Última atualização: Reescrita em: 22/08/2019

Black acordou sentindo o corpo inteiro doer, como se estivesse em chamas, como se estivesse inteiramente quebrado.
Estava de bruços no chão gelado, mal conseguia levantar-se, mas quando o fez, notou o lugar no qual estava; uma cela pequena toda em pedras, com grades de ferro à frente e uma minúscula janela, também com grades.
Ergueu-se para olhar por ela, tudo o que conseguiu ver foi o mar que parecia cercar o local.
A voz impiedosa de Alvo Dumbledore chamou-lhe poucos segundos depois.
Ao virar-se, deparou-se com o diretor e Alastor Moody encarando-o de forma hostil, olhando-o com uma mistura de nojo e desprezo.
- Espero que goste da sua vista, é tudo o que verá pelo resto da sua vida. – Almofadinhas olhou atônito para Olho-Tonto - Mas não se preocupe pelo que soube os Dementadores gostam de fazer visitas diárias aos presos! Bem-vindo à Azkaban, Sirius Black.

O bruxo não tinha visto mais ninguém desde aquela noite, Dumbledore e Moody não quiseram ouvi-lo. O deixaram lá e saíram, sem nem olhar para trás.
Alvo havia sido bem claro quando disse que nada o tiraria dali depois do que ele tinha feito.
E, por um segundo, Sirius riu.
Riu de nervoso, mas aquilo não foi visto como uma coisa boa.
Almofadinhas achou por alguns instantes que Alvo e Alastor estivessem brincando com ele, não era possível que eles realmente achassem que Sirius Black seria capaz de trair James Potter, levando-o à morte.
Pontas era seu melhor amigo, era seu irmão para a vida.
Entretanto, quando os dois deram-lhe as costas e se afastaram, Sirius gritou pedindo para que voltassem. Pedindo-lhes para deixar-lhe se explicar.
Aquilo não era verdade, ele não trairia seus amigos.
Sirius não era um covarde.
Não importava o que gritasse, os dois homens não voltaram, eles não o escutaram.
E não demorou para Black perceber que aquele era o pior lugar no mundo para ficar.

Não era só o cheiro de podre ou as paredes frias, o problema não era nem mesmo dormir no fino colchão ao chão, ou a comida horrível que lhe era oferecida.
Era muito pior que tudo aquilo.
Ainda na primeira noite na prisão de Azkaban, Sirius foi apresentado aos guardas.
Aquela sensação era horrível, devastadora.
Assim como não esquecia a sensação de pegar sua filha no colo pela primeira vez, Sirius nunca esqueceria o que sentiu quando os Dementadores se aproximaram dele.
Eram dois sentimentos extremos em sua vida, ambos inesquecíveis.
Enquanto sua filha pareceu dar um novo sentido para sua vida, os Dementadores eram o inverso; Parecia que tudo seria tirado dele no momento em que os guardas se aproximaram.
Todos os sentimentos bons, todas as lembranças.
Parecia que até o calor de seu corpo tinha sido sugado, e no lugar ficava apenas o frio, o vazio.
Sentia como se sua vida estivesse deixando seu corpo, como se a felicidade estivesse lhe abandonando e só sobrassem seus medos e incertezas, a esperança já não existia.
Foram apenas alguns minutos, mas o suficiente para fazê-lo perceber que precisava sair daquele lugar o mais breve possível, ou enlouqueceria.
Suas piores lembranças vieram à tona durante aqueles minutos, e só o que conseguia lembrar-se era da vontade de acabar com a própria vida.

