- Correspondência! – gritou lá de fora, pegando as cartas e cumprimentando simpaticamente o carteiro. Me ergui do sofá, sentando ansiosa enquanto o esperava voltar junto com as taças de vinho.
Vinho da distribuidora da esquina, mas não deixava de ser vinho. E vinho para adolescentes pobres significava comemoração.
Com um sorriso misterioso, colocou os papéis atrás do seu próprio corpo e sentou-se no sofá. Ainda fazendo suspense, mostrou as mãos vazias.
Ergui a sobrancelha, pouco convencida com seu truquezinho fajuto. Levantei-me do sofá e o puxei para cima, olhando em volta a procura das cartas. mantinha o sorriso.
Estava tudo vazio. Mexi nas almofadas, entre o tecido do sofá e suas dobras. Nada.
- Onde você colocou? – questionei, semicerrando os olhos para ele. Com um sorriso esperto, ele puxou minha cintura contra ele e agarrou meu corpo.
Estremeci e o abracei. Aproximei nossos rostos e o vi me abraçar mais forte, colocando a mão livre em minha nuca.
Era um momento perfeito que vivia se repetindo nas nossas últimas tardes. O Ensino Médio finalmente havia acabado e estávamos agora apenas esperando os resultados das faculdades em que prestamos vestibular.
fez um carinho leve nos meus ombros, e eu quis fechar os olhos, cortando o contato visual. Estava tão gostoso que eu me sentia confortável com ele. Quando ele retira sua mão de minha nuca, parando o carinho, reparo que elas voltaram cheias.
- Ah, fala sério! – Eu reclamo e o ouço gargalhar, se afastando sapeca de mim. – Como você conseguiu pegar isso? Você não desgrudou de mim! – chio incrédula.
- Um mágico nunca revela seus segredos. – Ele piscou para mim e eu quis forçá-lo a me contar como e manter o título de mais esperta da turma.
- Você é tão clichê... – Sentei-me novamente, sendo acompanhada. Ele colocou as cartas sobre a mesinha de centro e espalhou. Pegou as que remetiam sobre contas e coisas igualmente banais. Sobrou então as das faculdades.
O silêncio se instalou por uns instantes. Pude ler rapidamente os nomes Harvard, California Institute, Stanford, MIT, Princeton. Eram tantos lugares e nossos nomes estavam estampados em diversos outros. Os prováveis nãos já eram esperados.
Nem nem eu éramos gênios ou tão bons ao ponto de passar em várias faculdades renomadas assim. Mas nos inscrevemos em tantas. Aquele momento não poderia ser completamente bom. Os nãos já nos esperavam.
- Eu faço primeiro. – Ele pegou minha mão e a beijou, rasgando a abertura da primeira carta.
***
- Você entende que eu tenho que ir – eu disse em um sussurro, ouvindo respirar fundo. Ele permaneceu em um silêncio perturbador, que eu custei ousar quebrar. – Não entende?
Ele apenas se remexeu desconfortável na cadeira. Sua mandíbula estava fechada e suas sobrancelhas franzidas em sinal de injustiça. O vinho não havia sido tomado após de ele ter sido recusado pela terceira faculdade seguida que ele poderia fazer comigo. Ou perto de mim.
Todos já esperavam por isso. Não só pelos resultados, pelos possíveis rumos a ser tomados. Mas também pelo fato de sermos tão jovens e a paixão uma hora iria acabar. Estávamos apenas no começo de tudo e tudo era válido.
Mas não parecia aceitar isso muito bem. Ou sequer considerar a ideia. Depois de muita discussão, tentativas de acordo e de soluções de problemas, desistimos exaustos. Realmente não havia como continuar tudo aquilo.
Até mesmo o namoro a longa distância fora considerado, mas não iria acontecer. Ao passo que era muito ativo socialmente, saindo quase sempre, eu era muito fechada – e péssima com tecnologia. Simplesmente não bateria e só daria dor de cabeça.
