Bellville, ou “cidade do sino” para os íntimos, é uma cidade com cerca de quinze mil habitantes, localizada no interior do estado do Alabama, nos Estados Unidos. Confesso que nunca esteve nos meus planos morar em uma fazenda, em um fim de mundo, onde a maioria das pessoas ia dormir quando escurecia e acordavam com o canto dos galos.
Não tive muita escolha, na verdade. Meus pais me deixaram na fazenda dos meus avós quando eu tinha doze anos para saírem percorrendo pelo mundo, ajudando a quem precisava. Eu tinha uma caixa com os postais deles guardados em algum canto do guarda-roupa, mas estaria mentindo se falasse que sofria com a ausência deles. Eu era nova e meus avós sempre estiveram lá para mim.
O grande problema é que morar em uma cidade tão pequena não me garantia acesso a uma educação mais avançada, ter concluído o ensino médio já estava de bom tamanho. Não precisava de nenhum cálculo avançado para conseguir ajudar a administrar a fazenda.
Ben e Jane, meus avós, tinham uma propriedade relativamente grande, com alguns funcionários para ajudarem nas plantações e com os animais. Confesso que a parte administrativa eu deixava mais com vovô, afinal, qual a graça de morar em uma fazenda e trabalhar dentro de um escritório, fazendo contas sem fim?
Morar ali era bastante tranquilo. A cidade tinha apenas uma igreja, localizada bem no centro, e com um sino tão grande e cheio de detalhes, que acabou dando o nome à cidade. Nós não tínhamos um grande centro comercial, nem noites agitadas, com artistas famosos, mas nunca faltou o essencial, e nunca vi alguém reclamando das festas no BellBar, o único estabelecimento onde as pessoas iam para dançar e se divertir.
Tudo era bem calmo, exceto quando o assunto era .
E, infelizmente, ele trabalhava na fazenda dos meus avós, porque a vida... A vida é engraçada.
— , eu preciso que você vá até o mercado, a lista está em cima da mesa. — Revirei os olhos, voltando para a cozinha e tendo que mudar meus planos sobre trabalhar com os cavalos. — Eu já disse para deixar os treinamentos com o . — Minha avó disse quando percebeu meu humor.
— Como se ele tivesse tempo para isso. — Revirei os olhos novamente, pegando a lista e as chaves da velha caminhonete. Saí apressada, calculando cerca de quarenta e cinco minutos para ir e voltar e, enfim, começar a trabalhar com Trovão. Meus avós estavam nada felizes com o cavalo que resgatei de uns viajantes que passaram pela cidade há pouco mais de um mês.
“Esse cavalo é extremamente arredio, você vai se machucar, ou pior, morrer”, vó Jane dizia, com as mãos no peito e um drama digno de Oscar. Vô Ben não gostava muito da ideia, então sempre estava me vigiando, ou pior, colocava o para ficar de olho. Eu verdadeiramente odiava aquele cara.
Extremamente arrogante e superficial, eu tinha que juntar todas as minhas forças para não voar no pescoço dele. Eu não conseguia aguentar suas piadinhas e cantadas baratas, porque todas as garotas da cidade no currículo não eram o suficiente para ele. Tinha que admitir que ele era bonito. Ok, ele era bem lindo mesmo, com quase 1,90m de altura, músculos tonificados graças ao trabalho pesado na fazenda e uma pele bronzeada pelo trabalho ao ar livre. O kit completo daqueles caras do interior que vemos nos filmes.
Isso ainda não mudava o fato de que eu o odiava, mas meus avós o adoravam, então sempre saía como a implicante da situação, o que só me faz o odiar ainda mais.
Já de volta à fazenda e depois de guardar as compras, segui sem hesitar para a baia de Trovão.
— Oi, garoto. — Ofereci uma maçã para ele, que logo veio em minha direção e a pegou. Abri sua baia calmamente, coloquei a cela nele e segui para a área onde fazíamos o treinamento dos cavalos.
Andei com Trovão ao meu lado, olhando em todas as direções para garantir que estava bem longe. Acenei para vovô, que tinha seus olhos preocupados sobre mim e o cavalo. Assim que entrei no cercado, montei Trovão e, devagar, comecei a trotar com ele, em círculos. Ele estava calmo e obedecendo meus comandos, sem sinal de raiva ou que iria empinar. Acelerei os passos, fazendo movimentos em sentidos diferentes, ganhando um pouco mais de velocidade. Eu adorava cavalgar pelas áreas da propriedade e não via a hora de Trovão se acostumar melhor comigo para poder percorrer cada canto das terras com ele.
Já pronta para encerrar os treinos do dia e seguindo para a entrada do cercado, pude ouvir tiros não muito longe, e isso foi o bastante para toda a calma de Trovão ir pelos ares. Agarrei-me a ele o mais forte que pude, juntando todas as minhas forças para me manter sobre ele e não ser lançada longe.
— Calma, garoto, ninguém vai te machucar. — Eu falava baixo em seu ouvido, mas ele parecia possuído e só empinava. — Droga, droga, droga. — Eu praguejava, já sentido minhas mãos serem cortadas pelo esforço de segurar as rédeas.
— Meu Deus do céu, ela vai cair! — Ouvi minha avó choramingar enquanto meu avô tentava acalmá-la. Eles sabiam que de nada adiantaria eles entrarem no cercado, o único jeito era eu tentar me manter sobre o Trovão e fazer o possível para acalmá-lo.
— Eu tô bem, daqui a pouco ele acalma. — Gritei para eles, minha avó já com lágrimas nos olhos. Voltei minha atenção para Trovão, que ainda empinava e relinchava, assustado. Respirei fundo e me abaixei sobre ele. — Calma, Trovão, vai ficar tudo bem, calma. — Eu podia sentir um pouco de sangue escorrendo pelas minhas mãos devido ao meu esforço, mas ele já estava um pouco mais calmo. Avistei parado ao lado dos meus avós, com o rosto sério. Ignorei-o e segui acalmando Trovão, até que enfim ele parou e pude recuperar o total controle sobre ele. Dei algumas voltas com ele e acenei para meus avós, indicando que já estava tudo sob controle. Eles logo entraram na casa, mas não tirava os olhos de mim.
— Me dá as rédeas. — Ele disse, grosso, assim que desci do cavalo.
— Eu posso muito bem levá-lo de volta para a baia. — Falei, tentando pegar as rédeas de volta.
— Suas mãos estão sangrando. — Ele revirou os olhos, irritado com a situação. — Eu disse que treinaria com ele, seus avós falaram para não treinar os cavalos, especialmente esse aqui. — Ele colocou Trovão na baia e lhe deu alguns grãos. Eu apenas fiz um carinho rápido e saí, não querendo prolongar a conversa. — Você não vai me falar o que tinha na cabeça de pegar o Trovão sem ninguém por perto? — Ele segurou meu braço e me virou de frente para ele.
— Me solta. — Puxei meu braço com força, mas ele logo pegou minhas mãos de volta, olhando com atenção para os machucados. — Não é nada.
— Você vai ver o nada quando precisar pegar qualquer coisa. — passava os dedos delicadamente pelas minhas mãos e eu juntei todo o meu autocontrole para não fazer uma besteira. Assim que levantou o rosto e me encarou, seu sorrisinho de canto estava ali. — Até quando você vai negar? — Ele perguntou, subindo seus dedos pelos meus pulsos. Um sinal de alerta piscava na minha mente.
— Negar o quê? — Disse com o máximo de indiferença que consegui colocar na voz. Quando seus dedos já estavam quase em meus ombros, eu me afastei, impondo uma distância maior entre nós.
— Essa... — Ele deu um passo em minha direção. — Essa atração entre a gente. — Seu corpo já estava a poucos centímetros de mim. Minha respiração estava pesada, e só piorava com a forma como seu olhar percorria cada parte do meu rosto. Eu podia sentir a tensão emanando dele, fazendo com que meu coração acelerasse e eu precisasse me forçar a manter os olhos bem abertos, e não fechá-los para sentir ainda mais sua fragrância amadeirada tão característica.
— Você só pode estar ficando maluco, . — Eu dei mais um passo para trás enquanto ele dava um para frente. — O que você pensa que está fazendo se aproximando desse jeito?
— Você não vai me dizer porque pegou o Trovão para treinar? — Ele sussurrou, seus dedos roçando nos meus. Eu logo retirei a mão e endireitei o corpo, olhando seriamente para ele.
— Simples, você parecia muito ocupado ontem, e Trovão precisa ser treinado. — O sorriso dele aumentou.
— Está com ciúmes? — Ele se aproximou novamente, olhando bem fundo nos meus olhos. A única coisa que entregava que ele não estava tão imune a mim era sua respiração, em um compasso perfeito com a minha, ambas aceleradas demais. — Você sabe que a... — Ele olhou para o céu, como se tentasse lembrar o nome. Eu soltei uma risada forçada, não acreditando que nem o nome da mulher que ele estava ontem ele sabia.
— A única coisa que eu sei, , é que Trovão precisava ser treinado e eu estava disponível. — sorriu ainda mais e minha vontade de arrancar aquele sorriso do rosto dele só aumentava.
— Você sabe que não precisa ter ciúmes de mim, lindinha. — E o apelido idiota que ele sempre usava para me provocar foi o bastante para me tirar do sério.
— Me erra, . — Bufei e dei um passo para trás, para voltar para casa. Só que o cocho, no qual os cavalos bebem água, estava bem atrás de mim, e eu tropecei e caí sentada, jogando água para todo lado. Gritei de ódio, enquanto estava com as mãos nos joelhos e chorava de tanto rir.
— Ai, meu Deus, eu tinha que ter filmado a sua cara. — Ele limpou uma lágrima dos seus olhos e continuou rindo de mim.
— Você é um idiota! — Vociferei para ele, que apenas riu mais. estendeu uma mão para me ajudar a levantar, mas eu o ignorei, apoiando minhas mãos na beirada do cocho para levantar sozinha. Assim que meu grito de dor saiu, graças às mãos machucadas, parou de rir e veio me ajudar. Quando já estava de pé, me afastei dele o mais rapidamente possível. Agora não só as mãos estavam machucadas, mas o orgulho estava tão ferido quanto.
Entrei pisando forte em casa, molhando tudo por onde passava.
— Eu vou matar o , eu tenho certeza de que ele tinha visto e fez tudo de propósito! — Eu falava alto comigo mesma e queria me bater por ter caído na provocação barata dele. Segui para o meu quarto e tomei um longo banho, sentindo as mãos arderem com o sabonete, com o xampu, com o condicionador, até o ar estava fazendo com que minhas mãos doessem. Maldito, !
Peguei a primeira camisa branca lisa que encontrei pela frente, coloquei um short jeans e calcei minha bota de cano curto. Sequei o cabelo, ainda brava pela cena de mais cedo. Assim que desci, vovó estava colocando uma broa sobre a mesa, e eu logo levei a mão para pegar um pedaço.
— Ai, vó, eu tô com fome. — Fiz manha quando ela bateu em minhas mãos e não me deixou comer.
— Está quente, vai te dar dor de barriga. — Ela encarou minhas mãos, seu rosto assumindo uma feição séria. — Acho melhor ir até o doutor para ele fazer um curativo. — Encarei os cortes nas minhas mãos. Estavam vermelhas e um pouco de sangue ainda saíam delas. — Nem adianta dizer que não precisa, anda. — Ela encerrou a discussão.
— Certo, certo. Quando voltar vou poder comer, pelo menos? — Perguntei, tentada a pegar um pedaço e sair correndo.
— Só se sobrar, lindinha. — Bufei ao ouvir entrando na cozinha.
— Já disse para não me chamar assim. — Ele foi até a minha avó e beijou sua bochecha, fazendo-a abrir um sorriso de orelha a orelha. Revirei os olhos, não acreditando na cara de pau dele.
— Você vai aonde, posso saber?
— Não te interessa, , e se eu voltar e não tiver broa, eu vou acabar com você. — Disse, ameaçadoramente.
— Não me iluda assim, porque eu vou cobrar, lindinha. — Ele falou, com as mãos sobre o coração. Apenas respirei fundo e peguei as chaves do carro sobre a mesa, não conseguindo evitar uma careta.
— Vamos, eu te levo. — disse, pegando as chaves das minhas mãos.
— Obrigada, meu filho. — Vó Jane se antecipou, não me deixando negar. Respirei fundo mais uma vez, porque entrar no carro com , sozinha, não estava em meus planos.
— Você não precisa me levar, sou perfeitamente capaz de ir dirigindo até lá. — Falei, quando já estávamos em frente à caminhonete.
— Você vai morrer se deixar alguém fazer alguma coisa por você, lindinha?
— Por que você me odeia tanto? — Perguntei, batendo a porta do carro assim que entrei. — Me tirar do sério é algum tipo de hobby seu? — tinha aquele sorriso de canto insuportável estampado em seus lábios.
— Eu não odeio você, lindi... . — Ele revirou os olhos. — Mas é muito fácil irritar você, é mais forte do que eu. — Ele deu de ombros, como se estivesse falando algo extremamente óbvio. Eu apenas encarei a janela, decidida a ignorá-lo. ligou o rádio e logo identifiquei Bless The Broken Road do Rascal Flatts.
Apoiei minha cabeça no encosto do banco e comecei a cantar baixinho, não querendo dar mais material para o usar contra mim. Quando a música já estava perto do fim, percebi que já estávamos em frente ao consultório. Desci do carro, sem encarar .
— Você canta direitinho, lindinha. — Ele implicou, mas segui o ignorando.
— Oi, Rose, Caleb está ocupado? — Estendi minhas mãos em sua direção, que me olhou assustada. — Parece pior do que realmente é. — Falei, com um sorriso no rosto.
— Acho que isso sou eu que tenho que dizer, não? — Ele apareceu atrás de mim, sorrindo em minha direção, me fazendo suspirar descaradamente. Notei revirando os olhos e fez gestos de que iria vomitar quando olhei feio para ele.
— Oi, Caleb, como está? — arqueou uma sobrancelha em minha direção. — O que foi?
— Ah, o tom irritado é só para mim, entendi. — Ele sorriu debochado para mim.
— Quantos anos você tem, , dez?
— Vou guardar essa resposta para mais tarde. — Ele disse e piscou. Idiota.
— Você machucou bem feio. O que aconteceu? — Caleb perguntou.
— Eu...
— A louca foi treinar um cavalo que todo mundo disse para não treinar, ele assustou e ela teve que se segurar para não cair. — se intrometeu. Qual o problema dele?
— Eu posso falar, obrigada. — Disse, incomodada. — Foi nada de mais, ele está exagerando.
— Suas mãos mostram claramente o quanto eu estou exagerando. — Ele arqueou uma sobrancelha, me desafiando a contradizê-lo.
— Por que você não fica aqui enquanto Caleb examina minhas mãos na sala dele? — Falei, mas já estava praticamente dentro da sala, com o médico logo atrás de mim. fechou a cara, e eu sorri triunfante.
— Ele só está preocupado, você sabe. — Caleb disse assim que estávamos sozinhos em seu consultório.
— é muito intrometido, ele tem o dom de me irritar, é só isso. — Falei, tímida, de repente. Ele analisava minhas mãos delicadamente, movimentando meus dedos e os pulsos.
— Os cortes não estão profundos, mas vou ter que limpar bem e fazer um curativo. — Ele logo começou a trabalhar. — Isso pode arder um pouco. — Controlei o grito quando ele despejou um líquido nas minhas mãos.
— Um pouco é bondade sua. — Disse, entredentes. Estava doendo. Muito. Ele sorriu, mas dessa vez consegui controlar o suspiro.
Caleb estava na cidade havia poucos meses, veio assumir o consultório do avô, que decidiu que as vistas não estavam mais tão boas para continuar trabalhando. Ele era jovem, no máximo 28 anos, apenas cinco a mais do que eu. E ele era lindo, mas muito reservado. Desde que chegou à cidade, ele apenas trabalhava e cuidava dos avós. Poucas vezes o vi no BellBar, e nunca acompanhado.
— Prontinho. Você vai precisar trocar o curativo duas vezes por dia, nos próximos dois dias. Você tem tudo em casa? — Assenti, encarando as faixas nas minhas mãos. Flexionei os dedos, percebendo que conseguiria me virar muito bem, já que ele não havia imobilizado minhas mãos.
— Obrigada. — Disse e mordi os lábios, envergonhada. Qual era o meu problema?
Caleb abriu a porta e me deu passagem.
Avistei sentado, impaciente, na recepção.
— . — Caleb começou a falar. — Uhm... Você vai ao BellBar hoje? Ouvi dizer que vai ter uma banda ao vivo. — Arregalei os olhos, surpresa com a sua pergunta.
— Duvido muito que vovó me deixe dirigir com as mãos assim, ainda mais à noite. — Disse, desolada, porque eu tinha quase certeza de que ele estava me convidando. Certo?
— Eu posso te buscar, se você quiser, claro. — Ele levou uma das mãos aos cabelos, claramente nervoso. — A gente... Bem, a gente podia ir... Uhm... Juntos.
— Tipo um encontro? — Perguntei sem pensar, logo me arrependendo. Ele corou, e eu tinha certeza de que não estava tão diferente. Caleb sorriu em minha direção.
— É. — Sorri para ele, mas não conseguia olhar em seus olhos.
— Já acabaram? — Encarei o teto. Por que tinha que estragar tudo? Ele estava ao nosso lado, olhando de um para o outro, com um olhar desconfiado.
— Já estou indo, . — Esperei que ele saísse, mas seus pés pareciam grudados no chão. Bufei e voltei a olhar para Caleb. — Às 20h? — Perguntei, notando a cara de descrença do .
— Estarei lá.
— Certo. Até mais tarde. — Eu não sabia como me despedir, ainda mais sob o olhar pesado de sobre mim, então apenas acenei, acertando a consulta com Rose.
Já de volta no carro, não havia dito uma palavra sequer. Deu partida e seguimos de volta para a fazenda. Nenhum comentário, nenhuma piadinha. Apenas encostei a cabeça no banco e fechei os olhos, apreciando esse momento de paz e já pensando com que roupa eu iria ao BellBar.
— Engraçado... — Ele começou. Lá se vai minha paz. — Não vai me perguntar o que é engraçado? — Eu permaneci de olhos fechados, sem respondê-lo. — Sério mesmo que vai sair com aquele médico engomadinho? — Prendi o riso, não acreditando no que estava falando.
— O que foi, ? Está com ciúmes? — Perguntei, sorrindo docemente em sua direção. Ele soltou uma risada nervosa.
— Eu? EU? Com ciúmes? — Ele ria, mas suas mãos estavam tensas sobre o volante. — Isso é ainda mais engraçado que o fato de você sair com aquele...
— Com o Caleb. Ainda não entendi a graça, para ser sincera. — Dei de ombros e encarei minhas unhas, com um falso interesse. logo estacionou a caminhonete na fazenda e desceu do carro, com um péssimo humor. — O que te deu, ? Eu hein. — Revirei os olhos e segui em direção à casa.
— Demoraram, está tudo bem com suas mãos? — Vovó perguntou, olhando o curativo.
— Sua neta e aquele médico lá que ficaram de conversinha. — pegou um enorme pedaço de broa e colocou quase tudo na boca. Peguei um pedaço também antes que o nervosinho comesse tudo.
— Quer um pouco de café para ajudar descer a broa, meu filho? — Vó Jane estava claramente assustada com a pressa que ele devorava o pedaço em sua mão.
— Não precisa. — Ele disse, engolindo. — Sabia que eles vão ter um encontro hoje? — Vovó logo se virou em minha direção, sorrindo.
— Mas que ótimo! O doutor é ótimo, o avô dele só fala o quanto ele é atencioso e de como assumiu a clínica para ele. — pegou outro pedaço, parecia ainda mais irritado. — E ele é bem bonito, não é? — fez um barulho de contradição com a boca, e eu apenas ri para vovó.
— Ele foi muito gentil. — Disse, sem graça.
— Eu preciso ir. Tchau, Jane. — saiu sem nem me olhar.
— O que foi que deu nele? — Perguntei, mas vovó apenas sorriu, balançando a cabeça.
Às 20h em ponto eu escutei uma buzina. Desci correndo do meu quarto, controlando minha respiração antes de abrir a porta. Meus avós já estavam dormindo há um bom tempo, então apenas tranquei a porta e saí, avistando Caleb encostado do lado de fora do carro.
Sorri em sua direção, de repente tímida pela situação. Eu havia passado uma boa parte da tarde pensando no que vestir. Até decidir pelo vestido tomara que caia preto com flores rosa, uma jaqueta jeans comprida e botas sem salto, meu quarto estava impossível de atravessar de um lado a outro.
— Olá. — Caleb me deu um beijo na bochecha quando me aproximei. — Você está linda. — Ele disse, assim que se afastou.
— Obrigada. — Ele abriu a porta do carro para mim e, assim que eu entrei, logo deu a volta para entrar no lado do motorista.
— Eu vi bastante gente indo para o BellBar no caminho, não sabia que a noite ficava tão movimentada. — Eu sorri para ele.
— Eu te vi poucas vezes por lá, mas como é o único lugar da cidade, todo mundo marca presença.
— Eu não sou muito de festas. — Ele parecia sem graça, então me segurei para não perguntar o motivo.
— Você vai gostar de lá, é bastante animado.
— Eu me sinto um pouco deslocado na cidade, acho que eles me veem muito como um forasteiro. — Diferente de mim e da maioria das pessoas de Bellville, Caleb não havia crescido ali. Segundo vovó, ele nasceu em uma cidade grande e sempre teve o sonho de ser médico, assim como o avô. Ele passava os verões na cidade, mas sempre no consultório, acompanhando a rotina dele.
— Tenho certeza de que é coisa da sua cabeça, todo mundo fala bem de você aqui na cidade, e são muito gratos por ter assumido o consultório do seu avô. — Ele sorriu, não muito convencido. — Talvez... — Eu hesitei. — Talvez o fato de ser uma das únicas pessoas que frequentaram uma universidade te distancie um pouco da nossa realidade. — Dei de ombros, porque não era algo que me incomodava.
