O rosto dele era tudo o que ela precisava ver naquela noite, o sorriso dele era o que ela esperava encontrar entre tantos outros na plateia, no entanto, só havia um lugar onde ele estaria, e este estava vazio.
Vazio também ficou o coração dela quando a realidade a tomou, ele havia tomado sua decisão, ela estaria sozinha dali pra frente.
E agradecendo mais uma vez a presença de todos os fãs, deixou o palco quando as luzes se apagaram.
You can turn my lights out.
desceu as escadas do palco e parou para entregar o retorno e microfone para a equipe técnica. Aquele show havia sido maravilhoso, as pessoas não mentiam quando diziam que os fãs brasileiros eram os mais empolgados, mas era realmente um país muito quente e depois de quase duas horas dançando e cantando para milhares de pessoas, tudo que ela queria era tirar aquele figurino e tomar um bom e relaxante banho. Ela agradeceu sua equipe técnica mais uma vez e continuou o caminho até o seu camarim, para sua surpresa não havia ninguém no caminho e ela aproveitou para tomar o tão desejado banho.
Normalmente ela esperaria por sua maquiadora para retirar os cílios postiços e toda a maquiagem, mas naquele dia só um pensamento ecoava em sua mente desde o momento em que acordara: . E por causa disso, ela não se importou de sair em seu roupão branco, super macio, com uma cara de panda, o que ela não esperava, entretanto, era que toda a sua equipe estivesse no seu camarim quando saísse, e muito menos que estourassem aquela garrafa de champanhe.
- Mas o quê? - ela perguntou confusa, porém com um sorriso nos lábios e recebeu uma taça de Dean, seu melhor amigo, guitarrista e violonista.
- Hoje é dia de comemorar, . - ele respondeu servindo outros membros da banda, equipe e dançarinos, com a ajuda de Cian, o baterista.
- Isso eu entendi, Dean. - ela mostrou a língua pra ele. - Eu quero saber o que vou comemorar estando linda assim.
- O melhor show dessa turnê, é claro. - Lisa, uma das dançarinas respondeu. - Foi incrível.
- Foi mesmo. - Amy, outra dançarina, concordou com a cabeça. - Temos que comemorar que é o último aqui no Brasil também.
As doze pessoas presentes levantaram as taças e estavam prestes a brindar quando outras três mulheres entraram na sala.
- Cohen! - Lauren gritou. - Posso saber porque você não me esperou para tirar essa maquiagem? - Lauren sabia ser bem intimidante e todos permaneceram em silêncio.
- Hoje não, Lauren. Hoje é comemoração. - a estrela sorriu levantando a taça.
- E o que exatamente estamos comemorando? - a maquiadora perguntou, aceitando uma taça que Cian segurava.
- Não é óbvio? - , a produtora e melhor amiga tinha um sorriso orgulhoso no rosto.
- Com certeza não é pelo cabelo que está embaixo daquela toalha torcida. - Katherine, a cabeleireira, disse baixo, mas ainda sim todos ouviram e riram do comentário.
- Acabamos de realizar o 200º show dessa turnê. - continuou como se não tivesse sido interrompida. - O que significa que com mais 50 apresentações nós finalizamos a Love Goes On.
- Confesso que não sabia desses números, mas nunca é demais agradecer a cada um de vocês. Sem vocês, Love Goes On não seria a mesma. Muito obrigada. - finalizou e ergueu sua taça e todos os presentes repetiram o ato, gritando e comemorando.
- Aonde pensa que vai? - Dean segurou pelo braço com um sorriso enorme no rosto. - Só porque não está mais com cara de panda acha que pode ir saindo assim?
- Claro, só vocês podem ver a na versão acabada. Para o resto do mundo eu sou sempre impecável, querido. - mandou beijinhos no ar e continuou seu caminho.
- Eu estou falando sério, . Não vai comemorar com a gente? Hoje é um marco histórico na sua carreira e, de certa forma, para todos nós. Vamos para o bar do hotel, os seguranças não vão deixar ninguém te perturbar.
- Você fala como se eu fosse uma dessas artistas mesquinhas, você sabe que adoro meus fãs, se não fossem por eles nada disso aqui existiria.
- Então pronto, podemos ir.
- Dean, deixa a em paz. - usou o tom autoritário. - Não a faça ficar com a consciência pesada, você é especialista nisso.
- Poxa, …
- Sem esse rostinho bonito para me convencer, Gibbons. vai para casa hoje. - as duas trocaram um sorriso.
- Mas temos outro show em quatro dias e ela vai para San Diego?
- Quer mesmo me falar sobre a agenda de shows? - deu um sorriso sarcástico. - estará de volta até a próxima apresentação, na Argentina. Não que seja da sua conta, é claro. - Dean rolou os olhos com a implicância da produtora.
- Posso, pelo menos, me despedir da minha amiga? - usou um tom inocente que nada tinha a ver com ele.
- , você tem dois minutos para aparecer no carro. - a cantora concordou com um aceno e continuou seu caminho até a saída.
- Fala sério, como você consegue ser amiga da Moore? - Dean olhou para a amiga como se ela fosse um alienígena.
- Eu não entendo é como vocês podem ser assim um com o outro, e você está desperdiçando seus dois minutos com isso. - ela ponderou.
- Aproveite seus dias em casa. - ele a abraçou apertado. - Como vou suportar o Cian e a sem você por aqui?
- Você ama o Cian, nem vai sentir minha falta. - beijou a bochecha do amigo. - Agora eu preciso ir, te vejo na quinta. - acenou um tchau e correu pelo corredor, o carro já estava ligado e entrou em movimento assim que entrou.
Dean e eram amigos desde o ensino médio, se conheceram por acaso num show de talentos da escola. Dean se apresentara com outros garotos na tentativa de formar sua segunda banda, já que a primeira tentativa tinha sido frustrada, tocaram All The Small Things do Blink 182 e se apresentara sozinha, tocando teclado e cantando sua versão de I’ll be de Edwin Mccain. Foi o suficiente para Dean Gibbons se apaixonar pela voz da garota e convidá-la, alguns dias depois, para um luau na praia de Santa Bárbara, cidade de ambos. Nesse dia ele provou a teoria de que os dois formavam uma boa dupla musical e que tinham o mesmo sonho, deixar Santa Bárbara e viver da música.
Diferentemente dos pais de Dean que apoiavam e encorajavam o filho a seguir seus sonhos, os pais de eram totalmente contra. Para eles, ela deveria se formar, entrar em uma boa universidade e ter uma carreira sólida e promissora como o irmão, algo de respeito e não algo que ela pudesse passar fome tentando alcançar. Mas a verdade é que eles nem mesmo tinham ideia do quão boa a filha deles era.