E foi assim que ele passou seu primeiro mês em Azkaban, Sirius não tinha contato com mais ninguém de fora. Ouvia os gritos dos bruxos e bruxas presos naquele lugar, sempre que os Dementadores apareciam pelos corredores.
Black sentia o vento frio e a aura angustiante que vinha junto com eles, os arrepios em sua espinha o avisaram que eles chegariam mais cedo do que ele esperava, e os gritos ao redor apenas confirmavam que os Dementadores estavam ali, aproximando-se aos poucos de sua cela.
Ouvia os próprios gritos ao reviver cenas do passado que tinha tentado esquecer, pedindo, implorando para deixarem-no, para matarem-no.
Mas não aconteceria, não enquanto os Dementadores pudessem sugar suas energia; Qualquer vestígio de felicidade seria tirado de Sirius Black, assim como sua sanidade.
E foi após uma dessas visitas que ele se lembrou de Olho-Tonto, quando em uma reunião da Ordem da Fênix, informou que aqueles que eram levados à Azkaban nunca deixavam a prisão, os prisioneiros sempre morriam no local antes de cumprirem suas penas, mas antes enlouqueciam.
Ninguém nunca saía daquele lugar, e Sirius entendia o motivo.
Assim como parecia cada dia mais próximo de perder sua sanidade.
Não eram só os Dementadores, era Azkaban.
Azkaban mudava as pessoas, fazia com que elas vivessem seus piores pesadelos.
A prisão parecia ser impregnada com aqueles sentimentos de miséria, dor, desesperança e medo.
Era como se a angústia dos prisioneiros pudesse ser sentida através das paredes.
Nenhum bruxo no Ministério costumava ir ao local, poucas vezes os Aurores entravam naquele lugar.
Ninguém gostava de passar pelos Dementadores ou presenciar o que acontecia ali.
Todos fechavam seus olhos para tudo aquilo.
Ninguém falava sobre Azkaban.

