Um Anjo Veio Me Falar


A Cidade dos Anjos era bem pequena e localizada na parte central dos Estados Unidos. Com pouco mais de três mil habitantes, nós, moradores, vivíamos sempre na expectativa daquele momento mágico que acontecia antes de completarmos 25 anos. Poderia ser antes, poderia ser na véspera do seu aniversário, mas acontecia. Nunca havia falhado, e eu esperava que eu não fosse a primeira.
, calma, ainda faltam dois dias para o seu aniversário. — dizia, tentando me acalmar. Eu estava deitada na minha cama, sentindo todas as minhas esperanças de um dia encontrar o grande amor da minha vida irem embora. Todas as minhas amigas já haviam sentido, todas já tinham ouvido os anjos, todas já tinham encontrado sua alma gêmea e sentido o laço invisível as unirem com seus pares. Todas menos eu.
— Está tudo bem. — Menti. — Eu vou só tomar um banho e deitar, amanhã o dia vai ser corrido na escola e eu levanto super cedo. — Forcei um sorriso na sua direção, e deve ter sido bom, pois logo levantou e me deixou sozinha.
Desde criança nós escutávamos as histórias. Nossos pais, nossos avós, nossos bisavós... Ninguém sabia muito bem onde a história havia começado, mas também não ouvia ninguém reclamando de saber exatamente quando encontrava a pessoa certa.
Era engraçado quando encontrávamos turistas pelas ruas, e todos brincavam que, na cidade deles, as pessoas não vinham com estrela na testa, e que éramos muito sortudos por nossas famílias pertencerem a Cidade dos Anjos.
Eu sempre me senti sortuda, realmente. Mas essa sensação foi se perdendo ao longo dos anos, quando todos ao meu redor já haviam encontrado seus pares e eu continuava na espera. Eu sabia que viveria um sonho lindo, porque me mostraram a história, e eu via acontecendo todos os dias.
A atmosfera ao redor mudava, você imediatamente se sentia atraído pelo casal escolhido da vez e o mundo, por alguns instantes, girava ao redor deles, e apenas eles, e o amor recém descoberto, importavam.
Eu, como professora de Matemática de uma das maiores escolas da cidade, já havia presenciado essa cena tantas vezes no meio dos adolescentes, mas ainda ficava presa no momento, imaginando quando seria a minha vez. Ou se minha vez algum dia realmente chegaria.
Assim que saí do banho, senti uma sensação diferente. Não, não era a sensação dos amantes que se encontravam, principalmente porque eu estava sozinha no meu apartamento. Certo? Prendi a toalha mais firmemente no meu corpo e percorri os cômodos devagar, atenta a qualquer sinal de um intruso. Peguei meu celular, já deixando a polícia na discagem.
Quando, enfim, cheguei ao meu quarto e notei que estava realmente sozinha, me permiti relaxar. Joguei meu celular sobre a cama e peguei o primeiro pijama que encontrei. Foi então que ouvi. Senti meus braços congelarem a caminho da peça de roupa sobre a cadeira, e lentamente me virei. Não consegui conter o grito assim que avistei o ser na minha frente. Eu não conseguia reconhecer, mas eu estava tão assustada e com tanto medo, que não conseguia me mexer. O que quer que aquilo fosse estava se mexendo e vindo à minha direção, e só então meu corpo reagiu.
Joguei-me sobre a cama, pegando meu celular, mas, assim que o peguei, ele logo saiu da minha mão, pousando calmamente na mão... daquilo. Fechei os olhos com calma, sem saber o que estava acontecendo. Eu havia pegado no sono, claro. Eu estava dormindo e tendo um pesadelo. Claro, eu estava extremamente chateada por não ter ouvido a voz dos anjos ainda, e, claro, era perfeitamente racional eu sonhar com um anjo.
— Uhm. Olá. — Eu ainda estava de olhos fechados, esperando a consciência retornar a mim a qualquer momento. Porque nada explicaria eu estar acordada e vendo o que eu imaginava ser um anjo. — É só um sonho, você já vai acordar. Respira fundo, , está tudo bem. — Eu falava bem baixinho. Eu não estava louca, não era real.
— Ok, eu posso ter aparecido meio de surpresa, me desculpe por isso, mas eu precisava vir. — O ser começou a falar e meu desespero apenas crescia. Meu Deus, o que está acontecendo? — Ah, não precisa se preocupar, Deus sabe que estou aqui. — Agora aquilo conseguia ouvir meus pensamentos? — Bom, não querendo te assustar, nem querendo me gabar muito, mas eu sou seu anjo! E, como seu anjo, eu posso ouvir suas preces. — Abri meus olhos lentamente, não sabendo se eu gritava ou se saía correndo.
— O que... O que você disse? — Tomei coragem para dizer, não sabendo muito bem como havia encontrado minha voz.
— Isso mesmo que você ouviu! Sou seu anjo! — Levei minhas mãos até meu rosto, cobrindo-o. Respirei fundo, voltando a encarar o anjo na minha frente.
— Eu estou mesmo ficando louca! — Dei um pulo da cama, vestindo o pijama rapidamente. Comecei a andar de um lado para o outro, pensando em todas as possibilidades possíveis. Não podia ser real. Não era real.
— Meu nome é Angellyn, mas todo mundo me chama de Angel, original, eu sei. — Ela revirou os olhos, e eu ainda não conseguia encará-la.
— O que ‘tá acontecendo aqui? Isso é porque eu estou prestes a encontrar minha alma gêmea? Por que nenhuma das minhas amigas me contou essa parte? Não sabia que ouvir a voz de um anjo incluía ter um no seu quarto! — Eu estava exasperada, e nem a ideia de encontrar aquele por quem eu tanto esperava estava amenizando isso.
— Bom, sobre isso. — Ela parecia culpada, e foi aí que todos os meus sinais de alerta dispararam.
— Então essa não é uma visita normal. — Eu caí sobre a cama, sentindo o choro se aproximar. Era isso, ela vinha me dizer que eu nunca o encontraria. A primeira lágrima escorreu, e logo muitas outras a acompanharam. Eu me encolhi sobre a cama, e Angel não se aproximou ou falou qualquer coisa.
Eu já havia perdido as contas de quantas vezes havia sonhado com um beijo, com um carinho que eu nunca senti. Porém, no fundo, eu tinha esperança. Eu sempre tive esperança de que um dia ele estivesse ali e que nós viveríamos um sonho lindo, um nos braços do outro. Eu sonhava com esse dia desde criança, e a constatação de que ele nunca chegaria era como se eu tivesse morrido por dentro.

