Capítulo Único
10 de novembro
'Conhecemos aquele rapaz?' Perguntou Berta.
'Qual?' Dei uma olhada ao nosso redor.
'Aquele que está sentado no canto esquerdo do bar. Cabelos escuros, camisa de linho, calça preta.'
Busquei o rapaz pelo local até encontrá-lo. Estava sentado com outros rapazes e uma moça de cabelos coloridos.
'Eu não sei.' Continuei observando-o. Sua feição não me era estranha. Poderia ter esbarrado com ele na universidade ou em alguma festa. Não sei, não conseguiria me lembrar.
Notei que estava muito tempo encarando-o quando o mesmo sorriu e levantou seu copo como se fosse brindar.
'Talvez ele conheça a gente.' Retribui o gesto e voltei minha atenção ao jogo que estava sendo reproduzido no telão do bar.
'Ele não para de olhar para você.' Ela continuou.
'Pare de olhar para ele.' Sussurrei. 'Não viemos aqui assistir o jogo?' Questionei.
'Você sabe que é mais forte do que eu.' Disse manhosa.
'Não adianta. Você sabe que não caio nessa sua vozinha mansa. Você é praticamente o diabo.'
'O Diabo é uma mulher.' Sorriu. 'GOOOOOOOOOOOOL!' Gritou Berta ficando em pé e comemorando. 'ESSE É O MEU MARIDO, TÃO VENDO? UMTITI É O MEU MARIDO!' Ela gritava animada.
Enquanto as pessoas comemoravam animadas pelo gol feito pela seleção, permiti que meus olhos fossem de encontro ao rapaz no canto do bar. Ele sorria enquanto conversava com seus amigos. Notei que eles não prestavam muita atenção no jogo, diferente do resto do pessoal que estava em êxtase pelo gol. Não eram franceses, com certeza. Talvez italianos, presumi. Ou americanos. É, americanos seria o melhor palpite.
Seu sorriso aumentou quando notou que eu o observava. Não pude deixar de retribuir seu sorriso novamente.
'Queremos mais uma torre de chopp.' Pediu Berta ao garçom.
'Você me empresta a sua caneta?' Perguntei a ele que concordou, entregando-me.
'O que está fazendo?' Ela perguntou.
'Sendo mais como você.' Respondi anotando meu telefone e meu nome no guardanapo.
'Preciso que entregue isso, junto com outra dose do que ele estiver bebendo, por minha conta. Mesa 12, o rapaz com uma tatuagem de pássaro na mão. Está sentado ao lado da moça de cabelos coloridos.' Informei.
'Não acredito!' Berta disse dando gritinhos de felicidade. Ela era animada demais.
O rapaz concordou, pegou o bilhete e se retirou logo em seguida.
'Não fale nada.' A impedi. 'Se você falar qualquer coisa eu vou travar.'
'Tá bom!' Concordou cabisbaixa. 'Você sempre destrói minha felicidade.'
'Pare de drama.' Revirei os olhos e tomei o resto da bebida que tinha em meu copo.
Poucos minutos depois, meu celular vibrou sobre a mesa informando a chegada de uma nova mensagem de texto.
Bom dia Angele, tudo bem com você?
Me chamo ). Obrigado por ter resolvido essa situação. Eu iria esperar até o final do jogo para tentar falar com você.
A mensagem estava em inglês.
Pensei alguns minutos antes de responder, também em inglês.
Olá )! Eu estou bem e você?
Nos conhecemos de algum lugar?
Como eu era péssima nisso. Olhei discretamente para ele e vi sua atenção voltada ao celular.
A resposta veio logo em seguida.
Estou bem também, obrigado por perguntar.
Talvez, eu não sei. Você me viu em algum lugar?
Deus, eu não fazia ideia se já tinha o visto. Só sabia que seu rosto não era estranho.
Talvez tenha te visto na faculdade, se você estudar em Sorbonne.
Ele respondeu rapidamente.
Não estudo em Sorbonne. :(
Aliás, não sou daqui.
Sabia que ele não era francês.
Sou canadense, mas vivo no Estados Unidos.
Canadense e não sabe francês? Ou, pensou que eu fosse francesa? Talvez essa fosse a explicação da mensagem escrita em inglês.
Então, não faço ideia de onde eu posso ter lhe visto. Ou não vi, pode ter sido impressão minha.
'Com quem está falando? Viemos para assistir o jogo, não mexer no celular.' Berta resmungou tentando pegar meu celular, sem sucesso.
'Com licença.' Tirei meu celular de seu campo de visão.
'Oh! Ele já respondeu?' Ela perguntou e eu afirmei com a cabeça. 'E o que ele disse?'
'Nada demais. Não deu tempo né? Não faz 10 minutos.' Respondi pegando meu celular para ler as mensagens que haviam acabado de chegar.
Talvez tenha sido mesmo. Não venho muito aqui.
Na verdade, estive em Paris duas vezes, a trabalho. Porém, não tive tempo de conhecer nada.
Essa é a terceira vez, também a trabalho. Mas, com um tempinho maior para passear.
Você vai fazer alguma coisa após o jogo?
'Por que está sorrindo? O que ele disse?' Ela perguntou afobada.
'Se vou fazer algo após o jogo.'
'E o que você disse?'
'Calma.' Resmunguei enquanto digitava a mensagem.
O que você quer fazer após o jogo?
'Cancele qualquer coisa que você queira fazer comigo quando acabar aqui. Estarei ocupada.' Disse. O sorriso de Berta triplicou.
'Vão fazer o que?'
'Não sei. Mas vamos fazer alguma coisa.'
Qualquer coisa.
Não conheço nada aqui.
Não fazia ideia de onde poderíamos ir. Estava tão ansiosa que mal conseguia pensar.
E se saíssemos daqui sem rumo algum? Andando pelo centro da cidade, você toparia?
Olhei em sua direção novamente. Ele sorria olhando para o celular enquanto os seus amigos conversavam e riam alto.
Poderíamos sair agora, se você quiser.
'Ele quer sair agora.' Disse a Berta.
'Socorro! O que você está esperando?'
'Não vai se importar?'
'Eu? Jamais! Sabe que eu sei me virar sozinha. Só quero que você me conte tudo depois.' Ela deu um sorriso sacana o que me fez revirar os olhos.
Me encontra lá fora, na escadaria. Respondi.
'Vou pagar a metade da conta.' Disse enquanto pegava a minha carteira.
'Deixa. Outro dia você me paga. Vá logo. Ele já está saindo. Deus, ele é gostoso.'
'Berta!' A repreendi.
'O que? Não estou mentindo.' Deu de ombros. 'Cuidado, ele parece ser novinho.'
'Pensei que falaria: cuidado, ele pode ser um louco ou algo assim.'
'Amiga, olha aquela carinha de neném. É melhor ele ter cuidado com você.' Respondeu, me fazendo rir.
'Te mando mensagem mais tarde.'
Me despedi de Berta com dois beijos na bochecha antes de ir ao encontro do rapaz que me esperava.
Assim que saí do bar, o avistei encostado no corrimão poucos degraus antes do fim da escada. Vestia um blazer preto e óculos de sol. Suas mãos estavam nos bolsos da calça e sua atenção estava voltada à rua vazia.
'Não é normal estar tão vazia assim.' Disse me referindo a rua assim que me aproximei dele, atraindo a sua atenção. Um sorriso maravilhoso brotou em seu rosto me fazendo sorrir também.
'É o jogo?' Ele perguntou e eu afirmei com a cabeça. Mordi o canto do meu lábio inferior e me permiti observá-lo por alguns segundos.
'Sua amiga não ficou chateada por ter deixado-a lá?' Perguntou, preocupado.
'Nem um pouco. Ela ficaria chateada se eu não tivesse deixado-a lá.' Respondi, fazendo-o rir. 'Pensei em darmos uma volta pelo centro histórico da cidade. O que você acha?'
'Você acha que ficará muito movimentado depois do jogo?' Ele perguntou.
'Sempre tem movimento, né? Mas estará mais tranquilo porque está escurecendo.'
'Tranquilo como? Tipo, qualquer um pode andar na rua sossegado sem esbarrar em ninguém?' Ele perguntou novamente.
Quem pergunta esse tipo de coisa?
'Você está em Paris, sempre tem gente na rua. Mas, se você não quiser...'
'Eu quero!' Ele me interrompeu. 'Eu realmente quero. Mas, você sabe, é um pouco complicado para mim isso.'
'Eu sei?' Hã?
'Não sabe?' Ele questionou e eu já não sabia mais o que estava acontecendo.
'Estou confusa.' Disse e ele riu.
'Esqueça. Vamos, estou ansioso para conhecer a cidade.'
Concordei e começamos a caminhar em silêncio. Não queria levá-lo as pontos clássicos, queria mostrar-lhe que Paris não era somente aquilo que mostravam por aí. Optei por seguir o caminho que dava até Jardin des Tuileries, que não era muito longe dali.
'Então, Ángel, o que você faz aqui em Paris?' Ele perguntou, pronunciando meu nome com um sotaque muito carregado, o que me fez sorrir por ter sido fofo.
'Sou chefe de cozinha, com especialização em confeitaria. Tenho um café, não muito longe daqui.'
'Oh, sério? Que legal! Eu gosto bastante de cozinhar, nada como você, é claro. Sou apenas um entusiasta.' Ele sorriu.
