Capítulo Único
- Eu venho te buscar? – mamãe indaga assim que estaciona o carro em frente ao colégio.
Neguei com a cabeça, colocando os fones no meu ouvido e abrindo uma playlist.
Eu e mamãe não tínhamos o melhor dos relacionamentos, e aquilo poderia ser explicado com uma simples palavra: papai.
Meus pais se separaram há, mais ou menos, dois anos. A briga judicial pela separação se estendeu por meses, e eu, que não tinha nenhuma preferência, acabei ficando com mamãe.
Tudo bem, até que meu pai se mudou. Eu moro em Nova York, e meu pai mora na Alemanha atualmente, ele recebeu uma proposta de emprego e me deixou. Eu só tinha direito a ir visitá-lo em feriados nacionais e nas férias escolares.
- Fica de olho na correspondência hoje. – ela fala assim que eu saio do carro, batendo a porta em seguida. – Pode chegar a carta da faculdade. Já imaginou você estudando numa da Ivy League?
Não, eu não imaginava. Eu não me imaginava estudando por anos um curso que não me agrada nem 10%. Eu não imaginava estar indo fazer algo que vai contra tudo o que eu quero, só para agradar a minha mãe.
Caminhei para dentro do prédio escolar. Algumas pessoas me cumprimentavam, acenando e dando um sorrisinho. Aquela era a pior parte de participar do teatro do colégio: TODOS te conheciam e achavam que eram seus amigos, mesmo não sabendo nem o seu segundo nome.
- Como que vai a melhor atriz do mundo? – indaga quando me sento ao seu lado.
é líder de torcida, dona das melhores notas do colégio e, consequentemente, minha vizinha e melhor amiga. Nossas mães eram grandes amigas e aquilo também afetou nossa vida, a ponto de sermos grudadas o suficiente para sempre perguntarem sobre alguma de nós quando vamos sozinhas a algum lugar.
Ela era minha caixinha de segredos, sabia exatamente TUDO o que acontecia na minha vida e eu sabia tudo da vida dela. Ela me encorajava a contar para minha mãe a minha decisão de seguir no teatro, mas eu tinha medo de uma reação negativa. Eu não queria aquilo.
- Conversou com a sua mãe? – ela indaga enquanto bebe o leite de caixinha.
- Não, ainda. – falo e ela bufa, segurando minha mão.
- Falta menos de uma semana. Ela sabe que você fez a audição para Juilliard? – indaga mais uma vez, arqueando uma das sobrancelhas.
Há alguns meses, enquanto mamãe viajava a trabalho, eu fiz a audição para Julliard. Estava esperando por uma carta e, além disso, a oportunidade de poder ir para a faculdade dos meus sonhos.
- Você tem que contar! – ela exclama, pegando sua mochila na cadeira ao lado. – Você sabe que ela vai ficar uma fera se você simplesmente esconder isso.
- Assim como vai ficar uma fera ao descobrir que eu simplesmente fiz um teste para uma faculdade que ela não aprova. – falo, suspirando em seguida. – Se eu estivesse morando com o meu pai...
- Você não teria sua melhor amiga, , ao seu lado. – ela fala, me fazendo gargalhar. – E eu sei que você não viveria um dia sem poder ir na minha casa para poder desabafar de madrugada.
- Eu iria mais vezes, mas agora você tem um namorado. – falo, cruzando os braços em seguida.
- Ah, para que ficar com ciúmes? – ela indaga, apertando minhas bochechas.
Voltamos a caminhar para a sala de aula após ela pegar os livros do dia, quando ouço meu telefone tocar, e vejo o número de papai no visor, junto de uma foto nossa nas últimas férias.
- Você ligando essa hora! – exclamo, rindo em seguida.
- Você trata seu pai dessa maneira? Não sei de onde herdou essa falta de educação.
Papai é contador e trabalha com as finanças de uma multinacional. Com isso, foi transferido para a Alemanha, ficando longe de mim e de todos da nossa família.
- Quero saber como você está. E como foi a peça?
Meu pai também sabia do quanto eu adorava o teatro, mesmo achando que era somente uma diversão e não uma carreira, algo que eu quero levar para a minha vida.
