalhadas pelo jardim. – Parece que você ganhou novos vizinhos.
- Desde que eles tenham um bom gosto musical, para mim está tudo ótimo. Ganhei uma nova amiga – ela sorriu. – Beijos, meu amor.
null atravessou a rua e foi caminhando. null pensou em ir até os tais vizinhos novos e se apresentar, mas preferiu deixar para mais tarde. Fechou a porta, atravessou a sala e foi até a cozinha. Abriu a geladeira e pegou um pouco de sorvete de flocos, voltou à sala e subiu dois degraus da escada, mas parou quando ouviu seu pai a chamar.
- O que foi? – ela o olhou com cara de tédio.
- Precisamos conversar.
- Não, não precisamos.
- null, por favor, me diga a verdade.
- Que verdade, pai? Aquela que eu estava falando e você me interrompeu?
- Eu não quero ter que te deixar de castigo, não minta para mim.
- Eu não estou mentindo. Nós não estávamos fazendo nada. Nada – ela gritou.
- Ei, o que está acontecendo aqui? – a mãe de null entrou na sala. – Minha filha, estou te ouvindo gritar lá da rua.
- A culpa é toda dele. Meu pai não confia em mim – null abaixou o tom de voz.
- O que houve aqui? null, por que seu rosto está avermelhado? Estava chorando?
- Mãe, não aconteceu nada – ela frisou a última palavra. – Aqui! Se você quer saber mesmo, pergunte ao meu pai. Porque sinceramente, eu também não sei o motivo de ele estar agindo assim.



Capítulo 05

null's POV


Subi muito puta para o meu quarto. Mas que droga, por que meu pai não confiava em mim? Nunca dei motivo para desconfiar. Deitei na minha cama e fiquei um tempo encarando o teto. Alguém bateu na porta.
- Amor, vamos conversar? – minha mãe colocou a cabeça para dentro do quarto e me olhou pedindo desculpas pelo que houve. Como se a culpa fosse dela.
- Sim, mãe – ela entrou, encostou a porta e se sentou na minha cama. E eu também. – O que foi?
- Quero saber tudo o que aconteceu antes de eu chegar e não me venha com "nada", por favor – ela esticou o braço até o criado ao lado da cama, pegou a escova e começou a pentear meu cabelo. Era sempre assim. Sempre quando nós tínhamos algo para conversar, ela vinha ao meu quarto e penteava meu cabelo. Nós contávamos tudo uma para a outra. Eu conversava sobre tudo com ela, ela sabia de todos meus segredos e eu, os dela.
- Tudo bem, eu vou contar tudo e eu juro, não estou mentindo. O null veio para cá, para estudarmos matemática juntos, meu pai ainda não tinha chegado. Quando começamos, ele me pediu para passar um exemplo para tentar resolver. Quando eu peguei o caderno, não vi a caneta em cima e ela caiu embaixo do sofá. Ficamos um tempo procurando e depois ele insistiu que eu não havia olhado direito, depois ele me empurrou, de brincadeira, óbvio, e eu também. Ficamos brincando assim, depois eu achei a caneta e puxei meu braço com força para pegá-la e ele caiu em cima de mim, porque minha pulseira ficou presa na blusa dele e meu pai chegou bem nessa hora e entendeu tudo errado. Acredita em mim?
- Acredito sim, amor. Mas quero perguntar uma coisinha, tudo bem? – eu assenti e ela continuou. – Não estou desconfiando de você, não me entenda mal. Por que quando vocês não encontraram a caneta, deixaram para lá e continuaram estudando?
- Ah mãe... Não sei. Tínhamos a tarde toda para estudar e nós ficamos enrolando um pouquinho.
- Entendi. Vou fazer outra pergunta, ok? – eu assenti novamente. – Ontem você disse que se encontraram no shopping e ele te deu carona, e hoje ele estava aqui, estudando com você. Vocês estão... Juntos?
- O quê? – disse espantada. – Na... Não, não – que droga eu gaguejei. Odeio mentir para minha mãe... Se bem que, não é uma mentira, é? Nosso namoro é só fachada mesmo.
- Pode me contar, amor. Eu prometo que não digo a ninguém.
- Não, mãe. É verdade, não estamos juntos. E não foi um encontro planejado no shopping, foi por acaso mesmo.
- Tudo bem, então me responda só mais uma coisa: Qual o porquê dessa amizade repentina? Você nunca se deu bem com os amigos do null, digo, nunca foi muito de conversar com nenhum deles.
- Bom, mãe, agora que eles entraram para o time de futebol da escola e o time de cheers também voltou, e como estamos todos do mesmo lado, passamos muito tempo juntos e eu estou começando a encontrar coisas em comum com ele... E com os outros garotos também, me entende?
- Coisas em comum? – minha mãe deu uma gargalhada. Oi? Qual foi a piada mesmo? – Minha filha, o que você pode ter em comum com algum dos amigos do null? São como água e óleo, não se misturam. O mesmo vale para null e null, sempre quando estão os sete aqui, vocês mal se encaram... Conheço todos vocês desde pequenos.
- É, mãe. Se pensa assim, por que achou que eu poderia estar com o null?
- Porque eu também já fui adolescente, null! Eu sei exatamente como sua cabecinha funciona, e além do mais, eu sou sua mãe.
- Tá, mãe. Mas acontece que nós podemos sim ter coisas em comum, tipo... É, tipo músicas. Eu gosto de música e eles têm uma banda, esqueceu?
- Não, eu não esqueci – ela voltou a gargalhar, mas que droga, porque ela está rindo assim? Tenho cara de palhaça, por acaso? – Acontece que você nunca se importou. O null vivia convidando você e suas amigas para assistirem algum ensaio deles e vocês nunca foram.
- Ah mãe, mas acontece que as coisas mudam, e as pessoas também, ok? – me virei para encará-la. Não queria parecer grossa, mas essa conversa já estava me irritando, onde ela queria chegar?
- Ei, calma. Não precisa se estressar, tudo bem? Eu paro. E não se preocupe com o seu pai, eu vou conversar com ele – ela guardou a escova no mesmo lugar onde estava e se levantou – Ah, já estava me esquecendo... Separe uma roupa bonita, vamos todos jantar com um representante de uma empresa e sua família, hoje à noite. Ele acabou de se mudar.
- Isso é sério, mãe? Logo hoje? Eu vou ter que fingir que está tudo bem com o meu pai por causa de um jantar? Posso ficar na null?
- Não, vamos todos. A propósito, você viu o seu irmão?
- Só o vi na escola. Bom... Então eu separo algo.
- Se precisar de ajuda, pode me chamar – sussurrei um "ok" em resposta e minha mãe saiu do quarto.
Peguei meu celular e olhei as horas, eram 15h24min. Precisava escolher algo para vestir. Abri meu guarda-roupa e comecei a procurar por um vestido lilás que comprara no mês passado, era perfeito para esse tipo de ocasião. Procurei nos cabides, gavetas, na cômoda e nada... Eu não conseguia encontrar. Decidi procurar outra coisa, abri o guarda roupas de novo e peguei as sacolas com as roupas que havia comprado no dia anterior no shopping. Peguei a jaqueta e pensei em combiná-la com o conjunto da minha tia, mas, provavelmente, meu pai iria me matar se eu me vestisse daquela forma para um jantar formal. Olhei nas outras sacolas: Dois shorts, um vestido com estampa floral e uma camiseta. Ótimo, não tinha nada para vestir e meu vestido lilás sumiu. Decidi ligar para minhas amigas, quem sabe não me emprestavam algo?
- null, sou eu, null!
- É a null! – ela gritou lá no fundo. – Pode miar, gata.
- Ai meu Deus, de onde tirou isso? – eu comecei a rir. – Preciso da sua ajuda.
- Acabei de inventar. Mas então, como posso ajudar? A null está aqui comigo e também quer saber.
- Tenho um jantar para ir hoje à noite, podem dar uma passada aqui?

***


- Wow! Para o mundo que eu quero descer. O null veio estudar aqui? Só vocês? Sozinhos? – null deu uma risada maliciosa.
- Sim, null. Ele veio aqui, estudar! – frisei bem a última palavra.
- Mas por que brigou com teu pai, então?
- Eu já te contei, ele chegou e entendeu tudo... – null me cortou.
- Isso eu entendi, mas se não aconteceu nada, por que ele implicou? Seu pai não é disso, null.
- Pois é amiga. Eu também não entendi nada. Do jeito que ele estava, só não me colocou de castigo por causa do tal jantar, ele sabe que se fizesse alguma coisa, eu não ia deixar passar, até porque, ele foi muito injusto comigo.
- Então, deixando o assunto de lado, vamos ao que interessa. null, você olha nas gavetas da cômoda e eu procuro no guarda-roupa. E você, null, fica quietinha aí.
- Uau, tudo bem então – fui até o outro lado do quarto e abri a cortina. Olhei pela janela e reconheci a garota do outro lado da rua, era a mesma que havia visto mais cedo. Estava correndo atrás do filhote. – Acho que eu ganhei uma vizinha nova.
- Vizinha nova? Ui, será que tem irmãos? – null se aproximou da janela. – Ela parece ser legal.
- Eu gostei do cabelo dela – null se aproximou e disse. – Vamos continuar procurando, null. Quando acabarmos, quem sabe não descemos e dizemos um "oi".
- Que cinto lindo, null. É seu? – null jogou um cinto brilhante em minha direção.
- Sim... Na verdade, não – respondi confusa.
- Sim ou não?
- Acho que não, me lembro que tem a ver com minha prima. Mas não sei se ela me deu ou esqueceu aqui, já faz tempo.
- Já sei o que você vai usar, null! E esse cinto é perfeito – null o puxou de minhas mãos.
- Ai, que ótimo. O que vou usar?
- O vestido que eu dei para a null, no aniversário dela no ano passado, que ela nunca usou.
- O quê? Meu vestido? – null perguntou surpresa.
- O quê? O vestido dela? null, pirou? Ele nunca vai servir em mim, você o comprou no ano passado, quando a null ainda era uma magrela. Vai ficar curto e não vai fechar – mais louca que essa, impossível. Aquele vestido não iria nem entrar.
- Credo, mulher, para de ser tão negativa. Nós damos um jeito. E aí, null? Empresta o vestido para a null?
- Claro, vamos lá para casa então, aí você se arruma lá, null e depois vai para o restaurante - null me impressionou. Ela amava aquele vestido, mesmo nunca tendo o usado. Até comprara um sapato para combinar.
- Ok, mas e o sapato? – eu perguntei.
- Sapato é o de menos, ou melhor, o de mais. Olha a quantidade de sapatos que você tem, null – null disse rindo. – Esse par aqui, vai ficar perfeito – ela pegou uma sandália prata, que lembrava muito a cor do cinto. – Vamos, a gente aproveita e cumprimenta a garota nova.
Saímos do quarto e descemos as escadas até a sala. Dei uma olhada entre os cômodos procurando minha mãe, para avisar que iria sair, mas não a encontrei.
- Olá, meninas – minha mãe surgiu do nada atrás de mim. Parece que lê meus pensamentos. – Vão sair?
- Oi, tia – null e null disseram em uníssono.
- Vamos para minha casa, a null vai se arrumar lá, depois eu peço para meu pai trazê-la – null continuou.
- Não precisa incomodá-lo, querida, nós passamos lá. Aproveito e troco uma palavrinha com sua mãe, faz tempo que não a vejo – minha mãe sorriu.
- Tudo bem então. Vamos, meninas? – eu disse e dei um beijo na bochecha da minha mãe. – Nos vemos mais tarde.
- Um beijo para vocês! – minha mãe abriu a porta e nós saímos.
- Vamos até lá? Quem toca a campainha? – null perguntou se referindo à casa da menina nova.
- Acho melhor a null – null disse e eu a encarei. – O que foi? Você que é vizinha dela, não a gente.
- É, você tem razão – eu disse. Aproximei-me do portão e toquei a campainha. Um garotinho de mais ou menos sete anos abriu a porta e ficou nos encarando uns segundos, depois gritou algo e saiu correndo. Continuamos esperando e uns dois minutos depois a garota apareceu.
- Olá, posso ajudá-las em algo? – ela perguntou animada.
- Oi, sou a null e essas são null e null. Viemos dar as boas-vindas ao bairro.
- Obrigada pela gentileza, meninas. Prazer em conhecê-las. Eu me chamo null, mas podem chamar de null, e eu me mudei hoje.
- É, eu vi quando chegaram, você estava com um filhote.
- Era a Mel. Eu acho que me lembro, tinha um garoto com você, não é?
- É, tinha sim... Já sabe onde vai estudar?
- Não, mas já estou matriculada em uma escola por aqui. Eu não me lembro do nome, mas sei que é aqui perto. Onde vocês estudam?
- Estudamos na Ad. O. High School.
- High School? Aqui no Brasil? – ela riu.
- É, Adell O’Sullivan High School... É uma longa históri...– null não me deixou terminar a frase.
- Opa, é aí mesmo. Vou estudar nessa escola. Que coincidência, não?
- Total... Começa amanhã?
- Não sei... Meus pais ainda não me falaram nada. Meninas, me desculpem, mas eu preciso muito ir do meu irmão, a gente se vê.
- Claro, nós também precisamos ir. Até mais – null sorriu e fechou a porta em seguida e nós seguimos caminhando.

***


- Gente, o zíper não vai fechar, e se fechar, eu vou morrer sufocada – pessoa mais insistente que a null não existe. Eu disse que o vestido não iria entrar. – Eu desisto.
- Não desiste nada, cala essa boca. Eu vou dar um jeito. null, onde tem agulha e linha? – null perguntou nervosa.
- Agulha e linha? Você pirou? Não vou mexer no vestido da null.
- Acontece que o vestido também não serve nela e vocês tem quase o mesmo corpo, se ajustar em você, também vai ficar bom nela.
- Não, null. É verdade, null? O vestido não te serve mais? – me virei de costas para encará-la. Desde que havíamos chegado null estava no computador.
- Pode mexer, null – null se virou e disse. Eu a encarei surpresa. – Calma, null, tá tudo bem. Quando eu o vesti, o zíper fechou, mas ficou muito apertado, então se servir em você, também vai ficar bom em mim, null tem razão.
- Ai, meninas, mas não tá muito curto não? Do jeito que meu pai está ultimamente... – fiquei com raiva só de lembrar o que aconteceu mais cedo.
- Claro que não, tá ótimo. Agora tira, porque eu vou ver se consigo soltar a linha e arrumar o elástico.
Três horas de esforço para um jantar. TRÊS HORAS. Esse foi o tempo que nós gastamos para conseguir arrumar um jeito que o vestido servisse em mim, mas que também ficasse bom na null.
- Prontinho, senhorita null. Agora é só esperar sua mãe chegar – null colocou o cinto e o prendeu. – Conseguimos. Agora todas nós podemos usá-lo.
- É verdade, o vestido ficou ótimo. Vamos descer – descemos e ficamos na sala sentadas assistindo a uma novela que passava na TV, mas que ninguém prestava atenção.
- Acho que todo esse trabalho merece uma foto – eu disse e peguei o celular na minha bolsa.
- Huum, e quando você descobriu que redes sociais existem? Pelo que eu me lembro, na semana passada você me disse: "null, já falei que não vou criar um Twitter, ou Facebook, ou seja lá o que você quer..." – null disse rindo.
- Quem falou de rede social aqui? – eu perguntei rindo. – Desde quando certa foto minha com null null se espalhou e criou a maior confusão.
- Confusão? Você quer dizer inveja, né? Porque meu Deus, quando o treino acabou hoje, você foi embora correndo e nem se trocou, e no vestiário as meninas só falavam disso e coisas como: "Não acredito que eles estão juntos", "Se estivessem só ficando, não postariam uma foto como aquela, ele não quis tirar nem comigo, por que com ela?", e muitos outros...
- Fala sério, essas garotas fazem de tudo para ficar com ele, ele tem praticamente a escola em seus pés, não sei o verdadeiro motivo desse maldito acordo até hoje. Tira a foto para mim?
- Sim, me dá o celular – null me levou até um canto da sala onde não havia móveis e me mandou fazer poses. Fiz algumas gracinhas e tirei até uma foto de nós três juntas e então mandei duas para o site.
- Acho que minha mãe chegou, gente. Ouvi uma buzina – eu disse colocando a cabeça para fora da janela.
- Então corre, porque você está muito atrasada – null disse e me deu um abraço e null também.
- Vejo vocês amanhã. Não se preocupe, null. Vou lavar o vestido e te entrego, ok? Obrigada, meninas! – mandei um último beijo e saí da casa de null, correndo até o carro e entrando. Olhei para o lado e meu irmão estava lá com a maior cara de merda do mundo. – null? Que cara é essa? Tá tudo bem?
- Não – ele disse seco. Deixa pra lá...
Fomos todo o caminho sem trocar nenhuma palavra. Eu estava brava com meu pai e null também não estava a fim de conversa. O único som no carro era do rádio, que estava deixando minha mãe sem paciência pelo visto, pois a cada minuto trocava de estação. Depois de um tempo, enfim chegamos. Não foi um trajeto muito curto, nem muito longo, durou cerca de 20 minutos. Meu pai estacionou o carro e nós descemos. Passamos pelas enormes portas de vidro do restaurante e ele deu o nome ao maître e nos sentamos, enquanto esperávamos pelo tal representante. Passado uns 10 minutos, meu pai se levantou e voltou em seguida com o cara e sua família. Estava distraída mexendo em meu celular quando uma voz muito familiar desviou minha atenção. Era null. Ela era a filha do representante.
- null? – ela disse quando me viu.
- null? Meu Deus, que mundo pequeno.
- Vocês se conhecem? – meu pai me perguntou. Evitei contato visual e sussurrei um "aham" em resposta.
- Nos conhecemos hoje, Sr. null. A null foi com as amigas me dar boas vindas ao bairro – null disse simpática.
- Ah, quanta educação – a mulher que julguei ser a mãe de null se pronunciou. – Aprenda com ela, null.
- Não preciso. Já sou muito educada, Mirella. – impressão minha ou o clima ficou tenso? Mirella? Por que ela não a chama de mãe? Uuui, será que a null não vive com a mãe? Gente que trágico. Eu não me imagino sem minha mamãe. Infantil? Eu sei, sou mesmo.
- Apenas acho que devia passar mais tempo com null – Mirella disse seca. Sabe aquele tipo de pessoa que finge ser o que não é? Mirella me pareceu aquele tipo de pessoa que se acha a última bolacha do pacote.
- E eu acho que você devia parar de cuidar da minha vida – null gritou e se levantou indo em direção ao banheiro. Eu como uma "boa nova amiga" fui atrás.
- Você não gosta dela, não é? – perguntei quando entramos.
- Sinceramente... Não – nós rimos. – Mas ela faz meu pai feliz, e eu o amo muito para acabar com isso.
- Se eu estivesse em seu lugar, acho que agiria da mesma forma. Mas não hoje – nós rimos novamente.
- Hoje, por quê? Porque ele te fez vir a um jantar idiota?
- Não, já estou acostumada com esse tipo de coisa. Nós brigamos hoje mais cedo.
- Entendi... E eu suponho que seja por causa daquele garoto que estava na sua casa.
- Você é vidente? – sou péssima em piadinhas, eu sei, mas estou conseguindo animá-la, então vale.
- Não. É que lá em casa é a mesma coisa. Meu pai não gosta de me ver sozinha com algum garoto.
- Acontece que meu pai nunca foi disso, sabe? Eu sempre levei meninos lá para casa, até porque houve uma época que eu participava do teatro e vivíamos ensaiando as peças lá. Eu não entendi, de uma hora para outra parece que a confiança desapareceu.
- Poxa, que droga. Mas pais são assim mesmo. Um dia está tudo bem e no outro não, e eles vêm descontando na gente... Vai ver, logo, logo, ele relaxa com isso.
- Espero que sim. O que acha de voltarmos para a mesa? Desculpe, mas preciso evitar mais confusão.
- É, eu também!

***

Casa. Até que enfim, estamos em casa. Como esse dia foi longo. O jantar foi um completo desastre. Deixamos o papo de "evitar confusão" pra lá e fizemos tudo totalmente ao contrário. null implicava com a madrasta o tempo inteiro e eu também não deixei barato. Estava com raiva dele e ao mesmo tempo em que null provocava Mirella, eu provocava meu pai. Fizemos uma bela dupla. Essa garota é ótima. Eu já estava na merda mesmo, com certeza meu pai iria vir conversar fiado para o meu lado pelo o que aconteceu mais cedo. Um motivo a mais, não faria diferença. A única coisa que quero agora é tomar um banho e ir dormir. Não aguento mais nenhum acontecimento hoje. Queria muito saber o que houve com o null também, mas eu já insisti demais. Quem sabe amanhã, ele não resolve me contar? Ele nunca me esconde nada. Subi correndo para o meu quarto e fui em direção ao banheiro. Tomei um banho rápido e vesti meu pijama estampado de ursinhos que eu amo. Desci as escadas e fui até a cozinha, não comi praticamente nada naquele jantar e estava morta de sede. Abri a geladeira e tirei a jarra com suco de laranja, enchi meio copo e bebi. Guardei, saí da cozinha e quando cheguei à sala, dei de cara com meu pai e minha mãe sentados no sofá com uma cara que me lembrava muito a garota do filme 'O Exorcista'. Ah, o que foi agora?



