Capítulo Único
precisava de um emprego de meio período se quisesse continuar gastando dinheiro com artigos de K-pop, shows, fanmeetings e fansigns, já que agora a fonte secara após ela passar a noite em frente ao local do show de seu grupo favorito para pegar o melhor lugar. Sua mãe dissera que nunca mais lhe daria nem mesmo um real para gastar com essas coisas e, quando sua mãe dizia algo, era melhor acreditar.
E exatamente naquela semana o BTS anunciara um show em sua cidade. Como podia ser tão azarada? Chegava até a ser cômico se não fosse trágico e ela houvesse passado uma semana trancada no quarto chorando por isso, até que ela recebeu um conselho de sua melhor amiga: se arrumasse um emprego de meio período que fosse depois do horário do Colégio, poderia gastar o quanto quisesse com seus bias e de quebra ainda passar um tempo a mais fora de casa.
Foi dessa forma que ela conseguira o emprego na floricultura que ficava na rua de trás da sua casa. Era no caminho do Colégio, na esquina que tinha que virar para entrar na rua da escola e foi em uma tarde voltando para casa depois da aula que descobriu que precisavam de uma ajudante, com uma placa escrita a mão sinalizando. A coisa mais esquisita foi que, assim que entrou no local segurando a placa de aviso, foi contratada.
Isso foi meio assustador, mas logo entendeu o porquê já que o senhor de idade que lhe contratara fizera questão de a explicar tudo: ele era o dono do local e precisava urgentemente viajar para visitar seus pais no interior, porque sua mãe estava doente. Teria que deixar a capital por tempo indeterminado, deixando tudo nas mãos do seu funcionário de confiança: , porém o garoto não conseguiria organizar tudo sozinho e então precisavam de alguém para ajudá-lo.
O senhorzinho a apresentou para no mesmo momento, mas não foi bem uma apresentação. Ele a puxou pela mão para lhe guiar os passos até o escritório que ficava atrás de algumas prateleiras cheias de vasos de flores, apontando para o rapaz que estava entre vários amontoados de papel e livros, com a cabeça em cima de metade deles dormindo profundamente. E então a falou para ir descansar em casa e procurar pelo garoto no outro dia após seu horário letivo.
Já faziam duas semanas desde esse dia e estava feliz o suficiente por ter conseguido uma forma de ter dinheiro para suprir suas vontades, porém estava curiosa em relação a . Ele falava muito com os clientes, mas quando estava ao seu lado parecia que todas as palavras sumiam de seu vocabulário e seu tom de voz se tornava quase inaudível, mas era tão melódica que podia ouvi-la durante o dia inteiro e não se cansaria.
Não precisara de muito mais que uns dias para que sua melhor amiga Aurora começasse a dizer que estava apaixonada, mas achava aquela hipótese ridícula. Como poderia ter se apaixonado em tão pouco tempo e por alguém que nem mesmo conhecia? Aquilo era só curiosidade por alguém tão misterioso quanto o garoto, que apenas sabia o nome completo porque o dono da loja de flores lhe dissera.
Seu expediente era apenas se segunda a sexta, porém sabia que a floricultura também abria aos sábados e domingos. parecia não descansar ou não querer descansar, entretanto ele pontualmente fechava as cinco e meia da tarde, meia hora depois de seu horário acabar, e saia às cinco e quarenta. Como sabia daquilo…? Bom, a floricultura era exatamente na rua detrás de sua casa, no ângulo perfeito para ser vista da sacada de sua casa, coisa que ela apenas percebeu quando começou a trabalhar lá.
Hoje era domingo e estava ansiosa e inquieta. Como de costume, estava sozinha em casa, sua mãe havia saído cedo para trabalhar e não sabia exatamente quando ela voltaria. Também já havia feito seus trabalhos de casa e eram uma e meia da tarde quando sentou no banco de sua sacada, observando a porta de vidro do lugar. Será que ele já havia comido algo? Naquele meio tempo convivendo com o , percebera que ele costumava pular refeições para passar mais tempo no serviço e isso a preocupava.
Estava calor e o Sol castigava tanto a garota quanto as flores expostas na vitrine que praticamente murcharam do começo do dia até agora. Resolveu sair para tomar um sorvete, mas estava se arrumando demais para quem simplesmente ia na sorveteria que ficava um pouco depois da floricultura. Não faria mal algum se passasse lá só para saber se estava tudo bem ou se precisava de ajuda, não é…?
