Fanfic finalizada

Capítulo Único

Fazer parte da equipe da S.H.I.E.L.D. tinha suas vantagens.
Por mais incrível que parecesse, você acabava tendo bastante tempo livre. Ninguém colocava muita fé nisso quando qualquer agente tocava nesse assunto, mas na maior parte do tempo era verdade. Felizmente, não era todo dia que precisavam lidar com alguma agência inimiga tentando dominar o mundo, ou com invasões alienígenas tentando subjugar a raça humana. Isso apenas aparecia uma vez ou outra no calendário da instituição, e todos torciam para que continuasse aquela tradição – claro que preferiam não ter motivos para entrar em ação, mas o mundo estava longe de ser perfeito.
Claro que os agentes que trabalhavam diretamente com monitoração não tinham tanta folga assim, embora constantemente fossem remanejados para áreas diferentes para não sobrecarregar ninguém, mas quem formava a força tática tinha uma rotina bem mais simples: se não estavam em ação, estavam dormindo ou treinando. Sem muitos mistérios.
As coisas apenas mudaram um pouco depois da fundação dos Vingadores e sua associação com a S.H.I.E.L.D. Parte da base constitucional da agência em NY agora funcionava na antiga Torre Stark, o que significava que todo agente que fica ali designado tinha que ser preparado previamente para lidar com a equipe de heróis mais disfuncional existente. lembrava muito bem a primeira vez que ficara frente a frente com Tony Stark, tendo que repassar mentalmente todas as instruções que recebera para os seguintes cenários: Stark lhe oferecendo bebida, Stark lhe pedindo para fazer algo, Stark sorrindo de forma estranha. Acabou que ela teve que dar as costas ao engenheiro e sair do ambiente o mais rápido possível, temendo que fosse levar uma advertência logo no primeiro dia no prédio. A mulher nunca chegou a saber o que Stark pretendia com ela, e ele nunca chegou a tocar mais no assunto. Provavelmente ele estava apenas determinado a irritar o Diretor Fury depois de todos os protocolos que foram passados para a equipe de heróis em relação ao comportamento individual de todos no prédio, e com relação a sua equipe. também ficara curiosa sobre como Fury iria reagir com protocolos quebrados, mas, diferente de Stark, um salário não era apenas bem-vindo, como muito bem apreciado.
Com o restante dos heróis, até que ela tinha um bom convívio – isso nas poucas vezes que ocupavam o mesmo ambiente. Steve Rogers era o mais determinado a conhecer todos os agentes do prédio, tendo decorado pelo menos um nome de todos em um período bastante curto de tempo, o que acabou por completo com as piadas de Tony sobre idade e falhas de memória – quando ele errava o nome de alguém, as piadas voltavam, mas não com tanta força. Bruce Banner era definitivamente o mais quieto e o mais amigável de todos, explicando com uma paciência que não era desse mundo sempre que alguém tentava puxar assunto sobre o material que fora requisitado para entrega, se esforçando ao máximo para que seu interlocutor entendesse pelo menos o básico, mesmo que fosse esquecer nos próximos minutos. Romanoff e Barton não eram novidade nenhuma para os agentes, inclusive eram a dupla que eles mais evitavam. Eles eram atentos demais a tudo ao redor deles, e não, eles não deduravam colegas para os superiores, mas definitivamente não tinham problemas com chantagens para conseguir favores diversos.
Restava apenas Thor, e ele era o maior alvo dos agentes. O asgardiano no primeiro dia até ficara mais resguardado, olhava com desconfiança para os agentes que cochichavam entre si quando ele se aproximava, mas não durou muito. Logo ele estava mais do que acostumado com as perguntas aleatórias sobre seu reino, assim como também tirava dúvidas que achava pertinente sobre Midgard – ainda não entendi muito bem como eles não utilizavam mais cavalos para transporte –, mas um dia se acostumaria.
Naquela semana em especial, estava mais livre do que de costume, por isso aproveitava para passar um tempo extra na academia. Todas suas formas de entretenimento já tinham sido gastas, já tinha respondido todos os parentes possíveis que reclamavam da sua falta de contato, então só lhe restava pelo menos fingir ser uma agente dedicada. Sua mochila com material de treino estava sempre ao lado da porta de seu quarto, esperando para ser movida para seu outro único lugar que habitava: um canto qualquer de um dos andares de academia. Enquanto comia alguma coisa rápida antes de sair, a agente chegou a chamar J.A.R.V.I.S. perguntando sobre o status da sala que normalmente ela ocupava, apenas para descobrir que ela já estava em uso por um outro grupo. Para sua sorte, a inteligência artificial comentou de um outro andar também dedicado a treinamento, que era bem menos usado do que o que ela pedira informação, mas igualmente preparado. Como ele disse que não tinha nenhum problema, foi para lá que rumou.
Antes de enrolar suas mãos nas faixas, ela parou para duas atividades importantes: prender o cabelo e ajeitar sua música. Seu habitual era passar entre uma e duas horas na academia, e seria muito fácil se tediar se a única distração sonora fosse sua respiração controlada e os sons de golpes no saco de areia, por isso o suporte para celular em seu braço junto com o aparelho e os fones eram os equipamentos mais essenciais do treino, antes mesmo de roupas adequadas, elásticos de cabelo, e equipamentos apropriados.
A batida forte era que marcava seus movimentos, às vezes chegando a se esquecer da atividade principal, arriscando alguns passos de dança que vira alguém reproduzindo algum dia ou até mesmo improvisando alguns. Sua playlist para treino se resumia praticamente aos sucessos dos últimos tempos, fugindo de músicas mais paradas que poderiam acabar com seu ânimo para a atividade, e vez ou outra ela até chegava a cantar junto, pelo nível de lavagem cerebral que as rádios conseguiam fazer.