— Talvez. Você conhece a banda que vai tocar? — Ele mudou de assunto.
— O nome não me é estranho, mas não tenho certeza.
Assim que chegamos, o barulho do BellBar já podia ser ouvido. Caleb parecia assustado.
— Vamos, ninguém aqui morde. — Brinquei com ele, que sorriu e seguiu atrás de mim. Cumprimentei várias pessoas no caminho até uma mesa vazia, mais perto do palco.
— Você parece ser bem popular por aqui. — Ele comentou próximo ao meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse.
— Eu gosto de música, então eu estou sempre aqui. — Respondi o mais tranquilamente possível, mas sentindo meu rosto ficar quente.
— Eu vou pegar algo para gente beber, o que você quer?
— Só uma água. — Caleb assentiu e saiu. Eu me sentei, olhando ao redor, notando vários rostos conhecidos e muitos curiosos por me ver na presença do tão reservado médico da cidade.
— Seu par já te deixou, lindinha? — Pulei da cadeira, assustada com a voz de no meu ouvido.
— Você quer me matar do coração, idiota? — Ele levou as mãos ao coração.
— Assim você me magoa, mas já está perdoada. — Revirei os olhos, buscando Caleb no meio da multidão. — Sabe, se fosse eu, jamais te deixaria sentada aqui sozinha. — Ele me encarou, logo descendo o olhar pela minha roupa.
— O que foi? Perdeu alguma coisa aqui embaixo? — Ele encarava minhas pernas, e eu precisei me controlar para não dar um tapa nele.
— Talvez. — Seu sorriso de lado já estava em seu rosto, o que só me irritou ainda mais.
— Seu mau humor parece que foi embora, não é mesmo? — Sorri debochada em sua direção, agradecendo aos céus por Caleb já estar a caminho. revirou os olhos, mas sem deixar de sorrir.
— Eu sou muito paciente, lindinha, é só uma questão de esperar o momento certo. — se aproximou de mim.
— , não sabia que também viria. — Eu logo me afastei, assustada com a voz de Caleb. Minha respiração estava acelerada, e eu desviei o olhar, não entendendo o que tinha acabado de dizer.
— Eu não perderia por nada. — Ele disse, piscando para mim e saindo, convidando a primeira mulher que viu pela frente para dançar. Idiota.
— O que ele queria? — Caleb perguntou, estendendo a água na minha direção.
— Só me encher, como sempre. — Dei de ombros, mas sem conseguir desviar os olhos do novo casal na pista de dança. Arrumem um quarto! Será que ninguém estava vendo aquela esfregação desnecessária além de mim?
— ? — Olhei para Caleb, perdida.
— Me desculpe. O que disse? — Perguntei, sem graça. Ele seguiu meu olhar até e sua acompanhante e voltou a olhar para mim.
— Eu sou um péssimo dançarino, mas você deveria se divertir. — Ele disse, sua feição estava diferente, menos animada.
— Eu estou me divertindo! — Disse, mas até eu percebi o quão forçada minha voz soou. — Me desculpe. tem esse poder de me tirar do sério, vamos só ignorar que ele está aqui. — Sugeri, fazendo com que Caleb sorrisse levemente.
— Parece um ótimo plano para mim.
Depois de alguns minutos de conversa, Caleb se soltou um pouco e me mostrou um lado dele que eu desconhecia completamente. Ele era divertido e parecia verdadeiramente estar feliz por estarmos ali.
De repente, a intro de “Man! I Feel Like A Woman!” da Shania Twain começou a tocar e todos os rapazes deixaram a pista de dança, como já era esperado.
— Vamos, , rápido! — Fui puxada pelo braço e levada para o meio da pista. Tive apenas tempo de sussurrar um sinto muito para Caleb, que parecia se divertir com a cena. Billy, o dono do BellBar, estendeu o microfone para mim. Eu apenas sorri, já entrando no clima.
— VAMOS LÁ, GAROTAS! — Gritei, recebendo várias palmas e gritos em resposta. Devolvi o microfone e começamos a coreografia tão conhecida por nós. As garotas da cidade sempre se reuniam para ensaiar para as festas do BellBar, nós sempre nos tornávamos uma atração da noite.
Eu ia de um lado para o outro, liderando as outras meninas na coreografia. Nós sorríamos umas para as outras, dando o show que os moradores de Bellville tanto adoravam. Nós brincávamos com a letra da música, dançando entre nós com toda a energia.
Estava tão envolvida que havia esquecido que na segunda parte da música os homens entravam. E, como eu tinha muita sorte, já estava colocado à minha frente. Mesmo sorrindo, revirei os olhos para ele, que gargalhou. Idiota.
We don't need romance — we only wanna dance
We're gonna let our hair hang down
The best thing about being a woman
Is the prerogative to have a little fun and
Oh, oh, oh, go totally crazy — forget I'm a lady
Men's shirts — short skirts
Oh, oh, oh, really go wild — yeah, doin' it in style
Oh, oh, oh, get in the action — feel the attraction
Color my hair — do what I dare
Oh, oh, oh, I wanna be free — yeah, to feel the way I feel
Man! I feel like a woman!
Logo as mãos de já estavam na minha cintura, porém, como parte da coreografia, eu saía para dançar com as garotas. Eu ainda não acreditava que ele tinha vindo dançar justo comigo. Assim que ele se aproximou novamente, me girando e se posicionando atrás de mim, ele sussurrou:
— Aproveitando a noite, lindinha? — Ele me girou novamente, me virando de frente para ele.
— Estava. — Disse, apenas. Ele sorriu, quase me fazendo tropeçar.
— A culpa não é minha se o doutor não sabe dançar. — Ele disse em tom de ironia, eu apenas o ignorei. — Ok, só vamos dançar, ‘tá certo? — Eu arqueei uma sobrancelha em sua direção, como se duvidasse que ele fosse capaz de cumprir com o que disse.
Quando a música estava perto do fim, me puxou firme em sua direção, colando seu corpo no meu. Ele estava sério, seu olhar fixo no meu, como se estivesse lutando em uma guerra internamente. Prendi minha respiração, presa demais no momento.
Quando uma das meninas veio me cumprimentar pela apresentação, me afastei de rapidamente, que apenas balançou a cabeça e virou as costas, saindo do BellBar. Eu sorri para a garota, ainda perdida demais.
Caleb veio ao meu encontro, seu sorriso estava bem mais fraco do que antes.
— Não sabia que dançava tão bem. — Ele disse, mas eu podia ver que estava incomodado.
— Obrigada. — Falei, porém minha mente não estava mais ali.
— Eu pedi algo para gente comer. — Ele apontou para a mesa. Caleb colocou uma mão nas minhas costas, me guiando até a mesa. Eu respirei fundo, me esforçando ao máximo para esquecer o e o que quer que seja que ele estava fazendo.
Assim que sentamos, Caleb parecia inquieto.
— O que foi? — Perguntei, ainda que com medo de sua resposta.
— Você e o têm alguma coisa? — Ele perguntou, e não pude deixar de me ofender.
— Você realmente acha que se tivesse algo com ele, ou com qualquer pessoa, eu aceitaria sair com você? — Rebati, largando o garfo sobre o prato, o encarando. Ele suspirou.
— Eu sinto muito, mas... — Eu desviei o olhar para a porta, perdendo o apetite de repente. — . — Eu olhei para ele. — É que ele está sempre te cercando.
— Ainda assim, eu jamais teria aceitado o seu convite.
— Eu sei, me desculpe. Eu fui um idiota por perguntar.
— Foi mesmo. — Ele se assustou com a minha resposta. — O que foi agora? — Perguntei, estranhando o sorriso em seus lábios.
— Sua franqueza. — Eu dei de ombros, não iria mesmo amenizar para o lado dele.
— Por que você me convidou hoje? — Falei, de repente.
— Uau, essa foi direta. — Ele parou, por um instante achei que não fosse me responder. — Você é diferente. Gosto do seu jeito simples, da forma como trata seus avós e cuida deles, e da sua franqueza, claro. — Mordi o lábio, não esperando uma resposta assim. — Eu vou acertar a conta, já falei mais do que deveria essa noite. — Ele sorriu para mim e saiu. Eu recostei na cadeira, absorvendo suas palavras. O que estava acontecendo com os homens dessa cidade?
Caleb dirigiu em silêncio até a minha casa, eu também não fiz esforço para preencher o vazio. Assim que estacionou, eu tirei o cinto e virei em sua direção.
— Obrigada, eu me diverti muito hoje. — Falei. — Pelo menos a maior parte da noite. — Ele sorriu com resto da minha fala.
— Eu também. — Ele respirou fundo. — Sinto muito mesmo por ter sido um idiota, eu só me deixei levar pelas atitudes do . — Eu assenti, já me preparando para sair do carro. Abri a porta, mas senti Caleb segurando minha mão. Ele se aproximou de mim, como se fosse me beijar, porém eu me afastei. Ele logo se endireitou, entendendo que eu não estava no clima.
— Até outro dia, Caleb, boa noite. — Falei e saí do carro. Ele logo deu partida. Encarei seu carro virando na curva e segui em direção à casa.
— Nem um beijo de despedida, lindinha? — apareceu do nada.
— É sério, você precisa parar de me assustar assim. — Falei, me apoiando no corrimão da escada. — O que ‘tá fazendo aqui, ? — Perguntei, descendo o degrau que havia subido.
— Eu só queria ter certeza que chegaria bem. — Coloquei uma mão na cintura e olhei descrente em sua direção.
— Bom, cheguei bem. — Falei, quando ele não disse mais nada. — Boa noite, . — Virei as costas e estava prestar a subir o degrau novamente, quando senti sua mão segurar meu braço. Seu aperto não era firme, eu poderia me soltar a qualquer momento, mas seus olhos estavam fixos nos meus novamente, e eu não sabia como fazer com que meu corpo me obedecesse.
soltou meu braço e se aproximou. A cada passo que ele dava para frente, eu dava um para trás, até que senti uma parede atrás de mim. colocou uma mão apoiada ao lado da minha cabeça, fechando os olhos e respirando fundo, antes de olhar para mim novamente.
Eu sentia minha respiração fraca, meu coração batia tão acelerado que eu tinha certeza de que ele podia ouvir.
— . — sussurrou, como se precisasse de algo que apenas eu pudesse dar. Ele passou uma mão pelos seus cabelos, nervoso com toda a situação. — Você ainda vai me deixar louco. — Ele disse, me encarando com um fraco sorriso nos lábios.
— O que você quer de mim, ? — Disse bem baixo, mas, com nossa proximidade, eu sabia que ele tinha escutado. se aproximou ainda mais de mim, nossos rostos a poucos centímetros um do outro. A mão que antes estava apoiada na parede agora tirava uma mecha do meu cabelo dos meus olhos.
Eu não conseguia decifrar o que se passava nos olhos dele, só sabia que a espera estava me matando. desceu sua mão para o meu queixo, erguendo meu rosto suavemente em sua direção.
Ele iria me beijar.
Eu não sabia o que me apavorava mais: o fato dele estar prestes a me beijar, ou o fato de eu querer tanto esse beijo. soltou sua respiração próxima a mim, aproximando seu rosto do meu. Fechei meus olhos, em expectativa, completamente presa a ele.
Entretanto, assim como o calor do seu corpo me envolveu de repente, logo se foi. deu dois passos para trás, colocando distância entre nós.
— Ainda não, lindinha. — Ele disse, sério, e se virou, me deixando ali, vermelha de vergonha, me sentindo humilhada e rejeitada. Quando a constatação do que havia acabado de acontecer chegou, eu me afastei da parede e segui para a casa, não antes de olhar com o mais profundo desprezo.
— Eu odeio você, , você é um completo idiota. — Eu soltei uma risada nervosa, ainda não acreditando no quão burra eu havia sido caindo no jogo dele.
— Boa noite, lindinha, dorme bem e sonha comigo. — Eu precisei de todo o meu autocontrole para não voar em cima dele, estava com tanta raiva. Eu corri para a porta, me acompanhando com o olhar. Bati a porta da casa e subi correndo para o meu quarto, não sabendo se as minhas lágrimas eram de raiva ou...
Raiva. Com certeza de raiva.
— Bom dia, vó Jane! — Cumprimentei minha avó assim que cheguei à cozinha.
— Parece que alguém dormiu muito bem. Como foi seu encontro com o doutor? — Eu mal havia dormido, na verdade, e precisei de bastante tempo me encarando no espelho para ter certeza de que meus olhos não estavam vermelhos e meu rosto inchado de tanto chorar. Eu não daria esse gostinho ao .
— Foi ótimo, Caleb foi bastante gentil. — Se ignorarmos a parte na qual foi um idiota. Sentei-me, pegando um pedaço de broa e enchendo meu copo com leite.
— Minha filha, eu sei que suas mãos ainda estão machucadas, mas preciso que supervisione a colheita hoje. — Arqueei uma sobrancelha. Esse era o trabalho do .
— O que deu no hoje? Se divertiu demais ontem à noite que não pôde trabalhar? — Perguntei, debochada.
— Na verdade, ele foi até a cidade comprar algumas coisas que estavam faltando. Ele disse que não poderia esperar. — Minha avó deu de ombros, como se também não tivesse entendido essa viagem repentina à cidade.
— E ele disse quando volta? — Tentei soar desinteressada.
— Acho que em uns dois dias, ele vai ter que dormir por lá, você sabe como é uma viagem cansativa. — Eu apenas assenti. Metade de mim estava adorando não ter que olhar para cara dele depois de tudo que aconteceu, a outra metade... Bom, ela queria que ele viesse se ajoelhando em minha direção, me pedindo perdão por ter sido tão babaca na noite anterior.
Assim que terminei de comer, segui em direção ao estábulo. Um dos ajudantes da fazenda já havia preparado Meg para eu montar e ir supervisionar a área da plantação. Meg era o extremo oposto de Trovão. Ela era toda branca, bem tranquila e dócil, e dificilmente se assustava com alguma coisa.
— Como sabia que eu iria precisar sair a cavalo? — Perguntei, achando graça.
— deixou essas ordens antes de pegar estrada hoje bem cedo. — Meu sorriso logo fechou, e eu apenas agradeci, saindo em direção ao campo onde a colheita seria feita. Será que ele achou que eu sairia em Trovão? Eu não seria tão irresponsável, ainda mais com minhas mãos ainda machucadas. Os curativos e os remédios que Caleb havia passado estavam ajudando bastante, mas elas ainda doíam. Balancei a cabeça e me forcei a prestar apenas atenção no trabalho.
estava longe, e eu queria aproveitar cada momento disso.
Ao final da colheita, eu deixei Meg na sua baia e voltei para casa. Eu estava exausta. Subi para o meu quarto e tomei um longo banho, limpando toda a poeira acumulada em minha pele. Meu cabelo estava duro de tanta areia nele.
Vesti um pijama confortável e deitei na cama, ligando a TV em um canal de músicas que eu adorava. Encarei o teto e suspirei. Por mais que eu tivesse conseguido não pensar no durante o dia, a lembrança da noite anterior vinha como um raio agora que eu não tinha com o que me ocupar.
Seu corpo tão próximo ao meu, suas palavras sussurradas como se ele dependesse de mim para respirar.
— Você é uma idiota, . — Disse para mim mesma e logo desliguei a TV, levantando e descendo para a sala. Se desse sorte, vovó ainda estaria acordada e poderíamos conversar um pouco. Quando cheguei ao andar de baixo, todas as luzes estavam apagadas. Peguei uma coberta que estava sobre um dos sofás e segui para a entrada da casa, sentando na escada e me cobrindo. O céu estava estrelado, o que me permitia enxergar a entrada da fazenda. Um riso nervoso saiu dos meus lábios, não era possível que eu estava mesmo imaginando entrando pela porteira.
O vento gelado fez com que eu me encolhesse ainda mais sob a coberta, encarando a paisagem ao meu redor. Minha mente me traiu novamente assim que meus olhos caíram na parede na qual me prendeu na noite anterior. Por que era tão difícil resistir a nós dois?
Balancei a cabeça e logo levantei, dizendo para mim mesma para parar de ser boba porque jamais existiria um nós.
— Vó, estou indo ensaiar com as garotas, volto mais tarde! — Eu estava feliz por ter conseguido passar os dias sem pensar no . Pensando melhor, ele tinha me feito o maior dos favores em ter viajado e me dado espaço. Eu me sentia preparada para voltar a lidar com ele.
— Calma, menina, me deixa olhar suas mãos. — Voltei até onde minha avó estava.
— Já estão ótimas! — Falei, com uma certa pressa por estar um pouco atrasada.
— E os curativos?
— Caleb disse para eu tirar depois de dois dias, alguma coisa sobre as feridas respirarem. — Dei de ombros, apenas repetindo o que ele havia falado.
— Tudo bem, dirija com cuidado.
— Sempre! — Dei um beijo em sua bochecha e saí correndo.
Estacionei em frente ao estúdio onde ensaiávamos e desci apressada do carro.
— ! — Virei e dei de cara com Caleb saindo do mercadinho ao lado.
— Ei. — Disse, meio sem graça.
— Suas mãos parecem melhores. — Ele observou.
— Sim, estão bem melhores, quase não sinto mais dor.
— Que ótimo! — Ele passou uma mão nervosamente pelo cabelo, um silêncio desconfortável entre a gente.
— Eu realmente preciso subir, as meninas vão querer me matar porque já estou atrasada. Depois a gente se fala, Caleb. — Sorri em sua direção, querendo, de certa forma, garantir que tudo ficaria bem.
— Claro, não quero te atrasar mais. A gente se fala depois. — Ele logo virou as costas e eu subi correndo para o ensaio.
Assim que passei as porteiras da fazenda, senti meu coração acelerar.
estava de volta.
Respirei fundo e continuei agindo animada pelo ensaio. Estacionei ao lado do seu carro e entrei, apreensiva, na casa. Colocando um pé atrás do outro e esticando o pescoço a cada cômodo, me permiti relaxar quando cheguei à cozinha sem sinais do .
— Ele já comeu e saiu para resolver umas coisas na fazenda, não precisa ficar procurando-o. — Vô Ben disse, sentado à mesa. Eu apenas dei um beijo em sua bochecha.
— Onde está vó Jane? — Perguntei, estranhando sua ausência no café da tarde.
— Ela estava um pouco cansada e resolveu deitar. Ela está bem, só cansada. — Meu avô acrescentou ao ver minha feição preocupada. Suspirei aliviada e me sentei, pegando um pão e um pouco de leite. — Como foi seu ensaio?
— Foi ótimo! Nós começamos uma coreografia de uma nova música, estamos muito animadas! — Disse, empolgada. — O que o senhor quer realmente me falar? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção. Eu sempre sabia quando ele estava me escondendo algo. Vô Ben riu, apoiando os cotovelos sobre a mesa antes de começar a falar.
— O é um bom rapaz, você sabe. — Revirei meus olhos. — Não faça essa cara. — Eu continuei comendo, não gostando do rumo da conversa. — Você poderia pegar mais leve com ele.
— Ele que implica comigo o tempo todo, por que eu que preciso ouvir sermão sobre isso? — Perguntei, irritada por sempre sair como a errada da situação. Ele sorriu, mesmo que eu não entendesse onde estava a graça da situação.
— Só pensa no que eu te pedi com carinho, ok? — Vô Ben levantou, deu um beijo no topo da minha cabeça e saiu. Eu apenas bufei, não acreditando naquela conversa sem sentido.
Terminei de comer, guardei todas as coisas, lavei a louça e subi. Já estava tudo escuro lá fora, e a maioria dos empregados da fazenda já havia finalizado seu trabalho pelo dia.
Tomei um banho rápido, ainda nervosa da conversa com vô Ben. Será que o havia reclamado com ele? Será que depois de tudo o que aconteceu, ele resolveu reclamar com meu avô?
Deixei o pijama que eu havia separado de lado e peguei a primeira roupa que vi pela frente. Desci as escadas pisando forte; eu precisava encontrar o .
Assim que verifiquei que ele não estava na casa, segui em direção ao estábulo. Também estava vazio. Olhei para todos os lados e notei que a luz do galpão estava acesa. Marchei confiante, mas travei assim que cheguei até a porta.
estava sem camisa, empilhando sacos e mais sacos de ração para os animais da fazenda. Eu podia ver o suor escorrendo pelas suas costas musculosas, a gota descendo por todo o caminho desde a sua nuca até se perder dentro da sua calça jeans surrada.
Fechei os olhos com força, tentando controlar o ritmo do meu coração. Dei um passo na direção de , sentindo minha confiança indo embora a cada segundo que passava. O que eu tinha ido fazer mesmo?
Tropecei em uma caixa que estava no chão e praguejei alto, chamando a atenção de . Ele apenas me olhou de relance, continuando seu trabalho. A cada passo que eu me aproximava, mais claramente podia ver todos os músculos do seu corpo trabalhando, em cada saco de ração que ele colocava sobre os ombros e guardava no lugar certo.
Estava quente ali. Muito quente.
Ouvi um barulho de porta batendo, e me virei a tempo de ver a porta do galpão fechando com tudo atrás de mim. Ignorei, ainda que um sinal de alerta estivesse piscando sobre mim.
Parei atrás do , com os braços cruzados na altura do peito, usando toda a minha força para encarar qualquer outro lugar menos ele.
— O que foi, lindinha? — Bufei, esse apelido idiota de novo.
— O que você andou falando com meu avô, ? — Perguntei, ácida. apenas riu, continuando o que estava fazendo, o que em breve se tornaria um problema se eu quisesse manter o mínimo de lógica no meu raciocínio.
— A gente só conversou um pouco depois que eu cheguei da cidade. — Ele deu de ombros, limpando o suor que escorria pelo seu rosto. se virou para mim e meu olhar logo desceu para seu abdômen. — Perdeu alguma coisa aqui embaixo, lindinha? — Ele perguntou, logo me fazendo lembrar da noite do BellBar. Pigarreei e voltei minha atenção para o seu rosto, o que me ajudava em nada, para ser sincera.
— Quer saber? Não dá para conversar com você! — Joguei os braços para o alto, perdendo o pouco de paciência que eu tinha.