Quando viu estava voltando com um sorvete na mão e uma sacolinha na outra com uma garrafa suco gelado, um lanche natural e um um potinho de sorvete dentro, os cabelos meio presos esquentando sua nuca de forma quase insuportável enquanto tentava não suar muito, precisava chegar apresentável para falar com o garoto. Estava meio nervosa ao fazer aquilo, pareceria um pouco oferecida ou talvez estranha aos olhos dele? Mas a verdade era que não se importava, só queria se certificar de que ele iria comer.
― Oppa? ― chamou assim que entrou pela porta de vidro que estava aberta, sendo segurada por um vaso médio enfeitado com diversas flores coloridas.
imaginou que ele estivesse nos fundos do local, aquela floricultura era maior do que pensavam que era ao entrar nela, o espaço bem dividido entre a loja e as dependências como o escritório onde ficava o caixa, uma pequena cozinha e um banheiro. Começou a andar esticando o pescoço entre os corredores de prateleiras com arranjos para ver se não acabava vendo-o entre algum deles, mas ele não estava lá, então continuou andando até ver o escritório vazio, a cozinha e o jardim também.
Só havia mais um lugar ao qual podia procurar: a estufa. Andou calmamente até o lugar, mas estava vazio também, a fazendo ficar um pouco assustada de ver que estava tudo aberto, mas não estava lá. Na verdade, havia mais um lugar que esquecera: a floricultura tinha um segundo andar, mas ele nunca a deixava ir até lá então acreditava que era apenas um depósito.
Haviam duas formas de entrar nele. A escada que dava para a rua, normalmente inutilizada e não entendia porque um depósito tinha uma escada pra rua, e a escada que estava subindo agora, a nos fundos que dava pro belo jardim verde, bem cuidado e com uma infinidade de flores que a garota ainda não havia se acostumado, todas cultivadas pelo dono da loja.
― Oppa? ― chamou ao chegar no último degrau da escada, batendo na porta que se abriu assim que encostou nela. Ficou ainda mais surpresa por aquela porta também estar aberta, mas o que viu depois a deixou ainda mais surpresa.
Era uma casa. O segundo andar era uma casa com uma sala e cozinha de conceito aberto e até uma mesa de vidro transparente e bonito na junção de ambas. Ficou paralisada por alguns segundos, olhando sua mais recente descoberta, só voltando a si quando viu o garoto saindo do quarto, secando os cabelos molhados com a toalha branca e demorando alguns segundos para perceber sua presença.
― ? ― ele questionou confuso ao vê-la em sua porta meio aberta em pleno domingo. ― Aconteceu alguma coisa? Você não precisa trabalhar hoje.
― Na verdade, eu só queria passar aqui pra ver se você estava bem e… ― o quão invasiva estava sendo cuidando de quando ele comia ou deixava de comer, além de ter aberto a porta da casa do garoto sem permissão alguma? Tudo bem que não sabia que ali era a casa dele, mas… ― Se você tinha comido. Eu imagino que deve estar meio corrido aqui, então te trouxe isso. ― ergueu a mão que segurava a sacola da loja de conveniências.
― O-Oh… Nossa. ― ficou um pouco chocado de ver o que a garota havia feito e ela ficou com medo que aquilo fosse uma reação ruim, apenas relaxando quando ele abriu um sorriso. ― Eu não sei nem o que dizer, mas… ― o garoto ficou um tanto pensativo por alguns segundos. ― Bom, primeiro, entra!
― Não, quer dizer, eu preciso voltar pra casa antes que minha mãe chegue, só queria me certificar que você ia comer hoje. ― apesar de falar que precisava ir embora, ela deu passos tímidos em direção ao rapaz, levantando a sacola para ele.
― Eu entendo… ― sorriu ainda mais largamente para a mais nova, assentindo com a cabeça algumas vezes antes de pegar o que ela lhe oferecia, tocando levemente sua mão. ― Obrigado.
Estavam tomando café da tarde juntos. decidira parar de pular as refeições após o dia em que a garota lhe disse aquilo, então quando foi pegar uma maçã na pequena cozinha do local, acabou encontrando com o rapaz sentado comendo algumas bolachas. Ficou um tanto em choque de ficar ali com ele, porém quando o cravou o olhar em si, não pôde se desviar.
