É incrível como algumas pessoas, que antes não significavam nada para você, podem se tornar as mais importantes sem precisar de anos de amizade.
Andres McGuiller era um típico adolescente popular, com uma vida cheia de festas e quantas garotas ele quisesse. Até que a chegada de alguém, que parecia não significar nada, deixa tudo de cabeça para baixo.
Inspirada na música End Of The Day, essa história conta como um menino que finalmente acha aquela pessoa que estará lá para sempre, em todos os finais de tarde cansativos.
Acordei com uma dor de cabeça insuportável. Estava frio, muito frio. Olhei para o lado, vi Paris adormecida sob os lençóis e me lembrei da noite anterior. Foi uma noite incrível.
Vesti minhas roupas e desci as escadas, esperando encontrar alguma alma abençoada que pudesse me ajudar.
Encontrei Frederick na cozinha, preparando um sanduíche. Ele estava sóbrio e disposto, mas, depois de qualquer festa, não me pergunte como, ele sempre estava.
- É impressionante como você mantém esse lugar livre do abandono - brinquei.
- Cara - ele parou o que estava fazendo para olhar para mim -, você já percebeu o quanto somos sortudos? Achamos uma casa grande abandonada, mas algum santo ainda paga todas as contas: energia, água, aluguel... Ninguém nunca veio nos tirar daqui e nunca reclamaram do barulho. Acho que a maioria dos moradores de Lemonsville sequer sabem que esta casa existe. O máximo que que posso fazer é fazer bom uso dela.
- Você nunca se perguntou de quem é esta casa? - fechei os meus olhos, pouco acostumados com a claridade, e me sentei em uma das cadeiras da bancada por conta da tonteira.
- Minha, uai! - ele percebeu o meu estado e se dirigiu à um dos armários, pegando a caixinha de remédios - Eu compro comida, faço faxina, lavo a louça e utilizo. Até que o real dono apareça, ela é minha.
Fred jogou uma cartela de comprimidos para mim e foi até a geladeira, pegar um copo d'água.
- Aonde você estava, afinal? - ele indagou colocando o como de água na mesa e voltando a atenção para seu sanduíche.
- Telhado - respondi antes de engolir o remédio - Paris Gilmore.
- Boa - meu amigo deu um pequeno sorriso de lado - a descoberta daquele cantinho no telhado foi a melhor coisa que já fizemos.
- É o nosso santuário, cara - eu disse, levantando-me da cadeira, um pouco melhor - vou me despedir da Paris, preciso ir para casa. Obrigado pelo remédio.
Não sei se Fred respondeu algo. Se respondeu, não consegui ouvir pois me levantei na mesma hora e voltei para o telhado.
Já lá em cima, juntei minhas coisas em minha mochila e me agachei perto da menina.
- Paris - ela se mexeu e resmungou algo -, Paris! - falei um pouco mais alto, sem ser grosseiro, acordando-a.
- ? - ela estreitou os olhos para focalizar meu rosto.
- Eu mesmo - me inclinei em direção a seu rosto e colei nossos lábios - obrigado pela noite de ontem, foi incrível! Eu realmente gostaria de passar mais tempo com você mas eu preciso ir, hoje é aniversário da cidade e eu tenho que ajudar meu pai a organizar a festa. Frederick está lá embaixo, se precisar de qualquer coisa.
Ela abriu um pouco mais os olhos e sorriu.
- Você não existe, .
Domingo, 5 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 6:50 pm.
Eu observava as folhas do limoeiro serem levemente balançadas pela seca brisa de inverno.
Minhas mãos, mesmo dentro das luvas, estavam praticamente petrificadas; minha boca, totalmente rachada; meu nariz, gelado por dentro e por fora.
Dei uma breve olhada pelo local, a festa estava maravilhosa, o comitê de organização realmente havia se superado.
Lorelai Müller, ou Rory, como gostava de ser chamada, equilibrava quatro bandejas cheias de croassaints em seus dois pequenos braços. Ela estava encarregada da comida da festa, já que era dona da melhor lanchonete da cidade.
Rory cuidava de mim desde que eu era um menininho, quando o marido dela foi embora levando , sua filha.
costumava ser muito quieta. Nós nunca realmente nos falamos, eu acho. Ela não gostava muito de conversa. Nos dias atuais, volta e meia, ainda ouço algo sobre ela, mas nunca mais a vi.
Corri rapidamente até a senhora, que aparentou estar aliviada com a minha chegada.
- , querido! - ela disse enquanto se virava para mim - Ainda bem que você chegou! Pode me ajudar, por favor? Estou um pouco atrapalhada aqui.
- Claro - peguei as duas bandejas do braço esquerdo da mulher e as coloquei na mesa - eu faço tudo por você, Rory. Precisa de mais alguma coisa?
Lorelai deu uma rápida olhada para a sua lanchonete, que se localizava do outro lado da rua, depois voltou sua atenção para mim.
- Na verdade, preciso sim - ela disse distribuindo os croissants pela mesa - minha filha, , acaba de voltar para a lanchonete para pegar mais comida. Você poderia ajudá-la? Isso aqui é novo para ela. Espero que ela consiga curtir a festa e não tenha que ficar o tempo todo trabalhando.
Eu definitivamente não esperava por isso. ? ? Ela estava de volta? Como será que ela devia estar depois de tanto tempo? Eu, curioso como sempre, ansiava por respostas.
Minha expressão facial devia estar bem engraçada, pois Rory riu e logo se explicou:
- Ela chegou hoje de manhã - ela disse acabando de organizar os pãezinhos - ninguém sabe disso ainda. Eu sei que vocês não eram amigos, mas você pode quebrar meu galho nessa?
- Claro - sorri para ela -, por você, tudo.
Ela sorriu de volta e eu segui meu caminho até a lanchonete Rory's. Abri a porta e me encostei no batente, observando uma menina negra, com longos cabelos cacheados, tentando organizar o máximo de cupcakes em uma só bandeja.
A reconheci de imediato; a pele escura, os longos cabelos cacheados, livres e bagunçados como sempre; ela estava baixinha, como sempre foi.
- Você está com cara de quem precisa de ajuda - finalmente soltei, o que fez com que a menina voltasse seus olhos verdes, assustados, para mim.
- E você seria... - ela se recuperou do susto em um milésimo de segundos, assumiu uma postura confiante que eu nunca havia visto antes, voltou sua atenção para a bandeja e fez sinal com as mãos para que eu complementasse a frase.
- - estendi minha mão para ela -, prazer.
parecia surpresa, acho que ela ainda lembrava de mim. Ela largou a bandeja que segurava no balcão e se virou completamente para mim. Sua íris esmeralda me encarou por um bom tempo, até ela tomar coragem para falar:
- ? - ela chegou mais perto - O filho do prefeito? - assenti.
- Sua mãe me mandou aqui para te ajudar com a comida - me expliquei, desencostando a lateral do corpo do batente - Eu lembro de você, . É um prazer revê-la - peguei uma das bandejas da mão dela - vamos, daqui a pouco a festa vai acabar e você não terá visto nada ainda.
Segui para fora da Rory's, com a garota andando atrás de mim, e fui em direção à sua mãe.
- Aqui está, Rory - coloquei a bandeja na mesa, seguido pela novata - se vocês não se importarem, eu gostaria de fazer um tour pela cidade com a sua filha.
- Eu acho fantástico! - Lorelai bateu palmas, comemorando - O que você acha, filha?
- Ah - ela olhou para a mãe, depois para mim - Por mim, pode ser - sorriu.
- Se você me permite - dei meu braço para ela, que entrelaçou nossos braços, rindo - Boa noite, Lorelai. - Boa noite, queridos. Tomem o tempo que quiserem, não tem horário para voltar.
- Não?! - a menina ergueu as sobrancelhas - Não vou debater, tenho que aproveitar essa liberdade enquanto eu a tenho.
Domingo, 5 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 8:00 pm.
Eu e a novata caminhávamos entre as ruas, agora vazias, de Lemonsville. Eu segurava a sua mão enquanto andava de costas, olhando para ela e mostrando a cidade ao mesmo tempo. De vez em quando eu fazia uma piada, ela ria e voltávamos para a explicação. Eu apresentei a cidade inteira, de todos os ângulos. Chegamos na casa abandonada de Frederick, eu não sabia como explicar para ela sobre aquele lugar, era uma história esquisita.
- Chegamos ao meu lugar favorito - parei em frente à casa - Eu e meu amigo, Frederick, não sei se você se lembra dele - ela assentiu -, achamos essa casa há alguns anos. Por alguma razão esquisita, o dono dessa propriedade ainda paga as contas básicas. Fred e eu vimos aqui quando temos problemas, ou quando ele resolve dar uma festa, as festas dele são as melhores. Mas nós sempre tratamos a casa com carinho, ela está intacta.
- Casa interessante - ela parecia curiosa - mas vocês nunca se preocuparam com o aparecimento do real dono da casa? - ela me encarou.
- No começo, até que sim - olhei de volta para o lugar - mas já fazem três ou quatro anos, acabou que o medo passou né.
- Eu poderia... - ela parecia desconfortável - entrar? É que eu estou muito curiosa para ver como é por dentro.
- Claro - assenti, passando a mão em seu braço para passar uma sensação de conforto.