— E o que foi que eu fiz dessa vez? — Ele perguntou, cruzando os braços. Meu olhar me traiu novamente, seus braços se tornando interessantes demais para a minha sanidade. — E então? — Ele perguntou quando não o respondi.
— Então o quê? — gargalhou, percebendo o quanto eu estava afetada pela sua presença. — Tchau, ! — Disse e dei as costas, marchando para a porta do galpão.
— Não adianta, lindinha, estamos presos aqui. — disse, rindo ainda mais.
— O QUÊ? — Gritei. Aquilo só podia ser brincadeira.
— As travas daqui foram trocadas hoje, só abre por fora ou com a chave, que está lá fora. — Ele deu de ombros, virando as costas e voltando a mexer com os sacos de ração.
Não, não, não, isso tinha que ser mentira dele.
Assim que alcancei tranca, percebi que havia dito a verdade. Nós estávamos realmente presos ali. Já estava de noite e todo mundo devia ter ido embora. Encarei a caixa que chutei sem querer e agora tudo fazia sentido, ela que estava impedindo a porta de fechar com o vento. Ótimo.
— Como que você está tão calmo? Nós estamos trancados aqui! — Disse, exasperada. largou o que estava fazendo novamente e veio andando em minha direção. Fui dando passos para trás até parar em uma enorme pilha de feno. De novo não.
— Temos comida, água e dá para dormir em cima do feno. Não é das piores situações. — Ele disse, próximo demais de mim. — O que foi, lindinha? Está com medo de passar a noite aqui comigo? Eu não mordo. — Minha respiração estava rápida demais, deixando claro meu completo desespero. — Quer dizer, só se você quiser. — Ele piscou para mim e saiu, me deixando mais uma vez perdida no meio da situação. Sem pensar, fui atrás dele e o puxei pelo braço.
— O que você quer de mim, ? É sério! Você precisa decidir o que você quer porque eu não aguento mais essa situação! — Soltei seu braço assim que seu olhar recaiu sobre mim, intenso demais, fazendo com que eu desse um passo para trás.
— Você me pergunta muito isso. — Ele levou uma mão ao queixo, como se estivesse pensando no assunto. — O que eu quero? — Era a vez dele de perder a compostura. Suas mãos corriam pelos seus cabelos, nervoso. — Eu quero você, mas parece que você é a única nesse planeta que não percebe isso! — já estava à minha frente, suas duas mãos apoiadas no feno atrás de mim, uma de cada lado da minha cabeça. — Eu quero você, mas você não facilita em nada a minha vida. — Seu rosto estava a centímetros do meu, sua respiração se misturando com a minha, me deixando ainda mais nervosa.
— O quê... Do que você tá falando, ? Isso não é hora para brincadeira. — Sussurrei, sem acreditar no que ele estava falando. Ele soltou uma risada forçada, como se não acreditasse no que eu havia acabado de perguntar.
— Você realmente acha que eu estou brincando? — Seu rosto estava sério novamente.
— Você virou as costas para mim. — Eu disse, desviando o olhar.
— Se eu tivesse te beijado ali, você iria jogar isso na minha cara para sempre! — Quando eu iria rebater, ele apenas me encarou, como se me desafiasse. Ele se aproximou ainda mais de mim, seu corpo quase colando no meu. — Eu não vou beijar você, . — Arregalei meus olhos, surpresa com suas palavras. Desviei o olhar mais uma vez, o sentimento de rejeição me atingindo com força. Senti colocar um dedo sob meu queixo, me fazendo olhar para ele.
— Então que merda você ‘tá fazendo me segurando aqui desse jeito? — Perguntei quando ele nada disse.
— Você pode sair quando quiser, e sabe disso muito bem. Eu nem estou encostando em você. — O que era uma pena, meu subconsciente gritou. Eu sabia que ele estava falando a verdade, mas ainda recusava a me render assim.
— Então eu ainda não entendi o que você ‘tá planejando, porque deixou bem claro que não vai me beijar, mas que me quer, e ainda assim não se afastou de mim. — Encarei-o. Se livra dessa, .
— E você quer muito que eu te beije, certo? — Seu sorriso de canto estava estampado em seus lábios. Eu queria. Queria muito, porém não iria admitir, então revirei os olhos, como se ele estivesse falando uma besteira muito grande. — Eu não vou beijar você, , isso vai ter que ser decisão sua. — Ele completou antes que eu falasse qualquer coisa. Seu rosto estava sério, de repente, seus músculos estavam tensos, como se estivesse usando todo o seu autocontrole para cumprir o que havia acabado de dizer.
— O que você quer dizer com isso? — Sussurrei, ouvindo minha voz falhar no final. se aproximou mais. Se eu apenas mexesse a cabeça, nossos lábios se encostariam.
— Que aqui é o mais perto que eu vou chegar de você, lindinha. O poder está todo nas suas mãos. Eu não vou beijar você para depois você usar essa desculpa para se afastar de mim, vai ser escolha sua. — também sussurrou, causando arrepios por todo o meu corpo. Eu fechei os olhos com força, perdida demais na intensidade do seu olhar em mim, do seu corpo tão próximo. E o fato dele estar sem camisa só piorava toda a situação. — Olha para mim. — pediu. Não havia traços de humor em sua feição. Eu abri os olhos devagar, minha cabeça com pensamentos a mil. — Você está pensando demais. — advertiu.
— É claro que eu estou, sua fama te precede. — Rebati. Foi a vez de ele fechar os olhos e respirar fundo. Quando ele voltou a me encarar, seu olhar parecia causar chamas por todo o meu corpo, o calor quase insuportável. Senti arrepios pelo meu corpo novamente, e eu não sabia o que fazer com toda a enxurrada de emoções.
— ... — disse bem baixinho.
— Ah, dane-se. — Falei antes que ele continuasse e joguei meus braços sobre seus ombros, grudando nossos lábios. Logo passou seus braços pela minha cintura e nossos corpos estavam colados um ao outro. Cruzei minhas pernas ao redor de sua cintura, trazendo-o ainda mais para mim.
apoiou uma das duas mãos nas minhas costas e uma na minha coxa, fazendo com que eu apertasse minhas pernas ao seu redor. Minhas mãos brincavam com seus cabelos, e logo desci minhas unhas curtas em sua nuca, fazendo-o gemer.
Suas duas mãos desceram e se apoiaram em minha bunda, sustentando todo o meu corpo e não permitindo que espaço algum fosse colocado entre nós. apoiou minhas costas na pilha de feno, forçando seu corpo contra mim e fazendo com que arrepios de puro prazer percorressem por todo o meu corpo.
Separei nossas bocas, buscando ar, e ouvi reclamar, mas logo seus lábios estavam em meu pescoço, descendo seus beijos por meu ombro e subindo novamente, mordendo o lóbulo da minha orelha. Eu podia sentir sua respiração pesada sobre minha pele, o que só dificultava ainda mais minha própria respiração.
Desci minhas mãos pelas suas costas, algo que minha mente imaginava desde que eu o havia visto aqui no galpão. apoiou a testa no meu ombro, respirando fundo. Eu podia sentir sua excitação sob sua calça, e minha cabeça não conseguia processar o que exatamente a gente estava fazendo.
Quando fiz o caminho inverso com minhas mãos, voltando para sua nuca e o puxando para mim, puxou minha blusa para fora do short, colocando sua mão na base das minhas costas. O calor das suas mãos na minha pele fez com que uma nova onda de calor percorresse pelo meu corpo, me deixando ainda mais exasperada e querendo mais e mais dele.
nos afastou da pilha de feno e me carregou mais para o fundo do galpão. Quando ele estava prestes a me deitar sobre uma pilha mais baixa, ouvimos o barulho da fechadura da porta. Arregalei meus olhos, como se tivesse acordado de um transe, e encarei , que respirava com dificuldade. Ele me deitou sobre o feno e apoiou parte do seu peso sobre mim, mas agora eu estava nervosa demais, sem saber o que fazer. Toda a certeza e convicção de minutos atrás se esvaindo a cada segundo que passava.
— ? — Um dos capatazes da fazenda gritou.
— Aqui. — respondeu, nem um pouco feliz. Hesitante, ele saiu de cima de mim, ajeitando sua calça da melhor maneira que podia.
— Ei, cara, sua sorte que vi a luz acesa quando estava saindo, ou teria que passar a noite aqui. — Eu não o via e estava bem escondida de possíveis olhares curiosos. Rapidamente eu me sentei, tomando cuidado para não fazer barulho algum. A última coisa que eu queria era que soubessem que eu estava aqui com o , trancados. Levei minhas duas mãos ao meu rosto e o cobri. O que eu tinha acabado de fazer?
— Já está arrependida? — A voz de estava próxima demais de mim, sua feição séria. Não havia um traço de humor em sua voz. Eu não ergui minha cabeça, olhar para ele não me permitiria pensar com clareza. Senti que ele sentou ao meu lado, mas sem encostar em mim. Suspirei.
Eu não estava arrependida, mas a possibilidade do que faríamos caso o capataz não tivesse nos interrompido me apavorava. Acredito que perder sua virgindade, sobre o feno, presa em um galpão, não fosse a melhor das maneiras.
— Não é arrependimento. — Eu sussurrei, e seu suspiro ao meu lado deixou claro que ele havia me escutado.
— Você pensa demais. — disse, calmo. Era quase como se ele entendesse meu dilema. Senti sua mão tocar a minha, me assustando. Deixei que ele pegasse minha mão e o encarei, não entendendo onde ele queria chegar. Nós ficamos em silêncio, de mãos dadas. Uma parte de mim sentia que não poderia ter coisa mais certa do que nós dois ali, mas a outra parte...
— Acho melhor eu voltar para o meu quarto. — suspirou e soltou minha mão. — A gente se fala amanhã, , boa noite. — Levantei e saí do galpão, e ele não disse uma palavra.
Na manhã seguinte, meu rosto estava péssimo. Eu mal tinha dormido, as olheiras sob meus olhos estavam tão escuras, que eu me assustei com meu próprio reflexo. Desci para o café da manhã e, assim que coloquei os pés no primeiro piso, ouvi a voz de .
Senti meu coração acelerar, o que me fez sentir ainda mais idiota por ter saído daquela forma.
— Bom dia. — Falei assim que entrei na cozinha, dando um beijo em vó Jane e no vô Ben.
— Você dormiu, minha filha? — Minha avó perguntou, e logo meu olhar caiu sobre o , que parecia que tinha o dormido o sono dos deuses. Estava lindo como sempre.
— Não muito. E a senhora? Ontem foi deitar tão cedo que eu nem vi! — Desconversei.
— Só estava cansada, não precisa se preocupar. — Eu apenas assenti, sentando no banco vazio justo ao lado do . Ele sempre me recebia com piadinhas, mas ele apenas me acompanhava com o olhar, sem dizer uma palavra.
Meus avós começaram alguma conversa com , e eu apenas me concentrei em comer. Imagens da noite anterior invadiram minha mente com tudo. Eu ainda podia sentir suas mãos me apertando em lugares que vovó ficaria horrorizada se soubesse.
— ?
— Oi! — Respondi, assustada. — Desculpe, vô, o que disse? — estava com seu sorriso de canto nos lábios, o filho da mãe sabia exatamente o que causava em mim.
— Você precisa ir acompanhar a colheita hoje também, vai te encontrar lá mais tarde. Eu preciso que passe para ele todas as informações de ontem. — Eu apenas assenti, não confiando na minha voz. Ficar sozinha com o no meio do campo não estava nos meus planos mais imediatos.
— Melhor eu ir então. — Levantei rapidamente, aquela cozinha estava começando a me sufocar.
— Eu te acompanho até o estábulo. — levantou também. Ele não estava facilitando minha vida. — Já volto, Ben. — Saímos da cozinha, estava atrás de mim, próximo demais para a minha sanidade. Assim que deixamos a casa, já sozinhos, me puxou pelo braço e me colocou colada na parede.
— Sério? É algum fetiche seu me ver encostada na parede? — Revirei os olhos. riu alto.
— Acho que gosto mais do feno. — Ele sorriu de lado. ergueu uma de suas mãos até meu rosto, seus dedos passando levemente sob meus olhos. — Não conseguiu dormir, lindinha?
— Você vai continuar me chamando de lindinha? — Rebati com outra pergunta.
— Vou. — deu de ombros. — Você é linda, e te irritar acaba sendo um bônus. — Encostei minha cabeça na parede atrás de mim, querendo socar aquele rosto lindo dele. — E você não me respondeu.
— Acho que é só olhar para mim que terá sua resposta. — Disse sarcasticamente.
— Ficou pensando em mim? — Ele se aproximou, sussurrando, com o rosto a centímetros do meu.
— Você precisa parar de ser tão convencido, , de verdade. — Ele ainda sorria.
— Não consegue resistir, pode dizer. — Eu apenas ri.
— Bom, você que me seguiu e agora está aqui me perturbando.
— A gente poderia estar fazendo coisas mais interessantes, mas você não para de falar. — falou e revirou os olhos. Eu estava tão surpresa com suas palavras, que nem consegui responder. — O que foi, lindinha? Perdeu a fala? — Ele se aproximou ainda mais, seu corpo eliminando a distância do meu a cada palavra.
— Eu vou me arrepender muito disso depois. — Suspirei. arqueou uma sobrancelha na minha direção.
— Se arrepender... — Eu o beijei, interrompendo-o.
— Chega de falar, . — Disse com os lábios colados nos dele.
— Seu desejo é uma ordem. — Suas mãos estavam rapidamente em minha cintura, juntando nossos corpos e me beijando como se sua vida dependesse disso. O beijo era ainda mais urgente do que o da noite anterior, suas mãos me apertavam com força, e não consegui conter um gemido baixo, fazendo com que risse.
Eu puxei seus cabelos, afastando minimamente seu rosto do meu e mordendo levemente seu lábio inferior. Um som gutural saiu de sua garganta, e foi a minha vez de sorrir.
desceu suas mãos para a minha bunda, me dando impulso para cruzar as pernas ao seu redor e tirar nossa diferença de altura. Ele subiu uma de suas mãos por dentro da minha blusa e eu suspirei, sentindo um calor tão intenso que precisei cortar o beijo para conseguir respirar direito.
— ? Onde você está? Ben disse que veio para o estábulo. Trouxe o documento que pediu. — Era o mesmo capataz de ontem.
— Eu juro, por tudo o que é mais sagrado, que eu vou demitir esse cara. — falou entredentes, me colocando no chão e se afastando um pouco de mim. Ele respirava com dificuldade, e eu sabia que não estava muito diferente. — Já vou, estou terminando de examinar um cavalo. — Eu sorri debochada em sua direção. — Também posso falar que a gente estava se agarrando, se preferir. — Ele rebateu, com um péssimo humor.
— Eu vou preparar a Meg. — segurou meu braço quando eu fiz menção de sair.
— Nossa conversa ainda não terminou.
— Que conversa? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção.
— Exatamente. — Ele disse, apenas, e saiu, indo ao encontro do capataz. Soltei meu corpo sobre a parede, sentindo minhas pernas fracas. Respirei fundo e segui até a baia de Meg, tentando descobrir como é que eu conseguiria resistir a esse homem.
Já havia escurecido quando estava voltando para a fazenda. não havia aparecido para me ajudar a supervisionar a colheita, e eu não sabia o que me irritava mais: o fato dele não ter aparecido ou de eu ter ficado o dia todo olhando sobre meus ombros, procurando qualquer sinal dele. Juro que essas brigas internas estavam acabando comigo.
Assim que avistei a casa, notei um carro diferente estacionado.
Era Caleb.
Logo senti minha respiração falhar, não porque ele estava ali, mas porque poderia ter acontecido alguma coisa com meus avós. Ou com o .
Entreguei Meg à primeira pessoa que vi e entrei correndo em casa, encontrando ninguém. Subi as escadas de dois em dois degraus, sentindo o desespero se apossar de mim. A luz do quarto dos meus avós estava acesa e senti meu coração apertar. O medo era tão intenso, eu não conseguia me recordar de uma dor tão forte.
Abri a porta e encontrei minha avó deitada na cama, pálida. Meu avô estava sentado ao lado dela, em uma cadeira. Caleb a estava examinando. Eu podia ver seu peito subindo e descendo lentamente, e um pouco de sanidade retornou a mim.
foi o primeiro a me ver, mas, assim que ele me alcançou, eu afastei seus braços de mim, indo em direção à cama.
— O que... O que está acontecendo aqui? — Perguntei da maneira mais confiante que consegui.
— Sua avó caiu da escada. Não foi de muito alto, mas ela bateu a cabeça e está com uma leve concussão. — Minha respiração era pesada, e meu único instinto era ir até ela, abraçá-la e chorar, implorando para ela ficar bem. Controlei minhas emoções, respirando fundo antes de me aproximar.
— Ela vai ficar bem. — Caleb disse quando acabou de examiná-la. — Mas ela precisa de repouso, e seria interessante se o quarto de vocês fosse movido lá para baixo. — Ele sugeriu, olhando para o meu avô.
— Eu já comecei os preparativos para mudança, amanhã já vai estar tudo arrumado. — falou, em um tom sério. Eu não conseguia prestar atenção nos homens ao meu redor, meu único foco de atenção era minha avó. Eu, enfim, me aproximei dela, tomando cuidado ao chegar perto da cama. Eu sabia que estava suja de areia e não queria só piorar tudo. Então apenas me contentei em olhá-la, querendo ter certeza de que tudo ficaria bem.
Caleb fez menção de ir embora, e eu o segui. Quando já estávamos na frente da fazenda, ele se virou.
— Ela vai ficar bem, mas gostaria que ela fosse até o consultório fazer alguns exames. — Eu franzi o cenho, não entendendo o motivo de ele estar falando isso apenas para mim. — Não quis dizer nada na frente do seu avô, ele já estava abalado o suficiente. — Eu assenti, a preocupação retornando com força total. — Ei. — Caleb se aproximou, colocando uma mão sobre meu braço. — É só procedimento de rotina, ela bateu a cabeça e preciso verificar.
— Mas você disse que ela vai ficar bem. — Sussurrei, sentindo as lágrimas começarem a se formar nos meus olhos.
— Aparentemente está tudo bem com ela, não tem nenhum indício que tenha sido algo mais sério, mas seu avô disse que ela tem se sentido muito cansada ultimamente, então custa nada verificar, certo? — Ele tentou me acalmar. Senti que ele deu um passo para trás, e logo sua mão deixou meu braço. Quando ergui minha cabeça em sua direção, notei que havia se aproximado.
— Mais alguma coisa, doutor? — Eles se encaravam, sérios.
— Preciso que levem Jane amanhã ao consultório, quero fazer alguns exames. — desviou o olhar em minha direção e assentiu para Caleb. A tensão era grande.
— Obrigada, Caleb. — Dei um passo à frente, me colocando entre os dois.
— Espero vocês amanhã. — Ele disse calmo, seu olhar indo de mim para o diversas vezes. Eu suspirei. Encarei , como se pedisse silenciosamente que ele ficasse ali, e acompanhei Caleb até o carro. Eu podia sentir seu olhar me queimando.
— Obrigada mais uma vez, eu a levarei amanhã. — Agradeci novamente, já na porta do seu carro e longe o suficiente para que não nos escutasse.
— Parece que você e o se acertaram. — Seu tom não era acusatório.
— É complicado. — Falei, não sabendo bem como explicar. — Quando nós saímos...
— Eu sei, nada tinha acontecido entre vocês. Eu sei. — Ele me interrompeu, me assegurando. — A forma como ele sempre olhou para você... — Ele suspirou. — Enfim, eu pelo menos tentei.
— Eu gosto muito de você, Caleb, mas não dessa forma. — Falei, não sabendo como escolher as palavras.
— Tudo bem, eu também não ajudei muito. Acho que eu mesmo estraguei boa parte das minhas chances. — Ele sorriu, dando de ombros. — É melhor eu ir antes que o venha aqui e me mate. — Ele indicou sobre os ombros, o olhar dele estava nada bom. Eu sorri.
— Tchau, Caleb.
— Até amanhã.
Caleb saiu com o carro e veio em minha direção. Sua feição era séria, seus braços cruzados sob seu peito. Assim que eu o olhei, senti todo o medo com relação à saúde da minha avó tomar conta de mim. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e logo passou os braços ao meu redor.
Larguei-me em seu abraço, aceitando todo o conforto que ele estava me oferecendo. E então eu chorei. não disse uma palavra, apenas me abraçou apertado, beijando o topo da minha cabeça. Eu podia sentir sua camisa molhada sob mim, mas ele não parecia nem um pouco incomodado.
Quando as lágrimas cessaram e eu já estava um pouco mais sob controle, se afastou minimamente de mim para me encarar.
— Ela é forte, vai ficar tudo bem. — Ele sorriu para mim, mas eu sabia que ele também estava preocupado. Apenas assenti e voltei a abraçá-lo, escondendo meu rosto em seu peito.
— Eu estou com tanto medo. — Falei bem baixinho.
— É normal ter medo, mas eu estou aqui, vou cuidar de você, lindinha. — Eu sorri do seu apelido idiota. Suspirei e me afastei dele.
— Eu preciso entrar. — revirou os olhos.
— Por quanto tempo mais você vai ficar resistindo, ?
— E as outras, ? — Eu odiava parecer tão não confiante, porém como ignorar todo um passado e acreditar que o cara que já teve todas agora queria apenas uma? colocou ambas as mãos ao lado do meu rosto, me encarando.
— Eu só quero você, , como você ainda não conseguiu enxergar isso? — Eu fechei os olhos com força, não sabendo como lidar com o misto de emoções dentro de mim.
— Eu não vou ser mais um furinho no seu cinto. — Sussurrei, revelando um medo há muito tempo guardado. — Gostar de mulheres é diferente de sair com todas elas. Nós não somos um tipo de prêmio para ser expostas por aí. — Disse, com a voz mais forte.
— Se é isso o que pensa de mim, por que começamos tudo isso? — Ele se afastou.
