A chuva fina caía cinzenta sobre os escudos no deque do navio, produzindo um tilintar suave e cortante. O mar revolvia-se, negro, enquanto a névoa gélida e branca atingia o barco sem piedade.
Ela se mantinha enrolada em sua capa de pelo de lobo, segurando fortemente seu machado em uma das mãos. Já não conseguia sentir os próprios dedos e os lábios estavam rachados como a casca de uma árvore no inverno. Sem família, terras ou parentes que pudessem cuidar dela, a garota resolvera tomar um rumo diferente daquele de se casar com um guerreiro: tornar-se uma grande guerreira nas terras da Bretanha era sua única esperança.
Não era a mais nova do grupo – afinal, havia garotos com apenas treze anos, prontos para lutar – porém era tão forte quanto os homens da sua idade. Apesar disso, entre as mulheres, certamente era a mais nova e uma das poucas que partira em direção à ilha de pradarias verdejantes em busca de sangue, riquezas e glória.
Em sua própria terra, não tinha o que desejar. Seu futuro seria uma vida cinza; esposa de qualquer um que a quisesse – vez que, sem família, ela teria que se casar logo – chapinhando na lama para cuidar de seus afazeres domésticos. Apesar do futuro na Bretanha não ser muito mais feliz – diziam os guerreiros que já tinham ido para a ilha que tudo que poderiam esperar era sangue, sofrimento e morte – parecia-lhe muito melhor morrer na batalha nos braços de uma Valquíria e ser levada para Valhalla a fim de passar sua eternidade nos salões dourados com outros bravos guerreiros até finalmente ser chamada para lutar no Ragnarok.
Ela sorriu levemente, o que fez com que os veios rachados em seus lábios se abrissem e começassem a sangrar. Não ligava para todo o sangue e todo o sofrimento que podia ter na ilha da Bretanha. Seu destino era passar a eternidade em meio aos deuses e ela tinha certeza que sua coragem não seria despercebida.
Para muitos, a Bretanha era um lugar de riqueza e morte. Para ela, era um lugar de esperança.


A Assassina de Freya

Para aqueles que dissessem que dois anos não faziam muita diferença na vida de uma pessoa, estava lá para provar o contrário.
Agora não era mais a garota ansiosa de lábios rachados em sua primeira incursão na Bretanha. Não era mais uma menina que não sabia o que era sentir sua espada cortando a carne e espalhando sangue. Não tinha mais receio de cravar seu machado no crânio de seus inimigos.

Agora ela era uma mulher. E não havia nada neste mundo que pudesse deixá-la com medo.

O acampamento que montavam na noite antes de qualquer batalha era seu local preferido. não tinha raízes em nenhum pedaço de terra específico e retornar para o continente antes de qualquer incursão na ilha da Bretanha era tedioso. Dias no mar, comida levemente embolorada e extremamente salgada, frio e lama ao chegar não eram muito convidativos para ela. Apesar disso, a mulher aprendera a lidar com as mãos congeladas e os lábios rachados.
Os acampamentos eram diferentes. A comida era fresca – sempre algum animal selvagem que alguém conseguia caçar pelas pradarias verde-azuladas da ilha – e raramente havia lama. Normalmente ajeitavam-se em grandes campos gramados e acendiam fogueiras, preservando o calor que ainda havia em seus ossos após semanas de ventos gélidos vindos do mar.
Antes das incursões, entretanto, gostava de ficar sozinha. Normalmente checava seu equipamento e afiava suas armas. Naquela noite, estava com o machado entre as pernas, passando uma pedra de tamanho médio nas lâminas, afiando-as o máximo que podia.
- Ah, não, garoto. Não é para nós que você deveria pedir conselhos! – Ela ouviu um de seus companheiros rindo roucamente. – Se quiser beber e ouvir histórias de vísceras e sangue, fique conosco pelo resto da noite! Agora, se quiser saber como sobreviver ao dia de amanhã e fazer com que os deuses o notem no campo de batalha... É com a que você deveria falar!
Ela reprimiu um sorriso. Não queria admitir que estava ouvindo a conversa alheia, porém os guerreiros falavam dela com tanta reverência que era impossível não se sentir elogiada.
- Mas... Ela sempre permanece sozinha e distante. – O garoto comentou, parecendo envergonhado. – Dizem que ela é filha dos deuses. O que um moleque que nem eu vai falar com a filha de um deus? Acho que não posso nem chegar perto dela!
- Pare com essa besteira, garoto! – Outro homem comentou, dando um empurrão no moleque magricela. – Fale com ela! Se quiser sobreviver e tornar-se um grande guerreiro, não vai poder ficar muito tempo longe da ! Ela não morde!
- Só de vez em quando! – Um terceiro homem bradou em complemento, fazendo com que todos explodissem em risadas roucas e bêbadas.
O garoto sentiu as pernas bambearem. Aquele comentário não tinha ajudado em nada. Olhou por cima dos ombros, porém os homens pareciam muito ocupados em beber suas cervejas e rir de seus comentários idiotas. Ele olhou novamente para , a mulher que silenciosamente afiava seu machado de dois gumes, com os cabelos presos em várias tranças para que estas ficassem longe de seu rosto. Ela parecia calma, porém nem um pouco convidativa.
- Com licença... ...? – Ele perguntou tentativamente, ainda tentando decidir se preferia que ela o ignorasse ou o observasse com seus olhos cortantes.
- Sim? – Ela se virou para ele, finalmente descansando a pedra sobre uma das pernas e observando o garoto com seus olhos impassíveis.

Ele seriamente considerou sair correndo.

- Os homens me disseram que você é a melhor pessoa para procurar ao se falar de guerra. – Mas ele tinha que ser forte. Afinal, era um Viking e os deuses queriam guerreiros corajosos, não covardes que saíam correndo de qualquer pessoa.
Por mais que a pessoa em questão fosse .
- Depende do que você quer saber sobre guerra, garoto. – Ela respondeu com um pequeno sorriso no canto dos lábios. – Você está com a sua espada?
- Estou. – Ele disse com orgulho, mostrando a mesma presa às costas. somente entregou uma de suas pedras para ele.
- Sente-se e afie sua arma. – Ela mandou, com um pouco de descaso. Em seguida, voltou a afiar o próprio machado. – E pergunte o que quiser. Não quero que alguém tão jovem quanto você morra nos campos de batalha antes de poder provar seu valor para os deuses.
“Alguém tão jovem...” o garoto pensou. também era jovem, muito mais do que os outros homens que estavam bebendo e rindo perto do calor da fogueira principal. Porém, ela se comportava como se já tivesse anos de experiência, como se fosse mais do que somente uma guerreira humana.

Ele começava a se perguntar se ela não seria uma das Valquírias de Freya, enviada para ajudá-los. Certamente era bela como diziam as lendas.

- Qual é seu nome, garoto?
- Arne, senhora. – Ele respondeu prontamente, com medo até de falar alguma coisa errada.
- É um bom nome... – balançou levemente a cabeça, como se concordasse com os pais dele ao decidir por aquele nome. – Já esteve em alguma batalha?
- Não, senhora. É minha primeira. E também minha primeira na Bretanha. – O garoto começou a afiar a própria espada, sentado diligentemente ao lado de .
- Então não há o que temer. Creio que os deuses sempre ajudam os corações valentes em suas primeiras batalhas. – Ela disse, virando o machado para poder afiar a outra lâmina.
- Como é uma batalha? Ouço as grandes histórias e canções dos bardos... É algo de fato além desse mundo?
- Não. – Ela respondeu prontamente, acabando com o brilho nos olhos do garoto no mesmo momento. Em seguida, parou de afiar a lâmina e passou a encarar algum ponto na escuridão, como se relembrasse todas as suas batalhas. – Porém há algo de sobrenatural que ocorre com cada um dos homens. Medo, ansiedade, excitação. Algumas mãos tremem enquanto outras começam a suar. Durante uma batalha, você não pensa em nada além do seu inimigo, do sangue escarlate que voa pelo céu e colore a relva azulada. Você se torna capaz de feitos que somente os grandes heróis de lendas conseguem realizar... Como se os próprios deuses estivessem observando.
- Verdade...? – E os olhos de Arne estavam brilhando novamente.
- Verdade. – Assim, olhou para ele novamente, parecendo que tinha voltado de algum lugar distante. – Mas não se engane. Tudo fica com cheiro de suor e sangue, os gritos de desespero e ódio tomam conta do ar, as armas se chocam como relâmpagos. Se você não tiver rapidez suficiente, provavelmente perderá a própria cabeça.
O garoto encostou no próprio pescoço. Observou a espada em suas mãos durante alguns segundos, questionando-se como deveria ser a sensação de arrancar a cabeça de outro homem. Seria tão fácil como os guerreiros mais experientes faziam parecer?
notou o olhar do garoto e, sem tirar o foco do próprio machado, resolveu responder à pergunta que se passava na mente de Arne.
- E acredite, nada nesse mundo, seja deus, professor ou familiar, pode te preparar para a sensação de furar a carne de um ser humano a primeira vez com a sua espada e tirar sua vida. Nada pode prepará-lo para o que vem depois.
Arne continuou encarando a própria lâmina, que refletia seu próprio rosto e o fogo de uma fogueira próxima. Por algum motivo, não queria sair do lado de durante aquela noite – como se os deuses fossem abençoá-lo com as mesmas virtudes que ela se permanecessem próximos.
Assim, o resto da madrugada se passou em silêncio, aguardando pacientemente a chegada da manhã para o início da batalha.


A manhã tinha gélidas gotas de orvalho escorrendo pelas folhas da grama. acordou assim que o sol nasceu, assistindo enquanto seu Earl saía para negociar com o Rei daquelas terras e chegar a um acordo que não envolvesse lutas ou mortes.
aguardou pacientemente enquanto observava o mar dos campos verdes da Bretanha. “Earl” era um título que o povo dela dava para aquele que tinha comando das terras, algo como os “Reis” dos bretões – entretanto, era diferente do “Grande Rei” deles. No caso de , quem comandava sua unidade era o Earl Laufey, portanto a responsabilidade de negociar também era dele.

Uma responsabilidade que o homem cumpria com constante incompetência.

Era de conhecimento geral que o Earl não gostava de negociar – por conta de seu exército e de seus guerreiros invencíveis, dizia que iria negociar somente para “brincar” com seus inimigos, a fim de dar-lhes um último raio de esperança.
Sentada na grama, esperava. Aquele tipo de comportamento era inadmissível, entretanto, se não seguisse Earl Laufey, teria que retornar para o continente ou estabelecer-se em alguma cidade da Bretanha já tomada pelos seus compatriotas, sem levantar seu machado mais nenhuma vez.

O único problema era que ela não sabia nada além de guerrear.

