Última atualização: 24/07/2019

Único

“When you stumble and fall a little luck can go a long way so don't you worry about what people say who knows where the wind may blow for an ordinary girl” – Miley Cyrus



Os flashes estouraram em meu rosto assim que sai do carro. Paparazzis amontoados ao meu redor à espera de algo que pudesse se tornar uma fofoca, algo digno de primeira página do TMZ. Perguntas soando alto aos meus ouvidos.

“Ei, , conta pra gente como está sua vida amorosa.”

“Tem muitas fotos de você e Steve juntos em LA.”

“Aquele clipe foi um recado para os fãs?”

“Stally é real?”

Perguntas que me cansavam mais do que irritavam. Nada mais havia de interessante em minha vida além de um relacionamento com alguém. Minhas novas músicas ou meu novo disco não faziam tanto burburinho quanto estar com um amigo num dia em que eu precisava, acima de qualquer coisa, ser uma garota normal.
Jeremy e Gunther formaram um muro de proteção à minha volta para que eu pudesse passar. Maldito dia que eu tinha decidido ser apenas eu, sair da minha zona de conforto, me divertir como eu fazia antes da fama.
Se existe algo que a fama tira de você é a privacidade. E mesmo que você ame o que faz, o carinho e o reconhecimento dos fãs, as multidões que te seguem exatamente pelas músicas que você canta, ainda assim em momentos como o de agora, te fazem pensar se compensa. Fugindo das câmeras e dessas pessoas sedentas por qualquer coisa que possa se tornar matéria, definitivamente não compensava.
Apressei meus passos para chegar em casa e acabei ouvindo uma gracinha.

- Cheia de graça escondendo namorinho. Seus fãs pagam para saber da sua vida, . – Soltou e as pessoas ao redor soltaram risadinhas.

Nunca fui de responder à pessoas sem noção, mas não pude evitar. Não desta vez. Virei-me para a multidão atrás de meus seguranças e mesmo sendo segurada por eles, dei alguns passos até o dito cujo.

- Meus fãs pagam para ouvir as minhas músicas. Contar que e se estou namorando ou não, é um bônus que eles recebem por acompanharem meu trabalho. E vocês ou qualquer revista de fofocas deveriam fazer o mesmo. Minha vida pessoal não está na pauta. – Finalizei e voltei-me aos seguranças deixando-me, finalmente, ser conduzida para dentro.
- , por que fez isso? – perguntou vindo em minha direção. – Isso vai pipocar por uma semana, vai ser a pior notícia sua desde que te pegaram saindo da casa do Steve de madrugada.
- Estou cansada, . Cansada de precisar sempre dizer tudo o que faço, o que sinto, com quem estou. Isso não é vida! – Exclamei irritada. – O que importa para eles é só meu pseudo namorado? Eu sou uma pessoa antes de ser uma cantora.
- Eu sei disso, . Mas eles não. – Segurou meus ombros na tentativa de me acalmar. – Você precisa ignorar isso.
- Que vontade de voltar para a fazenda do vô... – Suspirei jogando-me com força no sofá. – De onde eu nunca deveria ter saído.
- Você precisa relaxar, escrever novas músicas, sair com seus amigos de novo, tirar férias. – Apoiou as mãos no encosto do sofá atrás de mim e dispensou os seguranças. – É isso! Férias! – Exclamou sorridente. – Você! Precisa! De! Férias! – Disse pausadamente me fazendo rir.
- Talvez não seja má ideia.

Vi-os voltar por onde entrei segundos atrás e quase agradeci aos céus por estar sozinha com .

- Pelo menos eles não desconfiam de nós. – Beijou meus cabelos e eu sorri.
- Uma dádiva ter você comigo. – Suspirei sentindo seu corpo ao lado do meu no sofá e me deixei ser abraçada por ele. – Se eles soubessem, não teríamos paz.
- Ainda bem que o Steve nunca desmente nada. – Rimos juntos.
- Ele é shipper número um de . – sorriu.
- Você precisa dormir um pouco e eu também. – Selou nossos lábios rapidamente e se levantou.

Puxei a mão que ainda segurava e ele me olhou sorrindo.

- Sua porta está cheia de paparazzis, se eu ficar hoje, a manchete de amanhã vai ser “Steve, o namorado traído”. – Disse me fazendo gargalhar alto. – Durma bem, raio de sol.

