Era para ser um simples baile de primavera, com um pouco de ponche ruim e lanchinhos comprados na promoção; Era para ser um baile comum de primavera, com meninas em seus vestidos bonitos e o ginásio enfeitado com papel crepom; Era para ser um baile de primavera normal, com caras tímidos demais para chamar quem eles queriam para dançar e uma playlist horrível montada por um professor que se achava “da galera”; Era para ser só um baile de primavera. Não foi. Ninguém sabia, no entanto assim que a banda ganhadora do show de talentos da escola subisse no palco, aquele baile todo tomaria um novo rumo e ninguém mais se lembraria que ele era um baile de primavera, viraria um baile de “vamos expor alguns escândalos”. Um deles? A minha vida.
Eu fui deixada sozinha no meio da quadra da aula de Educação Física, com braços cruzados e bufando. Antes de entrarmos, era obrigatório que nossos celulares ficassem do lado de fora. Alguma regra estúpida que o diretor havia imposto. Ele achava o quê? Que nossos celulares iriam se transformar em uma arma letal ou algo do tipo?
Observei subir no palco, tendo plena consciência que essa era exatamente a mesma ação de todos presentes no ginásio da escola. havia ido pegar um copo de ponche para nós dois e provavelmente estava alheio ao seu vizinho que lentamente se tornou o centro das atenções. Pelo menos, alheio até que anunciassem a banda de pelo auto falante.
Particularmente, eu sempre achara , o baterista, o mais atraente dos três. Eu sempre tive um quê por bateristas, mas a minha opinião certamente era diferente das demais garotas. Era só passar a mão em seu cabelo castanho irresistivelmente (é aqui que eu reviro os olhos metaforicamente) desgrenhado que eu conseguia ver as meninas caindo com as pernas bambas.
-Olá. - sorriu do jeito fofinho que aquecia o coração de todo mundo, nessa hora, eu realmente revirei os olhos. Ele só fazia isso para conquistar as garotas e fazê-las suspirarem. - Espero que vocês estejam tendo uma ótima noite. Eu sou , estes aqui são e . - apontou para cada um de seus amigos, que acenaram com seus sorrisos charmosos como só caras em bandas conseguem. - Nós somos a Scape at Midnight e esperamos que vocês gostem.
E então a melodia começou e toda a sua expressão mudou, num fôlego roubado. Seus olhos verdes brilhantes e travessos miraram para a platéia, percorrendo-a como se descobrisse os segredos de todos e seu sorriso se reduziu ao ponto de malícia. Ele era fofo para aquecer os corações, como eu havia informado, no entanto era agora, com seu ar de quem sabe coisas demais, que ele arrancava os corações aquecidos que lhe eram estendidos pela platéia. Mesmo as garotas que teoricamente “odiavam com todas as suas forças”, no fundo, eram atraídas por ele. Era inevitável.
Uma sobrancelha minha se levantou, eu o desafiei silenciosamente quando seus olhos vasculharam a parte em que eu estava do pseudo salão e encostou os lábios no microfone. Inconscientemente, eu prendi a respiração.
Can we talk about your boyfriend?
He's a dead end
And if I gotta tell you why, it's only gonna make you cry
-Não, . - Falei entediada ao telefone aos pés da escada da minha casa. - Não quero conversar sobre . - suspirei. -Mas eu quero tratar sobre ele. Isso não conta?
- Não, querido, não me importo se você quer tratar sobre ele. - Verifiquei que minha unha havia quebrado e soltei um palavrão. -, é realmente muito importan...
- Não enche o meu saco, . - pedi ao subir os degraus em busca de uma lixa de unha. -Mas é importante mes….
- ‘Tá, ‘tá, aposto que é super importante, blá blá blá. - revirei os olhos. - Eu não vou mais ter essa discussão com você. - bufei. -A gente não está discutindo, você nem está me dando tempo para falar o que eu quero!
- Eu sei que não estou te dando tempo para falar o que você quer, é porque eu não quero falar sobre isso! - entrei em meu quarto e fui caçar a maldita lixa na caixa de esmaltes. -, a gente vai falar sobre isso quer você queira ou não.
- Ai, está bem então, , foda-se. - finalizei e desliguei a ligação. odiava quando surtava sobre .
Let's talk about your boyfriend for a minute
He's got a secret and he's telling you lies
Oh, what a lovely guy
Eu havia conhecido no jardim de infância. Ele ficava me provocando para eu correr atrás dele feito a garota otária de 5 anos que eu era. Claro, se eu o pegasse, ele se arrependia de me irritar pelos tapas que eu dava etc etc. Bom, dificilmente eu o alcançava antes da professora maldita chegar e puff, acabar com tudo, então ele sempre se esquecia dos casos em que eu conseguia de fato bater nele. Eu ficava p. da vida. Não que na época eu soubesse que aquele sentimento era “ficar p. da vida” né, só que tudo bem.
Depois de passarmos o famoso primário, nos separamos durante toda a fase “middle school” e nos esquecemos completamente um do outro. Acabamos por nos esbarrar de novo durante o ensino médio, quando eu mudei de escola e, ao investigar quem estudava lá, (re)descobri .
Até que me pareceu uma boa ideia na hora eu ir conversar um pouco com ele e saber como as coisas eram. Não levar aquele “choque de novata”. Ah, que erro.
I just thought you should know what he is capable of
Assim que eu botei os olhos em em meu primeiro dia na Lucius Waldorf School, eu sabia que eu havia me metido num novo nível de merda, até mesmo para mim, que adorava se meter nesse tipo de problema.
Sim, eu havia vasculhado seu Facebook. Sim, eu havia percebido que o menino com o nariz grande demais para seu rosto havia encontrado o caminho da academia e mudado bastante. Sim, eu já havia reparado em seu cabelo loiro e olhos insanamente azuis. Sim, sim, sim. E, ok, eu também sabia que a possibilidade dele ser superestimado naquele lugar era bem grande, eu só pensei “nah, você conhece o , ele nunca vai conseguir ser esse tipo de gente”. Bem, palmas para você, , porque adivinha quem conseguiu ser exatamente esse tipo de gente?
se tornara o garoto no topo da pirâmide social. Com um sorriso fácil e um corpo maravilhoso, ele não precisou ser quaterback para conquistar sua posição (ele até fazia parte do time, no entanto não era lá aquelas coisas como jogador, mesmo tendo um cargo permanente na equipe). Ok, talvez eu esteja exagerando. Ele fazia parte do grupo no topo da pirâmide social, porém para o menino que eu conhecia quando criança, isso era o suficiente para me fazer dizer “uau”.
E, obviamente, eu cometi o erro de fazer aparecer a seguinte notificação para ele: “ lhe enviou uma solicitação de amizade”. E ele, nem tão obviamente assim, cometeu o erro de fazer aparecer a seguinte notificação para mim: “ aceitou sua solicitação de amizade. Escreva na linha do tempo…”. A seguir, eu só sabia que estávamos muito empolgados no messenger “relembrando os velhos tempos” para que eu sequer perguntasse como a escola que em breve eu estaria realmente era.
Aí eu descobri.
Let me tell you 'bout your boyfriend
Yeah he's got another girlfriend
-! - Ele exclamou assim que me viu, correndo pelo corredor, desviando das pessoas, se mostrando muito mais animado do que eu (que estava meramente chocada com o tamanho que ele tinha) e vindo me abraçar.
Eu nem sequer consegui corresponder todo o seu entusiasmo quando ele me abraçou e me tirou do chão, me rodopiando numa intimidade que eu definitivamente não me lembrava de termos antes.
-Ah, oi, . - Eu sorri, ainda surpresa com a recepção.
-Você está legal? - ele perguntou.
-Depois desse cumprimento? - perguntei, finalmente sorrindo de verdade. - Posso dizer que eu estou ótima! Não sabia que o comitê de recepção da Lucius Waldorf School era tão caloroso assim.
Ele riu.
-O que eu posso dizer? Velhos amigos são bons de se reencontrar.
Eu não tinha certeza se eu podia chamar a nossa relação de “você me provoca e eu tento te bater” como uma amizade, mas eu não o contestei.
-Venha. - ele pegou a minha mão e começou a me puxar pelo corredor muito mais cheio do que deveria, lotado de pessoas apressadas para rever seus amigos. - Eu vou te apresentar para o pessoal. - alguns alunos nos olharam pelo canto de olho quando ele me conduziu e eu senti minha barriga borbulhar como se meu sistema digestivo inteiro tivesse virado refrigerante. - Ainda bem que você entrou agora. Se você fosse caloura, eles iam te massacrar. - Ah, que legal.