'Deve ficar ótimo.'
Duvido que alguma coisa feita por ele ficasse ruim.
'Olha, dá para comer.' Ele disse, nos fazendo rir.
11 de novembro
Estávamos tão distraídos conversando sobre nós e contando causos de nossa vidas que o tempo passou voando.
Caminhamos por todo o centro da cidade, passando tanto pelos pontos mais visitados quanto por lugares mais simples.
Já passava das duas da manhã quando resolvemos sentar em uma praça que nos dava uma ótima visão da Torre Eiffel.
'Não acredito que andamos por mais de seis horas.' Disse ele, surpreso.
Estávamos sentados em um banco da praça. Bom, eu estava sentada e ele deitado com a cabeça em minhas pernas.
'Não contava com isso.' Ele disse enquanto eu acariciava os seus cabelos.
'Com o que?'
'Com isso. Estar aqui, com você. Conhecer você. Eu não imaginava.' Ele parecia sincero, o que me fez sorrir.
'E isso é bom?' Perguntei. Sei que havíamos acabado de nos conhecer, mas eu estava completamente encantada por ele.
'Melhor do que eu poderia ter imaginado.'
12 de novembro
'Eu acho que você não deveria estar aqui comigo.' Mordi a perna de seu óculos de sol enquanto o encarava. ) sorriu e afirmou balançando a cabeça. Ele me olhava com tanta atenção, que era como se analisasse cada movimento que eu dava.
Resolvi que faria o mesmo para ver se conseguia arrancar alguma coisa a mais sobre ele. Em minha breve análise, o que mais havia chamado a minha atenção era o chapéu esquisito e o óculos de sol, o típico disfarce ridículo de alguém famoso que não era muito de sair por aí.
'Você não está se arriscando muito estando aqui? Não acho que esteja na cidade a passeio.'
'Vim cantar em um festival. Será o último show antes de uma breve pausa na turnê. Será só uma semana, mas já da para dar uma descansada, né? Depois seguirei para a Oceania.' Disse como se fosse a coisa mais comum do universo. 'Acho que ainda não sabem que já cheguei. Se não, não conseguiríamos sentar aqui ao lado da janela.'
'Com certeza já sabem que está aqui. Na França. Não aqui no café.' Falei fazendo-o rir. 'Mas, então quer dizer que você é tão famoso que não consegue sair? Hum. Por conta dos fotógrafos ou as fãs enlouquecidas?' Coloquei seu óculos.
'Ambos. Mas, eu não reclamo, faz parte da carreira que escolhi. Faço o possível para que tudo funcione em harmonia. Digo, a vida profissional e a pessoal.' Deu de ombros. 'Então, estar aqui com você não é um problema. E se fosse, eu não iria me importar.' Sorriu.
Oh Deus, como ele era fofo.
'Não iria se importar?' O questionei.
'Nem um pouco.' Ele passou a língua nos lábios e mordeu o inferior, sorrindo logo em seguida. Seus olhos continuavam vidrados em mim e eu agradeci aos deuses por ter tido a ideia de fechar o café mais cedo para recebê-lo.
'Então, você não se importaria se te vissem comigo?' Ele negou com a cabeça. O sorriso permanecia em seus lábios e eu queria desesperadamente beija-lo.
'E se estivéssemos nos beijando? Você se importaria com o que dissessem?' Continuei e ele negou mais uma vez. Sorri e me levantei.
'E se estivéssemos próximos demais?'
Sentei em seu colo, de frente para ele. Suas mãos foram imediatamente para as minhas pernas.
'Eu estaria muito ocupado para me importar.' ) tirou seu óculos de meu rosto e me puxou para um beijo.
Sua boca tinha urgência e eu estava completamente a sua mercê. Quando suas mãos foram para meus cabelos, com o intuito de aprofundar ainda mais o beijo, eu agradeci mais uma vez por ter tido a ideia de fechar o café.
'Acho que você deveria me acompanhar amanhã.' Ele disse interrompendo o beijo.
'Onde?'
'No festival em que cantarei.' Disse, como se fosse óbvio.
'Você acha que será uma boa ideia?' Perguntei receosa.
'E por que não seria?'
'Não sei. Talvez lhe prejudique. Digo, estar aqui comigo é uma coisa, estar num lugar onde pessoas foram para te ver é diferente. Não entendo como funciona essa história de imagem.'
Estava sendo sincera. Não sabia o que era isso e como funcionava. Não queria que ele passasse por nenhuma situação desconfortável por minha causa. E, eu também não queria me envolver nessa parte de sua vida.
'Pode ficar tranquila. Não vai me prejudicar. Vai dar tudo certo. E, eu realmente queria que você viesse.'
Ele murmurou, fazendo uma carinha pidonha que imediatamente acabou com qualquer receio que eu tinha.
Concordei com ele e o puxei para outro beijo.
13 de novembro
O convite para seu show e assisti-lo dos bastidores era praticamente irrecusável. Eu não sabia onde estava com a cabeça quando cogitei a possibilidade de não vir. Também não sabia o porquê havia prometido que não procuraria nenhuma informação sobre ele na internet. A curiosidade estava me consumindo.
O festival estava ocorrendo na AccorHotels Arena e eu havia me perguntado um milhão de vezes como não havia prestado atenção nos cartazes de divulgação colados pela cidade. O rosto dele estava praticamente em todos os cantos de Paris.
Era óbvio que ele era um dos astros do momento. E eu, totalmente fora da realidade desde a inauguração do café e o início do mestrado, não sabia. Poderia ter ouvido alguma música sua, isso com certeza, só não ligava seu nome a nenhuma delas. Sabia que o show seria uma oportunidade perfeita.
) havia me buscado em casa para irmos juntos. Optou por isso porque chegarmos separados dificultaria minha entrada até o camarim, poderia gerar mais burburinhos do que o necessário. Eu acreditava que se perguntassem, eu fazia parte de sua equipe no país. Entretanto, assim que descemos do carro, ele pegou minha mão e seguimos de mãos dadas por todo o local. Me deixando sozinha apenas quando foi dar uma breve entrevista. Quando voltou, disse que tinha sido convidado para uma festa em um hotel. Perguntou se eu poderia acompanhá-lo, pois não conseguiu negar o convite. Respondi que poderia ir se isso não lhe causasse problemas. Ele agradeceu e me beijou.
) era uma pessoa maravilhosa e, todas as vezes que me lembrava que um dia ele voltaria para a América, isso me deixava arrasada.
Antes do show, sua equipe se reuniu atrás do palco para fazerem uma oração em agradecimento pela oportunidade de estarem vivendo aquele momento juntos. Ele sabia que eu não era religiosa então, apenas os observei de longe.
'DOIS MINUTOS.' Gritou alguém, anunciando que ele entraria em breve.
'Só um momento.' O ouvi responder antes de vir até mim.
'O show vai começar, você pode ficar ali.' Apontou para um sofá que estava bem mais próximo de onde ele ficaria e eu afirmei com a cabeça.
'UM MINUTO, !' Gritou o rapaz novamente.
'Espero que goste do meu trabalho.' Disse enquanto arrumava seu retorno de ouvido. 'Você não tem noção de como estou feliz por você estar aqui e do quanto você está se tornando importante para mim. Muito obrigado por compartilhar um pouco da sua vida comigo.' Beijou meu rosto e seguiu até um rapaz que segurava um violão. pegou o instrumento e começou a tocá-lo ali. Logo com os primeiros acordes, ainda nos bastidores, pude ouvir o público gritando, ficando ainda mais fervoroso assim que ele entrou no palco.
Sentei no local que ele havia me indicado, ainda boba com as palavras ditas por ele.
Queria compreender como nossos destinos haviam se cruzado. Em que momento os deuses resolveram que iriam colocá-lo em minha vida. Agradeceria por isso eternamente.
~
A festa no hotel era destinada apenas a convidados. Então, estávamos totalmente livres de fotógrafos. O que era um alívio, pois mesmo que ele falasse que não se importava que nos vissem juntos, eu sabia que poderia ser um problema para ele se fossemos fotografados fazendo algo inadequado. Ainda mais agora, que eu tinha certeza que grande parte de seu público era infanto-juvenil. Já conseguia imaginar as manchetes que esse escândalo daria.
'Ídolo teen é visto aos amassos com garota misteriosa', 'Romance no ar? é visto saindo com uma francesa desconhecida' ou, a melhor 'Romance além da idade: é flagrado com mulher mais velha'. Ri sozinha atraindo a atenção dele.
'O que foi?' Perguntou.
'Estava imaginando as manchetes sobre nós. A diferença de idade seria um tópico muito abordado.'
'Não é como se quatro anos fosse uma grande diferença.'
'Para a mídia sempre é.' Respondi, fazendo-o rir.
'Eu não ligo. Aliás, gosto muito.' Sorriu e se aproximou, pousando uma mão minha cintura. Com a livre, ele segurou minha mão para podermos dançar a música que tocava.
'É a primeira vez que te vejo de cabelos presos.' Disse enquanto dançávamos. 'Não fazia ideia do quão sexy você ficaria com eles assim.' Sussurrou muito próximo de meu ouvido, fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Fechei os olhos no momento em que senti seus lábios em meu pescoço e suspirei.