- Foi legal. Todos gostaram. – falo, abrindo a porta da sala em seguida. – Você vem que dia?
- Daqui a três dias eu pego um voo. Devo chegar terça pela manhã.
- Eu preciso ir para a aula. – falo, mordendo a ponta do meu fone de ouvido.
- Mais tarde eu converso com você direito. Sabia que tinha ligado numa hora péssima.
- Você sempre esquece do fuso horário. – falo, gargalhando baixo para não atrair a atenção de meus colegas de classe. – Beijo papai. Amo você.
- Também amo você florzinha.
Encerrei a ligação, guardando o telefone num bolso da mochila, esperando a professora de Francês entrar.
As aulas que sucederam o almoço foram, de longe, as mais longas. Não sabia se era ansiedade para que o fim do dia chegasse, ou se eu realmente não aguentava mais aquilo tudo e só queria ir embora de uma vez, sem precisar voltar para cá no dia seguinte.
- Você não vai acreditar no que me aconteceu! – exclama assim que me encontra na entrada do refeitório. – Lembra que eu te disse que estava sem esperança em Trigonometria?
- Lembro. Eu tive que te ajudar nessa matéria, pelo que eu me lembre. – falo, caminhando para a fila para pegar o almoço.
- Então... O professor acabou de dizer que eu não precisarei das aulas de verão! – ela exclama, batendo palmas em seguida. – Estou oficialmente formada!
- Ei, ainda falta a formatura. – falo gargalhando.
- Ah, você me entendeu! – ela exclama rolando os olhos. – , você está falando com uma futura caloura de Berkeley.
Pegamos nosso almoço, indo sentar na nossa mesa de sempre, encontrando outras líderes de torcida que andavam com Hannah.
O dia correu, as aulas acabaram e eu voltei para casa caminhando sozinha, já que iria para a casa de , seu namorado. Ela disse que iria comemorar com ele algum aniversário de namoro.
Chego em casa e abro a porta, encontrando mamãe sentada no sofá.
- Chegou cedo. – falo e ela assentiu. – Aconteceu alguma coisa?
- O Sr. Hanks me liberou mais cedo, já que ele teria uma reunião e não precisaria de mim. – ela fala, trocando o canal da TV. – Chegou correspondência.
Meu coração acelerou, e eu senti meu corpo inteiro estremecer.
- Chegou de Harvard, Princeton e Yale. – ela fala, folheando os envelopes na mão esquerda. – E de Juilliard.
Arregalei meus olhos, sentando ao seu lado no sofá e pegando os envelopes, lendo meu nome completo em todos eles.
- Por que Juilliard te mandaria uma carta? – ela indaga, arqueando uma das sobrancelhas. – Você tem algo para me contar?
Suspirei, abrindo os envelopes das três faculdades da Ivy League.
Suspirei ainda mais aliviada quando li, nas três, que eu não seria aceita.
- O que aconteceu, ? – ela indaga, virando seu corpo para poder me olhar.
- Eu não quero Harvard, Princeton ou Yale. – falo, vendo que ela mantinha uma expressão impassível no rosto.
- Mas nós conversamos. É o seu sonho. – mamãe fala, me fazendo gargalhar.
- É o SEU sonho. Você sabe o que eu quero? Eu quero poder viver a minha vida. – falo, jogando os três primeiros envelopes em seu colo. – Eu quero poder ter a minha liberdade e, mesmo assim, poder contar com você quando eu quiser.
- Você acha que vai ser o quê? – ela indaga enquanto eu me levanto do sofá, carregando o envelope da Juilliard comigo. – Uma atriz de sucesso?
- É o que eu desejo. – esbravejo, segurando as lágrimas que queriam descer.
Corro para as escadas, subindo para meu quarto. Assim que entrei no cômodo, tranquei a porta e me joguei na cama, encarando o teto.
Eu sentia raiva. Raiva por não poder enfrentar minha mãe e ir atrás dos meus próprios sonhos. Mas, principalmente, raiva por ser insegura a ponto de deixar isso acontecer.
