Mixtape: Sorry





Não é ótimo quando duas pessoas se amam tanto que decidem morar juntas? É, pelo menos era isso que pensava quando abriu as portas do seu novo apartamento, pela primeira vez, junto com Marcelo, seu namorado.
Com o passar dos meses, as coisas foram mudando. Marcelo não era mais o mesmo, ele não ajudava mais em casa, era tudo por conta dela; não a elogiava mais; chegava tarde do trabalho, muitas vezes alcoolizado; o "eu te amo" depois do sexo, não era mais dito, ele apenas se virava e dormia, sem se preocupar se ela estava satisfeita.
Certo dia, a coisa piorou, Marcelo estava tão bravo que virou a mão na cara de . "O que eu fiz de errado?" ela sempre se perguntava. "Eu, com certeza, mereci isso. Tenho que aprender onde é o meu lugar."
Os dias foram passando, brigas foram acontecendo e ficava cada vez mais detonada, não só fisicamente como também emocionalmente.
A última gota de sanidade que restava na mulher secou em um domingo, quando ela se recusou a lavar a louça que o namorado havia sujado sozinho, sugerindo que ele mesmo lavasse. Marcelo gritou, depois atirou pratos na parceira, que, revoltada, ameaçou deixá-lo. Então, ele soltou a fala que desencadeou todos os traumas que carrega até hoje:
- Pode até tentar, mas eu sei que você voltará mais cedo ou mais tarde, sua vagabunda - ele chegou mais perto da mulher jogada no chão - acha mesmo que alguém vai ter querer? Você, além de inútil, é gorda, . Estou com você por pena - finalizou, cuspindo no rosto da parceira em seguida.
Ela não era gorda, era? Tudo bem, sempre fora um pouco cheinha, com seios maiores do que os das colegas de escola e com a bunda um pouco grande demais para o seu gosto. A barriga nunca fora lisinha e definida como a das amigas, mas ela não era gorda, pelo menos ela achava que não. Então por que Marcelo dissera isso? Ele devia ter razão, ele sempre tinha razão. Ela precisava consertar isso rápido.
passou aquela noite sentada em frente ao vaso sanitário. Às vezes ela tomava coragem e abraçava o objeto, fazendo força para colocar tudo para fora. Fez isso umas cinco ou seis vezes, até tirar todo o peso da consciência.

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A negra estava sentada na cama do casal, olhando o celula de cinco em cinco minutos para checar as horas. Era a terceira vez que Marcelo chegava tarde só naquela semana. Ele dizia que estava pegando horas extras, o que não tinha necessidade, e não queria ser incomodado. Pobre , acreditava como uma boba nas desculpas do namorado.

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A esbelta cardiologista caminhava pelos corredores do hospital. A mulher chamava a atenção de todos por onde passava. A pele negra ressaltava seus olhos escuros como carvão, os volumosos cabelos cacheados lhe caíam na cintura e a maquiagem, como sempre, impecável, dava um ar mais refinado à ela, que andava alinhada, com um pé na frente do outro, até a sala dos médicos, para tomar, tranquilamente, o seu café.
- Bom dia, - as mãos quentes de Alana, a melhor pediatra do hospital, logo seguraram os dedos finos e gélidos da negra, puxando-a para um abraço.
- Bom dia - as duas se separaram. - Como foi o seu final de semana? Dormiu bem?
A pediatra fez uma cara esquisita, como se estivesse segurando alguma informação.
- Sobre isso - Lana começou a falar -, eu preciso conversar com você. Eu passei o fim de semana todo pensando nisso, já bolei tudo.
- Tudo bem, então - disse, juntando as sobrancelhas e colocando o copo de café em cima da mesinha de centro - estou ouvindo.
Quando Alana abriu a boca para começar a falar, o "pager" da cardiologista apitou, indicando que ela estava sendo chamada para algo.
- É uma emergência - ela disse depois de olhar o código em vermelho no visor, se levantando rapidamente - eu preciso ir. Depois conversamos, ok?
- Ok - a outra disse, acariciando o braço da amiga - vai lá.