- Vem cá, peixinha. – murmurou meu apelido com uma leve tentativa de animar as coisas. Eu detestava aquele peixinha desde sempre, porque me lembrava das minhas bochechas gigantes na adolescência e das tias que apertavam umas contra as outras. Mas, naquele momento, meu coração apertou e eu simplesmente adorei ouvir aquilo.
Não hesitei mais momento algum e fui em direção a ele. Me envolveu com um abraço protetor e eu fechei os olhos, me acalmando naquele espaço caloroso que eu estava tão acostumada. Um lugar seguro que eu não queria sair mais.
- Vai dar tudo certo – murmurou após alguns minutos e eu me limitei a concordar, aproveitando o que poderia ser uma das últimas vezes que eu o beijaria.
2 Anos Depois
Esfreguei minhas mãos contra o tecido da calça jeans, em uma tentativa de liberar todo o estresse que eu sentia. Meus dedos estavam com câimbras e calos de tanto escrever e digitar. Minha cabeça estava prestes a explodir. Sentia como se até as paredes negassem minha presença.
Eu simplesmente não aguentava mais a faculdade. Eu estava ficando louco em pouco tempo, e não conseguia evitar. Não adiantava se eu saía, bebia, fazia coisas ilícitas. Eu sempre estava em um nível de estresse alto quando entrava pelos portões ou simplesmente falava sobre aquilo tudo, fazia trabalhos ou combinava encontros com os colegas.
Quando eu senti que não iria fluir mais, larguei tudo e levantei, indo para o banheiro jogar água gelada em meu rosto. O choque térmico me despertou, fazendo com que eu voltasse para a realidade. Respirei uma grande quantidade de ar de uma vez e parei antes de hiperventilar, mas o suficiente para me renovar. Fiz questão de esquecer cada palavra que eu estava prestes a escrever e sobre o assunto no qual se tratava. Pelo meu próprio bem.
Não era como se eu odiasse tudo aquilo. Na verdade, eu amava a faculdade que fazia. Mas acreditava que arte era algo mais sagrado, livre, libertador. Aquela didática toda, com palavra complicada atrás de palavra em latim apenas para falar como uma escultura funcionava era extremamente desnecessária ao meu ver.
Naquele momento, eu só sabia que precisava sair daquele prédio podre.
E foi o que fiz.
Tomei um gole gigante da garrafa de conhaque que me acompanhava na escrivaninha junto com o computador, peguei as chaves e saí sem rumo, fugindo o mais rápido possível daquele lugar maldido que, se eu continuasse, teria pesadelos.
Dois anos estudando lá. Dois anos de farra, festas, loucuras. Dois anos de inferno, onde eu era forçado ao meu limite e tinha que aturar aqueles professores que pareciam se orgulhar do seu cargo. Só que fora da instituição, porque na realidade, eles odiavam cada aluno que aparecia no seu campo de visão.
Ou seja, sessenta alunos por classe não era algo que eles apreciassem.
Caminhei pelo campus respirando ar puro. Reparei que algumas meninas estavam sentadas, organizando alguma apresentação de seminário, aproveitando o sol precário que aparecia aquecendo bem pouco. Assim como outras pessoas pareciam se divertir em uma conversa boba, estudar e anotar freneticamente seus livros e textos.
Mas se tinha algo que eu não sentia ali era vida. Mágica. Surpresa. Ânimo. Felicidade. Choque. Emoção. Eu necessitava daquilo com uma força impressionante, mas era algo que eu não conseguia encontrar.
Tudo parecia tão cinza e robótico. Eu não pertencia àquele lugar. E eu temia que se continuasse lá, aquele lugar iria me consumir.
Caminhei. Caminhei. Caminhei. Corri um pouco. Meu nariz estava frio demais, minhas mãos também reclamavam pela falta de circulação. Eu tinha a sensação que meus pulmões iriam morrer se eu continuasse nesse ritmo. O sol já não estava mais lá tão “quente” quanto quando eu saí.
