MV: Ka-CHING!

Postado em: 16/02/2018
Music Video: EXO - Ka-CHING!

Capítulo Único

Ka-CHING!
Yeah, I got the money
You see the money?
Come and get it now

— Eu quero o Rolex também — A voz arrastada e autoritária de me faz virar o pescoço de modo brusco em sua direção, sendo pega de surpresa, e sinto todos meus nervos estalarem em protesto.
Eu juro que se não fosse pelo ódio que borbulha por baixo de minha epiderme, eu estaria jogando a cabeça para trás e dando uma gargalhada gostosa, mas meu senso de humor foi completamente destroçado pela presença do loiro. Como é que fui me meter em uma enrascada dessa? Com tantas maneiras diferentes para passar a noite de sábado, é claro que a ideia proposta por era, de longe, a pior das ideias. Mas o que foi que aconteceu? Isso mesmo. Eu cedi e deixei me convencer de que não havia nada de mais em passar uma noite agradável em um clube clandestino de pôker, com as piores companhias possíveis – ou melhores, segundo ele. E é por isso que, agora, eu estou encrencada. Porque é um irresponsável, e porque eu sou pior ainda.
— Você está de sacanagem, — Eu respondo, praticamente cuspindo as palavras contra o sorrisinho ordinário que repousa serenamente no rosto de meu ex-namorado. Ah, é claro. Não bastasse os infortúnios da noite inteira, eu ainda precisava me deparar com , para completar com chave de ouro! Ele não se afeta em nada com minhas palavras, e por algum motivo isso não me surpreende — Como é que vou conseguir roubar a merda do relógio? Você acha que sou algum tipo de feiticeira ou mágica?
— Isso não é problema meu… Você devia ter pensado nisso antes de apostar todo nosso dinheiro.
Certo, talvez essa seja boa hora para explicar como e eu acabamos juntando nossas fichas e como eu, em um ato impulsivo e completamente guiado por uma onda de luxúria e volúpia, fodi com tudo. E, quando digo que fodi, nem estou me referindo a isso de modo positivo, infelizmente.