'Não faça isso aqui, por favor.' Murmurei.
Não sabia se aguentaria por mais um dia esses joguinhos de sedução dele.
'Por quê? Não está gostando?' Sua mão que estava pousada em minha cintura, agora estava firme aproximando ainda mais os nossos corpos. Tornando os movimentos da dança ainda mais lentos.
'Gostar não define tudo o que eu queria estar sentindo nesse momento.' Fiquei na ponta dos pés para alcançar seus lábios.
Uma música com uma batida mais gostosa começou a tocar. imediatamente me virou, fazendo com que minhas costas encostassem em seu peito. Ele me conduzia numa dança sexy, fazendo com que os nossos corpos roçassem mais do que a minha sanidade aguentaria.
As aulas de dança que fiz com Berta há uns meses nunca haviam sido tão úteis quanto estavam sendo agora. Ele era um ótimo dançarino e essas aulas não estavam me deixando tão para trás.
O corpo de se movia conforme a batida do reggaetón que tocava, levando o meu no mesmo ritmo. Prendi a respiração quando senti sua ereção. Não contive minha vontade de rebolar nele e o aperto em minha cintura tornou-se mais forte. Novamente, ele beijou meu pescoço, usando essa oportunidade para passar a língua em volta de minha orelha e soltado um suspiro pesado.
'Diga que reservou um quarto aqui.' Murmurei.
'Quer subir?' Perguntou e não pude conter o sorriso que brotou em meus lábios.
'Por favor.' Respondi.
parou imediatamente de dançar, segurou minha mão e nos conduziu até a saída do salão.
Tínhamos plena consciência que éramos o foco da atenção de várias pessoas ali, uma vez que tinha sido convidado para a festa e não havia interagido com ninguém além da desconhecida que trouxera. E por mais incrível que pareça, eu não me importava. Não fazia questão de conhecer ninguém e tenho certeza que só teriam interesse em me conhecer para poderem fofocar depois. Coisa que fariam de qualquer jeito.
Fizemos todo o trajeto, do salão até 34º andar em silêncio, apenas de mãos dadas. A tensão no ar junto com toda a expectativa era gigante. Era ótimo saber que ele queria tanto aquilo quanto eu.
Assim que as portas se abriram para sairmos, não contive a vontade de empurrá-lo até a parede do corredor e beijá-lo. Sua boca quente e macia era dominante. Beijava-me como se precisasse disso para viver. O gosto do vinho misturado com o sabor do seu beijo era algo totalmente fora do comum. Poderia permanecer assim pelo resto de minha vida.
Mal me dei conta do momento em que ele inverteu as posições e prendeu-me contra a parede. Eu estava completamente entregue. Meu corpo correspondia ao seu automaticamente, contudo, pedia por um contato maior. E, como se estivesse lendo meus pensamentos, me pegou no colo e voltou a me beijar contra a parede. Entrelacei minhas pernas em volta de seu corpo e minhas mãos em volta de seu pescoço.
14 de novembro
Era pouco mais de nove da manhã quando acordei. estava deitado ao meu lado, ainda com a respiração pesada.
Levantei com cuidado para não acordá-lo, precisava dormir depois do dia longo que havia tido. Me dirigi até ao banheiro para fazer minha higiene matinal.
Voltei para o quarto minutos depois e ele ainda dormia. Vesti sua regata branca, peguei meu celular e me sentei no sofá em frente à janela do quarto.
Mandei mensagem a Marcel pedindo que cuidasse do café para mim, de novo. Pelo horário, ele já deveria imaginar que eu havia tido algum imprevisto. Também mandei mensagem a Berta avisando que estava viva e bem e que quando pudesse ligaria para ela.
Fiquei longos minutos observando-o enquanto dormia. Sua expressão serena junto a sua respiração pesada faziam-me acreditar que estava dormindo bem.
Como é que, dentre tantas pessoas no mundo, eu fui acabar justamente com ele? Em que momento isso foi resolvido?
Apesar da idade, era uma pessoa muito madura e bem resolvida. O que me fazia admira-lo mais ainda.
Gostava de pensar que ele era um rapaz comum, com uma vida comum. Que ele vivia aqui ou, que ao menos não iria embora tão cedo. Poderíamos viver tudo com mais calma.
'Está há muito tempo acordada?' Suas palavras me trouxeram de meus devaneios.
'Não muito.' Sorri. 'Dormiu bem? Pensei que acordaria mais tarde, ontem seu dia foi longo.'
'Fazia dias que não dormia tão bem.' Ele sorriu e se espreguiçou, atraindo minha atenção para seu tronco nu. Lembranças da noite anterior imediatamente invadiram minha mente. Respirei fundo quando senti meu corpo começar a aquecer.
Quando voltei minha atenção para seu rosto, ele sorria. Mas não era aquele sorriso meigo que ele normalmente dava, era um sorriso que dizia que ele sabia muito bem o que eu estava pensando.
'Você tem trabalhar hoje?' Perguntei. Ou choraminguei, obviamente esperando que a resposta fosse não.
'Cancelei tudo o que tinha para fazer no país. Então hoje, oficialmente, começa às minhas férias, se é que posso chamar esses dias livres assim.'
'Cancelou?' Ele não havia me falado sobre outros trabalhos além do show do dia anterior.
'Sim. Algumas entrevistas, ensaios fotográficos, essas coisas. Queria passar o maior tempo possível com você e, com isso, ficaria um pouco complicado.' Ele cruzou os braços embaixo de sua cabeça. 'Você estará ocupada? Não quero te atrapalhar em hipótese alguma.'
'Eu tenho aula à tarde. Mas posso faltar, estou dentro do limite.' Levantei para fechar as cortinas do quarto, uma vez que estava com alguém que não poderia ser visto. Estávamos longe do térreo, mas era melhor garantir.
Segui até a cama e sentei em seu colo, deixando as minhas pernas, cada um, ao lado de seu corpo.
'Hoje, eu pretendia não ter que sair desse quarto. Você é contrário a isso?' Perguntei enquanto distribuía selinhos em sua boca. Suas mãos que estavam embaixo de sua cabeça foram para as minhas coxas. sorriu e inverteu nossas posições, deitando-me na cama.
'Você leu os meus pensamentos.'
15 de novembro
'Venha!' Disse ele me puxando pela mão para correr.
'Calma.' Segurei em seu ombro e tirei meus saltos. 'Para onde estamos indo?' Dei a mão para ele e ele voltou a me puxar para corrermos.
'Tenha calma, já estamos chegando.'
Corríamos em direção ao Rio Senna.
'Acho que chega de bebida por hoje.' Disse fazendo-o rir.
'Não estou bêbado. Aliás, foi você que disse que eu deveria aproveitar mais. Fazer algumas loucuras. Então, aluguei um barco.' Respondeu ele.
'Primeiro um carro e agora um barco?'
'Você me disse que seria um passeio legal.'
'Sim, eu disse. Só achei curioso.'
sorriu e seguimos até ao cais, onde o barco estava ancorado. Ele pediu para que eu falasse com o responsável porque o mesmo só falava em francês e, quem havia adiantado a parte do aluguel era um rapaz da sua equipe no país.
Enquanto o senhor explicava as instruções do passeio, eu traduzia para as informações necessárias.
'Você confia o suficiente em mim a ponto de não contratar um piloto?' Perguntei assim que entramos no barco.
'De olhos fechados.'
'Podemos morrer afogados.' Indaguei.
'Ainda sim morreria feliz.' Ele beijou meu rosto.
'Ok, estou convencida.' E estava mesmo. O puxei pela mão para subirmos no barco e ele prontamente me seguiu.
'Como aprendeu a dirigir isso?' Perguntou.
'Meu pai é apaixonado por embarcações e acabou passando essa paixão para os filhos. É algo que podemos fazer juntos.' Sorri.
'O que ele faz?'
'É comandante da marinha.' Dei de ombros enquanto dava partida no barco que na verdade era uma lancha.
'Obviamente.' Concordou rindo.
'A partir de agora serei a mediadora nessa rota histórica que é o passeio de barco pelo Rio Senna, peço que, por favor, saúde a Capitã Angele Autier.' Disse fazendo-o rir novamente.
Fizemos toda a rota turística que as embarcações normalmente faziam. se mostrou um ótimo ouvinte, além de extrema curiosidade em relação às histórias que lhe contava sobre os pontos turísticos da cidade.
Quando o sol começou a se por, ancoramos a lancha para assisti-lo dali, onde a visão era, indiscutivelmente, mais bonita.
16 de novembro
Estávamos deitados em meu sofá, ele de um lado e eu do outro. Seus dedos acariciavam o avião desenhado em minha pele enquanto eu lia uma das bibliografias que usaria no artigo que estava escrevendo. Desviei minha atenção do livro para observá-lo.
Sua barba estava por fazer e seus cabelos estavam todos bagunçados. Ele vestia uma regata branca, deixando o meu nome, que eu havia escrito mais cedo com um batom vermelho em seu braço, à mostra.
Estávamos tão à vontade que parecia que nos conhecíamos há anos.
'Você acredita em amor à primeira?' Ele perguntou me pegando de surpresa.