Eu precisava entrar em algum lugar rápido para poder me aquecer e recusar a ideia de que eu poderia simplesmente me jogar naquela calçada gelada e morrer em meu estado deprimido.
Eu buscava tanto vida.
E, claro, o lugar mais próximo aberto foi um bar. Meu consciente sabia bem da vida que eu encontraria em um lugar como aquele. De tamanha inspiração que eu conseguiria. Era tão previsível quanto eu.
Abri as portas, ouvindo um som chatinho que indicava o novo cliente. O provável dono me deu um olhar rápido e continuou com seu trabalho de contar o dinheiro do troco, não se importando muito com minha aparência. Aposto que, se eu fosse um cliente com outras roupas e uma carteira cheia, ele até pegaria o tapete vermelho.
O clima lá dentro era infinitamente mais quente e eu suspirei aliviado. Minhas preocupações não envolveram levar um casaco quentinho. Me sentei em uma das cadeiras mais próximas e observei o local, tendo mais tempo para me acomodar.
A primeira coisa que me chamou atenção foi... Bom, foram pessoas que chamaram minha atenção. Tinha duas mesas juntas propositalmente, ocupadas por muitas pessoas. Pessoas coloridas.
Eu as via maquiadas de maneira engraçada, vibrante. Suas expressões eram fortes e o brilho no olhar estava sempre lá. Por mais que eu sentisse que eles estivessem discutindo uma coisa importante e séria, eu ainda os via rir vez ou outra.
Fui atraído por aquilo. Sem reparar, meus pés me levaram até a mesa e logo estavam todos me observando, confusos, esperando o que eu tinha a dizer. Mas acontece que eu não tinha nada a dizer. Eu me sentia um palerma.
Provavelmente deveriam achar que eu estava drogado. Mas mesmo assim ninguém me mandou ir embora ou chamou o dono. Apenas um cara magro de rosto pálido que abriu espaço no banco único que estavam sentados para que eu pudesse sentar também.
Mas antes de qualquer coisa, perguntei:
- Quem são vocês?
A mulher mais velha sorriu, me analisando. Seu rosto era marcado por detalhes que me lembraram de uma fada.
- Somos do circo Bloom. O lugar mais mágico do mundo.
Eu poderia jurar que havia encontrado minha salvação bem ali naquelas mesas apertadas com gente sorridente. Prontas para fazer o dia de alguém valer a pena.
Pronto para fazer minha vida valer a pena.
5 Anos Depois
Atrasada. Eu estava muito atrasada.
Seriamente atrasada.
O relógio marcava oito e meia e meu coração doía ao ler aqueles números. Saí desesperada da cama, tropeçando em meus próprios pés e indo de cara ao chão. Gemi baixinho e me ergui, já exausta em direção ao banheiro.
E o dia mal havia começado.
Os dentes foram precariamente escovados enquanto eu achava uma maneira de pentear meu cabelo rapidamente sem que arrancasse meu couro cabeludo. Cuspi o conteúdo e enxaguei a boca, correndo para procurar alguma roupa decente.
Meu chefe vai me matar. Matar. Vai arrancar minha cabeça na base da própria força. Eu definitivamente morro hoje.
Simplesmente não tinha ideia de como havia dormido tanto assim. Parecia que a exaustão estava me tomando aos poucos, e mesmo que eu dormisse horas e horas, eu ainda acordava para fazer xixi morta de cansaço e, no horário do serviço, eu estava como um zumbi que passou a semana toda ativo.
Coloquei a roupa e calcei o sapato quase que ao mesmo tempo, desesperada.
O jornal abria sete e meia e eu não estava lá. Estava uma hora atrasada e sequer havia alguma desculpa que eu pudesse dar, já que se meu carro estivesse estragado no caminho ou algo do tipo, eu poderia ter mandado uma mensagem avisando o que havia acontecido ou pedido carona.