Antes que seus pensamentos pudessem enveredar por caminhos ainda mais obscuros, Arne se sentou prontamente ao lado dela. não o observou, porém estranhou a atitude do garoto – já vestido com sua melhor armadura e pronto para a guerra.
- Estamos esperando a volta do Earl Laufey? – Ele perguntou, com mais coragem que na noite anterior, sendo a primeira conversa que tinha com no dia.
Em resposta, ela somente confirmou com a cabeça.
- Ele foi negociar?
- Não. Ele foi brincar. – respondeu com um certo tom de raiva na voz.
Arne a observou durante alguns segundos. Não queria contrariar a filha de um deus, porém falar daquela maneira sobre o Earl, senhor de todos aqueles homens e mestre do exército, não era muito bom.
- Não devemos falar dessa maneira sobre Earl Laufey, senhora...
- Earl Laufey é um estúpido e poucos concordam com suas ações. – comentou secamente. Arne se sentia diminuindo gradualmente na grama, a ponto de entrar na terra. – Pergunte para qualquer homem. Se alguém o desafiasse e tomasse seu lugar como Earl, ninguém sentiria sua falta.
O garoto não tinha como retrucar: ela estava certa. Já ouvira os homens falando até de maneira mais ríspida sobre o Earl, mas ele mesmo sempre tentava se controlar. Não concordava com diversas atitudes dele, porém o que podia Arne, um garoto que sequer tinha lutado em uma guerra, fazer contra aquilo?
- Acho que os homens gostariam se Borgg, filho de Earl Laufey, assumisse a posição... – O garoto comentou suspirando e observando o céu. Ainda não estava claro, porém o manto azul escuro sobre suas cabeças desbotava aos poucos em tons róseos.
- De fato... – analisou aquele comentário, prestando atenção nos cavalos que se aproximavam no horizonte. Eram dois, trazendo Earl Laufey e seu filho Borgg de volta ao acampamento. – Se Borgg seria um bom Earl, somente o tempo poderia dizer.
Dizendo isso, ela se levantou e estendeu a mão para Arne. Ele a segurou e a mulher o puxou para cima, como se o garoto pesasse tanto quanto uma simples galinha. Juntos, começaram a caminhar de volta para o acampamento.
- Sua espada está pronta?
- Mas Earl Laufey não saiu para negociar? – O garoto estava confuso, sem entender como ela estava tão certa de que iriam para a batalha de qualquer maneira.
- Não. Nós vamos lutar. – respondeu decididamente, com uma sombra de sorriso no canto dos lábios. – Se quiser permanecer perto de mim, não vejo problema. Mas vamos lutar, de uma maneira ou de outra. Hoje, o sangue dos bretões manchará seu próprio solo.
Arne sentiu um leve calafrio pela espinha ao ouvir aquela frase, porém notou que a mulher tinha um breve sorriso pintado no rosto. Quando alcançaram o acampamento, os homens já se preparavam para a guerra, dizendo que as negociações foram infrutíferas e eles deveriam lutar.
E tudo que o garoto pensava é que não via a hora de brandir sua espada ao lado de .


Uma fina névoa da manhã envolvia os pés dos guerreiros como o véu da morte. Os Vikings marcharam em silêncio até a planície na qual seria travada a batalha, com o sol cinzento surgindo lentamente por trás de suas silhuetas negras. O orvalho deu lugar à leve chuva gélida que congelava a pele exposta dos guerreiros. Arne sentia o frio molhar seus ossos, porém, quando olhou para com seus lábios rachados e olhos decididamente fixos em seu caminho, o garoto ergueu a cabeça e fez o mesmo.

Afinal, o frio não era nada para um guerreiro.
Do outro lado da planície, os bretões marchavam de encontro aos seus inimigos. Pararam em formação, ambas as companhias se encarando em silêncio. Alguns bretões a cavalo – provavelmente o Rei e seus comandantes de maior grau – passavam em frente aos seus guerreiros, trocando palavras de encorajamento.

Porém os bretões somente tinham uma preocupação no campo de batalha: A Assassina de Freya.

Aquele espectro nunca visto pelos bretões, uma inimiga que diziam ser filha dos deuses – ou até uma das próprias deusas pagãs – causava todo o medo que não sentiriam com qualquer outro inimigo. Ela era rápida, certeira e impassível. Diziam que a morte aguardava em seu machado; que ela era como um arcanjo que não errava um só golpe e era impossível de matar.

Quando a Assassina de Freya dizia que ia matá-lo, seu destino já estava escrito e era impossível mudá-lo.

- Homens! – Earl Laufey gritou repentinamente, sentindo que o momento da batalha se aproximava. – Os bretões nos temem por nosso poder de batalha e pelos nossos deuses! Mas deixei que eles tivessem conhecimento de mais um elemento que os deixa tremendo de medo atrás de suas muralhas de pedra... A Assassina de Freya!
No momento em que gritou o nome, Earl Laufey apontou para . Os homens gritaram, levantando seus escudos. Os bretões olharam com receio para a mulher à distância, rezando para não se colocar no caminho dela quando a luta começasse.
Arne, por sua vez, encarou com um par de olhos arregalados e impressionados. Ele tinha ouvido sobre a Assassina de Freya, porém não sabia que ela lutava por Earl Laufey... Não sabia que era a dona de tal título.
- Um nome. Uma lenda. – O Earl continuou, sorrindo enquanto os homens riam do silêncio dos bretões. – Uma guerreira é o suficiente para derrubar um exército de cem homens, com um só olhar! Os homens à nossa frente estão se controlando para não tremer de medo e parecer o tilintar de pratos e taças num salão de casamento! Esse é o poder que temos!
O Rei observava o medo nos olhos do seu exército de bretões. Duvidaria do poder de uma lenda, porém os próprios bretões tinham um campeão à altura da Assassina de Freya. O único problema era que ele não lutava para o Rei, mas sim para o Grande Rei. Era tarde demais para procurar ajuda – vez que o Rei fora ludibriado por Earl Laufey, acreditando que ainda havia possibilidade de um acordo. Suspirou. Não havia muito o que fazer além de dizer palavras reconfortantes para seus homens.
- Filha dos deuses, que seja! – O Rei gritou para seu exército, que tornaram os olhos apreensivos para sua armadura impecavelmente brilhante. – Nós não consideramos os deuses pagãos! Eles podem ter poder nas terras do continente, porém aqui, nas nossas terras, o único que tem poder é o nosso Deus! E Ele não deixará que um bando de bárbaros nos tire a terra que é nossa por direito! Os saxões irão lutar conosco e arrepender-se do dia em que colocaram os pés na Bretanha! E quanto à “filha dos deuses”... Deus fará com que os arcanjos nos ajudem a arrancar a cabeça dela!
Assim, os Vikings ouviram, pela primeira vez no dia, o grito dos bretões ecoar pelos campos abertos onde a batalha seria travada.
- Que gritem! – Respondeu Earl Laufey aos seus guerreiros, com escárnio. – Eles irão tremer frente ao nosso poder! O martelo do próprio deus Thor estremecerá os céus, as Valquírias virão buscar nossos guerreiros dignos e Freya guiará nossas espadas! Por sangue e glória!
Arne sentia as mãos formigando e as pernas adormecidas. O dia estava gelado, porém gotas de suor escorriam pela testa do garoto. O coração dele estava acelerado. Assim que os guerreiros ergueram suas espadas e começaram a gritar, Arne fez o mesmo.
Nesse momento, os bretões começaram a correr na direção deles, logo após o comando de seu Rei. Arne segurou a espada com mais força e gritou o máximo que conseguia, o ar gélido entrando em seus pulmões e machucando seu peito.
deu dois passos para frente. Não parecia que ia correr, mas ainda não tinha gritado junto com os homens. Arne não entendeu a atitude dela até o momento em que a mulher ergueu o próprio machado sobre a cabeça, segurando o enorme escudo azulado em posição.

- VALHALLA, NÓS ESTAMOS A CAMINHO! – bradou o mais alto que conseguiu.

Assim que o fez, os homens começaram a repetir as mesmas palavras. Arne encheu os pulmões do ar que o machucava e gritou a frase de . Sentia-se um herói das canções que ouvia nos salões do Earl. Chegara a hora.
- Valhalla!! – E, bradando estas palavras, partiu em direção aos bretões, sem hesitar e sem falhar os pés. Segurou o machado o mais forte que conseguia e puxou todos os guerreiros atrás de si.
Arne, já cheio da coragem que precisava, seguiu-a sem ao menos se questionar. Diziam que um guerreiro de verdade era aquele que não hesitava – e o garoto não hesitou.
sorriu para si mesma ao notar aquilo. Os bretões à sua frente, entretanto, quando viram seus olhos queimando como o fogo e o sorriso nos lábios, hesitaram. Perguntaram-se a si mesmos se valia a pena continuar no caminho da Assassina de Freya; seus corações fraquejando com razão. E, no momento em que ela levantou o machado para seu primeiro ataque, tiveram certeza que não valia a pena. Nenhuma recompensa valia travar uma luta com ela.
Porém era tarde demais. cravou seu machado no peito do primeiro homem que alcançou, atravessando a armadura e derramando o primeiro veio de sangue na grama azulada do campo em que guerreavam. Arne observava estarrecido, procurando o bretão que seria seu primeiro oponente – que faria com que todos parassem de chamá-lo de “garoto”.
- Deus irá te retirar dessas terras, Assassina! – Um bretão se aproximou gritando, aparentemente sem medo das habilidades de .
Um homem sem medo sempre a impressionava. esperava que fosse uma luta que lhe desse trabalho, que pudesse julgar como complicada e honrar seus inimigos quando estivessem comemorando a vitória no fim do dia. Entretanto, ele era somente um homem sem medo com muita fé em sua própria superstição – o que não era suficiente para melhorar suas habilidades na batalha. Em poucos segundos, o desarmou e enterrou o machado no crânio dele, afundando o capacete de seu inimigo – que possuía uma cruz entalhada, supostamente, para protegê-lo.
- Meus deuses farão questão que eu fique. – Ela respondeu secamente para o cadáver que jazia aos seus pés.
- ! Cuidado! – Arne gritou de repente, vendo a aproximação de um soldado. Até aquele momento, não tinha matado ninguém: estava muito impressionado para desgrudar os olhos da lendária Assassina de Freya.
Logo que ela viu o inimigo, desembainhou a larga espada e matou-o em questão de segundos. Ninguém conseguia se aproximar demais. E não importava a quantidade de homens – fossem sozinhos ou em grupo – matava todos que tinham a intenção de acabar com a vida dela.
Entretanto, um deles divisou um plano desonesto. Enquanto lutava atentamente com dois soldados ao mesmo tempo, um terceiro se aproximou sorrateiramente, carregando somente uma adaga. Pretendia esfaqueá-la pelas costas e dar fim à Assassina de Freya.
Arne ficou furioso quando percebeu o intuito do homem. Segurou sua espada com mais força e gritou. Sua garganta logo não aguentaria mais os gritos, porém a fúria era tão grande que era impossível permanecer em silêncio. Ele não deixaria ninguém acabar com a lenda de de uma maneira tão baixa – esfaqueando-a pelas costas. Ele a protegeria de covardes desonestos como aquele soldado.
O garoto aproximou-se como um raio e, quando foi notar o que tinha ocorrido, enterrou a espada no flanco do homem, atravessando armadura, tecido, carne e sangue. O soldado o olhou espantado, deixou a adaga cair no chão e fechou os olhos, suspirando uma última vez. Arne retirou a espada, deixando-o empilhar-se com os outros cadáveres que se amontoavam pela relva. Até sua mão estava suja de sangue, o rosto vermelho com a raiva que sentira.
De repente, uma mão forte pousou no ombro do garoto. Ele olhou para , que parou durante um breve momento e sorriu para ele.
- Um verdadeiro soldado não hesita frente à batalha. – Ela comentou, dando alguns tapas de leve no ombro dele. – Vamos, Arne! Há muito que fazer!
- Muitos bretões para matar! - Ele sorriu, orgulhoso do próprio feito.
Pela primeira vez, não o chamara de garoto. Agora ele era o guerreiro Arne, que salvara a vida de , a Assassina de Freya.


Assim como comentara antes, nada podia prepará-lo para o que vinha depois de ceifar vidas com suas próprias mãos pela primeira vez.
A batalha fora rápida, porém dura. O Rei não recuou antes que mais da metade de seu exército fosse reduzida a corpos estirados na grama sangrenta. fora responsável por, pelo menos, metade das mortes daquele dia. De início, Arne ficara impressionado com a força dela, almejando ser, futuramente, um guerreiro tão bom quanto a mulher.
Entretanto, conforme o tempo passou e os corpos foram caindo, a falta de misericórdia o assustou. Os inimigos começaram a se tornar humanos. Eram homens que tinham o terror nos olhos e claramente não queriam se encontrar com a morte. Eram soldados que não se tornaram guerreiros – homens que tinham que lutar, porém não queriam.

E, mesmo assim, não deixou de atingi-los com seu machado e sua espada.