― Por que você quis esse emprego? ― ele perguntou em um tom de voz tão casual que não pôde achar que aquilo era ruim, apenas ficar confortável em sua presença e pensar que ele queria iniciar uma conversa.
― Eu preciso do dinheiro pra ir em um show do BTS que vai ter aqui mês que vem. E também gastar com algumas outras coisas. ― a estudante nem mesmo pensou duas vezes para responder, não pensando que podia parecer meio ruim para alguém que você está crushado falar que você ainda era ARMY no auge dos dezoito anos.
― Mesmo? Eu achei que fosse algo mais sério do jeito que você parecia querer o emprego. ― o ficou um pouco chocado com a notícia, arregalando um pouco os olhos.
― Isso é sério pra mim. ― a garota choramingou com um bico se formando nos lábios avermelhados.
― Relaxa, eu nunca disse que isso é um problema. ― virou levemente o corpo e o rosto na direção da garota, sorrindo para ela de um jeito que fez a boca de se abrir um pouco e ela ter que se controlar para não parecer muito abobalhada.
― E não é? ― questionou curiosa. Sabia que não era, apenas queria ouvir qual resposta ele daria.
― Claro que não, você tem direito de gostar do que você quiser não importa sua idade. ― o continuou sorrindo daquele jeito brilhante que apenas sumiu para que ele tomasse o resto de seu chá.
― É mesmo…? ― balbuciou meio perdida por aquele cara ser tão perfeito quanto ele demonstrava. ― É, claro! ― se corrigiu algum tempo depois que percebeu que havia pensado alto, quase arrancando uma risada do mais velho.
O silêncio tomou conta do pequeno ambiente e, enquanto para ele era agradável e acolhedor, para era completamente sufocante e ela sentia-se a cada segundo mais envergonhada, vasculhando a sua mente em busca de algum assunto que pudesse colocar em pauta.
― E você, por que trabalha aqui? ― resolveu perguntar em um tom completamente natural, achando que podia falar aquilo já que ele havia perguntado o mesmo e não entendendo porque o garoto quase engasgou quando a ouviu falando isso. ― V-Você tá bem…?!
― Sim! Eu acho… Acho melhor nós voltarmos ao trabalho, ficamos muito tempo aqui conversando. ― sumiu em menos de segundos, jogando o copo descartável fora no caminho e então desaparecendo da sua vista.
ficou observando a saída da cozinha completamente atônita, se martirizando mentalmente. Será que havia falado alguma coisa de errado? Por que tinha que estragar tudo sempre e abrir demais a boca?! Bateu na própria testa vc
Ela sabia que aquele lugar era grande demais para apenas duas pessoas administrarem, era por isso que se esforçava ainda mais para que o trabalho não pesasse demais em por estar sendo displicente com suas obrigações. Naquela sexta feira principalmente estava se esforçando ainda mais, porque sabia que ele ficaria sozinho lá no fim de semana.
O chefe parecia estar particularmente cansado aquele dia, e sabia que envolvia algo que ele havia feito de manhã, já que o garoto lhe pedira para chegar uma hora depois do seu horário normal. Ele ficara praticamente o dia inteiro no escritório com seus olhos fechando sem permissão e agora fora ao jardim dos fundos, dizendo que era para chamá-lo se precisasse.
Evitara fazer isso a tarde inteira, não queria atrapalhá-lo fosse lá o que ele estivesse fazendo, até mesmo deixou o horário de sua saída passar e ficou praticamente uma hora a mais, distraída com a relação de flores que fazia sobre que as que estavam sobrando e as que estavam faltando, porém quando começou a escurecer e o céu se tornava alaranjado pelo pôr do Sol, se deu conta que precisava voltar para casa rápido e correu até o jardim.
Encontrou no banco de madeira branco que ficava no caminho até a estufa, meio sentado, meio deitado e totalmente adormecido de uma forma que com certeza devia ser muito desconfortável, principalmente porque seu pescoço estava completamente torto. Sentiu até seu coração doer com aquela cena, se aproximou lentamente e então se abaixou até que ficasse com o rosto na mesma altura que o dele, porém ambos longe um do outro.
Sua vontade era de levar uma das mãos até os cabelos que cobriam os traços bonitos e ajeitá-los, mas não podia, tendo que segurar sua própria mão para manter seu autocontrole. Estava com dó de acordá-lo, porém com mais dó ainda de deixá-lo dormir daquela forma e por sua indecisão acabou sentando no espaço vazio do banco, puxando o rapaz pelos ombros delicadamente até que ele deslizasse até seu colo. Não resistiu em tocar seus fios de cabelo, os retirando da frente dos olhos fechados do mais velho e podendo observá-lo totalmente.
