CAPÍTULOS: [ÚNICO]






ÚNICO


I've just reached a place
Acabei de chegar a um lugar
Where the willow don't bend
Onde o salgueiro não se curva
There's not much more to be said
Não há muito mais a dizer
It's the top of the end
É o começo do fim


Talvez eu tivesse tido uma escolha, sim, com certeza eu poderia ter escolhido diferente. Mas eu pergunto, para que? Eu não tinha mais vontade, eu sentia que para mim se encerrou ali, eu não tinha mais caminho a trilhar, eu não tinha mais nada a fazer. Sim, eu era jovem, sim, talvez eu tivesse uma bela vida pela frente, isso aos olhos dos outros, porque aos meus olhos eu não tinha mais nada pela frente, quando eu pensava em futuro eu só enxergava o vazio. Mas ela tinha tudo, ela possuía o mundo e se para ela possuir o mundo eu precisava sair dele, então que assim fosse.

Eu tive uma infância feliz, tive pai, tive mãe, tive irmão, tive bons amigos. Mas sempre me senti vazia, eu via os sorrisos, via a alegria e não sentia nada daquilo. Tenho esse sentimento desde que eu era bem criança, como se eu já tivesse nascido com uma tristeza profunda. Não, eu não sofri nenhum trauma, não sofri abuso, não sofri maus-tratos, como eu disse, eu tive uma infância feliz, aos olhos dos outros, como sempre aos olhos dos outros. Eu achei que meu vazio talvez fosse preenchido quando eu construísse minha própria família, por isso me casei com meu primeiro namorado e talvez esse tenha sido meu pior erro, e acho que foi exatamente por isso, depois de uns anos, que o vazio só cresceu ao invés de diminuir.

I'm going
Estou indo
I'm going
Estou indo


Eu tinha dezoito anos, estávamos juntos há um ano e meio quando eu passei a carregar seu sobrenome. No começo nos entendíamos muito bem, tínhamos uma rotina tranquila, nossos beijos eram bons, nosso sexo era maravilhoso. Um ano depois tive nosso primeiro filho, seu nome? Anthony. Pela primeira vez na minha vida eu sentia meu vazio ser preenchido, todas as vezes que eu olhava para aquele pequeno ser que havia saído de dentro de mim, eu me sentia plena, ninguém nunca havia precisado cem por cento de mim, mas ali estava meu pequeno Anthony, tão pequeno e tão dependente. , meu marido, era um pai maravilhoso, mesmo chegando do trabalho cansado, ele dava toda atenção para Tony, lhe dava comida, lhe dava banho, o ensinou a usar o banheiro, o colocava para dormir. Ele sempre fazia questão de fazer essas coisas. Meus parentes e amigos diziam que eu era doida por me casar tão cedo e já ter um filho, e eu sempre quis saber qual era o problema disso. Onde é que está escrito que todo mundo tem que fazer faculdade, todo mundo tem que arrumar um excelente emprego, ter um bom casamento, comprar uma casa, um carro, um cachorro e ter somente um filho lá pelos trinta e cinco anos? Onde se encontra o livro que dita essas regras? Porque eu nunca o encontrei... Então lá estava eu, 19 anos, casada com meu primeiro namorado e mãe de um lindo garotinho, vivendo em uma casa pequena, mas bonita e sendo dona de casa. Então engravidei de novo e dessa vez veio minha doce Holly, minha garotinha sorridente, sempre sorrindo e sorrindo e sorrindo, cheia de felicidade, cheia de vida, o xodó de seu papai que ficou ainda mais babão, ainda mais atencioso. Para o espanto de todos eu engravidei de novo quando Holly estava apenas com quatro meses. Ouvi um sermão imenso da minha mãe, ela nunca tinha brigado comigo como brigou naquele dia. Mas fazer o que, a vida era minha e eu faria dela o que eu bem entendesse e teria quantos filhos eu quisesse, não se importava, ele era filho único e sempre me disse que queria uma família grande. Mas a família encerrou ali mesmo no terceiro bebê, com sete meses tive uma grave hemorragia e tive que fazer uma cesariana as presas. Minha Heaven veio ao mundo respirando fraquinho e logo foi entubada, por pouco eu não a perdi, ela ficou dois meses no hospital lutando bravamente... minha pequena guerreirinha. Ela sobreviveu, mas algo em mim morreu no dia de seu nascimento, o médico disse que eu não poderia mais ter filhos, que se eu quisesse viver, que não poderia mais colocar nenhuma criança nesse mundo. Então tive que fazer uma cirurgia para não engravidar mais, aquilo me deixou tão triste, e meu vazio, que estava tão quieto depois que casei e comecei a engravidar, voltou a dar as caras.
Heaven era delicada, era mais séria que Holly, era difícil ganhar a confiança dela, não sorria para qualquer um, mas todas as vezes que chegava do trabalho, o rosto de Heaven faltava se partir de tanto que ela sorria para ele. E ele a amava tanto, dizem que não existe essa de amar mais um filho que outro, mas eu sentia que amava mais Heaven do que Anthony e Holly, não que ele não os amasse, longe disso, mas ele tinha muito mais carinho por Heaven, talvez fosse porque ela era toda pequena e delicada e por ter passado por tudo que passou mesmo sendo um frágil bebê.

