Mixtape: Fênix

A mais esplêndida emoção: o amor

Capítulo Único

A lenda a seguir conta a história do um amor tão grande e tão puro, que nem as barreiras da morte conseguiu separar.



Eu,
prisioneiro meu,
descobri no breu
uma constelação.



Ela, única menina entre os sete filhos do Rei de Creta, prometida de Ártemis, futura Caçadora, seguidora da deusa da lua. Um dia deixaria sua família para trás e seguiria sua nova comandante, tendo apenas as estrelas como companhia. Abriria mão dos homens e do amor, mantendo-se pura como sua protetora. Pura para todo sempre.
Ele, filho de um servo do Rei, oferecido aos deuses após a morte de seus pais. Acolhido por Hefesto, trabalha em suas forjas, produzindo armamento para os deuses. Tendo o fogo como companheiro inseparável, vê sua vida passar pelos seus olhos como um pequeno e fino fio de bronze, que pode se romper a qualquer momento.
Viram-se apenas uma vez, por entre as árvores da floresta. Os olhos acinzentados da menina se prenderam nos castanhos do rapaz, que sentiu como se o seu coração se transformasse numa tocha e aquecesse todo seu corpo. Um pequeno sorriso brotou nos lábios da menina, mas tão rápido como surgiu, se foi, assim como ela, sumindo por entre as árvores.


Céus,
conheci os céus,
pelos olhos seus.
Véu de contemplação.



O tempo passou, mas a lembrança se manteve firme na mente de ambos. O coração batia forte, a respiração se tornava pesada. E cada vez a visão daqueles olhos castanhos vinham à mente da menina, um sorriso teimava em surgir com seus lábios, como se fosse por puro reflexo. O frio, que sempre era parte de seu coração, perdeu intensidade, sendo substituído por um fogo que a consumia por inteira.
Todas as noites ela peregrinava por quase toda a extensão da floresta, buscando pelo jovem os olhos castanhos, quentes e acolhedores. E a cada novo dia de fracasso, o fogo que deveria diminuir, continuava a queimar, como se o seu combustível fosse a própria busca.
Numa noite nublada, onde as estrelas e a lua não podiam ser vistas, ela o encontrou. Ele estava parado no meio de um pequeno lago, onde encarava seu próprio reflexo. Seu rosto estava coberto de fuligem, eu ele tentava retirar, mas antes que pudesse terminar de se lavar, ouvir o barulho vindo de um arbusto. Girou seu corpo, já alerta para o que pudesse ser, até que enxergou um brilho. Era como se duas estrelas tivessem descido do céu e brilhassem somente para ele. Como se fossem sua constelação particular.


Deus,
condenado eu fui
a forjar o amor
no aço do rancor.
E a transpor as leis
mesquinhas dos mortais.



Os olhos se estudaram por alguns segundos, antes de qualquer aproximação. Ele deu o primeiro passo, caminhando com dificuldade até sair de dentro do lago. Ela acompanhou seus movimentos até estarem frente a frente. A pele branca dela contrastava fortemente a pele morena do rapaz. Nenhuma palavra foi dita e nem ao menos necessária. Seus lábios se encontraram e não se deixaram mais pelo restante da noite. Era como o encontro do fogo e do gelo. Dois opostos que além de se atraírem, se completavam. Sem ter as estrelas ou a lua como testemunhas, a menina pôde, enfim, libertar-se para o amor antes de tirá-lo, forçadamente, de sua vida.


Vou,
entre a redenção
e o esplendor
de por você viver.



“Você não vai mais ver esse rapaz!”, bradou o rei. Chorando, ela suplicou, pediu e implorou que o pai relevasse suas decisões e deixasse que ela vivesse sua vida da forma que queria. Ela fugiria com ele, iria para bem longe, onde o pai não tivesse que viver com a vergonha de ter uma filha fugida. Mas nada adiantava, o rei não era o tipo de homem que mudava de opiniões tão facilmente e nem tão pouco deixaria de cumprir uma promessa feita aos deuses.
“Não há nada nesse mundo que faça mudar minha decisão.”, o rei continuou, fazendo com que qualquer resquício de esperança morresse dentro dela. “Amanhã eu te levarei ao templo de Ártemis e você ficará lá. Para sempre.”


