Prólogo
Eu não via graça, muito menos utilidade em todas as atividades extracurriculares que era obrigada a fazer. Obrigada pelos meus pais, para que eu fosse sua filha perfeita e, assim como a filha aborrecida da minha tia Penny, entrar para uma faculdade de prestígio para que meus pais vivessem o velho sonho americano. Eu participava do clube de debate, do time de natação, era do grêmio responsável pelo livro do ano (é claro que eu só comparecia regularmente à natação) e ajudava o professor de matemática a corrigir trabalhos e testes vez ou outra, apenas porque a matemática era a única matéria na qual eu era realmente boa (e porque ele era um gato).
Eu era uma adolescente de dezoito anos que não tinha a menor ideia da boa vida que levava. Uma garota mimada, superficial, que não se importava com os sentimentos das outras pessoas contanto que minha vida estivesse perfeita. Eu era popular, talvez a segunda mais popular já que minha melhor amiga, , transava com todos os garotos do time de futebol, o que a fazia ser sempre a mais popular entre nós duas. Não que eu não transasse com alguns garotos do time, o que eu fazia, mas não era com todos. Eu tenho um namorado, que acontece de ser o capitão do time. Ele pode não ser a pessoa mais inteligente da face da terra, mas me cultuou como se eu fosse uma deusa pagã e, com o meu ego, eu não aceitaria menos do que isso.
Meus pais me criaram do pior jeito possível. Fui mimada em cada aspecto da palavra. Eu era filha única, fruto de uma inseminação artificial quando minha mãe já tinha quarenta anos. Por aí já dá para ter uma noção do tipo de criação que eu tive. Nós não éramos ricos, embora também não fôssemos pobres, mas, mesmo assim, fui criada com certos luxos e mimos que outras garotas matariam para ter. A culpa dos meus pais sempre foi me amar demais, inclusive quando eu me tornei a garota insuportável que os respondia mal a todo o tempo.
Faltava dois meses para a formatura, o que significava que toda garota estava às loucas pensando em vestidos, maquiagens, o que fazer no cabelo e tentando ser as mais simpáticas do mundo em troca de alguns votos para Rainha do Baile. Eu estava certa de que eu ganharia a disputa, apenas porque e Logan Taylor tinham terminado a apenas algumas semanas do baile. E, segundo minha melhor amiga, o caso era irremediável. tentava esconder que estava magoada saindo com todos os caras do ensino médio que estavam disponíveis (e os que não estavam, também), dizendo que não precisava de um par para o baile, mas que talvez fosse com o melhor amigo do meu namorado. Não que soubesse das intenções dela, já que esperava que eu os arranjasse.
— , você sabe que me deve isso. Se lembra no ano passado quando eu fiz aquele estudante de intercâmbio francês te levar pra sair? — Rolei os olhos para cima, esfregaria aquilo na minha cara enquanto eu vivesse. Ou até depois que eu deixasse de existir, ela seria aquela velhinha que jogaria flores no meu túmulo e faria pedidos como se eu fosse uma santa, sempre se utilizando do fato de que ela conseguiu que Jean Luc e eu déssemos uns amassos no mirante.
Tudo bem, eu transei com ele. O que realmente não importa para a nossa narrativa.
— Eu posso tentar, mas você sabe que o me odeia e não vai fazer nada que eu diga. — Atalhei enquanto passávamos gloss no banheiro do colégio, no intervalo.
— Você transa com o melhor amigo dele, dã! Faça com que o convença ele. — Ela se olhou no espelho, ajeitando seus seios avantajados no decote. — Não que eu ache que ele vá precisar de muito convencimento. — sorriu para si mesma e me olhou, esperando a minha reação.
— Tudo bem. — Foi a única coisa que eu disse, já que eu sabia que ela não ia me deixar em paz enquanto eu não concordasse.
era insistente, mesmo que nós duas soubéssemos muito bem que se ela se insinuasse para ele como se insinuava para os outros jogadores, cairia como um patinho em cima dela e seus peitos enormes. Mas a questão não era essa. A questão era manter-me sobre o seu poder. Ela era a abelha rainha do colégio, a mais bonita da nossa turma e do colégio inteiro. Ela tinha um séquito de outras garotas populares a seguindo, eu entre elas, exceto que havia uma diferença entre eu e as outras garotas: eu era a “melhor amiga” de , sendo assim eu conhecia seus segredos e era melhor manter-me sob o seu controle do que fora dele, quando eu poderia deixar um ou dois fatos escabrosos sobre a vida dela escaparem. E, acredite, eu sei de coisas que faria muita gente corar.
As coisas eram assim na John Locke High School. Ninguém mexia conosco, éramos intocáveis. Ou, pelo menos, era o que achávamos. Eu não era uma cheerleader como ela. Dançar nunca foi um talento nato e os poucos movimentos de dança que eu sabia foram exaustivamente treinados no espelho do meu quarto. Sempre fui mais ativa e o time de natação foi a alternativa perfeita para a garota que adorava água. Me chamavam de sereia, por causa do meu sucesso no time de natação. Ser namorada do capitão do time e melhor amiga da somados ao meu sucesso fazia com que eu fosse uma mini-celebridade. E as pessoas me tratavam como tal, até mesmo alguns professores se mostravam mais condescendentes comigo. Ser uma atleta na minha escola tem lá as suas vantagens.
E, mesmo assim, quando eu morri ninguém se lembrou de mim por muito tempo. É claro, ficaram algum tempo de luto e todo mundo fingiu que me conhecia mais do que a verdade. Tirando meus pais, a única pessoa que realmente sentiu minha falta foi o senhor , meu professor de matemática. Surpresa por ler a história de uma garota morta? Bem, para falar a verdade eu não estou exatamente morta. E você logo vai entender o porquê.
Eu era uma adolescente de dezoito anos que não tinha a menor ideia da boa vida que levava. Uma garota mimada, superficial, que não se importava com os sentimentos das outras pessoas contanto que minha vida estivesse perfeita. Eu era popular, talvez a segunda mais popular já que minha melhor amiga, , transava com todos os garotos do time de futebol, o que a fazia ser sempre a mais popular entre nós duas. Não que eu não transasse com alguns garotos do time, o que eu fazia, mas não era com todos. Eu tenho um namorado, que acontece de ser o capitão do time. Ele pode não ser a pessoa mais inteligente da face da terra, mas me cultuou como se eu fosse uma deusa pagã e, com o meu ego, eu não aceitaria menos do que isso.
Meus pais me criaram do pior jeito possível. Fui mimada em cada aspecto da palavra. Eu era filha única, fruto de uma inseminação artificial quando minha mãe já tinha quarenta anos. Por aí já dá para ter uma noção do tipo de criação que eu tive. Nós não éramos ricos, embora também não fôssemos pobres, mas, mesmo assim, fui criada com certos luxos e mimos que outras garotas matariam para ter. A culpa dos meus pais sempre foi me amar demais, inclusive quando eu me tornei a garota insuportável que os respondia mal a todo o tempo.
Faltava dois meses para a formatura, o que significava que toda garota estava às loucas pensando em vestidos, maquiagens, o que fazer no cabelo e tentando ser as mais simpáticas do mundo em troca de alguns votos para Rainha do Baile. Eu estava certa de que eu ganharia a disputa, apenas porque e Logan Taylor tinham terminado a apenas algumas semanas do baile. E, segundo minha melhor amiga, o caso era irremediável. tentava esconder que estava magoada saindo com todos os caras do ensino médio que estavam disponíveis (e os que não estavam, também), dizendo que não precisava de um par para o baile, mas que talvez fosse com o melhor amigo do meu namorado. Não que soubesse das intenções dela, já que esperava que eu os arranjasse.
— , você sabe que me deve isso. Se lembra no ano passado quando eu fiz aquele estudante de intercâmbio francês te levar pra sair? — Rolei os olhos para cima, esfregaria aquilo na minha cara enquanto eu vivesse. Ou até depois que eu deixasse de existir, ela seria aquela velhinha que jogaria flores no meu túmulo e faria pedidos como se eu fosse uma santa, sempre se utilizando do fato de que ela conseguiu que Jean Luc e eu déssemos uns amassos no mirante.
Tudo bem, eu transei com ele. O que realmente não importa para a nossa narrativa.
— Eu posso tentar, mas você sabe que o me odeia e não vai fazer nada que eu diga. — Atalhei enquanto passávamos gloss no banheiro do colégio, no intervalo.
— Você transa com o melhor amigo dele, dã! Faça com que o convença ele. — Ela se olhou no espelho, ajeitando seus seios avantajados no decote. — Não que eu ache que ele vá precisar de muito convencimento. — sorriu para si mesma e me olhou, esperando a minha reação.
— Tudo bem. — Foi a única coisa que eu disse, já que eu sabia que ela não ia me deixar em paz enquanto eu não concordasse.
era insistente, mesmo que nós duas soubéssemos muito bem que se ela se insinuasse para ele como se insinuava para os outros jogadores, cairia como um patinho em cima dela e seus peitos enormes. Mas a questão não era essa. A questão era manter-me sobre o seu poder. Ela era a abelha rainha do colégio, a mais bonita da nossa turma e do colégio inteiro. Ela tinha um séquito de outras garotas populares a seguindo, eu entre elas, exceto que havia uma diferença entre eu e as outras garotas: eu era a “melhor amiga” de , sendo assim eu conhecia seus segredos e era melhor manter-me sob o seu controle do que fora dele, quando eu poderia deixar um ou dois fatos escabrosos sobre a vida dela escaparem. E, acredite, eu sei de coisas que faria muita gente corar.
As coisas eram assim na John Locke High School. Ninguém mexia conosco, éramos intocáveis. Ou, pelo menos, era o que achávamos. Eu não era uma cheerleader como ela. Dançar nunca foi um talento nato e os poucos movimentos de dança que eu sabia foram exaustivamente treinados no espelho do meu quarto. Sempre fui mais ativa e o time de natação foi a alternativa perfeita para a garota que adorava água. Me chamavam de sereia, por causa do meu sucesso no time de natação. Ser namorada do capitão do time e melhor amiga da somados ao meu sucesso fazia com que eu fosse uma mini-celebridade. E as pessoas me tratavam como tal, até mesmo alguns professores se mostravam mais condescendentes comigo. Ser uma atleta na minha escola tem lá as suas vantagens.
E, mesmo assim, quando eu morri ninguém se lembrou de mim por muito tempo. É claro, ficaram algum tempo de luto e todo mundo fingiu que me conhecia mais do que a verdade. Tirando meus pais, a única pessoa que realmente sentiu minha falta foi o senhor , meu professor de matemática. Surpresa por ler a história de uma garota morta? Bem, para falar a verdade eu não estou exatamente morta. E você logo vai entender o porquê.
Capítulo 1
Oito semanas para o baile
Acordei com o relógio marcando 7:45, que era vinte e cinco minutos mais tarde do que eu deveria ter acordado. Levantei da cama aos pulos, pronta para me enfiar na ducha e me vestir o mais rápido possível, batendo com o mindinho na parede ao entrar no banheiro. Saí de casa correndo enquanto minha mãe gritava alguma coisa sobre a minha mais nova dieta (nada de carboidratos e nem massa e nem nada muito gorduroso por uma semana) e como eu devia consultar um médico em vez de só tomar um copo de água e comer algumas uvas no café da manhã. Ela dizia que eu, como uma atleta, deveria ser um pouco mais responsável. Ora, mas eu estava sendo responsável. Quem gostaria de me ver num biquíni se eu estivesse gorda? Isso mesmo, ninguém!
Além do mais, o baile seria em dois meses agora e o meu vestido só ficaria bem em mim se eu estivesse no meu peso de sempre, o que me faz ter que eliminar esses três quilos que eu ganhei por causa de todas as vezes que me leva no McDonald’s e me diz para comer o que eu quiser.
Por falar em , ele estava realmente bonito esta manhã. Ele tinha um sorriso brilhante no rosto e seu cabelo brilhava ao sol, os óculos escuros escondiam seus olhos cristalinos e honestos enquanto ele acenava pra mim do seu jipe Wrangler laranja. Aquele carro era tão chamativo! já estava no banco traseiro e abriu a janela para me apressar. era nossa abelha rainha, mas ultimamente ela andava meio desleixada. Talvez pelo fato de que Logan tinha chutado seu traseiro bonitinho pela garota asiática do clube de teatro – e nem me pergunte o nome dela, eu realmente não sei! Enquanto isso, as garotas de nosso pequeno séquito tinham voltado seu olhar pra mim. Eu estava ditando como as coisas iam andar, pelo menos até se recuperar do rompimento e voltar ao seu lugar usual no topo da hierarquia das meninas populares. Não que eu quisesse que ela voltasse, eu estava descobrindo que gostava demais daquela posição.
Finalmente entrei no carro, sentando no banco do carona e me inclinando para beijar nos lábios. Ele me segurou pela nuca, transformando meu inocente beijo de bom dia em algo bem mais ardente. Bem, pelo menos deveria ser.
— Arranjem um quarto! — gritou em um falso tom de alegria. Eu sabia mais do que ninguém o quanto ela se ressentia ao ver um casal se pegando quando ela mesma tinha sido largada por seu namorado. E sei disso porque ela reclamou de Jen se agarrando com o Benny no intervalo, embora tenha sorrido e dito a Jen que os dois formavam um ótimo casal.
— Deixa de ser chata! — Dei língua pra ela e finalmente se virou para frente, pousando sua mão direita na minha coxa enquanto saía com o carro.
— Muito maduro, , muito maduro… — debochou de mim, rolando seus olhos castanhos para cima enquanto seus dedos buscavam o celular dentro da bolsa.
Dei de ombros, colocando um dos óculos de sol de , jogado dentro do porta-luvas. Alguns fatos devem ser considerados, agora. Eu sei que vou parecer uma babaca, mas eu sou realmente atraente. Não tenho um charme geek, não sou extremamente estilosa, muito menos linda de morrer como a Angelina Jolie, mas sou o estilo de garota que geralmente faz sucesso em filmes adolescentes, você sabe, a que se veste de rosa e tem os namorados mais bonitos. A garota que usa decotes pequenos, apenas para dar um gostinho. E a garota que tem boas notas e amigas bonitas.
Não que não seja inteligente, mas ela tem o que eu chamo de street smarts, que é a malandragem. Ela sabe se virar em qualquer lugar, eu não. E é por isso que nos complementamos tão bem. Eu sou a garota que parece ser a boa moça, mas posso garantir que não sou nenhuma santa. é a garota atraente e provocante, ela se parece muito com a Elisha Cuthbert, quando ela ainda era gostosa, quero dizer.
Segunda consideração: eu invejo . E digo isso de verdade, porque ela é tudo que eu não sou. tem o tipo de personalidade que consegue conquistar as pessoas, mesmo sem flertar com elas. Ela é gostosa, se veste bem e todo mundo conhece a . Até mesmo os alunos da faculdade. A vive em festas de fraternidade e nunca se dá mal, porque ela não parece mesmo ter só dezoito anos, como eu.
Terceira consideração: eu tenho uma grande queda pelo senhor , nosso professor de matemática. No ano passado, eu não ajudava a sra. Hamilton a corrigir testes e nem a dar nota em trabalhos. Simplesmente porque eu não me interessava pela sra. Hamilton, que tinha cheiro de queijo velho e buço. Mas o senhor é jovem, inteligente, completamente gostoso e meio tímido, o que me torna muito mais entusiasmada para ajudar do que deveria. Não que eu ache que posso dormir com ele, ele tem cara de quem gosta das garotas geeks. E mulheres de sua idade, não como o professor de literatura com quem eu dormi aos quinze anos e descobri que ele já tinha dormido com, pelo menos, metade da minha turma antes de ser demitido. Eu considero tudo isso das minhas fantasias sobre ele uma diversão por fora do meu namoro, afinal de contas: qual é o problema de uma garota em ter fantasias com seu professor gato?
Antes mesmo que pudesse notar, tinha estacionado na escola e logo pulou do jipe e correu em direção a um rapaz que estava no time de basquete, bonito e forte, de pele escura e dreadlocks. Shawn era particularmente atraente e qualquer garota de nossa turma babava nele, mesmo que ele fosse de uma série abaixo da nossa. Eu mesma o achava uma delícia. correu e pulou nele, que levantou seu corpo curvilíneo com uma facilidade assustadora. Olhei-a pela janela. Sabia que tinha feito tudo aquilo porque seu ex-namorado estava a menos de cinco metros dali, rindo com alguns amigos do time de futebol.
Se quer mesmo a minha opinião, e Logan jamais dariam certo. Os dois gostavam muito de transar por fora e aquilo estava fadado a acabar de qualquer forma. Logan fodia com todas as cheerios, fodia com todos os jogadores do time. E então eles brigavam e ela dirigia em prantos até a minha casa, ligava para algum de seus jogadores e corneava Logan para que ele “aprendesse”. Eu não critico a por isso, não sou ninguém para falar de certo ou errado, mas não entendia porque ela ficava com Logan. Ela era demais para um cara que parecia andar com a cabeça enfiada no próprio rabo.
De qualquer maneira, eu tinha literatura estrangeira no primeiro período, tinha História e nós nos despedimos com um beijo, enquanto eu seguia para a sala de aula. Enquanto eu andava, várias pessoas me cumprimentavam, por causa de todo aquele status de minicelebridade que eu já comentei. Eu amo isso.
Durante o ensino fundamental, eu não fui popular. Eu não fui popular até começar a me maquiar e deixar o cabelo crescer. Antes disso, eu era a garota de aparelho nos dentes que era realmente boa em matemática. O reconhecimento de agora, então, era tudo o que eu tinha. E eu amava tudo aquilo. Eu seria uma hipócrita se dissesse que era uma louca obcecada por si mesma, porque eu estava no mesmo caminho. Eu provocava caras, sorria falsamente para as outras garotas e tratava sempre os professores bem, tudo muito bem calculado para que eu pudesse permanecer no posto de uma das garotas mais populares da escola. E como nem tudo vem de graça, eu também fazia a parte suja de ser uma garota popular: bullying.
Maggie Harrison era tudo o que eu e nenhuma das garotas queríamos ser: era gorda, baixa, usava óculos e não tinha o menor estilo para se vestir. Maggie parecia andar sempre com uma lâmina balançando sobre sua cabeça e abaixava o olhar cada vez que passava por uma de nós. Quando eu estava sozinha, a ignorava. Quando estava com ou algumas das garotas, eu ria e zombava dela da mesma forma como as outras.
Não sei se vai entender, mas é a lei da sobrevivência. Eu estava no topo, ela estava abaixo dos maconheiros da escola. E Maggie era uma vítima tão perfeita! Não tinha amigos, ninguém se lembrava dela, não tinha nenhum talento excepcional que a distinguisse das outras pessoas. E ela tinha tanto medo de nós.
Passei por Maggie, ignorando-a enquanto falava com uma de minhas colegas do time de natação. Ela pareceu suspirar baixo e saiu correndo o máximo que suas pernas gordas permitiam, para longe das minhas vistas. Jen passou por ela e riu baixo, de modo debochado enquanto me dava um braço e andava ao meu lado, Jade tomando meu outro braço logo depois de eu ter pegado meus livros. Jen e Jade Kwon eram gêmeas, víboras venenosas e a reincarnação de Satã dividida em dois corpos. Tudo isso em duas asiáticas miúdas e bem magrinhas.
— É impressão minha ou Maggie conseguiu ficar ainda mais gorda no final de semana? — Jen começou, falando de seu usual modo afetado.
— Achei que ela não conseguia ficar ainda mais gorda. — Respondi sem muito entusiasmo. As gêmeas não eram minhas garotas preferidas.
— Um dia, vamos ouvir um estouro e veremos uma chuva das bregas da Maggie. Essa garota vai comer até explodir, literalmente. — Jade, a mais maliciosa das duas, riu com seu próprio comentário.
Eu não me sentia particularmente mal por Maggie. A culpa não era minha por ela ser tão desleixada, mas eu me incomodava com o modo como a escola inteira parecia em guerra com ela. Todos riam dela. Sem exceção. Os menos perdedores que ela riam também.
— , ficou sabendo sobre a professora de francês? — Jade começou, olhando de forma venenosa para sua irmã. Apesar de gêmeas, elas não eram idênticas.
— Meu Deus, você tem que escutar essa! A sra. Trammel — sabe qual, a de Biologia — pegou a mademoiselle Margaux chupando um dos caras do time de futebol na sala dos professores! — Jen disse, mal esperando que eu respondesse sua irmã.
— Que cara? — Eu pergunto sem nenhum interesse em especial, apenas para estabelecer uma conversa enquanto tentava chegar à sala de literatura estrangeira, onde a sra. Hilton iria nos entediar até a morte por uma hora e meia.
— Ora, isso ninguém sabe. Mas parece que chegou uma nova professora e eles fizeram questão que ela fosse casada, católica e gorda, para não tentar ninguém.
— Que coisa mais idiota. — Eu digo enquanto olho para dentro da sala e checo se a sra. Hilton já chegou. Jade e Jen fazem a mesma coisa, nós três suspiramos aliviadas quando vemos que ela não tinha chegado ainda, caso contrário faria um escândalo sobre as alunas atrasadas.
A sra. Hilton não é velha e nem gorda. Ela seria muito bonita, caso deixasse de lado os óculos com fundo de garrafa e os coques de velha. Ela é alta e magra, elegante, e, segundo meu namorado, seria totalmente gostosa se não fosse um pé no saco. Porque a sra. Hilton é uma das poucas professoras que não gostam de mim, eu a desprezo abertamente. A sra. Hilton é uma daquelas cristãs que acham que são melhores do que mulheres que assumem gostar de sexo, como se isso me fizesse pior do que ela de algum jeito.
Eu juro que uma vez a peguei chamando de “vadiazinha” enquanto nós duas almoçávamos com nossos namorados. Ela corou e virou o rosto, mas eu vi que ela não parecia nem um pouco arrependida.
Nós três entramos na sala e nos ajeitamos em nossos lugares rapidamente. As gêmeas fazem quase todas as matérias comigo, porque, ao contrário das outras garotas, elas são realmente inteligentes. Nós fazemos as matérias avançadas, enquanto as outras não querem se preocupar com esse tipo de coisa e escolhem aulas mais fáceis.
É claro, eu não faço essas matérias para me exibir. Eu tenho que estudar bastante para ter notas boas nelas. Mas eu faço pelos meus pais, que realmente cobram muito de mim. E eu sinto que devo algo a eles, mesmo que eles sejam apenas um casal de velhos chatos. Por isso, mantenho meu GPA em 3.95.
Desbloqueei meu celular e olhei minhas mensagens enquanto a professora não chegava. já estava reclamando de Logan de novo, o que me fez rolar os olhos e bufar. Porque por mais que transe com todos os caras atraentes dessa escola (e das outras, também), ela ama Logan e vive falando dele pra mim. E eu já estou tão cansada de ter que ler ou escutar sobre Logan que eu quero apenas que ele suma ou ela o apague da mente, tipo a Clementine em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, porque tudo seria mais fácil pra mim.
está enchendo o meu saco. Se eu tivesse um saco. E se eu tivesse um saco, ele estaria estourando de cheio!
— é tão chata reclamando sobre o Logan. — Jade cochicha para mim, lendo a mensagem por cima do meu ombro.
— Eu sinceramente não aguento mais ouvir falar sobre ele. — Confidencio em voz baixa, para que ninguém além das gêmeas ouça.
— Ela não estava se agarrando com o Shawn, tipo, cinco minutos atrás? — Jade disse, mal levantando os olhos de suas unhas, muito bem feitas em uma francesinha impecável.
— Além disso, o Logan está, tipo, tão apaixonado na Emily Hwang, do clube de teatro. — Jen me diz, depois de olhar para a irmã. — Você sabe, eu faço parte do Clube de Cultura Coreana com ela e ele está sempre, tipo, completamente atrás dela, ligando o tempo todo e vindo buscá-la todos os dias.
— Eu sinto até um pouco de inveja dela. Quer dizer, ele está sempre com ela, sabe? Muito romântico e essas coisas. — Jade diz, dando de ombros.
Eu aposto que Jade não sentia nenhum tipo de inveja de Emily Hwang — então esse é o nome dela! — porque, segundo e suas fontes, ela é lésbica.
Nossa conversa foi cortada quando a sra. Hilton entrou e nos lançou um olhar de descontentamento, como se o mero fato de nos ter na sala de aula já fosse o suficiente para fazê-la querer vomitar seu café da manhã cristão que ela tomou com seu marido cristão em cima de uma toalha de mesa cristã.
— Senhoritas Kwon, senhorita : silêncio. — Ela desviou o olhar e tentou nos matar mais uma vez, discorrendo mecanicamente sobre autores estrangeiros e seus objetivos ao escreverem seus livros chatos.
Eu aposto tudo que eu tenho que a sra. Hilton foi uma daquelas adolescentes chatas, presidente do clube de castidade e que usava cardigãs fechados até o pescoço, não deixando o namorado tocar nos seios dela nem por cima da blusa, com sutiã e tudo protegendo o que tem mais de precioso, com medo do que as pessoas achariam.
Eu, é claro, não tenho nada contra esse tipo de garotas, enquanto elas tem tudo contra mim. O problema é que ninguém dá ouvidos a elas e eu estou em todas as listas de garotas mais desejadas que rolam por aí. Problema delas, então.
Eu estou bem do jeito que eu estou. E também. Ela sofre ainda mais com rumores do que eu, embora boa parte do que digam sobre ela seja verdade. Dois períodos depois, eu saí no corredor, fazendo piadas sobre a sra. Hilton e que ela devia ter um cadeado na calcinha, quando o senhor passou. Eu senti o perfume dele de longe, porque tudo nele me fazia ser mais sensível ao que rolava ao meu redor. Ele passou por mim, sorriu e disse que me esperava mais tarde, porque aparentemente tinha uma pilha de trabalhos para corrigir por causa do final de semana e das provas finais.
Eu não era a única aluna que o ajudava, tinha outros dois caras da nossa turma que ficavam conosco e eu tenho certeza que, se não fosse por isso, todo mundo diria que eu estava dormindo com ele, pela maneira como as gêmeas se entreolharam. E então apareceu também.
— Se eu ficasse numa sala sozinha com ele… — Ela disse e riu. Eu ri também, apesar de saber que ela dormiria com ele se estivesse na minha situação. E então nós quatro fomos em direção ao banheiro, passar mais gloss nos lábios e falar mal de outras garotas. Mais tarde, eu tinha uma pilha de testes para corrigir. Com ele.
Encontrei Constance no corredor, enquanto me encaminhava para a sala do senhor . Ela é uma dessas garotas realmente bonitas e intimidantes. Presidente do Clube de Debates. Vaca da maior espécie e, bem, ex-namorada do meu namorado. O que realmente me faz ter pena dela e simpatizar um pouco com ela. Porque, francamente, nós duas sabemos como é na cama. Constance sorriu amarelo para mim, ao que eu retribuí com o mesmo grau de falsidade.
— ! Espero que não tenha esquecido da reunião de amanhã! — Ela bateu seus saltos no chão por ter parado de maneira tão brusca.
— Oh, não, Constance. Eu estarei lá. — Abri um sorriso simpático e tentei passar por ela, mas a maldita bloqueou meu caminhou.
— Sabe, você faltou a duas reuniões. E você sabe o que acontece no terceiro strike… Não sabe?
Olhei minha querida presidente de cima a baixo, tendo a vantagem de ser mais alta e poder olhá-la de cima. Então abri o sorriso de vadia que e eu aperfeiçoamos.
— Eu sei exatamente o que acontece no terceiro strike, Constance. — Minha calma pareceu irritá-la um pouco, por isso ela apenas jogou o cabelo para o lado e me deu espaço.
Francamente, eu não tenho que lidar com patricinhas enjoadas o suficiente? Minha cota diária já explodiu. Passei a andar em passadas rápidas até a sala do senhor , onde bati depois de respirar fundo.
Talvez eu tenha subestimado a minha queda por ele quando falei antes. Quando olho nos olhos dele, sinto que compartilhamos uma ligação. Mesmo que durante esse ano ele simplesmente não tenha tentado dar em cima de mim. é um cavalheiro e jamais faria isso a uma aluna indefesa, mesmo que eu já tivesse dezoito anos e, tecnicamente, seja maior de idade. Bom, pelo menos para sexo consensual.
Em vez do meu príncipe encantado, quem abriu a porta foi o dragão do Bobby. Desfiz meu sorriso e entrei na sala assim que ele saiu da frente, depois de dar uma boa olhada no decote da minha blusa.
— Boa tarde, senhor . — Ele sorriu para mim e eu não pude evitar sorrir de volta.
— Boa tarde, senhorita . — me olhou por cima dos óculos, pousados na ponte de seu nariz perfeito.
Então, eu nunca dormi com ele. Apesar de querer muito. Porque cada vez que ele sorria para mim ou me olhava daquela forma, eu derretia. Cada vez que ele se aproximava eu poderia entrar em um estado semipermanente de êxtase. E quando ele se abaixava para falar comigo sobre o que eu estava prestes a corrigir, eu não podia desviar os olhos dos seus lábios ou deixar de sentir seu hálito de menta. E eu tinha que me controlar porque havia mais outros dois caras conosco, ou seja: não babe, .
— Espero que não se importe de corrigir esses. — Eram testes de outra escola. Eu os olhei sem realmente vê-los.
— Claro que não, senhor . — Sorri para ele. A esse ponto, minhas bochechas poderiam estar coradas e eu tenho certeza de que pareço extremamente estúpida.
Ele também sorriu. E se afastou, estava prestes a folhear os testes quando ele voltou e estendeu a mão.
— Tem alguma coisa pra mim?
Minha calcinha. Talvez, uma chave para um quarto de hotel, mas eu sei que não é disso que ele está falando. Retiro algumas folhas de dentro da minha bolsa em silêncio e as entrego a ele. , então, se retira, satisfeito, e retorna para a sua mesa. E agora eu tenho que lidar com uma pilha de testes de matemática de alguma escola pública enquanto minha calcinha molhada me incomoda. Um belo jeito de passar a sua tarde, não acha?
Acordei com o relógio marcando 7:45, que era vinte e cinco minutos mais tarde do que eu deveria ter acordado. Levantei da cama aos pulos, pronta para me enfiar na ducha e me vestir o mais rápido possível, batendo com o mindinho na parede ao entrar no banheiro. Saí de casa correndo enquanto minha mãe gritava alguma coisa sobre a minha mais nova dieta (nada de carboidratos e nem massa e nem nada muito gorduroso por uma semana) e como eu devia consultar um médico em vez de só tomar um copo de água e comer algumas uvas no café da manhã. Ela dizia que eu, como uma atleta, deveria ser um pouco mais responsável. Ora, mas eu estava sendo responsável. Quem gostaria de me ver num biquíni se eu estivesse gorda? Isso mesmo, ninguém!
Além do mais, o baile seria em dois meses agora e o meu vestido só ficaria bem em mim se eu estivesse no meu peso de sempre, o que me faz ter que eliminar esses três quilos que eu ganhei por causa de todas as vezes que me leva no McDonald’s e me diz para comer o que eu quiser.
Por falar em , ele estava realmente bonito esta manhã. Ele tinha um sorriso brilhante no rosto e seu cabelo brilhava ao sol, os óculos escuros escondiam seus olhos cristalinos e honestos enquanto ele acenava pra mim do seu jipe Wrangler laranja. Aquele carro era tão chamativo! já estava no banco traseiro e abriu a janela para me apressar. era nossa abelha rainha, mas ultimamente ela andava meio desleixada. Talvez pelo fato de que Logan tinha chutado seu traseiro bonitinho pela garota asiática do clube de teatro – e nem me pergunte o nome dela, eu realmente não sei! Enquanto isso, as garotas de nosso pequeno séquito tinham voltado seu olhar pra mim. Eu estava ditando como as coisas iam andar, pelo menos até se recuperar do rompimento e voltar ao seu lugar usual no topo da hierarquia das meninas populares. Não que eu quisesse que ela voltasse, eu estava descobrindo que gostava demais daquela posição.
Finalmente entrei no carro, sentando no banco do carona e me inclinando para beijar nos lábios. Ele me segurou pela nuca, transformando meu inocente beijo de bom dia em algo bem mais ardente. Bem, pelo menos deveria ser.
— Arranjem um quarto! — gritou em um falso tom de alegria. Eu sabia mais do que ninguém o quanto ela se ressentia ao ver um casal se pegando quando ela mesma tinha sido largada por seu namorado. E sei disso porque ela reclamou de Jen se agarrando com o Benny no intervalo, embora tenha sorrido e dito a Jen que os dois formavam um ótimo casal.
— Deixa de ser chata! — Dei língua pra ela e finalmente se virou para frente, pousando sua mão direita na minha coxa enquanto saía com o carro.
— Muito maduro, , muito maduro… — debochou de mim, rolando seus olhos castanhos para cima enquanto seus dedos buscavam o celular dentro da bolsa.
Dei de ombros, colocando um dos óculos de sol de , jogado dentro do porta-luvas. Alguns fatos devem ser considerados, agora. Eu sei que vou parecer uma babaca, mas eu sou realmente atraente. Não tenho um charme geek, não sou extremamente estilosa, muito menos linda de morrer como a Angelina Jolie, mas sou o estilo de garota que geralmente faz sucesso em filmes adolescentes, você sabe, a que se veste de rosa e tem os namorados mais bonitos. A garota que usa decotes pequenos, apenas para dar um gostinho. E a garota que tem boas notas e amigas bonitas.
Não que não seja inteligente, mas ela tem o que eu chamo de street smarts, que é a malandragem. Ela sabe se virar em qualquer lugar, eu não. E é por isso que nos complementamos tão bem. Eu sou a garota que parece ser a boa moça, mas posso garantir que não sou nenhuma santa. é a garota atraente e provocante, ela se parece muito com a Elisha Cuthbert, quando ela ainda era gostosa, quero dizer.
Segunda consideração: eu invejo . E digo isso de verdade, porque ela é tudo que eu não sou. tem o tipo de personalidade que consegue conquistar as pessoas, mesmo sem flertar com elas. Ela é gostosa, se veste bem e todo mundo conhece a . Até mesmo os alunos da faculdade. A vive em festas de fraternidade e nunca se dá mal, porque ela não parece mesmo ter só dezoito anos, como eu.
Terceira consideração: eu tenho uma grande queda pelo senhor , nosso professor de matemática. No ano passado, eu não ajudava a sra. Hamilton a corrigir testes e nem a dar nota em trabalhos. Simplesmente porque eu não me interessava pela sra. Hamilton, que tinha cheiro de queijo velho e buço. Mas o senhor é jovem, inteligente, completamente gostoso e meio tímido, o que me torna muito mais entusiasmada para ajudar do que deveria. Não que eu ache que posso dormir com ele, ele tem cara de quem gosta das garotas geeks. E mulheres de sua idade, não como o professor de literatura com quem eu dormi aos quinze anos e descobri que ele já tinha dormido com, pelo menos, metade da minha turma antes de ser demitido. Eu considero tudo isso das minhas fantasias sobre ele uma diversão por fora do meu namoro, afinal de contas: qual é o problema de uma garota em ter fantasias com seu professor gato?
Antes mesmo que pudesse notar, tinha estacionado na escola e logo pulou do jipe e correu em direção a um rapaz que estava no time de basquete, bonito e forte, de pele escura e dreadlocks. Shawn era particularmente atraente e qualquer garota de nossa turma babava nele, mesmo que ele fosse de uma série abaixo da nossa. Eu mesma o achava uma delícia. correu e pulou nele, que levantou seu corpo curvilíneo com uma facilidade assustadora. Olhei-a pela janela. Sabia que tinha feito tudo aquilo porque seu ex-namorado estava a menos de cinco metros dali, rindo com alguns amigos do time de futebol.
Se quer mesmo a minha opinião, e Logan jamais dariam certo. Os dois gostavam muito de transar por fora e aquilo estava fadado a acabar de qualquer forma. Logan fodia com todas as cheerios, fodia com todos os jogadores do time. E então eles brigavam e ela dirigia em prantos até a minha casa, ligava para algum de seus jogadores e corneava Logan para que ele “aprendesse”. Eu não critico a por isso, não sou ninguém para falar de certo ou errado, mas não entendia porque ela ficava com Logan. Ela era demais para um cara que parecia andar com a cabeça enfiada no próprio rabo.
De qualquer maneira, eu tinha literatura estrangeira no primeiro período, tinha História e nós nos despedimos com um beijo, enquanto eu seguia para a sala de aula. Enquanto eu andava, várias pessoas me cumprimentavam, por causa de todo aquele status de minicelebridade que eu já comentei. Eu amo isso.
Durante o ensino fundamental, eu não fui popular. Eu não fui popular até começar a me maquiar e deixar o cabelo crescer. Antes disso, eu era a garota de aparelho nos dentes que era realmente boa em matemática. O reconhecimento de agora, então, era tudo o que eu tinha. E eu amava tudo aquilo. Eu seria uma hipócrita se dissesse que era uma louca obcecada por si mesma, porque eu estava no mesmo caminho. Eu provocava caras, sorria falsamente para as outras garotas e tratava sempre os professores bem, tudo muito bem calculado para que eu pudesse permanecer no posto de uma das garotas mais populares da escola. E como nem tudo vem de graça, eu também fazia a parte suja de ser uma garota popular: bullying.
Maggie Harrison era tudo o que eu e nenhuma das garotas queríamos ser: era gorda, baixa, usava óculos e não tinha o menor estilo para se vestir. Maggie parecia andar sempre com uma lâmina balançando sobre sua cabeça e abaixava o olhar cada vez que passava por uma de nós. Quando eu estava sozinha, a ignorava. Quando estava com ou algumas das garotas, eu ria e zombava dela da mesma forma como as outras.
Não sei se vai entender, mas é a lei da sobrevivência. Eu estava no topo, ela estava abaixo dos maconheiros da escola. E Maggie era uma vítima tão perfeita! Não tinha amigos, ninguém se lembrava dela, não tinha nenhum talento excepcional que a distinguisse das outras pessoas. E ela tinha tanto medo de nós.
Passei por Maggie, ignorando-a enquanto falava com uma de minhas colegas do time de natação. Ela pareceu suspirar baixo e saiu correndo o máximo que suas pernas gordas permitiam, para longe das minhas vistas. Jen passou por ela e riu baixo, de modo debochado enquanto me dava um braço e andava ao meu lado, Jade tomando meu outro braço logo depois de eu ter pegado meus livros. Jen e Jade Kwon eram gêmeas, víboras venenosas e a reincarnação de Satã dividida em dois corpos. Tudo isso em duas asiáticas miúdas e bem magrinhas.
— É impressão minha ou Maggie conseguiu ficar ainda mais gorda no final de semana? — Jen começou, falando de seu usual modo afetado.
— Achei que ela não conseguia ficar ainda mais gorda. — Respondi sem muito entusiasmo. As gêmeas não eram minhas garotas preferidas.
— Um dia, vamos ouvir um estouro e veremos uma chuva das bregas da Maggie. Essa garota vai comer até explodir, literalmente. — Jade, a mais maliciosa das duas, riu com seu próprio comentário.
Eu não me sentia particularmente mal por Maggie. A culpa não era minha por ela ser tão desleixada, mas eu me incomodava com o modo como a escola inteira parecia em guerra com ela. Todos riam dela. Sem exceção. Os menos perdedores que ela riam também.
— , ficou sabendo sobre a professora de francês? — Jade começou, olhando de forma venenosa para sua irmã. Apesar de gêmeas, elas não eram idênticas.
— Meu Deus, você tem que escutar essa! A sra. Trammel — sabe qual, a de Biologia — pegou a mademoiselle Margaux chupando um dos caras do time de futebol na sala dos professores! — Jen disse, mal esperando que eu respondesse sua irmã.
— Que cara? — Eu pergunto sem nenhum interesse em especial, apenas para estabelecer uma conversa enquanto tentava chegar à sala de literatura estrangeira, onde a sra. Hilton iria nos entediar até a morte por uma hora e meia.
— Ora, isso ninguém sabe. Mas parece que chegou uma nova professora e eles fizeram questão que ela fosse casada, católica e gorda, para não tentar ninguém.
— Que coisa mais idiota. — Eu digo enquanto olho para dentro da sala e checo se a sra. Hilton já chegou. Jade e Jen fazem a mesma coisa, nós três suspiramos aliviadas quando vemos que ela não tinha chegado ainda, caso contrário faria um escândalo sobre as alunas atrasadas.
A sra. Hilton não é velha e nem gorda. Ela seria muito bonita, caso deixasse de lado os óculos com fundo de garrafa e os coques de velha. Ela é alta e magra, elegante, e, segundo meu namorado, seria totalmente gostosa se não fosse um pé no saco. Porque a sra. Hilton é uma das poucas professoras que não gostam de mim, eu a desprezo abertamente. A sra. Hilton é uma daquelas cristãs que acham que são melhores do que mulheres que assumem gostar de sexo, como se isso me fizesse pior do que ela de algum jeito.
Eu juro que uma vez a peguei chamando de “vadiazinha” enquanto nós duas almoçávamos com nossos namorados. Ela corou e virou o rosto, mas eu vi que ela não parecia nem um pouco arrependida.
Nós três entramos na sala e nos ajeitamos em nossos lugares rapidamente. As gêmeas fazem quase todas as matérias comigo, porque, ao contrário das outras garotas, elas são realmente inteligentes. Nós fazemos as matérias avançadas, enquanto as outras não querem se preocupar com esse tipo de coisa e escolhem aulas mais fáceis.
É claro, eu não faço essas matérias para me exibir. Eu tenho que estudar bastante para ter notas boas nelas. Mas eu faço pelos meus pais, que realmente cobram muito de mim. E eu sinto que devo algo a eles, mesmo que eles sejam apenas um casal de velhos chatos. Por isso, mantenho meu GPA em 3.95.
Desbloqueei meu celular e olhei minhas mensagens enquanto a professora não chegava. já estava reclamando de Logan de novo, o que me fez rolar os olhos e bufar. Porque por mais que transe com todos os caras atraentes dessa escola (e das outras, também), ela ama Logan e vive falando dele pra mim. E eu já estou tão cansada de ter que ler ou escutar sobre Logan que eu quero apenas que ele suma ou ela o apague da mente, tipo a Clementine em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, porque tudo seria mais fácil pra mim.
está enchendo o meu saco. Se eu tivesse um saco. E se eu tivesse um saco, ele estaria estourando de cheio!
— é tão chata reclamando sobre o Logan. — Jade cochicha para mim, lendo a mensagem por cima do meu ombro.
— Eu sinceramente não aguento mais ouvir falar sobre ele. — Confidencio em voz baixa, para que ninguém além das gêmeas ouça.
— Ela não estava se agarrando com o Shawn, tipo, cinco minutos atrás? — Jade disse, mal levantando os olhos de suas unhas, muito bem feitas em uma francesinha impecável.
— Além disso, o Logan está, tipo, tão apaixonado na Emily Hwang, do clube de teatro. — Jen me diz, depois de olhar para a irmã. — Você sabe, eu faço parte do Clube de Cultura Coreana com ela e ele está sempre, tipo, completamente atrás dela, ligando o tempo todo e vindo buscá-la todos os dias.
— Eu sinto até um pouco de inveja dela. Quer dizer, ele está sempre com ela, sabe? Muito romântico e essas coisas. — Jade diz, dando de ombros.
Eu aposto que Jade não sentia nenhum tipo de inveja de Emily Hwang — então esse é o nome dela! — porque, segundo e suas fontes, ela é lésbica.
Nossa conversa foi cortada quando a sra. Hilton entrou e nos lançou um olhar de descontentamento, como se o mero fato de nos ter na sala de aula já fosse o suficiente para fazê-la querer vomitar seu café da manhã cristão que ela tomou com seu marido cristão em cima de uma toalha de mesa cristã.
— Senhoritas Kwon, senhorita : silêncio. — Ela desviou o olhar e tentou nos matar mais uma vez, discorrendo mecanicamente sobre autores estrangeiros e seus objetivos ao escreverem seus livros chatos.
Eu aposto tudo que eu tenho que a sra. Hilton foi uma daquelas adolescentes chatas, presidente do clube de castidade e que usava cardigãs fechados até o pescoço, não deixando o namorado tocar nos seios dela nem por cima da blusa, com sutiã e tudo protegendo o que tem mais de precioso, com medo do que as pessoas achariam.
Eu, é claro, não tenho nada contra esse tipo de garotas, enquanto elas tem tudo contra mim. O problema é que ninguém dá ouvidos a elas e eu estou em todas as listas de garotas mais desejadas que rolam por aí. Problema delas, então.
Eu estou bem do jeito que eu estou. E também. Ela sofre ainda mais com rumores do que eu, embora boa parte do que digam sobre ela seja verdade. Dois períodos depois, eu saí no corredor, fazendo piadas sobre a sra. Hilton e que ela devia ter um cadeado na calcinha, quando o senhor passou. Eu senti o perfume dele de longe, porque tudo nele me fazia ser mais sensível ao que rolava ao meu redor. Ele passou por mim, sorriu e disse que me esperava mais tarde, porque aparentemente tinha uma pilha de trabalhos para corrigir por causa do final de semana e das provas finais.
Eu não era a única aluna que o ajudava, tinha outros dois caras da nossa turma que ficavam conosco e eu tenho certeza que, se não fosse por isso, todo mundo diria que eu estava dormindo com ele, pela maneira como as gêmeas se entreolharam. E então apareceu também.
— Se eu ficasse numa sala sozinha com ele… — Ela disse e riu. Eu ri também, apesar de saber que ela dormiria com ele se estivesse na minha situação. E então nós quatro fomos em direção ao banheiro, passar mais gloss nos lábios e falar mal de outras garotas. Mais tarde, eu tinha uma pilha de testes para corrigir. Com ele.
Encontrei Constance no corredor, enquanto me encaminhava para a sala do senhor . Ela é uma dessas garotas realmente bonitas e intimidantes. Presidente do Clube de Debates. Vaca da maior espécie e, bem, ex-namorada do meu namorado. O que realmente me faz ter pena dela e simpatizar um pouco com ela. Porque, francamente, nós duas sabemos como é na cama. Constance sorriu amarelo para mim, ao que eu retribuí com o mesmo grau de falsidade.
— ! Espero que não tenha esquecido da reunião de amanhã! — Ela bateu seus saltos no chão por ter parado de maneira tão brusca.
— Oh, não, Constance. Eu estarei lá. — Abri um sorriso simpático e tentei passar por ela, mas a maldita bloqueou meu caminhou.
— Sabe, você faltou a duas reuniões. E você sabe o que acontece no terceiro strike… Não sabe?
Olhei minha querida presidente de cima a baixo, tendo a vantagem de ser mais alta e poder olhá-la de cima. Então abri o sorriso de vadia que e eu aperfeiçoamos.
— Eu sei exatamente o que acontece no terceiro strike, Constance. — Minha calma pareceu irritá-la um pouco, por isso ela apenas jogou o cabelo para o lado e me deu espaço.
Francamente, eu não tenho que lidar com patricinhas enjoadas o suficiente? Minha cota diária já explodiu. Passei a andar em passadas rápidas até a sala do senhor , onde bati depois de respirar fundo.
Talvez eu tenha subestimado a minha queda por ele quando falei antes. Quando olho nos olhos dele, sinto que compartilhamos uma ligação. Mesmo que durante esse ano ele simplesmente não tenha tentado dar em cima de mim. é um cavalheiro e jamais faria isso a uma aluna indefesa, mesmo que eu já tivesse dezoito anos e, tecnicamente, seja maior de idade. Bom, pelo menos para sexo consensual.
Em vez do meu príncipe encantado, quem abriu a porta foi o dragão do Bobby. Desfiz meu sorriso e entrei na sala assim que ele saiu da frente, depois de dar uma boa olhada no decote da minha blusa.
— Boa tarde, senhor . — Ele sorriu para mim e eu não pude evitar sorrir de volta.
— Boa tarde, senhorita . — me olhou por cima dos óculos, pousados na ponte de seu nariz perfeito.
Então, eu nunca dormi com ele. Apesar de querer muito. Porque cada vez que ele sorria para mim ou me olhava daquela forma, eu derretia. Cada vez que ele se aproximava eu poderia entrar em um estado semipermanente de êxtase. E quando ele se abaixava para falar comigo sobre o que eu estava prestes a corrigir, eu não podia desviar os olhos dos seus lábios ou deixar de sentir seu hálito de menta. E eu tinha que me controlar porque havia mais outros dois caras conosco, ou seja: não babe, .
— Espero que não se importe de corrigir esses. — Eram testes de outra escola. Eu os olhei sem realmente vê-los.
— Claro que não, senhor . — Sorri para ele. A esse ponto, minhas bochechas poderiam estar coradas e eu tenho certeza de que pareço extremamente estúpida.
Ele também sorriu. E se afastou, estava prestes a folhear os testes quando ele voltou e estendeu a mão.
— Tem alguma coisa pra mim?
Minha calcinha. Talvez, uma chave para um quarto de hotel, mas eu sei que não é disso que ele está falando. Retiro algumas folhas de dentro da minha bolsa em silêncio e as entrego a ele. , então, se retira, satisfeito, e retorna para a sua mesa. E agora eu tenho que lidar com uma pilha de testes de matemática de alguma escola pública enquanto minha calcinha molhada me incomoda. Um belo jeito de passar a sua tarde, não acha?
Capítulo 2
Sete semanas e dois dias para o baile
Dei tchau para as outras meninas da natação, depois que todas trocaram de roupa e me deixaram sozinha. Eu demoro mais para me vestir e tomar banho, gosto da tranquilidade do vestiário em silêncio, sem todas as garotas tagarelando sobre as faculdades e olheiros. Em alguns meses, eu iria para a Columbia. Eu já tinha recebido a carta. Direito em Columbia, quer dizer, é realmente algo bom. Não é?
Tranquei meu armário e pendurei a bolsa esportiva nos ombros, indo em direção ao vestiário masculino, onde estaria se trocando. Nossos treinos coincidiam e sempre íamos para casa juntos.
— Eu estou falando, cara. Se quiser comer ela, é só tirar as calças. — Ouvi a voz do meu namorado enquanto ele saía do vestiário com alguns dos rapazes do time. Ao me ver, estacou, possivelmente pensando no quanto eu tinha visto e ouvido. Até que , atrás dele, riu e continuou a conversa, não tendo me visto ainda.
— E você acha que eu quero sair com uma garota dessas? Essa é tão… — E então, assim como , paralisou ao me ver. — Hey, . E aí?
Olhei para os dois de modo gentil, sorrindo um pouco para quando ele me abraçou.
— Sobre o que estavam falando, rapazes? — Perguntei a eles com minha falsa expressão inocente, uma coisa que eu aprendi com .
— Nada! — se apressou a negar, gaguejando um pouco. Ele era um péssimo mentiroso. E essa era uma das coisas que eu gostava no meu namorado.
— Eu ouvi o nome da . — Insisti, dessa vez franzindo a testa. — O que estava falando da , ?
— Bem, eu… — Ele coçou a cabeça, olhando de esguelha para seu melhor amigo.
— Você não estava, por acaso, dizendo ao que ia levá-la ao baile, não é? — Interrompi de propósito, falando rápido e animadamente.
— Eu não…
— Nossa, vai ficar tão feliz quando eu contar para ela! — E, em um segundo, eu já tinha mandado uma mensagem para ela pelo WhatsApp, enquanto e se entreolharam, o primeiro com vontade de rir e o segundo com cara de desgosto. Em um segundo, respondeu. — Parece que você tem uma acompanhante para o baile, ! Eu aposto que vocês ficarão lindos juntos!
— O que foi aquilo? — me perguntou enquanto saía com o carro do estacionamento da escola.
— Aquilo o quê? — Desviei os olhos do celular para lançar-lhe um olhar inocente.
— Você encurralando o daquela maneira. Eu nunca vi ninguém tratar ele daquele jeito. — sorriu, esticando a mão para pousá-la na minha coxa.
— Não sei do que você está falando. — Mas ri, ironicamente, ao que ele correspondeu apertando minha coxa por cima do jeans.
— Seus pais estão em casa? — Ele perguntou, me olhando de lado.
— Você sabe que não. — Respondi com outro sorriso, mas dessa vez um pouco menos animado.
Nós sempre íamos para a minha casa depois dos treinos, namorar um pouco até que minha mãe chegasse do seu trabalho voluntário no hospital e meu pai do escritório de advocacia no centro da cidade.
era filho do pastor da paróquia, o que significava que eles eram daquele tipo que quer que o filho faça parte do clube de castidade e essas coisas. até usa um anel de castidade, como se fosse um irmão Jonas perdido, e eu tenho que me fazer de inocente quando vou à casa dele, mas, na minha casa, nós podemos fazer o que quisermos. Pelo menos até meus pais chegarem em casa.
Ele me carregou para dentro de casa nos ombros, como se eu fosse um saco de batatas, apesar de eu ter dito a ele que não queria entrar daquele jeito. Correndo comigo ainda pendurada em seu ombro, ele subiu as escadas e entrou no meu quarto, me derrubando na cama enquanto declamava:
— Enfim sós, querida!
— Droga, , você é um idiota! — Respondi em meio a uma gargalhada, empurrando-o de cima de mim, já que ele tinha se jogado na cama logo depois de ter me soltado de qualquer jeito em cima dela. — Você vai me esmagar!
— Quem é o idiota agora, hein? — me perguntou enquanto segurava meus pulsos acima da cabeça com uma mão. Ele se apoiava em um cotovelo para que seu peso não ficasse me esmagando, como eu já tinha reclamado.
— Me solta, seu ogro! — Gritei com ele, rindo enquanto tentava soltar minhas mãos, mas ele apenas sorriu e beijou meu pescoço. — Droga, , eu estou falando sério, me solta! — Mas eu não conseguia parar de rir e nem me soltar uma vez que ele tinha começado a me beijar.
Tem alguns caras bem gostosos na nossa escola. É uma escola particular e cara, então a maioria deles é de classe alta ou classe média alta. E grande parte deles são gostosos ou tão ricos que se equiparam aos gostosos. é gostoso e é rico, já que o pai dele, o pastor, se casou com uma mulher bem endinheirada. O avô do era dono de uma cadeia de restaurantes e quando ele morreu, a mãe dele herdou uma fortuna. Pelo menos, foi assim que ele me contou. O , o , Logan, Shawn, aquele cara que ajuda o professor de química, aquele outro do time de basquete… Vários gostosos. E, na minha opinião, eu tinha o mais bonito deles na minha cama.
soltou as minhas mãos apenas para que pudesse colocá-las debaixo da minha blusa, em cima dos meus seios cobertos pelo sutiã. Sexo com o não é nenhuma maravilha. E eu sei disso porque já fiz sexo com outros caras antes, no vestiário da escola ou debaixo das arquibancadas. E por mais que eu saiba que o sexo não é bom, cada vez que fazemos eu tento me convencer que vai melhorar. Porque devia melhorar. Mas é obcecado com seu próprio prazer e não presta atenção às minhas necessidades.
Mesmo quando ele está por cima de mim, mandando ver e se achando o cara, tudo o que eu consigo pensar é se ainda tem leite desnatado na geladeira ou se eu devia mesmo comprar o vestido que eu vi na vitrine na semana passada. E quando ele termina, eu sorrio e finjo que também estou ótima. Aprendi isso com os filmes.
Eu realmente não entendo. Eu amo . Isso devia ser o suficiente, mas não é. Eu gosto de sexo. Eu definitivamente gosto de sexo. Ele gosta de sexo. E eu não tenho prazer com ele.
Já pensei em conversar sobre o assunto, mas seria esquisito. “Olá, , eu só quero dizer que você não sabe foder. Então por que você, tipo, não aprende a transar?”
Não. Definitivamente não. Fingir que tudo está dando certo, mesmo quando não está, é melhor. Além do mais, Bella e Edward não fizeram sexo por muito tempo, não foi? Quer dizer, deu tudo certo no final. E eu sempre vou ter o jato de hidromassagem da banheira para me ajudar a relaxar.
Como sempre, usei uma desculpa qualquer para dispensar , dessa vez dizendo que minha mãe ia chegar mais cedo. Ele caiu, é claro, e foi embora depois de uma ducha rápida. E eu me preparei para um banho relaxante na banheira.
Keyshia me ligou meia hora depois que saí do banho, perguntando se eu queria ir à casa dela para “ver um filme”, enquanto música alta tocava no fundo do telefonema. Bom, ver um filme, na nossa língua, não significa sentar no sofá e ver um filme do Nicholas Sparks enquanto comemos pipoca. Ver um filme significa que, eventualmente, nós faremos uma festa. Nós vamos beber e começar a ver um filme, mas depois o ficante de alguém vai chegar com o amigo e antes mesmo que notemos, a coisa já estará fora de controle. Da última vez, fez sexo com o ajudante do professor de química no quarto dos pais de Constance, a presidente.
Eu pensei no assunto e resolvi que seria melhor ir do que ficar em casa aturando meus pais reclamarem da vida, porque é só isso o que gente velha sabe fazer. Avisei a Keyshia que trocaria minha roupa e já estaria lá.
Keyshia e eu somos praticamente vizinhas, ela vive duas quadras depois de mim e eu sempre dou carona para ela quando estou no meu carro. É claro, essas duas semanas que eu tenho pegado carona com e nós não temos ido juntas, mas em três dias eu teria meu carro de volta. E, puxa, como eu sentia falta dele!
Quando eu cheguei na casa de Keyshia, estava devidamente maquiada e vestindo um dos meus vestidos favoritos da H&M, florido e de alcinhas, com um cardigã cor de rosa por cima. Eu sabia porque elas estavam comemorando. E devia ter adivinhado antes mesmo de Key ligar. As candidatas a rainha do baile tinham sido anunciadas. Eu, , Jade e Keyshia tínhamos sido indicadas, junto com um nome improvável: Maggie Harrison. me olhou com um sorriso ligeiramente bêbado assim que eu cheguei, soltando-se de , que parecia bem aborrecido, para me abraçar.
— , minha garota! — Então, ela ergueu alto seu copo de cerveja e me virou para o resto do pessoal. — , pessoal!
Eles gritaram meu nome, bateram palminhas e assoviaram, todos já alcoolizados ou embriagados demais com a atmosfera dentro da casa para notar para o que estavam berrando.
Os pais de Keyshia tinham viajado para algum país da Ásia, já que eles eram aquele tipo de médico que viaja pelo mundo e trabalha em hospitais pobres para fingir que estão ali porque se importa e não porque ganha milhares de dólares para isso. Sorte dela, a casa estava uma bagunça e seus pais não estariam em casa por mais duas semanas.
— chegou? — Perguntei a , uma vez que disse que ia buscar uma cerveja pra mim na cozinha.
— Ele não vem. Disse que tem algum tipo de jantar com os pais hoje. — E deu de ombros, me olhando de esguelha.
Para , eu tinha roubado a atenção de seu melhor amigo e ele não era exatamente meu fã, assim como a Sra. Hilton.
— Okay. — Foi a única coisa que eu respondi antes de me afastar dele. Os pais de tinham muito isso de “jantar em família” e “noite da família” e todo esse tipo de baboseira, não seria a primeira vez que eu ficava sozinha porque não conseguiu se livrar desses programas em família.
Para falar a verdade, eu estou um pouco aliviada. vira um pervertido de marca maior quando está bêbado, querendo transar em qualquer canto. Em uma casa grande como a de Keyshia, com tantos quartos, ele, com certeza, tentaria me arrastar para um deles. Aproveitei para enviar uma mensagem para os meus pais, dizendo onde estava e que não sabia que horas voltaria. Minha mãe ficaria brava com o fato de sair no meio da semana, mas nada grave.
— Maggie Harrison? — A voz melodiosa de Keyshia se fez ouvir atrás de mim e eu me virei sorrindo.
É, eu também não estava animada com isso.
— Coisa da . — Dei de ombros, tentando fingir que não me importava.
— Garota, acha que eu não sei? — Ela olhou suas unhas longas, em formato de gatinho. — Essa não tem limites!
Quando Keyshia chegou na cidade, no ano passado, quis ser amiga dela porque nunca tinha sido amiga de uma garota negra antes. E disse que Keyshia traria “diversidade cultural” para o nosso grupo. Quando a convidou para almoçar conosco e disse os motivos de querê-la com a gente, Key a mandou se foder.
E foi então que eu gostei de Keyshia.
— Será que essa branquela nunca viu Carrie? — Key me perguntou com um sorriso debochado no rosto.
— Acha que Maggie Harrison tem poderes telepáticos? — Brinquei, recebendo um copo de cerveja da mão dela.
— Telecinéticos. — Ela me corrigiu e eu dei de ombros. — Garota, se ela quiser acabar com a cara de esnobe da é só sentar em cima dela. Francamente, a Maggie não sabe o poder que tem naquela bunda enorme!
— Acha que vai fazer alguma coisa contra ela? — Olhei para onde estava, sua cabeleira loira balançando enquanto ela ria, cercada de jogadores de futebol.
— Você que me diz. É você quem anda com aquela cobra. — Key me olhou longamente, esperando minha resposta enquanto eu dava um gole na cerveja.
— provavelmente só vai rir da cara da Maggie. — Dei de ombros. — Quem se importa? Ninguém gosta daquela garota.
Keyshia me lançou um olhar estranho e não disse nada, me dando uma desculpa e saindo de perto de mim no momento seguinte, mas o que ela queria de mim? Eu não me importo com Maggie Harrison. Por mim, Maggie Harrison pode comer até explodir. Ninguém tem culpa por nascer negro e eu não vejo problema em ser negro. Ninguém tem culpa por nascer aleijado ou, sei lá, judeu. As pessoas nascem assim, eu não as discrimino por isso. Gente gorda não. Quem é gordo, é porque não consegue fechar a boca. É fraco, desconta na comida, é desleixado. E eu odeio gente desleixada. Por que me importar com Maggie?
Dei um gole longo na cerveja, disposta a calar a voz da minha consciência com álcool. Porque por mais que eu não queira que fique aprontando das suas com a gorda da Maggie, eu não estou realmente me importando com ela. Talvez eu seja uma hipócrita e assim possa me misturar melhor com todos os estudantes da minha escola. Oh, o que eu estou dizendo? Quis dizer toda a população da América.
tinha sumido, enquanto Jen e Benny estavam trocando beijos sensuais em cima da bancada da cozinha, quando fui pegar outra cerveja ( provavelmente se esqueceu que iria me pegar uma). Pude ver Constance vindo na minha direção e eu não estava com a mínima vontade de tê-la enchendo o meu saco, por isso dei meia volta e subi a escada, que daria para os quartos de hóspede e etc. Constance era um porre. Ela só não era mais popular porque era uma dessas garotas que te entediam até a morte. Como a sra. Hilton. Por um momento, imaginei um duelo entre elas, ambas competindo para saber quem entediaria uma pessoa até que ela resolvesse se suicidar em menos tempo.
Testei as portas. Apesar do clima da festa lá embaixo, os quartos ainda não estavam ocupados. Nenhum de nós estava louco o suficiente para transar com pessoas que jamais transaríamos sóbrios. Achei uma porta aberta e entrei no quarto, dando de cara com deitado na cama, mexendo em seu celular com uma cerveja ao seu lado, enquanto , sentada ao seu lado, inclinava-se para ele.
— Epa! Sinto muito, . — Dei meia volta, me preparando para sair. me lançou um olhar mortal.
— Se eu fosse você, ficaria por aqui. Já começaram a se comportar feito animais lá embaixo. — , que já tinha caído para o lado, a essa hora, me olhou desanimada. Ele apontou pela janela e eu fui olhar. Três ou quatro jocks estavam fazendo uma verdadeira bagunça na piscina. Dois deles nadavam nus.
— Pelo amor de Deus. — Resmunguei por baixo do fôlego.
tinha se sentado na cama e me olhava meio desinteressado. Ele era bonito. Verdadeiramente gostoso, se quer a minha opinião. E eu podia entender completamente porque queria tanto ir com ele ao baile (e tentar transar com ele agora). Eles ficariam completamente lindos juntos: loiros, bonitos, radiantes. Eu não sabia muito bem porque me odiava (além de ter tomado muito tempo do melhor amigo dele, quero dizer), mas acabei odiando-o de volta com igual intensidade. Ficamos nos olhando em silêncio por algum tempo, um clima desagradável começava a pesar quando ele desviou o olhar e bebeu sua cerveja, voltando a mexer em seu celular e fazia o mesmo.
— Está falando com o ? — Perguntei enquanto me encostava na janela. Só tinha uma cama ali e eu preferia me manter longe dela, ainda mais com aqueles dois ali.
me lançou um olhar reprovador e não respondeu. Tive vontade de jogar minha cerveja na cara dele por isso. simplesmente me ignorou porque, bem, eu atrapalhei a jogada dela. Mas, a bem da verdade, não parecia muito animado. Depois de alguns segundos, ela saiu do quarto, dizendo que voltava já. E eu realmente espero que ela esteja trazendo mais bebida.
— Qual o seu problema? — Perguntei, me dando conta de que minha cerveja estava quase acabando.
— O que é? — Ele retrucou com a voz cansada.
— Eu digo, não sei qual o seu problema comigo. Você me odeia. E então você é legal algumas vezes. E depois você volta a me odiar. E não parece nem um pouco animado de estar em um quarto sozinho com uma garota gostosa.
— Deve ser porque você me encurralou para que eu vá ao baile com a sua melhor amiga. — Ele respondeu no mesmo tom cansado, como se fosse meu pai me dizendo porque eu não podia ter um pônei. Quando eu queria um pônei, aos seis anos.
— Você pode dizer a ela que não quer ir. Mas, sabe, é a garota mais desejada da escola. E ela, com certeza, vai ficar com você depois. Então… Qual é o seu problema? — Cruzei os braços, esperando que ele me respondesse. Claro, eu podia estar lá embaixo, bebendo com as garotas. Mas estou infernizando alguém simplesmente porque meu namorado não faz bom sexo comigo. Eu poderia me perguntar qual era o meu problema, mas, no momento, preferia descobrir o problema dele. É sempre mais fácil lidar com falhas que não sejam suas.
— Ela não é tão gostosa quanto dizem. Não é meu tipo. — Ele disse depois de um longo olhar para a porta por onde ela tinha passado alguns segundos atrás.
— E como você gosta das suas garotas? Com um pouco de pênis, talvez? — Usei meu tom mais jocoso, porque não tinha outra explicação. Talvez fosse gay.
— Um pouco menos vadia. — Ele atalhou, me olhando de esguelha. — Um pouco mais como você. — E apontou meu cardigã com o queixo, que cobria uma parte do meu decote.
Por um momento, achei que estava dando em cima de mim. Eu realmente achei. E aquilo, de alguma maneira, melhorou o meu ego.
— Oh, um pouco mais como eu? Você tem tesão na namorada do seu melhor amigo, ? — Observei suas bochechas corarem e ele desviar os olhos para a tela do celular novamente. — Patético.
— Você que é patética. — resmungou irritado.
— Você que é. Fica todo irritadinho comigo porque sente tesão por mim, não é? — Eu sorri de um modo malicioso. Estava ligeiramente bêbada, nunca fui boa com bebidas. E eu era má quando estava bêbada. — Isso é tão clichê, .
Foi mais rápido do que eu imaginava. Em um momento, estava de pé, encostada na janela e atirando palavras debochadas para . E, no momento seguinte, eu estava debaixo de seu corpo musculoso e com cheiro de One Million. Arregalei os olhos para ele, que apenas me mantinha imobilizada debaixo dele.
— Você que é clichê. Você é uma garotinha mimada que está com o porque todas as suas amigas acham isso legal. E eu retiro o que eu disse antes. Você é uma vadiazinha encubada, mil vezes pior do que sua melhor amiga! — Suas palavras eram depreciativas, mas ele continuava corado. Seus olhos continuavam brilhando. E a todo momento eles miravam a minha boca. Porque por mais que me odiasse, ele ainda tinha tesão em mim. Talvez fosse uma daquelas coisas que não dá pra controlar.
— Me solta. — Murmurei baixo para ele, cujos olhos ainda mantinham-se na minha boca. — Porra, , me solta! — Me mexi, tentando me soltar, sentindo, pela primeira vez, o motivo de ele estar tão agressivo. A ereção dele estava pressionada contra a minha coxa e arregalei os olhos.
Aquilo era errado em tantos níveis. E, no entanto, tinha mais de seis meses que eu não sabia o que era sexo de verdade. Mais de seis meses que eu ia pra cama apenas com . Os lábios de buscaram minha boca, mas acabei virando o rosto, me desvencilhando de seu beijo. Como se eu não o tivesse rejeitado, ele beijou meu maxilar. E então beijou o meu pescoço.
— Você é uma vadiazinha, ? — A voz baixa e grossa dele murmurada contra a minha pele fez com que eu me arrepiasse toda instantaneamente.
sentou-se na cama, tirando a camisa e voltando a deitar-se sobre mim. Naquele momento, duas coisas me passaram pela cabeça. A primeira é que eu estava traindo meu namorado com seu melhor amigo. E a segunda é que eu realmente precisava gozar com alguma outra coisa que não fosse o jato da banheira ou meus dedos. Seus braços fortes circundaram minha cintura e eu abracei seus ombros, não me negando a beijá-lo agora. Ele se virou, fazendo com que eu ficasse por cima. Sua mão segurava firmemente a minha nuca, enquanto a outra continuava segurando a minha cintura, me apertando como se precisasse saber que eu era real. beijava muito melhor que .
Ele se levantou enquanto eu ainda estava em cima dele, me segurando para que eu não caísse, pondo-me sentada em seu colo. E, daquele jeito, eu podia sentir como ele estava excitado. Eu podia sentir exatamente o quanto ele me queria naquele momento (além do tamanho dele, que era satisfatório). Suas mãos puxaram meu cardigã, jogando-o para o lado e eu, mais uma vez, não protestei. puxou meu cabelo, expondo meu pescoço a um novo ataque de beijos molhados, quentes e que me deixavam cada vez mais molhada. Pela primeira vez esbocei uma reação que não fosse surpresa ou comedida, segurando na nuca dele, acariciando-o ali enquanto me beijava.
Fechei os olhos, inclinando minha cabeça para trás enquanto as mãos dele adentravam o meu vestido, segurando na minha bunda, movendo meu quadril para que eu me roçasse no volume de sua ereção. Aquilo era bom e um gemido escapou de meus lábios, o que o fez intensificar o que estava fazendo. Sua boca agora buscava um jeito de beijar meu seio por cima do vestido. A respiração dele era forte e pesada contra a minha pele, suas mãos me seguravam tão forte que eu poderia estar vermelha.
— Quando o falava de como você era gostosa… Eu não tinha ideia. — E então eu acordei. Aquilo foi o suficiente para quebrar meu feitiço. Eu estava dando um amasso com o melhor amigo do meu namorado. Eu estava num quarto com ele. Enquanto minha melhor amiga, que era a fim dele, estava fora. Eu permiti que ele me desprezasse e que me tocasse. Empurrei para o lado, me levantando da cama e buscando meu cardigã no chão.
— , qual é. Foi o que eu disse? — Eu o ignorei e me vesti. — Vai me deixar desse jeito? — Apontou com as duas mão para a calça e sua ereção visível.
— Hm, o meu diagnóstico é que todo esse sangue vai voltar pro seu corpo normalmente. Não precisa se preocupar.
Lancei um olhar reprovador para e bati a porta atrás de mim. Ele vai ficar bem, é uma ereção e não uma ferida de guerra. Eu me sentia suja e humilhada enquanto saía pela porta dos fundos da casa de Keyshia e seguia em direção à minha própria casa. Com sorte, ninguém conhecido me interpelou no caminho, não me viu, meus pais não me viram chegar. Ao entrar no meu quarto, eu me despi e tomei um banho quente, pensando no que tinha acabado de acontecer. Eu dizia que amava , mas tinha tido a cara de pau de ficar com o melhor amigo dele. Isso era amar?
Nova mensagem recebida.
diz:
Queria que você estivesse aqui.
E então eu vi que grande piranha eu era.
Dei tchau para as outras meninas da natação, depois que todas trocaram de roupa e me deixaram sozinha. Eu demoro mais para me vestir e tomar banho, gosto da tranquilidade do vestiário em silêncio, sem todas as garotas tagarelando sobre as faculdades e olheiros. Em alguns meses, eu iria para a Columbia. Eu já tinha recebido a carta. Direito em Columbia, quer dizer, é realmente algo bom. Não é?
Tranquei meu armário e pendurei a bolsa esportiva nos ombros, indo em direção ao vestiário masculino, onde estaria se trocando. Nossos treinos coincidiam e sempre íamos para casa juntos.
— Eu estou falando, cara. Se quiser comer ela, é só tirar as calças. — Ouvi a voz do meu namorado enquanto ele saía do vestiário com alguns dos rapazes do time. Ao me ver, estacou, possivelmente pensando no quanto eu tinha visto e ouvido. Até que , atrás dele, riu e continuou a conversa, não tendo me visto ainda.
— E você acha que eu quero sair com uma garota dessas? Essa é tão… — E então, assim como , paralisou ao me ver. — Hey, . E aí?
Olhei para os dois de modo gentil, sorrindo um pouco para quando ele me abraçou.
— Sobre o que estavam falando, rapazes? — Perguntei a eles com minha falsa expressão inocente, uma coisa que eu aprendi com .
— Nada! — se apressou a negar, gaguejando um pouco. Ele era um péssimo mentiroso. E essa era uma das coisas que eu gostava no meu namorado.
— Eu ouvi o nome da . — Insisti, dessa vez franzindo a testa. — O que estava falando da , ?
— Bem, eu… — Ele coçou a cabeça, olhando de esguelha para seu melhor amigo.
— Você não estava, por acaso, dizendo ao que ia levá-la ao baile, não é? — Interrompi de propósito, falando rápido e animadamente.
— Eu não…
— Nossa, vai ficar tão feliz quando eu contar para ela! — E, em um segundo, eu já tinha mandado uma mensagem para ela pelo WhatsApp, enquanto e se entreolharam, o primeiro com vontade de rir e o segundo com cara de desgosto. Em um segundo, respondeu. — Parece que você tem uma acompanhante para o baile, ! Eu aposto que vocês ficarão lindos juntos!
— O que foi aquilo? — me perguntou enquanto saía com o carro do estacionamento da escola.
— Aquilo o quê? — Desviei os olhos do celular para lançar-lhe um olhar inocente.
— Você encurralando o daquela maneira. Eu nunca vi ninguém tratar ele daquele jeito. — sorriu, esticando a mão para pousá-la na minha coxa.
— Não sei do que você está falando. — Mas ri, ironicamente, ao que ele correspondeu apertando minha coxa por cima do jeans.
— Seus pais estão em casa? — Ele perguntou, me olhando de lado.
— Você sabe que não. — Respondi com outro sorriso, mas dessa vez um pouco menos animado.
Nós sempre íamos para a minha casa depois dos treinos, namorar um pouco até que minha mãe chegasse do seu trabalho voluntário no hospital e meu pai do escritório de advocacia no centro da cidade.
era filho do pastor da paróquia, o que significava que eles eram daquele tipo que quer que o filho faça parte do clube de castidade e essas coisas. até usa um anel de castidade, como se fosse um irmão Jonas perdido, e eu tenho que me fazer de inocente quando vou à casa dele, mas, na minha casa, nós podemos fazer o que quisermos. Pelo menos até meus pais chegarem em casa.
Ele me carregou para dentro de casa nos ombros, como se eu fosse um saco de batatas, apesar de eu ter dito a ele que não queria entrar daquele jeito. Correndo comigo ainda pendurada em seu ombro, ele subiu as escadas e entrou no meu quarto, me derrubando na cama enquanto declamava:
— Enfim sós, querida!
— Droga, , você é um idiota! — Respondi em meio a uma gargalhada, empurrando-o de cima de mim, já que ele tinha se jogado na cama logo depois de ter me soltado de qualquer jeito em cima dela. — Você vai me esmagar!
— Quem é o idiota agora, hein? — me perguntou enquanto segurava meus pulsos acima da cabeça com uma mão. Ele se apoiava em um cotovelo para que seu peso não ficasse me esmagando, como eu já tinha reclamado.
— Me solta, seu ogro! — Gritei com ele, rindo enquanto tentava soltar minhas mãos, mas ele apenas sorriu e beijou meu pescoço. — Droga, , eu estou falando sério, me solta! — Mas eu não conseguia parar de rir e nem me soltar uma vez que ele tinha começado a me beijar.
Tem alguns caras bem gostosos na nossa escola. É uma escola particular e cara, então a maioria deles é de classe alta ou classe média alta. E grande parte deles são gostosos ou tão ricos que se equiparam aos gostosos. é gostoso e é rico, já que o pai dele, o pastor, se casou com uma mulher bem endinheirada. O avô do era dono de uma cadeia de restaurantes e quando ele morreu, a mãe dele herdou uma fortuna. Pelo menos, foi assim que ele me contou. O , o , Logan, Shawn, aquele cara que ajuda o professor de química, aquele outro do time de basquete… Vários gostosos. E, na minha opinião, eu tinha o mais bonito deles na minha cama.
soltou as minhas mãos apenas para que pudesse colocá-las debaixo da minha blusa, em cima dos meus seios cobertos pelo sutiã. Sexo com o não é nenhuma maravilha. E eu sei disso porque já fiz sexo com outros caras antes, no vestiário da escola ou debaixo das arquibancadas. E por mais que eu saiba que o sexo não é bom, cada vez que fazemos eu tento me convencer que vai melhorar. Porque devia melhorar. Mas é obcecado com seu próprio prazer e não presta atenção às minhas necessidades.
Mesmo quando ele está por cima de mim, mandando ver e se achando o cara, tudo o que eu consigo pensar é se ainda tem leite desnatado na geladeira ou se eu devia mesmo comprar o vestido que eu vi na vitrine na semana passada. E quando ele termina, eu sorrio e finjo que também estou ótima. Aprendi isso com os filmes.
Eu realmente não entendo. Eu amo . Isso devia ser o suficiente, mas não é. Eu gosto de sexo. Eu definitivamente gosto de sexo. Ele gosta de sexo. E eu não tenho prazer com ele.
Já pensei em conversar sobre o assunto, mas seria esquisito. “Olá, , eu só quero dizer que você não sabe foder. Então por que você, tipo, não aprende a transar?”
Não. Definitivamente não. Fingir que tudo está dando certo, mesmo quando não está, é melhor. Além do mais, Bella e Edward não fizeram sexo por muito tempo, não foi? Quer dizer, deu tudo certo no final. E eu sempre vou ter o jato de hidromassagem da banheira para me ajudar a relaxar.
Como sempre, usei uma desculpa qualquer para dispensar , dessa vez dizendo que minha mãe ia chegar mais cedo. Ele caiu, é claro, e foi embora depois de uma ducha rápida. E eu me preparei para um banho relaxante na banheira.
Keyshia me ligou meia hora depois que saí do banho, perguntando se eu queria ir à casa dela para “ver um filme”, enquanto música alta tocava no fundo do telefonema. Bom, ver um filme, na nossa língua, não significa sentar no sofá e ver um filme do Nicholas Sparks enquanto comemos pipoca. Ver um filme significa que, eventualmente, nós faremos uma festa. Nós vamos beber e começar a ver um filme, mas depois o ficante de alguém vai chegar com o amigo e antes mesmo que notemos, a coisa já estará fora de controle. Da última vez, fez sexo com o ajudante do professor de química no quarto dos pais de Constance, a presidente.
Eu pensei no assunto e resolvi que seria melhor ir do que ficar em casa aturando meus pais reclamarem da vida, porque é só isso o que gente velha sabe fazer. Avisei a Keyshia que trocaria minha roupa e já estaria lá.
Keyshia e eu somos praticamente vizinhas, ela vive duas quadras depois de mim e eu sempre dou carona para ela quando estou no meu carro. É claro, essas duas semanas que eu tenho pegado carona com e nós não temos ido juntas, mas em três dias eu teria meu carro de volta. E, puxa, como eu sentia falta dele!
Quando eu cheguei na casa de Keyshia, estava devidamente maquiada e vestindo um dos meus vestidos favoritos da H&M, florido e de alcinhas, com um cardigã cor de rosa por cima. Eu sabia porque elas estavam comemorando. E devia ter adivinhado antes mesmo de Key ligar. As candidatas a rainha do baile tinham sido anunciadas. Eu, , Jade e Keyshia tínhamos sido indicadas, junto com um nome improvável: Maggie Harrison. me olhou com um sorriso ligeiramente bêbado assim que eu cheguei, soltando-se de , que parecia bem aborrecido, para me abraçar.
— , minha garota! — Então, ela ergueu alto seu copo de cerveja e me virou para o resto do pessoal. — , pessoal!
Eles gritaram meu nome, bateram palminhas e assoviaram, todos já alcoolizados ou embriagados demais com a atmosfera dentro da casa para notar para o que estavam berrando.
Os pais de Keyshia tinham viajado para algum país da Ásia, já que eles eram aquele tipo de médico que viaja pelo mundo e trabalha em hospitais pobres para fingir que estão ali porque se importa e não porque ganha milhares de dólares para isso. Sorte dela, a casa estava uma bagunça e seus pais não estariam em casa por mais duas semanas.
— chegou? — Perguntei a , uma vez que disse que ia buscar uma cerveja pra mim na cozinha.
— Ele não vem. Disse que tem algum tipo de jantar com os pais hoje. — E deu de ombros, me olhando de esguelha.
Para , eu tinha roubado a atenção de seu melhor amigo e ele não era exatamente meu fã, assim como a Sra. Hilton.
— Okay. — Foi a única coisa que eu respondi antes de me afastar dele. Os pais de tinham muito isso de “jantar em família” e “noite da família” e todo esse tipo de baboseira, não seria a primeira vez que eu ficava sozinha porque não conseguiu se livrar desses programas em família.
Para falar a verdade, eu estou um pouco aliviada. vira um pervertido de marca maior quando está bêbado, querendo transar em qualquer canto. Em uma casa grande como a de Keyshia, com tantos quartos, ele, com certeza, tentaria me arrastar para um deles. Aproveitei para enviar uma mensagem para os meus pais, dizendo onde estava e que não sabia que horas voltaria. Minha mãe ficaria brava com o fato de sair no meio da semana, mas nada grave.
— Maggie Harrison? — A voz melodiosa de Keyshia se fez ouvir atrás de mim e eu me virei sorrindo.
É, eu também não estava animada com isso.
— Coisa da . — Dei de ombros, tentando fingir que não me importava.
— Garota, acha que eu não sei? — Ela olhou suas unhas longas, em formato de gatinho. — Essa não tem limites!
Quando Keyshia chegou na cidade, no ano passado, quis ser amiga dela porque nunca tinha sido amiga de uma garota negra antes. E disse que Keyshia traria “diversidade cultural” para o nosso grupo. Quando a convidou para almoçar conosco e disse os motivos de querê-la com a gente, Key a mandou se foder.
E foi então que eu gostei de Keyshia.
— Será que essa branquela nunca viu Carrie? — Key me perguntou com um sorriso debochado no rosto.
— Acha que Maggie Harrison tem poderes telepáticos? — Brinquei, recebendo um copo de cerveja da mão dela.
— Telecinéticos. — Ela me corrigiu e eu dei de ombros. — Garota, se ela quiser acabar com a cara de esnobe da é só sentar em cima dela. Francamente, a Maggie não sabe o poder que tem naquela bunda enorme!
— Acha que vai fazer alguma coisa contra ela? — Olhei para onde estava, sua cabeleira loira balançando enquanto ela ria, cercada de jogadores de futebol.
— Você que me diz. É você quem anda com aquela cobra. — Key me olhou longamente, esperando minha resposta enquanto eu dava um gole na cerveja.
— provavelmente só vai rir da cara da Maggie. — Dei de ombros. — Quem se importa? Ninguém gosta daquela garota.
Keyshia me lançou um olhar estranho e não disse nada, me dando uma desculpa e saindo de perto de mim no momento seguinte, mas o que ela queria de mim? Eu não me importo com Maggie Harrison. Por mim, Maggie Harrison pode comer até explodir. Ninguém tem culpa por nascer negro e eu não vejo problema em ser negro. Ninguém tem culpa por nascer aleijado ou, sei lá, judeu. As pessoas nascem assim, eu não as discrimino por isso. Gente gorda não. Quem é gordo, é porque não consegue fechar a boca. É fraco, desconta na comida, é desleixado. E eu odeio gente desleixada. Por que me importar com Maggie?
Dei um gole longo na cerveja, disposta a calar a voz da minha consciência com álcool. Porque por mais que eu não queira que fique aprontando das suas com a gorda da Maggie, eu não estou realmente me importando com ela. Talvez eu seja uma hipócrita e assim possa me misturar melhor com todos os estudantes da minha escola. Oh, o que eu estou dizendo? Quis dizer toda a população da América.
tinha sumido, enquanto Jen e Benny estavam trocando beijos sensuais em cima da bancada da cozinha, quando fui pegar outra cerveja ( provavelmente se esqueceu que iria me pegar uma). Pude ver Constance vindo na minha direção e eu não estava com a mínima vontade de tê-la enchendo o meu saco, por isso dei meia volta e subi a escada, que daria para os quartos de hóspede e etc. Constance era um porre. Ela só não era mais popular porque era uma dessas garotas que te entediam até a morte. Como a sra. Hilton. Por um momento, imaginei um duelo entre elas, ambas competindo para saber quem entediaria uma pessoa até que ela resolvesse se suicidar em menos tempo.
Testei as portas. Apesar do clima da festa lá embaixo, os quartos ainda não estavam ocupados. Nenhum de nós estava louco o suficiente para transar com pessoas que jamais transaríamos sóbrios. Achei uma porta aberta e entrei no quarto, dando de cara com deitado na cama, mexendo em seu celular com uma cerveja ao seu lado, enquanto , sentada ao seu lado, inclinava-se para ele.
— Epa! Sinto muito, . — Dei meia volta, me preparando para sair. me lançou um olhar mortal.
— Se eu fosse você, ficaria por aqui. Já começaram a se comportar feito animais lá embaixo. — , que já tinha caído para o lado, a essa hora, me olhou desanimada. Ele apontou pela janela e eu fui olhar. Três ou quatro jocks estavam fazendo uma verdadeira bagunça na piscina. Dois deles nadavam nus.
— Pelo amor de Deus. — Resmunguei por baixo do fôlego.
tinha se sentado na cama e me olhava meio desinteressado. Ele era bonito. Verdadeiramente gostoso, se quer a minha opinião. E eu podia entender completamente porque queria tanto ir com ele ao baile (e tentar transar com ele agora). Eles ficariam completamente lindos juntos: loiros, bonitos, radiantes. Eu não sabia muito bem porque me odiava (além de ter tomado muito tempo do melhor amigo dele, quero dizer), mas acabei odiando-o de volta com igual intensidade. Ficamos nos olhando em silêncio por algum tempo, um clima desagradável começava a pesar quando ele desviou o olhar e bebeu sua cerveja, voltando a mexer em seu celular e fazia o mesmo.
— Está falando com o ? — Perguntei enquanto me encostava na janela. Só tinha uma cama ali e eu preferia me manter longe dela, ainda mais com aqueles dois ali.
me lançou um olhar reprovador e não respondeu. Tive vontade de jogar minha cerveja na cara dele por isso. simplesmente me ignorou porque, bem, eu atrapalhei a jogada dela. Mas, a bem da verdade, não parecia muito animado. Depois de alguns segundos, ela saiu do quarto, dizendo que voltava já. E eu realmente espero que ela esteja trazendo mais bebida.
— Qual o seu problema? — Perguntei, me dando conta de que minha cerveja estava quase acabando.
— O que é? — Ele retrucou com a voz cansada.
— Eu digo, não sei qual o seu problema comigo. Você me odeia. E então você é legal algumas vezes. E depois você volta a me odiar. E não parece nem um pouco animado de estar em um quarto sozinho com uma garota gostosa.
— Deve ser porque você me encurralou para que eu vá ao baile com a sua melhor amiga. — Ele respondeu no mesmo tom cansado, como se fosse meu pai me dizendo porque eu não podia ter um pônei. Quando eu queria um pônei, aos seis anos.
— Você pode dizer a ela que não quer ir. Mas, sabe, é a garota mais desejada da escola. E ela, com certeza, vai ficar com você depois. Então… Qual é o seu problema? — Cruzei os braços, esperando que ele me respondesse. Claro, eu podia estar lá embaixo, bebendo com as garotas. Mas estou infernizando alguém simplesmente porque meu namorado não faz bom sexo comigo. Eu poderia me perguntar qual era o meu problema, mas, no momento, preferia descobrir o problema dele. É sempre mais fácil lidar com falhas que não sejam suas.
— Ela não é tão gostosa quanto dizem. Não é meu tipo. — Ele disse depois de um longo olhar para a porta por onde ela tinha passado alguns segundos atrás.
— E como você gosta das suas garotas? Com um pouco de pênis, talvez? — Usei meu tom mais jocoso, porque não tinha outra explicação. Talvez fosse gay.
— Um pouco menos vadia. — Ele atalhou, me olhando de esguelha. — Um pouco mais como você. — E apontou meu cardigã com o queixo, que cobria uma parte do meu decote.
Por um momento, achei que estava dando em cima de mim. Eu realmente achei. E aquilo, de alguma maneira, melhorou o meu ego.
— Oh, um pouco mais como eu? Você tem tesão na namorada do seu melhor amigo, ? — Observei suas bochechas corarem e ele desviar os olhos para a tela do celular novamente. — Patético.
— Você que é patética. — resmungou irritado.
— Você que é. Fica todo irritadinho comigo porque sente tesão por mim, não é? — Eu sorri de um modo malicioso. Estava ligeiramente bêbada, nunca fui boa com bebidas. E eu era má quando estava bêbada. — Isso é tão clichê, .
Foi mais rápido do que eu imaginava. Em um momento, estava de pé, encostada na janela e atirando palavras debochadas para . E, no momento seguinte, eu estava debaixo de seu corpo musculoso e com cheiro de One Million. Arregalei os olhos para ele, que apenas me mantinha imobilizada debaixo dele.
— Você que é clichê. Você é uma garotinha mimada que está com o porque todas as suas amigas acham isso legal. E eu retiro o que eu disse antes. Você é uma vadiazinha encubada, mil vezes pior do que sua melhor amiga! — Suas palavras eram depreciativas, mas ele continuava corado. Seus olhos continuavam brilhando. E a todo momento eles miravam a minha boca. Porque por mais que me odiasse, ele ainda tinha tesão em mim. Talvez fosse uma daquelas coisas que não dá pra controlar.
— Me solta. — Murmurei baixo para ele, cujos olhos ainda mantinham-se na minha boca. — Porra, , me solta! — Me mexi, tentando me soltar, sentindo, pela primeira vez, o motivo de ele estar tão agressivo. A ereção dele estava pressionada contra a minha coxa e arregalei os olhos.
Aquilo era errado em tantos níveis. E, no entanto, tinha mais de seis meses que eu não sabia o que era sexo de verdade. Mais de seis meses que eu ia pra cama apenas com . Os lábios de buscaram minha boca, mas acabei virando o rosto, me desvencilhando de seu beijo. Como se eu não o tivesse rejeitado, ele beijou meu maxilar. E então beijou o meu pescoço.
— Você é uma vadiazinha, ? — A voz baixa e grossa dele murmurada contra a minha pele fez com que eu me arrepiasse toda instantaneamente.
sentou-se na cama, tirando a camisa e voltando a deitar-se sobre mim. Naquele momento, duas coisas me passaram pela cabeça. A primeira é que eu estava traindo meu namorado com seu melhor amigo. E a segunda é que eu realmente precisava gozar com alguma outra coisa que não fosse o jato da banheira ou meus dedos. Seus braços fortes circundaram minha cintura e eu abracei seus ombros, não me negando a beijá-lo agora. Ele se virou, fazendo com que eu ficasse por cima. Sua mão segurava firmemente a minha nuca, enquanto a outra continuava segurando a minha cintura, me apertando como se precisasse saber que eu era real. beijava muito melhor que .
Ele se levantou enquanto eu ainda estava em cima dele, me segurando para que eu não caísse, pondo-me sentada em seu colo. E, daquele jeito, eu podia sentir como ele estava excitado. Eu podia sentir exatamente o quanto ele me queria naquele momento (além do tamanho dele, que era satisfatório). Suas mãos puxaram meu cardigã, jogando-o para o lado e eu, mais uma vez, não protestei. puxou meu cabelo, expondo meu pescoço a um novo ataque de beijos molhados, quentes e que me deixavam cada vez mais molhada. Pela primeira vez esbocei uma reação que não fosse surpresa ou comedida, segurando na nuca dele, acariciando-o ali enquanto me beijava.
Fechei os olhos, inclinando minha cabeça para trás enquanto as mãos dele adentravam o meu vestido, segurando na minha bunda, movendo meu quadril para que eu me roçasse no volume de sua ereção. Aquilo era bom e um gemido escapou de meus lábios, o que o fez intensificar o que estava fazendo. Sua boca agora buscava um jeito de beijar meu seio por cima do vestido. A respiração dele era forte e pesada contra a minha pele, suas mãos me seguravam tão forte que eu poderia estar vermelha.
— Quando o falava de como você era gostosa… Eu não tinha ideia. — E então eu acordei. Aquilo foi o suficiente para quebrar meu feitiço. Eu estava dando um amasso com o melhor amigo do meu namorado. Eu estava num quarto com ele. Enquanto minha melhor amiga, que era a fim dele, estava fora. Eu permiti que ele me desprezasse e que me tocasse. Empurrei para o lado, me levantando da cama e buscando meu cardigã no chão.
— , qual é. Foi o que eu disse? — Eu o ignorei e me vesti. — Vai me deixar desse jeito? — Apontou com as duas mão para a calça e sua ereção visível.
— Hm, o meu diagnóstico é que todo esse sangue vai voltar pro seu corpo normalmente. Não precisa se preocupar.
Lancei um olhar reprovador para e bati a porta atrás de mim. Ele vai ficar bem, é uma ereção e não uma ferida de guerra. Eu me sentia suja e humilhada enquanto saía pela porta dos fundos da casa de Keyshia e seguia em direção à minha própria casa. Com sorte, ninguém conhecido me interpelou no caminho, não me viu, meus pais não me viram chegar. Ao entrar no meu quarto, eu me despi e tomei um banho quente, pensando no que tinha acabado de acontecer. Eu dizia que amava , mas tinha tido a cara de pau de ficar com o melhor amigo dele. Isso era amar?
Nova mensagem recebida.
diz:
Queria que você estivesse aqui.
E então eu vi que grande piranha eu era.
Capítulo 3
Sete semanas para o baile
e eu não tínhamos trocado um só olhar desde que tinha deixado-o de pau duro e frustrado no quarto de hóspedes. , entre nós dois, não desconfiou de nada. Ele provavelmente pensava que estávamos em mais um daqueles dias onde nos odiávamos sem motivo. E ele já estava acostumado com aquela situação, por isso não fazia perguntas.
O que era ótimo pra mim. Eu realmente não queria mentir para ele e não tinha como contar a verdade. Pelo olhar de , eu podia supor que ele pensava a mesma coisa. O clima na mesa estava tenso, eu rolava os tomates-cereja em meu prato de um lado para o outro, sem comer, enquanto mexia a todo tempo em seu celular. , no meio de nós dois, parecia bem desanimado. Eu não podia culpá-lo. Mas eu também não era tão boa mentirosa a ponto de fingir que estava tudo bem, sentar no colo dele como eu sempre fazia e falar sobre as minhas aulas. Com sorte, chegou em seu pequeno e chamativo uniforme de líder de torcida, sua bandeja, assim como a minha, só tinha um prato de salada. Seus peitos enormes estavam muito bem delineados por baixo da blusa.
— Alguém morreu e eu não sei? — Ela disparou assim que se sentou na mesa. Ao lado de . — Espera, foi a Maggie? — E então ela escaneou o salão, apenas para encontrar Maggie sentada sozinha em uma mesa. Ela deu de ombros. — A esperança é a última que morre, não é mesmo?
me olhou, assim como . Dei um sorrisinho para os dois e enfiei o tomatinho na boca, mastigando silenciosamente. Pude ouvir cochichar uma pergunta para , algo como “vocês brigaram?”. Ele negou com a cabeça e em seguida deu de ombros, apoiando os cotovelos na mesa e me olhando de lado.
— , eu te fiz alguma coisa? — Ele me perguntou com a testa franzida. Vi esboçar um sorrisinho, desviando os olhos do celular.
— Não, querido. Estou com dor de cabeça, só isso. — Sorri, me inclinando para beijar-lhe levemente os lábios. , muito mais perceptiva que ele, não disse nada. Mas nós duas sabíamos que ela notou algo errado. E quando sente o cheiro de sangue, ela não para até achar um corpo.
O bom é que não é excepcionalmente inteligente. Muito menos perceptivo. Ele abriu um sorriso verdadeiro (o único, até agora, na mesa) e deu de ombros novamente, me respondendo alguma coisa que eu não prestei atenção. Porque estava olhando atentamente para alguma coisa no outro lado do refeitório, sua mão segurando o garfo com tanta força que eu podia ver as veias saltando. E essa coisa era seu ex-namorado e sua atual namorada asiática. Eu me virei para olhar também. Algo no olhar de não sugeria boa coisa. Não sei porque, mas naquele momento eu senti que não conhecia tão bem quanto pensava.
— Não encare tanto. — Eu cochichei para ela, que me lançou um olhar falsamente inocente.
— Não sei do que está falando. — E com isso, voltou a flertar com e comer sua salada.
Mais tarde, enquanto eu estava guardando meus livros no armário, ela se encostou no armário ao lado, sorrindo para mim.
— Ainda não te agradeci por ter feito o me levar ao baile. — Ela disse depois de uma rápida olhada para suas unhas, pintadas de Mica Rosé. — Então… Eu meio que estou te devendo uma.
Por um momento, resisti à tentação de fazê-la pagar algum mico ou algo tão ridículo quanto. podia dizer que ela me deve uma, mas nós duas sabemos que ela vai se esquecer disso assim que decidir que eu tenho que fazer alguma outra coisa pra ela.
— Tudo bem. Esquece isso. — Olhei a hora no meu celular, faltava dez minutos para eu estar na sala do professor .
— Eu vi vocês dois. — Meu celular quase escorregou da minha mão e eu olhei para ela, o coração batendo na minha garganta com o pânico.
— O que?
— Eu vi vocês dois. Você e , se agarrando na casa da Keyshia. — Pisquei meus olhos algumas vezes antes de me recuperar.
— Não significou nada. — Retorqui.
me analisou por longos segundos e então largou o osso.
— Você quer fazer compras? — Ela me perguntou com um sorrisinho, depois de checar o próprio celular. — Constance ainda não comprou o vestido dela. Quer a nossa ajuda.
Por mais interessante que parecesse ver Constance experimentar milhares de vestidos enquanto falamos mal dela, eu neguei com a cabeça.
— Não dá. Tenho que ajudar o senhor com os testes dos juniors. — Rolei os olhos.
Por mais que eu fosse caidinha pelo senhor e seu jeitão fofo de nerd, eu odiava tanto corrigir testes e trabalhos. Eu só ia pra cheirar o perfume dele e vê-lo todo concentrado, com o cenho levemente franzido e a caneta balançando nos seus dedos…
— Pensei que poderia te dar uma carona. Seu carro ainda está no conserto, certo? — Ela me olhou de lado. Por mais que tivesse defeitos, ela ainda se preocupava comigo. Um pouco. E do jeito dela.
Dei de ombros.
— Eu vou pegar o ônibus. Não tem problema. — Ela me olhou estranho. odiava ônibus. Ela nunca andou de ônibus na vida, exceto uma vez. E, segundo ela, foi traumático.
— Nossa, okay. Se você quer mesmo todos aqueles germes… Eu vou indo. A Cons tá pirando. — rolou seus olhos e me beijou na bochecha, saindo correndo enquanto digitava alguma coisa no celular.
A coisa com o senhor poderia ser melhor. Éramos três veteranos com ele, ajudando com trabalhos, testes e provas. É claro, por sermos veteranos podíamos ver tranquilamente as provas do mais novos. E corrigi-las com facilidade. Tudo bem, deveríamos estar estudando para as provas de admissão e o SAT, por isso o senhor disse que quem quisesse sair do time para se dedicar aos estudos poderia sair sem ressentimentos. O russo caiu fora, mas eu continuei.
Eu nunca sairia dali. Já era o bastante saber que eu nunca mais o veria uma vez que me formasse. E eu queria passar cada tempo que eu podia com ele. Além do mais, eu já passei para a Columbia, enquanto algumas outras pessoas estavam na lista de espera. Eu sou a estrela do time de natação e isso ficou provado quando ganhei a última competição entre a John Locke e a Albert Einstein, que fica a algumas quadras daqui, que faculdade me rejeitaria?
O fato é que o senhor nunca olhou para mim de uma outra forma. E eu o provocava sutilmente, me usando desse “charme de menina comportada” que diz que eu tenho. Eu realmente pareço uma boa garota, mas só pareço. pode ser a Regina George, mas eu sou a Cady, o que significa que boa bisca eu também não sou.
O senhor é o tipo de cara que não cai em provocações, mas fica corado ou sem graça. E isso é engraçado porque o provoca a todo momento. E talvez não seja tão engraçado porque eu simplesmente sei que ela quer dormir com ele. E, sim, eu sinto ciúmes. O que é estúpido, eu sei, mas acredite quando digo que é completamente involuntário.
Quando o senhor chegou aqui no começo do ano letivo, todas nós suspiramos juntas. Não temos muitos professores atraentes por aqui, muito menos solteiros, a julgar pela falta da aliança em seu dedo. O treinador do time de futebol é sarado e tudo o mais, mas não é particularmente atraente. Apesar de que ninguém pode negar que o professor de geografia é meio bonitinho. Enfim, o que acontece é que assim que fizemos o primeiro teste, o senhor chamou nós três: eu, o garoto russo e Bobby McAlguma-Coisa, um nerd perdedor qualquer. Disse que nós tínhamos as melhores notas do teste e perguntou se nós não queríamos ajudá-lo em troca de algum crédito extra. Eu aceitei na hora e todas as meninas disseram que deveriam ter estudado mais duro no teste.
E o garoto russo tinha caído fora. Sobrou Bobby e eu. Eu queria que Bobby caísse fora, mas… Eu ia ter mais trabalho. Era melhor, simplesmente, deixar Bobby onde estava, já que o russo já tinha saído há alguns meses, lembro que ele segurou a porta pra mim, já que ele também tinha acabado de chegar e me deu um sorriso torto que era até uma gracinha. É uma pena que ele tenha ido embora.
Bobby e seu aparelho ortodôntico chegaram ao mesmo tempo em que começava a separar os trabalhos que corrigiríamos.
O que me diferia de é que, mesmo quando eu não gostava de alguém, eu tratava essa pessoa bem. Alguém tem que ser o policial bom, certo? Era isso que eu fazia com Bobby.
— , espero que não se importe… — O senhor me deu um sorriso apologético, desde que Dmitri saiu, nosso trabalho aumentou.
— Não tem problema, professor. A propósito, depois podemos falar sobre aqueles exercícios?