Sirius estava sentado em sua cama, as costas apoiadas na parede fria de sua cela.
Duas semanas antes Bellatrix Lestrange havia sido trazida para a prisão, junto com tanto outros bruxos e bruxas, seguidores de Voldemort.
Bella riu quando viu Sirius ali, parecia mais insana que o normal, e Sirius achava que não era pela presença dos Dementadores.
A cunhada era louca.
Soube então que Bellatrix, Rodolfo, Rebastan e Bartô Crouch Jr. tinham sido pegos e acusados de utilizar a Maldição Cruciatus em Frank e Alice Longbottom, dois velhos e queridos conhecidos de Sirius, membros da Ordem da Fênix.
Os dois foram tão torturados que acabaram enlouquecendo, a ponto de serem levados para o St. Mungus, fato que sempre fazia Bellatrix gargalhar, contando detalhadamente o que tinha ocorrido naquela noite, e como os dois imploravam para eles pararem.
Sirius pensou horas sobre aquilo; se demorassem o suficiente para sair da prisão e enlouquecesse, seria internado em St. Mungus?
E foi com aquele pensamento em mente que seu desespero aumentou, o hospital não era ruim, sabia que seria como o paraíso se comparado com Azkaban, mas ele definitivamente não queria chegar ao ponto de precisar ser internado naquele lugar.
Precisava saber quando seria seu julgamento, quando teria a chance de explicar-se para poder sair dali o mais breve possível.
Contaria sua versão da história, torcia para aquilo ser o suficiente, era tudo o que tinha.
Das pessoas que o conheciam, Sirius não achava que algum deles pudesse acreditar que ele tinha planejado a morte de James e Lily, mas então se lembrou do olhar frio de Dumbledore sobre ele, e suas esperanças diminuíram pouco a pouco.
Só queria poder voltar para sua casa, ver sua filha depois de tanto tempo.
Victoria sabia que ele era inocente, e parte de si achava um absurdo a mulher não tentar explicar de alguma forma para o Ministério que ele era inocente.
Talvez ela estivesse e ele não sabia.
Ou ainda ela estivesse até feliz com ele preso, assim não correria o risco de perder a filha.
Tinha esperanças de que de qualquer forma, ela ao menos explicasse para o que tinha acontecido quando a filha crescesse, caso ele permanecesse naquele lugar.
Desejava poder ver sua filha mais uma vez, nem mesmo teve tempo de despedir-se dela.
A garotinha talvez estivesse chorando, possivelmente sentisse saudades, assim como Sirius sentia.
Foi apenas quando, no final daquele dia, ele viu uma mulher alta e magra, com os cabelos loiros compridos, sendo arrastada aos gritos pelos corredores, passando em frente à sua cela, que Sirius desesperou-se novamente.
Levantou-se no mesmo instante em que seus olhos encontraram com os da mulher.
- O que...? – murmurou quase sem voz, aproximando-se das grades, a mulher foi jogada para uma cela próxima à sua, ainda gritando.
O significado daquilo, aos poucos, chegou até ele; era por isso que ela havia passado o dia fora de casa, por isso ela estava o tempo todo na casa dos Malfoy.
Sirius soltou o ar com força, passando a mão pelos cabelos pretos e sujos.
Sabia que a mulher possivelmente escolheria o lado de Voldemort, mas não achava que ela já tivesse o feito.
Não imaginou que já fosse uma infiltrada.
Não pensou que fosse tão fácil para ela escolher Voldemort ao invés dele e de sua filha.
Aquilo era loucura.
Insano.
Sirius que sempre se considerava melhor que sua família e sua estúpida política de Sangue-Puro, que desprezava qualquer apoio ao Lorde das Trevas, casou-se com Victoria achando que ela era igual à ele. Ela aparentava ser como ele.
Embora, algumas vezes parecesse confusa, o homem tinha certeza que ela era uma boa pessoa.
Ele havia se enganado.
Por Merlin, ele era muito estúpido!
Quantas vezes havia contato algumas das coisas que conversava com os amigos nas reuniões da Ordem? Quantas vezes confiou na mulher segredos que não deveriam ter sido revelados?
E todo aquele tempo ela esteve ao lado de Voldemort!
Black bateu forte com a cabeça contra a parede, queria socar-se por ser tão estúpido.
Como não percebeu aquilo antes? Era tão óbvio!
Todos aqueles sinais, bem embaixo de seu nariz, e mesmo assim Sirius não tinha percebido.
Frustrado, jogou-se sobre o colchão fino, deixando os pensamentos fervilharem em sua cabeça.
Sirius Black era mais estúpido que um Trasgo!
Sempre se considerou tão esperto, quando na verdade estava sendo enganado por duas pessoas próximas a ele.
Sirius soltou uma risada rouca, frustrado com si mesmo.
Como não percebeu no dia que visitou Rabicho que o amigo estava tão estranho? Como não percebeu que Rabicho era covarde demais para ser o Fiel do Segredo dos Potter?
Aquilo era sua culpa.
James e Lily estavam mortos, porque ele disse para James escolher Rabicho ao invés dele mesmo.
Sirius sabia que ele seria a escolha óbvia, que Voldemort iria até ele.
Não que tivesse medo! Sirius não era um covarde!
Nunca entregaria os amigos.
Mas sabia que ganharia tempo o suficiente se ficasse como isca, assim os Potter e Rabicho conseguiriam fugir caso necessário, assim como Victoria e .
Ninguém jamais imaginaria que Rabicho seria o Fiel do Segredo.
Era um plano perfeito!
Contudo, Almofadinhas nunca cogitou que Pettigrew se aliaria à Voldemort.
Nunca imaginou que o Lorde das Trevas fosse procurar Rabicho como um seguidor.
Talvez Voldemort realmente aceitasse qualquer um para ajudar-lhe, porque Peter não era nem mesmo um bruxo razoável, sempre teve problemas para executar os feitiços mais simples. Bem, isso antes de se aliar ao Lorde, já que agora parecia ter aprendido um novo truque, não que ele parecesse ter melhorado muito, já que acabou explodindo-se no processo.
Entretanto, o que de fato mais o frustrava é ter ignorado todos os sinais claros de que Victoria já não era a mesma e que, talvez, nunca tivesse sido quem ele imaginou.
Ela poderia muito bem ter fingido gostar dele durante todos aqueles anos!
Talvez estivesse estado ao lado dele quando era conveniente à ela, e, pensando bem, tinha sido exatamente isso que aconteceu;
Em Hogwarts ela só encontrava com Sirius fora dos horários de aula, quando não corria o risco de nenhum colega da Sonserina encontrá-la com o grifinório, deserdado pela própria família. E, mesmo assim, Sirius fechou seus olhos, mesmo assim Sirius continuou a sair com ela.
James o avisou tantas vezes. Aluado, que nem mesmo gostava de se envolver nesse assunto, também dizia que era estranho; se ela gosta tanto de você, porque sempre te trata mal na frente dos outros?
E mesmo assim, mesmo com todo mundo dizendo que aquilo não daria certo, mesmo quando Lily, que era de longe a melhor pessoa que ele conhecia, a mais sensata, mesmo quando ela lhe disse que talvez as coisas não fossem bem daquele jeito... Mesmo assim Sirius defendeu Victoria, tantas e tantas vezes.
Chegou a brigar com James quando ele insinuou que ela sempre iria deixá-lo pela família de verdade dela.
Black sempre disse aos amigos que aquilo era tudo questões de influência, ele bem sabia, porque era o mesmo com ele. Victoria só tinha medo de ser deserdada como Sirius e Andrômeda tinham sido.
Ela tinha ido contra toda sua família quando decidiu se casar com Sirius!
Esse era o sinal que ele estava certo.
Essa era a prova que fazia com que Almofadinhas confiasse na mulher, acreditasse que no fundo ela só estava assustada, mas que sempre escolheria a ele e a filha do casal, quando essa nasceu.
E foi quando este último pensamento veio à sua mente, que ele lembrou-se do que realmente significava Victoria e ele presos em Azkaban;
ficaria sozinha.
Ele não fazia ideia de com quem a garota estava, talvez Victoria nem mesmo tivesse passados os últimos dias com a filha.
Sirius levantou-se desesperado, correndo até as grades da cela, virando-se para o lado que ele tinha visto a loira ser levada, gritando à plenos pulmões:
- Cadê a ? O que você fez com ela?
Pode ouvir a risada de Bellatrix, ecoando pelos corredores.
- A bebezinha ficou sozinha! A bebezinha ficou sem o papai! - a voz infantil vinha de encontro à seus ouvidos.
Sirius agarrou com força as grades, a raiva o dominando.
- Cale a boca! Cale a boca antes que eu mesmo te faça calar!
- Hahahah! E o que você vai fazer? – a risada irônica soou novamente, junto com um choro fingido, uma imitação do que seria uma criança – Cadê o papai da ? Ele tá em Azkaban é? Ele nunca mais ver a bebezinha?


