Aparentemente eu estava na TV. Claro que não literalmente, mas essa era a sensação que eu tive enquanto andava de táxi pelas ruas de Nova York: eu estava em um dos meus filmes favoritos. Pena que o glamour acabou quando eu tive que pagar o taxista e deixar a gorjeta, devo ter demorado uns três minutos tentando calcular e quando finalmente paguei, deduzi pelo olhar de raiva do taxista e a forma como ele deixou minhas malas na calçada que eu provavelmente errei feio. Odeio matemática, francamente, ainda bem que no Brasil as gorjetas já vinham inclusas nas contas. É tão mais fácil!
Não que eu já estivesse com saudade de casa, claro, esperava que ninguém me procurasse por um bom tempo. Não me leve a mal, claro que eu amo minha família e meus amigos e provavelmente vou sentir falta deles mais cedo ou mais tarde, mas eu estava finalmente realizando o sonho da minha vida: um ano estudando na New York Film Academy, então, mesmo me atrapalhando com as malas pesadas, eu apertei a campainha do alojamento da faculdade sorridente, e uma mulher igualmente sorridente a abriu.
- , certo? Meu nome é Lauren Wells, sou a gerente do alojamento estudantil. – Ela disse em inglês. – Que bom que você conseguiu pegar o táxi e chegar bem! Como foi a viagem? – A mulher sorriu, me ajudando a colocar as malas para dentro.
- A viagem foi boa. – Dei de ombros. Um pouco cansativa só.
- Que ótimo, olhe, aqui esta a chave do seu quarto. Número 37, terceiro andar. Se precisar de qualquer coisa é só me procurar durante o horário comercial. – Ela riu.
Lauren me ajudou a colocar as minhas duas malas dentro do elevador antes de voltar para a sua mesa na sala de recepção do alojamento, assim que as portas automáticas se fecharam eu fiquei encarando o pequeno chaveiro com o número 37. Suspirei alto ansiosa para conhecer ele ou ela e também o meu novo quarto/casa. Toquei a chave e depois a minha pulseira, apreensiva, eu seria capaz de lidar com isso! É o meu sonho, uma nova fase da minha vida, tudo daria certo, sou adulta, é só continuar com os remédios e eu vou continuar vencendo.
As portas do elevador se abriram e eu andei o mais rápido que as minhas malas pesadas possibilitavam para abrir a porta de número 37. O quarto era simples, em cores claras e duas camas de solteiro de aparência confortável, minha colega de quarto não havia chegado ainda então tudo parecia maior e um tanto solitário. Deixei as malas ao lado de uma das camas e corri para abrir as janelas que davam para as escadas de incêndio tão famosas de Nova York.
Encarei a rua suja, as pessoas passando sem se olharem, os mil pombos e inspirei aquele ar poluído bem fundo. Deus, nunca me senti tão bem em toda minha vida!
- Prenda-me se for capaz, Amor sublime amor, O diabo veste Prada, Uma linda mulher, O pecado mora ao lado...
- Vingadores, ou qualquer outro filme de destruição. Provavelmente eles vão destruir Nova York. – Eu dei um pulo assustado quando uma voz grave interrompeu meus devaneios. Encarei um garoto de grandes olhos azuis na janela/escada vizinha.
- Talvez eu devesse citar Janela Indiscreta também. – Disse encarando o garoto.
- Acho que você leva mais jeito para bonequinha de luxo. - Ele riu. - Sou . Park Johnson, Londrino, aluno de intercâmbio e, aparentemente, seu vizinho. – Ele se curvou como eu uma referencia a realeza.
- , sou brasileira e sinto te informar que eu não combino muito com a delicadeza da Audrey Hepburn, acho que sou mais estilo O bebê de Rosemary. – Disse fazendo uma careta. – E você faz mais o estilo galã de Sex And The City. – riu animadamente.
Ah, Nova York... Eu te amo!
- Os meninos vão pedir uma pizza. – Olive interrompeu minha leitura de forma abrupta. – Quer ir pra balada do quarto ao lado?