Sob a luz fraca do luar que havia acabado de pegar seu lugar no céu e os assistia de um bom ângulo, parecia ainda mais bonito, mesmo que seus olhos tivessem bolsinhas escuras na parte debaixo. Ele devia estar tão cansado e nem mesmo imaginava o porquê, porém se sentia extremamente preocupada por causa disso. Ergueu novamente uma das mãos, se deixando ser um pouco abusada e acariciando sua bochecha com o polegar. Queria de alguma forma aliviar todo o peso que ele sentia, mesmo que ela não soubesse o que era.
Naquela posição, o observando tão concentradamente e com aquele desejo em seu coração, era como se aos poucos a expressão do suavizasse para uma mais serena, de um sono mais tranquilo e prazeroso. Aquilo a deixou tão em paz que acabou adormecendo também, tendo bons sonhos ao qual participava. Nenhum dos dois tinha noção do tempo no mundo dos sonhos, porém o primeiro a acordar foi o rapaz.
Sua primeira reação ao sentir que estava deitado em algo macio foi confusão, afinal, não era mais criança para dormir em qualquer lugar e acordar em sua cama. Então, ao abrir os olhos e encontrar a garota adormecida com a cabeça levemente abaixada em sua direção, ele não resistiu em sorrir. Como poderia dizer não àquela menina? era totalmente especial, mas já devia estar tarde o suficiente para que respirasse fundo e criasse coragem para acordá-la.
― … ― chamou a primeira vez com o tom de voz mais doce e suave que conseguia fazer, se levantando e então a chacoalhando levemente pelo ombro. ― Ei!
Com a segunda chamada, a garota abriu os olhos de forma preguiçosa, os fechando e abrindo diversas vezes até que percebesse onde estava. Uma exclamação ficou presa em sua garganta ao ver as flores na sua frente, quando foi que dormiu que nem percebeu?! Quase entrou em desespero, porém lembrou que era sexta-feira e sua mãe não voltaria para casa, não precisava se preocupar com ser morta.
― , eu acho melhor você ir pra casa. Já são mais de dez horas. ― acabava de olhar as horas no celular, se perguntando quanto tempo dormira se quando fora para o jardim ainda estava claro.
― Eu também… Também acho. ― a pausa no meio da frase foi para bocejar, coisa que fez colocando uma das mãos a frente da boca.
― Vamos, eu te levo até em casa. Já está tarde. ― o mais velho se levantou, batendo algumas vezes na calça jeans e na camisa para desamassá-las um pouco, mesmo que fosse impossível.
― Não precisa, eu moro aqui do lado e você deve estar cansado… ― ergueu as duas mãos espalmadas no ar ao se levantar, as balançando em sinal de não.
― Não importa, vou me sentir mal se não for com você. ― ele insistiu e então teve uma ideia, sorrindo marota e o pegando pela mão para puxá-lo até a porta da loja.
― Está vendo aquela sacada? ― apontou para cima praticamente na frente da floricultura, apenas uma casa para a esquerda. somente concordou assentindo com a cabeça. ― É a do meu quarto. Vou aparecer nela e acenar assim que eu chegar, então você não precisa ficar preocupado, certo? Não aceito não, concorde comigo!
― Bom… ― o rapaz suspirou derrotado, se dando por vencido. ― Tudo bem. Mas seja rápida, eu vou ficar aqui até te ver.
― Pode deixar, Oppa! Boa noite! ― curvou levemente as costas antes de começar a se afastar, olhando para trás com um sorriso brilhante e acenando até que se virou de uma vez para prestar atenção na rua.
sentia-se um idiota por deixá-la ir tão facilmente, mas não tinha muito o que podia fazer além de assisti-la andando com passos rápidos até virar a esquina, o fazendo suspirar. Ela estava andando rápido só porque tinha pedido, não é? Sorriu para si mesmo, balançando a cabeça negativamente.
Enquanto esperava-a chegar em casa, deu uma olhada rápida para trás para olhar a loja e ficou perplexo com todos os vasos arrumados em ordem de cor e nas prateleiras em faixa de preço, os mais caros embaixo e então ficando mais baratos conforme subia. Era isso que ela havia ficado fazendo, então…?
