Talvez nós não pensamos direito e tudo o que sentimos é apenas um reflexo daquilo que achamos que deveríamos sentir por determinadas pessoas em determinados momentos. Veja as discussões que ocorrem hoje em dia sobre a homossexualidade, a bissexualidade e os transgêneros. Claro que aqui eu coloco tudo sobre uma visão geral já que eu sou apenas uma bissexual. Mas amor é apenas isso?
Qual o problema se eu sinto atração por homens e mulheres? Ou se eu sinto atração só por mulheres? E se eu não me identifico com o gênero que nasci? Isso me torna um monstro? Mas, afinal, esse não é o grande problema aqui, o problema é que as pessoas atualmente não percebem que elas dão pitaco em coisa que não é da conta delas.
E eu acabei por sentir isso pela , quer dizer, posso até confirmar que amo ela, mas é um amar diferente de amar um namorado, ou namorada, ou o que quer que seja. Existe o amor que vemos em filmes, onde personagens se apaixonam e aquilo vira um emaranhado de paixão ardente e louca que faz com que esses personagens não pensem. Mas também existe aquele amor incondicional, que sentimos pelos nossos pais e nossos irmãos. Você não ama sua mãe da mesma forma que ama um parceiro ou parceira ou o que quer que seja. É um sentimento de mesma intensidade, mas de modo diferente.
E eu ficava perdida toda sexta feira. Era a mesma história: eu acordava parecendo um panda, com duas manchas roxas enormes embaixo dos olhos e um cabelo que parecia não ser domado nunca. Era quase o fim de uma distopia adolescente quando ele ficava mais arrumado. Queria que ele fosse cacheado pelo menos, porque nada mais lindo do que cabelos cacheados enormes e lindos. Meu cabelo era um grande emaranhado. Mas até que eu gostava assim.
Nunca fui de me arrumar, e talvez esse seja o motivo o qual me faz escutar toda vez que saio para um evento ou festa que estou irreconhecível, e que se eu me maquiasse já teria milhares de namorados aos meus pés. Até que eu concordo, mas só nos meus maus momentos.
Até porque, nos meus bons momentos eu estou me amando e amando meu corpo, e não estou olhando para o espelho vendo aquilo que poderia ter a mais ou a menos em mim. Só existe uma coisa que eu quero sempre ter a mais, e isso é reconhecer que eu não posso amar todo mundo igualmente. Mas era diferente.
era uma vizinha minha de dois andares acima. Ela morava junto com mais quatro meninas em uma pequena república de pessoas que cursavam letras na mesma faculdade que eu. Mas meu problema era que na mesma turma de estava aquele que destruiu todos os meus sentimentos, e também aquele que me fez refletir sobre alguns dos meus próprios sentimentos mais escuros e difíceis de lidar.
era aquele rapaz que tinha aquele estilo típico de aluno de humanas que as pessoas falam na internet. Aplaudia o sol, falava sobre signos, acreditava em relacionamentos abertos e poliamor. Para ele, aquilo tudo fazia todo o sentido. Mas para mim, grande parte do que ele falava fazia tanto sentido quanto usar Matemática Discreta na vida.
Mas ele também parecia que tinha uma força dentro de mim capaz de fazer com que eu simplesmente esquecesse do que a falava sobre ele, e toda sexta feira eu dava um jeito de estar livre só para poder quebrar a cara saindo com ele.
I don’t care if monday is blue
Já se tinha passado mais um final de semana que eu tinha aceitado sair com e ter de escutar ele falando de novo de como ele curtia esse lance de poliamor, e que eu não deveria culpá-lo por isso. Então mais uma noite eu pegava um metrô sozinha porque ele me deixou para ficar com outra menina. Afinal, não éramos namorados ou coisa assim. Mas eu sempre me sentia trocada.
Nós vivíamos em etapas por todas as semanas, tanto que aquilo já tinha se tornado a nossa rotina. Eu voltava arrasada para casa, e ao chegar já encontrava com me esperando para me escutar falar mal de e todas as merdas que ele falava para mim durante esses supostos encontros, e como ele sempre me trocava por qualquer outra pessoa, me deixando sozinha.
Ela sempre fora paciente comigo nesses momentos, mas ainda não consigo entender como ela conseguiu ficar todo esse tempo do meu lado. Talvez isso fosse amor de amigo, coisa que eu não tinha conhecido até então.