Sua mão abandonou a minha, assim como sua presença, naquela enorme sala.
Eu sabia que ele fazia isso para nos manter em segredo, sem perturbações do mundo exterior podíamos ser nós mesmos e isso era a única coisa me lembrando que, antes de ser uma cantora mundialmente famosa, eu ainda era a mesma da fazenda Hawks. As vezes preguiçosa e entediada, as vezes insegura e, muitas vezes mais, assustada com tudo que minha fama traz.
Peguei violão propositalmente deixado na sala e meu celular. Eu precisava mesmo escrever e essa confusão poderia me inspirar, afinal.

Don't get me wrong
I love who I am


Fazenda F. Hawks

Dois dias depois

O sol da manhã de sábado batia em meu rosto fazendo-me despertar. ainda roncava ao meu lado, uma pocinha de baba escorrendo pelo canto dos lábios. Os cabelos bagunçados recordavam nossa travessura da madrugada tentando não fazer barulho. Sorri passando os olhos por seu torso nu e agradeci mentalmente por poder contemplar a perfeição que eu chamava de namorado.
Levei a mão à seus cabelos e iniciei uma carícia observando-o sorrir quando sentiu a ponta de meus dedos roçarem seu couro cabeludo. adorava quando eu brincava com seus cabelos, dizia que o fazia lembrar da infância quando Merryl fazia cafuné até o menino dormir.
Abriu os olhos preguiçosamente e me deu aquele sorriso lindo.

- Bom dia, raio de sol. – Puxou minha mão livre e levou aos lábios. – Que delícia ser acordado assim.
- Bom dia, baby. – Selei nossos lábios e sua língua pediu passagem ao mesmo tempo que suas mãos puxavam meu corpo para o seu e pude sentir sua animação ao sentir meu corpo nu. – Sexo matinal... Posso me acostumar com isso. – Disse ao separar nossos lábios e ele riu.
- Bem... – Inverteu nossas posições pressionando meu corpo contra o colchão. – Eu adoraria que você se acostumasse com isso. Me beneficiaria mais do que você pode imaginar. – Trilhou meu pescoço com a ponta dos dedos e depositou beijos e mordidas ali.

Marquei suas costas com arranhões à medida que descia seus beijos, brincando com meus seios já eriçados. Grunhi ao sentir sua língua circular meu mamilo esquerdo enquanto pirraçava o direito com o polegar e o indicador.
Olhei para baixo encontrando de olhos fechados se aproveitando do meu corpo e gemi. sorriu e veio em minha direção beijando-me avidamente. Agarrei seus cabelos com a destra e sua bunda com a esquerda, aproximando ainda mais nossas intimidades.
desceu as mãos pelo meu corpo, venerando cada miúda parte que seus dedos contornavam. Segurei seu rosto com as duas mãos, trazendo seu olhar para o meu. Nossa conexão silenciosa se estabeleceu, como no dia do nosso primeiro beijo, e eu sorri tentando demonstrar todo o meu amor.

🎤💙🕴️


Levamos, pelo menos, duas horas para sair do quarto, já que insistiu que precisava de um pouco mais de mim durante o banho e acabamos fazendo amor debaixo do chuveiro.
Ele sorria bobo abraçado à mim quando descemos as escadas, encontrando meus pais na cozinha. Mamãe ria de algo que papai tinha dito. Parou para respirar e voltou a rir quando ele sustentou aquele olhar de “Eu tinha razão” - que eu conhecia mais do que qualquer coisa - assim que entramos na cozinha.
Imaginei que fosse algo relacionado à e eu pois ouvimos passos no corredor logo depois do sexo e repreendi papai com o olhar.

- Bom dia, ohana. – Beijei a bochecha dos dois e eles sorriram para nós.
- Ohana? – perguntou confuso. Peguei uma das maçãs que mamãe cortava e mordi.
- Um conceito havaiano. – Respondi com a boca cheia. – Significa família. E família...
- Significa nunca abandonar ou esquecer. – Papai completou minha frase com aquele sorriso bobo e derretido de quando eu era criança.
- Uau, que bonito isso. – disse espelhando o sorriso do meu pai. – Pelo que eu conheço da e venho conhecendo de vocês, esse conceito é levado super à sério.
- Com certeza. Nunca se abandona ou esquece da sua ohana. – Papai disse orgulhoso. – Não há nada mais precioso que isso.