Segurei em sua mão e a guiei para dentro da casa. Entramos na sala, que tinha uma mesa de centro rodeada por dois sofás e uma televisão relativamente grande; andamos um pouco mais, vimos a mesa de jantar, com as cadeiras e uma enorme janela de fundo, que dava vista para a cidade inteira; passamos a sala de jantar, começamos a subir as escadas; subimos a primeira parte da escada, demos de cara com a porta da cozinha, que eu achei irrelevante mostrar para ela; subimos a segunda parte da escada, nos encontramos em um corredor com cinco quartos, dois de cada lado do corredor e um no final. Mostrei todos os quartos para ela, com exceção do último. Quando fui puxá-la para continuar o tour, ela indagou:
- Por que não me mostrou o último quarto?
- Está trancado - respondi, realmente estava.
- Tudo bem, então... vamos continuar? - assenti.
Subimos a terceira parte da escada, chegando ao telhado.
- Essa é a minha parte favorita - abri os braços, sentindo a brisa de inverno se chocar contra meu corpo - o meu santuário. Está vendo aquela tenda - apontei a pequena tenda que nós reconstruímos quando chegamos aqui - na época em que encontramos essa casa, ela estava totalmente destruída. Eu e Fred a reformamos e agora fazemos praticamente tudo aqui.
encarava o lugar sem mover um músculo, nem seus olhos se mexiam. Ela ficou assim por um tempo, até que bufou e esticou os braços.
- Então - ela se virou para mim -, muito obrigada por tudo! Mas eu realmente preciso ir - ela chegou mais perto, ficou na ponta dos pés e depositou um beijo em minha bochecha - te vejo por aí.
Assisti ela se afastar e começar a descer as escadas. Lembrei que ela não conhecia mais a cidade e resolvi me oferecer para acompanhá-la até em casa. Ela aceitou meu convite e, em silêncio, voltamos até a Rory's. Sua mãe morava no apartamento acima da lanchonete, então deduzi que ela ficaria lá também. Depois de tanto tempo sem falar nada, já em frente à Rory's, eu resolvi me pronunciar:
- Então, - ela, que estava entrando em casa, se virou para mim -, o que você espera de Lemonsville?
- Ah - ela soltou a maçaneta da porta -, eu espero um recomeço, né? Não sei se minha mãe te contou, mas eu tive certos problemas na minha antiga cidade - neguei com a cabeça, indicando que eu não sabia nada sobre isso - todos já estavam me olhando torto e ninguém falava mais comigo. Quero ter fama de boa moça agora. Ouvi falar muito bem daqui. Espero fazer amigos na minha nova escola e terminar o ano letivo bem.
- Você já fez amigos na sua nova escola - ela me olhou torto, parecia confusa - Lemonsville é minúscula. Como eu te mostrei, a cidade nem é dividida em bairros, existe uma rotatória central, com o limoeiro no meio, e suas ramificações. Então, nós só temos uma escola, porque temos em torno de 700 habitantes.
- Uau! - ela riu - É menor do que eu imaginava! - seu sorriso se desfez e ela voltou a me encarar - De qualquer jeito, obrigada pelo tour, a gente se vê.
- Não a de que! - sorri - Boa noite, .
- Boa noite, .
Segunda-Feira, 6 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 8:30 am.
Eu estava encostado na árvore localizada na entrada da escola, conversando com meu amigo, à espera do primeiro sinal. Frederick contava mais uma de suas histórias inacreditáveis para impressionar algumas meninas que se juntaram ao nosso grupo, enquanto eu encarava o portão da escola, observando as pessoas que chegavam.
- Quem é aquela? - uma das meninas perguntou, apontando para uma menina de pele negra que adentrara a escola.
- Eu não sei - Fred respondeu - mas isso não vai durar muito tempo, olha que mulher gostosa!
Ri do comentário um tanto antiquado de meu amigo, juntei minhas coisas e me levantei.
- Essa é - as meninas me encararam boquiabertas, seguidas de meus amigos - e, se vocês me derem licença, estou indo falar com ela nesse exato momento.
- Você não perde tempo mesmo, - ouvi esse último comentário antes de seguir em direção à novata.
Cheguei por trás da menina, que observava a torre principal do colégio, e dei uma rápida apertada em sua cintura, assustando-a.
- Porra! - ela se virou com a mão sobre o peito, quando percebeu de quem se tratava, assumiu a mesma postura superior que havia assumido na lanchonete - O que faz aqui, ?
- Falar com a minha nova amiga! - disse como se não fosse óbvio.
- Nova amiga? - ela arqueou a sobrancelha - Eu?
- Não - revirei os olhos -, aquela menina ali atrás! - apontei para uma garota qualquer que passava por trás dela - É claro que é você.
- Olha, , você não precisa ser meu amigo só por educação - ela aceitou a postura e se preparou para ir embora - eu consigo me virar muito bem sozinha.
se virou para tomar rumo para aonde ela estava indo antes de eu pará-la. Agarrei-a pelo braço, fazendo-a olhar para mim novamente.
- Eu não falei aquilo apenas por educação - encarei seus olhos brilhantes - na verdade, eu sou bem idiota, se eu não tivesse gostado de você, eu não tentaria nem ser educado - ela soltou uma risada anasalada.
- Inacreditável - ela revirou os olhos e, dessa vez, tomou rumo sozinha, me deixando para trás.
Sem nem pensar duas vezes, fui atrás dela. Eu sabia que ela não sabia para onde ir e eu queria estar lá quando o orgulho abaixasse e ela buscasse por ajuda.
rodeou a escola algumas vezes, passando pela secretaria em todas elas. Até que ela desistiu, bateu o pé no chão e bufou.
- Precisa de ajuda, madame? - deslizei até parar de frente para ela.
- Eu não acredito nisso mas... - ela me olhou com um olhar tedioso - sim, preciso.
- Pois não, lady - abri um sorriso vitorioso - nessas voltas que você deu pela escola, você passou pela secretaria pelo menos quatro vezes.
- Você estava me seguindo? - arqueou as sobrancelhas.
- Isso não vem ao caso - eu disse abanando o ar com a mão, fingindo fazer pouco caso - Eu vou te levar até a secretaria, te ajudar com a transferência e depois de levo para a sala.
- Eu acho que essa é a minha única opção - ofereceu sua mão para mim - me leva logo, não quero chegar atrasada.
Segunda-Feira, 6 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 10:30 am.
O sinal do recreio finalmente tocou e eu corri para a porta da sala de , esperando sua saída. Assim que eu avistei sua cabeleira irreconhecível em meio de tantas outras, puxei-a pela cintura e comecei a andar com ela em direção ao refeitório.
- Porque você insiste em me perseguir, ? - ela perguntou enquanto apressava o passo, tentando acompanhar meu ritmo.
- Simpatizei com você - respondi sem olhá-la.
Ela pareceu aceitar aquilo como resposta, já que se calou até chegarmos na mesa. Puxei uma cadeira para ela se sentar, e me sentei ao seu lado. O resto dos alunos do ensino médio da Blaise Pascal Academy nos encarava, ou melhor, a encarava, como se a garota fosse surreal. Os cochichos começaram, era possível ouvir seu nome, e às vezes o meu, em várias teorias absurdas. parecia não estar acostumada com isso, pois olhava freneticamente para todos os lados.
- Você tem que assumir o controle da situação - Frederick disse, se sentando na mesa.
- Desculpe? - ela parou de olhar em volta e voltou toda a sua atenção para Fred.
- Antes de tudo - meu amigo organizou as comidas em sua bandeja -, sou Frederick Friar, prazer - ele estendeu a mão para ela.
- Eu lembro de você, Friar - ela disse aceitando o aperto de mão.
- Ótimo! - ele sorriu - Como eu ia dizendo, você precisa assumir o controle da situação. Mostre para eles que você não se incomoda. Levante da cadeira e grite o que quiser gritar, bem alto, para todos ouvirem. Assim, os boatos param.
se levantou da cadeira e bateu as mãos fortemente na mesa, causando um estrondo extremamente alto. Todos a encararam e por um momento ela vacilou, mas Fred segurou a sua mão e ela se recompôs.
- Como vocês, enxeridos, já sabem - ela começou, assumindo a postura superior de sempre - eu sou . Sim, , a menina que foi levada pelo pai depois de uma briga feia dentro de casa, a famosa briga que acordou a cidade inteira. E sim, eu estou de volta. Eu só não entendo porque isso é tão importante para vocês. Parem de supor coisas sobre a minha vida, e se preocupem com as suas.
Ela se sentiu novamente, recebendo tapinhas nas costas vindos de Frederick.
- Nós vamos nos dar muito bem, - meu amigo disse, piscando para a novata.
- Eu também tenho esse pressentimento, Friar - ela riu - Agora, cavalheiros, se vocês me dão licença, preciso ir ao banheiro.
Respondemos um "Claro." em uníssono, vendo ela se levantar da mesa e deixar o refeitório.
Eu estava saindo do banheiro, pronta para reencontrar meus dois novos amigos, quando sinto uma mão segurando meu ombro. Encaro o dono, ou melhor a dona, da mão, sem entender o porquê de ela estar me segurando, sendo que eu nem a conhecia.
