- MAS MÃE, ISSO NÃO É JUSTO! – gritei a plenos pulmões.
- Não é justo, ? Qual a sua definição de justiça? Porque eu acho que você não está sendo justa comigo desde que começou o colegial.
- Ah, por favor, vai! São só alguns dias e eu nem vou gastar muito! Se você me der o cartão eu prometo não faltar mais na faculdade.
- Conta outra, , eu conheço bem a filha que tenho. Você não vai à faculdade há uma semana e chega bêbada em casa todos os dias! Acha certo gastar meu dinheiro com suas besteiras?
- AH NÃO VEM COM ESSA NÃO! Quem paga minhas saidinhas sou eu.
- SIM! COM AQUELE EMPREGO HORRÍVEL QUE VOCÊ ARRUMOU!
- ‘Tá, tá, emprego horrível e tal, mas e quanto a viagem...
- Não adianta tentar, , se você for nessa viagem é provável que você entre em coma alcoólico ou chegue sendo carregada pelos vinte caras com quem você transar. Porque é que você não pode ser como a sua prima Sarah? Ela vai às aulas na faculdade e tem um namorado super fofo! Nunca ouvi sequer uma reclamação sobre ela vinda de sua tia. Já você só me traz desgosto.
Sai de casa sem dizer mais nada, estava cansada de ouvir tudo o que minha mãe tinha a dizer sobre mim. Ela sempre se achou a dona da verdade, mas mesmo naquela época eu já sabia as consequências dos meus atos. Nunca quis vê-la jogando na minha cara o quão puta eu era, mas não iria viver conforme suas regras só porque ela julgava certo.
Acontece que no auge da minha juventude tudo o que eu queria era curtir. Em minha opinião, era a época perfeita: velha o suficiente para curtir e beber muito, mas nova demais para tornar da minha vida uma monotonia sem fim.
A passagem entre ensino médio e faculdade é incrível, é nessa hora que você pensa: puta merda, eu não sou mais criança.
Mas até entrar na faculdade e criar responsabilidades você também não é adulto.
Eu costumava chamar aquilo de férias pré-vida adulta. Minha mãe denominava carinhosamente de vagabundagem. No começo eu me preocupei, não queria que ninguém falasse mal de mim. Foi muita pressão e acabou que entrei na faculdade para agradar minha mãe. Não consegui bolsa em nenhuma faculdade, afinal de contas, ensino médio e festas incríveis andam lado a lado. Então não teve jeito, minha mãe teve que pagar minha faculdade. Escolhi Direito por livre e espontânea pressão. Agora sou a pior aluna de direito da Westminster.
*
Ainda me recuperando da raiva que minha mãe me fez passar, acabei me sentando em um café próximo ao pub onde eu trabalhava por meio período.
Mandei uma mensagem pedindo para que e se juntassem a mim. Esperar foi a pior parte, eu sempre fui muito impaciente.
Cerca de meia hora depois, com todas reunidas, pude finalmente soltar toda a minha frustração:
- Minha mãe não quer me dar o cartão, ela se recusa a me deixar ir. A viagem foi pro buraco.
- Se ela não quer te deixar ir então é melhor ficarmos aqui na cidade mesmo, a gente ainda pode se divertir. – falou.
- Ela me impedir de ir não é o problema, você sabe que eu fujo em um piscar de olhos. O problema é que eu não tenho dinheiro nem para ir até a esquina.
- Não pode ser! Eu estava tão empolgada com essa viagem desde que você deu a ideia. E agora?
- Não fica assim, , você sabe que quando a aqui quer alguma coisa ninguém a segura. Se quiserem saber, acho que tive uma ideia genial.
- Rápido, ! Se prepara que lá vem loucura. – disse, rindo em seguida quando fingiu se proteger de mim.
*
- Você endoidou de vez! Pedir carona pra qualquer um na estrada? E ainda sem dinheiro?
- Não é sem dinheiro, , eu devo ter umas duzentas libras guardadas.
- Duzentas libras não pagam nem sua bebida por uma noite, que dirá pagar quase um mês de gastos nessa viagem. Isso é impossível.
- Vamos lá, , deixa de ser tão chata.
- EU TOPO! – se pronunciou, chamando a atenção de todos na cafeteria. – Vai ser como daquela vez em que a gente fez aquele mochilão pela Europa. Só que mais emocionante. – falou a garota, mais baixo dessa vez.
- E com mochilas dessa vez. – falei, me referindo aquela viagem que foi um mochilão de araque, já que cada uma de nós levou três malas.
- Não sei não, para mim vamos parecer fugitivas.
- Tecnicamente a vai ser uma. – respondeu. – Mas isso não importa. A gente vai, e vai curtir muito!
- ‘Ta bom vai, quem sabe eu não arrumo um namorado em alguma cidade que a gente passar. – cedeu. – , você também devia achar um namorado, o amor da sua vida. – ela debochou, já sabendo da resposta de sempre.
- Eu nunca vou me apaixonar, , namoros são para idiotas. Além disso, o amor nem existe mesmo. Por que ter um cara só se eu posso ter vários? – risos.
- Então está combinado? Todo mundo pra casa arrumando as malas. Saímos hoje à noite. Quando minha mãe se der conta que eu sumi já vamos estar bem longe daqui.
Depois que terminamos nossa conversa acabei indo para casa, deixando e na cafeteria. Na caminhada de volta tentei traçar um plano de como seria a viagem, mas percebi que nunca chegaria nem perto da realidade. Estávamos mergulhando em um oceano de possibilidades, e todas pareciam melhores que ficar as férias inteiras criando raízes na minha casa.
Quando cheguei em casa tudo estava no mais absoluto silêncio, evidenciando que minha mãe já tinha ido trabalhar. Ela era nutricionista em um hospital no centro, por isso controlava tudo o que eu comia.
Aproveitei a solidão para preparar minha mochila, eu sabia que não poderia levar muita coisa devido ao peso. Nós poderíamos ter que caminhar muito, então era melhor prevenir uma dor nas costas.
Coloquei apenas cinco trocas de roupa, uma toalha e alguns produtos de higiene e maquiagem. Procurei alguns salgadinhos que havia comprado, mas não os encontrei, com certeza minha mãe havia jogado fora.
Decidi que antes de ir deveríamos passar em algum mercado. Com minha mochila devidamente pronta, resolvi dormir um pouco, pois sabia que a noite seria difícil realizar tal ato. Antes que pudesse subir as escadas senti meu celular vibrar no bolso de trás da calça que usava.
“Tenta levar lençol, travesseiro e cobertor. Nunca se sabe quando teremos que dormir em uma estação de trem ou em um albergue. Espero que isso não aconteça. Xx ”
Rolei os olhos para a preocupação de , ela podia ser minha amiga e gostar de festas tanto quanto eu. Mas ás vezes ela parecia minha mãe. Onde é que ela pensa que vai caber um travesseiro?
“Minha mochila não coube nem minhas roupas direito, não vai caber isso aí não. Deixa pra próxima. Xx ”
Quando ia guardar o celular no bolso, acabei recebendo outra mensagem.
“, ME AJUDA! Acabei de perceber que não vou poder levar mais que dois pares de sapato, que morte horrível. Xx ”
Ri do desespero dela e tratei de respondê-la.
“Pois é amiga, a ainda quer que a gente leve travesseiro. Ela é louca. Xx ”
Respondi e me joguei na cama, dormindo logo em seguida.
Quando acordei já era noite, meu celular tocava insistentemente no criado-mudo ao lado de minha cama. Atendi sem mesmo olhar quem era.
- Finalmente, . – ouvi a voz de soar irritada do outro lado da linha. – Eu te liguei SEIS VEZES!
- Me desculpe, eu ‘tava dormindo e você sabe que eu não acordo fácil. Agora diz logo porque você me ligou.
- Liguei pra dizer que eu me recuso a pegar carona a essa hora da noite. Nós vamos de trem até a primeira cidade. Afinal de contas, qual vai ser mesmo?
- Ah não, , já vai me fazer perder minhas preciosas libras?
- Que tal irmos para Brighton, ? É um ótimo lugar para começarmos as férias e a passagem de ida custa menos de vinte libras.
- ‘Tá, pode ser. Então a gente se encontra na esquina da Seven Street às nove da noite. Depois passamos num mercado pra comprar comida e seguimos até a estação andando. Pode ser? – Respondi.
- Ok, vou avisar para a e a gente se encontra em uma hora. Vê se não se atrasa.
- Que calúnia! Eu nunca me atraso.