Em parte, a culpa era minha. Eu deveria ter enfrentado na primeira vez que entramos no assunto “Futuro”; eu deveria ter me negado a seguir o sonho dela, apenas para satisfazer seus caprichos.
Abri o envelope, lendo a carta por inteiro.
EU CONSEGUI UMA BOLSA!
Peguei meu celular na mochila que estava largada no chão do quarto, discando o número de Hannah.
- Alô?
- Eu estou na Juilliard. – falo, ouvindo seu grito do outro lado da linha, me fazendo afastar o aparelho da orelha por alguns segundos. – Eu consegui uma bolsa.
- E a sua mãe?
- Está uma fera. – falo, suspirando em seguida. – Tivemos uma discussão pesada, sei que ela não vai ceder nem tão cedo, e eu não estou errada.
- Ah, mas você está. Você deveria ter contado sobre essa audição o quanto antes.
- Isso não vem ao caso agora. – falo, rolando os olhos depois.
- Você está bem? Você quer que eu vá pra sua casa?
- Não! Eu vou falar com meu pai e tentar não pirar. – falo, ouvindo a risada da minha melhor amiga. – Te vejo?
- Se dependesse de mim, não. Mas é a escola, então você verá sim.
Gargalhei, encerrando a ligação em seguida.
Peguei meu notebook na mesa ao lado da cama, ligando o mesmo e indo para o Skype. Espero que papai esteja acordado.
- Quer dizer que você gosta de me ligar de madrugada?
- Desculpa, aqui ainda está cedo. – falo, sorrindo de lado. – E você disse que ia me ligar mais tarde.
- Eu acabei esquecendo. Aconteceu algo?
- Sim, aconteceu... – começo, ouvindo meu pai suspirar do outro lado da tela.
- Você discutiu com a sua mãe de novo, ?
- Quê? Não! – falo, rindo fraco em seguida. – Bom, em partes, não.
- Como assim? O que você está escondendo? Um exame de gravidez?
- Claro que não! – exclamo, gargalhando em seguida. – Eu nem tenho namorado.
- Os adolescentes não precisam de namorados hoje em dia para aparecerem grávidos.
- Esse não é o meu caso. – falo, rolando os olhos em seguida. – Eu recebi as cartas da faculdade.
- E aí? Qual delas?
- Bom, não passei para nenhuma da Ivy League, se é isso que você quer saber. – falo, dando de ombros em seguida. – Lembra das aulas de teatro?
- Aquelas que você faz escondido de sua mãe?
- Sim! Então... Eu fiz uma audição para Juilliard. – falo, mordendo o lábio inferior, apreensiva. – E eu fui aceita.
- Meus parabéns minha florzinha!
- Você não vai reclamar? Brigar? – indago, arqueando uma das sobrancelhas.
- Claro que não! É o seu sonho, eu estou só de coadjuvante na sua vida. Ok, essa foi boa.
- Essa foi péssima! – exclamo gargalhando. – Queria que ela fosse assim...
- Você sabe que ela faz isso pensando no seu bem, mesmo que isso ultrapasse todos os limites de uma mãe.
- Ela desconhece os limites de ser mãe. – falo, bufando em seguida.
- Não fale assim! Eu preciso dormir, amanhã eu acordo cedo. Fica bem, tá? Eu te amo muito, minha futura caloura.
- Ah! Eu também te amo. – falo, mandando um beijo para a tela, encerrando a chamada de vídeo em seguida.
Dois toques na porta me fazem despertar dos segundos pós conversa com papai. Sabia de quem se tratava, afinal, se fosse Hannah, ela estaria gritando meu nome para toda a vizinhança.
Abro a porta, olhando para mamãe parada na porta. Em suas mãos, havia um prato com biscoitos.
- Um tratado de paz. – ela fala, sorrindo de lado em seguida. – Eu posso entrar e conversar com você?
Concordei, sentando na ponta de minha cama, deixando que ela sentasse na cadeira ao lado.
- Eu estou chateada. – ela fala, suspirando profundamente. – Você escondeu isso de mim.
- Eu sabia o que você iria falar. – falo, apoiando minhas mãos nos joelhos. – Eu iria te contar uma hora.