As coisas estavam indo bem. Olive, ou pequena miss Sunshine como e eu gostávamos de chamá-la, era minha companheira de quarto que também estudava na NYFA, embora seu curso fosse Acting for film e o meu Filmmaking nós passávamos bastante tempo juntas e ela estava se tornando uma boa amiga, mesmo quando eu não estava em dias bons.
-Hnn... Estou estudando. – Hesitei. Não me sentia muito animada hoje.
- É sexta feira! – Olive gritou ultrajada. Não era atoa que a garota estudava atuação, ela tinha a capacidade de sempre dar um ar de drama em tudo!
- Ei... Vocês vão demorar? Ainda precisamos peregrinar no Netflix para achar um filme bom. - , nosso vizinho, colocou a cabeça para dentro do quarto, sem abrir totalmente a porta.
- disse que está estudando. – Olive se atirou de maneira dramática na sua cama. – Eu não sei que tipo de estudante de artes passa uma noite de sexta feira estudando.
- ! – exclamou com seu sotaque britânico seus olhos azuis arregalados. – Feche esse livro de teoria e venha se entupir de comida não saudável enquanto assistimos algum blockbuster cheio de cenas de ação e explosões, por favor, estou ultrajado com o seu senso de responsabilidade.
Cai na risada. Não sei como conseguia, mas ele foi a pessoas com quem mais criei afinidade em tão pouco tempo. Ele sempre me fazia rir e me animava, e isso nem era sempre bom, considerando que estudávamos na mesma sala. Já perdia as contas de quantas vezes tive que segurar o riso pra não levar uma olhadela feia do professor por causa de alguma coisa que cochichava. Parecíamos antigos amigos de escola.
Olive e me olhavam ansiosos esperando uma resposta. Não achei que já teria tanta intimidade com pessoas que conhecia há apenas um mês, mas Olive também era a colega de quarto perfeita para mim, e quando descobrimos que o colega de , Jonah, também estudava Acting for film, nos tornamos um quarteto praticamente inseparável.
- Tudo bem, mas primeiro um cult e depois um blockbuster. – Sorri.
- Ah meu Deus! – Olive fez uma cara de choro. - A minha cabeça ainda esta doendo da vez que assistimos Donnie Darko, preciso de uma dose de entretenimento barato.
- Olha, pequena miss Sunshine, alguém vai ter que ceder. – riu. – E se continuarmos aqui conversando, o Jonah vai nos obrigar a assistir Star Wars de novo.
Olive havia saído mais cedo para terminar um projeto na faculdade, então eu estava sozinha. Ninguém poderia me condenar, ninguém faria perguntas e nem tentaria me motivar.
Eu deveria ter ido. Mas hoje era um dos dias ruins. Um dos dias em que eu simplesmente não tinha vontade de existir.
Eu estava indo tão bem, três meses e nenhum dia havia sido tão horrível quanto hoje! Pensei em mandar uma mensagem para a minha psicóloga brasileira, mas nem isso tive coragem de fazer. Tentei me forçar a fazer os relaxamentos que ela havia me ensinado, tentei limpar a cabeça dos pensamentos mórbidos, mas nada parecia dar certo.
Hoje eu simplesmente não queria tentar nada.
Não queria ser nada.
Nada.
...
- ? – A voz conhecida de cortou o silêncio do apartamento. Batidas ritmadas na porta seguiam ecoando em seguida. Toc. Toc. Toc...
- , por que você não atende o celular? Estamos preocupados.
É só o , seu vizinho, seu amigo! Abra a porta... Vamos... Levante da cama e abra a porta...
...
- , você está ai?
Você é forte, , resista. Evite os pensamentos ruins. Pense em uma placa de trânsito. Isso, uma placa de PARE. Nós vamos passar por essa placa e todos os pensamentos ruins vão ficar para trás. Não pense na saudade, seus familiares vão estar bem quando você voltar, aproveite o agora. Aproveite o curso.
Só depende de você!
Levantei-me. Minha mente vai resistir. Eu vou resistir.
Abri a porta para um que me olhava assustado.
