Capítulo Único
Eu sei o seu nome
Eles roubaram seu coração de dentro de você
Mas isso não a define.
– Eu já decidi o que fazer Ryan. – Eu falava ao telefone. – Minha mãe saiu e como sempre deve voltar as quatro. – Olhei no relógio. – E esse horário eu estarei bem longe daqui. – Fechei o porta malas. – Eu sei, eu tenho que correr esse risco, eu deveria ter evitado. – Desliguei o telefone.
– Onde você vai com essas malas?
– Mãe.
– O que pensa que vai fazer?
– Eu vou atrás da minha esposa. – Respondi.
– Deixe essas malas aí mesmo, que a governanta já vai colocar no seu devido lugar. – Ordenou olhando para empregada. – E vá para empresa, tem muito trabalho a se fazer.
– Eu não vou mãe.
– Pare de parecer uma criança birrenta.
– Eu não sou mais uma criança que a senhora manda e desmanda. – Afirmei.
– Olha o que aquela selvagem fez com você. – Apontou.
– Ela não é selvagem. – Rosnei. – Morar em uma cidade pequena e ter uma fazenda não faz de você selvagem.
– Eu não tenho tempo para isso.
–E eu nem ire gastar o meu lhe dando explicações, irei viver minha vida. – A deixei falando sozinha. Pegando o rumo daquela estrada tão conhecida. Eu havia ensaiado uma forma de não gaguejar e ser firme em sua frente, algo que eu nunca tinha sido diante de todas as vezes que minha mãe foi terrível.
Eu estava parado ali com os olhos fixos naquela porteira, os cachorros perceberam a presença de um estranho e começaram a latir e então ela saiu para a varanda, ficamos um tempo ali apenas nos olhando.
– O que veio fazer aqui? – Me perguntou.
– Precisamos conversar. – Única coisa que consegui formular.
– Você acha que pode simplesmente aparecer aqui do nada? – Perguntou. – Depois de algumas semanas que eu vim embora?
– Eu sei, mas eu precisava desse tempo. – Segurei na porteira. – Eu precisava te perder para poder acordar.
– Você precisa me quebrar, como todos eles. – Gritou de volta.
– Eu não vou e nem quero te magoar. – Comecei. – Eu fui um crápula, um inútil em não ter te defendido de tudo o que minha mãe falava e fazia com você, de todo o veneno que aquelas três jogavam. – Abri a porteira. – Mas querendo ou não aquilo é a minha raiz, eu fui criado assim mas isso não é desculpa.
– ...
– Parte de tudo o que ocorreu é culpa minha, eu só quero que você saiba que eu estou aqui para pedir desculpas. – Pedi. – Para de algum modo me retratar.
– Eu estou muito magoada. – As lágrimas em seus olhos eram visíveis. – Eu me apaixonei por aquele homem desastrado que não sabia tirar leite de vacas, que não tinha jeito com as crianças que eram meus alunos. – Balançou a cabeça. – Ele nunca existiu. – Cruzou os braços. – Ele foi algo inventado pela minha cabeça.
– Ele está aqui. – Falei firme. – Eu me odeio por toda essa situação, por ter me mostrado duas pessoas para você, por ser um filhinho de mamãe. – Ela fez menção de dizer algo. – Eu te respeito e vou respeitar sua vontade, eu vim aqui para ser quem eu realmente sou aqui, longe de tudo e de todos ao qual eu não tenho uma voz ativa.
– Eu não vou voltar. – Disse. – Porque eu sei que tudo irá mudar, que foi tudo uma ilusão o que vivemos aqui.
– Não, não foi. – Parei em sua frente. – Eu larguei tudo, sem olhar para trás. – Pausei. – Eu não sei o que vou fazer e como, mas eu estou aqui por você. – Mexi em seu cabelo. – Eu te amo e quero voltar a ser feliz com vocês aqui. Eu só tenho o carro e sei lá, deve dar para a gente comprar uma casa. – Respondi. – Você pode voltar a ser professora, e eu posso arrumar um serviço em alguma coisa ou talvez meu pai pode me ajudar com a indústria aqui. – Tagarelei.
– Se você quer realmente começar do zero, sendo quem realmente é, deve conseguir por si só. – Respondeu. – , eu quero um tempo, um tempo só para mim. – Pediu.
– E... Eu entendo. – Falei recuando. – Temos todo o tempo do mundo.
– Ei garoto. – O seu avô gritou. – Vão ficar aí no quintal esperando a chuva chegar? – Perguntou. – Venha logo me ajudar com essa lenha. – sorriu torto me indicando o que fazer. Eu teria um trabalho árduo para reconquistá-la, ter sua confiança de volta e de toda sua família, que nos olhava pela janela.
Você sabe quem eu sou