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Enrolada em seus casacões, devido ao frio incomum que fazia naquela noite, esperava Alana do lado de fora do hospital. Agradeceu quando viu a mulher correndo, em passos pequenos devido ao salto alto, para fora do hospital, logo se juntando à ela.
- Então - a negra recomeçou o assunto abordado mais cedo -, o que você queria me falar?
Alana tirou os cabelos ruivos, esvoaçantes devido ao vento, dos olhos, esfregou as bochechas sardentas, afim de esquentá-las e perguntou:
- , você é bulímica?
A ruiva nunca fora boa em bolar uma conversa, ela sempre jogava tudo de uma vez, sem pensar nos danos causados nas outras pessoas. Aquela pergunta pegou a cardiologista de surpresa. Sim, ela era bulímica, mas pensava que ninguém nunca suspeitaria.
- Não! - ela fingiu estar brava - O que te faz pensar isso?!
- Eu te conheço desde a faculdade - Alana disse, pegando na mão da amiga -, você sempre foi gordinha. Do dia para a noite você perdeu pelos menos dez quilos! Isso não é saudável, amiga! Você está magra demais!
- Lana, eu não...
- Não mente para mim! - a amiga a cortou - Eu sei que você está vomitando! Dez quilos em quanto tempo? Um mês? - a negra assentiu - Não é normal! Por favor, me deixa te ajudar! Por que você está fazendo isso?
- E-eu... - gaguejou - eu não posso contar! - disse com a voz falhando e os olhos marejados - Ele vai me matar! Eu não quero arranjar briga!
- Ele?! - Alana indagou surpresa - Ele quem?! O Marcelo?! - a amiga assentiu - Mas ele sempre foi tão legal! O que ele fez com você?
levantou um pouco a barra da blusa e mostrou o hematoma mais recente em seu corpo. Seu namorado havia feito aquilo na noite passada, quando ela, sem querer, deixou o telefone dele cair no chão.
A ruiva ficou em choque, Marcelo parecia ser tão gente boa, ela nunca imaginaria que ele faria uma coisa dessas.
- Amiga, você tem que denunciar esse cara! - Alana disse, segurando as mãos da mulher com mais força - Por que você nunca me disse nada?
- Eu não posso! - começou a chorar - Eu vou perder tudo o que eu tenho! Eu nunca vou encontrar nada melhor!
- Quem te disse isso?! - a ruiva perguntou, indignada - Ele?! - a negra assentiu - Foi por isso que você começou a vomitar? - assentiu novamente - , isso não é verdade - abraçou a amiga, que soluçava de tanto chorar - eu vou te ajudar a superar isso, prometo.

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chegou em casa naquela noite realmente disposta a mudar, só não sabia como. Cumprimentou o namorado que estava deitado no sofá e foi direto para dentro do quarto pensar em alguma solução que não causasse tanta confusão. Ela estava deitada na cama, quieta, olhando para o teto, quando ouviu batidas na porta.
- Você não vai jantar? - o homem perguntou, entrando no quarto.
- Não - ela mal se deu ao trabalho de olhar para ele -, não estou com fome.
- Tudo bem - ele assentiu, estranhamente calmo - , eu estou saindo, não me espere, voltarei tarde.
- Ok - se limitou apenas a isso, voltando a pensar.
- Ok - Marcelo repetiu e voltou para a sala.
Depois de rolar um pouco entre os lençóis da cama bagunçada, a mulher sentiu algo a pinicando. Procurou o objeto e, quando achou, pegou e viu que tinha um brinco em mãos. Ela conhecia aquele brinco, era propriedade de Rebeca Montenegro, ou Becky, como gostava de ser chamada, uma amiga de faculdade do casal.
A calmaria do namorado estava justificada, ele havia arranjado outra que pudesse satisfazê-lo. não estava acreditando, aquilo foi a gota d'água, ela não poderia ficar nem mais um mês naquele apartamento. Começou a chorar, teve vontade de destruir o quarto em que estava, mas, se quebrasse qualquer coisinha, mínima que fosse, Marcelo a quebraria mais tarde.
"Que se foda!" pensou quando jogou o primeiro objeto contra a parede, um abajur que ficava sobre o criado mudo. Quando ouviu o barulho da lâmpada se estilhaçando, sentiu uma sensação de liberdade, como se parte dos seus problemas estivessem indo embora junto com ela. Então, segurou, com as duas mãos, embaixo da cama e a virou, em cima do móvel onde ficava o abajur recém quebrado. A sensação boa só aumentava, as lágrimas paravam de cair, ela estava adorando aquilo. Abriu o guarda-roupas e jogou todas as roupas do namorado no chão, batendo sua porta logo em seguida. Pegou a cadeira de rodinhas do outro lado do cômodo e arremessou-a na parede, fazendo um grande buraco. Depois de quebrar praticamente o quarto inteiro, se desesperou, sem saber como explicar aquilo para Marcelo.
Decidiu, então, que não teria outro jeito a não ser fugir dali o mais rápido possível. Pegou o máximo de coisas pertencentes a ela possível, arrumou as malas e deixou o apartamento, sem antes escrever um bilhete e pregá-lo na parede do corredor, do lado da porta do quarto do casal.

