Shared my body and my mind with you…
Nunca confie na felicidade, ao mesmo tempo em que você vai estar feliz, no outro segundo você estará morto. O mundo é cruel, a vida chega a ser pior ainda, as pessoas se camuflam, usam máscaras, ninguém é feliz o tempo todo. Mas são dos momentos ruins que crescemos, mas se fosse assim eu seria “uma gigante”.
- Então você é adotada? Onde estão seus pais biológicos? – o meu décimo sexto psiquiátrico estava a minha frente, tentando de alguma forma desvendar meu passado macabro. Não era nenhuma serial killer, era vegana e odiava violência. Mas o diretor da escola onde eu estudo me encaminhou para o psiquiatra. Tive vários na infância e muito mais na adolescência, quando completei dezesseis eu parei com os surtos, mas por um curto período. Fiquei bem por um tempinho, mas voltei a piorar, tinha costume de me cortar e isso talvez não seja considerado normal no ponto de vista da sociedade.
- Você não é muito novo para ser psiquiatra? – perguntei o olhando, ele era loiro, mais alto que eu, seu corpo era mediano, nem gordo e nem magro. Ele era extremamente bonito, porém era bem mais estranho que eu também.
- Nem tanto assim. – ele respondeu, sorrindo de lado.
- Um psiquiatra não devia ter mais experiência? – perguntei novamente, queria incomodá-lo com as perguntas, mas ele mantinha o mesmo sorriso no rosto.
- Não deixe a minha aparência te enganar. – respondeu, sem tirar o olhar dos meus.
- Touché! – sussurrei e soltei uma risadinha cansada.
- Uma hora você terá que se abrir comigo, eu realmente posso ajudar. – ele disse se desencostando da poltrona bege, entrelaçando as mãos e respirando fundo.
- Será mesmo? – perguntei arqueando a sobrancelha.
- Confia. – ele disse bem confiante.
- Bela tentativa, senhor . – disse rindo e levantando-me, pendurando minha bolsa no ombro, ele passou as mãos nos cabelos e voltou a sorrir.
- Boa tarde para a senhorita. – ele disse alargando o sorriso e indo até a porta, abriu-a para mim como um cavalheiro.
- Boa tarde, doutor. – respondi, colocando os óculos escuros e saindo dali.
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Cabulei a aula de cálculo, números deixavam-me mais depressiva que o normal. Estava em cima de um tronco da minha árvore preferida, fumando. Esse ato deixava-me tranquila, diziam que tu que nos levava a morte eu gostava, mas estarmos vivos nos leva a morte. Soltei a fumaça que se misturou com a neblina, o dia estava cinca e gelado.
- Fumar em cima de uma árvore deve ser algo bem divertido de se fazer. – assustei-me ao ouvir essa voz, busquei de onde vinha. Meu psiquiatra estava do lado de fora do muro da escola, o muro era baixo então as pessoas da rua enxergavam metade de todas as árvores. Ele estava ainda mais bonito, todo de preto e sobretudo preto por cima, seus cabelos loiros jogados no rosto.
- Nunca tentou? – perguntei soltando uma risadinha depois de quase o devorá-lo com os olhos e a mente, é claro.
- Em cima da árvore, não. – ele disse sorrindo de lado.
- Então é um fumante, doutor? – perguntei abrindo a boca de espanto, ele riu.
- só, estamos na rua e não no consultório. – ele respondeu rolando os olhos e rindo, tirou um maço de cigarros do bolso, retirando um do maço e o guardando. Acendendo e tragando, o prazer era nítido em seus olhos.
- Uau! – exclamei o fazendo rir enquanto soltava a fumaça.
- Quer dar uma volta? – perguntei antes que ele dissesse algo.
- Claro, por que não? – ele respondeu me surpreendendo.
- Sério? – ele deu risada e tragou mais um pouco.
- Sim! – ainda pasma por ele ter aceitado, dei um salto da árvore, mas, como eu disse, o azar me acompanha onde quer que eu vá e não dá paz. Ao bater os pés no chão, pisei em falso com o direito e o torci, fazendo-me cair no chão e pra piorar bati a testa no muro, á cortando. Caída no chão sem dignidade alguma, e com a mão no corte feio a minha testa, notei pular o muro super preocupado, e se ajoelhar ao meu lado levantando-me cuidadosamente.
