MV: All In

Postado em: 10/03/2018

I’m all in for you, my body and heart
My time and money, I’m all in


PRÓLOGO

2008 – Anyang

O garoto andava diligentemente pela rua, as pesadas botas marcando o chão de terra a cada passo dado. As lágrimas que caíam pelo seu rosto teimavam em rivalizar com a forte chuva que o ensopava, seus braços sendo uma frágil proteção para a bíblia que carregava contra o peito. Enquanto desviava seu caminho dos guardas, que fiscalizavam as ruas do vilarejo, passou a mão na ferida, que cobria uma parte do seu rosto. A dor física que sentia em nada se comparava à mágoa que ele guardava. O “vai para o inferno” não pronunciado.
A cruz que pendia em seu pescoço implorava que ele tivesse fé. “Fé”, riu, desacreditado, entrando na pequena casa de madeira onde se reunia com seu grupo de amigos. “De que me adianta a fé?” Com cuidado, tirou o pesado casaco e o jogou sobre o velho sofá verde, sendo distraído pela pequena mancha de café presente no braço dele. “Changkyunie tem sorte que Kihyun Hyung ainda não viu isso aqui”, riu só de pensar no fuzuê que seria quando seu hyung descobrisse o que o mais novo havia feito.
— Hyungwon? — Ouviu uma voz conhecida chamar seu nome, fazendo-o abrir um imenso sorriso. Limpou suas teimosas lágrimas antes de se virar e ver seu melhor amigo, Minhyuk, bem à sua frente, seus olhos desacreditados ao ver a recente marca em seu rosto. Do seu lado, Shownu, Jooheon, Kihyun, Wonho e Changkyun tinham a mesma expressão em seus olhos. — O que aconteceu com você, Hyungwon? — O amigo se aproximou, tocando de leve a ferida, o que fez com que o mais novo fechasse os olhos em reflexo.
— Meu… meu pai.
— Mas como? Por quê? — Minhyuk sussurrou.
— Nós temos que resolver isso do meu jeito. — Jooheon, o mais sangue quente do grupo de amigos, colocou suas mãos em forma de punho, os olhos flamejando em resposta. Jooheonie não suportava injustiças e lidava com elas de uma forma não tão usual.
— Bem… — O garoto clareou a garganta. — Não foi nada. — “Só meu pai me destruindo um pouco mais”, ele quis rir. — Não é como se isso não tivesse acontecido antes. Vocês bem sabem que essa não foi a primeira e nem vai ser a última vez. Meu pai acha que reprimendas são necessárias para corrigir certas atitudes…
— Necessárias? — Shownu respondeu, atônito. Ele era o mais velho do grupo e costumava agir de forma protetora com os amigos. Seu pai era possivelmente o homem mais honrado e digno que Hyungwon já havia conhecido. Trabalhava como açougueiro para sustentar sua família, humilde, mas muito acolhedora. Quantas vezes havia demorado na casa do amigo, receoso a voltar para sua própria realidade fria e restritiva? — Nada justifica uma agressão dessas.
— Eu sou quebrado. — Hyungwon sentiu o corpo todo tremer enquanto repetia as palavras do próprio pai. — A culpa é toda minha. Eu não sou o filho exemplar que deveria ser. Eu não orgulho minha família como meu hyung orgulha.
— Seu hyung é um puxa saco de merda. Sabemos muito bem o porquê do seu pai ter orgulho dele, Chae. Os dois são farinha do mesmo saco. — Wonho suspirou antes de prosseguir. — Não quero ofender sua família, de nenhuma maneira, mas… acredite em mim, meu amigo, você é o único ali do qual vale a pena se orgulhar.
— Obrigado, Wonho. De verdade. — Ok, ele odiava aquela coisa sentimental, mas aqueles seis ali eram sua verdadeira família. A família que o havia acolhido, protegido e o tratado como um igual. E Hyungwon não poderia estar mais grato por isso.
— Abraço coletivo? — O maknae, que antes apenas observava os conselhos de seus hyungs, sugeriu.
— Abraço coletivo. — Todos concordaram, unindo-se para abraçar Hyungwon.
E foi no meio daquele mundaréu de braços reconfortantes que Kihyun finalmente percebeu.
— QUEM FOI QUE MANCHOU MEU SOFÁ?