Sim,
quis sair de mim
esquecer quem sou
e respirar por ti.
E assim transpor as leis
mesquinhas dos mortais.



Ignorando quaisquer ordens de seu pai, ela seguiu novamente para a floresta naquela noite. Hoje ela tinha a lua com testemunha, mas ela se tornaria sua serva em poucas horas, então não haveria motivos para esconder nada dela. Ainda mais isso. Ele a esperava no lugar de sempre, mas logo viu a tristeza em seus olhos e entendeu tudo sem a necessidade de palavras. Juntando seus lábios mais uma vez, ela guardou cada segundo em sua mente, pois esse seria agora sua razão para viver. “Eu viverei em ti a partir de agora.”, ela lhe disse, deixando as palavras morrem no fim.


Agoniza virgem Fênix (O amor)
entre cinzas, arco-íris e esplendor
por viver às juras de satisfazer
ao ego mortal



O rei caminhava a passos firmes até o centro do templo de Ártemis, quase arrastando a filha pelos braços. Ele recitou uma breve prece e colocou uma oferenda aos pés da estátua que ali tinha. Segundos depois as tochas que rodeavam o local se acenderam e uma luz branca forte iluminou todo o ambiente.
O local onde antes havia apenas a figura de mármore, agora estava ocupado por uma jovem ruiva e imponente, suas vestes eram longas e metalizadas, como um trançado de fios de prata. O cabelo estava preso numa trança, que descia pelos ombros e chegava próxima a cintura. Com seu olhar altivo e superior, ela o mediu, olhando para a garota logo depois.
“É essa a jovem que vens me oferecer?”, perguntou, com seu tom de voz forte e autoritário. O rei afirmou com a cabeça e a deusa caminhou, como se flutuasse, até a menina. Sua mão foi até o queixo dela, fazendo com que seu rosto ficasse visível. Seus olhos eram tão prateados como suas vestes e se prenderam nos da menina, deixando-a apreensiva. “Deixe-nos.”, a deusa disse e o rei a obedeceu, dando as costas à filha, sem nem lhe dizer nem ao menos uma palavra de despedida.
“Repita essas palavras, minha jovem: Eu me comprometo com a deusa Ártemis, dou as costas para a companhia dos homens, aceito a virgindade eterna e me junto à caçada.”
A cada palavra que repetia, ela sentia que morria um pouco por dentro. Assim, ela viveria eternamente, sendo eternamente infeliz. Fechando os olhos, ela só enxergava um par de olhos castanhos a encarando e enchendo um pouco seu coração de calor.
“Lembre-se de seu compromisso, ele agora é sua vida.”


Coisa pequenina, centelha divina, renasceu das cinzas
onde foi ruína. Pássaro ferido hoje é paraíso.



Depois de algum tempo junto à caçada, ela percorria a floresta em busca de certo fruto para sua comandante. Porém, um ruído a assustou e logo levantou seu arco como proteção. Com passadas ligeiras e barulhentas, seu acompanhante se tornou visível. O arco foi jogado ao chão, suas pernas ficaram trêmulas e por pouco seu corpo não seguiu o mesmo caminho que sua arma.
Os olhos castanhos a fitavam com uma saudade quase gritante, ela logo foi tomada por aquele calor aconchegante e característico. Ela queria se jogar em seus braços e sentir-se, finalmente, viva mais uma vez. Mas seu juramento, seu compromisso com Ártemis, era a coisa mais importante que tinha na vida, ela sabia que deveria segui-lo a risca. Só que tudo se tornou impossível quando as mãos dele tocaram sua pele e em seguida seus lábios. Naquele momento, o único juramente que realmente valia era o do de amor, aquele que trocaram na última noite juntos. Ela estava vivendo novamente, vivendo nele.


