Capítulo Único
Antes de tudo, um pequeno glossário para você não se perder:
• O ciclo dos Grandes Reinos de Mahabhuta se dá por:
Reino de Prithvi (Reino da Terra)
Reino de Apas-Jal (Reino da Água)
Reino de Agni (Reino do Fogo)
Reino de Vayu (Reino do Ar)
Entretanto, existe o Akasha (Céu, “vácuo”), pelo qual todos os outros reinos estão “submetidos”. As leis de Akasha sobrepõem a qualquer outra lei, pois foram promulgadas antes da divisão de Mahābhūta.
• A hierarquia em cada reino é constituída por:
Samraat e Samrajni — imperador e imperatriz;
Maharaja e Maharani — rei e rainha, utilizados formalmente para os herdeiros do trono;
Raja e Rani — rei e rainha, utilizados informalmente com os herdeiros do trono.
• Algumas palavras usadas pelos personagens e seus significados:
Evet: uma maneira casual de dizer “sim”;
Nei: uma maneira casual de dizer “não”;
Shokran: agradecimento de súditos para monarcas;
Shukriya: agradecimento de monarcas para súditos;
Olum: interjeição de espanto, incredulidade.
Om Shanti: boa sorte.
Findi: apelido carinhoso, que pode significar tanto “amor”, quando “doçura”, etc.
Fronteira entre Vayu e Prithvi, Era de Apas—Jal.
Algumas carruagens e alguns soldados atravessaram a ponte da fronteira com o Reino de Prithvi. Todos ali tinham plena noção do que estavam fazendo, porém ninguém hesitou. Manter a Maharani de Vayu feliz era a única coisa que buscavam.
— Rani null, tem certeza que Raja null estará nos esperando? — Ipek, a dama de companhia e criada pessoal de null, perguntou preocupada.
— Evet. — null assentiu. — É nossa única chance.
— Samraat Bhima ficará horrorizado quando notar que a senhorita sumiu.
— Ele vai. — a princesa sorriu. — Mas saberá que não fiz por mal.
— Ficará encantado quando voltar casada com Raja null, sim?! — Ipek sorriu ao notar como o rosto da moça se iluminou pela frase.
— Tomara, Ipek, tomara. — null suspirou, mordendo outro sorriso. Lembrar-se de null sempre resultava em momentos como aquele, onde se derretia toda.
Ainda se arrepiava como uma tola ao recordar quando se conheceram.
Flashback on
Jala, Reino de Apas - Jal, 3 anos atrás
Os corredores do Palácio de Jala eram imensos e confusos. Não havia portas metricamente separadas, muito menos identificações por andares e alas. null estava andando cegamente por eles, porque não conseguia se lembrar de onde fora instalada.
— Pois bem, tenho certeza que não é aqui. — uma das portas se abriu e um garoto saiu por ela, de costas, usando um traje típico dos monarcas que conhecia.
— Olum! — null congelou no lugar.
— Oh, a senhorita é a dona deste quarto? — ele se virou para ela, atraindo sua atenção para o par de olhos verdes divertidos que a encaravam.
— Nei, nei. Estou perdida. — confessou. — Achei que o andar estivesse vazio.
— Me disseram que o Reino de Agni ficaria no terceiro andar, conforme o ciclo, mas confesso ter dificuldades de contar. É o terceiro excluindo o térreo, ou o terceiro a partir do térreo? — o menino sorriu e null sentiu o coração palpitar.
Amava sorrisos.
Mas... Olum, aquele sorriso era de outro mundo!
— Bem, é que estou errada duas vezes, então. — ela corou.
— Não é de Agni, imagino.
— Nei. Sou de Vayu, — null estendeu a mão, indicando o anel de Rosa dos Ventos, que era símbolo de seu reino. — acabei me perdendo de minha companhia...
— null, de Agni. — o garoto mostrou o próprio anel também, um sol de rubi enfeitando a mão dele. Apenas os monarcas usavam tais anéis. — Talvez se voltarmos pelo mesmo caminho, conseguiremos encontrar sua companhia.
— null, de Vayu. — ela se curvou minimamente, compreendendo agora com quem falava. — É um prazer conhecê-lo, Maharaja null.
— Olum, não pode ser! — outro sorriso adorável pintou nos lábios finos. — Maharani null Vatavaran? — soou animado. — Levo anos tentando conhecê-la!
— M-mesmo? — null ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
— Claro! Achou que conseguiria ficar em incógnita para sempre? Todos os reinos têm curiosidade sobre a herdeira do ar. — ele indicou para que começassem a andar. Não podia tocá-la até serem apresentados oficialmente. — Imagino que debute neste baile?
— Meus pais resolveram que é hora de eu começar a buscar minha popularidade. — ela assentiu. — Estou um pouco receosa, sabe? Bailes sempre me pareceram formais demais.
— E são. — null concordou. — Mas, assim que formos apresentados lhe pedirei uma dança, e espero que guarde um espaço para mim em seu cartão.
— Como não conheço ninguém, você terá todas as páginas. — riu.
— Perfeito! Assim não terei que fazer companhia para os Apas.
— Não gosta de água? — ela o encarou.
— Não gosto de nada que apague o fogo. — null disse casualmente, mas percebeu que a garota ficou absorta em sua fala. — Não se preocupe, o ar espalha o fogo. Gosto bastante do ar. — o mesmo brilho de diversão relampeou pelos olhos verdes.
null havia se decidido: também gostava bastante do fogo.
Fim do flashback
Ela fechou os olhos e aguardou o silêncio absoluto. Quando os cascos dos antílopes pararam de soar, null soube que haviam chegado ao local.
— Maharani Vatavaran, nós chegamos. — um dos soldados deu dois toques na janela da carruagem, quebrando o silêncio. — Maharaja Bhumi está a sua espera.
— Descerei. Shukriya. — null sorriu. — Nos encontraremos em alguns minutos, Ipek. Fique atenta para qualquer movimento estranho, preste bem atenção ao ar! Por estarmos em Prithvi pode ser que você se sinta mais fraca, mas é só se concentrar na atmosfera.
— Evet, evet. Agora vá, não temos tempo a perder! — Ipek a apressou.
— Vou. — null sorriu. — Deseje-me sorte.
— Om Shanti. — Ipek levou as mãos ao rosto, cruzando-as em forma de pássaro e encostando a testa entre elas, um gesto de respeito indubitável ao seu soberano.
null desceu da carruagem e se deparou com Bhumi, o herdeiro de Prithvi. Eles haviam ficado muito amigos quando estavam em Jala, porque Bhumi era primo e bem próximo de null. Para colaborar muito mais, Varaha, capital de Prithvi, era extremamente perto de Akasha — se tudo corresse bem, gastariam apenas dois dias até lá.
— Estou contente que tenha conseguido chegar! — Bhumi a abraçou. — null deve estar a caminho. — ele indicou a própria carruagem. — Se verem uma carruagem de Vayu poderemos ter problemas, portanto acho melhor andarmos com a minha até a casa.
— Obrigada por ajudar. — ela agradeceu, entrando no carro.
— Sabe que meu ponto fraco são histórias de amor, null. — Bhumi riu. — pedi para alguns guardas percorrerem a estrada até Akasha e eles me relataram que está em perfeito estado. Separei duas paradas, uma em Urvarak e outra em Chattaan; se conseguirem chegar em Chattaan ao fim da tarde, Akasha fica a apenas uma hora de lá, então poderão descansar e realizar tudo ao amanhecer. Estimo que até a hora do almoço estejam casados. — Bhumi lhe deu um apertou singelo nas mãos. — Om Shanti.
— Olum, Olum, Bhumi! Não podemos seguir diretamente para Chattaan?
— Seria muito arriscado e cansativo. Se outros guardas notarem um movimento estranho nas estradas isso será comunicado ao meu pai e tudo irá, literalmente, por água abaixo.
— Então seguiremos o ritmo de viajantes normais. — null assentiu. — Ipek seguirá em uma carruagem com alguns de meus guardas, mas não há nada que indique minha presença ou qualquer relação comigo. Acha que eles correm perigo?
— Se não há nada seu com ela, então acredito que não. — Bhumi abanou uma mão, dispensando a má sorte. — assim que chegarem a Urvarak, se desejarem, podem pegar o ar e seguirem diretamente a Akasha, sem parar por Chattaan, ou apenas fazer um pequeno descanso. Mas, ao meu ver, seria um pouco arriscado, já que seu pai notará seu sumiço em algumas horas, não é?!
— Vou conversar com Ipek. Seria realmente bom que tivéssemos alguém nos esperando em Akasha. — null encarou a estrada. — Quanto tempo nós levamos até Urvarak?
— Se saírem esta madrugada, estarão lá antes do pôr-do-sol. Isso, claro, se pararem para comer e tudo mais. — Bhumi afrouxou o cinto que prendia seu traje real. — Estaremos perto de Varaha em alguns minutos, mas eu lhe deixarei em casa e seguirei para o palácio. Você precisa ficar atenta, porque apenas null sabe onde estará.
— Acha que ele ainda não chegou?
