Fanfic e Capa: Ana
Beta: Luddie
Revisada por: Ana;

Capítulo 1 -
CHEGADA.

(Capa)

Diminuí a velocidade com que dirigia, já que estava vendo os primeiros sinais de ter chegado a algum lugar, depois de alguns minutos na estrada. Tudo que eu lembrava de La Push eram casinhas muito iguais, próximas e pequenas, floresta de um lado e praia do outro. Eram lembranças bastante vagas, levando em conta que a última vez que estivera ali fora quando tinha nove anos. Hoje estava completando dezessete, e minha memória era péssima.
Falara com minha mãe ao telefone assim que descera do avião em Port Angeles, no caminho para alugar um carro. Nunca fora de comemorar aniversário algum em grande estilo, nem ao menos meus dezesseis anos, mas realmente mudança não era minha idéia de um aniversário tranqüilo. Eu morara na Califórnia, mais exatamente em San Diego, por todos os anos da minha vida... Exceto agora.
Eu não compreendia porque meus pais haviam decidido se mudar agora, tão de repente, e logo para La Push. Só havíamos ido lá algumas poucas vezes, e eu só lembrava vagamente da última, já que todas as outras vezes eu era nova demais. Meu pai, William Quilt, era considerado um dos que tinham voz na reserva. Meu bisavô tinha feito alguma coisa importante com relação a uma lenda qualquer antiga, que eu não dava atenção porque, afinal de contas, é uma lenda. De qualquer forma, eles davam atenção.
Então meu pai, apesar de ser considerado uma autoridade ou qualquer coisa nesse estilo, resolvera sair de La Push e foi até a Dinamarca. Foi quando conheceu minha mãe, alta, magra, muito branca e com os cabelos loiros lisos compridos. Eu saí meio errada, com os cabelos negros e lisos do meu pai, a cor de pele da minha mãe e seus olhos azuis também. Quando minha mãe se descobriu grávida de mim, os dois resolveram me criar nos Estados Unidos, então fomos para San Diego, onde os dois conseguiram empregos estáveis. Eles nunca tiveram outro filho, então sou filha única e, bom, meio que independente demais para minha idade, já que eles também não foram lá dos mais presentes. Não que eu reclame. Prefiro não ter ninguém na minha cola.
Estava chegando, já que acabara de passar pelo colégio que sabia ser onde eu estudaria, por minha mãe ter dito que era o único na reserva e também que eu passaria por ele quando estivesse a uns dez minutos de casa. Não era nada boa idéia ter o colégio tão perto de casa, mas tudo por ali era meio próximo de outra coisa qualquer. Diminuí mais ainda a velocidade do carro e, enquanto observava as casas próximas e as pessoas que andavam pelas ruas conversando uma com as outras, puxei o celular que jogara no banco do carona e disquei o telefone de casa. Meu pai atendeu. - Alô? - a voz grava dele soou, e eu ri.
- Oi, pai! - respondi, achando graça na formalidade dele, que também riu do outro lado da linha.
- Oi, filha! - a voz dele relaxou, e pude vê-lo em minha mente com o sorriso grande que tinha. - Já está chegando? - perguntou, animado. Ele adorava La Push. Podia imaginar quão feliz ele estava de se mudar para lá. Eu tentei acompanhar a animação.
- Acho que estou! - disse, meio incerta, meio risonha. - Acabei de passar pela escola, acho que deveria seguir reto e então entrar a esquerda, é isso?
- É, você está certa. Vou te esperar lá fora, assim você se acha mais fácil. - concordei com um murmúrio.
- Beleza, pai. Valeu! - e desliguei. Eu tinha esse costume de meio que desligar na cara das pessoas.
Só dirigi por mais sete minutos até ver meu pai do lado de fora de uma casa como todas as outras, à exceção das caixas empilhadas do lado de fora para serem jogadas fora. Ele estava conversando com um outro cara, que estava numa cadeira de rodas, tinha a pele no mesmo tom da dele, marrom-avermelhada, e os cabelos negros e lisos longos. Segurando a cadeira de rodas, estava um rapaz de uns, o quê, vinte anos? Ele só usava bermuda e tênis, o peito nu era definido - muito definido - e os cabelos negros pareciam ter sido recém-cortados, já que estavam bem baixos. Eu buzinei rápida e discretamente, como um cumprimento prévio, e parei o carro na porta da garagem de casa, desligando-o logo em seguida.
Desci do carro e peguei apenas o celular, colocando-o no bolso de trás das minhas jeans.
- Filha! - meu pai veio logo me abraçar, e eu franzi a testa por um breve instante. Os efeitos colaterais de se mudar para La Push já estavam agindo? Meu pai nunca fora de me cumprimentar tão animadamente. Embora a gente não se visse tinha umas duas semanas.
- Oi, pai - respondi, rindo, mas acho que ele não percebeu minha confusão. Logo me soltou e apontou com a mão aberta para as duas figuras que nos assistiam com sorrisos no rostos.
- Esse é Billy Black - disse, e eu sorri para o mais velho que estava na cadeira de rodas, estendendo a mão para cumprimentá-lo. Ele parecia simpático, tinha um sorriso agradável. - E esse é Sam Uley. - o tal sem camisa. Ele tinha uma expressão estranha quando estendeu a mão para me cumprimentar, ou talvez fosse só o jeito dele. Ele abriu um sorriso pequeno e então soltou nossas mãos.
- Prazer em conhecê-los. - eu disse, tentando ser simpática. Não sabia o que dizer quando conhecia gente nova. - Mas eu preciso tirar minhas coisas da mala... - indiquei com uma mão o carro que estacionara. Então sorri. - Vejo vocês mais tarde. - e, com um aceno, voltei para o carro. Girei a chave na mala e a abri, me deparando com cinco enormes malas coloridas onde eu tinha colocado minhas roupas. Quem mandara ser tão consumista assim mesmo? Ah, é, ninguém.
- Ei, precisa de ajuda? - tomei um susto quando o tal cara, Sam, estava parado ao meu lado e já se esticando para pegar duas malas antes que eu pudesse responder. Me recuperei do susto e tentei responder direito.
- Ah, não precisa, eu acho que posso... - me estiquei e peguei uma das malas. É, não estava pesada. Que esquisito, eu quase perdera minhas forças colocando-as naquele carro. Ele percebeu a facilidade com que peguei a mala e ergueu as sobrancelhas.
- É, você não precisa. Mas vou ajudá-la mesmo assim, não é educado deixar você com todo peso. - e riu. Eu ri junto, embora não tivesse visto a graça, e o vi pegar as malas que sobravam. Me senti muito idiota entrando na minha nova casa com só uma mala e sem saber para onde ir. - Meu Deus, onde é que eu fico? - perguntei, em voz alta, o que pareceu chamar a atenção da minha mãe.
A casa era extremamente aconchegante, era meio que uma casa de praia e casa de campo, tinha partes revestidas de madeira, em outras as paredes eram brancas. O chão era de madeira corrida e minha mãe já tinha tratado de decorar tudo conforme sua vida de decoradora lhe mandava. - Aqui! - ela gritou, e eu segui um corredor que ficava logo a esquerda da porta de entrada. À direita, tinha a sala de estar e a cozinha, separadas por um balcão branco. Passei por um quarto que deveria ser dos meus pais, e cheguei ao meu, onde minha mãe estava parada, sorrindo e parecendo ter acabado de arrumar uma estante que ficava logo atrás dela com fotos minhas. Sorri.
- Uau, você foi rápida! - brinquei, e ela me deu um abraço e um beijo na bochecha.
- Chegou bem, certo? - perguntou, lançando um olhar de cima a baixo em mim. Rolei os olhos.
- Sim, mãe. Estou inteira. - Este é... - me virei para apresentar Sam, mas ele já estava sorrindo para minha mãe e esticando a mão para cumprimentá-la (ele estava mesmo carregando as quatro malas em uma só mão).
- Oi, Sadie. - ele a cumprimentou, chamando-a pelo primeiro nome e tudo. Ela o cumprimentou de volta e eu me sentei sobre a minha cama, onde um edredom rosa-choque estava perfeitamente arrumado. Olhei ao redor, as paredes eram brancas e havia tons de verde-claro. Minha cama ficava ao lado de uma janela que dava vista para a floresta, e à minha direita ficava meu armário; ao canto havia uma escrivaninha com um notebook fechado sobre ela e um espaço para meus livros. Em cima dela, prateleiras com meus livros preferidos estavam postas e uma porta do outro lado do quarto dava para o que eu imaginava ser o banheiro.
- MEU DEUS! - o berro de minha mãe quase me fez cair no chão de susto, e eu me virei para olhá-la no mesmo instante.
- Mãe, o que foi? - perguntei, lançando um olhar rápido a Sam, que também parecia levemente consternado. Minha mãe se virou para mim e me abraçou.
- Filha, parabéns! Meu Deus, como pude esquecer que hoje...? - meus ombros caíram pesados e eu balançei a cabeça.
- Quer me matar de susto? - resmunguei, rindo, mas aceitando os parabéns e abrindo os braços para abraçá-la. Ela movimentou a cabeça sem dar importância a minha reclamação.
- Oh, é seu aniversário! Quantos anos? - Sam perguntou, enquanto minha mãe me soltava e ele me abraçava.
- Dezessete. - respondi, despreocupada, quando ele me soltou. Foi estranha a expressão preocupada que ele assumiu por uma fração de segundos e depois relaxou. Talvez não fosse para eu ter visto a preocupação ali, mas eu era perceptiva demais.
- Bom, então é por isso que eu chamei vocês para virem à noite aqui. - começou minha mãe, olhando para Sam. Ele disse "Ah, é!" e os dois engataram em qualquer papo enquanto eu assistia a conversa totalmente perdida. Consegui pescar alguns nomes, como Emily, Jacob, Leah, Seth, Clearwater... Mas nada fazia sentido ainda.
- Então lá pras sete estaremos aqui. - terminava Sam, e minha mãe abriu um sorriso grande.
- Claro, claro! Ótimo. - ele se virou para mim.
- Até mais, ! - eu acenei de volta e o vi sair de meu quarto, minha mãe indo também. Hm, comemorar meu aniversário com pessoas que eu nunca vira na vida não era exatamente o que eu tinha em mente, mas estava tudo bem. Tanto fazia.
Deixei meu corpo cair todo na cama e olhei para o teto, assistindo as sombras fracas das árvores projetadas balançarem-se. Um vento agradável entrava em meu quarto, e eu de repente tive uma sensação de... Estar em casa. Não no modo geral, mas num modo sentimental. Esquisito, mas eu sentia como se devesse estar aqui o tempo todo. Balançei a cabeça e virei para o lado, esticando o braço para trás na tentativa de puxar um travesseiro para mais perto. Quando consegui, senti meus olhos logo pesarem e em minutos estava dormindo.


- Não está bom? - perguntei, em resposta a careta que minha mãe fez quando saí do meu quarto "arrumada".
- Coloque um vestido, pelo amor de Deus. - ela respondeu, um tanto quanto impaciente. Sadie ficava totalmente maluca quando ia receber visitas, isso podia ser duplicado pelo fato de a casa e o lugar serem novos, então ela estava quase tendo um colapso nervoso. Eu lançei um olhar rápido a meu pai, que segurava a risada na sala de estar enquanto era obrigado a varrer cada canto do cômodo, e me vi obrigada a dar meio volta e retornar ao meu quarto.
Abri uma das malas, e tentei achar algo em potencial: havia um vestido simples, azul e preto, tomara-que-caia e com uns detalhes legais na barra. É, acho que minha mãe não iria reclamar disso. Mas, quando terminei a maquiagem e o cabelo (pode contar mais meia hora fácil depois de eu ter trocado de roupa), minha mãe já não tinha olhos para qual roupa eu usava. Tinha umas sete pessoas do lado de fora.
Estávamos fazendo a festa do lado de fora, porque era assim que todo mundo fazia por aqui, pelo que eu entendi. Tinha uma fogueira, comida, bebida, e aparentemente os garotos daqui comiam demais, porque uma tal Emily passara alguns minutos com minha mãe ao telefone e dissera que a ajudaria na cozinha. Eu hesitei quando coloquei o pé, calçado em uma sandália baixa, para o lado de fora do quarto e ouvi vozes altas misturadas a risadas... Não tinha certeza de que não seria muito estranho uma festa para mim onde ninguém me conhecia. Ou onde eu achava que ninguém me conhecia. Tomei um susto quando estava respirando fundo para deixar o quarto e uma mulher com uma enorme marca no rosto me chamou. Eu olhei muito brevemente para o lado completamente desfeito de seu rosto, e vi que ela estava abraçada a Sam. Hm, Emily, certo? Ah, essa era Emily! De San e da comida. Tentei sorrir, mas estava claramente nervosa.
- Olá! - disse, estendendo a mão para cumprimentá-la. Ela poderia ter achado que eu me assustara com seu rosto, mas do jeito que eu olhava compulsivamente para todos os cantos da casa denunciara que eu estava apenas nervosa com gente que eu não conhecia. Emily soltou uma risada animada.
- Não se preocupe, ! Você vai se dar bem com todo mundo. Vamos! - ela me puxou pela mão e me carregou para o lado de fora. Acenei para Sam e ele me respondeu com um sorriso. Quando me vi do lado de fora, todo mundo voltou-se para me olhar. Recebi um coral praticamente gritando "Parabéns!" e todos riram da minha cara de espanto. Isso aí, ! Vire a piada da noite! Odeio atenções em mim.
- , esses são Seth, Leah e Sue Clearwater... - ela apontou para uma garota mais ou menos da minha idade e com cara de poucos amigos, já o garoto era bem novo e acenou sorridente. Eu retribuí o aceno e sorri para Leah, ela não parecia ser muito simpática. A terceira era a mãe deles, e tinha uma aparência meio abatida, mas ainda assim era mais contente que a filha. Sorri para ela também, e então Emily me girou.
- Esse é Billy, mas ele acho que você já conhece. - eu assenti e fui cumprimentar Billy. Ele estava sorrindo, como mais tarde. Será que ele alguma hora ficava sério? - Ele tem um filho da sua idade, Jacob Black, mas acho que ele não vem hoje. - ela explicou, e eu assenti.
- Mas você vai conhecê-lo na escola, acho que vão estudar juntos. - eu disse "Ah, legal!" tentando ser neutra. Podia ser realmente legal ou não, mas Billy parecia ser o tipo de cara que tinha um filho divertido.
- E esses aqui são Quil, Embry, Paul e Jared. - ela me apresentou, de uma vez, para quatro caras enormes que estavam bem juntos, como se formassem algum tipo de defesa. Eu me assustei de cara, mas talvez mais pelo fato de eles serem tão... Iguais. A mesma pele marrom-avermelhada, os mesmos olhos castanhos muito escuros, o mesmo corte de cabelo, muito curto e baixo. Todos usando bermuda, uma blusa lisa de cores diferentes e tênis sujos e desgastados. Imediatamente, eles me lembraram de Sam. Talvez andassem todos juntos, embora Sam tivesse uma aparência de muito mais velhos do que eles.
- Oi, garotos. - acenei, confusa. Todos eles sorriram na mesma hora.
- Você é a , então? - um deles perguntou e, sinceramente, não sabia quem era. Seguindo a ordem de Emily, deveria ser... Paul. É, acho que era ele. Eu apenas assenti.
- Vibbard Quilt. É, eu mesma. - brinquei, e consegui arrancar mais uma risada deles. É, pareciam caras legais.
- Vibbard é um sobrenome muito legal! - ok, esse era Embry. É, era Embry. Eu concordei com ele.
- Também acho, mas também gosto de Quilt.
- É dinarmarquês? - Jared quis saber, e eu assenti.
- Parte de mãe.
- Bom, acho que já posso deixar você por aqui, não é? Preciso ajudar sua mãe com a comida, esses aí parecem pragas. - os quatro garotos fingiram estar ofendidos, e então riram para Emily quando ela simplesmente os ignorou.
- Anda, vamos achar algum lugar para sentar. - Quil nos chamou, e nós cinco andamos um pouco até acharmos uma mesa armada e com lugares vazios. Na verdade, parecia ser uma mesa só pra eles e eu estava ocupando o lugar que deveria ser de Jacob que, eu já havia descoberto, andava com eles.
- Ele é uma bicha. - reclamou Paul. - Não sei porque gosta tanto de ir atrás daquela Bella. Não vai dar pé, ele é cego? - olhei sem entender para ele, e então meus olhos caíram sobre Quil, que concordava com um aceno.
- Vai entender. - deu de ombros. Jared rolou os olhos.
- Ele gosta da garota, ué.
- É, mas ele ainda não teve o imprin...
- Embry! - Paul, Quil e Jared deram um tapa na cabeça de Embry antes que ele pudesse completar a frase. Eu me arriscaria a perguntar, mas isso era tudo que eu lembrava da conversa. Na mesma hora em que eles pareciam dar uma bronca em Embry por qualquer motivo idiota, eu senti meu estômago girar umas três ou quatro vezes como se tivesse alguém girando-o compulsivamente. Quis vomitar na mesma hora, mas não tinha nada no meu estômago para colocar para fora. Minha cabeça tinha começado a girar e eu estava vendo tudo em círculos. Meus olhos estavam pesados e eu sentia que ia desmaiar em alguns segundos.
Tentei respirar fundo, mas faltava ar para puxar, e foi só aí que senti uma mão em minhas costas e outra segurando a minha que tive um mínimo equilíbrio.
- Quarto... - pedi, a voz fraca, quase um sussuro, e seja lá quem for que estivesse me carregando, pareceu entender. Enquanto era carregada para o, eu suponha, meu quarto, senti tudo dentro de mim queimar e se expandir para fora. Era como se o fogo tivesse começado em meu estômago e agora se espalhasse até a ponta dos meus dedos. Era agonizante, e eu sentia minha respiração falhar cada vez mais, porém mais ar chegava aos meus pulmões a cada vez que eu conseguia inspirar, como se eles estivessem aumentando de tamanho...
De repente, cada parte do meu corpo pareceu tomar formas diferentes e eu já não sentia mais nada me carregando para lugar nenhum, mas também não sentia o colchão da minha cama debaixo de mim e nem o calor do meu quarto... Estava frio, uma corrente de ar gelada passava por mim e o farfalhar das folhas das árvores estava muito alto. E então eu ouvia muito mais e não conseguia abrir os olhos porque a dor não deixava, era como se eu pudesse ouvir até o mínimo ser vivo se locomover no bosque qualquer que eu estivesse.
Foi quando tudo pareceu explodir, e meu corpo pareceu aumentar e se transformar em segundos. De repente, eu estava sobre quatro patas e coberta de pêlos brancos. Eu me assustei, tentando mexer alguma parte do meu corpo que fizesse sentido, mas eu estava transformada... Em uma loba. Oh, mas que merda...?


Capítulo 2 -
REALIDADE.

(Capa)
(N/A: Leah Clearwater NÃO é parte do wolfpack nessa fanfic. Seth é. Por quê? Eu não gosto da Leah, só isso. Portanto, você é a primeira garota a entrar no wolfpack. A Leah é bastante minoritária nessa fanfic.)

