Última atualização: História Finalizada



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Capítulo 15

- Acorda, gente, ACORDA! – null começou a pular em cima dos amigos.
- Ai meu Deus, isso é que dá ter amiga que veio da roça e não conhece praia – null disse, fazendo todos rirem.
- Ah, mas Poços de Caldas [N/A: Beijos, Tina haha] não é roça, bobona. E eu já conheço praia muito bem, esqueceu que minha mãe mora no Havaí? – null rebateu e os meninos ficaram surpresos.
- Havaí? Não vai nos levar pra passear por lá não, nullzinha? – null perguntou.
- Quem sabe um dia...
- Tá, mas enquanto esse dia não chega, vamos curtir a praia do Rio mesmo – disse null.
- Mas são quase 8h30m ainda, vamos dormir mais – null disse manhosa.
- Não, porque até vocês meninas se arrumarem é uma hora – disse null.
- Vamos lá para o meu quarto então, gente – disse null. Ela estava quieta até aquele momento, queria evitar as amigas porque sabiam que elas a encheriam de perguntas e queria evitar null também.
- Vocês têm até 9h pra se arrumarem, depois nós vamos pegar as coisas e ir – disse null. Ele também estava quieto até aquele momento.
- Mas e essa bagunça aqui? O que a gente faz? – perguntou null.
- Vamos pra praia, quando chegarmos, a gente arruma. Nós já vamos ter que terminar de ajeitar os detalhes da festa mesmo – sugeriu null e eles assentiram. As meninas saíram do cômodo e foram até o quarto de null.
- Pode começar a contar a história – disse null para null.
- História? Não, não. Pode começar a contar o que rolou ontem – disse null.
- Ontem? O que rolou ontem? – ela perguntou tentando desviar o assunto. Ela foi até o seu armário e começou a se arrumar, as outras fizeram o mesmo.
- Não enrola, null null.
- Não aconteceu nada! E não adianta vocês insistirem porque é verdade. Fim.
- Nossa, tá bem – disse null.
- Não, pode parar com essa coisa de "fim" – disse null.
- Tá, nós conversamos algumas coisas, ele disse que ouviu nossa conversa sobre a festa e discutimos. Satisfeita?
- COMO ASSIM AQUELA COISA ESTAVA OUVINDO NOSSA CONVERSA? – null gritou.
- Cala a boca, null – disse null. Não tinha muita paciência de manhã.
- Espera, que festa? – null perguntou confusa.
- A festa da null – null respondeu.
- Por que tudo sempre volta para a minha festa? – null perguntou rindo. – O que aconteceu?
- Nós ficamos na festa – null deu de ombros.
- O QUÊ? – null arregalou os olhos.
- Gente, eu estou bege – disse null.
- Era essa a história que a null estava falando – null completou.
- Espera, agora eu fiquei confusa. Você não estava namorando o Nathan na época? – perguntou null. null assentiu.
- Tá, mas como isso aconteceu? – perguntou null. null contou a mesma coisa que havia contado para null na noite anterior. E null acabou completando a história e contando sobre tudo que haviam conversado.
- Só isso? – perguntou null?
- É. Só isso – null confirmou.
- Não acredito em você – disse null.
- Não me importo – null mostrou a língua e as outras riram.
- Tá, mas e sobre ontem? Conta mais – null pediu.
- Só vou contar uma parte da conversa, ok?
- VOCÊS JÁ TERMINARAM?null gritou do outro lado da porta.
- AINDA NÃO SÃO NOVE HORAS – null também gritou.
- MAS SÓ FALTAM QUINZE MINUTOS, ENTÃO SE APRESSEM – ele gritou de novo e desceu as escadas.
- Continua, null – pediu null. null resumiu a conversa e contou para as amigas. Depois disso não falaram mais sobre o assunto, terminaram de se arrumar e desceram.
- null, vamos pegar... – null foi interrompido pelo amigo.
- Aleluia, né – disse null.
- Ih, olha o exagero, ainda faltam dois para as nove – disse null.
- Isso tudo é saudade? – perguntou null.
- Vamos? – perguntou null e todos assentiram.
- Não vamos levar nada? – perguntou null.
- Eu tenho algumas cadeiras e guarda-sol – disse null.
- Vamos lá pegar então – disse null e eles se encararam pela primeira vez naquele dia. – Eu ia falar pra pegar, mas o null interrompeu.
- Humm... Eu vou lá, já volto – null disse e saiu da sala, indo em direção à garagem.
- Deixa eu te ajudar, null – disse null e foi atrás dela.
- Por que você tá me ignorando? De novo? – null perguntou quando já estavam sozinhos.
- Não estou ignorando você. Só não deu tempo de a gente conversar ainda – ela deu de ombros e abriu a porta da garagem.
- Você nem olhou na minha cara.
- Estou olhando agora – começou a encará-lo. – Quer conversar?
- Quero. Como você tá?
- Estou bem e você? Dormiu bem? – eles começaram a rir. – Desculpa, isso tá muito estranho.
- Sabe, não precisa ser estranho – ele esticou o braço e pegou o guarda-sol em cima de uma das prateleiras. – E não precisamos agir como agimos da outra vez.
- É, tipo nunca mais nos falar... Falando sobre isso, desculpa. Eu não quis ser mal-educada, eu estava me sentindo mal.
- Tá tudo bem, já superei – ele disse rindo. – Onde estão as cadeiras?
- Ali – ela apontou. – Então tá tudo bem, né? – ele a encarou confuso. – Entre a gente.
- Tudo ótimo – ele assentiu.
- É, não tem motivo pra gente ficar estranho – ela riu.
- É, não tem. Vamos? Nós já estamos atrasados – ela assentiu. Os dois saíram da garagem e voltaram para a sala.
- Tudo pronto? Vamos? – perguntou null. – De carro ou a pé?
- Meu carro é grande, mas não vão caber oito pessoas – disse null.
- E a praia nem é tão longe assim, seus preguiçosos – disse null.
- Então vamos logo – disse null. Saíram de casa e caminharam por uns 10 minutos até chegarem – Quem vai ficar olhando as coisas?
- Eu fico – disse null. – Quero pegar uma corzinha.
- Eu também vou ficar – disse null.
- É, eu também – disse null. Elas abriram o guarda-sol e as cadeiras e se sentaram. – Podíamos ter trazido alguma revista, sempre sobramos.
- É verdade. Sempre quando viemos, nós ficamos aqui sentadas e o resto do povo por aí – disse null.
- Sinceramente, eu não gosto muito de praia – disse null. – A areia fica entrando na sua unha, a água do mar acaba com o biquíni, se não tomar cuidado o sol acaba com a sua pele...
- Você diz isso porque já está acostumada – null surgiu ao seu lado. – Mas quem não mora perto da praia adora.
- É, eu acho que é isso – disse null. – Mas agora que você mora aqui, null, vai enjoar rapidinho.
- Andem, levantem – null puxou null e null e depois null – Vamos, gente! Se animem. Podem ir que eu fico aqui olhando nossas coisas.
- Irmãzinha – null foi até null com um sorriso maldoso no rosto. – Não quer entrar na água um pouquinho?
- Não, null, sai de perto – null correu para o outro lado, prevendo a intenção do irmão, mas ele a alcançou e a pegou no colo. – Me solta, null. Cacete, me põe no chão.
- Se ferrou, null – null disse e começou a gargalhar, sendo seguida por null e null quando null jogou null na água.
- null, amor – null surgiu ao seu lado – Pelo visto você gostou da brincadeira com a null.
- Não, null, nem vem – null tentou correr, mas foi inútil porque ele foi mais rápido e a carregou até a água, e assim como null fez com null, a jogou com tudo.
- Eu vou matar vocês – null disse brava e null balançou a cabeça concordando. – Você não esperou nem eu tirar a roupa, null.
- Tirar a roupa? Ainda bem que eu não esperei mesmo, porque isso aqui não é praia de nudismo.
- Eu estava falando do short e da blusa, eu estou com biquíni por baixo, idiota – null começou a rir, deixando-a mais brava. – Corre.
- É null, pode correr também – null avisou e no segundo seguinte as duas começaram a correr atrás deles. Até que null parou no meio do caminho, fazendo os outros pararem também.
- O que foi? – null perguntou.
- Por que ninguém deu um caldo na null? – ela começou a encarar a amiga.
- É verdade, essa parte ficou com o null. Cadê ele? – perguntou null.
- Espera, a null e o null também sumiram – disse null.
- A null não, olha ela ali comprando picolé junto com a null – null apontou.
- Gente, aquele ali não é o null – null apontou. – Quem é aquela menina com ele?
- Alguém sabe? – null perguntou e todos balançaram a cabeça em sinal negativo.
- Se o null tá flertando com uma gatinha, o null também deve estar – null deduziu e null revirou os olhos.
- null, vamos até as meninas – null disse e null assentiu. E logo as duas se afastaram dos meninos. – Ok, pode me dizer tudo o que está escondendo. Nem adianta tentar mentir.
- Não quero falar sobre isso, null. Mas eu juro que conto assim que me sentir bem – null deu um sorriso fraco.
- Tem certeza? Às vezes contar o que está sentindo pode ajudar.
- Tenho certeza.
- Tudo bem, mas se mudar de ideia, eu estou aqui, tá? – null a agradeceu com um abraço e as duas continuaram a caminhar até null e null.
- O que houve? – null perguntou.
- Nada, viram o null por aí? – null perguntou.
- Eu não – null e null disseram em uníssono.
- Gente e o banho da null? – null perguntou encarando a amiga com um sorriso malicioso.
- Que banho da null? – ela perguntou, prevendo as intenções da amiga. – Não, podem ir parando.
- Três segundos pra correr, bonitinha – disse null e logo em seguida começou a contar – Três...
- Dois... – continuou null. null se levantou da cadeira e começou a correr o mais rápido que conseguiu. As meninas nem esperaram chegar até o número um para começar a segui-la.
- Isso é injustiça – null gritou. – E o segundo que faltou?
- STOP! Para, todo mundo – null disse ofegante. – Eu sou uma garota sedentária, tá legal.
- Sedentária nada, você é capitã das líderes de torcida mais animadas desse Brasil – null rebateu. – Ok, vou admitir, também fiquei um pouco cansada.
- Mas já? – disse null rindo. – Pelo visto, não vou tomar banho de mar hoje, queridas.
- Estamos cansadas porque estávamos correndo atrás dos meninos – disse null. – E eu acho melhor você não contar com isso, querida.
- Ah, não? Porqu...? – null foi interrompida por um balde de água que null jogara em sua cabeça. – Caralho, null, eu vou te matar.
- Espera, onde você arranjou um balde? – perguntou null.
- Pedi aquele cara do bar ali – ele apontou. – Vou lá devolver.
- Ai meu Deus, null – null disse brava. – Eles devem usar esse balde pra passar pano no chão, que nojo.
- Deixa de ser fresca. E ninguém usa um balde pra passar pano, todo mundo usa um esfregão ou alguma coisa assim – ele deu de ombros e saiu em direção ao bar com o balde na mão.
- Aff, esquece – null disse e saiu andando em direção ao mar. – Eu vou sozinha mesmo?
- Não, vou contigo – disse null. – E nem pensa em fazer piadinha, Barbie.
- Calma, eu nem falei nada – null disse ofendida. – Eu nem ia falar também, mas já que você previu, né? Tem alguma coisa aí...
- Eita, aí tem mesmo – disse null. – E aí, vamos ficar por aqui mais um pouco e depois nós vamos, né?
- Temos o dia inteiro, acho que a gente até veio muito cedo – disse null e null confirmou com a cabeça. – A gente enrola aqui um pouco, depois voltamos pra almoçar e terminar de arrumar tudo, depois voltamos pra praia.
- Acho que ninguém vai animar voltar depois... – disse null. – A gente podia sair, ir comer fora, sei lá, jogar boliche, o que acham? Hoje é dia de semana mesmo, nem vai ficar tão cheio.
- Mas é feriado, esqueceu? – disse null, assustando as meninas.
- Credo, que susto! Tem quanto tempo que você tá aí? – perguntou null.
- Já faz uns minutos. Mas voltando ao assunto, é feriado hoje, vai lotar de qualquer jeito.
- Mas é feriado prolongado, talvez as pessoas irão viajar – insistiu null. – Vamos, por favooor! Eu não vou aguentar ficar na sua casa sem fazer nada.
- Para de drama, null. Nós vamos achar alguma coisa pra fazer até a hora da festa – disse null.

***


- Eu sabia que ia dar nisso – disse null.
Estavam todos os oito na sala de estar. Já haviam voltado da praia há um bom tempo, almoçado, ajeitado os detalhes da festa, arrumado o quarto onde dormiram e até visto um filme. Faltavam quase duas horas para a festa começar e eles estavam conversando e as meninas esperando uma boa hora para começarem a se arrumar.
- Para de reclamar, minha filha. Não tá gostando de ficar aqui, vai embora – disse null, surpreendendo a todos.
- Cadê aquela null zen, amiga de todos, calma na alma? – null perguntou.
- Morreu junto com o Zip da null – ela deu de ombros.
- Zip? – perguntou null.
- É gente, Zip, aquela coisa que impede as pessoas de falarem coisas inúteis o tempo inteiro.
- E de onde você tirou isso? – perguntou null.
- Eu inventei. Na verdade eu inventei pra implicar com o meu irmão, mas encaixou perfeitamente no perfil da null.
- Ah, parem de falar de mim, parece que me amam – resmungou null.
- Bonitinha, você tá de TPM? – perguntou null. – Se não, você pode procurar ajuda de alguém, porque esse seu mau humor vai contaminar a festa inteira.
- Gente, vamos jogar verdade ou desafio? – sugeriu null e todos começaram a rir.
- Verdade ou desafio? null, quantos anos você tem? – perguntou null.
- Acho que eu tenho mais que você né, null – disse null convencido.
- Vamos jogar, gente. Qualquer coisa pra sair do tédio. – disse null. – null, onde tem garrafa?
- Na cozinha deve ter. Vou buscar – null disse e deixou o cômodo.
- Todo mundo, faz uma rodinha aqui – disse null se levantando do sofá e se sentando no tapete.
- null da Silva Sauro, o que você bebeu? – perguntou null.
- Nada. Parem de implicar comigo – ela disse brava. – Dá aqui a garrafa, null.
- Tá gente, eu tive uma ideia – disse null. – Seguinte: A pessoa que sair com o bico faz uma pergunta e todo mundo tem que responder ou então ele escolhe o desafio pra pessoa que sair com o fundo.
- Mas não é assim que brinca. A pessoa não tem o direito de escolher o que ela quer, não? – perguntou null.
- Eu gostei, deixa assim – disse null.
- Ah, e agora você manda aqui? – perguntou null.
- Gente, deixa, tudo pra calar a boca da null. Deixa eu girar – disse null e eles acabaram concordando. – null pergunta para null.
- Eu quero que o null faça o desafio – disse null. – Você vai dar um beijo no null.
- O quê? – null e null disseram em uníssono. – Nem pensar – continuou null.
- Calma, eu dou – null foi até null e deu um beijo na bochecha do amigo, fazendo todos rirem.
- Mas era na boca – disse null.
- Você não especificou, então vale. Eu giro – disse null e então girou a garrafa – null pergunta pra null.
- Eu quero a pergunta mesmo. Todos vocês vão me contar um mico que já pagaram – disse null.
- Eu achava que tinha um irmão gêmeo quando passava perto do espelho, ficava um tempão conversando com ele – disse null e todos começaram a rir.
- Eu fui pra uma festa com roupas da minha mãe pra impressionar um menino, mas caí com o salto na frente dele – disse null e só as meninas riram.
- Fraco! – disse null. – Eu já chamei uma menina pra sair pensando que era um menino.
- Ok, minha vez, parem de rir. Eu não acho que esse seja um mico engraçado, mas foi o maior mico que eu já paguei então... Eu já pensei que estava grávida e não estava. E isso quase custou minha vida – disse null e todos, com exceção de null e null, a encararam surpresos. – Não me olhem assim.
- Eu – disse null. – Meu primeiro beijo foi com meu primo – todos riram. – Nós tínhamos cinco anos e vimos um casal no parque e fomos fazer igual, foi um selinho, mas ainda tenho traumas.
- Eu já falei muito mal de uma pessoa e quando percebi, ela estava atrás de mim o tempo todo – disse null.
- Fraco também – disse null. – Eu fui atrás de uma menina numa festa, mas não sabia que ela tinha namorado e ele me jogou na piscina.
- Todo mundo já falou? – perguntou null.
- Falta a null – disse null.
- Não vale, fui eu quem fez a pergunta – ela disse e eles começaram a encará-la. – Ok, eu estava esperando meu pai me buscar no curso de inglês e vi um carro muito parecido com o dele chegar, aí eu abri a porta e entrei, mas quando vi não era meu pai, era uma velhinha e ela começou a me xingar. Eu saí correndo.
- Ah, nem foi tão engraçado assim – null disse e eles concordaram. – Eu giro.
- null pergunta para null – disse null.
- Adorei! – disse null animada. – Quero a pergunta, e todo mundo tem que responder. Com exceção da null, é claro, porque ela...
- Não enrola, null – disse null.
- A pergunta de um milhão de reais – null fez uns barulhos com a boca – Eu quero saber tudo o que aconteceu na minha festa que vocês tanto escondem uns dos outros.
- Por quê? – perguntou null, fingindo não se importar. – Nossa null, criatividade amiga, tanta coisa pra perguntar...
- Não, pelo visto eu acertei, podem começar a ir falando tudo. Quem vai ser o primeiro?
- null, amorzinho, você tem certeza? – perguntou null. – Foi ano passado, PASSADO.
- Agora eu também fiquei curioso – disse null. – Podem contar tudo.
- Eu tive uma ideia – disse null. – Olha, falta menos de duas horas pra festa, a gente devia ir se arrumar, tanta gente pra tomar banho, e até nós trocarmos de roupa, fazer cabelo, maquiagem, tudo... Vai ser a conta. Depois a gente responde essa.
- Espera... Você tá certa, null – todos suspiraram aliviados. – Mas vocês não escaparam. Depois da festa, quando nós formos dormir, eu quero ouvir a resposta, ok?
- Ah, tá bom, null! Vamos subir, meninas – disse null.
- Que droga, null, você tinha mesmo que pedir logo isso? – null falou quando já estavam sozinhas no quarto.
- Ah gente, nós somos amigos, não somos? – disse null e elas assentiram.
- Você tem ideia da quantidade de coisa que aconteceu na sua festa? – perguntou null. – Eu não estava, mas pelo visto, aconteceu bastante coisa.
- Ah, é? null pegou o null, null pegou o null... É isso? – perguntou null. – A null mesmo disse que é passado. Se for passado mesmo, que mal tem em contar? É a mesma coisa quando você passa vergonha e pensa: "Daqui uns anos vou rir disso".
- Mas esse não é o caso de rir – disse null, séria.
- O que foi? Tá com medo de o null descobrir que você já ficou com o melhor amigo dele? – null rebateu. – Não foi ele que te empurrou pra cima do null?
- Ah gente, esquece isso, na hora de contar tudo a gente resolve – disse null.
- Nem pensem em inventar histórias, ok? – disse null. – Conheço vocês muito bem.
- Esquece! – null insistiu. – O que vocês vão usar?
- Vestido – disseram null e null em uníssono.
- Short e blusa – disse null.
- Vou de vestido também – disse null.
- Não precisam exagerar, ok? – null alertou. – É uma festa, mas nada muito chique.

***


- Oi, tia – disse null. – Chegou cedo, é a primeira.
null e null estavam de pé ao lado do portão esperando os convidados e os outros seis estavam sentados em uma mesa próxima a eles. A festa seria no jardim da casa e na área da piscina.
- null – null repreendeu o irmão. – Desculpa, é que nós pensamos que as pessoas fossem demorar um pouco mais.
- Não, querida, está tudo bem. O Rafael está por aí?
- Ele saiu ontem, acho que dormiu fora – disse null. – Mas não precisa ficar preocupada, tá? Porque ele faz isso todo dia.
- Não ficar preocupada é difícil, null. Mas eu tento – ela riu. – Pode ir receber os convidados, acho que tem mais gente chegando. E a propósito, a decoração está linda.
- Sinta-se em casa, titia – disse null. – Vem, null. É a comida.
- Pode vir aqui, senhor – ela disse indicando o caminho da cozinha e depois seguiu o homem.
- Aleluia – disse null.
- null, aquela ali não é a sua mãe? – perguntou null apontando para o portão.
- É, e meu pai também. E a sua mãe também, e o seu pai também – ele completou.
- Meus pais também, gente – disse null. – E os pais do null.
- Só minha mãe que não veio? – perguntou null, fazendo uma carinha triste. – Quero a minha mãe.
- Nem começa a dar ataque de gay agora – disse null.
- Crianças – disse a mãe de null. – Boa noite!
- Hm... Boa noite, mãe – disse null. – Não quer sentar lá atrás junto com os outros não?
- Credo, null – disse null. – Oi, tia. Tudo bem?
- null, é você? Está tão diferente, querida. Cadê o seu irmão?
- Opa, estou aqui – disse null.
- Ah, como você está bonito. Todos vocês, na verdade – ela se virou para os outros na mesa. – Me lembro de vocês correndo atrás da minha filha quando eram pequenos.
- Mãe, vai – disse null.
- Calma, null. Qual o problema em conversar um pouco com os seus amigos?
- Tia, eu vou receber as pessoas, licença – disse null e null a acompanhou.
- Vai logo, mãe – null insistiu e sua mãe acabou se rendendo e se juntou aos outros pais.
- Quantas horas, gente? – null perguntou.
- Sete e doze – disse null.
- A comida já chegou, alguns convidados, meu pai já está quase chegando, então daqui uns quinze minutos eles devem estar aqui. Está tudo certo.
- Relaxa, null. Não vai dar nada errado – null disse confiante. – Eu acho que vou passar lá em casa e buscar meu pai, tá?
- Ok, null. Mas não demora, viu? – disse null. – null, olha a vovó ali.
- Ai gente, que a null não me escute, mas essa festa tá muito chata – disse null.
- Tá querendo o quê? É festa da MÃE da null e não da null – disse null.
- Seus pais não vem, null? – perguntou null.
- Vêm sim, eles não iam perder o aniversário da tia, ainda mais agora que eles descobriram que nós estamos "namorando" – null fez aspas com os dedos.
- Você contou? – perguntou null.
- Claro que não! Não era pra eles saberem. A culpa foi toda do null que chegou lá em casa gritando e minha mãe ouviu.
- Não foi de propósito – null se defendeu. – Eu não sabia que era de mentira. Falando nisso, que ideia idiota, por que tu num arruma uma namorada de verdade?
- É, eu também concordo – disse null e os outros assentiram. null bufou.
- ! – null gritou e null fez um sinal com as mãos avisando que já ia.
- Me chamou, null? – ela perguntou quando voltou à mesa uns minutos depois.
- Sim. Quantas pessoas ainda faltam pra chegar?
- Quantas eu não sei, mas quase todas as pessoas da família que eu convidei já chegaram, as mães de vocês e umas pessoas do trabalho. Eu acho que só faltam umas amigas, uma vizinha, os pais do null e a mamãe mesmo.
- Olha ali, tem mais gente chegando – disse null.
- Ah, estou cansada – disse null puxando uma cadeira e se sentando entre null e null. – Sua vez, null.
- Voltei, gente – null disse animada. – Pai, essa aqui é a null que você já conhece e o null ali no portão. Esses são null, null e null e as meninas, null e null.
- Boa noite – Sr. null respondeu sorrindo. – Essa aqui é minha esposa, Mirella – ele se virou para a mulher – null já deve ter comentado sobre ela, e esse aqui é o meu outro filho, Otto – ele apontou um menino.
- Os nossos pais, quero dizer, pais deles – ela apontou os seis. – Estão numa mesa ali perto da piscina, se quiserem se juntar a eles, fiquem à vontade, meus pais já devem estar chegando – disse null e eles sorriram agradecidos e saíram andando.
- Quem vê pensa que a Mirella é um amor – disse null com um sorriso falso. – Ai, nullzinha, me lembrei do nosso jantar.
- Inesquecível, null – as duas fizeram um high five. – Minha mãe já deve estar chegando – null olhou o relógio em seu pulso.
- Ai droga – disse null em um tom mais alto e todos o encararam confusos. – Meus pais.
- Qual o problema? – perguntou null. – Eles foram convidados.
- Você é o problema, amiga – null disse e null a lançou um olhar mortal. – null contou para os pais dele que vocês estão juntos.
- O quê? – null perguntou, indignada.
- Na verdade, quem contou foi o null – null se defendeu. – E não me chama de null, eu já falei que não gosto.
- Ah, cansei – null chegou e se sentou em uma cadeira ao lado da irmã. – Que caras são essas?
- O null me fez o favor de contar para os pais dele que estamos juntos – null disse, brava.
- Ah, eles tão vindo aí – null avisou.
- Boa noite, meninos – o pai de null os cumprimentou. – Boa noite, meninas.
- Boa noite, crianças – disse a mãe de null. – null, querida, me dê um abraço – null se levantou e a abraçou. – Sabe, vou te contar um segredo – ela abaixou o tom de voz, apenas para a garota ouvir. – Você sempre foi minha preferida.
- Para, assim vou ficar sem graça – null disse e em seguida encarou os amigos, estavam todos segurando o riso.
- Quando descobri que você e null estavam namorando, fiquei tão feliz, null – o pai de null disse com um sorriso maior que o rosto. – Finalmente meu filho tomou jeito.
- Ah, que notícia boa! Quer dizer então que as famílias null e null vão se unir? – null engoliu em seco quando ouviu a voz de seu pai. Não esperava ouvir tão cedo... Na verdade, esperava sim. – Não ia me contar, null?



Capítulo 16

- P-pai... Hmm você... Você chegou – null gaguejou. – Mãe, parabéns, feliz aniversário, eu vou... Vou avisar as pessoas que você está aqui.
- Não amor, não precisa. Já faz uns minutos que eu cheguei, estava cumprimentando as pessoas, só faltaram os pais do null – disse a Sra. null.
- Acho que esse aniversário foi a oportunidade perfeita para conversarmos – disse Sra. null.
- Sim, vamos conversar agora, o que acham? – sugeriu a mãe de null.
- Não, mãe. A festa é sua, você tem que dar atenção pras pessoas – null disse tentando fugir da tal conversa.
- null! – sua mãe a repreendeu. – Nós temos a noite inteira, eu posso fazer as duas coisas.
- Ah, tudo bem... Eu e a null vamos ali sentar com eles, tá? – null disse apontando os amigos.
- Não, senhor. Vocês dois vão ficar aqui – disse o pai de null.
- Mas esse assunto aí não é entre vocês? – null insistiu. – Podem conversar a vontade.
- Sabe, semana passada, quando o null veio até aqui estudar com a null, eu desconfiei da história deles – disse a Sra. null ignorando a fala de null.
- Não entendi porque eles decidiram manter segredo... O outro garoto ali, o null, chegou lá em casa aos berros dizendo que os garotos perderiam mais um deles para as garotas – a mãe de null comentou, rindo.
- Ah, null e null estão juntos, vocês não querem conversar com os pais deles e com os outros pais não? – null perguntou.
- E o pai da null, ele está aqui com a esposa, vocês não querem conhecê-lo? – null sugeriu.
- Ah, não vão faltar oportunidades – disse a Sra. null.
- Sério, o pai da null é um homem ocupadíssimo, nem sei como conseguiu vir hoje – null comentou.
- Vocês dois, podem parar – disse o Sr. null. – Não vão conseguir fugir do assunto.

null's POV


Ótimo. Estava tudo muito cor-de-rosa para o meu gosto. Sabe quando você planeja algo, mas no fim não sai como você está esperando? É como quando você vai apresentar um trabalho de escola e decora tudo o que precisa falar, mas na hora você encara as pessoas da sua sala e não consegue segurar o riso. É exatamente assim que eu estou me sentindo. Só que a diferença é que desta vez não tem graça nenhuma. Quando eu ouvi a voz do meu pai atrás de mim, a frase que ele me disse há alguns dias começou a rodar em minha mente: "Quero ser o primeiro a saber", Eu não aprovo". Ou alguma outra coisa assim. E onde está aquela mãe que era minha bff e me ajudava a me livrar de problemas quando meu pai estava envolvido? E a mãe do null, para que colocar tanta lenha na fogueira? Isso tudo é vontade de deixar o filho preso em casa? Mas voltando à frase e ao meu pai, ele vai pensar que eu traí a confiança dele. Depois ele vai pensar que eu estava escondendo tudo porque ele não aprova. Ele vai ligar tudo isso aos encontros que eu tive com null e minhas mudanças de comportamento repentinas. Na verdade, o null interferiu sim em minhas mudanças de comportamento. Eu nunca me imaginei pulando um muro para fugir da escola. Se eu fosse contar um placar, meu pai ganharia com certeza. Me sinto mal mentindo para ele, mas já está mais que provado que ele não gosta do null e não é uma total mentira já que nós só namoramos dentro da escola e é tudo fachada.
- Alguém quer sorvete? – eu ofereci. Se for pra ficar ouvindo essa conversa, melhor ouvir tomando sorvete. O lado gorda falou mais alto. – E não se preocupem, eu vou voltar pra nossa conversa.
- Eu quero. Vou buscar com você – null disse.
- Não demorem – minha mãe disse.
Peguei a chave da casa que estava escondida na janela e destranquei a porta. Hoje, quando estávamos terminando de arrumar tudo, decidimos mudar o local da festa. Seria apenas no jardim, já que dentro de casa a bagunça seria maior. Fui até o armário e peguei duas taças de sobremesa e duas colheres e null pegou o sorvete na geladeira. Deixei ele se servir primeiro e depois me servi. Continuamos em silêncio. Eu ainda estava brava com null por ele ter contado, mas pensando bem, a culpa também foi do null. Eu também estava correndo esse risco, já que null faz questão de gritar tudo o que eu conto em para ela sobre ele. Guardei o pote novamente e ficamos nos encarando um tempo. Então ele decidiu quebrar o gelo.
- Olha, null, não foi minha culpa, eu não queria fazer você arranjar problema com o seu pai. Eu sei que ele não vai com a minha cara – ele disse, encarando os pés. Ele estava sem graça.
- Não se preocupa, isso ia acabar acontecendo uma hora ou outra. Só não esperava que fosse hoje.
- Se o seu pai implicar muito e você quiser acabar com o nosso acordo, eu não me importo... – null não foi totalmente sincero. Sua intenção foi realmente boa, mas, no fundo, ele não queria que eu acabasse com o acordo.
- Acabar com tudo? Sabe null isso é tudo o que eu quero desde que começou – era verdade. Uma expressão surpresa misturada com pânico habitou seu rosto e eu fiquei com uma enorme vontade de rir. – Mas eu não vou fazer isso.
- Por quê? – agora ele estava confuso. Ótimo, como vou explicar algo que nem eu sei?
- Sabe, esse acordo serviu para aproximar mais todo mundo. Eu sempre fui ligada à null e a null, e o null é meu irmão, então, consequentemente todo mundo se esbarrava, mas agora não é a mesma coisa. Estamos todos muito próximos e eu gosto da companhia dos meninos... E da sua também – eu disse sorrindo. Era tudo verdade, porém meus motivos não eram só esses. Mas null não precisava saber.
- Você tem razão. Eu também gosto mais assim.
- Eu acho que vale a pena o esforço com o meu pai, até porque você nem é um mau namorado. Você me leva ao shopping – eu disse rindo e ele me acompanhou. – Fora que eu sou uma ótima atriz e estava até com saudades de interpretar.
- Depois eu sou o convencido – ele zoou.
- Vamos voltar? – eu peguei a taça com uma das mãos e ofereci a outra para null segurar. Ele entrelaçou seus dedos nos meus e me puxou para mais perto dele.
OPS, NÓS NÃO COMBINAMOS ISSO. Eu podia sentir sua respiração bater em meu nariz. Ele colocou a mão que estava livre em meu rosto e aproximou o polegar dos meus lábios.
- Está sujo aqui – ele disse rindo.
Eu deixei a taça sobre o balcão e levei minha mão até os meus lábios e retirei uma pequena quantidade de sorvete dali e lambi meu dedo em seguida. null ainda me encarava. Sustentei o olhar por uns segundos e ele aproximou mais o rosto do meu e me deu um selinho e fechei os olhos por reflexo. Senti uma onda de sentimentos me invadirem, assim como na noite anterior, quando ele transformou aquilo num beijo calmo. Sentir os lábios macios de null sobre os meus me dava uma sensação de segurança e conforto enorme. Eu adorava beijá-lo. Descobri isso depois do nosso terceiro beijo na festa da null. Ah, a festa... null tinha mesmo que ter a brilhante ideia de nos pedir para contar tudo o que havia acontecido? Por que estou pensando nisso logo agora que estou beijando um dos melhores caras que já beijei? Me perco muito fácil em meus próprios pensamentos. null aprofundou o beijo e isso me deixou completamente desconcentrada, senti-o apertar minha cintura e uma de minhas mãos voou para sua nuca e eu comecei a arranhá-la de leve.
- Você tem que parar de fazer isso – eu disse, quando recuperei o fôlego.
- Por quê? Você gosta, eu gosto, todo mundo fica feliz – ele sorriu malicioso.
- Quem disse que eu gosto? – eu perguntei, arqueando uma sobrancelha.
- Nem adianta tentar negar, null – ele disse convencido e me deu mais um beijo.
- Ok, acho que já ficamos muito tempo aqui, vamos voltar – eu fui em direção à porta.
- Tá legal – ele disse em um tom desanimado.
- Também preferia ficar aqui – confessei. – Mas eu não posso brincar com o bom humor do meu pai.
Nós saímos, eu tranquei a porta e escondi a chave no mesmo lugar. Voltamos até a mesa e nos sentamos. Meu pai começou a encarar nossas mãos unidas e eu fingi que não percebi.
- E aí? – eu falei depois de uns minutos. – A gente não ia conversar?
- Eu estava lembrando aqui, null – meu pai começou. – Nós não tínhamos um combinado?
- Eu ia te falar pai, eu só... Só estava esperando um momento assim, sabe, reunir todo mundo.
- Não seja duro com ela – disse a mãe de null. Ops, começou errado, meu pai odeia quando alguém interfere no modo como ele trata null e eu quando nós fazemos algo de errado. – null é um bom garoto, mas sabe como são os adolescentes...
É, acho que eu estou começando a entender porque o null não gosta quando alguém se refere a ele como null.
- null não é o primeiro namorado da null – ótimo, agora NÃO É A HORA DE FALAR DOS MEUS EX'S, MÃE! – Então, ela já sabe muito bem todas as regras.
- Eu não me lembro da última vez que o null namorou sério – o Sr. null falou. Essa informação não é a melhor para passar para a nova namorada do seu filho! Revirei os olhos. null percebeu e soltou uma risada. Me controlei pra não começar a rir também. – Qual era mesmo o nome daquela garota ruiva?
- Pai, me desculpa, mas ninguém liga – null soltou e eu não consegui me segurar e comecei a rir, mas parei assim que encarei meu pai.
- O que eu quero dizer – o pai dele continuou. – É que mesmo que isso não aconteça com frequência, null é um rapaz inteligente e sabe as regras.
Que papo é esse de regras?
- Que regras? – null perguntou. Fiz como ele e comecei a encarar todo mundo na mesa. null virou o rosto para mim e lançou um sorriso cúmplice.
- Acho que não é a hora de falar sobre isso – minha mãe recuou.
- Mas nós não estamos aqui pra conversar? – eu perguntei.
- Sim, querida. Mas assuntos como esse precisam ser tratados em particular, aqui tem muita gente – a mãe de null disse devagar como se estivesse explicando algo a uma criança.
- Oras, era só não falar sobre isso então – null rebateu.
- Ok, vocês estão me deixando confusos – eu disse. Era verdade. Eu não estava mesmo entendendo. Será que a minha mente era a única que havia imaginado coisas que eu não deveria imaginar? Só eu maliciei essa conversa? Segurei a vontade de rir.
- Nós temos que marcar um almoço – a mãe de null sugeriu. Socorro.
- Nesse domingo, o que vocês acham? – minha mãe aprovou a ideia.
- Nesse domingo não vai dar, mãe, eu... Eu vou com as meninas escolher o vestido do baile – era mentira. Quem vai escolher essas coisas no domingo?
- No domingo, null? Está tudo fechado, filha – minha mãe e sua mania de ler meus pensamentos.
- Vocês dois vão juntos ao baile? – a Sra. null perguntou. Ela é um amor de pessoa, mas já está me irritando. Eu assenti, sorrindo. Às vezes eu acho que mereço um Oscar. – null, não se preocupe que eu vou arrumar o null e deixá-lo o menino mais bonito da festa. Ah, vocês dois vão ficar tão lindos.
- Para, mãe – null falou. Me virei para encará-lo e ele estava com as bochechas vermelhas. Mais lindo que o normal. Ok, agora não é hora de pensar nisso, null!
- Eu só tenho uma coisa pra dizer – meu pai disse com aquele tom autoritário. – Se você magoar minha filha, null, a coisa vai ficar feia pra você.
- Para, pai. Vai assustá-lo – eu disse, tentando amenizar o clima. – Acho que essa conversa já deu, né?
- É, já deu. Vamos, null – null não esperou a resposta e se levantou e saiu me puxando até a mesa onde os nossos amigos estavam.
- E... Aí... Como foi? – null perguntou entre as risadas.
- Nossos pais são malucos, eu não entendi nada – eu disse enquanto me sentava entre null e null.
- A null – null começou a rir. Aff, o que eu fiz? – A null ficou pensando merda da conversa, não ficou? Eu vi a sua cara.
- Ai que droga – eu disse brava. Era verdade, mas não era para ele saber. Bom saber que não fui a única – Não fiquei nada, você deu uma patada no seu pai e eu comecei a rir, foi isso.
- Sei – null disse irônica. – O que vocês foram fazer lá dentro de casa aquela hora?
Me virei para encarar null e ele fez a mesma coisa, trocamos um olhar e começamos a rir em seguida. Os outros seis ficaram nos encarando, sérios.
- Pegar sorvete – eu respondi.
- Cadê o sorvete? – null perguntou. Fominha.
- A gente ficou enrolando lá dentro e comeu lá mesmo – null respondeu.
- Eu não entendo meu pai. Acho que ele só não me xingou porque tinha muita gente na mesa – eu falei. – Vocês não podem ir embora hoje, de jeito nenhum.
- null – null chamou e eu virei meu rosto em sua direção, esperando que continuasse. – Vem comigo, um minuto.
Estranhei aquele pedido. Na verdade, todo mundo na mesa começou a encará-lo como se perguntasse o porquê daquilo.
- Buscar sorvete comigo, é rápido – ele se levantou e foi em direção à porta. Não era só isso, eu sabia, mas também não questionei e apenas o segui.
- O que foi? – eu perguntei quando já estávamos sozinhos na cozinha.
- Quero te pedir desculpa – ele disse, encarando o chão.
- Desculpa? – eu questionei, estava confusa.
- É, sobre o lance do seu namoro secreto com o null.
- Ah, não esquenta com isso, tá tudo bem – disse sorrindo. Era verdade, meu pai nem implicou.
- Jura? É que teu pai parece aqueles que não deixam ninguém chegar perto da filha e tal – ele disse rindo e eu o acompanhei.
- Ah, ele passa essa impressão para os outros, mas comigo mesmo, meu pai é um doce. Assim, do jeito dele, mas é.
- Sabe, eu acho que você e o null formam um casal bonitinho – ele disse sorrindo.
- Você e a null também – eu provoquei. – Não precisa mentir, eu sei o que aconteceu entre vocês.
- Eu tenho que dizer, encontrar a null depois de tudo o que houve, tão próxima, foi um choque.
- Você gosta dela? – eu perguntei, mas me arrependi no mesmo instante. – Desculpa, não quis me intrometer assim.
- A null chamou muito a minha atenção, ela é uma garota bonita, legal, divertida. Mas o modo como ela agiu, descontando logo no meu primo...
- Posso perguntar uma coisa? – ele assentiu. – Você realmente não sabia que a garota era a null?
- Pra ser sincero, quando eu me aproximei dela, eu percebi que não era, mas fiquei com ela assim mesmo.
- Não sou a melhor pessoa pra dar conselho, mas acho que você deveria conversar com ela sobre isso, vocês dois erraram.
- Mas vai acabar em briga, certeza – ele resistiu.
- null, a null gosta de você. Ela pode não te amar, ou estar apaixonada, mais alguma coisa ela sente e se você considera isso suficiente pra tentar alguma coisa, você devia arriscar – me lembrei da null.
- Tem certeza que não é boa pra dar conselho? – ele brincou, me fazendo rir.
- A null já me disse alguma coisa assim...
- Aproveitando a situação, acho que você também deveria conversar com null... Quem sabe esse namoro falso não vira um namoro verdadeiro?
- Ok, estamos discutindo sobre você agora – eu ignorei o comentário. – Se precisar de ajuda com a null, pode me pedir. Ou à null também.
- E a null?
- A null eu não tenho certeza – eu disse rindo. – A null é uma ótima pessoa, minha melhor amiga e eu amo ela, mas ela tem mania de se meter demais nas coisas.
- Ok, anotei tudo – ele fez um joinha com as mãos. – Obrigado, null.
- Que isso... Só faça minha amiga feliz, caso o contrário, pode correr que eu vou atrás de você! – eu disse séria e ele riu. – Você quer o sorvete agora?
- Até me esqueci disso, mas acho que vou querer sim.
Peguei uma colher e o pote na geladeira e o entreguei. O sorvete já estava quase acabando mesmo.
- Pode tomar no pote – eu disse antes que ele perguntasse alguma coisa. – E eu sei que todo mundo vai encher a gente de perguntas, mas eu não vou contar nada, tá?
Deixamos o cômodo e eu tranquei a porta e guardei a chave no mesmo lugar. Fomos caminhando até a mesa e percebi que as meninas conversavam animadas sobre algo, null e null também conversavam sobre algo e null nos encarava com uma expressão estranha. Aquilo era... Ciúme? Segurei a vontade de rir.
- Por que estão tão animadas? – perguntei enquanto me sentava entre ) e null.
- Você não sabe! – null exclamou. – Quem vai contar?
- Deixa a null – disse null.
- Ok, o Rafael me chamou pra sair – null praticamente gritou, ela estava muito feliz. Encarei os meninos na mesa e em seguida procurei null, ele não estava aqui. Ufa. – Foi agorinha, enquanto você tava lá dentro.
- E o que você disse? – eu perguntei.
- Disse que ainda ia pensar... Mas acho que vou dizer sim – ela disse sorrindo. – Posso te perguntar uma coisa? – ela perguntou, um pouco mais séria.
- Claro, null.
- Você já ficou com o Rafael? – ela perguntou.
- Ah, faz uns dois anos. Foi no natal, fazia um tempo que não nos víamos, tios pra um lado, tias pro outro, os primos menores brincando juntos, nós éramos os esquecidos, estávamos meio bêbados...
- Meu Deus! E o que rolou? – ela perguntou surpresa.
- Não rolou nada! – deixei claro. Não nesse sentido. – Nós apenas nos beijamos, umas duas ou três vezes. Mas não passou disso, e hoje o Rafa é como o null pra mim, ainda não acredito que fiz isso.
- Você se arrependeu?
- Sim, tanto homem no mundo e eu fiquei logo com meu primo – dei de ombros. – Eu tinha acabado de completar quinze anos, não tinha beijado muitos garotos antes dele e foi estranho. Mas a gente se diverte com essa história hoje em dia.
- Posso apostar no Rafael, então? Sem sentimentos do passado? – ela perguntou animada. Eu queria dizer não. Mas não porque nutria algum tipo de sentimento pelo meu primo, e sim por causa da conversa que tive com null. Eu queria que eles se acertassem, mas também queria ver minha amiga feliz.
- Claro, null. Aceita o convite e sai com ele – eu incentivei.
- Ei, meninas – null nos chamou e começamos a encará-lo. – Nós vamos lá pra dentro, ligar o som e aquela coisa de luz que o null trouxe, querem vir?
- Vamos, aqui tá uma droga – null disse e eu a encarei. – Desculpa, null. A festa tá linda, mas só tem gente velha aqui.
- É, você tem razão, vamos – eu concordei. Nos levantamos e começamos a seguir os meninos.
- Gente, eu já encontro vocês, ok? – null avisou e nós assentimos.