TRÊS HORAS ANTES


— Ah não, ! Puta merda, era só o que faltava mesmo — Eu exclamo, desesperada, assim que meus olhos, como se tivessem sido treinados exatamente para isso, encontram a figura imponente de camuflada entre jogadores e a neblina densa de fumaça de charuto cubano — É isso, eu vou cair fora agora! Ele não pode me ver aqui!
— O que aconteceu?! — Meu amigo questiona, perdido, olhando de um lado para o outro em busca de algo que justifique meu descompasso, e, assim que ele paralisa e sua boca se abre, eu sei que ele entendeu — Merda, eu não sabia que ele ainda frequentava esse lugar, eu juro! — Ele tenta se justificar, mas a verdade é que eu não poderia me importar menos.
— Bom, parece que ele ainda é um cliente bastante ativo, e isso significa que eu preciso voltar a ser só uma ex-integrante — Eu termino de falar e ameaço me afastar, mas os dedos longos e frios de se fecham em torno de meu pulso, me fazendo parar — Sério,
— Eu tô sem carro, você não pode ir embora e me deixar aqui sozinho… Como é que vou me virar depois? Se eu chamar um táxi para um endereço secreto, eles vão me matar. Literalmente. Com armas e balas e tudo. Entendeu?
— Fica difícil não entender depois dessa sua explicação detalhada. Então ótimo, vamos embora comigo agora, sem problemas — Faço menção de me afastar outra vez, mas os pés de continuam agarrados ao chão, mantendo-o imóvel em seu lugar — Porra, … Se você não mover esses pés nesse segundo, eu mesma vou me certificar de matar você. Com armas, balas e tudo.
— Deus, você fica assustadora quando está estressada. Isso é tudo por causa do ? — A simples menção ao nome de me faz querer partir meu amigo ao meio, para que ele não seja mais capaz de pronunciar o nome de meu ex-namorado. O olhar furioso que lanço em sua direção parece ser o suficiente para que ele mude a expressão debochada de seu rosto e arrume sua postura, limpando a garganta para voltar a falar — Tudo bem, a gente pode ir embora, mas antes eu preciso jogar uma vez.
— Ah, você está brin…
— Por favor! — Ele me interrompe, implorando e afastando a mão de meu pulso apenas para juntar ambas as palmas em sinal de oração, levando-as até a frente do rosto bronzeado. Seus olhos castanhos e manhosos estão escondidos por trás da armação estilo aviador de lentes amareladas, que ele faz questão de usar sempre que sai de dentro de casa, por algum motivo que não consigo entender. É um Gucci, é claro que vou usar como se fosse meu segundo par de olhos! Bom, essa é, na verdade, sua explicação — É sério, a gente chegou não faz nem vinte minutos, e eu tenho certeza de que consigo ganhar daqueles caras na mesa três, olha lá… Novatos, inexperientes, implorando para que alguém como eu chegue e limpe a mesa!
E, infelizmente, eu não posso negar que ele tem razão. O grupo sentado deixa transparecer em suas expressões confusas e curiosas demais que eles não fazem a menor ideia do que estão fazendo em um lugar como esse. É bastante óbvio que apenas um deles conseguiu um convite especial para participar do Bangtan Club, e que os outros dois foram arrastados para cá apenas para garantir que o amigo não ficasse sozinho, no meio dos maiores ladrões e mafiosos de Seul. E como eu sei disso? Bom, porque é o amigo que conseguiu um convite especial e eu sou a responsável por não deixá-lo ser morto por um dos mafiosos. A equação é simples assim.
— Sei lá, … Você disse que a gente só vinha beber algo e curtir a noite, não que ia tentar ganhar dinheiro, e, com ele aqui, não tem a menor chance disso acontecer.
— Ok, eu disse que a gente ia curtir a noite, e achei que a ideia de curtir a noite tinha a ver com ganhar dinheiro estivesse implícita, mas tudo bem — Eu abro a boca, prestes a interrompê-lo, mas sua voz se sobressai à minha — Sério, tem jeito melhor de curtir a noite do que sair daqui com a mala cheia? Você pode ficar no bar, me esperando. O está ocupado demais jogando, ele nem vai perceber você aqui, eu prometo — Ele promete. É claro que isso é uma piada, porque não há a menor chance de garantir que meu ex-namorado não me veja aqui. Eu volto meu olhar para a mesa de número três outra vez, evitando a mesa na qual aquele-que-não-deve-ser-nomeado está. Droga. Os garotos novos parecem mesmo presa fácil.
— Quanto tempo você acha que isso leva? — Eu questiono, sentindo meu orgulho se partir em pedaços ao perceber que, de novo, vou acabar cedendo aos desejos de . Meu amigo exibe um sorriso exageradamente grande e animado, e, antes que eu tenha tempo de repensar minha escolha e todas as consequências dela, eu o vejo se afastar depressa, dando passos em cego para trás para manter seu olhar sobre o meu.
— Vinte minutos! — Ele sopra as palavras em minha direção, erguendo as duas mãos no ar e exibindo todos seus dedos, e então os fechando e abrindo-os novamente para totalizar o número vinte. Ele acaba esbarrando em uma mesa no caminho, e seu olhar finalmente se afasta do meu quando ele se volta para o jogador, pedindo desculpas.
e toda sua discrição.
É claro que isso não vai dar certo.
Eu suspiro frustrada, sentindo um formigamento estranho e desconfortável dentro do peito, e saber que está respirando o mesmo ar que eu me deixa verdadeiramente tonta. Esse também deve ser o motivo de eu, em um piscar de olhos, passar a me sentir ridiculamente exposta em meu vestido longo, preto e com uma fenda lateral, que, pensando bem, é grande demais. Assim como o decote em V, que termina um palmo acima de meu umbigo, deixando pouco para imaginação. O que é que eu posso fazer se eu tinha planos de curtir a noite com meu melhor amigo e abandoná-lo ao final para viver outro tipo de curtição, com alguém que pudesse despertar meu interesse? Eu sou humana também.
Mas é claro que a coisa toda foi arruinada, porque todos meus movimentos parecem estar sendo estudados com cautela, ainda que eu tenha certeza de que ainda não descobriu minha presença. Eu arrasto meus saltos altos até o bar, e agradeço aos céus e a quem quer que tenha sido o responsável por colocar os bartenders para trabalharem no local mais afastado e escuro do salão. A maioria das banquetas está vaga, porque todos os visitantes estão ocupados demais tentando fazer a noite valer a pena. Ainda assim, eu escolho me sentar na ponta do bar, para não correr riscos desnecessários.
Eu juro que tento manter minha atenção voltada para os dois homens altos e morenos que trabalham atrás do balcão de granito escuro, lançando coqueteleiras no ar e fazendo manobras que parecem impossíveis de serem concretizadas com êxito. Eu juro mesmo, mas minha curiosidade me sufoca e sinto que olhar para trás, apenas para ter certeza de que tudo continua em seu devido lugar, é quase uma necessidade de vida ou morte. E só por isso que eu giro meu corpo na banqueta, mirando o salão cheio e buscando primeiro por , e depois por . Talvez não exatamente nessa ordem, mas isso não tem importância, é claro. Meu amigo parece se divertir com os demais homens de sua mesa, rindo alto e mascando seu chiclete de morango de modo extravagante. , por outro lado, é um túmulo. Sua feição fechada é impassível de leitura, e não consigo decifrar nada. Ele mantém os olhos baixos, focados nas cartas em suas mãos, e eu me amaldiçoo por passar tanto tempo observando-o com atenção redobrada.
A última vez que o vi foi há cerca de dois meses, quando nos cruzamos no supermercado, em uma manhã monótona de domingo. E, sério, existe alguma coisa pior do que encontrar o seu ex em uma manhã de domingo, dentro do supermercado? E sou obrigada a admitir que, naquela ocasião, me escondi na sessão de vinhos e queijos não porque queria evitá-lo a todo custo, mas sim porque a ideia de ser vista usando um conjunto de moletom rosa bebê, que o desgraçado sabia que servia como meu pijama, era humilhante demais. O plano parece ter dado certo, já que consegui voltar correndo para casa sem ser vista, e depois disso não houve mais o menor sinal de e sua presença intoxicante. Até essa noite.
E, puta que o pariu, como eu odeio a imagem dele. Por que ele precisa se parecer com um modelo que acabou de sair de uma propaganda de perfume? O cabelo dele parece ter crescido, e o loiro amarelado de antes sido substituído por uma tonalidade cinzenta, que parece contratar muito melhor com o castanho escuro, quase negro, de seu undercut. O terno escuro sob medida se ajusta perfeitamente em seus ombros, e eu me pego espremendo os olhos, tentando fazer com que alguma espécie de poder mágico de supervisão surja em minha vista e me ajude a enxergar melhor, apesar da distância. Eu consigo ver o brilho metálico do brinco solitário que ocupa sua orelha, e a lembrança de deslizar a ponta da língua por aquela pecinha pequena e ser recompensada pelo som de suspiros mesclados a risos me atinge em cheio, como um soco no estômago.
O peso da memória é demais, e eu me obrigo a afastar o olhar assim que ele joga o pescoço para o lado, alongando-o antes de voltar a assumir uma expressão concentrada, que o faz vincar a testa levemente. Isso não te pertence mais. Eu repito como um mantra. não é homem para você, e foi por isso que vocês terminaram. Porque você agora é uma mulher madura e responsável, disposta a ter um futuro dentro das normas sociais e de todas as leis idiotas que a sociedade acha importante manter. É isso. Agora eu sou uma nova mulher, e continua sendo o mesmo cafajeste de sempre, e é por isso que as coisas entre nós se tornaram incompatíveis… Por mais que o encaixe na hora do sexo sugerisse outra coisa. Ah, merda, isso definitivamente não vem ao caso! Você não precisa de um criminoso que ganha a vida tirando dinheiro dos outros. Você precisa de um homem que também seja responsável, e que ganhe a vida de um jeito honesto. Eu termino meu sermão com um breve amém, na esperança de que isso talvez dê algum caráter religioso para minhas metas, de modo que o cara lá de cima possa me ajudar. É sério, uma mãozinha seria de grande ajuda.
“Mas se você quer tanto um homem dentro da lei, o que você está fazendo em um clube clandestino?” É claro que a voz da razão faz questão de surgir, bem lá no fundo de meu cérebro, e eu decido que a melhor coisa a se fazer é tentar afogá-la com álcool.
— Oi, será que você pode me preparar um kamikaze, por favor? — Eu peço para um dos garçons, sentindo meu corpo tenso pelo esforço descomunal que faço para manter meu olhar concentrado apenas no bar diante de mim.
O moreno dá início ao meu pedido, buscando por garrafas de bebidas escondidas sob a bancada e misturando as medidas tiradas a olho em uma coqueteleira de metal. Eu assisto atenciosamente enquanto ele gira o objetivo de um lado para o outro, jogando-o para cima e o passando por trás de suas costas, e eu me pergunto se esse show todo é realmente para nós, clientes, ou só uma tentativa de fortalecer o ego. De qualquer modo, ele me hipnotiza com seus movimentos, e consigo esquecer do salão atrás de mim por alguns segundos, o que já pode ser considerado uma vitória.
— Você devia tentar experimentar algo novo da próxima vez — O bartender de sorriso fácil diz enquanto derrama a bebida vermelha em um copo alto e de diâmetro estreito.
— O quê? — Eu questiono sem entender, me sentindo um pouco incomodada com a ideia de que possa mesmo existir uma próxima vez. Meses atrás, eu jurei que não frequentaria mais esse lugar, e cá estou eu. E a fala dele só reforça o quanto eu sou um péssimo exemplo quando o assunto é cumprir promessas.
— Eu lembro de você… Fazia tempo que não aparecia, mas não dá pra esquecer da única mulher que sempre pede o mesmo drink — Ele explica, e me dou ao trabalho de ler o nome gravado em uma plaquinha presa em sua camisa social preta, que tem os primeiros botões abertos e as mangas dobradas até a altura de seus cotovelos.
— Não sei se devo achar isso estranho, ou se devo ficar contente por saber que alguém aqui se lembra de mim, — Eu respondo em tom de brincadeira, dando um gole pequeno no líquido vermelho e de gosto cítrico, que escorrega por minha garganta adquirindo um sabor amargo.
— Eu ficaria com a segunda opção — Ele pisca para mim, e, tudo bem, talvez a noite não esteja tão perdida assim — Mas o que é que atrai tanto nisso? — pergunta, indicando o drink em minhas mãos com o olhar escuro, que se parece com duas jabuticabas maduras — Eu não vejo muitas mulheres apreciando as bebidas amargas.
— Eu gosto da cor — Eu respondo de imediato, porque essa é a verdade, mas me sinto ridiculamente infantil assim que a frase escapa por minha boca tingida de vermelho, por um batom que tem quase a mesma tonalidade do líquido em meu copo.
Ainda assim, o garoto em minha frente joga a cabeça para trás e deixa uma risada sonora escapar por seus lábios partidos, e consigo reparar na pintinha solitária que repousa bem debaixo de seu lábio inferior.
— Eu podia jurar que era por causa do nome, kamikaze… Você tem cara de quem se entrega de corpo e alma a tudo que faz — Ele afirma, e seu olhar paira sobre meu rosto, como se ele estivesse tentando me analisar, o que faz com que eu me remexa em minha banqueta — Mas também parece alguém que está esperando que um vento divino te traga algo novo e excitante — acrescenta, baixando seu tom de voz e enviando arrepios por todo meu corpo, e eu me pego prestes a responder seu flerte quando um timbre arranhado que surge ao meu lado faz com que minhas palavras fiquem presas em minha garganta. E o fato de que eu poderia reconhecer essa voz há anos luz de distância é uma constatação um tanto masoquista.
E esquece aquela história de a noite não estar perdida. É claro como a água que tudo, tudo está perdido.
— Por que eu não fui informado sobre esse promoção peça um drink e ganhe uma análise de personalidade de graça? — A ironia presente nas palavras é praticamente tangível, e sinto o ar ao meu redor se tornar rarefeito devido à proximidade de , que parece sugar grande parte de minha vontade de viver. Meu olhar se afasta do rosto de e recai sobre o corpo esguio de meu ex-namorado, que se dá ao direito de ocupar a banqueta vaga ao meu lado, deixando seu corpo minimamente voltado para minha direção — Achei que você tivesse dito que uma mulher como você não deveria frequenta um lugar como esse — A provocação por trás de suas palavras é clara, e ele me desafia a correspondê-la. E juro que no instante em que ele apoia o cotovelo no balcão e inclina o corpo em minha direção, ficando mais próximo e permitindo que uma onda de seu perfume invada meus sentidos, me entorpecendo, eu penso que eu queria mesmo ser como um kamikaze, para simplesmente explodir e acabar com isso. parece perceber que nosso momento chegou ao final e se afasta, e quero implorar para que ele fique e me ajude, mas minha atenção continua unicamente centrada em .
— Como é que você me viu aqui? — É a primeira coisa que escapa de minha boca, porque as chances de ser descoberta eram verdadeiramente mínimas! Isso não é justo.
— Você achou mesmo que não senti o peso do seu olhar nada discreto me devorando da cabeça aos pés, mesmo de longe? — responde de modo casual, e meu cérebro devora para absorver o significado da palavra devorando. Droga, devora não, demora! Maldito ato falho. Eu não estou devorando nada. Não estou!
— Ah, , não fode… — O nome dele escapa de modo involuntário, e o gosto das letras no céu de minha boca é mais amargo do que o líquido vermelho-sangue que jogo para dentro logo em seguida.
— Mas eu fodo tão bem… Você precisa que eu te ajude a lembrar? — É isso, só pode ser mesmo Deus que impede que eu acabe engasgando, apesar de a bebida travar em minha garganta e descer arranhando meu interior. E eu me sinto terrivelmente mal por usar o nome do senhor diante de um homem tão diabólico e sujo como . Eu me atrevo a desviar o olhar de minha bebida para encará-lo e me arrependo no mesmo segundo, porque eu reconheço o brilho imprudente que ilumina suas íris tão cinzentas quanto seus fios de cabelo. Era esse mesmo olhar que eu enxergava enquanto me ajoelhava aos seus pés e sentia os dedos dele se enroscarem em meus cabelos, me puxando para mais perto e gemendo meu nome.
Eu balanço a cabeça depressa, afastando as lembranças e olhando para trás, em busca de , desesperada para encontrá-lo terminando seu jogo e pronto para ir embora. Mas ele continua sentado em sua mesa, com o corpo cedendo preguiçosamente contra o encosto de sua cadeira em uma postura que indica que ele está longe de parar. E isso não importa mais, na verdade, porque fui descoberta e porque já conseguiu foder com o único resquício de esperanças de que eu tinha de que a noite pudesse ser boa. E, de novo, parece errado e inconveniente usar a palavras foder e na mesma sentença.
— É sério, por que você não volta para a sua mesa e termina seu jogo, ou sei lá o que você estava fazendo?
— Porque você me desconcentrou, e você sabe o que isso significa? — Eu não respondo, me dando ao direito de permanecer em silêncio. Ele se ajeita em sua banqueta para ficar completamente virado em minha direção, e isso faz com que seu joelho acabe roçando no meu. O contato físico me faz respirar fundo, prendendo a respiração por um momento enquanto afasto minhas pernas das de , e o gesto ansioso resulta na fenda de meu vestido escorregando por minha coxa e deixando-a exposta — Primeiro, significa que você está me fazendo perder dinheiro, e você sabe como odeio perder dinheiro.
Eu sei.
— E em segundo? — Eu indago, fingindo participar de seu jogo de sedução. Fingindo, porque eu ainda estou no controle da situação.
— Segundo, que você devia aproveitar que está vestida para matar para me dar uma ajuda — Ele sugere, e sua frase carrega uma dezena de significados ocultos, que me fazem franzir o cenho, perdida no meio de um furacão de possibilidades.
— Você quer que eu te ajude a matar alguém? — Eu finalmente reencontro minha voz, mas a sugestão faz afundar o rosto nas próprias mãos para abafar seu riso — Meu Deus, , isso é baixo demais até para você, sabia?
— Mesa sete — Ele diz de repente, ignorando minhas palavras e inclinando o corpo ainda mais em direção ao meu, acabando com meu espaço pessoal para soprar as palavras em meu ouvido. Eu tento me afastar urgentemente, mas isso só faz com que eu acabe me desequilibrando, fazendo com que a banqueta comece a se inclinar para trás, e a sensação da queda próxima só não é pior do que a sensação dos dedos longos e quentes de segurando em minha mão e me ajudando a voltar para o lugar — Você está vendo aqueles dois? — Ele me pergunta em um murmúrio rouco, e não entendo a necessidade de estar falando tudo isso tão próximo de meu ouvido, em tom de confissão, quando não há ninguém por perto para nos escutar. Assim como também não entendo o porquê dele continuar segurando em minha mão.
— O que têm eles? — Eu me dou por vencida, desviando o olhar até a mesa de número sete e analisando os dois únicos homens que ocupam a mesa circular de quatro lugares. Um deles, o que parece ser o mais importante, a julgar pelas roupas caras e pelo relógio dourado chamativo que adorna seu pulso, tem os cabelos descoloridos e ligeiramente penteados em um topete casual, que destaca as feições suaves de seu rosto. Apesar dos traços delicados, há uma ferocidade chamativa em seu olhar escuro. O homem mais baixo, que ocupa a cadeira ao seu lado, tem os cabelos negros, e os fios lisos repousam harmoniosamente sobre sua testa. O que mais chama atenção, além do blazer de veludo azul marinho que ele veste por cima de uma camisa preta decotada, é o formato de coração de seus lábios rosados.
— O moreno se chama , e o loiro é o .
A velocidade com a qual meu cérebro consegue conectar e compreender as informações me pega de desprevenida.
? O dono do clube? — Eu questiono, surpresa, girando o pescoço para fitar e me arrependendo ao perceber que isso faz com que nossos narizes acabem se encostando, o que, em outras palavras, significa que nossas bocas ficam próximas demais.
— Ele mesmo — Meu ex-namorado responde, se afastando apenas o suficiente para que possamos nos olhar direito, e consigo enxergar o sombreado de sorriso que repuxa o canto de seus lábios, de um jeito tão discreto que apenas quem o conhece bem o suficiente é capaz de perceber.
— Eu achei que ninguém soubesse sobre a aparência dele… Como você descobriu isso? — É oficial. Fui terrivelmente vencida pela curiosidade, e o fato de estar mantendo uma conversa com já nem me deixa tão chocada assim, porque estou ocupada demais assimilando toda as informações novas.
— Parece que você esqueceu que eu sempre consigo aquilo que quero — Ele me responde, e outra vez suas palavras percorrem minha pele, me aquecendo de um jeito que não pode ser considerado saudável — Não é isso que importa, de qualquer jeito — Ele acrescenta, e a forma como suas frases são construídas demonstra que ele está tendo uma conversa de negócios, expondo as cartas para mim e esperando que eu faça a matemática básica e as decifre — Ele só joga em dupla, ao lado de seu sócio, , o garoto do decote. E, bom, eu preciso de alguém que aceite trabalhar comigo.
finaliza sua fala e o modo como ele prende o lábio inferior entre os dentes e arqueia levemente as sobrancelhas é uma prova viva de sua apreensão. Eu o encaro sem entender o que ele espera que eu responda, optando por analisar uma segunda vez e prolongando o momento. Quando a tensão ao nosso redor parece se tornar insustentável, eu deixo o ar escapar por minha boca em um sopro único.
— Bom, o salão está lotado hoje, é só você escolher alguém e tentar a sorte.
— Eu quero você — Ele dispara, objetivo. Os olhos escuros e intensos cravados nos meus, e me sinto atingida por armas e balas e tudo, como diria . E, como era de se esperar, minhas sinapses trabalham contra mim e resolvem juntar esta nova informação com sua frase anterior. Eu sempre consigo aquilo que quero. Eu quero você. Eu juro que estou rindo por dentro, mas por fora tenho certeza de que meu rosto é uma folha em branco, isento de expressões.
— Você está bem louco, né? Primeiro, não tem a menor chance de eu aceitar participar disso. Segundo, ainda que eu participasse, é claro que a gente não vai conseguir ganhar do dono da casa. E, em terceiro, mas não menos importante, se eu não estivesse aqui, você iria buscar a ajuda de outra pessoa, então é justamente isso que você deve fazer, .
Eu concluo e, apesar da segurança por trás de minhas palavras, o olhar selvagem de faz parecer que eu acabei de recitar um poema infantil e sem significado algum.
— Me escuta — Ele pede, mas seu tom de voz mais se parece com uma ordem, e isso não é novidade. Não para mim. Por algum motivo, ele parece pensar que vou escutá-lo com mais atenção se ele utilizar a mão livre para segurar meu rosto, me obrigando a continuar com os olhos presos em seu rosto — Primeiro, eu te conheço, e sei que você não resiste a tudo que parece impossível. Segundo, você precisa aprender a ser mais confiante. E, em terceiro, eu só confio em você. E se o fato de você ter aparecido aqui justo hoje não for um sinal do destino, então eu não sei o que é.
— E desde quando você acredita em destino? — E isso é tudo que filtro de sua fala, inebriada demais com a ideia de que ele realmente possa pensar que existe uma possibilidade de estarmos no lugar certo, na hora certa. Talvez eu devesse deixar claro que, com ele, parece ser sempre o lugar e a hora errada.
— Desde o segundo em que vi você sentada aqui, tentado se esconder de mim.
Eu espero muito que esteja certo sobre os novatos da mesa três e termine a noite nadando em dinheiro, porque ele me deve. Ele me deve demais, a julgar a situação deplorável na qual me encontro, tentada a ceder a uma proposta insana feita por meu ex-namorado. O mesmo ex-namorado que eu jurei ser uma porta aberta para confusão e para um futuro como alvo de criminosos, o que é centenas de vezes pior do que ser procurada pela polícia, diga-se de passagem.
, essa é uma péssima ideia, é sério…
— E é por isso que ela parece tão atraente, não é? — Ele insiste, seu timbre arranhado soando uma oitava mais baixo, provocando uma verdadeira tempestade em meu interior — Vai, eu sei que você quer — Ele me pede, afastando a mão de meu rosto para repousá-la sobre minha coxa, exposta pela fenda do vestido, e o local onde sua palma quente toca minha pele parece ser perfurado por uma centena de agulhas — Em nome dos velhos tempos… — aproxima seu rosto da curva exposta entre meu pescoço e meu ombro, sussurrando as palavras contra minha pele — Eu sei que você lembra dos nosso planos, e de como você ficava empolgada com eles… Eu te conheço melhor do que ninguém, esqueceu? Eu sei que você gosta da sensação de poder, da adrenalina que vem com o risco de perder tudo. Eu sei que sentir a textura do dinheiro sujo na ponta dos seus dedos é melhor do que o gosto dessa sua bebida sem graça e da sua tentativa de ficar longe de mim — continua, deslizando a ponta do nariz na região abaixo de minha orelha, e percorrendo toda extensão de meu pescoço.
E é inútil negar que ele sabe o que faz e o que diz. Mas, em nome de minha dignidade, eu nego mesmo assim.
— Isso não é verdade — Eu protesto, em um fiapo de voz.
— Engraçado, o seu corpo me diz outra coisa — Ele continua a provocação, dando uma risadinha baixa que faz seus lábios vibrarem contra minha pele, antes de deixar um beijo molhado e demorado em meu ombro — Eu sei que você não vai se arrepender. Você sabe que eu sempre faço você se sentir bem, não sabe, pequena? — É isso, o maldito apelido é a gota da água, e eu reencontro as forças necessárias para afastá-lo de mim, finalmente desfazendo o encaixe entre nossas mãos, até então entrelaçadas.
— ‘Tá, tudo bem! — Acabo exclamando, deixando as palavras escaparem sem pensar com clareza sobre elas. E o pior é que nem posso culpar o álcool, porque nunca estive mais sóbria em minha vida, então opto por despejar toda a culpa por essa tomada irresponsável de decisão em . Nele e em suas palavras que transbordam uma série de verdades tão amargas quanto o gosto em minha boca, mas que, de alguma forma, me proporcionam um prazer inegavelmente doce.
E é certamente a personificação desse sentimento ambivalente, agridoce.
— Ah, eu sabia que podia contar com você! — Ele exibe um sorriso empolgado, que deixa seus dentes pequenos e sua gengiva cor-de-rosa à mostra.
— Como é que a gente vai fazer isso funcionar? — E, com essa pergunta simples, eu me refiro a um milhão de coisas diferentes, mas se agarra a opção mais simples e que exige sua atenção no momento.
— O jogo é simples, dois contra dois. A gente só precisa juntar nossas fichas e apostar contra eles — Penso em dizer que o dinheiro que tenho na bolsa não serve nem para fazer uma aposta inicial, mas ele se antecipa, solucionando todo e qualquer problema que possa atrapalhar seu plano — Não se preocupa, você entra com o que tem e eu com o valor alto, e a gente faz esse valor triplicar, encerra a noite e divide o lucro. É bom o bastante para você?
Eu paro para pensar mais a fundo em sua proposta, apesar de me conhecer bem o bastante para saber que já fui vencida. E daí se eu jurei que nunca mais colocaria os pés nesse lugar? Se jurei que só falaria com na próxima reencarnação? Se prometi para todas as versões de mim que jamais iria aceitar dinheiro sujo de novo? A essa altura do campeonato, já ficou bastante evidente que a origem de todas minhas promessas é ainda mais duvidosa do que o local de onde surge todo o dinheiro que movimenta essas mesas de jogo.
— É o suficiente — Eu encerro o assunto, terminando minha bebida de uma só vez.
A atmosfera no salão parece se transformar e, em um piscar de olhos é como se eu tivesse voltado no tempo. salta de sua banqueta e estende a mão coberta de anéis em minha direção, e a maior prova de que caí em tentação e de que estou prestes a pecar, é o fato de eu aceitar sua ajuda sem pensar duas vezes, deixando que seus dedos envolvam os meus e que ele me guie pelo salão. Exatamente como nos velhos tempos.
Uma rajada de otimismo me atinge, como uma brisa fresca de início de verão, e eu me sinto radiante e positiva. Talvez sejam os tais ventos divinos chegando. E, no fim das contas, talvez as coisas acabem dando certo.

