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Finalizada em: 03/05/2018
Music Video: Coldplay - Charlie Brown


Capítulo Único

caminhava apressada pelos corredores do seu prédio, prestando atenção em qualquer barulho incomum. Precisava sair dali o mais rápido possível, sem que sua família a notasse. Caso seu pai ou seu irmão a vissem saindo arrumada, poderiam começar uma discussão sobre patriarcado e valores morais.
Ela odiava isso.
Tudo que mais sonhava na vida era poder finalmente se livrar das amarras de uma família tradicional. E ninguém melhor para ajudá-la a viver essa loucura do que Brown. E ele era, inclusive, mais uma razão pela qual ela não podia ser pega saindo de casa: a família Brown e a família Wilsom eram totalmente inimigas.
A história entre os Wilsom e os Brown poderia virar produção de cinema, principalmente por todos os golpes que os envolveram por mais de cinquenta anos. A razão para que morasse no subúrbio e sua família tivesse dificuldades em fechar as contas no fim do mês era enraizada na família Wilsom: após um acordo mal feito entre os avôs de e , a família Wilsom se apossara de toda a fortuna dos Brown, numa espécie de retaliação por outros golpes sofridos anteriormente, levando-os à falência. Havia muito rancor guardado entre as duas, e, ao conviverem, os dois pareciam protagonizar uma versão moderna de Romeu e Julieta, vivendo um romance completamente proibido com guerras motivadas pelos sobrenomes que herdaram.

Nos arredores de Hoxton, terminava de vestir o seu casaco do time de futebol da escola, e amarrava os sapatos. Sair com parecia um desafio, que ele vivia diariamente há dois meses. Por mais que não parecesse demonstrar nervosismo perto dela, estar ao seu lado doía quase fisicamente. nunca imaginou que estar com uma garota de uma classe social tão distante da sua seria tão torturante como o que estava vivendo. Pensava, todos os dias, em colocar um ponto final nessa loucura, mas ao se lembrar do sorriso de , retomava sua sanidade e voltava a ter a certeza de que ela fazia todo seu esforço valer a pena.
Ele olhou para fora da janela, certificando-se que poderia pular dali sem muitas dificuldades. Após a oitava suspensão no colégio, seus pais o proibiram de colocar os pés fora de casa, mas, naquela noite, ele precisaria quebrar mais uma regra.
A melhor festa de todo o ano aconteceria no Frank’s Café, o rooftop mais legal da cidade de Londres, e sua banda preferida iria tocar lá. Era a festa anual dos formandos de seu colégio. E ele, como formando, era praticamente obrigado a participar. Sem falar que conseguira os dois ingressos de graça, numa aposta com seus colegas alguns meses antes, que lhe rendera um braço quebrado mas uma garantia de que iria participar da festa mais incrível da cidade.
Após suspirar ruidosamente, ele finalmente tomou a coragem que faltava para pular a janela, e caiu sobre o telhado vizinho. Observou o caminho que teria de percorrer. Não seria difícil, já que não era a primeira vez que ele pulava, então logo tratou de correr por sobre as telhas e traçar seu caminho em direção à rua. Haviam algumas poças de água, que espirravam para todos os lados quando ele tocava os pés no chão, denunciando a chuva que caíra mais cedo, mas que traziam a esperança de que o céu daquela noite seria limpo e estrelado. Ao finalmente chegar à calçada, começou a procurar pela sua pérola da noite: iria roubar um carro.
Afinal de contas, ele precisava buscar , e não tinha um tostão no bolso que o possibilitasse pagar, pelo menos, um táxi ou uma passagem de metrô. Também não seria a primeira vez em que ele roubaria um carro e muito menos seria a ocasião em que seria pego pela polícia. Ele iria devolver o veículo. No mesmo local em que encontrara.
Andava nervoso pelas ruas desertas do bairro, buscando seu alvo: algum automóvel suficientemente velho para fazer uma ligação direta, e que, de preferência, não tivesse um alarme.