CAPÍTULO ÚNICO

2018 – Anyang

Afinal, ser filho do líder religioso mais respeitado do vilarejo tinha seus benefícios. Hyungwon passou pelos guardas que vistoriavam a rua com uma tranquilidade incomum de se ver naquela área. Os rebeldes andavam pelos becos e trajetos mais distantes, tentando escapar da nada imparcial fiscalização dos homens de confiança do ditador, mas ninguém acharia que logo ele, irmão mais novo de um político radicalista e filho do reverendo Chae, seria um dos rebeldes que iam contra os ideais torpes da própria família. Mas ora, que surpresa, ele era.
Hyungwon estava em seu caminho para chegar ao seu destino, quando ouviu um grito rouco e seco pairar pelo ar. Buscando de onde havia vindo aquele som, viu Shownu e Jooheon conversando em um beco próximo dali. O mais velho estava transtornado, as veias do pescoço saltavam enquanto ele vociferava para quem pudesse ouvir. Felizmente, além do trio, não havia ninguém naquela região.
— O sistema é falho, Jooheon! — Shownu gritava a plenos pulmões. O rosto vermelho e inchado evidenciava as lágrimas que já haviam rolado pelo seu rosto. — Meu pai está definhando naquela maca, e o que eu posso fazer? Nada. Não posso fazer nada. Estou de mãos atadas enquanto ele morre naquele hospital.
— Você sabe o que temos que fazer… — Jooheon respondeu. — Money, baby. Nossa querida pátria é movida por wons. Limpo ou sujo, dinheiro é dinheiro. As coisas aqui só funcionam desse jeito.
— O dinheiro que ganho mal dá para colocar comida em casa, Jooheon. — Shownu passava a mão no cabelo, nervoso. — O tratamento para o papai custa uma fortuna.
Hyungwon não se surpreendeu um mínimo quando viu a próxima ação de Jooheon. E, nas atuais circunstâncias, nem mesmo sabia se o recriminava por tomar tal atitude. Não com o sistema omisso em que eles eram obrigados a viver. Situações extremas pedem medidas desesperadas.
Dos amigos, Jooheon era, sem dúvidas, o que mais havia sofrido com a ditadura na qual viviam. Seus pais haviam sido sequestrados e torturados quando ele ainda era pequeno, durante uma das falhas rebeliões na busca pela democracia. Eles simplesmente haviam desaparecido do mapa. Seu amigo se criara sozinho, inclusive morava na velha casa que faziam de ponto de encontro. Jooheon seguia os passos dos pais, se esforçando para liderar uma nova rebelião. Changkyun e Wonho já faziam parte dela, enquanto Shownu, Minhyuk, Kihyun e Hyungwon, apesar de serem favoráveis à causa, ainda estavam receosos de participar.
Seu amigo colocou a mão no cós da calça jeans, abaixando-a o suficiente para que pudesse puxar uma pistola dali. Logo depois, colocou uma mão nos ombros do Shownu ao mesmo tempo em que, com a outra, o entregava o artefato. Os olhos do mais velho se arregalaram ao sentir a pistola em suas mãos. Hyungwon ainda foi capaz de ouvir as últimas palavras proferidas por Jooheon antes que os dois se afastassem – juntos – dali:
— Você sabe exatamente o que devemos fazer. E como fazer.