Ele acenou afirmativamente com a cabeça enquanto andava e Bobby me olhou de rabo de olho.
O olhar de Bobby sempre se fixava na minha boca quando eu falava, mas garanto que a audição dele é perfeita ou seus olhos não iriam se fixar nas minhas pernas e nos meus peitos também.
— Como o senhor parece ocupado, eu posso te ajudar com os seus exercícios, se você quiser, .
Bobby era uma piada ambulante. Era alto e desajeitado. Ele me lembrava e muito um louva-deus. No começo do ano letivo, ele tentou ser meu parceiro em Química Avançada, mas consegui descolar a Keyshia antes que ele pudesse me convidar.
— Bobby, você tem muitos testes para corrigir. Preste atenção. — O senhor disse de sua mesa, nos olhando por cima dos óculos e usando uma voz firme, aquela que ele só usava na sala quando nós estamos sendo realmente barulhentos ou inconvenientes. Ou ambos.
Pode dizer que é estúpido, mas senti os pelos da minha nuca se eriçarem com isso. Não que eu precisasse de alguém para me defender, eu já estava abrindo a boca para respondê-lo, mas ver o meu professor favorito agir assim, de maneira tão diferente, era muito, muito excitante.
Dei um sorrisinho sem graça para Bobby, que voltou para seu lugar e começou a olhar os testes. Agradeci ao senhor apenas movimentando os lábios e ele acenou rapidamente com a cabeça, desviando os olhos logo depois.
As horas transcorreram em silêncio, apesar de agora Bobby ocupar a mesa ao lado da minha, que antes era de Dmitri. Dmitri, graças aos céus, era um cara calado. E Bobby só não tentava puxar assunto por causa do senhor , a quem ele olhava a cada cinco minutos. E, mesmo assim, eu sei que Bobby vai arranjar um jeito de falar comigo. Ele tenta me chamar para sair desde que entramos no Ensino Médio. Desnecessário dizer que ele nunca conseguiu.
Duas horas depois eu estava entregando a pilha de testes corrigidos para o senhor . Bobby tinha saído vinte minutos antes, já que sua mãe estava esperando por ele lá fora. Ainda bem que ele pega carona com ela, ou tentaria ir embora comigo. E ele ainda tentou me oferecer uma carona, mas eu passei. Por sorte, ainda tinha testes para corrigir.
Por incrível que pareça, eu não demoro de propósito. Não tem razão, não é como se eu fosse seduzir o professor ficando para trás. Tentei fazer isso uma vez, mas acabei descobrindo que o senhor permanece mais algum tempo em sua sala e gosta de ficar sozinho.
— , os seus exercícios. — O professor me entregou três folhas grampeadas e mais algumas soltas e eu passei os olhos por elas rapidamente. Eu tinha errado duas ou três questões, o que já era um avanço se comparado aos exercícios da semana passada.
Meses atrás, eu pedi ajuda para ele. Falei que o SAT estava chegando e que queria me preparar mais. No final da aula, o senhor me entregou uma folha com vários exercícios e disse que eu deveria entregá-la no final da semana, durante a correção de trabalhos. Quando eu entreguei a minha folha, ele me deu uma nova. E tem sido assim. Pelo menos duas vezes na semana eu recebo uma folha com problemas matemáticos intrincados. O SAT já passou, mas continuamos fazendo isso. Eu aprecio muito isso no senhor . Ele realmente se importa com a gente. Ele não dá esse tipo de exercício para mais ninguém, no entanto, porque acho que absolutamente ninguém quer ter mais dever de matemática.
— ? — Ele me chamou enquanto eu andava em direção à porta. — Já pensou em fazer matemática na faculdade? Ou algo assim, como engenharia?
Pisquei os olhos algumas vezes, confusa com a pergunta súbita. Meu pai me mataria se eu fizesse isso. O sonho dele era que eu fizesse Direito, me formasse e advogasse junto com ele, na firma da família, onde meu tio também trabalha. Neguei com a cabeça.
— Bem, você deveria pensar nisso. Você tem talento com os números. — Ele pareceu pensar um pouco e eu hesitei. Queria continuar conversando. Na minha cabeça, isso era inocente. Ele nunca transaria comigo, embora eu apostasse meus brincos de pérola que dormiria com ele na primeira oportunidade. — Fiquei sabendo sobre Columbia. O que vai fazer lá?
— Direito. Para trabalhar com meu pai e meu tio. — Segurei minha bolsa contra o colo, me aproximando da mesa dele e puxando uma cadeira para me sentar.
— Seu pai é o dono da &, certo? — O senhor me perguntou, parecendo distraído. Eu confirmei com um aceno de cabeça, mesmo que “dono” não fosse o termo correto. — É isso o que você quer?
Eu nunca tinha realmente pensado no que queria. Eles sempre quiseram que eu fizesse Direito, claro. E eu concordei porque não tinha nada que eu realmente quisesse fazer. Pra mim, tanto fazia se fosse Direito ou Publicidade. O que importava era me formar e arranjar um emprego.
— Para falar a verdade, eu não sei. Não tenho nenhum sonho, então não vejo problema em ser advogada. — Ele pareceu pensar um pouco.
— , será que você sabe a dificuldade desses exercícios? — Ele apontou para as folhas que ainda estavam na minha mão. — Se eu passasse esse tipo de coisa para os seus colegas de classe eles iriam se matar antes de conseguir resolver. Você tem talento.
Uma pequena chama de orgulho se acendeu no meu peito. Eu sorri, com as bochechas levemente coradas.
— Obrigada, professor .
A mão dele pousou no meu ombro, um sorriso amigável estava estampado em seu rosto.
— Se eu fosse você, , investiria em algo assim. Você daria uma ótima matemática. Ou engenheira, se quiser um pouco menos de glamour. — Nós dois rimos. Eu? Professora de matemática? Era, no mínimo, hilário.
Nesse momento, alguém limpou a garganta e nós dois olhamos para trás. Eu gelei ao ver na porta da sala e o senhor sorriu para ele, alheio ao clima tenso que se instalou de repente.
— , posso ajudá-lo com alguma coisa? — Suavemente, a mão dele saiu do meu ombro.
— Eu só vim para dar uma carona para a . — Ele deu de ombros e eu quase parei de respirar. não estava na escola. Percebendo a minha expressão, o senhor franziu o cenho.
Mas ele não poderia saber que havia algo errado. Todo mundo sabia que eu namorava o melhor amigo de . Para um professor que não se mete em fofocas de alunos, era natural que um “amigo” me desse carona. Baixei os olhos, guardando as folhas dentro da minha bolsa.
— Vamos? — me perguntou e os olhos claros do professor de matemática se focaram em mim. Eu tinha certeza que ele faria qualquer coisa para me ajudar agora, mas eu não tinha medo de .
Eu sabia que ele não poderia fazer nada comigo, mas a imagem dele frustrado e nervoso no quarto ainda estava gravada na minha memória. Mesmo assim, forcei meu sorriso mais simpático.
— Obrigada pelos conselhos, professor. Semana que vem te entrego esses aqui, tudo bem? — Balancei as folhas e quase saí correndo, passando por rapidamente.
Ouvi sua voz grossa se despedir do professor e analisei minhas rotas de fuga. Mesmo que corresse do colégio, ele me pegaria no ponto de ônibus. Poderia me esconder no laboratório e ia me encaminhar para lá, mas antes que eu pudesse protestar, ele tinha me jogado contra a parede do corredor.
— Eu vou gritar! — Avisei a ele antes que tentasse qualquer coisinha engraçada. Ele me segurava contra a parede pelos ombros e me olhava furioso.
— Você também está dormindo com o professor, ? Será que você é tão puta assim? — Tentei empurrá-lo, mas ele era alto e forte, nem ao menos se mexeu.
— Eu não estou dormindo com ninguém, seu merda! Agora me solta antes que eu grite e o professor apareça. , estou falando sério! — Acrescentei a última frase ao perceber que ele não tinha a mínima intenção de me soltar.
— Quantos chifres você já colocou no , hein? — Eu pisquei, o ar sumindo dos meus pulmões com o ódio. As mãos dele deslizaram dos meus ombros para os meus braços e, mesmo assim, ele ainda me mantinha presa à parede. Arregalei os olhos ao perceber o que ele faria.
Em um movimento rápido, meus pulsos foram levantados acima da minha cabeça e ele me mantinha ali com apenas uma das mãos, a outra segurava o meu queixo. Nossos olhos estavam fixos um no outro e a respiração dele batia na minha pele.
— E mesmo assim você age como se fosse uma puritana, me deixando na mão no último minuto. O que você acha que pensaria disso, hein?
Eu deveria rebater. Lutar de volta. Chutá-lo no saco, que estava a fácil alcance, mas aquilo era tão… Não característico de . Eu só podia pensar em ciúmes. Talvez ele estivesse com ciúmes do professor . Mas isso era absurdo. nem ao menos era meu namorado. era o meu namorado. O melhor amigo dele. E mesmo que não fosse muito com a cara do senhor por causa das horas que passo com ele, corrigindo testes e acompanhada, ele não faz nada. Porque confia em mim (embora, talvez, ele não devesse confiar tanto assim).
Mesmo assim, era estranho. tinha um brilho esquisito nos olhos azuis. Eu não conseguia entender. Era tudo tão confuso pra mim. Quando moveu o rosto para perto do meu, eu finalmente dei a joelhada no saco que ele merecia. Ele rolou para o lado, apertando seu playground enquanto eu me ajeitava, respirando forte, uma mão espalmada na parede fria atrás de mim. Eu sabia que ele não tentaria mais nada, mas se tentasse eu já tinha meu punho fechado para acertá-lo. E então duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. me olhou feio e deu um passo a frente, na minha direção, e logo depois os passos de alguém soaram no corredor, fazendo com que ele se afastasse.
Como se nada tivesse acontecido, saiu de perto de mim, andando rapidamente em direção à porta enquanto eu esfregava meus pulsos levemente avermelhados, minha boca estava aberta pela reação dele. Meu coração batia forte e rápido no peito e eu estava ligeiramente sem ar, sentindo a adrenalina bombear pelo meu corpo. Esquece o que eu disse sobre ser gostoso, agora ele era só mais um babaca.
O professor surgiu logo depois e eu deduzi que os passos que afastaram foram os dele. Ele me olhou intrigado.
— Pensei que tivesse pegado carona com o seu amigo.
Por um momento, precisei pensar com força em quem seria o meu “amigo”, mas logo entendi que ele falava de .
— Ah, algo aconteceu. Ele não pôde me levar. — Eu podia sentir que ele não compraria essa mentira. Menos de cinco minutos atrás estava me apressando para irmos embora.
O olhar dele desceu até os meus pulsos, que eu ainda esfregava inconscientemente. Ao perceber, parei de fazê-lo.
— Bem, você ainda precisa de uma carona?
Quase soltei um suspiro de alívio ao perceber que ele não perguntou nada sobre a situação, mas uma parte de mim disse que, talvez, ele não se preocupava tanto comigo quanto eu gostava de pensar.
— Eu posso pegar o ônibus, senhor . Não precisa se incomodar.
Ontem, eu ficaria extasiada ao ouvir essa oferta. Depois do ataque de loucura de , no entanto, eu só queria ficar sozinha.
— Eu vou te levar em casa. Vai ser mais rápido. — Ele pegou a minha bolsa do chão e só então percebi que ela tinha caído. Ele a entregou para mim e eu não tive outra opção que não fosse pegá-la e seguir o professor até o seu carro.
Era um carro modesto, modelo popular, nada tão chamativo quanto o meu. Era bem… Ele. Me sentei no banco do carona e pus o cinto de segurança. Meus batimentos cardíacos só agora começavam a normalizar. Respirei fundo, tentando me acalmar, e o senhor ligou o rádio. Uma música do Coldplay começou a tocar.
— Onde você mora?
— Na rua 15. Esquina com a Spring. — Disse mecanicamente, olhando pela janela.
Ele não disse nada, apenas ligou o carro e saiu do estacionamento da escola, a área destinada aos professores. O carro seguiu em uma velocidade adequada, mas eu podia dizer que ele era ótimo dirigindo. O professor tentou puxar conversa algumas vezes, e eu estava muito chocada para me fingir de boa moça. Depois da milésima vez que eu disse “aham”, ele desistiu.
Eu não morava longe da escola e assim que chegamos na minha rua, ele viu minha casa com facilidade.
— Você quer falar sobre isso, ? — Ele me perguntou assim que paramos na calçada, retirou seu cinto de segurança e apontou os meus pulsos.
Suspirei. Estava bom demais para ser verdade. Eu realmente achei que poderia deixar passar. Ao mesmo tempo, me senti especial ao ver o quanto ele se importava.
— Não. — Fui curta porque sabia que poderia chorar. Não por medo, mas por raiva. Estava com um verdadeiro ódio de .
— Eu não vou julgar você. — Ele adicionou, me olhando.
O senhor tinha olhos lindos. Ele ainda tinha aquele tipo de olhar sincero, que derrete qualquer defesa emocional. Mas, mesmo assim, eu não me sentia confortável para contar ao professor (por quem eu tenho uma queda) que quase transei com o melhor amigo do meu namorado e agora ele está com ciúmes do papo agradável que tive com o meu professor favorito! Não, definitivamente não. Ia ser muito estranho.
— Eu agradeço a preocupação, senhor , mas não precisa. Não foi nada. — Eu poderia tentar forçar um sorriso, mas sentia que aquilo falharia.
Minha casa, como sempre, estava vazia. Eu tinha tirado o cinto de segurança assim que paramos e fitei minhas mãos, fingindo estar distraída. Ele me olhava de modo condescendente, percebi assim que arrisquei olhar para cima. Então, eu o agradeci e saí do carro. Dei a volta, buscando as chaves dentro da bolsa e o ouvi gritar meu nome.
Virei-me para olhá-lo e ele sorriu. Era um sorriso confortante, seguro, simpático.
— Quando quiser conversar, passe na minha sala. Você não tem que passar por isso sozinha, entendeu? — Por um momento, eu quis contar tudo. Sobre o sexo ruim, sobre , sobre … Eu quis dizer tudo, mas apenas acenei com a cabeça e segurei a respiração. — E eu ainda espero os exercícios, .
Assim que o carro dele desapareceu na curva, eu respirei fundo e destranquei a porta. A semana seria longa.
e eu não tínhamos trocado um só olhar desde que tinha deixado-o de pau duro e frustrado no quarto de hóspedes. , entre nós dois, não desconfiou de nada. Ele provavelmente pensava que estávamos em mais um daqueles dias onde nos odiávamos sem motivo. E ele já estava acostumado com aquela situação, por isso não fazia perguntas.
O que era ótimo pra mim. Eu realmente não queria mentir para ele e não tinha como contar a verdade. Pelo olhar de , eu podia supor que ele pensava a mesma coisa. O clima na mesa estava tenso, eu rolava os tomates-cereja em meu prato de um lado para o outro, sem comer, enquanto mexia a todo tempo em seu celular. , no meio de nós dois, parecia bem desanimado. Eu não podia culpá-lo. Mas eu também não era tão boa mentirosa a ponto de fingir que estava tudo bem, sentar no colo dele como eu sempre fazia e falar sobre as minhas aulas. Com sorte, chegou em seu pequeno e chamativo uniforme de líder de torcida, sua bandeja, assim como a minha, só tinha um prato de salada. Seus peitos enormes estavam muito bem delineados por baixo da blusa.
— Alguém morreu e eu não sei? — Ela disparou assim que se sentou na mesa. Ao lado de . — Espera, foi a Maggie? — E então ela escaneou o salão, apenas para encontrar Maggie sentada sozinha em uma mesa. Ela deu de ombros. — A esperança é a última que morre, não é mesmo?
me olhou, assim como . Dei um sorrisinho para os dois e enfiei o tomatinho na boca, mastigando silenciosamente. Pude ouvir cochichar uma pergunta para , algo como “vocês brigaram?”. Ele negou com a cabeça e em seguida deu de ombros, apoiando os cotovelos na mesa e me olhando de lado.
— , eu te fiz alguma coisa? — Ele me perguntou com a testa franzida. Vi esboçar um sorrisinho, desviando os olhos do celular.
— Não, querido. Estou com dor de cabeça, só isso. — Sorri, me inclinando para beijar-lhe levemente os lábios. , muito mais perceptiva que ele, não disse nada. Mas nós duas sabíamos que ela notou algo errado. E quando sente o cheiro de sangue, ela não para até achar um corpo.
O bom é que não é excepcionalmente inteligente. Muito menos perceptivo. Ele abriu um sorriso verdadeiro (o único, até agora, na mesa) e deu de ombros novamente, me respondendo alguma coisa que eu não prestei atenção. Porque estava olhando atentamente para alguma coisa no outro lado do refeitório, sua mão segurando o garfo com tanta força que eu podia ver as veias saltando. E essa coisa era seu ex-namorado e sua atual namorada asiática. Eu me virei para olhar também. Algo no olhar de não sugeria boa coisa. Não sei porque, mas naquele momento eu senti que não conhecia tão bem quanto pensava.
— Não encare tanto. — Eu cochichei para ela, que me lançou um olhar falsamente inocente.
— Não sei do que está falando. — E com isso, voltou a flertar com e comer sua salada.
Mais tarde, enquanto eu estava guardando meus livros no armário, ela se encostou no armário ao lado, sorrindo para mim.
— Ainda não te agradeci por ter feito o me levar ao baile. — Ela disse depois de uma rápida olhada para suas unhas, pintadas de Mica Rosé. — Então… Eu meio que estou te devendo uma.
Por um momento, resisti à tentação de fazê-la pagar algum mico ou algo tão ridículo quanto. podia dizer que ela me deve uma, mas nós duas sabemos que ela vai se esquecer disso assim que decidir que eu tenho que fazer alguma outra coisa pra ela.
— Tudo bem. Esquece isso. — Olhei a hora no meu celular, faltava dez minutos para eu estar na sala do professor .
— Eu vi vocês dois. — Meu celular quase escorregou da minha mão e eu olhei para ela, o coração batendo na minha garganta com o pânico.
— O que?
— Eu vi vocês dois. Você e , se agarrando na casa da Keyshia. — Pisquei meus olhos algumas vezes antes de me recuperar.
— Não significou nada. — Retorqui.
me analisou por longos segundos e então largou o osso.
— Você quer fazer compras? — Ela me perguntou com um sorrisinho, depois de checar o próprio celular. — Constance ainda não comprou o vestido dela. Quer a nossa ajuda.
Por mais interessante que parecesse ver Constance experimentar milhares de vestidos enquanto falamos mal dela, eu neguei com a cabeça.
— Não dá. Tenho que ajudar o senhor com os testes dos juniors. — Rolei os olhos.
Por mais que eu fosse caidinha pelo senhor e seu jeitão fofo de nerd, eu odiava tanto corrigir testes e trabalhos. Eu só ia pra cheirar o perfume dele e vê-lo todo concentrado, com o cenho levemente franzido e a caneta balançando nos seus dedos…
— Pensei que poderia te dar uma carona. Seu carro ainda está no conserto, certo? — Ela me olhou de lado. Por mais que tivesse defeitos, ela ainda se preocupava comigo. Um pouco. E do jeito dela.
Dei de ombros.
— Eu vou pegar o ônibus. Não tem problema. — Ela me olhou estranho. odiava ônibus. Ela nunca andou de ônibus na vida, exceto uma vez. E, segundo ela, foi traumático.
— Nossa, okay. Se você quer mesmo todos aqueles germes… Eu vou indo. A Cons tá pirando. — rolou seus olhos e me beijou na bochecha, saindo correndo enquanto digitava alguma coisa no celular.
A coisa com o senhor poderia ser melhor. Éramos três veteranos com ele, ajudando com trabalhos, testes e provas. É claro, por sermos veteranos podíamos ver tranquilamente as provas do mais novos. E corrigi-las com facilidade. Tudo bem, deveríamos estar estudando para as provas de admissão e o SAT, por isso o senhor disse que quem quisesse sair do time para se dedicar aos estudos poderia sair sem ressentimentos. O russo caiu fora, mas eu continuei.
Eu nunca sairia dali. Já era o bastante saber que eu nunca mais o veria uma vez que me formasse. E eu queria passar cada tempo que eu podia com ele. Além do mais, eu já passei para a Columbia, enquanto algumas outras pessoas estavam na lista de espera. Eu sou a estrela do time de natação e isso ficou provado quando ganhei a última competição entre a John Locke e a Albert Einstein, que fica a algumas quadras daqui, que faculdade me rejeitaria?
O fato é que o senhor nunca olhou para mim de uma outra forma. E eu o provocava sutilmente, me usando desse “charme de menina comportada” que diz que eu tenho. Eu realmente pareço uma boa garota, mas só pareço. pode ser a Regina George, mas eu sou a Cady, o que significa que boa bisca eu também não sou.
O senhor é o tipo de cara que não cai em provocações, mas fica corado ou sem graça. E isso é engraçado porque o provoca a todo momento. E talvez não seja tão engraçado porque eu simplesmente sei que ela quer dormir com ele. E, sim, eu sinto ciúmes. O que é estúpido, eu sei, mas acredite quando digo que é completamente involuntário.
Quando o senhor chegou aqui no começo do ano letivo, todas nós suspiramos juntas. Não temos muitos professores atraentes por aqui, muito menos solteiros, a julgar pela falta da aliança em seu dedo. O treinador do time de futebol é sarado e tudo o mais, mas não é particularmente atraente. Apesar de que ninguém pode negar que o professor de geografia é meio bonitinho. Enfim, o que acontece é que assim que fizemos o primeiro teste, o senhor chamou nós três: eu, o garoto russo e Bobby McAlguma-Coisa, um nerd perdedor qualquer. Disse que nós tínhamos as melhores notas do teste e perguntou se nós não queríamos ajudá-lo em troca de algum crédito extra. Eu aceitei na hora e todas as meninas disseram que deveriam ter estudado mais duro no teste.
E o garoto russo tinha caído fora. Sobrou Bobby e eu. Eu queria que Bobby caísse fora, mas… Eu ia ter mais trabalho. Era melhor, simplesmente, deixar Bobby onde estava, já que o russo já tinha saído há alguns meses, lembro que ele segurou a porta pra mim, já que ele também tinha acabado de chegar e me deu um sorriso torto que era até uma gracinha. É uma pena que ele tenha ido embora.
Bobby e seu aparelho ortodôntico chegaram ao mesmo tempo em que começava a separar os trabalhos que corrigiríamos.
O que me diferia de é que, mesmo quando eu não gostava de alguém, eu tratava essa pessoa bem. Alguém tem que ser o policial bom, certo? Era isso que eu fazia com Bobby.
— , espero que não se importe… — O senhor me deu um sorriso apologético, desde que Dmitri saiu, nosso trabalho aumentou.
— Não tem problema, professor. A propósito, depois podemos falar sobre aqueles exercícios?
Ele acenou afirmativamente com a cabeça enquanto andava e Bobby me olhou de rabo de olho.
O olhar de Bobby sempre se fixava na minha boca quando eu falava, mas garanto que a audição dele é perfeita ou seus olhos não iriam se fixar nas minhas pernas e nos meus peitos também.
— Como o senhor parece ocupado, eu posso te ajudar com os seus exercícios, se você quiser, .
Bobby era uma piada ambulante. Era alto e desajeitado. Ele me lembrava e muito um louva-deus. No começo do ano letivo, ele tentou ser meu parceiro em Química Avançada, mas consegui descolar a Keyshia antes que ele pudesse me convidar.
— Bobby, você tem muitos testes para corrigir. Preste atenção. — O senhor disse de sua mesa, nos olhando por cima dos óculos e usando uma voz firme, aquela que ele só usava na sala quando nós estamos sendo realmente barulhentos ou inconvenientes. Ou ambos.
Pode dizer que é estúpido, mas senti os pelos da minha nuca se eriçarem com isso. Não que eu precisasse de alguém para me defender, eu já estava abrindo a boca para respondê-lo, mas ver o meu professor favorito agir assim, de maneira tão diferente, era muito, muito excitante.
Dei um sorrisinho sem graça para Bobby, que voltou para seu lugar e começou a olhar os testes. Agradeci ao senhor apenas movimentando os lábios e ele acenou rapidamente com a cabeça, desviando os olhos logo depois.
As horas transcorreram em silêncio, apesar de agora Bobby ocupar a mesa ao lado da minha, que antes era de Dmitri. Dmitri, graças aos céus, era um cara calado. E Bobby só não tentava puxar assunto por causa do senhor , a quem ele olhava a cada cinco minutos. E, mesmo assim, eu sei que Bobby vai arranjar um jeito de falar comigo. Ele tenta me chamar para sair desde que entramos no Ensino Médio. Desnecessário dizer que ele nunca conseguiu.
Duas horas depois eu estava entregando a pilha de testes corrigidos para o senhor . Bobby tinha saído vinte minutos antes, já que sua mãe estava esperando por ele lá fora. Ainda bem que ele pega carona com ela, ou tentaria ir embora comigo. E ele ainda tentou me oferecer uma carona, mas eu passei. Por sorte, ainda tinha testes para corrigir.
Por incrível que pareça, eu não demoro de propósito. Não tem razão, não é como se eu fosse seduzir o professor ficando para trás. Tentei fazer isso uma vez, mas acabei descobrindo que o senhor permanece mais algum tempo em sua sala e gosta de ficar sozinho.
— , os seus exercícios. — O professor me entregou três folhas grampeadas e mais algumas soltas e eu passei os olhos por elas rapidamente. Eu tinha errado duas ou três questões, o que já era um avanço se comparado aos exercícios da semana passada.
Meses atrás, eu pedi ajuda para ele. Falei que o SAT estava chegando e que queria me preparar mais. No final da aula, o senhor me entregou uma folha com vários exercícios e disse que eu deveria entregá-la no final da semana, durante a correção de trabalhos. Quando eu entreguei a minha folha, ele me deu uma nova. E tem sido assim. Pelo menos duas vezes na semana eu recebo uma folha com problemas matemáticos intrincados. O SAT já passou, mas continuamos fazendo isso. Eu aprecio muito isso no senhor . Ele realmente se importa com a gente. Ele não dá esse tipo de exercício para mais ninguém, no entanto, porque acho que absolutamente ninguém quer ter mais dever de matemática.
— ? — Ele me chamou enquanto eu andava em direção à porta. — Já pensou em fazer matemática na faculdade? Ou algo assim, como engenharia?
Pisquei os olhos algumas vezes, confusa com a pergunta súbita. Meu pai me mataria se eu fizesse isso. O sonho dele era que eu fizesse Direito, me formasse e advogasse junto com ele, na firma da família, onde meu tio também trabalha. Neguei com a cabeça.
— Bem, você deveria pensar nisso. Você tem talento com os números. — Ele pareceu pensar um pouco e eu hesitei. Queria continuar conversando. Na minha cabeça, isso era inocente. Ele nunca transaria comigo, embora eu apostasse meus brincos de pérola que dormiria com ele na primeira oportunidade. — Fiquei sabendo sobre Columbia. O que vai fazer lá?
— Direito. Para trabalhar com meu pai e meu tio. — Segurei minha bolsa contra o colo, me aproximando da mesa dele e puxando uma cadeira para me sentar.
— Seu pai é o dono da &, certo? — O senhor me perguntou, parecendo distraído. Eu confirmei com um aceno de cabeça, mesmo que “dono” não fosse o termo correto. — É isso o que você quer?
Eu nunca tinha realmente pensado no que queria. Eles sempre quiseram que eu fizesse Direito, claro. E eu concordei porque não tinha nada que eu realmente quisesse fazer. Pra mim, tanto fazia se fosse Direito ou Publicidade. O que importava era me formar e arranjar um emprego.
— Para falar a verdade, eu não sei. Não tenho nenhum sonho, então não vejo problema em ser advogada. — Ele pareceu pensar um pouco.
— , será que você sabe a dificuldade desses exercícios? — Ele apontou para as folhas que ainda estavam na minha mão. — Se eu passasse esse tipo de coisa para os seus colegas de classe eles iriam se matar antes de conseguir resolver. Você tem talento.
Uma pequena chama de orgulho se acendeu no meu peito. Eu sorri, com as bochechas levemente coradas.
— Obrigada, professor .
A mão dele pousou no meu ombro, um sorriso amigável estava estampado em seu rosto.
— Se eu fosse você, , investiria em algo assim. Você daria uma ótima matemática. Ou engenheira, se quiser um pouco menos de glamour. — Nós dois rimos. Eu? Professora de matemática? Era, no mínimo, hilário.
Nesse momento, alguém limpou a garganta e nós dois olhamos para trás. Eu gelei ao ver na porta da sala e o senhor sorriu para ele, alheio ao clima tenso que se instalou de repente.
— , posso ajudá-lo com alguma coisa? — Suavemente, a mão dele saiu do meu ombro.
— Eu só vim para dar uma carona para a . — Ele deu de ombros e eu quase parei de respirar. não estava na escola. Percebendo a minha expressão, o senhor franziu o cenho.
Mas ele não poderia saber que havia algo errado. Todo mundo sabia que eu namorava o melhor amigo de . Para um professor que não se mete em fofocas de alunos, era natural que um “amigo” me desse carona. Baixei os olhos, guardando as folhas dentro da minha bolsa.
— Vamos? — me perguntou e os olhos claros do professor de matemática se focaram em mim. Eu tinha certeza que ele faria qualquer coisa para me ajudar agora, mas eu não tinha medo de .
Eu sabia que ele não poderia fazer nada comigo, mas a imagem dele frustrado e nervoso no quarto ainda estava gravada na minha memória. Mesmo assim, forcei meu sorriso mais simpático.
— Obrigada pelos conselhos, professor. Semana que vem te entrego esses aqui, tudo bem? — Balancei as folhas e quase saí correndo, passando por rapidamente.
Ouvi sua voz grossa se despedir do professor e analisei minhas rotas de fuga. Mesmo que corresse do colégio, ele me pegaria no ponto de ônibus. Poderia me esconder no laboratório e ia me encaminhar para lá, mas antes que eu pudesse protestar, ele tinha me jogado contra a parede do corredor.
— Eu vou gritar! — Avisei a ele antes que tentasse qualquer coisinha engraçada. Ele me segurava contra a parede pelos ombros e me olhava furioso.
— Você também está dormindo com o professor, ? Será que você é tão puta assim? — Tentei empurrá-lo, mas ele era alto e forte, nem ao menos se mexeu.
— Eu não estou dormindo com ninguém, seu merda! Agora me solta antes que eu grite e o professor apareça. , estou falando sério! — Acrescentei a última frase ao perceber que ele não tinha a mínima intenção de me soltar.
— Quantos chifres você já colocou no , hein? — Eu pisquei, o ar sumindo dos meus pulmões com o ódio. As mãos dele deslizaram dos meus ombros para os meus braços e, mesmo assim, ele ainda me mantinha presa à parede. Arregalei os olhos ao perceber o que ele faria.
Em um movimento rápido, meus pulsos foram levantados acima da minha cabeça e ele me mantinha ali com apenas uma das mãos, a outra segurava o meu queixo. Nossos olhos estavam fixos um no outro e a respiração dele batia na minha pele.
— E mesmo assim você age como se fosse uma puritana, me deixando na mão no último minuto. O que você acha que pensaria disso, hein?
Eu deveria rebater. Lutar de volta. Chutá-lo no saco, que estava a fácil alcance, mas aquilo era tão… Não característico de . Eu só podia pensar em ciúmes. Talvez ele estivesse com ciúmes do professor . Mas isso era absurdo. nem ao menos era meu namorado. era o meu namorado. O melhor amigo dele. E mesmo que não fosse muito com a cara do senhor por causa das horas que passo com ele, corrigindo testes e acompanhada, ele não faz nada. Porque confia em mim (embora, talvez, ele não devesse confiar tanto assim).
Mesmo assim, era estranho. tinha um brilho esquisito nos olhos azuis. Eu não conseguia entender. Era tudo tão confuso pra mim. Quando moveu o rosto para perto do meu, eu finalmente dei a joelhada no saco que ele merecia. Ele rolou para o lado, apertando seu playground enquanto eu me ajeitava, respirando forte, uma mão espalmada na parede fria atrás de mim. Eu sabia que ele não tentaria mais nada, mas se tentasse eu já tinha meu punho fechado para acertá-lo. E então duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. me olhou feio e deu um passo a frente, na minha direção, e logo depois os passos de alguém soaram no corredor, fazendo com que ele se afastasse.
Como se nada tivesse acontecido, saiu de perto de mim, andando rapidamente em direção à porta enquanto eu esfregava meus pulsos levemente avermelhados, minha boca estava aberta pela reação dele. Meu coração batia forte e rápido no peito e eu estava ligeiramente sem ar, sentindo a adrenalina bombear pelo meu corpo. Esquece o que eu disse sobre ser gostoso, agora ele era só mais um babaca.
O professor surgiu logo depois e eu deduzi que os passos que afastaram foram os dele. Ele me olhou intrigado.
— Pensei que tivesse pegado carona com o seu amigo.
Por um momento, precisei pensar com força em quem seria o meu “amigo”, mas logo entendi que ele falava de .
— Ah, algo aconteceu. Ele não pôde me levar. — Eu podia sentir que ele não compraria essa mentira. Menos de cinco minutos atrás estava me apressando para irmos embora.
O olhar dele desceu até os meus pulsos, que eu ainda esfregava inconscientemente. Ao perceber, parei de fazê-lo.
— Bem, você ainda precisa de uma carona?
Quase soltei um suspiro de alívio ao perceber que ele não perguntou nada sobre a situação, mas uma parte de mim disse que, talvez, ele não se preocupava tanto comigo quanto eu gostava de pensar.
— Eu posso pegar o ônibus, senhor . Não precisa se incomodar.
Ontem, eu ficaria extasiada ao ouvir essa oferta. Depois do ataque de loucura de , no entanto, eu só queria ficar sozinha.
— Eu vou te levar em casa. Vai ser mais rápido. — Ele pegou a minha bolsa do chão e só então percebi que ela tinha caído. Ele a entregou para mim e eu não tive outra opção que não fosse pegá-la e seguir o professor até o seu carro.
Era um carro modesto, modelo popular, nada tão chamativo quanto o meu. Era bem… Ele. Me sentei no banco do carona e pus o cinto de segurança. Meus batimentos cardíacos só agora começavam a normalizar. Respirei fundo, tentando me acalmar, e o senhor ligou o rádio. Uma música do Coldplay começou a tocar.
— Onde você mora?
— Na rua 15. Esquina com a Spring. — Disse mecanicamente, olhando pela janela.
Ele não disse nada, apenas ligou o carro e saiu do estacionamento da escola, a área destinada aos professores. O carro seguiu em uma velocidade adequada, mas eu podia dizer que ele era ótimo dirigindo. O professor tentou puxar conversa algumas vezes, e eu estava muito chocada para me fingir de boa moça. Depois da milésima vez que eu disse “aham”, ele desistiu.
Eu não morava longe da escola e assim que chegamos na minha rua, ele viu minha casa com facilidade.
— Você quer falar sobre isso, ? — Ele me perguntou assim que paramos na calçada, retirou seu cinto de segurança e apontou os meus pulsos.
Suspirei. Estava bom demais para ser verdade. Eu realmente achei que poderia deixar passar. Ao mesmo tempo, me senti especial ao ver o quanto ele se importava.
— Não. — Fui curta porque sabia que poderia chorar. Não por medo, mas por raiva. Estava com um verdadeiro ódio de .
— Eu não vou julgar você. — Ele adicionou, me olhando.
O senhor tinha olhos lindos. Ele ainda tinha aquele tipo de olhar sincero, que derrete qualquer defesa emocional. Mas, mesmo assim, eu não me sentia confortável para contar ao professor (por quem eu tenho uma queda) que quase transei com o melhor amigo do meu namorado e agora ele está com ciúmes do papo agradável que tive com o meu professor favorito! Não, definitivamente não. Ia ser muito estranho.
— Eu agradeço a preocupação, senhor , mas não precisa. Não foi nada. — Eu poderia tentar forçar um sorriso, mas sentia que aquilo falharia.
Minha casa, como sempre, estava vazia. Eu tinha tirado o cinto de segurança assim que paramos e fitei minhas mãos, fingindo estar distraída. Ele me olhava de modo condescendente, percebi assim que arrisquei olhar para cima. Então, eu o agradeci e saí do carro. Dei a volta, buscando as chaves dentro da bolsa e o ouvi gritar meu nome.
Virei-me para olhá-lo e ele sorriu. Era um sorriso confortante, seguro, simpático.
— Quando quiser conversar, passe na minha sala. Você não tem que passar por isso sozinha, entendeu? — Por um momento, eu quis contar tudo. Sobre o sexo ruim, sobre , sobre … Eu quis dizer tudo, mas apenas acenei com a cabeça e segurei a respiração. — E eu ainda espero os exercícios, .
Assim que o carro dele desapareceu na curva, eu respirei fundo e destranquei a porta. A semana seria longa.
Capítulo 4
Seis semanas e três dias para o baile
Eu não podia acreditar no que estava vendo. Os três homens que eu vinha evitando nos últimos dias estavam todos juntos, conversando. tinha o cenho franzido enquanto dizia alguma coisa, ria e o professor mantinha-se com seu ar sério e ligeiramente tímido. , que andava ao meu lado, me olhou de esguelha quando eu estaquei no meio do corredor.
— Você dormiu com ele, não foi? — Ela me perguntou, séria. Arregalei os olhos para ela.
— Eu não dormi com ninguém além do . — Retruquei, irritada.
— Nem mesmo com o ? — Lancei-lhe um olhar de ódio, mas nem ao menos hesitou. — Você pode me dizer, eu sou a sua melhor amiga.
— , eu não dormi com o babaca do ! Tudo o que aconteceu foi o que você viu na festa! — Eu sussurrei, nervosa, puxando-a para um armário. — Eu só durmo com o !
— Ninguém falou nada demais, , se acalma. — Ela rolou os olhos para cima, fazendo uma expressão cansada.
Mas aprontaria alguma coisa. Estava estampado nos gestos dela e no olhar suspeito que ela me dirigiu. Como se fosse mágica, tudo isso desapareceu e ela sorriu pra mim.
— Eu vou dar um jeito nisso, tudo bem? — Então ela me beijou no rosto e saiu andando com seu usual rebolado em direção aos três homens que vinham causando um verdadeiro alvoroço na minha vida.
Ela rapidamente deu o braço a e meteu-se na conversa. , que de burro nada tinha, olhou para trás e me viu. E eu posso jurar que ele estava sorrindo quando se virou para frente. acenou para mim e, sem escolha, me encaminhei ao grupo com um sorriso trêmulo nos lábios.
— Oi, amor. — Retribuí o cumprimento entusiasmado de e seu selinho nos meus lábios sem metade da animação que ele demonstrou ao me ver.
O professor me olhava como quando contemplava um problema de matemática especialmente difícil. Então ele olhou para , de mãos dadas (e muito desconfortável) com . E para , que me abraçava com um sorrisinho no rosto. Fosse o que fosse que eles discutiam, o professor não estava mais disposto a participar da conversa e eu fiquei confusa. Eu cheguei, ele saiu. É algo que uma garota fica imaginando, você sabe. Será que ele estava saindo por minha causa? Ele tem algum tipo de problema comigo? Ou só se lembrou dos meus pulsos avermelhados e minha cara de quase-choro?
— Vejo o senhor mais tarde, senhor . — Consegui sorrir um pouco e nos olhou como se não se importasse.
Ele não respondeu, apenas acenou com a cabeça e saiu andando. Francamente, o que há de errado com os homens desse lugar?
— Pensei que fosse embora comigo hoje, gata. — sussurrou contra o meu cabelo, me fazendo olhar para cima.
— Meu pai pegou o meu carro no conserto e eu tenho que ajudar o senhor . Você sabe disso, . — Rolei os olhos, assim como fez quase ao mesmo tempo.
— É, eu sei. — Ele me deu um sorriso sacana e me puxou pela cintura para um beijo ardente.
Ou, pelo menos, eu acho que deveria ser.
nos observava calmamente. Ele olhou para , ao seu lado, e pude ver que os dois trocaram um olhar de cumplicidade. Talvez eles tivessem dormido juntos.
— Cara, se eu fosse você não ia deixar minha garota sozinha com esse professor. — disse em um tom despreocupado e meu coração pulou uma batida.
Ele percebeu e quase sorriu, pude ver o quanto ele se esforçou para não rir da minha cara. E o problema é que aquilo tinha sido inocente. não estava me assediando. Não que eu fosse ligar se ele decidisse me cantar.
— e aquele cara? — , então, explodiu em uma gargalhada. Eu tentei rir, mas no momento estava me sentindo enjoada o bastante para saber que não conseguiria fingir como sempre.
Passei o resto do dia me perguntando o que diabos poderia ter acontecido. Me perguntando o que tinha feito o senhor fugir de mim daquela forma. O almoço foi absurdamente tenso. A todo momento deixava uma piadinha escapar, uma alfinetada aqui e ali, contou histórias de alunas que transavam com seus professores por nota e como ele desprezava essas mulheres.
— Aliás, , qual a sua nota em matemática? — me perguntou, fingindo um sorriso educado.
— Quem é você, minha mãe? — Rebati sem energia. Eu não tinha nervos para aquilo. Eu simplesmente queria bater a cabeça loura de na mesa. Incontáveis vezes. Ou até que ele parasse de respirar.
nos olhou, confuso. Eu podia ver suas bochechas ficarem vermelhas. Ele estava acostumado às trocas de insultos entre e eu. Mas nunca antes tinha sugerido que eu era uma vadia. Pelo menos, não na frente de .
— O que você quer dizer com isso, cara?
Olhei para , me preparando para acalmá-lo, mas não parecia querer se indispor com ele.
— Eu só perguntei sobre as notas da . Parece que ela tem um esqueminha com o professor de matemática, certo? — Ele olhou para , que confirmou com a cabeça.
— Ele dá exercícios a ela. Não é mesmo, ? — Ela me perguntou como se estivesse entediada, mas e eu mentimos o bastante para saber que aquilo era uma farsa. Ela estava agindo como uma vaca comigo só para gostar dela?
— Ele só estava me ajudando a me preparar para o SAT. — Eu disse a , acariciando seu maxilar.
O senhor também disse que eu deveria me tornar uma engenheira, mas isso eu não contei ao . Assim como não contei a ele que quase dormi com seu melhor amigo e como agora estava me perseguindo. Não, eu não disse nenhuma dessas coisas a ele. , que, apesar de burro, não era completamente estúpido, me olhou com uma expressão ligeiramente frustrada.
— É só isso?
— O que mais poderia ser? — Sorri tão naturalmente que ele sorriu de volta.
realmente não merece uma mentirosa. Ele não é um cara ruim (só o sexo que é) e tem um coração de ouro. Me beijou na testa e nós quatro continuamos andando.
Os rapazes nos deixaram para falar algo com a professora de física (conhecendo , ia flertar com ela até que ela aumentasse sua nota) e eu logo me virei para .
— Qual é a porra do seu problema? O tenta me ferrar e você ajuda ele? — Sussurrei rapidamente enquanto abria rudemente a porta do meu armário.
— Você não está dormindo com o professor, então qual é o problema? — Ela me disse enquanto olhava suas unhas.
— O problema é que quer fazer acreditar que sim! — Arregalei os olhos para ela, incapaz de acreditar no que estava acontecendo.
— E por que ele ia querer isso, ? — Seu tom maldoso me descontrolou e eu a empurrei contra o armário. Era mais alta que ela e precisei abaixar o rosto para olhá-la nos olhos, nossos narizes quase se tocando.
— Porque ao contrário da óbvia falta de tesão que ele tem em você, ele se sente extremamente atraído por mim. Se eu fosse você, , não o ajudaria a acabar com o meu relacionamento com , pode não acabar bem pra você se eu estiver solteira. — parecia prestes a ter um piti, por isso me afastei dela, ignorando o burburinho dos outros alunos e me dirigindo à aula de matemática com o senhor .
me pediu os exercícios na nossa sessão de correção de testes. Ele não disse nada além disso, só me entregou uma nova folha de exercícios. Bobby me olhava a cada dois minutos enquanto eu corrigia os testes de modo quase mecânico. Eu não queria assunto com ninguém. Eu não queria conversar.
sempre tinha feito o que queria, mas nunca tinha me esfaqueado pelas costas de maneira tão óbvia. Tudo por causa de uma obsessão idiota com , um cara que nem ao menos queria dormir com ela!
Encontrei me esperando no corredor, assim que eu saía da sala com o senhor logo atrás de mim. Ele me apressou, disse que tinha um outro compromisso e me pediu se eu poderia terminar de corrigir aqueles testes em casa. Concordei para não falar muito.
, entretanto, ao nos ver saindo juntos ficou muito vermelho. Sorri para aplacar seu mau humor, jogando-me em seus braços.
— Hey, gato.
— Hey, gata. — Ele deu uma olhada no professor logo atrás de mim. — Boa tarde, professor. — Como vai, ? — O senhor nem o olhou direito, apenas se despediu e saiu andando rapidamente. Talvez seu compromisso fosse mesmo urgente.
— Cara estranho. — comentou, vendo-o se afastar.
— E o que você faz aqui? Eu já tenho meu carro de volta. — Bancar a inocente sempre foi meu jogo preferido. E se estava ali para testar a minha fidelidade eu ia ficar ainda mais nervosa com e .
— Só pensei em checar minha garota. — Dito isso me puxou para um beijo, ao que eu correspondi sem muito entusiasmo. Eu não estava com humor para nada daquilo e fingir daquela maneira apenas me deixava esgotada.
— Minha mãe me ligou, eu tenho que ir, okay? — Beijei seus lábios rapidamente antes de sair andando.
Um olhar para trás me fez ver que ele parecia confuso. E com raiva? Talvez eu esteja imaginando coisas.
Entrei no meu carro rapidamente, batendo a porta e jogando minhas coisas no banco do passageiro. Em uma manobra rápida, tirei meu carro da vaga e logo saí da escola. Quanto mais rápido estivesse na segurança da minha própria casa, melhor. Meu celular começou a tocar alto dentro da bolsa e eu tateei o banco, tentando dirigir e pegá-lo ao mesmo tempo. O nome no visor era e eu franzi o cenho ao ver aquilo. Atendi e o meu carro logo passou a ligação para o sistema de alto-falantes.
— ? — A voz dela parecia receosa.
— Estou dirigindo, mas pode falar. — Retruquei sem emoção, mantendo meus olhos na rua.
— Eu quero pedir desculpas por ter sido uma vadia com você. — Ela esperou que eu dissesse alguma coisa, mas me mantive em silêncio. — Qual é, ! Eu estou me desculpando, tudo bem?
— Eu não dormi com , você sabe. Eu não quero dormir com um cara tão idiota quanto ele. E se alguma vez você sugerir algo parecido, …
— Eu não vou! Eu prometo!
Eu suspirei. era a minha melhor amiga, certo? E eu sabia como ela podia ser ciumenta. Não devia ser fácil para ela notar que as atenções agora eram voltadas para mim. Mesmo assim, eu decidi que dessa vez não seria eu a ceder.
— Isso ainda não nos deixa bem, . Você me esfaqueou pelas costas na frente do .
— , nós duas sabemos que você não é nenhuma santa. Mesmo depois de começar a namorar o , você continuou transando com Paul Bennet por um mês, você lembra disso?
Era difícil não lembrar. Bennet era um cara realmente gostoso. Ele sabia como agradar uma garota.
— Eu não faço mais isso. Você sabe, eu decidi que seria uma boa namorada.
— Você é como eu, . Nós não conseguimos ser boas namoradas por muito tempo.
— Eu não sou nada como você! — Gritei para o carro, quase perdendo o controle da direção. — Pelo amor de Deus, eu não durmo com ninguém além dele pelos últimos seis meses! Porra, , você sabe disso! Eu não acredito no que você está dizendo!
— Desculpa, , eu só… Eu estou tentando me desculpar.
— Ache um jeito melhor de se desculpar, . — E então, sem o mínimo de bondade, eu desliguei a ligação. Estacionei apenas alguns segundos depois e fiquei olhando para a minha casa.
Eu não era nada parecida com ela. Nós duas sabíamos disso… Certo? Fosse como fosse, eu decidi não dar a mínima para o que ela dizia. Eu tinha coisas a fazer. Entrei em casa, dando de cara com as paredes. Como sempre, não tinha ninguém em casa e eu subi direto para o meu quarto.
Ia tomar um longo banho na minha banheira. Deixei minhas coisas em cima da cama e peguei uma muda de roupas. Eu tinha a folha de exercícios do senhor para fazer, um trabalho estúpido sobre literatura e mais alguns exercícios para um suposto teste surpresa de química avançada. Mas, no momento, eu não queria pensar em nada disso.
Me despi assim que entrei no meu banheiro, que era pequeno e tinha grande parte do espaço tomado pela banheira que eu insisti em comprar. Deixei a banheira enchendo enquanto conectava meu iPod nas caixinhas de som e acendia algumas velas aromáticas. Prendi meu cabelo para cima, em um coque malfeito e observei meu corpo nu por alguns instantes.
Não era extremamente voluptuoso e nem tinha curvas pronunciadas, mas devido aos meus treinos de natação e minha dieta, era magro e firme. O tipo de corpo que algumas garotas matariam para ter. Eu era alta, a bem da verdade. Definitivamente o oposto da pequena e curvilínea . Eu também não usava o cabelo na mesma cor que ela, muito menos me maquiava tanto quanto ela. Eu era mais o tipo de garota normal. Eu nunca fui como . Eu nunca seria como .
Uma olhada rápida na banheira me fez constatar que o nível de água estava bom e eu entrei na água quente depois de fechar o registro. Me recostei na banheira e respirei fundo, o cheiro doce das velas e a música me relaxando um pouco. Respirei fundo.
Fechando os olhos, me lembrei de como o senhor parecia bonito com sua camisa azul escura. O modo como ela abraçava todos os lugares certos, como ele franzia a testa sempre que lia algo que o intrigasse em um livro qualquer que estivesse segurando. Suspirei profundamente enquanto escorregava minha mão para o meio das minhas pernas.
Na minha fantasia, Bobby desistia da nossa sessão de correção de testes e trabalhos. Ele tinha que se focar no SAT, então caiu fora no mesmo momento que o garoto russo. Quando eu chego na sala do senhor na sexta-feira depois das aulas, ele está lá completamente sozinho e me diz: Parece que somos nós dois. Ele me dirige aquele lindo sorriso meio tímido e volta a ler o seu livro. Eu, então, me sento na cadeira e suspiro diante daquela pilha de testes, mas sei, de algum jeito eu sei, que eu tenho que ser boa agora. Que eu tenho que terminar tudo rápido, porque tenho que trabalhar por três. Eu torço para que ele veja o quanto eu estou me esforçando e me chame para sair.
Não há , ou nessa fantasia. Só e eu. Eu sei que só vou ter aquela chance. E eu quero fazer questão de que ele vai me notar. Então, discretamente, eu desabotoo a minha blusa um pouco e tiro meu cardigã. No começo, ele apenas desvia os olhos de mim. Fica ligeiramente vermelho, pensa em falar alguma coisa, mas se cala, porque seria estranho me explicar que estava olhando para o meu decote. Então ele volta a ler o seu livro, mas, vez ou outra, lança um olhar na minha direção. Nossos olhos se encontram, ele os desvia de novo.
— Algum problema, professor? — Eu pergunto, fazendo o meu papel de inocente, aquele que eu desempenho tão bem.
— Não, nenhum. — E quando ele me olha para responder, eu cruzo a minhas pernas. Posso notá-lo acompanhando meus movimentos.
Estou quase no final da pilha de testes e ele não fez nada além de me olhar vez ou outra, quando pensa que não estou vendo. Então eu sei que é hora para algo um pouco mais agressivo. Eu me levanto da minha cadeira e ele me olha, intrigado. Fica ainda mais intrigado quando eu me sento na sua mesa, cruzando as pernas, deixando que minha saia revele um pouco mais do que o que é considerado decente. Eu estou usando a minha saia azul da Zara, porque deixa minhas pernas mais bonitas.
— Sabe, professor, eu estou com um problema. — Eu digo a ele, ainda tentando manter minha voz aparentemente normal.
Ele fica nervoso, me olha como se estivesse prestes a correr da sala. não é do tipo que quebra as regras. Mas, mesmo assim, ele acha que pode me ajudar. Então ele pergunta o que há de errado. Eu me inclino para ele, de modo que ele possa ver meus seios pelo decote e seus olhos, inevitavelmente, vão para eles.
— Bem, eu não consigo resolver a questão seis. Não tenho como corrigir essa.
Ele balbucia como eu devo resolver a questão, lutando para olhar nos meus olhos e não os meus peitos. Eu reclamo que ainda não entendi e ele se levanta, diz que aquilo não é direito e que eu devia me comportar com ele, que ele é o meu professor.
Então eu faço algo que o leva à loucura, eu descruzo as minhas pernas e as enlaço ao redor da cintura dele, trazendo-o para mim. Minhas pernas longas estão ao redor dele e o seu quadril está praticamente grudado ao meu. Eu posso sentir como ele está excitado sob a calça, seu pênis duro pressionado contra mim, fazendo com que eu fique ainda mais compelida a agarrá-lo. Eu digo que ele não vai a lugar nenhum e ele pouco faz para me repelir.
Puxo sua gravata enquanto digo coisas sacanas, como me masturbo pensando nele, como eu quero saber como é tê-lo dentro de mim. Ele fecha os olhos, provavelmente imaginando também. Porque a mesa é alta, consigo ficar quase na mesma altura que ele, perfeitamente encaixada. Posso sentir de perto o cheiro do seu perfume e da loção pós barba. Posso ver a sua boca bem desenhada. Eu não resisto, continuo pressionando. Beijo-lhe o pescoço e ele finalmente cede. Suas mãos me puxam pela cintura e ele se curva para me beijar de um modo tão profundo que eu quase preciso pedir por ar. O aperto na minha pele é forte e eu não mais tenho as minhas pernas ao redor dele, porque agora sei que ele não vai fugir.
Ele está no lugar certo: entre as minhas pernas. A barba que começa a nascer em seu queixo me arranha um pouco quando ele beija o meu pescoço, mas eu não ligo. Estou segurando a nuca dele com uma das mãos, a outra continua desabotoando a minha blusa. Eu tenho os olhos fechados, estou apreciando a maravilhosa sensação de seus beijos quentes. Ele usa a língua e os dentes para beijar meu pescoço, me marcando como se eu fosse dele. E, no momento, eu sou.
Então ele volta a beijar os meus lábios, suas mãos agora passeando pelas minhas coxas, subindo ainda mais a minha saia. Suas mãos agarram a minha bunda, testando, tocando. E aí ele vê que minha blusa está aberta. Ele me olha, como se estivesse me vendo pela primeira vez. E mantém seus olhos em mim enquanto abaixa o rosto para beijar meus seios. Primeiro ele os beija por cima do sutiã, com calma. Suas mãos apalpam, cobrem perfeitamente meus seios. Então ele tira meu sutiã, aquela peça indesejável, jogando-a para o lado sem o mínimo de cuidado. Lambe um mamilo, brinca com o outro com seu polegar. Morde, chupa, beija. Eu não posso acreditar no quão excitada eu estou agora. Parece que estou prestes a explodir.
Ele puxa minha saia para cima, mas não deixa de usar a língua para provocar meu mamilo. Eu estou completamente entregue nesse momento. Ele me toca por cima da calcinha. Éramos só nós dois ali. E a única coisa nos pensamentos dele era o prazer que ele queria me proporcionar. Seus dedos acariciavam meu clitóris com calma, ele ainda estava mordiscando e beijando meus seios. Eu estou gemendo baixinho, porque tenho medo que alguém vá ouvir e nos atrapalhar. Posso sentir como seus dedos estão me massageando, com movimentos circulares e calmos, agora por baixo do tecido. E então ele insere um dedo em mim. Neste ponto tenho que morder meu lábio inferior para me impedir de gritar. Ele o move gentilmente dentro de mim, testando. Eu, nesse momento, percebo que estou movendo meu quadril, impelindo-o para que vá mais rápido, mas ele se nega. Então ele se afasta de mim, despindo-se, agora eu posso ver como seu corpo é perfeito. Torneado, musculoso, nada extremo. Imagino que o corpo dele seja firme e másculo, não como se passasse horas na academia, mas como se fosse um homem saudável, apenas.
Ele se livra de suas calças e eu rapidamente me livro da calcinha, jogando-a para o mesmo lado onde imagino que meu sutiã tenha ido parar. Ele me penetra lentamente, gemendo a cada centímetro seu que eu conseguia acomodar dentro de mim. Eu também gemia ao senti-lo, quente, duro e macio ao mesmo tempo. E então ele começa a se mover, e é glorioso. Suas estocadas são profundas, lentas e constantes. Eu nunca senti nada parecido. E conforme sua excitação ai aumentando, o ritmo com o qual ele me penetra também aumenta. Posso ver o suor em seu corpo, seus músculos se contraindo enquanto eu estou perigosamente perto de um orgasmo. E quando ele goza, eu também gozo. A minha cabeça gira e posso sentir meu corpo leve, como se estivesse explodindo em vários pedaços. Em incontáveis pedaços. É tão maravilhoso.
E é nesse momento que minha fantasia acaba, quando eu finalmente percebo que não estou em cima da mesa dele, com o senhor me penetrando: eu estou na minha banheira, me satisfazendo com meus dedos. Mesmo assim, enquanto dura o meu orgasmo, é maravilhoso.
Eu finalmente estou relaxada.
Se é triste o fato de uma garota com um namorado ter que se satisfazer sozinha pensando em outro cara? Eu acho que é. Mas ninguém sabe disso. Ninguém sabe que eu me masturbo pensando nele. É meu segredinho sujo.
Meu celular tocou e eu olhei o nome no visor: . No final, acabei me arrumando para ir comer tacos com ele, Keyshia, , Shawn, e as gêmeas. E a cada vez que olhava para , só podia me lembrar dos momentos em minha banheira e como ele nunca chegou nem perto disso comigo.
Eu não podia acreditar no que estava vendo. Os três homens que eu vinha evitando nos últimos dias estavam todos juntos, conversando. tinha o cenho franzido enquanto dizia alguma coisa, ria e o professor mantinha-se com seu ar sério e ligeiramente tímido. , que andava ao meu lado, me olhou de esguelha quando eu estaquei no meio do corredor.
— Você dormiu com ele, não foi? — Ela me perguntou, séria. Arregalei os olhos para ela.
— Eu não dormi com ninguém além do . — Retruquei, irritada.
— Nem mesmo com o ? — Lancei-lhe um olhar de ódio, mas nem ao menos hesitou. — Você pode me dizer, eu sou a sua melhor amiga.
— , eu não dormi com o babaca do ! Tudo o que aconteceu foi o que você viu na festa! — Eu sussurrei, nervosa, puxando-a para um armário. — Eu só durmo com o !
— Ninguém falou nada demais, , se acalma. — Ela rolou os olhos para cima, fazendo uma expressão cansada.
Mas aprontaria alguma coisa. Estava estampado nos gestos dela e no olhar suspeito que ela me dirigiu. Como se fosse mágica, tudo isso desapareceu e ela sorriu pra mim.
— Eu vou dar um jeito nisso, tudo bem? — Então ela me beijou no rosto e saiu andando com seu usual rebolado em direção aos três homens que vinham causando um verdadeiro alvoroço na minha vida.
Ela rapidamente deu o braço a e meteu-se na conversa. , que de burro nada tinha, olhou para trás e me viu. E eu posso jurar que ele estava sorrindo quando se virou para frente. acenou para mim e, sem escolha, me encaminhei ao grupo com um sorriso trêmulo nos lábios.
— Oi, amor. — Retribuí o cumprimento entusiasmado de e seu selinho nos meus lábios sem metade da animação que ele demonstrou ao me ver.
O professor me olhava como quando contemplava um problema de matemática especialmente difícil. Então ele olhou para , de mãos dadas (e muito desconfortável) com . E para , que me abraçava com um sorrisinho no rosto. Fosse o que fosse que eles discutiam, o professor não estava mais disposto a participar da conversa e eu fiquei confusa. Eu cheguei, ele saiu. É algo que uma garota fica imaginando, você sabe. Será que ele estava saindo por minha causa? Ele tem algum tipo de problema comigo? Ou só se lembrou dos meus pulsos avermelhados e minha cara de quase-choro?
— Vejo o senhor mais tarde, senhor . — Consegui sorrir um pouco e nos olhou como se não se importasse.
Ele não respondeu, apenas acenou com a cabeça e saiu andando. Francamente, o que há de errado com os homens desse lugar?
— Pensei que fosse embora comigo hoje, gata. — sussurrou contra o meu cabelo, me fazendo olhar para cima.
— Meu pai pegou o meu carro no conserto e eu tenho que ajudar o senhor . Você sabe disso, . — Rolei os olhos, assim como fez quase ao mesmo tempo.
— É, eu sei. — Ele me deu um sorriso sacana e me puxou pela cintura para um beijo ardente.
Ou, pelo menos, eu acho que deveria ser.
nos observava calmamente. Ele olhou para , ao seu lado, e pude ver que os dois trocaram um olhar de cumplicidade. Talvez eles tivessem dormido juntos.
— Cara, se eu fosse você não ia deixar minha garota sozinha com esse professor. — disse em um tom despreocupado e meu coração pulou uma batida.
Ele percebeu e quase sorriu, pude ver o quanto ele se esforçou para não rir da minha cara. E o problema é que aquilo tinha sido inocente. não estava me assediando. Não que eu fosse ligar se ele decidisse me cantar.
— e aquele cara? — , então, explodiu em uma gargalhada. Eu tentei rir, mas no momento estava me sentindo enjoada o bastante para saber que não conseguiria fingir como sempre.
Passei o resto do dia me perguntando o que diabos poderia ter acontecido. Me perguntando o que tinha feito o senhor fugir de mim daquela forma. O almoço foi absurdamente tenso. A todo momento deixava uma piadinha escapar, uma alfinetada aqui e ali, contou histórias de alunas que transavam com seus professores por nota e como ele desprezava essas mulheres.
— Aliás, , qual a sua nota em matemática? — me perguntou, fingindo um sorriso educado.
— Quem é você, minha mãe? — Rebati sem energia. Eu não tinha nervos para aquilo. Eu simplesmente queria bater a cabeça loura de na mesa. Incontáveis vezes. Ou até que ele parasse de respirar.
nos olhou, confuso. Eu podia ver suas bochechas ficarem vermelhas. Ele estava acostumado às trocas de insultos entre e eu. Mas nunca antes tinha sugerido que eu era uma vadia. Pelo menos, não na frente de .
— O que você quer dizer com isso, cara?
Olhei para , me preparando para acalmá-lo, mas não parecia querer se indispor com ele.
— Eu só perguntei sobre as notas da . Parece que ela tem um esqueminha com o professor de matemática, certo? — Ele olhou para , que confirmou com a cabeça.
— Ele dá exercícios a ela. Não é mesmo, ? — Ela me perguntou como se estivesse entediada, mas e eu mentimos o bastante para saber que aquilo era uma farsa. Ela estava agindo como uma vaca comigo só para gostar dela?
— Ele só estava me ajudando a me preparar para o SAT. — Eu disse a , acariciando seu maxilar.
O senhor também disse que eu deveria me tornar uma engenheira, mas isso eu não contei ao . Assim como não contei a ele que quase dormi com seu melhor amigo e como agora estava me perseguindo. Não, eu não disse nenhuma dessas coisas a ele. , que, apesar de burro, não era completamente estúpido, me olhou com uma expressão ligeiramente frustrada.
— É só isso?
— O que mais poderia ser? — Sorri tão naturalmente que ele sorriu de volta.
realmente não merece uma mentirosa. Ele não é um cara ruim (só o sexo que é) e tem um coração de ouro. Me beijou na testa e nós quatro continuamos andando.
Os rapazes nos deixaram para falar algo com a professora de física (conhecendo , ia flertar com ela até que ela aumentasse sua nota) e eu logo me virei para .
— Qual é a porra do seu problema? O tenta me ferrar e você ajuda ele? — Sussurrei rapidamente enquanto abria rudemente a porta do meu armário.
— Você não está dormindo com o professor, então qual é o problema? — Ela me disse enquanto olhava suas unhas.
— O problema é que quer fazer acreditar que sim! — Arregalei os olhos para ela, incapaz de acreditar no que estava acontecendo.
— E por que ele ia querer isso, ? — Seu tom maldoso me descontrolou e eu a empurrei contra o armário. Era mais alta que ela e precisei abaixar o rosto para olhá-la nos olhos, nossos narizes quase se tocando.
— Porque ao contrário da óbvia falta de tesão que ele tem em você, ele se sente extremamente atraído por mim. Se eu fosse você, , não o ajudaria a acabar com o meu relacionamento com , pode não acabar bem pra você se eu estiver solteira. — parecia prestes a ter um piti, por isso me afastei dela, ignorando o burburinho dos outros alunos e me dirigindo à aula de matemática com o senhor .
me pediu os exercícios na nossa sessão de correção de testes. Ele não disse nada além disso, só me entregou uma nova folha de exercícios. Bobby me olhava a cada dois minutos enquanto eu corrigia os testes de modo quase mecânico. Eu não queria assunto com ninguém. Eu não queria conversar.
sempre tinha feito o que queria, mas nunca tinha me esfaqueado pelas costas de maneira tão óbvia. Tudo por causa de uma obsessão idiota com , um cara que nem ao menos queria dormir com ela!
Encontrei me esperando no corredor, assim que eu saía da sala com o senhor logo atrás de mim. Ele me apressou, disse que tinha um outro compromisso e me pediu se eu poderia terminar de corrigir aqueles testes em casa. Concordei para não falar muito.
, entretanto, ao nos ver saindo juntos ficou muito vermelho. Sorri para aplacar seu mau humor, jogando-me em seus braços.
— Hey, gato.
— Hey, gata. — Ele deu uma olhada no professor logo atrás de mim. — Boa tarde, professor. — Como vai, ? — O senhor nem o olhou direito, apenas se despediu e saiu andando rapidamente. Talvez seu compromisso fosse mesmo urgente.
— Cara estranho. — comentou, vendo-o se afastar.
— E o que você faz aqui? Eu já tenho meu carro de volta. — Bancar a inocente sempre foi meu jogo preferido. E se estava ali para testar a minha fidelidade eu ia ficar ainda mais nervosa com e .
— Só pensei em checar minha garota. — Dito isso me puxou para um beijo, ao que eu correspondi sem muito entusiasmo. Eu não estava com humor para nada daquilo e fingir daquela maneira apenas me deixava esgotada.
— Minha mãe me ligou, eu tenho que ir, okay? — Beijei seus lábios rapidamente antes de sair andando.
Um olhar para trás me fez ver que ele parecia confuso. E com raiva? Talvez eu esteja imaginando coisas.
Entrei no meu carro rapidamente, batendo a porta e jogando minhas coisas no banco do passageiro. Em uma manobra rápida, tirei meu carro da vaga e logo saí da escola. Quanto mais rápido estivesse na segurança da minha própria casa, melhor. Meu celular começou a tocar alto dentro da bolsa e eu tateei o banco, tentando dirigir e pegá-lo ao mesmo tempo. O nome no visor era e eu franzi o cenho ao ver aquilo. Atendi e o meu carro logo passou a ligação para o sistema de alto-falantes.
— ? — A voz dela parecia receosa.
— Estou dirigindo, mas pode falar. — Retruquei sem emoção, mantendo meus olhos na rua.
— Eu quero pedir desculpas por ter sido uma vadia com você. — Ela esperou que eu dissesse alguma coisa, mas me mantive em silêncio. — Qual é, ! Eu estou me desculpando, tudo bem?
— Eu não dormi com , você sabe. Eu não quero dormir com um cara tão idiota quanto ele. E se alguma vez você sugerir algo parecido, …
— Eu não vou! Eu prometo!
Eu suspirei. era a minha melhor amiga, certo? E eu sabia como ela podia ser ciumenta. Não devia ser fácil para ela notar que as atenções agora eram voltadas para mim. Mesmo assim, eu decidi que dessa vez não seria eu a ceder.
— Isso ainda não nos deixa bem, . Você me esfaqueou pelas costas na frente do .
— , nós duas sabemos que você não é nenhuma santa. Mesmo depois de começar a namorar o , você continuou transando com Paul Bennet por um mês, você lembra disso?
Era difícil não lembrar. Bennet era um cara realmente gostoso. Ele sabia como agradar uma garota.
— Eu não faço mais isso. Você sabe, eu decidi que seria uma boa namorada.
— Você é como eu, . Nós não conseguimos ser boas namoradas por muito tempo.
— Eu não sou nada como você! — Gritei para o carro, quase perdendo o controle da direção. — Pelo amor de Deus, eu não durmo com ninguém além dele pelos últimos seis meses! Porra, , você sabe disso! Eu não acredito no que você está dizendo!
— Desculpa, , eu só… Eu estou tentando me desculpar.
— Ache um jeito melhor de se desculpar, . — E então, sem o mínimo de bondade, eu desliguei a ligação. Estacionei apenas alguns segundos depois e fiquei olhando para a minha casa.
Eu não era nada parecida com ela. Nós duas sabíamos disso… Certo? Fosse como fosse, eu decidi não dar a mínima para o que ela dizia. Eu tinha coisas a fazer. Entrei em casa, dando de cara com as paredes. Como sempre, não tinha ninguém em casa e eu subi direto para o meu quarto.
Ia tomar um longo banho na minha banheira. Deixei minhas coisas em cima da cama e peguei uma muda de roupas. Eu tinha a folha de exercícios do senhor para fazer, um trabalho estúpido sobre literatura e mais alguns exercícios para um suposto teste surpresa de química avançada. Mas, no momento, eu não queria pensar em nada disso.
Me despi assim que entrei no meu banheiro, que era pequeno e tinha grande parte do espaço tomado pela banheira que eu insisti em comprar. Deixei a banheira enchendo enquanto conectava meu iPod nas caixinhas de som e acendia algumas velas aromáticas. Prendi meu cabelo para cima, em um coque malfeito e observei meu corpo nu por alguns instantes.
Não era extremamente voluptuoso e nem tinha curvas pronunciadas, mas devido aos meus treinos de natação e minha dieta, era magro e firme. O tipo de corpo que algumas garotas matariam para ter. Eu era alta, a bem da verdade. Definitivamente o oposto da pequena e curvilínea . Eu também não usava o cabelo na mesma cor que ela, muito menos me maquiava tanto quanto ela. Eu era mais o tipo de garota normal. Eu nunca fui como . Eu nunca seria como .
Uma olhada rápida na banheira me fez constatar que o nível de água estava bom e eu entrei na água quente depois de fechar o registro. Me recostei na banheira e respirei fundo, o cheiro doce das velas e a música me relaxando um pouco. Respirei fundo.
Fechando os olhos, me lembrei de como o senhor parecia bonito com sua camisa azul escura. O modo como ela abraçava todos os lugares certos, como ele franzia a testa sempre que lia algo que o intrigasse em um livro qualquer que estivesse segurando. Suspirei profundamente enquanto escorregava minha mão para o meio das minhas pernas.
Na minha fantasia, Bobby desistia da nossa sessão de correção de testes e trabalhos. Ele tinha que se focar no SAT, então caiu fora no mesmo momento que o garoto russo. Quando eu chego na sala do senhor na sexta-feira depois das aulas, ele está lá completamente sozinho e me diz: Parece que somos nós dois. Ele me dirige aquele lindo sorriso meio tímido e volta a ler o seu livro. Eu, então, me sento na cadeira e suspiro diante daquela pilha de testes, mas sei, de algum jeito eu sei, que eu tenho que ser boa agora. Que eu tenho que terminar tudo rápido, porque tenho que trabalhar por três. Eu torço para que ele veja o quanto eu estou me esforçando e me chame para sair.
Não há , ou nessa fantasia. Só e eu. Eu sei que só vou ter aquela chance. E eu quero fazer questão de que ele vai me notar. Então, discretamente, eu desabotoo a minha blusa um pouco e tiro meu cardigã. No começo, ele apenas desvia os olhos de mim. Fica ligeiramente vermelho, pensa em falar alguma coisa, mas se cala, porque seria estranho me explicar que estava olhando para o meu decote. Então ele volta a ler o seu livro, mas, vez ou outra, lança um olhar na minha direção. Nossos olhos se encontram, ele os desvia de novo.
— Algum problema, professor? — Eu pergunto, fazendo o meu papel de inocente, aquele que eu desempenho tão bem.
— Não, nenhum. — E quando ele me olha para responder, eu cruzo a minhas pernas. Posso notá-lo acompanhando meus movimentos.
Estou quase no final da pilha de testes e ele não fez nada além de me olhar vez ou outra, quando pensa que não estou vendo. Então eu sei que é hora para algo um pouco mais agressivo. Eu me levanto da minha cadeira e ele me olha, intrigado. Fica ainda mais intrigado quando eu me sento na sua mesa, cruzando as pernas, deixando que minha saia revele um pouco mais do que o que é considerado decente. Eu estou usando a minha saia azul da Zara, porque deixa minhas pernas mais bonitas.
— Sabe, professor, eu estou com um problema. — Eu digo a ele, ainda tentando manter minha voz aparentemente normal.
Ele fica nervoso, me olha como se estivesse prestes a correr da sala. não é do tipo que quebra as regras. Mas, mesmo assim, ele acha que pode me ajudar. Então ele pergunta o que há de errado. Eu me inclino para ele, de modo que ele possa ver meus seios pelo decote e seus olhos, inevitavelmente, vão para eles.
— Bem, eu não consigo resolver a questão seis. Não tenho como corrigir essa.
Ele balbucia como eu devo resolver a questão, lutando para olhar nos meus olhos e não os meus peitos. Eu reclamo que ainda não entendi e ele se levanta, diz que aquilo não é direito e que eu devia me comportar com ele, que ele é o meu professor.
Então eu faço algo que o leva à loucura, eu descruzo as minhas pernas e as enlaço ao redor da cintura dele, trazendo-o para mim. Minhas pernas longas estão ao redor dele e o seu quadril está praticamente grudado ao meu. Eu posso sentir como ele está excitado sob a calça, seu pênis duro pressionado contra mim, fazendo com que eu fique ainda mais compelida a agarrá-lo. Eu digo que ele não vai a lugar nenhum e ele pouco faz para me repelir.
Puxo sua gravata enquanto digo coisas sacanas, como me masturbo pensando nele, como eu quero saber como é tê-lo dentro de mim. Ele fecha os olhos, provavelmente imaginando também. Porque a mesa é alta, consigo ficar quase na mesma altura que ele, perfeitamente encaixada. Posso sentir de perto o cheiro do seu perfume e da loção pós barba. Posso ver a sua boca bem desenhada. Eu não resisto, continuo pressionando. Beijo-lhe o pescoço e ele finalmente cede. Suas mãos me puxam pela cintura e ele se curva para me beijar de um modo tão profundo que eu quase preciso pedir por ar. O aperto na minha pele é forte e eu não mais tenho as minhas pernas ao redor dele, porque agora sei que ele não vai fugir.
Ele está no lugar certo: entre as minhas pernas. A barba que começa a nascer em seu queixo me arranha um pouco quando ele beija o meu pescoço, mas eu não ligo. Estou segurando a nuca dele com uma das mãos, a outra continua desabotoando a minha blusa. Eu tenho os olhos fechados, estou apreciando a maravilhosa sensação de seus beijos quentes. Ele usa a língua e os dentes para beijar meu pescoço, me marcando como se eu fosse dele. E, no momento, eu sou.
Então ele volta a beijar os meus lábios, suas mãos agora passeando pelas minhas coxas, subindo ainda mais a minha saia. Suas mãos agarram a minha bunda, testando, tocando. E aí ele vê que minha blusa está aberta. Ele me olha, como se estivesse me vendo pela primeira vez. E mantém seus olhos em mim enquanto abaixa o rosto para beijar meus seios. Primeiro ele os beija por cima do sutiã, com calma. Suas mãos apalpam, cobrem perfeitamente meus seios. Então ele tira meu sutiã, aquela peça indesejável, jogando-a para o lado sem o mínimo de cuidado. Lambe um mamilo, brinca com o outro com seu polegar. Morde, chupa, beija. Eu não posso acreditar no quão excitada eu estou agora. Parece que estou prestes a explodir.
Ele puxa minha saia para cima, mas não deixa de usar a língua para provocar meu mamilo. Eu estou completamente entregue nesse momento. Ele me toca por cima da calcinha. Éramos só nós dois ali. E a única coisa nos pensamentos dele era o prazer que ele queria me proporcionar. Seus dedos acariciavam meu clitóris com calma, ele ainda estava mordiscando e beijando meus seios. Eu estou gemendo baixinho, porque tenho medo que alguém vá ouvir e nos atrapalhar. Posso sentir como seus dedos estão me massageando, com movimentos circulares e calmos, agora por baixo do tecido. E então ele insere um dedo em mim. Neste ponto tenho que morder meu lábio inferior para me impedir de gritar. Ele o move gentilmente dentro de mim, testando. Eu, nesse momento, percebo que estou movendo meu quadril, impelindo-o para que vá mais rápido, mas ele se nega. Então ele se afasta de mim, despindo-se, agora eu posso ver como seu corpo é perfeito. Torneado, musculoso, nada extremo. Imagino que o corpo dele seja firme e másculo, não como se passasse horas na academia, mas como se fosse um homem saudável, apenas.
Ele se livra de suas calças e eu rapidamente me livro da calcinha, jogando-a para o mesmo lado onde imagino que meu sutiã tenha ido parar. Ele me penetra lentamente, gemendo a cada centímetro seu que eu conseguia acomodar dentro de mim. Eu também gemia ao senti-lo, quente, duro e macio ao mesmo tempo. E então ele começa a se mover, e é glorioso. Suas estocadas são profundas, lentas e constantes. Eu nunca senti nada parecido. E conforme sua excitação ai aumentando, o ritmo com o qual ele me penetra também aumenta. Posso ver o suor em seu corpo, seus músculos se contraindo enquanto eu estou perigosamente perto de um orgasmo. E quando ele goza, eu também gozo. A minha cabeça gira e posso sentir meu corpo leve, como se estivesse explodindo em vários pedaços. Em incontáveis pedaços. É tão maravilhoso.
E é nesse momento que minha fantasia acaba, quando eu finalmente percebo que não estou em cima da mesa dele, com o senhor me penetrando: eu estou na minha banheira, me satisfazendo com meus dedos. Mesmo assim, enquanto dura o meu orgasmo, é maravilhoso.
Eu finalmente estou relaxada.
Se é triste o fato de uma garota com um namorado ter que se satisfazer sozinha pensando em outro cara? Eu acho que é. Mas ninguém sabe disso. Ninguém sabe que eu me masturbo pensando nele. É meu segredinho sujo.
Meu celular tocou e eu olhei o nome no visor: . No final, acabei me arrumando para ir comer tacos com ele, Keyshia, , Shawn, e as gêmeas. E a cada vez que olhava para , só podia me lembrar dos momentos em minha banheira e como ele nunca chegou nem perto disso comigo.
Capítulo 5
Seis semanas e um dia para o baile
Com os ânimos alterados, as pessoas continuavam cochichando entre si. Tudo isso porque Keyshia anunciou uma festa na casa dela. E eu não estou falando sobre as festas normais. Key ia dar uma festa. Eu estava convidada, é claro. Algumas outras pessoas também foram (segundo , eles eram os súditos, porque ela dizia que nós éramos a realeza do lugar). E quem não tinha sido convidado estava flertando descaradamente com quem foi, para poder ir.
Keyshia me olhou longamente. Ela e Shawn estavam comigo no estacionamento, eu ia dar uma carona aos dois.
— Você não parece animada para a festa. — Ela disse para mim depois de sentar no banco do carona.
— Não é sobre a festa. — Eu consegui dizer. — Estou brigada com .
— Ah, é por isso que ela está toda irritadinha. — Keyshia disse com desprezo, ligando o som do carro.
Bem, isso e o fato de que o cara que ela quer prefere me perseguir do que transar com ela.
— Por que vocês brigaram? — Shawn interferiu, enfiando-se no espaço entre o banco do motorista e o do carona.
— Não se mete! — Keyshia empurrou o irmão mais novo de volta para o lugar dele, me lançando um olhar indignado.
Diante daquilo, não pude deixar de rir. Eu não tinha irmãos, por isso nunca tive ninguém para brigar desse jeito.
— Cara, você tem tanta sorte de não ter irmãos. — Ela me disse com um meio sorriso no rosto.
— Tem sorte mesmo! — Shawn reclamou do banco traseiro.
Tive que concordar. Eu tinha mesmo sorte.
Eu não podia subitamente jogar todos os meus problemas em cima da Keyshia. Eu simplesmente não podia. Por isso fingi que estava mais animada e deixei que ela achasse que tinha me feito algum bem.
veio à minha casa alguns minutos depois. Ele transou comigo (porque eu não transei de volta com ele, eu só esperei ele acabar) e depois nós dois assistimos a um filme. Estávamos ainda abraçados no sofá quando minha mãe chegou do hospital.
— , eu trouxe comida mexicana. — Ela anunciou ao chegar e então viu . — Boa noite, .
— Boa noite, senhora . — Ele acenou para ela e se levantou depois de beijar a minha testa. — Te vejo amanhã na festa da Keyshia?
— Aham. Eu te levo na porta.
— , não precisa ir por minha causa. Tem comida o suficiente para nós… — Minha mãe começou e eu a olhei meio desinteressada.
— Na verdade, senhora , minha mãe me mata se eu não jantar em casa. — Ele mostrou-lhe um sorriso brilhante, que provavelmente fez minha mãe se derreter toda. Ela tinha uma grande queda pelo . Quando brigamos, minha mãe sempre fica ao lado dele. Se ele quisesse uma carona para jogar meu corpo sem vida de um absimo, minha mãe lhe daria uma carona.
— Bem, querido, então tudo bem. Cumprimente seu pai por mim, o sermão de semana passada foi maravilhoso.
— Sim, senhora. — Ele me beijou novamente, dessa vez nos lábios, antes de ir embora.
Ela me olhou com um sorriso bobo no rosto.
— é um menino tão bom, . Você não poderia arranjar um namorado melhor.
Meu pai chegou vinte minutos depois e nós jantamos juntos. Falei um pouco sobre a escola, omitindo o fato de que tinha brigado com . Meu pai logo se levantou, indo se sentar na sala para assistir algum jogo na TV. Minha mãe ficou comigo na cozinha por mais algum tempo, mas em seguida ela me deixou para ir trocar de roupa enquanto eu tirava a mesa. Fiquei pensando no que ela disse, será que eu nunca ia arranjar um namorado melhor que ? Eu pensei em como seria minha vida com . Anos e anos casada com um homem que não poderia me fazer gozar nem se eu viesse com um manual de instruções.
— Mãe, eu vou dar uma volta. — Gritei da cozinha mesmo. Ela gritou uma pergunta de volta, mas eu apenas coloquei um casaco por cima do meu conjunto de moletom cor-de-rosa e peguei as chaves do meu carro. Meu pai murmurou alguma coisa quando eu saí, sem tentar me impedir.
Quando minha mãe apareceu na porta, eu já estava virando a esquina.
Eu não podia falar com , eu não podia falar com a Keyshia, muito menos com as gêmeas ou Constance. Naquele momento eu percebi que, apesar de ser popular, eu não tinha ninguém ao meu lado. Não tinha um amigo de verdade para quem eu pudesse ligar agora e contar sobre tudo isso.
Talvez eu não amasse . E eu sentia falta disso. Das borboletas no estômago, do aperto no peito, da respiração descompassada a cada vez que alguém se aproximava. Eu sentia falta de romance. Dirigi até o parque, estacionando o carro por perto.
De noite, algumas pessoas corriam, outras passeavam com seus cachorros, alguns vendedores andavam em sua rota costumeira. Me sentei em um dos bancos, observando as pessoas irem e virem. Eu revisei meu plano. Eu estava fazendo tudo certo. e eu iríamos para a Columbia, então ele me pediria em casamento e eu seria uma advogada para trabalhar com o meu pai e levar adiante o escritório da família. Era isso. Eu teria uma casinha branca e um labrador. Um jardim, talvez. Dois filhos: Melissa e Bernard. Ainda não sei como faríamos para evitar ir à Igreja…
Quando fiz esses planos, assim que comecei a namorar , eu não imaginei que um dia eu estaria nessa situação. Mal tenho vontade de olhar para ele e, mesmo assim, sou incapaz de terminar. tem um bom coração. Eu sou a parte estragada da relação.
Até mesmo minha mãe ama o . Todo mundo gosta dele, o pai dele é o pastor da cidade, a mãe dele é bem conhecida aqui. E nós parecemos perfeitos nas fotos. Somos o casal mais perfeito da escola!
Mas por que eu não estava feliz? Aquilo era tudo o que eu sempre quis e planejei. se encaixava bem nos meus planos. Respirando fundo, eu me apoiei as minhas mãos nos joelhos e olhei para o céu estrelado acima de mim. Será que alguma outra pessoa poderia entender tudo isso? Considerando que há sete bilhões de pessoas no mundo, assumo que sim, mas por que me sinto tão sozinha?
— ? O que você está fazendo aqui a essa hora?
Abaixei meu olhar apenas para ver o senhor com calças pretas de moletom e uma regata branca. Ele estava lindo todo suado. Senti algo quente escorrer pela minha bochecha e limpei com as costas da mão.
Ótimo, agora eu estava chorando na frente do meu professor.
— ? — Ele olhou para os lados, parecendo desconfortável, provavelmente sem saber o que fazer. — Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — O professor se sentou ao meu lado, me olhando cautelosamente, como se procurasse por machucados ou algo do tipo. Depois, suspirou.
— Eu estou bem. Eu só… — Limpei outra lágrima. O que diabos estava acontecendo comigo? — Só estou pensando. — Arrematei sem emoção.
Funguei e me arrisquei a olhá-lo. Ele parecia muito frustrado, como se não soubesse o que fazer com isso. Vendo isso, ri baixo.
— Não precisa se preocupar tanto, senhor . Eu estou bem, só me emocionei um pouco. — Sorri falsamente, como já fizera tantas outras vezes.
— Não parece que seja só isso. — Meu sorriso vacilou e eu o olhei nos olhos.
— Talvez eu não esteja tão bem assim. — Admiti, dando de ombros.
— Então não deveria fingir. — pareceu irritado.
— Senhor ? — Eu o chamei, enquanto voltava a olhar o céu, fingindo que não tinha ouvido o último comentário dele.
— O que é? — A voz dele parecia rígida, embora eu não fizesse a mínima ideia do motivo.
— Como descobriu o que queria fazer da vida? — Eu voltei a fitá-lo, observando sua reação. — Quero dizer, como descobriu com o que queria trabalhar? Você sempre quis ser professor de matemática?
O senhor me avaliou por alguns poucos segundos e relaxou no banco. Ele parecia mais à vontade agora que eu não estava chorando como se alguém tivesse atropelado o meu cachorrinho.
— Bem, eu queria ser músico, na verdade. — O pensamento me fez rir. Eu não podia imaginar o meu tímido professor cantando ou tocando na frente de tantas pessoas. — Está rindo? Eu tinha uma banda de rock.
— Vocês eram bons? — Perguntei um pouco mais animada.
— Não, a banda era uma droga. — Eu ri. — Então eu comecei a pensar o que me faria feliz. Ser médico seria exaustivo e eu odeio sangue. Eu não me daria bem como atleta, apesar de me exercitar vez ou outra. — Graças a deus. Ele parecia realmente bem sem aquelas roupas de professor. Tinha um corpo bonito, mais ou menos como eu sempre imaginei. — Então um dia eu aprontei uma com alguns amigos. Bem, eles aprontaram e eu tomei a culpa junto. E o professor que nos aplicou a detenção se chamava senhor Brown. Ele era meu professor de matemática. Todos os meus amigos foram escrever redações idiotas. Ele me chamou de lado e me mandou corrigir os testes de uma outra turma.
— O senhor sempre foi bom em matemática? — Eu perguntei e o vi fazer uma careta.
— Vamos deixar essa história de senhor para a escola, okay? Me chama de . — Eu pisquei algumas vezes. E então eu lhe dei um sorriso tímido.
— Tudo bem… . — Experimentei o nome, soava engraçado. Seria difícil não tratá-lo como eu costumava, apesar de não ser muito mais velho que eu. Por um momento, ele pareceu meio perdido em sua narrativa. Em seguida, limpou a garganta e continuou.
— Eu não era especialmente bom em matemática. Não sou um talento tão natural quanto você. — Ele disse e aquilo me fez corar. Depois de tanto chafurdar na minha infelicidade, falar alguns minutos com ele estava me fazendo incrivelmente bem. Parecia certo estar com ele ali. — Mas eu estudava mais que os meus amigos. Então eu corrigi os testes e não achei tão maçante. Me tornei o assistente do senhor Brown e depois disso eu vi que queria fazer aquilo.
Pensei na história que ele tinha acabado de contar. Eu não tinha nenhuma paixão especial, a não ser nadar. E eu não queria me tornar uma nadadora profissional. Não porque fosse algo ruim, mas porque eu sabia que era mais difícil do que eu estava disposta a lutar.
Como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, me olhou inquisitivamente.
— O que você gosta de fazer? — Ele me perguntou baixo, como se estivesse com medo de me tirar de meus pensamentos.
— Eu não sei. — Disse sinceramente. Tudo o que eu gostava de fazer era o que tinham me imposto, fosse meus pais, ou as outras meninas.
— Você é do time de natação, não é? — Anuí com a cabeça. — Então você gosta de nadar. Muito bem, o que mais? — Eu o olhei meio confusa. — O que gosta de fazer, além de nadar?
Ele estava querendo me animar. Aquilo fez meu coração bater mais rápido.
— Escutar música, eu acho.
— Quem você ouve? — Ele perguntou.
— Kings of Leon, Rihanna, Taylor Swift… — Murmurei, sem saber porque ele me fazia essas perguntas. — Eric Clapton, Coldplay, Pink…
— Muito bem. Me diga outra coisa que goste, além de ouvir música. — Ele me incentivou.
— Eu gosto de matemática. — Admiti em voz baixa. Eu nunca diria aquilo para mais ninguém. — E de comida mexicana.
— Continue.
— Gosto de mergulhar no mar e de sentir o sol na minha pele. Gosto de sorvete de morango derretido e de ficar dormindo até tarde aos domingos.
Ele riu, o que me fez olhar para ele meio atravessado.
— Desculpe, mas é que para alguém que não sabia do que gostava você até que falou bastante coisa. — Eu rolei os olhos para cima e ele continuou. — Agora, que profissão você se imagina tendo no futuro?
— Advogada. — Eu disse automaticamente. Em seguida mordi o lábio. Foi quase como se meus pais falassem através de mim. — Quer dizer, acho que vou ser advogada.
— Porque o seu pai quer. — Não era uma pergunta. Ele me olhava com tanta atenção, era como se ninguém mais estivesse no parque.
— Eu nunca pensei em ser nada mais. Quer dizer, já quis ser modelo quando era criança, mas era algo bobo.
— Você se daria bem como modelo. — Ele sorriu de seu modo torto, meio tímido. E eu corei violentamente, rindo dele. O que era estranho, eu estou acostumada a flertar.
— Era coisa de criança. Depois que eu cresci, eu nunca olhei para alguma coisa e pensei: eu quero fazer isso. Não é como se eu tivesse um senhor Brown para me guiar. Eu não sei o que fazer. E como eu não sei, posso muito bem fazer o que meu pai espera de mim. — Parei para respirar e, ao olhar para o lado, vi pensativo.
— Talvez você tenha.
— Talvez eu tenha o que? — Perguntei-lhe com as sobrancelhas levantadas.
— Um senhor . — Fiz um som de descrença e ele me olhou. — Não, é sério. Você corrige os testes para mim e eu sei que é chato, mas você nunca deu uma aula, ou deu? — Eu neguei com a cabeça.
— Você quer que eu dê aulas de matemática? Senhor , está…
— . — Ele me interrompeu e eu rolei os olhos.
— . Você está me explorando. Primeiro quer que eu corrija suas coisas, depois quer que eu dê aula no seu lugar? — Ele pareceu levar aquilo como uma piada.
— Uma aula, . E se isso não der certo, nós podemos ver outra coisa. Tenho um amigo que é engenheiro. Ele pode conversar com você. E, se nada der certo, nós ligamos para uma agência de modelos. — Ele fez uma piada, mas eu não ri.
Eu o olhei pensativamente durante algum tempo. Aquilo era loucura. Por que ele faria algo assim por mim? Eu sabia que ele se importava, mas… Não sabia que se importava tanto.
— Eu já passei para Direito na Columbia. — Eu disse.
— Na pior das hipóteses, você pode continuar com os seus planos. — Ele respondeu de forma simples.
— Tudo bem. — Dei de ombros. — Não é como se eu tivesse alguma coisa a perder.
Ele pareceu mais feliz porque eu ri da cara que ele fez, como se tivesse feito alguma coisa muito importante, tipo escalar o Everest.
— Obrigada, . — Eu sorri para ele, verdadeiramente dessa vez. Eu me preparei para levantar e ir embora, mas ele me chamou.
— . Sobre … — Meu coração quase parou de bater por um segundo, mas eu fingi que nada tinha acontecido. — O que há entre vocês dois?
— Nada. Ele é o melhor amigo do meu namorado. — Eu disse de maneira firme.
— Eu vi vocês dois no dia que ele disse que ia te dar uma carona. Você não parecia muito feliz. — Desviei os olhos dele e me levantei do banco. veio atrás de mim. — , você não pode ir embora cada vez que eu tento falar disso com você.
Ele não tocou em mim, mas eu parei assim que ouvi a voz dele. Ele parecia preocupado. O professor não era muito mais velho que eu. Talvez uns seis, sete anos mais velho. Eu o olhei com o mesmo sorriso plástico de antes.
— Eu preciso ir embora, está tarde. Foi muito bom conversar com você, . — Sorri para ele, me inclinando e dando-lhe um beijo no rosto. Quando ele ficou completamente sem ação, eu quase saí correndo em direção ao meu carro.
Com os ânimos alterados, as pessoas continuavam cochichando entre si. Tudo isso porque Keyshia anunciou uma festa na casa dela. E eu não estou falando sobre as festas normais. Key ia dar uma festa. Eu estava convidada, é claro. Algumas outras pessoas também foram (segundo , eles eram os súditos, porque ela dizia que nós éramos a realeza do lugar). E quem não tinha sido convidado estava flertando descaradamente com quem foi, para poder ir.
Keyshia me olhou longamente. Ela e Shawn estavam comigo no estacionamento, eu ia dar uma carona aos dois.
— Você não parece animada para a festa. — Ela disse para mim depois de sentar no banco do carona.
— Não é sobre a festa. — Eu consegui dizer. — Estou brigada com .
— Ah, é por isso que ela está toda irritadinha. — Keyshia disse com desprezo, ligando o som do carro.
Bem, isso e o fato de que o cara que ela quer prefere me perseguir do que transar com ela.
— Por que vocês brigaram? — Shawn interferiu, enfiando-se no espaço entre o banco do motorista e o do carona.
— Não se mete! — Keyshia empurrou o irmão mais novo de volta para o lugar dele, me lançando um olhar indignado.
Diante daquilo, não pude deixar de rir. Eu não tinha irmãos, por isso nunca tive ninguém para brigar desse jeito.
— Cara, você tem tanta sorte de não ter irmãos. — Ela me disse com um meio sorriso no rosto.
— Tem sorte mesmo! — Shawn reclamou do banco traseiro.
Tive que concordar. Eu tinha mesmo sorte.
Eu não podia subitamente jogar todos os meus problemas em cima da Keyshia. Eu simplesmente não podia. Por isso fingi que estava mais animada e deixei que ela achasse que tinha me feito algum bem.
veio à minha casa alguns minutos depois. Ele transou comigo (porque eu não transei de volta com ele, eu só esperei ele acabar) e depois nós dois assistimos a um filme. Estávamos ainda abraçados no sofá quando minha mãe chegou do hospital.
— , eu trouxe comida mexicana. — Ela anunciou ao chegar e então viu . — Boa noite, .
— Boa noite, senhora . — Ele acenou para ela e se levantou depois de beijar a minha testa. — Te vejo amanhã na festa da Keyshia?
— Aham. Eu te levo na porta.
— , não precisa ir por minha causa. Tem comida o suficiente para nós… — Minha mãe começou e eu a olhei meio desinteressada.
— Na verdade, senhora , minha mãe me mata se eu não jantar em casa. — Ele mostrou-lhe um sorriso brilhante, que provavelmente fez minha mãe se derreter toda. Ela tinha uma grande queda pelo . Quando brigamos, minha mãe sempre fica ao lado dele. Se ele quisesse uma carona para jogar meu corpo sem vida de um absimo, minha mãe lhe daria uma carona.
— Bem, querido, então tudo bem. Cumprimente seu pai por mim, o sermão de semana passada foi maravilhoso.
— Sim, senhora. — Ele me beijou novamente, dessa vez nos lábios, antes de ir embora.
Ela me olhou com um sorriso bobo no rosto.
— é um menino tão bom, . Você não poderia arranjar um namorado melhor.
Meu pai chegou vinte minutos depois e nós jantamos juntos. Falei um pouco sobre a escola, omitindo o fato de que tinha brigado com . Meu pai logo se levantou, indo se sentar na sala para assistir algum jogo na TV. Minha mãe ficou comigo na cozinha por mais algum tempo, mas em seguida ela me deixou para ir trocar de roupa enquanto eu tirava a mesa. Fiquei pensando no que ela disse, será que eu nunca ia arranjar um namorado melhor que ? Eu pensei em como seria minha vida com . Anos e anos casada com um homem que não poderia me fazer gozar nem se eu viesse com um manual de instruções.
— Mãe, eu vou dar uma volta. — Gritei da cozinha mesmo. Ela gritou uma pergunta de volta, mas eu apenas coloquei um casaco por cima do meu conjunto de moletom cor-de-rosa e peguei as chaves do meu carro. Meu pai murmurou alguma coisa quando eu saí, sem tentar me impedir.
Quando minha mãe apareceu na porta, eu já estava virando a esquina.
Eu não podia falar com , eu não podia falar com a Keyshia, muito menos com as gêmeas ou Constance. Naquele momento eu percebi que, apesar de ser popular, eu não tinha ninguém ao meu lado. Não tinha um amigo de verdade para quem eu pudesse ligar agora e contar sobre tudo isso.
Talvez eu não amasse . E eu sentia falta disso. Das borboletas no estômago, do aperto no peito, da respiração descompassada a cada vez que alguém se aproximava. Eu sentia falta de romance. Dirigi até o parque, estacionando o carro por perto.
De noite, algumas pessoas corriam, outras passeavam com seus cachorros, alguns vendedores andavam em sua rota costumeira. Me sentei em um dos bancos, observando as pessoas irem e virem. Eu revisei meu plano. Eu estava fazendo tudo certo. e eu iríamos para a Columbia, então ele me pediria em casamento e eu seria uma advogada para trabalhar com o meu pai e levar adiante o escritório da família. Era isso. Eu teria uma casinha branca e um labrador. Um jardim, talvez. Dois filhos: Melissa e Bernard. Ainda não sei como faríamos para evitar ir à Igreja…
Quando fiz esses planos, assim que comecei a namorar , eu não imaginei que um dia eu estaria nessa situação. Mal tenho vontade de olhar para ele e, mesmo assim, sou incapaz de terminar. tem um bom coração. Eu sou a parte estragada da relação.
Até mesmo minha mãe ama o . Todo mundo gosta dele, o pai dele é o pastor da cidade, a mãe dele é bem conhecida aqui. E nós parecemos perfeitos nas fotos. Somos o casal mais perfeito da escola!
Mas por que eu não estava feliz? Aquilo era tudo o que eu sempre quis e planejei. se encaixava bem nos meus planos. Respirando fundo, eu me apoiei as minhas mãos nos joelhos e olhei para o céu estrelado acima de mim. Será que alguma outra pessoa poderia entender tudo isso? Considerando que há sete bilhões de pessoas no mundo, assumo que sim, mas por que me sinto tão sozinha?
— ? O que você está fazendo aqui a essa hora?
Abaixei meu olhar apenas para ver o senhor com calças pretas de moletom e uma regata branca. Ele estava lindo todo suado. Senti algo quente escorrer pela minha bochecha e limpei com as costas da mão.
Ótimo, agora eu estava chorando na frente do meu professor.
— ? — Ele olhou para os lados, parecendo desconfortável, provavelmente sem saber o que fazer. — Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — O professor se sentou ao meu lado, me olhando cautelosamente, como se procurasse por machucados ou algo do tipo. Depois, suspirou.
— Eu estou bem. Eu só… — Limpei outra lágrima. O que diabos estava acontecendo comigo? — Só estou pensando. — Arrematei sem emoção.
Funguei e me arrisquei a olhá-lo. Ele parecia muito frustrado, como se não soubesse o que fazer com isso. Vendo isso, ri baixo.
— Não precisa se preocupar tanto, senhor . Eu estou bem, só me emocionei um pouco. — Sorri falsamente, como já fizera tantas outras vezes.
— Não parece que seja só isso. — Meu sorriso vacilou e eu o olhei nos olhos.
— Talvez eu não esteja tão bem assim. — Admiti, dando de ombros.
— Então não deveria fingir. — pareceu irritado.
— Senhor ? — Eu o chamei, enquanto voltava a olhar o céu, fingindo que não tinha ouvido o último comentário dele.
— O que é? — A voz dele parecia rígida, embora eu não fizesse a mínima ideia do motivo.
— Como descobriu o que queria fazer da vida? — Eu voltei a fitá-lo, observando sua reação. — Quero dizer, como descobriu com o que queria trabalhar? Você sempre quis ser professor de matemática?
O senhor me avaliou por alguns poucos segundos e relaxou no banco. Ele parecia mais à vontade agora que eu não estava chorando como se alguém tivesse atropelado o meu cachorrinho.
— Bem, eu queria ser músico, na verdade. — O pensamento me fez rir. Eu não podia imaginar o meu tímido professor cantando ou tocando na frente de tantas pessoas. — Está rindo? Eu tinha uma banda de rock.
— Vocês eram bons? — Perguntei um pouco mais animada.
— Não, a banda era uma droga. — Eu ri. — Então eu comecei a pensar o que me faria feliz. Ser médico seria exaustivo e eu odeio sangue. Eu não me daria bem como atleta, apesar de me exercitar vez ou outra. — Graças a deus. Ele parecia realmente bem sem aquelas roupas de professor. Tinha um corpo bonito, mais ou menos como eu sempre imaginei. — Então um dia eu aprontei uma com alguns amigos. Bem, eles aprontaram e eu tomei a culpa junto. E o professor que nos aplicou a detenção se chamava senhor Brown. Ele era meu professor de matemática. Todos os meus amigos foram escrever redações idiotas. Ele me chamou de lado e me mandou corrigir os testes de uma outra turma.
— O senhor sempre foi bom em matemática? — Eu perguntei e o vi fazer uma careta.
— Vamos deixar essa história de senhor para a escola, okay? Me chama de . — Eu pisquei algumas vezes. E então eu lhe dei um sorriso tímido.