E amor é isso, um sentimento inexplicável que vem e te domina quando você menos espera. Mas será que eu só comecei a gostar da porque ela gostou de mim? Será que eu só senti isso por ela porque eu vi que precisava sentir isso? Quer dizer, será que eu não me impus em gostar da e ser amiga dela sem perceber, para tonar o sentimento recíproco? Bem, sentimentos me deixam confusa, ainda mais quando paro para pensar nisso.
Mas dessa vez me pediu para não falar mais nada. Disse que estava cansada da história de que eu quebrar minha cara achando que nessa sexta seria diferente, que ele não me deixaria sozinha. Ela simplesmente me deixou sozinha em casa, coisa que nunca tinha acontecido desde que a gente tinha se conhecido.
E dessa vez eu fiquei em casa comendo todo o chocolate e vendo minha série favorita como se ele tivesse terminado comigo. Como se algo que nem tinha começado já tinha terminado novamente. Mas não dá para entender porque eu sempre sentia como se algo tivesse começado. Era simplesmente eu dando o melhor de mim para algo que eu não fazia a menor ideia do que poderia acontecer.
Tuesday is gray and wednesday too
E lá estava eu novamente sozinha, um sentimento que tinha se tornado mais frequente na minha vida e me fazia pensar que a solidão não deveria ser temida por nós, mas ela deveria ser abraçada e envolta, como um ato de carinho por aquele momento só nosso, onde mais ninguém pode interferir em quem somos ou como somos. Acho que era na solidão que eu encontraria o melhor de mim. E pensar que poderia ser a culpa de toda a minha confusão poderia ser bem simples, mas não era.
Logo atendi meu celular, passando para o estágio dois, que era a negação. Meu orgulho estava muito ferido para que eu aceitasse as suas desculpas, ou que eu aceitasse sair de novo com ele. Nunca mais queria ver aquele rosto na minha frente.
Meu cabelo, como sempre, um ninho de mafagafos, e minhas duas manchas roxas já tinham se tornado pretas do tanto que chorei na noite anterior. Eu fugia do espelho para não ver como eu estava fisicamente. Mentalmente eu já estava destruída.
— Sabe, acho que seria melhor se saíssemos quando a lua estiver em câncer, que aí são emoções muito fortes e aí quem sabe role algo melhor, não é? - dizia para mim, me fazendo ferver de ódio.
— Não. E não me ligue mais. Por favor.
Desliguei o celular, voltando a ler aquilo que precisava para a faculdade. Sabia que no final do dia eu receberia outra ligação e cederia para ele, mas aquele ainda não era o momento. Eu tinha que focar nas minhas coisas, no meu estudo e na minha vida e parar de tentar ser como alguém que eu admiro tanto. Queria pelo menos não ter essa confusão de sentimentos.
Resolvi sair de casa e tomar um ar, talvez assim eu me sentia menos perdida nos meus pensamentos e conseguiria focar para tirar a nota máxima em uma matéria complicadíssima do meu curso. Mas é estranho como eu me sentia mal com tudo aquilo acontecendo.
Quer dizer, aquilo não era nada, não era um relacionamento, por mais que a gente agisse como namorados que terminam todo final de semana. Era a nossa rotina. Já estávamos na quarta-feira e eu ainda me sentia mal por isso. Me sentia mal por ter sido praticamente usada como acompanhante de uma pessoa que nem sequer liga se eu cheguei bem em casa, ou se eu simplesmente cheguei bem. Nada disso importa para ele e a sua liberdade de poder amar quantas pessoas quiser ao mesmo tempo.
Se isso funciona para ele, que bom, mas não funciona para mim. E também sabe disso. Ela passou por mim correndo, provavelmente estava lotada de coisas para fazer. Deu tempo apenas de acenar. Mas não demorou muito para vê-la descer e sentar ao meu lado com os seus livros.
— Oi. — ela não parecia estar mais chateada. — Você tá bem?
— Já estive melhor. Mas você sabe, o de sempre.
— Sim, o de sempre. Mas quando você vai parar com “ o de sempre”? — ela desenhou as aspas no ar com os dedos, como qualquer adolescente fazia no ensino médio.
— Quem sabe um dia. Você sabe: “A gente…
— Aceita o amor que acha que merece. Se eu ganhasse um real por cada vez que você me fala isso numa quarta-feira… Pare de citar As Vantagens de Ser Invisível para mim. — ela deu um tapa em meu ombro e sorrimos. Estamos bem de novo. — Tem que tentar algo novo como: “ Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti. Mas viver sem amor acho impossível.” Borges.