Encontrou um Monza antigo, com boas rodas e com um sistema de ignição fácil de manipular. Olhou ao redor, certificando-se de que estava sozinho na rua, e sacou uma pedra no chão. Respirou fundo antes de acertar o vidro do motorista com força, que se estraçalhou em grandes pedaços pela calçada e sobre o banco estofado. Abriu a porta, bateu a mão para retirar os cacos e sentou-se, pronto para ligar o carro.
Em menos de dez minutos, acelerava o veículo pela rua, fugindo em alta velocidade para o mais longe que pudesse sem ser percebido. Vibrava, batendo as mãos sobre o volante, sem conseguir conter a felicidade. Ele iria à festa! E iria à festa com !

caminhava pelas ruas próximas ao Holland Park, esperando pela chegada de . Tinha um leve receio de andar sozinha pela noite, mas estar em sua nobre vizinhança a acalmava um pouco. Assim que olhou a tela do celular pela quinta vez em dez minutos, viu uma nova mensagem dele, dizendo que estava se aproximando. Olhou para trás e enxergou faróis vindo em sua direção, que logo pararam ao lado dela, na calçada.
pulou fora do carro. Ela encarou o automóvel com uma certa dúvida.
― Essa é a sua carruagem ― ele estendeu os braços, exibindo o veículo.
, o que é isso? ― riu. Ele se aproximou e abriu a porta para ela.
― Te explico no caminho ― ele riu. Ela o beijou antes de ameaçar entrar no carro, e ele a segurou, impedindo que entrasse. O farol de um carro vindo na direção oposta iluminou o beijo deles, que sorriram com a ideia de uma cena que parecia ter sido planejada.
Aquele beijo tirava deles todas as dúvidas que tinham sobre o seu breve relacionamento.
Ao entrar no carro, reconheceu o perfume inebriante vindo do rapaz. Ela sempre gostou do quanto cheirava bem. Sempre gostou do quanto tinha os cabelos bagunçados teatralmente. Sempre gostou do quanto o estilo de era despojado, com tênis de skatista e jaquetas do colégio. A verdade é que, há muito tempo, observava e o admirava de longe. A oportunidade de estarem juntos, surgida algumas semanas antes, pareceu para ela a realização de um sonho antigo. Todas as suas expectativas foram atendidas no instante em que seus olhares se cruzaram naquela festa da Westminster, sua escola.
Parecia coisa do destino. Para começar, as festas da Westminster eram exclusivas para a elite londrina. Em segundo lugar, eles não tinham nenhum amigo em comum. Todavia, enquanto ficava presa naquela biblioteca e nos laboratórios do colégio, não se deu conta de que, por mais que não frequentasse os locais que ela estava acostumada, ele tinha uma coisa que abria muitas portas para ele: o sobrenome Brown. Os tempos dourados da família Brown haviam passado há mais de uma década – e ela sabia bem que a culpa vinha de dentro da sua própria casa – mas, de todo jeito, ainda tinham seu título de nobreza. ainda era um príncipe vivendo no subúrbio e andando de metrô. Ele obviamente teria acesso às festas da Westminster e contatos com os alunos da instituição. Chegar até era consequência disso. E ela amava essa consequência.

As luzes da cidade criavam o cenário perfeito para eles enquanto dirigiam pelas largas avenidas. As rodas do carro pareciam não tocar o chão, tamanha suavidade daquele momento. esticava os pés sobre o painel, revelando seus tênis All Star pretos de cano médio. olhava de relance na direção deles, sem tirar a atenção do trânsito, e sorria.
― O que foi? ― ela perguntou.
― Nada... Só estou vendo seus tênis.
― Não gosta deles?
― Gosto muito ― ele respondeu, e pigarreou ― Acho que você pode colocar qualquer roupa, pode ser um pedaço de pano velho, que vai ficar lindo ― e sorriu.
gargalhou e se aproximou para beijar os lábios do garoto. Trocaram um selinho rápido, e ele voltou a olhar para a rua.