Alguns dias depois das aulas, mentia para os pais dizendo que estaria estudando com amigos quando na verdade passava as horas na casa de Dean ensaiando músicas, aprendendo algum instrumento ou até mesmo se aventurando em escrever alguma letra. Quando dizia aos pais que iria em alguma festa ou bar com os amigos, na realidade ela se apresentaria com seu melhor amigo. Não ganhavam muito, mas o que ganhavam servia para adaptar o mini estúdio na casa de Dean e a satisfação ao verem as reações das pessoas nas apresentações deles era incomparável, era a certificação de que estavam no caminho certo.
Quase um ano depois de se conhecerem, foram convidados a se apresentar na festa de aniversário da cidade, algo que não deu para esconder dos pais da garota e levou a primeira grande briga entre eles. Mas não se deixou abater, continuou ensaiando com o melhor amigo dia após dia e se surpreenderam com o resultado alcançado ao final da apresentação. Aquela com certeza havia sido a melhor da dupla até então e isso não passou despercebido por Moore.
Nessa época era apenas uma estagiária numa grande produtora musical, e tentando surpreender o chefe, havia decidido que passaria as férias fora de Los Angeles e viajaria por toda a Califórnia se fosse preciso, mas encontraria algum artista bom e a faria conseguir a promoção antes dos outros estagiários. Por sorte, no dia da festa ela estava em Santa Bárbara e a mesma ficou maravilhada ao ver aqueles dois no palco. Em pouco tempo ela tinha percebido que eles eram muito talentosos e tinham uma conexão que a levou achar que eram namorados, coisa que nunca foram.
esperou pelos dois na saída do palco e depois de pouco tempo de conversa combinou com os amigos que os ajudaria a produzir uma boa demo no dia seguinte e assim que retornasse ao escritório mostraria para o chefe. Gravaram três músicas no pequeno estúdio de Dean, dois covers e uma original, e a aspirante a produtora tinha se encantado ainda mais com eles, os deixando esperançosos por um possível retorno de contrato. E o mesmo veio duas semanas depois, em um e-mail da gravadora, os convidando para uma amostra ao vivo em 4 dias.
Mais que depressa os dois arrumaram as coisas e no dia seguinte embarcaram em um trem para Los Angeles. A viagem durava exatamente duas horas e quarenta e seis minutos, mas a empolgação era tanta que eles não conseguiram cochilar nem por um minuto. Com o dinheiro que eles vinham juntando conseguiram um quarto em um hotel para dividirem nos dias que estariam por lá e, apesar de tentar focar completamente na apresentação que fariam em breve, estava dividida, pois além de não ter o apoio da família, eles haviam brigado de verdade pela primeira vez.
Dean confiava completamente em sua dupla e conseguiu convencê-la de que era só uma questão de tempo para que os pais dela percebessem o real potencial e passassem a apoiá-la. Ensaiaram bastante e sabiam que não haviam desapontado , pelo enorme sorriso estampado no rosto dela. A equipe pediu um tempo aos dois para discutirem a decisão final e antes do esperado voltaram com um contrato em mãos, mas quando viram sibilar um “sinto muito” se entreolharam e o aperto do braço de Dean nos ombros da amiga se intensificou.
O chefe de tomou a fala e explicou que eles queriam sim contratá-los, porém a estrela contratada seria e caso Dean aceitasse ele seria um membro da banda dela. Eles reconheciam todo o talento dele, porém no momento o que o mercado precisava era de uma nova cantora e não de uma dupla. A reação imediata de foi recusar, mas o amigo pediu um tempo a sós com ela antes de uma decisão final e então voltaram a ficar sozinhos na sala.
- , o que você está fazendo? - ele a encarou boquiaberto.
- Dean, nós chegamos aqui juntos e se não querem nós dois eles não vão ter nenhum. - ela disse séria. - Vamos achar alguém que aceite nós dois.
- , eu não vou deixar você simplesmente jogar essa oportunidade fora. É praticamente uma oportunidade única e você ouviu ele dizendo, eu posso fazer parte da sua banda, ainda vamos estar juntos. - ele argumentou.
- Mas não é a mesma coisa e você sabe. - ela permanecia com os braços cruzados.
- , eu já disse que tudo bem por mim. Por favor, aceite. Caso não dê certo, a gente pensa em outra coisa depois.
- Tem certeza disso, Dean? - ela procurou por alguma incerteza nos olhos dele, mas ele estava determinado.
- Claro que sim.
- Tudo bem então. - ela se deu por vencida e não evitou de sorrir quando ele a abraçou e a tirou do chão por alguns segundos.
Depois de quase quatro meses morando oficialmente em Los Angeles e trabalhando arduamente com a banda recém escolhida, recebeu um envelope de uma firma de advocacia de San Diego, pedindo que a mesma entrasse em contato o mais rápido possível.
Curiosa para saber o que o tal que assinara o documento queria com ela, retornou no mesmo instante e, embora muitas pessoas pudessem se surpreender com a notícia recebida, para ela era só a confirmação de que seus pais nunca a apoiariam. O advogado havia buscado contato com para explicar que seu pai havia formalmente a deserdado e que era direito dela recorrer, por acordo ou no tribunal. Sem querer prolongar toda aquela situação, a cantora concordou com tudo que o pai havia colocado no documento e na semana seguinte estava em San Diego para assinar os papéis.
O que ela não esperava era que o tal fosse apenas um estagiário, um estagiário muito bonito e uns três ou quatro anos mais velho que ela. havia pesquisado sobre a tal firma, e por ser bem tradicional e antiga, a única coisa que imaginou foram uns velhos. , por sua vez, não conseguia acreditar que um pai deserdaria uma filha por tão pouco e secretamente desejava que ela quisesse lutar por aquilo e que ele fosse o responsável, ganhando talvez uma promoção no emprego. Mas tudo isso foi esquecido no momento em que ele pôs os olhos nela. Ele havia sim tentado convencê-la a lutar pelo direito dela, mas muito mais para prolongar aquele encontro do que par ser promovido.
Ele tinha um charme diferente, alguma coisa que a deixara intrigada desde o momento em que haviam se conhecido, e foi justamente isso que a levou a aceitar o convite dele para um café naquele fim de tarde. Conversaram por horas sem se darem conta do tempo, não tinham quase nada em comum e ainda assim o assunto era interessante aos dois. sempre teve um lar rico, nascido e criado na cidade grande, apaixonado por advocacia, o negócio da família. Saber que a garota havia largado tudo para seguir um sonho o deixava fascinado, pois só tinha visto isso em novelas ou filmes.