Eu estava tão, tão ferrada.
O elevador demorou a chegar. E eu morava no quinto andar. O carro não pegava e eu tinha quase certeza que havia abastecido ontem. Mas felizmente ele decidiu ir.
O trânsito da hora do rush apenas acabou ainda mais com a minha vontade de estar viva naquele momento. Então eu achei que uma música iria me ajudar com tal situação e liguei o rádio, colocando nas pops.
Blank Space estava tocando e eu senti como se a sorte finalmente tivesse voltado pro meu lado. Comecei a cantarolar, soltando-me um pouco enquanto esperava o sinal vermelho conceder a honra ao verde.
Em momentos como aquele eu aproveitava os segundo para pensar mais sobre a minha vida. Sobre meus ex namorados, já que Taylor Swift fazia questão. Mas o clima estava tão bom que eu lembrei de quando cantava em plenos pulmões músicas country e pop com meu namorado de maior prazo, .
Era algo tão delicioso de lembrar que isso me acalmava. Eu com o violão, ele com o baixo. Ambos desafinados. Era algo tão reconfortante, apesar de fazermos um som horrível.
Era preciso admitir. Nem todo amor próprio e romântico do mundo esconderia aquela bagunça mal sincronizada que fazíamos.
O sinal abriu e eu fui seguir meu caminho quando vi um caminhão gigante de um circo passar, chamando minha atenção pelos brilhos e cores vibrantes.
Não foi preciso franzir os olhos para ler o nome .
Temi estar sonhando acordada demais e segui meu dia, tendo certeza que aquilo fora só fruto da minha imaginação por estar pensando nele.
Podemos concluir dizendo que meu dia foi agradável, depois de você aceitar o simples fato que ele foi horrível.
O caminho de volta para casa foi quase depressivo. Era sexta-feira e eu estava exausta. Só pensava em ir para algum SPA e passar o resto da vida entre massagens. Mas meu salário de jornalista apenas me garantia alguns poucos drinks e era o que eu poderia me oferecer, já que amanhã teria mais uma cobertura para fazer.
Virei a esquina e vi o circo de mais cedo montado. Cujo eu havia lido o nome de . Aquilo me despertou um interesse tremendo e eu estacionei perto, procurando alguém para saber o preço dos ingressos.
Enquanto pegava a bolsa, não pude deixar de perguntar:
- Quais são as atrações especiais?
O rapaz recolhia o ingresso com meu troco para vinte, mas olhou para mim tentando lembrar exatamente de cor.
Meu coração palpitava pelo suspense.
- Olha, senhora. – Olhei feio. Ele não pareceu se importar. – Virá um equilibrista alemão que é famoso por todo mundo, uma turma de palhaço que faz um teatro, com cenas do dia-a-dia em forma de stand-up, umas artistas contorcionistas, um mágico...-
- Qual o nome dele? – o interrompi, entregando a nota.
O rapaz guardou e leu no papel.
- Um tal de . Parece que veio da Inglaterra.
Eu engasguei. A expectativa era grande demais. Tão grande quanto a possível coincidência. Sem mais delongas, adentrei ao espaço e assisti um dos melhores shows que vi na vida.
SEX and MAGIC
Agora...
Escuto passos atrás de mim e me preparo para virar com um dos meus melhores sorrisos falsos, que venho usando, há algum tempo, para lidar com fãs. Não é que eu não goste delas, mas depois dos shows normalmente estou cansado demais para achar atraentes pedidos de autógrafos em guardanapos que logo irão para o lixo ou (o que é ainda pior!) pedidos insistentes para que eu revele ao menos algum dos segredos por trás de minha mágica.
Quando me movo em direção ao som, no entanto, me deparo com . A minha . Está tão maravilhosa quanto na última vez em que nos vimos, e sinto um arrepio percorrer meu corpo, enquanto nos encaramos. Seu olhar está fixo no meu, nada hesitante.