- Ah, claro que não. Só 99% das vezes em que a gente vai sair. Anda logo, sua piranha, se não a gente te larga aqui em Londres.
Antes que eu pudesse responder ela já havia desligado. Já acostumada com sua grosseria, larguei o celular em cima da cama e parti para o banho.
Cerca de vinte minutos depois eu já estava pronta e devidamente agasalhada, pois fazia muito frio aquela noite. Tratei de pegar as últimas coisas que faltavam para a viagem: meu notebook, celular, carregadores e fone. Sem aquilo não tinha como sobreviver.
Dei um jeito de colocar tudo na mochila e fui até o quarto checar se minha mãe já estava dormindo. Porém, quando abri a porta do meu quarto, ela estava parada em frente a mesma, com a mão levantada em punho pronta para bater na madeira.
- Ah, oi querida. – falou, parecendo sem jeito. – Eu vim te chamar para jantar e talvez conversar um pouco.
- Já sei, você vai tentar consertar o que disse hoje de manhã, pedir desculpas por ter me ofendido de novo, fingir que se importa, me pedir para entender o seu lado e ser uma filha melhor. Eu já conheço esse discurso.
- Eu me importo sim, , é por me importar que eu te peço para ser melhor. Agora desça logo, senão o jantar vai esfriar! – a ouvi dizer em tom rude.
- Não quero jantar, estou sem fome. Só me deixa aqui em cima sozinha, ‘tá legal?
- Mas , você sabe que...
Rolei os olhos, cansada do mesmo papo de sempre e fechei a porta atrás de mim. Ouvi-a descendo as escadas em passos duros e então decidi que aquela seria a hora de ir.
"Eu não devia estar fugindo", pensei. Já era maior de idade, ela não poderia mais me prender em casa só porque fui desobediente. Mas já sabia o porquê de pular a janela ao invés de usar a porta. Se eu saísse por lá minha mãe não me deixaria mais voltar. Acabaríamos brigando e ela me expulsaria de casa. Eu nunca conseguiria me manter sozinha. Não com um emprego de garçonete.
Foi pensando nisso que pulei a janela naquela noite. A queda foi fácil, não era a primeira vez que havia feito aquilo. Conferi minha mochila e soltei um suspiro de alívio ao perceber que meu notebook estava intacto.
Andei em passos rápidos até virar a esquina, quando minha casa já não era visível. Senti meu celular vibrar e me assustei um pouco, mas era apenas .
“Já estou na frente do supermercado, onde vocês estão? Xx ”
“Chego em cinco minutos, Xx ” – Respondi.
O mercado ficava apenas a duas quadras de minha casa, então não me preocupei em andar mais rápido. Quando cheguei, já estava impaciente, não havia nenhum sinal de .
Tentamos ligar pra ela, que atendeu dizendo que já estava perto, e disse que poderíamos entrar, pois logo conseguiria nos achar. Acabamos concordando, apesar de achar impossível que isso acontecesse vindo de .
Eu devia comprar comida de verdade, mas ao invés disso comprei salgadinhos e muito doce. Peguei também algumas latas de refrigerante e garrafas de água, embora soubesse que as beberia quente.
Como previsto, demorou cerca de meia hora para nos achar, mesmo tendo explicado o caminho para ela, ou tentado inutilmente que ela ficasse parada em algum lugar para que a encontrássemos.
Fomos andando até a estação de trem e quando chegamos já passava das dez. Por sorte conseguimos um trem que saía as 22h45min, então tivemos que esperar apenas mais algum tempo.
Uma hora depois, três malucas desembarcavam na estação de trem em Brighton e por ser quase meia noite, o movimento era quase escasso.
- Tá, e agora? – disse, parecendo perdida.
- Vamos procurar um hotel e descansar um pouco, amanhã a gente curte a cidade. – falou, responsável como sempre.
- Claro que não, você é louca? Como acha que vamos sobreviver até o fim das férias dormindo em hotéis? Eu já perdi trinta e cinco libras! – respondi em sinal de protesto.
- Então o que pretende fazer, sua sabe tudo?
- Fácil, alugamos armários aqui na estação e deixamos as mochilas pelo resto da noite. Entramos na primeira balada que encontrarmos e aí é só curtir!
- Muito legal, , e onde a gente vai dormir? – perguntou.
- Oras, no trem! – Respondi num tom de obviedade.
- Legal. E pra tomar banho? – quis saber.
- No banho a gente pensa depois.
Seguindo meu plano, nós três seguimos até o banheiro da estação para passar um pouco de maquiagem. Depois conseguimos alugar os armários por três libras cada e assim saindo à procura de alguma balada que nos agradasse.
Encontramos uma que não era tão longe da estação, alguns jovens esperavam na fila que conseguimos burlar facilmente, logo adentrando no local.
Lá dentro estava quente, contrastando com o frio cortante que a noite de Brighton trazia consigo. Eu e as meninas seguimos até o bar a procura de bebidas, mas acabou se perdendo no meio do caminho e quando dei por mim, ela já dançava com um cara.
Algumas doses de vodka depois eu já estava um pouco alterada, mas ainda me mantinha próxima ao bar. Não via há uns bons minutos e conversava animadamente com um carinha que provavelmente era mais novo que ela.
Decidi que estava na hora de dançar e fui em direção ao amontoado de gente que se mexia no meio da boate. Eu não estava nem perto de ficar bêbada, mas isso nunca me impediu de me soltar e dançar muito.
Pouco tempo depois eu senti que alguém me observava, então procurei por quem me encarava. Eram dois homens sentados em uma das mesas que ficavam do lado oposto ao bar, totalmente gatos, eu diria. Pareciam ser mais velhos que eu, mas não tanto.
Um deles usava jaqueta de couro por cima de uma camisa azul e calça com rasgos nos joelhos. Já o outro trajava calças jeans e um blazer. Formal demais, mas por algum motivo chamou minha atenção.
Por um instante me perguntei o porquê deles me encararem tanto. Não havia nada de especial em mim: calça jeans clara e regata vermelha. Nos pés um all star preto -o único calçado que eu havia levado para a viagem além de chinelos que couberam em algum bolso da mochila-, mas haviam mulheres muito mais produzidas e sexys naquela boate.
Fingi ignorá-los por um tempo, busquei outra bebida no bar e voltei a dançar mais um pouco, com uma garrafa de cerveja em mãos. Meu olhar sempre se voltava para a mesa em que os dois estavam sentados. O da jaqueta não me encarou por muito tempo, já o outro não parou de me olhar nem por um segundo. Não sei como isso aconteceu, mas em algum momento da noite nossos olhares se encontrarem e eu passei a dançar pra ele. Não dá pra explicar o que me ocorreu, eu juro. Queria que ele viesse até mim, que dançasse comigo e eu pudesse ouvir sua voz sussurrando algo em meu ouvido, não sei.
Mas tudo o que ele fez foi ficar me encarando, às vezes me olhando nos olhos, ora descendo seu olhar pelo meu corpo. Cutucou o amigo no braço e lhe disse algo, colocando a mão na boca ao falar, provavelmente sobre mim. O da jaqueta balançou a cabeça em concordância e saiu em direção a uma loira, enquanto o gostoso que me encarava continuava ali, dessa vez focado em seu uísque que já devia estar quente.
"Não é possível. Se o cara não chegar em mim, então eu vou até ele", pensei.
Mas antes de concluir o que eu queria, vi outro cara se aproximar de mim. Um loiro lindo de morrer, mas não tão bonito quanto o cara que me encarava.
"Ao menos esse tem atitude, não é, ?" Eu e o bonitinho -que mais tarde descobri se chamar Matthew- dançamos por algum tempo, bebemos algumas doses de tequila e conversamos bastante. Descobri que o cara tinha dezenove anos e queria ser músico, mas seus pais não o apoiavam em seu sonho. Acabei me identificando com Matt e lhe contei da minha fuga, que ele achou incrível e prometeu que iria me encontrar em alguma outra cidade em que eu e as meninas estivéssemos, antes que as férias acabassem.
Nossa conversa durou por no mínimo duas horas, foi quando me lembrei do gostoso que me encarava e ele olhava Matt com raiva. Quando eu ia questionar Matthew sobre isso, nos abordou desesperada.
- , a SUMIU! – ela gritou alto o suficientemente pra toda a boate ouvir.
- Ah, qual é, , ela sempre some assim. – respondi, não muito preocupada. – Fica de boa.
- Dessa vez é diferente, , eu não a vejo já fazem duas horas.