A menina que me impedia era alta, bastante magra, com cabelos lisos e castanhos batendo na cintura, olhos azuis penetrantes e uma expressão enojada no rosto.
- Como você conseguiu?! - a menina indagou com raiva. Eu não respondi, não sabia o que eu tinha conseguido - Responde menina! - ela me deu um leve empurrão.
- Consegui o que?! - falei dando um passo para trás e colocando as mãos ao lado da cabeça, em forma de rendição.
- - revirou os olhos - Como você conseguiu? - a encarei confusa - pelo visto ele gosta de burras! - a garota disse se apoiando no batente da porta - Olha aqui, garota! É o seu primeiro dia! PRIMEIRO DIA! - ela se exaltou - E você já está andando com ! Como você conseguiu?!
Ah, então era isso. Eu esperava ter feito uma grande conquista, mas não, era tudo por esse doido.
- Eu não tenho culpa! Esse maluco está atrás de mim desde o dia em que eu cheguei aqui! - ela abriu a boca, espantada, não faço a mínima ideia do motivo - Ele não me parece uma pessoa que desiste, então acho que ele não vai me deixar em paz.
Ela deu um grande passo à frente, quase encostando seu nariz no meu.
- Ele é meu, entendido? - ela tinha um tom de voz que ela provavelmente julgava ameaçador, mas na verdade era patético - Propriedade de Paris Gilmore. Grave meu nome.
- Diga isso para ele então, Paris Gilmore - sorri cínica e a empurrei levemente para o lado, abrindo espaço para deixar o banheiro.
Voltei correndo para o refeitório, com medo do intervalo acabar, e me sentei na mesa de e Frederick, que agora estava um pouco cheia.
- Você não me disse que tinha dona! - brinquei com , fazendo todos os olhares se voltarem para mim.
- Mas eu não tenho! - ele disse rindo - De onde você tirou isso?
- Ah, não tem? - levantei as sobrancelhas e coloquei uma das mãos na cintura - Pois eu acabei de ser notificada que você é propriedade de Paris Gilmore - imitei a voz da nojenta que havia me cercado no banheiro há alguns minutos.
O resto das pessoas sentadas na mesa riu, com exceção , que fez uma expressão de surpresa.
- Quem te disse isso? - ele perguntou chegando um pouco para frente.
- A própria Paris! - me sentei ao seu lado - Ela me parou no banheiro e me avisou que você era propriedade dela.
O menino sentado ao meu lado olhou para Frederick, que ria junto com as outras pessoas.
- A Paris é um amor - umas das meninas sentadas disse, me fazendo levantar as sobrancelha -, mas quando ela tem ciúmes de alguma coisa... O bicho pega! O que aconteceu exatamente? - ela se virou um pouco na cadeira, olhando para mim.
Contei à eles o ocorrido. Quando terminei a história, alguns me olhavam com pena, outros com os cantos da boca para baixo, como quem está pensando "Fodeu pra você".
- Você acaba de ganhar Paris Gilmore como inimiga - outra menina disse - acredite, você não quer Paris Gilmore como inimiga.
Arregalei os olhos, espantada. Era o meu primeiro dia e eu já tinha feito burrada. Senti uma mão segurar a minha por baixo da mesa, olhei discretamente e vi que ela pertencia ao .
- Não se importe de tê-la como inimiga - ele disse baixinho - vou me assegurar que ela não faça nada com você.
- Obrigada - sorri - mas eu sei me virar sozinha.
abriu um pequeno sorriso de canto de boca, olhou nos meus olhos e disse:
- Disso eu sei, mas eu faço questão.
Segunda-Feira, 6 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 2:50 pm.
O sinal bateu, indicando o final da última aula. Saí em disparada até a sala de , eu a levaria para casa.
Se você me perguntar o motivo de tanta fissura nessa menina, eu não saberia responder. Só me parecia certo.
Vi a cabeleira rebelde passar pela porta da sala, no meio da multidão. Esperei os alunos se afastarem para poder chegar até ela e chamar sua atenção.
- - segurei-a pelos ombros.
- - ela disse fixando seu olhar no meu.
- Decidi que vou almoçar na Rory's hoje - eu disse, encarando-a de volta.
- Legal - ela disse balançando a cabeça - agora, você pode me deixar ir?
- Tsc, tsc, tsc - neguei com a cebeça - que falta de educação, ! Você vai deixar seu novo amigo almoçar sozinho? - ao ouvir a palavra "amigo", ela jogou a cabeça para o lado e sorriu.
- Eu tenho alguma escolha? - indagou, levantando as sobrancelhas.
- Acho que você já sabe a resposta - segurei sua mão - Venha, eu te levo.
Segunda-Feira, 6 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 3:00 pm.
Chegamos à lanchonete de Lorelai. Logo pegamos uma mesa e nos sentamos. Optamos por pedir sanduíches, batatas fritas e um milkshake para dividir.
Conversamos sobre diversas coisas, descobri que o sonho dela era ser atriz; quando fica nervosa, ela morde uma mexa do cabelo; seu suco preferido é o de abacaxi; ela fazia curso de teatro em sua antiga cidade, chegou até a se apresentar em grandes teatros.
É incrível como se pode aprender tanto sobre uma pessoa em tão pouco tempo.
- Ai meu deus! Que lindos! - nossa conversa foi interrompida pela Sra. Caputto, dona da academia de dança da cidade - Você não perde tempo mesmo hein ! ! Você está de volta! Tenho que avisar a todos!
A novata me olhou como quem estava pensando "Quem é essa louca?!"
- Eu e somos só amigos, Sra. Caputto - me dirigi a senhora gordinha que havia se juntado à nós - Por enquanto - dei uma piscadela.
- ! - a menina sentada à minha frente bateu de leve em meu antebraço.
- Vocês são tão fofos! - a senhora balançou as mãos gordinhas perto da cabeça - Agora, vou deixar os pombinhos a sós! Não quero atrapalhar!
- Mas você não atrapalhou nad... - ia terminar a frase, mas Sra. Caputto já havia indo embora - Ela não é tão convencível assim, não é?
- Não - eu disse rindo e balançando a cabeça em negação - Nem um pouco.
Conversamos mais um pouco, contamos mais sonhos de infância, histórias engraçadas, pensamentos e conclusões. Até que a menina olhou o horário no celular, fez uma cara espantada, e olhou para mim novamente.
- Caralho! - ela colocou a mão na boca - Desculpe! - ela disse se levantando - Eu preciso ir, meu turno na lanchonete começou há 10 minutos!
- Tudo bem - me levantei e fui até ela, segurando a sua mão -, foi um prazer almoçar com você, - a girei e dei um beijo em sua bochecha.
Nos despedimos e eu segui meu caminho para a casa abandonada.
Sábado, 11 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 12:30 pm.
A semana passou muito rápido. Na manhã seguinte ao dia que encontramos a Sra. Caputto na Rory's, todos já comentavam sobre a volta de .
Falando na lanchonete, lá estava eu, sentado em um banco do balcão, esperando minha amiga descer para me acompanhar. Ela tinha conseguido uma folga no trabalho, o que foi fácil já que a sua chefe era Lorelai, para me passar uma tarde comigo. Sim, uma tarde comigo. Tivemos essa ideia quando estávamos no refeitório, quinta-feira, conversando sobre música. Ela disse que eu não tinha capacidade intelectual o suficiente para gostar de música boa, eu respondi que, se ela quisesse, eu a mostraria que eu tinha sim. Eu disse que levaria ela para um lugar especial no sábado, ela aceitou. Desde então eu tenho feito mistério sobre esse lugar especial, que ela finalmente iria conhecer.
- ? - a voz de me tirou de meus devaneios - Estou pronta, vamos?
Dei uma rápida analisada na menina. Ela estava linda, afinal. Ela usava uma camiseta cinza do Looney Tunes, presa por baixo de uma calça jeans de cintura alta e um tênis branco, meio encardido, nos pés. A calça estava meio larga, assim como a camiseta. Não sei porque, isso chamou ainda mais a minha atenção, de um bom modo.
- Claro - respondi.
Sábado, 11 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 1:45 pm.
Dirigi por uma parte da cidade que eu não havia mostrado à ela ainda, o que aumentou ainda mais o ar misterioso.
- Você não vai me estuprar nem me matar não, vai? - ela perguntou levantando as sobrancelhas.
- Você acha mesmo que seu fosse fazer isso, eu te diria? - eu disse rindo.
- Touché - respondeu se virando para frente novamente.
Chegamos no local alguns minutos depois. Era uma antiga loja de CDs que eu costumava frequentar todo final de semana. Nem sempre eu saía de lá com algo novo, mas era sempre legal visitar. A loja tinha uma vitrine que ocupava toda a sua parte da frente. De fora, era possível ver todos os produtos maravilhosos que eles possuíam. Olhei para , a menina encarava o lugar, boquiaberta. Ela foi se virando para mim lentamente, transformando sua expressão de surpresa em uma expressão alegre, e, simplesmente, pulou em cima de mim.
- Esse é o melhor lugar que eu já vi na minha vida! - ela disse enquanto entrelaçava suas pernas em minha cintura - Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada!
- Estou vendo que você gostou! - ri enquanto a tirava de cima de meu corpo indefeso - Vamos entrar?