Eu tinha meus três lindos e amados filhos, cada um com sua personalidade, cada um me enchendo de orgulho com cada pequena e boba conquista, desde a aprender a usar o banheiro sozinho, até distribuir por ai todos os meus ensinamentos. Eu era uma mamãe orgulhosa e me sentia tão plena quando ia ao quarto de cada um para os cobrir, lhes dar um beijo na testa e lhes desejar boa noite. Eu ficava lá, no batente da porta observando os meus tesouros com todo o amor do mundo e finalmente, finalmente, eu sentia que estava tudo bem. Eu não pensava na minha vida antes de Anthony, Holly e Heaven, agora ELES eram a minha vida.

conseguiu comprar uma casa para nós, era maior do que a casa de aluguel que morávamos, aquela tinha uma cozinha grande, uma sala de lazer, uma sala de jantar, três banheiros, três quartos e um jardim grande para as crianças brincarem. Aquela casa era o orgulho de , sua primeira grande aquisição mesmo trabalhando no único supermercado grande da nossa cidade. era querido, era um bom filho, um excelente amigo, um ótimo pai, e ele se esforçava tanto para ser essas coisas, que se esquecia também de ser um bom marido. Naquela altura nós mal nos falávamos, erma apenas “bom dia”, “o que você quer para o jantar?”, “preciso de dinheiro para comprar tal coisa”, “boa noite” . Virávamos um para cada lado e dormíamos. Parecia que não havia mais amor ali, e, em vários momentos, enquanto eu fazia minhas refeições sozinha, eu me perguntava se em algum momento já ouve amor. Ele começou a chegar tarde em casa, ainda dava atenção as crianças, ainda cumpria seu dever, mas já não era mais meu marido, era apenas o pai dos meus filhos. Eu desconfiei que ele havia encontrado outra pessoa e isso me magoou tanto, talvez eu o amasse, mas da minha maneira, se o fato dele ter encontrado uma substituta para mim mexeu tanto comigo, era porque eu sentia algo, não era? Então eu comecei a ficar paranoica, eu sempre cheirava suas camisas para ver se tinha algum perfume diferente, sempre vasculhava seus bolsos para ver se encontrava algo que o denunciasse e comecei a interrogá-lo e isso o enfureceu e brigávamos constantemente, mesmo na frente das crianças e eu sempre tinha que acalmar Heaven depois porque ela era muito sensível e aquilo estava perturbando muito minha garotinha. Nós tínhamos que parar, tínhamos que consertar aquilo, eu não queria que meu casamento fosse por água a baixo, eu queria lutar por ele, mantê-lo não só por mim, mas por meus filhos também e lá no fundo, por orgulho, para calar a boca de quem dizia que aquele casamento não duraria, que não tínhamos juízo, que acabaria de forma ruim. Queria evitar ser motivo de chacota, queria evitar os “eu avisei” , queria mostrar que eu conseguiria.

Eu era uma boa esposa, escolhi não trabalhar fora para me dedicar a meus filhos e minha casa, mantinha a casa limpa, as roupas lavadas a comida sempre pronta, as crianças eram bem cuidadas, andavam limpas e eu sempre lhes ajudava com o dever de casa. Eu não reclamava, eu gostava daquela vida tranquila e aos olhos de muitos, sem graça. Nunca almejei conquistar o mundo, só queria conquistar minha felicidade e para mim, aquela vidinha pacata bastava.

I'm closin' the book
Estou fechando o livro
On the pages and the text
Nas páginas e no texto
And I don't really care
E eu não me importo (com)
What happens next
O que vai acontecer em seguida


Em um fim de semana fui visitar minha mãe e levei meus filhos, na hora de irmos embora começou a cair um temporal e achei melhor deixar as crianças lá e ir para casa sozinha. Eles amavam ficar na casa dos avós, eles sempre moviam céus e terra para fazer a vontade deles e mimá-los o quanto podiam. Cheguei em casa um pouco molhada, não havia levado guarda-chuva por isso quando sai do carro tive que enfrentar aquele aguaceiro. Abri a porta de casa e o ambiente estava escuro, silencioso, tirei meus sapatos e meu casaco deixando-os ali mesmo na entrada. Caminhei em direção a cozinha e abri a geladeira para pegar um copo de água. Lavei o copo que usei e quando guardei no armário ouvi um barulho que parecia vim do andar de cima. Estranhei, disse que haveria uma reunião no supermercado por isso demoraria a voltar para casa. Preocupada subi os degraus em silêncio, por uma pequena fresta da porta do meu quarto eu via uma luz fraca saindo dali. Meu coração parecia que ia sair por minha boca, eu tremia e minhas mãos suavam enquanto minha respiração estava alta. Parei de frente ao meu quarto e aos poucos empurrei a porta temendo mais do que nunca o que eu encontraria ali. Lá estava meu pior pesadelo, na cama com outra mulher, ambos nus e rindo. Na cama, na minha cama, na nossa cama que dividimos por tanto tempo, que nos amamos, que tivemos tardes intermináveis assistindo filmes com nossos filhos.