Show me what you got
(Me mostre o que você tem)

Não era como se o saco de areia pudesse revidar – fosse respondendo ou contra-atacando –, mas estava tão imersa na melodia que estava afrontando o equipamento enquanto ofegava a letra, já que sua alta movimentação impedia de cantar de fato. Com um giro ágil de seu corpo, ela acertou o equipamento com o calcanhar, emendando uma cotovelada antes de voltar a sua postura original, finalizando com um chute circular.

Give it to me, I’m worth it
(Me entregue, faço valer a pena)

tinha visto o vídeo bem mais do que se orgulhava, mas provavelmente não o suficiente para uma pessoa sem sua boa memória conseguir lembrar os passos com tamanha perfeição, os versos do refrão saindo um pouco mais alto que o resto da letra por ter conseguido respirar um pouco melhor. Seu braço já estava prestes a acertar o saco de areia mais uma vez quando um pigarreio alto – o suficiente para que ela ouvisse com os fones – quebrou sua concentração, tirando os aparelhos do ouvido em um único movimento e se virando para a entrada da academia, onde Tony Stark e Thor a observavam com atenção.
Bom, Tony parecia extremamente satisfeito. Já Thor parecia que estava prestes a entrar em guerra contra seu pior inimigo.
- Acho que vou pedir para trocarem meus treinos com a Viúva para treinar com você, agente – brincou o engenheiro, rindo sacana enquanto a mulher o fuzilava com os olhos – Me parece bem mais... divertido.
A mulher até queria retrucar, mas tanto estava sem ideias como Tony continuou falando, dizendo que o horário da academia estava reservado para os Vingadores, mas que ela estava mais que convidada a se juntar a eles. O Capitão América que normalmente assumia a responsabilidade do cronograma de treinos da equipe, e, depois da última vez que ele quis fazer uma geral com os agentes da Torre, não foi surpresa para ninguém a mulher ter recusado sem pensar duas vezes.
A única coisa que ela estranhou foi o olhar do asgardiano acompanhando sua movimentação enquanto ela reunia seu material de treino, ele apenas desviando quando resolveu revidar o contato visual mesmo que com menos intensidade, e assim Thor passou a responder o que quer que fosse que Tony estivesse lhe falando. Aquele tipo de comportamento não era do feitio do deus, ele parecia realmente ofendido com algo, ela só não sabia dizer com o que.