- Óbvio! - ela arregalou os olhos enquanto dizia aquilo, o que me fez soltar uma gargalhada.
Entramos no local e a menina saiu em disparada entre os corredores, me fazendo perdê-la de vista. Quando finalmente a encontrei, ela estava com as mãos cheias de CDs, tentando arrumá-los de forma com que eles não caíssem.
- Calma - peguei uma das cestas para clientes da loja e cheguei perto dela -, deixa eu te ajudar.
Fui pegando, um por um, da mão dela e arrumando dentro da cesta.
- Vamos ver o que você tem aqui - analisei os CDs por um tempo - Rufus Wainwright, Coldplay, Lynyrd Skynyrd, Green Day, Train, Eagles, John Denver... - continuei olhando, até que achei um que chamou minha atenção - ...One Direction?! - É... - olhei, de sobrancelhas erguidas, para , que deu um sorriso tímido - Para de me olhar assim! Eu gosto! E daí? Algum problema?
- Não! - levantei minhas mãos em forma de rendição - Eu até gosto desse. Qual é a sua música favorita?
- Do Made In The A.M.? - afirmei - Definitivamente End Of The Day!
- Sério? - levantei as sobrancelhas - Você tem cara de quem gosta mais de A.M.! Que, aliás, é a minha favorita.
- Você só me impressiona, - ela disse, sorrindo, enquanto ia em direção ao caixa.
Pagamos os CDs e voltamos para o carro.
- Aonde vamos agora? – perguntou, enquanto colocava o cinto.
- Surpresa - respondi girando a chave na ignição.
A levei para uma sorveteria que eu sabia que ela frequentava antes de se mudar. Ao chegar em frente ao local, sua expressão era ainda mais feliz do que estava mais cedo, quando paramos na loja.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ME TROUXE AQUI! - ela gritou - Você tem ideia do quanto eu amo esse lugar?
Segurei-a pelos ombros, rindo, e olhei em seus olhos.
- Na verdade eu tenho - admiti - perguntei para a sua mãe se você gostava de algum lugar em especial na cidade, ela me contou sobre essa sorveteria.
Se eu achava que ninguém poderia parecer mais feliz, eu estava enganado.
- Ai meu Deus! - ela colou as mãos sobre a boca - Muito obrigada! Você não sabe o quanto eu estou fe... - ela não conseguiu terminar a frase pois, estava tão feliz, que me puxou para um beijo.
No momento em que nossas bocas se encostaram, uma sensação esquisita, como um choque, percorreu toda a extensão de meu corpo. No momento em que fui puxado, eu me assustei, mas retribuí, o que pareceu lhe certa segurança. Eu não sei porque ela fez isso, mas ela ficava tão linda e parecia tão feliz. Eu não esperava por isso, mas não me arrependi.
Depois de um bom tempo nos beijando, nós, infelizmente, rompemos o beijo. Encarei , que, pela primeira vez, não teve coragem para me encarar de volta. Ela olhava para os próprios pés, enquanto balançava o troco de um lado para o outro.
Senti algumas gotas geladas tocarem minha pele, olhei para o céu, que estava completamente cinza, e percebi que uma grande chuva se aproximava.
- Eu acho melhore a gente entrar - eu disse segurando o queixo dela e erguendo sua cabeça - começou a chover.
- É...eu acho bom - a garota mal olhou para mim e entrou no lugar.
A decoração da sorveteria era bastante infantil, as cores das paredes eram em tons claros, tudo tinha um babadinho ou uma fofura pendurada, tinha brinquedos para crianças abaixo de 10 anos brincarem e, na televisão ao meu lado, passava Peppa Pig.
- Eu não lembrava o quanto eu amava esse lugar - , que estava sentada na minha frente, finalmente disse algo - obrigada por me trazer aqui, de verdade.
- Eu consegui sentir a sua gratidão lá fora - brinquei, fazendo-a rir um pouco.
- Para! - ela bateu de leve em meu braço, ainda rindo - Se você quiser, a gente pode esquecer que aconteceu.
- Pois é... temos um problema em relação a isso... - segurei seu queixo pela segunda vez no dia - ...eu não quero esquecer que aconteceu.
Ela deu um sorriso fofo, o que me deu vontade de beijá-la outra vez, mas achei que aquele não era o lugar apropriado para isso.
- Que bom! - ela disse se ajeitando na cadeira - Nem eu.
Sábado, 11 de março de 2017. Lemonsville, Arizona. 4:00 pm.
Chegamos em frente à Rory's, no horário em que eu havia marcado para deixá-la de volta.
Nos despedimos e a observei entrar na lanchonete. Para a minha surpresa, ela saiu segundos depois, segurou minha mão e disse:
- Não quer entrar?
- Eu não acho que eu deva - disse puxando-a para mais perto - sua mãe não iria gostar.
- O que? - ela deu uma gargalhada - Não iria gostar? Ela nem liga! Ela quer mais é que você entre!
- Tudo bem então, se você diz - caminhei até a porta, abrindo-a e dando passagem para - primeiro as damas.
Estranhei ela não ter retrucado. A garota esperou eu passar, então segurou a porta e fechou-a.
- Viu? - ela perguntou arqueando as sobrancelhas - Eu sei manusear a porta sozinha.
- Viu? - perguntei, arqueando as sobrancelhas - Eu sei manusear a porta sozinha.
jogou a cabeça para trás e deu uma risada nasalada. Passei na sua frente e, segurando sua mão, guiei-o escada acima.
Chegamos ao meu quarto. Fechei a porta e me joguei na cama, observando-o parado perto do armário, sem saber muito bem o que fazer.
- Pode se mexer, se quiser - ri da minha própria piada, aliviando a tensão no ar.
Ele andou até a escrivaninha e agarrou uma certa chave, minha chave preciosa.
- Que chave legal - ele disse olhando para o objeto detalhadamente decorado.
- É, eu sei - respondi me levantando e indo até ele.
- Ela abre o que? - ele perguntou ainda analisando-a.
- Eu não sei - menti - achei ela no chão. Guardei porque eu gostei, é muito bonita.
Peguei a chave da mão dele e guardei-a. Puxei até a minha cama e o sentei lá.
- Qual é o seu autor preferido? - perguntei, andando de costas até a minha estante.
- Eu não leio muito - ele respondeu se deitando na cama e colocando as mãos na barriga, olhando para o teto.
- Não?! - ri - Como não?! Você me parece um clássico sad boy alternativo que ama ler enquanto fuma um cigarrinho.
- Esse, definitivamente, não sou eu - ele forçou o pescoço para me encarar.
- Então acostume-se com a ideia, pois eu vou te transformar em um.
Virei de frente para a estante, analisei um pouco os livros, e, finalmente escolhi um.
- Histórias Extraordinárias - li o título do livro - de Edgar Allan Poe. Um clássico.
- Sobre o que se trata? - ele descansou o pescoço, voltando a olhar para cima.
- Não se trata sobre apenas uma coisa - expliquei, andando até a cama - o livro é composto pelos melhores contos de Poe. São 18; o primeiro se chama "Ligeia" que fala sobre um homem que vive em luto por causa da morte do amor da sua vida, aí, ele passa por uma experiência cansativa ao acompanhar a doença de sua segunda esposa, que passa por um acontecimento meio estranho. Na minha opinião, esse é o conto mais chatinho, mas não é ruim.
- Parece legal - ele se sentou na cama quando viu que eu me aproximava - mas me da preguiça só de ouvir a quantidade de contos.
- Você não precisa ler todos - disse, finalmente me sentando na cama - agora, cala a boca e me deixa terminar!
Ele riu e fez sinal com a mão para que eu prosseguisse com a minha fala.
- O segundo conto se chama "Pequena palestra com uma múmia" é sobre vários homens que se reúnem de madrugada para examinar uma múmia. Mas, ao aplicar choques nela, por causa de uma experiência, ela acorda e discute com todos eles. É o conto mais engraçado, com certeza. O terceiro é "A carta roubada" é sobre um comissário da polícia que pede ajuda ao culto Dupin para encontrar uma carta. Parece simples, mas vai se tornando esquisito. A forma como que Dupin vê as coisas me lembrou muito Sherlock Holmes. É um conto interessante.
Fiz uma pausa para retomar o fôlego. Eu já ia começar a falar de novo quando me parou.
- - ele colocou as mãos sobre meus ombros - Para de falar tão rápido! Eu sei que você se empolgou, mas não precisa me contar tudo, ok? Assim perde a graça.
Ri, sem graça, engoli a saliva e me desculpei. Às vezes eu ficava meio animada quando se tratava de livros. Passamos o resto da tarde conversando. Mamãe entrava no quarto, às vezes, perguntar se queríamos alguma coisa, mas na verdade ela só queria ver como as coisas estavam indo.
Já era quase 23:00 quando deixou a minha casa. É engraçado como a saudade bateu naquela noite, mesmo eu o conhecendo há praticamente uma semana.
Sexta, 2 de junho de 2017. Lemonsville, Arizona. 3:00 pm.
Já se passaram, mais ou menos, três meses desde que chegou aqui.