- Eu não queria isso, sabe? Eu não queria que você escondesse as coisas de mim. Não queria ser a mãe controladora, mas, depois que seu pai se mudou, tudo ficou mais difícil. – ela fala, e vejo uma lágrima escorrer pela sua bochecha. – Eu ainda gosto dele.
Aproximei-me dela, abraçando-a. Ela retribuiu pouco tempo depois, e assim permanecemos por longos minutos, enquanto eu acariciava seus cabelos em busca de conforto.
- Eu quero dizer que te apoio em tudo, tudo, tudo. – ela fala, beijando todo meu rosto em seguida, me fazendo rir. – Eu amo você, . E não vai ser uma escolha de futuro que vai me fazer deixar de te amar. Você é minha filha, minha única filha. E eu torço pelo seu sucesso.
- Eu amo você. – falo, beijando sua testa em seguida.
Aquele, de longe, foi o momento mais sincero que tivemos desde... bom, sempre.
Ela me abraçava, e eu retribuía. E ali eu me senti bem, como nunca havia me sentido nos últimos anos desde o divórcio.
Eu a amava, e, saber que ela me apoia na minha maior decisão da vida é algo muito especial. Pode parecer simples, mas não quando sua mãe desiste de seus ideais para conviver com os meus.
- Teremos que nos mudar? – ela indaga, limpando minhas lágrimas e segurando minhas mãos.
- Bom, se você quiser. – falo, dando de ombros.
- Eu não vou aguentar viver sozinha. – ela fala, me fazendo rir.
- A faculdade é a uma hora daqui, mamãe. – falo, arrancando uma risada dela. – Eu posso vir te visitar nos fins de semana. E nos feriados.
- E seu pai? – ela indaga. – Você também tem que visitá-lo.
- Ele vai entender se eu não for. – falo, dando de ombros em seguida.
- Podemos comemorar isso? – ela indaga, levantando-se da cadeira.
- Filmes, sorvete e besteiras? – pergunto, abrindo a gaveta na cômoda onde ficava as mantas.
- E tem outra maneira?
Neguei com a cabeça, colocando os fones no meu ouvido e abrindo uma playlist.
Eu e mamãe não tínhamos o melhor dos relacionamentos, e aquilo poderia ser explicado com uma simples palavra: papai.
Meus pais se separaram há, mais ou menos, dois anos. A briga judicial pela separação se estendeu por meses, e eu, que não tinha nenhuma preferência, acabei ficando com mamãe.
Tudo bem, até que meu pai se mudou. Eu moro em Nova York, e meu pai mora na Alemanha atualmente, ele recebeu uma proposta de emprego e me deixou. Eu só tinha direito a ir visitá-lo em feriados nacionais e nas férias escolares.
- Fica de olho na correspondência hoje. – ela fala assim que eu saio do carro, batendo a porta em seguida. – Pode chegar a carta da faculdade. Já imaginou você estudando numa da Ivy League?
Não, eu não imaginava. Eu não me imaginava estudando por anos um curso que não me agrada nem 10%. Eu não imaginava estar indo fazer algo que vai contra tudo o que eu quero, só para agradar a minha mãe.
Caminhei para dentro do prédio escolar. Algumas pessoas me cumprimentavam, acenando e dando um sorrisinho. Aquela era a pior parte de participar do teatro do colégio: TODOS te conheciam e achavam que eram seus amigos, mesmo não sabendo nem o seu segundo nome.
- Como que vai a melhor atriz do mundo? – indaga quando me sento ao seu lado.
é líder de torcida, dona das melhores notas do colégio e, consequentemente, minha vizinha e melhor amiga. Nossas mães eram grandes amigas e aquilo também afetou nossa vida, a ponto de sermos grudadas o suficiente para sempre perguntarem sobre alguma de nós quando vamos sozinhas a algum lugar.
Ela era minha caixinha de segredos, sabia exatamente TUDO o que acontecia na minha vida e eu sabia tudo da vida dela. Ela me encorajava a contar para minha mãe a minha decisão de seguir no teatro, mas eu tinha medo de uma reação negativa. Eu não queria aquilo.