Acordei na manhã seguinte sentindo todos os músculos do meu corpo doerem. Senti a umidade no meu travesseiro e logo as memórias da noite anterior invadiram minha mente. Eu apenas respirei fundo a balancei minha cabeça, levantando da cama.
— AI, MEU DEUS! — Levei minhas mãos ao peito, sentindo que meu coração sairia dali a qualquer momento. — O que você ainda está fazendo aqui? — Perguntei, ainda sentindo meu coração acelerado.
— Você pegou no sono ontem à noite e eu não pude realmente dizer por que eu vim. — Angel disse, se aproximando da cama.
— Eu já entendi o recado. — Logo saltei da cama, me trancando no banheiro. Tirei minhas roupas e entrei no chuveiro, para tomar um banho rápido. Assim que saí, dei um salto para trás e quase escorreguei ao ver Angel sentada sobre a tampa do vaso. — Como... Como? Ah, esquece. — Saí do banheiro, sem me importar de estar nua. Vesti a roupa que iria usar para trabalhar e segui para a cozinha.
— Não é exatamente isso. — Eu me virei em sua direção. Suspirei.
— Então o que foi? — Perguntei e saí, chegando à cozinha e pegando algumas coisas para fazer uma omelete.
— Bom... — De repente, ela parecia nervosa, sem saber por onde começar. Coloquei algumas coisas sobre a bancada e me virei novamente para a geladeira, esperando ela falar o que quer que tinha para me dizer. — Eu meio que juntei sua alma gêmea com outra pessoa e vim aqui encontrar outra. — O ovo que estava na minha mão caiu. Eu me virei lentamente, com a boca aberta.
— COMO É QUE É? — Gritei para ela, me perguntando se seria possível esganar um anjo! — O QUE VOCÊ ACABOU DE ME DIZER? Isso só pode ser brincadeira! — Um riso de nervoso saiu de mim, eu estava descontrolada. O ovo, que há um instante estava quebrado no chão, agora se encontrava intacto sobre a bancada da cozinha. Angel andava de um lado para o outro.
— Foi sem querer, a lista, bom. Eu confundi os nomes! Eu não fiz por querer! — Alguma coisa brilhosa escorreu dos seus olhos. Anjos choravam lágrimas iluminadas?
— SEM QUERER? — Eu respirei fundo antes de continuar. — Você está me dizendo que juntou o cara por quem eu espero desde criança, MINHA alma gêmea, com outra pessoa? — Ela apenas assentiu. Eu a encarava, sem saber o que fazer. — Não tem como, sei lá, desfazer?
— Uma vez unidos, nada nem ninguém poderá os separar, nada além da morte. — Sua frase soou sombria. Fechei os olhos e ergui minha cabeça para o céu. Acho que nem lágrimas mais para chorar eu tinha.
— E agora? Por uma falha sua, eu nunca vou encontrar alguém? — Ela parecia magoada com minhas palavras, mas sua dor não chegava perto da minha.
— É por isso que eu estou aqui. — Ela encarou o relógio. — Nós temos 48h até seu aniversário, temos até lá para encontrar outra alma gêmea para você, sem atrapalhar a de mais ninguém. — E então eu gargalhei. Angel me encarava perplexa. — Qual a graça?
— Eu esperei 24 anos para encontrar minha alma gêmea e agora você quer achar OUTRA em 48h? Vamos lá, cadê as câmeras? Isso só pode ser uma pegadinha! — Eu voltei para o meu quarto, completamente sem fome. Juntei meu material da escola e deixei meu apartamento. Dirigi com calma, sem encarar Angel, que parecia confortável no banco do carona.
— Podemos começar no seu trabalho, tenho certeza de que existe alguém lá que ainda não foi designado para outra pessoa. — Eu apenas revirei os olhos, já conformada de que isso não daria certo.
Estacionei o carro na minha vaga e saí, Angel em meu encalço.
— Mais alguém pode te ver? — Sussurrei, não queria passar por louca no meio da escola. Ela negou. Ótimo!
— O que acha daquele? — Arregalei meus olhos em sua direção assim que notei que ela apontava para um aluno. — Ok, ok. Nada de homens mais jovens então! — Eu ainda a encarava.
— Uhm. Oi para você também, . Está aí me encarando, você está bem? — Eu balancei a cabeça, não percebendo que uma colega de trabalho estava bem atrás de Angel. Sorri, sem graça.
— Bom dia. Sim, tudo ótimo. — Abaixei a cabeça e entrei na escola. Esse dia iria ser longo.