Nesse pouco tempo, ela conseguiu encantar todos da cidade, virar uma das melhores alunas da Blaise Pascal Academy, fazer inveja em metade das adolescentes da cidade e me transformar em uma pessoa totalmente diferente. Por exemplo, antes de sua chegada, eu tinha uma leve fama de "galinha" de Lemonsville, a lista de meninas que eu já peguei já passava dos 57. Eu tinha uma certa fama, não pelo modo de como as tratava, que era muito educado, mas sim do lugar onde eu as levava. Toda vez que eu estava na intenção de comer uma garota, eu a levava para o telhado da casa abandonada. Elas sabiam disso, mas não recusavam. Quando chegou, meu mundo virou de cabeça para baixo. Eu não conseguia mais prestar atenção em ninguém além dela. No começo, eu continuei saindo com a Paris, mesmo depois do beijo com a novata, já que nós conversamos e chagamos à conclusão de que não significou nada, ela só estava muito feliz. Também continuei passando os finais de semana com os meus amigos na casa abandonada, como de costume. Gradativamente, eu comecei a passar minhas tardes, todos os dias, na Rory's, até que um dia ela me chamou para subir novamente. Desde esse dia, a casa de passou a ser o lugar que eu mais frequento na cidade. Eu parei de ir às festas, Paris terminou comigo porque, dizia ela, que eu não dava mais atenção à ela, meus amigos encheram meu saco para eu voltar a andar com eles fora da escola, mas eu simplesmente não conseguia me divertir se ela não estivesse junto.
era o tipo de pessoa com quem eu gostava de passar o meu tempo, quando eu estava com ela, eu esquecia de tudo. Encontrei uma cabeleira cacheada no meio da multidão de pessoas que ocupava a praça principal, motivo: O Leilão de Garotos que aconteceria no dia seguinte.
A nossa escola paga apenas 20% da festa de formatura, o que significa que os outros 80% ficam por nossa conta. Os seniors fizeram uma reunião e decidiram que, esse ano, nós faríamos uma peça, que acabou sendo Cinderela, e um leilão. Mas a pergunta era: leiloar o que? Paris logo nos deus uma solução, leiloar os meninos do último ano da Blaise Pascal Academy.
A dona dos cabelos esvoaçantes segurava uma prancheta, com o que parecia ser uma espécie de planta, presa nela. Ela gritava as instruções para os alunos que montavam o local para o leilão.
O evento seria o seguinte: quem pagasse mais, levava o garoto e teria um dia inteiro com ele.
Andei até a novata, que pareceu não notar minha presença, e coloquei minha mão sobre seu ombro.
- Sabe - esperei ela me encarar para que eu continuasse a frase -, eu não gosto nem um pouco dessa ideia. Nos leiloar como se fossemos objetos? Isso não é errado?
- É - deu de ombros -, é meio errado sim.
- Então, por que vocês estão fazendo? Se fosse um leilão de garotas você não aprovaria.
Ela virou o corpo em minha direção, ficando de frente para mim.
- Acontece, meu amor - debochou - que nós, garotas, somos vendidas como objetos todos os dias. Às vezes é bom revezar um pouquinho.
- Touché! - estalei os dedos - Mas já fique sabendo que eu estou fora dessa.
Ela abriu a boca em um "o" e deixou a prancheta cair, dramaticamente, no chão.
- COMO ASSIM VOCÊ ESTÁ FORA DESSA? - ela fingia estar com raiva - ! VOCÊ QUE NOS FARIA LUCRAR MAIS!
- Que pena - dei de ombros.
- Por favor! - ela juntou as mãos em súplica - Por favorzinho! - ela, sem perceber, fez a cara mais fofa já vista por meus olhos.
- Tudo bem - era impossível resistir à ela - só porque você implorou.
- Deixa de ser bobo - ela se agachou, pegando a prancheta do chão - eu nem precisei fazer muita coisa. Agora vá até a Samirah, ela está com a lista dos voluntários.
Sem me deixar ao menos pensar em responder, saiu, saltitante, para mais perto da passarela.
Sábado, 4 de junho de 2017. Lemonsville, Arizona. 9:00 am.
- Olá garotos e garotas de Lemonsville - Samirah, uma garota baixinha de descendência coreana, que ficou encarregada por liderar o leilão, saudou - com todo o orgulho, eu declaro o começo do Leilão dos Seniors da Blaise Pascal Academy! - muitas palmas, gritos e elogios foram ouvidos, assim que tudo se aquietou, a garota continuou - Como funcionará o leilão: cada menino, quando for chamado, vai desfilar na passarela e depois irá parar aqui do meu lado. Eu vou dar o primeiro lance e vocês, se quiserem o garoto, vão aumentando. Quem pagar mais, leva o indivíduo por um dia inteiro. Vamos começar? - mais palmas foram ouvidas.
De trás da cortina da passarela, não deu para ver muita coisa, mas aquelas meninas pareciam estar dispostas a pagar qualquer quantia.
- ! - ouvi Samirah gritar meu nome no microfone e segui meu caminho até a passarela.
Enquanto eu desfilava, de uma forma ridícula, eu ouvia palmas, gritos, elogios, xingamentos...Todo tipo de coisa. Finalizei meu desfile e me pus em pé ao lado da menina que segurava o microfone, ansioso para ser leiloado.
- Vamos começar com um lance inicial de $5! - a garota anunciou - Mas eu mesma já pago $10!
- $15! - uma menina, no meio da plateia, gritou.
- $20!
- $22!
- $27!
- $30!
- 50 dólares - uma voz debochada, que reconheci como a de Paris, silenciou o local.
- Nooooossa! - Samirah comemorou - $50 dólares! Eu ouvi $55? - ninguém respondeu, provavelmente ninguém tinha aquele dinheiro todo para pagar em um leilão de meninos - Não? Tudo bem! Dole uma! - torci para alguém se pronunciar - Dole duas! - pelo amor de deus - Ven...
- Sessenta dólares - uma voz feminina interrompeu a fala de Samirah, me fazendo respirar aliviado, não sei se eu aguentaria passar um dia inteiro com uma Paris brava.
saiu do meio da multidão, parando em frente ao palco, olhando diretamente para a garota no microfone.
- Eu pago sessenta dólares por .
- $65! - Paris gritou lá de trás, essa garota realmente não tinha limites.
Eu achei que estava perdido, mas a cacheada deu de ombros e anunciou:
- Setenta dólares, então.
Paris, enfurecida, caminhou até o palco e encarou .
- Eu pago setenta e cinco! - ela segurou o pulso da novata, que não pareceu intimidada - Duvido você ter mais dinheiro do que isso!
- Cem dólares, então - respondeu, se livrando do aperto de Paris e se virando para Samirah - eu pago cem dólares por .
- , você está louca? - indaguei pasmo - $100? Isso é muita coisa!
- Não estou diferente do habitual! - ela riu - Na verdade, eu trouxe $50 para o leilão, mas no caminho eu achei mais cinquenta no chão.
- CEM DÓLARES! - Samirah gritou no microfone - Alguém da mais?! Não? Dole uma! Dole duas! Vendido para por cem dólares!
A novata se abanou com as notas, antes de entregá-las para a garota no microfone, arrancando risadas da plateia. Desci do palco, oferecendo meu braço para ela entrelaçar. Entrelaçamos nossos braços e deixamos o leilão.
- Então - olhei-a -, já que você me comprou, faremos o que você quiser hoje.
- Eu sei disso! - riu - Já sei exatamente o que vamos fazer!
Andamos até a Rory's, entramos na lanchonete, pegamos um grande pote de sorvete e saímos, indo em direção ao meu carro, estacionado na frente do local.
- Já que eu não sei dirigir - parou em frente ao carro -, preciso que você me leve até a casa abandonada.
- ... - pensei um pouco, eu não podia dizer não, mas poderia convencê-la que não era uma boa ideia.
- Eu paguei por isso - ela soltou, antes mesmo de eu pensar em tentar algo.
- Tudo bem - eu disse destravando as portas do carro.
A garota não falou nem uma palavra sequer, o caminho inteiro. Ela nem me olhou, não a peguei me encarando nem uma vez, em vez disso, ela encarava suas mãos, enquanto brincava com elas. Estacionei em frente à casa e saí do carro, esperando fazer o mesmo. Ela saiu, fechou a porta, me esperou trancar o carro e me pegou pela mão, entrando em disparada para dentro do local.
Subimos as escadas, para o corredor dos quartos e andamos até a última porta, que sempre estava trancada.
- Então - a garota me encarou, tensa -, o que você irá ver agora não pode ser visto por mais ninguém. Promete que isso vai ficar apenas entre nós dois? - estendeu o dedo mindinho.
- Prometo - cruzei meu dedo com o dela, selando a promessa.
- Tudo bem - ela colocou a mão no bolso e tirou uma chave, a mesma que eu havia visto no quarto dela há meses atrás.
Suas mãos tremiam enquanto ela colocava a chave na fechadura. Quando finalmente encaixou o objeto, a girou e fez um pouco de força para a porta, que não era aberta há anos, conseguir abrir. Ela entrou no quarto, sendo seguida por mim, e parou no meio do aposento. As paredes do lugar eram pintadas em um tom de azul bem clarinho; no canto, estava uma cama grande, provavelmente até maior que a minha; brinquedos empoeirados estavam espalhados pelo chão, alguns até continham teias de aranhas; em cima de uma estante perto da porta, estavam porta retratos quebrados. Me aproximei dos objetos e vi que, as fotos, eram de uma família que parecia super feliz. Nada muito diferente, tirando o fato de que a mãe da família era Rory, eu não conhecia o pai e a filha era uma garotinha negra de olhos verdes muito parecida com . Me virei, confuso, para a garota que continuava parada, em pé, no meio do cômodo.