Não queria dizer que havia pensando nisso. Estava confusa desde que havia me dado conta de que estava me apaixonando por ele. Não queria admitir em voz alta que provavelmente acreditava nisso e que talvez estivesse vivendo isso. Havia prometido para mim mesma que aproveitaria esse relacionamento ao máximo, mesmo que durasse poucos dias.
'Talvez, eu não sei.' Respondi. 'Por quê?'
'Eu acho que acredito.' Ele murmurou, atraindo a minha atenção.
'Por quê?' Perguntei, observando-o.
'Posso parecer louco por estar falando de amor, mas não acho que estou só apaixonado.' Ele disse e meu coração acelerou. 'Não sei explicar, eu poderia escrever uma música, talvez você entendesse o que eu quero dizer.'
'Tenta.' Disse.
'Oh, Angel. Eu só queria encontrar palavras que expressassem o que estou sentindo desde aquele dia no bar. Acho que me apaixonei no momento em que coloquei os olhos em você. Quando você sorriu para mim, parecia que meu coração ia sair do meu peito. E eu quero estar com você. Quero passar o meu dia com você, o tempo todo. Não quero ir embora.' Ele murmurou a última frase, visivelmente triste.
'Eu também não quero que vá.' Respondi.
'Você escuta quando eu digo que estou apaixonado por você?' perguntou, enquanto me observava.
'Eu também sinto isso.' Murmurei. 'Também não quero que vá embora.' Repeti e o puxei. Ele deitou-se sobre mim e me beijou.
'Você poderia ir comigo.' Ele disse em minha boca e eu sorri.
De todas as loucuras que poderia fazer, talvez essa fosse a que eu mais desejava.
17 de novembro
'Angele, você sabe que uma hora esse garoto vai embora e você ficará acabada. Eu te conheço.' Disse Berta me fazendo revirar os olhos.
Eu tinha plena consciência disso.
'Não era você quem dizia que eu deveria me jogar em lances casuais?' Respondi imitando como ela falava.
'Sim, se jogar em vários lances casuais. Não se jogar de cabeça em um relacionamento fadado ao fracasso. Você já está apaixonada pelo rapaz e se conhecem há, sei lá, 10 dias.'
'Sete dias.' A corrigi.
'Está vendo? Sete dias e você já está apaixonada. Você quer que eu liste os motivos para isso dar errado? Primeiro, ele não mora aqui. Segundo, ele só tem 19 anos, é uma criança. Terceiro, garotos de 19 anos são imaturos e não querem saber de nada além de foder. Quarto, ele é famoso. Isso não é tão ruim, porque ele é rico. Mas tem as fãs loucas, então também conta como ruim.'
'Tá, tá, eu entendi. Não vai dar certo e você listou vários motivos para me alertar. Agradeço muito, porém dispenso.' Respondi jogando o pano de louça sobre a mesa.
'Amiga, isso não vai dar certo. Você tem que abrir os olhos antes que seja tarde.' Ela continuou.
'Você acha que eu não sei de tudo isso? Pode ter certeza que eu sei! Penso nisso em todo o momento e eu estou bem! Eu realmente estou bem. Estou de acordo com todas as condições e conheço o meu limite.'
'Eu espero que conheça mesmo.' Ela resmungou me fazendo revirar os olhos novamente.
Meu celular vibrou na mesma indicando uma nova mensagem.
' acordou.' Informei e ela bufou. 'Eu vou ficar bem, ok? Não precisa se preocupar.'
'Não consigo! Não quero te ver sofrendo.'
'E não vai, ok? Eu prometo.'
'Tá bom.' Ela deu de ombros me fazendo rir de sua birra e me abraçou.
'Vou levar um desses.' Disse pegando um dos cupcakes que eu havia acabado de fazer. 'Pelo estresse que me fez passar.'
'Estressou-se porque quis.' Respondi.
'Mas continua sendo por sua causa.' Lavei minhas mãos e tirei meu avental. Passei meus olhos pela cozinha e não encontrei Marcel. Entretanto, o barulho que vinha do depósito me informou que ele estava ali.
'Marcel, deixei os doces prontos. Não voltarei hoje. Peça para Vivienne fazer mais, caso precise. Qualquer coisa estou no telefone.' Recebi um ok como resposta, o que já me deu por satisfeita.
Subi as escadas até meu apartamento, que ficava no piso de cima do café.
Quando entrei, senti imediatamente o cheiro de ovos e bacon. Café da manhã americano.
Não estava com fome, mas sorri imediatamente pelo gesto.
Entretanto, ele não estava na cozinha.
Ouvi sua voz não muito distante e a segui. Ele estava no quarto conversando no telefone. Pelo tom da conversa, algo estava errado.
'Você não entende!' Ele dizia, nitidamente se segurando para não gritar. 'Não fale isso dela, você não a conhece.'
Ele andava de um lado para o outro.
'Pode me chamar de louco, eu não ligo. Pode achar que estou me precipitando, mas eu não consigo ir embora e nem quero.'
Ele permaneceu um tempo em silêncio, apenas ouvindo quem é que estivesse no outro lado da linha.
'Eu estou completamente apaixonado por ela, não farei isso, não vou embora. Ficarei aqui até o último dia que conseguir e, nada que você diga irá mudar a minha decisão.'
Ele desligou o telefone e o jogou em cima da cama.
'Merda.' Rosnou. Ele sentou-se na cama e passou as mãos pelos cabelos, frustrado.
'?' Entrei no quarto.
'Oi.' Sua expressão relaxou assim que me viu.
'Está tudo bem?' Perguntei enquanto andava até ele.
'Está sim.' Ele me puxou para o meio de suas pernas e encostou sua cabeça abaixada em minha barriga. Era assim que ele pedia cafuné.
'Ouvi um pouco da conversa.' Confessei enquanto acariciava seus cabelos.
'Não se preocupe, está tudo sob controle, bebê.' Respondeu.
Seu celular começou a tocar e eu o ouvi bufar.
'Desculpa.' Murmurou antes de alcançar o telemóvel e atendê-lo. Ele levantou-se e caminhou até a janela.
'O que foi dessa vez? Não tem como ser educado com você. Por Deus! Me deixa em paz. Não vou mais atender.' Ele desligou. Provavelmente era o seu empresário.
'Você precisa ir?' Perguntei.
'O quê? Claro que não! Esqueça tudo o que você ouviu, ok? Está tudo certo.'
Caminhei em sua direção.
'Podemos canalizar essa raiva e fazer algo bem gostoso.' Disse fazendo-o sorrir.
18 de novembro
havia insistido que me levaria até o metrô antes de ir para a reunião com o empresário. Era quinta de manhã e a estação estava vazia.
'Tem certeza que não quer ficar no hotel?' Perguntou
'Realmente preciso terminar o meu artigo.' Respondi fazendo bico.
Ele me puxou pela cintura para que ficássemos mais próximos e automaticamente, meus braços se entrelaçaram em seu pescoço.
'Queria tanto passar o dia com você Ángel.' Tentou falar em francês, me fazendo rir. Todas as vezes que ele tentava pronunciar meu nome corretamente não dava certo.
'Ângéle.' Disse bem devagar, deixando bem nítido a pronúncia.
'Ângêla.' Respondeu num sotaque carregado, me fazendo sorrir.
'Ângéle.' Corrigi a pronúncia do seu francês péssimo.
'Ângél.' Tentou novamente, me fazendo rir. 'Você é um anjo?' Disse em inglês, dando-me um selinho logo em seguida. 'Você é o meu anjo.' Selou nossos lábios novamente, me fazendo sorrir.
me puxou para mais próximo de si, fazendo com que meus pés ficassem sobre os seus e me beijou.
'Você acredita quando eu digo que jamais vou te deixar?' Questionou, interrompendo o beijo e eu não respondi. 'Você ouve o que eu digo?' Continuou e eu balancei a cabeça afirmando.
'Você acredita?' Perguntou mais uma vez e eu novamente afirmei balançando a cabeça. sorriu e me beijou novamente.
Nos afastamos quando ouvimos o barulho do metrô se aproximando. Fomos até a beirada da plataforma e ele olhou para dentro do túnel.
'Você vai me ligar?' Perguntou.
'Você me liga, assim que a reunião acabar. Pode ser?' Disse e ele concordou. Beijei seu rosto, fazendo-o sorrir enquanto pedia para que o metrô parasse fazendo um gesto com mão.
Optei por não dizer que não precisava daquilo, uma vez que o metro pararia ali de qualquer jeito, até porque eu o corrigia demais e não queria que soasse rude. Na verdade, achava bonitinho como ele ficava meio perdido pelas ruas de Paris, como se fosse outra realidade.
'Sentirei saudades.' Sussurrei em francês em seu ouvido, depositando um beijo ali em seguida. Sabia o quanto ele achava sexy quando eu falava em francês.
'Não faça isso comigo aqui.' Também sussurrou, só que em sua língua.
'Até mais tarde.' Dei um beijo no canto de sua boca. 'Não precisa me ligar se estiver livre, vá pra minha casa. Estarei com meia garrafa de vinho te esperando.' Disse antes de entrar no veículo que estava parado em minha frente. Pude ver o sorriso em seu rosto através do vidro da janela, joguei um beijo e acenei assim que o metro fechou as portas.
Tínhamos consciência de tudo. Tínhamos consciência que sairíamos completamente atrasados disso.
Mas nada importava, não enquanto ele estava em Paris. E, era nisso que eu queria pensar.