I'm just going
Estou indo
I'm going
Estou indo


Eu fiquei lá, parada, só olhando para eles, não sabia o que fazer, não sabia se pedia explicações, se brigava, se gritava, se chorava, se saia quebrando tudo. Pela primeira vez na minha vida eu não sabia o que fazia diante uma situação, então só fiquei lá. Mas depois de um tempo eu fui notada, não por , ele estava entretido demais para perceber que sua esposa estava parada à porta, fui notava pela mulher que estava com ele. Eu a conhecia, ela era mãe do melhor amigo de Tony, nos vimos algumas vezes em reuniões de escola e aniversário, pelo que eu sabia ela estava separada a quatro anos e tinha apenas um filho. A mulher arregalou os olhos e empurrou , cobriu-se e olhou para ele, e só então ele me notou. virou-se para mim, nunca fui muito boa em distinguir as expressões das pessoas, mas no rosto de notei surpresa, somente isso, surpresa, nada de arrependimento, angustia, ou desespero por eu ter descoberto sua traição. Ele olhou para a mulher que estava ao seu lado muito aterrorizada.
- Cintia, vá para casa, depois conversamos, tudo bem? – A mulher olhou para ele e depois olhou para mim, logo em seguida olhou para de novo, ela assentiu e levantou segurando meu coberto favorito ao redor dela. Pegou suas roupas e sapatos e passou por mim encolhendo-se como se esperasse que eu batesse nela, mas eu nunca bati em ninguém e não pretendia fazer isso agora.

A ficha começou a cair pouco a pouco enquanto eu via levantando-se e vestindo uma cueca. Eu fui traída, eu estava sendo traída, ele transou com aquela mulher bem ali na nossa cama e vai saber quantas vezes ele fez isso enquanto eu estava fora. Ele levou sua amante para nossa a casa, a casa que ele dividia comigo que era sua mulher e com seus filhos. Que tipo de homem era aquele com o qual me casei?

- Eu não esperava por isso – Ele disse.
- Você não esperava por isso? Você? Imagina eu então que chego na MINHA casa e vejo o MEU marido transando com outra na MINHA cama!
- Para começar, abaixa o tom – Ele aproximou-se de mim, sua expressão era séria – E essa casa não é sua, é MINHA, você não deu dinheiro nenhum para compra-la, EU comprei com o suor do meu rosto e desde que nos casamos sem comunhão de bens, nada daqui é seu – Sim, nós nos casamos sem comunhão de bens, ou era aquilo, ou não nos casávamos, decisão do meu pai. Ele tinha dinheiro, não muito para ser considerado um milionário, mas ele possuía um pequeno sítio e uma lanchonete que vendia muito bem e como ele sempre disse que o que era dele era meu, ele quis se certificar que não estava casando comigo só por causa dos “meus bens”. Mas a intenção de nunca havia sido aquela, ele se orgulhava de trabalhar desde os doze anos e conquistar tudo por conta própria.
- Mas vivemos aqui , eu, você, nossos filhos, construímos uma vida aqui e agora você faz isso? Traz uma vagabunda para cá e fica com ela no nosso quarto sabendo que os seus filhos poderiam presenciar isso.
- Eles nunca presenciaram antes não seria agora que aconteceria – Aquelas palavras me magoaram de uma forma profunda. Então aquilo já havia acontecido antes, bem ali na nossa casa e só de imaginar que fez sexo com ela e logo depois poderia ter feito comigo, me embrulha o estomago.
- A-a quanto tempo você está com ela? – Minha voz estava embargada e eu lutava para não derramar nenhuma lágrima.
- Isso não é da sua conta.
- COMO NÃO?! – Não consegui mais controlar minha ira. não gostava de escândalos, mas ele provocou aquilo e só cabia a ele aturar aquilo – Você está me traindo, transando com uma vagabunda qualquer! NA NOSSA CAMA, NA NOSSA CASA! QUE TIPO DE HOMEM É VOCÊ?
- O TIPO DE HOMEM QUE ESTAVA DE SACO CHEIO DE ATURAR UMA MULHER FRIGIDA! – resquício de sua saliva voou em meu rosto, ele estava muito perto, seu rosto vermelho e irado.
- FRIGIDA? EU DAVA TUDO DE MIM A VOCÊ, SEMPRE FIZ DE TUDO PARA SATISFAZÊ-LO, SEMPRE ME IMPORTEI COM VOCÊ!
- Se aquilo era dar tudo o que você tinha...
- A culpa não é minha se você prefere uma puta barata do que uma mulher direita – Respirei fundo e passei as mãos pelo rosto – Eu vou embora – Passei por ele e peguei uma mala no closet e coloquei sobre a cama – Vou embora agora e já entrarei com um pedido de divórcio, não sou obrigada a me submeter a isso – Disse enquanto jogava minhas roupas de qualquer jeito na mala.
- Você vai, mas meus filhos ficam – Parei o que estava fazendo e olhei para ele.
- Você está louco se pensa que eu vou deixá-los aqui.
- E você está louca se pensa que eu vou deixar você leva-los, você não vai sair dessa casa com meus filhos.
- Eu quero ver qual vai ser o juiz que irá tirar três crianças de uma mãe para dar há um pai que acabou com a própria família levando uma vagabunda para casa – Cruzei os braços e o encarei determinada.
- Nenhum juiz em sã consciência deixará três crianças com uma mulher desempregada e sem moradia fixa. EU tenho uma casa boa, EU tenho um emprego muito bom e posso dar uma vida boa para os meus filhos. Você quer brigar na justiça? Então vamos brigar, vamos desgastar nossos filhos, mas no final nós sabemos com quem eles irão ficar e quando eu ficar com eles eu não vou permitir que você se aproxime nem dois metros deles, . E durante todo o processo eles irão ficar aqui, na minha casa e eu vou me certificar de que Cintia faça um trabalho melhor com eles do que você faz porque se você decidir se colocar para fora daqui, eu trago a Cintia para essa casa – Dei um passo para trás diante suas palavras e toda minha confiança esvaeceu-se. Eu simplesmente não conhecia aquele cara que estava a minha frente e gostaria muito de saber qual foi o feitiço que aquela mulher usou em meu marido.