Deu a volta na ilha onde estava sentado e abraçou mamãe, depositando um beijo demorado em sua bochecha. Fez o mesmo comigo quando fez o caminho para a sala, levando consigo.

- Deu preguiça de levantar da cama hoje? – Questionou-me com as sobrancelhas arqueadas.
- Na verdade, eu estava entediada quando acordei. – Dei outra mordida na maçã e fitei minhas unhas. Precisava fazê-las quando voltasse à LA. – Tive que acordar o para me livrar do tédio.

Olhei para mamãe tentando ficar séria e parecer desinteressada, mas ela explodiu numa risada e eu não consegui me conter.

- Nós ouvimos e seu pai não gostou nadinha. – Apontou para a sala com o facão que usava para fatiar os legumes.
- Espero que ele não esteja assustando o .
- Ele tem duas filhas meninas. Uma delas é uma estrela e mora à quilômetros de nós. – Deu de ombros como se fosse óbvio. – Ele tenta não ter ciúmes, mas fica difícil quando se nota que elas estão crescidas até demais.

Gargalhei da constatação da mamãe e inclinei-me um pouco para trás tendo uma parca visão dos dois na sala.
estava sentado no sofá e papai na poltrona à sua frente. A conversa parecia tranquila já que os dois riam como se fossem velhos amigos e eu sorri. Essa sensação de casa me invadia e preenchia meu coração. Talvez eu devesse tirar férias mais vezes, afinal.

🎤💙🕴️


Amanheci com a sensação de abandono e constatei aquele fato ao abrir os olhos. Eu estava sozinha na cama. Senti meu coração parar por dois segundos, tentando me situar lembrando que ainda estava na fazenda. Minha consciência ainda brigava comigo por ter sido grossa com ontem à noite ao conversarmos sobre assumir nosso relacionamento.
A cada dia que eu passava à seu lado me fazia querer gritar para o mundo o quanto aquele homem me fazia feliz. Os sorrisos de aprovação que ele exibia todas as vezes que eu apresentava uma nova canção, os olhares apaixonados que tentava disfarçar quando estávamos com a equipe, o carinho que tinha com minha família – principalmente meus sobrinhos – faziam meu coração parar de bater e voltar num ritmo tão acelerado que parecia querer sair do peito. Queria poder andar de mãos dadas num shopping, levá-lo à jantares com nossos amigos, não como meu empresário, mas como meu namorado, dormir até tarde num sábado sem se preocupar se os paparazzis vão pegá-lo saindo de casa.
Expressar minhas vontades pareceu uma boa alternativa e um novo caminho pelo qual nosso relacionamento - de quase três anos – poderia seguir, mas ainda não estava pronto.
Para a mídia e para os fãs, Steve e eu éramos o casal perfeito. O fato de Steve e eu sermos quase melhores amigos pesava demais quando fazíamos qualquer coisa juntos, desde uma festa à uma música sensual com direito à clipe. achava que nunca seria aceito como Steve era e isso me irritava mais que qualquer coisa.
era minha válvula de escape da fama. Com ele, eu não era , cantora pop do momento. Com ele, eu era , filha de Catarina e Billy, irmã caçula da Hanna e titia do Brandon e da Darla. E isso importava mais do que a fama.
Suspirei levantando. Oito e vinte da manhã, cedo demais para acordar num dia de férias. Tarde o suficiente para me desculpar com . O medo de perder fazendo cada batida do meu coração doer como uma facada.
Fiz minha higiene matinal e sai do quarto imaginando o melhor jeito de me desculpar com ele. Na ponta da escada, senti cheiro de bolo e quase corri como em meus dezesseis anos.
Papai estava no sofá com Darla no colo. Hanna, abraçada à Mike, falava algo com Brandon enquanto ele resmungava sobre ter sido sem querer.
Sorri para minha família quando me notaram no final da escada.

