Capítulo Único
A chuva terminava de cair em finas gotas agora quase imperceptíveis para aqueles que haviam encharcado seus pés e a barra de suas calças voltando para casa.
Ajeitando a pesada bolsa nos ombros, esperava o trem chegar à estação próxima da qual morava. Todo dia, era a mesma rotina: acordava às cinco da manhã para se arrumar e ficar apresentável, aguardar na fila do trem para o Centro junto com todos os outros jovens da cidade – sem trocar palavra que fosse, ou receberiam olhares dos Capuzes Negros, como chamavam – pegar o trem durante meia hora e torcer para não sofrer como um pedaço de sardinha enlatado, trabalhar durante todo o dia em um dos grandes prédios de vidro sob a direção de um Sênior – muito mais velho do que a mão de obra jovem que empregavam – e, após dez horas, voltar para a cidade em silêncio, a fim de aproveitar as horas do dia que lhe restavam.
Aquela era a realidade de todos os jovens, sem exceção. Passavam a infância e a adolescência estudando para se especializar em algo enquanto seus pais ainda tinham força de trabalho. Quando os pais ficavam velhos, porém, eram forçados a se aposentar – sem qualquer perspectiva de um ganho decente que pudesse sustentar a casa – e os filhos tinham que assumir todas as despesas em um trabalho no Centro.
O Centro era a cidade em volta da qual todas as outras orbitavam. Nenhum dos jovens que trabalhava nessa cidade sabia exatamente qual o tamanho do Centro – afinal, estendia-se durante milhas, sendo responsável tanto pela produção empresarial quanto de commodities. Era realmente algo incrível, que Seniores e Anciãos haviam se dedicado muito para construir.
Jovens como eram a força de trabalho que estava estampada em todos os outdoors do Centro, com frases de efeito do Governo para que se contentassem com aquele estilo de vida. Nenhum Ancião e nenhum Sênior efetivamente trabalhava: somente administravam e geriam por diversão. A premissa era simples: os jovens eram a força de trabalho a sustentar os mais velhos, já sem condições de se sustentarem por si mesmos.
riu consigo mesma enquanto via sua plataforma se aproximar. Aquela era uma boa mentira. Enquanto ela era uma criança, chegara a acreditar naquilo. Mas agora mais velha e calejada pelos seus sonhos que simplesmente definharam e viraram pó diante dos próprios olhos, a moça se tornara extremamente cética.
- Com quanto você ficou esse mês? – Ela ouviu a voz de um garoto, sentado ao lado de uma garota que sorria ao final do dia, enquanto os raios alaranjados emprestavam seus últimos tons aconchegantes aos rostos cansados no trem.
- Quinhentas Novas. – Ela respondeu de maneira orgulhosa, fazendo todos ficarem impressionados, inclusive .
- Uau! Como você é sortuda! – O garoto externou o que os outros pensavam.
concordou com a cabeça, voltando a observar o trem que parava aos poucos e chegava à estação. Uma das mãos dela estava enfiada no bolso, segurando bem as notas que ela se esforçara tanto durante aquele mês para ganhar.
A moça se lembrava de todas as horas extras que fizera, as noites que passara acordada, as semanas que passara sem comer somente para que a notassem no trabalho e a dessem alguma compensação. De fato, a compensação viera: com um salário de cinco mil, a moça não podia pedir mais.
Como sempre, o dia do pagamento chegara e ela fora à Mesa Central receber seu dinheiro e ter os Tributos descontados. As taxas eram inúmeras: para manter os Anciãos, para manter os Seniores, para a segurança do Centro, para o custeio da educação, para o custeio do sistema judiciário, para a manutenção da casa na qual ela morava, para a manutenção das casas e prédios do Centro, para custeio e suporte dos cidadãos do Centro e cidades periféricas...
Ao final, sobrara nas mãos da moça quatrocentas Novas Presidenciais.
Quatrocentas até o fim do mês para sustentar uma família de cinco pessoas. Um dos irmãos de conseguia trabalhar e normalmente também ganhava por volta de quatrocentas Novas. Ambos carregavam a responsabilidade de cuidar das suas famílias e acabaram se tornando extremamente protetores por conta daquilo.
O trem finalmente parou na estação e abriu as portas com um assovio. ajeitou a bolsa nos ombros, somente pensando na bolsa de água quente que a ajudaria a aliviar a dor de carregar aquele peso. Colocou os pés no cimento cinzento da estação e suspirou antes de olhar para frente.
Encontrando Namjoon com as mãos nos bolsos da calça, sorrindo para ela.
- Joonie! Você não me avisou que chegaria antes de mim! – praticamente correu até o irmão, abraçando-o fortemente ao alcançá-lo.
- Consegui pegar um bom lugar na fila da Mesa Central hoje! – Ele retribuiu o abraço, começando a caminhar com a irmã logo que se soltaram. – E tenho boas notícias: dessa vez, sobrou quinhentas Novas pra mim.
- Sério?! – não conseguia conter a própria empolgação, fazendo-o sorrir animadamente enquanto concordava com a cabeça. – Acha que conseguimos passar na padaria dos avós do Taehyung?
- Claro que sim. Eles estão precisando de uma boa ajuda desse mês. – Namjoon olhou para baixo, soltando um suspiro incomodado. – Descontaram muito do Taehyung, ele voltou somente com duzentas e setenta Novas dessa vez.
- Duzentas e setenta?! – A moça sentiu o coração afundar no peito. – Mas por quê? O que houve?
- Aparentemente, inventaram uma nova taxa na área dele. Por ser uma taxa nova, existe um “desconto inaugural” que come quase todo o seu salário. – Ele imediatamente balançou a cabeça, chutando uma pedrinha próxima. – Eu queria ter feito algo. A cara dele, ... O Tae saiu devastado de lá. Quando perguntamos se ele estava bem, o idiota somente sorriu como se nada tivesse acontecido e disse “eu estou bem!” com toda a animação do mundo.
- Ele sempre fala isso... – A irmã balançou a cabeça, caminhando com Namjoon pela Praça da Prefeitura. Como sempre, havia uma boa movimentação e, também como era de se esperar, encontraram os amigos aguardando a chegada de ambos. acenou, no que eles sorriram e acenaram de volta, principalmente Taehyung. – Ele vai fingir que nada aconteceu, né? Droga, Joonie... Como alguém sustenta três pessoas só com duzentas e setenta Novas durante todo o mês? Isso não é justo.
- Não. Nada disso é justo, ... – Enquanto se aproximavam, sorriam e fingiam que não falavam nada de mais. – Pedi aos garotos que ganharam um pouco mais esse mês que passassem comigo na padaria deles. O Jin vai conseguir e o Jimin também. Os outros, já não sei.
- Bom, contem comigo. Nem que eu compre somente um pãozinho de cinco Novas, acho que já ajuda.
Teriam continuado o assunto se não tivessem alcançado os amigos. Todos se cumprimentaram com animação, aquecendo-se no frio que começava a se formar naquela época do ano.
- Muito bem, onde vamos beber hoje? – Jungkook foi direto ao ponto, provocando risadas em todos.
- Dessa vez eu vou ter que passar, gente. Meus avós vão precisar de cada Nova que eu ganhei hoje. – Taehyung deu um pequeno sorriso sem graça, dando um leve tapa nas costas de Jungkook, pronto para deixar o grupo.
- Eu pago uma rodada pra você, nem pense em ir embora. – Yoongi mal se mexeu enquanto falava, quase sem olhar para Taehyung. O amigo somente respondeu com um sorriso envergonhado.
- Realmente não precisa, eu...
- Tae, nem adianta você tentar discutir, olha a cara do Yoongi de quem não vai prestar atenção em nada do que você falar! – Hoseok apontou para o amigo e, de fato, Yoongi não podia estar mais desinteressado.
- É o mínimo que podemos fazer depois de trabalhar tanto! – Jin concordou com um sorriso enquanto os outros somente o observavam. Estava praticamente estampado na cara dele que sobrara dinheiro naquele mês. – Eu quero passar um bom tempo na companhia dos meus amigos, quase nunca fazemos isso!
- É verdade! Nas últimas semanas, mal vimos a ! – Jimin apontou para a amiga, que somente sorriu. – Você quase se matou nas horas extras dessa vez.
- Sim. Mas compensou. – E ficou tentada a mostrar o seu pequeno bolo de Novas, ainda firmemente guardado pelos seus dedos. Entretanto, decidiu permanecer em silêncio.
- Então, vamos aonde? Voto em um lugar que dá pra beber bastante e seja barato! – Jimin já começou a votação, provocando vários comentários dos amigos.
Entretanto, a atenção de se voltou para o meio da Praça. Uma pequena garota – provavelmente nos seus oito ou nove anos, a julgar pela aparência - estava com problemas com os Capuzes Negros. nunca gostara de como a força policial – responsável por manter a ordem e a Lei – abordava as pessoas e, agora que intimidava uma pequena menina indefesa, a moça gostava menos ainda.
- Eu ganhei essas cinquenta Novas trabalhando na mercearia, juro que não foi nada além! – A menina exclamava enquanto arrancavam as notas das suas mãozinhas.
- Olha só. Além de ladra é mentirosa. Você sabe qual a punição para pessoas como você, não?
- Sei! Mas eu trabalhei pelo meu dinheiro! – Ela estava desesperada, chorando enquanto tentava pegar as notas de volta. O grupo de amigos de ficou em silêncio e se pôs a observar para entender o que estava acontecendo. – Minha mãe está doente e precisamos de ajuda! Eu trabalhei, juro!
- E ainda está jurando em cima de uma palavra falsa! – O homem exclamou com uma risada de escárnio, guardando o dinheiro no bolso. Em seguida, fez um sinal com as mãos. – Segurem essa menina, todos sabem a punição e ela não é exceção!
E a gritaria se instaurou. Ninguém ia impedir que os Capuzes Negros agissem de acordo com o que lhes era autorizado, mas todos gritaram de insatisfação. Tentavam protestar, mas o líder gritava ameaças aterrorizantes enquanto a menina somente chorava e tentava se soltar como um animal prestes ao abate.
não sabia o que a atingira naquele momento. Talvez fosse a insatisfação que sentira no trem. Ou a injustiça pelo que fizeram com Taehyung. Talvez fosse a amargura pelos seus sonhos quebrados como o mais delicado cristal. Ou o choro de cortar o coração da pequena menina que implorava por piedade. Largando a bolsa no chão, foi o mais rápido que podia até o tumulto, ignorando os amigos que a chamaram de volta.
- Você não tem provas de nada disso. Pare com essa maluquice! – exclamou logo que estava se aproximando. A menina chorava enquanto o homem preparava um chicote negro, usado para as punições mais severas.
- Maluquice? Então quer dizer que a senhorita está me desafiando...?
Aquela era a palavra mais perigosa que alguém podia ouvir.
Desafiar o Governo era estritamente proibido. Todos sabiam daquilo. E principalmente ela e os amigos deveriam saber bem: seus pais e mães lutaram em uma tentativa de guerra contra o Governo. Aquilo somente terminou com mortes e o Silêncio – feriado para que todos se lembrassem de quando o Governo massacrou os Insurgentes.
- Não. Mas você não pode provar que essa menina cometeu crimes e merece uma das punições mais graves! – tentou argumentar, colocando-se entre o homem e a menina.
- Não posso. Mas o que é a palavra de vocês contra a palavra de um Capuz Negro? – E ele sorriu.
Era um sorriso cruel, nojento, que ela queria arrancar da cara dele com um soco. Mas se controlou, sabendo que aquilo somente seria pior. Respirando fundo, tomou uma decisão que mudaria o rumo de muita coisa.
- Eu assumo a punição dela.
Todos os presentes arregalaram os olhos. Era a primeira vez que alguém tivera coragem para fazer aquilo e ninguém sabia muito bem como proceder.
Mas o mais importante: o tinha desafiado.
- Por Lei, você tem que atender. Eu assumo a punição dessa menina. – repetiu, respirando fundo para se acalmar da decisão que tinha acabado de tomar. Segurava as laterais das pernas para não demonstrar o quanto estava tremendo de medo.
- Então que seja. Larguem a menina e segurem os pulsos dessa mulher. Quero ela sem blusa e ajoelhada!
foi forçada a se colocar de joelhos, tendo a blusa arrancada à força e sentindo o beijo gelado do vento contra a pele.
Mas, quando menos esperavam, ela sentiu mais alguém ajoelhando ao seu lado.
- Ninguém mais pode assumir a punição dela, mas eu posso vir voluntariamente. – Jungkook estava sem blusa, ajoelhado prontamente ao lado de , os olhos em chamas como os dela.
- Que seja! Quanto mais gente, melhor! – O Capuz Negro respondeu claramente incomodado.
Apesar das palavras, não pôde deixar de soltar um som de incredulidade quando Yoongi e Namjoon também se ajoelharam ao lado dos amigos. Ele ia reclamar de mais alguma coisa, porém logo Taehyung, Jin, Hoseok e Jimin estavam ao lado dos amigos, sem exteriorizar o medo que sentiam.
Tudo que faziam era encarar os homens que os puniriam, com o fogo do desafio nos olhos.
- O que é isso? – O Capuz Negro perguntou entre os dentes, o chicote já estalando no chão.
- Se você quiser punir um de nós, terá que punir os outros sete. – Yoongi anunciou de cabeça erguida, incentivando os outros a fazer o mesmo. comprimiu um sorriso, ou poderia piorar muito a situação dela.
- Muito bem! Punirei e começarei por ela! – O homem segurou pelo braço, arrastando-a para que ajoelhasse de frente aos amigos. Aproximando-se dos ouvidos da moça, pôs-se a sussurrar. – Eu vou fazer questão que seus amiguinhos vejam a sua cara enquanto você sofre com cada estalo do chicote.
- Pelo menos eles estarão lá para me dar forças. – respondeu silenciosamente, no que o Capuz Negro quase rosnou.
Cheio daquela situação, o chicote estalou pela primeira vez nas costas da moça, causando-lhe uma dor aguda que logo começou a arder. levantou a cabeça e olhou para os amigos – provavelmente, aquela visão os machucaria mais do que a própria punição em si.
A sessão parecia sem fim para todos eles. Passaram praticamente uma hora ouvindo os amigos que mais amavam sofrendo e gemendo de dor, chorando enquanto tentavam aguentar a punição em silêncio.
perdera a noção de tempo. Quando menos percebeu, estava sendo puxada pelos braços por Namjoon e Jimin, mal conseguindo permanecer de pé. Sentia o sangue escorrendo pelas costas e as feridas abertas.
Com as blusas em mãos, estavam prontos para ir embora quando ela e Namjoon trocaram olhares e fizeram algo que ninguém estava esperando: deram as mãos.
Jungkook segurou a mão de Jimin e Namjoon. Estes, por sua vez, seguraram as de e Yoongi. Ele segurou a de Taehyung, que segurou a de Hoseok, que segurou a de Jin.
E, quando terminaram, ergueram os braços.
Alguns jovens começaram a gritar. Outros permaneceram em silêncio. Mas a maioria começou a dar as mãos e levantar os braços, criando um mar de mãos erguidas aos céus, fortemente seguras umas nas outras.
- Parem com isso! Eu mandei parar! – O Capuz Negro vociferava em desespero, até que, gradualmente, começaram a abaixar as mãos. – Vocês também! Ou levarão mais chibatadas!
Nenhum dos oito amigos disse nada. Simplesmente abaixaram os braços e começaram a caminhar de volta para suas casas.
De mãos dadas.
****
Um estalo em seu quarto fizera acordar em um sobressalto. Quase um mês havia se passado desde aquele dia, mas ela ainda conseguia ouvir as chibatadas claramente. Quase sentando na cama de supetão, ela engoliu o grito quando sentiu uma mão cobrindo a própria boca, arregalando os olhos na escuridão.
- Shhh... – Jungkook levou um dos dedos aos lábios enquanto a outra mão a fazia permanecer em silêncio. somente franziu as sobrancelhas: o que ele estava fazendo lá? – O Joonie me pediu pra te tirar daqui.
Falando isso, ele acenou a cabeça para a porta, no que encontrou Jin guardando atentamente. Após alguns segundos, Taehyung entrou furtivamente, tentando respirar normalmente como se tivesse corrido grandes distâncias.
- Eles estão na cozinha. O Yoongi está guardando lá fora e está pronto para distraí-los caso tenhamos algum problema. – O amigo comentou com as mãos na cintura.
- O que está acontecendo? – perguntou logo que Jungkook a soltou.
- Não podemos perder tempo... – Jin comentou distraidamente enquanto observava a movimentação do lado de fora do quarto. – Os Capuzes Negros vieram atrás de nós.
- O quê?! – E teve que se controlar para não gritar. Aquilo era absurdo.
- Você viu as notícias sobre as Insatisfações. – Jungkook comentou enquanto pegava um par de sapatos no canto do quarto. Sem qualquer aviso, descobriu a amiga e começou a calçá-la como podia. – O Governo está nos culpando. Os Insatisfeitos estão dando as mãos e erguendo como fizemos naquele dia. Os membros da Resistência se fortificaram e estamos com muitos problemas.
- O Governo mandou nos pegar no meio da noite e nos matar. Quando não pudermos lutar. – Taehyung tinha os braços cruzados, suspirando fortemente. – Por sorte um dos membros da Resistência chegou na minha casa antes e conseguimos tirar meus avós de lá para a Base. Eu vim correndo até cada um de vocês e conseguimos salvar o que ainda temos de família.
- O Joonie...
- Foi com o Jimin para a Base junto com as nossas famílias. – Jin comentou estendendo a mão para . – Agora é a nossa vez.
Ela estava com medo, não podia mentir. Olhando nos olhos de cada um deles, porém, juntou a força e a coragem que precisava. segurou a mão de Jin e se levantou, pronta para fugir dos Capuzes Negros. Correria o quanto fosse necessário.
- Não importa o que houver... – Jungkook comentou antes de saírem do quarto. – Não largamos as mãos um do outro.
Ninguém respondeu àquela declaração. Jin segurou a mão de com mais força e Taehyung deu a mão a Jungkook. Abrindo a porta com cautela, começaram a caminhar pela casa com cuidado, controlando o medo de encontrar um dos furtivos Capuzes Negros pelo meio do caminho.
segurou a respiração quando viu um vulto negro passando logo à frente. Jin a segurou próxima de si, estacando no lugar e fazendo todo o grupo parar de andar. Quando estavam prontos, voltaram a longa caminhada até a porta de entrada – algo que demorou mais do que esperavam.
Por sorte, estava aberta. Logo que colocaram os pés para fora da casa, encontraram Yoongi à distância, sinalizando o caminho que teriam que tomar. O grupo apertou o passo, andando o mais rápido que podiam em profundo silêncio para não levantar suspeitas.
- Eles estão ali!
Até o momento em que ouviram a voz de um dos Capuzes Negros.
- Corram! – Yoongi gritou, acenando para que viessem mais rápido.
Nenhum deles pensou duas vezes: sem largar as mãos, correram o mais rápido que podiam, sem olhar para trás. Yoongi deixava com que todos passassem à sua frente, a fim de correr na retaguarda.
Até que segurou a mão dele, arrastando-o junto com ela e Jin.
- Ninguém fica pra trás, Yoongi! – Ela gritou logo que viu a expressão no rosto do amigo.
E os dedos de Yoongi se fecharam com mais força em volta da mão de .
Quinze Meses Depois
sentou-se de supetão na própria cama, abafando um grito enquanto sentia as gotas de suor escorrendo pela testa. Demorou alguns segundos, mas finalmente se situou em seus aposentos na Base da Resistência. Respirando fundo, a moça balançou a cabeça, abaixando-a para focar na própria respiração e permanecer mais calma.
Olhando o relógio ao lado, constatou que os números azuis marcavam dez para cinco da manhã.
Suspirando, jogou as pernas para fora da cama. Não conseguiria mais dormir – não depois de sonhar com aqueles acontecimentos.
Já estava fazendo aniversário de permanência na Resistência desde aquele dia em que tivera que fugir com os amigos. Ouviram vários tiros e ameaças, mas por sorte conseguiram correr mais rápido que as balas. Até o momento, todos estavam sãos e salvos na Base – e ela esperava que aquilo não mudasse.