Torci a boca, não querendo me desfazer do cara incrível que estava ao meu lado sem nem dar uns amassos. Mas Matt me prometeu que poderíamos nos encontrar de novo no dia seguinte, no píer.
e eu saímos a procura de por todo o perímetro daquele lugar, a encontrando quinze minutos depois, vomitando na esquina da balada com um cara segurando seu cabelo. Eca.
- Vocês são amigas dela? – ele perguntou.
- Puta que pariu, ! – Falei, indignada. – Não era pra beber desse jeito. Agora são três da manhã e nós vamos ter que procurar um hotel pra cuidar de você! E ADIVINHA SÓ? Você nem se aguenta de pé, o que significa que vamos gastar dinheiro com taxi. Desse jeito a viajem não vai durar uma semana!
- , pega leve! Ela é nossa amiga. – falou, me repreendendo.
- Eu sei, é só que... Me desculpa, . Vai ficar tudo bem.
- Se quiserem podem ficar na minha casa essa noite. – o garoto disse, com apoiada em seu braço.
E nós aceitamos. Entramos no carro de um total desconhecido que podia ser um serial killer. Ou um estuprador.
Felizmente, não era nada disso e a casa dele não passava de um apartamento de dois cômodos, com um colchão inflável que ele chamava de sofá e uma televisão de quinze polegadas em cima de uma cadeira. Mas que eu achei o máximo, pois meu futuro apartamento poderia ser exatamente daquele jeito, eu já iria adorar.
Depois de colocar em uma ducha bem gelada e ela praticamente desmaiar no banheiro, eu e tivemos que travar uma luta até a sala, onde pensei que as três dormiriam, mas ai teve uma de suas crises de bêbada e começou a pedir desculpas para o e dizer que queria dormir com ele. Não entendemos nada, já que essa foi a única coisa que ela disse antes de desmaiar novamente. Mas felizmente revelou que ele e namoraram por um tempo, mas não quis dizer o motivo do pedido de desculpas.
Dormir com não era uma coisa muito confortável, ela se mexia demais além de falar enquanto dormia. Por esse motivo eu acabei acordando cedo demais naquele domingo.
Apesar de não ter bebido muito na noite anterior eu tinha dor de cabeça, então acabei bebendo alguma aspirina que achei na cozinha.
Sem ter o que fazer sendo a única acordada naquela quitinete, acabei ligando meu telefone –que permanecia desligado desde que havia saído de casa– sete ligações perdidas da minha mãe e duas do trabalho. Nada demais. Também havia uma mensagem na caixa postal que nem me dei ao trabalho de ouvir, tenho certeza que era minha mãe ordenando que eu voltasse.
Por fim no café da manhã me sentei em um dos bancos que compunham o balcão daquela cozinha minúscula e acabei fazendo uma lista de possíveis cidades para continuar a viagem.
acordou por volta das nove, eu já estava sentada naquela cozinha fazia duas horas, bebendo meu quarto copo de café.
- Bom dia, . – saldou, animado demais para um domingo de manhã.
Só ai pude reparar no cara de verdade, era incrivelmente alto e bonito. E gostoso também. " ‘tá pegando bem", pensei.
- Oi, . A ‘tá melhor?
- Ah, ela não acordou ainda, nem a noite. – ele disse, parecendo inseguro. – Não sei o que vai acontecer quando ela acordar.
- Por causa do namoro de vocês? Ah, talvez ela finja que nada aconteceu.
- Isso seria horrível. Ah cara, eu ainda gosto dela.
- Afinal de contas, por que vocês terminaram?
- Acho melhor ela te contar. – ele falou, logo depois encarando o papelzinho em que eu tinha feito a lista. – O que é isso?
- Ah, não é nada demais. Eu as meninas estamos viajando. Essa é uma lista das possíveis cidades que a gente vai passar.
- Que legal! E vocês ‘tão viajando em que carro?
- Na verdade pegamos um trem até aqui. Eu queria viajar de carona, mas a não quis.
- Eu poderia viajar com vocês, no meu carro. É só vocês me ajudarem com a grana da gasolina.
- Que ideia incrível! Aposto que as meninas vão adorar! – falei, já empolgada com a possibilidade de não ter que gastar mais umas boas libras com passagens.
acordou alguns minutos depois, se juntando a nós no café. Contamos a ela sobre se juntar a viagem e ela também adorou a ideia.
Até que uma desesperada e incrivelmente vermelha entrou no nosso campo de visão.
- POR QUE É QUE EU ‘TO VESTINDO ISSO? – Gritou ela.
- Ué, , você estava fedendo a álcool e não tinha roupa nossa aqui, já que deixamos as mochilas lá na estação, lembra? – falou. – Tivemos que te vestir uma camisa do .
- EU NÃO ACREDITO NISSO! CADÊ AS MINHAS ROUPAS? AGORA!
- Ah, , fica de boa aí. O teve uma ideia incrí...
Ela nem me deu tempo de terminar, saiu em disparada para dentro do quarto e voltou vestida meio segundo depois. Praticamente nos obrigando a sair do apartamento. Eu pensei que ela tinha ficado louca, você não tem ideia do quanto ela gritou e suplicou para irmos. Logo depois saiu correndo porta afora.
Consegui deixar meu número e o de escrito no bloquinho de antes de sairmos atrás dela.
*
Tivemos que pegar um táxi até a estação. Eu e ainda tentamos falar com ela de todas as formas, mas ela estava irredutível e praticamente nos forçou a ir embora.
Perto das onze recebi uma mensagem de Matt:
“Oi , tudo bem? Ainda se lembra de mim? Sou o Matt da balada de ontem. Só quero saber se a ida ao píer ainda vai rolar”
“Oi Matt, como poderia esquecer? Não vai dar pra ir ao píer, já estou saindo da cidade, mas ainda podemos nos ver. xx ”
- Tudo bem, não vamos mais ao píer. E agora? – Perguntei, guardando o celular no bolso de trás.
- Vamos de trem até a próxima cidade. – respondeu.
- Por que deu aquele chilique lá no , hein? A ia te contar que ele se ofereceu pra ir com a gente. –
- Ainda bem que eu fugi! – ela respondeu, mas eu e continuamos a encarando. – Querem saber mesmo?
- SIM! – eu e respondemos em coro.
- ‘Tá legal. – respirou fundo. – Eu trai o . Com o primo dele.
- Sério que foi isso? O não parecia estar com raiva e nem magoado. Acho que ele ainda gosta de você.
- Não importa. Eu não consigo mais olhar pra ele, , tenho muita vergonha. – ela falou, começando a andar de novo. – Chega de falar do , vamos buscar as nossas mochilas.
Eu, e tivemos que pegar um táxi quando descobrimos que estávamos verdadeiramente longe da estação.
Com nossas devidas mochilas, as três concordaram que dessa vez deveríamos achar algum meio de transporte mais barato que o trem, já que na próxima cidade precisaríamos de um hotel ou de algum lugar – limpo – pra tomarmos banho.
Seguimos andando até a saída da cidade, onde com sorte conseguiríamos carona pra qualquer cidade com mais de dez mil habitantes. Três motoristas nos ofereceram carona para pequenas vilas próximas a Brighton. Obrigada, mas eu passo.
parecia uma louca pedindo carona, de certo os motoristas não paravam por medo dela ter fugido de algum manicômio.
- , você poderia gritar menos, por favor? – pedi, a olhando.
Ela estava de pé na minha frente, contra o sol. Eu e já havíamos sentado na grama que beirava a estrada. Ambas se deliciando com refrigerante quente e batatas que haviam quebrado no caminho. Restando quase apenas farelos.
Já faziam algumas horas que estávamos tentando. Mas não parecia querer desistir tão fácil.
Até que, próximo às 14h, um Bentley preto parou próximo de nós.
- Ei garotas! Precisam de ajuda? – um cara perguntou, baixando o vidro do carro.
- Pode nos dar uma carona? – perguntei.
- Pra onde querem ir? – questionou ele.
- Pra onde está indo?
- Vou para Barcelona, querem ir?
- Mas fica à 14 horas de viagem! - disse.
- Pois é meninas, então eu não posso ficar papeando o dia todo. Tenho quatorze horas de viagem pela frente. Estão dentro ou não?
Eu e as meninas nos entreolhamos, incertas do que deveríamos fazer.
- TOPAMOS! - dissemos as três em coro.
Brian parecia ser um cara legal, disse ter 25 anos e estar indo para Barcelona há negócios. Nenhuma de nós questionou o porquê dele estar viajando de carro ao invés de pegar um avião.