- Sou um desastre mesmo. – eu disse rindo, ele permaneceu sério e observava-me.
- Vem comigo, vou fazer um curativo nesse corte. – ele disse puxando-me e me pegando no colo, meio tonta não resisti.
- Tente não desmaiar, pois você bateu a cabeça. – ele disse enquanto caminhava comigo, mas foi como se não o tivesse ouvido, fechei os olhos e dormi.
- Ei, dorminhoca, acorda. – ouvi alguém sussurrar no meu ouvido, abri os olhos com dificuldade, à luz de uma lareira fazia meus olhos arderem. estava numa poltrona sentado, com uma caneca preta do Darth Vader na mão, ele sorria para mim. Encostei no sofá onde estava deitada, ficando sentada, minha cabeça doía, coloquei minha mão na testa e o corte estava coberto com um esparadrapo.
- Sua cabeça vai doer por alguns dias, a senhorita dormiu e não era pra ter dormido. Mas a pancada não foi interna. – ele disse se levantando e pegando uma caneca em cima da mesinha central e entregou-me.
- É chá, vai fazer você se sentir melhor. – segurei a caneca e assoprei antes de tomar um gole do líquido quente, porém gostoso.
- Seu tornozelo inchou, coloquei uma bolsa de gelo em cima. – assim que ele disse notei algo gelado em meu pé mesmo e a dorzinha no tornozelo, observei por baixo de uma manta e ele estava realmente muito inchado. Notei que estava com outra camiseta e era masculina, olhei para que meio que esperava pelo meu surto.
- Como você entrou nessa camiseta, isso que vai perguntar, não é? Mas já vou te adiantar que sua regata estava suja de sangue. – sentou-se desta vez no sofá, na ponta ao meu lado, cerrei os olhos.
- Não brinca! – rolei os olhos e dei mais um gole no chá.
- Gostei das tatuagens. – ele comentou com um sorrisinho sapeca.
- Isso não é justo. – eu disse abrindo a boca e olhando feio para ele, o mesmo soltou uma risada alta.
- Verdade, não mesmo. – ele respondeu sorrindo de lado, depois abaixou o olhar por mim e por um instante ficou aborrecido.
- Onde estou e por que tenho a sensação de que já estive aqui? - perguntei olhando em volta, ele soltou uma risadinha.
- Você ainda está no colégio, na parte de trás tem casas e eu meio que moro aqui. Sou de outra cidade e trabalho aqui, então para não gastar muito com passagem eu moro nos dias que trabalho. - ele respondeu, sorrindo de lado.
- Nossa, isso é que é gostar de escola! - eu disse, rindo junto.
- Você tem inúmeras cicatrizes e todas foram feitas por você mesma, sempre no mesmo padrão. Alguma bem profundas, você realmente anda tentando se matar? – ele perguntou, olhando-me sério.
- O que você acha? Estou? – perguntei, arqueando a sobrancelha, ele aprofundou seu olhar nos meus.
- Não, se você quisesse, já teria feito. – ele respondeu voltando a sorrir de lado, aquele sorriso que me seduzia.
- Tenho algo que irá fazê-la se sentir melhor. – se levantou e saiu do meu campo de visão, mesmo com a lareira ligada, a casa era fria e muito silenciosa. Olhei em volta e não havia nenhuma foto, era difícil ver uma casa sem foto alguma. Mas aquele lugar não me era estranho, não que eu já tivesse entrado, mas já tinha o visto.
- Uso isso para relaxar. – ele disse se sentando ao meu lado novamente, abrindo uma caixinha de madeira, notei seu braço tinha inúmeros furinhos nele, como se ele injetasse algo. Olhei para o que estava dentro da caixa, eram drogas... Heroínas.
- Você se droga? Sério? – perguntei surpresa, ele riu sem som.
- Drogava-me, mas agora não faz mais nenhum efeito. – respondeu infeliz, juntei as sobrancelhas.
- Nunca descobriram? – ele olhou-me e fez que não.
- As pessoas só veem o que querem ver, o que as deixam incomodadas elas a ignoram. – abaixou o olhar e retirou a seringa, depois a penetrou em uma veia no seu braço a injetando. Ele fechou os olhos e suspirou, por um momento me vi nele, me sentia exatamente daquela maneira quando cortava-me.