Eu tentei respirar fundo e entender o que estava acontecendo. Mas eu não conseguia nem regular minha respiração, porque simplesmente não tinha controle do meu próprio corpo. Era tudo tão... Estranho. Havia os sons da floresta. Era como se cada organismo, menor que fosse, tivesse aumentado o volume e agora era quase um rádio muito alto em meus ouvidos. Também havia o fato de que estava agora sobre quatro patas e coberta de pêlos, branquíssimos. Sentia meu formato, e era a sensação mais estranha ter um focinho, rabo... Que merda era aquela?
Eu não estava nervosa porque, estranhamente, era em situações de extremo que eu ficava mais calma. Acho que esse era meu modo de surtar, ficando quieta. Certo. Tentei respirar fundo, e o som alto da minha respiração me assustou. Eu olhei em volta: estava em uma espécie de clareira, onde as árvores formavam um espécie de círculo disforme, a única fonte de luz vinha da lua e a brisa gelada fazendo as folhas se mexerem era quem produzia o único som que chegava ao meus ouvidos.
Tinha que haver uma explicação minimamente razoável... Qual é, não fazia o menor sentido!
Comecei a imaginar se não estava sonhando. Quer dizer, quantas pessoas viram um animal ao completar dezessete anos? Eu sempre tivera minha cota de esquisitisse, mas isso era demais até pra mim.
Ah, relaxe. Você não é a única esquisita.
Eu devo ter pulado de susto, ou latido, ou soltado um uívo ou qualquer coisa dessa. Que voz tinha sido aquela?!
Droga, Paul! Você não consegue nunca ficar quieto quando deve?
O que é que está acontecendo?!
Calma, . Você precisa ficar calma, tudo vai fazer sentido daqui a pouco. Só precisa nos deixar...
Eu podia ouvir a voz de Sam, podia identificá-la, e ao mesmo tempo podia ouvir o som de algo grande se movendo entre as árvores estreitas. Em poucos segundos, um lobo bem maior do que eu, completamente negro, estava se aproximando de mim. Eu sentia dele uma onda de respeito. Não dele por mim, mas de mim para ele. Era como se eu devesse obedecê-lo, e isso fosse quase um instinto. Seus olhos também deixavam claro que era ele, tinha o mesmo brilho de quando eu o conhecera mais cedo... Sério e sensato.
Podem se aproximar.
Sam disse de novo, e então mais sons preencheram a floresta, logo identifiquei: Paul, Quil, Embry, Jared... Hm, não tinha nenhuma garota?
É, você é a primeira.
Não importa o quanto eu pense que sou estranha, eu sempre consigo ser mais. Deus.
Paul riu. Eu lançei um olhar irritado a ele. Ou pelo menos acho que lançei. Ele parou.
Incrível, você tem muito mais auto-controle do que todos nós tivemos na primeira vez. Não está sentindo... Nada demais?
Eu balançei a cabeça (sentindo-a incrivelmente pesada, como cada parte do meu corpo de loba), e era verdade. A sensação horrível tinha sido quando eu começara a me transformar e meio que perdera a consciência, a ponto de não saber para onde ia, nem o que falava. Mas agora... Era só eu presa num corpo esquisito e completamente diferente de mim, com sentidos aguçados. E, ah, vozes na minha cabeça. Dessa vez, foi Embry quem riu.
Vão se foder.
Ui, ela é nervosa.
Será que dá pra gente se concentrar aqui?
Sam resmungou, em tom nervoso, e Jared e Quil pararam de rir. Sam voltou a falar, pensar, sei lá.
O que precisamos fazer agora é... Fazer você voltar ao normal. Vamos ensiná-la a controlar-se quando transformada, mas não hoje. Ele explicou, e eu assenti.
Certo, como eu faço isso?
Precisa se concentrar com muita força. Precisa tirar todo o resto da mente. Não se preocupe, vai ficar mais fácil com o tempo.
Mas, antes, pegue isso.
Paul andou até mim, ele era um lobo cinza-escuro. Carregava na boca uma pequena bolsa, e a atirou no chão. Eu hesitei antes de abaixar minha cabeça para pegar com minha boca, tentando não rasgá-la com meus dentes ultra-afiados que eu percebera ter.
São roupas suas. Sam explicou. Nós as rasgamos quando nos transformamos... Por isso é bom aprender a se controlar.
E andar com mudas. Continuou Jared.
Eu só assenti e dei as costas para os cinco lobos que me observavam. Tentei calcular algum arbusto em que pudesse entrar e ficar completamente escondida quando me transformasse de volta, ninguém precisava ver nada. Ouvi risadas, e claro que foram de Paul. Ele ia ganhar um soco mais cedo ou mais tarde.
Falo sério. Completei, sabendo que ele ouvira meu pensamento. As risadas cessaram.
Ótimo. Resmunguei, e então tentei bloquear os pensamentos deles para me concentrar em me transformar de volta e me sentir um pouco menos esquisita.
As vozes dos garotos cessaram logo depois. Fiquei um tanto mais calma, era difícil colocar as coisas em ordem com cinco vozes na sua cabeça. Como se algum dia eu fosse conseguir colocar tudo isso em ordem. Sam tinha dito para eu me concentrar e tentar limpar minha mente do resto. Pareciam até instruções para meditar. Tive vontade de rir, meditação era a última coisa que tudo isso era. Mas não foi difícil, nada difícil.
Eu senti toda aquela sensação esquisita de meu organismo se transformando, senti a queimação, embora menos intensa, e em alguns segundos eu era eu mesma de volta. Me sentia menor, e minhas mãos, pernas, meus braços, minha cabeça... Tudo parecia mais fino, mais leve. Eu corri para pegar as roupas que Paul me entregara e vesti as jeans e uma camiseta vermelha, calçei tênis brancos que nem lembrara ter. É, tudo parecia estar em ordem, certo?

Saí dos arbustos, agradecendo mentalmente por ter calculado bem o espaço, eu tinha ficado totalmente escondida. Quando me vi de volta ao pequeno lugar sem árvores em que estávamos conversando, os cinco continuavam lá, só que agora em suas formas humanas, só de bermudas e tênis. Foi quando a ficha caiu.
- Meu Deus, que porcaria foi essa?! - eu soltei, espantada. Paul e Embry pularam de susto. Eu me joguei no chão de terra, encostando-me num tronco grosso e antigo de uma árvore de raízes gigantes. - Cara... Eu... Sou uma loba? Um lobisomem? Um... O quê...?
- Na verdade, somos transformos. - explicou Sam. Eu o olhei irritada. Claro, isso explicava tudo. - Seu pai já deve ter lhe contado. Sobre uma das lendas da nossa tribo. A dos frios. - eu franzi a testa. É, ele já tinha contado. Era algo como alguém de nossas tribos tivera feito um trato com os tais frios... Mas, espera aí, se nós éramos os lobisomens, transformos, o que seja, então os frios eram...
- Vampiros? - eu concluí, falando em voz alta e assustada. Não dava pra acreditar. - Existem vampiros aqui? Ah, fala sério.
- Queria que fosse brincadeira. - Paul resmungou, e vi os outros assentirem levemente.
- E... - eu limpei a garganta, temendo a resposta da minha próxima pergunta: - O que exatamente é o nosso trabalho? Porque a gente não se transforma à toa...
- É, não nos transformamos à toa. Nós protegemos nossas terras. Dos vampiros, você sabe. - eu mordi o lábio inferior. Não estava gostando da idéia. Não queria ter que matar ninguém. Não tinha nada contra vampiros até hoje, embora o mais próximo que já estivera deles fora lendo Anne Rice. É, isso era bem diferente.
- Mas acontece que não matamos todos os vampiros. - continuou Quil. Eu lançei um olhar confuso para ele. Agora todos nós seis estávamos sentados em um círculo, Sam na ponta que claramente significava o lugar mais alto para todos nós, já que estávamos todos virados para ele. Ele devia ser o chefe da alcatéia ou coisa assim.
- É, - concordou Sam. - os vampiros com que nossos ancestrais fizeram o pacto ainda vivem aqui. Em Forks. - eu fiz uma careta.
- Faz sentido, aquele lugar é mórbido. - resmunguei. Ouvi risadas.
- Eles são os Cullen. - Sam continuou explicando, não dando atenção as minhas piadinhas. Não esperava que ele desse, de qualquer forma. - São em sete, e um dos poucos que vivem como uma família. Como na lenda, eles são diferentes dos outros vampiros. Não se alimentam de gente, mas sim de animais. - Então eles não fedem nem cheiram pra gente, é isso? - perguntei, cruzando os braços e tentando compreender de modo simples. Dessa vez, Sam riu. Mas eu não entendi o motivo.
- Na verdade, eles fedem bastante pra gente. No sentido literal. - eu fiz uma careta.
- Por que eu li Anne Rice, de qualquer forma? - resmunguei, rolando os olhos. Vampiros era um saco para a gente, já tinha percebido.
- E, bom, no sentido figurado eles também tem fedido e cheirado um pouco. - continuou Jared, incerto. Ele lançou um olhar a Sam, e este suspirou.
- É, os Cullen estão para quebrar o pacto, ou algo assim. Um deles, Edward, tem algo com uma humana chamada Bella. Ela quer virar uma vampira e, bom, se ele a transformar o pacto está quebrado e significa que podemos atacá-los. - eu arregalei os olhos.
- E vamos atacá-los? Quer dizer, se a tal Bella quer virar uma vampira, então não nos diz respeito... - eu calei a boca na mesma hora, parecia ter tocado em alguma ferida deles, porque todos fecharam a cara no mesmo instante.
- A regra é bem clara: se eles transformarem alguém, nós atacamos. - e estava pronta para responder que inflexibilidade era burrice com outras letras e mais sílabas, mas fiquei quieta. Não ia discutir tão cedo, sobre um assunto que eu tinha uma idéia tão vaga.
- Certo, do que mais eu preciso saber? - perguntei, tentando desviar um pouco o assunto antes que o clima pesasse mais.
- Ah, é. - Embry pareceu lembrar-se de algo. - Não fale de Bella quando estiver perto de Jacob. Você ainda não o conhece, ele deveria estar aqui, mas... De qualquer forma, nada de Bella perto dele. - eu apenas assenti, confusa. E a lembrança de minutos antes da minha transformação começar voltou: "Não sei porque gosta tanto de ir atrás daquela Bella. Não vai dar pé, ele é cego?" dissera Paul, e Jared respondera "Ele gosta da garota, ué". Fiz uma careta.
- Ele gosta dela e ela gosta do vampiro? - perguntei. Todos assentiram. - Outch. - Isso sim era uma merda. Mas eu já tinha bastante em mãos para querer me preocupar com o de quem nem conhecia.
- E nós nos curamos rápido. - adicionou Quil, animado.
- Wolverine? - perguntei, rindo. Quil apenas assentiu.
- Uau, demais! - soltei, realmente animada. Eu tinha tendência a esbarrar em coisas e me machucar, isso era ótimo.
- Força, velocidade, temperatura sempre mais alta que o normal... - Embry enumerava, e eu tentava acompanhar. Sabia que ia esquecer de tudo.
- E acho que é só, por enquanto. - Sam fechou, tranquilo. - Você reagiu muito melhor do que todos nós. - eu não sabia se isso era bom, ou se isso fazia de mim uma maluca por não estar surtando com o fato de poder me transformar em um animal. Foi então que uma pequena (gigante) dúvida me assombrou.
- Cara, como vou explicar isso a meus pais? - Sam me lançou um olhar divertido, pela primeira vez.
- Você não acha que veio morar aqui por acaso, não é?

Fui guiada por Embry para fora da floresta, enquanto o resto dos garotos ia muito mais na frente do que nós, já muito acostumados com cada pedaço dali. Eu agradecia Embry a cada vez que ele me erguia pela cintura para ultrapassar uma raiz muito alta ou colocava a mão por sobre um galho antes que eu batesse minha cabeça nele.
- Sério, pare de agradecer. - ele reclamou em um ponto, quando eu quase batera no tronco de uma árvore mais fina logo depois de ter desviado de um outro. Eu soltei uma risada abafada, abri a boca para me desculpar, mas logo a fechei de volta.
- Ok, também não vou me desculpar. - ele piscou um olho, divertido.
- Exatamente. Mas você não devia se preocupar. - ele deu de ombros, os olhos fixos mais a frente, uns três ou quatro passos adiante. - Com o passar do tempo você vai conhecer essa floresta como a palma de sua mão, corremos demais por aqui. - eu assenti, levemente. Mais interessada no modo como ele falara do que na informação em si.
- É legal? - eu perguntei, depois percebendo quão vaga e idiota tinha sido minha pergunta. Logo completei: - Quer dizer, é legal isso? Ser um transmorfo e tudo mais? Ou é uma droga? - Embry soltou uma risada divertida, um sorriso largo e debochado em seu rosto. Eu franzi minha testa, tentando achar o motivo da diversão dele e também olhar por onde andava.
- Cuidado. - ele resmungou, me erguendo pela cintura uma quarta vez e evitando que eu tropeçasse. - Tem horas que é muito divertido. Sabe, somos velozes e tudo mais, tem a adrenalina... - ele deixou a frase solta no ar, como que esperando para que eu pegasse a essência dela. Ele não parecia certo de que eu fosse pegar seus exemplos como o lado bom da coisa. - Mas também pode ser bem chato. Te impede de levar uma vida normal, porque você simplesmente deixa de ser normal. Sabe, é muito perigoso quando ficamos nervosos. Perdemos o controle e podemos acabar machucando alguém... - eu mordi o lábio inferior, e Embry interpretou meu silêncio como medo, ou algo assim.
Ele suspirou.
- Sabe Emily? - eu assenti, vagarosamente. - Sam nunca foi capaz de se perdoar. - eu lembrei do rosto deformado de um lado só dela, e a imagem do lobo negro no qual Sam se transformava uniu-se a ela. Me senti mal no segundo seguinte, dessa vez parando de andar e virando para olhar Embry. Ele tinha o rosto concentrado ainda a frente, e quase esbarrou em mim quando parei abruptamente. Mas seu reflexo era muito bom, e quando virei ele rapidamente parou, uma fração de segundo antes. Demorou um pouco mais de tempo, no entanto, para ele indentificar puro temor no meu rosto. Agora sim eu parecia ter entendido, agora sim eu estava completamente apavorada. Porém, assim que ele compreendeu o que se passava na minha cabeça, soltou uma risada fraca.
- Ei, calma! Não precisa ficar assim. Sam fez tudo sozinho, ele foi o primeiro a se transformar, sabe? Com ele, foi tudo mais dolorido e confuso. Nós temos ajuda um dos outros, e você reagiu muito melhor do que qualquer um de nós reagiu. Relaxa. - ele sorriu um sorriso aconchegante, e eu me vi sorrindo de volta. Embry tinha traços bonitos, e era forte. Me senti protegida quando seus braços passaram ao meu redor, e o abraço durou tempo suficiente para eu me ver mais tranquila.
- Certo. - disse, baixinho. - Vai dar tudo certo, eu vou ficar bem.
- Vai. - Embry concordou, e passou um braço ao redor da minha cintura, me guiando para fora da floresta.
Ele engatou em uma conversa sobre como suas características de lobo serviam para conseguir encontros com garotas mais velhas, e nós fomos rindo até o resto do que seriam meus amigos de agora em diante. Quando nós nos aproximamos o suficiente para Paul resmungar (", você é muito lerda!") e eu poder revidar com um tapa em sua cabeça, foi que eu percebi que tudo ia mesmo ficar bem, de um jeito ou de outro.


Capítulo 3 -
JACOB BLACK.

(Capa)

Eu acordei de bom humor.
Isso era o maior sinal de que havia algo monstruosamente diferente em mim. Eu nunca acordava de bom humor, e se não fosse por isso eu acharia que todos os fatos da noite passada tinham sido parte de algum sonho muito real meu. Mas eles realmente não eram, eram tão reais quanto eu podia imaginar. Mesmo que eu quisesse fingir que não eram, eu tinha características que me impediam de fazê-lo: a temperatura do meu corpo estava claramente mais alta, para um ser humano normal significaria febre; eu estava muito mais ágil e meus reflexos muito mais rápidos, eu costumava ser muito mais desastrada; meu rosto não era mais o mesmo, eu não parecia mais tanto com uma adolescente, tinha traços adultos, a expressão levemente mais dura. Quando eu sorri, me achei bonita pela primeira vez em dezessete anos. É, não devia ser tão ruim assim.
Na noite anterior, eu fizera Paul e Quil me carregarem até dentro de casa, enquanto jogava os dois em um quiz sobre suas vidas na tentativa de fugir de meus pais. Não importasse o quanto Sam me dissesse que eles sabiam de tudo, eu não ia acreditar que eles não achariam que a filha tinha enlouquecido de vez. Graças aos Céus havia uma entrada pelos fundos da minha casa, que Paul conhecia. Quando eu lancei um olhar desconfiado para ele, sua resposta foi de que minha casa tinha ficado vazia por uns seis meses quando ele era criança, e já tinha servido de esconderijo para brincadeiras. Eu preferi comprar essa história do que descobrir o que não queria.
Os dois me deixaram em meu quarto, mas não foram embora imediatamente. Eu me joguei sobre minha cama, só então percebendo como eu estava cansada, e Paul se sentou na cadeira de frente para a escrivaninha, se esticando para pegar um livro qualquer na estante antes. Quil pegou uma revista qualquer também e sentou-se no chão. Eu franzi a testa para os dois, mas não reclamei. Eu gostava de companhia, e eles pareciam tão confortáveis... Conversamos por mais meia hora, e foi quando o cansaço realmente me atingiu e eu estava quase dormindo sentada, com os travesseiros apoiando minhas costas. A última coisa da qual eu lembrava era dos dois dizendo "Boa noite" e saindo do meu quarto depois de apagarem as luzes.
E, agora, observando meu reflexo no espelho enquanto penteava meus cabelos com os dedos, foi que me dei conta de que estava sozinha e consciente pela primeira desde os acontecimentos da noite passada. Suspirei, soltando uma risada nervosa em seguida. Como eu conseguira fazer tudo ficar tão de cabeça para baixo? Tinha tanta coisa que ainda não fazia nem o mínimo de sentido na minha cabeça, queria saber quando Sam iria me contar o resto.
Era uma manhã cinza, as nuvens pareciam pesadas demais para ficarem seguras sobre nossas cabeças e o vento batia nervoso nas árvores, fazendo-as balançarem de um lado para o outro, sincronizadas. Eu fiz uma careta quando observei o tempo pela janela, logo depois enfiando um guarda-chuva na mochila. Eram seis e meia da manhã quando eu fiquei pronta, vestindo jeans escuras e justas, tênis pretos com detalhes em vermelhos, e uma camiseta branca com uns desenhos vermelhos também. Olhei meu reflexo no espelho e respirei fundo. É, não tinha como não ficar nervosa com o primeiro dia de aula. Pelo menos eu tinha Paul, Embry, Quil e Jared para me apoiar, só não sabia dizer se andar com eles significava algo bom ou ruim. Na minha antiga escola, em San Diego, eu era altamente neutra e gostava: ia a algumas festas, falava com todo mundo e tinha notas medianas. Eu não precisara de nem um dia inteiro aqui para descobrir que de neutra eu já não tinha mais nada.
Saí do meu quarto com a mochila jogada em um ombro, a alça na minha mão, esperando encontrar minha mãe e meu pai sentados no sofá da sala assistindo ao jornal matinal e tomando suas xícaras de café puro com pão e manteiga, como eles sempre faziam desde que eu me entendia por gente. Ao invés disso, encontrei cinco garotos ao redor da mesa da cozinha (que por sorte era grande), todos conversando e rindo. A tv estava ligada, mas no canal de desenhos. Eu abri um sorriso, sabia que eles só tinham tamanho.
- Até que enfim! Achei que fôssemos precisar... - Embry tinha começado a falar, e eu tinha lançado um olhar rápido a ele, mas quando ele me notou, os outros quatro garotos também. E um deles, que era totalmente estranho a mim, me fez esquecer de todo o resto. Foi a melhor e mais estranha sensação da minha vida.
Eu senti o ar faltar em meus pulmões, senti tudo ao meu redor parecer ficar sem lugar, como se tudo que eu conhecesse até hoje perdesse razão e valor, e a partir de agora tivesse um significado diferente, e ele fosse o motivo. Eu observei seus olhos castanhos e escuros, impressionada com a mistura de sensações estranhas e boas que faziam meu estômago se retorcer e minha cabeça girar, e foi quando ele abriu um sorriso para mim, e uma necessidade absurda de estar perto dele, de ouvir sua voz e olhar em seus olhos surgiu em meu peito. Eu conhecia aquele sorriso...
Ele se aproximou de mim, e eu senti meu coração acelerar, cada batida doendo em meu peito e soando alta em minha cabeça. Eu nunca acreditara em amor à primeira vista, era muito absurdo e digno, aparentemente, apenas de filmes. Mas era exatamente como eu me sentia agora...
Apaixonada, absurda e profundamente.
E, mesmo sabendo que isso devesse soar como piada para meus ouvidos, eu não conseguia pensar em mais nada que fizesse maior sentido. Eu nem conseguia pensar em mais alguma coisa.
Ele se esticou para segurar minha mão, e eu estremeci quando as pontas de seus dedos tocaram a palma da minha mão. Ele também parecia procurar por contato, do mesmo modo que eu. Havia alguma força invisível que me obrigava a me inclinar para ele, a procurar modos do tocá-lo e ter sua atenção para mim. Eu estava ao mesmo tempo assustada e encantada com a situação, não era como se eu estivesse em minha consciência. Sabia que não agiria daquele jeito, se eu estivesse.
- , esse é Jacob. - a voz de Paul me acordou. Eu pisquei os olhos algumas vezes, assustada, tentando me situar. E tudo pareceu mudar: a sala, a cozinha, tudo voltou a ter lugar em minha cabeça, ao invés de serem só imagens borradas; Embry, Paul, Quil e Jared voltaram a fazer parte do cenário também, e todos eles olhavam de mim para Jacob sem entender a situação; Jacob... Pensei por alguns instantes. Jacob Black. Black. Billy Black. Ah, claro, agora eu lembrava de onde conhecia aquele sorriso.
- Eu... É... Hm, prazer. - ia esticar a mão para cumprimentá-lo, mas ela já estava entrelaçada com a dele. Observei nossas duas mãos, percebendo como a minha se perdia na gigante dele, e em como eu parecia branca feito papel perto de sua incrível pele marrom-avermelhada. Ele soltou uma risada pequena, passando a mão livre pelos cabelos curtos, negros e lisos. Eu notei como ele era grande, cheio de músculos. Era bem maior do que os outros garotos que nos assistiam, mas talvez menor do que Sam.
- Quilt, certo? - ele perguntou, alguns instantes depois. Eu assenti, tentando abrir um sorriso, menor que fosse, também. Nós dois soltamos nossas mãos. Não tinha certeza de que conseguira sorrir.
- Nós vamos nos atrasar... - a voz de Embry cortou o silêncio que se instalara, enquanto eu procurava minha voz, e todos pareceram olhar para o relógio na parede da cozinha ao mesmo tempo.
- Oh, é verdade! Melhor irmos logo, você não quer chegar atrasada no seu primeiro dia. - Quil disse, e eu concordei com um aceno da cabeça. Na verdade, a idéia de ir para uma escola nova já não tinha um efeito tão aterrorizante em mim quanto tinha alguns minutos antes.
- Vou pegar alguma coisa pra comer no caminho. - disse, desviando de todos eles para chegar aos armários altos da cozinha. Me estiquei para pegar duas barras de cereais e abri uma enquanto procurava pelo molho de chaves que meu pai deixara sobre minha mesa de manhã cedo. - Pronto, vamos.
Eu me distraí do fator Jacob por um instante, quando desci os dois degraus que separavam a porta de casa do jardim acompanhada de cinco caras enormes. Eu os observei descendo, um a um, esperando para poder trancar a porta de novo. Jared ergueu uma sobrancelha.
- Qual é a graça?
- Vocês são todos iguais, é bonitinho. - brinquei, e ganhei uma simulação de um soco na minha cara de Paul. Mas fiquei totalmente surpresa quando minha mão direita se ergueu, aberta, e segurou o soco que não iria acontecer de Paul. Observei sua mão fechada dentro da minha por alguns instantes. Paul abriu um sorriso grande.
- Uau! Alguém tem reflexos agora! - ele bateu palmas, debochadamente, e eu mostrei a língua. - É bonitinho! - ele imitou minha voz, e eu comecei a rir.
- Eu não falo assim! - fomos andando até a escola, já que era um caminho bem curto da minha casa, e todo o tempo Jacob estava andando atrás de mim. Eu podia senti-lo, mas ele não falava e pouco ria das brincadeiras dos outros.