— E você acha que eu não lutei contra? Eu tentei resistir, , mas já passei da fase de me condenar por sentir algo que eu não tenho controle, ok? — Falei, abrindo os braços, exasperada.
— Não importa o que eu fale ou faça, você nunca acredita em mim! O que você espera de mim, ? Eu não tenho como apagar o que eu já fiz, e nem se eu pudesse, faria, porque faz parte de quem eu sou hoje. — Ele respirou fundo e se aproximou de mim novamente. — Sim, minha fama de conquistador é enorme, mas tudo com você é... — Ele já estava bem próximo a mim.
— É o quê? — Pedi.
— É mais, sempre mais. — Seus lábios estavam sobre os meus assim que as palavras saíram da sua boca. Era a primeira vez que ele me beijava, e o desespero do seu toque era tão intenso, como se ele precisasse me provar tudo o que ele havia acabado de dizer. encostou sua testa na minha, nossa respiração acelerada. — Não vou desistir de você, lindinha. — Ele se afastou, tirando uma mecha do meu cabelo do meu rosto. me deu um leve beijo na bochecha. — Melhor a gente entrar, já está tarde. — Ele estendeu a mão em minha direção e, automaticamente, eu a peguei. O que achei que seria estranho, na verdade, pareceu apenas... certo.
A semana seguinte foi tranquila. e eu levamos vó Jane ao consultório de Caleb para fazer os exames, e acabou que era nada mais grave. Eu estava bem mais tranquila e, aos poucos, as coisas na fazenda foram voltando ao normal.
havia feito todo um mistério a semana toda, dizendo que tinha uma surpresa para mim. Nós tínhamos conversado bastante, cavalgado pela fazenda, resolvendo algumas coisas juntos. Eu sabia que meus avós já estavam desconfiados, mas nada falavam.
estava diferente. Ele continuava me provocando, seu apelido idiota continuava me tirando do sério, ainda que, no fundo, eu já estivesse me acostumando. Sua companhia de insuportável passou a ser quase difícil de ficar sem. Mas só quase.
Quando já estava quase chegando ao cercado onde treinávamos os cavalos, avistei montado em Trovão. Ainda que eu adorasse aquele cavalo, não poderia deixar de sentir um certo receio de ver sobre ele.
— Você está atrasada, lindinha. O moço aqui já estava ficando impaciente. — Apenas revirei os olhos e me aproximei.
— Eu não posso montar, mas você pode? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção. sorriu e veio até onde eu estava. Ele estendeu uma mão para mim, e eu o encarei, em dúvida.
— Anda, lindinha, sei que você quer.
— Idiota. — Falei, mas logo me rendi, pegando sua mão e subindo em Trovão, ficando na frente de .
— E então? — Ele perguntou enquanto Trovão seguia obedientemente em outra direção.
— Então o quê? — Perguntei, fazendo um carinho no cavalo.
— O que achou da surpresa? — Ele parecia quase tímido.
— Você andou o treinando? — Tentei encarar , mas ele apertou seus braços ao meu redor, não permitindo que eu me virasse.
— Antes que um desastre acontecesse, sim. — Ele parecia nervoso, ansioso pela minha reação.
— Que horas você estava fazendo isso? — Eu ainda não estava acreditando.
— Eu percebi que Trovão gosta mais de sair à noite, então eu o treinei depois que todo mundo já tinha ido embora. — Senti-o dar de ombros. Nós estávamos próximos demais, entretanto todos que passavam por nós apenas nos ignoravam.
— Obrigada. — Eu o olhei, encarando um sorriso tímido em seu rosto. — De verdade.
— Ainda preciso treinar com ele mais algumas vezes, mas os riscos de ele atacar são bem menores agora, acho que ele já se acostumou com a gente. — ainda não olhava para mim. Eu me virei e apoiei minhas costas em seu peito. Nós cavalgamos em silêncio, Trovão seguindo todos os comandos do , sem sinal algum de nervosismo. Vi, de relance, meus avós nos encarando na janela, e logo aprumei meu corpo, me afastando do .
— Então isso significa que já posso levar Trovão para passear? — Quebrei o silêncio.
— Não, mas pode vir com ele para cá. — Virei novamente para ao ouvir seu tom sério.
— O que foi? — Eu estava surpresa com sua mudança repentina de humor.
— Não gosto quando se afasta de mim porque alguém pode estar olhando. — Ele apontou para a janela em que meus avós estavam.
— ...
— O que acha da gente ir ao BellBar hoje à noite? — Ele me interrompeu. Eu o encarei, assustada.
— Na frente de todo mundo? — Ele revirou os olhos.
— Não, vou fechar o bar só para gente. — Ele estava impaciente. Eu sorri, porque logo notei que ele estava nervoso.
— Você está me chamando para um encontro, ? Sério, essa não é a maneira mais gentil. — Impliquei, sentindo um pouco da sua tensão se esvair.
— O que posso fazer se não sou todo educadinho que nem seu amigo médico. — Ele frisou a palavra amigo, o que apenas me fez rir ainda mais. — E então? — Ele quis saber.
— Tudo bem. Espera. — Eu me virei para ele novamente. — Você armou isso tudo só para me chamar para sair? — O sorriso no rosto do estava voltando, aquele mesmo sorriso de canto que me fazia querer matá-lo.
— Agora você já disse sim, lindinha, não tem mais como voltar atrás. — nos levou para a entrada do cercado, logo descendo e me tirando de cima do Trovão.
— Você não joga limpo, ! — Eu queria parecer irritada, mas estava falhando miseravelmente.
— Nunca disse que jogaria, lindinha. Eu te encontro lá às 20h. Preciso resolver umas coisas da fazenda antes. — Assim que terminou de falar, me deu um beijo rápido na bochecha e saiu com Trovão, levando-o para a baia. Quem era aquele e o que tinha feito com o ?
Às 20h15min eu estacionei a caminhonete na frente do BellBar. Era sexta-feira e parecia que toda a cidade estava ali. Encarei-me no espelho retrovisor, respirando fundo e dizendo que tudo iria ficar bem.
Assim que saí do carro, encontrei algumas meninas do grupo de dança também entrando no bar. Segui com elas, mas logo procurando por sobre a multidão. Nem sinal.
Sentei em uma mesa com as meninas, que estavam bastante animadas, tanto que nem perceberam que eu encarava a porta da entrada de cinco em cinco segundos. Eu iria matá-lo.
Foi então que senti uma mão tocar minhas costas, e logo o braço passar por minha cintura.
— Meninas. — cumprimentou, e elas nem fizeram questão de pelo menos fingirem que não estavam surpresas. — Oi, lindinha. — Ele sussurrou no meu ouvido. Dei uma cotovelada na barriga dele e acenei para as meninas, deixando a mesa delas.
— Você está atrasado. — Briguei. — E agora elas só vão falar dessa cena que você fez, ! — Ele apenas riu e se aproximou mais de mim.
— Você fica ainda mais bonitinha quando fica nervosa assim. — Ele passou os dedos levemente pelo meu rosto, se aproximando para me beijar. Virei o rosto no último segundo, o que fez rir ainda mais. — Vamos, separei uma mesa mais reservada para gente. — me pegou pela mão e seguimos sob olhares curiosos de todo mundo. — Você se preocupa demais com o que os outros pensam. — Ele disse assim que chegamos à mesa.
— Claro, ‘tá todo mundo olhando para a gente. — Sorri para um grupo de amigas que passavam por nós.
— Isso é porque você está ainda mais linda essa noite.
— Idiota. — Respondi, mas um sorriso teimava em querer aparecer em meu rosto.
— Só me chama de idiota e ainda reclama quando eu te chamo de lindinha. — Ele revirou os olhos, no entanto parecia verdadeiramente feliz. — Eu pedi algumas coisas para a gente comer, e pedi água para você, já que não bebe. — Sorri para ele, porque mesmo sendo algo tão pequeno, mostrava que ele prestava atenção. Quando o garçom colocou tudo na mesa, me encarou. — O que foi?
— Tô aqui na dúvida se é você mesmo ou se te trocaram por uma versão gentil. — Peguei uma batata frita e o encarei, inocente.
— Vou te mostrar o gentil, mas mais tarde. — Ele piscou em minha direção, o que me fez corar. Ignorei-o e nós começamos a comer. A todo o momento, alguém passava para nos cumprimentar. parecia tranquilo com as interrupções, principalmente das meninas, que só falavam que mal podiam esperar pelo próximo ensaio. Eu já estava pensando em uma desculpa para fugir do interrogatório.
— Eu vou ao banheiro. — estava em uma conversa com o capataz de uma fazenda vizinha e estava claramente querendo fugir dali. Por mais que muitas pessoas estivessem interrompendo o nosso encontro, eu estava feliz. Nós tínhamos mais em comum do que eu jamais poderia imaginar, e as pessoas pareciam felizes em nos ver juntos.
Quando retornei para a mesa, uma outra mulher estava sentada no meu lugar, e a postura tensa do apenas indicava que ele estava gostando nada daquilo. Em vez de me precipitar, andei devagar até a mesa, tentando evitar ser vista por ambos.
— Vamos lá, , você não vai me dizer que foi fisgado por ela?
— Eu realmente acho que você deveria sair antes que estrague tudo. — Eu conseguia reconhecer a mulher agora, era a mesma que tinha visto com no dia antes de treinar Trovão e machucar minhas mãos. Parecia que tinha sido há uma eternidade.
— Tudo bem, mas você sabe onde me encontrar. — pareceu relaxar um pouco quando ela fez menção de sair.
— Nós saímos uma vez, e eu sempre deixei bem claro que não seria mais do que isso. — estava sério. Tomei uma dose de coragem e segui para a mesa, passando um braço ao redor da cintura dele.
— Demorei muito? — Perguntei baixinho. estava tenso sob minhas mãos. — Relaxa, . — Sussurrei em seu ouvido, querendo que ele entendesse que estava tudo bem.
— Bom, acho melhor eu ir. — A mulher disse e se retirou, nem ao menos olhou em sua direção. Ele logo virou para mim, me colocando em pé no meio das suas pernas.
— O quanto você ouviu? — Ele estava apreensivo.
— O suficiente. Não é sua culpa ser irresistível. — Eu falei, dando de ombros, porém logo me arrependendo assim que um sorriso lascivo apareceu em seus lábios.
— Então quer dizer que eu sou irresistível? — Ele me puxou ainda mais para ele, passando os braços pela minha cintura. Por um momento, todo o som havia sumido, parecia que estávamos apenas nós dois ali.
— Sabe, você não respondeu. — Falei quando seus lábios estavam perto demais do meu pescoço.
— O quê? — Ele parecia perdido.
— Se você foi fisgado por mim. — Ele me encarou, pensativo.
— Achei que estivesse óbvio. — disse e me beijou. Passei meus braços por sobre seus ombros, correspondendo ao beijo. Esse era diferente. Desde o dia que minha avó havia caído e nós tivemos aquela conversa, não tinha se aproximado de mim com esse objetivo. Esse beijo era mais tranquilo, mais carinhoso. separou nossos lábios e distribuiu vários beijos pelo meu rosto, me fazendo rir.
O barulho ao redor voltou com tudo, e só então caí em mim de que estávamos no meio do BellBar, com praticamente toda a cidade ali. Escondi meu rosto no seu peito, com medo de encarar as outras pessoas ao nosso redor.
Ouvi a música que indicava que era hora do nosso grupo dançar. me deu um beijo no topo da cabeça e me soltou, rindo da minha cara toda vermelha de vergonha.
— Vai lá, lindinha. — Revirei os olhos e cruzei o braço com uma das meninas do grupo, seguindo para o meio da pista.
Já no meio da coreografia, olhei para a mesa onde estava há poucos instantes, mas agora estava vazia. Estranhei, porém continuei até o final da música, ouvindo os aplausos de todo mundo. Uma nova música começou a tocar, e eu logo reconheci ser I Could Be The One do Billy Ray Cyrus. Algumas pessoas logo levantaram e vieram dançar. Um rapaz da cidade estendeu uma mão para mim, mas antes que eu pudesse fazer qualquer menção de pegar sua mão, apareceu ao seu lado, olhando feio para ele. Eu apenas ri quando ele passou os braços pela minha cintura.
— Não posso virar as costas nem por um segundo. — Eu logo o abracei, apoiando minha cabeça em seu peito.
— Eu adoro essa música. — Falei baixinho, para que só ele ouvisse.
— Eu sei, por isso pedi para que tocasse. — Ergui minha cabeça para encará-lo. Ele apenas deu de ombros.
I could be the one that's the one for you
I could be your one crazy dream come true
I could be the arms, I could be the heart
I could be the love that you could fall into
With somebody like you with me
Ain't no tellin' what i could be
'Cause you could be a star
You could even be the sun
And I could be the one
cantava bem baixinho, fazendo carinho em meu cabelo. Cada verso era como se ele estivesse cantando diretamente para mim, como se me falasse que ele poderia ser o cara certo, que eu só precisava parar de lutar contra.
Eu apertei ainda mais meus braços ao seu redor, pela primeira vez não me preocupando com as pessoas ao nosso redor, ou com o que poderiam pensar se eu o beijasse, mesmo que estivéssemos no meio do salão, sendo vistos por todos.
Eu afastei minha cabeça de seu peito e olhei para ele, que sorria.
— O que foi? — Ele parecia perdido demais no momento.
— Eu acredito que você possa ser o cara certo para mim. — Seu sorriso aumentou, e aproximou os lábios dos meus, mas sem encostar.
— A decisão é sempre sua, lindinha. — E, sem pensar, meus lábios já estavam sobre os seus, beijando-o sem medo de me entregar, cansada demais de lutar contra um sentimento que apenas crescia dentro de mim. — Cansou de resistir? — Ele perguntou, com os lábios ainda próximos demais aos meus. Eu suspirei.
— Acredite, eu tentei, mas não dá para resistir a nós dois, .
Senti a consciência retornando a mim. Logo um sorriso apareceu em meus lábios ao sentir uma mão fazendo carinho nas minhas costas.
— Você está me olhando dormir de novo, ? — Perguntei, ainda sem abrir os olhos. Ele riu, fazendo a cama tremer sob nós. Ele beijou o topo da minha cabeça, me puxando para cima dele. Apoiei meu braço sobre seu peito, ainda não querendo acordar.
— Você fica linda enquanto dorme. — Foi a minha vez de sorrir. Abri os olhos devagar, me espreguiçando.
— Ah, com certeza. Meu cabelo uma bagunça, a cara toda amarrotada. A beleza em pessoa. — Falei sarcasticamente.
— Ainda não aprendeu a lidar com elogio, lindinha? — Seu apelido já não parecia mais tão idiota, ou me incomodava. Eu apenas coloquei meu rosto no vão do seu pescoço, ainda parecia surreal demais que e eu estivéssemos namorando.
Olhei para a janela do meu quarto e notei que já havia amanhecido.
— . — Chamei-o, com um tom acusador. — Já amanheceu.
— Aham. — Ele respondeu enquanto uma de suas mãos ia descendo pelo meu corpo. Um barulho da cozinha me fez choramingar.
— Meus avós. — Ele riu.
— O que tem seus avós? — Ele só podia estar de brincadeira comigo.
— , eu tô falando sério. Como você pensa que vai sair daqui agora? — Eu o encarava, bem séria.
— Você pode dizer que não está se sentindo bem e a gente passa o dia inteiro na cama. — Ele sugeriu, como se não tivesse falha alguma no seu plano.
— Certo, e a sua ausência seria justificada como?
— Tô doente também? — Ele forçou uma tosse. Eu revirei os olhos e rolei na cama, deitando de costas e encarando o teto. — Não é como se eles não soubessem? — Ele não tinha muita certeza.
— Eles já desconfiam, , e você sabe muito bem que meu avô vai querer te matar. Uma coisa é desconfiar, outra é ter certeza. — Tampei meu rosto, sentindo o desespero tomar conta de mim.
— Seus avós me amam, tenho certeza de que vai ficar tudo bem. — Eu logo me levantei, sentando e o encarando, perplexa.
— Você realmente não está achando que nós vamos descer aquelas escadas juntos, não é? Porque isso não vai acontecer. — Eu falei bem séria para ele, mas seus olhos não estavam no meu rosto. Assim que percebi para onde ele estava olhando, eu logo puxei os lençóis por sobre meu peito. — ! — Eu queria gritar, mas não podia dar ainda mais bandeira.
— O que você disse? — Ele sorria de lado, e eu apenas queria estrangulá-lo.
— Idiota. — Ele logo me puxou, me colocando debaixo dele e me prendendo na cama.
— Nós estamos namorando há meses, lindinha, não tem motivo para você se preocupar assim. — Eu revirei os olhos.
— , meus avós são de outra época, sexo só depois do casamento. Você ainda não lembra da conversa que meu avô teve com você? Se eu me lembro bem, você ficou quase uma semana sem se aproximar de mim quando ele estava perto. — Desafiei-o a negar.
— Mas já passou muito tempo desde aquele dia, ok? Agora tudo tá diferente.
— É mesmo? E o que mudou, exatamente? — Encarei-o com a feição neutra, esperando sua resposta.
— Certo. Estamos só no segundo andar, eu dou um jeito de descer pela janela. — Eu sorri para ele.
— Foi o que eu imaginei. — Tudo ficaria bem. começou a descer beijos do meu rosto para o meu pescoço, nossas respirações desreguladas. Eu podia sentir arrepios por todo lugar onde suas mãos passavam. Rolei pela cama e o coloquei sob mim, beijando-o e arranhando seu peito levemente. Distraídos demais, quase me derrubou da cama quando ouvimos duas batidas na porta. Encarei , assustada.
— Minha filha, já está acordada? — Eu olhei para , fazendo sinal para ele ficar quieto.
— Sim, vó. — Bocejei audivelmente antes de responder.
— Ótimo, o café já está na mesa. — Ela disse, tranquila.
— Vou só escovar os dentes e estou descendo! — Falei, com a voz sonolenta. Eu esperava do fundo do meu coração que ela tivesse caído nessa encenação. Quando ouvi seus passos se afastando da porta, soltei minha respiração.
— Te esperamos lá embaixo também, , Ben quer conversar com você! Não demorem. — Sua voz soava mais distante, mas a ouvimos claramente. Logo tampei meu rosto, morrendo de vergonha. começou a rir descontroladamente.
— Seu avô vai me matar! — Eu comecei a rir junto com ele, ainda que tivéssemos motivo algum para estar rindo.
— Anda, melhor a gente descer logo. — Eu joguei os lençóis para o lado e saí catando minhas roupas pelo chão. Nós estávamos muito ferrados.
— Acho que vou pular a janela. — falava enquanto vestia a calça. Seu rosto mais sério.
— Bom, eu não queria dizer, mas eu avisei que era para ir embora antes de amanhecer. — Dei de ombros, entrando no banheiro para tentar arrumar meu cabelo. logo entrou no cômodo, atrás de mim, pegando sua escova no armário. Era uma cena que havia se tornado tão comum nos últimos meses, mas que ainda me fazia sorrir.
Assim que saímos pela porta, parecia mais calmo, quase como se tivesse criado o plano perfeito. Eu o encarei, esperando que ele falasse alguma coisa, mas ele parecia confiante enquanto descíamos as escadas, de mãos dadas, exatamente a cena que eu havia dito que não aconteceria poucos minutos atrás.
Quando estávamos na metade da escada, eu não aguentei.
— Você tem algum plano? — Perguntei bem baixinho, já que estávamos perto dos meus avós. apenas balançou a cabeça. — Fala logo, ! — O nervosismo já tinha tomado conta de mim.
— Simples, vou te pedir em casamento. — Ele deu de ombros. Eu empaquei no meio da sala, sem acreditar no que ele havia acabado de falar.
— O que... O que você disse? — Gaguejei. Eu estava de boca aberta, completamente surpresa. Até que minha ficha caiu. — Você armou tudo isso que nem quando fez com o Trovão para me chamar para sair pela primeira vez? — Eu coloquei uma mão na cintura, não acreditando que tinha caído na dele de novo.
Nós já estávamos quase na cozinha quando parou e se virou para mim.
— Você vai dizer sim, certo? — Ele estava nervoso. Eu apenas sorri debochada na sua direção.
— Vai ter que pagar para ver, . — Desafiei-o. Seu sorriso de canto tão característico estava estampado nos seus lábios. Eu revirei os olhos, entrando na cozinha atrás dele.
Ele sabia que eu diria sim, porque, assim como ele não conseguia resistir a mim, eu também já havia perdido essa luta há muito tempo.
Não tive muita escolha, na verdade. Meus pais me deixaram na fazenda dos meus avós quando eu tinha doze anos para saírem percorrendo pelo mundo, ajudando a quem precisava. Eu tinha uma caixa com os postais deles guardados em algum canto do guarda-roupa, mas estaria mentindo se falasse que sofria com a ausência deles. Eu era nova e meus avós sempre estiveram lá para mim.
O grande problema é que morar em uma cidade tão pequena não me garantia acesso a uma educação mais avançada, ter concluído o ensino médio já estava de bom tamanho. Não precisava de nenhum cálculo avançado para conseguir ajudar a administrar a fazenda.
Ben e Jane, meus avós, tinham uma propriedade relativamente grande, com alguns funcionários para ajudarem nas plantações e com os animais. Confesso que a parte administrativa eu deixava mais com vovô, afinal, qual a graça de morar em uma fazenda e trabalhar dentro de um escritório, fazendo contas sem fim?
Morar ali era bastante tranquilo. A cidade tinha apenas uma igreja, localizada bem no centro, e com um sino tão grande e cheio de detalhes, que acabou dando o nome à cidade. Nós não tínhamos um grande centro comercial, nem noites agitadas, com artistas famosos, mas nunca faltou o essencial, e nunca vi alguém reclamando das festas no BellBar, o único estabelecimento onde as pessoas iam para dançar e se divertir.
Tudo era bem calmo, exceto quando o assunto era .
E, infelizmente, ele trabalhava na fazenda dos meus avós, porque a vida... A vida é engraçada.