Baby I just gotta let you know, you really gotta let him go
Quando me apresentou para seus amigos, eu vi que eu teria problemas sendo caloura ou não. As garotas olharam para o meu rosto e depois avaliaram descaradamente minha roupa. Eu me senti mal pelo shorts e a camiseta com uma frase de Harry Potter. Apesar de todas estarmos de tênis, não podia falar que estávamos vestidas para a mesma ocasião. Seus cabelos haviam sido ondulados ou alisados pela manhã, seus rostos haviam sido perfeitamente maquiados e, se não estavam de saia, vestiam crop top. Eu tinha certeza que elas que estavam arrumadas demais (eu geralmente nem me dava ao trabalho de pentear o cabelo antes de sair de casa), entretanto elas conseguiram me fazer pensar que talvez eu devesse prezar um pouco mais para o modo que eu me vestia.
Eu até gostava de me arrumar algumas vezes e gostava dessas “coisas de menininha”, eu só não fazia tal esforço diariamente para ir para a escola. Que sentido havia nisso?
De qualquer forma, depois da avaliação e de perceberem que não ia me deixar para trás, elas sorriram e se apresentaram.
Let me tell you 'bout your boyfriend
Yeah he's got another girlfriend
-O que você gosta de fazer nas horas livres? - Perguntou Chistopher, um garoto com um sorriso convencido demais para o meu gosto.
-Vai soar bem nerd quando eu falar, mas juro que não sou tão nerd assim. - eu falei com a testa franzida, meio por nervosismo e meio para evitar o julgamento. - Eu gosto de ler.
Chistopher riu.
-Uh, bem nerd. - comentou, então seus olhos se desviaram para algo atrás de mim. Algo não, alguém. - Ah, - Christopher falou alto para a pessoa que estava chegando. - parece que a bonequinha não quis chegar atrasada no primeiro dia de aula! - provocou, me obrigando a olhar para trás.
And I can hear 'em through the bedroom wall
You know she ain't no friend at all
O primeiro pensamento que me ocorreu é que ela era linda. A garota que chegava tinha um longo cabelo castanho em camadas que caía por todos os lados, sua saia, apesar de básica, se movimentava com uma fluidez quase ridícula e a regata colava em seu corpo sem precisar que um decote mostrasse que ela tinha mais peitos que três quartos daquele lugar podia sonhar em ter.
-Não me enche logo cedo, Christopher. - ela riu e mostrou a língua.
-Lienne, essa é a . - me apresentou a recém chegada.
-Ah, então você é a famosa ! - ela exclamou e estendeu a mão. - Muito prazer, eu sou Lienne Hercovitch.
Cause everybody knows it and everybody knew before
Eu não sabia direito quando e eu deixamos de ser amigos de infância e nos tornamos a ser namorados. Um beijo aqui nesta festa, um beijo ali naquela outra, as constantes caronas que ele me dava, os trabalhos em dupla que eu implorava para não fazer sozinha (dos quais ele se beneficiava muito mais, diga-se de passagem, já que ele aumentou - e muito - suas notas com eles). Dentro de dois meses, eu já estava namorando um dos garotos mais populares da minha nova escola. O quê?
Eu conseguia ouvir os sussurros das pessoas no corredor quando passávamos de mãos dadas e a pressão dos olhares se tornava quase esmagadora quando eu estava sozinha. Eu colocava fones de ouvido e erguia a cabeça como se eu usasse aquilo para construir minha confiança. Uhum, ‘tá bom.
But no one ever told you girl
Well baby that's what I'm here for
Na terceira aula (era de Filosofia) do meu primeiro dia, uma garota se virou para sua amiga e cochichou:
-Você ouviu que fez um escândalo hoje logo na entrada?
-Não, o que houve?
-Apareceu uma menina nova e ele agiu como se super a conhecesse. - ela fez uma pausa. - Até parece que ele anda com alguém que não seja daquele bando lá. - A outra riu e a amiga continuou. - Dizem que ele a selou e tudo mais. - Revirei os olhos, eu tinha certeza que meus lábios passaram bem longe dos dele.
-Coitada. - a ouvinte suspirou. - Tenho certeza que ele só está fazendo isso, porque Leanne e Dylan reataram durante o verão.
-Ah, pobre , apaixonado pela eterna namorada do melhor amigo.
-Como se ele ligasse para Dylan! Aposto que ele ficaria com Lienne num piscar de olhos se pudesse.
Olhei para trás descaradamente até que uma delas percebesse e cutucasse a outra para me encarar também.
-É ela! - a morena da direita exclamou. - É a garota nova de !
Dei um sorriso ácido para elas verem que eu estava ouvindo tudo. Envergonhadas, elas desviaram o olhar e passaram a tratar de suas vidas.
His dirty little secrets are banging on his bedroom floor
Oh he's a freaking cheater yeah, I dunno what you do it for
Na minha primeira semana de aula, eu estava conversando com Emily Neyer, uma garota que sentara do meu lado na aula de Literatura, quando alguém se esbarrou em mim, quase arrancando o meu ombro fora.
-Ai! - reclamei, esfregando o local. Olhei para trás e vi que o indivíduo nem sequer se prestara a me olhar para ver se estava tudo bem ou tentar pedir desculpa. - Que mal educado. - comentei irritada. - Quem é ele? - perguntei a Emily.
Ela deu um risinho antes de responder.
I just thought you should know what he is capable of
- . Ele é o vocalista e guitarrista da banda que ganhou o show de talentos no ano passado. Todo mundo meio que tem uma paixonite por ele. Não é nossa culpa.
Let me tell you 'bout your boyfriend
Yeah he's got another girlfriend
Eu demorei um bom tempo para perceber que cantava olhando diretamente para mim. Era tão comum observa-lo ensaiar e fazer contato visual comigo enquanto tocava que não percebi que as pessoas começavam a estranhar.
Foi só no segundo refrão que eu percebi que havia aprontado comigo e, dessa vez, ele não havia simplesmente me jogado de roupa em sua piscina ou misturado mel no meu shampoo. Ele realmente havia acabado comigo. Isso porque, no segundo refrão, o telão atrás de , ao fundo do palco, ganhou vida e as imagens que apareceram estavam longe de serem as que eu queria ver.
Eu tinha 100% de certeza que ninguém ali esperava uma revelação dessas quando comprou seu convite para o baile da primavera. O choque no rosto das pessoas ao perceberem o que estava acontecendo era diverso. Alguns tinham um quê de malícia, outros tinham de pena. O meu? Eu nem sabia o que eu estava sentindo, pois sendo projetado em uma tela de 7 metros de largura, estava um vídeo de , meu namorado, beijando Lienne Hercovitch, uma pessoa que definitivamente não era eu.
Baby, I just gotta let you know, you really gotta let him go
Os dias passavam normalmente para uma garota nova na escola. Olhares, tentativas falhas de amizade, tentativas de amizades falhas, trabalhos… Esse tipo de coisa.
Quase todos os dias eu ia para a casa de após as aulas. A gente assistia um filme, fazia o dever, se beijava, estudava mais um pouco, conversava amenidades e não era nada de muito especial. Era legal. Não exatamente “the time of my life”, mas era legal até.
Foi numa dessas idas a casa de que eu o vi.
parou o carro em frente a sua casa. Eu estava tentando achar o meu celular que havia caído na lateral do banco enquanto ele ia até a sua porta para abri-la. Quando finalmente desci do automóvel e estava andando para dentro da residência , avistei uma pessoa na casa ao lado, em cima das escadas que davam para a porta de entrada do lugar.
Um raio de Sol captou minha atenção e no milésimo de segundo seguinte, eu estava totalmente aprisionada ao indivíduo apoiado na grade de continuação do corrimão das escadas. Ele estava me fitando.
O cabelo estava para cima e para o lado ao mesmo tempo, como se o garoto não se decidisse para que lado arruma-lo. Suas sobrancelhas se juntavam ligeiramente, já que ele estava com a testa franzida para me encarar. Apesar de não ser muito musculoso como os amigos de (ou o próprio ), eu tinha certeza que se eu levantasse sua camiseta naquele exato momento, eu encontraria um abdômen definido.
Quando eu me dei conta, já havia chegado em frente a porta de e ele a destrancava para entrarmos. Eu podia sentir os olhos verdes em minhas costas ao adentrar a casa de meu namorado.