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As notícias dadas naquela manhã não haviam sido das mais felizes. Shownu havia chegado ao extremo para salvar seu pai, assaltando a loja de conveniências junto com Jooheon, para logo após receber a notícia de que ele havia falecido antes mesmo de o filho chegar ao hospital com o dinheiro do tratamento. Notícias como aquela faziam com que Hyungwon se questionasse sobre tudo que acreditava, ou melhor, tudo que fora ensinado a acreditar. Era mais do que injusto pessoas boas como o pai do amigo morrerem em uma maca de hospital, e pessoas ruins como seu próprio pai estarem gozando de boa saúde. A corrupção era aplaudida de pé enquanto o sangue inocente jorrava das mãos de políticos como o seu irmão mais velho.
Hyungwon foi tirado dos seus devaneios pelo som de uma batida na porta.
— Pode entrar! — Gritou, vendo Minhyuk entrar no cômodo.
— Oi! — O mais velho cumprimentou, vendo a fisionomia triste do amigo. — O que aconteceu?
— O pai do Shownu… Ele não resistiu. — Só naquele momento Hyungwon percebeu que chorava. O senhor Son era a única presença paterna que ele havia tido e agora ele só podia chorar pela perda do bom homem. Ele só queria encontrar seu amigo, dar-lhe um abraço apertado e dizer que tudo ficaria bem. Como seu hyung sempre fazia quando ele precisava. E, vindo da família que veio, Hyungwon sempre precisava.
Suspirando em descrença, Minhyuk se aproximou, sentando-se e encostando-se à parede do lado do mais novo. Colou suas testas, deixando que suas lágrimas silenciosas se misturassem, sofrendo juntos pela perda do pai do amigo. Hyungwon, naquele momento, se permitiu olhar nos olhos castanhos de Minhyuk. Há quanto tempo eles se conheciam? Não conseguia pensar em algum momento da sua vida em que ele não estava presente. Com Minhyuk do seu lado, ele sabia que conseguiria enfrentar o que fosse. Era só olhar nos olhos reconfortantes do amigo e ele sabia que, por mais difícil que fosse, tudo ficaria bem. E ali, naquele cômodo, ele só queria que Minhyuk tirasse toda a dor que ele sentia dentro do peito, aquela angústia que teimava em não passar. E assim o amigo o fez.
Com uma delicadeza comum a ele, o mais velho segurou seu rosto com as mãos, se aproximando até que pudesse sentir sua respiração quente. Hyungwon tragou o ar com mais força, sentindo-se arrepiar com o leve toque do amigo. Os lábios de Minhyuk timidamente tocaram os seus, fazendo com que ele sentisse pela primeira vez a doçura de sua boca, algo que antes não sabia o quanto ansiava, mas que, agora, no simples roçar de seus lábios, ele já não saberia viver sem. Era como se aquele beijo fosse vital para Hyungwon. Era o que fazia seu sangue circular pelo corpo, sua mente desfocar de todos os problemas e seu coração bater mais forte. Enquanto seu rosto acariciava o dele, sentia seu coração acelerar como nunca antes, como se pudesse a qualquer momento pular para fora da boca. Ele abriu um tímido sorriso quando o amigo interrompeu o beijo.
— Eu… — Hyungwon tentou pôr em ordem seus pensamentos, não sendo vitorioso em seu intento.
— Não precisa falar nada. — Minhyuk abriu um sorriso, causando as famigeradas borboletas no estômago de Hyungwon. — Eu estou sentindo o mesmo. — Minhyuk guiou as mãos do amigo em direção ao seu peito, no qual pôde sentir as batidas aceleradas do seu coração. Ao que parece, não era ele que havia ficado afetado por aquele beijo. — Eu tenho que ir. Fiquei de ajudar minha mãe na feira e já estou atrasado, mas eu volto logo. Você me espera? — Hyungwon assentiu.
— Ah… Eu já ia esquecendo. Toma. — Minhyuk entregou ao amigo alguns ramos das flores azuis que Hyungwon havia visto no canteiro da casa do Jooheon. — Jooheon me pediu para te entregar. Ele disse que dá sorte, ou algo assim.
Mesmo confuso, Hyungwon pegou os ramos, segurando-os em suas mãos. Uma estranha vibração percorreu seu corpo, quase como se tivesse tomado um choque involuntário. Minhyuk se deteve na porta da casa, voltando para dar mais um selinho no amigo, antes de sair e deixá-lo para trás.
Vendo-o se afastar da casa e ir em direção à rua, Hyungwon encostou o dedo nos lábios, desejando sentir novamente o gosto do amigo.