A viagem ocorria bem, paramos cinco horas depois em um posto de gasolina. quis ir ao banheiro, eu e estávamos com fome. Brian falou que nos esperaria.
Ele não nos esperou.
Quando saímos da loja de conveniência do posto - cerca quinze minutos depois - o Bentley não estava em lugar nenhum.
A sorte é que nos três estávamos com nossas mochilas.
- Que filho da puta! SE NÃO QUISER ESPERAR FALA NA CARA, SEU IDIOTA! - gritei, eu estava muito nervosa.
- Calma, , a gente vai dar um jeito. Primeiro precisamos descobrir onde estamos. E olhe pelo lado bom, ao menos não estamos no meio da estrada. - tentou me confortar.
- Estamos em Versalhes. - falou, mostrando o celular que indicava nossa localização. - Tem uma pousada há duas milhas daqui.
- Então passamos a noite lá. - falei, pegando o celular de e digitando algo. - E de manhã vamos para outra cidade de ônibus ou tentamos carona de novo?
- Poderíamos ir ver o palácio de Versalhes antes, não? - falou de um jeito pidão.
- Tudo bem, podemos visitar o palácio de Versalhes.
- Ok, agora vamos até a pousada porque já é noite, eu preciso de um banho e de uma cama bem quentinha. - falou, já começando a caminhar.
Chegamos na pensão alguns minutos depois. A pensão não era nenhum hotel cinco estrelas, mas com as três cansadas nem deu para reclamar de qualquer coisa. Pagamos 20 libras cada por um quarto com três camas e o jantar. foi a primeira a tomar banho, enquanto se jogou na cama e eu fui colocar meu celular para carregar, aproveitando para pegar meu notebook e checar minhas redes sociais.
- Matthew me pediu amizade do facebook. - falei para
- Quem é Matthew? - ela perguntou, tirando a cabeça do travesseiro para me olhar.
- Um cara que conheci ontem da balada, ele queria ir ao píer hoje mas nem deu, culpa da .
- Uau! O cara ‘tá afim de você, até no facebook ele te achou. Enfeitiçou o cara com seu beijo, zinha?
- Se liga, , eu nem beijei ele. A deu pra sumir bem na hora. - falei entediada.
- Ih, a virou empata foda. ‘tá bolada porque não fodeu com o gostoso do Matt.
- Cala a boca, ! - joguei um travesseiro nela.
- Bem que eu te vi encarando um gostoso ontem, se eu tivesse a chance de pegar um daqueles eu também ficaria bolada.
- Ah! Aquele não era o Matt. O tal gostoso que me encarava não chegou nem perto de mim. E quando eu ia falar com ele o Matthew chegou. Perdi um gato, não é amiga?
- Não deu pra ver direito, mas parecia ser um gato mesmo! vai ter que arranjar outro daquele pra você!
- Ela não precisa achar um cara pra mim, já sou muito boa em fazer isso. - falei e ambas caímos na risada.
- Qual é a graça? - falou saindo do banho.
- É só o ego da que não cabe dentro dela. - falou, se levantando. - Eu sou a próxima a tomar banho!
Chequei meu celular enquanto tomava banho. Algumas ligações perdidas da minha mãe, outras do trabalho. Nada de especial, então não retornei. Eu certamente seria demitida por faltar tanto ao trabalho.
Fui a última a tomar banho. Jantamos todas na cozinha da pensão, junto com mais alguns hóspedes e a dona do lugar.
Depois do jantar nós deveríamos descansar, mas foi impossível, pois aquela viagem teria que ser pura diversão.
Então, próximo das dez, estávamos em um bar algumas quadras da boate, bebendo cerveja e rindo muito, flertando com alguns caras e dançando sozinhas na pequena pista de dança do lugar.
Era aquilo, a perfeição. Estar ali, naquele momento, me fez perceber que eu não precisava de muito para ser feliz. Eu e as meninas nos juntarmos, nossa primeira foto da viagem foi postada no instagram.
“Ser deixada em Versalhes não é tão ruim quanto parece quando você tem essas duas e um pouco de cerveja”
Com muita dificuldade conseguimos chegar a pensão, dessa vez eu estava verdadeiramente bêbada, ria descontroladamente e tinha cerveja derramada por toda a roupa.
Depois de levarmos uma bronca da senhora dona da pensão, finalmente conseguimos chegar ao quarto, as três rindo demais. Até que teve uma crise de choro, e começou a repetir o nome de e pedir desculpas, seu rímel escorrendo até as bochechas. teve que ajudá-la a entrar no chuveiro, já que eu não conseguia nem me levantar da cama. Acabei dormindo.
Tive um sonho estranho, era com homem da boate. Nós dançamos juntos, mas ele não falava nada, e quando entreabriu a boca para dizer algo ele... Começou a cantar Beatles?
Era o som do meu despertador. Acordar naquela manhã em Versalhes foi difícil, minha cabeça estava explodindo, e o cara-sem-nome continuava a rondar meus pensamentos, o que nunca tinha acontecido antes. Por sorte tinha aspirinas, que ao menos resolveu o problema da ressaca. Tudo parecia finalmente estar se resolvendo, mas quando iríamos pagar a diária da pensão caímos na real.
- São sessenta euros. – A dona da pensão falou.
Estávamos em outro país, não daria pra comprar nada com libras.
Eu e as meninas nos entreolhamos, incertas do que deveríamos fazer. Mas por sorte a dona do lugar nos indicou uma casa de cambio, e confiou em nós a ponto de nos deixar sair sem quitar nossa divida. Poderíamos ter ido embora sem pagá-la, mas não o fizemos.
Compramos alguns euros e tomamos café da manhã em um lugar próximo ao palácio de Versalhes para então pagar o que devíamos e seguir viagem.
- E então, pra onde vamos? - perguntou.
- Poderíamos continuar tentando ir pra Barcelona, eu soube que lá tem festas incríveis. E Brian nos deixou na metade do caminho. – sugeriu.
- Ainda seriam muitas horas de viagem até lá, vamos pensar em algo mais fácil.
- Que tal a Suíça? Eu sempre quis conhecer. – falou.
- AH MEU DEUS, VAI SER INCRÍVEL, EU VOU VER O DANI EM PARIS! - Uma garota gritava na mesa ao lado da nossa, contando algo que eu não entendi muito bem para a amiga. - É uma pena você não poder ir.
- O que acham de Paris? – Falei, olhando sugestivamente para as meninas.
Se você acha que conseguimos carona com a menina louca do café você está terrivelmente certo. Eu, e fingimos estar interessadas no assunto que elas estavam falando e acabamos por conseguir uma carona até Paris. Soph era uma garota legal, exceto por achar que se casaria com o vocalista de uma banda que faria o show em Paris.
Chegamos a cidade perto da hora do almoço.
Acabamos almoçando em um restaurante próximo da torre Eiffel, ficamos um tempo sentadas no jardim que a rodeava e por fim visitamos o museu do Louvre. Acabei comprando algumas coisas em um shopping em que passamos, e pouco depois de anoitecer estávamos dispostas a encontrar um hotel ou coisa parecida.
Mas algo chamou a nossa atenção. O som estava muito alto e era ouvido de longe, era uma festa, e das boas.
- A gente tem que ir! - falei.
- Ih, acho que não vai rolar, olha lá o segurança olhando uma lista. A festa é privada. - falou.
- A gente dá um jeito. e , vocês distraem os seguranças, eu vou achar nossos nomes na lista. Se é que vocês me entendem.
- Eu não entendi. – falou e rolou os olhos, a puxando pelo braço em direção ao segurança.
Como eu disse, e foram distrair os seguranças enquanto eu procurava três nomes na lista para que pudéssemos entrar. Fiz um sinal de positivo com o dedo para elas que entenderam o recado, e trataram logo de despistar o segurança.
- Muito bem, você é Charlotte Manson, , Taylor Mitchel e eu sou Skylar Marshall. Entendido? Vejo vocês lá dentro.
Com sorte, ainda conseguimos persuadi-lo a guardar nossas mochilas.
Entramos e logo me separei das meninas, a música lá dentro era muito alta, e havia uma faixa próxima ao dj com os dizeres “Parabéns Charlie”, deduzi que aquela seria a festa de aniversário da garota. Decidi ir ao bar para começar a noite e pedi uma cerveja só para esquentar, olhei ao redor, procurando algum cara com quem eu pudesse flertar. Porém ouvi uma conversa do cara ao lado de mim que me chamou atenção.