- Oi. Eu.. hn... fiquei preocupado com você.
- Não estava me sentindo muito bem, sinto muito. Se você me der alguns minutos, vou tomar um banho. Acho que ainda podemos pegar o segundo período de aula.
Eu estava ajustando a câmera no tripé enquanto arrumava a iluminação para que pudéssemos filmar.
- So, no one told you life was gonna be this way…
- Eu adoro essa música, mas pela vigésima vez começa a ficar complicado. - disse fazendo uma cócega rápida na minha costela.
- Desculpa, não da pra vir ao Central Park e não pensar em Friends.- Rebati risonha. Estávamos usando o equipamento (que é super maravilhoso e super caro) da faculdade para gravar no Central Park. Trabalhávamos em um projeto em dupla, deveríamos filmar uma externa até a segunda feira e estávamos empolgados, apesar de nossos atores estarem atrasados.
- Mande uma mensagem para o Jonah e a Olive, não vamos ter iluminação suficiente se escurecer. - Eu disse para .
- Já mandei mais do que sou capaz de contar. Jonah disse que Olive estavam arrumando a maquiagem pela terceira vez.
- Mas eu disse que ia arrumar Olive aqui! Se ela aparecer com algum produto que estoure no visor, vou lavar a cara dela na fonte!
- Bom, ou esperamos a pequena miss sunshine ou dirigimos, produzimos, filmamos e atuamos ao mesmo tempo...
- Ah não. Sou péssima na frente da câmera, meu talento é a direção.
- Eu acho que você fotografa bem como protagonista.
- No máximo sou a amiga desajeitada que faz o alívio cômico. - riu.
- Sabe, quando eu era garoto eu tinha certeza de que ia ser o maior rockstar de todos os tempos.
- Não te julgo, eu dizia que queria ser uma sereia. - Disse rindo e ele me acompanhou.
- O meu propósito é que foi a música que me levou ao cinema. Sabe, uma vez minha mãe estava assistindo A noviça rebelde tão apaixonada pelas imagens e pela música que ela chorava e ria ao mesmo tempo, então eu comecei a prestar mais atenção em como os filmes tocavam as pessoas, como aquilo que passa na tela pode mudar o ponto de vista sobre algo e soube que era isso que eu queria fazer.
- É lindo isso, não é? Como personagens, trilhas e até cores podem nos envolver.
- Como você decidiu que seria cineasta, ?
- Bom, eu nunca tive certeza de nada na vida. Eu estava no segundo ano de pedagogia e trabalhando com em uma escola, mas a cada dia em que eu tinha que acordar e ir até lá eu tinha vontade de chorar. Eu odiava aquilo, odiava o curso e odiava o meu emprego. Estava lá porque era o que minha mãe acreditava que era o certo e eu morria de medo de desaponta-la, sabe? Eu havia errado quando decidi estudar aquilo, o comodismo de ter a faculdade perto de casa e não precisar sair foi tentador no começo, mas eu era uma adolescente, caramba, como que a gente vai decidir o que fazer pro resto da vida com 17 anos? A gente ainda tá pedindo permissão para ir ao banheiro durante as aulas nessa idade! - riu com essa constatação. - Bom, então eu entrei em uma pilha horrível de nervos, perde todas as expectativas, acabei tendo ataques de estresse e como sempre tive muitos casos de problemas psicológicos na família, não demorou muito até descobrirem minha depressão, embora eu negasse que isso fosse possível no começo. Então... Bem, muitas coisas aconteceram, e eu finalmente prestei para cinema e me encontrei.
- Ei, vocês vão ficar de papo ou nós vamos trabalhar? - Uma voz fina gritava pelo central Park.
- Olive, Jonah! Pensei que vocês não iam chegar nunca!
- Então, quando o Friedrich Wilhelm Murnau filmava Aurora lá em 1927, não imaginava estava criando uma revolução no cinema. Na cena, onde que o Homem procurava a Mulher da Cidade, o espectador estava vendo um dos primeiros esboços de plano-sequência de que nós conhecemos... Ham... A cena dura poucos segundos, mas para uma época em que o cinema começa a se desenvolver... - parou de falar para bocejar.