A escola da reserva era relativamente grande, embora qualquer prédio parecesse grande quando tudo que se tinha para comparar eram pequenas casas ao redor. Havia um estacionamento cercando o prédio de três andares, praticamente vazio e, assim que chegamos a porta de entrada, todos os garotos já estavam cumprimentando outras pessoas. Eu me senti deslocada e, lembrando que deveria passar na secretaria para pegar meu horário, os interrompi rapidamente para dizer que os encontraria na sala de aula, mais tarde. Todos eles assentiram, e meu olhar se prendeu em Jacob, quando girei nos calcanhares e segui a indicação de Embry, para dar a volta e entrar pro trás, que eu chegaria mais rápido. Jacob esboçou um sorriso, e eu fiz o mesmo.
Só fui perceber a tensão que eu sentia quando ela foi embora, e isso foi só quando eu estava bem longe de Jacob. Eu não conseguia entender o que acontecera, nunca gostara de ninguém assim tão rápido. Pra falar bem a verdade, eu quase nunca gostava de alguém. Jacob era muito bonito, tinha um sorriso lindo e tinha provocado todas aquelas sensações em mim, mas havia o fato de que ele gostava da tal Bella, a garota do vampiro. Eu suspirei, tentando deixar aquela história para lá. Realmente não precisava ter uma queda (muito grande) por ninguém agora, muito menos alguém tão complicado. Eu já era complicada o suficiente.
Segui o caminho indicado por Embry, e parei em frente a uma porta branca com "Secretaria" escrita em letras garrafais em um placa também branca, presa ao topo da porta. Girei a maçaneta e chamei a atenção de duas mulheres quando o fiz: uma delas era bem gordinha, com os cabelos loiros cacheados, o rosto todo fechado como se ela estivesse contraindo-o; a outra era bem magra, os cabelos também loiros muito lisos e um sorriso muito grande no rosto. Elas eram tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais que era uma visão engraçada. Incerta sobre com quem eu deveria falar, me pus de frente para o balcão de madeira que me separava delas e falei, olhando para ambas:
- Eu sou aluna nova, acabei de chegar... - expliquei. - Precisava dos meu horários, salas...
- Oh, claro! - a gordinha disse, e ela e a outra começaram a remexer papéis debaixo de suas mesas. Em alguns instantes, uma delas me entregou um formulário e outra veio com meus horários.
- Você só precisa preenchê-lo, ok? - ela apontou para o formulário e me entregou uma caneta. Eu assenti e comecei a responder o que era pedido, logo depois eu estava saindo de lá com meus horários em uma mão e um pequeno mapa das salas na outra. Assim que li "Matemática - Sala 4" o sinal tocou, e a multidão de alunos que se misturava nos corredores entre os armários rapidamente se desfez, sumindo nas salas próximas. Eu suspirei, percebendo que deveria andar logo para chegar o menos atrasada possível.
- Perdida? - eu não me assustei pelo fato de ter mais alguém no corredor vazio, e nem por sua voz ecoar pelas paredes, me assustei por quem era e pela voz que ecoara. Me virei lentamente, ele estava atrás de mim.
- Basicamente. - respondi, tentando sorrir. Jacob riu, e andou em minha direção, esticando-se para olhar meu horário de aulas.
- Ah, sala quatro. Vamos lá, eu te levo. - ele indicou o corredor que se estendia a nossa frente com a mão e então começamos a andar. Ele colocou as mãos nos bolsos das jeans, e eu lançei um olhar discreto a ele, tendo que levantar e muito minha cabeça para poder vê-lo, Jacob era muitos centímetros mais alto do que eu. Cruzei os braços sobre a cintura, apertando-os contra minha barriga como que para fazer parar o nervosismo crescente que meu organismo sentia, não ajudou em nada. O silêncio entre nós não exatamente me incomodava, mas a proximidade me deixava maluca. Seja lá o que fosse que eu começara a sentir por Jacob, a vontade que eu sentia de me aproximar dele era gritante.
Passávamos pelas salas já cheias, e alguns professores lançavam olhares para a gente, mas nenhum se dispôs a nos mandar para a Detenção ou qualquer coisa do tipo. Antes que eu pudesse perceber, Jacob parara de andar e indicara a porta a sua frente, e atrás de mim. Eu me virei para observar o professor, que escrevia compulsivamente no quadro negro. Me virei de volta para Jacob.
- Obrigada. - respondi, realmente agradecida. Ele balançou a cabeça.
- Sem problemas. - sorriu, e eu fiz menção de entrar na sala. Jacob colocou uma das mãos em minha cintura, interrompendo qualquer próximo ato meu. O observei, insegura. - Escuta, temos a próxima aula juntos. Inglês. - ele apontou com a mão livre para o horário. Eu assenti, vagarosamente, esperando para ver onde ele queria chegar. - Me espere aqui, vou vir te buscar. - e com essa, sem dar nem brecha para que eu pudesse respondê-lo, Jacob abriu a porta para mim, chamando a atenção de todos da sala e me deixando provavelmente muito vermelha. O professor olhou irritado para a porta, mas abriu um sorriso simpático quando viu que era Jacob.
- Aluna nova. - Jacob explicou, me indicando, e eu entrei feito um furacão na sala de aula, agradecendo e muito pelo lugar vago no fundo da sala.

A aula transcorreu sem maiores problemas. O professor explicou uma matéria que eu já aprendera no antigo colégio (o que não significava que eu compreendera) e nos deixou fazendo exercícios na meia hora seguinte. Eu falara com algumas pessoas, mas esquecera do nome delas logo depois de elas se apresentarem. Foi só quando o sinal tocou e se misturou ao som de todos juntando o material que eu senti a boca do meu estômago dar um nó.
Eu estava com medo de sair da sala e me deparar com duas situações: encontrar Jacob na porta, me esperando - eu não sabia como reagir a todo aquele charme dele, confiança, sorrisos demais, elegância; era muita coisa, e eu era pouca -, ou não encontrar Jacob na porta e me sentir muito estúpida por ter passado tanto tempo pensando em algo que não merecia minha atenção.
Fui a última a sair da sala, tentando andar o mais devagar possível, para o caso de Jacob ainda não estar na porta. Mas ele já estava lá. Senti, ao mesmo tempo, alívio e nervosismo. Como isso era minimamente possível? Ah, por que eu ainda insistia no possível?
- Até que enfim! - ele disse, alto, quando me viu. Eu percebi o olhar de algumas pessoas em nós e tentei olhar significamente para ele. - O que foi?
- Fale baixo. - resmunguei. Eu realmente odiava pessoas me olhando. Jacob rolou os olhos.
- Bem que me avisaram que você era esquentada. - soltei uma risada, um tanto quanto menos nervosa.
- Olha quem fala. - brinquei, e ele logo entendeu a referência a temperatura corporal e não ao temperamento. Jacob soltou uma risada divertida, e eu pode ver seus dentes muito brancos. O sorriso dele era realmente incrível.
- Falando nisso, hoje vamos nos encontrar na casa de Quil logo depois das aulas, você precisa saber de algumas coisas ainda. - eu tive vontade de começar a discutir com ele agora mesmo, o monte de coisas que eu ainda não entendia sobre minha nova condição, mas imaginei que a escola não fosse nem de longe o melhor lugar.
- Eu vou com algum de vocês, não faço a menor idéia de onde é a casa dele. - disse, e Jacob apenas assentiu.
- Você vai comigo, também temos a última aula juntos. - peguei meu fichário de capa transparente, e o coloquei debaixo dos olhos. Eu havia colado o horário de modo que pudesse vê-lo sem precisar abrir o fichário, e lá estava, "História Mundial - Sala 12", no último tempo de hoje. Balançei a cabeça, confusa.
- Você decorou meus horários?
Jacob não respondeu, só riu.
Entramos na sala oito e Jacob indicou dois lugares vagos ao fundo da sala. Joguei minha mochila sobre a mesa que ficava no canto da parede, e ele se sentou ao meu lado. Enquanto ele arrumava a mesa, tirando um livro da mochila e observando o conteúdo de seu estojo surrado, eu parei para observá-lo: ele usava calças jeans escuras, tênis brancos e gastos, uma camiseta sem mangas cinza-escura e lisa. Como eu poderia achá-lo tão encantador só usando isso? Ele não tinha nada demais, além de ser musculoso e ter um corpo muito bem definido, pelo menos até onde eu podia ver.
Então de repente me peguei pensando em quantas mais garotas por ali deveriam ficar olhando-o com tanta vontande quando eu olhava, e me senti ridícula no mesmo instante. É, não deveria ser só eu. Me virei irritada para frente, irritada comigo mesma, e puxei uma caneta qualquer do meu estojo, começando a rabiscar compulsivamente numa folha de fichário qualquer. A professora entrou logo em seguida, e então começou uma longa descrição sobre Literatura e, quando eu já nem mais prestava atenção em suas palavras, o sinal soou alto em nossos ouvidos. Tinham sido dois tempos de aula, e a professora parecia sinceramente surpresa quando se deu conta de que os dois já tinham passado.
- Não esqueçam dos exercícios dos capítulos cinco e seis! - ela gritou, para muitos inutilmente, enquanto todos deixavam a sala para o refeitório. Agora era a hora do almoço.
Jacob havia ficado quieto durante toda a aula, vez ou outra me lançando olhares rápidos que eu percebia, mas sem abrir a boca. Imaginava se a minha breve irritação tinha sido tão perceptível assim, e me senti levemente culpada. Quer dizer, ele não tinha culpa alguma, e estava sendo legal comigo. O que ele podia fazer se eu estava toscamente caída por ele? É, nada. Respirei fundo e arrumei meu material o mais rápido que pude, para conseguir chegar a porta antes que ele o fizesse. Jacob me olhou confuso.
- O que foi? - quis saber, e eu dei de ombros.
- Ué, não vamos almoçar juntos? - tentei soar divertida, e até abri um sorriso. A expressão dele relaxou no mesmo instante.
- Vamos. Os caras já devem estar nos esperando.
Para Jacob se empolgar com algo, parecia apenas precisar dar corda. Ele me carregou feito um furacão até o refeitório da escola, sob minhas reclamações de que depois ele teria que me ensinar a andar pela escola sem ele me carregar para cima e para baixo. Rindo, nós dois chegamos até a mesa redonda que ficava mais ou menos no centro do grande espaço que era o refeitório, lá estavam Quil, Embry, Jared e Paul com bandejas entupidas de comida até onde dera para eles entupirem. Eles eram os que eu conhecia da mesa, lá também estavam um garoto mais novo, sorridente e outros dois garotos bem parecidos e animados demais, falando sem parar. Os três tinham feições bastante infantis.
De qualquer forma, todos nos olharam desconfiados quando chegamos, talvez animados demais.
- Olha, ela sobreviveu! - Embry cantarolou quando eu joguei minha mochila numa das duas cadeiras vazias, desviando a atenção de todos para minha situação na nova escola, e não para minha situação com Jacob. Eu ainda não tinha esquecido que todos também nos olharam desconfiados na minha cozinha, pela manhã. Mostrei a língua para Embry, divertida, enquanto na verdade estava bastante agradecida, e então me virei para Jacob.
- Vai pegar alguma coisa para comer? - perguntei, e ele me olhou como se eu estivesse perguntando se o macaco quer banana. Bom, talvez eu estivesse mesmo perguntando isso. Fomos até a fila e voltamos com bandejas bem distintas: Jacob pegara praticamente tudo que ele conseguira colocar na bandeja, desde frutas até pedaços de pizza e sobremesas de chocolate; eu vinha com um suco de caixinha e alguns biscoitos. Todos me olharam quando eu coloquei minha bandeja sobre a mesa.
- Ninguém contou a ela? - perguntou Jared, e vi Paul soltar uma daquelas risadas de "estou tirando com a sua cara" dele.
- Ninguém me contou o quê? - perguntei, interessada, e dessa vez foi a vez de Quil e Embry rirem.
- Nada, vamos lhe contar mais tarde. Aliás, eles também andam com a gente. - Jacob respondeu, cortando o que quer que fosse, e indicando com a mão o garotinho mais novo e os outros dois tagarelas. - Seth. - ele abriu um sorriso grande para mim e acenou freneticamente. Eu sorri de volta. - Brady e Collin. - eles pararam de falar apenas para me cumprimentar com sonoros "E aí?" e "Beleza?". Por "também andam com a gente" eu logo entendi que eles também eram transmorfos. Legal, eu era mesmo a única menina.
Lancei um olhar em volta, observando o resto do refeitório, notando pela primeira vez as outras pessoas: ninguém parecia ligar muito para quem eu era, nem porque eu estava numa mesa só de garotos. Me senti agradecida por isso, acho que não aguentaria uma outra rodada de esquisitisses para o meu lado.
Não foi nada difícil me enturmar com Seth, Brady e Collin. Em questão de minutos estava conversando com eles, e logo com a mesa toda. Eu sempre lidara melhor com garotos do que com garotas, mas agora isso era mais perceptível do que nunca. Eu tinha até conseguido contornar bem quando eles começaram a falar de garotas, me dispondo a ajudá-los e dizendo que eles precisavam ser menos porcos e mais educados, o que gerou uma sessão de "Ow!" de todos, com exceção de Seth, que só ria da confusão que eu criara.
Deixamos a mesa apenas quando o sinal soou alto mais uma vez, e eu acenara para Jacob na porta do refeitório, me despedindo dele por dois tempos, indo para a esquerda acompanhada de Embry e Quil, enquanto ele ia com Paul, Jared, Brady, Collin e Seth para a direita.
- Então, , o que achou até agora? - Paul quis saber, e eu dei de ombros, distraída. De verdade, não tinha muito do que reclamar: tinha amigos; Paul e Embry estavam sendo prestativos, um carregando minha mochila e outro meu fichário; as coisas com Jacob estavam razoavelmente equilibradas, já que eu estava ao menos conseguindo lidar com os sentimentos que eu sentia quando ele se aproximava... Levando em conta que ontem eu me transformara em uma loba, estava tudo melhor do que nunca. Soltei uma risada com meu pensamento.
- Estou adorando. - respondi, sorrindo. Embry me lançou um olhar desconfiado.
- É sério! - insisti, ainda rindo.
- Eu não sei como você está tão equilibrada, de verdade. Normalmente precisamos de muito mais tempo do que horas... - ele argumentou, e eu apenas assenti.
- Eu nunca fui boa em seguir padrões. - Paul indicou uma porta a esquerda com a cabeça, e nós três entramos na sala de Biologia. Embry foi para uma mesa ao fundo da sala, já cumprimentando uma garota que parecia ser sua parceira de laboratório, e Paul fez o mesmo, só que cumprimentando um garoto na ponta direita da sala. Eu mordi o lábio inferior, perdida, e então o professor notou minha presença:
- Quilt, estou certo? - eu apenas assenti, agradecendo mentalmente pelos alunos ainda estarem falando muito alto entre si para me notar. O professor sorriu.
- Certo, tem um lugar vago ao lado de Alex. - ele indicou com a cabeça uma mesa no canto direito, logo atrás de Paul. Eu me virei para olhar a mesa que ele indicava, fiquei aliviada quando percebi que já conhecia Alex da aula de Matemática.
- Ok, obrigada. - respondi, abrindo um pequeno sorriso, e então andando lentamente até o banco alto e vazio ao lado de Alex.
Alex era um cara legal, bonito até, e bem simpático também. Ele serviu o suficiente para conversar e para fazer a aula passar mais rápido do que passaria se eu estivesse entediada. Fizemos os exercícios e ficamos com dez minutos de sobra, onde aproveitamos para conversar. Depois, ele se ofereceu para me levar até a sala de História Mundial, e eu aceitei, notando os olhares que Paul e Embry me lançaram quando me viram sair da sala ao lado de Alex. Imaginei o que eles diriam depois, mas não estava realmente preocupada. Eu sabia bem por quem meu coração acelerava, eu só precisava colocar tudo em ordem porque ainda não fazia sentido algum.
Fez menos sentido ainda quando Alex me levou até a porta da sala de aula, onde Jacob estava do lado de fora. Ele sorriu para mim, mas fechou a cara no instante em que seus olhos pararam em Alex. Me virei para me despedir dele.
- Acho que fico aqui. Obrigada, Alex. - disse, e ele sorriu.
- Sem problemas. A gente se vê. - eu assenti, achando-o empolgado até demais. Girei nos calcanhares e fui andando em direção a Jacob, ele logo sorriu de volta, abrindo a porta para que eu pudesse entrar, me seguindo logo depois. Isso ia dar trabalho.


Capítulo 4 -
WOLF PACK.

(Capa.)