Arrastando os pés cansados pelos corredores insossos, a moça finalmente chegou à cozinha. Esperava encontrar somente uma alma acordada naquele horário e sorriu imediatamente quando viu que ele não havia falhado: lá estava Jin, com seu pequeno avental improvisado, fazendo um delicioso café da manhã.
Logo que ele ouviu o barulho dos passos, entretanto, olhou para trás e encontrou os olhos sonolentos da melhor amiga.
- Olha quem resolveu cair da cama hoje! – Ele disse com um sorriso, fazendo-a dar uma pequena risada.
- Milagres acontecem, Jinie... – suspirou e se sentou à bancada enquanto o observava cozinhar.
Mas Jin a olhou de soslaio. Conhecia-a muito bem há muito tempo para achar que não havia nada demais naquela frase. Conseguia identificar cada mudança de humor em e sabia que havia algo por trás da brincadeira.
- O que houve, ? – Ele perguntou em um tom de voz gentil, mas logo que a viu franzindo as sobrancelhas, já começou a dar broncas como um bom pai disciplinando os filhos. – E nem adianta me falar que não é nada porque você, o Yoongi e o Taehyung não me fazem mais cair numa dessas! Já conheço vocês três muito bem pra saber quando tem alguma coisa incomodando nessa cabecinha. Então o que é?
somente balançou a cabeça e deu um pequeno sorriso. Apesar de tudo, gostava de quando ele se preocupava daquela maneira.
- Sonhei com o dia que ganhei essas cicatrizes horríveis... – Ela comentou enquanto afagava um dos ombros, exatamente onde o Capuz Negro a tinha acertado na Praça da Prefeitura. – E quando tivemos que fugir. Acho que nunca vou me esquecer de quando tudo virou de cabeça para baixo.
Jin imediatamente ficou em silêncio. Ele também tinha aquelas cicatrizes – sete, que nem todos eles. Mas sabia como aquilo a afetava. Apesar de falar que não, prezava a própria beleza e sabia como os murmúrios daquelas marcas a afetavam – principalmente quando ela ouvira acidentalmente uma garota da Resistência comentando com a outra sobre “quem irá querer uma mulher toda marcada que nem ela”?
Aquele fora o único defeito que as garotas conseguiram apontar em – pois não conseguiam achar mais nada. Ela não era perfeita, mas todos sabiam o tanto de responsabilidade que carregava e podiam perdoar certos traços de personalidade.
- Um dia vai passar. – Jin comentou com um pequeno sorriso, estendendo um pedaço de panqueca que ela rapidamente capturou com os lábios. – Não digo que você vai esquecer ou que vai curar totalmente... Mas acho que vai ficar menos dolorido de lembrar. As cicatrizes não vão doer quando você pensar nelas e tudo isso será só uma memória neutra de um passado distante. Antes, durante e depois, você pode ter certeza que sempre estaremos aqui.
sorriu para Jin, finalmente iluminando o rosto com um pouco de alegria.
- Você sempre sabe...
- Além disso, você é uma mulher maravilhosa, um monumento que devia só andar junto comigo pra deixar todo mundo com a cara no chão! – Ele falou por cima da amiga, voltando à missão de preparar o café da manhã.
E teve um acesso de riso. A moça caiu na gargalhada como não o fazia há tempos, sentindo lágrimas surgirem no canto dos olhos. Enquanto voltava a fritar as panquecas, Jin começou a sorrir para si mesmo, contente com o resultado do comentário. Aliás, era exatamente para vê-la daquela maneira que ele falara aquilo. E nada podia fazer Jin mais feliz do que vê-la sorrindo.
- Alguém acordou em um extremo bom humor hoje. – Namjoon comentou enquanto se aproximava sonolento de ambos, sorrindo enquanto esfregava um dos olhos.
- Tudo coisa do seu namorado! – suspirou apontando para Jin, fazendo Namjoon lançar um olhar vazio para ela. Ele e Jin sempre foram tão próximos que gerara diversas piadas sobre casamentos e, sinceramente, Namjoon não tinha mais paciência para discutir. Os dois já tinham chegado a um estado de espírito que eram até capazes de usar alianças só para entrar na brincadeira. – O Jin é uma das melhores pessoas.
- Eu sei. – Namjoon comentou simplesmente, no que Jin se virou e mandou um beijo dramático para os irmãos.
- Vocês são os melhores líderes que poderíamos ter! – O amigo comentou enquanto colocava várias panquecas em dois pratos, provavelmente mais do que ambos poderiam comer individualmente. Namjoon e somente abriram as bocas para discutir, mas, como era de praxe, Jin nem os deixou discutir. – Tenho que acordar o resto da Base, nem comecem que não tenho tempo de escutar! Vocês precisam comer para liderar bem e quero ver esses pratos limpos!
Dizendo isso, escorregou os pratos pela bancada e foi embora enquanto dobrava o avental improvisado. Namjoon e trocaram olhares e imediatamente começaram a rir.
- Você acha que se a gente colocar algumas panquecas de volta no prato de servir ele vai perceber...? – Namjoon perguntou reprimindo uma risada.
- Não custa nada tentar. – piscou para o irmão, que tirou uma das mexas de cabelo do rosto da irmã por instinto.
Em um silêncio confortável e cúmplice, ambos começaram a comer suas panquecas com manteiga e mel. Nesse aspecto, tinham o mesmo gosto e aproveitavam a companhia do outro – provavelmente gastariam a manhã lendo algum livro obscuro ou aprendendo coisas novas, discutindo sobre os temas em seguida. O silêncio, entre eles, era reconfortante.
- Joonie... Nós chegamos a conversar com a outra cidade que estava interessada em comprar nossa produção agrícola? – perguntou repentinamente, já que o assunto surgira em mente enquanto aproveitava o silêncio.
- Eles ficaram de nos mandar uma resposta em relação ao valor que queremos cobrar. – Namjoon respondeu prontamente. – Seria bom tê-los como aliados.
- Sim, sim... Por isso sugeri fazermos um preço mais atraente para eles... – Ela continuou pensando, encarando algum ponto perdido no horizonte. Namjoon imediatamente deu uma pequena risada.
- Você é muito boa para essas coisas. Uma líder natural, não se preocupe.
- Você também é, Joonie. – Um sorriso leve surgiu nos lábios de . – Mas... Você não acha que assumimos muita coisa muito cedo? Quer dizer, de um dia para o outro, nós todos viramos símbolos de resistência por dar as mãos e não nos abandonarmos. De repente, estávamos aqui, alguns líderes morreram e nós dois assumimos tocar todo esse complexo e essa Base junto com poucos outros. Às vezes você não se pergunta se está fazendo as coisas certas?
- Sim, você sabe que sim... – Namjoon suspirou, empurrando as próprias panquecas com o garfo enquanto pensava. – Mas sabemos lidar muito bem com responsabilidades, todos nós. Assumimos nossas famílias e o trabalho desde muito jovens para aprender a cuidar de todos com poucas Novas por mês, já que o Governo come tudo com as taxas e impostos abusivos. Somos muito maduros para a nossa idade, eu sempre achei isso... Pensamos demais, sofremos demais... Mas conseguimos aguentar qualquer coisa. É aquilo que eu sempre digo: haverá um dia que tudo dará errado...
- Mas não é hoje. – completou com um sorriso, fazendo o irmão refletir a mesma expressão.
E assim conseguiram terminar o café da manhã.
- Está preparada para o reconhecimento de perímetro, ? – Jimin perguntou com uma animação fora do normal assim que a amiga entrou na sala de Frequências.
Era o local da Base em que identificavam as frequências de comunicação do Governo, Capuzes Negros, Resistência e outras entidades. Jimin era particularmente bom em ouvir tais frequências, identificando algumas e interceptando mensagens que outros às vezes não conseguiam.
Portanto, era mais que lógico colocá-lo para coordenar as missões que estavam por vir.
- Claro que sim. Tudo para deixar todos nós seguros, não é mesmo? – respondeu sorrindo, apoiando-se à mesa de Jimin. Ele se apoiou ao lado dela, estendendo um pequeno fone que ficaria preso somente a um ouvido. – E o que é isso...?
- Desenvolvemos outro dia e já testamos. É um ponto que ficará no seu ouvido, assim eu posso me comunicar com vocês enquanto estiverem no reconhecimento. – Jimin sorriu para a amiga, fazendo de tudo para deixá-la confortável, como sempre fazia antes de uma missão. – Você já estará com o Kookie, mas com isso pode ter certeza que nunca estará sozinha. Eu sempre estarei aqui pra te ajudar.
- Obrigada, Jiminie. – A moça fez questão de já encaixar o pequeno ponto no ouvido, notando como se ajustava facilmente a ela e, por mais que se mexesse, não iria cair. – É muito útil, inclusive. Você já deu um pro Kookie?
- Quando aquele ingrato passar por aqui, darei. – O amigo respondeu com descaso, fazendo-a rir. Todos sabiam que Jimin resolvera ser cruel por um tempo com Jungkook depois que este resolvera passar uma noite inteira importunando Jimin por causa da sua altura. – Enquanto isso, está bem guardado.
- Sim, na sua caixinha do rancor. – completou, fazendo Jimin rir abertamente. Ela não conseguiu ficar sem rir também. – Mas falando sério agora, se eu não ficarei sozinha, é bom o Kookie também não ficar.
- Não se preocupe, . Nenhum de nós ficará sozinho. Juntos, podemos passar por tudo. – Jimin se virou e piscou para ela. – Juntos não morreremos, lembra?
- Claro que sim. – Ela sorriu com orgulho. Aquela era uma frase que ela dissera uma vez enquanto sofreram um ataque do Governo e todos tremiam de medo. A voz de se ergueu da cacofonia em que estavam e gritou “juntos não morreremos” e aquilo acendeu uma chama que os fez erguer as cabeças novamente e lutar para sobreviver. – Bom, preciso encontrar o ingrato do Kookie. Quer descer comigo ou você vai ficar pra sempre enfurnado nessa sala?
- Desço com você. Preciso encontrar o Hoseok... Aliás, ele já te falou que hoje é dia do Exame Periódico? – Jimin perguntou casualmente enquanto andavam e imediatamente fez uma careta.
- É hoje...? – E pela risada do amigo, a resposta era positiva. – Ok. Lembre-me que fugirei dele durante todo o dia hoje.
- Ah, não adianta... Ele vai te encontrar!
amava Jimin com todo o coração. Mas, às vezes, queria atirá-lo por uma janela.
Ambos se separaram no primeiro andar, vez que Jimin se pôs a caminho de encontrar Hoseok enquanto a moça continuou caminhando até sair do prédio da Base, a fim de checar se encontrava Jungkook tomando sol.
Mas tudo que encontrou foi Taehyung cuidando de seu quadrante em uma das hortas da Resistência. imediatamente sorriu: ele tinha um grande amor por passar as horas do dia descalço no meio da terra, cuidando das plantas e flores.
Quando a viu, Taehyung imediatamente abriu um grande sorriso e segurou a cesta que carregava enquanto a apoiava na cintura, limpando o suor da testa com a manga da larga camisa de manga comprida.
-Aproveitando antes da nossa missão mais tarde? – Ela perguntou enquanto se apoiava na cerca mais próxima para conversar com o amigo. Ele se aproximou e apoiou a cesta no chão, parando frente a frente com a amiga.
- Você sabe que eu gosto das minhas fazendinhas. – Taehyung piscou para ela. – Aliás, abre a boca. Olha que delícia de morango!
mordeu a fruta que ele estendia e imediatamente arregalou os olhos. Era a primeira vez que tinham uma fruta boa resultando daquele solo que muitos consideraram morto quando ela surgira com a ideia de cultivarem uma horta e vender os produtos para sustentar a Base. O único que acreditara nela fora Taehyung, ajudando a trazer as fazendas à vida. Agora, lá estavam eles sobrevivendo do que produziam.
- Você é um gênio, Tae.
- Nós dois somos. – Ele piscou para ela, comendo o resto da fruta e mal percebendo um pouco do suco escorrendo pelo queixo. Taehyung colocou as mãos na cintura e observou a plantação enquanto os outros trabalhavam. – Eu fico feliz por você ter insistido tanto nessa ideia. É um pequeno exemplo que temos de que o mundo pode funcionar de maneira diferente do que o Governo impõe, conseguimos sobreviver e, sinceramente, acredito que dá esperanças para todos que estão aqui.
- Esperanças? – Ela franziu as sobrancelhas. – Como que uma simples fazenda pode dar esperanças, Tae?
- Todo mundo aqui gosta do que faz. Todos gostam de plantar, de ajudar na Resistência, de produzir tecnologia que nos ajuda... Nós alocamos cada pessoa de acordo com a sua habilidade, aptidão e interesse, não forçamos a nada. Ganhamos Novas com as vendas das produções às cidades que são nossas aliadas e você realmente é boa de fazer política com elas. – Taehyung deu um pequeno sorriso, sabendo que não enxergava nada daquilo em si mesma. – Mais do que sobreviver, nós vivemos. E isso dá esperança às pessoas de que os dias serão melhores. De que não importa por qual escuridão estamos passando agora, quando o sol brilhar, irá brilhar mais forte.
- E você acredita nisso...? – perguntou com um suspiro, sentindo um leve vento batendo no próprio rosto.
- Acredito. – Taehyung respondeu sem titubear ou quebrar contato visual com ela. – A esperança que eu tenho surgiu de tudo isso. E vou fazer questão de lembrá-la todo dia, se precisar.
estava prestes a responder, quando ouviu uma conversa muito estranha da porta do prédio da Base.
- Ela está ali. – E a voz de Jimin sumiu tão rapidamente quanto surgiu, enquanto ela se virava para ver o que estava acontecendo.
Hoseok.
- Ah, não... – resmungou consigo mesma. Podia praticamente ouvir Jimin dando altas gargalhadas enquanto voltava para a sala de Frequências. – Park Jimin, eu ainda acabo com você...
- Você nem pense em fugir de mim. – Hoseok comentou seriamente, pronto para correr se fosse preciso.
E precisaria, pois imediatamente saiu correndo – enquanto Taehyung somente ria. Hoseok correu atrás dela, seguindo-a de volta ao prédio da Base.
- Eu não preciso renovar meu teste, Hobi! – comentou praticamente em desespero, enquanto fazia questão de andar rapidamente. Correr era demais e ela tinha certeza que Hoseok não a forçaria a fazer nada.
- Precisa sim! Todo mundo precisa e você não é exceção! – Ele respondeu apertando o próprio passo. Assim que se aproximou o suficiente de , a moça sentiu um dos braços do amigo enlaçando na própria cintura e os pés imediatamente deixaram o chão.
- Sério?! Você está me carregando até a sua sala?! – não podia estar mais indignada.
- Se é o que eu preciso fazer para botar um pouco de bom senso nessa cabecinha medrosa, é o que farei! – Hoseok comentou casualmente, rindo enquanto a carregava até o local no qual tinham improvisado uma Enfermaria. não chamava de Enfermaria por achar uma palavra muito “forte”. – Sou eu, ! Do que você está com medo?
- Desculpa, Hobi, não é pessoal. Mas tive péssimas experiências fazendo exames de sangue... – Ela suspirou enquanto ele a colocava sentada em uma maca, finalmente na Enfermaria. Para um local improvisado, era muito bem equipado.
- E a única coisa que consegue te acalmar é o Kookie cantando, né? – Hoseok lançou um olhar engraçado, no que rolou os olhos e quase enterrou a própria cara no travesseiro mais próximo.
- Não é culpa minha que aquele filho de um inhame canta muito bem!
Hoseok somente riu enquanto começava a preparar os materiais para tirar o sangue de e encaminhar para os testes. Mesmo assim, percebia que, aos poucos, a moça começava a ficar nervosa e suar frio. Foi nesse momento que Hoseok parou tudo que estava fazendo e se sentou ao lado dela, fazendo-a estranhar aquela atitude.
- Eu não vou te forçar a fazer nada que você não queira, . É importante, mas não sou um monstro. – Ele comentou, sorrindo em seguida. – Eventualmente você vai ter que enfrentar esse seu medo, assim como qualquer outro. Se precisar, eu vou ficar aqui durante horas conversando com você e segurando a sua mão até você me dizer que eu posso fazer algo.
- Que ridículo, Hobi... Uma marmanja que nem eu não devia ter medo de um exame de sangue. – riu consigo mesma, porém não tinha humor nenhum nas palavras.
- Qualquer pessoa tem direito de ter medo do que quiser quando bem entender. Não importa o tamanho, a idade ou a aparência. Ou afinal você esqueceu que eu me assusto até com a minha sombra? – Hoseok deu um pequeno sorriso, empurrando-a de leve com os ombros, amenizando a expressão no rosto de . – Sei do seu medo, conheço seu trauma e te garanto que não precisa ter medo de mim. Aliás, quando estiver comigo ou com os outros garotos, você sempre estará segura, meu anjo.
- Eu sei... – E deu um suspiro audível, lançando um olhar engraçado para Hoseok. – Ok, ok. Jung Hoseok, você me convenceu. Pode fazer seu exame periódico!
- Prometo que você não vai nem sentir! – Ele abriu um enorme sorriso, voltando a se preparar.
E acreditava em cada palavra que ele dizia.
- Pegou o colete...? – Aquela era provavelmente a décima pergunta de Yoongi e a décima vez que concordava com a cabeça enquanto ajustava sua moto. – E o capacete?
- Suga! Eu não vou pra uma missão de reconhecimento de capacete! É indecente! – se manifestou, encontrando o amigo de braços cruzados e nem um pouco afetado com aquela frase.
- Problema. É meu dever checar se está tudo ok e se você está segura. – Ele deu de ombros, segurando o guidão da moto e se certificando de que estava bem grudado. Lembrava-se claramente de quando aparecera na Base com o negócio em frangalhos. – Não quero você sofrendo acidentes. Já me basta aquela vez que o Jungkook voltou te carregando e o Hoseok ficou horas cuidando de você desacordada na Enfermaria.
- Pode deixar, Yoongi. Eu não vou me machucar. – respondeu com certeza, tentando acalmá-lo. Sabia que tudo aquilo não passava de preocupação da parte do amigo.
- Eu tenho orgulho de você, pequena. – Yoongi deixou um leve sorriso aparecer no canto dos lábios, sendo que espelhou a mesma reação. Ambos eram muito próximos por ter traços semelhantes nas personalidades, fazendo com que se entendessem muito bem.
- Eu sabia que você tinha um apelido fofinho para ela. – Mas claro, Jungkook tinha que surgir para acabar com o momento. – Quem diria, Min Yoongi realmente tem um coração!
- Se algum de vocês dois começar a cantar a música do Homem de Lata do Mágico de Oz, juro que convenço o Namjoon a mandar o Taehyung e o Jimin nessa missão. – A voz de Yoongi era calma, porém os olhos ardiam como fogo.
- Não vai precisar. Lá fora eu dou uma surra no Jungkook. – piscou rapidamente para Yoongi enquanto Jungkook somente a observava com algo nos olhos que ela não conseguia identificar o que era.
- Apesar de você falar que vai me dar uma surra... – Ele comentou enquanto cruzava os braços e abria um pequeno sorriso. – Eu te criei tão bem.
- Você?! – e Yoongi perguntaram ao mesmo tempo. Era de conhecimento geral que Jungkook era o mais novo, então não tinha a propriedade suficiente para falar algo como aquilo.
- Mas você é um moleque muito pretensioso mesmo...! – A indignação de era inimaginável.
- ? Kookie? – Eles imediatamente ouviram Jimin chamando no ponto que equiparam nos ouvidos. Os três pararam de discutir e colocaram-se em alerta. – Está tudo pronto. Agora é a melhor hora pra ir, as sentinelas dos Capuzes Negros estão em troca de turno e voltam em dez minutos. É o tempo que vocês têm pra reconhecer o perímetro da missão de hoje no fim da tarde e nos dar uma análise local. Ok? Tudo pronto?