— Não sei como foi com os guardas da fronteira, por mais que eu deixasse avisado que viria, — Bhumi suspirou. — em tempos de crise as coisas ficam caóticas.
— Eu espero não criarmos um problema ainda maior. — null encolheu os ombros.
— O amor, inevitavelmente, cria problemas, — riu. — mas, um Maharaja sempre pôde escolher sua esposa e vice-versa. Não vejo o casamento de vocês como uma afronta para o equilíbrio de Mahabhuta, e sim como o que Apas-Jal e Agni queriam fazer: uma aliança. Então, se é para termos uma aliança, que ela seja real e auspiciosa.
— Ah, Bhumi, querido, você é tão bom com as palavras. — null riu fraco.
A casa constituía da arquitetura padrão de Prithvi, com vários detalhes em pedra e adornos em forma de pontas de lanças. Depois de abraçar e agradecer Bhumi outras quatro vezes, null entrou discretamente na casa, vestida como uma cidadã comum de Vahara. Era muito bom que Bhumi tivesse escolhido um imóvel normal ao invés de ter se decidido por uma casa mais luxuosa e aristocrática.
Ela guardou sua sacola na sala de visitas e andou até o banheiro, desesperada para tomar banho e arrumar o cabelo. Poderia ser o cúmulo da futilidade, mas null não desejava que null a visse desleixada e suja. Já bastavam todas as visitas que fazia quando ela estava dobrando o ar... O que, geralmente, se resumia em muita poeira e folhas secas.
— É claro que Bhumi faria isso. — null sorriu carinhosa ao encontrar essência de canela no banheiro. Isto era, na melhor descrição, o cheiro “oficial” de Vayu.
Enquanto a água da banheira esquentava, null esticou um vestido mid rendado e sua capa de frio. Ela havia trazido, além daquela roupa, outro vestido branco — que usaria no dia em que chegasse a Akasha — e um vestido verde de frio.
null alisou a peça de veludo e sorriu minimamente. Estava começando a viver uma aventura e tanto, mas não conseguia encontrar o mínimo arrependimento do que fazia. Com certeza, se tivesse que escolher, faria tudo novamente.
Após se lavar, ela estava trançando o cabelo quando ouviu um barulho vindo da cozinha. null sentiu arrepios, porque a casa possuía apenas um andar, ou seja, qualquer pessoa que entrasse faria barulho o suficiente para ela se preparar antes que conseguisse atravessar a sala. Institivamente, null agarrou a escova e um pequeno espelho de mão, já que não tinha tempo de procurar alguma outra arma, e esperou.
— null? — seu nome soou alto em uma voz suave, quase como veludo.
— null! — largando todos os objetos, ela correu até ele.
Os dois se abraçaram, tentando por naqueles poucos segundos toda a saudade de um mês. Um extenso mês, onde null ouvira sobre o casamento arranjado, onde null e ele não tiveram muitas chances de trocarem cartas ou mensagens, onde o mundo de cada um pareceu sair do eixo com a possibilidade de não poderem ficar juntos como queriam.
— Como você está? Chegou bem? — null contornou a bochecha dela com as costas da mão, amando como null fechava os olhos ao mínimo toque.
— Estava assustada achando que a casa foi invadida, mas agora estou bem. E sim, cheguei tranquilamente com a assistência de Bhumi. — ela sorriu.
— Desculpe, eu ouvi o barulho da água e resolvi que seria o certo esperar.
— Não há nada que você não tenha visto antes. — null piscou maliciosa.
— Eu sei. — null aproximou o rosto do dela. — mas achei que tivéssemos combinado de não fazer mais nada até o casamento?!
— Para olhar não precisa tocar. — ela ergueu o queixo, esperta.
— Acontece, diabinha, eu não sou tão magnânimo. — ele encostou seus lábios no dela, saboreando a saudade. Da última vez que se viram precisaram ser rápidos, porque a reunião dos reinos logo começaria e, apesar de não poderem palpitar, os herdeiros tinham obrigação de estarem presentes.
null a envolveu pela cintura, respirando a canela e se derretendo na língua de null. Seu corpo todo pegava fogo — quase literalmente — quando estavam juntos. Mesmo sabendo que não podiam desperdiçar tempo, ele se deliciou com algumas mordidas pelo pescoço dela, brigando contra a vontade de levar os beijos mais à diante.
— Juro que não vejo a hora de estarmos casados, — ela sussurrou. — aí não vou precisar cronometrar os segundos para estar com você.
— Prometo que será rápido. — null piscou. — Vamos sair ainda esta madrugada, certo?
— Acho que seria o ideal. Bhumi disse que podemos chegar a Akasha daqui dois dias, na manhã, ou podemos cortar algum tempo, porém não teríamos Ipek antecedendo qualquer problema. Fica à seu critério. — ela deu de ombros.
— Faremos o que for melhor no momento, findi. — null sorriu. — esse apelido fica cada vez melhor só por me lembrar que deve ser usado por pessoas casadas.
— Você faz muita questão de se lembrar que casaremos.
— Em Agni o casamento é uma das melhores ocasiões em que alguém pode se encontrar, sabe? — ele deu espaço para null sair do abraço. — não pode me culpar por isto.
— Não o culpo, mas sua animação é tanta que me faz parecer uma desinteressada.
— Ela aumentará assim que tivermos atado nossos cordões.
null sorriu com a menção, porque o rito do casamento em Akasha tinha como um dos pontos principais usarem cordões. Cada reino possuía seu ritual específico, devendo ser realizado conforme desejo dos noivos (e do lugar em que estavam, independente de suas “nacionalidades”). Quando estava aprendendo sobre os reinos e suas culturas, null jamais imaginou que se casaria com uma celebração tão linda quanto a de Akasha. Ela mal podia esperar para colocá—la em prática.
— Como está a situação em Agni? — null perguntou enquanto dobrava suas roupas.
— Controlável. — null sentou-se na cama e retirou as botas. — Papai acha que é uma questão de tempo até que ela se espalhe por outras regiões sem ser a capital.
— Espero que ninguém se machuque seriamente até conseguirmos resolver isto.
— Por enquanto não houve nada. — ele assentiu. — apenas dois incêndios em casas abandonadas. O grande problema é que isto afeta indiretamente a população, afinal, nunca se sabe quando começarão a ataca-los. Terror psicológico é a pior arma.
— Você acha que vamos piorar tudo nos casando? — null engoliu seco.
— Eu acho... — null a encarou, abrindo um sorriso singelo. — que o amor é uma força muito maior do que a ganância e o poder. Se a união de dois reinos prósperos por amor, e nada além de amor, não conseguir tocar ao coração de todos, então não é uma aliança entre dois outros reinos que mudará tudo. — ele esticou a mão, procurando a dela sobre o vestido de veludo. — Eu não menti quando disse que poria o mundo abaixo em chamas se algo a prejudicasse, findi. Basta uma só palavra e voltaremos para nossos reinos.
— Não. — ela negou fervorosamente. — Não vou desistir de você. Só me preocupo um pouco com as rebeliões... — encolheu os ombros. — mas o amo, null. Sabe disso, certo?
— Sempre. — ele assentiu. — então por que não descansamos antes de sair?!
Os dois até tentaram descansar, porém a notável tensão e a crescente adrenalina pela pequena fuga eram demais para que ficassem na inércia. Muito antes do planejado, os dois já estavam na estrada, seguindo rumo a Urvarak.
— É incrível como, apesar de estar a noite, todos ainda continuam normalmente. Veja o movimento das estradas! — null comentou, surpresa.
— O reino que nunca dorme, realmente.
— Temos uma parada daqui trinta minutos. Se você estiver com frio, posso parar para pegarmos o cobertor no baú. — null, o cavalheiro que era, ofereceu.
— Estou bem, findi. Qualquer coisa posso te abraçar e logo ficarei quente.
— Se você não quiser ser atacada por muitos beijos, eu não me aproximaria.
— E se eu quiser? — ela ergueu a sobrancelha.
— Sério, null, não sei mais o que fazer com você! — ele riu. — Definitivamente pegaremos a rota do ar e nos casaremos o mais rápido possível.
— É incrível como eu ainda fico tímida com suas brincadeiras. — null suspirou, porque apesar de bancar a ousada, não era bem assim que se sentia.
Algumas vezes até conseguia manter o papel, mas seus sentimentos por null sempre a faziam embaralhar e se envergonhar. Resumia-se em uma tola, encanta com qualquer mísero movimento ou palavra dita por ele... Ainda mais quando eram dirigidos a ela. Olum, como era complicado manter-se séria em festas públicas! Ambos precisavam se portar como se não se gostassem mais do que o “normal”, como se tivessem mais prioridades do que passarem todos os segundos juntos. Graças à Bhumi, eles conseguiam dar escapadas e matar um pouco da saudade.
— Ah, Rani null, — ele estalou a língua. — por que é que essa timidez nunca aparece quando deveria? — seus olhos verdes relampearam em um brilho jocoso.
— Pare com isso, null! — ela gargalhou, tímida. — Mas, devo confessar, não me arrependo de você ter sido o primeiro. Em tudo.
— Seria um pouco tarde demais para se arrepender, sabe? — null alfinetou. — Mas, isso não diminui o prazer em escutá-la. Espero que além de primeiro, seja o último.