Capítulo 06

- Definitivamente, precisamos conversar, null – meu pai disse. Ótimo. Adeus boa noite de sono. Meu pai não me deixaria ir dormir por nada.
- Não. Definitivamente, não precisamos.
- null! – minha mãe me repreendeu. Ai que maravilha, até minha mãe está contra mim agora?
- Olha, já são dez da noite. Eu tenho que estudar agora, para um mini teste de matemática que vou ter amanhã, já que alguém não me deixou estudar mais cedo. E ainda preciso dormir, pois seis horas da manhã, devo estar de pé – tá, eu precisei inventar alguma coisa, não tinha nenhum teste no dia seguinte, mas queria muito dormir. Fora que a desculpa casou perfeitamente com o que aconteceu hoje.
- null, você teve o dia inteiro para estudar, não o fez porque não quis. Nós vamos conversar agora, e ai de você se tirar uma nota ruim nesse teste – meu pai disse bravo. Fala sério, enquanto ele viajava trocaram ele por um clone do mal ou algo do tipo? Porque eu nunca o vi desse jeito.
- Tá, se vamos conversar, eu começo: Domingo você me entregou o cartão e a senha e disse: "Vá ao shopping e gaste, eu não me importo." E terça você simplesmente SURTOU porque o null me deu carona. Hoje, quando ele veio ESTUDAR aqui, você chegou e entendeu TUDO errado. Não me deixou nem explicar. Por acaso, você fez algum tipo de lavagem cerebral nessa viagem? Porque não parece o mesmo pai de quatro dias atrás.
- null, eu não estou para brincadeiras. E você está de castigo... – eu o olhei incrédula. O que eu fiz? E minha mãe? Por que não diz nada e só fica nos encarando? Que droga. Acho que vou sumir por uns dias.
- DE CASTIGO? EU NÃO FIZ NADA, ENTENDEU? NADA. VOCÊ ESTÁ SENDO MUITO INJUSTO COMIGO. E VOCÊ, MÃE? NÃO DISSE QUE CONVERSARIA COM ELE? – eu gritei. Perdi a paciência, eu não seria punida pelo que não fiz.
- NÃO ME INTERROMPA MAIS E NÃO GRITE COMIGO. ESTÁ DE CASTIGO SIM, POR TRÊS MOTIVOS. PRIMEIRO: VOCÊ E AQUELA OUTRA GAROTA, FICARAM MALUCAS? VOCÊS ESTRAGARAM O JANTAR. COM QUE CARA EU VOU CONVERSAR COM O SR. ? SEGUNDO: QUE ROUPA ERA AQUELA VOCÊ ESTAVA USANDO? AQUELE VESTIDO ERA MINÚSCULO. ONDE VOCÊ ARRUMOU? QUERO QUE JOGUE NO LIXO. E POR ÚLTIMO: VOCÊ ME DESOBEDECEU. QUAL A PARTE DO "EU NÃO QUERO VOCÊ ANDANDO COM ELE" QUE NÃO ENTENDEU? – ele berrou. Com certeza acordou a vizinhança toda com esse escândalo. Falar de mim e da null no jantar, eu até já tinha previsto, mas reclamar do meu vestido? Ou melhor, da null. Fala sério, em que século meu pai vive? Nem sei o porquê de surtar agora, já usei saia muito menor. E agora vem com essa de "não quero você com ele". Meu pai conhece o null desde quando ele tinha uns dez anos de idade. Ah, mas eu tenho argumentos, não fico de castigo por nada.
- DÁ PARA PARAR DE GRITAR? – ok, eu sei que estava gritando também, mas estava com raiva. – Tenho certeza que você não vai ser o único envergonhado amanhã, provavelmente o Sr. null vai ficar muito mais sem graça. É sério isso do vestido? Em que século você vive, pai? Quer que eu use roupa de freira? Além do mais, esse vestido nem meu é. E eu não entendo o motivo de você começar a implicar com o null, do nada. Ele sempre foi amigo do null. SEMPRE. Você o conhece desde pequeno. Qual o problema?
- null, não vou discutir. Você me entendeu? Castigo: Duas semanas, da escola para casa, eu vou buscá-la. Ouviu?
- Ouvi, mas não vou obedecer. Tenho um trabalho de artes para entregar. E vou precisar ir para casa de alguém fazer, porque é em dupla.
- Casa de quem?
- null.
- Ele que venha aqui, e marque em um dia que eu estiver de folga.
- É sério? Vai mesmo ficar controlando com quem eu faço meus trabalhos de escola? Eu tenho um trabalho para fazer e preciso estudar. Ele me ofereceu ajuda e eu também. Então, eu vou para a casa dele amanhã, e se quiser aumentar meu castigo, aumente. Se quiser me buscar na escola, que busque. Ele é amigo do null e agora é meu amigo também, não vou deixar de vê-lo. E por falar no null, deviam ter ao menos procurado saber o que houve com ele, em vez de me encher de castigo. Já posso subir ou vai falar mais?
- null, não me faça perder a paciência. Você me ouviu e já está de castigo e se não me obedecer...
- Se eu não obedecer, o quê? Vai me bater? Eu acho que não. Agora eu vou subir e fazer o que eu preciso fazer. E vocês, façam o favor de não olhar mais na minha cara, porque eu não entendo o motivo de tanta punição.
Isso foi péssimo, eu sei. Fiz muito drama com essa última frase. E soou muito infantil também. Quantos anos eu tenho mesmo? Dez? Não, dezesseis, quase dezessete na verdade, mesmo não parecendo. Aposto que minha idade mental é cinco. Saí da sala, subi direto para o meu quarto e tranquei a porta. Não estava a fim mesmo de vê-los, e provavelmente estou muito fodida. Nunca brigamos assim, até porque meu pai não se importa. Não se importa com o que visto, se eu saio com algum garoto ou faço uma amiga doida. Já perdi a conta de quantas vezes a null ou a null disseram alguma merda na frente do meu pai e ele ainda fez piada. As únicas coisas que ele me diz são: "Não fique grávida" e "Não use drogas", o que é muito desnecessário, não sou idiota. Estou mesmo acreditando nessa possibilidade de lavagem cerebral. Só que não. Me joguei na cama e liguei a TV. Desliguei o despertador. Não iria sair do meu quarto amanhã. Só quando a casa estivesse vazia. Fiquei mais uns minutos vendo TV e dormi. Passei o dia todo no quarto, só saí de manhã, quando o null estava na escola e meus pais trabalhando. As horas nem demoraram muito a passar. É engraçado, quando você está à toa, as horas voam. Já eram quase sete da noite, quando resolvi mandar um SMS para null e null resumindo o porquê de não ter ido à aula. As aulas de quinta feira são muito desnecessárias, e ainda teria uma palestra que iria durar três horários. Tenho certeza que não perdi nada. Tomei um banho rápido e fiquei assistindo TV, enquanto comia uns biscoitos. Acabei lembrando que eu deveria ter ido à casa do null hoje. Sem problemas, vou amanhã, ou na segunda, que seja. Não é só porque estou de castigo que vou deixar de ir a casa dele. Não mesmo. Vou aproveitar que amanhã é sexta e durmo na null ou na null. E não estou nem aí se meu pai aparecer na escola, já estou ferrada mesmo. Fiquei mais meia hora vendo TV e acabei pegando no sono. Acordei 6h com o despertador. Tomei um banho rápido e lavei o cabelo. Não suportava ficar mais de dois dias sem lavar o cabelo. Me troquei, peguei o material e saí do quarto.
- Bom dia, Barbie – null disse quando nos esbarramos no corredor. Ele parecia mais animado. O que uma boa noite de sono não faz, não é? O sono faz milagres. – Dormiu o dia inteiro?
- Dormi sim. Bom dia, flor do dia. Está melhor?
- Flor do dia? – nós rimos do apelido. – Eu estou melhor, sim.
- Que bom, flor do dia. Não suporto vê-lo chateado, você sabe. O que te irritou ontem? Ops, anteontem?
- Só uma briga idiota com o null, mas já nos falamos e está tudo bem. Mas e você, que gritaria foi aquela ontem? Ops, anteontem?
- Digamos que, eu estou muito ferrada. Acha que eu peguei pesado no jantar?
- Eu acho que sim, mas como conheço você muito bem, sei que não fez isso à toa. O que aconteceu aqui mais cedo? – expliquei ao null toda a história e depois ficamos rindo e conversando bobagens como a lavagem cerebral que aconteceu com nosso pai, até que decidimos descer para tomar café.
- Bom dia, meus amores. null, está tudo bem? Ficou o dia inteiro trancada no quarto – minha mãe disse quando nos viu. Fiz cara de tédio e fui até a cozinha sem dizer nada. Peguei uma maça e já estava saindo de casa quando meu pai apareceu - do nada - na minha frente.
- Onde pensa que vai? Eu vou levá-la para a escola. E por que não foi à aula ontem? Quer que eu aumente o castigo? – ele perguntou bravo.
Que mau humor, hein? O dia só está começando. Não o respondi e fiz a mesma cara de tédio de antes. Voltei para a cozinha e decidi sair pela porta dos fundos, mas estava trancada. Olhei em minha bolsa e percebi que havia esquecido minhas chaves. Voltei ao meu quarto para pegá-las, porém não encontrei. Que ótimo, meu pai deve ter pegado. Como sou uma pessoa muito inteligente e prevenida, peguei minhas chaves reservas e umas roupas. Iria passar o fim de semana com as meninas. Voltei à cozinha e saí pelos fundos. Eles nem notaram. Dei a volta no quarteirão, até chegar à porta da frente da minha casa e decidi esperar um pouco, para ver se a null aparecia. Tinha vinte e cinco minutos, até a primeira aula. Minha aula só começava às 07h15min, mas eu acordava às seis. Eram quinze minutos até eu criar coragem e me levantar da cama. Ainda tinha tempo de tomar um banho e um café e até fazer alguma lição. Eu odiava acordar cedo, mas infelizmente, era necessário. Passaram-se 10 minutos e ela apareceu.
- Bom dia! – eu disse animada.
- Só se for pra você. Estou de castigo – ela disse desanimada. – Por que não te vi ontem?
- Eu fiz um pouco de drama ontem e não saí do quarto. Também estou de castigo, já estava prevendo isso. Mas aquele jantar foi impagável. Faria tudo de novo. Acredita que ele usou até meu vestido como argumento para me deixar de castigo? – começamos a rir.
- Eu também faria tudo de novo. Meu primeiro dia na cidade e eu já encontrei alguém legal. Nunca pensei que seria fácil assim. Não tenho facilidade em me enturmar ou achar alguém com gostos parecidos, essas coisas...
- Eu te entendo. Principalmente quando somos mais velhas... Você foi para a escola ontem? Porque eu adoraria te mostrar as coisas.
- Não fui. Precisava de um dia para me instalar, até começar a ir para a escola.

***


- E daquele outro lado, fica a cantina. É isso – decidi deixar para mostrar a escola para null quando estávamos no intervalo. Assim poderíamos caminhar pela a escola sem pressa.
- Nossa. Aqui é enorme! – ela estava certa. Eu nunca havia reparado como o colégio era grande. – Ei, espera... Aquelas não são null e null?
- Sim. Vamos até lá.
- Bom dia, minhas gatas. Ficamos preocupadas com você, null! – null disse quando nos encontramos. – Mas e você, null, o que está achando do colégio?
- Enorme, e eu sou uma pessoa lerda. Preciso tomar cuidado para não me perder.
- E então, null... Como foi o jantar? Você nos contou resumidamente. Quero detalhes. – null me perguntou. Lancei um olhar cúmplice para a null e começamos a rir. null e null não entenderam nada e nós explicamos toda a história, até a parte dos castigos.
- Eu não acredito que seu pai implicou com o vestido, null. Não estava nem um pouco curto. A propósito, você viu o sucesso que aquela foto fez? – null ainda estava rindo da nossa história no jantar.
- Sucesso? Que sucesso? – com tudo o que aconteceu, eu tinha até me esquecido disso.
- Pois é, garota, sucesso. Choveram likes e comentários dizendo como você estava linda, e tal.
- Mas que gente falsa. Aposto que não conheço ninguém.
- Deixa de ser chata, null. Vem, vamos apresentar a null aos garotos.
- Que garotos? – eu e null dissemos em uníssono e só depois me lembrei de que, agora, éramos amiguinhas do meu irmão e dos outros.
- Vem, null. Você vai adorá-los – null foi nos puxando até a mesa. – Bom dia, garotos.
- Bom dia – eles responderam em coro.
- Já repararam que é sempre a null que diz bom dia? – null disse pensativo. – Ei, você não é a garota do jantar?
- Sou sim, null. Prazer em conhecê-los, me chamo null, mas podem me chamar de null. Podemos ficar aqui?
- Claro, sentem aí – null se pronunciou. Os garotos estavam sentados nos dois bancos, então tivemos que sentar entre eles e óbvio que o null não perdeu uma oportunidade de se exibir para as pessoas e me puxou para sentar ao seu lado. – Fiquei preocupado, amor. Você sumiu ontem e nem apareceu lá em casa. Pode ir hoje? – com tudo o que aconteceu eu acabei esquecendo de dizer para as meninas que ele nos convidou para ouvir a banda.
- Posso sim. O convite para ver vocês ensaiando ainda está de pé?
- Está. Vocês podem ir?
- Podemos – null respondeu e logo em seguida ficou sem graça. Não entendo essa garota.
- Vamos estudar lá para três da tarde, apareçam lá umas seis...
- Estudar? – null deu um sorriso malicioso.
- Estudar de novo, cara? – null acompanhou null.
- De novo nada... Nem conto o que aconteceu.
- Huum, o que aconteceu? – null sorriu novamente. Fala sério, que gente mais pervertida.
- Só aconteceu merda, se quer saber, e eu não estou a fim de relembrar – eu disse desanimada.
- Então gente, é ensaio de quê? – null perguntou.
- Nós temos uma banda – null disse orgulhoso.
- Que máximo. O que vocês tocam? Funk? – ela riu da própria piada.
- É banda, não bonde – null disse, arrancando risadas de todos. – Tocamos um pouco de tudo. Covers, músicas que fazemos...
- Não me impressionaria se fosse funk. É o que as pessoas mais ouvem aqui no Brasil – é impressão minha ou a null está secando o null? – Eu adoro música. Quando era mais nova tocava um pouco de bateria, mas meu irmão nasceu e minha madrasta proibiu.
- Que irônico. Eu toco bateria!
Papo vai, papo vem... Discutimos um pouco de tudo. null se deu super bem com todos. Será que fui só eu quem percebeu que ela adorou o null? Nunca fui de conversar com ele, na verdade, o único com quem eu conversava ali era meu irmão, mas ele era realmente muito bom de papo, e a null adorou. O sinal bateu, anunciando o fim do intervalo e no próximo horário, coincidentemente, todos nós tínhamos literatura juntos, e null Aparecido da Silva null insistiu para que fôssemos caminhando de mãos dadas. Ele não cansa de se exibir, não?
- null! null! – estávamos caminhando - de mãos dadas - até a sala, quando uma garota do primeiro ano, que se eu me lembro bem, se chamava Alice - já tinha cruzado com ela nos testes para torcida - apareceu e nos cumprimentou. Eu nunca conversei com ela, quanta intimidade. – Vocês estão mesmo namorando? Que fofos! – que falsa! Aposto que só queria confirmar se ainda tinha alguma chance com o null. Perdeu , baby. Ele é meu. Ok, de brincadeira, mas é. Estou começando a gostar disso. Ver a cara dessas meninas mortas de raiva é muito interessante.
- Sim, estamos. Pode nos dar licença? Precisamos ir para a aula – eu disse seca. E um pouco convencida, admito. Que foi? Ok, subiu à cabeça, mas se ele estava se exibindo também, por que eu não podia tirar uma vantagem nisso?
- Mas é claro. A propósito, adorei seu vestido. Caiu tão bem em você!
- Muito obrigada – eu sorri falsa e ela se distanciou. Garota cínica.
- Uau! O que foi isso? – null disse surpreso. Entramos na sala e nos sentamos em dupla.
- Isso o quê?
- "Sim, estamos. Pode nos dar licença? Precisamos ir para a aula" – null tentou imitar minha voz, o que foi hilário.
- Só me importo com o que é meu – eu disse como se fosse óbvio. O que me deu na cabeça? Preciso muito pensar antes de falar, agora ele vai se achar ainda mais.
- Ah, e eu sou seu?
- Nosso acordo diz que sim.
- Então isso quer dizer que eu posso te beijar?
- Desde quando você tem uma queda por mim? – ele me olhou surpreso. – Estou falando sério, por quanto tempo escondeu isso? Porque essa vontade toda de me beijar só tem um motivo: Você é a fim de mim, mas eu nunca te dei bola. Agora sim eu entendi esse acordo estúpido.
- Olha, não é nada disso. Agora que estamos nessa coisa de namoro falso e não podermos sair com ninguém...
- Você pensou que nós poderíamos ficar... Você quer quebrar o acordo? Eu não vou me importar.
- Não – que droga. Ele já disse que estava cansado de fingir. Tá, ele não disse, mas eu entendi isso, por que não acabar com essa coisa agora? – Quando vamos fazer o trabalho de artes?
- Não sei. Estou de castigo esses dias...
- Castigo? Foi por causa do que aconteceu?
- Mais ou menos. Meu pai surtou porque eu e a null estragamos o jantar e depois por causa do meu vestido, ele insistiu que ficou curto demais e me deixou de castigo.
- A propósito, adorei seu vestido. Caiu tão bem em você! – ele repetiu a frase que a garota dissera no corredor e nós rimos. – Estou falando sério. Você ficou gata.
- Obrigada. Aquele vestido nem meu é. É da null – acho que ficara corada. Não sabia me virar com elogios, mesmo que seja de brincadeira.
- Como serviu em você? Ela é mais magra.
- Tá me chamando de gorda?
- Não. Quis dizer magra no sentido de corpo. Você é mais gostosa – tarado? Imagina.
- A null que arrumou.
- Entendi... O que você aprontou no jantar para ficar de castigo? – expliquei a história de forma resumida para ele, que não parava de rir.
– Falando na null, você viu como ela estava olhando para o null?
- Nossa, pensei que só eu havia percebido. Eu acho que rolou um clima.
- Eles serão o próximo casal, aposto.
- Próximo casal?
- É. Somos quatro garotos, quatro garotas... Vai me dizer que não pensou nisso?
- Não pensei. Eu não acho que nenhuma das minhas amigas vai querer namorar meu irmão.
- Aposto na null.
- null? A null é minha melhor amiga, conheço desde os seis anos. Se ela sentisse algo pelo null, eu já teria percebido.
- É ele quem gosta dela. Eu já te disse isso.
- Eu me lembro. Mas não pensei que estivesse falando sério. Se ele gosta dela, por que está com a Danielle?
- Porque a null não quis? Ah, eu sei lá... Acho que ele nunca tentou algo também.
- Srta. null e Sr. null, façam silêncio por favor – a Sra. Fernanda pediu e nós assentimos. Em minha opinião, ela era a única professora que prestava naquela escola. Olhei para o lado e vi a null e null rindo, e os garotos também. null, como sempre, nos ignorava. Eu a adoro, é uma das minhas melhores amigas e desse jeito não dá. Não vou estragar isso por um garoto que nem meu namorado é de verdade. Eu vou conversar com ela hoje.
- Por que você não fala com a null? Eu falo com o null.
- null isso é estranho, ela é minha melhor amiga e ele é meu irmão.
- Não tem nada de estranho. Olha como é simples, tá na cara que a null simpatizou com o null, e ela é legal. O null é a fim da null desde sempre. E depois, é só juntar a null com o null.
- A null com o null? Ficou doido? Isso vai ser impossível. Ela gosta de você.
- null, null... Façam silêncio, por favor! – conseguimos irritar a única professora que sorri nesse colégio, ai que ótimo.
- Me desculpe, Sra. Fernanda – eu disse sorrindo. Ela me adora, eu acho.
- Mas eu vou falar com ele... Ah, quer saber, a gente resolve isso hoje de tarde – null continuou insistindo no assunto. null e null? Não iria dar certo nunca.
- Eu vou com você, ok? Meu pai disse que viria me buscar, porque como eu estou de castigo, é só da escola para casa.
- Você é louca? Seu pai vai te matar.
- Ah, vai nada. Eu já estou toda ferrada mesm...
- E , SAIAM DE SALA AGORA! – a professora bateu com o livro na minha carteira. Virei e estavam todos os cinco rindo, de novo. Juntamos nosso material e saímos da sala, indo em direção ao pátio.



Capítulo 07

- Vamos matar a última aula? – null me perguntou como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Eu tenho geografia e você?
- Espanhol. Mas se ficarmos aqui, o Carlos aparece e nos manda para a sala – Carlos era o nosso inspetor chato. Não podíamos mascar um chiclete na frente dele que já se irritava.
- Vamos para casa então. Na parte de trás do colégio, onde fica aquele jardim que era da diretora, tem um muro bem baixinho. Eu já pulei.
- Eu não sei pular muro – eu tinha um pequeno medo de altura. Quando era mais nova, fui ao parque com meus tios e decidi ir à roda gigante sozinha. Resultado: A energia acabou e eu fiquei presa lá em cima por quase três horas. Idiota, eu sei. Mas coisas idiotas acontecem o tempo todo.
- Eu te ajudo a pular.
- Vamos lá então... Não tenho nada a perder, a não ser uma aula chata de espanhol – é, minha conversa com a null ficaria pra depois. Fomos correndo até o tal jardim. Eu nunca havia ido para esses lados da escola, e era muito lindo. null subiu em uma árvore próxima ao muro e depois me ajudou. – Que droga, eu não vou conseguir.
- Vai sim. Sobe aqui onde eu estou, não tá longe do muro. Depois é só pular. Vem, me dá as mãos – ele esticou o braço. Estava um galho abaixo dele. E se essa coisa quebra com nós dois? – Vai, null, me dá as mãos – me apoiei em um galho que estava mais abaixo de mim e segurei as mãos dele. Se eu dissesse que elas me transmitiram confiança, acreditaria? Foi como se o medo que eu estava sentindo agora há pouco, desaparecesse. Consegui subir no galho mais alto e fiquei ao lado dele. – Agora eu vou pular o muro e te esperar do outro lado, ok?
- Não. Eu não vou conseguir pular e vou cair de cara no chão.
- Não vai nada. O muro é baixo, você vai ver. Você vai cair em pé.
- Mas eu tenho medo. Eu vou subornar o porteiro e sair pela frente mesmo, me ajuda a descer – que droga. Meus olhos começaram a marejar. Estava quase chorando. Eu realmente tinha medo.
- null, você sabe que ele não vai deixar. Vamos, eu seguro você. Você não vai cair.
- Promete?
- Prometo. Não precisa chorar – ele sorriu. Por que eu sentia que podia confiar nele? Nem amigos nós éramos. Mas quem sabe não podíamos ser? Já que íamos passar um mês juntos. E os outros garotos também? Pareciam ser legais. null se apoiou no tronco da árvore, pulou o muro e gritou algo como "sua vez". Assim como ele, me apoiei no tronco da árvore, e me sentei no muro. – Vem, null, pula. Eu consigo te segurar. Não é tão alto – null se posicionou bem em minha frente, eu pulei e ele me pegou. Realmente, não era muito alto. – Foi fácil, não foi?
- Foi. Pode me colocar no chão agora – não quis parecer grossa, mas aquela situação estava me constrangendo um pouco.
- Prefere ir a pé mesmo ou dar a volta até a frente do colégio e pegar o carro? – ele me colocou no chão e perguntou.
- Carro? Você dirige mesmo? Tipo, com carteira?
- Sim. Já sou maior de idade. Não se lembra do dia do shopping? Eu te dei carona.
- Lembro, mas pensei que você ainda tivesse dezessete.
- Você pensou que eu fosse sair dirigindo sem carteira?
- Pensei. O null fazia muito isso. Achava que ele fosse o mais velho.
- A diferença é de alguns meses... Espera, a null também dirige, não é?
- Dirige. Ela também é maior de idade.
- Ela já foi reprovada? Porque ela também é do segundo.
- Não. Ela só entrou atrasada, como o null. Mas e você? Já foi reprovado?
- É a vida...
- É a preguiça, isso sim.
- Prefere pegar o carro ou ir a pé?
- Ah, para mim tanto faz.
- Prefiro ir de carro, mas acho melhor ir a pé. Se nós aparecermos lá na porta agora e alguém nos ver, vai dar problema.
- Ok. Deixa eu mandar um SMS para a null. Que horas elas podem ir à sua casa?
- Já que vamos mais cedo, umas 16h.
- Só um minuto – peguei meu celular em minha mochila e mandei uma mensagem dizendo para ir às 16h e buscar a null. Já que ela ainda era nova na cidade e não sabia nada. Ela respondeu um "ok", e nós fomos caminhando.

***

- Você entendeu? – perguntei, depois de ter explicado a mesma coisa pela quinta vez. Ficamos boa parte do tempo à toa, e então fomos estudar. O trabalho ficaria para outro dia. Nossos amigos já deviam estar chegando e eu já estava cansada, ele era muito lerdo.
- Entendi.
- Entendeu mesmo? Não quero ficar com fama de má professora não.
- Entendi, mesmo. Mas você é uma péssima professora – ele começou a rir e eu o estapeei.
- Péssima? Nunca mais ajudo você também. Eu sou ótima professora, você que é um péssimo aluno.
- Péssimo aluno por quê? Eu prestei atenção em tudo e nem conversei.
- Ah, e por que eu sou péssima professora, então?
- Porque eu não consigo prestar atenção, você é muito gata e eu quero te beijar – ele se aproximou e eu o bati na cabeça.
- Vai começar...
- Outch! Não gosta de receber elogios não?
- Eu gosto. Mas você é um tarado – não conseguíamos parar de rir. Talvez fosse mais fácil fingir se ficássemos amigos e estava dando certo.
- Não sou nada. Eu sei que você está doida para ficar comigo, pode admitir.
- Se eu te der um beijo, você para com isso?
- Não.
- Então, tá. Agora que não ganha beijo mesmo.
- Eu estava brincando.
- Eu não.
- Eu paro. Só um beijo, vai.
- Para? Porque tem alguma coisa me dizendo que não.
- Não confia em mim? – ele se aproximou de novo.
- Não.
- Pois devia. Eu disse que não te deixaria cair do muro e você confiou em mim, e pulou... – o garoto mais cobiçado da escola - como se eu me importasse com isso - estava ali, se entregando para mim e a única coisa que eu queria fazer era bater nele, mas não o fiz é claro. Que mal um beijo faria? Quem sabe não parava com essas brincadeirinhas estúpidas?
- Devia mesm... – quando ia terminar a frase, meu celular tocou. Li no visor "mãe". Será que ela sabia que eu estava com null? Continuava brava com ela e pensei em não atender. Recusei a chamada três vezes, mas ela não desistiu. Deveria ser algo importante, então decidi atender. – Só um minuto, null. É minha mãe – eu disse baixo e ele assentiu. – Alô?
- null, eu preciso que me faça um favor. Não te vi mais hoje de manhã, depois que desceu com o null. Falando nisso, onde está? Seu pai está louco atrás de você.
- Foco, mãe. Qual é o favor?
- null, escute bem, não vou insistir nisso, mas seu pai está muito bravo. Não apronte nada! Eu preciso que você vá com o null buscar seu primo no aeroporto. Ele está chegando.
- Ah, mãe... Por que eu tenho que ir? O null vai sozinho. E quem é que está vindo?
- Quem vem é o Rafael. Ele vai passar algumas semanas conosco. Você tem que ir porque eu estou mandando. E também, estou em horário de trabalho e devo chegar tarde. Você é mais educada que seu irmão, vamos combinar... Ele se sentiria melhor sendo recebido por você.
- Ah, o Rafael é legal – disse desanimada. Isso não é totalmente mentira. Uma vez nós quase ficamos então, sim, ele é um pouco legal. – Mas não vou poder ir, não estou em casa e não pretendo voltar tão cedo. Não se preocupe, e diga ao meu pai que não estou me drogando, nem nada. Beijos – desliguei o telefone. Não estava mesmo a fim de ter mais um menino no meu pé. – O que estava dizendo mesmo? – voltei a encarar o null.
- Quem é Rafael, amor? – isso é ciúme? Bingo! Obrigado, null. Hora perfeita para te provocar.
- Rafael? Ah, só um primo meu...
- Primo? Quantos anos?
- Não sei, deve ter mais ou menos a idade do null. Por que, amor? Está com ciúmes?
- Ciúmes? Não mesmo.
- Ah, sei... Dá para ver na sua cara.
- Eu não sinto ciúmes. Muito menos de uma namorada falsa – ele estava bravo. Eu não conseguia parar de rir, ele estava mesmo com ciúme? Claro que não, null. Por que ele teria ciúmes se nem namorados éramos? Ele tem razão. E afinal, por que eu estava me importando com isso?
- Tudo bem, eu finjo que acredito.
- Tudo bem. Eu estava dizendo... Que deveria confiar em mim.
- Deveria mesmo?
- Já disse que sim... – me aproximei dele e dei um selinho. Comecei a rir logo depois, pela sua expressão. – O que foi isso? – a cara que ele fazia era hilária.
- Um selinho.
- Sério? – ele foi irônico. – Já volto – ele se levantou e foi em direção à cozinha. – Quer alguma coisa para beber?
- Não, valeu. – Ouvimos a campainha tocar e logo em seguida um grito.
- ! É O ! ESTOU ENTRANDO! – para que tocar mesmo a campainha quando se tem a chave?
- Oi, null – eu disse quando ele apareceu na sala.
- Ei, Barbie! Onde está o null?
- Cozinha.
- Ah... Por que sumiu hoje de manha? Ia perguntar no intervalo, mas esqueci. E depois da aula?
- Eu saí pela porta dos fundos mais cedo e matei a última aula, já que a professora nos expulsou da sala e vim para cá com o null.
- Estou de olho em vocês – ele disse sério. Conhecem alguém mais bipolar que o meu irmão? Eu não. Numa hora ele me joga para cima do null e na outra, muda de ideia.
- Opa! Falando de mim, cara? – null apareceu na sala.
- Sim.
- Falando o quê?
- E então... Cadê o resto do povo? – eu perguntei sem graça.
- Liguei para o null e ele está vindo com o null. A null passou lá em frente agora para buscar a null e deve estar indo buscar a null, sei lá... – null disse.
- Vou falar com a null, me deixa achar meu celular – peguei minha bolsa em cima da mesa, me sentei no sofá e comecei a procurar por ele.
- Ficaram o dia inteiro estudando ou fizeram o trabalho também? – null disse, se sentando na poltrona em minha frente. Consegui achar meu celular e mandei um SMS para null. Ela respondeu dizendo que já estava chegando com as meninas.
- E aí, caras! null! – null chegou e nos cumprimentou. – Onde estão as garotas?
- Chegando – eu disse desanimada. Que foi? Eu era a única garota ali, estava sem graça.
- Que desânimo – null disse e começou a me encarar. null começou a gargalhar e ninguém entendeu nada.
- Qual foi a piada? – eu perguntei brava. Esse menino é idiota?
- Hey! Chegamos! – null gritou quando apareceu na sala.
- Sério? Nem percebi – null foi irônico.
- Então... O que está havendo aqui? Estão todos quietos demais – null perguntou e se sentou ao meu lado. – Menos o null, qual foi a piada? – ele deu de ombros.
- Viemos aqui ensaiar ou não? – null perguntou. – Vamos descer?
- Vamos – null disse.
Aproximei-me das garotas e fomos os seguindo. Descemos até um porão, ou isso era uma garagem? Ainda existem bandas de garagem? Não importa. Havia uma bateria, uma guitarra, um baixo, um microfone e um violão. Um sofá velho encostado na parede e vários pôsteres de diferentes bandas. null parecia encantada com tudo aquilo, null e null não estavam dando tanta importância assim. Sentamos e eles começaram a tocar algumas músicas. Eles eram bons. Hoje em dia era difícil achar gente que tocava em bandas assim. null tinha razão. O que as pessoas mais ouviam e tocavam (alguns até faziam sucesso), era funk. E que sinceramente, eu não gostava de jeito nenhum. [N/A: Nota importante: Eu não gosto de funk. Mas também não tenho nada contra. Perdoem-me se alguém aqui curte. Se eu perguntasse isso, ficaria chato responder aquele tanto de coisa.] Ficamos bastante tempo os ouvindo tocar. Subimos e voltamos todos para sala.
- Eu quero uma pizza – null já estava com o telefone nas mãos.
- null, posso ficar na sua casa hoje? – perguntei quando nos sentamos.
- Claro. Pode ficar por lá o tempo que quiser, meus pais viajaram.
- null... Você não vai me dedurar, não é? – sabe aquela carinha fofa do gatinho de botas do Shrek? Foi essa mesmo que eu fiz, sempre funciona.
- Se preocupa não.
- Ah, você é o melhor irmão mundo. Eu te amooooo – sentei perto dele e dei um abraço que até o jogou no chão. Exagerada, eu sei. Sou mesmo.
- Também amo você, Barbie.
- Por que você a chama de Barbie? – null o encarou.
- É um segredo – dissemos em uníssono e começamos a rir.
- Ok. E aí? Pizza de qual sabor? – null perguntou.
- Pede duas, cara. Eles não se entendem – null apontou o dedo para mim e null. Lembrei-me do dia no shopping.