— Tudo bem… . — Experimentei o nome, soava engraçado. Seria difícil não tratá-lo como eu costumava, apesar de não ser muito mais velho que eu. Por um momento, ele pareceu meio perdido em sua narrativa. Em seguida, limpou a garganta e continuou.
— Eu não era especialmente bom em matemática. Não sou um talento tão natural quanto você. — Ele disse e aquilo me fez corar. Depois de tanto chafurdar na minha infelicidade, falar alguns minutos com ele estava me fazendo incrivelmente bem. Parecia certo estar com ele ali. — Mas eu estudava mais que os meus amigos. Então eu corrigi os testes e não achei tão maçante. Me tornei o assistente do senhor Brown e depois disso eu vi que queria fazer aquilo.
Pensei na história que ele tinha acabado de contar. Eu não tinha nenhuma paixão especial, a não ser nadar. E eu não queria me tornar uma nadadora profissional. Não porque fosse algo ruim, mas porque eu sabia que era mais difícil do que eu estava disposta a lutar.
Como se soubesse exatamente o que eu estava pensando, me olhou inquisitivamente.
— O que você gosta de fazer? — Ele me perguntou baixo, como se estivesse com medo de me tirar de meus pensamentos.
— Eu não sei. — Disse sinceramente. Tudo o que eu gostava de fazer era o que tinham me imposto, fosse meus pais, ou as outras meninas.
— Você é do time de natação, não é? — Anuí com a cabeça. — Então você gosta de nadar. Muito bem, o que mais? — Eu o olhei meio confusa. — O que gosta de fazer, além de nadar?
Ele estava querendo me animar. Aquilo fez meu coração bater mais rápido.
— Escutar música, eu acho.
— Quem você ouve? — Ele perguntou.
— Kings of Leon, Rihanna, Taylor Swift… — Murmurei, sem saber porque ele me fazia essas perguntas. — Eric Clapton, Coldplay, Pink…
— Muito bem. Me diga outra coisa que goste, além de ouvir música. — Ele me incentivou.
— Eu gosto de matemática. — Admiti em voz baixa. Eu nunca diria aquilo para mais ninguém. — E de comida mexicana.
— Continue.
— Gosto de mergulhar no mar e de sentir o sol na minha pele. Gosto de sorvete de morango derretido e de ficar dormindo até tarde aos domingos.
Ele riu, o que me fez olhar para ele meio atravessado.
— Desculpe, mas é que para alguém que não sabia do que gostava você até que falou bastante coisa. — Eu rolei os olhos para cima e ele continuou. — Agora, que profissão você se imagina tendo no futuro?
— Advogada. — Eu disse automaticamente. Em seguida mordi o lábio. Foi quase como se meus pais falassem através de mim. — Quer dizer, acho que vou ser advogada.
— Porque o seu pai quer. — Não era uma pergunta. Ele me olhava com tanta atenção, era como se ninguém mais estivesse no parque.
— Eu nunca pensei em ser nada mais. Quer dizer, já quis ser modelo quando era criança, mas era algo bobo.
— Você se daria bem como modelo. — Ele sorriu de seu modo torto, meio tímido. E eu corei violentamente, rindo dele. O que era estranho, eu estou acostumada a flertar.
— Era coisa de criança. Depois que eu cresci, eu nunca olhei para alguma coisa e pensei: eu quero fazer isso. Não é como se eu tivesse um senhor Brown para me guiar. Eu não sei o que fazer. E como eu não sei, posso muito bem fazer o que meu pai espera de mim. — Parei para respirar e, ao olhar para o lado, vi pensativo.
— Talvez você tenha.
— Talvez eu tenha o que? — Perguntei-lhe com as sobrancelhas levantadas.
— Um senhor . — Fiz um som de descrença e ele me olhou. — Não, é sério. Você corrige os testes para mim e eu sei que é chato, mas você nunca deu uma aula, ou deu? — Eu neguei com a cabeça.
— Você quer que eu dê aulas de matemática? Senhor , está…
— . — Ele me interrompeu e eu rolei os olhos.
— . Você está me explorando. Primeiro quer que eu corrija suas coisas, depois quer que eu dê aula no seu lugar? — Ele pareceu levar aquilo como uma piada.
— Uma aula, . E se isso não der certo, nós podemos ver outra coisa. Tenho um amigo que é engenheiro. Ele pode conversar com você. E, se nada der certo, nós ligamos para uma agência de modelos. — Ele fez uma piada, mas eu não ri.
Eu o olhei pensativamente durante algum tempo. Aquilo era loucura. Por que ele faria algo assim por mim? Eu sabia que ele se importava, mas… Não sabia que se importava tanto.
— Eu já passei para Direito na Columbia. — Eu disse.
— Na pior das hipóteses, você pode continuar com os seus planos. — Ele respondeu de forma simples.
— Tudo bem. — Dei de ombros. — Não é como se eu tivesse alguma coisa a perder.
Ele pareceu mais feliz porque eu ri da cara que ele fez, como se tivesse feito alguma coisa muito importante, tipo escalar o Everest.
— Obrigada, . — Eu sorri para ele, verdadeiramente dessa vez. Eu me preparei para levantar e ir embora, mas ele me chamou.
— . Sobre … — Meu coração quase parou de bater por um segundo, mas eu fingi que nada tinha acontecido. — O que há entre vocês dois?
— Nada. Ele é o melhor amigo do meu namorado. — Eu disse de maneira firme.
— Eu vi vocês dois no dia que ele disse que ia te dar uma carona. Você não parecia muito feliz. — Desviei os olhos dele e me levantei do banco. veio atrás de mim. — , você não pode ir embora cada vez que eu tento falar disso com você.
Ele não tocou em mim, mas eu parei assim que ouvi a voz dele. Ele parecia preocupado. O professor não era muito mais velho que eu. Talvez uns seis, sete anos mais velho. Eu o olhei com o mesmo sorriso plástico de antes.
— Eu preciso ir embora, está tarde. Foi muito bom conversar com você, . — Sorri para ele, me inclinando e dando-lhe um beijo no rosto. Quando ele ficou completamente sem ação, eu quase saí correndo em direção ao meu carro.
Capítulo 6
Seis semanas para o baile
Eu faltei a escola. Disse que estava com dor de cabeça e minha mãe insistiu para que eu fosse com ela ao hospital, mas eu neguei. Eu só não queria encarar o senhor . Mais tarde, minha mãe reclamou sobre como eu não estava bem para ir à aula, mas estava absolutamente ótima para ir à festa de Keyshia. Felizmente, eu tenho a carta para me livrar desses sermões.
e eu chegamos juntos na festa. Cumprimentamos as pessoas. Bebemos. Sentamos com nosso grupo usual.
A maioria das garotas da minha sala morreria de inveja de mim por estar nessa situação. Afinal de contas, eu sou a namorada de um dos caras mais desejados do colégio. E outro desses caras estava na minha cola. Por onde eu andasse na festa (sempre junto com ou alguém do meu círculo de amizades), eu poderia olhar para trás e ver me observando. A qualquer momento dessa festa, em qualquer um dos cômodos da casa de Keyshia. Isso era bizarro e fazia com que eu sentisse algo estranho, um tipo brando de medo que escolhi ignorar, em minha coragem adolescente e ébria.
Um DJ tocava a música alta perto da piscina e muita gente tinha, simplesmente, tirado a roupa para pular na água gelada. Eu não era uma delas. Eu não queria arruinar as minhas roupas, muito menos as de baixo. Eu também não queria arruinar o meu crescente estado de embriaguez. e mais dois jocks riam alto, claramente alcoolizados, conversava com eles, mas fixava seus olhos em mim. parecia não notar, mas eu me sentia desconfortável. Aliás, e as gêmeas estão levando uma conversa animada sobre os ex-namorados de Taylor Swift, debatendo quem era o mais gostoso (Jake G. estava ganhando, mas John Mayer não deixava de ser citado constantemente). e eu consideramos uma trégua quando conversamos pelo celular, hoje de manhã. Estávamos em bons termos publicamente, apesar de ambas sabermos que remendar a amizade depois daquilo não seria tão fácil, já que aquela não era a primeira vez que ela me esfaqueou pelas costas (e, considerando quem é, eu duvido muito que seja a última).
Eu, diferente delas, estava bebendo cerveja em vez de dar um trago em um baseado contrabandeado para dentro da casa por . Eu não era do tipo que usava drogas. Nós do time de natação fazíamos teste antidoping. Eu não ia querer que notassem THC na minha urina. Então, o que me restava era ficar bêbada.
Eu não costumo ficar bêbada. Eu bebo, sim, mas quando começo a ficar tonta geralmente paro. Não gosto da sensação, mas, naquele momento, qualquer coisa era melhor que simplesmente ficar me questionando de novo e de novo sobre a minha vida. O senhor tinha aberto meus olhos de um jeito que, talvez, nem mesmo ele possa imaginar. Quando ele me questionou sobre o que eu realmente queria fazer, eu passei a me questionar sobre tudo que eu sempre quis.
Agora eu não queria mais pensar. Passei a noite em claro, pensei sobre , sobre e, principalmente, sobre como , além de ser um professor magnífico, tinha um corpo lindo.
Eu queria me divertir. Ser um pouco como e as outras garotas, flertar com os caras, ficar bêbada, dançar com alguém. Na segunda garrafa de cerveja comecei a me sentir mais leve, mais feliz, o riso saía fácil dos meus lábios. Na quarta, eu estava bêbada. Uma música da Britney Spears começou a tocar e eu virei o último gole da garrafa antes de me inclinar e colar meus lábios na orelha de . De esguelha, podia ver que , como esperado, não desgrudou seus olhos de mim. Quase ri, mas acabei fazendo o que eu queria, que era sussurrar de modo sensual no ouvido de para que ele fosse dançar comigo. virou a cabeça para me olhar e eu beijei os lábios dele de leve.
— Vamos? — Pedi novamente, dessa vez em voz alta. Eu estava tentando. Eu queria que déssemos certo.
— Pode ser daqui a pouco, gata? Estamos discutindo uma coisa importante. — Ele olhou para os outros caras e riu pelo nariz, sendo acompanhado pelos dois outros brutamontes.
— Ah, é mesmo? — Cruzei os braços e lancei-lhes um olhar gélido, as risadinhas cessaram de uma vez. — O que estão discutindo?
— Mets. — Ele respondeu, pouco confiante. — Eu danço a próxima com você. — afirmou, me olhando como se pedisse desculpas.
Sorri para ele de meu modo plástico, me inclinando novamente para beijá-lo e sussurrar para que só ele ouvisse: — Tudo bem, eu acho alguém para dançar comigo.
Deixei minha jaqueta no colo dele, que acenou para que eu fosse. É claro, ele não fazia a mínima ideia do que eu tinha em mente. Peguei mais uma garrafa de cerveja, andando confiante até a pista de dança improvisada. Key sorriu ao me ver e, atendendo ao meu aceno, logo veio se juntar a mim.
Keyshia era poucos centímetros mais baixa que eu, tinha um corpo elegante e esguio e cabelos crespos, armados, absolutamente lindos. Ela era linda, extremamente linda. E fazia os caras perderem a fala. Ela não era só gata, Keyshia era forte e decidida também. E sexy. Eu sempre quis imitar o jeito como ela andava, rebolando o quadril de modo felino.
Key me puxou para dançar com ela e mantive minha garrafa longe do alcance do corpo dela enquanto dançávamos juntas. Ela movia o corpo de forma sensual, lentamente, eu a acompanhava (ou tentava). A regata estampada que eu usava começava a colar no meu corpo, por causa do suor. Bêbada, eu era muito mais desinibida. Passava as mãos pelo meu corpo, colava-o ao dela, provocava os caras ao redor enquanto aproximávamos nossos rostos e nos afastávamos logo depois, caindo na risada.
Não demorou muito para que notasse que cada par de olhos da festa estava grudado em nós duas. E , também, me olhava de longe. Ela e Keyshia não eram amigas (Key a odiava) e ela parecia extremamente raivosa: aquele era o nosso jeito de chamar a atenção em uma festa. sempre dançava comigo de uma maneira parecida. Naquele momento, eu não notei isso. O que eu notei foi e vindo na nossa direção. Virei de costas para eles e minha amiga me lançou um olhar questionador. Não me importei, apenas recebi uma garrafa de um dos garotos do grupo de caras do nosso lado e ri. Desde que começamos a dançar eles tinham parado para assistir. O garoto que me ofereceu a bebida passou a dançar ao meu lado, embora ainda não me tocasse. Eu podia dizer que ele era um bom dançarino, mesmo sem saber muito sobre dança. Tomei dois goles da bebida e sorri para ele, o que o fez interpretar aquilo como permissão para se aproximar, e, naquele momento, realmente era. Suas mãos pararam nas laterais dos meus quadris e Keyshia, à minha frente, me deu um olhar divertido. Eu disse que acharia alguém para dançar comigo, não? No ritmo dele, que era um desconhecido para mim, nos movíamos de um lado para o outro, nossos quadris sempre muito próximos, as mãos dele sempre no meu corpo.
— , vem. Vou levar você pra casa. — Meu namorado olhou feio para o cara que dançava comigo e me pegou pelo braço, puxando-me na direção de seu corpo.
— Eu não quero ir pra casa agora! — Disse com um sorrisinho, me soltando do aperto dele. — Quero dançar!
— Você está bêbada, ! — Ele sussurrou, me puxando para perto dele novamente enquanto tomava a garrafa de minha mão, seus dedos fincando-se na minha carne de um jeito doloroso.
— Eu não estou bêbada! — A minha voz soava completamente normal aos meus ouvidos, mas do jeito que ele se encolhia eu poderia muito bem gritar tudo aquilo. Balancei meu braço e me soltei de seu aperto. me olhava claramente irritado. — Eu só estou me divertindo e dançando com os meus amigos! — Puxei Key para um abraço e ela sorriu meio sem graça, o garoto já não estava perto de mim, mas me referia a ele como um amigo, também.
— Vem, , por favor. Já passou da minha hora. — Ele falava com seu jeito de bom moço, seu jeitinho de filho de pastor.
Talvez fosse por isso que não sabia como me foder.
— Você é um bebê chorão, da mamãe. Você e seu horário para chegar em casa! — Cuspi as palavras, me afastando dele.
Ele ainda tentou me segurar novamente, mas me joguei nos braços de Shawn, rápida como só uma nadadora bêbada seria, que tinha vindo ver o tumulto na pista de dança envolvendo a irmã dele.
— Shawn, meu namorado não quer deixar eu me divertir! — Reclamei e ele olhou para de lado. era veterano dele, o capitão do time de futebol americano. Ele provavelmente não queria se meter em encrenca, então Shawn me afastou delicadamente, como se tivesse medo que eu fosse quebrar.
— Vai com ele, …
— Vamos embora, … — Ele tentou novamente, mas o interrompeu.
— Escuta, cara, você vai se atrasar. Você sabe que é bem capaz da sua mãe aparecer aqui te procurando. — cochichou para ele enquanto Keyshia me perguntava baixinho o que estava acontecendo. Eu apenas disse que não queria ir embora.
finalmente tinha se juntado a nós.
— O que foi? está bêbada demais para sair de perto dessa gente? — Ela pronunciou cada palavra de modo afetado e eu ri ao ver que Key a olhou feio, fazendo-a desviar os olhos de seu modo esnobe.
— Eu to tentando levar a pra casa. — Ele disse à .
— E eu to tentando explicar que eu não quero ir para casa. — Rebati rapidamente.
— Eu a levo pra casa. — disse e deu de ombros.
— Eu não quero ir com você também. — Eu falei, olhando-a de cima.
— , vai pra casa, cara. A leva sua garota. — disse ao melhor amigo.
Meu querido namorado claramente não queria me deixar ali sozinha, mas Keyshia cochichou algumas coisas para ele. Ele me olhou por alguns segundos e anuiu. Ele iria para casa, Key ia me deixar dormir aqui. E, caso eu quisesse ir para casa, poderia me levar. O problema parecia resolvido.
Para eles, talvez. Sem meu namorado ali não fazia sentido eu dançar daquele jeito ou me esfregar em caras covardes. Eu só queria irritá-lo mesmo, mas não dei o braço a torcer, esperei algumas músicas antes de dizer à Key que ia para o quarto de hóspedes. Ela me acompanhou, me disse para trancar a porta e só foi embora depois de confirmar que minha porta estava trancada.
Eu gostava de Keyshia, do fundo do meu coração. não parecia ligar para mim, talvez nervosa demais por causa do teatrinho que havia se formado na festa – não por causa dela, o que devia incomodar alguém que sempre era o centro das atenções – e também por causa da nossa briga. De qualquer modo, naquela hora eu não poderia me importar menos. Me despi da regata estampada e do jeans justo. Eu tinha ficado excitada dançando com o cara, mas – como sempre, aliás – fez questão de acabar com minha alegria. Já tinha me deitado na cama quando pensei em uma coisa que, pela torpeza, só poderia mesmo ter saído da minha cabeça.
Saquei meu celular e mandei uma mensagem a pelo Snapchat. Ele não tardou a responder.
diz:
O que é?
diz:
Está a fim de se divertir?
Sorri para a tela do celular ao perceber que ele estava demorando, provavelmente se perguntando o que diabos eu tinha em mente.
:
Por quê?
Tirei uma foto minha, deitada na cama, em um ângulo provocante e com a mão em cima de um dos meus seios.
diz:
Porque estou sozinha e excitada em um dos quartos da Keyshia. Se me achar, ganha um prêmio.
Ele não respondeu e eu sorri. Eu sabia de duas coisas. A primeira era: eu realmente precisava de uma transa. E a segunda coisa: estava absolutamente louco para ser o cara que me faria esse favor. Me olhei na câmera frontal do celular e joguei os cabelos para lado, assumindo uma aparência mais sensual e selvagem. Não demorou muito. Alguém tentou abrir a porta e eu pulei da cama. Já não tinha certeza se eu realmente queria que esse cara fosse o , mas mandei a insegurança pelos ares. A imagem de , ciumento e neurótico, esvaiu-se da minha cabeça com o benefício da embriaguez.
— ? — Ele chamou e forçou a maçaneta.
— Qual é a palavra mágica? — Do outro lado da porta, eu o ouvi rir.
— Eu vou foder você até essa sua arrogância sumir.
Bem, boa sorte com isso.
Assim que abri a porta, esgueirou-se lá para dentro com pressa. Fechou a porta atrás de si com um gesto rápido e me puxou para os seus braços, logo juntando os lábios aos meus sem nem ao menos esperar que eu lhe desse permissão. O beijo dele era urgente, de quem, há muito, me desejava com fervor. E eu correspondi o seu beijo. Não com tanto ardor, mas com vontade o suficiente para fazer com que as mãos dele apertassem ainda mais a minha pele. Pobre e previsível .
— A porta. — Sussurrei quando afastei meu rosto do dele. — Tranque a porta.
Por um momento, me olhou sem entender. Então, ele abriu um grande sorriso.
— Sim, senhora.
voltou a me beijar, dessa vez ele segurou o meu quadril e me ergueu, fazendo com que eu envolvesse sua cintura com minhas pernas e chocando nossos quadris de maneira íntima. As mãos dele se espalmaram na minha bunda e apertaram a minha carne com lascívia. Não reparei que estávamos andando e só me dei conta disso quando, de súbito, chocou as minhas costas contra a porta, erguendo a mão e girando a chave para trancá-la. Não tinha doído, mas a surpresa me fez arfar.
Se achava que eu era algum tipo de bonequinha de porcelana e reclamaria disso, estava enganado. Mordi seu lábio inferior e o puxei, até que ele aproximou ainda mais o rosto e me beijou mais uma vez. Suas mãos seguravam firmemente a minha cintura e seus beijos quentes me faziam querer rasgar toda a sua roupa, embora eu não estivesse pensando em naquele momento. Era com outro homem que eu estava transando, ao menos na minha mente. Finquei minhas unhas nele, por cima da roupa. Em resposta, colidiu meu corpo com a porta mais uma vez, o que me fez soltar o ar em um arquejo baixo. Maldito. Mordi seu lábio mais uma vez, dessa vez com força, e pude sentir o gosto do sangue dele na minha boca. Foi a vez de ficar nervoso, mas não deixei que ele fugisse de meu controle: rocei meus quadris aos dele, o que o fez soltar um gemido torturado.
Entre nós havia hostilidade, tesão (embora o meu tesão não fosse por ele), necessidade (no meu caso), paixão reprimida (no caso dele). A carga sexual era intensa. Ele sentia isso e eu também. Aquilo era o proibido. E tudo que é proibido tem um gosto melhor, muito melhor.
— Isso é tudo que você sabe fazer? — Perguntei a ele de forma provocante, abrindo um sorriso matreiro que eu não poderia esconder nem mesmo que quisesse.
não me respondeu de volta, apenas me pôs no chão e, em um único movimento, me virou de costas, empurrando-me contra a porta enquanto puxava meu quadril na sua direção. Apoiei as mãos na parede, porque era tudo o que eu podia fazer naquele momento. fazia movimentos duros, deliciosamente bruscos. Ele chocou meu quadril contra a sua calça jeans e – pasme – ele já estava excitado.
— Você não vai querer me provocar, . Não agora. — E, para ilustrar suas palavras, presumo, desceu a mão com força na minha bunda, fazendo com que um estalo reverberasse pelo quarto. Soltei um gemido de dor e olhei para ele por cima do ombro. — Não tão mandona agora, não é?
— Vai se foder!
— Estou mais preocupado em foder você. — E, mais uma vez, a mão dele estalou contra a minha pele, dessa vez do outro lado, deixando, ali também, a minha carne formigando com a pancada.
Ele era um canalha. Talvez eu não devesse fazer isso com ele. Talvez eu devesse sair correndo, como da última vez. E, mesmo assim, mesmo pensando em tudo isso, a única coisa que eu queria, naquele momento, era gozar. Por um momento, minha mente voltou a desviar-se para . e seus óculos, barba por fazer, o cabelo, na maior parte das vezes, despenteado. E eu gemi, pensando nele, enquanto roçava sua ereção em mim. Por um momento, as mãos dele deixaram o meu corpo, apenas para abrir o fecho de sua calça. Ela logo caiu em seus calcanhares e, sem perder tempo, puxou minha calcinha para baixo.
E, na minha mente, eu sabia que era quem estava ali comigo, mas queria que fosse meu professor de matemática. E se eu me concentrasse o suficiente, conseguia imaginá-lo ali, naquele quarto, comigo. não se demorou, chutou as calças para longe e se aproximou de mim mais uma vez. Suas mãos correram suavemente pela minha pele, nada como quando ele desferira aqueles tapas. Agora, seu toque era suave. Suas mãos tentaram me virar, mas eu não permiti.
— Não. — Minha voz saiu dura e soou como uma ordem que ele não ousou questionar. Meu corpo enrijeceu-se, uma defesa contra ele, caso ele quisesse me virar, mas não fez isso.
Se eu o confundi, ele não disse nada, apenas afastou as minhas pernas com rapidez e encaixou-se na entrada de minha intimidade. Arfei. Era ele que estava ali comigo, era nele que eu estava pensando. Quando ele me penetrou, eu quase vi estrelas. Estava molhada, excitada e, depois de muito tempo, apreciando sexo mais uma vez. Ele começou em um ritmo lento, bem marcado, forte, que fazia nossos corpos chocarem e o barulho desse ato ecoar pelo quarto. Eu podia ouvir seus grunhidos enquanto ele se movia dentro de mim. Me empinei e fiquei na ponta dos pés, as mãos dele se fechavam firmemente sobre a minha pele e seus gemidos baixos não passavam despercebidos. Eu mesma, também, gemia. A sensação de prazer era indescritível e a posição era favorável para que eu pudesse aproveitar tanto quanto ele.
Quando pensei que iríamos ficar assim, ele me empurrou contra um aparador. Me segurei na base do móvel enquanto ele levantava minha perna direita, seu pênis me completando mais uma vez. Dessa vez, seu ritmo não era lento, muito menos bem compassado. Era visceral, descontrolado, primitivo. Nossos quadris se chocavam com tal força e violência, com tal necessidade, que eu não mais gemia baixinho. Minha boca estava entreaberta e meus dedos se seguravam tão forte no móvel que meus nós dos dedos estavam brancos. O próprio móvel balançava e batia contra a parede enquanto transávamos.
Por vezes ele se afastava demais e então se enfiava em mim de novo, eu o sentia dentro de mim sem constrição, inteiro. Mas a cada vez que ele arremetia era um novo gemido, um novo palavrão. Ele puxou meu cabelo, sua outra mão continuava segurando a minha cintura enquanto seus quadris se moviam contra os meus. Podia sentir um frio na espinha, e eu sabia exatamente o que era aquela sensação. Eu ia gozar. Tive que morder os lábios para me impedir de gritar o nome dele, o nome do homem com quem eu fantasiava em toda e qualquer situação. O nome do homem que eu mais desejava: .
E então meu corpo pareceu explodir em mil pedaços, meus músculos se apertaram ao redor do membro dele, ainda dentro de mim, fazendo com que meu orgasmo fosse ainda mais prazeroso. Eu não gemi, ainda incerta do que poderia dizer, já que era em outro homem que eu pensava. Mesmo assim, não pude impedir um suspiro longo, seguido de um sorriso. Ele, no entanto, não deixou que eu desfrutasse daquele pequeno mimo por muito tempo, logo retirando-se de dentro de mim. Senti as gotas quentes, resultado do nosso prazer, baterem na minha pele e fechei os olhos, tomada pelo asco de saber quem estava ali comigo. Ao abri-los, depois do gemido prolongado que se seguiu, vi , ainda de sapatos, a camisa e o rosto brilhante de suor, parecendo nojento e desmazelado. Não era aquele homem que eu queria. Eu não queria ver ali por nem mais um minuto, uma vez que ele fez o que deveria fazer e eu já não tinha nenhuma outra utilidade para ele ou seu pau.
— Se veste e vai embora. — pareceu confuso. Resolvi repetir: — Eu já terminei, se veste e vai embora. — E então eu me virei para o banheiro adjunto ao quarto e fiquei lá, esperando-o sair enquanto me banhava. Ele tentou me chamar, mas, eventualmente, acabou desistindo depois de ver que eu não sairia do banheiro.
Algum tempo depois, saiu do quarto. Eu me sequei e voltei a vestir minha calcinha. Tranquei a porta do quarto e relembrei o que tinha acabado de acontecer. A leve dormência entre as minhas pernas não me deixava esquecer que eu havia transado com um cara que não era meu namorado nem o meu objeto de desejo. Era o melhor amigo de , um cara que eu odiava.
Eu não sentia nada. Nem mesmo culpa. Aquilo foi sexo por necessidade, eu disse a mim mesma. Eu precisava gozar. E se não fosse , seria outro cara qualquer.
Claro, eu me sentia mal por , mas não o suficiente para perder uma noite de sono. Eu já tinha traído meu namorado no começo do namoro. Eu conhecia a sensação. Fria, vadia, egoísta. Depois de gozar, dormi como um bebê.
Eu faltei a escola. Disse que estava com dor de cabeça e minha mãe insistiu para que eu fosse com ela ao hospital, mas eu neguei. Eu só não queria encarar o senhor . Mais tarde, minha mãe reclamou sobre como eu não estava bem para ir à aula, mas estava absolutamente ótima para ir à festa de Keyshia. Felizmente, eu tenho a carta para me livrar desses sermões.
e eu chegamos juntos na festa. Cumprimentamos as pessoas. Bebemos. Sentamos com nosso grupo usual.
A maioria das garotas da minha sala morreria de inveja de mim por estar nessa situação. Afinal de contas, eu sou a namorada de um dos caras mais desejados do colégio. E outro desses caras estava na minha cola. Por onde eu andasse na festa (sempre junto com ou alguém do meu círculo de amizades), eu poderia olhar para trás e ver me observando. A qualquer momento dessa festa, em qualquer um dos cômodos da casa de Keyshia. Isso era bizarro e fazia com que eu sentisse algo estranho, um tipo brando de medo que escolhi ignorar, em minha coragem adolescente e ébria.
Um DJ tocava a música alta perto da piscina e muita gente tinha, simplesmente, tirado a roupa para pular na água gelada. Eu não era uma delas. Eu não queria arruinar as minhas roupas, muito menos as de baixo. Eu também não queria arruinar o meu crescente estado de embriaguez. e mais dois jocks riam alto, claramente alcoolizados, conversava com eles, mas fixava seus olhos em mim. parecia não notar, mas eu me sentia desconfortável. Aliás, e as gêmeas estão levando uma conversa animada sobre os ex-namorados de Taylor Swift, debatendo quem era o mais gostoso (Jake G. estava ganhando, mas John Mayer não deixava de ser citado constantemente). e eu consideramos uma trégua quando conversamos pelo celular, hoje de manhã. Estávamos em bons termos publicamente, apesar de ambas sabermos que remendar a amizade depois daquilo não seria tão fácil, já que aquela não era a primeira vez que ela me esfaqueou pelas costas (e, considerando quem é, eu duvido muito que seja a última).
Eu, diferente delas, estava bebendo cerveja em vez de dar um trago em um baseado contrabandeado para dentro da casa por . Eu não era do tipo que usava drogas. Nós do time de natação fazíamos teste antidoping. Eu não ia querer que notassem THC na minha urina. Então, o que me restava era ficar bêbada.
Eu não costumo ficar bêbada. Eu bebo, sim, mas quando começo a ficar tonta geralmente paro. Não gosto da sensação, mas, naquele momento, qualquer coisa era melhor que simplesmente ficar me questionando de novo e de novo sobre a minha vida. O senhor tinha aberto meus olhos de um jeito que, talvez, nem mesmo ele possa imaginar. Quando ele me questionou sobre o que eu realmente queria fazer, eu passei a me questionar sobre tudo que eu sempre quis.
Agora eu não queria mais pensar. Passei a noite em claro, pensei sobre , sobre e, principalmente, sobre como , além de ser um professor magnífico, tinha um corpo lindo.
Eu queria me divertir. Ser um pouco como e as outras garotas, flertar com os caras, ficar bêbada, dançar com alguém. Na segunda garrafa de cerveja comecei a me sentir mais leve, mais feliz, o riso saía fácil dos meus lábios. Na quarta, eu estava bêbada. Uma música da Britney Spears começou a tocar e eu virei o último gole da garrafa antes de me inclinar e colar meus lábios na orelha de . De esguelha, podia ver que , como esperado, não desgrudou seus olhos de mim. Quase ri, mas acabei fazendo o que eu queria, que era sussurrar de modo sensual no ouvido de para que ele fosse dançar comigo. virou a cabeça para me olhar e eu beijei os lábios dele de leve.
— Vamos? — Pedi novamente, dessa vez em voz alta. Eu estava tentando. Eu queria que déssemos certo.
— Pode ser daqui a pouco, gata? Estamos discutindo uma coisa importante. — Ele olhou para os outros caras e riu pelo nariz, sendo acompanhado pelos dois outros brutamontes.
— Ah, é mesmo? — Cruzei os braços e lancei-lhes um olhar gélido, as risadinhas cessaram de uma vez. — O que estão discutindo?
— Mets. — Ele respondeu, pouco confiante. — Eu danço a próxima com você. — afirmou, me olhando como se pedisse desculpas.
Sorri para ele de meu modo plástico, me inclinando novamente para beijá-lo e sussurrar para que só ele ouvisse: — Tudo bem, eu acho alguém para dançar comigo.
Deixei minha jaqueta no colo dele, que acenou para que eu fosse. É claro, ele não fazia a mínima ideia do que eu tinha em mente. Peguei mais uma garrafa de cerveja, andando confiante até a pista de dança improvisada. Key sorriu ao me ver e, atendendo ao meu aceno, logo veio se juntar a mim.
Keyshia era poucos centímetros mais baixa que eu, tinha um corpo elegante e esguio e cabelos crespos, armados, absolutamente lindos. Ela era linda, extremamente linda. E fazia os caras perderem a fala. Ela não era só gata, Keyshia era forte e decidida também. E sexy. Eu sempre quis imitar o jeito como ela andava, rebolando o quadril de modo felino.
Key me puxou para dançar com ela e mantive minha garrafa longe do alcance do corpo dela enquanto dançávamos juntas. Ela movia o corpo de forma sensual, lentamente, eu a acompanhava (ou tentava). A regata estampada que eu usava começava a colar no meu corpo, por causa do suor. Bêbada, eu era muito mais desinibida. Passava as mãos pelo meu corpo, colava-o ao dela, provocava os caras ao redor enquanto aproximávamos nossos rostos e nos afastávamos logo depois, caindo na risada.
Não demorou muito para que notasse que cada par de olhos da festa estava grudado em nós duas. E , também, me olhava de longe. Ela e Keyshia não eram amigas (Key a odiava) e ela parecia extremamente raivosa: aquele era o nosso jeito de chamar a atenção em uma festa. sempre dançava comigo de uma maneira parecida. Naquele momento, eu não notei isso. O que eu notei foi e vindo na nossa direção. Virei de costas para eles e minha amiga me lançou um olhar questionador. Não me importei, apenas recebi uma garrafa de um dos garotos do grupo de caras do nosso lado e ri. Desde que começamos a dançar eles tinham parado para assistir. O garoto que me ofereceu a bebida passou a dançar ao meu lado, embora ainda não me tocasse. Eu podia dizer que ele era um bom dançarino, mesmo sem saber muito sobre dança. Tomei dois goles da bebida e sorri para ele, o que o fez interpretar aquilo como permissão para se aproximar, e, naquele momento, realmente era. Suas mãos pararam nas laterais dos meus quadris e Keyshia, à minha frente, me deu um olhar divertido. Eu disse que acharia alguém para dançar comigo, não? No ritmo dele, que era um desconhecido para mim, nos movíamos de um lado para o outro, nossos quadris sempre muito próximos, as mãos dele sempre no meu corpo.
— , vem. Vou levar você pra casa. — Meu namorado olhou feio para o cara que dançava comigo e me pegou pelo braço, puxando-me na direção de seu corpo.
— Eu não quero ir pra casa agora! — Disse com um sorrisinho, me soltando do aperto dele. — Quero dançar!
— Você está bêbada, ! — Ele sussurrou, me puxando para perto dele novamente enquanto tomava a garrafa de minha mão, seus dedos fincando-se na minha carne de um jeito doloroso.
— Eu não estou bêbada! — A minha voz soava completamente normal aos meus ouvidos, mas do jeito que ele se encolhia eu poderia muito bem gritar tudo aquilo. Balancei meu braço e me soltei de seu aperto. me olhava claramente irritado. — Eu só estou me divertindo e dançando com os meus amigos! — Puxei Key para um abraço e ela sorriu meio sem graça, o garoto já não estava perto de mim, mas me referia a ele como um amigo, também.
— Vem, , por favor. Já passou da minha hora. — Ele falava com seu jeito de bom moço, seu jeitinho de filho de pastor.
Talvez fosse por isso que não sabia como me foder.
— Você é um bebê chorão, da mamãe. Você e seu horário para chegar em casa! — Cuspi as palavras, me afastando dele.
Ele ainda tentou me segurar novamente, mas me joguei nos braços de Shawn, rápida como só uma nadadora bêbada seria, que tinha vindo ver o tumulto na pista de dança envolvendo a irmã dele.
— Shawn, meu namorado não quer deixar eu me divertir! — Reclamei e ele olhou para de lado. era veterano dele, o capitão do time de futebol americano. Ele provavelmente não queria se meter em encrenca, então Shawn me afastou delicadamente, como se tivesse medo que eu fosse quebrar.
— Vai com ele, …
— Vamos embora, … — Ele tentou novamente, mas o interrompeu.
— Escuta, cara, você vai se atrasar. Você sabe que é bem capaz da sua mãe aparecer aqui te procurando. — cochichou para ele enquanto Keyshia me perguntava baixinho o que estava acontecendo. Eu apenas disse que não queria ir embora.
finalmente tinha se juntado a nós.
— O que foi? está bêbada demais para sair de perto dessa gente? — Ela pronunciou cada palavra de modo afetado e eu ri ao ver que Key a olhou feio, fazendo-a desviar os olhos de seu modo esnobe.
— Eu to tentando levar a pra casa. — Ele disse à .
— E eu to tentando explicar que eu não quero ir para casa. — Rebati rapidamente.
— Eu a levo pra casa. — disse e deu de ombros.
— Eu não quero ir com você também. — Eu falei, olhando-a de cima.
— , vai pra casa, cara. A leva sua garota. — disse ao melhor amigo.
Meu querido namorado claramente não queria me deixar ali sozinha, mas Keyshia cochichou algumas coisas para ele. Ele me olhou por alguns segundos e anuiu. Ele iria para casa, Key ia me deixar dormir aqui. E, caso eu quisesse ir para casa, poderia me levar. O problema parecia resolvido.
Para eles, talvez. Sem meu namorado ali não fazia sentido eu dançar daquele jeito ou me esfregar em caras covardes. Eu só queria irritá-lo mesmo, mas não dei o braço a torcer, esperei algumas músicas antes de dizer à Key que ia para o quarto de hóspedes. Ela me acompanhou, me disse para trancar a porta e só foi embora depois de confirmar que minha porta estava trancada.
Eu gostava de Keyshia, do fundo do meu coração. não parecia ligar para mim, talvez nervosa demais por causa do teatrinho que havia se formado na festa – não por causa dela, o que devia incomodar alguém que sempre era o centro das atenções – e também por causa da nossa briga. De qualquer modo, naquela hora eu não poderia me importar menos. Me despi da regata estampada e do jeans justo. Eu tinha ficado excitada dançando com o cara, mas – como sempre, aliás – fez questão de acabar com minha alegria. Já tinha me deitado na cama quando pensei em uma coisa que, pela torpeza, só poderia mesmo ter saído da minha cabeça.
Saquei meu celular e mandei uma mensagem a pelo Snapchat. Ele não tardou a responder.
diz:
O que é?
diz:
Está a fim de se divertir?
Sorri para a tela do celular ao perceber que ele estava demorando, provavelmente se perguntando o que diabos eu tinha em mente.
:
Por quê?
Tirei uma foto minha, deitada na cama, em um ângulo provocante e com a mão em cima de um dos meus seios.
diz:
Porque estou sozinha e excitada em um dos quartos da Keyshia. Se me achar, ganha um prêmio.
Ele não respondeu e eu sorri. Eu sabia de duas coisas. A primeira era: eu realmente precisava de uma transa. E a segunda coisa: estava absolutamente louco para ser o cara que me faria esse favor. Me olhei na câmera frontal do celular e joguei os cabelos para lado, assumindo uma aparência mais sensual e selvagem. Não demorou muito. Alguém tentou abrir a porta e eu pulei da cama. Já não tinha certeza se eu realmente queria que esse cara fosse o , mas mandei a insegurança pelos ares. A imagem de , ciumento e neurótico, esvaiu-se da minha cabeça com o benefício da embriaguez.
— ? — Ele chamou e forçou a maçaneta.
— Qual é a palavra mágica? — Do outro lado da porta, eu o ouvi rir.
— Eu vou foder você até essa sua arrogância sumir.
Bem, boa sorte com isso.
Assim que abri a porta, esgueirou-se lá para dentro com pressa. Fechou a porta atrás de si com um gesto rápido e me puxou para os seus braços, logo juntando os lábios aos meus sem nem ao menos esperar que eu lhe desse permissão. O beijo dele era urgente, de quem, há muito, me desejava com fervor. E eu correspondi o seu beijo. Não com tanto ardor, mas com vontade o suficiente para fazer com que as mãos dele apertassem ainda mais a minha pele. Pobre e previsível .
— A porta. — Sussurrei quando afastei meu rosto do dele. — Tranque a porta.
Por um momento, me olhou sem entender. Então, ele abriu um grande sorriso.
— Sim, senhora.
voltou a me beijar, dessa vez ele segurou o meu quadril e me ergueu, fazendo com que eu envolvesse sua cintura com minhas pernas e chocando nossos quadris de maneira íntima. As mãos dele se espalmaram na minha bunda e apertaram a minha carne com lascívia. Não reparei que estávamos andando e só me dei conta disso quando, de súbito, chocou as minhas costas contra a porta, erguendo a mão e girando a chave para trancá-la. Não tinha doído, mas a surpresa me fez arfar.
Se achava que eu era algum tipo de bonequinha de porcelana e reclamaria disso, estava enganado. Mordi seu lábio inferior e o puxei, até que ele aproximou ainda mais o rosto e me beijou mais uma vez. Suas mãos seguravam firmemente a minha cintura e seus beijos quentes me faziam querer rasgar toda a sua roupa, embora eu não estivesse pensando em naquele momento. Era com outro homem que eu estava transando, ao menos na minha mente. Finquei minhas unhas nele, por cima da roupa. Em resposta, colidiu meu corpo com a porta mais uma vez, o que me fez soltar o ar em um arquejo baixo. Maldito. Mordi seu lábio mais uma vez, dessa vez com força, e pude sentir o gosto do sangue dele na minha boca. Foi a vez de ficar nervoso, mas não deixei que ele fugisse de meu controle: rocei meus quadris aos dele, o que o fez soltar um gemido torturado.
Entre nós havia hostilidade, tesão (embora o meu tesão não fosse por ele), necessidade (no meu caso), paixão reprimida (no caso dele). A carga sexual era intensa. Ele sentia isso e eu também. Aquilo era o proibido. E tudo que é proibido tem um gosto melhor, muito melhor.
— Isso é tudo que você sabe fazer? — Perguntei a ele de forma provocante, abrindo um sorriso matreiro que eu não poderia esconder nem mesmo que quisesse.
não me respondeu de volta, apenas me pôs no chão e, em um único movimento, me virou de costas, empurrando-me contra a porta enquanto puxava meu quadril na sua direção. Apoiei as mãos na parede, porque era tudo o que eu podia fazer naquele momento. fazia movimentos duros, deliciosamente bruscos. Ele chocou meu quadril contra a sua calça jeans e – pasme – ele já estava excitado.
— Você não vai querer me provocar, . Não agora. — E, para ilustrar suas palavras, presumo, desceu a mão com força na minha bunda, fazendo com que um estalo reverberasse pelo quarto. Soltei um gemido de dor e olhei para ele por cima do ombro. — Não tão mandona agora, não é?
— Vai se foder!
— Estou mais preocupado em foder você. — E, mais uma vez, a mão dele estalou contra a minha pele, dessa vez do outro lado, deixando, ali também, a minha carne formigando com a pancada.
Ele era um canalha. Talvez eu não devesse fazer isso com ele. Talvez eu devesse sair correndo, como da última vez. E, mesmo assim, mesmo pensando em tudo isso, a única coisa que eu queria, naquele momento, era gozar. Por um momento, minha mente voltou a desviar-se para . e seus óculos, barba por fazer, o cabelo, na maior parte das vezes, despenteado. E eu gemi, pensando nele, enquanto roçava sua ereção em mim. Por um momento, as mãos dele deixaram o meu corpo, apenas para abrir o fecho de sua calça. Ela logo caiu em seus calcanhares e, sem perder tempo, puxou minha calcinha para baixo.
E, na minha mente, eu sabia que era quem estava ali comigo, mas queria que fosse meu professor de matemática. E se eu me concentrasse o suficiente, conseguia imaginá-lo ali, naquele quarto, comigo. não se demorou, chutou as calças para longe e se aproximou de mim mais uma vez. Suas mãos correram suavemente pela minha pele, nada como quando ele desferira aqueles tapas. Agora, seu toque era suave. Suas mãos tentaram me virar, mas eu não permiti.
— Não. — Minha voz saiu dura e soou como uma ordem que ele não ousou questionar. Meu corpo enrijeceu-se, uma defesa contra ele, caso ele quisesse me virar, mas não fez isso.
Se eu o confundi, ele não disse nada, apenas afastou as minhas pernas com rapidez e encaixou-se na entrada de minha intimidade. Arfei. Era ele que estava ali comigo, era nele que eu estava pensando. Quando ele me penetrou, eu quase vi estrelas. Estava molhada, excitada e, depois de muito tempo, apreciando sexo mais uma vez. Ele começou em um ritmo lento, bem marcado, forte, que fazia nossos corpos chocarem e o barulho desse ato ecoar pelo quarto. Eu podia ouvir seus grunhidos enquanto ele se movia dentro de mim. Me empinei e fiquei na ponta dos pés, as mãos dele se fechavam firmemente sobre a minha pele e seus gemidos baixos não passavam despercebidos. Eu mesma, também, gemia. A sensação de prazer era indescritível e a posição era favorável para que eu pudesse aproveitar tanto quanto ele.
Quando pensei que iríamos ficar assim, ele me empurrou contra um aparador. Me segurei na base do móvel enquanto ele levantava minha perna direita, seu pênis me completando mais uma vez. Dessa vez, seu ritmo não era lento, muito menos bem compassado. Era visceral, descontrolado, primitivo. Nossos quadris se chocavam com tal força e violência, com tal necessidade, que eu não mais gemia baixinho. Minha boca estava entreaberta e meus dedos se seguravam tão forte no móvel que meus nós dos dedos estavam brancos. O próprio móvel balançava e batia contra a parede enquanto transávamos.
Por vezes ele se afastava demais e então se enfiava em mim de novo, eu o sentia dentro de mim sem constrição, inteiro. Mas a cada vez que ele arremetia era um novo gemido, um novo palavrão. Ele puxou meu cabelo, sua outra mão continuava segurando a minha cintura enquanto seus quadris se moviam contra os meus. Podia sentir um frio na espinha, e eu sabia exatamente o que era aquela sensação. Eu ia gozar. Tive que morder os lábios para me impedir de gritar o nome dele, o nome do homem com quem eu fantasiava em toda e qualquer situação. O nome do homem que eu mais desejava: .
E então meu corpo pareceu explodir em mil pedaços, meus músculos se apertaram ao redor do membro dele, ainda dentro de mim, fazendo com que meu orgasmo fosse ainda mais prazeroso. Eu não gemi, ainda incerta do que poderia dizer, já que era em outro homem que eu pensava. Mesmo assim, não pude impedir um suspiro longo, seguido de um sorriso. Ele, no entanto, não deixou que eu desfrutasse daquele pequeno mimo por muito tempo, logo retirando-se de dentro de mim. Senti as gotas quentes, resultado do nosso prazer, baterem na minha pele e fechei os olhos, tomada pelo asco de saber quem estava ali comigo. Ao abri-los, depois do gemido prolongado que se seguiu, vi , ainda de sapatos, a camisa e o rosto brilhante de suor, parecendo nojento e desmazelado. Não era aquele homem que eu queria. Eu não queria ver ali por nem mais um minuto, uma vez que ele fez o que deveria fazer e eu já não tinha nenhuma outra utilidade para ele ou seu pau.
— Se veste e vai embora. — pareceu confuso. Resolvi repetir: — Eu já terminei, se veste e vai embora. — E então eu me virei para o banheiro adjunto ao quarto e fiquei lá, esperando-o sair enquanto me banhava. Ele tentou me chamar, mas, eventualmente, acabou desistindo depois de ver que eu não sairia do banheiro.
Algum tempo depois, saiu do quarto. Eu me sequei e voltei a vestir minha calcinha. Tranquei a porta do quarto e relembrei o que tinha acabado de acontecer. A leve dormência entre as minhas pernas não me deixava esquecer que eu havia transado com um cara que não era meu namorado nem o meu objeto de desejo. Era o melhor amigo de , um cara que eu odiava.
Eu não sentia nada. Nem mesmo culpa. Aquilo foi sexo por necessidade, eu disse a mim mesma. Eu precisava gozar. E se não fosse , seria outro cara qualquer.
Claro, eu me sentia mal por , mas não o suficiente para perder uma noite de sono. Eu já tinha traído meu namorado no começo do namoro. Eu conhecia a sensação. Fria, vadia, egoísta. Depois de gozar, dormi como um bebê.
Capítulo 7
Cinco semanas e cinco dias para o baile
Nova mensagem recebida.
diz: Precisamos conversar.
Meus avós maternos eram religiosos. Sempre foram. Quando minha mãe descobriu que eu namorava o filho do pastor, ela se tornou ainda mais empenhada em comparecer todos os domingos de manhã na igreja.
Eu nunca fui com ela. Nem uma vez. Eu não gostava de sermões. Não gostava de ouvir palavras moralistas, ditas pelo pai do meu namorado. Eu não acreditava em Deus. Eu não achava que havia um inferno. Meu pai também não, por isso ele nunca ia à Igreja. Naquela manhã, quando minha mãe desceu de seu quarto com sua roupa de domingo, ela me encontrou vestida e já na mesa de café da manhã. Eu tinha feito café, ovos mexidos e torradas, e os ovos já estavam frios.
Bati as unhas na mesa nervosamente, mas a minha mãe sorriu. Ela se sentou na mesa e começou a se servir, sem fazer nenhuma pergunta.
— Você não vai me perguntar? — Eu não estava com fome. Meu estômago estava embrulhado desde ontem, quando voltei para casa de manhã com roupas emprestadas de Key.
— Por que você gostava tanto de Harry Potter? — Ela tinha um sorriso simpático nos lábios e os olhos gentis. — Eu não questiono os desígnios de Deus, . Se você quer ir à igreja comigo, eu não vou ficar te importunando com perguntas. Não precisa.
Eu realmente não entendo. Minha mãe adora um Deus que deixa crianças serem mortas, estupradas, países inteiros passando fome. E ao contrário do que a maioria pensa, que Deus dá o livre arbítrio, aquelas crianças não escolheram nascer na pobreza. Eu não podia aceitar como as pessoas idolatravam alguém tão cruel. E mesmo assim, lá ia eu até a Sua casa.
Eu precisava de palavras de conforto. De palavras de alguém que fosse me recriminar. Eu precisava tomar uma decisão. Ir para Columbia e estudar Direito? Era isso mesmo que eu queria? Eu sabia que não ia entrar na igreja e receber no meu colo todas as respostas que eu procurava. A igreja estava cheia e eu pude ver o pai de lá na frente. Ele ainda era um homem bonito, devia ter seus cinquenta e poucos anos, com uma cabeleira branca charmosa e um bronzeado natural. Eu gostava dele, era animado e simpático, ao contrário da mãe de .
— ! Decidiu nos honrar com a sua presença? — Sorri ligeiramente encabulada, eu nunca tinha posto os pés lá.
Minha mãe me abraçou de lado, parecendo um pouco orgulhosa de mim. Meus olhos subiram para o altar. Havia um grande painel com a imagem de Cristo no fundo. Seus olhos pareciam me acusar de todos os pecados que eu carregava. Aquela imagem de Cristo me assustava. Desviei os olhos para ver sorrir para mim e acenar. Eu podia ver que a mãe dele o mantinha ao seu lado enquanto conversava com a mulher do prefeito e sua filha feiosa. Sorri para ele falsamente, acenando de volta.
O pastor continuava conversando com a minha mãe e eu olhei ao redor. Havia muitos jovens da minha escola, suas famílias e a sra. Hilton também estava lá com seu marido entediado. Procurei pela igreja, mas não o achei. Ele nunca tinha parecido religioso, mesmo.
— Margareth, se eu puder falar com você mais tarde…? — O pastor perguntou, olhando-a nos olhos.
— Claro, claro que sim. — Ela sorriu e ele saiu de perto de nós, indo tomar seu lugar no altar. Minha mãe então me olhou. — Vamos nos sentar?
Nosso lugar era logo à frente, perto de e sua mãe.
Quis acreditar que receberia palavras reveladoras. Algo que me fizesse pensar. Que fosse me guiar. E, mesmo assim, tudo o que eu ouvi naquele domingo foi sobre como as famílias deviam proteger seus filhos da mensagem promíscua, drogada e sexual das músicas e dos filmes de hoje em dia. O pastor citou uma das músicas de Beyoncé e disse que jamais gostaria de deixar uma criança que ele conhecesse ouvir aquilo, que era imoral e pervertido. Patético.
Talvez Deus não quisesse falar comigo. Eu passei a vida inteira sem acreditar Nele. Talvez ele simplesmente não quisesse me dar atenção, eu tinha certeza de que havia pessoas em outros lugares do mundo com problemas maiores que os meus.
O único porém é que eu não me importava com os problemas delas. Eu queria saber dos meus problemas. Ainda cogitei pedir para conversar com o pai de depois de tudo aquilo, mas meu namorado foi mais rápido, me cercando antes que eu pudesse ir atrás dele. Era uma má ideia de qualquer forma, imagine eu contando ao meu sogro sobre ter traído seu filho? Minha mãe me deixou na companhia dele e disse que ia ver o que o pastor queria.
— Eu não vejo você desde a festa, está tudo bem? — Ele tentou me beijar nos lábios, mas eu desviei o rosto, fazendo com que ele beijasse a minha bochecha. franziu a testa, me olhando preocupado. — Algum problema, ?
— Nós podemos conversar ali fora? — Apontei o jardim da paróquia, na lateral do terreno. Ele assentiu e pegou minha mão, me levando para fora. Quando chegamos, o cheiro de grama molhada me acalmou um pouco. Eu me virei para ele. — Nós precisamos conversar.
colocou a mão em sua nuca, me olhando um pouco chateado.
— Eu sabia que deveria ter te trazido embora daquela festa. É por que eu te deixei lá, não é? — Ele não ouviu o meu protesto e continuou falando. — Eu pedi para checar você e ele me disse que estava bem e não estava chateada comigo.
— Você confia no ? — A expressão no meu rosto era impassível.
— Ele é meu melhor amigo. — Foi a resposta que recebi.
Olhei ao redor, vendo uma família atravessar a rua de mãos dadas. A mulher tinha um bebê pequeno nos braços. Era aquilo que eu queria. Um bebê, uma família, um bom emprego. Era a felicidade pregada para mim todos os dias. Era o que eu almejava, mas não senti nada com a visão daquela família. Não senti nada quando voltei meus olhos para . Eu não o queria como pai de meus filhos.
— O que você quer fazer depois da faculdade? — Eu perguntei a ele, voltando meus olhos para ver a família ir embora.
— Eu quero me casar com você. — Ele disse de pronto, como se tivesse decorado a resposta.
— Por quê?
— O que você quer dizer com isso? — Ele parecia confuso. Nós dois parecíamos robôs programados, não parecíamos?
— Por que quer se casar comigo? — Olhei por cima do ombro, ele me olhava descrente, como se eu tivesse dito algo absurdo. — Por quê?
coçou a nuca, olhou seus pés, me olhou de volta. Finalmente se acercou de mim, segurando minhas mãos nas dele.
— Porque eu amo você. — E ele parecia sincero. parecia brutalmente sincero. E, de algum modo, ele tinha demorado tanto tempo para me responder.
— Só por isso? — Eu perguntei, pressionando-o mais. — O que você admira em mim?
— Você é linda!
— ! — Minha pergunta para ele era séria. Eu queria motivos.
— Você é inteligente, bacana, é uma boa moça de uma boa família. Por que não?
Mas eu não era uma boa moça, era? Eu tinha transado com o melhor amigo dele. Eu me masturbava pensando no meu professor de matemática. E eu não fazia a mínima ideia do que fazer com o meu futuro.
— Tudo bem.
Tirei minhas mãos das dele e virei de costas, pronta para deixar o jardim e procurar a minha mãe para irmos embora.
Na volta, minha mãe me olhava vez ou outra pelo canto dos olhos. Eu fingia que não via o que ela estava fazendo, até que ela resolveu falar. E isso eu não pude ignorar.
— Sobre o que você e estavam conversando no jardim? — Hesitei. Minha mãe gostava muito do .
— Planos. Do futuro, você sabe… Sobre a faculdade.
Minha mãe assentiu, aparentemente satisfeita.
— E você achou o que foi procurar na igreja?
— Nem sombra.
— Devia continuar indo lá. Pode ser que ache. — Ela ainda tentou insistir.
— Deus deveria saber que essa foi a única chance que dei a Ele. — Comentei em um tom de voz cansado, uma angústia no meu peito fazia com que eu quisesse chorar por horas.
— Você não deveria ser tão desrespeitosa com Deus, . — Ela ralhou, mas não insistiu mais. Tive certa paz até chegar em casa, com ela não insistindo que eu fosse à igreja.
Meu pai se chocou com o que viu: minha mãe e eu voltando da igreja.
— Sua mãe te obrigou a ir? — Ele me perguntou em um tom sussurrado, depois que ela saiu. Era o dia dele de fazer o almoço e ele usava o avental preto que dizia “melhor pai do mundo” que eu dei a ele no ano passado.
— Não, eu decidi dar uma chance à igreja. — Ajudei meu pai a descascar as batatas, enquanto ele pareceu confuso, parando o que fazia para me olhar.
— Você tem agido de modo estranho, .
É, aposto que muita gente pensou isso hoje.
Nova mensagem recebida.
diz: Precisamos conversar.
Meus avós maternos eram religiosos. Sempre foram. Quando minha mãe descobriu que eu namorava o filho do pastor, ela se tornou ainda mais empenhada em comparecer todos os domingos de manhã na igreja.
Eu nunca fui com ela. Nem uma vez. Eu não gostava de sermões. Não gostava de ouvir palavras moralistas, ditas pelo pai do meu namorado. Eu não acreditava em Deus. Eu não achava que havia um inferno. Meu pai também não, por isso ele nunca ia à Igreja. Naquela manhã, quando minha mãe desceu de seu quarto com sua roupa de domingo, ela me encontrou vestida e já na mesa de café da manhã. Eu tinha feito café, ovos mexidos e torradas, e os ovos já estavam frios.
Bati as unhas na mesa nervosamente, mas a minha mãe sorriu. Ela se sentou na mesa e começou a se servir, sem fazer nenhuma pergunta.
— Você não vai me perguntar? — Eu não estava com fome. Meu estômago estava embrulhado desde ontem, quando voltei para casa de manhã com roupas emprestadas de Key.
— Por que você gostava tanto de Harry Potter? — Ela tinha um sorriso simpático nos lábios e os olhos gentis. — Eu não questiono os desígnios de Deus, . Se você quer ir à igreja comigo, eu não vou ficar te importunando com perguntas. Não precisa.
Eu realmente não entendo. Minha mãe adora um Deus que deixa crianças serem mortas, estupradas, países inteiros passando fome. E ao contrário do que a maioria pensa, que Deus dá o livre arbítrio, aquelas crianças não escolheram nascer na pobreza. Eu não podia aceitar como as pessoas idolatravam alguém tão cruel. E mesmo assim, lá ia eu até a Sua casa.
Eu precisava de palavras de conforto. De palavras de alguém que fosse me recriminar. Eu precisava tomar uma decisão. Ir para Columbia e estudar Direito? Era isso mesmo que eu queria? Eu sabia que não ia entrar na igreja e receber no meu colo todas as respostas que eu procurava. A igreja estava cheia e eu pude ver o pai de lá na frente. Ele ainda era um homem bonito, devia ter seus cinquenta e poucos anos, com uma cabeleira branca charmosa e um bronzeado natural. Eu gostava dele, era animado e simpático, ao contrário da mãe de .
— ! Decidiu nos honrar com a sua presença? — Sorri ligeiramente encabulada, eu nunca tinha posto os pés lá.
Minha mãe me abraçou de lado, parecendo um pouco orgulhosa de mim. Meus olhos subiram para o altar. Havia um grande painel com a imagem de Cristo no fundo. Seus olhos pareciam me acusar de todos os pecados que eu carregava. Aquela imagem de Cristo me assustava. Desviei os olhos para ver sorrir para mim e acenar. Eu podia ver que a mãe dele o mantinha ao seu lado enquanto conversava com a mulher do prefeito e sua filha feiosa. Sorri para ele falsamente, acenando de volta.
O pastor continuava conversando com a minha mãe e eu olhei ao redor. Havia muitos jovens da minha escola, suas famílias e a sra. Hilton também estava lá com seu marido entediado. Procurei pela igreja, mas não o achei. Ele nunca tinha parecido religioso, mesmo.
— Margareth, se eu puder falar com você mais tarde…? — O pastor perguntou, olhando-a nos olhos.
— Claro, claro que sim. — Ela sorriu e ele saiu de perto de nós, indo tomar seu lugar no altar. Minha mãe então me olhou. — Vamos nos sentar?
Nosso lugar era logo à frente, perto de e sua mãe.
Quis acreditar que receberia palavras reveladoras. Algo que me fizesse pensar. Que fosse me guiar. E, mesmo assim, tudo o que eu ouvi naquele domingo foi sobre como as famílias deviam proteger seus filhos da mensagem promíscua, drogada e sexual das músicas e dos filmes de hoje em dia. O pastor citou uma das músicas de Beyoncé e disse que jamais gostaria de deixar uma criança que ele conhecesse ouvir aquilo, que era imoral e pervertido. Patético.
Talvez Deus não quisesse falar comigo. Eu passei a vida inteira sem acreditar Nele. Talvez ele simplesmente não quisesse me dar atenção, eu tinha certeza de que havia pessoas em outros lugares do mundo com problemas maiores que os meus.
O único porém é que eu não me importava com os problemas delas. Eu queria saber dos meus problemas. Ainda cogitei pedir para conversar com o pai de depois de tudo aquilo, mas meu namorado foi mais rápido, me cercando antes que eu pudesse ir atrás dele. Era uma má ideia de qualquer forma, imagine eu contando ao meu sogro sobre ter traído seu filho? Minha mãe me deixou na companhia dele e disse que ia ver o que o pastor queria.
— Eu não vejo você desde a festa, está tudo bem? — Ele tentou me beijar nos lábios, mas eu desviei o rosto, fazendo com que ele beijasse a minha bochecha. franziu a testa, me olhando preocupado. — Algum problema, ?
— Nós podemos conversar ali fora? — Apontei o jardim da paróquia, na lateral do terreno. Ele assentiu e pegou minha mão, me levando para fora. Quando chegamos, o cheiro de grama molhada me acalmou um pouco. Eu me virei para ele. — Nós precisamos conversar.
colocou a mão em sua nuca, me olhando um pouco chateado.
— Eu sabia que deveria ter te trazido embora daquela festa. É por que eu te deixei lá, não é? — Ele não ouviu o meu protesto e continuou falando. — Eu pedi para checar você e ele me disse que estava bem e não estava chateada comigo.
— Você confia no ? — A expressão no meu rosto era impassível.
— Ele é meu melhor amigo. — Foi a resposta que recebi.
Olhei ao redor, vendo uma família atravessar a rua de mãos dadas. A mulher tinha um bebê pequeno nos braços. Era aquilo que eu queria. Um bebê, uma família, um bom emprego. Era a felicidade pregada para mim todos os dias. Era o que eu almejava, mas não senti nada com a visão daquela família. Não senti nada quando voltei meus olhos para . Eu não o queria como pai de meus filhos.
— O que você quer fazer depois da faculdade? — Eu perguntei a ele, voltando meus olhos para ver a família ir embora.
— Eu quero me casar com você. — Ele disse de pronto, como se tivesse decorado a resposta.
— Por quê?
— O que você quer dizer com isso? — Ele parecia confuso. Nós dois parecíamos robôs programados, não parecíamos?
— Por que quer se casar comigo? — Olhei por cima do ombro, ele me olhava descrente, como se eu tivesse dito algo absurdo. — Por quê?
coçou a nuca, olhou seus pés, me olhou de volta. Finalmente se acercou de mim, segurando minhas mãos nas dele.
— Porque eu amo você. — E ele parecia sincero. parecia brutalmente sincero. E, de algum modo, ele tinha demorado tanto tempo para me responder.
— Só por isso? — Eu perguntei, pressionando-o mais. — O que você admira em mim?
— Você é linda!
— ! — Minha pergunta para ele era séria. Eu queria motivos.
— Você é inteligente, bacana, é uma boa moça de uma boa família. Por que não?
Mas eu não era uma boa moça, era? Eu tinha transado com o melhor amigo dele. Eu me masturbava pensando no meu professor de matemática. E eu não fazia a mínima ideia do que fazer com o meu futuro.
— Tudo bem.
Tirei minhas mãos das dele e virei de costas, pronta para deixar o jardim e procurar a minha mãe para irmos embora.
Na volta, minha mãe me olhava vez ou outra pelo canto dos olhos. Eu fingia que não via o que ela estava fazendo, até que ela resolveu falar. E isso eu não pude ignorar.
— Sobre o que você e estavam conversando no jardim? — Hesitei. Minha mãe gostava muito do .
— Planos. Do futuro, você sabe… Sobre a faculdade.
Minha mãe assentiu, aparentemente satisfeita.
— E você achou o que foi procurar na igreja?
— Nem sombra.
— Devia continuar indo lá. Pode ser que ache. — Ela ainda tentou insistir.
— Deus deveria saber que essa foi a única chance que dei a Ele. — Comentei em um tom de voz cansado, uma angústia no meu peito fazia com que eu quisesse chorar por horas.
— Você não deveria ser tão desrespeitosa com Deus, . — Ela ralhou, mas não insistiu mais. Tive certa paz até chegar em casa, com ela não insistindo que eu fosse à igreja.
Meu pai se chocou com o que viu: minha mãe e eu voltando da igreja.
— Sua mãe te obrigou a ir? — Ele me perguntou em um tom sussurrado, depois que ela saiu. Era o dia dele de fazer o almoço e ele usava o avental preto que dizia “melhor pai do mundo” que eu dei a ele no ano passado.
— Não, eu decidi dar uma chance à igreja. — Ajudei meu pai a descascar as batatas, enquanto ele pareceu confuso, parando o que fazia para me olhar.
— Você tem agido de modo estranho, .
É, aposto que muita gente pensou isso hoje.
Capítulo 8
Cinco semanas e quatro dias para o baile
Nova mensagem recebida.
diz: Você não pode me ignorar para sempre.
As mensagens de continuavam chegando em um fluxo ininterrupto, o que me deixava irritada toda manhã, quando eu tinha que olhar para a cara dele. Nós transamos e foi isso, será que ele não podia me deixar em paz?
Me despedi de , que parecia, como sempre, desconfiada de mim. Eu entendia. me seguiu hoje o dia inteiro, como um cachorrinho, parecia magoado comigo e, além de tudo, eu tinha me sentado com a Keyshia no almoço.
devia sentir que eu estava escapando de seu controle, o que era compreensível, e eu temia o que ela faria para me manter junto a ela novamente. Felizmente, eu tinha outra coisa para pensar. Pouco antes da aula de francês, me procurou e perguntou se eu estava livre à tarde. Disse que trabalhava em outra escola e que tinha levado um tempo para conseguir fazer com que o coordenador de lá me deixasse fazer uma visita, que queria que eu fosse com ele. Eu disse que estava livre. Nós combinamos que ele me levaria em seu carro.
Jamais achei que o senhor fosse cumprir a promessa que havia feito. Na verdade, eu tinha até achado que ele tinha esquecido ou que tinha falado aquilo para me confortar, mas parece que ele ficou algum tempo tentando fazer aquilo acontecer e planejando tudo. tinha um coração de ouro.
Eu tinha permanecido incrédula até o momento em que ele apareceu no corredor, sorrindo para mim de modo educado e me perguntando se eu estava pronta. Mas é claro que estava pronta! Inventei uma consulta no dentista para todo mundo que tinha me perguntado, porque apesar de parecer suspeito, o senhor estava apenas tentando me ajudar. Ninguém, no entanto, entenderia isso, certo? E mentir já era tão natural pra mim que fluía dos meus lábios com facilidade.
Nós fomos conversando no caminho. era bem agradável fora da escola, embora ainda parecesse um nerd. Tentei tirar algumas informações dele, mas ele não cedeu.
— Isso não é justo, ! Eu tenho que me preparar, sabia? — Fiz um biquinho, que sempre me garantia o que eu queria, mas ele me olhou e caiu na risada.
— Eu não vou dizer nada! — Então ele me olhou de esguelha, novamente. — E isso não funciona comigo. Tenho irmãs mais novas, aprendi a não ceder.
— Quantas? — Perguntei, entendendo o motivo daquilo não ter funcionado. Para ser bem sincera, eu realmente não esperava que alguém, além de e meu pai, ainda caísse naquilo, mas, ei, medidas drásticas e etc, certo?
— Duas. — O carro parou em um cruzamento e ele me olhou. — Tenho duas irmãs mais novas. Você tem irmãos?
— Filha única e mimada. — Apesar do tom de piada, não era nenhuma mentira.
— Eu devia ter adivinhado. — O sorriso despreocupado que ele me deu me deixou com a guarda baixa. Patética, .
— O que você vai me dar em troca? — Eu perguntei, quebrando o clima de propósito. Quando ele franziu a testa, eu adicionei. — Por dar a aula no seu lugar. Quero um pagamento.
— Pensei que fosse uma troca de favores. — Ele voltou a colocar o carro em movimento. — Eu te ajudo a encontrar sua vocação, você dá a aula pra mim.
Eu poderia te dar um orgasmo. Fingi pensar por um momento.
— Sabe, eu aceito um jantar. — me olhou com um meio sorriso intrigado.
— Um jantar?
— Você cozinha? — Ele negou com a cabeça, fazendo a curva e chegando ao nosso destino. — Bem, não precisa ser nada chique. — Eu dei de ombros enquanto saía do carro, pegando a minha bolsa e alisando a saia do meu vestido.
Me olhei no vidro do carro por algum tempo, enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo baixo, para parecer ligeiramente mais respeitável.
— O que você está fazendo? — Ele parou para me olhar quando viu que eu não tinha seguido-o.
— Bem… — Era meio embaraçoso, mas eu não parecia em nada com uma professora. Só com uma adolescente normal. — Estou tentando parecer mais madura. — Olhei para ele, que andou até onde eu estava parada.
— O que você quer dizer? A sua roupa está boa. — respondeu depois de me olhar de cima a baixo. Eu usava sapatos baixos, sem saltos, e um vestido azul claro até os joelhos, com um cinto e um cardigã brancos. Era algo que eu tinha vestido com pressa, já que tinha acordado atrasada. Eu rolei os olhos e o encarei sem interesse, até que tive uma ideia. franziu a testa ao ver que me inclinei para ele, tirando seus óculos e colocando-os no meu rosto.
— Bem, e agora? Puxa, você é cego?! — Minha vista estava completamente embaçada e ele se aproximou de mim, retomando seus óculos e recolocando-os.
— Eu sou praticamente cego sem eles. — não tinha se afastado de mim e eu olhei para cima, já que ele era mais alto que eu. — Não pegue meus óculos de novo. — Sua voz soou firme, mas não como uma advertência ou um sermão, não como se estivesse irritado.
— Oh, tudo bem, senhor cegueta. Não quero que você precise de um cão-guia, certo? — Eu abri um sorriso largo, debochado, o que fez sua expressão se suavizar.
— Você deveria ser mais você mesma, . Você é mais interessante assim. — Procurei malícia nos olhos dele, mas ou o senhor era melhor fingindo do que eu, ou ele não tinha a mínima noção de como aquilo tinha soado. Tinha soado… Sacana.
Fiquei boquiaberta por alguns poucos segundos, mas logo ele se afastou e disse que deveríamos entrar, aparentemente os alunos não deveriam ficar esperando.
Entrar na sala de aula foi tão assustador quanto quando entrei na minha sala de aula pela primeira vez, no Ensino Médio. É claro, eu já estava bonita e já tinha aprendido a me vestir, mas, mesmo assim, me senti insegura. Até começar a falar comigo.
Os murmúrios na sala de aula cessaram assim que entrei com o senhor . Pude ver todas as alunas se voltando para ele. Aposto que todas prestavam atenção, independente de gostarem ou não de matemática. A turma parecia ser junior e eu me tranquilizei. Eu não seria julgada por aquelas meninas, eu era mais velha, mais alta, estava acompanhada do professor. Ninguém ia caçoar de mim.
— Atenção, pessoal. Hoje eu trouxe uma aluna para me ajudar. — Ele passou o olhar atento por todas as carteiras enquanto alguns dos rapazes cochichavam alegremente entre eles, soltando risadinhas. — Ela vai dar aula enquanto eu corrijo as suas provas.
tinha acabado de se virar para mim, quando uma das meninas levantou a mão. Surpreso, ele se voltou para ela.
— Sim, Jane?
— Ela não é sua namorada, é? — Olhei para aquela futura com um pouco de raiva e um pouco de admiração por sua coragem.
— Não, Jane, ela é exatamente o que eu disse: uma aluna.
É, Jane, infelizmente eu não sou a namorada dele.
se voltou para mim novamente e falou comigo em um tom sussurrado.
— Eles estão tendo um pouco de problema com funções, então se você puder ensiná-los…
Funções? Quem poderia ter problemas com funções? Ele também me explicou que seriam dois tempos de aula e que, se eu não ficasse confortável, podia trocar com ele e corrigir as provas em vez disso. E logo tomou seu lugar à mesa, me deixando estranhamente em pé no meio da sala de aula, na frente de todos aqueles adolescentes.
Respirei fundo enquanto olhava para cada rosto curioso que me avaliava. Eu não podia gaguejar agora.
— Hm, boa tarde. Eu me chamo e, como o senhor explicou, eu vou dar essa aula de hoje para vocês… Acho que… Podemos começar com funções. Alguém tem alguma dúvida específica antes de eu começar? — Me lembrei de como dava suas aulas e tentei adaptar seu método, escaneando a sala de aula. Quando estava prestes a me virar para o quadro-negro, Jane levantou a mão. — Sim?
— O que você está fazendo aqui de verdade?
Eu titubeei. Definitivamente, Jane seria uma futura .
— Bem, eu estou dando aula. — Ou, pelo menos, tentando.
— E por que o deixaria uma aluna dar aula no lugar dele?
— Jane. — a advertiu com a sua voz autoritária, mas a garota nem se abalou, apenas continuou de braços cruzados, me encarando. Ele não estava dormindo com uma garota de 15 anos, estava? Oh. Meu. Deus.
— Porque eu quero ser professora. Ou, ao menos, quero saber como é. Vou ver se consigo dar uma boa aula, então, por favor, prestem atenção e me ajudem, tudo bem? — Empurrando toda a minha hostilidade pela minha garganta abaixo, consegui até mesmo sorrir para a impávida patricinha, que continuou me olhando de modo arrogante, mas sem ousar continuar me interrompendo. Pude sentir o olhar de aprovação de e me virei para o quadro-negro, escrevendo uma função simples nele, subitamente orgulhosa de mim mesma. — Muito bem, algum de vocês poderia me dizer qual é o primeiro passo para resolver essa função?
A aula seguiu sem interrupções e alguns garotos, apesar de estarem obviamente prestando mais atenção em mim do que no quadro, conseguiram executar os exercícios que o senhor já tinha pronto para eles. Me atrapalhei algumas vezes, é claro, mas até que não tinha sido assim tão ruim. Apesar de tudo.
Adolescentes eram problemáticos e eles jamais respeitariam alguém tão próxima da idade deles, mas, pelo menos, eu tinha o senhor para intervir quando uma das meninas tentava debochar ou um dos rapazes tentava pedir meu telefone.
Foi assim que eu expliquei funções para uma turma de juniors e depois passei o tempo seguinte corrigindo as provas deles enquanto dava aula. Pude ver o olhar de admiração da garota chamada Jane, mas, ao contrário das suas amigas, ela não cochichava sobre ele. Vez ou outra, apenas me lançava um olhar duvidoso, como se ainda se perguntasse o que eu estava fazendo ali.
— Você foi bem. — Ele me encorajou enquanto andávamos em direção ao carro dele, no estacionamento.
— Você também achou? — Eu sorri, aliviada, enrolando um dedo na ponta do rabo de cavalo. — Quer dizer, depois de um tempo eu simplesmente não estava mais nervosa e eles… Bem, eles são meio agitados, mas acho que a nossa turma é bem pior…
Nós dois rimos juntos e estávamos prestes a entrar no carro, quando Jane surgiu, esbaforida, atrás de nós.
— Ei, ! — Ela parou ao lado dele, respirando fundo. — A mamãe não vai poder me buscar hoje, você pode me dar uma carona? — Eles pareciam bem íntimos e eu fiquei ressabiada. Quer dizer, qual é, ele não dorme comigo, mas dorme com uma garota de, sei lá, quinze anos? Ela nem é tão bonita!
— Sério? Entra aí, Jane, eu te deixo em casa. É no caminho, de qualquer jeito. — Ele não ligou, só entrou no carro e ela fez o mesmo, colocando a bolsa no banco e entrando pela porta traseira.
Olhei para ela pelo espelho retrovisor, sem saber o que pensar. Eu devia parecer bem estranha, porque ele riu.
— Jane é minha irmã mais nova. Jane, essa é , uma das minhas melhores alunas. — Oh, bem, acho que isso explica a intimidade.
— Deixe de ser mentiroso, eu sou a sua melhor aluna. — Rebati de modo cômico, procurando aliviar minha estranheza inicial.
A irmã dele me olhou meio desinteressada, mas vi que era falso. Assim como psicopatas se atraem, nosso tipo de garota também: as vacas.
— Então você já faz faculdade ou algo do tipo? — Ela me perguntou, ainda fingindo descaso.
— Não, eu estou no último ano do Ensino Médio.
— E quer ser professora? — Ela me perguntou com um tom tão desapontado que me fez rir e o irmão dela lhe lançar um olhar de advertência. — Quer dizer, nada contra, o é professor, mas ele é nerd. E você… Você não se parece com alguém que gosta de matemática.
— Bem, eu dei uma aula de matemática hoje para a sua turma, não dei?
— Foi, e foi boa, sabe, mas mesmo assim… — Eu entendia o que ela queria me dizer. Eu estava vestida com roupas simples, mas de grife, e me parecia mais com uma patricinha descerebrada do que com alguém que daria aulas particulares de matemática.
— Eu sei. — Nós duas nos olhamos em silêncio por algum tempo.
Achei que estava tudo bem, mas então ela resolveu abrir a boca.
— Eu achei que você fosse namorada dele. — Como eu gostaria…
limpou a garganta, mas ela não se importou. Eu apenas ri.
— Não, eu já tenho namorado. — Triste realidade, Jane, mas eu tenho um namorado que não serve nem para me fazer gozar.
— Sabe, ele poderia arrumar uma namorada. Desde que a Sarah o largou, ele tem sido meio…
— Jane, chega. — sentiu a necessidade de se meter. Seu tom de voz foi rígido e todos nós permanecemos em silêncio até o próprio o quebrar e avisar que tínhamos chegado na casa dela. Era uma casa bonita, do tipo que eu teria. Ou que imaginava que teria, se seguisse meus planos. — Mande um beijo para a mãe e para o seu pai, tudo bem?
— É, , que seja. — Rolando os olhos, ela o beijou no rosto antes de descer do carro e entrar na casa.
— Adolescentes são difíceis, hein? — Eu disse de maneira irônica, fazendo com que ele olhasse para mim e risse.
— Ainda mais quando eles são seus irmãos.
— Vocês se parecem um pouco. — Eu comentei distraidamente, enquanto ele arrancava com o carro. Não ia mencionar a tal Sarah porque ele tinha parecido chateado, mas aquilo me fez ver o quanto eu não sabia sobre ele. Sobre a vida dele antes de chegar aqui, sobre como tinha sido a faculdade ou coisas do tipo.
— Você quer dizer que eu sou tão petulante e convencido como ela?
— Não nesse sentido. — Ri com ele. Ele tinha esse dom, de fazer com que eu me sentisse leve e despreocupada. Como se nada mais fosse importante. — Sei lá, os olhos. Vocês tem os mesmos olhos. Exceto que ela não deve ser cegueta como você. — Ele riu. Passamos algum tempo em silêncio, mas eu não queria deixar a conversa morrer. — Ela é meio jovem, não é?
Por um momento, ele pareceu pensar sobre quem estávamos falando, mas logo percebeu e recomeçou a falar.
— Eu estou velho demais para ter uma irmã de quinze anos?
— Bem, você parece meio acabado, mas não velho. — Zombei dele enquanto ligava o rádio.
— Os meus pais se separaram quando eu tinha sete anos. Os dois casaram de novo, então eu ganhei duas irmãs, uma de cada casamento. — Ele explicou. — A do meio acabou de entrar na faculdade. Quer ser escritora. — Ele deu de ombros. — Mas Jane… Jane é do tipo que dá trabalho.
— Porque ela gosta de se maquiar, de festas e de usar roupas de grife? Como eu, acho, certo? — Me ofendi, é claro. Deixei que aquilo permanecesse no ar, que ele refletisse, e então aproveitou o semáforo fechado para se virar para mim. Ele entendia cada nuance do que eu dizia.
— Como você? Eu teria sorte se Jane fosse como você. Você é inteligente, tem as melhores notas, não deixa que as festas e o seu namorado enfraqueçam o seu desempenho na escola… A Jane não é assim.
— Eu nem ao menos sei o que eu quero fazer da minha vida, , corta essa. Quer dizer, eu sabia, mas… — Bufei, irritada comigo mesma por ter estragado a conversa.
— Quais eram os seus planos? — Ele continuou me encorajando a falar. E eu continuei.
— Eu achei que ia terminar o ensino médio, iria para a Columbia junto com o e então nós iríamos nos casar quando a faculdade terminasse, voltar para cá e eu ia trabalhar com o meu pai e ele com a mãe dele.
— E o que mudou? — Os olhos dele me analisaram profundamente.
Eu quis dizer que ele tinha aberto meus olhos, mas me vi falando outra coisa.
— Eu não quero mais fazer Direito e trabalhar com o meu pai.
— Bem, você pode…
— Também não sei se quero me casar. Quer dizer, agora eu sei que não quero me casar com ele.
Ele me encarou por pouco tempo, já que logo o sinal abriu novamente e ele teve que voltar a dirigir.
— Você são um casal bonito. — Aquilo doeu mais do que qualquer coisa. Eu não queria que ele dissesse aquilo quando todo mundo já dizia a mesma coisa. — Mas se você não quer se casar com ele, então não deveria fazer isso.
— Sim, mas o que eu vou fazer? Eu tinha a minha vida inteira planejada. E então, do nada, ela se desintegrou na minha frente. Eu não sei o que eu vou fazer com o meu futuro. E isso me assusta um pouco. — Talvez me assustasse muito. Mordi o lábio, em uma resposta corporal ansiosa.
— Você deveria pensar menos. — Ele atalhou, fazendo com que eu parasse de falar apressadamente e olhasse para ele. — Se desligar um pouco desse cérebro viciado em matemática e pensamentos obsessivos. Só ver onde a vida vai levar você, sabe?
— Não? Não sei fazer isso. — Eu tinha sido uma planejadora durante toda a minha vida. O simples pensamento de “deixar a vida me levar” me fazia entrar em pânico.
— Não adianta ficar emburrada, algumas vezes as coisas fogem do nosso controle. Nós podemos pensar no que estamos fazendo errado e se há alguma maneira de consertar, mas não dá pra controlar tudo. — Agora ele parecia um pouco mais sombrio, como se estivesse falando com conhecimento de causa. — O animal que sobrevive não é o mais forte, é o que consegue se adaptar melhor às mudanças ao redor dele, .
Por um momento, eu quis perguntar se tinha sido assim com a Sarah. Se o relacionamento tinha saído do controle dele, mas consegui me manter quieta.
— Você tem razão.
— Mas? — Ele pareceu ressabiado.
— Mas eu não sei entregar o meu controle desse jeito.
O carro dele parou em frente à calçada da minha casa. Meu carro já devia estar na garagem, já que tinha pedido para Key levá-lo para mim. se virou para mim e pegou as minhas mãos, segurando-as entre as dele.
— , você não tem que fazer nada que você não queira. Não tem que fazer um futuro para agradar qualquer pessoa que não seja você mesma, entendeu? Se as circunstâncias mudaram, mude os seus planos. E tente pensar menos, você é bem mais divertida desse jeito. — Acrescentou a última frase com seu sorriso que eu amava tanto. Tive ganas de agarrá-lo.
Eu não sabia como respondê-lo. Fiquei parada, olhando nos olhos dele por algum tempo, sem fazer ideia do que dizer.
— Obrigada por tudo, . De verdade. — Desviei o olhar para que ele não percebesse o quão desconfortável eu estava – desconfortável apenas porque não podia agarrá-lo ali mesmo. Retirei, lentamente, minha mão das dele.
— Você gostou de ser professora por um dia?
— Não foi tão insuportável. — Murmurei, escondendo um sorriso enquanto saía do carro. — Tchau, .
Nova mensagem recebida.
diz: Você não pode me ignorar para sempre.
As mensagens de continuavam chegando em um fluxo ininterrupto, o que me deixava irritada toda manhã, quando eu tinha que olhar para a cara dele. Nós transamos e foi isso, será que ele não podia me deixar em paz?
Me despedi de , que parecia, como sempre, desconfiada de mim. Eu entendia. me seguiu hoje o dia inteiro, como um cachorrinho, parecia magoado comigo e, além de tudo, eu tinha me sentado com a Keyshia no almoço.
devia sentir que eu estava escapando de seu controle, o que era compreensível, e eu temia o que ela faria para me manter junto a ela novamente. Felizmente, eu tinha outra coisa para pensar. Pouco antes da aula de francês, me procurou e perguntou se eu estava livre à tarde. Disse que trabalhava em outra escola e que tinha levado um tempo para conseguir fazer com que o coordenador de lá me deixasse fazer uma visita, que queria que eu fosse com ele. Eu disse que estava livre. Nós combinamos que ele me levaria em seu carro.
Jamais achei que o senhor fosse cumprir a promessa que havia feito. Na verdade, eu tinha até achado que ele tinha esquecido ou que tinha falado aquilo para me confortar, mas parece que ele ficou algum tempo tentando fazer aquilo acontecer e planejando tudo. tinha um coração de ouro.
Eu tinha permanecido incrédula até o momento em que ele apareceu no corredor, sorrindo para mim de modo educado e me perguntando se eu estava pronta. Mas é claro que estava pronta! Inventei uma consulta no dentista para todo mundo que tinha me perguntado, porque apesar de parecer suspeito, o senhor estava apenas tentando me ajudar. Ninguém, no entanto, entenderia isso, certo? E mentir já era tão natural pra mim que fluía dos meus lábios com facilidade.
Nós fomos conversando no caminho. era bem agradável fora da escola, embora ainda parecesse um nerd. Tentei tirar algumas informações dele, mas ele não cedeu.
— Isso não é justo, ! Eu tenho que me preparar, sabia? — Fiz um biquinho, que sempre me garantia o que eu queria, mas ele me olhou e caiu na risada.
— Eu não vou dizer nada! — Então ele me olhou de esguelha, novamente. — E isso não funciona comigo. Tenho irmãs mais novas, aprendi a não ceder.
— Quantas? — Perguntei, entendendo o motivo daquilo não ter funcionado. Para ser bem sincera, eu realmente não esperava que alguém, além de e meu pai, ainda caísse naquilo, mas, ei, medidas drásticas e etc, certo?
— Duas. — O carro parou em um cruzamento e ele me olhou. — Tenho duas irmãs mais novas. Você tem irmãos?
— Filha única e mimada. — Apesar do tom de piada, não era nenhuma mentira.
— Eu devia ter adivinhado. — O sorriso despreocupado que ele me deu me deixou com a guarda baixa. Patética, .
— O que você vai me dar em troca? — Eu perguntei, quebrando o clima de propósito. Quando ele franziu a testa, eu adicionei. — Por dar a aula no seu lugar. Quero um pagamento.
— Pensei que fosse uma troca de favores. — Ele voltou a colocar o carro em movimento. — Eu te ajudo a encontrar sua vocação, você dá a aula pra mim.
Eu poderia te dar um orgasmo. Fingi pensar por um momento.
— Sabe, eu aceito um jantar. — me olhou com um meio sorriso intrigado.
— Um jantar?
— Você cozinha? — Ele negou com a cabeça, fazendo a curva e chegando ao nosso destino. — Bem, não precisa ser nada chique. — Eu dei de ombros enquanto saía do carro, pegando a minha bolsa e alisando a saia do meu vestido.
Me olhei no vidro do carro por algum tempo, enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo baixo, para parecer ligeiramente mais respeitável.
— O que você está fazendo? — Ele parou para me olhar quando viu que eu não tinha seguido-o.
— Bem… — Era meio embaraçoso, mas eu não parecia em nada com uma professora. Só com uma adolescente normal. — Estou tentando parecer mais madura. — Olhei para ele, que andou até onde eu estava parada.
— O que você quer dizer? A sua roupa está boa. — respondeu depois de me olhar de cima a baixo. Eu usava sapatos baixos, sem saltos, e um vestido azul claro até os joelhos, com um cinto e um cardigã brancos. Era algo que eu tinha vestido com pressa, já que tinha acordado atrasada. Eu rolei os olhos e o encarei sem interesse, até que tive uma ideia. franziu a testa ao ver que me inclinei para ele, tirando seus óculos e colocando-os no meu rosto.
— Bem, e agora? Puxa, você é cego?! — Minha vista estava completamente embaçada e ele se aproximou de mim, retomando seus óculos e recolocando-os.
— Eu sou praticamente cego sem eles. — não tinha se afastado de mim e eu olhei para cima, já que ele era mais alto que eu. — Não pegue meus óculos de novo. — Sua voz soou firme, mas não como uma advertência ou um sermão, não como se estivesse irritado.
— Oh, tudo bem, senhor cegueta. Não quero que você precise de um cão-guia, certo? — Eu abri um sorriso largo, debochado, o que fez sua expressão se suavizar.
— Você deveria ser mais você mesma, . Você é mais interessante assim. — Procurei malícia nos olhos dele, mas ou o senhor era melhor fingindo do que eu, ou ele não tinha a mínima noção de como aquilo tinha soado. Tinha soado… Sacana.
Fiquei boquiaberta por alguns poucos segundos, mas logo ele se afastou e disse que deveríamos entrar, aparentemente os alunos não deveriam ficar esperando.
Entrar na sala de aula foi tão assustador quanto quando entrei na minha sala de aula pela primeira vez, no Ensino Médio. É claro, eu já estava bonita e já tinha aprendido a me vestir, mas, mesmo assim, me senti insegura. Até começar a falar comigo.
Os murmúrios na sala de aula cessaram assim que entrei com o senhor . Pude ver todas as alunas se voltando para ele. Aposto que todas prestavam atenção, independente de gostarem ou não de matemática. A turma parecia ser junior e eu me tranquilizei. Eu não seria julgada por aquelas meninas, eu era mais velha, mais alta, estava acompanhada do professor. Ninguém ia caçoar de mim.
— Atenção, pessoal. Hoje eu trouxe uma aluna para me ajudar. — Ele passou o olhar atento por todas as carteiras enquanto alguns dos rapazes cochichavam alegremente entre eles, soltando risadinhas. — Ela vai dar aula enquanto eu corrijo as suas provas.
tinha acabado de se virar para mim, quando uma das meninas levantou a mão. Surpreso, ele se voltou para ela.
— Sim, Jane?
— Ela não é sua namorada, é? — Olhei para aquela futura com um pouco de raiva e um pouco de admiração por sua coragem.
— Não, Jane, ela é exatamente o que eu disse: uma aluna.
É, Jane, infelizmente eu não sou a namorada dele.
se voltou para mim novamente e falou comigo em um tom sussurrado.
— Eles estão tendo um pouco de problema com funções, então se você puder ensiná-los…
Funções? Quem poderia ter problemas com funções? Ele também me explicou que seriam dois tempos de aula e que, se eu não ficasse confortável, podia trocar com ele e corrigir as provas em vez disso. E logo tomou seu lugar à mesa, me deixando estranhamente em pé no meio da sala de aula, na frente de todos aqueles adolescentes.
Respirei fundo enquanto olhava para cada rosto curioso que me avaliava. Eu não podia gaguejar agora.
— Hm, boa tarde. Eu me chamo e, como o senhor explicou, eu vou dar essa aula de hoje para vocês… Acho que… Podemos começar com funções. Alguém tem alguma dúvida específica antes de eu começar? — Me lembrei de como dava suas aulas e tentei adaptar seu método, escaneando a sala de aula. Quando estava prestes a me virar para o quadro-negro, Jane levantou a mão. — Sim?
— O que você está fazendo aqui de verdade?
Eu titubeei. Definitivamente, Jane seria uma futura .
— Bem, eu estou dando aula. — Ou, pelo menos, tentando.
— E por que o deixaria uma aluna dar aula no lugar dele?
— Jane. — a advertiu com a sua voz autoritária, mas a garota nem se abalou, apenas continuou de braços cruzados, me encarando. Ele não estava dormindo com uma garota de 15 anos, estava? Oh. Meu. Deus.
— Porque eu quero ser professora. Ou, ao menos, quero saber como é. Vou ver se consigo dar uma boa aula, então, por favor, prestem atenção e me ajudem, tudo bem? — Empurrando toda a minha hostilidade pela minha garganta abaixo, consegui até mesmo sorrir para a impávida patricinha, que continuou me olhando de modo arrogante, mas sem ousar continuar me interrompendo. Pude sentir o olhar de aprovação de e me virei para o quadro-negro, escrevendo uma função simples nele, subitamente orgulhosa de mim mesma. — Muito bem, algum de vocês poderia me dizer qual é o primeiro passo para resolver essa função?
A aula seguiu sem interrupções e alguns garotos, apesar de estarem obviamente prestando mais atenção em mim do que no quadro, conseguiram executar os exercícios que o senhor já tinha pronto para eles. Me atrapalhei algumas vezes, é claro, mas até que não tinha sido assim tão ruim. Apesar de tudo.
Adolescentes eram problemáticos e eles jamais respeitariam alguém tão próxima da idade deles, mas, pelo menos, eu tinha o senhor para intervir quando uma das meninas tentava debochar ou um dos rapazes tentava pedir meu telefone.
Foi assim que eu expliquei funções para uma turma de juniors e depois passei o tempo seguinte corrigindo as provas deles enquanto dava aula. Pude ver o olhar de admiração da garota chamada Jane, mas, ao contrário das suas amigas, ela não cochichava sobre ele. Vez ou outra, apenas me lançava um olhar duvidoso, como se ainda se perguntasse o que eu estava fazendo ali.
— Você foi bem. — Ele me encorajou enquanto andávamos em direção ao carro dele, no estacionamento.
— Você também achou? — Eu sorri, aliviada, enrolando um dedo na ponta do rabo de cavalo. — Quer dizer, depois de um tempo eu simplesmente não estava mais nervosa e eles… Bem, eles são meio agitados, mas acho que a nossa turma é bem pior…
Nós dois rimos juntos e estávamos prestes a entrar no carro, quando Jane surgiu, esbaforida, atrás de nós.
— Ei, ! — Ela parou ao lado dele, respirando fundo. — A mamãe não vai poder me buscar hoje, você pode me dar uma carona? — Eles pareciam bem íntimos e eu fiquei ressabiada. Quer dizer, qual é, ele não dorme comigo, mas dorme com uma garota de, sei lá, quinze anos? Ela nem é tão bonita!
— Sério? Entra aí, Jane, eu te deixo em casa. É no caminho, de qualquer jeito. — Ele não ligou, só entrou no carro e ela fez o mesmo, colocando a bolsa no banco e entrando pela porta traseira.
Olhei para ela pelo espelho retrovisor, sem saber o que pensar. Eu devia parecer bem estranha, porque ele riu.
— Jane é minha irmã mais nova. Jane, essa é , uma das minhas melhores alunas. — Oh, bem, acho que isso explica a intimidade.
— Deixe de ser mentiroso, eu sou a sua melhor aluna. — Rebati de modo cômico, procurando aliviar minha estranheza inicial.
A irmã dele me olhou meio desinteressada, mas vi que era falso. Assim como psicopatas se atraem, nosso tipo de garota também: as vacas.
— Então você já faz faculdade ou algo do tipo? — Ela me perguntou, ainda fingindo descaso.
— Não, eu estou no último ano do Ensino Médio.
— E quer ser professora? — Ela me perguntou com um tom tão desapontado que me fez rir e o irmão dela lhe lançar um olhar de advertência. — Quer dizer, nada contra, o é professor, mas ele é nerd. E você… Você não se parece com alguém que gosta de matemática.
— Bem, eu dei uma aula de matemática hoje para a sua turma, não dei?
— Foi, e foi boa, sabe, mas mesmo assim… — Eu entendia o que ela queria me dizer. Eu estava vestida com roupas simples, mas de grife, e me parecia mais com uma patricinha descerebrada do que com alguém que daria aulas particulares de matemática.
— Eu sei. — Nós duas nos olhamos em silêncio por algum tempo.
Achei que estava tudo bem, mas então ela resolveu abrir a boca.
— Eu achei que você fosse namorada dele. — Como eu gostaria…
limpou a garganta, mas ela não se importou. Eu apenas ri.
— Não, eu já tenho namorado. — Triste realidade, Jane, mas eu tenho um namorado que não serve nem para me fazer gozar.
— Sabe, ele poderia arrumar uma namorada. Desde que a Sarah o largou, ele tem sido meio…
— Jane, chega. — sentiu a necessidade de se meter. Seu tom de voz foi rígido e todos nós permanecemos em silêncio até o próprio o quebrar e avisar que tínhamos chegado na casa dela. Era uma casa bonita, do tipo que eu teria. Ou que imaginava que teria, se seguisse meus planos. — Mande um beijo para a mãe e para o seu pai, tudo bem?
— É, , que seja. — Rolando os olhos, ela o beijou no rosto antes de descer do carro e entrar na casa.
— Adolescentes são difíceis, hein? — Eu disse de maneira irônica, fazendo com que ele olhasse para mim e risse.
— Ainda mais quando eles são seus irmãos.
— Vocês se parecem um pouco. — Eu comentei distraidamente, enquanto ele arrancava com o carro. Não ia mencionar a tal Sarah porque ele tinha parecido chateado, mas aquilo me fez ver o quanto eu não sabia sobre ele. Sobre a vida dele antes de chegar aqui, sobre como tinha sido a faculdade ou coisas do tipo.
— Você quer dizer que eu sou tão petulante e convencido como ela?
— Não nesse sentido. — Ri com ele. Ele tinha esse dom, de fazer com que eu me sentisse leve e despreocupada. Como se nada mais fosse importante. — Sei lá, os olhos. Vocês tem os mesmos olhos. Exceto que ela não deve ser cegueta como você. — Ele riu. Passamos algum tempo em silêncio, mas eu não queria deixar a conversa morrer. — Ela é meio jovem, não é?
Por um momento, ele pareceu pensar sobre quem estávamos falando, mas logo percebeu e recomeçou a falar.
— Eu estou velho demais para ter uma irmã de quinze anos?
— Bem, você parece meio acabado, mas não velho. — Zombei dele enquanto ligava o rádio.
— Os meus pais se separaram quando eu tinha sete anos. Os dois casaram de novo, então eu ganhei duas irmãs, uma de cada casamento. — Ele explicou. — A do meio acabou de entrar na faculdade. Quer ser escritora. — Ele deu de ombros. — Mas Jane… Jane é do tipo que dá trabalho.
— Porque ela gosta de se maquiar, de festas e de usar roupas de grife? Como eu, acho, certo? — Me ofendi, é claro. Deixei que aquilo permanecesse no ar, que ele refletisse, e então aproveitou o semáforo fechado para se virar para mim. Ele entendia cada nuance do que eu dizia.
— Como você? Eu teria sorte se Jane fosse como você. Você é inteligente, tem as melhores notas, não deixa que as festas e o seu namorado enfraqueçam o seu desempenho na escola… A Jane não é assim.
— Eu nem ao menos sei o que eu quero fazer da minha vida, , corta essa. Quer dizer, eu sabia, mas… — Bufei, irritada comigo mesma por ter estragado a conversa.
— Quais eram os seus planos? — Ele continuou me encorajando a falar. E eu continuei.
— Eu achei que ia terminar o ensino médio, iria para a Columbia junto com o e então nós iríamos nos casar quando a faculdade terminasse, voltar para cá e eu ia trabalhar com o meu pai e ele com a mãe dele.
— E o que mudou? — Os olhos dele me analisaram profundamente.
Eu quis dizer que ele tinha aberto meus olhos, mas me vi falando outra coisa.
— Eu não quero mais fazer Direito e trabalhar com o meu pai.
— Bem, você pode…
— Também não sei se quero me casar. Quer dizer, agora eu sei que não quero me casar com ele.
Ele me encarou por pouco tempo, já que logo o sinal abriu novamente e ele teve que voltar a dirigir.
— Você são um casal bonito. — Aquilo doeu mais do que qualquer coisa. Eu não queria que ele dissesse aquilo quando todo mundo já dizia a mesma coisa. — Mas se você não quer se casar com ele, então não deveria fazer isso.
— Sim, mas o que eu vou fazer? Eu tinha a minha vida inteira planejada. E então, do nada, ela se desintegrou na minha frente. Eu não sei o que eu vou fazer com o meu futuro. E isso me assusta um pouco. — Talvez me assustasse muito. Mordi o lábio, em uma resposta corporal ansiosa.
— Você deveria pensar menos. — Ele atalhou, fazendo com que eu parasse de falar apressadamente e olhasse para ele. — Se desligar um pouco desse cérebro viciado em matemática e pensamentos obsessivos. Só ver onde a vida vai levar você, sabe?
— Não? Não sei fazer isso. — Eu tinha sido uma planejadora durante toda a minha vida. O simples pensamento de “deixar a vida me levar” me fazia entrar em pânico.
— Não adianta ficar emburrada, algumas vezes as coisas fogem do nosso controle. Nós podemos pensar no que estamos fazendo errado e se há alguma maneira de consertar, mas não dá pra controlar tudo. — Agora ele parecia um pouco mais sombrio, como se estivesse falando com conhecimento de causa. — O animal que sobrevive não é o mais forte, é o que consegue se adaptar melhor às mudanças ao redor dele, .
Por um momento, eu quis perguntar se tinha sido assim com a Sarah. Se o relacionamento tinha saído do controle dele, mas consegui me manter quieta.
— Você tem razão.
— Mas? — Ele pareceu ressabiado.
— Mas eu não sei entregar o meu controle desse jeito.
O carro dele parou em frente à calçada da minha casa. Meu carro já devia estar na garagem, já que tinha pedido para Key levá-lo para mim. se virou para mim e pegou as minhas mãos, segurando-as entre as dele.
— , você não tem que fazer nada que você não queira. Não tem que fazer um futuro para agradar qualquer pessoa que não seja você mesma, entendeu? Se as circunstâncias mudaram, mude os seus planos. E tente pensar menos, você é bem mais divertida desse jeito. — Acrescentou a última frase com seu sorriso que eu amava tanto. Tive ganas de agarrá-lo.
Eu não sabia como respondê-lo. Fiquei parada, olhando nos olhos dele por algum tempo, sem fazer ideia do que dizer.
— Obrigada por tudo, . De verdade. — Desviei o olhar para que ele não percebesse o quão desconfortável eu estava – desconfortável apenas porque não podia agarrá-lo ali mesmo. Retirei, lentamente, minha mão das dele.
— Você gostou de ser professora por um dia?
— Não foi tão insuportável. — Murmurei, escondendo um sorriso enquanto saía do carro. — Tchau, .
Capítulo 9
Cinco semanas e dois dias para o baile
Nova mensagem recebida.
diz: Não me faça perder a paciência.