- ... – ela diz, e sua voz, sim, parece cautelosa. Não é uma pergunta, mas seu tom denuncia o quanto é difícil acreditar que estou bem na sua frente, a pouco mais de um metro de distância. Bastaria que um de nós tomasse a iniciativa e poderíamos nos tocar, depois de tanto tempo.
Tanto tempo! Eu mal posso contar quanta coisa mudou em mim, nela e entre nós.
- ! – retruco, sorrindo. É uma ótima surpresa, afinal, ainda que um pouco perigosa.
- Em carne e osso – ela brinca. Tenho a impressão de que está mais relaxada, talvez por eu ter tido uma reação positiva à sua presença, o que ela parecia não ter tanta certeza se poderia esperar.
- Você tá linda! – digo, sem pensar muito sobre se deveria fazer isso ou não. – Como sempre foi, na verdade. Continua linda.
- Para com isso – ela soa mais modesta do que me lembro, mas talvez esteja apenas querendo não parecer convencida demais. – Eu não tenho tido muito tempo pra me cuidar, na verdade. Minha realidade atual inclui refeições improvisadas, pouco exercício e uma quantidade mínima de descanso.
- Deixa eu ver – digo, me aproximando e tocando seu rosto com o polegar. – Há uma sombra debaixo dos seus olhos, sim, mas é só isso. Eles continuam hipnotizantes! E, quanto às refeições improvisadas, eu sei bem como é isso. Estava indo procurar algum lugar decente aberto, no qual eu possa encontrar comida de verdade, então... por que não vem comigo?
Ela olha para as mãos, usando a direita para estalar os dedos da esquerda, nitidamente tentando ganhar algum tempo, mesmo que mínimo. Não me surpreende que ela vacile, antes de aceitar. Eu também não tenho certeza de que me sentar com ela à mesa e passar um tempo em sua companhia seja a coisa mais esperta a fazer, mas me sindo inclinado a ser impulsivo.
Eu sinto que ela quase não me reconhece. O do passado era tão calado e tímido, mesmo com ela. Mas eu quero que ela conheça meu novo eu e tento ser o mais natural possível.
- Eu realmente preciso de algo diferente de salada no pote ou sanduíche! – responde, enfim. Dessa vez, contudo, escolhe observar algumas pessoas que passam por nós, ao invés de mirar meu rosto. Sinal de possível desconforto. – Que tal se eu te apresentasse meu restaurante favorito?
Concordo e, aparentemente, exagerou bastante ao falar sobre suas refeições improvisadas, pois todos os funcionários do restaurante a conhecem (e a chamam pelo primeiro nome!) e ela consegue uma mesa em um canto discreto, em poucos minutos, apesar de haver dois casais na recepção que eu posso jurar que estão aguardando seus lugares.
A princípio, escolhemos nossos pratos em silêncio, mas, enquanto esperamos por eles, tento quebrar o gelo, fazendo perguntas a respeito do período da vida dela que “perdi”. Talvez eu me pareça mais com um repórter investigativo do que com um mágico, quando faço isso, e fico muito aliviado por ela parecer entusiasmada em responder e encorajada a me interrogar também.
As coisas parecem ir bem. Ela está mais relaxada comigo e eu estou entrando em sua onda. Somos como e , mais uma vez.
- Encontrei o Oliver, na semana passada – ela me conta, quando já estamos na sobremesa. É quando me dou conta de que nossa conversa fluiu, durante todo o jantar, como se não tivéssemos ficado tempo demais sem contato. Ainda que, sendo totalmente honesto comigo mesmo, tenha havido momentos em que me distraí, observando o movimento de seus lábios e deixando que a memória de seus beijos me assaltasse.
- Aquela figura! – falo, e nós dois rimos, porque temos um passado e tanto.
Após pagarmos a conta, é quem me faz um convite e, então, vamos a um bar, tomar a saideira. É realmente bom perceber que, assim como eu, ela ainda não está pronta para dizer adeus. Melhor do que eu poderia confessar a qualquer pessoa.