null's POV OFF


***


Algumas horas depois, as pessoas já começaram a ir embora. A festa já estava no fim e as únicas pessoas que ainda estavam lá, eram alguns parentes e os pais das garotas e dos garotos. E os oito estavam aproveitando a festa vip - como null decidiu chamar -, dentro de casa.
- Gente, eu tô com sono – null reclamou.
- Credo, null. Você é a mais preguiçosa da turma – null reclamou.
- Da turma? – ela perguntou rindo. – O que nós somos agora, os Skins?
- null, sua frase não teve sentido nenhum, amiga – null disse, revirando os olhos.
- Claro que teve, eles são uma turma, não são? Quantas turmas tiveram mesmo? – null insistiu.
- Galera, ela tá com sono, ignorem – null disse, rindo.
- Galera? – null perguntou, rindo ainda mais. – Essa superou turma, nullzinha. Mas você tá perdoada porque veio da roça.
- Vai se ferrar, null – disse null, brava.
- Não disse que isso aqui tá parecendo Skins? – ela disse rindo. – Se nós fizéssemos a série, o null seria a Effy.
- Seria nada, pode parar, eu sou homem – disse null.
- Mas é porque você é todo calado – ela disse como se fosse óbvio.
- Se a minha vida fosse uma série, seria Gossip Girl, e eu seria a Serena – disse null.
- Ah, e o Dan seria o null? – null perguntou rindo e todos começaram a encará-lo. – Não que eu já tenha visto a série... Ah, já vi sim, com a minha prima, podem parar de encarar.
- Se a minha vida fosse uma série, seria The Vampire Diaries – disse null.
- Nossa, null, viajou legal. Mais que a null – disse null. – Você tem dois vampiros gostosos no teu pé por acaso? – ela perguntou, fazendo os outros rirem. – Se tiver, e um deles for o Ian Somerhalder, me avise, amiga.
- Ah, e até parece que a null é uma socialite rica, que mora no Upper East Side e que tem um blog maldoso sobre a vida dela – disse null.
- E a tua vida, null? Se fosse uma série, seria qual? – null perguntou.
- Ah, que papo de mulherzinha, vamos mudar de assunto – null reclamou.
- Sabe, amor, você tem razão – disse null. – Se eu não me engano, todos vocês me devem um flashback.
- Eu não – disse null sorrindo. – Podem começar a contar da festa da null que eu estou curiosa também.
- Isso aí, null. Senta aqui comigo – null sentou no chão e null ao seu lado. Em seguida, os outros seis se juntaram a elas. – Quem vai começar?
Silêncio.
- Hmm, ninguém? – null continuou e eles continuaram em silêncio. – Ok, vou escolher. E eu não quero ouvir nenhuma mentira.



Capítulo 17

- Vamos começar com o que menos interessa – disse null. – null, o que você estava fazendo?
- Nossa! Muito obrigado pela parte que me toca... – uma falsa expressão triste tomou o rosto de null. – Sei lá, null, eu nem lembro se fui. E se eu fui eu devo ter ficado no bar, sei lá, dançando...
- É claro que você foi, idiota. Você dançou comigo – ela rolou os olhos. – Mas e você amor, o que estava fazendo? – null se virou para null.
- Eu fiquei muito tempo com a minha mãe, porque manchei o terno e eu era um dos caras que ia dançar valsa contigo, e ela estava me arrumando – ele disse fazendo os outros rirem.
- Ok, agora isso aqui vai começar a esquentar, null ou null? – null direcionou a pergunta para null, que deu de ombros.
- Ah, para gente, eu conto tudo – disse null. – null e null ficaram na festa, e eu e a null também.
- Como você sabe? – perguntou null, surpreso.
- Então vocês estão admitindo que é verdade? – perguntou null.
- Tem alguém negando aqui, null? – perguntou null, em um tom sarcástico.
- Você tava com a Danielle nessa época, null – lembrou null. – E você tava com o Nathan, null.
- Nem lembra – null deu de ombros. – Era isso que você queria saber, null?
- Como se ela já não soubesse – null se pronunciou e os outros a encararam. – Que foi? A gente conta tudo uma pra outra...
- Mas eu queria detalhes – null explicou. – Vocês não me contaram como aconteceu.
- E isso importa? – perguntou null.
- Importa – disse null.
- Não sabia que a gente era tão importante assim – null disse rindo.
- Ahhh que droga, eu e a null te contamos tudo depois – disse null. – Eu quero dormir.
- E quem vai me contar? – perguntou null.
- A null compartilha a informação depois – disse null. – Vamos subir, null, quero dormir também.
As duas foram em direção à escada e subiram, deixando os outros seis confusos na sala.
- O que houve com elas? – perguntou null.
- Ah, vocês são idiotas? – perguntou null, surpreendendo os outros. – Você também, null, tinha que insistir nisso? Você não percebeu?
- Ai. Meu. Deus – disse null, alguns segundos depois. – Eu sou uma tonta.
- Alguém me explica – pediu null.
- Vem comigo, null, eu tenho que me desculpar por isso – null saiu puxando null pela mão, seguindo o mesmo caminho que as meninas fizeram.
- Eu hein – disse null.
- Garotas – null completou, rolando os olhos.
- Essa coisa de telepatia, é igual àquela coisa do banheiro, ninguém entende – disse null.
- Que coisa do banheiro? – perguntou null.
- Aquela coisa que as garotas têm que ir todas juntas ao banheiro... – null explicou e eles assentiram, concordando.
- Ah, quer saber, eu vou dormir e amanhã a gente vê isso – disse null.
- É, vamos dormir – disse null e os outros concordaram.

***


- null, null, amigas me desculpem, por favor – null pediu desesperada.
- O que aconteceu, null? – null perguntou confusa.
- Eu aconteci! – ela continuou.
- Ah, olha o drama de sempre – disse null. – Fala logo, null.
- Quero me desculpar por forçar vocês a colocarem o dedo em feridas antigas, porém recém-abertas – null disse rindo.
- Ah, droga eu não tô entendendo nada, se não falar logo, eu vou dormir... – null disse impaciente.
- Espera, por que vocês vieram para o quarto da null? – perguntou null.
- Por que você acha? – perguntou null.
- Eu não acho nada – null deu de ombros.
- Era uma pergunta retórica – ela rolou os olhos.
- null, vai falar ou não? – null retomou o assunto anterior.
- Eu quero pedir desculpa por fazer vocês contarem o que houve na festa pra todo mundo. Se não contaram antes era porque não queriam que ninguém se metesse, mas eu fiz vocês contarem e isso não foi nada legal, me desculpem, amigas, não fiz de propósito.
- Tá tudo bem, null – null disse calma.
- Não, não tá tudo bem. Dá pra ver na cara de vocês. O que está acontecendo?
- Não tá enxergando o óbvio? – null perguntou. – null é a mais lerda.
- É obvio que eu já entendi tudo, dona null. Quero ouvir elas agora – null rolou os olhos.
- Gente, eu não tenho mais nada pra contar – disse null. – Vocês já sabem, sempre fui louca pelo null, mas aquela história de gravidez estragou tudo.
- E você, null? O que foi fazer com o null na cozinha? – perguntou null.
- Boa null, queria perguntar, mas tinha esquecido – null e null fizeram um high five.
- Buscar sorvete, eu já disse isso pra vocês – null disse rindo.
- Sua mentirosa! – null gritou.
- Shhh, cala sua boca, null – null pediu. – Vou contar, mas sem gritos nem nada, ok? – elas assentiram. – null me beijou, de novo.
- Ah, eu sabia – disse null. – Hmm, e com o null?
- Eu não fiquei com o null – null disse rindo. – Não fica com ciúmes, null. Eu prometi pra ele que não contaria o que a gente conversou.
- Nem pra nós? – null perguntou em um tom ofendido.
- Ok, resumindo a conversa, ele me pediu desculpas por contar sobre meu namoro falso com o null e depois nós falamos sobre você, null.
- Falaram o quê? – ela perguntou.
- Segredo, bebê – null riu.
- Gente, vocês tão ouvindo alguma coisa? – perguntou null.
- Espera, silêncio, gente – null disse baixinho. Ela foi até a porta e a abriu, revelando os quatro garotos com os ouvidos colados na porta. – Ai, seus idiotas!
- Seus ridículos, estavam fazendo o que ai? – null perguntou e todos a encararam. Ela deu um tapa na própria testa. – Ai que pergunta besta.
- Entrem, anda logo, A GENTE PRECISA CONVERSAR – null gritou a última parte.
- Ah, essa coisa de conversar, nunca é nada de bom – disse null.
- O que vocês têm na cabeça? – null perguntou. – Sério, eu juro que se não estivesse com sono, estrangulava um por um.
- O que vocês tão fazendo aqui? – perguntou null. – A gente não ia dormir no outro quarto grande?
- Aff, eu não tô com saco pra aturar vocês... – null interrompeu a fala da irmã.
- A gente veio aqui saber qual o problema com vocês duas.
- O problema tá escrito na testa das duas, mas vocês são lerdos demais para perceberem – disse null, alterando o tom de voz. – O que vocês ouviram?
- Não ouvimos nada – null disse, mas não soou nada convincente. – Tá, eu vou contar... Nós ouvimos a palavra bebê.
- E a null falando alguma coisa sobre gravidez – null completou. – Tem... Alguma de vocês... Quem tá esperando bebê?
- Não acredito que eu tô perdendo um tempo precioso de sono com vocês... – disse null. – Eu não vou nem responder essa pergunta.
- Ahhhh, seus idiotas, não é nada disso – null falou.
- O que é então? – perguntou null. – Por que vocês estão estranhas?
- Vou ignorar essa pergunta também – disse null.
- Por favor, deixem a gente dormir... Não tem nada de errado com vocês, isso é tudo problema de garota – disse null.
- null pedindo por favor? Tem alguma coisa muito errada aqui – disse null e os outros concordaram.
- É sério, meninas, se alguma de vocês estiver grávida, nós vamos ajudar também... – disse null.
- Vão embora agora, caralho – null gritou, assustando-os.
- É melhor a gente ir mesmo – disse null. Os outros assentiram e foram caminhando devagar até a porta.
Eles saíram do quarto em silêncio e as garotas começaram a rir. Alguns minutos depois, null e null saíram para buscar outro colchão para elas, já que null e null dividiriam cama. Elas ficaram conversando durante algum tempo e dormiram.

***


- ACORDEM SUAS PREGUIÇOSAS – null gritou. – Hoje é um dia lindo para ir visitar uma das sete maravilhas do mundo!
- Que isso, null? – perguntou null. – Você bebeu? Agora são seis horas da manhã, sua pamonha!
- Pamonha? – null perguntou rindo. – Melhore seus apelidos, null.
- O que tá acontecendo aqui? – null perguntou, entrando no quarto. Logo os outros meninos já estavam atrás dele. – Ouvimos uns gritos.
- null deu a doida e tá acordando todo mundo – disse null. – SUA CACHORRA, O CRISTO REDENTOR SÓ ABRE ÀS OITO HORAS.
- É, mas, minha querida null, VOCÊ MORA A QUASE UMA HORA DE DISTÂNCIA E ATÉ TODO MUNDO FICAR PRONTO E CHEGAR LÁ VAI SER A HORA CERTA – ela gritou. – Eu não quero pegar fila gente.
- NINGUÉM AQUI É SURDO, QUE INFERNO – null também gritou.
- Chega, chega, todo mundo para de gritar, minha cabeça vai explodir – disse null.
- Ok, vamos fazer do mesmo jeito que fizemos ontem. Todo mundo tem uma hora pra se arrumar e depois a gente vai – disse null.
- E hoje meu pai tá em casa, eu vou pegar o carro e a gente divide, quatro pessoas em cada um.
- Eu posso dirigir, daí vão as meninas em um carro e os meninos no outro – sugeriu null.
- Não, eu quero ir com o meu amor – disse null, se referindo a null.
- Na hora a gente resolve – disse null. – Saiam todos vocês, podem ir embora – ela expulsou os meninos e trancou a porta. – Vamos, levantem suas preguiçosas.

***


Eles já haviam chegado ao parque e estavam na fila, esperando a van.
- A gente podia ter ido de trem – null reclamou.
- Acontece que seriam cinquenta reais pra cada um, volta lá compra o seu bilhete e vai sozinha – disse null.
- Vocês são muito pão duros – null insistiu.
- Dinheiro não cai do céu, dona null null – disse null. – É muito melhor gastar com outra coisa do que com isso...
- Eu pago pra todo mundo então...
- Agora que a gente já tá no começo da fila? – perguntou null.
- Obrigado null, mas guarda seu dinheiro e compra UM POUCO DE NOÇÃO! – exclamou null. – Quando você chegar lá em cima vai ver que nem vale tanto a pena assim.
- Gente, o que nós vamos fazer depois que o passeio acabar? – perguntou null depois de alguns segundos.
- Hoje ainda é sexta-feira, vamos fazer alguma coisa esse fim de semana – disse null.
- A gente podia acampar – sugeriu null.
- Eu já tenho compromisso, gente – disse null. – Vou ter um encontro.
- Com quem? – perguntou null.
- O seu primo...
- Ah, boa sorte, o Rafael é o cara mais galinha que eu conheço – ele falou rindo.
- Falando em galinha, irmãozinho, o que houve com a Dani? – perguntou null.
- A Danielle já o trocou – disse null, rindo.
- Sabia... – null deu um sorriso convencido. – Hm, todo mundo já tem par para o baile? Assim, tirando o meu irmão que agora não tem mais.
- Nós já temos, né amor? – null se virou para null.
- Eu acho que vou chamar o Rafa pra ir comigo – disse null.
- Acho que até o dia do baile ele já foi embora, null – disse null.
- E você, null? – perguntou null. – Já sabe com quem vai?
- Eu recebi dois convites, um dos garotos do time de futebol e um menino que faz biologia comigo, acho que vou com um dos dois – ela deu de ombros.
- Gente, essa questão do baile é uma matemática muito simples – disse null. – Eu vou com a null e a null vai com o null. Sobram mais duas meninas e dois meninos... Precisa desenhar?
- Nem começa com isso agora, null – null rolou os olhos.
- Sabe, eu concordo com o null – disse null. – Nós não somos amigos? Qual o problema em vocês irem juntos? Ainda mais depois das histórias de ontem... – ela disse a última parte mais baixo.
- Gente, é a nossa van – apontou null.

***


- Quanta escada, minha nossa senhora – null reclamou.
- Por que você não subiu de escada rolante então, bonitinha? – perguntou null.
- Ai que droga, null, para de chamar todo mundo de bonitinha.
- Eu não chamo todo mundo, só você, a null e a null.
- Mesmo assim, isso irrita demais!
- Eu concordo com a null – disse null.
- Gente, a discussão não era sobre a escada? – perguntou null.
- Ah, é verdade... Eu não subi pela escada rolante porque ela estava lotada... – disse null.
- Era só esperar, agora tá vazia – disse null.
- Na hora de descer então a gente vai, calma...
- Você reclama e depois pede calma? – null perguntou debochado.
- Gente, eu acho que isso não foi uma boa ideia – disse null.
- Você tá com medo, Barbie? – null riu.
- Pensei que você já tinha parado com isso – null rolou os olhos.
- Parar por quê? Eu adoro chamar você assim.
- Mas você sabe que eu não gosto!
- Por que você a chama assim? – null perguntou.
- Você lembra aquela festa que a null bebeu demais... – null foi interrompido por null.
- Não conta. Eu não gosto de falar nisso – ela alterou o tom de voz e null levantou as mãos em sinal de rendição.
- Ok, gente, já chega. Já tem quase quarenta minutos que estamos aqui em cima, que tal ir embora? – sugeriu null.
- Eu acho uma ótima ideia – disse null. – Ah, null, preciso falar com você.
- Hm, o que foi? – ela perguntou curiosa.
- Tem que ser sozinha... – disse null mais baixo. – E não tem nada a ver com o que você tá imaginando.
- Ai gente, agora eu fiquei curiosa também – disse null.
- Eu conto tudo depois. Mas tenho que falar com a null primeiro.
- E quem vai me contar? – perguntou null. – Vocês nunca me contam nada.
- Eu te conto depois – disse null, rindo.
- Em você eu acredito, null...
- Vocês dois tão muito amiguinhos, sai pra lá null, porque a null é minha – disse null.
- É, eu também acho que tão muito amiguinhos – disse null.
- Isso é ciúme, null – disse null.
- É ciúme nada...
- Gente, vamos embora logo, vamos aproveitar o resto do dia – disse null.

***


- Eu acho que nós podíamos ir ao shopping amanhã, escolher os vestidos – disse null.
- Naquela loja linda, onde eu comprei aquele vestido lindo, e você comprou aquele sapato lindo e a null comprou alguma coisa linda que eu não me lembro o que é.
- Foi uma jaqueta – null disse rindo. – Eu acho uma ótima ideia.
- Não seria melhor alugar os vestidos? – perguntou null.
- É uma boa também, null. Mas nós vamos ter que ir até o centro – disse null.
- A null odeia ir ao centro. Ela se perdeu lá uma vez – null explicou.
- Que tal, nós vamos ao shopping amanhã e ao centro na segunda feira – null sugeriu.
- Gente, nada disso. Vamos fazer alguma coisa hoje – disse null. – Meus pais vão jantar à noite e provavelmente vão dormir fora, vocês podem ir pra lá.
- Perfeito – disse null. – Eu e o null vamos.
- Eu e o null também, né? – null perguntou ao irmão e ele assentiu.
- Ah, eu também vou, gente – disse null.
- Queridos, eu adoraria ir, mas não vai dar – disse null.
- Não vou gente... – disse null.
- Por quê? – null perguntou.
- Hmm... Porque... Eu tenho planos. Vou sair com uma pessoa.
- Leva ela, então – disse null.
- Eu não disse que era uma garota – disse null, fazendo os outros rirem. – Não vou sair com um cara!
- Eu disse ela, pessoa – disse null, rindo.
- Tá gente, eu não vou porque não quero. Não se sintam mal, eu sei que vou fazer muita falta, mas eu realmente estou a fim de ficar em casa hoje...
- Ai, que drama... – disse null.
- Nós fingimos que acreditamos pra você – disse null.
- Meninas, tive uma ideia ótima... – disse null. – Vamos todas lá pra casa, nem meu pai nem a Mirella estão, e meu irmão não vai atrapalhar a gente.
- Eu estou começando a entender – disse null.
- Ideia brilhante, null – disse null.
- Então, garotos, arrumem alguma coisa pra fazer até de noite, que nós vamos ficar com a null – disse null.
- Por que a gente não pode ir? – null perguntou.
- Porque é programa de garota – disse null. – Vamos logo.
- A gente se encontra na sua casa então, null – disse null.
As garotas foram até o andar de cima e desceram dez minutos depois, carregando várias sacolas e bolsas e deixaram a casa de null.
- Vai entender elas... – disse null.
- Vamos lá para o meu quarto fazer alguma coisa – disse null.
- Jogar vídeo game é fazer alguma coisa? – perguntou null.
- Alguém tem ideia melhor? – perguntou null.
- Nós podíamos ir... – disse null. – Não, jogar vídeo game é melhor mesmo.

***


- Você vai ficar bem linda para o seu encontro, null – disse null.
- Nunca tinha reparado como sua casa é grande – disse null. – E eu moro em frente.
- Ok, vamos focar na null agora – disse null. – Você já escolheu sua roupa?
- Ainda não... Pensei em usar um vestido fofinho que ganhei da minha mãe... Mas eu não sei se é adequado para a ocasião.
- Aonde vocês vão? – perguntou null.
- Ele não me disse...
- Pergunta pra ele, null – sugeriu null.
- Ele nunca vai me dizer – ela rolou os olhos. – Se eu pedir para o null perguntar, talvez ele diga.
- Liga pra ele então – disse null.
- Calma, já estou ligando – ela balançou o celular. – null, preciso de um favor... É simples, é só perguntar ao Rafa aonde ele vai levar a null, mas não é pra dar muito na cara... Ok, vou esperar.
- E...? Onde é? – perguntou null.
- Ele vai perguntar a ele e me ligar de volta... – disse null. – E mesmo que eu soubesse, não ia contar. Não quero estragar a surpresa.
- Vocês então vão me ajudar a me arrumar, mas não vão me contar aonde eu vou?
As meninas assentiram, rindo. O celular de null apitou.
- null, olha aonde eles vão – null passou o celular pra null, que passou para null.
- Ai, que lindo! – null exclamou. – O null me levou lá no nosso primeiro encontro oficial.
- É coisa do null, eu já devia ter imaginado... E aposto que essa ideia foi do meu pai – null disse rindo.
- E aí, meninas? Não vão mesmo me contar? – perguntou null.
- Não, mas pode ficar tranquila que você vai adorar – disse null.
- Vamos escolher a roupa agora... – disse null. – Onde estão seus vestidos de festa?
- Do lado direito do guarda-roupa, na parte de cima – ela apontou.
- Como será que o null convenceu o Rafael a contar? – perguntou null, enquanto olhava as roupas de null.
- Do jeito que conheço o meu irmão, ele deve ter simplesmente perguntado "Aonde você vai levar a null?" – null tentou imitar a voz do irmão, arrancando gargalhadas das garotas. – E do jeito que eu conheço o meu primo, ele respondeu "No lugar tal" – ela imitou outra voz. – Garotos não pensam muito. Eu podia até ter ligado, mas talvez ele percebesse.
- Eu posso mostrar o vestido fofinho pra vocês? – perguntou null e as meninas assentiram. Ela foi até o guarda-roupa e tirou um vestido cor-de-rosa de lá.
- Lindo, null. Mas eu não acho que seja assim, tão adequado – disse null.
- Olhem esse vermelho – disse null.
- Eu acho que esse vai ficar perfeito – disse null.
- Tenho um par de sapatos lindo pra combinar – disse null.
- Gente, olha esse vestido – null tirou um vestido preto do guarda-roupa.
- Socorro, é lindo – disse null. – Esquece o vermelho.
- É, esquece o vermelho – disse null.
- Ok, vamos pular para os sapatos agora – disse null. – Onde ficam?
- Na parte de baixo, ué – disse null.
- Esse par é perfeito, você vai me emprestar qualquer dia desses – null pegou um par de saltos pretos.
- Quando quiser, é só pedir.
- Vai ficar lindo – disse null.
- Eu não tenho certeza, é muito alto gente, eu tenho medo de cair.
- Deixa de besteira... É muito fácil andar com saltos. Eu sei que você sabe – disse null.
- Ok, vestido escolhido, sapato escolhido, vamos para a bolsa – disse null.
- As bolsas estão na parte de cima – disse null.
- Uma clutch de qualquer cor vai combinar – disse null. – Essa dourada é linda.
- Ok, tudo escolhido então, está de acordo, null? – perguntou null.
- Sim. Mas ainda estou com medo de cair dos saltos.
- Vamos passar para a maquiagem, cabelo e os acessórios – disse null.
- Acho que não precisa de muitos acessórios – disse null.
- E o cabelo, a gente pode fazer babyliss nas pontas – null enrolou uma mecha do cabelo de null. – A maquiagem não precisa ser muito pesada também. O destaque é o vestido.
- Nós podemos parar agora, almoçar, sei lá... E depois a gente continua – sugeriu null. – Agora são quase onze, o encontro é só às sete e meia... Temos bastante tempo.
- Nós podíamos ver algum filme... Assistir alguma coisa... – sugeriu null.
- Eu tenho vários box de séries, nós podemos assistir alguma – disse null.
- Existe Netflix também – null disse rindo.
- Vamos preparar alguma coisa pra gente comer, porque meu pai deu folga pra empregada.

***


- Você tá linda, null null – disse null, sorrindo.
- Nós somos artistas – disse null. – Seu look está perfeito!
- Vocês são lindas – null sorriu. – Obrigada por tudo, morar aqui não seria a mesma coisa sem vocês.
- Pare, dona null! Nós vamos chorar – disse null.
- Vamos te dar uns toques agora – disse null. – Se acontecer alguma coisa, e você quiser ir embora, envia uma mensagem discretamente para o celular de qualquer uma de nós, que uns cinco minutos depois a gente te liga e você finge que aconteceu alguma coisa.
- Esse truque é velho – null riu.
- Antes de ele pedir, você olha o cardápio pra ver se não gosta de alguma coisa ou tem alergia... – disse null. – O Rafael tem preguiça de ler.
- Não deixa ele te beijar – disse null. – Se ele pensar que você é fácil, não vai ter graça.
- Acho que eu já entendi tudo – disse null. – Esse não é o meu primeiro encontro, meninas. Vai dar tudo certo.
- Que horas ele vem mesmo? – perguntou null.
- Nós combinamos oito e meia.
- Então você ainda tem uns vinte e cinco minutos. Confere se está tudo na bolsa e se não se esqueceu de alguma coisa – disse null.
- Vocês já vão? – perguntou null.
- Os meninos já estão na casa do null desde cedo. Daqui a pouco nós vamos – disse null.
- Vocês vão a pé? É um pouco longe daqui...
- Nós vamos pra minha casa e de lá vamos de carro – null respondeu.
- Então acho melhor vocês irem porque se ficar muito tarde é perigoso.
- Nós só vamos deixar essas coisas na minha casa antes – disse null, apontando para as bolsas.
- Boa sorte no seu encontro, null – disse null.
- É, boa sorte – disse null. – Qualquer coisa liga.
- Pode deixar... Obrigado por tudo, meninas.
- Foi um prazer – null riu.
As garotas deixaram a casa de null e foram até a casa de null, guardar tudo e pegar suas coisas que estavam lá desde o dia anterior. Deixaram a casa e começaram a caminhar até a rua de null, que não era tão longe dali.

***


- Aleluia, as princesinhas chegaram – disse null.
- Pelo visto, nós fizemos falta – disse null.
- O null não vai vir mesmo? – perguntou null.
- Não – null respondeu. – Acho que ele está com problemas com os pais dele.
- Por quê? – null entrou no assunto.
- Quando ele fica estranho assim, na maioria das vezes é problema em casa... – disse null.
- Onde está o null? – perguntou null.
- Lendo, lá no quarto dele – null respondeu.
- Lendo? Essa é novidade, preciso ver isso – disse null.
- Eu também – null e null disseram em uníssono e caíram na gargalhada em seguida.
As três garotas subiram as escadas e foram até o quarto de null. Giraram a maçaneta, mas a porta não abriu. Estava trancada.
- , VOCÊ TÁ AI? – null gritou.
- null? É você? – ele perguntou do outro lado.
- Quem mais te chama de null? – ela perguntou, rindo.
- Abre a porta pra mim. Eu tô trancado.
- Quem te trancou aí? – null perguntou.
- Seu irmão!
- Onde estão as chaves? – perguntou null.
- Tem algumas chaves reservas na cozinha, em cima da geladeira.
- Eu vou buscar – disse null.
- Por que meu irmão te trancou aí? – perguntou null.
- Porque eu fiquei falando da null pra ele...
- Você também, null. Foi bem feito – null disse rindo.
- Não foi bem feito nada, eu vou dar o troco, qualquer hora...
- Eu já voltei – disse null, segurando um molho de chaves.
- A chave do meu quarto tem um número cinco gravado.
null encaixou a chave no lugar e girou, abrindo a porta.
- EU TE AMO, ! – null gritou. – Agora eu vou lá embaixo pegar o null.
- Não – null segurou seu braço. – Eu tive uma ideia melhor – ela abaixou o tom de voz.
- Que ideia? – null perguntou, desconfiado.
- É uma boa ideia, você vai ver – ela sorriu e se virou para as meninas. – Vamos descer?
- null, se você for me bater, bate no null porque ele ajudou... – disse null, rindo.
- Não vou bater em vocês – ele disse calmo.
- Ok, problema resolvido, o que nós podemos fazer? – perguntou null.
- Eu já sei o que eu vou fazer – null sorriu para null e se sentou ao seu lado no sofá.
- Vamos ver um filme – null sugeriu. – Ou, nós poderíamos jogar alguma coisa... Just Dance, que tal?
- Eu voto pelo filme – disse null.
- Eu quero o Just Dance – disse null.
- Filme – null.
- Filme – null.
- Just Dance – null.
- Filme – null.
- Qual filme? – perguntou null.
- Isso é com vocês, eu tenho uma prateleira cheia – disse null.
- As Branquelas – sugeriu null.
- Todo mundo já viu – disse null.
- O Fada do Dente é legal – disse null.
- Ainda prefiro As Branquelas – null resmungou.
- A sua opinião e a opinião da null não contam, porque vocês esquecem o filme e começam a se pegar – disse null.
- Coloca O Fada do Dente, então – disse null, rolando os olhos.
Uma hora depois, como null previu, null e null já tinham saído da sala e sumido pela casa. null dormia no sofá, null e null dividiam uma poltrona e null estava sentado no chão.
- null – null a chamou. – Vem comigo.
null se levantou e foi em direção à cozinha. null lançou um sorriso malicioso para null, que riu. Em seguida, se levantou e seguiu o garoto.
- Qual é o seu plano? – null perguntou. – Porque o null já está babando lá no meu sofá.
- Eu vou prender o null no quarto, igual ele fez com você, só que a null vai junto.
- A null? – null perguntou confuso. – Por quê?
- Eles têm que ficar juntos... Hoje, quando estávamos ajudando a null, e ela falou dele, os olhos dela brilharam. A null ama o meu irmão, dá pra ver na cara dela.
- Juntar o null e a null? – ele perguntou. null assentiu. – Não vai dar certo, null.
- Por que não? Não é você que vive falando que eles vão ficar juntos, essas coisas? A gente não tem nada a perder, null.
- Mas e depois? Eles vão nos matar.
- Eu tenho uma ótima notícia pra null, e o null não consegue ficar nem um dia brigado com ninguém.
- Notícia? Que notícia? – ele perguntou, curioso.
- Vai me ajudar? – ele assentiu.
- Vamos trancá-los na sala. Eles estão sozinhos agora.
- A null vai ver, pensei em esperar ela dormir...
- A poltrona fica de costas para a porta. Ela não vai ver...
null e null voltaram até a sala de estar, em silêncio. Ele pegou a chave e fechou a porta devagar. E em seguida a trancou.
- Acho que a null dormiu – null sussurrou.
- , QUE DROGA VOCÊ ESTÁ FAZENDO? ABRE ESSA PORTA AGORA – null gritou. – EU SEI QUE FOI VOCÊ.
- Espero que essa notícia que você tem pra null seja incrível – null disse rindo.
- EU ESCUTEI O TRINCO DA PORTA, E EU SEI QUE VOCÊS DOIS ESTÃO AÍ, ABRE AGORAnull disse brava.
- DROGA, ! ABRE ESSA PORTA AGORAnull berrou.
- O que houve? – null veio correndo.
- null está dando o troco no null – null respondeu.
- E a null acha que prender os dois vai ajudar em alguma coisa no relacionamento deles – null completou.
- Relacionamento? O que eu perdi? – null perguntou, confusa.
- Esquece, null. Volta para o null... – null riu e null deu de ombros e deixou o cômodo.
- Vamos sair daqui – disse null.
Os dois voltaram para a cozinha e se sentaram na bancada. Um de frente para o outro.
- Sabe, eu tô começando a achar que prender os dois vai dar certo... – disse null.
- Eu sou a pessoa das ideias, null – null se gabou.
- Engraçadinha... Qual a notícia que você tem pra null?
- Você é muito curioso – ela riu. – Eu vou deixar a torcida. Vou passar o cargo de capitã pra ela.
- Por quê?
- Eu já te disse uma vez, fazer parte disso sempre foi o que a null quis.
- E por que você vai largar agora?
- Não é bem agora. O clube de teatro anunciou testes de elenco para a nova peça, no próximo semestre. Eu vou voltar.
- Então quer dizer que eu não vou ter mais o privilégio de te ver andando pela escola com aquela roupa minúscula da torcida? – ele perguntou rindo. E ganhou um tapa de null. – Nós já conversamos sobre tapas.
- Enquanto você continuar com essas coisas, vai continuar ganhando tapas.
- Calma, eu tô brincando – ele disse mais sério. – Qual é a peça?
- Quê? – ela perguntou confusa.
- Que menina distraída, meu Deus... Tô falando do teatro, qual peça você vai fazer?
- Ah... Eu não sei. Romeu e Julieta talvez, é bem comum.
- E eu vou ter que ver você beijando algum cara que não sou eu? – null disse sério, fazendo null rir.
- Isso é ciúme? Da sua namorada falsa? – ela perguntou, ainda rindo.
- Falsa? Só você ainda não se tocou que não é minha namorada de verdade – eles se encararam por alguns segundos.
- Hm... Vamos mudar de assunto. Você já... O que você achou de ir ao Cristo? Já conhecia?
- Não, eu nunca tinha ido. Gostei bastante e você?
- Se não fosse o null me irritando com aquela coisa de Barbie seria melhor...
- Posso perguntar uma coisa? – ela assentiu. – Por que Barbie?
- Eu já sabia que você ia perguntar isso...
- Tem alguma coisa a ver com aquela festa?
- Eu já contei para as meninas porque eu não falei nada para o meu pai da chantagem do null...
- Quê? Explica tudo do começo – ele pediu, confuso.
- O null me chantageou pra namorar você, certo? – ele assentiu, rindo. – E disse que se eu não aceitasse, ia contar para os meus pais que eu saí praticamente desmaiada da festa da Agnes.
- Isso aí eu já sabia – ele disse como se fosse óbvio.
- As meninas vieram me perguntar qual o problema de o meu pai saber, e eu contei toda uma história de quando eu era pequena... Não importa.
- Espera? Você inventou uma história pra elas? – null assentiu. – Por quê?
- Não era pra eu te contar nada disso, esquece essa história, null – ela deu de ombros.
- Agora? Eu fiquei curioso – ele riu. – Ok, pode confiar em mim, eu não vou contar pra ninguém.
null pensou por uns minutos e decidiu contar. Aquilo a sufocava desde quando aconteceu.
- Só os meus pais e o null sabem disso. Essa história não pode sair daqui.
- Calma, null, você tá me assustando.
- Tá, desculpa – ela riu. – Isso aconteceu alguns meses antes da festa da null. Eu descobri que o Nathan ia embora do país e fiquei muito mal. Eu só saia de casa pra ir pra escola e eu resolvi ir a um pub com o meu irmão – os olhos de null começaram a marejar. – Eu bebi demais e isso só piorou tudo. Eu peguei o carro e saí dirigindo pra qualquer lugar – ela começou a chorar.
- null, já chega, tá tudo bem. Não precisa me contar mais nada – eles se abraçaram.
- Não... Deixa eu terminar – null respirou fundo e enxugou algumas lágrimas. – Eu comecei a correr demais com o carro e atropelei uma pessoa – ele a encarou, surpreso. – Fala alguma coisa, null.
- O quê? Eu... Eu não sei o que dizer pra falar a verdade – ele soltou uma risada nervosa. – O que aconteceu, com a pessoa?
- Ficou uns meses no hospital, mas já está tudo bem com ele. Esse foi o pior ano da minha vida. Eu não conversava com ninguém e só ficava trancada no quarto. Eu tive que ir ao psicólogo, era muita pressão.
- Eu me lembro dessa época... Eu nunca te via na escola, e quando eu ia à sua casa, você tava sempre no quarto. Eu nunca poderia imaginar que isso tudo tava acontecendo.
- Pois é... Por isso eu não quero que meu pai descubra sobre a festa.
- Tá, mas eu ainda não entendi uma coisa. Por que Barbie?
- Ah, o null ficou super puto porque o meu pai não fez nada comigo e deixou-o um tempo de castigo por me levar àquele lugar. Aí ele sempre me chamava de alguma coisa como mimada ou filhinha de papai... Acabou virando Barbie.
- É por isso que você não gosta do apelido, quando ele te chama assim...
-... Eu me lembro de tudo que aconteceu – ela completou.
- Que história... Você podia ter contado, pra qualquer um de nós, sempre vamos ficar do seu lado, null.
- Obrigado por me ouvir... – ela sorriu. – Agora eu tenho certeza absoluta que posso contar com todos, principalmente com você. Mas naquela época, eu não tinha.
- Vamos mudar de assunto... Você está me devendo uma ida ao cinema – ele riu.
- Semana que vem. Que tal?
- Amanhã. Que tal? – ela riu.
- Ok, vamos amanhã.
- Tá, mas dessa vez nós não vamos chamar ninguém – ele disse sério.
- É, deu tudo errado da outra vez – null bocejou.
- Já tá com sono? Ainda faltam quinze pras onze.
- Eu dormi um pouco tarde ontem... Todo mundo, na verdade. E a null ainda nos acordou cedo.
- Vamos dormir, então – null puxou null pela mão e saiu arrastando-a.
- Espera, vamos ver a null e o null primeiro – ele assentiu.
- Não sei por que a null fez isso comigonull disse chorosa.
- null e null juntos não prestam – disse null. null e null riram.
- A culpa é sua. Por que foi prendê-lo no quarto? – ela alterou o tom de voz.
- Não importa... Me desculpa por isso. A culpa é toda minha mesmo.
- Ainda bem que você reconhece – disse null, ríspida.
- Por que você sempre me trata assim? – ele perguntou, confuso.
- null, vamos subir – disse null. Sabia que aquilo daria confusão.
- Ok – ele assentiu, pensando a mesma coisa que ela. – Você pode dormir no sofá de novo.
- Não acredito que você não vai me ceder a cama dessa vez – ela disse, rindo.
- Nós podemos dividir. É o que eu posso fazer por você...
- Não vou dormir com você – ela rolou os olhos.
- Quanta maldade nessa frase, null... Pensei que a gente já tinha passado dessa fase.
- Você pensou errado.
- E você vai dormir no sofá. Boa noite.
- Boa noite pra você também.