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Fazer parte da equipe da S.H.I.E.L.D. que dava suporte aos Vingadores tinha suas desvantagens, como ter que auxiliar na resposta ofensiva contra invasões alienígenas.
NY para variar estava parcialmente aos pedaços, parte dos agentes estavam responsáveis pela segurança e locomoção dos civis, enquanto um grupo menor estava na linha de frente, junto com os heróis. E claro que tinha que ter ficado com a parte mais divertida.
Rogers não estava muito longe, pedindo aos berros que alguém desse uma ideia de como fechar aquele maldito portal, mas todos os seus colegas estavam de mãos cheias. A única coisa que eles sabiam era que havia uma parte da nave inimiga pousada que era mais protegida que as outras, altos demais para poder pular e inacessível demais para escalar. O ideal era um dos voadores tentar uma invasão, mas Stark estava ocupado demais com as naves menores, assim como Thor. Aquele seria um bom momento para Barton criar asas de fato, mas, como não podiam depositar todas as esperanças nisso, eles precisavam pensar em outra coisa.
- Ei, Capitão! – chamou pelo soldado, Steve olhou confuso procurando pela mulher nos arredores depois que derrubou mais um inimigo – Como está seu arremesso?
Ele franziu o cenho por um momento, o entendimento apenas o atingindo quando notou a mulher encarando o escudo em seu braço, depois erguendo os olhos para o topo da nave.
- Ainda é muito alto, – lembrou Steve, suspirando derrotado quando viu a agente expor um pequeno gancho no pulso direito. Aquilo não soava como uma boa ideia.
- Espero que a galera dos equipamentos esteja certa e que isso realmente finque em qualquer superfície.
Sem ter como discordar, o soldado apenas tomou mais espaço e ficou na posição, à espera do salto. teve que conter o instinto de fechar os olhos quando seus pés tocaram o metal do escudo e Steve a lançou para cima. Ninguém naquele trabalho gostava de alturas, mas não é como fosse algo que pudesse ser evitado, e aquele momento provava isso. Ela teve que se manter concentrada mesmo com o assobio intenso do vento em seus ouvidos na parte mais rápida da subida, teve que calcular muito bem o tempo e a direção em que lançaria o gancho, e teve que juntar toda a determinação que tinha para não olhar para baixo quando ficou pendurada sabe-se lá a quantos metros do chão.
- ? – a voz do Capitão parecia mais baixa em seus ouvidos, fosse pelo vento ainda forte ou pelos sons das naves que chegavam um pouco perto demais.
- Um minuto – grunhiu ela em resposta, já deixando uma pistola em mãos antes mesmo de começar a subida. Ela já estava pronta a ralhar com Steve e aceitar a advertência que isso ocasionava quando ele voltou a chamá-la com urgência, mas não demorou muito para que entendesse o desespero do soldado: só tinha uma nave vindo exatamente em sua direção e atirando, era fácil manter a calma.
Como já tinha reunido bastante corda pelos poucos metros que subira, conseguiu descer bastante, saindo completamente da mira da nave, que, por sua vez, não conseguiu fugir do ataque que viera por trás, colidindo e invadindo a nave principal. Depois que a fumaça diminuiu, a mulher conseguiu ver Thor na beira da cratera recém-criada, sinalizando para que ela voltasse a escalar.
Fosse impaciência ou querer agilizar o processo, o deus passou a puxar também a corda que mantinha a agente pendurada, lhe estendendo a mão quando ela estava próxima o suficiente.
- Certo, o que fazemos agora? – perguntou ela, assim que conseguiu se colocar de pé e analisar seu arredor: aquilo estava caótico, talvez caótico bom para eles, quem sabe.
- Fechar o portal.
- E como fazemos isso?
Thor se virou lentamente para a mulher, dando tempo o suficiente para ela explicar que se tratava de uma brincadeira midgardiana que ele nunca entendia.
- Você veio aqui sem saber como fazer isso, não é?
- Stark, preciso de você aqui – suspirou ela, um dedo no comunicador abrindo um canal privado com o engenheiro.
- Ocupado, amor. Muito ocupado.
- Eu preciso de um especialista em tecnologia, não sei mexer nesses negócios!
- O que te faz pensar que eu entendo tecnologia alienígena? – devolveu ele, o som dos seus repulsores disparando camuflando um pouco de sua impaciência com a mulher –Vai fuçando e descobre.
- Você é um alien também – comentou , assim que Tony abruptamente fechou o canal – Não consegue entender?
- Não usamos todos os mesmos códigos, milady – esclareceu Thor, rumando para o que sobrara do painel de controle da nave junto com a mulher. estranhou o tom de voz que ele usara, uma mistura de irritação e audácia, mas ela não tinha muito tempo para pensar naquilo, tinha que virar fluente em códigos alienígenas em um minuto, de preferência.
Até ver uma luz se acender no painel e um chiado estranho chegar aos seus ouvidos.