Arne não queria admitir a si mesmo, porém hesitava em seu coração. Poderiam deixar alguns bretões escapar. Poderiam poupar alguns homens. Porém não pouparia ninguém que se aproximasse dela com a intenção de matar.
O garoto se sentou em uma grande pedra, esperando o Rei e o Earl ajustarem os termos da rendição. ficou ocupada, conversando com alguns homens e cercando os bretões que haviam sobrado.
Porém, quando terminou seus afazeres, sentou-se na relva ao lado de Arne, apoiando-se na pedra. Rosto e cabelo estavam manchados de sangue e suor. Entretanto, pela expressão dela, era o primeiro momento do dia em que poderia respirar calmamente e ter algo próximo de paz.
- Está sentindo o que vem depois? – Ela perguntou prontamente, assustando-o com tanta sinceridade.
- Estou. – Arne suspirou de volta. – Alguns deles tinham o terror estampado nos olhos. Por que você os matou?
- Porque eles teriam me matado. – respondeu simplesmente, também observando as negociações do Rei e do Earl. Aquele era o único tipo de negociação que apetecia a Earl Laufey. – Homens aterrorizados não são menos capazes de matar do que homens corajosos... Muito pelo contrário. Os que estão consumidos pelo terror certamente matarão, enquanto há espaço para misericórdia entre os corajosos. Não luto contra aqueles que perderam a vontade de lutar. Porém medo e vontade de lutar são duas coisas que, quando juntas, são extremamente letais. Lembre-se disso. Um guerreiro não pode se utilizar da misericórdia tanto quanto um nobre se utiliza.
- Como sempre, a vida dos nobres sendo mais fácil do que a de qualquer outro mortal. – Arne suspirou, fazendo-a rir. Ele até se assustou com a reação de .
- Mas os nobres não compartilham da honra e do orgulho que guerreiros como nós possuem. – Ela piscou para o garoto, fazendo-o mudar seu foco para os guerreiros bretões a sua frente, antes que o sangue lhe subisse às bochechas. – Os únicos que possuem poder de contrariar os nobres somos nós.
- Hã? – E agora o garoto estava confuso. Arne franziu as sobrancelhas e a encarou novamente. – Como assim?
- Nós podemos desafiá-los. Somente os guerreiros assustam os nobres e somente pessoas como nós possuem conhecimento suficiente para desafiá-los em combate e vencer. – comentou, ainda observando Earl Laufey em sua negociação praticamente unilateral. – Por esse motivo, Arne, nunca deixe que ninguém passe por cima do seu orgulho e das suas vontades. Você possuí muito mais poder do que acha e nobre algum pode fazê-lo acreditar que é inferior a ele.
- Mas ainda não sou um guerreiro propriamente dito, senhora... – Arne respondeu tentando esconder o sorriso orgulhoso que surgia em seus lábios. já o considerava um guerreiro forte o suficiente para contrariar um nobre. Aquele só podia ser o melhor dia da vida dele. – Passei somente por uma batalha...
- Você já sujou suas mãos de sangue e matou mais de três homens, além de impedir que eu fosse morta em combate. Creio que isso o torna um dos guerreiros mais competentes da batalha de hoje. – Ela disse imediatamente, levantando-se da grama logo que percebeu uma movimentação perto de Earl Laufey. As negociações haviam chegado ao fim e ele pediria para vê-la. – Não seja muito modesto, Arne. Um guerreiro precisa reconhecer os limites das suas habilidades para evoluir conforme o passar dos dias e tornar-se cada vez melhor.
E, antes que ele pudesse perguntar qualquer outra coisa, se retirou, a fim de caminhar ao lado de Earl Laufey e Borgg – evitando, assim, que fosse chamada para relatar sobre seu papel na luta durante as festividades que certamente aconteceriam naquela noite.


Leitões assados, pães frescos, frutas, queijos, vinhos e muita cerveja – tudo isso embalado por músicas rudes cantadas por homens bêbados e fogueiras enormes para manter todos os presentes aquecidos. Essa era a comemoração feita no acampamento de Earl Laufey.

Era, também, a primeira de Arne e o garoto estava amando.

- Hoje, Arne, os deuses tomaram conhecimento da sua existência! – Um dos guerreiros, completamente bêbado e provavelmente em seu sétimo caneco de cerveja, passou um de seus braços pelos ombros do garoto. Em seguida, estendeu-lhe uma enorme caneca, cheia de cerveja até a borda. – Vamos, beba! Temos que festejar! Thor certamente lembrará de seu nome quando chegarmos em Valhalla!
- Assim espero! – O garoto respondeu, segurando a caneca com as duas mãos. Os outros homens riram em alto e bom som.
Até estava rindo, apesar de não se apresentar bêbada.

Pelo menos não tanto quanto seus colegas.

- Segure a caneca com uma mão só, Arne. – Ela comentou ainda entre risadas. – Se não, parecerá uma criança tomando leite de vaca de um balde! Assim, Arne.
Nisso, pegou sua própria caneca, segurando-a fortemente pela asa, e tomou o resto de seu conteúdo em um longo gole, fazendo os outros guerreiros gritar e bater palmas quando terminou. deixou a caneca na grama e sorriu para Arne.

Definitivamente, a mulher estava bêbada. Nem que fosse levemente.

- Sua vez, guerreiro! Vamos ver se consegue superar a ! – Um homem comentou com uma rude risada rouca no meio da frase.
- Tudo de uma vez! Vamos lá, Arne! – Outro guerreiro deu um tapa tão forte nas costas de Arne, que o garoto achou que ia se estatelar no chão.
- De uma vez? – Ele perguntou tentando não parecer muito surpreso, porém falhando.
- De uma vez! – respondeu rindo. – Vamos! É a comemoração da sua primeira batalha! Eu cuidarei de você, caso necessite de alguém como muleta no fim da noite.
Com isso, os guerreiros riram mais ainda. Arne suspirou. Não poderia escapar daquilo – e, sinceramente, não queria. Esperara longos anos, treinara no continente até suas mãos doerem de frio, para finalmente estar entre guerreiros de verdade e comemorar daquela maneira.
Segurou a caneca pela asa, olhando decididamente para – como se estivesse aceitando um desafio. Em seguida, virou a caneca de cerveja.
De início, os goles desceram facilmente. Porém, conforme mais líquido descia por sua garganta, mais difícil aquela missão se tornava. Quando estava chegando ao fim, Arne começou a questionar seriamente a própria decisão de aceitar um desafio tão estúpido. Ouvia a voz dos homens gritando e batendo palmas ritmadas para que ele tomasse tudo, enquanto ria a plenos pulmões.
Quando o último gole de cerveja desceu, Arne apoiou a caneca na coxa e ficou encarando um ponto específico da grama, sentindo o mundo inteiro girar. Não entendia bem o que estava acontecendo e não sabia se estava se sentindo mal. Após alguns segundos, sorriu e decidiu que estava se sentindo bem.
- Então, guerreiro? – perguntou, cheia de expectativa.
- Mais um! – E, dizendo isso, Arne jogou a caneca no chão com toda a força que tinha, quebrando-a em mil pedaços.
Os homens começaram a comemorar, rir, gritar e quebrar as próprias canecas, pedindo mais. abriu um enorme sorriso.
- Mais um! – A mulher também gritou, quebrando a própria caneca no processo.
- Mais um? Quantas já bebeu, senhora?! – E Arne estava seriamente impressionado com a habilidade de de aguentar grandes quantidades de álcool.
- Qualquer que seja a soma, não foi suficiente. – Ela respondeu cruzando a perna e pegando um naco de pão do próprio prato. – Tomarei mais um!
- A cada dia que se passa, Arne, a se prova ser uma mulher excepcional. – Um dos guerreiros se sentou ao lado do garoto, conversando com ele como se estivesse partilhando um segredo que todos os colegas dela sabiam, menos Arne. – Por causa disso, vai ser muito difícil encontrar um homem para se casar!
- Exato. Se sou uma mulher muito excepcional para qualquer homem que está presente nesse acampamento, imagina para homens normais! – Ela respondeu, causando altas risadas entre seus companheiros.
- Ah, mas de uma coisa eu tenho certeza! – O mais magro dos guerreiros surgiu na conversa, trazendo com si toda sua superstição e palavras dos deuses. – Seu destino está nas mãos de um grande guerreiro, ! Quando encontrar o único com poder igual ao seu no campo de batalha, aí sim terá encontrado a sua alma gêmea!
Enquanto isso, e os outros homens bebiam a cerveja que tinha acabado de lhes ser entregue. O único que não bebia era Arne, pois tinha um ótimo comentário para fazer naquele momento. O problema é que não sabia se deveria fazê-lo ou não.

Mas, todos pareciam suficientemente bêbados. Então o garoto resolveu arriscar.

- Ih, se for assim, ela vai morrer solteira. – Arne comentou antes de voltar a beber a própria cerveja.

Logo que ele terminou a frase, os homens começaram a rir como nunca. Arne voltou seus olhos apreensivos para , porém logo estava sorrindo: a mulher cuspira toda a cerveja que estava tomando e começara a rir mais do que seus companheiros. teve que deixar a caneca no chão e olhou para Arne, ainda rindo do comentário do garoto.
Assim, Arne riu de volta. Agora podia dizer que era, oficialmente, um dos guerreiros da companhia de Earl Laufey.


O Dragão da Bretanha

Earl Laufey.
Era o último homem do norte que um Rei gostaria de ter em suas terras. O que o tornava tão desprezível não era sua fama em batalha, mas sim a pessoa que ele tinha em seu exército, aquela que diziam matar com a facilidade de um padre que rezava uma missa...

A Assassina de Freya.

Esse era o pior problema que o Rei Elisedd tinha em mãos nas últimas semanas. Seus batedores retornaram com notícias de que o Earl se aproximava e, desta vez, tinha por objetivo conquistar terras – além daquelas que conquistara em sua última batalha.
Era impossível negar o óbvio: os nórdicos haviam se estabelecido no reino vizinho ao do Rei Elisedd em sua última vitória e, agora, pretendiam aumentar a extensão de suas terras.
No dia anterior ao que se encontrava, a confirmação atingiu o Rei como uma flecha atirada sem aviso: o exército de Earl Laufey estava acampado próximo às muralhas. Além disso, espiões podiam afirmar com absoluta certeza que a Assassina de Freya estava entre eles.
Sem mais opções, o Rei Elisedd enviou ao Grande Rei uma requisição. Precisava do melhor guerreiro da ilha se queria vencer os homens do norte. Quando recebera a confirmação de que o homem estava a caminho – junto com mais trinta dos melhores guerreiros do Grande Rei – o coração do Rei Elisedd pôde sentir um breve alívio.
Os nórdicos poderiam ter a Assassina de Freya ao seu lado. Porém, os bretões agora tinham o Dragão da Bretanha para lutar contra ela.