- Cale a boca! – Almofadinhas gritou, sacudindo como podia a grade, nunca quis tanto ter sua varinha em mãos.
A raiva que ele sentia por Bellatrix, assemelhava-se muito ao ódio por Voldemort e Rabicho. - Ela está com Andrômeda. – a voz baixa de Victoria soou em meio aos gritos vindos dos outros Comensais que riam junto a Bellatrix. – Está com ela desde que você foi pego.
Sirius suspirou aliviado, sua garotinha estava em boas mãos. Por um momento ele assustou-se com a ideia dela ter sido deixada com os Malfoy.
Afastou-se novamente, voltando para seu colchão, deitando-se e ficando ali, com seus próprios pensamentos.

Não fazia ideia de há quanto tempo estava preso, mas julgando pelo tamanho de sua barba, diria que já fazia muito mais de um mês, talvez dois. E até então não havia tido nenhuma resposta, nenhuma visita.
Gritava que queria ver Olho-Tonto, precisava falar com o Auror, mas ninguém o escutava.
Ninguém além dos outros presos, que riam dele sempre que o homem fazia algo.
Os Dementadores não se importavam, apenas faziam suas visitas diárias.
Aos poucos, Sirius foi considerando a possibilidade de não haver um julgamento.
De não haver a possibilidade de explicar-se, de ser inocentado.
Sirius Black passaria o resto da vida em Azkaban. E esse pensamento foi confirmado semanas depois, quando a Ministra da Magia, Emília Bagnold, foi até prisão.
A bruxa parecia ainda mais velha de perto, porém com uma agilidade que Sirius não imaginava ser capaz para alguém de sua idade.
Ela havia ido para Azkaban junto de mais dois Aurores, para inspecionar a prisão e ver seus novos prisioneiros.
Sirius estava em sua cama quando ela chegou, sentado com as pernas compridas esticadas para fora do colchão. Os cabelos pretos já caiam vários centímetros abaixo de seus ombros, enquanto ele mantinha os olhos fechados e a cabeça encostada à parede.
Sentia-se fraco, com fome, e mantinha aquele incômodo aperto do coração, tanto pelo luto por causa de seus melhores amigos, tanto por saudades de sua filha, de quem ele não conseguiu nem mesmo se despedir.
Imaginava o que a pequena garotinha pensava sobre a falta do pai; se ela ficava triste com isso, ou se nem mesmo lembrava-se mais dele.
A única certeza que tinha no momento, era que a criança estava sendo bem cuidada por Andrômeda e Ted. O que também não parecia o suficiente, queria ele mesmo estar com sua filha e, também, com seu afilhado.
e Harry eram sua responsabilidade.
Foi quando escutou os gritos vindos dos outros prisioneiros, que percebeu que tinham visitas.