Eu estava perdida, eu sabia que cumpriria com cada uma de suas palavras e fiquei com um medo terrível de perder meus filhos e ainda ter outra mulher criando-os. estava me destruindo, estava me tratando feito nada e eu me sentia enganada, sem utilidade nenhuma. Fui incapaz de controlar as lágrimas daquela vez e ele não se comoveu nenhum pouco. Sai do quarto e fui para o quarto de Holly e Heaven, bati a porta e a tranquei, me deitei em uma das camas em posição fetal e então chorei com o rosto sobre o travesseiro. Naquele momento eu me sentia tão, tão pequena, eu sentia tanta dor e medo. Eu podia tentar, poderia sair dali naquele instante e ir para a casa dos meus pais, eles me dariam amparo, eles me ajudariam a ter meus filhos. Mas e se eu os perdesse? E se eu perdesse a guarda deles e eles passassem a ver aquela mulher como mãe? Fora o trauma que nós causaríamos neles, várias idas ao tribunal, perguntas como “você quer ficar com quem?” Eu sempre quis que meus filhinhos crescessem bem, fossem felizes e tivessem boas histórias para contar aos seus netos. E enquanto eu estava ali chorando e sentindo o vazio que sempre tive, voltando, alargando-se pouco a pouco, eu decidi que não podia ficar longe dos meus filhos, eu precisava deles, não sabia o que seria de mim sem eles ao meu lado, por isso eu me sacrificaria, não é isso que as mães fazem a final?

I been hangin' on threads
Estive pendurado por barbantes
I been playin' it straight
Estive jogando direto


não me expulsou de casa e nem me deu nenhum tipo de prazo, eu ainda continuava ali, com meus filhos, com ele, mas eu não me sentia mais sua mulher. Dormíamos no mesmo quarto para evitar perguntas das crianças, mas ele dormia na cama e eu em um colchão de solteiro no chão, bem longe dele. Nos almoços com minha família ou com a dele eu sempre estava lá, sorrindo, conversando. Mas enquanto por fora meus lábios estavam esticados, por trás daquilo eu estava totalmente sem expressão, sem vontade, eu vivia uma farsa, constantemente, para meus filhos, vizinhos, amigos, família. Eu era uma Elisa diferente quando eu estava com eles, eu era a Elisa que dizia que estava tudo bem e que eu estava feliz, mas eu não estava. Eu sabia que continuava a se encontrar com aquela mulher, Cintia, as vezes ele nem dormia em casa, e em um fim de semana ele foi viajar com ela, ele disse para as crianças que era coisa do trabalho, mas eu sabia que era coisa de Cintia.

Eu decidi melhorar, decidi mudar meus planos, eu arrumaria um emprego e permitiria que meu pai me desse uma casa, ele disse que daria uma casa quando eu me cassasse, mas não aceito, a casa seria no meu nome claro, mas queria algo dele. Mas eu perguntaria para meu pai se ele poderia ainda me dar essa casa, então, tendo um emprego e uma casa eu contrataria um excelente advogado, me separaria e teria a guarda dos meus filhos. Se eles ficassem com durante o processo, eu decidi que tudo bem, eu daria um jeito de vê-los e faria tudo que fosse possível para que esse divórcio e as audiências para a guarda, fossem os menos complicados possível para poupá-los.
Eu consegui um trabalho em uma confeitaria, eu sempre fiz excelentes doces, meu pai sempre quis que eu trabalhasse na lanchonete, mas nunca almejei aquele lugar. A dona da confeitaria ficou satisfeita com meu serviço e na primeira prova de uma torta de maçã que eu fiz, ela já me contratou.
Eu tinha que me desdobrar, tinha casa para cuidar, tinha meus filhos e tinha um emprego. Anthony exigia mais cuidados do que Holly e Heaven, ele estava com 14 anos e em uma fase muito rebelde, não me ajudava nada, só dizia: “deixa o menino” e Anthony ficava satisfeito. Mas eu tinha tanto medo que ele se envolvesse com coisas erradas, com gente ruim, sempre tive medo que ele entrasse em um caminho sem volta, por isso pegava muito no pé dele e ele ficava furioso comigo.