- Roooooad . – Mike gritou correndo em minha direção, puxando meu corpo com a delicadeza de um canhão. – Saudade da minha favorita. – Piscou para mim e desviou da almofada que Hanna disparou. – Você só reclama de mim. – Apontou para Hanna e ela deu língua. - “Mike, você não faz nada certo.” “Mike, tem que separar as roupas brancas.” “Mike, não coloque o copo virado para baixo.” - Fez uma imitação ridícula de Hanna e deu língua novamente, ocasionando risos em todos nós.
- Você reclama, mas se a Han se mandar, você vai atrás dela. – Cruzei os braços e ele me olhou como se eu tivesse dito a maior besteira de todos os tempos.
- Mas é claro que eu vou atrás. Ela é a mulher da minha vida, ora. – Disse em obviedade e eu sorri. Disse algo no ouvido dela e os dois riram antes de trocarem um olhar cúmplice e um selinho. Passei os olhos pela sala, minha família quase toda reunida ali, e senti falta da mãe e .
- Cadê mamãe e ? – Perguntei ao pai beijando-lhe a bochecha.
- Dormiu bem, ? – Mudou de assunto usando aquele apelido só nosso e eu desconfiei. Ele só me chamava assim quando tentava me enrolar e esconder algo de mim. Ergui as sobrancelhas e ele sorriu dando de ombros. – Não vou dizer nada. – Fez aquele gesto trancando os lábios e Hanna riu.
- Tanto tempo longe da família já te fez esquecer como mamãe age nos aniversários? – Hanna lembrou e eu ri. É claro, ela estava na cozinha fazendo bolo.
- Já sei onde mamãe pode estar... Mas e o ?

Mal terminei a pergunta e os dois adentraram a sala carregando um bolo de chocolate com morangos e toda a minha família cantando parabéns ao meu redor. Olhei de mamãe para , ambos sujos de farinha, e sorri. Estava ajudando-a a me fazer uma surpresa, significava que estávamos em paz... Por ora.

🎤💙🕴️


Terminei de calçar os chinelos e me olhei no espelho uma última vez. A bermuda jeans clara e a blusinha azul de alças combinavam com o clima quente que fazia no interior do Texas.
e eu combinamos de fazer um piquenique após cortar o bolo, para acertar nossos ponteiros. Concordei pois sabia que precisávamos mesmo conversar sobre a primeira briga séria que tivemos.
Ele já estava pronto quando desci as escadas pela segunda vez no dia. Usava uma bermuda cargo clara e camiseta também azul. Rimos juntos quando percebemos a combinação de tons.

- Parecem aqueles casais que se vestem igual em festa à fantasia. – Han alfinetou e eu dei língua.
- Têm certeza que não querem que a gente fique? – Perguntei, a consciência pesando. Era meu aniversário, minha irmã tinha trago sua família para me prestigiar e eu estava saindo com meu namorado, deixando-os sozinhos.

Han se aproximou abraçando-me forte, como não fazia há anos. Suspirei, dando tudo de mim naquele abraço que eu sentia tanta falta.

- Pode ir, . Vocês precisam conversar e se acertar. – Seus braços me abandonaram apenas para seu dedo indicador pincelar a ponta do meu nariz. – Estaremos aqui quando voltar.

Dei uma última olhada na sala e segurou minhas mãos, levando-me para fora.

Andamos alguns metros à leste da fazenda, de mãos dadas e em silêncio, apenas contemplando o alaranjado do fim de tarde tomar conta de todo o céu acima de nós. Cada centímetro de terra para longe de casa que meus pés tocavam, causava em mim uma mistura de sentimentos.
Mais cedo, quando e mamãe caminhavam sujos e sorridentes até mim com aquele bolo caseiro, meu coração estava quieto, interpretando aquele gesto como uma bandeira branca em nossa discussão. Mas durante o almoço, ele parecia distante. Algumas vezes até se perdia nas conversas com papai e Mike e os mesmos precisavam repetir o que tinham dito. Depois do bolo, mamãe me disse que os planos da tarde seriam diferentes do que eu imaginava e surgiu com a cesta de piqueniques e um pedido mudo para que eu me aprontasse.
Agora, caminhando em silêncio, eu estava receosa, insegura, temerosa. Que outros sinônimos poderiam ser usados nessa situação?

- Me desculpe por ontem. – Cedeu, me surpreendendo. – Não acho que eu esteja errado... – Confessou olhando para o horizonte. - Mas também não acho que você esteja.

Suspirei e assenti concordando, mesmo que ele ainda não estivesse me olhando.

- Estou inseguro sobre nós por que eles esperam uma coisa de você... – Suspirou apertando um pouco minha mão. – E o que eles esperam não sou eu, . Eles esperam o Steve, por qualquer motivo que seja. Mas esperam ele e eu não sei se seríamos bem vistos juntos.