— Se chegarmos a Akasha bem rápido...
— Está decidido, já disse! Na próxima parada buscarei por antílopes e amanhã pela tarde estaremos nos casando. — null balançou a cabeça como um garotinho indignado.
— Dentro de minha valise possuo um pergaminho de Vayu e farei com que ele chegue a Ipek o mais rápido possível. — null piscou para o noivo.
— Que esposa solícita eu arrumei!
— Olum, você não imagina o quanto. — ela sorriu divertida.
O dono da estalagem lhes explicou como chegar aos antílopes em duas paradas. Eles tinham quarenta minutos até ela, e os cavalos estavam perdendo o ritmo pelo longo caminho. Mas, null já tinha tudo elaborado em sua cabeça!
Provavelmente, seu pai estaria descobrindo de seu sumiço naquele momento, e então iniciariam as buscas pelo palácio e pelos jardins. Depois, quando não a encontrasse, ele solicitaria buscas pelos arredores e pela cidade. Então, a Guarda Real emitiria comunicados a todos os reinos e, talvez, os pais de null o avisassem de seu sumiço também. Aí, eles finalmente se inteirariam do que acontecia com os dois herdeiros, e, se fossem tão espertos quanto null esperava, marchariam para Akasha.
Só que seria tarde demais.
Porque eles já estariam casados!
É. A rota com antílopes era realmente a melhor opção.
— Se for possível, eu posso dobrar um pouco de ar para que os cavalos descansem. Consigo fazer com que ninguém note que eles estão flutuando...
— Você fez cálculos. — null riu. — não sei porque imaginei que não os faria.
— Suponho que esteja tão animado com a fuga que não prestou atenção. — ela brincou. Todos sabiam o quanto Maharani null amava transformar as coisas em cálculos e esquemas. — Bem, se eu não falho na conta, temos em torno de quinze horas para nos casarmos e consumarmos o casamento, evitando que seja, mesmo que improvável, anulado. — ela riu. — Então, realmente deveremos pegar a rota do ar.
— Exatamente, findi. — null piscou.
☼ ⸛ ☼
Akasha era uma cidade maravilhosa. null esteve lá apenas duas vezes: quando nasceu, e quando completou a maioridade, para fazer o reconhecimento de título de herdeira. Ela se lembrava das grandes árvores e das inúmeras cerejeiras, das casas coloridas, das ruas brilhantes de tão limpas, do céu inegavelmente azul... Parecia nunca haver tempo ruim! Quando pararam em frente ao templo onde celebravam casamentos, seu coração acelerou de emoção. Era um lugar grande e florido, como um pequeno sítio, com símbolos dos quatro reinos e plantas específicas deles. Duas carruagens os aguardavam no estacionamento. Sem ter mais paciência para esperar, null agarrou a mão dela e ambos entraram no templo, já sentindo a adrenalina.
— Pronta?
— Pronta. — ela sorriu.
Ipek, que fora instruída a organizar tudo, estava conversando com dois monges e o celebrador. Assim que avistou Rani null, correu para ajuda-la a se arrumar. Não podiam desperdiçar um segundo sequer do dia!
O vestido típico de cerimônias que Ipek conseguiu era de cor creme, adornado com detalhes em dourado, e uma capa de veludo preta que deixava o traje extremamente elegante. Da barra até a altura dos joelhos, as linhas formavam espirais e pontos que poderiam lembrar o céu estrelado ou alguma floresta/paisagem vista por cima. Seu cabelo foi trançado com fios de ouro e flores de cerejeira, porque eram o símbolo de Akasha. Em suas mãos, além das joias que deveria usar, desenhos dos brasões principais dos quatro reinos estendiam do punho até o cotovelo, para indicar a união dessas nações. Em seus pés, mais desenhos, até a altura da canela. Ela deveria ficar descalço, conectando-se com a natureza e a terra, em sinal de equilíbrio.
— Raja null já está pronto. — Ipek retornou ao salão em que null se arrumava. — Agora só precisamos dos enfeites no rosto e você poderá ir!
— Estou ansiosa. — null bateu palminhas. — Vamos andar com isso logo!
— Prometo que será bem rápido.
Depois de Ipek usar pó de pedras brilhantes e pregar três diamantes acima da sobrancelha esquerda, null estava pronta.
Ipek e dois guardas a acompanharam até o pátio já decorado, onde os responsáveis por casá-la haviam iniciado a benção em null, fazendo com que ele não a visse. null observou, com o coração acelerado, o traje de veludo preto e dourado que ele usava, uma única flor de cerejeira presa no lado esquerdo do peito.
— Vamos iniciar o mais rápido possível. — o monge a guiou para a entrada do salão.
Depois de um pequeno discurso no dialeto de Akasha, um dos monges começou a tocar uma arpa, enquanto null atravessava o salão em direção à null, não sabendo como reagir ao olhar brilhante e hipnótico do príncipe.
Quando pararam frente a frente, o monge entregou um pequeno vaso com areia colorida para ambos. A areia simbolizava, segundo o ritual, a união de dois pontos diversos em nome de algo maior, no caso, o amor, e cada um deveria despejar um pouco dela em um prato, para que a mescla das cores criasse uma cor nova: a cor deles. null observou, sem palavras, um tom lilás surgir da mistura.
— Agora deem as mãos. — o homem responsável pela cerimônia instruiu. — Este é o cordão do companheirismo. Para Akasha, vocês são um, mas isto não significa que devam se esquecer de quem foram antes do casamento. Uma mão está atada ao do parceiro, enquanto a outra está livre para lembra-los de que há espaço tanto para crescerem juntos quanto individualmente. — ele amarrou a fita no punho dos dois. — ainda unidos, vamos recitar os votos e caminharemos para o fim da celebração.
null e null repetiram cada palavra com muita calma, apesar dos corações estarem desesperados pelo final. Depois de lavarem os pés na água do principal rio, Kundalini, para purificar o corpo nessa nova fase, o casal ainda precisou plantar uma árvore também, simbolizando o crescimento deles. E, ao som do “Sob as leis de Akasha, eu vos declaro marido e mulher”, vários fogos de artifícios foram acesos. Ipek deu início à festa puxando uma melodia suave sobre dois amantes, e as pessoas presente seguiram com a dança. O mais recente casal se encarou, rindo.
— Acho que essa é nossa deixa para escapar... Findi. — o apelido soou mil vezes mais lindo na voz de null. — Vamos?
— Estava contando os segundos. — null assentiu, entrelaçando seus dedos, pois ainda possuíam uma mão atada.
null desfez o primeiro laço com bastante lentidão. Havia feito aquilo algumas vezes, mas naquele momento era especial demais para estragá-lo com pressa. Estavam casados, finalmente. Não precisava mais utilizar urgência com null. Agora tinham todo o tempo do mundo para se amarem como mereciam.
— Necessita ajuda? — null franziu o cenho.
— Não, findi. Quero só... Ir com calma. — a luz que entrava no quarto fez com que os olhos dele ficassem ainda mais brilhantes. — porque você merece ser adorada, da cabeça aos pés. Calmamente. Cada centímetro. — para ilustrar suas palavras, ele levou a boca ao punho da garota, passando a língua levemente pela pele macia.
— null... — ela riu fraco, com cócegas.
— O quê? — ele sorriu. — “ah, null”, “mais, null”, “vai, null”?
— Babaca pretensioso. — null sacodiu a cabeça, sentindo o coração explodir em alegria.
— Seu babaca pretensioso. Seu favorito. Seu, sempre.
Ela fechou os olhos diante tais palavras. Era dele também, desde o maldito sorriso que lhe deu no corredor do palácio de Apas-Jal. Olum, como é que conseguia viver com tanto amor dentro dela?! E como fora tão sortuda de ser correspondida?!
I'm staying up
I don't wanna come down from your love
null a puxou para perto, derretendo a boca em seu pescoço, mordendo e sugando como sabia que a agradava. Ele a envolveu com os braços, empurrando o maldito laço para o chão. null cheirava extremamente bem, por ter se lavado e tirado os desenhos que deveria usar na cerimônia de casamento. Seus dedos se embolaram no tecido da camisola ao mero som de um suspiro, para tentar manter o controle. Não queria ir rápido. Tinha que se esforçar para ficar calmo.
— Vamos para a cama, hm? — null sugeriu, impossibilitada de aguentar tudo em pé.
— Falo para irmos com calma e você me atiça para irmos rápido... — ele balançou a cabeça, guiando-a com cuidado até o enorme colchão. — O que devo fazer, então?
— Você pode começar me beijando aqui — indicou da clavícula ao vale entre os seios. null sorriu. — ou, pode me deixar tirar sua roupa completamente...
Não é que ela não quisesse ser adorada da cabeça aos pés, mas, se seus cálculos não falhavam, alguém do Reino de Vayu chegaria a Akasha pelo fim da tarde... E se o casamento não estivesse consumado, eles poderiam ter problemas. null e ela nunca levavam mais que uma hora, porque sempre tinham pessoas demais por perto e se se atrasassem por 15 minutos, alguém daria falta de um deles. Era injusto que sua primeira vez desde casada tivesse que ser apressada também, porém eles teriam toda uma vida juntos. Mas, null deveria se sentir agradecida. Pelo menos estavam juntos.