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O coração de Minhyuk poderia saltar pela boca que ele não daria a mínima. Ele estava feliz. Verdadeiramente feliz. Finalmente havia feito o que sempre sonhou, havia beijado Hyungwon, e nada poderia ser mais perfeito. A textura dos lábios do amigo, o toque dele, o sorriso… Tudo parecia um sonho. Fazia tanto tempo que ele desejava se declarar, mas nunca teve a coragem necessária. Não até aquele momento em especial.
Tentando não transparecer a ansiedade que estava sentindo naquele momento, abriu a porta da casa do mais novo, sua feição tornando-se confusa ao ver seu rosto escondido por uma máscara.
— Hyungwon? — O chamou, vendo o amigo jogado no canto da sala. Seus olhos, a única parte visível do seu rosto, apáticos e sem vida. — O que aconteceu com você? — Se aproximou, abaixando-se até ficar na altura do mais novo. Com delicadeza, tirou a máscara que envolvia o seu rosto. A cada parte descoberta, o aperto do peito de Minhyuk ficava mais forte.
O rosto de Hyungwon estava irreconhecível. O garoto mal conseguia fechar os olhos por causa do inchaço, os roxos se espalhando por todo o rosto. O sangue gotejava das feridas, fazendo com que Minhyuk se horrorizasse com o que estava vendo. O que havia acontecido ali no tempo que ficou fora?
— Hyungwon… — Minhyuk chamou. O garoto não respondia ao seu comando, vidrado em um ponto do cômodo. — Nós precisamos limpar essas feridas.
— Não. — Ele sussurrou, apavorado.
— Hyungwon, me fala o que aconteceu. Me deixa te ajudar… — Os olhos perdidos do mais novo estavam cada vez mais distantes.
— Meu pai. — Ele engoliu em seco. — Não sei como, mas ele nos viu mais cedo... Ele me disse… ele me disse que não podia aceitar ter um filho anormal como eu. Um filho… — As lágrimas rolaram pelo seu rosto antes que ele tivesse controle de suas ações. — Um filho que beija homens.
— O seu pai fez isso contigo? — Os olhos de Minhyuk flamejaram e ele sentiu uma raiva que nunca antes havia sentido. Ali, naquele momento, ele entendeu Jooheon e sua maneira de agir. Eles haviam assistido o pai do Hyungwon agir como se o filho fosse um saco de pancadas por anos a fio, mas Jooheon havia sido o único com coragem o suficiente para se rebelar e lutar contra a sociedade preconceituosa, corrupta e machista em que viviam. Minhyuk agora se culpava por ter aceitado calado aquela situação. Se ele tivesse acordado antes, seu amigo não estaria naquela situação.
Minhyuk se levantou, decidido a finalmente tomar uma atitude. Ele faria o que sempre teve vontade de fazer, não teria mais medo. Olhando pela última vez para os olhos tristes de Hyungwon, ele fez uma promessa silenciosa que aquilo não ficaria assim, que o pai de Chae pagaria pelo que fizera com ele. Custe o que custasse. Segurando seu telefone, discou para um número conhecido:
— Chang? — A voz do outro lado prontamente respondeu. — Pode avisar para o Jooheon que eu estou dentro. — Minhyuk riu da surpresa do amigo. — Se eu estou certo disso? Eu nunca tive tanta certeza na minha vida.

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Era meia-noite quando Minhyuk se uniu a Changkyun e Wonho em frente à Igreja. O isqueiro em sua mão queimava antes mesmo de ser aceso. Seus amigos usavam máscaras para se protegerem, mas Minhyuk não tinha medo de ser reconhecido. Ele queria olhar o Reverendo Chae, ver o medo em seus olhos assim como tinha visto nos de Hyungwon. Desejava que o fogo queimasse aquele lugar. Se fosse a escolha do destino, com o religioso dentro. Não era como se ele fosse sentir pena de um pai que agredia o próprio filho por não aceitá-lo do jeito que era. Um homem que enchia a boca para falar de religião, Deus e justiça, mas que, por trás do pano, roubava dinheiro da caridade para seu bel-prazer. Céus, o homem de Deus havia se negado a ajudar a salvar a vida do pai do Shownu, um fiel que sempre ajudava a igreja no que podia. Ele não conseguia se esquecer das palavras que vira sair da boca do reverendo naquele dia: “Chegou a hora dele”.
Desligando-se de suas lembranças, Minhuk viu Changkyun e Wonho começarem a despejar o combustível ao redor do prédio, fazendo um sinal para ele quando terminaram sua parte. Acendendo o isqueiro de um lugar seguro, Minhyuk ponderou a situação. Será que aquilo era mesmo necessário? Como se fosse a resposta para sua dúvida, o reverendo apareceu na janela, sorridente, contando um maço de notas de dinheiro. Mais um desvio de dinheiro da caridade. Vendo aquela cena à sua frente, Minhyuk finalmente jogou o isqueiro aceso na trilha de combustível feita por seus amigos. Deleitou-se ao ver o fogo começar a percorrer a trilha, alastrando-se conforme se aproximava do prédio.
Alguns segundos depois, ouviu-se um estrondo, seguido de uma intensa comoção, e foi assim que Minhyuk soube que o fogo finalmente havia invadido a igreja. Ele seria hipócrita se negasse que sentiu um pequeno prazer ao reconhecer os gritos desesperados do pai de Hyungwon por socorro. Felizmente, ele estava sozinho no prédio no momento, e nenhum inocente pagaria pelos erros do homem. Em um dado momento, viu que o reverendo tentava, inutilmente, escapar das labaredas. Uma multidão agora cercava o local, assustada ao ver o prédio tomado pelo fogo.
Minhyuk se aproximou, vendo o que homem agora focalizava os olhos, apavorados, nele. O garoto desviou seus olhos, não querendo sentir pena. Aquele não era o momento.
— Minhyuk, me salva! — Foi possível ouvir no meio dos gritos. — Por favor, me salva!
Enquanto dava às costas ao Reverendo Chae e se afastava do local, vendo os guardas se aproximarem para tentar salvá-lo, Minhyuk foi capaz de dizer:
— Lamento. Chegou a sua hora.