null's POV OFF




Capítulo 08

Estavam todos os oito sentados na sala de null, assistindo A Culpa É das Estrelas¹ e comendo pizza, as garotas se acomodavam no sofá e os garotos escorados no mesmo, se sentavam no chão. Elas já estavam se preparando para chorar - com exceção de null, que assim como os eles, não queria assistir aquele filme.
- Gente, isso está chato demais, vamos fazer outra coisa – null resmungou e obteve um coro de "cala a boca" de null, null e null, em resposta.
- Eu concordo com ele! – null sorriu malicioso, olhou para null, null e piscou para null, que o olhou em sinal de reprovação.
- Não faz isso... – null se inclinou e sussurrou bem próximo ao seu ouvido.
- null, não é verdade que você era a fim da null? – null perguntou sério, ou melhor, afirmou. null e null cuspiram toda a pizza que comiam, todos pararam de prestar atenção no filme para encará-los.
- O quê? O que é que tem nesse refrigerante? Ficou maluco? – null perguntou assustado e começou a rir, sem graça. null parecia uma pimenta de tão corada.
- O null tá brincando gente – null disse calma.
- E você, null, a null mal chegou e você já está babando nela – agora foi a vez de null cuspir seu refrigerante e null ficar corada.
- null, o que deu em você?! – null estapeou seu braço.
- Nada, é só que isso aqui estava muito chato...
- Ah, e só por causa disso você começa a falar merda para todo lado?
- Você sabe que é verdade – olhou para null e depois para os amigos – E vocês também!
- Ei, gente... Já deu por hoje, não é? Já escureceu, melhor nós irmos – null se pronunciou.
- Não são nem 20h ainda. E eu só estava brincando – null disse sorrindo. – Mas nós podíamos jogar alguma coisa...
- Eu voto por banco imobiliário – null apareceu com a caixa e pulando feito criança.
- Sério? – null fez uma careta.
- Sério! – null confirmou.
- Mas nós somos oito e só tem seis peões – null disse.
- Não tem nenhum jogo com oito peões – null observou.
- Joguem vocês, eu não quero jogar – null disse.
- Por que, Barbie? – null perguntou. – Você adora.
- Nada, só preguiça mesmo.
- Deixa preguiça pra lá, vamos jogar.
- Mas não vai dar para todos jog... Meu Deus, null, eu me esqueci de uma coisa muito importante. Minha mãe ligou mais cedo e mandou nós buscarmos o Rafael no aeroporto, o garoto deve estar mofando lá.
- Ah não se preocupa, o pai ligou na hora que você estava vendo o filme e disse que ele já foi, porque nós estávamos demorando demais e o Rafael ligou lá em casa perguntando o porquê. E ele está muito puto com a gente.
- Ah não, vou ficar de castigo para sempre... E agora você também e é culpa minha, devia ter avisado quando você chegou aqui.
- Não se preocupa com isso. Mas e então, vamos jogar o quê?
- Tive uma ideia. null, você ainda tem aquele karaokê? – null perguntou.
- Acho que sim. Vai lá no porão olhar, null. E leva a null com você.
- Er... Tá legal – os dois se levantaram e foram caminhando até a escada que levava ao porão.
- Já falei que não vai dar certo – null disse baixo para que só ele ouvisse.
- Quer apostar? – ele perguntou no mesmo tom.
- Quero! Você vai perder.
- Eu acho que não. O que vamos apostar? Dinheiro?
- Não, eu aposto nosso acordo. Se eu ganhar, a gente para com isso.
- Então, se eu ganhar, eu quero mais um mês, depois do baile... Apostado?
- Apostado!
- Gente... null, null, prestem atenção! – null bateu palmas na frente dos dois. – Faz um tempão que estamos chamando vocês. Eles já voltaram.
- Ok. Quem começa? – null perguntou.
- Eu. Tem Selena Gomez? - null perguntou.
- Tem qualquer coisa, aqui é direto na internet. Pode escolher – null passou o controle para a garota.
- Escolhe uma mais divertida, null – null disse animada.
- Essa é divertida para mim.
- Você já vai começar? Porque eu também quero cantar – null disse.
- Vou sim, null. Pode ligar o som, null.
- Ela vai te dedicar uma música – null disse baixo para null e começou a rir.
- Vai nada.
null começou a cantar My Dilemma, da Selena. Ela não cantava mal, mas não estava impressionando os amigos - não que isso fosse necessário - o que eles queriam mesmo era fazer bagunça cantando e ela estava levando tudo muito a sério.
- É para você mesmo, olha a tradução, tá passando na tela junto com a letra – null voltou a rir.
- Eu estou vendo, mas eu não sou nenhum "dilema" – null fez careta ao pronunciar o fim da frase.
- Para ela, você é.
- A null não gosta de mim!
- Gosta sim!
- E você, por acaso está com ciúmes?
- Lógico que não – null deu de ombros. – Agora ao menos finja que está prestando atenção nela.
- Não é mesmo para mim – null afirmou.
- É claro que é, para quem mais seria?
- Tem o null, o null e o null aqui também.
- O quê? – null segurou o riso. – É. Mas não foram eles quem ela beijou na festa de quinze anos dela. E não é nenhum deles que já tem par para o baile.
- O null tem, esqueceu a Danielle?
- A Danielle, null? Até parece, aquela ali troca mais de homem do que troca de roupa. E você não disse que o null gosta da null?
- É, mas ela disse também que o cara não era da escola.
- Ah, sim, e eu sou o Papai Noel, então.
- HAHA! – null soltou uma risada irônica.
null finalizou a música e recebeu várias palmas em troca. Ela não era uma Whitney Houston da vida, mas também não cantava tão mal. null pegou o microfone e começou a cantar uma música qualquer da Ivete Sangalo, dançando e brincando com todos. Depois de umas dez músicas seguidas, todos já tinham cantado - alguns mais de uma vez - e eles decidiram que já estava tarde e cada um foi para sua casa, com exceção de null que foi com null, e null, que decidiu que seria melhor ficar na casa de null mesmo.

***


Já fazia cerca de duas horas que null estava na casa de null. Elas já tinham preparado a sala de estar e espalhado várias coisas no chão como almofadas e travesseiros. Estavam prontas para dormir, porém preferiram ficar assistindo algo na TV e comendo porcaria enquanto o sono não dava algum sinal.
- null, você acha que a null gosta do null? – null puxou assunto.
- O quê? Como assim, null? Ela te disse algo? – null começou a rir.
- Não, mas você nunca reparou que quando nós falamos sobre o null, ela fica um pouco com raiva, não sei... E a história do cara do baile? Ou a música que ela cantou hoje? Não faz sentido para você?
- Olha, amiga, eu nunca pensei nisso, talvez você possa ter razão... Mas você já falou com ela ou com o null?
- Eu falei com o null, e ele disse que eles ficaram na festa de quinze anos dela no ano passado.
- Sério? – null estava surpresa. – Será por que ela nunca contou para gente?
- Não sei, é aí que tá... Eu acho que ela não contou para não desconfiarmos.
- Eu acho que devíamos perguntar a ela.
- Não, não é para ela saber.
- null... – null começou a rir, mas mantinha o tom sério. – Você está com ciúmes da null? Quero dizer, do fato dela talvez gostar do null?
- O quê? Não, amiga. Que ideia absurda.
- Então, tudo certo em perguntar a ela.
- Ah, null, eu queria descobrir sozinha.
- Não. Se ela descobrir que você está desconfiando dela vai ser pior, null. Ela vai ficar chateada com você – null disse sorrindo. Afinal, ela tinha razão. – Faz o seguinte, liga para ela e chama ela aqui, para dormir com a gente e nós conversamos. Faz tempo que não fazemos nossa soirée².
- É uma boa ideia, null. Mas já são 22h37min, não está meio tarde?
- Que nada, ela pega um táxi. Vai, null, liga logo.
- Ok. Já estou com o celular, não está vendo? – null balançou o aparelho em frente ao rosto de null. – null, oi, é a null... Será que você não quer vir aqui dormir na casa da null com a gente? Hm... O que acha de uma soirée de última hora? Ah, ok... Pode deixar que eu falo com ela... Beijos, tchau.
- O que ela disse?
- Só vai avisar aos pais, separar umas coisas e já está vindo. Daqui a 15 minutos está aqui.
null buscou outro colchão de ar e preparou mais uma cama. Passado os quinze minutos, null já estava batendo na porta da casa de null. As garotas foram até lá receber a amiga e voltaram para a sala.
- E então, qual o lance da “soirée de última hora”? – null perguntou enquanto se sentava no outro colchão.
- Ah, faz tempo que não nos reunimos, só nos três... – null respondeu.
- Ok, corta essa, null, o que vocês duas estão aprontando?
- Aprontando? Nadinha – null se pronunciou, mas não convenceu a amiga. – Tudo bem, eu digo, mas prometa que não vai ficar brava – null já estava distraída com o celular nas mãos e ria para o aparelho.
null! – null jogou uma almofada em sua direção. – Preste atenção aqui! – ela deixou o celular de lado e começou a encarar as amigas, esperando que continuassem a conversa. – Estava falando com alguém?
- É, null, ultimamente você está bem viciadinha, sempre com o celular ou o computador nas mãos – null completou. – Tá, mas a gente não quer falar disso, não agora... Promete que não vai ficar chateada?
- Prometo, meninas, agora me digam... O que vocês aprontaram? – null perguntou curiosa.
- Você gosta do null? – null perguntou séria. null começou a encarar as duas, e então percebia que null falava sério. Não aguentou e começou a rir. – Qual a graça, null?
- Vocês! – ela respondeu e viu uma expressão confusa habitar o rosto das garotas em sua frente. – Por que acham que eu gosto dele?
- Responde, null. Você gosta dele? – null perguntou, usando o mesmo tom de null.
- Não. Eu não gosto dele. O que deu em vocês?
- Eu só liguei os fatos. Primeiro, você pareceu ficar com ciúme, aquele dia na aula de artes. E quando a gente fala dele você fica emburrada. Teve aquele lance do cara do baile, você disse que ia chamar alguém, mas a pessoa tinha par, e a música hoje? Aquilo foi uma indireta, não foi? Fora o que aconteceu na festa no ano passado, por que mentiu para gente?
- Ok, espera, espera, espera... Preciso assimilar tudo o que você disse. Primeiro: No dia da aula de artes eu estava chateada mesmo, mas foi por causa do professor, fazendo a gente desenhar, fora que eu também estava de TPM e isso interfere em muita coisa no meu humor. Segundo: O cara do baile não é o null. Conhecem o Diogo? Que é meu vizinho e tem aula de geografia com a gente? – elas assentiram e ela continuou. – Ele me chamou para o baile, mas me deu o fora logo depois com uma desculpa que tinha que vigiar a irmã mais nova no cinema, porque ela ia sair com o namorado e tal, mas é mentira, porque eu o vi convidando a Cibele e... – null foi interrompida por null.
- Tá, null... Vai direto ao ponto.
- A questão é: Eu levei um fora e estava com vergonha de contar com os meninos por perto. Terceiro: A música não foi indireta, foi só por vontade de cantar mesmo, eu ouvi em algum lugar e fiquei com ela na cabeça, só isso. E por último: O que aconteceu na festa e por que eu menti?
- Como assim: "O que aconteceu na festa?" – null perguntou. null não estava entendendo a amiga e fez um sinal indicando com a cabeça para que ela continuasse falando. – Vocês não ficaram?
- O quê? Não! Quem te disse isso?
- O null.
- Mas então é mentira? – null perguntou surpresa. – Por que será que ele mentiu?
- Eu já sei, mas podem deixar que amanhã eu mesma falo com ele – null disse brava.
- Ok, acabaram as perguntas? – null perguntou e as garotas disseram "sim" em uníssono. – Sem mais desconfianças?
- Tá, eu tenho uma pergunta – null disse animada. – Com quem você tanto fala na internet?
- É, diz, null. Também estou curiosa – null disse se aproximando mais da amiga.
- Huum... Só uma pessoa, nada de mais – null deu de ombros. – Mas tocando nesse assunto, qual é o lance do livro que você indicou para a null, null?
- Você também, null? Ai meninas, eu já disse, não tem nada de mais – null respondeu escondendo o rosto com as mãos. – Ah, vamos falar da null agora, você está gostando do null, ou o quê? Porque parecia ciúmes quando estava me falando sobre a null.
- Lógico que não, null – as outras duas se entreolharam e sorriram. – E nem adianta vocês olharem para mim com essa cara. Chega de falar disso, ok? Vamos falar sobre o meu pai. Por que vocês acham que ele está agindo assim?
- Ah, amiga, deve ser coisa de pai... Sei lá, você está saindo com um cara e ele está no seu pé, é assim mesmo – null disse.
- Eu pensei nisso também, null. Mas ele nunca agiu assim, eu já namorei antes e meu pai dava o maior apoio, vocês não lembram? Fora que ele conhece o null desde criança, não tem motivo para implicar.
- Você também está certa, null. O melhor a fazer é falar com seu pai que você não tá com o null e é tudo chantagem do null. Você acaba com dois problemas de uma só vez.
- Você pirou? Se eu contar para o meu pai que o null está me chantageando ele vai querer saber o porquê, e como ele tá fazendo isso, e eu vou ter que contar a história da festa, e ele vai contar para minha mãe e vai virar um problema maior ainda.
- Tá, me explica uma coisa: Qual o problema dos seus pais descobrirem que você foi para uma festa e tomou um porre? null, qualquer adolescente de dezesseis anos faz isso, é normal. Acha que eles vão ficar tão putos assim?
- Isso é uma história bem antiga, bem antiga mesmo, e muito idiota, muito mesmo.
- Conta? – null perguntou.
- Foi tipo um trato que eu fiz com os meus pais quando eu era criança e eles levaram a sério, e eu também.
- Qual trato?
- A história é longa...

Flashback

Oito anos atrás...

null's POV


- Papai, quando o null volta da casa da vovó? – perguntei, me sentando no sofá ao seu lado.
- Semana que vem ele já está de volta, null. Já está com saudade? Você disse que não queria ir com ele.
- Não estou não, o null é muito chato, eu quero férias dele sempre.
- Não fala assim, null. O null adora você, e você também gosta muito dele que eu sei – minha mãe apareceu na sala e se sentou ao meu lado.
- Esse barulho... É o telefone? Já deve ser o null com saudade de mim – eu corri até o aparelho e atendi. – Alô? Tia Márcia? Eu também estou morrendo de saudade... Minha mãe está sim... Mamãe, a tia Márcia quer falar com você – corri de volta até ela e entreguei o aparelho. Tia Márcia era uma vizinha nossa. Não tinha nenhum parentesco com a nossa família, mas por conhecê-la desde pequena, sempre a chamara de tia.
- Oi, Márcia, faz tempo que não te vejo, nem parece que moramos no mesmo bairro... A Suzana? Não, faz tempo que não a vejo também... Fique calma, você já ligou para os amigos dela, namorado? E a polícia? Tudo vai dar certo, você vai encontrá-la, tenha fé... Se precisar de algo, pode ligar, ficarei feliz se puder ajudar.
- Está tudo bem? – ouvi meu pai perguntar.
- Não. A Márcia me disse que a filha mais nova dela, a Suzana, desapareceu já faz dois dias e não dá nenhuma noticia. Ela está desesperada, já ligou para todo mundo e ninguém sabe de nada. Ela disse também que não é a primeira vez que isso acontece, mas agora é diferente porque a garota está grávida...
- Que situação complicada... Quando a viram pela última vez?
- Ela estava em uma festa com os amigos, muita bebida, drogas... – eu prestava atenção em tudo o que minha mãe falava, estava assustada, até que ela se lembrou de mim ali, pelo visto. – null, você não quer ir para cama? Isso não é assunto para criança e já está tarde.
- Não, mamãe, eu posso ser criança, mas eu entendo. Quando eu crescer, eu prometo do fundo do meu coração que nunca vou fazer isso com vocês.
- Você promete mesmo? – meu pai perguntou rindo. – Tem que prometer de mindinho, como você me ensinou – ele esticou o dedo em frente a minha mão e eu entrelacei o meu no seu.
- Eu prometo, papai.
- Enquanto você cumprir o que disser, eu te dou o presente que quiser.
- Querido! – minha mãe o repreendeu. – Não prometa algo assim à null. Ela tem que ser uma boa filha só por ser.
- Você me dá mesmo, papai? – perguntei, ignorando completamente o comentário, e ele assentiu. – Então eu nunca vou descumprir – abracei minha mãe e meu pai me deu um beijo na testa, em seguida eu fui para o meu quarto e logo adormeci.

null POV's OFF


End of flashback


- Então você vai basear sua vida inteira, nisso? – null perguntou surpresa.
- Não é só isso, eu pedia bonecas, brinquedos e fui crescendo, depois pedia para ir a shows, roupas, sapatos, enfim, tudo o que eu queria, meu pai fazia... Na minha festa de quinze anos, ele me disse que se eu cumprisse a promessa que eu fiz eu ganharia o carro que eu quisesse quando fizesse dezoito anos.
- Então, isso tudo é para ganhar um carro, null? – null perguntou, trocou um olhar cúmplice com null e as duas começaram a gargalhar.
- Gente não tem graça, não falta muito para eu completar dezessete anos. null, você não vai me entender, já que você tem carro e até carteira, e você também não, null, já que é muito pirralha – null disse séria, mas as garotas sabiam que ela só estava brincando.
- Ah, estava demorando... Eu não sou pirralha, ok? Eu sou um ano mais nova que você, null. E eu também quero um carro, então... Eu acho que eu te entendo amiga, não fala nada para o seu pai.
- Eu também entendo tá, senhorita null? Vocês se lembram do que eu tive que fazer para conseguir meu carro, não lembram? E eu digo uma coisa, foi um dos melhores esforços que eu já fiz na vida, não tem nada melhor que não precisar depender dos outros para levar você nos lugares, e buscar...
- É, null, a gente se lembra... Comprar praticamente metade das rifas foi um tiro no escuro. Fora que a gente gastou muita grana. Imagina se a gente não ganha? Seria muito dinheiro desperdiçado – null disse e começou a gargalhar, arrancando risadas das outras garotas também.
- Saiu mais barato que um carro novo, não saiu? Então estou no lucro. Mas voltando ao outro assunto, eu acho melhor você contar logo, null, vai que ele descobre por outra pessoa? Vai ser pior. E eu não acho que seu pai vai te negar um carro só por causa de uma bebedeira em uma festa... – null disse séria.
- Você só não ganhou o carro porque estava brigada com seus pais, e eu não quero correr o risco.
- Mas foi uma situação completamente diferente, eu não saio bebendo numa festa, mas eu estava com uma suspeita de gravidez, o que é bem pior, e até hoje eu não sei como meu pai descobriu... Ainda acho que foi a minha prima Sandra, ela me odeia porque o ex-namorado tinha uma queda por mim.
- Eu acho que você não devia contar, null... Porém a null tem razão. Mas e você? O que acha? – null perguntou.
- Eu também acho isso, null, mas não vou contar. Eu só vou perguntar para o meu pai porque ele tá agindo assim, e se caso ele pergunte se eu estou com o null vou dizer que não, é a verdade. Além do mais, a gente só combinou de fingir na escola mesmo.
- Ok, mas e o trabalho? E se ele quiser estudar com você de novo? – null perguntou.
- Eu vou a casa dele, ou a gente fica até depois do horário na escola... null vai dar tudo certo, não precisa se preocupar.
- Você quem sabe. E aí garotas, vamos dormir? Ou vocês preferem ficar batendo papo?
- Vamos dorm... – o celular de null apitou e ela começou a sorrir animada – Vamos dormir, girls. Amanhã precisamos acordar cedo.
- Ah, e qual o motivo? – null perguntou desanimada. Odiava acordar cedo no fim de semana.
- Festa! Amanhã a noite na casa da Agnes e nós quatro estamos convidadas. Ela acabou de me mandar uma mensagem.
- Nós quatro? – perguntou null confusa.
- Sim. Eu, você, a null e a null. Acredita que em um dia ela já fez amizade com metade da escola?
- Eu não acredito, ela me disse que não se enturmava fácil... – null disse. – Mas eu ainda não entendi o motivo de acordar cedo.
- Coisas de garotas, sua lerda. Vamos passar no salão, nos arrumar, ir ao shopping, comprar uma roupa para a festa... – null disse se animando também.
- Pensei que tinha acabado com sua mesada aquele dia no shopping... Eu dispenso ir comprar roupas, eu já sei o que vou usar.
- Aquilo foi só uma metáfora, eu sempre guardo um pouco. Agora, isso de comprar roupa nova você quem decide, mas não podemos dispensar uma ida ao shopping. Fora que a null deve estar meio perdida, já que ela é nova na cidade.
- Ai gente, eu estou completamente ferrada, não tem como pensar em festa. Estou de castigo duas semanas, eu fugi, e deixei meu primo esperando horas no aeroporto, meu pai deve estar muito puto mesmo. Amanhã, se eu passar em casa, vai ser muito rápido, já que ele tem folga no fim de semana.
- null, vamos dormir, ok? Fica tranquila, amanhã a gente resolve o que faz – null disse e null concordou com a cabeça.
As três se ajeitaram cada uma em um colchão, e logo depois adormeceram. Estavam cansadas, devido ao fato de acordarem cedo para ir à escola e ficar o dia inteiro fora de casa.

***


- null, você está em casa? – null perguntou. Ela falava ao telefone com o irmão. Já fazia algum tempo que as garotas estavam acordadas, já haviam tomado café da manhã e estavam se arrumando para sair.
- Não, eu dormi aqui no null, esqueceu? E por que está me acordando tão cedo?
- Longa história... Você vai lá em casa hoje?
- Por agora não, mais tarde, talvez. Tem uma festa na casa da Agnes hoje e eu preciso pegar umas roupas.
- Eu sei, por isso mesmo preciso ir lá em casa. Mas eu não estou nem um pouco a fim de encontrar meu pai.
- É, eu também não. Mas fica tranquila, ele vai ficar até três horas da tarde na empresa hoje, porque ele precisa fechar o contrato com o pai da null e tal, eu o ouvi no telefone ontem. Mas ainda está cedo, ele não deve ter saído de casa.
- Umas duas e meia eu passo lá então... Quer que eu pegue alguma coisa para você?
- Não precisa, eu vou dar uma passada lá depois.
- Então, tá. E me desculpe por te acordar...
- Tudo bem, Barbie. Até mais.
- E aí, amiga? O que ele disse? – null perguntou.
- Ele disse que ainda está na casa do null e que meu pai vai ficar até três da tarde na empresa, nesse tempo eu posso ir até lá e buscar o que eu preciso.
- Agora são 8h17min. Vamos fazer assim: Ligamos para null, vamos até a casa dela buscá-la e vamos para o salão, quando a gente sair de lá, passamos na sua casa, depois vamos para o shopping, almoçamos por lá e depois podemos voltar e nos arrumar aqui em casa mesmo – null sugeriu.
- Será que ela já está acordada?
- Vamos mandar um SMS primeiro, se ela responder a gente liga e combina tudo com ela – disse null.
As garotas mandaram a mensagem e dois minutos depois, ela respondeu dizendo que estava acabando de terminar o café. null ligou e marcou tudo. Elas foram até a casa de null para buscá-la, e de lá foram para o salão.