- Não acredito! - a voz alta de Paul, ainda mais elevada com seu grito indignado, ecoou na pequena sala de estar de Quil. Eu pude ouvir, em seguida, as risadas de Embry, Quil, Jared e Jacob, enquanto Seth parecia comemorar.
- Ele perdeu?! - Brady saiu disparado da cozinha, seguido de Collin, os dois cheios de pacotes de biscoito e batatas nas mãos. Eu estava na mesinha que ficava ao lado da porta da cozinha, e atrás da sala, de modo que eu podia olhar o sofá e os garotos de costas para mim, e a tv a minha frente, exibindo um jogo qualquer que eles haviam escolhido.
Ao contrário deles, eu tinha livros e mais livros espalhados na mesa, assim como minhas anotações do dia. Enquanto esperávamos por Sam, eu decidira que devia colocar meus deveres de casa em ordem, antes que se tornassem uma bola de neve. Eu tinha muita experiência com acumular deveres, e nenhuma delas era boa.
É claro que isso também era minha tentativa de escapar o máximo possível de Jacob. Eu tinha concluído que era melhor passar menos tempo perto dele, já que eu parecia uma idiota ao seu lado, ou ao menos me sentia como uma. Eu precisava primeiro entender o que quer que estivesse acontecendo comigo e com meus sentimentos ridiculamente fortes. Aí sim eu podia tentar agir como uma pessoa normal. Então eu me concentrei nas muitas páginas de Biologia que pouco faziam sentido, e mais ainda nos exercícios não terminados de Matemática. Em meio aos berros dos garotos, eu consegui terminar os exercícios de Inglês e até começar a redação que fora pedida.
Volta e meia, eles lembravam de mim e perguntavam se eu não queria jogar também, ao que eu respondia "Ah, é, claro. E você quer seu videogame quebrado, Quil?" e ganhava uma almofada na cara. De vez em quando, me levantava para me servir de alguns biscoitos e pegar refrigerante. Eu estava gostando, no entanto. Talvez, se não fosse pelo pequeno (grande) problema com Jacob, eu estivesse totalmente relaxada. Parte do nervosismo também vinha do que quer que fosse que eu deveria aprender sobre minha nova situação hoje. Tudo que acontecera com Jacob meio que me fizera esquecer que eu agora podia me transformar em uma loba. Não parecia fazer sentido, me preocupar mais com meus sentimentos repentinos, inexplicáveis e razoavelmente fortes por Jacob, enquanto eu era mutante o suficiente para me transformar em uma loba. Ou eu tinha que rever minhas prioridades, ou eu ainda precisava entender muita coisa.
Foi entre fechar o livro de Inglês e abrir o de Matemática que Sam apareceu, calmo e sério como sempre, e se jogou no sofá da sala depois de Quil ter aberto a porta para ele.
- Podemos? - ele perguntou, e os garotos desligaram o videogame meio a contragosto. Ele lançou um olhar para trás, me procurando. - ?
- Estou indo! - respondi, tentando organizar meus livros de modo que eu pudesse pegá-los mais tarde e não perder meia hora tentando entender a bagunça que eu fizera. Coloquei o livro de Matemática no topo da pilha, fechei o estojo e o deixei do lado do fichário. Então fui para a sala mínima de Quil, todos nós quase não cabíamos ali. Sem idéia de quanto tempo ficaríamos ali, eu decidi me sentar entre Embry e Paul, que estavam sentados no chão. Paul me deu um tapa na cabeça quando me sentei, ganhando um soco no estômago, e Embry passou o braço em volta de meus ombros, rindo. Lancei um olhar para Jacob, que estava bem de frente para mim, e ele sorriu. Tentei sorrir de volta. Deus, meu coração precisava acelerar desse jeito toda vez que eu o via?
- Certo. - Sam disse, o tom de voz grave, e todos olhamos automaticamente para ele. - , tem alguns detalhes que são importantes. Muito importantes. Preciso que você preste atenção. - eu assenti, séria. Abracei minhas pernas e apoiei a cabeça nos joelhos, esperando que Sam começasse. - Nós estamos em meio a uma caçada. Ou como você quiser chamar. Há uma vampira que precisamos pegar, o nome dela é Victoria e está atrás de Bella. - vi o maxilar de Jacob ficar completamente imóvel, sua expressão foi de tranquila para irritada em meio segundo.
- Por que atrás de Bella? - questionei.
- Edward, um dos Cullen, matou o parceiro dessa Victoria, também vampiro, quando ele tentou matar Bella.
- Ah. - foi tudo que eu consegui responder. Mesmo. Francamente, qual era o problema dessa Bella?
- Estamos fazendo turnos para cobrir o nosso lado das terras. Mas não se preocupe, você não vai tão cedo. Primeiro, vai treinar comigo e com os garotos. Ainda não temos muita certeza sobre o que você consegue ou não fazer. - eu assenti. - Mas não se preocupe, é mais fácil do que parece agora. - É, vou tentar comprar essa. - respondi, sarcástica. Sam soltou uma risada abafada.
De verdade, eu não estava assustada. Mas talvez fosse só até o dia chegar. Eu provavelmente ia morrer de medo de ficar no mesmo lugar que os outros, como loba, esperando uma vampira sedenta pro vingança aparecer para que pudéssemos trucidá-la. É, parecia um plano bem capaz de me aterrorizar.
- A outra coisa é, e acho que você pode até gostar dessa parte: você não vai mais envelhecer, pelo menos não enquanto tivermos vampiros por perto. - dessa vez, eu arregalei os olhos. Eu tinha ouvido direito? - Nós ficamos presos nos nossos corpos uma vez que começamos a nos transformar. Quando os vampiros deixam a região, paramos de nos transformar e voltamos a envelhecer como deveríamos. É uma questão de defesa.
- Presa no corpo de dezessete anos. Não tem do que reclamar, hein? - Quil foi o autor da piada, e eu mandei o dedo do meio para ele, não conseguindo evitar a risada.
- Certo. Caçar, não envelhecer... Por que todo mundo me escondeu as partes boas? - eu brinquei, e todos riram.
- De verdade, não sabemos lidar com uma garota-loba. - Jacob disse, não mais irritado. Talvez por termos mudado de assunto. Eu o olhei e parei de rir, erguendo uma sobrancelha. - Quer dizer que vocês são assim tão machistas? Eu não sou de vidro, sabe. - meu tom de voz não era sério, então ninguém fechou a cara quando eu brinquei. Seth foi quem me respondeu:
- Não, é que nós sabemos que você não é tão forte quanto nós somos. - ele soltou a frase num tom tão cheio de razão que eu comecei a rir. Puxei uma almofada que estava perto e acertei em seu rosto. - Ei! - ele reclamou.
- Volta pra creche, Seth! - ele jogou a almofada em meu rosto.
- Hey, hey! Brincadeiras violentas de lobos costumam acabar com coisas quebradas. - Jared se meteu, com as duas mãos abertas e movimentando-as para baixo, indicando o final da pequena guerra de almofadas.
- Ah, esquecemos de uma coisa. - Brady lembrou, e então olhou para Collin, esperando que este lembrasse também. Logo os dois trocavam olhares risonhos.
- Imprinting. - eles falaram juntos, e encararam Sam. Este assumiu uma certeza diversão no rosto, logo em seguida. Eu franzi a testa. Imprinting?
- Isso pode ou não acontecer com você, não acontece com todos nós. - ele começou, e eu assenti, incerta. - É quando... Nós achamos nossas almas gêmeas. Sei que parece estranho, mas é a explicação mais palpável que posso lhe dar. Na verdade, parece um sentimento muito mais forte que o amor. - na mesma hora, eu senti como se algo de repente fizesse total sentido dentro de mim. Como estar numa sala escura e alguém acender a luz. Me forçei a não olhar para Jacob.
- E como funciona? - eu quis saber, esperando com todas as minhas forças que não estivesse soando desesperadamente interessada.
- Bom, é mútuo. Uma vez que você sente, a pessoa em quem você teve o imprinting também sente. É meio que amor à primeira vista. - Jared foi quem me respondeu, e eu lancei um olhar rápido a ele. E então olhei para Sam.
- Vocês dois tiveram imprintings? Você teve seu Imprinting na Emily?
- Sim. Para as duas perguntas.
- Oh. - então eu não tivera Imprinting algum em Jacob. Era para ele sentir o mesmo, ele não sentira. Certo? Ele só estava sendo simpático comigo, e eu vendo coisas demais.
- O que foi, ? Andou tendo algum Imprinting hoje? - Paul fez piada, e eu tentei rir. Acho que tinha.
- Não, Paul. Hoje não. - ele riu outra vez, e então eu fiquei de pé. Embry me lançou um olhar estranho. Esperava honestamente que ele não tivesse tato o suficiente para perceber que tinha algo me incomodando.
- Pega mais refrigerante? - Collin me pediu, e eu apenas assenti. Agradecendo a oportunidade de sair dali. Brady e Collin eram bem novinhos, tinham treze anos. Seth era só um pouco mais velho que eles, mas ainda assim a idéia daqueles três como lobos, correndo atrás de vampiros... Estremeci. Não era meio perigoso demais? Eu não conseguia ver nem eu mesma agindo assim, quem diria eles... Eram crianças. Abri a geladeira de Quil e tirei de lá um garrafa de refrigerante fechada. O setor de comida da casa de Quil era equipado, cheio de besteiras. Estava começando a imaginar que era assim na casa de qualquer um deles, e ia acabar sendo na minha também. Era estranho, mas eu realmente estava ficando com mais fome. As barras de cereais, o almoço e o lanche não tinham servido para me manter cheia, como normalmente serviam. Normalmente. É. Acho que eu devia começar a esquecer esse termo.
Enchi três copos de refrigerante e os equilibrei entre minhas duas mãos e os entreguei a Brad, Collin e Seth. Ouvi reclamações de Paul no segundo seguinte.
- Ah, fala sério! Você não ficar tomando conta desses três, vai? - eu fiz uma careta para ele.
- Claro que eu vou! Eles são crianças. Vocês são um bando de homens feitos. - muitas almofadas em meu rosto. Eu voltei para a cozinha rindo, e me divertindo ainda mais com Quil resmungando ("Não quero nem saber, vocês vão deixar essa sala arrumada!") e resolvi encher um copo de refrigerante para mim.
Tomei impulso e me sentei sobre a bancada de mármore, meus pés não alcançando o chão e balançando livres no ar. Suspirei, enfim sozinha. Engraçado como era o segundo dia que eu recebia informação demais, e precisava ficar alguns minutos sozinha para conseguir colocar tudo em ordem. Ainda assim, não funcionava muito bem. Eu continuava com tudo embaralhado, e no dia seguinte aparecia mais alguma coisa para bagunçar ainda mais, logo quando eu achava que não era mais possível.
- Hey! - Jacob. Ai, Deus do Céu. Eu ergui a cabeça devagar.
- Hey! - respondi, tentando soar descontraída, enquanto ele andava até ficar do meu lado, apoiava as costas na bancada e pegava um pacote de batatas no canto direito da bancada, do lado dele. Ele o abriu e encheu a mão com algumas batatas, depois virou o pacote para mim. Eu aceitei e peguei um pouco também, estava com fome. - Não ficou com medo, ficou? - ele perguntou, a voz sem indicar nada demais, além de preocupação. Eu abri um meio sorriso, balançando a cabeça em negação.
- Não exatamente. Mas isso é só por agora. - ele riu, e então esperou terminar de engolir as batatas para me responder:
- Não vai ser ruim, não vamos colocar você em nenhuma situação perigosa, você mal descobriu que é uma de nós. - eu franzi a testa quando ele disse "uma de nós". Ele tinha dito algo parecido mais cedo.
- Eu acho incrível o modo como vocês são unidos. - disse, antes que meu cérebro me refreasse. - Sabe, é tão agradável saber que posso contar com vocês. - definitivamente antes que meu cérebro me refreasse. Jacob não pareceu achar graça nem nada, no entanto. Ele abriu aquele grande sorriso dele, que irradiava... Alegria? Não, era algo mais significante. Talvez calor, talvez irradiasse a personalidade tão tranquila e amiga que ele parecia ter.
- Que bom que você sabe disso, porque de agora em diante nós estamos todos juntos. Sabe, somos para sempre. Literalmente. - eu sorri, a idéia de viver para sempre no meu corpo de dezessete anos não me parecendo tão absurda, eu nunca saberia explicar porque. Jacob passou o braço esquerdo pelos meus braços, me apertando com força contra ele, mas num daqueles abraços de amigos. Meu coração ia pular pela minha boca.
- Literalmente. - eu repeti, lentamente. O conforto que senti nos braços de Jacob... Eu nunca tinha sentido nada igual.
- Acho que você vai gostar. - ele disse, afrouxando um pouco a mão em meu braço. Eu soltei uma risada abafada.
- O que o faz ter tanta certeza? - era engraçado como eu não sentia como se devesse não dizer algo a Jacob, ele me dava uma sensação de certeza que eu nunca tivera com ninguém. Muito menos com alguém que eu acabara de conhecer. Pela segunda vez no dia, Jacob apenas riu, cheio de certeza, e não me respondeu. Também pela segunda vez, eu continuei quieta.

Jacob e eu voltamos a sala quando o pacote de batatas dele acabou e Jared e Sam disseram que estávamos monopolizando o refrigerante.
A tarde se seguiu com mais lendas Quileutes contadas por Sam, comentários adicionados pelos garotos, e muitas risadas. Só quando a noite caiu foi que percebemos que deveríamos voltar para nossas casas. Eu estava passando minha pesada mochila pelas costas, estranhando o fato de que ela não estava tão pesada quanto deveria me parecer, quando Sam surgiu do meu lado. Eu levei um susto.
- Sam, quantas vezes mais você pretende me assustar quando estou carregando algo pesado? - brinquei, e ele franziu a testa.
- Isso está pesado pra você? - eu neguei com a cabeça.
- Não, não como deveria, pelo menos.
- Oh, certo. - ele assentiu. Os outros garotos estavam na cozinha, falando muito alto e implicando um com o outro. Sam e eu lançamos um olhar até lá quando Collin soltou um grito que parecia preocupante. Mas segundos depois risadas encheram a casa de novo. Sam se virou para mim novamente. - É só que... Preciso ter certeza, . Está mesmo tudo bem? - Sam brincava de vez em quando, e era um cara ótimo. Mas ele estava falando sério dessa vez. Eu assenti.
- Está. - disse, e continuei antes que ele argumentasse: - Está mesmo. Eu não sei se deveria ter sido mais complicado, todo o processo da transformação, você sabe... Mas eu me sinto muito bem. Não sei o que houve, mas não é um problema pra mim. - eu tinha conseguido convencê-lo. Percebi pelo modo como sua expressão foi de preocupada e "Tem algo que você não está me contando" para uma bem mais tranquila. A ruga de preocupação entre suas sobrancelhas se fora. Ele abriu um pequeno sorriso.
- Certo, então. Só quero que saiba que se sentir algo estranho, por favor... - eu assenti logo em seguida.
- Ok, alfa! - ele me olhou, confuso. Eu rolei os olhos. - Ah, o quê? Não é assim que devemos te chamar? - ele riu.
- Cala a boca, ! - Embry tinha me contado que Sam era o lobo alfa, quem mandava em todos nós. Também tinha me explicado sobre não poder desobedecer uma ordem vinda dele, mas eu não estava planejando em desobedecer nenhuma.
Gritei um "Até mais, garotos!" o mais alto que pude, tentando fazer com que minha voz sobressaísse as deles, mas achava que não tinha surtido efeito. Só me despedi decentemente de Sam, que abriu a porta para mim e me desejou "Boa noite", e esperou eu virar a esquina para entrar novamente e bater a porta atrás de si.

E agora, havia um novo medo crescendo em mim, conforme meus passos me levavam cada vez mais perto de casa: encarar minha mãe e meu pai, e ter certeza de que eles não queriam me internar ou algo do tipo. Minha nova condição, como os garotos haviam me dito, não era algo que eu poderia ter mudado, ia acontecer de uma forma ou de outra. Mas será que isso ia servir? Mordi o lábio inferior, a sensação do meu estômago despencando cada vez mais forte.
- Cara, você é um nojo de pessoa! - parei de andar e girei nos calcanhares para ver quem era, embora a voz já tivesse entregado. Não tinha exatamente tomado um susto, acho que meus reflexos estavam mesmo melhores.
- É, você nem foi lá se despedir da gente! - Paul completou a reclamação que Embry começara. Encarei os dois, sorrindo.
- Vocês são tão bobos. - disse, apenas, e eles começaram a rir. Cada uma foi para um lado meu e eles me giraram, me colocando de volta no caminho.
- Esse, - Paul apontou para frente. - é o seu caminho, bobinha. - eu franzi a testa, indignada.
- Era pra onde eu estava indo, não vem implicar comigo! - ele rolou os olhos.
- Vam'bora. - e cada um com um braço entrelaçado em meus braços, nós começamos a andar. Claro que eles começaram a reclamar da minha velocidade. E é claro que eu não era idiota. - O que vocês querem? - perguntei, e Paul ainda se deu ao trabalho de fazer uma cara propositalmente mal fingida de surpresa. Eu ri, mas me virei para Embry. Ele rolou os olhos, parecendo se dar por vencido.
- Estamos te levando pra casa. - começou ele. - E queremos saber como foi seu dia na escola. - eu soltei uma risada desacreditada, e olhei os dois antes de responder:
- Vocês estão brincando, né? Vão por um acaso ficar tomando conta de mim como se eu fosse bebê?
- Vamos! - uma terceira voz respondeu, e dessa vez eu nem virei, porque Jared já estava se juntando a gente, andando do lado de Embry. Eu rolei os olhos.
- Claro, muito bom. Depois vocês podem reportar isso aos meus pais, eles vão adorar. - eles riram do meu tom sarcástico. Riram! Não era pra rir!
- Olha, ... - Embry apertou de leve meu braço. - É que nós cuidamos um do outro, somos como irmãos. E você é nossa única irmãzinha, como poderíamos agir de outra forma se não protetores? - eu abri a boca para reclamar umas duas vezes, e então a fechei com um suspiro. Não tinha argumentos, eles tinham vencido. E não era como se eu não gostasse de ter todos eles comigo. Balancei a cabeça.
- Certo, ganhei um bando de irmão mais velhos intrometidos e três irmãos mais novos pra cuidar. - concluí, fazendo-os rirem.
- E por falando em intrometidos... - começou Jared, e eu olhei para ele fazendo uma careta, esperando que ele continuasse. - Alguém me contou sobre um tal de Alex, será que você pode esclarecer isso pra gente?
- Sabia! Sabia que vocês dois iam criar caso com isso! - resmunguei, apertando os braços de Embry e Paul. Ignorando as reclamações deles ("Ai, !", "Credo, não precisa me matar!") eu tentei responder:
- Não tem nada, ele só foi legal comigo e me levou até a sala de aula. Foi só.
- E esse legal com você por um acaso não arranjou nenhum encontro, não é? - Jared continuava.
- Não! - respondi. Na verdade, a idéia me era meio absurda. Eu não queria um encontro com Alex, porque a verdade era que eu só conseguia pensar em Jacob para unir a palavra "encontro". Idiota. Eu, não ele. Se bem que... É, eu podia chamá-lo de idiota também.
- Certo. - os três responderam juntos, e a clareza da desconfiança deles era quase palpável. Eu rolei os olhos, e então foi que percebi que já estava na porta de casa. A luz acesa lá dentro vinha da sala, e o som do jornal da noite da tv saía pela janela aberta e se misturava aos sons de talheres na superfície de vidro de pratos. Era hora do jantar. Eu estava ferrada. Os três sentiram quando eu hesitei.
- Qual o problema? - Paul perguntou, e eu balancei a cabeça.
- Nada... Não é nada. - suspirei. - É só que... Ah, estou com medo do que eles vão achar. - indiquei minha casa com a mão. Embry e Paul me soltaram, e então Jared veio e me abraçou de lado. Eu soltei uma risada pequena quando ele me levantou do chão, rapidamente usando a outra mão para me segurar pela cintura, e então me girando para ficar de frente para ele, e de costas para minha casa.
- Eles não vão te achar maluca, . Seu pai sabe das coisas, sua mãe também. Então relaxa, vai ficar tudo bem. - assenti, ainda nervosa.
- Certo, vai ficar tudo bem. Beleza. - disse, mais para mim mesma do que para eles. Ainda estava tentando me convencer disso. Os três sorriram.
- Quer que a gente entre com você? - perguntou Embry. Eu neguei.
- Deixa que eu consigo. - respondi, e ele assentiu, sorrindo.
- Certo. Boa noite, . A gente se vê amanhã! - ele disse, e se aproximou de mim para depositar um beijo na minha testa. Paul se despediu com um pequeno abraço, e depois veio com um soco no meu braço, ele só sorriu depois que eu acertei um outro soco em suas costas. Jared rolou os olhos para nós dois, rindo, e se despediu de mim por colocando a mão no topo da minha cabeça e bagunçando levemente meu cabelo, depois de me jogar um beijo que me fez rir. Eu assisti os três se juntarem e andarem para longe de mim lentamente. Subi o pequeno lance de escadas que me separava de casa e, respirando fundo, girei a chave na porta de entrada e entrei.
Sadie e Will, que eu mais normalmente chamava de mãe e pai, moveram seus olhos instantaneamente para mim. Eles jantavam na mesa da cozinha, e de lá eles conseguiam assistir o jornal, e também ver a porta de entrada. Tentei sorrir para eles, e esperei alguma reação. Eu precisava que eles começassem essa conversa, se é que tinha algo para conversar, eu não ia ser capaz de dizer nada. Mas minha mãe foi quem acabou com os problemas:
- Comprei roupas novas pra você! - ela disse, subitamente animada, e um sorriso grande se espalhou em seu rosto. Eu arregalei os olhos, e senti minha mochila escorrer de meu ombro e cair direto no chão, com um baque. - Jeans, camisetas... Tudo que você precisa, acho que vai ficar ótimo! Estão no seu quarto. - eu ainda nem estava acreditando que ela tinha comprado roupas, assim que soubera o que a filha era. Talvez, ela já soubesse há muito mais tempo. Olhei para meu pai, e ele estava sorrindo também.
- O jantar tá na mesa, não vai comer? - largando minha mochila no chão mesmo, corri para a mesa da cozinha e ocupei uma cadeira, logo começando a me servir do jantar.
Agora, eu não queria pensar no dia seguinte que eu teria que enfrentar. Era melhor deixar isso para amanhã.