Ficamos mais próximos no bar, sem uma mesa inteira entre nós, e posso sentir seu cheiro. Há um toque floral na sua pele e seu hálito é doce, ainda com resquícios de chocolate e baunilha, mas predominando as fragrâncias de laranja, pêssego e cranberry de seu sex on the beach.
Quero sentir mais do que o perfume maravilhoso dessa mistura de tantos elementos, que provavelmente ninguém pensaria em combinar. Quero sentir os sabores em sua língua e lábios, e me aproximo, cada vez mais, inclinando o corpo em sua direção.
não se afasta. Não acredito que esteja alheia ao fato de que estou olhando para sua boca e umedecendo meus lábios com a língua, como um faminto. Eu não a subestimaria. E tenho a confirmação de que ela sabe o que desejo fazer, quando olho para cima e vejo seu olhar acompanhar o meu.
Ela morde o lábio inferior, e eu o liberto de seus dentes com meu polegar, que desliza de um canto a outro, devagar. Seus olhos se fecham e seus seios chamam minha atenção, ao se moverem com uma inspiração profunda e lenta.
Ela parece sentir o quanto estou mais maduro e melhor em minhas habilidades.
Aproximo-me ainda mais e seguro seu rosto com uma das mãos, enquanto acaricio seu nariz com o meu. Seus lábios se entreabrem, convidativos, e seu hálito é fresco contra minha boca, contrastando com sua pele, que posso sentir se aquecendo a cada toque.
Experimento, com cuidado, roçar nossas bocas, como se ainda precisasse me certificar de que serei correspondido, e ela toma meu lábio inferior entre os seus, sugando levemente, ao mesmo tempo em que segura minha nuca, mostrando que me quer exatamente onde estou, que não deseja que eu me afaste.
Posso me arrepender em alguns segundos, quando tivermos que parar, mas me entrego ao beijo, deslizando meus dedos para seus cabelos e segurando-a com mais força.
Logo minha língua está dentro de sua boca, explorando devagar. Sou um cara previsível, que bebe cerveja ou uísque, dependendo da ocasião, e nunca pediria sex on the beach em um bar. Porém, naquele território que eu estou agora desbravando, o coquetel colorido, extremamente feminino, deixou um gosto único. Ou talvez o gosto daquela boca seja único e os ingredientes manejados tão habilmente pelo barman sejam só distração.
Perdendo-me em tanta doçura, agarro o cabelo dela também com a outra mão, e meus movimentos se tornam mais rápidos e intensos. responde com a mesma avidez, e sinto minha calça se aperta em volta de mim, o que me pega de surpresa. Desde que sou um homem adulto, não me lembro de meu corpo reagindo assim a um beijo apenas. Então pude concluir que era ela quem me causava isso.
Contudo, pensando melhor, não sei por que me espanto assim, afinal é . entre todas as mulheres! E não é só meu cérebro que tem memórias dela. Ele as compartilha com meu coração, com minha pele, com meus músculos... e (é claro) as divide com um músculo em particular. Meu pau quer simplesmente dar um Alô especial a ela!, penso, o que, com certeza, me faria rir, se não estivesse ocupado com coisa melhor.
O problema é que estamos em um lugar público e as coisas que minhas mãos querem fazer, que todo o meu corpo quer fazer, são impróprias para um bar bem iluminado e cheio de gente elegante. Então, me afasto eventualmente, mesmo com medo do que vou ver no semblante dela, das palavras que talvez possa ouvir. Oh, meu Deus, o que estamos fazendo?, Não deveríamos ter nos beijado assim, Isso foi um erro...
Recebo, ao contrário, um sorriso que não sei definir se é tímido ou safado. mantém suas mãos na minha nuca, fazendo um cafuné gostoso, e eu sorrio de volta, desenhando, com as pontas dos indicadores, sua mandíbula, pescoço e clavícula. Sua pele é macia e está levemente ruborizada. Envaideço-me sabendo que essa cor, que a deixa ainda mais linda (o que eu diria impossível horas antes), é provocada por mim.