- É exatamente assim que me sinto, . - ele sorriu ao meu ouvir e encostou-se no sofá.
- Você tem algum motivo para se drogar. – comentei encostando-me também, ele abriu os olhos e fixou seu olhar em mim, seus lábios formaram um sorrisinho engraçado.
- E você tem algum motivo para se cortar. – ele disse piscando e rindo sem som, acabei rindo junto e concordando.
- Quer fazer um acordo? – perguntei, ele deu de ombros e fez que sim.
- Você pode me perguntar o que quiser e eu responderei, mas você tem que responder também. – sugeri arqueando a sobrancelha, ele ficou pensativo e abaixou a cabeça.
- Meu passado é sombrio, relaxa. – sussurrei perto de seu ouvido, ele sorriu de lado.
- Combinado! – ele disse abrindo um sorriso e estendendo a mão, sorri de volta e apertei-a.
- Agora eu preciso ir embora. – fiz biquinho e ele riu, peguei meu celular em cima da mesinha e liguei para um taxista.
Uma semana depois:
- Preparado para cumprir o acordo? – perguntei assim que entrei na sala de , ele anotava algo em sua agenda, seus cabelos loiros um pouco bagunçados, um sorriso formou-se em seus lábios, ele tinha um sorriso esplêndido e espetacular.
- Com certeza, senhorita. – ele afirmou apontando para a poltrona a sua frente, fui até ela e sentei-me.
- Seu pé melhorou? – ele perguntou, fiz que sim.
- Ótimo, então vamos começar. – ajeitou-se na cadeira e pigarreou fazendo-me rir. – Como foi sua semana?
- Normal, várias leituras, pé inchado e dolorido por um tempinho, noites de sonos normais e acredito que só. – respondi calmamente, ele sorria. – E a sua, doutor?
- Normal também, sem pé inchado e dolorido, noites de sonos anormais como sempre e acredito que só. – ele disse imitando meu tom de voz, rimos em seguida.
- Sua comida preferida? – ele perguntou com um olhar divertido, estranhei a pergunta e depois ri.
- Massas, por quê? - ele sorria e concordava.
- Eu adoro massas, também. - ele disse voltando a me olhar sorridente.
- Isso faz parte de me decifrar? - perguntei soltando uma risadinha, ela riu junto e fez que não.
- Quer almoçar comigo amanhã? Minha lasanha é divina! - ele sugeriu arqueando a sobrancelha, fiquei surpresa com o convite.
- Está falando sério? - perguntei ainda surpresa, ele fez que sim ainda sorrindo.
- Tudo bem, então, eu nunca digo não a lasanha. - respondi alargando o sorriso, ele bateu palminhas.
- Te aguardo em casa então, pode ser? Ainda sabe onde fica, né? Pode vir direto quando sair da aula. - ele perguntou rindo, rolei os olhos.
- Combinado então, doutor. - sorri e levantei pegando minha mochila.
- , por favor. - ele disse cerrando os olhos e depois rindo.
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Cabulei a última aula para me arrumar, é claro. Olhava-me no banheiro da escola, meus cabelos soltos, puxados para um lado só. Meus cílios bem marcados, o lápis um pouco borrado no canto dos olhos. O vestido de veludo vermelho sangue que se colava ao meu tronco até a cintura onde ficava rodado e acabava no meio das coxas. Minha meia preta rasgada e um coturno de couro por cima, peguei meu chapéu preto ao lado da mochila e o coloquei, dei uma última olhada no espelho e notei algumas cicatrizes aparecerem perto do decote, puxei o vestido um pouco para escondê-las. Peguei minhas coisas e segui o caminho até a casa de que ficava atrás da escola.
Era como se fosse um chalezinho, tinha a cor amarelo claro, sorri de lado e apressei o passo até a porta, bati três vezes e esperei. abriu a porta e aquele sorriso que eu adorava surgiu em seu rosto, aparecendo às covinhas apaixonantes. Sua camiseta era preta por cima de um jeans escuro e all star preto. Seus cabelos loiros jogados no rosto um pouco bagunçado, ele abria mais a porta para eu entrar.
- É aqui que você mora? Poxa, que legal! – eu disse, fingindo surpresa e o fazendo gargalhar.