Capítulo 18

- Não dá pra dormir com você, null! Você mexe a noite inteira – null riu.
- Quê? Você é que fica rodando na cama o tempo todo. Da próxima vez eu vou dormir no sofá mesmo.
- Hm... Então vai ter uma próxima vez? – ele sorriu malicioso.
- Ridículo... Não quis dizer isso.
- Eu sei, tô zoando com você – eles riram. – Vamos mesmo ao cinema hoje?
- Claro. Qual filme?
- Pode escolher, mas nada de filme de mulherzinha – ela rolou os olhos. – Quando chegarmos ao shopping, a gente resolve.
- Meus pais devem estar loucos atrás de mim, seis chamadas perdidas – null mexia em seu celular.
- Você não avisou que ia dormir fora?
- Não. Deixei para o null avisar... Ai meu Deus, null!
- Que foi? – ele perguntou, confuso.
- null e null trancados lá em baixo.
- Calma, eles estão dormindo.
- Como sabe?
- Eu não sei, mas se eles tivessem acordados eles já teriam dado algum sinal de vida.
- Acho melhor eu descer pra ver...
- null – null a chamou, ela virou o rosto em sua direção. – Calma, eles estão bem. Não é melhor ligar pra sua casa primeiro e avisar onde está?
- Sinceramente, não – ela riu. – Se meu pai descobre que eu estou aqui com você, estou ferrada.
- Não. Pra ele nós estamos namorando, esqueceu?
- E qual a regra número um do meu pai? Não posso dormir com o namorado até ser maior de idade – eles gargalharam.
- Mas eu não sou seu namorado! – ele exclamou.
- Agora não é? – ela ainda ria. – Enfim, eles sabem que estou com null, então tá tudo bem. Na verdade, o null não tá tão bem... Mas isso não vem ao caso.
- Vamos ver o que null e null estão aprontando e depois nós soltamos os dois, que tal?
- Soltamos? Estou me sentindo muito mal com isso. Eles viraram prisioneiros agora?
- A ideia foi sua – ele riu.
Os dois deixaram o quarto e desceram as escadas devagar indo até a cozinha.
- Na verdade, a ideia foi do meu irmão. Eu só aprimorei.
- Isso é coisa de família.
- Sabe, tô me lembrando de uma coisa aqui... null ia sair com o Rafael ontem.
- Ah é, o null ficou arrasado – null o encarou.
- Jura? – ele assentiu. – Estou me sentindo mal por ele, mas ao mesmo tempo estou feliz pela null.
- Onde será que aqueles dois estão? – null perguntou, se referindo a null e null.
- Já que nós trancamos a sala... Quarto de hóspedes, talvez?
- Isso, eu vou olhar lá em cima e você destranca os dois.
- O quê? – ela riu. – Não. Você vai comigo, depois nós procuramos aqueles dois.
- Onde está a chave?
- Na porta, eu deixei lá mesmo.
- Já sabe o que vai falar com a null.
- Sei, e você? Já sabe o que vai falar com o meu irmão?
- Não tenho muita coisa pra falar com ele. Vamos logo.
null e null pararam em frente à sala. Ele girou a chave e empurrou a porta.
- Eu disse que eles estavam dormindo – disse null, convencido.
null riu baixinho. Não esperava encontrar null e null dormindo abraçados, dividindo um sofá.
- Ok, nem uma palavra sobre isso pra eles não se sentirem constrangidos – disse null.
null encostou a porta e tirou a chave.
- Eles vão acordar, ver que a porta está aberta e vai ficar tudo bem – ela continuou.
- Vamos achar alguma coisa pra comer – ele encerrou o assunto. Eles voltaram à cozinha.
- O que você come quando seus pais não estão em casa? – ela perguntou, curiosa.
- Coisas que já vêm prontas... Vamos mudar de assunto, qual vai ser a cor do seu vestido do baile?
- Você já me perguntou isso – ela rolou os olhos. – Eu ainda não sei, não escolhi.
- Não era isso que eu queria perguntar, na verdade... Aquele dia, no aniversário da sua mãe... Hm, você, contou pra alguém?
- Eu converso tudo com as meninas, não dei detalhes, eu não me sinto bem escondendo as coisas delas. Algum problema?
- Não... Eu até contaria também, mas conversar essas coisas com o seu irmão é estranho.
null riu.
- Sabe, acho mesmo que a gente precisava conversar sobre isso. Significou alguma coisa pra você?
- Não sei... E pra você?
- Também não sei... Quer saber, deixa isso pra lá, eu estou com fome – ele assentiu, aliviado.
- Tem cereal, bolo, e você pode fazer café, se quiser – ele disse abrindo o armário. Abriu a geladeira em seguir – Suco de uva e leite também.
- Eu quero suco – ele pegou a caixa e a entregou. null pegou um copo na pia e se serviu. – Que horas nós vamos sair?
- De tarde, que tal? Nós podemos ver dois filmes.
- Adorei a ideia – ela sorriu. Ele sorriu de volta. Eles se se sentaram à mesa, um ao lado do outro. – Você acha que a null vai querer ser capitã?
- Eu acho que sim, é bem a cara dela essas coisas.
- Está dizendo que isso não combina comigo? – ela riu.
- Combina sim. Acho que você não deveria sair da equipe, eu gosto do seu uniforme.
- O que aconteceu enquanto dormia? Você está mais idiota que o normal – ele gargalhou.
- Acho que você vai se sai bem como atriz, eu já vi você atuando, sabe, quando nós começamos com tudo. Você é boa.
- Você não viu nada – ela riu. – Não estava atuando quando estava com você. Quando tinha mais gente perto sim, quando estávamos sozinhos, não.
- Quando foi? – ela o encarou, confusa. – Que a gente passou de dois estranhos com um acordo idiota para dois amigos...?
- Dois amigos, que se beijaram – ela deu de ombros. – Não sei, mas eu gosto disso, null. Você é uma boa companhia.
- Eu digo o mesmo sobre você, null. É a minha primeira amiga.
- Você também é o meu primeiro amigo, tirando o meu irmão, ele não conta.
- Não conto? – a voz de null ecoou pelo ambiente. – Por que, Barbie?
- Não me chama assim, que droga – null resmungou.
- null! Eu quero muito falar com você – null apareceu atrás de null.
- null! Tenho uma ótima notícia – null disparou. – Você é a nova capitã das cheers, parabéns!
- O quê? – null perguntou, confusa.
- Isso mesmo que você ouviu, o cargo é seu – null sorriu.
- Espera... Você está desistindo da torcida? O que... Por quê?
- Esse tempo todo, era pra você ter conseguido isso, não eu. Eu me divirto muito, mas é o que você quer. Vou voltar para o teatro.
- Mas você pode fazer as duas coisas, null. Vai se arrepender.
- Não, eu não vou. E eu já tentei fazer as duas coisas. Você quer?
- E tem como eu falar não pra isso? – null se aproximou. null se levantou e as duas se abraçaram. – Você é ótima, amiga.
- Eu sabia que isso ia te deixar feliz.
- Sim, estou muito feliz e você está sendo ótima, mas não pense que eu esqueci o que você e o null aprontaram.
- null não – ele reclamou.
- Te chamar de null comparado com o que você fez não é nada!
- Isso é a campainha? – null interrompeu. null assentiu e deixou o cômodo. Voltou alguns segundos depois com null em seu encalço. – null? O que tá fazendo aqui?
- Bom dia, null – ela rolou os olhos. – Bom dia, gente.
- Nossa, que bom humor – null comentou.
- Como sabia que a gente ainda estava aqui? – null perguntou.
- Liguei pro celular de vocês duas e ninguém atendeu, e então liguei pra null.
- Falando de mim? Espero que seja bem – null apareceu atrás de null. – Nós precisamos conversar, null.
- É, eu também acho – disse null.
- Já vi que eu e null vamos sobrar nessa conversa – disse null. – Onde está o null?
- Dormindo – null respondeu.
- Então, vão acordá-lo e depois desçam para tomar café – null sugeriu e os meninos assentiram, deixando a cozinha.
- E aí, como foi com o Rafael? – null foi a primeira a perguntar.
- Três sílabas, PER-FEI-TO! – null sorriu.
- Isso é tão estranho – disse null. – É como se tudo voltasse e a null estivesse falando do null.
- Falando em null e null... – null começou. – Eu vi uma coisa!
- Você não viu nada! – null afirmou. – Ignore e prossiga, null.
- Hm... Ok – null assentiu. – Enfim, Rafael foi um fofo comigo. Jantamos e ele me levou em casa e depois me beijou. Umas três vezes.
- null! – null a repreendeu. – O que eu disse pra você?
- null pensa, ele só vai ficar aqui durante o feriado, se eles não se pegassem agora, depois não ia ter como – disse null.
- null tem razão – null comentou.
- Putz, não tinha pensado nisso, null tem mesmo razão – disse null, uns segundos depois.
- Quer dizer então... – null sorriu. – Que você e o...
- Nem continua, null. Eu e o null, não vai rolar – null afirmou.
- Depois que a null virou amiguinha do null tá arrastando muita asa pra esses dois – disse null.
- Meu Deus, null. Quem ainda fala assim? – null riu. – Falar shippar não é mais fácil?
- Mas não acho que você devia dizer isso com tanta certeza, null – null continuou. – Não tá vendo o que aconteceu comigo e o null? Eu tinha certeza que nada poderia acontecer entre nós.
- E o que aconteceu entre vocês, exatamente? – null sorriu.
- Nada, só estou dizendo que somos amigos agora.
- Ah sim, amigos – null gargalhou e as outras a acompanharam.
- Tá, chega de falar de homem, quando nós vamos escolher os vestidos do baile? Só faltam duas semanas – perguntou null.
- Segunda-feira, que tal? – null sugeriu. – Shopping ou centro?
- Shopping, estou pensando, é bobeira alugar vestidos. Podemos comprar e usar depois – disse null.
- null falando em shopping e em comprar roupa. Essa é nova pra mim – disse null.
- É a magia dos null, baby – null piscou.
- E foi bem assim que aconteceu – elas escutaram a voz de null se aproximando.
- Tá, mas o que nós vamos fazer hoje? – perguntou null.
- null? O que tá fazendo aqui? – perguntou null.
- Oi null, como vai? – ele riu. – Bem essa é a casa do meu amigo null e eu estou fazendo uma visita pra ele.
- Não escutamos você chegar – disse null.
- Eu não quis fazer barulho. Meu plano era acordar vocês...
- Você é um ótimo amigo – disse null.
- Eu sei, querida – ele riu. – Como você está?
- Estou bem, querido. O que fez ontem à noite?
- Coisas... E vocês, o que fizeram?
- Aprontaram – disse null. – Eu acabei trancada na sala.
- E então, o que vamos fazer hoje? – null mudou de assunto.
- Vamos lá pra casa, sol, piscina – disse null. – O que acham?
- Ótima ideia, null – disse null. – Vamos null?
Ele assentiu, fazendo null rir baixo.
- null – null a chamou. – Vem aqui, por favor.
- O que foi? – ela perguntou, confusa.
- Ainda vamos sair hoje, né?
- Claro – ela sorriu. – É cedo, nós podemos aproveitar bem o dia.
- E então, vamos? – null perguntou.

***


- Vamos ouvir música? Onde está o seu rádio? – null perguntou a null.
null e null eram as únicas que ainda não haviam entrado na piscina.
- Está na varanda, eu já volto – null entrou em casa e voltou alguns segundos depois com um rádio e vários CDs em mãos. – Música?
- Eu quero Maroon 5, como eu amo esses caras – disse null.
- Imagina eles invadindo seu casamento e cantando Sugar – disse null, rindo.
- Como aquele Adam Levine é gostoso – null arrastou a voz.
- Hmm... – null resmungou.
- Cof, ciúme, cof – null riu.
- Não precisa ficar com ciúme, amor – null deu um beijo na bochecha de null.
- Amor? Estão evoluindo – null comentou.
- null sempre me chamou de amor pra zoar comigo... – null deu de ombros.
- E você falou zoando agora? – null arqueou a sobrancelha. null assentiu.
- Fala sério, quando vocês dois vão assumir que tão se pegando escondido? – null perguntou. – Até eu percebi, gente...
- Quê? – null gargalhou. – O que vocês tão bebendo? É suco mesmo?
- Para, null – disse null. – Qual é o problema em dizer a verdade?
Ela não respondeu. null continuou.
- E se for mesmo verdade... E daí? Ninguém tem nada a ver com isso. Mas nós somos amigos, poxa. Se um continuar mentindo para o outro, a confiança acaba e a amizade também – ela completou.
- null tem razão, null – disse null.
- Sério? E você também achava isso quando começou a namorar o null e vocês não contaram pra ninguém? Pra ser sincera, null, aquele dia na casa da Agnes quando eu descobri tudo eu fiquei feliz, muito. Mas ao mesmo tempo me senti traída. Você é minha melhor amiga, era realmente necessário esconder tudo?
- null! – null a repreendeu. – Eu não concordo, muito menos discordo do que null disse, mas você está sendo cruel. Não é porque nós somos amigos que não temos direito de ter segredos também. Assim como null quis manter segredo com null, eu sei lá, posso querer dividir um segredo apenas com você, por exemplo, e não contar pra mais ninguém. Porém, também sei que segredos não nos mantém unidos, pelo contrário, só vai nos afastando.
- Está escutando o que está dizendo, null? É a minha vida, se eu quiser namorar com aquele pôster colado na minha parede e não falar pra ninguém vocês não tem nada com isso.
- Seria engraçado ver a null namorar um pôster – null começou a rir. null o repreendeu com o olhar e ele parou.
- Eu não vou ficar discutindo isso com você, null. É perda de tempo – disse null.
- Faço das tuas palavras as minhas, null – null saiu da piscina, colocou seu vestido e entrou na casa.
- É sério que vocês vão brigar por isso? – perguntou null. – Não era nada disso que quis dizer...
- Deixa, null. Daqui a pouco elas resolvem isso – null afirmou.
- Duvido muito... – null bufou.
Dito isso, ela também os deixou, entrando em casa.
- Logo hoje... Que null conseguiu ser capitã – disse null.
- Isso é verdade? – null encarou null. – Você e minha irmã...
- É verdade.
- Como? – ele balançava a cabeça. Incrédulo.
- Sei lá...
- Não sabia que ia dar nisso...
- Cara, calma, você me conhece.
- É por isso mesmo que eu não queria que acontecesse... Podia ter me contado.
- Você também? – null riu. – Não quero brigar com você, null. Nossa amizade não tem nada a ver com a null.
- Meninos... Nós vamos embora – null interrompeu a conversa.
- Nós quem? – null perguntou.
- Eu e null... Até amanhã.
- Por quê? – null perguntou.
- Não tem clima mais – disse null. – Vocês também deveriam ir.
Eles se entreolharam e por fim, saíram da piscina e seguiram as meninas.

***


null's POV


Fala sério, qual é o problema da null? Sempre foi assim, contamos as coisas umas para as outras, mas somente o necessário. Com a história do bebê foi assim, só ficamos sabendo meses depois. E ainda assim, achei muito mal contado. Até com a coisa da festa da null, até o mês passado eu ainda não sabia de nada. É engraçado, em um minuto você está bem, e no seguinte uma bomba explode na sua cabeça.
Uma buzina me despertou. Olhei para trás e vi o carro de null andando bem devagar. Parei de andar e comecei a rir.
- O que está fazendo aqui? – eu perguntei, colocando minha cabeça na janela.
- Depois que vocês brigaram todo mundo foi embora. Quer carona?
- Claro – abri a porta e entrei no carro. – Me desculpe, estou toda molhada.
- Tudo bem... Eu vim por esse caminho porque sabia que ia encontrar você aqui.
- Já está com saudades de mim, null? – ela riu. – Nós podemos sair agora, o que acha? Eu só preciso passar em casa antes.
- Sim. Eu deixo você em casa e depois nós vamos.
null deu partida no carro e em menos de cinco minutos nós chegamos. Deixamos o carro e entramos em casa.
- Meu pai está em casa, acho melhor você subir comigo – eu disse baixo. null assentiu e me seguiu até o andar de cima. – Vou tomar um banho bem rápido. Você pode me esperar no meu quarto, ou no do null se preferir.
- Vou esperar no seu quarto – ele riu.
- Eu já imaginava – abri a porta e dei graças a Deus por não ter deixado nada fora do lugar. Não que eu fosse bagunceira, mas esses dias eu quase não parei em casa. – Senta aí, eu já volto.
Separei uma roupa e um sapato e fui em direção ao banheiro. Antes de trancar a porta, vi null mexendo no meu mural de fotos.
Como disse a ele, eu não demorei nem quinze minutos para tomar banho e me trocar. Saí do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça e ele começou a rir.
- O que foi agora? – eu perguntei, com cara de tédio.
- É que você tá muito engraçada assim – rolei os olhos. – Uma roupa toda chique e toalha na cabeça.
- Me poupe, null – eu ri. Ele odiava ser chamado assim.
- null não – ele bufou.
- Se não gosta do seu nome, por que não muda? – perguntei simplesmente. Tirei a toalha da cabeça.
- Porque não é assim que as coisas são. Quando você não gosta de uma coisa você a substitui?
- Eu tento... Ok, estou brincando. Ou talvez não esteja, você não vai querer descobrir – eu ri.
- Você não vai querer substituir o seu namorado – ele disse como se fosse óbvio.
- Nós não somos namorados...
- Somos amigos, estamos sempre juntos, e a gente até sai junto. Você já dormiu na minha casa e nos beijamos mais de uma vez. O que falta?
- Não sei... Amor? – eu perguntei irônica. Nunca tinha parado para pensar nisso. Éramos praticamente namorados. – Ou um pedido oficial? – eu disse mais baixo.
- Realmente? Você não me ama? – ele riu.
- Mas que droga de pergunta é essa agora?
- Não sei, essas coisas passam pela minha cabeça – ele foi sincero, pude perceber. – Não passam pela sua?
- Eu... Não – ele me encarou. – Passam também.
- Vamos sair? – sua expressão mudou. Ele encerra o assunto assim? Dei de ombros.
- Vamos... – peguei uma bolsa dentro do guarda roupa e coloquei meu celular e carteira dentro.

***


Estávamos andando há quase meia hora. Odeio vir ao shopping em feriado ou fim de semana, muita gente.
- Vamos comer? – eu perguntei. Só então percebi que havia apenas tomado café da manhã.
- A gente pode comer agora ou esperar o filme e comprar pipoca, o que prefere? – null estava sendo atencioso. Eu nunca vou entendê-lo, há menos de uma hora estávamos discutindo.
- Pipoca. Falta pouco tempo para o filme. Você também?
- Pra mim, tanto faz – ele deu de ombros. – Espero que você se acerte com a null.
Eu não estava me lembrando de null até ele citá-la. Eu tinha me esquecido completamente da briga feia que tive com a minha melhor amiga há algumas horas. Qual é o meu problema? null? Ou o que eu sinto por ele? Na verdade, o que eu realmente sinto por ele? Muito, muito obrigado null por plantas essas dúvidas na minha cabeça.
- Sério, não sei por que a null tinha que se meter. Ela já sabe da história toda mesmo.
- Que história toda? – ele riu. Dei de ombros. null sabia muito mais que null, eu não podia vacilar, se não, acabaria falando besteira. – Você não acha melhor contar logo?
- É ai que tá, null. Não tem nada pra contar. Eu quero contar quando eu tiver alguma coisa pra contar. Fora que todo mundo já sabe agora, meio picado, mas sabe.
Eu não ia simplesmente chegar para os meus amigos e dizer "null e eu nos beijamos. Mais de uma vez". É diferente de você ter uma notícia completa como "Estamos namorando" ou "Eu ganhei um cachorro". Essa última notícia não tem nada a ver com o assunto, mas mesmo assim, seria algo completo.
- null, olha pra mim – parei e fiz o que ele pediu. Péssima ideia. Encarei seus olhos, olhando profundamente para mim como se pudesse me ler e saber tudo o que eu estou pensando e sentindo. – Você se arrependeu?
- null, você está me perguntando coisas sem sentindo nenhum. É sério, o que deu em você hoje? – ele continuou me encarando e então bufou. – Não, eu não me arrependi.
- O que deu em mim? – ele riu. – Que tal: você. Isso responde sua pergunta? – eu balancei a cabeça e ele continuou rindo. – Sabe qual é o seu problema, null? Você é muito indecisa, você não sabe o que quer.
- De onde surgiu esse assunto, null? – rolei os olhos. – Agora não é a hora de conversar nada disso.
- Você sabe que tudo o que eu estou falando é verdade.
- E você sabe que nós estamos em público e eu não quero falar nada agora – lancei o sorriso mais falso que consegui.
- Ok, vamos esquecer isso. Por agora – ele disse a última parte mais alto. – Vamos conversar depois tá, null?
- Tá, null.
- null, por favor.
- Tá, null por favor – eu ri.
- Engraçadinha – disse ele. – Vamos comprar logo essa pipoca, estou com fome.
- Eu não entendo você, sério.
- Digo o mesmo – ele sorriu.

***


- Para onde nós vamos agora? – null me perguntou.
Já estávamos em seu carro, a caminho de sei lá onde. Depois de dois filmes e quase seis horas na rua eu só queria ir embora. Mas eu não sabia para que lugar, exatamente. Estava evitando os meus pais o máximo que podia, eu tinha certeza que assim que ficássemos sozinhos no mesmo cômodo, alguma merda ia acontecer. Ir para casa de null estava fora de cogitação. null devia estar com null e eu não iria para casa de null. Sinceramente, o pai dela me dá medo. Ainda me restava null, ele era uma boa opção.
- Sem lugar pra ir? – ele continuou. – Aposto que você está pensando agora em um lugar para ficar que não seja sua casa, nem de nenhuma das meninas.
- Como você faz isso? – eu ri. – É isso mesmo, você acertou.
- Sabe que pode ficar lá em casa – ele me encarou. Sustentei o olhar.
- Não sei se é uma boa ideia, null. Já estou na mira dos meus pais e... – ele me interrompeu.
- Não estou dizendo pra você mentir, mas ninguém vai saber que você vai dormir lá em casa. Você não quer ir pra sua casa, brigou com as meninas e o null não é uma opção...
- E o null? – eu perguntei.
- Acredite em mim, os pais do null são piores que a madrasta da null – null poderia estar mentindo. Mas o que ele ganharia com isso? De acordo com o meu ponto de vista nada, mas do dele... – Minha casa?
- Vamos – dei de ombros.
null já estava na metade do caminho. Sabia que eu ia acabar ficando com ele. Não demorou muito até nós chegarmos. Eu liguei a TV e sentamos no sofá. Ele pegou o controle remoto e ficou mudando de canal. Em seguida, me puxou pela mão e nós subimos umas três escadas, até chegar ao terraço. A casa de null era bem alta, eu podia ver uma boa parte da cidade.
- Você gosta de dormir aqui? – eu perguntei, me referindo ao colchão de ar, escorado na parede. Observei o lugar e pude ver algumas mesinhas, vários pufes espalhados e um sofá velho, parecido com o que tinha no porão. Isso deveria dar trabalho em dia de chuva.
- Eu e os outros caras gostamos de acampar aqui, é bem legal – ele se sentou no sofá. Sentei-me ao seu lado. – O null nunca te contou?
- null quase não fala sobre você, ou os outros meninos. Eu também não falo das minhas amigas com ele – ri. Observei o céu, muitas estrelas. – Essa noite está linda.
null deu de ombros.
- Podemos acampar aqui, quando quiser... – ele riu.
- Eu passo tanto tempo aqui na sua casa, que da próxima vez vou trazer umas roupas – eu comentei.
- Eu sempre te empresto roupa quando você vem aqui – ele disse, num tom ofendido que eu sabia que era falso.
- Eu estou cansada de usar aquela camisa dos Simpsons – ri. Era verdade.
- Eu tenho mais camisas... Eu gosto de ver você usando as minhas camisas. É sexy.
- Não sei onde – rolei os olhos.
- Vem aqui – ele me chamou pra mais perto. Eu deitei minha cabeça em seu colo e null ficou brincando com o meu cabelo.
Ele não desviou os olhos dos meus nem por um segundo sequer. Ficamos um tempo nos encarando e eu pude observar cada traço de seu rosto, suas feições, e guardar tudo na minha cabeça. Droga, como ele é lindo. Em menos de um minuto pensei em todos os momentos que estivemos sozinhos durante as últimas semanas. null sempre me chamou atenção, não sei dizer o porquê. E quando ele me veio com aquela história de acordo a única coisa que eu queria dele era distância. Agora, eu não consigo me imaginar sem ele. Ele faz parte da minha vida, assim como os meus amigos, mas de uma maneira muito mais especial. E isso era tudo o que eu precisava saber. Precisava dessa certeza.
Em um impulso, me sentei de novo, ele ficou surpreso com o meu ato, mas sorriu em seguida. Levei minhas mãos ao seu rosto, passei os meus dedos de leve por toda sua face. Ele ainda continuava me encarando. Diminui o espaço entre nós e colei nossas bocas. Fechei os olhos automaticamente. null mordeu meu lábio inferior antes de transformar aquilo em um beijo de verdade. Todas aquelas sensações que eu já estava acostumada a sentir tomaram meu corpo, mas de uma maneira muito mais intensa de que qualquer outra vez.
- Isso vai contra tudo o que aconteceu hoje – disse ele entre o beijo. Sorri.
- Eu não ligo, e você, muito menos.
Senti uma das suas mãos acariciando minha nuca e a outra o meu rosto. Podia sentir minha pele formigar à medida que ele ia descendo uma das mãos até minha cintura.
- Vou poder contar para os caras depois? – ele perguntou.
- Qual é a vantagem nisso? – retruquei.
- Nenhuma, eu só... Não gosto de mentir.
- Me engana que eu gosto.
Eu ri. null ignorou o assunto e continuou me beijando. Impressão minha ou aqui ficou mais quente? Ele apertou minha cintura por baixo da blusa e senti a região se arrepiar com o seu toque. Puxou-me para si e eu sentei em seu colo, com uma perna de cada lado do seu corpo. Sua blusa começou a me incomodar, parti o beijo uns segundos, ele a tirou e a arremessou para algum lugar. Cravei minhas unhas curtas em seu ombro e ele sorriu durante o beijo. Ele me deitou no sofá e ficou por cima de mim. Levantou um pouco minha blusa e... Deus o que está acontecendo aqui?
- null – ele me encarou e se sentou. – Acho melhor a gente parar por aqui – eu disse, ofegante. Ele estava em uma situação muito semelhante a minha.
- Que tal nós termos aquela conversa agora? Eu acho que é uma boa hora – ele disse, alguns minutos depois.
- Você gosta de ser meu amigo? – comecei com uma pergunta simples.
- Gosto, a gente se diverte, não é? – ele sorriu.
- Você não entendeu – eu ri. – Quero saber se você gosta de ser só meu amigo ou se tem mais alguma coisa.
- Não somos só amigos mais. Por que tá perguntando?
- Você me chamou de indecisa hoje e eu preciso saber disso pra acabar com essa indecisão – confuso? Talvez. Mas eu não podia falar mais que isso.
- Eu já entendi tudo. Eu...
- Quer saber, deixa pra lá. Não importa – eu disse, por fim. Pura mentira, é claro que importa.
- Não, importa sim – ele me encarou. – Eu não sei, null. Eu gosto de você.
- Gosta como? – me animei.
- Eu não sei explicar, gosto de ficar com você, quando a gente sai... Gosto quando você dorme aqui também, gosto de te beijar... Mas e você?
- Eu também não sei explicar – eu ri. Podia sentir minhas bochechas queimando. – Sua companhia me faz bem.
- Vem aqui – me aproximei e ele me deu um beijo rápido. Depois, encostei minha cabeça em seu ombro. – Não esquenta a cabeça com isso, null.
- É impossível – ele riu. – Essa conversa só serviu pra me deixar mais confusa.
- Está tudo bem assim. O que você acha?
O que responder? Estava bem com essa situação? Devia dizer a null que eu realmente gosto dele? Isso mudaria alguma coisa? Consigo uma resposta, mas mil dúvidas surgem no lugar. É como em Pretty Little Liars, descobrir quem é -A só me deixou mais confusa. Droga, porque estou pensando nisso agora?
- Acho que você é mais indeciso que eu – respondi por fim. – Está tudo bem assim, null.
- Eu não sou indeciso – ele disse, alterando o tom de voz.
- Não? Você não me deu uma resposta concreta, eu também não posso te dizer nada... Esquece, ok. Está tudo bem assim.
- null, eu... O que você quer que eu diga?
- Apenas preciso ter certeza, porque é um caminho sem volta, null.
- O que você quer que eu diga? – ele repetiu a pergunta.
- O que você realmente sente, sem rodeios.
- Eu gosto de você. Entendeu? Eu realmente gosto de você – ele respondeu, simplesmente.
- Como eu sei que isso não é da boca pra fora? – perguntei, alguns minutos depois. Ainda estava digerindo a informação. – Como eu sei que você não vai mudar de ideia?
Ele ficou em silêncio.
- Acho melhor eu ir embora, null – continuei.
- Não, fica... – ele pediu. – Por favor.
- Eu acho que isso vai ser bom... Pensar um pouco – me levantei e peguei minha bolsa no sofá.
- Deixa eu te levar em casa, então – ele também se levantou.
- Está cedo, eu posso pegar um táxi – sorri. – Minha casa também não é tão longe daqui.
- Já está escuro, é perigoso – ele insistiu.
- Obrigado pela preocupação – dei um beijo em sua bochecha e caminhei até as escadas. Ele continuou parado.
Desci correndo, não queria que ele viesse atrás de mim. Atravessei a sala e saí pela porta. Fui caminhando até minha casa, afinal, a noite ainda continuava linda.

null's POV OFF




Capítulo 19

null chegou a sua casa e foi para o quarto, agradecendo as forças superiores por seus pais não estarem em casa. Mas depois de um tempo, algo chamou sua atenção: onde estava null?
A última vez que vira o irmão foi quando brigou com null. Onde será que ele poderia estar? Com um dos meninos? Era bem possível.
Deitou-se em sua cama e segurou o celular por uns minutos, ponderando se devia ou não ligar para null, null ou null e pedir desculpas pela briga.
Um barulho vindo da janela a tirou do transe. Foi até lá conferir o que era.
- null – ele a chamou. – Está aí?
- null? Ai meu Deus, não acredito que jogou uma pedra na minha janela. E se tivesse quebrado?
- Mas não quebrou – ele rolou os olhos. – Posso conversar com você?
Ela assentiu.
- Já vou descer.
null foi até o andar debaixo e destrancou a porta.
- Posso entrar? – ele perguntou.
Ela deu espaço e em seguida, trancou a porta novamente.
- O que foi? Eu pensei que tinha deixado bem claro o que eu queria, null.
- Não me chama pelo sobrenome – ele riu. – Eu pensei.
- E? – ela se sentou no sofá. Aquela conversa renderia, tinha certeza. Ele se sentou ao seu lado.
- E que eu percebi que eu sinto sim uma coisa por você, não sei o que é, mas sei que é grande. E eu posso ver que é recíproco, e se você estiver disposta a descobrir comigo, eu vou insistir nisso.
- E o que exatamente você quer dizer com isso? – ela perguntou, sorrindo. É claro que estava disposta.
- Eu quero dizer que eu gosto de você sim, null. Não é uma coisa tão grande como se eu fosse pedir você em casamento amanhã, mas é grande o suficiente pra eu saber que o que eu quero é você – ele a encarou. – Isso soa indeciso o bastante pra você?
- Eu não sei o que dizer. Não esperava que fosse acontecer tão rápido – null sorriu.
- Apenas diga sim – null sorriu junto.
- Sim pra que?
- Sim pra nós dois.
- Isso é um pedido de namoro? – ela perguntou, estava um pouco confusa.
- Já somos namorados, tecnicamente, mas não. Ainda. Quem sabe... Podemos trabalhar nisso – ele riu. – O que você acha?
- Perfeito – era verdade. null ainda não se considerava pronta para isso, não com apenas duas semanas dessa aproximação.
Eles se beijaram. Uma. Duas. Três vezes. Até o barulho da porta sendo aberta interromper os dois.
- null? O que está fazendo aqui? – null atravessou a sala.
- Onde você estava? – perguntou null.
null se aproximou da irmã, deu um beijo em sua testa e subiu as escadas. Voltou alguns minutos depois, com outra roupa e com uma jaqueta em mãos.
- Estou saindo. Juízo. E você, null, cuidado com minha irmã.
- Aonde você vai? – null só ficava mais confusa.
- Vou me divertir, não se preocupe, estou em boa companhia. Ah, e eu não volto hoje – ele acenou e simplesmente saiu.
- O que aconteceu aqui? – perguntou null.
- Aquele não é o carro de null? – null arrastou um pouco a cortina para o lado, e abriu a janela. – É sim, é o carro dela.
null se levantou e deu a volta no sofá, olhou pela janela e balançou a cabeça, incrédula.
- O que aqueles dois estão aprontando? – ela perguntou, curiosa.
- Você nem imagina? – ele riu. – Tenho uma proposta pra você: nós dois podemos ir para minha casa e acampar no terraço, o que acha?
- Não sei... Ainda não me convenceu.
- Ou você pode ficar aqui sozinha, já que o seu irmão não volta hoje e suas amigas estão fora do plano. Seus pais também... Não deram nem sinal.
- Ok, já está bom. Vamos – ele continuou rindo. – Você está de carro?
- Sim. Eu ia avisar você que estava vindo, mas o meu celular estava sem bateria. Só vi quando já estava no caminho.
- Não tem problema, eu só vou pegar...
- Não precisa trocar de roupa, já disse que gosto de você com as minhas – ele rolou os olhos.
- Eu ia dizer chaves e celular, mas tudo bem – ela gargalhou.

***


- Você não demorou – exclamou null.
- E então, aonde vamos? – perguntou null.
- Eu não sei, estou aberta a sugestões – ela estava admirando seu reflexo pelo retrovisor.
- O que você faz sábado à noite?
- Geralmente estou com sua irmã. Ou com os seus amigos... – null sorriu. – Já sei onde podemos ir.
null balançou a cabeça, como um sinal para ela continuar a falar.
- Meu primo é melhor amigo de um cara que tem um pub demais no centro. O que acha?
- Vamos... É muito longe daqui?
- Não se preocupa, se a gente beber demais, dormimos por lá – ele assentiu e null deu partida no carro.

***


- É muito legal acampar aqui, você devia ter me contado isso antes – disse null. Ela e null já estavam na casa dele. Haviam subido para o terraço e estirado um colchão no chão. Pegaram algumas almofadas e cobertores e estavam deitados, conversando qualquer coisa.
- Me desculpe, eu realmente pensei que você já sabia – null sorriu. – Você sabe o que tem semana que vem? – ele mudou de assunto.
- Aula? Resultado das provas? – ela chutou.
- Não, tem a ver com escola, mas é uma coisa boa... Nós vamos receber a playlist do baile e fazer uma apresentação para os organizadores.
- Os organizadores são as pessoas do comitê, não é?
- E alguns professores, eu acho – ele completou.
- Sabe quem faz parte do comitê? Aquela nojentinha da Melanie. Deus, como eu odeio aquela menina – null alterou o seu tom de voz. – Não fale com ela.
- Ciúmes, já? – null riu enquanto ela rolava os olhos. Tinha certeza que havia sim uma pontada de ciúmes naquela frase.
- Não é ciúme, idiota, é...
- Chamou de idiota, é ciúme – ele a interrompeu.
- Eu ia dizer preocupação de... Hm, amiga? Não sei muito bem o que sou sua – null riu.

***


- Esse lugar é demais, eu preciso agradecer esse seu primo – disse null.
Os dois estavam sentados num canto do pub lotado. Músicas eletrônicas estouravam as caixas de som. - Ele deve estar aqui, em algum lugar – null riu. – Eu não estou enxergando bem, muitas pessoas, essas luzes...
- Eu acho que você já bebeu o suficiente – ele tirou o copo das mãos dela. – O que você está bebendo? Tem cheiro forte.
- Não sei, foi ele que preparou – null apontou para o barman. – Você devia experimentar.
- Acho melhor não.
- Deixa de ser careta, null – ela riu exageradamente. – Faz quanto tempo que você não toma um porre?
- Eu não sei... Talvez, um ano?
- Um ano? Nós vamos mudar isso agora, bebe – ela indicou o copo em suas mãos.

***


- Não vamos nos preocupar com títulos agora – disse null.
- Você tem razão... Sabe, tem uma coisa que eu quero muito perguntar – null riu. – Você não tem medo de dormir aqui não? Sei lá, aparecer um morcego ou outro bicho.
- A gente nunca chegou a realmente dormir aqui, só uma vez... Nós sempre subimos, comemos alguma coisa, conversamos, cantamos e depois descemos. Não se preocupa, de qualquer jeito, eu nunca deixaria você dormir aqui – ele sorriu e null o acompanhou.
- Preciso admitir, estou muito curiosa pra saber o que null e null estão fazendo.
- Eu aposto que você sabe – ele sorriu, malicioso.
- Não, não faz o estilo de nenhum deles. Por Deus, eles só passaram uma noite juntos, e não aconteceu nada.
- Saudades dos velhos tempos – ele riu do próprio comentário.
- Se eu conheço bem a null, ela deve ter arrastado meu irmão pra um bar, e ela já deve estar bêbada agora, ela sempre bebe demais quando briga com alguém.

***


- Se eu conheço bem a null, ela deve estar pegando o null agora. Ou preocupada com você – disse null. – Aposto na primeira opção.
- Eles não estão se pegando – disse null.
- Aquela ceninha mais cedo não bastou pra você?
- Eu já entendi que está rolando alguma coisa, null, mas não do jeito que você está dizendo.
- null, meu querido, a null não é santa, cola isso na sua cabeça, por favor. E ela já é praticamente uma mulher, e você não é pai dela pra ficar dando opinião.
- Vocês duas não estavam brigadas? – ele perguntou, confuso.
- Estamos, mas nós somos amigas, melhores, besties, e não é por causa de uma briga boba que vou deixar de defendê-la. Mesmo que ela não precise.
- Você está errada, a null não é qualquer uma, ela conhece o null muito bem.
- Fala sério, você quer realmente discutir a relação do null com a null comigo? Se for isso, eu vou embora daqui agora – ela se levantou, mas null segurou seu braço antes que pudesse dar um passo.
- Olha o seu estado, null. Você mal consegue falar – disse ele.
- Sabe o que eu acho? Que você realmente precisa beber e largar do pé da null, anda, bebe – ela o entregou um copo cheio.
- Por Deus, como você é chata – ele pegou o copo e bebeu tudo de uma só vez.
- É assim que se faz, meu querido.

***


- O que nós vamos fazer amanhã? – perguntou null.
- Bem, eu pretendo fazer as pazes com as minhas amigas e você?
- Os meus pais voltam do sítio amanhã, provavelmente vão arranjar algum programa em família, ou coisa assim.
- Você acha que elas vão me desculpar? – ela perguntou, depois de alguns minutos.
- É claro que sim, null. Vocês me parecem muito unidas para uma briga boba atrapalhar.
- E nós somos! Mas eu fui muito cruel, eu não acredito que disse tudo aquilo.
- Você só estava de cabeça quente. Não se preocupa, vai ficar tudo bem, linda.
- Linda? – ela o encarou. – Onde esse null null estava se escondendo esse tempo todo?
- Sabe, acho que deveríamos descer, comer alguma coisa... O que acha? – ele desviou o assunto.
- Acho uma ótima ideia. Nós podemos ver um filme também, o que acha? – ela riu da tentativa falhada de null de fazê-la esquecer o que havia dito.
- Eu tinha certeza que você ia sugerir isso.