― Você está me deixando mal acostumada com todos esses elogios...
― Então pare de ser tão bonita...
― Para, ! ― ela riu. Ele gargalhou de volta, e ela pôde ver o reflexo dos seus dentes pelo espelho retrovisor. era perfeito, e ela se perguntava como foi que conseguiu estar com alguém tão maravilhoso.
Já estava acostumada a andar com caras idiotas durante toda a sua breve adolescência. Aos dezesseis anos, não era muito comum encontrar rapazes que não estivessem dispostos apenas a tentarem tirar sua virgindade ou pelo menos terem fotos dela nua no celular.
Mas não era assim. Além de dar a ela o gosto da aventura, de estar quebrando regras e vivendo a sua vida arriscadamente, ele era o menino mais doce que ela já esteve nos braços. A enchia de elogios, fazia questão de manter-se presente, e a beijava como se, sempre, fosse o último beijo que dariam na vida. Além de que nunca, em quase três meses de convivência, havia tentado qualquer coisa a mais com ela. E aquilo, de certa forma, a instigava. Fazia com que quisesse mesmo ir além dos beijos e amassos que trocavam frequentemente.
Quando recebeu o convite para aquela festa, teve a certeza de que, naquela noite, algo novo poderia acontecer na sua vida. Ela sentia isso aflorar em sua pele, e todas as vezes em que olhava na direção dele e percebia o quanto era bonito enquanto concentrado na direção, ela nutria ainda mais seus desejos. Seu maxilar era praticamente desenhado à mão, e seus olhos verdes cintilavam com as luzes dos faróis que vinham na direção oposta. A penumbra dava a sua pele branca um novo brilho, e ele mordia os lábios de forma involuntária, levando-a à loucura.
De qualquer forma, não era em uma festa que ela imaginava a sua primeira vez. Tendia a ceder, mas não estava totalmente convencida disso ainda.
Pegou o celular para se distrair.
― Está ansioso para ver sua banda preferida tocar? ― perguntou ela, quebrando o silêncio.
― Totalmente ― ele a respondeu e a olhou de relance ― não sinto minhas pernas.
― Por favor, sinta suas pernas pois você precisa dirigir!
― Voltei a sentir minhas pernas ― ele a respondeu e riu ― Mas estou com um frio na barriga!
― Vai ser divertido!
― Eu realmente espero que seja, pois não quebrei meu braço atoa...
― Você é maluco ― ela riu, ao lembrar-se da história de como havia quebrado o braço para conseguir seus ingressos. Aquele foi, inclusive, o primeiro assunto dos dois ao se conhecerem, já que, naquele dia, ele ainda estava com o gesso no braço direito.
― Quebrar o braço ao cair do telhado foi só uma consequência que eu tive que lidar ― ele se justificou ― não teria acontecido caso a supervisora do colégio não tivesse chegado...
― Ah, certo, agora a culpa é completamente dela ― riu.
― Com toda certeza ― ele riu de volta, e olhou para a garota.
― Ei, acho que estamos chegando ― apontou na direção de uma placa que ditava a direção para o bairro.
fez a curva e adentrou uma rua menos movimentada que a avenida em que estavam. pegou o celular do garoto, que tinha o GPS aberto, e o ajudou a seguir as direções com mais facilidade.
Rapidamente eles entravam com o carro no estacionamento do lugar. o estacionou, e ao descer, percebeu o quanto tinha uma vista maravilhosa para a cidade. Talvez nem precisaria ir à festa, poderia ficar ali, sentado no carro, abraçado a e observando as luzes de Londres ao fundo.
Ela o acordou do devaneio, puxando sua mão e o levando depressa até a entrada do local. Haviam muitas pessoas, praticamente todos os alunos do ensino médio da Hoxton Park. Os veteranos estavam à porta e recolhiam os ingressos, e rapidamente retirou os seus do bolso. Estendeu na direção de , mostrando-a.