- Sinta-se em casa, madame. – ele disse piscando fazendo-me rir. Coloquei a mochila em cima do sofá e o segui até a cozinha.
- Não sou o melhor cozinheiro do mundo, mas eu adoro a minha lasanha. Espero que não seja só eu! – ele disse fazendo uma careta, então destampou a forma, abri a boca e bati palmas.
- O cheiro está maravilhoso. – eu disse chegando perto, ele sorriu e veio até mim, puxando a cadeira para sentar-me.
- Olha, que cavalheiro. – ele fez uma pose depois rimos, ele se sentou a minha frente e nos serviu.
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- Eu não consigo comer absolutamente nada! – comentei encostando-me ao sofá, ele sentou-se ao meu lado, rindo um da cara do outro.
- Por que eu sinto que tudo isso é só pra eu me abrir contigo? – perguntei virando-me para olhá-lo, ele fixou o olhar no meu e sorriu de canto.
- Não tínhamos um acordo quanto a isso? – ele disse, fiz que sim e dei de ombros.
- Alguma pergunta? – perguntei e ele ficou pensativo, ainda olhando-me ele se aproximou rapidamente, me assustei um pouco com sua reação, mas não recuei. Senti-o passar as costas das mãos em meu rosto e umedecer os lábios ao olhar os meus.
- Você me acha bonito? – sua voz saiu como um sussurro bem próximo aos meus lábios, o desejo dentro de mim cresceu, a vontade de beijá-lo era maior que tudo.
- Te acho incrivelmente, absurdamente e grandiosamente lindo. – respondi descendo meu olhar para os seus lábios se formava um sorriso. Olhei para seus belos olhos castanhos e profundos, ele tinha uma escuridão no olhar, mas era como se fosse um convite. De repente ele colou nossos lábios iniciando um caloroso e profundo beijo, retribui com a mesma intensidade e desejo. Nossas respirações descontroladas, uma língua raspando na outra, nosso beijo se intercalava com mordidas fortes. desceu o beijo para o meu queixo o mordendo, seguindo pelo meu pescoço, passando a língua de leve, suspirei alto com isso.
Grudei minhas mãos em seus cabelos loiros e os puxei, ele chupava e mordia meu pescoço com vontade fazendo-me arfar. Suas mãos subiam da minha cintura e levava meu vestido junto, o empurrei e levantei-me do sofá. Puxei o zíper do vestido o abrindo e o deixando cair no chão, fez o mesmo com sua camiseta, tirei o coturno e a meia também. Nos olhamos e rimos disso, ele se aproximou e puxou-me novamente para um beijo, dessa vez menos agressivo. Ele em cima de mim, desci minhas mãos pelo seu peitoral até o cós de sua calça adentrando-a, e encontrando seu ereto membro, o apertei de leve ainda por cima da cueca o fazendo gemer de leve entre o beijo.
Uma de suas mãos apertava e amassava meu seio com força e desespero, eu suspirava durante o caloroso beijo, chupava minha língua e a mordiscava. Abri sua calça e a abaixei junto de sua cueca, ele sorriu entre o beijo e selou-o. Nossos olhares se encontraram, o olhar dele tinha esperança, sentimento, calor, desejo, paixão e desespero, assim como tudo que eu sentia naquele momento. Ele tinha conseguido fazer eu me sentir como ninguém jamais conseguiu, o sorriso dele invadia minha mente todos os dias, todos os segundos. Parecia que eu tinha sido feita para vê-lo sorrir.
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- Você é tão linda, sabia? – deitado ao meu lado, minha cabeça encostada em seu peitoral, sua mão alisava meus cabelos, minha mão passeava entre seu ombro até seu quadril. Soltei uma risadinha e o olhei, depositando um beijo em seu nariz o fazendo rir.
- Adoro seu sorriso, na verdade a palavra adoro ainda é fraca. – eu disse admirando-o sorrir e se envergonhar disso.
- Não tinha o costume de sorrir muito, mas agora com você eu não consigo parar. – alarguei o meu sorriso ao ouvir isso e selei seus lábios. Ficamos em silêncio por um tempo, até que o rosto de mudou, ele ficou sério e seu olhar se aprofundou.
- Você viu sua mãe ser assassinada pelo seu próprio pai quando era criança. – assustei-me ao ouvi-lo, me levantei e o olhei.