***


- Acho que nós podíamos ir embora – disse null.
- Você acha? Se sairmos daqui assim podemos morrer num acidente – disse null.
- Como você é careta! Ficou assim depois que terminou comigo. Eu sei muito bem o que eu estou fazendo – ela insistiu.
- Como você é irresponsável! Ficou assim depois que terminou comigo – ele retrucou.
- Eu só quero dormir, não me enche, por favor.
- Qual é o seu problema, null? Eu não consigo compreender você.
- Sabe, pensando bem, podíamos fazer outra coisa agora – ela se aproximou dele com um sorriso malicioso. – Vamos lá, eu sei que você também quer.
- Eu quero você sóbria, pra se lembrar de tudo depois – ele riu. – Vamos, eu tenho um amigo que mora aqui perto, podemos ir pra casa dele.
- Você é muito sem graça – ela arrastou a voz. – Não gosta mais de mim.
- Está errada – null disse mais baixo. – Completamente errada.

***


- Na minha cama ou no sofá? – null perguntou divertido.
- Sofá.
- Pensei que já tínhamos passado dessa fase.
- Não, eu durmo na cama e você no sofá – ela riu e se sentou na cama de null.
- Nada feito. A cama é minha – ele se sentou ao lado dela.
- Por favoooor, null.
- Posso até pensar no seu ca... Não – ele riu. – Vamos lá, qual é o problema em dormir comigo? Eu sei que é muito difícil resistir a mim, mas...
- Nem sei por que perco meu tempo com você.
- Porque você gosta – null se aproximou, segurou o rosto de null com as duas mãos e disse antes de beijá-la. – E nem adianta negar, null.

***


- Mãe, fecha a cortina, por favor – null pediu.
- Acorda, nós temos que ir embora – disse null.
- null? O que você... Que dor de cabeça dos infernos – ela reclamou, colocando o travesseiro no rosto.
- Não se lembra de nada? – ele riu.
- Algumas coisas... Porque está rindo? Não deveria estar de ressaca também? – ela abaixou o travesseiro e o encarou.
- Eu não sou tão fraco assim, e nem bebi muito – ele deu de ombros.
- Onde estamos? – ela perguntou, confusa.
- Fala sério, você não tem mesmo noção das consequências das coisas que faz, não é? – null balançou a cabeça negativamente.
- Não briga comigo agora, eu estava mal ontem.
- Isso não justifica nada.
- Que droga, null – ela alterou o tom de voz. – Vamos embora... Pode me deixar em casa?
- Vamos logo.

***


- Bom dia – disse null.
- Boa tarde, na verdade. Já passou de meio dia.
- Em fim de semana meu dia só começa depois de uma da tarde.
- Mas o meu não, e os meus pais já devem estar em casa, droga, queria chegar antes deles.
- Vamos comer alguma coisa e eu te levo em casa – ele sugeriu.
- Sim, eu só vou trocar de roupa e...
- Não, está ótimo assim – ele sorriu.
- Não é nada ótimo eu circulando pela casa vestida com uma camisa gigante com estampa do... – ela encarou a blusa. – Capitão América.
- É ótimo sim, eu tenho uma boa visão das suas pernas e... – ele foi interrompido por um soco em seu braço. – Estamos evoluindo, de tapas a socos.
- Você é ridículo – ela rolou os olhos. – Vamos descer logo.
- Eu estava brincando, null – ele disse rindo, enquanto descia as escadas.
- Filho? É você? Escutei alguém rindo – a mãe de null gritou da cozinha.
- Quem mais seria? – ele foi correndo até lá, com null em seu encalço.
- Oh, vejo que null está aqui também. Tudo bem, querida?
- Sim e com a senhora? – a garota sorriu.
- Senhora não, por favor – ela soltou uma risada baixa – Não sabia que tinha dormido aqui.
- Mãe... – null começou.
- Fique quieto, null. Estou conversando com ela.
- Vocês não iam chegar de noite? – ele ignorou o comentário anterior.
- Sim, porém, nós adiamos a chegada porque estávamos com saudades de você, de casa. Não gosto de te deixar muito tempo sozinho, filho.
- Ah, entendi tudo. Vocês não confiam em mim pra me deixar um fim de semana sozinho...
- Não é nada disso! Você sabe muito bem.
- Tudo bem, mamãe, estou brincando com você – ele riu e em seguida a abraçou. – Estava com saudades da sua comida.
- Vê se eu aguento isso, null – ela riu. – Mas é um pentelho mesmo.
- Acho que já está na hora de eu ir, não é? Meus pais já devem estar de volta também – disse null.
- Não, fica mais – null pediu.
- Já estou muito tempo fora de casa, não acha? – ele balançou a cabeça. – Eu acho.
- Eu levo você então – ele ofereceu.
- Não precisa se preocupar, ok? Só vou me trocar e já vou.
- Ok, eu te ligo mais tarde – ele colou os lábios aos dela num selinho rápido.
- Ah! O amor jovem – disse a mãe de null, rindo em seguida.

***


- null? É você, filha?
- Oi mãe, chegou cedo.
- Cedo? Já é quase uma da tarde, amor. Onde você estava?
- Estava com...
- Nem adianta dizer null, maninha – disse null.
- O que está fazendo aqui? – perguntou null.
- Que pergunta! Eu moro aqui, null. Onde está com a cabeça? – ele riu.
- Mas é cedo. E você saiu tarde – disse ela.
- E pelo visto você também.
- Não é cedo – a mãe deles interviu. – Onde vocês estavam, alguém pode me dizer?
- Esse assunto também me interessa. Muito – o Sr. null entrou na cozinha.
- Eu estava com a null – disse null. – E null com o null. Isso não é óbvio?
- Você e a null voltaram? – perguntou null.
- Não é pra tanto. Somos amigos.
- Desde quando você é "amigo" – null fez aspas com os dedos. – Da minha melhor amiga?
- Desde quando você é "amiga" do meu melhor amigo – ele imitou o gesto da irmã.
- Por que vocês nos confundem tanto? – a Sra. null riu.
- Me desculpa, mãe, mas eu também estou confusa aqui.
- Vamos nos entender, então? null dormiu na casa de null, certo? – o pai deles perguntou. null assentiu.
- Não foi exatamente na casa dela...
- Não precisa entrar em detalhes, filho – ele riu. – E você, null, dormiu na casa de null?
- Sim.
- O que eu falei pra você? – ele alterou o tom de voz. – Não acha que tem passado muito tempo na casa desse garoto não?
- É claro que tenho passado, ele é meu namorado – ela respondeu impaciente. – Com o null é "não precisa de detalhe", risadinhas e pra mim essa cara feia? Qual a diferença?
- A diferença é que o seu irmão é maior de idade, e olha que engraçado, null também é.
- Não sei por que eu ainda tento conversar sobre isso com você... Confiança é bom, sabia?
- Não vamos entrar nesse assunto de novo.
- É, não vamos. Pode continuar pensando o que quiser, eu sei muito bem o que eu faço – ela completou.
- É melhor que esteja com alguém que seja próximo de nós, eu só quero que pense bem no que está fazendo.
- É tão difícil assim ficar feliz por mim? – ela perguntou, dramática. Em seguida deixou o cômodo, indo direto ao seu quarto.

***


- null null, o que foi isso? – ela perguntou, assim que null deixou a casa.
- Explique-se mãe, eu não entendi nada.
- Explique-se você, garoto. Como vocês estavam vestidos...
- Você está blefando. Não aconteceu nada aqui.
- Me respeite. Eu quero que saiba que eu não aprovo esse relacionamento. Onde já se viu, não tem nem um mês que estão juntos e ela já dormiu aqui. No meu tempo...
- No seu tempo as coisas eram diferentes, por favor, não compare a null com você.
- Não me interrompa mais, ouviu bem?
- Porque você não aprova? Ela já te fez alguma coisa?
- Eu não tenho que dar satisfações a você. É exatamente ao contrário.
- Talvez, se parece de pegar no meu pé, eu até teria uma mínima vontade de dividir minha vida com você.

***


- "Oi, você ligou pra mim, null, mas você já sabia disso, não posso atender agora, mas deixe um recado".
- "null falando... Mentira, é a minha voz. Agora, eu mesma não posso falar".
- Droga – null disse a si mesma. Não queria ligar para null, não agora.
Pegou o celular novamente e discou os tão conhecidos números.
- Alô – ela respondeu.
- null?
- Acho que sim, você ligou para o meu telefone... O que você quer? Eu não vi quem era antes de atender.
- Falar com você, acho que se eu liguei é porque quero conversar.
- Engraçadinha – ela soltou uma risada irônica. – Diz logo, estou ocupada.
- Posso passar aí?
- Não pode falar por aqui não?
- null, estou tentando fazer as pazes, mas você não quer ajudar.
- Tudo bem, null. Pode vir, mas não demore.

***


- Estou aqui, e não demorei nem vinte minutos.
- Parabéns – disse null, desanimada.
- Antes de tudo, quero pedir desculpas a você, de verdade, não sabia que aquela história ia te chatear tanto, já que você sabia uma parte.
- Não é questão de me chatear, eu só... Eu te desculpo sim, null.
- Ok, isso foi da boca pra fora. Posso ver nos seus olhos, me conta null, o que está acontecendo?
- Não quero... Você vai me odiar se eu contar.
- O que? Não diga um absurdo desses, eu nunca te odiaria.
- Ok, mas a história é grande.
- Não tem problema, fico aqui até amanhã se precisar, amiga – ela sorriu.
- Eu tenho que admitir, eu fiquei com inveja de você, null – null riu. – No dia que eu passei a noite trancada com null eu não aguentei e joguei na cara dele tudo o que eu estava sentindo. Muito mais do que eu disse pra você e pras meninas aquela manhã na escola. Eu não sei o que deu na cabeça dele, mas o seu irmão simplesmente me abraçou e disse pra eu esquecer tudo.
"No início do mês, quando eu te emprestei aquele livro eu queria que soubesse como eu estava por dentro, mas de uma maneira indireta, não estava pronta para dividir com ninguém, mas estava me sentindo sufocada por um sentimento que até semana passada, eu acreditava que era inexistente da parte dele. Chega uma hora em que você está realmente cansada, entende? Eu estava cansada de sofrer por uma coisa antiga.
Minha separação com null foi dolorosa, explodiu tudo de uma só vez na minha cabeça, foi muito pra mim, porém, você estava ali ao meu lado, pra me apoiar, ele é seu irmão, você poderia ter ficado ao lado dele, mas preferiu honrar nossa amizade. No momento em que eu percebi que estava brigada com você e o seu irmão ali, me oferecendo uma mão, eu não pensei duas vezes antes de aceitar, mas não sabe como eu estou me sentindo mal agora. Era pra eu ter ficado do seu lado e te apoiado. Está entendendo o que quero dizer?"
- Sim, estou – null sentiu seus olhos marejarem, assim como null. – Termine, por favor.
- Ver ele todos os dias e dizer para todos "eu estou bem, não precisa se preocupar", virou rotina, mas não, eu nunca estive realmente bem. Eu quero que saiba que sempre estarei aqui pra apoiar você, antes de qualquer cara, nós seremos amigas primeiro.
- Você fez o que achava certo, e realmente estava certa. Você se colocou em primeiro lugar, e eu nunca vou ficar com raiva de você por isso. Se acha que o meu irmão é o cara certo pra você, é isso que tem que ser.
- Resolvi jogar todo o meu autocontrole para o espaço quando percebi que eu podia sim, ter ele novamente ao meu lado, e posso ser muito feliz assim – ela confessou. – Mas eu não podia ter agido daquele jeito com você.
- Eu estou bem, não estou? – null sorriu.– Você sempre teve e sempre terá meu apoio para ficar com quem quiser. Desde que não seja um serial killer – elas riram. – Não se sinta culpada por pensar em você primeiro, nunca, e nem por não dividir isso comigo antes. Me sinto mal por não ter me preocupado mais com você, é minha melhor amiga, minha irmã.
- Não se sinta mal, não contei isso pra fazer você se sentir culpada e sim porque achei que já tinha passado da hora... Sempre estarei aqui pra ouvir você também, amiga.
- Ah, o que seria de mim sem você, sua pateta?
- Provavelmente, não seríamos nada!
- Ok, sem choro – null riu. – O que acha de chamar as outras patetas e fazer uma soirée especial?
- Adorei a ideia, mas aqui em casa não vai rolar...
- Na minha também não, meu pai está me marcando – ela rolou os olhos.
- Vamos tentar a casa da null, os pais dela nunca param em casa – null sugeriu. – Não, melhor, vamos pra sua casa, null.
- Mas eu acabei de dize...
- Eu sei o que você disse, e se o seu pai está na sua cola, é melhor você ficar por perto.
- Não sei, null – null balançou a cabeça.
- É só a gente não falar muita besteira – ela riu. – Vai ser bom, você vai ver.

***


- null, eu não sabia que ia trazer companhia – disse a Sra. null quando viu null.
- Não se preocupe mãe, null é de casa – null deu de ombros.
- Isso mesmo, tia, parece até que não me conhece mais – ela riu.
- Ah, mas que bobagem, querida, fique a vontade, está com fome?
- Não, obrigada – ela assentiu, pediu licença e deixou a sala. null começou a gargalhar no mesmo instante. – O que foi, sua louca?
- Já sei o que deu na minha mãe... Ela acha que você está namorando o null de novo, por isso está agindo assim.
- Hm... Não sei o que é tão engraçado – disse null, indiferente. – Vamos subir logo, estou começando a ficar constrangida.
- É engraçado porque você não está namorando meu irmão... Ou será que está, e ninguém sabe? – null arqueou a sobrancelha.
- Não. Tá pensando que eu sou a null?
- Eu ouvi o meu nome – null surgiu na sala de estar, seguida por null. As meninas a encararam confusa.
- Sua mãe nos deixou entrar – null explicou.
- Ótimo, só estávamos esperando vocês – disse null. – Vamos subir.

***


- Me desculpem o que vou dizer agora, mas vocês duas são muito masoquistas mesmo – disse null, usando um tom um pouco severo.
null, null e null estavam de pé, encarando os detalhes do quarto de null logo depois da mesma anunciar que estava já cansada da decoração que havia escolhido quando tinha apenas treze anos.
Conversaram sobre tudo, porém, quando o assunto parou nos garotos, ficou mais interessante. null contou sobre sua relação com null e agora era null quem falava.
- Como assim? – perguntou null.
- Quem é que quer uma coisa dessas? Uma situação dessas é pedir pra sofrer, arrumar homem só traz problemas.
- Só está dizendo isso porque a sua coisa com o null não deu certo – null retrucou.
- Não deu porque eu não quis – disse null, dando de ombros. Às vezes sentia que exercia certo poder sobre os garotos, principalmente sobre null.
- Ok, sem briga – null começou. – Aconteceu alguma coisa que a gente não tá sabendo?
- Aconteceu tudo, sabe? – null deu de ombros. – Mas estamos falando da null e da null, não é? Acho que não vai dar certo isso.
- null, do que você está falando? – null repetiu a pergunta de null.
- Meninas, isso não importa. Vamos mudar de assunto.
- Tá bom – null assentiu. – E porque você acha que não vai dar certo?
- Tá, pra você primeiro, null: porque vocês tão tipo numa espécie de amizade colorida e alguém acaba sempre soltando a corda.
- Traduz, null. Soltar a corda não é uma expressão – disse null, fazendo cara de tédio.
- É uma expressão sim... Enfim, quero dizer que alguém sempre vai ser mais fraco e vai acabar se apaixonando primeiro, e tenho noventa por cento de certeza que será você, null.
- Pensando por esse lado, null tem razão – disse null.
- Vocês estão malucas, primeiro que nós não estamos vivendo uma amizade colorida, e segundo que não faz nem um mês que comecei a me aproximar dele.
- E quem disse que tudo isso leva um mês, null? – perguntou null. – Não tem tanto tempo assim, mas olha quanta coisa já aconteceu...
- Posso falar uma coisa? – perguntou null. – Vocês não vão me crucificar? Principalmente você, null.
- Não vou – ela riu.
- Eu acho que null sempre gostou de você, isso foi tudo uma desculpa.
- null já me disse isso...
- Eu não terminei – ela riu. – Dá pra ver o jeito como ele te olha. Ele pode não demonstrar muito bem, talvez nem ele mesmo saiba que sente, mas se preocupa muito com você. Eu reparo muito em tudo isso. Confia em mim, amiga.
- Queridas, vocês estão me deixando mais confusa – disse null.
- Eu não sou sua querida – disse null, rindo. – Você é que é minha bonitinha.
- Tá, você já falou sobre a null, mas porque acha que eu o null... Não vai rolar? – null perguntou.
- Porque ele é imprevisível. Não estava aqui quando a confusão toda aconteceu, mas pelo que sei, ele foi o primeiro a virar a cara pra você. E se acontecer alguma coisa, e ele te deixar de novo?
- Você é muito pessimista, meu Deus – null exclamou.
- Não é questão de ser pessimista, eu só não quero ver vocês mal depois.
- Não foi bem assim que aconteceu, null – disse null. – Ele não virou a cara pra mim, apenas. Nós conversamos, e ele me disse que era muita coisa pra ele e pediu pra terminar. E eu respeitei.
- Eu sabia que quando falasse o que eu penso, vocês viriam com mil argumentos. Só quero que saibam que não estou falando nada disso por mal, só não quero ver vocês tristes.
- Eu concordo com a null, em partes. Mas a decisão é toda de vocês. Nós não podemos prever tudo o que vai acontecer, então... Deixem rolar – null completou.
- Eu acho que já chega desse assunto, hoje é dia das meninas – disse null e elas assentiram. – Nós vamos olhar os vestidos do baile amanhã, sem discussão. Vamos rodar essa cidade inteira, se for preciso.
- Ainda temos bastante tempo, null – disse null, revirando os olhos.
- Nada disso, nós temos duas semanas, é pouquíssimo tempo pra decidir tudo – null insistiu.
- Eu nem tenho um par ainda – ela resmungou.
- Como você mesma disse, não tem porque não quer – disse null, rindo em seguida.
- Então, depois da aula amanhã nós vamos pra sua casa – null apontou para null. – Eu não vou mesmo andar a cidade inteira de uniforme.
- Na verdade... Eu pensei em matar aula – disse null. – Calma, antes de começarem a me xingar, pensem comigo, são muitos lugares pra ir e se esperarmos sair da escola, ir pra minha casa, nos trocar, almoçar e depois irmos, já vai ser tarde.
- Não podemos cabular aula, amanhã vamos receber os resultados das provas – null a lembrou.
- O resultado vai continuar lá até terça feira. Todas nós já fomos aprovadas no semestre, qual o problema?
- No meu caso, o problema é o meu pai – disse null.
- Ele nem vai saber, null... Vamos, gente, só um dia. Nós vamos pra escola, esperamos um tempo na lanchonete lá perto e depois vamos pra minha casa. Meus pais já vão ter ido trabalhar.
- Mas amanhã nós temos treino e eu preciso conversar com a treinadora, esqueceu? – null insistiu.
- Amanhã, mas já? Calma, null. O semestre vai acabar, vamos selecionar outras meninas, dispensar algumas, a mesma coisa vai acontecer com o teatro e antes disso tudo, ainda teremos um mês e meio de férias.
- Vamos logo, null – disse null. – Já estou impaciente.
- Tudo bem, vocês venceram...
- null gritou. – EU POSSO ENTRAR?
- NÃO – ela gritou de volta e recebeu um tapa de null. – É BRINCADEIRA.
null abriu a porta devagar e acenou, logo null, null e null apareceram atrás dele.
- Fala sério, por que sempre quando eu chamo as meninas pra cá, você também traz eles? – null perguntou, rindo.
- Boa noite pra você também, null. Como você está? – null perguntou. – Espero que bem, é muito gentil da sua parte nos receber em sua casa.
- Deixa de ser idiota – ela atirou uma almofada em sua direção. – Pode me explicar agora, brother? Era pra ser uma noite de meninas.
- Eu não tenho nada com isso, minha mãe que mandou – ele deu de ombros.
- Que? – null riu. – Do que está falando?
- Nossa mãe, aquela que está lá embaixo, disse bem assim – ele pigarreou e alterou o tom de voz. – As amigas da null estão aqui, chame os seus amigos que eu vou preparar um jantar.
- Nunca mais faça essa voz – null pediu, rindo.
- Enfim, só vim avisar que a comida está pronta – ele disse e saiu com os outros meninos.
- Fala sério, eu não sei qual o problema da minha mãe – disse null. – Ela sabe bem o que está acontecendo, parece que faz de propósito.
- Ela só quer ser gentil, null – disse null.
- Vamos descer logo, estou com fome – null puxou-as pelo braço, até a escada. – Sem reclamar. E vamos fingir que não passamos metade da nossa tarde falando deles.
As meninas riram. Foram até a cozinha e se sentaram a mesa, sendo seguidas pelo olhar dos outros quatro presentes.
- Faz tempo que não te vejo, null – null começou, puxando assunto.
- Nos vimos ontem – ela riu e ele deu de ombros. – Se é assim, faz tempo que não te vejo, null.
- Ele está muito concentrado na null para te responder – null continuou. null virou o rosto a tempo de ver null e null trocando um beijo rápido.
- Ainda estamos aqui – null acertou uma bolinha feita de guardanapo na cabeça de null. – Vamos falar do baile? Que tal?
- Eu não vou – disse null.
- Que palhaçada, é claro que vai – disse null, autoritário.
- null está muito ansioso pra esse baile – null riu do próprio comentário.
- Porque você não vai, null? – perguntou null.
- Não tô muito afim...
- Sem par também, não tem graça – disse null, pela primeira vez naquela noite.
- É aí que você se engana – disse null. – Eu também não tenho um par e vou me divertir muito.
- Com licença – null pediu. – Preciso atender, é minha mãe.
Ela deixou o cômodo. null sentiu o celular vibrar no bolso e o pegou. Uma nova mensagem. Desbloqueou o aparelho e leu:
"Seja discreta. Nós precisamos juntar null e null, não aguento mais vê-los assim. Precisamos de um plano."
null olhou ao redor, encontrando o olhar de null, que também segurava o celular. null voltou e se sentou novamente, encarando as amigas.
- E então? Já posso servir o jantar? – a Sra. null perguntou, atraindo os olhares.
- Querida – o Sr. null a interrompeu. – Eu preciso conversar com dois, dos oito.
- Não acho que null e null vão se importar em começar depois dos outros – ela sorriu.
- Não me referia a eles. Quer dizer, null sim, mas...
- Não pode esperar o jantar? – perguntou null. Já tinha entendido onde o pai queria chegar e queria o máximo evitar aquilo.
- Vai ser rápido, amor – ele sorriu.
- Vamos logo, null – disse null, confiante. Ela o encarou em pânico.
- Tudo bem – ela disse depois de uns minutos. Sabia que aquilo não daria certo. Os três deixaram a cozinha, indo em direção à sala de estar. – O que quer? – null perguntou quando já estavam sozinhos.



Capítulo 20

- É coisa rápida – o Sr. null começou. – Primeiramente, quero pedir desculpas a você, filha.
- Pelo que, exatamente? – null o encarou, confusa.
- Pelo modo como tenho me portado diante do relacionamento de vocês... Eu nunca quis te prejudicar.
- Tudo bem, pai – ela assentiu. Não estava tudo bem. Havia coisas que precisavam ser ditas, mas null estava presente e ela não queria prolongar aquela conversa. – É isso?
- Não, querida. Quero dizer que eu também estou feliz, de verdade. Faz muito tempo que te conheço, null. Sei que é um bom rapaz. Se for isso mesmo que vocês querem, eu juro que não falo mais nada – ele riu, como se houvesse uma piada que só ele entendesse.
null e null se entreolharam. Não sabiam o que responder.
- Eu... Nós... – null gaguejou.
- null quer dizer que estamos felizes com isso. É importante ter o seu consentimento, já que ela é sua filha. Prometo que não vou magoá-la.
- É... É só isso? – ela perguntou, receosa.
- Sim, vamos jantar agora? – ele fez um gesto com as mãos indicando o caminho da cozinha.
- Nós já vamos, pai – ele assentiu e disse baixo algo como "não demorem" e os deixou a sós. – Prometo que não vou magoá-la? Não tinha nada mais clichê pra dizer?
null apenas riu.
- Ele pareceu gostar do que ouviu. Um ponto pra mim.
- Namorados falsos não ganham ponto com o sogro – null sorriu, maldosa.
- Nós já discutimos isso – ele disse sem graça. – Era isso que queria me dizer?
- Na verdade, não. Precisamos de um plano para juntar null e null até o baile. Pode ajudar?
- Claro – ele sorriu. – Eu tinha certeza que não era o único que não estava mais aguentando aqueles dois.
- Nada que envolva trancá-los em uma sala, ok? – ela riu. – Vamos jantar.

***


- Acordem! – null gritou.
- null, o que você está fazendo? – perguntou null, sonolenta.
- Acordando vocês, oras. Já são seis da manhã e nós temos coisas para fazer hoje.
- Seis da manhã e você já está pronta e com todo esse bom humor? – perguntou null.
- Vamos escolher vestidos hoje, VESTIDOS – null cantarolou.
- Por que não vamos depois do intervalo? Pelo menos não vamos matar aula – null sugeriu.
- Ah, linda, como vamos sair da escola depois? – null rolou os olhos.
- Pulando o muro – disse null, alguns minutos depois.
- O que? – perguntou null.
- É, tem uma árvore num canto mais afastado da escola, perto de um muro mais baixo. Eu já pulei com o null – ela riu. – Nunca contei isso?
- Não me lembro dos detalhes – disse null. – Enfim, podemos fazer isso, então.
- Eu acho melhor, tempo suficiente pra pegarmos os resultados e todo mundo ver a gente, ninguém vai saber que cabulamos aula – null concluiu.
- Com exceção dos meninos – disse null. – Temos sorte de não ter namorados fofoqueiros.
- Mas namorados normalmente dão cobertura – null riu. – Ok, não estou dizendo que eles são nossos namorados.
- Estou confusa – disse null.
- Relaxem, vai dar tudo certo. Vamos nos arrumar – disse null.
- E tomar café – null sorriu.
As garotas começaram a se arrumar e em poucos minutos já estavam prontas. Desceram para tomar o café da manhã, não queriam se atrasar, já que iriam caminhando para a escola.
- Onde estão os meninos? – null perguntou a null.
- Foram embora ontem mesmo – ele riu. – Achou mesmo que todos iam dormir aqui?
- Não pensei nisso, na verdade.
- null já me contou sobre aquilo do null – null disse mais baixo. – Estou dentro.
- Sério? – null o encarou, surpresa.
- Sério e eu tenho uma ideia, mas não sei se vai funcionar.
- Manda para o null, ele é bom em desenvolver ideias.
- Começou – null rolou os olhos. – Mas, você até que tem razão.
- O que tanto sussurram? – null se meteu na conversa.
- Coisa de irmão – null desconversou. – Você vai nos dar carona, já que os meninos não estão aqui?
- Mãe vai trabalhar mais cedo hoje, desculpa, não vai rolar.
- Ah, tudo bem. Acho que já vamos então. Pensa no que eu te falei.
- Tá, eu vou daqui a pouco.
- Podemos ir, então? – perguntou null e as garotas assentiram. – Preciso conversar com você, te vejo depois – ela se aproximou de null e beijou sua bochecha.
- Estou doida pra ver vocês dois juntos de novo – null disse quando já estavam saindo de casa.
- Ai que exagero, null – null riu, sem graça.
- Estou doida pra ver vocês todos deixarem de doce – disse null, impaciente.
- Não comecem, o dia está tão lindo – disse null.
- E parece que vai ficar ainda melhor – null sorriu e passou o celular para null, que passou para null.
- Vocês estão escutando o que eu estou dizendo? – null parou de caminhar e encarou as amigas.
- Claro, o dia está lindo – null concordou.
- E o que eu disse depois? – perguntou null. null deu de ombros. – Estou brincando, eu não disse nada.
- Como você é chata – disse null.
- Espera – null pediu. – Vamos sair no intervalo, certo?
- Sim, por quê? – perguntou null.
- Nada – ela frisou. – Só estou trocando mensagens sem importância com o null.
- O null também já sabe? – perguntou null.
- Sabe o que? – perguntou null.
- Que nós vamos sair da escola... O que mais poderia ser? – null mentiu.
- Alguma coisa não tá se encaixando – disse null, alguns minutos depois.
- O que? – null perguntou. – Você está enganada.
- Tá, não importa mais... Eu preciso contar uma novidade pra vocês.
- Conte, adoro novidades – disse null.
- Minha mãe me ligou ontem... Eu vou visitá-la esse ano! – null soltou alguns gritinhos animados.
- Eu quero um presente do Havaí – disse null.
- Calma, tem mais. Nós ficamos um tempo conversando e eu contei pra ela tudo o que aconteceu nas últimas semanas. Existe uma enorme chance de vocês irem comigo.
- Não, existe uma mínima chance, você errou – disse null.
- Não, eu falei sério.
- Meus pais nunca deixariam...
- Nem os meus – null concordou.
- A mesma coisa comigo – disse null, desanimada.
- Ah, mas estamos falando de possibilidades – null insistiu. – Nem tentamos nada ainda.
- Em que loja vamos primeiro? – null mudou de assunto.
- Eu estou apostando todas as minhas fichas naquela loja perfeita do shopping – disse null.
- Eu espero, não estou a fim de ir ao centro.
- Temos alguma aula juntas hoje? – null perguntou, assim que chegaram ao portão da escola.
- Só artes, antes do intervalo – null respondeu.
- Não, eu não estou mais nessa turma – disse null, triste. – Trocaram praticamente todas as aulas que eu tinha junto com o null.
- Foi depois daquela confusão com o Marcus? – perguntou null.
- Sim. Eu não entendi bem, já que os meus pais não ficaram sabendo. Talvez, os pais dele...
- Eu não acho, os pais dele ficaram bem animados com o namoro de vocês – disse null. – Falando nele...
null se virou, vendo null caminhar até ela com um sorriso no rosto.
- Bom dia – disse ele.
- Bom dia – null sorriu de volta. – Como está?
null se aproximou um pouco mais de null e grudou seus lábios rapidamente, num selinho carinhoso.
- Estou melhor agora.
- Você é muito bobo – ela sorriu, sem graça.
- E você fica linda corada.
- Ainda estamos aqui – null acenou.
- E os meninos estão bem ali – null apontou.
null e null seguiram por onde null havia indicado, deixando null furiosa, mas que acabou por segui-las.
- Eu tenho que admitir, adorei o seu plano – null comentou.
- Simples e prático. Acredito que vai dar certo – ele sorriu. – Quer ir lá pra casa depois da aula? Meus pais vão ficar fora o dia inteiro.
- Não posso – ela riu. – Eu e as meninas vamos matar aula para ir ver os vestidos do baile.
- Não acredito nisso – ele riu. – Temos pouco tempo para executar o meu plano, então.
- É tempo suficiente. Eu fiquei pensando enquanto vinha pra escola.
- O convite pra ir lá pra casa está de pé até sete da noite, se quiser me ligar eu te busco.
- Ok, eu vou pensar no seu caso – ela sorriu.
O sinal indicando o início das aulas soou e os alunos começaram a andar apressadamente até suas respectivas salas.
- Eu tenho que ir, vejo você no intervalo – disse null.
null segurou o rosto de null com as duas mãos e lhe deu um beijo rápido. Eles se distanciaram e cada um foi em direção a sua sala.

***


- Os trabalhos ficaram expostos apenas uma semana e já estão implicando conosco – o professor contou com um semblante triste. – Eu sei que vocês capricharam, mas eu não tenho muito controle disso.
- Aposto que é por causa dos preparativos para o baile – null disse para si mesma, porém, atraindo atenção do professor.
- Acredito que esteja certa, senhorita null. Mas, vai ser um evento legal, nunca tivemos nada assim antes na escola, se animem crianças – ele sorriu dessa vez. – Então, quando o sinal bater, não se esqueçam de recolher seus trabalhos. Se deixarem lá, vou entender que não querem e ai vai direto para o lixo, ok? Estou avisando.
- Já chega de ficar emburrada por que não vai ao baile, não acha? – perguntou null a null.
- Vamos reformular. Já chega de fazer doce e dizer que não vai ao baile, não acha? – null reformulou. – Todos nós sabemos que tanto você, quanto o null vão a esse baile no fim das contas.
- Eu já cansei de discutir com vocês, não sei se ouviram, mas é hora do intervalo e eu estou indo buscar meu trabalho, licença.
null se levantou e saiu, deixando-as sozinhas na sala.
- Ok, primeira parte completa – disse null. – Ela já está bem nervosa e indo buscar aquela coisa que ela chama de trabalho.
- Já mandei a mensagem pra null, agora é a vez dela – disse null.

***


- null, que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? – perguntou null, entrelaçando seu braço no da amiga.
- Sinceramente, aconteceu sim – ela respondeu seca. – Ah, que droga. Onde está?
- O que foi? – null a encarou, confusa.
- Meu trabalho sumiu. Já dei umas cinco voltas nesse lugar, não está aqui.
- Ele deve estar no outro andar, com os trabalhos de outra turma, já olhou lá em cima?
- Ah, foda-se. Eu também não quero mais. Estava ridículo mesmo.
- Não, null – null riu nervosa. O plano estava dando errado. – Como vai saber sua nota se não ir buscar?
- Eu já fui aprovada na etapa, é só subtrair a nota total pela nota da avaliação e das outras atividades. Nem sei por que estou tão preocupada – ela deu de ombros e começou a caminhar.
- Mas e se o professor tiver perdido o seu, por exemplo? Ele pode ter deixado você sem nota. Ou se ela for muito baixa e você quiser reivindicar? – null andava em seu encalço.
- null. Para. Você tá bem? – null se virou e encarou a amiga. – É artes. Se fosse outra disciplina, pelo menos.
- Estou ótima. Mas como você é novata, sei lá, poderia estar com alguma dúvida em relação... – ela foi interrompida.
- Tudo bem. Eu vou lá em cima procurar meu trabalho, só para de falar, por favor. E vai tomar café, ok? Eu já encontro você.
- Parte dois, concluída – null disse para si mesma. – Agora só depende do null.

***


- Droga, onde está essa porcaria de trabalho? – perguntou null. – Porque eu vim aqui mesmo? null estava muito enganada, não tem nada aqui.
- Tem certeza? – null perguntou.
- Como eu não previ isso? – ela riu. – Porque estamos aqui, null?
- Você está procurando seu trabalho, eu...
- Falando nisso, obrigada por me ajudar a encontrar, eu vou descer agora – ela puxou a pasta da mão dele, sem sucesso.
- Vai ao baile comigo – ele pediu, calmo.
- Isso foi ideia sua? Ah, olha pra você, não mesmo. Foi da null, aposto.
- null, você precisa superar aquela história. Nós nem nos conhecíamos direito. Por que ficou tão brava?
- Não sei, me responde você? Por que ficou tão bravo comigo?
- Porque eu gostei de você e...
- Gostou? – ela o encarou, divertida. – Por que beijou a menina e colocou a culpa na blusa dela, então?
- Nós éramos tão novos. Tínhamos o que? Uns quatorze anos? O que importa isso? Já passou. Vamos aproveitar agora – ele sorriu. – Não sei o que foi, porque eu não acredito nessas coisas de destino, mas nos encontramos de novo e você está jogando uma chance no lixo. Eu só estou pedindo você pra ir ao baile comigo, não pra ser mãe dos meus filhos – ele riu da própria piada.
- É, essa foi péssima.
- Vamos nos divertir, null – ele voltou a sorrir. – O que me diz?
- Tá, eu aceito – ela deu de ombros. – Eu ia cogitar a ideia de te chamar hoje, mas você já fez por mim, obrigada.
- Vai ser legal, eu prometo.
- Estou confiando em você, senhor null.
- Você não vai se arrepender disso.

***


- Não vai dar certo – disse null.
- É claro que vai – null discordou.
- Pensando bem, como o null vai conseguir convencê-la? – perguntou null. – A null é tudo, menos fácil.
- Ela está doida pra ir ao baile e não quer ir sozinha – disse null. – Aquilo tudo é ela só fingindo que não se importa.
- Vai dar certo. A ideia foi minha – null se gabou.
- Mas suas ideias nem sempre são as melhores – null riu.
- Shhh, eles tão vindo – null fez um sinal exagerado com as mãos. – Quase me esqueci de que temos que ir daqui a pouco.
- Ir aonde? – perguntou null.
- Ver vestidos, meu amor.
- Ahh, vai começar – null rolou os olhos.
- Eu sei que você está com inveja – null provocou. – Meu namorado é o mais bonito aqui.
- Menos, null – disse null.
- Onde vocês estavam? – null perguntou.
- Ah, jura? Essa ideia não foi de vocês? – null riu. – Já entendi tudo.
- Enfim, já que deu tudo certo, pelo visto – null encarou null, que não controlava um enorme sorriso. – Nós devíamos ir.
- Mas já? – null protestou, fazendo a garota rir.
- Não podemos nos atrasar – null respondeu. As meninas se despediram e deixaram o refeitório, indo em direção ao jardim, que se localizava num canto mais afastado da escola. – Onde fica, null?
- Precisamos andar mais um pouco, fica ali atrás – ela apontou para o prédio em sua frente.
- O sinal deve bater agora – disse null, checando as horas no relógio em seu pulso.
As meninas caminharam por mais alguns segundos - ouviram o sinal em seguida -, e chegaram ao final do prédio.
- Onde está, null? – perguntou null.
- Gente – null encarou as amigas. – Não. Está. Aqui.
- Como? – null a encarou, confusa.
- A árvore foi cortada! – null sinalizou com as mãos. Estava nervosa.
- Espera, o null está me mandando várias mensagens – disse null, retirando o celular do bolso do uniforme. – Estamos com problemas.
- O que houve? – null perguntou preocupada.
- Não sei. Ele só está me perguntando se já saímos da escola, e se não, devemos nos esconder em algum lugar – null respondeu.
- Eu vou ligar pra ele, me empresta aq... – null não terminou a frase, pois null a impediu, tapando sua boca com a mão.
- Silêncio... Escutem isso – null pediu. As garotas se calaram.
- Ainda acho que não devíamos estar aqui – uma voz distante pronunciou. – É muito arriscado.
- Não gosta de se sentir como uma adolescente de novo? – disse outra voz. – Pois eu adoro.
- Gente... É a professora Silvia? – null sussurrou.
- Sim, mas quem está com ela? – null perguntou no mesmo tom.
- Algum aluno, provavelmente – null deu de ombros.
- Por isso o null mandou a mensagem – null constatou. – Droga, como vamos sair daqui agora?
- Não acho que eles vão vir até aqui, não tem nada – null comentou.
- É o objetivo, null! Não tem nada aqui – null rolou os olhos.
- Ok, precisamos nos esconder, já que pular o muro não vai rolar – disse null, analisando o lugar. – É, estamos ferradas.
- Não estamos, não. Eu tive uma ideia. Me dá o celular, null – null pediu e null a entregou o aparelho.
- Que ideia? – null perguntou.
- Vou pedir um dos meninos para vir aqui. Acho que eles têm aula juntos agora.
- Brilhante... Alguém respondeu? – null perguntou. null negou com a cabeça. – Ok, todo mundo pegando o celular e enviando mensagens pra eles.
- O que? Nada brilhante – null contrariou. – Como eles vão explicar o que estavam fazendo aqui? Essa área do colégio é restrita.
- Não acho que um desses dois está em posse de confrontar alguém – disse null. – Eles são os mais errados aqui. Vai funcionar.
- Vocês ainda estão ouvindo alguma coisa? – null perguntou, interrompendo a mini discussão.
- Parece que estão se beijando – null respondeu, fazendo cara de nojo. – Eu quero sair logo daqui.
- Gente, eu acho que não é um aluno – disse null, um pouco mais a frente. Ela apoiou no muro e se inclinou, tentando ver alguma coisa. – Marcus?
- O que? Marcus é casado – disse null. – Na verdade, Silvia também.
- Podemos nos dar bem – disse null, analisando suas possibilidades. – Não vamos conseguir matar aula, se aparecermos ali, que argumentos terão contra nós?
- Não mesmo. Podemos ser suspensas, talvez até expulsas. E tudo isso vai para o nosso histórico, podemos sair da torcida – null disparou, desesperada.
- E ai a gente conta pra todo mundo o que estamos vendo aqui – null concluiu.
- E quem vai acreditar, bonitinha?
- Ótima ideia, null. Precisamos de provas – ela pegou o celular e bateu algumas fotos. – Devo gravar também?
- Está maluca? Isso pode trazer muitas consequências, eles têm família – disse null, pensando na encrenca em que poderiam se meter por estarem ali.
- null respondeu – disse null, balançando o celular. – Eles estão fazendo um teste surpresa, não vai rolar.
- Vamos logo, ou perderemos a oportunidade – null insistiu.
- Não mesmo, vai sozinha – disse null, decidida.
- É sério que vão brigar? – null perguntou, impaciente.
- Devemos ficar aqui até... – null interrompeu sua fala, vendo null caminhar até o outro lado do prédio. – Ok, preparem-se para se ferrar.
Silêncio.
E mais silêncio.
As meninas se entreolharam e seguiram pelo mesmo caminho, encontrando apenas null.
- Onde eles estão? – null perguntou, confusa.
- Provavelmente aí dentro – null apontou a porta que dava entrada para o prédio abandonado. – As chances de eles terem nos escutado são altíssimas.
- Vamos sair daqui. Pela portaria, eu tenho um plano – disse null.
- Mais um? – null riu. – O que vamos fazer agora?
- Bom que perguntou – null parou de caminhar e encarou a amiga. – Você vai distrair o porteiro, falando que uma garota se machucou e está precisando de ajuda, enquanto isso, nós saímos.
- Ele não vai cair nessa, vai falar pra eu ir procurar alguém na enfermaria, e o que eu digo? – null arqueou a sobrancelha.
- Usa os seus dons de atriz, null. Você não quer o papel principal do teatro no próximo semestre? – null perguntou, em tom de desafio. – Enquanto isso, nós saímos.
- E eu? Fico aqui na escola?
- Não – ela respondeu, alguns minutos depois. null explicou todo o plano para as meninas e elas foram até a portaria. Precisavam ser rápidas, já que o próximo horário estava perto do fim, e os alunos começariam a deixar suas salas e só voltariam no começo de outra aula. – Prontas? Vai lá, null. Nós vamos ficar aqui, qualquer coisa, só mandar mensagem.
null se aproximou da portaria e esfregou um pouco o rosto, com o objetivo de deixar as bochechas ao menos um pouco coradas. Bagunçou o cabelo e agora sim, estava pronta. Chegou até ao porteiro sem saber a melhor maneira de aborda-lo, queria saber o seu nome. Decidiu ir pelo óbvio, gritar.
- Moço, me ajuda, por favor – null disse, soando desesperada. Ou tentando.
- Garota, o que houve? Não deveria estar em sua classe agora? – ele se aproximou dela, com uma expressão nada amigável.
- Eu fui com uma amiga até a biblioteca buscar algo que a professora pediu, mas ela passou mal e não consegue sair do banheiro, ME AJUDA – ela gritou e começou a arrastá-lo consigo.
- Professora? Qual professora? Não seria melhor alertá-la?
- A... A senhora... Senhora Silvia – ela respirou aliviada e continuou puxando-o pelo braço.
- Eu não posso entrar ai, devia chamar a enfermeira, ela está aqui pra isso.
- Eu não consigo leva-la até lá, você poderia fazer o favor de me seguir? – null começou a ficar impaciente. O homem caminhou em seu encalço, ainda relutante. – Ela está na última cabine.
- Ei, menina, abre a porta – ele bateu, sem sucesso. null aproveitou sua distração para enviar uma mensagem avisando que havia conseguido arrasta-lo para o banheiro. – Ela não abre.
- Fica aqui com ela, moço. Vou até a enfermaria – null virou-se para sair do banheiro, mas foi impedida pelo homem.
- Não, eu preciso voltar para o meu trabalho – ele passou na sua frente.
- NÃO! – ela soltou mais um grito desesperado e desatou a chorar. – Minha amiga pode estar morta ai dentro, fica com ela. Eu não demoro.
null pode sentir a aflição do homem. Só precisava pedir um pouco mais e ele aceitaria.
- Por favor, moço. Eu estou passando mal aqui também, fica com ela, eu já volto – null o viu assentir e então deixou o banheiro, correndo em direção à portaria da escola. Só não esperava trombar com Marcus e Silvia no caminho.
- Senhorita null? Aonde pensa que vai? – Marcus a chamou, sua voz pingando deboche.
E agora?
A verdade, sempre.
- Vou até o antigo jardim da Sra. Sullivan me agarrar com o meu amante – despejou, vendo Marcus e Silvia arregalar os olhos. Constatou que eles não tinham escutado nada àquela hora.
- O que... O que pensa que está fazendo? – Silvia se aproximou, agarrando o pulso de null.
- Eu é que te pergunto, você não pode tocar em mim – ela puxou o braço, se desfazendo do aperto. – E você, Marcus, pense antes de querer cuidar da minha vida e de null, sem reais intenções acadêmicas.
Dito isso, null deixou os dois para trás, fuzilando-a com o olhar. Caminhou tranquilamente até a o portão da escola e saiu, encontrando suas amigas preocupadas.
- Porque demorou? Não tinha dado tudo certo? – null perguntou, desesperada.
- Eu tinha que me encontrar com a Silvia e o Marcus na hora de sair... Joguei tudo na cara deles.
- Oh Deus... – null resmungou. – Pensando bem, me parece uma péssima ideia deixa-los saber que os vimos.
- Enfim, já foi – null deu de ombros. – Podemos ir, null?
- Claro, já estamos muito atrasadas – ela assentiu e as garotas seguiram o caminho para sua casa.