UMA HORA ANTES


É claro que as coisas não acabam dando certo.
E, enquanto eu cambaleio de um lado para o outro do lado de fora do banheiro masculino, eu tento tecer uma linha racional de pensamentos que me faça descobrir a pergunta de um milhão de reais: por que foi que eu achei que algo envolvendo poderia dar certo? Não foi por isso que nós terminamos, em primeiro lugar? Porque ele era uma como um ímã gigantesco, atraindo todos os problemas do mundo com a força de um buraco negro engolindo tudo ao seu redor? Pois é, foi exatamente por isso que terminei com ele, em primeiro lugar. E é por essa série de pensamentos que não consigo organizar em um parágrafo coerente que eu sinto que estou à beira de ter uma síncope quando finalmente sai do banheiro.
— Espero que tenha pensado em algo — A voz dele é como uma faca, me cortando em mil pedaços, e o olhar sério é definitivamente como uma pitada de sal e suco de limão sendo lançados sobre minhas feridas abertas. Como é que ele espera que eu tenha pensado em algo? Ele só ficou dois minutos dentro da merda do banheiro! Eu aposto que nem mesmo Sherlock Holmes era capaz de desvendar seus mistérios em menos de dois malditos minutos, cacete!
! Eu não vou conseguir fazer isso! — Eu protesto, ouvindo minha própria voz sair mais aguda do que o normal, por culpa de meu nervosismo. Resolvo que é melhor parar de andar de um lado para o outro, porque meus saltos finos estão arranhando o carpete vermelho e deixando marcas visíveis demais, e principalmente por meus pés estarem doendo para caralho — Sério, esquece… Isso não vai dar certo! Só vamos deixar para lá! — Eu peço, imploro, suplico. Meu corpo parado diante do dele é uma verdadeira blasfêmia, porque enquanto ele exala soberania, eu consigo sentir o aroma fétido de insegurança que escapa de meus poros sem precisar fazer esforço algum.
— Você devia ter pensado nisso antes de apostar todo nosso dinheiro, não acha? — E ele continua sério. Não há o menor sinal de sorriso ou compreensão em seu rosto, o que me faz ter plena convicção de que ele realmente não quer ter e não vai ter piedade de mim.
— Eu falei que não tinha como a gente ganhar deles! — Eu exclamo, aumentado o volume de minha voz e sendo recompensada com as mãos firmes e quentes de agarrando meus braços e me pegando desprevenida. Ele gira meu corpo e praticamente me ergue do chão, sem esforço algum, e então me empurra contra a parede atrás de mim, pouco se importando se o movimento brusco faz minhas costas se chocarem contra o granito, me machucando — Porra, ! — Eu choramingo, fechando os olhos de modo instintivo.
— Se você acha que não tinha como ganhar deles, então por que apostou a porra do meu dinheiro todo?! — Ele me responde, as palavras escorregando por seus dentes cerrados, e suas mãos permanecem sobre meus braços, apertando minha carne, e eu tenho certeza de que isso vai deixar marcas.
E ah, Deus, se as marcas fossem o meu maior problema, eu estaria pulando de alegria.
— A culpa é sua! — A confissão o faz arregalar os olhos, descrente — Você ficou dizendo que eu precisava ser confiante e toda aquela ladainha, sussurrada no meu ouvido, e como é que você queria que eu me concentrasse no que estava fazendo quando você continuava passando essas merdas de anéis na minha coxa? — E essa é claramente a desculpa mais verdadeira que já fui capaz de criar nesses vinte e poucos anos de existência, o que seria um motivo de orgulho, se eu não estivesse encurralada entre uma parede e o corpo fantástico de meu ex-namorado — Ah, meu, sério! É isso, a culpa é toda sua!
Minhas palavras parecem surtir algum efeito, e ele afasta as mãos de mim, e eu percebo que o suspiro de alívio que escapa por minha boca acontece cedo demais. Definitivamente cedo demais. Porque, no instante seguinte, ele está dando um passo para frente e colocando fim à distância segura que separa nossos corpos, e uma de suas pernas está deslizando entre as minhas e fazendo com que o tecido de meu vestido saia de seu lugar, deixando a lateral de minha coxa exposta e completamente acessível para ele. Uma de suas mãos se aproveita disso e repousa possessivamente sobre minha perna, e ele não hesita em curvar seus dedos sobre a lateral de minha coxa, até que suas unhas curtas estão arranhando minha pele. E, em uma fração de segundos, sua outra mão está envolvendo meu pescoço, e seu polegar sendo usado para me obrigar a manter o rosto erguido, com o olhar na mesma altura do dele.
De perto, eu consigo sentir a mistura de nicotina e álcool que emana de seu hálito, e o pensamento de que posso ficar embriagada apenas com isso não me parece tão absurdo assim. Eu consigo sentir meu pulso acelerado, e as batidas de meu coração são tão altas que parecem ecoar dentro de meu crânio, em uma série ritmada de tuns-tuns que me ensurdecem, fazendo meu cérebro acreditar que preciso respirar mais e mais fundo, e é exatamente isso que faço. E uma nova onda do hálito de invade minhas narinas, entorpecendo meus sentidos.
— Então é isso, a culpa é minha porque eu desconcentrei você? — Ele questiona, baixando o tom de sua voz, e, apesar do timbre calmo e aveludado, seu olhar é feroz e nocivo — Foi o meu toque que te fez perder a porra da sua razão, meu anjo? — E é óbvio que não tenho a menor chance de pensar em responder, até mesmo porque se tivesse, todas minhas palavras seriam substituídas pelo gemido que penso em deixar escapar assim que ele ergue a perna esquecida entre as minhas, pressionando-a contra minha intimidade sem pudor algum e fazendo seu quadril se chocar contra o meu — Se eu não estivesse tão puto por causa do meu dinheiro — Ele hesita, intensificando o aperto de seus dedos em torno de meu pescoço antes de despejar o restante de suas palavras sobre minha sanidade, esmagando-a — Eu juro que fazia você entender como é que se desconcentra alguém, aqui mesmo, na frente de todo mundo… Entendeu? — espera por minha resposta, e eu forço a palavra sim para fora de minha garganta.
E minha resposta é rápida e fácil porque eu sei. E sei que ele não está mentindo. E isso me faz engolir em seco, e me dou conta de que minha boca parece uma extensão do deserto do Saara, ridiculamente seca. O momento em que se afasta de meu corpo é uma verdadeira dádiva dos céus, apesar de uma parte de meu corpo acreditar que a distância imposta novamente seja, na verdade, uma maldição. Eu tento umedecer os lábios com a língua e estabilizar minha respiração e meus pensamentos enquanto o assisto tirar um isqueiro metálico do bolso de seu terno escuro. Não demora para que meu olhar analítico e treinando para perceber detalhes repare no desenho de cartas e na palavra ‘lucky’, gravados em um dos lados do objeto. É irônico que justo eu, que odiava sua mania irritante e seu péssimo hábito de fumar, tivesse sido também a responsável por presenteá-lo com um isqueiro, mas na época pareceu certo, porque qualquer coisa que o fizesse sorrir era certo.
Uma avalanche de memórias antigas cobre minha consciência, e a certeza de que essa noite, definitivamente, está saindo do controle me atinge com força total. trava uma batalha contra a chama do isqueiro, que insiste em desaparecer cada vez que ele aproxima o objeto do cigarro em sua boca, e o modo como ele fecha os olhos e joga a cabeça para trás quando finalmente consegue completar seu objetivo e dar a primeira tragada é indecente e obsceno. E preciso mesmo colocar um ponto final nisso antes que a situação se torne ainda mais absurda, porque meu corpo começa a dar sinais bastante claros de que talvez dois meses longe não tenham sido o bastante para que eu pudesse esquecer dos efeitos que provoca em mim, o que é péssimo. Sério, quando digo péssimo, é péssimo mesmo, milhares de vezes pior do que o dinheiro perdido para , porque o fato de minhas pernas fraquejarem cada vez que meu ex-namorado se aproxima de mim é uma declaração de que há outra coisa que também pode ser perdida esta noite: minha dignidade.
— Tudo bem, eu vou dar um jeito de conseguir o dinheiro de volta — Eu me dou por vencida, suspirando derrotada e arrumando minha postura, como se isso fosse ajudar de alguma forma. volta a direcionar sua atenção para mim, e o esboço de um sorriso ganha vida no canto de sua boca, que envolve o cigarro. Ele sopra a fumaça pesada e esbranquiçada contra meu rosto, me fazendo apertar os olhos e enrugar a base do nariz antes de ser recompensada pelo som de suas palavras.
— Essa, essa é minha garota.

ZERO HORAS ANTES


E foi assim que eu acabei aqui, precisando discutir com sobre formas ilegais de recuperar nosso dinheiro, e ainda roubar uma porcaria de relógio.
— Exatamente, o nosso dinheiro, que eu já disse que vou dar um jeito de recuperar. Mas o Rolex dele? Isso não tem nada a ver — Eu insisto em meu protesto, fincando os pés no chão coberto pelo carpete vermelho bordo e cruzando os braços na altura dos seios. O movimento faz com que meu decote fique ainda mais em evidência, e não se dá ao trabalhar de disfarçar o olhar afiado que percorre a pele exposta de meu colo.
O gesto me obriga a relembrar minhas prioridades: arrumar os estragos e encerrar a noite. Urgentemente.
— É, mas você me fez perder a paciência além do dinheiro, e agora eu quero o relógio… Então você pode consegui-lo para mim, ou pode simplesmente me pagar de outros modos… Mas aí vou precisar cobrar os juros, e acho que vou querer o pagamento parcelado — Ele conclui, derramando suas palavras sobre mim e umedecendo o lábio inferior com a língua lasciva, e eu me sinto imunda.
— Você é nojento, — E o fato de minhas palavras saírem engasgadas não tem absolutamente nada a ver com todas as memórias terrivelmente sujas que rompem as barreiras de contenção impostas por meu lado racional e se alastram por minha consciência.
— Você não achava isso até alguns meses atrás, pequena — A insistência no apelido carinhoso, e que caíra em desuso há muito tempo, faz meu estômago revirar, e não consigo decidir se isso é bom ou não. Mas é estranho. Estranho e desnecessário.
Como um mantra religioso, eu relembro, só para garantir: arrumar os estragos e encerrar a noite.
— Se eu pegar o dinheiro e o relógio, todas nossas dívidas estão quitadas, certo?
parece hesitar por um momento, tombando a cabeça para o lado e correndo os dedos pelos fios acinzentados e bagunçados de seu cabelo, enquanto seu olhar penetrante permanece preso ao meu. Depois de pensar por alguns segundos, ele chega a uma conclusão e assente, esticando a mão em minha direção como se estivesse esperando por um aperto para fecharmos negócio. Assim que meus dedos envolvem os dele, concretizando nosso acordo, um calafrio percorre minha espinha, e tenho a sensação de que acabei de selar um pacto com o diabo.