- Então cara, eu precisava de uma modelo urgente. Eu nem devia estar aqui, mas o me forçou a vir e você sabe como ele é, não sabe?
- Poxa cara, mas você vai encontrar uma garota. Agora relaxa e curte a noite.
Um dos homens me parecia familiar, ele estava de costas para mim, mas eu pude reconhecê-lo, mesmo que o tenha visto de longe da última vez. Imediatamente, larguei minha cerveja e fui dançar na pista, bem na sua frente, tentando chamar sua atenção. E consegui. Em pouco tempo ele me olhava, e de perto pude ver seus olhos se encherem de compreensão, ele tinha me reconhecido.
Depois de um tempo fui ao bar pegar outra bebida, e finalmente pude ouvir sua voz.
- A garota de Brighton. - ele disse, com um sorriso ladino que eu particularmente achei lindo.
- Olá, Sr. Não-atitude.
- Desculpe? - Ele disse, me encarando com dúvida.
- É só que você só ficou me olhando aquela noite e não veio falar comigo. Fico feliz que tenhamos nos reencontrado.
- Eu também, a propósito, sou .
- .
- O que fazia em Brighton, ?
- Ah, nada demais, só passeando. E você?
- Estava visitando minha família. - ele disse, bebericando um pouco de sua cerveja - E veio pra Paris só por causa do Charles?
- Quem? - Perguntei em dúvida.
- Charles, o dono da festa. Você deve conhecê-lo apenas pelo apelido.
- Ah claro, o Charlie. - que eu pensei ser uma garota, que cara se chamaria Charlie? - Na verdade estou aqui a trabalho, a festa foi só um bônus. – menti.
- A trabalho? E o que você faz?
- Eu sou modelo. Na verdade comecei a modelar há pouco tempo, mas já me considero uma. Esse é o meu primeiro trabalho verdadeiramente importante.
- Você é modelo? Que legal! Vai ter um teste amanhã e talvez eu possa te ajudar. Até quando você vai estar em Paris?
- Não sei quanto tempo vou ficar por aqui, pode demorar um pouco.
- Toma o meu cartão, pede pra sua agente me ligar.
- Ah, claro agente... Tudo bem.
- Chega de falar de trabalho, quer dançar um pouco?
não dançava nada bem, mas ao menos tentava. Acontece que o cara era super divertido e depois de mais alguns drinques estávamos rindo no canto da boate. Eu tentei beijá-lo, não vou negar. Mas ele se esquivou.
- Eu não quero que pense que eu só estou aqui porque quero te beijar. Eu gostei de você de verdade, desde aquela noite em Brighton. - foi o que ele disse
- Qual é, , é só curtição. - tentei argumentar - A gente nem vai se ver de novo.
- Não quero que essa seja a última vez que nos vemos. - ele falou, e teria sido romântico, se meu celular parasse de vibrar no meu bolso e eu ao menos prestasse atenção do que ele dizia.
- Ah, me desculpa. Eu pensei que estivesse desligado.
Eu estava pronta para recusar a chamada quando vi o número que brilhava na tela do celular.
- , eu tenho que atender. Me espera aqui.
Procurei um lugar com menos barulho para atender, acabei indo parar no banheiro.
- Alô?
- ! Onde você se meteu? Sua mãe me ligou desesperada.
- Agora você se importa? Quantas vezes você ligou para mim esse ano? Mas não se preocupe papai, você ainda é o número um.
- Não é disso que se trata, , você não tem mais quinze anos. Estou ouvindo essa música e sei que está bêbada. O que você vai fazer da sua vida?
- Não se preocupe.
Desliguei.
Meu pai sempre foi alguém que amei muito, costumávamos ser uma equipe. Mas ele e minha mãe acabaram se separando e ele se afastou de mim. Dizia que logo voltaríamos a ser os mesmos de antes, e que ele sempre seria o meu herói. Nada nunca mais foi o mesmo.
Tentei fingir que nada havia acontecido, reencontrei no bar e então dançamos mais, até meu cabelo começar a colar na minha nuca, até eu me esquecer tudo. E por um instante tudo o que eu vi foi o sorriso de .
Eu e ele conversamos muito, me contou que tinha 24 anos e era vice-presidente em uma empresa de marketing. Contei algumas coisas sobre mim também, algumas enrascadas em que eu me meti com as meninas, mas sempre omitindo o fato de eu não ser modelo e estar na verdade viajando com minhas amigas.
No fim da noite eu ainda queria beijá-lo. Porém aquele amigo que estava com ele em Brighton atrapalhou meus pensamentos.
- Vamos, ? Já passam das três e a sua noi... - ele começou a dizer, então pareceu perceber a minha presença. – Espera ai, você não é a garota de Brighton?
- Eu mesma. Sou .
- , é um prazer te conhecer. Mas precisamos ir.
- Eu já vou. Me espera lá no carro. - falou.
- , essa noite foi incrível. Eu me senti como na adolescência outra vez. - disse, me encarando com aqueles olhos que me hipnotizaram por um instante. - Você quer sair comigo amanhã?
Não pude conter o impulso e o beijei. Foi só um encostar de lábios, mas foi tão bom que eu não via a hora de repetir o ato.
- Eu adoraria.
- Tudo bem, então me manda uma mensagem com o endereço do seu hotel. Eu te pego amanhã às oito. - ele encostou seus lábios nos meus mais uma vez. - me desculpe por isso, eu acho que estou um pouco bêbado.
*
- Precisamos achar um hotel. E não pode ser qualquer um.
- Qual é, , não foi você mesma que disse que temos que economizar?
- É, mas o ... Quer dizer, , é! A ‘tá passando mal. É melhor ficarmos em um hotel.
Estávamos às três sentadas na calçada em frente ao club em que a festa acontecia. vomitava em uma lixeira a alguns metros de nós. Eca.
O sol já começava a aparecer, e eu tentava focar a minha visão no celular tentando achar um hotel razoável próximo de nós.
O fato é que: iria me buscar no hotel. E eu tinha que manter minha farsa de modelo, certo? Que modelo dorme em uma pensão ou hotel de esquina?
Era o que eu dizia mentalmente, mas bem no fundo eu sabia que queria impressioná-lo. O pior é que eu nunca fui dessas. E não pareceu interessar-se por mim por eu tê-lo impressionado, já que nas únicas vezes que ele me viu eu usava o mesmo par de all-stars surrados e calça jeans.
Com sorte conseguimos achar um hotel a duas quadras do club e seguimos andando até ele. A recepcionista nos olhou atravessado quando chegamos e só pude entender isso quando chegamos ao elevador. Pude ver meu reflexo no espelho, meu lápis escorria pelo canto do olho e meu batom – ou o que sobrou dele- estava todo borrado.
parecia realmente mal, quase vomitando em cima de mim. Já parecia a mais normal, tirando o cílio postiço colado em sua sobrancelha.
Com muito esforço conseguimos colocar no chuveiro e logo a garota dormia.
Eu queria contar sobre para elas, mas sabia o quanto estavam cansadas.
- , acorda!
- Bom dia, , vejo que você já melhorou. Poxa, nem pra me deixar dormindo.
- Deixa de ser preguiçosa, já passa do meio dia.
- Café da manhã ou almoço?
- Café! – falei, já saindo da cama para me arrumar.
- Tem uma Starbucks ali na esquina, vamos pra lá. – ouvi falar do quarto enquanto escovava os dentes.
- Nem pensar. Estamos em PA-RIS! Vamos comer em um lugar que não tem em Londres, claro.
Acabamos achando uma cafeteria muito fofa bem perto do hotel, e eu insisti para que entrássemos lá.
- Tenho um encontro hoje à noite! – falei quando terminamos de fazer nossos pedidos.
- O QUÊ? – e falaram juntas.
- Você nunca teve um encontro. Quem é esse cara? - perguntou.
- Eu o vi em Brighton e ontem nos reencontramos na festa do Charlie, ele é incrível!
- AÍ. MEU. DEUS. – falou pausadamente. – VOCÊ ESTÁ APAIXONADA!
- O quê? Pff...Claro que não!
- Em todos esses anos você nunca aceitou nenhum encontro, não adianta tentar mentir pra nós, . – disse, me olhando com um olhar de divertimento, como se estivesse dizendo te peguei, não tem como mentir. - Não estou apaixonada, vou provar pra vocês. – falei, apontando para as duas. – Agora eu preciso de um vestido e saltos altos, eu não trouxe nenhum!