***


- Eu não acredito que passamos por tudo isso para escolher vestidos – disse null, rindo. – A fixa está caindo agora.
- Eu adorei essa null que vi hoje, super empolgada para o baile – null comentou. – O que um par não faz, não é?
- Nada disso, eu já estava animada antes, o null não mudou nada – ela deu de ombros.
- Que loja nós começamos? – perguntou null.
- Vamos a todas! – disse null, animada.
Entraram na primeira loja que viram. Depois de andar até o fim e não encontrar nada, desistiram e partiram para outra. E isso aconteceu mais umas três vezes.
- Ok, melhor pensar e depois entrar na loja – disse null. – Não entrar em todas.
Subiram um andar e caminharam até encontrar a loja que mais gostavam.
- Eu acho que vamos acabar por ficar aqui mesmo – disse null, encarando os manequins na vitrine. – É a melhor loja.
As garotas entraram e foram recebidas por uma funcionária simpática.
- Acredito que vão encontrar o que querem no final da loja – a mulher sorriu. – Se precisarem de ajuda, me chamo Katy [N/A: Perry? Talvez. Estava ouvindo enquanto escrevia] – disse e se retirou.
- Vamos até o final da loja – disse null. – Vocês já decidiram a cor?
- Não – elas responderam quase juntas.
- Eu vou fazer o null usar uma gravata da cor do meu vestido, ele que se vire – disse null, divertida.
- É uma ótima ideia, amiga – null concordou. – Acho até que o null já me perguntou sobre isso uma vez.
- É, nós vamos ter trabalho – disse null, depois de avistar os vestidos. Um mais lindo que o outro. De todas as cores e modelos.
- Vamos logo – null deu pulinhos. – Curtos, meninas. Nada de vestido longo.
- Ah, porque, bonitinha? – null perguntou, com um sorriso malicioso. – Longo é mais difícil de tirar.
- Não, null! – ela respondeu, rindo. – Porque vestido longo é pra casamento.
- Deixa de besteira, null – disse null, balançando a cabeça negativamente.
- Vamos, só... Escolher logo e ir embora – disse null.
- Ah, não mesmo. Cadê aquela outra null? – null perguntou, encarando a amiga.
- Vamos ficar aqui até de noite se precisar – null estava decidida. Dentre as quatro, ela sempre foi a mais consumista.
- Todo mundo pega os que mais gostarem e depois nós vemos se tem algum repetido, se tiver e ninguém quiser abrir mão, nenhuma fica, ok? – null estabeleceu a primeira regra.
- Vamos evitar cores iguais também – null sugeriu. – Mais alguma coisa?
- Eu acho que é isso... – null respondeu alguns minutos depois. – Vamos começar!

***


null's POV


Eu estava exausta. Se fazer compras já é uma tarefa difícil, e compras com a null uma tarefa mais difícil ainda, não sei como definir fazer compras para o baile com ela. Ao menos, já estava em casa e livre de um enorme peso nos ombros. Ainda faltavam praticamente duas semanas para o baile, talvez fomos um pouco precipitadas ao comprar os vestidos tão cedo.
Recebi uma mensagem de null me perguntando o que tinha acontecido na escola. Sorri instantaneamente. Mal havíamos conversado hoje, deixaria pra contar tudo amanhã.
A conversa com as meninas ontem veio a minha mente. Mais precisamente, a parte em que null falava. E então eu me lembrei de null e da festa de Agnes.
O que estava acontecendo comigo?
Não.
Eu simplesmente me negava a sentir.
Havia sim uma atração entre nós dois, isso até o Papa já tinha percebido. E mais nada. Minha relação com null - se é que posso chamar assim - se resumia a uma chantagem estúpida do meu irmão. Tudo bem, ele havia me dito algumas palavras fofas ontem e talvez eu tenha me animado, mas é só isso. Eu estou percebendo agora que isso tudo pode ser uma grande perda de tempo. Ele ainda era null null.
Ou não?
Quero dizer, sim, ele ainda era null null. Mas e se eu estivesse errada?
E depois que passasse o baile? Como ficaríamos?
E de volta ao acordo estúpido, qual o verdadeiro motivo?
A cada dia que se passava, essa história só ficava mais absurda.
E por que eu estou pensando nisso agora?
Muitas perguntas, poucas respostas. Eu não gosto.
Outra mensagem de null. Ele estava me perguntando se eu queria ir pra casa dele amanhã, já que hoje não havia rolado. Me animei com a possibilidade de passar a tarde inteira sentindo sua boca junto a minha.
Não!
Que feitiço esse garoto jogou em mim?
Preciso me focar na realidade. E minha realidade é... É descobrir o motivo verdadeiro por trás do acordo!



Capítulo 21

Ok, da última vez que tentei descobrir o motivo real, eu falhei. Comecei pelo óbvio, perguntando ao null. Dessa vez, vou ser mais simples e começar do começo.
Ri de minha frase estúpida.
"Começar do começo."
Enfim.
Tudo começou com null.
Anotei no papel.
O que null ganharia com isso? Status também? Fala sério, nem sou mais tão popular assim.
Anotei.
A amizade dos dois é completamente real, isso eu já sei. Mas não acredito que o null iria me "oferecer" ao seu amigo dessa maneira.
O que me leva a outras questões: Além de popularidade, por que null me entregaria a null desse jeito? Ou, o que ele ganharia com a popularidade de null? Será que tem relação com a banda deles? Porque null e null não se esforçam dessa maneira?
Isso só está servindo para me deixar ainda mais confusa.
De acordo com o meu irmão, eles entraram para o time da escola e namorar uma líder de torcida faria parte do perfil.
Pensando bem, quando foi mesmo que eles entraram no time? Já faz um tempo, se não me engano.
Interrompi meu pensamento para ligar para null e perguntar. Quando o novo time foi definido, ela não perdia um treino. O motivo, descobri mais tarde, era null.
Desliguei o telefone depois que ela confirmou que eu estava certa.
null e null entraram no time de futebol da escola há quase dois meses, fora do período de seleção. De acordo com null, depois que dois garotos se envolveram em uma briga e foram expulsos.
Um mês depois, exatamente na mesma época do teste de cheeleaders, null e null também se juntaram ao time.
Por que esse acordo não surgiu antes? Seria mais favorável para o null.
Talvez antes não existisse um motivo para me chantagear.
Mas aquela não foi a única festa desde o acidente que eu fiquei bêbada e precisei de ajuda para voltar pra casa. Não foram muitas, mas foi mais de uma.
O ponto principal é: como vou conseguir essas respostas? Apenas o meu poder de dedução não vai me ajudar. Ainda não estou pronta para pedir a ajuda das meninas.
O jeito seria me infiltrar no meio deles, mas seria muito óbvio.
A única solução é perguntar. Mas como já sei que eles não vão me responder, vou começar pelos outros dois e se me lembro bem, null me deve um favor.
Anotei todas as minhas últimas conclusões. Estava me sentindo em um filme.
Amanhã conversaria com ele e com sorte, teria todas as respostas que preciso.
- Ei, posso entrar? – Minha mãe colocou metade da cabeça pra dentro do quarto.
- Claro – juntei tudo que estava em cima da cama e coloquei na gaveta do meu criado. – Tudo bem?
- Sim, querida. E você?
- Estou bem, mãe – sorri fraco.
- Realmente? – Ela insistiu. – O que está me escondendo?
- Nada, mãe. Está tudo maravilhoso – dei de ombros. – O que queria me dizer?
- Enfim... é tão bom ouvir isso. Eu posso saber o motivo dessa felicidade toda?
- Digamos que, está tudo como deveria estar. As coisas não podiam estar melhores. Em todos os sentidos.
- Conversar com seu pai foi bom, não foi? – Eu não me referia a conversa com meu pai. Mas eu também não queria prolongar o interrogatório da minha mãe.
- Eu realmente não esperava aquela reação – isso era verdade. Encarei minha mãe, que já estava praticamente rindo. – Isso foi coisa sua – deduzi.
- Talvez – ela admitiu. – Eu sei como isso é importante pra você. Nós conversamos muito e ele acabou cedendo.
- É, sim. Muito importante pra mim. Eu não gosto de fazer algo que não agrade a vocês dois e null. São as pessoas que mais amo no mundo.
- Ah, meu amor, você sabe que te amamos muito também. Talvez seu pai apenas não saiba expressar esse sentimento do jeito correto.
- Eu entendo, mãe – sorri novamente. Na verdade, não entendia não.
- Mas me conta, como está em relação ao baile? Posso ver seu vestido?
- Sim – comecei a me animar. Fui até o meu guarda roupa e tirei de lá a caixa enorme com o meu vestido e entreguei a minha mãe.
- null... é lindo... que vestido lindo – ela sorriu, emocionada. – Oh, meu bebê está crescendo.
- Mãe, para – eu disse, tentando me desvencilhar de seu abraço apertado.
- Tá, agora senta aqui e me diz o que está acontecendo – ela mudou de expressão rapidamente. – Eu sei que está me escondendo alguma coisa.
E agora? Contar ou não contar?
Não contar.
Eu contaria quando descobrisse tudo. Minha mãe seria a primeira a saber da chantagem ridícula do meu irmão. Talvez não exatamente a primeira. Mas ela saberia por mim.
- Mãe, não está acontecendo nada – eu abri o meu melhor sorriso. – Tudo em seu lugar.
- Está mentindo, eu te conheço – ela tocou meu ombro. – Me conta.
- Eu confrontei uma professora na escola hoje – não era o verdadeiro problema, mas não deixava de ser verdade. – E eu matei aula pra ir comprar o vestido.
- O que... null, me explica isso – sua expressão mudou novamente. Agora ela estava zangada. Ótimo.
- Eu descobri por acaso que essa professora e o coordenador estavam tendo um caso e usei isso ao meu favor para sair da escola mais cedo – resumi a história. Minha mãe me encarava chocada.
- Mas isso não me parece uma coisa que você faria... null, o que deu em você? – Ela ainda me encarava de boca aberta. – Está de castigo.
- O que? Mas eu te contei tudo. Não, isso é muito injusto – fiquei de pé e aproveitei para guardar o vestido que ainda estava sobre a cama. – Eu já tenho quase dezessete anos, você não pode me deixar de castigo por matar aula.
- Não só posso, como já deixei. Está de castigo, sem discussão – ela também se pôs de pé. – Uma semana, da escola pra casa.
- Está tudo bem aqui? – null perguntou, abrindo a porta devagar.
- Não, tudo péssimo. Sai daqui – eu atirei uma almofada contra a porta, mas ele a fechou a tempo. – Você também, mãe. Por favor.
Ela assentiu e deixou o quarto. Não sabia se ela estava brava ou decepcionada. Me senti mal com essa história, pela primeira vez.
Alguns minutos depois, ouvi mais algumas batidas na porta e null entrou no quarto.
- O que houve aqui? – Ele perguntou.
- Não quero conversar agora – disse ríspida. Não queria vê-lo, muito menos null, até eu saber de tudo.
- O que está pensando? – Ele me encarou. – Me diz, Barbie.
Me virei de costas. Ele sabia que eu não gostava desse apelido e mesmo assim insistia. - Por quê? – Eu perguntei baixinho.
- Seja mais específica, sis.
- Quer saber... Apenas saia daqui, null, por favor.
Ele fez o que eu pedi. Agradeci mentalmente. Não precisava do meu irmão me pentelhando agora.
Eu só queria dormir e descansar um pouco.
Acordei com o som irritante do despertador do meu celular. Uma hora e quinze minutos até minha aula começar. Pensei em matar aula de novo, mas eu tinha coisas para resolver.

***


O dia mal havia começado e eu já estava cansada. Queria voltar pra casa e dormir até amanhã. Mas ao invés disso, estava no intervalo e meus amigos não paravam de me encarar.
- O que aconteceu com a null? – ouvi null perguntar, ao meu lado.
- Não sei, está estranha assim desde ontem, quando brigou com a minha mãe – null respondeu.
- Quando estávamos com ela ontem, estava tudo bem – disse null.
- Eu ainda posso ouvir vocês – acenei, com um sorriso falso.
- O que você tem? – null voltou a perguntar, tocando meu rosto com a ponta dos dedos.
- Nada... eu só... não é nada – dei de ombros. Soando mais gentil do que eu pretendia.
- Será que null está grávida? – null chutou. Sério?
- Outch! Não – eu respondi.
- Por que quando a gente tem um problema, vocês apontam pra esse lado? – perguntou null, rindo.
- Porque bebê deixa as mulheres estranhas – null explicou como se fosse óbvio.
- Gente, é só usar a cabeça – null começou. – Ontem, depois que escolhemos os vestidos e fomos embora, estava tudo bem. Tirando a parte do que aconteceu na escola, o que eu acho que não tem nada a ver... – Ela fez uma careta. – Só pode ter a ver com o baile. Ou com essa briga aí. Conta, null, porque vocês brigaram?
Estava impressionada com null. Como ela me conhecia tão bem?
Não demonstrei reação, apenas a encarei por uns segundos e tenho certeza que entendeu o que eu queria.
- Por que estão implicando comigo assim? – Eu perguntei. – Tudo está normal, não estão vendo? Não interessa o motivo da briga, é coisa boba.
- Exatamente por isso, tem alguma coisa errada – null insistiu. – Nunca é normal como hoje. Você está quieta, não fala nada e nem tocou na comida.
- E você é meu pai agora? – Revirei os olhos. – Me deixa, que saco.
- O que eu fiz? Você está me tratando mal desde ontem.
- null, só cala a boca, ok? – Eu o encarei. Eu não sabia definir o que estava sentindo por ele e null naquele momento. Que direito eles têm de bagunçar minha vida assim?
- Vamos mudar de assunto – disse null. – Como vocês sabiam que estávamos com problemas ontem?
- Já faz uns dias que descobrimos que Silvia e Marcus estão pulando a cerca, eles sempre se encontram naquele lugar – null respondeu. – Geralmente a Silvia não está na escola segunda-feira, não sei o que ela estava fazendo aqui ontem.
- Onde está o null? – Eu interrompi o assunto. null me encarou imediatamente e ri de sua atitude.
- Ele não veio hoje – null respondeu, seco.
- Isso eu percebi – usei o mesmo tom de voz. – Quero saber por quê.
- O null vive matando aula a toa – disse null.
- O que quer conversar com ele? – null quis saber.
- Nada, eu só estou curiosa... – respondi, mordendo o último pedaço do meu sanduiche.
- null... A gente pode conversar? – null pediu. Ótimo. Mais uma pra me interrogar. Só que, ao contrário de todos, eu queria que null soubesse.
- Agora? – Ela assentiu. Eu queria que ela descobrisse agora, mas não agora. null tinha a mania de se meter demais nas coisas. Por mais que a intenção fosse boa, o resultado nem sempre era o melhor. – Tudo bem.
Acabei cedendo, ela é minha melhor amiga e descobriria de um jeito ou de outro.
Deixamos o refeitório e fomos em direção aos corredores vazios, onde ficavam as salas de aula.
- Pode começ... – não deixei ela terminar a frase.
- Cheguei a uma conclusão ontem à noite. O que acontece depois que o baile acabar? – Perguntei, sem rodeios.
- Vamos pra casa começar nossa private party? Sabe, eu estava pensando nisso esses dias, já que... – ela começou a tagarelar, animada.
- Não, null, acorda. Depois que o baile acabar, tecnicamente, meu acordo com o null também acaba. O que acontece depois?
- Aaaah, estou entendendo aonde quer chegar – ela sorriu. – O que muda?
- Como assim? O que muda? Muda tudo. Não vamos mais fingir.
- Fingir? – Ela gargalhou. – Você está mesmo preocupada com isso?
- Do que está rindo, sua tapada? Eu estou falando sério.
- É por isso que está estranha assim? null... minha querida... o que está acontecendo? Você voltou algumas casas, foi? Tirou uma carta ruim no jogo de tabuleiro da vida?
- Você está parecendo a null, com essas frases sem sentindo... o ponto é, depois do baile, tudo volta ao normal e...
- E não é isso que você quer desde que tudo começou? – Ela me encarou, como se já soubesse a resposta. – Ok, cartas na mesa. Você está gostando do null, e está preocupada que ele não sinta o mesmo e só está com você por causa do acordo. Acha que depois do baile, ele vai te deixar e esquecer tudo o que aconteceu entre vocês... estou errada?
Queria negar. Oh, como queria dizer que ela estava completamente errada. Mas isso seria mentir pra mim mesma.
- Não – respondi baixo. – Você está certa.
- Se quer minha opinião, eu tenho certeza que ele gosta de você. Desde aquele dia em que ficamos presos na sua casa e vocês dois estavam no shopping.
- Ficaram "presos" – eu fiz aspas com as mãos.
- O modo como ele agiu com você, não faz parte dele, null. Em que mundo, null null, deixaria de fazer algo que ele quer, para fazer algo por uma garota? – Ela sorriu. – O jeito dele, a forma como ele te olha... Só você não vê.
- Mas... você tem que ver o meu lado, é difícil acreditar nisso quando se tem um histórico como o dele – eu disse, repassando na minha mente todas as vezes que vi null com diferentes garotas em uma mesma semana. – O que eu faço?
- Conversa com ele.
- Mas ele já sabe. Ele já sabe que eu sinto alguma coisa por ele. E ele já me disse que sente alguma coisa por mim também.
- Não sobre isso – ela riu. – Sobre esse acordo, sobre como você se sente com ele chegando ao fim.
- Não tô pronta.
- null... vai ser melhor pra você dizer logo. Tenho certeza que o null não vai ser babaca e te deixar só porque o tempo acabou.
- Tá, mas não é só isso – a conversa tomou outro rumo e eu me esqueci o que realmente deveria dizer. – Eu estou tentando descobrir o motivo verdadeiro do acordo.
- Por que isso agora? – null me encarou.
- Porque não faz sentido...
Expliquei a ela tudo o que eu havia concluído na noite anterior e aos poucos, ela foi tomando meu raciocínio.
- É, você está certa – ela disse, por fim. – Vou ajudar.
- Não precisa se quiser...
- null está envolvido, vou ajudar – ela me interrompeu.
- O quão séria era essa sua relação com o null? Estou sentindo que você não me contou tudo – eu ri.
- Bobeira, amiga – ela deu de ombros. Sabia que estava mentindo. – Isso é assunto pra outro momento, ok?
- Ok, como quiser – ergui minha mão em sinal de rendição. – Como vamos fazer isso?
- Vamos perguntar ao null. E para isso, precisamos da null – ela começou a caminhar, em direção ao refeitório novamente.
- Eu não queria envolver ninguém...
- null não é ninguém, ela é... A null. Vai concordar em nos ajudar.
- Eu não sei – disse, confusa.
- Que besteira, null. Você tem que parar de esconder essas coisas bobas da gente. Somos amigas – ela sorriu pra mim e parou de andar. – Precisamos de você, null.
- O que foi agora? – perguntou null, entediada.
- Obrigada, bonitinhas. Também tenho muita consideração por vocês – disse null, dramática.
- Você pode ajudar também, mas por hora, só precisamos da null – eu toquei o ombro de null e ela riu.
- Eu posso falar com você, null? – null perguntou, me encarando.
- Não quero conversar agora – respondi, sustentando o olhar.
Ele se levantou e deu a volta na mesa, até onde eu estava.
- Eu fiz alguma coisa? – Ele insistiu. Balancei a cabeça. – Então, porque está me tratando assim?
- Eu... eu só não quero conversar, tá bem? – disse e saí caminhando, com null e null em meu encalço.
- Podem começar a me explicar o que está rolando – null pediu, quando já estávamos sozinhas.
Foi o tempo certo, contar toda a história para ela e o sinal anunciando o fim do intervalo soar. Com sorte, null e null tinham aula de física juntas e poderiam continuar a conversa. No meu caso, ficaria sozinha, já que null faltou.
Não entendi a necessidade de trocar todo o meu horário e de null. Inclusive as aulas que nem tínhamos juntos.
Nota mental: descobrir porque o meu horário foi trocado.
E minha lista de perguntas sem resposta só aumentava.

***


Eu não sou dessas que odeiam a escola. Não amo, mas também não odeio. Porém, hoje, dei graças a Deus quando ouvi o último sinal do dia tocar. Eu, null e null, iríamos daqui direto pra casa do null. Combinamos isso trocando mensagens durante a quinta aula. Só esperava que ele estivesse lá, afinal, não tinha respondido nenhuma de nós.
- Como vamos abordá-lo? – perguntou null.
- Simples – null começou. – null, o que você sabe sobre o acordo entre o null e o null? Diga-nos tudo agora ou cale-se para sempre.
- Ótima escolha de palavras – eu ri. – Tá, mas como vamos realmente abordá-lo?
- Não estava brincando, devíamos mesmo ir direto ao ponto – encarei null. – Que é? Tem maneira melhor?
- Vamos, ok? Nós pensamos no caminho – disse null.
A casa de null não era tão longe da escola. Na verdade, a casa de nenhum de nós. De null era a mais distante, mas apenas uns dez minutos de carro. Mas isso não vem ao caso agora.
Depois de alguns minutos, nós chegamos. E nada de null responder alguma mensagem ou atender as ligações.
- Eu acho que ele não está – disse null, saindo do carro.
- Vamos bater, talvez ele esteja dormindo – null deu de ombros. – null pode ser bem preguiçoso quando quer.
null se aproximou do portão e tocou o interfone. Nada. Apertou o botão novamente, mas segurou por mais tempo dessa vez. Nada. Apertou pela terceira vez e uma mulher abriu o portão, assustando null.
- Posso ajudá-las, meninas? – Ela perguntou, sorrindo.
- Nós podemos falar com o null? – null pediu.
- Ele ainda não chegou. Está na escola, hoje tem treino de futebol – ela respondeu.
Nos entreolhamos. null não estava na escola e nem em casa. Havia matado aula e mentido para os pais. Muito, muito obrigado null. Se você não quiser contar, eu tenho uma maneira de conseguir a informação.
- Mas ele não... – interrompi null.
- Nós voltamos mais tarde, então – disse. A mulher assentiu e fechou o portão.
- Por que você fez isso? – null me perguntou.
- Não tá na cara? Ele não só matou aula, também mentiu para os pais – comecei a explicar. – Se ele não quiser me contar nada, eu tenho um motivo pra chantagear ele.
- Uau! Você pode ser bem vaca quando quer – null comentou.
- Aprendi com meu irmãozinho – pisquei. – O que fazemos agora?
- Esperamos, alguma hora ele vai nos responder – disse null.
- Vamos incluir a null, estou me sentindo mal por ela – eu disse, alguns minutos depois, quando já estávamos no carro.
null assentiu e deu partida no carro.

***


- Eu sei onde o null está – disse null, rindo. – Quer dizer, o null foi se encontrar com ele agora.
- Não era para o null estar na escola? – eu perguntei.
- Era, mas ele veio pra minha casa e perdeu o treino hoje... Enfim, eles estão no parque. Andando de skate.
- Desde quando aqueles dois andam de skate? – perguntou null , rindo em seguida.
- É uma ótima pergunta, amiga – disse null. Ela pegou o celular no bolso e ligou para null. – Está chamando.
- Coloca no alto-falante – disse null. null assentiu e tocou o botão.
- Amor, já está com saudades? – null riu.
- Não, bobo. O null está com você?
- Sim. O que você quer falar com ele? – null perguntou, alterando o tom de voz. Ciúmes? Provavelmente.
- Não sou eu, é a null. Passa o telefone pra ele, por favor.
- null, o que foi? – ouvi null perguntar.
- Por que você não atendeu o telefone? – null passou na minha frente.
- Não era a null que queria falar comigo? – Ele riu. – Eu esqueci em casa.
- Nós precisamos conversar – disse. – Pode vir aqui?
- Essa sentença não me traz boas recordações, mas por você eu vou, null – ri de sua frase. – Daqui a pouco chegamos aí. Ouvi a voz de null ao fundo, enquanto null encerrava a ligação.
Agora era só esperar.
- Vocês já almoçaram? – null perguntou e balançamos a cabeça.
Trocamos poucas palavras durante nossa pausa para comer. null era a que mais falava, pois já havia almoçado. Depois de terminar, lavamos a louça e ficamos conversando até os meninos chegarem.
- Em que eu posso ser útil, senhoritas? – null perguntou.
- Bom, senhor, é uma coisa bem simples – null começou. – Só queremos saber o motivo real do acordo entre null, null e null.
Ele ficou sério. null sabia. Bingo, null.
- O motivo? – Ele voltou a sorrir. – Status. É bom pra banda. Vocês ainda não sabiam?
- Sério, null? Status? É a coisa... – null foi interrompida por null.
- Sabe o que isso tudo me lembrou? Quando o Oliver pedia a Felicity pra descobrir as coisas pra ele e dava aquelas desculpas ridículas e...
- Nossa, eu estou super atrasada em Arrow e essa série... – null começou a falar, mas parou, depois de receber um olhar nada amigável de null. – Ok, pode continuar.
- Só responde, null... O motivo verdadeiro, qual é? – Eu repeti a pergunta. – Se não me dizer, vou contar aos seus pais que estava matando aula hoje. Eu sei que eles pegam no seu pé.
- Eu não sei, null. Me desculpa, não sei mesmo – ele me olhou. – Pode contar, eles não dão a mínima pra mim.
- Sabemos que você está mentindo – disse null, calma até demais. – Isso já basta, tudo o que você concluiu faz sentido, null. Tem sim outro motivo por trás.
- Não, não basta – disse null. – Por que você não quer nos dizer?
- Porque eu quero ficar de fora disso. Eu não concordei na época e... – Ele parou. Talvez estivesse arrependido do que disse, já que sugeriu que pode ser uma coisa maior do que estamos pensando.
- É tão sério assim? – null perguntou. – Droga, só estou ficando mais curiosa.
- Você sabe o que é? – null puxou os fones de ouvido de null. – Você também sabe? – Ele assentiu. – Você não pode me esconder as coisas assim. Me conta o que é agora.
- Me desculpe, linda. Eu não posso – ele abaixou o olhar.
- Eu estou ficando preocupada – disse null e eu concordei com a cabeça.
- Só mais uma coisa, null... – comecei. – Aquela briga que você teve com o null, uns dois dias depois que ele veio com essa coisa de acordo, tem alguma coisa a ver?
Ele assentiu. Visivelmente decepcionado por não poder me contar o motivo de tudo aquilo.
Ao contrário do que eu pensava, conversar com null não me deu nenhuma resposta, só me deixou ainda mais confusa.
- Você vai ter que conversar direto com o null se quiser saber, null – disse null. – E eu também acho que você deveria conversar com o null, null.
- Por quê? – Ela o encarou. – Também estou envolvida, é?
- Não... talvez você consiga alguma resposta – ele deu de ombros.
- Então vamos agora – disse null, levantando-se do sofá.
- Agora eles estão no treino, null – disse null.
- Não me interessa, vou agora. E você vem comigo, null – ela puxou meu braço.
- Não, null. Acha mesmo que eles vão falar alguma coisa? – Eu perguntei. – Eu já conversei com o null, ele não me disse nada.
- Mas sinto que, de alguma maneira, eu estou envolvida nessa história. E não vou desgrudar deles até me contarem a verdade. Você vem ou não? – Assenti. – Alguém mais?
Ninguém. Melhor assim.

***


- O que vamos fazer? Não podemos interromper eles – eu disse.
- Estou pensando... Esperar é o único jeito, null – ela disse alguns minutos depois. – Vem, vamos entrar. Vamos esperar por eles na quadra. Nós podemos assistir ao treino, já que somos cheers.
null e eu atravessamos o pátio praticamente vazio da escola. Tinha no máximo umas quatro pessoas. Já havia passado duas horas desde que a aula terminou, não era normal ter muitos alunos por ali há essa hora. Chegamos à quadra, atraindo alguns olhares dos outros garotos do time e nos sentamos nas arquibancadas. Localizei null e null no meio deles facilmente.
- Precisamos de uma maneira melhor de abordá-los, não deu certo com o null – eu falei.
- A diferença entre esses dois e null, é que null não está apaixonado por nenhuma de nós duas – ela disse, confiante. – Vamos conseguir, null.
- Espero que esteja certa, eu não aguento mais isso tudo.
null assentiu e ficamos caladas por alguns minutos. Eu estava tentando acompanhar tudo o que acontecia, mas não entendia nada de futebol, então desisti.
- Só faltam mais cinco minutos – disse null, checando as horas em seu celular. – Vamos precisar esperar mais um tempinho, já que eles devem parar no vestiário antes de ir embora.
Todos foram dispensados e indo para o vestiário em seguida. Com exceção de dois.
- O que estão fazendo aqui? – null perguntou, sorrindo. HAHA, mas vai tirar esse sorrisinho da cara daqui a pouco.
- Precisamos conversar. Não demorem – disse null, séria. Fiquei com vontade de rir, mas apenas imitei sua expressão confiante, enquanto deixávamos a quadra e íamos em direção ao pátio.
- Eles estão demorando – disse null. Já havia passado quase vinte minutos desde que os deixamos para trás na quadra. – Não tem nenhum outro jeito de sair da escola sem ser por aqui, não é?
- O único outro jeito foi cortado – disse, me referindo à árvore no jardim.
- Tão piores que a gente para se arrumar... quanto tempo um cara leva pra tomar um banho e trocar de roupa?
- Vinte minutos, pelo visto – disse null, surgindo atrás de nós. Nos viramos. – O que foi? Vai me contar porque está me tratando mal? – Ele me encarou, dessa vez.
- Tem muita gente aqui, vamos pra outro lugar – null sugeriu. O lugar que estava vazio, agora já estava cheio de jogadores de futebol.
- O laboratório está vazio, passamos por ele agora – disse null. Ele estava evitando olhar em minha direção ou era impressão minha?
Eu e null fomos à frente. A distância não era tão grande, só precisávamos atravessar um corredor.
- Podem falar logo? Estão me matando com esse suspense – disse null, enquanto fechava a porta do laboratório.
- Nós só queremos saber o motivo verdadeiro do acordo – disse.
- E de que forma eu estou envolvida nele – null acrescentou, jogando verde.
- Porque você acha que está envolvida? – null perguntou a null. Ainda me ignorava.
- O null nos disse – eu respondi.
- E o que o null sabe sobre isso? Nada – disse null. Parece que eu havia puxado os meus dons de atriz do meu irmão, já que ele sabia mentir muito bem.
- Você está mentindo, posso ver em seus olhos – balancei a cabeça. – Só me responde o que eu estou pedindo.
- Vai ser pior se descobrirmos de outro jeito – disse null.
- Mas não tem o que descobrir – meu irmão me encarou. – A gente só pensou nisso como uma forma de atrair o público para nossa banda.
- Realmente, null? Porque eu sinto que está me escondendo alguma coisa?
- E você, já contou pra sua melhor amiga o motivo de temer tanto o nosso pai em relação aquela festa? Já contou para o null?
- Do que ele está falando, null? – null me olhou. Ah, null, ótima ideia, mas não vai me virar contra a null nunca.
- Não percebe que ele está tentando distrair a gente? O que vocês estão escondendo? – Voltei a perguntar.
- Me conta agora, do que o null está falando? – null me perguntou. Senti meus olhos marejarem. Eu não queria que ela soubesse desse jeito. – Porque eu sinto que todos aqui estão escondendo alguma coisa?
- Que engraçado você dizer isso, null. A null sabe que não existe namorado de prima nenhum? – null perguntou. null abriu e fechou a boca umas três vezes.
- Do que ele está falando, null ? – Usei as mesmas palavras. – Você está certa, todos estão escondendo alguma coisa aqui.
- Como... como você... droga, não... – ela aumentou o tom de voz. – Estamos aqui para descobrir o motivo do acordo estúpido, não pra vocês dois ficarem jogando uma contra a outra. Eu juro que te conto tudo depois, null.
- Quer saber? Você está certa. Isso tudo só prova que tem mesmo um motivo muito sério por trás disso – eu disse, alguns minutos depois. – E até vocês decidirem contar, eu não quero que troquem uma palavra comigo. Isso vale para null e null também.
- Estou com você, null – disse null. – Vamos embora daqui. Já deu pra mim.
- Nada de baile, nem acordo, nem nenhuma outra porcaria que vocês inventarem. Pode contar tudo pro meu pai, null, eu não ligo mais – dei de ombros.
- Não acredito que você vai ser infantil a esse ponto – meu irmão se posicionou em frente à porta, nos impedindo de sair.
- Eu também não acreditava que vocês seriam infantis... ou covardes é uma palavra melhor? – encarei null e ela assentiu, concordando. – A ponto de esconder alguma coisa de mim. Pelo visto estava enganada, não é?
null saiu do caminho e girei a maçaneta, empurrando a porta e deixando o laboratório, com null ao meu lado.
- O que fazemos agora? – null me perguntou. Eu a encarei e pude ver uma lágrima caindo de seus olhos, mas ela rapidamente a secou com as costas da mão. – Eu não quero fazer isso, null. - Eu também não – nos abraçamos e não segurei mais a vontade de chorar. – Vai dar certo.
- Droga, eu gosto tanto dele – ela me disse, também chorando. – Vamos sair daqui, por favor.
Fomos ao banheiro feminino e ficamos enrolando lá dentro, até estarmos mais calmas.
- Acha mesmo que vai dar certo? – null me perguntou.
- Espero que sim, null. É o único jeito.
- Você pode dormir lá em casa hoje, se quiser – ela sorriu. Mas eu sabia que estava chorando por dentro.
- Quero sim – sorri também. – Vamos? Eu posso avisar minha mãe no caminho.
- Vamos sim, estou louca pra sair daqui.