No intervalo, segui direto para a sala dos professores, ignorando Angel, que apontava para qualquer homem que passasse pela gente. Eu não aguentava mais.
— Você é muito exigente. — Ela se jogou na cadeira ao meu lado, cruzando os braços. Eu revirei os olhos, porque não podia revidar.
— Os alunos te tiraram do sério hoje? Está com a feição irritada. — Um colega perguntou, rindo.
— E esse? É bem bonito! Não é aluno seu! O QUE ACHA? — Angel deu um salto da cadeira, quase se jogando sobre .
— Você sabe como eles são, tem hora que a gente não aguenta. — Falei, contida. Eu queria matar Angel, que pulava ao redor de , como se tivesse encontrado seu pote de ouro. E então ela parou e encarou o nada, como se estivesse repassando alguma coisa mentalmente.
— ELE AINDA NÃO FOI DESIGNADO! , TEM QUE SER ELE! — Angel voltou a pular e gritar. se sentou ao meu lado, notando meu nervosismo.
— Você quer falar sobre? Às vezes alivia a vontade de matar alguém. — Sorri para ele, apoiando as mãos sobre a mesa. era legal, nós nos dávamos bem, mas eu não fazia ideia de quem ele realmente era, nossos assuntos nunca saíram do tema “escola”.
— Não, não, tudo bem. Só preciso de um momento. — Falei, simpática, no fundo começando a cogitar a ideia. Ele logo levantou, e eu balancei a cabeça. Isso era loucura. Apoiei meus cotovelos sobre a mesa e coloquei minha cabeça entre as mãos. Eu estava perdida.
Senti que alguém sentou ao meu lado, mas não fiz menção de me mexer.
— Manhã ruim? — Logo encarei a pessoa ao meu lado. era professor de Filosofia, e raramente conversava com qualquer um ali. Eu nunca havia encontrado alguém tão oposto a mim quanto ele. Enquanto eu chegava e cumprimentava todo mundo e conhecia um pouco de todos, estava sempre calado, na dele. Eu era mais racional, prática; ele sempre imaginativo, com ideias complexas demais para qualquer ser humano. era aquele tipo de pessoa que sempre pensava demais antes de agir sobre determinados assuntos nas reuniões. Eu já era mais impulsiva, não conseguia ver assuntos sendo amontoados um em cima do outro.
Entretanto, no fundo, a gente se dava bem.
— Sim, não dormi muito bem, então já comecei o dia com o pé esquerdo. — Sorri em sua direção.
— Tenho certeza de que um copo de café pode ajudar. — Ele sorriu para mim e eu fiz uma careta. — O que foi?
— Odeio café. — Seu olhar de espanto me fez sorrir ainda mais.
— Como alguém pode odiar café? — Ele perguntou, realmente surpreso. Eu dei de ombros. — Uau. — Eu ri ainda mais, o que atraiu a atenção de Angel, que estava sentada ao lado de esse tempo todo. Ela olhava de para . era professor de Educação Física, seu porte atlético gerava suspiros por onde passava. já tinha um perfil mais comum. Nem muito magro, nem muito musculoso, apenas... normal, eu acho.
— Sério, ? — Angel parecia inconformada. Eu a olhei com reprovação. Ela revirou os olhos e sentou ao lado do . Seu olhar novamente focando o nada. — Ele também não foi designado para alguém. — Ela disse depois de um tempo, ainda lançando olhares furtivos para . O sinal bateu e logo todos os professores levantaram para irem para suas respectivas turmas.
— Qualquer dia desses vou trazer o meu café para você, aí a gente descobre qual o problema com o seu paladar. — brincou.
— Ah, o meu paladar que é o problema? — Falei em tom de descrença, mas claramente implicando com ele. apenas sorriu e seguimos em caminhos opostos.

Assim que as aulas da manhã acabaram, segui em direção ao estacionamento para deixar o material no carro e ir andando para um restaurante próximo da escola.
— Aonde você pensa que está indo? E por que seus dois pretendentes saíram sem você? — Angel estava alterada, suas mãos na cintura.
— Eu estou indo almoçar. — Disse, apenas.
— E por que não chamou um dos dois? Você sabe que temos apenas — ela olhou o relógio — 36 horas? — Senti um aperto no peito, mas mantive minha postura.
— Nós estamos aqui para consertar a merda que você fez, não venha agir para cima de mim como se a culpa fosse minha. — Sua pose murchou e, em silêncio, seguimos para o restaurante. Assim que cheguei, e estavam lá, em mesas opostas. Ambos sozinhos. Angel iria começar a dizer alguma coisa, mas logo desistiu. Eu me servi e segui para uma mesa afastada, sozinha.
Eu precisava pensar.
Tudo era insano demais. Eu ainda acreditava que em algum momento eu iria acordar e tudo isso não passaria de um sonho. O anjo na minha frente estava inquieto, olhando para os dois homens e, em seguida, para mim. Não era como se pudéssemos manter uma conversa.
— Olha, eu sei que eu que fiz besteira, ok? Mas estou aqui tentando consertar! — Suspirei. Eu sabia que estava sendo dura com ela, mas como ela queria que eu reagisse ao saber que tudo que eu havia sonhado talvez nunca se tornasse real?
Nas inúmeras conversas que tive com os forasteiros, eles contavam todo tipo de história. Todos tinham amigos que se casaram mais de duas vezes, outros sofreram tanto nas mãos do parceiro, que se isolaram do mundo; alguns eram mais abertos sobre suas próprias vidas, contando casos de traição que os fizeram repensar muitas coisas acerca de um relacionamento.
A maioria deles deixava claro o desejo de fazer parte da nossa cidade, mas eu nunca vi alguém de fora que conseguiu viver aqui. No começo, tudo era novo, as cenas dos casais se apaixonando era a chama de esperança que eles precisavam para acreditar de novo no amor, entretanto, aos poucos, a constatação de que eles nunca o encontrariam ali os fazia ir embora.
Eu gostava de conversar com eles, ouvir as histórias, ainda que tristes, e algumas vezes trágicas, de um relacionamento que desde criança eu ouvia que eu não teria que passar. E foi então que me atingiu.
Eu acabaria me tornando uma dessas pessoas. Eu veria o amor nascendo todos os dias e nunca teria o meu. Senti minha respiração falhar e soltei os talheres sobre o prato.
— O que foi? — Angellyn parecia preocupada.
— Eu vou deixar a cidade. — Falei bem baixinho. — Eu não vou conseguir viver aqui sabendo que... — As palavras morreram nos meus lábios. A dor era tão intensa, que tive que fazer um esforço imenso para segurar a comida no meu estômago.
Peguei minha bolsa e saí rapidamente do restaurante, de cabeça baixa para que não vissem as lágrimas que começaram a cair.