- Bem vindo ao verdadeiro quarto de ! - ela abriu os braços.
- C-co-como assim? - eu estava tão surpreso que ata gaguejei - Está casa é sua?
- Minha não... - ela andou até mim - ...ela é do meu pai! - ela percebeu que eu continuava desentendido - Deixa eu te explicar. Quando eu morava aqui, antes de ser arrastada pelo meu pai, esta era a minha casa. Ela é da minha família por parte de pai, era do meu bisavô, depois da minha avó, depois do meu pai. Futuramente, essa casa será minha, mas por enquanto ainda é dele. Papai não queria que, quando eu pegasse a casa, ela estivesse toda destruída. Então, ele continuou pagando as contas e deu um jeito, não sei como, não me pergunte, de fazer com que, anos depois, Frederick achasse este lugar.
- Seu pai é muito inteligente - elogiei.
- Eu sei - se gabou - este quarto está trancado pois ele não queria que ninguém mexesse aqui. Confesso que fiquei surpresa com o fato de vocês terem mantido os móveis e a decoração brega da casa. Mas até que gostei, me faz sentir mais confortável.
Ri do seu comentário e me sentei na cama, me arrependi de ter feito tal ato já que fui quase asfixiado por uma nuvem de poeira.
- Por que me trouxe aqui? - fui direto ao ponto.
- Nada melhor do que a ajuda da pessoa que eu mais gosto em Lemonsville para me ajudar a reformar este quarto.
Fiquei muito feliz com a sua fala, por isso me levantei e beijei-lhe a bochecha.
- Você é tão fofa - falei enquanto amassava seu corpinho miúdo em um abraço apertado.
- Eu sei, eu sei - ela disse tentando se esquivar - agora, você pode me soltar? Não sei se eu vou parecer muito fofa em um caixão, rodeada de flores e velas.
- Tudo bem - ri - por onde começamos?
- Nós começamos colocando o sorvete na geladeira - ela apontou para o pote que estava dentro da sacola que eu segurava, do qual eu havia esquecido completamente - já que ele provavelmente deve estar derretido. Depois, pegamos o material de limpeza na dispensa e começamos a renovar isto aqui.
- Como você sabe que tem material de limpeza na dispensa? - perguntei surpreso.
- Esta casa é minha, esqueceu? - arqueou as sobrancelhas - É claro que vocês podiam ter mudado, mas não faz muito sentido.
Guardamos o sorvete e pegamos os materiais para limpar o quarto de . Eu acho que nós gastamos em torno de cinco horas para acabar o serviço. Arrastamos móveis, desmontamos brinquedos, desarrumamos a cama, levantamos o colchão, retiramos livros... Passamos pano em tudo, tiramos cada molécula de poeira e de mofo existente naquele lugar. Esfregamos o chão, lavamos a roupa de cama, aspiramos o colchão... Fizemos tudo possível. Quando terminamos, ainda espirramos um aromatizante no quarto, que o deixou com um cheiro refrescante.
Descemos as escadas e caímos mortos no sofá. se levantou, pegou o sorvete no congelador e duas colheres na gaveta da cozinha, afinal, depois de tanto esforço, nós merecíamos o pote todo.
- Sabe - ela disse depois de colocar uma colherada gigante de sorvete na boca -, eu acho que vou fazer o teste para participar do elenco do teatro, mas eu tenho um pouco de vergonha.
- Eu apoio - me remexi no sofá - logo você que sempre quis ser atriz.
Ela me encarou por alguns instantes, então voltou a falar:
- Esta, normalmente, é a parte em que o melhor amigo diz que vai fazer junto, para dar apoio.
- Nem começa, ! - protestei - Nunca que eu faço esse teste!
- Por favor - ela fez aquela mesma carinha fofa, que, de algum modo, amoleceu um pouco o meu coração.
Fiquei um pouco em silêncio, analisando-a. Como se estivesse pensando se ela realmente merecia tudo aquilo. Mas, o que ela fez para não merecer? Merda.
- Tudo bem - me dei por vencido, revirando os olhos.
- Uhul! - bateu palmilhas - O meu dia só está melhorando!
Quarta-Feira, 7 de junho de 2017. Lemonsville, Arizona. 10:00 am.
Era o dia mais esperado para aqueles que fizeram o teste para o teatro: a divulgação do elenco. Os testes foram na segunda, sobrando só alguns alunos para a terça. Eu fui obrigado a fazer, por isso não esperava que eu tivesse conseguido nada.
Quando o sinal do recreio bateu, vários alunos saíram correndo, desesperados, até o quadro de avisos no pátio da escola. Eu não tinha nem conseguido ver a lista, quando avisto , com os cabelos mais alvoroçados do que de costume, saindo do meio da multidão, com um sorriso no rosto.
- Eu vou ser a Cinderela! - ela gritou, já começando a pular.
- Que legal! - abracei-a - Agora, vamos comer? Estou morrendo do fome!
- Você não quer saber que papel você pegou?! - ela parou de pular, me olhando desconfiada.
- Eu, por acaso, peguei algum papel? - perguntei mais desconfiado ainda.
- Sim! - voltou a pular, olhei para ela, incrédulo - Você será o mensageiro do príncipe! Não é um grande papel, mas ainda sim estamos nessa juntos!
- Tem certeza? - ela afirmou - Absoluta? - afirmou novamente - Tudo bem então - dei de ombros - Quem vai ser o príncipe?
Antes mesmo de responder, um rosto dominado por sardas entrou em meu campo de visão.
- Eu serei o príncipe! - Frederick disse colocando o braço sobre os ombros de da garota.
A cara que eu fiz não deve ter sido das melhores, pois a novata logo afastou o braço do ruivo e logo se pronunciou:
- Agora nós podemos comer! - ela disse pegando na minha mão e entrando, correndo, para dentro do refeitório.
Logo pegamos uma mesa e colocamos nossas coisas lá. Não começamos a comer, esperando o resto do pessoal se juntar a nós.
Quarta-Feira, 7 de junho de 2017. Lemonsville, Arizona. 3:00 pm.
Eu fui almoçar na Rory's, como sempre. A comida de lá era ótima e eu ainda tinha uma desculpa para ver todos os dias.
- Ei, gatinha - debochei, abraçado a garota por trás e encostando a boca em sua orelha -, você está livre esta tarde?
Ela se virou, sorriu e colocou a bandeja que estava segurando, na bancada.
- Como eu queria - revirou os olhos - mas eu tenho o trabalho. Além disso, Frederick vai passar aqui quando o meu turno acabar, para começarmos a ensaiar.
- Já?! - indaguei - Mas o elenco saiu hoje! Hoje, nós só recebemos o roteiro! Nem fizemos nada!
- Eu sei meu amor, eu sei - ela me segurou pelos ombros - mas nós temos menos de um mês para memorizar as falas! E nós dois temos muitas!
- Tudo bem, tudo bem! - levantei as mãos em rendição - Não precisa jogar na cara!
- Ai, desculpa! - ela me deu um beijo na bochecha - A gente combina outro dia, ok?
- Ok - desapontado, nem pedi meu almoço, apenas fui para casa.
Sexta-Feira, 30 de junho de 2017. Lemonsville, Arizona. 8:00 pm.
Eu estava sentado em uma das primeiras cadeiras da missa, esperando minha mãe acabar de conversar com o padre.
Nesse último mês, eu quase não vi . Ela passou literalmente todas as tardes ensaiando com Fredrick. Eu via ela apenas nos intervalos da escola, nos ensaios do teatro e as vezes ela me servia na Rory's. Eu acabei de ler o livro que ela me emprestara, mas não pude ao menos devolvê-lo.
Eu comecei a me afastar do meu grupo de amigos cada vez mais, comecei a almoçar fora do refeitório, passar as tardes em casa, às vezes eu saía a noite e conhecia gente nova. Nada me fazia feliz, pois ela não estava incluída.
Secretamente, eu tinha a esperança de que, quando essa peça estúpida acabasse, tudo voltaria ao normal.
Pude ouvir parte da conversa que rolava pouco a minha frente, não vou mentir, não fiquei muito feliz.
- Ele está esquisito desde então - minha mãe disse com um tom preocupado na voz - eu acho que é esta gripe que circula pela cidade.
- Não, minha querida - ele tocou o braço da minha mãe, mas logo recolheu a mão - esses são os primeiros sinais que aparecem quando Lúcifer toma conta do corpo desses jovens! - ele só podia estar de brincadeira - Nós temos que agir rápido! Eu conheço um tr...
- NÃO! - gritei, interrompendo-o - Eu não estou possuído! Eu não preciso de tratamento anti-capeta! - os dois me olhavam, horrorizados - Quer saber o que eu acho? Ele nem existe!
Me levantei da cadeira e deixei a igreja, antes mesmo de dar chance para qualquer um falar.