- Tudo bem, podemos ir ao shopping.
- Ah, e eu também vou precisar de uma agente.
*
“Estou hospedada no Le Bristol, te vejo ás oito. Xx ”
“Achei que nunca mais te veria, já estava começando a me culpar por não ter pegado o seu número. Até mais tarde! Xx ”
Depois do café, eu e as meninas fomos ao shopping escolher minha roupa para o encontro. Foi uma tarefa difícil, e depois de quase três horas consegui achar algo que me agradasse. Um vestido vermelho, a saia rodada e com pregas me deixava com um ar de menininha, que era totalmente extinta devido ao decote.
Optamos por almoçar em um subway, que era uma opção mais econômica e nós não éramos as mais afortunadas naquele momento.
- Meus euros já estão acabando, principalmente depois de hoje. - falei.
- Eu também não tenho tanto dinheiro - disse. - e ainda temos que pagar o hotel.
- Precisamos de uma lavanderia também. - dessa vez foi . - Eu devo ter só mais uma troca de roupas limpas.
- É por isso que eu preciso desse emprego de modelo, vai me ajudar a conseguí-lo e nós vamos ganhar umas boas libras. Ops, quer dizer, euros.
- Você só está se esquecendo de um detalhe. - me alertou. - Você não é modelo.
- Ninguém precisa saber disso.
Às sete horas eu já estava devidamente pronta, me equilibrando nos saltos pretos que havia comprado.
- , quando é que vai atender esse celular? - falou. - Ele não para de vibrar.
- Desculpe. Eu tinha colocado no silencioso, mas sempre volta a vibrar quando a bateria acaba. – respondi, indo em direção ao celular. - É a minha mãe, falei, rolando os olhos.
- ? Ainda bem que me atendeu. Quero que volte para a casa imediatamente, está me ouvindo? - minha mãe já começou a gritar, não me dando espaço para falar. - Essas suas atitudes são de uma vagabunda. Quando é que vai viver decentemente?
- Mãe, eu não tenho mais quinze anos, como meu pai me disse ontem. Eu sei me cuidar, só estou curtindo minha juventude. Se minhas atitudes são de uma vagabunda, sinto em te dizer, mas a sua filha é uma vagabunda. Não me ligue mais, por favor. Estarei de volta no natal. Agora se me der licença, vou ali vagabundear mais um pouquinho, não é assim que você diz? Até mais. - cuspi as palavras e desliguei.
Quando abriu a boca para dizer algo o telefone em minha mão começou a vibrar de novo.
- Pois não? - atendi com um tom de voz rude, sem mesmo olhar quem era antes.
- ? - a voz do outro lado pronunciou.
- Sr. Blake, creio que ligou para me demitir. Estou errada?
- Que bom que já sabe. Esta demitida por abandono ao emprego sem prestar explicações. Passar bem, Srta. .
- Obrigada. - falei por fim, desligando o telefone.
- Estou oficialmente desempregada. - disse dessa vez para as meninas, porém o telefone começou a vibrar. De novo.
- QUEM QUER QUE SEJA, POR FAVOR, VA PARA A...
- Calma, , se não quer mais sair comigo é só dizer. - disse, com uma voz de divertimento.
- ? Oi... Não é isso... Aquilo não era pra você, eu...
- ‘Tá tudo bem, , eu liguei pra dizer que estou te esperando aqui embaixo.
- Tudo bem, já estou descendo! - falei, abrindo um sorriso. Toda a raiva já havia sumido.
- Estou indo meninas, divirtam se sem mim!
estava lindo, com toda a iluminação do hall pude enxergar tudo o que antes não tinha recebido. Quando me viu, abriu um sorriso que arrancaria suspiros de qualquer uma. Estendeu a mão para que eu a pegasse, o que eu fiz sem hesitar, sentindo toda a maciez e quentura que sua mão tinha. Naquele momento eu achei estranho o quanto nossas mãos se encaixavam perfeitamente, mas logo espantei aqueles pensamentos. Você não esta apaixonada, repeti para mim mesma. me guiou até o carro e abriu a porta para mim, indo logo se sentar no seu lugar para assim, dizer algo.
- Você está linda. Aqui, comprei para você. - Me estendeu uma rosa vermelha.
Eu corei. Pelo elogio e pelo presente. Foi estranho, pois não costumava agir dessa maneira diante dos elogios que recebia.
Levei a rosa até o nariz, a fim de tentar esconder o rubor em minhas bochechas.
- Obrigada. Pelo elogio e pelo presente. - falei, olhando em seus olhos, que brilhavam como mil estrelas aquela noite.
- Não há de que. É melhor irmos agora.
O caminho até o restaurante foi breve, conversamos durante o trajeto e eu tive que mentir mais sobre a minha vida de modelo.
me levou a um restaurante bem bonito e bem caro, como pude ver no cardápio. Mas acabamos nos divertindo muito, apesar do lugar não ser o tipo que eu costumava frequentar.
- , você é muito engraçada. - falou entre risadas. Estava contando para ele da vez em que entrei na casa errada por estar muito bêbada e quase fui parar na cadeia. Não é o tipo de história que se conta para um pretendente, eu sei.
- Acho que devemos continuar em outro lugar. - falei, levando em conta os olhares tortos que recebíamos.
- Os incomodados que deviam se retirar. - falou, percebendo o mesmo que eu. - Mas tudo bem, vou pedir a conta.
- Obrigado por hoje.
- Eu que devia agradecer, estar com você faz parecer que todas as minhas responsabilidades somem. - ele falou. - Assim como ontem, eu me diverti muito, mas ainda está cedo. Eu ouvi falar que tem um parque de diversões aqui perto, parece o tipo de coisa que você gosta. O que acha?
- Eu adoro parques de diversão! - falei, empolgada demais, o que fez rir.
Embora ter dito que o parque de diversões era perto, andamos por vinte minutos de carro. O que foi bem divertido, pois cantamos um pouco, o que me surpreendeu, pois parecia um cara certo demais. Pude contar a ele sobre a minha obsessão por livros e café. Ele, por sua vez, disse amar chá e quadrinhos, o que me surpreendeu mais uma vez.
- Quem diria, lê quadrinhos.
- Por que parece impressionada?
- Você não parece o tipo que lê quadrinhos.
- Sério? E que tipo eu pareço ser?
- Eu diria que você é daqueles que vive trabalhando e provavelmente transa com a secretária nas horas vagas. É super organizado e não costuma se divertir muito, pelo que eu pude perceber.
- Acertou quase tudo. Agora é minha vez. - ele disse, direcionando o olhar para mim por um instante.
- Você é aquela garota rebelde que acha que pode fazer o que quer só por que já é maior de idade, vai a festas todos os dias e não gosta de ter responsabilidades, por isso escolheu ser modelo, já que não é algo fixo. Sua casa deve ser tão bagunçada quanto a sua vida.
- Uau. Você é bom.
- Eu sei. – falou, saindo do carro e abrindo a porta para mim logo em seguida.
O restante da noite não tinha como ser melhor, nos divertimos muito nos brinquedos, e até tentou ganhar algo numa barraquinha de tiro ao alvo para mim.
- Desculpa destruir todos os seus sonhos, mas você é péssimo na pontaria. – falei, enquanto tentava acertar o alvo pela quinta vez.
- Obrigado pelo apoio. – falou irônico.
- Não há de que.
- ISSO! EU DISSE QUE IA CONSEGUIR! O que você vai querer?
- Hm, aquela coroa ali
- Mas ela é de plástico
- Eu sei, gênio. – falei, pegando o prêmio que o vendedor me estendia e o colocando da cabeça. – É só que eu nunca me senti uma princesa, talvez seja bom me sentir assim por uma noite.
- Você é uma princesa, . Mesmo sem coroa.
- Como sabe? Você nem me conhece. Eu posso ser a bruxa má dos contos.
- Uma bruxa má não me faria sentir especial como você faz. – ele falou, logo exibindo aquele sorriso que me derretia por inteiro.
E eu o beijei. E de novo. E mais uma série de vezes. Até que em algum momento nós estávamos no carro indo em direção ao hotel dele.
Acordei primeiro que , sorrindo boba ao olhar para o lado e me deparar com o cara que me deu a noite mais perfeita de todas. Mas logo toda a realidade caiu por cima de mim. Ele é rico, você não. Você é só uma puta que trabalha num pub de Londres. Na verdade você só é uma puta desempregada. E mentirosa. Você não está apaixonada. Fitei a coroa no criado-mudo.
não é uma princesa.