Já passava das 19h quando deixei a escola. Angel havia sumido, talvez ela também tivesse desistido. Dirigi com calma até meu apartamento, sentindo a ideia de me mudar ficando cada vez mais forte dentro de mim.
Assim que cheguei, fui direto para o banheiro. Quando terminei de tomar banho, vesti o pijama e sentei na mesa para corrigir algumas tarefas. Quanto mais eu mantivesse minha mente ocupada, melhor.
— Olá! — Joguei minha caneta longe e quase caí da cadeira quando Angel apareceu de surpresa atrás de mim.
— Você quer me matar do coração? — Perguntei entredentes. Ela logo colocou a caneta de volta sobre a mesa. Encarei-a. Ela parecia confiante.
— Eu fiquei observando os dois homens da sua escola, montei até uma lista de coisas que eles gostam, e aí você pode escolher. — Eu soltei meu peso sobre a cadeira, sentindo toda a pressão do dia retornando. Levantei-me.
— Angel, eu não tenho como escolher, você, melhor do que ninguém, deveria saber que as coisas não funcionam assim. Eu não vou entrar em um relacionamento por desespero ou por medo de ficar sozinha para sempre, isso só pode fazer mais mal do que bem. Sim, talvez essa seja a minha única chance de ter uma segunda alma gêmea, se é que isso realmente existe. — Revirei os olhos. Ela iria me interromper, mas eu prossegui. — Eles são meus colegas de trabalho, realmente acha que se fosse para acontecer, já não teria acontecido há um bom tempo? Eu não sei como essas escolhas de vocês são feitas, mas minha chance já passou, e de nada adianta eu ficar aqui tendo esperanças de que algo bom ainda possa acontecer.
... — Sua voz estava triste.
— Angel, está tudo bem. ‘Tá, está nada bem, mas vai ficar. — Eu afirmei, recitando o mesmo verso que cansei de falar para as minhas amigas quando elas tentavam me consolar de que a minha vez logo chegaria.
— Você tem uma chance real aqui, eu estou te dizendo. Você acha mesmo que eu viria até aqui para apenas iludir você?
— E você não acha que se tivesse uma solução seria muito mais prático agirem sem eu saber? — Rebati com outra pergunta, a desestabilizando. — Angel. — Comecei, desconfiada. — Quem te mandou aqui? — Ela deu um passo para trás. Isso não era um bom sinal.
— Uhm, o que importa é que eu estou aqui, não é verdade? — Ela parecia sem graça.
— Seus superiores ou quem quer que seja que decida essas coisas nem sabem que você está aqui ou o que você fez? — Eu estava em choque. — Me deixa reformular: quer dizer que além de você ter estragado tudo para mim, ainda não reportou, ou seja lá como isso funciona? — Eu virei as costas, não acreditando no que estava acontecendo. Quando que minha vida passou de uma simples professora de Matemática para ter um anjo ferrando com tudo?
— Bom, é mais ou menos isso. — Ela alisava seus cabelos nervosamente.
— Quer saber? Cansei. Acho melhor você ir embora. Se eu achava que isso não daria certo, agora eu tenho plena certeza. — Angel iria dizer alguma coisa, mas eu apenas virei as costas e segui para o meu quarto. Assim que me ajeitei sobre a cama, chorei até pegar no sono.