Capítulo 5 -
VARIAÇÕES.

(Capa.)

Minha cabeça parecia pesar quilos.
De todos os efeitos colaterais, eu achei que esse fosse ser o último a me preocupar. Se é que deveria existir.
Com dificuldade, me obriguei a sentar, puxando o edredom comigo e apoiando minhas costas no travesseiro, que desajeitadamente coloquei de pé. Pelas frestas da janela do meu quarto, conseguia ver os feixes de luz se estenderem até o chão e na parede oposta. Me concentrei para lembrar que dia semana era. Ficava cada vez mais difícil, eu devia comprar um calendário urgentemente.
Eu estava, há duas semanas, sendo treinada por Sam. Até agora, ele só tinha feito com que eu me transformasse e voltasse a minha forma normal. Fizemos isso até que eu chegasse ao ponto de poder controlar totalmente minha transformação. Enquanto isso, ele e os outros estavam percorrendo os limites de nossas terras, em busca de algum sinal de Victoria, a vampira que queria matar Bella. Ela continuava buscando alguma brecha para passar por eles, mas era rápida demais e, na maioria das vezes, apelava para a água. Lá, não tínhamos chances com eles.
Eu descobri que gostava muito de me transformar em loba. Adorava a sensação boa de poder correr pela floresta, mesmo que Sam não me deixasse ir muito longe.
Ah, quinta-feira! Lembrei o dia e, na mesma hora, procurei pelo meu despertador: cinco e meia da manhã. Sabendo estar cedo, e sabendo que não ia mais conseguir dormir, me forçei a ficar de pé e fui tentando desembaraçar meu cabelo enquanto deixava meu quarto e ia para a sala. Não foi exatamente minha melhor idéia:
- Mas já? Achei que fosse precisar esperar até às dez da manhã ou algo assim! - meus olhos sonolentos, quase fechados, se arregalaram, e eu parei de andar a passos lentos no mesmo instante. Me vi paralisada e assustada através do reflexo fraco dos vidros fechados da janela, à minha esquerda. De onde eu estava, o sofá da sala de estar de costas para mim, o balcão de tampo branco era a única coisa que a separa da cozinha. Lá, Jacob estava sentado num dos quatro bancos que rodeavam o balcão, e batucava os dedos na superfície plana, com um sorriso no rosto. Eu franzi a testa.
- Jacob, o quê...?
- Jake. - ele cortou. - Me chame de Jake. - ele ficou de pé, e então virou de costas para mim, abrindo um dos armários altos. De lá, tirou alguns pacotes de biscoito. Eu olhei em volta, onde é que Sadie e Will estavam? Meus pais tinham problemas sérios com a manhã. Manhã... Oh, droga! Eu lembrei na mesma hora de como eu estava: cabelos bagunçados, emaranhados, shorts curtos demais, blusa curta demais, cara amassada... Arregalei os olhos uma segunda vez, e então saí correndo para o banheiro, sem dar chance a Jacob de falar alguma coisa. Tranquei a porta do quarto, embora isso não fosse o suficiente para impedí-lo, caso ele quisesse entrar, e escancarei a porta do meu armário: saia jeans, regata branca e all star vermelho foram os eleitos, e corri para o banho.
Eu tinha sorte do meu cabelo ser liso e não dar trabalho, então enfiei a cabeça debaixo do chuveiro e fiquei lá por alguns bons minutos. A água fria era refrescante. Só saí de lá quando a visão de meu pai acordando e dando de cara com Jacob na cozinha me atingiu. O que é que ele estava fazendo lá, afinal de contas?! Eu realmente não queria começar com todo aquele drama logo cedo.
Noite passada, quando chegara acabada do treino e pusera minha mãe para dormir, já que ela passava mais tempo preocupada comigo do que qualquer outra coisa, eu me vi perdida em pensamentos que fossem razoavelmente próximos de uma explicação plausível para o que acontecia comigo e Jacob, e era confuso:
Na noite de terça-feira, a primeira vez que eu me transformara em loba por vontade própria, nós fizemos uma descoberta - eu era capaz de fazer algo que nenhum outro membro do bando podia, eu conseguia trancar pensamentos. A primeira vista, eu não entendera porque Sam ficara tão alarmado quando eu simplesmente mandei Paul sair da minha cabeça, e ele não conseguiu ouvir mais nada do que eu pensava. Eu achava que tínhamos esse poder de deixar os outros ouvirem ou não nossos pensamentos, mas aparentemente não era assim que funcionava: nós devíamos ser capazes de ouvir tudo que o outro pensava, sem chance de edições ou cortes. Na verdade, era assim com eles, não comigo. Eu podia fazer meu poder funcionar de três formas que nós descobrimos depois de umas cinco horas comigo trancando e destrancando pensamentos: podia trancar meus pensamentos, e ouvir apenas os deles, sem que eles ouvissem os meus; podia trancar os de apenas um, ou de vários e deixar um só, eu conseguia separar os pensamentos deles, podendo dar atenção a apenas uma linha de pensamento; ou podia fazer os dois juntos, trancar os meus, separar os deles e, somado a isso, conseguia separar meus pensamentos, para que eles só ouvissem algo que eu quisesse que ouvissem.
Eu conseguia trancar os meus pensamentos muito bem, mas não tinha prática alguma com a divisão dos pensamentos deles, e a divisão dos meus. Era muito difícil se concentrar em uma coisa só quando se é bombardeado de informações, e eu ainda estava treinando. Sam não tinha muita certeza de que gostava desse meu poder, mas não fizera objeções quando eu dissera que preferia que eles não me ouvissem. Acho que pelo fato de que eu sou a única garota. Na verdade, eu nem ligaria muito, se não fosse pelo fator Jacob Black. Uma vez que eu conseguisse separar esse pensamento e jogá-lo lá atrás, eu destrancaria o resto sem problemas. Sam, no entanto, usou seu tom de voz alfa para dizer que, em batalhas, eu nunca trancaria meus pensamentos. Com isso, eu não podia argumentar.
Então Jacob nem suspeitava do Imprinting. Ou eu ao menos estava chamando isso de Imprinting. Fazia sentido, e eu não queria acreditar que tudo aquilo era voluntário... Eu nunca tinha me sentido assim por ninguém, quem diria alguém que eu conhecia a pouco menos de uma semana. Então, baseada na idéia de que era um Imprinting, eu tentei encontrar caminhos... Meu pai é um legítimo Quileute, importante e tudo mais, então eu claramente tinha na minha transformação de lobo a genética dele, eu tinha virado loba por causa dele, e isso eu entendia e fazia sentido. Mas minha mãe era dinamarquesa, estava muito longe de qualquer coisa a ver com Quileutes e lendas de lobisomem quando meu pai a conheceu... Talvez isso fosse o motivo por eu ser como era? Quer dizer, eu era bastante diferente dos outros. Na minha forma de lobo, eu me destacava por ter os pêlos completamente brancos e por ser pequena, se em comparação a eles. Eu também não tivera problemas com a transformação, e isso ainda era um mistério - era para ter sido mais dolorido e muito mais confuso e bem menos repentino do que fora, nem Sam encontrara explicações para isso.
Mas eu ainda precisava fazer muito mais pesquisas para entender, ou pelo menos formar uma teoria. Suspirei, terminando de pentear meus fios lisos molhados, e então observei meu reflexo no espelho, achando que estava razoável. Na hora de ir para a escola, eu apenas trocaria a saia por uma calça jeans.
Respirei fundo, buscando coragem e sentindo meu coração acelerar, e então abri a porta do meu quarto, girando a chave e então a maçaneta. Jacob continuava no mesmo lugar, só que agora tinha o controle da tv nas mãos e mudava de canal da cozinha, parecendo entediado. Ele sorriu quando eu apareci.
Jacob tinha se tornado uma presença constante na minha vida, não só pelo fato de que éramos de um bando. Claro, isso tinha grande influência, já que estávamos ligados para o resto da vida só por isso, mas eu realmente tinha passado mais tempo com ele. E tinha também descoberto o quanto eu gostava quando ele, Paul, Embry, Quil e Jared apareciam na minha casa para ficar o resto da tarde; quando Seth, Brady e Collin agiam feito as crianças que eram e sentavam animados à mesa da cozinha da minha casa e lanchavam os brownies que eu aprendera a fazer recentemente; quando Sam vinha ter certeza de que eu não estava prestes a surtar nem nada, como um bom irmão mais velho. A verdade era que, depois de duas semanas, eu já não conseguia me ver sem todos eles ao meu redor.
- Jacob, o que você está fazendo aqui? - quis saber, andando até ele. Eu podia sentir todo o Imprinting, mas também sentia a inibição que Jacob causava em mim, eu não hesitava antes de fazer perguntas a ele. Nunca. Não sabia até que ponto isso era uma boa coisa.
Ele deu de ombros.
- Eu acho que queria te ver. - eu devia simplesmente desistir de tentar entender alguma coisa. Caramba.
Depois de ele simplesmente jogar essa pequena informação, eu tentei sentir minhas pernas de novo e lembrar como fazia para controlá-las, e desajeitadamente andei até a cozinha. Abri a geladeira e tirei uma caixinha de suco de laranja de lá. Puxei um banco de frente para Jacob, e enchi um copo grande de suco. Enchi o segundo e empurrei para ele.
- Onde você morava antes? - ele perguntou, do nada. E eu franzi minha testa. Ele rolou os olhos quando percebeu a confusão no meu rosto. - Onde você morava antes? - ele repetiu a pergunta, levemente impaciente, como alguém que tem que explicar algo pela segunda vez.
- San Diego. - respondi, apenas. Olhei para o meu copo novamente, tomando um segundo gole do suco. Na verdade, a pergunta de Jacob me levou de volta a minha antiga moradia por alguns instantes. Eu não costumava me apegar a ninguém, por isso não tinha exatamente amigos para toda a vida por lá... Mas pensar em como era minha vida lá me trouxera de voltas lembranças, saudades de algumas pessoas. - Era um lugar legal, sabe? Sinto falta de algumas pessoas, talvez eu devesse ligar pra elas... - ele pareceu satisfeito com meu repentino falatório: se ajeitou no banco e se inclinou levemente para frente, se aproximando um pouco de mim.
Segurei meu copo com as duas mãos, deixando-o seguro alguns centímetros abaixo do meu rosto, meus cotovelos apoiados no balcão.
- E você tinha uma melhor amiga? Ou um melhor amigo? - soltei uma risada abafada com a lembrança. Inevitavelmente, a imagem de Alison veio em minha mente.
- É, tinha. Não era exatamente minha melhor amiga, já que eu nunca fui capaz de manter relações. - ele ergueu as sobrancelhas em resposta a minha afirmação. Eu esperei que comentasse.
- Claro que é. - ele disse, como se fosse óbvio demais. Eu ri.
- Como pode saber disso, você só me conhece a, o quê, uns cinco dias?
- Mas parece que é há bem mais tempo, não? Coisas de lobo. - não me contrapus a sua fala, porque era verdade. Nos últimos dias, eu tinha me sentindo como se conhecesse todos eles desde que nascera, e definitivamente criara laços. Eram como irmãos para mim, uns mais velhos e chatos, outros mais novos e aparentemente indefesos.
- É, talvez eu seja. - divaguei, falando baixo, e então tomando mais um gole de suco.
- Quer dar uma volta? - ele perguntou, e eu encarei o relógio na parede. Neguei com a cabeça.
- Não vai dar tempo. Temos aula hoje, esqueceu? - ele rolou os olhos.
- Nós não vamos a aula hoje. - disse, em tom óbvio. Eu rolei os olhos dessa vez.
- Será que você pode parar de usar esse tom convencido? Me dá vontade de te bater. - soltei, e ele riu. Fez "Pff" com a boca.
- Como se fosse fazer alguma diferença. Você me batendo. - semicerrei os olhos, fechei minhas mãos em punhos e as posicionei em frente ao meu corpo como lutadores de boxe fazem. Jacob riu.
- Pára de besteira e anda logo! Vamos! - ele levantou do balcão, virou o resto de seu suco goela abaixo e, com movimentos rápidos e precisos demais, girou para o meu lado do balcão e estendeu a mão esquerda, segurando na minha, que ainda era um punho fechado. Desfiz minha posição e aceitei sua mão, sentindo-o entrelaçá-la com a minha. Houve um pequeno momento em que ele me olhou, ao mesmo tempo que nossas mãos se tocavam. Eu senti uma corrente elétrica passar por mim e me deixar totalmente alterada. Eu não sabia dizer se ele sentira também, e muito menos sabia por quanto tempo nossa troca de olhares durou. Eu perdia noção de coisas normais com Jacob, como o tempo.
- Para onde nós vamos? - eu quis saber, enquanto ele me carregava para a porta de entrada e eu me esticava para pegar minhas chaves e celular na mesinha ao lado da porta. Ele lançou um olhar engraçado para o celular. - O quê?
- Nada. - ele deu de ombros. - Não sei porque você cisma de andar com celular. - bufei. Eles sempre implicavam com meu celular.
- Desculpe se eu não gosto de me comunicar por uivos o tempo todo. - soltei, e ele riu.
- É um modo muito eficaz, você deveria saber. - saímos de casa e me virei para trancar a porta. Jacob ainda segurava minha mão, e eu me sentia incrivelmente bem com o calor que emanava de seu corpo. O que eu achava mais engraçado, era que com ele eu sentia coisas bobas que acharia ridículo caso ouvisse da boca de qualquer outra pessoa.
Quando girei de novo, dessa vez para perguntar a ele qual caminho seguiríamos, dei de cara com um carro estacionado na pequena garagem da minha casa. Não era o carro do meu pai, nem muito menos o carro alugado que eu pegara quando viera (aquele, infelizmente, já tinha sido devolvido). Era um carro vermelho, de aparência antiga, mas conservada.
- Vamos logo. - ele resmungou, desfazendo o aperto de nossas mãos e passando a dele para minhas costas, me guiando rapidamente para o banco do carona do carro. Ele girou para o lado do motorista, e então destrancou o carro.
- Belo carro. - observei, e ele riu.
- É um Rabbit, de 1986. - ele explicou, e eu assenti. Ele abriu um sorriso grande, convencido, e então me olhou de lado, os braços apoiados no volante. - Eu o reconstruí. Todo. - ri de sua expressão, mas estava mesmo impressionada.
- Uau, Jake! - respondi. - Sério, parabéns. Você parece ser bom nisso. - ele riu. Deu partida no carro, ouvimos o motor começar a funcionar e então ele manobrou para sair da vaga e em poucos minutos andava pelas ruas de La Push que eu ainda não conhecia tão bem.
O silêncio me incomodava, sempre me incomodara. Depois de alguns segundos, talvez um minuto, eu olhei para onde devia ficar o rádio do carro. - Hey, o rádio funciona? - perguntei, e ele pareceu surpreso. Moveu os olhos da direção por uma fração de segundos para me observar, e então assentiu, a testa franzida.
- Oh, aham. Pode ligar, se quiser. - eu estranhei sua reação, e me vi perguntando antes que pudesse parar:
- Por que ficou desse jeito? - ele não pareceu surpreso com a pergunta. Talvez ele estivesse se acostumando com meu excesso de franqueza com ele. Jacob balançou a cabeça.
- Você não quer ouvir porquê. - disse, e eu me encolhi um pouco com o tom irritado dele. Certo. Liguei o rádio, e tentei sintonizar em algo com música decente. Achei uma onde os acordes de um violão eram calmos, e foi lá mesmo que eu deixei.
Eu me ajeitei no carro, de modo que ficasse com o rosto virado para minha janela, assistindo tudo passar muito rápido e ouvindo Jacob dirigir, sem vê-lo. O clima pesou no carro, e Jacob não conseguiu ficar quieto. Ele suspirou. Uma nova música começou a tocar na rádio.
- Certo, desculpe. - ele disse, e eu continuei sem olhá-lo. - Não quis ser grosso, nem nada. É que... Eu... Eu não acho que ninguém algum dia vá entender. - eu não conseguia ignorá-lo. Sua voz era dolorida, e eu logo me virei para ele, procurando ler sua expressão.
- Bom, você pode tentar conversar comigo. - eu disse. Algo dentro de mim não permitia Jacob triste, ou com problemas, ou com qualquer coisa do gênero. Era alguma força que me fazia querer ter certeza de que estava tudo bem.
Ele me analisou por um instante, depois voltou a encarar a rua reta que seguia agora, e eu notei os nós de seus dedos tornarem-se brancos, enquanto ele apertava com força o volante. Então balançou a cabeça rapidamente e começou:
- Talvez seja bobagem. Eu sei que não significa mais nada. Não mais. E ainda assim... Não entendo por que me incomoda tanto.
Notei como sua expressão, de repente, se fechou muito mais. Eu vi a sombra de raiva encobrir seu rosto, e por um instante pensei em como isso era ruim... Ele tinha um rosto tão bonito. Mordi o lábio inferior, já concluindo de quem estávamos falando antes mesmo de que ele precisasse dizer o nome.
- Bella. - disse, e ele me olhou no mesmo instante.
- Como você... - soltei uma risada abafada.
- Vocês pensam, lembra? - lembrei a ele da minha pequena confusão com pensamentos, e então ele assentiu, parecendo realmente ter esquecido. - Sabe, você não precisa falar sobre isso. A não ser que você queira. Eu sou uma boa ouvinte. - sorri, e ele riu fraco.
- Chegamos. - eu não tinha percebido que a velocidade do carro havia diminuído. Talvez porque eu não conseguisse ver nada além de Jacob quando o olhava.
Desviando os olhos dele, olhei através da minha janela: havíamos parado na praia, mas não a First Beach. Essa era bem mais deserta, e eu arriscaria dizer mais bonita também.
- Onde estamos? - Jacob riu, sem me responder, e estacionou o carro, destrancando-o em seguida. Eu desci dele e cruzei os braços, fechando um pouco os olhos por causa do Sol e também do vento forte que já bagunçava meu cabelo.
Jacob deu a volta no carro, depois de trancá-lo, e estendeu a mão para mim. Eu a aceitei.
- Você pode parar com essa mania de não me responder? Isso me irrita. - resmunguei. Ele estava a caminho de dar o primeiro passo, para me carregar para onde quer que fosse, e parou assim que eu terminei de falar. Girou, ficou de frente para mim.
- Sério? Você quase nunca parece irritada. Só confusa, enrolada... Não irritada. - eu abri a boca, em espanto.
- Só confusa e enrolada?! - repeti. - Meu Deus, que desastre de pessoa que eu sou! - ele riu outra vez, rolou os olhos, divertido, e então começou a andar. Eu percebia quão rápido ele estava andando, mas conseguia acompanhar seu ritmo sem menores problemas. Jacob nunca largou minha mão, e vez ou outra a apertava um pouco mais, normalmente quando havia algo no chão em que eu poderia tropeçar.
Eu o observava mais do que observava o lugar onde estávamos. Ele usava bermudas jeans, desgastadas, uma camiseta azul-escura e tênis brancos e também desgastados. Em qualquer outra pessoa, eu diria que essa era uma das piores, se não a pior, escolha de roupas. Mas... Não com Jacob. Na verdade, eu nem sempre notava as roupas que ele usava - eu notava seu rosto, seus olhos, seus cabelos curtos e bagunçados, seu andar elegante, despreocupado e ligeiro.
Só paramos quando estávamos tão longe do carro que mal podíamos enxergá-lo, só notar um ponto vermelho fugindo do usual entre o tanto de verde e marrom.
- Estamos na praia. - ele respondeu minha pergunta de minutos antes, e eu fiz uma careta, entortando a boca.
- Você é um idiota. - resmunguei, e ele riu.
- Certo, ótimo. Agora, anda, tira os tênis e vamos andar um pouco. - e então lá fomos nós, tirar os tênis e carregá-los nas mãos, enquanto enfiávamos nossos pés na areia fofa e caminhávamos em direção à praia.
- Sabe, eu também tive meus problemas. - falei, de repente, quando já estávamos próximos a onde as ondas quebravam. Jacob passou a mão livre pelo cabelo e me observou, esperando que eu continuasse. Eu soltei uma risada descrente. Era estranho lembrar disso. - O nome dele era Josh. Bonito, simpático, e até razoavelmente inteligente. - Jacob riu nesse ponto. - Mas... Ele foi péssimo comigo. - ele parou de rir, e eu estremeci com a lembrança. Balançei a cabeça e suspirei. - O que eu quero dizer é que... Te entendo, de certo modo. Não que eu ache que Bella foi péssima com você, eu nem sei o que aconteceu. - eu fiz questão de acrescentar, antes que ele se irritasse ou algo do tipo. - É só que... Eu te entendo, realmente entendo. - agora andávamos paralelos as ondas, que quebravam quase em nossos pés. Jake passou a mão livre ao redor dos meus ombros e me levou para mais perto dele, me abraçando forte e fazendo com que eu quase tropeçasse em meus próprios pés. Jacob riu.
- Como você é desastrada! - ele exclamou, e moveu a mão do meu ombro para envolver minha cintura. - Uma loba muito desastrada. - continuou, e eu rolei os olhos, divertida.
- Não reclame, eu sei que só ficou mais divertido comigo. - brinquei, e ele sorriu de lado, mas um sorriso fraco. Ficou calado. Eu franzi a testa, e então girei de modo que ficasse de frente para ele, fazendo com que ele parasse de andar. Ele era muito maior do que eu, então ergui minha cabeça e procurei por seu olhar. Era um olhar menos brilhante ao qual eu me acostumara, um pouco triste. Ele adaptou sua mão a minha cintura novamente, agora movendo-a de minhas costas para o lado e me fazendo sentir arrepios.
- Não vejo isso como uma coisa tão boa. - ele disse, e eu esperei que ele continuasse. Ele respirou fundo. - É perigoso. Você pode se machucar... Seth, Brady, Collin...! Não... É... É errado! Não devia estar acontecendo, não é certo! - seu tom de voz foi aumentando conforme ele falava; no fim, era quase um grito grave que ecoou em meus ouvidos. Ele lutava com as palavras, e mesmo que as dissesse, pareciam ser as erradas porque a frustração era clara em seu rosto.
- Ei, ei! - eu deixei meus tênis caírem no chão, provavelmente ficando cheios de areia, mas não me importei. Coloquei minhas duas mãos em seus braços, envergonhada demais para colocá-las em seu peito. Era a primeira vez que estávamos tão próximos e sozinhos. Eu senti meu rosto queimar, senti meu coração enlouquecer e as borboletas no meu estômago se multiplicarem e rodopiarem endoidecidas. - Não precisa se preocupar tanto, nós sabemos o que estamos fazendo. Somos feitos para isso, Jake... - disse, e então soltei uma risada pelo nariz. Acrescentei: - Também não é como se você não fosse nunca se machucar. - ele fez uma careta.
- Eu sei me cuidar sozinho. - ergui uma sobrancelha.
- Claro, me desculpe. - disse, irônica, e então fiz menção de desfazer o abraço, a proximidade estava me deixando maluca. Dei um passo para trás, e mais outro. Jacob tirou a mão da minha cintura e, antes que eu pudesse me ver totalmente livre de seu toque, adiantou-se e segurou minha mão. Deixou os tênis caírem na areia como eu fizera, e segurou a outra também. Estava com meus braços esticados, mantendo a distância dos dois passos que dera para conseguir respirar.
Eu não tinha idéia do que estava acontecendo. Conversando com ele sobre assuntos delicados e intocáveis, passeando na praia quando deveria estar na sala de aula, toques demais... Eu sabia como gostava dele, mas ele gostava do mesmo jeito de volta? Não era rápido demais? Ou eu estava vendo demais?
Uma onda um pouco mais forte cobriu meus pés, e o gelado me trouxe de volta. Jacob ainda me observava, e apertou levemente minhas mãos quando meu olhar focou novamente no dele.
- Anda, preciso te levar pra casa. Prometi a sua mãe que você apareceria para almoçar.
- Você falou com a minha mãe?! - perguntei, e ele assentiu.
- É claro, eu não podia aparecer na sua casa e simplesmente te roubar de lá, em horário escolar ainda por cima. - eu dei de ombros, nós soltamos nossas mãos e voltamos a caminhar, depois de pegar nossos sapatos sujos de areia. Dessa vez, andei mais perto das ondas para senti-las quebrando em meus pés. Jacob volta e meia olhava para mim com olhos preocupados e atentos, como quem espera que o filho de cinco anos dê de cara no chão. Respirei fundo, inalando o cheiro bom de maresia enquanto meu cabelo voava todo pra trás, os nós que eu tão dificultosamente desfizera, voltando todos.
- Peraí, - disse, de repente, e o vi arregalar os olhos por um instante. - Já tá na hora do almoço? - ele riu, e me olhou como se constatasse que eu fosse meio doida. Bom, eu era.
Eu lembrei de que tinha colocado o celular no bolso de trás da saia jeans e o puxei de lá, apertando um botão qualquer para que o relógio digital aparecesse: meio-dia e cinco. Arregalei os olhos. Tinha passado tanto tempo assim? Jacob me arrancara de casa, o quê, umas seis e pouca da manhã? O tempo com ele parecera umas duas horas, só.
- Acho que perdi totalmente a noção de tempo. - falei, e Jacob assentiu. Sorrindo, ele colocou a mão livre no bolso das jeans.
- Que bom que eu trouxe toalhas.
- Hã? - balancei a cabeça para a afirmação totalmente aleatória dele. Ele apontou para o carro, que se tornava aos poucos mais um carro e menos um ponto vermelho.
- Coloquei umas toalhas na mala, molhar meu carro não está nos planos de hoje. - eu assenti, deixando um sorriso debochado aparecer em meu rosto. Jacob notou, é claro.
- E o que é que está nos planos de hoje? - perguntei, quando percebi que ele parecia prestes a perguntar porque eu estava sorrindo. Senti que tinha ganho o dia quando o vi abaixar o rosto e enrubescer. Qual é, se ele podia me fazer sentir do jeito que fazia, eu tinha meus direitos de provocá-lo. Não que eu tivesse experiência nisso, é claro.
- Você é uma idiota. - ele resmungou, mas riu logo em seguida. Eu ameacei acertar meu tênis sujo nele, e ele saiu correndo. Eu o segui, rindo. Em questão de segundos, tínhamos esquecido que deveríamos estar indo para minha casa, e acabamos no mar. Eu tomei o cuidado de só entrar até o ponto onde a água alcançava minhas pernas, não minha saia, mas Jacob fez questão de jogar água na minha cara.
Eu achei que ele merecia água de volta, então fui me inclinar para alcançar a água com as mãos, e claro que eu tropecei em alguma coisa neste momento e me molhei toda, praticamente mergulhando no mar.
- ! - ouvi a voz de Jacob, apressada, e logo senti suas duas mãos em minhas costas, me segurando mesmo que eu já tivesse ficado de pé. Ele também estava encharcado, mas tirara a blusa. Quando senti seus braços ao meu redor, me apertando forte, eu arregalei os olhos e gelei. Ele me girou para ficar de frente para ele. Deus, o que era aquele abdômen?!
Certo, , controle-se. Você não é menina dessas coisas. Wow, mas que coisa! Foco, ! Foco!
Me forcei a olhar não para seu peito, mas para seu rosto. É claro que eu estava mais vermelha do que pimentão, e que Jacob era quem estava sorrindo debochadamente. Merda.
- Minha vez. - ele disse, rindo, e eu rolei os olhos.
- Você fez isso de propósito! - apontei, indignada, e tentei socá-lo para sair de seu abraço, embora não quisesse realmente. Era só meu orgulho falando mais alto. Ele riu, divertido.
- Não fiz! Não procure desculpas para os seus atos, . - meus socos deviam é estar fazendo cosquinhas neles. Ridículo. Desisti.
- Preciso almoçar. - falei, e ele se deu por vencido, afrouxando o abraço e começando a andar para fora do mar.
Nós éramos quentes o suficiente para ficarmos secos mais rápidos, e Jacob se divertiu comigo durante a volta, enquanto eu falava duzentas vezes seguidas sobre como era fantástico ser quente. Aos risos, nós chegamos a minha casa, e ainda aos risos eu girei a chave na fechadura e empurrei a porta, mas foi exatamente aí que a coisa complicou.
Jacob fechou a porta novamente, tão rápido que eu só pude ouvir o som da chave caindo no chão. Com um sorriso, ele colocou a mão na minha cintura e me girou, de modo que eu encostasse na porta recém-fechada e ficasse de frente para ele. Procurei seu olhar, e senti meu coração querer pular para fora da boca quando notei seu rosto tão próximo do meu. Tão próximo. Ele apertou um pouco mais a mão em minha cintura e então disse:
- Eu preciso ir. A gente se fala mais tarde. - e, beijando minha bochecha, ele simplesmente me soltou. Me deixando ali com cara de idiota, o coração acelerado e completamente confusa.