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Minhyuk olhou com atenção para o tubo de ensaio que carregava em suas mãos. Dentro do artefato entregue por Jooheon, havia um líquido azul. Segundo o amigo, o líquido havia sido extraído da mesma flor que ele havia pedido que Minhyuk desse a Hyungwon, Dephinium, que tinha o poder da cura. Ele não sabia o propósito de Jooheon ter dado aquele tubo para ele, assim como também não entendia o porquê dele ter dado a flor ao Hyungwon. O amigo estava muito misterioso no recente encontro dos dois após terem instaurado uma verdadeira rebelião no vilarejo.
“Use quando for necessário”, foi o que ele disse, deixando Minhyuk ainda mais confuso do que já estava.
A cada rua em que passava, mais o caos estava instaurado. O reverendo Chae havia sobrevivido, mas suas mãos, aquelas que haviam feito tanto mal ao filho, estavam tomadas pelas queimaduras sofridas. Em pouco, a notícia do incêndio da igreja sob a autoria dos rebeldes foi espalhada pelo vilarejo, e as pessoas contrárias ao governo ditatorial saíram de suas casas, finalmente resolvendo lutar contra o sistema omisso e cruel que perdurara por tanto tempo. Doía em Minhyuk que fosse necessário o sangue derramado para que finalmente aquele quadro fosse mudado, mas ele descobriu, a duras penas, que aquela era a única opção. Era uma tarefa difícil desviar da multidão enfurecida, que carregava tochas e garrafas, como forma de lutar contra os guardas, tentando chegar o mais rápido possível à casa de Hyungwon.
— Hyungwon? — Encontrou, estranhamente, a porta da casa do amigo aberta. Um silêncio perturbador no ambiente. Caminhando pelos cômodos, viu sangue no chão de madeira, com alguns ramos apodrecidos da flor de Jooheon pelos cantos. Ambos faziam um caminho até o banheiro. Desnorteado, Minhyuk caminhou até lá, com medo da cena que poderia encontrar.
Hyungwon estava desacordado dentro da banheira, a água transbordando pelo local, misturando-se com o sangue que gotejava da ferida de seu pulso. Em volta, mais ramos da flor de Jooheon. Algumas ainda mantinham o tom azul, mas a maioria estava seca.
— NÃO! — Minhyuk gritou com todas as suas forças, sentindo-se desmoronar ao ver o amigo daquela maneira. — Por que você fez isso, Hyungwon? Por quê? — Ele abraçou o corpo inerte do amigo, sentindo seu coração enfraquecer a cada segundo. Hyungwon não sobreviveria na viagem até o hospital. Ele estava muito fraco.
Minhyuk beijou os lábios frios e secos do amigo, tentando passar um pouco do seu calor. Ele não podia morrer… Não agora, não assim. De súbito, lembrou-se das palavras de Jooheon e do líquido que ele lhe dera. Instintivamente, abriu o tubo com a boca, derramando todo o seu conteúdo na banheira. Em contato com a água, o líquido azul tornou-se mais forte e parecia… brilhar, iluminando todo o corpo do amigo que estava debaixo d’água. Entrando na banheira, Minhyuk se abraçou em Hyungwon e, pela primeira vez em tempos, orou.