- Acho que chega por hoje. - Disse. Estávamos os dois na escada de incêndio, com abajures e vários artigos estudando porque Jonah e Olive eram muito egoístas e se recusavam a deixar a luz acesa durante a madrugada, então e eu improvisávamos para estudar. No fim era até meio divertido porque fazíamos juntos.
- Eu odeio teoria, sério, ainda bem que a maioria das aulas é prática ou eu seria obrigado a desistir de tudo.
- Cuidado , acho que você contraiu o vírus drama queen da Olive.
- Não, ninguém pode competir com a pequena miss sunshine. - Ele riu.
- Lembra quando ela descobriu sobre os meus remédios? Ficou pisando em ovos a semana inteira, eu quase pedi pra Lauren trocar ela de quarto, achei que ela estava com medo de mim!
- Ela se expressou mal, ela estava preocupada com você porque gosta de você. Eu também me preocupo, sabe...
- Eu tive momentos horríveis. - Disse passando os dedos delicadamente sobre a minha pulseira. - As pessoas acham que o oposto da depressão é a felicidade, mas na verdade é a vitalidade. Todas as coisas que você gostava antes param de fazer sentido, é como se o seu corpo fosse um peso, tudo o que você sente é o cansaço, todos os meus outros sentimentos, era como se eles ficassem no fundo de uma caverna e de repente alguma coisa, uma atitude, um acontecimento ou até um pensamento, explode essa caverna e tudo vai pelos ares. Você só quer fazer aquela dor ir embora, só que fugir pra bem longe de toda aquela confusão que está em você. - Os grandes olhos azuis do me encaravam pensativos, seu joelho tocava milha coxa, ele se aproximou e um dos seus dedos cumpridos deslizou delicadamente sobre a pulseira que eu sempre usava.
- Você ainda se sente assim? - Ele perguntou.
- Depois que eu procurei ajuda psicológica, comecei a me alçar de volta para fora do poço. É complicado porque depressão não é aquele tipo de doença que você faz um exame de sangue pra saber se está limpo ou não, é uma luta diária. Hoje, mesmo que ainda tenha alguns dias ruins, eu estou muito melhor. Eu tenho vontade de viver, vontade de sentir.
Olive estava terminando de colocar seu tênis enquanto eu esperava na porta, iriamos sair para correr juntas. Eu acabei deixando os exercícios um pouco de lado desde que comecei o intercâmbio e estava com saudades daquela sensação de satisfação e cansaço ao mesmo tempo, além de que exercícios ajudam a produção de serotonina, um neurotransmissor com várias funções, no cérebro, que é bem basicamente a mesma coisa que os antidepressivos fazem. Alongamos juntas ainda no nosso quarto e depois pegamos o elevador e caminhamos juntas até o parque. Era divertido fazer exercícios com Olive porque ela era muito animada, ela era baixinha e seu cabelo era tão cumprido que o rabo de cavalo voava em todas as direções possíveis. Não era atoa que a comparávamos com a personagem homônima de Pequena miss sunshine, ela era uma versão adulta da Olive Hoover, só faltava a família pirada!
- Precisamos ir agora, ou não vamos chegar no píer a tempo de ver os fogos. – Olive me olhou sugestiva. Estávamos no nosso quarto, ela já estava toda produzida para o feriado de 4 de Julho, mas eu e tínhamos aproveitado à tarde para finalizar um trabalho da faculdade e acabamos nos atrasando. Bem, usou sua magia britânica e ficou pronto em dez minutos, eu estava de roupão porque havia acabado de sair do banho. Enfiei-me no vestido que já havia separado antes e comecei a pentear os cabelos enquanto Olive ia chamar os meninos.
- Feliz dia da independência! - Jonah riu trazendo chapéus com as cores da bandeira dos Estados Unidos. Ele e Olive, como bons americanos, estavam super empolgados com as festividades de 4 de Julho, já e eu estávamos felizes pelo feriado, como bons estrangeiros.