***

null's POV


[N/A: Gente, eu gosto muito de escrever em primeira pessoa, mas a fanfic é em terceira, por isso tem muito POV da principal.]
- Quer que a gente vá até lá com você, null? – null perguntou quando null estacionou o carro em frente ao portão de trás da minha casa.
- Não precisa meninas, obrigado. Eu não demoro, ok?
Dito isso, eu saí do carro e fui até o portão de casa. Passei pelo jardim e entrei pela porta da cozinha mesmo, não queria encontrar meu pai de jeito nenhum e mesmo que null dissesse que ele não estaria em casa, não queria correr o risco. Se ele estivesse aqui, provavelmente estaria na sala de estar, quarto, ou escritório. Passei pela sala e subi as escadas, indo em direção ao meu quarto. Quando abri a porta tive uma surpresa: Estava completamente revirado. Um furacão passou por aqui? Minhas roupas estavam praticamente todas espalhadas pelo chão, e várias caixas que ficavam em cima do meu guarda-roupa, onde eu costumava guardar fotos e alguns trabalhos escolares, estavam jogadas no tapete. Olhei na direção da mesa onde ficava o meu notebook e ele havia sumido. É, a situação era mais séria do que eu pensava. Fui andando em direção ao outro lado do quarto - tentando não pisar em nada - e peguei meu conjunto e minha jaqueta nova, a roupa que eu usaria para a festa. Peguei meu par de sapatos e guardei tudo na minha bolsa. Resolvi pegar algumas outras peças de roupas também, já que ficaria mais um dia fora. Peguei minha carteira e o carregador do celular. É, acho que já tenho o que eu preciso. Definitivamente, quando eu voltasse no domingo seria uma garota morta, mas o importante é viver o dia de hoje sem se importar com o de amanhã... Não é o que dizem? Saí do quarto e tranquei a porta, não queria mais ninguém revirando minhas coisas. Estava descendo as escadas quando trombei em alguma coisa... Ou alguém? Era o Rafael, que droga, não queria encontrar ninguém.
- null! – ele sorriu animado. – O que aconteceu com você, gatinha? Faz quanto tempo que não a vejo?
- Rafa! Oi, como vai? – perguntei, tentando parecer animada também, mas o que eu queria mesmo era sair dali o mais rápido que pudesse. E esse gatinha? Já havia me esquecido que ele me chamava assim. Minha família tem mania de me dar apelidos escrotos.
- Eu vou bem, e você? Está ótima pelo visto... Mas aconteceu alguma coisa? Seus pais estavam preocupados com você.
- Não, não aconteceu nada, estou ótima. Mas estou atrasada, se importa se eu for? Depois nós conversamos mais. Quando você vai embora? – que droga, eu não devia ter dito essa última frase, agora ele vai pensar que eu não quero ele aqui em casa. Mas devido às circunstâncias que estou agora, isso não tem muita importância.
- Não, não me importo. Vou ficar até o fim do feriado, depois nos vemos. E boa sorte com o seu pai.
- Obrigado mesmo. Por favor, não diga a ele que eu vim aqui.
- Sem problemas!
Dei um abraço rápido no meu primo e saí correndo dali. Eu tinha me esquecido completamente do feriado na outra semana. Pelo menos não teria aula, isso é um bom sinal, certo? Desci as escadas de dois em dois degraus, e fui direto para a cozinha. E eu encontrei ali, a pessoa que eu não planejava ver em menos de um dia.
- Não acha que precisamos conversar, null? – meu pai disse bravo. E como eu previ, sou uma garota morta, mas só que um dia antes do esperado.
- Acho. Por isso mesmo que eu vim até aqui, mas como o senhor não estava, eu já ia embora – precisei mentir, ultimamente estava mentindo muito e eu odeio mentiras. Mas às vezes é necessário e eu espero mesmo que ele acredite.
- Ia embora? Você se mudou e eu não estou sabendo? – ele começou a rir ironicamente. – Você realmente pensa que eu vou acreditar nisso? – sim. Quero dizer, agora não mais, né?
- Tá pai, eu não vim aqui atrás de você. E não. Eu não me mudei. Mas eu realmente preciso conversar com você, e se puder deixar a ignorância um pouco de lado e me ouvir, vai ser ótimo.
- Tudo bem, pode começar a falar. Eu não vou interromper – isso é sério? Ele está brincando comigo? Ou agora meu pai também sofre de TPM? Ou é só bipolaridade, mesmo? A questão é que, agora ele quer me ouvir e eu não vou desperdiçar essa chance.
- Pai, eu quero saber o que está acontecendo, de verdade... No domingo você estava normal, de bom humor, viajou na segunda, e terça você voltou completamente doido – é, talvez eu não esteja escolhendo as melhores palavras para dizer, mas mesmo assim ele continuava parado e me ouvindo, então... – E deu um mini ataque porque o null me deu carona, no outro dia ele veio estudar aqui e você não quis me ouvir quando eu disse que não estava acontecendo nada, depois ainda teve a droga do jantar, e eu queria pedir desculpas pelo que fiz, eu merecia um castigo por isso, sim. Depois, quando nós voltamos, você encontrou motivo para me punir até no vestido da null. Quinta-feira não nos encontramos e ontem, você disse que me levaria e buscaria na escola... Estava falando sério? Fora que minhas chaves sumiram e hoje quando eu fui entrar no meu quarto, ele estava completamente revirado. Dá para me explicar tudo?
- null, você é minha filha e eu me preocupo muito com você, porque te amo. E quando digo que não quero você com o null, é porque eu o conheço, e sei que se você se envolver com ele, vai se machucar... – volta a fita, porque eu tenho certeza que perdi uma parte. Isso tudo então, é só preocupação de pai? – Eu não estava desconfiando de você, mas do jeito que eu te encontrei aqui com ele... Não quero comentar sobre isso. O que aconteceu no jantar, realmente me deixou com raiva, você passou dos limites, e em relação ao seu vestido, não se preocupe, você estava linda. Eu estava falando sério sim, quando disse que te buscaria na escola, porque está de castigo. Sobre a chave e o seu quarto, isso você deve perguntar a sua mãe.
- Então... Agora está tudo bem? Não vai mais pegar no meu pé? E o castigo?
- Você continua de castigo por uma semana, devido ao que aconteceu no jantar. Mas está tudo bem sim, e eu não vou mais "pegar no seu pé" – ele fez aspas no ar – Você já sabe minha opinião em relação ao null. Eu não aprovo. Eu sei que não sou a melhor pessoa para isso, você tem suas amigas e sua mãe, mas qualquer decisão que tomar, e se estiver relacionada a ele eu gostaria de ser o primeiro a saber. Por favor, null, não traia minha confiança... Enfim, pode ir aproveitar o seu fim de semana, seu castigo só começa segunda – ele se aproximou de mim e me deu um abraço. É, eu não sei mesmo mais nada, sobre nada. Ok, foi uma frase péssima eu admito.
- Tudo bem, pai. Obrigado. Mais tarde eu volto.
- Se cuide e não faça nada que vá se arrepender!
Despedi-me com um aceno e saí em direção ao portão. Encontrei o carro de null estacionado no mesmo lugar e entrei. Elas começaram a me encher de perguntas sobre o motivo da minha demora e enquanto estávamos presas no trânsito, contei tudo a elas, que tiveram uma reação bem parecida com a minha.

null's POV OFF


[N/A: ¹ Eu sei que o filme tem pouco tempo de lançamento, mas eu precisei colocar porque é simplesmente PERFEITO!
² Soirée é uma reunião social que acontece a noite. ]



Capítulo 09

Depois de algumas horas andando pelo shopping, as garotas decidiram que já era hora de ir embora. Elas insistiam em entrar em praticamente todas as lojas para null conhecer tudo, mas ela já estava impaciente. Então, voltaram todas para a casa de null.
- null, quando seus pais voltam de viagem? – null perguntou.
- No fim da semana que vem. Eles vão passar o feriado fora.
- Seus pais te deixaram sozinha em casa por duas semanas? – null perguntou e null assentiu. – Eles não têm medo de você aprontar alguma coisa não?
- Não. Meus pais não ligam muito para essas coisas. Eles confiam em mim.
- Uau, que sorte. Minha mãe também é assim, sabe? Mas como ela não mora comigo, e a Mirella faz a cabeça do meu pai, isso não acontece lá em casa.
- Onde sua mãe mora, null? – null perguntou.
- Vocês não vão acreditar se eu contar – null disse rindo e as garotas balançaram a cabeça como um sinal pra ela continuar a falar. – Havaí.
- O QUÊ? – null gritou. – E por que você não mora com ela?
- Porque eu sempre fui muito ligada ao meu pai... E quando eles resolveram se divorciar, eu ainda era bem pequena, e não tinha muita noção das coisas. Eu escolhi ficar com ele.
- E você se arrependeu? – null.
- Quando eu tinha uns dez anos, eu comecei a pensar e eu me arrependi. Fiz de tudo para ir morar com ela, mas meu pai disse que não podia e que eu ia ganhar um irmão. Meu sonho era ter um irmão, aí como eu era criança, fiquei.
- Mas ela vem te visitar? – null.
- Sim. Às vezes ela vem, ou eu vou. Eu já fui duas vezes passar as férias com ela. E acho que esse ano eu vou de novo.
- E por que sua mãe foi morar num lugar tão longe? – null.
- Ela recebeu uma oferta de emprego em Los Angeles, ficou lá uns meses e depois se mudou para o Havaí. Ela casou com um cara lá, e ele é bem legal.
- O Havaí deve ser um máximo. Sério, não tem como eu ir com você na próxima vez, não? – null começou a rir. – Ah, eu estou brincando. Mas seria bem legal.
- Vamos pensar no assunto. Se seus pais autorizarem, eu falo com a minha mãe. Ela é super tranquila com essas coisas e vai adorar receber vocês.
- Ah, gente, não acredito nisso. Lá dever ser um lugar lindo... – null começou a imaginar. – Ok, de volta ao mundo real. Vamos nos arrumar?
- Vamos! – null disse animada. – null, você vai adorar a festa da Agnes. Ela dá uma festa dessas, tipo, umas três vezes no mês. E ela convida a escola toda.
- Eu nunca pensei que seria assim. Minha primeira semana aqui, e já fui convidada para uma festa.
Cada uma tomou um banho rápido e elas começaram a se arrumar. Já estavam com o cabelo pronto, só faltava se maquiar e se vestir.
- Gente para que serve isso? – null perguntou, apontando para um potinho preto que estava em cima da mesa, junto com as outras maquiagens.
- É brilho. Você espalha no rosto, no braço, onde quiser... É muito legal – null respondeu.
- Tan tan tan tan – null cantou. – Como estou? – perguntou aparecendo na sala. null usava um vestido preto decotado e uma sandália de salto alto preta.
- Se eu fosse homem te pegava – null disse, arrancando risadas de todas as garotas. – E eu? – null usava um conjunto de saia e blusa, e um salto plataforma estampado. - Gatona! – null disse. – Todas nós estamos – ela usava um vestido amarelo, com um detalhe de pedras na cintura formando um cinto e uma sandália de salto nude.
- Vem, null. Só falta você – null gritou. null apareceu na sala ajeitando o brinco. Ela também usava um vestido azul claro justo na cintura e a saia rodada, com estampa de flores e um sapato de salto alto com estampa de onça.
- E aí? - null perguntou.
- Awnn, tá linda! – null disse. – Mas e o conjunto com a jaqueta?
- Desisti de usar. O vestido ficou melhor.
- Ah, mesmo assim. tá linda, null – null disse.
- Vocês também estão todas gatas. Eu tô de olho, ok? Não quero nenhum engraçadinho para cima das minhas garotas.
- Huum, tudo bem, mamãe – null disse e as garotas começaram a rir.
- Prontas? Podemos ir? – null perguntou e as garotas disseram "sim" juntas. Foram até o carro e null dirigiu em direção à casa de Agnes. Elas já sabiam onde a garota morava, porque era a segunda festa dela que iam. Chegaram até a casa, null estacionou o carro na rua e elas desceram.
- Meninas, a casa é enorme – null disse. E era verdade, a casa de Agnes era uma mansão de dois andares, branca e com alguns detalhes em vermelho. Em frente à porta de entrada tinha um jardim e do lado direito o portão da garagem.
- Vem, vamos entrar – null disse e elas a seguiram. Entraram na casa e ficaram surpresas com a quantidade de pessoas. Alguns estavam dançando numa pista improvisada na sala, uns na cozinha, outros estavam no jardim no fundo, próximo à piscina.
- Será que os meninos já chegaram? – null perguntou.
- Não sei, deixa eu ligar para o meu irmão – null disse.
- Ei, aquele não é o null? – null perguntou e apontou para um rapaz que usava uma camisa verde, do outro lado da sala.
- É sim... E aquele não é o Rafa, null? – null perguntou.
- É – null disse surpresa. – Mas o que ele tá fazendo aqui?
- Vamos lá descobrir, ué – null disse e saiu puxando as meninas.
- Oi, meninos – null disse e os meninos responderam "oi" em uníssono.
- Oi, null... É null, não é? – Rafael perguntou.
- É sim... Faz tempo que nos vemos.
- Mas e vocês, quem são? – ele perguntou para null e null.
- Ela é null, e essa aqui é a null – null respondeu. – E você, Rafa, o que está fazendo aqui? Conhece a Agnes?
- Não, null. O null me chamou para vir com ele e como eu não tinha nada pra fazer...
- Ah, e cadê os outros? – null perguntou se virando para null.
- Eles já estão vindo, o null foi buscá-los – null respondeu.
- Vamos procurar algo para beber, meninas? – null perguntou e elas assentiram. E saíram andando pela casa indo em direção à cozinha.

null's POV


- Achei você, amor – ouvi alguém sussurrar em meu ouvido e segurar minha cintura. Arrepiei. Nem precisei me virar para saber quem era o dono da voz.
- Não começa – disse sem me virar.
- null, null, null! – null os cumprimentou animada. Fala sério, está na cara que ela é a fim do null, só ela ver o garoto e seus olhos brilham. Por que ela mentiu?
- Oi, null – eles disseram em coro. Continuamos caminhando pela casa até achar a cozinha, com os meninos em nosso encalço.
- Já volto, ok? – null disse, pegando um copo com cerveja e saindo.
- Aonde vai? – null perguntou.
- Encontrar a Agnes. Preciso perguntar a ela uma coisa. Vocês a viram por aí? – ela perguntou, se virando para os meninos.
- Eu vi – null respondeu. – Vamos, eu te mostro onde.
null deu de ombros e o seguiu. Todos já estavam com um copo na mão, menos eu. Não desisti do carro.
- Bebe um pouco, null – null disse.
- Não estou muito a fim...
- Ei, gente, já volto tá? Não estou muito bem – null disse, ignorando totalmente o assunto anterior.
- É por causa daquilo? – null perguntou e eu assenti. – Bebe só um pouco, é só não exagerar, ok?
- Olha, eu vou ao banheiro retocar minha maquiagem e já volto. Depois eu bebo – disse e elas concordaram. Passei pela porta e comecei a procurar um banheiro. A casa era realmente enorme. Fala sério, qual a necessidade de uma casa tão grande para três pessoas? Porque, pelo que eu me lembre, Agnes não tinha irmãos e só morava com os pais. Cheguei a um corredor com três portas. Provavelmente, alguma delas devia ser o banheiro. Abri a primeira, e nada, era apenas uma dispensa. Abri a segunda, e vi um closet enorme. Abri a terceira e tive uma surpresa. Vi uma cena que eu nem sequer podia imaginar: null e null se beijando. Eles se assustaram quando eu abri a porta e se separaram na mesma hora. Acho que nós três ficamos sem reação por uns minutos, já que ninguém disse nada. Depois de mais alguns segundos, quebrei o silencio.
- null? O que está havendo aqui? – perguntei.
- Calma, null. Eu vou te explicar tudinho – ela me puxou para dentro do cômodo e eu assenti. – Amor, pode ir, ok? Eu já te encontro.
- AMOR? - eu perguntei pasma.
- null, eu e o null estamos juntos – ela disse calma.
- Isso eu percebi, null. Quero os detalhes... Como? Onde? Quando pretendia nos contar? Quero dizer, a null já sabe?
- Não, ninguém sabe – ela se apressou em dizer. – Só o null. E agora você.
- O null? Por que ele sabe? – perguntei espantada.
- Porque aconteceu a mesma coisa com ele. Eu estava na casa do null, e como todos os meninos tem um "acesso livre" uns as casas dos outros, ele chegou e viu a gente se beijando. Já faz uns dias.
- Huum, e como isso aconteceu? – ela me olhou confusa. – Me refiro a vocês dois.
- Se lembra daquele dia em que eu machuquei meu braço no treino? – eu assenti. – Quando eu fui para a enfermaria, ele estava lá e a gente ficou conversando. Ele se ofereceu para me acompanhar até em casa para eu não ir sozinha. Nós conversamos mais, depois ele me chamou pra sair... O resto você já imagina, não é?
- Meu Deus, null. É muita coisa para minha cabeça... Já faz muito tempo?
- Não... Ele me pediu em namoro na semana passada.
- Entendi. Quando vocês iam nos contar?
- Amanhã o null ia convidar todo mundo para um almoço na casa dele, e a gente ia contar.
- Meu Deus – eu não conseguia dizer mais nada.
- Olha, null, não fica com raiva, por favor – null suplicou. – E aquele lance de eu gostar do null era tudo teatro, foi tudo ideia dele para gente despistar vocês e ele saber a verdade.
- Que verdade? – ok, agora mesmo que eu não estava entendendo mais nada.
- Se você gosta dele, ou não – ela disse e começou a me fitar. – Eu já sei a resposta, null, e creio que a null também, mas como o null é homem, e é lerdo para essas coisas, e como você vai demorar um pouco para perceber, acho que não deu muito certo.
- Você pirou? Acha mesmo que eu gosto dele? – perguntei e ela assentiu.
- Amiga, talvez você ainda não esteja apaixonada nem nada do tipo, mas você sente alguma coisa sim, porque ficou com ciúmes de mim – ela disse rindo.
- Ainda? null sua vaca, você me paga – disse rindo também. Não estava brava, pelo contrário, estava muito feliz pela minha amiga ter arrumado um namorado tão gente boa quanto null. – Mas não se preocupa, ok? Eu não vou estragar os planos do almoço de amanhã, e vocês podem ficar tranquilos porque eu não vou contar para ninguém.
- Obrigada, null – ela me abraçou. – Eu te amo, vadia.
- Também te amo, cachorra – nós rimos dos apelidos. – Já vou, ok? Preciso acertar umas coisinhas com alguém. Pode voltar para o seu amor.
Sai de lá e fui andando pelo corredor. Até desisti de ir retocar a maquiagem, não tinha achado o banheiro, afinal. Cheguei até a sala e vi null conversando animado com uma loirinha, que ria de alguma coisa que ele dissera. Senti raiva, muita raiva. Filho da mãe. Esqueceu do combinado de não me fazer de corna? Mas eu vou lá acabar com isso agora. Cheguei por trás de null e abracei sua cintura, como ele fizera comigo alguns minutos atrás. Ele se virou na mesma hora.
- Amor, vem aqui. Preciso falar com você – eu disse seca.
- Amor? – a garota perguntou e eu sorri.
- Sim, meu bem. Ele é o meu namorado – ela nos encarou surpresa e lançou um olhar nada amigável. Eu continuei sorrindo.
- O que foi isso? – ele perguntou confuso.
- Esqueceu da parte de não me fazer de corna?
- Esqueceu da parte que você mesma disse que nós não tínhamos nada fora da escola? – é. Nessa ele me pegou.
- Não. Fala a verdade, null, por que você ainda quer continuar com isso? Vamos terminar aqui e você vai poder ficar com a garota que quiser.
- Não, null, eu não vou quebrar o acordo. E não precisa se preocupar, porque eu não vou ficar com nenhuma garota.
- Tá, tanto faz. Não vim aqui falar disso – dei de ombros. Mas eu me importava sim com a minha imagem. Só um pouquinho. – Você pediu para null fingir que estava a fim de você para saber minha reação?
- Sim – ele sorriu cínico. – Você descobriu sobre os dois então?
- Descobri... Quem diria, null e null juntos.
- Isso me lembra de uma coisa... Nossa aposta.
- Não vale. Você já sabia sobre eles.
- Mas você apostou, null. Vai faltar com sua palavra? – ele sorriu malicioso.
- Não... Meu Deus, eu não vou aguentar esse acordo por mais um mês. Eu vou começar a pesquisar desde quando você é apaixonado por mim.
- Não sou, não.
- É sim. É a única resposta para isso tudo.
- Não sou – ele riu.
- Então por que pediu a null para fingir?
- Não sei... – ele continuou rindo e encarando o chão, parecia sem graça. Comecei a encará-lo. null era realmente bonito, como as garotas diziam. Será que o que null dissera era verdade? Eu sentia algo por ele?
- Barbie, até que enfim te encontrei – null disse, chegando até mim e desviando meus pensamentos. Ele respirou profundamente e me encarou. Parecia que tinha corrido uma maratona. – Te procurei pela casa inteira.
- Tá tudo bem?
- O Rafael tropeçou na escada e torceu o pé e nós estamos indo ao hospital. Queria saber se você quer ir também, ou quer que eu te deixe em casa.
- Ele tá bem?
- Tá sim, só tá sentindo um pouco de dor. Você vai com a gente? Já foi quase todo mundo.
- Todo mundo?
- null e null sumiram. O null foi embora logo depois que chegou, não ficou nem vinte minutos. A null também sumiu e você tá aí com o null.
- A null sumiu? Mas eu tav... – meu celular começou a tocar, me interrompendo. – É a null. Oi, amiga... Não, tudo bem... Eu vou com o null, não precisa se preocupar... Boa noite para você também! - Ela disse que precisou ir mais cedo porque os pais dela chegaram antes do combinado. Cadê a null?
- Tá com o Rafael, eu ia passar para deixar ela em casa também. Queria saber de você.
- Ah, mas eu não quero ir embora agora... Você me busca depois? – fiz minha melhor carinha de meiga. Não fazia nem uma hora que havíamos chegado.
- Eu te levo depois – ouvi null dizer atrás de mim.
- Beleza, então. Beijo e se cuida – null deu um beijo na minha testa e foi andando entre as pessoas, até sumir do meu campo de visão.
- Obrigada, null.
- Não me chama de null – ele riu. – Parece a minha mãe falando. Ninguém me chama assim, só meus pais.
- Eu gosto do seu nome – disse sincera.
- Eu não. Mas gosto do seu, é a sua cara – eu sorri.
- Vou pegar uma bebida, você quer? – disse e ele assentiu. Fui em direção à cozinha e dessa vez foi mais fácil encontrar. Peguei dois copos com cerveja e fui bebendo o meu devagar. Voltei pra sala e null estava parado no mesmo lugar. Entreguei a ele o copo.
- Obrigado.
- De nada – eu disse. Ouvi os primeiros acordes de Mirrors do Justin Timberlake e sorri. Eu adorava aquela música. Deixei meu copo que já estava vazio de lado e puxei null até a pista de dança improvisada. Eu queria dançar aquela música. – Vem, dança comigo.
- Eu não sei dançar.
- Todo mundo sabe dançar, null. Para de doce, vem logo.
Fui mexendo meu corpo no ritmo da música e ele me acompanhava. Estávamos bem próximos. Há alguns dias atrás, isso me incomodaria, agora, não. Eu não tinha certeza sobre o que null dissera, talvez ela estivesse certa... Mas acima de tudo, ele estava se saindo um bom amigo. Isso me lembrava do que eu estava pensando na árvore, aquele dia na escola. Se nós fossemos amigos, isso seria muito mais fácil. E pelo visto, null pensava assim também... Eu acho. Ele começou a me fitar e eu senti minhas bochechas arderem um pouco. Comecei a fitá-lo também, mas ele não se importou muito e apenas sorriu. Ele tinha um olhar indecifrável, mas eu sabia que ele estava gostando daquilo. Eu também estava. A música acabou e nós ainda permanecemos no mesmo lugar. Ele sacudiu a cabeça como se acordasse de um transe e eu comecei a imaginar se ele estava pensando o mesmo que eu.
- Nem foi tão ruim assim, foi? – eu perguntei rindo.
- Não – uma música animada começou a tocar e ele riu. – Vamos dançar mais.
Depois de mais ou menos, quarenta minutos, nós decidimos ir embora. Não estava tão tarde, mas algumas pessoas começaram a cair bêbadas para todos os lados. null ia dirigindo com calma até minha casa. Era um pouco longe de onde estávamos. Íamos conversando algumas coisas, como qual seria o próximo casal. Depois de ver null e null, eu não duvido de mais nada. Depois de alguns minutos, ele estacionou em frente a minha casa. Todas as luzes estavam apagadas, então provavelmente todos estavam dormindo.
- Prontinho, null – ele disse.
- Obrigado, null – respondi usando o mesmo tom. Não gostava quando ele me chamava pelo sobrenome, mas ao mesmo tempo gostava, porque ninguém me chamava assim. – E obrigado de novo por ter me feito companhia a noite toda.
- Foi um prazer. Namorados servem pra isso, não é? – ele disse debochado.
- É sim. E admito que você foi um ótimo namorado hoje, null.
- Sabe o que faltou para completar a noite, namorada? – neguei com a cabeça já imaginando onde ele queria chegar. – Um beijo.
- Você não desiste, não é?
- Não, um dia você vai cansar e vai me beijar – eu olhei pra ele e comecei a rir. – Ok, e na bochecha?
- Pode ser... – me virei e encostei meus lábios em sua bochecha, mas ele se virou na mesma hora e me roubou um selinho. – Que coisa, null! – dei um tapa em seu braço e ele começou a gargalhar.
- Boa noite, null.
- Boa noite – abri a porta e desci do carro. Procurei minhas chaves na bolsa e não encontrei. Devo ter esquecido na casa de null. Olhei para trás e o carro de null ainda estava parado lá. – Pode ir.
- Não, vou esperar você entrar.
- É melhor você ir, porque eu deixei as chaves na casa da null e vou ligar para alguém abrir pra mim. E meus pais não vão gostar muito de ver você.
- Eles não vão nem saber que sou eu.
- Não precisa mesmo, obrigada.
- Não vou sair daqui – rolei os olhos. Mais teimoso? Impossível.
Peguei meu celular na bolsa e liguei para o telefone de casa e ninguém atendeu. Liguei para o celular do null e caiu na caixa postal, provavelmente ainda devia estar com o Rafael. Liguei para o celular da minha mãe e depois de três toques, ela atendeu.
- Oi, null – ela disse animada e eu ouvi umas risadas no fundo.
- Mãe, onde você está?
- Estou na casa da sua tia Bel. Seu pai também está aqui.
- Na casa da tia Bel, mãe? Ela mora em Juiz de Fora, é quase três horas daqui.
- Eu sei, null. Mas você e o null passaram o dia inteiro fora de casa, e de noite vocês iam a uma festa com os amigos. Eu e seu pai ficaríamos à toa, então nós viemos para cá.
- Você achou mesmo que era uma boa ideia nos deixar sozinhos aqui?
- Sei que vocês são dois jovens muito inteligentes e isso basta.
- Huum, ok então. Tchau.
- Beijos e se cuide.
Guardei o celular na bolsa. Que ótimo, o null não atende e meus pais não estão em casa. Vou dormir na rua hoje. Virei e percebi que null olhava curioso.
- Eles não estão aí? – o ouvi perguntar.
- Não.
- E o que vai fazer?
- Vou tentar falar com o null.
- E se não conseguir?
- Vou esperar até ele voltar.
- E se ele não voltar hoje?
- Credo, null, para de ser tão negativo.
- Se você quiser pode ir lá para casa, aí quando o null chegar, ele te busca. Ou pode dormir lá se quiser – ele sorriu e eu assenti.