― Psiiiu! Oppa! ― ouviu a voz ao fundo de seu ouvido, lhe fazendo virar. tentava não gritar porque já estava tarde, porém tinha que falar alto para chamar sua atenção.
Ela acenava animadamente para ele da pequena sacada que era tão perto da onde estava que assustava. Do outro lado da rua e eles nunca haviam se visto antes… Sorriu um tempo depois de observá-la, levantando a mão para acenar também. Os dois se observaram por um tempo, até que fez um gesto para que voltasse pra dentro e ela obedeceu, o deixando apenas com seus pensamentos e a nova organização do local.
Céus, essa noite não ia dormir nem cinco minutos.
Nem exatamente dezoito horas passaram desde que vira e mal podia se aguentar para vê-lo novamente. A cena dele cuidando do jardim no meio das flores que vira naquela semana não se desgrudava de seu cérebro, a beleza intrínseca do rapaz tão esfregada em sua cara que não tinha estruturas nenhuma para aguentar, por isso estava em uma chamada de vídeo com Aurora, querendo que a amiga lhe consolasse e mandasse superar e ainda fez questão de atendê-la na sua sacada, virada de costas para a floricultura e com o celular à sua frente.
― Quando você vai se conformar que se apaixonou? ― a melhor amiga falava um tanto revoltada por todo aquele teatro de de admitir seus sentimentos.
― Nós mal nos conhecemos, como eu posso estar apaixonada…?
― Mas é exatamente assim que é a paixão, você não precisa conhecer, você precisa sentir! ― a morena revirava os olhos na imagem, suspirando. ― , não vira, mas ele está já faz uns dez minutos na porta te olhando. ― Aurora comentou um pouco mais baixo e falando de lado, como se mesmo de tão longe pudesse ouvi-las.
― S-Sério?
― Sim, quer dizer, só tem um cara na floricultura, né? Deve ser ele. Eu acho que você devia ir até lá depois que nós desligarmos. ― a amiga sorriu ao falar isso. ― Você já fez isso antes, ele não vai estranhar.
― Devo levar algo pra ele comer também…? ― a estudante sussurrou mais para si mesma, olhando para o chão.
― Não, ele não precisa desconfiar que você quer ganhá-lo pela barriga. E vai que ele já comeu, você disse que ele parou de pular as refeições, não é? ― Aurora instruiu como uma mãe faria com sua filha, arrancando uma risada de que assentiu com a cabeça, sorrindo.
― Okaay, você está certa, ele já deve ter comido a essa hora. Eu vou agora, até mais, Rora! ― acenou para o celular, o afastando um pouco para que sua mão saísse na imagem e a amiga fez o mesmo, rindo ao ver que as assistia e saiu da porta assim que se despediram.
deixou o celular no bolso do moletom rosa, andando calmamente para dentro do quarto e virando o rosto um pouco antes de perder completamente o ângulo que a deixava ver a floricultura, vendo que não estava mais lá. Sorriu para si mesma, balançando a cabeça e então desceu as escadas que levavam até a cozinha, abriu sua geladeira e ficou pensando se não deveria mesmo levar nada.
Acabou suspirando e assentindo para se encorajar, resolvendo seguir o conselho da amiga e saiu com as mãos vazias. O sol continuava forte na cidade, mesmo que houvesse melhorado um pouco desde a última semana, era um dia bonito e agradável e a garota sorria sem motivo algum enquanto andava calmamente até a rua de trás, entrando na loja sem nem pensar duas vezes.
Porém dessa vez não chamou por , apenas andou até os fundos do local, observando o jardim que ainda a fazia ficar totalmente admirada toda vez o que o via. Sabia que ultimamente estava passando muito tempo ali para mantê-lo bem cuidado, mas daquela vez ele não estava nele, então andou um pouco mais até chegar na estufa e o encontrar.
― Olá! ― a garota o chamou animada, vendo-o logo após todo aquele verde, observando o pequeno amontoado de árvores que ficavam após a parede de vidro do local.
não percebeu o quão ele parecia preocupado e desanimado, estava afogada em suas próprias sensações de felicidade por vê-lo e por sorte se sentiu diferente assim que a ouviu, virando para encontrá-la com um sorriso que teve que controlar para não ser largo demais, dando permissão apenas para seu lábio se puxar no canto.
― , você não devia estar descansando? ― estava feliz de vê-la ali, porém continuava confuso com as visitas da garota fora do horário de expediente.