Me vesti rapidamente, saindo daquele lugar o mais rápido que consegui, largando a coroa e para trás.
Mas quando estava prestes a sair do hotel, algo me impediu.
- Aonde a princesa pensa que vai sem a sua coroa?
- , não estamos num conto de fadas. Eu só estava facilitando as coisas para você.
- O quê? Facilitando o que ?
- Eu já sabia quando você acordasse iria inventar uma desculpa, só agilizei o processo. – dei de ombros.
- eu não sou esse tipo de cara. – ele falou, parecendo ofendido. – Não acredito que pensou isso de mim.
- Foi mal, achei que estivesse deixando tudo mais fácil.
- Pare de dizer isso e aceite tomar café comigo.
- Não dá pra recusar o pedido de um cara descalço e sem camisa num hall de hotel. – respondi, uma ponta de humor contida em minha voz.
*
me deixou na porta do hotel às três da tarde, me fazendo prometer que manteria contato.
- Eu vou estar em Giverny em dois dias, é só me dizer que você pode ir que eu consigo te tornar a modelo. Fica a menos de duas horas daqui. Você já falou com sua agente?
- Eu falei... Ela vai te ligar hoje. – falei, meio incerta se devia continuar mentindo. – Tenho que ir. – Sai do carro sem dar-lhe a chance se falar mais alguma coisa.
As meninas quiseram me sondar sobre o que aconteceu no encontro, mas só contei para onde ele me levou e o obvio, que nós transamos. Tive que contar da coroa, eu queria guardar só para mim, mas as duas não me deixaram em paz até saber por que eu cheguei com uma coroa de plástico na cabeça.
Almoçamos em uma lanchonete próxima ao hotel e depois fomos até a lavanderia. No caminho contei a sobre a proposta de para que eu modelasse. Mas decidi que iria me afastar dele antes que a mentira fosse tomando proporções maiores.
Porém não pretendia me deixar em paz.
“Já pensou na minha proposta?” “Quando vamos nos ver de novo?” “Porque está me ignorando?”
Estávamos voltando da lavanderia, depois de ler todas as mensagens de . Eu finalmente havia tido coragem para acabar com tudo. Digitava uma mensagem para ele dizendo que o trabalho de modelo não ia acontecer quando me cutucou.
- A recepcionista está nos chamando.
- Vocês precisam assinar essa condicional. Todos os hóspedes que ficam no hotel por mais de três dias tem que seguir o procedimento.
- Tudo bem, eu posso assinar. – disse, pegando a caneta que a mulher lhe estendia. - SETECENTOS EUROS? , você nos disse que o hotel não era tão caro.
- Algum problema senhoras? - a recepcionista nos perguntou desconfiada.
- Nenhum. - foi curta.
- Eu acho que estava um pouco bêbada quando fiz o check-in. - tentei me defender.
- Acho que a gente consegue pagar, mas ai não vai sobrar dinheiro nem pra voltar pra casa.
- Vou aceitar o emprego, o cachê é bom, a gente vai conseguir se virar.
- Ok.
“Falei com a minha agente, acho que o trabalho vai rolar. Ah, desculpe por não ter respondido antes, estava trabalhando. Xx ”
“Que incrível , mal posso esperar para te ver de novo. Peça para a sua agente me ligar, por favor xX ”
ligou confirmando tudo para . Nós iríamos passar a noite sozinhas no hotel por falta de dinheiro pra sair, mas nos convenceu a entrar de penetra em mais uma festa, onde acabei bebendo demais. Até que um número desconhecido me ligou.
- Alô?
- ? Aqui é o ... Tudo bem aí?
- ! Eu ‘to – solucei. – ‘to ótima, eu só bebi um pouquinho. Ah, por falar em beber a sempre fica bêbada e acaba te chamando, sabia? Por que... - outro soluço. – Por que você não vem pra cá? ESTAMOS EM PARIS. E eu preciso da sua ajuda, a gente ‘tá quebrada e tem que viajar de novo até Galine, Gabidy... Sei lá. Ah ! Eu preciso te contar uma coisa, eu acho que ‘to apaixonada, mas shhh não conta pra ninguém.
- calma, respira um pouco... Que história é essa da me chamar quando ‘tá bêbada?
- É, ela te chama sim. Ela insiste em negar, mas eu tenho certeza que ela ainda gosta de você.
- E vocês estão em Paris?
- Sim, mas vamos embora amanhã. Eu vou encontrar o meu amor porque EU SOU UMA PLIINCESA! - falei numa péssima imitação de voz infantil. - Não sou uma vadia, sou uma princesa. Ouviu bem?
- Sim, . Agora me ouça, estou indo pra aí agora. De carro. Chego daqui algumas horas. Promete que não vai esquecer-se disso?
- ‘Tá bom, tchau !
Acordei de repente e a primeira coisa que me lembrei foi da conversa que tive com ontem. Eu posso ser uma bêbada, mas sou uma bêbada consciente.
“Onde você está?” "Acabei de entrar na cidade. Você se lembrou, estou impressionado. Onde vocês estão?” “Não me subestime. Estamos no Lê Bristol, quando você vem?” “Chego aí em uma hora”
- Meninas, acordem! Já é quase meio dia, a gente tem que desocupar o quarto. – falei, me levantando - AI RESSACA DO CARALHO. LEVANTEM ESSAS BUNDAS GORDAS, ANDEM! PUTA MERDA MINHA CABEÇA TA DOENDO MUITO.
- e seu bom humor matinal.
- e seu sarcasmo matinal.
- Xeque-mate.
Cuidei da minha ressaca, tomei banho, e tratei de arrumar minhas coisas na mochila. Nosso dinheiro acabou ficando praticamente todo naquele hotel. Ao meio dia nós estávamos sentadas na calçada do Lê Bristol.
- E agora? Não temos dinheiro para chegar em Giverny.
- Fica tranquila, , eu arrumei uma carona para nós. Já deve estar chegando.
- Quem você chamou?
- Você já vai descobrir.
chegou alguns minutos depois, deixando completamente vermelha, mas ela não pode recusar a carona.
A viagem foi rápida, e apesar de ignorar a presença de , conseguimos nos divertir.
Encontramos e no hotel e jantamos todos juntos. e começaram a se entender, e trocavam olhares nada inocentes e não largava a minha mão por nada, vira e mexe me roubando beijos. Parecíamos um casal de namorados, e eu estava adorando tudo aquilo.
Tirar as fotos foi razoavelmente fácil, gastamos um dia inteiro e eu me cansei de tanto trocar de roupa, definitivamente, ser modelo não era para mim.
me levou a um segundo encontro no terceiro dia em Girveny, mas dessa vez eu fui com meu velho par de all stars ao invés dos saltos. E foi incrível, continuou sendo maravilhoso comigo, como nenhum homem nunca foi.
Tivemos um encontro de casais naquele dia, em um karaokê bem retrô que encontramos na cidade. Aquela foi uma das melhores noites de toda a viagem.
- , SEU CELULAR ESTÁ TOCANDO. - gritei para ele ouvir do chuveiro.
Eu estava no quarto dele depois de mais uma noite incrível, já era bem tarde.
- ATENDE PRA MIM! - ele gritou de volta.
Estiquei-me a fim de pegar o aparelho, o atendendo logo.
- Alô?
- Quem é que está falando? - uma voz do outro lado perguntou.
- . E quem é você?
- Megan Smith. Agora você quer, por favor, chamar o meu noivo?
- Noivo? Ele está ocupado, digo para ele que você ligou. – desliguei sem mesmo deixá-la responder.
- . eu acho melhor você não atender o...
- Tarde demais, , a sua noivinha quer falar com você.
- , por favor. Eu posso explicar.
- NÃO! Eu não quero saber de explicações. Estava viajando e achou uma puta pelo caminho, não é? “Não sou esse tipo de cara”. Não é? Na verdade você é pior que eles. Ao menos eles não têm noivas, não é, ? Eu já devia saber, nenhum cara quer uma mulher como eu.
- , isso não é verdade. Qualquer um quer alguém como você. Você é incrível, é modelo, divertida e...
- PARA! EU NÃO SOU NADA DISSO! Sou só uma qualquer que trabalha num pub em Londres pra pagar as bebidas que a mãe se recusa. Sou só uma garotinha rebelde e irresponsável que falta ás aulas da faculdade só pra se divertir. E sabe o que mais? Eu não me importo com você ser noivo, eu não me importo com nada.