Capítulo 10

- Tá, me deixa mandar uma mensagem para ele – peguei o celular e entrei no carro. – Seus pais não vão se importar?
- Que nada, uma hora dessas, eles já devem estar dormindo. E não é a primeira vez que eu levo uma garota lá para casa – ele sorriu malicioso e deu partida no carro.
- Estava demorando... Aparecido.
- Você que é.
- Eu?
- É, Srta. Chefe das líderes de torcida, que faz questão de esfregar na cara de todo mundo.
- É CAPITÃ!
- Que seja, tudo a mesma merda.
- Isso é inveja, porque você não é o capitão do time de futebol.
- Eu não queria ser mesmo, só ia ganhar mais dor de cabeça.
- Tá, null, já chega. Se a gente vai levar essa coisa de namoro a sério mesmo, tipo, porque agora são dois meses, nós precisamos ao menos ser amigos e parar com essas briguinhas ridículas.
- Eu sei, null. Estou falando essas coisas só para te irritar mesmo – ele começou a rir e eu dei um tapa em seu braço. – Ai, não precisa me bater.
- Precisa sim, você é um idiota.
- Um idiota muito lindo, gostoso...
- Muito convencido, isso sim.
- É... Talvez – null virou à direita e nós já estávamos na rua de sua casa. Não era tão longe da minha, só alguns quarteirões. – Ok, agora nós precisamos saber o que rola entre a null e o null.
- O quê? Não tem nada entre eles.
- Tem sim. Você não viu eles se encarando aquele dia na escola? E hoje, ele estava todo animado com a festa, chegou lá, a viu, e saiu vinte minutos depois.
- null, você viaja demais. Você enxerga coisa onde não tem.
- Mas eu estava certo sobre null e null, esqueceu?
- É, mas você sabia que aquilo estava acontecendo.
- Mesmo assim, desde o começo eu previ isso.
- Previu? Agora você é vidente?
- Ah, engraçadinha – ele usou um tom sarcástico. Abriu a porta da garagem com o controle remoto e estacionou o carro. Nós descemos e entramos na casa. – Quero dizer que eu já imaginava isso.
- Entendi... O null me respondeu.
- E o que ele disse?
- Que o Rafa quebrou o pé e ele acha melhor ficar lá com ele.
- Então, parece que você vai dormir aqui... Tem um sofá no meu quarto, você pode dormir lá. Ou aqui embaixo, se preferir.
- Vou dormir lá em cima mesmo.
- Beleza. Quer subir? Já está meio tarde – assenti e ele foi em direção às escadas e eu o segui. Abriu a primeira porta do corredor e nós entramos. O quarto não era grande, mas também não era pequeno. Uma cama de casal, um criado mudo, guarda roupas, um sofá e uma TV em frente. Os móveis eram brancos, com alguns detalhes em azul. – Se quiser se trocar, eu tenho uma blusa que o null esqueceu aqui, que deve dar de vestido em você – assenti e ele pegou uma blusa com a estampa dos Simpsons na gaveta. – O banheiro fica na segunda porta do corredor.
Caminhei até lá tentando fazer o mínimo de barulho possível, não queria acordar ninguém. Me troquei e null estava certo, a blusa ficou como um vestido em mim, indo até metade das coxas. Um vestido meio curto, né... Mas fazer o quê? Não ia mesmo dormir com as minhas roupas. Tirei os brincos, pulseiras, e tudo mais que usava, guardei na minha bolsa e voltei para o quarto. null estava apenas de boxers e camiseta, muito lindo por sinal. Mas ok, somos amigos agora. E ele é muito irritante para eu pensar qualquer coisa.
- Estou sem sono, e você? – ele me perguntou. Parece não ter reparado que eu fiquei encarando-o, melhor assim, se não ele não me deixaria em paz.
- Eu também – era uma meia verdade. Mas não tem como raciocinar direito com um garoto quase nu na sua frente. – E o engraçado é que eu acordei cedo hoje.
- Senta aqui, vamos conversar um pouco – ele deu dois tapas na cama indicando o lugar e eu me sentei.
- O que quer conversar?
- Nossos interesses, se temos algo em comum, essas coisas... Se vamos fingir, vamos fingir direito, pelo menos – desde quando ele começou a pensar?
- Ok, qual seu livro preferido?
- Livro? Não sou muito fã de leitura sabe... Prefiro filmes.
- E qual seu filme preferido, então?
- Eu não tenho um filme preferido. Mas e o seu, qual é?
- Eu gosto de sagas.
- Tem alguma banda favorita? Cantor? Música?
- Eu ouço qualquer tipo de música, tirando pagode, funk, essas coisas. E você tem?
- Eu também sou assim.
- O que gosta de fazer no seu tempo livre?
- Eu gosto de tocar com os caras, jogar vídeo game, sair... E você?
- Eu passo muito tempo com as minhas amigas, estamos sempre fazendo alguma coisa. E programa de TV, assiste algum?
- Eu só assisto desenho animado, e você?
- Eu gosto de assistir séries, mas eu vejo online ou no DVD. Na TV mesmo é difícil.
- Entendi...
Ficamos uns minutos em silêncio. Até que eu me lembrei de algo que me deixou um pouco curiosa.
- Posso perguntar uma coisa? – me virei para encará-lo e ele assentiu também me encarando. – Por que você acha tanto que o null gosta da null?
- Porque eles se pegaram na festa da null – ele disse num tom aliviado, como se antes estivesse com medo do que eu fosse perguntar. – E uma vez ele me disse que achava que estava a fim dela.
- Tá legal, já é a segunda vez que você fala sobre a festa, dessa vez é verdade?
- Sim.
- Então por que eles não me contaram? Eu não escondo nada do null, muito menos da null.
- Acho que eles queriam segredo. Não sabem que eu sei, eu vi por acaso.
- Já reparou que é sempre você que descobre os casais?
- Sim, e é por isso que eu sei que vai rolar alguma coisa com o null e a null – ele riu convencido.
- Ok, senhor vidente, e o que vai acontecer comigo então? – perguntei desafiando-o.
- Você vai descobrir sozinha – disse rindo, depois se deitou e puxou o edredom. – Boa noite, null.
- Boa noite.
Acordei no dia seguinte com o meu celular tocando. Fiquei um tempo procurando e quando finalmente atendi, não tinha mais ninguém na linha. Retornei a ligação, era a null me lembrando do almoço na casa do null.
- Bom dia, flor do dia – eu disse rindo quando null acordou.
- Flor do dia?
- É que eu sempre acordo o null assim.
- Ah... Era ele no telefone?
- Não, era a null. Para falar do almoço... Mas falando no null, é melhor eu ligar pra ele vir me buscar, antes que meus pais cheguem. Se meu pai sonhar que eu dormi aqui, eu estou encrencada.
- Mas não aconteceu nada.
- E você acha que meu pai vai acreditar em mim?
- Não...
Fui ao banheiro colocar meu vestido de novo e liguei para o meu irmão. Ele disse que meus pais já estavam em casa e que estava vindo me buscar. Voltei para o quarto e devolvi a camisa ao null. Essa camisa era dele, eu tenho certeza que sim, mas ok. Ficamos conversando sobre a null e o null até o null chegar.


null's POV OFF


null estava terminando de se arrumar quando o telefone tocou pela quinta vez. null não parava de ligar, ela estava nervosa e não tinha mais ninguém para conversar. null saíra com os pais e provavelmente chegaria atrasada e null não dava sinal de vida desde a festa.
- Amiga, eu já disse, vai dar tudo certo. Todos vão adorar a notícia.
- Como você sabe?
- Eu conheço meus amigos. Não precisa me ligar de novo, eu já estou indo. Tchau.
- Vamos, Barbie? – null apareceu na porta do quarto e apressou a irmã.
- Vamos. O Rafael vai?
- Não. A gente vai buscar a null?
- Não sei se ela vai, ela sumiu desde a festa.
- Então vamos, eu ainda preciso pegar o null.
- Espera, meu telefone está tocando, é a null.
- Ok, já vou descer, te espero no carro – null assentiu e atendeu o celular.
- Oi, null, tudo bem? Estou bem... A null te avisou sobre o almoço? Ela também não para de me ligar... Ok, passamos aí agora.
null desceu e avisou ao irmão sobre null. Passaram na casa dela, depois buscaram o null e por fim, foram para a casa de null.

***


- null, null, que bom que vocês chegaram – uma null sorridente apareceu na sala abraçando as amigas. – Cadê a null?
- Saiu com os pais... Você não ligou para ela? – null perguntou.
- Ela não me atendeu – null respondeu desanimada.
- Ok, mas não se preocupe, ela vem! – null disse confiante.
- Alguém pode me explicar por que estamos todos na casa do null e null está pirando? – null disse.
- Espera o resto do povo chegar que eu conto – null disse animado com a ansiedade dos amigos.
- Fala sério, vocês não sacaram nada ainda? – null perguntou e eles negaram. null e null começaram a rir.
- Eu já entendi tudo! – null disse sorrindo. – E se for isso mesmo que eu estou pensando, parabéns!
- A null está grávida e o null é o pai? Ai meu Deus, agora sim eu saquei tudo.
- Credo, null, vira essa boca pra lá, não é nada disso – null disse brava.
- Ah, não é isso? – null perguntou rindo e null a olhou feio. – Eu estava brincando – levantou os braços em sinal de rendição.
- Cadê o null? Porque eu estou cansada de ficar aqui com vocês, sem poder contar nada – null disse.
- Então o null também já sabe? – null perguntou e eu assenti. – null, vem aqui que nós vamos discutir umas regrinhas básicas de amizade – disse, fazendo os outros rirem.
- Falando de mim? Espero que bem – um null convencido apareceu na sala. – Boa tarde, caras, garotas – cumprimentou-os com um aceno – E, bestie – parou em frente à null e depois se sentou ao seu lado no sofá.
- Bestie? – null perguntou e começou a rir, logo todos os outros já estavam rindo.
- Sim, agora o null é meu bff – null respondeu em meio a risadas.
- Hmm, e o que é bbf? – null perguntou confuso.
- Bff, Sr. null, significa best friends forever, ou seja, melhores amigos para sempre.
- Que coisa ridícula – null disse, arrancando mais risadas dos garotos.
- Ridícula nada – null disse nervosa. – Nós levamos isso muito a sério.
- Coisa de mulherzinha – null zoou.
- Qual foi a piada? – null chegou desviando a atenção.
- Já repararam... – null dizia rindo. – Que a null... Sempre chega perguntando a piada?
- É verdade – null concordou.
- Ok, já chega! – null disse brava. – Vamos almoçar, e aí nós contamos tudo.
- Então vamos... – null disse.
Todos já haviam acabado de almoçar, e agora estavam comendo um mousse de chocolate de sobremesa e conversando qualquer coisa, até null desviar o assunto.
- Primeiro, eu queria agradecer a presença de cada um... – ele dizia, mas foi interrompido por null.
- Eu só vim para comer!
- Nós sabemos – null disse. – Agora vocês, vão direto ao ponto, porque eu já estou curiosa.
- Estamos namorando – null disse com um sorriso maior que o rosto.
- Hmm, é isso? – null perguntou.
- Sim... Não estão surpresos? A null e o null eu já até previa, mas acreditei que vocês fos...
- Eles já sabiam mesmo? – null perguntou e null assentiu. – Por quê?
- Nós descobrimos por acaso – null respondeu. – Vimos os dois se beijando.
- Ok, mas não fiquem chateados, nós queríamos que fosse surpresa – null disse.
- Não estamos – null disse – Não é, galera?
- Claro que não, estamos muito felizes por vocês! – null disse sorrindo.
- Se eu gostei até do null namorar a null, por que não gostaria que vocês ficassem juntos? – null disse gargalhando.
- Ok, isso é tudo mentira e vocês sabem – null disse e balançou a cabeça negando.
- Até parece que você não gosta de namorar o null, null – null disse rindo.
- Concordo com a null – null.
- Já discutimos isso – null.
- Olha, ela ficou vermelhinha – null disse, fazendo todos rirem, com exceção de null.
- Ah, que droga, gente. Eu odeio vocês – null disse brava.
- Odeia nada – null.
- Ok, mas o assunto aqui não é a null e o null? – ela falou, tentando desviar o assunto.
- Sim, mas não precisa ficar com vergonha da gente, pode admitir, Barbie – null.
null simplesmente se levantou e saiu da sala de jantar, indo em direção à porta que levava à sala, deixando todos sem reação.
- Exageramos? – null perguntou sem graça.
- Acho que sim – null disse. – Me deixa falar com ela, eu comecei a brincadeira.
- Eu vou com você – null disse.
- Não, eu vou falar com ela, ela é minha irmã.
- Mas eu comecei a brincadeira.
- Só que a gente também zoou.
- Não gente, eu vou. A culpa é mais minha – null disse. – Agora todo mundo se sentiu mal, né? – ele riu. – Já volto.
Levantou-se e saiu do cômodo, como a garota fizera minutos atrás e foi até a sala, cozinha, banheiro e por fim o jardim, e ela estava lá, sentada na grama e com os pés na piscina.
- Hey, bestie – ele disse rindo. Sentou-se ao lado de null e colocou os pés na piscina, imitando-a. – Por que saiu correndo? Ficou com raiva?
- Sei lá... Vocês me deixaram com vergonha – ela disse, escondendo o rosto com as mãos.
- Sério?
- Sim...
- É verdade o que elas disseram? – ele perguntou curioso.
- Não importa – ela disse séria.
- Importa sim... Eu quero saber.
- Vocês me deixaram sem graça, é isso.
- Mas esse é o papel dos amigos, null.
- Ah é? Então eu não quero mais ter amigos.
- Não existe essa opção.
- Existe sim, acabei de inventar – deu língua.
- Quantos anos você tem mesmo, garota?
- Quase dezessete, por quê?
- Pensei que era quase sete – disse rindo.
- Ah, vai se foder, null! As mulheres são mais velhas em questão de maturidade – disse convencida.
- Só que isso não funciona com você.
- Você que é o imaturo aqui.
- É mesmo? Por quê? – disse em tom desafiador.
- Porque ninguém namora de mentira com alguém para aparecer na escola.
- Já te disse que não é por isso – deu de ombros.
- Deixa pra lá... Não me interessa mais o motivo também – mentiu.
- Eu sei, afinal você adora ficar comigo, não é? – sorriu malicioso.
- Sim, você é meu bestie agora – disse sarcástica.
- Não disse nesse sentido.
- Quem fica tentando me beijar aqui é você, esqueceu?
- Não... Mas sabe o que isso me lembrou?
- Não, o quê?
- Aquele desafio que você me fez.
- Desafio? – ela perguntou confusa.
- É, você disse que eu nunca ia conseguir nada com você e olha, eu sou seu melhor amigo agora.
- Eu não me lembro disso.
- Daquele dia do shopping, que eu te dei carona.
- Mas isso foi por sua conta, eu não falei nada.
- Mas eu ganhei mesmo assim.
- Quantos anos têm mesmo, oito ou dezoito?
- Hahaha, engraçadinha – disse irônico. – Não gosto quando zoam de mim.
- Ah, então você pode zoar comigo, mas eu não posso zoar com você?
- Eu não disse isso. É que eu tenho um jeito muito exótico de fazer as pessoas não quererem zoar comigo mais.
- Ah é? Vai fazer o quê? – ele se inclinou e começou a fazer cócegas nela, enquanto ela tentava inutilmente segurar as mãos dele. – Ah para... Por favor... – dizia rindo. – Vaa...mos... Cair...
Os outros seis ouviram um barulho de água e correram para o jardim, começando a gargalhar em seguida. Eles tinham caído na piscina.
- , EU VOU TE MATAR! - null gritou estapeando-o. – MEU VESTIDO É NOVO, VOCÊ VAI ME DAR OUTRO.
- Ai, ai não precisa me bater – ele segurou as mãos dela. – Desculpa, foi sem querer.
- Saiam da piscina seus loucos, está frio. Eu vou buscar duas toalhas – null disse e voltou para dentro da casa. Os outros ainda riam.
- O que... O que aconteceu? – null perguntou gargalhando.
- Esse veado começou a fazer cócegas em mim e nós caímos na piscina – null disse brava.
- Foi sem querer, eu já falei – null disse também bravo.
- E eu já entendi.
- Saiam logo daí, antes que peguem um resfriado – null alertou.
null saiu e depois ajudou null a sair, eles se secaram e depois todos eles voltaram para dentro de casa e decidiram assistir a um filme que passava na TV.
- Quando o próximo casal vai assumir? – null perguntou naturalmente.
- Vai começar... – null rolou os olhos.
- Que próximo casal, null? – null perguntou encarando-o.
- O null e a null – ele respondeu como se fosse óbvio. – E não me chamem de null, sabem que eu odeio. Mas voltando ao nosso casal... Eu estava me recordando de algumas coisas que aconteceram na sua festa no ano passado e...
- Cala a boca, eu quero ver o filme – null o interrompeu.
- Ah, null... Acabei de me lembrar de uma coisa, você deixou suas chaves lá em casa. Eu trouxe para você – null disse.
- Acredita que eu quase dormi na rua ontem? – ela disse rindo.
- Sério? Me conta.
- Quando eu cheguei em casa...
- Eu pensei que você queria ver o filme – null comentou.
- Não quero mais.
- Então vamos desligar isso, porque ninguém mais está aguentando.
- Sabe, acho que já está na hora de vocês irem embora – null disse. – Eu quero aproveitar que meus pais não estão em casa e ficar um pouco sozinho com a minha namorada, sabe? Não, não sabem, porque vocês não têm.
- Calma, null, já estamos indo – null disse. – Quem vai com quem?
- Quem está de carro? – null perguntou. null, null e null levantaram as mãos.
- null e null vão comigo, null com o null e a null vai sozinha – null disse rindo.
- Por que o null não vem comigo? Eu vou passar em frente a casa dele, o null não – null disse.
- É, pode ser – null concordou. – Eu vou com a null. Você vai sozinho, null.
- Ah, tanto faz – null deu de ombros e null estranhou sua reação. – Vamos?
- Vamos... Ah, e mais um recadinho: Crianças, o final de semana acabou, façam a lição de casa porque é importante e estudem para as provas, porque começam amanhã. E null e null, juízo, porque eu não quero ser tio antes da hora – null disse, fazendo todos gargalharem.
- Ok, papai – null e null disseram em coro e começaram a rir em seguida.
- Olha o incesto – null comentou. – Estou indo, beijos para todos, beijos bestie e desculpe pelo vestido – ele fez uma voz afetada fazendo os amigos começarem a rir de novo. Despediram-se e cada um foi para sua casa.

***


null se mexeu na cama e analisou o quarto, as cortinas e a porta fechadas, impedindo o sol de entrar no quarto. Encarou o celular em cima do criado esperando o toque irritante do despertador começar a soar, para ela se levantar e começar a se arrumar para ir à escola. Esperou um minuto, dois, três e nada, devia ter acordado cedo demais. Apertou o botão de início do iPhone, mas ele não respondeu ao comando. Segurou o botão de ligar por um tempo e viu que o celular estava sem bateria. Levantou-se e foi até o corredor para ver quantas horas eram e se assustou, voltando ao quarto imediatamente. Estava quarenta e cinco minutos atrasada. Tomou um banho rápido, se vestiu e jogou o material na mochila de qualquer jeito. Desceu para a cozinha para comer algo, mas o café não estava pronto. Estranhou o silêncio da casa e também a questão de ninguém ter ido acordá-la, como de costume quando ela se atrasava. Subiu até o quarto dos pais e não encontrou ninguém, quarto do null: Ninguém, quarto de hospedes: Encontrou Rafael dormindo. Desceu até a sala e viu um bilhete em cima da mesa dizendo que eles haviam saído para levar o irmão ao hospital. Pegou o telefone sem fio que estava ao lado da TV e ligou para o celular de sua mãe. Ela atendeu dois toques depois.
- O que aconteceu com o null? Ele está bem?
- Teve uma crise de asma, mas já está melhor. Você já está no caminho para escola?
- Meu celular descarregou e eu me atrasei, estou indo agora.
- Pede carona para a null, faltam poucos minutos, você não vai chegar a tempo e tem prova hoje, não pode se atrasar.
- A null já deve estar lá mãe.
- Liga para o null então, tenho certeza que ele ainda não está na escola. Mas vai logo. Preciso desligar.
- Ok, vou ver o que faço. Beijos.
Ligar ou não? – pensou durante uns segundos e resolveu que sim. null era praticamente vizinho dela e não devia mesmo estar na escola, sempre chegava atrasado. Discou o número e ele atendeu depois de três toques.
- Fala aê, cara! – ele disse e ela riu.
- null, é a null.
- Ah, oi bestie, tudo bem? Pensei que era o null.
- Dá para parar de me chamar assim? – ela rolou os olhos. – Estou bem, mas preciso de carona, pode me buscar?
- Claro, passo aí agora. Mas aconteceu alguma coisa?
- O null teve uma crise de asma e precisou ir ao hospital e meus pais foram com ele, e eu me atrasei.
- Ah, mas ele está bem?
- Está. De tarde já deve vir embora.
- Entendi... Já vou, me espera no portão.
Ela pegou a mochila, conferiu o material, pegou as chaves e foi até o portão esperar por ele, que chegou cinco minutos depois.
- E aí, quer ir tomar café? Eu ainda não comi nada.
- Tá louco? Nós só temos cinco minutos.
- Cinco? Não, louca é você, nós ainda temos vinte e cinco.
- O quê? Mas eu olhei a hora quando acordei, e eu estava quarenta e cinco minutos atrasada.
- O relógio está bem adiantado então, porque agora são 6h50min – ele olhou no painel do carro e depois conferiu no celular.
- Mas minha mãe me disse que faltavam poucos minutos.
- Ela te enganou para você não chegar atrasada – ele disse rindo. – Vamos tomar café?
- Vamos, estou morta de fome.

***

Oi, meninas – null disse, quando se aproximou das amigas no pátio.
Oi, null – null disse se virando, estava sentada de costas. – E null.
Oi, garotas – ele disse e acenou depois se virou para null. – Vou encontrar os caras, depois a gente se vê.
- Ok – null deu um selinho na garota e se distanciou e as outras olhavam curiosas. – Tá, podem começar a perguntar, mas uma de cada vez.
- Eu primeiro – null disse. – O que foi isso?
- Isso o quê? Eu e o null temos que fingir, esqueceu?
- Minha vez agora – null disse. – Não esquecemos, mas quando vocês estão juntos não se suportam, onde quer que estejam.
- Eu sei, mas eu tenho que fingir, vocês sabem da história. E não é assim também, nós nos suportamos sim, podem parar de drama.
- É null, nós sabemos – null disse. – Mas o que a null quis dizer, é que mesmo fingindo, vocês não chegam juntos na escola, nem "se dão bem" – ela fez aspas no ar com os dedos – Entendeu o que estamos querendo dizer?
- Bom, vou resumir a história... O null me deu uma carona, aquele dia da festa e quando a gente chegou lá em casa, eu estava sem as chaves e meus pais foram pra Juiz de Fora e só voltariam no outro dia, aí eu fui para a casa dele... Ok, parem com essas caras de pervertidas, porque não aconteceu nada! Continuando... Nós ficamos conversando umas coisas e começamos a nos dar bem e decidimos que a partir daquele dia, seríamos amigos porque seria mais fácil fingir. Hoje, o null passou mal e não tinha ninguém para me trazer e eu estava muito atrasada e ele me deu carona de novo. É isso, perguntas?
- Eu tenho uma – null disse. – O que vocês conversaram?
- Sobre coisas que a gente gosta e sobre vocês e os meninos.
- E o que vocês falavam sobre nós e os meninos? – null perguntou.
- Huum, essa parte é importante. Falamos sobre o null e null, já que nós sabíamos tudo, sobre uma teoria doida que o null acredita em relação a você e o null e por fim... Você vai ficar chateada, null?
- Não, por quê? – ela perguntou confusa.
- Sim ou não?
- Ah, não sei, null... Não.
- Ok...Tan tan tan tan, a bomba do dia: Ele me contou que viu você – apontou para null – e o null se beijando na festa da null no ano passado. É verdade?
- O quê? – ela perguntou surpresa.
- null, é verdade? – null perguntou.
- Olha, nós não vamos ficar chateadas porque você não contou – null acrescentou.
- É... É verdade, sim – null disse. – Mas, por favor, não quero falar sobre isso agora.
- Tudo bem, amiga – null disse. – Tá ok, recapitulando: null estava namorando escondido com o null, null beijou o null... – null foi enumerando com os dedos – Tem alguma coisa para confessar, null?
- Na verdade... Tenho sim – null disse sem graça.
- Ai merda, o quê? – null perguntou.
- Eu já conhecia o null.



Capítulo 11

- Você é vidente mesmo? – null perguntou quando encontrou null na sala de aula.
- O quê? – ele perguntou rindo.
- Eu quero todos sentados, em silêncio, para eu poder começar a distribuir a prova – o coordenador disse e os alunos foram se sentando. – Guardem os materiais, não quero ver nada em cima das mesas. Não demorem, o professor não vem hoje e eu não quero ver vocês enrolando por isso.
- A null acabou de contar para gente que já conhecia o null – ela abaixou o tom de voz.
- Eu sabia! – ele disse convencido.
- null, null, silêncio. Eu já estou cansado de ouvir reclamações dos professores das suas conversas paralelas. Depois da prova, quero os dois na minha sala.
Eles olharam indignados para o coordenador, que continuou distribuindo as provas. Olharam para os amigos e estavam todos rindo, como sempre.