- Conversou com a sua mãe? – ela indaga enquanto bebe o leite de caixinha.
- Não, ainda. – falo e ela bufa, segurando minha mão.
- Falta menos de uma semana. Ela sabe que você fez a audição para Juilliard? – indaga mais uma vez, arqueando uma das sobrancelhas.
Há alguns meses, enquanto mamãe viajava a trabalho, eu fiz a audição para Julliard. Estava esperando por uma carta e, além disso, a oportunidade de poder ir para a faculdade dos meus sonhos.
- Você tem que contar! – ela exclama, pegando sua mochila na cadeira ao lado. – Você sabe que ela vai ficar uma fera se você simplesmente esconder isso.
- Assim como vai ficar uma fera ao descobrir que eu simplesmente fiz um teste para uma faculdade que ela não aprova. – falo, suspirando em seguida. – Se eu estivesse morando com o meu pai...
- Você não teria sua melhor amiga, , ao seu lado. – ela fala, me fazendo gargalhar. – E eu sei que você não viveria um dia sem poder ir na minha casa para poder desabafar de madrugada.
- Eu iria mais vezes, mas agora você tem um namorado. – falo, cruzando os braços em seguida.
- Ah, para que ficar com ciúmes? – ela indaga, apertando minhas bochechas.
Voltamos a caminhar para a sala de aula após ela pegar os livros do dia, quando ouço meu telefone tocar, e vejo o número de papai no visor, junto de uma foto nossa nas últimas férias.
- Você ligando essa hora! – exclamo, rindo em seguida.
- Você trata seu pai dessa maneira? Não sei de onde herdou essa falta de educação.
Papai é contador e trabalha com as finanças de uma multinacional. Com isso, foi transferido para a Alemanha, ficando longe de mim e de todos da nossa família.
- Quero saber como você está. E como foi a peça?
Meu pai também sabia do quanto eu adorava o teatro, mesmo achando que era somente uma diversão e não uma carreira, algo que eu quero levar para a minha vida.
- Foi legal. Todos gostaram. – falo, abrindo a porta da sala em seguida. – Você vem que dia?
- Daqui a três dias eu pego um voo. Devo chegar terça pela manhã.
- Eu preciso ir para a aula. – falo, mordendo a ponta do meu fone de ouvido.
- Mais tarde eu converso com você direito. Sabia que tinha ligado numa hora péssima.
- Você sempre esquece do fuso horário. – falo, gargalhando baixo para não atrair a atenção de meus colegas de classe. – Beijo papai. Amo você.
- Também amo você florzinha.
Encerrei a ligação, guardando o telefone num bolso da mochila, esperando a professora de Francês entrar.
As aulas que sucederam o almoço foram, de longe, as mais longas. Não sabia se era ansiedade para que o fim do dia chegasse, ou se eu realmente não aguentava mais aquilo tudo e só queria ir embora de uma vez, sem precisar voltar para cá no dia seguinte.
- Você não vai acreditar no que me aconteceu! – exclama assim que me encontra na entrada do refeitório. – Lembra que eu te disse que estava sem esperança em Trigonometria?
- Lembro. Eu tive que te ajudar nessa matéria, pelo que eu me lembre. – falo, caminhando para a fila para pegar o almoço.
- Então... O professor acabou de dizer que eu não precisarei das aulas de verão! – ela exclama, batendo palmas em seguida. – Estou oficialmente formada!
- Ei, ainda falta a formatura. – falo gargalhando.
- Ah, você me entendeu! – ela exclama rolando os olhos. – , você está falando com uma futura caloura de Berkeley.
Pegamos nosso almoço, indo sentar na nossa mesa de sempre, encontrando outras líderes de torcida que andavam com Hannah.
O dia correu, as aulas acabaram e eu voltei para casa caminhando sozinha, já que iria para a casa de , seu namorado. Ela disse que iria comemorar com ele algum aniversário de namoro.
Chego em casa e abro a porta, encontrando mamãe sentada no sofá.
- Chegou cedo. – falo e ela assentiu. – Aconteceu alguma coisa?