O coração dos bretões ainda tremia de medo após a visão da chegada de Earl Laufey, seu filho e mais cinco saxões – que atravessaram os portões sem qualquer conflito, vez que queriam negociar com o Rei Elisedd. Foram imediatamente recebidos na corte; porém, a única pessoa que os bretões procuravam no grupo Viking era a famosa Assassina de Freya.
Ela não estava entre o grupo. Mesmo assim, os homens de Elisedd acreditavam conseguir sentir o forte cheiro de sangue dos cadáveres cortados pela mulher – cheiro que ela provavelmente deixara impregnado no Earl após conversarem, antes que este partisse para a negociação.
Os guardas da muralha observavam a neblina com os corações apertados. Sentiam que a qualquer momento, a Assassina chegaria como um espectro, um ser sobrenatural que arrancaria a vida deles com suas garras afiadas – uma deusa da guerra, como os próprios nórdicos a chamavam. Ou será que era filha da deusa?
Enquanto mantinham tais imagens em seus pensamentos, os soldados viram uma forma escura surgir em meio à névoa branca. Seguraram as armas com força e engoliram em seco. Logo, diversas formas surgiram atrás da primeira – como um pequeno exército.
Porém, quando saíram da névoa, o chapinhar do galope dos cavalos na lama os deu um alívio incomparável. À frente da companhia, vinha um homem, com trajes escuros e alguns detalhes em escarlate – somente um homem na Bretanha se vestia de tal maneira. O único que poderia salvá-los do matadouro, caso as negociações entre Earl Laufey e o Rei Elisedd fossem em vão.
O homem parou logo à frente do portão, a fim de se identificar para os guardas. Seu olhar era forte e penetrante – o olhar de um guerreiro que não temia nada nessa vida, nem mesmo a própria morte. Um olhar que faria com que qualquer homem o temesse somente de se aproximar.
- Guarda! Sou o Cavaleiro , enviado pelo Grande Rei para auxiliar o Rei Elisedd! Estou com mais trinta Cavaleiros e precisamos de abrigo e comida após essa longa viagem! Será que o Rei está pronto para nos receber?
- Não só está pronto, como te aguarda ansiosamente, meu senhor! – O guarda respondeu, enquanto seu colega gritava para que outros abrissem o pesado portão de ferro negro. – Os homens do norte vieram nos visitar para negociar antes da batalha!
- Bom, é melhor que se comportem! – respondeu com um riso sarcástico ao fim da frase. – Não estou com vontade de arrancar cabeças hoje, mas sempre posso abrir exceções para um homem do norte ou dois!
Com isso, os guardas começaram a rir. Assim que o portão se abriu, e sua companhia seguiram pelas ruas de terra batida, em direção ao castelo. Queriam fazer questão de encontrar-se com o Rei ainda na presença do Earl, a fim de mostrar que, pela primeira vez, os nórdicos teriam um competidor à altura das suas proezas nos campos de batalha.
Enquanto seguiam seu caminho, os bretões finalmente puderam sentir seus corações mais leves. E mais... Cheios de orgulho. Repentinamente, a imagem da Assassina de Freya já não era tão assustadora.
Afinal, aquele olhar de fogo de um guerreiro tão experiente quanto ela, seria o suficiente para fazê-la entender que aquela batalha não seria tão simples assim. O homem não era a primeira coisa que a Assassina teria que derrotar... O primeiro passo era enfrentar o olhar do Dragão da Bretanha.


O Rei Elisedd tinha certeza que os homens do norte sentiram receio ao encontrar o gélido olhar de . Logo que ele entrou no salão onde as negociações ocorriam e se sentou com seus homens em um canto – somente observando o Rei e o Earl enquanto mordiscava um pedaço de pão – Elisedd notou a opacidade no olhar de Borgg.

Era a mesma opacidade nos olhos dos bretões quando a Assassina de Freya era mencionada.

Portanto, quando as negociações não surtiram efeito e Earl Laufey declarou que voltaria no dia seguinte a fim de espalhar o sangue dos bretões pelos salões de pedra do castelo, o Rei Elisedd nem se importou.
- Que venham! – Respondeu aos seus homens, abrindo os braços e rindo logo que o Earl e sua comitiva deixaram o castelo. – Que tragam todos os seus espectros e deuses! Que venha a Assassina de Freya levar as nossas almas. Não precisamos ter mais medo disso: temos o Dragão da Bretanha ao nosso lado! Este é o único homem que pode derrotar os homens do norte... E ainda o fará de olhos fechados!
Gritos ecoaram pelo salão. somente levantou a taça de vinho que tomava, sorrindo brevemente para os homens.
Não era como se não apreciasse os elogios. Porém estava com tanta fome naquele momento, que não queria ser interrompido. Além disso, sabia que assim que a noite caísse, haveria um banquete nos salões do Rei, com belas músicas e comidas para encorajar os homens a lutar até a morte no dia seguinte.
Assim que o sol se pôs atrás das pradarias e a lua pálida tomou o céu negro, as festividades previstas por se iniciaram. O Rei Elisedd não poupou nada: havia comida e bebida à vontade – porém todos estavam se policiando para que no dia seguinte não houvesse problemas com ressaca. Entretanto, a música dava um clima mais leve para aquela noite e, como se fosse mágica, os homens não tinham mais medo de lutar contra os Vikings.
- Filhos de deuses, filhos de deusas! – Um homem comentou desrespeitosamente. – Só existiu um filho de Deus e ele foi crucificado para expiar os pecados da humanidade! Esses homens do norte não passam de adoradores do demônio com esses deuses e deusas!
- As religiões pagãs não adoram demônios. Somente deuses diferentes do seu Deus e seu mártir Jesus Cristo. – respondeu com um sorriso e tomou um longo gole de seu vinho.
- É melhor não discutir, meu amigo! – Um dos soldados que viajou com repousou o braço pesadamente nos ombros do homem de Elisedd que tinha feito o comentário anterior. – Você não sabe? O , nosso querido Dragão da Bretanha, ainda adora os deuses antigos dessas terras! Você não acabou de xingar somente os homens do norte, mas também acabou de falar que a salvação do seu castelo é um adorador de demônios! E vai por mim, você não vai querer entrar numa discussão de teologia com ele.
- Mil desculpas, senhor, não tive a intenção...
- Não tem problema... – balançou a cabeça, rindo do drama que seu amigo tinha acabado de fazer. – A religião de cada um é uma escolha. Vocês aderiram à crença dos romanos, eu continuei com os costumes antigos da minha terra e os homens do norte preferem adorar seus deuses. Não há nada de errado nisso.
- Mas, senhor ... – Outro soldado de Elisedd resolveu entrar na conversa. Vários homens rodeavam a mesa em que estava sentado, porém somente naquele momento todos ficaram realmente interessados no assunto. – O senhor segue os rituais dos antigos? Nas florestas, com as pinturas no rosto e as enormes fogueiras?
- Claro. – E deu de ombros, servindo-se novamente de vinho. Tinha a impressão de que precisaria de bastante bebida naquela noite. – E nos solstícios de verão, nós dançamos pelados em volta das fogueiras, gritando como animais selvagens.
Todos os homens ficaram em silêncio. permaneceu sério, lançando um olhar enviesado para seus soldados – que se esforçaram para conter o riso ao ver as expressões dos homens de Elisedd. A maioria dos homens daquele castelo era católica, portanto não estavam acostumados com alguém com uma religião tão “selvagem”.
- Primeira regra que vocês devem saber ao conviver comigo... – anunciou, parando no meio da frase para tomar um gole de vinho. Podia praticamente ouvir os homens pensando que teriam que fazer sacrifícios de animais para conviver com ele. – Fora do campo de batalha, não levem a sério tudo que eu falar. Tenho tendência ao sarcasmo e ao humor negro.
Nesse momento, os homens de explodiram em risadas, enquanto os outros soldados se recuperavam do choque inicial, dando breves risadas e suspirando de alívio.
- E no campo de batalha, senhor? – Um deles perguntou, finalmente achando graça do humor negro de .
- Se der valor à sua vida, é necessário me levar a sério. – O homem respondeu seriamente, sorrindo em seguida. – Porém a batalha é só amanhã! Não há necessidade de seriedade essa noite.
Com isso, os homens gritaram em conjunto, erguendo suas taças e bebendo longos goles de vinho. Algumas mulheres que estavam na corte riram e seguiram para seus aposentos, atraindo a atenção dos soldados.
- Ah, amanhã, após nossa vitória, todas as mulheres irão nos dar atenção! – Um dos homens de comentou, fazendo com que os outros começassem a rir.
- Com a sua reputação, meu senhor, as mulheres devem ficar à sua volta como abelhas perto do mel, não? – Um soldado de Elisedd dirigiu-se a . Após o momento desconcertante da “dança nua em torno da fogueira”, todos perderam o receio de conversar com ele.
- Algumas... – respondeu com desinteresse, como se uma espada bem afiada fosse um assunto mais interessante do que aquele. – Mas, sinceramente, não tenho olhos para mulheres aproveitadoras ou que somente querem se casar com um guerreiro e permanecer em casa sendo uma boa esposa.
- Então o senhor prefere uma mulher selvagem como aquelas que praticam a sua religião?
- Prefiro uma mulher que tenha uma alma de fogo e um coração de ferro. – rebateu com seu olhar característico e um pequeno sorriso no rosto. – Forte e independente, uma mulher que seja como as musas dos gregos. Que inspire tanto amor quanto admiração.
- Você vai ficar procurando para sempre, então! – Um dos próprios homens de respondeu, provocando gargalhadas. – Essas mulheres mal existiam na própria Grécia! A não ser que uma Amazona venha cavalgando para essa ilha a fim de te encontrar, creio que irá morrer sozinho, !
- Isso eu não duvido! – Ele mesmo tinha que concordar. Inúmeras vezes ouvira que seu ideal de mulher era inexistente nesse ou em qualquer outro mundo.

- Vocês são um bando de tolos, isso sim! – Os homens ouviram uma voz feminina levantando-se repentinamente no meio do salão.

Não haviam percebido antes, porém um dos companheiros de era, na realidade, uma mulher. E não era qualquer mulher: era uma Sacerdotisa, que viajava com ele sempre que o Dragão da Bretanha precisava lutar longe do olhar dela.
- Quem é você?! Um espectro?! – Um dos homens de Elisedd já ficou histérico, segurando o crucifixo que usava em seu pescoço.
- Abaixe esse amuleto, garoto. Essas coisas não têm poder contra a Deusa. – A mulher lançou um olhar gélido e o homem imediatamente a obedeceu. Não era mais velha que ninguém naquele local, porém qualquer homem que não fosse iniciado nos conhecimentos místicos era nada mais que um “garoto” para ela. – Minha função é proteger a Bretanha e fazer com que a nossa ilha permaneça como o lar do nosso povo e da nossa cultura. O Dragão da Bretanha é o instrumento mais importante para fazer com que isso aconteça, então minha função atual é evitar que ele morra.
- Depois que a sua missão for cumprida, eu posso morrer em paz, não Nimue? – tinha um pequeno sorriso provocador nos lábios.
A mulher somente lançou um olhar de morte para ele. Os homens católicos – e até os pagãos, por mais que não quisessem admitir – temeram pela vida de . Tinham certeza que ela estava rogando alguma praga que somente Sacerdotisas e Druidas conheciam, invocando os poderes da Deusa contra a língua atrevida do guerreiro.
- Você sabe que eu me importo com você. – Nimue suspirou, rolando os olhos. Em seguida, sentou-se em um espaço aberto no banco, sendo que os homens se distanciaram mais por medo do que por educação. – Mas tenho que cumprir com o que foi planejado pela Deusa, não posso me desviar do meu caminho. Se tenho que usar pessoas ao meu favor, irei usá-las.
- E depois descartá-las, conforme orientado pela Deusa. – sorriu docemente, recebendo um olhar indignado dos homens. Sabiam que ele não tinha medo de morrer, mas aquilo já era demais.
- Qual é o seu intuito hoje? Fazer pouco da nossa religião? – Nimue perguntou sorrindo, porém parecendo extremamente incomodada com aquela atitude dele.
- De jeito algum. Meu intuito era te provocar. Jamais desrespeitaria a Deusa, o Galhudo, ou qualquer outra divindade. – Ele retificou seriamente e, ao fim da frase, voltou a sorrir. – Mas, neste exato momento, estou mais interessado na sua interrupção da nossa conversa do que no seu temperamento.
- Ah, sim. Você me desrespeita e quer saber o motivo pelo qual eu os chamei de “um bando de tolos”. – Ela comentou, recebendo uma caneca de vinho de um dos soldados de Elisedd.

Apesar de temerem uma Sacerdotisa como Nimue, não podiam negar que estavam extremamente curiosos com a presença daquela estranha criatura.

- A senhora não concorda que o que o quer em uma mulher é muito além da realidade, senhora Nimue? – Um dos companheiros de perguntou da maneira mais respeitosa possível. Ele mesmo era seguidor da religião dela e não queria se indispor com uma Sacerdotisa.

Afinal, não queria ser amaldiçoado por três gerações.