Foram os insultos que o fizeram perceber que era a Ministra quem estava por ali, e logo Almofadinhas à viu passando pelo corredor, a cara fechada tanto pelo ambiente imundo no qual se encontrava, tanto por causa dos prisioneiros que ali estavam; em grande maioria, Comensais da Morte capturados.
A mulher passou na frente da cela de Sirius, e o homem levantou os olhos escuros para ela.
Black estava mais magro e sujo, já não parecia aquele rapaz jovem, bonito e saudável que a mulher conheceu meses atrás, em uma reunião junto a Dumbledore.
Desviou o olhar poucos segundos depois, na intenção de continuar sua inspeção, mas Almofadinhas não perderia sua oportunidade; levantou-se o mais rápido que seu corpo cansado lhe permitiu, andando até a grade de ferro e segurando-a com a mão branca e ossuda.
- Quando será meu julgamento? – perguntou desesperado, queria dizer mais coisas, dizer que era inocente, que nunca trairia seus amigos, mas não parecia ter forças, sua voz soou rouca, talvez pelo tempo que não a usava.
A mulher o olhou com repugnância, mas não foi a Ministra quem respondeu sua pergunta; Olho-Tonto estava logo atrás, Black nem mesmo o viu antes de escutar sua voz grave reverberar pelo local;
- Você não terá julgamento, irá apodrecer aqui que é seu lugar!
Sirius abriu a boca por alguns segundos, passou a língua pelos lábios finos e secos, tentando coordenar seus pensamentos, suas ações.
Queria gritar, porém não tinha mais forças, sua garganta arranhava até quando engolia a própria saliva, devido aos gritos que dava sempre que os Dementadores se aproximavam dele.
- Eu... Não... Eu não... Por favor...
- Você irá morrer aqui, como tantos outros, Black. E será muito bem feito! – Moody voltou a respondê-lo, agora olhando para o lado, voltando a ignorá-lo e a seguir Emília pelos corredores da prisão.
O Auror usava um tampão preto no lugar que antes se via seu olho esquerdo.
Sirius fechou os olhos por alguns instantes, aquilo não poderia estar acontecendo com ele.
Voltou a abri-los em tempo de ver os dois afastando-se pelo corredor, murmurando com tristeza;
- Eu preciso ver minha filha...
Alastor olhou-o por sobre o ombro, virando-se em seguida sem nada declarar.