Ouvi meu celular tocar ao longe e aos poucos despertei. Mais uma péssima noite.
— Alô? — Atendi com a voz rouca.
— Como você está sabendo que é hoje o grande dia! — estava animada. Eu apenas suspirei. — Você promete que vai me ligar no instante que acontecer?
— Claro. — De que adiantaria contar que um anjo veio me falar que tinha juntado minha alma gêmea com outra pessoa? Ela iria mandar me internar.
— Nossa, quanta animação.
— Eu não dormi bem. Eu preciso levantar e ir para a escola, falo com você mais tarde.
Angel realmente tinha ido embora. Esse dia já seria ruim o suficiente sem ela.
Assim que cheguei à escola, senti os olhares sobre mim. Todos estavam esperando o grande momento. Todos sabiam que amanhã era meu aniversário, então hoje seria o grande dia.
Forcei um sorriso para todos que me cumprimentavam, mas controlando as lágrimas que insistiam em se formar em meus olhos.
No refúgio da sala de aula, tudo ocorreu sem maiores problemas. Os adolescentes tinham coisas mais importantes para fazer do que prestar atenção na ausência de vida amorosa de sua professora.
Hoje eu só daria aula na parte da manhã, então assim que encerrei a última aula, praticamente corri para o estacionamento. Consegui me esquivar das pessoas e, enfim, chegar à segurança dentro do carro. Fechei os olhos com força e apoiei minha cabeça sobre o volante.
Ouvi duas batidinhas no vidro ao meu lado e ergui minha cabeça. Era .
— Oi. — Ele falou com um enorme sorriso nos lábios.
— Olá. — Tentei lhe dar um sorriso de volta, mas duvido muito que tenha tido algum sucesso.
— Você parece cansada. — Ele parecia verdadeiramente preocupado.
— Não estou dormindo muito bem esses dias, mas vai ficar tudo bem. — Ele voltou a sorrir.
— Então é hoje, certo?
— É o que dizem. — Liguei o carro, não me importando de parecer rude.
— Bom, até amanhã. — O importante era que o recado havia sido entregue.
— Até. — Dei ré e saí. Dirigi até meu lugar preferido na cidade: uma loja que vendia HQ’s, uma das minhas maiores paixões.
Cumprimentei o vendedor, que já me conhecia pelo nome de tanto que eu ia ali. Eu percorria as prateleiras, encarando as edições que faziam parte da minha coleção particular. Segui para o corredor mais ao fundo da loja, aquele mais reservado, mas que continha as maiores relíquias. Primeiras edições que faziam meus olhos lacrimejarem só de olhar.
— Você não deveria fazer isso. — me assustou quando eu estava quase retirando um dos exemplares da prateleira. Eu sorri em sua direção.
— O dono daqui me conhece, eu tô acostumada a vir aqui sempre e ele me deixa olhar essas. — Apontei para aquelas relíquias.
— Sério? — parecia admirado. Eu assenti.
— E você? O que faz aqui? — Perguntei, verdadeiramente curiosa.
— Eu sempre venho aqui, sou meio que viciado em HQ’s. — Ele parecia sem graça, principalmente diante da minha reação de surpresa.
— Eu amo HQ’s! — Falei, logo sentindo aquela conexão por uma paixão em comum. — Você coleciona? — Perguntei, animada.
— Sim, tenho algumas. — Ele usou aquele tom de quem tem muitas e quer se gabar, ao mesmo tempo em que não quer.
— E quantas você tem? — Entrei no jogo. Eu tinha muito orgulho da coleção que tinha e só crescia a cada ano.
— Em torno de cinco mil. — Ele disse, como se me desafiasse. Eu sorri.
— É um número impressionante. — Eu dei as costas, percorrendo as demais prateleiras. Nada como um joguinho entre colecionadores.
— E você? — Eu sorri para ele.
— Pouco mais de onze mil. — Dei de ombros, mas eu sabia que tinha causado uma impressão e tanto.
— Uau. — Ele estava boquiaberto, e não consegui refrear o sentimento de vitória. Eu deveria me sentir péssima, eu sei, mas eram meus bebês, me dá um desconto.
Pelas próximas horas, sentamos em um espaço reservado para leitura e falamos sobre nossas coleções. Contei das minhas maiores conquistas, das que mais amava, das mais difíceis de conseguir. Passamos por tantas revistas, que nem vimos que já havia escurecido.
— Sério que não tem o Wolverine versus Homem-Aranha? Mas é uma edição até simples de conseguir! — Ele parecia perplexo diante da minha confissão.
— Eu já tentei em vários lugares, juro! Até pedi para o dono daqui tentar arranjar para mim, mas ainda nada. — Fiz minha cara mais triste, apenas fazendo sorrir.
— Eu nunca iria imaginar. — Eu gargalhei.
— Você também não aparenta ser colecionador de revistas em quadrinhos. — Afirmei, deixando-o um pouco sem graça. Eu jamais imaginaria que uma conversa com ele pudesse fluir tão facilmente, ainda mais que tivéssemos gostos tão parecidos quando o assunto era nossas histórias favoritas.
— Desculpa interromper vocês, mas eu preciso fechar a loja. — O vendedor parecia verdadeiramente de saco cheio de ver a gente ali. e eu levantamos, assustados, com o avanço da hora.
— Obrigada, você sabe que te amo, certo? — Dei um beijo na bochecha do vendedor, que ficou extremamente corado. Deixamos a loja, e não conseguia parar de rir.
— Talvez ele nunca mais lave aquele lado do rosto. — Nós caminhamos para o estacionamento da loja. Por uma coincidência da vida, nossos carros estavam estacionados lado a lado. Um clima um pouco constrangedor se formou entre nós.
— Bom, acho melhor eu ir andando. Foi muito bom te encontrar aqui hoje, , de verdade, eu estava mesmo precisando distrair a mente. — Falei, sem graça. Ele mantinha um sorriso singelo no rosto.
— O prazer foi todo meu, mesmo que sua coleção seja mais que o dobro da minha. — Ele fez parecer estar sentido, mas, no fundo, era apenas brincadeira.
— Qualquer dia desses a gente marca e eu te mostro. — Convidei, meio que sem pensar.
— Eu vou cobrar. — Ele destravou seu carro. — Boa noite, . Até amanhã.
— Até. — Seguimos novamente caminhos opostos. Eu ainda não estava preparada para ir para casa, então dirigi até a praça da cidade. Poucas pessoas ainda estavam por ali. Já era mais de 21h e apenas alguns casais passeavam. Sentei-me em um banco mais afastado, encarando o nada.
A sensação era tão estranha.
Em três horas tudo estaria acabado. Eu estava sozinha na praça, mas sabia que ainda tinha um fio de esperança dentro de mim, sabia que era isso que não me permitia ir para casa, não ainda. Eu precisava ficar ali, a vista. Eu precisava ter a certeza de que eu não estaria trancada dentro de casa, passando os últimos momentos dos meus 24 anos de vida.
Assustei-me quando Angel se materializou ao meu lado. Ela estava calada, encarando para o mesmo nada que eu, se é que isso fazia algum sentido.
— Eu tentei falar com meus superiores. — Ele quebrou o silêncio. A palavra “tentei” martelando na minha cabeça. Pela sua postura, eu sabia que era o fim. — Eu realmente achei que conseguiria acertar tudo, me desculpe. — Eu apenas balancei a cabeça, sem dizer uma palavra.
Nós duas ficamos ali. Sozinhas.
Quando faltavam menos de cinco minutos para a meia-noite, eu dei o primeiro soluço. E então as lágrimas encontraram seu caminho pelo meu rosto. Eu senti meu coração quebrar, porque eu havia sido a exceção, e não fazia ideia de como viveria com isso.
Ouvi meu celular tocar, era . Ignorei a chamada. Eu queria falar com ninguém. Eu sempre imaginei que não importaria o tempo que passasse, jamais deixaria de esperar até o último segundo. A espera tinha chegado ao fim, mas sem o meu final feliz.
O sonho tão lindo que eu havia sonhado jamais existiria.