- Não concordo, pois sou dotada do dom da Visão e sei o que acontecerá com algumas pessoas e algumas situações. – Ela respondeu da maneira mais mística possível. Viu alguns homens extremamente impressionados, outros fizeram o sinal da cruz e imediatamente apoiou os cotovelos nos joelhos e se inclinou na direção dela, permanecendo sério. Nimue deu um sorriso enviesado. – Sei que são tolos, pois Vi o futuro do Dragão da Bretanha.
O silêncio depositou-se no salão como uma densa névoa inesperada. Todos os homens voltaram seus olhares para e, enquanto ele permanecia sério, Nimue tinha em seu rosto o sorriso convencido de quem possuí a Visão.
- E...? – teve que perguntar, impaciente. – Eu irei morrer decapitado em batalha ou o quê? Não faça seus joguinhos comigo, Nimue. Já sou um peão nas mãos da Deusa para a proteção do nosso país, o mínimo que você pode fazer é me dizer como irei morrer!
- E por que você acha que a Visão é sobre a sua morte? – A mulher perguntou estendendo a taça, sendo prontamente atendida por um dos soldados, que derramou mais vinho dentro desta. – Não escolho sobre o que irei Ver. Simplesmente Vejo. Pode ser sobre morte, vida, tristeza ou alegria.
- Sim. Eu sei. – O homem respondeu de maneira seca, apoiando a própria taça sobre a mesa. – Mas tendo em vista a minha ocupação e o tanto de cicatrizes que já tenho, creio que uma Visão de morte é o mais esperado.

- Foi uma Visão de amor. – Nimue declarou solenemente, para o espanto geral.

- O QUÊ?! – E somente um dos homens de conseguiu verbalizar o que todos estavam pensando.

O que resultou em um olhar não muito feliz por parte de .

- Posso saber o motivo de tanta indignação? – O Dragão da Bretanha perguntou com uma sobrancelha erguida, fazendo com que todos começassem a rir. Até a própria Nimue.
- Marque minhas palavras, . Você encontrará uma mulher competente e com o espírito tão forte quanto o seu. Com a alma feita de fogo e o coração de ferro. – Nimue sorriu largamente, tomando um gole da sua taça de vinho. – Não vou te dizer quando, pois não me compete prepará-lo para coisas boas. Somente te digo que você irá conhecê-la no campo de batalha. Em meio ao sangue e à morte, algo belo há de surgir.

- Eu tenho até medo da mulher por quem ele vai se apaixonar.

Com esse comentário de um dos companheiros de , o salão explodiu em risadas. Os homens conversaram durante mais um tempo e decidiram descansar para a batalha do dia seguinte. Ninguém mais tinha medo em seus corações e todos estavam confiantes.
, entretanto, foi o primeiro a acordar – antes mesmo que o sol começasse a pintar o céu estrelado de laranja e rosa. As palavras da Sacerdotisa ecoavam em sua mente: “em meio ao sangue e à morte, algo belo há de surgir” .
Ele balançou a cabeça, suspirando. Nimue provavelmente bebera mais do que deveria na noite anterior, pois nada de belo poderia surgir em um campo manchado de morte.


Fogo e Ferro

Os exércitos estavam reunidos na pradaria próxima aos portões negros. Os homens do norte fizeram questão de atrair os bretões para longe das árvores e bosques próximos, assim seus inimigos não teriam como se esconder e usar aquilo como vantagem.
encontrava-se à frente dos homens, montado em seu cavalo e com a mão segurando o punho da espada, encarando atentamente seus inimigos à frente. Prestava atenção nas negociações de Elisedd e Laufey, porém queria imprimir o máximo de medo nos homens do norte – não desviando o olhar por um segundo.
encontrava-se logo ao lado de Borgg, com os pés fincados na grama, o machado apoiado nos ombros e o olhar fixo nos bretões. Ouvira falar do campeão dos homens da ilha, porém tentava não manter altas expectativas. Já derrotara diversos campeões tidos como invencíveis e não acreditava que ele seria exceção. Tentava identificá-lo entre seus inimigos, porém eram tantos homens a cavalo que já não sabia qual era para ser importante ou não. Todos pareciam extremamente comuns para ela.
Enquanto isso, no meio do campo, o Rei e o Earl discutiam se haveria uma disputa ou se Elisedd concordava em se render – pois estes eram os termos das negociações de Laufey. Obviamente, o Rei não concordava com todos os termos apresentados pelo Earl, já que praticamente teria que abdicar todos os seus poderes como Rei e transferi-los para o homem do norte. Elisedd obviamente queria poupar vidas – assim como a sua própria – porém não queria abandonar o pouco de orgulho que lhe restava.
- E você acha que pode nos vencer só por causa desse campeão de vocês... Qual é o nome? Algum bicho da Bretanha, isso eu sei... – O Earl começou a murmurar consigo mesmo. Não fazia questão de guardar o nome de um campeão inimigo, mas, naquele momento, estava fazendo aquilo para irritar o Rei.
- Dragão da Bretanha. – Elisedd comentou rispidamente, sem soltar as rédeas de seu cavalo. – Ele é tão forte quanto a sua Assassina de Freya, não nos subestime. Sei que você tem por costume humilhar seus adversários e rir na cara de todos, porém não aceitarei isso. Ainda tenho meu orgulho e me recuso a me render nos seus termos.
- Você tem o seu orgulho porque ainda não sentiu a lâmina do machado da Assassina no seu pescoço. – Laufey comentou seriamente, porém tinha um pequeno sorriso de escárnio escondido no canto dos lábios. – E nenhum homem é páreo para ela. Aposto que a minha Assassina consegue matar o seu dragãozinho em poucos movimentos.

O Rei Elisedd ia responder – estava planejando uma resposta inflamada, à altura daquele homem arrogante que estava à sua frente. Porém, quando processou o que o Earl falara, começou a sorrir impacientemente.

- Você aposta? – O Rei perguntou, mudando completamente de atitude. – Estaria disposto a apostar uma batalha inteira? Colocaria o destino desta luta nas costas de uma só campeã, na Assassina de Freya?
- O que você quer dizer? – E agora Earl Laufey estava confuso, tomando uma atitude defensiva.
- Um duelo justo. A Assassina de Freya contra o Dragão da Bretanha. Aquele que vencer, leva o título para seu exército e seu Senhor. – Elisedd ainda tinha seu sorriso capcioso estampado nos lábios. – Aquele que perder não poderá reclamar e terá que aceitar a vitória do outro, nos termos do vencedor.
- Hmmm... – Earl Laufey levou a mão até o queixo e permaneceu pensativo durante alguns momentos. Em seguida, olhou decididamente para o Rei Elisedd. – Um duelo até a morte. Ou o Dragão, ou a Assassina. Não haverá meio termo. Quem morrer é o perdedor, quem sobreviver é o vencedor.
- Parece-me justo. – O Rei Elisedd estendeu a mão sem ao menos titubear. O Earl apertou a mão de seu inimigo e ambos voltaram para seus exércitos.
- Chegaram a algum acordo, meu pai? – Borgg perguntou logo que o Earl se aproximou, espantado com o que tinha acabado de acontecer.
- Sim, meu filho. O campeão dos bretões lutara contra a Assassina de Freya em um duelo até a morte. Aquele que sobreviver, trará a vitória para seu exército. E todos nós já sabemos quem vai sobreviver! – O Earl anunciou para todos os homens, lançando um olhar orgulhoso para logo em seguida.

A mulher respirou fundo e encarou o centro do campo de batalha. Os homens começaram a gritar em alegria, como se já tivessem vencido a luta. O único que não parecia animado com aquela perspectiva era Arne.

- Senhora , há algo que eu possa...
- Não, Arne. Essa luta é minha e você deve ficar aqui. – respondeu friamente, já começando a se preparar.
Do outro lado, os homens estranharam a aproximação plácida de seu Rei. Estranharam mais ainda quando os homens do norte começaram a gritar como se tivessem vencido a guerra.
- O que aconteceu, meu senhor? – perguntou imediatamente assim que o Rei estava a uma distância que poderia escutá-lo.
- Duelo de campeões, meu caro. Até a morte. – Elisedd anunciou com um sorriso convencido no rosto e olhou para seu exército. – Hoje é o dia, homens! A Assassina de Freya terá a garganta cortada pelo Dragão da Bretanha! Os homens do norte comemoram, porém não sabem o que lhes aguarda!
Com isso, os próprios bretões começaram a gritar. suspirou, observando enquanto a Assassina carregava seu enorme e redondo escudo azulado com somente um braço e preparava seus machados, facas e espadas com a mão livre. Com isso, o Dragão desceu do próprio cavalo e prendeu sua longa espada à cintura. Pegou alguns pequenos machados e facas para defesa pessoal, colocou seu capacete, tirou o escudo negro da sela do cavalo e pôs-se a caminhar para o centro do campo quando a Assassina começou a fazer o mesmo.
Somente quando ficaram frente a frente que conseguiu ver o rosto dela. tinha feito diversas tranças para manter os cabelos longe do rosto e não ser incomodada no meio da batalha. Ela não condizia com as paisagens da Bretanha, combinava com um lugar mais frio. Entretanto, ele não viu a face de um espectro com garras afiadas e dentes arreganhados – como os bretões gostavam de pintar a existência da Assassina. viu uma mulher com o olhar forte e decidido, rosto altivo e, apesar de duro, delicado como o de toda beldade feminina. não possuía a beleza de uma princesa nobre criada entre quatro paredes e prendada nas mais diversas artes, porém tinha a beleza de uma mulher que nascera para ser valente e para sobreviver.
Enquanto o observava, notara o motivo do apelido do homem. O Dragão da Bretanha usava uma armadura negra, com um capacete igualmente negro, porém com um dragão vermelho gravado no peitoral e nas laterais das têmporas. Era algo a se orgulhar, apesar de que todo aquele aparato não seria o suficiente para protegê-lo do machado de .
Entretanto, enquanto o analisava rapidamente, soltou o escudo e começou a tirar o capacete. Os exércitos observavam aquela ação, intrigados. Em sua mente, ele pensava que não queria lutar com aquele tipo de mulher sem conseguir olhá-la diretamente nos olhos. não usava capacete algum e ele queria se igualar a ela em condições, jogando seu capacete na grama e novamente segurando o escudo negro.

- Ótimo. – Ela comentou seriamente, porém com um pequeno sorriso nos lábios. – Eu gosto de olhar nos olhos do homem que irei matar.

não respondeu, somente sorriu e voltou a observá-la da mesma maneira que fazia com que seus próprios compatriotas o temessem.
Entretanto, não desviou o olhar. Apesar de estranhar a pintura azul no rosto dele, a mulher continuou a sustentar os olhos cortantes de . Em seguida, tomou posição de ataque, brandindo o machado, fazendo com que desembainhasse a espada.
Ninguém podia dizer com certeza qual dos dois atacou antes. Porém, quando viram a espada e o machado se chocando no ar, tinham certeza de que a luta havia começado. soltou sua arma rapidamente da arma de e tentou acertá-lo na cabeça, porém o homem se defendeu com o escudo. Em seguida, ele a atacou, tentando perfurá-la no flanco, mas aproveitou o momento para se esquivar para o lado e puxar o próprio machado, desvencilhando-se de .
Ela tentou mais um ataque, que se transformou em dois e em três. Ele se defendeu de todos, aproveitando as brechas na postura dela para atacar, porém sem obter sucesso – em todas as vezes, a mulher se defendeu com o grande escudo de madeira.
atacava com a força necessária para brandir um machado do tamanho que ela carregava – o que realmente impressionou . Era necessário um guerreiro experiente para usar aquele tipo de arma e ela sabia todas as desvantagens que uma arma pesada trazia, usando o machado como uma ótima maneira de defesa.
Em compensação, atacava com destreza e rapidez, exigindo mais atenção de . Ela esperava uma luta fácil e rápida, porém ele era muito mais experiente do que ela imaginara inicialmente. Ele sabia dos perigos de usar uma espada para lutar contra um machado, porém tinha pleno conhecimento das suas vantagens e estava se utilizando de todas elas.
Todos prenderam a respiração, entretanto, quando largou o escudo no chão, levantou o machado no ar com as duas mãos e desceu o mesmo em direção à cabeça de . O guerreiro largou a própria espada, ajoelhou-se e segurou o escudo sobre a cabeça com os dois braços, protegendo-se do forte golpe. O machado ficou cravado bem no meio do escudo e, enquanto se levantava, jogou seu único objeto de defesa para longe, tirando a arma de ataque de .
Ele não titubeou. Aproveitou a situação para pegar rapidamente sua espada e atacar. Os companheiros de acharam que era o fim. Não conseguiam acreditar que a Assassina de Freya finalmente tinha encontrado alguém páreo para ela.