Capítulo 6 -
PORT ANGELES, MCDONALD'S E UM BEIJO DE BOA NOITE.

(Capa.)

Eu estava fazendo biscoitos. Biscoitos de chocolate. Havia um pote gigante na minha frente, e eu tinha uma colher umas trinta vezes menor na minha mão. Eu misturava o topo da mistura, e ao meu redor estava minha cozinha, só que não nos tons brancos de sempre dela. Minha cozinha estava laranja.
Da janela, eu ouvi o uivo baixo e constante de alguns muitos lobos. Foi quando a porta abriu.
Jacob estava usando jeans escuras, tênis pretos limpinhos e parecendo novos, uma camiseta branca por baixo de um casaco de couro preto. Eu senti minha boca começar a abrir e meus olhos se arregalarem. Uau. Ele passou a mão direita pelos cabelos molhados e me procurou com o olhar. Sorriu quando me achou.
- Hey! - ele disse, descontraído. Eu imediatamente me dei conta de que estava usando roupas sujas de chocolate e que meu cabelo estava todo bagunçado. Por que Jacob sempre me encontrava desarrumada?
E então a visão dele fez Craque! e se transformou numa vampira com cabelos cor de fogo. Ela riu e avançou em minha direção, com os dentes afiados a mostra... E então Craque! Sam apareceu e me empurrou para o lado, me fazendo bater contra a parede laranja. E então...
- ANA! - e não era a voz de Sam. Não era... Era...
- !
- Caraca, ela dorme feito pedra.
- Você não pode culpá-la também... Sam está treinando o dobro do tempo com ela.
- Acha que ela vai querer sair, então?
- Qual é, ela ainda é a . - Embry, Paul e Quil riram. Eu decidi dar um sinal de que estava acordando, então esfreguei os olhos, girei para o lado, abracei o travesseiro e soltei um murmúrio preguiçoso. Ouvi passos e logo soube que Jared estava entrando no quarto, logo percebi que com latinhas de refrigerante, porque o som da pressão do anel sendo girado logo preencheu o quarto.
Estava tomando consciência de que tivera um sonho. Ele parecera real demais. A vampira, Jake, Sam... Suas imagens fazendo um som perturbador e se alterando... Abri os olhos e tentei expulsar o sonho da minha cabeça.
- Vocês falam demais. - eu resmunguei, rindo.
- Anda, levanta! - Embry colocou a mão no meu ombro e me sacudiu. Eu comecei a rir e acertei um tapa no ar.
- Calma, calma! - gritei, e então me sentei. Os quatro garotos ao meu redor sorriram pra mim.
- Viemos te chamar pra sair, vamos em Port Angeles. - Paul disse, e eu assenti lentamente.
- O que vocês vão fazer lá? - perguntei, puxando meu travesseiro e colocando sobre meu corpo. Não importasse quão perto eu sempre estivesse dos meninos, eu sempre ia ficar envergonhada de andar pra cima e pra baixo com meu shorts curtos demais. Eu tinha que lembrar de vestir bermudas ou calças para dormir.
- Vamos só passear. Talvez um cinema. Vamos? - peguei meu celular no criado-mudo. Eram sete da noite. Caramba, eu tinha mesmo dormido demais. Lembrava de ter chegado em casa às seis da manhã, depois de virar a madrugada treinando com Sam.
- Eu realmente perdi aula pela segunda vez na semana? - perguntei, rindo, ao perceber que era sexta-feira. Jared riu.
- Pegamos a matéria pra você. - Quil disse. Eu ergui uma sobrancelha. Ele rolou os olhos. - Cada um se deu ao trabalho de prestar atenção em uma aula. Aí todo mundo conseguiu pegar as matérias. - ele explicou. Eu ri.
- Claro, claro. Agora, por favor... - fiz um gesto indicando a porta. - Vamos sair daqui, que tal? Preciso tomar banho, escolher roupa... - assisti todos eles rolarem os olhos ao mesmo tempo e soltarem murmúrios de impaciência. Paul pegou meu notebook antes de sair do quarto, ele estava ficando completamente viciado em internet.

Acabei escolhendo uma roupa da qual eu não tinha muita certeza sobre. Tomei banho, sequei o cabelo, e então a vesti. Eram jeans escuros e justos, uma blusinha preta por baixo de um colete xadrez e sapatos fechados, com cadarços e saltos altos. Observei meu reflexo no espelho por alguns instantes.
Estávamos finalmente saindo de La Push, logo eu tinha a oportunidade perfeita para ficar bonita. Eu estava bonita. Suspirei, e então abri um pouco a porta do meu quarto, só enfiando a cabeça para fora. Olhei direto para o sofá, e encontrei Embry e Jared assistindo tv. Eles olharam para minha porta quando ouviram o barulho dela rangendo enquanto eu a empurrava um pouco. Eu sorri amarelo e eles me olharam desconfiados.
- Então... - comecei, desajeitada. - ...Nós não vamos correr atrás de vampiros hoje, vamos? Nem nada perigoso, certo? Vamos agir feito pessoas normais por um dia, né?
- Certo. - afirmou Jared.
- Pessoas normais por um dia. - continuou Embry, rindo. Eu assenti, franzindo a testa. Ok, eu podia sair assim. Então saí de trás da porta e deixei que eles vissem meu - talvez - excesso de arrumação. Paul ergueu a cabeça, desviando sua atenção do computador para mim.
- Uau! Eu sabia que ter uma garota com a gente ia ser bom! - eu abri a boca, espantada, e então girei nos calcanhares e praticamente corri de volta pro quarto. Acredite se quiser, eu conseguia me equilibrar sobre saltos altos.
Os garotos soltaram "Ah, , volta pra cá!" e "Pára de graça!" e também ", estamos brincando!" e eu rolei os olhos. Embry entrou no quarto falando:
- Paul, cala a boca, cara! , vam'bora! - e então pegou minha bolsa e a abriu. Ele riu. - Celular, carteira, maquiagem... Acho que você tá pronta. - eu o olhei e então acabei abrindo um sorriso e andando em direção a ele. Embry estendeu o braço quando eu o alcançei e me abraçou de lado. Ele me entregou a bolsa, beijou o topo da minha cabeça e disse, baixinho: - Você vai deixar o Jake doido. - e então me guiou para fora do quarto. Eu olhei para o chão e fingi que não tinha escutado. Não tinha como enganar Embry, ele simplesmente percebia demais.

Abri um sorriso inevitável quando o excesso de verde de La Push foi substituído por um pouco mais de prédios, luzes e muitas pessoas andando pelas ruas. Os letreiros iluminados de lojas, bares e restaurantes, o som de vozes misturadas... Eu gostava da agitação, e era ainda melhor depois de algumas semanas longe dela. Saltei do carro de Paul (eu tinha consigo ir no banco do carona, enquanto Embry, Quil e Jared se apertavam no banco de trás) e me certifiquei de que minha roupa, meu cabelo e minha maquiagem estavam do mesmo jeito de como eu saíra de casa.
- E então? - perguntei, cruzando os braços. Paul, Embry, Quil e Jared estavam elegantes, eu só tinha reparado nisso agora: eles sempre pareciam bastante iguais, mas hoje todos pareciam parentes próximos, mas com estilos diferentes. Todos usavam jeans baixas e largas e tênis, mas dava pra perceber que Paul era meio metido a badboy com a camiseta preta e os cabelos meio arrepiados para o alto, que Quil e Jared eram tranquilos, o primeiro só usando uma camiseta branca com estampas pretas, e o segundo vestindo um casaco quadriculado em preto e branco por cima de uma regata preta, e que Embry só precisava de uma blusa de manga comprida branca por baixo da azul que ele usava com estampas coloridas para ficar bonito.
- Vamos esperar o Jake, e aí vamos pro cinema. - Jared respondeu, desligado. Eu tentei fingir que não tinha ficado apreensiva.
Eu não falava com Jacob desde o dia em que ele me fizera matar aula e ir com ele para praia, e então me imprensara contra a porta da minha casa, me dera um beijo na bochecha e me deixara lá, com cara de tacho. Eu acho que devia ficar um tanto quanto irritada com ele por isso, mas não estava, no entanto. Na verdade, acho que o negócio todo pareceu tão surreal para mim que eu nem mesmo consegui pensar nisso como realmente um fato que me acontecera. Balancei a cabeça, como que tentando expulsar Jacob da minha cabeça até que eu tivesse que lidar com ele. Tive vontade de rir. Tirar Jacob da minha cabeça, eu queria mesmo poder fazer isso de vez em quando.
- Olá! - ouvi uma voz feminina atrás de mim, e olhei para os meninos antes de olhar para trás: Jared e Embry tinham dois sorrisos idiotas estampados no rosto. Então olhei para trás: logo reconheci Kim, a garota em quem Jared tivera seu imprinting, e então Angie, a garota de quem Embry volta e meia falava (e pensava também). As duas garotas acenaram para mim de modo simpático, e eu acenei de volta. Elas não eram pessoas muito interessantes, e também acho que não deviam gostar muito de uma garota passando todo seu tempo livre com seus namorados ou o quer que fossem. Eu entendia e não ligava. Paul e Jared olhavam para os lados agora, e eu sabia que eles deviam estar esperando seus pares.
Bastou eu pensar nele.
Jacob usava jeans escuras, nem largas, e nem justas; tênis pretos com detalhes em branco, uma camiseta lisa branca por baixo de uma jaqueta de couro. Pensei por um instante. Ele estava exatamente do mesmo jeito que no meu sonho. Do mesmo jeito! Até o cabelo bem arrumado, o ar elegante... A probabilidade de meu sonho ter algo ver com hoje era muito grande e nada legal. Então eu balancei a cabeça e me concentrei nele, andando em minha direção.
Não era só o fato de Jacob ser bonito demais que acaba comigo, era também o fato de eu gostar de todos os detalhes bestas dele, como seu sorriso e seus olhos, e o modo como ele andava, e como eu gostava quando ele segurava minha mão. Ah, se eu soubesse que ia ficar pensando assim... Ia ter dado uma colher de chá para todas as minhas amigas que já me alugaram para falar que estavam apaixonadas. - Oi - ele disse, depois de cumprimentar os outros com um aceno e ter parado bem na minha frente, de modo que eu podia vê-lo, e também perceber os outros lançando olhares até nós. Sorri.
- Oi - respondi de volta, e ele sorriu. Ele colocou uma mão na minha cintura, e eu senti meu corpo todo estremecer. Sua mão deslizou até minhas costas e ele me colocou ao seu lado. Então ele girou para trás e ficamos nós dois, abraçados, e de frente para todos os outros.
- A gente se encontra no cinema, então? - ele perguntou, e os meninos assentiram. Eles não pareciam surpresos em ver Jake me abraçando. Pude ver Kim e Angie nos observando com a boca levemente aberta e as sobrancelhas erguidas. Eu não podia tirar vantagem disso porque eu acho que estava do mesmo jeito. Os únicos que não pareciam mesmo surpresos eram os meninos. O que é que Jacob estava querendo, afinal de contas? Será que a falta de árvores e excesso de cimento fazia efeito no cérebro dele?
Ele me guiou até o cinema. Lá, a fila era pequena. Compramos nossos ingressos e então andamos até onde um sofá vermelho ficava. Ele sentou, mas eu fiquei em pé. Cruzei os braços e o encarei. Ele franziu a testa.
- O que foi? - eu rolei os olhos.
- O que você tem hoje? - perguntei, de uma vez. Ele pareceu confuso.
- Como assim?
- Legal. - resmunguei, lutando contra minha vontade de não brigar com ele. Percebi que ele estava prestes a começar a falar, e então disse de uma vez: - Jacob, eu não sei como as coisas funcionam pra você, mas não se faz o que você fez... Simplesmente não... - respirei fundo e fechei os olhos. Quando eu os abri, Jacob estava de pé e perto demais de mim. Ele me encarou nos olhos, e colocou uma mão de cada lado meu. Eu mordi o lábio inferior e o observei enquanto sua expressão ia de confusa, para séria, e então ele fechava seus olhos e inclinava a cabeça... Eu conseguia sentir sua respiração quente sobre meu rosto, minhas pernas vacilando, suas mãos me segurando, seu perfume me deixando tonta, o imprinting agindo mais forte...
- Ah, eles estão lá!
- Vamos logo, a sessão vai começar em dez minutos...
- Quem vai comprar pipoca?
- Eu quero chocolate!
Nem dava para acreditar. Senti a respiração frustrada de Jacob, e quando ele se afastou li seus lábios ("Merda!"). Ele lançou um olhar irritado ao nosso grupo, que vinha em nossa direção. Paul e Quil estavam com outras garotas que eu não sabia o nome, só conhecia o rosto por vê-las de vez em quando no colégio.
- E aí, o que vocês vão querer? - Jared chegou perguntando, de mãos dadas com Kim, que tentava remexer no conteúdo de sua bolsa com a mão livre. Eu dei de ombros.
- Só refrigerante. - disse. Jacob interrompeu Jared, que já ia dizer algo como "Beleza".
- Deixa que eu compro algo pra gente, ok? - eu apenas assenti, e então me juntei a Angie e Embry. Os dois discutiam sobre um assunto qualquer que não me interessava, então eu girei nos calcanhares e fui para a sala em que devíamos ficar.