'Conhecemos aquele rapaz?' Perguntou Berta.
'Qual?' Dei uma olhada ao nosso redor.
'Aquele que está sentado no canto esquerdo do bar. Cabelos escuros, camisa de linho, calça preta.'
Busquei o rapaz pelo local até encontrá-lo. Estava sentado com outros rapazes e uma moça de cabelos coloridos.
'Eu não sei.' Continuei observando-o. Sua feição não me era estranha. Poderia ter esbarrado com ele na universidade ou em alguma festa. Não sei, não conseguiria me lembrar.
Notei que estava muito tempo encarando-o quando o mesmo sorriu e levantou seu copo como se fosse brindar.
'Talvez ele conheça a gente.' Retribui o gesto e voltei minha atenção ao jogo que estava sendo reproduzido no telão do bar.
'Ele não para de olhar para você.' Ela continuou.
'Pare de olhar para ele.' Sussurrei. 'Não viemos aqui assistir o jogo?' Questionei.
'Você sabe que é mais forte do que eu.' Disse manhosa.
'Não adianta. Você sabe que não caio nessa sua vozinha mansa. Você é praticamente o diabo.'
'O Diabo é uma mulher.' Sorriu. 'GOOOOOOOOOOOOL!' Gritou Berta ficando em pé e comemorando. 'ESSE É O MEU MARIDO, TÃO VENDO? UMTITI É O MEU MARIDO!' Ela gritava animada.
Enquanto as pessoas comemoravam animadas pelo gol feito pela seleção, permiti que meus olhos fossem de encontro ao rapaz no canto do bar. Ele sorria enquanto conversava com seus amigos. Notei que eles não prestavam muita atenção no jogo, diferente do resto do pessoal que estava em êxtase pelo gol. Não eram franceses, com certeza. Talvez italianos, presumi. Ou americanos. É, americanos seria o melhor palpite.
Seu sorriso aumentou quando notou que eu o observava. Não pude deixar de retribuir seu sorriso novamente.
'Queremos mais uma torre de chopp.' Pediu Berta ao garçom.
'Você me empresta a sua caneta?' Perguntei a ele que concordou, entregando-me.
'O que está fazendo?' Ela perguntou.
'Sendo mais como você.' Respondi anotando meu telefone e meu nome no guardanapo.
'Preciso que entregue isso, junto com outra dose do que ele estiver bebendo, por minha conta. Mesa 12, o rapaz com uma tatuagem de pássaro na mão. Está sentado ao lado da moça de cabelos coloridos.' Informei.
'Não acredito!' Berta disse dando gritinhos de felicidade. Ela era animada demais.
O rapaz concordou, pegou o bilhete e se retirou logo em seguida.
'Não fale nada.' A impedi. 'Se você falar qualquer coisa eu vou travar.'
'Tá bom!' Concordou cabisbaixa. 'Você sempre destrói minha felicidade.'
'Pare de drama.' Revirei os olhos e tomei o resto da bebida que tinha em meu copo.
Poucos minutos depois, meu celular vibrou sobre a mesa informando a chegada de uma nova mensagem de texto.
Bom dia Angele, tudo bem com você?
Me chamo ). Obrigado por ter resolvido essa situação. Eu iria esperar até o final do jogo para tentar falar com você.
A mensagem estava em inglês.
Pensei alguns minutos antes de responder, também em inglês.
Olá )! Eu estou bem e você?
Nos conhecemos de algum lugar?
Como eu era péssima nisso. Olhei discretamente para ele e vi sua atenção voltada ao celular.
A resposta veio logo em seguida.
Estou bem também, obrigado por perguntar.
Talvez, eu não sei. Você me viu em algum lugar?
Deus, eu não fazia ideia se já tinha o visto. Só sabia que seu rosto não era estranho.
Talvez tenha te visto na faculdade, se você estudar em Sorbonne.
Ele respondeu rapidamente.
Não estudo em Sorbonne. :(
Aliás, não sou daqui.
Sabia que ele não era francês.
Sou canadense, mas vivo no Estados Unidos.
Canadense e não sabe francês? Ou, pensou que eu fosse francesa? Talvez essa fosse a explicação da mensagem escrita em inglês.
Então, não faço ideia de onde eu posso ter lhe visto. Ou não vi, pode ter sido impressão minha.
'Com quem está falando? Viemos para assistir o jogo, não mexer no celular.' Berta resmungou tentando pegar meu celular, sem sucesso.
'Com licença.' Tirei meu celular de seu campo de visão.
'Oh! Ele já respondeu?' Ela perguntou e eu afirmei com a cabeça. 'E o que ele disse?'
'Nada demais. Não deu tempo né? Não faz 10 minutos.' Respondi pegando meu celular para ler as mensagens que haviam acabado de chegar.
Talvez tenha sido mesmo. Não venho muito aqui.
Na verdade, estive em Paris duas vezes, a trabalho. Porém, não tive tempo de conhecer nada.
Essa é a terceira vez, também a trabalho. Mas, com um tempinho maior para passear.
Você vai fazer alguma coisa após o jogo?
'Por que está sorrindo? O que ele disse?' Ela perguntou afobada.
'Se vou fazer algo após o jogo.'
'E o que você disse?'
'Calma.' Resmunguei enquanto digitava a mensagem.
O que você quer fazer após o jogo?
'Cancele qualquer coisa que você queira fazer comigo quando acabar aqui. Estarei ocupada.' Disse. O sorriso de Berta triplicou.
'Vão fazer o que?'
'Não sei. Mas vamos fazer alguma coisa.'
Qualquer coisa.
Não conheço nada aqui.
Não fazia ideia de onde poderíamos ir. Estava tão ansiosa que mal conseguia pensar.
E se saíssemos daqui sem rumo algum? Andando pelo centro da cidade, você toparia?
Olhei em sua direção novamente. Ele sorria olhando para o celular enquanto os seus amigos conversavam e riam alto.
Poderíamos sair agora, se você quiser.
'Ele quer sair agora.' Disse a Berta.
'Socorro! O que você está esperando?'
'Não vai se importar?'
'Eu? Jamais! Sabe que eu sei me virar sozinha. Só quero que você me conte tudo depois.' Ela deu um sorriso sacana o que me fez revirar os olhos.
Me encontra lá fora, na escadaria. Respondi.
'Vou pagar a metade da conta.' Disse enquanto pegava a minha carteira.
'Deixa. Outro dia você me paga. Vá logo. Ele já está saindo. Deus, ele é gostoso.'
'Berta!' A repreendi.
'O que? Não estou mentindo.' Deu de ombros. 'Cuidado, ele parece ser novinho.'
'Pensei que falaria: cuidado, ele pode ser um louco ou algo assim.'
'Amiga, olha aquela carinha de neném. É melhor ele ter cuidado com você.' Respondeu, me fazendo rir.
'Te mando mensagem mais tarde.'
Me despedi de Berta com dois beijos na bochecha antes de ir ao encontro do rapaz que me esperava.
Assim que saí do bar, o avistei encostado no corrimão poucos degraus antes do fim da escada. Vestia um blazer preto e óculos de sol. Suas mãos estavam nos bolsos da calça e sua atenção estava voltada à rua vazia.
'Não é normal estar tão vazia assim.' Disse me referindo a rua assim que me aproximei dele, atraindo a sua atenção. Um sorriso maravilhoso brotou em seu rosto me fazendo sorrir também.
'É o jogo?' Ele perguntou e eu afirmei com a cabeça. Mordi o canto do meu lábio inferior e me permiti observá-lo por alguns segundos.
'Sua amiga não ficou chateada por ter deixado-a lá?' Perguntou, preocupado.
'Nem um pouco. Ela ficaria chateada se eu não tivesse deixado-a lá.' Respondi, fazendo-o rir. 'Pensei em darmos uma volta pelo centro histórico da cidade. O que você acha?'
'Você acha que ficará muito movimentado depois do jogo?' Ele perguntou.
'Sempre tem movimento, né? Mas estará mais tranquilo porque está escurecendo.'
'Tranquilo como? Tipo, qualquer um pode andar na rua sossegado sem esbarrar em ninguém?' Ele perguntou novamente.
Quem pergunta esse tipo de coisa?
'Você está em Paris, sempre tem gente na rua. Mas, se você não quiser...'
'Eu quero!' Ele me interrompeu. 'Eu realmente quero. Mas, você sabe, é um pouco complicado para mim isso.'
'Eu sei?' Hã?
'Não sabe?' Ele questionou e eu já não sabia mais o que estava acontecendo.
'Estou confusa.' Disse e ele riu.
'Esqueça. Vamos, estou ansioso para conhecer a cidade.'
Concordei e começamos a caminhar em silêncio. Não queria levá-lo as pontos clássicos, queria mostrar-lhe que Paris não era somente aquilo que mostravam por aí. Optei por seguir o caminho que dava até Jardin des Tuileries, que não era muito longe dali.
'Então, Ángel, o que você faz aqui em Paris?' Ele perguntou, pronunciando meu nome com um sotaque muito carregado, o que me fez sorrir por ter sido fofo.
'Sou chefe de cozinha, com especialização em confeitaria. Tenho um café, não muito longe daqui.'
'Oh, sério? Que legal! Eu gosto bastante de cozinhar, nada como você, é claro. Sou apenas um entusiasta.' Ele sorriu.