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O homem chegou, por volta das cinco da manhã bêbado, como de costume, no apartamento naquela noite. Deixou os sapatos de qualquer jeito no meio da casa e se dirigiu até a cozinha, para beber um pouco de água. Foi então que, mesmo alterado, percebeu que algo estava errado. Algumas coisas haviam desaparecido e outras mudado de lugar.
Achou estranho, pois sempre foi loucamente obcecada com arrumação, era uma confusão toda a vez que ele movia algo de lugar.
Andou, então, até o quarto, mas, antes de adentrar o cômodo, percebeu que tinha um post-it amarelo fluorescente colado ao lado da porta.
"Eu NÃO sinto muito"
Sem entender nada, Marcelo abriu a porta. Seu sangue ferveu e seus punhos se fecharam automaticamente quando viu o quarto totalmente destruído. As paredes quebradas, a cama revirada, as luzes estouradas, as roupas jogadas no chão e... o guarda roupa vazio? Aquela vadia havia fugido? Tinha ido para a casa de Alana, só pode. Ela era burra demais para ir muito longe.
Sem se incomodar com o horário, Marcelo esmurrou a porta da casa da mulher, que atendeu com uma cara de espanto impagável, que só aumentou ao vê-lo parado ali.
- Onde está ? - o homem gritou - Anda Alana! Desembucha!
- Eu não sei! - a amiga respondeu, confiante. Ele sabia que ela estava mentindo.
- É claro que você sabe - disse, chegando mais perto da ruiva, envolvendo seu pescoço fino com sua mão - é melhor você me dizer logo, Alana.
- Ela partiu há uma hora - a mulher respondeu, um pouco sem ar por causa do aperto - para onde ela foi, eu não sei.
Com raiva, Marcelo largou o pescoço da moça, que não perdeu a pose.
- Desgraçada! - foi a última coisa que ele disse antes de deixar o local.

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Ao adentrar o hospital, Marcelo já estava praticamente soltando fumaça pelas narinas. Andou até a recepção, bateu no balcão para chamar a atenção da atendente inútil que conversava ao telefone. A mulher desligou o telefonema e se dirigiu a ele.
- Bom dia, senhor - falou a frase padrão -, como posso ajudar?
- Eu gostaria de falar com - disse, se acalmando um pouco.
A mulher deu uma passada de olhos em alguns papéis que estavam em cima do balcão e olhou para Marcelo com uma expressão confusa.
- A Drª. acabou de pedir demissão - explicou - achei que o senhor estivesse ciente.
- Não, - sentiu o sangue fervente percorrer suas veias - eu não estava ciente. Você sabe para onde ela foi?
- Sinto muito - ela olhou-o com pena - mas não faço a mínima ideia.
Sem ao menos se despedir da moça, o homem saiu, puto da vida, do hospital. Ele, mesmo que demorasse anos, acharia aquela piranha.