Apesar de tudo, ficavam felizes que ao menos ela morreria em meio a uma grande luta e poderia ingressar nos salões de Valhalla.

Entretanto, não conseguiu acertá-la. Nenhum dos presentes entendera como, porém ela se desviou no último segundo, resultando em um corte no braço esquerdo. Assim, aproveitou o momento para desembainhar a própria espada e atacar .
Ele a bloqueou e as espadas se cruzaram, fazendo com que ambos ficassem próximos um do outro. Como de costume, olhou nos olhos dela, porém retribuiu o olhar. Ambos permaneceram alguns segundos nessa posição até que ela girou as espadas, empurrando-o para longe.

franziu as sobrancelhas. Ela o conhecia? Tinha a impressão de que já tinha visto aqueles olhos em algum lugar. Não lhe eram estranhos e parecia que os conhecia durante sua vida toda.

Vendo a expressão confusa no rosto da guerreira, estalou o pescoço e enrolou um pouco a luta. Estava pensando a mesma coisa: será que já tinha se encontrado com a Assassina de Freya antes? Tinha a impressão que ela o encarara daquela maneira antes, porém nunca recebera um olhar como aquele.

Ambos começaram a se aproximar vagarosamente, como se estivessem hesitando. Era a primeira vez que não tinham certeza se queriam atacar um inimigo. segurou a espada com mais força e, tentativamente, partiu para outro ataque, recebendo uma defesa hesitante como resposta.
Novamente tentou atacar, agindo mais assertivamente – sendo que a defesa de seguiu o mesmo tom. Porém, quando se aproximaram, seus olhos se encontraram.

- Eu te conheço? – finalmente perguntou de maneira que só ela pudesse escutar, antes que pudessem se distanciar. arregalou os olhos, sem conseguir acreditar que ele estava pensando na mesma coisa.

- Como podemos nos conhecer se eu nem ao menos sei o seu nome? – Ela perguntou de volta, fazendo com que tivesse um pequeno choque momentâneo. Ambos tiveram certeza que aquele sentimento não era isolado: era algo mútuo. E, sinceramente, não sabiam o que fazer com aquilo.

a empurrou para longe. Encararam-se durante um tempo, espreitando como leões prestes a atacar. Os homens de cada exército observavam com expectativa – afinal, achavam que ambos tinham acabado de trocar insultos.
- Mas ela não é assim... – Arne comentou para si mesmo. – O que está acontecendo? Guerreiros não hesitam. não hesita... Ela mata.
- Ah, os deuses estão agindo hoje, Arne. – O guerreiro magricelo que costumava fazer previsões em nome dos deuses se aproximou do garoto. Ninguém acreditava muito no que ele dizia, porém guardavam todas as previsões em seus corações... Afinal, ele costumava acertar. – Não está vendo a confusão nos olhos deles? A hesitação nas mãos de ?
- Claro! Por isso mesmo estou estranhando! – Arne continuou a observar a luta que seguia cautelosamente em frente aos seus olhos. – Ela está com medo?
- Provavelmente sim! – O guerreiro começou a rir imediatamente e Arne o encarou horrorizado. – Qualquer um que está acostumado a lutar e derramar sangue se assusta quando sente amor.

- Amor?! – E agora Arne estava indignado. – Mas eles nem se conhecem! Como é que poderiam se amar?!

- Arne, Arne... – O homem passou o braço pelos ombros do garoto e apontou para a batalha, que começava a tomar um tipo de fogo diferente do que tinha quando começara. – Observe bem... Eles não estão lutando para se matar. Estão lutando com admiração. Querem testar os limites do outro. Essa luta estava destinada a acontecer... Os deuses quiseram juntar duas almas heroicas, provavelmente unidas bem antes de nascermos. Eles só precisavam se encontrar para que isso acontecesse.
Arne não tinha certeza se entendia o que ele estava falando. Porém, ao observar o brilho nos olhos de , percebeu que, de fato, ela estava se comportando de maneira diferente. Não queria matar o Dragão da Bretanha... Parecia que estava se divertindo. Como se finalmente tivesse encontrado alguém igual a ela.
Enquanto isso, do lado dos bretões, Nimue assistia a tudo com um sorriso orgulhoso nos lábios, segurando seu cajado fortemente e tendo a certeza que não precisaria lutar.
- Por que está com esse sorriso, mulher? – Um dos homens católicos de Elisedd perguntou secamente. – O Dragão não parece estar com vantagem nessa luta! Ele pode morrer e tudo estará perdido!
- Ele não vai morrer. Tudo está indo ocorrendo de acordo com os desígnios da Deusa. Eu Vi as ocorrências de hoje e posso lhe dizer que nenhuma delas é má. – Em seguida, Nimue tirou o cajado da grama e acertou o pé do homem com toda a força que conseguiu. – E não me trate como “mulher”, garoto desrespeitoso. Sou uma Sacerdotisa da Grande Deusa e você me deve respeito. Não aceito nada menos que “minha senhora”, entendido?
O homem somente balançou a cabeça afirmativamente, tirando o pé do chão para não apoiar seu peso neste e não sentir mais dor.
- Espere um momento, senhora... – Um dos companheiros de se manifestou, aproximando-se dela e comentando em voz baixa. – Então quer dizer que a Assassina de Freya é...

- A mulher com a alma de fogo e o coração de ferro. – Nimue completou a frase, sorrindo orgulhosamente e continuando a observar a luta. – As almas deles estão se procurando há muito tempo e, agora, finalmente se encontraram.

Assim, os homens voltaram a assistir a luta, estupefatos.
era muito melhor do podia esperar. Ambos lutavam sem escudos e tinham feito cortes aqui e ali nos braços e pernas do outro, mas nada fatal. Ele estava admirado com a força e a destreza dela. Enquanto isso, estava admirada com a experiência e rapidez de . Os dois se olhavam como nunca olharam para qualquer pessoa antes: entendiam que eram iguais.
Estavam completamente imersos, já ignorando a batalha que estava em jogo. Não se atreveriam a se matar, pois compreendiam que havia algo mais entre eles do que somente aquela luta. Em uma defesa e um ataque, finalmente conseguiu encostar a própria espada no pescoço de , sem ao menos ter que olhar para baixo a fim de ver que a fria espada dele também ameaçava cortar o pescoço dela.

Ao se encontrarem nessa posição, trocaram olhares e sorriram contidamente um para o outro. Estava confirmado: lutavam de igual para igual.

- PAREM A LUTA!

Nesse momento, ambos olharam para o lado, confusos, procurando a fonte do grito repentino. Ainda sem tirar as espadas do lugar, observaram o Rei Elisedd e Borgg se aproximando, caminhando um ao lado do outro. Incomodado, Earl Laufey cavalgou até o grupo, descendo do cavalo de supetão e quase atravessando a grama em cada passo que dava.
- O que significa isso?! – O Earl perguntou, incomodado por ter sua vitória interrompida, vez que tinha certeza que cortaria a garganta de .
- Pai, escute-nos pelo menos uma vez! – Borgg se aproximou dele antes que o homem pudesse fazer qualquer coisa.
- Acho que a nossa luta realmente acabou. – comentou silenciosamente para . A mulher abaixou a espada, sendo que ele fez o mesmo logo em seguida.
- Infelizmente. – respondeu, guardando a espada na bainha que carregava nas costas. sorriu ao ouvir o comentário e saber que não era o único que gostara do embate.
- Chegamos a um acordo com o Rei Elisedd. Ele se tornará nosso aliado e continuará com suas terras, porém pagará tributos para nós e nos fornecerá soldados para as próximas incursões. – Borgg comentou rapidamente. – Não haverá necessidade de mortes desnecessárias e ambos poderemos manter nossos melhores campeões!
- E quem te deu a autoridade para decidir uma coisa dessas?! – Earl Laufey estava possesso. Seu rosto, antes tão pálido, agora estava vermelho como um tomate, contrastando com a barba loira e grisalha. – Tributos não me interessam! Aliados não me interessam! A conquista não é feita por meio de acordos, mas por meio de lutas! Com o sangue derramado no chão; é assim que conquistamos nossos inimigos e tomamos seu respeito! Seu medo! Que fique com seus tributos e soldados! O que você acha que está fazendo, ?! Agora é o momento perfeito para acabar com tudo isso!

fechou os olhos, respirou fundo e lançou para o Earl um olhar vazio; frio e calculista, como todos sabiam que somente a Assassina era capaz de lançar.

- Não sou covarde. – Ela respondeu de maneira silenciosa e calma.

- O que foi que disse?! Corte o pescoço dele! Agora!
- Não. – comentou decididamente, os olhos começando a arder. – Não darei uma morte tão covarde e ridícula para um guerreiro tão bom quanto o Dragão da Bretanha. Não vou deixar que ele chegue aos seus deuses, ou Deus, que seja, de maneira tão desonrada. Também não vou deixar que minha espada seja manchada com uma morte tão horrenda e covarde como essa e me impeça de ser escolhida pelas Valquírias.

estava genuinamente impressionado. Continha um sorriso para não inflamar ainda mais a raiva do Earl Laufey – que parecia a ponto de explodir.

- Pai, pense com calma... – Borgg tentou falar, porém o Earl só lhe respondeu com um tapa na cara para que calasse a boca. Os Vikings já estavam incomodados com a atitude de seu líder e aquela ação somente fez com que ele perdesse mais ainda o próprio crédito.
- Quem vocês acham que são para me desafiar?! Eu ainda sou Earl e você, seu filho ingrato, somente terá meu título quando eu morrer! – Falando isso, Laufey desembainhou a própria espada. – Vocês discordam das minhas atitudes?! Não querem morrer hoje e querem aceitar esse acordo de covardes?! Então venham! Desafiem-me!
Todos permaneceram em silêncio, enquanto o homem procurava alguém para lutar. Entretanto, nem mesmo Borgg se dispôs a desafiar o Earl para matá-lo e pegar seu título – algo que muitos gostariam de fazer, porém não tinham a capacidade.
- Não existe um homem nesse campo que consiga me vencer! Nenhum de vocês é bom o bastante para tirar meu título e vocês sabem disso! Então tratem de calar suas bocas e me obedecer! – O Earl andava de um lado para o outro, agitando a espada. O Rei Elisedd somente observava aquilo, tentando se proteger daquele homem louco à sua frente. – Não há um homem capaz de me derrotar!

- Não. Mas há uma mulher. – comentou de repente, e todos tornaram a atenção para ela. A mulher já tinha se distanciado do grupo e segurava o escudo de com o pé, puxando o machado e retirando-o com força da superfície negra. Em seguida, olhou para Earl Laufey. – Eu te desafio.

A tensão que se formou era palpável. Simplesmente porque todos sabiam que a única pessoa capaz de ganhar do Earl era .

- Eu te desafio. – Ela repetiu, levantando a cabeça e tomando sua posição no campo, sem ao menos recolher o próprio escudo do chão. – Mas não quero seu título. Estou farta de ter que seguir ordens de um homem mesquinho, covarde e arrogante como você. Quando terminarmos, o título será seu, Borgg. Não desejo poder, somente desejo alguém decente para seguir na batalha.

sorriu. A cada momento que passava, admirava-a ainda mais. Finalmente entendera o que Nimue queria dizer sobre encontrar algo belo em um campo de batalha.