― Como eu posso descansar quando eu sei que você está trabalhando…? ― a menina questionou com a voz baixa e manhosa, fazendo um bico que praticamente tirou toda a sanidade do .
― Você não precisa se preocupar com isso, deixou as coisas bem arrumadas pra mim ontem. ― ele sorriu ao falar, maneando a cabeça levemente na direção da loja.
― Ah, mesmo…? ― arregalou os olhos ao ouvi-lo dizer isso, se lembrando que havia organizado tudo o que podia no dia anterior.
― Sim, você fez um bom trabalho, não precisa se esforçar demais. ― se aproximou da menina com passos lentos.
observou a expressão doce e o sorriso que preenchia os lábios do , sentindo suas bochechas esquentarem tanto que com certeza estavam tão vermelhas quanto as rosas que usavam para fazer os arranjos.
― Tem certeza que não precisa de ajuda…? ― perguntou em uma tentativa inútil de disfarçar sua vergonha pela proximidade e contato dos dois.
― Vai descansar, certo? Você precisa estudar também. ― nivelou seus rostos na mesma altura, olhando nos olhos da menina, a lembrando de seus trabalhos atrasados e por pouco não a fazendo se desesperar. ― Não pense que eu não sei que suas provas estão chegando, porque eu sei.
― Oppa…
― Vamos, vou te levar até a porta. Apareça na sacada quando chegar, eu estarei esperando.
Na segunda feira mal podia esperar para sair do Colégio e ir trabalhar, por isso acabou chegando quase meia hora adiantada. Não soube como conseguiu chegar tão rápido, mas quando viu já havia tomado banho e estava pronta sem fazer nem mesmo vinte minutos desde que chegara em casa.
Não enrolou mais, pegou sua bolsa e saiu em direção a loja. Como de costume, não estava na porta e sim nos fundos. Podia ouvir uma música baixa vinda de lá e então seguiu o som, chegando até o escritório que estava vazio e então vendo a porta lateral do local aberta. Como o escritório não era realmente um local que costumava frequentar, ficou surpresa ao descobrir que havia mais um cômodo ali, e mais surpresa ainda com o que encontrou nele.
Era apenas uma sala vazia com uma janela de vidro grande, um banco e que seguia o ritmo da música com seu corpo de uma forma tão bonita que ficou fascinada. Ele parecia flutuar toda vez que girava ou movia os pés, e suas mãos formavam movimentos tão leves que pareciam ser surreais, principalmente porque ele segurava uma rosa em uma das mãos, deixando o efeito de tudo ainda mais devastador combinado com a camisa de seda que esvoaçava sempre que movimentava o tronco.
Não soube dizer quanto tempo ficou o observando da porta, mas acordou quando o rapaz se sentou no banco que estava no canto, com a respiração descompassada e então ergueu o olhar para a porta, cravando-o exatamente onde estava e a fazendo congelar completamente, até mesmo engolir em seco.
Se encararam por minutos e não parecia se cansar disso, porém o olhar de era desconfortável e com um pouco de medo do que viria a seguir. Ela estava sempre se metendo onde não devia, quando ele começaria a ficar bravo…?
― Parece que eu não consigo esconder nada de você, não é? ― abaixou o olhar, encarando o chão e sorrindo para si mesmo. ― O que mais você vai descobrir sobre mim, ?
― M-Me desculpa, eu…
― Não precisa se desculpar. ― ele riu, achando extremamente bonitinho aquele nervosismo da garota e então se levantou, passando por ela que estava na porta e parando um pouco depois. ― Feche as coisas, vamos fechar por hoje. Tem um lugar que eu quero ir com você.
― O-Onde…?
― É uma surpresa. Me espere descer, já volto. ― e então ele sumiu pela escada, a fazendo ficar completamente sem palavras, mas concordou e começou a fechar as portas.
desceu as escadas uns vinte minutos depois, com um perfume que para a garota era melhor do que todas aquelas flores juntas tomando o local. Ele vestia uma camiseta leve e preta de com três botões beges em sequência vertical no colarinho, com uma calça jeans azul escura para completar, o que para ela era mais do que o suficiente para deixá-lo estonteante.
Estava tão concentrada em admirar a beleza do rapaz que nem mesmo percebeu o contraste de cores que formavam um ao lado do outro, já que usava um short preto de cintura alta e uma blusa azul escura de tecido leve, com botões enfeitando o final de sua manga três quartos e os bolsos falsos na altura dos seios. havia planejado tudo…
― Vamos. ― apenas sorriu, a pegando pela mão e puxando levemente para que o seguisse até a saída.