UMA HORA DEPOIS


O peso da maleta que carrego em minhas mãos trêmulas parece se quadruplicar a cada novo passo apressado que dou em direção à saída. A sensação de que estou sendo seguida e de que há ao menos uma dezena de armas apontadas para minhas costas me faz caminhar ainda mais depressa, e me obrigo a manter os olhos focados na porta em minha frente. Conforme vou me aproximando da saída, o ritmo de meus passos parece ir se tornando ainda mais frenético, e o som abafado de meus saltos parece ecoar em ressonância com as batidas aceleradas de meu coração.
Eles não estão atrás de mim. Não estão. Eu repito uma, duas, três, inúmeras vezes, tentando me convencer de que continua no salão, assim como e os demais jogadores. Você pode fazer isso. Você já está com o dinheiro! E com a merda do relógio! Vamos lá, disse que estaria esperando no carro! E é esse último pensamento que consegue me dar motivação o suficiente para cruzar o corredor infinito que me separa de meu meio de fuga.
Assim que coloco os pés para fora do clube e sou atingida pela atmosfera extremamente quente da noite de Seul, eu me permito respirar fundo e expirar todo o ar de uma única vez, sentindo uma pontinha de alívio brotar em meio a todo meu desespero. Mas é só isso, uma pontinha de alívio, que logo é destruída pelo peso da realidade concreta. A rua está deserta. D-e-s-e-r-t-a.
Não há.
O menor.
Sinal de carro.
É isso, me deixou para morrer. vai dar falta da maleta, vai perceber que o relógio sumiu, vai juntar dois mais dois e vai perceber que eu sou uma suicida, e estou morta. É claro, estou morta, porque quem em sã consciência iria roubar o dono do lugar, não é mesmo? Só eu, aparentemente. Eu giro em meu próprio eixo, fazendo uma inspeção completa, de trezentos e sessenta graus, por toda rua, e eu me sinto derrotada quando o pensamento de que tudo que eu queria na vida era que estivesse aqui, esperando por mim, se alastra por minhas terminações nervosas.
Não posso acreditar que ele me largou assim, no meio de um verdadeiro campo minado. Porra, como é que ele pôde fazer isso? Eu estou aqui arriscando minha vida para recuperar a merda do dinheiro, e ainda conseguir um reloginho de brinde, e ele simplesmente resolve me deixar para os leões e dar o fora? Assim? Sem dizer nada? Sem ao menos dizer “foi bom fazer negócios com você, parceira… Hasta la vista, baby…”, ou simplesmente qualquer cantada barata e decorada, que seja! A maleta em minha mão já se transformou em um verdadeiro bloco de concreto, e sinto meu corpo se curvando em razão do peso que carrego, e quero gritar. Quero muito gritar alto o bastante para que o filho da puta do meu ex-namorado me escute de onde quer que ele esteja, e tenha certeza de que isso vai ter troco.
Eu continuo olhando para todos os lados, esperando que uma solução mágica apareça e resolva todos meus problemas, mas minha mente continua trabalhando rápido demais e impedindo que alguma ideia aproveitável se forme. Estou a um minuto de começar a considerar a possibilidade de voltar para dentro para devolver a maleta e o relógio, e dizer que peguei ambos por engano… É, foi sem querer. As pessoas podem se confundir e pegar, por puro engano, o dinheiro e o Rolex das outras, não é? Eu tenho certeza de que isso acontece com as melhores pessoas, então também pode acontecer com as piores, como eu, certo? Mas não adianta. Eu vou morrer. Eu consigo sentir isso em cada partezinha de meu corpo, e talvez essa seja uma boa hora para começar a chorar e a pedir perdão por todos meus pecados.
Eu sinto muito por ter roubado o dinheiro dignamente ganho pelo dono do clube.
Eu sinto muito por ter arranhado o carro de minha vizinha de garagem com a minha bolsa, na semana passada. Eu juro que foi sem querer.
Eu sinto muito por ter fingido que estava namorando para não precisar sair com o Jihoon. Ele é um cara divertido, mas eu odeio sua mania de começar a rir no meio do sexo.
Eu sinto muito por ter deixado para para trás para cometer um crime, quando jurei que não cometeria mais crime nenhum.
Também sinto muito por ter perdido a virgindade enquanto meus pais estavam no quarto ao lado. Aquilo foi terrível, em todos os sentidos, e eu ainda me sinto meio culpada.
Nossa, e eu definitivamente sinto muito por ter deixado entrar em minha vida. Por favor, seja quem for que escute esse tipo de prece, saiba que eu sinto muito mesmo.
A lista de pecados continua se desenrolando com uma velocidade impressionante quando o som de um motor soando ao longe interrompe meu fluxo de pensamento. Ah, não acredito! chamou a polícia, eles vão me prender! Puta merda, garota. Respira. Respira, caralho! É óbvio que ele não chamou a polícia, sua idiota. Como é que ele vai chamar a polícia para vir logo aqui, em um clube de apostas clandestino? Polícia, por favor. É óbvio que ele chamou seus comparsas! E isso é centenas de vezes pior! Eles vão me picar em mil pedaços, literalmente falando, e vão espalhar meus pedaços pela cidade! Eu não acredito que meu corpo vai ser espalhado por Seul, e que todos os locais escolhidos para abandonarem meus pedaços de carne vão virar pontos de referência pra todos os criminosos da cidade, ah não. É isso que vou me tornar? Um lembrete de que roubar de caras poderosos e perigosos só pode acabar em morte? O motor está se aproximando, e foda-se, eu não vou rezar, porque nesse momento até mesmo meu anjo da guarda deve estar rindo da minha desgraça. Talvez sair correndo seja uma opção melhor, mas minhas pernas não estão funcionando. Tenho certeza de que, cronologicamente falando, só se passaram alguns segundos desde que coloquei os pés para fora do clube, mas parece que estou parada aqui, no escuro e sozinha, há pelo menos um século. Será que a morte é assim? Tão demorada?
E então um clarão me atinge em cheio, me fazendo apertar os olhos para proteger a vista, e eu sinto meus pulmões doerem pela falta de oxigênio. Porque eu, aparentemente, não me lembro de como respirar. O clarão desliza por mim e segue para a rua em minha frente, e o ronco do motor atinge meus ouvidos com força. Em um piscar de olhos, um carro preto, que parece ter saído de dentro de um filme do Batman, está parando em minha frente. É um Bugatti? Ou talvez seja um Maserati… Não, é definitivamente uma Lamborghini. Preta, e de vidros tão escuros que fica difícil decifrar onde começa e onde termina a lataria e as janelas. Eu espero o motor do carro ser desligado e o responsável por minha morte descer do carro, mas não é isso que acontece.
E, sinceramente, não sei dizer se a versão que se desenrola a seguir é realmente melhor do que uma possível sentença de morte.
O vidro do lado do passageiro começa a abaixar devagar, e cada centímetro vencido é uma nova dose de nervosismo se alastrando por minha corrente sanguínea. Até que o interior do carro finalmente é revelado, e preciso inclinar o corpo para frente para enxergar o rosto do motorista, e sério… Eu juro que o universo realmente trabalha certo por linhas tortas, e que o cara lá de cima ainda não está precisando de uma parceira de crime. Ou talvez o cara lá de baixo esteja sem vagas para me aceitar, o que parece mais provável.
— Já que você ficou de pegar o dinheiro e o relógio, achei que eu devia ficar responsável por conseguir o carro — diz, se inclinando sobre o banco do passageiro e soprando as palavras no ar, de um jeito que não consigo descrever sem precisar utilizar a palavra sexy. É isso. Sexy, charmoso, gostoso para caralho. E o alívio que sinto é tão grande que nem consigo me sentir culpada por estar pensando todas essas coisas sobre meu ex — Você vai entrar ou vai ficar aí parada?
O som de sua voz me tira de meu transe e, sem precisar pensar em meus próximos movimentos, meu corpo corre em direção ao carro, abrindo a porta e escorregando para o banco do passageiro depressa. Ainda estou lutando para apoiar a maleta sobre meu colo enquanto tento arrumar o vestido e fechar a porta, quando o veículo dispara pela rua, voando sobre o asfalto. Tenho certeza de que deixo um gritinho assustado escapar, e joga a cabeça conta o encosto, dando uma risada curta que se mistura ao ronco furioso do motor.
Meu pescoço gira em sua direção sem minha permissão consciente, e me pego observando as ruguinhas que se formam em torno de seus olhos enquanto todo seu rosto parece iluminado por seu sorriso. O seu cabelo está completamente fora do lugar, jogado para trás em direções opostas e que não fazem sentido algum, e os fios só ficam parados em razão da camada fina de suor que escurece algumas mexas. Eu reparo que, em algum momento, enquanto ele resolvia que seria uma boa ideia também roubar o carro de , ele arrumou tempo de se livrar de seus anéis para vestir um par de luvas de couro. O tecido se agarra as suas mãos e deixa apenas o nó de seus dedos de fora, e o modo como estes agarram o volante do carro com firmeza e segurança acaba prendendo minha atenção. Por um lado, me pego sentindo falta de poder avistar as veias proeminentes de suas mãos, mas, por outro lado, a imagem das luvas de couro faz uma série de reações químicas estranhas acontecerem em meu corpo. E então eu resolvo ampliar meu foco e observar a imagem geral. . A primeira coisa que cruza minha mente é que ele se parece com um adolescente, descobrindo os prazeres da vida e toda a diversão que existe em burlar as leis. A segunda coisa é que o som da risada dele ainda faz meu coração tropeçar.
— Você tem alguma noção da crise existencial pela qual você me fez passar? — Eu interrompo seu momento de deleite, tentando enganar meu cérebro e fingindo que essa situação toda não está me deixando mais animada do que deveria.
Eu acabei de roubar um dos caras mais ricos de Seul. E ainda peguei seu relógio. E resolveu fechar a situação com chave de ouro roubando o carro de . E, nesse exato segundo, eu tenho absoluta certeza de que o dono do Bangtan Club é o homem mais puto da cidade, e que metade de seus amigos mafiosos está atrás de nós. E isso realmente me deixa nervosa e preocupada… Mas, sendo sincera, a excitação que sinto é tão maior, que todo o resto passa a ser desprezível.
— Você está falando sobre os últimos trinta minutos, ou sobre os últimos dois anos? — Ele me questiona, ainda soando divertindo, mas adquirindo um olhar inquisidor, que se afasta da avenida para me fitar. E, por mais que eu odeie ter que admitir, a pergunta dele faz muito sentido, e é por isso que opto por rolar os olhos e me manter calada.
Ele não parece se importar com meu silêncio, porque logo volta a exibir o sorriso largo e vitorioso de antes e a prestar atenção na estrada. Eu continuo segurando a maleta cheia de dinheiro sobre meu colo, e sinto a região de meu pulso que está coberta pela pulseira do relógio de ouro formigar – e, sim, eu achei que o melhor jeito de não acabar derrubando a joia durante minha fuga desastrosa era usando-a. Quem é que vai me julgar? A adrenalina ainda faz meu sangue ferver, e parece tão embriagado pelo poder quanto eu. Estamos praticamente voando por uma avenida quase deserta, e a paisagem passa depressa pela janela, e é impossível distinguir o borrão de cores e luzes que eu tento vislumbrar atrás do vidro escuro.
Como se estivesse tentando me ajudar nesta missão, meu ex-namorado, criminoso renomado e formado nas ruas de Daegu, resolve abaixar os vidros do carro, e sinto como se estivéssemos entrando no olho de um furacão de nível cinco na escala de Saffir-Simpson. A corrente de vento que adentra no veículo e circula pelas janelas abertas faz meus cabelos longos voarem sobre meu rosto, e eu resmungo baixinho, repreendendo uma risada. acelera ainda mais, e o conjunto do vento somado ao barulho do motor e dos pneus deslizando pelo asfalto é como uma droga. E o riso fácil e contagiante de é, sem sombra de dúvida, a dose que me leva ao êxtase total e me fez ceder aos pedidos irracionais de meu corpo. Eu me deixo envolver pela atmosfera ao meu redor e fecho os olhos, me embriagando com o sabor viciante do poder, e nem mesmo a mão envolta pela luva de couro, que acaba indo repousar sobre minha própria mão, apoiada sobre a maleta, é capaz de quebrar o momento. Na verdade, isso só o torna mais intenso.
Se eu não estivesse em um estado tão deplorável, com os nervos desgastados em razão de todo nervosismo da noite, e se eu não estivesse tão seduzida pelo dinheiro, pelo relógio, pelo carro (e também por ), eu certamente teria percebido o quanto essa situação inteira é errada. Eu aqui, sentada no banco do passageiro de um carro roubado, com uma mala de dinheiro sobre o colo, um Rolex em meu pulso e um bandido ao meu lado, me deixando ser levada para sabe-se-Deus-onde, sem ao menos me dar ao trabalho de questionar isso… E a verdade é que não me dou ao trabalho de questionar porque essa ideia não me passa pela cabeça. Simples assim. Por um momento, é como se fosse dirigir para sempre, sem rumo certo, sem necessidade de parada, guiado apenas pela vontade de seguir em frente, e em frente e em frente. Estamos avançando tão depressa, como se pudéssemos cruzar as linhas do espaço-tempo e atingir outra dimensão, ou talvez as estrelas, eu não sei. Mas há algo no ar. E é esse algo que me deixa entorpecida o suficiente para encarar a situação através de uma lente que me faz pensar que tudo está completamente em ordem e sob controle.
E o peso da realidade só começa a me abater quando o veículo, tão escuro quanto à noite ao nosso redor, começa a perder velocidade, fazendo com que a paisagem ao nosso redor se torne mais nítida. afasta sua mão da minha para levá-la até o volante, e resolvo, pela primeira vez na noite, prestar atenção em nosso caminho. Observo com olhos atentos ele fazer um contorno, que nos leva para o meio de uma estrada de mão dupla, que parece pouco utilizada. Penso em abrir a boca para perguntar onde estamos, mas parece tarde demais para isso, e, de qualquer modo, minha dúvida é esclarecida poucos quilômetros à frente, quando meu adorável ex-namorado estaciona diante de um letreiro luminoso, que traz cinco estrelas brilhantes em neon amarelo-ouro, penduradas abaixo do nome azulado “Zênite”.
Ah, mas é claro que era e-x-a-t-a-m-e-n-t-e isso que estava faltando para fazer com que essa noite entre para o top cinco de noites mais bizarras da minha vida. E, nesse momento, eu tenho certeza de que há uma grande chance dela ocupar o ponto mais alto do ranking, garantindo o primeiro lugar.
— Ah não, … Nem foden… — Mas então eu me interrompendo, percebendo que é terrivelmente errado fazer uso da palavra fodendo nessas circunstâncias. Por que, racionalmente falando, o que mais se faz em um motel além de foder? Sério. E se ele acha que isso vai acontecer, ele está bem louco. Uma coisa é termos atingido uma nova categoria de criminosos e desbloqueado um nível elevado nesse mundo, e outra coisa completamente diferente é pensar que vamos comemorar essa conquista-claramente-errada como nos velhos tempos. Não vamos.
É sério, eu quero deixar isso frisado.
Não vamos. Não mesmo.
— Desce logo — E só então percebo que minha crise interna deu tempo o suficiente para que ele pudesse descer do carro e contorná-lo, abrindo a porta para mim e me estendendo a mão.
Por algum motivo, ele não tenta tomar a maleta do meu colo, e isso me deixa confusa. Por que ele simplesmente não pega o dinheiro, me arruma umas notinhas só para eu poder pagar o táxi até em casa e some? Não seria bem mais fácil assim? Mas ele continua parado do lado de fora, vestindo um terno idiota e que deixa o corpo dele tão destacado e delineado… E o vento quente da noite dança com seus cabelos cinzentos, e um raio de luz azulada, originada do letreiro do motel, cruza seu rosto e ilumina seus olhos, tão cheios de… de algo primitivo. E que parece tão verdadeiro, e intenso, e que inferno. Que verdadeiro inferno.
— Eu acho que não é uma boa ideia… Melhor você pegar o dinheiro e eu ir para casa, e encerrarmos a noite por aqui — Eu digo, tentando soar certa de minhas palavras. Alguma coisa em minha fala ou em minha expressão faz a boca de se curvar em um sorriso enviesado, e eu fico sem entender qual a graça. A verdade é que não existe graça nenhuma em tentar fazer a coisa certa.
— Eu não quero transar com você — As palavras dele me atingem com a força de um trem desgovernado, e, porra, em vez de ficar feliz com a informação, eu só fico com o orgulho ferido, e com a autoestima abalada… Não que eu queira transar com ele, claro que não. Mas caramba, como é que ele pode não querer transar comigo, quando eu estou vestindo um vestido como esse e quando acabei de dar um golpe milionário? É sério, eu transaria comigo mesma sem pensar duas vezes. Não sei se deixo minha surpresa decepcionante aparecer em meu rosto, mas, se deixo, ele não percebe ou faz questão de ignorar — Só quero conferir o dinheiro, e aqui ninguém vai prestar atenção em nós…
— Ok — Acho que o choque de suas palavras é tanto que me pego concordando, sem mais hesitações. Ele realmente está mais interessado no dinheiro do que no meu decote. É isso. E é claro que ele prefere o dinheiro, ele já deixou isso claro meses atrás, não deixou? Então eu não deveria ficar surpresa. Não mesmo. Porém, de repente, a noite não parece mais tão divertida assim, e por que estou deixando isso me abalar? Meu Deus, isso é ridículo. Eu respiro fundo e tento recolocar a cabeça no lugar enquanto desço do carro sem precisar da ajuda de sua mão. Porque sou uma mulher independente e bem resolvida, que não precisa da ajuda dele para absolutamente nada.
A não ser para caminhar pelo estacionamento de pedregulhos.
Mas é só por isso. Porque a maleta que carrego está pesada, e ele não se oferece para carregá-la, e porque meus saltos agulha continuam prendendo entre os cascalhos. Então, sim, é só por isso que aceito sua mão, depois de três passos tortos e desequilibrados.
O garoto responsável pela recepção não poderia nos ignorar com mais vigor. Sem dizer nada, e protegido atrás de uma vidraça, ele mantém os olhos baixos e se contenta em deslizar uma chave pelo balcão, indicando qual nosso andar, e se calando outra vez. Realmente, não há como passar mais despercebido do que indo para um motel.
indica o caminho e me deixa ir à frente, sem reclamar de meus passos arrastados. Eu subo o lance de escadas devagar, ignorando a dor latejante que começa a se alastrar por meu calcanhar em razão dos saltos, e tento não acabar tropeçando em meu próprio vestido, que vez ou outra acaba enroscando em minhas pernas. Só desconfio que talvez tenha me deixado seguir em sua frente por motivos poucos nobres quando olho para trás, antes de chegar até a porta do quarto reservado para nós, e percebo que o olhar dele está muito baixo para estar mirando minhas costas, e muito alto para estar voltado para o chão. E o sorriso que ele esconde assim que percebe que foi pego no flagra acaba o entregando mais ainda, e eu suspiro impaciente. Eu sempre gostei dos jogos, mas jogar com é algo diferente, e cada segundo novo que passo ao seu lado me faz perceber que, com ele, o risco de derrota é sempre iminente.
— As damas primeiro — Ele diz em tom de zombaria, abrindo a porta e deixando a passagem livre para mim. Resolvo não ligar para sua ironia e entrar no quarto de uma vez, desejando colocar um pouco de velocidade nas coisas para que elas se resolvam logo.
A suíte não é tão ruim assim, apesar de ter um tamanho bastante reduzido em comparação aos outros motéis que já me levou. E essa comparação realmente não vem ao caso agora, eu sei. Eu caminho até a cama king-size, deixando a maleta sobre a beirada da cama e respirando aliviada por me livrar de seu peso. Tanto literal quanto metaforicamente falando. Estou prestes a ceder ao cansaço e a me sentar sobre o colchão, que parece implorar por mim, quando a voz de me repreende, me fazendo parar.