Observei a mensagem no meu celular e ignorei, assim como tinha feito com as anteriores, me concentrando na muda de roupas que tinha tirado do armário do vestiário. me mandava ao menos três mensagens por dia, variando entre “vamos conversar” no estilo bom rapaz e “você vai se arrepender” no melhor estilo psicopata surtado de filmes de terror. Algumas pessoas simplesmente não entendiam que, quando você ignora suas mensagens, mas vive com o celular na mão, você não quer falar com elas. As outras nadadoras começavam a sair, enquanto eu apenas me preparava para o banho.
Com o zumbido das conversas delas e o abre e fecha de armários, eu não conseguia ter paz para tomar um banho e me vestir. Finalmente todas as garotas saíram, o barulho das conversas as acompanhando e eu pude me despir e, enfim, entrar embaixo da ducha morna. Pensei sobre minha vida e meu futuro. Eu tinha gostado de dar aula, apesar do nervosismo. Eu tinha que admitir: talvez quisesse ser professora. Talvez eu pudesse pedir a que me levasse novamente àquela escola e eu daria outra aula para a irmã dele e seus amigos. Queria saber mais sobre ele e Jane parecia bem disposta a me contar o que eu precisava. Só o fato de lembrar de , de como ele tinha me tratado, fez com que a familiar sensação de excitação perpassasse o meu corpo e, depois de uma olhada ao redor, dirigi minha mão até o meio das minhas pernas. Usei a ponta dos dedos para me excitar, pensando no sorriso dele e em todas as coisas que ele tinha me dito. Oh, meu deus. A que ponto eu cheguei?
Suspirei, expirando o ar de forma lenta e entrecortada pela súbita onda de prazer que eu me concedia. No entanto, o som alto da porta do vestiário sendo aberta fez com que eu rapidamente acordasse de minha pequena fantasia e me pusesse alerta. Eu juro por deus que se tentou entrar aqui de novo…
— Quem está aí? — Gritei para o vazio, já que quem quer que tenha entrado ainda estava protegido pelos armários. Fechei o chuveiro, apurando os ouvidos.
Não recebi resposta, o que fez com que eu me preocupasse. Culpe todos os filmes de terror onde patricinhas morrem mais que mosquitos. Claro que ninguém ia responder. Era exatamente assim nos filmes de terror!
Me enrolei na toalha, respirando fundo enquanto tentava me acalmar. É claro que isso não era um filme de terror e eu não ia morrer. Eu era jovem demais para morrer assim. E, nessa cidade, a única coisa que poderia me matar é o tédio. Aguardei, com a ansiedade a mil, o barulho dos passos que chegavam cada vez mais perto. A cada segundo, os passos se aproximavam e eu pensava em correr, mas me forcei a ser racional. Quando eu finalmente pude ver uma figura masculina se aproximar, imaginei que talvez Jason tivesse vindo me matar.
Mas não foi Jason que apareceu e sim a cabeça oca de . Eu estava em pânico por causa de uma brincadeira estúpida de . Olhei para ele com ódio enquanto tudo que ele fez foi olhar meu corpo coberto pela toalha com um meio sorriso.
— Saia daqui, idiota. Você está ferrado se a treinadora Stevens te pegar aqui. — Resmunguei enquanto apertava ainda mais a minha toalha.
— A gente precisa conversar. — Ele ainda insistia nisso? Grande babaca.
— A gente não precisa conversar e acabou. — Retruquei, mal humorada. Ele tinha interrompido um momento íntimo e eu não estava disposta a perdoá-lo, tampouco estava bêbada para ir para a cama com ele.
deu algumas passadas na minha direção e me segurou pelo braço. Eu o olhei feio e tentei me soltar, mas ele acabou segurando meu outro braço também.
— Você acha que vai ser assim? Que uma putinha igual a você vai me usar e me jogar fora? — Ele rosnou as palavras, me apertando contra a parede. Suas mãos marcavam meus braços e eu podia sentir o cheiro de suor nele, de quem tinha se exercitado com os outros caras do time.
Eu não respondi. As mãos dele me apertavam e ele me assustava. Nós dois estávamos sozinhos no vestiário feminino e ele era mais forte que eu.
— E o que você quer? — Perguntei de volta quando ele pareceu me pressionar ainda mais, procurando por uma resposta minha.
— Eu quero você. — Ele soltou um dos meus braços e acariciou o meu rosto.
— Pensei que eu era uma putinha. — Retruquei e ele apertou os olhos. A mão que estava pousada no meu rosto me atingiu em cheio com um tabefe na bochecha. Olhei para ele, incrédula com a dor se espalhando pelo meu rosto, mas me prensou contra uma parede fria.
— E você é. Mas eu quero que seja a minha putinha. E uma bem obediente.
— Se isso é algum joguinho sexual, pode tirar seu cavalinho da chuva! — Respondi de modo ríspido e tentei me soltar. A minha bochecha estava quente e latejava e eu me sentia tão humilhada que estava a ponto de chorar. Ser chamada de putinha a toda hora também não ajudava muito.
— Isso não é um jogo! — Ele me apertou ainda mais contra a parede, pressionando seu corpo em cima do meu, aproximando o nariz do meu cabelo molhado. — A gente não se divertiu, ? — Ele me perguntou em tom suave.
— Me deixa em paz! — Tentei empurrá-lo, mas ele não se mexeu.
— Eu não sou melhor que ele? Não sou melhor que o ? — Havia um resquício de humor em sua voz e eu levantei meus olhos para o belo e desfigurado rosto de . — A Constance dizia que sim. Que tinha que se segurar para não berrar o meu nome enquanto eles transavam. — A mão dele levantou a barra da toalha e, com meu braço direito livre, eu o empurrei.
— Você acha que é melhor que ele? nunca precisou me encurralar em um vestiário para me comer! — Eu ri, nervosa. — é dez vezes mais homem que você, se toca.
A resposta dele foi me estapear de novo. Quando eu caí no chão, com a força do tapa, que agora deixava um gosto metálico de sangue na minha boca, ele caiu em cima de mim, me segurando pelas bochechas como se quisesse me forçar a imitar um peixinho.
— Eu vou te ensinar a falar comigo, . — Ele abriu um sorriso doentio e eu fechei os olhos quando senti a outra mão dele puxar minha toalha e jogá-la longe. Agitei as pernas, tentando chutá-lo para longe, mas sentou-se em cima delas. — E então a gente vai contar para o a nossa pequena aventura na casa da Keyshia. O que você acha?
Não! Não, não e não! Isso não estava acontecendo! não podia falar sério! Eu resisti. Corcoveei o corpo, agitei os braços, arranhei seu rosto. A resposta dele foi abrir o cinto, abaixar a cueca e se aproximar de mim. Ainda não. Eu não o queria. Transar com ele tinha sido um grande erro, eu notei. Movi meu corpo, tentando desviar dele. Porque ele segurava meus braços, ficava difícil para me penetrar e eu estava disposta a evitar isso a qualquer custo. Eu gritei para que ele saísse de cima de mim, mas sua mão abafou grande parte disso. Ele se forçou contra mim, aproximando-se… E então ouvimos um barulho. Achei que fosse a treinadora Stevens, provavelmente. se levantou e saiu dali tão repentinamente quanto havia chegado e eu me escondi em um dos boxes esperando o barulho dos passos, mas ninguém chegou. Me escondi, tampei minha boca com as duas mãos e chorei baixinho até cansar.
Nova mensagem recebida.
diz: Não acabamos.
Nova mensagem recebida.
diz: Não me faça perder a paciência.
Observei a mensagem no meu celular e ignorei, assim como tinha feito com as anteriores, me concentrando na muda de roupas que tinha tirado do armário do vestiário. me mandava ao menos três mensagens por dia, variando entre “vamos conversar” no estilo bom rapaz e “você vai se arrepender” no melhor estilo psicopata surtado de filmes de terror. Algumas pessoas simplesmente não entendiam que, quando você ignora suas mensagens, mas vive com o celular na mão, você não quer falar com elas. As outras nadadoras começavam a sair, enquanto eu apenas me preparava para o banho.
Com o zumbido das conversas delas e o abre e fecha de armários, eu não conseguia ter paz para tomar um banho e me vestir. Finalmente todas as garotas saíram, o barulho das conversas as acompanhando e eu pude me despir e, enfim, entrar embaixo da ducha morna. Pensei sobre minha vida e meu futuro. Eu tinha gostado de dar aula, apesar do nervosismo. Eu tinha que admitir: talvez quisesse ser professora. Talvez eu pudesse pedir a que me levasse novamente àquela escola e eu daria outra aula para a irmã dele e seus amigos. Queria saber mais sobre ele e Jane parecia bem disposta a me contar o que eu precisava. Só o fato de lembrar de , de como ele tinha me tratado, fez com que a familiar sensação de excitação perpassasse o meu corpo e, depois de uma olhada ao redor, dirigi minha mão até o meio das minhas pernas. Usei a ponta dos dedos para me excitar, pensando no sorriso dele e em todas as coisas que ele tinha me dito. Oh, meu deus. A que ponto eu cheguei?
Suspirei, expirando o ar de forma lenta e entrecortada pela súbita onda de prazer que eu me concedia. No entanto, o som alto da porta do vestiário sendo aberta fez com que eu rapidamente acordasse de minha pequena fantasia e me pusesse alerta. Eu juro por deus que se tentou entrar aqui de novo…
— Quem está aí? — Gritei para o vazio, já que quem quer que tenha entrado ainda estava protegido pelos armários. Fechei o chuveiro, apurando os ouvidos.
Não recebi resposta, o que fez com que eu me preocupasse. Culpe todos os filmes de terror onde patricinhas morrem mais que mosquitos. Claro que ninguém ia responder. Era exatamente assim nos filmes de terror!
Me enrolei na toalha, respirando fundo enquanto tentava me acalmar. É claro que isso não era um filme de terror e eu não ia morrer. Eu era jovem demais para morrer assim. E, nessa cidade, a única coisa que poderia me matar é o tédio. Aguardei, com a ansiedade a mil, o barulho dos passos que chegavam cada vez mais perto. A cada segundo, os passos se aproximavam e eu pensava em correr, mas me forcei a ser racional. Quando eu finalmente pude ver uma figura masculina se aproximar, imaginei que talvez Jason tivesse vindo me matar.
Mas não foi Jason que apareceu e sim a cabeça oca de . Eu estava em pânico por causa de uma brincadeira estúpida de . Olhei para ele com ódio enquanto tudo que ele fez foi olhar meu corpo coberto pela toalha com um meio sorriso.
— Saia daqui, idiota. Você está ferrado se a treinadora Stevens te pegar aqui. — Resmunguei enquanto apertava ainda mais a minha toalha.
— A gente precisa conversar. — Ele ainda insistia nisso? Grande babaca.
— A gente não precisa conversar e acabou. — Retruquei, mal humorada. Ele tinha interrompido um momento íntimo e eu não estava disposta a perdoá-lo, tampouco estava bêbada para ir para a cama com ele.
deu algumas passadas na minha direção e me segurou pelo braço. Eu o olhei feio e tentei me soltar, mas ele acabou segurando meu outro braço também.
— Você acha que vai ser assim? Que uma putinha igual a você vai me usar e me jogar fora? — Ele rosnou as palavras, me apertando contra a parede. Suas mãos marcavam meus braços e eu podia sentir o cheiro de suor nele, de quem tinha se exercitado com os outros caras do time.
Eu não respondi. As mãos dele me apertavam e ele me assustava. Nós dois estávamos sozinhos no vestiário feminino e ele era mais forte que eu.
— E o que você quer? — Perguntei de volta quando ele pareceu me pressionar ainda mais, procurando por uma resposta minha.
— Eu quero você. — Ele soltou um dos meus braços e acariciou o meu rosto.
— Pensei que eu era uma putinha. — Retruquei e ele apertou os olhos. A mão que estava pousada no meu rosto me atingiu em cheio com um tabefe na bochecha. Olhei para ele, incrédula com a dor se espalhando pelo meu rosto, mas me prensou contra uma parede fria.
— E você é. Mas eu quero que seja a minha putinha. E uma bem obediente.
— Se isso é algum joguinho sexual, pode tirar seu cavalinho da chuva! — Respondi de modo ríspido e tentei me soltar. A minha bochecha estava quente e latejava e eu me sentia tão humilhada que estava a ponto de chorar. Ser chamada de putinha a toda hora também não ajudava muito.
— Isso não é um jogo! — Ele me apertou ainda mais contra a parede, pressionando seu corpo em cima do meu, aproximando o nariz do meu cabelo molhado. — A gente não se divertiu, ? — Ele me perguntou em tom suave.
— Me deixa em paz! — Tentei empurrá-lo, mas ele não se mexeu.
— Eu não sou melhor que ele? Não sou melhor que o ? — Havia um resquício de humor em sua voz e eu levantei meus olhos para o belo e desfigurado rosto de . — A Constance dizia que sim. Que tinha que se segurar para não berrar o meu nome enquanto eles transavam. — A mão dele levantou a barra da toalha e, com meu braço direito livre, eu o empurrei.
— Você acha que é melhor que ele? nunca precisou me encurralar em um vestiário para me comer! — Eu ri, nervosa. — é dez vezes mais homem que você, se toca.
A resposta dele foi me estapear de novo. Quando eu caí no chão, com a força do tapa, que agora deixava um gosto metálico de sangue na minha boca, ele caiu em cima de mim, me segurando pelas bochechas como se quisesse me forçar a imitar um peixinho.
— Eu vou te ensinar a falar comigo, . — Ele abriu um sorriso doentio e eu fechei os olhos quando senti a outra mão dele puxar minha toalha e jogá-la longe. Agitei as pernas, tentando chutá-lo para longe, mas sentou-se em cima delas. — E então a gente vai contar para o a nossa pequena aventura na casa da Keyshia. O que você acha?
Não! Não, não e não! Isso não estava acontecendo! não podia falar sério! Eu resisti. Corcoveei o corpo, agitei os braços, arranhei seu rosto. A resposta dele foi abrir o cinto, abaixar a cueca e se aproximar de mim. Ainda não. Eu não o queria. Transar com ele tinha sido um grande erro, eu notei. Movi meu corpo, tentando desviar dele. Porque ele segurava meus braços, ficava difícil para me penetrar e eu estava disposta a evitar isso a qualquer custo. Eu gritei para que ele saísse de cima de mim, mas sua mão abafou grande parte disso. Ele se forçou contra mim, aproximando-se… E então ouvimos um barulho. Achei que fosse a treinadora Stevens, provavelmente. se levantou e saiu dali tão repentinamente quanto havia chegado e eu me escondi em um dos boxes esperando o barulho dos passos, mas ninguém chegou. Me escondi, tampei minha boca com as duas mãos e chorei baixinho até cansar.
Nova mensagem recebida.
diz: Não acabamos.
Capítulo 10
Quatro semanas e seis dias para o baile
Nova mensagem recebida.
diz: Bom dia, querida.
Os machucados eventualmente sumiram. Naquele dia, depois do ataque, eu fui embora sozinha, sem procurar depois do treino, com medo de encontrar . Eu tenho fugido dele desde então. Eu tenho olhado por cima do meu ombro desde então. Eu tenho medo que ele me force a transar com ele. Eu tenho medo que ele me encurrale novamente e que não tenha ninguém para me ajudar. Eu sonhei com ele e suei em cima do lençol de algodão egípcio. Ainda há marcas amareladas nos meus braços, mas eu consegui esconder a maior parte delas com meus cardigãs (e fazendo sexo com cada vez menos).
e o time de futebol americano tinham ganhado um jogo hoje. Alguns professores estavam presentes no jogo, mas não o . Desde quando ele me levou para dar aula na outra escola, nós temos nos aproximado. Conversamos durante a semana, nos corredores, sobre coisas leves. Eu tenho o celular dele e ele o meu e, vez ou outra, mando mensagens de texto para ele. Isso é mais do que eu sequer imaginei que poderia rolar entre nós dois. Isso é o que me acalma quando eu penso no que poderia ter acontecido no vestiário feminino.
Mesmo enquanto estava suando e resfolegando em cima de mim, se satisfazendo sozinho, eu só conseguia pensar nele e em alguma coisa engraçada para contar sobre o meu dia. Era só nele que eu conseguia pensar, mesmo com agindo como um maldito vilão de um filme B de Hollywood. Seguia-me, me ameaçava, me mandava mensagens todos os malditos dias e eu só queria que aquilo acabasse. Eu só queria que ele me deixasse em paz.
— Tem certeza que não quer ir comemorar com os caras? vai e as meninas também. — Ele perguntou de novo, enquanto ajeitava as calças e eu o meu vestido.
— Tenho. Eu estou com dor de cabeça, não vou ser divertida para ninguém. — Dei de ombros.
— Você está quieta hoje. — comentou assim que estacionou na frente da minha casa.
— Bem, eu estou com dor de cabeça. — Constatei o óbvio.
— Não nesse sentido. — Ah, sim, entendi o que ele quis dizer. me olhou longamente, dos pés à cabeça, como se um sinal em neon do que estava me atormentando fosse aparecer em algum lugar do meu corpo, assim, do nada. Um outro homem, sussurrei em minha mente, eu desejo outro homem e seu melhor amigo está me perseguindo desde que transei com ele. Oh, é mesmo, ele também tentou me estuprar.
— Só estou pensando em umas coisas.
— Sobre o que?
— Sobre o que eu quero fazer no futuro. — Acabei revelando parte do problema.
Diante disso, pareceu confuso.
— Gata, você não ia fazer Direito e trabalhar com o seu pai? Lembra do nosso combinado? — e eu tínhamos combinado isso há alguns meses: baile de formatura, Columbia e casamento.
— Sim, eu sei, só que… Eu não quero fazer Direito. — Me mexi, desconfortável, no banco do jipe dele, fazendo com que ele me olhasse entre preocupado e divertido.
— E o que você quer fazer? — Mordi o lábio, não esperando que ele me perguntasse isso.
— Acho que eu poderia lecionar.
— Lecionar? Tipo uma professora? — Ele sorriu maliciosamente. — Eu acho que você seria uma professora muito gostosa… — Suas mãos pegajosas já estavam sobre mim de novo e eu as afastei. Para quem fodia tão mal, tinha uma libido anormalmente grande.
— ! A gente tá na frente da minha casa, meus pais podem nos ver!
— Isso nunca te parou antes. — Ele tentou mais uma vez. E mais uma vez eu o afastei. — Qual é o problema, ? — Ele rosnou baixo, parecendo irritado.
— A gente tá na frente da minha casa! — Repeti, atônita.
— Não, quer dizer… Você tem agido estranho por alguns dias, já.
— Eu não estou estranha! — Tentei me desvencilhar da conversa abrindo a porta do carro, mas me segurou.
— Você está agindo estranho comigo. também notou. Eu não sei se fiz alguma coisa ou…
— Você não fez nada, está bem? Eu só estou um pouco confusa sobre o meu futuro, é só isso. — Meu tom foi brusco, o que fez com que eu mordesse o lábio inferior, arrependida, quando ele me olhou magoado.
— E sobre o nosso futuro? E toda aquela história do casamento? — Os olhos azuis de pareciam perfurar a minha alma nesse momento.
Eu traí . E, antes de decidir ser uma boa namorada, já tinha feito o mesmo. Agora eu estava quebrando o seu coração? Semanas antes do baile? E por que? Porque eu tinha decidido mudar a minha vida. Ou seria por que eu já queria me livrar dele? Acariciei seu rosto levemente. Aquilo não era justo com ele. não era nenhum canalha, como outros com quem eu já tinha namorado. Ele não era um maldito psicopata. não mentia pra mim, ele não era inteligente o suficiente para isso. O erro de foi ter me amado, uma pessoa completamente indigna da afeição de qualquer ser humano normal. Inclinei-me para depositar um selinho sobre os lábios dele.
— Não seja bobo, nós temos 18 anos. Ainda temos bastante tempo para pensar em casamento! — Mais um sorriso falso, mas que pareceu acalmá-lo. Eu não podia fazer isso com ele.
Ele finalmente pareceu tranquilo o suficiente para me deixar ir embora, e eu suspirei pesadamente assim que fechei a porta. Meu pai, na sala, virou-se para me olhar.
— Como foi o jogo? — Era a pergunta de praxe. Não era como se ele realmente se importasse, mas meu pai tentava sempre parecer interessado na minha vida.
— Eles ganharam de novo. — Dei de ombros, subindo as escadas para o meu quarto e, assim, cortando qualquer prolongamento daquela conversa.
Bati a porta do quarto, frustrada comigo mesma. As coisas não deveriam ser assim. Não deveriam mesmo.
Deixei minhas roupas pelo chão enquanto me encaminhava para o meu banheiro, as recolheria depois, mas, agora, eu só precisava de um banho relaxante na banheira. Enquanto a água quente caía dentro dela, chequei meu celular, procurando uma playlist calmante. Talvez um pouco de Coldplay adiantasse. Encaixei meu celular nas caixas de som, quando o toque de uma mensagem chegando me fez parar no meio do caminho. Senti um calafrio percorrer a minha espinha. Peguei meu celular novamente, apenas para ver uma mensagem de e suspirei, aliviada.
Nova mensagem recebida.
diz:
Como foi o jogo?
Rolei os olhos. devia ter algum tipo de sensor aranha ou nós dividimos uma ligação telepática, qualquer coisa do tipo. Logo após a primeira, outra mensagem apareceu na tela.
diz:
Você provavelmente está comemorando agora.
Ou me ignorando.
Eu ri. Nem que eu quisesse poderia ignorá-lo. Não com o tanto de coisas que ele estava fazendo por mim. Não com todo o meu amor não correspondido.
diz:
Você descobriu meu plano de te ignorar até a morte.
Suponho que agora estou encrencada em matemática?
diz:
Você já está reprovada por me ignorar, )).
Você não respondeu a minha pergunta, como foi o jogo?
Eu ri com aquilo e, esquecendo da música, decidi levar o celular para dentro da banheira. Com meu corpo dentro da água quente e falando comigo, as coisas pareciam melhorar.
diz: Os meninos ganharam, é claro. Mas quem você quer enganar? Nerds não ligam para jogos de futebol!
Esperei a resposta vir, o que aconteceu rapidamente.
diz:
Ei, nerd, olha quem está falando.
diz:
Eu sou uma atleta que acontece de ser muito boa nos estudos, não sou nerd!
A resposta veio quase imediatamente.
diz:
Você tem o melhor dos dois mundos, então.
De qualquer jeito, dê meus parabéns aos meninos. Onde vocês estão comemorando?
Mordi o lábio diante dessa mensagem. Decidi ser honesta.
diz:
O restaurante da mãe do .
Eu não fui.
Acrescentei a última frase de modo hesitante.
diz:
Por quê? Aconteceu alguma coisa?
Ele, com certeza, estava perguntando isso por causa de e da cena que ele tinha presenciado entre nós dois. Bom, pelo menos ele não presenciou uma outra cena entre nós dois. Nem eu queria ter presenciado aquilo. Decidi inventar a mesma coisa que inventei para .
diz:
Eu estou com dor de cabeça.
diz:
Então é sábado à noite e seu namorado está por aí comemorando com os amigos enquanto você fica trancada em casa, com dor de cabeça?
diz:
E qual é o problema?
Não, senhor , a parte podre do casal sou eu. Ele que não deveria confiar em mim.
diz:
Não é nada.
Desculpe. Não é da minha conta.
diz:
Está tudo bem, .
Você é meu amigo, então tudo bem.
Pelo menos eu acho que é isso que nós somos. Quer dizer, ele está me ajudando com tudo aquilo e sendo um bom ouvinte. Ou leitor. Eu não sei.
diz:
Pensei que tivesse te aborrecido.
Ou tocado em um tópico delicado.
Sério, é tão tímido. Ele realmente achou que eu estava com raiva? Isso me fez sorrir minimamente, mas fiz questão de trocar o assunto. Mesmo que não estivesse magoada, isso poderia levar a tópicos que eu não gostaria de discutir.
diz:
Como está a “nossa” turma?
diz:
Surpreendentemente boa em matemática. Você causou uma ótima impressão nos alunos.
Principalmente nos rapazes.
diz:
Bem, eu não sou um professor nerd cegueta. Tenho quase a mesma idade deles.
diz:
E fala a mesma língua deles, entendi.
diz:
E ainda te chamei de velho sem que você percebesse.
diz:
Eu só decidi ignorar a sequência de pequenos insultos pelo bem da sua vida acadêmica.
Enxuguei as mãos na toalha para respondê-lo, sorrindo ao visualizar a mensagem.
diz:
, o professor nerd de matemática, está me ameaçando? Estou chocada.
diz:
Algo me diz que, se nos conhecêssemos no colegial, você provavelmente faria algum tipo de bullying comigo.
diz:
Mas é claro que não. Eu sou uma boa garota!
Dessa vez ele demorou alguns minutos, o que fez com que eu me enxugasse e me vestisse, despencando na cama sem nenhum cuidado enquanto checava o celular.
diz:
Certo, vou fingir que acredito nessa.
parecia ser o único ser humano naquela escola (com exceção de alguns amigos e a sra. Hilton) que não acreditava na minha fachada de boa garota. O que, de algum modo, me assustava e também me maravilhava. Ele era capaz de ver o que os outros não viam, o que meu próprio namorado não via. Não quero soar como uma louca e nem nada, mas parecia que ele era algum tipo de alma gêmea, se isso existisse.
Ao mesmo tempo, me mandou uma mensagem, perguntando onde eu estava e me convocando para a comemoração. Não é que esse tipo de comemoração não seja apelativa para mim, mas ver e seu séquito de líderes de torcida se esfregando nos jogadores enquanto bebem no restaurante da mãe do e fumam maconha nos banheiros não melhoraria em nada o meu humor decadente.
Apenas a respondi com um “dor de cabeça, compenso depois” que não precisou de mais explicação. ainda reclamou, mas obviamente a festinha estava mais interessante do que me irritar pelo celular.
diz:
Agora você está apenas magoando os meus sentimentos.
diz:
Sério?
diz:
Claro que não.
Imaginei rindo, o modo como seus óculos escorregavam ligeiramente pela ponte de seu nariz quando ele sorria abertamente. Deus, aquilo fez meus batimentos cardíacos acelerarem um pouco.
diz:
Engraçadinha.
diz:
Algumas pessoas dizem isso.
Escute, acha que eu posso voltar? Para mais uma aula experimental.
diz:
Por que não? Acho que eles gostariam disso.
diz:
Obrigada. Significa bastante para mim.
diz:
Posso perguntar uma coisa?
Além do que eu já perguntei.
Respirei fundo antes de digitar uma resposta afirmativa. Ele se preocupava comigo. E eu me preocupava que isso fosse desenterrar alguma coisa que eu não gostaria de falar.
diz:
Está mesmo com dor de cabeça?
Eu pensei no que poderia dizer. A verdade? Hesitei.
diz:
Não.
Alguns minutos se passaram sem que nenhum dos dois digitasse qualquer outra coisa. Eu apenas esperava o que ele tinha a dizer e ele parecia ponderar alguma coisa, já que ele tinha visualizado a minha mensagem.
diz:
Gosta de comida chinesa?
O modo como ele havia se enrolado para dizer que aquilo não era um encontro sugeria que ele estava nervoso. Ou que, provavelmente, não tinha pensado muito bem em como pareceria um professor e uma aluna, juntos em um restaurante chinês do outro lado da cidade (ao que eu estava grata, já que meu namorado ficaria surtado se soubesse que eu não quis sair com ele, mas vim comer pao tsai com meu professor de matemática). É claro que não fazia ideia de quantas vezes transamos na minha cabeça. Se ele soubesse, estaria pior.
— , eu sei que não é um encontro. — Eu disse a ele com um sorriso frouxo nos lábios, embora estivesse me segurando para não rir.
— Eu só não quero passar a impressão errada. — Ele disse pela enésima vez enquanto nos sentávamos dentro do restaurante.
— Eu entendi quando você disse nas primeiras trinta e sete vezes, . — Ele então olhou para mim e deu uma risada, estendendo as mãos em sinal de rendimento.
— Eu não vou mais falar disso.
Eu também não me vesti como geralmente faria para um encontro, apenas escorreguei para dentro de um jeans e uma blusa verde que ganhei da minha mãe, simples, sem decote pronunciado ou brilhos.
— Então esse é o meu jantar de pagamento? — Perguntei com uma sobrancelha arqueada, passando os olhos rapidamente pelo menu. Um cheiro de dar água na boca preenchia o interior do restaurante e nem ao menos pegou no cardápio.
— Sim. — Ele assentiu, com os olhos pousados em mim.
Ele continuava me olhando. Por bastante tempo. Comecei a ficar nervosa e a bater as unhas na superfície da mesa. Eu sei que ele só está esperando que eu escolha, mas não ameniza em nada a minha ansiedade.
— ?
Ele piscou e me olhou ligeiramente surpreso, eu podia dizer pela expressão dele.
— O que é?
Eu mordi meu lábio inferior, o clima ia ficar chato se eu pedisse para ele parar de me olhar e ele provavelmente ficaria tímido. E esse não era o clima que eu queria.
— O que você me recomenda daqui? — Decidi sair pela tangente, abaixando o menu e encarando-o.
Ele pareceu relaxar e perguntou se tinha alguma coisa que eu não comia ou algo a que eu era alérgica, neguei as duas perguntas e ele, então, chamou um dos garçons do lugar, falando com ele em um tom de amizade casual, você sabe, o tipo que nós usamos com pessoas que geralmente vemos, mas que não são exatamente amigos íntimos.
— Quer falar sobre hoje? — Acabei dando de ombros e bebendo um pouco de suco de laranja que eu tinha pedido. Fresco e delicioso. — Sobre o fato de estar deprimida em casa em um sábado à noite enquanto seus amigos estão em uma festa?
— Eu não estava deprimida. — Rebati de modo displicente, fixando meus olhos na parede atrás dele.
— … — Por mais que quisesse olhar para ele, continuei fixando o ponto imaginário na parede. Ouvi-o suspirar. — A comida daqui é fantástica. — Ele atalhou, mudando de assunto. — Eles entregam, então como quase todos os dias.
— Você realmente deveria aprender a cozinhar. — Eu segui o tom leve da conversa. Não é porque eu sou obviamente caída por ele e porque eu chorei no ombro dele uma vez que vou correr para contar tudo o que acontece no meu dia para ele. Assim como gosto de controlar a minha vida, prefiro não deixar que as pessoas saibam o que tem me tirado o sono.
— Eu e fogo temos um relacionamento não muito saudável. — Eu quase ri, mas mantive a expressão sóbria.
— A minha mãe tem uma filosofia de que todo mundo deveria saber cozinhar, ela diz que cozinhar é como ler e escrever, essencial.
— Você cozinha?
— Um pouco. Quer dizer, não sei fazer nada chique, mas sei me virar… — Dessa vez eu olhei para ele e pude ver uma ruguinha de preocupação entre as sobrancelhas grossas. — , eu estou bem. De verdade.
— Eu não disse nada. — Ele se encostou no respaldo da cadeira e só então eu notei que ele tinha se inclinado para frente. Para mais perto de mim.
— Não precisa dizer nada, está escrito na sua cara. — Novamente eu tinha usado um tom brusco, pela segunda vez naquela noite, o que me fez rolar os olhos e voltar a beber o meu suco.
Embora não tenha respondido, ele continuou me observando curiosamente, como quando ele contemplava algum problema intrincado na aula de matemática.
— Eu não estava com humor para sair essa noite. — Eu disse de forma abrupta, quando nossos pratos chegaram, apenas porque o silêncio estava me sufocando.
Ele me olhou de modo estranho, como se perguntasse: então o que está fazendo aqui?
— Não acha que seu humor estaria melhor se você tivesse saído? — Eu neguei com a cabeça, observando minha galinha kung pao de modo duvidoso. — É ótimo. — Ele disse quando me viu olhando o prato.
— Não duvido. — Mexi meus palitos pelo prato, agarrando um pedaço da galinha sem – muita – dificuldade e o levando à boca. — É muito bom!
— Eu disse. — Então ele sorriu e começou a comer normalmente, depois de ver que não tinha causado uma catástrofe gastronômica.
Nós comemos em silêncio por algum tempo, eu não sabia o quanto, exceto que dessa vez não era um silêncio analítico ou mesmo constrangedor. Era confortável.
— Jane me perguntou de você. — Ele disse assim que mais um prato chegava, dessa vez era arroz frito com algo que eu não pude entender a pronúncia.
— De mim? — Levantei os olhos do meu prato, surpresa. Dessa vez não encarei por muito tempo, apenas levei uma pequena porção à boca.
— Sim, ela disse… — Ele apertou os olhos, forçando a memória e eu tive que me controlar para não babar em cima dele. Eu simplesmente não sabia como conseguia ser fofo dessa forma. Aparentemente, ele não era completamente ciente de sua própria beleza. — Que não se conformava que você queria ser “apenas” uma professora de matemática.
Agora é a hora que eu agradeço por não fazer a mínima ideia de como Jane e eu falamos. Porque, na nossa língua, isso significava que ela estava dando uma dica para ele. Algo como “ela não quer ser apenas professora, só ficar perto de você”.
— O que você disse? — Ele estava segurando o riso. — Não, é sério, o que você disse a ela?
Ele apenas ficava rindo e balançando a cabeça, e por mais que eu protestasse e reclamasse, não me disse o que ele tinha falado para sua irmã mais jovem.
O senhor me deu uma carona até a porta da minha casa e nem naquele momento ele deixou escapar o que tinha dito a ela. Eu estava curiosa, pior ainda era o fato de eu não fazer a mínima ideia do que ele poderia ter falado.
— Obrigada pelo jantar, . — Eu sorri para ele e tentei abrir a porta do carro, mas ela não abriu. Tentei novamente, mas tive o mesmo resultado.
— Meu carro tem um pouco de personalidade. — pareceu sem graça. — Tente puxar para cima.
— Eu estou tentando. — Fiz como ele instruía, mas, qual fosse a personalidade do carro dele, ela não gostava de mim.
Finalmente, ele tirou o cinto, se inclinando em cima de mim para abrir a porta. Meu coração ribombava tão forte no meu peito que eu quase não conseguia respirar. Era o leve peso do corpo dele sobre o meu, o cheiro de sua loção pós-barba misturada ao perfume suave de sabonete, o calor de seu corpo e a proximidade. Eu estava oficialmente lutando para respirar. Um clique suave me fez perceber que a porta tinha sido aberta, mas isso não serviu para me acalmar em nada. Ao contrário, eu mirei o rosto dele e, quando notou o que ele tinha feito, ele pareceu encolher um pouco, mas não se moveu. Parecia um daqueles filmes que você geralmente vê na companhia das suas melhores amigas, exceto que dessa vez era real. Nós ainda estávamos perto e ele estava prestes a voltar para o assento dele. Talvez fosse a comida chinesa (não bebi álcool na frente dele, não dá para culpar a embriaguez agora) ou o calor do verão que estava prestes a chegar, mas aproximei meu rosto do dele, tocando os lábios dele com os meus, tentativamente. Ao ver que ele não tinha recuado, fechei os olhos, pressionando nossos lábios, um pouco mais decidida a não deixá-lo escapar.
Faltava um mês para a minha formatura e então eu nunca mais o veria de novo. Iria para uma faculdade em outro estado e nós nunca mais corrigiríamos provas juntos. Ele nunca mais me levaria a uma outra escola para que eu pudesse descobrir a minha vocação. Esse era o último ano que eu tinha para fazer a minha vida valer a pena.
Ele endireitou as costas e eu me inclinei para frente, fazendo com que ficássemos literalmente no meio do caminho entre os dois bancos. Minhas mãos pousaram nos ombros dele e ele inclinou o rosto, abrindo o caminho para que o beijo pudesse tornar-se mais profundo. Beijá-lo era como ir ao paraíso. A língua dele invadiu a minha boca e ele tinha gosto da bala de hortelã que ganhamos no restaurante. O óculos dele me lembrava exatamente quem eu estava beijando – dessa vez não era uma fantasia na minha banheira nem minha mente fingindo que era ele com quem eu transava, era ele em carne e osso. E ele era firme, apesar de tímido. A mão dele na minha nuca, me mantendo no lugar, me indicava que ele, também, estava gostando daquilo. Eu me afastei primeiro, porque embora eu estivesse quente e em êxtase, precisava de um pouco de ar, mas não me afastei demais. Eu não queria ficar longe demais dele.
— … — Ouvi-lo chamar meu nome era estranhamente erótico e eu podia apostar meu dedo mindinho que estava vermelha como um pimentão. Elevei os olhos para encontrar os dele, ele também parecia estar em êxtase.
Acabei buscando a boca dele novamente. O beijo tinha sido um pouco mais intenso agora, mas, dessa vez não durou muito, parecia querer recuar, o que fez com que eu me afastasse definitivamente, mantendo uma boa distância entre nós. A realidade agora desabava com uma sensação pesada no meu estômago. Eu tinha beijado meu professor. E, deus, como eu tinha gostado!
Ele se encostou no banco novamente, passando a mão pelos cabelos. Parecia prestes a dizer alguma coisa. E não parecia coisa boa. Eu não queria ouvir. Covarde, sim, decidi fugir.
— Boa noite. — Saí pela porta de um jeito tão rápido que foi um milagre não ter tropeçado em nada.
Por sorte, não me enrolei com as chaves e logo estava dentro da minha casa, respirando fundo e pensando onde diabos eu estava com a cabeça para ter feito aquilo. Eu não me referia ao fato de ter beijado , mas ao fato de ter saído correndo do carro dele como se… Como se eu fosse uma virgem.
— Onde você estava? — A voz da minha mãe soou do alto da escada.
— Fora. — Eu disse de maneira evasiva, ainda tentando pensar claramente.
— Onde, exatamente?
— Eu fui jantar com uma amiga. Tanya. — Inventei um nome rapidamente. — Você não conhece.
Aguardei alguns segundos, mas minha mãe cedeu.
— Tudo bem, boa noite.
— Boa noite, mãe.
Só comecei a subir as escadas quando ouvi a porta do quarto dela se fechar. E mesmo deitada na minha cama, não conseguia dormir ou parar de pensar no que tinha acontecido no carro.
Nova mensagem recebida.
diz: Bom dia, querida.
Os machucados eventualmente sumiram. Naquele dia, depois do ataque, eu fui embora sozinha, sem procurar depois do treino, com medo de encontrar . Eu tenho fugido dele desde então. Eu tenho olhado por cima do meu ombro desde então. Eu tenho medo que ele me force a transar com ele. Eu tenho medo que ele me encurrale novamente e que não tenha ninguém para me ajudar. Eu sonhei com ele e suei em cima do lençol de algodão egípcio. Ainda há marcas amareladas nos meus braços, mas eu consegui esconder a maior parte delas com meus cardigãs (e fazendo sexo com cada vez menos).
e o time de futebol americano tinham ganhado um jogo hoje. Alguns professores estavam presentes no jogo, mas não o . Desde quando ele me levou para dar aula na outra escola, nós temos nos aproximado. Conversamos durante a semana, nos corredores, sobre coisas leves. Eu tenho o celular dele e ele o meu e, vez ou outra, mando mensagens de texto para ele. Isso é mais do que eu sequer imaginei que poderia rolar entre nós dois. Isso é o que me acalma quando eu penso no que poderia ter acontecido no vestiário feminino.
Mesmo enquanto estava suando e resfolegando em cima de mim, se satisfazendo sozinho, eu só conseguia pensar nele e em alguma coisa engraçada para contar sobre o meu dia. Era só nele que eu conseguia pensar, mesmo com agindo como um maldito vilão de um filme B de Hollywood. Seguia-me, me ameaçava, me mandava mensagens todos os malditos dias e eu só queria que aquilo acabasse. Eu só queria que ele me deixasse em paz.
— Tem certeza que não quer ir comemorar com os caras? vai e as meninas também. — Ele perguntou de novo, enquanto ajeitava as calças e eu o meu vestido.
— Tenho. Eu estou com dor de cabeça, não vou ser divertida para ninguém. — Dei de ombros.
— Você está quieta hoje. — comentou assim que estacionou na frente da minha casa.
— Bem, eu estou com dor de cabeça. — Constatei o óbvio.
— Não nesse sentido. — Ah, sim, entendi o que ele quis dizer. me olhou longamente, dos pés à cabeça, como se um sinal em neon do que estava me atormentando fosse aparecer em algum lugar do meu corpo, assim, do nada. Um outro homem, sussurrei em minha mente, eu desejo outro homem e seu melhor amigo está me perseguindo desde que transei com ele. Oh, é mesmo, ele também tentou me estuprar.
— Só estou pensando em umas coisas.
— Sobre o que?
— Sobre o que eu quero fazer no futuro. — Acabei revelando parte do problema.
Diante disso, pareceu confuso.
— Gata, você não ia fazer Direito e trabalhar com o seu pai? Lembra do nosso combinado? — e eu tínhamos combinado isso há alguns meses: baile de formatura, Columbia e casamento.
— Sim, eu sei, só que… Eu não quero fazer Direito. — Me mexi, desconfortável, no banco do jipe dele, fazendo com que ele me olhasse entre preocupado e divertido.
— E o que você quer fazer? — Mordi o lábio, não esperando que ele me perguntasse isso.
— Acho que eu poderia lecionar.
— Lecionar? Tipo uma professora? — Ele sorriu maliciosamente. — Eu acho que você seria uma professora muito gostosa… — Suas mãos pegajosas já estavam sobre mim de novo e eu as afastei. Para quem fodia tão mal, tinha uma libido anormalmente grande.
— ! A gente tá na frente da minha casa, meus pais podem nos ver!
— Isso nunca te parou antes. — Ele tentou mais uma vez. E mais uma vez eu o afastei. — Qual é o problema, ? — Ele rosnou baixo, parecendo irritado.
— A gente tá na frente da minha casa! — Repeti, atônita.
— Não, quer dizer… Você tem agido estranho por alguns dias, já.
— Eu não estou estranha! — Tentei me desvencilhar da conversa abrindo a porta do carro, mas me segurou.
— Você está agindo estranho comigo. também notou. Eu não sei se fiz alguma coisa ou…
— Você não fez nada, está bem? Eu só estou um pouco confusa sobre o meu futuro, é só isso. — Meu tom foi brusco, o que fez com que eu mordesse o lábio inferior, arrependida, quando ele me olhou magoado.
— E sobre o nosso futuro? E toda aquela história do casamento? — Os olhos azuis de pareciam perfurar a minha alma nesse momento.
Eu traí . E, antes de decidir ser uma boa namorada, já tinha feito o mesmo. Agora eu estava quebrando o seu coração? Semanas antes do baile? E por que? Porque eu tinha decidido mudar a minha vida. Ou seria por que eu já queria me livrar dele? Acariciei seu rosto levemente. Aquilo não era justo com ele. não era nenhum canalha, como outros com quem eu já tinha namorado. Ele não era um maldito psicopata. não mentia pra mim, ele não era inteligente o suficiente para isso. O erro de foi ter me amado, uma pessoa completamente indigna da afeição de qualquer ser humano normal. Inclinei-me para depositar um selinho sobre os lábios dele.
— Não seja bobo, nós temos 18 anos. Ainda temos bastante tempo para pensar em casamento! — Mais um sorriso falso, mas que pareceu acalmá-lo. Eu não podia fazer isso com ele.
Ele finalmente pareceu tranquilo o suficiente para me deixar ir embora, e eu suspirei pesadamente assim que fechei a porta. Meu pai, na sala, virou-se para me olhar.
— Como foi o jogo? — Era a pergunta de praxe. Não era como se ele realmente se importasse, mas meu pai tentava sempre parecer interessado na minha vida.
— Eles ganharam de novo. — Dei de ombros, subindo as escadas para o meu quarto e, assim, cortando qualquer prolongamento daquela conversa.
Bati a porta do quarto, frustrada comigo mesma. As coisas não deveriam ser assim. Não deveriam mesmo.
Deixei minhas roupas pelo chão enquanto me encaminhava para o meu banheiro, as recolheria depois, mas, agora, eu só precisava de um banho relaxante na banheira. Enquanto a água quente caía dentro dela, chequei meu celular, procurando uma playlist calmante. Talvez um pouco de Coldplay adiantasse. Encaixei meu celular nas caixas de som, quando o toque de uma mensagem chegando me fez parar no meio do caminho. Senti um calafrio percorrer a minha espinha. Peguei meu celular novamente, apenas para ver uma mensagem de e suspirei, aliviada.
Nova mensagem recebida.
diz:
Como foi o jogo?
Rolei os olhos. devia ter algum tipo de sensor aranha ou nós dividimos uma ligação telepática, qualquer coisa do tipo. Logo após a primeira, outra mensagem apareceu na tela.
diz:
Você provavelmente está comemorando agora.
Ou me ignorando.
Eu ri. Nem que eu quisesse poderia ignorá-lo. Não com o tanto de coisas que ele estava fazendo por mim. Não com todo o meu amor não correspondido.
diz:
Você descobriu meu plano de te ignorar até a morte.
Suponho que agora estou encrencada em matemática?
diz:
Você já está reprovada por me ignorar, )).
Você não respondeu a minha pergunta, como foi o jogo?
Eu ri com aquilo e, esquecendo da música, decidi levar o celular para dentro da banheira. Com meu corpo dentro da água quente e falando comigo, as coisas pareciam melhorar.
diz: Os meninos ganharam, é claro. Mas quem você quer enganar? Nerds não ligam para jogos de futebol!
Esperei a resposta vir, o que aconteceu rapidamente.
diz:
Ei, nerd, olha quem está falando.
diz:
Eu sou uma atleta que acontece de ser muito boa nos estudos, não sou nerd!
A resposta veio quase imediatamente.
diz:
Você tem o melhor dos dois mundos, então.
De qualquer jeito, dê meus parabéns aos meninos. Onde vocês estão comemorando?
Mordi o lábio diante dessa mensagem. Decidi ser honesta.
diz:
O restaurante da mãe do .
Eu não fui.
Acrescentei a última frase de modo hesitante.
diz:
Por quê? Aconteceu alguma coisa?
Ele, com certeza, estava perguntando isso por causa de e da cena que ele tinha presenciado entre nós dois. Bom, pelo menos ele não presenciou uma outra cena entre nós dois. Nem eu queria ter presenciado aquilo. Decidi inventar a mesma coisa que inventei para .
diz:
Eu estou com dor de cabeça.
diz:
Então é sábado à noite e seu namorado está por aí comemorando com os amigos enquanto você fica trancada em casa, com dor de cabeça?
diz:
E qual é o problema?
Não, senhor , a parte podre do casal sou eu. Ele que não deveria confiar em mim.
diz:
Não é nada.
Desculpe. Não é da minha conta.
diz:
Está tudo bem, .
Você é meu amigo, então tudo bem.
Pelo menos eu acho que é isso que nós somos. Quer dizer, ele está me ajudando com tudo aquilo e sendo um bom ouvinte. Ou leitor. Eu não sei.
diz:
Pensei que tivesse te aborrecido.
Ou tocado em um tópico delicado.
Sério, é tão tímido. Ele realmente achou que eu estava com raiva? Isso me fez sorrir minimamente, mas fiz questão de trocar o assunto. Mesmo que não estivesse magoada, isso poderia levar a tópicos que eu não gostaria de discutir.
diz:
Como está a “nossa” turma?
diz:
Surpreendentemente boa em matemática. Você causou uma ótima impressão nos alunos.
Principalmente nos rapazes.
diz:
Bem, eu não sou um professor nerd cegueta. Tenho quase a mesma idade deles.
diz:
E fala a mesma língua deles, entendi.
diz:
E ainda te chamei de velho sem que você percebesse.
diz:
Eu só decidi ignorar a sequência de pequenos insultos pelo bem da sua vida acadêmica.
Enxuguei as mãos na toalha para respondê-lo, sorrindo ao visualizar a mensagem.
diz:
, o professor nerd de matemática, está me ameaçando? Estou chocada.
diz:
Algo me diz que, se nos conhecêssemos no colegial, você provavelmente faria algum tipo de bullying comigo.
diz:
Mas é claro que não. Eu sou uma boa garota!
Dessa vez ele demorou alguns minutos, o que fez com que eu me enxugasse e me vestisse, despencando na cama sem nenhum cuidado enquanto checava o celular.
diz:
Certo, vou fingir que acredito nessa.
parecia ser o único ser humano naquela escola (com exceção de alguns amigos e a sra. Hilton) que não acreditava na minha fachada de boa garota. O que, de algum modo, me assustava e também me maravilhava. Ele era capaz de ver o que os outros não viam, o que meu próprio namorado não via. Não quero soar como uma louca e nem nada, mas parecia que ele era algum tipo de alma gêmea, se isso existisse.
Ao mesmo tempo, me mandou uma mensagem, perguntando onde eu estava e me convocando para a comemoração. Não é que esse tipo de comemoração não seja apelativa para mim, mas ver e seu séquito de líderes de torcida se esfregando nos jogadores enquanto bebem no restaurante da mãe do e fumam maconha nos banheiros não melhoraria em nada o meu humor decadente.
Apenas a respondi com um “dor de cabeça, compenso depois” que não precisou de mais explicação. ainda reclamou, mas obviamente a festinha estava mais interessante do que me irritar pelo celular.
diz:
Agora você está apenas magoando os meus sentimentos.
diz:
Sério?
diz:
Claro que não.
Imaginei rindo, o modo como seus óculos escorregavam ligeiramente pela ponte de seu nariz quando ele sorria abertamente. Deus, aquilo fez meus batimentos cardíacos acelerarem um pouco.
diz:
Engraçadinha.
diz:
Algumas pessoas dizem isso.
Escute, acha que eu posso voltar? Para mais uma aula experimental.
diz:
Por que não? Acho que eles gostariam disso.
diz:
Obrigada. Significa bastante para mim.
diz:
Posso perguntar uma coisa?
Além do que eu já perguntei.
Respirei fundo antes de digitar uma resposta afirmativa. Ele se preocupava comigo. E eu me preocupava que isso fosse desenterrar alguma coisa que eu não gostaria de falar.
diz:
Está mesmo com dor de cabeça?
Eu pensei no que poderia dizer. A verdade? Hesitei.
diz:
Não.
Alguns minutos se passaram sem que nenhum dos dois digitasse qualquer outra coisa. Eu apenas esperava o que ele tinha a dizer e ele parecia ponderar alguma coisa, já que ele tinha visualizado a minha mensagem.
diz:
Gosta de comida chinesa?
O modo como ele havia se enrolado para dizer que aquilo não era um encontro sugeria que ele estava nervoso. Ou que, provavelmente, não tinha pensado muito bem em como pareceria um professor e uma aluna, juntos em um restaurante chinês do outro lado da cidade (ao que eu estava grata, já que meu namorado ficaria surtado se soubesse que eu não quis sair com ele, mas vim comer pao tsai com meu professor de matemática). É claro que não fazia ideia de quantas vezes transamos na minha cabeça. Se ele soubesse, estaria pior.
— , eu sei que não é um encontro. — Eu disse a ele com um sorriso frouxo nos lábios, embora estivesse me segurando para não rir.
— Eu só não quero passar a impressão errada. — Ele disse pela enésima vez enquanto nos sentávamos dentro do restaurante.
— Eu entendi quando você disse nas primeiras trinta e sete vezes, . — Ele então olhou para mim e deu uma risada, estendendo as mãos em sinal de rendimento.
— Eu não vou mais falar disso.
Eu também não me vesti como geralmente faria para um encontro, apenas escorreguei para dentro de um jeans e uma blusa verde que ganhei da minha mãe, simples, sem decote pronunciado ou brilhos.
— Então esse é o meu jantar de pagamento? — Perguntei com uma sobrancelha arqueada, passando os olhos rapidamente pelo menu. Um cheiro de dar água na boca preenchia o interior do restaurante e nem ao menos pegou no cardápio.
— Sim. — Ele assentiu, com os olhos pousados em mim.
Ele continuava me olhando. Por bastante tempo. Comecei a ficar nervosa e a bater as unhas na superfície da mesa. Eu sei que ele só está esperando que eu escolha, mas não ameniza em nada a minha ansiedade.
— ?
Ele piscou e me olhou ligeiramente surpreso, eu podia dizer pela expressão dele.
— O que é?
Eu mordi meu lábio inferior, o clima ia ficar chato se eu pedisse para ele parar de me olhar e ele provavelmente ficaria tímido. E esse não era o clima que eu queria.
— O que você me recomenda daqui? — Decidi sair pela tangente, abaixando o menu e encarando-o.
Ele pareceu relaxar e perguntou se tinha alguma coisa que eu não comia ou algo a que eu era alérgica, neguei as duas perguntas e ele, então, chamou um dos garçons do lugar, falando com ele em um tom de amizade casual, você sabe, o tipo que nós usamos com pessoas que geralmente vemos, mas que não são exatamente amigos íntimos.
— Quer falar sobre hoje? — Acabei dando de ombros e bebendo um pouco de suco de laranja que eu tinha pedido. Fresco e delicioso. — Sobre o fato de estar deprimida em casa em um sábado à noite enquanto seus amigos estão em uma festa?
— Eu não estava deprimida. — Rebati de modo displicente, fixando meus olhos na parede atrás dele.
— … — Por mais que quisesse olhar para ele, continuei fixando o ponto imaginário na parede. Ouvi-o suspirar. — A comida daqui é fantástica. — Ele atalhou, mudando de assunto. — Eles entregam, então como quase todos os dias.
— Você realmente deveria aprender a cozinhar. — Eu segui o tom leve da conversa. Não é porque eu sou obviamente caída por ele e porque eu chorei no ombro dele uma vez que vou correr para contar tudo o que acontece no meu dia para ele. Assim como gosto de controlar a minha vida, prefiro não deixar que as pessoas saibam o que tem me tirado o sono.
— Eu e fogo temos um relacionamento não muito saudável. — Eu quase ri, mas mantive a expressão sóbria.
— A minha mãe tem uma filosofia de que todo mundo deveria saber cozinhar, ela diz que cozinhar é como ler e escrever, essencial.
— Você cozinha?
— Um pouco. Quer dizer, não sei fazer nada chique, mas sei me virar… — Dessa vez eu olhei para ele e pude ver uma ruguinha de preocupação entre as sobrancelhas grossas. — , eu estou bem. De verdade.
— Eu não disse nada. — Ele se encostou no respaldo da cadeira e só então eu notei que ele tinha se inclinado para frente. Para mais perto de mim.
— Não precisa dizer nada, está escrito na sua cara. — Novamente eu tinha usado um tom brusco, pela segunda vez naquela noite, o que me fez rolar os olhos e voltar a beber o meu suco.
Embora não tenha respondido, ele continuou me observando curiosamente, como quando ele contemplava algum problema intrincado na aula de matemática.
— Eu não estava com humor para sair essa noite. — Eu disse de forma abrupta, quando nossos pratos chegaram, apenas porque o silêncio estava me sufocando.
Ele me olhou de modo estranho, como se perguntasse: então o que está fazendo aqui?
— Não acha que seu humor estaria melhor se você tivesse saído? — Eu neguei com a cabeça, observando minha galinha kung pao de modo duvidoso. — É ótimo. — Ele disse quando me viu olhando o prato.
— Não duvido. — Mexi meus palitos pelo prato, agarrando um pedaço da galinha sem – muita – dificuldade e o levando à boca. — É muito bom!
— Eu disse. — Então ele sorriu e começou a comer normalmente, depois de ver que não tinha causado uma catástrofe gastronômica.
Nós comemos em silêncio por algum tempo, eu não sabia o quanto, exceto que dessa vez não era um silêncio analítico ou mesmo constrangedor. Era confortável.
— Jane me perguntou de você. — Ele disse assim que mais um prato chegava, dessa vez era arroz frito com algo que eu não pude entender a pronúncia.
— De mim? — Levantei os olhos do meu prato, surpresa. Dessa vez não encarei por muito tempo, apenas levei uma pequena porção à boca.
— Sim, ela disse… — Ele apertou os olhos, forçando a memória e eu tive que me controlar para não babar em cima dele. Eu simplesmente não sabia como conseguia ser fofo dessa forma. Aparentemente, ele não era completamente ciente de sua própria beleza. — Que não se conformava que você queria ser “apenas” uma professora de matemática.
Agora é a hora que eu agradeço por não fazer a mínima ideia de como Jane e eu falamos. Porque, na nossa língua, isso significava que ela estava dando uma dica para ele. Algo como “ela não quer ser apenas professora, só ficar perto de você”.
— O que você disse? — Ele estava segurando o riso. — Não, é sério, o que você disse a ela?
Ele apenas ficava rindo e balançando a cabeça, e por mais que eu protestasse e reclamasse, não me disse o que ele tinha falado para sua irmã mais jovem.
O senhor me deu uma carona até a porta da minha casa e nem naquele momento ele deixou escapar o que tinha dito a ela. Eu estava curiosa, pior ainda era o fato de eu não fazer a mínima ideia do que ele poderia ter falado.
— Obrigada pelo jantar, . — Eu sorri para ele e tentei abrir a porta do carro, mas ela não abriu. Tentei novamente, mas tive o mesmo resultado.
— Meu carro tem um pouco de personalidade. — pareceu sem graça. — Tente puxar para cima.
— Eu estou tentando. — Fiz como ele instruía, mas, qual fosse a personalidade do carro dele, ela não gostava de mim.
Finalmente, ele tirou o cinto, se inclinando em cima de mim para abrir a porta. Meu coração ribombava tão forte no meu peito que eu quase não conseguia respirar. Era o leve peso do corpo dele sobre o meu, o cheiro de sua loção pós-barba misturada ao perfume suave de sabonete, o calor de seu corpo e a proximidade. Eu estava oficialmente lutando para respirar. Um clique suave me fez perceber que a porta tinha sido aberta, mas isso não serviu para me acalmar em nada. Ao contrário, eu mirei o rosto dele e, quando notou o que ele tinha feito, ele pareceu encolher um pouco, mas não se moveu. Parecia um daqueles filmes que você geralmente vê na companhia das suas melhores amigas, exceto que dessa vez era real. Nós ainda estávamos perto e ele estava prestes a voltar para o assento dele. Talvez fosse a comida chinesa (não bebi álcool na frente dele, não dá para culpar a embriaguez agora) ou o calor do verão que estava prestes a chegar, mas aproximei meu rosto do dele, tocando os lábios dele com os meus, tentativamente. Ao ver que ele não tinha recuado, fechei os olhos, pressionando nossos lábios, um pouco mais decidida a não deixá-lo escapar.
Faltava um mês para a minha formatura e então eu nunca mais o veria de novo. Iria para uma faculdade em outro estado e nós nunca mais corrigiríamos provas juntos. Ele nunca mais me levaria a uma outra escola para que eu pudesse descobrir a minha vocação. Esse era o último ano que eu tinha para fazer a minha vida valer a pena.
Ele endireitou as costas e eu me inclinei para frente, fazendo com que ficássemos literalmente no meio do caminho entre os dois bancos. Minhas mãos pousaram nos ombros dele e ele inclinou o rosto, abrindo o caminho para que o beijo pudesse tornar-se mais profundo. Beijá-lo era como ir ao paraíso. A língua dele invadiu a minha boca e ele tinha gosto da bala de hortelã que ganhamos no restaurante. O óculos dele me lembrava exatamente quem eu estava beijando – dessa vez não era uma fantasia na minha banheira nem minha mente fingindo que era ele com quem eu transava, era ele em carne e osso. E ele era firme, apesar de tímido. A mão dele na minha nuca, me mantendo no lugar, me indicava que ele, também, estava gostando daquilo. Eu me afastei primeiro, porque embora eu estivesse quente e em êxtase, precisava de um pouco de ar, mas não me afastei demais. Eu não queria ficar longe demais dele.
— … — Ouvi-lo chamar meu nome era estranhamente erótico e eu podia apostar meu dedo mindinho que estava vermelha como um pimentão. Elevei os olhos para encontrar os dele, ele também parecia estar em êxtase.
Acabei buscando a boca dele novamente. O beijo tinha sido um pouco mais intenso agora, mas, dessa vez não durou muito, parecia querer recuar, o que fez com que eu me afastasse definitivamente, mantendo uma boa distância entre nós. A realidade agora desabava com uma sensação pesada no meu estômago. Eu tinha beijado meu professor. E, deus, como eu tinha gostado!
Ele se encostou no banco novamente, passando a mão pelos cabelos. Parecia prestes a dizer alguma coisa. E não parecia coisa boa. Eu não queria ouvir. Covarde, sim, decidi fugir.
— Boa noite. — Saí pela porta de um jeito tão rápido que foi um milagre não ter tropeçado em nada.
Por sorte, não me enrolei com as chaves e logo estava dentro da minha casa, respirando fundo e pensando onde diabos eu estava com a cabeça para ter feito aquilo. Eu não me referia ao fato de ter beijado , mas ao fato de ter saído correndo do carro dele como se… Como se eu fosse uma virgem.
— Onde você estava? — A voz da minha mãe soou do alto da escada.
— Fora. — Eu disse de maneira evasiva, ainda tentando pensar claramente.
— Onde, exatamente?
— Eu fui jantar com uma amiga. Tanya. — Inventei um nome rapidamente. — Você não conhece.
Aguardei alguns segundos, mas minha mãe cedeu.
— Tudo bem, boa noite.
— Boa noite, mãe.
Só comecei a subir as escadas quando ouvi a porta do quarto dela se fechar. E mesmo deitada na minha cama, não conseguia dormir ou parar de pensar no que tinha acontecido no carro.
Capítulo 11
Quatro semanas e três dias para o baile
Nova mensagem recebida.
diz:
Você está linda hoje.
diz:
PARE!
Deixei o celular de lado. O olhar do senhor nunca recaiu em mim durante aquela torturante aula de matemática. E eu também não tinha mais chamado-o por mensagens, muito menos ele a mim. Era estranho não ter o professor me usando de referência ou me perguntando se eu tinha conseguido fazer um ou outro exercício da carga usual da escola. Com os SAT, a maior parte dos alunos tinha entrado em cursos ou intensificado a carga de estudos e eu era constantemente usada como parâmetro para a dificuldade de um exercício. Hoje, no entanto, ele usava Bob… E o garoto russo. Eu não poderia esperar diferente, é claro.
Olhei para trás, para e as gêmeas, as três trocavam mensagens de texto a todo momento e quando levantou os olhos para mim, ela me deu um sorrisinho convencido, que eu retribuí de mau grado. A culpa não era dela, era minha, eu tinha que lembrar.
Assim que o sinal tocou e o senhor anunciou que ele não se importaria de ajudar quem estivesse com dúvidas depois da aula, na sexta-feira, eu percebi que estava chegando ao fim. E que nós não teríamos nossa usual tarde juntos. Aquilo fez com que eu parasse no meio do caminho, recebendo olhares de estranheza de e das gêmeas.
— Quer saber? Eu tenho que falar com o senhor . Encontro vocês no estacionamento em dez minutos? — Imprimi o mínimo de importância possível ao assunto, o que pareceu funcionar.
— Só não se atrase, hoje a carona é com você. — frisou e as três saíram saltitantes pelo corredor.
estava falando com dois alunos quando viu que eu estava parada perto de sua mesa, esperando para falar com ele. Os olhos dele logo se desviaram de mim, mas quando os alunos foram embora, ficou inevitável. Ele teve que me encarar.
— Nós podemos conversar? — Não era característico de quem eu era parecer tão hesitante e confusa, mas aquele problema era uma coisa que nós devíamos encarar.
— Não. — Ele foi seco. Eu engoli com dificuldade, olhando para ele de modo surpreso. Eu jamais esperaria aquele tipo de reação dele. — Não temos muito o que falar.
— Não, eu acho que temos algumas coisas para falar um para o outro. — Insisti, muito embora tivesse plena consciência de como eu parecia desesperada e minha voz, esganiçada.
— Não é difícil de adivinhar, . — Ele disse, novamente sem nem me olhar. — Eu sou seu professor e você não está passando pelo seu melhor momento com todas essas pressões da faculdade, SAT, seus pais e do seu namorado. Eu entendo.
— Como é? — Minha exasperação tinha atingido um ponto crítico, mas eu não consegui formular nenhuma outra frase enquanto ele seguiu falando.
— Você achou que eu estava interessado em você, de um modo… — Ele hesitou. — Romântico. É compreensível, eu sei o que pode parecer para uma garota tão jovem.
— Não ouse falar comigo assim. — Eu disse baixo, mas pude perceber que ele tinha ouvido minhas palavras muito bem porque tinha se virado para mim e me olhado nos olhos pela primeira vez. — Não me trate como se eu fosse uma criança!
— Você é uma criança. — Ele suspirou e ajeitou os óculos depois de massagear os olhos por alguns segundos.
— , eu não sou uma criança. — Minha voz tremia de raiva. Eu simplesmente não podia acreditar em como ele estava me tratando, como eu estava errada sobre ele.
— Criança ou não, … Se você quer trair o seu namorado, tudo bem. Eu só não sou o tipo de cara que se mete entre casais.
Aquilo atingiu a minha cota de desaforos. Procurei por alguma coisa para descontar a minha frustração, mas acabei não socando e nem chutando nada. Ergui meu dedo para ele, as palavras chispando através dos meus lábios.
— Você não sabe do que está falando, senhor ! — Com a respiração entrecortada (e provavelmente vermelha até as orelhas, desta vez de ódio), abri a porta e saí por ela sem nem ao menos enxergar direito as pessoas à minha frente.
Alguns metros mais à frente, no entanto, mais próximo ao estacionamento, eu respirei fundo e me olhei no pequeno espelho que carregava na bolsa. Estava tudo em ordem. Ao entrar no estacionamento da escola, vi encostada no meu carro, mexendo em seu celular. Eu simplesmente não queria se metendo nos meus assuntos, por isso esperava que parecesse suficientemente bem para que ela não desconfiasse de nada. As gêmeas conversavam entre elas, alheias à minha chegada.
— Vamos? — Ela levantou seus olhos bem maquiados para mim e anuiu, entrando no meu carro logo depois de mim e das gêmeas.
— Nós podíamos fazer compras. — Ela não tirava os olhos de seu celular, o que começava a me irritar um pouco. — Comer alguma coisa depois, também. Preciso de sapatos novos, não estou completamente certa de que os que eu comprei combinam com meu vestido.
— Você comprou cinco pares de sapato, ! — Jen disse, rolando os olhos para cima.
— Você comprou quase tantos pares de sapato quanto ela, Jen. — Jade respondeu, piscando para .
Deus do céu, eu ia vomitar de tão nervosa. me olhou mais uma vez, esperando que eu a respondesse.
— Claro, vai ser divertido.
Pode me chamar de fútil, mas comprar coisas, experimentar roupas e testar acessórios me relaxava, ao menos um pouco. Relaxar era exatamente o que eu precisava nesse momento.
— Aconteceu alguma coisa? — me olhou enquanto eu dirigia em direção ao shopping. Ela me olhava como se eu tivesse alguma coisa no rosto.
— Não. Por quê? — Desviei os olhos da rua rapidamente, apenas o suficiente para respondê-la.
— Parece que alguém vomitou na sua bandeja do almoço, como aconteceu no ano passado. — Aquilo me fez rolar os olhos. A memória de é algo admirável: ela não consegue se lembrar da combinação do próprio armário, mas relembra momentos embaraçosos, segredos e nomes de caras gostosos quase como se tivesse memória fotográfica.
— Ninguém vomitou na minha bandeja hoje. Eu estou bem. — Afirmei, um pouco mais grossa do que deveria. , no entanto, não percebeu.
— Eu dormi com , no sábado. — Ela disse com os olhos brilhando. Aquilo quase fez com que eu quase soltasse o volante.
— Fala sério! — Jen e Jade disseram em uníssono e eu também soltei um suspiro surpreso.
— É sério! — Ela disse com uma risada maliciosa.
Eu estava feliz por ela. E, bem, por mim. Eu não sei como é na cama, mas ela dá a impressão de ser uma daquelas mulheres realmente boas de cama, como as de filmes pornográficos. Então, se arranjasse uma transa fixa, seria bom para mim, já que ele me deixaria em paz.
— Depois da festa? — Diante da minha pergunta, ela se pôs a contar como ele tinha dado em cima dela e como eles tinham dado um amasso no meio do restaurante mesmo.
— Então ele me convidou para a casa dele, que estava vazia, com exceção da irmã mais velha dele. E, então, nós transamos. — Ela sorriu como uma gata satisfeita. — E ele é grande. Não grande como Shawn, mas, você sabe, grande. Ele teve a transa da vida dele, tenho certeza disso. E me chamou para sair essa sexta.
Eu não achei particularmente grande, mas, ei, bom para ela!
— Uau, , ele é tão gostoso. Não sei como você é tão sortuda. — Jen disse de modo sonhador, como se também tivesse uma queda por ele.
— Cala a boca, Jen. — Sua irmã a recriminou, rolando seus olhos castanhos.
— Então foi bom assim, hein? — Provoquei enquanto dirigia, apenas para vê-la sorrir com malícia.
— Tive uma ideia! Nós podemos sair juntos, nós quatro! Você, eu, e ! O que acha?
Acho que prefiro levar um tiro. As gêmeas, no entanto, bateram palminhas excitadas.
— Qual é, , te chama para sair e você quer um encontro duplo? — Rolei meus olhos para ela, que simplesmente deu de ombros.
— Nós somos muitos físicos, se você me entende. Vamos ficar sem assunto logo no meio do encontro, e não quero gastar todos os meus truques logo no começo, não vou conseguir manter as coisas interessantes depois. Por favor? — Ela piscou seus grandes olhos e eu dei de ombros.
Você sabe o que dizem por aí: uma vez no inferno, abrace o capeta. A minha vida estava literalmente uma porcaria, então se eu fosse apenas fingir que amo meu namorado para que minha melhor amiga — supostamente — pudesse transar com o meu perseguidor, eu não via problema algum. Eu também estava ganhando com isso, não é?
— Tudo bem. Vou falar com . — Respondi em um tom monótono, ao que ela interjecionou de um modo animado.
— Eu falo! É mais rápido mandar uma mensagem.
Minutos depois, ela me mostrou uma mensagem. tinha concordado com aquela palhaçada. Francamente… Eu tinha pena de . Cercado de cobras, incluindo seu melhor amigo. Ele era puro, o . Tinha um ótimo coração. Talvez seja essa coisa de ser filho do pastor.
— Essa sexta! — Ela me disse, excitada, batendo palminhas. — Eu mal posso esperar. O que acha que eu devo vestir?
, como sempre, iniciou seu monólogo egocêntrico que não requeria muito da minha atenção, apenas ocasionais “aham” e alguns acenos com a cabeça. As gêmeas perguntavam alguma coisa, vez ou outra, então eu não tinha muita necessidade de prestar atenção ao que ela dizia. Minhas mãos apertavam o volante com força enquanto eu relembrava o que tinha acontecido com … Como ele tinha me tratado como se eu fosse uma criança malcriada. Ouvi meu nome ser gritado e acordei a tempo para girar o volante rapidamente, apertar o freio com força e escapar de atropelar um cachorro.
— Qual é o seu problema? — perguntou em uma voz aguda e histérica, segurando-se no painel do meu carro com força. Ao olhar para trás, vi que as gêmeas me olhavam com choque estampado nos seus rostos quase idênticos.
— Alguém se machucou? — Eu consegui perguntar, apesar de minha garganta estar seca. Alguns carros passavam desviando, buzinando alto e xingando conforme me ultrapassavam. Não que eu ligasse.
— Onde você estava com a cabeça!? — Jade me interpelou, se recuperando mais rápido que a irmã.
— Eu não vi o cachorro. — Afirmei, ligando o carro novamente, que tinha morrido com a manobra brusca.
— A gente percebeu isso, ! — Ignorando , eu andei com o carro novamente. — A gente poderia ter morrido!
Eu não seria tão sortuda.
— Eu só me distraí.
— Pensando no , é claro. — Jen e Jade soltaram risadinhas, mas me olhava intensamente, séria. Decidi ignorá-la, ao menos por enquanto.
As compras tinham sido produtivas. acabou comprando mais dois pares de sapato para combinar com o seu vestido e também um vestido novo, preto, da Zara, para o encontro na sexta. E, apesar de o meu humor estar bem próximo de uma curva negativa, acabei me rendendo à futilidade de comprar algumas peças de roupa. Aquilo definitivamente me acalmou e nós comemos alguma coisa no shopping antes de voltarmos para o carro. Levei as gêmeas até em casa e me despedi delas com um sorrisinho, obviamente forçado.
— Temos que escolher a sua roupa para o encontro de sexta. Acha que posso dormir na sua casa?
Até tentei negar isso a , inventei algumas desculpas, mas antes mesmo que eu me desse conta, ela estava no meu quarto, bebendo sua Cherry Coke e invadindo o meu guarda-roupa.
— E este? — Ela tirou um vestido vermelho de dentro do meu armário, com um decote fundo e que tinha as costas quase nuas.
— É o vestido que você me deu de presente de aniversário. — Eu respondi, comendo as batatas chip que minha mãe tinha trazido para nós duas, junto com as cocas.
— Eu sei, boba. Mas para sexta…? — Ela caminhou até estar perto de mim, colocando o vestido na frente do meu corpo. — Uau, ele fica ótimo com esse bronzeado que você pegou.
É natural que nadadoras tivessem um bronzeado, é claro. Mas meu bronzeado não estava fora do normal. Ela estava tentando me animar, afinal de contas.
— Eu dormi com . — Eu acabei dizendo em voz alta. nem ao menos piscou, apenas jogou o vestido em cima da minha cama.
— Eu sei. — Ela voltou a procurar alguma coisa no meu armário. O silêncio fez meu estômago despencar. — Eu vi vocês, lembra? E ele me contou. — Sentada na cadeira da minha escrivaninha, eu simplesmente não conseguia ver o rosto dela.
— Foi… Eu estava bêbada. — Me vi gaguejando enquanto falava, muito nervosa para falar claramente. Meus olhos encheram-se de lágrimas rapidamente.
— Bom, e esse rosa? — Ao virar-se para mim e me mostrar um outro vestido, rapidamente deixou-o de lado e veio me confortar, vendo a expressão no meu rosto (que devia ser absolutamente desesperada). — Está tudo bem, . — Ela acariciava o meu cabelo devagar.
— E-eu não… — Tive que inspirar profundamente antes de falar, a fim de me acalmar. — Eu não tenho nada com , entende? Eu só…
— . — Ela me olhou, o rosto no mesmo nível que o meu. — Está tudo bem, ouviu? Você se lembra? Somos iguais, eu entendo. — Suas duas mãos pequeninas seguraram meu rosto com leveza, mas eu quis desviá-lo. Eu não era como . — Eu percebi e eu não me importo. Ele está comigo agora, então eu não estou brava com você, entendeu? — Ela secou as minhas lágrimas e eu anuí fracamente.
Eu não chorava por me sentir particularmente mal por ficar entre eles dois, mas porque eu simplesmente me sentia mal por . O choque de me dizendo aquilo mais cedo fez com que eu refletisse melhor sobre o que eu tinha feito. E não estava com a . Ele estava me perseguindo, me mandando mensagens, me aterrorizando.
— Você acha que eu devia terminar com ? — Perguntei baixo e ela mordeu o lábio inferior.
— Não. Quer dizer, só por isso? Ele não sabe, não é exatamente brilhante. E também não vai contar, ele me disse isso porque… Bem, porque ele disse que eu deveria saber disso antes de sair com ele.
Aquilo fez com que eu franzisse a testa. Se tinha jogado aquilo para que ela simplesmente dissesse a ou me confrontasse… Ele tinha calculado muito mal.
— E está tão perto do baile, quer dizer… Se eu e não ganharmos, você e certamente ganharão. Então, por que arriscar? — Ela tinha voltado a acariciar o meu cabelo, calmamente. — Eu sei que tenho agido feito uma vadia com você, mas isso não quer dizer que eu não me preocupe com você, . Eu só… Acho que eu estava com ciúmes, não é patético? — Ela sorriu para mim. — Então você cometeu um erro… Todos nós cometemos erros, você não tem que se sentir culpada por isso.
— Eu tenho um namorado, . Eu não posso sair dormindo com caras a torto e a direito.
— Bom, e daí? , querida, homens estão entre as piores espécies de animais. Eles mentem e traem com tanta facilidade… Não quero dizer que faça isso, mas você entende, certo? Quer dizer, é um toma lá, dá cá. Você está ajudando a restaurar o equilíbrio do planeta por todas aquelas que já foram traídas por seus namorados.
— Não quero ser como eles… — Eu respirei fundo, sentindo meu peito apertar-se com a agonia. Foram as palavras dele. E o modo como ele pensava que eu era.
— Olha, se você quiser, termine com .
— Eu me sinto uma vadia. — Confessei, finalmente. Eu não podia dizer a sobre e eu ou e eu, mas podia confessar aquilo.
— Qual é, , isso já aconteceu antes, lembra? Você não é uma vadia, você só não controla os seus impulsos muito bem.
Seis meses atrás eu tive uma dessas crises emocionais. Eu tinha transado com um cara e saído com no mesmo dia. Naquele jantar ele disse que me amava e eu não pude me controlar. Foi quando eu decidi ser uma boa namorada. E eu tinha estragado isso.
— Você leva tudo tão a sério. Quer dizer, nós estamos no colégio. Não é como se fôssemos decidir nossa vida inteira agora. É para isso que a faculdade serve, entende?
não poderia entender o que eu estava sentindo agora. Como eu me sentia suja por ter me entregado a sem pensar. Como eu fui humilhada por naquele vestiário. Como eu me sentia idiota por achar que tivesse qualquer tipo de sentimento por mim. Ele tinha me beijado de volta, mas podia ser só luxúria e desejo, o calor do momento.
Me levantei e tranquei a porta do quarto, em seguida peguei pela mão e a sentei na minha cama, me sentando de frente para ela. E então contei a ela sobre todas as minhas dúvidas tanto sobre quanto sobre a faculdade. Falei sobre ela como e eu tínhamos combinado de nos casar depois da faculdade e como eu tinha me arrependido de todos aqueles planos. Ao final da minha narrativa, ela suspirou pesadamente.
— É isso que eu digo quando falo que você se preocupa demais com as coisas. Você faz todos esses planos e agora… — Ela suspirou de novo. — Eu sabia que tinha alguma coisa errada, só não sabia que era isso… E é algo tão fácil de se consertar, também.
— … — Olhei para ela abismada.
— Você sabe, é só terminar com e dizer para os seus pais que você não quer fazer Direito.
— Não é assim tão fácil. Eu sou filha única, ele não tem mais ninguém para herdar o escritório. Eu já passei para a Columbia! Meu tio também não teve nenhum filho que…
— Isso não é problema seu. — disse pausadamente. — Nada disso é problema seu. Você prefere deixar infeliz? Quer dizer, você sabe quantas vezes ele veio conversar comigo para saber qual era o seu problema? “Por que ela está tão distante, ? Por que ela não faz mais sexo comigo? Por que nós não conversamos mais?”, sabe quantas vezes eu ouvi essas perguntas? — Seu discurso tinha se tornado mais inflamado. — Porra, , eu tinha que cobrir por você. E, tá, então você transou com alguns caras porque o é horrível na cama, e daí? Constance fazia isso também. Você pode terminar com ele. Você pode dizer aos seus pais que você simplesmente não quer ser advogada, mas você é tão presa no seu mundinho e quer tanto ser exatamente o que as outras pessoas esperam de você! Você tem que ser uma ótima namorada para ele, se força a isso, e então você acaba traindo ele porque fica tão presa nisso que se esquece das suas próprias necessidades. Você precisa ser uma ótima filha e levar o legado do seu pai adiante e nem pensa no que você quer fazer. É como se você não tivesse nenhuma vontade própria e fica tão desorientada quando decide fazer algo por você que simplesmente acaba estragando tudo! Porra, , cresce!
De todas as pessoas do mundo, eu jamais esperaria ouvir isso de .
— Você quer continuar sendo empurrada pelas outras pessoas ou simplesmente vai se dar conta que você pode viver o tipo de vida que você quiser? — Ela me perguntou com um olhar desafiador.
— Obrigada, . — Eu sorri e a abracei. — Era exatamente disso que eu precisava.
— Dã, eu sei. Só não molhe o meu cabelo com as suas lágrimas. — Ela me empurrou, mas estava sorrindo para mim, apesar de suas palavras. — Eu sou a droga da sua melhor amiga, entendeu? E nunca ouse desabafar com outra pessoa desse jeito. Agora, eu preciso continuar escolhendo sua roupa para sexta ou eu e vamos sair sozinhos?
Eu não respondi de imediato. Eu sabia o que eu tinha que fazer, mas ter coragem para isso era uma coisa completamente diferente.
Nova mensagem recebida.
diz:
E se eu não parar?
diz:
Você vai parar.
E então, com um sentimento afrontoso crescendo em mim, eu bloqueei o número dele, como deveria ter feito há muito. sorriu para mim e foi para casa. Ela já tinha me ajudado e eu também começava a me ajudar.
Nova mensagem recebida.
diz:
Você está linda hoje.
diz:
PARE!
Deixei o celular de lado. O olhar do senhor nunca recaiu em mim durante aquela torturante aula de matemática. E eu também não tinha mais chamado-o por mensagens, muito menos ele a mim. Era estranho não ter o professor me usando de referência ou me perguntando se eu tinha conseguido fazer um ou outro exercício da carga usual da escola. Com os SAT, a maior parte dos alunos tinha entrado em cursos ou intensificado a carga de estudos e eu era constantemente usada como parâmetro para a dificuldade de um exercício. Hoje, no entanto, ele usava Bob… E o garoto russo. Eu não poderia esperar diferente, é claro.
Olhei para trás, para e as gêmeas, as três trocavam mensagens de texto a todo momento e quando levantou os olhos para mim, ela me deu um sorrisinho convencido, que eu retribuí de mau grado. A culpa não era dela, era minha, eu tinha que lembrar.
Assim que o sinal tocou e o senhor anunciou que ele não se importaria de ajudar quem estivesse com dúvidas depois da aula, na sexta-feira, eu percebi que estava chegando ao fim. E que nós não teríamos nossa usual tarde juntos. Aquilo fez com que eu parasse no meio do caminho, recebendo olhares de estranheza de e das gêmeas.
— Quer saber? Eu tenho que falar com o senhor . Encontro vocês no estacionamento em dez minutos? — Imprimi o mínimo de importância possível ao assunto, o que pareceu funcionar.
— Só não se atrase, hoje a carona é com você. — frisou e as três saíram saltitantes pelo corredor.
estava falando com dois alunos quando viu que eu estava parada perto de sua mesa, esperando para falar com ele. Os olhos dele logo se desviaram de mim, mas quando os alunos foram embora, ficou inevitável. Ele teve que me encarar.
— Nós podemos conversar? — Não era característico de quem eu era parecer tão hesitante e confusa, mas aquele problema era uma coisa que nós devíamos encarar.
— Não. — Ele foi seco. Eu engoli com dificuldade, olhando para ele de modo surpreso. Eu jamais esperaria aquele tipo de reação dele. — Não temos muito o que falar.
— Não, eu acho que temos algumas coisas para falar um para o outro. — Insisti, muito embora tivesse plena consciência de como eu parecia desesperada e minha voz, esganiçada.
— Não é difícil de adivinhar, . — Ele disse, novamente sem nem me olhar. — Eu sou seu professor e você não está passando pelo seu melhor momento com todas essas pressões da faculdade, SAT, seus pais e do seu namorado. Eu entendo.
— Como é? — Minha exasperação tinha atingido um ponto crítico, mas eu não consegui formular nenhuma outra frase enquanto ele seguiu falando.
— Você achou que eu estava interessado em você, de um modo… — Ele hesitou. — Romântico. É compreensível, eu sei o que pode parecer para uma garota tão jovem.
— Não ouse falar comigo assim. — Eu disse baixo, mas pude perceber que ele tinha ouvido minhas palavras muito bem porque tinha se virado para mim e me olhado nos olhos pela primeira vez. — Não me trate como se eu fosse uma criança!
— Você é uma criança. — Ele suspirou e ajeitou os óculos depois de massagear os olhos por alguns segundos.
— , eu não sou uma criança. — Minha voz tremia de raiva. Eu simplesmente não podia acreditar em como ele estava me tratando, como eu estava errada sobre ele.
— Criança ou não, … Se você quer trair o seu namorado, tudo bem. Eu só não sou o tipo de cara que se mete entre casais.
Aquilo atingiu a minha cota de desaforos. Procurei por alguma coisa para descontar a minha frustração, mas acabei não socando e nem chutando nada. Ergui meu dedo para ele, as palavras chispando através dos meus lábios.
— Você não sabe do que está falando, senhor ! — Com a respiração entrecortada (e provavelmente vermelha até as orelhas, desta vez de ódio), abri a porta e saí por ela sem nem ao menos enxergar direito as pessoas à minha frente.
Alguns metros mais à frente, no entanto, mais próximo ao estacionamento, eu respirei fundo e me olhei no pequeno espelho que carregava na bolsa. Estava tudo em ordem. Ao entrar no estacionamento da escola, vi encostada no meu carro, mexendo em seu celular. Eu simplesmente não queria se metendo nos meus assuntos, por isso esperava que parecesse suficientemente bem para que ela não desconfiasse de nada. As gêmeas conversavam entre elas, alheias à minha chegada.
— Vamos? — Ela levantou seus olhos bem maquiados para mim e anuiu, entrando no meu carro logo depois de mim e das gêmeas.
— Nós podíamos fazer compras. — Ela não tirava os olhos de seu celular, o que começava a me irritar um pouco. — Comer alguma coisa depois, também. Preciso de sapatos novos, não estou completamente certa de que os que eu comprei combinam com meu vestido.
— Você comprou cinco pares de sapato, ! — Jen disse, rolando os olhos para cima.
— Você comprou quase tantos pares de sapato quanto ela, Jen. — Jade respondeu, piscando para .
Deus do céu, eu ia vomitar de tão nervosa. me olhou mais uma vez, esperando que eu a respondesse.
— Claro, vai ser divertido.
Pode me chamar de fútil, mas comprar coisas, experimentar roupas e testar acessórios me relaxava, ao menos um pouco. Relaxar era exatamente o que eu precisava nesse momento.
— Aconteceu alguma coisa? — me olhou enquanto eu dirigia em direção ao shopping. Ela me olhava como se eu tivesse alguma coisa no rosto.
— Não. Por quê? — Desviei os olhos da rua rapidamente, apenas o suficiente para respondê-la.
— Parece que alguém vomitou na sua bandeja do almoço, como aconteceu no ano passado. — Aquilo me fez rolar os olhos. A memória de é algo admirável: ela não consegue se lembrar da combinação do próprio armário, mas relembra momentos embaraçosos, segredos e nomes de caras gostosos quase como se tivesse memória fotográfica.
— Ninguém vomitou na minha bandeja hoje. Eu estou bem. — Afirmei, um pouco mais grossa do que deveria. , no entanto, não percebeu.
— Eu dormi com , no sábado. — Ela disse com os olhos brilhando. Aquilo quase fez com que eu quase soltasse o volante.
— Fala sério! — Jen e Jade disseram em uníssono e eu também soltei um suspiro surpreso.
— É sério! — Ela disse com uma risada maliciosa.
Eu estava feliz por ela. E, bem, por mim. Eu não sei como é na cama, mas ela dá a impressão de ser uma daquelas mulheres realmente boas de cama, como as de filmes pornográficos. Então, se arranjasse uma transa fixa, seria bom para mim, já que ele me deixaria em paz.
— Depois da festa? — Diante da minha pergunta, ela se pôs a contar como ele tinha dado em cima dela e como eles tinham dado um amasso no meio do restaurante mesmo.
— Então ele me convidou para a casa dele, que estava vazia, com exceção da irmã mais velha dele. E, então, nós transamos. — Ela sorriu como uma gata satisfeita. — E ele é grande. Não grande como Shawn, mas, você sabe, grande. Ele teve a transa da vida dele, tenho certeza disso. E me chamou para sair essa sexta.
Eu não achei particularmente grande, mas, ei, bom para ela!
— Uau, , ele é tão gostoso. Não sei como você é tão sortuda. — Jen disse de modo sonhador, como se também tivesse uma queda por ele.
— Cala a boca, Jen. — Sua irmã a recriminou, rolando seus olhos castanhos.
— Então foi bom assim, hein? — Provoquei enquanto dirigia, apenas para vê-la sorrir com malícia.
— Tive uma ideia! Nós podemos sair juntos, nós quatro! Você, eu, e ! O que acha?
Acho que prefiro levar um tiro. As gêmeas, no entanto, bateram palminhas excitadas.
— Qual é, , te chama para sair e você quer um encontro duplo? — Rolei meus olhos para ela, que simplesmente deu de ombros.
— Nós somos muitos físicos, se você me entende. Vamos ficar sem assunto logo no meio do encontro, e não quero gastar todos os meus truques logo no começo, não vou conseguir manter as coisas interessantes depois. Por favor? — Ela piscou seus grandes olhos e eu dei de ombros.
Você sabe o que dizem por aí: uma vez no inferno, abrace o capeta. A minha vida estava literalmente uma porcaria, então se eu fosse apenas fingir que amo meu namorado para que minha melhor amiga — supostamente — pudesse transar com o meu perseguidor, eu não via problema algum. Eu também estava ganhando com isso, não é?
— Tudo bem. Vou falar com . — Respondi em um tom monótono, ao que ela interjecionou de um modo animado.
— Eu falo! É mais rápido mandar uma mensagem.
Minutos depois, ela me mostrou uma mensagem. tinha concordado com aquela palhaçada. Francamente… Eu tinha pena de . Cercado de cobras, incluindo seu melhor amigo. Ele era puro, o . Tinha um ótimo coração. Talvez seja essa coisa de ser filho do pastor.
— Essa sexta! — Ela me disse, excitada, batendo palminhas. — Eu mal posso esperar. O que acha que eu devo vestir?
, como sempre, iniciou seu monólogo egocêntrico que não requeria muito da minha atenção, apenas ocasionais “aham” e alguns acenos com a cabeça. As gêmeas perguntavam alguma coisa, vez ou outra, então eu não tinha muita necessidade de prestar atenção ao que ela dizia. Minhas mãos apertavam o volante com força enquanto eu relembrava o que tinha acontecido com … Como ele tinha me tratado como se eu fosse uma criança malcriada. Ouvi meu nome ser gritado e acordei a tempo para girar o volante rapidamente, apertar o freio com força e escapar de atropelar um cachorro.
— Qual é o seu problema? — perguntou em uma voz aguda e histérica, segurando-se no painel do meu carro com força. Ao olhar para trás, vi que as gêmeas me olhavam com choque estampado nos seus rostos quase idênticos.
— Alguém se machucou? — Eu consegui perguntar, apesar de minha garganta estar seca. Alguns carros passavam desviando, buzinando alto e xingando conforme me ultrapassavam. Não que eu ligasse.
— Onde você estava com a cabeça!? — Jade me interpelou, se recuperando mais rápido que a irmã.
— Eu não vi o cachorro. — Afirmei, ligando o carro novamente, que tinha morrido com a manobra brusca.
— A gente percebeu isso, ! — Ignorando , eu andei com o carro novamente. — A gente poderia ter morrido!
Eu não seria tão sortuda.
— Eu só me distraí.
— Pensando no , é claro. — Jen e Jade soltaram risadinhas, mas me olhava intensamente, séria. Decidi ignorá-la, ao menos por enquanto.
As compras tinham sido produtivas. acabou comprando mais dois pares de sapato para combinar com o seu vestido e também um vestido novo, preto, da Zara, para o encontro na sexta. E, apesar de o meu humor estar bem próximo de uma curva negativa, acabei me rendendo à futilidade de comprar algumas peças de roupa. Aquilo definitivamente me acalmou e nós comemos alguma coisa no shopping antes de voltarmos para o carro. Levei as gêmeas até em casa e me despedi delas com um sorrisinho, obviamente forçado.
— Temos que escolher a sua roupa para o encontro de sexta. Acha que posso dormir na sua casa?
Até tentei negar isso a , inventei algumas desculpas, mas antes mesmo que eu me desse conta, ela estava no meu quarto, bebendo sua Cherry Coke e invadindo o meu guarda-roupa.
— E este? — Ela tirou um vestido vermelho de dentro do meu armário, com um decote fundo e que tinha as costas quase nuas.
— É o vestido que você me deu de presente de aniversário. — Eu respondi, comendo as batatas chip que minha mãe tinha trazido para nós duas, junto com as cocas.
— Eu sei, boba. Mas para sexta…? — Ela caminhou até estar perto de mim, colocando o vestido na frente do meu corpo. — Uau, ele fica ótimo com esse bronzeado que você pegou.
É natural que nadadoras tivessem um bronzeado, é claro. Mas meu bronzeado não estava fora do normal. Ela estava tentando me animar, afinal de contas.
— Eu dormi com . — Eu acabei dizendo em voz alta. nem ao menos piscou, apenas jogou o vestido em cima da minha cama.
— Eu sei. — Ela voltou a procurar alguma coisa no meu armário. O silêncio fez meu estômago despencar. — Eu vi vocês, lembra? E ele me contou. — Sentada na cadeira da minha escrivaninha, eu simplesmente não conseguia ver o rosto dela.
— Foi… Eu estava bêbada. — Me vi gaguejando enquanto falava, muito nervosa para falar claramente. Meus olhos encheram-se de lágrimas rapidamente.
— Bom, e esse rosa? — Ao virar-se para mim e me mostrar um outro vestido, rapidamente deixou-o de lado e veio me confortar, vendo a expressão no meu rosto (que devia ser absolutamente desesperada). — Está tudo bem, . — Ela acariciava o meu cabelo devagar.
— E-eu não… — Tive que inspirar profundamente antes de falar, a fim de me acalmar. — Eu não tenho nada com , entende? Eu só…
— . — Ela me olhou, o rosto no mesmo nível que o meu. — Está tudo bem, ouviu? Você se lembra? Somos iguais, eu entendo. — Suas duas mãos pequeninas seguraram meu rosto com leveza, mas eu quis desviá-lo. Eu não era como . — Eu percebi e eu não me importo. Ele está comigo agora, então eu não estou brava com você, entendeu? — Ela secou as minhas lágrimas e eu anuí fracamente.
Eu não chorava por me sentir particularmente mal por ficar entre eles dois, mas porque eu simplesmente me sentia mal por . O choque de me dizendo aquilo mais cedo fez com que eu refletisse melhor sobre o que eu tinha feito. E não estava com a . Ele estava me perseguindo, me mandando mensagens, me aterrorizando.
— Você acha que eu devia terminar com ? — Perguntei baixo e ela mordeu o lábio inferior.
— Não. Quer dizer, só por isso? Ele não sabe, não é exatamente brilhante. E também não vai contar, ele me disse isso porque… Bem, porque ele disse que eu deveria saber disso antes de sair com ele.
Aquilo fez com que eu franzisse a testa. Se tinha jogado aquilo para que ela simplesmente dissesse a ou me confrontasse… Ele tinha calculado muito mal.
— E está tão perto do baile, quer dizer… Se eu e não ganharmos, você e certamente ganharão. Então, por que arriscar? — Ela tinha voltado a acariciar o meu cabelo, calmamente. — Eu sei que tenho agido feito uma vadia com você, mas isso não quer dizer que eu não me preocupe com você, . Eu só… Acho que eu estava com ciúmes, não é patético? — Ela sorriu para mim. — Então você cometeu um erro… Todos nós cometemos erros, você não tem que se sentir culpada por isso.
— Eu tenho um namorado, . Eu não posso sair dormindo com caras a torto e a direito.
— Bom, e daí? , querida, homens estão entre as piores espécies de animais. Eles mentem e traem com tanta facilidade… Não quero dizer que faça isso, mas você entende, certo? Quer dizer, é um toma lá, dá cá. Você está ajudando a restaurar o equilíbrio do planeta por todas aquelas que já foram traídas por seus namorados.
— Não quero ser como eles… — Eu respirei fundo, sentindo meu peito apertar-se com a agonia. Foram as palavras dele. E o modo como ele pensava que eu era.
— Olha, se você quiser, termine com .
— Eu me sinto uma vadia. — Confessei, finalmente. Eu não podia dizer a sobre e eu ou e eu, mas podia confessar aquilo.
— Qual é, , isso já aconteceu antes, lembra? Você não é uma vadia, você só não controla os seus impulsos muito bem.
Seis meses atrás eu tive uma dessas crises emocionais. Eu tinha transado com um cara e saído com no mesmo dia. Naquele jantar ele disse que me amava e eu não pude me controlar. Foi quando eu decidi ser uma boa namorada. E eu tinha estragado isso.
— Você leva tudo tão a sério. Quer dizer, nós estamos no colégio. Não é como se fôssemos decidir nossa vida inteira agora. É para isso que a faculdade serve, entende?
não poderia entender o que eu estava sentindo agora. Como eu me sentia suja por ter me entregado a sem pensar. Como eu fui humilhada por naquele vestiário. Como eu me sentia idiota por achar que tivesse qualquer tipo de sentimento por mim. Ele tinha me beijado de volta, mas podia ser só luxúria e desejo, o calor do momento.
Me levantei e tranquei a porta do quarto, em seguida peguei pela mão e a sentei na minha cama, me sentando de frente para ela. E então contei a ela sobre todas as minhas dúvidas tanto sobre quanto sobre a faculdade. Falei sobre ela como e eu tínhamos combinado de nos casar depois da faculdade e como eu tinha me arrependido de todos aqueles planos. Ao final da minha narrativa, ela suspirou pesadamente.
— É isso que eu digo quando falo que você se preocupa demais com as coisas. Você faz todos esses planos e agora… — Ela suspirou de novo. — Eu sabia que tinha alguma coisa errada, só não sabia que era isso… E é algo tão fácil de se consertar, também.
— … — Olhei para ela abismada.
— Você sabe, é só terminar com e dizer para os seus pais que você não quer fazer Direito.
— Não é assim tão fácil. Eu sou filha única, ele não tem mais ninguém para herdar o escritório. Eu já passei para a Columbia! Meu tio também não teve nenhum filho que…
— Isso não é problema seu. — disse pausadamente. — Nada disso é problema seu. Você prefere deixar infeliz? Quer dizer, você sabe quantas vezes ele veio conversar comigo para saber qual era o seu problema? “Por que ela está tão distante, ? Por que ela não faz mais sexo comigo? Por que nós não conversamos mais?”, sabe quantas vezes eu ouvi essas perguntas? — Seu discurso tinha se tornado mais inflamado. — Porra, , eu tinha que cobrir por você. E, tá, então você transou com alguns caras porque o é horrível na cama, e daí? Constance fazia isso também. Você pode terminar com ele. Você pode dizer aos seus pais que você simplesmente não quer ser advogada, mas você é tão presa no seu mundinho e quer tanto ser exatamente o que as outras pessoas esperam de você! Você tem que ser uma ótima namorada para ele, se força a isso, e então você acaba traindo ele porque fica tão presa nisso que se esquece das suas próprias necessidades. Você precisa ser uma ótima filha e levar o legado do seu pai adiante e nem pensa no que você quer fazer. É como se você não tivesse nenhuma vontade própria e fica tão desorientada quando decide fazer algo por você que simplesmente acaba estragando tudo! Porra, , cresce!
De todas as pessoas do mundo, eu jamais esperaria ouvir isso de .
— Você quer continuar sendo empurrada pelas outras pessoas ou simplesmente vai se dar conta que você pode viver o tipo de vida que você quiser? — Ela me perguntou com um olhar desafiador.
— Obrigada, . — Eu sorri e a abracei. — Era exatamente disso que eu precisava.
— Dã, eu sei. Só não molhe o meu cabelo com as suas lágrimas. — Ela me empurrou, mas estava sorrindo para mim, apesar de suas palavras. — Eu sou a droga da sua melhor amiga, entendeu? E nunca ouse desabafar com outra pessoa desse jeito. Agora, eu preciso continuar escolhendo sua roupa para sexta ou eu e vamos sair sozinhos?
Eu não respondi de imediato. Eu sabia o que eu tinha que fazer, mas ter coragem para isso era uma coisa completamente diferente.
Nova mensagem recebida.
diz:
E se eu não parar?
diz:
Você vai parar.
E então, com um sentimento afrontoso crescendo em mim, eu bloqueei o número dele, como deveria ter feito há muito. sorriu para mim e foi para casa. Ela já tinha me ajudado e eu também começava a me ajudar.
Capítulo 12
Quatro semanas e dois dias para o baile.
Eu não dormi bem à noite. No meu sonho, eu revivia as agressões de no vestiário feminino. E isso fez com que eu acendesse a luz e revirasse o quarto inteiro à procura de alguém. Portas e janelas trancadas, mas poucas horas de sono.
Andei em círculos do lado de fora da porta da sala do senhor por alguns segundos, me sentindo ansiosa. Eu não podia simplesmente entrar lá. Mas eu queria. Eu tinha acabado de terminar com o e o olhar de mágoa dele parecia gravado na minha mente. Se eu fechasse os olhos agora, poderia me lembrar da expressão dele. não respondeu nada quando eu disse que queria terminar com ele. Ele nem ao menos me perguntou o motivo, apenas me lançou um olhar magoado e saiu andando depois de dizer que poderíamos conversar mais tarde. não entendia que não havia mais conversa que pudesse consertar o que havia entre nós dois. Desde o começo, desde que eu o traí pela primeira vez, desde que notei que não éramos um para o outro. Não havia mais conserto. E eu deveria ter visto isso antes.
Meu coração bateu forte no peito quando me lembrei dele. Eu amava , talvez não da forma que ele merecia, talvez do meu jeito doentio e perverso, mas eu o amava e vê-lo magoado comigo daquele jeito não me fazia bem.
Ouvi o barulho da porta se abrindo e me virei para ver saindo de sua sala. Ele me olhou de modo indiferente.
— Eu dispensei Bob. Não temos mais nada para corrigir. — Ele se moveu para sair de perto de mim, mas eu o impedi.
— Você disse que eu poderia conversar com você se eu precisasse. — me olhou, pego de surpresa e claramente em choque.
— , eu realmente não acho que isso seja aconselhável.
— Ouça, eu não vou… — Achei melhor refrasear o que eu diria. — Não vai ser como da última vez. — Sussurrei.
me olhou durante alguns segundos e abriu a porta de sua sala para mim, mesmo que ele parecesse estar indo embora da escola. Eu entrei rapidamente, antes que ele se arrependesse, e me sentei na cadeira em frente a mesa dele. Ele, então, sentou-se do outro lado da mesa e me olhou de modo duvidoso, como se se perguntasse o que eu queria.
— Meus pais estão chateados comigo. — Eu comecei, de modo comedido. — Eu disse a eles que queria ser professora… estava lá para me apoiar, também. Eles aceitaram a minha decisão, mas… — Suspirei de modo profundo, fechando os olhos por um ou dois segundos, apenas. — Eles não estão muito felizes. — Abri um sorriso de autodepreciação. Esperei que dissesse alguma coisa, mas ele apenas continuou me observando. — Eu nunca quis magoá-los. Eu só… Eu não vou conseguir ser o que eles esperam de mim. E … Nós terminamos hoje mais cedo. Ele parecia tão magoado, eu…
Quando percebi que estava torcendo as mãos no meu colo, parei, desviando o olhar pela sala. Não era fácil falar daquele jeito com silencioso daquela forma. Eu só queria que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa.