Earl Laufey, entretanto, ardeu de raiva. No momento que terminou de falar, avançou sobre a mulher com um ódio cego. O choque da espada do Earl e do machado da Assassina ressoou pelo ar gélido do campo quatro vezes antes de acertar os joelhos do homem com um golpe seco. Laufey caiu no chão, já cansado, sabendo que era seu fim. A mulher se aproximou e, sem hesitar, segurou-o pelos cabelos e cortou a cabeça do Earl.
O corpo dele caiu no chão como um saco de batatas. O sangue escarlate jorrou pela grama verde e sobre as roupas de . Na mão da Assassina de Freya, a cabeça de Earl Laufey permanecia chocada com a sua própria morte enquanto pingava sangue. Ela a levantou brevemente para os homens, que gritaram com a alegria de se livrar de um líder tão tirano e covarde. Em seguida, depositou a cabeça ao lado do corpo, olhando para Borgg.
- Peço desculpas, Earl Borgg. – Ela comentou sem sentimento algum. – A partir de hoje, é você que nos liderará.
O próprio homem encarava o corpo do pai sem tristeza nos olhos. Laufey nunca lhe dera o amor que um pai deveria dar, além de ter enviado-o para ser criado longe de sua família, portanto não tinha muitos laços afetivos. Além disso, ele mesmo concordava com as palavras de e dos outros homens... Não fazia sentido seguir um homem tão mesquinho e covarde. Não havia honra naquilo.
- Obrigado. – Earl Borgg comentou, olhando para o Rei Elisedd logo em seguida. – Acho que podemos prosseguir com nosso acordo.
- Também acho, Earl Borgg. – Elisedd comentou com orgulho, contente que Laufey estava morto.

Por um instinto natural, apoiou o machado nos ombros e parou ao lado de , como se permanecer junto com ele fosse o correto a se fazer.

- Posso saber seu nome, minha senhora? – perguntou, sorrindo para ela assim que os exércitos começaram a se juntar em paz. – Não me parece justo chamar uma mulher tão incrível de “Assassina”. Não faz jus à sua personalidade.
- . Esse é o verdadeiro nome da Assassina de Freya. – Ela respondeu com um sorriso sincero no rosto. – Posso saber o nome do Dragão da Bretanha?
- , minha senhora . Meu nome é .
E ambos sorriram, satisfeitos por finalmente terem se conhecido.


Borgg e Elisedd resolveram celebrar a nova aliança com um banquete na corte do Rei. Laufey foi queimado em uma cerimônia que não levou muito tempo – todos estavam contentes que finalmente os tinha livrado daquele homem impertinente de uma vez por todas.
Enquanto na corte do Rei Elisedd, Arne – apesar de celebrar com os outros homens, bebendo, comendo e cantando – finalmente entendera o que quis dizer sobre o poder que os guerreiros tinham em mãos. Ela estava certa, desde o início: eles eram os únicos que podiam desafiar nobres e mudar regimes. Ela fora a única que não abaixou a cabeça perante as palavras humilhantes de Laufey e o desafiou. E ela sabia que ia ganhar.

Arne a procurava pelo salão. Viu a mulher à distância, longe dos homens, com um cálice de vinho em mãos e uma expressão pensativa. O garoto levantou a própria caneca de cerveja quando percebeu que o olhar dela cruzou o seu e fez o mesmo, como um brinde à distância, sorrindo para o garoto.

Em seguida, os homens agarraram Arne e o levaram para conhecer as mulheres da corte de Elisedd – vez que os soldados do Rei agora estavam gostando da companhia dos homens do norte. Afinal, não eram tão diferentes como imaginaram anteriormente.
suspirou e seguiu para a varanda de pedra do castelo. Queria um pouco de silêncio para aquietar seus pensamentos. Tinha passado por muitas coisas naquele dia e precisava de um pouco de claridade mental.
- Você fica muito bonita com os cabelos soltos desse jeito, minha senhora. – Ela ouviu de repente, logo que foi atingida pela luz da lua na sacada. Quando olhou para o lado, deparou-se com apoiado no guarda corpo, o próprio cálice de vinho em mãos.
- E você não fica nada mal sem aquela armadura pesada, . – respondeu, apoiando-se ao lado dele. – O que faz aqui fora? Está fugindo do barulho?
- Tenho muitas coisas para pensar... – Ele comentou suspirando. – Minha própria mente está barulhenta. Não necessito de barulhos externos para competir com esta.
- Entendo perfeitamente... – A moça sorriu e tomou mais um gole de seu vinho.
- Ah, sim. Você ainda foi responsável pelo fim do Earl Laufey. – se lembrou e passou a observá-la atentamente. – Está incomodada com isso?
- Não muito. – Ela deu de ombros, observando as estrelas salpicadas no céu negro. – Não é a primeira vez que tiro uma vida e não será a última. Earl Laufey ultrapassou os limites. Não acho errado o que fiz e não irei me arrepender. Atualmente, são outros tipos de pensamentos que ocupam minha cabeça...

- Como “por que somos tão familiares um para o outro”? – Ele sugeriu abruptamente, fazendo-a encará-lo como resposta. – Isso também está na minha cabeça desde que olhei em seus olhos durante a luta.

- Você acredita em Destino e vidas passadas? Não é uma coisa que seu Deus negaria com todas as forças? – se aproximou vagarosamente de , sem notar que seus pés se moviam.
- O Deus deles não é o mesmo que os meus deuses. – Ele respondeu prontamente, balançando levemente a cabeça. – As religiões antigas da ilha ainda acreditam em Destino, vidas passadas e almas que estão destinadas a se encontrar.
- Nunca fui de acreditar muito nessas histórias... – Ela comentou vagamente, sem conseguir parar de observá-lo. Havia algo muito familiar nos olhos de , algo que não sabia dizer o que era. Entretanto, sentia-se confortável ao fitá-los. – Mas lutar com você... Nunca encontrei outro ser humano que lutasse tão bem quanto eu. Que conseguisse permanecer ao meu lado como um igual e não como um aprendiz ou admirador. Alguém...
- Com o espírito tão forte quanto o seu. – Ele completou e somente confirmou com a cabeça enquanto sorria. Nesse momento que perceberam que segurava e acariciava a mão livre dela sobre o guarda corpo. – Nimue, a Sacerdotisa que nos acompanha, avisou-me que eu a encontraria.
- Também fui avisada que encontraria minha alma gêmea em um guerreiro tão forte quanto eu. – respondeu com um pequeno riso ao final da frase. – Porém não acreditei, pois, até hoje, não havia ninguém nesse mundo que pudesse se igualar a mim.
- Até hoje. – teve que frisar esse detalhe. – Aposto que se continuássemos lutando, eu venceria a luta.
- Ah, é mesmo? – Ela ergueu uma sobrancelha, porém ria da presunção dele. – Se eu não tivesse percebido o seu olhar, teria cortado a sua garganta.
- Não acredito que você possa me superar em uma luta. – Ele resolveu continuar provocando-a, percebendo mais um riso se formar nos lábios de . Gostou da maneira que a mulher sorria e queria que a expressão dela continuasse daquela maneira.
- E eu não acredito que você possa ganhar de mim. – Ela comentou com um ar desafiador, lançando um olhar decidido para ; um olhar que ardia como o fogo.
Por um impulso, repousou a mão gélida no rosto quente de . As bochechas dela estavam rosadas com o frio da leve corrente de ar da sacada e com o calor causado pelo vinho. A mulher se aproximou de , apoiando a mão sobre o ombro dele, já sabendo o que ia acontecer. Da mesma maneira que ele, também tinha vontade de beijá-lo.

Ambos não deixariam mais nenhum pensamento lógico interromper: se suas almas estavam destinadas a ficar juntas, não havia motivo para evitar suas vontades.

- ONDE ESTÁ NOSSO DRAGÃO E NOSSA ASSASSINA?!

Entretanto, foram interrompidos pelo berreiro dentro do salão.

- Qual você acha que será a reação dos homens ao ver o Dragão da Bretanha beijando a Assassina de Freya? – perguntou de olhos fechados, a testa encostada na testa de . Ambos tentavam controlar a raiva de ser interrompidos.
- Todo o acordo negociado pelo Earl Borgg e o Rei Elisedd irá por água abaixo. – respondeu rindo. Entretanto, ria para controlar seus sentimentos dentro de si e não bater em alguém. – Guerras iriam acontecer. Seríamos como Páris e Helena de Tróia.
- Eu sempre posso te raptar e te trancar nos meus aposentos. – Ele comentou, separando-se dela ao ouvir que os homens se aproximavam.
- Não é uma má idéia... – Ela respondeu, com um sorriso brincalhão nos lábios. – Quem sabe assim poderíamos ter um pouco de paz?
- Podemos nos encontrar ao fim do banquete. Todos já estarão suficientemente bêbados para achar que qualquer visão de nós dois juntos foi somente um delírio do álcool. – Ele completou e ela sorriu, erguendo a própria taça de vinho.

- É uma promessa, ?
- É uma promessa, . – Ele respondeu e ergueu sua taça, brindando a promessa e selando o compromisso com um gole de vinho.

- Estamos aqui, seus brutos! – gritou logo que terminou de beber. Assim, ouviram passos apressados se aproximando. – Não podemos mais ter um segundo de paz?!
- Ah, aí estão vocês! – Um grupo de homens, tanto Vikings quanto bretões, apareceu na sacada, sorrindo como nunca.
- Aparentemente, não. – a respondeu, suspirando. Ela começou a rir, fazendo-o rir também. – Os melhores guerreiros sempre têm as maiores responsabilidades, não?
- Exato! – Um dos homens gritou, começando a empurrá-los de volta para o salão. – Vocês dois têm que celebrar conosco! Há um monte de coisas que queremos saber quem é o melhor e haverá muito tempo para se cortejar depois!
e trocaram olhares, começando a rir em seguida. Os soldados mal tinham idéia de como aquela frase era verdadeira.


A madrugada estava negra e silenciosa. Os homens do norte e os bretões estavam desmaiados na própria bebedeira – além de surpresos com os novos aliados. Jamais esperavam conviver tão bem com pessoas de outra cultura e que, anteriormente, estavam prontas para espalhar sangue na relva azulada da ilha. Entretanto, estavam contentes com o resultado daquela noite e por terem evitado o confronto, bem como o derramamento de sangue desnecessário – já que todos concordavam que o sangue de Laufey não fora desnecessário.
Enquanto todos dormiam no silêncio e na escuridão, e conversavam, caminhando lentamente para os aposentos dele. Contavam algumas proezas de batalhas e preferências pessoais – como cores, comidas e animais favoritos. Perceberam que havia muito mais em comum do que a destreza com armas e que realmente apreciavam a companhia do outro.
Nimue somente sorriu na escuridão e se retirou ao vê-los juntos. Sabia o que ia acontecer e sabia que ambos não ficariam satisfeitos com o desfecho daquele dia, porém tinha noção que as almas deles estavam interligadas e que a Deusa não faria aquele encontro ocorrer por um mero acaso. Resolveu, portanto, deixar aquele assunto nas mãos dos dois.
- O nome dele é Arne. – comentou, enquanto se aproximavam da pesada porta de madeira dos aposentos de . – É um bom garoto e será um grande guerreiro. Porém jamais imaginei que alguém gostaria de me acompanhar como ele me acompanha.
- É interessante... Já pensei em ter um pupilo, porém não gostaria de ensinar ninguém a matar da maneira que eu mato. – respondeu, as mãos cruzadas nas costas. – Creio que há muitas habilidades para se aprender. Não precisamos de mais um Dragão da Bretanha.
- Também acho que não precisamos de mais uma Assassina de Freya. – Ela suspirou de volta. – Porém ele começou a me seguir e possui as habilidades necessárias para um guerreiro. Acho que o mínimo que posso fazer é ensiná-lo a sobreviver em uma luta.
- Concordo. – Ele comentou pensativo e, em seguida, olhou para ela com um sorriso. – Se você pudesse ser qualquer coisa, , o que seria?
- Não sei! – Ela riu de volta. – Não acho que sei fazer algo além de guerrear. Essa é a minha habilidade. Mas, até hoje, nunca tive algo pelo que viver... Acho que se tivesse, não me jogaria no meio de espadas e machados de maneira tão destemida quanto faço hoje em dia.
- Nesse aspecto, estou de acordo. Também sempre vivi pela batalha e agora não tenho algo pelo qual viver. Se morrer lutando, será uma honra para mim, meu país e meus deuses... – respondeu, olhando brevemente para o teto, como se estivesse considerando se falaria o que estava pensando ou não. – Talvez eu tenha achado algo que valha a pena...