***


A semana passou mais devagar possível. Dormi dois dias na casa da null, até minha mãe implicar por causa do castigo e eu precisar voltar pra casa. Felizmente, já era sexta-feira e eu não precisaria ver a cara de nenhum dos meninos até a próxima semana. Só precisava aguentar até o fim da aula. Tirando essa parte ruim, a semana foi bem produtiva, até. Consegui conversar com a treinadora e ela já sabia que eu ia deixar as cheers no próximo semestre. Descobri também que o Marcus quem havia trocado todo o meu horário escolar, como eu já desconfiava. Só faltava saber por quê. Ainda não tinha conseguido conversar com ele e pretendia fazer isso hoje, no fim da aula.
- Vem, null – ouvi null me chamar. – O sinal do intervalo já tocou.
Caminhei com ela até a porta do refeitório, já avistando a mesa que costumava sentar. null me olhou. Diferente de mim e null, null e null continuavam falando normalmente com os meninos. Não as culpava, de jeito nenhum. Afinal null é o namorado de null e null não tinha motivos para isso.
- Vou sentar com a null – disse e ela assentiu. null estava em uma mesa não muito distante da outra. Caminhei até ela e me sentei ao seu lado. – Como você está?
Ela não teve tempo de responder. Já que null sentou no banco em frente e começou a falar.
- Eu não aguento mais isso. Vocês duas em clima de enterro aqui, eles dois em clima de enterro lá. Poxa, nem parece que somos amigos.
- Não somos – disse null. – Não quero amigos que escondem coisas de mim.
- Mas... ah, pior que vocês estão certas – null continuou. – Eu não aguento ver vocês assim, null e eu estamos perdidas.
- Perdidas por quê? Vocês não estão envolvidas – eu comentei.
- Falta uma semana para o baile. Era pra estarmos escolhendo penteados e maquiagem e acompanhando os meninos nos ensaios. Esqueceram que a banda deles foi a escolhida pra tocar?
- Você falando de maquiagem e penteado, deve estar mesmo mal – disse null.
- Não estamos brigadas com você e null. E a gente não precisa dos meninos para escolher maquiagem e penteados – eu disse.
- Mas não é a mesma coisa – null insistiu. – Vocês ainda vão, não é?
- É claro que vamos... não gastei tanto naquele vestido pra ele ficar guardado no meu armário – null respondeu.
- Vamos sair hoje? – null perguntou, se sentando ao lado de null.
- Vamos, pra onde? – Eu perguntei, interessada.
- Não sei, qualquer lugar...
- Abriu um pub novo no centro, meu pai ganhou uns convites – disse null. – Que tal?
Eu não estava no clima de festa. Pra mim, uma maratona de alguma série e pizza já estava de bom tamanho.
- Não, valeu. Não estou no clima de festa – null respondeu e eu concordei com a cabeça.
- Linda – ouvi null gritar da outra mesa. Revirei os olhos.
- Vamos, null? – Perguntei e ela assentiu.
- Onde vocês estão indo? – null nos encarou enquanto levantávamos.
- Qualquer lugar longe deles – null respondeu. Deixamos as duas pra trás e saímos do refeitório. – Vamos pra escada. Faz tempo que não vamos lá.
Depois que começamos a andar com os meninos, nós passávamos o intervalo inteiro conversando no refeitório. Antes disso, null, null e eu só ficávamos na escada do auditório antigo.
- Eu não aguento mais, null – null falou, depois de alguns minutos de silêncio.
- Nem eu amiga, sinto a falta deles.
- No seu caso é pior, já que o null é seu irmão. O null não é nada meu – a encarei. – Desculpa.
- Será que o motivo é mesmo tão sério assim? – Eu perguntei.
- Já cansei de pensar, amiga – ela me encarou.
Conversamos por mais alguns minutos e logo o sinal tocou. Me separei de null e fui para minha sala. Pra minha sorte, a única aula que eu ainda tinha com o null começava agora. E ele fez questão de sentar atrás de mim.
- Conversa comigo, null – ele soprou no meu ouvido. Fazendo os pelinhos da minha nuca se arrepiar.
Ignorei.
- null, que droga, eu sinto sua falta.
Ignorei.
- Porque isso agora? Tudo estava se acertando entre nós.
Continuei ignorando.
- O que deu errado?
Essa aula seria longa.
- Tem a ver com o baile?
Me inclinei na cadeira, deixando meu rosto bem longe do seu. Senti uma bolinha de papel me acertar.
- Me deixa – me virei, rapidamente.
- Já consegui duas palavras – ele se gabou. – O que tem o baile?
Ignorei.
- Sabe, eu estava conversando com o null, e ele me disse uma coisa que faz muito sentido – voltei para a posição anterior, pra não ficar com dor nas costas. E null se aproveitou disso, sussurrando no meu ouvido. – Nosso namoro, tecnicamente, acaba junto com o baile.
- Namoro só na sua cabeça.
Ele riu.
- Era o que eu pensava... null, eu não vou terminar com você só porque o acordo acaba no baile.
- Não tem o que terminar, null.
E ele finalmente parou de me chamar. Durante uns cinco minutos.
- Vou te contar tudo, então. Vamos sair daqui – ele falou.
- Não da pra sair daqui – rolei os olhos.
- Quando a próxima aula começar, vamos sair daqui, vamos lá pra casa eu te conto tudo – ele virou de lado e pegou a minha mão. – Por favor, null.
- Não insiste, null – puxei minha mão, sem sucesso.
- Eu nunca faria isso com você – ele continuou. – Eu disse sim pra nós.
- Para – senti meus olhos marejarem. Sentimento estúpido.
- Estou sentindo sua falta, e sei que sente a minha também, amor.
- Merda – balbuciei, quando senti uma lagrima escapar.
- Nunca dei motivo pra desconfiar de mim, null – ele falou. E era verdade. null não havia saído com nenhuma outra garota desde que começamos a fingir. – Se lembra de quando conversamos no carro? Aquilo de imagem... não me diga que está se baseando nisso pra justificar o modo como está agindo comigo.
Eu não estava, estava? Pensando em tudo que já ouvi sobre ele e... eu estava fazendo isso. Não havia parado para pensar no quanto eu podia estar agindo injustamente.
- Você vem comigo, ou não? – Ele me perguntou. – Faltam vinte e cinco minutos para o fim dessa aula.
Pensei por alguns segundos. Eu estava com medo de me decepcionar novamente.
- Não tem como sair da escola, null – disse.
- Nós damos um jeito. Você vem mesmo?
- Eu vou, mas saiba que se estiver mentido, não precisa me procurar nunca mais.

null POV's OFF




Capítulo 22

Parte I


- Isso tudo... Isso tudo, eu... Eu... – null não conseguia concluir suas frases. Abriu e fechou a boca várias vezes, surpresa com tudo o que tinha escutado de null.
- Você está brava, eu sabia... Eu sabia que não devia ter te contado nada, você me odeia agora, não odeia?
- O que... null, eu não sei o que dizer – ela o encarou.
- Você me odeia? Está com raiva? Só me responde isso... Eu juro que vou entend... – ele repetiu as perguntas, um tanto surpreso com a reação de null.
- Não – ela deu de ombros, o interrompendo. – Eu não estou com raiva. Muito menos odeio você.
- Isso é bom e...
- Isso não é nada bom... Só me dá um tempo, ok?

***


Flashback

Um ano e seis meses atrás...

null's POV


Estou exausta. Por quê? Também não sei, afinal, estou de férias. Acordando tarde e dormindo ainda mais tarde. De bobeira o dia inteiro. Normalmente, eu não sou assim, estou apenas cansada da mesma rotina.
Comecei a caminhar em direção a casa de null. Ela quem devia ter vindo até minha casa, mas não, eu tinha que perder no maldito jogo de par ou ímpar. Nunca fui boa nessa brincadeira... eu não devia estar me sentindo tão mal, estou indo assistir uma maratona de minha série preferida. Isso deveria ter bastante influência sobre o meu humor.
Talvez seja apenas o meu corpo, me avisando que está sentindo falta de toda a badalação que eu tenho evitado ultimamente.
Em menos de quinze minutos eu já estava atravessando o portão do condomínio. A casa de null era uma das primeiras então não precisei andar muito mais. Apertei o botão da campainha e esperei até alguém vir me receber. null abriu a porta.
- Procurando a null? – Ele perguntou, no momento em que colocou os olhos em mim. Assenti e o vi balançar a cabeça negativamente, me deixando confusa. – Ela não está.
- Como assim "ela não está"? – Gritei, mas me arrependi no mesmo instante. Não devia estar fazendo isso. null não tem culpa se estou em um mal dia. – Me desculpe.
- Está tudo bem, null – ele sorriu pra mim. Nunca havia reparado em como ele tinha um sorriso tão bonito... na verdade, por que estou reparando? – Ela foi até a casa da minha tia, não sei quando volta.
- Ela devia ter me avisado... – reclamei. Encarei null novamente e ele retribuiu meu olhar.
- Você quer entrar um pouco? – ele perguntou e novamente abriu aquele sorriso digno de propaganda de creme dental.
- Eu adoraria! – Respondi, abrindo um sorriso também. Mas duvido que seja tão bonito quanto o dele.
Ele se afastou da porta me dando espaço para entrar e a fechou em seguida. Ofereceu-me alguma coisa para beber, mas recusei.
Conversamos durante meia hora, e descobri que null pode ser muito interessante quando quer. A conversa fluía normalmente até ele soltar, me deixando nervosa, o que é uma novidade pra mim.
- Sempre tive uma queda por você.
Inicialmente, fiquei sem reação. Ele havia pego-me de surpresa. Mas depois, fiquei intrigada, por que tais palavras tiveram tanto efeito sobre mim? Surpreendendo-me novamente, ele se aproximou de mim e juntou nossos lábios.

***


Um mês depois...

A festa de aniversário de 15 anos de null estava linda. Muitas pessoas, decoração incrível e a comida quase me fez sair da dieta. Só tinha visto null uma vez até agora, ela estava bem ocupada dando atenção a todos os convidados. Sentei-me em um dos pufes no canto do salão esperando alguém conhecido aparecer.
- Ainda bem que eu encontrei você sozinha – null soprou no meu ouvido.
- Que susto, lindo – sorri e lhe dei um selinho rápido.
- Lindo? – Ele riu de mim. – Isso é uma surpresa.
- Olha, não vem se achando, não – cruzei os braços. – Só porque você é uma das únicas pessoas a receber um apelido carinhoso de mim, não sig...
- Ei, eu não reclamei – ele me interrompeu. – Vamos a outro lugar, aqui tem muita gente.
- É claro que tem muita gente, estamos em uma festa – sorri irônica e ele me olhou feio. – Estou brincando.
Aceitei a mão que ele me ofereceu e fomos até outra parte do salão que até aquele momento, eu não sabia que existia.

null POV's OFF


***



Duas horas mais tarde...

null's POV


Eu estava entediada. Mas não podia estar. O momento mais importante da festa da minha amiga estava prestes a acontecer e eu estava bocejando, escorada na pilastra no centro do salão. Uma roda havia se formado e todos esperavam a grande entrada de null. Mas ela não aparecia. E para piorar, estava sozinha. null havia desaparecido há alguns minutos e null também. Nathan não falava comigo há semanas. Meus pais conversavam com alguns amigos e eu havia sobrado. Onde null havia se metido? Interrompi meus pensamentos quando senti alguém puxar a parte de trás do meu vestido. Era um garotinho.
- O que foi? – Eu perguntei. Ele me encarou e fez um gesto com a mão para que eu me abaixasse. – Eu conheço você?
- Não – ele soltou uma risadinha e me estendeu um papel dobrado – Aqui, pra você.
- O que é isso? – Ele não disse nada quando peguei. Em seguida, correu para o lado oposto, me deixando confusa.
Desdobrei o papel, lendo a seguinte frase:

"Venha me encontrar atrás da pista de dança"

Sem assinatura.
Que maravilha. De quem poderia ser?
Corri os olhos por todo o espaço, procurando o garotinho, mas não encontrei.
Eu não conhecia aquela caligrafia. Só tinha certeza de que não era de null. Quem mais poderia me mandar um bilhete daqueles?
Me lembrei de Nathan. Ele era a única pessoa com quem eu trocava bilhetes durantes as aulas além de null e null.
Decidi ir. E se ele estava tentando se reconciliar?
Durante a valsa de null... Será?
Muitas perguntas... Pensei durante alguns minutos e decidi ir, null já estava atrasada mesmo.
Demorei alguns minutos para encontrar a entrada para a parte de trás da pista de dança. Não tinha reparado nesse lugar quando passei por aqui mais cedo. Estava bem escuro, eu mal conseguia enxergar. Vi um garoto alto e de terno, um pouco a minha frente. Era Nathan, só podia ser. Me aproximei e coloquei minhas mãos em seus olhos, pronta para deixá-lo adivinhar quem era, mesmo que ele já soubesse. Mas antes que eu pudesse dizer algo, ele segurou minhas mãos e me puxou, até estamos frente a frente e uniu nossos lábios, fechei meus olhos automaticamente. Era uma sensação diferente de todas as que eu já havia sentido até agora. Melhor, até. A forma como ele me beijava era desesperada, diferente do modo doce e calmo que eu estava acostumada, me passando a impressão que já queria fazer aquilo há algum tempo. Ele interrompeu o beijo, mas manteve nossas testas unidas.
- Sabe, tem alguma coisa diferente em você. Eu gostei mais assim – ele disse. Afastei-me na mesma hora. Essa voz não era do Nathan, essa voz...
- null? – Eu perguntei. Apesar de ter certeza que era ele.
- null... null? O que você está fazendo aqui?
- Como assim? Eu recebi um bilhete para vir aqui. Um garotinho me entregou.
- Não, eu falei pra ele entregar o bilhete para Danielle... – ele balançou a cabeça, como se a culpa fosse minha.
- E como ele ia saber quem era Danielle? O menino deve ter uns sete anos – revirei os olhos, mesmo sabendo que ele não poderia ver, devido ao escuro.
- Eu não falei o nome, eu falei pra ele entregar pra menina de vestido rosa com preto – ele insistiu. Gargalhei e recebi um olhar confuso. Que só pude perceber, devido a nossa proximidade. Afastei-me novamente, dando com as costas na parede, mas continuei rindo. – O que foi?
- Qual a cor do meu vestido? – Ele continuou me encarando com aquele ar de confusão. Olhou meu corpo de cima a baixo, parando alguns segundos em meu busto, eu não perceberia se não estivesse seguindo seu olhar. Mas eu não o culpava. O modelo do vestido realmente ressaltava os meus seios.
- Eu já entendi... Seu vestido é igual ao dela.
- Na verdade, eu acho que o dela é igual ao meu, mas isso não vem ao caso – dei de ombros. Ah, por favor, o meu vestido era uma réplica, mas o dela era uma réplica da réplica.
- Que seja... Por que você me beijou?
- Eu te beijei? – Encarei-o, incrédula. – Você me beijou.
- Por que você veio aqui, null? – Ele tentou, com outra pergunta.
- Porque eu pensei que era o Nathan – admiti.
- Vocês não terminaram?
- Desde quando minha vida é da sua conta? – retruquei, sem me importar se estava sendo mal educada.
- Desde quando você veio até aqui e atrapalhou o meu esquema e me deixou enfiar a língua na sua boca – dei um tapa na cara de null assim que ouvi essas palavras. Ele passou a mão sobre o local onde eu havia acertado e riu. Isso mesmo, ele riu. – Você não devia ter feito isso.
- Ah, é? – Arqueei a sobrancelha. – E por que não?
Ele diminuiu todo o espaço entre nós e fez a última coisa que eu esperava. Me beijou. E deu início a uma seção de beijos estupidamente gostosa, que só acabou quando null me ligou, dizendo que a festa já estava quase chegando ao fim e eu não havia aproveitado nada. Mal sabia ela, como eu me diverti aquela noite.

null POV's OFF


***


Três meses depois...

null's POV


null e eu já estávamos namorando há três meses, mas eu sentia que ele estava me enrolando.
Respeitou minha decisão de esperar um pouco para contar a todos, principalmente a minha família e a null, e me deu um mês. Eu não conseguia imaginar como eles reagiriam. Porém, quando eu finalmente decidi que estava pronta, foi a vez dele me pedir um tempo, e como a ótima namorada que sou, também fui muito compreensiva e lhe dei os trinta dias. Mas já haviam se passado mais um mês e ele não tinha tocado no assunto nenhuma vez. E isso estava causando várias brigas desnecessárias.
- Qual o problema em contar pra alguém? – Perguntei pela quinta vez.
- Qual o problema em não contar? – ele me encarou, com um semblante nada amigável.
- Já estamos nessa há meses, null... Eu sei que fui eu quem pediu segredo no começo, mas... Eu não entendo. Não entendo por que você não quer contar.
- Eu sei, linda. E você sabe que eu te amo, mas ainda não é a hora – ele desviou o olhar do meu.
- Ama mesmo? Porque não parece que...
- Você está mesmo me perguntando isso? – Ele me interrompeu.
- Como não duvidar, null? Me diz, se no meu lugar, você não ia pensar a mesma coisa?
- Não, eu não ia – ele alterou o tom de voz.
- Então, boa sorte! – Exclamei alguns minutos depois, esboçando o sorriso mais falso que consegui. Já não havia mais uma gota de paciência em mim. – Boa sorte para encontrar uma garota que acredite em você. Porque eu não acredito mais.
- Você está se precipitando – ele segurou o meu braço, enquanto eu me afastava, indo em direção à porta.
- Não, estou apenas sendo justa. Se você não pode me dar o que eu quero, também não posso dar o que você quer.
Disse isso e livrei meu braço de seu aperto, retomando o meu caminho e saindo de sua casa.
Só percebi que estava chorando quando senti o gosto salgado das lágrimas nos meus lábios. Sequei o rosto com as costas da mão e continuei caminhando. Eu não era assim. Não chorava por garotos.


null POV's OFF


End of flashback



***


- Se você pensa que algumas palavras fofinhas vão consertar toda a besteira que você fez, está enganado! – null fez questão de deixar claro. Não queria que null pensasse que ela só estava ali porque ele havia lhe dito algumas coisas bonitinhas durante a aula.
null riu.
- Tudo bem, null – ele manteve o sorriso no rosto. – Como foi mesmo que você e as meninas saíram da escola aquele dia?
- Enrolando o porteiro e chantageando a Silvia e o Marcus. Quero deixar claro que não me orgulho disso – ela se defendeu.
- Eles mereceram. O Marcus principalmente, ele nos odeia.
- Enfim... Não vai dar certo, o porteiro não vai cair no mesmo truque de novo.
- A gente inventa outra coisa... Mas primeiro, vamos pra outro lugar. Daqui a pouco toca o sinal e a próxima aula começa – null assentiu e eles entraram na biblioteca com cautela, para não serem vistos pela mulher que cuidava dos livros.
Depois de um tempo, sentados no chão atrás de uma das últimas prateleiras, null finalmente teve uma ideia.

- Pronto, pode começar a contar tudo – disse null, no momento em que colocou os pés na sala de estar da casa de null.
- Calma, null – ele sorriu. Aquele sorriso que null tanto odiava quanto amava, típico dele. – Aceita alguma coisa...
- Verdades, por favor – ela também sorriu.
- Ok, eu já entendi – null deixou sua mochila no sofá, junto com a de null, que ele havia feito questão de carregar pra ela metade do caminho, já que foram andando. – O que você quer saber?
- Tudo... – null se sentou no sofá e null sentou-se ao seu lado. – E eu vou saber se mentir.
- Não vou. Eu prometo – null encarou null, e entrelaçou uma de suas mãos. – Uma aposta.
null desviou o olhar e o manteve fixo no tapete camurça da sala. Soltou o ar que nem sabia que estava prendendo e curiosa, pediu.
- Continua.
Bastante surpreso com a reação dela, null demorou alguns minutos até organizar os pensamentos e contar tudo o que aconteceu.

Parte II


null ficou durante todo o fim de semana trancada no quarto, apenas pensando em tudo o que null havia lhe contado. Ignorou todas as ligações e mensagens recebidas e fez questão de evitá-lo na escola também. Depois de tanto pensar se devia ou não revelar a null que havia dado o braço a torcer e conversado com ele, decidiu que era melhor dizer tudo a ela. Esperou o treino da torcida acabar e ficou enrolando no vestiário, até só sobrar as duas lá dentro.

- Você foi conversar com ele? – null perguntou, alterada. – null!
- null, eu não te contei pra você reagir assim – null riu do jeito exagerado da amiga. – Eu consegui, eu descobri tudo.
- Nosso trato não foi esse! Devíamos ignorá-los! – Ela continuou.
- Não quer nem saber o motivo de tanto drama da parte deles?
- É um bom motivo para fazer drama? – null se rendeu. Estava curiosa demais para brigar com null.
- Não – null falou e null revirou os olhos. – Posso chutar duas reações pra você. Primeira: vai ficar muito brava, o que eu acho que vai acontecer. Ou vai ficar muito triste.
- Qual foi a sua reação? – null perguntou.
- Eu liguei o foda-se. Não me importei. Nem um pouco.
- Eu duvido, null... Tudo o que envolve o null importa pra você. E no caso, envolve tanto ele quanto seu irmão.
- Posso contar? – null assentiu. O celular de null vibrou no bolso do casaco, interrompendo-as. null bufou. – É o null. De novo.
- E é com essa cara que você quer me convencer que não se importa? – null a encarou.
- Ele está aqui na escola. Quer conversar comigo – ela ignorou a pergunta. – Eu já volto, se não ele não vai me deixar em paz.
- Não demore, por favor. Vou te esperar aqui – null assentiu e deixou o local.

***


- Oi, null – null esboçou o melhor sorriso que conseguiu.
- Oi, null. Eu pensei que não ia conseguir falar com você – ele também sorriu. – Está tudo bem?
- Sim. Por que não estaria?
- Não sei. Você me evitou o fim de semana todo, não falou comigo hoje...
- Eu te pedi um tempo, não pedi? – Ela sorriu de novo. – É só isso? É que a null está me esperando.
- É, eu só estava preocupado – null não acreditava em uma palavra que null dizia.
- Hm, então, até mais – ele assentiu e se aproximou dela. Segurou seu rosto com uma das mãos e juntou seus lábios. Mas null não o deixou aprofundar o beijo e os separou. – O que está fazendo, null?
- Beijando você? Que pergunta, linda – ele riu.
- Não – null balançou a cabeça. – Não precisa, estamos sozinhos.
- O que? – Ele a olhou, confuso. E logo depois entendeu. – Não, null, nós já passamos dessa fase.
- Não tem uma fase. Nem duas, nem mais – ela riu. – Isso tudo é apenas um acordo. Que por acaso, acaba essa semana.
- Não fala assim, você sabe que é muito mais – ele se aproximou novamente e segurou o rosto de null carinhosamente.
- Ah, é verdade – ela manteve o sorriso. – Também é uma aposta.
- Está mentindo para si mesma, null. Não faz isso – ele pediu.
- Até amanhã, meu amor – null se afastou de null e foi caminhando de volta até os vestiários femininos.

***


- Alguém vai me explicar o que está acontecendo? – null perguntou, depois de ser ignorada pelas amigas.
Terça-feira estava durando mais do que o necessário na opinião de null e null. As duas mantiveram o plano de fingir que não se importavam com o motivo verdadeiro do acordo, porém, ainda continuavam ignorando todos os meninos. Apenas se sentaram no mesmo lugar na hora do intervalo por insistência de null e null.
- Vamos nos arrumar na casa de quem na sexta-feira? – null desviou o assunto. – Minha casa?
- Sim, é mais perto da escola – null concordou.
- Mas devíamos chegar juntos – disse null.
- Não, vocês vão mais cedo pra passar o som e essas coisas – null o corrigiu.
- Não vão conseguir me enrolar, vamos conversar agora? – null pediu.
- Nada está acontecendo, null – null sorriu, e então encarou null, null e finalmente null, ainda com o sorriso no rosto. – Ou está?
- Vamos, null? – perguntou null. – Eu preciso conversar com a treinadora. Não estou conseguindo mesmo encontrar meu uniforme, preciso de um novo.
null assentiu e as duas deixaram o refeitório.
- O que vocês dois aprontaram? É tão sério assim? – perguntou null. Diferente de null, ela estava mais preocupada que curiosa.
- Não sei como ainda não contaram – null se pronunciou pela primeira vez. – Vamos null, eu preciso conferir a lista de música.
- Também vamos – null e null se levantaram.
- Não – null gritou, chamando atenção de algumas pessoas ao redor para si. Mas se recompôs em seguida. – Vamos conversar sobre o baile, null. Fica.
- Você também, null – disse null, já prevendo as intenções de null.
null e null deram de ombros e os deixaram.
- O que foi isso? – perguntou null, depois de ver os meninos atravessando a porta.
- Precisamos de um plano para consertar essa bagunça, eu não aguento mais – disse null, batendo com a cabeça contra a mesa.
- Vamos pensar, mas para com isso, tá chamando atenção – null disse mais baixo. – Vamos trancá-los em algum lugar?
- Primeiro, precisamos saber o que está acontecendo, e vocês vão contar – null apontou para os meninos.
- Já até ameacei de morte, null. Está perdendo seu tempo – disse null. – Vamos só pensar em alguma coisa.
- Trancá-los é a melhor ideia – null disse, depois de alguns minutos.
- Mas eles não vão cair nessa de novo – null discordou.
- E se a gente trocasse? O null com a null e o null com a null? – null sugeriu.
- É... Isso pode dar certo – disse null. – Vamos tentar? Não temos nada a perder, não dá pra ficar pior.

***


- É sério isso, null? – null perguntou do outro lado da porta.
- Muito sério. Só vão sair daí quando estiver tudo bem de novo.
- Droga, por que eu ainda caio nessas? Até parece que não conheço meus amigos.
- Porque você é meio burra, null, sem ofensas. Nem o null caí nessa. Boa sorte!
- Quero deixar claro que eu também não sabia sobre isso – disse null.
- É claro que não – null revirou os olhos.
- É legal quando é você que está do outro lado da brincadeira, não é? – Ele gargalhou.
- Ah, fala sério. Eu fiz um favor a você e a null. Ela veio até me agradecer.
- Não vou discutir isso com você, Barbie.
- Vai começar com isso de novo?

***


- Eu vou matar aqueles quatro! – null gritou.
- Menos, null. Nós dois sabemos que você não vai matar ninguém – null riu.
- Guarda o seu bom humor pra você, null.
- Eu não entendo porque você e a null estão tão bravas... Vai me dizer que nunca apostou com ninguém que ficaria com um cara? Nunca pagou pelo menos vinte reais a alguma das meninas por ficarem com um menino numa balada?
- Quem você pensa que eu sou? – Ela o encarou. – Você realmente não me conhece.
- Não foi de propósito! Você sabe que eu sou... Você sabe que eu adoro a null. Acha mesmo que eu a magoaria? Foi exatamente por isso que eu contei. Se fosse outra pessoa seria muito pior.
- Isso não justifica nada, null – null comentou mais calma, e se sentou no chão da pequena sala com materiais de limpeza, ao lado dele.

***


- Por que você ainda me chama assim? – null perguntou ao irmão.
- Você nunca se importou... Ou pareceu se importar – ele deu de ombros. – Se importa?
- Não vou nem responder.
- Por que está com raiva de mim? Você é doida por ele, null. E já faz tempo que eu percebi isso. Você deveria me agradecer.
- Valeu, irmão! – Ela sorriu com sarcasmo. – Está bom assim? Eu posso agradecer em inglês também, espanhol e até francês.
- É sério, null. Você faz bem pra ele. Ele te deixa mais feliz. Pra que tanto doce?
- Você e a null é a mesma coisa. Pra que tanto doce? – Ela repetiu a pergunta. – Vocês se gostam, pelo o que eu sei já ficaram várias vezes, por que não namoram pra valer?
- O que você sabe? – Ele a encarou pela primeira vez no dia.

***


- Posso te perguntar uma coisa? – null arriscou.
- Manda... Estamos aqui para nos resolver, não é?
- Você gosta mesmo da null?
- Sinceramente... Eu não sei. Eu nunca me envolvi tanto assim com alguém. Eu sempre começo pelo último passo com as garotas, com a null foi diferente, eu a conheci antes de tentar qualquer coisa.
- Eu conheço a null o suficiente pra te dizer que ela está sim apaixonada por você, null. E posso me arriscar a dizer que você também está – ela riu.
- Eu não sei, já disse – ele desviou o olhar de null. – Mas e você e o null?
- O mesmo de sempre...
- Sabe... Eu não contei o seu segredo para a null – ele disse, alguns minutos depois.
- Segredo? – null perguntou, confusa.

***


- Primeiro eu soube que vocês ficaram na festa da null. Depois a null me contou que vocês já estavam juntos há mais tempo. Não precisa ser um gênio para saber que vocês namoravam. Fora que eu citei isso algumas vezes, indiretamente, e a null nem negou. Estou errada?
- Eu não quero falar... – null parou no meio da frase quando encarou null e seu ar de confiança. Ela sabia que estava certa. – Não está.
- Eu sabia – null sorriu.
- Tá, mas e você o null? Por que não estão juntos?
- Quer mesmo discutir isso? – Ele assentiu. – Sinceramente, eu não sei.
- Você gosta dele?
null ponderou antes de responder. Seria o certo confessar ao seu irmão todos os sentimentos envolvendo o seu melhor amigo? Decidiu que seria sincera, nunca teve motivos para mentir para null. Apesar de algumas coisas, sempre tiveram uma boa relação.
- Estou apaixonada por ele, bro – null soltou uma risada triste. – Sou muito patética por isso?
- De jeito nenhum. Senta aqui comigo – null deu dois tapas no banco vermelho desgastado que ficava no camarim do auditório antigo. null fez o que o irmão pediu e ele a abraçou de lado.

***


- A coisa sobre o bebê, null.
- O que... Você... Como você sabe? – null abriu e fechou a boca várias vezes. Não podia ser verdade.
- Pra quem você acha que o null conta todos os problemas? É claro que esse ele soltou sem querer... – ela queria matá-lo. Como assim null saia contando sobre a vida dela a null?
- Você sabe a história toda?
- Sei, o null me contou tudo. Mas fica tranquila, eu não contei isso a null. Achei melhor você conversar com ela.
- Bem, não era pra você saber, mas já que sabe... Obrigada – null sorriu sincera. – Mas o que essa história tem a ver exatamente com a aposta?

***


- É agora a hora que você me diz que vai quebrar a cara do null se ele me machucar? – null perguntou, rindo em seguida.
- É, eu quebraria a cara dele sim – null também riu. – Mas vou te dizer outra coisa. Eu o conheço muito bem, e sei que ele é uma ótima pessoa. Se você está insegura, apenas pare de ouvir os outros. Eu sei bem a impressão que você tinha dele há um mês, e ela mudou, não foi?
- Mudou sim, você tem razão. Mesmo assim, null... É difícil confiar completamente em alguém.
- Se te apresentasse ele há um mês, sem reputação ou essas besteiras de popularidade, como você o definiria? O que acha dele?
- Ele tem sido bem legal comigo e eu gosto da companhia dele e... – null não continuou. Ela sabia que null estava certo. Ela tinha receio em confiar em um null que ela realmente nunca conheceu, apenas ouviu falar. E toda essa situação se tornou muito absurda em sua cabeça.
- Vai falar com ele? – null perguntou, interrompendo sua reflexão.
- Não, ainda estou chateada com essa coisa de aposta. Tenho a impressão de que ele apenas me usou – null respondeu, sentindo-se mal.
- null! – null exclamou, impaciente. – E sobre o que acabamos de conversar?

***


- O motivo, null. Esse foi o motivo.
- Então eu fui realmente o motivo verdadeiro dessa palhaçada?
- Foi. Por que eu mentiria para null? – Ele riu. – Não se conquista a confiança...
- Eu pensei que você tinha omitido o motivo verdadeiro – ela o interrompeu.
- Não, apenas omiti a parte do bebê – null não respondeu, então null continuou. – Você deveria conversar com o null.
- Talvez você tenha razão.
- Você sabe que eu tenho razão – ele a encarou com um sorriso presunçoso. – Mas deve ir com calma.
- Não tenho motivos para ir com calma, null.
- Não me chama assim, por favor – ele balançou a cabeça. – Consegue acreditar no que eu disse? Que eu realmente não fiz por mal? – Ela assentiu, sem muita certeza. – Com o null é a mesma coisa. O cara te ama, e ama a irmã também. Não tem motivo para tal.
- Vocês são apenas dois idiotas – ela disse, alguns minutos depois. – Boas intenções, más ideias.
- Poético. Eu concordo – ele riu. null achava null mais parecida com ele do que sequer podia imaginar.
- Eu tirei de um livro... A questão é que eu não sei se ele estava apenas me manipulando por causa da aposta, ou se são verdades as coisas que ele me disse nesses últimos dias.
- Você ainda tem dúvidas?
- Como não ter, null?

***


- Mas não vai voltar a ser como era antes... – null assentiu, entendendo o ponto de vista da irmã.
- Tudo bem, eu não vou dizer mais nada – eles sorriram juntos. – Ao menos você tenta ser compreensiva.
- Eu sou compreensiva. Até demais.
- Vai ser mais difícil com a null – ele desviou o olhar.
- A null te ama. E você a ama. O amor sempre acha um caminho – ela riu da própria frase. – Eu tenho que parar de assistir filmes.
- Um passo de cada vez, não é? – Ele riu junto. – Tudo bem entre a gente, então?
- Tudo bem. Mas sem mentiras, apostas e acordos, também. Ah, e não me chama de Barbie nunca mais, por favor.
- Me desculpe por tudo isso. E quanto ao Barbie, não se preocupe. Eu vou achar um apelido pior – null gargalhou da expressão indignada da irmã. – Liga pra null, não aguento mais ficar aqui.

***


- Vai conversar com o null? – null perguntou.
- Vai conversar com a null? – Ela respondeu com outra pergunta. – Pensando bem, não sei se quero você com a minha amiga, não.
- Vá cuidar da sua vida, null – ele sorriu. – Eu vou conversar com a null, sim.
- Eu vou esperar o null vir falar comigo, porque sou dessas.
- É autoconfiança até demais – ele balançou a cabeça. – Não tem medo de perder ele?
- Como você mesmo disse, o null me ama... – null sorriu. – Mas não é nisso que estou pensando agora. Será que eles se resolveram?
- Acredito que sim. Aqueles dois vivem grudados, são praticamente gêmeos – null riu da relação dos irmãos. – Mas e a gente, nos resolvemos?
- Não que tivesse exatamente algo a se resolver, mas sim, está tudo bem.
- Vai parar de olhar para mim e os meus amigos com cara de nojo?
- Eu não faço cara de nojo... – null se defendeu. – Mas eu paro de olhar torto pra vocês.
- Tudo bem, null. Foi bom conversar com você – eles fizeram um high-five sem nenhuma sincronia e riram.
- Digo o mesmo. Agora, liga pra alguém, por favor. Estou sem celular.

***


- Essa semana passou voando, não passou? – perguntou null, enquanto espalhava a sombra clara em sua pálpebra.
- Só passou voando depois que vocês duas desistiram de matar os meninos – null comentou, fazendo null rir.
- Eu nunca os mataria. Adoro eles – disse null, sorrindo falsa.
- Olha, eu tenho minhas dúvidas – null discordou.
- Estamos muito atrasadas? – null perguntou.
- Muito. E ainda nem nos trocamos – null respondeu, conferindo no relógio azul pendurado na parede de seu quarto.
- Maquiagem primeiro, roupa depois. Vai que mancha? – disse null.
- Será que os meninos já estão lá? – null fez outra pergunta.
- null! Pare! Está nervosa? Você não para de fazer perguntas – null falou, segurando os ombros da amiga.
- Um pouco, talvez – as garotas a encararam e ela completou. – Estou, sim.
- Relaxa – disse null. – Nós sabemos muito bem que a validade de um certo acordo não venceu. E nem vai vencer.
- Não quero falar disso – ela voltou ao espelho, pegando o batom no nécessaire.
- Vocês não vão mesmo voltar? – null perguntou.
- Não existe um "voltar". Nunca namoramos de verdade.
- Vocês não vão se pegar mais? – null reformulou a pergunta.
- Já está bom do jeito que está.
- Mentirosa! – disse null, arrancando risadas de todas.
- Vocês conversaram depois de terça-feira? – perguntou null.
- Sim, durante as aulas. Está tudo bem entre nós – null sorriu, mas sem conseguir convencer as amigas. – Me dê um tempo, tá? – Ela pediu. – Meu Deus, vocês estão piores que o próprio null.
- Tá bom, gente. Foco aqui – disse null. – Minha maquiagem está boa?
As meninas assentiram e null foi até o closet buscar o vestido.
- Já vou me trocar também, como estou? – null perguntou.
- Está linda, null. Você deveria usar maquiagem mais vezes – null comentou.
- Também já estou pronta – null anunciou.
null finalizou o trabalho em seu rosto e seguiu as amigas, em busca do próprio vestido.

***


As meninas desceram do carro de null e foram caminhando sem pressa em direção a enorme quadra interna do colégio. Entraram no local atraindo muita atenção, como de costume. null com seu vestido azul escuro, null com um modelo nude, null com um de cores prateado e cor-de-rosa bebê e null, por fim, um branco rico em detalhes brilhantes. Apesar de a maioria dos estudantes encará-las, a decoração elegante prendeu a atenção delas. Um baile de máscaras. O comitê fizera tanto mistério sobre o tema do baile, não dando a oportunidade de as pessoas se vestirem de acordo, então, para recompensá-los, estavam distribuindo várias máscaras, de diferentes cores e modelos.
- Não sei se gostei dessa decoração – null foi a primeira a se pronunciar, desde que saíram do carro. – Essas cores...
As cores predominantes eram preto e dourado, com um leve toque de prateado. Alguns forros preenchiam todo o teto, junto de pequenas luzes brancas de neon, dando a impressão de que estavam abaixo de um céu estrelado. No meio, uma pista de dança foi improvisada. E havia uma bancada com vários aparelhos eletrônicos, provavelmente pertenciam ao DJ, mas não tinha ninguém lá e apenas uma música ambiente tocava.
- Vamos à outra – null apontou para a saída que levava a quadra descoberta.
Passaram por algumas mesas, todas muito bem decoradas, assim como toda a festa.
- Alguém já viu os meninos? – null perguntou e elas negaram.
Entraram na outra quadra e diferente da primeira, não havia tantos detalhes. Um palco havia sido armado para o show dos garotos, e pequenos balões em formato de máscaras estavam pendurados na estrutura de metal que iluminava os instrumentos. Não tinha mesas, apenas alguns bancos decorados, mas que já pertencia a quadra. No canto, entre o corredor que levava as salas de aula e o caminho para a saída do colégio, uma mini lanchonete funcionava.
- Já faz uma hora e meia que o baile começou – disse null. – Nós chegamos muito atrasadas.
- Isso sempre acontece – null sentiu um par de braços rodear sua cintura, arrepiando-a, e se virou, mesmo já sabendo muito bem a quem aquela voz pertencia. – Você está linda, null – null soprou em seu ouvido e lhe deu um beijo na bochecha.
- Você também – ela esboçou o seu melhor sorriso. – Fica muito bem de máscara, sabia?



Capítulo 23

- Eu pensei que nunca mais escutaria sua voz.
- Não seja tão dramático, null – null rolou os olhos.
- Então estou perdoado? – Ele perguntou com curiosidade.
- Nunca cheguei a ficar realmente brava. Magoada, sim. Com raiva, não tanto. Mas eu resolvi escutar o null e bom – ela sorriu pra ele. – O meu coração também.
- Não vai se arrepender disso. Você sabe. – Ele também sorriu, daquela maneira que ela mais gostava.
- Caso eu me arrependa, não precisa contar com a sua participação na minha vida. Nunca mais.
- Vamos aproveitar esse baile, esperei muito por ele – null puxou-a pelo braço para longe das amigas, até a quadra coberta.
- A null não presta. Não sabe o significado da palavra ignorar.
- Deixa de ser quadrada, null – disse null, realmente irritada com a postura da amiga. – Não adiantou nada conversar com o null? Eu sei que por dentro você está doida para fazer o que a null fez, mas está com medo. Não quer se arriscar.
- Quem é você para me dizer isso, Srta. null-não-quero-saber-do-null-porque-brigamos-quando-crianças? – null perguntou na defensiva.
- Eu sei que você não gosta que se metam na sua vida, sei como é irritante porque eu também não gosto, mas verdades precisam ser ditas – disse null, mais calma. – Não é xingando a null que você vai se sentir melhor. É resolvendo seus problemas. Se você o ama, não tenha medo de se arriscar, se realmente tem certeza que não quer mais nada, deixe-os em paz e parte pra outra. A fila anda e existe mais de um milhão de caras por aí pra te fazer feliz.
null escutou tudo em silêncio. E permaneceu em silêncio por mais dois ou três minutos. Por fim, disse.
- Obrigada por isso.
- Não há de que. Vai me escutar? – null assentiu e deixou null e null para trás.
- Você podia aproveitar o próprio conselho – disse null.
- Nada disso, eu estou feliz do jeito que estou. A null não está, é diferente.
- O null te faria bem, null. Ele não é um babaca.
- Eu sei disso, null. Mas eu realmente não quero – null deu de ombros. – Vem, vamos aproveitar esse baile.

***


- O que os bonitinhos estão aprontando? – null perguntou, abraçando o namorado por trás. null apenas cumprimentou null com dois beijos no rosto.
- Apenas provando o ponche batizado – disse null, num tom baixo. – Como chegamos mais cedo por causa da passagem de som...
- Espera? O que vocês misturaram aí? – null o interrompeu.
- Só um pouco de vodka, nada demais – null deu de ombros.
- Vocês são malucos? – null perguntou, com seu jeito exagerado. – Se alguém desconfia, vão logo saber que foram vocês. Tem câmeras por todo lugar.
- Relaxa, amor – null beijou o pescoço de null, amolecendo-a. – Não vai dar nada.
- É, pequena, relaxa – disse null. – Bebe um pouco – ele ofereceu um copo cheio até a metade a ela, que recusou, passando para null.
- Só vou beber isso – null afirmou, antes de provar o ponche.
- Vocês viram o null por aí? Já faz uns minutos que ele sumiu – null mudou de assunto.
- Nem imagina com quem ele está? – disse null, rindo junto com null.

***


- Eu quero... quero falar com você – null abordou null, depois de vê-lo encerrar algum assunto não muito interessante com um garoto do time de futebol.
- Você? – null riu, com deboche. – Você veio falar comigo?
- É... Não, foi uma péssima ideia – null deu as costas e começou a caminhar, xingando a si mesma por ser muito covarde.
- Não, espera – ele foi atrás dela. null parou, mas permaneceu de costas. – O que foi?
- Quero pedir desculpas pela maneira que tenho agido com você do último mês pra cá – ela começou, tentando não gaguejar e parecer fraca e finalmente virou-se para ele. – Mas, eu também acho que a culpa não é só minha porque você também pode ser bem babaca comigo quando quer – ele arqueou a sobrancelha, confuso com o rumo que o discurso da garota tomou e ela percebeu que tinha falado bobagem. – Tá, me desculpe por isso também.
- Você começou muito bem, null, mas...
- Não vim aqui pra escutar você me dar lição de moral, vim me desculpar, já acabei – null deu as costas novamente. Mas null a impediu de dar um passo, segurando seu braço.
- Você começou muito bem, null, mas está errada – ele retomou a frase. – Não precisava se desculpar. Ok, realmente, nós dois erramos um com o outro, mas não precisava disso. Eu sei como está sendo difícil pra você, é muito orgulhosa.
- Droga, por que me conhece tão bem? – null voltou a encará-lo, com um sorriso pequeno.
- Por quê? – ele riu e se aproximou dela, null o acompanhou, já prevendo suas intenções. – Porque eu amo você.
null diminuiu todo o espaço entre eles e juntou seus lábios, pegando null e todas as outras pessoas que estavam por perto de surpresa.