— No que está pensando?
— Cálculos. — brincou.
— Ora, ora, Rani null, essa foi uma resposta infeliz. — ele começou a desabotoar a própria blusa. — Vou precisar ser um pouco cruel agora. Não quero você pensando em mais nada que não seja minha boca e meus dedos no seu corpo.
null sorriu enviesada, satisfeita pela provocação. Ela fechou os olhos e sentiu os lábios de null descendo por seu ombro, dando pequenas mordidas. Com as pernas dela abertas, ele encontrou espaço para descansar enquanto devotava cada pedaço da princesa. Os cálculos foram esquecidos tão logo as pontas dos dedos dele subiram a barra de seu vestido, deslizando pela parte interna das coxas, fazendo-a arrepiar. Ele afastou a pequena roupa íntima e começou a acaricia-la.
— Quero que você faça aquilo de novo. — null pediu manhosa.
— Fazer o quê?
— Você sabe o quê. — ela segurou um ofego quando ele atingiu o ponto inchado.
— Eu não sei, mas tenho uma ideia do que seja — null se afastou. — e para isso, finalmente precisarei tirar sua roupa toda. Não acredito que depois de meses vou conseguir vê-la nua por inteiro.
Ao invés de se sentir acanhada, null estava mais que disposta a jogar o vestido de dormir para longe. Eles nunca tinham muito tempo para se desfazer de todas as peças, portanto também estava contando com null nu. Fazia muito tempo desde que tivera tal privilégio. E a visão era sempre um espetáculo!
Ela se sentou de supetão, deixando-o meio desequilibrado, mas sorrindo. null começou a puxar a camisola de qualquer jeito, sem ligar se a rasgaria. null dobrava fogo, mas aquilo que queimava dentro dela era pura luxúria. Ele teria dificuldade de controla-la, principalmente se continuasse a encarando como se ela fosse uma obra-de-arte. Mas, assim que o tecido passou por sua cabeça, null não teve tempo de absorver a intensidade do olhar. null a puxou pela mão, beijando-a com urgência.
Com a princesa em seu colo, ele se livrou da camisa e tentou abrir o botão da calça. Para lhe dar espaço suficiente, null se afastou um pouco, observando um novo detalhe no braço esquerdo dele: haviam duas linhas perto do cotovelo, uma grossa e outra um pouco mais fina. Diferente dos desenhos, aquelas linhas pareciam permanentes.
— O que é isso? — questionou curiosa.
— Em Agni, todo homem casado deve ter esta tatuagem. É como se fosse uma aliança que nunca sai ou se perde. — null olhou para o braço. — As mulheres devem ter estas linhas no tornozelo, mas como você não é de Agni, eu achei melhor não pedir que fizesse.
— Quero fazer. — ela o cortou. — Eu faço, se quiser.
— Mesmo? — null sorriu. Sempre ficava tocado com o modo carinhoso de null. Ela era sua melhor companheira, em qualquer situação. Mesmo quando podiam se meter em encrenca, null não desistia. Ela preferia que eles levassem bronca juntos a deixar null sozinho. — então assim que acordarmos, pedirei para o monge providenciar tudo.
— Acho que terei um tornozelo charmoso. — ela esticou uma das pernas, movimentando-se perto de onde null mais a queria. — Oh, ops... — riu.
— null, null. — ele balançou a cabeça, rindo lascivo.
— Deixe-me compensar pela distração. — null se afastou enquanto descia as mãos para a calça dele, terminando de desabotoá-la.
— Seu pedido é uma ordem, findi.
We’ll get lost together
Let me flow
null engoliu com dificuldade assim que sentiu a boca dela beijando seu abdômen. null não tinha vergonha de tentar agradá-lo. Ela sempre era receptiva e criativa, tornando cada vez algo muito único e bem especial. Diferente do que se esperava de uma princesa do ar, conhecidas por serem mais reservadas e um pouco frias, null tinha fogo. Ela queimava como ele.
Com os dedos delicados, null retirou a calça de null, e iniciou sua exploração pela barriga dele, brincando com a fina linha de pelos até a roupa íntima que ele levava. Não era comum que se dedicasse tanto às preliminares, porém estava amando ver null tão hipnotizado por seus movimentos. Com muita delicadeza, null o pegou com uma mão, realizando um vai e vem preguiçoso, só para deixa-lo mais duro e desesperado. Seus olhos encontraram os globos brilhantes e ela sorriu de lado, fazendo com que uma rajada de prazer quebrasse dentro de null, que gemeu alto.
Aquilo era suficiente para ele. Desistia de tentar prolongar o momento! Precisava de null e precisava já, urgente. Puxando-a pelo queixo, mais vagarosamente do que seu corpo queria, eles ficaram cara a cara.
— Estou com saudades de você, — a pequena distância entre as duas bocas tornou-se ainda menor. — em volta de mim.
O beijo começou arrastado, lento e extremamente carregado de luxúria. Ambos já estavam familiarizados com as sensações deliciosas que qualquer mísero toque entre eles proporcionava, mas nada se comparava à ansiedade das preliminares. Era muito bom. Seus corpos estavam acelerados e quentes, os corações pulsando rápidos e as mentes relembrando todas as vezes que estiveram juntos.
De como era glorioso quando se encontravam.
Era uma sensação diferente, mais intensa. null não entendia porque sentia vontade de chorar e rir alto, como uma garota maluca. Os dois se desfizeram da roupa íntima em segundos, rendendo-se. null levou as mãos dela para seus ombros e sorriu carinhoso, fazendo do frenesi um ato de zelo. Ele se inclinou para beijá-la outra vez, e a partir dali, foi automático. O quadril de null ganhou vontade própria e se moveu mostrando exatamente o que procurava. O beijo se tornou molhado e alguns gemidos escapavam sem filtro. A voz rouca de null foi o ponto decisivo para a princesa.
— Vem. — pediu em um sussurro.
null a virou na cama e se postou sobre ela, com a cintura entre suas pernas. Ele entrou sem aviso, rápido e forte. Um gemido mais alto do que o esperado escapou por sua garganta, recebendo uma risadinha misturada com um grunhido do príncipe. null levou as mãos para suas costas, dividindo a atenção entre as omoplatas e seu cabelo. Com um beijo estalado na junção do pescoço com o ombro dela, null começou a se mexer. Lento e intenso, depois com agilidade e experiência. null já sabia o que fazer para agradá-lo, portanto se dedicou ao seu pescoço, tentando ocupar sua boca com outra coisa que não fosse "Oh, null" ou gemidos escandalosos. Ele agarrou uma das coxas dela e a colocou em volta de sua cintura, conseguindo atingir mais fundo. null rolou os olhos e arqueou as costas, esquecendo-se do mundo todo.
Aquilo era perfeito.
Seu estômago revirava com vários nós de prazer, o pico do orgasmo atingindo seu máximo quando null segurou seu rosto e a beijou com urgência. null sentia os espasmos em todas as células, não sabendo se era capaz de aproveitá-lo e beijar null ao mesmo tempo. O príncipe continuou a investir com mais força até alcançar seu clímax, fazendo-a querer chegar lá outra vez. null escorregou uma mão para seu ponto inchado e começou a boliná-lo, apertando seus músculos ainda mais e ouvindo rosnados sensuais de null. E deu certo.
Don't ever let me come down from your love
From your love, from your love
☼ ⸛ ☼
null examinou o tornozelo da esposa, achando graça no modo como ela tentava fingir que a tatuagem não era um “grande feito”.
— Ainda não entendi o porquê de não me dizer que isso era comum em Agni, — ela abaixou a saia do vestido. — mas, tudo bem.
— Nós vamos falar disso outra vez? — ele a abraçou, dando um beijo estalado em sua bochecha. — Obrigado, de qualquer modo, por ter aceitado.
— O prazer foi meu. — null abanou a mão.
null lhe ofereceu uma taça com água e algumas frutas, porque ela não havia tomado café-da-manhã direito, tão desesperada que estava pela tatuagem. O monge terminou de limpar a sala e pediu licença a eles, porém assim que saiu, Ipek entrou afobada.
— Rani null! Rani null!
— O que foi, Ipek? — null se desprendeu do abraço de null e se levantou.
— Samraat Bhima está aqui... E não veio sozinho. — Ipek apontou para a janela.
Quando afastou um pouco da cortina, null conseguia ver bandeiras de Vayu se estendendo por grande parte da rua, acompanhadas de algumas de Agni. Ela se virou para null em um misto de preocupação e alegria. Estava na hora de anunciar aos reinos o que haviam feito. E esperar que o amor fosse suficiente.
— Olum, findi, parece que temos umas nações para reconquistar. — piscou.
E de mãos dadas, os dois saíram para enfrentar a nação do ar e do fogo.