Let me tell you 'bout your boyfriend
Yeah he's got another girlfriend
-Quem era aquele cara na casa do lado? - Perguntei com falso desinteresse.
-Ah, é o meu vizinho - disse ao deixar as chaves na mesa da sala de estar e depois se encaminhou para a cozinha -, .
Surpreendi-me ao ouvir seu nome.
-Hum. - dei de ombros e o segui. - Ele é legal? Ele esbarrou em mim outro dia, quase achei que fosse perder um braço, e ele nem pediu desculpa.
riu e deu um gole de água que ele pegou na geladeira.
-Como você é dramática. - Ele acusou ao me dar um selinho. - Nós costumávamos brincar quando éramos crianças, mas aí a gente cresceu e hoje em dia nem se fala mais.
-Ah.
And I can hear 'em through the bedroom wall
You know she ain't no friend at all
Minha boca se abriu e os meus braços caíram moles ao meu lado quando mais e mais fotos dos dois juntos surgiam. Senti meu estômago revirar ao ver usando a camiseta que eu lhe dera de aniversário ao beijar Lienne. Ele era pior do que eu conseguia aguentar. Lágrimas invadiram os meus olhos. Não eram lágrimas de tristeza, eram lágrimas de raiva, lágrimas de um orgulho ferido.
tinha um sorriso vitorioso no começo, então ele viu a minha expressão e em como eu não estava feliz e começou a parecer preocupado. Ah, mas a música continuava e eu não havia visto o que ele preparara de resto.
Maybe this ain't gonna be as bad as you thought
Eu conseguia ouvir o celular de tocando dentro de sua casa, entretanto insistia em continuar ligando para que ele visse que eu havia tentado contata-lo diversas vezes para poder ganhar a discussão que mais tarde teríamos. Fala sério, eu queria só deixar a maldita maquete ali e ir embora. Eu tinha cookies no forno e duvidava que papai se lembraria de tira-los de lá.
-Acho que ele não está em casa. - Uma voz me informou.
Eu olhei para o lado direito, de onde a voz vinha. Era e seu cabelo estranho e bonito na casa ao lado, exatamente onde eu havia o visto 5 semanas antes.
Eu me afastei da porta de meu namorado para ver seu vizinho melhor. Mesmo com meus óculos escuros, fui obrigada a estreitar os olhos, já que o Sol era o plano de fundo de .
-Você sabe para onde ele foi?
Ele balançou a cabeça.
-Não.
Ouvi a ligação cair na caixa postal e tirei o celular do ouvido para tentar ligar de novo.
-Você não quer que eu fale que você passou aqui e depois ele passa na sua casa? - perguntou.
-Uhm… - eu desliguei a chamada. - Eu só preciso deixar isso aqui com ele. - apontei para a casinha de papelão que eu segurava no braço esquerdo. - Eu estou indo viajar e ele precisa terminar o trabalho. Não estarei em casa mais tarde.
-Nesse caso, você não quer deixar aqui em casa? - Ofereceu. - Eu posso entregar ao quando ele chegar…
Encarei relutante.
-Relaxa, eu não vou destruir o seu trabalho ou tentar copia-lo.
Olhei para , depois para a minha pobre casinha de mentira, para o meu carro que já estava esquentando embaixo do Sol havia um bom tempo e voltei meu olhar para , que me observava se divertindo com o meu dilema.
-É sério, eu já até terminei o meu projeto.
Suspirei derrotada, só tínhamos mais aquele fim de semana e eu não estaria disponível para terminar aquela maldita casa.
-Tudo bem. - concordei e fui subir as escadas de entrada de sua casa.
Maybe we don't have to sneak around anymore, no
-Você é a , não é? - Ele me perguntou ao destrancar sua porta.
-Sim. - respondi. - E você é o , certo?
-Uhum. - ele se virou e sorriu para mim, estendendo a mão. - Muito prazer, .
-Oi. - eu sorri em resposta. - .
-Bom, , fique a vontade. - ele disse ao dar um passo para o lado e gesticular para sua casa.
Eu entrei na casa dos com as palmas das mãos suando, esperando ser pega abrindo o pacote de chocolate caro que guardávamos para casos especiais no armário acima da geladeira. Eu tirei meus óculos e fiquei parada ao lado da porta, observando o hall de entrada da casa dele como uma idiota.
-É sério, , ninguém vai sair de um esconderijo super secreto e te atacar. - disse ao trancar sua porta. - Relaxe.
Eu deixei uma risadinha escapar.
-Eu não me preocuparia se alguém me atacasse, de verdade. - eu consegui ver os pensamentos maliciosos de sendo rascunhados em sua mente. - Agora, se destruíssem essa casa ridícula… - eu apontei para a maquete e vi o sorriso astucioso de se transformar em uma risada. - Quero dizer, eu não sei se poderia responder por mim mesma, sabe? Essa casa é mais difícil do que parece!
terminou de rir e eu quase suspirei de alívio por conseguir desfazer o ponto de tensão no qual eu estava me transformando.
-Venha. - ele me chamou e eu o segui. - Eu vou te mostrar onde você pode deixar a sua casa.
me conduziu para a sua sala de estar, onde achei que eu deixaria meu projeto, no entanto, ele me levou até a parte de trás de sua casa, passando pela sala de jantar e cozinha. Acabamos em um jardim com uma piscina, uma churrasqueira, uma mesa de madeira e bancos de parque. Pequenos arbustos ficavam no entorno do local, encostados na cerca que delimitava a casa dos das demais casas do quarteirão. Deveria ser um local maravilhoso para passar tardes quando as plantas floresciam.
-Pode ficar em cima da mesa. - Ele gesticulou até o móvel. - Não vou encostar nela, te prometo.
-Não vai encostar nela até você ter que entregá-la para . - corrigi ao fazer conforme ele indicou.
-Ah, não. - negou. - Eu ligo para ele quando ver que ele chegou e ele vem buscar. - ele apontou para a divisão entre sua casa e a de , onde eu percebi que havia um pequeno portão que se parecia com o resto da cerca, mas não havia arbusto naquela parte.
Eu olhei para o resto da cerca de , esperando encontrar mais portões com as demais casas. Não havia nenhum.
-Hum… - coçou a nuca. - A minha família e a de eram bem amigas quando éramos menores.
-Sim, ele me disse. - falei ainda confusa. Eu nunca tinha visto aquele portão no quintal de . Obviamente. Eu e nunca íamos em seu quintal.
-Você quer um copo d’água? Acho que você ficou no Sol lá fora por um bom tempo…
Eu sorri para .
-Eu aceitaria um.
Nós dois voltamos para a sua cozinha e, enquanto ele pegava um copo para mim e outro para ele, eu observei o cômodo.
-Você tem um irmão? - Perguntei ao ver um desenho de uma casa com um sol e um jardim feito com giz de cera pendurado na geladeira.
Ele riu.
-Eu tenho uma irmã mais velha. Isso daí é meu. - Ele riu de novo e me estendeu o copo com água. - Aqui.
-Obrigada. - dei um gole. - Desde pequeno tem talento para as artes, hum? - provoquei.
-Você pode ver porque eu escolhi música.
Foi a minha vez de rir.
-Na realidade, não. - Falei. - Essa obra de arte aqui - toquei na folha sulfite. -, é quase um Vincent van Gogh.
-Eu acho que está mais para um Pablo Picasso. - argumentou ao se aproximar da geladeira.
Eu gostava de . Ele tinha um jeito leve de ser. Não podia negar que era ótimo em iniciar conversas e, de fato, as garotas da escola tinham razão para se sentirem atraídas por ele. E o melhor de tudo é que ele não parecia pensar muito no que ia falar a seguir ou o que faria, diferente das pessoas que eu falava que eram do meu “grupo de amigos”, que mediam e avaliavam suas ações (e as dos outros) para ver o que se encaixava no alto padrão da elite da Lucius Waldorf School.
-Claro, que tolice minha. - Eu contornei a linha de giz vermelho do telhado da casa com a ponta do dedo. - No entanto, esse traço aqui é bem similar com o de Leonardo da Vinci. - apontei.