—Você só deixa tudo mais bonito com essas citações. Eu sou apenas uma mortal tentando se encontrar no mundo. — comecei a encenar, fazendo drama. — Ó querida , me ensine a ser como você.
— Idiota. Volte a estudar.
Resmunguei, mas pelo menos tinha voltado a falar com minha melhor amiga.
Thursday, I don’t care about you
tinha me ligado à noite, mas dessa vez eu decidi bater o pé e não aceitei. Era uma grande melhora na minha vida aquele momento. Eu estava conseguindo me libertar de , talvez, mas já não ter aceitado na quarta à noite já foi um grande avanço. Até teve de concordar comigo.
Saímos para comemorar na quinta feira. Comemorar porque eu sentia um pouco de liberdade em meus sentimentos. Eu poderia me sentir aliviada e não exausta. Eu podia sentir que estava diferente. Era como se eu não precisasse mais de alguém para poder me dar o direito de sentir algo, eu apenas sentia, se não fosse por mim, era por outra pessoa, e não necessariamente de uma forma romântica. Eu apenas sentia. Eu podia até sentir o nada ou o infinito, mas eu sentia. E gostava dessa sensação.
Pedimos a pizza de sempre e conversamos sobre a vida em geral. tinha várias teorias de como o universo está conectado, e que temos vários planetas similares, e que nós temos uma realidade paralela para cada escolha que fazemos. O que nos fez discutir sobre quantas realidades paralelas teriam comigo dizendo não para cada vez que falava comigo. Mas existia algo nele que me fazia ficar cada vez mais apaixonada, por mais que todo sábado eu me decepcionasse com ele.
Quintas eram tranquilas. Eu normalmente ignorava qualquer tentativa de tentar falar comigo. Esse era o problema, ele sempre vinha falar comigo sobre o que faríamos na sexta, e mesmo depois de tantos nãos, eu simplesmente aceitava. Era algo nele que me fazia dizer sim sempre. Cada dia eu me ferraria mais por isso.
tentou melhorar meu humor, mas era complicado. Eu deveria estar feliz porque eu estava tentando dar adeus a uma parte minha, mas eu me sentia mal. significava muito para mim. Significava várias coisas, e uma delas era um sentimento pesado e negro que eu carregava em mim.
Mas a quinta também significava que amanhã seria o dia que tudo mudaria novamente, quando eu finalmente estava melhor, eu sabia que me encontraria com ele de novo e minha vida voltaria a ser essa montanha russa de sentimentos confusos. Eu deveria ser mais turrona com ele, e bater o pé, exigir ser a única pessoa que ele veria na sexta, mas já sei como acabaria, com ele dizendo que eu estava maluca desejando com que ele fosse uma pessoa que reprimisse seus sentimentos amorosos por outras meninas, e que, eu deveria aceitar que ele nunca seria meu.
Queria que fosse simples assim.
Sentimentos como esses são difíceis de explicar. Ou já conseguiu explicar como você se apaixonou por alguém? Eu nunca consegui falar isso, consegui falar os motivos pelos quais me interessei por uma pessoa, mas eu nunca consegui explicar como eu meu apaixonei. É estranho isso, fico com a sensação de ser vazia. Eu simplesmente me apaixonei, como se de uma hora para outra eu percebesse que deveria criar uma necessidade de ter um outro tipo de sentimento por essa pessoa. É algo que está dentro de mim tão profundamente que não consigo entender.
It’s Friday, I’m in Love
E então a sexta chegou e eu não sabia mais o que fazer. A ansiedade tomava conta de mim novamente e eu sentia meu estômago revirar como uma jovem esperando por seu primeiro namorado. Eu nem queria ir para minha aula, só para não encontrar com ele na rua. Eu tentava me trancar em casa sem ver a luz do sol. Fazia de tudo para não falar com ele. Eu só queria me tornar livre de tudo aquilo.
Eu queria ser livre para sentir o que eu quisesse sentir novamente, mas por que eu tinha que complicar tudo? Eu tinha que criar sentimentos por alguém que estava me dizendo que não queria nada comigo, mas que me procurava. Bem, eu não sei como as pessoas conseguem lidar com isso, porque, na sinceridade, pessoas como não são do poli amor, mas, na verdade, são de uma turma de babacas que arranjam como desculpa o poli amor para ficar com quem quiser sem que as pessoas criem ressentimentos. Porque, se criarmos, a culpa é nossa, sabíamos que seria assim desde o início.