• O ciclo dos Grandes Reinos de Mahabhuta se dá por:
Reino de Prithvi (Reino da Terra)
Reino de Apas-Jal (Reino da Água)
Reino de Agni (Reino do Fogo)
Reino de Vayu (Reino do Ar)
Entretanto, existe o Akasha (Céu, “vácuo”), pelo qual todos os outros reinos estão “submetidos”. As leis de Akasha sobrepõem a qualquer outra lei, pois foram promulgadas antes da divisão de Mahābhūta.
• A hierarquia em cada reino é constituída por:
Samraat e Samrajni — imperador e imperatriz;
Maharaja e Maharani — rei e rainha, utilizados formalmente para os herdeiros do trono;
Raja e Rani — rei e rainha, utilizados informalmente com os herdeiros do trono.
• Algumas palavras usadas pelos personagens e seus significados:
Evet: uma maneira casual de dizer “sim”;
Nei: uma maneira casual de dizer “não”;
Shokran: agradecimento de súditos para monarcas;
Shukriya: agradecimento de monarcas para súditos;
Olum: interjeição de espanto, incredulidade.
Om Shanti: boa sorte.
Findi: apelido carinhoso, que pode significar tanto “amor”, quando “doçura”, etc.
Fronteira entre Vayu e Prithvi, Era de Apas—Jal.
Algumas carruagens e alguns soldados atravessaram a ponte da fronteira com o Reino de Prithvi. Todos ali tinham plena noção do que estavam fazendo, porém ninguém hesitou. Manter a Maharani de Vayu feliz era a única coisa que buscavam.
— Rani null, tem certeza que Raja null estará nos esperando? — Ipek, a dama de companhia e criada pessoal de null, perguntou preocupada.
— Evet. — null assentiu. — É nossa única chance.
— Samraat Bhima ficará horrorizado quando notar que a senhorita sumiu.
— Ele vai. — a princesa sorriu. — Mas saberá que não fiz por mal.
— Ficará encantado quando voltar casada com Raja null, sim?! — Ipek sorriu ao notar como o rosto da moça se iluminou pela frase.
— Tomara, Ipek, tomara. — null suspirou, mordendo outro sorriso. Lembrar-se de null sempre resultava em momentos como aquele, onde se derretia toda.
Ainda se arrepiava como uma tola ao recordar quando se conheceram.
Flashback on
Jala, Reino de Apas - Jal, 3 anos atrás
Os corredores do Palácio de Jala eram imensos e confusos. Não havia portas metricamente separadas, muito menos identificações por andares e alas. null estava andando cegamente por eles, porque não conseguia se lembrar de onde fora instalada.
— Pois bem, tenho certeza que não é aqui. — uma das portas se abriu e um garoto saiu por ela, de costas, usando um traje típico dos monarcas que conhecia.
— Olum! — null congelou no lugar.
— Oh, a senhorita é a dona deste quarto? — ele se virou para ela, atraindo sua atenção para o par de olhos verdes divertidos que a encaravam.
— Nei, nei. Estou perdida. — confessou. — Achei que o andar estivesse vazio.
— Me disseram que o Reino de Agni ficaria no terceiro andar, conforme o ciclo, mas confesso ter dificuldades de contar. É o terceiro excluindo o térreo, ou o terceiro a partir do térreo? — o menino sorriu e null sentiu o coração palpitar.
Amava sorrisos.
Mas... Olum, aquele sorriso era de outro mundo!
— Bem, é que estou errada duas vezes, então. — ela corou.
— Não é de Agni, imagino.
— Nei. Sou de Vayu, — null estendeu a mão, indicando o anel de Rosa dos Ventos, que era símbolo de seu reino. — acabei me perdendo de minha companhia...
— null, de Agni. — o garoto mostrou o próprio anel também, um sol de rubi enfeitando a mão dele. Apenas os monarcas usavam tais anéis. — Talvez se voltarmos pelo mesmo caminho, conseguiremos encontrar sua companhia.
— null, de Vayu. — ela se curvou minimamente, compreendendo agora com quem falava. — É um prazer conhecê-lo, Maharaja null.
— Olum, não pode ser! — outro sorriso adorável pintou nos lábios finos. — Maharani null Vatavaran? — soou animado. — Levo anos tentando conhecê-la!
— M-mesmo? — null ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
— Claro! Achou que conseguiria ficar em incógnita para sempre? Todos os reinos têm curiosidade sobre a herdeira do ar. — ele indicou para que começassem a andar. Não podia tocá-la até serem apresentados oficialmente. — Imagino que debute neste baile?
— Meus pais resolveram que é hora de eu começar a buscar minha popularidade. — ela assentiu. — Estou um pouco receosa, sabe? Bailes sempre me pareceram formais demais.
— E são. — null concordou. — Mas, assim que formos apresentados lhe pedirei uma dança, e espero que guarde um espaço para mim em seu cartão.
— Como não conheço ninguém, você terá todas as páginas. — riu.
— Perfeito! Assim não terei que fazer companhia para os Apas.
— Não gosta de água? — ela o encarou.
— Não gosto de nada que apague o fogo. — null disse casualmente, mas percebeu que a garota ficou absorta em sua fala. — Não se preocupe, o ar espalha o fogo. Gosto bastante do ar. — o mesmo brilho de diversão relampeou pelos olhos verdes.
null havia se decidido: também gostava bastante do fogo.
Fim do flashback
Ela fechou os olhos e aguardou o silêncio absoluto. Quando os cascos dos antílopes pararam de soar, null soube que haviam chegado ao local.
— Maharani Vatavaran, nós chegamos. — um dos soldados deu dois toques na janela da carruagem, quebrando o silêncio. — Maharaja Bhumi está a sua espera.
— Descerei. Shukriya. — null sorriu. — Nos encontraremos em alguns minutos, Ipek. Fique atenta para qualquer movimento estranho, preste bem atenção ao ar! Por estarmos em Prithvi pode ser que você se sinta mais fraca, mas é só se concentrar na atmosfera.
— Evet, evet. Agora vá, não temos tempo a perder! — Ipek a apressou.
— Vou. — null sorriu. — Deseje-me sorte.
— Om Shanti. — Ipek levou as mãos ao rosto, cruzando-as em forma de pássaro e encostando a testa entre elas, um gesto de respeito indubitável ao seu soberano.
null desceu da carruagem e se deparou com Bhumi, o herdeiro de Prithvi. Eles haviam ficado muito amigos quando estavam em Jala, porque Bhumi era primo e bem próximo de null. Para colaborar muito mais, Varaha, capital de Prithvi, era extremamente perto de Akasha — se tudo corresse bem, gastariam apenas dois dias até lá.
— Estou contente que tenha conseguido chegar! — Bhumi a abraçou. — null deve estar a caminho. — ele indicou a própria carruagem. — Se verem uma carruagem de Vayu poderemos ter problemas, portanto acho melhor andarmos com a minha até a casa.
— Obrigada por ajudar. — ela agradeceu, entrando no carro.
— Sabe que meu ponto fraco são histórias de amor, null. — Bhumi riu. — pedi para alguns guardas percorrerem a estrada até Akasha e eles me relataram que está em perfeito estado. Separei duas paradas, uma em Urvarak e outra em Chattaan; se conseguirem chegar em Chattaan ao fim da tarde, Akasha fica a apenas uma hora de lá, então poderão descansar e realizar tudo ao amanhecer. Estimo que até a hora do almoço estejam casados. — Bhumi lhe deu um apertou singelo nas mãos. — Om Shanti.
— Olum, Olum, Bhumi! Não podemos seguir diretamente para Chattaan?
— Seria muito arriscado e cansativo. Se outros guardas notarem um movimento estranho nas estradas isso será comunicado ao meu pai e tudo irá, literalmente, por água abaixo.
— Então seguiremos o ritmo de viajantes normais. — null assentiu. — Ipek seguirá em uma carruagem com alguns de meus guardas, mas não há nada que indique minha presença ou qualquer relação comigo. Acha que eles correm perigo?
— Se não há nada seu com ela, então acredito que não. — Bhumi abanou uma mão, dispensando a má sorte. — assim que chegarem a Urvarak, se desejarem, podem pegar o ar e seguirem diretamente a Akasha, sem parar por Chattaan, ou apenas fazer um pequeno descanso. Mas, ao meu ver, seria um pouco arriscado, já que seu pai notará seu sumiço em algumas horas, não é?!
— Vou conversar com Ipek. Seria realmente bom que tivéssemos alguém nos esperando em Akasha. — null encarou a estrada. — Quanto tempo nós levamos até Urvarak?
— Se saírem esta madrugada, estarão lá antes do pôr-do-sol. Isso, claro, se pararem para comer e tudo mais. — Bhumi afrouxou o cinto que prendia seu traje real. — Estaremos perto de Varaha em alguns minutos, mas eu lhe deixarei em casa e seguirei para o palácio. Você precisa ficar atenta, porque apenas null sabe onde estará.
— Acha que ele ainda não chegou?
— Não sei como foi com os guardas da fronteira, por mais que eu deixasse avisado que viria, — Bhumi suspirou. — em tempos de crise as coisas ficam caóticas.
— Eu espero não criarmos um problema ainda maior. — null encolheu os ombros.