- Como sabe disso? – ele respirou fundo e levantou-se também.
- Li sua ficha na escola. – abri a boca e arregalei os olhos.
- Como ousa? Era só ter me perguntado não é a porra do seu trabalho? – lágrimas surgiam em meus olhos, peguei meu vestido em cima do sofá e comecei a vesti-lo depressa.
- Calma, não quis magoá-la. Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que entrou na minha sala, vestida toda de preto com aquele batom vermelho sangue nos lábios mais desejáveis que já vi em toda minha merda de vida. Fui um idiota por ter estragado esse momento, mas queria que você confiasse em mim. – ele disse e sua voz era doce e gentil, ele estava sendo sincero. Antes que eu pegasse meu coturno, fiquei o observando e ele parecia desesperado e sem ter o que fazer.
- Fica, por favor. Só te peço isso, você me traz o calor de volta ao meu mundo frio. – ele estava certo, eu sentia o mesmo por ele, uma lágrima escorreu na minha bochecha, sorri de lado para ele e depois o abracei forte.
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- Ele era louco, mas minha mãe o amava mesmo assim. Um dia cheguei da escola e o vi todo ensanguentado na cozinha, ele chorava desesperadamente. Corri até o quarto de mamãe e a encontrei morta em cima da cama, seu vestido salmão tinha a cor vermelha por causa de seu sangue. Não sabia se chorava, gritava ou me vingava, mas antes que pensasse em algo ouvi um disparo da cozinha e como eu esperava, ele tinha se matado, um tiro na boca. – olhava-me perplexo e catatônico, estava sentada em seu colo, enquanto ele ouvia minha história trágica.
- Eu realmente sinto muito por você ter vivido isso. Você merece ser a pessoa mais feliz deste mundo todo e nem assim vai superar esse seu passado. – ele disse ainda pasmo e assustado com tudo isso, abri um sorriso.
- Já me faz extremamente bem ver como você se preocupa. – ele sorriu de lado ao ouvir-me, alisei seu belo rosto de anjo.
- Você não é psiquiatra! Não adianta desmentir. – eu disse o fazendo olhar-me sem ter o que responder.
- De fato! Me perdoa por mentir esse tempo todo, só queria achar um meio de ficar perto de você. – ele disse segurando meu queixo.
- Não estou brava, que bom que mentiu. – eu disse e em seguida o beijando docilmente.
- Mas como consegue morar aqui? E a sua sala? - perguntei um pouco confusa.
- Meu pai trabalhava aqui, ele morreu e deixaram-me continuar. Aqui sempre foi meu lar, eles entendem isso. – ele respondeu sorrindo de lado.
- E você trabalha de psiquiatra pra eles? – perguntei rindo, ele riu também e fez que não.
- Eu ajudo os professores a corrigir os trabalhos e provas, mas não conte que eu te contei. – ele disse meio que sussurrando e rindo logo em seguida.
- Já sei como conseguir notas agora. – comentei levantando as mãos vitoriosas.
- Mas vou cobrar, viu? – ele disse me colando mais pra si.
- E eu pagarei com o maior prazer. – respondi mordendo seus lábios de leve.
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- Senhorita , se cabular mais uma aula será suspensa da escola e repetirá de ano. – ouvi o inspetor me encher o saco mais uma vez, virei-me para ele e sorri de lado.
- Pode deixar. – respondi sorrindo de lado.
- E não estou recebendo seu acompanhamento com o psiquiatra.
- É porque o da escola não para na sala dele então fica difícil, não é? – rolei os olhos.
- Tem que agendar, minha cara, mas deixa que eu mesmo marco, hoje após a sua última aula. – ele disse apontando o dedo e se distanciando de mim, mostrei o dedo pra ele e fiz uma careta.
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- Senhorita , sente-se. – que saudades de ter o como psiquiatra, agora era um velho com cara de psicopata aposentado.
- Deixa-me facilitar pra você, eu já sei que você provavelmente deva saber do meu passado e eu ODEIO que fale sobre. Então me pergunte coisas que não corresponda a isso e nos daremos super bem, ok? – eu disse assim que sentei na poltrona o fazendo sorrir.