Luz da minha vida,
pedra de alquimia.
Tudo o que eu queria
Renascer das cinzas.



“Como ousa?”, eles ouviram uma voz grave como trovão encher o ambiente. Se separaram imediatamente. Ela arregalou os olhos, com o medo estampado neles. Os pés dele pareciam colados ao solo, sem permitir que ele saísse do lugar. O brilho prateado girou como um tornado até tomar uma forma feminina. A traça chicoteava o ar de um lado ao outro, como se tivesse vida própria. O olhar feroz e destrutivo da deusa caiu sobre a menina, que seu o peso dele como se fosse o peso do próprio mundo. Ele saia que deveria correr, ao mesmo tempo em que sabia que deveria tentar protege-la. Mas quando conseguiu mover seus pés na direção dela, a menina o olhou como quem implorava. Aquela imagem fez seu coração doer. Seus lábios se moveram num pedido silencioso: “Fuja!”
Ao longe, o rapaz pode observar tudo o que acontecia. Viu sua amada cair de joelhos perante a deusa, num claro sinal de súplica. Com um movimento de suas mãos, Ártemis fez uma coluna de um fogo estranho, numa tonalidade entre branco e prata, surgir do céu e atingir a menina. O rapaz perdeu o ar por alguns segundos, também caindo de joelhos no solo. As lágrimas brotaram em seus olhos e um grito de dor ficou preso em sua garganta.
Da mesma forma que surgiu, a deusa se foi, girando no espaço como um tornado. Ele correu até onde sua amada estava, segurando um pouco das cinzas que antes eram seu corpo. O grito preso se libertou e as lágrimas não o deixavam mais enxergar, elas caiam por todos os lados e escorriam pelo seu rosto. Algumas caíram junto às cinzas, dando a elas uma coloração diferente, meio avermelhada.
Um cheiro diferente, como um aroma de rosas, tomou o local, fazendo com que ele mudasse um pouco o foco de sua atenção. Ele olhou para trás, vendo um corpo feminino surgir de uma suave fumaça rosa.
“Por que choras?”, a jovem loira que surgiu lhe perguntou.
“Minha amada se foi por minha culpa, eu a perdi por puro egoísmo.”
“O amor nunca é egoísta.” lhe respondeu, sorrindo de forma terna e amorosa. “Ele é puro.”
“Mas de que adianta, ela nunca mais estará comigo.”
“Sinto a sinceridade e o poder de seu amor, meu jovem. E um amor assim não morre. Ele sempre renasce.”
Quando essa última frase foi dita, as cinzas começaram a se mover, formando um pequeno redemoinho que levantou voo em direção ao céu. Lá em cima elas continuaram a se mover, tomando uma forma diferente. De repente a forma começou a se transformar em algo vivo, se movendo como se batesse asas. E então, como num passe de mágica, tudo se transformou num belo pássaro, com longas penas avermelhadas, como labaredas vivas, que ganhou o céu num lindo e livre voo.
O rapaz sentiu sua boca se abrir, mas sem emitir nenhum som. Voltou sem olhar para a jovem loira ainda sem acreditar no que via.
“Quem é você?”, ele perguntou.
“Sou Afrodite, a deusa do amor. Lembre-se sempre da minha benção e pense que, por mais que ela não esteja aqui ao seu lado, ela sempre irá te acompanhar. Sempre morrendo, mas sempre renascendo. Assim como o amor de vocês.”
E sorrindo, Afrodite desapareceu, deixando o jovem observando o voo de sua eterna amada.
“Eu te amo, minha fênix, meu amor.”


Quando o frio vem
nos aquecer o coração.
Quando a noite faz nascer
a luz da escuridão.
E a dor revela a mais
esplêndida emoção...
O amor



Fim..




Nota da autora: (30/09/2017)
Eu tinha essa história guardada há anos e aproveitei que ela se encaixava no tema para enviar. Espero que gostem.
Beijo da That.

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