— O amor, inevitavelmente, cria problemas, — riu. — mas, um Maharaja sempre pôde escolher sua esposa e vice-versa. Não vejo o casamento de vocês como uma afronta para o equilíbrio de Mahabhuta, e sim como o que Apas-Jal e Agni queriam fazer: uma aliança. Então, se é para termos uma aliança, que ela seja real e auspiciosa.
— Ah, Bhumi, querido, você é tão bom com as palavras. — null riu fraco.
A casa constituía da arquitetura padrão de Prithvi, com vários detalhes em pedra e adornos em forma de pontas de lanças. Depois de abraçar e agradecer Bhumi outras quatro vezes, null entrou discretamente na casa, vestida como uma cidadã comum de Vahara. Era muito bom que Bhumi tivesse escolhido um imóvel normal ao invés de ter se decidido por uma casa mais luxuosa e aristocrática.
Ela guardou sua sacola na sala de visitas e andou até o banheiro, desesperada para tomar banho e arrumar o cabelo. Poderia ser o cúmulo da futilidade, mas null não desejava que null a visse desleixada e suja. Já bastavam todas as visitas que fazia quando ela estava dobrando o ar... O que, geralmente, se resumia em muita poeira e folhas secas.
— É claro que Bhumi faria isso. — null sorriu carinhosa ao encontrar essência de canela no banheiro. Isto era, na melhor descrição, o cheiro “oficial” de Vayu.
Enquanto a água da banheira esquentava, null esticou um vestido mid rendado e sua capa de frio. Ela havia trazido, além daquela roupa, outro vestido branco — que usaria no dia em que chegasse a Akasha — e um vestido verde de frio.
null alisou a peça de veludo e sorriu minimamente. Estava começando a viver uma aventura e tanto, mas não conseguia encontrar o mínimo arrependimento do que fazia. Com certeza, se tivesse que escolher, faria tudo novamente.
Após se lavar, ela estava trançando o cabelo quando ouviu um barulho vindo da cozinha. null sentiu arrepios, porque a casa possuía apenas um andar, ou seja, qualquer pessoa que entrasse faria barulho o suficiente para ela se preparar antes que conseguisse atravessar a sala. Institivamente, null agarrou a escova e um pequeno espelho de mão, já que não tinha tempo de procurar alguma outra arma, e esperou.
— null? — seu nome soou alto em uma voz suave, quase como veludo.
— null! — largando todos os objetos, ela correu até ele.
Os dois se abraçaram, tentando por naqueles poucos segundos toda a saudade de um mês. Um extenso mês, onde null ouvira sobre o casamento arranjado, onde null e ele não tiveram muitas chances de trocarem cartas ou mensagens, onde o mundo de cada um pareceu sair do eixo com a possibilidade de não poderem ficar juntos como queriam.
— Como você está? Chegou bem? — null contornou a bochecha dela com as costas da mão, amando como null fechava os olhos ao mínimo toque.
— Estava assustada achando que a casa foi invadida, mas agora estou bem. E sim, cheguei tranquilamente com a assistência de Bhumi. — ela sorriu.
— Desculpe, eu ouvi o barulho da água e resolvi que seria o certo esperar.
— Não há nada que você não tenha visto antes. — null piscou maliciosa.
— Eu sei. — null aproximou o rosto do dela. — mas achei que tivéssemos combinado de não fazer mais nada até o casamento?!
— Para olhar não precisa tocar. — ela ergueu o queixo, esperta.
— Acontece, diabinha, eu não sou tão magnânimo. — ele encostou seus lábios no dela, saboreando a saudade. Da última vez que se viram precisaram ser rápidos, porque a reunião dos reinos logo começaria e, apesar de não poderem palpitar, os herdeiros tinham obrigação de estarem presentes.
null a envolveu pela cintura, respirando a canela e se derretendo na língua de null. Seu corpo todo pegava fogo — quase literalmente — quando estavam juntos. Mesmo sabendo que não podiam desperdiçar tempo, ele se deliciou com algumas mordidas pelo pescoço dela, brigando contra a vontade de levar os beijos mais à diante.
— Juro que não vejo a hora de estarmos casados, — ela sussurrou. — aí não vou precisar cronometrar os segundos para estar com você.
— Prometo que será rápido. — null piscou. — Vamos sair ainda esta madrugada, certo?
— Acho que seria o ideal. Bhumi disse que podemos chegar a Akasha daqui dois dias, na manhã, ou podemos cortar algum tempo, porém não teríamos Ipek antecedendo qualquer problema. Fica à seu critério. — ela deu de ombros.
— Faremos o que for melhor no momento, findi. — null sorriu. — esse apelido fica cada vez melhor só por me lembrar que deve ser usado por pessoas casadas.
— Você faz muita questão de se lembrar que casaremos.
— Em Agni o casamento é uma das melhores ocasiões em que alguém pode se encontrar, sabe? — ele deu espaço para null sair do abraço. — não pode me culpar por isto.
— Não o culpo, mas sua animação é tanta que me faz parecer uma desinteressada.
— Ela aumentará assim que tivermos atado nossos cordões.
null sorriu com a menção, porque o rito do casamento em Akasha tinha como um dos pontos principais usarem cordões. Cada reino possuía seu ritual específico, devendo ser realizado conforme desejo dos noivos (e do lugar em que estavam, independente de suas “nacionalidades”). Quando estava aprendendo sobre os reinos e suas culturas, null jamais imaginou que se casaria com uma celebração tão linda quanto a de Akasha. Ela mal podia esperar para colocá—la em prática.
— Como está a situação em Agni? — null perguntou enquanto dobrava suas roupas.
— Controlável. — null sentou-se na cama e retirou as botas. — Papai acha que é uma questão de tempo até que ela se espalhe por outras regiões sem ser a capital.
— Espero que ninguém se machuque seriamente até conseguirmos resolver isto.
— Por enquanto não houve nada. — ele assentiu. — apenas dois incêndios em casas abandonadas. O grande problema é que isto afeta indiretamente a população, afinal, nunca se sabe quando começarão a ataca-los. Terror psicológico é a pior arma.
— Você acha que vamos piorar tudo nos casando? — null engoliu seco.
— Eu acho... — null a encarou, abrindo um sorriso singelo. — que o amor é uma força muito maior do que a ganância e o poder. Se a união de dois reinos prósperos por amor, e nada além de amor, não conseguir tocar ao coração de todos, então não é uma aliança entre dois outros reinos que mudará tudo. — ele esticou a mão, procurando a dela sobre o vestido de veludo. — Eu não menti quando disse que poria o mundo abaixo em chamas se algo a prejudicasse, findi. Basta uma só palavra e voltaremos para nossos reinos.
— Não. — ela negou fervorosamente. — Não vou desistir de você. Só me preocupo um pouco com as rebeliões... — encolheu os ombros. — mas o amo, null. Sabe disso, certo?
— Sempre. — ele assentiu. — então por que não descansamos antes de sair?!
Os dois até tentaram descansar, porém a notável tensão e a crescente adrenalina pela pequena fuga eram demais para que ficassem na inércia. Muito antes do planejado, os dois já estavam na estrada, seguindo rumo a Urvarak.
— É incrível como, apesar de estar a noite, todos ainda continuam normalmente. Veja o movimento das estradas! — null comentou, surpresa.
— O reino que nunca dorme, realmente.
— Temos uma parada daqui trinta minutos. Se você estiver com frio, posso parar para pegarmos o cobertor no baú. — null, o cavalheiro que era, ofereceu.
— Estou bem, findi. Qualquer coisa posso te abraçar e logo ficarei quente.
— Se você não quiser ser atacada por muitos beijos, eu não me aproximaria.
— E se eu quiser? — ela ergueu a sobrancelha.
— Sério, null, não sei mais o que fazer com você! — ele riu. — Definitivamente pegaremos a rota do ar e nos casaremos o mais rápido possível.
— É incrível como eu ainda fico tímida com suas brincadeiras. — null suspirou, porque apesar de bancar a ousada, não era bem assim que se sentia.
Algumas vezes até conseguia manter o papel, mas seus sentimentos por null sempre a faziam embaralhar e se envergonhar. Resumia-se em uma tola, encanta com qualquer mísero movimento ou palavra dita por ele... Ainda mais quando eram dirigidos a ela. Olum, como era complicado manter-se séria em festas públicas! Ambos precisavam se portar como se não se gostassem mais do que o “normal”, como se tivessem mais prioridades do que passarem todos os segundos juntos. Graças à Bhumi, eles conseguiam dar escapadas e matar um pouco da saudade.
— Ah, Rani null, — ele estalou a língua. — por que é que essa timidez nunca aparece quando deveria? — seus olhos verdes relampearam em um brilho jocoso.
— Pare com isso, null! — ela gargalhou, tímida. — Mas, devo confessar, não me arrependo de você ter sido o primeiro. Em tudo.
— Seria um pouco tarde demais para se arrepender, sabe? — null alfinetou. — Mas, isso não diminui o prazer em escutá-la. Espero que além de primeiro, seja o último.
— Se chegarmos a Akasha bem rápido...
— Está decidido, já disse! Na próxima parada buscarei por antílopes e amanhã pela tarde estaremos nos casando. — null balançou a cabeça como um garotinho indignado.