- É bom ver você de novo, – ela afirma. – E mais do que só ver – completa, rindo de si mesma.
- É muito bom! – concordo, respirando fundo, porque sei que, com minhas próximas palavras, vou me arriscar, sendo como um elefante ao entrar em uma loja de cristais, e posso acabar quebrando tudo. – Você iria embora daqui agora... comigo? Passaria a noite comigo, ?
***
Quando ele me faz essa pergunta, sei que deveria responder não. Tê-lo visto já acionou vários gatilhos sentimentais dentro de mim e tê-lo beijado já tornou suficientemente difícil desligá-los. No entanto, também sei que direi sim e, se demoro alguns segundos para balançar a cabeça, fazendo sinal positivo, enquanto mordo meu lábio, sugestivamente, é só para provocá-lo ainda mais.
Preciso que ele fique louco por mim, porque estou nada mais, nada menos, que desesperada para sentir o seu toque em todos os lugares, e não quero que isso signifique estar em desvantagem. Sei que nunca foi difícil fazê-lo implorar por mais, quando ficávamos juntos, mas isso foi há muito tempo, quando ele era um menino, e não esse homem, com ar misterioso.
Ele tira minha roupa devagar, e eu tento não me apresar em arrancar a dele, para não demonstrar minha urgência. Quando ficamos nus, aprecio seu corpo, os músculos fortes e desenhados dos ombros e peitoral, a quantidade certa de pelos, formando um caminho em seu abdômen. Ele também leva alguns segundos examinando minhas curvas apenas com os olhos, e gosto do brilho de satisfação que vejo neles, do modo como as pupilas se dilatam.
me puxa para si e me abraça, nossos corpos nus roçando um no outro. Sinto meus mamilos enrijecerem com a fricção gostosa, o calor e a umidade entre minhas pernas aumentando a casa segundo. Ele me aperta com mais força, uma das mãos escorregando para minha bunda, e me beija, enfiando a língua em minha boca, sem preâmbulos.
O beijo no bar tinha sido delicioso e este é ainda mais! Estamos nus, prestes a tocar um ao outro nos lugares mais íntimos, a sentir os cheiros e gostos mais secretos, a nos ligar fisicamente da forma mais primitiva, e isso faz com que se mostre mais ousado, mais corajoso.
Ainda me beijando, ele toca um de meus seios e estremeço. Instintivamente, colo mais o meu quadril ao dele, abrindo e levanto levemente a perna, tentando roçar em sua pele o ponto para o qual toda a tensão do meu corpo se dirige. Ele percebe e responde, levando a mão que ainda estava em minha bunda até o lugar em que preciso de contato e fazendo a pressão perfeita com seus dedos.
Contudo, ele me frustra, pois não me leva nem mesmo perto do alívio. Ele deixa meu clitóris e escorrega dois dedos para dentro de mim. Minha vagina se contrai envolta deles e brinca, movimentando os dedos para dentro e para fora.
- Molhada. Apertada. Quente – fala em meu ouvido. Assim: uma palavra de cada vez. Sua voz rouca e mansa é uma agradável tortura, junto com o movimento, suave demais para o meu gosto.
Ele tira os dedos, alguns segundos depois, e esfrega em meus mamilos, lambendo-os, logo na sequência. Sua língua rodeia a auréola, só para aumentar a antecipação e, então, o bico.
Sei que o feitiço se voltou contra o feiticeiro quando ele segura a parte de baixo do meu seio direito, fazendo com que fique bem empinado à sua frente, e respira fundo.
- Esse seu gosto – ouço, em meio a algo gutural, ininteligível. Sua boca, então, está em minha de novo, sugando sem controle.