'Deve ficar ótimo.'
Duvido que alguma coisa feita por ele ficasse ruim.
'Olha, dá para comer.' Ele disse, nos fazendo rir.
11 de novembro
Estávamos tão distraídos conversando sobre nós e contando causos de nossa vidas que o tempo passou voando.
Caminhamos por todo o centro da cidade, passando tanto pelos pontos mais visitados quanto por lugares mais simples.
Já passava das duas da manhã quando resolvemos sentar em uma praça que nos dava uma ótima visão da Torre Eiffel.
'Não acredito que andamos por mais de seis horas.' Disse ele, surpreso.
Estávamos sentados em um banco da praça. Bom, eu estava sentada e ele deitado com a cabeça em minhas pernas.
'Não contava com isso.' Ele disse enquanto eu acariciava os seus cabelos.
'Com o que?'
'Com isso. Estar aqui, com você. Conhecer você. Eu não imaginava.' Ele parecia sincero, o que me fez sorrir.
'E isso é bom?' Perguntei. Sei que havíamos acabado de nos conhecer, mas eu estava completamente encantada por ele.
'Melhor do que eu poderia ter imaginado.'
12 de novembro
'Eu acho que você não deveria estar aqui comigo.' Mordi a perna de seu óculos de sol enquanto o encarava. ) sorriu e afirmou balançando a cabeça. Ele me olhava com tanta atenção, que era como se analisasse cada movimento que eu dava.
Resolvi que faria o mesmo para ver se conseguia arrancar alguma coisa a mais sobre ele. Em minha breve análise, o que mais havia chamado a minha atenção era o chapéu esquisito e o óculos de sol, o típico disfarce ridículo de alguém famoso que não era muito de sair por aí.
'Você não está se arriscando muito estando aqui? Não acho que esteja na cidade a passeio.'
'Vim cantar em um festival. Será o último show antes de uma breve pausa na turnê. Será só uma semana, mas já da para dar uma descansada, né? Depois seguirei para a Oceania.' Disse como se fosse a coisa mais comum do universo. 'Acho que ainda não sabem que já cheguei. Se não, não conseguiríamos sentar aqui ao lado da janela.'
'Com certeza já sabem que está aqui. Na França. Não aqui no café.' Falei fazendo-o rir. 'Mas, então quer dizer que você é tão famoso que não consegue sair? Hum. Por conta dos fotógrafos ou as fãs enlouquecidas?' Coloquei seu óculos.
'Ambos. Mas, eu não reclamo, faz parte da carreira que escolhi. Faço o possível para que tudo funcione em harmonia. Digo, a vida profissional e a pessoal.' Deu de ombros. 'Então, estar aqui com você não é um problema. E se fosse, eu não iria me importar.' Sorriu.
Oh Deus, como ele era fofo.
'Não iria se importar?' O questionei.
'Nem um pouco.' Ele passou a língua nos lábios e mordeu o inferior, sorrindo logo em seguida. Seus olhos continuavam vidrados em mim e eu agradeci aos deuses por ter tido a ideia de fechar o café mais cedo para recebê-lo.
'Então, você não se importaria se te vissem comigo?' Ele negou com a cabeça. O sorriso permanecia em seus lábios e eu queria desesperadamente beija-lo.
'E se estivéssemos nos beijando? Você se importaria com o que dissessem?' Continuei e ele negou mais uma vez. Sorri e me levantei.
'E se estivéssemos próximos demais?'
Sentei em seu colo, de frente para ele. Suas mãos foram imediatamente para as minhas pernas.
'Eu estaria muito ocupado para me importar.' ) tirou seu óculos de meu rosto e me puxou para um beijo.
Sua boca tinha urgência e eu estava completamente a sua mercê. Quando suas mãos foram para meus cabelos, com o intuito de aprofundar ainda mais o beijo, eu agradeci mais uma vez por ter tido a ideia de fechar o café.
'Acho que você deveria me acompanhar amanhã.' Ele disse interrompendo o beijo.
'Onde?'
'No festival em que cantarei.' Disse, como se fosse óbvio.
'Você acha que será uma boa ideia?' Perguntei receosa.
'E por que não seria?'
'Não sei. Talvez lhe prejudique. Digo, estar aqui comigo é uma coisa, estar num lugar onde pessoas foram para te ver é diferente. Não entendo como funciona essa história de imagem.'
Estava sendo sincera. Não sabia o que era isso e como funcionava. Não queria que ele passasse por nenhuma situação desconfortável por minha causa. E, eu também não queria me envolver nessa parte de sua vida.
'Pode ficar tranquila. Não vai me prejudicar. Vai dar tudo certo. E, eu realmente queria que você viesse.'
Ele murmurou, fazendo uma carinha pidonha que imediatamente acabou com qualquer receio que eu tinha.
Concordei com ele e o puxei para outro beijo.
13 de novembro
O convite para seu show e assisti-lo dos bastidores era praticamente irrecusável. Eu não sabia onde estava com a cabeça quando cogitei a possibilidade de não vir. Também não sabia o porquê havia prometido que não procuraria nenhuma informação sobre ele na internet. A curiosidade estava me consumindo.
O festival estava ocorrendo na AccorHotels Arena e eu havia me perguntado um milhão de vezes como não havia prestado atenção nos cartazes de divulgação colados pela cidade. O rosto dele estava praticamente em todos os cantos de Paris.
Era óbvio que ele era um dos astros do momento. E eu, totalmente fora da realidade desde a inauguração do café e o início do mestrado, não sabia. Poderia ter ouvido alguma música sua, isso com certeza, só não ligava seu nome a nenhuma delas. Sabia que o show seria uma oportunidade perfeita.
) havia me buscado em casa para irmos juntos. Optou por isso porque chegarmos separados dificultaria minha entrada até o camarim, poderia gerar mais burburinhos do que o necessário. Eu acreditava que se perguntassem, eu fazia parte de sua equipe no país. Entretanto, assim que descemos do carro, ele pegou minha mão e seguimos de mãos dadas por todo o local. Me deixando sozinha apenas quando foi dar uma breve entrevista. Quando voltou, disse que tinha sido convidado para uma festa em um hotel. Perguntou se eu poderia acompanhá-lo, pois não conseguiu negar o convite. Respondi que poderia ir se isso não lhe causasse problemas. Ele agradeceu e me beijou.
) era uma pessoa maravilhosa e, todas as vezes que me lembrava que um dia ele voltaria para a América, isso me deixava arrasada.
Antes do show, sua equipe se reuniu atrás do palco para fazerem uma oração em agradecimento pela oportunidade de estarem vivendo aquele momento juntos. Ele sabia que eu não era religiosa então, apenas os observei de longe.
'DOIS MINUTOS.' Gritou alguém, anunciando que ele entraria em breve.
'Só um momento.' O ouvi responder antes de vir até mim.
'O show vai começar, você pode ficar ali.' Apontou para um sofá que estava bem mais próximo de onde ele ficaria e eu afirmei com a cabeça.
'UM MINUTO, !' Gritou o rapaz novamente.
'Espero que goste do meu trabalho.' Disse enquanto arrumava seu retorno de ouvido. 'Você não tem noção de como estou feliz por você estar aqui e do quanto você está se tornando importante para mim. Muito obrigado por compartilhar um pouco da sua vida comigo.' Beijou meu rosto e seguiu até um rapaz que segurava um violão. pegou o instrumento e começou a tocá-lo ali. Logo com os primeiros acordes, ainda nos bastidores, pude ouvir o público gritando, ficando ainda mais fervoroso assim que ele entrou no palco.
Sentei no local que ele havia me indicado, ainda boba com as palavras ditas por ele.
Queria compreender como nossos destinos haviam se cruzado. Em que momento os deuses resolveram que iriam colocá-lo em minha vida. Agradeceria por isso eternamente.
A festa no hotel era destinada apenas a convidados. Então, estávamos totalmente livres de fotógrafos. O que era um alívio, pois mesmo que ele falasse que não se importava que nos vissem juntos, eu sabia que poderia ser um problema para ele se fossemos fotografados fazendo algo inadequado. Ainda mais agora, que eu tinha certeza que grande parte de seu público era infanto-juvenil. Já conseguia imaginar as manchetes que esse escândalo daria.
'Ídolo teen é visto aos amassos com garota misteriosa', 'Romance no ar? é visto saindo com uma francesa desconhecida' ou, a melhor 'Romance além da idade: é flagrado com mulher mais velha'. Ri sozinha atraindo a atenção dele.
'O que foi?' Perguntou.
'Estava imaginando as manchetes sobre nós. A diferença de idade seria um tópico muito abordado.'
'Não é como se quatro anos fosse uma grande diferença.'
'Para a mídia sempre é.' Respondi, fazendo-o rir.
'Eu não ligo. Aliás, gosto muito.' Sorriu e se aproximou, pousando uma mão minha cintura. Com a livre, ele segurou minha mão para podermos dançar a música que tocava.
'É a primeira vez que te vejo de cabelos presos.' Disse enquanto dançávamos. 'Não fazia ideia do quão sexy você ficaria com eles assim.' Sussurrou muito próximo de meu ouvido, fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Fechei os olhos no momento em que senti seus lábios em meu pescoço e suspirei.