***


- Pra onde está me levando?
- Eu quero te mostrar uma coisa, apenas me siga – null respondeu.
Depois de andar pela quadra decorada da escola, null e null voltaram para a área descoberta. Porém, foram para o outro lado, por insistência dele.
- A festa é pra lá – null apontou para o lado oposto ao que estavam indo. Ele não respondeu, deixando-a cada vez mais arrependida por ter o seguido. – null, o que você...
null se calou no instante em que colocou os olhos no jardim esquecido da escola, especificamente, onde ficava a enorme árvore, antes de ser cortada. O lugar estava iluminado por algumas lâmpadas neon branco, em formato de pisca-pisca. Uma toalha xadrez vermelha forrava o chão e havia uma cesta sobre ela.
- O que é isso? – ela perguntou, surpresa.
- Um piquenique. Nunca fez um? – Ele riu e passou por ela, se sentando no chão em seguida. null negou com a cabeça, ainda em silêncio e ele completou. – Também não. Não vai dizer nada?
null despertou de seu transe e caminhou até null, por fim, sentou-se ao seu lado.
- Não sei o que dizer – ela confessou. Por que ela estava ali? Só conseguia pensar nisso. – Por que estou aqui?
- Está aqui para o meu piquenique – ele sorriu. Se esquivando da pergunta.
- Por que estou aqui, null?
null tirou uma garrafa de vinho e duas taças da cesta, encheu-as e entregou uma a null.
- Você sabe que eu não gosto muito de beber – ela o encarou.
- Só um pouco, null. Não precisa se não quiser – ele devolveu o olhar com a mesma intensidade. Ela se rendeu e bebeu um gole.
- Você sabe que eu vou continuar perguntando.
- Quer um cupcake? – Ele ofereceu, olhando dentro da cesta.
- null! Não me enrola, que droga – ela pediu, já sem paciência.
- null? Desiste, agora eu não falo – ele riu.
- É sério, me diz – ela também riu. – Eu como o cupcake depois.
- Espera, ainda preciso ter certeza de que está tudo be...
- Mas está tudo bem – ela riu sem humor. – Sabe, isso é tão clichê...
- O quê? – ele também riu, um pouco confuso.
- Isso, essa situação, esse baile... tudo – ela continuou rindo, mesmo sem graça alguma. – Parece que eu estou num filme, e que isso tudo vai acabar daqui a pouco.
- Por que se sente assim, null? – ele perguntou, tentando entender o ponto de vista dela.
- Estamos num baile. Vestidos bonitos. Comida chique – ela começou a explicar.
- E por que isso é ruim?
- Porque eu tenho a impressão de que já sei exatamente o que vai acontecer a partir de agora.
- É mesmo? – ele sorriu daquela maneira que null adorava. – E o que vai acontecer?
- Vamos conversar, você será legal comigo, depois vamos ter que voltar e deixar de ser quem somos quando estamos sozinhos um com o outro. Sua banda vai tocar, todo mundo vai curtir o show, porque você é popular e... – Ele a encarou, divertido. – Não que vocês não tenham talento, muito pelo contrário... Depois dançar, encerrar aqui e talvez, vamos para casa do null... É isso?
- Respira – ele disse, vendo a garota ofegar por dizer tantas palavras em um curto período de tempo. – Não, não é isso.
- Ah, não? – null encarou null, um pouco confusa. – É pra casa do null? Estranho, me lembro bem da null dizendo...
- Não, null. Não isso. Quer dizer é isso... Isso, vamos para casa do null, sim – ele explicou. – Não é só isso que vai acontecer hoje.
- Jura? Não consigo pensar em mais nada para completar a noite – ela deu de ombros.
- Uma pergunta – null continuou. – Tenho uma pergunta pra te fazer.

***


- Vocês vão mesmo lá pra casa depois, não é? – perguntou null.
- Nós duas, sim. Não posso afirmar pela null e pela null – null respondeu.
- Elas ainda estão chateadas? Com eles é compreensível, mas nós não fizemos nada – disse null.
- Cara, vocês são burros – null revirou os olhos. – Eles estão juntos agora, não é óbvio?
- Não somos burros. A gente só não quer tirar conclusão antes da hora e depois se decepcionar – null explicou.
- É, vamos fingir – null riu. – Vocês vão tocar que horas?
- Por volta das 23h. Vamos fazer um show de meia hora e eles vão começar a mandar o pessoal embora – respondeu null.
- Colégio sem graça, nem pra dar uma festa descente – null reclamou.
- É um baile, não uma rave – disse null.
- É por isso que vamos lá pra casa – disse null. – Todo mundo aqui tá convidado, vou anunciar depois do show.
- O que seus pais acham disso? – perguntou null.
- Eles foram para São Paulo ajudar minha irmã com o casamento dela, só voltam semana que vem – ele deu de ombros. – Vocês podiam ir comigo ao casamento.
- Como? De carro? – perguntou null.
- Exatamente. Temos null, null e null para dirigir. E os motoristas do meu pai também – ele disse, realmente considerando a ideia. – O que acham?
- Vamos pensar nisso depois? – null sugeriu e os amigos assentiram.

***


- Eu também amo você – null abriu um sorriso maior que o rosto.
- Vem comigo, quero conversar com você – ele sinalizou com a cabeça as pessoas ao redor.
null seguiu null até o segundo andar, que por sorte, não estava trancado. Os corredores estavam escuros, afirmando que eram os únicos ali. Entraram em uma das salas de aula e ele acendeu as luzes.
- Ninguém vai nos ver aqui? – null perguntou.
- Não vou demorar – ele sorriu e sentou-se à mesa de madeira que pertencia a um de seus professores. – Senta comigo.
- O que quer conversar? – ela perguntou, enquanto fazia o que ele pediu.
- Quero que volte a ser minha namorada – null voltou a sorrir depois que terminou a frase.
- Como fazíamos antes? – perguntou null, lembrando-se dos meses anteriores.
- Não. Sem segredos, vamos começar do zero – ele respondeu.
- Eu vou contar tudo o que aconteceu entre nós as minhas amigas – null avisou. – Está de acordo?
- É claro. Da mesma maneira que você não gosta de mentir pra elas, eu também não gosto de mentir para os meus amigos. E ainda tem algumas coisas sobre a aposta que você precisa saber – disse null.
- Então reunimos nossos amigos amanhã e contamos tudo a eles, o que acha? – null sugeriu.
- É uma ótima ideia, meu amor.
- Como? – null riu. – Repete.
- Meu amor!

***


- Uma pergunta? Que pergunta? – null estava confusa.
- Você realmente acha piquenique uma coisa clichê?
- Desisto, está brincando comigo, vou embora – null levantou-se rapidamente. E null fez a mesma coisa.
- Não, null. Por favor – ele pediu e se sentaram novamente. null abriu a cesta retirou um cupcake com cobertura vermelha e entregou a null. – Eu prometo que você vai gostar.
null aceitou o doce e encarou null. Ela sabia que devia sair dali, mas alguma coisa não permitia. Odiava o poder que seu sentimento sobre o garoto exercia sobre ela. Vendo-o sorrir, mordeu o cupcake, sujando o rosto de cobertura.
- É, realmente. Está uma delícia – ela mordeu mais um pedaço. Mastigou normalmente, até sentir alguma coisa sólida entre seus dentes. Curiosa, colocou um dos dedos na boca e puxou uma aliança. Encarou o pequeno objeto em sua mão durante alguns segundos, até entender o que estava acontecendo, e então trocou o olhar para o rosto dele.
- Não vai dizer nada? – Ele perguntou pela segunda vez no dia.
- Você me deixou sem fala, de novo – disse null.
- Namora comigo.
- Isso não foi uma pergunta – ela voltou a encarar o anel.
- Namora comigo?
- Nós já não estamos namorando? – ela riu.
- Nosso acordo acaba hoje, null – ele também riu. – Estou pedindo pra valer.
- Por que eu deveria aceitar?
- Porque eu gosto de você. E eu sei que você gosta de mim.
null aproximou-se de null, tirou o cupcake e a aliança de suas mãos e os colocou em cima da cesta. Segurou o rosto delicado da garota com uma das mãos e juntou seus lábios. Iniciou um beijo calmo, ambos aproveitando cada segundo.
- Você ainda não me respondeu – disse null, depois de partir o beijo.
- Você já sabe a resposta – null disse e o beijou novamente.

***


- Eles sumiram mesmo – disse null. – Mas não ouso interrompê-los.
- Eu pensei ter visto a null por aqui, acho que me enganei – null comentou.
- Não se enganou, não – null apontou. – Não é ela ali? Dançando com o null?
- A própria – null confirmou. – Devíamos fazer a mesma coisa.
- Aonde será que estão null e null? – null perguntou.
- Bem aqui – null apareceu atrás da amiga e apertou suas bochechas.
- Seu batom já saiu? – null alfinetou, recebendo um olhar feio em resposta.
- O que está acontecendo ali? – null apontou para null e null dançando no centro da pista improvisada.
- Parece que voltaram – disse null.
- Desisto de entendê-los – disse null e os amigos concordaram.
- Falta muito pra esse baile acabar? – perguntou null.
- Falta quinze minutos para o show, não devíamos procurar alguém do comitê? – null sugeriu.
- Vocês podiam começar agora – disse null. – Só está faltando o pessoal dormir.
- null tem razão, vamos chamar o null e falar com alguém – disse null.
Os garotos foram até null e null e trocaram algumas palavras com o amigo. null assentiu e foi de encontro as amigas, enquanto os quatro sumiam entre as pessoas.
- Não façam perguntas – disse null, quando já estava junto das outras garotas.
- Não vamos – null respondeu em nome de null e null.
- Convido todos os presentes a assistirem o show da banda formada por quatro alunos do colégio Adell O’Sullivan, na quadra principal, em cinco minutos – uma voz masculina anunciou. As garotas seguiram para a outra quadra e se sentaram na arquibancada, aguardando a apresentação.

***


- Sintam-se à vontade – null disse aos amigos, quando entraram em sua casa. – Nós podemos ficar aqui dentro. Só precisamos olhar o pessoal lá fora de vez em quando.
- Sua casa é muito grande – disse null. – Por que nunca vimos aqui antes?
- Agora não é a hora pra isso, null – null riu da amiga.
- Vamos aproveitar... Vem comigo, null – null falou e puxou sua namorada para longe dali.
- Você também, null. Vamos – null e null deixaram a sala de estar, sendo seguidos por null e null, sobrando apenas null e null no cômodo.
- Por que a gente sempre segura vela? – null perguntou, enquanto se sentava em uma das poltronas.
- Por que você quer – null se sentou no sofá em frente a ela.
- Não vem com essa, por favor – ela riu. – Eu estou bem assim. Não acho que preciso de alguém pra me fazer feliz ou coisa do tipo.
- Mas quem está falando em sentimento? É só diversão, null.
- Eu não quero estragar isso. No começo é diversão, depois começa a ficar sério, até um dos lados não querer mais e machucar o outro. E aí fica tudo estranho. Olha o que aconteceu essas últimas semanas, ficamos perdidos. Eu fiquei perdida. Gosto tanto das meninas quanto gosto de vocês e eu não sabia como ficar no meio dessa confusão.
- Eu entendo você – ela o olhou, surpresa. – Entendo, mesmo.
- Não vai me dizer que eu não preciso ter medo, que eu tenho que aproveitar a vida e essas coisas?
- Não vou – ele sorriu. – Vou te convidar para sair.
- O quê? – perguntou null, admirada com o que tinha escutado.
- Isso mesmo. Você ainda não quer se divertir, então vamos deixar pra depois – ele continuou sorrindo. – Vamos colocar a parte do sentimento primeiro. Quer sair comigo?
- Tudo bem, null. Vou sair com você – ela também sorriu. – Mas sem comentar com alguém, ok? Eu conheço nossos amigos e sei que vão querer bancar o cupido.
- Amanhã à noite? – Ela assentiu. – Te busco as nove.

***


- Será que vai dar certo? – null perguntou aos amigos.
Os seis tinham deixado null e null sozinhos há alguns minutos, esperando que se entendessem. null havia tido a ideia de última hora.
- Devíamos ter falado com o null, e aí ele pensava em alguma coisa – disse null.
- Vai dar certo, eu tenho certeza – null falou, mostrando sua confiança.
- Por que tem tanta certeza? – null perguntou.
- Eu sei das coisas. null deixou transparecer tudo hoje, enquanto falava comigo. Ela gosta dele, só não descobriu ainda.
- Eu acho que a gente tinha que parar de se meter – disse null.
- Ela faz isso com a gente o tempo todo – null deu de ombros.
- Vocês garotas têm essa mania – null comentou.
- Diz isso como se não ajudasse sua namorada em todos os planos que ela arma – null riu.
- Falando desse jeito, até parece que sou uma criminosa – null fingiu uma expressão ofendida. – Mas sempre dá certo, não é? Eu também sei das coisas.
- Nós vamos dormir aqui? Não estou bem pra voltar para casa e me esquivar das perguntas da minha mãe – null mudou de assunto.
- Do jeito que essa casa é grande, dá pra escola inteira dormir aqui – null respondeu. – Só perde para a Agnes.
- Eu estou cansada de ficar aqui – null falou. – Tem uma festa acontecendo lá em baixo.
- Vamos conversar? – null sugeriu. – Você podia começar, explicando pra gente esse anel que até agora só eu reparei.
- Já estamos conversando – null disse, vendo os amigos olhando em sua direção. – Isso é assunto para amanhã, quando todo mundo estiver sóbrio.
- Não estamos bêbados – null se defendeu. – A gente nem bebeu tanto assim do ponche. E ainda nem saímos desse quarto.
- Não quero mais ficar aqui, vamos descer, é só não ir pra sala – disse null, abrindo a porta e saindo com null. null e null fizeram a mesma coisa, deixando null e null a sós.
- Não estava cansada de ficar aqui? – ele perguntou, rindo.
- Eu só queria ficar sozinha com você – ela também riu. null desceu da cama e se sentou no tapete, de frente para null.
- Sabe, eu estava conversando com seu irmão mais cedo e ele me disse que o seu aniversário está chegando – ele segurou uma das mãos da garota entre as suas. – Quando é?
- Em menos de um mês – ela respondeu.
- Já sabe como vai comemorar?
- Provavelmente minha mãe vai fazer um jantar e convidar alguns parentes e os meus amigos.
- Além disso, eu quero fazer uma surpresa para você – null sorriu.
- Que tipo de surpresa? – Ela perguntou, interessada. – Não, não dá certo comigo. Sou muito curiosa.
- Não vai me deixar em paz se eu não contar? – Ela negou com a cabeça. – Pensando bem, é até melhor – ele deu de ombros. – E se você não gosta da ideia na hora e...
- Diz logo, null – ela pediu.
- Meu tio tem uma casa em Búzios, é linda. E a gente sempre passa as férias por lá. Eu pensei em ir com você, depois do jantar da sua mãe, e uma semana depois a gente chama os caras e as meninas.
- Ah, é uma ótima ideia – ela assentiu. – Mas podíamos ir todos juntos.
- Eu quero ficar um tempo sozinho com você – null abriu um sorriso malicioso e null finalmente conseguiu entender suas intenções. Esse pensamento a deixou nervosa, e ele percebeu. – Tá bem?
- Sim, eu só... – null parou na metade da frase. Ela sabia que conversariam sobre isso em algum momento, só não pensou que seria tão rápido. – Eu nunca fiz isso antes.
- Está me dizendo que...
- Eu sou virgem.



Capítulo 24

- Você nunca me disso isso – disse null, um tanto surpreso com o que tinha acabado de escutar.
- É claro que não, nunca conversamos sobre isso – null revirou os olhos.
- Mas aquele dia no terraço a gen...
- Não ia passar daquilo – ela o interrompeu. – Está surpreso por quê?
- Não sei, eu só não esperava – ele virou o rosto na direção da garota, encarando seus olhos. – Ignore tudo o que eu disse, ok? Não vou te pressionar.
- Eu sei disso – null se aproximou de null e o abraçou.
- Tem uma coisa que eu tenho que te falar... – eles se separaram. Ela o encarou já prevendo o que viria a seguir. Problemas? Provavelmente. null assentiu esperando que continuasse. – Minha mãe quer marcar um jantar. Seus pais os meus e a gente.
- Está brincando comigo – ela balançou a cabeça. Isso nunca daria certo. Não estava exatamente de bem com os pais.
- Já faz uns dias que ela me pediu pra falar com você, mas sabe... A gente não estava conversando.
- Tem ideia do que ela quer falar?
- Minha mãe só quer fazer bonito, não sei de onde veio todo esse interesse na minha vida de repente – null deu de ombros. Sua mãe nunca foi muito atenciosa, ele estranhava a reação dela em relação ao namoro.
- Tudo bem... Domingo? – null sugeriu. Quanto mais rápido, melhor.
- É, pode ser. Naquele restaurante perto da escola.
null deitou com a cabeça no colo de null e o garoto aproveitou para acariciar seus cabelos, arrancando risadas dela.
- Hm, o que foi? – ele a encarou.
- Não sei... Essa situação toda ainda é muito estranha pra mim.
- Pra você? – ele perguntou, também rindo agora. – Eu nunca namorei antes, não sei como agir quando estou com você.
- Do mesmo jeito de sempre – disse ela, com simplicidade.
- Eu nunca gostei de alguém como eu gosto de você, null null – ele a beijou, quando terminou a frase. – Está me transformando em uma pessoa muito sentimental.
- E não há problema! – ela gargalhou. – Eu gosto. Na verdade, não esperava por isso. Hoje cedo tinha certeza que eu terminaria minha noite meio bêbada, conversando alguma bobagem com a null... Ou até sozinha. Parece que ela está se dando bem com o null.
- Eu posso te fazer uma pergunta? – ele a encarou e ela concordou com a cabeça. – Você tem problemas com bebida?
- Eu não tenho problemas, eu só não gosto muito – ela se levantou e voltou a se sentar ao lado dele. – Sou fraca e quando estou bêbada não consigo me lembrar das coisas que eu faço. E ainda tem aquela história do acidente... Você sabe.
- Desculpa, não queria te deixar mal, linda – ele a abraçou de lado.
- Está tudo bem – null sorriu. – O que acha de descer e dançar um pouco?
- É, vamos lá.

***


- Sou só eu que estou vendo coisas? – perguntou null, sonolenta.
null, null e null estavam em um dos quartos de hóspedes da casa de null. Depois de a festa chegar ao fim, eles se dividiram em dois quartos, meninas em um e meninos em outro.
- Depende, o que você está vendo? – null aproximou-se da janela, por onde null olhava. Despertando a curiosidade de null, que também se juntou a elas.
- null e null. Bem ali. Conversando civilizadamente – null soltou alguns gritinhos animados. – Meu plano deu certo.
- Eu já sabia que esses dois iam se entender – null comentou.
- Ah, já ia me esquecendo – null agarrou a mão de null, vendo a aliança em seu dedo anelar. – Detalhes, por favor!
- Não tem o que contar – ela deu de ombros, recebendo um olhar feio das amigas. – null me pediu em namoro ontem, no baile.
- E diz isso com toda essa naturalidade? – null riu. – Eu já sabia que ia acontecer.
- Tá, mas e você e o meu irmão? – null perguntou a null.
- Ahm, e se eu te disser que também estamos namorando?
- Não brinca! – as três se abraçaram, e null continuou. – Eu gosto tanto de ver vocês assim, felizes.
- Não precisamos de garotos para ser feliz – disse null. – Mas eu tenho que admitir a influência de null sobre meu humor.
- Amanhã eu vou jantar com os pais do null – disse null, mudando de assunto. – E com os meus pais também.
- Mas já? – null perguntou.
- Pra eles já estamos namorando há um mês – null a lembrou. – Eu não sei como vai ser. Não sei como meu pai está em relação à gente, ele muda de ideia rápido.
- Seus pais pararam de pegar no seu pé, não é? – ela assentiu. – Então, fica tranquila. Não tem mais o que mentir. Vocês se gostam, estão juntos e pronto.
- É simples para você dizer, null – null riu. – Nunca passou por isso.
- Vantagens de namorar em segredo.
- null tem razão, null. Vai ficar tudo bem, não se preocupa. Logo, se acostuma. Assim como eu – null completou.
- O que vocês acham de acordar aqueles preguiçosos e sair para almoçar? – null perguntou, entrando no quarto.
- Ótima ideia, null – null lançou sorrisos maliciosos, referindo-se a null, mas a amiga apenas riu. – Alguém tem caneta? Eu quero desenhar neles.

***


- Oi, mãe, já chegamos – null falou enquanto abria a porta da sala, com null em seu encalço. Só não esperavam encontrar os pais sentados ao sofá, com expressões nada amigáveis. – O que aconteceu?
- O que aconteceu – Sr. null repetiu, naturalmente. – Que tal vocês me dizerem?
- Onde vocês estavam? – a mãe deles gritou. – Não é a primeira vez, nem a segunda. Eu já estou cansada de passar a noite inteira acordada preocupada com vocês. Eu deixei por uma noite, duas. Mas todos os dias? Querem me enlouquecer?
null e null permaneceram calados, desde que entraram. Entreolharam-se rapidamente e se sentaram no sofá, em frente aos pais.
- Não têm nada a dizer? – o pai perguntou.
- Nos desculpe, não queríamos de jeito nenhum preocupar vocês – disse null, esperando que o irmão continuasse, mas ele não disse nada.
- Desde que você começou a namorar esse garoto... null, você nunca foi disso. Estou chocada – Sra. null disse, mudando sua expressão de brava para triste. – Acho que o seu pai tinha razão, afinal.
- Não, não, mãe – null se defendeu. – Vamos jantar amanhã. Eu, vocês e os pais do null.
- Não acho uma boa ideia – disse o pai deles, como se lembrasse de alguma coisa, depois de alguns minutos em silêncio.
- Por que, não? – null perguntou, tentando manter a voz estável. – Por favor, vocês vão mudar de ideia, eu tenho certeza.
- Tudo bem – a mãe de null concordou, um pouco incerta. – E sobre você, null, só tenha cuidado, ok? Eu sei você já é maior e eu não posso ficar te controlando o tempo inteiro, nenhum de vocês, na verdade, mesmo que ainda morem sob meu teto.
- Não se preocupem, não vamos mais fazer isso – null disse e em seguida se levantou e deixou a sala, sendo seguido pela irmã.
- Vai dar certo, ok? É só ignorar as provocações dela – Sr. null disse à esposa, quando já estavam sozinhos.

***


- Ok, o que fazer? – null perguntou a si mesma, encarando o closet enorme a sua frente. – Pensa, null, pensa!
Ela pegou o celular em seu criado e entrou na internet. Quem mais poderia ajudá-la?
null seria a pessoa ideal, mas contar a ela sobre o encontro: sem chances.
null também poderia ajudar e o melhor: seria discreta. Mas a amiga estava tão atordoada com o tal jantar, fora que o fato de ser amiga do null também poderia atrapalhar. Ou não?
Por fim, null. Namorou em segredo com null, então, conseguia entendê-la. Porém, era a mais animada quando se tratava de juntar algum casal. Mas ela poderia ser discreta, assim como null, certo?
Era o que null esperava.
Pegou o celular e enviou uma mensagem, sem muitos detalhes. null respondeu dois minutos depois, dizendo que já estava indo.

- Você vai entrar, eu vou te contar o que está acontecendo, você vai me ajudar e não vai contar pra ninguém, entendeu? – perguntou null, quando abriu a porta de casa e encontrou null esperando.
- Você matou alguém? – null arregalou os olhos. null já esperava uma reação dessas, apenas bufou e deu espaço para a amiga entrar. – Vamos, me diga, o que aconteceu?
- Eu tenho um encontro hoje – null respondeu. Vendo Mirella caminhar em sua direção, ela trancou a porta e subiu para o quarto com null.
- O quê? Você tem um encontro com quem? – null disparou. null ficou em silêncio, e ela finalmente entendeu. – Vai sair com o null?
- Olha, não me leve a mal por não contar. Colocariam muita expectativa em uma coisa que eu não sei se vai passar de um encontro – ela se explicou. – Eu preciso de ajuda para me arrumar.
- Ei, null, não tem problema, ok? Olha só, todas nós escondemos alguma coisa quando se trata dos meninos – null sorriu. – Não se preocupa, eu sei que posso ser bem intrometida quando eu quero, mas também sei guardar segredo.
- Obrigada, null. Sério, não sei o que seria minha vida aqui se eu não encontrasse vocês.
- Ok, não me faça chorar, bonitinha – null limpou algumas lágrimas falsas e elas caíram na risada. – Ok, vamos começar logo com isso. Aonde vocês vão?
- Ele não me deu detalhes, só disse que iríamos jantar.
- Como da última vez – disse null, parando em frente ao closet de null e olhando os vestidos. – Vermelho, o que acha?
- É, eu gosto...
- Ok, não me convenceu – ela voltou a olhar os vestidos e sorriu, quando um deles chamou sua atenção. – Acho que encontrei uma coisa.

***


- Espero que gostem do lugar, o garçom já vai trazer o cardápio.
- Obrigado – null agradeceu. – Gostou daqui?
- Sim, é bem bonito – null sorriu, nervosa. Não estava acostumada a ver null daquele jeito.
- Você está linda – ela sorriu com o elogio. Encarou a própria roupa, ele tinha razão, null fez um ótimo trabalho. O vestido azul estampado, com detalhes em preto, havia combinado perfeitamente com a sandália e os cachos naturais do cabelo de null. – Então...
- Então... – ela repetiu e eles começaram a rir. – Ok, me desculpa, não é todo dia que eu te vejo assim.
- Tá, o que você acha de deixarmos esse restaurante chique pra lá e ir comer hambúrguer em uma lanchonete aqui perto? – null sugeriu, e ela assentiu imediatamente.

***


- Ok, pode enganar qualquer um, mas eu não caio nessa – null disse, rindo em seguida.
- Eu juro! – null também estava rindo. – Garota bonita não sabe jogar sinuca.
- Tá, tá, já chega – ele apoiou o taco na mesa e organizou as bolas no triângulo. – Eu sei que você não acredita em uma palavra do que está dizendo.
- Não, mesmo – ela ainda ria. – É claro que garotas bonitas sabem jogar.
- Ok, e se você fingir que não sabe e eu te ensinar? – ele lançou um sorriso no melhor estilo galanteador e se aproximou da garota.
- Pare de flertar comigo – null disse, forçando uma expressão séria que null sabia que era falsa.
- Não dá, estamos em um encontro – ele deu de ombros. – Sua vez de me cantar.
- Hmm, gato, seu pai é padeiro? – null perguntou, segurando o riso.
- Não, por quê?
- Ah, só porque você...Você sabe, é meio gordo.
- Não acredito nisso – ele riu. – Eu não sou nada gordo, tenho um corpo escultural.
- Opa, temos um ser humano iludido aqui? – ela perguntou, um pouco mais alto, atraindo olhares de algumas pessoas para eles.
- É, null, eu tenho que admitir que você é uma ótima companhia – ele disse, sorrindo pra ela.
- É você também é legal – null assentiu.
- Legal? Só isso? Assim você me magoa.
- Estou brincando, gostei de tudo – ela sorriu. – Vamos de novo? Semana que vem?
- Vou aceitar logo antes que você mude de ideia – ele assentiu. – Sem ressentimentos do passado, então?
- Nada, apaguei aquela imagem sua da época que ainda era um babaca.
- Quando eu penso que você finalmente está me elogiando, me vem com uma dessas – ele disse, com um semblante triste falso. – Semana que vem. Você escolhe o lugar.

***


- Não faça nada estúpido, por favor – null sussurrou no ouvido de null, enquanto atravessavam a porta do restaurante.
null, null e seus pais estavam procurando por uma mesa perto da janela enorme que havia no lugar. Até agora, eles mal haviam se cumprimentado e os dois estranharam a reação dos pais.
- O que aconteceu ontem? Você não me contou tudo quando me ligou – ele perguntou, puxando a cadeira para ela se sentar.
- Mais tarde eu te conto tudo, pode ser? – ele apenas assentiu.
- E então, como você esta, null? – a mãe de null perguntou, quando todos já estavam sentados.
- Estou bem, e a senhora?
- Senhora, não – a mulher sorriu. – Estamos todos bem, obrigada.
- Hm, eu tenho que dizer que, depois que a null começou a sair com o null, ela mudou...
- Mãe, não – null a interrompeu. – Não é bem assim.
- Você sabe que é verdade, filha – ela continuou. – Passa muito tempo longe de casa, não avisa quando sai... Ficamos preocupados.
- Está dizendo que o meu filho está influenciando no mau comportamento dela? – a Sra. null alterou o tom de voz.
null começou a analisar as expressões do rosto de sua mãe. Aquilo era raiva. Por que raios sua mãe ficaria brava? Ela não perdia a paciência com facilidade. Trocou o olhar para a mãe de null, ela também parecia brava e um tanto quanto... Magoada? O que estava acontecendo?
- Ei, ei, vamos manter a calma, não foi isso que ela quis dizer, Liz – o pai de null interferiu. Por que ele havia tratado a mãe de null pelo apelido? É claro que se conheciam há bastante tempo, mas não tinham toda essa intimidade, ou tinham?
- Liz? – null perguntou. null se sentiu melhor, não era só ela que tinha estranhado aquilo. – Alguém pode me explicar o que realmente está acontecendo aqui?
- Nada, querido, estamos apenas conversando – a mãe de null respondeu, seca. – Eu não quero ofender seu filho, Elizabeth, de maneira nenhuma. Só estava dizendo que esse namoro não está fazendo bem a null.
- Com o null é o oposto – disse o Sr. null, com uma calma invejável. – Esse relacionamento está fazendo bem a ele. Está mais responsável.
- Responsável? Você considera responsável da parte dos dois dormirem lá em casa sozinhos? Juntos? – sua esposa rebateu, visivelmente chateada com aquela conversa. null só ficava mais confusa a cada minuto. Onde estava aquela Elizabeth adorável? Já o garoto, não parecia tão surpreso com a reação da mãe e sim, envergonhado.
- Não, mãe, já falamos disso – null se defendeu.
- Não. Não falamos – ela balançou a cabeça. – Você me desrespeitou.
- Vamos manter a calma, por favor – o Sr. null pediu. – Minha filha não é irresponsável. E eles não são mais crianças. Sabem bem o que estão fazendo.
- Ah, é, mesmo? – Liz perguntou, usando um tom debochado. – Eu discordo. São duas crianças, sim. Não quero ser avó cedo.
- Por que está agindo assim? Já faz muitos anos... – a mãe de null disse, deixando os dois jovens ainda mais confusos. – Eu sabia que esse jantar não daria certo. Não dá para manter uma conversa civilizada por muito tempo com você. Depois que terminamos a faculdade e null nasceu eu pensei que nunca mais precisaria ver você na minha frente, mas eu estava tão enganada... Esse destino gosta de brincar com as pessoas. Com tantos garotos no mundo, a minha filha foi se apaixonar logo pelo seu filho.
- Eu acho que essa conversa pode acabar por aqui – disse o Sr. null, prevendo o que viria a seguir.
- Não, nada disso. Vocês vão nos explicar o que está acontecendo – disse null, tentando descobrir alguma coisa por trás daquelas frases.
- Eu tentei por todos esses últimos anos voltar a ter uma boa convivência com você. Estava sempre presente, afinal, null é o melhor amigo de null... Lembra-se de como era quando nós duas éramos melhores amigas? – null e null se entreolharam.
- Já chega... Vão nos contar o que houve? – null perguntou.
- Basicamente... Eu e seu pai éramos apaixonados, até sua mãe aparecer e atrapalhar tudo – Liz começou.
- Ah, não distorça os fatos – a mãe da garota gargalhou. – Gregório nunca gostou de você.
- Eu acho que não quero ouvir mais nada – null disse, chocada com o que tinha acabado de escutar.
- Entendeu agora por que eu não queria que se aproximasse dele? – o pai de null perguntou a ela, que assentiu em silêncio.
- Eu não acredito que você pediu a garota para se afastar dele – agora foi a vez de a mãe de null gargalhar. – Isso é bem a sua cara.
- Então, estão nos dizendo que vocês já se conhecem há quase vinte anos? – null perguntou, vendo sua mãe assentir ele continuou. – E que já namoraram também? Onde meu pai entra nessa história?
- Seu pai era da nossa turma. Quando Greg descobriu que eu estava grávida, Liz conseguiu um jeito de prender para sempre o garoto mais rico da classe... Se ela não podia ter amor, poderia ter dinheiro. E foi aí que você nasceu – Sra. null respondeu, deixando null e null surpresos pelo modo como ela despejou aquelas palavras, principalmente a garota, que não conhecia aquele lado da própria mãe.
- Não sabe o que está dizendo, eu sempre o amei! – Elizabeth desmentiu, cada vez mais nervosa pelo rumo que aquela conversa tomou.
- Já chega! – o pai de null praticamente gritou. – Já estamos atraindo atenção das outras pessoas e todos nós já percebemos que essa conversa não vai nos levar a lugar algum. Passado é passado.
- Eu concordo, vamos sair daqui, por favor – null pediu ao namorado. Os dois se levantaram e caminharam para fora do restaurante, sendo seguidos pelos olhares nada agradáveis de suas mães.
- Ah, já vi que não vai ter jeito... – Liz bufou. Levantou-se e pegou a bolsa de marca na cadeira e pendurou em um dos ombros. – Encontro vocês no casamento, se não se separarem antes disso.
Por fim, marchou para fora do restaurante, sendo seguida pelo marido.
- Aquilo tudo era ciúme? – Gregório perguntou, num tom divertido.
- Ah, não seja bobo – ela sorriu. – Vamos jantar?
- E a null?
- Mesmo sendo filho de quem é, null faz bem para null, querido. E eles sabem se cuidar.

***


- Meu sexto sentido disse para eu vir em um carro separado – disse null, já na estrada com a namorada.
- Sexto sentido? Pensei que só as mulheres tinham – ela riu. – Fala sério, você já sabia que eu ia embora com você e por isso veio de carro. Só não sabia bem o motivo.
- E para onde vamos, meu amor? – ele abriu aquele sorriso lindo que ela tanto gostava.
- Está rolando um festival de filmes antigos, sabe... Daqueles que você assiste no carro. Sempre quis ir a um desses.
- Filmes antigos, null? – null fez uma careta. – Já percebeu que sempre quando a gente não tem nada pra fazer vamos assistir filme?
- Por favor, null, vai ser legal – ela sorriu. – Para onde vamos então? Sua casa e a minha estão fora de cogitação.
- Tudo bem, vamos assistir filme...
null soltou alguns gritinhos animados, assim como null fazia, arrancando risadas de null. Eles foram em silêncio por todo o caminho, apenas ouvindo músicas no rádio. Assistiram dez minutos de filme, até ele começar a reclamar.
- Vamos embora, null – o garoto pediu. – Eu sei que você também não aguenta mais.
- Não tem nem meia hora que estamos aqui – ela revirou os olhos. Mas ele tinha razão. Não pensou que seria tão entediante. – Tá, vamos conversar um pouco, o que acha? Ainda não quero voltar pra casa.
- Tá bem, vamos conversar.
- Tem uma coisa que eu quero te dizer já faz bastante tempo – ela riu.
- Hm, que você me ama? Isso eu já sei – null balançou a cabeça, jogando um pouco da pipoca que tinham comprado nele.
- Fizemos um trabalho de biologia juntos, quando estávamos começando o nono ano... Se lembra? Acho que foi a primeira vez que conversamos por mais de dois minutos.
- Pra ser sincero, eu não me lembro. Eu também não me lembro do porquê de sermos tão afastados... Digo, eu e os meninos e as suas amigas.
- Eu também não me lembrava desse trabalho até encontrá-lo arrumando minhas coisas.
- Ah, também tem uma coisa que eu me lembrei hoje – ele abriu um sorriso divertido. – Nosso acordo não acabou ontem.
- O quê? – null riu, confusa.
- Sim, ainda tínhamos mais um mês – ele respondeu, vendo a confusão no rosto da garota. – Nós apostamos no início disso tudo a relação de null e null.
- Ah, já sei do que você está falando. E não valeu, você trapaceou, já sabia que os dois estavam juntos.
- Aposta é aposta, null...
- É, eu sei bem como você entende de apostas – ela revirou os olhos.
- Ei, ei, já passamos disso, lembra? – Ele se aproximou da garota e lhe deu um selinho carinhoso. null sorriu e transformou aquilo num beijo de verdade, sentindo todas aquelas sensações maravilhosas que já estava acostumada.



Capítulo 25

- Eu preciso te contar uma coisa, você vai ficar chateada.
Disse null à null. Depois de desistirem do filme, decidiram ir em um McDonalds que havia ali perto, estavam com fome. Com toda aquela confusão, apenas os pais de null permaneceram no restaurante e realmente jantaram.
- Primeiro você vai buscar mais ketchup pra mim e depois me conta, ok? – null disse com um sorriso, enquanto se sentava e deixava a bandeja sobre a mesa. null revirou os olhos, mas assentiu e buscou. Depois que ele havia voltado, null retomou a conversa. – E aí, o que você fez?
- Eu não fiz nada. Minha mãe fez.
- É, depois de hoje, realmente estou com medo do que possa me contar.
- Eu também estou bem surpreso com essa situação – null mordeu o sanduíche e sujou o canto da boca de molho, fazendo null rir. – Ok, pode parar.
- Eu poderia limpar pra você, sabe, com uns beijinhos – ele sorriu. – Mas não sou fã de mostarda – null o entregou um guardanapo.
- Ok, vamos continuar a conversa, é importante – a garota assentiu, bebendo um pouco do refrigerante. – Eu descobri por que trocaram nossos horários na escola.
- Eu estava tentando descobrir, mas a gente brigou, tinha essa coisa do baile, minha cabeça estava a mil... Acabei me esquecendo.
- Depois que nós descobrimos aquela coisa entre Silvia e Marcus tudo ficou mais fácil na escola.
- Não está me dizendo que os chantageou para descobrir, está? – null se retraiu. Ainda sentia vergonha pelo que tinha feito.
- Não, eu só perguntei – null deu de ombros. – Ele simplesmente despejou tudo. Foi coisa da minha mãe. Se lembra de quando ele disse que ligaria para os nossos pais?
- Sim, mas não deu em nada. Meus pais não ficaram sabendo de nada.
- É claro que não, porque ele ligou para os meus pais primeiro – null começou a explicar. – Minha mãe atendeu e resolveu tudo sozinha.
- É... Sua mãe realmente me odeia – null balançou a cabeça.
- Ela não odeia você. É impossível alguém odiar você – ele sorriu e segurou a mão da garota. – Pelo visto, está magoada com os seus pais. Vamos esperar as coisas esfriarem.
- Tá, vamos mudar de assunto... E o jogo de amanhã?
- Não tava nem lembrando. Aconteceu tanta coisa nessa última semana. Mas e você? Vai ser seu último jogo como líder de torcida.
- Ah, eu estou tranquila com a apresentação, estamos muito bem – ela sorriu, lembrando-se de como se divertia com as amigas durante os treinos. Pela primeira vez, desde que desistira do cargo de capitã, ela sentiu uma ponta de arrependimento. Mas a vontade de voltar a atuar ainda era maior.
- Vamos ganhar, você vai ver – ele sorriu, bastante animado e ela o acompanhou.
- Vocês são ótimos, eu sei – ela disse, mas se arrependeu em seguida. – Não é pra bancar o convencido, entendeu?
- Eu nunca faria isso – null abriu um sorriso malicioso, e null revirou os olhos já prevendo o que viria a seguir. – Seu namorado é bom demais pra essas coisas.
- Eu sabia.
- Estou brincando, meu amor – ele gargalhou.
- Meu amor? Não me vem com isso agora – ela disse, rindo também.
- Por que, não? É meu amor sim. Minha garota. Minha namorada.
- Não gosto de toda essa possessividade. Sua até a página um – disse null, séria. Mas null sabia que ela estava brincando, assim como ele.
- Tudo bem, null.
- Faz tempo que não me chama pelo sobrenome, null. Eu gostava, só você me chamava assim.
- Qualquer coisa é melhor que null.
- Não diz isso, eu gosto do seu nome – null balançou a cabeça. – Ainda não entendi por que você não gosta.
- Eu já te falei. Parece que estou conversando com os meus pais – ele deu de ombros.
- Isso nunca vai fazer sentido pra mim, null.
- Vamos pra casa? Já tá tarde e...
- Deixa de ser chato – ela o interrompeu e em seguida, beijou sua bochecha. – Vamos comer.