Now, I've just got to cut loose
Agora eu só tenho que me soltar
Before it gets late
Antes que fique tarde


Em uma certa noite Anthony estava demorando para voltar para casa, eu permitia que ele saísse, mas ele tinha que estar em casa até as oito, era sábado e já passava das dez. Me levantei do sofá e peguei a agenda que ficava ao lado do telefone, disquei alguns números e finalmente consegui a informação que eu queria. Sai de casa apressada e muito preocupada, peguei o carro e segui o endereço que me foi dado. A rua estava cheia de carros e a música alta, parei o carro na rua mesmo e entrei na casa empurrando alguns adolescentes que não saiam do caminho. De jeito nenhum aquele era um lugar onde Anthony deveria estar, de longe eu sentia o cheiro de bebida e via muita gente alegre até demais. Andei pelo lugar por algum tempo e encontro Anthony no jardim, com um copo de bebida em mãos e em uma roda de meninos. O filho de Cintia também estava ali e mais um garoto que frequentemente ia lá em casa. Caminhei furiosa até onde Tony estava e bati em sua mão fazendo-o derramar a bebida.
- O que você pensa que está fazendo?! – Ele me olhou surpresa e logo depois olhou ao redor – Eu estava desesperada atrás de você, Anthony! Você sumiu, não deixou nenhum bilhete, nenhuma ligação, nada! O nosso combinado era até as oito em casa e já vai dar onze horas – Ouvi algumas risadas ao redor e frases do tipo “a mamãe veio te buscar Tony”, “olha ele, filhinho da mamãe”, “seu leitinho esfriou bebê?” Mas não liguei para nada daquilo eu só olhava furiosa para meu filho – Nós vamos embora agora – Segurei em seu braço, mas ele o puxou com violência.
- Eu não vou a lugar nenhum!
- Você vai sim, esse lugar está cheio de bebida alcoólica, você é menor de idade e...
- VOCÊ NÃO MANDA EM MIM!
- Enquanto você for menor de idade e morar na minha casa, eu mando sim.
- A casa não é sua, é do meu pai e ele não se importa de eu estar aqui – Disse sarcástico.
- Olha aqui seu moleque, você vai embora comigo por bem ou por mal – Ele riu e olhou para um dos caras que estavam ali.
- Joe, pega outra bebida para mim que a noite está só começando – Olhei para ele sem acreditar, ele havia passado de todos os limites. Peguei meu celular e falei bem alto:
- Quem é o dono dessa festa? – Um rapaz que observava toda a situação em uma das rodinhas ao lado aproximou-se.
- Sou eu aqui senhora.
- É o seguinte, meu filho aqui é menor de idade e a casa está cheia de bebida alcoólica, pelo que você aparenta, já deve ter passado dos 19, se meu filho não for embora comigo agora eu vou ligar imediatamente para a polícia e dizer que está acontecendo uma festa onde meninos menores de idade bebem sem problema nenhum – Ele olhou para Anthony e apontou para ele.
- Pra fora, agora – Tony olhou furioso para mim e começou a caminhar com violência enquanto as pessoas ao redor riam. Ele entrou no carro batendo a porta com força e fui dirigindo até em casa no mais completo silêncio.

Anthony saiu do carro com a mesma fúria na qual entrou nele e entrou em casa quase batendo a porta de entrada na minha cara.
- A partir de hoje você só vai sair de casa para a escola e da escola para casa e ai de você se desobedecer essa regra – Disse apontando um dedo para ele.
- EU ODEIO VOCÊ! – Virou-se furioso, suas veias do pescoço saltando – ODEIO VOCÊ! VOCÊ É A PIOR MÃE DO MUNDO!
- Ah, só por que eu não deixo o mimadinho fazer o que ele quiser, eu sou a pior mãe do mundo!
- O papai tem razão de trocar você pela tia Cintia – Dei um passo para trás surpresa – Ah qual é, vocês acham que eu sou idiota? Vocês dois mal se falam, mal se olham e no último fim de semana que dormi na casa do Jeff, eu vi meu pai saindo de fininho do quarto da tia Cintia. Eu achei aquilo ótimo, sabe por que? Porque meu pai vai se separar de você para ficar com ela e quando isso acontecer eu vou morar com eles porque ela é mil vezes uma mãe melhor do que você! Vou esperar ansioso esse dia chegar. Seria melhor se você não existisse – Me deu um sorriso debochado e subiu as escadas batendo a porta de seu quarto logo em seguida.

So I'm going
Então eu vou


Eu fiquei estática, sem saber o que fazer, aquelas palavras me magoaram de uma forma tão profunda que era como se eu sentisse meu coração partindo-se, pedaço, por, pedaço de uma forma irreversível. Nunca pensei ouvir aquelas palavras da boca do meu filho, de uma das pessoas que eu mais amava nesse mundo. Nunca tinha acreditado muito quando as pessoas diziam que os filhos são ingratos, você quase dá sua vida para coloca-los no mundo e eles só retribuem com ingratidão, sempre achei que essas coisas eram ditas por mães que não gostavam muito de seus filhos, mas agora vejo que tem um pingo de verdade ai.