— , eu preciso que você vá até o mercado, a lista está em cima da mesa. — Revirei os olhos, voltando para a cozinha e tendo que mudar meus planos sobre trabalhar com os cavalos. — Eu já disse para deixar os treinamentos com o . — Minha avó disse quando percebeu meu humor.
— Como se ele tivesse tempo para isso. — Revirei os olhos novamente, pegando a lista e as chaves da velha caminhonete. Saí apressada, calculando cerca de quarenta e cinco minutos para ir e voltar e, enfim, começar a trabalhar com Trovão. Meus avós estavam nada felizes com o cavalo que resgatei de uns viajantes que passaram pela cidade há pouco mais de um mês.
“Esse cavalo é extremamente arredio, você vai se machucar, ou pior, morrer”, vó Jane dizia, com as mãos no peito e um drama digno de Oscar. Vô Ben não gostava muito da ideia, então sempre estava me vigiando, ou pior, colocava o para ficar de olho. Eu verdadeiramente odiava aquele cara.
Extremamente arrogante e superficial, eu tinha que juntar todas as minhas forças para não voar no pescoço dele. Eu não conseguia aguentar suas piadinhas e cantadas baratas, porque todas as garotas da cidade no currículo não eram o suficiente para ele. Tinha que admitir que ele era bonito. Ok, ele era bem lindo mesmo, com quase 1,90m de altura, músculos tonificados graças ao trabalho pesado na fazenda e uma pele bronzeada pelo trabalho ao ar livre. O kit completo daqueles caras do interior que vemos nos filmes.
Isso ainda não mudava o fato de que eu o odiava, mas meus avós o adoravam, então sempre saía como a implicante da situação, o que só me faz o odiar ainda mais.
Já de volta à fazenda e depois de guardar as compras, segui sem hesitar para a baia de Trovão.
— Oi, garoto. — Ofereci uma maçã para ele, que logo veio em minha direção e a pegou. Abri sua baia calmamente, coloquei a cela nele e segui para a área onde fazíamos o treinamento dos cavalos.
Andei com Trovão ao meu lado, olhando em todas as direções para garantir que estava bem longe. Acenei para vovô, que tinha seus olhos preocupados sobre mim e o cavalo. Assim que entrei no cercado, montei Trovão e, devagar, comecei a trotar com ele, em círculos. Ele estava calmo e obedecendo meus comandos, sem sinal de raiva ou que iria empinar. Acelerei os passos, fazendo movimentos em sentidos diferentes, ganhando um pouco mais de velocidade. Eu adorava cavalgar pelas áreas da propriedade e não via a hora de Trovão se acostumar melhor comigo para poder percorrer cada canto das terras com ele.
Já pronta para encerrar os treinos do dia e seguindo para a entrada do cercado, pude ouvir tiros não muito longe, e isso foi o bastante para toda a calma de Trovão ir pelos ares. Agarrei-me a ele o mais forte que pude, juntando todas as minhas forças para me manter sobre ele e não ser lançada longe.
— Calma, garoto, ninguém vai te machucar. — Eu falava baixo em seu ouvido, mas ele parecia possuído e só empinava. — Droga, droga, droga. — Eu praguejava, já sentido minhas mãos serem cortadas pelo esforço de segurar as rédeas.
— Meu Deus do céu, ela vai cair! — Ouvi minha avó choramingar enquanto meu avô tentava acalmá-la. Eles sabiam que de nada adiantaria eles entrarem no cercado, o único jeito era eu tentar me manter sobre o Trovão e fazer o possível para acalmá-lo.
— Eu tô bem, daqui a pouco ele acalma. — Gritei para eles, minha avó já com lágrimas nos olhos. Voltei minha atenção para Trovão, que ainda empinava e relinchava, assustado. Respirei fundo e me abaixei sobre ele. — Calma, Trovão, vai ficar tudo bem, calma. — Eu podia sentir um pouco de sangue escorrendo pelas minhas mãos devido ao meu esforço, mas ele já estava um pouco mais calmo. Avistei parado ao lado dos meus avós, com o rosto sério. Ignorei-o e segui acalmando Trovão, até que enfim ele parou e pude recuperar o total controle sobre ele. Dei algumas voltas com ele e acenei para meus avós, indicando que já estava tudo sob controle. Eles logo entraram na casa, mas não tirava os olhos de mim.
— Me dá as rédeas. — Ele disse, grosso, assim que desci do cavalo.
— Eu posso muito bem levá-lo de volta para a baia. — Falei, tentando pegar as rédeas de volta.
— Suas mãos estão sangrando. — Ele revirou os olhos, irritado com a situação. — Eu disse que treinaria com ele, seus avós falaram para não treinar os cavalos, especialmente esse aqui. — Ele colocou Trovão na baia e lhe deu alguns grãos. Eu apenas fiz um carinho rápido e saí, não querendo prolongar a conversa. — Você não vai me falar o que tinha na cabeça de pegar o Trovão sem ninguém por perto? — Ele segurou meu braço e me virou de frente para ele.
— Me solta. — Puxei meu braço com força, mas ele logo pegou minhas mãos de volta, olhando com atenção para os machucados. — Não é nada.
— Você vai ver o nada quando precisar pegar qualquer coisa. — passava os dedos delicadamente pelas minhas mãos e eu juntei todo o meu autocontrole para não fazer uma besteira. Assim que levantou o rosto e me encarou, seu sorrisinho de canto estava ali. — Até quando você vai negar? — Ele perguntou, subindo seus dedos pelos meus pulsos. Um sinal de alerta piscava na minha mente.
— Negar o quê? — Disse com o máximo de indiferença que consegui colocar na voz. Quando seus dedos já estavam quase em meus ombros, eu me afastei, impondo uma distância maior entre nós.
— Essa... — Ele deu um passo em minha direção. — Essa atração entre a gente. — Seu corpo já estava a poucos centímetros de mim. Minha respiração estava pesada, e só piorava com a forma como seu olhar percorria cada parte do meu rosto. Eu podia sentir a tensão emanando dele, fazendo com que meu coração acelerasse e eu precisasse me forçar a manter os olhos bem abertos, e não fechá-los para sentir ainda mais sua fragrância amadeirada tão característica.
— Você só pode estar ficando maluco, . — Eu dei mais um passo para trás enquanto ele dava um para frente. — O que você pensa que está fazendo se aproximando desse jeito?
— Você não vai me dizer porque pegou o Trovão para treinar? — Ele sussurrou, seus dedos roçando nos meus. Eu logo retirei a mão e endireitei o corpo, olhando seriamente para ele.
— Simples, você parecia muito ocupado ontem, e Trovão precisa ser treinado. — O sorriso dele aumentou.
— Está com ciúmes? — Ele se aproximou novamente, olhando bem fundo nos meus olhos. A única coisa que entregava que ele não estava tão imune a mim era sua respiração, em um compasso perfeito com a minha, ambas aceleradas demais. — Você sabe que a... — Ele olhou para o céu, como se tentasse lembrar o nome. Eu soltei uma risada forçada, não acreditando que nem o nome da mulher que ele estava ontem ele sabia.
— A única coisa que eu sei, , é que Trovão precisava ser treinado e eu estava disponível. — sorriu ainda mais e minha vontade de arrancar aquele sorriso do rosto dele só aumentava.
— Você sabe que não precisa ter ciúmes de mim, lindinha. — E o apelido idiota que ele sempre usava para me provocar foi o bastante para me tirar do sério.
— Me erra, . — Bufei e dei um passo para trás, para voltar para casa. Só que o cocho, no qual os cavalos bebem água, estava bem atrás de mim, e eu tropecei e caí sentada, jogando água para todo lado. Gritei de ódio, enquanto estava com as mãos nos joelhos e chorava de tanto rir.
— Ai, meu Deus, eu tinha que ter filmado a sua cara. — Ele limpou uma lágrima dos seus olhos e continuou rindo de mim.
— Você é um idiota! — Vociferei para ele, que apenas riu mais. estendeu uma mão para me ajudar a levantar, mas eu o ignorei, apoiando minhas mãos na beirada do cocho para levantar sozinha. Assim que meu grito de dor saiu, graças às mãos machucadas, parou de rir e veio me ajudar. Quando já estava de pé, me afastei dele o mais rapidamente possível. Agora não só as mãos estavam machucadas, mas o orgulho estava tão ferido quanto.
Entrei pisando forte em casa, molhando tudo por onde passava.
— Eu vou matar o , eu tenho certeza de que ele tinha visto e fez tudo de propósito! — Eu falava alto comigo mesma e queria me bater por ter caído na provocação barata dele. Segui para o meu quarto e tomei um longo banho, sentindo as mãos arderem com o sabonete, com o xampu, com o condicionador, até o ar estava fazendo com que minhas mãos doessem. Maldito, !
Peguei a primeira camisa branca lisa que encontrei pela frente, coloquei um short jeans e calcei minha bota de cano curto. Sequei o cabelo, ainda brava pela cena de mais cedo. Assim que desci, vovó estava colocando uma broa sobre a mesa, e eu logo levei a mão para pegar um pedaço.
— Ai, vó, eu tô com fome. — Fiz manha quando ela bateu em minhas mãos e não me deixou comer.
— Está quente, vai te dar dor de barriga. — Ela encarou minhas mãos, seu rosto assumindo uma feição séria. — Acho melhor ir até o doutor para ele fazer um curativo. — Encarei os cortes nas minhas mãos. Estavam vermelhas e um pouco de sangue ainda saíam delas. — Nem adianta dizer que não precisa, anda. — Ela encerrou a discussão.
— Certo, certo. Quando voltar vou poder comer, pelo menos? — Perguntei, tentada a pegar um pedaço e sair correndo.
— Só se sobrar, lindinha. — Bufei ao ouvir entrando na cozinha.
— Já disse para não me chamar assim. — Ele foi até a minha avó e beijou sua bochecha, fazendo-a abrir um sorriso de orelha a orelha. Revirei os olhos, não acreditando na cara de pau dele.
— Você vai aonde, posso saber?
— Não te interessa, , e se eu voltar e não tiver broa, eu vou acabar com você. — Disse, ameaçadoramente.
— Não me iluda assim, porque eu vou cobrar, lindinha. — Ele falou, com as mãos sobre o coração. Apenas respirei fundo e peguei as chaves do carro sobre a mesa, não conseguindo evitar uma careta.
— Vamos, eu te levo. — disse, pegando as chaves das minhas mãos.
— Obrigada, meu filho. — Vó Jane se antecipou, não me deixando negar. Respirei fundo mais uma vez, porque entrar no carro com , sozinha, não estava em meus planos.
— Você não precisa me levar, sou perfeitamente capaz de ir dirigindo até lá. — Falei, quando já estávamos em frente à caminhonete.
— Você vai morrer se deixar alguém fazer alguma coisa por você, lindinha?
— Por que você me odeia tanto? — Perguntei, batendo a porta do carro assim que entrei. — Me tirar do sério é algum tipo de hobby seu? — tinha aquele sorriso de canto insuportável estampado em seus lábios.
— Eu não odeio você, lindi... . — Ele revirou os olhos. — Mas é muito fácil irritar você, é mais forte do que eu. — Ele deu de ombros, como se estivesse falando algo extremamente óbvio. Eu apenas encarei a janela, decidida a ignorá-lo. ligou o rádio e logo identifiquei Bless The Broken Road do Rascal Flatts.
Apoiei minha cabeça no encosto do banco e comecei a cantar baixinho, não querendo dar mais material para o usar contra mim. Quando a música já estava perto do fim, percebi que já estávamos em frente ao consultório. Desci do carro, sem encarar .
— Você canta direitinho, lindinha. — Ele implicou, mas segui o ignorando.
— Oi, Rose, Caleb está ocupado? — Estendi minhas mãos em sua direção, que me olhou assustada. — Parece pior do que realmente é. — Falei, com um sorriso no rosto.
— Acho que isso sou eu que tenho que dizer, não? — Ele apareceu atrás de mim, sorrindo em minha direção, me fazendo suspirar descaradamente. Notei revirando os olhos e fez gestos de que iria vomitar quando olhei feio para ele.
— Oi, Caleb, como está? — arqueou uma sobrancelha em minha direção. — O que foi?
— Ah, o tom irritado é só para mim, entendi. — Ele sorriu debochado para mim.
— Quantos anos você tem, , dez?
— Vou guardar essa resposta para mais tarde. — Ele disse e piscou. Idiota.
— Você machucou bem feio. O que aconteceu? — Caleb perguntou.
— Eu...
— A louca foi treinar um cavalo que todo mundo disse para não treinar, ele assustou e ela teve que se segurar para não cair. — se intrometeu. Qual o problema dele?
— Eu posso falar, obrigada. — Disse, incomodada. — Foi nada de mais, ele está exagerando.
— Suas mãos mostram claramente o quanto eu estou exagerando. — Ele arqueou uma sobrancelha, me desafiando a contradizê-lo.
— Por que você não fica aqui enquanto Caleb examina minhas mãos na sala dele? — Falei, mas já estava praticamente dentro da sala, com o médico logo atrás de mim. fechou a cara, e eu sorri triunfante.
— Ele só está preocupado, você sabe. — Caleb disse assim que estávamos sozinhos em seu consultório.
— é muito intrometido, ele tem o dom de me irritar, é só isso. — Falei, tímida, de repente. Ele analisava minhas mãos delicadamente, movimentando meus dedos e os pulsos.
— Os cortes não estão profundos, mas vou ter que limpar bem e fazer um curativo. — Ele logo começou a trabalhar. — Isso pode arder um pouco. — Controlei o grito quando ele despejou um líquido nas minhas mãos.
— Um pouco é bondade sua. — Disse, entredentes. Estava doendo. Muito. Ele sorriu, mas dessa vez consegui controlar o suspiro.
Caleb estava na cidade havia poucos meses, veio assumir o consultório do avô, que decidiu que as vistas não estavam mais tão boas para continuar trabalhando. Ele era jovem, no máximo 28 anos, apenas cinco a mais do que eu. E ele era lindo, mas muito reservado. Desde que chegou à cidade, ele apenas trabalhava e cuidava dos avós. Poucas vezes o vi no BellBar, e nunca acompanhado.
— Prontinho. Você vai precisar trocar o curativo duas vezes por dia, nos próximos dois dias. Você tem tudo em casa? — Assenti, encarando as faixas nas minhas mãos. Flexionei os dedos, percebendo que conseguiria me virar muito bem, já que ele não havia imobilizado minhas mãos.
— Obrigada. — Disse e mordi os lábios, envergonhada. Qual era o meu problema?
Caleb abriu a porta e me deu passagem.
Avistei sentado, impaciente, na recepção.
— . — Caleb começou a falar. — Uhm... Você vai ao BellBar hoje? Ouvi dizer que vai ter uma banda ao vivo. — Arregalei os olhos, surpresa com a sua pergunta.
— Duvido muito que vovó me deixe dirigir com as mãos assim, ainda mais à noite. — Disse, desolada, porque eu tinha quase certeza de que ele estava me convidando. Certo?
— Eu posso te buscar, se você quiser, claro. — Ele levou uma das mãos aos cabelos, claramente nervoso. — A gente... Bem, a gente podia ir... Uhm... Juntos.
— Tipo um encontro? — Perguntei sem pensar, logo me arrependendo. Ele corou, e eu tinha certeza de que não estava tão diferente. Caleb sorriu em minha direção.
— É. — Sorri para ele, mas não conseguia olhar em seus olhos.
— Já acabaram? — Encarei o teto. Por que tinha que estragar tudo? Ele estava ao nosso lado, olhando de um para o outro, com um olhar desconfiado.
— Já estou indo, . — Esperei que ele saísse, mas seus pés pareciam grudados no chão. Bufei e voltei a olhar para Caleb. — Às 20h? — Perguntei, notando a cara de descrença do .
— Estarei lá.
— Certo. Até mais tarde. — Eu não sabia como me despedir, ainda mais sob o olhar pesado de sobre mim, então apenas acenei, acertando a consulta com Rose.
Já de volta no carro, não havia dito uma palavra sequer. Deu partida e seguimos de volta para a fazenda. Nenhum comentário, nenhuma piadinha. Apenas encostei a cabeça no banco e fechei os olhos, apreciando esse momento de paz e já pensando com que roupa eu iria ao BellBar.
— Engraçado... — Ele começou. Lá se vai minha paz. — Não vai me perguntar o que é engraçado? — Eu permaneci de olhos fechados, sem respondê-lo. — Sério mesmo que vai sair com aquele médico engomadinho? — Prendi o riso, não acreditando no que estava falando.
— O que foi, ? Está com ciúmes? — Perguntei, sorrindo docemente em sua direção. Ele soltou uma risada nervosa.
— Eu? EU? Com ciúmes? — Ele ria, mas suas mãos estavam tensas sobre o volante. — Isso é ainda mais engraçado que o fato de você sair com aquele...
— Com o Caleb. Ainda não entendi a graça, para ser sincera. — Dei de ombros e encarei minhas unhas, com um falso interesse. logo estacionou a caminhonete na fazenda e desceu do carro, com um péssimo humor. — O que te deu, ? Eu hein. — Revirei os olhos e segui em direção à casa.
— Demoraram, está tudo bem com suas mãos? — Vovó perguntou, olhando o curativo.
— Sua neta e aquele médico lá que ficaram de conversinha. — pegou um enorme pedaço de broa e colocou quase tudo na boca. Peguei um pedaço também antes que o nervosinho comesse tudo.
— Quer um pouco de café para ajudar descer a broa, meu filho? — Vó Jane estava claramente assustada com a pressa que ele devorava o pedaço em sua mão.
— Não precisa. — Ele disse, engolindo. — Sabia que eles vão ter um encontro hoje? — Vovó logo se virou em minha direção, sorrindo.
— Mas que ótimo! O doutor é ótimo, o avô dele só fala o quanto ele é atencioso e de como assumiu a clínica para ele. — pegou outro pedaço, parecia ainda mais irritado. — E ele é bem bonito, não é? — fez um barulho de contradição com a boca, e eu apenas ri para vovó.
— Ele foi muito gentil. — Disse, sem graça.
— Eu preciso ir. Tchau, Jane. — saiu sem nem me olhar.
— O que foi que deu nele? — Perguntei, mas vovó apenas sorriu, balançando a cabeça.
Às 20h em ponto eu escutei uma buzina. Desci correndo do meu quarto, controlando minha respiração antes de abrir a porta. Meus avós já estavam dormindo há um bom tempo, então apenas tranquei a porta e saí, avistando Caleb encostado do lado de fora do carro.
Sorri em sua direção, de repente tímida pela situação. Eu havia passado uma boa parte da tarde pensando no que vestir. Até decidir pelo vestido tomara que caia preto com flores rosa, uma jaqueta jeans comprida e botas sem salto, meu quarto estava impossível de atravessar de um lado a outro.
— Olá. — Caleb me deu um beijo na bochecha quando me aproximei. — Você está linda. — Ele disse, assim que se afastou.
— Obrigada. — Ele abriu a porta do carro para mim e, assim que eu entrei, logo deu a volta para entrar no lado do motorista.
— Eu vi bastante gente indo para o BellBar no caminho, não sabia que a noite ficava tão movimentada. — Eu sorri para ele.
— Eu te vi poucas vezes por lá, mas como é o único lugar da cidade, todo mundo marca presença.
— Eu não sou muito de festas. — Ele parecia sem graça, então me segurei para não perguntar o motivo.
— Você vai gostar de lá, é bastante animado.
— Eu me sinto um pouco deslocado na cidade, acho que eles me veem muito como um forasteiro. — Diferente de mim e da maioria das pessoas de Bellville, Caleb não havia crescido ali. Segundo vovó, ele nasceu em uma cidade grande e sempre teve o sonho de ser médico, assim como o avô. Ele passava os verões na cidade, mas sempre no consultório, acompanhando a rotina dele.
— Tenho certeza de que é coisa da sua cabeça, todo mundo fala bem de você aqui na cidade, e são muito gratos por ter assumido o consultório do seu avô. — Ele sorriu, não muito convencido. — Talvez... — Eu hesitei. — Talvez o fato de ser uma das únicas pessoas que frequentaram uma universidade te distancie um pouco da nossa realidade. — Dei de ombros, porque não era algo que me incomodava.
— Talvez. Você conhece a banda que vai tocar? — Ele mudou de assunto.
— O nome não me é estranho, mas não tenho certeza.
Assim que chegamos, o barulho do BellBar já podia ser ouvido. Caleb parecia assustado.
— Vamos, ninguém aqui morde. — Brinquei com ele, que sorriu e seguiu atrás de mim. Cumprimentei várias pessoas no caminho até uma mesa vazia, mais perto do palco.
— Você parece ser bem popular por aqui. — Ele comentou próximo ao meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse.
— Eu gosto de música, então eu estou sempre aqui. — Respondi o mais tranquilamente possível, mas sentindo meu rosto ficar quente.
— Eu vou pegar algo para gente beber, o que você quer?
— Só uma água. — Caleb assentiu e saiu. Eu me sentei, olhando ao redor, notando vários rostos conhecidos e muitos curiosos por me ver na presença do tão reservado médico da cidade.
— Seu par já te deixou, lindinha? — Pulei da cadeira, assustada com a voz de no meu ouvido.
— Você quer me matar do coração, idiota? — Ele levou as mãos ao coração.
— Assim você me magoa, mas já está perdoada. — Revirei os olhos, buscando Caleb no meio da multidão. — Sabe, se fosse eu, jamais te deixaria sentada aqui sozinha. — Ele me encarou, logo descendo o olhar pela minha roupa.
— O que foi? Perdeu alguma coisa aqui embaixo? — Ele encarava minhas pernas, e eu precisei me controlar para não dar um tapa nele.
— Talvez. — Seu sorriso de lado já estava em seu rosto, o que só me irritou ainda mais.
— Seu mau humor parece que foi embora, não é mesmo? — Sorri debochada em sua direção, agradecendo aos céus por Caleb já estar a caminho. revirou os olhos, mas sem deixar de sorrir.
— Eu sou muito paciente, lindinha, é só uma questão de esperar o momento certo. — se aproximou de mim.