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Com três de seus melhores amigos à sua volta, Jooheon estava perturbadoramente feliz. De dentro da velha casa, enquanto jogava mais alguns ramos de Delphinium no recipiente, a flor da cura, ouvia o barulho do lado de fora, as pessoas pedindo por democracia. Quanto tempo ele sonhado por aquilo? Por conquistar o que seus pais tanto desejavam e morreram tentando? Finalmente as pessoas haviam acordado e resolvido lutar contra o sistema. E ele estava preparado para lutar junto. Mas faltavam ainda mais três deles para que o clã estivesse enfim completo, e ele esperava com ansiedade para o momento que eles pudessem sair dali, juntos, em busca da liberdade. O pequeno cômodo estava iluminado apenas pelo brilho do líquido azul, que estava dentro do caldeirão.
Infelizmente, a flor da cura não chegara a tempo para que pudesse salvar o pai do Shownu, que enfim havia resolvido se juntar ao clã, mas ele esperava que tivesse salvado seus outros três amigos.
— O QUE TINHA NESSE LÍQUIDO? — Kihyun tinha os olhos arregalados, enquanto caminhava até o círculo onde os amigos estavam. Sem mancar. — Jooheon, o que você me deu? Eu… eu tomei esse líquido e, como mágica, minha perna curou, e eu voltei a andar como se nada tivesse acontecido. Isso não é possível, é?
A curandeira nunca errava. Aquela flor era realmente especial.
Os médicos estavam desacreditados com o caso de Kihyun. Ele havia sofrido um acidente em uma mina ilegal quando era apenas uma criança, o que fez com uma de suas pernas simplesmente paralisasse. Desde então, Kihyun só conseguia andar com a ajuda de uma muleta. Jooheon nunca havia escutado seu amigo reclamar de sua situação, sempre fazendo piadas ou se exibindo como forma de tirar seu problema de foco, mas ele sabia que o garoto sentia não conseguir caminhar, correr ou fazer as coisas simples com a mesma facilidade que seus amigos faziam. Por isso, quando a curandeira lhe entregou os ramos e ensinou como preparar a tal poção, Kihyun foi o primeiro em quem Joohen pensou em entregar o misterioso líquido.
E agora ele estava ali, andando, na sua frente.
— Eu te prometi, não prometi? — Ele abriu um sorriso, fazendo com que suas covinhas aparecessem. Naquele momento, Jooheon se parecia muito mais com um menino do que um guerrilheiro. — Você está curado.
Kihyun abraçou o amigo, ainda não acreditando no que estava acontecendo. Ele nunca pensou que poderia andar novamente, mas se agarrou àquela pequena chance que Jooheon lhe dera, e simplesmente funcionou.
— Estou preparado. — Disse, confiante. — Eu quero lutar com vocês.
— Tem certeza? — Jooheon perguntou. Ele queria que o amigo entrasse no clã de livre e espontânea vontade.
— Eu tenho. — Para provar seu ponto, Kihyun se aproximou do círculo formado pelos seus amigos e deslizou os dedos molhados de tinta no rosto, pronto para participar do ritual de iniciação.