Já fazia mais de seis meses que Black estava em Azkaban, acostumou-se com os gritos roucos que passavam por sua garganta sempre que os Dementadores faziam suas visitas, e também já havia se acostumado com os gritos dos outros prisioneiros, o que no começo o acordava durante a noite.
Azkaban era o lugar que fazia os pesadelos tornarem-se reais, o lugar que trazia à tona as piores lembranças de seus moradores.
Sirius se sentia cada dia mais fraco e desamparado.
Pouco à pouco sua esperança estava indo embora, junto com sua felicidade e boa parte das lembranças boas que cultivava.
As ruins, entretanto, permaneciam com ele, mais vívidas do que nunca.
Contudo, diferente dos outros prisioneiros, Sirius era inocente, e mesmo que ninguém mais acreditasse nisso, ele sabia que era real.
E esse pensamento os Comensais não conseguiriam arrancar dele.
Em uma tarde mais fria no final do inverno, Sirius estava encolhido no canto de sua cela, tentava pensar em qualquer coisa que o distraísse do frio que sentia.
Frio era uma sensação psicológica, não era?
Ele fazia de tudo para colocar a mente em qualquer outro lugar, longe daquele frio, longe daquela loucura pertencente à prisão.
Via as mãos arroxeadas e, embora tivesse recebido mais algumas peças de roupa para passar o inverno rigoroso daquele ano, cogitou a possibilidade de o frio que sentia não ser apenas por causa da estação gelada em que estavam. Embora tremesse, sentia como se sua própria alma congelasse, aos poucos, sufocando-o de dentro para fora.
Ainda tremia encolhido, quando ouviu passos e um bater em sua cela, levantou brevemente a cabeça, reconhecendo então Alastor, o qual não parecia interessado em olhá-lo por muito tempo;
- Prometi que lhe entregaria isso. – jogou um envelope pardo pela grade, dando meia volta e saindo, sem dizer mais nenhuma palavra, sem olhá-lo uma segunda vez.
Almofadinhas arrastou-se pelo chão frio, cansado demais para colocar-se em pé, até pegar o envelope e voltar para sua cama, embrenhando-se novamente das cobertas finas, virou o papel pardo em suas mãos, Sirius, estava escrito em tinta preta, após pensar um pouco, reconheceu a letra de Andrômeda.
Abriu o papel com as mãos trêmulas, e agora ele já não tinha mais certeza de era pelo frio ou pelo nervoso. De dentro retirou um pedaço de pergaminho e duas pequenas fotografias em preto e branco; Sirius sentiu as lágrimas chegarem aos seus olhos e o sorriso aos seus lábios finos e secos, seu corpo aqueceu-se no mesmo instante em que viu a primeira imagem;
Na foto, a garotinha estava bem maior desde a última vez que Sirius a tinha visto, tinha muito mais cabelo e os movimentos um tanto mais ágeis. vestia uma blusa quentinha com touca, estava em uma sala de estar e segurava o cachorro preto de pelúcia que tanto gostava, ria para a câmera enquanto andava até a pessoa que tirava a foto.
Era quase como se Almofadinhas conseguisse escutar sua risada alta e alegre, sempre seguida de um bater de palmas animado.
Ela estava bem, estava feliz.
Na segunda foto, a mais recente, tinha as mãos e parte do rosto sujo com bolo, enquanto uma vela de número dois aparecia na lateral. Os cabelos já cobriam sua cabeça por completo, os grandes olhos encaravam curiosos a foto, enquanto ela tentava segurar uma risada, colocando as mãos sujas sobre a boca.
Sirius sentiu um aperto no peito e a vontade de chorar aumentou, não sendo mais possível controlar.
Tinha perdido o aniversário de sua filha.
já tinha dois anos, e há seis meses o pai já não estava mais presente em sua vida.
Almofadinhas passou vários minutos olhando aquelas fotos, sorrindo tristemente para elas, prendendo-se em cada detalhe.
A filha estava bem, estava segura e isso deveria ser o suficiente, mas a saudade que sentia apertava seu coração.
Queria estar com ela, queria ele mesmo ter feito o bolo e tirado aquela foto, queria ter visto a reação dela ao abrir os presentes.
Queria ser ele a abraçá-la desejando um feliz aniversário quando ela acordasse pela manhã, mesmo que ela ainda não entendesse bem o que aquilo significaria.
O homem então suspirou profundamente, fungando baixinho e passando a mão pelo rosto magro, limpando as lágrimas que ainda escorriam. Pegou o pergaminho dobrado que tinha deixado de lado, abrindo-o em seguida e lendo atentamente a carta de Andrômeda;

“Sirius,

Prometi há semanas a mim mesma que escreveria essa carta em algum momento, e que nem mesmo questionaria o que você possa ter feito nela. Não é para isso que escrevo.
Alastor nos contou um pouco sobre sua estadia nesse lugar infernal, e disse que você perguntou sobre sua filha.
É por ela que escrevo.