- O Sr. Hanks me liberou mais cedo, já que ele teria uma reunião e não precisaria de mim. – ela fala, trocando o canal da TV. – Chegou correspondência.
Meu coração acelerou, e eu senti meu corpo inteiro estremecer.
- Chegou de Harvard, Princeton e Yale. – ela fala, folheando os envelopes na mão esquerda. – E de Juilliard.
Arregalei meus olhos, sentando ao seu lado no sofá e pegando os envelopes, lendo meu nome completo em todos eles.
- Por que Juilliard te mandaria uma carta? – ela indaga, arqueando uma das sobrancelhas. – Você tem algo para me contar?
Suspirei, abrindo os envelopes das três faculdades da Ivy League.
Suspirei ainda mais aliviada quando li, nas três, que eu não seria aceita.
- O que aconteceu, ? – ela indaga, virando seu corpo para poder me olhar.
- Eu não quero Harvard, Princeton ou Yale. – falo, vendo que ela mantinha uma expressão impassível no rosto.
- Mas nós conversamos. É o seu sonho. – mamãe fala, me fazendo gargalhar.
- É o SEU sonho. Você sabe o que eu quero? Eu quero poder viver a minha vida. – falo, jogando os três primeiros envelopes em seu colo. – Eu quero poder ter a minha liberdade e, mesmo assim, poder contar com você quando eu quiser.
- Você acha que vai ser o quê? – ela indaga enquanto eu me levanto do sofá, carregando o envelope da Juilliard comigo. – Uma atriz de sucesso?
- É o que eu desejo. – esbravejo, segurando as lágrimas que queriam descer.
Corro para as escadas, subindo para meu quarto. Assim que entrei no cômodo, tranquei a porta e me joguei na cama, encarando o teto.
Eu sentia raiva. Raiva por não poder enfrentar minha mãe e ir atrás dos meus próprios sonhos. Mas, principalmente, raiva por ser insegura a ponto de deixar isso acontecer.
Em parte, a culpa era minha. Eu deveria ter enfrentado na primeira vez que entramos no assunto “Futuro”; eu deveria ter me negado a seguir o sonho dela, apenas para satisfazer seus caprichos.
Abri o envelope, lendo a carta por inteiro.
EU CONSEGUI UMA BOLSA!
Peguei meu celular na mochila que estava largada no chão do quarto, discando o número de Hannah.
- Alô?
- Eu estou na Juilliard. – falo, ouvindo seu grito do outro lado da linha, me fazendo afastar o aparelho da orelha por alguns segundos. – Eu consegui uma bolsa.
- E a sua mãe?
- Está uma fera. – falo, suspirando em seguida. – Tivemos uma discussão pesada, sei que ela não vai ceder nem tão cedo, e eu não estou errada.
- Ah, mas você está. Você deveria ter contado sobre essa audição o quanto antes.
- Isso não vem ao caso agora. – falo, rolando os olhos depois.
- Você está bem? Você quer que eu vá pra sua casa?
- Não! Eu vou falar com meu pai e tentar não pirar. – falo, ouvindo a risada da minha melhor amiga. – Te vejo?
- Se dependesse de mim, não. Mas é a escola, então você verá sim.
Gargalhei, encerrando a ligação em seguida.
Peguei meu notebook na mesa ao lado da cama, ligando o mesmo e indo para o Skype. Espero que papai esteja acordado.
- Quer dizer que você gosta de me ligar de madrugada?
- Desculpa, aqui ainda está cedo. – falo, sorrindo de lado. – E você disse que ia me ligar mais tarde.
- Eu acabei esquecendo. Aconteceu algo?
- Sim, aconteceu... – começo, ouvindo meu pai suspirar do outro lado da tela.
- Você discutiu com a sua mãe de novo, ?
- Quê? Não! – falo, rindo fraco em seguida. – Bom, em partes, não.
- Como assim? O que você está escondendo? Um exame de gravidez?
- Claro que não! – exclamo, gargalhando em seguida. – Eu nem tenho namorado.
- Os adolescentes não precisam de namorados hoje em dia para aparecerem grávidos.