- Vão indo na frente, de verdade, eu encontro vocês lá.
- Nova York vai se tornar um mar de gente já já, vamos te esperar.- Olive disse decidida, apesar de eu saber o quanto ela gostava do 4 de Julho e devia estar louca para ir comemorar.
- Vão vocês dois, eu espero a . Sou inglês mesmo, acho que tudo bem chegar atrasado na comemoração do dia em que o seu país se livrou do meu.
Por fim, Olive e Jonah foram na frente e eu pude relaxar um pouco sem que a pequena miss Sunshine me pressionasse por causa da hora. Sequei os cabelos e me maquiei, meia hora depois fui chamar na escada de incêndio para irmos ao píer, sai desajeitada pela janela.
- Vamos? – Disse e ele se virou para mim.
- Acho que você vai querer dar uma olhada aqui. – Ele disse apontando para a rua. Eu sorri com o que vi, uma multidão colorida com as cores da bandeira americana. O ar de Nova York cheirava a patriotismo.
- Caramba, parece até a copa do mundo no Brasil! – Eu ri.
- É bonito, mas um tremendo tumulto. – disse incerto. – Posso te propor uma ideia?
- Diga.
Ao invés de dizer, sorriu e pegou minha mão, então começamos a subir as escadas de incêndio até o décimo e último andar.
- Se queremos ver os fogos, acho que devemos ficar perto do céu.
- Boa ideia, escadas de incêndio são o nosso lance. – Ri.
- Nosso lance, é? – Ele arqueou a sobrancelha.
- É, nos conhecemos nela, certo? Galã de Sex And The City. – Respondi relembrando nossa primeira conversa, quando listamos filmes que se passavam em Nova York.
- Não poderia esquecer, bonequinha de luxo.
- Achei que tínhamos concordado que eu era mais estilo O bebê de Rosemary.
- Não, você disse isso. Eu sempre achei que você é a protagonista irreverente e bonita.
e eu tivemos afinidade logo que nos conhecemos, ele havia se tornado o meu melhor amigo aqui. Quando decide investir no intercâmbio, a última coisa na qual que pensava era em romance, e ironicamente encontrei isso na primeira pessoa que conheci. Mesmo que a prova disso só tenha acontecido sete meses depois, quando me beijou naquela escada de incêndio e eu explodi junto com os fogos de artificio no céu.
Era uma manhã de domingo, eu acordei com se mexendo ao meu lado.
- Jonah deve estar nos odiando por ter de dormir fora de novo. – Sorri.
- Posso lidar com isso. – me abraçou e eu me aconcheguei em seu peito nu. – Além do mais, ele ainda pode dividir o quarto com a Olive, no começo do ano quando ele saia com a Carol era eu quem sofria para despistar a Lauren toda manhã e entrar no prédio.
- Certo, então podemos ficar mais um pouco aqui sem nos sentir culpados. – Ri e beijei os lábios de delicadamente, seus braços começaram ame acariciar, mas eles pararam próximo perto do meu pulso e eu recuei.
- Você nunca tira essa pulseira. – Ele disse passando os dedos pelas fitas de couro. – Você não precisa se esconder de mim, , eu sei sua história, eu te admiro por ela. Você vem venceu essa doença.
- Não tenho vergonha, só não gosto de olhar, me acostumei assim. – Respondi sem graça.
- Você é linda, todas as suas marcas são linda porque fazer parte da sua história. – Ele disse antes de nos beijarmos novamente.
- Ei, , ? - A voz de Jonah disse na porta acompanhada de leves batidas. – Eu realmente preciso entrar no meu quarto, fiquem decentes logo!
Eu estava assinando a permissão para levar os materiais necessários emprestados da faculdade para poder terminar de filmar o meu curta metragem. Eu já estava trabalhando nele há algum tempo, mas queria filmar novamente algumas cenas que não me agradaram. O curta metragem era o projeto final do curso de filmmaking na New York Film Academy e u estava muito empenhada em meu projeto, cada aluno produziria seu próprio curta metragem e no final de novembro teríamos a noite de exibição.
