Envio: Julho de 2021

YUAN BEI

Para ela, sentimento.




Yuan bei na língua chinesa diz do senso de realização completa e perfeita.

Dois homens muito bem arrumados vigiavam as portas e um deles se inclinou para abri-la assim que se aproximou. Atrás do portal de madeira, cortinas douradas separavam um pequeno hall de uma longa e grande escada, coberta por uma tapeçaria vermelha bordada cuidadosamente. segurou com uma mão a saia do vestido vermelho, levantando o queixo enquanto descia dos degraus de mármore.
- Devíamos nos encontrar mais vezes. – A voz calma que ela tanto amava ouvir chamou sua atenção e sorriu antes de voltar o olhar para a figura bem vestida e com sorriso encabulado que a aguardava no meio da escada.
- Achei que já nos encontrávamos sempre. – Ela sorriu, amaldiçoando-se mentalmente por saber que era provável que estivesse subindo as escadas para encontrá-la, mas sua pressa mais uma vez o havia vitimado.
- Em minha opinião, não o suficiente. – Ele deu de ombros, enlaçando os dedos nos dela, descendo juntos os degraus que faltavam.
- Nunca será o suficiente. – Concordou.
- E é por isso que pretendo me encarregar de estar todos os dias do resto da minha vida ao seu lado. – Disse ele assim que terminaram de descer as escadas, segurando o rosto dela como se fosse a joia mais preciosa e delicada que mãos humanas já haviam tocado.
- Eu já disse que te amo hoje? – sorriu, pousando os braços sobre os ombros dele e lamentando estarem em meio a tanta gente.
- Bom, parte do que eu disse sobre passar todos os dias ao seu lado, implica sutilmente que você me diga isso por todos estes dias. O hoje está incluso. – Ele implicou sorrindo.
- Realmente, seria quase como uma tortura.
- Não devia dizer isso, sabe o que dizem sobre o ego...posso ficar vaidoso, soberbo, atrevido...- disse um pouco mais baixo.
- Eu aposto que não, mas se prefere assim, não vou dizer mais nada. – fingiu, afastando-se dele, buscando por algum garçom que pudesse servi-la.

Embora maravilhosa e requintada, a festa parecia a ela um pouco sem graça, a música lenta e calma se equiparava a canções de ninar que cantava para a filha. Tudo parecia impecavelmente intocável, o cenário de um filme antigo e clássico, das pinturas de pessoas nuas no teto, os lustres pendentes com suas mil partes e luzinhas, as paredes revestidas de mármore creme que se estendiam até o chão formando uma coisa só, separadas apenas pelas grandes janelas com vista para um longo e extenso campo verde, escurecido pela noite.
- Por minha experiência, não acho que não dizer me ajude a ser mais humilde. – replicou, caminhando atrás dela, desviando-se com cuidado das outras pessoas que atravessavam seu caminho.
- Qual seria o meio termo? – Ela o indagou, parando de repente próximo a um grande espelho, perto de uma das portas laterais, onde um casal desconhecido se beijava apaixonado.
- Meio termo? – inclinou a cabeça por sobre o ombro, confuso.
- Sim, ora. – deu de ombros, enfim conseguindo uma taça de qualquer bebida. – Se não devo dizer que te amo todos os dias para que não se torne vaidoso, mas também não devo não o fazer pois não o ajudará a fazer-se modesto. O que farei então?
- Bom...- ponderou por alguns instantes, concentrando-se nos próprios pés. – Deve usar um código.
- Um código?
- Sim, um código. – Sorriu ele. – Veja. – tomou as mãos de sua acompanhante e as levou contra seu peito. – Quando chegarem os dias tristes, não deve chamar-me de , deve chamar-me de meu amor, então saberei que está me amando porque se lembrará disso. Quando forem os dias de raiva, deve chamar-me por meu querido, assim me lembrarei que ainda sou bem quisto por você e isso certamente me acalmará. Nos dias comuns, chama-me por seu cavaleiro negro. – Sugeriu empolgado e gargalhou. – E eu saberei que se lembra, mesmo na monotonia dos dias, de que me ama e admira.
- E quanto aos dias felizes, Sir ? – quis saber, aproximando-se um pouco mais dele.
- Nos dias felizes...- Ele sorriu com os olhos. - Nestes dias chama-me de seu e diga-me que me ama e assim eu terei certeza de que nenhum outro ser vivo no mundo, encontra-se em estado maior de completude, deleite, prazer e júbilo em toda terra, universos e dimensões do que eu estarei. - não sorriu, apenas manteve seu olhar fixo no homem a sua frente, no homem que mais amava no mundo, sem conseguir dizer que para ela, aquele era talvez o momento em que se sentisse em maior completude, deleite, prazer e júbilo.
- Então, sinto-me tocada a dizer esta noite que o amo, meu . O amo. – declarou sorrindo e sorriu, iluminando cada canto do mundo, como se em todo universo fosse incapaz de existir qualquer treva ou escuridão, qualquer medo ou tristeza, dor ou descontentamento.





E assim...



Nota da autora: Há algum tempo conheci três mulheres incríveis por intermédio do mundo das fanfics e da Fórmula Um. Nós dividimos felicidades, tristezas, brigas, risos e passamos por várias coisas juntas, cada uma a sua maneira, ensinando e aprendendo.
Percebi que desde então, quase tudo que faço e para elas, então aqui vai mais uma dessas coisas, que no final, acabam sendo também um presente para mim.
Querida Sigyn, essa pertence a você.

São quatro textinhos pequenos, esse é o segundo, talvez te interesse ler o primeiro também, mas ele não termina aqui, você encontra mais detalhes nos próximos.

I.Tarab
II. Wunderbar
III. Yuan bei
IV. Sukha
Motive uma autora hoje, se quiser, deixe um comentário e me faça feliz. É só clicar aqui.







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