Independente de qualquer coisa, eu e todos que já te viram junto dela, sabemos o quanto você a ama e o quanto se importa com ela. E é por isso que envio essas duas fotos, para que, ao menos, você tenha uma pequena lembrança de consigo.
Ted e eu prometemos que não vamos falar sobre nada até ela ter idade o suficiente para entender, e nem deixaremos que ela veja qualquer coisa ligada a ida dos pais à Azkaban.

está muito bem, estamos cuidando dela desde o dia em que você foi preso.
Todos os dias Dora a faz rir mudando a cor do cabelo, imagino que em algum momento ela deixará de achar isso engraçado, mas por enquanto ela segue rindo disso e de todas as pequenas magias que fazemos para distraí-la.
Sua filha está cada dia mais esperta, já consegue andar sem cambalear e não para de correr pela casa e pular do sofá (ou qualquer outro lugar que consiga subir sozinha).
Também já consegue comer sozinha fazem algumas semanas, embora sempre faça bagunça e se suje bastante.
também já sabe dizer várias palavras, começou com os barulhos de sempre até começar a tagarelar por todos os cantos, algumas vezes ainda é difícil de compreender o que ela fala, mas no geral está conversando sobre tudo.

Ela continua andando agarrada com o cachorro de pelúcia que você deu a ela, e não tem uma noite que durma sem tê-lo ao lado.
está bem, saudável e feliz na maior parte do tempo, mas ela sente sua falta.
Chorou por vários dias nas primeiras semanas, esperando você voltar.
E continua perguntando sobre você todos os dias, ela ainda acorda à noite chamando por você.
Fizemos um bolo para comemorar o aniversário dela semana passada, brincou bastante e comeu muito, e perguntou se você viria. Ela ficou triste quando dissemos que você não poderia, mas se distraiu após alguns minutos.

Deixamos uma foto de vocês dois juntos ao lado do berço, não queremos que ela se esqueça do quanto você a ama.
Ela passa muito tempo todos os dias sentada no berço antes de dormir, a impressão que tenho, é que ela conversa com você sobre o dia que teve.

Sua filha te ama, Sirius.

Andrômeda.”

Ás lágrimas voltaram a cair e o aperto em seu peito aumentou consideravelmente quando leu que ela sentia sua falta, que olhava para foto e que o chamava.
Sirius leu e releu aquela carta, sorrindo e visualizando em sua mente cada cena.
Queria poder abraça-la novamente, beijar-lhe a cabeça e dizer o quanto a amava, o quanto sentia sua falta.
Queria protegê-la.
Sirius nem mesmo tinha como responder aquela carta, mas era grato pela cunhada cuidar tão bem de sua filha e deixar uma lembrança dele ao lado da criança, não deixando-a que se esquecesse dele.
Era importante para Sirius que sua filha se lembra dele, mas ele queria que ela soubesse que ele era inocente, que não tinha feito nada daquilo.
Só não sabia como.
O medo então o atingiu ao imaginar o que aconteceria quando ela crescesse mais, se ela ainda sentiria sua falta e se ainda iria amá-lo como agora.
Doía imaginar que um dia sua filha imaginaria que ele era culpado, assim como todos os outros. E doía ainda mais imaginar como ela ficaria quando esse dia chegasse, quando soubesse que o pai e a mãe estavam presos em Azkaban.

Sirius não queria pensar pensar naquilo no momento, ainda teria alguns anos até ela começar a entender tudo aquilo e, Sirius esperava, até esse dia chegar ele já estaria fora de Azkaban.
Almofadinhas deitou a cabeça em seu travesseiro, ainda olhando para as duas pequenas fotos em suas mãos com um sorriso no rosto, assistindo rir em sua direção, como se estivesse em sua frente, rindo diretamente para ele.
No momento, aquilo era o suficiente para fazê-lo seguir em frente naquele inferno;
Sua filha te ama, Sirius.




FIM



Nota da autora: Olá!
Voltei com mais um Spin Off (Reescrito!), se vocês não conhecem ainda a fanfic "mãe" dessas shorts é Uma Nova História!
No mais é isso mesmo, ainda temos mais duas shorts e o fim dessa saga - mais demorada que o Harry procurando Horcrux!
Até a próxima!!
Beeijos
Ps: Beijo pra Clara Prado que fez as capas maravilhosas!





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