Quando não obtive resposta, temi que levei a piada longe demais e ela perdeu a graça o que instauraria um silêncio constrangedor. Contudo, quando olhei para a direção de , ele estava imediatamente ao meu lado esquerdo, meu ombro quase tocava seu peitoral. Minha respiração ficou pesada quando notei que ele olhava fixamente meus lábios. Meu coração acelerou e seus olhos verdes nunca me pareceram tão intensos quanto quando ele passou a me encarar. Alguns fios de seu cabelo castanho possivelmente atrapalhavam sua visão e eu queria levantar minha mão e dar um jeito nisso, aproveitar para ver se seu cabelo era tão macio quanto prometia ser.
Eu estava tão concentrada com a sua proximidade que quase perdi quando ele disse:
-Talvez a obra prima seja você.
E todo o espaço entre nós se reduziu.
Maybe when you leave, you'll end up with me after all
-Eu tenho namorado. - eu falei antes que fosse tarde demais.
parou o ato e eu quase suspirei de alívio, pois eu tinha certeza que se ele ignorasse meu comentário, eu ignoraria também.
-Sim, desculpe. - ele pigarreou e se afastou.
-Não, tudo bem. - engoli em seco e olhei para o copo em minha mão.
Oh, yeah, and I can be your boyfriend
Eu queimava por dentro. Eu queria tanto beijar . Deuses, eu queria mais que tudo colar aquela boca na minha. Maldita consciência. Maldita, maldita, maldita! Eu nem sequer conseguia olhar mais para ele. Por que ele tinha que ser tão bonito? E por que ele tinha aquele cabelinho estranho e charmoso? Por que a conversa era tosca e ótima?
Encarei o copo até sentir que meu rosto havia terminado de esquentar. Como se aquilo fosse meu salva vidas, eu bebi toda a água. Num gole só, sem parar para respirar, do mesmo jeito que um viajante do deserto do Saara faria.
-Obrigada pela água. - Agradeci ao estender o objeto transparente, só então olhando para .
Eu ri quando vi a cena. Ele estava fazendo exatamente o mesmo que eu alguns instantes antes: virando a água como quem vira uma dose de uísque quando quer ficar bêbado.
-Não há de quê. - ele disse ao pegar o copo que eu ainda estendia.
Eu ainda ria quando colocou o copo na pia.
-O que foi? - Ele perguntou.
-Nós estamos um pouco exaltados ainda. - ele concordou com a cabeça. - Podemos fingir que nada disso aconteceu?
Ele franziu a testa:
-O que aconteceu? - deu uma piscadela e eu sorri agradecida.
And you can be my my world
-Eu preciso ir. Daqui a pouco meus cookies vão queimar. - Falei.
-Então é cozinheira? - ele perguntou e começou a fazer o caminho até a porta de entrada.
- gosta de comer doces. - expliquei.
-Engraçado, , porque também gosta de comer doces. Talvez pudesse experimentar um cookie de qualquer dia desses. - ele sugeriu e eu ri.
-Hum… - fingi pensar. - Talvez até dê para isso acontecer, .
Meus olhos passearam pelos cômodos da casa com mais atenção agora que eu não estava surtando por , o que era consideravelmente perigoso para o meu namoro devido o que havia acabado de acontecer. E só ficou ainda mais arriscado com o que estava para vir.
-Pare de tentar ver onde meu projeto está, . - O garoto disse em tom de comando. - Você jamais conseguirá pôr os olhos na minha belezura antes do dia da apresentação.
-O quê? - eu ri. - Eu não preciso tentar copiar o seu trabalho! Vai estar pior que o meu de qualquer maneira. - dei de ombros.
-Aquela casinha feita de palha? Se o lobo mau assoprar aquilo ali, já era!
-Essa foi boa, , vou te deixar ganhar depois disso.
-Ah, que gentil da sua parte, . - ele comentou ironicamente.
-Pode me chamar de . - eu sorri.
-Tudo bem então, .
Chegamos em sua porta e ele a destrancou, abrindo-a logo após. Peguei as chaves de meu carro de meu bolso e encarei-o.
-Até logo então, … - Fui interrompida pelo meu celular. - Alô? -Oi, , tudo bem?
-Ah, oi, mãe. -Você sabe quais DVDs seu primo pegou emprestado? Ele perguntou porque não sabe de quem é o quê.
-Hum… Acho que Matthew estava com o meu DVD de O Procurado só. Que eu me lembre, Truque de Mestre está comigo. -Você tem certeza?
-Eu o assisti outro dia. -Matthew me perguntou se não é seu o Truque de Mestre.
- Não, não é meu. -Não é dele.
-Acho bom ele ver de quem é. -Mas vou te contar, esse seu primo viu…
- É, ele está louco. -Papai te contou que horas vamos sair?
-Acho que logo que você chegar em casa a gente já vai. - Olhei para com um quê de desculpa no olhar pelo desconforto causado pela extensa ligação. Minha mãe disse algo que não entendi. - Tudo bem. Olha, eu preciso ir, ok? - Sorri sem graça. -Tudo bem, filha. Te vejo mais tarde.
- Beijos, tchau. - Apertei o botão de encerrar a chamada e encarei . - Sinto muito por isso.
-Não há necessidade. - ele sorriu. - Mães têm que ligar para suas filhas, não?
-É, acho que sim, né? - dei de ombros. - Tudo bem que não precisava ser exatamente agora para discutir quais filmes meu primo pegou de casa ou não, mas isso a gente releva, não é mesmo?
-Ele levou O Procurado e Truque de Mestre?
-Não, Truque de Mestre está bonitinho no meu quarto.
-Ah, sim, claro. - passou a mão em seu cabelo. - Adoro O Procurado, é um dos meus favoritos.
-Eu prefiro Truque de Mestre, mas com certeza O Procurado está no meu Top 5 também.
-Talvez a gente devesse assistir qualquer dia desses.
Levantei uma sobrancelha.
-Pensei que tivéssemos esquecido do que aconteceu uns minutos atrás.
-O quê? Não! Como amigos! - coloquei as mãos na cintura e ele deu um sorriso. - Meu Deus, , como você é desconfiada! É com todo mundo ou só comigo? Eu juro que estou te falando para assistirmos esse filme sem segundas intenções.
-Tudo bem. - Revirei os olhos sorrindo. - Cookies e O Procurado então.
-Combinado.
Virei-me para a porta, finalmente saindo da casa do . Coloquei meus óculos escuros e caminhei até o meu carro. Quando cheguei em casa, eu tinha um sorriso maior do que eu deveria no rosto e cookies queimados.
Let me tell you 'bout your boyfriend
Meu estômago ia de cima para baixo, minhas mãos suavam e era como se todo o meu cérebro tivesse entrado em pane. Eu deveria chorar como eu queria? Eu deveria correr e fugir? Eu deveria dar um soco em por fazer isso? Porque quando ele terminou o break da música e seus olhos ainda estavam grudados em mim, eu podia jurar que eu desenvolveria superpoderes e faria as três coisas ao mesmo tempo.
Yeah he's got another girlfriend
-Então, quando você quer impressionar uma garota, você a chama para ver o ensaio da sua banda?
havia me chamado para ver a Scape at Midnight se preparar para o show de talentos que seria em menos de dois meses. Eu havia acabado de chegar na casa dos e os demais integrantes da banda já estavam na garagem. Eu dei risada quando contou que eles eram literalmente uma banda de garagem. Isso não tinha saído de moda, sei lá, há uns 10 anos?
-Não havíamos esquecido o nosso quase beijo? - perguntou com um sorriso brincalhão no rosto.
Ele conseguiu meu número de celular com Emily, que era sua parceira em um trabalho de História sobre segregação racial. Eu quase a matei por divulgar meu celular. Ela só riu de mim e falou “É , você queria que eu fizesse o quê?”. Sim, era , por isso mesmo eu a mataria. E por isso mesmo eu não a matei. Desde então, eu e ele nos falávamos todos os dias, nem que fosse para reclamar da minha aula de Biologia enquanto ele estava em seu período de Literatura.
-Essa é uma pergunta legítima. - apontei.
deu um meio sorriso e emaranhou os dedos em seu cabelo brevemente. Seus olhos verdes reluziam de travessura, sem que eu precisasse de uma resposta verbal (ela veio mesmo assim):
-Depende muito. Se eu gostar da garota… - Ele deu de ombros.
-Acho que não precisa que você goste tanto dela assim. - acusei.
-Obviamente eu tenho algumas jogadas antes de partir para esse recurso. - sua expressão se tornou mais séria. - Principalmente agora que estamos perto do show de talentos, precisamos ensaiar de verdade e ter alguém que queremos por perto pode ser bem… difícil de nos concentrar.