— O Rolex — Ele indica, olhando para a joia em meu pulso. Eu demoro para entender o significado por trás de seu pedido, mas a coisa toda se torna mais clara quando ele se livra das luvas de couro, jogando-as sobre um das poltronas do quarto, e estende o braço em minha direção, deixando seu pulso à mostra.
E não sei por que cheguei a pensar que ele iria se dar por satisfeito em apenas tirar o relógio do meu braço e pegá-lo para ele. Não, claro que não. Ele precisa mesmo fazer uma cena e me envolver ativamente nela, porque isso é típico dele. Eu engulo a vontade que sinto de revirar os olhos e caminho até ele, parando em sua frente, e nossos olhares continuam inertes um no outro, em uma batalha silenciosa para ver quem desiste e desvia primeiro.
Eu abro a pulseira dourada do relógio com maestria, retirando o objeto do meu braço sem dificuldades, mas diminuo a velocidade de meus movimentos propositalmente, enrolando para ajeitar a joia em torno do pulso de . A tarefa de ajustar a pulseira para deixá-la no tamanho ideal é mais difícil, e meu cérebro tenta fazer com que eu desvie meu foco para baixo, para prestar atenção no que meus dedos estão fazendo, mas estou decidida a sustentar o olhar invasivo de . Vez ou outra meus dedos acabam tocando a pele febril de meu ex, e o choque provocado pelo contato me atrasa, mas consigo concluir minha tarefa com sucesso, exibindo um sorrisinho sarcástico e convencido.
— Você precisa aprender a fazer as coisas sozinho — Eu solto sem pensar, mas não me importo com o deslize, porque as palavras fazem com que seja a vez de de revirar os olhos e respirar fundo, e aproveito a deixa para voltar para perto da cama e me jogar nesta.
A sensação do colchão macio contra minhas costas é simplesmente divina. Sinto meus músculos retesados tentando relaxar, e a verdade é que acho que fiquei tão nervosa com os acontecimentos recentes que tenho certeza de que só vou conseguir me livrar de toda minha tensão depois de uma massagem. Ou de um orgasmo. O que vier primeiro. E não necessariamente de . Definitivamente não de .
Eu mantenho meus olhos grudados no teto branco do quarto, manchado pelos pontos amarelados de luz, apesar de minha atenção ser capturada pelo som de passos se aproximando da cama. Assim que os passos cessam, o clique da maleta sendo destrava ecoa pelo quarto, e o som dos elásticos sendo puxados para libertarem as notas se torna presente. Eu permaneço em silêncio, pacientemente esperando que termine logo sua contagem, mas ele resolve me surpreender.
Ele sempre resolve me surpreender.
Antes que eu tenha tempo de entender o que ele está fazendo, está subindo na cama e ficando de pé sobre o colchão. Um de seus pés, que ainda calçam seus sapatos escuros e lustrosos, ocupa o espaço entre os meus, e ele leva alguns segundos para se equilibrar. A curiosidade me vence e acabo apoiando os cotovelos na cama para me inclinar para frente e ter uma melhor vista de seu rosto, e só então percebo que ele tem vários blocos de dinheiro em suas mãos. E eu enxergo no seu olhar a minha tão temida sentença de morte. Porque conheço esse olhar, e sei o que ele quer dizer.
E sei o quanto é difícil escapar dele, quando todo meu corpo já parece preso sob seu feitiço.
O mundo ao meu redor parece se mover mais devagar, como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta, quando ele resolve jogar um punhado de notas sobre meu corpo, fazendo com que uma chuva de dinheiro caía sobre mim. Eu engulo a seco, agarrando os lençóis abaixo de mim de maneira puramente instintiva, e continua sua tarefa, fazendo com que uma garoa fina se transforme em uma verdadeira tempestade de cédulas de tons azulados. Um monte delas acaba atingindo meu rosto e me pego rindo, mergulhando a cabeça novamente no colchão e balançando o rosto para me livrar do dinheiro em meu rosto, e, apesar do novo ângulo, ainda consigo enxergar o sorriso lascivo que cresce no rosto de . As notas continuam sendo jogadas sobre mim, e algumas cédulas se perdem na fenda de meu vestido enquanto outras se espalham sobre meu decote. O dinheiro desaparece da maleta e vai parar todo sobre o colchão, ao redor de meu corpo, e então o momento parece congelar no tempo.
É só percebo que estou arfando, respirando profundamente em busca de ar, quando o silêncio no quarto se torna intenso demais, a ponto de que seja possível ouvir minhas inspirações e expirações desreguladas. Mas dá um jeito de roubar meu ar assim que ele desaba de joelhos sobre o chão, rapidamente inclinado seu corpo sobre o meu, mas sustentando o peso de seu corpo sobre seus braços, impedindo que o contato entre nós seja completo. O seu olhar repousa sobre o meu e, pela segunda vez na noite, sou atingida por seu perfume inebriante.
E porra.
Só isso mesmo.
— Não é curioso pensar que a mulher que me deixou uns meses atrás, por achar que era boa demais para mim, esteja deitada no meio de todo esse dinheiro sujo agora? — Ele me provoca, arrastando suas palavras e soprando-as calmamente contra meus lábios. E quero muito pensar em uma resposta inteligente e que consiga atingi-lo também, mas nenhuma ideia coerente surge, para me salvar. E tenho plena convicção de que se eu acabar abrindo a boca para dizer algo, é muito provável que as palavras que escapem sejam bastante parecidas com algo como “Me fode, pelo amor de Deus”. E faz com que eu me sinta tão suja, deitada entre todo esse dinheiro roubado, e sendo sufocada por uma maré cheia de fantasias imundas, que tenho certeza de que nem mesmo um banho de água benta com sal grosso conseguiria me purificar e tirá-lo de minha pele. Porque a verdade ridícula é que o veneno que destila sobre mim não está apenas sobre minha pele, mas também abaixo dela, correndo por minha corrente sanguínea e se alastrando por minhas estranhas — Não é você que tem sempre uma resposta pronta na ponta da língua? — Ele instiga, dando um sorrisinho canalha e ciente dos efeitos que causa em mim, e isso me deixa irritada.
— Vai se foder, — É uma vitória que eu consiga pronunciar a frase da maneira correta, sem acabar trocando o pronome “se” pelo “me”. Ele não se afeta com minha sugestão grosseira, pelo contrário. Em vez de se afastar, seu rosto se aproxima da curva do meu pescoço, e ele desliza a ponta de seu nariz por minha pele, arrastando sua boca até meu ouvido e fazendo com que algumas notas saiam do caminho, caindo sobre o colchão.
— Por que eu faria isso… — Ele faz uma pausa, e sinto a ponta de sua língua acariciar minha orelha, próximo de meu brinco — Quando eu posso fazer algo bem melhor… — E então seus dentes estão em minha pele, arranhando-a tão superficialmente que a provocação chega a me causar dor — Como, por exemplo, foder você?
Sim, sim, sim, por favor.
Eu não tenho objeções, para ser honesta.
Ele é um canalha? Sim. Ele me tira do sério? Definitivamente. Eu jurei que nunca mais o deixaria tocar em mim? Pois é, jurei. Mas já jurei tanta coisa que acabei não cumprindo, que isso nem é tão importante assim, né? E, a essa altura do campeonato, me parece melhor pensar que sou uma mulher madura, independente e que sabe o que quer. E, agora, eu o quero. Nem sempre nossas escolhas são inteligentes, eu sei, mas eu posso deixar para pensar nisso depois.
— Achei que tivesse dito que não queria transar comigo — Eu consigo forçar as palavras para fora, expulsando-as do fundo travado de minha garganta. afasta o rosto de meu pescoço e volta a me fitar, parecendo se divertir com a situação.
— Achei que você soubesse que minto melhor do que ninguém… E como é que eu posso não querer transar com você, quando eu sei que você já deve estar molhada só por causa das minhas palavras? — E, como se ele quisesse comprovar sua teoria, uma de suas mãos se aproveita da fenda de meu vestido e escorrega entre minhas pernas, me tocando por cima da lingerie de renda preta, que não consegue esconder o quão correto ele está. Eu espero por algo mais, mas nada acontece. Seus dedos se afastam, e eu me obrigo a engolir meu suspiro frustrado, e o olhar de me envia uma mensagem bastante direta: vou ter que pedir.
Vou realmente precisar usar todas as malditas letras, consoantes e vogais, para dizer o que é bem óbvio.
— Então por que, em vez de continuar falando, você não usa sua boca para fazer algo melhor? — Eu o desafio, e ele não hesita em satisfazer meu pedido, pressionando sua boca contra meu pescoço e deixando uma trilha de beijos úmidos e demorados por minha pele. Sua língua desliza por minha clavícula e segue na direção de meu decote, e ele explora cada centímetro de pele até que o vestido torna seu trabalho impossível. Só percebo que fechei os olhos em algum momento quando torno a abri-los, tentando descobrir o motivo da boca quente e macia de ter se afastado de minha pele e do calor do seu corpo ter se distanciado do meu.
Estou prestes a abrir a boca para perguntar o que aconteceu quando meus olhos o encontram de pé, na beirada de cama, se livrando de seu terno. Ele se livra da peça sem afastar seu olhar escuro de meu corpo, e o restante de suas ações acontece da mesma forma. O terno é jogado sobre a poltrona próxima da cama. Seus dedos dão um jeito de afrouxar a gravata, mas ele não se livra dela, assim como também não se livra de sua calça, nem de sua camisa social branca. Assisto enquanto ele desabotoa os punhos desta e dobra as mangas até a altura de seus cotovelos, deixando seus antebraços expostos, e evidenciando ainda mais o Rolex dourado que adorna seu pulso.
— Eu não tenho a noite toda — Eu digo, impaciente, travando uma batalha interna para não acabar esfregando minhas pernas uma na outra, em busca de alguma forma temporária de alívio. dá um sorrisinho inclinado, voltando para perto da cama e engatinhando sobre o colchão até parar ajoelhado entre minhas pernas.
— É bom você ter a noite toda e a manhã também, porque não pretendo te deixar sair daqui tão cedo — Ele responde, em um tom de promessa, que me faz tremer e fraquejar e ficar arrepiada, tudo meio que ao mesmo tempo, e meu corpo é uma bagunça de sentimentos e sensações. Suas mãos seguras vão parar em minhas coxas, e ele começa a deslizar ambas para cima, puxando o tecido de seda do meu vestido junto, erguendo-o até que a maior parte de minhas pernas esteja exposta.
Ele umedece os lábios antes de esconder seu rosto entre minhas pernas, dando atenção para a parte interna de minhas coxas. Seus dentes se afundam em minha pele, em uma mordida forte e que me faz afastar as mãos do lençol para levá-las até seus ombros, apertando-os sobre a camisa. Seus lábios chupam a região machucada por seus dentes, e suas mãos acariciam minhas pernas, escorregando para cima e para baixo, apertando e arranhando, me deixando inquieta. Vez ou outra seus dedos chegam perto o bastante das tiras de minha sandália, mas ele não se preocupa em se livrar delas, ocupado demais em marcar cada pedaço de pele com seus dedos e dentes.
Seus movimentos são todos calculados, arrastados e tortuosamente lentos demais. Impaciente, arqueio o quadril em uma súplica silenciosa, e tudo que recebo em resposta são as mãos firmes de meu ex indo parar em minha cintura e empurrando meu corpo contra o colchão, me imobilizando. Não tenho certeza se deixo o nome dele escapar na forma de protesto, ou se isso acontece só em minha imaginação, mas uma pontinha de vitória me atinge quando os dedos dele finalmente envolvem minha lingerie, começando a brincar com o tecido antes de finalmente deslizar a peça por minhas pernas, livrando-se dela e me deixando inquieta.
E desesperada.
Como é que ele consegue se manter tão calmo e sob controle, com toda essa tensão presente? A vontade que sinto é de gritar e implorar para que ele pare de enrolar e faça alguma coisa de uma vez por todas, mas ele parece verdadeiramente disposto a me fazer enlouquecer. E, então ,eu percebo que, na verdade, o problema não é a calma ou o controle, o problema é que ele está fazendo de propósito. Toda sua lentidão, seus toques leves e quase superficiais, que fazem minha pele arder, é tudo um maldito jogo para me fazer implorar por ele. E isso faz sentido, não faz? Eu jurei que ele nunca mais tocaria em mim, e olha só onde estou aqui. Precisando implorar por seu toque.
— Você precisa que eu seja mais direta? — Eu questiono enquanto ele continua espalhando beijos por minha cintura e ignorando a parte principal. Minhas palavras o fazem soltar um risinho contra minha pele, logo abaixo do osso de meu quadril, e eu mordisco o lábio inferior com força, lutando contra os sons que insistem em querer escapar de minha boca. Mas se ele não quer colaborar comigo, também não vou colaborar com ele.
— Depende… O que você chama de ser mais direta? — Ele devolve a pergunta, alternando suas palavras entre seus beijos e parando com sua boca logo acima de meu sexo, em meu baixo ventre. Sua respiração quente toca minha pele e me deixa nervosa.
— Não sei… Eu mandando você parar com essa enrolação e o caralho a quatro e me foder com essa língua de uma vez, até eu gozar na sua boca? Isso serve? — Eu me engasgo em minha própria fala, embriagada com meu desejo, mas um lampejo de luxúria cruza o olhar feroz de , e tenho certeza de que consegui atingi-lo, de algum jeito.
— Você podia ter sido um pouco mais educada e pedido por favor, mas é, isso serve — Ele brinca, e penso em gargalhar, porque quem ele pensa que é para pedir por educação? E me fazer falar por favor? Francamente… Mas o som de meu riso morre no mesmo segundo em que a boca dele finalmente encontra minha intimidade, e sua língua percorre cada maldito milímetro de pele, me provando por inteiro e me fazendo cerrar os olhos com força.
Meus dedos instintivamente buscam por seus cabelos, e eu os agarro com força, tendo a certeza de que meu toque urgente é o suficiente para que ele entenda o recado e não se afaste, e ele entende. Sua boca explora meu corpo, e ele me chupa e me lambe e destrói todo meu raciocínio. Eu sinto meu corpo tremer em total frenesi cada vez que ele movimenta sua língua contra meu clitóris, aplicando a pressão certa, e alternando a velocidade de seus movimentos cada vez que percebe que estou prestes a ceder ao desejo. É rápido, e intenso e quente, e de repente tudo se transforma em lentidão, calmaria, numa tortura sem fim. E ele não se dá por satisfeito em usar só sua língua. Seus lábios e seus dentes também se perdem demoradamente em mim. Me pego apertando seus fios cinzentos de cabelo entre meus dedos, e minhas unhas longas arranham seu couro cabeludo, e ele geme contra meu sexo, e a sensação é tão ridiculamente gostosa, que, sem pensar, ergo o quadril novamente, desta vez em busca de mais contato.
Seus braços envolvem minhas coxas, e ele mantém minhas pernas abertas, forçando meu corpo contra o colchão e acabando com qualquer tentativa de movimento meu, e isso me faz grunhir frustrada. Afasto os dedos de seus cabelos para me apoiar em meus antebraços e sustentar meu corpo, que parece pesar uma tonelada. Ele percebe meu olhar curioso, analisando todos seus movimentos, e, enquanto sua língua percorre novamente toda extensão de meu sexo, sem pressão alguma, seu olhar intenso repousa sobre o meu, e foda-se. Simplesmente foda-se o bom senso, e a racionalidade, e todas as promessas de ser uma mulher sensata. É impossível ser sensata quando a imagem mais bonita que já vi em toda minha vida foi e continua sendo perdido entre minhas pernas. E a língua é tão gostosa que não me sinto nem mesmo envergonhada de admitir isso.
— Por que você não fala? — Suas palavras me obrigam a tentar me concentrar em meus pensamentos, e não nas sensações de sua boca em mim, e levo alguns segundos para reencontrar minha voz.
— O-o que-ê? — Eu acabo gaguejando, porque ele faz um novo movimento circular com a ponta de sua língua quente que realmente não contribui para que minha fala escape normalmente.
— Que você sentiu saudades da minha língua — Ele provoca. Com palavras, e com sua boca, e língua, e tudo. E quero esmagar seu ego idiota e mandá-lo calar a boca, mas apenas reviro os olhos — Não sentiu? — Ele insiste, e dessa vez vejo seu rosto se afastar de minha intimidade, e o desespero que surge da ideia de vê-lo me deixar me domina.
— S-sim, sim, sim! — Eu solto a palavra repetidas vezes, e ele sorri divertido, se deliciando com a situação. Um verdadeiro cafajeste.
— E do que mais?
O quê? O que ele quer que eu diga? Eu abro a boca, esperando que uma resposta simples surja, mas não faço ideia do que responder. E ele continua esperando. Eu respiro fundo e deixo o peso de meu corpo ceder contra o colchão, voltando a fitar o teto, porque não posso fazer isso olhando para ele. Meus dedos voltam a envolver seus cabelos, e juro que só deixo as palavras seguintes escaparem porque preciso muito gozar, e não porque elas são, necessariamente, a verdade.
— De você… — Eu arrisco, e sou recompensada por sua boca envolvendo meu sexo e me chupando com força, cheio de vontade, o que me faz soltar um gritinho engasgado.
Porra, porra, porra.
Eu senti saudades. Eu senti! Eu confesso!
Saudades da boca, da língua, dele, e…
— E dos meus dedos? Você sentiu saudades também? — Suas palavras vibram contra minha pele e, no segundo seguinte, sinto um dedo deslizar para dentro de mim, me pegando de surpresa e me fazendo arfar.
Seu dedo se movimenta no mesmo ritmo cadente de sua língua e sinto que estamos nas preliminares há horas e mais horas, e meus nervos imploram por alívio, e parece entender meu estado e empurra outro dedo para dentro de mim, se aproveitando de minha própria umidade e de sua saliva para facilitar seu movimento. Seu pulso acaba roçando na parte interna de minha coxa em razão de seus movimentos e a pulseira fria e dourada do Rolex arranha minha pele, e a mistura de temperaturas me deixa sem ar. Ele dedilha meu sexo e estimula meu interior enquanto sua boca continua provocando meu clitóris, e então seus dedos se ocupam em facilitar o acesso para sua língua, que me penetra com firmeza. Minhas costas arqueiam outra vez e minhas mãos vão parar nos lençóis abaixo de meu corpo suado. Meus dedos agarram o tecido e um punhado de notas, e a textura do dinheiro só faz com que tudo que eu sinto acabe sendo intensificado. acelera o movimento de seus dedos, os empurrando para dentro e os puxando para fora, e uma onda de excitação se alastra por meu corpo, me fazendo choramingar baixinho.
E estou tão, tão, tão, tão, tão perto de atingir um orgasmo e sentir toda minha tensão se dissipar em ondas de prazer, que fecho os olhos com força e deixo a antecipação me dominar.
Mas, então, sinto seus dedos escorregarem para fora de mim, as pontas percorrendo minhas terminações nervosas sensíveis e se afastando de meu corpo, e sua boca segue o mesmo caminho.
E então ele para.
Só para.
Eu me sinto a um passo de adentrar no paraíso quando mãos firmes me puxam de volta para a realidade, e a sensação iminente de meu orgasmo começa a se afastar, me causando uma dor que queima meu corpo. A sensação do corpo de entre minhas pernas desaparece e sinto o espaço vazio da cama, ao meu lado, afundar, e isso me faz abrir os olhos.
— O que você está fazendo? — Eu pergunto com a voz completamente embargada, olhando para o lado e encontrando deitado preguiçosamente, os braços dobrados e repousando atrás de sua cabeça. A imagem me faz sentar na cama depressa, e meu corpo protesta, desesperado para se livrar da sensação incômoda que se alastra por meu ventre.