- Quer ajuda, ? - Lisa, outro estudante da minha sala, ofereceu.
- Quero sim, se você puder carregar material de iluminação enquanto eu carrego a câmera. – Disse agradecida, o material era pesado.
- Como vai o curta? - Ela perguntou, puxando conversa.
- Cansativo! Escrevi um roteiro bem pessoal, então estou tentando realizar o máximo de funções, mas vou acabar pedindo pro me ajudar com a edição de som. – Cinema não se faz sozinho, essa é a primeira regra. Por isso mesmo que nossos curtas fossem projetos individuais, nós também tínhamos de ajudar colegas exercendo várias das funções de uma equipe cinematográfica que estudamos ao longo do curso.
- Ah sim, ele me pediu para ser diretora de fotografia do curta dele.
- Ah, é? – Bom, estranhei que não tivesse pedido ajuda para mim primeiro, já que trabalhamos juntos o curso inteiro e estávamos namorando, mas como eu já havia reclamado várias vezes do tanto de coisas que eu ainda tinha pra fazer no meu filme, ele deve ter evitado.
- Queria poder congelar o tempo. – Disse acariciando seu cabelo e olhando fundo em seus olhos azuis. Jonah e Olive iam ter de passar tempo extra na faculdade para adiantar os trabalhos de final de curso, então e eu tínhamos o quarto todos para nós dois.
- Eu sei. Não acredito que só faltam dois meses. – Ele respondeu pesaroso.
- A gente sempre soube que ia acabar nisso, não é? Acho que por isso acabamos evitando nos envolver por tanto tempo sem nem perceber. O intercâmbio vai acabar, você vai voltar para Cambridge e eu para Uberaba e provavelmente nunca mais vamos nos ver...
- Calma, calma... – me puxou para um abraço e eu me aconcheguei em seu corpo. Me sentia tão segura. – Ainda estamos aqui juntos. Vamos dar um jeito.
- Qual jeito?
- Um DeLorean com capacitor de fluxo? – Ele disse incerto e eu ri.
- De volta para o futuro, Questão de tempo, Os doze macacos, Efeito borboleta...
- Feitiço do tempo, Exterminador do futuro, looper, hn... Efeito borboleta 2.
- Continuações não valem, perdeu.
- Droga, eu poderia pelo menos ter perdido como De volta para o futuro 2, o segundo efeito borboleta é uma porcaria!
Quase arrebentei as tiras de couro da minha pulseira com a minha ansiedade. entrelaçou seus dedos no meu e sussurrou em meu ouvido:
- Seu curta metragem é fantástico.
- Estou nervosa. - Disse. – Não da pra evitar, não sei como você consegue ficar tão calmo. Deve estar muito confiante n seu curta misterioso.
não havia me mostrado seu curta ainda, e só respondia vagamente quando eu perguntava. Isso me deixou curiosa por bastante tempo no começo, mas acabei me aprofundando tanto no meu próprio trabalho que acabei esquecendo.
- . – Senti meu peito afundar quando o professor anunciou meu nome e meu filme começou a passar na tela.
Os cabelos loiros de Olive apareceram na tela, mas ela não era Olive, era a minha personagem, encarando a câmera, com os olhos inchados enquanto a narração da própria Olive contava sua história. Depressão. Falta de vontade de viver. Coisas que antes te animavam, param de fazer sentido. Você está preso nisso, mesmo que coloque uma máscara social, viva em meio as pessoas porque é isso que esperam, é isso que você tem que fazer. Aquilo é impessoal, é desmotivado, cansativo e doloroso.
Minha personagem andava pelas ruas, lava louça, fazia coisas normais, mas seu olhar nunca focava em nada, seus movimentos eram contidos.
Então minha personagem estava caindo em câmera lenta. Uma cena bem difícil onde Lauren quis nos matar por temos lotado a entrada do alojamento com equipamento s de segurança e por Olive ter pulado do primeiro andar. Mas ninguém ali sabia disso, não havia eu, Lauren ou Olive, só a personagem e seus dramas.