-Então eu não vou te distrair? - perguntei travessa, só para ver o que responderia.
Ele não me decepcionou:
-Eu já usei minhas outras estratégias com você.
Baby I just gotta let you know, you really gotta let him go
-Oi, amor. - falou do outro lado da linha.
Era meia noite de sábado, eu estava entediada em casa porque estávamos sem internet e ler não era uma ideia que me empolgava.
-Quero fazer alguma coisa. - Resmunguei.
-Vem para cá. - ele convidou.
-Você está maluco, ? - eu perguntei rindo. - Meus pais me matariam se eu saísse de casa a essa hora.
- Ninguém precisa saber que você saiu da sua casa.
Revirei os olhos, como se eu fugindo passaria despercebido pela minha família. Foi então que uma ideia mais agradável me surgiu.
-Quem sabe se você viesse para cá me buscar…
-Ah, não, amor. - ele disse com a voz arrastada. - Eu estou cansado do treino de futebol que o Dylan decidiu ter hoje e minha preguiça pode derrubar um mamute.
Eu ri de sua expressão e fingi que não havia ficado ligeiramente magoada.
-Tudo bem então, querido. - Eu suspirei. - Vou ver se meu wi-fi voltou. Beijos, tchau.
-Tchau.
Let me tell you 'bout your boyfriend
-Veio em cima de uma tartaruga, ? - um dos garotos perguntou e eu não consegui segurar a risada.
se virou para mim e me repreendeu.
-Mas você veio? - perguntei com uma sobrancelha levantada provocando-o.
-Você estava comigo! Você deveria se sentir ofendida! - ele apontou.
-A pergunta foi para você de qualquer forma. - retruquei. - Além de ter sido ótima, ela era de verdade.
-Ainda bem que ela era de verdade. Se você a fez, não poderia ser de mentira, não é?
- Você é sempre tão engraçado assim? - revirei os olhos de brincadeira.
- Não, ele só fica assim quando tem garotas bonitas no recinto. - o terceiro garoto apontou e eu ri.
- Vou considerar isso um elogio.
- E eu vou considerar expulsar vocês dois da banda.
-Quem disse que pode fazer isso? - primeiro garoto perguntou - Talvez eu e que te expulsemos.
-Aí você pode fazer um show de stand-up no show de talentos. - Alfinetei e ganhei um high five dos outros dois integrantes da Scape at Midnight.
-Mellie, estes são - ele apontou para o primeiro de seus amigos que falou conosco, perguntando sobre a coisa de tartaruga. - e . - apresentou o outro garoto, que me chamou de bonita.
-Prazer em conhecê-los. - falei ao cumprimenta-los.
-A Tiffany não vem, ? - perguntou ao posicionar o microfone. negou com a cabeça.
-Ela cansou de ouvir você desafinando as músicas, cara.
riu e revirou os olhos: - E o Mike, ?
-Também não. - respondeu. - Ele tinha que passar na oficina do pai.
-Ah, mas veja se mais tarde ele virá para a pizza.
-Uhum.
-Pizza? - perguntei, minha sobrancelha levantada novamente.
-Depois de todos os ensaios, nós comemos pizza. Você come pizza, né?
-Que tipo de pergunta é essa? É óbvio que eu como pizza.
-Não sei, com o corpo de modelo que você tem, não acreditava que você comia. Bom saber.
-Nossa, bro - disse. -, depois dessa, até eu te beijava.
Eu ri alto.
-Ele já soltou alguns flertes melhores. - Dei uma piscadela para que sorriu meio envergonhado, depois me virei para . - Eu também beijaria, só que eu tenho namorado.
-Por enquanto. - acrescentou com seu sorriso travesso e eu não consegui fazer nada além de rir.
Yeah he's got another girlfriend
-, eu tenho certeza que você não me deu as chaves de sua casa quando saímos daqui. - Eu falei enquanto o assistia procurar suas chaves em seus bolsos e não as encontrava.
-, elas não estão comigo. - ele disse e eu bufei sem paciência.
Estávamos ambos em frente a casa dos . Era final de inverno e a temperatura ainda estava fria demais para o meu gosto, o que me deixava particularmente incomodada com a situação toda.
-Elas não estão comigo também, ué.
-Vou ver se estão no carro.
-É, vai lá. - resmunguei.
Eu cruzei os braços e fiquei xingando mentalmente . Ouvi um carro estacionar atrás de mim, no entanto não dei muita importância para isso. Eu deveria ter dado.
-! - Uma voz exclamou me chamando e eu olhei para trás surpresa.
-Bella! - sorri forçada, apesar de ter uma cor de cabelo diferente, os olhos verdes não podiam esconder de quem ela era irmã.
Ela veio me abraçar e eu não consegui não retribuir.
-O que você está fazendo aqui? - Perguntou exatamente quando surgiu com um grande ponto de interrogação em seu rosto.
- é meu namorado. - expliquei e gesticulei para ele, que passou o braço ao meu redor.
-Ah. - A testa da irmã mais velha de se franziu. - Oi, , quanto tempo! - ela sorriu para ele.
-Sim, você sumiu!
Os dois estavam se cumprimentando com um beijo na bochecha quando eu vi a porta da residência dos se abrir.
-Mamãe mandou eu vir te encontrar porque te ouvimos chegar, mas você não apareceu. Ela já está achando que você foi... - A voz de morreu e ele ficou confuso quando não viu sua irmã. Ele a procurou com os olhos já começando a ficar preocupado e me encontrou com um olhar de pânico para a cena de Bella e conversando amigavelmente. -Me ajude! - pedi sem fazer som algum, só movimentando os lábios. -Como? - perguntou da mesma forma. -Eu não sei!
Ele pigarreou. - Bella! - chamou mais alto para atrair a atenção da irmã.
-Oi, !
-Venha logo, mamãe está louca na cozinha. Ela não acha o saleiro elétrico e daqui a pouco os convidados vão chegar. - Ah, era hoje aquele jantar com os colegas da empresa da mãe de .
-Eu disse para ela que está na dispensa!
-Hum… - estava aflito. - Ela não o encontrou!
-E ai, amor? Encontrou as chaves? - perguntei para enquanto os dois irmãos discutiam sobre a busca fictícia da Sra. pelo saleiro chique deles.
-Ah, sim, elas estavam caídas no chão do carro.
-Então vamos entrar? - perguntei.
-Eu estava conversando com Bella… - ele gesticulou para a garota 3 anos mais velha que nós.
Bella gritou mais alguma coisa para e suspirou.
-Eu preciso ir ajudar a minha mãe, pessoal. - Ela sorriu para nós. - Mas foi bom reencontrar vocês.
-Uhum. - Concordei com um sorriso largo demais para o meu rosto.
-Até logo, Bella. - se despediu enquanto ela se afastava.
-Tchau! - ela acenou.
Entrei na casa de soltando o fôlego que eu não sabia que estava segurando.
-De onde você conhece a Bella?
-Ela foi com na casa de Emily quando eu estava lá. - falei como se eu já tinha minha história pronta. - Foram buscar um livro dele ou algo do gênero... Impressionante ela ter me reconhecido.
-Ah, sim.
-Você quer que eu faça um chocolate quente para você? - perguntei ao me dirigir à cozinha. - Tenho certeza que os mini marshmallows que sua mãe comprou outro dia devem estar no armário ainda, porque você ficou com preguiça de fazer chocolate quente para si.
-Como essa minha namorada me conhece!
Eu ri.
-Você que é previsível!
And I can hear 'em through the bedroom wall
Era uma sexta-feira a noite. Eu conseguia sentir a temperatura começar a esfriar já com o outono avançando. Havia sido um longo dia na escola e eu estava fazendo cookies para me relaxar. A casa inteira cheirava a baunilha e eu assistia o chocolate começando a derreter dentro do forno, era a melhor coisa de todas.
Foi então que eu tive uma ideia.
Dali duas horas, quando as luzes das casas já tinham começado a se apagar, com as mãos suando de entusiasmo e as pernas tremendo de ansiedade, eu toquei a campainha da residência dos , esperando que o um quarto certo daquela família me atendesse, que aquele quarto que eu queria não tivesse saído ou já tivesse companhia para aquela noite. Ele me atendeu.
- ? - Perguntou ao abrir a porta.
-Boa noite, que também gosta de comer doces. - eu sorri. - O combinado era cookies e Truque de Mestre, não é?
deu um meio sorriso.
-Cookies e O Procurado. - Corrigiu.