Curioso para ouvir a garota cantar, eles trocaram telefone e ela prometeu enviar uma música para ele. Naquele mesmo dia eles trocaram centenas de mensagens e no dia seguinte, e no outro também. Logo as mensagens foram substituídas por ligações que posteriormente se tornaram visitas, e aquela amizade com curiosidade os transformou em namorados pouco tempo depois. Três anos depois, já era um advogado super requisitado na cidade e a carreira de era um sucesso bem maior do que ela sonhara um dia e o amor deles era cada vez maior.
Se casaram no ano seguinte, numa cerimônia apenas para familiares e amigos, por mais que ela tivesse convidado, e esperasse, seus pais e irmão não mandaram nem uma mensagem e naquele dia ela tinha enfim entendido que a família dela agora era ele. Eles haviam completado dois anos de casados recentemente, mas não põde estar presente, por isso ela havia organizado essa viagem surpresa com . Era a tentativa dela de comemorar a ocasião com ele, mesmo que alguns dias depois.
No caminho do aeroporto para a cobertura, pediu para que o motorista parasse no restaurante italiano preferido do casal para pegar os pratos que haviam sido encomendados por mais cedo. As quase 16 horas de voo tinham cansado bastante a cantora, mas ela já estava acostumada a não se abalar, encontrar o marido valia sempre a pena.
Tirou as botas de salto assim que entrou na cobertura, checou o relógio sabendo que ele voltaria do trabalho a qualquer momento e rapidamente arrumou a mesa do jantar, com direito ao aparelho de jantar mais chique e velas para acompanhar. Quando achou que estava bom o suficiente, correu para o segundo andar para tomar um banho e tirar o ar de viagem que estava impregnado.
Sem lavar os cabelos, para não estragar os cachos feitos por Katherine, tomou seu banho, colocou um vestido sexy na medida certa para a noite e fez uma leve maquiagem. Procurou seu melhor scarpin e deu uma última olhada no espelho antes de retornar para o andar de baixo, ansiosa pela chegada do marido. Abriu a bolsa que havia deixado em cima do aparador e retirou o pequeno envelope que continha o presente, um passeio romântico de balão para duas pessoas.
Vinte minutos se passaram e nem sinal dele. Checou o celular e não havia mensagens. Ligou a televisão para tentar se distrair e só percebeu que uma hora havia se passado porque o segundo episódio de Friends tinha terminado. Decidiu ligar, mesmo que aquilo significasse o fim da surpresa preparada, pois já estava incomodada com a falta de notícias do marido. Caixa postal. Tentou ligar no escritório, mas como ela imaginara, ninguém atendeu.
Ela estava bem frustrada por isso. O casal não tinha horários fixos para se falar, já que a rotina de era imprevisível e 90% das vezes era quem ligava ou mandava mensagem primeiro, mas era uma segunda-feira e ele não mencionara nenhum compromisso. Ainda sem resposta um tempo depois e com fome, se serviu e jantou, voltou para o sofá um tempo depois e acabou adormecendo devido ao cansaço.
No pouco tempo que dormiu, teve um sonho estranho, estavam só ela e num imenso corredor e ela tentava o alcançar, o chamar, porém nada surtia efeito, era como se ela fosse invisível para ele. Acordou com o barulho de chaves e demorou um pouco para conseguir enxergar algo no escuro.
- , é você? - perguntou se sentindo idiota no segundo seguinte quando as luzes se acenderam.
- ? - foi pego de surpresa ao ouvir a voz da esposa. - O que você está fazendo aqui? - ele perguntou enquanto era abraçado por ela.
- Vim comemorar nosso aniversário de casamento, já que na data eu não pude estar com você. - ela disse em tom de desculpa, sabendo que o marido tinha planos para a data que não puderam ser realizados. - Eu trouxe o jantar. - apontou para a mesa posta. - Mas como você demorou e não me atendeu, acabei comendo. - ela sorriu sem graça.
- Eu não sabia que você viria, acabei comendo com uns amigos do trabalho. - tirou a gravata do pescoço e o paletó.
- Era um risco a correr. - ela percebera que o marido ainda estava chateado com ela. Eles tinham discutido algumas vezes nos últimos meses, mas ela esperava que uma visita pudesse melhorar a relação. - Agarrei a primeira oportunidade de voltar para casa, alguns dias só com você… - ela aproximou sua boca da dele na tentativa de tirar o atraso dos beijos, mas mal correspondeu.
- Preciso de um banho. - disse sem emoção e seguiu para o segundo andar.
suspirou frustrada, em sua mente essa viagem seria uma perfeita reconciliação, mas seus planos não tinham sido bem-sucedidos por enquanto. Ela não desistiria assim tão fácil, ele podia sim estar magoado, ela não tiraria a razão dele por isso, era apenas o segundo ano de casamento e ela já havia quebrado a promessa que eles haviam feito quando decidiram se casar.
Enquanto ele estava no quarto, ela aproveitou para guardar as comidas e tirar a mesa e depois de perceber que ele não desceria para passarem um tempo juntos, pegou novamente o presente e seguiu para o quarto deles. estava deitado na cama assistindo um filme de ação que não fez muita questão de reparar, e mesmo assim ele não desviou os olhos da TV nem por um segundo. Se ele ia dar um gelo ou ser indiferente com ela, era perda de tempo dele, ela havia convivido com atitudes desse tipo por muitos anos com seu pai.
Trocou de roupa e se acomodou do lado dele na cama, ficou mexendo no celular enquanto o filme ainda passava, respondeu mensagens de Dean, e até umas zoeiras de Cian e somente quando desligou a TV foi que se manifestou.
- , eu sei que quebrei nossa promessa e nem tiro a razão de você estar chateado. - ele finalmente olhou para ela. - Mas eu trouxe um presente para você e não queria ir embora sem ter a oportunidade de te entregá-lo.
- Acha que vai me comprar com presentes, então? - ele pegou o envelope que ela havia estendido na direção dele.
- Se achasse isso, essa casa provavelmente estaria repleta de presentes. - ela murmurou e esperou que ele abrisse.
- Um passeio de balão? - ele perguntou e sorriu minimamente, o que não passou despercebido pela cantora.
- Sim. - ela assentiu. - Você disse no nosso primeiro piquenique que adoraria um passeio de balão. - foi a vez de ele assentir, lembrava-se perfeitamente desse dia. - Podemos marcar para a próxima vez que eu vier… - ela começou a dizer, porém foi interrompida por ele.
- Tem certeza que vai conseguir vir? - usou o máximo de ironia que conseguiu. - Não vai ter outro imprevisto?
- Vai realmente tratar sua esposa como uma criança? - a expressão dela demonstrava toda a indignação por ter ouvido aquilo.