I'm going
Estou indo


Senti meus olhos arderem avisando que logo eu teria lágrimas rolando por meu rosto e fui pega de surpresa por Heaven correndo em minha direção e me abraçando forte pela cintura.
- Não acredita em nada que aquele idiota disse, você é a melhor mãe que eu conheço e o mundo só é bom porque você está nele. Não chore mamãe, por favor – Sorri fraco para minha garotinha e acariciei seus cabelos enquanto seus grandes olhos me observavam – E eu amo o papai, mas o que ele está fazendo é errado – Arregalei os olhos para ela e quando ia perguntar o que ela queria dizer com aquilo, ela foi mais rápida – Um dia eu vi o papai beijando uma moça na boca, ao lado do supermercado, ele não sabe que eu vi porque ele não sabia que eu estava lá e eu pensei que aquilo não ia acontecer de novo, mas quando ele me levou para tomar sorvete na semana passada, eu vi ele beijando a mesma mulher de novo, atrás de uma árvore. Eu pensei em contar isso para você, mas eu não queria deixa você triste – Franziu o cenho com pesar e eu mordi o lábio inferior sentindo mais uma vez aquela coisa no coração.
- Eu e o seu pai estamos passando por um momento difícil, meu docinho, isso acontece nos casamentos as vezes.
- Se ele for morar com aquela mulher, eu não vou ir junto e se ele me levar a força, eu fujo!
- Isso não vai acontecer, não se preocupe – Voltei a acariciar seus cabelos pedindo em pensamentos para que aquilo realmente não acontecesse.

Eu estava com os cotovelos apoiados na mesa e meu rosto apoiado em minhas mãos, um copo com água pela metade estava em minha frente e a casa estava muito silenciosa. Eu estava ali já havia algum tempo, sai de fininho do quarto de Holly e Heaven, juntamos os colchões no chão e deitamos as três para assistir á um filme, eu me distrai um pouco com as risadas altas delas, mas elas acabaram dormindo e eu acabei voltando para meus pensamentos, as palavras de Anthony martelavam dentro de mim sem parar. Ouvi um barulho na porta da frente e sabia que era por isso nem sai do meu lugar, ouvi seus passos vindo em direção a cozinha e logo depois parando. Ele ficou um tempo em silêncio e eu também não fiz questão de dizer nada, nem o rosto levantei para vê-lo. Eu estava tão esgotada.
- A partir da semana que vem Cintia e o filho dela vão vim morar nessa casa - Ele quebrou o silêncio da noite e também quebrou mais uma vez meu coração.
Ergui o rosto lentamente e o encarei, apenas o encarei por algum tempo.
- Por que você está fazendo isso? – Minha voz saiu embargada, cansada.
- Porque eu não amo mais você e é isso que acontece quando a gente não ama mais uma pessoa, vai atrás de outra melhor para pôr no lugar dela – Dessa vez eu não consegui controlar minhas lágrimas. Como eu disse, eu me sentia esgotada. Tão esgotada.

Grandma said, "Boy, go and follow your heart
A minha avó disse: "Garoto, siga o seu coração
And you'll be fine at the end of the line
E tudo ficará bem no fim da linha


- Nós vivíamos tão bem , tínhamos nossas dificuldades do dia a dia, mas vivíamos bem, éramos felizes – Ele balançou a cabeça em negação.
- Quem me mostrou a felicidade foi Cintia, você me mostrou apenas a comodidade e eu já estava cansado dela.
- São 15 anos, 15 anos – Sussurrei, mas mesmo assim fui ouvida.
- 15 anos que para mim foram uma perca de tempo. Não me arrependo de ter tido meus filhos, eles são a coisa mais importante do mundo para mim, mas me arrependo tanto de ter me casado com você – Ele desencostou do batente da porta – Bom, você está avisada, Cintia vai morar aqui, eu vou conversar com as crianças amanhã, se você quiser continuar a morar aqui, more, mas Cintia sempre terá a última palavra dentro dessa casa, e se você quiser ir embora... bom, você já sabe que meus filhos não vão com você – Ele deu as costas e saiu da cozinha e eu voltei a colocar meu rosto em minhas mãos enquanto chorava.

All that's gold isn't meant to shine
Nem tudo que reluz é ouro
Don't you and your one true love ever part. "
Não se você e seu verdadeiro amor nunca partir”


Eu não entendia porque estava sendo tão magoada, tão destroçada daquela forma, o que era que eu tinha feito para merecer aquele tratamento? Como eu disse, eu sempre me esforcei, deixava de me fazer feliz para fazer feliz aquele que estava ao meu redor e tudo isso para que? Talvez eu realmente deveria ter ouvido meu coração... quando eu estava lá, com 18 anos e me olhando naquele espelho de corpo inteiro e vestida de noivo, eu senti algo, não sei explicar, mas foi um algo que me fez pensar que aquilo que eu estava prestes a fazer não era realmente o certo, mas entre o vazio constante que eu sentia e a busca de uma nova vida, eu preferi a nova vida, eu preferi a busca para preencher aquele vazio e aqui estou eu, com o vazio novamente dentro de mim. Talvez meu preenchimento tivesse sido outro se eu não tivesse me casado tão cedo, se eu tivesse dentro dos “padrões” . Mas é isso né, quem pode prever o futuro? Quem pode controlar os erros? Quem pode domar a vida?

Me deitei entre Holly e Heaven e abracei minhas meninas, fechei os olhos e deixei mais algumas lágrimas silenciosas rolarem enquanto eu pedia baixinho para que tudo mudasse. Quando eu estava quase dormindo, senti Heaven me apertar em seus pequenos braços e então eu apaguei.