- Combinado então. Diga-me como anda seu último ano, seus dias e o que anda sentindo ultimamente. Sei que deve sentir raiva da escola, todos já sentiram um dia. – ele disse abrindo sua agenda e rindo da própria piada.
- Anda muito melhor pra falar a verdade. – respondi lembrando do sorriso do .
- Jura? Quer me contar o motivo? – ele perguntou interessado.
- O sorriso de alguém especial. – respondi sorrindo e abaixando o olhar.
- É aluno aqui? – ele perguntou sorrindo também, fiz que não.
- Quer me contar quem é? – fiquei pensativa, nunca pediu segredo sobre o que a gente tem.
- Tudo que me disser não sairá daqui, é a lei de todo médico. – ele disse colocando a caneta no meio da agenda.
- Verdade faz sentido. O pai dele trabalhava aqui e ele tecnicamente mora aqui por isso, enfim não vem ao caso. Ele se chama , tem cabelos loiros, sabe? – eu disse sorridente, ele ficou me olhando um pouco pensativo e depois juntou as sobrancelhas.
- Não me lembro dele, não, talvez não o conheça. – ele disse, estranhei um pouco.
- Se ver um rapaz loiro nas casas do fundo da escola, é ele. – eu disse sorrindo de lado.
- Claro, procurarei notar. – ele comentou.
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- Podíamos ir no cinema, tem um filme que estou louca pra ver e faz décadas que não vou também. – eu disse levantando um pouco a cabeça para olhá-lo, estava deitada em cima dele.
- Posso baixar o filme e assistimos aqui. – ele disse e depois olhou-me maliciosamente e completou: – Pelados!
- É isso pareceu bem melhor que a minha ideia original. – eu disse o fazendo rir e concordar.
- Você não gosta muito de sair, não é? – perguntei meio que afirmando.
- Não! Prefiro ficar em casa, sou meio antissocial e acho que é notável. – ele disse rindo de si mesmo.
- Somos dois. –rimos juntos e ele abraçou-me forte.
- Por que usa drogas? – perguntei apoiando os braços em seu peitoral e ficando de frente pra ele.
- Pra poder me dispersar da realidade um pouco. Às vezes tudo fica um pouco chato demais. – ele disse soltando o ar que prendia.
- Mas não está as usando mais? – perguntei o olhando um pouco preocupada, ele me olhou e sorriu fazendo que não.
- Achei outra droga para dispersar-me. – ele disse rindo, fingi-me ofendida.
- Sou uma droga, senhor ? – perguntei ofendida porém rindo.
- Sim, eu estou viciado em você, não consigo mais ficar longe e talvez isso seja ruim, senhorita. – ele disse colocando meu cabelo atrás da orelha.
- Então é ruim pra mim também, pois estou tão viciada quanto você. Passo horas pensando no teu sorriso e quando vou vê-lo de novo. Seu sorriso tornou-se a minha heroína, minha fraqueza e destruição, minha ruína, mas também meu alívio e felicidade, meu ponto de paz e equilíbrio. – ele alargou o sorriso e puxou-me para um beijo gentil e doce.
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- É esse o rapaz de quem me falou? – o psiquiatra perguntou mostrando-se uma foto em um quadro, era e acredito que era seu pai também.
- Ele mesmo. – peguei a foto e esbocei um sorriso largo. Ele ficou me olhando apreensivo e sem ter o que falar.
- O que foi? O conhece? – perguntei curiosa e estranhando sua atitude.
- Tem certeza de que é ele mesmo? ? – ele perguntou passando as mãos no cabelo, fiz que sim.
- Quero que faça uma coisa pra mim, pesquise sobre ele no Google, pois se eu te contar aposto que não acreditará. – ele disse soltando o ar.
- Tente, o que está acontecendo? O que ele fez? – perguntei entrando em desespero, ele pegou o notebook e entregou-me. Abri-o e entrei no Google, digitei o nome do e apareceu várias notícias com o nome dele. Arregalei os olhos e senti meu coração se apertar dentro de mim, abri uma e soltei um grito ao ler a manchete.
“ Garoto encontrado morto no banheiro da escola, esfaqueado sete vezes.”
Lágrimas invadiram meus olhos, meu coração batia aceleradamente, o choro preso em minha garganta.
- Seu pai o matou após saber que ele usava drogas, em seguida se entregou a polícia e está preso até hoje. – ouvi-o contar, mas ainda assim não acreditava, mas era realmente verdade. Mas só tinha um meio de descobrir.