— Dentro de minha valise possuo um pergaminho de Vayu e farei com que ele chegue a Ipek o mais rápido possível. — null piscou para o noivo.
— Que esposa solícita eu arrumei!
— Olum, você não imagina o quanto. — ela sorriu divertida.
O dono da estalagem lhes explicou como chegar aos antílopes em duas paradas. Eles tinham quarenta minutos até ela, e os cavalos estavam perdendo o ritmo pelo longo caminho. Mas, null já tinha tudo elaborado em sua cabeça!
Provavelmente, seu pai estaria descobrindo de seu sumiço naquele momento, e então iniciariam as buscas pelo palácio e pelos jardins. Depois, quando não a encontrasse, ele solicitaria buscas pelos arredores e pela cidade. Então, a Guarda Real emitiria comunicados a todos os reinos e, talvez, os pais de null o avisassem de seu sumiço também. Aí, eles finalmente se inteirariam do que acontecia com os dois herdeiros, e, se fossem tão espertos quanto null esperava, marchariam para Akasha.
Só que seria tarde demais.
Porque eles já estariam casados!
É. A rota com antílopes era realmente a melhor opção.
— Se for possível, eu posso dobrar um pouco de ar para que os cavalos descansem. Consigo fazer com que ninguém note que eles estão flutuando...
— Você fez cálculos. — null riu. — não sei porque imaginei que não os faria.
— Suponho que esteja tão animado com a fuga que não prestou atenção. — ela brincou. Todos sabiam o quanto Maharani null amava transformar as coisas em cálculos e esquemas. — Bem, se eu não falho na conta, temos em torno de quinze horas para nos casarmos e consumarmos o casamento, evitando que seja, mesmo que improvável, anulado. — ela riu. — Então, realmente deveremos pegar a rota do ar.
— Exatamente, findi. — null piscou.
Akasha era uma cidade maravilhosa. null esteve lá apenas duas vezes: quando nasceu, e quando completou a maioridade, para fazer o reconhecimento de título de herdeira. Ela se lembrava das grandes árvores e das inúmeras cerejeiras, das casas coloridas, das ruas brilhantes de tão limpas, do céu inegavelmente azul... Parecia nunca haver tempo ruim! Quando pararam em frente ao templo onde celebravam casamentos, seu coração acelerou de emoção. Era um lugar grande e florido, como um pequeno sítio, com símbolos dos quatro reinos e plantas específicas deles. Duas carruagens os aguardavam no estacionamento. Sem ter mais paciência para esperar, null agarrou a mão dela e ambos entraram no templo, já sentindo a adrenalina.
— Pronta?
— Pronta. — ela sorriu.
Ipek, que fora instruída a organizar tudo, estava conversando com dois monges e o celebrador. Assim que avistou Rani null, correu para ajuda-la a se arrumar. Não podiam desperdiçar um segundo sequer do dia!
O vestido típico de cerimônias que Ipek conseguiu era de cor creme, adornado com detalhes em dourado, e uma capa de veludo preta que deixava o traje extremamente elegante. Da barra até a altura dos joelhos, as linhas formavam espirais e pontos que poderiam lembrar o céu estrelado ou alguma floresta/paisagem vista por cima. Seu cabelo foi trançado com fios de ouro e flores de cerejeira, porque eram o símbolo de Akasha. Em suas mãos, além das joias que deveria usar, desenhos dos brasões principais dos quatro reinos estendiam do punho até o cotovelo, para indicar a união dessas nações. Em seus pés, mais desenhos, até a altura da canela. Ela deveria ficar descalço, conectando-se com a natureza e a terra, em sinal de equilíbrio.
— Raja null já está pronto. — Ipek retornou ao salão em que null se arrumava. — Agora só precisamos dos enfeites no rosto e você poderá ir!
— Estou ansiosa. — null bateu palminhas. — Vamos andar com isso logo!
— Prometo que será bem rápido.
Depois de Ipek usar pó de pedras brilhantes e pregar três diamantes acima da sobrancelha esquerda, null estava pronta.
Ipek e dois guardas a acompanharam até o pátio já decorado, onde os responsáveis por casá-la haviam iniciado a benção em null, fazendo com que ele não a visse. null observou, com o coração acelerado, o traje de veludo preto e dourado que ele usava, uma única flor de cerejeira presa no lado esquerdo do peito.
— Vamos iniciar o mais rápido possível. — o monge a guiou para a entrada do salão.
Depois de um pequeno discurso no dialeto de Akasha, um dos monges começou a tocar uma arpa, enquanto null atravessava o salão em direção à null, não sabendo como reagir ao olhar brilhante e hipnótico do príncipe.
Quando pararam frente a frente, o monge entregou um pequeno vaso com areia colorida para ambos. A areia simbolizava, segundo o ritual, a união de dois pontos diversos em nome de algo maior, no caso, o amor, e cada um deveria despejar um pouco dela em um prato, para que a mescla das cores criasse uma cor nova: a cor deles. null observou, sem palavras, um tom lilás surgir da mistura.
— Agora deem as mãos. — o homem responsável pela cerimônia instruiu. — Este é o cordão do companheirismo. Para Akasha, vocês são um, mas isto não significa que devam se esquecer de quem foram antes do casamento. Uma mão está atada ao do parceiro, enquanto a outra está livre para lembra-los de que há espaço tanto para crescerem juntos quanto individualmente. — ele amarrou a fita no punho dos dois. — ainda unidos, vamos recitar os votos e caminharemos para o fim da celebração.
null e null repetiram cada palavra com muita calma, apesar dos corações estarem desesperados pelo final. Depois de lavarem os pés na água do principal rio, Kundalini, para purificar o corpo nessa nova fase, o casal ainda precisou plantar uma árvore também, simbolizando o crescimento deles. E, ao som do “Sob as leis de Akasha, eu vos declaro marido e mulher”, vários fogos de artifícios foram acesos. Ipek deu início à festa puxando uma melodia suave sobre dois amantes, e as pessoas presente seguiram com a dança. O mais recente casal se encarou, rindo.
— Acho que essa é nossa deixa para escapar... Findi. — o apelido soou mil vezes mais lindo na voz de null. — Vamos?
— Estava contando os segundos. — null assentiu, entrelaçando seus dedos, pois ainda possuíam uma mão atada.
null desfez o primeiro laço com bastante lentidão. Havia feito aquilo algumas vezes, mas naquele momento era especial demais para estragá-lo com pressa. Estavam casados, finalmente. Não precisava mais utilizar urgência com null. Agora tinham todo o tempo do mundo para se amarem como mereciam.
— Necessita ajuda? — null franziu o cenho.
— Não, findi. Quero só... Ir com calma. — a luz que entrava no quarto fez com que os olhos dele ficassem ainda mais brilhantes. — porque você merece ser adorada, da cabeça aos pés. Calmamente. Cada centímetro. — para ilustrar suas palavras, ele levou a boca ao punho da garota, passando a língua levemente pela pele macia.
— null... — ela riu fraco, com cócegas.
— O quê? — ele sorriu. — “ah, null”, “mais, null”, “vai, null”?
— Babaca pretensioso. — null sacodiu a cabeça, sentindo o coração explodir em alegria.
— Seu babaca pretensioso. Seu favorito. Seu, sempre.
Ela fechou os olhos diante tais palavras. Era dele também, desde o maldito sorriso que lhe deu no corredor do palácio de Apas-Jal. Olum, como é que conseguia viver com tanto amor dentro dela?! E como fora tão sortuda de ser correspondida?!
I don't wanna come down from your love
null a puxou para perto, derretendo a boca em seu pescoço, mordendo e sugando como sabia que a agradava. Ele a envolveu com os braços, empurrando o maldito laço para o chão. null cheirava extremamente bem, por ter se lavado e tirado os desenhos que deveria usar na cerimônia de casamento. Seus dedos se embolaram no tecido da camisola ao mero som de um suspiro, para tentar manter o controle. Não queria ir rápido. Tinha que se esforçar para ficar calmo.
— Vamos para a cama, hm? — null sugeriu, impossibilitada de aguentar tudo em pé.
— Falo para irmos com calma e você me atiça para irmos rápido... — ele balançou a cabeça, guiando-a com cuidado até o enorme colchão. — O que devo fazer, então?
— Você pode começar me beijando aqui — indicou da clavícula ao vale entre os seios. null sorriu. — ou, pode me deixar tirar sua roupa completamente...
Não é que ela não quisesse ser adorada da cabeça aos pés, mas, se seus cálculos não falhavam, alguém do Reino de Vayu chegaria a Akasha pelo fim da tarde... E se o casamento não estivesse consumado, eles poderiam ter problemas. null e ela nunca levavam mais que uma hora, porque sempre tinham pessoas demais por perto e se se atrasassem por 15 minutos, alguém daria falta de um deles. Era injusto que sua primeira vez desde casada tivesse que ser apressada também, porém eles teriam toda uma vida juntos. Mas, null deveria se sentir agradecida. Pelo menos estavam juntos.
— No que está pensando?
— Cálculos. — brincou.