Eu apontei para a sacola que eu segurava.
-Ainda bem que eu trouxe os dois DVDs então. - dei uma piscadela e entrei em sua casa.
You know she ain't no friend at all
-Oi, querido. - Falei sorrindo ao telefone.
-Olá para você também. - me respondeu e eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
Eu comecei a andar pelo meu quarto, meus saltos fazendo barulho contra o piso.
-Parabéns pela vitória!
-Obrigado.
-Bom, eu já sabia que vocês ganhariam o show de talentos, mas parabéns de qualquer forma.
riu do outro lado: -Meu ego está muito feliz com seu comentário. Agora você terá de nos acompanhar em nossa preparação para o baile de primavera. Os vencedores do show de talentos tocam todo ano lá.
-Sem problemas. - afirmei antes de pigarrear, mordendo o lábio inferior. -Desculpe-me por não estar lá para te cumprimentar pessoalmente. - Eu disse, me sentindo um pouco culpada. - Eu tive que vir para casa me arrumar, você sabe. -Está tudo bem, .
-Manda um beijo para os meninos e os parabeniza também por mim. -Ahn… - ouvi um chiado e tampou o microfone do celular. - e falaram que vão cobrar uma ligação também.
-Eu quero que o meu parabéns tenha direito a beijo na bochecha e tudo mais! - exclamou ao fundo e eu ri. -, para de sonhar, cara. - o repreendeu. - Ela não dá beijo na bochecha nem do assim de graça.
-A não ser quando eles estão entre quatro paredes. - apontou. -Isso daí eu já não sei. - falou e eu e rimos.
-Toc toc. - Uma voz soou da porta do meu quarto e eu me virei para lá. - Oi. - sorriu charmoso para mim. Ele estava com um terno lindo e trazia uma caixinha.
- Eu preciso ir. - falei para o telefone. - Beijos. - encerrei a ligação e olhei para , apreciando a vista. - Oi.
-Olha só que gata que está a minha namorada.
Eu ri e olhei para a minha roupa. Era um vestido preto que eu havia encontrado no fundo do meu armário que eu havia esquecido que o tinha.
-Você também não está nada mal, . - eu fui até ele.
me estendeu a caixa.
-Um pequeno gesto de desculpa pelo o que você vai passar.
Eu ri de novo e peguei o presente.
-Obrigada. - Agradeci e lhe dei um selinho. - Até parece que te acompanhar para um jantar em que seu pai vai receber um prêmio é algum sacrifício para mim.
Sentei em minha cama e puxei junto. Ao abrir a caixa, encontrei um colar com um pequeno pingente em formato de losango brilhante.
-É lindo, . - Eu sorri. - Obrigada de verdade.
Ele sorriu torto e deu de ombros.
-Eu nunca dou presentes para a minha namorada, achei bom variar.
O puxei para um beijo:
-Adorei que você variou. Só não vá me mimar demais.
-Pode deixar.
Maybe this ain't gonna be as bad as you thought
Foi quando apareceu em meu campo de visão que eu consegui reagir finalmente. Ele me olhou com os olhos arregalados, sem saber o que esperar de mim. Ah, deuses. Acho que ele esperava que eu estivesse brava com ele. Eu não estava brava com ele, eu estava humilhada por ele. E brava com também (e humilhada por ).
Depois que percebeu que eu também esperava alguma reação dele, pois eu parecia tão culpada quanto o próprio, ele começou a andar até mim furioso. Seus passos estavam pesados e eu prendi a respiração.
Nesse momento, Dylan - o melhor amigo de e namorado de Lienne - saiu do nada de algum lugar e deu um soco em meu (ex)namorado. Eles começaram a brigar e eu só consegui voltar a olhar para o palco.
deu de ombros.
Maybe we don't have to sneak around anymore no
Entrei na casa dos grata por sair do frio lá de fora. pegou a bandeja de cookies de minha mão e me conduziu pela cintura até a sala de estar.
-Fique a vontade, . - Ele sorriu. - Ninguém sairá e te atacará ainda. -Ainda. - repeti e dei risada.
-, quem foi que… - uma voz feminina surgiu da escada e eu vi uma garota um pouco mais velha que nós surgiu no topo das escadas.
Ela tinha um longo cabelo cacheado e olhos verdes amistosos. Estava de regata e calça de pijama já. Um sorriso brincalhão se abriu em seu rosto.
-Ah meu Deus, finalmente criou vergonha na cara e convidou uma menina aqui para casa no lugar de chegar com ela do nada! - Ela riu e terminou de descer as escadas correndo.
-Não, Bella - começou a falar, ligeiramente corado -, a é só…
-Muito prazer, eu sou a Bella. - ela parou em minha frente e estendeu a mão para me cumprimentar.
-Oi, eu sou . - dei um sorriso envergonhado. - Eu sou só amiga do , nada demais.
Assisti o sorriso de Bella desmanchar e ela olhar para o irmão inconformada.
-Mas tu é um traste mesmo heim. - Falou e eu ri. - Vem essa menina bonita aqui, bem diferente daqueles paus com cabelo mais falso que não sei o quê que você traz, e ela é só sua amiga? Você é uma vergonha para essa família, . - Concluiu e foi embora.
Assim que Bella sumiu, eu comecei a gargalhar.
-A sua irmã é a melhor irmã que eu já conheci.
-Só você acha isso. - resmungou e me puxou para o sofá. - Você quer pipoca?
Dei de ombros.
-Tanto faz.
-Vou lá fazer pipoca para a gente. - ele se levantou. - O home theater está ali. Quer ajuda ou você se vira?
-Pode deixar que eu me viro.
-Tudo bem então, já volto.
voltou com um monte de pipoca, que foi deixado de lado na primeira metade do filme para comermos os cookies que eu havia trazido.
-Meu Deus. - exclamou com a boca cheia. - Melhores cookies que eu já comi. - Falou e eu ri do formato que seu rosto adquiriu quando ele se deliciou.
-Obrigada.
O filme foi passando e tanto a pipoca quanto os cookies foram esquecidos conforme nos envolvemos no enredo. Bom, para ser honesta, eu não estava minimamente prestando atenção no que acontecia na televisão.
Em algum ponto, havia colocado seu braço ao meu redor, o que em nada ajudou em minha linha raciocínio. Eu só conseguia lembrar de seus lábios próximos aos meus e no quanto eu queria descobrir se ele beijava tão bem quanto diziam pelos corredores da escola. A vontade de saber como seria suas mãos pelo meu corpo estava me consumindo pouco a pouco.
Além disso, nas últimas semanas eu havia descoberto que ele era realmente um cara legal. Por mais que eu já tivesse o recusado, ele continuava com alguns flertes aqui e ali camuflados pelo tom de brincadeira. Flertes os quais eu respondia do mesmo modo.
Era ridículo como ele desvendava os tons de minhas mensagens, mesmo se eu mandasse as respostas mais simples, ele sabia que eu estava sem paciência ou que eu não estava 100% feliz. E, no resto do tempo em que a gente se falava, ele só me fazia rir.
Toda vez que eu falava “eu tenho namorado”, eu via seus olhos verdes desbotarem, só para então faiscarem como se eu tivesse lançado-lhe um desafio. Era por aqueles olhos verdes que eu sentia meu coração se comprimir. Eu havia evitado nos últimos tempo encará-los, pois eu sabia que eu não resistiria se eu os visse por tempo demais. Os traços de suas íris me prometiam coisas que eu não sabia que queria e eram tão lindos que se tornaram irresistíveis.
-. - Eu me ouvi dizendo.
-Sim? - ele se virou para mim.
Ele me olhou e eu olhei de volta. Focando exatamente em minha perdição. Eu respirei fundo, depois peguei fôlego e, num único movimento, eu me impulsionei para finalmente sentir o gosto de sua boca.
Ela tinha gosto de cookie e pipoca, conforme previsto pelo nosso cardápio da noite, mas eu não me importei. Me agarrei em seu cabelo que, sim, era bem macio conforme parecia ser e sua mão que estava ao meu redor antes foi parar em minha cintura, a outra estava em minha nuca, pressionando-me contra ele.
Quando nos separamos, ele não pôde resistir em comentar:
-Esse filme estava incrivelmente insuportável. - passou sua mão em seu cabelo e eu soltei uma risada.
-Eu me lembrava que ele era mais legal também. - Ele se aproximou com um sorriso divertido.
-Talvez você que tenha tornado tudo tão sem graça.