- Sim. Eu já chequei os equipamentos dos dois. – Yoongi declarou e todos começaram a se preparar para dar início à missão. Quando subiu na moto, porém, Yoongi segurou uma das mãos dela e abaixou o tom de voz até que só a moça ouvisse. – Saiba que você nunca estará sozinha e jamais precisará sofrer em silêncio de novo. Se precisar de qualquer coisa, grite.
respirou fundo e guardou aquelas palavras no coração enquanto deixava a Base, cantando os pneus da moto.
***
Os últimos raios de sol da tarde tingiam as montanhas de bronze. Jungkook e terminaram o reconhecimento em menos de dez minutos e voltaram à Base o quanto antes para explicar como cumpririam a missão daquele dia.
Jin, Yoongi, Namjoon, Hoseok, Taehyung, Jimin, Jungkook e estavam escalados para realizar o resgate de outros jovens da idade deles que haviam sido presos pelo Governo em um prédio na periferia do Centro. Teriam que entrar sem ser detectados e sair com um grupo de cinco pessoas que poderiam estar debilitadas. Prepararam o carro e as motos, coletes à prova de balas e armas. Após a detalhada explicação de e Jungkook sobre o caminho que teriam que fazer para salvar aqueles que lhes imploraram ajuda, reuniram-se no que gostavam de chamar de Concentração.
- Sabe, é muito estranho te ver assim. – apontou para Taehyung, que terminava de carregar seu rifle com mais um pente, enquanto o outro ficava preso ao cinto.
- Assim como? – Mas ele olhou para ela logo em seguida, perdendo o olhar frio e calculista, dando espaço à gentileza e carinho de sempre.
- Bom, precisamos estar de volta em uma hora e meia. – Namjoon surgiu logo em seguida, impedindo-a de responder à questão de Taehyung. – Se tudo sair como planejado, eu, você, o Hobi, o Tae e o Kookie vamos entrar no prédio e resgatar quem nos ligou pedindo ajuda. O Suga e o Jimin darão cobertura do lado de fora e o Jin vai ficar de prontidão no carro.
- Enquanto vocês carregam o pessoal para fora, nós nos certificamos de que ninguém do Governo irá nos atacar, corremos para o carro e o Jin nos leva de volta. – Yoongi completou desinteressadamente, ajeitando a arma no cinto. – Vocês todos retornam de moto, certo?
- É melhor. Assim podemos despistar os Capuzes Negros. – Jungkook se apoiou na própria moto, cruzando os braços. – Eu e a pegamos a saída da direita, Tae e Hobi pegam a da esquerda e o Joonie continua em frente. Não tem como dar errado.
- Bom, então vamos? Todos já estão prontos? – Hoseok ajeitava a luva de couro que cobria somente metade dos dedos da mão direita, algo que usava para não se machucar quando estava atirando. – Precisamos ir antes que fique de noite. Ou teremos que usar as luzes das motos e do carro, chamaremos atenção demais.
concordou, porém tinha as sobrancelhas franzidas e os braços cruzados. Aquilo a incomodava: ver ela e os amigos armados, preparados para arriscar as próprias vidas para salvar as dos outros – pois seu Governo era totalitário e vivia de acabar com a juventude de pessoas como ela. Lembrava-se claramente das noites em que tinham cinco Novas sobrando nos bolsos e se reuniam para beber, conversar e dar risada no bar mais barato. Não era a vida ideal, mas não tinham que carregar o peso de uma revolução nos ombros.
Não era normal vê-los sérios daquela maneira. Não era normal vê-los preparados para matar, para derramar o sangue de seus inimigos de maneira impiedosa pelo asfalto. Toda aquela história de revolução estava custando mais do que esperavam – e ela tinha um medo paralisante de que custasse algum deles. Algum dos homens que ela aprendera a amar e proteger como irmãos, independente do sangue que tinham em suas veias.
Eles montaram em suas motos enquanto Jin se preparou no carro. Prontos para dar partida, aguardando somente o portão da Base se abrir, sentiu as mãos tremendo levemente enquanto começavam a suar frio. O que ela faria se perdesse algum deles? Como ela poderia ir em frente?
Eles sobreviviam juntos. Não seria a mesma coisa sem um deles.
- Hobi...? – Ela sussurrou antes de saírem. Ele franziu as sobrancelhas, olhando para ela imediatamente. – Quando voltarmos, você pode sorrir pra mim...?
A expressão de Hoseok se tornou mais séria, entendendo exatamente o que ela queria dizer.
- Não se preocupe. Ficaremos bem. – E Hoseok abaixou o tom de voz, audível somente para ela, embaixo dos sons dos motores. – Não tenha medo. Mesmo que um dia tudo isso aqui se destrua...
- Não será hoje. – deu um pequeno sorriso para ele, fazendo Hoseok sorrir de volta.
Acelerando os motores, o grupo deixou a Base antes que o por do sol se iniciasse. Liderados pelo carro de Jin, Yoongi colocou o relógio para cronometrar a uma hora e meia que tinham antes de tudo começar a ficar escuro. Seguiam com rapidez e calma pelo caminho, sem trocar uma palavra. Qualquer barulho que escutassem podia ser o prelúdio da aproximação de um Capuz Negro – e, se os Capuzes Negros fossem atrás deles, teriam muitos problemas.
Entretanto, o caminho foi até consideravelmente calmo. Estranhavam esse fato e aquilo somente os fazia ficar cada vez mais ansiosos. Quando chegaram ao prédio que precisavam, pararam a uma distância segura, deixando os veículos e seguindo a pé. Com as armas em mãos, Yoongi e Jimin montaram tocaia em locais estratégicos, enquanto Jin observava tudo pelos retrovisores e deixava o carro pronto para sair em menos de dois segundos.
Namjoon seguiu à frente com . Hoseok caminhava no meio, enquanto Taehyung e Jungkook seguiam atrás, as armas prontas nas mãos. Os irmãos lideravam silenciosamente e sem dúvidas, como era de se esperar deles.
Antes de entrar no prédio, porém, Namjoon fez um sinal para . Ela concordou com a cabeça e chamou Taehyung e Hoseok para andar com ela, enquanto Jungkook caminhava ao lado de Namjoon. Passando pela porta dos fundos, Namjoon virou à esquerda enquanto seguiu à direita – ambos com seus respectivos grupos.
Caminhavam cautelosamente, tendo como ponto de encontro a sala que lhes foi apontada. Praticamente prendiam a respiração para não serem ouvidos e pegos pelo Governo.
Entretanto, enquanto andavam pela planta, não podiam negar que estavam achando tudo... Fácil demais.
Foi nesse momento que Taehyung viu algo com o canto dos olhos. Franzindo o cenho, ele se dispersou do grupo, caminhando cautelosamente até uma sala com a porta entreaberta.
E lá, encontrou dois jovens mortos. Ambos não vestiam roupas do Governo ou de alguém que trabalharia naquele prédio.
Taehyung praticamente correu para fora, encontrando Hoseok e procurando por ele. Antes que pudesse levar uma bronca em linguagem de sinais, Taehyung segurou a mão da amiga e caminhou até a sala, mostrando o que tinha encontrado.
Hoseok e ficaram em choque. Demoraram um pouco a processar o que estavam vendo, mas logo as peças foram se juntando.
Tudo estava calmo e fácil demais, pois era para ser fácil. A captura dos oito era algo inestimável ao Governo – e sabiam que não seriam mortos. Como símbolos da Resistência, seriam torturados até que desistissem de suas convicções, para se humilhar antes de morrer. Só assim poderiam destruir a revolução que haviam iniciado.
- Joonie...! – sussurrou e imediatamente saiu correndo da sala.
Hoseok e Taehyung trocaram olhares rápidos e saíram correndo atrás dela – sabendo que não estaria na sua melhor lógica e precisaria de cobertura. Atravessaram metade do corredor até encontrar Namjoon correndo com Jungkook.
- É uma armadilha! – Ele disse imediatamente, segurando a mão da irmã em um reflexo. – Precisamos ir embora, agora!
Ninguém discutiu. Como no dia em que resistiram juntos pela primeira vez, deram as mãos e começaram a correr. Ouviram passos desesperados atrás de si, gritos de vozes que os mandavam parar. Mas não parariam, não desistiriam.
Assim que chegaram aos últimos raios cor de laranja do lado de fora do prédio – que agora sabiam estar abandonado – avistaram Jimin e Yoongi, que não entenderam a correria.
- É uma armadilha! – Eles gritaram juntos, acenando para os amigos. – Entrem no carro!
- Pro carro, Suga! Vamos! – Jimin segurou a mão do amigo e correu com ele até o enorme carro negro, deixando a parte de trás aberta para que pudesse receber os outros. Quando estavam na metade do caminho, porém, os Capuzes Negros começaram a deixar o prédio. – O que é isso?! O Governo enviou um exército todo para nos pegar?!
- Cães imprestáveis! – Yoongi gritou em fúria. Estendia os braços para o primeiro que o alcançasse. – Jogando sujo dessa maneira! VOCÊS AINDA TERÃO O QUE MERECEM, NÓS NÃO ANDAMOS SOZINHOS E NUNCA DESISTIMOS, OUVIRAM?!
Jungkook foi o primeiro a alcançar os braços de Yoongi. Em poucos segundos, todos estavam no carro e o veículo cantou pneus para chegar à estrada. Precisavam chegar às montanhas – por lá, outros membros da Resistência podiam ajudá-los.
Jin pisou no acelerador como nunca. Ouvindo os gritos e tiros dos Capuzes Negros, teve que se abaixar quando uma das balas acertou o retrovisor. Namjoon imediatamente mirou o rifle de volta, atirando sem pensar duas vezes. Os Capuzes Negros revidavam cada bala, assim como eles. Se era para morrer, não iriam sem luta.
Um dos tiros, porém, pegou uma das rodas traseiras do carro. O trajeto variou e Jin tentou permanecer o volante fixo enquanto alcançavam a estrada. O carro começou a diminuir a velocidade, enquanto todos eles começavam a gritar sobre atirar, manter o ritmo e dirigir em linha reta.
- O CARRO ESTÁ COM PROBLEMAS! PRECISAREMOS DE UM PLANO B! – Jin comentou repentinamente, fazendo com que todos parassem de falar e continuassem a atirar, porém tentando arranjar uma solução.
- NEM QUE TENHAMOS QUE CORRER DE VOLTA... – Namjoon gritou repentinamente, a raiva ficando óbvia na voz. – ELES PODEM NOS MATAR UM DIA...!
- MAS NÃO SERÁ HOJE! – O resto do grupo respondeu entre gritos, tomando a coragem que precisavam.
Trocando olhares, sabiam o que teriam que fazer.
Conseguiam ver as montanhas à distância. Era um caminho longo, mas a sobrevivência deles dependia daquilo.
Jin parou o carro no meio da estrada e, imediatamente, o grupo saiu correndo.
Com os pés contra a estrada, utilizavam todas as forças nas próprias pernas para se livrar dos Capuzes Negros. O grupo do Governo, por sua vez, riu ao ver o carro parado, pensando que esse era o momento em que capturariam aqueles rebeldes que causaram tantos problemas.
O que não esperavam era que o carro explodisse no meio do caminho, causando explosões me cadeia dos veículos dos próprios Capuzes Negros – mais uma tecnologia desenvolvida por Jimin e seus colegas na sala de Frequências. Com risadas audíveis, o grupo rebelde continuou correndo, ganhando uma grande diferença de distância dos Capuzes Negros.
- Haru, você está aí?! Diga que sim! – Jimin chamou pelo ponto no ouvido, sem parar de correr.
- Sim, Jimin! O que houve?! As coordenadas de vocês estão insanas, a missão deu errado?! – A voz de uma jovem garota surgiu no fone de todos. Haru tinha somente onze anos, mas era muito melhor do que qualquer pessoa na Base quando o assunto era programação.
- Não era uma missão, era uma armadilha! – Yoongi respondeu imediatamente. – Precisamos saber se alguém pode cobrir as montanhas! Precisamos de um backup!
- Calma... – E eles ouviram os dedos da garota trabalhando incansavelmente no teclado do computador. – O time Ômega está a caminho, mas só chegam em vinte minutos!
- Nós não temos vinte minutos, Haru! – gritou de volta, virando-se para poder dar mais alguns tiros. – Precisamos nos resolver agora! Acho que temos que usar o plano de escape C!
Plano C: se tudo der errado, subir as montanhas e se jogar no mar. Os Capuzes Negros não nos seguirão e salvaremos nossas vidas.
- Ok! Plano C! – Taehyung concordou, apesar de ser quem tinha mais medo de se jogar de lugares altos. – Vamos com o plano C! Todos de acordo?!
- Sim! – O restante do grupo gritou praticamente ao mesmo tempo, assustando até mesmo alguns Capuzes Negros.
O grupo seguiu obstinadamente até as montanhas. Quando adentraram o território, já se sentiam mais confiantes, com a esperança no coração de que conseguiriam escapar.
Até ouvirem um tiro seguido de um breve gemido.
levara uma bala na perna. Tentando estancar o sangue de maneira desconjuntada, ela ignorava a dor que sentia ao apoiar a perna no chão.
- NÃO! Não preciso de ajuda, continuem em frente!
Mas ela sabia que essas palavras não funcionariam completamente. Hoseok começara a correr ao lado de , prestando atenção em cada movimento. Quando via que os Capuzes Negros estavam mais empenhados em alcançá-los, arriscava-se a atirar algumas balas.
- Cretinos! Eles estão atirando em você porque já está machucada! – Ele comentou entre os dentes, algo não muito comum para Hoseok.
Apesar disso, estavam quase alcançando a beirada da montanha – o local exato em que se jogariam na água para salvar suas vidas. Namjoon conseguia correr à frente com Jungkook e logo alcançaram a ponta. Quando chegaram, Namjoon deu as ordens e Jungkook imediatamente se jogou na água. Chamando os outros com gestos dos braços e trocando tiros com os Capuzes Negros, Namjoon esperaria até que cada um deles estivesse na água para abraçar a irmã e segui-los no que seria sua salvação.
Entretanto, entendia que estava cada vez mais lenta. Viu quando Jin se jogou no mar, seguido de Taehyung – que olhou para trás a fim de checar se ela estava bem e somente pulou após as ordens de Namjoon. Yoongi foi o próximo que conseguiu se salvar, segurando a mão de Jimin.
Cada vez mais lenta, conseguia sentir os Capuzes Negros se aproximando, as balas ficando cada vez mais perigosamente certeiras. Mesmo assim, Hoseok não desistia dela. Lutava ao lado da moça, protegia-a como podia. Não aumentava a velocidade, por mais que pudesse.
- Joonie, pode ir! Eu vou com o Hobi! – gritou para o irmão. – Não se preocupa comigo, estou segura! VAI AGORA!
- A gente se encontra lá embaixo! – Namjoon gritou de volta e se jogou na água, confiando a vida da própria irmã nas mãos de Hoseok.
respirou fundo. Sabia muito bem o que tinha que fazer – a única maneira de salvar a todos eles. Fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os de maneira resoluta em seguida. Tinha tomado sua decisão e estava pronta para assumir todas as consequências.
- Hobi, me perdoa. Mas eu não posso perder nenhum de vocês. – murmurou, percebendo a expressão confusa com a qual ele a observou em seguida.
- O quê...? – Mas Hoseok não teve tempo de terminar de perguntar.
Ela sabia que somente um dos dois sobreviveria naquele dia e não seria capturado pelo Governo.
Ela não poderia viver sem algum deles – ainda mais sabendo que ela seria a culpada pela captura.
Juntando todas as forças que tinha em seu corpo, deu um encontrão em Hoseok. Perdendo o equilíbrio, ele tentou se segurar na blusa ou nos braços dela, mas foi em vão.
- NÃO! ! – A voz de Hoseok ecoou enquanto ele caía na segurança da água do mar.
tentou se jogar no mar em seguida, mas foi segurada por um dos Capuzes Negros. Lutando como podia, soltou-se dele e lutou com mais outro. E outro. E outro. Até que seu corpo não aguentou e a resistência caiu: precisando de mais de três homens para dominá-la, sentiu uma pancada e uma dor aguda na cabeça antes de desmaiar.
O Governo a capturara. Mas, pelo menos, sua família estava a salvo.
****
A Resistência caiu em silêncio.
Nenhum deles trocou uma palavra que fosse enquanto voltavam à Base.
Reunidos na sala da Liderança, permaneceram sem exteriorizar a cacofonia dentro das próprias mentes. Cada um lidava com a dor de perdê-la a sua maneira – e ninguém tinha uma resposta de qual era a melhor. Aparentemente, não havia uma boa maneira de aguentar aquela perda e, cada vez que pensavam no que acontecera, tinham vontade de gritar ou chorar.
Todos tinham plena consciência do que aconteceria a partir daquele momento. seria torturada até perder a voz, a fim de ser forçada a dizer o local da Base. Ela se recusaria de todas as formas, não faria nenhum som além de gritos e xingamentos. Só de pensarem em como ela seria machucada, calafrios corriam pelas espinhas – sabiam que ela era forte, mas abandoná-la àquele destino era cruel demais.
- Precisamos fazer algo. – Jin comentou baixo, finalmente quebrando a falta de som. Todos olharam para ele, mas o amigo não tirou os olhos do tampo negro da mesa da Liderança.
- Precisamos. – Yoongi concordou decididamente. E todos sabiam que, se discordassem, ele pegaria uma moto e iria sozinho tentar resgatar a amiga.
- Vamos buscá-la, onde quer que ela esteja. – Namjoon suspirou e apoiou as duas mãos na mesa, em pé, enquanto olhava para os amigos. – Vai ser difícil e perigoso. Podemos até morrer. Mas ela faria o mesmo por qualquer um de nós.
- “Faria” não. Fez. – Hoseok os observou com os olhos vermelhos. Nunca tinha chorado tanto quanto naquele dia. – Ela sabia que não ia dar para salvar nós dois e resolveu me salvar. Se eu estou aqui agora, é por causa dela.
O silêncio tomou a sala novamente, porém, dessa vez, tinha um sentimento diferente. Era a resolução deles em salvá-la.
- A Resistência não é nada sem ela. – Jimin comentou repentinamente. – Quem assumiu a punição daquela menina naquele dia e começou tudo foi ela. Não podemos abandoná-la e a definitivamente não nos abandonaria.
- E não sobreviveríamos por muito tempo também. Quem brigou para instituirmos as fazendas foi a . Quem nos dá esperança de dias melhores é ela, por mais... – E Taehyung deu um pequeno suspiro, como se estivesse relutando em falar suas próximas palavras. Todos ficaram observando o amigo, esperando que ele concluísse. Sabiam da dificuldade que ele tinha em expressar sentimentos e em falar. – Por mais que eu saiba que ela não guarda essa esperança para si mesma. Tenho certeza que ela espera morrer nos porões do Governo e temos que prová-la errada.
Com praticamente todos tendo expressado sua concordância naquela missão suicida, viraram-se para Jungkook a fim de ter um ok verbal do amigo – pois só assim continuariam naquilo junto com ele. Não forçariam ninguém a arriscar a própria vida tão deliberadamente – aquilo tinha que ser uma escolha.
E ficaram surpresos ao encontrá-lo com a cabeça abaixada, as lágrimas correndo silenciosamente pelo rosto.
- Eu morro por ela, se precisar. – Jungkook comentou enquanto tentava fazer a voz não parecer muito chorosa. – Mas não podemos abandoná-la... A é minha família e eu tenho que prová-la errada.
- Então está decidido. Nós vamos salvá-la. – Namjoon sentenciou, batendo na mesa a fim de selar a decisão que tinham acabado de tomar.
****
- A princesa acha que eles virão te salvar?
O sorriso cruel nos lábios do Capuz Negro era nojento. Se tivesse forças, o arrancaria com um soco.
Amarrada à cadeira, ele segurou a cabeça dela pelos cabelos, fazendo-a erguer novamente e olhá-lo nos olhos. A moça sustentou o olhar, ignorando os lábios, nariz e queixo cobertos de sangue.
- Você está protegendo pessoas que não te protegeriam se estivessem no seu lugar. Ninguém vai aparecer aqui para salvá-la. Você está resistindo por uma causa morta.
Aquelas palavras doíam. tinha problemas em confiar nos outros, apesar de confiar cegamente naqueles amigos que daria a vida para salvar – e provavelmente dera para salvar Hoseok. Mas ela não se arrependia.