Quando o outro seio recebe o mesmo tratamento, ele já me levou até a cama e me deitou, pairando sobre mim. Seus dedos voltam a me tocar, me penetrar e, dessa vez, ele lambe os dedos, chupa minha excitação que ficou nele. Ele me olha, sabendo que gosto de ver o que está fazendo.
- Safadinha deliciosa!
Ele dá beijos estalados na minha barriga, circula meu umbigo com a língua, e continua, em uma trajetória descendente pelo meu corpo, até chegar ao ponto em que está prestes a ocorrer a erupção do que vem se formando dentro de mim. E bastam algumas lambidas, algumas sugadas certeiras, para que isso ocorra. Sinto-me plena e, ao mesmo tempo, desfeita em mil pedaços.
Recupero meu fôlego, enquanto ele espalha beijos quase inocentes por meu rosto, queixo, pescoço e colo. E, quando sinto que já não preciso me esforçar para respirar, é minha vez de avançar em sua direção. Com minha palma, vago por seus músculos, não tirando os olhos do caminho que faço, até que ele segura meu pulso, impaciente, guiando minha mão direita para seu pau.
Ele suspira aliviado quando começo, enfim, a masturbá-lo, precisando também do alívio que me concedeu. Inclino-me, provando o gosto de uma gota de gozo que se libera dele prematuramente, e ele geme alto, antes de segurar minha cabeça, em um pedido silencioso.
Sugo seu pau com vontade. Primeiro só a pontinha dele e, depois, colocando tudo que consigo dentro da boca e movimentando-o para dentro e para fora dela, ritmicamente. Sinto que ele luta contra o orgasmo, querendo prolongar o prazer, mas acaba me dando o que quero, não muito depois, e eu sorvo tudo que posso.
precisa de menos tempo ainda que eu para se recuperar e logo está deitado sobre mim na cama, me beijando até estar totalmente ereto de novo. Ele afasta minhas pernas com as suas e me penetra, devagar.
Sexo com sempre foi algo bom, mas nós éramos adolescentes, e nenhum de nós sabia muito bem o que fazer, ou como era fazer aquilo com outras pessoas, para ter parâmetros de comparação. Agora que eu já dormi com outros caras, entretanto, eu posso dizer, sem medo de errar, que está sendo a melhor transa da minha vida.
Ele aprendeu muita coisa, e sabe exatamente do que uma mulher precisa (ou ao menos do que eu preciso), sem que seja preciso falar ou mesmo guiar suas ações.
Eu quero ficar acordada a noite inteira e fazer aquilo mais uma vez (ou algumas vezes), mas meu segundo orgasmo é intenso demais, deixando minha carne mole, meus sentidos confusos, meu cérebro como anestesiado. Sou tomada por Morfeu e só recobro a razão quando o sol entra no quarto de hotel em que ele está hospedado.
Foi uma noite maravilhosa, e eu não estou arrependida ou com vergonha de nada. Ok, talvez fosse ficar um pouco sem jeito, ao encará-lo, admito para mim mesma, mas a questão fundamental não é essa.
Vou embora, sem acordá-lo, tentando fazer o mínimo de barulho possível ao me vestir e pegar minhas coisas, não por causa do constrangimento que poderá pairar entre nós, quando ele acordar, mas para não dizer adeus.
Quero ficar somente com as boas lembranças dessa noite. Quero ter apenas boas lembranças do meu .
O dia seguinte foi ótimo e eu estava com um novo humor para fazer a cobertura. Eu me sentia realmente melhor, mais alegre, mais atenta. era o que eu precisava para curar meu estresse crônico e a intensidade dos meus dias.
Fiz bem em não dizer adeus. Na próxima semana ele já estará fora da cidade, fazendo shows nos arredores e vivendo sua vida como bem entende, mas durante toda a semana acabamos nos encontrando, até a hora de sua partida, com um promessa deliciosa de que estará de volta para mim em breve!
FIM
Nota da autora: (DATA DE ENVIO)
*manter mesmo quando não tive nota, deixe um aviso "sem nota" e coloquem a data.