-Ah, um beijo só e você já está me reduzindo. - brinquei.
mordeu meu lábio inferior antes de complementar:
-Ficar perto de você é muito melhor do que qualquer outra coisa que esteja acontecendo ao nosso redor.
-Você já foi melhor nas cantadas, . - eu o beijei lentamente.
-Eu tenho os meus altos e baixos. - ele falou. - Você vai ter que me manter por perto para obter o meu melhor. - E lá fomos nós em outro beijo.
-Vou me lembrar disso.
E, em meio a nossa sessão de amassos, ouvimos uma voz resmungar atrás de nós:
-Uhum, amiga, né? - Bella disse e nos separamos rindo.
Maybe when you leave, you'll end up with me after all
-, amor - Fiz minha voz manhosa -, você não precisa ir agora mesmo, precisa?
-Dylan disse que precisa de mim, . - ele falou, se soltando do meu abraço grudento e se levantando de sua cama.
Estávamos em seu quarto, era sábado a tarde e tudo o que eu queria fazer era tomar sorvete enquanto assistia Friends.
-O Christopher pode dar carona para Dylan. - Argumentei fazendo biquinho. - Dylan mora do outro lado da cidade e o churrasco é a duas quadras daqui.
-Não, . - fez seu tom de voz como se o pedido do amigo fosse um pedido de socorro e não de carona. - Eu preciso ir. Por mais que ficar com você aqui seja maravilhoso e eu estou quase me arrastando para ir, não dá.
-Mas… - tentei contra argumentar, porém o telefone de começou a tocar.
-Alô? -! - eu conseguia ouvir Christopher gritando do outro lado da ligação. - Cadê você, cara? Traz logo o Dylan! A festa tem que começar!
-Eu já estou saindo de casa, Christopher. Estou só me despedindo de , ela está aqui também. -Mas não chama ela, cara! Você sabe que essa festa é só para os irmãos. - eu revirei os olhos. - Todas as namoradas estão ficando para trás hoje! - Ouvi alguém gritar ao fundo e Christopher gritou de volta. - Até Dylan conseguiu dar um jeito na gostosa da Lienne. Nem ela vem.
riu.
-Tudo bem, Christopher. Já chego aí. Falou. - desligou a chamada e eu o encarei. - O que foi? - ele perguntou, indo até sua cômoda e pegando suas chaves e carteira.
-”Todas as namoradas estão ficando para trás hoje?” - perguntei, parecia que tinha um limão em minha boca. Levantei-me e fui atrás de meu par de tênis. - Como vocês deixam os seus amigos chamarem suas namoradas de gostosas tão descaradamente?
-Cuidado com o que você fala sobre meus amigos, . - avisou.
-Eu estou falando sério, . - retruquei irritada. - Eu não gosto nem quando você fala isso para mim.
- Bem - ele disparou tão bravo quanto eu -, Lienne não se incomoda e Dylan também não. Se você não quer que falem isso, eu vou avisa-los, relaxa.
-A questão não é essa. - Bufei e coloquei o fino casaco que eu havia vindo. - Por que seus amigos têm que agir feito babacas? Por quê eles não podem ser legais como os amigos do… - eu calei a boca no instante em que percebi o que eu ia falar.
-De quem? - desafiou quando viu minha expressão mudar.
-Deixa pra lá. - suspirei.
Eu peguei a minha bolsa que estava encostada na porta e fui embora.
Oh, yeah, and I can be your boyfriend
Eu vi a música acabar antes de ouvi-la acabar. Tudo isso porque eu ainda não conseguia processar o que estava acontecendo comigo.
-Espero que vocês tenham gostado. - disse como se nada tivesse acontecido e eu me virei de costas para o palco, começando a me direcionar para a saída do ginásio. - Nós somos a Scape at Midnight e vemos vocês por aí.
Quando os aplausos e gritos começaram, eu não aguentei. Eu senti ânsia de vômito quando alguém me deu parabéns e comecei a correr para fora daquele lugar, sem checar o decorrer da briga de com Dylan.
Eu corri sem ver para onde eu ia, corri tão rápido que eu senti minhas coxas arderem. Meu tornozelo torceu (afinal, eu estava usando saltos), entretanto eu não consegui ligar. Só parei de correr quando meus pulmões não aguentavam mais. Encostei-me na parede mais próxima e deslizei nela, me permitindo chorar.
Meu enjôo era pelas cenas que eu tinha visto, o vídeo, os beijos… Sim, era por isso. Entretanto, eu não era tão hipócrita assim. A humilhação de ser traída era horrível. A vergonha que eu sentia por ter traído era tão ruim quanto. E ser parabenizada por isso? Todo mundo aplaudir a chuva de escândalos que houve no ginásio? Agora a escola inteira sabia o que deveria ser a parte mais privada de minha vida. Puta que pariu, . Que merda você fez?
-! - Alguém gritou.
Fechei os olhos com força, como se isso fosse o suficiente para a pessoa sumir. Eu me levantei e encarei o garoto. Torcendo para que não fosse . Eu podia jurar que o mataria.
Não dei sorte.
-! - ele se aproximou, sua expressão estava preocupada e seus passos apressados.
Eu neguei com a cabeça. entendeu o meu sinal e parou de andar.
Eu respirei fundo.
-Que porra você esperava com isso, ? - Perguntei e ele não disse nada. - É sério, caralho, me responde! - Olhei em seus olhos e entendi o que ele esperava. - Você esperava que eu percebesse que e eu não fomos feitos para ficar juntos? Que eu morreria de amores por você depois disso? Que eu subiria no palco e te beijaria só para confirmar todas as hipóteses que estão na mente daquelas pessoas todas?
engoliu em seco.
-Desculpa, , eu não pensei que…
-Você não pensou em nada, porra! - eu gritei, batendo a mão no armário mais próximo. - Você acabou de mostrar para um monte de gente o meu namorado beijando outra garota!
-Você nunca queria me ouvir! - exclamou. - Eu sempre tentava te contar, só que você achava que eu estava surtando de ciúmes ou sei lá o quê!
-Eu não queria te ouvir, porque eu não queria saber, ! - retruquei. - Eu não me importava! Eu não queria saber de quando eu estava com você! Eu nem sequer me lembrava quem ele era quando você estava por perto!
-Então porque você ainda namora esse cara? - ele perguntou aos berros, indignado, voltando a se aproximar.
-Porque eu estou bem com ele! - Expliquei. - Eu estava bem com ele e estava bem com você!
-Eu não estava bem, !
-Você não estava bem? Você saía com uma garota diferente toda santa semana, ! Metade dessa escola de merda já foi em um encontro com você!
-Eu saía com elas porque eu não podia sair com você!
-Você já saía com elas antes de eu aparecer, ! - acusei. - Não me venha com essa!
-Mas essa é a questão! Eu saía com elas e continuei saindo, porque antes eu não te conhecia e depois eu não podia te ter! Merda, isso parece clichê pra caralho. - Ele respirou fundo, passando a mão pelo cabelo. - Eu não queria você com ele, eu não quero você com ele! Vocês são um péssimo casal! Ele é horrível! Ele é apaixonado pela namorada do melhor amigo! Ele… - ficou quieto ao avistar alguém nas minhas costas.
Era .
Eu o encarei, toda a minha raiva foi embora conforme meu ar escapou. O corredor estava escuro, havia luz só no corredor atrás de , o que não era o suficiente para que eu pudesse vê-lo perfeitamente, ainda que eu pude perceber seu terno desalinhado e o lábio sangrando.
-O que foi aquilo? - ele perguntou.
Eu não tinha forças para responder, para levantar a voz, para endireitar os ombros e falar que ele não deveria ser hipócrita.
-Eu posso te perguntar o mesmo, . - Dei de ombros e limpei minhas lágrimas de raiva e tristeza que se misturaram no meio do caminho. - O que foi aquilo?
-Você… Você fez todo esse teatro para me foder?
Eu ri de escárnio.
-Você acha que eu tenho mente para pôr um plano desses em prática? O que fodeu todo mundo. - resmunguei e apontei para o garoto atrás de mim.
-Você me fez perder meu melhor amigo. - Ele acusou.
-Você perdeu o seu melhor amigo. - Respondi. - Eu não fiz nada, não fez nada.
-A não ser que te comeu, não é?
-Pelos deuses, , olhe com quem você está falando. - Meu escudo começou a se levantar. - Não me venha com isso ou aquilo, você está no mesmo barco que eu e não está em posição para levantar o dedo e apontar para ninguém.