Aquilo ela sabia o que significava em qualquer sistema de códigos.
Perigo.
sequer teve tempo de sinalizar para Thor correr, acabou por apenas arrastá-lo junto consigo e esperar que ele entendesse o recado. Quando estavam na beira do andar, ela prendeu o outro gancho que levava consigo na capa do asgardiano, mirando na própria nave na esperança de que ela não explodisse por completo e lhe servisse de suporte para interromper a sua queda.
Enquanto a dela apenas terminaria no chão.

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Já era o terceiro dia seguido que Thor não abandonava a ala hospitalar da Torre – apenas para breves visitas ao banheiro.
Nenhum de seus colegas chegou a questionar aquele comportamento, embora comentassem entre si. Claro que eles também ficaram surpresos com a escolha curiosa de ação de , em garantir a segurança de Thor e não dela, e por isso eles podiam compreender o desejo do deus de ver a mulher bem sem fazer tantas piadas. Clint normalmente era o que sempre puxava, principalmente quando Tony não estava perto cumprindo sua função, mas naquele momento em particular ele deixara de lado.
Thor estava indiscutivelmente intrigado.
- Não faz sentido – o deus repetia sem parar, o arqueiro na poltrona de acompanhante do outro lado da maca se esforçando para não revirar os olhos – Eu não sofreria ferimento algum pela queda, ela que necessitava de auxílio.
- Aí é que tá, Thor: ela foi recém-remanejada, ainda não acostumou que alguns dos colegas não quebram tão fácil… – esclareceu Clint, seu olhar vez ou outra se voltando para o rosto sereno da mulher, algo bem mais discreto do que o tédio em sua voz – Ela agiu por instinto, a proteção do seu próximo sempre é a prioridade.
Thor ponderou as palavras com cuidado, percebendo então que inconscientemente seguia o mesmo ritmo de respiração que a mulher, com a diferença que ele não se sentia tão em paz como ela aparentava estar. Ainda haviam bastantes ferimentos em sua pele expostos pelos braços descobertos e rosto, mas pelo menos não precisava mais de auxilio para respirar, o que já fazia o peito do deus ficar mais aliviado. O curativo sobre o olho esquerdo era o que mais o incomodava, quebrava a harmonia de um rosto tão equilibrado, além de ser o mais visível lembrete que ele deveria ter a protegido, não o contrário. No fim das contas, ele tinha julgado errado seu caráter.
- Talvez ela esteja certa, ela é digna – disse ele por fim, afundando um pouco mais na poltrona que não parecida ter sido desenhada para alguém de se porte. Clint, por sua vez, não acompanhou seu raciocínio.
- Desculpe?
- Um dia ela estava no andar e treinamento, aclamando ser digna – contou Thor, quase podendo ver a cena se formando mais uma vez diante de seus olhos: com os autofalantes compactos nos ouvidos, praticando alguma forma de dança ou luta a que ele não estava habituado – Achei uma afronta, mas ela estava certa, afinal.
- Não faz sent… Espera – Clint chegou a fechar os olhos, saboreando o máximo que podia aquela suposição, caso estivesse equivocado – “Give it to me, I'm worth it”? Thor, isso é uma música. Ela não estava falando do martelo.
- Do que ela estava falando, então?
Certo, Clint não estava preparado para explicar as conotações de alguns tipos de música para um extraterrestre.
- Ela não estava falando de nada, ela só estava cantando a música.
- E quem fez a música estava falando do meu martelo?
- Não! – o arqueiro se desesperou, principalmente pela forma inocente e genuína que Thor lhe entregava mais dúvidas. Se fosse o Stark naquela situação, não precisaria pensar duas vezes antes de afirmar que ele estava de gozação. Só que se tratava do asgardiano ainda não habituado com todos os costumes terráqueos e isso apenas deixava Clint mais desconsertado – Estava falando para o cara se dar para ela. Se entregar. Em uma conotação mais específica. Eu não acredito que estou tendo essa conversa.
- Então ela estava... me cortejando?
- Eu nunca fiz parte dessa conversa, se resolva com ela quando ela acordar – em um pulo, Clint deixara a ala hospitalar, o que apenas fez com que Thor ficasse ainda mais confuso.
E mais determinado a apenas deixar o quarto quando acordasse.