***


- Sentem-se, por favor – Marcus, o coordenador, indicou as cadeiras em frente a sua mesa e eles se sentaram. – Como eu disse, eu já recebi reclamações de três professores em relação à conversa na aula. Fora que, a Sra. Fernanda, me disse que colocou os dois para fora de sala, vocês sumiram e não foram à última aula, isso é verdade?
- Então... – null começou a falar. – Eu e a null estamos fazendo um trabalho de artes em dupla, e também estamos estudando juntos para as provas, e às vezes nós trocamos uma ideia sobre a matéria durante a aula, mas é só isso.
- Trocando ideia sobre a matéria? Humm, e sobre vocês matarem aula e fugirem da escola? Como explicam isso? – ele encarava os dois, que estavam pensando em uma desculpa boa o suficiente, mas não conseguiram. – Vocês não têm nada a dizer? Então eu falo. De você, null, eu até já esperava um comportamento desse tipo, até porque não é a primeira vez... Mas você, null, eu estou surpreso.
- A culpa foi minha, eu a convenci a ir comigo – ele disse e ela balançou a cabeça negando.
- Assumindo a culpa? Bonito da sua parte, mas isso não funciona comigo. Eu não gosto de me meter na vida pessoal dos meus alunos, mas fiquei sabendo por alto que vocês estão namorando. E pelo visto, isso vem influenciando bastante no comportamento de vocês aqui na escola.
- Isso é verdade... Mas sobre a aula, o que vai fazer? Nos dar uma ocorrência, suspensão? – null perguntou.
- Eu vou fazer melhor, vou chamar os pais de vocês para conversarem. Eles já têm conhecimento sobre o namoro? – os dois se encararam rapidamente, mas Marcus retomou sua fala. – Pelo visto não. E eu vou adorar contar a notícia. Estão dispensados.
- Você não pode fazer isso – null disse bravo. – Não pode se meter assim na nossa vida.
- Esquece, null. Vamos – null disse e se levantou. null repetiu o gesto e saíram juntos da sala.

***

- Eu vou me ferrar e a culpa é sua e do null – null disse quando se juntaram aos amigos na cantina.
- O que houve? – null perguntou.
- O nosso querido Marcus, disse que vai chamar nossos pais aqui, para conversar sobre o meu namoro fake com o null.
- Se é fake, qual o problema? – agora foi a vez de null perguntar. - O problema, é que de um tempo pra cá, meu pai decidiu que odeia o null e eu disse para minha mãe que a gente não tinha nada. Ela vai pensar que eu menti.
- Mas por que você disse isso? – null perguntou confuso.
- Ora, porque é a verdade.
- Mudando de assunto... – null disse. – Por que o null não veio?
- Teve uma crise de asma e foi para o hospital, mas ele já está bem – null respondeu.
- Ele tem asma?
- Tem. Desde criança... Tá, mas o que nós vamos fazer sobre o coordenador?
- "Nós"? – null perguntou.
- Sim, amigos servem para isso, não é? – null perguntou rindo.
- A culpa é toda do null, e sua – null apontou para null. – Vocês que se virem e me tirem dessa.
- Não é assim também... A culpa é mais dele.
- Não importa, contanto que eu saia sem me ferrar por causa de vocês.
- Esse é o seu problema, só se importa com você mesma. Sabia que se os meus pais descobrirem que eu fugi da escola, eu também vou me ferrar? Não é só você que tem problemas em casa – disse bravo.
- A culpa não é minha se você não sabe se comportar direito – ela usou o mesmo tom.
- Gente, já chega! Parecem crianças, parem com isso – null disse impaciente. – Eu tenho uma solução para vocês, bem simples. É só dizer a verdade. Vai dar tudo certo.
- Ah, null, mas você acha que se eu disser para o meu pai que eu estou namorando de mentira ele vai acreditar? E ele ainda vai querer saber o motivo, e eu vou ter que contar da chantagem e vai ser um problema maior ainda... – ela encarou a amiga.
- Não essa verdade, a verdade que vocês estão vivendo, diz para o seu pai que estão mesmo juntos, você sabe que uma hora ele aceita, e você null, seja um aluno melhor e para de aprontar na escola que seus pais param de pegar no seu pé. Calma na alma gente, vai dar tudo certo.
- Calma na alma? – null começou a rir, fazendo todos rirem também. – Quem diz isso?
- A null – null disse gargalhando.
- Ah, podem parar de me zoar, meu conselho foi ótimo – ela disse convencida.
- Eu espero que dê certo – null disse.
- Eu também – null concordou.
- Huum, já que eu sou uma ótima pessoa e estou ajudando vocês, posso pedir um favor? – eles assentiram. – Mas todo mundo tem que ir.
- Fala logo, null – null disse curiosa.
- Vão comigo até o Corcovado? Eu queria muito ver o Cristo.
- É isso? – null gargalhou. – Bora galera, no feriado.
- Eu moro aqui desde que nasci e nunca fui – null disse e os outros concordaram.
- Eu já fui com a minha tia, mas era pequeno, nem me lembro – null disse. – Eu também vou.
- Ok, vamos todos então? – null perguntou.
- Sim – null disse e null deu um gritinho animado fazendo os outros rirem. – Você aproveita e leva seu primo, null.
- Por quê? – null perguntou e todos o encararam.
- Ah, não sei se vai rolar, o Rafael quebrou o pé, esqueceu?
- Ok, então vamos nesse feriado, vai ser um máximo – null disse com um sorriso maior que o rosto. – Eu amo vocês.
- Vamos para sala? Faltam dois minutos para tocar o sinal do intervalo – null disse analisando o relógio em seu pulso e eles assentiram.

***

- Gente, eu já estou indo, ok? – null disse. – Ainda preciso buscar meu irmão na escola.
- Tudo bem, null, até mais – null disse e os outros se despediram com um aceno. – Amor, eu e as garotas temos treino agora, não vou poder ir para a sua casa – ela se virou para null e disse com uma expressão triste no rosto.
- Tudo bem, linda, nos vemos amanhã, ok? – null disse e eles se beijaram.
- Ah, esse grude vai durar até quando? – null perguntou rindo.
- Quando você começar a namorar, nós também vamos te zoar – null disse e null concordou.
- Eu não sou de uma garota só, sou de todas.
- Você é ridículo, isso sim – null disse e as outras concordaram.
- Obrigado pela parte que me toca, null – ele disse sarcástico. – Estou indo, tchau caras, tchau garotas.
- Já estou indo também – null disse e se virou para null. – O que acha de fazermos o trabalho de artes hoje? Se der tempo, a gente estuda para a próxima prova.
- Eu não sei. Depois do treino eu queria ir para casa e conversar com os meus pais... Sobre nós e o que supostamente temos.
- Espera um pouco. Se o diretor não fizer nada, a gente também não diz nada. Eu duvido muito que ele vá fazer isso, null. Ele não tem direito de se meter na nossa vida assim.
- Ok, então eu não vou dizer nada. Me busca aqui depois do treino para a gente fazer o trabalho então? Eu prefiro que seja na sua casa.
- Você é bem folgada, né? – ele disse rindo e ela deu um tapa em seu braço. – Acho que vou deixar você ir a pé.
- Você é um péssimo namorado, melhor amigo, que seja... Não vai custar nada e eu vou sair morta do treino. Depois ainda ir a pé até sua casa...
- Eu te levo, null – null disse e null sorriu, agradecendo.
- Não precisa, null. Pode deixar que eu venho buscar essa chata – ele disse e ganhou outro tapa. – Eu não sou saco de pancadas.
- Me chama de chata de novo, chama... – ele se aproximou, segurou o rosto dela com as duas mãos e deu um selinho demorado. null apenas deu de ombros, já estava acostumada.
- Minha chata... – null disse e depois apertou o nariz da garota.
Vamos para a quadra? – virou-se para null e null que assentiram. – Estamos indo, beijos.

***

- Já terminou os desenhos? – null perguntou olhando para null. Já fazia quase uma hora que eles estavam fazendo o trabalho. Ele desenhava e ela cuidava da parte escrita, como combinaram.
- Aham. Já terminou a parte escrita?
- Aham, me deixa ver como ficou – ele mostrou os desenhos, muito parecidos com os originais e ela adorou. – Você desenha muito bem, o professor vai amar.
- Estou cansado... Quer comer alguma coisa? – ele perguntou e ela assentiu. – Ok, vamos lá na cozinha, então – null foi andando até a cozinha com null em seu encalço. Abriu o armário e pegou um pote grande de Pringles e depois abriu a geladeira. – Suco ou refrigerante?
- Refrigerante – ele pegou a garrafa de um litro de Coca-Cola na geladeira, abriu outro armário, pegou dois copos, os encheu e guardou a garrafa logo depois. Voltaram para a sala e ele abriu o pote. – Se a null descobrir que eu estou comendo batata com coca ela me mata.
- Por quê? – ele perguntou rindo.
- Ela é super preocupada em manter a forma, em relação a nós sermos líderes de torcida.
- E você? Se importa?
- Sinceramente... Não. Quero dizer, não que eu não me importe totalmente, mas é que a null leva mais a sério. Ela diz que esse sempre foi o sonho dela, essas coisas.
- Posso fazer uma pergunta? – ele disse encarando-a e ela assentiu. – Você gosta mesmo de ser líder de torcida?
- Não era o que eu planejava para mim, mas eu gosto.
- Como assim? – ele perguntou confuso. - Eu sempre gostei de fazer teatro, só entrei nessa de cheeleader por causa da null.
- Então por que não sai?
- Não sei... Mas por quê?
- Curiosidade.
- Quer perguntar mais alguma coisa? – disse rindo e ele balançou a cabeça negando.
- Você quer perguntar?
- Não.
- Quer estudar agora?
- Também não – respondeu, fazendo-o rir.
- Acho que o Marcus esqueceu mesmo da gente, se não meus pais já teriam ligado para me xingar.
- Eu acho melhor a gente parar de conversar na aula e nos comportar melhor que ele se esquece da gente de vez.
- Tomara.
- Já que não vamos estudar, acho que vou embora.
- Não, fica mais um pouco...
- Como é? – ela perguntou rindo, duvidando se tinha mesmo ouvido aquilo.
- Eu gosto de ficar com você, a gente se diverte junto.
- E briga também.
- Eu sei, mas a gente se diverte mais do que briga.
- Tá, eu fico – deu de ombros. – Mas o que vamos fazer?
- A gente pode ver um filme, assistir alguma coisa na TV, jogar alguma coisa ou chamar o povo.
- Pode escolher.
- Vamos ver filme?
- Vamos, os DVDs estão naquela gaveta – apontou para uma gaveta no móvel da TV no fundo da sala. – Vem aqui me ajudar a escolher. Tem muitos.
- Eu só não vejo de terror.
- Vamos ver Eu sou o número quatro?
- Vamos – null pegou o CD e colocou no aparelho de DVD, se sentaram no sofá de novo. – Me faz um favor?
- Depende... – disse e ela arqueou a sobrancelha. – Faço, o quê?
- Vai no shopping comigo amanhã?
- Ir ao shopping, null? Não acredito que você já vai me arrastar para fazer compras contigo.
- Melhores amigos servem para isso.
- E para isso serve null, null e null.
- Acontece que a null vai ao dentista amanhã e a null vai ficar de babá da filha da vizinha, e a null está sempre cuidando do irmão dela. E eu não quero ir sozinha.
- Mas eu tenho treino amanhã.
- Eu te espero na escola e de lá a gente vai.
- Existe null, null e null também...
- Eu sei, mas eles são seus amigos, não meus.
- Ah, e o null?
- Ele não tem paciência para ficar comigo no shopping.
- E eu tenho? – perguntou encarando-a.
- Por favooooor, null, vai comigo? – null fez uma carinha fofa que sempre usava com o irmão.
- Ok – ela deu um pulinho e o abraçou. – Mas com uma condição: Você vai ver Planeta dos macacos: O confronto, comigo. [N/A: Gente, esse filme é um máximo]
- Planeta dos macacos? – ela fez uma careta. – Ah, pode ser...
- Tá, então eu vou... Mas diz aí, por que vai ao shopping amanhã? Não pode esperar depois de amanhã para ir com as meninas?
- Porque depois de amanhã é o aniversário da minha mãe.
- Entendi... Agora vamos ver o filme – disse e ela concordou.

***


Depois de passar a tarde toda na casa de null, null foi embora. Chegou em casa e subiu direto para o quarto, tomou um banho e fez a lição de casa. Depois ficou assistindo TV até sua mãe chamar todo mundo para jantar. Ela ainda continuava intrigada sobre a questão do coordenador e queria encontrar uma forma de perguntar para os pais sem que eles percebessem algo.
- Vocês receberam alguma ligação da escola? – null perguntou, olhando para os pais. Estavam todos sentados na mesa de jantar e já haviam praticamente terminado a refeição.
- Não amor, por quê? – a mãe de null perguntou curiosa.
- É porque... Porque o diretor passou lá na sala avisando que uns alunos estavam passando trotes para alguns pais usando o telefone da secretaria – mentiu.
- Ah, essas crianças não tem jeito – disse e o pai de null concordou com a cabeça. – Mas e a prova, como foi? Você não se atrasou, né?
- Eu achei fácil... Mas eu não me atrasei, porque o relógio do corredor estava quarenta e cinco minutos adiantados.
- Mas aquele relógio está parado – null disse e todos riram. – Já faz tempo que ninguém troca as pilhas dele.
- É verdade? – ela perguntou surpresa e sua mãe assentiu. – Mas você disse que faltavam poucos minutos para a aula começar.
- Era só para você não ficar enrolando.
- Tá, mas agora eu posso saber onde você estava o dia inteiro? – o Sr. null perguntou curioso.
- Na casa da null.
- Engraçado, mais cedo ela ligou aqui perguntando onde você estava e porque não atendia o celular – null soltou e null chutou sua perna de baixo da mesa. Seu pai olhou desconfiado, mas não disse uma palavra. – Não, me enganei, foi a null.
- Meu celular ficou em casa, porque estava sem bateria de manhã... Ah mãe, faz tempo que eu queria te perguntar uma coisa: Sábado eu cheguei aqui em casa e meu quarto estava todo revirado, meu notebook tinha sumido, minhas chaves também, por quê?
- Porque nós combinamos de limpar o seu quarto, esqueceu? Separar as coisas que você não usa mais, jogar fora o que não é necessário, como aquelas caixas com trabalhos dos anos passados. Fora que eu também aproveitei para procurar o seu vestido lilás.
- Eu não me lembrava de que era nesse fim de semana. Para mim era daqui a um mês, ou mais.
- As chaves, eu peguei as suas para fazer cópias para o Rafael, as reservas tinham sumido... Já o notebook, eu não sei.
- Foi eu que peguei, gatinha – Rafael disse. – Mas eu não conseguir mexer, porque tem senha, me desculpe.
- Não tem problema, mas dá próxima vez me avisa, ok? – ela sorriu e ele assentiu.
- Tudo bem. E desculpa, de novo.
- null... Você já terminou? Eu preciso conversar com você – null falou e seus pais olharam desconfiados. – Depois com você também, pai.
- Já terminei sim. Vamos subir? – ele perguntou e ela assentiu. Juntaram os copos, pratos e talheres, colocaram na cozinha e subiram para o quarto. – O que foi?
- Sua brincadeirinha com o null quase me ferrou hoje! – ela disse brava. – O Marcus inventou de chamar a gente na sala dele e disse que chamaria nossos pais lá, para conversar com ele.
- Ah, e por isso você perguntou se eles tinham recebido alguma ligação da escola?
- Sim... Olha, meu pai já deixou bem claro que não quer ele comigo, e eu já falei para a mãe que a gente não tem nada. Nós precisamos mudar umas regrinhas nesse acordo. Se eles descobrirem, a gente para com isso, e eu não vou me importar mais com chantagem, entendeu? Eu vou contar tudo.
- Tudo bem – ele falou calmo. – Mais alguma coisa?
- Você já comprou o presente da mãe?
- Semana passada. Mais?
- Vai com a gente no Corcovado no feriado?
- Defina "A gente".
- Eu, você, null, null, null, null, null e null.
- Putz... Vocês já combinaram isso?
- É que a null que muito conhecer o Cristo, sabe, ela é nova na cidade, veio do interior... Nós, meninas, vamos num carro e vocês em outro.
- Tudo bem. Mas você quer mesmo ir?
- Quero... O que acha de uma festa surpresa para a mãe esse ano?
- Eu estava pensando em fazer... Hoje é segunda-feira, nós só temos aula até quarta e quinta é feriado. A gente faz a festa na quinta e sexta nós vamos ao Cristo, ok?
- Ok, combinado então. Vou avisar as meninas e você avisa os meninos – null assentiu e null deixou o quarto, indo em direção ao seu. Deitou em sua cama e ficou assistindo TV até pegar no sono.

***


- null, você tem certeza mesmo que quer ir? – null perguntou, olhando nos olhos da amiga. Estavam todos os oito sentados na mesma mesa na cantina. Era a hora do intervalo e eles estavam discutindo a ida ao Cristo e a festa surpresa.
- Cara, dá para vocês pararem de me perguntar isso? – null disse impaciente. – Eu já disse que eu vou.
- Acontece que, minha querida null null, o morro do Corcovado tem 710 metros de altura... Vai mesmo? – null perguntou encarando-a.
- Ah gente, que droga. Eu já falei que eu vou. Se ficarem perguntando eu mudo de ideia.
- Vai mesmo? Porque eu me lembro que para pular o muro para matar aula...
- Nem termina a frase, null – ela rolou os olhos fazendo-o rir.
- Você pulou o muro, null? Já é um progresso – null disse, fazendo os amigos rirem e ela deu um tapa em seu braço. – Você adora bater nas pessoas, né?
- Quando elas me irritam, sim. Vocês são chatos demais, eu não mereço esses amigos.
- Ai, ai, diz isso, mas não vive sem a gente – null disse e eles assentiram.
- Hmm, Sra. null, obrigado por me fazer lembrar a sua humilde presença nessa mesa, mas se eu me lembro bem, você, eu null e null não temos uns assuntos para tratar não? – ela sorriu maliciosa. – Você e a null, para falar a verdade.
- Que assuntos? – null perguntou confusa.
- Quer mesmo que eu diga aqui? Acho que não, né? – ela continuou sorrindo. – Alguém vai ao banheiro comigo?
- O que vocês fazem tanto no banheiro? – null perguntou.
- Falam da gente, óbvio – null disse convencido.
- É segredo, gente – null disse deixando-os curiosos. Levantaram-se e foram caminhando até o banheiro, estava vazio, perfeito para conversar. – Ok, podem ir falando, quem vai primeiro? null ou null?
- Mas eu falei que não queria falar disso – null disse emburrada.
- Ah, para de doce vai, nós estamos curiosas – null disse animada.
- Ok, mas a null fala primeiro. Pode ser? – null perguntou e ela assentiu.
- Não tem muita história gente. Eu fui a um acampamento ano passado e ele também estava lá com o primo, a gente conversou umas coisas e ele pediu pra ficar comigo e eu aceitei, aí nós marcamos de nos encontrar em um lugar, mas estava muito escuro e eu o vi beijando outra menina, aí eu revidei e fiquei com o primo dele. AÍ deu aquela confusão toda e depois ele me explicou que pensou que fosse eu porque a menina estava com uma roupa parecida com a minha, aí quando eu contei a gente brigou e agora ele me odeia, fim.
- Fim nada. Você tem que falar com ele, null – null disse e as outras concordaram.
- Tá, agora é a vez da null – null disse e elas se viraram para encarar null.
- Na festa não foi a primeira vez, foi praticamente um mês antes. Se lembra de quando você foi para a casa da sua tia em Juiz de Fora, null? – perguntou e ela assentiu. – Você esqueceu de me avisar e eu fui à sua casa para a gente assistir a maratona de Gossip Girl que ia passar na TV, mas você não estava. Aí eu fiquei conversando com o null e ele soltou que tinha uma queda por mim... Conversamos mais, e a gente acabou ficando. Depois de novo, de novo, de novo, na festa. Mas depois eu estraguei tudo...
- O que você fez? – null perguntou curiosa.
- Eu já sei o que aconteceu – null disse e deu um abraço em null que começou a chorar. – Mas a culpa não foi sua, amiga.
- Eu ainda gosto muito dele, mas aquilo atrapalhou tudo – ela disse triste.
- O que houve? – null perguntou confusa.
- Eu vou contar, mas isso é segredo ok? Não conta para ninguém.
- Eu juro, não conto.
- Eu fui para uma festa com a minha prima, o namorado dela e um amigo dele. E eu fiquei muito bêbada e acabei dormindo com esse amigo. Um tempo depois, eu achei que estava grávida e foi a pior época da minha vida. Meus pais brigaram comigo, o null não quis mais saber de mim... – ela voltou a chorar.
- Não chora, null. Nós vamos dar um jeito nisso, ok? – null tentava transmitir confiança para a amiga.
- Isso mesmo, eu e a null vamos ajudar vocês duas – null disse e elas sorriram.
- Nós também vamos te ajudar, null – null disse rindo.
- Com o quê? – ela perguntou rindo.
- Com o null, ora – null concluiu.
- Haha, até parece... – ela disse sarcástica.
- Não, vamos falar sobre você agora, null – null disse rindo. – Nós já percebemos que você ficou com ciúmes da possibilidade da null estar a fim dele. Pode admitir.
- Não fiquei.
- Nem discuta, eu vi a sua cara de alívio quando você descobriu que eu namorava o null.
- Nada disso, vocês tão viajando legal.
- Vocês se divertem juntos? Sim. Tem coisas em comum? Sim, já que estão sempre trocando uma ideia. Ele te dá carona, você sempre vai a casa dele. Ficaram mais próximos por causa desse acordo idiota – null disse convencida.
- Sinceramente? Eu acho que ele gosta de você! null, quando ele me pediu para fingir que eu era a fim dele para saber a sua reação, foi a primeira coisa que eu pensei.
- Aquele dia que a menina chegou ao corredor, comentando do seu vestido e você a cortou, foi demais. Se isso não é nem um pouco de ciúme, eu não sei mais nada de nada – null disse rindo.
- E no dia do almoço, quando a gente começou a falar que você estava gostando, você ficou toda vermelhinha e saiu brava – null disse, rindo mais ainda.
- Ah, para gente... – null disse emburrada.
- Olha, ela tá vermelha de novo – null disse, apertando as bochechas da amiga.
- Ok, querem a verdade? – elas disseram sim em uníssono e null começou a rir. Logo em seguida, o sinal anunciando o fim do intervalo soou.



Capítulo 12

- Ah, não – null resmungou.
- Que droga – null.
- null, você não vai sair daqui até contar pra gente – null.
- E olha que você já está bem encrencada – null.
- Eu conto, mas vai ser rápido – null disse e as encarou. – Eu não sei gente, eu não sei o que eu sinto. Às vezes ele é tão carinhoso e amigável, mas tem hora que ele muda e fica completamente irritante. Ontem ele me pediu para ficar mais tempo com ele porque a gente se divertia junto, e eu me senti bem com isso. Mas depois eu me lembrei de que nós brigamos mais cedo e senti raiva e... E agora eu estou confusa.
- Sinto muito por você – null disse triste e a abraçou.
- Eu também sinto, null – se virou para as amigas. – Por todas nós que já sofremos.
- Com exceção da null! - null disse, dando um tapinha no braço da amiga.
- Vamos? Eu já estou muito encrencada para ficar chegando atrasada na aula.