Quando o despertador tocou na manhã seguinte, eu tive dificuldade de abrir os olhos. Eles estavam inchados de tanto que eu chorei. Angel havia me acompanhado até em casa, em silêncio, e se sentou ao meu lado na cama. Eu podia ver que ela estava sofrendo, mas não estava nas condições de ajudar alguém.
Peguei meu celular. Tinham mais de trinta chamadas perdidas.
Retornei para ninguém.
Levantei e segui para o banheiro. Tomei um longo banho, aproveitando para pensar no que eu faria. Todo mundo veria que nada tinha acontecido no momento que eu colocasse meus pés na escola.
Vesti uma roupa qualquer, coloquei uns óculos escuros no rosto e peguei o material da escola. O dia seria longo.
Assim que estacionei, senti o peso dos acontecimentos recentes. Eu ainda não sabia se teria forças para encarar todo mundo. Respirei fundo e esperei o sinal tocar. Chegar atrasada faria com que menos pessoas passassem por mim.
Desci do carro e fui direto para a sala de aula. Segui de cabeça baixa, desviando dos corredores mais movimentados. Eu havia entupido meu rosto de maquiagem, mas meus olhos ainda entregariam minha péssima noite de sono.
Entrei na sala e os alunos logo ficaram em silêncio. A pouca importância que deram a ontem, estava claro que não seria tão mínima hoje. Assim que tirei os óculos escuros, eles pelo menos foram gentis ao desviarem o olhar e não cochicharem na minha frente.
Quando o sinal do intervalo tocou, eu recoloquei os óculos e deixei a sala o mais rápido possível. Todos passavam ao meu redor como um borrão. Assim que saí no pátio, eu travei. Meus amigos estavam parados ali, com um bolo enorme escrito “feliz aniversário”, mas seus sorrisos logo murcharam ao olharem para mim.
Eu segurei o choro com todas as forças que ainda restavam em mim e forcei um sorriso para eles.
— Obrigada, eu nem imaginava! — Minha animação soava tão falsa, que incomodou os meus ouvidos. Todos me encaravam, sem saber o que falar. E então eu desisti daquela cena toda e saí, percorrendo pelo meio dos alunos e dos meus amigos.
Quando alcancei a metade do pátio, ouvi alguém me chamar e, por impulso, eu virei. As lágrimas já escorriam pelo meu rosto, então logo abaixei a cabeça e virei novamente, em direção à saída da escola.
— EI, ESPERA! — veio correndo até me alcançar. Seu olhar recaiu sobre mim e parecia que só então ele havia percebido que alguma coisa estava errada. Ele tocou meu braço, mas eu me afastei. Ele adiantou seus passos e se colocou na minha frente.
— Só me deixa ir embora, , é sério. — Minha voz estava engasgada pelo choro.
— Eu vou deixar, mas eu queria te dar um presente pelo seu aniversário. — Ele sorriu.
— Não estou me sentindo muito comemorativa no momento. — Disse, ácida. Ele apenas revirou os olhos. tirou um dos braços de trás das suas costas e estendeu um embrulho para mim.
— Abra, tenho certeza de que vai te fazer sentir melhor. — Acabei cedendo e peguei o embrulho das suas mãos. Assim que notei o formato, arregalei meus olhos. Não podia ser!
— Como... Como? — Antes mesmo de terminar de abrir tudo, eu pude ler “Wolverine versus Homem-Aranha” no topo da revista. Quando ergui meu rosto para olhar em sua direção e o agradecer, eu senti.
O clima havia mudado, o vento soprava ao meu redor, como se me empurrasse em sua direção. Nossos olhares estavam conectados, e todos haviam sumido. Não havia barulho, não havia movimento, apenas nós.
E então eu ouvi.
“É ele.”
“É ela.”
“Para sempre.”