Não liguei de guardar lugar porque o cinema estava um tanto quanto vazio. Acho que ninguém queria ver o filme de terror que os meninos tinham escolhido. Ri com a idéia de todos eles, reunidos, tendo a brilhante idéia de ir ao cinema ver um filme de terror para as garotas pularem nos colos deles.
Suspirei, cruzei as pernas e apoiei minha bolsa sobre elas, abrindo-a para pegar meu celular. Foi quando eu estava pronta para abrir um joguinho qualquer para passar o tempo que eu senti uma mão no meu ombro. Olhei para trás.
- ! Você por aqui! - tudo que eu precisava agora: encontrar Alex. Ótimo. Abri um sorriso pequeno.
- Oi, Alex! Tudo bom? - ele tinha uma garota ao seu lado, ela era loira, magra e alta. Com toda certeza ele tinha arrastado ela de Forks, nunca tinha visto nem sombra dela em La Push.
- Essa é Hilary. - ele apontou para loira, e eu acenei. - Veio sozinha? - ele perguntou, e eu apenas neguei com a cabeça.
- Não, vim com os meninos. - respondi, e ele assentiu, fazendo um movimento rápido.
- Claro. - ele disse, claramente irônico. Eu não respondi, e graças a Deus não precisamos esticar a conversa, porque logo vi Jacob subindo as escadas iluminadas da sala. Ele olhou para mim, então para Alex, e se sentou ao meu lado, colocando um copo de Coca-cola do meu lado, outro do seu lado e me oferecendo pipoca do pote gigante que ele comprara.
- Valeu. - eu disse, rindo, quando Alex se afastou com a loira e se sentou algumas fileiras atrás de nós. Jacob ergueu uma sobrancelha, e abriu um meio sorriso. - Como você é implicante! - Jacob riu alto, e eu me peguei sorrindo ao vê-lo tão à vontade.
Podia parecer besteira, mas toda a situação era tão incrível em seus mínimos detalhes... Cara, eu tinha ficado tão besta.
O filme se passou comigo gritando de medo, Jacob tirando com a minha cara e me jogando pipoca, Kim e a garota de Paul falando pelos cotovelo, Angie se dividindo entre devorar seu chocolate e agarrar Embry, Jared comentando o filme com Paul e Quil conversando com a garota que estava com ele.
Jacob não tentou me beijar em nenhum momento durante todo o filme. Ao som dos gritos das adolescentes correndo de um maluco qualquer com uma faca na mão, ele passou o braço ao redor dos meus ombros, sorriu para mim, me encarou por tempo demais. Eu ia ficar completamente doida. O filme acabou com muito sangue, todo o elenco jovem do filme morto, a não ser pela adolescente que tinha um neurônio a mais que todo mundo - e aí incluímos o assassino - que conseguiu fugir.
Eu imaginava que nada ia ficar complicado naquela noite. Quer dizer, já eram dez da noite e nós tínhamos acabado de ver um filme. Como eu queria não ter concordado em fazer um lanche depois.

Havia um McDonald's bem do lado do cinema. Fomos eu, Jacob, Jared e Kim. Embry ainda estava muito ocupado agarrando Angie, e Paul e Quil mais ocupados ainda na tentativa de conseguirem agarrar suas respectivas garotas. Eu tnha acabado de chegar à mesa com meu Big Mac, e me sentei do lado de Jacob. Na nossa frente, Jared e Kim pareciam apaixonados demais. Engraçado como o imprinting agia. Você simplesmente conseguia ver que eles deviam estar juntos, que nenhuma outra opção estava em aberto. Olhei para Jacob em seguida. Será que nós parecíamos assim? Será que isso sequer era um imprinting? Afinal de contas, o que era "isso"? Ainda estava tudo tão confuso, misturado...
- Hey, que tal amanhã...? - essa foi a última frase que Jacob dirigiu a mim antes de eu, ele e Jared sentirmos algo que fez nossos corpos congelarem e um frio percorrer nossas espinhas. Foi o cheiro. Um cheiro horrível, tão doce que chegava a queimar meu nariz. E esse cheiro só podia ser de um vampiro. Na mesma hora, Jared ficou de pé e puxou Kim. Ela tivera o imprinting, então sabia de tudo sobre nós, e sobre os vampiros. Não precisou que nenhum de nós dissesse algo para entender o que estava acontecendo.
- Jared, leve ela e para casa...
- Não! - eu protestei, logo. Jacob me encarou impaciente, e eu não liguei. - Você não vai atrás de ninguém sozinho, eu posso...
- Pode por favor fazer o que eu peço? , não... - andávamos a passos apressados para sair da lanchonete, e mais rápido ainda para chegarmos ao carro de Paul. Não foi surpresa pra ninguém quando ele já estava chegando lá, seguido de Embry e Quil. Ele também sentira o cheiro.
- , você vai com o Jared. - Embry apontou para mim, assim que eu encostei no carro. Rolei os olhos e bufei.
- Vocês são ridículos! - reclamei, já que era tudo que eu podia fazer. Não dava para brigar com Jacob, Embry, Paul, Jared e Quil. Todos eles me olhavam como que dizendo "Não adianta insistir". Ótimo, eu não ia insistir.
Entrei no carro e bati a porta, passando a mão pelo rosto. Quando olhei para fora, vi Jacob dizer algo apressado para os outros, andar quase correndo, e parar ao lado de uma moto. Jared entrou no carro, depois de se certificar de que Kim estava segura no banco do carona. Ele me lançou um olhar rápido e compreensivo através do espelho retrovisor. Eu fingi que não tinha visto.
Estávamos na estrada havia quinze minutos. Eu estava ficando nervosa, porque o cheiro estava ficando mais forte. Não fazia sentido, porque se ele estava forte o suficiente para que chegasse até a gente na lanchonete, não devia ficar ainda mais forte quando já estávamos na estrada... Foi quando eu ouvi. Craque! Como no meu sonho. Arregalei os olhos e olhei para fora da janela.
Lá estava! A tal Victoria, com os cabelos cor de fogo!
- Jared! - berrei, e ele olhou rapidamente para onde eu olhava. Ele também viu, porque logo acelerou o carro e procurou mais alguém atrás dele. Em segundos, o motor da moto de Jake preencheu o silêncio e ele passou por nós. Os outros vinham em um carro que deveria ser de alguma das garotas, e todos estacionaram perto de uma árvore qualquer.
Não demorou mais do que uns dez segundos para um bando de lobos sair de lá, gigantes e medonhos. Então Jared acelerou ainda mais e fizemos uma curva, deixando a briga para trás. Eu quase pulei do banco do carro, levando as mãos a boca.
- Jared, a gente tem que...
- Não, a gente não vai voltar. - ele lançou um olhar rápido demais para Kim. Então eu lembrei que ela estava lá, e parecia aterrorizada. Oh, certo. Eu não devia parecer assim tão... Bom, eu também estava aterrorizada.
Não sei como Jared conseguiu chegar em La Push tão rápido. Só sei que ele me largou em casa, e correu para deixar Kim na casa dela. Eu não consegui entrar em casa. Fiquei na varanda, sentada no chão, olhando para o nada e atenta para o menor sinal possível de que eles estavam voltando.

Depois de uma hora sentada, com minha coluna doendo, eu estava quase me transformando e indo atrás deles. Mas não precisei, porque logo vi algumas figuras andando na minha direção, elas logo se mostraram ser: Jacob, Paul, Embry, Quil, Jared e Sam. Eu respirei aliviada quando os reconheci. Não sei o que deu em mim, só sei que eu literalmente pulei em Jacob quando o vi sorrir para mim. Ele pareceu assustado por um segundo, então me abraçou de volta e soltou uma risada pelo nariz.
- E então? - perguntei, quando estava com meus pés firmes no chão novamente. Jacob só se afastou o suficiente de mim para que eu pudesse ver os outros. Sam nos encarou por alguns instantes, então respondeu:
- Ela conseguiu fugir. Mas depois preciso conversar com você. - eu apenas assenti, imaginando que ele já tivesse percebido que eu sabia de alguma coisa. Era só o meu sonho, mas o fato de que ele fora tão anormalmente real hoje me assustava.
- Preciso dormir. - Embry se pronunciou, e os outros concordaram com ele fazendo murmúrios e com acenos da cabeça. Jacob não se mexeu. Eu procurei seus olhos, e ele abriu um meio sorriso para mim.
Eu procurei sua mão, entrelaçando-a com a minha, e então o guiei até a varanda da minha casa. Me sentei nos degraus, e ele também. - Desculpe por hoje. - eu respondi. - Eu acho que...
- Se alterou um pouco. - ele completou, rindo. Eu rolei os olhos, divertida.
- É. - concordei. - Um pouco.
- Um pouco. - ele ironizou, e nós dois rimos. Então houve aquele momento de silêncio. Em que eu só o observei e ele fez o mesmo. O engraçado era que com Jacob momentos assim nunca eram esquisitos demais. Eram só... Bons momentos. - Eu acho que já passou da sua hora de dormir. - ele resolveu falar, e eu rolei os olhos.
- Não tô com sono.
- Sabe, eu não perguntei se você estava com sono, só estou afirmando que...
- Jake, você não manda em mim, não... - mas não adiantou de nada. Em segundos ele, como sempre, agiu rápido demais e me pegou no colo. Eu me segurei em seu pescoço, soltando um grito pequeno de susto, e antes que eu entendesse o que estava acontecendo, ele tinha girado a maçaneta da porta da minha casa (quando seus pais vêem verde, eles automaticamente pensam: "Oh, veja só, o máximo que vai entrar aqui em casa vai ser um esquilo!" e deixam a porta destrancada) e me carregava para meu quarto. Ele me largou na cama, aos risos, e então eu notei que ele só usava uma camiseta branca e jeans.
Ele tinha um sorriso idiota no rosto, e eu rolei os olhos, divertida, quando ele andou até a ponta da minha cama e se inclinou sobre meus pés. Ele tirou meus sapatos e os colocou no pé da cama. Então foi novamente para a outra ponta da cama. Eu já tinha colocada um travesseiro atrás da minha cabeça, e senti meu rosto esquentar quando Taylor sentou-se ao meu lado.
Ele certificou-se de que eu estava deitada, e então se inclinou em minha direção e colocou cada braço de um lado da minha cabeça. Sorri para ele, ele sorriu de volta. Antes que eu pudesse pensar em beijá-lo, ele já tinha colado seus lábios nos meus. Eu senti meu estômago dar vários loops, ao mesmo tempo em que fogos de artíficio estouravam descontrolados lá, e que o frio que normalmente percorria minha espinha, passava a percorrer o corpo todo.
No momento em que ele me beijou, as minhas dúvidas sobre ter tido um imprinting ou não haviam ido embora. Só podia ser um imprinting. O beijo dele era... Era mais do que qualquer outra coisa que eu já sentira, parecia como algo pelo qual eu esperara minha vida toda. - Boa noite, . - ele disse, entre um beijo e outro, com a voz abafada e baixa. E eu respirei fundo, levantando da cama e colocando minhas mãos em seu rosto. Ele passou seus braços por minha cintura, me puxando para mais perto dele, e o toque dele era incrível. Eu nunca tinha me sentindo tão frágil e segura ao mesmo tempo como me sentia agora.
Ele intensificou o beijo mais uma vez, e com um último suspiro alto nós nos afastamos. Eu sorri, e ele também. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu não sabia se ele também sentia o imprinting. Mas agora isso não fazia diferença, porque quando ele se ajeitou na cama para que eu pudesse deitar ao seu lado e apoiar minha cabeça em seu ombro, eu soube que tinha algo a mais entre a gente. Talvez maior do que a gente pudesse entender.


Capítulo 7 -
ERA UMA VEZ...

(Capa.)

- Você vai vir almoçar? - eu dei de ombros.
- Não sei, mãe. Depende de quanto tempo Sam vai me fazer ficar lá. - minha mãe assentiu com uma risada. Eu não sabia o que ela achava que era ter que ter uma conversa com Sam. Ela devia achar que era algo divertido. Ok, eu adorava Sam. Mas eu estava morrendo de medo de atravessar as ruas que eu devia atravessar e conversar o que quer que Sam quisesse conversar em sua casa.
Ele muito provavelmente já sabia que eu tivera um sonho que meio que virara realidade, e ia brigar comigo por não ter contado pra ele antes.

Acenei para minha mãe e para o meu pai, que estavam empolgados com luvas e terras nãos mãos, plantando flores de todos os tipos no nosso jardim, e liguei a música no celular, colocando os fones de ouvido quando comecei a caminhar. Da minha casa para a de Sam era só uns quinze, talvez vinte minutos andando. E, claro, tinha virado um tipo de virtude do meu pai não me dar carona para lugar algum em La Push. Ele dizia que eu devia andar porque era tudo muito próximo e porque, com minha nova condição, eu tinha que conhecer todos os cantos de La Push. Odiava saber que ele tinha razão.
Jake tinha me dito para não me preocupar, que Sam não ia ser "o maluco que ele costuma ser com a gente", porque eu era nova e porque era uma garota. Reclamei, dizendo que eles tinham que parar com o excesso de proteção só porque eu era garota, e Jake tinha apenas rido. Tínhamos ficado acordados praticamente toda a madrugada, conversando baixinho para que meus pais não acordassem. Ele ficara o tempo todo abraçado comigo, e eu com minha cabeça em seu peito, sentindo sua respiração ir e vir. Nunca tinha me sentido tão confortável com alguém que eu conhecia há tão pouco tempo.
Ele disse que passaria na minha casa à noite, e eu estaria nervosa com isso se não fosse Sam.

Foi entre o final de uma música e o início de outra que eu parei em frente à porta de entrada da casa de Sam e Emily. Respirei fundo e então bati na porta. Graças a Deus, foi Emily quem veio me receber.
- Oi, ! - ela sorriu para mim, só o lado do rosto que ela conseguia mexer, e eu sorri de volta.
- Por que será que eu sempre encontro com você quando está nervosa? - ela perguntou, divertida, e eu acabei rindo também. Devia estar claramente tensa, ou Emily era tão perceptiva quando Embry era. Ela me deu espaço para passar, abrindo o braço e indicando a mesa de jantar que ficava na cozinha. Eu tirei o celular do bolso e desliguei a música, sentando à mesa redonda e cruzando as pernas e apoiando os braços sobre elas. Emily colocou um prato com muffins de chocolate na minha frente.
- Sam não vai te matar, querida. Coma alguma coisa. - eu soltei uma risada sarcástica.
- Vou tentar acreditar em você, Em. - e, mesmo que eu normalmente não conseguisse comer quando estava nervosa, estiquei meu braço e peguei um muffin. Agora que eu estava mais acostumada com as mudanças que tinham acontecido em mim, eu compreendia que eu simplesmente tinha mais fome, comia mais, e o cheiro da comida era muito mais forte, o que me fazia querer comer ainda mais. Em conclusão, eu comia o tempo todo. O lado bom era que eu não tinha engordado, e pelo visto nem ia.
Eu tinha relaxado um pouco, e estava pronta para começar um assunto qualquer com Emily, quando o silêncio da casa foi quebrado pelos passos de mais uma pessoa. Eu logo fiquei nervosa de novo. Sam apareceu na cozinha com o rosto um tanto quanto amassado, mas ele já estava vestido como se fosse sair a qualquer minuto. Seus olhos abriram um pouco mais quando ele me viu ali.
- Hey. - o cumprimentei com um aceno e um meio sorriso, abaixando o muffin. Ele acenou de volta e nós dois rimos. Emily se aproximou dele para cumprimentá-lo e foi aí que eu voltei a me concentrar no meu muffin. Eu já tinha aprendido que Sam e Emily eram um casal daqueles que você fica com vergonha de olhar, porque parece que está atrapalhando algo.

Emily nos deixou sozinhos na cozinha. Ela saiu com um sorriso no rosto, enquanto eu devia estar com um cara horrível de medo, e Sam estava simplesmente com sono. Eu o observava tentando pescar qualquer indicação de se ele brigaria comigo, ou se me faria um monte de perguntas... Mas ele comia seu muffin numa tranquilidade irritante.
- Como é que você consegue bloquear um Imprinting? - foi a última pergunta que eu esperava. Meus ombros caíram e minhas mãos pousaram sobre minhas pernas. Franzi a testa.
- Hã? - Sam rolou os olhos.
- , eu percebo as coisas. Eu sou o alfa, eu sei quando vocês estão me escondendo as coisas. E normalmente sei que coisas estão escondendo. - opa, lá vinha a bronca. A voz de Sam já era naturalmente grave pra você achar que qualquer tom um pouco mais alto que o normal era um tom de voz irritado. Quando ele realmente aumentava o tom de voz, aí dava medo.
- Eu não tô bloqueando Imprinting nenhum. - resmunguei. Sam assentiu.
- Claro que não está. - ele disse, irônico. - Mas tudo bem, depois nós voltamos nesse assunto. Ainda vai demorar muito tempo até você admitir isso e me responder de verdade. - eu abri a boca para protestar, mas Sam ergueu a mão aberta, a palma virada para mim, me fazendo parar. - Eu te chamei aqui porque precisamos discutir algo mais... Pessoal. - algo na voz menos irritada dele me fez ficar mais curiosa do que amedrontada. Ele comeu o último pedaço de seu muffin.
- ...Pessoal? - perguntei. Ele assentiu.
- Descobri algumas coisas que podem explicar muito sobre você. Muito mesmo. - ele então ficou de pé e andou até a sala de estar, que eu podia ver um pouco da cozinha. Em segundos, ele voltou de lá com uma pasta marrom e gasta. Ele a abriu, e papéis de aparência antiga se espalharam sobre a mesa da cozinha. Ele empurrou o prato de muffins para longe, e começou a organizar os papéis numa ordem que ainda não fazia sentido na minha cabeça. Esperei que ele terminasse.
- Eu estava tentando compreender você desde o dia em que se transformou, mas as informações simplesmente não batiam. - ele começou a explicar. Eu olhava dele para os papéis com escritas e desenhos esquisitos. - Conversei com seu pai, com Billy, com tanta gente... Mas nenhum deles conseguiu explicar tudo que acontece com você. Foi quando eu esqueci de um detalhe que se provou muito importante. Eu gesticulei, mexendo minhas mãos num sinal de que ele podia continuar falando.
- Sua mãe. Ela não é daqui. Ela é dinamarquesa. A principal diferença entre você e nós, é que nós somos nativos. Você não é, tem parte do seu pai, e parte dinamarquesa da sua mãe. Então eu pesquisei. - ele apontou para os papéis. - E acontece que você é uma criatura muito esquisita. - ele sorriu. Sorriu. Eu ergui as sobrancelhas, completamente confusa.