***


- Eu vou ficar te esperando na biblioteca, ok? Assim que o treino acabar você me liga que a gente se encontra na rua.
- Beleza, nós já vamos, beijos para todas – null disse e os meninos se distanciaram.
- No dia que os meninos têm treino, nós sobramos - null disse rindo.
- Pois é... Vão fazer o que agora? – null perguntou desanimada.
- Eu vou até a cantina comer alguma coisa, depois vou ficar na biblioteca e começar a planejar a festa da minha mãe e pensar no presente, enquanto espero o null – null disse animada. – E vocês?
- Hoje eu tenho mais tempo... Meu irmão matou aula – null disse sorrindo.
- Por agora, eu não vou fazer nada – null disse e null concordou com a cabeça.
- Bora lá para a biblioteca com a null? – null sugeriu e elas assentiram.
- Hmm, e por que você vai ficar esperando o null, mesmo? – null sorriu maliciosa.
- Porque ele vai me levar ao shopping para comprar o presente da minha mãe, depois nós vamos ver filme. Vocês não querem vir, não?
- Depende da hora, amiga... Eu vou ficar com a menina até sete da noite, se for depois, eu vou. Se o null não se importar também, né... – null piscou para null.
- Eu não vou demorar muito no dentista, só que tenho umas coisas para fazer em casa, mas acho que posso ir sim – null disse animada. – Vai ser tão fofo eu no cinema com o null... Ai, gente, ele é perfeito em tudo e vai ser nosso primeiro encontro depois que começamos a namorar oficialmente...
- Chega, null, por favor – null disse, arrancando algumas risadas das meninas e uma careta de null.
- Eu estou livre, então... Eu vou – null sorriu animada.
As quatro garotas foram caminhando até a cantina, para comer alguma coisa, pois não iriam almoçar. Ficaram por ali algum tempo e depois foram até a biblioteca. Sentaram-se numa mesa vazia e null pegou caneta e papel na mochila e começou a anotar o que seria necessário comprar para a festa, quando foi interrompida por null.
- Meninas, podem me responder uma coisa? – null perguntou, encarando o logo da escola desenhado na parede da biblioteca.
- Claro, null, manda aí – null disse curiosa.
- Por que a nossa escola parece escola de gringa?
- Porque a diretora era gringa – null respondeu.
- Só isso? Quero os detalhes...
- Hmm, não sabemos muita coisa, só o que a neta dela contou pra gente – null.
- Ué, então me contem!
- A Sra. Sullivan, a diretora, desde quando era pequena queria ter uma escola e tal... – null começou.
- Aí ela realizou o sonho dela e montou uma escola só para o ensino médio lá nos EUA, na cidade dela... – null.
- Só que a única filha dela, disse que ia se mudar para o Brasil, porque estava esperando um bebê e o pai era brasileiro... – null.
- Que é irmão dessa neta – null disse e null a encarou confusa... – O bebê.
- Aí ela desistiu de tudo e disse que viria para o Brasil e que a filha dela era a coisa mais importante... – null.
- Depois de um tempo morando aqui, ela decidiu fundar a escola... – null.
- E deu no que deu. É uma das melhores do país – null.
- Infelizmente ela morreu alguns anos depois que montou a escola, mas a filha dela continuou e é um sucesso – null.
- Que pena que ela morreu – null lamentou.
- Diziam que ela era uma pessoa legal – null continuou.
- Já neta dela é super antipática – null disse, revirando os olhos.
- É nada, a gente se dava super bem nas peças – null contrariou a amiga. - Ai, ai, a null ama todo mundo do teatro – null disse e null balançou a cabeça concordando.
- Amo nada...
- Você fazia teatro né? Acho que já me contou isso – null disse, se lembrando do dia no restaurante.
- Fazia.
- Por que não faz mais?
- Porque agora sou cheerleader.
- Não tem vontade de voltar?
- Um pouco – null começou a pensar e teve uma ideia. Mas precisava pensar melhor, e decidiu não contar as meninas ainda.
Depois de mais algum tempo conversando, null, null e null decidiram ir embora, pois cada uma tinha um compromisso. null terminou de escrever tudo e guardou os materiais na mochila. Na mesma hora, recebeu uma mensagem de null.
- Finalmente – ele disse quando ela chegou.
- Finalmente digo eu, por que não me avisou que eram três horas de treino?
- Precisava? – ela assentiu. – São três horas de treino.
- Agora não precisa mais.
- Vamos? Eu não quero demorar – null disse e eles entraram no carro.
- Tem algum compromisso?
- Não, é que eu quero dormir – ela riu. – O que foi?
- Você não faz nada da vida? Só vai para a escola?
- Faço. Eu vou para a escola, jogo no time, tenho a banda com os caras e ainda tenho tempo pra levar minha bestie feat namorada falsa no shopping.
- Para de me chamar de bestie – ela disse rindo, o que o fez rir também. – Posso perguntar uma coisa?
- Pode.
- Vocês têm vontade de levar essa banda a sério? Tipo, como profissão? O null não conversa comigo sobre isso.
- Nós gostamos muito de tocar, mas também sabemos que é uma decisão bem arriscada levar a banda como profissão, então enquanto a gente não precisa se preocupar, vamos continuar tocando – ela balançou a cabeça concordando. – Mas e você, null null, o que faz da vida?
- Eu vou para a escola, sou cheerleader, ajudo minha mãe em casa e passo boa parte do meu tempo ajudando minhas amigas.
- Você se importa muito com as suas amigas, não é?
- Família e amigos são as coisas que mais importam para mim.
- Se importa comigo? – ele a encarou. Ela assentiu sorrindo e logo respondeu.
- Claro, você é o melhor amigo do meu irmão.
- Hmm, já sabe o que vai comprar de presente?
- Um perfume.

***

- null, vamos parar ali naquela loja, eu quebrei uma baqueta do null e tenho que comprar outra igual, ele ainda não sabe – ela começou a rir.
- Eu nunca mais volto no shopping com você, null. É pior que mulher, quer parar em todas as lojas – ela disse rindo.
- Olha quem fala, não sou eu que estou carregando quase 10 sacolas não... – ele disse, também rindo.
- Muito obrigada por me lembrar disso, me ajuda aqui – ela entregou algumas sacolas para ele carregar também.
- Você é muito folgada, sabia? Eu não vou carregar nada disso, toma aqui – ele devolveu.
- Tudo bem, mas quem vai contar para o null que você quebrou a baqueta dele será eu mesma, ok?
- Pode contar... Eu não ligo – ele deu de ombros, mas ela sabia que era mentira.
- Olha, eu estou até discando o número aqui – ela pegou o celular na bolsa.
- Por que você tem o número dele? – ele a encarou e ela sorriu maliciosa.
- Ciúmes, amorzinho? – ela perguntou rindo e ele balançou a cabeça negando.
- Não – ele rolou os olhos. – Tá, me deixa ajudar, me dá umas sacolas aí.
- Agora sim nós vamos lá comprar a baqueta do null – viraram-se e caminharam na direção da loja.
- Isso tudo aqui é necessário para fazer uma festa? – ele a encarou.
- Claro que é. Têm vários enfeites, o presente da mamãe, uma roupa nova para ela usar, e uma roupa nova para mim também.
- E aquela bolsa? É para quem?
- Para mim, oras.
- Para que vai precisar de bolsa se a festa vai ser na sua casa?
- Ah, null, não me enche – ela disse irritada, o fazendo rir. – Vamos comprar a baqueta, depois comer alguma coisa e vamos embora, ok?
- Não senhora, nós vamos ver o filme esqueceu?
- Ah, sobre isso... Eu chamei as meninas também. Elas já devem estar chegando – ela começou a rir.
- Cara, eu te conheço muito bem. Sabia que ia chamá-las, por isso chamei os caras também.
- O quê? Sério? – ele assentiu. – Então, vai comprar a baqueta, eu vou comprar uma case nova para o meu celular e aí nós nos encontramos no cinema, ok?
- Tudo bem, mas não enrola.

***

- Desiste, eles não vão aparecer – null disse a ela, que tentava mais uma vez ligar para suas amigas.
- Nem os meninos? null, alguma coisa aconteceu. Ninguém atende, nem responde as mensagens, nem aparece.
- null, olha aqui – ele a segurou pelos ombros e a encarou. – Desiste. Já estava bem na cara que nós íamos sobrar. Eu não duvido nada que eles estão juntos agora, quero dizer, cada um com cada um...
- Mas e se tiver acontecido alguma coisa? – ela insistia.
- Você nunca ouviu falar que notícia ruim chega rápido? Eles devem estar numa boa e você se preocupando à toa.
- Mesmo assim, eu estou preocupada...
- Se você não quiser ver o filme, eu te levo embora – ele desviou o olhar do rosto dela, para o relógio em seu pulso. – Mas se quiser, é melhor irmos para a sala agora, senão nós vamos perder o começo.
- Me leva? – ela perguntou sem graça e encarou os pés. Ele assentiu e recebeu um abraço dela em resposta. – Muito, muito obrigado. Sabe, namorados fazem isso – disse, fazendo-o rir. – Eu prometo que semana que vem eu volto e assisto com você.
- De nada. – ela assentiu e o soltou. – Vem, vamos descer – ele entrelaçou seus dedos aos dela, já imaginando a reação que ela teria.
- Agora nós vamos andar assim, é? – perguntou rindo e ele assentiu. – Por quê?
- Porque isso é o que namorados fazem – disse e ela riu dando de ombros.

***

- null, mas o que... – null ia dizendo, quando foi interrompido pela garota.
- Shh, espera – ela encarou a porta e os outros seis olharam também. Logo viram null entrando e null atrás dele.
- null? O que você está fazendo aqui? – null perguntou confuso.
- Vim trazer a null – ele deu de ombros. – E a propósito, o que vocês estão fazendo aqui? Era para encontrarem a gente no shopping há um maior tempão... Viu, null, eu falei que estava tudo bem – ele a encarou.
- Não, espera, como vocês abriram a porta? – null perguntou. Ele era o mais confuso ali.
- Com as mãos? – null respondeu sarcástico.
- Mas estava trancado... A chave do null sumiu e a null e a null falaram que a única cópia estava com os pais da null – null respondeu e null encarou null e null.
- A porta não estava trancada – null quebrou o silêncio depois de uns segundos. – E eu tenho as chaves, o Rafael também, o null sabe – ela rolou os olhos.
- Tá, mas como você queria que a gente saísse com a porta trancada, hein bonitinha? – null continuou.
- Vocês são surdos? Não estava trancada, ela acabou de falar – null respondeu por ela e null o olhou feio por ter falado daquela maneira com null.
- Espera, eu não estou entendendo nada, me expliquem o que houve – null pediu e todos começaram a falar juntos. – Um de cada vez, né.
- Ok, eu começo – null falou. – A null e null chegaram aqui mais cedo dizendo que foram buscar a null para irem ao shopping, só que ela não estava. Aí elas ficaram por aqui um tempo...
- Aí a null me ligou dizendo para vir para cá, para gente ir junto... – null completou.
- E nesse meio tempo, a null passou lá em casa e nós duas viemos para cá... – null.
- Já que estava todo mundo aqui mesmo, eu decidi ligar para o null vir também... – null.
- Aí todo mundo já estava pronto para sair, a energia caiu e ficou tudo escuro e nós fomos até o porão buscar lanternas... – null.
- Porque as medrosas, vulgo null e null, não paravam de gritar... – null disse e elas a encararam.
- Quando a porta bateu com força, a maçaneta quebrou e ficamos presos lá dentro – null concluiu.
- Tá, mas eu liguei, por que não atenderam? – null perguntou.
- Porque nossas coisas ficaram aqui em cima – null respondeu.
- Tá, e quem tirou vocês de lá? – null perguntou curioso.
- Os meninos conseguiram abrir a porta – null respondeu.
- E por que vocês estavam falando de chave quando nós chegamos? – null voltou a perguntar.
- Porque quando saímos de lá, as meninas disseram que a porta estava trancada e que as chaves haviam sumido. O null já contou isso – null respondeu novamente.
- Nessa parte que eu queria chegar... – null sorriu e as encarou. – Por que vocês disseram isso? A porta não estava trancada.
- Eu também quero saber – null disse e eles ouviram um coro de "eu também" vindo dos outros.
- Ai, gente, me deixa – null resmungou. – Amanhã eu e a null explicamos tudo, nós já vamos.
- Não, você vai explicar tudo primeiro – null disse brava.
- Olha, null, é sério, você não vai querer ouvir isso agora. Não fica brava, amanhã até pode, mas hoje não – null apontou com a cabeça todos na sala. – Tchau, null.
As duas saíram praticamente correndo, deixando os outros seis completamente confusos.
- Eu não entendi nada... – null disse, pensando no que acabara de acontecer.
- Já que não rolou o cinema, eu já vou. Tchau caras, beijo, null – null disse, se aproximou da garota, deu um beijo em sua testa e acenou para os outros.
- Espera – null segurou o braço dele e o puxou para um abraço. – Brigada. Você me levou ao shopping, ficou comigo o dia todo e depois ainda me trouxe para casa e perdeu o filme, à toa. Desculpa.
- Não precisa se desculpar, tá? – ela assentiu.
- Te vejo amanhã, então.
- Até – ele acenou. – Ah, alguém quer carona?
- Eu! – null e null disseram em uníssono e seguiram null.
- Bom, todo mundo já foi, agora é a minha vez. Tchau, gente – null se despediu.
- Tchau, amiga – null mandou um beijo no ar.
- Agora eu vou subir tá, Barbie, beijos – null foi em direção à escada, mas parou quando null o chamou.
- Não, você vai me explicar tudo. Você sabe que todo mundo aqui em casa tem chave e ainda tem uma reserva por aí, era só procurar. Por que vocês fizeram isso?
- Olha, eu só fiz o que você pediu para as meninas fazerem, não sei o que deu errado – ele chegou perto da irmã e deu beijo em sua bochecha e subiu.

***


- Podem começar a explicar tudo – null disse às amigas. Chegou à escola e foi direto para a quadra para encontrar as meninas, elas sempre ficavam por lá.
- Bom dia para você também – null disse com ironia e null deu de ombros.
- A null não veio com você? – null perguntou.
- Ela me ligou ontem dizendo que precisava sair com os pais hoje de manhã. Ela não vai vir... Ah, podem parar de tentar mudar de assunto, contem tudo.
- null, primeiro, fica calma tá? – null pediu. Ela assentiu e se sentou na arquibancada entre as duas. – Não tem muita coisa para explicar, a gente juntou dois mais dois, só que o resultado foi cinco.
- O quê? – ela perguntou confusa e null caiu na gargalhada.
- Nós demos um jeito de prender todo mundo na sua casa para ninguém ir ao cinema e você ficar sozinha com o null – ela disse ainda rindo e null olhou feio para as duas. – Só que o resultado não foi bem cinco, foi mais para quatro e meio. Vocês chegaram juntinhos e ele até me xingou ontem quando eu insisti que a porta estava trancada.
- Tá, e qual a participação do null nisso tudo?
- A gente o enrolou dizendo que você pediu para manter todo mundo em casa, para não atrapalhar a surpresa da sua mãe.
- Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? – ela ainda estava confusa.
- Completamente nada, mas seu irmão comprou a história direitinho – null respondeu. – Mas você ainda é mais tonta que ele, devia ter ficado no cinema com o null e não ido embora.
- A culpa é toda de vocês, eu só voltei porque fiquei preocupada. Vocês podiam ter me contado.
- Não podíamos não, a gente não contou nem para a null. Nós sabíamos que você não ia concordar – null disse e null concordou com a cabeça.
- Podiam ter pelo menos mandado uma mensagem ou alguma coisa assim...
- Olha, null, já deu errado, ok? Agora deixa isso pra lá – null deu de ombros. – Ficou brava?
- Fiquei, gente, mas porque vocês me deixaram preocupada, suas vaquinhas.
- Ah, meu Deus, quanto amor – null a abraçou de lado. – Vamos? O sinal da primeira aula toca daqui a pouco e nós temos prova de química.

***


- Bom dia, gente – null disse para os meninos. Estava na hora do intervalo e como sempre, eles se sentavam juntos.
- Já repararam que é sempre a null que diz bom dia? – null perguntou e ouviu um coro de "Já, null" e "Você já disse isso".
- Sentem aí – null falou e indicou o banco vazio em sua frente com a cabeça e elas se sentaram.
- Vocês vão lá em casa hoje à noite me ajudar a preparar a festa, né? – null pediu.
- Vocês quem? – null perguntou.
- Todos vocês, oras. Ou têm planos melhores? – ela arqueou a sobrancelha.
- Cadê a null? – null perguntou.
- Ela precisou sair com os pais... – null respondeu. – Pode contar comigo, null, eu vou te ajudar.
- Eu também – null concordou. – A gente chama a null, e dorme todo mundo lá, o que acha?
- Ótima ideia, null – null disse animada. – E vocês? Vão ajudar ou não?
- Não sei, a gente vai poder dormir lá também? – null perguntou.
- Isso depende do null – null disse e todos se viraram para encará-lo.
- Por mim, tudo bem – ele deu de ombros.
- Perfeito! Vocês não precisam chegar cedo. Minha mãe vai trabalhar até às 15h, de lá mesmo ela vai para um SPA, porque ela pensa que o meu presente é esse e... Enfim, meu pai vai buscá-la à noite, eles vão jantar em um restaurante e depois vão para a nossa casa em Niterói, dormir por lá mesmo. No outro dia, a gente arruma tudo. Os convidados devem chegar lá pelas 19h e nossos pais uns trinta minutos depois, então nós temos bastante tempo.
- E quem vem para a festa mesmo? – null perguntou.
- Eu chamei uns colegas de trabalho, umas vizinhas, a vovó e o vovô, nossos tios e primos e algumas amigas da mamãe, ou seja, as mães de vocês – ela disse para os outros na mesa. – Não tem muita gente de fora.
Todos ali eram conhecidos de muito tempo, null sempre fora amiga de null, desde os seis anos de idade e null se juntou a elas logo depois. null, null e null também eram amigos de longa data. Quando eles tinham oito anos, null entrou na mesma escola que os garotos, eles se enturmaram bem rápido. Devido a isso, todas as famílias se conheciam muito bem.
- Sabe o que eu pensei? – null perguntou e eles a encararam, esperando que continuasse. – Nós vamos para a sua casa, lá pras 16h, arrumamos o que der e de noite pedimos uma pizza e ficamos de bobeira. Amanhã, a gente acorda cedo, termina de arrumar o que falta, vamos para a praia e ficamos lá o dia todo – ela disse sorrindo e eles começaram a se animar com a ideia. – Umas duas horas antes dos convidados chegarem, a gente volta e se arruma. Podem falar, eu sou um gênio.
- Amei a ideia, null! Combinado galera? – null perguntou e eles assentiram.
- Ótimo, e se vocês quiserem dormir lá em casa de novo, nós já vamos direto ao Cristo – null sugeriu.
- Combinado, gente. Eu vou passar na casa da null mais tarde e aviso para ela – null disse. O sinal do intervalo tocou, eles se levantaram e começaram a caminhar em direção à quadra. Como faziam parte das equipes esportivas, teriam educação física agora, diferente da maioria dos alunos.



Capítulo 13

- Tá, nós vamos começar com o quê? – null perguntou.
Estavam todos os oito na casa de null e null e eles começariam os preparativos para a festa.
- Preferem dividir as tarefas ou todo mundo faz tudo? – null perguntou.
- Ei, gente, vou dar uma saída, vão precisar de ajuda? – Rafael apareceu na sala.
- Não, Rafa, pode ir – null respondeu.
- Não se preocupem, vou passar a noite fora – null assentiu e ele saiu.
- Tá, null, o que tem para fazer? – null retomou o assunto anterior.
- Decorar aqui dentro, decorar lá fora, guardar as coisas que quebram, mudar os móveis de lugar e buscar as bebidas.
- E a comida? – null perguntou.
- A comida vai chegar amanhã, na hora da festa – null respondeu.
- Tive uma ideia, as meninas ficam com a decoração, eu o null trocamos os móveis de lugar e guardamos tudo e o null e o null vão buscar as bebidas – null sugeriu e eles assentiram.
- Ok, eu e a null decoramos aqui dentro e vocês – apontou para null e null – Decoram lá fora, pode ser? – elas assentiram. – Ótimo! Os enfeites estão nas caixas. E, meninos, vão logo buscar as bebidas, o endereço está colado na geladeira. Vamos começar!

***


- Acho que já está tudo pronto – null disse cansada.
- Já decoramos aqui dentro, lá fora, as bebidas já estão aqui e já guardamos tudo, falta alguma coisa? – null perguntou e eles balançaram a cabeça negativamente.
- null – null a chamou e ela virou o rosto em sua direção. – E o bolo?
O bolo. Sabia que estava se esquecendo de alguma coisa. Combinara com a confeiteira que buscaria o bolo há algumas horas.
- Ai. Meu. Deus. Eu me esqueci completamente do bolo. Eu combinei de pegar há umas duas horas. Quem vai me levar?
- Papai tá com o carro – disse null.
- Nós viemos a pé amiga, esqueceu? – disse null.
- E aí, null, me leva? – null perguntou, já sabendo a resposta.
- Sempre sobra pra mim – ele disse sério, mas ela sabia que estava brincando. – Vamos lá...
- Já são quase sete da noite, vocês podem ir tomar banho e arrumar as coisas e onde vão dormir, ok? Não vamos demorar, porque parece que vai chover – null avisou.
Eles foram até a garagem e entraram no carro. O lugar não era tão longe, mas o tempo do percurso seria mais longo devido ao trânsito.
- O bolo é de que? – null perguntou. Desde que entraram no carro, estavam em silêncio.
- É de abacaxi com coco. Eu queria brigadeiro, mas o null implicou...
- Eu também prefiro brigadeiro.
- Sério? – ele assentiu. – Hmm, e o que mais você gosta de comer?
- null, nunca me perguntaram alguma coisa tão difícil de responder – eles riram. – Tá, estou brincando. Eu gosto muito de macarronada.
- Eu também amo, minha mãe faz e fica uma delícia...
- Sabe, estou ficando com fome, o que acha de ligar pra eles e mandar pedirem a pizza?
- Ótima ideia. Eu faço – null pegou o celular no bolso do short que usava e discou o número de casa, dois toques depois seu irmão atendeu. – null, liga pra pizza, o número está na agenda. Mas pede sem catupiry.
- E sem cebola – null gritou e eles começaram a rir.
- Não esquece, ok? Nós já estamos chegando – null desligou o celular e guardou no mesmo lugar que estava. Mais alguns minutos andando com o carro e eles chegaram à loja de doces. – Eu vou lá pegar e já volto.
Ela desceu do carro e adentrou o lugar. O cheiro de chocolate já invadia suas narinas. Ela adorava ir até lá comprar doces.
- Samantha, você está aí? – ela se apoiou no balcão e gritou.
- null, menina que saudade! Já faz um tempão que eu não te vejo – ela andou até null e lhe deu um abraço. Samantha era a melhor amiga da mãe de null desde o ensino médio. As duas se distanciaram, pois Samantha se tornou mãe muito jovem e se afastou dos amigos. Mas anos depois as duas se reaproximaram. – Pensei que tinha se esquecido do bolo.
- Pra falar a verdade, me esqueci mesmo – elas riram. – Você vai amanhã, né?
- Claro, pode contar comigo!
- Tudo bem, agora preciso ir porque meu amigo está me esperando.
- Amigo, null? – Sam arqueou a sobrancelha, desconfiada.
- Sim, Sam. Um amigo – ela frisou.
- Amigo, hm. E cadê as meninas que vivem grudadas com você?
- Estão lá em casa, minhas amigas e os amigos do null.
- Hmm, não vão aprontar, hein...
- Pode deixar. Bom, preciso ir ok? Até amanhã.
- Até, null. E venha mais vezes, tá? – ela assentiu. Segurou a bandeja com o bolo com as duas mãos e abriu a porta com o pé.
- null, me ajuda aqui – ela pediu e ele abriu a porta do carro. – Segura, eu vou me sentar e você me dá – ela entregou a bandeja a ele, entrou no carro, se sentou e pegou de volta.
- Vamos? – ele perguntou e ela assentiu. – Não acha que o seu namorado super lindo aqui que te leva em todos os lugares merece um beijo não? – ele perguntou sorrindo.
- Ah, null, não me enche, vai começar? – ela rolou os olhos e ele começou a gargalhar. – Você não vai desistir?
- Nunca, essa palavra não existe no meu dicionário – ela ignorou o comentário.
- null – ele a chamou depois de alguns minutos.
- Oi? – ela o encarou.
- Seu pai não vai implicar da gente dormir na sua casa não?
- Com o null lá? Não, meu pai confia demais nele – ela deu de ombros. – Confia em mim também, mas ele acha que o null vai cuidar de mim e tal. Mas e os seus pais? Eles não implicam de você levar garotas pra sua casa de madrugada não? – ela riu.
- Garotas ou você? – ele perguntou confuso.
- É, você mesmo me disse isso aquele dia. Que você leva garotas para sua casa.
- Ahh, falei aquilo pra te irritar – ele disse rindo e ela deu um tapa em seu braço.
- Idiota – ela disse rindo também.
- Não me bate – ele riu. – Você acreditou mesmo? – ele a encarou rapidamente – Eu nunca levei uma garota pra dormir lá em casa, só os caras mesmo...
- Ah, e eu? Não sou garota mais não?
- E você. Não me deixou terminar também.
- Ah, eu duvido que você nunca tenha levado pelo menos mais uma garota pra sua casa.
- Fala sério, que imagem você tem de mim?
- Quer saber mesmo? – ele assentiu. – O que todo mundo fala: Que você é meio metido, bad boy, tá com uma garota diferente por semana, mata aulas, é ruim na escola, todas as garotas querem ficar com você e ainda joga no time. Típico clichê de filme adolescente da Disney.
- E você acredita em tudo isso? – ele perguntou sério.
- Eu te conheço desde criança, mesmo a gente sendo super distante, eu sei que a maioria não é verdade. Mas a parte das garotas sim, até porque ninguém é cego, né? E fora que eu sou capitã das cheers e aquelas meninas são as rainhas da fofoca – ela disse rindo.
- Fico feliz que você não acredita no que aquele povo diz, a única coisa que sabem fazer é falar mal das pessoas.
- Tá, sua vez. Que imagem você tem de mim?
- O que todo mundo fala também: Que você é a drama queen da escola porque participou de todas as peças do teatro e vive fazendo ceninha. Que você é patricinha e mimada. É uma ótima aluna, todos os caras te querem e ainda é capitã das líderes e invejada por todas as meninas por causa disso.
- Uau! Muita bobagem pra uma frase só! – ela riu. – E você acredita em quê?
- Você é ótima aluna, algumas meninas têm sim inveja de você por ser capitã. E que alguns caras querem uma chance com você também. Ah, e você é bem patricinha – ele disse rindo.
- Mentira, eu sou um amor.
- Pode até ser um amor, mas você e suas amigas são sim. A null é menos, mas a null e null são.
- Nada a ver. Existem diferenças entre ser patricinha e ser vaidosa.
- Sabe, suas amigas também fazem parte do mesmo perfil que eu descrevi, principalmente a null.
- Mas são palavras maldosas ditas por quem não tem nada pra fazer na escola a não ser fofocar sobre a nossa vida.
- Nossa, me senti em Gossip Girl agora – ele disse e ela começou a gargalhar. – O que foi? Eu já assisti com a minha prima tá – ele afinou a voz fazendo-a rir mais ainda.
- Ah null, deixa de ser gay, nunca mais faz essa voz pelo amor de Deus – ela ia dizendo entre as risadas.
- Não, não! Já falei pra não me chamar de gay. Você lembra o que aconteceu da última vez.
- Lembro, lembro muito bem da sua tentativa mega falha de me dar um beijo – ela riu mais ainda.
- Sabe, você não me beija porque tem medo, eu tenho certeza – ele disse mais sério e a encarou.
- Medo? Medo de quê? – ela parou de rir e começou a encará-lo também. Estava confusa.
- Nossa mãe, até que enfim vocês chegaram, pensei que tinham ido buscar bolo na China – null apareceu gritando e eles pararam de se encarar para prestar atenção em null.
- Amiga, me ajuda aqui com o bolo – null pediu e abriu a porta do carro para null pegar a bandeja em seu colo. null desceu e as duas foram para dentro de casa, enquanto null foi guardar o carro.
- Chegamos, bebês, se comportaram? – null perguntou. – Cadê as pizzas? Estou morrendo de fome.
- Calma né, fofa – null pediu. – Não faz muito tempo que nós ligamos e o tempo de entrega é de uma hora mais ou menos.
- Uma hora? Ferrou, eu estou morto de fome – null apareceu na sala. Ele e null trocaram um breve olhar e foi possível perceber a tensão que se instalou ali. Os outros seis só os encaravam.
- Vou tomar banho então, já desço – null disse e subiu correndo.