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Festeira, bem-sucedida, maravilhosa e inteligente. Eram, esses, os principais adjetivos usados para descrever .
A melhor cardiologista de um dos melhores hospitais de São Paulo tinha tempo para fazer — muito bem, diga-se de passagem — o seu trabalho e ainda comparecer às festas e eventos sociais.
Ela havia se tornado a meta de toda estudante de medicina.
Marcelo? Quem é Marcelo? O homem nunca mais havia a procurado. Desistiu da ideia de achá-la no momento em que viu sua primeira entrevista no jornal. Se arrependeu profundamente de tê-la deixado escapar. Entretanto, esse sentimento ele guardava no fundo do coração. Nas camadas mais rasas, ele havia desenvolvido um ódio de mulher, por ter levado um pé na bunda, por ter visto que: sim, uma mulher pode subir na vida, por ter sido ele quem ficou para trás. Descontava todo esse sentimento ruim na pobre Rebeca. A mesma Rebeca para qual ele prometeu uma vida melhor, a mesma Rebeca que esperava ansiosamente pelo o dia em que ele largaria a namorada, a mesma Rebeca que, agora, estava jogada no chão, no mesmo lugar que estava há alguns anos, que esperava ansiosamente pela volta do namorado, que lavava todas as louças e, que se falasse alguma coisa, levava porrada.
A negra tratou de fugir no mesmo instante em que se deu conta da burrada que havia feito em seu antigo quarto. Passou a noite na casa da amiga e, no dia seguinte, pediu demissão e voou para São Paulo.
Já na nova cidade, ela ficou — por um longo período — na casa da tia, que a recebeu muito bem. Lá, ela começou tudo do zero, nem com Alana ela falava direito. Depois de cinco anos, lá estava ela com sua própria casa, seu próprio carro, seu próprio dinheiro e, melhor, sem homem!
Entretanto, algo ainda lhe faltava.
estava sentindo algo estranho pela nova neurologista do hospital. Seu nome era e, aos olhos da nossa protagonista, ela era perfeita. A mulher não sabia explicar o que sentia, era ciúmes misturado com admiração e... tesão? Ela nunca tinha sentido aquilo por uma mulher antes. Seria ela sapatão? Assim, nada contra lésbicas, mas... ela? ? Não podia ser.
Ela não sabia ao certo sobre a sua sexualidade, a única coisa que sabia era que a nova médica estava mexendo demais com o seu coração.
Aproximadamente um mês depois da chegada de , as duas tiveram o primeiro beijo. passou noites acordada, tentando responder a pergunta que não queria calar: por que ela havia gostado?
Na cabeça da mulher, esse tipo de crise a gente passa quando é adolescente, não em seus plenos trinta anos.
O tempo foi passando e as duas foram criando mais e mais intimidade, confiando cada vez mais uma na outra.
Até que um dia comentou casualmente sobre a sua relação com o seu ex-namorado.
ficou boquiaberta.
- Caralho, ! - a médica disse, a abraçando - Eu não sabia que você tinha passado por tudo isso!
- Tudo isso o que? Tá ficando doida? - nossa protagonista respondeu - Isso é normal, menina.
A loira não estás acreditando.
- Você estava em um relacionamento abusivo! - disse indignada - Claro que isso não é normal!
- Que relacionamento abusivo o que! Isso é mimimi de feminista! - essa frase fez com que quase caísse dura.
Apesar de tudo, a outra mulher entendia a situação de . Ela não sabia, realmente, o porquê de ela estar repetindo aquelas baboseiras, só foi criada em um meio diferente. Ela tinha muito trabalho a fazer.