- Vá pra casa e descanse, amanhã conversaremos sobre isso.
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Semanas depois: (https://www.youtube.com/watch?v=Awr_jzijeIU)
Não tinha mais visto o e isso acabava comigo. Sentia-me exatamente quando meus pais morreram, uma cicatriz nova aparecia no meu corpo, cada vez mais profunda. Olhava-me no espelho e olheiras profundas, estava pálida e ainda mais magra, não comia mais, não conseguia dormir.
Estava saindo da escola, mas senti um calafrio e ao mesmo tempo algo bom. Olhei pra trás e estava lá na porta da escola, a sua aparência não era a melhor, seus olhos inchados por chorar.
- Você me abandonou. – ele disse segurando o choro, engoli em seco.
- Nem era pra você estar aqui, você já está morto. – eu disse seca e confiante, ele arregalou os olhos.
- Não ouse mentir pra mim, se você não estiver morto você vai dar três passos a minha direção e sairá da escola. – eu disse apontando o dedo para ele que abaixou a cabeça e lágrimas saiam de seus olhos.
- Me perdoa, por favor. Se eu te contasse você ficaria com medo e nunca mais iria me ver. – ele disse já começando soluçar.
- não tem o porquê de te perdoar, não foi culpa sua você ter morrido, é só que eu sou azarada demais por ter me apaixonado perdidamente por alguém que nem exista mais. Como eu consigo te ver ainda? Como transamos? – comecei a dizer mais o choro alcançou-me também, ele soluçava alto.
- Você me vê porque eu quero que veja, eu amo você e quero ficar com você. Não sei como ainda estou aqui, mas eu preciso de você. Por favor fica comigo, por favor... Por favor! – ele implorava no meio de tantos soluços, tentei secar minhas inúmeras lágrimas, ele estendeu a mão para mim. Como ele já tinha pedido para ficar, olhei para a rua e depois o olhei, ele chorava tanto que doía a minha alma.
- Fica comigo, por favor! – ele pediu mais uma vez ao choro e soluços, mesmo se acabando de chorar ele continuava lindo como um príncipe, seus cabelos loiros e totalmente bagunçados caídos no rosto avermelhado de tanto chorar.
- Só eu mesmo por ter me apaixonado por um espírito. – eu disse bufando e estendendo minha mão até a dele. A segurando forte, ele surpreso por eu ter feito isso, abriu um sorriso e puxou-me para perto dele, me abraçando forte, retribui da mesma maneira.
- Sei que não posso prometer ser um excelente namorado, te levar ao cinema ou à um jantar romântico. Viajar contigo, nos casarmos em uma igreja e termos uma lua de mel decente, ou até te dar filhos que é o que eu realmente queria. Mas com certeza vou te amar como você nunca será amada, isso eu prometo por tudo que realmente importa, só te peço para ficar comigo! – ele disse saindo do abraço e segurando meu rosto, ele ainda chorava muito, também estava em prantos, mas ele era perfeito, ele sabia fazer com que não existisse vocabulário suficiente para responder-te.
- Oh, ! Como eu viveria sem você? Nem se eu tivesse que ir até as profundezas do inferno por você eu iria, afinal, não deve ser pior que este mundo. – eu disse secando suas lágrimas e depois o beijando calmamente.
- Acho melhor entrarmos antes que eu seja internada por estar beijando o vento. – soltou uma risada e aproveitou para secar seu rosto com as costas das mãos.
- Manteiga derretida. – zombei dele abraçando sua cintura, ele mostrou a língua e rimos em seguida.
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- ACORDA! MEU DEUS! VOCÊ PROMETEU! – acordei assustada com gritando ao meu lado, o olhei assustada e preocupada.
- O que houve? Meu Deus! – perguntei com os olhos arregalados e sentando-me na cama, ele começava a chorar e tirava os lençóis em que cobriam-me revelando as cicatrizes inchadas.
- Você prometeu nunca mais se machucar, você está infeliz? O que eu tenho que fazer para te fazer feliz? – ele perguntou desesperado sentando-se na minha frente, passava suas mãos pelos seus cabelos.