Parou de andar ao mesmo tempo que sua fala terminou e virou-me para si, puxando meu corpo à seu encontro. Seu abraço, mesmo desajeitado, me aqueceu por completo. Dizem por aí que, as vezes, alguns abraços são como casa. É assim que me sinto nos braços de . É como se eu estivesse no lugar mais seguro do mundo e nada pudesse me atingir, me aborrecer. Eu poderia ser como qualquer outra garota, por que era assim que me amava.

- Mas você está certa, . Não dá mais para esconder, não é? – Questionou e eu apenas balancei a cabeça concordando. – Não dá mais para fingir que eu não quero beijar e abraçar você. Ou andar de mãos dadas, te levar no cinema, mesmo que seja impossível assistir qualquer filme sem que vire uma sessão de fotos e autógrafos. – Riu e eu o acompanhei. – Não quero mais me esconder. Se é o que você quer, faremos isso.

Terminou e, mesmo com o rosto contra seu peito, ele sabia que eu sorria. Mas eu também chorava. Não de tristeza ou decepção, de alegria. Eu não precisava mais escondê-lo.

- Vou poder namorar como uma garota comum? – Questionei e ele riu.
- Você nunca vai ser uma garota comum, . - Afastou-me de seu corpo e repetiu o gesto de Hanna quando nos despedimos, ainda na sala dos nossos pais. – Mas, hoje você pode ser. Na verdade... – Puxou-me para baixo de uma árvore alguns metros à nossa frente e deixou a cesta no chão. – Hoje você deve. – Pegou a toalha quadriculada que carregava na cesta de vime e forrou o chão para nos sentarmos.


🎤💙🕴️


O combinado das férias era não usar celular em nenhum momento, nem mesmo para acordar, já que o galo da fazenda cumpria extremamente bem o seu papel. Mas e eu tivemos a melhor ideia de todos os tempos e assim, consegui a permissão de usar o aparelho.
Depois dele ter dito que estava na hora do mundo saber sobre nós, usei o aparelho para documentar os dias que restaram das nossas férias. O piquenique foi o primeiro evento. Quando voltamos para casa no fim daquele dia, havia outro bolo me esperando, assim como alguns amigos que eu não via há anos e várias decorações lindas de aniversário que mamãe adorava guardar e reaproveitar para o próximo. Gravamos tudo o que pudemos daquela festinha surpresa, inclusive o momento de soprar as velas e fazer um pedido, afinal, mesmo eu, ainda tinha sonhos que gostaria de realizar.
Nos dias seguintes, , minha família e eu decidimos ir até o centro de Fredericksburg, para o festival que a cidade estava cediando. Haviam vários brinquedos, barraquinhas de comida e a famosa barraca do beijo, com uma fila quilométrica. Todos podiam participar, até mesmo sendo voluntários e riu quando o provoquei dizendo que ia distribuir beijos para o povo da cidade.
Fomos em quase todos os brinquedos e ele ganhou vários prêmios para mim, inclusive um panda enorme, maior que eu. O surto mesmo aconteceu quando ele viu a montanha russa. A bicha, como diria Fernando - um assessor brasileiro da minha equipe -, era enorme e dava quase tanto medo quanto a monstruosa dos parques da Disney.
Dizer que eu fui no brinquedo é uma mentira deslavada. Eu fui arrastada por Hanna e enquanto minha mãe ria de mim. Meu medo desse brinquedo se soltar e me deixar cair ainda não tinha me abandonado e eu até me senti feliz por isso. Significava que aquela parte menina de mim ainda estava lá e dificilmente me abandonaria. Apenas por isso deixei filmar todo o meu pavor naquele brinquedo monstruoso.

No fim da viagem, o compilado de filmagens tinha ficado tão bom que enviamos ao nosso produtor de clipes. Pedimos que fizesse as edições necessárias para uma nova música que escrevi durante a viagem.
É claro que ele não entendeu o motivo de imagens de piquenique, uma surtada gritando de pavor da montanha russa e um parabéns serem imagens que eu gostaria usar num videoclipe, ainda mais com ao meu lado. Mas quando entramos no estúdio com a demo já gravada, tudo fez sentido e o resultado final não poderia ter sido melhor.
Incluímos também um teaser de uma sessão de fotos que precisei fazer logo que voltei de férias, onde me acompanhava e, vira e mexe, alguém captava um olhar bobo e apaixonado dele. Exatamente como queríamos para o clipe.