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Sentada em uma roda, junto a meninas que, na cabeça da negra, eram totalmente inapropriadas, ouvia uma delas falar sobre feminismo.
Aquilo foi a luz no fim do túnel, feminismo era a solução. E pensar que aquilo tudo sempre esteve ao seu alcance e ela nunca nem se quer cogitou a possibilidade de se tornar feminista! Besteira!
Logo, colocou a parceira em um grupo de apoio para mulheres que sofrem/sofreram violência doméstica, com o consentimento dela, óbvio. Esse grupo foi o que, definitivamente, ajudou a mulher a começar a resolver seus traumas. Um tempo depois, ela tratou a questão com a sua psicóloga e, em alguns meses, a vida de mudara completamente.
Nas entrevistas, a cardiologista passou a fazer questão de comentar sobre seu ralacionamento abusivo, quando perguntavam sobre seu passado.

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Jogado no sofá, Marcelo assistia sua ex namorada falar sobre feminismo na tv. Já não bastava ter virado lésbica, mas, feminista?! Aí já era demais! Aquilo estava fugindo do controle. O que seus amigos iriam pensar quando vissem aquela mulher? Há tempos atrás, ele prometeu que iria esquecê-la, mas agora ele precisava agir.

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Enquanto assistia mais uma de suas entrevistas na televisão, ouviu seu celular tocar. Estranhou o número que apareceu na tela, tinha a estranha sensação de que era familiar. O susto veio quando atendeu o telefone.
- ? - ouviu a voz de Marcelo do outro lado da linha.
Chocada, não soube como reagir.
- ? - chamou mais uma vez.
- Sim, - se recompôs - quem fala?
- Corta essa, mulher - disse com desdém - é o Marcelo.
- Ah, olá, Marcelo! - segurou as lágrimas - Como anda a vida?
- Bem - fez uma pausa - Olha, , eu estou te ligando para dizer que eu estou arrependido.
A mulher quase caiu da cadeira.
- Arrependido?! - indagou desacreditada.
- Sim, totalmente - seu tom de voz parecia convincente, mas ela ainda estava com um pé atrás - Eu estou em São Paulo e gostaria de te encontrar para resolver umas questões, tudo bem?
Ficou alguns segundos em silêncio, pensando sobre o que iria responder. Era óbvio que ela não confiaria em Marcelo nem o encontraria sozinha, mas ela bolou um pequeno plano, precisava arriscar.
- Claro! - concordou - Quando?
- Pode ser amanhã? Na Lanchonete da Cidade ao meio-dia?
- Pode sim - disse, parecendo radiante com a ideia - Boa noite, Marcelo.
- Boa noite, .
Pouco depois de ter desligado com Marcelo, a mulher ligou para a namorada.
- Eu preciso da sua ajuda.

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Meio-dia.
esperava o seu ex-namorado sentada em uma das mesas do lugar, ansiosa.
Quando viu o homem abrir a porta, seu coração quase saiu pela boca. Todas as lembranças ruins voltaram em segundos.
Marcelo veio em sua direção, normalmente, como se a história dos dois não fosse nada desagradável.
Segurou em sua mão e a levantou, indo cumprimentá-la com o famoso beijinho na bochecha.
Entretanto, algo um pouco previsível aconteceu.
- Olha aqui - o homem sussurrou em seu ouvido - quando essa merda desse almoço acabar, você vai sair comigo, normalmente, e eu vou te levar pra realmente resolver as coisas. Entendeu? - ela balançou a cabeça, concordando - Melhor ter entendido mesmo. Você não tem escolha.
Sentaram e ele chamou o garçom, para fazerem os pedidos.
O garçom andou até eles numa rapidez impressionante.
- Boa tarde, senhores - saudou, abrindo o bloquinho - O que gostariam?
- Um Bombom com batata rústica por favor - Marcelo pediu primeiro, ainda olhando para o cardápio.
O atendente, suando frio, anotou. - E você? O que gostaria? - com o coração a mil, perguntou para a mulher.
- Apenas um milkshake de ovomaltine. O estômago do garçom se revirou, mas ele manteve a pose.
- Anotado! Seus pedidos estão saindo já já.
Antes de entregar os papéis na cozinha, o homem passou por uma mesa próxima da deles, falando algo com uma moça elegante. Não era possível ver seu rosto, pois estava sentada de costas, mas era dona de sedosos cabelos loiros que brilhavam contra a luz do lugar.
A loira pareceu tomar um susto, deu um pulinho na cadeira. Pegou o celular e começou a digitar freneticamente, o barulho de suas unhas se chocando contra a tela do aparelho era ouvido por toda a extensão da lanchonete.
Poucos segundos depois, duas policiais entraram no local, andaram até o ex-casal, sentados na mesa mais distante e abordaram o homem.
- O senhor poderia nos acompanhar, por favor? - a policial, que parecia mais velha, disse, segurando o braço de Marcelo.
fingiu estar chocada.
- Para que? - o homem disse com desdém, não respeitava nem policial homem, quem dirá mulher.
Acabaram de registrar uma ameaça, vindo do senhor. Precisamos revistá-lo para ter certeza que nada está errado, tudo bem?
- Não! - aumentou o tom de voz - Vocês não vão me revistar coisa nenhuma!
- Senhor, abaixe o tom de voz - a mais nova, disse, severa.
Marcelo já estava com a resposta na ponta da língua, quando percebeu que as duas estavam armadas. Engoliu o orgulho e se deu por vencido.
- Tudo bem - se levantou, deixando o local, acompanhado das duas policiais.
Lá fora, a mais velha o segurava, com as mãos para trás, enquanto a mais nova revistava seu carro.