― Vamos ver se esse braço valeu mesmo a pena! ― comentou. Ela riu, e tomou um dos ingressos da mão dele.
Entraram na fila e rapidamente estavam adentrando o local. A fumaça e as luzes criavam uma atmosfera convidativa, e eles podiam sentir o calor emanar dos corpos ali. Como se o universo estivesse conspirando a favor deles, assim que puseram os pés lá dentro, os primeiros acordes de guitarra puderam ser ouvidos.
Surface Groom era a banda preferida de desde que ele se entendia por gente. Era uma banda radicada em Londres e não muito famosa fora da cidade, mas dentro da Grã Bretanha fazia um tremendo sucesso. amava o modo como as músicas eram agitadas, com uma pegada indie ao mesmo tempo em que apresentavam um instrumental de tirar o fôlego.
Assim que percebeu que a banda começara a tocar, olhou na direção de , extasiado. Ela também estava empolgada, já que nos últimos meses tratara de ouvir aquelas músicas e, de certa forma, também amou o som que tinham.
Em poucos minutos, o casal segurava suas bebidas e começava a se divertir no meio da multidão. As cores que inebriavam o ambiente eram verdes, vermelhas, roxas, e a cada vez que atingiam a tez deles, pareciam estar se apaixonando um pelo outro mais uma vez.
não conseguia tirar os olhos de , como se ele dependesse daquilo para poder continuar respirando. Ela era seu ar, e ele começava a tomar percepção desse fato. Ela trazia seus pés para o chão, ao mesmo tempo em que parecia tira-lo da Terra a cada vez que sorria. As últimas semanas ao lado daquela garota fizeram com que ele encarasse a vida de uma forma totalmente nova. Começava a pensar em faculdade, em construir uma vida, em ir atrás dos seus sonhos. Algo além da inércia de trabalhar vez ou outra para comprar alguma roupa ou sapato que seus pais não podiam bancar e viver andando de skate pela cidade. Ele precisava crescer, e querer impressiona-la fazia com que ele tivesse essa vontade. Buscar seu futuro e poder, quem sabe construir algum que fizesse com que ela optasse por estar ao seu lado. Nada de sustenta-la ou coisa parecida, já que ela era uma jovem completamente independente e parecia ter sua vida já traçada, mas algo que desse a ela um motivo para querer estar ao seu lado e se orgulhar dele.
Enquanto segurava na mão da garota e a girava, ele sentiu seu perfume invadir seus sentidos. Respirou fundo e aproveitou aquele momento, e encantou-se pelo modo com que seus cabelos cacheados balançavam no ritmo em que ela mexia sua cabeça. E ela sorria em sua direção. Ele achou que não sentia as pernas ao se empolgar no carro por estar prestes a ver sua banda preferida tocar, mas, na verdade, foi apenas uma amostra grátis do nervosismo que sentiria quando estivesse dançando frente a frente com sua garota.
Sua garota.
Ele queria tanto fazer daquela frase uma realidade. Tudo que sempre sentia antes de encontra-la, todo o medo e toda a ansiedade simplesmente desapareciam naquela noite e traziam novas expectativas à sua vida.
À medida em que a multidão se agitava e todas as bebidas tomavam sua corrente sanguínea, ele continuava a repetir aquelas palavras como um mantra. seria a sua garota. Ele só precisava tomar coragem para dizer, para arriscar-se de vez e entrar na vida dela como seu namorado. Enfrentar todo o ódio que suas famílias pudessem proferir contra eles, e todos os problemas que surgissem à partir disso. De certa forma, ambos sabiam que chegarem até o namoro seria fácil e a estrada tortuosa começaria naquele instante. Precisariam enfrentar muitas coisas, e para que desse certo, deveriam se manter unidos.
Precisavam muito deixar claro um pro outro que estavam dispostos a se manterem lado a lado e não desistiriam na primeira adversidade.