I been walkin' the road
Estive caminhando pela estrada
I been livin' on the edge
Estive vivendo no limite


Acordei naquele dia nublado e fiz todas as minhas obrigações, deixei as meninas na escola me despedindo delas com um beijo e um abraço apertado, elas disseram que me amavam e eu segui meu caminho para o trabalho. Anthony não olhou na minha cara, na realidade, ele fingiu que eu nem existia. eu nem vi, não tomou café em casa. Eu seguia pela rua e decidi mudar minha rota para a avenida principal, eu não gostava muito de andar por ali porque era um lugar muito movimentado, preferia mesmo os caminhos tranquilos, mas naquele dia resolvi fazer diferente. Estava andando na calçada e então parei porque o sinal estava aberto para os carros. Eu observava as pessoas ao meu redor, vivendo suas vidas, seguindo os seus caminhos e me perguntava se alguma sentia o que eu estava sentindo, se algumas delas estavam tão tristes que não sentia vontade de sair de casa, mas precisavam continuar vivendo. Suspirei e voltei a olhar para frente então foi quando vi uma garotinha, não devia ter mais que cinco anos, correndo atrás de uma bola colorida que seguia o rumo da avenida. Olhei o sinal e ele ainda estava aberto para os carros, então voltei a olhar para a garotinha e mais adiante para a mulher que estava de costas e devia ser sua mãe. Me desesperei quando percebi que um caminhão estava vindo em direção a avenida e que a garotinha seguia até o meio dela. Ela iria morrer, aquela pequena garotinha iria morrer. Eu vi o desespero da mãe dela quando ela finalmente virou e percebeu que a filha não estava ali e que alguns carros passaram buzinando pela garotinha. Vi o desespero das pessoas que estavam ao redor e gritava pela menina. Então vi meu desespero ao pensar naquela criança esmagada, porque era isso que aquele caminhão iria fazer, esmaga-la, mesmo que o motorista já tivesse pisado no freio. E então eu não pensei em mais nada

Now, I've just got to go
Agora eu tenho que ir


Eu larguei minhas coisas e corri em direção á garotinha. Um carro passou de raspão por mim e buzinou alto, mas eu só tinha olhos para a garotinha, naqueles segundos que pareciam horas eu só conseguia pensar que ela ainda tinha muita história para escrever, muita vida para viver. O que foi que ela viveu até então? Eu tinha meus três filhos, eu fiz uma história mesmo ela sendo turbulenta, eu fiz alguma coisa na minha vida. Mas o que foi que aquela menininha fez? E foi pensando em tudo isso que eu consegui alcança-la e empurrá-la e antes de eu ser atingida pelo caminhão que estava vindo, consegui ver a garotinha jogada no chão, chorando, e com algum sangue pelo corpo, e depois, eu não vi mais nada.

Before I get to the ledge
Antes que eu chegue na beirada


E então eu vi tudo. Eu estava de pé, mas eu me sentia diferente, eu olhei ao redor e ali estava a avenida, ali estava os carros parados, a garotinha no chão chorando com a mãe dela também chorando e a abraçando apertado e olhando para a frente. E eu estava ali também, no chão, os olhos fechados e o sangue ao redor. O motorista do caminhão saiu do mesmo com as mãos na cabeça, a expressão desesperada, as pessoas ao redor estavam com o celular e não paravam de falar, gritar ou até mesmo chorar. Eu ali, parada. Não sei quanto tempo passou, estava tudo estranho, mas a ambulância chegou e me colocou dentro dela, fui ressuscitada ali e senti meu corpo todo tremer. Doeu. Cheguei ao hospital, correram comigo na maca e entraram em um lugar restrito, não entrei, mas não consegui me afastar dali, algo me puxava, algo me mantinha no lugar. Um tempo passou e então ouvi gritos, olhei por sobre o ombro e lá estava , ele gritava com uma enfermeira e ela lhe disse: “Sua esposa foi atropelada por um caminhão, não tenho mais informações” . E ele ficou desesperado.

So I'm going
Então eu vou


Um médico entrou na sala onde estava bem na hora que meus pais também chegaram ali. Eu estava por perto porque eu me sentia por perto. O médico deu toda a informação que era possível e vi sair dos seus lábios as frases: “sinto muito”, “se ela tiver filhos, tragam eles para se despedirem” . Então minha mãe chorou. E meu pai chorou. E chorou. E então meus filhos chegaram. Heaven estava vermelha, Holly também estava, Anthony parecia não saber o que estava acontecendo. Eles entraram onde eu estava. Era um quarto grande onde tinha duas enfermeiras em pé ao lado da minha cama, eu estava ali, machucada e entubada, imóvel. Então Heaven se jogou em mim e eu a senti por inteiro, ela me fez ter paz.