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A dona dos cabelos loiros, também conhecida como , saiu da lanchonete junto com , para ver o que se passava do lado de fora.
As duas chegaram no exato momento em que Marcelo estava sendo colocado na parte de trás da viatura da polícia, pois haviam achado uma pistola, munição e sedativos no veículo que ele estava usando, pois não era propriedade dele.
Ninguém, além das mulheres e dos trabalhadores do local, sabia o que se passava.
Duas horas antes, chamou sua irmã e sua mãe, que, por ironia do destino, eram policiais, para ajudar ela e sua namorada na busca de um agressor.
As três chegaram na lanchonete, reuniram os garçons e disseram que chegaria lá ao meio dia. Todos sabiam quem era, então ganharam certo tempo. Depois mostraram a foto de Marcelo, ex-namorado de e disseram que ele chegaria e se sentaria junto dela. Até aí, nada era muito complicado, pois era só a primeira parte.
A segunda parte seria assim: quem quer que fosse o atendente deles, deveria saber que, caso dissesse que queria um Bombom, significava que tudo estava indo bem, mas era preciso ficar atento; caso ela dissesse que queria um Bombom e um milkshake de ovomaltine, significava que ela estava super insegura e que a pessoa deveria avisar , que estaria em uma mesa próxima, sentada de costas; caso pedisse apenas um milkshake de ovomaltine, a loira deveria ser avisada imediatamente, pois ela avisaria às policiais e Marcelo seria retirado dali.
O plano era perfeito e praticamente infalível, assim, foi realizado com sucesso.

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Dois anos depois, estava preocupada, pois seus batimentos cardíacos estavam muito rápidos, mais do que o normal. Óbvio que ela estaria assim, ela iria casar.
Ela estava esperando, dentro do carro, o sinal para sair e começar a cerimônia. O local estava lindo, em um hotel na beira da praia em Salvador, só os mais próximos foram convidados.
As duas já estavam casadas no cartório, mas não era católica nem batizada, por isso não podia casar na igreja e sempre sonhou com uma cerimônia de casamento, então, acharam um meio termo. Sem padre, sem igreja e sem aquela baboseira de "até que a morte nos separe", estava tudo perfeito.
O sinal foi dado e saiu de dentro do veículo, seus olhos marejaram ao ver o que a esperava do lado de fora. fez o mesmo, mas sem se emocionar tanto. As duas, de braços dados, seguiram para o pequeno altar, ansiosas para mostrar a todos que estavam unidas, provavelmente, para sempre.

Me and my baby, we gon' be alright We gon' live a good life




Nota da autora: (28.01.2017) Eu ameeei fazer essa shortfic! Espero que vocês tenham gostado dela tanto quanto eu! Beijinhos <3




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