Com um pequeno sorriso, a moça juntou o sangue que tinha na boca e cuspiu no rosto do Capuz Negro, que fechou os olhos e apertou ainda mais os cabelos da moça. Ela sentia dor, mas não lhes daria o gosto de exteriorizar aquilo.
- Você vai ver, sua rebelde nojenta. Seus amigos não irão aparecer e você vai morrer aqui. Será humilhada e executada na Praça do Governo, criarão outro Silêncio pela sua morte. E ninguém mais vai vê-la como uma heroína. Toda a sua ideologia queimará junto com você!
Com um gesto com as mãos, ele a largou e outros Capuzes Negros se aproximaram. fechou os olhos enquanto soltavam suas mãos e a colocavam em pé para mais uma surra. Enquanto isso, ela somente se lembrava da mania como Taehyung sorria em meio às plantas, Jimin se empolgava enquanto a ensinava a ouvir, Hoseok segurava a mão dela e a acalmava quando precisava fazer exames, Jin cozinhava de manhã e brigava com Jungkook quando este decidia roubar panquecas e sair correndo, Yoongi tocava em um piano improvisado junto com ela e Namjoon discutia sobre os livros que estava lendo.
Aquilo a fazia resistir.
****
Para a segunda missão, as roupas que prepararam foram muito diferentes das primeiras.
Optaram por roupas negras para se camuflar na noite, se necessário. Colocaram luvas de couro, coletes à prova de balas, botas coturno negras e se armaram com rifles e pistolas. Alguns colocaram bandanas para afastar os cabelos dos olhos e todos tinham seus pontos nos ouvidos. Usaram o GPS do ponto de para localizá-la, além de tentarem contato. Entretanto, encontraram somente estática, concluindo que deveriam ter tirado dela e agora estudavam no Departamento de Tecnologia do Governo.
Demoraram uma semana e meia para organizar tudo que precisavam. Enquanto isso, tudo que podiam fazer era rezar para que permanecesse forte.
- Muito bem, todos vocês sabem os riscos que corremos! – Namjoon anunciou enquanto se preparavam para sair da Base, já ao lado das próprias motos, colocadas uma ao lado da outra e somente aguardando o momento de dar partida. As pessoas que protegiam se reuniram à porta, preocupadas. Se tudo desse errado, naquela noite perderiam praticamente todos os seus Líderes e não saberiam o que fazer para sobreviver sem eles. – Não pedi para que nenhum de vocês me acompanhasse, vocês o fizeram por livre arbítrio! Sabemos muito bem que a Resistência sem a não pode ser considerada completa e não abandonamos nenhum de nós para o desespero e a morte. Nós iremos trazê-la de volta, por mais que isso custe as nossas vidas! Hoje nós lutamos por aqueles que amamos!
Alguns gritaram, outros começaram a rezar. Eles respiraram fundo e tomaram suas posições em suas motos. Quando o lento portão da Base finalmente parou e revelou as montanhas contra a luz da lua, os motores das motos rosnaram pela noite enquanto os sete deixavam a Resistência em direção ao prédio do Governo no qual estava presa.
Ao chegarem perto do Centro, entretanto, deixaram as motos em lugares escondidos e puseram-se a caminhar silenciosamente pelos cantos mais escuros e silenciosos da cidade. Haru os guiava pelos pontos nos ouvidos e sabiam que tinham, pelo menos, dez minutos de caminhada.
Aqueles minutos, entretanto, pareciam horas. Trocavam olhares apreensivos e gostariam de sair correndo para entrar o mais rápido que pudessem no prédio para trazê-la de volta. Porém, era madrugada e pretendiam não acordar ninguém. Escolheram aquele horário justamente para evitar ao máximo encontrar alguma pessoa que fosse simpatizante com o Governo.
Naquele momento, era levada a um galpão de treinamento que ela sinceramente achava que parecia um estacionamento coberto. Estava tão cansada que não conseguia ver direito para onde era levada, enquanto tropeçava nos próprios pés doloridos e descalços. Deixava pequenos rastros de sangue pelos corredores brancos, mas, aparentemente, os Capuzes Negros não se importavam.
Fora jogada no chão daquele enorme lugar de concreto, vendo um portão à distância. Abrindo os olhos em confusão, ela apoiou levemente as mãos no chão e tentou entender como aquilo funcionava. Encontrou logo ao lado o que parecia um botão que, talvez, acionasse o portão.
Se ela precisasse escapar, aquele era o caminho.
- Levante! – O Capuz Negro que a torturara nos últimos dias apareceu logo à frente dela, dando um chute na barriga da moça. gemeu de dor, já cansada demais para tentar conter as reações. – Hoje continuaremos o seu interrogatório. E hoje você me contará onde fica a Base.
Sem responder, se colocou de joelhos – o máximo que ela podia levantar. Com a “ajuda” de outros Capuzes Negros, sentou-se em uma cadeira que havia sido colocada atrás de si e começaram a sessão daquele dia.
Ela já não sabia se era dia ou noite; quantos dias, semanas ou meses já haviam se passado. Só sabia que queria escapar.
- Precisamos encontrá-la logo. – Taehyung sussurrou de repente enquanto se aproximavam do prédio em que estava. Aquilo chamou a atenção de seus amigos, que somente franziram as sobrancelhas. - Não sei o que é, mas... Acho que... A está no limite. Precisamos ajudá-la. Rápido.
- Vocês vão. – A voz de Haru surgiu no ponto deles. – O prédio é esse logo à frente. Essa porta negra é a entrada de trás. Não deve haver ninguém no primeiro corredor, já hackeei as câmeras de segurança.
- E onde está a ? – Jungkook perguntou de maneira resoluta, carregando a pistola e a apontando para a porta negra enquanto Jimin e Jin seguravam as grandes maçanetas para abri-la.
- No galpão de treinamento, terceiro andar. De lá, há uma saída que vocês podem usar. Pelo que consigo ver, tem um carro grande que o Jin pode roubar. E a ... – Haru segurou as próprias palavras imediatamente.
- E a ...? – A voz de Yoongi praticamente queimava.
- Está sendo interrogada.
- Precisamos ir logo. – Namjoon disse de maneira decidida e fez sinal para que abrissem a porta.
Com o caminho livre, Jungkook foi o primeiro a entrar, sendo seguido por Namjoon, Taehyung e Hoseok. Jin, Jimin e Yoongi cobriam a retaguarda, fechando a porta novamente.
- No próximo corredor vocês vão encontrar Capuzes Negros. Se os atacarem, soarão os alarmes e vocês terão menos de dez minutos para encontrá-la e cumprir a missão sem ser capturados pelas Forças Especiais. – Haru orientou, apreensiva. Sabia que eles não estavam completamente lógicos e as emoções naquela missão poderiam colocar tudo a perder.
- Vamos? – Namjoon perguntou e, respirando fundo, cada um empunhou sua arma de escolha e caminharam até o próximo corredor.
Haru fechou os olhos e começou a chorar quando ouviu os primeiros tiros e socos ecoando pelos seus fones. Rezava para que eles saíssem vivos – todos eles. Tinha esperanças de que retornaria e passaria semanas na Enfermaria de Hoseok, de que os veria sorrindo juntos novamente, de que os veria de mãos dadas emprestando sua força e energia a ela e muitos outros jovens que precisavam daquela faísca.
- Dez minutos. – Yoongi comentou enquanto colocava o relógio para cronometrar. No chão, jaziam os Capuzes Negros que eles conseguiram lutar contra. – Vamos.
Enquanto começaram a correr pelos corredores de concreto, luzes vermelhas coloriram tudo à volta. Piscavam impiedosamente enquanto corriam. Sirenes começaram a tocar e sabiam que, se fossem capturados pelas Forças Especiais, não sairiam de lá com vida.
- Terceiro andar, Haru? Qual o caminho?! – Hoseok gritou por cima da barulheira, ouvindo passos desesperados aproximando-se atrás de si. Estava com medo, mas não podia desistir.
- Sim, terceiro! – E eles podiam ouvir a voz de Haru tremendo, por mais que ela tentasse esconder. – À direita! Pegue as escadas à direita! Quando chegarem no próximo andar, três Capuzes Negros estarão aguardando!
Aquele aviso foi certeiro, assim como o tiro de Jungkook que matou o primeiro Capuz Negro em seu campo de visão. Sem titubear, matou o próximo que estava ao lado e, com a cobertura de Jimin logo atrás de si, o terceiro também caiu morto ao chão.
Se não tivessem em uma missão tão desesperada, parariam para comentar sobre o foco e força impiedosa dos amigos. Porém, todos estavam com o mesmo sentimento, então não tinham o que comentar dos outros.
- Próximas escadas, segundo andar! – Namjoon gritou, guiando-os para o próximo andar.
E, em cada andar acertavam tiros cada vez mais certeiros, a determinação de encontrá-la e salvá-la impedindo-os de sentir algo por seus inimigos.
Quando a luz começou a piscar e as sirenes a ressoar no galpão, não entendeu o que estava acontecendo. O Capuz Negro a largou e ela caiu no chão, sem força alguma no próprio corpo.
Viu alguns pés se aproximando e ouviu palavras desesperadas sendo trocadas. O homem ainda deu um último chute nela antes de ir embora.
Quando se viu sozinha naquele lugar cinza e inóspito, deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto. Ela não aguentava mais. Queria somente que aquilo terminasse, de qualquer maneira – fosse executada na Praça do Governo, queimada em uma estaca, humilhada na frente de toda a Resistência. Ela não se importava mais.
“Haverá um dia em que perderemos as lutas, ...”
- Mas não é hoje. – completou a frase de Namjoon que ecoou em sua mente.
“Juntos nós sobreviveremos” Jimin diria com um sorriso gentil nos lábios.
“Juntos não morreremos” Taehyung estenderia a mão e faria com que ela levantasse a cabeça.
“Se não conseguir correr, ande” Jungkook firmaria os pés dela no chão e a ajudaria a permanecer em pé.
“E se não conseguir andar, que seja engatinhando. Mas continue em frente” Yoongi comentaria da maneira mais displicente possível.
“Se quiser gritar, respire fundo e grite que não será hoje!” Jin falaria de maneira enérgica, incentivando-a a caminhar.
“E acredite que nós somos à prova de balas” Hoseok não andaria por ela, mas a faria ir em frente.
- Não. É. Hoje. – disse de maneira decidida, abrindo os olhos e apoiando a mão no chão, empurrando-se para cima.
Sentia dor no corpo todo. O sangue escorria pelo rosto e pingava no chão. Mas ela não iria desistir. sabia muito bem que ninguém iria salvá-la: ela tinha que fazer aquilo por si mesma. E queria viver. Queria resistir.
Colocando-se de pé com dificuldade, a moça começou a caminhar lentamente até o portão que identificara antes. Tropeçou no caminho, machucando ainda mais os joelhos e chorando ao vê-los sangrar. Mas levantou a cabeça e continuou a caminhar – da maneira que podia, como conseguia. Ela ia sobreviver.
- A porta principal do galpão está travada, vocês vão ter que dar a volta por fora! – Haru anunciou enquanto trocavam os últimos tiros com os Capuzes Negros que guardavam o terceiro andar. – Peguem a porta da direita e vocês irão sair. Lá, um dos Capuzes Negros tem o controle do portão. Ele...
- Ele o quê?! – Jimin rosnou de volta enquanto quebrava a porta a pontapés. Não estava com paciência para enrolar.
- Ele que interrogou a .
Ela podia praticamente sentir o ódio que emanava deles. Uma vez que a porta estava aberta, correram até o lado de fora, rapidamente encontrando o Capuz Negro com o sorriso que quis tanto arrancar à força nos últimos dias.
- Temos menos de dois minutos. – Yoongi grunhiu e preparou o rifle, já atirando nos Capuzes Negros que protegiam aquele com o controle. Foi tão rápido que o próprio homem ficou impressionado.
- Se vocês não fossem da Resistência, podiam muito bem participar das Forças Especiais. É uma pena. – Ele comentou, ainda com aquele sorriso.
- E é uma pena que você torturou a . Nós poderíamos ter um pouco de misericórdia! – Jimin avançou em cima do homem e não havia força no mundo que pudesse impedi-lo de dar uma boa surra antes de matá-lo.
Arrancando o controle das mãos dele à força, Jimin jogou-o para os amigos e continuou sua parte da missão. Quando estava nervoso daquela maneira, ninguém se atrevia a mexer com ele. Em geral, Jimin era gentil e simpático – porém, quando furioso, assustava até os próprios amigos.
viu o portão se abrindo aos poucos. A luz dos primeiros raios de sol que surgiam na manhã quase a cegaram, fazendo com que ela cobrisse os olhos e abaixasse a cabeça.
Aqueles raios cor de laranja, porém, deram-na esperanças. Cada vez que via mais da paisagem de fora, o coração dela batia mais forte. Respirando fundo, ela continuou a caminhar, ignorando a dor na perna que, dias antes, havia sido acertada com um tiro.
Yoongi foi o primeiro a aparecer na distância, fixo em procurá-la. Logo que o viu, abriu um grande sorriso.
- ! – Yoongi gritou e pendurou o rifle nos ombros, imediatamente correndo em direção a ela.
- Yoongi...! – Ela exclamou sem forças, pois tudo que ainda tinha focou nas próprias pernas para ir até ele o mais rápido possível.
Ele se impressionara com o fato de que ela ainda conseguia correr – por pior que o estivesse fazendo. Estendeu os braços na direção da amiga, pronta para recebê-la. Tinha o coração apertado de vê-la tão machucada e prometeu a si mesmo que, se Jimin não tivesse acabado com o cara que fizera aquilo com ela, teria seu momento para dá-lo uma surra.
- Yoongi! – Os braços de finalmente se fecharam em volta do pescoço dele e Yoongi conseguiu segurá-la com força, levantando-a do chão. Afinal, as pernas dela tinham acabado de ceder. – Vocês vieram...!
- Claro que sim. Nunca vamos te abandonar. – Ele murmurou enquanto sentia as lágrimas de escorrendo pelo próprio pescoço. Afagou os cabelos da amiga durante alguns segundos e beijou-a no topo da cabeça como podia. Os braços se fecharam com mais força em volta dela, o coração finalmente apaziguando o medo que sentira de perdê-la. – Consegue andar?
- Consigo sim. – respondeu de maneira resoluta e, com a ajuda de Yoongi, começou a caminhar até o carro que Haru indicara.
- , você está bem?! – Jin perguntou rapidamente, dando um beijo na testa da amiga. Tentava evitar algum lugar que não estivesse manchado de sangue, mas não conseguiu ficar sem o leve gosto metálico nos lábios.
- Agora estou. – Ela murmurou de volta, vendo o amigo sair correndo para ligar o carro.
- Vamos! Temos menos de um minuto! – Namjoon apressava a todos. – Jimin! Jimin o quê... Ué, cadê o Capuz Negro?
- Ele tropeçou e caiu no primeiro andar. – Jimin comentou de maneira sombria enquanto caminhava para dentro do galpão junto com os outros amigos.
Acharam melhor não perguntar o que realmente tinha acontecido.
E, em menos de um minuto, todos se enfiaram dentro do carro – Jungkook ajudando a carregar para dentro – e Jin pôde cantar os pneus pela estrada.
Viram os esquadrões das Forças Especiais chegando pelo retrovisor do carro. Novamente, se alcançassem as montanhas, estariam a salvo. Viram que alguns carros começaram a segui-los, porém estavam com mais de dois minutos de vantagem.
segurava a mão de Yoongi, sem largá-la. Os outros ficavam às janelas, prontos para atirar em quem se aproximasse. Por mais de meia hora, o caminho foi tenso e silencioso, até finalmente ultrapassarem as montanhas. Os carros das Forças Especiais tentaram segui-los, mas imediatamente foram recebidos por uma chuva de balas da Resistência.
Quase próximos à base, eles saíram das janelas e puderam respirar um pouco.
Tentaram falar com , mas perceberam que ela dormia placidamente com a cabeça apoiada na perna de Yoongi. Sem soltar a mão dela, ele afagava os cabelos dela com a outra. tinha um pequeno sorriso nos lábios e eles mesmos não podiam deixar de sorrir.
Provavelmente era a primeira vez que ela estava dormindo depois de uma semana e meia.
****
Os pés dela tocaram o chão com incerteza. Sentia as bandagens nos cortes, estancando o sangue que perdera em todos aqueles dias. Pequenos band-aids lilases foram colocados nos braços cuidadosamente no local onde ela recebera sangue e soro. não pôde deixar de sorrir: aquilo era a cara de Hoseok.
Caminhava com incerteza pela Enfermaria. Sabia que iria encontrá-los na sala comum logo através da primeira porta. Tinha certeza que estariam preocupados, conversando sobre quando ela abriria os olhos.
Quando os viu sentados nos sofás e cadeiras – menos Jungkook, que tinha a mania de sentar em cima da mesa de centro – imediatamente começou a sorrir e sentiu lágrimas surgindo nos olhos. Ao vê-la caminhando em sua leve camisola branca, todos eles pararam de falar.
E também começaram a sorrir.
Hoseok foi o primeiro a se levantar e correr para abraçá-la. Com a moça em seus braços, enterrou a cabeça no pescoço dela, tentando esconder as lágrimas.
- Obrigado. Eu não acredito que você fez isso por mim.
- Você faria o mesmo, não? – Ela respondeu com a voz um tanto rouca e todos se sentiram mais aliviados de ouvir a voz de novamente pelos corredores da Resistência.
- Fizemos. O Jimin até... Digamos que ele puniu o Capuz Negro que fez isso com você. – Namjoon a deu um forte abraço logo que Hoseok a soltou. – Estou feliz de tê-la de volta, irmã.
- Todos nós estamos! – Jimin nem negou o que tinham acabado de falar dele. E, repentinamente, fora abraçada tanto por ele quanto por Jungkook e Taehyung.
- É um alívio vê-la de novo... – A voz chorosa de Jin foi a próxima a surgir perto dela, abraçando-a com força após o abraço conjunto.
- Acho que eu já te abracei o suficiente, não? – Yoongi perguntou enquanto Jin a soltava, no que negou com a cabeça, lágrimas de alegria escorrendo pelo rosto. – Que bom. Porque eu também acho que não.
E com isso, ele a abraçou novamente. Tomando cuidado para não machucá-la mais ainda, eles se reuniram em um abraço, cada um derramando as próprias lágrimas da alegria de finalmente estarem juntos novamente.
Haru tirou uma foto daquele momento, pois sabia que iriam querer guardá-la. Muitos anos depois, quando tudo aquilo tivesse terminado e suas vidas tomassem um ritmo que poderiam considerar normal, veriam aquela imagem e se lembrariam das palavras que davam forças para que continuassem lutando dia após dia, sem desistir mesmo nos momentos mais obscuros.
- Vocês voltaram por mim. – constatou enquanto sorria, fazendo-os rir como se aquilo fosse um absurdo.
- Sempre voltaremos. – Jungkook segurou uma das mãos dela.
- Disso, você pode ter certeza, pequena. – Taehyung segurou a outra mão de , fazendo Yoongi rolar os olhos. Claro que o apelido dele já tinha sido disseminado. Ele teria que inventar outro.
E assim, deram as mãos novamente, emprestando-se entre si a força que precisavam para ir em frente. Nunca iriam desistir. Nunca iriam se render.
Podiam sentir aquelas palavras quando estavam juntos.
Não será hoje.
Ajeitando a pesada bolsa nos ombros, esperava o trem chegar à estação próxima da qual morava. Todo dia, era a mesma rotina: acordava às cinco da manhã para se arrumar e ficar apresentável, aguardar na fila do trem para o Centro junto com todos os outros jovens da cidade – sem trocar palavra que fosse, ou receberiam olhares dos Capuzes Negros, como chamavam – pegar o trem durante meia hora e torcer para não sofrer como um pedaço de sardinha enlatado, trabalhar durante todo o dia em um dos grandes prédios de vidro sob a direção de um Sênior – muito mais velho do que a mão de obra jovem que empregavam – e, após dez horas, voltar para a cidade em silêncio, a fim de aproveitar as horas do dia que lhe restavam.