Mas, antes que ele pudesse completar seu pensamento, ambos ouviram um berreiro dos companheiros de procurando por ele. começou a rir enquanto ele somente fechava os olhos e suspirava.

- Pode me esperar aqui, minha senhora? – Ele perguntou enquanto abria a porta do próprio quarto. – Prometo que não demorarei.
- Não há problemas, meu senhor. – Ela respondeu ainda com um pequeno sorriso no rosto. – Eu estarei aqui quando voltar.
Assim, ambos se separaram. resolveu repousar na cama, tirando as botas e deixando-as em um canto do quarto – assim como sua cota de malha, braçadeiras e perneiras. Enquanto isso, se despedia de seus colegas, somente insinuando o fato de que tinha uma mulher em seus aposentos – o que fez com que os homens o liberassem rapidamente.
Enquanto voltava para seu quarto, entretanto, passou por uma das salas do castelo, na qual vozes ainda conversavam. estranhou ouvir qualquer pessoa acordada àquela hora e permaneceu em silêncio no momento em que distinguiu as vozes do Rei Elisedd e Earl Borgg.
- Ela será um perigo futuramente... – Borgg comentou com um suspiro, parecendo cansado e indeciso. – Sei que é a melhor pessoa do meu exército, porém não há outra opção.
- Tenho sentinelas que ainda estão acordados e em alerta, Earl Borgg. Eles podem nos ajudar. – Elisedd respondeu decididamente. – Ela pode ter lhe passado o título de Earl, porém, pelo que você me explicou, ainda pode querê-lo para si.
- Não é isso que me causa receio. – E Borgg finalmente parecia decidido. – Futuramente, os filhos dela podem requerer o título, que era de direito da mãe. Os filhos de podem me causar problemas. Ela pode me causar muitos problemas.
- Sinceramente, é a única maneira que vejo de proteger seu título, Earl Borgg.

- Então está decidido. Essa noite, a Assassina de Freya irá morrer. Chame seus homens, Rei Elisedd.

arregalou os olhos. Aquela era a traição mais baixa que ele já tinha visto. conseguira o título para Borgg – que jamais conseguiria conquistá-lo sozinho – e, agora, havia planos para assassiná-la no meio da noite, enquanto ela não estivesse consciente para se defender. ardia de raiva por dentro, porém fez a única coisa que conseguiu naquele momento: correr para avisá-la e ajudá-la a fugir.


O barulho dos pés de e correndo e se chocando contra a pedra dos jardins do castelo era a única coisa que podia ser ouvida fora do castelo naquela noite. Dentro, os homens de Elisedd a procuravam exaustivamente, prontos para matá-la sem misericórdia.
Ele a levou para uma porta escondida no fundo do jardim, utilizada pelos criados que precisavam acessar a cozinha com provisões ou algo parecido. Quando finalmente pararam de correr, ainda tentava prender o cinto da espada na cintura – já que estava caindo por ter sido colocado às pressas.
- Lembre-se: não pare por nada nessa vida. – comentou, observando-a e segurando a própria espada, vez que não conseguiram pegar nenhuma das armas da mulher ao saírem correndo do aposento. – Continue correndo, sempre em direção ao Norte. Na próxima cidade, procure um ferreiro chamado Garrett. Ele me conhece e irá ajudá-la a se esconder e fugir dos homens de Elisedd e Borgg.
- Não creio que um ferreiro bretão irá ajudar uma mulher do norte. – comentou ainda desacreditada e prendendo as braçadeiras com força. Deixara tudo para trás. – Se eu encontrar Borgg novamente, farei questão de arrancar sua cabeça da mesma maneira que fiz com seu pai. É um covarde. Poderia ao menos ser um pouco mais valente e me enfrentar em um duelo justo.
- Você o mataria em um duelo justo. – respondeu, observando-a como se não quisesse que ela fosse embora. – Só eu posso te vencer.
- Você é muito orgulhoso. Não creio que suas habilidades são tão boas assim. – Ela disse dando um pequeno sorriso e se abaixando para colocar a perneira direita. Não perderia a chance de provocá-lo uma última vez.
Quando se levantou novamente, passou a fitá-lo durante alguns segundos, enquanto checava atentamente para se certificar que não havia nenhum soldado perto deles. Não queria ir embora. E, agora que o tinha encontrado, não queria deixá-lo para trás.
- E Garrett irá te ajudar. Leve isso com você. – comentou repentinamente, estendendo a própria espada para ela. olhou da arma para ele e novamente para a arma. – Antes que você fale qualquer coisa, é a única arma que você terá. E você precisará de uma. Não se preocupe, eu cuidarei do seu machado.
- E cuidará de Arne também? – Ela perguntou já pegando a espada, por mais que não quisesse aceitá-la, enquanto somente concordava. Estava ardendo de raiva por ter que deixar tudo para trás a fim de salvar a própria vida. – Promete?
- Prometo. – Ele respondeu olhando-a da maneira que a fazia sentir como se pertencesse ao mesmo lugar em que ele estava.

Antes que pudessem fazer mais alguma coisa, ambos se entregaram aos seus impulsos. a puxou pela cintura e passou os dedos pelos cabelos dele, finalmente se beijando da maneira que gostariam que tivesse sido quando estavam na sacada. Não poderiam passar a noite juntos, porém poderiam ter certeza, ao tocarem seus lábios, que seu encontro estava destinado a acontecer.

- Não tivemos nem mesmo a chance de nos conhecer com calma. – Ela disse assim que partiram o beijo, ainda com os dedos nos cabelos dele. – Como posso ter certeza que vou te ver novamente?
- Nós já nos encontramos uma vez. Tenho certeza que conseguiremos nos encontrar de novo. – Ele comentou com um sorriso e depositou um beijo rápido nos lábios dela, partindo com dificuldade assim que ouviu os homens de Elisedd gritando no jardim. – Vá embora, . Eu irei atrás de você e eu irei te encontrar. Mas agora, vá embora. Rápido!
- Também cobrarei essa promessa! – Ela respondeu e, com uma pequena faca, fez um corte no braço de . – Assim ninguém dirá que você me ajudou a fugir. Você tentou me conter e eu fugi após uma pequena luta.
Ele deu um leve sorriso enquanto ela abria a pesada porta de madeira. Em seguida, se virou novamente para . Ambos estavam com os corações pesados e não queriam se separar, porém parecia que o destino não queria que ficassem juntos tão facilmente.

- Até mais, Dragão da Bretanha. – comentou com um sorriso triste.

- Até mais, Assassina de Freya. – respondeu, com o mesmo sorriso nos lábios.

E, assim, fugiu do castelo. Correu o máximo que pôde contra o gélido vento cortante da Bretanha. Apesar de estar com o coração pesado por ter que deixá-lo para trás, sorriu consigo mesma. Eles se encontrariam novamente. Por aquilo, as Valquírias teriam que aguardar muito tempo até terem a oportunidade de levá-la para Valhalla. finalmente tinha algo pelo que viver.



Fim



Nota da autora:(Enviada 12/06/17)
Nossa, gente, como eu SOFRI pra fazer essa história TODA caber em somente 40 páginas. SIM, 40 páginas. E não era suficiente, ainda tinha MUITA COISA que eu queria colocar aí que tive que cortar, porque NÃO CABIA em 40 páginas.
Ok. Passou.
Vocês sabem, né? Mixtape de Rock Clássico, eu tinha que participar! Com nada mais, nada menos que Led Zeppelin! Escolhi Immigrant Song, pois foi a primeira música que ouvi deles e que fez com que eu me apaixonasse por rock. Além disso, a letra fala sobre a invasão dos Vikings na Inglaterra e eu – como uma boa amante de Rei Arthur, Vikings, histórias medievais, Brumas de Avalon e etc. – não podia deixar a oportunidade passar.
Espero que gostem dessa história rapidinha! Tentei me controlar na violência e no derramamento de sangue, mas creio que não é nada que alguém que tenha assistido Game of Thrones ou Vikings não tenha visto. Naquela época o povo era bem bruto. Também espero que não me esganem com o final e com as discussões religiosas no meio do caminho, mas, repito, EU NÃO RESISTI. E também não consegui me segurar na conexão dos dois, queria algo que lembrasse o romance da Igraine e do Uther, pois foi uma das coisas mais LINDAS que eu já li (Brumas de Avalon, Volume I. Quem não leu, fica a dica. É lindo e a Igraine é fantástica pra fazer valer suas vontades).
Bom, é isso! Ainda vou escrever mais shorts, então, se quiserem ficar ligadas, é só ir lá no meu grupo do Facebook! Normalmente falo sobre as atts da minha fic em andamento (Supernatural), mas sempre que escrever alguma short, avisarei lá também, portanto, segue o link pra quem estiver interessada: https://www.facebook.com/groups/558784227519925/
Comentários são sempre bem vindos, pessoas lindas! Tento responder todos, mas não prometo coisas. Bom, acho que é só isso, então... Beijos, queijos, vinhos e até a próxima!

PS: Sim, eu tive a pachorra de fazer um glossário, caso vocês se percam nas referências históricas e culturais. Pra não ter que pesquisar no Tio Google, tá aqui o glossário da Tia Kah-Fly:

Curiosidades!
Freya: Deusa nórdica da fertilidade, sexualidade, beleza, guerra e morte. As Valquírias trabalhavam para ela;
Thor: Deus do trovão (algo que todo mundo já deve ter aprendido com a Marvel até aqui);
Loki: Deus brincalhão e deus do fogo (também, Marvel tá aí pra isso!);
Earl: Homem que possuía muitas terras e dava ordens aos que lá moravam. Equiparado a um Conde/Rei;
Valquírias: Guerreiras de Freya que tinham como missão levar as almas dos guerreiros mais valorosos mortos em batalha para Valhalla;
Valhalla: Salões dourados onde as almas dos grandes guerreiros ficam festejando até ser chamadas para lutar no Ragnarok a fim de ajudar os Aersir (nope, não é algo exclusivo do Mad Max);
Ragnarok: Fim do mundo segundo os nórdicos. Basicamente: Loki causa, junta os Vanir e resolve matar todo mundo (lê-se: Aersir) em Asgard, uma galera morre e, no final, tudo continua na mesma e o Loki se ferra;
Aersir: Primeiro clã de deuses nórdicos; Normalmente relacionados à guerra;
Vanir:Segundo clã de deuses; Normalmente associados à fertilidade e prosperidade;
Asgard: Local onde moram os deuses (quaisquer dúvidas, o Thor ensina direitinho no primeiro filme sobre os nove mundos e a árvore Yggdrasil. Um homem tão prendado, fico até emocionada);
Bretanha: Inglaterra. Como é de época, não tem graça chamar de “Inglaterra”, Bretanha é mais divertido;
Celtas:Povos pagãos que viviam na Bretanha antes da invasão romana e saxônica e donos da religião do personagem principal na história (existem outros povos que viviam na mesma época, mas resolvi colocar só os Celtas pra ficar mais fácil);
Grande Deusa: Principal divindade Celta;
Cernnunos: Deus da floresta, dos animais, da fertilidade e das colheitas, tipo um sátiro. Também conhecido como “Galhudo” e eis que a igreja achou que ele era um ser do mal. Uma grande mentira, ele era super de boas;
Druidas: Encarregados de aconselhamentos, ensinos, orientações jurídicas e filosóficas entre os Celtas;
Sacerdotisa: Mulheres que tinham conhecimentos místicos e seguiam a religião antiga na Bretanha;
Woad: Um tipo de tinta azul que os Pictos (um povo tipo os Celtas) usavam pra pintar o corpo antes das guerras. Pra quem assistiu Rei Arthur, é a pintura que a Guinevere usa. Pra quem assistiu Coração Valente, creio que é a pintura que o William Wallace usa. Eu coloquei, porque nosso querido personagem principal é bretão e da religião dos antigos... Além disso, eu curto muito woad!




Nota da beta:
Eu já sou apaixonada pela escrita da Kah, depois dessa eu parei!!! Fic histórica <333333 meu Deus, eu amei muito!! Mas enfim pessoal, espero que gostem tanto quanto eu e qualquer erro é só me mandar um email -> /kaah.jones/ xx.

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