***


- Arrasem! Eu sei que vocês podem – a treinadora Bárbara gritou. – Não se esqueçam do objetivo principal. Animar. Vocês precisam deixar a moral do time lá em cima. Quer dizer alguma coisa, capitã?
As 11 garotas do time de líderes de torcida da Adell O’Sullivan vibraram com os comentários da treinadora. null assentiu, tomando a fala.
- Ok, não se preocupem, esse é o meu último jogo como capitã e animadora, então quero que seja memorável. Foi muito divertido estar com vocês por tanto tempo e eu vou sentir falta, mas eu sei que vão continuar arrasando – a garota sorriu no meio do discurso. – Apenas façam o que sabem fazer de melhor, se divertir e animar!
As garotas a aplaudiram, fazendo null abrir outro sorriso maior que o rosto. Depois disso, se dispersaram e continuaram a se aprontar para a apresentação que começaria em menos de quinze minutos.
- Sei que sou intrusa aqui, eu só queria desejar boa sorte pra vocês – disse null, à null, null e null. – Vocês vão brilhar.
- Obrigada, null – as meninas responderam em uníssono, rindo em seguida. Elas se abraçaram e null continuou a falar. – Estou com uma expectativa enorme para esse jogo. Nossos adversários são bons, mas seremos melhores.
- Nosso time tem ótimos jogadores, não temos que nos preocupar – null comentou, confiante. – Pode me ajudar a terminar o desenho no meu rosto?
null assentiu e pegou a tinta das mãos de null e elas se afastaram, deixando null e null sozinhas.
- Ai, graças a Deus, estava me corroendo de curiosidade – disse null. – Como foi o encontro?
- Foi perfeito. Ele me levou num restaurante chique, mas saímos de lá e fomos comer hambúrguer numa lanchonete. Nós jogamos sinuca a noite toda e depois ele ainda me chamou pra sair de novo...Foi muito bom, null – null suspirou, abrindo um sorriso bobo. – Me arrisco a dizer que estou bem ferrada.
- O quê? Por quê? Você não disse que foi bom?
- Eu fiquei a noite inteira repassando tudo o que aconteceu, antes de dormir. Isso não é uma coisa que eu faria.
- Isso é ótimo, null. Você tá caidinha por ele – null abriu um sorriso malicioso.
- Isso não é ótimo. Me torna vulnerável.
- É o que o amor faz com as pessoas, baby. Não fica com medo, não. Se joga.
- null, estamos atrasadas, vamos? – null apareceu atrás da amiga, assustando null. – Tá tudo bem aqui?
- Tá sim, null – null respondeu, animada. – Vamos conversar mais depois – ela sussurrou, apenas para null escutar.

***


- Melhor maneira de fechar o semestre! – null gritou, atraindo atenção de algumas pessoas.
Depois de uma partida difícil, que terminou em 3x2, o time de futebol e de líderes de torcida da Adell O’Sullivan, e alguns alunos decidiram comemorar a vitória em uma pizzaria próxima à escola.
- Nem acredito que já estamos de férias – null comemorou.
- Até parece que terminamos o ano... É só um mês, gente – null rolou os olhos.
- Ah, sempre de mau humor não, é? – null comentou. – Relaxa, null.
- O que vão fazer? – perguntou null.
- Eu vou vou visitar minha mãe – null foi a primeira a responder. – Daqui a uma semana.
- Também vou viajar... Se lembram que eu falei do casamento da minha irmã? – disse null. – Não vou arrastar vocês comigo, é tortura. Mas volto antes das férias terminarem.
- Nós temos que ir ao boliche – null pediu. – Faz muito tempo que não vou.
- Praia também – null sugeriu.
- Praia, não – null balançou a cabeça.
- Já consegui muitos convites para festas do pessoal da escola – null sorriu, animada. – Ah, e estou organizando um churrasco lá em casa. Mas eu vou esperar vocês dois voltarem – ela se virou para null e null.
- Ótima ideia, mas o que acham de comer agora? – null perguntou, acenando para o garçom.

***


- Você ainda não me disse como quer comemorar seu aniversário.
- Comemorar? Eu vou ficar um ano mais velha – ela riu. – Esquece isso. Ainda vai demorar.
- Eu ainda me sinto mal por aquela ideia...
- Tá tudo bem, null – ela sorriu e beijou a mão direita dele. – Algum dia vai acontecer? Sim. Vou ficar feliz se for com você.
- Você tem medo de montanha-russa? – ele mudou de assunto.
- Só dirige, null... Eu tenho que chegar cedo em casa – ela pediu, rindo.
- Você tem medo, eu já entendi – ele também riu. – Vai ser legal, null.
- Mas e os meus pais? Eu tenho certeza que eles vão querer comemorar com a família toda.
- E isso provavelmente vai ser num fim de semana. É só a gente ir antes.
- Se eu concordar, você para de pedir? – ele assentiu. – Ok, eu vou.
- Não tive tempo de dizer, mas você tá muito linda nesse uniforme. Vou sentir falta – ele brincou com o detalhe de franjas da saia da garota. – Muito linda. Pra não dizer outra coisa.
- Deixa de ser bobo – null gargalhou. – Vai gostar mais ainda de me ver atuando.
- É? E se você tiver que beijar alguém? Vou gostar mais?
- É claro que vai, porque eu sou atriz e o meu namorado não é nada ciumento – null sorriu, e em seguida sentiu o celular vibrar dentro da blusa. Uma mensagem de texto.
- O que aconteceu? Ficou séria de repente.
- Eu estou começando a me preocupar. É a segunda mensagem que eu recebo da minha mãe dizendo que quer conversar em menos de meia hora.
- Fica calma, não deve ser nada grave – o carro parou e null percebeu que já estava em frente à sua casa. – Me liga?
null assentiu. null se aproximou da namorada e lhe deu um beijo carinhoso.
- Boa noite, linda – eles trocaram mais um beijo e ela saiu do carro.
- Boa noite, lindo – ela o imitou.
null acenou e entrou em casa. No segundo em que fechou a porta, viu seus pais encarando-a.
- O que eu fiz dessa vez? – perguntou ela, sentando-se no sofá.
- O que é isso, null? – o pai da garota estranhou sua reação. – Queremos conversar.
- Ultimamente vocês só conversam comigo para me dar broncas. Quero saber o que eu fiz dessa vez para me preparar.
- Você não fez nada, garota – sua mãe se sentou ao seu lado. – Podemos conversar em paz? Sem brigas?
- Claro. É só o que eu quero – ela abriu um sorriso irônico.
- Eu e sua mãe estávamos conversando... Você já está perto de completar seus dezoito anos e... – ela o interrompeu.
- Dezessete, não?
- Posso terminar? – ela assentiu. – E em breve vai terminar a escola e começar a faculdade e independência é uma coisa muito importante na vida de uma pessoa e...
- Direto ao ponto, pai.
- Queremos te dar um carro – disse a Sra. null, resumindo a conversa.
null abriu e fechou a boca várias vezes, procurando pelas palavras, mas elas haviam sumido. Um carro?
- O quê?! – ela exclamou. – Como assim? Eu ainda não tenho nem idade para dirigir.
- Quando seu irmão completou dezessete ele ganhou o dele e... – seu pai voltou a falar.
- Eu sei disso, mas o null vivia pedindo... O que aconteceu com vocês? Estão falando sério?
- Não estamos brincando, nós queremos te dar um carro, com apenas uma única condição – sua mãe disse, mais séria. – Não vai poder dirigir até ter habilitação.
- Eu... Eu não sei o que dizer sobre isso... Ainda não estou acreditando.
- Nós podemos fazer isso por você, filha. O que nos diz? – o Sr. null perguntou. – Eu só quero que você pense bem.
Flashes do acidente de carro passaram pela cabeça de null, deixando-a um pouco desnorteada. Um carro... É claro que ela queria. Mas seria certo? Depois do acidente ela tinha destruído o carro do irmão.
- Eu já decidi – ela sorriu. – Não quero.
- O quê? – sua mãe disse, elevando o tom de voz. – Como assim não quer? É um carro... É por que não vai poder dirigir?
- Não, não é isso – ela organizou as palavras e começou a explicar. – Eu quero, mas quero para o meu irmão. Depois daquele acidente infeliz, não tão infeliz assim, eu saí viva dele... Enfim, eu destruí o carro do null.
- null, mas, o presente seria para você... Acha que foi certo da parte do seu irmão sair com o carro? Nós fizemos o mesmo trato com ele. Não dirigir sem habilitação e ele nos desobedeceu.
- Mas quem acabou com o carro foi eu, quem atropelou aquele homem foi eu... Isso não seria justo com o meu irmão – ela balançou a cabeça. – Não, mesmo.
- Não, null, isso é... – a mãe da garota foi interrompida pelo marido.
- Tudo bem, null.
- O quê? – a Sra. null se espantou.
- Se é isso que ela quer, querida... Vamos dar o carro para o null – ele deu de ombros.
- É sério? – perguntou null, animada. Gregório assentiu, fazendo o sorriso da garota aumentar. – Ai meu Deus, ele vai ficar tão feliz. Por favor, não contem pra ele, quero que seja surpresa.
- Tudo bem, amor – sua mãe também assentiu. – Não vamos contar nada.
- Eu amo vocês – null os abraçou.
Em seguida, deixou a sala, subindo as escadas correndo e indo em direção ao seu quarto. Pegou o celular e discou os números de null, que atendeu no segundo toque, murmurando um “como foi”.
- Eu tenho uma ótima notícia.



Capítulo 26

Duas semanas depois, domingo

- É, acho que você já pode parar de molhar o meu cabelo – null disse a null.
- Me deixa ver se entendi: está numa piscina e não quer molhar o cabelo? – null perguntou e ela assentiu calmamente. – Resposta errada.
Em seguida, ele juntou as mãos em formato de concha e jogou o máximo de água que conseguiu sobre a cabeça da garota.
- Como você é idiota, que inferno – ela bufou. – Onde está a null para segurar essa coisa que ela chama de namorado?
null, que estava sentada sobre uma das espreguiçadeiras lendo uma revista, levantou a cabeça e retirou os óculos ao ouvir seu nome sendo mencionado. Analisou a situação e começou a gargalhar da amiga.
- Sinto muito pela sua chapinha.
- Sei como sente... E eu não faço chapinha – null passou as mãos sobre os fios loiros completamente encharcados.
- null e null nem fazem tanta falta assim – null comentou, sentando-se ao lado de null.
- Eu sei que você está morrendo de saudade deles – disse null, que até aquele momento apenas observava a conversa.
- Eles já devem estar quase chegando – disse null, checando as horas no celular. – Na verdade, devem chegar juntos.
- Eu conversei com a null ontem minutos antes de ela embarcar, realmente, já deve estar chegando – disse null.
- E o voo do null é daqui a alguns minutos – null completou. – Com uma hora ele está aqui.

***


- Não está com medo do que vão pensar?
- Conheço-os tempo suficiente para saber que ficarão felizes por nós.
- Mas e a mentira? Eles não ficarão bravos?
- null, o que deu em você? – perguntou null. – Toda essa insegurança não faz parte da garota por quem me apaixonei.
Ela sorriu com o comentário e se aproximou dele, beijando seus lábios de leve.
- É, você tem razão – disse null, com confiança.
- Já arrumou todas as malas?
- Eu já... Mas e você? – null arqueou a sobrancelha, sabia que ele ainda não havia terminado. null balançou a cabeça. – Vamos logo com isso, vou ajudar você. Mais meia hora e estaremos atrasados.

***


- Eu não aguento mais comer salada, null – null reclamou. – Quando vamos começar o churrasco?
- Oras, quando seus melhores amigos chegarem. Culpe-os – null voltou a ignorá-lo e continuou a brincar com null na piscina.
- Você está bem? – null perguntou a null, baixinho.
- null está neurótica com o que eles vão pensar sobre o namoro dela com null – ela sussurrou, indicando os amigos na piscina com a cabeça. – Lembre-se de fingir surpresa quando eles contarem. Ela não sabe que você sabe.
- Tudo vai dar certo – null sorriu, abraçando-a.
- É, tenho que confessar que estou pensando seriamente em começar a comer sem eles – disse null, saindo da piscina. Ela se enrolou em uma toalha e se aproximou da churrasqueira. – Alguém pode me ajudar aqui?
null, que estava mais perto, foi até ela.
- Onde estão os fósforos? – null entrou em casa e voltou alguns minutos depois com uma caixa de fósforos próprios para churrasqueira. null riscou e com pouca dificuldade conseguiu acender o fogo. – Agora é só colocar a carne.
- Tá, quem vai me ajudar com isso? – ela encarou null, que balançou a cabeça e se afastou. Antes que null pudesse reclamar, null se pronunciou.
- Eu ajudo – ele saiu da piscina e entrou com null em casa.
null e null se sentaram em uma das espreguiçadeiras, enquanto null e null ainda estavam na piscina.
- Você percebeu que a null está diferente esses dias? – null sussurrou, apenas para o namorado ouvir.
- Sinceramente? Não, eu não percebi – ele riu. – Por que você acha isso?
- Não sei bem. Eu conversei com a null, ela também percebeu.
- Relaxa, não deve ser nada. Ela teria contado. Sempre conta as coisas, não é?
- Está certo – a garota se aproximou dele e beijou a ponta de seu nariz.

***


- Já está bem mais calma – disse null, abraçando null, depois de descerem do Táxi. O motorista desceu e os ajudou a retirar as duas malas médias do porta-malas. – Obrigado.
Ele apenas assentiu e entrou novamente no veículo, dando partida em seguida. null retirou o celular do bolso da calça jeans que usava e mandou uma mensagem para null avisando que já haviam chegado. Alguns minutos depois, null abriu o portão, sorrindo.
- Chegaram juntos, eu sabia – ela deu alguns pulinhos e envolveu null num abraço apertado e depois null. – Preparei churrasco para vocês. Você, null, vem comigo e null, se quiser pode ir lá em cima tomar um banho e descansar um pouco. Deve estar exausta depois de um voo tão longo.
- Não, não precisa – null sorriu, sem graça. – Estão todos aí?
- Todo mundo. Vou direto para o quintal, não posso passar pela casa assim, estou toda molhada – ela abriu a porta da frente para os amigos. – Vocês podem deixar as malas aí, nos encontrem lá fora.
null disse e sumiu pelo caminho que levava a área da piscina. null e null entraram em casa e deixaram as malas ao lado da porta. Eles se encararam e a garota respirou fundo antes de começar a falar.
- É isso mesmo, certo? Não dá pra voltar atrás – null apenas sorriu e assentiu. – Não sei se estou pronta.
- null, já conversamos antes. Qual é, nem parece você – ele alterou o tom de voz, pronunciando aquelas palavras com pouca paciência.
- Tá, me desculpe – ela entrelaçou uma de suas mãos a dele, aproximou-a do rosto e a beijou de leve. – Vamos lá.
Os dois caminharam pela casa de null até a cozinha. O cômodo era dividido em duas partes e uma delas dava acesso ao quintal. Eles atravessaram a porta de vidro sendo recebidos com gritos pelos amigos. null foi a primeira a se jogar sobre eles.
- Meu Deus, vocês fazem tanta falta.
- Mais cedo ela estava dizendo o oposto – null gritou da piscina e recebeu uma careta de null em troca.
- Vocês se encontraram no aeroporto? – perguntou null. – null disse que chegaram juntos.
- Na verdade, temos uma coisa pra dizer – disse null, incentivando null a falar. Ela se sentou na beira da piscina, com o namorado ao lado e novamente, respirou fundo.
- Eu não estava com a minha mãe no Havaí – ela confessou. Encarou os amigos, que também a incentivavam a falar. – Estava com null em São Paulo.
- É, nós estamos juntos – ele continuou.
- Por que todo mundo sempre esconde quando está namorando? – perguntou null, desanimada.
- Tem certeza que quer mesmo falar sobre isso? – null riu da expressão que o rosto de null tomou quando ouviu sua frase.
- Realmente, o que você tanto esconde dá gente? – perguntou null, sentando-se ao lado de null.
- Não acho que valha a pena falar disso agora. Alguém quer churrasco? – null ergueu um prato com vários tipos de carne para os amigos.
- E a tal aposta de vocês? Eu e null nunca ficamos sabendo a verdade – disse null.
- Não vamos escapar dessa, vamos? – null perguntou, olhando de null para null. Eles negaram com a cabeça. – Preparem-se, a história é longa.
- Não é simplesmente a parte do acordo? – perguntou null.
- Não, quem começa? – os meninos apontaram para ela, que bufou. – Tudo começou há... Uns dois anos atrás? – ela perguntou para null.
- Um e seis meses – ele confirmou.
- Um ano e seis meses atrás eu e o null começamos a nos pegar. Já sabem o que aconteceu na festa da null, não é? – eles assentiram. – Pelo menos, posso dizer que não fui a única que pegou alguém escondido, não é, null?
- Continua, isso a gente já sabe – null balançou a cabeça.
- Depois disso nós começamos a namorar e depois terminamos... Uns três meses, certo? – ela encarou null novamente e ele assentiu. – O tempo passou, a vida mudou e voltamos no começo desse ano. E então uma bomba resolveu explodir na minha cabeça – ela riu. Sempre quando tocava nesse assunto uma ferida se abria e ela chorava, não dessa vez, estava tudo em seu lugar.
- Foi quando ficou grávida de outro cara e null terminou com você, não é? – null falou, lembrando-se de quando conversaram sobre isso.
- Mas você nos contou que pensou que estava grávida e não estava – disse null – O que realmente aconteceu?
- Na verdade, eu estive grávida – ela voltou a rir. – null era o pai do bebê.
O silêncio reinou e todos os olhares se viraram para ela e em seguida para null. null abriu e fechou a boca várias vezes antes de pronunciar alguma coisa. Estava chocada demais.
- Como isso aconteceu e não me contaram? – ela deu alguns tapas no braço do irmão, sem o afetar por estarem na água. – Meu Deus, como me escondem isso... Alguém além de vocês sabia de alguma coisa?
- Nossos pais sabiam do namoro, depois que eu fiquei grávida inventei aquela história de sair com a minha prima e ficar bêbada – null explicou. – Se meus pais descobrissem que o filho era do null nunca mais eu o veria.
- E então vocês terminaram, né? – perguntou null.
- Ah, agora sim eu entendo – null falou, como se tivesse descoberto algo de outro mundo. – Por isso a confusão aquele dia em que ficamos presos.
- Agora eu é que não entendo – disse null. – Do que está falando?
- Tá, me deixa explicar tudo – null começou. – Você contou para o null que estávamos namorando, no começo desse ano, não foi? – ela perguntou a null, que assentiu. – Contou que eu estive grávida também?
- Contei o mesmo que contei para nossos pais, contei a ele que terminamos – null respondeu, deixando-os ainda mais confusos.
- Espera, então você mentiu pra mim, cara? – null perguntou, fazendo os amigos rir.
- Foi mal, eu já tinha falado demais.
- Tá, se o null não sabia a verdade, o que realmente aconteceu? – perguntou null.
- Depois que eu descobri da gravidez, inventei uma história para os meus pais e nós terminamos de mentira. Mas continuamos juntos... Terminamos de verdade umas duas semanas depois, certo? – null assentiu. – É, eu nunca lembro as datas.
- Então quando nós apostamos você ainda estava com ela? null, seu ladrão, você ia ganhar de mim de qualquer jeito – null resmungou.
- É nessa parte que eu queria chegar, como foi essa aposta? – perguntou null.
- Eu só apostei com você por que eu ainda estava com ela, não fui tão babaca assim... Mas você foi – null riu do amigo. – null estava me irritando sobre o meu fim de namoro que na verdade não tinha acabado e ficava falando coisas do tipo “aposto que pego até sua irmã antes de você conseguir voltar com a null”.
- Eu não acredito, como você é idiota – null gritou, estapeando o namorado.
- Eu só falei isso por causa daquela noite na festa da null – ele se defendeu. – Estava procurando um motivo pra me aproximar de você. Qual é, null, já passamos disso.
- Tá, já passamos disso – ela repetiu. null se aproximou dela e lhe beijou na testa.
- Tá, mas o que vocês apostaram? – null perguntou. – Isso vocês nunca nos contaram.
- A nota de um real que achamos na rua – null respondeu, arrependendo-se em seguida.
- Eu não acredito que nós duas só valemos uma nota de um real velha – null explodiu. – Ai, como eu odeio vocês dois.
- Espera aí, quem ganhou? – null perguntou.
- Isso não importa, ok? Ninguém liga – disse null.
- Alguém tem mais alguma dúvida? – null perguntou. Ninguém se manifestou. – É, vamos pular para a parte do churrasco.
null, null e null, que ainda estavam na piscina, saíram. null se jogou sobre null e null, molhando-os.
- Senti saudades – ela sorriu. – Como foi lá?
- Um casamento chato, nada demais – disse null.
- Sabe, bem que eu desconfiei. É por isso que eu não vi fotos do narcisismo em pessoa – null falou, referindo-se a null. – Bateu o recorde de tempo sem fotos na história do Snapchat.
- Acho que já chega de falar sobre a gente... Vamos falar sobre a aniversariante do mês? – null perguntou, encarando null. – O que quer fazer no dia?
- Nada, eu não gosto de comemorar essa data. Como alguém pode comemorar quando está envelhecendo? – null dramatizou.
- Vamos ao parque? O que acha? – null perguntou. null balançou a cabeça. – Tem uma semana para pensar.
- É... Quem sabe? – ela riu e em seguida o beijou, sentindo-se cada vez mais apaixonada por ele.



Capítulo 27

- Tem que ser tudo perfeito, ouviram? – disse null, séria.
- Falando desse jeito, até parece que a festa é sua, relaxa aí – null rebateu.
null, null e null cuidavam da comida, enquanto a decoração ficou por conta de null, null e null, o que na concepção de null, havia sido uma péssima ideia. Os seis estavam na casa de null, preparando uma festa surpresa para a irmã, que acreditava que passaria o aniversário apenas com null, em um parque de diversões.
- Não é minha, mas tem que sair tudo perfeito porque é da null! – ela continuou. Em seguida, respirou fundo e percebeu que estava neurótica sem motivos.
- Já está tudo em ordem, a comida deve chegar uns quarenta minutos antes da festa, as bebidas já estão todas naquela geladeira enorme da cozinha e o bolo eu vou buscar agora – disse null, já cansada de tanta correria. A festa havia sido marcada dois dias antes e ela quem tinha conseguido praticamente tudo, em cima da hora, devido aos contatos do pai. – Quem vai me levar?
- Eu vou – null ergueu uma das mãos, em um sinal claro de ansiedade. Tudo para fugir da decoração de null. – Você continua aqui, amor?
- Claro, vai lá – null rolou os olhos e pegou a faixa escrito “parabéns” de forma grande e exagerada, das mãos dele.

***


- Para de insistir, eu não vou andar nessa coisa – null ria enquanto falava. – Desiste, ok?
- E quem falou que eu sou desses que desistem? – null sorriu e roubou um pedaço do algodão doce que a garota comia. – Eu te desafiei a andar em todos os brinquedos, vai amarelar?
- Não, que saco! – ela respirou fundo e parou de rir, ficando mais séria. – Eu tenho medo de altura, eu já te contei isso.
- Ah, me lembro – ele balançou a cabeça e sorriu sincero enquanto se aproximava dela. Abraçou a namorada e lhe deu um beijo rápido nos lábios. – Não insisto mais. Me desculpe.
- Não precisa se desculpar – ela também sorriu. – Quem sabe mais tarde?
- Tá bem, aonde vamos agora? – ele passou os olhos pelo lugar rapidamente e abriu um sorriso malicioso quando encontrou uma barraca de tiro ao alvo. – Proponho um desafio à aniversariante.
null seguiu a direção do olhar de null e também riu, quando entendeu o que ele pretendia. Era ótima naquilo. Assentiu e esperou que ele continuasse a falar.
- Vamos apostar? – ele sugeriu. null revirou os olhos. Aposta e null não funcionavam juntos. – Não fala nada...
- Eu não ia dizer nada – ela respondeu, seca. Balançou a cabeça e fez esforço para esquecer aquele assunto, era passado. E também seu aniversário, tinha que se divertir. – Quem perder faz o que?
- Se eu ganhar, você vai andar na montanha-russa, pode ser? – null ponderou por alguns segundos antes de assentir. Sabia que não ia perder.
- E se eu ganhar... – ela não completou a frase, não tinha nenhuma ideia. Olhou ao redor e viu, um pouco a frente, dois homens de mãos dadas, em seguida, se beijando. Abriu um sorriso malicioso e encarou o namorado. – Quantos seguidores você tem no Twitter, mesmo?
- Legal você comentar sobre isso, depois que eu toquei no baile e nós ganhamos o jogo de futebol, subiu muito. No momento, eu devo ter uns sete mil – ele comentou, empolgado. – Por quê?
- Se você ganhar, vai publicar no seu perfil que virou gay – ela disse, com simplicidade, arrancando uma gargalhada dele. – Não vi a graça.
- Está brincando, certo?

***


- Gente, que horas a null vai chegar? – perguntou null.
- Lá pras sete horas – null respondeu e em seguida, olhou as horas no celular. – Temos duas horas. Só quero esperar o bolo e libero vocês para irem se arrumar.
- Você tá bem, amiga? – null se aproximou de null e a encarou. – Tá mais chata que o normal.
- Ah, vá se ferrar – ela atirou uma das almofadas do sofá em que estava sentada na amiga.
- null só estaria mal se não estivesse mandando – null comentou, desviando de uma almofada no mesmo momento.
- Falando em mandar, vocês tiveram notícias da Silvia e do Marcus? – perguntou null.
- Parece que deixaram a escola. Vão pular a cerca em outra escola – disse null, fazendo-os rir.
- O que vão dar de presente para a null? – null mudou de assunto, pouco interessada na vida pessoal dos professores.
- Eu comprei uma bolsa – null foi a primeira a responder.
- Um cd do Justin Bieber – disse null.
- Justin Bieber? E a null gosta de Justin Bieber? – null revirou os olhos.
- Não gosta? Como, se todas as garotas gostam desse cara? – ele perguntou, realmente surpreso. – Ela vai gostar, vocês vão ver... Mas e você, null?
- Hm... – ele pigarreou. – Talvez, eu tenha esquecido esse detalhe. Talvez.
- Como assim? Não pode esquecer! – null disse, entre risadas. – Na verdade, eu também esqueci.
- É a vida... Fazer o quê?

***


- Por que brincaria? Que foi, vai amarelar? – null sorriu, vingativa.
- Por que está fazendo isso? Quer se vingar, é? – ele disse sério, mas mantinha o tom divertido na voz.
- Vamos, amor, é só uma brincadeira, qual o problema?
- Só por que me chamou de amor – ele lhe deu um selinho. – Ninguém vai acreditar, todo mundo sabe que estamos juntos.
- Mas estamos de férias, ninguém sabe o que realmente acontece nas férias. Vai aceitar?
- Beleza, eu topo – ele deu de ombros. – Vamos jogar isso.
- Mesmo se você ganhar, eu quero o urso, ok? – ela avisou. null assentiu e se aproximou da barraca, que para a alegria do casal, não tinha fila. Entregou uma das fichas ao homem que cuidava do jogo e recebeu seis dardos em troca.
- Três meus e três seus – disse o garoto. null pegou seus dardos e se posicionou de frente para o alvo. Com maestria, atirou os três em pouco tempo, acertando-os no centro. null a encarou, surpreso.
- Eu brinquei disso com o null a minha vida inteira – ela explicou. – Boa sorte.
null a ignorou, fazendo-a rir e se posicionou. Atirou o primeiro, acertando o no centro. Atirou o segundo, que por pouco não acertaria no centro do alvo e por fim, atirou o terceiro com confiança. E errou. null gargalhou. O homem que estava do outro lado da barraca, pegou um dos maiores ursos pendurados e entregou para a garota, que ficou confusa.
- Não acertamos todos – disse ela.
- Mas vocês mereceram, um erro não é nada – null sorriu e agradeceu e arrastou null para longe dali, que ainda não tinha dito uma palavra.
- Eu perdi – ela confirmou com a cabeça e riu mais. – Como eu perdi?
- Você acertou dois e eu três – ela respondeu, recebendo um sorriso irônico em troca. – Não fica chateado, meu amor.
- “Meu amor” não me convence agora – ele permaneceu sério. null parou de caminhar e entrelaçou a mão livre à dele, abraçou o garoto e lhe deu um beijo. – Ok, talvez convença.
- Eu sou muito linda, não tem como resistir.
- Não sei se linda é a palavra certa – ele sorriu, malicioso, fazendo null corar. – Estou brincando. Só um pouco.
- Tá, o que acha, mais um brinquedo, uma pipoca e vamos continuar comemorando lá em casa? Meus pais saíram e aposto tudo que null está com a null.
- É uma ótima ideia, meu amor.
- Eu gostei dessa coisa de amor, foi uma boa ideia começar com isso – null sorriu da maneira que null mais gostava, fazendo-a sorrir também. – Eu acho que amo você, sabia?
Diferente do que null pensava, null não se fechou ou se assustou com aquelas palavras. Disse aquela frase com medo da reação do garoto, mas sentia que ela precisava ser dita. Ele sorriu de novo e se aproximou dela, abraçando-a. Trocaram um beijo calmo e carinhoso.
- É, eu também acho que amo você.

***


Depois de quase uma hora, null enviou uma mensagem aos amigos avisando que já estava indo embora com null. Foi o tempo certo de eles se arrumarem e voltar para a casa da garota. Como apenas eles e os pais de null, que ainda não haviam chegado, participariam da festa, decidiram por fazer tudo dentro de casa. Apagaram todas as luzes e se esconderam quando viram o carro de null pela janela.
- Nossa, desse jeito até eu perceberia – null sussurrou.
- Ela não vai perceber se você não calar a boca – disse null. – Ok, controle. Me desculpe por ser grossa.
- É, agora ela realmente pode não estar bem – null comentou, apenas para irritar null. Recebeu um olhar feio de null e parou de rir. – Ela está entrando, todo mundo grita.
- PARABÉNS! – os seis gritaram em uníssono quando null atravessou a porta da frente. A garota passou os olhos pela sala e abriu um sorriso gigante, enquanto era esmagada por vários abraços. Os oito permaneceram abraçados um por um tempo e quando se soltaram, começaram a rir.
- Obrigada por tudo isso, eu amo vocês – null falou, emocionada. – Posso dizer uma coisa? Eu já sabia da festa.
- Sabia? Sabia coisa nenhuma – disse null.
- É claro que eu sabia. Vocês são previsíveis – ela continuou sorrindo. – Eu adorei tudo, muito obrigada.
- Eu te comprei um presente e todo mundo riu de mim – null começou. Ele pegou uma sacola no sofá e entregou a null. – Eu sei que vai gostar. Abre.
- Obrigada, null. Não precisava – ela sorriu e pegou o embrulho das mãos dele. Abriu o pacote e riu, quando viu o que era. – Justin Bieber? É... Acertou. Eu adoro.
- De verdade? – ele a encarou e a garota assentiu, realmente, falando a verdade.
- Não é o meu cantor preferido, mas eu gosto. Pode colocar pra tocar – null o entregou o cd e ele sumiu pela casa com null procurando um aparelho de som. – Onde estão meus pais?
- Eles saíram cedo, já deviam ter voltado – null respondeu. – Acha melhor ligar?
- Acho que chegaram – disse null, olhando pela janela. – Espera, acho que não... O carro é diferente.
null se aproximou da janela rapidamente, deixando os amigos confusos. Abriu um sorriso maior que o rosto e esperou os pais descerem do carro. Era a hora, estava animada. Eles entraram pela porta em silêncio e apenas abraçaram null. Seu pai decidiu começar.
- Primeiro de tudo, eu quero desejar tudo de melhor nesse mundo para a minha filha – ele sorriu, assim como null. – Essa garota tem um coração enorme.
- Vocês todos são muito importantes na vida da nossa menina – a mãe de null completou, arrancando risadas. – Há alguns dias, estávamos conversando e decidimos nos esforçar para que null tivesse um ótimo presente de aniversário.
- Sabemos que só está completando dezessete hoje e terá que esperar mais um ano, mas decidimos lhe dar um carro – seu pai disse com naturalidade. null não estava surpresa, já sabia. Seus amigos demonstraram reações exageradas. – E, como você já decidiu...
- Como é? Eu escutei direito? – null o interrompeu, com um tom de voz nada agradável. – Vocês vão dar a ela um carro?
- null, espera ele terminar, você... – null também foi interrompido pelo melhor amigo.
- Me desculpe, null. Mas você não sabe o que realmente aconteceu... Ah, mas é claro – ele começou a gargalhar. – É claro que pra ela vocês dariam um carro, não é mesmo, Barbie?
- null, por favor, para com isso – null pediu, já sentindo os olhos marejarem.
- Você já contou para os seus queridos amigos por que você tem esse apelido? Já contou por que eu não tenho carro?
- Deixa de ser estúpido, é o meu aniversário, para com isso agora.
- Eu tenho quase certeza que nenhum deles sabe que você bebeu, pegou o meu carro e além de bater, atropelou uma pessoa – ele contou, com uma calma invejável. Encarou null, que tentava de todas as maneiras enxugar as lágrimas que escorriam sem parar. E então percebeu a besteira que tinha feito. Olhou ao redor, todos os seus amigos o encaravam assustado, assim como seus pais. Caminhou até a irmã e a abraçou. O gesto deixou null sem reação.
- O que está fazendo? – ela perguntou.
- Pedindo desculpas – ele a abraçou ainda mais apertado. – Me perdoe por isso. Eu não sei o que aconteceu.
- Você está bem?
- Eu te faço essa pergunta, você está bem? – ele desfez o abraço e segurou seu rosto entre as mãos. – Me perdoe, null.
- Me desculpe por arruinar seu carro – eles se abraçaram de novo. – Não era pra você ficar bravo, você não esperou meu pai terminar de falar.
- Todos vocês, me desculpem por isso – null encarou os amigos ao seu redor. – Estou me sentindo péssimo.
- Então é por isso que você não bebe? Aquela história sobre os presentes do seu pai que nos contou era mentira? – null perguntou à null.
- Sim, me desculpe por isso.
- Não precisa se desculpar, null. Mas saiba que vamos estar aqui com você sempre – null a garantiu. Todos eles concordaram com a cabeça.
- Agora que está tudo bem, eu posso continuar – disse o Sr. null. – Como você já decidiu... Você quer contar?
null pegou a chave com sua mãe e pigarreou, antes de começar a falar.
- Quando os meus pais me contaram sobre esse presente, imediatamente, eu percebi que seria injusto da minha parte eu ficar com ele... Exatamente pelos motivos que você falou – ela encarou o irmão e lhe entregou as chaves. – É por isso que eu decidi dar para você.
- O quê? Eu não posso aceitar isso... Não depois de tudo o que eu falei – disse ele, sentindo-se a pior pessoa do mundo. – Não mesmo.
- É seu, null. Meu aniversário, seu presente – null sorriu. – Vamos esquecer o que aconteceu antes, ok? Você vai me dar carona até eu ter o meu próprio carro.
- Você é a melhor irmã do mundo – ele a abraçou mais uma vez. – Nunca vou parar de te agradecer por isso!



Epílogo

Dois anos e seis meses depois...

“Rio de Janeiro, 11 de Fevereiro de 2017

Eu sempre quis escrever uma carta para alguém, mas com toda essa tecnologia, quem precisa? Nunca imaginei que você seria a pessoa para quem eu enviaria minha primeira carta.

Enfim, vou me esquecer desse lance da carta, não é por isso que estou escrevendo. Quer dizer, mais ou menos, né? Quer saber, pule esse parágrafo.

Eu sei como você está atarefado por conta dos estudos, eu também estou, e já faz quase um mês que nos falamos, estou morrendo de saudades. Todos nós, na verdade. Mas eu sei como você está feliz aí. Tenho novidades para contar, agora que só temos menos de dez minutos para colocar as fofocas em dia, fica difícil te atualizar de tudo. E eu sei que você vai ler isso bem assim, com um tom nada amigável “eu não acredito que ela disse que eu faço fofocas”. Mas vai continuar me amando depois disso, por que é assim que nós somos.

Antes de tudo, quero falar sobre null e a maneira irritante dela de me pedir notícias suas a cada cinco minutos. Como se você fosse ligar pra mim antes de falar com ela, né? Vamos fingir que eu acredito que você prefere a irmã mala, à namorada gostosa. Ok, estou brincando, não brigue comigo.

Os meninos também estão doidos por notícias. null, principalmente. Nosso namoro vai muito bem (isso interessa a você? A relação da irmãzinha com o melhor amigo?). Estamos dividindo um apartamento (para a raiva de nossos pais) e estamos na mesma área na faculdade. Artes, é claro. Estou estudando artes cênicas e advinha? Ele quer ser fotógrafo. Estamos indo bem nisso. null está fazendo design, sempre foi apaixonada por moda, mas isso você já deve saber... null e null entraram em uma editora nova no mercado, estão estagiando, mas do jeito que são boas, vão se destacar em breve. null está como guitarrista em uma banda, fazendo alguns shows pelo país (matando a gente de saudade também) e não é coisa pequena. Eles vão estourar! São talentosos e... Acredita que uma música deles tocou no rádio semana passada? Não posso me esquecer de null, esse não podia estar melhor. Tomou frente aos negócios do pai e só anda engravatado (pode ver nas fotos que estão juntas com essa carta, no envelope), nem parece o nosso amigo quase irresponsável.

Sobre os casais? Estamos muito bem, todos nós. Acredito que as coisas do null com a null possam ficar mais sérias. Mas eles não se casariam sem você aqui, não se preocupa, não vai perder nada.

Eu acho que é isso... Me perdoa por não escrever mais, mas eu realmente não consigo me lembrar de mais nada. Só peço pra você se cuidar e voltar logo. Não sabe o quanto eu amo você e a falta que faz na minha vida (momento Sis fofa). Sério, só tenho a te agradecer, e aproveitando a oportunidade que você está nos States, vou fazer isso em inglês.

Thank you, brother!

Com amor, null”




FIM.



Nota da autora: (19/12/2015) Preparem-se, essa será uma nota gigante.

Acabei. ACABEI. Eu realmente estou concluindo minha história. Eu não sei o que dizer sobre isso... Quando eu comecei a escrever TYB, a única coisa que prometi a mim mesma era que chegaria até o final. E eu consegui. Eu não imaginava que chegaria até aqui. Foi 1 ano e 10 meses escrevendo tudo e tive o prazer de ter leitoras muito fofas acompanhando todas as minhas viagens. Eu não imaginava nem que alguém leria isso. Eu peço desculpas pelos erros na história, peço desculpas se em algum momento decepcionei alguém, juro que não era a intenção. Acredito que fui bem fiel ao que eu queria para a história e estou satisfeita com o resultado final. Eu realmente não sei o que dizer... Durante todo esse tempo, essa história fez parte dos meus dias, eu estava sempre tirando inspiração das coisas mais aleatórias possíveis para colocar aqui e confesso que é um pouco assustador pensar que daqui pra frente eu não terei mais que pensar sobre isso, porque já está concluída. Eu queria comentar sobre as referências citadas durante a fanfic, como as séries que eu assisto, filmes e frases de livros, acredito que sem isso eu também não teria metade das ideias que eu tive pra história. Também quero esclarecer, se alguém ficou com dúvida em relação as datas, a história começa por volta de junho de 2014. Deixei para o final e é muito importante, só tenho a dizer um enorme OBRIGADO. Sem os comentários fofos que eu recebi de vocês eu não teria tanto incentivo para atingir meu objetivo e chegar até o fim e só quero agradecer de coração, a você, que me deu uma chance, no meio de milhares de histórias ótimas e autoras incríveis, deu uma chance para uma história nova, uma autora nova, sem nenhuma experiência. Isso tudo é muito importante para mim. Quero finalizar esse texto dizendo que isso não é o final, a versão reescrita dessa história vai sair! E vocês podem acompanhar minha nova long, "True Hailey", postada aqui no FFOBS!
XOXO,
Rebecca

BOOK TRAILER 1 | BOOK TRAILER 2






Outras Fanfics:
True Hailey – Em Andamento
A Modern Fairytale – Shortfic


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