null's POV


Fui direto para o banheiro. Peguei a toalha no armário, me despi e entrei no box. Abri o chuveiro e me escorei na parede. Comecei a pensar em tudo o que houve nessa ultima hora.
Nem preciso dizer o quanto foi estranho o que aconteceu no carro, ou preciso? Estava indo tudo bem, nós conversamos, dissemos o que pensávamos um sobre o outro, rimos e aí veio aquela história de medo. O que ele quis dizer com aquilo? Vamos refletir e talvez eu descubra a resposta. Vamos do começo. Primeiro: O null me pede para fingir ser namorada dele, eu fiquei com raiva, mas depois levei numa boa. Depois nós fomos ao shopping e continuou tudo na mesma. No dia que ele veio estudar aqui nós já estávamos nos dando melhor, mas aí meu pai estragou tudo. Na sexta nós matamos aula e na hora de pular aquele muro eu estava morrendo de medo, mas alguma coisa me dizia que eu podia confiar nele, ok, nessa parte as coisas começaram a mudar. De noite, eu fiquei conversando com as meninas e elas disseram que parecia ciúmes quando eu falei sobre a null gostar do null. Na festa, ok, na festa aconteceu muita coisa, um: null me deixou com uma pulga atrás da orelha dizendo que eu sentia alguma coisa por ele. Dois: Nós dançamos e eu só fiquei mais confusa. Três: Eu fui para casa dele e ele foi um amor comigo. Mais mudanças. No dia do almoço, eu fiquei super sem graça quando eles começaram a falar sobre o meu namoro fake com o null e simplesmente me levantei e saí da mesa. Eu mesma estranhei minha reação. E logo ele. Ele veio falar comigo depois. Foi meio ridículo quando começamos a brigar quando caímos na piscina, mas foi inevitável. Ele me tira do sério. Está vendo, já estou nervosa de novo. No outro dia ele me deu carona para a escola e nós chegamos juntos, as meninas já estranharam. E nesse mesmo dia, nós brigamos de novo, mas foi por causa do Marcus. E mais tarde, eu fui para a casa dele e quando eu ia embora, ele me pediu para ficar mais, ok, isso me deixou meio intrigada também. No dia seguinte, foi o dia da verdade. Eu disse tudo o que eu pensava para as meninas e elas me disseram o que achavam também. Isso me deixou bem mais aliviada. Ontem ele foi um amor de novo, me trouxe em casa e ainda perdeu o filme à toa. Isso só me deixou bem mais confusa. Por fim, hoje nós nos divertimos no caminho, até chegar ao assunto do beijo e do medo. Sabe, refletindo tudo o que aconteceu, eu me lembro de que quando disse que ele nunca conseguiria nada comigo, ele me disse que eu me apaixonaria de cara. Será que era isso? Eu não queria beijá-lo por medo de me apaixonar por ele?
Desliguei o chuveiro, saí do box e me enrolei na toalha. Não era legal ficar mais de dez minutos no banho. Dez ou quinze? Enfim, não importa. A água está acabando em SP e é legal economizar. Abri meu guarda-roupa, peguei um pijama e me troquei. Peguei minha escova e comecei a pentear meu cabelo. Senti falta da minha mãe para conversar sobre isso. Comecei a pensar de novo. Preciso conversar com alguém.
Destranquei a porta e fui correndo em direção à escada, precisava das minhas amigas.
- Aleluia, pensei que fosse acabar com a água que ainda restou no planeta – null disse, exagerada como sempre.
- Senta e come, a pizza acabou de chegar – null apareceu na sala segurando os talheres e null atrás, segurando os pratos. Ajudei as meninas a colocarem tudo na mesa e me sentei, mesmo sabendo que não ia comer.
- Podem comer, não estou com fome – eu disse e todos me encararam. A verdade era que eu fiquei tão distraída que até me esqueci de que estava com fome.
- Olha o outro aí. Querendo acabar com a água que ainda restou no planeta também, null? – null voltou a perguntar. Alguém me faz o favor de me lembrar de socá-la depois?
- O quê? – ele perguntou confuso.
- A pizza já chegou – null avisou.
- Podem comer, eu estou sem fome – ele disse e todos os outros o encararam também, inclusive eu, e me arrependi no mesmo instante. Ele estava sem camisa e com o cabelo molhado, muito gato. Devo ter ficado uns bons segundos só o encarando, mas parece que ninguém percebeu, né? Deus, o que está havendo comigo? Ok, foco, null, o que você estava pensando mesmo? Ah sim, a frase. É sério mesmo que ele tinha acabado de repetir a minha frase?
- Espera, para tudo, o que houve? – null perguntou.
- Como assim? – null deu de ombros.
- Primeiro a null liga e manda pedir a pizza, depois vocês dois chegam mortos de fome, se encaram e parecia que iam se matar só com o pensamento. Depois cada um toma um banho de uns vinte minutos e voltam sem fome. O que rolou? – null perguntou.
- Não rolou nada – menti. Desde quando meu irmão ficou esperto mesmo?
- É, não rolou nada – null me acompanhou.
- Vocês brigaram? – null perguntou e eu neguei com a cabeça. Olhei para null e null e as duas já me olhavam com aquela cara de "eu já saquei tudo".
- Vamos comer então, null? – null perguntou.
- Vamos. Aqui o prato – peguei em cima da mesa e entreguei a ele. Os outros deram de ombros e começaram a partir a pizza.
Depois de uma hora comendo pizza, tomando sorvete e comendo mais algumas besteiras, fomos até a cozinha guardar tudo. Voltamos para a sala e decidimos ver um filme. null se sentou em uma das poltronas com null em seu colo. null se sentou na outra e null no braço. null sentou no chão e null e o null no sofá, o que significava que o único que lugar que sobrou foi bem ao lado dele.
null procurou um filme qualquer na TV e deixou, mas ninguém prestava atenção. Ele e null começaram uma conversa animada sobre um filme novo que ia sair no cinema, null e null a mesma coisa, só que as duas falavam sobre roupas. null e null já estavam se pegando faz tempo. Ouvi uns trovões, mas ignorei, logo depois veio uma chuva... Euzinha para não sobrar com o null, peguei meu celular e fiquei jogando. Às vezes eu sentia o olhar dele sobre mim, mas ignorava. Às vezes eu também ficava o olhando, mas desviava e prestava atenção no jogo. Por mais uns quinze minutos continuou a mesma coisa, com exceção da chuva que aumentou a intensidade. Fiquei jogando mais uns minutinhos, mas para o meu azar, meu celular descarregou, o que restava era prestar atenção no filme. Eu podia ir até o meu quarto e buscar o carregador, mas seria desfeita, né? Sete pessoas na minha sala e eu jogando no celular. Senti algo me cutucar, ou melhor, alguém. Olhei para trás e era null. Levantei-me e a segui até a cozinha. Os outros estavam tão distraídos que eu jurava que nem perceberam que saímos da sala.

null's POV OFF




Capítulo 14

- Pode começar a falar – null disse e se escorou no balcão e null se sentou em frente a ela.
- Meu Deus, essa chuva não tá demais não? Estou com medo de a energia cair... – null a encarou. – Ok, eu vou ficar maluca, amiga. Na hora que nós fomos buscar o bolo, ficamos conversando umas coisas no carro, nada de muito importante, nós falamos sobre as pessoas da escola e tudo. Mas aí ele veio falar sobre beijo e disse assim que eu não o beijei porque tinha medo.
- Medo? Medo de quê? – null perguntou confusa.
- Eu não sei. Quando eu perguntei, a null chegou e atrapalhou tudo.
- Mas você pelo menos tem alguma ideia do que ele pode estar falando?
- Eu pensei muito, e acho que ele pode estar falando de medo de me apaixonar por ele.
- O quê? Como assim? – null a encarou surpresa.
- Você lembra quando eu e a null dormimos na sua casa e vocês insistiram que era ciúme? Ou na festa da Agnes que a null insistiu que eu sinto alguma coisa. Ou no almoço no null que...
- Espera, você está admitindo pra mim que gosta dele? – null a interrompeu.
- Eu não sei. Eu estou muito confusa.
- Tá, me diz uma coisa, ele já tentou te beijar?
- Hm... Uma vez – null a encarou, desconfiada. – Mas ele vive me pedindo um beijo – deu de ombros.
- Você lembra quando foi a primeira vez que ele pediu?
- Lembro, foi quando ele me deu carona do shopping.
- O que você pensou?
- Que não, que eu não podia beijá-lo. Eu não sou dessas.
- Tá, e da segunda vez?
- Foi aqui em casa, quando ele veio estudar. Eu pensei a mesma coisa.
- E a terceira? – null se cansou de ficar em pé e se sentou ao lado da amiga.
- Foi na casa dele... – null balançou a cabeça como um incentivo para null continuar. – Eu... Eu dei um selinho nele.
- Tá, mas o que você pensou?
- Não faço ideia, minha cabeça estava a mil., mas eu sentia que podia confiar nele, quando ele me ajudou a pular o muro.
- Hmm, isso mesmo, e a quarta vez?
- Foi quando a gente estava indo embora da festa da Agnes. Eu queria beijá-lo. A null encheu minha cabeça de coisas dizendo que eu sentia alguma coisa por ele, e quando estávamos dançando eu senti certa atração. Então eu queria beijá-lo aquele dia.
- E a quinta?
- A quinta vez foi hoje. Eu fiquei com vontade de beijá-lo de novo. Ele me tratou super bem ontem e quando ele pediu, não foi como das outras vezes. Ele não deu aquele sorriso malicioso de sempre, mas me pareceu sincero. Ai amiga, eu sou uma tonta não sou?
- Não, null, não diz isso. Todo mundo fica meio assim quando tá gostando de alguém, é normal.
- Então isso quer dizer que eu estou gostando dele?
- Eu te conheço super bem e talvez você não esteja apaixonaaaada, mas é muito mais do que só atração. Diz, alguma vez você já sentiu alguma coisa por ele, antes desse acordo?
- Na... Não! – sempre que null mentia, ela gaguejava. Não se conformava com isso, porque era boa atriz.
- null null, me conte agora tudo o que você está me escondendo.
- Ok, você não foi a única que ficou com alguém escondido na festa da null.
- O QUÊ? VOCÊS DOIS? – null gritou e null pulou em cima dela.
- Sua maluca, você quer que todo mundo ouça? – perguntou brava.
- Não, desculpinha. Continua.
- Você se lembra da cor do meu vestido?
- É claro que sim, era uma réplica de um Jason Wu cor de rosa e preto maravilhoso que a sua tia trouxe e eu ajudei escolher... Mas espera, o que isso tem a ver?
- Tem a ver que a Danielle estava com um vestido praticamente idêntico ao meu, mas cor de rosa em cima e preto em baixo. E mais curto também.
- Eu lembro, mas ainda não entendi.
- Acontece que a menina que o null estava ficando na semana da festa era a Dani e ele pediu um menino, mais ou menos da idade do irmão da null, para entregar um bilhete para a menina de vestido rosa com preto e advinha pra quem ele entregou.
- Não acredito, null – null estava chocada. – Mas o que estava escrito?
- "Venha me encontrar atrás da pista de dança".
- Mas por que você foi?
- Porque eu pensei que era do Nathan. Lembra-se do Nathan, né?
- Claro, como esquecer aquele deuso grego que você chamava de namorado? – elas riram. – Tá, agora continua.
- Eu cheguei lá e estava tudo escuro e ele de costas, eu mal enxergava. Coloquei a mão nos olhos dele, mas não falei nada. Ele segurou as minhas mãos e me puxou pra frente dele e depois me beijou.
- Ai meu Deus! – null continuava chocada. – E ele beija bem? – null deu um tapa na amiga que começou a rir em seguida. – Tá, mas como vocês descobriram?
- Ele falou, aí eu saquei na hora.
- Falou o quê? – ela perguntou curiosa.
- "Sabe, tem alguma coisa diferente em você. Eu gostei mais assim". Depois eu saí correndo. Fim.
- AAAAH! QUE FOFO! – null deu um gritinho animado e null pulou em cima dela de novo, mas dessa vez o banco não aguentou o peso e as duas foram direto para o chão, chamando a atenção de todos que estavam na sala, que vieram correndo.
- Tá tudo bem aqui? – null perguntou.
- Não, não tá. Não tá vendo que eu caí? – null disse irônica e ele a olhou feio.
- O que aconteceu aqui? – null perguntou sonolenta.
- A null que pulou em cima de mim – null reclamou.
- Ninguém mandou você ficar gritando – null rebateu.
- Só gritei porque fiquei animada, tá? Não posso mais?
- Ei, ei crianças, vamos parar? – null pediu. – Animada? Espera, vocês estavam falando sobre o quê?
- Não acredito que nos acordaram à toa – null disse.
- É, eu também não – null concordou.
- Ah, e desde quando você está dormindo, null? – null perguntou. – Eu vi você e a null se pegando antes da gente vir pra cá.
- AAAAAAAAH!
- AH NÃO!
- SOCORRO!
E a energia havia caído, devido à chuva. As meninas começaram a gritar na mesma hora.
- null – null a chamou.
- Oi, null? Cadê você? – null perguntou.
- Aqui.
- Aqui onde?
- Do seu lado, sua tonta – disse, fazendo os outros rirem. – Você não me contou o final da história.
- Ah me poupe, null, nem vou contar.
- Epa, epa, que história? – null entrou na conversa.
- É, que história? – null perguntou.
- Não é da sua conta! – null disse ríspida.
- O que deu em você hoje, null? – null perguntou.
- Isso é TPM – disse null.
- Isso é falta de macho – disse null.
- Culpem o null, gente – null completou.
- O que vocês acham de em vez de ficar aqui discutindo sobre a null, nós acendermos umas velas? – null sugeriu.
- Ótima ideia, null amor. Vamos – disse null.
- Onde estão as velas, null? – null perguntou.
- Em cima do armário.
- Alguém tá vendo o armário? – null perguntou.
- Não tem ninguém com o celular aí não? – null perguntou.
- A null ficou mexendo no celular metade do filme – null disse.
- Só que descarregou – ela deu um sorriso debochado mesmo sabendo que ninguém podia vê-la.
- Deve ser de tanto jogar – ele comentou.
- Ei, ei, eu estou com o celular aqui – null disse.
- Então ilumina aí – null disse. null tirou o celular do bolso, ligou a lanterna e iluminou o armário.
- Ok, agora alguém pega porque eu não dou altura – null disse.
- Ah, baixinha – null disse rindo e fazendo todos rirem também, com exceção de null.
- Eu pego – null disse. Foi até o armário e pegou a caixa de velas. – E o fósforo?
- Está do lado do fogão – null respondeu. null iluminou o fogão e null pegou a caixinha, por estar mais próxima.
- Tá, cada um pega uma vela e vamos ficar em um lugar só – null sugeriu. Cada um pegou uma vela e acendeu. Voltaram todos para sala.
- Na sala mesmo? – perguntou null.
- Vamos dormir todo mundo aqui então? – null perguntou.
- Não dá gente, tá tudo lá em cima, ia dar muito trabalho trazer tudo pra cá – null disse.
- Então as meninas ficam no quarto da null e a gente no quarto do null mesmo – disse null.
- Eu acho melhor ficar todo mundo junto, vai que acontece alguma coisa? – disse null. Ela estava morrendo de medo.
- Vamos ficar todo mundo naquela sala lá em cima então, aquela que está vazia – null sugeriu.
- A sala nova de TV da mãe? – null perguntou ela assentiu. – Boa ideia, null. Vai caber todo mundo.
- Ok, todos de acordo? – null perguntou.
- Sim – disseram em uníssono.
- Tudo bem pra você, null? – null perguntou. – Não vai dormir na sua cama.
Silêncio.
- null? – null a chamou. Mais silêncio. – null não tem graça, cadê você?
null pegou o celular no bolso novamente e ligou a lanterna, pois a luz era mais forte que das velas. Iluminou a roda: null, null, null, null e null.
- Tá gente, cadê o null? – null perguntou.
- Não tá na cara? – null disse e eles balançaram a cabeça. – Eles tão brincando com a gente.
- null, eu acho que não é isso não – null disse mais baixo, só para ela ouvir.
- Eu sei, eu vi como o clima ficou tenso quando eles se olharam, sei lá – ela disse no mesmo tom. – Eu só falei isso por causa dos meninos.
- As duas aí podem parar de fofocar e ajudar a procurar os dois? – null pediu.
- null – null a chamou – Esquece, deixa eles se resolverem. Eles brigaram.
- Ah, ok – ela assentiu. – É, eu também acho que eles só querem brincar com a gente – ela disse mais alto para os outros ouvirem.
- Ah, as meninas tem razão, daqui a pouco eles aparecem – null deu de ombros.
- E , QUANDO VOCÊS QUISEREM APARECER, TÁ TODO MUNDO LÁ EM CIMA, TÁ? – null gritou.

null's POV


- Não grita – null pediu. Ah, pelo amor de Deus. No meio do escuro, alguém te pega do nada, tampa sua boca e sai te puxando para algum lugar, como você não vai gritar? – Vou soltar, ok?
- Você é doido? Nunca mais faz isso – dei um tapa na cabeça dele.
- Eu já pedi pra você não me bater – ele segurou o meu braço.
- Me solta – eu mandei e ele o fez. – Tá, o que você quer?
- Por que você está me ignorando? – ele perguntou na maior cara de pau.
- Me responde duas coisas primeiro: Onde a gente tá e por que você deixou a droga da vela na sala? Eu não estou vendo nada e odeio ficar no escuro.
- Estamos no banheiro e eu trouxe uma lanterna – ele me entregou a lanterna e eu liguei. Só então me dei conta de como estávamos próximos. Dei um passo para trás e senti a parede atrás de mim. Ótimo. – Me responde agora.
- Por causa daquilo – ele me olhou confuso. – Aquilo que você disse no carro.
- Sobre o medo? – ele riu. Qual a graça? Estava vendo um palhaço por acaso? Eu realmente espero que não, pois se aparecesse um palhaço, agora nesse escuro, teríamos problemas. Ok, foco null.
- Tá rindo de quê?
- null – ele segurou meus ombros – Eu disse aquilo pra implicar com você. Por que ficou bolada?
- Implicar? – é, acho que temos um problema aqui. Como eu não percebi? E por que fiquei tão "bolada"? Com certeza tem alguma coisa de errado comigo.
- Por quê? – ele assentiu. – Ah, porque... Eu não sei. Por que você disse que eu tinha medo? – encarei meus pés, estava completamente sem graça.
- Medo de se apaixonar? Medo de gostar de alguém? Medo de se magoar? Olha aqui – ele levantou meu queixo para que pudesse olhar nos meus olhos. – Não tem problema nenhum em sentir medo. Todo mundo, pelo menos uma vez já sentiu, sente ou ainda vai sentir medo de gostar de alguém.
Quando ele tinha se tornado a porra de um poeta?
- Eu ouvi a sua conversa com a null. – admitiu. O QUÊ? EU VOU MATAR ESSE CARA!
- O QUÊ? Espera, o que você ouviu?
- Só quando você começou a falar sobre a festa – ufa. Dei um tapa no braço dele. Ninguém mandou ouvir a conversa alheia. – Não faz mais isso, eu já pedi – ele me encarou.
- Tá, desculpa – desculpa? Não, quem tinha que se desculpar era ele. – Não, esquece o que eu disse. Ninguém mandou você ouvir.
- Mas você nem contou a verdade.
- Contei sim. Eu só não contei tudo o que aconteceu.
- Por quê? – ele arqueou a sobrancelha.
- Porque eu não quis contar – dei de ombros – Você contou pra alguém? – perguntei curiosa.
- Não.
- Por quê? – arqueei a sobrancelha, do mesmo jeito que ele fez.
- Porque eu também não quis – deu de ombros e se sentou no chão, escorado na parede, bem ao meu lado. Fiz a mesma coisa.
- Sabe, eu nunca comprei aquela história de você ter beijado a null na festa dela.
- Ah, não? Por quê? Aquela noite era só nossa, não é? – ele sorriu malicioso. Aí está. Aí está o null que me tira do sério.
- Não. Porque aquela noite ela tinha várias pessoas pra dar atenção. Era a festa dela, ela tinha que se divertir. Não ficar se agarrando com você por aí.
- Isso, porque essa aí era você – ele continuou sorrindo daquele jeito que derretia qualquer uma. – Olha, eu sei que rola alguma coisa entre a gente, nem adianta negar – ele voltou a sorrir. E o pior é que ele está certo.
- Por que eu ainda estou aqui mesmo? – ele deu de ombros. Eu me levantei e girei a maçaneta. Filho da mãe, trancou a porta. – Eu quero a chave.
- Não.
- Anda, null, me dá a porcaria da chave.
- Eu não vou te dar até você voltar a falar comigo direito – ele insistiu.
- Me dá agora ou eu vou gritar – ele se levantou e deixou seu rosto bem perto do meu.
- Não, você não vai gritar – disse calmo.
- Três... Dois... Um – quando eu abri a boca para gritar, ele acabou com todo o espaço que havia entre nós e colou seus lábios nos meus. Segurou minha cintura com as duas mãos e me prensou contra a porta. Segurei sua nuca e o senti apertar minha cintura. Senti sua língua invadir minha boca e foi como se eu levasse um choque. Tudo aquilo que senti há um ano voltou, com mais intensidade. Continuamos assim por mais algum tempo, até que nos lembramos de que ainda precisávamos de oxigênio para viver e nos separamos. E depois nos sentamos de novo.
- Isso foi... – ele começou.
- Uau! – eu disse. Era a única coisa que conseguia dizer.
- Você... Você gostou? – ele perguntou.
- Talvez.
- Quer repetir?
- Talvez – começamos tudo de novo. E continuamos por mais uns minutos. – null – parti o beijo.
- Oi? – mais um beijo.
- Nós – ele me deu um selinho – Me deixa falar – outro beijo.
- Fala.
- Nós somos amigos, não somos? – ele me beijou de novo.
- null, que pergunta é essa? É claro que somos – voltou a me beijar, mas dessa vez eu não interrompi.
- Me... Me promete que – ele me deu outro selinho. – Espera, me deixa falar – saí do seu colo e me sentei no chão. Pois é, eu estava no colo dele, enfim... – Me promete que o que está acontecendo aqui não vai afetar nossa amizade em nada.
- null, esquece isso, depois a gente resolve – ele me puxou para o colo dele de novo e continuou me beijando.
- null, droga – desviei de novo. E ele começou a beijar meu pescoço, me arrepiei na mesma hora. – Promete.
- Não posso prometer se não sei se vou cumprir – disse e o assunto se encerrou. Voltamos a nos beijar. Não sei por mais quanto tempo isso durou, mas a chuva foi enfraquecendo e isso chamou a nossa atenção.
- Não tá na hora da gente subir, não? – eu sugeri e ele deu de ombros. – Eles vão desconfiar, tenho certeza.
- E tem algum problema nisso? – ele me encarou.
- Não. Mas até eu saber o que foi isso, vai ficar só entre a gente, ok?
- Beleza – ele se levantou e esticou os braços, segurou minhas mãos e me puxou para cima, e me beijou de novo. Tirou a chave do bolso e destrancou a porta.
- Espera – segurei seu braço e ele se virou. – O que nós vamos dizer?
- Que nós queríamos pregar uma peça neles, mas deu errado.
- Só isso? – ele assentiu.
- Não se preocupa, eles são um bando de lerdos.
Fomos até a sala e estava vazia. A cozinha a mesma coisa. A chance de eles estarem no escritório do meu pai era mínima, então subimos direto. Meu quarto estava vazio, quarto do null também. Eles não entrariam no quarto do Rafa. Só havia um lugar.
- Podem começar a contar o que estavam aprontando – null disse assim que passamos pela porta.
- Nada – disse calma e ela arqueou a sobrancelha. Sabia que eu estava mentindo. null me conhece muito bem. Olhei em volta e a sala nova da mamãe estava uma bagunça. Dois colchões de casal - meu e do null, provavelmente - em um canto. Mais quatro de solteiro do outro lado da sala. Os oito estavam sentados em um círculo, em um tapete que eu não consegui identificar de quem era. E havia várias almofadas espalhadas por todo o cômodo. E algumas caixas com alguns jogos de tabuleiro. – Que bagunça, hein.
- Queria o quê? Não temos nada pra fazer – null disse. – Agora respondam, o que estavam aprontando?
- Eu já disse – tirei meu chinelo e me sentei no tapete entre null e null, e null fez a mesma coisa, mas se sentou entre null e null.
- Tá. Vou fingir que acredito, Sra. null – null comentou.
- O que estavam fazendo? – null perguntou.
- Discutindo o que vocês poderiam estar fazendo – disse null.
- E? – null balançou a cabeça como se dissesse para ele continuar.
- null, null, null e o null insistem que vocês estavam tentando assustar a gente, ou alguma coisa assim – null continuou. – Já eu e o null achamos que vocês estavam se pegando – olhei para null e ele fez a mesma coisa, mas desviou em seguida.
- null – null me chamou e eu virei a cabeça em sua direção. – Pode contar o final da história agora?
- Eu já te contei tudo – fala sério, qual o problema da null? Ela não está enxergando as outras seis pessoas presentes nessa sala, não?
- Tá, e quando alguém vai me contar alguma coisa? – null se meteu. Olha a outra também.
- Amanhã eu conto tudo pra você e pra null, tudo bem? – ela assentiu.
- E pra gente, quando você vai contar? – null brincou.
- Dia 31 de fevereiro – null respondeu por mim, arrancando risadas de todos.
- O que acham de irmos dormir? – null sugeriu.
- Boa ideia – eu concordei. – As meninas ficam nos colchões de casal, e vocês nos de solteiro, pode ser?
- Ah, mas eu queria dormir com a null! – null disse em um tom infantil.
- Mas a minha casa não é motel – null respondeu, fazendo todos rirem. Hoje era o dia do bullying com o null.
- Meu Deus, vocês são insuportáveis – null comentou. Todos se levantaram e cada um foi para sua "cama". Eu dividi o colchão com null, e null e null dividiram o outro.
- Acordem cedo, porque amanhã... PRAIA – null disse animado.

null's POV OFF




CONTINUE LENDO - CAPÍTULO 15 EM DIANTE



Nota da autora:
BOOK TRAILER 1 | BOOK TRAILER 2






Outras Fanfics:
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