Deveria cortar relações e não ser assim. Deveria seguir em frente. Mas eu só iria conseguir fazer isso com outro nome, outro rosto e outra identidade. Parecia que eu estava sendo sugada por ele, me modificando por ele e fazendo tudo por ele. Cada dia era uma eterna luta contra a minha consciência para continuar vivendo aquilo.
Eu estava no meu quarto com o notebook ligado vendo minha série favorita. Eu ria com as partes cômicas e chorava com os dramas que acontecia. Eu me afeiçoava com os personagens e atores ao ponto de esquecer que ali eram apenas atores interpretando um papel e já pensava que eles deveriam ser assim. E eu começava a gostar deles.
Outro sentimento diferente, dessa vez bastante estudado e falado por todos. O amor platônico, que é um pouco diferente do amor não correspondido. Eu sinto algo, eu desenvolvi esse sentimento por inúmeros fatores que me fizeram gostar dessa pessoa. E talvez seja por isso que hoje eu tenha desenvolvido isso por , como se ele fosse um ator de cinema que eu sei que nunca conseguiria conquistar, mas que cada célula do meu corpo desejasse que ele fosse meu. E então meu telefone toca, montando toda a minha desgraça.
— Oi. — ele falou no telefone. — Você está ocupada? Já são quatro da tarde e não tive um sinal de vida vindo de você.
— Estou em casa.
— Você não quer sair hoje? — aquela voz. Aquele ar de dúvida. Eu me rendi. — Encontrei um restaurante maneiro, e queria te levar lá como pedido de desculpas.
— E não tem outra que você possa levar no lugar?
— Só você me interessa.
— Só por essa noite, não é? Só por esse momento. Só por essa sexta.
— Não faça isso…
— O que?
— Não desconte sua frustração sobre mim. Eu sempre fui aberto sobre meus sentimentos com você, mas você sempre se fecha quando as sextas terminam. É como se nós vivêssemos dentro de Cinderela para sempre, mas sem toda a magia, apenas com as doze badaladas tocando e nós dois nos separando. Por favor. Hoje eu prometo que seremos só nós dois.
— Passe as sete e meia. Sem atrasos.
Me arrependi profundamente da minha resposta. Mas já estava na hora de encarar meus medos, estava na hora de olhar nos olhos e dizer que tudo aqui já tinha terminado.
me odiou. Gritou comigo como se fosse minha mãe, só faltou me ameaçar colocar de castigo. Me dizia que eu estava cometendo o maior erro ao me arrumar para sair com ele. Nós discutimos como um casal ciumento idiota. Nossa pele exalava a raiva que sentíamos. Nossos olhos demonstravam nosso desespero. Nós começamos a nos preocupar muito uma com a outra, tínhamos nos tornado irmãs de repente.
Eu atendia pedidos de socorro dela no meio da noite na casa de estranhos e ela sempre me esperava para o começo dos sábados. Acho que isso faz parte de um pacote que aceitamos quando nos tornamos melhores amigas. Nós damos nosso sangue para a outra se isso for possível. Nós só queremos o bem dessa pessoa, e queremos tanto o bem para elas que isso se torna uma forma de amar. Uma forma entre várias.
Porque o amor é isso também, um embaralhado de emoções que não podemos controlar. Choramos de alegria ao ver alguém conquistando seu sonho, nos enchemos de orgulho quando vemos a pessoa sendo o melhor que ela pode. E nada disso se compara ao que consumimos todo dia: a ideia de que amor é apenas romântico.
É por isso que eu amo as minhas sextas feiras. É o ápice dos meus sentimentos aflorando, me mostrando que valeu a pena ter passado os dias dentro de um quarto refletindo. É quando eu me sinto dentro de um filme de princesas e que parece que posso cantar com os pássaros e que números musicais serão feitos a qualquer hora. É quando eu finalmente percebo que ter sentimentos é o que me faz ser viva.
apareceu na minha porta e ouvi bufar. Sorri para ela e pedi para que me desejasse sorte.
Ele estava vestido de uma forma completamente diferente de seu estilo alternativo normal. Estava de jeans preto e uma camisa cinza, com sapatênis. Aquilo parecia como se ele tivesse deixando suas ideologias de lado por uma noite. Mas aquilo ainda parecia muito simples vindo dele.