- , me escuta. – disse, pegando em meu braço, mas eu me soltei rapidamente.
- Espero que seu casamento seja bom. Adeus, .
Você não está apaixonada.
- AÍ MEU DEUS, EU TÔ APAIXONADA SIM! A quem eu queria enganar?
- Calma, , você não deixou o cara explicar. Vai ver ele nem está noivo de verdade.
- Ele está noivo sim, , eu ouvi bem aquela mulher falando. E ele ainda saiu do banho todo assustado dizendo que não era pra atender ao telefone, já sabia que poderia ser a queridinha dele.
- Calma, , respira! Ai meu Deus, não chora, . – disse, tentando me acalmar.
- EU ‘TÔ COM MUITA RAIVA DAQUELE MENTIROSO! – falei, limpando minhas lágrimas com força. – Quer saber? Eu estou bem, eu só preciso de álcool e de uma música que seja mais alta que os meus pensamentos.
Giverny não é um lugar muito grande, por isso tudo o que conseguimos encontrar foi um pub e a música não era lá muito boa.
Bebi muito, mas não a ponto de esquecer . Fingi que estava tudo bem e que nada me afetava. Terminei a noite chorando na banheira do hotel, com maquiagem escorrendo pelo rosto e a visão turva por conta da bebida. Felizmente consegui tomar banho e me deitar na cama sozinha, não percebendo que dormia por cima de um papel.
“Oi ,
Já que você não atende as minhas ligações e nem responde minhas mensagens, eu tinha falar com você de algum jeito.
É verdade, eu estou noivo. Mas é apenas por ser conveniente. Nossas famílias unidas se tornariam mais ricas. Eu não a amo, nunca amei. Mas eu nunca encontrei alguém que me amasse verdadeira e profundamente. Então aceitei esse acordo.
Desculpe por mentir, eu não sou esse tipo de cara mesmo, mas você fez eu me sentir mais jovem, mais vivo. Essa foi a melhor semana da minha vida, e eu já te disse isso, muitas vezes. Assim como disse que você é uma princesa, e eu não menti nenhuma das vezes.
, eu acho que estou apaixonado, como nunca estive antes. É incrível como somos exatamente o oposto, mas você parece tão certa para mim. Sei que há um mês atrás nenhum de nós sonhava em se apaixonar, mas foi inevitável não me encantar com o seu sorriso e não me perder no lago calmo que são seus olhos. Você desperta o melhor em mim.
Eu me caso em Milão em dois dias, mas eu largaria tudo por você, todo o dinheiro do mundo, só basta você dizer que faria o mesmo por mim.
Sei que pode achar que uma semana não é o suficiente para se amar alguém, mas eu te amo. Espero que o que você sinta por mim seja o suficiente para lutar por mim.
Eu aceitaria ser seu príncipe, mesmo que em um pub de Londres, mesmo com seus pares de all star ao invés de saltos altos, mesmo que você prefira beber cerveja ao invés de chá.
Com amor,
.
- Precisamos chegar à Milão amanhã!
- Calma, , o que foi?
- não pode se casar. – falei, já colocando a mochila nas costas.
- O que houve? Você parecia tão bem ontem. Até acreditei que você não se importava mesmo.
- É, mas eu me importo. Cadê o para me levar até lá?
- Ele está com a , mas é melhor você se acalmar primeiro.
- , já são cinco da tarde e o se casa amanhã, eu não posso me acalmar.
Bati na porta do quarto de e me atendeu.
- Arrumem suas coisas, estamos indo para Milão.
- E esse trânsito que não anda? – falei aflita, já estávamos à muito tempo parados em um engarrafamento.
- Tem neve impedindo a passagem, , se acalma.
- pode estar se casando agora, , não me peça para ficar calma. DROGA! POR QUE ELE TINHA QUE SE CASAR NO INVERNO? – gritei frustrada. – JÁ SEI! , peça o endereço da igreja pro e me envia por mensagem de texto.
- O que vai fazer?
- Vou andando até lá. – falei, já saindo do carro e começando a correr. Corri por alguns quarteirões, morrendo de cansaço, mas conseguindo chegar a tempo.
- PARE ESSE CASAMENTO! – falei, e logo um coro de ‘Oh’ foi ouvido. Rolei os olhos.
- ! – gritou, correndo em minha direção. – Você veio.
- Eu te amo, verdadeiramente e intensamente. Amo quando você me abraça, amo o fato de que você me faz sentir especial, amo o quanto nossas mãos se encaixam, amo seu sorriso e a sua voz. Eu quero lutar por você, por nós.
me beijou logo em seguida, aquele beijo marcou o começo do nosso amor.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? , LARGE ESSA MULHER E VOLTE PARA O ALTAR AGORA. – uma mulher surgiu gritando, tirando de perto de mim.
- Não vou mais me casar, mãe. Não com Megan, eu amo a .
- Isso é inadmissível, você vai levar nossa família à ruína. Essa garota não deve ter nem onde cair morta.
nada disse, pegou minha mão e me puxou para fora da igreja, deixando para trás muitos olhares de indignação, comentários malvados e uma mãe furiosa.
*
Para terminar a noite bem, todos nos reunimos em uma balada. e eu dançamos muito, e nos beijamos tanto quanto. Tudo estava indo as mil maravilhas, e finalmente haviam se entendido. e estavam praticamente se engolindo.
Até que a música parou e surgiu ao lado do DJ, alguns murmúrios foram ouvidos, até que ele começou a falar.
- , eu sei que você gosta de se divertir. Então eu não podia achar lugar melhor para fazer isso. – ele desceu e veio caminhando até mim. – Quer ser minha namorada? – ele se ajoelhou na minha frente, me estendendo um colar.
Me ajoelhei na sua frente, lhe dando um beijo cálido e aceitando o presente, respondendo sim num sussurro próximo ao seu ouvido.
- O colar continha dois pingentes, um com o formato de coração e outro com formato de coroa.
- Quero que seja minha princesa para sempre.
*
- Nos vemos daqui há uma semana? – disse enquanto me prendia em um abraço.
- Tem certeza que não quer ir conosco?
- Não posso, tenho que me resolver com a minha mãe. Eu tinha ido pra Brighton aquele dia pra compensar o natal longe dela por conta da minha lua de mel, agora já viu.
- Tudo bem.
- E você, tem certeza que não quer pegar um avião? Eu posso pagar a passagem de todos.
- Preferimos ir de carro, tenho a impressão que vamos nos divertir muito mais sobre quatro rodas.
- Está bem, se cuida. – ele falou, me dando um beijo de despedida. – Te amo.
- Te amo.
*
Passei o natal com meus pais, o que foi uma surpresa, já que eles não se suportavam desde a separação. Consegui me acertar com eles, percebendo que poderia ir à faculdade sem abrir mão da minha vida social. Minha mãe aceitou que eu trocasse de curso, e meu pai prometeu que não me deixaria mais.
Terminamos o ano na praia de Copacabana, no Brasil. Assistindo maravilhados a queima de fogos, aquele havia sido um ano incrível, eu me lembraria dele eternamente.
Fechei os olhos, respirando fundo. Sorri com uma lembrança.
“, você também devia achar um namorado, o amor da sua vida.”
estava certa, acabei encontrando o amor da minha vida.
- No que está pensando? – perguntou, me abraçando por trás.
- Em como esse ano foi bom. – falei, me virando para ele. – Sou sortuda por ter conhecido você.
- , ME SALVA! O QUER ME JOGAR NO MAR. - olhei na direção dos nossos amigos, sorrindo ao constatar que carregava , ameaçando a jogar no mar.
They just wanna...
- Também conheci e , sinto que eu e as meninas estamos completas agora.
- AAH, , ME SOLTA! – gritou, agora é quem a carregava em direção ao mar.
They just wanna...
Fechei os olhos, ouvindo o som de suas risadas. Sabendo que aquela era minha família. Senti alguém me erguer do chão.
- Agora é sua vez! – disse.
- AH NÃO! , ME AJUDA. – falei entre risos. - EU AMO VOCÊS!
They just wanna have fun.
Fim.
Nota da autora: (27/12/2015) Whats up? Espero que tenham gostado!
Eu estou muito feliz por ter participado dessa novidade, é a minha primeira história, e eu não podia ter escolhido jeito melhor para começar. Meu pai costumava ouvir essa musica quando eu era criança, ela tem um significado muito grande para mim. Quero lhes desejar um feliz 2016. E obrigada a equipe do ffobs que dá espaço para histórias como essa, para autoras como eu. See Ya!