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acordou quase uma semana depois da invasão, bem mais confusa do que se orgulhava.
Os médicos e alguns colegas lhe entregaram toda as informações que julgavam importante, mas tudo aquilo não estava fazendo tanto sentido assim. Afinal, ela tentou salvar um deus de uma queda. E se quebrara toda por isso.
Ela costumava ser uma agente inteligente, e aquilo não se encaixava muito no perfil. Talvez ela precisasse de férias.
Ou pelo menos de alguma coisa para fazer enquanto não podia deixar aquela maldita maca.
Por causa das concussões e traumatismos, nenhum aparelho de entretenimento era permitido em seu quarto, o que resultava em muitas horas de encarar a parede pelo resto da vida, quando não acabava tirando um cochilo contra a vontade. Fazia muito tempo que não se encontrava naquele estado e sabia que o desconforto era normal, só que daquela vez parecia insuportável. Um copo de gelatina parcialmente derretida estava em suas mãos quando ela ouviu alguém entrando no quarto, e até chegou a parar de brincar com a colher de plástico.
- Ah…! – ofegou ela surpresa, a figura do deus um tanto indeciso lhe parecendo novidade demais – Oi, Thor. Servido?
- Tapa-olho legal – comentou ele, depois de negar a oferta e voltar para a poltrona que praticamente era uma extensão sua. apenas riu de leve.
- Eu já consigo ouvir as piadas de que vou substituir o Fury, ou que estamos formando um grupo especial...
- Meu pai, o Pai de Todos, também usa um – lembrou ele, se esforçando para ficar sério quando pareceu se divertir mais – Então é um belo de um grupo.
- Desculpe por não ter conseguido controlar a situação – como eram raras as vezes que ficavam no mesmo ambiente por tanto tempo, achou melhor logo emendar o assunto, procurando uma posição melhor no fino colchão, mas nada que tirou o sorriso brincalhão de seu rosto – Não sei você, mas não gosto muito quando as coisas explodem na minha cara.
- Seu coração é puro, como nunca vi antes. A boca nem tanto.
- Até concordo... – respondeu ela, intrigada pelo comentário aparentemente aleatório do deus, que parecia satisfeito demais com a conversa para não parecer suspeito – Embora não me lembre de você presenciando meu vocabulário requintado.
- As músicas que você aprecia já adiantam isso.
- Perdão?
- “Give it to me, I’m worthy”? – Thor repetiu o verso mais próximo que sua memória permitia, se divertindo com a confusão clara nos olhos da mulher – Não estou habituado a damas sendo tão diretas.
demorou para entender do que ele falava, mas assim que entendeu, foi difícil controlar a vontade de rir. Tinha algo curioso de ouvir os versos mais falados do que cantados na voz potente e profunda do asgardiano. Será que ficaria um clima estranho entre eles se pedisse que ele cantasse a música toda?
- Bem, eu não sei em Asgard, mas aqui temos várias pessoas dignas... Dignas de coisas variadas – tentou se explicar, a expressão falsa de seriedade divertindo ainda mais o deus – Gostamos de deixar isso bem claro.
- Seria eu digno de sua companhia? – A pergunta pegou a mulher completamente de surpresa, encarando os olhos claros e atentos de Thor por mais tempo que era socialmente aceitável. Aquilo já não estava mais no campo da brincadeira, certo? Ela podia ter batido a cabeça com força dias atrás, mas aquilo continuava sendo um flerte, não? – Os dignos do meu poder podem erguer meu martelo, o que posso fazer para provar meu valor, milady?
As chances de terem mudado algum de seus medicamentos e ela estar alucinando eram bem grandes, mas mesmo assim a mulher permitiu um sorriso travesso aos poucos aparecer em seus lábios, gesto que logo foi espelhado pelo deus.
- Contrabandear comida de verdade para cá não seria nada ruim – disse ela por fim, a voz não passando de um sussurro para não atrair a atenção nem dos enfermeiros que passavam pelos corredores nem da inteligência artificial que comandava a Torre. Thor puxou sua poltrona para mais perto da maca, sem em nenhum momento ousar quebrar o contato visual.
- E como posso provar ser digno de seus lábios? – devolveu ele no mesmo tom, a expectativa clara em seus olhos que acompanhavam as menores reações da mulher. Sendo bastante honesto, Thor esperava que ela fosse rir sem graça, ou que ao menos seu rosto fosse dar mais sinais de constrangimento. Só que nada disso aconteceu: apenas manteve o olhar centrado, no máximo inclinando a cabeça um pouco para o lado.
- Talvez você tenha que se arriscar para descobrir.



Fim



Nota da autora: Sem nota.

Nota da ex-beta: Thor todo saidinho/ignorante da cultura popular é minha religão <3



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