— Você se lembra? — Acariciei meus pulsos delicadamente, pensando no que tinha ocorrido apenas algumas semanas atrás. Parecia que o tempo era muito mais longo do que aquilo. — Quando você… Viu o que aconteceu no corredor. Você se lembra? — Voltei a fixar meu olhar no dele, apenas para ver desviar seus olhos para os meus pulsos e então voltá-los para o meu rosto com uma expressão sombria no rosto. — achou que eu estava dormindo com você porque eu tinha me recusado a dormir com ele. Ele ficou um pouco violento.
— , você não precisa falar se não…
— Eu quero falar. — Continuei de modo calmo, constrito. Eu sentia vergonha, é claro. Eu não quero ser a donzela em perigo, mas falar e desabafar dessa forma fazia o peso no meu peito se aliviar um pouco. — Eu fiquei grata a você por aparecer. Eu pensei que… Eu não sei, ele não parecia em seu estado normal. E então você demonstrou tanta preocupação comigo, senhor . Naquele dia no parque, também. Você me ajudou com tanta coisa… Vocês me fizeram ver o que eu estava fazendo errado, você e . Então eu vim te agradecer. — Ele parecia tão surpreso quanto se eu tivesse dito que tinha três cabeças ou algo assim. — A … Sabe, ela se importa. Eu sei como ela pode parecer, mas ela se importa, eu percebi isso essa semana.
Foi um pouco difícil ver minha vida desmoronando assim, mas… Eu não podia continuar sendo uma mentira, não é mesmo?
— Você está bem? — Era preocupação real nos olhos dele. Aquilo aqueceu meu coração.
— Não, mas eu vou ficar. Eu não gosto de desapontar as pessoas, então é difícil, mas… Eu não vou me prender a compromissos que não vão me fazer feliz futuramente.
Era a primeira vez que eu era tão honesta. Eu tinha esperado todas as aulas acabarem para vir falar com ele. Era algo que eu precisava fazer, porque eu simplesmente não queria que ele pensasse que eu era fútil ou apenas estava tentando dormir com o máximo de pessoas que eu podia.
— Eu sinto muito por ter te beijado. — Finalmente eu disse. Finalmente. Eu tinha ensaiado diante do espelho, mas, mesmo assim, meu coração batia forte na minha garganta. — Eu…
— Me desculpe por ter agido como um babaca sobre isso, é só que… Você deveria ter alguém da sua idade. — Ele me interrompeu. tinha tirado seus óculos e pousado-os na mesa. Eu esperei o que mais ele tinha a dizer e ele massageou suas têmporas.
Ele nunca pareceu tão vulnerável como ele estava ali, na minha frente. Seus cabelos levemente despenteados, a barba por fazer despontando no queixo dele… Eu queria tanto abraçá-lo. Queria tanto que ele fosse meu. Mesmo que eu tivesse arruinado qualquer ínfima chance de tê-lo para mim… Eu o queria.
— Então… Estamos bem de novo? Podemos voltar a ser amigos? — Perguntei em voz baixa, com medo do que ele poderia dizer.
— Sim, acho que sim. — Ele sorriu de modo simpático, e eu podia dizer que aquele sorriso era falso.
Fingir para mim, ? Logo eu, a rainha dos sorrisos falsos?
— Qual o problema?
levou um tempo para me responder. E, quando o fez, não foi nada satisfatório.
— Algumas coisas com o trabalho. — Era mentira e ambos sabíamos disso. Por isso – para evitar essa constatação e, também, o desconforto – abri um grande sorriso.
— Bem, eu preciso ir. Minha mãe e eu vamos às compras. Até mais, ! — Mantive meu sorriso o máximo que consegui enquanto saía de sua sala. E se ele sabia que era mentira, ao menos dessa vez não tentou me impedir de sair daquela forma.
Eu tinha estragado tudo que poderia haver entre nós dois. E, a cada passo, esse pensamento fazia minha cabeça latejar. Eu já estava no corredor quando alguém me puxou pelo braço e, por um momento, achei que fosse . Você sabe, o tipo de esperança que qualquer garota que já tenha visto comédias românticas o suficiente teria. Mas o aperto era mais forçoso que o necessário e os olhos de olharam profundamente dentro dos meus.
— Me solta! — Eu tentei empurrá-lo, mas ele agarrou meu outro pulso e o torceu atrás das minhas costas. Meu caderno e minha bolsa caíram no chão atrás de mim.
— Me bloquear, ? Sério? — Mordi meus lábios para impedir que um gemido de dor escapasse por eles, mas ele não afrouxou o aperto.
— Me solta, ! Seu filho da puta, me solta! — Eu gritei, mas ele apenas pôs uma mão grande por cima da minha boca e aumentou o aperto no meu braço, meus olhos se encheram de lágrimas por isso.
— Você não terminou com ele por nós dois? Por que arruinar isso aqui, então? — Ele perguntou, sua boca perto demais do meu ouvido, seu corpo pressionado contra o meu. Eu gemi de dor. Ele pareceu satisfeito. — Vou deixar você falar. Eu quero conversar com você e você não pode gritar, ouviu bem?
Grunhi contra a mão dele, o que o fez retirá-la. me soltou e me virou de frente para ele. Me soltou era jeito de falar porque ele ainda me segurava pelos pulsos e bloqueava minha passagem com seu corpo musculoso.
— Tudo bem? Podemos conversar? — Ele olhou nos meus olhos e eu fiz que sim com a cabeça, sem confiar na minha própria voz, desviando meu olhar para baixo, para algo que não fosse ele.
Não era o meu melhor momento. O término com meu namorado, o desapontamento dos meus pais, as coisas estranhas com . respirava aos borbotões e, aos poucos, se acalmava. Ele me olhou e parecia ligeiramente mais calmo, sua voz também estava mais suave.
— Sabia que era para você ter saído comigo? — Eu levantei os olhos para ele. parecia tentar me confortar depois de ter me agredido. Ele poderia dizer o que quisesse, eu ainda me sentiria acuada e humilhada, com dor e ódio dele. Alheio aos meus sentimentos, ele continuou, sua voz baixa e calma. — Era para ter me apresentado a você, mas ela te apresentou ao . — A mão dele se dirigiu a uma mecha do meu cabelo que tinha se soltado durante nossa pequena luta. Ele a ajeitou atrás da minha orelha. — Eu me apaixonei por você desde que te vi pela primeira vez. Bonita, recatada… — Ele riu. — Ou eu achava que era.
Pressionei meus lábios juntos e não disse nada. Se ele esperava que eu fosse cair de amores por ele por causa disso, morreria esperando. Desistindo da minha resposta, ele suspirou.
— O que eu tenho que fazer para me perdoar? — Ele passou a mão pelo cabelo curto e me olhou. — Eu amo você, . Eu amei você desde sempre. Sabe como é tentar ter coragem para te chamar para sair durante dois anos? E quando eu finalmente tive, sua amiga decide apresentar você para o meu melhor amigo. Sabe o quanto doeu quando vocês começaram a namorar? — Suas mãos subiram para os meus braços e ele me apertou. — Sabe?! — Respirei fundo. Eu não me importava se ele me amasse desde o jardim de infância. Eu o queria longe de mim!
— Me solta. — Pedi calmamente, com a voz trêmula.
— Não posso soltar você. — Ele me puxou para o seu corpo e eu virei o rosto quando ele tentou me beijar. — Eu tenho que ter você, . Eu esperei por você por quase três anos. Eu não consigo esperar mais.
Ele era louco. Agora acariciava os meus cabelos e eu queria chorar, porque não conseguia me soltar de seu aperto, porque minhas pernas estavam bambas, porque ele era mais forte que eu.
— Por favor, . — Minha voz tremia violentamente. Eu estava prestes a cair no choro.
— Eu vou fazer você entender o meu amor, , você vai ver. Nós vamos ficar bem. Você terminou com o para nós dois ficarmos juntos, não foi, ? Então! Tudo vai ser perfeito para nós dois. — Ele ainda me pressionava contra seu peito e acarinhava a minha cabeça. E eu tinha calafrios que aumentavam conforme o tempo que eu estava nos braços dele.
De longe, talvez pareceríamos um casal. Se não fosse pela minha cara de choro, a falta de consensualidade nos toques dele em mim e minhas mãos tremendo.
— Nós vamos ficar juntos e tudo vai dar certo. Você não quer ficar comigo? — Ele me perguntou, me afastando um pouco apenas para olhar para o meu rosto.
— Eu não quero ficar com você! — As mãos dele pareciam aço ao redor dos meus braços e eu gemi.
— Você quis ficar comigo, lembra? Na casa da Keyshia. — Ele continuou com sua excitação febril, me estimulando a aceitar seus sentimentos.
— Eu não quero mais! Me solta! Agora! — Me debati, o que o fez franzir o cenho e me chacoalhar.
— Cale a boca! — Até então, tinha mantido sua voz em um tom normal, mas agora ele tinha gritado e eu arregalei os olhos, minha voz presa na garganta, inconscientemente. — Sabe o que eu devia fazer com você, ?
— Você devia soltá-la. — Uma terceira voz se fez ouvir.
E tão brusco e rapidamente quanto se aproximou de mim, ele se afastou novamente. Eu tropecei e quase caí, mas me segurei em um armário e aquele cheiro se aproximou. Sabonete e pós-barba. Levantei meus olhos marejados para meu professor. Ele tinha tirado de perto de mim e o jogado em direção ao outro lado do corredor.
— , você está bem? — Ele levantou meu rosto e me olhou nos olhos, uma ruguinha entre as suas sobrancelhas e a boca apertada em uma linha rígida. Uma veia pulsava em sua testa e ele parecia prestes a matar alguém, mas se eu abrisse a boca agora, provavelmente choraria por horas. Anuí com a cabeça.
— Tire as mãos dela! — A voz de bradou. Ele parecia pronto a derrubar , como o tackle que era.
— Cuidado, senhor . — A voz de era fria e inflexível enquanto ele ainda olhava para mim. Em seguida, ele olhou por cima do ombro para o outro. — Você não vai querer que eu diga na delegacia que você agrediu nós dois e que eu quebrei seus braços tentando me defender.
Havia uma real ameaça em suas palavras, eu pude sentir (mesmo que talvez eu estivesse debilitada demais para pensar que, bem, é um nerd e é um tackle, ele jamais poderia derrubar ). E também, provavelmente. Ele me olhou e então olhou para o professor.
— Ela dormiu com você também? Quando vai deixar de ser uma putinha, ? — Respirei fundo para me acalmar, ria. me olhou de lado, avaliando meu estado, provavelmente.
— Vamos embora, . — recolheu os meus pertences e os dele. Sempre ao meu lado, ele me amparou.
— Pode levar essa puta embora. E quando você se apaixonar por ela, ela vai te deixar para trás, como ela fez comigo. — Olhei para trás. estava vermelho e as veias de seu pescoço saltavam quando ele gritava. — Uma puta! É isso o que ela é!
— Venha, . — sussurrou para mim, fazendo com que eu olhasse para ele, agora. Ele passou o braço ao redor dos meus ombros e me pressionou a andar.
Nós andamos em silêncio. Eu estava em silêncio porque sabia que, se abrisse a boca, choraria. parecia destilar uma raiva fria: seu maxilar estava tenso, seu andar estava duro e seus olhos pareciam fixos à frente, apesar do toque dele em minha pele ser suave. E isso apenas me encheu de ainda mais vontade de desabar e deixar cair as lágrimas que eu vinha segurando. Nós andamos até o estacionamento.
— Onde está o seu carro? — Sua voz era baixa. Eu apontei meu carro com uma mão trêmula. — Me dê as chaves.
— Na bolsa. — Sussurrei, minha voz era monocórdica. Ele assentiu e abriu a minha bolsa, pegando a chave lá dentro.
abriu a porta para mim e eu entrei no lugar do passageiro, enquanto ele se ajeitava no banco do motorista. Ajustou o banco e os espelhos e me olhou de lado. Eu permaneci na mesma posição, fazendo o possível para não me mexer muito.
— Você está bem? — Fechei meus olhos. Eu não queria choramingar. Fiz que não com a cabeça.
parecia desconfortável. É claro, eu não me importei. Estava mais preocupada comigo. Era uma pergunta idiota: sabia que não tinha como eu estar bem, eu também sabia. Me encostei no banco e respirei fundo. Meus braços doíam. Mais do que isso, eu estava realmente assustada. Eu não sabia e nem nunca soube dos sentimentos de . Em vez disso, tudo o que eu assumi é que ele me odiava por causa de quando era o contrário: durante todo esse tempo, ele me amava (qualquer que seja a definição errônea, perversa e idiota que ele adota sobre o amor). Por um momento, temi por meu ex-namorado. Talvez eu devesse alertá-lo? Não. Eles ainda eram melhores amigos. Decidi que não precisava e observei a vizinhança.
Meus pais não estavam em casa. Minha mãe estava no hospital e meu pai devia estar em seu escritório, no centro da cidade. Não tinha ninguém na minha casa. Eu estaria completamente vulnerável. Me virei para , que dirigia com uma expressão rígida no rosto.
— Não quero ir para casa. — Minha voz estava rouca, mas já não era tão fremente quanto antes. não demonstrou surpresa. — Meus pais não estão em casa e eu…
— Você não quer ficar sozinha. — Ele completou por mim. Eu concordei. — Eu não tenho mais aulas para dar hoje. Você pode ficar no meu apartamento. Tudo bem pra você? — Mais uma vez, tudo que eu fiz foi concordar silenciosamente, apenas balançando a cabeça.
deu a volta, indo em direção à rua principal que nos levaria ao centro da cidade. Ele não pressionou uma conversa, ao que eu me senti grata. Não estava em condições de falar.
era o dono de um pequeno apartamento em cima de uma livraria. Isso simplesmente não poderia ser mais a cara dele. Subimos as escadas e eu me deparei com o interior arrumado do que apenas poderia ser descrito como: o apartamento de um homem solteiro que ainda não chegou aos trinta anos (mas estava quase lá). Nada estava fora do lugar e tudo era prático e funcional. Sem enfeites, sem muita decoração. me apontou um sofá e tirou o paletó, pendurando-o atrás da porta.
— Eu vou fazer um chá para nós dois.
Eu o olhei longamente, em um torpor que o fez pensar que eu tinha aceitado sua oferta. Ele se dirigiu à cozinha e eu continuei sentada, imóvel. Em outra hora, eu teria dado tudo para estar na casa dele. Agora, eu apenas não queria ficar em um lugar onde fosse me achar sozinha, a vítima perfeita.
Por que comigo? Por que eu? Por que ele? Essas perguntas giravam pela minha cabeça. Meu deus, eu só queria me divertir um pouco. Imaginei que não fosse ligar. Embora, talvez, eu devesse ter notado como ele agiu estranho quando nos beijamos pela primeira vez. Ele sempre tinha sido esquentadinho, marrento. Talvez ele sempre tivesse sido uma bomba relógio, pronta para explodir nas minhas mãos. Egocêntrica como eu sou, nunca percebi. Estava atenta às minhas necessidades e deixei passar os sinais que qualquer um veria: que seu comportamento comigo era abusivo, que ele era obcecado por mim.
Ele se tornou violento, mandava todo dia aquelas malditas mensagens de texto! Eu deveria ter notado! Eu deveria ter falado com alguém! Retirei meu blazer e olhei as marcas nos meus braços. Grandes estrias avermelhadas marcavam toda a extensão dos meus dois braços. Marcas de mão nos meus pulsos, bíceps e tudo o mais. Toquei uma delas com a ponta dos dedos, estava quente. Uma caneca fumegante apareceu na minha frente e eu a tomei nas mãos sem olhá-lo. Eu não queria que tivesse visto aquilo. Se eu o poupei do relato do que aconteceu no vestiário, por que eu quereria que ele visse aquela cena? Eu me sentia tão humilhada e impotente. Absolutamente inútil. Eu era como uma daquelas mocinhas dos filmes, do tipo que só aparece para ser salva. E isso me corroía por dentro.
Ele sentou-se ao meu lado. Nós permanecemos em silêncio enquanto bebíamos o chá, mas eu sentia os olhos dele em cima de mim. Eu quase podia ouvir todas as perguntas na mente dele. Mas ele não as fez. Em vez disso, recolheu a minha caneca quando terminei e a levou de volta para a cozinha.
A primeira vez que eu fiz contato visual com ele desde que entrei em seu apartamento foi quando ele retornou do outro cômodo. Por um momento, ficou em pé a poucos metros do sofá, encarando os meus olhos. Este momento durou vários minutos ou várias horas. Eu não sabia.
Depois, dobrou meu blazer cuidadosamente e o colocou de lado, sentando-se perto de mim. Sempre com os olhos nos meus, silenciosamente pedindo a minha permissão, ele pegou a minha mão. Seus olhos percorreram as marcas avermelhadas na minha pele. Meu coração palpitou com o olhar dele. Era atento e eu podia ver a raiva em seus olhos límpidos. Seu olhar ainda ostentava a mesma raiva reprimida quando ele os levou para o meu rosto de novo. Levou alguns segundos para que o olhar dele se suavizasse. permaneceu parado. Deixou a minha mão e me olhou com atenção. Ele provavelmente não sabia o que fazer para me ajudar.
— Você devia ir à polícia. — Eu neguei com a cabeça, as lágrimas de repente voltaram aos meus olhos. — …
— Não. — Foi a primeira palavra que falei em muito tempo e minha voz estava estranha, esganiçada. — Não. — Repeti quando ele abriu a boca de novo.
me olhou com gentileza quando eu me aninhei nos braços dele. Ele não se afastou, não disse nada. me abraçou com gentileza e me segurou firmemente mesmo enquanto meu corpo se convulsionava por causa do choro violento, não, não, não… Eu falei não milhares de vezes. Mesmo quando parei de chorar e apenas fiquei de olhos fechados, inspirando seu cheiro calmante que eu tinha aprendido a amar no último ano, ele não me afastou. Ele não murmurou que tudo ia ficar bem, muito menos me disse para não chorar.
Eu precisava chorar. Pelas agressões, por , por , pela minha vida, pelo meu futuro, pelos meus pais. Eu precisava desesperadamente chorar e ser abraçada por alguém, porque me mantive forte negando as minhas emoções. E agora elas transbordavam. E ele entendeu.
Quando abri os olhos, a noite já tinha caído. Por um momento, desorientada, olhei ao redor, tentando saber onde estava. Foi só quando meus olhos pousaram em , na cozinha, que eu me dei conta do que tinha acontecido. Limpei meu rosto do rímel que tinha escorrido enquanto eu chorava e ajeitei meus cabelos com as mãos. Quando ele retornou as cozinha, me deu um sorriso simpático.
— Eu pedi comida mexicana.
O cheiro da comida embrulhou o meu estômago. É minha comida preferida, mas eu não conseguia pensar em comer. Não agora. Ele deve ser aprendiz da Jean Grey, porque pôs dois burritos na minha frente e disse:
— Você precisa comer alguma coisa.
— Que horas são? — Desconversei, olhando pela janela e constatando que já devia ser seis ou sete da noite.
— Sete e meia. — Eu o encarei.
— Devia ter me acordado. Eu aluguei você por muito tempo. — Me preparei para levantar, mas ele me impediu.
— Você não está me alugando. — Ele parecia levemente ruborizado. — Agora, coma.
— Não quero.
— Você tem que comer alguma coisa, . — O tom dele, de preocupação, me comoveu e peguei um dos burritos com cautela.
— Eu só como um. — Avisei, já sabendo que ele me forçaria a comer o outro caso eu não avisasse.
— Tudo bem.
Nova mensagem recebida.
Mãe diz:
Onde você está? Me ligue.
diz:
Casa da . Já estou indo.
Me despedi de pouco depois. Ele insistiu para que eu fosse à polícia. Eu disse que iria. Quando ele me levou na porta, ele me chamou de novo e me virei.
— Eu mesmo vou levar você na delegacia amanhã. Ele precisa pagar pelo que fez.
Oh, sim, precisava. Ele tinha razão. Por mais humilhada que eu me sentisse, eu iria à polícia. E eles saberiam de cada uma daquelas agressões.
diz:
Você nunca mais vai fazer isso de novo, .
diz:
Eu vou à polícia amanhã.
Eu não dormi bem à noite. No meu sonho, eu revivia as agressões de no vestiário feminino. E isso fez com que eu acendesse a luz e revirasse o quarto inteiro à procura de alguém. Portas e janelas trancadas, mas poucas horas de sono.
Andei em círculos do lado de fora da porta da sala do senhor por alguns segundos, me sentindo ansiosa. Eu não podia simplesmente entrar lá. Mas eu queria. Eu tinha acabado de terminar com o e o olhar de mágoa dele parecia gravado na minha mente. Se eu fechasse os olhos agora, poderia me lembrar da expressão dele. não respondeu nada quando eu disse que queria terminar com ele. Ele nem ao menos me perguntou o motivo, apenas me lançou um olhar magoado e saiu andando depois de dizer que poderíamos conversar mais tarde. não entendia que não havia mais conversa que pudesse consertar o que havia entre nós dois. Desde o começo, desde que eu o traí pela primeira vez, desde que notei que não éramos um para o outro. Não havia mais conserto. E eu deveria ter visto isso antes.
Meu coração bateu forte no peito quando me lembrei dele. Eu amava , talvez não da forma que ele merecia, talvez do meu jeito doentio e perverso, mas eu o amava e vê-lo magoado comigo daquele jeito não me fazia bem.
Ouvi o barulho da porta se abrindo e me virei para ver saindo de sua sala. Ele me olhou de modo indiferente.
— Eu dispensei Bob. Não temos mais nada para corrigir. — Ele se moveu para sair de perto de mim, mas eu o impedi.
— Você disse que eu poderia conversar com você se eu precisasse. — me olhou, pego de surpresa e claramente em choque.
— , eu realmente não acho que isso seja aconselhável.
— Ouça, eu não vou… — Achei melhor refrasear o que eu diria. — Não vai ser como da última vez. — Sussurrei.
me olhou durante alguns segundos e abriu a porta de sua sala para mim, mesmo que ele parecesse estar indo embora da escola. Eu entrei rapidamente, antes que ele se arrependesse, e me sentei na cadeira em frente a mesa dele. Ele, então, sentou-se do outro lado da mesa e me olhou de modo duvidoso, como se se perguntasse o que eu queria.
— Meus pais estão chateados comigo. — Eu comecei, de modo comedido. — Eu disse a eles que queria ser professora… estava lá para me apoiar, também. Eles aceitaram a minha decisão, mas… — Suspirei de modo profundo, fechando os olhos por um ou dois segundos, apenas. — Eles não estão muito felizes. — Abri um sorriso de autodepreciação. Esperei que dissesse alguma coisa, mas ele apenas continuou me observando. — Eu nunca quis magoá-los. Eu só… Eu não vou conseguir ser o que eles esperam de mim. E … Nós terminamos hoje mais cedo. Ele parecia tão magoado, eu…
Quando percebi que estava torcendo as mãos no meu colo, parei, desviando o olhar pela sala. Não era fácil falar daquele jeito com silencioso daquela forma. Eu só queria que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa.
— Você se lembra? — Acariciei meus pulsos delicadamente, pensando no que tinha ocorrido apenas algumas semanas atrás. Parecia que o tempo era muito mais longo do que aquilo. — Quando você… Viu o que aconteceu no corredor. Você se lembra? — Voltei a fixar meu olhar no dele, apenas para ver desviar seus olhos para os meus pulsos e então voltá-los para o meu rosto com uma expressão sombria no rosto. — achou que eu estava dormindo com você porque eu tinha me recusado a dormir com ele. Ele ficou um pouco violento.
— , você não precisa falar se não…
— Eu quero falar. — Continuei de modo calmo, constrito. Eu sentia vergonha, é claro. Eu não quero ser a donzela em perigo, mas falar e desabafar dessa forma fazia o peso no meu peito se aliviar um pouco. — Eu fiquei grata a você por aparecer. Eu pensei que… Eu não sei, ele não parecia em seu estado normal. E então você demonstrou tanta preocupação comigo, senhor . Naquele dia no parque, também. Você me ajudou com tanta coisa… Vocês me fizeram ver o que eu estava fazendo errado, você e . Então eu vim te agradecer. — Ele parecia tão surpreso quanto se eu tivesse dito que tinha três cabeças ou algo assim. — A … Sabe, ela se importa. Eu sei como ela pode parecer, mas ela se importa, eu percebi isso essa semana.
Foi um pouco difícil ver minha vida desmoronando assim, mas… Eu não podia continuar sendo uma mentira, não é mesmo?
— Você está bem? — Era preocupação real nos olhos dele. Aquilo aqueceu meu coração.
— Não, mas eu vou ficar. Eu não gosto de desapontar as pessoas, então é difícil, mas… Eu não vou me prender a compromissos que não vão me fazer feliz futuramente.
Era a primeira vez que eu era tão honesta. Eu tinha esperado todas as aulas acabarem para vir falar com ele. Era algo que eu precisava fazer, porque eu simplesmente não queria que ele pensasse que eu era fútil ou apenas estava tentando dormir com o máximo de pessoas que eu podia.
— Eu sinto muito por ter te beijado. — Finalmente eu disse. Finalmente. Eu tinha ensaiado diante do espelho, mas, mesmo assim, meu coração batia forte na minha garganta. — Eu…
— Me desculpe por ter agido como um babaca sobre isso, é só que… Você deveria ter alguém da sua idade. — Ele me interrompeu. tinha tirado seus óculos e pousado-os na mesa. Eu esperei o que mais ele tinha a dizer e ele massageou suas têmporas.
Ele nunca pareceu tão vulnerável como ele estava ali, na minha frente. Seus cabelos levemente despenteados, a barba por fazer despontando no queixo dele… Eu queria tanto abraçá-lo. Queria tanto que ele fosse meu. Mesmo que eu tivesse arruinado qualquer ínfima chance de tê-lo para mim… Eu o queria.
— Então… Estamos bem de novo? Podemos voltar a ser amigos? — Perguntei em voz baixa, com medo do que ele poderia dizer.
— Sim, acho que sim. — Ele sorriu de modo simpático, e eu podia dizer que aquele sorriso era falso.
Fingir para mim, ? Logo eu, a rainha dos sorrisos falsos?
— Qual o problema?
levou um tempo para me responder. E, quando o fez, não foi nada satisfatório.
— Algumas coisas com o trabalho. — Era mentira e ambos sabíamos disso. Por isso – para evitar essa constatação e, também, o desconforto – abri um grande sorriso.
— Bem, eu preciso ir. Minha mãe e eu vamos às compras. Até mais, ! — Mantive meu sorriso o máximo que consegui enquanto saía de sua sala. E se ele sabia que era mentira, ao menos dessa vez não tentou me impedir de sair daquela forma.
Eu tinha estragado tudo que poderia haver entre nós dois. E, a cada passo, esse pensamento fazia minha cabeça latejar. Eu já estava no corredor quando alguém me puxou pelo braço e, por um momento, achei que fosse . Você sabe, o tipo de esperança que qualquer garota que já tenha visto comédias românticas o suficiente teria. Mas o aperto era mais forçoso que o necessário e os olhos de olharam profundamente dentro dos meus.
— Me solta! — Eu tentei empurrá-lo, mas ele agarrou meu outro pulso e o torceu atrás das minhas costas. Meu caderno e minha bolsa caíram no chão atrás de mim.
— Me bloquear, ? Sério? — Mordi meus lábios para impedir que um gemido de dor escapasse por eles, mas ele não afrouxou o aperto.
— Me solta, ! Seu filho da puta, me solta! — Eu gritei, mas ele apenas pôs uma mão grande por cima da minha boca e aumentou o aperto no meu braço, meus olhos se encheram de lágrimas por isso.
— Você não terminou com ele por nós dois? Por que arruinar isso aqui, então? — Ele perguntou, sua boca perto demais do meu ouvido, seu corpo pressionado contra o meu. Eu gemi de dor. Ele pareceu satisfeito. — Vou deixar você falar. Eu quero conversar com você e você não pode gritar, ouviu bem?
Grunhi contra a mão dele, o que o fez retirá-la. me soltou e me virou de frente para ele. Me soltou era jeito de falar porque ele ainda me segurava pelos pulsos e bloqueava minha passagem com seu corpo musculoso.
— Tudo bem? Podemos conversar? — Ele olhou nos meus olhos e eu fiz que sim com a cabeça, sem confiar na minha própria voz, desviando meu olhar para baixo, para algo que não fosse ele.
Não era o meu melhor momento. O término com meu namorado, o desapontamento dos meus pais, as coisas estranhas com . respirava aos borbotões e, aos poucos, se acalmava. Ele me olhou e parecia ligeiramente mais calmo, sua voz também estava mais suave.
— Sabia que era para você ter saído comigo? — Eu levantei os olhos para ele. parecia tentar me confortar depois de ter me agredido. Ele poderia dizer o que quisesse, eu ainda me sentiria acuada e humilhada, com dor e ódio dele. Alheio aos meus sentimentos, ele continuou, sua voz baixa e calma. — Era para ter me apresentado a você, mas ela te apresentou ao . — A mão dele se dirigiu a uma mecha do meu cabelo que tinha se soltado durante nossa pequena luta. Ele a ajeitou atrás da minha orelha. — Eu me apaixonei por você desde que te vi pela primeira vez. Bonita, recatada… — Ele riu. — Ou eu achava que era.
Pressionei meus lábios juntos e não disse nada. Se ele esperava que eu fosse cair de amores por ele por causa disso, morreria esperando. Desistindo da minha resposta, ele suspirou.
— O que eu tenho que fazer para me perdoar? — Ele passou a mão pelo cabelo curto e me olhou. — Eu amo você, . Eu amei você desde sempre. Sabe como é tentar ter coragem para te chamar para sair durante dois anos? E quando eu finalmente tive, sua amiga decide apresentar você para o meu melhor amigo. Sabe o quanto doeu quando vocês começaram a namorar? — Suas mãos subiram para os meus braços e ele me apertou. — Sabe?! — Respirei fundo. Eu não me importava se ele me amasse desde o jardim de infância. Eu o queria longe de mim!
— Me solta. — Pedi calmamente, com a voz trêmula.
— Não posso soltar você. — Ele me puxou para o seu corpo e eu virei o rosto quando ele tentou me beijar. — Eu tenho que ter você, . Eu esperei por você por quase três anos. Eu não consigo esperar mais.
Ele era louco. Agora acariciava os meus cabelos e eu queria chorar, porque não conseguia me soltar de seu aperto, porque minhas pernas estavam bambas, porque ele era mais forte que eu.
— Por favor, . — Minha voz tremia violentamente. Eu estava prestes a cair no choro.
— Eu vou fazer você entender o meu amor, , você vai ver. Nós vamos ficar bem. Você terminou com o para nós dois ficarmos juntos, não foi, ? Então! Tudo vai ser perfeito para nós dois. — Ele ainda me pressionava contra seu peito e acarinhava a minha cabeça. E eu tinha calafrios que aumentavam conforme o tempo que eu estava nos braços dele.
De longe, talvez pareceríamos um casal. Se não fosse pela minha cara de choro, a falta de consensualidade nos toques dele em mim e minhas mãos tremendo.
— Nós vamos ficar juntos e tudo vai dar certo. Você não quer ficar comigo? — Ele me perguntou, me afastando um pouco apenas para olhar para o meu rosto.
— Eu não quero ficar com você! — As mãos dele pareciam aço ao redor dos meus braços e eu gemi.
— Você quis ficar comigo, lembra? Na casa da Keyshia. — Ele continuou com sua excitação febril, me estimulando a aceitar seus sentimentos.
— Eu não quero mais! Me solta! Agora! — Me debati, o que o fez franzir o cenho e me chacoalhar.
— Cale a boca! — Até então, tinha mantido sua voz em um tom normal, mas agora ele tinha gritado e eu arregalei os olhos, minha voz presa na garganta, inconscientemente. — Sabe o que eu devia fazer com você, ?
— Você devia soltá-la. — Uma terceira voz se fez ouvir.
E tão brusco e rapidamente quanto se aproximou de mim, ele se afastou novamente. Eu tropecei e quase caí, mas me segurei em um armário e aquele cheiro se aproximou. Sabonete e pós-barba. Levantei meus olhos marejados para meu professor. Ele tinha tirado de perto de mim e o jogado em direção ao outro lado do corredor.
— , você está bem? — Ele levantou meu rosto e me olhou nos olhos, uma ruguinha entre as suas sobrancelhas e a boca apertada em uma linha rígida. Uma veia pulsava em sua testa e ele parecia prestes a matar alguém, mas se eu abrisse a boca agora, provavelmente choraria por horas. Anuí com a cabeça.
— Tire as mãos dela! — A voz de bradou. Ele parecia pronto a derrubar , como o tackle que era.
— Cuidado, senhor . — A voz de era fria e inflexível enquanto ele ainda olhava para mim. Em seguida, ele olhou por cima do ombro para o outro. — Você não vai querer que eu diga na delegacia que você agrediu nós dois e que eu quebrei seus braços tentando me defender.
Havia uma real ameaça em suas palavras, eu pude sentir (mesmo que talvez eu estivesse debilitada demais para pensar que, bem, é um nerd e é um tackle, ele jamais poderia derrubar ). E também, provavelmente. Ele me olhou e então olhou para o professor.
— Ela dormiu com você também? Quando vai deixar de ser uma putinha, ? — Respirei fundo para me acalmar, ria. me olhou de lado, avaliando meu estado, provavelmente.
— Vamos embora, . — recolheu os meus pertences e os dele. Sempre ao meu lado, ele me amparou.
— Pode levar essa puta embora. E quando você se apaixonar por ela, ela vai te deixar para trás, como ela fez comigo. — Olhei para trás. estava vermelho e as veias de seu pescoço saltavam quando ele gritava. — Uma puta! É isso o que ela é!
— Venha, . — sussurrou para mim, fazendo com que eu olhasse para ele, agora. Ele passou o braço ao redor dos meus ombros e me pressionou a andar.
Nós andamos em silêncio. Eu estava em silêncio porque sabia que, se abrisse a boca, choraria. parecia destilar uma raiva fria: seu maxilar estava tenso, seu andar estava duro e seus olhos pareciam fixos à frente, apesar do toque dele em minha pele ser suave. E isso apenas me encheu de ainda mais vontade de desabar e deixar cair as lágrimas que eu vinha segurando. Nós andamos até o estacionamento.
— Onde está o seu carro? — Sua voz era baixa. Eu apontei meu carro com uma mão trêmula. — Me dê as chaves.
— Na bolsa. — Sussurrei, minha voz era monocórdica. Ele assentiu e abriu a minha bolsa, pegando a chave lá dentro.
abriu a porta para mim e eu entrei no lugar do passageiro, enquanto ele se ajeitava no banco do motorista. Ajustou o banco e os espelhos e me olhou de lado. Eu permaneci na mesma posição, fazendo o possível para não me mexer muito.
— Você está bem? — Fechei meus olhos. Eu não queria choramingar. Fiz que não com a cabeça.
parecia desconfortável. É claro, eu não me importei. Estava mais preocupada comigo. Era uma pergunta idiota: sabia que não tinha como eu estar bem, eu também sabia. Me encostei no banco e respirei fundo. Meus braços doíam. Mais do que isso, eu estava realmente assustada. Eu não sabia e nem nunca soube dos sentimentos de . Em vez disso, tudo o que eu assumi é que ele me odiava por causa de quando era o contrário: durante todo esse tempo, ele me amava (qualquer que seja a definição errônea, perversa e idiota que ele adota sobre o amor). Por um momento, temi por meu ex-namorado. Talvez eu devesse alertá-lo? Não. Eles ainda eram melhores amigos. Decidi que não precisava e observei a vizinhança.
Meus pais não estavam em casa. Minha mãe estava no hospital e meu pai devia estar em seu escritório, no centro da cidade. Não tinha ninguém na minha casa. Eu estaria completamente vulnerável. Me virei para , que dirigia com uma expressão rígida no rosto.
— Não quero ir para casa. — Minha voz estava rouca, mas já não era tão fremente quanto antes. não demonstrou surpresa. — Meus pais não estão em casa e eu…
— Você não quer ficar sozinha. — Ele completou por mim. Eu concordei. — Eu não tenho mais aulas para dar hoje. Você pode ficar no meu apartamento. Tudo bem pra você? — Mais uma vez, tudo que eu fiz foi concordar silenciosamente, apenas balançando a cabeça.
deu a volta, indo em direção à rua principal que nos levaria ao centro da cidade. Ele não pressionou uma conversa, ao que eu me senti grata. Não estava em condições de falar.
era o dono de um pequeno apartamento em cima de uma livraria. Isso simplesmente não poderia ser mais a cara dele. Subimos as escadas e eu me deparei com o interior arrumado do que apenas poderia ser descrito como: o apartamento de um homem solteiro que ainda não chegou aos trinta anos (mas estava quase lá). Nada estava fora do lugar e tudo era prático e funcional. Sem enfeites, sem muita decoração. me apontou um sofá e tirou o paletó, pendurando-o atrás da porta.
— Eu vou fazer um chá para nós dois.
Eu o olhei longamente, em um torpor que o fez pensar que eu tinha aceitado sua oferta. Ele se dirigiu à cozinha e eu continuei sentada, imóvel. Em outra hora, eu teria dado tudo para estar na casa dele. Agora, eu apenas não queria ficar em um lugar onde fosse me achar sozinha, a vítima perfeita.
Por que comigo? Por que eu? Por que ele? Essas perguntas giravam pela minha cabeça. Meu deus, eu só queria me divertir um pouco. Imaginei que não fosse ligar. Embora, talvez, eu devesse ter notado como ele agiu estranho quando nos beijamos pela primeira vez. Ele sempre tinha sido esquentadinho, marrento. Talvez ele sempre tivesse sido uma bomba relógio, pronta para explodir nas minhas mãos. Egocêntrica como eu sou, nunca percebi. Estava atenta às minhas necessidades e deixei passar os sinais que qualquer um veria: que seu comportamento comigo era abusivo, que ele era obcecado por mim.
Ele se tornou violento, mandava todo dia aquelas malditas mensagens de texto! Eu deveria ter notado! Eu deveria ter falado com alguém! Retirei meu blazer e olhei as marcas nos meus braços. Grandes estrias avermelhadas marcavam toda a extensão dos meus dois braços. Marcas de mão nos meus pulsos, bíceps e tudo o mais. Toquei uma delas com a ponta dos dedos, estava quente. Uma caneca fumegante apareceu na minha frente e eu a tomei nas mãos sem olhá-lo. Eu não queria que tivesse visto aquilo. Se eu o poupei do relato do que aconteceu no vestiário, por que eu quereria que ele visse aquela cena? Eu me sentia tão humilhada e impotente. Absolutamente inútil. Eu era como uma daquelas mocinhas dos filmes, do tipo que só aparece para ser salva. E isso me corroía por dentro.
Ele sentou-se ao meu lado. Nós permanecemos em silêncio enquanto bebíamos o chá, mas eu sentia os olhos dele em cima de mim. Eu quase podia ouvir todas as perguntas na mente dele. Mas ele não as fez. Em vez disso, recolheu a minha caneca quando terminei e a levou de volta para a cozinha.
A primeira vez que eu fiz contato visual com ele desde que entrei em seu apartamento foi quando ele retornou do outro cômodo. Por um momento, ficou em pé a poucos metros do sofá, encarando os meus olhos. Este momento durou vários minutos ou várias horas. Eu não sabia.
Depois, dobrou meu blazer cuidadosamente e o colocou de lado, sentando-se perto de mim. Sempre com os olhos nos meus, silenciosamente pedindo a minha permissão, ele pegou a minha mão. Seus olhos percorreram as marcas avermelhadas na minha pele. Meu coração palpitou com o olhar dele. Era atento e eu podia ver a raiva em seus olhos límpidos. Seu olhar ainda ostentava a mesma raiva reprimida quando ele os levou para o meu rosto de novo. Levou alguns segundos para que o olhar dele se suavizasse. permaneceu parado. Deixou a minha mão e me olhou com atenção. Ele provavelmente não sabia o que fazer para me ajudar.
— Você devia ir à polícia. — Eu neguei com a cabeça, as lágrimas de repente voltaram aos meus olhos. — …
— Não. — Foi a primeira palavra que falei em muito tempo e minha voz estava estranha, esganiçada. — Não. — Repeti quando ele abriu a boca de novo.
me olhou com gentileza quando eu me aninhei nos braços dele. Ele não se afastou, não disse nada. me abraçou com gentileza e me segurou firmemente mesmo enquanto meu corpo se convulsionava por causa do choro violento, não, não, não… Eu falei não milhares de vezes. Mesmo quando parei de chorar e apenas fiquei de olhos fechados, inspirando seu cheiro calmante que eu tinha aprendido a amar no último ano, ele não me afastou. Ele não murmurou que tudo ia ficar bem, muito menos me disse para não chorar.
Eu precisava chorar. Pelas agressões, por , por , pela minha vida, pelo meu futuro, pelos meus pais. Eu precisava desesperadamente chorar e ser abraçada por alguém, porque me mantive forte negando as minhas emoções. E agora elas transbordavam. E ele entendeu.
Quando abri os olhos, a noite já tinha caído. Por um momento, desorientada, olhei ao redor, tentando saber onde estava. Foi só quando meus olhos pousaram em , na cozinha, que eu me dei conta do que tinha acontecido. Limpei meu rosto do rímel que tinha escorrido enquanto eu chorava e ajeitei meus cabelos com as mãos. Quando ele retornou as cozinha, me deu um sorriso simpático.
— Eu pedi comida mexicana.
O cheiro da comida embrulhou o meu estômago. É minha comida preferida, mas eu não conseguia pensar em comer. Não agora. Ele deve ser aprendiz da Jean Grey, porque pôs dois burritos na minha frente e disse:
— Você precisa comer alguma coisa.
— Que horas são? — Desconversei, olhando pela janela e constatando que já devia ser seis ou sete da noite.
— Sete e meia. — Eu o encarei.
— Devia ter me acordado. Eu aluguei você por muito tempo. — Me preparei para levantar, mas ele me impediu.
— Você não está me alugando. — Ele parecia levemente ruborizado. — Agora, coma.
— Não quero.
— Você tem que comer alguma coisa, . — O tom dele, de preocupação, me comoveu e peguei um dos burritos com cautela.
— Eu só como um. — Avisei, já sabendo que ele me forçaria a comer o outro caso eu não avisasse.
— Tudo bem.
Nova mensagem recebida.
Mãe diz:
Onde você está? Me ligue.
diz:
Casa da . Já estou indo.
Me despedi de pouco depois. Ele insistiu para que eu fosse à polícia. Eu disse que iria. Quando ele me levou na porta, ele me chamou de novo e me virei.
— Eu mesmo vou levar você na delegacia amanhã. Ele precisa pagar pelo que fez.
Oh, sim, precisava. Ele tinha razão. Por mais humilhada que eu me sentisse, eu iria à polícia. E eles saberiam de cada uma daquelas agressões.
diz:
Você nunca mais vai fazer isso de novo, .
diz:
Eu vou à polícia amanhã.
Capítulo 13
Quatro semanas e um dia para o baile
Nova mensagem recebida.
Número privado:
Não precisa agradecer.
Observei a mensagem e, como tinha feito com todas as outras, a ignorei sem dó e nem piedade. Não me importava que ele tivesse conseguido outro número: eu não queria falar com , com ou sem juras de amor distorcidas e doentias. Enfiei qualquer pedaço de torrada na boca enquanto corria para o carro, já que buzinava alto e os vizinhos iriam se incomodar. Meus pais não estavam em casa e eu não queria aprontar café da manhã, escolhendo dormir mais alguns minutos em vez disso, por isso o pedaço de torrada serviu perfeitamente bem.
Quando entrei no carro, já ligeiramente atrasada, joguei o celular na bolsa e liguei o som de bem alto. Tocava uma baladinha do Maroon 5, por isso aumentei o som, ela rolou os olhos e reclamou de uma dor de cabeça, mas eu sabia que era apenas para me fazer abaixar o rádio. O que, é claro, eu não fiz. E se pensava que ia continuar com essas mensagens, ele estava enganado. Eu ia confrontá-lo. Eu precisava lutar contra ele. Não é isso que dizem sobre bullies?
Havia uma grande comoção na escola, como sempre. Provavelmente, alguém daria alguma festa. Com a aproximação do baile, eram comuns as festas para “nos prepararmos” para o momento onde finalmente daríamos o tão sonhado adeus para a casa de tortura que era a John Locke High School. Finalmente livres das amarras escolares. Quantas metáforas preciso fazer? Creio que já tenha entendido. O pior período de nossas vidas? Acabado. C'est fini.
Paradoxalmente, as pessoas não pareciam felizes. O que é aparentemente normal em uma escola, mas havia algo mais. Um sentimento lúgubre que nos espreitava, eu não fazia ideia do que era. Alheia à tristeza deles, e não é como se alguma vez eu tivesse ligado para isso, de qualquer forma, eu me despedi das meninas. Aulas avançadas, você sabe. Não que eu seja realmente louca por Química Avançada, mas essas matérias foram o preço que paguei pelo meu carro (e o destaque que faltava para que eu entrasse na Columbia). As pessoas cochichavam em grupinhos no corredor, eu tinha meus fones de ouvido, Kodaline tocando e uma grande vontade de ser invisível. O bom dos fones de ouvido? Eu podia apenas ignorar as pessoas com a desculpa de não ter ouvido nada.
Nova mensagem recebida.
diz:
Onde você está?
O celular vibrou no meu bolso e eu o levantei até a altura dos olhos, franzindo a testa para a mensagem de . Ora, onde mais eu poderia estar? Digitei uma resposta rapidamente, algo como “na escola” e ele respondeu em menos de um minuto.
Nova mensagem recebida.
diz:
Não saia daí, eu já estou chegando.
Qual era o problema das pessoas hoje? Digitei algo afirmativo e rolei os olhos. Qual o motivo de todo o drama? Ele por acaso ia me tirar da escola e me levar à delegacia para denunciar ? Eu tirei os fones do ouvido e olhei ao redor. O burburinho estava muito mais alto do que o normal. Mais interessado. Mais discretivo, mas, ainda assim, notável. E eu fiquei parada, ao lado do meu armário, olhando aquele grande telefone sem fio que a escola tinha se tornado e pensando que eu estava perdendo algo grande. Eu não tinha ideia.
Pelo menos não até ver correr em prantos na minha direção, cercada de Constance, Jade e Jen. O que foi agora? Ela quebrou a unha? Tudo bem, talvez eu devesse ser menos sarcástica com ela, depois de tudo o mais. Afinal de contas, ela tinha sido uma grande amiga esses dias. E então ela jogou seu corpo em cima do meu, abraçando minha cintura enquanto soluçava violentamente.
Nova mensagem recebida.
diz:
Já estou na escola, onde você está?
Talvez seu yorkshire tivesse morrido. Pedi uma dica, gesticulando silenciosamente para as outras meninas e as gêmeas apenas balançaram a cabeça. Constance, no entanto, era tão impaciente quanto vaca e impulsiva (agradeço por isso, agora), ela batia o pé nervosamente no chão. A morena sacou o celular e mexeu nele um pouco, então me mostrou a tela. E eu entendi o burburinho, me mandando mensagens e o choro soluçado de , que, até naquela hora, tinha que chamar atenção ao fazer toda aquela cena.
Mas isso não era sobre . Isso era sobre . e seu suicídio. e sua morte. e sua obsessão doentia. E tudo chegava ao fim.
— O corpo dele foi achado duas horas atrás. — Eu ouvi a voz de Constance dizer com certo pesar (embora eu ache que tenha havido um pouco de fingimento, mas quem poderia culpá-la?).
Nova mensagem recebida.
diz:
, você está aí?
— Ele está morto! , por que ele fez isso? — A voz aguda e histérica de agora parecia distante.
— ? Você está pálida. — Constance tocou minhas bochechas com suas mãos quentes e bronzeadas.
— Acho que ela está em choque. — Jen emendou.
— Ele era o melhor amigo do namorado dela, não é? — Jade continuou. Elas conversavam, mas nada parecia realmente chegar aos meus ouvidos. continuou soluçando e molhando a frente da minha blusa branca.
— Ex-namorado, Jade. — Jen a corrigiu.
— Isso é realmente importante agora? — A voz de Constance interviu, demonstrando alguma sensatez.
Eu encarei o topo de sua cabeça loira, ainda estava agarrada em mim como uma criança. Eu estava tão cheia de tudo isso. Tão cheia da escola, tão cheia dessas pessoas. E, mais do que tudo, eu estava cheia do drama de . Ela não entendia o que era realmente sofrer, não é? Ela não foi perseguida e agredida por ele, então acho que ela pode sofrer por ele o quanto quiser. não sabe. nunca soube e sabe por que? Porque as coisas vêm para ela em uma bandeja de prata, todas as portas se abrem para ela.
— !
E então a cabeça de surgiu acima da multidão de alunos que se aglutinava ao nosso redor. Eu nem ao menos vi quando eles começaram a se aproximar, claramente atraídos pelo show que dava no meio do corredor. Constance finalmente decidiu que aquilo era demais para aguentar e puxou a mais baixa em sua direção.
— Chega, . Vamos procurar um lugar para sentar.
E, teatral como era (não dá para esperar menos de quem interpretou Fantine na nossa adaptação de Os Miseráveis), ela continuou fungando enquanto me olhava de um modo que parecia implorar pela minha ajuda. se aproximava, desviando dos meus colegas de classe e de outras turmas. Jen e Jade a ampararam de imediato. Eu não tinha paciência para isso. E talvez eu seja uma péssima amiga por isso. Não vou negar se pensarem isto de mim.
— Venha, . — Encarei silenciosamente o homem que me olhava de cima. — Vamos para a minha sala.
Ele me empurrou delicadamente enquanto segurava meu braço com suavidade, apenas firme o bastante para me guiar pela multidão. Abaixei a cabeça e apressei o passo. vestia roupas casuais, não as sérias e formais de professor, e seus tênis faziam barulho quando entravam em contato com o piso. E era nisso que eu queria pensar. Não em com um tiro na testa e muito menos em tudo o que aquilo implicava. abriu a porta para mim e a trancou depois que entrei. Era a mesma sala onde eu corrigi provas ao seu lado. A mesma sala onde me buscou, no dia que ele tentou forçar a barra pela primeira vez. Por um momento, esperei que ele viesse bater à porta. Que ele tivesse feito uma grande e doentia brincadeira. Mas pela expressão de , à minha frente, era verdade. Ele me puxou para um abraço, seus braços tenros envolveram os meus. Eu encostei a cabeça em seu peito, que subia e descia lentamente.
— Você… — Eu não deixei que ele continuasse.
Eu sussurrei para ele:
— Ele se matou por minha causa! — E, como tenho feito bastante nos últimos dias, eu desatei a chorar.
Havia algo ao meu redor. Algo que magoava as pessoas. , meus pais, meus amigos, Maggie, . Uma hora ou outra eu machucava todos eles. Quem eu amava e quem eu não amava.
— , não. — me guiou até sua cadeira e postou-se ao meu lado. — Não, ouviu bem? Ele não se matou por sua causa. Você não pode dizer isso.
— Eu disse a ele! Eu disse a ele que ia à polícia e agora ele está morto! — Minha voz era apenas um fiapo esganiçado, um ganido. Eu mal conseguia vê-lo agora, com lágrimas embaçando a minha visão.
— , você fez o certo. — Ele me virou para ele. — Me escute: você fez o certo. Ele agrediu você.
Bom, , eu me lembro disso. Eu estava lá, eu senti a dor, eu senti a humilhação, obrigada por me lembrar. Mesmo assim… Alguém estava morto. Por minha causa. Isso girava na minha cabeça o tempo inteiro. retirou os óculos, pousando-os na mesa, massageando seus olhos. Então ele me olhou, agachou-se na minha frente e limpou minhas lágrimas com seus polegares. Suas mãos estavam apoiadas nas laterais do meu rosto. Ele limpava pacientemente cada lágrima que rolava pelo meu rosto. Eu não sei por quanto tempo ficamos assim e nem quando parei de chorar. Sei que, quando minhas lágrimas cessaram e eu o encarei, intrigada por suas ações, ele me abriu um sorriso triste.
— É uma tragédia, . Você não fez nada.
Ele me assegurava, tentava fazer com que eu recobrasse minha confiança. Meu peito parecia derreter com a realização de sua preocupação. podia mesmo ser tão preocupado e atencioso com todos os seus alunos? Mesmo depois do nosso beijo, quando ele se afastou de mim, eu me perguntava isso. Será que ele realmente não gostava de mim? Mas lá estava ele, as mãos no meu rosto, o olhar terno sobre o meu, aquilo era o consolo que ele me oferecia. Tudo estava lá, todos os sinais estavam lá. não sentia seu estômago flutuar, como eu sentia quando o via? Ele não tinha seu batimento acelerado quando pousava os olhos em mim, como acontecia quando eu o via? Ele não se tornava mais consciente ao meu redor?
E, Deus, eu sou uma pessoa horrível. Porque percebi que estava livre. Eu não tinha para me atrapalhar e nunca mais me perseguiria de novo. e eu estávamos livres para nos relacionar (assumindo a possibilidade de que todo esse zelo da parte dele seja uma forma de amor). Nada nos prendia.
Eu queria beijá-lo. E eu queria tanto isso que chegava a doer. Ergui minhas mãos, olhando nos olhos claros e sinceros de meu professor de matemática. E, apesar de intrigado, ele não se mexeu. Pousei minhas mãos no rosto dele assim como ele tinha feito comigo. Ele ainda não tinha se mexido. A ponta da barba por fazer pinicava a palma das minhas mãos.
— Você promete que não é minha culpa, ?
Ele hesitou. Seus olhos límpidos foram dos meus olhos à minha boca e então subiram novamente, seu olhar fixado no meu.
— Eu prometo, .
Eu queria beijá-lo tanto. E talvez toda a baboseira de desejar e o universo conspirar ao seu favor seja verdade. Nossos problemas estavam acabados. estava morto. estava fora do jogo. Não havia motivos para nos segurarmos. E então se aproximou. Foi o rosto dele que se aproximou do meu e foram suas mãos que levaram meu rosto até a metade do caminho. Olhares entrelaçados, o hálito quente cheirando a menta batendo em cima dos meus lábios. Eu podia sentir a intensidade do desejo dele mesmo antes de me beijar. Isso não podia ser alucinação, não é? Eu não estou sonhando? E depois do que pareceu uma eternidade… Nossos lábios se tocaram. Levemente. Seu beijo era suave, eu podia sentir que ele queria me confortar até mesmo naquele momento. Ele foi plácido, delicado, verdadeiramente carinhoso. Era um beijo sem grande paixão, mas aquele não era o momento para isso. O beijo dele era o que eu procurava, algo para me reassegurar. provou meus lábios e suas mãos seguravam meu rosto com firmeza e adoração, como se não quisesse que eu fugisse. Mas eu nunca fugiria dele. Entreabri os lábios quando ele os traçou com a ponta de sua língua. Eu estava pronta. Eu era dele. E então batidas soaram à porta.
se afastou de mim tão rápido que eu poderia ter a Peste. E eu fiquei sentada na cadeira dele, sem entender nada. O universo não conspira ao seu favor. O universo é uma merda.
A cara de Carl Jeffries apareceu quando abriu a porta. Os dois cochicharam entre si por alguns segundos até que o diretor me chamou.
— Senhorita , venha comigo por alguns instantes.
Procurei alguma indicação no rosto de , mas ele já estava de óculos e com sua impassível expressão de professor no rosto. balançou a cabeça e eu me levantei com passos incertos na direção do diretor. Nós três saímos da sala. A minha escolta chamou a atenção dos outros alunos, que já cochichavam com renovado interesse. E, assim que viramos o corredor, eu vi o porquê: a polícia estava ali. Oh, diabos. O que a porra da polícia estava fazendo ali? Como se lesse meus pensamentos, o diretor Jeffries me olhou.
— Eles estão fazendo algumas perguntas a pessoas próximas a . Creio que você já saiba sobre ? — Eu podia sentir a cor drenar do meu rosto novamente. Olhei de esguelha para , que olhava o caminho à frente. — Ah, então vejo que sabe. Pobre rapaz, era um bom menino.
Era um bom menino. Eu imagino que todo aluno de família rica seja um bom menino para o diretor Jeffries. Por causa do banco com o nome da família dele, devia ter sido um ótimo menino. E eu sei disso porque também tenho tratamento especial. Aos olhos do diretor, eu também sou uma boa menina, porque meu pai é o advogado mais famoso da cidade.
À menção da expressão bom menino, se virou para nós dois. Ele lançou um olhar ao diretor que denotava seu desprezo, mas manteve-se calado.
O gabinete do diretor tinha sido tomado por policiais e dois detetives, que escoltavam para fora da antessala, com expressões de pesar. Havia algo no rosto de que eu não pude ler. E eu não gostei disso. Eles, os detetives, me olharam com interesse.
— Nós podemos falar com você, senhorita ? — Um dos policiais me perguntou e eu olhei para .
— O professor pode me acompanhar? Ou o diretor Jeffries? — Quem eu queria enganar? Era quem eu queria comigo, para me amparar.
Os dois se entreolharam, aparentemente insatisfeitos com a minha pergunta.
— São só algumas perguntas. — O mais baixo me disse, com um sorrisinho amarelado.
— E você é maior de idade, não é? — Eu anuí.
— Eu e o diretor vamos esperar por você aqui, senhorita . — me disse com sua voz macia e reconfortante. E então eu fui com os homens.
Os dois detetives me conduziram até o gabinete do diretor, me sentaram na cadeira destinada a pais e alunos e tomaram seus lugares onde o diretor se sentava.
— Senhorita , eu sinto muito por atrapalhar as suas aulas dessa maneira. Eu sou o detetive Martin e esse é o meu parceiro, detetive Arenson, da Homicídios.
Olhei de um para o outro. O que falava comigo era baixo e maciço como um armário. O outro era alto e me lembrou um flamingo por causa do nariz curvado e sua pele muito vermelha.
— Homicídios? — Eu repeti, incerta do que tinha ouvido. Afinal, suicídio e homicídio se parecem bastante, não é?
Embora eu não estivesse certa se havia uma divisão da polícia especialmente para isso.
— Sim, homicídios, . — Martin me olhou com uma falsa bondade que eu reconheci facilmente. Mentirosos ruins e uma mentirosa na sala.
— , você costumava namorar o melhor amigo de , não é? — Eu confirmei com a cabeça e as mãos cruzadas no colo. — E como você descreveria o ?
Que tipo de pergunta é essa?
— Como eu o descreveria? — Os dois me urgiram a falar. — Bem, eu não sei. Ele era jogador de futebol, melhor amigo do meu ex-namorado e estava ficando com a minha melhor amiga. A gente se encontrava por aí por causa disso.
— Aquela loirinha que saiu daqui?
— Sim, .
Nossa conversa foi interrompida por uma batida na porta e Cara de Flamingo saiu para resolver o que quer que fosse.
— Ele alguma vez mostrou tendências suicidas?
— Não, eu acho que não. Pelo menos, não perto de mim.
Aquele detetive não parecia muito perspicaz. Eu não gostei dele. Algo nele parecia forçado.
— E ele se matou mesmo assim.
— Acho que não dá pra conhecer as pessoas de verdade. — Não pude deixar de usar sarcasmo, o que o fez me olhar feio.
— Vocês não eram próximos?
— Não. — Neguei veementemente.
— Então por que seu nome está aqui? — Ele olhou a tela do telefone que segurava. Era o telefone de . — Você nunca mais vai fazer isso de novo, . Eu vou à polícia amanhã.
O detetive Martin me olhou. Eu podia sentir meu coração bater forte no meu peito, mesmo que eu não fosse culpada de nada.
— Você pode me explicar o que ia falar na polícia? — Eu fiquei calada, pensando. O que sairia dali se eu mostrasse a ele? Eu ia parecer culpada? — Sabe, eu sou da polícia, pode falar comigo. — Ele brincou e esperou.
Eu tinha álibi: meus pais. Eu não era culpada. E, com isso em mente, eu comecei a desabotoar a blusa que eu usava por cima de uma regata. Minhas mãos tremiam e o detetive Armário apenas esperou pacientemente.
As marcas das mãos de ainda apareciam na minha pele. Afinal de contas, tinha sido ontem que ele tinha feito aquilo comigo. O detetive se aproximou e segurou minhas mãos delicadamente. Ele levantou meus braços, os virou e analisou meus hematomas de todos os ângulos.
— Foi quem fez isso? — Eu apenas assenti. — E não foi a primeira vez.
Ele não tinha perguntado, mas, ainda assim, eu respondi:
— Não.
— E por que agrediria a ex-namorada do melhor amigo dele?
Eu mordi meu lábio inferior e hesitei, porque era aí que as coisas ficariam complicadas. Para começar, eu não quero que saibam o que aconteceu entre nós dois, porque não faria diferença.
— Ele realmente foi assassinado? — Foi o que eu acabei perguntando.
— Nós estamos estudando as hipóteses. — Eu respirei fundo.
— Ele disse que era obcecado por mim quando me fez isso. — Eu olhei para as marcas em evidência nos meus braços. — Algo sobre como ele quem deveria ter saído comigo em vez do .
— Você sabia disso? — Fiz que não com a cabeça. — Continue.
— Ele disse que era apaixonado por mim há algum tempo. E ele achou que eu tinha terminado com para ficar com ele. O que eu não fiz. — Deixei isso claro antes de prosseguir. Minha voz tremia um pouco e eu fazia grandes pausas, mas ele não parecia se incomodar. — Ele começou a me perseguir umas semanas atrás, andava atrás de mim, tentava me convencer a ficar com ele. E me agredia quando eu dizia não.
Armário me ofereceu um lenço e só então eu percebi que chorava de novo. Eu limpei meus olhos e respirei fundo antes de continuar.
— Ele… Tentou me estuprar uma vez. Entrou no vestiário, me bateu e teria me estuprado se ele não achasse que alguém estava entrando no banheiro.
— Alguém viu vocês dois? — Eu neguei.
— Não. Ninguém entrou, mas ele saiu correndo e eu me escondi. Eu… Eu fiquei com vergonha. — Limpei meus olhos de novo. Lembrar de tudo aquilo não era fácil. Ele deve ter notado o meu desconforto, a minha agonia, toda a minha hesitação.
— Vamos encerrar por hoje, , mas eu posso querer falar com você de novo mais tarde, tudo bem? — Eu acenei com a cabeça que tinha entendido, meu nariz estava entupido e eu podia sentir minha visão embaçada de lágrimas. — Então, só para finalizar: onde você estava ontem à meia-noite?
— Meia-noite? Por quê? — Franzi a testa e ele também.
— Porque foi a hora que ele se matou, supostamente.
Se tinha se matado à meia-noite, então quem foi que me enviou a mensagem esta manhã?
Nova mensagem recebida.
Número privado:
Não precisa agradecer.
Observei a mensagem e, como tinha feito com todas as outras, a ignorei sem dó e nem piedade. Não me importava que ele tivesse conseguido outro número: eu não queria falar com , com ou sem juras de amor distorcidas e doentias. Enfiei qualquer pedaço de torrada na boca enquanto corria para o carro, já que buzinava alto e os vizinhos iriam se incomodar. Meus pais não estavam em casa e eu não queria aprontar café da manhã, escolhendo dormir mais alguns minutos em vez disso, por isso o pedaço de torrada serviu perfeitamente bem.
Quando entrei no carro, já ligeiramente atrasada, joguei o celular na bolsa e liguei o som de bem alto. Tocava uma baladinha do Maroon 5, por isso aumentei o som, ela rolou os olhos e reclamou de uma dor de cabeça, mas eu sabia que era apenas para me fazer abaixar o rádio. O que, é claro, eu não fiz. E se pensava que ia continuar com essas mensagens, ele estava enganado. Eu ia confrontá-lo. Eu precisava lutar contra ele. Não é isso que dizem sobre bullies?
Havia uma grande comoção na escola, como sempre. Provavelmente, alguém daria alguma festa. Com a aproximação do baile, eram comuns as festas para “nos prepararmos” para o momento onde finalmente daríamos o tão sonhado adeus para a casa de tortura que era a John Locke High School. Finalmente livres das amarras escolares. Quantas metáforas preciso fazer? Creio que já tenha entendido. O pior período de nossas vidas? Acabado. C'est fini.
Paradoxalmente, as pessoas não pareciam felizes. O que é aparentemente normal em uma escola, mas havia algo mais. Um sentimento lúgubre que nos espreitava, eu não fazia ideia do que era. Alheia à tristeza deles, e não é como se alguma vez eu tivesse ligado para isso, de qualquer forma, eu me despedi das meninas. Aulas avançadas, você sabe. Não que eu seja realmente louca por Química Avançada, mas essas matérias foram o preço que paguei pelo meu carro (e o destaque que faltava para que eu entrasse na Columbia). As pessoas cochichavam em grupinhos no corredor, eu tinha meus fones de ouvido, Kodaline tocando e uma grande vontade de ser invisível. O bom dos fones de ouvido? Eu podia apenas ignorar as pessoas com a desculpa de não ter ouvido nada.
Nova mensagem recebida.
diz:
Onde você está?
O celular vibrou no meu bolso e eu o levantei até a altura dos olhos, franzindo a testa para a mensagem de . Ora, onde mais eu poderia estar? Digitei uma resposta rapidamente, algo como “na escola” e ele respondeu em menos de um minuto.
Nova mensagem recebida.
diz:
Não saia daí, eu já estou chegando.
Qual era o problema das pessoas hoje? Digitei algo afirmativo e rolei os olhos. Qual o motivo de todo o drama? Ele por acaso ia me tirar da escola e me levar à delegacia para denunciar ? Eu tirei os fones do ouvido e olhei ao redor. O burburinho estava muito mais alto do que o normal. Mais interessado. Mais discretivo, mas, ainda assim, notável. E eu fiquei parada, ao lado do meu armário, olhando aquele grande telefone sem fio que a escola tinha se tornado e pensando que eu estava perdendo algo grande. Eu não tinha ideia.
Pelo menos não até ver correr em prantos na minha direção, cercada de Constance, Jade e Jen. O que foi agora? Ela quebrou a unha? Tudo bem, talvez eu devesse ser menos sarcástica com ela, depois de tudo o mais. Afinal de contas, ela tinha sido uma grande amiga esses dias. E então ela jogou seu corpo em cima do meu, abraçando minha cintura enquanto soluçava violentamente.
Nova mensagem recebida.
diz:
Já estou na escola, onde você está?
Talvez seu yorkshire tivesse morrido. Pedi uma dica, gesticulando silenciosamente para as outras meninas e as gêmeas apenas balançaram a cabeça. Constance, no entanto, era tão impaciente quanto vaca e impulsiva (agradeço por isso, agora), ela batia o pé nervosamente no chão. A morena sacou o celular e mexeu nele um pouco, então me mostrou a tela. E eu entendi o burburinho, me mandando mensagens e o choro soluçado de , que, até naquela hora, tinha que chamar atenção ao fazer toda aquela cena.
Mas isso não era sobre . Isso era sobre . e seu suicídio. e sua morte. e sua obsessão doentia. E tudo chegava ao fim.
— O corpo dele foi achado duas horas atrás. — Eu ouvi a voz de Constance dizer com certo pesar (embora eu ache que tenha havido um pouco de fingimento, mas quem poderia culpá-la?).
Nova mensagem recebida.
diz:
, você está aí?
— Ele está morto! , por que ele fez isso? — A voz aguda e histérica de agora parecia distante.
— ? Você está pálida. — Constance tocou minhas bochechas com suas mãos quentes e bronzeadas.
— Acho que ela está em choque. — Jen emendou.
— Ele era o melhor amigo do namorado dela, não é? — Jade continuou. Elas conversavam, mas nada parecia realmente chegar aos meus ouvidos. continuou soluçando e molhando a frente da minha blusa branca.
— Ex-namorado, Jade. — Jen a corrigiu.
— Isso é realmente importante agora? — A voz de Constance interviu, demonstrando alguma sensatez.
Eu encarei o topo de sua cabeça loira, ainda estava agarrada em mim como uma criança. Eu estava tão cheia de tudo isso. Tão cheia da escola, tão cheia dessas pessoas. E, mais do que tudo, eu estava cheia do drama de . Ela não entendia o que era realmente sofrer, não é? Ela não foi perseguida e agredida por ele, então acho que ela pode sofrer por ele o quanto quiser. não sabe. nunca soube e sabe por que? Porque as coisas vêm para ela em uma bandeja de prata, todas as portas se abrem para ela.
— !
E então a cabeça de surgiu acima da multidão de alunos que se aglutinava ao nosso redor. Eu nem ao menos vi quando eles começaram a se aproximar, claramente atraídos pelo show que dava no meio do corredor. Constance finalmente decidiu que aquilo era demais para aguentar e puxou a mais baixa em sua direção.
— Chega, . Vamos procurar um lugar para sentar.
E, teatral como era (não dá para esperar menos de quem interpretou Fantine na nossa adaptação de Os Miseráveis), ela continuou fungando enquanto me olhava de um modo que parecia implorar pela minha ajuda. se aproximava, desviando dos meus colegas de classe e de outras turmas. Jen e Jade a ampararam de imediato. Eu não tinha paciência para isso. E talvez eu seja uma péssima amiga por isso. Não vou negar se pensarem isto de mim.
— Venha, . — Encarei silenciosamente o homem que me olhava de cima. — Vamos para a minha sala.
Ele me empurrou delicadamente enquanto segurava meu braço com suavidade, apenas firme o bastante para me guiar pela multidão. Abaixei a cabeça e apressei o passo. vestia roupas casuais, não as sérias e formais de professor, e seus tênis faziam barulho quando entravam em contato com o piso. E era nisso que eu queria pensar. Não em com um tiro na testa e muito menos em tudo o que aquilo implicava. abriu a porta para mim e a trancou depois que entrei. Era a mesma sala onde eu corrigi provas ao seu lado. A mesma sala onde me buscou, no dia que ele tentou forçar a barra pela primeira vez. Por um momento, esperei que ele viesse bater à porta. Que ele tivesse feito uma grande e doentia brincadeira. Mas pela expressão de , à minha frente, era verdade. Ele me puxou para um abraço, seus braços tenros envolveram os meus. Eu encostei a cabeça em seu peito, que subia e descia lentamente.
— Você… — Eu não deixei que ele continuasse.
Eu sussurrei para ele:
— Ele se matou por minha causa! — E, como tenho feito bastante nos últimos dias, eu desatei a chorar.
Havia algo ao meu redor. Algo que magoava as pessoas. , meus pais, meus amigos, Maggie, . Uma hora ou outra eu machucava todos eles. Quem eu amava e quem eu não amava.
— , não. — me guiou até sua cadeira e postou-se ao meu lado. — Não, ouviu bem? Ele não se matou por sua causa. Você não pode dizer isso.
— Eu disse a ele! Eu disse a ele que ia à polícia e agora ele está morto! — Minha voz era apenas um fiapo esganiçado, um ganido. Eu mal conseguia vê-lo agora, com lágrimas embaçando a minha visão.
— , você fez o certo. — Ele me virou para ele. — Me escute: você fez o certo. Ele agrediu você.
Bom, , eu me lembro disso. Eu estava lá, eu senti a dor, eu senti a humilhação, obrigada por me lembrar. Mesmo assim… Alguém estava morto. Por minha causa. Isso girava na minha cabeça o tempo inteiro. retirou os óculos, pousando-os na mesa, massageando seus olhos. Então ele me olhou, agachou-se na minha frente e limpou minhas lágrimas com seus polegares. Suas mãos estavam apoiadas nas laterais do meu rosto. Ele limpava pacientemente cada lágrima que rolava pelo meu rosto. Eu não sei por quanto tempo ficamos assim e nem quando parei de chorar. Sei que, quando minhas lágrimas cessaram e eu o encarei, intrigada por suas ações, ele me abriu um sorriso triste.
— É uma tragédia, . Você não fez nada.
Ele me assegurava, tentava fazer com que eu recobrasse minha confiança. Meu peito parecia derreter com a realização de sua preocupação. podia mesmo ser tão preocupado e atencioso com todos os seus alunos? Mesmo depois do nosso beijo, quando ele se afastou de mim, eu me perguntava isso. Será que ele realmente não gostava de mim? Mas lá estava ele, as mãos no meu rosto, o olhar terno sobre o meu, aquilo era o consolo que ele me oferecia. Tudo estava lá, todos os sinais estavam lá. não sentia seu estômago flutuar, como eu sentia quando o via? Ele não tinha seu batimento acelerado quando pousava os olhos em mim, como acontecia quando eu o via? Ele não se tornava mais consciente ao meu redor?
E, Deus, eu sou uma pessoa horrível. Porque percebi que estava livre. Eu não tinha para me atrapalhar e nunca mais me perseguiria de novo. e eu estávamos livres para nos relacionar (assumindo a possibilidade de que todo esse zelo da parte dele seja uma forma de amor). Nada nos prendia.
Eu queria beijá-lo. E eu queria tanto isso que chegava a doer. Ergui minhas mãos, olhando nos olhos claros e sinceros de meu professor de matemática. E, apesar de intrigado, ele não se mexeu. Pousei minhas mãos no rosto dele assim como ele tinha feito comigo. Ele ainda não tinha se mexido. A ponta da barba por fazer pinicava a palma das minhas mãos.
— Você promete que não é minha culpa, ?
Ele hesitou. Seus olhos límpidos foram dos meus olhos à minha boca e então subiram novamente, seu olhar fixado no meu.
— Eu prometo, .
Eu queria beijá-lo tanto. E talvez toda a baboseira de desejar e o universo conspirar ao seu favor seja verdade. Nossos problemas estavam acabados. estava morto. estava fora do jogo. Não havia motivos para nos segurarmos. E então se aproximou. Foi o rosto dele que se aproximou do meu e foram suas mãos que levaram meu rosto até a metade do caminho. Olhares entrelaçados, o hálito quente cheirando a menta batendo em cima dos meus lábios. Eu podia sentir a intensidade do desejo dele mesmo antes de me beijar. Isso não podia ser alucinação, não é? Eu não estou sonhando? E depois do que pareceu uma eternidade… Nossos lábios se tocaram. Levemente. Seu beijo era suave, eu podia sentir que ele queria me confortar até mesmo naquele momento. Ele foi plácido, delicado, verdadeiramente carinhoso. Era um beijo sem grande paixão, mas aquele não era o momento para isso. O beijo dele era o que eu procurava, algo para me reassegurar. provou meus lábios e suas mãos seguravam meu rosto com firmeza e adoração, como se não quisesse que eu fugisse. Mas eu nunca fugiria dele. Entreabri os lábios quando ele os traçou com a ponta de sua língua. Eu estava pronta. Eu era dele. E então batidas soaram à porta.
se afastou de mim tão rápido que eu poderia ter a Peste. E eu fiquei sentada na cadeira dele, sem entender nada. O universo não conspira ao seu favor. O universo é uma merda.
A cara de Carl Jeffries apareceu quando abriu a porta. Os dois cochicharam entre si por alguns segundos até que o diretor me chamou.
— Senhorita , venha comigo por alguns instantes.
Procurei alguma indicação no rosto de , mas ele já estava de óculos e com sua impassível expressão de professor no rosto. balançou a cabeça e eu me levantei com passos incertos na direção do diretor. Nós três saímos da sala. A minha escolta chamou a atenção dos outros alunos, que já cochichavam com renovado interesse. E, assim que viramos o corredor, eu vi o porquê: a polícia estava ali. Oh, diabos. O que a porra da polícia estava fazendo ali? Como se lesse meus pensamentos, o diretor Jeffries me olhou.
— Eles estão fazendo algumas perguntas a pessoas próximas a . Creio que você já saiba sobre ? — Eu podia sentir a cor drenar do meu rosto novamente. Olhei de esguelha para , que olhava o caminho à frente. — Ah, então vejo que sabe. Pobre rapaz, era um bom menino.
Era um bom menino. Eu imagino que todo aluno de família rica seja um bom menino para o diretor Jeffries. Por causa do banco com o nome da família dele, devia ter sido um ótimo menino. E eu sei disso porque também tenho tratamento especial. Aos olhos do diretor, eu também sou uma boa menina, porque meu pai é o advogado mais famoso da cidade.
À menção da expressão bom menino, se virou para nós dois. Ele lançou um olhar ao diretor que denotava seu desprezo, mas manteve-se calado.
O gabinete do diretor tinha sido tomado por policiais e dois detetives, que escoltavam para fora da antessala, com expressões de pesar. Havia algo no rosto de que eu não pude ler. E eu não gostei disso. Eles, os detetives, me olharam com interesse.
— Nós podemos falar com você, senhorita ? — Um dos policiais me perguntou e eu olhei para .
— O professor pode me acompanhar? Ou o diretor Jeffries? — Quem eu queria enganar? Era quem eu queria comigo, para me amparar.
Os dois se entreolharam, aparentemente insatisfeitos com a minha pergunta.
— São só algumas perguntas. — O mais baixo me disse, com um sorrisinho amarelado.
— E você é maior de idade, não é? — Eu anuí.
— Eu e o diretor vamos esperar por você aqui, senhorita . — me disse com sua voz macia e reconfortante. E então eu fui com os homens.
Os dois detetives me conduziram até o gabinete do diretor, me sentaram na cadeira destinada a pais e alunos e tomaram seus lugares onde o diretor se sentava.
— Senhorita , eu sinto muito por atrapalhar as suas aulas dessa maneira. Eu sou o detetive Martin e esse é o meu parceiro, detetive Arenson, da Homicídios.
Olhei de um para o outro. O que falava comigo era baixo e maciço como um armário. O outro era alto e me lembrou um flamingo por causa do nariz curvado e sua pele muito vermelha.
— Homicídios? — Eu repeti, incerta do que tinha ouvido. Afinal, suicídio e homicídio se parecem bastante, não é?
Embora eu não estivesse certa se havia uma divisão da polícia especialmente para isso.
— Sim, homicídios, . — Martin me olhou com uma falsa bondade que eu reconheci facilmente. Mentirosos ruins e uma mentirosa na sala.
— , você costumava namorar o melhor amigo de , não é? — Eu confirmei com a cabeça e as mãos cruzadas no colo. — E como você descreveria o ?
Que tipo de pergunta é essa?
— Como eu o descreveria? — Os dois me urgiram a falar. — Bem, eu não sei. Ele era jogador de futebol, melhor amigo do meu ex-namorado e estava ficando com a minha melhor amiga. A gente se encontrava por aí por causa disso.
— Aquela loirinha que saiu daqui?
— Sim, .
Nossa conversa foi interrompida por uma batida na porta e Cara de Flamingo saiu para resolver o que quer que fosse.
— Ele alguma vez mostrou tendências suicidas?
— Não, eu acho que não. Pelo menos, não perto de mim.
Aquele detetive não parecia muito perspicaz. Eu não gostei dele. Algo nele parecia forçado.
— E ele se matou mesmo assim.
— Acho que não dá pra conhecer as pessoas de verdade. — Não pude deixar de usar sarcasmo, o que o fez me olhar feio.
— Vocês não eram próximos?
— Não. — Neguei veementemente.
— Então por que seu nome está aqui? — Ele olhou a tela do telefone que segurava. Era o telefone de . — Você nunca mais vai fazer isso de novo, . Eu vou à polícia amanhã.
O detetive Martin me olhou. Eu podia sentir meu coração bater forte no meu peito, mesmo que eu não fosse culpada de nada.
— Você pode me explicar o que ia falar na polícia? — Eu fiquei calada, pensando. O que sairia dali se eu mostrasse a ele? Eu ia parecer culpada? — Sabe, eu sou da polícia, pode falar comigo. — Ele brincou e esperou.
Eu tinha álibi: meus pais. Eu não era culpada. E, com isso em mente, eu comecei a desabotoar a blusa que eu usava por cima de uma regata. Minhas mãos tremiam e o detetive Armário apenas esperou pacientemente.
As marcas das mãos de ainda apareciam na minha pele. Afinal de contas, tinha sido ontem que ele tinha feito aquilo comigo. O detetive se aproximou e segurou minhas mãos delicadamente. Ele levantou meus braços, os virou e analisou meus hematomas de todos os ângulos.
— Foi quem fez isso? — Eu apenas assenti. — E não foi a primeira vez.
Ele não tinha perguntado, mas, ainda assim, eu respondi:
— Não.
— E por que agrediria a ex-namorada do melhor amigo dele?
Eu mordi meu lábio inferior e hesitei, porque era aí que as coisas ficariam complicadas. Para começar, eu não quero que saibam o que aconteceu entre nós dois, porque não faria diferença.
— Ele realmente foi assassinado? — Foi o que eu acabei perguntando.
— Nós estamos estudando as hipóteses. — Eu respirei fundo.
— Ele disse que era obcecado por mim quando me fez isso. — Eu olhei para as marcas em evidência nos meus braços. — Algo sobre como ele quem deveria ter saído comigo em vez do .
— Você sabia disso? — Fiz que não com a cabeça. — Continue.
— Ele disse que era apaixonado por mim há algum tempo. E ele achou que eu tinha terminado com para ficar com ele. O que eu não fiz. — Deixei isso claro antes de prosseguir. Minha voz tremia um pouco e eu fazia grandes pausas, mas ele não parecia se incomodar. — Ele começou a me perseguir umas semanas atrás, andava atrás de mim, tentava me convencer a ficar com ele. E me agredia quando eu dizia não.
Armário me ofereceu um lenço e só então eu percebi que chorava de novo. Eu limpei meus olhos e respirei fundo antes de continuar.
— Ele… Tentou me estuprar uma vez. Entrou no vestiário, me bateu e teria me estuprado se ele não achasse que alguém estava entrando no banheiro.
— Alguém viu vocês dois? — Eu neguei.
— Não. Ninguém entrou, mas ele saiu correndo e eu me escondi. Eu… Eu fiquei com vergonha. — Limpei meus olhos de novo. Lembrar de tudo aquilo não era fácil. Ele deve ter notado o meu desconforto, a minha agonia, toda a minha hesitação.
— Vamos encerrar por hoje, , mas eu posso querer falar com você de novo mais tarde, tudo bem? — Eu acenei com a cabeça que tinha entendido, meu nariz estava entupido e eu podia sentir minha visão embaçada de lágrimas. — Então, só para finalizar: onde você estava ontem à meia-noite?
— Meia-noite? Por quê? — Franzi a testa e ele também.
— Porque foi a hora que ele se matou, supostamente.
Se tinha se matado à meia-noite, então quem foi que me enviou a mensagem esta manhã?
Capítulo 14
Quatro semanas para o baile.
As aulas tinham sido suspensas. A escola passaria uma semana de luto por . Uma semana de luto por causa da porra de um stalker. E eu tinha que ler todas essas coisas no Facebook sobre como ele era um bom cara. Todos os jogadores de futebol postando fotos com ele. Todos os textos de lamentos e condolências. As ex-namoradas se queixando sobre como ele tinha um futuro brilhante. escreveu um longo texto sobre a amizade dos dois.
E subitamente ele era a porra de um santo. Até meu pai achava isso, mesmo que ele tivesse visto o que me fez. Para o meu pai, ninguém merecia morrer dessa forma. Sim, eu concordo. Só não espere que eu o perdoe de tudo isso, de todos os momentos de terror, de todas as vezes que eu chorei por causa do que ele me fez ou quando eu acordava no meio da noite com medo de que ele fosse tentar me agarrar de novo. Não espere que eu diga que ele era um bom cara. Não espere que eu poste fotos no Facebook. Não espere nada de mim.
Para o meu pai, a polícia estava fazendo muito circo por nada.
— O garoto claramente se matou, . Eles só querem mostrar serviço porque a família dele é importante. — Ele me disse. Claro, ele não sabe da mensagem que eu recebi naquela manhã.
Meu pai era meu advogado e não gostou que eu não tivesse ligado para ele. Segundo ele: se minha filha foi levada para umas perguntas, então deveriam ter me ligado, você sendo maior de idade ou não. Ele colocou a culpa na escola.
E agora eu estava em casa, remoendo o que tinha acontecido. E cada vez que eu lembrava da mensagem, um calafrio descia a minha espinha. Não precisa agradecer. Alguém mais sabia. Alguém mais sabia do que fazia comigo. Mas quem? Por um momento, pensei em . sabia. Ele tinha testemunhado uma das agressões e quase testemunhou outra. Mas era estúpido pensar que poderia tê-lo matado. Lembrando a forma como ele me confortou e como ele me beijou, era impossível que ele tivesse sido frio o suficiente para matar outra pessoa, mesmo que eu ainda me lembrasse de sua fúria quando viu me segurando, um dia apenas antes de morrer.
As horas passaram, mas esse pensamento não. Uma vozinha repetia, na minha mente, que só ele sabia. sabia que eu tinha transado com , mas não que ele me perseguia. Depois do almoço, eu olhei o relógio. A essa hora, , Bobby e eu estaríamos corrigindo testes e trabalhos e folhas de exercícios. Eu peguei as chaves do carro e disse à minha mãe que ia levar os documentos para o correio. Eu tinha enviado minha ficha de aplicação para uma faculdade perto daqui, poucos dias depois de ter dito a eles que eu não faria Direito na Columbia. Com a desculpa dos documentos, eu dirigi em direção ao centro da cidade.
— Quer que eu vá com você?
Eu sei que minha mãe quer ajudar, mas ela está me sufocando. Ela tirou alguns dias de licença do hospital e me disse que ficaria em casa para cuidar de mim. E desde ontem ela tem me seguido pela casa inteira, tem me forçado a comer, me perguntava se eu estava bem a cada cinco minutos e insistiu que deveríamos ir à Igreja. Mas Deus não pode me ajudar agora. Eu e Ele sabemos que meu lugar não é no céu, o meu lugar é bem mais embaixo.
diz:
Você está em casa?
Larguei o celular no banco do carona. Um rock pesado soava baixinho no carro, eu tinha ligado em uma estação que não fazia a mínima qual era, mas a música parecia adequada ao momento. Dirigi calmamente, mas eu estava nervosa. Era compreensível, não? Alguém morreu por minha causa. Alguém matou para me ajudar. Se eu fumasse, teria acendido um cigarro agora, de tão ansiosa.
Estacionei o carro na rua, subindo a escada lateral em direção ao apartamento em cima da livraria. Os jornais tinham se recheado de matérias sensacionalistas. O que levou o herdeiro dos a se suicidar? Havia matérias detalhadas sobre como ele foi achado, como ele usou a arma do pai para tirar a própria vida. Os mais ousados diziam: Assassinato ou suicídio? Leia a matéria completa sobre a morte de e coisas como 18 é o novo 27?
, , Constance, eu… Ninguém foi poupado nos jornais. E, de alguma forma, eles sabiam do quadrado amoroso entre , , e eu. Por sorte eles não sabiam que, na verdade, a única pessoa com quem eu queria estar era . Eu olhei a porta do apartamento dele. Ergui a mão e pressionei a campainha.
não demorou a abrir a porta. Camisa de malha, calças de pijama, óculos e uma caneca na mão. Ele não se espantou ao me ver, o que indicava que tinha visto a mensagem.
— …
Eu conhecia aquele tom. Ele tinha que usar aquele tom toda vez que me beijava? Ele tinha me beijado dessa vez! A culpa não era minha! Embora eu possa tê-lo induzido um pouco…
— Eu sei o que você vai dizer. — O interrompi, pois eu não aguentaria caso ele continuasse falando. — Vai dizer que não podemos fazer isso. E que eu deveria ter alguém da minha idade. — não respondeu, apenas ficou na porta, parecendo consternado. — E eu sei que você está certo. Racionalmente, eu sei que a gente não pode se envolver.
— Porque eu sou seu professor.
— Porque você é meu professor. — Confirmei o que ele disse. — Mas eu quero você. Eu quero você, , e eu não posso mudar o que eu estou sentindo. — Meu coração batia na minha garganta e eu me sentia nervosa por finalmente dizer isso.
Ele não me deu espaço para que eu entrasse e eu me aproximei dele.
— Eu sei que você me quer, também. — olhou de mim para o corredor e gesticulou para que eu passasse, provavelmente pensando que seria ruim se alguém subisse naquele momento (embora o apartamento dele seja o único aqui em cima).
Me encontrei parada no meio da sala dele. Ele ainda parecia confuso e perplexo e eu sabia que eu devia ser quem daria o primeiro passo, já que ele nunca faria isso.
— E eu sei que você deve gostar de mim também. Você sempre cuidou de mim. Ninguém faria isso por uma pessoa para quem não dá a mínima.
— , você está entendendo errado. — Ele balbuciou depois de fechar a porta.
— Eu entendi errado quando você me beijou ontem? — se calou. Ele não daria o braço a torcer. E nem eu. — Você me quer.
Eu levei as mãos até a barra da minha blusa. As marcas nos meus braços não eram mais tão aparentes quanto ontem. Eu a puxei pela minha cabeça e fiquei apenas de sutiã.
— , pare. — não ousou chegar perto de mim, mas havia uma advertência em seu olhar. E talvez eu estivesse indo longe demais, mas não ia parar agora.
— Você me quer e eu quero você. — Ele desviou o olhar. Eu não desisti. — Eu sou maior de idade e sei o que eu faço. Eu não sou uma criança.
Minhas mãos desceram para a minha saia. Eu desci o zíper na lateral do meu quadril, fazendo com que ela caísse aos meus pés. A chutei para longe, junto com as minhas sapatilhas.
— Você vai negar que me quer tanto quanto eu te quero? — Eu nunca fui uma boa sedutora como . Ela poderia seduzir um padre. Também nunca fui uma beleza exótica como Constance. Eu era apenas uma garota comum. E eu fiquei parada, em minha lingerie azul-turquesa, olhando para ele.
Ouvindo o som da minha voz, me olhou novamente. Seus olhos percorreram o meu corpo e eu me senti muito autoconsciente naquele momento. Não era vergonha, jamais seria vergonha mostrar meu corpo ao homem que eu amo… Era medo. Medo de ter feito tudo aquilo e ser rejeitada.
— Se você negar, eu vou embora. — Me senti mais digna dizendo isso, mesmo sabendo que, se ele me negasse, eu apenas me sentiria pior do que antes. — Se você quiser, eu nunca mais vou te procurar…
— Eu não quero isso.
cruzou a sala do apartamento dele em apenas duas passadas lentas… E me beijou. Aquele beijo era muito diferente do antecessor. Era feroz, exigente e ainda assim conseguia me passar uma ternura que fazia meu coração flutuar no peito. Levei minhas mãos até sua nuca e o abracei. segurava meu rosto com suas mãos quentes e o corpo dele estava pressionado contra o meu. Eu queria aquilo há meses. Há meses eu pensava nele quando estava com ou até mesmo quando estava com .
E não me decepcionou. Suas mãos desceram pelo meu rosto, meu pescoço e fizeram uma carícia leve nos meus braços. Ele finalmente quebrou o beijo e olhou nos meus olhos. A advertência continuava ali, impressa nas íris que refletiam o meu rosto.
— Só de pensar em como ele tocou em você… — A voz dele era uma sombra estrangulada de seu tom regular. Os olhos dele desceram para os hematomas.
beijou as marcas no meu ombro esquerdo. Desceu a boca e beijou a marca a seguir. A sua boca quente, que eu estivera beijando até pouco tempo atrás, fez questão de beijar todas as marcas arroxeadas nos meus braços, primeiro o esquerdo e depois o outro. Ele subiu pelo meu pulso direito e quando chegou ao meu ombro mais uma vez, eu puxei seu rosto para um novo beijo. Era como se ele quisesse curar minhas feridas, eu só não sabia se ele conseguiria. Eu senti que nos encaixávamos na primeira vez que nos beijamos. Havia química entre nós dois, isso era inegável. Aventurei minhas mãos por seus cabelos, macios, cheirosos, os cabelos que sempre estavam ligeiramente despenteados, como se ele tivesse acabado de acordar de um cochilo. E então eu também delineei seu corpo com as minhas mãos, acariciei seus braços firmes, seu peito que tinha me amparado, as mãos que tinham me segurado.
— , se você se arrepender… Eu vou parar. — Fingi que não ouvi o que ele disse e ele suspirou. Soltou minhas mãos e me olhou nos olhos. — , você me ouviu?
— Ouvi, sim.
— Tudo bem. Tire para mim. — Ele falava sobre a sua blusa de malha branca, nada sensual. O pedido não foi mais que um sussurro aerado. E porque aquilo soou tão excitante aos meus ouvidos, eu não faço ideia.
Fiz como ele me pediu. Puxei a barra de sua camisa branca lentamente, revelando seu corpo aos meus olhos famintos. O corpo dele era firme, sua pele era macia e eu o admirei por alguns segundos. As pontas dos meus dedos deslizaram por sua carne enquanto eu o olhava. E quando olhei para cima de novo, pude ver que seus olhos sorviam minha presença como eu fazia com a dele. Tirei seus óculos com cuidado e os pousei na mesinha de centro. Ele sorriu e me puxou de volta para os seus braços. aproximou seus lábios da minha boca, mas então se afastou mais uma vez. Ele os pressionou gentilmente contra a minha testa, beijou cada uma de minhas pálpebras com carinho, a ponta do meu nariz e finalizou beijando o meu queixo. Suas mãos acarinharam meus cabelos e eu sorri para ele.
— , você tem certeza? — Ele murmurou contra a minha pele, o rosto encostado no meu. — Eu vou parar quando você me disser para parar, entendeu?
Quando fui até , fui movida pelo desejo mais profundo, oculto no fundo da minha mente de forma silenciosa por conta da primeira vez que nos beijamos, por causa do fiasco que tinha sido e porque ele me afastou. Ontem, no entanto, quando me beijou, nada mais importava. Ele não queria ficar longe de mim e eu não precisava mais me forçar a ficar longe dele.
A minha mente, o meu corpo… Tudo já tinha sucumbido a ele. E eu queria que ele sucumbisse também, sem hesitar e sem titubear. Nós não podíamos mais voltar ao que éramos antes, assim como não podíamos continuar naquele impasse. Se serviu de alguma coisa, foi para me mostrar que a vida é muito curta para se arrepender de qualquer coisa. Eu poderia ser a próxima a morrer, quem sabe, em uma semana. Em um ano. Em dez anos. Não importava, eu não mais passaria vontade por causa de um orgulho idiota ou por causa dos padrões morais de . Se nos desejávamos, por que ficar separados?
— Eu quero você. — Respondi, ligeiramente encabulada com a situação.
— , e se…
Pousei meu indicador em cima dos lábios dele e sorri. Aquela não era a hora de pensar em “se” e “quando”. Nem era a hora de arrependimentos. falava demais.
— Eu não vou me arrepender. — Olhei fundo nos olhos dele quando disse isso. Ele entendeu que eu não ia mudar de ideia. E não mudei.
Ele me olhou em uma adoração muda. Seu polegar acariciou a minha bochecha e ele me beijou. Era um beijo lento, sufocante com toda a tensão que parecia emanar dele. Era doce. E era exatamente o que eu queria.
As mãos dele seguraram minha cintura e ele me empurrou para trás ao mesmo tempo que deu um passo para frente. O plano, eu supus, era andar até o quarto, mas nós acabamos batendo na parede do corredor. Ele riu, eu ri e, por um momento, ficamos sem fôlego por causa das gargalhadas. Mas então nos beijamos de novo e de novo e de novo. Eu não conseguia parar de tocá-lo e nisso havia uma reciprocidade incontestável. Tínhamos as mãos um no outro, nos beijávamos como se precisássemos disso para respirar. Nenhum dos dois queria se afastar mais (eu nunca quis, como é perceptível).
Nós andamos, entre beijos e esbarrões nas paredes, até o quarto. Ele me encostou na porta e afundou o rosto nos meus cabelos enquanto a destra girava a maçaneta. Nós quase caímos lá dentro, mas ele me segurou pelo quadril e me aproximou dele de novo.
— Já está caindo por mim? — Ele brincou e eu sorri. Eu já estava caída por ele há muito tempo.
— Vamos ver quantas piadas você vai fazer quando estivermos dentro daquele quarto.
Eu dei um passo para trás, ele deu um passo para frente. E fomos assim até que a parte posterior dos meus joelhos encostasse na coberta macia sobre o leito. segurou minha mão direita e me girou, como se estivéssemos dançando. O corpo dele estava premido contra o meu, suas mãos massageavam meus ombros com leveza. Sua mão grande afastou os cabelos do meu pescoço, fazendo com que caíssem para o lado. Eu podia sentir a respiração dele na minha nuca, precedendo seus lábios, e quando sua boca úmida finalmente tocou minha pele arrepiada, eu suspirei alto. Tinha esperado aquilo por muito tempo e não pude evitar idealizar essa situação, mas isso era tão melhor do que eu tinha esperado. As mãos dele escorregaram por minhas espaldas, descendo as alças do meu sutiã ao mesmo tempo que chovia beijos na minha pele. As mãos dele ousaram mais: desnudaram meus seios e ele os acariciou com as palmas, fazendo os bicos ficarem rígidos com o estímulo. Eu fechei os olhos e fiquei à sua mercê.
Ele usou as pontas dos dedos para me provocar. Me apalpou, me massageou, brincou com meus mamilos. E eu, que nunca tinha, realmente, prestado atenção à grande zona erógena que – eu descobri – era meus seios, gemi baixo com a provocação. Eu o queria dentro de mim e mostrei isso a ele me pressionando contra sua ereção evidente. Mas ele tomou seu tempo, sem ligar para a minha impaciência, suas mãos continuaram o percurso pelo meu corpo.
— Eu imaginei… Você e eu… Assim. — Ele sussurrou no meu ouvido e meu coração começou a bater muito alto e tão forte que eu respirei com certa dificuldade. Então ele também pensava em mim…
Me questionei se ele pensava em mim quando, em suas noites solitárias, ele se satisfazia sozinho, como eu fazia em minha banheira. Mas não consegui pensar por muito tempo, porque as mãos dele me levavam à loucura. Seus dedos acariciaram a minha barriga gentilmente, mas ele parou na altura do elástico da minha calcinha. Houve um último beijo na minha pele antes que sua mão adentrasse o tecido enquanto a outra segurava meu seio esquerdo. Agora, ele também respirava fortemente enquanto me tocava, sua respiração fazia cócegas na minha pele. E, deus, como eu estava molhada para ele, por ele. E como eu gemia seu nome enquanto seus dedos acariciavam meu clitóris. Meu corpo se apoiava no dele, porque eu não tinha mais força nos joelhos, sem força o suficiente para me manter em pé sozinha. A ponta do dedo dele delineou meus lábios e a fenda úmida que necessitava dele urgentemente. E então ele introduziu um dedo em mim.
— Meu deus… — Eu quase não ouvi a exclamação dele, porque estava concentrada demais nas sensações da minha carne, alheia a qualquer coisa que não fosse o meu próprio prazer.
O que era completamente compreensível. Eu podia sentir a respiração cálida dele na minha pele, seu dedo movendo-se dentro de mim, a outra mão que me apalpava. E era ele. Era , era real e estava me tocando enquanto dizia que havia imaginado esse momento entre nós dois. Era disso que eu precisava, era dele que eu precisava. Precisava de suas mãos, de seu cheiro de sabonete e loção, de seu gosto, precisava estar em seus braços. E saber que ele também queria isso… Ele saiu de dentro de mim apenas para me virar de frente.
— Me deixe olhar para você. — Sua voz era tão suave, rouca, baixa.
Uma de suas mãos segurou meu queixo levemente, nossos olhos se encontraram mais uma vez. E a cada vez parecia que ficávamos ainda mais íntimos. Mais uma vez me acariciou, seus dedos lentamente me penetravam e eu me segurei em seus ombros. A presença dele me inebriava na medida que a minha fazia o mesmo com ele, aparentemente, pelo modo como seus olhos nunca saíam do meu rosto. E eu tirei desse fato a coragem necessária para ousar ainda mais. Minhas mãos escorregaram por seu torso e meus dedos se enfiaram abaixo do elástico da calça de moletom. Pensei ter visto um brilho de divertimento perpassar seus olhos, mas sua expressão ainda era calma e adorável.
Eu o beijei. Minhas mãos dentro da calça dele, os dedos dele dentro de mim, e eu o beijei com toda a vontade dele que eu tinha guardada em mim. O quarto parecia quente demais, agora. me segurou pelos quadris, quebrando a carícia que me fazia. Ele me deitou na cama delicadamente, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Livrou-se das roupas de um modo duro antes de se deitar ao meu lado.
Algumas vezes, você acha o tipo de pessoa com quem se comunica só com um olhar, um toque, um sorriso. Ele era uma dessas pessoas. me puxou para seu corpo, seus braços me enlaçando carinhosamente. E então eu soube, daquele jeito que só heroínas de romance sabem, que era ele. Ele era meu. Eu era dele. Não como um objeto, não como uma posse, mas como se, em um delírio espiritual meu, pertencêssemos um ao outro de um modo mais profundo. Ele beijou meu queixo, meu pescoço, suas mãos me apalparam e me apertaram. Ele agarrou meu quadril, me trouxe pra perto, eu tentei abaixar sua cueca, mas ele segurou minhas mãos. Sorriu, beijou-as.
— Ainda não. — Franzi a testa. Não entendia o motivo de tanta demora, uma vez que, bem, eu só me relacionei com egocêntricos.
E alguns adolescentes, que, claro, gozam nas calças bem antes de eu sequer ficar sem a calcinha. Os caras com quem me relacionei ligavam para seu próprio prazer, com exceção de um ou dois que realmente sabiam agradar uma garota. Já parecia querer me provar de todas as formas, de todas as maneiras. Não estou dizendo que, bem, caras mais velhos transam melhor que os mais novos, porque alguns caras simplesmente parecem só ter tido experiência com filmes pornográficos e a mão hábil (os mais velhos, também)… Não é isso. Eu acho particularmente gostoso descobrir o que meu parceiro gosta e nos aventurarmos juntos em busca do nosso prazer. Os caras com quem eu fiquei? Me tratavam como um objeto sexual, mas fazia eu me sentir especial. Idolatrada. Amada. O sol da tarde entrava pela janela entreaberta, fazendo com que seu rosto fosse um jogo de luz e sobras, mas os seus olhos faiscavam mesmo assim.
Ele se sentou e eu me mantive deitada, à espera do motivo… Bem, à espera de qualquer forma, uma vez que ele parecia estar me admirando. Sua mão pousou no meu ventre, a palma quente contra minha pele morna tinha um toque delicioso. Seus olhos claros percorreram a minha figura, literalmente dos pés à cabeça. , o nerd, eu pensei, apreciando uma garota pela primeira vez. Era engraçado pensar nele como um virgem e eu gostaria de tê-lo conhecido na escola, de ter estudado com ele e o acompanhado na faculdade. As coisas teriam sido mais fáceis para nós dois.
— Você é linda, . — Ele murmurou, sua voz ecoando no quarto banhado pela luz alaranjada lá de fora.
E eu corei. Como uma garotinha, eu corei. Também abri um sorriso, que devia ser extremamente patético, mas que para ele não fez diferença alguma. Por que sei disso? Porque ele beijou minha pele, segurou uma de minhas pernas e beijou minha canela, meu joelho, minha coxa, a parte interna da minha coxa e o lugar onde os dedos dele me faziam tanta falta. Seus olhos procuraram os meus e eu sorri. Ele também. Não era hora para isso. apenas se afastou de mim para procurar uma camisinha.