'Não faça isso aqui, por favor.' Murmurei.
Não sabia se aguentaria por mais um dia esses joguinhos de sedução dele.
'Por quê? Não está gostando?' Sua mão que estava pousada em minha cintura, agora estava firme aproximando ainda mais os nossos corpos. Tornando os movimentos da dança ainda mais lentos.
'Gostar não define tudo o que eu queria estar sentindo nesse momento.' Fiquei na ponta dos pés para alcançar seus lábios.
Uma música com uma batida mais gostosa começou a tocar. imediatamente me virou, fazendo com que minhas costas encostassem em seu peito. Ele me conduzia numa dança sexy, fazendo com que os nossos corpos roçassem mais do que a minha sanidade aguentaria.
As aulas de dança que fiz com Berta há uns meses nunca haviam sido tão úteis quanto estavam sendo agora. Ele era um ótimo dançarino e essas aulas não estavam me deixando tão para trás.
O corpo de se movia conforme a batida do reggaetón que tocava, levando o meu no mesmo ritmo. Prendi a respiração quando senti sua ereção. Não contive minha vontade de rebolar nele e o aperto em minha cintura tornou-se mais forte. Novamente, ele beijou meu pescoço, usando essa oportunidade para passar a língua em volta de minha orelha e soltado um suspiro pesado.
'Diga que reservou um quarto aqui.' Murmurei.
'Quer subir?' Perguntou e não pude conter o sorriso que brotou em meus lábios.
'Por favor.' Respondi.
parou imediatamente de dançar, segurou minha mão e nos conduziu até a saída do salão.
Tínhamos plena consciência que éramos o foco da atenção de várias pessoas ali, uma vez que tinha sido convidado para a festa e não havia interagido com ninguém além da desconhecida que trouxera. E por mais incrível que pareça, eu não me importava. Não fazia questão de conhecer ninguém e tenho certeza que só teriam interesse em me conhecer para poderem fofocar depois. Coisa que fariam de qualquer jeito.
Fizemos todo o trajeto, do salão até 34º andar em silêncio, apenas de mãos dadas. A tensão no ar junto com toda a expectativa era gigante. Era ótimo saber que ele queria tanto aquilo quanto eu.
Assim que as portas se abriram para sairmos, não contive a vontade de empurrá-lo até a parede do corredor e beijá-lo. Sua boca quente e macia era dominante. Beijava-me como se precisasse disso para viver. O gosto do vinho misturado com o sabor do seu beijo era algo totalmente fora do comum. Poderia permanecer assim pelo resto de minha vida.
Mal me dei conta do momento em que ele inverteu as posições e prendeu-me contra a parede. Eu estava completamente entregue. Meu corpo correspondia ao seu automaticamente, contudo, pedia por um contato maior. E, como se estivesse lendo meus pensamentos, me pegou no colo e voltou a me beijar contra a parede. Entrelacei minhas pernas em volta de seu corpo e minhas mãos em volta de seu pescoço.
14 de novembro
Era pouco mais de nove da manhã quando acordei. estava deitado ao meu lado, ainda com a respiração pesada.
Levantei com cuidado para não acordá-lo, precisava dormir depois do dia longo que havia tido. Me dirigi até ao banheiro para fazer minha higiene matinal.
Voltei para o quarto minutos depois e ele ainda dormia. Vesti sua regata branca, peguei meu celular e me sentei no sofá em frente à janela do quarto.
Mandei mensagem a Marcel pedindo que cuidasse do café para mim, de novo. Pelo horário, ele já deveria imaginar que eu havia tido algum imprevisto. Também mandei mensagem a Berta avisando que estava viva e bem e que quando pudesse ligaria para ela.
Fiquei longos minutos observando-o enquanto dormia. Sua expressão serena junto a sua respiração pesada faziam-me acreditar que estava dormindo bem.
Como é que, dentre tantas pessoas no mundo, eu fui acabar justamente com ele? Em que momento isso foi resolvido?
Apesar da idade, era uma pessoa muito madura e bem resolvida. O que me fazia admira-lo mais ainda.
Gostava de pensar que ele era um rapaz comum, com uma vida comum. Que ele vivia aqui ou, que ao menos não iria embora tão cedo. Poderíamos viver tudo com mais calma.
'Está há muito tempo acordada?' Suas palavras me trouxeram de meus devaneios.
'Não muito.' Sorri. 'Dormiu bem? Pensei que acordaria mais tarde, ontem seu dia foi longo.'
'Fazia dias que não dormia tão bem.' Ele sorriu e se espreguiçou, atraindo minha atenção para seu tronco nu. Lembranças da noite anterior imediatamente invadiram minha mente. Respirei fundo quando senti meu corpo começar a aquecer.
Quando voltei minha atenção para seu rosto, ele sorria. Mas não era aquele sorriso meigo que ele normalmente dava, era um sorriso que dizia que ele sabia muito bem o que eu estava pensando.
'Você tem trabalhar hoje?' Perguntei. Ou choraminguei, obviamente esperando que a resposta fosse não.
'Cancelei tudo o que tinha para fazer no país. Então hoje, oficialmente, começa às minhas férias, se é que posso chamar esses dias livres assim.'
'Cancelou?' Ele não havia me falado sobre outros trabalhos além do show do dia anterior.
'Sim. Algumas entrevistas, ensaios fotográficos, essas coisas. Queria passar o maior tempo possível com você e, com isso, ficaria um pouco complicado.' Ele cruzou os braços embaixo de sua cabeça. 'Você estará ocupada? Não quero te atrapalhar em hipótese alguma.'
'Eu tenho aula à tarde. Mas posso faltar, estou dentro do limite.' Levantei para fechar as cortinas do quarto, uma vez que estava com alguém que não poderia ser visto. Estávamos longe do térreo, mas era melhor garantir.
Segui até a cama e sentei em seu colo, deixando as minhas pernas, cada um, ao lado de seu corpo.
'Hoje, eu pretendia não ter que sair desse quarto. Você é contrário a isso?' Perguntei enquanto distribuía selinhos em sua boca. Suas mãos que estavam embaixo de sua cabeça foram para as minhas coxas. sorriu e inverteu nossas posições, deitando-me na cama.
'Você leu os meus pensamentos.'
15 de novembro
'Venha!' Disse ele me puxando pela mão para correr.
'Calma.' Segurei em seu ombro e tirei meus saltos. 'Para onde estamos indo?' Dei a mão para ele e ele voltou a me puxar para corrermos.
'Tenha calma, já estamos chegando.'
Corríamos em direção ao Rio Senna.
'Acho que chega de bebida por hoje.' Disse fazendo-o rir.
'Não estou bêbado. Aliás, foi você que disse que eu deveria aproveitar mais. Fazer algumas loucuras. Então, aluguei um barco.' Respondeu ele.
'Primeiro um carro e agora um barco?'
'Você me disse que seria um passeio legal.'
'Sim, eu disse. Só achei curioso.'
sorriu e seguimos até ao cais, onde o barco estava ancorado. Ele pediu para que eu falasse com o responsável porque o mesmo só falava em francês e, quem havia adiantado a parte do aluguel era um rapaz da sua equipe no país.
Enquanto o senhor explicava as instruções do passeio, eu traduzia para as informações necessárias.
'Você confia o suficiente em mim a ponto de não contratar um piloto?' Perguntei assim que entramos no barco.
'De olhos fechados.'
'Podemos morrer afogados.' Indaguei.
'Ainda sim morreria feliz.' Ele beijou meu rosto.
'Ok, estou convencida.' E estava mesmo. O puxei pela mão para subirmos no barco e ele prontamente me seguiu.
'Como aprendeu a dirigir isso?' Perguntou.
'Meu pai é apaixonado por embarcações e acabou passando essa paixão para os filhos. É algo que podemos fazer juntos.' Sorri.
'O que ele faz?'
'É comandante da marinha.' Dei de ombros enquanto dava partida no barco que na verdade era uma lancha.
'Obviamente.' Concordou rindo.
'A partir de agora serei a mediadora nessa rota histórica que é o passeio de barco pelo Rio Senna, peço que, por favor, saúde a Capitã Angele Autier.' Disse fazendo-o rir novamente.
Fizemos toda a rota turística que as embarcações normalmente faziam. se mostrou um ótimo ouvinte, além de extrema curiosidade em relação às histórias que lhe contava sobre os pontos turísticos da cidade.
Quando o sol começou a se por, ancoramos a lancha para assisti-lo dali, onde a visão era, indiscutivelmente, mais bonita.
16 de novembro
Estávamos deitados em meu sofá, ele de um lado e eu do outro. Seus dedos acariciavam o avião desenhado em minha pele enquanto eu lia uma das bibliografias que usaria no artigo que estava escrevendo. Desviei minha atenção do livro para observá-lo.
Sua barba estava por fazer e seus cabelos estavam todos bagunçados. Ele vestia uma regata branca, deixando o meu nome, que eu havia escrito mais cedo com um batom vermelho em seu braço, à mostra.
Estávamos tão à vontade que parecia que nos conhecíamos há anos.
'Você acredita em amor à primeira?' Ele perguntou me pegando de surpresa.
Não queria dizer que havia pensando nisso. Estava confusa desde que havia me dado conta de que estava me apaixonando por ele. Não queria admitir em voz alta que provavelmente acreditava nisso e que talvez estivesse vivendo isso. Havia prometido para mim mesma que aproveitaria esse relacionamento ao máximo, mesmo que durasse poucos dias.