- Vamos ser realistas, . Você não volta aqui tão cedo. - ele estava irritado, apesar do tom de voz ainda estar controlado.
- Vamos ser realistas, ! Você está agindo como um completo babaca! - gritou de raiva, não conseguindo mais conter as lágrimas. - Você acha que depois de 17 horas num maldito avião eu queria te encontrar assim? Olha para mim, . - ela voltou a gritar quando o marido desviara o olhar. A verdade é que ele não suportava ver uma mulher chorar, ainda mais sendo ela. - Olha para mim e me diz que você realmente acredita que eu fiz de propósito, que eu faltei ao nosso aniversário de propósito.
E isso simplesmente não podia fazer, porque seria uma mentira. No fundo ele sabia que estava usando esse fato para atacá-la quando na verdade uma série de outras coisas rondavam a sua cabeça e isso precisava parar, afinal de contas ele era um homem e honraria a pessoa que era.
- Eu sei que não, . - ele amansou ainda mais a voz. - Claro que você não fez de propósito, é só que…
- Que… - o incentivou a continuar. Ela sempre acreditou que o diálogo era a melhor saída em qualquer problema e com qualquer pessoa.
- Eu acho que preciso de um tempo, . - confessou e a única reação da esposa foi abrir a boca em choque.
- Você quer se divorciar?
- Não! - ele respondeu rapidamente. - Claro que não, . Eu só acho que preciso de um tempo para mim, preciso pensar. - ele suspirou se sentindo frustrado, não era assim que ele havia planejado essa conversa. - Eu andei conversando com um pessoal do trabalho e a verdade é que nós somos muito diferentes, nossas vidas são muito diferentes…
- E isso não é exatamente uma novidade. - o interrompeu e ele continuou como se não tivesse ouvido.
- Nossos mundos são diferentes, querendo ou não isso influencia nossas vidas. Você é uma estrela e eu me orgulho muito de você em vários sentidos, só que sua vida é lá, nos holofotes, nos palcos e nas premiações e eu nunca estou lá com você.
- Porque você nunca quis, ! Por Deus, você está me colocando no pior papel possível. - ela não conseguiria ouvir aquilo calada.
- Não é uma questão de querer, eu tenho um trabalho aqui, minha vida. - foi interrompido mais uma vez.
- Então acho que esse é exatamente o seu problema, . - ele a encarou sem entender. - A partir do dia em que nos casamos, nossas vidas que eram separadas passaram a ser uma, mas pelo visto só um de nós enxerga dessa forma.
- Não faça drama, . - ele a segurou pelo braço quando ela ameaçou se levantar. - Pensa comigo, tivemos uma série de eventos importantes da empresa e eu sou o casado cuja mulher nunca o acompanha, na mesa dos casados não dá pra ficar sem realmente ser casado e também não consigo sair com os solteiros porque eles acabam a noite com alguém e, antes que você pergunte, eu jamais te trairia, esse tempo não tem a ver com mais ninguém.
- Talvez você realmente precise se encontrar nessa sua crise sem sentido. - as lágrimas ameaçaram cair novamente, então soltou o aperto de , saiu do quarto e descia as escadas correndo quando a segurou novamente.
- Aonde você vai?
- Te deixar sozinho, não é o que você quer?
- Mas você acabou de chegar.
- Péssima ideia, eu percebi.
- Para com isso, !
- , se alguém procurou tudo isso, foi você. Você quer o seu tempo e eu vou voltar para turnê. - mesmo assim ele não a soltou.
- Fica, você deve estar exausta, eu vou procurar um lugar para mim. - ela não entendeu a do marido, mas estava bem cansada para fazer questão de entender. - Não vou conseguir colocar meus pensamentos em ordem se continuar aqui onde sou constantemente lembrado de você.
- Eu juro que estou tentando te entender, , mas isso é muito mais emoção do que eu esperava encontrar nessa visita. Você tem certeza de que é isso que você quer? - o advogado apenas concordou com a cabeça. - Se você está decidido, não creio que exista algo que eu possa fazer, mas não espere que eu vá ficar para sempre esperando pela sua decisão.
- , isso não é um fim, é só uma turbulência. Casais passam por isso e…
- Três meses. - ela afirmou depois um tempo.
- Três meses para o que? - ele perguntou tentando desvendar o pensamento dela.
- Você tem três meses para tomar uma decisão. Em três meses minha turnê acaba e eu ia tirar um bom tempo para passar com você, te enviarei um ingresso para o show e você pode me dar sua resposta final. Se quiser mesmo acabar com o casamento eu assino os papéis do divórcio. - e dizendo isso entrou no quarto de hóspedes e se trancou lá pelo resto da noite.
Não impediu que as lágrimas descessem e molhassem toda a fronha e também não se importou em saber se havia escutado o choro, ela não fazia ideia de onde ele ficaria e nem do motivo que o fez questionar tudo, o que ela sabia, no entanto, é que a vida de uma estrela não para e ela seria forte.
Quando saiu do quarto na manhã seguinte não havia sinal dele. Ela sentia como se seu coração estivesse esmagado dentro do peito e depois de um banho rápido ela deixou o apartamento com a pequena mala que havia trazido com ela no dia anterior. No caminho para o aeroporto ela havia trocado a passagem, mandou uma mensagem para avisando que voltaria antes e pedindo para que alguém a buscasse em Buenos Aires. Quando chegou no aeroporto, se forçou a tomar um copo de suco de laranja, não conseguiria disfarçar se chegasse lá péssima.
Tanto Dean quanto acharam estranho o fato de voltar antes do combinado, apesar de tudo Dean não escondeu a felicidade por ter a amiga de volta antes do previsto. Para evitar os questionamentos, ela havia bolado uma resposta dentro do avião, tinha uma viagem de trabalho no dia seguinte em Seattle e ela preferia voltar a ficar lá sozinha.
se tentou manter o mais ocupada que podia durante os dias, agradecendo por cada show, entrevista e aparições na TV que a mantinha com a mente ocupada. No entanto, quando a noite chegava e ela ficava sozinha em seu quarto ela chorava, já que não precisava fingir. No início o choro era mais constante, mas com o tempo ela conseguiu se controlar melhor, tentava ao máximo não pegar quartos vizinhos dos de ou Dean, evitando que eles ouvissem algo que os fizesse desconfiar.