— Tem uma na minha bolsa. — Ele me olhou e ergueu uma sobrancelha grossa.
— Você veio preparada. — Eu ri baixo, virando de bruços na cama.
— Pegue a maldita camisinha e venha aqui. — Seu sorriso bem-humorado ainda conseguia me derrubar.
Ele trouxe a minha bolsa e eu a pus de lado no momento em que pesquei a camisinha de lá de dentro. A ofereci a ele como se fosse algo grandioso. O que, se formos analisar o que estávamos fazendo e o quanto nós dois esperamos por isso, realmente era. colocou a camisinha e se deitou na cama, puxando meu corpo para cima dele.
Eu não fiquei em cima muitas vezes. Aparentemente, os homens se sentem emasculados tendo uma garota gostosa rebolando em cima deles. Dominância masculina significava que eles ficavam por cima e mandavam ver. Pergunte a , pergunte a ou ao resto do time de futebol americano. segurou meu rosto com uma mão, minha cintura com a outra. E eu finalmente o senti dentro de mim. Inteiro, me completando centímetro por centímetro. Qualquer garota vai te dizer que o tamanho não é lá de muita importância. Eu também diria, mesmo com o grande pau de dentro de mim. Não, não diria nada que fizesse sentido, a bem da verdade.
Eu estava molhada, quente e pronta para ele. Os olhos dele piscaram algumas vezes, a boca entreabriu-se e eu soube que era tão bom para ele quanto pra mim. Rebolei meu quadril tentativamente, de forma experimental, e, deus, como foi bom! Ele gemeu, eu gemi. E logo eu já sabia exatamente o que fazer em cima dele. A cada movimento, a cada gemido, eu sabia que eu o tinha. E quando se levantou e me segurou pela cintura, nós ficamos entrelaçados, nos movendo juntos e olhando nos olhos do outro, então eu soube que algo de bom finalmente estava acontecendo na minha vida.
E, é claro, que ele estava tão perto de gozar quanto eu. Suas mãos pousaram na minha nuca, seus polegares seguravam minhas bochechas. tocou minha testa com a dele, seu rosto estava contraído em uma expressão de prazer que, certamente, espelhava a minha. Era a hora. Ele gemeu o meu nome. O meu nome. Nós gozamos quase ao mesmo tempo, minhas mãos agarraram seus ombros e minhas unhas se fincaram na carne dele quando eu também gemi o nome dele, como se fosse uma palavra muitíssimo sedutora. Os lábios dele se juntaram aos meus e, deus do céu, o quadril dele não parou de investir contra o meu, mesmo depois de ter gozado. Eu podia senti-lo ainda dentro de mim, meus músculos internos se movendo de uma forma que a mera presença dele ali nos causava ainda mais prazer.
Quando nosso glorioso momento de prazer passou, deixou seu corpo cair na cama e trouxe o meu junto. Me aconcheguei a ele, enlaçando seu pescoço enquanto ele abraçava a minha cintura, embrenhando o rosto no meu cabelo. Ficamos assim por alguns minutos, sentindo nossos batimentos cardíacos voltarem ao normal, o conforto da presença um do outro. Era mágico senti-lo de tão perto. Ele se afastou e olhou no meu rosto, suas bochechas afogueadas e alguns fios de cabelo grudados em sua testa, que exibia uma leve e brilhante camada de suor. Abri um sorriso para ele, acariciando seu rosto como ele fizera tantas vezes comigo. E então ele me puxou para o seu peito sem uma palavra, acariciando meus ombros enquanto o sol se punha lá fora.
Nova mensagem recebida.
Mãe diz:
Onde você está? Estou te esperando para o jantar.
diz:
Estou na . Não precisa me esperar.
Mãe diz:
Certo. Você está bem?
diz:
Está tudo bem.
Deixei o celular de lado depois de bloquear a tela, me levantando para ajudar com as caixas que o entregador de comida chinesa empilhava em seus braços. Por sorte, minha mãe não insistiu que eu fosse para casa. me lançou um olhar agradecido quando apareci na porta e eu peguei a carteira em seu bolso quando ele saiu com as caixas nos braços.
— Quanto deu? — O entregador me olhou de forma desinteressada, checou o valor em um papel e repetiu de forma tediosa:
— Vinte e sete dólares e oitenta e nove centavos.
Retirei as notas e as entreguei ao garoto, que nem mesmo conferiu e se foi.
— Quer ver um filme? — Ouvi sua voz vindo da cozinha e me sentei no sofá da sala, com os joelhos dobrados debaixo do corpo.
— Eu não sei. O que vai passar?
— Star Wars. — Ele colocou a cabeça na fresta da porta e riu para mim.
— Você é um nerd, . — Eu também ri.
— Olha quem fala, nerd. — Balancei a cabeça em negativa.
— Você é, sim, um grande nerd. — Suspirei alto, mas logo sorri. — E eu só não transo com você de novo porque não quero meu frango xadrez frio.
me dirigiu um sorriso maroto.
— Eu tenho um micro-ondas, sabia?
As aulas tinham sido suspensas. A escola passaria uma semana de luto por . Uma semana de luto por causa da porra de um stalker. E eu tinha que ler todas essas coisas no Facebook sobre como ele era um bom cara. Todos os jogadores de futebol postando fotos com ele. Todos os textos de lamentos e condolências. As ex-namoradas se queixando sobre como ele tinha um futuro brilhante. escreveu um longo texto sobre a amizade dos dois.
E subitamente ele era a porra de um santo. Até meu pai achava isso, mesmo que ele tivesse visto o que me fez. Para o meu pai, ninguém merecia morrer dessa forma. Sim, eu concordo. Só não espere que eu o perdoe de tudo isso, de todos os momentos de terror, de todas as vezes que eu chorei por causa do que ele me fez ou quando eu acordava no meio da noite com medo de que ele fosse tentar me agarrar de novo. Não espere que eu diga que ele era um bom cara. Não espere que eu poste fotos no Facebook. Não espere nada de mim.
Para o meu pai, a polícia estava fazendo muito circo por nada.
— O garoto claramente se matou, . Eles só querem mostrar serviço porque a família dele é importante. — Ele me disse. Claro, ele não sabe da mensagem que eu recebi naquela manhã.
Meu pai era meu advogado e não gostou que eu não tivesse ligado para ele. Segundo ele: se minha filha foi levada para umas perguntas, então deveriam ter me ligado, você sendo maior de idade ou não. Ele colocou a culpa na escola.
E agora eu estava em casa, remoendo o que tinha acontecido. E cada vez que eu lembrava da mensagem, um calafrio descia a minha espinha. Não precisa agradecer. Alguém mais sabia. Alguém mais sabia do que fazia comigo. Mas quem? Por um momento, pensei em . sabia. Ele tinha testemunhado uma das agressões e quase testemunhou outra. Mas era estúpido pensar que poderia tê-lo matado. Lembrando a forma como ele me confortou e como ele me beijou, era impossível que ele tivesse sido frio o suficiente para matar outra pessoa, mesmo que eu ainda me lembrasse de sua fúria quando viu me segurando, um dia apenas antes de morrer.
As horas passaram, mas esse pensamento não. Uma vozinha repetia, na minha mente, que só ele sabia. sabia que eu tinha transado com , mas não que ele me perseguia. Depois do almoço, eu olhei o relógio. A essa hora, , Bobby e eu estaríamos corrigindo testes e trabalhos e folhas de exercícios. Eu peguei as chaves do carro e disse à minha mãe que ia levar os documentos para o correio. Eu tinha enviado minha ficha de aplicação para uma faculdade perto daqui, poucos dias depois de ter dito a eles que eu não faria Direito na Columbia. Com a desculpa dos documentos, eu dirigi em direção ao centro da cidade.
— Quer que eu vá com você?
Eu sei que minha mãe quer ajudar, mas ela está me sufocando. Ela tirou alguns dias de licença do hospital e me disse que ficaria em casa para cuidar de mim. E desde ontem ela tem me seguido pela casa inteira, tem me forçado a comer, me perguntava se eu estava bem a cada cinco minutos e insistiu que deveríamos ir à Igreja. Mas Deus não pode me ajudar agora. Eu e Ele sabemos que meu lugar não é no céu, o meu lugar é bem mais embaixo.
diz:
Você está em casa?
Larguei o celular no banco do carona. Um rock pesado soava baixinho no carro, eu tinha ligado em uma estação que não fazia a mínima qual era, mas a música parecia adequada ao momento. Dirigi calmamente, mas eu estava nervosa. Era compreensível, não? Alguém morreu por minha causa. Alguém matou para me ajudar. Se eu fumasse, teria acendido um cigarro agora, de tão ansiosa.
Estacionei o carro na rua, subindo a escada lateral em direção ao apartamento em cima da livraria. Os jornais tinham se recheado de matérias sensacionalistas. O que levou o herdeiro dos a se suicidar? Havia matérias detalhadas sobre como ele foi achado, como ele usou a arma do pai para tirar a própria vida. Os mais ousados diziam: Assassinato ou suicídio? Leia a matéria completa sobre a morte de e coisas como 18 é o novo 27?
, , Constance, eu… Ninguém foi poupado nos jornais. E, de alguma forma, eles sabiam do quadrado amoroso entre , , e eu. Por sorte eles não sabiam que, na verdade, a única pessoa com quem eu queria estar era . Eu olhei a porta do apartamento dele. Ergui a mão e pressionei a campainha.
não demorou a abrir a porta. Camisa de malha, calças de pijama, óculos e uma caneca na mão. Ele não se espantou ao me ver, o que indicava que tinha visto a mensagem.
— …
Eu conhecia aquele tom. Ele tinha que usar aquele tom toda vez que me beijava? Ele tinha me beijado dessa vez! A culpa não era minha! Embora eu possa tê-lo induzido um pouco…
— Eu sei o que você vai dizer. — O interrompi, pois eu não aguentaria caso ele continuasse falando. — Vai dizer que não podemos fazer isso. E que eu deveria ter alguém da minha idade. — não respondeu, apenas ficou na porta, parecendo consternado. — E eu sei que você está certo. Racionalmente, eu sei que a gente não pode se envolver.
— Porque eu sou seu professor.
— Porque você é meu professor. — Confirmei o que ele disse. — Mas eu quero você. Eu quero você, , e eu não posso mudar o que eu estou sentindo. — Meu coração batia na minha garganta e eu me sentia nervosa por finalmente dizer isso.
Ele não me deu espaço para que eu entrasse e eu me aproximei dele.
— Eu sei que você me quer, também. — olhou de mim para o corredor e gesticulou para que eu passasse, provavelmente pensando que seria ruim se alguém subisse naquele momento (embora o apartamento dele seja o único aqui em cima).
Me encontrei parada no meio da sala dele. Ele ainda parecia confuso e perplexo e eu sabia que eu devia ser quem daria o primeiro passo, já que ele nunca faria isso.
— E eu sei que você deve gostar de mim também. Você sempre cuidou de mim. Ninguém faria isso por uma pessoa para quem não dá a mínima.
— , você está entendendo errado. — Ele balbuciou depois de fechar a porta.
— Eu entendi errado quando você me beijou ontem? — se calou. Ele não daria o braço a torcer. E nem eu. — Você me quer.
Eu levei as mãos até a barra da minha blusa. As marcas nos meus braços não eram mais tão aparentes quanto ontem. Eu a puxei pela minha cabeça e fiquei apenas de sutiã.
— , pare. — não ousou chegar perto de mim, mas havia uma advertência em seu olhar. E talvez eu estivesse indo longe demais, mas não ia parar agora.
— Você me quer e eu quero você. — Ele desviou o olhar. Eu não desisti. — Eu sou maior de idade e sei o que eu faço. Eu não sou uma criança.
Minhas mãos desceram para a minha saia. Eu desci o zíper na lateral do meu quadril, fazendo com que ela caísse aos meus pés. A chutei para longe, junto com as minhas sapatilhas.
— Você vai negar que me quer tanto quanto eu te quero? — Eu nunca fui uma boa sedutora como . Ela poderia seduzir um padre. Também nunca fui uma beleza exótica como Constance. Eu era apenas uma garota comum. E eu fiquei parada, em minha lingerie azul-turquesa, olhando para ele.
Ouvindo o som da minha voz, me olhou novamente. Seus olhos percorreram o meu corpo e eu me senti muito autoconsciente naquele momento. Não era vergonha, jamais seria vergonha mostrar meu corpo ao homem que eu amo… Era medo. Medo de ter feito tudo aquilo e ser rejeitada.
— Se você negar, eu vou embora. — Me senti mais digna dizendo isso, mesmo sabendo que, se ele me negasse, eu apenas me sentiria pior do que antes. — Se você quiser, eu nunca mais vou te procurar…
— Eu não quero isso.
cruzou a sala do apartamento dele em apenas duas passadas lentas… E me beijou. Aquele beijo era muito diferente do antecessor. Era feroz, exigente e ainda assim conseguia me passar uma ternura que fazia meu coração flutuar no peito. Levei minhas mãos até sua nuca e o abracei. segurava meu rosto com suas mãos quentes e o corpo dele estava pressionado contra o meu. Eu queria aquilo há meses. Há meses eu pensava nele quando estava com ou até mesmo quando estava com .
E não me decepcionou. Suas mãos desceram pelo meu rosto, meu pescoço e fizeram uma carícia leve nos meus braços. Ele finalmente quebrou o beijo e olhou nos meus olhos. A advertência continuava ali, impressa nas íris que refletiam o meu rosto.
— Só de pensar em como ele tocou em você… — A voz dele era uma sombra estrangulada de seu tom regular. Os olhos dele desceram para os hematomas.
beijou as marcas no meu ombro esquerdo. Desceu a boca e beijou a marca a seguir. A sua boca quente, que eu estivera beijando até pouco tempo atrás, fez questão de beijar todas as marcas arroxeadas nos meus braços, primeiro o esquerdo e depois o outro. Ele subiu pelo meu pulso direito e quando chegou ao meu ombro mais uma vez, eu puxei seu rosto para um novo beijo. Era como se ele quisesse curar minhas feridas, eu só não sabia se ele conseguiria. Eu senti que nos encaixávamos na primeira vez que nos beijamos. Havia química entre nós dois, isso era inegável. Aventurei minhas mãos por seus cabelos, macios, cheirosos, os cabelos que sempre estavam ligeiramente despenteados, como se ele tivesse acabado de acordar de um cochilo. E então eu também delineei seu corpo com as minhas mãos, acariciei seus braços firmes, seu peito que tinha me amparado, as mãos que tinham me segurado.
— , se você se arrepender… Eu vou parar. — Fingi que não ouvi o que ele disse e ele suspirou. Soltou minhas mãos e me olhou nos olhos. — , você me ouviu?
— Ouvi, sim.
— Tudo bem. Tire para mim. — Ele falava sobre a sua blusa de malha branca, nada sensual. O pedido não foi mais que um sussurro aerado. E porque aquilo soou tão excitante aos meus ouvidos, eu não faço ideia.
Fiz como ele me pediu. Puxei a barra de sua camisa branca lentamente, revelando seu corpo aos meus olhos famintos. O corpo dele era firme, sua pele era macia e eu o admirei por alguns segundos. As pontas dos meus dedos deslizaram por sua carne enquanto eu o olhava. E quando olhei para cima de novo, pude ver que seus olhos sorviam minha presença como eu fazia com a dele. Tirei seus óculos com cuidado e os pousei na mesinha de centro. Ele sorriu e me puxou de volta para os seus braços. aproximou seus lábios da minha boca, mas então se afastou mais uma vez. Ele os pressionou gentilmente contra a minha testa, beijou cada uma de minhas pálpebras com carinho, a ponta do meu nariz e finalizou beijando o meu queixo. Suas mãos acarinharam meus cabelos e eu sorri para ele.
— , você tem certeza? — Ele murmurou contra a minha pele, o rosto encostado no meu. — Eu vou parar quando você me disser para parar, entendeu?
Quando fui até , fui movida pelo desejo mais profundo, oculto no fundo da minha mente de forma silenciosa por conta da primeira vez que nos beijamos, por causa do fiasco que tinha sido e porque ele me afastou. Ontem, no entanto, quando me beijou, nada mais importava. Ele não queria ficar longe de mim e eu não precisava mais me forçar a ficar longe dele.
A minha mente, o meu corpo… Tudo já tinha sucumbido a ele. E eu queria que ele sucumbisse também, sem hesitar e sem titubear. Nós não podíamos mais voltar ao que éramos antes, assim como não podíamos continuar naquele impasse. Se serviu de alguma coisa, foi para me mostrar que a vida é muito curta para se arrepender de qualquer coisa. Eu poderia ser a próxima a morrer, quem sabe, em uma semana. Em um ano. Em dez anos. Não importava, eu não mais passaria vontade por causa de um orgulho idiota ou por causa dos padrões morais de . Se nos desejávamos, por que ficar separados?
— Eu quero você. — Respondi, ligeiramente encabulada com a situação.
— , e se…
Pousei meu indicador em cima dos lábios dele e sorri. Aquela não era a hora de pensar em “se” e “quando”. Nem era a hora de arrependimentos. falava demais.
— Eu não vou me arrepender. — Olhei fundo nos olhos dele quando disse isso. Ele entendeu que eu não ia mudar de ideia. E não mudei.
Ele me olhou em uma adoração muda. Seu polegar acariciou a minha bochecha e ele me beijou. Era um beijo lento, sufocante com toda a tensão que parecia emanar dele. Era doce. E era exatamente o que eu queria.
As mãos dele seguraram minha cintura e ele me empurrou para trás ao mesmo tempo que deu um passo para frente. O plano, eu supus, era andar até o quarto, mas nós acabamos batendo na parede do corredor. Ele riu, eu ri e, por um momento, ficamos sem fôlego por causa das gargalhadas. Mas então nos beijamos de novo e de novo e de novo. Eu não conseguia parar de tocá-lo e nisso havia uma reciprocidade incontestável. Tínhamos as mãos um no outro, nos beijávamos como se precisássemos disso para respirar. Nenhum dos dois queria se afastar mais (eu nunca quis, como é perceptível).
Nós andamos, entre beijos e esbarrões nas paredes, até o quarto. Ele me encostou na porta e afundou o rosto nos meus cabelos enquanto a destra girava a maçaneta. Nós quase caímos lá dentro, mas ele me segurou pelo quadril e me aproximou dele de novo.
— Já está caindo por mim? — Ele brincou e eu sorri. Eu já estava caída por ele há muito tempo.
— Vamos ver quantas piadas você vai fazer quando estivermos dentro daquele quarto.
Eu dei um passo para trás, ele deu um passo para frente. E fomos assim até que a parte posterior dos meus joelhos encostasse na coberta macia sobre o leito. segurou minha mão direita e me girou, como se estivéssemos dançando. O corpo dele estava premido contra o meu, suas mãos massageavam meus ombros com leveza. Sua mão grande afastou os cabelos do meu pescoço, fazendo com que caíssem para o lado. Eu podia sentir a respiração dele na minha nuca, precedendo seus lábios, e quando sua boca úmida finalmente tocou minha pele arrepiada, eu suspirei alto. Tinha esperado aquilo por muito tempo e não pude evitar idealizar essa situação, mas isso era tão melhor do que eu tinha esperado. As mãos dele escorregaram por minhas espaldas, descendo as alças do meu sutiã ao mesmo tempo que chovia beijos na minha pele. As mãos dele ousaram mais: desnudaram meus seios e ele os acariciou com as palmas, fazendo os bicos ficarem rígidos com o estímulo. Eu fechei os olhos e fiquei à sua mercê.
Ele usou as pontas dos dedos para me provocar. Me apalpou, me massageou, brincou com meus mamilos. E eu, que nunca tinha, realmente, prestado atenção à grande zona erógena que – eu descobri – era meus seios, gemi baixo com a provocação. Eu o queria dentro de mim e mostrei isso a ele me pressionando contra sua ereção evidente. Mas ele tomou seu tempo, sem ligar para a minha impaciência, suas mãos continuaram o percurso pelo meu corpo.
— Eu imaginei… Você e eu… Assim. — Ele sussurrou no meu ouvido e meu coração começou a bater muito alto e tão forte que eu respirei com certa dificuldade. Então ele também pensava em mim…
Me questionei se ele pensava em mim quando, em suas noites solitárias, ele se satisfazia sozinho, como eu fazia em minha banheira. Mas não consegui pensar por muito tempo, porque as mãos dele me levavam à loucura. Seus dedos acariciaram a minha barriga gentilmente, mas ele parou na altura do elástico da minha calcinha. Houve um último beijo na minha pele antes que sua mão adentrasse o tecido enquanto a outra segurava meu seio esquerdo. Agora, ele também respirava fortemente enquanto me tocava, sua respiração fazia cócegas na minha pele. E, deus, como eu estava molhada para ele, por ele. E como eu gemia seu nome enquanto seus dedos acariciavam meu clitóris. Meu corpo se apoiava no dele, porque eu não tinha mais força nos joelhos, sem força o suficiente para me manter em pé sozinha. A ponta do dedo dele delineou meus lábios e a fenda úmida que necessitava dele urgentemente. E então ele introduziu um dedo em mim.
— Meu deus… — Eu quase não ouvi a exclamação dele, porque estava concentrada demais nas sensações da minha carne, alheia a qualquer coisa que não fosse o meu próprio prazer.
O que era completamente compreensível. Eu podia sentir a respiração cálida dele na minha pele, seu dedo movendo-se dentro de mim, a outra mão que me apalpava. E era ele. Era , era real e estava me tocando enquanto dizia que havia imaginado esse momento entre nós dois. Era disso que eu precisava, era dele que eu precisava. Precisava de suas mãos, de seu cheiro de sabonete e loção, de seu gosto, precisava estar em seus braços. E saber que ele também queria isso… Ele saiu de dentro de mim apenas para me virar de frente.
— Me deixe olhar para você. — Sua voz era tão suave, rouca, baixa.
Uma de suas mãos segurou meu queixo levemente, nossos olhos se encontraram mais uma vez. E a cada vez parecia que ficávamos ainda mais íntimos. Mais uma vez me acariciou, seus dedos lentamente me penetravam e eu me segurei em seus ombros. A presença dele me inebriava na medida que a minha fazia o mesmo com ele, aparentemente, pelo modo como seus olhos nunca saíam do meu rosto. E eu tirei desse fato a coragem necessária para ousar ainda mais. Minhas mãos escorregaram por seu torso e meus dedos se enfiaram abaixo do elástico da calça de moletom. Pensei ter visto um brilho de divertimento perpassar seus olhos, mas sua expressão ainda era calma e adorável.
Eu o beijei. Minhas mãos dentro da calça dele, os dedos dele dentro de mim, e eu o beijei com toda a vontade dele que eu tinha guardada em mim. O quarto parecia quente demais, agora. me segurou pelos quadris, quebrando a carícia que me fazia. Ele me deitou na cama delicadamente, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Livrou-se das roupas de um modo duro antes de se deitar ao meu lado.
Algumas vezes, você acha o tipo de pessoa com quem se comunica só com um olhar, um toque, um sorriso. Ele era uma dessas pessoas. me puxou para seu corpo, seus braços me enlaçando carinhosamente. E então eu soube, daquele jeito que só heroínas de romance sabem, que era ele. Ele era meu. Eu era dele. Não como um objeto, não como uma posse, mas como se, em um delírio espiritual meu, pertencêssemos um ao outro de um modo mais profundo. Ele beijou meu queixo, meu pescoço, suas mãos me apalparam e me apertaram. Ele agarrou meu quadril, me trouxe pra perto, eu tentei abaixar sua cueca, mas ele segurou minhas mãos. Sorriu, beijou-as.
— Ainda não. — Franzi a testa. Não entendia o motivo de tanta demora, uma vez que, bem, eu só me relacionei com egocêntricos.
E alguns adolescentes, que, claro, gozam nas calças bem antes de eu sequer ficar sem a calcinha. Os caras com quem me relacionei ligavam para seu próprio prazer, com exceção de um ou dois que realmente sabiam agradar uma garota. Já parecia querer me provar de todas as formas, de todas as maneiras. Não estou dizendo que, bem, caras mais velhos transam melhor que os mais novos, porque alguns caras simplesmente parecem só ter tido experiência com filmes pornográficos e a mão hábil (os mais velhos, também)… Não é isso. Eu acho particularmente gostoso descobrir o que meu parceiro gosta e nos aventurarmos juntos em busca do nosso prazer. Os caras com quem eu fiquei? Me tratavam como um objeto sexual, mas fazia eu me sentir especial. Idolatrada. Amada. O sol da tarde entrava pela janela entreaberta, fazendo com que seu rosto fosse um jogo de luz e sobras, mas os seus olhos faiscavam mesmo assim.
Ele se sentou e eu me mantive deitada, à espera do motivo… Bem, à espera de qualquer forma, uma vez que ele parecia estar me admirando. Sua mão pousou no meu ventre, a palma quente contra minha pele morna tinha um toque delicioso. Seus olhos claros percorreram a minha figura, literalmente dos pés à cabeça. , o nerd, eu pensei, apreciando uma garota pela primeira vez. Era engraçado pensar nele como um virgem e eu gostaria de tê-lo conhecido na escola, de ter estudado com ele e o acompanhado na faculdade. As coisas teriam sido mais fáceis para nós dois.
— Você é linda, . — Ele murmurou, sua voz ecoando no quarto banhado pela luz alaranjada lá de fora.
E eu corei. Como uma garotinha, eu corei. Também abri um sorriso, que devia ser extremamente patético, mas que para ele não fez diferença alguma. Por que sei disso? Porque ele beijou minha pele, segurou uma de minhas pernas e beijou minha canela, meu joelho, minha coxa, a parte interna da minha coxa e o lugar onde os dedos dele me faziam tanta falta. Seus olhos procuraram os meus e eu sorri. Ele também. Não era hora para isso. apenas se afastou de mim para procurar uma camisinha.
— Tem uma na minha bolsa. — Ele me olhou e ergueu uma sobrancelha grossa.
— Você veio preparada. — Eu ri baixo, virando de bruços na cama.
— Pegue a maldita camisinha e venha aqui. — Seu sorriso bem-humorado ainda conseguia me derrubar.
Ele trouxe a minha bolsa e eu a pus de lado no momento em que pesquei a camisinha de lá de dentro. A ofereci a ele como se fosse algo grandioso. O que, se formos analisar o que estávamos fazendo e o quanto nós dois esperamos por isso, realmente era. colocou a camisinha e se deitou na cama, puxando meu corpo para cima dele.
Eu não fiquei em cima muitas vezes. Aparentemente, os homens se sentem emasculados tendo uma garota gostosa rebolando em cima deles. Dominância masculina significava que eles ficavam por cima e mandavam ver. Pergunte a , pergunte a ou ao resto do time de futebol americano. segurou meu rosto com uma mão, minha cintura com a outra. E eu finalmente o senti dentro de mim. Inteiro, me completando centímetro por centímetro. Qualquer garota vai te dizer que o tamanho não é lá de muita importância. Eu também diria, mesmo com o grande pau de dentro de mim. Não, não diria nada que fizesse sentido, a bem da verdade.
Eu estava molhada, quente e pronta para ele. Os olhos dele piscaram algumas vezes, a boca entreabriu-se e eu soube que era tão bom para ele quanto pra mim. Rebolei meu quadril tentativamente, de forma experimental, e, deus, como foi bom! Ele gemeu, eu gemi. E logo eu já sabia exatamente o que fazer em cima dele. A cada movimento, a cada gemido, eu sabia que eu o tinha. E quando se levantou e me segurou pela cintura, nós ficamos entrelaçados, nos movendo juntos e olhando nos olhos do outro, então eu soube que algo de bom finalmente estava acontecendo na minha vida.
E, é claro, que ele estava tão perto de gozar quanto eu. Suas mãos pousaram na minha nuca, seus polegares seguravam minhas bochechas. tocou minha testa com a dele, seu rosto estava contraído em uma expressão de prazer que, certamente, espelhava a minha. Era a hora. Ele gemeu o meu nome. O meu nome. Nós gozamos quase ao mesmo tempo, minhas mãos agarraram seus ombros e minhas unhas se fincaram na carne dele quando eu também gemi o nome dele, como se fosse uma palavra muitíssimo sedutora. Os lábios dele se juntaram aos meus e, deus do céu, o quadril dele não parou de investir contra o meu, mesmo depois de ter gozado. Eu podia senti-lo ainda dentro de mim, meus músculos internos se movendo de uma forma que a mera presença dele ali nos causava ainda mais prazer.
Quando nosso glorioso momento de prazer passou, deixou seu corpo cair na cama e trouxe o meu junto. Me aconcheguei a ele, enlaçando seu pescoço enquanto ele abraçava a minha cintura, embrenhando o rosto no meu cabelo. Ficamos assim por alguns minutos, sentindo nossos batimentos cardíacos voltarem ao normal, o conforto da presença um do outro. Era mágico senti-lo de tão perto. Ele se afastou e olhou no meu rosto, suas bochechas afogueadas e alguns fios de cabelo grudados em sua testa, que exibia uma leve e brilhante camada de suor. Abri um sorriso para ele, acariciando seu rosto como ele fizera tantas vezes comigo. E então ele me puxou para o seu peito sem uma palavra, acariciando meus ombros enquanto o sol se punha lá fora.
Nova mensagem recebida.
Mãe diz:
Onde você está? Estou te esperando para o jantar.
diz:
Estou na . Não precisa me esperar.
Mãe diz:
Certo. Você está bem?
diz:
Está tudo bem.
Deixei o celular de lado depois de bloquear a tela, me levantando para ajudar com as caixas que o entregador de comida chinesa empilhava em seus braços. Por sorte, minha mãe não insistiu que eu fosse para casa. me lançou um olhar agradecido quando apareci na porta e eu peguei a carteira em seu bolso quando ele saiu com as caixas nos braços.
— Quanto deu? — O entregador me olhou de forma desinteressada, checou o valor em um papel e repetiu de forma tediosa:
— Vinte e sete dólares e oitenta e nove centavos.
Retirei as notas e as entreguei ao garoto, que nem mesmo conferiu e se foi.
— Quer ver um filme? — Ouvi sua voz vindo da cozinha e me sentei no sofá da sala, com os joelhos dobrados debaixo do corpo.
— Eu não sei. O que vai passar?
— Star Wars. — Ele colocou a cabeça na fresta da porta e riu para mim.
— Você é um nerd, . — Eu também ri.
— Olha quem fala, nerd. — Balancei a cabeça em negativa.
— Você é, sim, um grande nerd. — Suspirei alto, mas logo sorri. — E eu só não transo com você de novo porque não quero meu frango xadrez frio.
me dirigiu um sorriso maroto.
— Eu tenho um micro-ondas, sabia?
Capítulo 15
Três semanas e quatro dias para o baile
As marcas, aos poucos, sumiam. O toque de era tão bom para a minha pele quanto era para a minha alma. Aos poucos, a minha tranquilidade era restaurada e as mensagens de texto recebidas, relegadas ao esquecimento. Quando estamos felizes, é normal nos esquecermos de problemas. O luto por já não me incomodava mais. E, por mais que minha mãe cristã tivesse tentado me fazer uma boa pessoa, eu apenas estava feliz por ver que meu perseguidor e abusador estava morto e nunca mais retornaria para apertar meus braços ou me forçar a ficar perto dele com ameaças e hematomas.
É claro, é tolice dar as costas para os seus problemas. Eu soube disso no momento em que meus pés tocaram a rua no centro da cidade, depois de ter deixado uma livraria, a mesma que fica na parte de baixo do prédio de onde morava. Nos encontramos todas as noites desde que dormimos juntos pela primeira vez. Pedi cobertura a Constance, de quem me aproximei desde a morte de . Ela me contou sobre seu comportamento agressivo e trocamos confidências sentadas na varanda do grande casarão colonial onde ela morava com o pai e as irmãs. Constance, de quem eu não gostava tanto por ter sido tanto ex-namorada de quanto por ser uma vaca (e, para ser bem sincera, somos todas vacas, desde Constance e eu a e as gêmeas), tinha se revelado uma boa amiga. Era, é claro, venenosa, mas também muito verdadeira em suas palavras. E tendo, assim como eu, enfrentado os abusos de , tínhamos mais em comum do que pensávamos.
A livraria era do tio de , um homem redondo e que se parecia mais com um leão marinho do que com um parente do homem que eu amava. E se eu viesse pelas escadas, em vez do elevador, poderia sair nos fundos da livraria, cuja porta eu tinha uma chave. Nem e nem eu queríamos que nos vissem juntos. Ele, por ser meu professor; eu, por medo de que me julgassem. Admito, eu sou uma covarde.
E foi só por isso que eu quase gritei quando vi os dois policiais logo à minha frente quando deixei a livraria.
— Senhorita ? Lembra-se de mim? — Cara de Flamingo me abriu um sorriso.
Armário apenas me olhava desconfiado. Eu sabia que não estava com a aparência desarrumada de quem tinha acabado de fazer sexo selvagem em cima da pia do banheiro (o que, felizmente, eu tinha feito) porque tomei banho e me olhei no espelho do banheiro antes de sair.
Se ele me olhava desse jeito, provavelmente era por outro motivo.
— Detetives. — Eu sorri, ainda tinha alguma educação. — Como sabiam que eu…?
Detetive Armário negou com a cabeça e Cara de Flamingo riu.
— Na verdade, viemos procurar .
Meu coração provavelmente parou de bater por alguns segundos. No entanto, por ser quem eu sou – ou seja: uma mentirosa e tanto – me recuperei rapidamente.
— Na livraria? — Minha expressão era calculadamente confusa.
Armário, no entanto, me olhou desconfiado.
— Ele mora acima da livraria. Você não sabia? — Neguei com a cabeça.
— Que… Interessante. — Dei de ombros, me preparando para sair, mas Armário certamente ainda não tinha terminado comigo.
— Você é bem próxima do professor , não é? — Eu calculei uma resposta.
— Próxima? Não diria isso, eu só assisto ele na escola, com os trabalhos e provas. Por quê?
Eu podia quase ouvir as engrenagens girando na cabeça dele.
— Não é nada. Você vai embora sem comprar nada? — Tenho que admitir que estava errada sobre ele. Armário é um cara perspicaz.
— Não tinha o livro que eu estava procurando. — Dei de ombros, me despedindo dos dois.
E se eles chegassem e ainda estivesse parecendo um cara que acabou de transar? E se eu tivesse deixado alguma coisa no apartamento? E, mais importante: por que diabos eles estavam atrás do meu professor? Não fazia sentido.
Nova mensagem recebida.
Número privado:
Não faça nada idiota.
Eu observei a mensagem na tela do meu celular por alguns segundos, incerta do que fazer. No fim, fiz o que eu não deveria: respondi a mensagem.
diz:
Quem é você?
Número privado:
Isso não importa muito, não é? Afinal, você nunca me agradeceu.
diz:
Agradecer? Por quê?
Número privado:
Você pode se fazer de burra o quanto quiser, , mas sabe exatamente o que eu fiz por você.
Sim, eu sabia o que essa pessoa tinha feito por mim: matado . Minhas mãos tremeram e eu guardei meu celular, indo até onde meu carro estava estacionado. Entrei e fechei a porta, trancando-a. Encostei minha testa no volante, olhos cerrados, e respirei fundo várias vezes.
Eu o queria morto? Sim. No entanto, não morto nesse sentido… Era mais como quando uma criança deseja que alguém morra porque, na cabeça dela, morrer significa estar longe de suas vistas. Era assim que eu queria morto. O pensamento de que alguém por aí não só conhecia o meu segredo, como também tinha matado me deixou ainda mais insegura.
Eu estava feliz! As coisas finalmente estavam dando certo na minha vida! Eu tinha alguém que me amava (eu acho) e que sabia foder, eu tinha o controle da minha vida, não seria mais uma advogada casada com . Eu ia ser , namorada de (se o futuro fosse bom conosco) e professora de matemática de pirralhos insuportáveis e sociopatas que fariam tudo para serem os mais populares, porque era assim no ensino médio. Cobra comendo cobra. Era quase uma selva. E, naquela selva, um deles tinha feito uma caçada ao meu perseguidor. Alguém realmente acreditava que era um predador. E, eu tinha que admitir, podia ser qualquer um, não é?
Dei partida no carro quando, olhando na direção da calçada, vi o detetive Martin (mais conhecido como Armário) me olhando com atenção. Endireitei minha postura e dirigi na direção da casa de Constance. Eu precisava conversar com ela.
Fui recebida extremamente bem por um sorridente senhor Pérez, que me urgiu a entrar. Constance chegou não muito depois e pedi para que fôssemos conversar no quarto dela, o que ela aceitou de bom grado.
— Sua cara está péssima, chica. — Ela caçoou de mim e eu rolei os olhos, deixando minha bolsa em cima da cama dela e me sentando.
— Encontrei os detetives no centro da cidade. Foi horrível. Eles olham todo mundo como se nossa escola fosse um centro de treinamento de assassinos adolescentes! — Bufei e deixei meu tronco cair na cama. Ela se jogou logo ao meu lado.
— O que eles fizeram? Eles te fizeram perguntas? — Eu neguei com a cabeça. Ela tinha uma cama bem confortável.
— Eu não sei, é só que… Você sabe, assassinado? Ele era o tackle do time! Parece estranho que alguém tenha matado ele tão fácil, sabe?
Constance me avaliou longamente. Ela certamente não era burra. Talvez já tivesse imaginado o que eu realmente queria com aquela conversa.
— A não ser que tenha sido alguém em quem ele confie.
Esse era o problema com : ele confiava em . E , deus me livre, jamais seria capaz de matar uma mosca. Ele ficava paralisado se visse sangue! Acredite, eu fiz um apanhado mental sobre as pessoas próximas a que poderiam… Bem, matá-lo. E tinha riscado da lista.
— Ele não confiava em muita gente.
— Ele confiava em mim. — Constance usou um tom sombrio, que, coincidentemente, era o mesmo que eu usava sempre que falava sobre . Eu segurei a mão dela.
— Constance… Você acha que ele se matou?
Ela riu, mas não havia humor. Era uma risada amarga e nervosa.
— Com aquele ego? Nunca.
Eu me calei. Por mais que quisesse que as pessoas soubessem que havia um assassino à solta, eu não podia simplesmente revelar que ele tinha matado por mim. E eu tinha todos os motivos do mundo para querê-lo morto, não é? Eu poderia tê-lo matado com as minhas próprias mãos? Quem sabe? Dizem que é fácil matar. Eu não acredito nisso. Diga o que quiser de mim, eu fui cruel no ensino médio, mas nunca machuquei ninguém. Eu sou covarde e jamais teria coragem.
— Então alguém deve ter… — Não consegui completar. Constance me olhou e se apoiou nos cotovelos.
— Quem sabe? Talvez ele estivesse atormentando outra garota.
Assenti, embora tivesse certeza que não era isso. "Não precisa agradecer". Esse era o preço? Viver sempre com a sombra do remorso, a culpa balançando acima da minha cabeça como se fosse um machado que pode cair a qualquer momento? E o pior: eu nunca pedi nada a ninguém!
Quando saí da banheira, vi as mensagens de no meu celular. Ainda enrolada na toalha, desbloqueei a tela e as li.
diz:
Os detetives vieram aqui. Mencionaram que te viram na livraria.
Talvez eles desconfiem de alguma coisa entre nós dois.
Eles queriam meu álibi. Aparentemente, alguém viu quando nós discutimos no corredor.
Por minha causa, mais uma vez.
diz:
E o que disse a eles?
diz:
Meu álibi? A não ser que eles consigam fazer com que as paredes do meu apartamento falem, eu não tenho um.
diz:
Isso é estúpido. Por que você mataria ?
diz:
Pelo jeito como ele tratou você? Eu o teria matado, .
diz:
Não seja idiota. Você não mataria ninguém.
diz:
Mesmo assim, eu não tenho um álibi. E defendi você.
diz:
Acha que eles sabem de nós dois?
diz:
Talvez desconfiem.
É melhor nos afastarmos por enquanto.
Eu reli a última mensagem dele e franzi o cenho. Era, é claro, o mais lógico a se fazer. Se dois detetives acham que você conspirou para matar alguém para transar com uma aluna, eu não o ajudaria aparecendo no apartamento dele toda hora.
Não respondi depois disso. O que havia para se falar? Nós devíamos nos afastar. E, talvez, nós não devêssemos nem mesmo ter nos aproximado. Tudo parecia conspirar contra nosso relacionamento.
Nova mensagem recebida.
diz:
Você está bem? Eu ouvi falar sobre o que fez com você.
Aparentemente, agora todo mundo sabia. Eu olhei a mensagem de com uma crescente vontade de jogar o celular contra a parede. Meus olhos se encheram de lágrimas com a humilhação. As histórias nos tabloides falavam de mim como o objeto de desejo de , mas jamais conseguiram descobrir algo que afirmasse que realmente nos relacionávamos.
Embora, para ser bem sincera, nosso “relacionamento” fosse algo tão pervertido e doentio que era melhor que ninguém soubesse sobre isso. Eu apostava que a ilustre família também não fosse gostar que a realidade, o herdeiro dos Bancos como um perseguidor sociopata e psicótico, fosse revelada.
diz:
O que você ouviu?
diz:
Sobre ter forçado a barra com você. É verdade?
diz:
Quem tem espalhado essas coisas?
diz:
Eu só sei que algum nerd disse aos detetives que viu você, o professor de matemática e em uma discussão das feias.
Um nerd. Se o carma existe, isso certamente é um castigo por eu ter zoado com eles por tanto tempo (mesmo, secretamente, sendo uma nerd).
diz:
E então? É verdade?
Saí do aplicativo de mensagens e me olhei no espelho. Meu celular se chocou contra ele. Ao contrário dos filmes, ele não se quebrou em milhares de pedaços, mas rachou o vidro.
Respirei fundo, passando a mão pelos meus cabelos molhados enquanto tentava me acalmar. Todos eles saberiam em breve. Todo mundo. , a vítima. E eu seria vítima também de seus olhares questionadores, de sua pena insuportável, de seus cochichos sobre mim nos banheiros.
Eu me vesti com um pijama de seda azul, ainda pensando no que fazer. Por quanto tempo atrasaria a minha vida? Mesmo depois de morto, ele não me dava paz.
Meu celular começou a tocar e eu o peguei. Era . Certamente queria saber se eu estava bem ou qualquer coisa do tipo. Era uma pena que não tivesse dado certo com . Ele se preocupava comigo. Ignorei a chamada e me enfiei na cama, sem a mínima vontade de ir jantar.
Em vez disso, abri meu notebook e pesquisei um pouco mais sobre o campus da minha nova faculdade. Era perto da cidade, a meia hora de distância daqui, e eu poderia continuar morando com a minha família, se quisesse. Certamente seria mais fácil.
Ignorei todas as ligações de , sem paciência para sua preocupação. Era irritante. Tudo estava me irritando. Quebrar o espelho tinha sido pouco. Havia tanta raiva dentro de mim que eu poderia entrar em ebulição. Tudo estava dando errado! Tudo! Com , com a escola e com o filho da puta do morto tudo conseguiu piorar!
E, quando fui dormir e fui ajeitar o meu alarme, para me permitir alguns minutos a mais de sono, eu vi.
5 ligações perdidas de .
Nova mensagem com foto de Número Privado.
Meus dedos desbloquearam a tela, mas estavam gelados e fracos. Uma foto. Eu não podia imaginar o que era e, por alguns segundos, apenas me perguntei se deveria abrir ou não. A curiosidade me venceu. Eu abri a mensagem.
Soltei um grito e o celular foi ao chão. A imagem era a de em sua cama, com a parede azul de seu quarto manchada de vermelho. Eu não podia ver o rosto dele, mas sabia quem era. Seus cabelos, metade de sua cabeça destruída. Minha mãe abriu a porta, me olhando preocupada, e eu chutei o celular para baixo da cama discretamente.
— ? Aconteceu alguma coisa? — Minha mãe olhou meu quarto inteiro, como se o bicho papão fosse saltar em cima dela ou algo assim. Eu neguei com a cabeça.
— Eu achei que tinha visto um rato. — Minha voz tremia. A desculpa do rato também não tinha sido muito boa.
— Um rato? Aqui? — Ela estava incrédula e quem poderia culpá-la?
Mesmo assim, eu anuí, tentando parecer o mais convincente possível. Considerando a mentira idiota e deslavada, fiz o possível para convencê-la de que achei ter visto alguma coisa. Por fim, ela foi embora, talvez achando que eu estou louca, o que realmente não importa. Recuperei meu celular e abri novamente a mensagem, dessa vez tentando me controlar.
Mesmo que a foto não fosse extremamente mórbida, havia algo de terrível no posicionamento da cabeça de , o modo com ela tinha caído na cama, a arma em sua mão esquerda, a grande mancha de sangue vermelho na parede.
Naquela noite, eu tranquei a porta e todas as janelas e, ainda assim, não consegui dormir.
As marcas, aos poucos, sumiam. O toque de era tão bom para a minha pele quanto era para a minha alma. Aos poucos, a minha tranquilidade era restaurada e as mensagens de texto recebidas, relegadas ao esquecimento. Quando estamos felizes, é normal nos esquecermos de problemas. O luto por já não me incomodava mais. E, por mais que minha mãe cristã tivesse tentado me fazer uma boa pessoa, eu apenas estava feliz por ver que meu perseguidor e abusador estava morto e nunca mais retornaria para apertar meus braços ou me forçar a ficar perto dele com ameaças e hematomas.
É claro, é tolice dar as costas para os seus problemas. Eu soube disso no momento em que meus pés tocaram a rua no centro da cidade, depois de ter deixado uma livraria, a mesma que fica na parte de baixo do prédio de onde morava. Nos encontramos todas as noites desde que dormimos juntos pela primeira vez. Pedi cobertura a Constance, de quem me aproximei desde a morte de . Ela me contou sobre seu comportamento agressivo e trocamos confidências sentadas na varanda do grande casarão colonial onde ela morava com o pai e as irmãs. Constance, de quem eu não gostava tanto por ter sido tanto ex-namorada de quanto por ser uma vaca (e, para ser bem sincera, somos todas vacas, desde Constance e eu a e as gêmeas), tinha se revelado uma boa amiga. Era, é claro, venenosa, mas também muito verdadeira em suas palavras. E tendo, assim como eu, enfrentado os abusos de , tínhamos mais em comum do que pensávamos.
A livraria era do tio de , um homem redondo e que se parecia mais com um leão marinho do que com um parente do homem que eu amava. E se eu viesse pelas escadas, em vez do elevador, poderia sair nos fundos da livraria, cuja porta eu tinha uma chave. Nem e nem eu queríamos que nos vissem juntos. Ele, por ser meu professor; eu, por medo de que me julgassem. Admito, eu sou uma covarde.
E foi só por isso que eu quase gritei quando vi os dois policiais logo à minha frente quando deixei a livraria.
— Senhorita ? Lembra-se de mim? — Cara de Flamingo me abriu um sorriso.
Armário apenas me olhava desconfiado. Eu sabia que não estava com a aparência desarrumada de quem tinha acabado de fazer sexo selvagem em cima da pia do banheiro (o que, felizmente, eu tinha feito) porque tomei banho e me olhei no espelho do banheiro antes de sair.
Se ele me olhava desse jeito, provavelmente era por outro motivo.
— Detetives. — Eu sorri, ainda tinha alguma educação. — Como sabiam que eu…?
Detetive Armário negou com a cabeça e Cara de Flamingo riu.
— Na verdade, viemos procurar .
Meu coração provavelmente parou de bater por alguns segundos. No entanto, por ser quem eu sou – ou seja: uma mentirosa e tanto – me recuperei rapidamente.
— Na livraria? — Minha expressão era calculadamente confusa.
Armário, no entanto, me olhou desconfiado.
— Ele mora acima da livraria. Você não sabia? — Neguei com a cabeça.
— Que… Interessante. — Dei de ombros, me preparando para sair, mas Armário certamente ainda não tinha terminado comigo.
— Você é bem próxima do professor , não é? — Eu calculei uma resposta.
— Próxima? Não diria isso, eu só assisto ele na escola, com os trabalhos e provas. Por quê?
Eu podia quase ouvir as engrenagens girando na cabeça dele.
— Não é nada. Você vai embora sem comprar nada? — Tenho que admitir que estava errada sobre ele. Armário é um cara perspicaz.
— Não tinha o livro que eu estava procurando. — Dei de ombros, me despedindo dos dois.
E se eles chegassem e ainda estivesse parecendo um cara que acabou de transar? E se eu tivesse deixado alguma coisa no apartamento? E, mais importante: por que diabos eles estavam atrás do meu professor? Não fazia sentido.
Nova mensagem recebida.
Número privado:
Não faça nada idiota.
Eu observei a mensagem na tela do meu celular por alguns segundos, incerta do que fazer. No fim, fiz o que eu não deveria: respondi a mensagem.
diz:
Quem é você?
Número privado:
Isso não importa muito, não é? Afinal, você nunca me agradeceu.
diz:
Agradecer? Por quê?
Número privado:
Você pode se fazer de burra o quanto quiser, , mas sabe exatamente o que eu fiz por você.
Sim, eu sabia o que essa pessoa tinha feito por mim: matado . Minhas mãos tremeram e eu guardei meu celular, indo até onde meu carro estava estacionado. Entrei e fechei a porta, trancando-a. Encostei minha testa no volante, olhos cerrados, e respirei fundo várias vezes.
Eu o queria morto? Sim. No entanto, não morto nesse sentido… Era mais como quando uma criança deseja que alguém morra porque, na cabeça dela, morrer significa estar longe de suas vistas. Era assim que eu queria morto. O pensamento de que alguém por aí não só conhecia o meu segredo, como também tinha matado me deixou ainda mais insegura.
Eu estava feliz! As coisas finalmente estavam dando certo na minha vida! Eu tinha alguém que me amava (eu acho) e que sabia foder, eu tinha o controle da minha vida, não seria mais uma advogada casada com . Eu ia ser , namorada de (se o futuro fosse bom conosco) e professora de matemática de pirralhos insuportáveis e sociopatas que fariam tudo para serem os mais populares, porque era assim no ensino médio. Cobra comendo cobra. Era quase uma selva. E, naquela selva, um deles tinha feito uma caçada ao meu perseguidor. Alguém realmente acreditava que era um predador. E, eu tinha que admitir, podia ser qualquer um, não é?
Dei partida no carro quando, olhando na direção da calçada, vi o detetive Martin (mais conhecido como Armário) me olhando com atenção. Endireitei minha postura e dirigi na direção da casa de Constance. Eu precisava conversar com ela.
Fui recebida extremamente bem por um sorridente senhor Pérez, que me urgiu a entrar. Constance chegou não muito depois e pedi para que fôssemos conversar no quarto dela, o que ela aceitou de bom grado.
— Sua cara está péssima, chica. — Ela caçoou de mim e eu rolei os olhos, deixando minha bolsa em cima da cama dela e me sentando.
— Encontrei os detetives no centro da cidade. Foi horrível. Eles olham todo mundo como se nossa escola fosse um centro de treinamento de assassinos adolescentes! — Bufei e deixei meu tronco cair na cama. Ela se jogou logo ao meu lado.
— O que eles fizeram? Eles te fizeram perguntas? — Eu neguei com a cabeça. Ela tinha uma cama bem confortável.
— Eu não sei, é só que… Você sabe, assassinado? Ele era o tackle do time! Parece estranho que alguém tenha matado ele tão fácil, sabe?
Constance me avaliou longamente. Ela certamente não era burra. Talvez já tivesse imaginado o que eu realmente queria com aquela conversa.
— A não ser que tenha sido alguém em quem ele confie.
Esse era o problema com : ele confiava em . E , deus me livre, jamais seria capaz de matar uma mosca. Ele ficava paralisado se visse sangue! Acredite, eu fiz um apanhado mental sobre as pessoas próximas a que poderiam… Bem, matá-lo. E tinha riscado da lista.
— Ele não confiava em muita gente.
— Ele confiava em mim. — Constance usou um tom sombrio, que, coincidentemente, era o mesmo que eu usava sempre que falava sobre . Eu segurei a mão dela.
— Constance… Você acha que ele se matou?
Ela riu, mas não havia humor. Era uma risada amarga e nervosa.
— Com aquele ego? Nunca.
Eu me calei. Por mais que quisesse que as pessoas soubessem que havia um assassino à solta, eu não podia simplesmente revelar que ele tinha matado por mim. E eu tinha todos os motivos do mundo para querê-lo morto, não é? Eu poderia tê-lo matado com as minhas próprias mãos? Quem sabe? Dizem que é fácil matar. Eu não acredito nisso. Diga o que quiser de mim, eu fui cruel no ensino médio, mas nunca machuquei ninguém. Eu sou covarde e jamais teria coragem.
— Então alguém deve ter… — Não consegui completar. Constance me olhou e se apoiou nos cotovelos.
— Quem sabe? Talvez ele estivesse atormentando outra garota.
Assenti, embora tivesse certeza que não era isso. "Não precisa agradecer". Esse era o preço? Viver sempre com a sombra do remorso, a culpa balançando acima da minha cabeça como se fosse um machado que pode cair a qualquer momento? E o pior: eu nunca pedi nada a ninguém!
Quando saí da banheira, vi as mensagens de no meu celular. Ainda enrolada na toalha, desbloqueei a tela e as li.
diz:
Os detetives vieram aqui. Mencionaram que te viram na livraria.
Talvez eles desconfiem de alguma coisa entre nós dois.
Eles queriam meu álibi. Aparentemente, alguém viu quando nós discutimos no corredor.
Por minha causa, mais uma vez.
diz:
E o que disse a eles?
diz:
Meu álibi? A não ser que eles consigam fazer com que as paredes do meu apartamento falem, eu não tenho um.
diz:
Isso é estúpido. Por que você mataria ?
diz:
Pelo jeito como ele tratou você? Eu o teria matado, .
diz:
Não seja idiota. Você não mataria ninguém.
diz:
Mesmo assim, eu não tenho um álibi. E defendi você.
diz:
Acha que eles sabem de nós dois?
diz:
Talvez desconfiem.
É melhor nos afastarmos por enquanto.
Eu reli a última mensagem dele e franzi o cenho. Era, é claro, o mais lógico a se fazer. Se dois detetives acham que você conspirou para matar alguém para transar com uma aluna, eu não o ajudaria aparecendo no apartamento dele toda hora.
Não respondi depois disso. O que havia para se falar? Nós devíamos nos afastar. E, talvez, nós não devêssemos nem mesmo ter nos aproximado. Tudo parecia conspirar contra nosso relacionamento.
Nova mensagem recebida.
diz:
Você está bem? Eu ouvi falar sobre o que fez com você.
Aparentemente, agora todo mundo sabia. Eu olhei a mensagem de com uma crescente vontade de jogar o celular contra a parede. Meus olhos se encheram de lágrimas com a humilhação. As histórias nos tabloides falavam de mim como o objeto de desejo de , mas jamais conseguiram descobrir algo que afirmasse que realmente nos relacionávamos.
Embora, para ser bem sincera, nosso “relacionamento” fosse algo tão pervertido e doentio que era melhor que ninguém soubesse sobre isso. Eu apostava que a ilustre família também não fosse gostar que a realidade, o herdeiro dos Bancos como um perseguidor sociopata e psicótico, fosse revelada.
diz:
O que você ouviu?
diz:
Sobre ter forçado a barra com você. É verdade?
diz:
Quem tem espalhado essas coisas?
diz:
Eu só sei que algum nerd disse aos detetives que viu você, o professor de matemática e em uma discussão das feias.
Um nerd. Se o carma existe, isso certamente é um castigo por eu ter zoado com eles por tanto tempo (mesmo, secretamente, sendo uma nerd).
diz:
E então? É verdade?
Saí do aplicativo de mensagens e me olhei no espelho. Meu celular se chocou contra ele. Ao contrário dos filmes, ele não se quebrou em milhares de pedaços, mas rachou o vidro.
Respirei fundo, passando a mão pelos meus cabelos molhados enquanto tentava me acalmar. Todos eles saberiam em breve. Todo mundo. , a vítima. E eu seria vítima também de seus olhares questionadores, de sua pena insuportável, de seus cochichos sobre mim nos banheiros.
Eu me vesti com um pijama de seda azul, ainda pensando no que fazer. Por quanto tempo atrasaria a minha vida? Mesmo depois de morto, ele não me dava paz.
Meu celular começou a tocar e eu o peguei. Era . Certamente queria saber se eu estava bem ou qualquer coisa do tipo. Era uma pena que não tivesse dado certo com . Ele se preocupava comigo. Ignorei a chamada e me enfiei na cama, sem a mínima vontade de ir jantar.
Em vez disso, abri meu notebook e pesquisei um pouco mais sobre o campus da minha nova faculdade. Era perto da cidade, a meia hora de distância daqui, e eu poderia continuar morando com a minha família, se quisesse. Certamente seria mais fácil.
Ignorei todas as ligações de , sem paciência para sua preocupação. Era irritante. Tudo estava me irritando. Quebrar o espelho tinha sido pouco. Havia tanta raiva dentro de mim que eu poderia entrar em ebulição. Tudo estava dando errado! Tudo! Com , com a escola e com o filho da puta do morto tudo conseguiu piorar!
E, quando fui dormir e fui ajeitar o meu alarme, para me permitir alguns minutos a mais de sono, eu vi.
5 ligações perdidas de .
Nova mensagem com foto de Número Privado.
Meus dedos desbloquearam a tela, mas estavam gelados e fracos. Uma foto. Eu não podia imaginar o que era e, por alguns segundos, apenas me perguntei se deveria abrir ou não. A curiosidade me venceu. Eu abri a mensagem.
Soltei um grito e o celular foi ao chão. A imagem era a de em sua cama, com a parede azul de seu quarto manchada de vermelho. Eu não podia ver o rosto dele, mas sabia quem era. Seus cabelos, metade de sua cabeça destruída. Minha mãe abriu a porta, me olhando preocupada, e eu chutei o celular para baixo da cama discretamente.
— ? Aconteceu alguma coisa? — Minha mãe olhou meu quarto inteiro, como se o bicho papão fosse saltar em cima dela ou algo assim. Eu neguei com a cabeça.
— Eu achei que tinha visto um rato. — Minha voz tremia. A desculpa do rato também não tinha sido muito boa.
— Um rato? Aqui? — Ela estava incrédula e quem poderia culpá-la?
Mesmo assim, eu anuí, tentando parecer o mais convincente possível. Considerando a mentira idiota e deslavada, fiz o possível para convencê-la de que achei ter visto alguma coisa. Por fim, ela foi embora, talvez achando que eu estou louca, o que realmente não importa. Recuperei meu celular e abri novamente a mensagem, dessa vez tentando me controlar.
Mesmo que a foto não fosse extremamente mórbida, havia algo de terrível no posicionamento da cabeça de , o modo com ela tinha caído na cama, a arma em sua mão esquerda, a grande mancha de sangue vermelho na parede.
Naquela noite, eu tranquei a porta e todas as janelas e, ainda assim, não consegui dormir.
Capítulo 16
Três semanas e três dias para o baile.
Ah, ótimo, parabéns pelo seu segundo perseguidor em menos de um mês, . Você se livrou de um estuprador em potencial para ganhar um assassino. As coisas estão realmente evoluindo por aqui. Talvez na semana que vem um ditador genocida resolva se apaixonar por mim, para ficar ainda mais legal.
Vamos contar nos dedos, tudo bem? Uma vida planejada pelos seus pais e destruída pelo seu egoísmo, check. Um namoro de livro adolescente meloso terminado porque você é uma vaca adúltera, check. Um stalker agressivo e mentalmente desequilibrado, check. O assassinato do seu perseguidor, check; ser afastada do seu novo namorado porque os detetives acham que ele matou alguém por sua causa? Check, também.
Cara, eu sou tão fodida. E, sim, eu sei, me afundar em autopiedade não vai melhorar nada. Mas eu sou muito fodida.
Para piorar tudo, eu ainda tinha recebido aquela foto. Sabe, eu realmente achei que tudo daria certo com a morte de . Ninguém me odiava, eu não odiava ninguém, tudo estava se encaixando perfeitamente… E então a vida me deu um soco na cara e riu de mim.
Tudo bem. Eu sou durona. Eu posso aguentar isso. Afinal, eu já tenho alguma experiência com perseguidores desequilibrados. Saquei meu celular e comecei a correr os dedos pela tela, digitando rapidamente. Com o luto da escola por , meus dias corriam de uma maneira muito mais vagarosa agora que eu não podia transar com meu querido professor de matemática.
diz:
Bela foto. O que você quer?
Sabe todos aqueles suspenses adolescentes onde não importa o que aconteça, as pessoas nunca procuram a polícia para denunciar alguma coisa? Por exemplo, Pretty Little Liars. Quer dizer, olá, se -A me perturbasse tanto assim, eu já teria ido à polícia há bastante tempo.
E, agora, com essa foto em mãos, eu tenho medo de ir à polícia. O problema não é a foto. O problema sou eu. A minha vida. Já não basta estar envolvida nisso até o pescoço, se eu mostrar a foto eu estou praticamente admitindo comunicação com o assassino. E, assim, logo eles descobririam a mensagem que eu recebi de manhã. Ah, eu já comentei que eles podem prender meu professor? Quer dizer, qual o problema da polícia? Eles acham que um professor de matemática faria isso? Não faria sentido que ele matasse para me proteger e criasse um joguinho psicológico para acabar com as minhas estruturas emocionais.
Isso não faz sentido fora de um seriado adolescente, mas acontece que eu ainda tenho medo de procurar a polícia porque os detetives já odeiam . E eu estou transando com ele. E eu era a perseguida. Eles podem me acusar de cúmplice, eu sei lá. Não sei se muitas escolas contratariam uma professora com esse tipo de passado. Por mais que eu ame Orange Is The New Black, eu simplesmente não me sinto à vontade para vestir aquele macacão. Então, quando meu novo perseguidor me responde, eu leio a mensagem várias e várias vezes, pensando no que fazer em seguida. E, como sempre, eu tomo a decisão errada.
Perseguidor #2 diz:
Impedir você de fazer algo realmente estúpido, .
Hm, bem, a minha maior estupidez, até agora, foi procurar contato com o perseguidor. Só isso. Você sabe, nada de realmente perigoso e que possa resultar em tragédia. Isso sempre dá certo nos filmes, não é mesmo!?
diz:
Algo estúpido? O que, exatamente?
Me fiz de sonsa a vida inteira, é algo quase natural que eu continue interpretando esse papel. Dessa vez, ele não respondeu e eu ouvi minha mãe me chamar. O estranho do momento foi que sua voz quebrou e ela pareceu uma gralha chamando meu nome do andar de baixo. E, é claro, quando saí do quarto com meu moletom florido da Adidas, eu entendi porque ela estava tão nervosa.
Eu imaginei o Pânico vindo me assassinar com uma faca, mas quem estava lá embaixo era o detetive Armário (eu realmente tenho que começar a chamá-lo de detetive Martin, antes que eu troque as bolas e acabe ofendendo o policial), que me aguardava no meio da sala de estar. Ele disse que queria fazer algumas perguntas básicas, mas, mesmo assim, minha mãe foi ao quarto ligar para o meu pai.
Nós nos sentamos no sofá e eu olhei para ele tentando aparentar inocência. Por exemplo, tentar não parecer não culpada por conversar com meu atual perseguidor.
— , eu quero fazer algumas perguntas sobre , se não se importa. — Neguei com a cabeça, recostando-me na minha ponta do sofá. — Muito bem. Em primeiro lugar, você me disse que te perseguia e até chegou a te agredir… Eu me lembro das marcas que me mostrou. Por que você acha que ele fazia isso?
Eu precisei piscar algumas vezes antes de responder. Esse cara estava falando sério?
— Bom, eu não sei, que motivos um perseguidor precisa para fazer qualquer coisa? — Minha defesa foi, como sempre, o sarcasmo, que se ergueu ao meu redor como se fosse um muro.
— Me desculpe, eu não quis dizer isso. Eu apenas me pergunto… Qual foi o gatilho dele.
— Gatilho? — Repeti, em dúvida.
— É o que chamamos o fato que leva alguém a surtar, como fez. — Ele me analisou enquanto eu pensava.
Gatilho me fazia pensar em como uma arma e isso era assustador. Eu pensei no quanto poderia revelar: sexo com , paixão pelo professor, ciúmes doentios... Todos os ingredientes de um drama criminal, talvez?
— Eu soube que ele e o professor se estranharam por sua causa. — Martin acrescentou como quem não queria nada, logo quando eu me preparava para responder. Claro, ele já sabia a resposta. Ele apenas queria ouvir da minha boca.
— ficou com ciúmes. Como eu e outros alunos assistimos o professor, costumamos ficar até depois do horário da escola para corrigir provas e trabalhos. Eu fiquei um pouco além do horário da sessão para falar sobre alguns exercícios avançados que eu estava tentando fazer, você sabe, por causa dos SATs.
— Matemática avançada? — Ele pareceu impressionado.
— Eu sou boa em matemática. — Fiz um gesto displicente, como se desmerecesse o assunto. — De qualquer forma, ele ficou com ciúmes. Devia achar que eu era propriedade dele… E me agrediu daquela forma. Por sorte o senhor ouviu e veio me ajudar. — Eu parei, recordar aquilo não era bom. — Sabe, o senhor não quis… Ele é professor de matemática e o era o tackle do time. Você entende? E ele quis apenas me ajudar, porque eu estava chorando e nervosa e tudo o mais.
Tudo bem, eu posso ter acabado de estragar tudo tentando defender . Eu sou uma grande idiota. Mas o detetive não pareceu notar meu conflito interno e apenas anuiu.
— Esse não é o problema, … Cá pra nós, eu faria a mesma coisa se visse uma moça ser atacada. — Então há outro problema?
Eu sou tão, tão fodida!
— Eu não entendo, detetive Martin. — Por pouco não o chamei de Armário. Bem pouco.
Ele suspirou. Levantou-se e esticou as pernas um pouco. Eu mantive a pose, parecendo ligeiramente confusa para que ele não percebesse minha intenção de arrancar informações dele.
— … Pode ser colocado na cena do crime, nós temos provas. — Ele disse enquanto olhava nos meus olhos.
E então meu mundo desabou. , na cena do crime? Ele ficou em casa! E, mesmo que ele tivesse ido até a casa de por qualquer motivo, ele teria me contado!
Ou talvez ele me conte tanto quanto eu o contei sobre o meu novo perseguidor: nada.
— Eu ainda não entendo… Por que o senhor mataria ? Não faz sentido.
E então o detetive me olhou longamente. Me olhou até demais, a ponto de fazer com que um calafrio descesse a minha nuca.
— Tem certeza que não sabe o motivo, ? Aluna apaixonada pelo professor, um professor atraído por uma garota bonita e um cara que está "perseguindo" essa garota... Vamos lá, eu não sou idiota. — Foi a minha vez de avaliá-lo longamente.
Eu odeio esse cara. Eu odeio de verdade esse cara. Me lembrei do perseguidor, me dizendo que eu não deveria fazer nada estúpido. Podia aquilo ser uma ameaça?
— O que você acha que eu fiz, detetive Martin? Acha que seduzi um homem adulto e o manipulei para que ele matasse um desafeto meu? — Meu tom frio fez com que ele sorrisse. Era isso. Eu estava cansada de brincar de ser boazinha. — Como eu sou uma ninfeta perigosa! Por favor, me algeme!
Levei meus punhos, colados um ao outro, à frente, oferecendo-os ao detetive, que abanou a cabeça.
— Você estava transando com pelas costas do seu namorado, eu não me surpreenderia. — Maldita fosse . Eu ia dar uma surra nela por isso!
— Não, eu não estava. Eu usei para suprir uma necessidade. E foi só uma vez. Nós não tínhamos um caso.
Meu pai chegou em casa e logo saiu do hall para a sala. Ele sinalizou para que eu ficasse quieta, mas não fiquei. Havia muita raiva dentro de mim. E eu queria despejá-la em algum lugar. Não me importei que meus pais pudessem ouvir meus segredinhos sujos, eu já não me importava mais.
— é um bom rapaz. Filho do pastor, família rica, namorado perfeito. Mas, nesse departamento, ele era uma péssima escolha. Você já foi um adolescente, detetive Martin, entende o que eu estou dizendo. Alguns caras simplesmente vão precisar de mais treino no futuro. — Eu dei de ombros. — me queria. E eu queria alguém que fosse me satisfazer.
— , cale a boca! — Meu pai gritou, sua voz de trovão ecoando pela sala.
— Eu aproveitei que estava bêbada e cheia de coragem. Mandei uma mensagem, ele veio, nós transamos, eu o mandei embora. Fim de papo. Não houve um caso, não houve sentimentos. Eu nem ao menos sabia que ele era apaixonado por mim. Claro, eu sabia que ele sentia tesão pela namorada do melhor amigo, mas… — Ri sem humor. — Amor? Aquela coisa doentia que ele sentia não era amor e em momento algum eu o fiz acreditar que era.
Minha mãe estava em choque. Parecia ter sido congelada no lugar, porque apenas mexia os olhos para alternar seu olhar entre meu pai, o detetive e eu.
— Chega, . — Meu pai me puxou pelo braço, mas eu me desviei de suas mãos e me virei para o detetive, que parecia calmo e ainda estava em silêncio.
— E, quer saber, detetive? Eu não pedi a ninguém que o matasse. A única forma que poderia ter matado seria se ele o entediasse até a morte falando sobre, eu não sei, logaritmos? Ele é um nerd qualquer, entediante, chato. Eu poderia usar alguém melhor, se realmente fosse o meu plano pedir a alguém para matar por mim. Afinal de contas, detetive… Eu já transei com quase todo mundo do time de futebol americano.
Não faça nada idiota. Bem, eu juro que tentei.
— Deus bem sabe que eu o queria morto. — Eu ri, amarga com a piada que fiz a mim mesma. Deus! Rá! — Com tudo o que ele me fez, eu gostaria mesmo de vê-lo morto. Mas eu, detetive, sou tão covarde… Eu nem ao menos conseguia enfrentá-lo cara a cara. Mandar alguém para matá-lo? Acredite, isso não é do meu feitio.
— É bom vê-la como é de verdade, . — Ele sorriu. Eu também.
— Pergunte a qualquer vítima que conheça. Todas elas querem ver seu agressor morto. Isso é uma resposta natural. Quem quer que tenha matado terá minha gratidão, porque assim não preciso mais me esgueirar pelos cantos, temendo que ele volte para tentar me estuprar, como ele já fez uma vez!
Finalmente, eu deixei que toda a raiva escapasse de mim feito vapor. Meu pai me carregou de modo forçoso para fora da sala e minha mãe ainda parecia congelada no lugar. Eu olhei por cima do ombro e vi o detetive saindo. Eu tinha uma última coisa a dizer.
— Procure Constance Pérez. Ela vai lhe dizer exatamente o que fazia com ela.
Diante da cara do detetive, eu percebi que dei a ele alguma pista importante, porque o estúpido provavelmente não sabia que Constance, assim como eu, namorava e transava com . Que ela, assim como eu, era vítima de seu comportamento abominável.
O sermão de mais de uma hora que recebi do meu pai não foi nada comparado ao que eu sentia por dentro. Tudo aquilo havia sido um teatro e, ao mesmo tempo, as coisas que eu realmente sentia transpareceram, também, para que tudo ficasse mais crível. Com sorte, as suspeitas em cima de seriam esquecidas. Eu me arrependia por ter jogado Constance embaixo do ônibus, mas tinha sido necessário. Além do mais, ela também sabia de coisas que poderiam vir a solucionar o mistério.
Mistério esse, aliás, que deixo nas mãos da polícia. Não vou tentar dar uma de Scooby Doo. Não é assim que eu funciono. Não. Meu acerto de contas seria com . E se ela algum dia achou que ia pisar em mim a vida inteira e se manter intacta, a rainha de todos nós, ela estava muito enganada. Ela ia sentir um gosto do que é capaz de fazer, ainda mais quando preciso me proteger.
Eu poderia bater nela. Sou bem maior do que ela e, com a minha raiva, ela ficaria cheia de marcas roxas antes mesmo que pudesse gritar “socorro”. Isso, no entanto, era simples demais. Eu esperaria. E foderia com a vida dela, assim como ela tinha fodido com a minha apenas por não conseguir ter o que ela queria.
Ah, ótimo, parabéns pelo seu segundo perseguidor em menos de um mês, . Você se livrou de um estuprador em potencial para ganhar um assassino. As coisas estão realmente evoluindo por aqui. Talvez na semana que vem um ditador genocida resolva se apaixonar por mim, para ficar ainda mais legal.
Vamos contar nos dedos, tudo bem? Uma vida planejada pelos seus pais e destruída pelo seu egoísmo, check. Um namoro de livro adolescente meloso terminado porque você é uma vaca adúltera, check. Um stalker agressivo e mentalmente desequilibrado, check. O assassinato do seu perseguidor, check; ser afastada do seu novo namorado porque os detetives acham que ele matou alguém por sua causa? Check, também.
Cara, eu sou tão fodida. E, sim, eu sei, me afundar em autopiedade não vai melhorar nada. Mas eu sou muito fodida.
Para piorar tudo, eu ainda tinha recebido aquela foto. Sabe, eu realmente achei que tudo daria certo com a morte de . Ninguém me odiava, eu não odiava ninguém, tudo estava se encaixando perfeitamente… E então a vida me deu um soco na cara e riu de mim.
Tudo bem. Eu sou durona. Eu posso aguentar isso. Afinal, eu já tenho alguma experiência com perseguidores desequilibrados. Saquei meu celular e comecei a correr os dedos pela tela, digitando rapidamente. Com o luto da escola por , meus dias corriam de uma maneira muito mais vagarosa agora que eu não podia transar com meu querido professor de matemática.
diz:
Bela foto. O que você quer?
Sabe todos aqueles suspenses adolescentes onde não importa o que aconteça, as pessoas nunca procuram a polícia para denunciar alguma coisa? Por exemplo, Pretty Little Liars. Quer dizer, olá, se -A me perturbasse tanto assim, eu já teria ido à polícia há bastante tempo.
E, agora, com essa foto em mãos, eu tenho medo de ir à polícia. O problema não é a foto. O problema sou eu. A minha vida. Já não basta estar envolvida nisso até o pescoço, se eu mostrar a foto eu estou praticamente admitindo comunicação com o assassino. E, assim, logo eles descobririam a mensagem que eu recebi de manhã. Ah, eu já comentei que eles podem prender meu professor? Quer dizer, qual o problema da polícia? Eles acham que um professor de matemática faria isso? Não faria sentido que ele matasse para me proteger e criasse um joguinho psicológico para acabar com as minhas estruturas emocionais.
Isso não faz sentido fora de um seriado adolescente, mas acontece que eu ainda tenho medo de procurar a polícia porque os detetives já odeiam . E eu estou transando com ele. E eu era a perseguida. Eles podem me acusar de cúmplice, eu sei lá. Não sei se muitas escolas contratariam uma professora com esse tipo de passado. Por mais que eu ame Orange Is The New Black, eu simplesmente não me sinto à vontade para vestir aquele macacão. Então, quando meu novo perseguidor me responde, eu leio a mensagem várias e várias vezes, pensando no que fazer em seguida. E, como sempre, eu tomo a decisão errada.
Perseguidor #2 diz:
Impedir você de fazer algo realmente estúpido, .
Hm, bem, a minha maior estupidez, até agora, foi procurar contato com o perseguidor. Só isso. Você sabe, nada de realmente perigoso e que possa resultar em tragédia. Isso sempre dá certo nos filmes, não é mesmo!?
diz:
Algo estúpido? O que, exatamente?
Me fiz de sonsa a vida inteira, é algo quase natural que eu continue interpretando esse papel. Dessa vez, ele não respondeu e eu ouvi minha mãe me chamar. O estranho do momento foi que sua voz quebrou e ela pareceu uma gralha chamando meu nome do andar de baixo. E, é claro, quando saí do quarto com meu moletom florido da Adidas, eu entendi porque ela estava tão nervosa.
Eu imaginei o Pânico vindo me assassinar com uma faca, mas quem estava lá embaixo era o detetive Armário (eu realmente tenho que começar a chamá-lo de detetive Martin, antes que eu troque as bolas e acabe ofendendo o policial), que me aguardava no meio da sala de estar. Ele disse que queria fazer algumas perguntas básicas, mas, mesmo assim, minha mãe foi ao quarto ligar para o meu pai.
Nós nos sentamos no sofá e eu olhei para ele tentando aparentar inocência. Por exemplo, tentar não parecer não culpada por conversar com meu atual perseguidor.
— , eu quero fazer algumas perguntas sobre , se não se importa. — Neguei com a cabeça, recostando-me na minha ponta do sofá. — Muito bem. Em primeiro lugar, você me disse que te perseguia e até chegou a te agredir… Eu me lembro das marcas que me mostrou. Por que você acha que ele fazia isso?
Eu precisei piscar algumas vezes antes de responder. Esse cara estava falando sério?
— Bom, eu não sei, que motivos um perseguidor precisa para fazer qualquer coisa? — Minha defesa foi, como sempre, o sarcasmo, que se ergueu ao meu redor como se fosse um muro.
— Me desculpe, eu não quis dizer isso. Eu apenas me pergunto… Qual foi o gatilho dele.
— Gatilho? — Repeti, em dúvida.
— É o que chamamos o fato que leva alguém a surtar, como fez. — Ele me analisou enquanto eu pensava.
Gatilho me fazia pensar em como uma arma e isso era assustador. Eu pensei no quanto poderia revelar: sexo com , paixão pelo professor, ciúmes doentios... Todos os ingredientes de um drama criminal, talvez?
— Eu soube que ele e o professor se estranharam por sua causa. — Martin acrescentou como quem não queria nada, logo quando eu me preparava para responder. Claro, ele já sabia a resposta. Ele apenas queria ouvir da minha boca.
— ficou com ciúmes. Como eu e outros alunos assistimos o professor, costumamos ficar até depois do horário da escola para corrigir provas e trabalhos. Eu fiquei um pouco além do horário da sessão para falar sobre alguns exercícios avançados que eu estava tentando fazer, você sabe, por causa dos SATs.
— Matemática avançada? — Ele pareceu impressionado.
— Eu sou boa em matemática. — Fiz um gesto displicente, como se desmerecesse o assunto. — De qualquer forma, ele ficou com ciúmes. Devia achar que eu era propriedade dele… E me agrediu daquela forma. Por sorte o senhor ouviu e veio me ajudar. — Eu parei, recordar aquilo não era bom. — Sabe, o senhor não quis… Ele é professor de matemática e o era o tackle do time. Você entende? E ele quis apenas me ajudar, porque eu estava chorando e nervosa e tudo o mais.
Tudo bem, eu posso ter acabado de estragar tudo tentando defender . Eu sou uma grande idiota. Mas o detetive não pareceu notar meu conflito interno e apenas anuiu.
— Esse não é o problema, … Cá pra nós, eu faria a mesma coisa se visse uma moça ser atacada. — Então há outro problema?
Eu sou tão, tão fodida!
— Eu não entendo, detetive Martin. — Por pouco não o chamei de Armário. Bem pouco.
Ele suspirou. Levantou-se e esticou as pernas um pouco. Eu mantive a pose, parecendo ligeiramente confusa para que ele não percebesse minha intenção de arrancar informações dele.
— … Pode ser colocado na cena do crime, nós temos provas. — Ele disse enquanto olhava nos meus olhos.
E então meu mundo desabou. , na cena do crime? Ele ficou em casa! E, mesmo que ele tivesse ido até a casa de por qualquer motivo, ele teria me contado!
Ou talvez ele me conte tanto quanto eu o contei sobre o meu novo perseguidor: nada.
— Eu ainda não entendo… Por que o senhor mataria ? Não faz sentido.
E então o detetive me olhou longamente. Me olhou até demais, a ponto de fazer com que um calafrio descesse a minha nuca.
— Tem certeza que não sabe o motivo, ? Aluna apaixonada pelo professor, um professor atraído por uma garota bonita e um cara que está "perseguindo" essa garota... Vamos lá, eu não sou idiota. — Foi a minha vez de avaliá-lo longamente.
Eu odeio esse cara. Eu odeio de verdade esse cara. Me lembrei do perseguidor, me dizendo que eu não deveria fazer nada estúpido. Podia aquilo ser uma ameaça?
— O que você acha que eu fiz, detetive Martin? Acha que seduzi um homem adulto e o manipulei para que ele matasse um desafeto meu? — Meu tom frio fez com que ele sorrisse. Era isso. Eu estava cansada de brincar de ser boazinha. — Como eu sou uma ninfeta perigosa! Por favor, me algeme!
Levei meus punhos, colados um ao outro, à frente, oferecendo-os ao detetive, que abanou a cabeça.
— Você estava transando com pelas costas do seu namorado, eu não me surpreenderia. — Maldita fosse . Eu ia dar uma surra nela por isso!
— Não, eu não estava. Eu usei para suprir uma necessidade. E foi só uma vez. Nós não tínhamos um caso.
Meu pai chegou em casa e logo saiu do hall para a sala. Ele sinalizou para que eu ficasse quieta, mas não fiquei. Havia muita raiva dentro de mim. E eu queria despejá-la em algum lugar. Não me importei que meus pais pudessem ouvir meus segredinhos sujos, eu já não me importava mais.
— é um bom rapaz. Filho do pastor, família rica, namorado perfeito. Mas, nesse departamento, ele era uma péssima escolha. Você já foi um adolescente, detetive Martin, entende o que eu estou dizendo. Alguns caras simplesmente vão precisar de mais treino no futuro. — Eu dei de ombros. — me queria. E eu queria alguém que fosse me satisfazer.
— , cale a boca! — Meu pai gritou, sua voz de trovão ecoando pela sala.
— Eu aproveitei que estava bêbada e cheia de coragem. Mandei uma mensagem, ele veio, nós transamos, eu o mandei embora. Fim de papo. Não houve um caso, não houve sentimentos. Eu nem ao menos sabia que ele era apaixonado por mim. Claro, eu sabia que ele sentia tesão pela namorada do melhor amigo, mas… — Ri sem humor. — Amor? Aquela coisa doentia que ele sentia não era amor e em momento algum eu o fiz acreditar que era.
Minha mãe estava em choque. Parecia ter sido congelada no lugar, porque apenas mexia os olhos para alternar seu olhar entre meu pai, o detetive e eu.
— Chega, . — Meu pai me puxou pelo braço, mas eu me desviei de suas mãos e me virei para o detetive, que parecia calmo e ainda estava em silêncio.
— E, quer saber, detetive? Eu não pedi a ninguém que o matasse. A única forma que poderia ter matado seria se ele o entediasse até a morte falando sobre, eu não sei, logaritmos? Ele é um nerd qualquer, entediante, chato. Eu poderia usar alguém melhor, se realmente fosse o meu plano pedir a alguém para matar por mim. Afinal de contas, detetive… Eu já transei com quase todo mundo do time de futebol americano.
Não faça nada idiota. Bem, eu juro que tentei.
— Deus bem sabe que eu o queria morto. — Eu ri, amarga com a piada que fiz a mim mesma. Deus! Rá! — Com tudo o que ele me fez, eu gostaria mesmo de vê-lo morto. Mas eu, detetive, sou tão covarde… Eu nem ao menos conseguia enfrentá-lo cara a cara. Mandar alguém para matá-lo? Acredite, isso não é do meu feitio.
— É bom vê-la como é de verdade, . — Ele sorriu. Eu também.
— Pergunte a qualquer vítima que conheça. Todas elas querem ver seu agressor morto. Isso é uma resposta natural. Quem quer que tenha matado terá minha gratidão, porque assim não preciso mais me esgueirar pelos cantos, temendo que ele volte para tentar me estuprar, como ele já fez uma vez!
Finalmente, eu deixei que toda a raiva escapasse de mim feito vapor. Meu pai me carregou de modo forçoso para fora da sala e minha mãe ainda parecia congelada no lugar. Eu olhei por cima do ombro e vi o detetive saindo. Eu tinha uma última coisa a dizer.
— Procure Constance Pérez. Ela vai lhe dizer exatamente o que fazia com ela.
Diante da cara do detetive, eu percebi que dei a ele alguma pista importante, porque o estúpido provavelmente não sabia que Constance, assim como eu, namorava e transava com . Que ela, assim como eu, era vítima de seu comportamento abominável.
O sermão de mais de uma hora que recebi do meu pai não foi nada comparado ao que eu sentia por dentro. Tudo aquilo havia sido um teatro e, ao mesmo tempo, as coisas que eu realmente sentia transpareceram, também, para que tudo ficasse mais crível. Com sorte, as suspeitas em cima de seriam esquecidas. Eu me arrependia por ter jogado Constance embaixo do ônibus, mas tinha sido necessário. Além do mais, ela também sabia de coisas que poderiam vir a solucionar o mistério.
Mistério esse, aliás, que deixo nas mãos da polícia. Não vou tentar dar uma de Scooby Doo. Não é assim que eu funciono. Não. Meu acerto de contas seria com . E se ela algum dia achou que ia pisar em mim a vida inteira e se manter intacta, a rainha de todos nós, ela estava muito enganada. Ela ia sentir um gosto do que é capaz de fazer, ainda mais quando preciso me proteger.
Eu poderia bater nela. Sou bem maior do que ela e, com a minha raiva, ela ficaria cheia de marcas roxas antes mesmo que pudesse gritar “socorro”. Isso, no entanto, era simples demais. Eu esperaria. E foderia com a vida dela, assim como ela tinha fodido com a minha apenas por não conseguir ter o que ela queria.
Capítulo 17
Três semanas e dois dias para o baile.
Aparentemente, os policiais me amam. Essa é a única razão para que eles me vejam com tanta frequência. Agora, eu estou na delegacia, sentada na sala de espera com um copo de café – que provavelmente está frio agora – enquanto observo os ponteiros girarem no relógio. Eu estou esperando há duas horas.
Para a defesa dos detetives, eu não era a única ali. Já vi dois caras do time de futebol irem embora, Freeman e Davenport, e eles acenaram de forma amigável para mim, quando me viram. Pus meu melhor sorriso de Miss Simpatia e retribuí o aceno. Meu pai, ao meu lado, parecia mal-humorado. Talvez ele pensasse em quantos daqueles jogadores que acenaram para mim já tinham comido a filha dele.
Bem, é a ordem natural das coisas. Tenho certeza que meu pai já aprontou bastante coisa na época dele de escola. Embora eu duvide que a época dele tenha sido tão cheia de merda quanto a minha. Não adianta reclamar agora, eu mesma tinha cavado aquele buraco para mim. Só espero que não tenham envolvido nesse ridículo joguinho. Ele não merecia isso.
A última pessoa que vi cruzar o corredor, que dava para ver da sala de espera, foi Constance. Ela me lançou um olhar que eu não consegui ler, mas não parecia muito nervosa comigo. Bela amiga que eu sou, não? Mas eles deviam saber. Eles deviam saber que eu não fui a primeira. E se tivesse feito isso com todas as garotas com quem ele ficou? E se ele fosse algum daqueles loucos? A polícia deveria saber. Eles tinham que saber que nada daquilo foi culpa minha.
Foi a vez de chamarem meu nome e meu pai prontamente se posicionou atrás de mim, um policial abriu a porta para que passássemos e eu vi os dois detetives que me interrogaram na escola, sentados, parecendo bem relaxados. Eu entrei, parecendo bem mais composta do que da última vez que o Detetive Armário (Martin) foi até a minha casa. É claro, eu estava curiosa para saber o que eles queriam comigo. Não parecia que eu estava prestes a ser presa… E eu realmente não queria ir para a cadeia por algo que eu não fiz.
— É bom vê-la de novo, . — Cara de Flamingo, também conhecido como Detetive Arendt, foi o primeiro a me cumprimentar.
— Senhorita , por favor. — Eu pedi com um sorrisinho amigável estampado no rosto e a cara dele caiu. Rá, bem feito.
Detetive Martin, que provavelmente já estava mais à vontade com a minha personalidade debochada e sonsa, soltou um risinho.
— Senhorita , nós acabamos de falar com sua amiga, Constance. Uma jovem muito educada. — Cara de Flamingo continuou, aparentemente com o humor renovado. — E ela nos contou uma coisa curiosa.
Eu esperei, segura de mim. Meu pai, ao meu lado, também parecia tranquilo.
— Ela nos disse que nunca encostou um dedo nela.
A minha máscara de tranquilidade caiu naquele exato momento. Como Constance pôde negar aquilo? Ela chorou comigo. Ela me consolou. Ela me contou, detalhe por detalhe, tudo que tinha sofrido nas mãos dele. Não tinha sido metade do que ele fez comigo, mas ainda assim… Nada? Nada!? Por que ela mentiu?
— É claro que ela disse isso. — Eu resmunguei e olhei para o meu pai. Por ele, nós nem viríamos, mas eu garanti que estava tudo bem. Que eu poderia vir aqui e conversar um pouco. Antes eu tivesse ouvido meu pai…
Havia, é claro, a possibilidade de que os dois homens estivessem mentindo. Não seria nada novo, homens mentindo para mim.
— A questão aqui é, , por que você? — Martin falou, me olhando nos olhos.
— Por que eu? Acredite, eu me perguntei isso também. — Ri, amarga, da pergunta dele.
— As marcas que você me mostrou eram reais o suficiente…
— As marcas que eu te mostrei eram reais. — Respondi, subitamente irritada. Martin se inclinou na mesa.
— Pois eu acho que nunca tocou em você, como nunca tocou em Constance Pérez. — Seu tom de voz era tão sereno que eu fiquei irritada, ele parecia seguro de si.
— Detetive Martin, estamos aqui para colaborar com a polícia. Espero que saiba que podemos ir embora a qualquer momento. — A voz do meu pai soou como uma caução.
Por um momento, eu não tive certeza se ouvi direito. Fiquei olhando para o detetive sem reação, até que meu pai pegou na minha mão.
— Quer ir embora, ? — Eu neguei com a cabeça e meu pai pareceu irritado.
Não. Não! tocou em mim. me agrediu. E se o destino não estivesse do meu lado, teria me violado também. E eu tenho que ficar aqui, sentada, ouvindo isso como se nada tivesse acontecido? Não.
— Não, detetive, nunca tocou em você! — Minha raiva parecia querer transbordar. — Você nunca vai saber o que é, como foi o que aconteceu comigo! — Soquei a mesa com as duas mãos, me arrependendo quase instantaneamente quando a dor me atingiu. Mesmo assim, não massageei minhas mãos como queria, apenas olhei para eles. — Alguma vez você já olhou por trás do seu ombro, procurando alguma sombra mais suspeita? Já teve medo de ficar sozinho em casa, por que poderiam pegar você? Já foi ver se trancou todas as portas e janelas antes de dormir e mesmo assim não dormiu? Foi isso que ele fez comigo, além de toda a agressão. Ele me fez ter medo, detetive.
Minha voz foi ficando cada vez mais aguda, mais estridente, mais nervosa, até que eu me calei, deixando que ele absorvesse tudo aquilo. Era absurdo que ele pensasse que nada tinha acontecido comigo. Não tinha sido ele, na verdade, não é mesmo? Homens nunca tem que se preocupar com isso. Homens nunca precisam sentir medo de serem violados. Homens nunca precisam sequer pensar em nada disso, porque ele não são perseguidos por mulheres dessa forma.
— Você alguma vez contou sobre isso a alguém? Procurou alguém? — Ele parecia frio. Calculista.
— Não.
Eu tinha contado a alguém: . sabia. O problema era que eu não queria envolver em tudo isso. Eles já achavam que ele era suspeito, por que eu o faria parecer ainda mais?
— Mas o professor sabia.
Meu pai segurou a minha mão. Da maneira dele, ele estava me apoiando. Ou talvez só queria entender tudo aquilo. Quer dizer, para alguém que transou com metade do time de futebol, o que seria dormir com um professor também? Será que era a isso que eu estava reduzida?
— Ele ficou sabendo no dia… Ele viu quando e eu… — Nesse momento, alguém bateu à porta e foi a vez de Cara de Flamingo sair dali. O outro detetive não pareceu se incomodar. — Que estava… Dizendo todas aquelas loucuras.
— Que ele era apaixonado por você. — Eu anuí. — E você contou ao professor?
— Superficialmente, sim. O senhor me pediu para ir à polícia, mas eu não quis ir. — Isso o fez erguer as sobrancelhas.
— Por que não?
Apertei a mão do meu pai. Ele passou um braço ao redor dos meus ombros, eu estava prestes a chorar de novo. E eu odiava isso. Não queria mostrar àquele homem como ele estava me atingindo quando duvidava de mim.
— Sério, Martin? A garota tinha acabado de ser atacada! — Meu pai atalhou, mas eu gesticulei para que ele não falasse mais.
— Mais um motivo para procurar a polícia. — Ele disse sem emoção.
— Eu não estava… Na minha melhor condição. Eu fiquei apática por horas. Foi só no dia seguinte que eu resolvi que iria à polícia depois da escola. E então vocês apareceram e eu soube de .
Claro, escondi a parte onde meu professor de matemática me levou para a casa dele e me consolou por horas, além de me preparar um chá.
— Sabe o que eu não entendo, ? — Olhei para ele, seus olhinhos escuros, sua grande cara quadrada. Eu queria bater nele, descontar no detetive toda a frustração da minha vida. — Por que você não disse a ninguém sobre o que aconteceu?
Eu mordi o lábio, me impedindo de abrir um grande sorriso triste e sarcástico.
— E para quem eu devia contar? Para a minha melhor amiga, que era apaixonada por ele? Para o meu namorado, que era o melhor amigo dele? Para os meus professores? Para os meus pais? Para a porra de um pastor? — Eu ri, sem conseguir mais me segurar, mas senti lágrimas quentes percorrendo as minhas bochechas. — É claro, por que eu não contei? Acha que eu sou alguma vaca mentirosa!? Eu tive vergonha. E eu me sentia culpada, sabe por que? Porque eu transei com ele, mesmo que ele só tenha ficado em psycho mode depois disso. Eu não sabia que ele era um perseguidor maldito, eu só queria me divertir!
Parei para respirar. Além de tudo isso, eu tinha vergonha do que eu fiz. O detetive me deu alguns segundos.
— sabia sobre você e ? — Como ele podia ficar tão calmo e eu tão descomposta?
— Ah, sim, eu contei a ela algumas semanas depois. Eu estava cansada de esconder isso. — Limpei uma lágrima da minha bochecha e cruzei os braços. Chorona, mas durona.
— Você é inteligente, . — Armário recomeçou, parecendo tão cético quanto antes. — Pense comigo: não faz sentido ter feito tudo isso.
Não fazia sentido para ele? Também não fazia sentido para mim, mas, mesmo assim, aconteceu. Mesmo ele podendo ter a garota que ele quisesse, ele me quis. A garota que não o queria. A garota que não se importava com ele.
— Detetive, acho que está se esquecendo quem foi a vítima do garoto, de quem é o verdadeiro psicopata aqui. — Meu pai rebateu, sua voz soando como um trovão. Ele parecia tão irritado quanto eu.
— E foi o garoto que acabou morto. — Ele não se amedrontou e continuou. — O que você fez a ele, ?
— O que eu fiz? — Eu ri, não de um jeito sarcástico, mas de um jeito quase maníaco. — O que eu fiz! Essa é boa! O que eu fiz!? — Meu pai me segurou pelos ombros, porque quase avancei no detetive. Minha voz quebrou e, por um momento, eu apenas olhei para o policial. Em seguida, eu inspirei uma grande lufada de ar, para que minha voz não tremesse tanto. — O que eu fiz foi chorar! Eu pedi para ele parar! Cada momento, cada vez que ele tocava em mim, eu pedia a ele para ir embora! Ele me bateu e me perseguiu, e você me pergunta o que eu fiz a ele! — Meus gritos ecoavam em meus ouvidos, era como ouvir uma louca gritando: um som visceral, primitivo, que se desprendia da minha garganta e queimava meus olhos com as lágrimas que escorriam, ininterruptas, pelo meu rosto.
— , se acalme! — Meu pai sussurrou, me segurando com força, porque eu ainda me debatia.
— Não! Eu não vou aceitar que me tratem assim! — O policial me olhou como se contemplasse um espetáculo de teatro. Eu via seu desprezo por mim. Eu conseguia sentir na minha pele, como se agulhas me pinicassem. Eu era uma atriz precoce e sociopata aos seus olhos. E a culpa disso era apenas minha.
— O que o fez surtar, ? — Ele continuou, impassível.
— Eu não sei! — Gritei para ele. Meu pai me puxou contra seu corpo, se levantando comigo e me escorando nele.
— Por que ele decidiu ir atrás de você!?
Ele gritou e eu tremi, mas gritei de volta:
— Eu não sei!
— Já chega, Martin! Ela é uma garota! — Meu pai me levou até a porta em seus braços.
— Por que, ? Vamos lá, por que você matou o garoto? — Continuei ouvindo a voz dele mesmo após deixar a sala.
Eu não tinha mais forças. Me chame de fracote, vá em frente e faça chacota de mim. Eu não tinha mais forças para negar. Eu não tinha mais forças para ouvi-lo. A realidade ficou confusa. Eu não ouvia quase nada. Eu não conseguia reagir propriamente. Porque, no fundo da minha mente racional e objetiva, eu sabia que algo estava faltando na equação. Eu sabia que havia algo ainda para ser revelado, mas isso era o meu limite. Depois disso, minha mente ficou tão catatônica quanto meu corpo.
Meu pai me levou de volta para casa. Minha mãe me preparou uma sopa quente e disse que “eles não deveriam pressioná-la assim”. Também que ela “não deveria ter deixado ir até a delegacia”. Eu entendia a proteção que eles queriam me conceder. E, ao mesmo tempo em que eu me sentia alquebrada, eu também sentia que eu podia enfrentar tudo aquilo. Porque, se eu passasse por tudo aquilo, então eu finalmente deixaria essa parte do meu passado para trás. Os abusos de , a infelicidade, meus anos vivendo como nada mais que o reflexo das vontades dos meus pais, a vida dupla que eu levava por não poder me mostrar de verdade… Tudo aquilo seria deixado de lado, a dor, a agonia, tudo aquilo… Para trás. No passado. Em direção a uma nova vida.
Eu queria comigo. Ele era meu porto seguro. Ele me relembrava de quem eu era, a que enfrentaria tudo e todos. , desde sempre, quis que eu buscasse a minha verdadeira personalidade e eu sou grata a ele, mas não posso depender da presença dele para me sentir inteira.
Havia dois pensamentos conflitantes em mim, a dualidade poderia me rasgar no meio com a intensidade que eu o queria e não o queria junto de mim. Sendo assim, eu fui dormir logo depois do jantar, exausta, sem mensagens de meu segundo perseguidor, sem ter falado com e, principalmente, sem sonhar.
Aparentemente, os policiais me amam. Essa é a única razão para que eles me vejam com tanta frequência. Agora, eu estou na delegacia, sentada na sala de espera com um copo de café – que provavelmente está frio agora – enquanto observo os ponteiros girarem no relógio. Eu estou esperando há duas horas.
Para a defesa dos detetives, eu não era a única ali. Já vi dois caras do time de futebol irem embora, Freeman e Davenport, e eles acenaram de forma amigável para mim, quando me viram. Pus meu melhor sorriso de Miss Simpatia e retribuí o aceno. Meu pai, ao meu lado, parecia mal-humorado. Talvez ele pensasse em quantos daqueles jogadores que acenaram para mim já tinham comido a filha dele.
Bem, é a ordem natural das coisas. Tenho certeza que meu pai já aprontou bastante coisa na época dele de escola. Embora eu duvide que a época dele tenha sido tão cheia de merda quanto a minha. Não adianta reclamar agora, eu mesma tinha cavado aquele buraco para mim. Só espero que não tenham envolvido nesse ridículo joguinho. Ele não merecia isso.
A última pessoa que vi cruzar o corredor, que dava para ver da sala de espera, foi Constance. Ela me lançou um olhar que eu não consegui ler, mas não parecia muito nervosa comigo. Bela amiga que eu sou, não? Mas eles deviam saber. Eles deviam saber que eu não fui a primeira. E se tivesse feito isso com todas as garotas com quem ele ficou? E se ele fosse algum daqueles loucos? A polícia deveria saber. Eles tinham que saber que nada daquilo foi culpa minha.
Foi a vez de chamarem meu nome e meu pai prontamente se posicionou atrás de mim, um policial abriu a porta para que passássemos e eu vi os dois detetives que me interrogaram na escola, sentados, parecendo bem relaxados. Eu entrei, parecendo bem mais composta do que da última vez que o Detetive Armário (Martin) foi até a minha casa. É claro, eu estava curiosa para saber o que eles queriam comigo. Não parecia que eu estava prestes a ser presa… E eu realmente não queria ir para a cadeia por algo que eu não fiz.
— É bom vê-la de novo, . — Cara de Flamingo, também conhecido como Detetive Arendt, foi o primeiro a me cumprimentar.
— Senhorita , por favor. — Eu pedi com um sorrisinho amigável estampado no rosto e a cara dele caiu. Rá, bem feito.
Detetive Martin, que provavelmente já estava mais à vontade com a minha personalidade debochada e sonsa, soltou um risinho.
— Senhorita , nós acabamos de falar com sua amiga, Constance. Uma jovem muito educada. — Cara de Flamingo continuou, aparentemente com o humor renovado. — E ela nos contou uma coisa curiosa.
Eu esperei, segura de mim. Meu pai, ao meu lado, também parecia tranquilo.
— Ela nos disse que nunca encostou um dedo nela.
A minha máscara de tranquilidade caiu naquele exato momento. Como Constance pôde negar aquilo? Ela chorou comigo. Ela me consolou. Ela me contou, detalhe por detalhe, tudo que tinha sofrido nas mãos dele. Não tinha sido metade do que ele fez comigo, mas ainda assim… Nada? Nada!? Por que ela mentiu?
— É claro que ela disse isso. — Eu resmunguei e olhei para o meu pai. Por ele, nós nem viríamos, mas eu garanti que estava tudo bem. Que eu poderia vir aqui e conversar um pouco. Antes eu tivesse ouvido meu pai…
Havia, é claro, a possibilidade de que os dois homens estivessem mentindo. Não seria nada novo, homens mentindo para mim.
— A questão aqui é, , por que você? — Martin falou, me olhando nos olhos.
— Por que eu? Acredite, eu me perguntei isso também. — Ri, amarga, da pergunta dele.
— As marcas que você me mostrou eram reais o suficiente…
— As marcas que eu te mostrei eram reais. — Respondi, subitamente irritada. Martin se inclinou na mesa.
— Pois eu acho que nunca tocou em você, como nunca tocou em Constance Pérez. — Seu tom de voz era tão sereno que eu fiquei irritada, ele parecia seguro de si.
— Detetive Martin, estamos aqui para colaborar com a polícia. Espero que saiba que podemos ir embora a qualquer momento. — A voz do meu pai soou como uma caução.
Por um momento, eu não tive certeza se ouvi direito. Fiquei olhando para o detetive sem reação, até que meu pai pegou na minha mão.
— Quer ir embora, ? — Eu neguei com a cabeça e meu pai pareceu irritado.
Não. Não! tocou em mim. me agrediu. E se o destino não estivesse do meu lado, teria me violado também. E eu tenho que ficar aqui, sentada, ouvindo isso como se nada tivesse acontecido? Não.