— Ora, ora, Rani null, essa foi uma resposta infeliz. — ele começou a desabotoar a própria blusa. — Vou precisar ser um pouco cruel agora. Não quero você pensando em mais nada que não seja minha boca e meus dedos no seu corpo.
null sorriu enviesada, satisfeita pela provocação. Ela fechou os olhos e sentiu os lábios de null descendo por seu ombro, dando pequenas mordidas. Com as pernas dela abertas, ele encontrou espaço para descansar enquanto devotava cada pedaço da princesa. Os cálculos foram esquecidos tão logo as pontas dos dedos dele subiram a barra de seu vestido, deslizando pela parte interna das coxas, fazendo-a arrepiar. Ele afastou a pequena roupa íntima e começou a acaricia-la.
— Quero que você faça aquilo de novo. — null pediu manhosa.
— Fazer o quê?
— Você sabe o quê. — ela segurou um ofego quando ele atingiu o ponto inchado.
— Eu não sei, mas tenho uma ideia do que seja — null se afastou. — e para isso, finalmente precisarei tirar sua roupa toda. Não acredito que depois de meses vou conseguir vê-la nua por inteiro.
Ao invés de se sentir acanhada, null estava mais que disposta a jogar o vestido de dormir para longe. Eles nunca tinham muito tempo para se desfazer de todas as peças, portanto também estava contando com null nu. Fazia muito tempo desde que tivera tal privilégio. E a visão era sempre um espetáculo!
Ela se sentou de supetão, deixando-o meio desequilibrado, mas sorrindo. null começou a puxar a camisola de qualquer jeito, sem ligar se a rasgaria. null dobrava fogo, mas aquilo que queimava dentro dela era pura luxúria. Ele teria dificuldade de controla-la, principalmente se continuasse a encarando como se ela fosse uma obra-de-arte. Mas, assim que o tecido passou por sua cabeça, null não teve tempo de absorver a intensidade do olhar. null a puxou pela mão, beijando-a com urgência.
Com a princesa em seu colo, ele se livrou da camisa e tentou abrir o botão da calça. Para lhe dar espaço suficiente, null se afastou um pouco, observando um novo detalhe no braço esquerdo dele: haviam duas linhas perto do cotovelo, uma grossa e outra um pouco mais fina. Diferente dos desenhos, aquelas linhas pareciam permanentes.
— O que é isso? — questionou curiosa.
— Em Agni, todo homem casado deve ter esta tatuagem. É como se fosse uma aliança que nunca sai ou se perde. — null olhou para o braço. — As mulheres devem ter estas linhas no tornozelo, mas como você não é de Agni, eu achei melhor não pedir que fizesse.
— Quero fazer. — ela o cortou. — Eu faço, se quiser.
— Mesmo? — null sorriu. Sempre ficava tocado com o modo carinhoso de null. Ela era sua melhor companheira, em qualquer situação. Mesmo quando podiam se meter em encrenca, null não desistia. Ela preferia que eles levassem bronca juntos a deixar null sozinho. — então assim que acordarmos, pedirei para o monge providenciar tudo.
— Acho que terei um tornozelo charmoso. — ela esticou uma das pernas, movimentando-se perto de onde null mais a queria. — Oh, ops... — riu.
— null, null. — ele balançou a cabeça, rindo lascivo.
— Deixe-me compensar pela distração. — null se afastou enquanto descia as mãos para a calça dele, terminando de desabotoá-la.
— Seu pedido é uma ordem, findi.
Let me flow
null engoliu com dificuldade assim que sentiu a boca dela beijando seu abdômen. null não tinha vergonha de tentar agradá-lo. Ela sempre era receptiva e criativa, tornando cada vez algo muito único e bem especial. Diferente do que se esperava de uma princesa do ar, conhecidas por serem mais reservadas e um pouco frias, null tinha fogo. Ela queimava como ele.
Com os dedos delicados, null retirou a calça de null, e iniciou sua exploração pela barriga dele, brincando com a fina linha de pelos até a roupa íntima que ele levava. Não era comum que se dedicasse tanto às preliminares, porém estava amando ver null tão hipnotizado por seus movimentos. Com muita delicadeza, null o pegou com uma mão, realizando um vai e vem preguiçoso, só para deixa-lo mais duro e desesperado. Seus olhos encontraram os globos brilhantes e ela sorriu de lado, fazendo com que uma rajada de prazer quebrasse dentro de null, que gemeu alto.
Aquilo era suficiente para ele. Desistia de tentar prolongar o momento! Precisava de null e precisava já, urgente. Puxando-a pelo queixo, mais vagarosamente do que seu corpo queria, eles ficaram cara a cara.
— Estou com saudades de você, — a pequena distância entre as duas bocas tornou-se ainda menor. — em volta de mim.
O beijo começou arrastado, lento e extremamente carregado de luxúria. Ambos já estavam familiarizados com as sensações deliciosas que qualquer mísero toque entre eles proporcionava, mas nada se comparava à ansiedade das preliminares. Era muito bom. Seus corpos estavam acelerados e quentes, os corações pulsando rápidos e as mentes relembrando todas as vezes que estiveram juntos.
De como era glorioso quando se encontravam.
Era uma sensação diferente, mais intensa. null não entendia porque sentia vontade de chorar e rir alto, como uma garota maluca. Os dois se desfizeram da roupa íntima em segundos, rendendo-se. null levou as mãos dela para seus ombros e sorriu carinhoso, fazendo do frenesi um ato de zelo. Ele se inclinou para beijá-la outra vez, e a partir dali, foi automático. O quadril de null ganhou vontade própria e se moveu mostrando exatamente o que procurava. O beijo se tornou molhado e alguns gemidos escapavam sem filtro. A voz rouca de null foi o ponto decisivo para a princesa.
— Vem. — pediu em um sussurro.
null a virou na cama e se postou sobre ela, com a cintura entre suas pernas. Ele entrou sem aviso, rápido e forte. Um gemido mais alto do que o esperado escapou por sua garganta, recebendo uma risadinha misturada com um grunhido do príncipe. null levou as mãos para suas costas, dividindo a atenção entre as omoplatas e seu cabelo. Com um beijo estalado na junção do pescoço com o ombro dela, null começou a se mexer. Lento e intenso, depois com agilidade e experiência. null já sabia o que fazer para agradá-lo, portanto se dedicou ao seu pescoço, tentando ocupar sua boca com outra coisa que não fosse "Oh, null" ou gemidos escandalosos. Ele agarrou uma das coxas dela e a colocou em volta de sua cintura, conseguindo atingir mais fundo. null rolou os olhos e arqueou as costas, esquecendo-se do mundo todo.
Aquilo era perfeito.
Seu estômago revirava com vários nós de prazer, o pico do orgasmo atingindo seu máximo quando null segurou seu rosto e a beijou com urgência. null sentia os espasmos em todas as células, não sabendo se era capaz de aproveitá-lo e beijar null ao mesmo tempo. O príncipe continuou a investir com mais força até alcançar seu clímax, fazendo-a querer chegar lá outra vez. null escorregou uma mão para seu ponto inchado e começou a boliná-lo, apertando seus músculos ainda mais e ouvindo rosnados sensuais de null. E deu certo.
From your love, from your love
☼ ⸛ ☼
null examinou o tornozelo da esposa, achando graça no modo como ela tentava fingir que a tatuagem não era um “grande feito”.
— Ainda não entendi o porquê de não me dizer que isso era comum em Agni, — ela abaixou a saia do vestido. — mas, tudo bem.
— Nós vamos falar disso outra vez? — ele a abraçou, dando um beijo estalado em sua bochecha. — Obrigado, de qualquer modo, por ter aceitado.
— O prazer foi meu. — null abanou a mão.
null lhe ofereceu uma taça com água e algumas frutas, porque ela não havia tomado café-da-manhã direito, tão desesperada que estava pela tatuagem. O monge terminou de limpar a sala e pediu licença a eles, porém assim que saiu, Ipek entrou afobada.
— Rani null! Rani null!
— O que foi, Ipek? — null se desprendeu do abraço de null e se levantou.
— Samraat Bhima está aqui... E não veio sozinho. — Ipek apontou para a janela.
Quando afastou um pouco da cortina, null conseguia ver bandeiras de Vayu se estendendo por grande parte da rua, acompanhadas de algumas de Agni. Ela se virou para null em um misto de preocupação e alegria. Estava na hora de anunciar aos reinos o que haviam feito. E esperar que o amor fosse suficiente.
— Olum, findi, parece que temos umas nações para reconquistar. — piscou.
E de mãos dadas, os dois saíram para enfrentar a nação do ar e do fogo.
Fim!
Nota da autora: Não sei o que dizer, apenas sentir.
Tentei colocar em palavras tudo que imaginei desde que esse hino injustiçado foi lançado, nessa voz de veludo que é a de Chittaphon.
Quem gostou bate palma, quem não gostou paciência.
PS: Vai lá assistir o MV da música, porque é perfeito. Obrigada. De nada.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Tentei colocar em palavras tudo que imaginei desde que esse hino injustiçado foi lançado, nessa voz de veludo que é a de Chittaphon.
Quem gostou bate palma, quem não gostou paciência.
PS: Vai lá assistir o MV da música, porque é perfeito. Obrigada. De nada.