Duas semanas depois, havia tido um ótimo show e tinha tido a oportunidade de conhecer uma fã de apenas 12 anos que havia escrito uma cartinha para ela, coisas assim ela gostava de compartilhar com , e lembrar que não devia ligar para ele causou um aperto maior do que ela tinha acostumado. Não ter notícias dele, não receber uma mensagem de bom dia ou boa noite, fazia mais falta do que ela gostaria de admitir. Mesmo que não se falassem por ligação todos os dias a sensação era outra agora que não sabia onde ele estava ou o que estava fazendo. Pensou em ligar ou mandar uma mensagem mais de uma vez durante a noite, mas se ele ainda não tinha feito nada disso e era ele quem queria espaço, ela se forçaria a respeitar.
No entanto, o sentimento de tristeza que se apossou dela naquela noite não foi embora no dia seguinte e Dean, conhecendo a amiga como conhecia, logo achou estranho ela não rir das brincadeiras de Cian no café da manhã. Durante o dia ele tentou a encurralar para obter respostas, mas tinha fugido do assunto todas as vezes, usando a desculpa de ter que se arrumar para o show daquela noite, ou aquecer a voz, ou qualquer outra coisa que não precisava ser feita naquele momento.
A penúltima música do setlist era Roses, uma música que emocionava muitos fãs e naquele momento ela respirou fundo, pois não seria fácil cantá-la com tudo que ela sentia. Inconscientemente trocou um olhar com Dean, era o olhar que transmitia força e positividade para ela sempre. A melodia tão conhecida começou a tocar e as palavras fluíram como sempre nos primeiros versos, logo sentiu o coração apertar e tentando disfarçar e evitar uma voz vacilante, ela levou o microfone ao público para que cantassem “I don't want to be alone tonight, I just want to feel you by my side”, e mesmo com eles cantando, ela sentiu um forte arrepio passar pelo corpo.
Seguiu a música da melhor forma que conseguia, e já quase no fim, não segurou as lágrimas quando cantou “oh love, I really need you now, so come on give it everything, give it all you've got cause I would give it all to have your heart come home” porque era a mais pura verdade para ela naquele momento. Ela queria de volta e ela realmente daria tudo para ter mais momentos bons como tantos outros que eles desfrutaram juntos ao longo dos anos.
Aquilo fora a confirmação que Dean precisava de que algo realmente estava errado e querendo que o show terminasse em grande estilo, ele improvisou antes da última música dando um tempo para se recompor. Rapidamente ela retornou ao palco e então finalizaram mais uma apresentação com a música mais importante da carreira. Após todos os agradecimentos, saiu do palco bem rápido, ninguém a viu por algum tempo e, embora não quisesse pressionar a amiga, ele se preocupava muito com ela, bem mais do que deveria.
Sem alarde, ele percorreu os camarins, banheiros e outras salas procurando por ela, que na verdade não estava escondida e sim deitada em cima de uma das macas de massagem. Ela não percebeu quando ele entrou no local, pois cobria o rosto com as mãos, mas ele percebeu que ela chorava silenciosamente.
- … - ele chamou baixinho, a fazendo tirar as mãos do rosto ao mesmo tempo que tentava limpar os vestígios do choro.
- Oi, Dean. - ela se esforçou para sorrir.
- O que está acontecendo?
- Só estou com umas dores no corpo, vim aqui para uma massagem. - ela tentou enganá-lo.
- Cohen, sem mais mentiras, ok? Sou eu, seu melhor amigo, e eu sei que tem algo errado. - ele segurou nas mãos dela, passando conforto. Ela suspirou. - É o , não é? - ela assentiu.
- Ele pediu um tempo, Dean. - ela fungou. - Ele saiu de casa no dia que eu fui de São Paulo à San Diego só para vê-lo.
- Mas vocês brigaram? - negou. - O que aconteceu então?
- Ele estava chateado comigo por ter perdido o aniversário de casamento, foi até por isso que dei um jeito de fazer a viagem, para tentar recompensar. Mas ele já chegou todo estranho e não tinha a ver com a surpresa por eu estar lá. Ele foi frio e… - ela limpou uma lágrima solitária que escorreu.
- , você acha que ele tem outra? Porque se tiver, eu juro que vou até lá só para dar um murro bem dado nele. - ela riu enquanto negava com a cabeça.
- Não, Dean. Você sabe que o não é disso, se fosse por causa de outra pessoa ele já tinha chegado logo com os documentos do divórcio.
- Então eu realmente não entendi nada. - confessou.
- Ele falou algumas coisas das pessoas que trabalham com ele, tenho a impressão que isso tudo foi influência dos amigos dele. Falou sobre as diferenças das vidas que vivemos, mas eu sei que não é esse o motivo. Nossas vidas sempre foram diferentes, ele sabia disso quando me pediu em namoro e principalmente quando me pediu em casamento.
- Mas no final das contas como vocês estão? - Dean perguntou num misto de curiosidade e esperança que não deveria ter.
- Estamos dando um tempo, mesmo que eu odeie essa denominação. Até o final da turnê vamos tomar uma decisão.
- Mas ainda temos uns dois meses pela frente! - ele exclamou. - Vocês vão ficar sem se falar por dois meses?
- Não, nós não temos 12 anos de idade, Dean. - ela, que havia levantado da maca, deu um leve empurrão no amigo. - Podemos nos falar, só não tenho o que falar.
- Agora eu entendi sua reação com Roses… - ele a puxou para um abraço e beijou o topo de sua cabeça. - Mas vai ficar tudo bem. Não esquece que estou aqui para o que precisar.
- Não esqueço, Dean. Obrigada. - se soltaram do abraço. - Acho melhor irmos para o hotel. Preciso muito de um banho e da minha cama. - ela riu.
- Realmente, seu cheiro não está muito bom. - fingiu uma careta e a cantora o xingou.
- Posso só te pedir um favor? - o olhou de uma forma que ele jamais seria capaz de negar.
- Sempre, . - ele sorriu.
- Não comenta nada com ninguém, por favor, nem mesmo com a . Quanto menos gente souber, melhor. - ela falou baixo só então preocupada com alguém por perto que pudesse escutar.
- Por quê? - ele olhou para a mesma direção que ela, notando que não havia ninguém ali.
- Porque apesar do jeito de durona, ela vai se preocupar mais do que o necessário comigo e isso vai acabar levantando suspeitas e fofocas e o que eu menos preciso agora é que isso caia em alguma revista ou site. - ela já tinha pensado sobre isso. Se as vidas diferentes era o que estava incomodando , sair em revista ou site de fofocas seria o fim.
- Tudo bem, tem segredo da minha parte, mas não sei se concordo com a sua decisão. - ela rolou os olhos.
- Só promete que não vai falar nada. - ela insistiu.