Após três ou quatro cervejas, encarava enquanto ela se mexia em sua frente. Olhava fundo em seus olhos, questionando o que fazia com que ele estivesse tão preso. Sempre fora muito fácil inclinar-se e beija-la nos lábios, mas, naquela hora, a única coisa que ele conseguia fazer era encara-la sem se mover. Ela, ao perceber, resolveu jogar tudo para o alto e finalmente tomar alguma iniciativa. Aproximou-se, segurou-lhe a nuca com uma das mãos, e tomou sua boca com um beijo de tirar o fôlego.
Todos os hormônios que o corpo de pudesse produzir invadiram sua corrente sanguínea, tirando dele qualquer noção da realidade. O modo como se beijavam e o movimento que seus corpos faziam colados um ao outro tomavam todos os seus sentidos. passava as mãos por seus cabelos lisos, enquanto ele a segurava pela cintura firmemente, trazendo-a mais para perto, tão perto que podiam ser um só.
Ela se afastou para respirar e sorriu. Ele sorriu de volta, sem ter o que dizer. Não queria ter parado. Olhou em todas as direções, tentando enxergar uma saída no meio daquela multidão, e pôde ver um sofá encostado num canto escuro, longe da pista de dança.
― Venha aqui ― ele disse, e segurou a mão da garota. Guiou-a entre os corpos suados e eufóricos que se balançavam pela pista, e finalmente chegaram até o sofá vazio.
Ao perceber o local, sorriu, como se tivesse lido sua mente e atendido aos seus desejos. Rapidamente retirou o casaco que usava, pois sentia seu corpo quente e suado. Ele fez o mesmo e jogou sua jaqueta no assento.
Mesmo com a luz baixa, conseguiam ver o brilho nos olhos um do outro. a encarava, tentando tirar dela todas as respostas para o que estava por vir. Ela sorria com o canto da boca, num ato sedutor que o arrepiava. Então, suas mãos o seguraram pelos ombros, e o empurraram lentamente na direção do sofá. Ele se sentou, e ela, de forma ligeira, passou as pernas ao redor das dele, sentando-se em seu colo.
A partir daquele instante, já não tinham mais motivo para pararem de se beijar. Sozinhos, naquele canto escuro, sem ninguém para os atrapalhar. Tinham o perfume um do outro se misturando, a música ambientando aquele momento e mãos que passeavam de forma ardente pelos seus corpos. Suas bocas dançavam num ritmo próprio, e o gosto daquele beijo começava a tirar deles a percepção do mundo exterior. Nada mais importava, apenas o modo com que se beijavam e se acariciavam escondidos de tudo e de todos.
segurou a mão de , levando-a em direção ao seu seio, e se arrepiou no instante em que o calor de sua pele chocou-se contra a dela. Gemeu entre o beijo quando ele a apertou de forma vigorosa, e com a mão livre puxou o corpo da garota para mais próximo do seu. Ela conseguia sentir entre suas pernas todo a excitação do rapaz. Ansiava por aquilo, queria continuar, queria entregar-se a ele. Apoiou as mãos em seu peitoral, e o acariciou por todo o caminho que traçou até a barra de sua calça. Ele, então, de forma quase dolorosa, apartou o beijo e suspirou, olhando-a nos olhos.
Sabia onde aquele momento os levaria, mas, sabia também que estavam embriagados e num local público. Sabia que nunca havia estado com um homem antes, e precisava manter o controle. Queria fazer de tudo para que aquele momento fosse especial. Estarem ali, na festa da sua escola, com sua banda preferida fazia com que aquele momento fosse perfeito e especial para ele. Mas não para ela. Para ela era apenas mais um momento ao lado dele, apenas mais uma tentativa de quebrar as regras.
conhecia muito bem e sabia que seu momento perfeito não estava acontecendo. E ele queria, com todas as suas forças, dar a ela o que sempre sonhou. Seria puro egoísmo aceitar que ela se entregasse naquela situação. A primeira vez era dela, não dele.