- Não mamãe, não! – Minha garotinha chorava alto agarrada a mim, desesperada, buscando uma solução – Por favor mamãe, não se vá, por favor mamãe! Eu amo você, por favor! – aproximou-se de Heaven para ampará-la, mas ela sacudiu o corpo em fúria se distanciando dele. Eu nunca havia visto aquela expressão no rosto dela – EU ODEIO VOCÊ, ODEIO MUITO VOCÊ! – Gritou com toda força que podia assustando e as enfermeiras – A MAMÃE ESTAVA TRISTE PORQUE VOCÊ A ESTAVA MAGOANDO MUITO, VOCÊ ESTAVA DIZENDO COISAS HORRÍVEIS PARA ELA E ESTÁ COM OUTRA MULHER! VOCÊ MAGOOU A MAMÃE E EU ODEIO VOCÊ E ODEIO A MULHER QUE VOCÊ ESTÁ! – Ela olhou para Anthony – E EU ODEIO VOCÊ TAMBÉM PORQUE VOCÊ DISSE QUE ELA ERA UMA MÃE HORRÍVEL E QUE ERA MELHOR SE ELA NÃO EXISTISSE E EU ODEIO VOCÊ PORQUE AGORA ELA NÃO VAI EXISTIR MAIS, VOCÊ A MAGOOU! A MAGOOU! E AGORA ELA ESTÁ INDO EMBORA! – Anthony afundou o rosto nas mãos e começou a chorar alto – Não se vá mamãe, não se vá – Heaven voltou a me abraçar enquanto chorava e pedia para eu ficar. Holly abraçou a irmã com força e me tocou enquanto chorava. Anthony também logo veio, afundou o rosto em meu colo enquanto chorava alto, pedia desculpas, dizia que nunca mais faria nada daquilo e pedia para eu ficar, para por favor, eu ficar.

I'm just going
Estou indo


Eu vi o futuro deles, não cada detalhe, mas o suficiente. A partir daquela dia Anthony respeitaria os sentimentos das pessoas, ele mediria o peso de cada palavra antes de pronunciá-las, mesmo na hora da raiva, mesmo quando ele quisesse dizer coisas horríveis, ele sempre mediria o peso delas, porque nunca mais ele iria querer carregar aquele sentimento de ter ferido alguém e esse alguém ter partido sem ouvir o perdão dele. Ele teria uma bela esposa e a respeitaria mais do que tudo, teria filhos e os ensinaria a tratar bem todas as pessoas, mesmo aquelas que não mereceriam bons tratamentos. Ele seria mais humano.

Holly seria mais forte e um ótimo ombro amigo, ela sempre estaria ali para quem precisasse dela, viveria seus dias com saudades, mas confortaria muita gente com seu jeitinho doce e paciente. Minha linda garotinha.

Heaven ficaria mais dura, mas saberia amar como ninguém, amaria com uma intensidade tão forte que chegaria a sufocar porque ela sempre ia querer ter a certeza que a pessoa soubesse que era amada por ela. Eu sempre soube, minha amável menininha sempre me amou tanto que eu nem me achava digna de tanto amor. Ela carregaria consigo um rancor profundo do pai, iria morar com os avós, meus pais, que a receberiam de braços abertos, ela e Holly que não ia querer deixar a irmã ir só. E o rancor do pai sempre estaria ali, iria a visitar muitas vezes somente para encontrá-la trancada dentro de um quarto com o volume do som no máximo para não o escutar. Ela só perdoaria anos depois quando tivesse sua própria família, esposo, seus filhos e cometesse seus próprios erros, ela veria que estamos sujeitos a errar, que por mais que nos esforcemos a sermos perfeitos, nunca vamos conseguir chegar nem perto disso.

E enquanto a , bom, viveria seus dias solitários, não ficaria com Cintia porque toda vez que olhasse para ela se lembraria de mim, se lembraria da minha expressão magoada ao ouvir suas últimas palavras. Viveria bem na beirada da tristeza e da felicidade, sempre cambaleando por ambos sentimentos. Não cometeria nenhuma besteira porque pensaria que os filhos já não tinham a mãe e não poderiam também perder o pai. Tony ficaria com , mas apenas para não deixa-lo só, meu menino nunca gostou da solidão e não queria que ninguém a vivesse.

Olhei para meu corpo naquela maca, então para meus filhos e meu marido e comecei a dar alguns passos para trás. O quarto virou o caus. O monitor cardíaco começou a apitar sinalizando que aos poucos eu estava indo embora. Heaven começou a gritar enquanto Holly a segurava forte. Tony não queria sair de perto de mim, mas uma das enfermeiras o puxou a força enquanto ele tentava resistir. também estava sendo segurado, mas por um médico enquanto outro médico já estava perto de mim fazendo a ressuscitação. Não tinha mais jeito, ele sabia daquilo, mas precisava dizer que tudo que tinha que ser feito, foi feito. O barulho foi baixando pouco a pouco até eu não ouvir mais nada. A linha do monitor estava reta, não se movia pra cima ou para baixo uma única vez.

Sorri com pesar e então virei de costas e comecei a caminhar lentamente enquanto aos poucos ia sumindo deixando para trás a sombra daquilo que um dia eu fui.

I'm gone
Eu fui.


Fim



Nota da autora: Primeiramente: Pesado! Acho que nunca escrevi nada assim, não sou o tipo de pessoa que gosta de finais tristes, para mim tudo que escrevo e leio tem que terminar com "e viveram felizes para sempre..." Na realidade essa música não era a que eu tinha em mente, eu vi a tradução da música do led zeppelin "stairway to heaven" e pensei "wooool" e então automaticamente comecei a escrever essa fic, depois fui olhar lá na lista no facebook e essa música já havia sido escolhida... fiquei decepcionaderrima! Mas não queria descartar essa estória de jeito nenhum, por isso joguei lá no senhor google "rock classic sobre morte" HAHAHAHA ai veio essa música que acabei gostando e ai saiu essa fic. Espero muuuuuito que vocês tenham gostando e não deixem de comentar! bjos <3



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