- Já prometi, mas repito. Não vou falar nada, . - ela sorriu satisfeita. - Agora podemos ir? - ela assentiu e eles saíram juntos do local do show pouco tempo depois.
tinha saído do banho há pouco tempo e penteava seus cabelos molhados quando ouviu batidas na porta. Se assustou, pois já era tarde e ela não havia pedido nada como serviço de quarto. Como estava com um pijama curto, vestiu o roupão branco por cima e foi até a porta sem fazer muito barulho e bufou ao olhar pelo olho mágico e ver que era Dean.
- Dean, que susto! - ela reclamou. - São quase duas da manhã, o que você está fazendo aqui? A te mata se vir você nesse corredor.
- Então me deixa entrar logo nesse quarto. - ele sorriu convencido e ela deu passagem a ele.
- O que foi? - ela o olhou curiosa pela expressão no rosto dele.
- Achei que você merecia algo para te deixar feliz…
- Cadê? - ela tentou olhar atrás dele. - Você sabe que sou curiosa.
- Sei, e é justamente por isso que você só vai saber quando sentar aqui e fechar os olhos. - ela rolou os olhos, mas sentou no local que ele indicara e fechou os olhos em seguida.
- Sem espiar, . - ele advertiu.
- Anda logo, Dean. - reclamou com um ar divertido e logo ele trouxe um carrinho típico de serviço de quarto e assim que colocou em frenteà ela pediu para que ela abrisse os olhos.
- Você não fez isso! - ela exclamou com os olhos brilhantes. Levantou de um pulo e o abraçou. - Eu amo fondue!
- Claro que fiz, e olha, você nem comeu ainda e já está bem mais feliz. - ele a cutucou para que voltasse a sentar na cama e comessem as frutas com chocolate.
- Como você arrumou isso a essa hora? - ela o olhou enquanto passava uma uva no chocolate derretido.
- Fala sério, você é Cohen, arrumar isso foi a coisa mais fácil da vida! - ela o empurrou pelo ombro. - Aposto que se dissesse a eles que Cohen gostaria de um sorvete de kiwi eles arrumariam em 2 minutos.
O plano de Dean havia sido um sucesso. , que realmente não tinha comido nada depois do show, tinha enfim se alimentado, tinha gargalhado de umas gracinhas que ele fez e agora estavam deitados na cama da garota assistindo Ela é o cara, um dos filmes preferidos de . Ela estava com a cabeça apoiada em seu ombro e ele mexia nos cabelos dela, ela não havia percebido, mas a maior parte do filme ele estava a observando. Secretamente ele desejava que eles sempre pudessem ficar assim, mas que fossem mais que amigos.
Ele não sabia quando tinha acontecido, mas o sentimento havia mudado sem que se desse conta. Quando começou a namorar e até quando ficaram noivos ele achou que era um ciúme bobo, afinal eles haviam se tornado praticamente irmãos, mas talvez Cian estivesse certo quando dizia que não existia amizade entre homem e mulher e que sempre um dos dois sempre teria sentimentos mais intensos que o outro. Ele só sabia que a partir do momento que contou que eles estavam dando um tempo, seu coração havia batido mais forte, existia uma esperança.
- Eu realmente amo esse filme. - ela declarou depois de um bocejo.
- Você sabe que se depender de mim você nunca teria um dia triste, né? - Dean tinha o sorriso lindo no rosto, mas dessa vez sua voz transmitia seriedade ao invés do tom brincalhão da maior parte das vezes.
- Obrigada. - agradeceu um pouco sem graça, sem entender o motivo. Talvez fosse a forma intensa que os olhos de Dean encaravam os dela.
- Você é tão linda… - ele disse baixinho e involuntariamente fechou os olhos apreciando o cafuné.
Dean aproximou seu rosto, não pensou muito, deixou ser guiado pelos instintos, e mesmo de olhos fechados, pôde perceber a aproximação. Abriu os olhos de uma vez e o empurrou antes que seus lábios pudessem se tocar.
- Dean? O que você… - ela estava confusa.
- , me desculpa. Eu… - ela negou com a cabeça mostrando que ele não precisava se explicar.
- Está tudo bem. - ela sorriu um pouco sem graça.
- Você ama o … Eu sei. - ele afirmou e apenas concordou com um aceno. - Acho melhor eu ir. Boa noite.
- Boa noite. - e com um beijo na testa dela, Dean deixou o quarto.
Nenhum dos dois tocou no assunto nos dias que se seguiram, foi como se aquele momento nunca tivesse acontecido, a amizade permanecia perfeita, no entanto foi a vez de desconfiar que estava escondendo algo. No final da passagem de show daquele sábado, chamou a cantora para uma conversa. Ela havia estranhado o comportamento da cantora em alguns momentos, mas o fato de ela quase não mencionar o marido e não ter pedido nenhuma vez para tentar encaixar uma viagem para casa durante o mês, a fizeram ter certeza que algo não estava certo.
não tinha motivos para esconder o que tinha acontecido, então contou toda a história com mais detalhes do que havia contado para Dean, já que uma conversa entre amigas pedia mais que isso. quis tentar ajudá-la, mas a única coisa que ela pediu foi para guardar segredo. A produtora insistiu para que mandasse uma mensagem ou até mesmo ligasse se tivesse vontade, talvez ele estivesse se sentindo da mesma forma, mas não tivesse coragem o suficiente para entrar em contato com ela. Para , essa não era uma alternativa viável. Mal sabia ela que não poderia estar mais certa.
Dois meses depois, num bar de esquina em San Diego, um homem que bebia sozinho estava bem arrependido de suas decisões. Na verdade, já havia se arrependido há algum tempo de ter dado ouvidos aos colegas de trabalho que na realidade não entendiam nada da sua vida e muito provavelmente tinham inveja da vida que ele tinha, e do casamento também.
não sabia muito bem o que ele queria, ele estava chateado por ter os planos estragados por não poder viajar na data e tinha sido muito influenciado pelos colegas de trabalho que diziam que ele tinha se casado muito cedo e que podia aproveitar muito mais. Segundo eles, nunca fazia nada divertido com eles pois era casado e isso era injusto já que a mulher dele nem estaria lá para ele no final do dia. Com tudo isso na cabeça, acabou dizendo aquelas coisas, mas ele não esperava que ela fosse aceitar tão facilmente. Não tinha certeza do que esperava, mas na cabeça dele, ela imploraria para ele ficar.
Trocar a cobertura que dividia com por um quarto de hotel não havia sido uma boa ideia também e a vontade de ligar para ouvir a voz dela tinha sido constante, porém ele não tinha segurança alguma de que ela ainda o queria. Para ele, se ela tivesse sentindo a falta que ele sentia, ela teria ligado, como fizera tantas outras vezes, no entanto reconhecia que no lugar dele, ele se sentiria quase rejeitado e faria a mesma coisa. Para completar, a bebida não ajudava a clarear suas ideias, ele só sabia que a queria de volta, mas estava sendo covarde demais para admitir os erros.