'Talvez, eu não sei.' Respondi. 'Por quê?'
'Eu acho que acredito.' Ele murmurou, atraindo a minha atenção.
'Por quê?' Perguntei, observando-o.
'Posso parecer louco por estar falando de amor, mas não acho que estou só apaixonado.' Ele disse e meu coração acelerou. 'Não sei explicar, eu poderia escrever uma música, talvez você entendesse o que eu quero dizer.'
'Tenta.' Disse.
'Oh, Angel. Eu só queria encontrar palavras que expressassem o que estou sentindo desde aquele dia no bar. Acho que me apaixonei no momento em que coloquei os olhos em você. Quando você sorriu para mim, parecia que meu coração ia sair do meu peito. E eu quero estar com você. Quero passar o meu dia com você, o tempo todo. Não quero ir embora.' Ele murmurou a última frase, visivelmente triste.
'Eu também não quero que vá.' Respondi.
'Você escuta quando eu digo que estou apaixonado por você?' perguntou, enquanto me observava.
'Eu também sinto isso.' Murmurei. 'Também não quero que vá embora.' Repeti e o puxei. Ele deitou-se sobre mim e me beijou.
'Você poderia ir comigo.' Ele disse em minha boca e eu sorri.
De todas as loucuras que poderia fazer, talvez essa fosse a que eu mais desejava.
17 de novembro
'Angele, você sabe que uma hora esse garoto vai embora e você ficará acabada. Eu te conheço.' Disse Berta me fazendo revirar os olhos.
Eu tinha plena consciência disso.
'Não era você quem dizia que eu deveria me jogar em lances casuais?' Respondi imitando como ela falava.
'Sim, se jogar em vários lances casuais. Não se jogar de cabeça em um relacionamento fadado ao fracasso. Você já está apaixonada pelo rapaz e se conhecem há, sei lá, 10 dias.'
'Sete dias.' A corrigi.
'Está vendo? Sete dias e você já está apaixonada. Você quer que eu liste os motivos para isso dar errado? Primeiro, ele não mora aqui. Segundo, ele só tem 19 anos, é uma criança. Terceiro, garotos de 19 anos são imaturos e não querem saber de nada além de foder. Quarto, ele é famoso. Isso não é tão ruim, porque ele é rico. Mas tem as fãs loucas, então também conta como ruim.'
'Tá, tá, eu entendi. Não vai dar certo e você listou vários motivos para me alertar. Agradeço muito, porém dispenso.' Respondi jogando o pano de louça sobre a mesa.
'Amiga, isso não vai dar certo. Você tem que abrir os olhos antes que seja tarde.' Ela continuou.
'Você acha que eu não sei de tudo isso? Pode ter certeza que eu sei! Penso nisso em todo o momento e eu estou bem! Eu realmente estou bem. Estou de acordo com todas as condições e conheço o meu limite.'
'Eu espero que conheça mesmo.' Ela resmungou me fazendo revirar os olhos novamente.
Meu celular vibrou na mesma indicando uma nova mensagem.
' acordou.' Informei e ela bufou. 'Eu vou ficar bem, ok? Não precisa se preocupar.'
'Não consigo! Não quero te ver sofrendo.'
'E não vai, ok? Eu prometo.'
'Tá bom.' Ela deu de ombros me fazendo rir de sua birra e me abraçou.
'Vou levar um desses.' Disse pegando um dos cupcakes que eu havia acabado de fazer. 'Pelo estresse que me fez passar.'
'Estressou-se porque quis.' Respondi.
'Mas continua sendo por sua causa.' Lavei minhas mãos e tirei meu avental. Passei meus olhos pela cozinha e não encontrei Marcel. Entretanto, o barulho que vinha do depósito me informou que ele estava ali.
'Marcel, deixei os doces prontos. Não voltarei hoje. Peça para Vivienne fazer mais, caso precise. Qualquer coisa estou no telefone.' Recebi um ok como resposta, o que já me deu por satisfeita.
Subi as escadas até meu apartamento, que ficava no piso de cima do café.
Quando entrei, senti imediatamente o cheiro de ovos e bacon. Café da manhã americano.
Não estava com fome, mas sorri imediatamente pelo gesto.
Entretanto, ele não estava na cozinha.
Ouvi sua voz não muito distante e a segui. Ele estava no quarto conversando no telefone. Pelo tom da conversa, algo estava errado.
'Você não entende!' Ele dizia, nitidamente se segurando para não gritar. 'Não fale isso dela, você não a conhece.'
Ele andava de um lado para o outro.
'Pode me chamar de louco, eu não ligo. Pode achar que estou me precipitando, mas eu não consigo ir embora e nem quero.'
Ele permaneceu um tempo em silêncio, apenas ouvindo quem é que estivesse no outro lado da linha.
'Eu estou completamente apaixonado por ela, não farei isso, não vou embora. Ficarei aqui até o último dia que conseguir e, nada que você diga irá mudar a minha decisão.'
Ele desligou o telefone e o jogou em cima da cama.
'Merda.' Rosnou. Ele sentou-se na cama e passou as mãos pelos cabelos, frustrado.
'?' Entrei no quarto.
'Oi.' Sua expressão relaxou assim que me viu.
'Está tudo bem?' Perguntei enquanto andava até ele.
'Está sim.' Ele me puxou para o meio de suas pernas e encostou sua cabeça abaixada em minha barriga. Era assim que ele pedia cafuné.
'Ouvi um pouco da conversa.' Confessei enquanto acariciava seus cabelos.
'Não se preocupe, está tudo sob controle, bebê.' Respondeu.
Seu celular começou a tocar e eu o ouvi bufar.
'Desculpa.' Murmurou antes de alcançar o telemóvel e atendê-lo. Ele levantou-se e caminhou até a janela.
'O que foi dessa vez? Não tem como ser educado com você. Por Deus! Me deixa em paz. Não vou mais atender.' Ele desligou. Provavelmente era o seu empresário.
'Você precisa ir?' Perguntei.
'O quê? Claro que não! Esqueça tudo o que você ouviu, ok? Está tudo certo.'
Caminhei em sua direção.
'Podemos canalizar essa raiva e fazer algo bem gostoso.' Disse fazendo-o sorrir.
18 de novembro
havia insistido que me levaria até o metrô antes de ir para a reunião com o empresário. Era quinta de manhã e a estação estava vazia.
'Tem certeza que não quer ficar no hotel?' Perguntou
'Realmente preciso terminar o meu artigo.' Respondi fazendo bico.
Ele me puxou pela cintura para que ficássemos mais próximos e automaticamente, meus braços se entrelaçaram em seu pescoço.
'Queria tanto passar o dia com você Ángel.' Tentou falar em francês, me fazendo rir. Todas as vezes que ele tentava pronunciar meu nome corretamente não dava certo.
'Ângéle.' Disse bem devagar, deixando bem nítido a pronúncia.
'Ângêla.' Respondeu num sotaque carregado, me fazendo sorrir.
'Ângéle.' Corrigi a pronúncia do seu francês péssimo.
'Ângél.' Tentou novamente, me fazendo rir. 'Você é um anjo?' Disse em inglês, dando-me um selinho logo em seguida. 'Você é o meu anjo.' Selou nossos lábios novamente, me fazendo sorrir.
me puxou para mais próximo de si, fazendo com que meus pés ficassem sobre os seus e me beijou.
'Você acredita quando eu digo que jamais vou te deixar?' Questionou, interrompendo o beijo e eu não respondi. 'Você ouve o que eu digo?' Continuou e eu balancei a cabeça afirmando.
'Você acredita?' Perguntou mais uma vez e eu novamente afirmei balançando a cabeça. sorriu e me beijou novamente.
Nos afastamos quando ouvimos o barulho do metrô se aproximando. Fomos até a beirada da plataforma e ele olhou para dentro do túnel.
'Você vai me ligar?' Perguntou.
'Você me liga, assim que a reunião acabar. Pode ser?' Disse e ele concordou. Beijei seu rosto, fazendo-o sorrir enquanto pedia para que o metrô parasse fazendo um gesto com mão.
Optei por não dizer que não precisava daquilo, uma vez que o metro pararia ali de qualquer jeito, até porque eu o corrigia demais e não queria que soasse rude. Na verdade, achava bonitinho como ele ficava meio perdido pelas ruas de Paris, como se fosse outra realidade.
'Sentirei saudades.' Sussurrei em francês em seu ouvido, depositando um beijo ali em seguida. Sabia o quanto ele achava sexy quando eu falava em francês.
'Não faça isso comigo aqui.' Também sussurrou, só que em sua língua.
'Até mais tarde.' Dei um beijo no canto de sua boca. 'Não precisa me ligar se estiver livre, vá pra minha casa. Estarei com meia garrafa de vinho te esperando.' Disse antes de entrar no veículo que estava parado em minha frente. Pude ver o sorriso em seu rosto através do vidro da janela, joguei um beijo e acenei assim que o metro fechou as portas.
Tínhamos consciência de tudo. Tínhamos consciência que sairíamos completamente atrasados disso.
Mas nada importava, não enquanto ele estava em Paris. E, era nisso que eu queria pensar.
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.