Aquela era a realidade de todos os jovens, sem exceção. Passavam a infância e a adolescência estudando para se especializar em algo enquanto seus pais ainda tinham força de trabalho. Quando os pais ficavam velhos, porém, eram forçados a se aposentar – sem qualquer perspectiva de um ganho decente que pudesse sustentar a casa – e os filhos tinham que assumir todas as despesas em um trabalho no Centro.
O Centro era a cidade em volta da qual todas as outras orbitavam. Nenhum dos jovens que trabalhava nessa cidade sabia exatamente qual o tamanho do Centro – afinal, estendia-se durante milhas, sendo responsável tanto pela produção empresarial quanto de commodities. Era realmente algo incrível, que Seniores e Anciãos haviam se dedicado muito para construir.
Jovens como eram a força de trabalho que estava estampada em todos os outdoors do Centro, com frases de efeito do Governo para que se contentassem com aquele estilo de vida. Nenhum Ancião e nenhum Sênior efetivamente trabalhava: somente administravam e geriam por diversão. A premissa era simples: os jovens eram a força de trabalho a sustentar os mais velhos, já sem condições de se sustentarem por si mesmos.
riu consigo mesma enquanto via sua plataforma se aproximar. Aquela era uma boa mentira. Enquanto ela era uma criança, chegara a acreditar naquilo. Mas agora mais velha e calejada pelos seus sonhos que simplesmente definharam e viraram pó diante dos próprios olhos, a moça se tornara extremamente cética.
- Com quanto você ficou esse mês? – Ela ouviu a voz de um garoto, sentado ao lado de uma garota que sorria ao final do dia, enquanto os raios alaranjados emprestavam seus últimos tons aconchegantes aos rostos cansados no trem.
- Quinhentas Novas. – Ela respondeu de maneira orgulhosa, fazendo todos ficarem impressionados, inclusive .
- Uau! Como você é sortuda! – O garoto externou o que os outros pensavam.
concordou com a cabeça, voltando a observar o trem que parava aos poucos e chegava à estação. Uma das mãos dela estava enfiada no bolso, segurando bem as notas que ela se esforçara tanto durante aquele mês para ganhar.
A moça se lembrava de todas as horas extras que fizera, as noites que passara acordada, as semanas que passara sem comer somente para que a notassem no trabalho e a dessem alguma compensação. De fato, a compensação viera: com um salário de cinco mil, a moça não podia pedir mais.
Como sempre, o dia do pagamento chegara e ela fora à Mesa Central receber seu dinheiro e ter os Tributos descontados. As taxas eram inúmeras: para manter os Anciãos, para manter os Seniores, para a segurança do Centro, para o custeio da educação, para o custeio do sistema judiciário, para a manutenção da casa na qual ela morava, para a manutenção das casas e prédios do Centro, para custeio e suporte dos cidadãos do Centro e cidades periféricas...
Ao final, sobrara nas mãos da moça quatrocentas Novas Presidenciais.
Quatrocentas até o fim do mês para sustentar uma família de cinco pessoas. Um dos irmãos de conseguia trabalhar e normalmente também ganhava por volta de quatrocentas Novas. Ambos carregavam a responsabilidade de cuidar das suas famílias e acabaram se tornando extremamente protetores por conta daquilo.
O trem finalmente parou na estação e abriu as portas com um assovio. ajeitou a bolsa nos ombros, somente pensando na bolsa de água quente que a ajudaria a aliviar a dor de carregar aquele peso. Colocou os pés no cimento cinzento da estação e suspirou antes de olhar para frente.
Encontrando Namjoon com as mãos nos bolsos da calça, sorrindo para ela.
- Joonie! Você não me avisou que chegaria antes de mim! – praticamente correu até o irmão, abraçando-o fortemente ao alcançá-lo.
- Consegui pegar um bom lugar na fila da Mesa Central hoje! – Ele retribuiu o abraço, começando a caminhar com a irmã logo que se soltaram. – E tenho boas notícias: dessa vez, sobrou quinhentas Novas pra mim.
- Sério?! – não conseguia conter a própria empolgação, fazendo-o sorrir animadamente enquanto concordava com a cabeça. – Acha que conseguimos passar na padaria dos avós do Taehyung?
- Claro que sim. Eles estão precisando de uma boa ajuda desse mês. – Namjoon olhou para baixo, soltando um suspiro incomodado. – Descontaram muito do Taehyung, ele voltou somente com duzentas e setenta Novas dessa vez.
- Duzentas e setenta?! – A moça sentiu o coração afundar no peito. – Mas por quê? O que houve?
- Aparentemente, inventaram uma nova taxa na área dele. Por ser uma taxa nova, existe um “desconto inaugural” que come quase todo o seu salário. – Ele imediatamente balançou a cabeça, chutando uma pedrinha próxima. – Eu queria ter feito algo. A cara dele, ... O Tae saiu devastado de lá. Quando perguntamos se ele estava bem, o idiota somente sorriu como se nada tivesse acontecido e disse “eu estou bem!” com toda a animação do mundo.
- Ele sempre fala isso... – A irmã balançou a cabeça, caminhando com Namjoon pela Praça da Prefeitura. Como sempre, havia uma boa movimentação e, também como era de se esperar, encontraram os amigos aguardando a chegada de ambos. acenou, no que eles sorriram e acenaram de volta, principalmente Taehyung. – Ele vai fingir que nada aconteceu, né? Droga, Joonie... Como alguém sustenta três pessoas só com duzentas e setenta Novas durante todo o mês? Isso não é justo.
- Não. Nada disso é justo, ... – Enquanto se aproximavam, sorriam e fingiam que não falavam nada de mais. – Pedi aos garotos que ganharam um pouco mais esse mês que passassem comigo na padaria deles. O Jin vai conseguir e o Jimin também. Os outros, já não sei.
- Bom, contem comigo. Nem que eu compre somente um pãozinho de cinco Novas, acho que já ajuda.
Teriam continuado o assunto se não tivessem alcançado os amigos. Todos se cumprimentaram com animação, aquecendo-se no frio que começava a se formar naquela época do ano.
- Muito bem, onde vamos beber hoje? – Jungkook foi direto ao ponto, provocando risadas em todos.
- Dessa vez eu vou ter que passar, gente. Meus avós vão precisar de cada Nova que eu ganhei hoje. – Taehyung deu um pequeno sorriso sem graça, dando um leve tapa nas costas de Jungkook, pronto para deixar o grupo.
- Eu pago uma rodada pra você, nem pense em ir embora. – Yoongi mal se mexeu enquanto falava, quase sem olhar para Taehyung. O amigo somente respondeu com um sorriso envergonhado.
- Realmente não precisa, eu...
- Tae, nem adianta você tentar discutir, olha a cara do Yoongi de quem não vai prestar atenção em nada do que você falar! – Hoseok apontou para o amigo e, de fato, Yoongi não podia estar mais desinteressado.
- É o mínimo que podemos fazer depois de trabalhar tanto! – Jin concordou com um sorriso enquanto os outros somente o observavam. Estava praticamente estampado na cara dele que sobrara dinheiro naquele mês. – Eu quero passar um bom tempo na companhia dos meus amigos, quase nunca fazemos isso!
- É verdade! Nas últimas semanas, mal vimos a ! – Jimin apontou para a amiga, que somente sorriu. – Você quase se matou nas horas extras dessa vez.
- Sim. Mas compensou. – E ficou tentada a mostrar o seu pequeno bolo de Novas, ainda firmemente guardado pelos seus dedos. Entretanto, decidiu permanecer em silêncio.
- Então, vamos aonde? Voto em um lugar que dá pra beber bastante e seja barato! – Jimin já começou a votação, provocando vários comentários dos amigos.
Entretanto, a atenção de se voltou para o meio da Praça. Uma pequena garota – provavelmente nos seus oito ou nove anos, a julgar pela aparência - estava com problemas com os Capuzes Negros. nunca gostara de como a força policial – responsável por manter a ordem e a Lei – abordava as pessoas e, agora que intimidava uma pequena menina indefesa, a moça gostava menos ainda.
- Eu ganhei essas cinquenta Novas trabalhando na mercearia, juro que não foi nada além! – A menina exclamava enquanto arrancavam as notas das suas mãozinhas.
- Olha só. Além de ladra é mentirosa. Você sabe qual a punição para pessoas como você, não?
- Sei! Mas eu trabalhei pelo meu dinheiro! – Ela estava desesperada, chorando enquanto tentava pegar as notas de volta. O grupo de amigos de ficou em silêncio e se pôs a observar para entender o que estava acontecendo. – Minha mãe está doente e precisamos de ajuda! Eu trabalhei, juro!
- E ainda está jurando em cima de uma palavra falsa! – O homem exclamou com uma risada de escárnio, guardando o dinheiro no bolso. Em seguida, fez um sinal com as mãos. – Segurem essa menina, todos sabem a punição e ela não é exceção!
E a gritaria se instaurou. Ninguém ia impedir que os Capuzes Negros agissem de acordo com o que lhes era autorizado, mas todos gritaram de insatisfação. Tentavam protestar, mas o líder gritava ameaças aterrorizantes enquanto a menina somente chorava e tentava se soltar como um animal prestes ao abate.
não sabia o que a atingira naquele momento. Talvez fosse a insatisfação que sentira no trem. Ou a injustiça pelo que fizeram com Taehyung. Talvez fosse a amargura pelos seus sonhos quebrados como o mais delicado cristal. Ou o choro de cortar o coração da pequena menina que implorava por piedade. Largando a bolsa no chão, foi o mais rápido que podia até o tumulto, ignorando os amigos que a chamaram de volta.
- Você não tem provas de nada disso. Pare com essa maluquice! – exclamou logo que estava se aproximando. A menina chorava enquanto o homem preparava um chicote negro, usado para as punições mais severas.
- Maluquice? Então quer dizer que a senhorita está me desafiando...?
Aquela era a palavra mais perigosa que alguém podia ouvir.
Desafiar o Governo era estritamente proibido. Todos sabiam daquilo. E principalmente ela e os amigos deveriam saber bem: seus pais e mães lutaram em uma tentativa de guerra contra o Governo. Aquilo somente terminou com mortes e o Silêncio – feriado para que todos se lembrassem de quando o Governo massacrou os Insurgentes.
- Não. Mas você não pode provar que essa menina cometeu crimes e merece uma das punições mais graves! – tentou argumentar, colocando-se entre o homem e a menina.
- Não posso. Mas o que é a palavra de vocês contra a palavra de um Capuz Negro? – E ele sorriu.
Era um sorriso cruel, nojento, que ela queria arrancar da cara dele com um soco. Mas se controlou, sabendo que aquilo somente seria pior. Respirando fundo, tomou uma decisão que mudaria o rumo de muita coisa.
- Eu assumo a punição dela.
Todos os presentes arregalaram os olhos. Era a primeira vez que alguém tivera coragem para fazer aquilo e ninguém sabia muito bem como proceder.
Mas o mais importante: o tinha desafiado.
- Por Lei, você tem que atender. Eu assumo a punição dessa menina. – repetiu, respirando fundo para se acalmar da decisão que tinha acabado de tomar. Segurava as laterais das pernas para não demonstrar o quanto estava tremendo de medo.
- Então que seja. Larguem a menina e segurem os pulsos dessa mulher. Quero ela sem blusa e ajoelhada!
foi forçada a se colocar de joelhos, tendo a blusa arrancada à força e sentindo o beijo gelado do vento contra a pele.
Mas, quando menos esperavam, ela sentiu mais alguém ajoelhando ao seu lado.
- Ninguém mais pode assumir a punição dela, mas eu posso vir voluntariamente. – Jungkook estava sem blusa, ajoelhado prontamente ao lado de , os olhos em chamas como os dela.
- Que seja! Quanto mais gente, melhor! – O Capuz Negro respondeu claramente incomodado.
Apesar das palavras, não pôde deixar de soltar um som de incredulidade quando Yoongi e Namjoon também se ajoelharam ao lado dos amigos. Ele ia reclamar de mais alguma coisa, porém logo Taehyung, Jin, Hoseok e Jimin estavam ao lado dos amigos, sem exteriorizar o medo que sentiam.
Tudo que faziam era encarar os homens que os puniriam, com o fogo do desafio nos olhos.
- O que é isso? – O Capuz Negro perguntou entre os dentes, o chicote já estalando no chão.
- Se você quiser punir um de nós, terá que punir os outros sete. – Yoongi anunciou de cabeça erguida, incentivando os outros a fazer o mesmo. comprimiu um sorriso, ou poderia piorar muito a situação dela.
- Muito bem! Punirei e começarei por ela! – O homem segurou pelo braço, arrastando-a para que ajoelhasse de frente aos amigos. Aproximando-se dos ouvidos da moça, pôs-se a sussurrar. – Eu vou fazer questão que seus amiguinhos vejam a sua cara enquanto você sofre com cada estalo do chicote.
- Pelo menos eles estarão lá para me dar forças. – respondeu silenciosamente, no que o Capuz Negro quase rosnou.
Cheio daquela situação, o chicote estalou pela primeira vez nas costas da moça, causando-lhe uma dor aguda que logo começou a arder. levantou a cabeça e olhou para os amigos – provavelmente, aquela visão os machucaria mais do que a própria punição em si.
A sessão parecia sem fim para todos eles. Passaram praticamente uma hora ouvindo os amigos que mais amavam sofrendo e gemendo de dor, chorando enquanto tentavam aguentar a punição em silêncio.
perdera a noção de tempo. Quando menos percebeu, estava sendo puxada pelos braços por Namjoon e Jimin, mal conseguindo permanecer de pé. Sentia o sangue escorrendo pelas costas e as feridas abertas.
Com as blusas em mãos, estavam prontos para ir embora quando ela e Namjoon trocaram olhares e fizeram algo que ninguém estava esperando: deram as mãos.
Jungkook segurou a mão de Jimin e Namjoon. Estes, por sua vez, seguraram as de e Yoongi. Ele segurou a de Taehyung, que segurou a de Hoseok, que segurou a de Jin.
E, quando terminaram, ergueram os braços.
Alguns jovens começaram a gritar. Outros permaneceram em silêncio. Mas a maioria começou a dar as mãos e levantar os braços, criando um mar de mãos erguidas aos céus, fortemente seguras umas nas outras.
- Parem com isso! Eu mandei parar! – O Capuz Negro vociferava em desespero, até que, gradualmente, começaram a abaixar as mãos. – Vocês também! Ou levarão mais chibatadas!
Nenhum dos oito amigos disse nada. Simplesmente abaixaram os braços e começaram a caminhar de volta para suas casas.
De mãos dadas.
Um estalo em seu quarto fizera acordar em um sobressalto. Quase um mês havia se passado desde aquele dia, mas ela ainda conseguia ouvir as chibatadas claramente. Quase sentando na cama de supetão, ela engoliu o grito quando sentiu uma mão cobrindo a própria boca, arregalando os olhos na escuridão.
- Shhh... – Jungkook levou um dos dedos aos lábios enquanto a outra mão a fazia permanecer em silêncio. somente franziu as sobrancelhas: o que ele estava fazendo lá? – O Joonie me pediu pra te tirar daqui.
Falando isso, ele acenou a cabeça para a porta, no que encontrou Jin guardando atentamente. Após alguns segundos, Taehyung entrou furtivamente, tentando respirar normalmente como se tivesse corrido grandes distâncias.
- Eles estão na cozinha. O Yoongi está guardando lá fora e está pronto para distraí-los caso tenhamos algum problema. – O amigo comentou com as mãos na cintura.
- O que está acontecendo? – perguntou logo que Jungkook a soltou.
- Não podemos perder tempo... – Jin comentou distraidamente enquanto observava a movimentação do lado de fora do quarto. – Os Capuzes Negros vieram atrás de nós.
- O quê?! – E teve que se controlar para não gritar. Aquilo era absurdo.
- Você viu as notícias sobre as Insatisfações. – Jungkook comentou enquanto pegava um par de sapatos no canto do quarto. Sem qualquer aviso, descobriu a amiga e começou a calçá-la como podia. – O Governo está nos culpando. Os Insatisfeitos estão dando as mãos e erguendo como fizemos naquele dia. Os membros da Resistência se fortificaram e estamos com muitos problemas.
- O Governo mandou nos pegar no meio da noite e nos matar. Quando não pudermos lutar. – Taehyung tinha os braços cruzados, suspirando fortemente. – Por sorte um dos membros da Resistência chegou na minha casa antes e conseguimos tirar meus avós de lá para a Base. Eu vim correndo até cada um de vocês e conseguimos salvar o que ainda temos de família.
- O Joonie...
- Foi com o Jimin para a Base junto com as nossas famílias. – Jin comentou estendendo a mão para . – Agora é a nossa vez.
Ela estava com medo, não podia mentir. Olhando nos olhos de cada um deles, porém, juntou a força e a coragem que precisava. segurou a mão de Jin e se levantou, pronta para fugir dos Capuzes Negros. Correria o quanto fosse necessário.
- Não importa o que houver... – Jungkook comentou antes de saírem do quarto. – Não largamos as mãos um do outro.
Ninguém respondeu àquela declaração. Jin segurou a mão de com mais força e Taehyung deu a mão a Jungkook. Abrindo a porta com cautela, começaram a caminhar pela casa com cuidado, controlando o medo de encontrar um dos furtivos Capuzes Negros pelo meio do caminho.
segurou a respiração quando viu um vulto negro passando logo à frente. Jin a segurou próxima de si, estacando no lugar e fazendo todo o grupo parar de andar. Quando estavam prontos, voltaram a longa caminhada até a porta de entrada – algo que demorou mais do que esperavam.
Por sorte, estava aberta. Logo que colocaram os pés para fora da casa, encontraram Yoongi à distância, sinalizando o caminho que teriam que tomar. O grupo apertou o passo, andando o mais rápido que podiam em profundo silêncio para não levantar suspeitas.
- Eles estão ali!
Até o momento em que ouviram a voz de um dos Capuzes Negros.
- Corram! – Yoongi gritou, acenando para que viessem mais rápido.
Nenhum deles pensou duas vezes: sem largar as mãos, correram o mais rápido que podiam, sem olhar para trás. Yoongi deixava com que todos passassem à sua frente, a fim de correr na retaguarda.
Até que segurou a mão dele, arrastando-o junto com ela e Jin.
- Ninguém fica pra trás, Yoongi! – Ela gritou logo que viu a expressão no rosto do amigo.
E os dedos de Yoongi se fecharam com mais força em volta da mão de .
Quinze Meses Depois
sentou-se de supetão na própria cama, abafando um grito enquanto sentia as gotas de suor escorrendo pela testa. Demorou alguns segundos, mas finalmente se situou em seus aposentos na Base da Resistência. Respirando fundo, a moça balançou a cabeça, abaixando-a para focar na própria respiração e permanecer mais calma.
Olhando o relógio ao lado, constatou que os números azuis marcavam dez para cinco da manhã.
Suspirando, jogou as pernas para fora da cama. Não conseguiria mais dormir – não depois de sonhar com aqueles acontecimentos.
Já estava fazendo aniversário de permanência na Resistência desde aquele dia em que tivera que fugir com os amigos. Ouviram vários tiros e ameaças, mas por sorte conseguiram correr mais rápido que as balas. Até o momento, todos estavam sãos e salvos na Base – e ela esperava que aquilo não mudasse.
Arrastando os pés cansados pelos corredores insossos, a moça finalmente chegou à cozinha. Esperava encontrar somente uma alma acordada naquele horário e sorriu imediatamente quando viu que ele não havia falhado: lá estava Jin, com seu pequeno avental improvisado, fazendo um delicioso café da manhã.
Logo que ele ouviu o barulho dos passos, entretanto, olhou para trás e encontrou os olhos sonolentos da melhor amiga.
- Olha quem resolveu cair da cama hoje! – Ele disse com um sorriso, fazendo-a dar uma pequena risada.
- Milagres acontecem, Jinie... – suspirou e se sentou à bancada enquanto o observava cozinhar.
Mas Jin a olhou de soslaio. Conhecia-a muito bem há muito tempo para achar que não havia nada demais naquela frase. Conseguia identificar cada mudança de humor em e sabia que havia algo por trás da brincadeira.
- O que houve, ? – Ele perguntou em um tom de voz gentil, mas logo que a viu franzindo as sobrancelhas, já começou a dar broncas como um bom pai disciplinando os filhos. – E nem adianta me falar que não é nada porque você, o Yoongi e o Taehyung não me fazem mais cair numa dessas! Já conheço vocês três muito bem pra saber quando tem alguma coisa incomodando nessa cabecinha. Então o que é?
somente balançou a cabeça e deu um pequeno sorriso. Apesar de tudo, gostava de quando ele se preocupava daquela maneira.
- Sonhei com o dia que ganhei essas cicatrizes horríveis... – Ela comentou enquanto afagava um dos ombros, exatamente onde o Capuz Negro a tinha acertado na Praça da Prefeitura. – E quando tivemos que fugir. Acho que nunca vou me esquecer de quando tudo virou de cabeça para baixo.
Jin imediatamente ficou em silêncio. Ele também tinha aquelas cicatrizes – sete, que nem todos eles. Mas sabia como aquilo a afetava. Apesar de falar que não, prezava a própria beleza e sabia como os murmúrios daquelas marcas a afetavam – principalmente quando ela ouvira acidentalmente uma garota da Resistência comentando com a outra sobre “quem irá querer uma mulher toda marcada que nem ela”?
Aquele fora o único defeito que as garotas conseguiram apontar em – pois não conseguiam achar mais nada. Ela não era perfeita, mas todos sabiam o tanto de responsabilidade que carregava e podiam perdoar certos traços de personalidade.
- Um dia vai passar. – Jin comentou com um pequeno sorriso, estendendo um pedaço de panqueca que ela rapidamente capturou com os lábios. – Não digo que você vai esquecer ou que vai curar totalmente... Mas acho que vai ficar menos dolorido de lembrar. As cicatrizes não vão doer quando você pensar nelas e tudo isso será só uma memória neutra de um passado distante. Antes, durante e depois, você pode ter certeza que sempre estaremos aqui.
sorriu para Jin, finalmente iluminando o rosto com um pouco de alegria.
- Você sempre sabe...
- Além disso, você é uma mulher maravilhosa, um monumento que devia só andar junto comigo pra deixar todo mundo com a cara no chão! – Ele falou por cima da amiga, voltando à missão de preparar o café da manhã.
E teve um acesso de riso. A moça caiu na gargalhada como não o fazia há tempos, sentindo lágrimas surgirem no canto dos olhos. Enquanto voltava a fritar as panquecas, Jin começou a sorrir para si mesmo, contente com o resultado do comentário. Aliás, era exatamente para vê-la daquela maneira que ele falara aquilo. E nada podia fazer Jin mais feliz do que vê-la sorrindo.
- Alguém acordou em um extremo bom humor hoje. – Namjoon comentou enquanto se aproximava sonolento de ambos, sorrindo enquanto esfregava um dos olhos.
- Tudo coisa do seu namorado! – suspirou apontando para Jin, fazendo Namjoon lançar um olhar vazio para ela. Ele e Jin sempre foram tão próximos que gerara diversas piadas sobre casamentos e, sinceramente, Namjoon não tinha mais paciência para discutir. Os dois já tinham chegado a um estado de espírito que eram até capazes de usar alianças só para entrar na brincadeira. – O Jin é uma das melhores pessoas.
- Eu sei. – Namjoon comentou simplesmente, no que Jin se virou e mandou um beijo dramático para os irmãos.
- Vocês são os melhores líderes que poderíamos ter! – O amigo comentou enquanto colocava várias panquecas em dois pratos, provavelmente mais do que ambos poderiam comer individualmente. Namjoon e somente abriram as bocas para discutir, mas, como era de praxe, Jin nem os deixou discutir. – Tenho que acordar o resto da Base, nem comecem que não tenho tempo de escutar! Vocês precisam comer para liderar bem e quero ver esses pratos limpos!
Dizendo isso, escorregou os pratos pela bancada e foi embora enquanto dobrava o avental improvisado. Namjoon e trocaram olhares e imediatamente começaram a rir.
- Você acha que se a gente colocar algumas panquecas de volta no prato de servir ele vai perceber...? – Namjoon perguntou reprimindo uma risada.
- Não custa nada tentar. – piscou para o irmão, que tirou uma das mexas de cabelo do rosto da irmã por instinto.
Em um silêncio confortável e cúmplice, ambos começaram a comer suas panquecas com manteiga e mel. Nesse aspecto, tinham o mesmo gosto e aproveitavam a companhia do outro – provavelmente gastariam a manhã lendo algum livro obscuro ou aprendendo coisas novas, discutindo sobre os temas em seguida. O silêncio, entre eles, era reconfortante.
- Joonie... Nós chegamos a conversar com a outra cidade que estava interessada em comprar nossa produção agrícola? – perguntou repentinamente, já que o assunto surgira em mente enquanto aproveitava o silêncio.
- Eles ficaram de nos mandar uma resposta em relação ao valor que queremos cobrar. – Namjoon respondeu prontamente. – Seria bom tê-los como aliados.
- Sim, sim... Por isso sugeri fazermos um preço mais atraente para eles... – Ela continuou pensando, encarando algum ponto perdido no horizonte. Namjoon imediatamente deu uma pequena risada.
- Você é muito boa para essas coisas. Uma líder natural, não se preocupe.
- Você também é, Joonie. – Um sorriso leve surgiu nos lábios de . – Mas... Você não acha que assumimos muita coisa muito cedo? Quer dizer, de um dia para o outro, nós todos viramos símbolos de resistência por dar as mãos e não nos abandonarmos. De repente, estávamos aqui, alguns líderes morreram e nós dois assumimos tocar todo esse complexo e essa Base junto com poucos outros. Às vezes você não se pergunta se está fazendo as coisas certas?
- Sim, você sabe que sim... – Namjoon suspirou, empurrando as próprias panquecas com o garfo enquanto pensava. – Mas sabemos lidar muito bem com responsabilidades, todos nós. Assumimos nossas famílias e o trabalho desde muito jovens para aprender a cuidar de todos com poucas Novas por mês, já que o Governo come tudo com as taxas e impostos abusivos. Somos muito maduros para a nossa idade, eu sempre achei isso... Pensamos demais, sofremos demais... Mas conseguimos aguentar qualquer coisa. É aquilo que eu sempre digo: haverá um dia que tudo dará errado...
- Mas não é hoje. – completou com um sorriso, fazendo o irmão refletir a mesma expressão.
E assim conseguiram terminar o café da manhã.
- Está preparada para o reconhecimento de perímetro, ? – Jimin perguntou com uma animação fora do normal assim que a amiga entrou na sala de Frequências.
Era o local da Base em que identificavam as frequências de comunicação do Governo, Capuzes Negros, Resistência e outras entidades. Jimin era particularmente bom em ouvir tais frequências, identificando algumas e interceptando mensagens que outros às vezes não conseguiam.
Portanto, era mais que lógico colocá-lo para coordenar as missões que estavam por vir.
- Claro que sim. Tudo para deixar todos nós seguros, não é mesmo? – respondeu sorrindo, apoiando-se à mesa de Jimin. Ele se apoiou ao lado dela, estendendo um pequeno fone que ficaria preso somente a um ouvido. – E o que é isso...?
- Desenvolvemos outro dia e já testamos. É um ponto que ficará no seu ouvido, assim eu posso me comunicar com vocês enquanto estiverem no reconhecimento. – Jimin sorriu para a amiga, fazendo de tudo para deixá-la confortável, como sempre fazia antes de uma missão. – Você já estará com o Kookie, mas com isso pode ter certeza que nunca estará sozinha. Eu sempre estarei aqui pra te ajudar.
- Obrigada, Jiminie. – A moça fez questão de já encaixar o pequeno ponto no ouvido, notando como se ajustava facilmente a ela e, por mais que se mexesse, não iria cair. – É muito útil, inclusive. Você já deu um pro Kookie?
- Quando aquele ingrato passar por aqui, darei. – O amigo respondeu com descaso, fazendo-a rir. Todos sabiam que Jimin resolvera ser cruel por um tempo com Jungkook depois que este resolvera passar uma noite inteira importunando Jimin por causa da sua altura. – Enquanto isso, está bem guardado.
- Sim, na sua caixinha do rancor. – completou, fazendo Jimin rir abertamente. Ela não conseguiu ficar sem rir também. – Mas falando sério agora, se eu não ficarei sozinha, é bom o Kookie também não ficar.
- Não se preocupe, . Nenhum de nós ficará sozinho. Juntos, podemos passar por tudo. – Jimin se virou e piscou para ela. – Juntos não morreremos, lembra?
- Claro que sim. – Ela sorriu com orgulho. Aquela era uma frase que ela dissera uma vez enquanto sofreram um ataque do Governo e todos tremiam de medo. A voz de se ergueu da cacofonia em que estavam e gritou “juntos não morreremos” e aquilo acendeu uma chama que os fez erguer as cabeças novamente e lutar para sobreviver. – Bom, preciso encontrar o ingrato do Kookie. Quer descer comigo ou você vai ficar pra sempre enfurnado nessa sala?
- Desço com você. Preciso encontrar o Hoseok... Aliás, ele já te falou que hoje é dia do Exame Periódico? – Jimin perguntou casualmente enquanto andavam e imediatamente fez uma careta.
- É hoje...? – E pela risada do amigo, a resposta era positiva. – Ok. Lembre-me que fugirei dele durante todo o dia hoje.
- Ah, não adianta... Ele vai te encontrar!
amava Jimin com todo o coração. Mas, às vezes, queria atirá-lo por uma janela.
Ambos se separaram no primeiro andar, vez que Jimin se pôs a caminho de encontrar Hoseok enquanto a moça continuou caminhando até sair do prédio da Base, a fim de checar se encontrava Jungkook tomando sol.
Mas tudo que encontrou foi Taehyung cuidando de seu quadrante em uma das hortas da Resistência. imediatamente sorriu: ele tinha um grande amor por passar as horas do dia descalço no meio da terra, cuidando das plantas e flores.
Quando a viu, Taehyung imediatamente abriu um grande sorriso e segurou a cesta que carregava enquanto a apoiava na cintura, limpando o suor da testa com a manga da larga camisa de manga comprida.
-Aproveitando antes da nossa missão mais tarde? – Ela perguntou enquanto se apoiava na cerca mais próxima para conversar com o amigo. Ele se aproximou e apoiou a cesta no chão, parando frente a frente com a amiga.
- Você sabe que eu gosto das minhas fazendinhas. – Taehyung piscou para ela. – Aliás, abre a boca. Olha que delícia de morango!
mordeu a fruta que ele estendia e imediatamente arregalou os olhos. Era a primeira vez que tinham uma fruta boa resultando daquele solo que muitos consideraram morto quando ela surgira com a ideia de cultivarem uma horta e vender os produtos para sustentar a Base. O único que acreditara nela fora Taehyung, ajudando a trazer as fazendas à vida. Agora, lá estavam eles sobrevivendo do que produziam.
- Você é um gênio, Tae.
- Nós dois somos. – Ele piscou para ela, comendo o resto da fruta e mal percebendo um pouco do suco escorrendo pelo queixo. Taehyung colocou as mãos na cintura e observou a plantação enquanto os outros trabalhavam. – Eu fico feliz por você ter insistido tanto nessa ideia. É um pequeno exemplo que temos de que o mundo pode funcionar de maneira diferente do que o Governo impõe, conseguimos sobreviver e, sinceramente, acredito que dá esperanças para todos que estão aqui.
- Esperanças? – Ela franziu as sobrancelhas. – Como que uma simples fazenda pode dar esperanças, Tae?
- Todo mundo aqui gosta do que faz. Todos gostam de plantar, de ajudar na Resistência, de produzir tecnologia que nos ajuda... Nós alocamos cada pessoa de acordo com a sua habilidade, aptidão e interesse, não forçamos a nada. Ganhamos Novas com as vendas das produções às cidades que são nossas aliadas e você realmente é boa de fazer política com elas. – Taehyung deu um pequeno sorriso, sabendo que não enxergava nada daquilo em si mesma. – Mais do que sobreviver, nós vivemos. E isso dá esperança às pessoas de que os dias serão melhores. De que não importa por qual escuridão estamos passando agora, quando o sol brilhar, irá brilhar mais forte.
- E você acredita nisso...? – perguntou com um suspiro, sentindo um leve vento batendo no próprio rosto.
- Acredito. – Taehyung respondeu sem titubear ou quebrar contato visual com ela. – A esperança que eu tenho surgiu de tudo isso. E vou fazer questão de lembrá-la todo dia, se precisar.
estava prestes a responder, quando ouviu uma conversa muito estranha da porta do prédio da Base.
- Ela está ali. – E a voz de Jimin sumiu tão rapidamente quanto surgiu, enquanto ela se virava para ver o que estava acontecendo.
Hoseok.
- Ah, não... – resmungou consigo mesma. Podia praticamente ouvir Jimin dando altas gargalhadas enquanto voltava para a sala de Frequências. – Park Jimin, eu ainda acabo com você...
- Você nem pense em fugir de mim. – Hoseok comentou seriamente, pronto para correr se fosse preciso.
E precisaria, pois imediatamente saiu correndo – enquanto Taehyung somente ria. Hoseok correu atrás dela, seguindo-a de volta ao prédio da Base.
- Eu não preciso renovar meu teste, Hobi! – comentou praticamente em desespero, enquanto fazia questão de andar rapidamente. Correr era demais e ela tinha certeza que Hoseok não a forçaria a fazer nada.
- Precisa sim! Todo mundo precisa e você não é exceção! – Ele respondeu apertando o próprio passo. Assim que se aproximou o suficiente de , a moça sentiu um dos braços do amigo enlaçando na própria cintura e os pés imediatamente deixaram o chão.
- Sério?! Você está me carregando até a sua sala?! – não podia estar mais indignada.
- Se é o que eu preciso fazer para botar um pouco de bom senso nessa cabecinha medrosa, é o que farei! – Hoseok comentou casualmente, rindo enquanto a carregava até o local no qual tinham improvisado uma Enfermaria. não chamava de Enfermaria por achar uma palavra muito “forte”. – Sou eu, ! Do que você está com medo?
- Desculpa, Hobi, não é pessoal. Mas tive péssimas experiências fazendo exames de sangue... – Ela suspirou enquanto ele a colocava sentada em uma maca, finalmente na Enfermaria. Para um local improvisado, era muito bem equipado.
- E a única coisa que consegue te acalmar é o Kookie cantando, né? – Hoseok lançou um olhar engraçado, no que rolou os olhos e quase enterrou a própria cara no travesseiro mais próximo.
- Não é culpa minha que aquele filho de um inhame canta muito bem!
Hoseok somente riu enquanto começava a preparar os materiais para tirar o sangue de e encaminhar para os testes. Mesmo assim, percebia que, aos poucos, a moça começava a ficar nervosa e suar frio. Foi nesse momento que Hoseok parou tudo que estava fazendo e se sentou ao lado dela, fazendo-a estranhar aquela atitude.
- Eu não vou te forçar a fazer nada que você não queira, . É importante, mas não sou um monstro. – Ele comentou, sorrindo em seguida. – Eventualmente você vai ter que enfrentar esse seu medo, assim como qualquer outro. Se precisar, eu vou ficar aqui durante horas conversando com você e segurando a sua mão até você me dizer que eu posso fazer algo.
- Que ridículo, Hobi... Uma marmanja que nem eu não devia ter medo de um exame de sangue. – riu consigo mesma, porém não tinha humor nenhum nas palavras.
- Qualquer pessoa tem direito de ter medo do que quiser quando bem entender. Não importa o tamanho, a idade ou a aparência. Ou afinal você esqueceu que eu me assusto até com a minha sombra? – Hoseok deu um pequeno sorriso, empurrando-a de leve com os ombros, amenizando a expressão no rosto de . – Sei do seu medo, conheço seu trauma e te garanto que não precisa ter medo de mim. Aliás, quando estiver comigo ou com os outros garotos, você sempre estará segura, meu anjo.
- Eu sei... – E deu um suspiro audível, lançando um olhar engraçado para Hoseok. – Ok, ok. Jung Hoseok, você me convenceu. Pode fazer seu exame periódico!
- Prometo que você não vai nem sentir! – Ele abriu um enorme sorriso, voltando a se preparar.
E acreditava em cada palavra que ele dizia.
- Pegou o colete...? – Aquela era provavelmente a décima pergunta de Yoongi e a décima vez que concordava com a cabeça enquanto ajustava sua moto. – E o capacete?
- Suga! Eu não vou pra uma missão de reconhecimento de capacete! É indecente! – se manifestou, encontrando o amigo de braços cruzados e nem um pouco afetado com aquela frase.
- Problema. É meu dever checar se está tudo ok e se você está segura. – Ele deu de ombros, segurando o guidão da moto e se certificando de que estava bem grudado. Lembrava-se claramente de quando aparecera na Base com o negócio em frangalhos. – Não quero você sofrendo acidentes. Já me basta aquela vez que o Jungkook voltou te carregando e o Hoseok ficou horas cuidando de você desacordada na Enfermaria.
- Pode deixar, Yoongi. Eu não vou me machucar. – respondeu com certeza, tentando acalmá-lo. Sabia que tudo aquilo não passava de preocupação da parte do amigo.
- Eu tenho orgulho de você, pequena. – Yoongi deixou um leve sorriso aparecer no canto dos lábios, sendo que espelhou a mesma reação. Ambos eram muito próximos por ter traços semelhantes nas personalidades, fazendo com que se entendessem muito bem.
- Eu sabia que você tinha um apelido fofinho para ela. – Mas claro, Jungkook tinha que surgir para acabar com o momento. – Quem diria, Min Yoongi realmente tem um coração!
- Se algum de vocês dois começar a cantar a música do Homem de Lata do Mágico de Oz, juro que convenço o Namjoon a mandar o Taehyung e o Jimin nessa missão. – A voz de Yoongi era calma, porém os olhos ardiam como fogo.
- Não vai precisar. Lá fora eu dou uma surra no Jungkook. – piscou rapidamente para Yoongi enquanto Jungkook somente a observava com algo nos olhos que ela não conseguia identificar o que era.
- Apesar de você falar que vai me dar uma surra... – Ele comentou enquanto cruzava os braços e abria um pequeno sorriso. – Eu te criei tão bem.
- Você?! – e Yoongi perguntaram ao mesmo tempo. Era de conhecimento geral que Jungkook era o mais novo, então não tinha a propriedade suficiente para falar algo como aquilo.
- Mas você é um moleque muito pretensioso mesmo...! – A indignação de era inimaginável.
- ? Kookie? – Eles imediatamente ouviram Jimin chamando no ponto que equiparam nos ouvidos. Os três pararam de discutir e colocaram-se em alerta. – Está tudo pronto. Agora é a melhor hora pra ir, as sentinelas dos Capuzes Negros estão em troca de turno e voltam em dez minutos. É o tempo que vocês têm pra reconhecer o perímetro da missão de hoje no fim da tarde e nos dar uma análise local. Ok? Tudo pronto?
- Sim. Eu já chequei os equipamentos dos dois. – Yoongi declarou e todos começaram a se preparar para dar início à missão. Quando subiu na moto, porém, Yoongi segurou uma das mãos dela e abaixou o tom de voz até que só a moça ouvisse. – Saiba que você nunca estará sozinha e jamais precisará sofrer em silêncio de novo. Se precisar de qualquer coisa, grite.
respirou fundo e guardou aquelas palavras no coração enquanto deixava a Base, cantando os pneus da moto.
Os últimos raios de sol da tarde tingiam as montanhas de bronze. Jungkook e terminaram o reconhecimento em menos de dez minutos e voltaram à Base o quanto antes para explicar como cumpririam a missão daquele dia.
Jin, Yoongi, Namjoon, Hoseok, Taehyung, Jimin, Jungkook e estavam escalados para realizar o resgate de outros jovens da idade deles que haviam sido presos pelo Governo em um prédio na periferia do Centro. Teriam que entrar sem ser detectados e sair com um grupo de cinco pessoas que poderiam estar debilitadas. Prepararam o carro e as motos, coletes à prova de balas e armas. Após a detalhada explicação de e Jungkook sobre o caminho que teriam que fazer para salvar aqueles que lhes imploraram ajuda, reuniram-se no que gostavam de chamar de Concentração.
- Sabe, é muito estranho te ver assim. – apontou para Taehyung, que terminava de carregar seu rifle com mais um pente, enquanto o outro ficava preso ao cinto.
- Assim como? – Mas ele olhou para ela logo em seguida, perdendo o olhar frio e calculista, dando espaço à gentileza e carinho de sempre.
- Bom, precisamos estar de volta em uma hora e meia. – Namjoon surgiu logo em seguida, impedindo-a de responder à questão de Taehyung. – Se tudo sair como planejado, eu, você, o Hobi, o Tae e o Kookie vamos entrar no prédio e resgatar quem nos ligou pedindo ajuda. O Suga e o Jimin darão cobertura do lado de fora e o Jin vai ficar de prontidão no carro.
- Enquanto vocês carregam o pessoal para fora, nós nos certificamos de que ninguém do Governo irá nos atacar, corremos para o carro e o Jin nos leva de volta. – Yoongi completou desinteressadamente, ajeitando a arma no cinto. – Vocês todos retornam de moto, certo?
- É melhor. Assim podemos despistar os Capuzes Negros. – Jungkook se apoiou na própria moto, cruzando os braços. – Eu e a pegamos a saída da direita, Tae e Hobi pegam a da esquerda e o Joonie continua em frente. Não tem como dar errado.
- Bom, então vamos? Todos já estão prontos? – Hoseok ajeitava a luva de couro que cobria somente metade dos dedos da mão direita, algo que usava para não se machucar quando estava atirando. – Precisamos ir antes que fique de noite. Ou teremos que usar as luzes das motos e do carro, chamaremos atenção demais.
concordou, porém tinha as sobrancelhas franzidas e os braços cruzados. Aquilo a incomodava: ver ela e os amigos armados, preparados para arriscar as próprias vidas para salvar as dos outros – pois seu Governo era totalitário e vivia de acabar com a juventude de pessoas como ela. Lembrava-se claramente das noites em que tinham cinco Novas sobrando nos bolsos e se reuniam para beber, conversar e dar risada no bar mais barato. Não era a vida ideal, mas não tinham que carregar o peso de uma revolução nos ombros.
Não era normal vê-los sérios daquela maneira. Não era normal vê-los preparados para matar, para derramar o sangue de seus inimigos de maneira impiedosa pelo asfalto. Toda aquela história de revolução estava custando mais do que esperavam – e ela tinha um medo paralisante de que custasse algum deles. Algum dos homens que ela aprendera a amar e proteger como irmãos, independente do sangue que tinham em suas veias.
Eles montaram em suas motos enquanto Jin se preparou no carro. Prontos para dar partida, aguardando somente o portão da Base se abrir, sentiu as mãos tremendo levemente enquanto começavam a suar frio. O que ela faria se perdesse algum deles? Como ela poderia ir em frente?
Eles sobreviviam juntos. Não seria a mesma coisa sem um deles.
- Hobi...? – Ela sussurrou antes de saírem. Ele franziu as sobrancelhas, olhando para ela imediatamente. – Quando voltarmos, você pode sorrir pra mim...?
A expressão de Hoseok se tornou mais séria, entendendo exatamente o que ela queria dizer.
- Não se preocupe. Ficaremos bem. – E Hoseok abaixou o tom de voz, audível somente para ela, embaixo dos sons dos motores. – Não tenha medo. Mesmo que um dia tudo isso aqui se destrua...
- Não será hoje. – deu um pequeno sorriso para ele, fazendo Hoseok sorrir de volta.
Acelerando os motores, o grupo deixou a Base antes que o por do sol se iniciasse. Liderados pelo carro de Jin, Yoongi colocou o relógio para cronometrar a uma hora e meia que tinham antes de tudo começar a ficar escuro. Seguiam com rapidez e calma pelo caminho, sem trocar uma palavra. Qualquer barulho que escutassem podia ser o prelúdio da aproximação de um Capuz Negro – e, se os Capuzes Negros fossem atrás deles, teriam muitos problemas.
Entretanto, o caminho foi até consideravelmente calmo. Estranhavam esse fato e aquilo somente os fazia ficar cada vez mais ansiosos. Quando chegaram ao prédio que precisavam, pararam a uma distância segura, deixando os veículos e seguindo a pé. Com as armas em mãos, Yoongi e Jimin montaram tocaia em locais estratégicos, enquanto Jin observava tudo pelos retrovisores e deixava o carro pronto para sair em menos de dois segundos.
Namjoon seguiu à frente com . Hoseok caminhava no meio, enquanto Taehyung e Jungkook seguiam atrás, as armas prontas nas mãos. Os irmãos lideravam silenciosamente e sem dúvidas, como era de se esperar deles.
Antes de entrar no prédio, porém, Namjoon fez um sinal para . Ela concordou com a cabeça e chamou Taehyung e Hoseok para andar com ela, enquanto Jungkook caminhava ao lado de Namjoon. Passando pela porta dos fundos, Namjoon virou à esquerda enquanto seguiu à direita – ambos com seus respectivos grupos.
Caminhavam cautelosamente, tendo como ponto de encontro a sala que lhes foi apontada. Praticamente prendiam a respiração para não serem ouvidos e pegos pelo Governo.
Entretanto, enquanto andavam pela planta, não podiam negar que estavam achando tudo... Fácil demais.
Foi nesse momento que Taehyung viu algo com o canto dos olhos. Franzindo o cenho, ele se dispersou do grupo, caminhando cautelosamente até uma sala com a porta entreaberta.
E lá, encontrou dois jovens mortos. Ambos não vestiam roupas do Governo ou de alguém que trabalharia naquele prédio.
Taehyung praticamente correu para fora, encontrando Hoseok e procurando por ele. Antes que pudesse levar uma bronca em linguagem de sinais, Taehyung segurou a mão da amiga e caminhou até a sala, mostrando o que tinha encontrado.
Hoseok e ficaram em choque. Demoraram um pouco a processar o que estavam vendo, mas logo as peças foram se juntando.
Tudo estava calmo e fácil demais, pois era para ser fácil. A captura dos oito era algo inestimável ao Governo – e sabiam que não seriam mortos. Como símbolos da Resistência, seriam torturados até que desistissem de suas convicções, para se humilhar antes de morrer. Só assim poderiam destruir a revolução que haviam iniciado.
- Joonie...! – sussurrou e imediatamente saiu correndo da sala.
Hoseok e Taehyung trocaram olhares rápidos e saíram correndo atrás dela – sabendo que não estaria na sua melhor lógica e precisaria de cobertura. Atravessaram metade do corredor até encontrar Namjoon correndo com Jungkook.
- É uma armadilha! – Ele disse imediatamente, segurando a mão da irmã em um reflexo. – Precisamos ir embora, agora!
Ninguém discutiu. Como no dia em que resistiram juntos pela primeira vez, deram as mãos e começaram a correr. Ouviram passos desesperados atrás de si, gritos de vozes que os mandavam parar. Mas não parariam, não desistiriam.
Assim que chegaram aos últimos raios cor de laranja do lado de fora do prédio – que agora sabiam estar abandonado – avistaram Jimin e Yoongi, que não entenderam a correria.
- É uma armadilha! – Eles gritaram juntos, acenando para os amigos. – Entrem no carro!
- Pro carro, Suga! Vamos! – Jimin segurou a mão do amigo e correu com ele até o enorme carro negro, deixando a parte de trás aberta para que pudesse receber os outros. Quando estavam na metade do caminho, porém, os Capuzes Negros começaram a deixar o prédio. – O que é isso?! O Governo enviou um exército todo para nos pegar?!
- Cães imprestáveis! – Yoongi gritou em fúria. Estendia os braços para o primeiro que o alcançasse. – Jogando sujo dessa maneira! VOCÊS AINDA TERÃO O QUE MERECEM, NÓS NÃO ANDAMOS SOZINHOS E NUNCA DESISTIMOS, OUVIRAM?!
Jungkook foi o primeiro a alcançar os braços de Yoongi. Em poucos segundos, todos estavam no carro e o veículo cantou pneus para chegar à estrada. Precisavam chegar às montanhas – por lá, outros membros da Resistência podiam ajudá-los.
Jin pisou no acelerador como nunca. Ouvindo os gritos e tiros dos Capuzes Negros, teve que se abaixar quando uma das balas acertou o retrovisor. Namjoon imediatamente mirou o rifle de volta, atirando sem pensar duas vezes. Os Capuzes Negros revidavam cada bala, assim como eles. Se era para morrer, não iriam sem luta.
Um dos tiros, porém, pegou uma das rodas traseiras do carro. O trajeto variou e Jin tentou permanecer o volante fixo enquanto alcançavam a estrada. O carro começou a diminuir a velocidade, enquanto todos eles começavam a gritar sobre atirar, manter o ritmo e dirigir em linha reta.
- O CARRO ESTÁ COM PROBLEMAS! PRECISAREMOS DE UM PLANO B! – Jin comentou repentinamente, fazendo com que todos parassem de falar e continuassem a atirar, porém tentando arranjar uma solução.
- NEM QUE TENHAMOS QUE CORRER DE VOLTA... – Namjoon gritou repentinamente, a raiva ficando óbvia na voz. – ELES PODEM NOS MATAR UM DIA...!
- MAS NÃO SERÁ HOJE! – O resto do grupo respondeu entre gritos, tomando a coragem que precisavam.
Trocando olhares, sabiam o que teriam que fazer.
Conseguiam ver as montanhas à distância. Era um caminho longo, mas a sobrevivência deles dependia daquilo.
Jin parou o carro no meio da estrada e, imediatamente, o grupo saiu correndo.
Com os pés contra a estrada, utilizavam todas as forças nas próprias pernas para se livrar dos Capuzes Negros. O grupo do Governo, por sua vez, riu ao ver o carro parado, pensando que esse era o momento em que capturariam aqueles rebeldes que causaram tantos problemas.
O que não esperavam era que o carro explodisse no meio do caminho, causando explosões me cadeia dos veículos dos próprios Capuzes Negros – mais uma tecnologia desenvolvida por Jimin e seus colegas na sala de Frequências. Com risadas audíveis, o grupo rebelde continuou correndo, ganhando uma grande diferença de distância dos Capuzes Negros.
- Haru, você está aí?! Diga que sim! – Jimin chamou pelo ponto no ouvido, sem parar de correr.
- Sim, Jimin! O que houve?! As coordenadas de vocês estão insanas, a missão deu errado?! – A voz de uma jovem garota surgiu no fone de todos. Haru tinha somente onze anos, mas era muito melhor do que qualquer pessoa na Base quando o assunto era programação.
- Não era uma missão, era uma armadilha! – Yoongi respondeu imediatamente. – Precisamos saber se alguém pode cobrir as montanhas! Precisamos de um backup!
- Calma... – E eles ouviram os dedos da garota trabalhando incansavelmente no teclado do computador. – O time Ômega está a caminho, mas só chegam em vinte minutos!
- Nós não temos vinte minutos, Haru! – gritou de volta, virando-se para poder dar mais alguns tiros. – Precisamos nos resolver agora! Acho que temos que usar o plano de escape C!
Plano C: se tudo der errado, subir as montanhas e se jogar no mar. Os Capuzes Negros não nos seguirão e salvaremos nossas vidas.
- Ok! Plano C! – Taehyung concordou, apesar de ser quem tinha mais medo de se jogar de lugares altos. – Vamos com o plano C! Todos de acordo?!
- Sim! – O restante do grupo gritou praticamente ao mesmo tempo, assustando até mesmo alguns Capuzes Negros.
O grupo seguiu obstinadamente até as montanhas. Quando adentraram o território, já se sentiam mais confiantes, com a esperança no coração de que conseguiriam escapar.
Até ouvirem um tiro seguido de um breve gemido.
levara uma bala na perna. Tentando estancar o sangue de maneira desconjuntada, ela ignorava a dor que sentia ao apoiar a perna no chão.
- NÃO! Não preciso de ajuda, continuem em frente!
Mas ela sabia que essas palavras não funcionariam completamente. Hoseok começara a correr ao lado de , prestando atenção em cada movimento. Quando via que os Capuzes Negros estavam mais empenhados em alcançá-los, arriscava-se a atirar algumas balas.
- Cretinos! Eles estão atirando em você porque já está machucada! – Ele comentou entre os dentes, algo não muito comum para Hoseok.
Apesar disso, estavam quase alcançando a beirada da montanha – o local exato em que se jogariam na água para salvar suas vidas. Namjoon conseguia correr à frente com Jungkook e logo alcançaram a ponta. Quando chegaram, Namjoon deu as ordens e Jungkook imediatamente se jogou na água. Chamando os outros com gestos dos braços e trocando tiros com os Capuzes Negros, Namjoon esperaria até que cada um deles estivesse na água para abraçar a irmã e segui-los no que seria sua salvação.
Entretanto, entendia que estava cada vez mais lenta. Viu quando Jin se jogou no mar, seguido de Taehyung – que olhou para trás a fim de checar se ela estava bem e somente pulou após as ordens de Namjoon. Yoongi foi o próximo que conseguiu se salvar, segurando a mão de Jimin.
Cada vez mais lenta, conseguia sentir os Capuzes Negros se aproximando, as balas ficando cada vez mais perigosamente certeiras. Mesmo assim, Hoseok não desistia dela. Lutava ao lado da moça, protegia-a como podia. Não aumentava a velocidade, por mais que pudesse.
- Joonie, pode ir! Eu vou com o Hobi! – gritou para o irmão. – Não se preocupa comigo, estou segura! VAI AGORA!
- A gente se encontra lá embaixo! – Namjoon gritou de volta e se jogou na água, confiando a vida da própria irmã nas mãos de Hoseok.
respirou fundo. Sabia muito bem o que tinha que fazer – a única maneira de salvar a todos eles. Fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os de maneira resoluta em seguida. Tinha tomado sua decisão e estava pronta para assumir todas as consequências.
- Hobi, me perdoa. Mas eu não posso perder nenhum de vocês. – murmurou, percebendo a expressão confusa com a qual ele a observou em seguida.
- O quê...? – Mas Hoseok não teve tempo de terminar de perguntar.
Ela sabia que somente um dos dois sobreviveria naquele dia e não seria capturado pelo Governo.
Ela não poderia viver sem algum deles – ainda mais sabendo que ela seria a culpada pela captura.
Juntando todas as forças que tinha em seu corpo, deu um encontrão em Hoseok. Perdendo o equilíbrio, ele tentou se segurar na blusa ou nos braços dela, mas foi em vão.
- NÃO! ! – A voz de Hoseok ecoou enquanto ele caía na segurança da água do mar.
tentou se jogar no mar em seguida, mas foi segurada por um dos Capuzes Negros. Lutando como podia, soltou-se dele e lutou com mais outro. E outro. E outro. Até que seu corpo não aguentou e a resistência caiu: precisando de mais de três homens para dominá-la, sentiu uma pancada e uma dor aguda na cabeça antes de desmaiar.
O Governo a capturara. Mas, pelo menos, sua família estava a salvo.
A Resistência caiu em silêncio.
Nenhum deles trocou uma palavra que fosse enquanto voltavam à Base.
Reunidos na sala da Liderança, permaneceram sem exteriorizar a cacofonia dentro das próprias mentes. Cada um lidava com a dor de perdê-la a sua maneira – e ninguém tinha uma resposta de qual era a melhor. Aparentemente, não havia uma boa maneira de aguentar aquela perda e, cada vez que pensavam no que acontecera, tinham vontade de gritar ou chorar.
Todos tinham plena consciência do que aconteceria a partir daquele momento. seria torturada até perder a voz, a fim de ser forçada a dizer o local da Base. Ela se recusaria de todas as formas, não faria nenhum som além de gritos e xingamentos. Só de pensarem em como ela seria machucada, calafrios corriam pelas espinhas – sabiam que ela era forte, mas abandoná-la àquele destino era cruel demais.
- Precisamos fazer algo. – Jin comentou baixo, finalmente quebrando a falta de som. Todos olharam para ele, mas o amigo não tirou os olhos do tampo negro da mesa da Liderança.
- Precisamos. – Yoongi concordou decididamente. E todos sabiam que, se discordassem, ele pegaria uma moto e iria sozinho tentar resgatar a amiga.
- Vamos buscá-la, onde quer que ela esteja. – Namjoon suspirou e apoiou as duas mãos na mesa, em pé, enquanto olhava para os amigos. – Vai ser difícil e perigoso. Podemos até morrer. Mas ela faria o mesmo por qualquer um de nós.
- “Faria” não. Fez. – Hoseok os observou com os olhos vermelhos. Nunca tinha chorado tanto quanto naquele dia. – Ela sabia que não ia dar para salvar nós dois e resolveu me salvar. Se eu estou aqui agora, é por causa dela.
O silêncio tomou a sala novamente, porém, dessa vez, tinha um sentimento diferente. Era a resolução deles em salvá-la.
- A Resistência não é nada sem ela. – Jimin comentou repentinamente. – Quem assumiu a punição daquela menina naquele dia e começou tudo foi ela. Não podemos abandoná-la e a definitivamente não nos abandonaria.
- E não sobreviveríamos por muito tempo também. Quem brigou para instituirmos as fazendas foi a . Quem nos dá esperança de dias melhores é ela, por mais... – E Taehyung deu um pequeno suspiro, como se estivesse relutando em falar suas próximas palavras. Todos ficaram observando o amigo, esperando que ele concluísse. Sabiam da dificuldade que ele tinha em expressar sentimentos e em falar. – Por mais que eu saiba que ela não guarda essa esperança para si mesma. Tenho certeza que ela espera morrer nos porões do Governo e temos que prová-la errada.
Com praticamente todos tendo expressado sua concordância naquela missão suicida, viraram-se para Jungkook a fim de ter um ok verbal do amigo – pois só assim continuariam naquilo junto com ele. Não forçariam ninguém a arriscar a própria vida tão deliberadamente – aquilo tinha que ser uma escolha.
E ficaram surpresos ao encontrá-lo com a cabeça abaixada, as lágrimas correndo silenciosamente pelo rosto.
- Eu morro por ela, se precisar. – Jungkook comentou enquanto tentava fazer a voz não parecer muito chorosa. – Mas não podemos abandoná-la... A é minha família e eu tenho que prová-la errada.
- Então está decidido. Nós vamos salvá-la. – Namjoon sentenciou, batendo na mesa a fim de selar a decisão que tinham acabado de tomar.
- A princesa acha que eles virão te salvar?
O sorriso cruel nos lábios do Capuz Negro era nojento. Se tivesse forças, o arrancaria com um soco.
Amarrada à cadeira, ele segurou a cabeça dela pelos cabelos, fazendo-a erguer novamente e olhá-lo nos olhos. A moça sustentou o olhar, ignorando os lábios, nariz e queixo cobertos de sangue.
- Você está protegendo pessoas que não te protegeriam se estivessem no seu lugar. Ninguém vai aparecer aqui para salvá-la. Você está resistindo por uma causa morta.
Aquelas palavras doíam. tinha problemas em confiar nos outros, apesar de confiar cegamente naqueles amigos que daria a vida para salvar – e provavelmente dera para salvar Hoseok. Mas ela não se arrependia.
Com um pequeno sorriso, a moça juntou o sangue que tinha na boca e cuspiu no rosto do Capuz Negro, que fechou os olhos e apertou ainda mais os cabelos da moça. Ela sentia dor, mas não lhes daria o gosto de exteriorizar aquilo.
- Você vai ver, sua rebelde nojenta. Seus amigos não irão aparecer e você vai morrer aqui. Será humilhada e executada na Praça do Governo, criarão outro Silêncio pela sua morte. E ninguém mais vai vê-la como uma heroína. Toda a sua ideologia queimará junto com você!
Com um gesto com as mãos, ele a largou e outros Capuzes Negros se aproximaram. fechou os olhos enquanto soltavam suas mãos e a colocavam em pé para mais uma surra. Enquanto isso, ela somente se lembrava da mania como Taehyung sorria em meio às plantas, Jimin se empolgava enquanto a ensinava a ouvir, Hoseok segurava a mão dela e a acalmava quando precisava fazer exames, Jin cozinhava de manhã e brigava com Jungkook quando este decidia roubar panquecas e sair correndo, Yoongi tocava em um piano improvisado junto com ela e Namjoon discutia sobre os livros que estava lendo.
Aquilo a fazia resistir.
Para a segunda missão, as roupas que prepararam foram muito diferentes das primeiras.
Optaram por roupas negras para se camuflar na noite, se necessário. Colocaram luvas de couro, coletes à prova de balas, botas coturno negras e se armaram com rifles e pistolas. Alguns colocaram bandanas para afastar os cabelos dos olhos e todos tinham seus pontos nos ouvidos. Usaram o GPS do ponto de para localizá-la, além de tentarem contato. Entretanto, encontraram somente estática, concluindo que deveriam ter tirado dela e agora estudavam no Departamento de Tecnologia do Governo.
Demoraram uma semana e meia para organizar tudo que precisavam. Enquanto isso, tudo que podiam fazer era rezar para que permanecesse forte.
- Muito bem, todos vocês sabem os riscos que corremos! – Namjoon anunciou enquanto se preparavam para sair da Base, já ao lado das próprias motos, colocadas uma ao lado da outra e somente aguardando o momento de dar partida. As pessoas que protegiam se reuniram à porta, preocupadas. Se tudo desse errado, naquela noite perderiam praticamente todos os seus Líderes e não saberiam o que fazer para sobreviver sem eles. – Não pedi para que nenhum de vocês me acompanhasse, vocês o fizeram por livre arbítrio! Sabemos muito bem que a Resistência sem a não pode ser considerada completa e não abandonamos nenhum de nós para o desespero e a morte. Nós iremos trazê-la de volta, por mais que isso custe as nossas vidas! Hoje nós lutamos por aqueles que amamos!
Alguns gritaram, outros começaram a rezar. Eles respiraram fundo e tomaram suas posições em suas motos. Quando o lento portão da Base finalmente parou e revelou as montanhas contra a luz da lua, os motores das motos rosnaram pela noite enquanto os sete deixavam a Resistência em direção ao prédio do Governo no qual estava presa.
Ao chegarem perto do Centro, entretanto, deixaram as motos em lugares escondidos e puseram-se a caminhar silenciosamente pelos cantos mais escuros e silenciosos da cidade. Haru os guiava pelos pontos nos ouvidos e sabiam que tinham, pelo menos, dez minutos de caminhada.
Aqueles minutos, entretanto, pareciam horas. Trocavam olhares apreensivos e gostariam de sair correndo para entrar o mais rápido que pudessem no prédio para trazê-la de volta. Porém, era madrugada e pretendiam não acordar ninguém. Escolheram aquele horário justamente para evitar ao máximo encontrar alguma pessoa que fosse simpatizante com o Governo.
Naquele momento, era levada a um galpão de treinamento que ela sinceramente achava que parecia um estacionamento coberto. Estava tão cansada que não conseguia ver direito para onde era levada, enquanto tropeçava nos próprios pés doloridos e descalços. Deixava pequenos rastros de sangue pelos corredores brancos, mas, aparentemente, os Capuzes Negros não se importavam.
Fora jogada no chão daquele enorme lugar de concreto, vendo um portão à distância. Abrindo os olhos em confusão, ela apoiou levemente as mãos no chão e tentou entender como aquilo funcionava. Encontrou logo ao lado o que parecia um botão que, talvez, acionasse o portão.
Se ela precisasse escapar, aquele era o caminho.
- Levante! – O Capuz Negro que a torturara nos últimos dias apareceu logo à frente dela, dando um chute na barriga da moça. gemeu de dor, já cansada demais para tentar conter as reações. – Hoje continuaremos o seu interrogatório. E hoje você me contará onde fica a Base.
Sem responder, se colocou de joelhos – o máximo que ela podia levantar. Com a “ajuda” de outros Capuzes Negros, sentou-se em uma cadeira que havia sido colocada atrás de si e começaram a sessão daquele dia.
Ela já não sabia se era dia ou noite; quantos dias, semanas ou meses já haviam se passado. Só sabia que queria escapar.
- Precisamos encontrá-la logo. – Taehyung sussurrou de repente enquanto se aproximavam do prédio em que estava. Aquilo chamou a atenção de seus amigos, que somente franziram as sobrancelhas. - Não sei o que é, mas... Acho que... A está no limite. Precisamos ajudá-la. Rápido.
- Vocês vão. – A voz de Haru surgiu no ponto deles. – O prédio é esse logo à frente. Essa porta negra é a entrada de trás. Não deve haver ninguém no primeiro corredor, já hackeei as câmeras de segurança.
- E onde está a ? – Jungkook perguntou de maneira resoluta, carregando a pistola e a apontando para a porta negra enquanto Jimin e Jin seguravam as grandes maçanetas para abri-la.
- No galpão de treinamento, terceiro andar. De lá, há uma saída que vocês podem usar. Pelo que consigo ver, tem um carro grande que o Jin pode roubar. E a ... – Haru segurou as próprias palavras imediatamente.
- E a ...? – A voz de Yoongi praticamente queimava.
- Está sendo interrogada.
- Precisamos ir logo. – Namjoon disse de maneira decidida e fez sinal para que abrissem a porta.
Com o caminho livre, Jungkook foi o primeiro a entrar, sendo seguido por Namjoon, Taehyung e Hoseok. Jin, Jimin e Yoongi cobriam a retaguarda, fechando a porta novamente.
- No próximo corredor vocês vão encontrar Capuzes Negros. Se os atacarem, soarão os alarmes e vocês terão menos de dez minutos para encontrá-la e cumprir a missão sem ser capturados pelas Forças Especiais. – Haru orientou, apreensiva. Sabia que eles não estavam completamente lógicos e as emoções naquela missão poderiam colocar tudo a perder.
- Vamos? – Namjoon perguntou e, respirando fundo, cada um empunhou sua arma de escolha e caminharam até o próximo corredor.
Haru fechou os olhos e começou a chorar quando ouviu os primeiros tiros e socos ecoando pelos seus fones. Rezava para que eles saíssem vivos – todos eles. Tinha esperanças de que retornaria e passaria semanas na Enfermaria de Hoseok, de que os veria sorrindo juntos novamente, de que os veria de mãos dadas emprestando sua força e energia a ela e muitos outros jovens que precisavam daquela faísca.
- Dez minutos. – Yoongi comentou enquanto colocava o relógio para cronometrar. No chão, jaziam os Capuzes Negros que eles conseguiram lutar contra. – Vamos.
Enquanto começaram a correr pelos corredores de concreto, luzes vermelhas coloriram tudo à volta. Piscavam impiedosamente enquanto corriam. Sirenes começaram a tocar e sabiam que, se fossem capturados pelas Forças Especiais, não sairiam de lá com vida.
- Terceiro andar, Haru? Qual o caminho?! – Hoseok gritou por cima da barulheira, ouvindo passos desesperados aproximando-se atrás de si. Estava com medo, mas não podia desistir.
- Sim, terceiro! – E eles podiam ouvir a voz de Haru tremendo, por mais que ela tentasse esconder. – À direita! Pegue as escadas à direita! Quando chegarem no próximo andar, três Capuzes Negros estarão aguardando!
Aquele aviso foi certeiro, assim como o tiro de Jungkook que matou o primeiro Capuz Negro em seu campo de visão. Sem titubear, matou o próximo que estava ao lado e, com a cobertura de Jimin logo atrás de si, o terceiro também caiu morto ao chão.
Se não tivessem em uma missão tão desesperada, parariam para comentar sobre o foco e força impiedosa dos amigos. Porém, todos estavam com o mesmo sentimento, então não tinham o que comentar dos outros.
- Próximas escadas, segundo andar! – Namjoon gritou, guiando-os para o próximo andar.
E, em cada andar acertavam tiros cada vez mais certeiros, a determinação de encontrá-la e salvá-la impedindo-os de sentir algo por seus inimigos.
Quando a luz começou a piscar e as sirenes a ressoar no galpão, não entendeu o que estava acontecendo. O Capuz Negro a largou e ela caiu no chão, sem força alguma no próprio corpo.
Viu alguns pés se aproximando e ouviu palavras desesperadas sendo trocadas. O homem ainda deu um último chute nela antes de ir embora.
Quando se viu sozinha naquele lugar cinza e inóspito, deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto. Ela não aguentava mais. Queria somente que aquilo terminasse, de qualquer maneira – fosse executada na Praça do Governo, queimada em uma estaca, humilhada na frente de toda a Resistência. Ela não se importava mais.
“Haverá um dia em que perderemos as lutas, ...”
- Mas não é hoje. – completou a frase de Namjoon que ecoou em sua mente.
“Juntos nós sobreviveremos” Jimin diria com um sorriso gentil nos lábios.
“Juntos não morreremos” Taehyung estenderia a mão e faria com que ela levantasse a cabeça.
“Se não conseguir correr, ande” Jungkook firmaria os pés dela no chão e a ajudaria a permanecer em pé.
“E se não conseguir andar, que seja engatinhando. Mas continue em frente” Yoongi comentaria da maneira mais displicente possível.
“Se quiser gritar, respire fundo e grite que não será hoje!” Jin falaria de maneira enérgica, incentivando-a a caminhar.
“E acredite que nós somos à prova de balas” Hoseok não andaria por ela, mas a faria ir em frente.
- Não. É. Hoje. – disse de maneira decidida, abrindo os olhos e apoiando a mão no chão, empurrando-se para cima.
Sentia dor no corpo todo. O sangue escorria pelo rosto e pingava no chão. Mas ela não iria desistir. sabia muito bem que ninguém iria salvá-la: ela tinha que fazer aquilo por si mesma. E queria viver. Queria resistir.
Colocando-se de pé com dificuldade, a moça começou a caminhar lentamente até o portão que identificara antes. Tropeçou no caminho, machucando ainda mais os joelhos e chorando ao vê-los sangrar. Mas levantou a cabeça e continuou a caminhar – da maneira que podia, como conseguia. Ela ia sobreviver.
- A porta principal do galpão está travada, vocês vão ter que dar a volta por fora! – Haru anunciou enquanto trocavam os últimos tiros com os Capuzes Negros que guardavam o terceiro andar. – Peguem a porta da direita e vocês irão sair. Lá, um dos Capuzes Negros tem o controle do portão. Ele...
- Ele o quê?! – Jimin rosnou de volta enquanto quebrava a porta a pontapés. Não estava com paciência para enrolar.
- Ele que interrogou a .
Ela podia praticamente sentir o ódio que emanava deles. Uma vez que a porta estava aberta, correram até o lado de fora, rapidamente encontrando o Capuz Negro com o sorriso que quis tanto arrancar à força nos últimos dias.
- Temos menos de dois minutos. – Yoongi grunhiu e preparou o rifle, já atirando nos Capuzes Negros que protegiam aquele com o controle. Foi tão rápido que o próprio homem ficou impressionado.
- Se vocês não fossem da Resistência, podiam muito bem participar das Forças Especiais. É uma pena. – Ele comentou, ainda com aquele sorriso.
- E é uma pena que você torturou a . Nós poderíamos ter um pouco de misericórdia! – Jimin avançou em cima do homem e não havia força no mundo que pudesse impedi-lo de dar uma boa surra antes de matá-lo.
Arrancando o controle das mãos dele à força, Jimin jogou-o para os amigos e continuou sua parte da missão. Quando estava nervoso daquela maneira, ninguém se atrevia a mexer com ele. Em geral, Jimin era gentil e simpático – porém, quando furioso, assustava até os próprios amigos.
viu o portão se abrindo aos poucos. A luz dos primeiros raios de sol que surgiam na manhã quase a cegaram, fazendo com que ela cobrisse os olhos e abaixasse a cabeça.
Aqueles raios cor de laranja, porém, deram-na esperanças. Cada vez que via mais da paisagem de fora, o coração dela batia mais forte. Respirando fundo, ela continuou a caminhar, ignorando a dor na perna que, dias antes, havia sido acertada com um tiro.
Yoongi foi o primeiro a aparecer na distância, fixo em procurá-la. Logo que o viu, abriu um grande sorriso.
- ! – Yoongi gritou e pendurou o rifle nos ombros, imediatamente correndo em direção a ela.
- Yoongi...! – Ela exclamou sem forças, pois tudo que ainda tinha focou nas próprias pernas para ir até ele o mais rápido possível.
Ele se impressionara com o fato de que ela ainda conseguia correr – por pior que o estivesse fazendo. Estendeu os braços na direção da amiga, pronta para recebê-la. Tinha o coração apertado de vê-la tão machucada e prometeu a si mesmo que, se Jimin não tivesse acabado com o cara que fizera aquilo com ela, teria seu momento para dá-lo uma surra.
- Yoongi! – Os braços de finalmente se fecharam em volta do pescoço dele e Yoongi conseguiu segurá-la com força, levantando-a do chão. Afinal, as pernas dela tinham acabado de ceder. – Vocês vieram...!
- Claro que sim. Nunca vamos te abandonar. – Ele murmurou enquanto sentia as lágrimas de escorrendo pelo próprio pescoço. Afagou os cabelos da amiga durante alguns segundos e beijou-a no topo da cabeça como podia. Os braços se fecharam com mais força em volta dela, o coração finalmente apaziguando o medo que sentira de perdê-la. – Consegue andar?
- Consigo sim. – respondeu de maneira resoluta e, com a ajuda de Yoongi, começou a caminhar até o carro que Haru indicara.
- , você está bem?! – Jin perguntou rapidamente, dando um beijo na testa da amiga. Tentava evitar algum lugar que não estivesse manchado de sangue, mas não conseguiu ficar sem o leve gosto metálico nos lábios.
- Agora estou. – Ela murmurou de volta, vendo o amigo sair correndo para ligar o carro.
- Vamos! Temos menos de um minuto! – Namjoon apressava a todos. – Jimin! Jimin o quê... Ué, cadê o Capuz Negro?
- Ele tropeçou e caiu no primeiro andar. – Jimin comentou de maneira sombria enquanto caminhava para dentro do galpão junto com os outros amigos.
Acharam melhor não perguntar o que realmente tinha acontecido.
E, em menos de um minuto, todos se enfiaram dentro do carro – Jungkook ajudando a carregar para dentro – e Jin pôde cantar os pneus pela estrada.
Viram os esquadrões das Forças Especiais chegando pelo retrovisor do carro. Novamente, se alcançassem as montanhas, estariam a salvo. Viram que alguns carros começaram a segui-los, porém estavam com mais de dois minutos de vantagem.
segurava a mão de Yoongi, sem largá-la. Os outros ficavam às janelas, prontos para atirar em quem se aproximasse. Por mais de meia hora, o caminho foi tenso e silencioso, até finalmente ultrapassarem as montanhas. Os carros das Forças Especiais tentaram segui-los, mas imediatamente foram recebidos por uma chuva de balas da Resistência.
Quase próximos à base, eles saíram das janelas e puderam respirar um pouco.
Tentaram falar com , mas perceberam que ela dormia placidamente com a cabeça apoiada na perna de Yoongi. Sem soltar a mão dela, ele afagava os cabelos dela com a outra. tinha um pequeno sorriso nos lábios e eles mesmos não podiam deixar de sorrir.
Provavelmente era a primeira vez que ela estava dormindo depois de uma semana e meia.
Os pés dela tocaram o chão com incerteza. Sentia as bandagens nos cortes, estancando o sangue que perdera em todos aqueles dias. Pequenos band-aids lilases foram colocados nos braços cuidadosamente no local onde ela recebera sangue e soro. não pôde deixar de sorrir: aquilo era a cara de Hoseok.
Caminhava com incerteza pela Enfermaria. Sabia que iria encontrá-los na sala comum logo através da primeira porta. Tinha certeza que estariam preocupados, conversando sobre quando ela abriria os olhos.
Quando os viu sentados nos sofás e cadeiras – menos Jungkook, que tinha a mania de sentar em cima da mesa de centro – imediatamente começou a sorrir e sentiu lágrimas surgindo nos olhos. Ao vê-la caminhando em sua leve camisola branca, todos eles pararam de falar.
E também começaram a sorrir.
Hoseok foi o primeiro a se levantar e correr para abraçá-la. Com a moça em seus braços, enterrou a cabeça no pescoço dela, tentando esconder as lágrimas.
- Obrigado. Eu não acredito que você fez isso por mim.
- Você faria o mesmo, não? – Ela respondeu com a voz um tanto rouca e todos se sentiram mais aliviados de ouvir a voz de novamente pelos corredores da Resistência.
- Fizemos. O Jimin até... Digamos que ele puniu o Capuz Negro que fez isso com você. – Namjoon a deu um forte abraço logo que Hoseok a soltou. – Estou feliz de tê-la de volta, irmã.
- Todos nós estamos! – Jimin nem negou o que tinham acabado de falar dele. E, repentinamente, fora abraçada tanto por ele quanto por Jungkook e Taehyung.
- É um alívio vê-la de novo... – A voz chorosa de Jin foi a próxima a surgir perto dela, abraçando-a com força após o abraço conjunto.
- Acho que eu já te abracei o suficiente, não? – Yoongi perguntou enquanto Jin a soltava, no que negou com a cabeça, lágrimas de alegria escorrendo pelo rosto. – Que bom. Porque eu também acho que não.
E com isso, ele a abraçou novamente. Tomando cuidado para não machucá-la mais ainda, eles se reuniram em um abraço, cada um derramando as próprias lágrimas da alegria de finalmente estarem juntos novamente.
Haru tirou uma foto daquele momento, pois sabia que iriam querer guardá-la. Muitos anos depois, quando tudo aquilo tivesse terminado e suas vidas tomassem um ritmo que poderiam considerar normal, veriam aquela imagem e se lembrariam das palavras que davam forças para que continuassem lutando dia após dia, sem desistir mesmo nos momentos mais obscuros.
- Vocês voltaram por mim. – constatou enquanto sorria, fazendo-os rir como se aquilo fosse um absurdo.
- Sempre voltaremos. – Jungkook segurou uma das mãos dela.
- Disso, você pode ter certeza, pequena. – Taehyung segurou a outra mão de , fazendo Yoongi rolar os olhos. Claro que o apelido dele já tinha sido disseminado. Ele teria que inventar outro.
E assim, deram as mãos novamente, emprestando-se entre si a força que precisavam para ir em frente. Nunca iriam desistir. Nunca iriam se render.
Podiam sentir aquelas palavras quando estavam juntos.
Não será hoje.
Fim.
Nota da autora:
Acreditem ou não, estou segurando essa fic há dois anos.
Exato. DOIS ANOS.
Foi a primeira que quis escrever de BTS e a única que nunca escrevi. Tinha história pra mais umas cem páginas, mas precisei resumir. Se um dia eu virar uma autora publicada, podem ter certeza que essa é uma das primeiras histórias que virará um livro!
Enfim, esse MV e essa música são muito importantes para mim. Me ajudaram a sobreviver e a me dar forças para lutar, então quis deixar um agradecimento em forma de fic – além de tentar passar para outros um pouco do que essa música significa para mim.
Espero que gostem e deixem bastante amor para Not Today.
E lembrem-se: sempre que estiverem prestes a desistir repitam que NÃO É HOJE.
Até a próxima!
XX
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Acreditem ou não, estou segurando essa fic há dois anos.
Exato. DOIS ANOS.
Foi a primeira que quis escrever de BTS e a única que nunca escrevi. Tinha história pra mais umas cem páginas, mas precisei resumir. Se um dia eu virar uma autora publicada, podem ter certeza que essa é uma das primeiras histórias que virará um livro!
Enfim, esse MV e essa música são muito importantes para mim. Me ajudaram a sobreviver e a me dar forças para lutar, então quis deixar um agradecimento em forma de fic – além de tentar passar para outros um pouco do que essa música significa para mim.
Espero que gostem e deixem bastante amor para Not Today.
E lembrem-se: sempre que estiverem prestes a desistir repitam que NÃO É HOJE.
Até a próxima!
XX
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!