Foi embora não muito tempo depois, e encarando o teto do quarto de hotel em que estava vivendo, fez as contas e percebeu que poderia aguentar mais um mês, como haviam combinado, e até lá ele pensaria na melhor surpresa que um homem poderia fazer para sua esposa e os dois ficariam bem. Afinal de contas, ela havia prometido lhe mandar um ingresso.
já não tinha essa certeza, se pegava pensando no que estaria pensando, se seria nela, mas mais importante que isso era acreditar que ele tinha conseguido se encontrar e que dali a uma semana, no último show de sua turnê, em Los Angeles, eles poderiam enfim se reconciliar. entregara o ingresso reservado de na manhã anterior e desde então queria um tempo sozinha para que pudesse escrever uma carta para enviar junto com o ingresso.
Ela usava a contagem regressiva dos shows para contar também o tempo que faltava para rever o marido, e foi em uma das noites pensando nele que ela decidiu que escreveria uma carta dizendo tudo o que realmente sentia, porque a realidade é que ela não estava nenhum pouco preparada ou com vontade de se separar dele. Ela lutaria por manter seu casamento.
Imaginando que não voltaria ao apartamento tão cedo, acabou deixando o quarto do hotel e voltando a viver em casa, a saudade que sentia ainda era esmagadora, mas ao mesmo tempo voltar para lá era reconfortante. Ele imaginava que enviaria o ingresso para lá, já que não tinha entrado em contato para saber de outro endereço e não se surpreendeu quando viu um envelope com a caligrafia dela em cima da mesa.
- Claro que ela enviaria para cá. - ele murmurou se sentindo burro por não ter nem pensado nessa possibilidade.
Abriu o envelope com cuidado e a primeira coisa que retirou foi o ingresso brilhante com o nome dele, esperançoso por encontrar mais coisas, abriu um enorme sorriso ao retirar um papel dobrado de lá, era uma carta como tantas outras que ela já havia enviado para ele. Lembrou-se da vez que a questionou sobre escrever cartas para ele mesmo morando na mesma casa e ela lhe disse que as cartas têm uma magia inexplicável.
“Querido ,
É muito estranho te chamar assim ao invés de amor, mas isso não quer dizer de forma alguma que meu sentimento por você mudou. Na verdade é por isso que estou enviando a carta junto ao seu ingresso, estou contando os dias para ver você.
Confesso que não entendi muito bem o que aconteceu com a gente, foi muito inesperado e estranho, entendi que você precisava de um espaço e foi por isso que não liguei em nenhuma das vezes que tive vontade (e pode acreditar que foram muitas).
Espero que você esteja bem e que tenha encontrado as respostas que precisava, vou respeitar a sua decisão qualquer que seja. Sinto muito a sua falta e amo você!
Com amor,
.”
Ao terminar de ler, olhou para cima, evitando que seus olhos marejados escorressem e se sentindo muito estúpido pela situação em que havia os colocado. Ela havia dito que abriria mão da carreira por um ano só para ficar com ele. Ambos estavam sofrendo e longe sem nenhum motivo. Só então se lembrou que estava no trabalho, mas não se importou, naquele dia ele ia terminar os detalhes do seu plano para surpreender a sua esposa no dia do show, ele ia fazer com que o momento valesse a pena e fosse eternizado por eles.
estava uma pilha de nervos naquele dia e com sérios problemas para se concentrar. Claro que ela queria encerrar sua turnê de forma gloriosa, queria que o show fosse perfeito porque os fãs mereciam isso, mas a expectativa do reencontro com invadia seus pensamentos constantemente e roubava toda a atenção.
Já tinha algum tempo que queria incluir um cover no repertório, ela sempre achou divertido brincar com músicas de outros cantores, como ela e Dean faziam no começo, e considerou ser um diferencial bacana para o último show. No dia que escrevera a carta para ela havia sonhado que estava se apresentando e via na plateia, ela só tinha olhos para ele e tudo pareceu tão real que quando acordou repassou a cena mais de uma vez. Durante aquele dia ela se pegou cantando XO e propôs para a banda que ensaiassem, mas não ficou nada como ela gostaria e ela acabou desistindo de cantá-la.
Agradeceu quando finalmente apareceu no camarim, interrompendo os exercícios vocais e dizendo que ela precisava se arrumar. Lauren e Katherine fizeram um trabalho impecável, como sempre, mas o brilho da cantora naquela noite vinha da felicidade que ela transbordava. Com a ajuda dos figurinistas ela vestiu o traje azul daquela noite e se olhou no espelho extremamente satisfeita com tudo que havia realizado até ali. apareceu novamente com a contagem regressiva e ela deixou o camarim, encontrando Dean parado ao lado da escada.
- Ei, a banda já deveria estar no palco, o que você está fazendo aqui? - lançou um olhar curioso.
- Precisava te dizer que tenho muito orgulho de você!
- Dean… - ela disse com a voz fofa. - Eu também tenho muito orgulho de você, nada disso seria real se não fosse por você.
- Odeio interromper… - apareceu e Dean rolou os olhos.
- Sempre com o timing perfeito. - Dean reclamou.
- É, na verdade eu amo interromper mesmo, - confessou. - mas você precisa estar no palco agora. - apontou para o guitarrista que desapareceu quase que instantaneamente. - E você, arrasa! Faça ser uma das melhores noite da sua vida. - a produtora desejou e em 5 segundos apareceu no palco para o tão esperado show.
Oitenta minutos de show haviam se passado como num piscar de olhos para , as luzes se apagaram para que eles pudessem beber água e se recompor para o final, mas a cantora foi pega de surpresa ao ouvir a voz de Dean ecoar no local.
- Boa noite, estão se divertindo? - ele estava visivelmente feliz e os fãs gritaram em resposta. - Aproveitei que a foi beber água para roubar o microfone e dizer umas verdades para vocês. - a plateia gritou novamente.
arregalou os olhos em direção a Dean e tudo que ele fez foi abrir ainda mais o sorriso, virou na outra direção procurando por , ela provavelmente mataria ele, mas o choque dela foi ainda maior ao ver a produtora sorrindo.
- A verdade é que em nome da banda e da equipe nos queremos agradecer a todos os fãs e à também pelos ótimos momentos que tivemos fazendo essa turnê. Esse é o último show. - um coro de “awn” pode ser ouvido. - E é por isso que temos uma surpresa para vocês. - Nesse momento retornou ao palco ainda sem entender o que Dean planejava. - Olha só quem apareceu! Que bom, , estava falando de você. - ela fez uma careta, o que só aumentou o riso da plateia. - Sabiam que a aqui ama um cover? Acho que até mais do que as próprias músicas.