— Não, detetive, nunca tocou em você! — Minha raiva parecia querer transbordar. — Você nunca vai saber o que é, como foi o que aconteceu comigo! — Soquei a mesa com as duas mãos, me arrependendo quase instantaneamente quando a dor me atingiu. Mesmo assim, não massageei minhas mãos como queria, apenas olhei para eles. — Alguma vez você já olhou por trás do seu ombro, procurando alguma sombra mais suspeita? Já teve medo de ficar sozinho em casa, por que poderiam pegar você? Já foi ver se trancou todas as portas e janelas antes de dormir e mesmo assim não dormiu? Foi isso que ele fez comigo, além de toda a agressão. Ele me fez ter medo, detetive.
Minha voz foi ficando cada vez mais aguda, mais estridente, mais nervosa, até que eu me calei, deixando que ele absorvesse tudo aquilo. Era absurdo que ele pensasse que nada tinha acontecido comigo. Não tinha sido ele, na verdade, não é mesmo? Homens nunca tem que se preocupar com isso. Homens nunca precisam sentir medo de serem violados. Homens nunca precisam sequer pensar em nada disso, porque ele não são perseguidos por mulheres dessa forma.
— Você alguma vez contou sobre isso a alguém? Procurou alguém? — Ele parecia frio. Calculista.
— Não.
Eu tinha contado a alguém: . sabia. O problema era que eu não queria envolver em tudo isso. Eles já achavam que ele era suspeito, por que eu o faria parecer ainda mais?
— Mas o professor sabia.
Meu pai segurou a minha mão. Da maneira dele, ele estava me apoiando. Ou talvez só queria entender tudo aquilo. Quer dizer, para alguém que transou com metade do time de futebol, o que seria dormir com um professor também? Será que era a isso que eu estava reduzida?
— Ele ficou sabendo no dia… Ele viu quando e eu… — Nesse momento, alguém bateu à porta e foi a vez de Cara de Flamingo sair dali. O outro detetive não pareceu se incomodar. — Que estava… Dizendo todas aquelas loucuras.
— Que ele era apaixonado por você. — Eu anuí. — E você contou ao professor?
— Superficialmente, sim. O senhor me pediu para ir à polícia, mas eu não quis ir. — Isso o fez erguer as sobrancelhas.
— Por que não?
Apertei a mão do meu pai. Ele passou um braço ao redor dos meus ombros, eu estava prestes a chorar de novo. E eu odiava isso. Não queria mostrar àquele homem como ele estava me atingindo quando duvidava de mim.
— Sério, Martin? A garota tinha acabado de ser atacada! — Meu pai atalhou, mas eu gesticulei para que ele não falasse mais.
— Mais um motivo para procurar a polícia. — Ele disse sem emoção.
— Eu não estava… Na minha melhor condição. Eu fiquei apática por horas. Foi só no dia seguinte que eu resolvi que iria à polícia depois da escola. E então vocês apareceram e eu soube de .
Claro, escondi a parte onde meu professor de matemática me levou para a casa dele e me consolou por horas, além de me preparar um chá.
— Sabe o que eu não entendo, ? — Olhei para ele, seus olhinhos escuros, sua grande cara quadrada. Eu queria bater nele, descontar no detetive toda a frustração da minha vida. — Por que você não disse a ninguém sobre o que aconteceu?
Eu mordi o lábio, me impedindo de abrir um grande sorriso triste e sarcástico.
— E para quem eu devia contar? Para a minha melhor amiga, que era apaixonada por ele? Para o meu namorado, que era o melhor amigo dele? Para os meus professores? Para os meus pais? Para a porra de um pastor? — Eu ri, sem conseguir mais me segurar, mas senti lágrimas quentes percorrendo as minhas bochechas. — É claro, por que eu não contei? Acha que eu sou alguma vaca mentirosa!? Eu tive vergonha. E eu me sentia culpada, sabe por que? Porque eu transei com ele, mesmo que ele só tenha ficado em psycho mode depois disso. Eu não sabia que ele era um perseguidor maldito, eu só queria me divertir!
Parei para respirar. Além de tudo isso, eu tinha vergonha do que eu fiz. O detetive me deu alguns segundos.
— sabia sobre você e ? — Como ele podia ficar tão calmo e eu tão descomposta?
— Ah, sim, eu contei a ela algumas semanas depois. Eu estava cansada de esconder isso. — Limpei uma lágrima da minha bochecha e cruzei os braços. Chorona, mas durona.
— Você é inteligente, . — Armário recomeçou, parecendo tão cético quanto antes. — Pense comigo: não faz sentido ter feito tudo isso.
Não fazia sentido para ele? Também não fazia sentido para mim, mas, mesmo assim, aconteceu. Mesmo ele podendo ter a garota que ele quisesse, ele me quis. A garota que não o queria. A garota que não se importava com ele.
— Detetive, acho que está se esquecendo quem foi a vítima do garoto, de quem é o verdadeiro psicopata aqui. — Meu pai rebateu, sua voz soando como um trovão. Ele parecia tão irritado quanto eu.
— E foi o garoto que acabou morto. — Ele não se amedrontou e continuou. — O que você fez a ele, ?
— O que eu fiz? — Eu ri, não de um jeito sarcástico, mas de um jeito quase maníaco. — O que eu fiz! Essa é boa! O que eu fiz!? — Meu pai me segurou pelos ombros, porque quase avancei no detetive. Minha voz quebrou e, por um momento, eu apenas olhei para o policial. Em seguida, eu inspirei uma grande lufada de ar, para que minha voz não tremesse tanto. — O que eu fiz foi chorar! Eu pedi para ele parar! Cada momento, cada vez que ele tocava em mim, eu pedia a ele para ir embora! Ele me bateu e me perseguiu, e você me pergunta o que eu fiz a ele! — Meus gritos ecoavam em meus ouvidos, era como ouvir uma louca gritando: um som visceral, primitivo, que se desprendia da minha garganta e queimava meus olhos com as lágrimas que escorriam, ininterruptas, pelo meu rosto.
— , se acalme! — Meu pai sussurrou, me segurando com força, porque eu ainda me debatia.
— Não! Eu não vou aceitar que me tratem assim! — O policial me olhou como se contemplasse um espetáculo de teatro. Eu via seu desprezo por mim. Eu conseguia sentir na minha pele, como se agulhas me pinicassem. Eu era uma atriz precoce e sociopata aos seus olhos. E a culpa disso era apenas minha.
— O que o fez surtar, ? — Ele continuou, impassível.
— Eu não sei! — Gritei para ele. Meu pai me puxou contra seu corpo, se levantando comigo e me escorando nele.
— Por que ele decidiu ir atrás de você!?
Ele gritou e eu tremi, mas gritei de volta:
— Eu não sei!
— Já chega, Martin! Ela é uma garota! — Meu pai me levou até a porta em seus braços.
— Por que, ? Vamos lá, por que você matou o garoto? — Continuei ouvindo a voz dele mesmo após deixar a sala.
Eu não tinha mais forças. Me chame de fracote, vá em frente e faça chacota de mim. Eu não tinha mais forças para negar. Eu não tinha mais forças para ouvi-lo. A realidade ficou confusa. Eu não ouvia quase nada. Eu não conseguia reagir propriamente. Porque, no fundo da minha mente racional e objetiva, eu sabia que algo estava faltando na equação. Eu sabia que havia algo ainda para ser revelado, mas isso era o meu limite. Depois disso, minha mente ficou tão catatônica quanto meu corpo.
Meu pai me levou de volta para casa. Minha mãe me preparou uma sopa quente e disse que “eles não deveriam pressioná-la assim”. Também que ela “não deveria ter deixado ir até a delegacia”. Eu entendia a proteção que eles queriam me conceder. E, ao mesmo tempo em que eu me sentia alquebrada, eu também sentia que eu podia enfrentar tudo aquilo. Porque, se eu passasse por tudo aquilo, então eu finalmente deixaria essa parte do meu passado para trás. Os abusos de , a infelicidade, meus anos vivendo como nada mais que o reflexo das vontades dos meus pais, a vida dupla que eu levava por não poder me mostrar de verdade… Tudo aquilo seria deixado de lado, a dor, a agonia, tudo aquilo… Para trás. No passado. Em direção a uma nova vida.
Eu queria comigo. Ele era meu porto seguro. Ele me relembrava de quem eu era, a que enfrentaria tudo e todos. , desde sempre, quis que eu buscasse a minha verdadeira personalidade e eu sou grata a ele, mas não posso depender da presença dele para me sentir inteira.
Havia dois pensamentos conflitantes em mim, a dualidade poderia me rasgar no meio com a intensidade que eu o queria e não o queria junto de mim. Sendo assim, eu fui dormir logo depois do jantar, exausta, sem mensagens de meu segundo perseguidor, sem ter falado com e, principalmente, sem sonhar.
Capítulo 18
Três semanas para o baile.
Pouco a pouco, posso sentir que minha sanidade está se esvaindo. Talvez eu esteja sendo dramática, mas há muita coisa que eu não consigo entender. Por que Constance mentiu? E por que me jogou embaixo do ônibus? Por que me escolheu?
Já passava do meio dia e a minha vontade de levantar da cama era uma curva negativa. Mesmo depois de morrer, a memória de ainda conseguia destruir a minha vida. Por mais que eu percebesse que algo estava faltando em todo o caso do assassinato de , eu simplesmente não podia pensar nisso. Pensar nisso doía e era o que fazia a minha sanidade desvanecer no ar, como uma bolha de sabão. Eu precisava pensar em outra coisa e precisava sair da minha cama, mas tudo era custoso demais e eu podia apenas ficar deitada, olhando para o teto, ignorando as vibrações do meu celular em cima do criado mudo.
Era hora do almoço e eu pensava: será que vou ser presa agora? Quando vão me acusar oficialmente de ser a assassina de ? Ele riria agora da ironia? Ele me perseguiu, mas, mesmo assim, eu seria presa por um crime que não cometi.
Meu pai tentava me chamar para algum programa entre pai e filha e eu pensava: quando vão acusar ? Será que ele vai cair comigo? Será que ainda vai me amar, mesmo se eu for presa?
Meu futuro brilhante se esmigalhou na minha frente assim como a xícara de porcelana que eu tinha em mãos.
— ! Cuidado! — Minha mãe me lançou um olhar preocupado e se abaixou para pegar os cacos de porcelana no chão, enquanto eu olhava para baixo distraidamente.
O que seria dos meus pais? A vergonha que eu causaria a eles, ao nosso sobrenome, como eles lidariam com ela? O que seria deles? Eles já eram velhos. Morreriam de desgosto? Por quantas mortes eu seria responsável?
Quando os detetives me trataram como uma mentirosa, eu me arrependi pela minha vida de mentiras. E quando eles desacreditaram da minha história sobre , eu me arrependi por não ter procurado a polícia mais cedo. Eu faria tudo de novo, se me fosse possível, mas o que estava feito… Não podia mais ser desfeito. Eles culpabilizavam a vítima e eu estava caindo nisso.
Eu queria proteger todos eles, os meus amigos, a minha família, o homem que tinha meu amor… E, ao mesmo tempo, eu queria me afastar deles para que não sofressem com a minha queda iminente. Parecia muito óbvio para mim que os policiais logo iriam me prender, fosse por um suborno da influente família ou porque eu era uma atriz pervertida e sociopata aos olhos da polícia, tão depravada quanto uma vilã de um filme ou um romance quando, na verdade, eu me sentia tão assustada quanto uma criança.
Nos meus dezoito anos de vida, sempre me considerei muito madura para a minha idade. Na verdade, eu sempre fui madura para a minha idade. Era meu orgulho ser mais séria, não ser tão boba quanto as outras crianças da minha idade. Minhas professoras diziam que era porque eu cresci cercada de adultos. De fato, meu contato com crianças da minha faixa etária sempre tinha sido restrito aos meus primos e à escola, onde eu não me misturava com tanta facilidade. Meus verões na casa da minha tia, então, eram os momentos que eu tinha para ser criança. Fora disso, eu era a pequena adulta, , sempre com muitas palavras difíceis e a habilidade de fazer contas complicadas em poucos segundos.
Agora, no entanto, eu me sinto como uma criança assustada. Como se todos esses anos suprimindo minha infância estivessem vindo à tona… Eu queria sentar e chorar por horas a fio e apenas por eles, aqueles que eu amo, eu não me permiti sucumbir. Mesmo assim, mesmo sabendo disso, era uma grande tentação me esconder e chorar. Não, repeti para mim mesma. Não deixe que eles a vejam chorar. E eu repetia isso para mim como um mantra. Como se isso fosse me salvar.
Meus pais se despediram de mim, no meu quarto, indo até lá me desejar boa noite antes de irem dormir, o que só reforçou o meu retorno à infância, pelo menos na minha mente. Eles se preocupavam. E eu os amava tanto…
Peguei meu celular, meus dedos tremiam um pouco. Será que meu perseguidor tinha me mandado novas mensagens? Mas, felizmente, não havia nada. Nada além de mensagens de . Nenhum dos meus amigos tentou falar comigo, nem mesmo … Ele estava chateado comigo, então? Eu não podia ser quem ele queria. Ele estava melhor sem mim.
Li as mensagens de , uma a uma, sorrindo um pouco, porque meu coração se tornava menos apertado quando eu recebia algo dele. E, no meio da minha tarefa de ler tudo aquilo, uma nova mensagem apareceu.
Nova mensagem recebida.
diz:
Olhe pela sua janela.
O selo da mensagem era de agora e, com as sobrancelhas juntas, eu me levantei e abri a janela. E lá estava ele, parecendo, como sempre, que tinha acabado de acordar. não sorriu, ele parecia preocupado. Comigo, eu acho.
— O que você está fazendo aqui? — Eu sussurrei pela janela, ainda incerta sobre como deveria me sentir sobre aparecendo debaixo da minha janela no meio da noite.
— Você não me respondeu! — Ele sussurrou de volta, olhando ao redor e, em um surto de romantismo, procurava um jeito de subir até o meu quarto.
— Não faça isso… — Balancei a cabeça em negação quando ele começou a subir pelas vinhas do lado da casa… E ri, pela primeira vez em dias, quando ele caiu de costas no chão no meio do surto de Romeu.
Na ponta dos pés, desci as escadas e abri a porta da frente, permitindo que ele entrasse. olhou o hall e então me encarou. Ele ainda parecia meio desajeitado por causa do tombo, mas não demonstrou nenhuma dor, pelo menos na minha frente. Sua mão acariciou o meu rosto com delicadeza. Eu apenas conseguia suportar o toque dele por isso: ele era gentil e me tocava com carinho.
— É bom ver que você está bem. — Seus lábios se comprimiram contra a minha testa e eu pude sentir seu suspiro de alívio levantar alguns fios do meu cabelo quando ele me abraçou.
— Eu tirei um tempo para mim. — Embora pudesse parecer uma piada para ele, meu tom foi sério o suficiente para que ele me olhasse de modo duvidoso.
— E o que isso significa?
O que isso significava? era um homem mais velho que eu, mesmo que por poucos anos. Ele tinha vinte e seis anos segundo o site da escola, era ainda jovem e havia muita coisa que poderia viver. E também tinha vivido mais, tido mais experiências que eu. Eu queria depender dele, me escorar nele, ao mesmo tempo que meu senso de independência me dizia que eu não podia deixar minha sanidade nas mãos de ninguém que não fosse eu mesma, mesmo que fosse alguém que eu amasse.
Fiz um gesto silencioso para que ele me seguisse e o guiei até o meu quarto, trancando a porta depois que ele entrou. Eu não podia correr o risco de ter meus pais descobrindo meu professor de matemática no meu quarto, àquela hora da noite. se sentou na minha cama e eu me sentei ao lado dele. Eu queria contar a ele sobre tudo, até mesmo sobre a tentativa de estupro, mas não fiz isso. Meu corpo se retesou apenas de lembrar do fato e eu não queria reviver aquilo, por isso afastei o pensamento.
— , olhe para mim. — Ele me pediu, seu tom de voz soando doce e preocupado. E eu o olhei. — O que aconteceu com você?
— Eles… Eles me trataram como uma assassina. — Eu disse. — Como se eu tivesse coagido você a matar … — se remexeu e eu me calei. Ele se afastou de mim, massageando os olhos de modo desconfortável. Eu o conhecia bem o bastante para saber que havia algo ali. — Eles disseram que podiam colocar você na cena do crime, que eles tem provas disso. — Silêncio foi tudo o que recebi dele. — , me diga que isso é mentira.
Mas não disse nada. Ele me encarou e seus lábios continuavam fechados.
— Eu sei que você não o matou. — Sussurrei, mais porque estava tão cansada de tudo do que por tentar ser sensível.
— Eu fui até lá. — me segredou. — Eu pedi a ele que te deixasse em paz. Eu fui conversar com ele, , mas eu juro que ele estava vivo quando eu saí de lá.
— O que… O que aconteceu? — Minha voz falhou, eu não acreditava que … Então ele tinha procurado ? E ele sabia de tudo… Era possível?
— Ele disse que eu não deveria me meter, que ia procurar a diretoria e dizer que nós tínhamos um caso. Ele me ameaçou e eu fui embora, não queria perder o controle por você. — Ele aninhou meu rosto em suas mãos grandes e quentes. — Por você, eu não acertei um soco na cara dele.
— Por mim e por ele ser o tackle do time, não? — Debochei, tentando aliviar a tensão, mas minha tentativa não obteve frutos.
Meus olhos escanearam o rosto dele, procurando traços de mentira, procurando algo que fosse contradizê-lo, mas não achei nada. Nada nele me levava a crer que ele me contava qualquer coisa que não fosse a verdade e meu coração escolheu acreditar nele.
— Eu acredito em você. — Afirmei, pousando um beijo em seus lábios.
— Então por que você se afastou? Sei que eu disse que era melhor que a gente não se visse mais… Mas isso não significava que eu não queria mais ter contato com você.
Eu sorri, mas era mais um esgar amargo do que outra coisa.
— Eu não estou à sua disposição, sabia? — Aquilo o fez hesitar.
— Eu não disse que estava, .
Levei mais alguns segundos para voltar a falar, tentando explicar perfeitamente o que aconteceu comigo e o que eu decidi.
— Eu não queria depender de você. Eu olho para você, , e eu me sinto completa e fora desse torpor horrível, mas eu não quero depender de você. Eu não quero esse tipo de relacionamento, que é mais parasitário do que amoroso, sabe? Eu… Você é ótimo, mas isso é problema meu. — Falar aquilo fazia meu peito ficar mais leve. — Eu quero poder achar força dentro de mim para enfrentar tudo, não quero depender de ninguém pra isso.
me observou por vários segundos. Seria tão mais fácil se eu pudesse me escorar nele e esquecer tudo aquilo. Se eu pudesse simplesmente esquecer e ele pudesse resolver para mim. Eu não era assim. Eu não delegava meus problemas.
— Não quero que dependa de mim. Eu não disse isso. Eu quero emprestar minha força para você. , olhe para mim. — Eu fiz como ele pedia. — Você não precisa depender de mim, mas você pode contar comigo. Eu estou aqui para apoiar você.
Eu não sei se me abraçou ou se eu me enfiei em seus braços, mas nossos corpos estavam juntos na minha cama. Apenas duas pessoas dividindo calor, sentimentos, amor. E eu me senti bem. Vivaz, não a sombra que eu tinha sido nos últimos dias.
— Eu nunca quis me aproximar de você. — Abri os olhos para observar , sem óculos, ainda de olhos fechados, falando comigo no quarto escuro. — Eu admirava você como minha aluna, sua inteligência, seu talento, o modo como você parecia perfeita… E eu não sou nada disso.
Eu não era perfeita. Eu nunca fui. Eu criei essa imagem e agora é tão difícil me desvencilhar dela, mesmo que ela não cole com a polícia. Eu sempre quis que achassem que eu era perfeita. achou. E eu não me sentia feliz com isso.
— Eu também não sou nada disso.
— Tem aspectos da minha vida que… Que não são como você imagina. E eu também não sabia que você… — Ele me olhou significativamente.
— Você não sabia que eu era apaixonada por você? — Se ele soubesse, seria jogado da janela. E eu não estava brincando.
— Não. Pensei que talvez fosse um caso de admiração e achei que podia usar isso ao seu favor, mas eu não tinha ideia de que você… Pelo menos até você me beijar. E então eu descobri que estava mais atraído por você do que eu ousava admitir.
— Por favor, nerd, aquele provavelmente foi o melhor beijo da sua vida!
riu. O som da risada dele me fez rir também.
— Talvez…
— Ah, beijando muitas bocas por aí, ?
Ele riu, mas logo seu corpo voltou a ficar quase imóvel. E me olhou nos olhos.
— Eu não tive ninguém em muito tempo. E eu nunca cogitei a ideia de que esse novo alguém pudesse ser uma aluna, . Não é ético e nem certo. Às vezes eu me pergunto se eu estou fazendo algo certo ficando com você. Você tinha todo esse futuro planejado e os outros professores falavam coisas maravilhosas sobre você… Eu não sei o que aconteceu entre a gente.
— O que aconteceu? Eu fui até o seu apartamento e tirei as minhas roupas.
Ele sorriu.
— Você sabe do que eu estou falando.
E eu sabia, muito bem. O que tinha de mim, essa imagem de perfeição, era exatamente o que eu almejei a vida inteira, mas me incomodava. Eu não queria mais ser perfeita.
— Parecia boa demais para ser verdade, não acha? — Ri amargamente. — Eu sou um caos. Eu não sou perfeita. — me puxou contra seu peito e eu me refastelei em seus braços, em seu cheiro, no batimento cardíaco dele que eu podia sentir na minha pele.
— Ninguém é perfeito, mas você parecia ser… Eu fiquei com medo de te corromper. — Nós ficamos em silêncio por alguns segundos. parecia ser a última pessoa que poderia me corromper. Era mais fácil o contrário acontecer. — Eu não quis dizer nada que fosse te magoar.
— Não, eu entendo porque sempre me dizem isso. Eu quis ser perfeita. O problema é que sou absolutamente bagunçada, quebrada e eu nem ao menos tinha vontade própria.
Não precisei dizer que abriu meus olhos, mas ambos sabíamos desse fato e, portanto, era desnecessário que eu relembrasse isso.
— Qualquer coisa boa demais para parecer verdade é apenas isso, uma ilusão. — Seu tom de voz era sombrio. parecia perfeito, era verdade, mas sua frase era reveladora. Eu sabia que ele devia ter seus próprios demônios, assim como eu tinha os meus.
Eu queria, também, ser um suporte para ele, assim como ele era para mim. Queria que, juntos, nós ultrapassássemos obstáculos e dificuldades, como um casal de verdade, um ao lado do outro.
E eu queria ter seu lado obscuro, porque é exatamente isso que nos sobra quando olhamos além da superfície. Ninguém é perfeito, nem mesmo , nem mesmo eu. Veja bem o meu caso: anos sendo a filha que meus pais sempre quiseram e a aluna exemplar, mas uma pessoa egoísta e mesquinha por baixo da camada de princesinha do papai. Quais eram os defeitos de ? Qual era o passado que ele desejava esquecer? O que houve com Sarah? Eu queria que ele me respondesse todas essas perguntas, mas, talvez por egoísmo ou fraqueza, eu não as fiz. Eu não era capaz de carregar meus próprios pecados, portanto não carregaria os dele. Ao menos não agora. Em breve, no entanto, eu seria corajosa o suficiente para curá-lo, como ele me ajudou.
Eu refleti sobre isso. Ficamos em silêncio por vários minutos.
— , está dormindo?
— …Não.
Elevei meu rosto e beijei seu maxilar, o que o fez abrir os olhos e baixá-los para o meu rosto.
— Eu amo você, . Isso aqui é certo, eu juro. Você não está me fazendo mal, ao contrário. — Eu queria que ele lembrasse disso. Subi meus lábios até os dele, mesmo no escuro eu conseguia enxergar os contornos de seu rosto, já que a janela ainda jazia aberta e a luz da lua, prateada e mágica, entrava por ela.
Toquei seu rosto e ele me abraçou, terno e carinhoso. Aquele não era um momento de sensualidade, como nas minhas fantasias, e nem do sexo selvagem que fizemos nas outras vezes. Era de intimidade e cumplicidade. O toque quente e gentil de em minha pele, seus beijos lentos que traçavam os contornos do meu rosto, seus olhos brilhantes grudados nos meus… Imagino que aquele tenha sido um recado, algo como o quanto eu posso contar com ele.
E isso, para mim, era melhor do que experimentar qualquer posição elaborada de um filme pornô. Era o contrário do que eu tive até então, não porque era mais velho ou tivesse mais técnica na “arte sexual”, mas porque, ao contrário de e , eu podia sentir o amor dele na minha pele. Eu podia sentir seu carinho em seus beijos. Eu podia sentir o quanto ele queria me proteger, enquanto eu, sem que ele soubesse, também o protegi dos detetives. Era algo recíproco, que não houve com os outros. Era amor. E, por ser amor, eu me sentia culpada por ter tanto que eu ainda não tinha dito a ele.
Queria que soubesse de tudo sobre mim, e, ao mesmo tempo, temia que ele me achasse uma pessoa ruim, má. Queria contar coisas pequenas, como o fato de que eu tinha inveja de , por exemplo. Ou por quanto tempo traí . Como empurrei uma garota, no jardim de infância, porque a Barbie dela tinha roupas mais bonitas que a minha. As minhas noites sem dormir pelos malfeitos de . As coisas que eu fiz para me encaixar, inclusive abandonando minha personalidade e engajando em atos que eu não concordava, como o bullying com Maggie. Eu queria que ele conhecesse cada rachadura na bela casca de garotinha do papai. E eu queria conhecer as dele, também. Só assim, imagino, nós poderemos nos amar sem obstáculos, sem idealizações, sem nada que possa nos separar posteriormente, mesmo que seja difícil falar de algumas dessas coisas.
apoiou seu corpo sobre o meu, tendo bastante cuidado. Eu pensei que depois de … Eu teria dificuldade de ser abraçada ou envolvida por qualquer outro homem. E então, me entreguei a sem nem pensar duas vezes, embora, em meu íntimo, estivesse com um forte propósito nesse sentido. Não era como se eu o temesse e ele relutou em me tocar na primeira vez que dormimos juntos. Naquela ocasião, tinha sido cuidadoso, romântico, explorou meu corpo com maestria e me fez ansiar por ar. E, agora, enquanto ele ainda me beija com cuidado, enquanto ele ainda me toca pacientemente, eu vejo o porquê: tinha o controle, mas, com , eu tenho o controle.
Na nossa primeira vez, ele tinha me perguntado, mais de uma vez, se eu queria continuar. E seus olhos sempre pareciam me pedir permissão. me deixou segura. E eu me sentia segura agora. Meu corpo estava relaxado, mas meus batimentos cardíacos dispararam. Pude sentir os dedos dele na minha cintura, erguendo meu corpo da cama ao mesmo tempo em que ele também se levantava. Rodeei seu pescoço com meus braços, procurando os lábios dele como se fossem água para uma sede inesgotável. Eu me sentei em seu colo, minhas pernas ladeando seu quadril, ele segurava a saia de minha camisola para cima, sua outra mão pousada na minha carne. apertava meu corpo contra o dele, como se nunca mais quisesse me deixar ir embora. Se ele era a minha água, eu era o seu ar. Saber disso aliviava meus medos e anseios, ao menos por ora. Eu não me lembrava de nem dos policiais. Eu nem ao menos me lembrava de sentimentos ruins, minha cabeça era tomada por uma sensação enevoada de prazer.
Nem ou eu tínhamos paciência para roupas àquela altura, por isso ele abaixou a calça e eu o encaixei entre as minhas pernas sem cerimônia, tendo apenas afastado a minha calcinha para o lado. Os momentos em que estávamos interligados eram sempre os melhores, mas aquela não era uma transa comum. Era crua, cheia de mensagens subliminares. E era urgente, necessitada ao mesmo tempo que era doce. Ele respirava o meu ar enquanto eu me apoiava em seus ombros para me mover. Nem sempre nos beijávamos, algumas vezes nossos lábios entreabertos apenas pairavam próximos, sem se tocar. Em outras, ele me devorava. Suas mãos ora emolduravam meu rosto, ora se apossavam dos meus seios. Fosse como fosse, não havia quase espaço entre nós dois.
Era gostoso e era íntimo. Era algo que reafirmava a minha certeza de que não tínhamos uma relação vazia, baseada em sexo. Ele se importava. Eu gozei primeiro, estimulada por ele, pelo cheiro dele, pela luz da lua que refletia em seus olhos. E ele veio logo depois, como se apenas estivesse se segurando por minha causa.
A falta do preservativo veio como uma razão para tomar um banho àquela hora e ele veio comigo, sem fazer barulho. Nós nos deitamos na cama e dormimos abraçados, mas, quando eu acordei, não estava mais lá.
Pouco a pouco, posso sentir que minha sanidade está se esvaindo. Talvez eu esteja sendo dramática, mas há muita coisa que eu não consigo entender. Por que Constance mentiu? E por que me jogou embaixo do ônibus? Por que me escolheu?
Já passava do meio dia e a minha vontade de levantar da cama era uma curva negativa. Mesmo depois de morrer, a memória de ainda conseguia destruir a minha vida. Por mais que eu percebesse que algo estava faltando em todo o caso do assassinato de , eu simplesmente não podia pensar nisso. Pensar nisso doía e era o que fazia a minha sanidade desvanecer no ar, como uma bolha de sabão. Eu precisava pensar em outra coisa e precisava sair da minha cama, mas tudo era custoso demais e eu podia apenas ficar deitada, olhando para o teto, ignorando as vibrações do meu celular em cima do criado mudo.
Era hora do almoço e eu pensava: será que vou ser presa agora? Quando vão me acusar oficialmente de ser a assassina de ? Ele riria agora da ironia? Ele me perseguiu, mas, mesmo assim, eu seria presa por um crime que não cometi.
Meu pai tentava me chamar para algum programa entre pai e filha e eu pensava: quando vão acusar ? Será que ele vai cair comigo? Será que ainda vai me amar, mesmo se eu for presa?
Meu futuro brilhante se esmigalhou na minha frente assim como a xícara de porcelana que eu tinha em mãos.
— ! Cuidado! — Minha mãe me lançou um olhar preocupado e se abaixou para pegar os cacos de porcelana no chão, enquanto eu olhava para baixo distraidamente.
O que seria dos meus pais? A vergonha que eu causaria a eles, ao nosso sobrenome, como eles lidariam com ela? O que seria deles? Eles já eram velhos. Morreriam de desgosto? Por quantas mortes eu seria responsável?
Quando os detetives me trataram como uma mentirosa, eu me arrependi pela minha vida de mentiras. E quando eles desacreditaram da minha história sobre , eu me arrependi por não ter procurado a polícia mais cedo. Eu faria tudo de novo, se me fosse possível, mas o que estava feito… Não podia mais ser desfeito. Eles culpabilizavam a vítima e eu estava caindo nisso.
Eu queria proteger todos eles, os meus amigos, a minha família, o homem que tinha meu amor… E, ao mesmo tempo, eu queria me afastar deles para que não sofressem com a minha queda iminente. Parecia muito óbvio para mim que os policiais logo iriam me prender, fosse por um suborno da influente família ou porque eu era uma atriz pervertida e sociopata aos olhos da polícia, tão depravada quanto uma vilã de um filme ou um romance quando, na verdade, eu me sentia tão assustada quanto uma criança.
Nos meus dezoito anos de vida, sempre me considerei muito madura para a minha idade. Na verdade, eu sempre fui madura para a minha idade. Era meu orgulho ser mais séria, não ser tão boba quanto as outras crianças da minha idade. Minhas professoras diziam que era porque eu cresci cercada de adultos. De fato, meu contato com crianças da minha faixa etária sempre tinha sido restrito aos meus primos e à escola, onde eu não me misturava com tanta facilidade. Meus verões na casa da minha tia, então, eram os momentos que eu tinha para ser criança. Fora disso, eu era a pequena adulta, , sempre com muitas palavras difíceis e a habilidade de fazer contas complicadas em poucos segundos.
Agora, no entanto, eu me sinto como uma criança assustada. Como se todos esses anos suprimindo minha infância estivessem vindo à tona… Eu queria sentar e chorar por horas a fio e apenas por eles, aqueles que eu amo, eu não me permiti sucumbir. Mesmo assim, mesmo sabendo disso, era uma grande tentação me esconder e chorar. Não, repeti para mim mesma. Não deixe que eles a vejam chorar. E eu repetia isso para mim como um mantra. Como se isso fosse me salvar.
Meus pais se despediram de mim, no meu quarto, indo até lá me desejar boa noite antes de irem dormir, o que só reforçou o meu retorno à infância, pelo menos na minha mente. Eles se preocupavam. E eu os amava tanto…
Peguei meu celular, meus dedos tremiam um pouco. Será que meu perseguidor tinha me mandado novas mensagens? Mas, felizmente, não havia nada. Nada além de mensagens de . Nenhum dos meus amigos tentou falar comigo, nem mesmo … Ele estava chateado comigo, então? Eu não podia ser quem ele queria. Ele estava melhor sem mim.
Li as mensagens de , uma a uma, sorrindo um pouco, porque meu coração se tornava menos apertado quando eu recebia algo dele. E, no meio da minha tarefa de ler tudo aquilo, uma nova mensagem apareceu.
Nova mensagem recebida.
diz:
Olhe pela sua janela.
O selo da mensagem era de agora e, com as sobrancelhas juntas, eu me levantei e abri a janela. E lá estava ele, parecendo, como sempre, que tinha acabado de acordar. não sorriu, ele parecia preocupado. Comigo, eu acho.
— O que você está fazendo aqui? — Eu sussurrei pela janela, ainda incerta sobre como deveria me sentir sobre aparecendo debaixo da minha janela no meio da noite.
— Você não me respondeu! — Ele sussurrou de volta, olhando ao redor e, em um surto de romantismo, procurava um jeito de subir até o meu quarto.
— Não faça isso… — Balancei a cabeça em negação quando ele começou a subir pelas vinhas do lado da casa… E ri, pela primeira vez em dias, quando ele caiu de costas no chão no meio do surto de Romeu.
Na ponta dos pés, desci as escadas e abri a porta da frente, permitindo que ele entrasse. olhou o hall e então me encarou. Ele ainda parecia meio desajeitado por causa do tombo, mas não demonstrou nenhuma dor, pelo menos na minha frente. Sua mão acariciou o meu rosto com delicadeza. Eu apenas conseguia suportar o toque dele por isso: ele era gentil e me tocava com carinho.
— É bom ver que você está bem. — Seus lábios se comprimiram contra a minha testa e eu pude sentir seu suspiro de alívio levantar alguns fios do meu cabelo quando ele me abraçou.
— Eu tirei um tempo para mim. — Embora pudesse parecer uma piada para ele, meu tom foi sério o suficiente para que ele me olhasse de modo duvidoso.
— E o que isso significa?
O que isso significava? era um homem mais velho que eu, mesmo que por poucos anos. Ele tinha vinte e seis anos segundo o site da escola, era ainda jovem e havia muita coisa que poderia viver. E também tinha vivido mais, tido mais experiências que eu. Eu queria depender dele, me escorar nele, ao mesmo tempo que meu senso de independência me dizia que eu não podia deixar minha sanidade nas mãos de ninguém que não fosse eu mesma, mesmo que fosse alguém que eu amasse.
Fiz um gesto silencioso para que ele me seguisse e o guiei até o meu quarto, trancando a porta depois que ele entrou. Eu não podia correr o risco de ter meus pais descobrindo meu professor de matemática no meu quarto, àquela hora da noite. se sentou na minha cama e eu me sentei ao lado dele. Eu queria contar a ele sobre tudo, até mesmo sobre a tentativa de estupro, mas não fiz isso. Meu corpo se retesou apenas de lembrar do fato e eu não queria reviver aquilo, por isso afastei o pensamento.
— , olhe para mim. — Ele me pediu, seu tom de voz soando doce e preocupado. E eu o olhei. — O que aconteceu com você?
— Eles… Eles me trataram como uma assassina. — Eu disse. — Como se eu tivesse coagido você a matar … — se remexeu e eu me calei. Ele se afastou de mim, massageando os olhos de modo desconfortável. Eu o conhecia bem o bastante para saber que havia algo ali. — Eles disseram que podiam colocar você na cena do crime, que eles tem provas disso. — Silêncio foi tudo o que recebi dele. — , me diga que isso é mentira.
Mas não disse nada. Ele me encarou e seus lábios continuavam fechados.
— Eu sei que você não o matou. — Sussurrei, mais porque estava tão cansada de tudo do que por tentar ser sensível.
— Eu fui até lá. — me segredou. — Eu pedi a ele que te deixasse em paz. Eu fui conversar com ele, , mas eu juro que ele estava vivo quando eu saí de lá.
— O que… O que aconteceu? — Minha voz falhou, eu não acreditava que … Então ele tinha procurado ? E ele sabia de tudo… Era possível?
— Ele disse que eu não deveria me meter, que ia procurar a diretoria e dizer que nós tínhamos um caso. Ele me ameaçou e eu fui embora, não queria perder o controle por você. — Ele aninhou meu rosto em suas mãos grandes e quentes. — Por você, eu não acertei um soco na cara dele.
— Por mim e por ele ser o tackle do time, não? — Debochei, tentando aliviar a tensão, mas minha tentativa não obteve frutos.
Meus olhos escanearam o rosto dele, procurando traços de mentira, procurando algo que fosse contradizê-lo, mas não achei nada. Nada nele me levava a crer que ele me contava qualquer coisa que não fosse a verdade e meu coração escolheu acreditar nele.
— Eu acredito em você. — Afirmei, pousando um beijo em seus lábios.
— Então por que você se afastou? Sei que eu disse que era melhor que a gente não se visse mais… Mas isso não significava que eu não queria mais ter contato com você.
Eu sorri, mas era mais um esgar amargo do que outra coisa.
— Eu não estou à sua disposição, sabia? — Aquilo o fez hesitar.
— Eu não disse que estava, .
Levei mais alguns segundos para voltar a falar, tentando explicar perfeitamente o que aconteceu comigo e o que eu decidi.
— Eu não queria depender de você. Eu olho para você, , e eu me sinto completa e fora desse torpor horrível, mas eu não quero depender de você. Eu não quero esse tipo de relacionamento, que é mais parasitário do que amoroso, sabe? Eu… Você é ótimo, mas isso é problema meu. — Falar aquilo fazia meu peito ficar mais leve. — Eu quero poder achar força dentro de mim para enfrentar tudo, não quero depender de ninguém pra isso.
me observou por vários segundos. Seria tão mais fácil se eu pudesse me escorar nele e esquecer tudo aquilo. Se eu pudesse simplesmente esquecer e ele pudesse resolver para mim. Eu não era assim. Eu não delegava meus problemas.
— Não quero que dependa de mim. Eu não disse isso. Eu quero emprestar minha força para você. , olhe para mim. — Eu fiz como ele pedia. — Você não precisa depender de mim, mas você pode contar comigo. Eu estou aqui para apoiar você.
Eu não sei se me abraçou ou se eu me enfiei em seus braços, mas nossos corpos estavam juntos na minha cama. Apenas duas pessoas dividindo calor, sentimentos, amor. E eu me senti bem. Vivaz, não a sombra que eu tinha sido nos últimos dias.
— Eu nunca quis me aproximar de você. — Abri os olhos para observar , sem óculos, ainda de olhos fechados, falando comigo no quarto escuro. — Eu admirava você como minha aluna, sua inteligência, seu talento, o modo como você parecia perfeita… E eu não sou nada disso.
Eu não era perfeita. Eu nunca fui. Eu criei essa imagem e agora é tão difícil me desvencilhar dela, mesmo que ela não cole com a polícia. Eu sempre quis que achassem que eu era perfeita. achou. E eu não me sentia feliz com isso.
— Eu também não sou nada disso.
— Tem aspectos da minha vida que… Que não são como você imagina. E eu também não sabia que você… — Ele me olhou significativamente.
— Você não sabia que eu era apaixonada por você? — Se ele soubesse, seria jogado da janela. E eu não estava brincando.
— Não. Pensei que talvez fosse um caso de admiração e achei que podia usar isso ao seu favor, mas eu não tinha ideia de que você… Pelo menos até você me beijar. E então eu descobri que estava mais atraído por você do que eu ousava admitir.
— Por favor, nerd, aquele provavelmente foi o melhor beijo da sua vida!
riu. O som da risada dele me fez rir também.
— Talvez…
— Ah, beijando muitas bocas por aí, ?
Ele riu, mas logo seu corpo voltou a ficar quase imóvel. E me olhou nos olhos.
— Eu não tive ninguém em muito tempo. E eu nunca cogitei a ideia de que esse novo alguém pudesse ser uma aluna, . Não é ético e nem certo. Às vezes eu me pergunto se eu estou fazendo algo certo ficando com você. Você tinha todo esse futuro planejado e os outros professores falavam coisas maravilhosas sobre você… Eu não sei o que aconteceu entre a gente.
— O que aconteceu? Eu fui até o seu apartamento e tirei as minhas roupas.
Ele sorriu.
— Você sabe do que eu estou falando.
E eu sabia, muito bem. O que tinha de mim, essa imagem de perfeição, era exatamente o que eu almejei a vida inteira, mas me incomodava. Eu não queria mais ser perfeita.
— Parecia boa demais para ser verdade, não acha? — Ri amargamente. — Eu sou um caos. Eu não sou perfeita. — me puxou contra seu peito e eu me refastelei em seus braços, em seu cheiro, no batimento cardíaco dele que eu podia sentir na minha pele.
— Ninguém é perfeito, mas você parecia ser… Eu fiquei com medo de te corromper. — Nós ficamos em silêncio por alguns segundos. parecia ser a última pessoa que poderia me corromper. Era mais fácil o contrário acontecer. — Eu não quis dizer nada que fosse te magoar.
— Não, eu entendo porque sempre me dizem isso. Eu quis ser perfeita. O problema é que sou absolutamente bagunçada, quebrada e eu nem ao menos tinha vontade própria.
Não precisei dizer que abriu meus olhos, mas ambos sabíamos desse fato e, portanto, era desnecessário que eu relembrasse isso.
— Qualquer coisa boa demais para parecer verdade é apenas isso, uma ilusão. — Seu tom de voz era sombrio. parecia perfeito, era verdade, mas sua frase era reveladora. Eu sabia que ele devia ter seus próprios demônios, assim como eu tinha os meus.
Eu queria, também, ser um suporte para ele, assim como ele era para mim. Queria que, juntos, nós ultrapassássemos obstáculos e dificuldades, como um casal de verdade, um ao lado do outro.
E eu queria ter seu lado obscuro, porque é exatamente isso que nos sobra quando olhamos além da superfície. Ninguém é perfeito, nem mesmo , nem mesmo eu. Veja bem o meu caso: anos sendo a filha que meus pais sempre quiseram e a aluna exemplar, mas uma pessoa egoísta e mesquinha por baixo da camada de princesinha do papai. Quais eram os defeitos de ? Qual era o passado que ele desejava esquecer? O que houve com Sarah? Eu queria que ele me respondesse todas essas perguntas, mas, talvez por egoísmo ou fraqueza, eu não as fiz. Eu não era capaz de carregar meus próprios pecados, portanto não carregaria os dele. Ao menos não agora. Em breve, no entanto, eu seria corajosa o suficiente para curá-lo, como ele me ajudou.
Eu refleti sobre isso. Ficamos em silêncio por vários minutos.
— , está dormindo?
— …Não.
Elevei meu rosto e beijei seu maxilar, o que o fez abrir os olhos e baixá-los para o meu rosto.
— Eu amo você, . Isso aqui é certo, eu juro. Você não está me fazendo mal, ao contrário. — Eu queria que ele lembrasse disso. Subi meus lábios até os dele, mesmo no escuro eu conseguia enxergar os contornos de seu rosto, já que a janela ainda jazia aberta e a luz da lua, prateada e mágica, entrava por ela.
Toquei seu rosto e ele me abraçou, terno e carinhoso. Aquele não era um momento de sensualidade, como nas minhas fantasias, e nem do sexo selvagem que fizemos nas outras vezes. Era de intimidade e cumplicidade. O toque quente e gentil de em minha pele, seus beijos lentos que traçavam os contornos do meu rosto, seus olhos brilhantes grudados nos meus… Imagino que aquele tenha sido um recado, algo como o quanto eu posso contar com ele.
E isso, para mim, era melhor do que experimentar qualquer posição elaborada de um filme pornô. Era o contrário do que eu tive até então, não porque era mais velho ou tivesse mais técnica na “arte sexual”, mas porque, ao contrário de e , eu podia sentir o amor dele na minha pele. Eu podia sentir seu carinho em seus beijos. Eu podia sentir o quanto ele queria me proteger, enquanto eu, sem que ele soubesse, também o protegi dos detetives. Era algo recíproco, que não houve com os outros. Era amor. E, por ser amor, eu me sentia culpada por ter tanto que eu ainda não tinha dito a ele.
Queria que soubesse de tudo sobre mim, e, ao mesmo tempo, temia que ele me achasse uma pessoa ruim, má. Queria contar coisas pequenas, como o fato de que eu tinha inveja de , por exemplo. Ou por quanto tempo traí . Como empurrei uma garota, no jardim de infância, porque a Barbie dela tinha roupas mais bonitas que a minha. As minhas noites sem dormir pelos malfeitos de . As coisas que eu fiz para me encaixar, inclusive abandonando minha personalidade e engajando em atos que eu não concordava, como o bullying com Maggie. Eu queria que ele conhecesse cada rachadura na bela casca de garotinha do papai. E eu queria conhecer as dele, também. Só assim, imagino, nós poderemos nos amar sem obstáculos, sem idealizações, sem nada que possa nos separar posteriormente, mesmo que seja difícil falar de algumas dessas coisas.
apoiou seu corpo sobre o meu, tendo bastante cuidado. Eu pensei que depois de … Eu teria dificuldade de ser abraçada ou envolvida por qualquer outro homem. E então, me entreguei a sem nem pensar duas vezes, embora, em meu íntimo, estivesse com um forte propósito nesse sentido. Não era como se eu o temesse e ele relutou em me tocar na primeira vez que dormimos juntos. Naquela ocasião, tinha sido cuidadoso, romântico, explorou meu corpo com maestria e me fez ansiar por ar. E, agora, enquanto ele ainda me beija com cuidado, enquanto ele ainda me toca pacientemente, eu vejo o porquê: tinha o controle, mas, com , eu tenho o controle.
Na nossa primeira vez, ele tinha me perguntado, mais de uma vez, se eu queria continuar. E seus olhos sempre pareciam me pedir permissão. me deixou segura. E eu me sentia segura agora. Meu corpo estava relaxado, mas meus batimentos cardíacos dispararam. Pude sentir os dedos dele na minha cintura, erguendo meu corpo da cama ao mesmo tempo em que ele também se levantava. Rodeei seu pescoço com meus braços, procurando os lábios dele como se fossem água para uma sede inesgotável. Eu me sentei em seu colo, minhas pernas ladeando seu quadril, ele segurava a saia de minha camisola para cima, sua outra mão pousada na minha carne. apertava meu corpo contra o dele, como se nunca mais quisesse me deixar ir embora. Se ele era a minha água, eu era o seu ar. Saber disso aliviava meus medos e anseios, ao menos por ora. Eu não me lembrava de nem dos policiais. Eu nem ao menos me lembrava de sentimentos ruins, minha cabeça era tomada por uma sensação enevoada de prazer.
Nem ou eu tínhamos paciência para roupas àquela altura, por isso ele abaixou a calça e eu o encaixei entre as minhas pernas sem cerimônia, tendo apenas afastado a minha calcinha para o lado. Os momentos em que estávamos interligados eram sempre os melhores, mas aquela não era uma transa comum. Era crua, cheia de mensagens subliminares. E era urgente, necessitada ao mesmo tempo que era doce. Ele respirava o meu ar enquanto eu me apoiava em seus ombros para me mover. Nem sempre nos beijávamos, algumas vezes nossos lábios entreabertos apenas pairavam próximos, sem se tocar. Em outras, ele me devorava. Suas mãos ora emolduravam meu rosto, ora se apossavam dos meus seios. Fosse como fosse, não havia quase espaço entre nós dois.
Era gostoso e era íntimo. Era algo que reafirmava a minha certeza de que não tínhamos uma relação vazia, baseada em sexo. Ele se importava. Eu gozei primeiro, estimulada por ele, pelo cheiro dele, pela luz da lua que refletia em seus olhos. E ele veio logo depois, como se apenas estivesse se segurando por minha causa.
A falta do preservativo veio como uma razão para tomar um banho àquela hora e ele veio comigo, sem fazer barulho. Nós nos deitamos na cama e dormimos abraçados, mas, quando eu acordei, não estava mais lá.
Capítulo 19
Duas semanas e quatro dias para o baile.
As aulas tinham recomeçado, o que não me aliviou o tanto que eu achava que iria. Primeiro porque, àquela altura, todos já sabiam do que ocorreu entre e eu. Portanto, assim que desci do carro e meus pés tocaram o chão de cimento do estacionamento, todos os alunos ali – bem, quase todos – se viraram na minha direção. Era um pesadelo. Eu tinha medo disso, que me odiassem no ensino médio. Que me ignorassem. Ou que caçoassem de mim. A que entrou no ensino médio conquistou a amizade de , mesmo com todos aqueles medos. E eu, que já aturei coisas piores do que os olhares e os cochichos de outros adolescentes, ergui meu queixo. Eu poderia aguentar alguns murmúrios. Eu aguentei e os policiais. Eu posso fazer isso.
“Dizem que ela dormiu com o professor .”
“Eu ouvi dizer que contratou um cara da máfia para matar .”
“Eu aposto que era ela quem perseguia .”
Mais alguns passos e eu estarei livre. Só mais alguns metros. Eu tinha que conseguir, mas meus joelhos pareciam fracos.
“Ela nem é tão bonita assim, não é?”
“Ela é uma puta por ter feito isso com , isso sim.”
“Ainda acho que ela puxou o gatilho.”
Era a cena dos meus pesadelos. Cochichos, murmúrios, vozes que pareciam ecoar nos meus ouvidos mesmo depois de ter deixado o estacionamento. E, realmente, foi o que aconteceu: a cena se repetiu no corredor. Meus dedos tremiam enquanto eu tentava acertar a combinação do meu armário. Hiperventilação, check. Suor frio, check. Taquicardia, check. Eu estava tendo um ataque de pânico no meio do corredor. Quando errei minha combinação pela terceira vez, soquei o armário. Eu ainda podia sentir os olhares de todos nas minhas costas. Eu ainda podia ouvi-los falando. Mãos grandes tomaram o cadeado da minha mão e, como num passe de mágica, ele estava aberto.
Elevei meus olhos para encontrar os de . Ele olhou ao redor, para a panelinha que me observava de perto.
— Cai fora. Agora! — rugiu para os calouros, que se espalharam como bolinhas de gude tão logo ouviram a voz dele.
realmente tinha um bom coração. Eu o olhei, sem nem agradecê-lo verbalmente porque não acreditava que minha voz poderia soar normal. Recolhi meus livros em silêncio, tendo completa ciência da presença dele ao meu lado, de seu olhar sobre mim. De que tinha adiantado espantar os espectadores do meu pequeno ataque se ia se comportar da mesma forma?
— ? — Fiz que não ouvi.
Me concentrei nos livros que eu ia usar, buscando-os com afinco, ignorando a voz de que parecia me chamar de muito longe. As pessoas estavam olhando. Elas não deixariam isso passar tão cedo. Não. Não agora, . Por favor, não agora.
— Então… — Ele começou e eu fechei a porta do armário com um estrondo. Não queria ouvi-lo. Dei as costas, mas ele segurou a alça da minha bolsa. — , é verdade?
O silêncio reinou. Cada alma no corredor parecia ter prendido a respiração, aguardando o desenrolar daquela novela que eles assistiam ao vivo. Quem precisa de Days of Our Lives com um show em carne e osso?
O que vocês querem? Eu quis gritar. Eu quis gritar até o ar dos meus pulmões se esgotar, perguntar a eles o que eles estavam esperando: querem que eu mate outro aluno? Acham que eu vou surtar na frente de todo mundo? Acham que eu sou o próximo maníaco da machadinha? Ou, pior: acham que vou chorar como a vítima que eu sou? Acham mesmo que eu daria esse gostinho a vocês, urubus? Eles não me veriam chorar. Eu não sou feita de porcelana, eu sou feita de ferro. E eles não iriam me amedrontar como antes. Respirei fundo, me virando para . Tirei a alça da minha bolsa da mão dele com um puxão e me empertiguei.
— Nos falamos depois, quando não tivermos público. — Ele abriu e fechou a boca, mas pareceu aceitar e eu não quis esperar para saber se ele acataria meu pedido ou não.
Girei nos meus saltos baixos, fazendo meu caminho em direção à minha primeira aula. E, durante as aulas, os olhares ainda pareciam fixados em mim, mas admito que não era apenas eu que chamava atenção. posava como a heroína romântica de algum livro trágico: cabelos desalinhados, rosto sem maquiagem, parecendo sempre muito abalada.
Talvez eu seja apenas cínica, não é como se eu tivesse me sentado para conversar com e perguntar o que ela sentia, afinal eu sempre fui uma péssima amiga, eu sei, mas, nesse momento, tenho coisa demais no meu prato. Se ela estava sofrendo, sofreria ainda mais. Ainda não me esqueci de como ela tentou me ferrar – e como conseguiu. E se não estivesse sofrendo, ela saberia como é isso na pele. Não era apenas com e Constance que eu tinha que conversar.
A minha oportunidade se deu na hora do almoço. Entrei no banheiro logo após e olhei as garotas ao redor. Havia nossa roda usual de amigas e outras garotas bajulando-as. Mantive a porta aberta com um braço e elevei a voz:
— fica. As outras, saiam fora. — Olhei cada uma, baixando a voz de maneira ameaçadora. — Agora. Ou, eu juro, vocês vão se arrepender.
Em outra ocasião, teriam rido da minha cara. Como achavam que eu tinha algo a ver com a morte de , as garotas se acotovelaram para sair do banheiro rapidamente e eu fechei a porta com um baque.
parecia entediada ao me olhar, ela cruzou os braços por cima do decote e bufou.
— O que é agora, ? — Não respondi, apenas medi cuidadosamente a pessoa que eu pensava ser minha melhor amiga. Andei até ela em passos lentos, mas sem hesitar.
nem ao menos esperava o que lhe aconteceu. A minha mão acertou com força seu rosto, fazendo com que ela desse um passo para o lado e, quando ela vacilou, eu enrolei a outra no cabelo dela, fazendo questão de segurar o rosto de para que encarasse o meu.
— Que porra é essa, ? — Ela podia gritar, mas eu senti no fraquejar de sua voz exatamente o quão temerosa ela estava de mim. Aproximei meu rosto do dela, ainda exibindo uma expressão bem calma no rosto.
— Que porra é essa? Eu que te pergunto, : qual é a porra do seu problema? — Meu tom parecia agudo, talvez uma oitava acima do meu tom normal, contrariando minha aparente calma. — Você me dedurou pra polícia! Saiu falando sobre como eu transei com para os detetives, sua vagabunda linguaruda!
A vadia riu. riu da minha cara.
— Você acha mesmo que eu ia te dedurar? — Meu aperto reforçado no rosto dela foi o bastante para que ela parasse de rir. — Me poupa, .
não sabia com quem estava lidando. Eu a encostei contra a parede, fazendo questão de que fosse com força, para que ela ficasse ao menos dolorida da batida.
— Eu sei que foi você. Ninguém mais sabia. — Ela arregalou seus olhos de corça, em seguida os apertou até que eu quase não visse mais as suas íris.
— Se eu quisesse foder com a sua vida, eu teria feito coisas bem piores. — Ela sibilou, fazendo-se de ofendida.
— Você se esquece, , de que eu também posso ferrar a sua vida. Você não vai querer se meter comigo. — Enunciei cada palavra lenta e cuidadosamente, empurrando-a contra um dos reservados e finalmente soltando-a.
Um punhado de seus fios de cabelo ficou na minha mão, mas eu os soltei, ajeitei meu próprio cabelo na frente do espelho e saí do banheiro.
A horda de adolescentes sem cérebro que a seguia entrou no banheiro assim que eu saí. No passado, se algo assim acontecesse, eu não teria esperado do lado de fora. Suas outras seguidoras apenas me deixaram fazer o que eu queria e então correram para ela.
E pensar que, um dia, eu quis ser exatamente como . Bonita, sensual, querida, carismática. Eu quis ser amiga dela, comprei as roupas que ela me indicou, afoguei minha personalidade em um mar de futilidade para que pudéssemos ser amigas e eu pudesse ser popular. E olha onde eu estou agora. A vida tem um jeito e tanto de te puxar de volta para a realidade.
O estacionamento estava vazio. As segundas-feiras são sempre destinadas ao treino das líderes de torcida, no campo de futebol. Enquanto elas treinavam com os jogadores, os alunos que ficavam na escola sempre iam para as arquibancadas, tendo algum tempo de lazer. Além de mim, havia apenas os carros dos alunos que ficaram, e eu estava sentada no capô do meu, aproveitando a fraca luz solar que batia nas minhas pernas descobertas. Constance não tinha ido à escola, mas ela não se safaria de mim tão fácil.
Não precisei de muita coisa para saber que tinha chegado. Ouvi seus passos soando perto de mim e senti sua presença ao meu lado, mas, ainda assim, não conseguia tirar os olhos da paisagem à minha frente, além dos muros da escola. Não havia nada de especial, era apenas o cotidiano se desenrolando bem à minha frente, mas, de alguma forma, a normalidade com que a vida dos outros corria me deixava um pouco menos nervosa. Como se tudo aquilo que eu tinha no meu prato fosse só um sonho ruim do qual eu acordaria logo.
— E aí, .
— Ei, . — Respondi, finalmente me virando para olhá-lo.
se sentou ao meu lado, mantendo alguma distância entre nós. Eu quase podia ouvir as engrenagens girando no cérebro dele. Olhando-o, notei como ele era bonito. Não que não soubesse antes. é bonito de um jeito muito tradicional: é alto, músculos bem esculpidos por causa do futebol americano e da academia, cabelos perfeitos, olhos claros e límpidos, um sorriso largo. O típico cara gostoso de um filme adolescente. O cara com quem a heroína termina no final, provando que tudo sempre acaba bem. Nos filmes, esse cara é perfeito. Na vida real? Vai nessa.
Por algum motivo obscuro, ainda me pergunto porque não demos certo. Sim, eu sei, eu reclamava do sexo e ele muitas vezes era um idiota, mas sempre formamos um casal bonito…
Se for para ser bem sincera, namorar foi como comprar um sapato da moda. Sim, eu estou comparando meu namoro a um sapato, mas, veja bem: era aquele sapato na vitrine da loja mais cara do shopping, o que aparece sempre nas revistas de moda e que, de algum jeito, o mundo inteiro te convence que você tem que ter aquele sapato. O problema é que o sapato não combina exatamente comigo e eu gosto mais de vê-lo do que de usá-lo. Eu o acho bonito e ele fica bem com as minhas roupas, minhas amigas me invejam por tê-lo, mas, no final da noite, quando eu o tiro, fico muito mais feliz do que quando estava calçando-o. No final, eu nunca tinha gostado realmente do sapato e ele me dava bolhas nos pés.
— Então… — Eu me voltei para , notando, agora, que ele estava me observando já há algum tempo. — Desde quando … Queria você?
Bem, eu não posso esperar muito de . Ele desenvolveu os músculos, mas seu cérebro era bem primitivo, mais ou menos como um neandertal. Eu ri. Não porque tinha achado engraçado ou apreciado sua escolha de palavras, mas porque eu estava nervosa. Eu não devo nenhuma explicação a ele e eu, definitivamente, não queria estar ali.
— Desde quando me queria? — Perguntei, olhando-o de soslaio. não pareceu notar sua gafe, mas quem está surpreso? — Desde o primeiro ano.
Eu já queria correr dali.
— Então, ele realmente estava… Atrás de você? Te assediando?
— Sim. — Minha resposta foi lacônica. Eu não gostava do assunto.
— Filho da puta! — murmurou por baixo do fôlego e me olhou. — Ele me dizia que odiava você. Que você não prestava pra mim!
Se esperava alguma resposta de mim, teria que se contentar com o meu dar de ombros. Ele, então, me olhou, se voltando para mim subitamente.
— E ? Ele estava com ela, não estava? — Eu queria rir de novo, mas segurei meu nervosismo. Dei de ombros novamente. — Filho da puta.
Quanto tempo até que eu pudesse entrar no meu carro e ir para casa? Eu tinha dito a Keyshia que tinha algo para resolver com e ela foi embora com o irmão dela, mas, agora, eu apenas queria tê-la ali comigo. Ou .
pegou a minha mão. O toque dele fez a minha pele se arrepiar e eu lutei contra a vontade de puxar minha mão dali imediatamente.
— se você terminou comigo por isso, por achar que eu não entenderia… — começou. Seu tom de voz era incrivelmente baixo, como se me segredasse algo importante. — Eu quero voltar com você. Você é a garota que eu amo.
Ele era incrivelmente estúpido se achava que terminei com ele por causa de . Mas, uma vez mais, é de que estamos falando.
— Não, , eu não terminei com você por isso. — Tirei a minha mão da dele delicadamente. Assoprei minha respiração quando ele continuou me olhando, parecendo magoado.
— Eu quero você de volta, . Você é a única garota que existe pra mim.
Então, agora, eu tenho duas opções: a primeira é falar com ele de um modo delicado, esperando que ele entenda. A segunda é arrasar completamente o seu coração, provando que eu realmente sou tão ruim quanto .
Pelos velhos tempos, decidi seguir pelo caminho menos doloroso para ele.
— Eu sinto muito, . — Disse simplesmente, sem querer me alongar no assunto.
— Por que não podemos voltar? — Ele me perguntou, mas eu apenas saltei do capô do carro. — , não me ignore agora.
— Porque eu não quero, . — Ele me olhou, boca entreaberta, olhos arregalados. — Eu simplesmente não quero voltar com você. O nosso relacionamento acabou e eu sinto muito, mas há muitas garotas por aí que adorariam estar ao seu lado.
Minha paciência acabava-se com incrível rapidez. não podia aceitar um “não”? Será que ele não podia respeitar a minha decisão? Nosso namoro nem era assim tão apaixonado, mas, agora, ele subitamente me ama tanto que não consegue viver longe de mim?
— Você está com outra pessoa? — Eu refleti. A coisa entre e eu era linda, mas não tínhamos falado sobre um relacionamento. Fiz que não com a cabeça. — Mas você ama outro, não é?
Em todo esse tempo que conheço meu ex-namorado, essa foi, provavelmente, a coisa mais inteligente e observadora que ele já disse. De longe, sua dedução foi extraordinariamente boa e, ainda silenciosa, eu anuí.
— Eu sinto muito. — Repeti. De fato, eu sentia. Se eu estivesse ainda com , tudo seria muito mais fácil. Se eu seguisse os meus planos iniciais, eu não estaria afundada em metade da merda onde estou agora.
Me virei de costas, abrindo a porta do meu carro, quando desceu do capô. Ele se aproximou de mim, me puxou pelo braço e, por um segundo, meu coração parou de bater. O pânico fluiu pelas minhas veias e eu me desvencilhei de seu punho rapidamente, dando dois passos para trás e batendo contra a lataria do carro, mas sem sentir dor. Não, não era dor, mas era medo. Meu coração batia de um jeito forte, rápido, quase arrebentando o músculo. parecia abismado, parado na minha frente enquanto eu ainda me mantinha encostada no carro. Ele me olhou, encolhida contra o meu Porsche, e deu um passo para trás.
— , eu…
Minha respiração ainda estava pesada demais para que eu o ouvisse com perfeição. Meu coração parecia bater nos meus ouvidos. Nem mesmo eu podia entender o que aquilo significava. podia me tocar como queria e eu não me sentia ameaçada. Talvez fosse a mão calejada de , como ela se assemelhava à de , ou porque estávamos falando dele, talvez fosse o toque, que parecia querer me manter ali contra a minha vontade ou, talvez, eu apenas estivesse traumatizada. De qualquer forma, por um momento, foi como se estivesse ali, me segurando a força.
Sem nenhuma palavra, eu entrei no carro, batendo a porta e, com mãos trêmulas, guiei meu carro para fora da escola.
As aulas tinham recomeçado, o que não me aliviou o tanto que eu achava que iria. Primeiro porque, àquela altura, todos já sabiam do que ocorreu entre e eu. Portanto, assim que desci do carro e meus pés tocaram o chão de cimento do estacionamento, todos os alunos ali – bem, quase todos – se viraram na minha direção. Era um pesadelo. Eu tinha medo disso, que me odiassem no ensino médio. Que me ignorassem. Ou que caçoassem de mim. A que entrou no ensino médio conquistou a amizade de , mesmo com todos aqueles medos. E eu, que já aturei coisas piores do que os olhares e os cochichos de outros adolescentes, ergui meu queixo. Eu poderia aguentar alguns murmúrios. Eu aguentei e os policiais. Eu posso fazer isso.
“Dizem que ela dormiu com o professor .”
“Eu ouvi dizer que contratou um cara da máfia para matar .”
“Eu aposto que era ela quem perseguia .”
Mais alguns passos e eu estarei livre. Só mais alguns metros. Eu tinha que conseguir, mas meus joelhos pareciam fracos.
“Ela nem é tão bonita assim, não é?”
“Ela é uma puta por ter feito isso com , isso sim.”
“Ainda acho que ela puxou o gatilho.”
Era a cena dos meus pesadelos. Cochichos, murmúrios, vozes que pareciam ecoar nos meus ouvidos mesmo depois de ter deixado o estacionamento. E, realmente, foi o que aconteceu: a cena se repetiu no corredor. Meus dedos tremiam enquanto eu tentava acertar a combinação do meu armário. Hiperventilação, check. Suor frio, check. Taquicardia, check. Eu estava tendo um ataque de pânico no meio do corredor. Quando errei minha combinação pela terceira vez, soquei o armário. Eu ainda podia sentir os olhares de todos nas minhas costas. Eu ainda podia ouvi-los falando. Mãos grandes tomaram o cadeado da minha mão e, como num passe de mágica, ele estava aberto.
Elevei meus olhos para encontrar os de . Ele olhou ao redor, para a panelinha que me observava de perto.
— Cai fora. Agora! — rugiu para os calouros, que se espalharam como bolinhas de gude tão logo ouviram a voz dele.
realmente tinha um bom coração. Eu o olhei, sem nem agradecê-lo verbalmente porque não acreditava que minha voz poderia soar normal. Recolhi meus livros em silêncio, tendo completa ciência da presença dele ao meu lado, de seu olhar sobre mim. De que tinha adiantado espantar os espectadores do meu pequeno ataque se ia se comportar da mesma forma?
— ? — Fiz que não ouvi.
Me concentrei nos livros que eu ia usar, buscando-os com afinco, ignorando a voz de que parecia me chamar de muito longe. As pessoas estavam olhando. Elas não deixariam isso passar tão cedo. Não. Não agora, . Por favor, não agora.
— Então… — Ele começou e eu fechei a porta do armário com um estrondo. Não queria ouvi-lo. Dei as costas, mas ele segurou a alça da minha bolsa. — , é verdade?
O silêncio reinou. Cada alma no corredor parecia ter prendido a respiração, aguardando o desenrolar daquela novela que eles assistiam ao vivo. Quem precisa de Days of Our Lives com um show em carne e osso?
O que vocês querem? Eu quis gritar. Eu quis gritar até o ar dos meus pulmões se esgotar, perguntar a eles o que eles estavam esperando: querem que eu mate outro aluno? Acham que eu vou surtar na frente de todo mundo? Acham que eu sou o próximo maníaco da machadinha? Ou, pior: acham que vou chorar como a vítima que eu sou? Acham mesmo que eu daria esse gostinho a vocês, urubus? Eles não me veriam chorar. Eu não sou feita de porcelana, eu sou feita de ferro. E eles não iriam me amedrontar como antes. Respirei fundo, me virando para . Tirei a alça da minha bolsa da mão dele com um puxão e me empertiguei.
— Nos falamos depois, quando não tivermos público. — Ele abriu e fechou a boca, mas pareceu aceitar e eu não quis esperar para saber se ele acataria meu pedido ou não.
Girei nos meus saltos baixos, fazendo meu caminho em direção à minha primeira aula. E, durante as aulas, os olhares ainda pareciam fixados em mim, mas admito que não era apenas eu que chamava atenção. posava como a heroína romântica de algum livro trágico: cabelos desalinhados, rosto sem maquiagem, parecendo sempre muito abalada.
Talvez eu seja apenas cínica, não é como se eu tivesse me sentado para conversar com e perguntar o que ela sentia, afinal eu sempre fui uma péssima amiga, eu sei, mas, nesse momento, tenho coisa demais no meu prato. Se ela estava sofrendo, sofreria ainda mais. Ainda não me esqueci de como ela tentou me ferrar – e como conseguiu. E se não estivesse sofrendo, ela saberia como é isso na pele. Não era apenas com e Constance que eu tinha que conversar.
A minha oportunidade se deu na hora do almoço. Entrei no banheiro logo após e olhei as garotas ao redor. Havia nossa roda usual de amigas e outras garotas bajulando-as. Mantive a porta aberta com um braço e elevei a voz:
— fica. As outras, saiam fora. — Olhei cada uma, baixando a voz de maneira ameaçadora. — Agora. Ou, eu juro, vocês vão se arrepender.
Em outra ocasião, teriam rido da minha cara. Como achavam que eu tinha algo a ver com a morte de , as garotas se acotovelaram para sair do banheiro rapidamente e eu fechei a porta com um baque.
parecia entediada ao me olhar, ela cruzou os braços por cima do decote e bufou.
— O que é agora, ? — Não respondi, apenas medi cuidadosamente a pessoa que eu pensava ser minha melhor amiga. Andei até ela em passos lentos, mas sem hesitar.
nem ao menos esperava o que lhe aconteceu. A minha mão acertou com força seu rosto, fazendo com que ela desse um passo para o lado e, quando ela vacilou, eu enrolei a outra no cabelo dela, fazendo questão de segurar o rosto de para que encarasse o meu.
— Que porra é essa, ? — Ela podia gritar, mas eu senti no fraquejar de sua voz exatamente o quão temerosa ela estava de mim. Aproximei meu rosto do dela, ainda exibindo uma expressão bem calma no rosto.
— Que porra é essa? Eu que te pergunto, : qual é a porra do seu problema? — Meu tom parecia agudo, talvez uma oitava acima do meu tom normal, contrariando minha aparente calma. — Você me dedurou pra polícia! Saiu falando sobre como eu transei com para os detetives, sua vagabunda linguaruda!
A vadia riu. riu da minha cara.
— Você acha mesmo que eu ia te dedurar? — Meu aperto reforçado no rosto dela foi o bastante para que ela parasse de rir. — Me poupa, .
não sabia com quem estava lidando. Eu a encostei contra a parede, fazendo questão de que fosse com força, para que ela ficasse ao menos dolorida da batida.
— Eu sei que foi você. Ninguém mais sabia. — Ela arregalou seus olhos de corça, em seguida os apertou até que eu quase não visse mais as suas íris.
— Se eu quisesse foder com a sua vida, eu teria feito coisas bem piores. — Ela sibilou, fazendo-se de ofendida.
— Você se esquece, , de que eu também posso ferrar a sua vida. Você não vai querer se meter comigo. — Enunciei cada palavra lenta e cuidadosamente, empurrando-a contra um dos reservados e finalmente soltando-a.
Um punhado de seus fios de cabelo ficou na minha mão, mas eu os soltei, ajeitei meu próprio cabelo na frente do espelho e saí do banheiro.
A horda de adolescentes sem cérebro que a seguia entrou no banheiro assim que eu saí. No passado, se algo assim acontecesse, eu não teria esperado do lado de fora. Suas outras seguidoras apenas me deixaram fazer o que eu queria e então correram para ela.
E pensar que, um dia, eu quis ser exatamente como . Bonita, sensual, querida, carismática. Eu quis ser amiga dela, comprei as roupas que ela me indicou, afoguei minha personalidade em um mar de futilidade para que pudéssemos ser amigas e eu pudesse ser popular. E olha onde eu estou agora. A vida tem um jeito e tanto de te puxar de volta para a realidade.
O estacionamento estava vazio. As segundas-feiras são sempre destinadas ao treino das líderes de torcida, no campo de futebol. Enquanto elas treinavam com os jogadores, os alunos que ficavam na escola sempre iam para as arquibancadas, tendo algum tempo de lazer. Além de mim, havia apenas os carros dos alunos que ficaram, e eu estava sentada no capô do meu, aproveitando a fraca luz solar que batia nas minhas pernas descobertas. Constance não tinha ido à escola, mas ela não se safaria de mim tão fácil.
Não precisei de muita coisa para saber que tinha chegado. Ouvi seus passos soando perto de mim e senti sua presença ao meu lado, mas, ainda assim, não conseguia tirar os olhos da paisagem à minha frente, além dos muros da escola. Não havia nada de especial, era apenas o cotidiano se desenrolando bem à minha frente, mas, de alguma forma, a normalidade com que a vida dos outros corria me deixava um pouco menos nervosa. Como se tudo aquilo que eu tinha no meu prato fosse só um sonho ruim do qual eu acordaria logo.
— E aí, .
— Ei, . — Respondi, finalmente me virando para olhá-lo.
se sentou ao meu lado, mantendo alguma distância entre nós. Eu quase podia ouvir as engrenagens girando no cérebro dele. Olhando-o, notei como ele era bonito. Não que não soubesse antes. é bonito de um jeito muito tradicional: é alto, músculos bem esculpidos por causa do futebol americano e da academia, cabelos perfeitos, olhos claros e límpidos, um sorriso largo. O típico cara gostoso de um filme adolescente. O cara com quem a heroína termina no final, provando que tudo sempre acaba bem. Nos filmes, esse cara é perfeito. Na vida real? Vai nessa.
Por algum motivo obscuro, ainda me pergunto porque não demos certo. Sim, eu sei, eu reclamava do sexo e ele muitas vezes era um idiota, mas sempre formamos um casal bonito…
Se for para ser bem sincera, namorar foi como comprar um sapato da moda. Sim, eu estou comparando meu namoro a um sapato, mas, veja bem: era aquele sapato na vitrine da loja mais cara do shopping, o que aparece sempre nas revistas de moda e que, de algum jeito, o mundo inteiro te convence que você tem que ter aquele sapato. O problema é que o sapato não combina exatamente comigo e eu gosto mais de vê-lo do que de usá-lo. Eu o acho bonito e ele fica bem com as minhas roupas, minhas amigas me invejam por tê-lo, mas, no final da noite, quando eu o tiro, fico muito mais feliz do que quando estava calçando-o. No final, eu nunca tinha gostado realmente do sapato e ele me dava bolhas nos pés.
— Então… — Eu me voltei para , notando, agora, que ele estava me observando já há algum tempo. — Desde quando … Queria você?
Bem, eu não posso esperar muito de . Ele desenvolveu os músculos, mas seu cérebro era bem primitivo, mais ou menos como um neandertal. Eu ri. Não porque tinha achado engraçado ou apreciado sua escolha de palavras, mas porque eu estava nervosa. Eu não devo nenhuma explicação a ele e eu, definitivamente, não queria estar ali.
— Desde quando me queria? — Perguntei, olhando-o de soslaio. não pareceu notar sua gafe, mas quem está surpreso? — Desde o primeiro ano.
Eu já queria correr dali.
— Então, ele realmente estava… Atrás de você? Te assediando?
— Sim. — Minha resposta foi lacônica. Eu não gostava do assunto.
— Filho da puta! — murmurou por baixo do fôlego e me olhou. — Ele me dizia que odiava você. Que você não prestava pra mim!
Se esperava alguma resposta de mim, teria que se contentar com o meu dar de ombros. Ele, então, me olhou, se voltando para mim subitamente.
— E ? Ele estava com ela, não estava? — Eu queria rir de novo, mas segurei meu nervosismo. Dei de ombros novamente. — Filho da puta.
Quanto tempo até que eu pudesse entrar no meu carro e ir para casa? Eu tinha dito a Keyshia que tinha algo para resolver com e ela foi embora com o irmão dela, mas, agora, eu apenas queria tê-la ali comigo. Ou .
pegou a minha mão. O toque dele fez a minha pele se arrepiar e eu lutei contra a vontade de puxar minha mão dali imediatamente.
— se você terminou comigo por isso, por achar que eu não entenderia… — começou. Seu tom de voz era incrivelmente baixo, como se me segredasse algo importante. — Eu quero voltar com você. Você é a garota que eu amo.
Ele era incrivelmente estúpido se achava que terminei com ele por causa de . Mas, uma vez mais, é de que estamos falando.
— Não, , eu não terminei com você por isso. — Tirei a minha mão da dele delicadamente. Assoprei minha respiração quando ele continuou me olhando, parecendo magoado.
— Eu quero você de volta, . Você é a única garota que existe pra mim.
Então, agora, eu tenho duas opções: a primeira é falar com ele de um modo delicado, esperando que ele entenda. A segunda é arrasar completamente o seu coração, provando que eu realmente sou tão ruim quanto .
Pelos velhos tempos, decidi seguir pelo caminho menos doloroso para ele.
— Eu sinto muito, . — Disse simplesmente, sem querer me alongar no assunto.
— Por que não podemos voltar? — Ele me perguntou, mas eu apenas saltei do capô do carro. — , não me ignore agora.
— Porque eu não quero, . — Ele me olhou, boca entreaberta, olhos arregalados. — Eu simplesmente não quero voltar com você. O nosso relacionamento acabou e eu sinto muito, mas há muitas garotas por aí que adorariam estar ao seu lado.
Minha paciência acabava-se com incrível rapidez. não podia aceitar um “não”? Será que ele não podia respeitar a minha decisão? Nosso namoro nem era assim tão apaixonado, mas, agora, ele subitamente me ama tanto que não consegue viver longe de mim?
— Você está com outra pessoa? — Eu refleti. A coisa entre e eu era linda, mas não tínhamos falado sobre um relacionamento. Fiz que não com a cabeça. — Mas você ama outro, não é?
Em todo esse tempo que conheço meu ex-namorado, essa foi, provavelmente, a coisa mais inteligente e observadora que ele já disse. De longe, sua dedução foi extraordinariamente boa e, ainda silenciosa, eu anuí.
— Eu sinto muito. — Repeti. De fato, eu sentia. Se eu estivesse ainda com , tudo seria muito mais fácil. Se eu seguisse os meus planos iniciais, eu não estaria afundada em metade da merda onde estou agora.
Me virei de costas, abrindo a porta do meu carro, quando desceu do capô. Ele se aproximou de mim, me puxou pelo braço e, por um segundo, meu coração parou de bater. O pânico fluiu pelas minhas veias e eu me desvencilhei de seu punho rapidamente, dando dois passos para trás e batendo contra a lataria do carro, mas sem sentir dor. Não, não era dor, mas era medo. Meu coração batia de um jeito forte, rápido, quase arrebentando o músculo. parecia abismado, parado na minha frente enquanto eu ainda me mantinha encostada no carro. Ele me olhou, encolhida contra o meu Porsche, e deu um passo para trás.
— , eu…
Minha respiração ainda estava pesada demais para que eu o ouvisse com perfeição. Meu coração parecia bater nos meus ouvidos. Nem mesmo eu podia entender o que aquilo significava. podia me tocar como queria e eu não me sentia ameaçada. Talvez fosse a mão calejada de , como ela se assemelhava à de , ou porque estávamos falando dele, talvez fosse o toque, que parecia querer me manter ali contra a minha vontade ou, talvez, eu apenas estivesse traumatizada. De qualquer forma, por um momento, foi como se estivesse ali, me segurando a força.
Sem nenhuma palavra, eu entrei no carro, batendo a porta e, com mãos trêmulas, guiei meu carro para fora da escola.
Capítulo 20
Com a proximidade das provas, LSATs e outras coisas, já tinha avisado aos seus ajudantes que não faria mais sessões de correção. Por isso que, depois que todas as minhas tarefas na escola tinham terminado, eu fui para casa e deixei lá os meus materiais. Não demorou muito até que eu estivesse na porta de , sorrindo com uma sacola nas mãos.
Ele me fez entrar, selando os lábios aos meus logo assim que pus os pés dentro do apartamento. Eu sorri quando ele se afastou.
— Alguém está com saudades. — Provoquei-o, mas isso apenas o fez rir.
— Não vou negar que esteja. — Me pus nas pontas dos pés para beijá-lo, dessa vez o fazendo propriamente, em vez de um beijo roubado.
— Eu também estava. — Murmurei contra os seus lábios.
Algumas vezes, ser filha de pais ocupados é uma dádiva. Com a volta da minha aparente normalidade (e nenhum outro acidente desde que saímos da delegacia para o interrogatório), meus pais já confiavam em mim para retomar a rotina, talvez na esperança de que a normalidade fosse me fazer bem.
Seu braço enlaçou a minha cintura enquanto ele beijava a minha testa.
— O que tem dentro da sacola? — Perguntou, finalmente notando o que eu tinha em mãos.
— O nosso jantar. — Eu respondi, dando de ombros.
A mão dele abriu a sacola, mesmo que eu me revirasse e me remexesse para que ele não pudesse pegá-la e ele olhou os ingredientes com um sorrisinho convencido.
— Então a grande chefe de cozinha, , vai cozinhar para seu humilde servo essa noite? — Senti minhas bochechas se aquecerem e estapeei seu ombro, saindo de perto dele.
— Cale a boca, humilde servo. — Ri, indo para a cozinha e colocando a sacola ali.
Eu podia sentir olhando por cima do meu ombro cada vez que eu me movia pela cozinha, fosse buscando acessórios ou só vasculhando seus armários. Suas mãos acariciaram a minha cintura, enquanto ele apoiou o queixo no meu ombro.
— O que você está fazendo, Gordon Ramsay? — Diante da provocação, eu esfreguei meu corpo nele.
— Não é nada complicado. — Descasquei o dente de alho com ainda às minhas costas. Seu nariz encostou na minha nuca e eu senti um arrepio subir pela minha pele. Oh, deus. — ?
— O que é? — Ele inspirou profundamente. Eu tenho sorte de ter lavado o cabelo essa manhã.
— Você está me desconcentrando. — Meu coração batia forte no peito. Forte demais. E, para ser bem sincera, eu não quero ficar particularmente distraída enquanto tento cortar o alho.
— É mesmo, chef? — Ele riu e sua risada rouca me fez virar o rosto para olhá-lo.
— Seja um bom menino e pegue os tomates para mim. — riu antes de me soltar, indo até a sacola que eu trouxe de casa e tirando os tomates de lá de dentro.
— Então, eu vou ser o seu sous chef essa noite? — Sua voz soou perto demais e, mais uma vez, estava ao meu lado.
— Isso quer dizer que eu vou mandar em você? — Perguntei em uma voz dócil, mas que já não o enganava mais. Tomei os tomates das mãos do professor de matemática, pondo-me nas pontas dos pés e clamando os seus lábios para mim, antes de me afastar novamente.
— Não tão rápido, pequeno gafanhoto. — Ele tentou me agarrar novamente, mas, de forma brincalhona, me esquivei de suas investidas. — Não até eu descobrir o que vamos comer essa noite.
— Eu já sei o que eu vou comer essa noite. — Sussurrei de forma sedutora, deixando que ele finalmente me puxasse de encontro ao seu peito.
beijou o topo da minha cabeça de forma carinhosa, olhando-me nos olhos logo depois. Eu tinha as costas pressionadas contra a estreita bancada americana de sua cozinha, ele havia me encurralado entre seu corpo e o móvel atrás de mim, mas seus olhos exalavam gentileza. E, para ser sincera, desejo.
A maior parte dos meus ingredientes estava disposta na bancada atrás de mim, mas a surpresa estava nos tomates: seriam recheados, do jeito que, quando eu faço em casa, meu pai come até se fartar. E, se tudo desse certo, também cairia pelos meus simples, mas eficientes dotes culinários. Não que eu ache que se deve pegar um homem pela barriga ou que seja a minha obrigação cozinhar para ele. Eu gosto de cozinhar e, além do mais, achei que seria interessante entrar em uma pequena aventura na cozinha (mas não no sentido sexual). O que eu queria era uma noite leve, divertida, onde poderíamos comer algo que eu fiz e assistir algo na televisão (considerando o quão limitada é a variedade de coisas que podemos fazer sem que as pessoas – e a polícia – saibam que estamos meio que namorando), algo simples e descontraído.
Agora, no entanto, com me prensando contra a bancada, eu começo a ver todo um novo significado para a “aventura na cozinha” que eu queria. Como os tomates ainda eram um empecilho, eu os coloquei na bancada atrás de mim, deixando as minhas nãos livres.
— Mas o que será que eu vou comer essa noite, ? — Eu rodeei seu pescoço com os braços, trazendo-o mais para perto de mim.
— Bom, isso depende. De que momento da noite nós estamos falando? — Meu tom foi inundado por malícia, o que o fez sorrir abertamente.
— … — Era uma advertência para que eu não o atiçasse mais? Porque isso jamais funcionaria comigo. Nós estamos falando de alguém com ascendente em escorpião aqui.
— No jantar teremos tomates recheados com steak. Para a sobremesa tem… — Eu mordi seu lábio inferior, provocando-o ainda mais. — Eu.
— E eu posso comer a sobremesa a qualquer momento? — Seu polegar traçou as linhas dos meus lábios, tão leve que eu desejei que não gostasse de provocar tanto quanto eu. Fiz que não com a cabeça.
— O ideal é comer a noite inteira. — Eu ri, tomando seu polegar em meus lábios e chupando-o delicadamente.
Nova mensagem recebida.
Mãe diz:
Onde você está? Trouxe o jantar.
Não demorou até que reclamasse meus lábios, beijando-me como se dependesse disso para sobreviver, o que eu gosto bastante. Suas mãos apalparam meu corpo e me puxaram pela bunda, forçando meu corpo contra o dele. E enquanto eu achava que, bem, isso era meio nojento porque eu estava tentando cozinhar ali, ao mesmo tempo eu estava bem excitada com toda a espontaneidade sexual da situação. me segurou, e, quando percebi, estava sentada em cima da mesa da cozinha, bem longe da bancada, com uma das mãos dele deslizando para dentro da minha calcinha e a outra segurando meu rosto, enquanto ele me olhava nos olhos. Eu adorava a forma como ele sempre parecia pedir a minha permissão silenciosamente. Era assim que sexo deveria ser.
Eu não vou negar que adoro os dedos de – ele sempre sabe o que fazer para me ouvir gemer –, mas pus minhas mãos no peito dele, empurrando-o para trás. Sua cara foi impagável, ele pareceu confuso no início, mas eu pulei da mesa e o olhei por cima do ombro.
— A sobremesa é para ser comida depois do jantar, não seja um mau menino. — Ele riu, provavelmente querendo continuar nosso “assunto”, mas não me disse nada.
O resto da preparação do jantar transcorreu normalmente – correu para lavar as mãos e me ajudar, porque queria que eu acabasse com aquilo o mais rápido possível e, uma vez que o steak estava pronto, o molho estava feito e os tomates já tinham assado, foi incumbido de pôr a mesa (eu não sou nenhuma empregada, não é?).
Foi só então que eu chequei meu celular, vendo a mensagem da minha mãe e inventando que eu estava com uma amiga e que dormiria com ela. Se minha mãe desconfiou de qualquer coisa, ela não rebateu e apenas me pediu para que eu não fosse dormir tarde, já que era noite de escola. Sem discutir, me despedi dela e soltei o celular. E como eu sou uma pessoa extremamente neurótica, depois da conversa me inclinei para limpar a bancada, já que tinha uma certa pilha de louça na pia e eu faria ele lavar tudo aquilo, com a linda desculpa “eu fiz o jantar”.
se aproximou por trás e eu apenas o olhei sem demonstrar muito interesse, embora fosse justamente o contrário. Ele não precisou dizer nada. Com uma leve pressão na base das minhas costas, eu me deitei sobre a bancada, deixando meu quadril no alto para ele. E, deus, a sensação que eu tive quando ele abaixou meu short jeans lentamente, ajoelhado atrás de mim, foi o bastante para que eu ansiasse pelo que estava por vir. beijou cada uma das minhas nádegas, menos delicado que antes, abaixando minha calcinha e jogando-a para o lado.
Foi a língua dele que me fez arfar, acariciando aquela pequena e preciosa parte de mim que gritava por atenção. A língua dele era úmida, quente, e o som que ele fazia enquanto me chupava devia ser a coisa mais sexy que eu já ouvi na vida. Ele usou a ponta da língua para me provocar, caminhando com ela durante toda a extensão da minha boceta. E eu gemi. Se havia algum lugar para começar a acreditar em deus era ali: na bancada da cozinha com me chupando. Não há nada mais divino que isso.
Quando eu senti a língua dele tentar me penetrar, soltei a respiração pesadamente, sem nem perceber que tinha prendido-a. E lá estava , a cara enfiada em mim, sua língua se movendo dentro de mim, seu dedo no meu clitóris, sua mão segurando um lado da minha anca e sem pressa nenhuma de ficar ali por quanto tempo fosse.
Cheguei perigosamente perto do meu primeiro orgasmo, mas, antes que a nuvem cor-de-rosa do meu gozo me envolvesse em sua glória, ele saiu de perto de mim apenas por tempo o suficiente para livrar-se das próprias calças. E eu juro, foi a coisa mais surpreendente do mundo quando eu gozei apenas de sentir seu pau dentro de mim. Eu tinha chegado tão perto de um orgasmo e passado tão pouco tempo que, quando ele me penetrou, foi como se isso fosse o toque final, apenas a cereja em cima do bolo. E, se isso foi premeditado, então eu nunca mais vou deixar esse cara sair de perto de mim.
O ritmo que ele impôs junto aos espasmos que meu orgasmo causou quase me fez gritar. Eu podia sentir as ondas de prazer ainda percorrerem o meu corpo e, por um momento, eu realmente agradeci por estar sobre a bancada, porque meus joelhos viraram geleia.
Ele é o melhor sous chef que eu já tive até agora.
Eu podia ouvir a respiração entrecortada de , seus gemidos roucos, o som que ecoava enquanto fazíamos amor. E eu também podia ouvir os meus próprios pedidos para que ele não parasse porque, eu juro, eu estava prestes a gozar de novo – e eu não tinha gozado nem cinco minutos atrás. Ergui meu corpo, sendo abraçada por ele. Uma de suas mãos pousou a minha perna em cima da bancada e eu me inclinei para frente, sentindo-o ainda mais fundo dentro de mim. E essa foi a segunda vez que eu gozei, com o pau dele indo e vindo dentro de mim, tão fundo que eu não queria que ele se afastasse de mim nunca mais. Aquilo era mais gostoso que a comida.
Eu sei que deve estar se segurando, ele é realmente atencioso para não acabar com as coisas rápido demais, mas isso acaba tirando todo o propósito de uma rapidinha.
— Espera. — Apertei o pulso dele e ele se afastou de novo, dessa vez com a mesma cara confusa de antes. Pobre diabo, eu não seria tão má assim. Principalmente quando estou me divertindo tanto. Eu subi na bancada, joguei minha blusa e o sutiã para trás, me sentei e o puxei para mim. — Venha aqui.
Foi como dar doce a uma criança. Vendo que eu não queria que ele se afastasse de novo (e, se formos levar em consideração tudo o que eu venho passando, eu tenho todo o direito do mundo de fazer isso – embora não queira), me completou mais uma vez, trazendo seu corpo junto do meu novamente. Foi uma sensação maravilhosa quando eu olhei nos olhos dele, era ainda mais hipnotizante transar com alguém que está tão atraído por você – que realmente se importa com o que você sente – e que te olha com tanto carinho. Isso fez as minhas entranhas se revirarem de novo, mas, dessa vez, o momento glorioso do orgasmo foi só dele. A minha barriga foi coberta de sêmen, mas não reclamei. Não quando eu tive dois orgasmos ali. Eu sorri para ele, vendo que estava tão descabelado e desarrumado quanto eu.
— Acho que temos que tomar um banho antes de jantar. — Sussurrei enquanto ele me dava a mão para que eu me levantasse.
— Acho que pouparíamos água se fôssemos juntos. — Ele rebateu enquanto eu me encaminhava até o banheiro.
— Já quer mais um pedaço da sobremesa? — Ele se aproximou, mas eu corri para o banheiro, fechando a porta atrás de mim.
— Quem está sendo uma menina má agora? — Eu ri, abrindo uma fresta da porta.
— , não precisa ser tão guloso. A sua sobremesa vai ficar aqui a noite inteira.
Eu tinha esse direito. O direito de ser uma adolescente normal, com meu namorado/professor, transando e rindo e fazendo piadas absolutamente idiotas. Eu tinha direito à normalidade. Eu queria ter um gostinho de uma vida normal antes que confrontasse Constance como ela merecia. Antes que eu me inundasse na loucura do mundo lá fora mais uma vez. Tudo sempre parecia tão bom ao lado de , eu simplesmente esquecia dos meus problemas. Nós jantamos, fizemos sexo novamente e dormimos abraçados. E eu sabia, no fundo da minha mente, que essa noite maravilhosa era apenas uma pequena ilha de sanidade no meio de tudo que eu estou passando. Que seria passageiro. E apesar do calor do corpo dele, eu não dormi muito bem.
Ele me fez entrar, selando os lábios aos meus logo assim que pus os pés dentro do apartamento. Eu sorri quando ele se afastou.
— Alguém está com saudades. — Provoquei-o, mas isso apenas o fez rir.
— Não vou negar que esteja. — Me pus nas pontas dos pés para beijá-lo, dessa vez o fazendo propriamente, em vez de um beijo roubado.
— Eu também estava. — Murmurei contra os seus lábios.
Algumas vezes, ser filha de pais ocupados é uma dádiva. Com a volta da minha aparente normalidade (e nenhum outro acidente desde que saímos da delegacia para o interrogatório), meus pais já confiavam em mim para retomar a rotina, talvez na esperança de que a normalidade fosse me fazer bem.
Seu braço enlaçou a minha cintura enquanto ele beijava a minha testa.
— O que tem dentro da sacola? — Perguntou, finalmente notando o que eu tinha em mãos.
— O nosso jantar. — Eu respondi, dando de ombros.
A mão dele abriu a sacola, mesmo que eu me revirasse e me remexesse para que ele não pudesse pegá-la e ele olhou os ingredientes com um sorrisinho convencido.
— Então a grande chefe de cozinha, , vai cozinhar para seu humilde servo essa noite? — Senti minhas bochechas se aquecerem e estapeei seu ombro, saindo de perto dele.
— Cale a boca, humilde servo. — Ri, indo para a cozinha e colocando a sacola ali.
Eu podia sentir olhando por cima do meu ombro cada vez que eu me movia pela cozinha, fosse buscando acessórios ou só vasculhando seus armários. Suas mãos acariciaram a minha cintura, enquanto ele apoiou o queixo no meu ombro.
— O que você está fazendo, Gordon Ramsay? — Diante da provocação, eu esfreguei meu corpo nele.
— Não é nada complicado. — Descasquei o dente de alho com ainda às minhas costas. Seu nariz encostou na minha nuca e eu senti um arrepio subir pela minha pele. Oh, deus. — ?
— O que é? — Ele inspirou profundamente. Eu tenho sorte de ter lavado o cabelo essa manhã.
— Você está me desconcentrando. — Meu coração batia forte no peito. Forte demais. E, para ser bem sincera, eu não quero ficar particularmente distraída enquanto tento cortar o alho.
— É mesmo, chef? — Ele riu e sua risada rouca me fez virar o rosto para olhá-lo.
— Seja um bom menino e pegue os tomates para mim. — riu antes de me soltar, indo até a sacola que eu trouxe de casa e tirando os tomates de lá de dentro.
— Então, eu vou ser o seu sous chef essa noite? — Sua voz soou perto demais e, mais uma vez, estava ao meu lado.
— Isso quer dizer que eu vou mandar em você? — Perguntei em uma voz dócil, mas que já não o enganava mais. Tomei os tomates das mãos do professor de matemática, pondo-me nas pontas dos pés e clamando os seus lábios para mim, antes de me afastar novamente.
— Não tão rápido, pequeno gafanhoto. — Ele tentou me agarrar novamente, mas, de forma brincalhona, me esquivei de suas investidas. — Não até eu descobrir o que vamos comer essa noite.
— Eu já sei o que eu vou comer essa noite. — Sussurrei de forma sedutora, deixando que ele finalmente me puxasse de encontro ao seu peito.
beijou o topo da minha cabeça de forma carinhosa, olhando-me nos olhos logo depois. Eu tinha as costas pressionadas contra a estreita bancada americana de sua cozinha, ele havia me encurralado entre seu corpo e o móvel atrás de mim, mas seus olhos exalavam gentileza. E, para ser sincera, desejo.
A maior parte dos meus ingredientes estava disposta na bancada atrás de mim, mas a surpresa estava nos tomates: seriam recheados, do jeito que, quando eu faço em casa, meu pai come até se fartar. E, se tudo desse certo, também cairia pelos meus simples, mas eficientes dotes culinários. Não que eu ache que se deve pegar um homem pela barriga ou que seja a minha obrigação cozinhar para ele. Eu gosto de cozinhar e, além do mais, achei que seria interessante entrar em uma pequena aventura na cozinha (mas não no sentido sexual). O que eu queria era uma noite leve, divertida, onde poderíamos comer algo que eu fiz e assistir algo na televisão (considerando o quão limitada é a variedade de coisas que podemos fazer sem que as pessoas – e a polícia – saibam que estamos meio que namorando), algo simples e descontraído.
Agora, no entanto, com me prensando contra a bancada, eu começo a ver todo um novo significado para a “aventura na cozinha” que eu queria. Como os tomates ainda eram um empecilho, eu os coloquei na bancada atrás de mim, deixando as minhas nãos livres.
— Mas o que será que eu vou comer essa noite, ? — Eu rodeei seu pescoço com os braços, trazendo-o mais para perto de mim.
— Bom, isso depende. De que momento da noite nós estamos falando? — Meu tom foi inundado por malícia, o que o fez sorrir abertamente.
— … — Era uma advertência para que eu não o atiçasse mais? Porque isso jamais funcionaria comigo. Nós estamos falando de alguém com ascendente em escorpião aqui.
— No jantar teremos tomates recheados com steak. Para a sobremesa tem… — Eu mordi seu lábio inferior, provocando-o ainda mais. — Eu.
— E eu posso comer a sobremesa a qualquer momento? — Seu polegar traçou as linhas dos meus lábios, tão leve que eu desejei que não gostasse de provocar tanto quanto eu. Fiz que não com a cabeça.
— O ideal é comer a noite inteira. — Eu ri, tomando seu polegar em meus lábios e chupando-o delicadamente.
Nova mensagem recebida.
Mãe diz:
Onde você está? Trouxe o jantar.
Não demorou até que reclamasse meus lábios, beijando-me como se dependesse disso para sobreviver, o que eu gosto bastante. Suas mãos apalparam meu corpo e me puxaram pela bunda, forçando meu corpo contra o dele. E enquanto eu achava que, bem, isso era meio nojento porque eu estava tentando cozinhar ali, ao mesmo tempo eu estava bem excitada com toda a espontaneidade sexual da situação. me segurou, e, quando percebi, estava sentada em cima da mesa da cozinha, bem longe da bancada, com uma das mãos dele deslizando para dentro da minha calcinha e a outra segurando meu rosto, enquanto ele me olhava nos olhos. Eu adorava a forma como ele sempre parecia pedir a minha permissão silenciosamente. Era assim que sexo deveria ser.
Eu não vou negar que adoro os dedos de – ele sempre sabe o que fazer para me ouvir gemer –, mas pus minhas mãos no peito dele, empurrando-o para trás. Sua cara foi impagável, ele pareceu confuso no início, mas eu pulei da mesa e o olhei por cima do ombro.
— A sobremesa é para ser comida depois do jantar, não seja um mau menino. — Ele riu, provavelmente querendo continuar nosso “assunto”, mas não me disse nada.
O resto da preparação do jantar transcorreu normalmente – correu para lavar as mãos e me ajudar, porque queria que eu acabasse com aquilo o mais rápido possível e, uma vez que o steak estava pronto, o molho estava feito e os tomates já tinham assado, foi incumbido de pôr a mesa (eu não sou nenhuma empregada, não é?).
Foi só então que eu chequei meu celular, vendo a mensagem da minha mãe e inventando que eu estava com uma amiga e que dormiria com ela. Se minha mãe desconfiou de qualquer coisa, ela não rebateu e apenas me pediu para que eu não fosse dormir tarde, já que era noite de escola. Sem discutir, me despedi dela e soltei o celular. E como eu sou uma pessoa extremamente neurótica, depois da conversa me inclinei para limpar a bancada, já que tinha uma certa pilha de louça na pia e eu faria ele lavar tudo aquilo, com a linda desculpa “eu fiz o jantar”.
se aproximou por trás e eu apenas o olhei sem demonstrar muito interesse, embora fosse justamente o contrário. Ele não precisou dizer nada. Com uma leve pressão na base das minhas costas, eu me deitei sobre a bancada, deixando meu quadril no alto para ele. E, deus, a sensação que eu tive quando ele abaixou meu short jeans lentamente, ajoelhado atrás de mim, foi o bastante para que eu ansiasse pelo que estava por vir. beijou cada uma das minhas nádegas, menos delicado que antes, abaixando minha calcinha e jogando-a para o lado.
Foi a língua dele que me fez arfar, acariciando aquela pequena e preciosa parte de mim que gritava por atenção. A língua dele era úmida, quente, e o som que ele fazia enquanto me chupava devia ser a coisa mais sexy que eu já ouvi na vida. Ele usou a ponta da língua para me provocar, caminhando com ela durante toda a extensão da minha boceta. E eu gemi. Se havia algum lugar para começar a acreditar em deus era ali: na bancada da cozinha com me chupando. Não há nada mais divino que isso.
Quando eu senti a língua dele tentar me penetrar, soltei a respiração pesadamente, sem nem perceber que tinha prendido-a. E lá estava , a cara enfiada em mim, sua língua se movendo dentro de mim, seu dedo no meu clitóris, sua mão segurando um lado da minha anca e sem pressa nenhuma de ficar ali por quanto tempo fosse.
Cheguei perigosamente perto do meu primeiro orgasmo, mas, antes que a nuvem cor-de-rosa do meu gozo me envolvesse em sua glória, ele saiu de perto de mim apenas por tempo o suficiente para livrar-se das próprias calças. E eu juro, foi a coisa mais surpreendente do mundo quando eu gozei apenas de sentir seu pau dentro de mim. Eu tinha chegado tão perto de um orgasmo e passado tão pouco tempo que, quando ele me penetrou, foi como se isso fosse o toque final, apenas a cereja em cima do bolo. E, se isso foi premeditado, então eu nunca mais vou deixar esse cara sair de perto de mim.