— , não sabia que também viria. — Eu logo me afastei, assustada com a voz de Caleb. Minha respiração estava acelerada, e eu desviei o olhar, não entendendo o que tinha acabado de dizer.
— Eu não perderia por nada. — Ele disse, piscando para mim e saindo, convidando a primeira mulher que viu pela frente para dançar. Idiota.
— O que ele queria? — Caleb perguntou, estendendo a água na minha direção.
— Só me encher, como sempre. — Dei de ombros, mas sem conseguir desviar os olhos do novo casal na pista de dança. Arrumem um quarto! Será que ninguém estava vendo aquela esfregação desnecessária além de mim?
— ? — Olhei para Caleb, perdida.
— Me desculpe. O que disse? — Perguntei, sem graça. Ele seguiu meu olhar até e sua acompanhante e voltou a olhar para mim.
— Eu sou um péssimo dançarino, mas você deveria se divertir. — Ele disse, sua feição estava diferente, menos animada.
— Eu estou me divertindo! — Disse, mas até eu percebi o quão forçada minha voz soou. — Me desculpe. tem esse poder de me tirar do sério, vamos só ignorar que ele está aqui. — Sugeri, fazendo com que Caleb sorrisse levemente.
— Parece um ótimo plano para mim.
Depois de alguns minutos de conversa, Caleb se soltou um pouco e me mostrou um lado dele que eu desconhecia completamente. Ele era divertido e parecia verdadeiramente estar feliz por estarmos ali.
De repente, a intro de “Man! I Feel Like A Woman!” da Shania Twain começou a tocar e todos os rapazes deixaram a pista de dança, como já era esperado.
— Vamos, , rápido! — Fui puxada pelo braço e levada para o meio da pista. Tive apenas tempo de sussurrar um sinto muito para Caleb, que parecia se divertir com a cena. Billy, o dono do BellBar, estendeu o microfone para mim. Eu apenas sorri, já entrando no clima.
— VAMOS LÁ, GAROTAS! — Gritei, recebendo várias palmas e gritos em resposta. Devolvi o microfone e começamos a coreografia tão conhecida por nós. As garotas da cidade sempre se reuniam para ensaiar para as festas do BellBar, nós sempre nos tornávamos uma atração da noite.
Eu ia de um lado para o outro, liderando as outras meninas na coreografia. Nós sorríamos umas para as outras, dando o show que os moradores de Bellville tanto adoravam. Nós brincávamos com a letra da música, dançando entre nós com toda a energia.
Estava tão envolvida que havia esquecido que na segunda parte da música os homens entravam. E, como eu tinha muita sorte, já estava colocado à minha frente. Mesmo sorrindo, revirei os olhos para ele, que gargalhou. Idiota.
We're gonna let our hair hang down
The best thing about being a woman
Is the prerogative to have a little fun and
Oh, oh, oh, go totally crazy — forget I'm a lady
Men's shirts — short skirts
Oh, oh, oh, really go wild — yeah, doin' it in style
Oh, oh, oh, get in the action — feel the attraction
Color my hair — do what I dare
Oh, oh, oh, I wanna be free — yeah, to feel the way I feel
Man! I feel like a woman!
Logo as mãos de já estavam na minha cintura, porém, como parte da coreografia, eu saía para dançar com as garotas. Eu ainda não acreditava que ele tinha vindo dançar justo comigo. Assim que ele se aproximou novamente, me girando e se posicionando atrás de mim, ele sussurrou:
— Aproveitando a noite, lindinha? — Ele me girou novamente, me virando de frente para ele.
— Estava. — Disse, apenas. Ele sorriu, quase me fazendo tropeçar.
— A culpa não é minha se o doutor não sabe dançar. — Ele disse em tom de ironia, eu apenas o ignorei. — Ok, só vamos dançar, ‘tá certo? — Eu arqueei uma sobrancelha em sua direção, como se duvidasse que ele fosse capaz de cumprir com o que disse.
Quando a música estava perto do fim, me puxou firme em sua direção, colando seu corpo no meu. Ele estava sério, seu olhar fixo no meu, como se estivesse lutando em uma guerra internamente. Prendi minha respiração, presa demais no momento.
Quando uma das meninas veio me cumprimentar pela apresentação, me afastei de rapidamente, que apenas balançou a cabeça e virou as costas, saindo do BellBar. Eu sorri para a garota, ainda perdida demais.
Caleb veio ao meu encontro, seu sorriso estava bem mais fraco do que antes.
— Não sabia que dançava tão bem. — Ele disse, mas eu podia ver que estava incomodado.
— Obrigada. — Falei, porém minha mente não estava mais ali.
— Eu pedi algo para gente comer. — Ele apontou para a mesa. Caleb colocou uma mão nas minhas costas, me guiando até a mesa. Eu respirei fundo, me esforçando ao máximo para esquecer o e o que quer que seja que ele estava fazendo.
Assim que sentamos, Caleb parecia inquieto.
— O que foi? — Perguntei, ainda que com medo de sua resposta.
— Você e o têm alguma coisa? — Ele perguntou, e não pude deixar de me ofender.
— Você realmente acha que se tivesse algo com ele, ou com qualquer pessoa, eu aceitaria sair com você? — Rebati, largando o garfo sobre o prato, o encarando. Ele suspirou.
— Eu sinto muito, mas... — Eu desviei o olhar para a porta, perdendo o apetite de repente. — . — Eu olhei para ele. — É que ele está sempre te cercando.
— Ainda assim, eu jamais teria aceitado o seu convite.
— Eu sei, me desculpe. Eu fui um idiota por perguntar.
— Foi mesmo. — Ele se assustou com a minha resposta. — O que foi agora? — Perguntei, estranhando o sorriso em seus lábios.
— Sua franqueza. — Eu dei de ombros, não iria mesmo amenizar para o lado dele.
— Por que você me convidou hoje? — Falei, de repente.
— Uau, essa foi direta. — Ele parou, por um instante achei que não fosse me responder. — Você é diferente. Gosto do seu jeito simples, da forma como trata seus avós e cuida deles, e da sua franqueza, claro. — Mordi o lábio, não esperando uma resposta assim. — Eu vou acertar a conta, já falei mais do que deveria essa noite. — Ele sorriu para mim e saiu. Eu recostei na cadeira, absorvendo suas palavras. O que estava acontecendo com os homens dessa cidade?
Caleb dirigiu em silêncio até a minha casa, eu também não fiz esforço para preencher o vazio. Assim que estacionou, eu tirei o cinto e virei em sua direção.
— Obrigada, eu me diverti muito hoje. — Falei. — Pelo menos a maior parte da noite. — Ele sorriu com resto da minha fala.
— Eu também. — Ele respirou fundo. — Sinto muito mesmo por ter sido um idiota, eu só me deixei levar pelas atitudes do . — Eu assenti, já me preparando para sair do carro. Abri a porta, mas senti Caleb segurando minha mão. Ele se aproximou de mim, como se fosse me beijar, porém eu me afastei. Ele logo se endireitou, entendendo que eu não estava no clima.
— Até outro dia, Caleb, boa noite. — Falei e saí do carro. Ele logo deu partida. Encarei seu carro virando na curva e segui em direção à casa.
— Nem um beijo de despedida, lindinha? — apareceu do nada.
— É sério, você precisa parar de me assustar assim. — Falei, me apoiando no corrimão da escada. — O que ‘tá fazendo aqui, ? — Perguntei, descendo o degrau que havia subido.
— Eu só queria ter certeza que chegaria bem. — Coloquei uma mão na cintura e olhei descrente em sua direção.
— Bom, cheguei bem. — Falei, quando ele não disse mais nada. — Boa noite, . — Virei as costas e estava prestar a subir o degrau novamente, quando senti sua mão segurar meu braço. Seu aperto não era firme, eu poderia me soltar a qualquer momento, mas seus olhos estavam fixos nos meus novamente, e eu não sabia como fazer com que meu corpo me obedecesse.
soltou meu braço e se aproximou. A cada passo que ele dava para frente, eu dava um para trás, até que senti uma parede atrás de mim. colocou uma mão apoiada ao lado da minha cabeça, fechando os olhos e respirando fundo, antes de olhar para mim novamente.
Eu sentia minha respiração fraca, meu coração batia tão acelerado que eu tinha certeza de que ele podia ouvir.
— . — sussurrou, como se precisasse de algo que apenas eu pudesse dar. Ele passou uma mão pelos seus cabelos, nervoso com toda a situação. — Você ainda vai me deixar louco. — Ele disse, me encarando com um fraco sorriso nos lábios.
— O que você quer de mim, ? — Disse bem baixo, mas, com nossa proximidade, eu sabia que ele tinha escutado. se aproximou ainda mais de mim, nossos rostos a poucos centímetros um do outro. A mão que antes estava apoiada na parede agora tirava uma mecha do meu cabelo dos meus olhos.
Eu não conseguia decifrar o que se passava nos olhos dele, só sabia que a espera estava me matando. desceu sua mão para o meu queixo, erguendo meu rosto suavemente em sua direção.
Ele iria me beijar.
Eu não sabia o que me apavorava mais: o fato dele estar prestes a me beijar, ou o fato de eu querer tanto esse beijo. soltou sua respiração próxima a mim, aproximando seu rosto do meu. Fechei meus olhos, em expectativa, completamente presa a ele.
Entretanto, assim como o calor do seu corpo me envolveu de repente, logo se foi. deu dois passos para trás, colocando distância entre nós.
— Ainda não, lindinha. — Ele disse, sério, e se virou, me deixando ali, vermelha de vergonha, me sentindo humilhada e rejeitada. Quando a constatação do que havia acabado de acontecer chegou, eu me afastei da parede e segui para a casa, não antes de olhar com o mais profundo desprezo.
— Eu odeio você, , você é um completo idiota. — Eu soltei uma risada nervosa, ainda não acreditando no quão burra eu havia sido caindo no jogo dele.
— Boa noite, lindinha, dorme bem e sonha comigo. — Eu precisei de todo o meu autocontrole para não voar em cima dele, estava com tanta raiva. Eu corri para a porta, me acompanhando com o olhar. Bati a porta da casa e subi correndo para o meu quarto, não sabendo se as minhas lágrimas eram de raiva ou...
Raiva. Com certeza de raiva.
— Bom dia, vó Jane! — Cumprimentei minha avó assim que cheguei à cozinha.
— Parece que alguém dormiu muito bem. Como foi seu encontro com o doutor? — Eu mal havia dormido, na verdade, e precisei de bastante tempo me encarando no espelho para ter certeza de que meus olhos não estavam vermelhos e meu rosto inchado de tanto chorar. Eu não daria esse gostinho ao .
— Foi ótimo, Caleb foi bastante gentil. — Se ignorarmos a parte na qual foi um idiota. Sentei-me, pegando um pedaço de broa e enchendo meu copo com leite.
— Minha filha, eu sei que suas mãos ainda estão machucadas, mas preciso que supervisione a colheita hoje. — Arqueei uma sobrancelha. Esse era o trabalho do .
— O que deu no hoje? Se divertiu demais ontem à noite que não pôde trabalhar? — Perguntei, debochada.
— Na verdade, ele foi até a cidade comprar algumas coisas que estavam faltando. Ele disse que não poderia esperar. — Minha avó deu de ombros, como se também não tivesse entendido essa viagem repentina à cidade.
— E ele disse quando volta? — Tentei soar desinteressada.
— Acho que em uns dois dias, ele vai ter que dormir por lá, você sabe como é uma viagem cansativa. — Eu apenas assenti. Metade de mim estava adorando não ter que olhar para cara dele depois de tudo que aconteceu, a outra metade... Bom, ela queria que ele viesse se ajoelhando em minha direção, me pedindo perdão por ter sido tão babaca na noite anterior.
Assim que terminei de comer, segui em direção ao estábulo. Um dos ajudantes da fazenda já havia preparado Meg para eu montar e ir supervisionar a área da plantação. Meg era o extremo oposto de Trovão. Ela era toda branca, bem tranquila e dócil, e dificilmente se assustava com alguma coisa.
— Como sabia que eu iria precisar sair a cavalo? — Perguntei, achando graça.
— deixou essas ordens antes de pegar estrada hoje bem cedo. — Meu sorriso logo fechou, e eu apenas agradeci, saindo em direção ao campo onde a colheita seria feita. Será que ele achou que eu sairia em Trovão? Eu não seria tão irresponsável, ainda mais com minhas mãos ainda machucadas. Os curativos e os remédios que Caleb havia passado estavam ajudando bastante, mas elas ainda doíam. Balancei a cabeça e me forcei a prestar apenas atenção no trabalho.
estava longe, e eu queria aproveitar cada momento disso.
Ao final da colheita, eu deixei Meg na sua baia e voltei para casa. Eu estava exausta. Subi para o meu quarto e tomei um longo banho, limpando toda a poeira acumulada em minha pele. Meu cabelo estava duro de tanta areia nele.
Vesti um pijama confortável e deitei na cama, ligando a TV em um canal de músicas que eu adorava. Encarei o teto e suspirei. Por mais que eu tivesse conseguido não pensar no durante o dia, a lembrança da noite anterior vinha como um raio agora que eu não tinha com o que me ocupar.
Seu corpo tão próximo ao meu, suas palavras sussurradas como se ele dependesse de mim para respirar.
— Você é uma idiota, . — Disse para mim mesma e logo desliguei a TV, levantando e descendo para a sala. Se desse sorte, vovó ainda estaria acordada e poderíamos conversar um pouco. Quando cheguei ao andar de baixo, todas as luzes estavam apagadas. Peguei uma coberta que estava sobre um dos sofás e segui para a entrada da casa, sentando na escada e me cobrindo. O céu estava estrelado, o que me permitia enxergar a entrada da fazenda. Um riso nervoso saiu dos meus lábios, não era possível que eu estava mesmo imaginando entrando pela porteira.
O vento gelado fez com que eu me encolhesse ainda mais sob a coberta, encarando a paisagem ao meu redor. Minha mente me traiu novamente assim que meus olhos caíram na parede na qual me prendeu na noite anterior. Por que era tão difícil resistir a nós dois?
Balancei a cabeça e logo levantei, dizendo para mim mesma para parar de ser boba porque jamais existiria um nós.
— Vó, estou indo ensaiar com as garotas, volto mais tarde! — Eu estava feliz por ter conseguido passar os dias sem pensar no . Pensando melhor, ele tinha me feito o maior dos favores em ter viajado e me dado espaço. Eu me sentia preparada para voltar a lidar com ele.
— Calma, menina, me deixa olhar suas mãos. — Voltei até onde minha avó estava.
— Já estão ótimas! — Falei, com uma certa pressa por estar um pouco atrasada.
— E os curativos?
— Caleb disse para eu tirar depois de dois dias, alguma coisa sobre as feridas respirarem. — Dei de ombros, apenas repetindo o que ele havia falado.
— Tudo bem, dirija com cuidado.
— Sempre! — Dei um beijo em sua bochecha e saí correndo.
Estacionei em frente ao estúdio onde ensaiávamos e desci apressada do carro.
— ! — Virei e dei de cara com Caleb saindo do mercadinho ao lado.
— Ei. — Disse, meio sem graça.
— Suas mãos parecem melhores. — Ele observou.
— Sim, estão bem melhores, quase não sinto mais dor.
— Que ótimo! — Ele passou uma mão nervosamente pelo cabelo, um silêncio desconfortável entre a gente.
— Eu realmente preciso subir, as meninas vão querer me matar porque já estou atrasada. Depois a gente se fala, Caleb. — Sorri em sua direção, querendo, de certa forma, garantir que tudo ficaria bem.
— Claro, não quero te atrasar mais. A gente se fala depois. — Ele logo virou as costas e eu subi correndo para o ensaio.
Assim que passei as porteiras da fazenda, senti meu coração acelerar.
estava de volta.
Respirei fundo e continuei agindo animada pelo ensaio. Estacionei ao lado do seu carro e entrei, apreensiva, na casa. Colocando um pé atrás do outro e esticando o pescoço a cada cômodo, me permiti relaxar quando cheguei à cozinha sem sinais do .
— Ele já comeu e saiu para resolver umas coisas na fazenda, não precisa ficar procurando-o. — Vô Ben disse, sentado à mesa. Eu apenas dei um beijo em sua bochecha.
— Onde está vó Jane? — Perguntei, estranhando sua ausência no café da tarde.
— Ela estava um pouco cansada e resolveu deitar. Ela está bem, só cansada. — Meu avô acrescentou ao ver minha feição preocupada. Suspirei aliviada e me sentei, pegando um pão e um pouco de leite. — Como foi seu ensaio?
— Foi ótimo! Nós começamos uma coreografia de uma nova música, estamos muito animadas! — Disse, empolgada. — O que o senhor quer realmente me falar? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção. Eu sempre sabia quando ele estava me escondendo algo. Vô Ben riu, apoiando os cotovelos sobre a mesa antes de começar a falar.
— O é um bom rapaz, você sabe. — Revirei meus olhos. — Não faça essa cara. — Eu continuei comendo, não gostando do rumo da conversa. — Você poderia pegar mais leve com ele.
— Ele que implica comigo o tempo todo, por que eu que preciso ouvir sermão sobre isso? — Perguntei, irritada por sempre sair como a errada da situação. Ele sorriu, mesmo que eu não entendesse onde estava a graça da situação.
— Só pensa no que eu te pedi com carinho, ok? — Vô Ben levantou, deu um beijo no topo da minha cabeça e saiu. Eu apenas bufei, não acreditando naquela conversa sem sentido.
Terminei de comer, guardei todas as coisas, lavei a louça e subi. Já estava tudo escuro lá fora, e a maioria dos empregados da fazenda já havia finalizado seu trabalho pelo dia.
Tomei um banho rápido, ainda nervosa da conversa com vô Ben. Será que o havia reclamado com ele? Será que depois de tudo o que aconteceu, ele resolveu reclamar com meu avô?
Deixei o pijama que eu havia separado de lado e peguei a primeira roupa que vi pela frente. Desci as escadas pisando forte; eu precisava encontrar o .
Assim que verifiquei que ele não estava na casa, segui em direção ao estábulo. Também estava vazio. Olhei para todos os lados e notei que a luz do galpão estava acesa. Marchei confiante, mas travei assim que cheguei até a porta.
estava sem camisa, empilhando sacos e mais sacos de ração para os animais da fazenda. Eu podia ver o suor escorrendo pelas suas costas musculosas, a gota descendo por todo o caminho desde a sua nuca até se perder dentro da sua calça jeans surrada.
Fechei os olhos com força, tentando controlar o ritmo do meu coração. Dei um passo na direção de , sentindo minha confiança indo embora a cada segundo que passava. O que eu tinha ido fazer mesmo?
Tropecei em uma caixa que estava no chão e praguejei alto, chamando a atenção de . Ele apenas me olhou de relance, continuando seu trabalho. A cada passo que eu me aproximava, mais claramente podia ver todos os músculos do seu corpo trabalhando, em cada saco de ração que ele colocava sobre os ombros e guardava no lugar certo.
Estava quente ali. Muito quente.
Ouvi um barulho de porta batendo, e me virei a tempo de ver a porta do galpão fechando com tudo atrás de mim. Ignorei, ainda que um sinal de alerta estivesse piscando sobre mim.
Parei atrás do , com os braços cruzados na altura do peito, usando toda a minha força para encarar qualquer outro lugar menos ele.
— O que foi, lindinha? — Bufei, esse apelido idiota de novo.
— O que você andou falando com meu avô, ? — Perguntei, ácida. apenas riu, continuando o que estava fazendo, o que em breve se tornaria um problema se eu quisesse manter o mínimo de lógica no meu raciocínio.
— A gente só conversou um pouco depois que eu cheguei da cidade. — Ele deu de ombros, limpando o suor que escorria pelo seu rosto. se virou para mim e meu olhar logo desceu para seu abdômen. — Perdeu alguma coisa aqui embaixo, lindinha? — Ele perguntou, logo me fazendo lembrar da noite do BellBar. Pigarreei e voltei minha atenção para o seu rosto, o que me ajudava em nada, para ser sincera.
— Quer saber? Não dá para conversar com você! — Joguei os braços para o alto, perdendo o pouco de paciência que eu tinha.
— E o que foi que eu fiz dessa vez? — Ele perguntou, cruzando os braços. Meu olhar me traiu novamente, seus braços se tornando interessantes demais para a minha sanidade. — E então? — Ele perguntou quando não o respondi.
— Então o quê? — gargalhou, percebendo o quanto eu estava afetada pela sua presença. — Tchau, ! — Disse e dei as costas, marchando para a porta do galpão.
— Não adianta, lindinha, estamos presos aqui. — disse, rindo ainda mais.
— O QUÊ? — Gritei. Aquilo só podia ser brincadeira.
— As travas daqui foram trocadas hoje, só abre por fora ou com a chave, que está lá fora. — Ele deu de ombros, virando as costas e voltando a mexer com os sacos de ração.
Não, não, não, isso tinha que ser mentira dele.
Assim que alcancei tranca, percebi que havia dito a verdade. Nós estávamos realmente presos ali. Já estava de noite e todo mundo devia ter ido embora. Encarei a caixa que chutei sem querer e agora tudo fazia sentido, ela que estava impedindo a porta de fechar com o vento. Ótimo.
— Como que você está tão calmo? Nós estamos trancados aqui! — Disse, exasperada. largou o que estava fazendo novamente e veio andando em minha direção. Fui dando passos para trás até parar em uma enorme pilha de feno. De novo não.
— Temos comida, água e dá para dormir em cima do feno. Não é das piores situações. — Ele disse, próximo demais de mim. — O que foi, lindinha? Está com medo de passar a noite aqui comigo? Eu não mordo. — Minha respiração estava rápida demais, deixando claro meu completo desespero. — Quer dizer, só se você quiser. — Ele piscou para mim e saiu, me deixando mais uma vez perdida no meio da situação. Sem pensar, fui atrás dele e o puxei pelo braço.
— O que você quer de mim, ? É sério! Você precisa decidir o que você quer porque eu não aguento mais essa situação! — Soltei seu braço assim que seu olhar recaiu sobre mim, intenso demais, fazendo com que eu desse um passo para trás.