(Not about angels – Birdy) https://www.youtube.com/watch?v=kxVUee4WsoA
- Estar vivo já teria bastado. – respondi me arrependendo, ele olhou-me sem ter o que responder. Droga! Levantei-me e comecei a me vestir rapidamente, olhava-me assustado e sem ter o que fazer.
- Você prometeu... Você prometeu! – ele começou a choramingar baixinho, lágrimas invadiam meus olhos, engoli o choro e vesti meu casaco depois virei-me para olhá-lo.
- Eu sei que prometi e vou cumprir. – eu disse o fazendo me olhar, fui até ele e dei-lhe um beijo na testa e segui para a saída.
- Me perdoa... Me perdoa por não ter conseguido te fazer feliz! – ele disse antes que abrisse a porta da frente, o olhei e ele estava encostado na porta do quarto chorando.
- Não é sua culpa, nunca foi e nunca será. Mas você é morto por fora e vivo por dentro, eu sou ao contrário, sou viva por fora e morta por dentro. – eu disse soltando o ar e saindo dali batendo a porta. Chegando ao pátio da escola, não consegui segurar o choro que prendia na garganta.
Soluçava e tentava não fazer barulho, meu peito doía tanto que deixava-me sem ar, era uma dor insuportável. Eu cortava-me para não sentir essa dor horrível no peito, mas passava em seguida e teria que cortar-me novamente. Lembrei da pergunta que tinha feito a dias atrás:
“- Morrer dói? – ele olhou-me um pouco assustado com a pergunta e depois fez que não.
- Dói menos do que viver! – ele respondeu sorrindo de lado e dando-me um selinho demorado.”
Respirei fundo e secando um pouco as lágrimas corri até o banheiro, chegando lá estava tudo escuro. Parei em frente ao espelho olhando meu reflexo cansado e com o rosto inchado de tanto chorar, peguei a navalha dentro do bolso da jaqueta, a encarei e senti meus olhos arderem e mais lágrimas invadirem meu rosto o encharcando. Passei a navalha na vertical sob meus pulsos pegando a veia, arfei um pouco e fiz o mesmo no outro. Joguei a navalha ensanguentada na pia e deitei-me no chão gelado do banheiro. Fiquei olhando para o teto azul do banheiro que lembrava-me o céu, fechei os olhos e lembrei do sorriso de e de como ele era bonito e radiante.
- Será para sempre agora meu amor. – sussurrei e sorri de lado, estava certo não doía tanto assim, só era frio como o inverno mais rigoroso.
- NÃO! POR FAVOR! NÃO MORRA, NÃO ME DEIXE... VOCÊ PROMETEU NÃO ME DEIXAR! – ouvia gritar, mas sua voz estava distante, ecoava na minha mente. Queria alcança-la, mas não conseguia estava se distanciando cada vez mais.
- EU TE AMO! TUDO O QUE EU FIZ FOI TE AMAR, POR FAVOR! DEUS, NÃO A TIRE DE MIM! – ele gritava e implorava tinha tanta dor em sua voz, queria poder te abraçar, mas não conseguia.
- Eu te amo tanto, por favor... Fique comigo, não morra! Não assim... O que vai ser de mim nesse mundo vazio cheio de dor sem ti? Esse mundo cruel sem sua bondade e vontade de amar... Você é tão amada, isso é tão injusto! – ele chorava e perdia um pouco a voz, deixando-a fraca e rouca.
- Você cometeu suicídio, não poderá ficar comigo. Irá para o limbo junto as almas sem salvação esperando por alguma vaga no inferno. Por que você fez isso? Eu só queria ter te amado enquanto você vivesse, você morreria por algo natural e viveríamos para sempre. – ele disse chorando ainda mais... O que eu tinha feito?
- Eu te amo e sempre vou amar até no limbo. – sussurrei com dificuldade, ele ouviu e chorou ainda mais. Mas não conseguia mais ouvi-lo, agora estava tudo preto, estava muito pior.
O mundo era cruel, a vida era cruel, mas a morte... Essa era ainda pior!
“Compartilhei meu corpo e minha mente com você
Está tudo acabado agora
Fiz o que eu tinha que fazer
Porque você está tão longe de mim agora
Compartilhei meu corpo e minha vida com você
Esse jeito acabou agora
Não há mais nada que eu possa fazer...” - Lana Del Rey
Fim.