“E a escolha, procurar ajuda ou abandonar tudo”
O corte final era a personagem sendo içada para cima por várias mãos.
Meus olhos estavam marejados quando o curta parou de rodar. Eu mal pude falar sobre ele depois, era tão pessoal e eu estava tão orgulhosa do meu trabalho que mesmo quando anunciaram o curta do eu ainda estava meio oscilante.
Então o filme do meu namorado começou a rodar e eu perdi de novo o controle sobre as minhas emoções.
O ator era o próprio , que aparecia em varias situações cotidianas desenhando com uma musica calma ao fundo. desenhando no ônibus, no parque, na escola, no quarto...
Essas cenas se alternavam com momentos em que pessoas mostravam felicidade. Grupos de amigos. Casais. Crianças brincando. Então de repente Jonah – ou seu personagem - se sentava o lado de na grama do Central Park e dizia:
- Me conte seus problemas e duvidas.
- Saudade. Mas eu posso nos construir no meu coração.
Então ele mostrava o desenho que havia sido escondido durante todo o filme, o meu rosto.
Chegou o dia. Doze meses haviam se passado desde que eu havia tomado a decisão que mudaria minha vida para sempre, o intercambio havia me feito crescer de maneira profissional e pessoal. Eu não tinha ideia de seria tão difícil assim dizer adeus, ao menos o voo de era só no dia seguinte, então ele poderia me acompanhar até o aeroporto.
, droga, eu sabia que isso ia acontecer de qualquer forma. Mas não podia deixar de me envolver com ele, não me arrependia, cada toque e cada beijo me mostraram como vale a pena sim se apaixonar. Não me arrepender de sentir era algo que eu havia aprendido.
Mas já havia sido um rio de lagrimas me despedir de Olive e Jonah, encarar a possibilidade de nunca mais ver doía muito. Enquanto eu encarava o portão de embarque, mil cenas se passavam pela minha cabeça: Mas não eram de filmes, eram dos meus momentos com .
- Então nos tornamos um clichê de comédia romântica? – Eu disse tentando rir, mas minha voz saiu triste.
- Todo mundo adora um clichê. – Ele deu de ombros e me abraçou.
- Não se esqueça de mim. – Disse.
- Nunca. Não poderia, mesmo se vivesse mil anos.
- Sempre um galã. – Eu ri beijando seus lábios de leve.
- Acho que nos sentimentos assim quando nos apaixonamos. – Ele disse contra meu rosto e eu comecei a chorar, nós começamos. Nossas lagrimas se uniram.
- Não acredito que estou te dizendo adeus, deuses, eu te amo, ! Eu te amo demais!
Tirei a pulseira de couro que sempre usava, revelando a cicatriz de um corte no pulso que eu tanto escondia, entreguei para e ele segurou.
- Não posso aceitar isso como presente, você sempre usou.
- Não é um presente, é emprestada, então vamos ter de nos ver de novo para que você possa me devolver. – Sorri.
segurou pulso em que eu tinha a cicatriz e acariciou. Eu não tinha vergonha. Eu havia vencido a depressão, consegui minha independência de volta, estudei cinema, fui para o intercambio e me apaixonei por . Todos esses momentos construíam a pessoa que eu sou hoje, a pessoa que eu me orgulho de ser.
- Eu te amo. – Disse antes do nosso último beijo, e ainda chorando fui para o avião, lagrimas de saudade, tristeza e alegria.
Lagrimas que eu jamais esqueceria.
Fim.
Nota da autora: (29/12/2015)
Ah, a musica maravilhosa do filme maravilho O clube dos cinco! Obrigada por ler até aqui, esper ter feito jus à essa obra, embora minha mania de deixar tudo pra última hora não tenha me deixado desenvolver tudo como queria. Bem, se quiser, minhas outras fics no FFOBS:
Radioativo – Restritas, em andamento.
01. Roar - Ficstape Prism
11. Skyscraper – Ficstape Unbroken
02. American beauty/ merican Psych – Ficstape homônimo.