— Você me pergunta muito isso. — Ele levou uma mão ao queixo, como se estivesse pensando no assunto. — O que eu quero? — Era a vez dele de perder a compostura. Suas mãos corriam pelos seus cabelos, nervoso. — Eu quero você, mas parece que você é a única nesse planeta que não percebe isso! — já estava à minha frente, suas duas mãos apoiadas no feno atrás de mim, uma de cada lado da minha cabeça. — Eu quero você, mas você não facilita em nada a minha vida. — Seu rosto estava a centímetros do meu, sua respiração se misturando com a minha, me deixando ainda mais nervosa.
— O quê... Do que você tá falando, ? Isso não é hora para brincadeira. — Sussurrei, sem acreditar no que ele estava falando. Ele soltou uma risada forçada, como se não acreditasse no que eu havia acabado de perguntar.
— Você realmente acha que eu estou brincando? — Seu rosto estava sério novamente.
— Você virou as costas para mim. — Eu disse, desviando o olhar.
— Se eu tivesse te beijado ali, você iria jogar isso na minha cara para sempre! — Quando eu iria rebater, ele apenas me encarou, como se me desafiasse. Ele se aproximou ainda mais de mim, seu corpo quase colando no meu. — Eu não vou beijar você, . — Arregalei meus olhos, surpresa com suas palavras. Desviei o olhar mais uma vez, o sentimento de rejeição me atingindo com força. Senti colocar um dedo sob meu queixo, me fazendo olhar para ele.
— Então que merda você ‘tá fazendo me segurando aqui desse jeito? — Perguntei quando ele nada disse.
— Você pode sair quando quiser, e sabe disso muito bem. Eu nem estou encostando em você. — O que era uma pena, meu subconsciente gritou. Eu sabia que ele estava falando a verdade, mas ainda recusava a me render assim.
— Então eu ainda não entendi o que você ‘tá planejando, porque deixou bem claro que não vai me beijar, mas que me quer, e ainda assim não se afastou de mim. — Encarei-o. Se livra dessa, .
— E você quer muito que eu te beije, certo? — Seu sorriso de canto estava estampado em seus lábios. Eu queria. Queria muito, porém não iria admitir, então revirei os olhos, como se ele estivesse falando uma besteira muito grande. — Eu não vou beijar você, , isso vai ter que ser decisão sua. — Ele completou antes que eu falasse qualquer coisa. Seu rosto estava sério, de repente, seus músculos estavam tensos, como se estivesse usando todo o seu autocontrole para cumprir o que havia acabado de dizer.
— O que você quer dizer com isso? — Sussurrei, ouvindo minha voz falhar no final. se aproximou mais. Se eu apenas mexesse a cabeça, nossos lábios se encostariam.
— Que aqui é o mais perto que eu vou chegar de você, lindinha. O poder está todo nas suas mãos. Eu não vou beijar você para depois você usar essa desculpa para se afastar de mim, vai ser escolha sua. — também sussurrou, causando arrepios por todo o meu corpo. Eu fechei os olhos com força, perdida demais na intensidade do seu olhar em mim, do seu corpo tão próximo. E o fato dele estar sem camisa só piorava toda a situação. — Olha para mim. — pediu. Não havia traços de humor em sua feição. Eu abri os olhos devagar, minha cabeça com pensamentos a mil. — Você está pensando demais. — advertiu.
— É claro que eu estou, sua fama te precede. — Rebati. Foi a vez de ele fechar os olhos e respirar fundo. Quando ele voltou a me encarar, seu olhar parecia causar chamas por todo o meu corpo, o calor quase insuportável. Senti arrepios pelo meu corpo novamente, e eu não sabia o que fazer com toda a enxurrada de emoções.
— ... — disse bem baixinho.
— Ah, dane-se. — Falei antes que ele continuasse e joguei meus braços sobre seus ombros, grudando nossos lábios. Logo passou seus braços pela minha cintura e nossos corpos estavam colados um ao outro. Cruzei minhas pernas ao redor de sua cintura, trazendo-o ainda mais para mim.
apoiou uma das duas mãos nas minhas costas e uma na minha coxa, fazendo com que eu apertasse minhas pernas ao seu redor. Minhas mãos brincavam com seus cabelos, e logo desci minhas unhas curtas em sua nuca, fazendo-o gemer.
Suas duas mãos desceram e se apoiaram em minha bunda, sustentando todo o meu corpo e não permitindo que espaço algum fosse colocado entre nós. apoiou minhas costas na pilha de feno, forçando seu corpo contra mim e fazendo com que arrepios de puro prazer percorressem por todo o meu corpo.
Separei nossas bocas, buscando ar, e ouvi reclamar, mas logo seus lábios estavam em meu pescoço, descendo seus beijos por meu ombro e subindo novamente, mordendo o lóbulo da minha orelha. Eu podia sentir sua respiração pesada sobre minha pele, o que só dificultava ainda mais minha própria respiração.
Desci minhas mãos pelas suas costas, algo que minha mente imaginava desde que eu o havia visto aqui no galpão. apoiou a testa no meu ombro, respirando fundo. Eu podia sentir sua excitação sob sua calça, e minha cabeça não conseguia processar o que exatamente a gente estava fazendo.
Quando fiz o caminho inverso com minhas mãos, voltando para sua nuca e o puxando para mim, puxou minha blusa para fora do short, colocando sua mão na base das minhas costas. O calor das suas mãos na minha pele fez com que uma nova onda de calor percorresse pelo meu corpo, me deixando ainda mais exasperada e querendo mais e mais dele.
nos afastou da pilha de feno e me carregou mais para o fundo do galpão. Quando ele estava prestes a me deitar sobre uma pilha mais baixa, ouvimos o barulho da fechadura da porta. Arregalei meus olhos, como se tivesse acordado de um transe, e encarei , que respirava com dificuldade. Ele me deitou sobre o feno e apoiou parte do seu peso sobre mim, mas agora eu estava nervosa demais, sem saber o que fazer. Toda a certeza e convicção de minutos atrás se esvaindo a cada segundo que passava.
— ? — Um dos capatazes da fazenda gritou.
— Aqui. — respondeu, nem um pouco feliz. Hesitante, ele saiu de cima de mim, ajeitando sua calça da melhor maneira que podia.
— Ei, cara, sua sorte que vi a luz acesa quando estava saindo, ou teria que passar a noite aqui. — Eu não o via e estava bem escondida de possíveis olhares curiosos. Rapidamente eu me sentei, tomando cuidado para não fazer barulho algum. A última coisa que eu queria era que soubessem que eu estava aqui com o , trancados. Levei minhas duas mãos ao meu rosto e o cobri. O que eu tinha acabado de fazer?
— Já está arrependida? — A voz de estava próxima demais de mim, sua feição séria. Não havia um traço de humor em sua voz. Eu não ergui minha cabeça, olhar para ele não me permitiria pensar com clareza. Senti que ele sentou ao meu lado, mas sem encostar em mim. Suspirei.
Eu não estava arrependida, mas a possibilidade do que faríamos caso o capataz não tivesse nos interrompido me apavorava. Acredito que perder sua virgindade, sobre o feno, presa em um galpão, não fosse a melhor das maneiras.
— Não é arrependimento. — Eu sussurrei, e seu suspiro ao meu lado deixou claro que ele havia me escutado.
— Você pensa demais. — disse, calmo. Era quase como se ele entendesse meu dilema. Senti sua mão tocar a minha, me assustando. Deixei que ele pegasse minha mão e o encarei, não entendendo onde ele queria chegar. Nós ficamos em silêncio, de mãos dadas. Uma parte de mim sentia que não poderia ter coisa mais certa do que nós dois ali, mas a outra parte...
— Acho melhor eu voltar para o meu quarto. — suspirou e soltou minha mão. — A gente se fala amanhã, , boa noite. — Levantei e saí do galpão, e ele não disse uma palavra.
Na manhã seguinte, meu rosto estava péssimo. Eu mal tinha dormido, as olheiras sob meus olhos estavam tão escuras, que eu me assustei com meu próprio reflexo. Desci para o café da manhã e, assim que coloquei os pés no primeiro piso, ouvi a voz de .
Senti meu coração acelerar, o que me fez sentir ainda mais idiota por ter saído daquela forma.
— Bom dia. — Falei assim que entrei na cozinha, dando um beijo em vó Jane e no vô Ben.
— Você dormiu, minha filha? — Minha avó perguntou, e logo meu olhar caiu sobre o , que parecia que tinha o dormido o sono dos deuses. Estava lindo como sempre.
— Não muito. E a senhora? Ontem foi deitar tão cedo que eu nem vi! — Desconversei.
— Só estava cansada, não precisa se preocupar. — Eu apenas assenti, sentando no banco vazio justo ao lado do . Ele sempre me recebia com piadinhas, mas ele apenas me acompanhava com o olhar, sem dizer uma palavra.
Meus avós começaram alguma conversa com , e eu apenas me concentrei em comer. Imagens da noite anterior invadiram minha mente com tudo. Eu ainda podia sentir suas mãos me apertando em lugares que vovó ficaria horrorizada se soubesse.
— ?
— Oi! — Respondi, assustada. — Desculpe, vô, o que disse? — estava com seu sorriso de canto nos lábios, o filho da mãe sabia exatamente o que causava em mim.
— Você precisa ir acompanhar a colheita hoje também, vai te encontrar lá mais tarde. Eu preciso que passe para ele todas as informações de ontem. — Eu apenas assenti, não confiando na minha voz. Ficar sozinha com o no meio do campo não estava nos meus planos mais imediatos.
— Melhor eu ir então. — Levantei rapidamente, aquela cozinha estava começando a me sufocar.
— Eu te acompanho até o estábulo. — levantou também. Ele não estava facilitando minha vida. — Já volto, Ben. — Saímos da cozinha, estava atrás de mim, próximo demais para a minha sanidade. Assim que deixamos a casa, já sozinhos, me puxou pelo braço e me colocou colada na parede.
— Sério? É algum fetiche seu me ver encostada na parede? — Revirei os olhos. riu alto.
— Acho que gosto mais do feno. — Ele sorriu de lado. ergueu uma de suas mãos até meu rosto, seus dedos passando levemente sob meus olhos. — Não conseguiu dormir, lindinha?
— Você vai continuar me chamando de lindinha? — Rebati com outra pergunta.
— Vou. — deu de ombros. — Você é linda, e te irritar acaba sendo um bônus. — Encostei minha cabeça na parede atrás de mim, querendo socar aquele rosto lindo dele. — E você não me respondeu.
— Acho que é só olhar para mim que terá sua resposta. — Disse sarcasticamente.
— Ficou pensando em mim? — Ele se aproximou, sussurrando, com o rosto a centímetros do meu.
— Você precisa parar de ser tão convencido, , de verdade. — Ele ainda sorria.
— Não consegue resistir, pode dizer. — Eu apenas ri.
— Bom, você que me seguiu e agora está aqui me perturbando.
— A gente poderia estar fazendo coisas mais interessantes, mas você não para de falar. — falou e revirou os olhos. Eu estava tão surpresa com suas palavras, que nem consegui responder. — O que foi, lindinha? Perdeu a fala? — Ele se aproximou ainda mais, seu corpo eliminando a distância do meu a cada palavra.
— Eu vou me arrepender muito disso depois. — Suspirei. arqueou uma sobrancelha na minha direção.
— Se arrepender... — Eu o beijei, interrompendo-o.
— Chega de falar, . — Disse com os lábios colados nos dele.
— Seu desejo é uma ordem. — Suas mãos estavam rapidamente em minha cintura, juntando nossos corpos e me beijando como se sua vida dependesse disso. O beijo era ainda mais urgente do que o da noite anterior, suas mãos me apertavam com força, e não consegui conter um gemido baixo, fazendo com que risse.
Eu puxei seus cabelos, afastando minimamente seu rosto do meu e mordendo levemente seu lábio inferior. Um som gutural saiu de sua garganta, e foi a minha vez de sorrir.
desceu suas mãos para a minha bunda, me dando impulso para cruzar as pernas ao seu redor e tirar nossa diferença de altura. Ele subiu uma de suas mãos por dentro da minha blusa e eu suspirei, sentindo um calor tão intenso que precisei cortar o beijo para conseguir respirar direito.
— ? Onde você está? Ben disse que veio para o estábulo. Trouxe o documento que pediu. — Era o mesmo capataz de ontem.
— Eu juro, por tudo o que é mais sagrado, que eu vou demitir esse cara. — falou entredentes, me colocando no chão e se afastando um pouco de mim. Ele respirava com dificuldade, e eu sabia que não estava muito diferente. — Já vou, estou terminando de examinar um cavalo. — Eu sorri debochada em sua direção. — Também posso falar que a gente estava se agarrando, se preferir. — Ele rebateu, com um péssimo humor.
— Eu vou preparar a Meg. — segurou meu braço quando eu fiz menção de sair.
— Nossa conversa ainda não terminou.
— Que conversa? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção.
— Exatamente. — Ele disse, apenas, e saiu, indo ao encontro do capataz. Soltei meu corpo sobre a parede, sentindo minhas pernas fracas. Respirei fundo e segui até a baia de Meg, tentando descobrir como é que eu conseguiria resistir a esse homem.
Já havia escurecido quando estava voltando para a fazenda. não havia aparecido para me ajudar a supervisionar a colheita, e eu não sabia o que me irritava mais: o fato dele não ter aparecido ou de eu ter ficado o dia todo olhando sobre meus ombros, procurando qualquer sinal dele. Juro que essas brigas internas estavam acabando comigo.
Assim que avistei a casa, notei um carro diferente estacionado.
Era Caleb.
Logo senti minha respiração falhar, não porque ele estava ali, mas porque poderia ter acontecido alguma coisa com meus avós. Ou com o .
Entreguei Meg à primeira pessoa que vi e entrei correndo em casa, encontrando ninguém. Subi as escadas de dois em dois degraus, sentindo o desespero se apossar de mim. A luz do quarto dos meus avós estava acesa e senti meu coração apertar. O medo era tão intenso, eu não conseguia me recordar de uma dor tão forte.
Abri a porta e encontrei minha avó deitada na cama, pálida. Meu avô estava sentado ao lado dela, em uma cadeira. Caleb a estava examinando. Eu podia ver seu peito subindo e descendo lentamente, e um pouco de sanidade retornou a mim.
foi o primeiro a me ver, mas, assim que ele me alcançou, eu afastei seus braços de mim, indo em direção à cama.
— O que... O que está acontecendo aqui? — Perguntei da maneira mais confiante que consegui.
— Sua avó caiu da escada. Não foi de muito alto, mas ela bateu a cabeça e está com uma leve concussão. — Minha respiração era pesada, e meu único instinto era ir até ela, abraçá-la e chorar, implorando para ela ficar bem. Controlei minhas emoções, respirando fundo antes de me aproximar.
— Ela vai ficar bem. — Caleb disse quando acabou de examiná-la. — Mas ela precisa de repouso, e seria interessante se o quarto de vocês fosse movido lá para baixo. — Ele sugeriu, olhando para o meu avô.
— Eu já comecei os preparativos para mudança, amanhã já vai estar tudo arrumado. — falou, em um tom sério. Eu não conseguia prestar atenção nos homens ao meu redor, meu único foco de atenção era minha avó. Eu, enfim, me aproximei dela, tomando cuidado ao chegar perto da cama. Eu sabia que estava suja de areia e não queria só piorar tudo. Então apenas me contentei em olhá-la, querendo ter certeza de que tudo ficaria bem.
Caleb fez menção de ir embora, e eu o segui. Quando já estávamos na frente da fazenda, ele se virou.
— Ela vai ficar bem, mas gostaria que ela fosse até o consultório fazer alguns exames. — Eu franzi o cenho, não entendendo o motivo de ele estar falando isso apenas para mim. — Não quis dizer nada na frente do seu avô, ele já estava abalado o suficiente. — Eu assenti, a preocupação retornando com força total. — Ei. — Caleb se aproximou, colocando uma mão sobre meu braço. — É só procedimento de rotina, ela bateu a cabeça e preciso verificar.
— Mas você disse que ela vai ficar bem. — Sussurrei, sentindo as lágrimas começarem a se formar nos meus olhos.
— Aparentemente está tudo bem com ela, não tem nenhum indício que tenha sido algo mais sério, mas seu avô disse que ela tem se sentido muito cansada ultimamente, então custa nada verificar, certo? — Ele tentou me acalmar. Senti que ele deu um passo para trás, e logo sua mão deixou meu braço. Quando ergui minha cabeça em sua direção, notei que havia se aproximado.
— Mais alguma coisa, doutor? — Eles se encaravam, sérios.
— Preciso que levem Jane amanhã ao consultório, quero fazer alguns exames. — desviou o olhar em minha direção e assentiu para Caleb. A tensão era grande.
— Obrigada, Caleb. — Dei um passo à frente, me colocando entre os dois.
— Espero vocês amanhã. — Ele disse calmo, seu olhar indo de mim para o diversas vezes. Eu suspirei. Encarei , como se pedisse silenciosamente que ele ficasse ali, e acompanhei Caleb até o carro. Eu podia sentir seu olhar me queimando.
— Obrigada mais uma vez, eu a levarei amanhã. — Agradeci novamente, já na porta do seu carro e longe o suficiente para que não nos escutasse.
— Parece que você e o se acertaram. — Seu tom não era acusatório.
— É complicado. — Falei, não sabendo bem como explicar. — Quando nós saímos...
— Eu sei, nada tinha acontecido entre vocês. Eu sei. — Ele me interrompeu, me assegurando. — A forma como ele sempre olhou para você... — Ele suspirou. — Enfim, eu pelo menos tentei.
— Eu gosto muito de você, Caleb, mas não dessa forma. — Falei, não sabendo como escolher as palavras.
— Tudo bem, eu também não ajudei muito. Acho que eu mesmo estraguei boa parte das minhas chances. — Ele sorriu, dando de ombros. — É melhor eu ir antes que o venha aqui e me mate. — Ele indicou sobre os ombros, o olhar dele estava nada bom. Eu sorri.
— Tchau, Caleb.
— Até amanhã.
Caleb saiu com o carro e veio em minha direção. Sua feição era séria, seus braços cruzados sob seu peito. Assim que eu o olhei, senti todo o medo com relação à saúde da minha avó tomar conta de mim. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e logo passou os braços ao meu redor.
Larguei-me em seu abraço, aceitando todo o conforto que ele estava me oferecendo. E então eu chorei. não disse uma palavra, apenas me abraçou apertado, beijando o topo da minha cabeça. Eu podia sentir sua camisa molhada sob mim, mas ele não parecia nem um pouco incomodado.
Quando as lágrimas cessaram e eu já estava um pouco mais sob controle, se afastou minimamente de mim para me encarar.
— Ela é forte, vai ficar tudo bem. — Ele sorriu para mim, mas eu sabia que ele também estava preocupado. Apenas assenti e voltei a abraçá-lo, escondendo meu rosto em seu peito.
— Eu estou com tanto medo. — Falei bem baixinho.
— É normal ter medo, mas eu estou aqui, vou cuidar de você, lindinha. — Eu sorri do seu apelido idiota. Suspirei e me afastei dele.
— Eu preciso entrar. — revirou os olhos.
— Por quanto tempo mais você vai ficar resistindo, ?
— E as outras, ? — Eu odiava parecer tão não confiante, porém como ignorar todo um passado e acreditar que o cara que já teve todas agora queria apenas uma? colocou ambas as mãos ao lado do meu rosto, me encarando.
— Eu só quero você, , como você ainda não conseguiu enxergar isso? — Eu fechei os olhos com força, não sabendo como lidar com o misto de emoções dentro de mim.
— Eu não vou ser mais um furinho no seu cinto. — Sussurrei, revelando um medo há muito tempo guardado. — Gostar de mulheres é diferente de sair com todas elas. Nós não somos um tipo de prêmio para ser expostas por aí. — Disse, com a voz mais forte.
— Se é isso o que pensa de mim, por que começamos tudo isso? — Ele se afastou.
— E você acha que eu não lutei contra? Eu tentei resistir, , mas já passei da fase de me condenar por sentir algo que eu não tenho controle, ok? — Falei, abrindo os braços, exasperada.
— Não importa o que eu fale ou faça, você nunca acredita em mim! O que você espera de mim, ? Eu não tenho como apagar o que eu já fiz, e nem se eu pudesse, faria, porque faz parte de quem eu sou hoje. — Ele respirou fundo e se aproximou de mim novamente. — Sim, minha fama de conquistador é enorme, mas tudo com você é... — Ele já estava bem próximo a mim.
— É o quê? — Pedi.
— É mais, sempre mais. — Seus lábios estavam sobre os meus assim que as palavras saíram da sua boca. Era a primeira vez que ele me beijava, e o desespero do seu toque era tão intenso, como se ele precisasse me provar tudo o que ele havia acabado de dizer. encostou sua testa na minha, nossa respiração acelerada. — Não vou desistir de você, lindinha. — Ele se afastou, tirando uma mecha do meu cabelo do meu rosto. me deu um leve beijo na bochecha. — Melhor a gente entrar, já está tarde. — Ele estendeu a mão em minha direção e, automaticamente, eu a peguei. O que achei que seria estranho, na verdade, pareceu apenas... certo.
A semana seguinte foi tranquila. e eu levamos vó Jane ao consultório de Caleb para fazer os exames, e acabou que era nada mais grave. Eu estava bem mais tranquila e, aos poucos, as coisas na fazenda foram voltando ao normal.
havia feito todo um mistério a semana toda, dizendo que tinha uma surpresa para mim. Nós tínhamos conversado bastante, cavalgado pela fazenda, resolvendo algumas coisas juntos. Eu sabia que meus avós já estavam desconfiados, mas nada falavam.
estava diferente. Ele continuava me provocando, seu apelido idiota continuava me tirando do sério, ainda que, no fundo, eu já estivesse me acostumando. Sua companhia de insuportável passou a ser quase difícil de ficar sem. Mas só quase.