- Esse não é o meu caso. – falo, rolando os olhos em seguida. – Eu recebi as cartas da faculdade.
- E aí? Qual delas?
- Bom, não passei para nenhuma da Ivy League, se é isso que você quer saber. – falo, dando de ombros em seguida. – Lembra das aulas de teatro?
- Aquelas que você faz escondido de sua mãe?
- Sim! Então... Eu fiz uma audição para Juilliard. – falo, mordendo o lábio inferior, apreensiva. – E eu fui aceita.
- Meus parabéns minha florzinha!
- Você não vai reclamar? Brigar? – indago, arqueando uma das sobrancelhas.
- Claro que não! É o seu sonho, eu estou só de coadjuvante na sua vida. Ok, essa foi boa.
- Essa foi péssima! – exclamo gargalhando. – Queria que ela fosse assim...
- Você sabe que ela faz isso pensando no seu bem, mesmo que isso ultrapasse todos os limites de uma mãe.
- Ela desconhece os limites de ser mãe. – falo, bufando em seguida.
- Não fale assim! Eu preciso dormir, amanhã eu acordo cedo. Fica bem, tá? Eu te amo muito, minha futura caloura.
- Ah! Eu também te amo. – falo, mandando um beijo para a tela, encerrando a chamada de vídeo em seguida.
Dois toques na porta me fazem despertar dos segundos pós conversa com papai. Sabia de quem se tratava, afinal, se fosse Hannah, ela estaria gritando meu nome para toda a vizinhança.
Abro a porta, olhando para mamãe parada na porta. Em suas mãos, havia um prato com biscoitos.
- Um tratado de paz. – ela fala, sorrindo de lado em seguida. – Eu posso entrar e conversar com você?
Concordei, sentando na ponta de minha cama, deixando que ela sentasse na cadeira ao lado.
- Eu estou chateada. – ela fala, suspirando profundamente. – Você escondeu isso de mim.
- Eu sabia o que você iria falar. – falo, apoiando minhas mãos nos joelhos. – Eu iria te contar uma hora.
- Eu não queria isso, sabe? Eu não queria que você escondesse as coisas de mim. Não queria ser a mãe controladora, mas, depois que seu pai se mudou, tudo ficou mais difícil. – ela fala, e vejo uma lágrima escorrer pela sua bochecha. – Eu ainda gosto dele.
Aproximei-me dela, abraçando-a. Ela retribuiu pouco tempo depois, e assim permanecemos por longos minutos, enquanto eu acariciava seus cabelos em busca de conforto.
- Eu quero dizer que te apoio em tudo, tudo, tudo. – ela fala, beijando todo meu rosto em seguida, me fazendo rir. – Eu amo você, . E não vai ser uma escolha de futuro que vai me fazer deixar de te amar. Você é minha filha, minha única filha. E eu torço pelo seu sucesso.
- Eu amo você. – falo, beijando sua testa em seguida.
Aquele, de longe, foi o momento mais sincero que tivemos desde... bom, sempre.
Ela me abraçava, e eu retribuía. E ali eu me senti bem, como nunca havia me sentido nos últimos anos desde o divórcio.
Eu a amava, e, saber que ela me apoia na minha maior decisão da vida é algo muito especial. Pode parecer simples, mas não quando sua mãe desiste de seus ideais para conviver com os meus.
- Teremos que nos mudar? – ela indaga, limpando minhas lágrimas e segurando minhas mãos.
- Bom, se você quiser. – falo, dando de ombros.
- Eu não vou aguentar viver sozinha. – ela fala, me fazendo rir.
- A faculdade é a uma hora daqui, mamãe. – falo, arrancando uma risada dela. – Eu posso vir te visitar nos fins de semana. E nos feriados.
- E seu pai? – ela indaga. – Você também tem que visitá-lo.
- Ele vai entender se eu não for. – falo, dando de ombros em seguida.
- Podemos comemorar isso? – ela indaga, levantando-se da cadeira.
- Filmes, sorvete e besteiras? – pergunto, abrindo a gaveta na cômoda onde ficava as mantas.
- E tem outra maneira?