- Então, ... Nós ficamos sabendo, por fontes extremamente seguras, que você está namorando... – Ellen cutucou como quem não quer nada. Eu ri. – A informação procede? Quem é o gato?
- Sim, estou namorando. Mas vocês só vão saber quem é depois de assistir meu novo clipe. Ele aparece em todas as cenas.
- Que você vai lançar aqui, inclusive, não é? É um clipe romântico então?
- Sim. – Assenti. – E não! – Respondi causando risos na platéia.
- Pode nos contar mais sobre ele antes de mostrar para o mundo?
- Que tal nós assistirmos à ele primeiro e depois eu dou todos os detalhes que vocês quiserem? – Sugeri e Ellen riu, dando sinal para o câmera soltar o vídeo.

- Bem, eu já fiquei curiosa. Você canta para gente enquanto passamos o clipe? – Pediu e eu concordei me posicionando no palco de forma à não atrapalhar a visão da plateia e do público de casa.

Os primeiros acordes soaram junto com as imagens na tela e eu sorri, me lembrando de cada momento da viagem. De olhos agora fechados, deixei que a letra fosse, literalmente, cuspida para fora, como quem tira o peso das costas. Tinha dado tudo de mim naqueles versos, assim como nos vídeos reproduzidos na tela, vendo um sorridente distribuindo beijos em minha bochecha e boca e sorrisos para as pessoas que eu amo.
As imagens bem tratadas e encaixadas contavam a história de uma pessoa cuja fama sugava toda a sua energia, fazendo-a esquecer que, antes de qualquer coisa, ela era apenas uma garota comum. Uma garota que ama ser quem é, mas que só queria que entendessem que ela é apenas uma menina. Uma menina que sente medo, que se sente ignorada. Que fica entediada e com preguiça. Uma garota que fica boba ao se deparar com o olhar apaixonado do namorado e que sente o coração transbordar de felicidade ao ser recebida pela família numa data tão importante que é seu aniversário. Uma garota que deseja e ainda sonha também. Uma garota que ainda acredita que tudo isso pode acontecer para uma garota comum. Como eu ou como você. Apenas uma garota comum.

For an Ordinary Girl
Like me, Like you

Finalizei a música, ainda de olhos fechados, e me deixei absorver os aplausos e assovios da plateia. Tinha deixado minha alma naquela letra e todo o meu coração naquele clipe, que mostrava a , como eu era de verdade, com as pessoas que eu amo e que me amam de volta. Abri os olhos e Ellen me encarava com um sorriso e aquele ar de curiosidade que apresentadores de fofoca têm.

- ? – Sugestionou rindo e eu acompanhei sua risada enquanto me dirigia novamente à poltrona de entrevistas.
- O que eu posso dizer? Ele sempre esteve ao meu lado. Só aconteceu. – Dei de ombros.
- Um acontecimento e tanto. Mas me conta, como esse clipe e essa música surgiram?
- Bem, a música surgiu num momento de confusão da minha vida. Eu queria, mais do que qualquer coisa, voltar à ser a e a letra meio que dançou na minha frente. Foi quase como se minhas mãos tivessem vida própria na hora de escrevê-la. Já a ideia do clipe surgiu de uma loucura no meio das minhas férias. Quando mostrei ao a letra da música que eu estava compondo, ele sugeriu que o fizéssemos. Na hora, eu achei que seria demais para os fãs, mas eu senti que eles iam adorar mesmo assim, então nós fizemos. – Completei. Ellen sorriu e a plateia me aplaudiu de novo.

Algumas outras perguntas foram respondidas e logo ela encerrou a entrevista. Trocamos mais algumas palavras e meu olhar buscou um sorridente me esperando nos bastidores. Tínhamos feito a melhor escolha e havia dado o recado ao mundo. Eu era só uma garota comum que, numa sorte de poucos, fui presenteada. E mesmo não reclamando dela, precisei fugir da fama por um tempo. Apenas para voltar e seguir o meu show.

Do jeito que deve ser.




Fim



Nota da autora: Oi mobens. Nunca sei o que falar nas notas, então só vou agradecer à quem tá lendo minha história, amo vocês. 💜 Além de deixar essa fic aqui, eu queria deixar também o link para o grupo das minhas histórias no facebook. É só clicar aqui ou no ícone do facebook logo abaixo, e vocês serão redirecionados para o grupo. Beijos e até a próxima fic.





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