Quando já estava quase chegando ao cercado onde treinávamos os cavalos, avistei montado em Trovão. Ainda que eu adorasse aquele cavalo, não poderia deixar de sentir um certo receio de ver sobre ele.
— Você está atrasada, lindinha. O moço aqui já estava ficando impaciente. — Apenas revirei os olhos e me aproximei.
— Eu não posso montar, mas você pode? — Arqueei uma sobrancelha em sua direção. sorriu e veio até onde eu estava. Ele estendeu uma mão para mim, e eu o encarei, em dúvida.
— Anda, lindinha, sei que você quer.
— Idiota. — Falei, mas logo me rendi, pegando sua mão e subindo em Trovão, ficando na frente de .
— E então? — Ele perguntou enquanto Trovão seguia obedientemente em outra direção.
— Então o quê? — Perguntei, fazendo um carinho no cavalo.
— O que achou da surpresa? — Ele parecia quase tímido.
— Você andou o treinando? — Tentei encarar , mas ele apertou seus braços ao meu redor, não permitindo que eu me virasse.
— Antes que um desastre acontecesse, sim. — Ele parecia nervoso, ansioso pela minha reação.
— Que horas você estava fazendo isso? — Eu ainda não estava acreditando.
— Eu percebi que Trovão gosta mais de sair à noite, então eu o treinei depois que todo mundo já tinha ido embora. — Senti-o dar de ombros. Nós estávamos próximos demais, entretanto todos que passavam por nós apenas nos ignoravam.
— Obrigada. — Eu o olhei, encarando um sorriso tímido em seu rosto. — De verdade.
— Ainda preciso treinar com ele mais algumas vezes, mas os riscos de ele atacar são bem menores agora, acho que ele já se acostumou com a gente. — ainda não olhava para mim. Eu me virei e apoiei minhas costas em seu peito. Nós cavalgamos em silêncio, Trovão seguindo todos os comandos do , sem sinal algum de nervosismo. Vi, de relance, meus avós nos encarando na janela, e logo aprumei meu corpo, me afastando do .
— Então isso significa que já posso levar Trovão para passear? — Quebrei o silêncio.
— Não, mas pode vir com ele para cá. — Virei novamente para ao ouvir seu tom sério.
— O que foi? — Eu estava surpresa com sua mudança repentina de humor.
— Não gosto quando se afasta de mim porque alguém pode estar olhando. — Ele apontou para a janela em que meus avós estavam.
— ...
— O que acha da gente ir ao BellBar hoje à noite? — Ele me interrompeu. Eu o encarei, assustada.
— Na frente de todo mundo? — Ele revirou os olhos.
— Não, vou fechar o bar só para gente. — Ele estava impaciente. Eu sorri, porque logo notei que ele estava nervoso.
— Você está me chamando para um encontro, ? Sério, essa não é a maneira mais gentil. — Impliquei, sentindo um pouco da sua tensão se esvair.
— O que posso fazer se não sou todo educadinho que nem seu amigo médico. — Ele frisou a palavra amigo, o que apenas me fez rir ainda mais. — E então? — Ele quis saber.
— Tudo bem. Espera. — Eu me virei para ele novamente. — Você armou isso tudo só para me chamar para sair? — O sorriso no rosto do estava voltando, aquele mesmo sorriso de canto que me fazia querer matá-lo.
— Agora você já disse sim, lindinha, não tem mais como voltar atrás. — nos levou para a entrada do cercado, logo descendo e me tirando de cima do Trovão.
— Você não joga limpo, ! — Eu queria parecer irritada, mas estava falhando miseravelmente.
— Nunca disse que jogaria, lindinha. Eu te encontro lá às 20h. Preciso resolver umas coisas da fazenda antes. — Assim que terminou de falar, me deu um beijo rápido na bochecha e saiu com Trovão, levando-o para a baia. Quem era aquele e o que tinha feito com o ?
Às 20h15min eu estacionei a caminhonete na frente do BellBar. Era sexta-feira e parecia que toda a cidade estava ali. Encarei-me no espelho retrovisor, respirando fundo e dizendo que tudo iria ficar bem.
Assim que saí do carro, encontrei algumas meninas do grupo de dança também entrando no bar. Segui com elas, mas logo procurando por sobre a multidão. Nem sinal.
Sentei em uma mesa com as meninas, que estavam bastante animadas, tanto que nem perceberam que eu encarava a porta da entrada de cinco em cinco segundos. Eu iria matá-lo.
Foi então que senti uma mão tocar minhas costas, e logo o braço passar por minha cintura.
— Meninas. — cumprimentou, e elas nem fizeram questão de pelo menos fingirem que não estavam surpresas. — Oi, lindinha. — Ele sussurrou no meu ouvido. Dei uma cotovelada na barriga dele e acenei para as meninas, deixando a mesa delas.
— Você está atrasado. — Briguei. — E agora elas só vão falar dessa cena que você fez, ! — Ele apenas riu e se aproximou mais de mim.
— Você fica ainda mais bonitinha quando fica nervosa assim. — Ele passou os dedos levemente pelo meu rosto, se aproximando para me beijar. Virei o rosto no último segundo, o que fez rir ainda mais. — Vamos, separei uma mesa mais reservada para gente. — me pegou pela mão e seguimos sob olhares curiosos de todo mundo. — Você se preocupa demais com o que os outros pensam. — Ele disse assim que chegamos à mesa.
— Claro, ‘tá todo mundo olhando para a gente. — Sorri para um grupo de amigas que passavam por nós.
— Isso é porque você está ainda mais linda essa noite.
— Idiota. — Respondi, mas um sorriso teimava em querer aparecer em meu rosto.
— Só me chama de idiota e ainda reclama quando eu te chamo de lindinha. — Ele revirou os olhos, no entanto parecia verdadeiramente feliz. — Eu pedi algumas coisas para a gente comer, e pedi água para você, já que não bebe. — Sorri para ele, porque mesmo sendo algo tão pequeno, mostrava que ele prestava atenção. Quando o garçom colocou tudo na mesa, me encarou. — O que foi?
— Tô aqui na dúvida se é você mesmo ou se te trocaram por uma versão gentil. — Peguei uma batata frita e o encarei, inocente.
— Vou te mostrar o gentil, mas mais tarde. — Ele piscou em minha direção, o que me fez corar. Ignorei-o e nós começamos a comer. A todo o momento, alguém passava para nos cumprimentar. parecia tranquilo com as interrupções, principalmente das meninas, que só falavam que mal podiam esperar pelo próximo ensaio. Eu já estava pensando em uma desculpa para fugir do interrogatório.
— Eu vou ao banheiro. — estava em uma conversa com o capataz de uma fazenda vizinha e estava claramente querendo fugir dali. Por mais que muitas pessoas estivessem interrompendo o nosso encontro, eu estava feliz. Nós tínhamos mais em comum do que eu jamais poderia imaginar, e as pessoas pareciam felizes em nos ver juntos.
Quando retornei para a mesa, uma outra mulher estava sentada no meu lugar, e a postura tensa do apenas indicava que ele estava gostando nada daquilo. Em vez de me precipitar, andei devagar até a mesa, tentando evitar ser vista por ambos.
— Vamos lá, , você não vai me dizer que foi fisgado por ela?
— Eu realmente acho que você deveria sair antes que estrague tudo. — Eu conseguia reconhecer a mulher agora, era a mesma que tinha visto com no dia antes de treinar Trovão e machucar minhas mãos. Parecia que tinha sido há uma eternidade.
— Tudo bem, mas você sabe onde me encontrar. — pareceu relaxar um pouco quando ela fez menção de sair.
— Nós saímos uma vez, e eu sempre deixei bem claro que não seria mais do que isso. — estava sério. Tomei uma dose de coragem e segui para a mesa, passando um braço ao redor da cintura dele.
— Demorei muito? — Perguntei baixinho. estava tenso sob minhas mãos. — Relaxa, . — Sussurrei em seu ouvido, querendo que ele entendesse que estava tudo bem.
— Bom, acho melhor eu ir. — A mulher disse e se retirou, nem ao menos olhou em sua direção. Ele logo virou para mim, me colocando em pé no meio das suas pernas.
— O quanto você ouviu? — Ele estava apreensivo.
— O suficiente. Não é sua culpa ser irresistível. — Eu falei, dando de ombros, porém logo me arrependendo assim que um sorriso lascivo apareceu em seus lábios.
— Então quer dizer que eu sou irresistível? — Ele me puxou ainda mais para ele, passando os braços pela minha cintura. Por um momento, todo o som havia sumido, parecia que estávamos apenas nós dois ali.
— Sabe, você não respondeu. — Falei quando seus lábios estavam perto demais do meu pescoço.
— O quê? — Ele parecia perdido.
— Se você foi fisgado por mim. — Ele me encarou, pensativo.
— Achei que estivesse óbvio. — disse e me beijou. Passei meus braços por sobre seus ombros, correspondendo ao beijo. Esse era diferente. Desde o dia que minha avó havia caído e nós tivemos aquela conversa, não tinha se aproximado de mim com esse objetivo. Esse beijo era mais tranquilo, mais carinhoso. separou nossos lábios e distribuiu vários beijos pelo meu rosto, me fazendo rir.
O barulho ao redor voltou com tudo, e só então caí em mim de que estávamos no meio do BellBar, com praticamente toda a cidade ali. Escondi meu rosto no seu peito, com medo de encarar as outras pessoas ao nosso redor.
Ouvi a música que indicava que era hora do nosso grupo dançar. me deu um beijo no topo da cabeça e me soltou, rindo da minha cara toda vermelha de vergonha.
— Vai lá, lindinha. — Revirei os olhos e cruzei o braço com uma das meninas do grupo, seguindo para o meio da pista.
Já no meio da coreografia, olhei para a mesa onde estava há poucos instantes, mas agora estava vazia. Estranhei, porém continuei até o final da música, ouvindo os aplausos de todo mundo. Uma nova música começou a tocar, e eu logo reconheci ser I Could Be The One do Billy Ray Cyrus. Algumas pessoas logo levantaram e vieram dançar. Um rapaz da cidade estendeu uma mão para mim, mas antes que eu pudesse fazer qualquer menção de pegar sua mão, apareceu ao seu lado, olhando feio para ele. Eu apenas ri quando ele passou os braços pela minha cintura.
— Não posso virar as costas nem por um segundo. — Eu logo o abracei, apoiando minha cabeça em seu peito.
— Eu adoro essa música. — Falei baixinho, para que só ele ouvisse.
— Eu sei, por isso pedi para que tocasse. — Ergui minha cabeça para encará-lo. Ele apenas deu de ombros.
I could be your one crazy dream come true
I could be the arms, I could be the heart
I could be the love that you could fall into
With somebody like you with me
Ain't no tellin' what i could be
'Cause you could be a star
You could even be the sun
And I could be the one
cantava bem baixinho, fazendo carinho em meu cabelo. Cada verso era como se ele estivesse cantando diretamente para mim, como se me falasse que ele poderia ser o cara certo, que eu só precisava parar de lutar contra.
Eu apertei ainda mais meus braços ao seu redor, pela primeira vez não me preocupando com as pessoas ao nosso redor, ou com o que poderiam pensar se eu o beijasse, mesmo que estivéssemos no meio do salão, sendo vistos por todos.
Eu afastei minha cabeça de seu peito e olhei para ele, que sorria.
— O que foi? — Ele parecia perdido demais no momento.
— Eu acredito que você possa ser o cara certo para mim. — Seu sorriso aumentou, e aproximou os lábios dos meus, mas sem encostar.
— A decisão é sempre sua, lindinha. — E, sem pensar, meus lábios já estavam sobre os seus, beijando-o sem medo de me entregar, cansada demais de lutar contra um sentimento que apenas crescia dentro de mim. — Cansou de resistir? — Ele perguntou, com os lábios ainda próximos demais aos meus. Eu suspirei.
— Acredite, eu tentei, mas não dá para resistir a nós dois, .
Epílogo
Senti a consciência retornando a mim. Logo um sorriso apareceu em meus lábios ao sentir uma mão fazendo carinho nas minhas costas.
— Você está me olhando dormir de novo, ? — Perguntei, ainda sem abrir os olhos. Ele riu, fazendo a cama tremer sob nós. Ele beijou o topo da minha cabeça, me puxando para cima dele. Apoiei meu braço sobre seu peito, ainda não querendo acordar.
— Você fica linda enquanto dorme. — Foi a minha vez de sorrir. Abri os olhos devagar, me espreguiçando.
— Ah, com certeza. Meu cabelo uma bagunça, a cara toda amarrotada. A beleza em pessoa. — Falei sarcasticamente.
— Ainda não aprendeu a lidar com elogio, lindinha? — Seu apelido já não parecia mais tão idiota, ou me incomodava. Eu apenas coloquei meu rosto no vão do seu pescoço, ainda parecia surreal demais que e eu estivéssemos namorando.
Olhei para a janela do meu quarto e notei que já havia amanhecido.
— . — Chamei-o, com um tom acusador. — Já amanheceu.
— Aham. — Ele respondeu enquanto uma de suas mãos ia descendo pelo meu corpo. Um barulho da cozinha me fez choramingar.
— Meus avós. — Ele riu.
— O que tem seus avós? — Ele só podia estar de brincadeira comigo.
— , eu tô falando sério. Como você pensa que vai sair daqui agora? — Eu o encarava, bem séria.
— Você pode dizer que não está se sentindo bem e a gente passa o dia inteiro na cama. — Ele sugeriu, como se não tivesse falha alguma no seu plano.
— Certo, e a sua ausência seria justificada como?
— Tô doente também? — Ele forçou uma tosse. Eu revirei os olhos e rolei na cama, deitando de costas e encarando o teto. — Não é como se eles não soubessem? — Ele não tinha muita certeza.
— Eles já desconfiam, , e você sabe muito bem que meu avô vai querer te matar. Uma coisa é desconfiar, outra é ter certeza. — Tampei meu rosto, sentindo o desespero tomar conta de mim.
— Seus avós me amam, tenho certeza de que vai ficar tudo bem. — Eu logo me levantei, sentando e o encarando, perplexa.
— Você realmente não está achando que nós vamos descer aquelas escadas juntos, não é? Porque isso não vai acontecer. — Eu falei bem séria para ele, mas seus olhos não estavam no meu rosto. Assim que percebi para onde ele estava olhando, eu logo puxei os lençóis por sobre meu peito. — ! — Eu queria gritar, mas não podia dar ainda mais bandeira.
— O que você disse? — Ele sorria de lado, e eu apenas queria estrangulá-lo.
— Idiota. — Ele logo me puxou, me colocando debaixo dele e me prendendo na cama.
— Nós estamos namorando há meses, lindinha, não tem motivo para você se preocupar assim. — Eu revirei os olhos.
— , meus avós são de outra época, sexo só depois do casamento. Você ainda não lembra da conversa que meu avô teve com você? Se eu me lembro bem, você ficou quase uma semana sem se aproximar de mim quando ele estava perto. — Desafiei-o a negar.
— Mas já passou muito tempo desde aquele dia, ok? Agora tudo tá diferente.
— É mesmo? E o que mudou, exatamente? — Encarei-o com a feição neutra, esperando sua resposta.
— Certo. Estamos só no segundo andar, eu dou um jeito de descer pela janela. — Eu sorri para ele.
— Foi o que eu imaginei. — Tudo ficaria bem. começou a descer beijos do meu rosto para o meu pescoço, nossas respirações desreguladas. Eu podia sentir arrepios por todo lugar onde suas mãos passavam. Rolei pela cama e o coloquei sob mim, beijando-o e arranhando seu peito levemente. Distraídos demais, quase me derrubou da cama quando ouvimos duas batidas na porta. Encarei , assustada.
— Minha filha, já está acordada? — Eu olhei para , fazendo sinal para ele ficar quieto.
— Sim, vó. — Bocejei audivelmente antes de responder.
— Ótimo, o café já está na mesa. — Ela disse, tranquila.
— Vou só escovar os dentes e estou descendo! — Falei, com a voz sonolenta. Eu esperava do fundo do meu coração que ela tivesse caído nessa encenação. Quando ouvi seus passos se afastando da porta, soltei minha respiração.
— Te esperamos lá embaixo também, , Ben quer conversar com você! Não demorem. — Sua voz soava mais distante, mas a ouvimos claramente. Logo tampei meu rosto, morrendo de vergonha. começou a rir descontroladamente.
— Seu avô vai me matar! — Eu comecei a rir junto com ele, ainda que tivéssemos motivo algum para estar rindo.
— Anda, melhor a gente descer logo. — Eu joguei os lençóis para o lado e saí catando minhas roupas pelo chão. Nós estávamos muito ferrados.
— Acho que vou pular a janela. — falava enquanto vestia a calça. Seu rosto mais sério.
— Bom, eu não queria dizer, mas eu avisei que era para ir embora antes de amanhecer. — Dei de ombros, entrando no banheiro para tentar arrumar meu cabelo. logo entrou no cômodo, atrás de mim, pegando sua escova no armário. Era uma cena que havia se tornado tão comum nos últimos meses, mas que ainda me fazia sorrir.
Assim que saímos pela porta, parecia mais calmo, quase como se tivesse criado o plano perfeito. Eu o encarei, esperando que ele falasse alguma coisa, mas ele parecia confiante enquanto descíamos as escadas, de mãos dadas, exatamente a cena que eu havia dito que não aconteceria poucos minutos atrás.
Quando estávamos na metade da escada, eu não aguentei.
— Você tem algum plano? — Perguntei bem baixinho, já que estávamos perto dos meus avós. apenas balançou a cabeça. — Fala logo, ! — O nervosismo já tinha tomado conta de mim.
— Simples, vou te pedir em casamento. — Ele deu de ombros. Eu empaquei no meio da sala, sem acreditar no que ele havia acabado de falar.
— O que... O que você disse? — Gaguejei. Eu estava de boca aberta, completamente surpresa. Até que minha ficha caiu. — Você armou tudo isso que nem quando fez com o Trovão para me chamar para sair pela primeira vez? — Eu coloquei uma mão na cintura, não acreditando que tinha caído na dele de novo.
Nós já estávamos quase na cozinha quando parou e se virou para mim.
— Você vai dizer sim, certo? — Ele estava nervoso. Eu apenas sorri debochada na sua direção.
— Vai ter que pagar para ver, . — Desafiei-o. Seu sorriso de canto tão característico estava estampado nos seus lábios. Eu revirei os olhos, entrando na cozinha atrás dele.
Ele sabia que eu diria sim, porque, assim como ele não conseguia resistir a mim, eu também já havia perdido essa luta há muito tempo.
Fim
Nota da autora: Oi, pessoas lindas do meu Brasil! Como estão?
Eu fiquei um bom tempo sem escrever nada, porque a vida anda extremamente corrida, mas eu não poderia deixar passar essa oportunidade!
Pra ser bem sincera, eu só iria escrever uma fic, que seria Um Anjo Veio Me falar, que também está neste Mixtape, mas meus planos tiveram que sofrer um pequeno ajuste! HAHAHAHA
Minha amiga, dona Camila Sodré, vulgo rainha das docinhos, ficou me tentando até meu último fio de cabelo pra pegar essa música também, esse hinão da musa Wanessa. Eu não tinha IDEIA do que fazer com essa música, mas assim que ela começou a falar e falar, as ideias foram brotando e eu acabei cedendo. Fui fraca, eu sei! HAHAHA
Bom, depois de muito tempo pensando, além de ser uma responsabilidade IMENSA escrever uma fic de presente pra ninguém menos do que Cah Sodré, eu consegui terminar! Então, miga, aqui está seu presente, como prometido. Espero do fundo do meu coração que goste de ler e que faça jus a essa música maravilhosa que tanto amamos. Amo você e boa leitura! ^^
Bom, gente, espero que gostem, de verdade! E serei imensamente grata se puderem comentar o que acharam!
Obrigada e até a próxima!
Larys
Outras fanfics:
- 07. I Wish You Would - Ficstape #004
- 11. Kiss Me - Ficstape #008
- 08. The Heart Never Lies - Ficstape #011
- The Heart Never Lies - Ano Novo - Especial All Stars 2015
- É só você sorrir - Especial Música Brasileira
- 05. Lightweight - Ficstape #017
- 11. Never Been Hurt - Ficstape #018
- 15. Moments - Ficstape #024
- 12. You Belong With Me - Ficstape #025
- 09. Enchanted - Ficstape #026
- 05. All Too Well - Ficstape #027
- 10. Shape Of My Heart - Ficstape #029
- 07. Can't Have You - Ficstape #034
- 03. Dear Future Husband - Ficstape #036
- 05. Stone Cold - Ficstape #040
- 11. Love Me Or Leave Me - Ficstape #053
- Mixtape: Um Anjo Veio Me Falar - Mixtape: Brasil 00's
Qualquer erro nessa fanfic são apenas meus, portanto, para avisos e reclamações, somente no e-mail.
Eu fiquei um bom tempo sem escrever nada, porque a vida anda extremamente corrida, mas eu não poderia deixar passar essa oportunidade!
Pra ser bem sincera, eu só iria escrever uma fic, que seria Um Anjo Veio Me falar, que também está neste Mixtape, mas meus planos tiveram que sofrer um pequeno ajuste! HAHAHAHA
Minha amiga, dona Camila Sodré, vulgo rainha das docinhos, ficou me tentando até meu último fio de cabelo pra pegar essa música também, esse hinão da musa Wanessa. Eu não tinha IDEIA do que fazer com essa música, mas assim que ela começou a falar e falar, as ideias foram brotando e eu acabei cedendo. Fui fraca, eu sei! HAHAHA
Bom, depois de muito tempo pensando, além de ser uma responsabilidade IMENSA escrever uma fic de presente pra ninguém menos do que Cah Sodré, eu consegui terminar! Então, miga, aqui está seu presente, como prometido. Espero do fundo do meu coração que goste de ler e que faça jus a essa música maravilhosa que tanto amamos. Amo você e boa leitura! ^^
Bom, gente, espero que gostem, de verdade! E serei imensamente grata se puderem comentar o que acharam!
Obrigada e até a próxima!
Larys
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