O ritmo que ele impôs junto aos espasmos que meu orgasmo causou quase me fez gritar. Eu podia sentir as ondas de prazer ainda percorrerem o meu corpo e, por um momento, eu realmente agradeci por estar sobre a bancada, porque meus joelhos viraram geleia.
Ele é o melhor sous chef que eu já tive até agora.
Eu podia ouvir a respiração entrecortada de , seus gemidos roucos, o som que ecoava enquanto fazíamos amor. E eu também podia ouvir os meus próprios pedidos para que ele não parasse porque, eu juro, eu estava prestes a gozar de novo – e eu não tinha gozado nem cinco minutos atrás. Ergui meu corpo, sendo abraçada por ele. Uma de suas mãos pousou a minha perna em cima da bancada e eu me inclinei para frente, sentindo-o ainda mais fundo dentro de mim. E essa foi a segunda vez que eu gozei, com o pau dele indo e vindo dentro de mim, tão fundo que eu não queria que ele se afastasse de mim nunca mais. Aquilo era mais gostoso que a comida.
Eu sei que deve estar se segurando, ele é realmente atencioso para não acabar com as coisas rápido demais, mas isso acaba tirando todo o propósito de uma rapidinha.
— Espera. — Apertei o pulso dele e ele se afastou de novo, dessa vez com a mesma cara confusa de antes. Pobre diabo, eu não seria tão má assim. Principalmente quando estou me divertindo tanto. Eu subi na bancada, joguei minha blusa e o sutiã para trás, me sentei e o puxei para mim. — Venha aqui.
Foi como dar doce a uma criança. Vendo que eu não queria que ele se afastasse de novo (e, se formos levar em consideração tudo o que eu venho passando, eu tenho todo o direito do mundo de fazer isso – embora não queira), me completou mais uma vez, trazendo seu corpo junto do meu novamente. Foi uma sensação maravilhosa quando eu olhei nos olhos dele, era ainda mais hipnotizante transar com alguém que está tão atraído por você – que realmente se importa com o que você sente – e que te olha com tanto carinho. Isso fez as minhas entranhas se revirarem de novo, mas, dessa vez, o momento glorioso do orgasmo foi só dele. A minha barriga foi coberta de sêmen, mas não reclamei. Não quando eu tive dois orgasmos ali. Eu sorri para ele, vendo que estava tão descabelado e desarrumado quanto eu.
— Acho que temos que tomar um banho antes de jantar. — Sussurrei enquanto ele me dava a mão para que eu me levantasse.
— Acho que pouparíamos água se fôssemos juntos. — Ele rebateu enquanto eu me encaminhava até o banheiro.
— Já quer mais um pedaço da sobremesa? — Ele se aproximou, mas eu corri para o banheiro, fechando a porta atrás de mim.
— Quem está sendo uma menina má agora? — Eu ri, abrindo uma fresta da porta.
— , não precisa ser tão guloso. A sua sobremesa vai ficar aqui a noite inteira.
Eu tinha esse direito. O direito de ser uma adolescente normal, com meu namorado/professor, transando e rindo e fazendo piadas absolutamente idiotas. Eu tinha direito à normalidade. Eu queria ter um gostinho de uma vida normal antes que confrontasse Constance como ela merecia. Antes que eu me inundasse na loucura do mundo lá fora mais uma vez. Tudo sempre parecia tão bom ao lado de , eu simplesmente esquecia dos meus problemas. Nós jantamos, fizemos sexo novamente e dormimos abraçados. E eu sabia, no fundo da minha mente, que essa noite maravilhosa era apenas uma pequena ilha de sanidade no meio de tudo que eu estou passando. Que seria passageiro. E apesar do calor do corpo dele, eu não dormi muito bem.
Capítulo 21
Duas semanas e dois dias para o baile
Constance pareceu nervosa quando me viu no Clube de Debate. Talvez ela não esperasse que eu viesse ou, talvez, ela tivesse ouvido falar do meu pequeno desentendimento com no banheiro. Pelas minhas costas, todo mundo estava falando sobre isso. E porque aquilo era mais a cara da , as pessoas já não me cumprimentavam quando eu passava. Elas falavam sobre mim e desviavam o olhar quando eu passava. A minha fachada de boazinha caía aos poucos.
Me pus na frente dela quando a vi se encaminhar para a porta. Ela não ia escapar tão fácil assim.
— Indo a algum lugar? — Minha voz soou alegre, como sempre. Constance, no entanto, parecia suficientemente cansada da minha atitude. Ela cruzou os braços.
— Você não gostou que eu menti, eu sei.
— Eu não gostei? Constance, você sabe como eles estão me tratando? — Eu estava indignada. Ela negou algo que aconteceu com ela, que era idêntico ao que aconteceu comigo, que poderia ter me ajudado. E, por isso, a polícia pensa que eu sou uma mentirosa.
— Olha, , vamos ser sinceras, tudo bem? Nem somos tão amigas assim. Okay, então foi um filho da puta com nós duas…
— Não, ele estava agredindo nós duas. — Eu a corrigi e ela fingiu que não ouviu.
— Eu não vou ficar me prejudicando para te ajudar, desculpe. — Ela tentou sair, mas eu a empurrei para trás.
— Não é só sobre me ajudar. O vai sair como um santo dessa merda, você não entende isso? Eles acham que eu…
— Eu não quero saber! — Dessa vez, foi Constance que me interrompeu. Ela passou a mão pelos cabelos castanhos e me olhou consternada. — Eu sinto muito, tudo bem? pra mim é passado e, francamente, por que eu ia querer dizer à polícia o que ele fez comigo? Você já ouviu o que dizem de você pelas suas costas? Como as pessoas te culpam por uma coisa que ele fez? Você sinceramente acha que eu vou querer passar por tudo isso?
Ela era uma covarde. Eu entendi quando ela terminou de falar e me olhou envergonhada. Constance tinha uma reputação. Ser a coitada da situação não a ajudaria em nada. Ela era presidente do Clube de Debates, era linda, influente, tinha irmãs bem-sucedidas, até eu sabia. Ela não queria ser a vítima. Ela não queria ser a nova . Saí da frente da porta, esperando que ela passasse. Eu entendia.
E ela tinha razão. Estavam me culpando. Provavelmente achavam que se eu não tivesse me portado dessa ou de outra maneira, eu teria sido poupada. Nem mesmo a minha imagem anterior ajudava, você sabe, a de garotinha perfeita do papai. Eles queriam me ver queimar por um crime que eu não cometi. E eu entendia o motivo de Constance não querer se meter, embora ainda quisesse socá-la por me ver afundar e não fazer nada. Acho que não dá para cobrar isso das outras pessoas quando você passa a vida inteira olhando para seu próprio umbigo.
Eu não fui atrás dela por um motivo só: ela não fez como , que só estava tentando me prejudicar. Ela queria se proteger e eu entendia esse instinto. Eu entendia porque eu odiava a forma como as pessoas me olhavam sempre que eu passava ou como cochichavam sobre mim. E, se fosse o contrário, eu talvez tentasse me proteger como ela.
Nós temos dezoito anos. O mundo ainda é um lugar enorme para nós. Vamos sair daqui, fazer faculdade em outros lugares, nos descobrir e tudo mais. Eu esperava que tudo isso ficasse para trás. Eu esperava que ninguém ressurgisse com esse assunto. Na saída da sala, dei de cara com Bobby. Ele me olhou toda e eu rolei os olhos. Não tinha paciência para lidar com ele. Virei para o outro lado, mas Bobby veio atrás de mim.
— , você está bem? — Fofo, mas eu não me importava. Eu o ignorei. — Eu sinto muito pelas coisas que estão falando sobre você. Eu não sabia que iam usar o que eu disse para…
Aquilo fez com que eu girasse nos meus saltos e o olhasse feio. Tinha sido ele.
— Cai fora. — Ele estacou. Eu o ignorava e costumava me desvencilhar de suas tentativas de conversa com o máximo de educação possível, mas hoje fui simplesmente rude. Hoje eu simplesmente não me importava. — Você tá ouvindo? Para de ficar andando atrás de mim como se você fosse um cachorrinho perdido. Eu não tô nem aí para o que você sente porque você arruinou a minha vida, então cai fora e me deixa em paz! — Vociferei, atraindo a atenção de outros alunos. Oh, certo, vão em frente e me olhem torto por humilhar alguém que vocês humilham todos os dias, hipócritas.
Bobby abaixou a cabeça e saiu de perto de mim, eu tinha lágrimas nos olhos. Eu sabia o quão babaca estava sendo, eu apenas não conseguia me controlar. Eu não estava no meu melhor dia e a conversa com Constance não tinha contribuído em nada para ajudar.
Jen e Jade se aproximaram de mim. Elas estavam com um grupo mais à frente e me ladearam tão logo se deram conta da situação. Cada uma tocou um de meus ombros.
— , você está bem? — Jade me perguntou.
— Precisa de um gole d’água? — Jen parecia quase genuinamente preocupada. Eu quase me convenci de que isso era real.
— Não e não.
Me desvencilhei das duas. Fui na direção do meu armário, mas uma das outras meninas riu de mim. Eu a conhecia de longe, não costumávamos nos falar e ela por vezes andava com as gêmeas. Eu me virei para olhá-la.
— Dia difícil, ? — Ela ergueu a voz, vendo que eu a encarava.
As pessoas realmente querem testar a minha paciência hoje. Kelly integrava o pequeno séquito de , o que não significava que eu tinha que gostar dela. Respirei fundo. Eu não tinha que agir como a psicopata descontrolada que a polícia já achava que eu era.
Ela provavelmente achou que eu me calei por medo. Eu não me importava. Destranquei o meu armário, me focando em respirar fundo e esvaziar a cabeça. Kelly se aproximou. Jen e Jade vieram atrás dela, como se temessem que eu fosse assassinar mais alguém.
— Sabe o que ajuda? — Kelly começou. Eu a olhei de esguelha. — Dormir com o melhor amigo do seu namorado.
Eu não gosto de confrontos. Na maioria das vezes, a minha abordagem relativa a confrontos é passivo-agressiva. Eu uso o sarcasmo, a ironia, por vezes fujo de confrontos diretos porque realmente não gosto deles. Isso mudou. Agora, depois de , Constance e todo o meu mau humor? Isso tinha passado. Eu não fazia ideia do que eu tinha acabado de fazer, no começo. Eu apenas vi Kelly Shaw no chão, com a mão na lateral da cabeça e o olhar chocado de todos os alunos do corredor em cima de mim. Meu livro de física estava na minha mão direita. Jade se virou pra mim:
— , o que você fez? — Eu franzi a testa. Meu coração estava acelerado. Eu realmente tinha odiado o que ela tinha me falado.
Senti as lágrimas rolando pelo meu rosto. A sensação de que eu tinha errado de novo. Kelly se levantou, me olhou fundo nos olhos e saiu espumando de raiva. Eu tinha certeza que ela procuraria o diretor. Eu olhei para Jade e Jen, que pareciam chocadas.
— Eu não queria… — Fechei a boca, me impedindo de continuar falando. Eu obviamente queria machucá-la. Eu só não esperava que fosse machucá-la de verdade (para ser bem sincera, ela tinha merecido por querer chutar um cachorro morto).
— Vem, vamos tomar uma água. — Jade me ofereceu o braço e eu aceitei.
Durante a aula de física, meu nome foi anunciado no alto-falante para que eu fosse até a sala do diretor Jeffries. O professor me olhou surpreso, certamente, enquanto eu ergui a cabeça e fui receber a minha sentença.
Quando cheguei, o diretor já me aguardava em sua sala. Entrar lá me lembrava da primeira vez que falei com os detetives, quando descobri que tinha morrido. Me sentei na cadeira e recebi um olhar condescendente do diretor.
Veja bem, ele não pode fazer muita coisa. Primeiro? Eu fui um dos destaques da escola ao ser aceita previamente em Columbia. Eu fui a verdadeira estrela do time de natação durante todo o ensino médio. Meu pai é o advogado mais famoso da cidade, pelo amor de deus. E, além de tudo, todo mundo sabia agora que eu tinha sido uma suposta vítima das agressões de . Quer dizer, sério, o que o diretor Jeffries poderia fazer comigo agora? Me dar uma detenção? Por favor.
— , sente-se, por favor. — Ele me analisou enquanto eu me sentava, bastante composta para quem tinha acertado uma garota com um livro e depois chorado por cerca de cinco minutos no banheiro. — Eu soube de Kelly Shaw o que aconteceu.
— Certo. — Me recostei na cadeira, esperando para saber o que mais ele tinha a dizer.
— E todos nós sabemos que você está passando por uma enorme carga de stress, mas isso – violência – não é justificável.
— Certo. — Repeti.
— Eu não vou tomar medidas drásticas dessa vez, mas…
— Uau, como eu sou sortuda! — Meu sussurro o pegou de surpresa.
Suponho que seja fácil. Você senta a sua bunda gorda na cadeira, finge que se importa com os alunos enquanto mete a mão no nosso dinheiro e se vangloria das nossas conquistas. Onde estava o diretor quando estava me perseguindo? Ou quando Kelly Shaw estava me encurralando no corredor? Isso mesmo: sentado em cima de sua bunda gorda e provavelmente fazendo planos para gastar o dinheiro que nossos pais investem na escola.
— , eu não vou tolerar sarcasmo.
— E eu não vou tolerar ser chamada de vagabunda na minha cara!
— Eu já disse que…
— Oh, eu sei, violência não justifica e etc. Eu só gostaria, diretor Jeffries, que da próxima vez o senhor ouvisse os dois lados da história antes de julgar. — Minha voz ecoou aguda e quase histérica, mas não me importei. Me levantei da cadeira, dando as costas mesmo ouvindo que ele não tinha terminado de falar.
Foda-se o Diretor Jeffries.
Quando saí da sala, senti os olhares de todos aqueles alunos em cima de mim, ouvi seus cochichos, vi Kelly esperando que eu saísse derrotada da sala do diretor. Na minha cabeça, eu corri até ela e puxei seus cabelos enquanto a estapeava. Na vida real, eu sorri e passei por ela incólume, o diretor aparecendo no corredor logo depois. Aposto que estava pronto para me mandar voltar, mas não queria parecer o otário que era na frente de todos aqueles adolescentes. Seria a mesma coisa que jogar sangue na água. E, a julgar pelos meus dois perseguidores, esta escola tem muitos tubarões.
A minha banheira quente me esperava. Eu me despi das minhas roupas e mergulhei o corpo inteiro, abraçando meus joelhos enquanto ouvia música. Respirei fundo. Meu dia não estava sendo fácil. As últimas semanas tinham sido particularmente espinhosas. Eu nunca achei que diria isso, mas preferia que estivesse vivo.
Sem Constance e com toda a escola fingindo que o amava, que chance eu tinha de provar que ele era um perseguidor? Que ele me agrediu? Que ele quase me estuprou? era a única pessoa que sabia do meu segredo e, mesmo assim, ele só soube depois que aquilo já tinha se tornado habitual. Eu não contei a ele no começo, eu não contei a ninguém por vergonha, porque eu teria que admitir que dormi com ele. Liguei o jato da hidromassagem, sentindo a água massagear minha pele.
Eu só precisava me manter firme até o baile de formatura. Se eu fizesse isso, então tudo ficaria bem. Eu iria para a faculdade. Eu esqueceria do que aconteceu na escola.
Nova mensagem recebida.
Keyshia diz:
Cara, você bateu na KShaw?
Não que eu não ache que ela tenha merecido, ela é uma vaca.
Eu ri da mensagem da Key. Ri sem humor, preocupada com o que aquilo faria com a minha imagem que, para os detetives, já não era boa. Eu a respondi rapidamente, correndo meus dedos molhados pela tela.
Nova mensagem recebida.
Keyshia diz:
Eu sei que você não faria algo assim de graça, relaxa.
Para falar a verdade, você ar-ra-sou.
Eu sorri. Não tenho certeza se isso é verdade ou não, mas acho que as pessoas vão pensar duas vezes antes de tentarem fazer graça comigo de novo.
Infelizmente, eu não contava com o diretor Jeffries ligando para os meus pais. Tive uma pequena reprise da conversa entre o diretor e eu, com meus pais tentando brigar comigo, ao mesmo tempo em que tentavam entender o meu lado. Só que eles não entendiam. Nem eu mesma me entendia. Eu não sou violenta, mas, nesses dias, tinha batido em e Kelly. Eu não queria ser a garota que resolve tudo com socos e pontapés.
Dessa vez, quando recebi um sermão, eu permaneci calada.
Constance pareceu nervosa quando me viu no Clube de Debate. Talvez ela não esperasse que eu viesse ou, talvez, ela tivesse ouvido falar do meu pequeno desentendimento com no banheiro. Pelas minhas costas, todo mundo estava falando sobre isso. E porque aquilo era mais a cara da , as pessoas já não me cumprimentavam quando eu passava. Elas falavam sobre mim e desviavam o olhar quando eu passava. A minha fachada de boazinha caía aos poucos.
Me pus na frente dela quando a vi se encaminhar para a porta. Ela não ia escapar tão fácil assim.
— Indo a algum lugar? — Minha voz soou alegre, como sempre. Constance, no entanto, parecia suficientemente cansada da minha atitude. Ela cruzou os braços.
— Você não gostou que eu menti, eu sei.
— Eu não gostei? Constance, você sabe como eles estão me tratando? — Eu estava indignada. Ela negou algo que aconteceu com ela, que era idêntico ao que aconteceu comigo, que poderia ter me ajudado. E, por isso, a polícia pensa que eu sou uma mentirosa.
— Olha, , vamos ser sinceras, tudo bem? Nem somos tão amigas assim. Okay, então foi um filho da puta com nós duas…
— Não, ele estava agredindo nós duas. — Eu a corrigi e ela fingiu que não ouviu.
— Eu não vou ficar me prejudicando para te ajudar, desculpe. — Ela tentou sair, mas eu a empurrei para trás.
— Não é só sobre me ajudar. O vai sair como um santo dessa merda, você não entende isso? Eles acham que eu…
— Eu não quero saber! — Dessa vez, foi Constance que me interrompeu. Ela passou a mão pelos cabelos castanhos e me olhou consternada. — Eu sinto muito, tudo bem? pra mim é passado e, francamente, por que eu ia querer dizer à polícia o que ele fez comigo? Você já ouviu o que dizem de você pelas suas costas? Como as pessoas te culpam por uma coisa que ele fez? Você sinceramente acha que eu vou querer passar por tudo isso?
Ela era uma covarde. Eu entendi quando ela terminou de falar e me olhou envergonhada. Constance tinha uma reputação. Ser a coitada da situação não a ajudaria em nada. Ela era presidente do Clube de Debates, era linda, influente, tinha irmãs bem-sucedidas, até eu sabia. Ela não queria ser a vítima. Ela não queria ser a nova . Saí da frente da porta, esperando que ela passasse. Eu entendia.
E ela tinha razão. Estavam me culpando. Provavelmente achavam que se eu não tivesse me portado dessa ou de outra maneira, eu teria sido poupada. Nem mesmo a minha imagem anterior ajudava, você sabe, a de garotinha perfeita do papai. Eles queriam me ver queimar por um crime que eu não cometi. E eu entendia o motivo de Constance não querer se meter, embora ainda quisesse socá-la por me ver afundar e não fazer nada. Acho que não dá para cobrar isso das outras pessoas quando você passa a vida inteira olhando para seu próprio umbigo.
Eu não fui atrás dela por um motivo só: ela não fez como , que só estava tentando me prejudicar. Ela queria se proteger e eu entendia esse instinto. Eu entendia porque eu odiava a forma como as pessoas me olhavam sempre que eu passava ou como cochichavam sobre mim. E, se fosse o contrário, eu talvez tentasse me proteger como ela.
Nós temos dezoito anos. O mundo ainda é um lugar enorme para nós. Vamos sair daqui, fazer faculdade em outros lugares, nos descobrir e tudo mais. Eu esperava que tudo isso ficasse para trás. Eu esperava que ninguém ressurgisse com esse assunto. Na saída da sala, dei de cara com Bobby. Ele me olhou toda e eu rolei os olhos. Não tinha paciência para lidar com ele. Virei para o outro lado, mas Bobby veio atrás de mim.
— , você está bem? — Fofo, mas eu não me importava. Eu o ignorei. — Eu sinto muito pelas coisas que estão falando sobre você. Eu não sabia que iam usar o que eu disse para…
Aquilo fez com que eu girasse nos meus saltos e o olhasse feio. Tinha sido ele.
— Cai fora. — Ele estacou. Eu o ignorava e costumava me desvencilhar de suas tentativas de conversa com o máximo de educação possível, mas hoje fui simplesmente rude. Hoje eu simplesmente não me importava. — Você tá ouvindo? Para de ficar andando atrás de mim como se você fosse um cachorrinho perdido. Eu não tô nem aí para o que você sente porque você arruinou a minha vida, então cai fora e me deixa em paz! — Vociferei, atraindo a atenção de outros alunos. Oh, certo, vão em frente e me olhem torto por humilhar alguém que vocês humilham todos os dias, hipócritas.
Bobby abaixou a cabeça e saiu de perto de mim, eu tinha lágrimas nos olhos. Eu sabia o quão babaca estava sendo, eu apenas não conseguia me controlar. Eu não estava no meu melhor dia e a conversa com Constance não tinha contribuído em nada para ajudar.
Jen e Jade se aproximaram de mim. Elas estavam com um grupo mais à frente e me ladearam tão logo se deram conta da situação. Cada uma tocou um de meus ombros.
— , você está bem? — Jade me perguntou.
— Precisa de um gole d’água? — Jen parecia quase genuinamente preocupada. Eu quase me convenci de que isso era real.
— Não e não.
Me desvencilhei das duas. Fui na direção do meu armário, mas uma das outras meninas riu de mim. Eu a conhecia de longe, não costumávamos nos falar e ela por vezes andava com as gêmeas. Eu me virei para olhá-la.
— Dia difícil, ? — Ela ergueu a voz, vendo que eu a encarava.
As pessoas realmente querem testar a minha paciência hoje. Kelly integrava o pequeno séquito de , o que não significava que eu tinha que gostar dela. Respirei fundo. Eu não tinha que agir como a psicopata descontrolada que a polícia já achava que eu era.
Ela provavelmente achou que eu me calei por medo. Eu não me importava. Destranquei o meu armário, me focando em respirar fundo e esvaziar a cabeça. Kelly se aproximou. Jen e Jade vieram atrás dela, como se temessem que eu fosse assassinar mais alguém.
— Sabe o que ajuda? — Kelly começou. Eu a olhei de esguelha. — Dormir com o melhor amigo do seu namorado.
Eu não gosto de confrontos. Na maioria das vezes, a minha abordagem relativa a confrontos é passivo-agressiva. Eu uso o sarcasmo, a ironia, por vezes fujo de confrontos diretos porque realmente não gosto deles. Isso mudou. Agora, depois de , Constance e todo o meu mau humor? Isso tinha passado. Eu não fazia ideia do que eu tinha acabado de fazer, no começo. Eu apenas vi Kelly Shaw no chão, com a mão na lateral da cabeça e o olhar chocado de todos os alunos do corredor em cima de mim. Meu livro de física estava na minha mão direita. Jade se virou pra mim:
— , o que você fez? — Eu franzi a testa. Meu coração estava acelerado. Eu realmente tinha odiado o que ela tinha me falado.
Senti as lágrimas rolando pelo meu rosto. A sensação de que eu tinha errado de novo. Kelly se levantou, me olhou fundo nos olhos e saiu espumando de raiva. Eu tinha certeza que ela procuraria o diretor. Eu olhei para Jade e Jen, que pareciam chocadas.
— Eu não queria… — Fechei a boca, me impedindo de continuar falando. Eu obviamente queria machucá-la. Eu só não esperava que fosse machucá-la de verdade (para ser bem sincera, ela tinha merecido por querer chutar um cachorro morto).
— Vem, vamos tomar uma água. — Jade me ofereceu o braço e eu aceitei.
Durante a aula de física, meu nome foi anunciado no alto-falante para que eu fosse até a sala do diretor Jeffries. O professor me olhou surpreso, certamente, enquanto eu ergui a cabeça e fui receber a minha sentença.
Quando cheguei, o diretor já me aguardava em sua sala. Entrar lá me lembrava da primeira vez que falei com os detetives, quando descobri que tinha morrido. Me sentei na cadeira e recebi um olhar condescendente do diretor.
Veja bem, ele não pode fazer muita coisa. Primeiro? Eu fui um dos destaques da escola ao ser aceita previamente em Columbia. Eu fui a verdadeira estrela do time de natação durante todo o ensino médio. Meu pai é o advogado mais famoso da cidade, pelo amor de deus. E, além de tudo, todo mundo sabia agora que eu tinha sido uma suposta vítima das agressões de . Quer dizer, sério, o que o diretor Jeffries poderia fazer comigo agora? Me dar uma detenção? Por favor.
— , sente-se, por favor. — Ele me analisou enquanto eu me sentava, bastante composta para quem tinha acertado uma garota com um livro e depois chorado por cerca de cinco minutos no banheiro. — Eu soube de Kelly Shaw o que aconteceu.
— Certo. — Me recostei na cadeira, esperando para saber o que mais ele tinha a dizer.
— E todos nós sabemos que você está passando por uma enorme carga de stress, mas isso – violência – não é justificável.
— Certo. — Repeti.
— Eu não vou tomar medidas drásticas dessa vez, mas…
— Uau, como eu sou sortuda! — Meu sussurro o pegou de surpresa.
Suponho que seja fácil. Você senta a sua bunda gorda na cadeira, finge que se importa com os alunos enquanto mete a mão no nosso dinheiro e se vangloria das nossas conquistas. Onde estava o diretor quando estava me perseguindo? Ou quando Kelly Shaw estava me encurralando no corredor? Isso mesmo: sentado em cima de sua bunda gorda e provavelmente fazendo planos para gastar o dinheiro que nossos pais investem na escola.
— , eu não vou tolerar sarcasmo.
— E eu não vou tolerar ser chamada de vagabunda na minha cara!
— Eu já disse que…
— Oh, eu sei, violência não justifica e etc. Eu só gostaria, diretor Jeffries, que da próxima vez o senhor ouvisse os dois lados da história antes de julgar. — Minha voz ecoou aguda e quase histérica, mas não me importei. Me levantei da cadeira, dando as costas mesmo ouvindo que ele não tinha terminado de falar.
Foda-se o Diretor Jeffries.
Quando saí da sala, senti os olhares de todos aqueles alunos em cima de mim, ouvi seus cochichos, vi Kelly esperando que eu saísse derrotada da sala do diretor. Na minha cabeça, eu corri até ela e puxei seus cabelos enquanto a estapeava. Na vida real, eu sorri e passei por ela incólume, o diretor aparecendo no corredor logo depois. Aposto que estava pronto para me mandar voltar, mas não queria parecer o otário que era na frente de todos aqueles adolescentes. Seria a mesma coisa que jogar sangue na água. E, a julgar pelos meus dois perseguidores, esta escola tem muitos tubarões.
A minha banheira quente me esperava. Eu me despi das minhas roupas e mergulhei o corpo inteiro, abraçando meus joelhos enquanto ouvia música. Respirei fundo. Meu dia não estava sendo fácil. As últimas semanas tinham sido particularmente espinhosas. Eu nunca achei que diria isso, mas preferia que estivesse vivo.
Sem Constance e com toda a escola fingindo que o amava, que chance eu tinha de provar que ele era um perseguidor? Que ele me agrediu? Que ele quase me estuprou? era a única pessoa que sabia do meu segredo e, mesmo assim, ele só soube depois que aquilo já tinha se tornado habitual. Eu não contei a ele no começo, eu não contei a ninguém por vergonha, porque eu teria que admitir que dormi com ele. Liguei o jato da hidromassagem, sentindo a água massagear minha pele.
Eu só precisava me manter firme até o baile de formatura. Se eu fizesse isso, então tudo ficaria bem. Eu iria para a faculdade. Eu esqueceria do que aconteceu na escola.
Nova mensagem recebida.
Keyshia diz:
Cara, você bateu na KShaw?
Não que eu não ache que ela tenha merecido, ela é uma vaca.
Eu ri da mensagem da Key. Ri sem humor, preocupada com o que aquilo faria com a minha imagem que, para os detetives, já não era boa. Eu a respondi rapidamente, correndo meus dedos molhados pela tela.
Nova mensagem recebida.
Keyshia diz:
Eu sei que você não faria algo assim de graça, relaxa.
Para falar a verdade, você ar-ra-sou.
Eu sorri. Não tenho certeza se isso é verdade ou não, mas acho que as pessoas vão pensar duas vezes antes de tentarem fazer graça comigo de novo.
Infelizmente, eu não contava com o diretor Jeffries ligando para os meus pais. Tive uma pequena reprise da conversa entre o diretor e eu, com meus pais tentando brigar comigo, ao mesmo tempo em que tentavam entender o meu lado. Só que eles não entendiam. Nem eu mesma me entendia. Eu não sou violenta, mas, nesses dias, tinha batido em e Kelly. Eu não queria ser a garota que resolve tudo com socos e pontapés.
Dessa vez, quando recebi um sermão, eu permaneci calada.
Capítulo 22
Duas semanas para o baile
É sexta-feira. Nem mesmo a morte de consegue tirar a animação de todos os estudantes para a sexta. Festas, os esquentas para a formatura, viagens ao mirante para transar… Tudo isso acontece nas sextas. Eu observei, como uma espectadora distante, o modo como eles interagiam entre si. Aqueles alunos não tinham sido manchados pela tragédia. Eles não sabiam o que era ser verdadeiramente infelizes, ao menos a maioria deles. E eu queria muito ser como eles: ignorante.
Jen e Jade estava conversando, falando sobre alguma festa que teria na casa de algum jogador do time de futebol. Eu ouvi algo sobre uma fogueira em homenagem a , quando vi passando pelo corredor. Ele parou na minha frente, me olhou nos olhos e me chamou.
— , será que podemos conversar na minha sala? — Seu tom de voz era distante e profissional.
— Quer companhia, ? — Jade se ofereceu, mas eu neguei.
As gêmeas me olharam e eu dei de ombros para , acompanhando-o pelo corredor sob os olhares de todo mundo. Eu já estava ficando acostumada com a atenção constante. Eu não sei se as gêmeas acham que eu sou uma vítima de , também, mas elas não parecem tão entusiasmadas com a presença dele como antes. Talvez, como a polícia, desconfiassem que ele tivesse matado , o que é absurdo.
Eu não me importava. Eu só me importava com o silêncio do meu suposto perseguidor, aquilo não parecia bom. O silêncio parecia um augúrio. Algo parecia errado.
abriu a porta para mim e me esperou passar para entrar, fechando-a atrás de si e a trancando. Ele me olhou de longe, inicialmente, mas logo veio até mim e me abraçou com força.
— Você está bem? — Ele me perguntou, sua voz grave fazia com que meu peito se aquecesse, ao menos um pouco.
— Sim, tudo bem. — Menti.
Eu não queria que ele se preocupasse comigo. Eu não estava bem. Dificilmente eu ficaria bem. Todos os dias, acordo com medo de ser presa ou de que vá preso. O medo que eu sentia de , agora se transformou em medo da polícia, do meu novo perseguidor, de perder o controle e agredir alguém de novo. Nada disso parecia certo, a minha vida não deveria ser dessa forma.
— … Eu ouvi sobre Kelly. — me disse, em voz baixa, enquanto ainda me abraçava.
— , não. — Pedi, depois de afastar minha cabeça do peito dele e olhá-lo. — O que quer que você queira dizer, por favor: não diga.
abriu a boca, mas o meu olhar deve ter mostrado o quanto eu queria evitar aquele assunto.
— E Bobby? Quer falar sobre Bobby? — Com os olhos cheios de lágrimas, eu neguei com a cabeça, afundando o meu rosto no pescoço dele. Senti seus braços se apertarem ao meu redor, o calor dele penetrando meus ossos já frios, o cheiro dele que me acalmava.
Eu quis chorar, simplesmente me esconder nos braços dele e chorar até que toda a minha dor tivesse passado, até que toda a frustração desatasse aquele nó apertado no meu peito. Mas eu não queria que se preocupasse, eu não queria que ele tentasse me ajudar e acabasse se incriminando. Afinal de contas, quem poderia provar que não matou ? Ele era sozinho, seu prédio não tinha câmeras, eu não estava com ele. E, mesmo que estivesse, eu não podia dizer à polícia que estava transando com ele porque, aí sim, eles teriam motivo suficiente para prender nós dois.
Antes eu tivesse matado . Antes eu tivesse feito isso. E, então, eu teria a certeza de que estava pagando por um crime que cometi. Eu teria a certeza de que ninguém mais sofreria com essa investigação imbecil. Eu teria a certeza de que a última coisa que veria, seria o meu sorriso de triunfo enquanto ele sumia no grande abismo da morte. Teria sido poético, eu acredito. Mas eu não fiz isso.
Me desvencilhei de antes que começasse a chorar. Abri um sorriso, ajeitei meu cabelo e pousei um beijo rápido em seus lábios.
— Não se preocupe, eu sou durona. Isso vai passar.
— Não é questão de ser durona ou não, . Você sabe disso. — tocou minha bochecha com o seu dedo, acariciando-a ternamente. — Eu vou te ver hoje?
— Acho que sim. — Dei de ombros. O sinal tocou e eu fui salva, literalmente, pelo gongo. — Tenho que ir.
— Me ligue se precisar de qualquer coisa.
Forcei um sorriso enquanto saía da sala dele, encontrando Keyshia a poucos metros, encostada no meu armário.
— Vamos?
As pessoas a olhavam feio enquanto ela andava ao meu lado, mas Keyshia parecia alheia a eles. Eu era muito grata pela amizade dela. Eu não me sentia insegura ao lado de Keyshia, eu nem ao menos sentia que ela podia ser falsa comigo, como eu frequentemente achava que Jen e Jade Kwon eram. Ela era o tipo de garota que inspirava confiança, um porto seguro. Keyshia não me crivava de perguntas a todo momento, muito menos parecia se roer de curiosidade sobre o crime. Ela aceitava que esse assunto me deixava desconfortável e não tentava se meter.
— Então, você quer sair hoje? Tem uma festa maravilhosa que um cara da faculdade me convidou.
— Você está frequentando festas de fraternidades agora? — Eu ri da expressão convencida dela, tentando atenuar a minha ansiedade com aquele assunto despreocupado.
— Ele é gostoso. Tenho certeza que posso te apresentar uns amigos dele. — Ela me olhou atentamente, mas eu apenas neguei com a cabeça.
— Eu acabei de ficar solteira. Acho que preciso dar um passo de cada vez. — Dei de ombros. e eu namoramos por meses e meses. Era comum que alguém quisesse um tempo solteira, não? De qualquer forma, não é como se eu possa revelar meu relacionamento com para as pessoas. Ainda.
Esse será meu último ano na escola. Em breve, estarei na faculdade de matemática, vivendo uma vida diferente. Ninguém vai se surpreender se nós começarmos a namorar depois da escola. O que eles poderiam fazer? Uma vez que eu terminasse o colégio, eles não podiam fazer nada contra nosso relacionamento.
Keyshia sorriu e pôs uma mão no meu ombro, seu toque morno contra a minha pele, suave e amigável.
— Tudo bem. Então vamos à festa juntas, sem garotos.
— Achei que você fosse com o seu novo namorado. — Eu ri. — Key, você não precisa dispensar o cara por mim. Eu estou bem.
— Garota, nem tenta mentir pra mim. — Key rolou seus olhos escuros para cima, apertando seus lábios em uma clara expressão descrente. — Sério, se arruma e me espera às sete. Nós vamos beber, nos divertir e não precisamos de homem nenhum para isso.
Eu acabei concordando. Ela tinha razão. Eu tinha que me divertir de alguma forma. Fizemos nosso caminho até a aula de química orgânica, sentando lado a lado na classe enquanto o professor começava a passar o conteúdo no quadro.
Nova mensagem recebida.
Perseguidor #2 diz:
Sentiu a minha falta? Eu senti a sua. Acho que vou vê-la de perto esta noite.
Quando meu celular vibrou e eu vislumbrei a mensagem na tela, parei a minha mão no ar, no meio do ato de passar rímel nos cílios. Eu tinha falado com que não podia vê-lo hoje, mas que iria para sua casa no sábado. Ele concordou e disse que eu deveria viver a minha adolescência.
E eu sei que não preciso da permissão dele, mas, às vezes, me pergunto como seria se nós tivéssemos nos conhecido em situações diferentes. Se ele fosse da minha idade, por exemplo, ou se fosse o professor de outra escola e pudéssemos sair juntos. Eu não gosto de caras de fraternidade. Eu não gosto de como eles são uma versão mais babaca dos caras populares do ensino médio, detesto o modo como eles nos olham e detesto ainda mais a cerveja de má qualidade que eles sempre nos servem. Talvez porque eu estivesse apaixonada por , eu não conseguia mais me interessar por outros caras. Eu o queria ao meu lado, bebendo e dançando comigo, conhecendo minhas amigas e sendo apresentado aos meus pais.
Esse sentimento e a mensagem do meu perseguidor quase minaram toda a minha animação para a festa.
— ? — A voz da minha mãe ecoou enquanto ela entrava no meu quarto, vindo na direção do meu banheiro. — Você está linda.
— Não estou sempre? — Retruquei, escondendo o celular dentro da minha bolsa, tentando parecer normal e não alguém praticamente em pânico.
— Convencida. — Minha mãe riu. Ela me olhou enquanto eu tentava terminar a minha maquiagem. É meio difícil fazer isso enquanto estou praticamente tremendo. — Onde você vai?
— Keyshia me chamou para uma festa de alguns amigos dela. — Dei de ombros.
— Que horas você volta? — Eu a olhei pelo espelho, pressionando meus lábios juntos por um momento, para espalhar um pouco de gloss neles.
— Não sei, não precisa me esperar acordada. — Minha mãe franziu a testa, eu conhecia aquele olhar. — Olha, se você quiser, eu fico em casa.
Não é como se eu quisesse ir à festa, depois daquilo. Eu esperei que minha mãe fizesse o que fazia sempre, que ela me dissesse que eu devia ser mais responsável ou que eu não deveria ir. Mas minha mãe não fez isso, ela pegou a escova em cima da pia e penteou meus cabelos delicadamente.
— Não, divirta-se. Você precisa. Só… , se algo acontecer, quero que ligue para o seu pai e faça tudo o que ele mandar, tudo bem? — Eu anuí delicadamente, prestando atenção nela pelo espelho.
Esperei que ela falasse qualquer outra coisa, mas minha mãe apenas beijou o meu rosto e sorriu para mim antes de me deixar sozinha. Quando Keyshia chegou, eu hesitei, mas acabei entrando no carro. O que de tão ruim pode acontecer?
— Não se perca de mim. — Keyshia sussurrou, me dando a mão e me guiando pela casa da fraternidade.
A casa dos Betas era grande e espaçosa, exatamente o tipo de fraternidade de mauricinhos que você espera ver em um seriado de TV. O gramado estava lotado de gente, de garotos, principalmente, e algumas garotas de roupas curtas, com bebidas nas mãos.
Assim que entramos, um grupo de rapazes assoviou enquanto passávamos, mas Keyshia rolou os olhos e seguiu em frente, até um grupo um pouco menor, que se reunia ao redor da piscina. Assim que nos viu, um rapaz se destacou do grupo e veio até nós duas com um sorriso no rosto. Ele era negro, alto, atlético e muito gostoso. Key tinha razão quanto a esse cara.
Ele a cumprimentou com um selinho enquanto eu olhava ao redor. Quem poderia ser? Quem poderia ser suficientemente psicopata para ser o meu perseguidor? Ou talvez ele disse aquilo como um blefe, para me fazer sentir medo? Era aterrorizante considerar todas essas possibilidades, ter que pensar em tudo isso. Talvez eu fique louca.
— Sean, esta é . — Eu me virei ao ouvir o som do meu nome. O sorriso bonito e simétrico do tal Sean vacilou por um momento. Acho que é isso que um assassinato faz com as pessoas.
— Ei, eu conheço você, a garota do assassinato. Não sabia que você era amiga de uma celebridade, Key. — Para a defesa de Key, ela ainda teve a decência de cutucá-lo para que ele tentasse ser menos desagradável.
— Você deve estar me confundindo com a Angelina Jolie. Muita gente comete esse erro. — Mostrei a ele meu sorriso mais brilhante, tentando tornar a situação menos insuportável.
Já era suficientemente ruim que toda a escola falasse de mim pelas costas, eu não era obrigada a aturar as ironias daqueles babacas da faculdade, também. Sean desconversou, nos entregou um copo cheio de cerveja sem nem ao menos perguntar a nossa idade e nos apresentou ao seu grupo de amigos. Keyshia e eu ficamos junto deles por cinco minutos antes que ela me pegasse pelo braço, alegando que íamos ao banheiro.
— Babaca. — Ela comentou tão logo saímos de perto dos rapazes. — Desculpe por isso, , eu não sabia que o Sean bancaria o otário perto de você.
— A culpa não é sua, Key. — Eu tentei sorrir, mas não consegui.
— Você quer ir embora? — Key era uma boa amiga. Se o mesmo acontecesse com , ela apenas me diria que eu estava sendo uma estraga prazeres. Fiz que não.
— A bebida aqui é de graça. — Me expliquei e ela riu.
— Tenho que achar um novo cara para beijar, então. — Key suspirou alto, olhando para os rapazes por cima do ombro. — Um menos babaca.
— É uma festa dos Betas, Key, menos babaca não existe. — Eu ri junto dela, tentando não me deixar abater.
Nós bebemos mais, dançamos juntas, zombamos da cara de alguns rapazes e, por um momento, eu achei que estava me divertindo. Meu celular, desligado na minha bolsa, não oferecia perigo algum. Nenhum perseguidor podia falar comigo se ele não estivesse ligado. Eu estava segura no meio de tantas pessoas.
— Vou pegar mais bebida. — Key anunciou, apertando a minha mão antes de sair em direção aos barris de cerveja.
Continuei dançando. O álcool me intoxicava com uma falsa coragem, com a falsa ideia de que o mundo era um lugar seguro para alguém como eu, que eu poderia me divertir e ser uma garota normal por uma noite, sem preocupações. Eu estava certa disso, até uma mão grande e pesada pousar no meu ombro. Meu corpo pulou como se tivesse sido atingido por uma corrente elétrica, eu puxei o braço do estranho e me virei de frente apenas para ver .
— Ei. Achei que era você.
Acho que vou vê-la de perto esta noite. Meu coração quase saiu pela boca ao ver meu ex-namorado ali, sorrindo para mim com uma garrafa de cerveja na outra mão. Ele pareceu não notar a minha cara de espanto ou que meu corpo estava completamente paralisado pelo medo. tomou o meu silêncio e a minha falta de movimento como consentimento para se aproximar e me beijar no rosto demoradamente. Ele cheirava a álcool.
— O que você está fazendo aqui? — Meu tom de voz era incerto, ligeiramente mais agudo que o normal, o que fez franzir a testa, confuso.
— Gata, você esqueceu que meu irmão é um Beta?
Eu tinha esquecido. O irmão mais velho de é a ovelha negra da família, o desgarrado. Ele parecia não se ater à imagem perfeita que sua família tentava passar a todo momento e eu raramente o vi, porque ele jamais voltava para casa, nem mesmo nas férias. Ele era um fantasma, praticamente.
Mesmo assim, eu ainda me sentia insegura. Pensando bem, talvez tenha notado como me olhava. Talvez ele tivesse armado tudo isso para se vingar da vadia que o chifrou e quebrou o seu coração. Talvez ele tivesse matado . Eles eram amigos. jamais teria motivo para desconfiar de seu melhor amigo, não?
Tantas ideias se passaram pela minha cabeça e o único instinto que tive foi o de me afastar dele. , no entanto, seguia alheio ao meu terror.
— Quer dançar? — Ele me chamou, tentando segurar a minha mão.
— , nós terminamos. — Eu falei baixo, tentando ver onde Keyshia estava. Eu tinha que sair dali.
— Eu sei. — Ele pareceu desanimado, mas um gole de cerveja serviu como um bálsamo para isso, aparentemente. — Mas podemos ser amigos.
— Não. — Dei um passo para trás. — Eu tenho que procurar a Keyshia.
Os dedos de se enrolaram ao redor do meu pulso e ele me olhou com mágoa nos olhos claros. Eu o puxei para baixo, me liberando de seu aperto e dei-lhe as costas, me enfiando nos espaços apertados entre os corpos das outras pessoas, tentando ficar tão longe dele quanto possível. O meu coração ribombava no peito, minha boca estava seca e minha cabeça girava, mas nada disso fez com que eu parasse. Eu andei na direção dos barris, apenas para constatar que Key não estava lá.
Tirei meu celular da bolsa, ligando-o enquanto olhava ao redor. Se chegasse perto de mim de novo, eu faria um escândalo. Eu não o queria perto de mim, nunca mais. Quando a tela se acendeu e o celular finalmente inicializou, apertei a agenda e liguei para o número de Key. Chamou diversas vezes e ninguém atendeu.
— Merda!
Respirei fundo, apertando a tela até chegar no meu aplicativo de mensagens.
diz:
Onde você está? Estou ao lado dos barris, esperando por você.
Olhei ao redor, mais uma vez procurando por Key. Onde ela tinha se enfiado? Eu não vi mais ao redor e nem ninguém chegou perto de mim, talvez porque eu estivesse parecendo alguém em uma baita bad trip.
Nova mensagem recebida.
Keyshia diz:
Fui ao banheiro. Você tá bem?
Suspirei alto, meu peito se acalmando com a resposta dela. Respondi que sim e que tinha visto e em pouco tempo Key já estava comigo novamente. Eu contei a ela o que tinha acontecido. ela se desculpou pelo sumiço e me enfiou em seu carro.
— Desculpa, , se eu soubesse que estaria lá… — Ela bufou. — Eu te trouxe para se divertir e a noite acabou uma merda.
— A intenção que conta. — Tentei acalmá-la, mas nem mesmo eu estava calma. Eu apenas me encolhi no banco da frente, observando o celular em minhas mãos.
— Então o irmão dele é um Beta? — Ela rolou os olhos. — Quer dizer, eu devia ter adivinhado… Droga. Okay. Tudo bem. Eu sei como remediar a noite.
— Drogas? — Sugeri e ela sorriu, ainda com a expressão pesarosa.
— Não, bobinha. Hambúrguer da madrugada. Com fritas e o maior milkshake que tiver.
— Você quer me deixar gorda duas semanas antes do baile? — Gracejei e Key rolou os olhos.
— Primeiro: você não vai ficar gorda nem que coma trinta especiais gigantes do Joe’s. Segundo: comida é melhor do que sexo para esquecer certas coisas. E como você e eu terminamos a noite sozinhas… — Ela riu. — Então vamos descontar na comida.
— Não, tudo bem, só me leva para casa. — Eu queria a segurança do meu quarto e das minhas janelas trancadas. Eu queria me enfiar nas cobertas e talvez nunca mais acordar.
— Você tem certeza? — Ela ergueu uma sobrancelha para mim.
— Sim, mas obrigada. — Key deu de ombros diante da minha resposta.
— Você quem sabe. Eu vou encher a cara de milkshake de morango.
Desci do carro e acenei para ela enquanto ela virava a esquina, mas logo me virei para casa. Destranquei a porta rapidamente e me enfiei em casa, trancando-a novamente. E, só depois disso, eu me sentei no chão e respirei fundo.
Eu não queria acreditar que fosse me torturando dessa forma. era doce. Um babaca, vez ou outra, mas nunca foi agressivo e nunca me tratou mal para me machucar ou porque queria se sentir superior a mim. Era ainda um tanto confuso pensar em tudo isso, tentar entender tudo isso. Matar outra pessoa, por mais que pareça a solução mais prática, denota uma frieza que eu jamais gostaria de ter. Eu jamais mataria alguém. Eu jamais seria capaz de torturar outra pessoa dessa forma.
Maggie, minha mente sussurrou. E quanto a Maggie? Eu tinha sido cúmplice das agressoras dela durante anos. Do bullying que ela sofria, de tudo o que ela passava. Era assim que Maggie se sentia? Será que fiz tão mal a ela assim?
Eu jamais começava o bullying contra ela, eu apenas não o parava. Ria das piadinhas, é claro, e me omitia para não ter que enfrentar as outras garotas. Eu não era o carrasco de Maggie, mas tampouco me impunha para ajudá-la. Talvez Maggie se sinta assim. Talvez eu mereça tudo o que está acontecendo comigo.
Ainda sentada no chão do hall, eu puxei o celular da bolsa, digitando uma mensagem rapidamente.
diz:
, você me acha uma pessoa ruim?
Aguardei que ele respondesse por alguns minutos, mas já passava das duas da manhã. Eu duvidava que ele ainda estivesse acordado. Sem escolha, subi as escadas e me joguei na cama, fechando os olhos e esperando que, no dia seguinte, tudo isso não passasse de um sonho.
É sexta-feira. Nem mesmo a morte de consegue tirar a animação de todos os estudantes para a sexta. Festas, os esquentas para a formatura, viagens ao mirante para transar… Tudo isso acontece nas sextas. Eu observei, como uma espectadora distante, o modo como eles interagiam entre si. Aqueles alunos não tinham sido manchados pela tragédia. Eles não sabiam o que era ser verdadeiramente infelizes, ao menos a maioria deles. E eu queria muito ser como eles: ignorante.
Jen e Jade estava conversando, falando sobre alguma festa que teria na casa de algum jogador do time de futebol. Eu ouvi algo sobre uma fogueira em homenagem a , quando vi passando pelo corredor. Ele parou na minha frente, me olhou nos olhos e me chamou.
— , será que podemos conversar na minha sala? — Seu tom de voz era distante e profissional.
— Quer companhia, ? — Jade se ofereceu, mas eu neguei.
As gêmeas me olharam e eu dei de ombros para , acompanhando-o pelo corredor sob os olhares de todo mundo. Eu já estava ficando acostumada com a atenção constante. Eu não sei se as gêmeas acham que eu sou uma vítima de , também, mas elas não parecem tão entusiasmadas com a presença dele como antes. Talvez, como a polícia, desconfiassem que ele tivesse matado , o que é absurdo.
Eu não me importava. Eu só me importava com o silêncio do meu suposto perseguidor, aquilo não parecia bom. O silêncio parecia um augúrio. Algo parecia errado.
abriu a porta para mim e me esperou passar para entrar, fechando-a atrás de si e a trancando. Ele me olhou de longe, inicialmente, mas logo veio até mim e me abraçou com força.
— Você está bem? — Ele me perguntou, sua voz grave fazia com que meu peito se aquecesse, ao menos um pouco.
— Sim, tudo bem. — Menti.
Eu não queria que ele se preocupasse comigo. Eu não estava bem. Dificilmente eu ficaria bem. Todos os dias, acordo com medo de ser presa ou de que vá preso. O medo que eu sentia de , agora se transformou em medo da polícia, do meu novo perseguidor, de perder o controle e agredir alguém de novo. Nada disso parecia certo, a minha vida não deveria ser dessa forma.
— … Eu ouvi sobre Kelly. — me disse, em voz baixa, enquanto ainda me abraçava.
— , não. — Pedi, depois de afastar minha cabeça do peito dele e olhá-lo. — O que quer que você queira dizer, por favor: não diga.
abriu a boca, mas o meu olhar deve ter mostrado o quanto eu queria evitar aquele assunto.
— E Bobby? Quer falar sobre Bobby? — Com os olhos cheios de lágrimas, eu neguei com a cabeça, afundando o meu rosto no pescoço dele. Senti seus braços se apertarem ao meu redor, o calor dele penetrando meus ossos já frios, o cheiro dele que me acalmava.
Eu quis chorar, simplesmente me esconder nos braços dele e chorar até que toda a minha dor tivesse passado, até que toda a frustração desatasse aquele nó apertado no meu peito. Mas eu não queria que se preocupasse, eu não queria que ele tentasse me ajudar e acabasse se incriminando. Afinal de contas, quem poderia provar que não matou ? Ele era sozinho, seu prédio não tinha câmeras, eu não estava com ele. E, mesmo que estivesse, eu não podia dizer à polícia que estava transando com ele porque, aí sim, eles teriam motivo suficiente para prender nós dois.
Antes eu tivesse matado . Antes eu tivesse feito isso. E, então, eu teria a certeza de que estava pagando por um crime que cometi. Eu teria a certeza de que ninguém mais sofreria com essa investigação imbecil. Eu teria a certeza de que a última coisa que veria, seria o meu sorriso de triunfo enquanto ele sumia no grande abismo da morte. Teria sido poético, eu acredito. Mas eu não fiz isso.
Me desvencilhei de antes que começasse a chorar. Abri um sorriso, ajeitei meu cabelo e pousei um beijo rápido em seus lábios.
— Não se preocupe, eu sou durona. Isso vai passar.
— Não é questão de ser durona ou não, . Você sabe disso. — tocou minha bochecha com o seu dedo, acariciando-a ternamente. — Eu vou te ver hoje?
— Acho que sim. — Dei de ombros. O sinal tocou e eu fui salva, literalmente, pelo gongo. — Tenho que ir.
— Me ligue se precisar de qualquer coisa.
Forcei um sorriso enquanto saía da sala dele, encontrando Keyshia a poucos metros, encostada no meu armário.
— Vamos?
As pessoas a olhavam feio enquanto ela andava ao meu lado, mas Keyshia parecia alheia a eles. Eu era muito grata pela amizade dela. Eu não me sentia insegura ao lado de Keyshia, eu nem ao menos sentia que ela podia ser falsa comigo, como eu frequentemente achava que Jen e Jade Kwon eram. Ela era o tipo de garota que inspirava confiança, um porto seguro. Keyshia não me crivava de perguntas a todo momento, muito menos parecia se roer de curiosidade sobre o crime. Ela aceitava que esse assunto me deixava desconfortável e não tentava se meter.
— Então, você quer sair hoje? Tem uma festa maravilhosa que um cara da faculdade me convidou.
— Você está frequentando festas de fraternidades agora? — Eu ri da expressão convencida dela, tentando atenuar a minha ansiedade com aquele assunto despreocupado.
— Ele é gostoso. Tenho certeza que posso te apresentar uns amigos dele. — Ela me olhou atentamente, mas eu apenas neguei com a cabeça.
— Eu acabei de ficar solteira. Acho que preciso dar um passo de cada vez. — Dei de ombros. e eu namoramos por meses e meses. Era comum que alguém quisesse um tempo solteira, não? De qualquer forma, não é como se eu possa revelar meu relacionamento com para as pessoas. Ainda.
Esse será meu último ano na escola. Em breve, estarei na faculdade de matemática, vivendo uma vida diferente. Ninguém vai se surpreender se nós começarmos a namorar depois da escola. O que eles poderiam fazer? Uma vez que eu terminasse o colégio, eles não podiam fazer nada contra nosso relacionamento.
Keyshia sorriu e pôs uma mão no meu ombro, seu toque morno contra a minha pele, suave e amigável.
— Tudo bem. Então vamos à festa juntas, sem garotos.
— Achei que você fosse com o seu novo namorado. — Eu ri. — Key, você não precisa dispensar o cara por mim. Eu estou bem.
— Garota, nem tenta mentir pra mim. — Key rolou seus olhos escuros para cima, apertando seus lábios em uma clara expressão descrente. — Sério, se arruma e me espera às sete. Nós vamos beber, nos divertir e não precisamos de homem nenhum para isso.
Eu acabei concordando. Ela tinha razão. Eu tinha que me divertir de alguma forma. Fizemos nosso caminho até a aula de química orgânica, sentando lado a lado na classe enquanto o professor começava a passar o conteúdo no quadro.
Nova mensagem recebida.
Perseguidor #2 diz:
Sentiu a minha falta? Eu senti a sua. Acho que vou vê-la de perto esta noite.
Quando meu celular vibrou e eu vislumbrei a mensagem na tela, parei a minha mão no ar, no meio do ato de passar rímel nos cílios. Eu tinha falado com que não podia vê-lo hoje, mas que iria para sua casa no sábado. Ele concordou e disse que eu deveria viver a minha adolescência.
E eu sei que não preciso da permissão dele, mas, às vezes, me pergunto como seria se nós tivéssemos nos conhecido em situações diferentes. Se ele fosse da minha idade, por exemplo, ou se fosse o professor de outra escola e pudéssemos sair juntos. Eu não gosto de caras de fraternidade. Eu não gosto de como eles são uma versão mais babaca dos caras populares do ensino médio, detesto o modo como eles nos olham e detesto ainda mais a cerveja de má qualidade que eles sempre nos servem. Talvez porque eu estivesse apaixonada por , eu não conseguia mais me interessar por outros caras. Eu o queria ao meu lado, bebendo e dançando comigo, conhecendo minhas amigas e sendo apresentado aos meus pais.
Esse sentimento e a mensagem do meu perseguidor quase minaram toda a minha animação para a festa.
— ? — A voz da minha mãe ecoou enquanto ela entrava no meu quarto, vindo na direção do meu banheiro. — Você está linda.
— Não estou sempre? — Retruquei, escondendo o celular dentro da minha bolsa, tentando parecer normal e não alguém praticamente em pânico.
— Convencida. — Minha mãe riu. Ela me olhou enquanto eu tentava terminar a minha maquiagem. É meio difícil fazer isso enquanto estou praticamente tremendo. — Onde você vai?
— Keyshia me chamou para uma festa de alguns amigos dela. — Dei de ombros.
— Que horas você volta? — Eu a olhei pelo espelho, pressionando meus lábios juntos por um momento, para espalhar um pouco de gloss neles.
— Não sei, não precisa me esperar acordada. — Minha mãe franziu a testa, eu conhecia aquele olhar. — Olha, se você quiser, eu fico em casa.
Não é como se eu quisesse ir à festa, depois daquilo. Eu esperei que minha mãe fizesse o que fazia sempre, que ela me dissesse que eu devia ser mais responsável ou que eu não deveria ir. Mas minha mãe não fez isso, ela pegou a escova em cima da pia e penteou meus cabelos delicadamente.
— Não, divirta-se. Você precisa. Só… , se algo acontecer, quero que ligue para o seu pai e faça tudo o que ele mandar, tudo bem? — Eu anuí delicadamente, prestando atenção nela pelo espelho.
Esperei que ela falasse qualquer outra coisa, mas minha mãe apenas beijou o meu rosto e sorriu para mim antes de me deixar sozinha. Quando Keyshia chegou, eu hesitei, mas acabei entrando no carro. O que de tão ruim pode acontecer?
— Não se perca de mim. — Keyshia sussurrou, me dando a mão e me guiando pela casa da fraternidade.
A casa dos Betas era grande e espaçosa, exatamente o tipo de fraternidade de mauricinhos que você espera ver em um seriado de TV. O gramado estava lotado de gente, de garotos, principalmente, e algumas garotas de roupas curtas, com bebidas nas mãos.
Assim que entramos, um grupo de rapazes assoviou enquanto passávamos, mas Keyshia rolou os olhos e seguiu em frente, até um grupo um pouco menor, que se reunia ao redor da piscina. Assim que nos viu, um rapaz se destacou do grupo e veio até nós duas com um sorriso no rosto. Ele era negro, alto, atlético e muito gostoso. Key tinha razão quanto a esse cara.
Ele a cumprimentou com um selinho enquanto eu olhava ao redor. Quem poderia ser? Quem poderia ser suficientemente psicopata para ser o meu perseguidor? Ou talvez ele disse aquilo como um blefe, para me fazer sentir medo? Era aterrorizante considerar todas essas possibilidades, ter que pensar em tudo isso. Talvez eu fique louca.
— Sean, esta é . — Eu me virei ao ouvir o som do meu nome. O sorriso bonito e simétrico do tal Sean vacilou por um momento. Acho que é isso que um assassinato faz com as pessoas.
— Ei, eu conheço você, a garota do assassinato. Não sabia que você era amiga de uma celebridade, Key. — Para a defesa de Key, ela ainda teve a decência de cutucá-lo para que ele tentasse ser menos desagradável.
— Você deve estar me confundindo com a Angelina Jolie. Muita gente comete esse erro. — Mostrei a ele meu sorriso mais brilhante, tentando tornar a situação menos insuportável.
Já era suficientemente ruim que toda a escola falasse de mim pelas costas, eu não era obrigada a aturar as ironias daqueles babacas da faculdade, também. Sean desconversou, nos entregou um copo cheio de cerveja sem nem ao menos perguntar a nossa idade e nos apresentou ao seu grupo de amigos. Keyshia e eu ficamos junto deles por cinco minutos antes que ela me pegasse pelo braço, alegando que íamos ao banheiro.
— Babaca. — Ela comentou tão logo saímos de perto dos rapazes. — Desculpe por isso, , eu não sabia que o Sean bancaria o otário perto de você.
— A culpa não é sua, Key. — Eu tentei sorrir, mas não consegui.
— Você quer ir embora? — Key era uma boa amiga. Se o mesmo acontecesse com , ela apenas me diria que eu estava sendo uma estraga prazeres. Fiz que não.
— A bebida aqui é de graça. — Me expliquei e ela riu.
— Tenho que achar um novo cara para beijar, então. — Key suspirou alto, olhando para os rapazes por cima do ombro. — Um menos babaca.
— É uma festa dos Betas, Key, menos babaca não existe. — Eu ri junto dela, tentando não me deixar abater.
Nós bebemos mais, dançamos juntas, zombamos da cara de alguns rapazes e, por um momento, eu achei que estava me divertindo. Meu celular, desligado na minha bolsa, não oferecia perigo algum. Nenhum perseguidor podia falar comigo se ele não estivesse ligado. Eu estava segura no meio de tantas pessoas.
— Vou pegar mais bebida. — Key anunciou, apertando a minha mão antes de sair em direção aos barris de cerveja.
Continuei dançando. O álcool me intoxicava com uma falsa coragem, com a falsa ideia de que o mundo era um lugar seguro para alguém como eu, que eu poderia me divertir e ser uma garota normal por uma noite, sem preocupações. Eu estava certa disso, até uma mão grande e pesada pousar no meu ombro. Meu corpo pulou como se tivesse sido atingido por uma corrente elétrica, eu puxei o braço do estranho e me virei de frente apenas para ver .
— Ei. Achei que era você.
Acho que vou vê-la de perto esta noite. Meu coração quase saiu pela boca ao ver meu ex-namorado ali, sorrindo para mim com uma garrafa de cerveja na outra mão. Ele pareceu não notar a minha cara de espanto ou que meu corpo estava completamente paralisado pelo medo. tomou o meu silêncio e a minha falta de movimento como consentimento para se aproximar e me beijar no rosto demoradamente. Ele cheirava a álcool.
— O que você está fazendo aqui? — Meu tom de voz era incerto, ligeiramente mais agudo que o normal, o que fez franzir a testa, confuso.
— Gata, você esqueceu que meu irmão é um Beta?
Eu tinha esquecido. O irmão mais velho de é a ovelha negra da família, o desgarrado. Ele parecia não se ater à imagem perfeita que sua família tentava passar a todo momento e eu raramente o vi, porque ele jamais voltava para casa, nem mesmo nas férias. Ele era um fantasma, praticamente.
Mesmo assim, eu ainda me sentia insegura. Pensando bem, talvez tenha notado como me olhava. Talvez ele tivesse armado tudo isso para se vingar da vadia que o chifrou e quebrou o seu coração. Talvez ele tivesse matado . Eles eram amigos. jamais teria motivo para desconfiar de seu melhor amigo, não?
Tantas ideias se passaram pela minha cabeça e o único instinto que tive foi o de me afastar dele. , no entanto, seguia alheio ao meu terror.
— Quer dançar? — Ele me chamou, tentando segurar a minha mão.
— , nós terminamos. — Eu falei baixo, tentando ver onde Keyshia estava. Eu tinha que sair dali.
— Eu sei. — Ele pareceu desanimado, mas um gole de cerveja serviu como um bálsamo para isso, aparentemente. — Mas podemos ser amigos.
— Não. — Dei um passo para trás. — Eu tenho que procurar a Keyshia.
Os dedos de se enrolaram ao redor do meu pulso e ele me olhou com mágoa nos olhos claros. Eu o puxei para baixo, me liberando de seu aperto e dei-lhe as costas, me enfiando nos espaços apertados entre os corpos das outras pessoas, tentando ficar tão longe dele quanto possível. O meu coração ribombava no peito, minha boca estava seca e minha cabeça girava, mas nada disso fez com que eu parasse. Eu andei na direção dos barris, apenas para constatar que Key não estava lá.
Tirei meu celular da bolsa, ligando-o enquanto olhava ao redor. Se chegasse perto de mim de novo, eu faria um escândalo. Eu não o queria perto de mim, nunca mais. Quando a tela se acendeu e o celular finalmente inicializou, apertei a agenda e liguei para o número de Key. Chamou diversas vezes e ninguém atendeu.
— Merda!
Respirei fundo, apertando a tela até chegar no meu aplicativo de mensagens.
diz:
Onde você está? Estou ao lado dos barris, esperando por você.
Olhei ao redor, mais uma vez procurando por Key. Onde ela tinha se enfiado? Eu não vi mais ao redor e nem ninguém chegou perto de mim, talvez porque eu estivesse parecendo alguém em uma baita bad trip.
Nova mensagem recebida.
Keyshia diz:
Fui ao banheiro. Você tá bem?
Suspirei alto, meu peito se acalmando com a resposta dela. Respondi que sim e que tinha visto e em pouco tempo Key já estava comigo novamente. Eu contei a ela o que tinha acontecido. ela se desculpou pelo sumiço e me enfiou em seu carro.
— Desculpa, , se eu soubesse que estaria lá… — Ela bufou. — Eu te trouxe para se divertir e a noite acabou uma merda.
— A intenção que conta. — Tentei acalmá-la, mas nem mesmo eu estava calma. Eu apenas me encolhi no banco da frente, observando o celular em minhas mãos.
— Então o irmão dele é um Beta? — Ela rolou os olhos. — Quer dizer, eu devia ter adivinhado… Droga. Okay. Tudo bem. Eu sei como remediar a noite.
— Drogas? — Sugeri e ela sorriu, ainda com a expressão pesarosa.
— Não, bobinha. Hambúrguer da madrugada. Com fritas e o maior milkshake que tiver.
— Você quer me deixar gorda duas semanas antes do baile? — Gracejei e Key rolou os olhos.
— Primeiro: você não vai ficar gorda nem que coma trinta especiais gigantes do Joe’s. Segundo: comida é melhor do que sexo para esquecer certas coisas. E como você e eu terminamos a noite sozinhas… — Ela riu. — Então vamos descontar na comida.
— Não, tudo bem, só me leva para casa. — Eu queria a segurança do meu quarto e das minhas janelas trancadas. Eu queria me enfiar nas cobertas e talvez nunca mais acordar.
— Você tem certeza? — Ela ergueu uma sobrancelha para mim.
— Sim, mas obrigada. — Key deu de ombros diante da minha resposta.
— Você quem sabe. Eu vou encher a cara de milkshake de morango.
Desci do carro e acenei para ela enquanto ela virava a esquina, mas logo me virei para casa. Destranquei a porta rapidamente e me enfiei em casa, trancando-a novamente. E, só depois disso, eu me sentei no chão e respirei fundo.
Eu não queria acreditar que fosse me torturando dessa forma. era doce. Um babaca, vez ou outra, mas nunca foi agressivo e nunca me tratou mal para me machucar ou porque queria se sentir superior a mim. Era ainda um tanto confuso pensar em tudo isso, tentar entender tudo isso. Matar outra pessoa, por mais que pareça a solução mais prática, denota uma frieza que eu jamais gostaria de ter. Eu jamais mataria alguém. Eu jamais seria capaz de torturar outra pessoa dessa forma.
Maggie, minha mente sussurrou. E quanto a Maggie? Eu tinha sido cúmplice das agressoras dela durante anos. Do bullying que ela sofria, de tudo o que ela passava. Era assim que Maggie se sentia? Será que fiz tão mal a ela assim?
Eu jamais começava o bullying contra ela, eu apenas não o parava. Ria das piadinhas, é claro, e me omitia para não ter que enfrentar as outras garotas. Eu não era o carrasco de Maggie, mas tampouco me impunha para ajudá-la. Talvez Maggie se sinta assim. Talvez eu mereça tudo o que está acontecendo comigo.
Ainda sentada no chão do hall, eu puxei o celular da bolsa, digitando uma mensagem rapidamente.
diz:
, você me acha uma pessoa ruim?
Aguardei que ele respondesse por alguns minutos, mas já passava das duas da manhã. Eu duvidava que ele ainda estivesse acordado. Sem escolha, subi as escadas e me joguei na cama, fechando os olhos e esperando que, no dia seguinte, tudo isso não passasse de um sonho.
Capítulo 23
Uma semana e seis dias para o baile
me encarava abertamente. Ele tinha me inquirido sobre a mensagem que eu tinha enviado ontem à noite assim que entrei no apartamento dele e eu não sabia o que responder. Apenas o encarei de volta. Eu só queria ler que eu era uma boa pessoa e que tudo isso ia passar, mesmo que fosse contra a lógica e uma completa mentira. Era só isso que eu queria.
— Eu estava bêbada. — Menti. — Não precisa responder isso.
— …
Ele parecia, aos poucos, perder a esperança em mim. E eu entendia, eu estava perdendo a esperança em mim também. Eu me sentia frágil, mas não fraca. Como se a realidade fosse uma bolha prestes a estourar e virar de ponta cabeça tudo o que eu conheço. Eu pressentia algo ruim. E eu não queria pensar nisso. Se eu fosse supersticiosa, seria mais fácil. A ameaça que me ronda, no entanto, é real demais. O meu medo é justificado. E essa é a pior parte.
— Na verdade, tem algo que eu quero te contar. É sobre o assassinato de .
A tensão na sala poderia ser sentida, não apenas vista na expressão dele ou no ligeiro arregalar de seus olhos claros, no modo como ele flexionou os dedos, intensificando seu aperto em sua caneca de chá. O ar ficou mais pesado ou a minha respiração simplesmente se tornou mais laboriosa. Não sei por quanto tempo apenas nos entreolhamos, em silêncio.
Não sei porque estava tão quieto, mas eu não conseguia falar porque havia um nó na minha garganta. Ele me odiaria por manter aquilo escondido dele? Já familiarizada com seu apartamento, me sentei sobre uma almofada, minhas pernas dobradas sob o meu corpo.
— O que é? — Ele perguntou com cuidado, depois de muito escrutinar minha expressão.
Não respondi por um momento, mordendo o lábio e desviando o olhar enquanto tentava achar um jeito de fazer aquelas palavras soarem melhor. E a razão de todo esse medo é justamente porque eu sabia o quão perigoso era manter esse tipo de coisa fora do radar da polícia. Quem sabe se eu não poderia ser a próxima vítima daquele psicopata? Eu sei que é exatamente isso que dirá.
— No dia que morreu, eu recebi uma mensagem de um número bloqueado que dizia “Não precisa me agradecer”. Eu não sabia que ele estava morto quando recebi, então apenas ignorei, mas eu cheguei na escola e… Bem, alguns dias depois que morreu, eu recebi outra mensagem desse mesmo número. — Acompanhei-o com os olhos, vendo-o se sentar ao meu lado e passar o braço pelos meus ombros, me aconchegando em seu peito morno. Instantaneamente senti vontade de chorar e minha voz embargou. — E era a foto de morto, sabe?
Funguei, me detendo por alguns segundos. apenas me segurava contra ele, seus olhos sobre mim, esperando que eu terminasse de contar a minha história.
— E desde então eu tenho recebido mensagens desse número com algumas ameaças, mas… — Quando dei por mim, minhas lágrimas molhavam a camisa de algodão dele. — E, ontem, ele me disse que ia me ver de perto e eu encontrei e…
me abraçou com força, me forçando a parar de falar. Eu afundei o meu rosto no peito dele, com medo de abrir os olhos e vê-lo me olhando com pena ou com desgosto porque eu temia decepcionar mais uma pessoa ao meu redor, mais alguém que fosse se chatear com o meu comportamento, porque já bastava que meus pais pensassem que eu sou uma vagabunda sonsa ou que eu tenha magoado meus amigos. Já estava farta de afastar as pessoas de mim. Eu não queria que ele também se chateasse.
me soltou por um momento e esperou até que eu me acalmasse um pouco. Eu funguei e respirei fundo, entrecortadamente, tentando continuar. Mas a cada vez que eu me lembrava de bêbado tentando me manter junto dele, das mensagens e de todas as pessoas que me consideravam uma psicopata, eu apenas chorava mais.
— , olhe para mim. — me sacudiu levemente, tentando chamar a minha atenção. Eu permaneci de olhos fechados. — , olhe para mim!
O grito me pegou de surpresa. Eu abri meus olhos apenas para vê-lo com a testa franzida, preocupado.
— Eu não quero que você me odeie. — Murmurei.
Deus, eu odiei como soei tão desesperada pela aprovação dele. E eu estava assim. Eu não me sentia normal, eu não conseguia me sentir normal. Era a polícia me tratando como suspeita de um assassinato, minhas amigas se voltando contra mim, uma porra de um segundo perseguidor que não me deixava em paz… A morte de apenas piorou tudo.
— … — E lá estava. A pena. A preocupação. O semblante que eu tanto temia ver.
Eu quase pedi para que ele não me olhasse daquela forma, mas me refreei, temendo soar carente demais, lamentável demais para alguém que sempre se orgulhou de ser independente e madura. Aparentemente, eu não era mais nada disso.
— Eu estou bem. — Tentei dizer através das lágrimas. — Só estou um pouco sensível hoje.
—Você não está bem. — respondeu de modo firme. — Tem muita coisa acontecendo com você ao mesmo tempo, . A faculdade, a investigação… — Ele suspirou. — E agora alguém está te mandando ameaças.
Eu me calei. Eu não gosto de demonstrar fragilidade. Garotas como eu, quando demonstram fragilidade, perdem todo o respeito e o prestígio que lutamos tanto para conseguir. E isso nunca acaba. Em dez anos, quando eu for uma mulher no mercado de trabalho, eu também não poderei demonstrar fragilidade porque homens nos olham de cima e esperam qualquer deslize para nos chamar de loucas sentimentais, para justificar o modo como eles nos subestimam até hoje, por todo e qualquer aspecto. E, ainda assim, eu não consigo respirar fundo e adotar a minha pose de rainha do gelo porque eu me sinto tão pequena e tão machucada que apenas quero me enrolar nas cobertas e chorar até sumir.
Eu achei que sumiria e então aquela sensação horrível de medo passaria. Eu achei que eu não precisaria mais olhar por cima do meu ombro, aguardando que ele aparecesse para me antagonizar novamente, para tentar exercer seu controle sobre mim pela força. E agora eu tinha novamente algo atrás de mim, uma ameaça invisível que sabia de tudo que eu fazia e onde eu ia, que me observava de perto porque provavelmente era alguém próximo a mim. E ter um assassino tão perto de mim era o que me deixava com os sentidos sobrecarregados, esperando um novo ataque.
E, naquele breve momento, eu pensei que a morte seria preferível a ter que viver dessa forma.
— Você tem que falar com a polícia.
Eu neguei com a cabeça, desviando os olhos dele. Eu não queria ver com aquele olhar que frequentemente parecia me perguntar se eu estava bem. Ou talvez me enxergando como uma pessoa quebrada, que precisava ser consolada a todo momento. Eu estava duramente dividida entre o meu senso de honra e independência e o desejo de me aninhar nos braços dele e nunca mais sair de lá.
— Não. — Eu neguei e falei por cima de quando ele recomeçou sua sugestão. — Não, . Eles já tem provas o bastante contra mim, não quero que eles saibam que eu tenho essas fotos.
— , mas não foi você quem tirou as fotos. Eu tenho certeza que eles…
— Eles me querem presa, ! — Eu gritei. — E você também! Estão loucos para nos colocar na cadeia só porque a família de é dona do banco e de metade da cidade.
— E não acha que isso seria um meio de provar a sua inocência? — Ele acariciou o meu rosto, pousando a palma na minha face de modo reconfortante.
— Dificilmente. — Soltei um muxoxo, pousando a minha mão em cima da dele. — Eles só querem alguém para culpar. E nós somos os suspeitos perfeitos.
Funguei de novo, dessa vez tentando conter as lágrimas que ameaçavam recomeçar a cair. não disse mais nada, ele me abraçou, se deitando comigo no sofá em silêncio. Após alguns minutos dessa forma, eu me lembrei de uma coisa, de um pensamento que vinha rondando a minha cabeça nos últimos dias.
— , e se nós formos presos? — Ele me olhou com atenção. — Eu não vou sobreviver lá dentro.
Ele me abraçou com força, apoiando sua cabeça no meu ombro. Eu sentia o coração dele batendo contra as minhas costas, a respiração dele acariciando meu ombro nu. nem ao menos hesitou.
— Nós não fizemos nada.
— Isso não importa. — Eu me virei para ele, olhando-o nos olhos. — Eles querem um bode expiatório, .
— Você não acha que foi assassinado?
Eu me calei. Eu achei que tinha se matado, por um momento ou dois, até que recebi as mensagens e as fotos. Só o assassino poderia ter algo assim, não? E, segundo o meu pai, eles deviam ter indícios fortes de que foi um homicídio para construir o caso. Uma arma na mão errada ou algo assim. Uma cena suicida falsa.
— Eu não sei. Eu… Ele era egocêntrico. Eu não acho que ele iria… — Engoli as palavras.
Na minha opinião, não era suicida. Eu posso imaginá-lo matando alguém, mas não matando a si mesmo. De tudo que já passei ao lado dele, sempre imaginei que ele me mataria antes de se matar. Só que isso é lúgubre demais. Imaginar que alguém próximo a mim não só matou , como também está me torturando com mensagens… É demais. É como acordar em um filme cheio de psicopatas. Isso me assusta mais do que quero admitir para ele.
— E , ? — Eu não respondi. Deixei que o silêncio falasse por mim.
era um suspeito viável. Ele teria acesso a tudo… Era amigo de há muito tempo, saberia como me pressionar e eu cogitei suspeitar dele, mas não era um psicopata. Ele era babaca e egocêntrico, como , mas nunca tinha demonstrado nenhuma tendência violenta comigo. E eu também não quero imaginar que eu o magoei tanto a ponto de fazê-lo me atormentar dessa forma. Pelo menos, eu não achava que tinha feito isso.
— Ele não é assim tão esperto. — Retruquei depois de vários segundos de reflexão silenciosa.
— Você tem que parar de subestimar as pessoas, .
— Não estou subestimando ninguém. Eu conheço . — Me virei para trás, encarando nos olhos. — Eu dormi e acordei ao lado dele, . Acredite em mim, ele não matou ninguém.
— Mas foi ele quem a encontrou na festa, não foi?
Mordi meu lábio inferior, resistindo ao súbito impulso de desviar os olhos para qualquer coisa que não fosse o olhar límpido e penetrante dele. acariciou meus cabelos, segurando em minha nuca para trazer meu rosto até o dele. Ele beijou a minha testa e aninhou seu nariz nos meus cabelos. Na ponta da minha orelha, senti a calidez do suspirou que ele soltou.
— Eu não sirvo nem para te proteger. — Sua voz estava… Oca. Sem sentimentos. E constatar isso doeu. — Por que não me disse antes, ? Por que não me disse sobre quando eu a perguntei, da primeira vez?
Eu lembrava desse dia. O dia que tentou me agarrar à força, quando me viu e perguntou o que tinha acontecido com os meus pulsos. Quando ele me enfiou em seu carro e me deu uma carona até em casa. Quando ele me afirmou que eu poderia conversar com ele e contar com ele.
Acho que foi esse o meu erro: me afundar no meu próprio orgulho, na minha própria vergonha, talvez achando que eu merecesse o que fazia comigo porque eu o tinha provocado. Talvez, se eu tivesse falado com antes, se eu tivesse procurado o diretor ou a polícia… Talvez, talvez, talvez. Não posso afirmar que seria diferente, mas eu queria poder voltar no tempo. Queria tentar de novo. Queria consertar os meus erros, dar uma chance a antes, libertar do nosso namoro estúpido antes. Como seria, então?
— , eu te amo. — Me afastei um pouco para olhar em seus olhos. — Quero que saiba disso, tudo bem?
Eu me levantei do sofá, pegando a minha bolsa e abrindo a porta do apartamento apressada. se apressou para ir atrás de mim, chamando meu nome e me perguntando o que eu ia fazer, mas eu o ignorei e corri pelo corredor. Eu estava prestes a fazer algo estúpido, eu sei disso, mas eu também quero provar a todo mundo que eu não sou uma mentirosa, que eu não matei . Ou que é meu perseguidor secreto.
Quando cheguei na casa de , a mãe dele abriu a porta e me olhou de forma desconfiada. Certamente já sabia que nós tínhamos terminado e talvez ela estivesse satisfeita com essa reviravolta. Ela nunca tinha ido muito com a minha cara.
— Oi, sra. . O está em casa? — Ela fez sua usual cara de desprezo para mim e se virou por cima do ombro.
— , querido, sua ex-namorada está aqui.
apareceu logo depois, vestindo jeans e camisa polo mesmo dentro de casa. Ele sorriu assim que me viu, um sorriso branco, simétrico e sem falhas.
— Ei, . Quer entrar? — Eu anuí fracamente. Ele me abraçou e inspirou fundo quando o rosto dele chegou perto da curva do meu pescoço.
Eu me perguntei se ele teria sentido o cheiro de , de outro homem. Ora, ele sabia que tinha outro homem na jogada. Era ingenuidade demais dele achar que eu estava lá para reatar as coisas entre nós, não? Mas continuou me abraçando. O cheiro dele era familiar, mas seus braços fortes me causaram um indício de pânico. Por quê? Por que o abraço de me causava essa ansiedade? Será que era porque seu físico era tão parecido com o de ? Será que era por que, em algum lugar da minha mente, eu estava desconfiada dele, apesar de dizer que não?
Me afastei dele sem falar nada, o que o desanimou um pouco. Em seguida, como se nada tivesse acontecido, pôs a mão na minha cintura e me guiou até a piscina nos fundos da casa, onde, segundo ele, poderíamos conversar melhor. Para a minha felicidade, ele não tentou se aproximar depois que eu andei até a lateral da piscina. Em vez disso, ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e me encarou um pouco.
— E então?
— Eu queria falar com você. Sobre a festa ontem e… Sobre . — fechou um pouco a expressão.
— Para falar a verdade, eu não me lembro muito da festa. Eu estava bêbado. Sei que te vi lá, mas é só isso. — Eu crispei os lábios, me xingando por dentro. — Eu te fiz alguma coisa?
— Não. — Acabei mentindo. — Você só tentou me abraçar e eu entrei em pânico.
— Desculpa.
— Não, está tudo bem. — Eu me sentei em uma espreguiçadeira à beira da piscina.
Nós ficamos em um silêncio desconfortável por alguns minutos. Eu não sabia como abordar o assunto e ele não sabia como reagir quando estávamos conversando sobre coisas sérias. Sempre tinha sido dessa forma.
— Você acha que se matou? — Acabei perguntando sem rodeios.
Vi coçar a nuca, olhando o chão. Ele parecia querer formular alguma coisa, mas eu sabia muito bem que o cérebro de não era seu melhor amigo. Dei-lhe tempo para responder.
— Não, quer dizer… A polícia anda dizendo que alguém matou ele, não é? Por que seria um suicídio?
Eu dei de ombros. Em seguida, bati no lugar ao meu lado, chamando para se sentar ao meu lado. Eu me arrependi quase imediatamente, mas me controlei para não me encolher quando ele se sentou.
— Você não acha que é estranho? — Instiguei ele.
— Estranho? — repetiu, o cenho franzido.
— Ah, o era o tackle do time, . Quantas pessoas poderiam matá-lo com facilidade?
Eu o observei se calar, concentrado no mistério que se apresentava diante dele. Eu queria ver se era capaz de me enganar. Se ele era capaz de matar alguém e me torturar por isso.
— Você pode ter razão. — se calou de novo. — Quem você acha que pode ter sido?
E então virou seus brilhantes olhos azuis pra mim. Puros. Claros como água. Inocentes como os de uma criança. E eu soube, ali, que ele nunca me faria mal. Como eu sequer pude pensar nisso? Era , o cara que se desdobrava para atender todos os meus pedidos, o cara que sugeria um banho lá fora quando a chuva caía. Eu o abracei, meio desajeitada por causa da posição em que estávamos e também por causa da culpa que me consumia.
— Você me perdoa?
Eu não falava sobre nada específico, eu falava sobre tudo. Sobre os chifres, sobre trair a confiança dele, sobre machucar seus sentimentos. Abracei com força, sentindo ele me abraçar de volta em alguns segundos. Ele passou a mão grande pelos meus cabelos.
— Por quê? — Ele me perguntou e eu tive que me segurar para não chorar de novo. Eu não aguentava mais chorar. Não aguentava mais…
— Por tudo.
Me desentranhei dos braços dele, saindo da casa dos sem olhar para a mãe dele, sentada na sala, ou para qualquer outra pessoa.
me encarava abertamente. Ele tinha me inquirido sobre a mensagem que eu tinha enviado ontem à noite assim que entrei no apartamento dele e eu não sabia o que responder. Apenas o encarei de volta. Eu só queria ler que eu era uma boa pessoa e que tudo isso ia passar, mesmo que fosse contra a lógica e uma completa mentira. Era só isso que eu queria.
— Eu estava bêbada. — Menti. — Não precisa responder isso.
— …
Ele parecia, aos poucos, perder a esperança em mim. E eu entendia, eu estava perdendo a esperança em mim também. Eu me sentia frágil, mas não fraca. Como se a realidade fosse uma bolha prestes a estourar e virar de ponta cabeça tudo o que eu conheço. Eu pressentia algo ruim. E eu não queria pensar nisso. Se eu fosse supersticiosa, seria mais fácil. A ameaça que me ronda, no entanto, é real demais. O meu medo é justificado. E essa é a pior parte.
— Na verdade, tem algo que eu quero te contar. É sobre o assassinato de .
A tensão na sala poderia ser sentida, não apenas vista na expressão dele ou no ligeiro arregalar de seus olhos claros, no modo como ele flexionou os dedos, intensificando seu aperto em sua caneca de chá. O ar ficou mais pesado ou a minha respiração simplesmente se tornou mais laboriosa. Não sei por quanto tempo apenas nos entreolhamos, em silêncio.
Não sei porque estava tão quieto, mas eu não conseguia falar porque havia um nó na minha garganta. Ele me odiaria por manter aquilo escondido dele? Já familiarizada com seu apartamento, me sentei sobre uma almofada, minhas pernas dobradas sob o meu corpo.
— O que é? — Ele perguntou com cuidado, depois de muito escrutinar minha expressão.
Não respondi por um momento, mordendo o lábio e desviando o olhar enquanto tentava achar um jeito de fazer aquelas palavras soarem melhor. E a razão de todo esse medo é justamente porque eu sabia o quão perigoso era manter esse tipo de coisa fora do radar da polícia. Quem sabe se eu não poderia ser a próxima vítima daquele psicopata? Eu sei que é exatamente isso que dirá.
— No dia que morreu, eu recebi uma mensagem de um número bloqueado que dizia “Não precisa me agradecer”. Eu não sabia que ele estava morto quando recebi, então apenas ignorei, mas eu cheguei na escola e… Bem, alguns dias depois que morreu, eu recebi outra mensagem desse mesmo número. — Acompanhei-o com os olhos, vendo-o se sentar ao meu lado e passar o braço pelos meus ombros, me aconchegando em seu peito morno. Instantaneamente senti vontade de chorar e minha voz embargou. — E era a foto de morto, sabe?
Funguei, me detendo por alguns segundos. apenas me segurava contra ele, seus olhos sobre mim, esperando que eu terminasse de contar a minha história.
— E desde então eu tenho recebido mensagens desse número com algumas ameaças, mas… — Quando dei por mim, minhas lágrimas molhavam a camisa de algodão dele. — E, ontem, ele me disse que ia me ver de perto e eu encontrei e…
me abraçou com força, me forçando a parar de falar. Eu afundei o meu rosto no peito dele, com medo de abrir os olhos e vê-lo me olhando com pena ou com desgosto porque eu temia decepcionar mais uma pessoa ao meu redor, mais alguém que fosse se chatear com o meu comportamento, porque já bastava que meus pais pensassem que eu sou uma vagabunda sonsa ou que eu tenha magoado meus amigos. Já estava farta de afastar as pessoas de mim. Eu não queria que ele também se chateasse.
me soltou por um momento e esperou até que eu me acalmasse um pouco. Eu funguei e respirei fundo, entrecortadamente, tentando continuar. Mas a cada vez que eu me lembrava de bêbado tentando me manter junto dele, das mensagens e de todas as pessoas que me consideravam uma psicopata, eu apenas chorava mais.
— , olhe para mim. — me sacudiu levemente, tentando chamar a minha atenção. Eu permaneci de olhos fechados. — , olhe para mim!
O grito me pegou de surpresa. Eu abri meus olhos apenas para vê-lo com a testa franzida, preocupado.
— Eu não quero que você me odeie. — Murmurei.
Deus, eu odiei como soei tão desesperada pela aprovação dele. E eu estava assim. Eu não me sentia normal, eu não conseguia me sentir normal. Era a polícia me tratando como suspeita de um assassinato, minhas amigas se voltando contra mim, uma porra de um segundo perseguidor que não me deixava em paz… A morte de apenas piorou tudo.
— … — E lá estava. A pena. A preocupação. O semblante que eu tanto temia ver.
Eu quase pedi para que ele não me olhasse daquela forma, mas me refreei, temendo soar carente demais, lamentável demais para alguém que sempre se orgulhou de ser independente e madura. Aparentemente, eu não era mais nada disso.
— Eu estou bem. — Tentei dizer através das lágrimas. — Só estou um pouco sensível hoje.
—Você não está bem. — respondeu de modo firme. — Tem muita coisa acontecendo com você ao mesmo tempo, . A faculdade, a investigação… — Ele suspirou. — E agora alguém está te mandando ameaças.
Eu me calei. Eu não gosto de demonstrar fragilidade. Garotas como eu, quando demonstram fragilidade, perdem todo o respeito e o prestígio que lutamos tanto para conseguir. E isso nunca acaba. Em dez anos, quando eu for uma mulher no mercado de trabalho, eu também não poderei demonstrar fragilidade porque homens nos olham de cima e esperam qualquer deslize para nos chamar de loucas sentimentais, para justificar o modo como eles nos subestimam até hoje, por todo e qualquer aspecto. E, ainda assim, eu não consigo respirar fundo e adotar a minha pose de rainha do gelo porque eu me sinto tão pequena e tão machucada que apenas quero me enrolar nas cobertas e chorar até sumir.
Eu achei que sumiria e então aquela sensação horrível de medo passaria. Eu achei que eu não precisaria mais olhar por cima do meu ombro, aguardando que ele aparecesse para me antagonizar novamente, para tentar exercer seu controle sobre mim pela força. E agora eu tinha novamente algo atrás de mim, uma ameaça invisível que sabia de tudo que eu fazia e onde eu ia, que me observava de perto porque provavelmente era alguém próximo a mim. E ter um assassino tão perto de mim era o que me deixava com os sentidos sobrecarregados, esperando um novo ataque.
E, naquele breve momento, eu pensei que a morte seria preferível a ter que viver dessa forma.
— Você tem que falar com a polícia.
Eu neguei com a cabeça, desviando os olhos dele. Eu não queria ver com aquele olhar que frequentemente parecia me perguntar se eu estava bem. Ou talvez me enxergando como uma pessoa quebrada, que precisava ser consolada a todo momento. Eu estava duramente dividida entre o meu senso de honra e independência e o desejo de me aninhar nos braços dele e nunca mais sair de lá.
— Não. — Eu neguei e falei por cima de quando ele recomeçou sua sugestão. — Não, . Eles já tem provas o bastante contra mim, não quero que eles saibam que eu tenho essas fotos.
— , mas não foi você quem tirou as fotos. Eu tenho certeza que eles…
— Eles me querem presa, ! — Eu gritei. — E você também! Estão loucos para nos colocar na cadeia só porque a família de é dona do banco e de metade da cidade.
— E não acha que isso seria um meio de provar a sua inocência? — Ele acariciou o meu rosto, pousando a palma na minha face de modo reconfortante.
— Dificilmente. — Soltei um muxoxo, pousando a minha mão em cima da dele. — Eles só querem alguém para culpar. E nós somos os suspeitos perfeitos.
Funguei de novo, dessa vez tentando conter as lágrimas que ameaçavam recomeçar a cair. não disse mais nada, ele me abraçou, se deitando comigo no sofá em silêncio. Após alguns minutos dessa forma, eu me lembrei de uma coisa, de um pensamento que vinha rondando a minha cabeça nos últimos dias.
— , e se nós formos presos? — Ele me olhou com atenção. — Eu não vou sobreviver lá dentro.
Ele me abraçou com força, apoiando sua cabeça no meu ombro. Eu sentia o coração dele batendo contra as minhas costas, a respiração dele acariciando meu ombro nu. nem ao menos hesitou.
— Nós não fizemos nada.
— Isso não importa. — Eu me virei para ele, olhando-o nos olhos. — Eles querem um bode expiatório, .
— Você não acha que foi assassinado?
Eu me calei. Eu achei que tinha se matado, por um momento ou dois, até que recebi as mensagens e as fotos. Só o assassino poderia ter algo assim, não? E, segundo o meu pai, eles deviam ter indícios fortes de que foi um homicídio para construir o caso. Uma arma na mão errada ou algo assim. Uma cena suicida falsa.
— Eu não sei. Eu… Ele era egocêntrico. Eu não acho que ele iria… — Engoli as palavras.
Na minha opinião, não era suicida. Eu posso imaginá-lo matando alguém, mas não matando a si mesmo. De tudo que já passei ao lado dele, sempre imaginei que ele me mataria antes de se matar. Só que isso é lúgubre demais. Imaginar que alguém próximo a mim não só matou , como também está me torturando com mensagens… É demais. É como acordar em um filme cheio de psicopatas. Isso me assusta mais do que quero admitir para ele.
— E , ? — Eu não respondi. Deixei que o silêncio falasse por mim.
era um suspeito viável. Ele teria acesso a tudo… Era amigo de há muito tempo, saberia como me pressionar e eu cogitei suspeitar dele, mas não era um psicopata. Ele era babaca e egocêntrico, como , mas nunca tinha demonstrado nenhuma tendência violenta comigo. E eu também não quero imaginar que eu o magoei tanto a ponto de fazê-lo me atormentar dessa forma. Pelo menos, eu não achava que tinha feito isso.
— Ele não é assim tão esperto. — Retruquei depois de vários segundos de reflexão silenciosa.
— Você tem que parar de subestimar as pessoas, .
— Não estou subestimando ninguém. Eu conheço . — Me virei para trás, encarando nos olhos. — Eu dormi e acordei ao lado dele, . Acredite em mim, ele não matou ninguém.
— Mas foi ele quem a encontrou na festa, não foi?
Mordi meu lábio inferior, resistindo ao súbito impulso de desviar os olhos para qualquer coisa que não fosse o olhar límpido e penetrante dele. acariciou meus cabelos, segurando em minha nuca para trazer meu rosto até o dele. Ele beijou a minha testa e aninhou seu nariz nos meus cabelos. Na ponta da minha orelha, senti a calidez do suspirou que ele soltou.
— Eu não sirvo nem para te proteger. — Sua voz estava… Oca. Sem sentimentos. E constatar isso doeu. — Por que não me disse antes, ? Por que não me disse sobre quando eu a perguntei, da primeira vez?
Eu lembrava desse dia. O dia que tentou me agarrar à força, quando me viu e perguntou o que tinha acontecido com os meus pulsos. Quando ele me enfiou em seu carro e me deu uma carona até em casa. Quando ele me afirmou que eu poderia conversar com ele e contar com ele.
Acho que foi esse o meu erro: me afundar no meu próprio orgulho, na minha própria vergonha, talvez achando que eu merecesse o que fazia comigo porque eu o tinha provocado. Talvez, se eu tivesse falado com antes, se eu tivesse procurado o diretor ou a polícia… Talvez, talvez, talvez. Não posso afirmar que seria diferente, mas eu queria poder voltar no tempo. Queria tentar de novo. Queria consertar os meus erros, dar uma chance a antes, libertar do nosso namoro estúpido antes. Como seria, então?
— , eu te amo. — Me afastei um pouco para olhar em seus olhos. — Quero que saiba disso, tudo bem?
Eu me levantei do sofá, pegando a minha bolsa e abrindo a porta do apartamento apressada. se apressou para ir atrás de mim, chamando meu nome e me perguntando o que eu ia fazer, mas eu o ignorei e corri pelo corredor. Eu estava prestes a fazer algo estúpido, eu sei disso, mas eu também quero provar a todo mundo que eu não sou uma mentirosa, que eu não matei . Ou que é meu perseguidor secreto.
Quando cheguei na casa de , a mãe dele abriu a porta e me olhou de forma desconfiada. Certamente já sabia que nós tínhamos terminado e talvez ela estivesse satisfeita com essa reviravolta. Ela nunca tinha ido muito com a minha cara.
— Oi, sra. . O está em casa? — Ela fez sua usual cara de desprezo para mim e se virou por cima do ombro.
— , querido, sua ex-namorada está aqui.
apareceu logo depois, vestindo jeans e camisa polo mesmo dentro de casa. Ele sorriu assim que me viu, um sorriso branco, simétrico e sem falhas.
— Ei, . Quer entrar? — Eu anuí fracamente. Ele me abraçou e inspirou fundo quando o rosto dele chegou perto da curva do meu pescoço.
Eu me perguntei se ele teria sentido o cheiro de , de outro homem. Ora, ele sabia que tinha outro homem na jogada. Era ingenuidade demais dele achar que eu estava lá para reatar as coisas entre nós, não? Mas continuou me abraçando. O cheiro dele era familiar, mas seus braços fortes me causaram um indício de pânico. Por quê? Por que o abraço de me causava essa ansiedade? Será que era porque seu físico era tão parecido com o de ? Será que era por que, em algum lugar da minha mente, eu estava desconfiada dele, apesar de dizer que não?
Me afastei dele sem falar nada, o que o desanimou um pouco. Em seguida, como se nada tivesse acontecido, pôs a mão na minha cintura e me guiou até a piscina nos fundos da casa, onde, segundo ele, poderíamos conversar melhor. Para a minha felicidade, ele não tentou se aproximar depois que eu andei até a lateral da piscina. Em vez disso, ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e me encarou um pouco.
— E então?
— Eu queria falar com você. Sobre a festa ontem e… Sobre . — fechou um pouco a expressão.
— Para falar a verdade, eu não me lembro muito da festa. Eu estava bêbado. Sei que te vi lá, mas é só isso. — Eu crispei os lábios, me xingando por dentro. — Eu te fiz alguma coisa?
— Não. — Acabei mentindo. — Você só tentou me abraçar e eu entrei em pânico.
— Desculpa.
— Não, está tudo bem. — Eu me sentei em uma espreguiçadeira à beira da piscina.
Nós ficamos em um silêncio desconfortável por alguns minutos. Eu não sabia como abordar o assunto e ele não sabia como reagir quando estávamos conversando sobre coisas sérias. Sempre tinha sido dessa forma.
— Você acha que se matou? — Acabei perguntando sem rodeios.
Vi coçar a nuca, olhando o chão. Ele parecia querer formular alguma coisa, mas eu sabia muito bem que o cérebro de não era seu melhor amigo. Dei-lhe tempo para responder.
— Não, quer dizer… A polícia anda dizendo que alguém matou ele, não é? Por que seria um suicídio?
Eu dei de ombros. Em seguida, bati no lugar ao meu lado, chamando para se sentar ao meu lado. Eu me arrependi quase imediatamente, mas me controlei para não me encolher quando ele se sentou.
— Você não acha que é estranho? — Instiguei ele.
— Estranho? — repetiu, o cenho franzido.
— Ah, o era o tackle do time, . Quantas pessoas poderiam matá-lo com facilidade?
Eu o observei se calar, concentrado no mistério que se apresentava diante dele. Eu queria ver se era capaz de me enganar. Se ele era capaz de matar alguém e me torturar por isso.
— Você pode ter razão. — se calou de novo. — Quem você acha que pode ter sido?
E então virou seus brilhantes olhos azuis pra mim. Puros. Claros como água. Inocentes como os de uma criança. E eu soube, ali, que ele nunca me faria mal. Como eu sequer pude pensar nisso? Era , o cara que se desdobrava para atender todos os meus pedidos, o cara que sugeria um banho lá fora quando a chuva caía. Eu o abracei, meio desajeitada por causa da posição em que estávamos e também por causa da culpa que me consumia.
— Você me perdoa?
Eu não falava sobre nada específico, eu falava sobre tudo. Sobre os chifres, sobre trair a confiança dele, sobre machucar seus sentimentos. Abracei com força, sentindo ele me abraçar de volta em alguns segundos. Ele passou a mão grande pelos meus cabelos.
— Por quê? — Ele me perguntou e eu tive que me segurar para não chorar de novo. Eu não aguentava mais chorar. Não aguentava mais…
— Por tudo.
Me desentranhei dos braços dele, saindo da casa dos sem olhar para a mãe dele, sentada na sala, ou para qualquer outra pessoa.
Continua...
Nota da autora: (19/10/2018)
Eu devo ser uma das autoras mais cara-de-pau desse site, mas perdoem a demora e não desistam de The Swan Dive. Andei com um pouquinho de dificuldade de passar as ideias para a parte escrita, muito embora eu já tenha tudo planejado. O problema é realmente a falta de tempo e, quanto tenho tempo, a falta de inspiração. No mais, espero que gostem!
No próximo capítulo:
"Meu pai se calou por um momento, voltando à sua posição inicial. Passados alguns minutos, ele voltou a se inclinar para sussurrar:
— , você está dormindo com esse cara? Eu não vou te julgar, filha. — Me afastei, olhando-o nos olhos.
Os olhos de meu pai eram do mesmo tom que os meus, idênticos. Todas as minhas outras feições eram da minha mãe, a altura, o porte, a boca. Mas os meus olhos eram tal e qual os do meu pai, meio amendoados e no mesmo tom.
— Sim."
Outras Fanfics:
Fortune Teller (Outros - Finalizada)
Mixtape: Coisas Que Eu Sei (Awesome Mix: Vol 6 “Brasil 2000’s” – Finalizada)
09. Thunder (Ficstape EVOLVE - Shortfic/Finalizada)
11. Not Coming Home (Ficstape Songs About Jane - Shortfic/Finalizada)
Closure (Especial Nós Existimos/LGBT)
09. Carmen (Ficstape Lana del Rey)
12. This is what makes us girls (Ficstape Lana del Rey)
No próximo capítulo:
"Meu pai se calou por um momento, voltando à sua posição inicial. Passados alguns minutos, ele voltou a se inclinar para sussurrar:
— , você está dormindo com esse cara? Eu não vou te julgar, filha. — Me afastei, olhando-o nos olhos.
Os olhos de meu pai eram do mesmo tom que os meus, idênticos. Todas as minhas outras feições eram da minha mãe, a altura, o porte, a boca. Mas os meus olhos eram tal e qual os do meu pai, meio amendoados e no mesmo tom.
— Sim."
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