O caminho até o trem bala foi silencioso, porém nenhum dos dois conseguia segurar os sorrisos que de vez em quando queriam escapar ao perceberem que estavam andando pelos lugares de mãos dadas. Em pé no transporte, não precisou nem mesmo se segurar em alguma das barras porque podia simplesmente passar seu braço pelo do rapaz e confiar que esse seria seu apoio.
Quando chegaram na praia de Euewangni mais ou menos quarenta minutos depois, o Sol ainda brilhava intensamente e o vento forte os salvava do calor. Ainda eram duas e pouco da tarde e a garota mal podia esconder sua empolgação por estar na praia, parecendo uma criança quando desceram da estação e ela pôde ver o mar.
― Woooah, é tão bonito! ― ela praticamente saiu correndo para chegar rapidamente até a areia, puxando consigo e quase o fazendo se desequilibrar no caminho.
― , espera, eu quero passar na loja de conveniência antes! ― ele pediu e, mesmo que estivesse ansiosa para chegar logo até a água, a garota concordou, deixando-se ser guiada pelo rapaz até a loja.
sabia exatamente aonde queria ir e não pensou duas vezes até ir as partes onde estavam os fogos de artifício, escolhendo um bastão num tom de vermelho bordô e então, sorriu para , colocando levemente uma mão em cima de seu ombro para chamar a atenção dela que estava distraída olhando outras coisas.
― Quer escolher um pra mim? ― perguntou, vendo a expressão da menina se iluminar na mesma hora que pediu isso e se transformar em um sorriso largo.
― Siiim! ― ela não pensou muito em pegar o bastão amarelo e os dois passaram juntos no caixa, com a menina saindo correndo logo após enquanto ele carregava a pequena sacola em uma das mãos.
― !
chamou um pouco assustado, tentando pará-la para seguirem em um ritmo mais calmo, mas ela não descansou enquanto não estivessem na frente da água. A mais nova tranquilamente fechou os olhos e inspirou todo o ar que cabia em seus pulmões, os inflando até não aguentar mais e então soltando o ar calmamente, sentindo a maresia agradável.
Então a garota resolveu se agachar, estendendo a mão e deixando a água passar por entre seus dedos, seus lábios se abrindo cada vez mais com aquela sensação agradável. não conseguiu fazer mais nada além de observar a cena, sentindo seu coração se aquecer como nunca havia sentido antes em relação a uma garota. Era tão difícil assim admitir que estava completamente apaixonado?
― Eu sempre gostei do mar, mas eu nunca fui uma pessoa feliz quando eu estava olhando pra ele. Eu sempre estive sozinha… ― suspirou desanimada com aquelas lembranças, mas então ergueu o olhar na direção de , sorrindo para ele. ― Mas hoje… Eu estou feliz. Obrigada, .
Apesar de estar sorrindo com felicidade, o olhar da estudante reverberava em tristeza com um brilho fosco, como se as memórias houvessem se desencadeado em sua mente. Aquilo foi capaz de deixá-lo completamente calado por alguns minutos, tentando digerir o que ela havia falado e pensar em uma resposta a altura.
― Sabe, você estava parcialmente certo. Não era só pelo K-pop… ― o olhar da menina se perdeu novamente na imensidão de água. ― É pelo meu pai, ele tem dívidas de jogo. Minha mãe chutou ele de casa e trabalha muito para poder manter nosso padrão de vida, mas ele sempre volta pra pedir dinheiro e às vezes… Ameaçam ele. Ou nós duas. Então ela tem que pagar. ― suspirou ao falar sobre aquilo, ao mesmo tempo que sentia um peso enorme sair de suas costas por desabafar com outra pessoa que não acompanhara a situação passo a passo como Aurora fizera. ― O K-Pop veio depois… Uma vez, quando eu era mais nova, nos ameaçaram e eu fiquei com muito medo, então eu saí de casa quando minha mãe foi trabalhar e queria encontrar meu pai. Mas eu me perdi e fiquei desesperada, então chorei muito na rua e um rapaz me encontrou, me consolou e ajudou. Algum tempo depois eu descobri que ele estava em um grupo chamado BTS. ― explicou com um sorriso no rosto, como se agora as memórias fossem doces. ― É idiotice, mas eu não consigo esquecer…
― Não, não é idiotice. ― discordou com um pequeno sorriso de canto no rosto, sentando na areia seca um pouco atrás de onde a garota estava agachada. ― Você me perguntou porque eu trabalhava na floricultura e bem, eu também tenho problemas com o meu pai. Eu conheci a dança quando eu era criança porque um dia eu vi um grupo se apresentando na rua. Eu achei o máximo… O meu sonho é ser dançarino e ele diz que isso é uma vergonha pra um homem. ― pausou com uma respiração mais pesada. ― Então eu saí de casa para buscar meu sonho. É por isso que eu moro em cima da floricultura, o senhor Nam me permite pagar a minha moradia com o meu trabalho e ainda me dá um salário que eu consigo me sustentar e pagar o meu curso.