- Dean! - ela gritou, mas sem microfone só ele escutou.
- Ok, talvez ela prefira as próprias músicas. O fato é que ela queria cantar uma música hoje, mas acho que não estava boa o suficiente, então eu tive uma ideia e vamos improvisar. - ele anunciou e as pessoas aplaudiram e gritaram. continuava sem entender nada, continuava sorrindo, a banda não havia retornado ao palco e a equipe havia aparecido com um banco e o violão de Dean.
- O que você está fazendo? - ela questionou com certo desespero.
- Só curte, . - ele piscou com um olho e devolveu o microfone dela. - Beyoncé que me perdoe, mas a versão do John Mayer é melhor. - ele falou para a amiga que entendeu tudo em um segundo.
Dean começou a tocar aquela música que simplesmente representava o que ela sentia sobre e o fato de ele fazer isso a deixava ainda mais grata por tê-lo como amigo. Se emocionou na hora em que ouviu os gritos de aprovação pela música e começou a cantar.
(N/a: Se quiserem acompanhar com a música.)
Your love is bright as ever
Even in the shadows
Baby kiss me before they turn the lights out
Your heart is glowing
And I'm crashing into you
Baby kiss me, kiss me
Before they turn the lights out
Before they turn the lights out
Baby love me lights out
se aproximou do público que cantava em coro juntamente com ela e grande parte deles balançavam os celulares com os flashes ligados de um lado para o outro, a fazendo arrepiar.
In the darkest night hour
I'll search through the crowd
Your face is all that I see
I'll give you everything
Baby love me lights out
Baby love me lights out
Nenhuma letra se encaixaria melhor naquele momento e naquela situação, já tinha tentado ver naquela multidão, mas com a agitação das músicas e dos fãs, ela ainda não tinha conseguido realmente olhar para as pessoas.
We don't have forever
Baby, daylight's wasting
You better kiss me
Before our time is run out
Uma mulher levantou uma criança, que estendeu a mão na direção da cantora, os olhos dela brilharam naquela típica sensação de ter um contato real com um ídolo e o coração de se derreteu ainda mais. Quando a menina voltou ao seu lugar, pôde continuar procurando.
Nobody sees what we see
They're just hopelessly gazing
Baby take me, take me
Before they turn the lights out
Before our time is run out
Baby love me lights out
In the darkest night hour
I'll search through the crowd
Your face is all that I see
I'll give you everything
Baby love me lights out
Baby love me lights out
You can turn my lights out
O rosto de era tudo o que ela precisava ver naquela noite, o sorriso dele era o que ela esperava encontrar entre tantos outros na plateia, no entanto, só havia um lugar onde ele estaria, e este estava claramente vazio.
I love you like XO
You love me like XO
You kill me boy XO
You love me like XO
'Cause you're all that I see
Give me everything
Baby love me lights out
Baby love me lights out
You can turn my lights out
O coração dela se apertou quando a realidade a tomou e então ela permitiu que algumas lágrimas escapassem, afinal de contas ela era um ser humano com sentimentos; sentimentos que haviam sido destruídos em questão de segundos. havia tomado a sua decisão, ela estaria sozinha dali para frente.
In the darkest night hour
I'll search through the crowd
Your face is all that I see
I'll give you everything
Baby love me lights out
Baby love me lights out
You can turn my lights out
A multidão explodiu em aplausos e barulhos, a fazendo lembrar que ela não estaria sozinha, ela tinha seus fãs. Dean entregou o violão á um rapaz da equipe e a abraçou, sabendo que ela precisava daquele gesto, e a fez lembrar que seus amigos também sempre estariam presentes. Ela não estava sozinha.
Respirou fundo e anunciou a próxima e última música. Os fãs tinham combinado uma surpresa para essa música e os balões brancos e amarelos deram uma visão maravilhosa para quem estava no palco. Agradecimentos depois, se retirou do palco ainda bastante atordoada, passou por ela rapidamente e a instruiu à ir direto para o seu camarim. Ela estranhou o fato de o corredor estar completamente vazio, mas era até melhor, naquele momento ela queria ficar sozinha.
Abriu a porta em que se podia ler Cohen e se assustou com a escuridão do local. Ela sempre deixava as luzes acesas e ninguém nunca as havia apagado. Só depois ela notou um brilho esverdeado na parede e instantaneamente seu coração se aqueceu. Aquela era a letra de . Ele estava ali afinal.
- Minha vida não é completa sem você. - a voz dele ecoou ao mesmo tempo em que ela leu. Levou a mão ao interruptor acendendo a luz e correu para abraçá-lo. Ele que já a esperava de braços abertos, retribuiu com força demonstrando que todo o sentimento era recíproco e então a distância não existia mais, nem mesmo entre os lábios dos dois. Era como se o tempo tivesse parado ou o momento eternizado e eles só se separaram quando ouviram palmas de muitas pessoas. O sorriso do casal não podia ser mais evidente.
- Eu amo você. - ele disse baixo para que só ela escutasse. - E tudo que eu mais quero é nossa vida de volta. - respirou fundo tentando controlar a avalanche de sentimentos e só então notou uma enorme quantidade de flores no quarto, que estavam posicionadas de jeito a formar um “Eu amo você”.
- É o que eu mais quero também. - ela o beijou mais uma vez. - , mudança de planos, vou querer o próximo ano de folga.
- Eu já sabia, . - a produtora piscou e fez um hi-five com Dean.
- Espera aí, vocês sabiam disso aqui o tempo todo? - ela apontou para os amigos e para o marido em seguida. Mas era uma pergunta que não precisava de respostas, estava claro demais.
- Então vamos comemorar. - Cian gritou enquanto abria outro champanhe. Com as taças cheias, todos brindaram naquele momento, o fim de uma etapa e o início de outras.
- Amor, por que você não assistiu ao show? - perguntou quando ambos estavam deitados na cama do hotel depois de matarem a saudade física.
- Eu assisti, só não no lugar que você esperava. Conversei com a e pedi para ela um ingresso de outro lugar. - ela o olhou indignada. - A propósito, seu cover foi escolhido a dedo.
- Por que diz isso? - ela cessou os carinhos para ouvir o que ele havia pensado.
- Porque todos os meus argumentos no dia que sai de casa foram ridículos. Seu lugar é na frente dos holofotes, lá você pertence aos seus fãs e a esse mundo que eu desconheço. Mas quando as luzes se apagam você deixa de ser a Cohen, e passa a ser a minha .
E isso era tudo o que ela precisava ouvir, ela era dele, ele era dela e eles tinham toda uma vida pela frente.
- Eu amo você.