E uma força que eu não sabia de onde vinha me empurrou para frente e eu caí nos braços do . Ele retirou os óculos do meu rosto, devagar, limpando os rastros das lágrimas que ainda estavam por ali. Seu olhar havia mudado, era tão carinhoso e gentil, que voltei a chorar, mas dessa vez não de tristeza.
— Quem diria, não é mesmo? — Eu sorri para ele, que me envolveu ainda mais em seu abraço. Eu não conseguia acreditar que havia acontecido. E então o barulho voltou, as pessoas nos cercaram, nos cumprimentando. Minhas amigas me puxaram dos braços do , que logo resmungou, segurando apenas minha mão enquanto conversava com alguns dos nossos colegas.
— AI, MEU DEUS, AI, MEU DEUS! — gritava, não sabendo se me abraçava ou se pulava. — EU DISSE QUE IRIA ACONTECER! — Ela falou, uma lágrima solitária escorrendo pelo seu rosto. Minha amiga se aproximou. — Eu fiquei tão preocupada quando você não retornou minhas ligações.
— Eu não estava bem. — se aproximou de nós, ainda sem saber como agir. Eu apoiei minha cabeça em seu ombro.
— O que foi? — Ele sorriu.
— Ainda não entendo como aconteceu. — Ele ficou pensativo por uns instantes.
— Que horas você nasceu? — perguntou, incerto. Eu olhei para o relógio no meu pulso, que acabava de marcar às 10h07min.
— Agora. — Mostrei o relógio para ele.
— Então só agora você tem 25 anos. — Ele beijou o topo da minha cabeça. Eu suspirei, fazia sentido. Os alunos logo nos cercaram, me desejando feliz aniversário e nos parabenizando.
Ainda era tão estranho sentir sua mão na minha, sendo que até dois dias atrás essa possibilidade não havia nem mesmo passado pela minha mente.
Minhas amigas trouxeram o bolo até nós, o clima antes tão sombrio sendo preenchido por risadas. Eu encarei as velas, sentindo todo o peso do que aqueles números representavam indo embora.
— Vamos, faça um pedido. — falou, me encarando com um enorme sorriso nos lábios. Eu olhei para , sentindo que tudo o que eu queria estava bem ali. Fiz meu pedido e assoprei as velas. Todos aplaudiram e cantaram parabéns para mim. Depois de 48 horas muito perturbadoras, tudo parecia estar entrando nos eixos.
— E então? Não vai me contar o que desejou? — sussurrou no meu ouvido assim que a multidão se desfez, com cada um indo para a sua sala. Eu o encarei. Como se eu fosse contar que eu queria ter três lindos filhos assim, antes mesmo de um primeiro encontro.
— Se eu te contar, não vai se realizar. — Ele riu, se aproximando de mim.
— O que acha de sairmos para jantar hoje? Só nós dois. — Eu desviei o olhar, ainda sem saber como agir.
— Acho uma excelente ideia. — deu um beijo na minha bochecha e saiu.
Se isso era um sonho, eu verdadeiramente não queria acordar.

Epílogo


— Angel não se cansa de ficar acompanhando a vida desses dois. — O anjo dizia enquanto encarava os recém-casados em sua casa nova. Seu chefe também os observava mais do que gostaria de admitir.
— Quem diria que Angel causaria toda aquela confusão sem fundamento algum. — O outro anjo riu da fala do seu superior.
— O senhor nunca vai contar para ela? No fundo, ela ainda se culpa por toda a confusão. — O anjo superior pareceu pensar, rindo das gracinhas do casal.
— Não, ela anda muito mais atenta. Quem sabe um dia? — O anjo deu de ombros, pedindo silêncio.

“— , é obvio que eu vou ficar com a maior parte da estante! Não sei se você sabe, mas a minha coleção tem treze mil exemplares. — não conseguia controlar o riso da cara de choque do marido.
— Até quando vai me jogar isso na cara? — perguntou, com as mãos sobre o peito, como se tivesse sido ferido. — Achei que agora o que é meu é seu, e o que é seu também é meu. — O rapaz disse, com um tom desafiador. A mulher se aproximou dele, o abraçando pela cintura.
— Não lembro de ter lido isso quando assinei os papéis lá na igreja. Amor é amor, revistas à parte. — Ela deu um rápido beijo no marido e se afastou, porque sabia que ele logo iria revidar.
— É mesmo? Então é assim que vai ser? — perguntou, já se preparando para ir atrás da esposa.”

— Acho que esse é um dos melhores casais que já juntamos. Certeza que ninguém daria nada por eles, tão opostos em personalidade, mas tão iguais quando o assunto era paixão. — O anjo comentou, irritando o anjo superior, que nem se deu ao trabalho de desviar o olhar. — Ok, já me calei.