— Está pronta? — ele ofereceu sua mão para mim e eu sorri.
É sexta e eu estou apaixonada.
Estamos no outono, o que significa que ainda está muito quente para usar roupas de frio, mas teria que tomar cuidado com as mudanças bruscas de temperatura. Eu estava de vestido, ele de esporte fino e nós parecíamos um grande casal. E fomos para um lugar grande, um novo restaurante que vendia algum tipo de comida vegana e muito cara que precisava experimentar.
Estávamos no meio da refeição quando ele começou a falar sobre como tinha superado esse momento de desespero de sentimentos que achava que amava todas aquelas pessoas, mas que no fundo, não tinha certeza nem que amava ele mesmo. E que, se ele conhecia alguém que o amava, esse alguém era eu.
— Mas não existe diferença entre nós dois. — ele disse entre garfadas, me fazendo revirar o estômago.
— Desculpa?
— Bem, eu acreditava que amava várias pessoas, mas é você quem se atrai por sexos diferentes.
— Ainda não vi conexão, . Explique-se.
— Bem, você tem sentimentos pela . Dá para ver pelo seu olhar. E ao mesmo tempo tem sentimentos por mim. O mesmo sentimento. Então porque não aceita que você foi tão, ou pior que eu, por ter esse mesmo sentimento.
— Primeiro porque minha escolha sexual não tem nada a ver com a sua canalhice. Segundo que você está esquecendo que eu me comprometo com uma pessoa só, e você que se comprometer com todos. Como a música dos Tribalistas. E Terceiro, porque em nenhum momento nós fomos um casal. Nunca começamos ou terminamos. Andamos nesse limbo que é o nosso relacionamento. Eu nunca sei onde estou com você, ou o que você é para mim, ou o que eu deveria ser para você. Mas não compare o meu amor por algo que você tinha dúvida. Não compare como eu me sinto e como eu me aceito com algo que você nunca conheceu ou até mesmo praticou. A única coisa que você fez foi sair como todo mundo, ficar com todo mundo. Eu não saí com ninguém porque eu não amor ninguém.
—Não? — ele pareceu confuso.
— Não amo no sentido sentimentalista piegas que você e meio mundo tenta me fazer amar. Mas sim, eu amo a , mas a amo como minha melhor amiga, como minha irmã. Não como uma companheira. Não é assim que a vida funciona . Você tem que abrir essa caixinha que se chama cabeça e olhar ao seu redor. Amor não é isso que você pensa que sente. Amor é algo além da nossa compreensão. Você diz que consegue falar sobre tudo, mas não consegue falar sobre os seus sentimentos comigo. — ele olhava mais assustado para mim. Mas eu não ligava, só não queria levantar a voz e chamar atenção no restaurante. Por mais que eu queria que todos ouvissem a lição de moral que eu estava dando nele. — Você pode me ligar quantas vezes quiser, mas essa é a última vez que eu aviso você para nunca mais me procurar. Eu cansei. Sabe, você pode pisar em mim, eu sempre deixei você fazer isso. Não me feria. Quer dizer, doía, mas o que mais me doía era te ver saindo com outra no final da noite. Mas não venha dizer que minha sexualidade é algo perverso e egoísta como você. Sabe, você pode se achar o maior pensador contemporâneo, mas na verdade até eu sei mais do que você sobre o mundo.
— Você não pode falar assim comigo.
— Não só posso como sempre vou. Não me procure mais. Não pense mais em mim. Pela primeira vez eu não irei mais pensar em você no sábado. Pensarei em mim, e em como eu posso ser feliz sem você na minha vida. Me deixe em paz e volte para esse seu mundo alternativo. Passar bem.
Saturday wait
and Sunday always come too late
Com tudo o que aconteceu, e tudo o que contei para , essa parte da minha vida tinha se fechado. Eu estava, finalmente livre e era um sábado. Estávamos deitadas na grama em frente ao prédio, falando sobre como minha vida tinha sido estranha até sexta passada.
— Sem mais citações sobre amor? — sorriu para mim.
— Talvez apenas mais uma: “Mais vale um bom amigo do que um tesouro que deixarias encher-se de bolor em qualquer buraco.”
E com isso nos abraçamos, e saímos dali, prontas para devorar o primeiro prato de comida que estava na nossa frente.
Fim.