— Você precisa aprender a fazer as coisas sozinha, meu anjo — E, então, me responde. E não sei se devo me amaldiçoar por minhas palavras, ou se devo matá-lo por estar sendo esse filho da puta desgraçado. E eu penso, pela milésima vez na noite, que isso tudo é absurdamente errado e que a culpa é minha por ainda estar aqui, esperando que algo de bom surja dessa situação ridícula — Então, por que você não termina sozinha?
O meu choque é tanto que demoro para tomar uma atitude, mas assim que me arrasto para fora da cama, sentindo a raiva e a frustração borbulharem em meu sangue, me convenço de que 1) a melhor opção é ir embora sem olhar para trás e deixar que vá para o inferno, sem me arrastar junto, de preferência, e 2) uma opção não tão melhor é me vingar, e fazê-lo se arrepender de tentar me fazer enlouquecer.
E é claro que a primeira opção é a mais coerente, ainda que a segunda seja mais atraente. Não faço ideia do que espera que eu faça, mas tenho certeza de que não vou conseguir dar três passos para fora do quarto sem precisar me esconder em algum canto para dar um jeito na minha situação, e então percebo que não tenho muitas opções para me livrar da mistura de sensações que correm por meu corpo, a não ser, bom, realmente me livrar dessa situação. Literalmente.
Sem pensar demais sobre isso, me sento sobre a poltrona de frente para a cama e deixo o peso de minhas costas ceder contra o encosto, enquanto abro os minhas pernas o máximo que as braços do móvel permitem, agradecendo a fenda de meu vestido. A expressão de é indecifrável e tento não me agarrar a isso enquanto tento me convencer de que meus dedos podem muito bem substituir os de . Meus movimentos são menos precisos e intensos, mas ainda assim meus músculos internos engolem os dois dedos que empurro para dentro, de uma só vez, em uma tentativa desesperada de me sentir preenchida.
— Devagar — A voz arranhada dele me interrompe, me fazendo engolir em seco — Devagar e mais fundo — Ele ordena, e eu inconscientemente me pego obedecendo suas ordens, diminuindo meu ritmo e fazendo meus dedos irem o mais fundo possível, o que faz com que um gemido abafado escorregue de minha boca. Estou concentrada em meus movimentos quando, dessa vez, é o som da fivela do cinto de sendo aberta que me faz perder o foco. Mas ele não faz mais do que isso, abrir seu cinto e se livrar dele, jogando-o para fora da cama enquanto seus braços voltam a repousar atrás de sua cabeça, e ele volta a me assistir — Agora o polegar, no seu clitóris… Bem aí, onde você gosta que eu te chupe com a minha língua — Sua voz autoritária surge outra vez, e faço o que ele diz sem hesitar, sentindo um tremor involuntário correr por meu corpo. Eu odeio admitir que a raiva que sinto começa a dar lugar a uma sensação estranha de prazer, e que suas palavras me guiando fazem com que uma explosão de calor tome conta de mim. Não era para isso ser tão gostoso assim… Era para eu estar puta e irritada, e não tirando proveito da situação. Não era para eu estar gostando de toda essa tortura, que droga — Isso, desse jeito… Como é que você se sente sabendo que consigo te deixar nesse estado, sem nem precisar te tocar?
me pergunta, como se ele conseguisse ler através de mim e perceber todos os efeitos que ele é capaz de provocar em meu corpo e em minha mente. Eu ignoro sua pergunta, me concentrando na sensação de meus dedos me invadindo sem pudor. Finalmente consigo sentir meu orgasmo se aproximando novamente, mas dessa vez sou eu quem pensa em parar, porque a ideia de gozar na frente dele, enquanto ele ainda está completamente vestido, tão dominante e transbordando calmaria, parece ferir meu orgulho. E parece errado deixar que ele se satisfaça com isso, mas meu corpo está tão perto de chegar ao ápice do prazer e ugh. Minhas pernas se fecham involuntariamente, e se senta na cama, arrastando-se até estar na beirada desta, próximo de mim. Ele inclina o tronco para frente e apoia os antebraços em suas coxas, ao mesmo tempo em que percorre o lábio inferior com sua língua.
— Abra as pernas — Eu me obrigo a seguir suas ordens, ainda que todo meu corpo proteste — Isso, pequena… — O maldito apelido, ah — Agora, por que você não coloca mais um dedo e goza para mim? — Ele continua me guiando, com uma confiança que faz parecer que ele conhece meu corpo melhor do que eu mesma, o que é ridículo. Ridículo, mas eficiente, porque meu corpo cede ao seu pedido sem hesitação, e suas palavras reverberam em meu interior, até que um tremor intenso se alastra por meu corpo, acompanhado de um rastro de fogo e eletricidade que acompanha meu orgasmo. A sensação é tão intensa que respirar se torna uma tarefa difícil e fecho os olhos, tentando controlar no movimento de meus pulmões. Inspirar, expirar. Inspirar, expirar.
Estou tentando prestar atenção em minha respiração quando o toque de mãos quentes e firmes contra minhas coxas interrompe meu esforço, me fazendo abrir os olhos depressa. Meu cérebro demora para processar a informação de que , em segundos, saiu da cama e agora está ajoelhado no chão em minha frente, entre minhas pernas.
— O que você está fazendo? — Eu questiono com a voz fraca, sem energia alguma. O fato de eu precisar perguntar isso a cada cinco minutos só comprova que realmente não tenho o menor controle sobre nada que está acontecendo, e isso deveria me deixar preocupada, mas só me deixa mais… excitada… Se é que isso faz sentido. usa as mãos quentes para afastar minhas pernas, e eu acabo gemendo sem perceber, sentindo a antecipação e a promessa de algo agitar meu estômago. Mas eu ainda estou tão sensível, que só o pensamento dele me tocando me machuca, de um jeito erroneamente prazeroso, apesar dele parecer não se importar muito com isso. Seu olhar encontra o meu, e a inocência presente em suas íris escuras é completamente forjada, e não se combina em nada com o modo como seus dedos se curvam sobre minha pele, apertando minhas coxas.
— Você disse que queria gozar na minha boca — Ele responde casualmente, como se estivesse dizendo que vai até a esquina tomar um café, e isso me desmonta. Eu penso em protestar, mas o tempo que levo para processar a informação e para pensar em uma resposta é bem maior que o tempo que ele leva para cruzar a distância que separa sua boca de meu sexo. Ah não, puta que o pariu. Uma série de gemidos incoerentes escapa sem permissão, e meus dedos estão novamente afundando nos fios macios e cinzentos de , e me pego indecisa entre empurrá-lo para longe ou puxá-lo para mais perto.
Sua língua e seus lábios me tocam em todos os lugares certos, e ele usa seu polegar para esfregar meu clitóris uma, duas, três vezes. E ainda estou tão sensível que o prazer se mistura a um resquício de dor que me faz ofegar, sentindo meus pulmões arderem com a falta de oxigênio. Meu coração esmurra meu peito, e minhas pernas se fecham involuntariamente em torno da cabeça de , que de novo me segura com força e me faz ficar parada no lugar. A sensação de seu toque nem se compara ao trabalho fracassado e sem graça de meus dedos, e quando sua língua me penetra outra vez, eu sinto o segundo orgasmo chegar, fazendo meu corpo se contorcer e um som abafado escapar do fundo de minha garganta. A boca de continua me chupando através de meu ápice e sua língua quente se perde em meu gozo, até que a sensação se torna demais e agarro seus cabelos com mais força, puxando seu rosto para cima. Ele avança em direção a minha boca, mas eu jogo a cabeça para trás, fazendo com que ele enterre o rosto na curva entre meu pescoço e meu ombro.
Porra, porra, porra.
Meu corpo parece prestes a entrar em combustão e me sinto exausta, mas a ereção de , evidenciada pelo tecido fino de sua calça social, deixa bastante claro que a noite ainda não chegou ao fim, e as palavras que ele sopra em meu ouvido só comprovam isso.
— Você quer saber o que acontece agora? — Ele me pergunta, ainda com o rosto escondido em meu pescoço e com a respiração tão pesada quanto a minha, o único sinal de que não sou a única afetada pela atmosfera intensa do quarto. Eu movimento a cabeça em um sinal afirmativo, esperando que ele continue. Ele apoia as mãos nos braços da poltrona, me mantendo presa entre seu corpo — Você vai se livrar desse vestido e voltar para a cama.
— E por que eu faria isso? — Eu o desafio, apesar de sentir que meu corpo começa a implorar por mais. A boca dele se arrasta por meu pescoço, percorrendo minha mandíbula e seguindo na direção de meus lábios, mas eu ergo meu indicador, pressionando-o contra a boca de e o impedindo de me beijar.
E isso é idiota, eu sei. Ele acabou de me chupar como se toda vida dele dependesse disso, e agora eu me sinto nervosa com a ideia de beijá-lo. É, é idiota e ridículo, mas, na minha consciência abalada após dois orgasmos seguidos, isso tudo faz sentido. Eu posso lidar com todas as palavras sujas e toques urgentes e precisos de , no entanto eu não sei se consigo lidar com o seu beijo e com toda a intimidade que vem com isso. Eu não preciso de todas as lembranças de nossa vida compartilhada como namorados, só do sexo. Casual e sem compromisso. E sem beijos. Definitivamente sem beijos. Ele parece me entender, porque não insiste nisso e, em vez de se afastar, ele envolve meu dedo com seus lábios, chupando-o e limpando o gozo de minha pele. E, pelo amor de Deus, ele parece alguém saído diretamente de um sonho erótico, com a boca quente e os olhos pesados, e os cabelos bagunçados e pendendo sobre a testa suada. Ele só volta a falar quando sua boca se afasta de meu dedo, e um sorrisinho rápido cresce em seu rosto.
— Porque agora eu vou te foder e te fazer gozar de novo e de novo, com o meu pau dentro de você, até você ficar cansada demais para fazer qualquer coisa além de gemer meu nome, com essa sua boca suja — Meu corpo estremece com suas palavras, e minhas entranhas se apertam, e sinto que vou ter um colapso a qualquer segundo — E então eu vou continuar te fodendo até você achar que não aguenta mais, e me implorar para parar.
Ele diz tudo isso olhando em meus olhos, enquanto suas mãos escorregam dos braços da poltrona e voltam a correr por meu corpo, acariciando minhas coxas, uma por cima e outra por baixo do tecido de meu vestido.
— E então? — Minhas palavras soam de modo automático, em um sussurro quase inaudível. ergue uma das mãos e segura meu rosto, me fazendo inclinar a cabeça levemente para trás, e seu polegar traça o contorno de meu lábio inferior.
— E então… — Ele hesita, seu olhar desviando do meu para mirar minha boca e percorrer todo meu corpo. Antes de terminar sua fala, suas mãos envolvem minha cintura, e ele me puxa para fora da poltrona, me fazendo ficar em pé em sua frente, e preciso apoiar as mãos em seus ombros para me manter firme, porque minhas pernas parecem fraquejar a todo instante.
Seus dedos envolvem as alças finas de meu vestido, e ele puxa ambas ao mesmo tempo, baixando-as por meus ombros com uma paciência exagerada, até que a seda desliza por meu corpo e vai parar no chão, ao redor de meus pés. Ele inspira profundamente ao perceber a ausência de um sutiã, e eu imito seu gesto, prendendo o lábio inferior entre meus dentes para afastar a vontade que sinto de beijá-lo, provando o gosto de sua boca.
E eu estou completamente nua, a não ser por meus saltos, enquanto ele continua todo vestido, e isso é injusto, mas não tenho tempo de protestar, porque logo ele está se sentando sobre a cama e me puxando sobre seu colo. Eu enrosco minha mão em torno de sua gravata escura em busca de apoio, e ele envolve minha cintura com seus braços, me puxando contra seu corpo e fazendo com que meu quadril se choque contra o dele e com que eu me sente sobre sua ereção, o que me faz salivar. E é tão errado assim ficar com água na boca só de lembrar da sensação do gosto dele em minha boca? Talvez eu deva adicionar isso na lista de pecados pelos quais preciso me redimir antes de morrer. Eu chego a esquecer que ele me deve uma resposta, porque, por um segundo, todo meu mundo está orbitando em torno do calor que irradia do corpo dele para o meu. Até que a voz de volta a soprar uma porção de obscenidades contra minha boca, e eu me sinto embriagada com suas promessas.
— E então eu vou fazer tudo de novo, meu anjo — Ele afirma, colando seus lábios em meu queixo em um beijo demorado — Até eu ter certeza de que você só vai sair daqui quando meu gozo estiver escorrendo pelas suas pernas, enquanto você volta para casa, de manhã — Sua frase é um murmúrio rouco que me desarma dos pés a cabeça e faz meu estômago se agitar em antecipação, e puta que o pariu. Eu acho que vou explodir se não calar a boca e colocar em prática tudo que ele promete. Sua boca passeia por minha mandíbula até encontrar seu destino final em meu ouvido, no qual ele termina de revelar quais seus planos para o resto da noite — Porque eu preciso ter certeza de que você vai lembrar de como é bom quando eu estou dentro de você, te fodendo do jeito que você merece e gosta… — E, então, uma de suas mãos sobe de minha cintura para minhas costas e percorre minha pele nua até encontrar minha nuca, e seus dedos se infiltram entre meus fios suados de cabelo, puxando-os com firmeza. Um grunhido escapa do fundo de minha garganta e aperto os ombros dele, cravando minhas unhas sobre o tecido de sua camisa. Eu sinto sua ereção entre minhas pernas, e preciso controlar o impulso quase que primitivo que me implora para movimentar o quadril sobre o colo dele — O que você me diz?
— Tudo bem — Eu respondo de imediato, e minha tentativa de soar indiferente é um fracasso — Mas eu começo por cima — Completo, ouvindo o som da risadinha baixa que deixa escapar ecoar bem ao lado de meu ouvido, me fazendo cócegas.
— Saudades de ficar no controle? — Ele provoca e o ignoro, porque é sempre mais fácil ignorá-lo do que pensar em uma resposta a altura, que não gire em torno de algo como “cala a porra da boca, !”.
Não hesito antes de espalmar minhas mãos em seu peito e empurrá-lo sobre o colchão, coberto de dinheiro, e o sorriso que estampa o rosto dele enquanto ele me observa me faz derreter por dentro. Minhas mãos urgentes e levemente trêmulas começam a desfazer os botões da camisa branca dele, e me estresso quando meu nervosismo atrapalha minha tarefa. resolve ajudar e se senta sobre o colchão novamente, fazendo com que eu perca o equilíbrio enquanto ele se livra da camisa puxando-a sobre sua cabeça e a jogando para fora da cama, por cima de mim. Eu o agradeço com um suspiro demorado, porque a verdade é que havia esquecido da maldita tatuagem que marca suas costelas, logo acima da cicatriz provocada por um ferimento de bala, e a imagem me faz paralisar. “Quis attero mihi tantum planto mihi validus”. parece perceber que sou sugada para dentro de um vórtice de memórias antigas e resolve fazer algo a respeito, deitando novamente na cama e me puxando contra seu corpo.
Seus dedos longos dedilham as laterais de meu corpo, e o toque dele é o suficiente para que minha atenção volte a ser direcionada para . Resolvo que já esperei demais para sentir o gosto salino de sua pele suada em minha boca. Meus dentes avançam para o pescoço dele, e o som abafado que ele solta quando meus dentes arranham sua pele, sem piedade alguma, se parece com uma dose de gasolina sendo lançada sobre um incêndio, e sinto as chamas ao meu redor triplicarem. Minha boca se ocupa em deixar uma bagunça de beijos molhados, mordidas e chupões por todo seu pescoço, ombros e tórax, enquanto minhas mãos dão em jeito de baixar o zíper de sua calça social. Meus dedos esbarram em seu pênis ereto enquanto faço isso, e ele inspira com dificuldades, engasgando com o próprio ar, e isso me faz sorrir. Saber que eu não sou a única que está na beira de um abismo, prestes a cair em queda livre, é um conforto gigantesco e que me faz reconquistar minha segurança.
Afasto minha boca de seu corpo e interrompo minhas carícias para conseguir me livrar de sua calça, e ele resmunga por um momento, até entender que minha interrupção tem um propósito bastante nobre. Ele ergue o quadril para facilitar meu trabalho e puxo o tecido para baixo, tendo o cuidado de fazer com que minhas unhas arranhem as laterais de suas coxas e pernas, traçando o mesmo trajeto que sua calça faz, até deslizar por seus pés já descalçados e ser descartada no chão. Volto a subir na cama, entre as pernas dele, e subo minhas mãos por suas pernas, sentindo os músculos de suas coxas se retesarem com meu toque suave, e só Deus sabe o quanto manter tudo nesse ritmo arrastado destrói minha sanidade, mas o que me faz continuar com minha tortura é saber que ele parece causar o mesmo efeito em , que mantém seu lábio inferior preso entre seus dentes. Mordendo-o com força.
E tento expulsar o pensamento de que eu gostaria de estar fazendo o mesmo, cravando meus dentes em seu lábio macio e avermelhado.
Em vez disso, foco em sua boxer preta, que deixa o contorno de sua ereção ridiculamente delineado, e minha mão está massageando seu pau por cima do tecido antes que meu cérebro tenha tempo de planejar minhas próximas ações. Meus dedos exercem mais pressão sobre seu corpo, e ele deixa um gemido rouco escapar, partindo seus lábios, o que permite que um palavrão escorregue por sua boca suja. E porra, porra, porra, eu preciso de mais. Eu preciso de mais gemidos, e suspiros, e palavrões. Resolvo inclinar o corpo para frente e aproximo minha boca da mão, que continua massageando sua excitação, mas passo direto e beijo um beijo úmido logo abaixo de seu umbigo, e o som frustrado que produz é quase uma sinfonia para meus ouvidos. Acabo rindo e meus lábios vibram contra sua pele, enquanto mantenho meus movimentos desacelerados. Minha boca passeia por sua barriga e segue em direção a suas costelas, e traço sua cicatriz com a ponta de minha língua, vendo-o fechar os olhos por um momento. Deixo um beijo demorado sobre sua tatuagem e volto a baixar minhas carícias, voltando para perto de sua pélvis.
— Mais para baixo… — Ele murmura enquanto espalho beijos por seu quadril, e uma de suas mãos acaricia a região das minhas costas logo abaixo de minha nuca.
Como a boa garota que sou, obedeço seu pedido autoritário e desvio minha atenção e minha boca mais para baixo. E então estou beijando a parte interna de suas coxas, e ele está grunhindo outra vez, irritado. Poxa… Ele disse mais para baixo, e vim para baixo. Se irritado e duro não é um verdadeiro deleite, então não sei o que é.
— O que foi, ? — Eu pergunto, inocente, fazendo minhas palavras soarem contra a pele febril dele — Foi você quem disse, mais para baixo…
— Quem foi que te ensinou a ser tão cruel assim, pequena? — A pergunta dele é claramente retórica, porque a resposta é óbvia.
— Não é aqui que você me quer, entre suas pernas? — Eu devolvo, sustentando seu olhar e vendo suas íris se tornarem escuras enquanto seus dedos agarram meu cabelo, e ele puxa meu rosto para cima, até a altura de seu pênis.
— É aqui que eu te quero.
Cedo ao seu pedido e ao meu desejo e deslizo minha língua sobre seu pênis, por cima do tecido, e os dedos de se fecham com mais vontade em torno de meus cabelos, me mantendo no lugar. Escorrego meus dedos para dentro das laterais da boxer e puxo para baixo depressa, recebendo a ajuda de outra vez, que só afasta as mãos de mim para me dar espaço para me livrar da peça, antes de voltar a ocupar meu lugar. Envolvo sua ereção em uma mão e o começo a masturbá-lo devagar, subindo e descendo meus dedos, sentindo a textura de sua pele contra a minha, e me entorpecendo com os sons animalescos que ele deixa escapar cada vez que alterno a velocidade e a pressão de meus movimentos. O pau dele pulsa entre meus dedos, e ouço meu gemido se misturar ao de enquanto ele joga a cabeça para trás, afundando-a contra o colchão e amassando uma porção de notas.