Sábado, 1 de julho de 2017. Lemonsville, Arizona. 9:00 pm.
- Cinderela! - Penelope Hart, a garota que interpretava a madrasta, entra em cena, gritando, marcando o começo da peça - Cinderela! Aonde você está?
Aplausos eclodiram na plateia quando entrou em cena. Ela estava realmente maravilhosa, além do mais, todos da cidade a amavam.
- Estou aqui! - ela balançou o espanador que segurava, chamando a atenção da madrasta - O que você quer, mulher? - indagou, arrancando risos da plateia.
A história foi, obviamente, reescrita, para ficar mais engraçada e adaptada aos dias atuais.
A peça andou como o esperado, como todos já conhecem a história da Cinderela, não foi preciso muitos detalhes.
Era a minha vez de entrar em cena, como mensageiro. Eu vestia uma roupa ridiculamente apertada, a maquiagem pinicava meu rosto e meu cabelo estava duro de tanto gel.
Entrei no palco ouvindo milhares de palmas e elogios vindos da platéia.
Bati uma vez na porta do cenário de mentira e, como esperado, ninguém atendeu. Bati outra vez, outra vez e outra vez. Nenhuma resposta. Então, enchi os pulmões e gritei o mais alto que pude.
- ABRE A PORTA! - desta vez, esmurrei o cenário.
abriu a porta, encostou-se debochadamente no batente e, mexendo nas unhas, disse:
- Fala logo, que eu tenho que voltar a limpar o chão do quarto da patroa - me segurei para não rir, a personagem não se parecia nem um pouco com a atriz.
- Vossa alteza realizará um baile nesta sexta-feira - expliquei, com o tom mais formal que encontrei - Ele espera que todas as damas da cidade compareçam - entreguei-lhe o convite.
- Ayeee! - a novata fez um barulho esquisito, em comemoração, arrancado risadas de praticamente todos presentes - Já vou tomar hoje o meu remedinho pra soltar o intestino! Quero estar magérrima nesse dia!
Terminei minha cena e voltei para os bastidores, esperando minha segunda cena começar.
As minhas cenas eram muitas, mas as falas eram poucas, na maioria das vezes, eu ficava como uma socialite, apenas marcando presença.
Chegou a hora da minha última cena: a cena em que eu colocaria o sapatinho no pé de . Depois disso, eu chamaria o príncipe e ele lhe daria um beijo na boca, isso mesmo, na boca.
Fiz, corretamente, a cena praticamente toda: coloquei o sapato nos pés das duas irmãs; fingi estar surpreso quando Cinderela entrou em cena, dizendo que havia sido trancada; coloquei o sapatinho no pé dela, que serviu perfeitamente; chamei o príncipe, e, na hora do beijo, não sei o porquê, eu estraguei tudo. Na verdade, eu fingi não saber o motivo, mas eu sabia muito bem: eu estava perdidamente apaixonado por e não aguentaria vê-la beijando meu melhor amigo. Foi um ato egoísta? Talvez. Entretanto, quando Frederick estava quase terminando a frase que vinha seguida pelo beijo, eu o interrompi:
- Pare! - gritei, pegando todos do supresa - Eu não aguento ver isso!
me olhava, raivosamente, como quem diria "O que você está fazendo?!" e o resto do elenco me olhava apenas confuso.
- Como assim? - Frederick entrou no improviso, levantando uma sobrancelha.
- A verdade é que - dei um passo à frente, me aproximando do "príncipe" - eu sempre estive apaixonado por você, Vossa Alteza. Não sei se eu resistiria à dor de ver você com outra! - com essa frase, eu puxei meu melhor amigo pela cintura e dei um beijo em sua boca.
Nao foi aqueles beijos ensaiados, foi um beijo de verdade, como eu fiz quando beijei . Eu não pensei no que isso iria causar para mim depois, na verdade, eu não me importei.
Aplausos, gritos e assobios dominaram a platéia, pelo visto todos gostaram do final alternativo.
As cortinas se fecharam e eu me separei de Frederick, que me olhava confuso.
- Que porra você acabou de fazer?! - ele perguntou rindo - Você tem alguma noção da burrada?!
- Não! - eu gargalhei, sendo acompanhado pelo meu "mais novo ficante" - Eu não faço a mínima ideia! Eu não sei nem porque eu fiz isso!
Frederick arqueou as sobrancelhas, me olhando com um olhar de sabichão.
- Ah, meu querido, você sabe muito bem! - ele deu tapinhas nas minhas costas - Todos aqui sabem!
Olhei em volta e vi sair correndo para fora do palco, provavelmente, se ela continuasse ali, ela voaria em cima de mim, de uma maneira ruim. Pensei em ir atrás dela, mas não fui, pois Paris, que havia feito o papel de Anastácia, apareceu do meu lado e começou a falar:
- Olha, eu sei que eu julguei ela mal no começo - me virei de frente para ela, para ter certeza de que aquilo estava realmente acontecendo - ela não queria nada, além de amizade, com você. Já o senhor, - colocou o dedo sobre meu peito -, sempre quis algo especial com ela. Eu não o culpo, ela é uma garota muito legal. Eu superei, sem ressentimentos. Se você quer realmente se safar dessa, deixa ela esfriar a cabeça e fala com ela na festa de hoje.
- Uau! - eu estava realmente surpreso - O que aconteceu com você? - coloquei a mão em sua testa - Está doente?
- Não - ela riu, afastando meu toque - eu acho que eu tive um surto de amadurecimento, você deve tentar, faz bem.
Sábado, 1 de julho de 2017. Lemonsville, Arizona. 10:30 pm.
A música estourava pelas janelas da casa, quando cheguei na festa, fiquei impressionado como ninguém ao redor ficou incomodado. Cheguei apenas trina minutos atrasado e a bebida já estava quase acabando, a casa já cheirava a vômito e, me contaram, que já tinha acontecido duas ou três brigas. Resolvi seguir o conselho de Paris e procurar por , ela não foi difícil de achar, pois não notar uma garota completamente bêbada rebolando, em cima da mesa, ao som de Beyoncé. Uma multidão de pessoas se aglomerava em volta, só para assistir a estrela da noite, que, quando voltasse ao normal, se arrependeria profundamente disso.
- ! - chamei-a na esperança de que ela ouvisse por cima de toda aquela bagunça - Desce daí, menina! - tentei segurar sua mão, mas ela recolheu.
- Não fala comigo! - ela disse, brava - Eu não quero te ver nunca mais! - isso seria mais difícil do que eu pensava.
- Deixa de bobeira! - consegui segurar sua mão - Desce aqui, por favor - disse, fixando meu olhar no seu.
Ela pareceu vacilar por um instante, mas logo tomou a mesma postura de antes.
- Não! - ela se soltou - Eu não quero! Eu tinha tentado, não deu certo. O que eu podia fazer? Forçá-la a me ouvir? Acho que não.
- Tudo bem, então - me dei por vencido - pelo menos eu tentei.
Me afastei da confusão, subi as escadas e sentei na frente daquela famosa porta, esperando-a. Eu sabia, tinha total certeza, de que ela viria.
Minha espera não durou tanto tempo assim, uns trinta minutos, ou talvez uma hora. Mas o que importava é que ela estava ali, parada na minha frente, fazendo sinal para que eu me levantasse.
- Pois não? - realizei seu pedido, me levantando.
Ela não disse nada, apenas tirou a chave decorada do bolso e destrancou o quarto, me jogando para dentro e trancando-o novamente.
- Por que você fez aquilo? - sua voz estava um tanto grogue, mas era compreensível.
- Sinceramente? - ela assentiu - Eu não sei.
- Pelo amor de Deus, ! Deixa de palhaçada! - enquanto dizia isso, a novata bateu a mão na perna, apenas reforçando seu descontento - Você sabe sim! Por acaso, eu venho te enchendo o saco todos esses meses e você achou uma forma de se vingar? Ou você está apaixonado pelo Frederick? - seus olhos encheram de água.
Dei três passos à frente, prensando-a contra a parede, coloquei um braço apoiado ao lado de sua cabeça e o outro entrelaçando sua cintura.
- Você ainda não entendeu, não é? - cheguei meu rosto mais perto do seu - Sim, eu estou apaixonado, mas é por você.
Sem pensar duas vezes, praticamente voou para cima de mim, começando um beijo, que foi tão bom quanto o da última vez. Ela foi me empurrando, sem quebrar o beijo, até a sua cama, onde eu me deitei, colocando seu corpo por cima do meu. A garota passava a mão por baixo da minha blusa, enquanto minhas duas mãos estavam focadas apenas em sentir sua bunda, que, na minha opinião, era sensacional. Suas mãos foram subindo e descendo, até que ela tomou coragem e arrancou minha blusa de vez.
- Acho que eu estou em desvantagem aqui - dei aquela clássica desculpa, que todos dão nos filmes, para ter motivo para tirar sua blusa.
- Tão clichê! - ela riu - Como sou boazinha, eu vou igualar a situação - em um gesto rápido, ela tirou sua blusa e a jogou no chão, vindo para cima de mim, recomeçando o beijo.
Nesse caminho, as peças de roupa foram sumindo e a temperatura foi subindo. Sinceramente, eu não estava totalmente confortável com a situação, algo estava faltando, só não me vinha à cabeça o que era.