― …
― Se você dizer que o que sente é idiotice, vai estar falando o mesmo do que eu sinto, não faça isso, por favor. Sabe, eu nunca me importei de comer porque ninguém se preocupava até você chegar. Nós estamos em situações parecidas, não é? Os dois inspirados por idols e com pais problemáticos. ― riu sem humor, apenas numa tentativa de amenizar o clima.
Então ele discretamente levantou, se agachando ao lado da menina que o olhava com o pescoço virado. Pegou os dois bastões que estavam dentro da sacola, pegando também um isqueiro que levara propositalmente e estava guardado em seu bolso, pegou o bastão amarelo e o colocou no colo da garota.
― Eu te vejo como uma cor tão quente e vibrante como o vermelho das rosas. Uma cor que chama a atenção e é elegante, as pessoas não conseguem ignorar a beleza dela. ― ele explicou, sem nem por um segundo desviar os olhos do rosto da mais nova, vendo-a aos poucos ficar vermelha e se emburrar pelo o que ele falava.
― Oppa, mas é assim que eu te vejo! Você trocou as cores. ― a voz de criança voltou por alguns instantes, fazendo abrir um largo sorriso. Ele não conseguia resistir àquilo.
― Então por que você pegou a amarela?!
― Eu não queria pegar a mesma cor que você! ― ela apontou o bastão pro garoto que começou a rir do motivo da menina, balançando a cabeça negativamente enquanto acendia o bastão que estava em sua mão, fazendo a fumaça vermelha começar a se espalhar no ar. Então, ergueu o isqueiro para que ela fizesse o mesmo, observando a expressão pensativa da menina. ― Você é o Sol, me trouxe luz e calor quando eu estava no frio e escuro. Em excesso, pode provocar distração e ansiedade, eu me sinto assim quando estamos longe um do outro, mas quando estamos perto eu me sinto confortável, como se estivesse no lugar certo.
― Eu acho que nós realmente trocamos as cores… ― sorriu, voltando a se sentar na areia seca após acender o bastão amarelo também, agora puxando-a delicadamente para que ela o acompanhasse. Movimentou levemente o objeto para que a fumaça vermelha que segurava se misturasse à amarela. ― É assim que eu quero nós dois a partir de agora. Tão juntos que eu não sei onde termina o eu e começa o você. ― e então, quando as duas fumaças pararam de sair dos bastões, ele puxou para que ela caísse em seu colo, a abraçando pelos ombros fortemente. ― Eu vou te proteger assim. Por favor, nunca saia do meu abraço. Por favor, me chame sempre que precisar.
Fim.
Nota da autora: NINGUÉM ME TOCA QUE EU TO SENSÍVEL, AFF UAHAUHAUHA eu acho que esse foi o mais longe que eu cheguei em romance e fofura em um relacionamento e eu tô muito soft, sinceramente essa one é uma das mais simples e uma das que eu mais gostei ao mesmo tempo AUHAUHAUHA era pra ela ter ficado maior, mas ela não quis e quando as coisas tomam o próprio rumo e criam vida própria a gente tem que aceitar, né nom? UAHUAHUAHA
Se você leu até aqui, muito obrigada, e se gostou, me deixe saber! E VÃO DAR VIEW EM CALLIN, OBRIGADA.
Se quiser falar comigo, é só me procurar no Twitter! https://twitter.com/queenvique
E caso tenha gostado e queira ler alguma outra coisa minha, eu estou com uma long fic em andamento sobre romance e distopia, originalmente escrita com o Monsta X! http://fanficobsession.com.br/fobs/t/trespass.html
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