É completamente irracional o fato de eu já estar toda molhada de novo, sentindo que minha vida inteira depende de ter me fazendo gozar outra vez. Que verdadeiro inferno.
Resolvo descontar minha raiva nele, porque ele também merece passar pelo que estou passando, e então o tomo em minha boca, engolindo-o quase que por inteiro de uma só vez. Não tenho certeza se o “porra, pequena, tão gostosa…” que escuto faz parte de minha imaginação ou não, porque todos os sons do quarto se tornam abafados enquanto circulo minha língua em torno do membro de , explorando tudo, centímetro por centímetro. Minha língua percorre lentamente toda extensão de sua ereção, espalhando seu pré-gozo e deixando um traço de saliva por tudo, facilitando os movimentos de minha boca. Arrasto meus dentes cuidadosamente por sua glande, ao mesmo tempo em que cravo minhas unhas em suas coxas, e corresponde ao meu toque arqueando o quadril, jogando-o para frente e fazendo com que minha boca volte a envolver todo seu pênis, e não sei se sou apenas eu que sinto um calor doentio se alastrar por meu corpo.
Uso minhas mãos para forçar seu quadril para baixo, mantendo-o imóvel, assim como ele fez comigo minutos atrás, e isso resulta em uma reclamação incoerente, que escapa de seus lábios partidos. Minha boca continua a chupar, lamber, beijar e explorar seu membro enquanto uso uma mão para masturbar a base de sua ereção, acelerando meus movimentos e vendo-o arfar em buscar de ar. O prazer estampado no rosto dele faz com que meu ego chegue às alturas, e eu tento manter minha concentração, querendo fazer com que o prazer que ele sente seja tão grande quanto o meu. Ainda que ele, definitivamente, não mereça tanto isso. O som de minha boca e de minha língua acariciando seu pau enche meus ouvidos e se mistura aos sons baixinhos que deixa escapar, e eu queria ter o poder de deixar todos esses ruídos arquivados em memória, porque é um crime esquecê-los. Eu continuo com meus movimentos automáticos, e que parecem decorados só para serem usados com , até sentir meus olhos ficarem marejados e minha garganta doer, e até perceber que ele está praticamente no limite.
— Me deixa gozar na sua boca — Ele deixa a frase escapar ao mesmo tempo em que seus dedos massageiam meus cabelos, de modo agressivo, e a ausência de seu tom constantemente autoritário me deixa surpresa — Por favor, pequena — O maldito apelido me faz apertar os lábios em torno de seu pau uma última vez, antes de afastar minha boca, deixando-o a mercê de um colapso nervoso, a julgar pelo modo como ele tenta desesperadamente fazer com que eu termine o que comecei.
— Da próxima vez que você quiser gozar na minha boca, você vai precisar pensar duas vezes antes de me deixar esperando na rua, com a merda de uma maleta roubada de dinheiro… — deixa uma risadinha escapar, mas não há humor algum por trás do som baixo e rouco, e os traços de seus rostos só deixam transparecer toda sua tensão. E eu me sinto terrivelmente bem. Apesar de ter acabado de sugerir que pode haver uma próxima vez. Foda-se isso, na verdade — Entendeu, meu amor? — E, bom, foda-se o fato de eu cometer o pequeno deslize de chamá-lo de amor.
— Não dá para te deixar por cima por cinco minutos, que você já acha que manda em tudo — Ele responde, em tom de brincadeira, e aproveita o momento para alcançar minhas mãos e me puxar para o seu colo — Vem cá — E o timbre profundo e carregado de possessividade volta a surgir, me deixando arrepiada. Ele usa uma mão para segurar a base de sua ereção e a outra para me guiar sobre seu quadril, me fazendo ficar sobre seu colo, enquanto inclina o corpo para frente e deixa uma mordida em meu pescoço, ao mesmo tempo em que coloco um fim em nossa espera e afundo sobre seu membro de uma vez. E a verdade é que estou tão molhada que o atrito é quase inexistente, e isso parece pegá-lo desprevenido e o faz gemer próximo de meu ouvido, e droga, droga, droga. Por que ele é tão gostoso, por quê? Isso é ridículo. Ele é ridículo.
— Você é ridículo — Eu digo sem pensar, completamente fora de mim.
— E você continua apertada e quente para caralho — Ele devolve, de modo sussurrado e ofegante, e suas palavras só servem para me fazer tremer sobre seu colo. Ficamos imóveis por um segundo, e a sensação de ser completamente preenchida por ele escurece todos meus sentidos, me deixando zonza. dá o primeiro passo e se afasta de meu corpo, voltando a se deixar sobre o colchão e a apoiar a cabeça em seus braços cruzados — Quando você quiser — Ele completa, com a sombra de um sorriso lascivo no canto de seus lábios avermelhados e inchados.
Eu me movimento sobre ele, devagar, testando o contato entre nossos corpos e sentindo meu pulso acelerar quando volto a descer sobre seu pênis, sem pressa alguma. A cada novo centímetro preenchido, a respiração de parece ser consumida e desaparecer, assim como a minha. Eu faço um esforço descomunal para manter meus olhos abertos, porque não posso perder nada. Não posso perder o modo como seu peito sobe e desce em razão da respiração descompassada, e não posso deixar de observar como seus dentes agarram seu lábio e o castigam, quase a ponto de arrancar sangue de sua carne. E nem o jeito como seus olhos escuros continuam vidrados no ponto onde nossos corpos se encontram, e a forma como ele assiste, cheio de concentração, enquanto deslizo sobre seu pau outra vez. Até o fundo. E isso me faz choramingar internamente, de tanto desejo. A sensação de vazio que sinto cada vez que ergo o quadril e o sinto escorregar para fora de mim me faz arfar, me deixando cada vez mais desesperada para senti-lo dentro de mim de novo. E de novo, e de novo, e de novo. O ritmo se torna mais voraz, e rebolo sobre seu colo cada vez que afundo sobre ele, e o controle de dura apenas até o momento em que levo minhas mãos até meus cabelos bagunçados, segurando-os para tirá-los de meu rosto.
Ele interpreta isso como um convite, e suas mãos rapidamente deixam a parte de trás de sua cabeça e seguem para minha cintura, apertando minha pele enquanto ele tenta ditar nosso ritmo. Eu deixo meus cabelos caírem novamente sobre meus ombros e uso as mãos para segurar os pulsos de , obrigando-o a afastar as mãos de mim e a colocá-las novamente atrás de sua cabeça, imobilizando-o. Ele protesta com um grunhido baixo, e eu respondo diminuindo a velocidade. A nova posição faz com que eu fique inclinada sobre seu corpo, e apoio minha testa contra de , em busca de alguma forma de apoio.
Eu subo e desço, devagar e rápido, e devagar e mais depressa, e o mundo ao meu redor parece se transformar em um borrão, fazendo parte de uma realidade paralela, porque tudo gira em torno de . O suor de seu corpo se mistura ao meu, e o som de nossos corpos se chocando cada vez que deixo sua ereção me preencher por inteiro faz com que correntes elétricas corram por minha espinha, me deixando extasiada. Cada vez que resolvo diminuir a intensidade de meus movimentos, deixa gemidos desesperados escaparem contra minha boca, e não beijá-lo exige toda minha força, e o pouco resto de sanidade que ainda existe em mim. Minhas mãos continuam mantendo seus braços presos e me sinto no controle da situação, e a sensação de poder se alastra por minhas veias, fazendo com que eu o provoque mais e mais. Mas a ruína dele é também a minha própria, e quando ele resolve voltar a destilar seu veneno sobre mim, eu sinto o peso de seu desejo vencer minha vontade de permanecer no controle.
— Me deixa tocar você — Suas palavras misturadas a sons roucos que surgem do fundo de sua garganta tocam minha boca, em um beijo incompleto. Eu fraquejo por um segundo, sentindo minhas pernas falharem e tornando meu movimento sobre o membro de brusco, o que arranca um gemido conjunto de nós dois — Você sabe que quer…
— Desde quando você sabe o que eu quero? — Eu retruco, rebolando outra vez e ofegando com a sensação calorosa que o movimento provoca.
— Desde que eu sou o único cara que sabe como te foder direito — Eu quero gritar. Eu quero gritar de desespero e mandá-lo para o inferno, porque ele tem razão. Por que ele sempre precisa ter razão? E eu não sou uma mulher decidida e correta. Eu sou a porra de uma fraude. Uma fraude fora da lei, e que odeia os caras certinhos que ficam menos de um minuto no meio das minhas pernas, e que tem a merda da boca limpa demais.
É isso.
— Se acreditar nisso te faz feliz… — E eu desço sobre seu pênis outra vez, e paro de me movimentar. E eu paro porque, de repente, suas palavras parecem ter mais poder para me fazerem ter outro orgasmo do que seu pau enterrado dentro de mim, e isso é tão absurdo.
— Quase dois anos do meu lado e você não aprendeu mesmo a mentir, não é? — Ele dá um sorrisinho, típico de um canalha destruidor de lares, e isso faz meu coração tremer dentro do peito — Nem para você, nem para mim… Eu sei que você quer isso, tanto quanto eu — Ele afirma, erguendo seu quadril do colchão e o empurrando contra meu corpo, me pegando de surpresa e arrancando um gemido de minha boca — Eu sei que você gosta de ficar no controle… Mas que você ama quando eu te faço perde-lo.
E eu percebo que minha ilusão de poder é apenas isso mesmo, uma ilusão, porque, no segundo seguinte, está invertendo nossas posições em um piscar de olhos, e com uma facilidade absurda. Minhas mãos, que antes agarravam seus pulsos ,agora estão erguidas sobre minha cabeça, e os dedos dele pressionam minha carne, fazendo minha pele queimar. O peso de seu corpo sobre o meu é tão intenso quanto o peso de suas palavras sobre minha sanidade, e a intensidade de seu olhar me faz pensar que tudo que fizemos até agora não passou de um joguinho bobo. Ele parece me devorar por inteiro, e é como se todos os meus segredos mais íntimos estivessem sendo expostos, e eu me sinto fraca. Fraca e entregue.
— E você tenta se convencer de que vão ter outros caras, não tenta? — Ele torna a falar, e sinto-o voltar a deslizar para dentro de mim, com uma calmaria que não se combina em nada com a velocidade de meus pensamentos — Que alguém vai conseguir te fazer esquecer… de como você gosta das minhas mãos pelo seu corpo — O tom de suas palavras arrastadas e abafadas vai diminuindo, e ele dá um jeito de segurar meus pulsos com apenas uma de suas mãos, deixado a outra livre para percorrer a lateral de meu corpo, passando por meu pescoço, ombros, e chegado até meus seios. Ele aperta um deles entre seus dedos, primeiro devagar e depois com força, e eu fecho os olhos instintivamente, engolindo a seco e jogando a cabeça para trás. Ele sai de dentro de mim outra vez, quase que por completo, e não volta.
E eu me sinto vazia.
— Diz para mim… Você também tenta se convencer de que não gosta de todas as sacanagens que eu falo no seu ouvido, não é? — E ele se permite rir. Achar graça. Se divertir com a minha desgraça… Sério. afunda o rosto no meu pescoço e suas próximas palavras saem sussurradas contra minha pele suada — Que você odeia quando eu digo que quero te foder a noite inteira… Com meus dedos, e com a minha língua, e com meu pau — E ele então me fode com força, e fundo, arrancando um grito engasgado meu. E ele sai e volta, uma, duas, três vezes. Inteiro, e ditando nosso ritmo, e sem pudor algum, me consumindo sem piedade alguma. Sua autoridade transbordada em cada estocada nova, e sua voz continua girando na minha cabeça — E que você não suporta quando digo como você é apertada… — E então é a vez dele soltar um gemido baixinho, enquanto torna a diminuir o ritmo de suas investidas, me deixando louca — Porque, caralho, você é… tão apertada, e molhada… E minha.
Seus dentes agarram meu lóbulo, e ele se dedica a me foder, ao mesmo tempo em seus dedos de sua mão livre se revezam entre meus seios e seus dentes se alternam entre minha orelha, meu pescoço e meu ombro. E eu sinto que coloco os dois pés para dentro do inferno e que fecho a porta se fechar atrás de mim, sem chance de escapatória. Ele afasta o rosto de meu pescoço e seu olhar paira sobre o meu por um segundo, antes de ser desviado para baixo, onde nossos corpos se encontram.
— Olha como você me deixa duro, e louco por você… — diz enquanto desliza para fora novamente, e eu sinto meu ventre arder em antecipação — Sente como meu corpo te completa — E ele me penetra outra vez, rápido. E é insano. Insano, absurdo, quente demais — E me diz que você não gosta disso — E eu sinto o desafio em suas palavras, e ele volta a me fitar, pela primeira vez me dando alguma chance de resposta.
E eu não consigo colocar em palavras a mistura de sensações que controlam meu corpo e meus pensamentos. Mas eu sei que alguma coisa me causa uma dor dilacerante, que parece me corroer de dentro para fora, e eu sinto vontade de destruir tudo ao meu redor para acabar com o fogo interno que me consome. A textura do dinheiro sujo em contato com minha pele me deixa excitada, e as notas grudando em minhas costas suadas são como um lembrete de tudo aquilo que jurei deixar para trás, mas que continua vivo dentro de mim.
E .
Ele é o maldito gosto agridoce que se alastra por meu paladar e me faz saborear o melhor do céu e também do inferno. E eu me sinto como um kamikaze, me entregando de corpo a alma a todos os efeitos que provoca em mim como uma verdadeira suicida.
Eu abro a boca na esperança de que alguma resposta simples mas eficaz surja, porém percebo que sou incapaz de me expressar por palavras, então resolvo mudar de estratégia. Em vez de responder que sim, eu sou uma mentirosa e fracassada e que ninguém consegue me pegar do jeito que ele consegue, eu reúno minhas forças e abraço seu quadril com minhas pernas, puxando-o para perto de meu corpo e para dentro de mim outra vez, e ele cede sem hesitação alguma. Minha resposta silenciosa parece capaz de despertar , e ele não mede sua força em sua nova investida e nem em todas as próximas que vêm a seguir.
Seu ritmo se torna cada vez mais frenético, e o choque entre nossos corpos faz com que um som abafado tome conta do quarto, acompanhado pelos grunhidos quase que primitivos de e de meus gemidos cada vez mais altos e descompassados. Vez ou outra deixa escapar um suspiro pesado entre suas estocadas, e cada vez que seu hálito de álcool me atinge, eu sinto meu mudo girar, e a gravidade falhar, me fazendo flutuar. O modo como ele investe contra meu corpo é inebriante, insano, tóxico. O sexo com ele sempre foi bom, mas há alguma coisa que faz com que dessa vez seja ainda melhor. E tento me convencer de que isso não tem nada a ver com saudade, apesar de eu estar certa de que sim, tem tudo a ver. Dizer que ele me faz ver estrelas é um eufemismo ridículo, porque quando o sinto me penetrar fundo, atingindo todos os pontos certos e com a pressão necessária, eu vejo galáxias e constelações e universos paralelos. O cheiro de sexo se espalha pelo ar e toma conta de todos meus poros, e eu afundo minhas unhas nas costas de , certa de que isso irá deixar marcas, e certa de que o modo como ele tenta rasgar e chupar minha pele com seus dentes também vai deixar uma série de hematomas.
E eu não poderia me importar mais.
Porque a única coisa que parece importante é a sensação explosiva que se alastra por meu baixo ventre, me fazendo arquear as costas, sentindo notas grudadas em minha pele. Ele finalmente coloca fim no aperto firme em torno de meus pulsos e sua mão vai parar em meu pescoço. A pulseira fria do Rolex dourado que brilha em sua pele pálida encosta em minha pele e me faz tremer, e sinto meus músculos internos se contraírem involuntariamente em torno da ereção de , e somos um verdadeiro caos.
— Mais forte… — O pedido escapa por meus lábios partidos, e eu nem me dou conta de que digo isso em voz alta até ouvir .
— O-o quê? — Ele pergunta, e não sei se ele não entendeu ou está só me provocando, e a verdade é que estou desesperada demais para tentar descobrir isso. E ele empurra para dentro de novo, sem força alguma. E quero morrer.
— Mais forte, droga! — Digo mais alto, apertando minhas pernas em volta de sua cintura e o obrigando a continuar com suas investidas, e ele me obedece.
Ele mete com mais força, e o choque que isso provoca entre nossos corpos me faz soltar o ar de uma única vez. E de novo, mais forte, e mais fundo, e num ritmo incessante. Eu perco a conta de quantas vezes ele desliza para fora devagar, em uma velocidade torturante, e volta a me foder com força, sem hesitar antes de me invadir por completo. É um verdadeiro paraíso em pleno inferno, e cada novo movimento de parece capaz de atear fogo em minha pele. É tudo demais, mas também parece de menos. E preciso demais, mas meu corpo parece prestes a entrar em combustão, e não sei o que fazer. Os dedos dele que repousam em meu pescoço apertam minha pele, me fazendo erguer a cabeça levemente para trás, e então ele aumenta a pressão, intensificando seu aperto e fazendo com que respirar seja uma função ainda mais difícil. Isso faz com que a adrenalina que corre por minhas veias se torne mais intensa, e sinto o êxtase prestes a me partir em pedaços.
— Goza para mim — O timbre desesperado e urgente de sua voz me atinge com força, e meu corpo obedece seu comando sem restrições, e me sinto sendo jogada de um abismo interminável. Meus pulmões parecem vazios, e quando ele afasta a mão de meu pescoço, eu tento puxar o ar com força, mas isso parece impossível. Não é nada delicado, bonito ou harmônico. É uma verdadeira bagunça, uma explosão desordenada e caótica, que se combina perfeitamente com a minha relação com . Meu corpo treme e meus músculos apertam o pau de dentro de mim, e ele não para.
Seu corpo continua se movendo contra o meu, e minhas unhas enterradas em seus braços deixam vergões avermelhados em sua pele suada, e então eu o sinto gozar dentro de mim, gemendo contra meu pescoço para abafar o som alto, e fazendo sua boca vibrar em minha pele. O gozo dele escorre entre minhas pernas, e ele move o quadril mais algumas vezes, até que suas estocadas se tornam dolorosas e ele sai de dentro de mim, rolando para o lado e ocupando o espaço vazio da cama. Eu mantenho os olhos semicerrados, e minha respiração pesada e fora de ritmo faz meu peito doer, mas todo o restante de meu corpo parece leve. A sensação de que acabei de acordar de um sonho só não é cem por cento real porque o som da respiração também descompassada de me lembra de que isso tudo é real demais.
Uma eternidade parece se passar até que me sinto no controle de meu corpo outra vez, e o silêncio do quarto faz com que meus pensamentos se tornem altos novamente, e isso não é uma coisa boa. Não é uma coisa boa, porque o peso do que acabei de fazer começa a me atingir e quase consigo sentir o gosto da culpa no céu de minha boca. Droga. Sem pensar demais, faço um esforço e me sento na cama, tentando me livrar das notas coladas em meu corpo para me arrastar para fora do colchão e ir embora. Mas a voz cansada de acaba com meus planos.
— Aonde você vai? — Ele me pergunta, parecendo verdadeiramente confuso e curioso. Eu olho para trás, por cima do ombro, e o modo com seus cabelos cinzentos estão suados e bagunçados, apontado em todas as direções, chega a ser engraçadinho.
Ótimos, acabamos de transar como se estivéssemos com nossos dias contados e agora estou o achando engraçadinho. É o fim.
— Você disse que só ia me deixar sair daqui quando tivesse seu gozo escorrendo pelas minhas pernas… Bom, eu já tenho, então acho que é hora de ir embora — Eu respondo depressa, me atropelando nas palavras. Por que é mais fácil transar do que lidar com o que vem depois? Sério.
— É, eu disse… — Ele concorda, e não sei se devo respirar aliviada ou ficar frustrada — Mas você esqueceu de uma parte — O quê? — Eu disse que isso ia acontecer, mas só de manhã. E ainda é madrugada…