“— Ai, ai, para, ! — não conseguia falar direito enquanto fazia cosquinhas por todo o seu corpo.
— Quero ver suas treze mil revistas te ajudarem agora! — O rapaz implicou, ainda fazendo cosquinhas na esposa. Aos poucos, os dois foram acalmando e acabaram deitados sobre o sofá, cercados por caixas e mais caixas com a mudança.
— Eu nunca estive tão feliz, sabia? — Ela perguntou, enquanto ele beijava o topo da sua cabeça.
— Aquele anjo nunca mais apareceu para você? — , ainda que relutante, acabou acreditando na história que contou.
— Não, nunca mais. — Ela se ajeitou sobre o peito do marido de maneira a poder encará-lo. — Você acha que eu fui dura demais com ela? — O rapaz pareceu ponderar.
— Talvez, mas você estava no seu direito. Não que eu esteja reclamando, porque se ela não tivesse errado, nós não estaríamos aqui. — Um calafrio percorreu ambos os corpos, um pensamento que ambos quiseram eliminar.
— O que importa é que estamos juntos. — disse, beijando-o brevemente.
— Você pensa nele? — Ela franziu a testa.
— Em quem? — estava confusa, mas tinha um semblante sério.
— Na sua primeira alma gêmea. — Ela suspirou.
— Eu não posso pensar em alguém que nunca existiu. Você nasceu para mim, e eu para você. Não importa os desvios no caminho, apenas o final, pelo menos nessa história. — A mulher se sentou e pegou as mãos do homem. — Eu amo você, , você é todo o amor que eu sempre procurei, o amor que eu sempre sonhei. Eu nunca senti nada tão forte quanto o que eu sinto por você. Por que eu perderia meu tempo pensando em alguém que não me faz falta, porque a gente não pode sentir falta daquilo que nunca teve, se eu posso passar todo esse tempo com você? — sorriu, mais tranquilo com as palavras proferidas por sua mulher.
— Eu amo você, e só a possibilidade da gente nunca... — o beijou, interrompendo sua fala que ela julgava sem sentido.
— Essa possibilidade não existe. Você ouviu os anjos, é para sempre. Você não vai se livrar de mim assim tão fácil, meu amor. — Ela brincou, arrancando uma gargalhada do marido.
— Vem cá. — Ele pediu. estava sentada em seu colo, um de frente para o outro.
— O que foi? — Ela perguntou quando ficou sem graça sob o olhar intenso do .
— Nada, eu só gosto de olhar para você. — riu, voltando a deitar sobre o peito do marido.”

— O senhor está chorando? — O anjo perguntou quando notou uma gota brilhosa cair no chão.
— Foi só um cisco. — O anjo superior respondeu, limpando o rosto discretamente.
— Acha que o rapaz ficou convencido? — O anjo parecia preocupado.
— Sim, eles vão ficar bem. Angel agiu muito bem quando sugeriu que ele fosse à loja de revistas no mesmo horário que a moça.
— Acho que foi a única coisa que ela fez certo. — Ele revirou os olhos, mas logo abaixou a cabeça sob o olhar acusador do seu superior.
— Minha preocupação maior é acharem que possa existir mais de uma alma gêmea.
— Sim, isso é realmente um problema. Infelizmente, ainda não sabemos o que causou o problema com as listas da Angel, porque, na verdade, nada aconteceu diferente da forma como deveria. Todos os casais seguiram seu curso um para o outro, no momento certo. Inclusive esses dois, destinados um ao outro muito antes de nascerem. — O anjo superior sorriu com a fala do outro anjo, encarando o casal.
— Acho que isso serviu para acalmar alguns humanos, eles têm uma fixação grande demais com a idade. A cada ano que passa, mais ansiosos eles ficam. Com essa história toda, eles ganharam uma nova perspectiva. — O superior ponderou.
— É verdade. O importante é que a confusão toda só aconteceu para Angel e para pobre humana. Foi difícil vê-la chorando tanto naquelas 48 horas finais. — Os anjos apenas balançaram a cabeça, querendo afastar aquela memória.
— Olhe para eles, ainda me encanta a forma como se amam tanto.

“— É sério, a gente ganharia muito mais se juntasse tudo. Você parou para analisar que não temos tantas revistas repetidas assim? Esqueceu que eu passei alguns anos fora do país? — ficou pensativa.
— Tudo bem, você venceu. — Ela revirou os olhos, mas logo sorriu ao encarar a cara de felicidade do marido.
— Você vai ver, em pouco tempo vamos ter a maior coleção do mundo! — Os dois riam, criando planos.
— Imagina nossos filhos? — Ela jogou a ideia, como quem não queria nada. Ele entendeu a indireta.
— Precisamos tomar cuidado, ou ninguém vai suportar as crianças quando elas disserem que tem milhares de revistas em casa. — Os sorrisos ampliaram.
— As crianças, é? — brincou, aproximando-se dele.
— Sim. Tem alguma objeção? — Ela apenas negou com a cabeça. — O que acha da gente começar a treinar? — disse, de maneira sedutora. nem se deu o trabalho de responder, apenas colou seus lábios nos do marido e os dois...”

— Ok, acho que é hora da gente voltar ao trabalho. — Os anjos fecharam a cena imediatamente.
— Não podia concordar mais, senhor.

E nunca foi tão forte assim
Eu ouvi um anjo me falar...



Fim




Nota da autora: Oi, gente!
Dei super a louca nesse mixtape e ainda nem acredito que dei conta de escrever tudo! Eu sou tão apaixonada por essa música, que eu não me controlei e logo a pedi. Só que a ideia que eu tive era muito trabalhosa e, infelizmente, não pude abordar do jeito que eu gostaria, porque o tempo ficou curto. Eu espero que gostem, de verdade, ficou curtinha, mas a fiz com todo o meu coração!
Se puderem comentar e me falarem o que acharam, eu ficaria muito grata!

A outra música que entrou nesse Mixtape foi Não Resisto a Nós Dois, e o link está aqui embaixo junto com as minhas outras fanfics!

Obrigada e até a próxima!
Larys

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- 11. Love Me Or Leave Me - Ficstape #053
- Mixtape: Não Resisto a Nós Dois - Mixtape: Brasil 00's




Qualquer erro nessa fanfic são apenas meus, portanto, para avisos e reclamações, somente no e-mail.




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