Domingo, 2 de julho de 2017. Lemonsville, Arizona. 12:00 pm.
Acordei por causa de um corpo inquieto que se debatia ao meu lado. Abri os olhos e visualizei , falando coisas desconexas sozinha, de olhos fechados, provavelmente tendo um pesadelo. Sabe aqueles vídeos onde os animais têm pesadelos e todos morrem de pena? Era, mais ou menos, a mesma coisa que acontecia ali. Me sentei na cama e comecei a sacudí-la.
- ! - levantei um pouco o seu corpo, ainda chacoalhando-a - ! - aumentei meu tom de voz, fazendo a pobre menina acordar, assustada.
- Ai meu Deus! O que foi?! - ela se sentou rapidamente na cama, deixando os seios à mostra, os quais foi impossível não olhar.
Ela logo percebeu que eu a encarava e cobriu aquela região do seu corpo, voltando para baixo do lençol.
- O que foi? - perguntei rindo da sua expressão tímida - Por que se escondeu?
- Você sabe! - ela deu uma tapa de leve no meu braço - Você estava encarando meus peitos! Eles são feios, eu sei - ela disse tristonha -, mas não precisa ficar encarando!
- Quem te disse isso?! - indaguei, me aproximando dela - Esse foi o maior absurdo que eu já escutei na minha vida.
- O meu ex-namorado - ela disse, subindo um pouco mais o corpo - ele sempre dizia coisas do tipo... mas eu não quero falar sobre isso, por favor.
- Tudo bem - levantei seu queixo com o dedo indicador - saiba, que seu ex namorado é um babaca - depositei um beijo em seus lábios - e que seus peitos são, definitivamente, maravilhosos - escorreguei minha mão para baixo do edredom, tocando seu seio esquerdo.
voltou a se sentar na cama, me beijando velozmente, pronta para uma segunda rodada.
Sexta-Feira, 14 de julho de 2017. Lemonsville, Arizona. 7:00 pm.
Eu estava na porta da casa dela, esperando-a sair, para levá-la ao jantar prometido, depois para o baile de formatura. Sim, era o dia do tão esperado evento, a maioria das garotas passaram o dia inteiro no salão, algumas se arrumaram em casa e algumas nem foram. Já os meninos, a maioria, o que incluía a minha pessoa, resolveu pegar o terno e comprar a flor no último momento, o que gerou uma grande confusão na cidade.
Liguei para ela, que atendeu e avistou que já estava descendo. Depois de alguns minutos, ouvi o barulho da porta sendo destrancada. Do lado de dentro da casa, a garota me olhava, com um sorriso bobo nos lábios. Me aproximei, peguei em sua mão e a rodei, tendo uma visão completa de seu vestido.
- Você está linda, Samirah - a coreana me olhou, ainda sorrindo.
- Obrigada! Você está incrível!
Os pais da garota tiraram algumas fotos e, finalmente, pude levá-la ao jantar. Vocês devem estar se perguntando o que aconteceu com . A resposta mais correta seria: eu não sei. Depois da festa, tudo voltou ao normal, por uma semana. Depois disso, ela começou a sair no meio das aulas, enjoada ou com dor de cabeça, isso quando ela não faltava todas de vez; ela quase nunca estava na Rory's, quando estava, não trabalhava; volta e meia ela saída da cidade e voltava só no dia seguinte. Ela ficou estranha, até desaparecer de vez. Eu quase não ouvia mais notícias dela, uma vez ou outra eu escutava Lorelai falando com a filha no telefone, mas não dava pra entender nada. Minha ideia inicial era chamá-la para o baile, mas eu não falei direito com ela nesse tempo, quando vi já era tarde demais.
O jantar foi bem legal, assim como o baile. Eu, sinceramente, esperava mais, mas como eu nunca fui a um baile de formatura, me contentei com aquilo. A parte boa da noite ainda estava para começar: o after-party na casa abandonada. Todos os seniors da Blaise Pascal Academy se encontrariam lá à 00:00, para comemorar o fim do ensino médio.
Chegamos na casa, que já estava relativamente cheia, e pegamos o nosso lugar na fogueira que Frederick acendeu no quintal. Assamos alguns marshmallows, cantamos algumas músicas e, depois de um pouco cansados, ligamos o som um pouco alto. O combinado era: todos sóbrios até à meia noite.
Quando o relógio marcava 11:59 pm, todos ja seguravam suas bebidas, abertas, prontos para virar tudo no minuto seguinte, mas, a presença de um novo ser no local, despertou a atenção de todos.
encarava a roda de adolescentes com os olhos arregalados, parecia arrependia. Corri até ela, enquanto Frederick desligava a música, deixando o ambiente em um silêncio constrangedor, já que ninguém disse uma palavra se quer. Resolvi me pronunciar, antes que outro alguém tivesse a mesma ideia:
- Você está bem, pelo menos? - eu a segurei pelos ombros, encarando seus olhos, que, em questão de segundos, ficaram cheios de água.
- Eu estou grávida - ela soltou a bomba, sem mais nem menos, não se importando com a quantidade de gente ao redor.
Todos encaravam a menina, pasmos, ninguém ousou abrir a boca para falar nada. Eu, principalmente, não sabia o que dizer, mas, talvez, o filho não fosse meu.
- T-te-tem certeza? - gaguejei, começando a tremer.
- Tenho! - ela fez uma cara de brava - E, sim, é seu - eu pensei em questionar, mas ela me cortou - você lembra de termos usado camisinha? Provavelmente não, é porque nós não usamos.
- Nós não podemos continuar essa conversa aqui - segurei-a pelo pulso e guiei-a casa a dentro. Parecia a única coisa certa a se fazer.
Subi as escadas com ela, até o telhado, onde a ventania estava extremamente forte. No caminho, consegui organizar meu pensamentos e pensar no que eu iria dizer a seguir.
- Olha, se você não quiser assumir, tudo bem, eu entendo - ela logo começou a se explicar, mas eu a cortei.
- Não assumir? É óbvio que eu vou assumir essa criança, ! - disse como se fosse óbvio.
- Me ouve... - ela começou, mas eu a interrompi novamente.
- Não! É a sua vez de me ouvir! - segurei em sua mão - Você, senhorita ! - apontei o dedo para ela - Você bagunçou meu mundo desde o dia da sua chegada! Eu estava feliz com a minha vida completamente normal e sem graça, mas você veio e tornou tudo mais complicado e divertido! Você tem ideia dos danos que causou em mim? Não estou falando deste bebê! Eu estou falando de toda a angústia que você me fez passar! Eu aprendi a viver com a sua presença, agora não sei se eu vou aprender, de novo, a viver sem ela! Você é tudo o que eu quero! Em todos os horários! Você é a única pessoa que eu quero conversar depois de um dia cheio! Nem que seja por ligação! Você se tornou uma das pessoas que eu mais amo nesta cidade! E eu fico extremamente puto só de pensar que você supôs que eu não assumiria essa criança! Você sumiu, sem me dar nenhuma explicação! Eu sou o pai dessa criança!
- O que você esperava que eu fizesse?! - ela começou a ficar nervosa - Levasse tudo isso numa boa?! Eu tenho dezoito anos, ! Eu não sei se eu tenho capacidade para criar um filho! Eu não sei se eu estou psicologicamente preparada para passar por uma gravidez! E a minha faculdade?! Você sabia que eu fui aceita em Yale?!
- Como eu saberia?! Hein?! VOCÊ SUMIU, ! - gritei, percebi que eu estava exaltado demais, repensei um pouco e abaixei o tom de voz - Tudo bem, se você não quiser ter esse bebê, não tenha, eu estou aqui para te apoiar. E, caso você queira levar isso a diante, eu fui aceito na Universidade de New Haven, eu vou estar sempre presente.
- Eu não sei! - seus se olhos encheram de água novamente - Eu não faço a mínima ideia de como isso vai afetar a minha vida a partir de agora e... - ela não conseguiu terminar pois o choro foi mais forte.
- Eu te entendo - a abracei, o mais forte possível - só quero que saiba que eu estou e sempre vou estar do seu lado, não importa qual decisão você tomar.
Afastei-a, olhei diretamente em suas íris verdes e disse o que estava preso em minha garganta há muito tempo:
- Eu te amo, .
I told her that I loved her
(Eu disse a ela que eu a amava) Just not sure if she heard
(Só não tenho certeza se ela ouviu) The roof was pretty windy
(Estava ventando bastante no telhado) And she didn't say a word
(E ela não disse uma palavra) Party died downstairs, had nothing left to do
(A festa acabou lá em baixo, não tinha mais nada a fazer) Just me, her and the moon
(Só eu, ela e a lua)
Fim
Nota da autora: Oi pessoal! Espero que vocês tenha gostado de End Of The Day! Essa é a minha primeira shortfic e eu dei muito duro nela, de verdade. Passei praticamente todas as tardes, por um mês e meio, escrevendo. Estou muito feliz que ela chegou ao fim e eu, pelo menos, estou muito satisfeita com o resultado! Também gostaria de agradecer à beta, que tira um tempão do dia dela para corrigir, não só os meus, os mínimos erros das fanfics! Espero não ter dado muito trabalho!
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no marirego2010@hotmail.com.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.