Ele voltou a beija-la, de forma mais amena, e soltou seu seio para abraça-la. Ela estendeu as mãos até a nuca de , desistindo da ideia de se livrar do cinto do rapaz, e sorriu entre o beijo.
― O que foi? ― sussurrou, curiosa.
― Nada... Eu só... ― ele suspirou, afastando-se para olha-la nos olhos. Levou uma das mãos até o cacho que insistia em escapar na direção do seu rosto, e o colocou de volta atrás da orelha da garota. Sua pele morena brilhava na sombra daquela noite ― Não acho que devíamos fazer isso agora.
― Eu acho ― ela deu de ombros.
― Não... , eu sei muito bem sobre você para te dizer que não é isso que você quer. Você só está tentando... Quebrar mais uma regra. Mas veja bem: já quebramos várias! Deixa eu te dar o seu momento perfeito como você sempre sonhou?
― Mas esse momento é perfeito para você... ― ela o beijou mais uma vez, mas logo se afastaram.
Para mim. Eu vou ter outras oportunidades de momentos perfeitos. Eu quero fazer com que a sua primeira vez seja uma lembrança boa com tudo o que você sempre sonhou ― ele sorriu, e a beijou levemente nos lábios. sorriu, sentindo o coração disparar ao ouvir aquelas palavras.
Ela achava que era o garoto mais doce que já conhecera, até escutar tudo aquilo. À partir do momento em que ouviu, começou a questionar um adjetivo maior que doce para designar a ele.
― Vamos então ficar aqui um pouco nos beijando e curtindo a música ― ela sorriu, e aproximou-se do ouvido dele, para sussurrar: ― obrigada.
Ele a olhou nos olhos uma última vez antes de voltar a beija-la. A música romântica que tocava ao fundo criava um significado ainda maior para aquela circunstância.

Após longos minutos trocando todos os carinhos que puderam, e levantaram-se, e curtiram o fim do show abraçados. Assim que acabou, toda a festa começou a se dirigir ao rooftop, onde um DJ iria continuar com as músicas até o amanhecer. Já passava das quatro e meia da manhã, então não faltava muito para que o sol se atrevesse a acabar com a festa – ou fazer dela melhor.
Ao chegarem ao local, perderam o rumo das respirações ao se depararem com a vista. Londres, ao fundo, ilustrava aquele quadro de pessoas agitadas e suadas. Haviam latões e algumas carcaças de carros decorando o local, e luzes amarelas se penduravam sobre eles. correu na direção de um carro e pulou sobre ele. o acompanhou, segurando seu copo de bebida. De repente, alguém passou jogando tinta em todos que estavam ali, inclusive sobre o carro, e todas as manchas se tornaram fluorescentes com as luzes negras espalhadas pelos arredores. A multidão se agitou no momento em que percebeu, e, ao contrário do DJ que esperavam, a banda Surface Groom estava de volta ao pequeno palco do lado de fora, fazendo com que todos gritassem extasiados.
― Vamos dar uma palinha para encerrar a noite. Merecemos tocar com essa vista! ― o vocalista riu no microfone e a multidão gritou de volta.
Logo as guitarras introduziram os primeiros acordes, que fizeram as pessoas pularem sem rumo para todos os lados, agitadas com o barulho e as luzes. encarava , e ele sorria em sua direção, sentindo seu coração pulsar forte no peito.
A cidade, a canção, as pessoas ao fundo. com o rosto sujo de tinta. Seu cérebro tomado pela grande quantidade de bebida que consumira na noite.
O romance de Shakespeare não existiria se Romeu e Julieta não tivessem se arriscado. E, se ele quisesse viver ao lado de , ou pelo menos tentar, ele precisava se arriscar também. A forma como ela o olhava, completamente apaixonada, dava a ele a certeza de que podia ir em frente pois ela estaria ali, o esperando, para que fossem juntos.
A música começava a tomar um rumo mais calmo, como se entregasse seu breve fim, e ele se aproximou da garota, segurando em suas mãos e entrelaçando seus dedos. Ela sorriu, quando ele se aproximou para dar-lhe um selinho.