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A água da banheira estava fria, fazendo com que Minhyuk tremesse de frio e se apertasse ainda mais ao corpo inerte de Hyungwon. Ele precisava ter fé. As lágrimas teimavam em cair de seu rosto enquanto ele implorava por um milagre. O líquido azul ainda brilhava em volta deles.
— Por que você está chorando? — Hyungwon abriu os olhos, fazendo com que Minhyuk levantasse em reflexo e jogasse metade da água fora da banheira.
— Você está vivo?
— Não, Minhyuk. Eu sou um fantasma. — Hyungwon abriu um singelo sorriso para o amigo. — Um fantasma muito bonito.
Minhyuk olhou para o pulso do amigo, procurando qualquer sinal do corte que havia visto ali mais cedo. Não tinha nada, estava limpo. Olhou para o chão do cômodo, vendo que todos os ramos que estavam no chão brilhavam em um azul forte.
— Sabe… — Hyungwon comentou tranquilo, não percebendo o desespero do amigo. — Eu tive um sonho muito estranho. Eu estava caminhando em um túnel quando uma luz azul muito forte me cegou. Eu ouvi sua voz me chamando e resolvi voltar.
Minhyuk ouvia distante o amigo falar, mas seu rosto focava no brilho intenso das flores espalhadas pelo banheiro. Será possível que…?
Mas agora não importava. Se foram as flores azuis de Jooheon que fizeram Hyungwon voltar à vida, voltar para ele, Minhyuk estaria mais do que agradecido.
Em um impulso, abraçou Hyungwon com força, beijando os lábios, agora macios e rosados do amigo, e suspirando quando ele moveu seus lábios em resposta. Suas mãos vagaram pelas costas do mais novo, finalmente sentindo o calor do corpo que tanto amava. A cada toque, seu corpo pedia por mais, mas eles não tinham tempo para aquilo. Ao incendiar a igreja, Minhyuk havia dado o pontapé para a rebelião e, naquele momento, eles não podiam voltar atrás. Precisavam encontrar Jooheon.
Suspirando, Minhyuk interrompeu o beijo, deixando Hyungwon confuso.
— O que aconteceu? — Hyungwon tentou puxá-lo novamente para um beijo.
— Depois. — Abriu um sorriso. — Nós teremos todo o tempo do mundo. Mas agora o Jooheon precisa de nós. O clã precisa de nós.
— O clã? Por quanto tempo eu dormi?
— Segundo meus cálculos, umas 3 horas, mas, para mim, pareceu uma eternidade. — Minhyuk levantou da banheira, puxando Hyungwon consigo. — Agora vamos trocar de roupa e encontrar nossos amigos.
— Eu estou todo azul. — Hyungwon riu ao ver seu corpo manchado da tonalidade. — Meu Deus, eu virei um smurf!

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O vilarejo estava afundado em um completo caos. Os guardas tentavam, inutilmente, controlar a população enfurecida, que fazia barricadas e ateava fogo para impedir seu avanço, usando de armas como gás de pimenta e cassetetes.
— Você tem certeza de que eu só dormi três horas? — Hyungwon olhou assombrado para a multidão que tomava as ruas, gritando palavras de ordem e enfrentando os guardas. Ele e os amigos, marcados no rosto com as tintas azul e amarela, corriam entre as inflamadas pessoas, com Shownu e Wonho à frente do grupo.
— Você sempre foi a bela adormecida da turma, Chae. — Jooheon pirraçou. — Mas fico feliz que agora você esteja bem. — Hyungwon sorriu para o amigo enquanto ajudava Kihyun a levantar uma barricada. — Aigoo, eu ando muito sentimental esses dias.
— Você sempre foi o mais sentimental de todos nós, Jooheon. — Kihyun rolou os olhos, rindo ao analisar a situação em que estavam. — Nós estamos parecendo os vingadores.
— Shownu Hyung com essa blusa verde está parecendo o Hulk. — Minhyuk disse, causando risada no grupo. Shownu ignorou a brincadeira dos amigos, olhando atentamente um ponto distante.
— Você e o Minhyuk... — Changkyun olhou para os dois amigos, que não haviam se desgrudado um instante desde que encontraram o grupo após o que Jooheon preferiu chamar de “infelizmente incidente” de Hyungwon.
— Nós estamos bem. — O garoto disse, segurando as mãos de Minhyuk em resposta. — Nós estamos muito bem.
— Pessoal… — Shownu interrompeu, ainda focado em um lugar em específico.
— Acho que o hyung finalmente entendeu a piada e vocês vão apanhar. — Wonho riu, vendo seu amigo estreitar os olhos, sem tirar sua atenção. — Shownu, eu sei que você é um pouco disperso, mas o que aconteceu?
— Kihyun, o quão curada a sua perna está? — O rosto de Shownu transparecia sua preocupação.
— Estou muito bem, hyung... Por quê?
— A minha visão está ruim, ou aqueles guardas estão vindo atrás da gente?
O grupo paralisou ao ver um grupo de guardas andarem em passos largos na direção deles.
— E o que fazemos agora? — Changkyun perguntou, preparando-se para o inevitável.
— Agora? A gente corre.


Continua...



Nota da autora: Bem, a história não saiu como eu gostaria, mas espero que gostem. :) Quer conversar/sofrer sobre os coreanos, me chama lá no twitter.

Abraços,
Pri.





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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