— Vai, deita aqui… Eu ainda tenho umas quatro horas para transar com você de novo e cumprir minha promessa — E a voz dele é tão manhosa, e ele parece completamente diferente de cinco minutos atrás — Eu nunca te peço nada, por favor.
— Ah, ! — Eu protesto, sentindo vontade de sorrir — Você sempre me pede mil coisas! — E ele parece sentir vontade de sorrir também, porque é isso que ele faz. O canto de sua boca se repuxa em um sorrisinho preguiçoso, que faz meu coração pular uma batida. É um verdadeiro crime que eu tenha esquecido, por um momento, como seu sorriso despreocupado é lindo.
Dois meses inteiros tentando me convencer de que eu não o amava jogados no lixo em dois segundos por causa de um sorriso. Minha vida é uma piada sem graça.
— Então finge que eu nunca peço nada, e fica aqui comigo — Ele pede outra vez, e sua mão está ao alcance de segurar a minha, me impedindo de sair da cama, mas ele não me toca. E, por algum motivo, isso faz parecer que ele está me deixando ter uma oportunidade de escolher o que quero fazer com o restante da noite, e o pensamento me deixa mais calma.
E talvez seja essa fresta de liberdade que ele deixa aberta para mim que me faz querer ficar presa a ele, o que não faz sentido algum, eu sei. Entretanto, com , nada parece fazer sentido, então tudo bem. Eu cedo e volto a me deitar sobre a cama, ignorando as notas amassadas e suadas que ocupam o colchão. Ele não diz nada e apenas deita de lado no colchão para poder manter seu olhar sobre o meu, e eu espero pela sensação de estranhamento. Mas nada.
Tudo que consigo sentir é que pareço ter voltado para casa depois de passar meses distante.
— Você — A voz baixa dele soa de novo.
— O quê?
— Antes de ir embora, você me perguntou o que eu preferia… — A lembrança faz com que o clima do quarto se torne tenso de repente, e me pego respirando com mais força. Por que ele está falando sobre isso agora? Já faz dois meses… — Você ou a merda do meu dinheiro — Ele tenta imitar minhas palavras, em um tom levemente debochado, mas que não acaba com a seriedade de sua fala.
— Você não respondeu.
E eu fiz um puta esforço para esquecer disso, e agora ele resolve jogar a maldita lembrança em minha cara. Agridoce. O céu e o inferno misturados, como sempre.
— É, eu sei. E eu sei que estou atrasado quase dois meses… Mas minha resposta ainda importa, não importa?
Ah, droga.
Eu quero dizer que não importa.
E que isso não significa mais nada para mim.
E que foi o silêncio dele que me fez ir embora e prometer nunca mais me envolver em toda essa sujeira pra qual ele me arrastou.
Mas importa.
Ainda importa, e acho que vai continuar importando por muito tempo.
E eu não respondo porque, de novo, minhas palavras parecem insuficientes. E, de novo, eu tento demonstrar meus sentimentos de outra forma, e dessa vez isso acontece quando acabo com a distância entre nós e junto nossas bocas, em um beijo calmo e cheio de lembranças. Sua língua se move contra a minha sem pressa alguma, e nenhum dos dois tenta tomar o controle da situação, deixando que as coisas fluam naturalmente, e juro que consigo contar nos dedos o número de vezes em que isso já aconteceu em nosso relacionamento. O gosto dele é tão bom, e me sinto mergulhando em um déjà-vu de lembranças boas e confortáveis, que aquecem meu peito. Ele pode ser um péssimo cara, mas ele sempre foi ótimo para mim.
— Viu só, bem melhor que dinheiro — Ele fala contra minha boca, sorrindo e usando a mão para jogar algumas notas para fora da cama, brincando.
— Isso significa que você vai queimar tudo isso e se livrar desse Rolex? — Eu o provoco, vendo seu rosto se contorcer com a ideia. Ele gira os olhos e suspira longamente, antes de voltar a me encarar.
— Se você prometer que não vai mais embora, eu devolvo até o carro.
E descobrir se ele está falando sério ou não é como montar um quebra-cabeça de mil peças. Difícil, mas divertido, e também recompensador. E é sempre isso que me faz ficar.
E tudo parece em ordem e em paz, e estou prestes a continuar matando a saudade que senti da boca de meu não-tão-ex-namorado assim quando algo invade meus pensamentos, sem permissão alguma. Eu vou morrer.
— Cacete, o vai me matar! — Eu exclamo, alarmada, pegando de surpresa e tentando sair da cama o mais rápido o possível, mas dessa vez sendo impedida pelas mãos firmes dele — Ah, que droga! Ele deve estar me amaldiçoando agora mesmo! Eu disse que ia dar uma carona para ele e…
— Eu já cuidei de tudo — me interrompe, dando um sorrisinho divertido e rolando para ficar por cima de mim novamente, enquanto seus dedos envolvem meus cabelos, em uma carícia gentil. Eu me pego franzindo o cenho, sem entender como é que ele pode ter cuidado de tudo — Eu deixei a chave da minha moto com ele — Ele confessa, com um rastro falso de culpa acompanhando suas palavras. Certo. Isso não faz sentido porque 1) achei que ele e não estivessem mais se falando e 2) ele nunca emprestaria a moto dele.
— Como assim você emprestou a sua moto para ele? — E é nisso que eu foco, porque essa possibilidade parece bem mais absurda do que a ideia deles estarem se falando novamente. E como foi que não me contou isso? Cacete, eu vou acabar com aquele garoto, é sério.
— Você acha que ele resolveu me ajudar sem receber nada em troca? — explica, pacientemente, e parecendo se deliciar com a situação — Conseguir uma noite com você me custou caro, sabia? — E então ele dá uma piscadinha discreta, e tudo se torna bastante claro.
Puta que o pariu, eles armaram tudo?!
— Você o fez me convencer a ir passar a noite no clube — Eu digo o óbvio, e tem um sorriso tão ordinário no rosto, que mal consegue disfarçar o orgulho que sente por seu plano ter funcionado — Por que é que ele aceitou fazer isso?! — E, sério, não faz sentido nenhum, e eu fecho minhas mãos em punhos pressionando-as contra o peito de , tentando não colocar em prática a vontade de sinto que socá-lo por ter feito isso.
— Eu disse que ia dar um golpe no , com a sua ajuda, e que ele ficar com o dinheiro. E prometi conseguir um encontro para ele com o bartender — me explica, dando de ombros, como se tudo isso não fosse lá grande coisa. E espera… Bartender?
? — Eu lembro do nome, e é oficial. Essa noite definitivamente ocupa o primeiro lugar no ranking de noites mais bizarras da minha vida todinha.
— Pois é, ele também fazia parte do plano… — E sua voz repleta de falsa culpa me deixa boquiaberta.
— É bom você estar ciente de que eu vou matar vocês. Os três — Digo entredentes, e acho que a única coisa que me impede de ficar verdadeiramente puta com a situação é meu cansaço e o corpo quente de sobre o meu.
— Certo, pequena… Você pode tentar me matar a hora que quiser, mas antes… — Ele faz uma pausa, e percebo a mudança em seu tom de voz — Antes eu preciso cumprir minha promessa — E então conclui, voltando a buscar por meus lábios e me beijando, sem pressa alguma.
E droga. Maldito seja .

Not enough, not enough shout out your desires
Let’s enjoy ourselves as much as we can.



Fim



Nota da autora: Eu nunca sei o que comentar depois de escrever histórias com cenas explícitas, porque a minha vontade é fingir que isso nunca aconteceu hahahah. Mas enfim, deve ser a terceira vez que to me arriscando a escrever esse tipo de coisa, e é por isso que peço pra que se você leu até aqui, me deixa um feedbackzinho por favor! É muito importante pra mim, viu? Espero que a leitura tenha valido a pena e que tenha sido tão divertido pra você ler quanto foi pra mim escrever!

Se quiser acompanhar minhas outras histórias, ou conversar comigo, o link das minhas redes sociais é:

É isso, obrigada de novo! <3





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus