Bewitched
História por Danielli | Revisão por Sofia Queirós


31.10.2010 – 14:00h

- Eu preciso mesmo ir a essa festa, ? Eu sei o quanto você ama o Halloween, mas isso é você e não eu.
- Precisa sim, você é meu namorado, como não iria à festa de Dia das Bruxas que eu organizei na minha casa? E todos os seus amigos que filmaram Crepúsculo com você confirmaram presença.
- Mas é que você sabe que eu não gosto muito dessa "coisa" de bruxas. Que eu fico um pouco tenso com isso. (N.A.: traduzindo: tenso = apavorado)
morria de medo de bruxas e afins devido à um trauma de infância, quando uns meninos mais velhos o trancaram em uma casa abandonada onde se dizia morar uma bruxa que fazia sopa de criancinhas. Mas sua namorada não parecia muito preocupada com isso.
- Amorzinho... – murmurou enquanto se aproximava enlaçando o pescoço de . – Você já está bem grandinho para ter medo de bruxas, já passou da hora de superar isso. E além do mais, todo mundo sabe que bruxas, fadas e outras coisas do gênero não existem de verdade. – dizendo isso deu um beijo em seu rosto e se afastou até o sofá, buscando um enorme pacote.
- Você não devia falar assim, . Eu sei que já estou "bem grandinho" para isso, mas é trauma de infância, não é tão simples passar por cima.
- Então hoje você vai superar esse trauma bobo de uma vez por todas. Aqui está a sua fantasia. – entregou o pacote para .
- O que é isto? – perguntou.
- Abre.
Ele abriu o pacote em silêncio sob o olhar ansioso de .
- Você só pode estar brincando. – ele falou enquanto tirava a roupa do pacote.
- Não. Estou falando sério. É com essa roupa que você vai. Eu vou me fantasiar de Cinderella, então, logicamente, você precisa se fantasiar de príncipe. Meu príncipe.
- Príncipe...
- Ah, , relaxa. Hoje é o dia que eu mais amo do ano inteiro. É Halloween! E para mim, melhor que isso, é passar o Halloween me divertindo com você. Fica animado, por mim... Por favor... – falou fazendo biquinho.
- Vou tentar, eu prometo. – respondeu, vencido.
Era difícil negar qualquer coisa à , ela sempre conseguia tudo o que queria, para era praticamente impossível resistir aos apelos e pedidos da namorada. Então, como não tinha jeito de ganhar dela, o melhor era concordar e aceitar.
deixou sua namorada com o restante dos preparativos e foi para sua casa, enquanto tentava se conformar com a festa e a fantasia.
olhou mais uma vez para seu vestido que estava sobre sua cama, e pegou seu celular, ela estava preocupada com sua melhor amiga Sarah que ainda não tinha respondido a nenhuma de suas mensagens e ligações. Tentou mais uma vez, e novamente caiu na caixa de mensagens.
- Por que Sarah não está atendendo? Ela não pode ter esquecido da minha festa. Ela ficou de me ajudar com os preparativos... Quem sabe está no msn ou no twitter... Vou dar uma olhada.
– Ela pegou seu notebook e entrou no msn, mas Sarah estava offline, tentou o twitter e deixou algumas mensagens para a amiga.
@SahStarlight2010 Amiga, cadê você? ….. 7 minutes ago via web
@SahStarlight2010 Esqueceu da festa? ….. 5 minutes ago via web
@SahStarlight2010 Preciso de você! ….. 2 minutes ago via web
@SahStarlight2010 Me liga! ….. 1 minute ago via web
(N.A. : Esse twitter é ficção.)
Como não houve resposta, ela se deu por vencida e desistiu, mesmo ainda inconformada e preocupada com o sumiço da amiga, e voltou aos preparativos da festa.
Por volta das 17h30min, várias crianças fantasiadas, acompanhadas dos pais já iam de casa em casa em busca de suas gostosuras ou travessuras.
Não demorou a anoitecer, e logo os convidados da festa começaram a chegar devidamente fantasiados.
A casa de estava perfeitamente decorada; logo na entrada, havia pendurada uma guirlanda de alho, como que para espantar algum vampiro de verdade que quisesse tomar um coquetel direto no pescoço dos convidados. Apesar de que, não conseguia espantar nem o morcego de borracha que estava com suas presas afiadas enfiadas em uma das cabeças de alho.
Um caldeirão enorme ficava ao lado da porta, repleto de doces. Abóboras entalhadas e com lamparinas dentro ladeavam o caminho de pedras até a entrada da casa. Um espantalho com uma cabeça de abóbora dava as boas vindas a quem tinha coragem o suficiente para entrar na casa.
O jardim era um show à parte, muitas luzes coloridas, fumaça de gelo seco e monstros horripilantes arrematavam a decoração. Uma banda tocava no palco montado na grama. Muitos dos convidados já se reuniam ali e dançavam animadamente.

- Doce ou travessura? – perguntou uma garotinha ruiva, vestida de bruxa e com expressivos olhos verdes, enquanto puxava pela barra da blusa de príncipe que ele vestia.
- Olá, mocinha! Melhor eu arrumar muitas gostosuras para você, antes que você me lance algum feitiço maligno.
Ele deixou seu ponche sobre a mesinha onde estava o caldeirão com os doces, enquanto pegava alguns chocolates variados e várias balas e pirulitos.
- Eu quero chocolate branco, porque o chocolate preto me dá alergia, e eu só gosto de bala vermelha, acho a verde e a amarela muito azeda. Então é melhor você ir trocando tudo isso me trazer direitinho o que eu pedi, porque senão eu te transformo em sapo.
começou a rir enquanto trocava os doces para a bruxinha.
- Aqui está! E como é o seu nome? – entregou os docinhos fazendo uma reverência, para a garota que sorria.
- !
- Que nome lindo você tem, o meu é . Muito prazer. Apertou a mão da menina e pegou o ponche que estava ao lado do caldeirão.
desceu a escada furiosa enquanto procurava por seu namorado.
Quando ela o viu entregando os doces e brincando com a menininha, ficou ainda mais irritada.
- Como é que ele me larga sozinha no meio da festa para ficar brincando com aquela pirralhinha? – falou para si mesma, enquanto ia a passos firmes e decididos em direção aos dois.
- , querido. Já entregou os doces da pirra..., quer dizer, para essa garotinha linda e adorável? – se abaixou para a bruxinha e apertou com força suas bochechas, quando a soltou, pegou uma das balas da menina e colocou na boca.
sentiu o sangue ferver em suas veias e por pouco não fez crescer uma verruga peluda no nariz de , mas ela deu um jeitinho para se vingar. Sem que eles percebessem, ela deu uma piscada suspeita, e automaticamente, se engasgou com a bala e começou a tossir sem parar. se posicionou atrás dela e a agarrou de modo que a bala saltou longe, acertando nas costas de um dos convidados que olhou para trás procurando o que o havia acertado.
- Você está bem? – perguntou preocupado.
- Estou. Eu acho. – falou ainda tossindo e tentando se recompor.
- Acho que agora ela já pode ir para barra da saia da mamãe e você pode vir comigo, todos já estão perguntando por você. Tchau garotinha. – puxou com tanta força, que o fez perder o equilíbrio e virar todo o líquido roxo em seu vestido de princesa. explodiu na mesma hora.
- ! Olha só o que você fez! Meu vestido, não acredito, está destruído, e agora? O que eu vou usar?
- Calma, é só passar um pouco de água antes que seque que sai a mancha.
- Não me peça para ficar calma, se você não tivesse sumido e ficado bancando o irmão mais velho daquela tampinha mimada isso não teria acontecido.
- , é só um vestido.
- Tá bom, desculpa, é que estou nervosa com a festa. Deixa para lá, eu vou trocar de roupa. Vamos.
a olhava com os olhos estreitos de raiva e já começava a pensar em um feitiço para lançar na garota. Mas ainda se voltou mais uma vez em direção à garotinha e fez um gesto como que dizendo: "xô". O que foi a gota para fazer recitar o encanto.
Ela concentrou a energia em suas mãos enquanto olhava fixamente para que se afastava em direção à escada.
E disse assim:
- O que os olhos vêem nem sempre é verdade, nada do que parece é a realidade. Mas o que há por dentro será revelado, e somente com o beijo do amor verdadeiro este feitiço poderá ser quebrado.
Agora a sorte estava lançada, não havia como se arrepender. Agora a verdadeira face de seria revelada, e o encanto só seria quebrado pelo beijo de amor verdadeiro. Mas o que a nossa bruxinha não sabia, eram os dois lados do feitiço. Assim como a verdadeira face de seria revelada, sua verdadeira face também seria. E o beijo do amor verdadeiro valia tanto para ela, como para . Porque se ela ganhasse um beijo de amor, o encanto sobre seria quebrado.
Depois de terminar o feitiço, se virou para se retirar da casa com um sorriso satisfeito nos lábios. Mas não foi muito longe, pois alguns garotos a cercaram. O maior deles vestia uma capa de chuva preta, com o capuz cobrindo seus cabelos, ele tinha na boca dentes de vampiro de plástico. O garoto avançou sobre ela, arrancando seu chapéu e tentando roubar sua abóbora recheada de gostosuras. Enquanto outro deles registrava toda a cena com uma filmadora digital.
- Isso vai para o Youtube, aposto que vai bombar! - exclamou empolgado.
- Vocês não vão querer fazer isso! - ela falou entredentes, ainda tentando puxar sua abóbora.
- Ah, garota! Fica quieta e passa isso para cá. - falou o garoto com a capa de chuva.
- Depois, não digam que eu não avisei. - ela disse em tom de alerta.
- Tô morrendo de medo. Vai fazer o quê? Me transformar em sapo? - ele puxou os doces de ao mesmo tempo em que ela soltou a abóbora.
- Não! Vou fazer muito melhor que isso.
Sem que os meninos entendessem o que acontecia, deu um assovio alto e agudo. E sem que eles esperassem pelo que seguiria, uma vassoura surgiu no céu em direção a eles.
- Caramba! Uma vassoura voadora! - o garoto com a filmadora apontou para o céu. - Vou postar hoje mesmo esse vídeo. Nós vamos ser famosos, caras.
Os outros garotos olharam assustados para a vassoura que pousou ao lado da bruxinha.
O que usava a capa, largou na hora a abóbora de gostosuras de , espalhando os doces pelo chão.
- Lily. - ela falou para sua vassoura. - Por favor, dá um jeito nesse lixo para mim.
Assim que ela terminou a ordem, a vassoura saiu como louca atrás dos meninos, acertando eles em todos os lugares possíveis. Eles foram literalmente varridos para longe.
A bruxinha sorriu satisfeita e recolheu seus doces que estavam espalhados pelo chão.

Enquanto trocava de roupa, que não estava muito à vontade com a festa, foi até a sala de TV, acompanhado de seus amigos de elenco, , e .
Eles resolveram passar o tempo jogando vídeo game na TV gigante de 52'' de , mas como não haviam muitas opções de jogo, optaram por uma partida de tênis.
Eles formaram dois pares. contra e contra . Os vencedores disputariam entre si.
Mal começaram a jogar, e , no auge de sua empolgação, acabou arremessando o controle do Nintendo Wii direto no vaso de porcelana que adorava.
- Ih! Ferrou! - exclamou , se aproximando para olhar os caquinhos espalhados pelo tapete.
- Cara! Precisava se empolgar tanto? - perguntou , enquanto caía do sofá de tanto rir.
- , nós estamos mortos. A vai ficar doida. - olhava o estrago com a mão na cabeça.
- Será que não dá para colar? - já começava a ficar preocupado.
- Não custa tentar. Pior que está, com certeza não vai ficar.
foi até o escritório procurar por uma super cola, mas a luz estava queimada. Com muito custo ele conseguiu encontrar uma lanterna no armário.
- Pelo menos a lanterna funciona. - ele começou a iluminar e remexer nas gavetas, até que por fim, encontrou a super cola.
Desligou e guardou a lanterna no lugar, e voltou para a sala. Os rapazes já haviam recolhido todos os caquinhos do vaso.
Um a um, como num quebra-cabeça, colou peça por peça do vaso, sob os olhares atentos de , e .
Os rapazes esperavam ansiosos enquanto recolocava o objeto no lugar.
Depois que terminaram a tarefa, saíram de fininho da sala, voltando para a festa, como se nada houvesse acontecido.
- Eu já alcanço vocês, vou dar uma olhada lá em cima para saber por que está demorando tanto.
- Ok. – responderam em uníssono, indo em direção ao jardim para curtir a banda.

continuava furiosa com o estrago causado pelo ponche, mas quanto mais água ela passava, pior ficava a mancha.
Ela foi até seu quarto e se jogou desolada na cama. Seu vestido estava arruinado.
- Se pelo menos Sarah estivesse aqui... ela saberia o que fazer. - murmurou para si mesma.
De repente, ela começou a sentir uma leve tontura e um formigamento percorrendo seus membros, começando pelos dedos das mãos e pés, até tomar conta de todo seu corpo.
Sua visão se tornou turva, e ela mergulhou na escuridão.

havia acabado de recolher seus doces, quanto tudo começou a girar à sua volta.
- O que está havendo comigo? - falou, colocando a mão na cabeça, e sem que pudesse evitar, seu disfarce de criança não existia mais e ela voltou a ter 20 anos, então tudo escureceu.

- ? Está tudo bem? – chamava enquanto dava batidas na porta do quarto de . Como não houve resposta, ele forçou a fechadura e a porta se abriu.
Ela estava desmaiada sobre a cama.
- ? Querida? Você está bem? O que houve? – ele perguntava tocando seu rosto de leve, até que lentamente ela abriu os olhos.
- Onde estou? – ela perguntou, piscando algumas vezes e tentando reconhecer o ambiente.
- Você está no seu quarto. Você não lembra?
- ?

- Ai minha cabeça! Espera, onde estou? Como vim parar aqui? – olhou ao redor e não reconheceu o ambiente, ela se encontrava no sofá de uma sala desconhecida.
- Que bom que você acordou, eu já estava ficando preocupado.
- Q-quem é você? Como me trouxe até aqui?
- Como assim, quem sou eu? Você deve ter levado uma pancada bem forte na cabeça. – ele falou preocupado enquanto se aproximava e começava a examinar a testa da garota.
- Hey! Tira a mão de mim! – ela tentou se esquivar do toque do garoto, batendo nas mãos dele.
- ! Fica calma, sou eu, . Seu amigo, lembra?
- Espera um pouco. Do que você me chamou? Quem é ?
- Essa não! Essa não! – ele se afastou passando a mão pelos cabelos enquanto andava de um lado para o outro.

- Espera um pouco, ? Ai meu Deus! – se levantou de um salto quando se deu conta que seu feitiço tinha dado errado. Ela começou a andar de um lado para outro sob o olhar confuso de , que não estava entendendo nada.
- Você tem certeza que está bem?
Ela parou e o encarou por um momento. Finalmente ela estava frente a frente ao amor de sua vida, mas não podia falar nada para ele. Ela precisava encontrar um jeito de reverter o feitiço.
- Querido, você pode me esperar lá fora um momento? Vou terminar de me arrumar e já estou indo.
- Vou ficar aqui na porta, se precisar é só chamar.
- Tudo bem.
Ele saiu e ela fechou a porta. Ela precisava pensar. Como reverter o encanto? Uma vez lançado só com o beijo seria quebrado. – Que ótimo, estou ferrada! não vai beijar estando no meu corpo. E se me beijar sem me amar, não vai surtir efeito. E agora?
Ela era apaixonada por desde o jardim de infância, mas nunca conseguiu demonstrar seus sentimentos por ele. Tudo porque sempre estava por perto e sempre a ridicularizava na frente de todos, foram vários anos de humilhação. sempre era gentil e atencioso com ela, e a defendia da fúria da namorada e das amiguinhas dela. Enquanto ela amava em silêncio, , seu melhor amigo, era apaixonado por , e sempre fazia tudo o que ela mandava, mesmo que aquilo sempre acabasse mal para ele. Ele nunca perdeu a esperança que ela o olhasse com outros olhos algum dia.
Mas agora que tinha a oportunidade de se vingar de tudo o que ela e passaram nas mãos de , tudo tinha ido para o ralo.
se olhou no grande espelho do quarto, e viu um rosto que não era seu. A mancha roxa escorria desde o peito até quase a barra do vestido azul. Com um pensamento e o toque de sua mão, novamente o tecido ficou perfeito, sem vestígios do ponche. – Ao menos meus poderes estão intactos. – sorriu, satisfeita.
Olhou o rosto que não era o seu e não gostou nenhum pouco do que viu. Por mais que fosse uma garota bonita, aquela maquiagem carregada, a deixava com um ar muito vulgar e artificial, mas no momento ela devia se adaptar e tentar achar rápido uma solução. Antes disso a primeira coisa que iria fazer era tirar aquela maquiagem pesada e tentar parecer uma pessoa normal. Com um piscar de olhos, o estojo de maquiagem de apareceu em suas mãos.
- Não tem muita coisa que preste, o jeito vai ser improvisar. – falou para si mesma. Então aplicou várias camadas de rímel nos cílios, fazendo com que os olhos azuis que não eram os seus, fossem realçados e passou um brilho nos lábios. – Ah, agora sim! Pelo menos não estou mais parecendo uma vadia.
Saiu do quarto e encontrou , aguardando do lado de fora.
- Vamos, princesa?
- Claro, meu príncipe!
- Você está linda! Prefiro assim, quando você não está tão maquiada.Você está com um perfume tão bom, mudou? É como se eu estivesse em um campo cheio de morangos.
- Você gosta?
- Muito.
Ela somente sorriu e foram em direção ao jardim, onde todos dançavam animados ao som da banda.

- Será que dá para você parar de andar de um lado para o outro, e fazer o favor de me falar o que está acontecendo aqui?
Ele parou, e a encarou por um instante.
- Eu não sei. Sinceramente, eu não sei o que lhe dizer.
Então ela se levantou furiosa e o sacudiu pelos ombros.
- Ou você me fala como me trouxe até aqui, ou eu vou começar a gritar. – ela ameaçou já se preparando para gritar. – Hey! Espera um momento... eu conheço você. Você é o Stevenson. - ele continuava paralisado no lugar. – Por que você me chamou de ?
- Espera. Eu vou te mostrar.
Ele se retirou da sala e saiu pela porta, em direção ao que parecia um quarto. Quando voltou, trouxe um espelho nas mãos e o entregou à garota, que o olhou sem entender. Ele fez um gesto para que ela olhasse a imagem que era refletida.
- Não, isso não é real. Eu devo ter batido a cabeça, desmaiado e agora estou num pesadelo.
- É real. Infelizmente.
- Não, eu não acredito nisso. De todos os pesadelos horríveis eu tinha que sonhar que sou a cara daquela brega idiota da Halliwell. Só em pesadelo mesmo, para eu usar um chapéu horroroso desses, essa roupa de brechó e ainda por cima com essa cinta liga ridícula e apertada. Isso é loucura. Só pode. Alguém me belisca.
se aproximou e deu um beliscão no braço de .
- AI! Por que fez isso? – ela gritou passando a mão no local dolorido.
- Você pediu. – fingiu inocência.
- Mas não precisava você fazer isso, realmente. - ela murmurou fazendo bico.
- Desculpe, eu não pensei...
- Deixa para lá, acho que isso não é o verdadeiro problema no momento. Você tem idéia de como consertar essa confusão?
- A única pessoa capaz de consertar isso, deve estar no seu corpo nesse momento, e para isso eu preciso saber onde você encontrou a .
- Hum... eu não lembro de ter encontrado com ela, a não ser que... tinha uma garotinha fantasiada de bruxa na minha casa. Ah! Eu não acredito. Foi a pirralha.
- Então eu acho que a gente deve ir para a sua casa. Mas antes, me conta, você me conhece, mas afinal, quem é você?
Ela pensou em inventar um nome, mas desistiu.
- Sou a , .
Ele ficou sem palavras, apenas um sorriso torto surgiu em seus lábios.
E ela pensou no quanto ele ficava bonito sorrindo.

Algo estava estranho com , mas estava gostando disso. Ela parecia outra pessoa. Estava mais suave, mais gentil, conversava com todos e brincava com as crianças. Ela dançava e cantava ao som das músicas sem se importar se o vestido estava amarrotando ou não, ou então que o cabelo estava despenteando. Ela lembrava alguém, mas quem?
Ela o olhava de longe sorrindo, parecia livre e feliz. Ele se aproximou e os dois começaram a dançar juntos, abraçados.
- Você parece um anjo, sabia?
- E se eu não for um anjo, e se eu for uma bruxa?
- Eu não me importaria, contanto que você continuasse assim. Como você está agora. Feliz, solta e leve.
- E você seria capaz de me amar se eu não fosse assim? – apontou para si mesma. – Se eu não tivesse essa aparência?
- Você sabe muito bem, que a aparência não é o que realmente importa para mim. Mesmo que você fosse uma bruxa, como você disse, que usasse um chapéu de bruxa, que fosse mágico e pontudo, que voasse numa vassoura e tivesse uma verruga na ponta do nariz, mas seu coração continuasse puro e você se mantivesse doce e gentil. Eu ainda assim te amaria com todo o meu coração.

Eles saíram da casa de , e enquanto ele fechava a porta, ela reconheceu a caminhonete do capitão do time de futebol da faculdade, com vários dos jogadores e também com suas amigas líderes de torcida. Entre elas, estava Sarah. – Então foi por isso que ela esqueceu minha festa. - pensou. Ela imaginou que eles a tinham reconhecido e correu em sua direção, mas aconteceu o que ela menos esperava. Uma chuva de ovos podres e outras coisas não identificadas foram atiradas contra ela e . Assim como eles surgiram do nada, também aceleraram o carro e partiram dali entre gargalhadas e gritos de vitória.
finalmente percebeu o quanto aquilo era humilhante e dolorido, em pensar que ela algum dia achou divertido jogar coisas nas pessoas. Algo mudou dentro dela.
- Como você deixa que eles façam isso com você?
- Eu já me acostumei, é o tipo de coisa que não adianta gritar e espernear, todo ano é assim. Esquece. Vem, acho melhor você tomar um banho, não vai querer ir para casa assim, não é mesmo?
tomou seu banho, e vestiu algumas roupas da irmã de , logo estavam limpos e saiam de casa novamente.
seguiu até a garagem, mas esperou ele do lado de fora.
- Espera aí, a gente vai de bicicleta? Cadê o carro?
- Meus pais estão viajando com minha irmã, então temos que ir de bicicleta, se você não se importar em sentar no cano... A não ser que prefira ir a pé. – ergueu uma sobrancelha se preparando para guardar a bicicleta.
- Não, tudo bem. Vamos de bicicleta, mas não me deixa cair, por favor. – um tanto apreensiva ela subiu na bicicleta e logo foi envolvida pelos braços de . Um arrepio percorreu sua pele, nem com ela se sentia assim.
No fundo ela gostava de , ele era muito doce e sempre fazia tudo por ela. Mas como líder de torcida, não podia ser vista na companhia de nerds.
Ela sentia o calor do peito dele passando para o corpo dela, ela se aconchegou ainda mais, se sentindo protegida.
sorriu, ao senti-la se aconchegar nele.
- Eu preciso te pedir desculpas. – murmurou baixo, sendo que ele quase não ouviu.
- Desculpas por quê?
- Por ter sido uma estúpida com você todos esses anos. Você é um cara muito legal, e sempre me ajudou sem me pedir nada em troca e eu sempre fui grossa e me aproveitei de você.
- Os amigos são para isso.
- É... você está certo. Os amigos são para isso.
- Eu sempre gostei de você, desde que éramos crianças, mas você nunca me deu chance. Eu sabia que você era mais do que aparentava.
- Eu fui uma imbecil por nunca ter dado uma chance a você. De te conhecer melhor. Você me perdoa?
- Eu nunca guardei mágoa de você. Eu tinha certeza que um dia você iria acordar e enxergar tudo direito. E quem sabe, olharia para mim.
Eles fizeram o caminho até a casa de em silêncio. Ela já se sentia entristecida sem saber o por quê. Talvez o encanto não devesse se quebrar.

ainda admirava , sem saber que na realidade ela era . Seu coração batia forte e descompassado enquanto a observava dançar descalça na grama.
Ela notou seu olhar e seu rosto enrubesceu. Não podia continuar com a farsa. Ela precisava contar para ele.
Não podia enganá-lo, ela o amava demais para isso.
Então, aproximou-se dele, que a puxou pela cintura.
- , eu preciso falar com você.
- O que você quiser, minha princesa.
- É sério, . Acho melhor a gente ir para um lugar sem tanto barulho. O assunto que tenho que falar com você é bastante complicado.
- Agora você está me preocupando.
Diante do olhar sério dela, ele a puxou para dentro da casa e foram para a sala, deixando todo o barulho e a música para trás.
- Pronto. - falou fechando a porta atrás deles. - O que houve?
- Então, lembra o que eu te falei mais cedo, sobre não ser um anjo?
- Lembro.
- E você lembra da outra parte também? Da bruxa?
- Lembro. Mas agora você está me deixando com medo. O que tem isso?
- Acho que vai ser mais fácil eu mostrar. Se você sentar, será melhor.
Ainda sem entender nada e um tanto receoso, sentou-se no sofá.
Ela se posicionou em frente a ele, ergueu as mãos em frente ao corpo, com as palmas para cima. Com um pensamento uma luz que parecia a aurora boreal começou a se formar entre suas palmas. Logo as luzes coloridas formaram um casal de bailarinos dançando uma dança apaixonada em suas mãos. Por fim, o casal dançante se transformou em vários pontos de luz colorida espalhados por toda a sala, até que lentamente se apagaram.
observava em silêncio.
- , você está bem?
- Não, não estou bem. Quem é você? – ele falou se afastando o máximo que podia dela. Ele bateu as costas em uma das prateleiras de livros, e acabou derrubando um dicionário grande e pesado na cabeça.
- ! Calma, por favor, eu posso explicar. Eu acho que posso.
- Você é uma bruxa! Não chega perto de mim! – ele falava enquanto massageava o galo que se formava.
Ela levantou a mão direita e o dicionário levitou até o local exato em que estava antes de cair na cabeça de . Ele assistia a cena com os olhos arregalados e temerosos.
- Eu sou uma bruxa. Mas não sou como você está pensando, eu sou uma bruxa boazinha, um pouco atrapalhada com meus feitiços, admito, mas eu jamais faria mal a você, eu te amo. - acrescentou em pensamento. - , você me conhece. Sou eu. A . Você não precisa ter medo de mim. Eu não posso usar meus poderes para causar mal a outra pessoa, porque voltaria três vezes pior para mim. Só posso usar para o bem.
- ! Eu sabia que havia algo estranho com ! Ela jamais andaria descalça na grama, ou se sujaria brincando com as crianças. Ou comeria doces que não fossem light ou diet. Como eu não percebi antes que era você? O jeito de falar, de sorrir. O modo como você me olhou. Mas como isso é possível? – ainda desconfiado, lentamente foi se aproximando de .
- Pode chegar perto de mim, não vou te morder e muito menos te transformar em sapo.
- Uma bruxa de verdade! Quem diria!
- Você está com medo de mim?
- Não. Por mais estranho que isso possa parecer, eu não estou mais com medo. Mas me explica como isso aconteceu?
- Eu não sei, realmente, mas desconfio que o feitiço que joguei na sua namorada deu errado. Lembra a garotinha na porta para quem você entregou doces? – ele afirmou com a cabeça. – Então, era eu. Eu me disfarcei de criança, porque eu queria ver você. – sentiu o rosto corando, mas continuou. – Mas sua namorada foi tão estúpida, que eu não consegui me controlar e joguei um feitiço em cima dela. E pelo jeito deu errado. Eu quis me vingar dela, por tudo o que ela fez a mim e aos meus amigos passarem durante anos, e ele voltou para mim. Eu não posso reverter o feitiço depois de lançado.
- Você disse que se disfarçou de criança só para vir me ver? Por que fez isso, ? – ele segurou as mãos dela entre suas, e olhou em seus olhos.
Ela baixou a cabeça, tentando achar uma resposta que não entregasse seus sentimentos, mas não conseguiu encontrar nada que servisse.
- Eu... eu gosto de você. – ergueu os olhos para encontrar com os dele que pareciam sorrir. – Eu sempre gostei, em silêncio.
- Eu também sempre gostei de você. Desde a primeira vez em que te vi.
- Claro. Como amiga.
- Quando eu te vi entrar na nossa sala no jardim de infância de mãos dadas com sua mãe. Você estava um pouco assustada, e não queria soltar da mão de sua mãe, lembra? Então eu me levantei e fui até você, e falei em seu ouvido: "Não precisa ter medo, eu te protejo!". Então você soltou a mão de sua mãe e deu um beijo no rosto dela, peguei sua mão e te levei para sentar ao meu lado. Você usava um vestido azul claro cheio de flores, seus cabelos estavam presos e quando eu sussurrei no seu ouvido, eu senti o mesmo cheiro de morangos que sempre sinto quando estamos juntos, e é o mesmo perfume que senti quando fui te buscar no quarto.
não conseguia desviar do olhar de , ela estava presa hipnotizada por ele.
- Você lembra!
- Eu não poderia esquecer. Eu fui enfeitiçado por seus olhos. Eu te amei naquele momento.
- Mas e por que você nunca me disse isso? E por que ficou com por todo esse tempo?
- Você sempre deixou claro que nossa amizade vinha acima de qualquer coisa. Que gostava de mim como amigo. Eu não podia estragar isso, caso tentasse te beijar. Então achei melhor me afastar e vivia correndo atrás de mim, resolvi dar uma chance. Embora me arrependa até hoje por ter feito isso.
Pequenas lágrimas brilhantes surgiram nos olhos de , as secou com a ponta dos dedos.
O relógio na parede começou a bater doze badaladas.

- Bem, chegamos.
- Você veio muito rápido. – parecia triste.
Ela desceu da bicicleta e olhou para a casa enfeitada.
- Nós temos que desfazer essa confusão que a aprontou.
- Eu sei. Estou sentindo saudade do meu corpo já. – ela sorriu sem vontade.
- Não se preocupe, não deve ser difícil encontrá-la.
- Acho que eu devo ir então. Você vem comigo?
- Tem certeza?
Com um sorriso tímido, ela estendeu a mão na direção dele. Ele aceitou, e um arrepio percorreu o corpo de ambos. Eles se encararam por um momento, e foi como se o tempo parasse e tudo fizesse sentido de repente. Os corações batiam acelerados no mesmo ritmo. O relógio de anunciou meia-noite.
Sem pensar em mais nada, ele a puxou para si, e finalmente seus lábios se tocaram. Ela correspondeu o beijo com a mesma doçura, e foi como se estrelas brilhassem para eles.

Ela fechou os olhos ao sentir o toque suave e quente de em seu rosto.
Ele não resistiu mais e a beijou. Quando os lábios se tocaram, foi como se todo o amor que eles tinham reprimido por anos viesse à tona e finalmente pudesse florescer.
Quando separaram o beijo, não era mais o corpo de em frente a . E sim, .
- ! O encanto se quebrou! Você quebrou o encanto quando me beijou! E o meu chapéu! Ele voltou! Tão lindo e pontudo! Espera, mas que roupa é essa? - olhou para o moletom preto e a calça cinza. - Ah! não importa, o encanto foi quebrado!
Ela começou a dançar e pular em frente a , e de tão empolgada o abraçou com força, ele se encostou na prateleira, e novamente o dicionário caiu em sua cabeça. Mas ele nem percebeu. Ele só tinha consciência do amor que sentia por aquela bruxinha à sua frente, e de que seus lábios eram ainda mais doces do que morangos.

separou o beijo, e quando abriu os olhos, encontrou a verdadeira o encarando sorrindo.
- O encanto... Foi quebrado. – falou .
- Eu sei. E foi como nos contos de fadas. Bastava um beijo de amor verdadeiro.
Eles se beijaram novamente, selando promessas silenciosas de amor. E seguiram juntos para a festa.

Encontraram e saindo abraçados da sala.
- ? Eu... – tentou falar, mas as palavras não saiam.
- Está tudo bem . Acho que encontramos o amor verdadeiro.
- Você tem razão . Amigos? – ela perguntou estendendo a mão a .
- Claro. – ele retribuiu o gesto e a puxou para um abraço carinhoso.
e trocaram um olhar cúmplice e cheio de entendimento. Não cabiam palavras naquele momento. Só o sentimento de amor e amizade mútua entre os quatro. Um laço forte havia sido criado entre eles, e nada seria capaz de romper.
Finalmente e podiam viver seu amor verdadeiro, assim como e , que agora era uma nova pessoa, mais sensível e gentil, que reconheceu seus erros e estava disposta a ser alguém melhor.
Eles deram um abraço quádruplo, e seguiram juntos para o jardim. Afinal, para eles, a festa não estava no fim. Ela simbolizava o início. O início de uma linda amizade e um amor mágico e cheio de encanto.

Fim