... ― surrurrou, e engoliu em seco ― Eu preciso te dizer que...
― Eu te amo, ― ela o interrompeu, e olhou fundo em seus olhos enquanto proferia aquelas palavras que o atingiram como um soco na boca do estômago. Ele não sentia mais o chão sob seus pés.
Uma forte rajada de vento atingiu seus rostos, balançando os seus cabelos e fazendo com que se arrepiassem. Ou, na verdade, o arrepio já existia devido às palavras de e a brisa era apenas um agravante.
Se olharam nos olhos e sorriram. estava pronto para repetir as palavras da moça quando um estrondo e uma forte claridade os distraiu: haviam fogos de artifício sendo estourados no céu acima deles. Ergueram os olhos, para enxergar melhor, e aquela pareceu ser a cena mais bela que já viram na vida. Todas as pessoas olhando para cima, juntas, eufóricas, a banda tocando apenas o instrumental que encerraria a canção que eles tanto amavam. O mundo parecia girar perceptivelmente sobre eles, e girar em câmera lenta.
― Eu te amo, ! ― praticamente gritou, atraindo a atenção dela e das pessoas mais próximas a eles.
gargalhou, abraçando fortemente o rapaz.
― Eu sei que parece clichê o que vou falar agora, principalmente por estar falando nesse momento ― ele continuou, fechando os olhos para reunir a coragem necessária ― Mas eu quero que você saiba que eu te amo também, te amo desde o instante em que te conheci ― continuou. Abriu os olhos, percebendo o olhar atento de sobre o dele, e sorriu involuntariamente ― Eu sei que um dia eu vou me perguntar se eu fui feliz no momento em que a felicidade acontecia, e a minha resposta vai ser sim ― prosseguiu ― eu sei que eu sou feliz agora, . Eu tenho toda a certeza do mundo! Eu sou feliz com você, eu estou feliz com você. Então eu quero que essa felicidade perdure. Por uma eternidade! Não quero que ela termine junto com esses fogos. Ou junto com essa música. Eu quero estar feliz por muito tempo, e eu quero garantir que eu seja feliz. Pra isso, preciso garantir que você esteja ao meu lado...
...
― Não, , não, espera! ― ele riu ― Eu quero te fazer uma proposta.
― Mas você sabe que não podemos ir al...
― Podemos, nós podemos. Nós vamos. Você não gosta de mim?
― Eu te amo ― ela o respondeu, sorrindo.
― Então vamos ficar juntos. A partir de hoje. Eu sou seu e serei seu mesmo que mil problemas nos apareçam. Mesmo que a gente se separe. Que se danem as nossas famílias, eu não me importo com os nossos sobrenomes, se precisar eu troco o meu sobrenome! Não tenho mesmo nada a perder! Mas sou seu! Sempre que você lembrar desse momento, ou lembrar dessa música, ou ver fogos de artifício, você vai se lembrar de que eu sou seu. Sou seu pra sempre!
― Eu sempre fui sua ― ela sorri, e se aproxima para beija-lo nos lábios. Mais um beijo que se parecia o último, mas que, na verdade, era apenas um dos primeiros na eternidade que estavam destinados a passar juntos.
Contra tudo e contra todos. e .


Fim.



Nota da autora: Oi BRASIL!!
Obrigada por lerem meu primeiro MV aqui no site!!
Espero muito que tenham gostado desse casal!!
Escrever esse MV foi muito especial pra mim, pois há mais de seis anos (desde quando o coldplay lançou essa canção) eu queria escrever algo sobre ela! O especial pareceu uma oportunidade perfeita!!
Bom, sem mais delongas, espero que tenha ficado do agrado de todos! Não deixem de comentar ♥
Conheçam também minhas outras fics nos links abaixo!
(E se não estão no grupo do facebook, entrem! Lá tem todos os meus links e sempre atualizo com novidades das fics!).
Grande beijo!!




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