-Você podia terminar comigo, . - ele disse.
-Você podia terminar comigo, .
O silêncio se instalou.
-Desde quando? - Ele perguntou e minha garganta se fechou. - Desde quando?
-Lembra quando você se surpreendeu por eu ter uma caixa inteira de donuts em meu quarto?
-Você só pode estar de brincadeira comigo.
Eu neguei com a cabeça: - Foi duas semanas depois disso. - suspirei. - Comentei com que eu estava com vontade de comer donuts durante a madrugada e ele apareceu com a caixa depois de meia hora. - Eu ri miserável. - Você adorou o donuts de geleia de morango que ele trouxe. - Eu estava sendo consumida pela culpa, porém eu a expulsei de meu organismo. Só lamentei por ouvir que um dos donuts que ele me trouxera havia sido comido pelo meu namorado. - E você e Lienne?
deu de ombros.
-Eu sempre meio que tive um rolo com ela… Quando você veio me falar que iria estudar na mesma escola que eu de novo… Só achei que faria um pouco de ciúmes nela. Ouch. Eu tinha que admitir, eu suspeitava que esse era o real motivo por ter sido tão caloroso comigo, só que ainda assim era um beliscão em meu ego.
-Eu não acredito que não fui o suficiente para você. - Falou.
Eu fiquei incrédula.
-Você não acredita que não foi o suficiente para mim? Você tinha outra garota, ! Nem sei porquê fiquei com você tanto tempo.
deu o seu sorriso torto, o que me deixou confusa. Estávamos tendo uma pseudo discussão e ele estava sorrindo?
-Pelo mesmo motivo que eu fiquei com você… Nós não estávamos mal. - Ele endireitou seu paletó. - Sejamos sinceros, , eu e você não estamos apaixonados. É verdade, eu não deveria estar tão surpreso por não ter sido o suficiente. Eu nunca serei bom o bastante para você, você nunca será boa o bastante para mim. - Ele deu de ombros e repetiu: - Nós não estamos apaixonados.
Digeri suas palavras lentamente. Pegando cada uma delas, analisando-as e tomando-as para mim. tinha razão. Eu e ele estávamos estagnados. Era bom quando era bom e era ruim quando era ruim, não havia um todo. Era só um grande tanto faz em nossas vidas.
Encarei-o enquanto processava o que ele havia me dito. O cabelo bagunçado, o terno que, por mais ajeitado que estivesse agora, ainda estava amassado e tinha um pequeno rasgo na costura do ombro esquerdo, o lábio sangrando, o canto do olho começando a inchar… Ele estava detonado. Eu sabia que ele havia dado um jeito na briga, não o incomodei em perguntar como as coisas terminaram. Eu também sabia que ele havia ido falar com Lienne antes de me procurar. E o que eu tinha certeza era que havia um brilho novo em seus olhos um jeito mais leve nele mover-se.
Respirei fundo pela milésima vez. Esse soco de maturidade que me deu demorou um pouco para que eu me recuperasse.
-Só que você está apaixonado pela Lienne.
-E você está pelo… - acenou com a cabeça para , que ainda estava atrás de mim.
Eu dei um sorriso que não passou de levantar os cantos de meu lábio, fez a mesma coisa. Nós dois andamos até o outro e nos abraçamos. Ainda tínhamos muita coisa pela qual gritar um com o outro, só que nenhum dos dois ligava mais.
Nos separamos e eu o assisti se afastar pelo corredor. Virei-me para o garoto que estava esperando até agora:
-Espero que você saiba que eu ainda estou puta com você. - falei e exibiu um sorriso, vi seu corpo tenso se acalmar. - Quero só ver se alguém gravou aquela merda.
Seu sorriso de alívio se transformou em seu sorriso de quem sabe tudo.
-Confiscaram os nossos celulares na entrada, lembra? - Ele perguntou e puxou o seu celular de seu bolso. - Talvez não tenha sido o diretor que pediu, só que as pessoas tiveram que entregar mesmo assim.
Eu ri e me aproximei dele.
-Desculpe não ter te ouvido. Prometo passar a te ouvir agora. - Mostrei que eu estava arrependida com um sorriso amarelo. Eu podia ter evitado toda aquela merda com três minutos de paciência.
-Eu te disse que eu tinha altos e baixos. - ele constatou ao me segurar pela cintura.
-Eu percebi, que também gosta de comer doces.
- E aí, que sabe cozinhar, valeu a pena me manter por perto? - ele perguntou, seu tom de voz diminuiu conforme ele foi chegando mais perto de meu rosto.
Soltei um risinho:
-Eu vou te manter por perto por mais algum tempo para fazer uma avaliação melhor e depois eu te falo.
Se o nosso primeiro beijo de todos foi cheio de paixão e desespero, o nosso primeiro beijo de reconciliação foi tão calmo quanto poderia ser. Eu já conhecia aquela boca, ele já havia explorado o meu corpo, a diferença é que, pela primeira vez, nós não tínhamos mais o porquê encerrar as coisas antes que alguém visse.
-E então, a gente deveria voltar lá e mostrar que nós realmente estávamos juntos o tempo todo como as pessoas devem estar especulando? - Perguntei quando o beijo acabou.
-Meu Deus, não. - disse. - Você está horrível, .
Eu soltei uma gargalhada.
-Você realmente é podre, .
Ele deu um sorriso fofo, pegou a minha mão, e transformou seu sorriso fofo em um sorriso safado. Lá vem.
-Acho que você deveria tirar essa maquiagem borrada, esse vestido amassado… - Levantei uma sobrancelha. - … lá em casa.
Gargalhei e entrelacei minha mão com a sua.
-Vou contar essa como um ponto alto.
-Cantar uma música para você em frente de toda a escola foi o quê? - ele perguntou ao nos encaminharmos para fora da escola. - O Himalaia dos meus pontos altos, não é?
-Você mostrou o meu ex me traindo! - Acusei.
-E dei a entender que eu estou totalmente apaixonado por você. - rebateu.
-E que eu traía o meu ex.
-E que estou apaixonado por você.
Eu ri.
-Vou deixar essa avaliação para mais tarde também. Tivemos um longo dia.
-E vamos ter uma longa noite.
-Pelos deuses, , se acalme.
O celular dele começou a tocar.
-Alô? -Cara - era ligando. -, cadê você? Temos que desmontar as coisas do palco!
-Eu acho que a gente vai ter que voltar para lá então. - me disse, tampando o microfone de seu celular.
-Mesmo que eu esteja horrível? - Perguntei com uma sobrancelha levantada.
-Você sempre está linda, . - ele mostrou um sorriso forçado de brincadeira, para o qual eu revirei os olhos.
-Bro, para de beijar a e vem nos ajudar. - falou pelo telefone.
Nós dois rimos e respondeu o amigo:
-Eu não estou beijando ela, babaca.
- Nós já estamos indo, ! - Exclamei mais alto. -Que susto, por um momento achei que as coisas tinham dado errado.
-Quase deram, cara. - contou olhando-me com um meio sorriso pelo canto de olho. Eu segurei o sorriso que eu queria exibir.
-Vamos logo, . - resmunguei para não perder o hábito e puxei-o pela mão, retornando para a quadra.
-Eu posso pedir para você dançar comigo, agora que todo mundo já sabe? - ele indagou depois de desligar o telefone, me puxando para mais perto. - E que até percebeu que você está apaixonada por mim?
-Você que está apaixonado por mim.
-Quem sabe nós dois não estejamos apaixonados um pelo outro?
É, quem sabe, . Talvez seja isso mesmo...
Fim.
Nota da autora:
Hello, hello, pessoal! Tudo bem com vocês?
Essa é a minha primeira fic no FFOBS, então peguem leve comigo, por favor! Haha
Desde que eu ouvi Cheater pela primeira vez essa ideia surgiu na minha mente. Era mais para clipe de música do que fanfic, mas aí eu fui aprimorando… aprimorando… Deu nisso! Espero que vocês tenham gostado :)
Eu queria focar mais na pp com o boy 1 dela do que na traição do boy 2, então eu não liguei muito para contar o que rolou no ponto de vista do boy 2... Me perdoem por isso.
De qualquer forma, comentem o que acharam, se vocês gostaram (o que não gostaram) e o que devo melhorar! Prometo que guardo cada palavra no coração, mesmo se for para xingar a pp hahaha
Beijos e até a próxima,
Sa.
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.
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