Eu nem conseguia acreditar. Quer dizer, aquela história toda de lobos tinham entrado na minha cabeça, só que eu não imaginava possível existir ainda mais lendas malucas que eram verdade. Eu sei que, no caso de você descobrir que uma lenda é verdadeira, você teoricamente assumiria que todas as outras são. Mas, se você quer mesmo saber, você meio que torce pra que elas não sejam, porque a idéia deixa o mundo que você conhece totalmente de cabeça pra baixo.
Pois é, eu já estava totalmente de cabeça pra baixo.
- Vamos voltar ao século onze. - Sam tinha começado a explicar, indicando os papéis. Eu não me contive e perguntei:
- Você realmente parece uma criança quando descobre alguma coisa? - porque eu nunca tinha visto alguém tão animado em me explicar alguma coisa. Sam apenas rolou os olhos, e então apontou para os papéis como quem diz "Concentre-se". Eu voltei a olhar para os papéis.
- Então, século onze. Havia uma rainha, o nome dela era Blathnat. Ela era só mais uma dessas personagens sem importância, que só casou com o rei para que ele pudesse ter filhos para dar continuidade ao governo da família. - ele me empurrou o primeiro dos papéis que ele organizara, tinha uma figura de uma mulher bonita, mas seu rosto era carrancudo, e ela não sorria. Tinha as sobrancelhas juntas e algo nela dava a impressão de que tudo ao seu redor parecia incomodá-la. Eu a observei por mais alguns instantes, percebendo quão incômodo aquilo me parecia, e coloquei logo o papel de volta na mesa. Sam esperou para continuar.
- Mas, estamos interessados na filha que os dois tiveram. Blathnat nunca conseguiu dar um filho ao rei, Hans. Ela sequer conseguiu engravidar uma segunda vez. Eles tiveram apenas uma filha, o nome dela era Dagmar. - ele me passou o outro papel, e esse tinha uma figura de uma garota que parecia ter a minha idade, só que usando aqueles vestidos enormes da época. Ela era dramaticamente diferente da mãe: ela sorria na imagem, e parecia totalmente fora de onde devia estar. Como se não pertencesse à época.
"Dagmar tinha dezessete anos quando coisas estranhas aconteceram com ela. E é aqui que entramos na lenda que é contada. Ela conhecia um rapaz, que não era de lá. Ninguém nunca soube de onde ele viera, como viera... Só se sabia que ele era claramente de fora, pelo seu tom de pele, que era diferente, mais escuro." Sam apontou para ele, e então para mim, nos comparando. "Ele também não precisava vestir roupas e mais roupas quando o frio chegava, ele estava sempre quente. Acho que você já percebeu onde eu quero chegar."
- Ele era um lobo. - eu completei. Sam assentiu. Pude ver uma sombra de um sorriso em seu rosto, por ter descoberto tudo sozinho. Eu me estiquei e peguei outro dos papéis que estavam na mesa, dessa vez olhando para um rapaz que parecia ter a mesma idade de Dagmar, e que era perturbadoramente parecido com Sam, Embry, Quil e mais todos os meninos. Ele podia ter mais de cem anos e ainda estar preso naquele corpo. Peraí. Olhei para Sam, confusa. - Se ele é um lobo... E ele se transforma, ele ainda tem essa condição, então... Então os vampiros estavam por perto. - sem esperar resposta, peguei o papel que ficava ao lado da imagem do garoto-lobo. Era exatamente o oposto, uma pessoa com a pele branca demais, os olhos vermelhos... Era como uma estátua. Mordi o lábio inferior.
- Dagmar mantinha um relacionamento escondido com o lobo. - Sam pegou a imagem de Dagmar e do garoto-lobo e as colocou juntas. - Mas, ela estava prometida ao vampiro. - ele colocou a imagem do vampiro entre os dois. - Porque, na época, eles imaginavam que ele, por sua aparência, elegância... Fosse uma espécie de... Pessoa poderosa. É como se o Brad Pitt fosse o presidente. - eu soltei uma pequena risada com a comparação dele, mas me concentrei nas imagens dos três à minha frente.
- O que aconteceu? - eu perguntei, curiosa. Eu me debrucei sobre a mesa, ficando mais perto das imagens dos três. Sam se debruçou também, ao meu lado. Ele esticou o braço direito e empurrou a imagem do lobo para o lado. Uniu a do vampiro à de Dagmar. Eu soltei um "Oh, não!" de frustração, sem nem ter percebido.
- Ela casou com o vampiro. E, bom, ele era velho o suficiente para saber controlar sua vontade. Então ele, todas as noites, chupava um pouco do sangue de Dagmar. E, também, a fazia beber de seu sangue. Alguma espécie de maluquice que não dá pra entender desses vampiros malucos. - ele rolou os olhos e gesticulou irritado. - Só que, esse vampiro, fazia algo a mais. Ele tinha poderes especiais. - Ele... - Sam pigarreou. - Ele controlava pensamentos. - eu arregalei os olhos. Opa.
- Você quer dizer que... Mas... - Sam ergueu a mão, com a palma virada para mim, indicando que ainda não tinha acabado de falar.
- Depois de vinte anos casada com esse vampiro, Dagmar conseguiu fugir. Ela havia praticamente criado raízes dentro do castelo em que vivia, porque não tinha vontade de sair de lá. Ela não tinha vontade de viver. Mas as criadas conversavam com ela, eram as únicas pessoas com quem ela matinha contato. E elas também sabiam que o marido de Dagmar não era alguém comum. Claro, elas não tinham noção do que ele era, mas sabiam de mais. E, bom, naquela época, se quer saber, as criadas tinham contatos. - Sam mesmo soltou uma pequena risada. Ele fez aspas no ar. - Só precisou de algumas pessoas depois que Dagmar deixou o vampiro por duas semanas sem seu sangue. Ele tinha se tornado tão viciado em beber do sangue dela que, quando não o teve mais, ele ficou fraco. E, depois do vampiro morto, Dagmar fugiu.
- Ela encontrou o lobo?
- Encontrou. Mas ele tinha ido para longe. Muito longe. Depois de ter visto Dagmar casar, ele achara que nunca mais a teria. Então, depois de longe do vampiro, o lobo deixou de ser lobo. Ele era uma pessoa comum, que tinha envelhecido, mas Dagmar também tinha e isso não importou pra ela. Eles ficaram juntos, mas... Infelizmente, ele ficou doente. Claro que naquela época, se você ficava doente, era certo de morrer. Não havia medicamentos, e muito menos para um rapaz que não era da realeza. Então Dagmar só esteve com ele enquanto ele morria. E depois... Depois nada mais se sabe sobre ela.
- Uau. - foi tudo que saiu da minha boca, depois de um longo suspirou. Eu estava mesmo impressionada.
Sam não tinha se dado ao trabalho de unir a fotos dos dois, então eu estiquei meu braço e coloquei um ao lado do outro, empurrando a imagem do vampiro para longe. Mas, enquanto observava os dois unidos, uma simples pergunta óbvia surgiu na minha cabeça. Olhei para Sam, só precisando virar a cabeça para a esquerda. - E o que isso tem a ver comigo? - ele abriu um sorriso de lado, e então esticou o braço, pegando as imagens do rei, que eu não tinha me dado ao trabalho de olhar, da rainha e da princesa. Ele as colocou na minha frente.
- Veja o que as três têm em comum. - então eu percebi. Embaixo de cada imagem, ficavam os nomes e sobrenomes de cada um deles. Em meios a muitos sobrenomes, todos eles tinham o último sobrenome em comum: Vibbard.
Minha mãe se chamada Sadie Vibbard. Eu era Vibbard Quilt.
- São seus parentes distantes. - ele disse. Eu apenas assenti, completamente assustada.
Levei a mão à boca, cobrindo-a, sem deixar meus olhos desviarem das imagens à minha frente.
- Porque eu? - perguntei. - Eles são tão antigos. Porque isso só aconteceu comigo?
- Acho que foi perdendo força conforme as gerações foram passando. Mas então sua mãe casou com seu pai... E tudo voltou. - eu assenti outra vez. - Também acho que isso explica o seu sonho. - olhei para ele, assustada por ele saber que eu sonhara. Ele apenas sorriu. - Victoria apareceu no seu sonho, talvez seja a mínima ligação que você tem com vampiros, daquela época.
- Você não contou isso para os meninos, contou? - perguntei, indicando a bagunça na mesa com a mão. Sam negou com a cabeça.
- Você merecia saber de tudo antes. E, bom, se preferir contar para Jacob você mesma... - ele deixou a frase no ar, como uma sugestão. Eu dei de ombros.
- Acho que não faz dif... - Sam bufou. Eu arregalei os olhos, assustada, e tirei os braços da mesa, ficando de pé novamente. Ele parecia um tanto quanto irritado.
- , você teve um imprinting em Jacob. E está escondendo isso dele, bloqueando-o com essas coisas que você pode fazer... Não acha isso injusto? Que você possa se apaixonar e que as coisas façam sentido pra você quando ele está por perto, porque eu sei que fazem, e privá-lo disso?
Ah, merda.
- Ele gosta da Bella, eu não vou prendê-lo a mim por causa de uma droga de imprinting. - minha voz saiu mais irritada e alta do que eu planejara, e dei um passo para trás logo em seguida. A expressão irritada de Sam mudou para uma cansada. Ele suspirou. Ele argumentou, cansado:
- , ele gostava da Bella. Ou talvez ainda goste um pouco. Mas, de qualquer forma, ele costumava ser apaixonado por ela. Ele não dava a mínima para outras garotas. E, desde que você apareceu, ele tem sido mais como o Jacob que sempre foi, antes de Bella largá-lo pelo vampiro. Ele está gostando de você mesmo sem ter tido nenhum imprinting, acho que isso deve significar alguma coisa.

Beleza, então eu tinha mesmo tido um imprinting em Jacob. A ficha caía devagar, enquanto meus passos ficavam mais pesados, conforme eu tinha que passar por quantidades maiores de folhas secadas caídas ao chão, já que eu tinha decidido andar um pouco pela floresta que eu já conhecia melhor depois de tanto correr por ali com Sam me assistindo.
O beijo de ontem fora... Surreal. A melhor sensação que eu já sentira na vida, mas ainda assim... Eu ainda não acreditava que tivera um imprinting em Jacob. Porque era Jacob. Mas o excesso de convicção com que Sam dissera, me fez acreditar no segundo seguinte.
Eu também pensara bastante em como estava bloqueando o imprinting. E nesse ponto foi bem fácil descobrir como é que eu estava bloqueando-o: bastava pensar na possibilidade de contar isso a Jacob que imediatamente eu sentia minha mente meio que dar um passo para trás, na defensiva. Eu não conseguia deixar esse pensamento ir para frente.
Eu sabia que Sam tinha razão, que eu não tinha o direito de guardar isso para mim. Afinal, não dizia só ao meu respeito. Mas eu tinha medo de que Jake ficasse irritado por eu ter atrapalhado qualquer coisa que ele pudesse tentar com Bella. E esse era outro pensamento que talvez não devesse estar passando pela minha cabeça. "Ele está gostando de você mesmo sem ter tido nenhum imprinting, acho que isso deve significar alguma coisa." a última frase de Sam antes de ele me deixar ir para casa ia ficar ecoando em minha cabeça por um bom tempo.
Eu estivera pensando esse tempo todo que o efeito do imprinting finalmente se fizera presente em Jacob. Mas, se eu estava bloqueando-o o tempo todo, então ele realmente só podia ter me beijado e tudo mais por vontade própria. Deixei um sorriso idiota surgir no meu rosto quando pensei nisso. Eu gostava mesmo de Jake, ele era um cara ótimo, divertido, bonito e tinha a mesma condição que eu, o que tornava tudo mais fácil.
Então eu parei de andar, e me apoiei no tronco de uma das árvores, cruzando os braços. Era isso. Eu tinha acabado de excluir todos os motivos para não contar a Jacob ou para continuar bloqueando o imprinting... Eu devia contar a ele tudo, e então tudo ficaria bem.
Me ajeitei, arrumando minha bermuda e tirando os galhos e folhas que haviam grudado nela e na blusa. Comecei a andar mais rápido e achei o atalho que daria na casa de Jacob.


Capítulo 8 -
UM ENCONTRO DE VERDADE.

(Capa.)

Eu não fui à casa de Jacob. Eu não tive coragem de andar até lá e contar tudo para ele. Ao invés disso, eu corri de volta para casa e me escondi em meu quarto. Sentei no chão e então respirei fundo. Eu organizei tudo que tinha acontecido em minha cabeça, deixando as coisas fazerem sentido aos poucos... Lobos, imprinting, princesas, vampiros... Não era muita coisa para um garota só? Francamente, eu nem era maior de idade ainda.
Eu tive vontade de ligar para algum dos meninos, mas não podia confiar que, caso eu contasse tudo para eles, eles não iam pensar nisso. Também não podia contar para Sam, porque ele mandaria eu ir até Jacob; também não podia contar para Emily, porque Sam ia acabar sabendo. Eu não podia contar para ninguém. Suspirei e me deitei no chão mesmo, deixando um braço sobre meus olhos.

Eram seis e meia da tarde quando eu acordei. Acordei com o barulho do meu celular e, com a testa franzida porque ninguém nunca me liga, eu tirei o aparelho do meu bolso e apertei o botão verde sem nem mesmo ver quem me ligava.
- Hm? - foi tudo que eu consegui murmurar, pelo sono. Mas, a voz do outro lado, me fez ficar sentada num pulo e arregalar meus olhos.
- ?
- Jacob! - pigarreei, tentando não parecer tão sonolenta. Jacob riu do outro lado da linha.
- Por que a surpresa? Será que eu sou mesmo tão impossível de usar o telefone? - eu rolei os olhos, divertida.
- Bom, você parece odiá-lo o suficiente para eu acreditar que não vai usá-lo. - ele riu uma segunda vez.
- Você está errada, então. Cá estou eu te ligando.
- E qual seria o brilhante motivo da sua ligação?
- Você me encontrando em frente a sua casa daqui a meia hora. - se eu não estivesse no chão, eu provavelmente teria caído nele. Tinha esquecido que Jacob iria passar na minha casa à noite. Merda.
- Meia hora? Preciso de uns quarenta minutos. - ele riu.
- Tudo bem, tudo bem... Quarenta minutos. Até daqui a pouco. - ele desligou o telefone e eu assisti o visor indicando "Chamada Encerrada" por algum tempo. Ótimo, agora eu ia precisar correr.
Eu acabei escolhendo jeans, uma camisa de manga comprida listrada em preto e branco e tênis all star vermelhos. Não era nada formal, e nem informal demais. Mas, quando eu estava me convencendo de que minha roupa estava boa, minha mãe apareceu em meu quarto, abrindo a porta ao mesmo tempo em que dizia que iria fazer alguma coisa com batata frita para o jantar. Ela parou de falar, me observou, e então ergueu as sobrancelhas.
- Vai sair? - eu mordi o lábio inferior. Não tinha pensado na possibilidade de ela não deixar.
- Vou. Com Jacob. - e aí ela abriu um sorriso enorme, e fui eu quem ergueu as sobrancelhas.
- Ah, querida! Isso é ótimo! - e então ela fechou a cara de novo. - Mas, espera aí, você não vai sair assim.
- Não? - eu olhei para o meu reflexo no espelho.
- Não. - minha mãe foi direto em meu armário, e começou a passar as roupas nos cabides. - Onde vocês vão? - ela perguntou, mas não num tom de quem quer saber para tomar conta, num de consulta para que tipo de roupa escolher. Eu dei de ombros.
- Não sei, ele só disse que vai passar aqui.
- Hm, e provavelmente te levar para outro lugar... Vejamos... - eu cruzei os braços e esperei ela puxar um vestido de mangas compridas, fiz que não com a cabeça.
- Eu... Hã... Eu não sinto muito frio, mãe.
- Oh, é verdade! - ela levou uma das mãos a boca e enfiou o vestido no armário de novo. Lá fora, ouvi meu pai rindo de alguma coisa na tv.
- E, mãe, será que pode não contar a ele? - apontei para o lado de fora. Minha mãe rolou os olhos entre olhar um vestido e uma calça jeans.
- Seu pai não vai... Ah, esse é perfeito! - eu não tinha muita escolha. Era um vestido curto, leve e de alças finas, florido no tom marrom. Calcei umas sandálias baixas com ele e fiz uma maquiagem rápida. Minha mãe me fez soltar o cabelo e o sorriso dela me fez rolar os olhos.
- Mãe, pára com isso.
- Você está tão bonita. Agora vá de uma vez, seus quarenta minutos já acabaram há cinco. - eu peguei minha bolsa, coloquei meu celular lá dentro e saí. Meu pai estava mesmo muito concentrado na tv, porque nem mesmo me olhou quando eu passei por ele e disse "Pai, tô saindo!", só murmurou "Aham, toma cuidado" e começou a rir da tv.

Quando eu fechei a porta de casa, me deparei com Jacob encostado na parede, ao lado da porta. Me assustei por um segundo, e então eu fiquei besta em como ele estava bonito: jeans escuras, uma camiseta preta com estampas brancas e tênis pretos. Ele sempre se vestia o mais simples possível, e acho que ele nem tinha noção de como funcionava bem para ele. Eu sorri.
- Desculpa o atraso. - disse, e ele deu de ombros, abrindo um sorriso também. Desencostou da parede e estendeu o braço, abrindo a palma da mão a minha frente. Eu aceitei, entrelaçando nossas mãos, e então começamos a andar. - Aonde estamos indo?
- Cara, como você pergunta! - ele brincou, e eu mostrei a língua.
- Imbecil. A culpa não é minha se você tem mania de sair me carregando pros lugares sem eu saber pra onde...
- Blá, blá, blá... Eu nunca decepciono. - eu soltei uma risada divertida do tom de voz falsamente irritado dele, e dei um soco em seu braço.
- Então deixa eu adivinhar, vamos no seu carro de novo? - ele franziu a testa.
- Não.
- Então o lugar é perto?
- Não.
- Você tem um tapete mágico, por um acaso?
- Não.
- Jacob! Me responde direito! - a essa altura, nós dois estávamos rindo e afastados da minha casa. Sem eu perceber, ele tinha me guiado para a floresta. A lua cheia estava brilhando lá no céu, então nosso caminho era iluminado por ela, já que os postes de iluminação foram deixados para trás. Jacob então parou de andar e ficou de frente para mim. Eu fingi estar séria, esperando uma resposta, e cruzei os braços.
- Você quer uma resposta? - ele perguntou, dando um passo em minha direção. Ele estava falando sério, e seu olhar no meu fez meu rosto esquentar e muito provavelmente minha cara ficar totalmente vermelha.
Jacob soltou uma risada divertida. Talvez ele estivesse mesmo se divertindo com minha falta de jeito. E antes que eu pudesse pensar no meu próximo passo, Jake acabou com a distância entre nós com um passo, passando uma mão por trás de meu pescoço e me levando gentilmente em sua direção. Ele me beijou e as sensações de todos os tipos estouraram dentro de mim de novo, e era tão bom. Eu retribuí o beijo, e abri mais a boca para deixá-lo passar. Apoiei um de meus braços em seu pescoço, e ele apertou o dele contra minha cintura.
- Isso não exatamente responde minha pergunta. - eu sussurrei, quando nossas bocas se separaram apenas o suficiente para que eu pudesse falar. Jacob sorriu.
- Acho que isso é bem melhor que responder sua pergunta. - eu rolei os olhos.
- Isso significa me distrair.
- Oh, então quer dizer que funciona?
- Mais do que deveria. - eu respondi, rindo. Cheguei a achar que Jacob se afastaria de mim, mas ele só sorriu e me apertou mais forte contra ele. Eu respirei fundo.
- Então, você quer pegar um cinema, comer uma pizza, ficar aqui ou ir até a praia?
- Eu tenho opções? Uau! - Jacob semicerrou os olhos. - Que tal a gente pegar uma pizza e ir pra praia?
- Pizza com praia?
- E qual é o problema?
- Vai, maluca. Vamos. - aos risos, nós nos separamos, ficando apenas de mãos dadas, e Jake me guiou até sairmos da floresta e entrarmos na "parte movimentada" de La Push. Sem entrar nos detalhes do que se entende por "parte movimentada" aqui, nós fomos direto para a pizzaria que tinha ali e pedimos uma pizza de calabresa para viagem.
Depois de vinte minutos esperando, conversando e rindo, Jacob e eu pegamos a pizza e mais um refrigerante, que eu muito custara a conseguir deixar ele me pagar metade.
O caminho para a praia era curto, e chegamos lá com mais alguns minutos. Eu me sentei numa pedra alta, e ele sentou-se ao meu lado. Colocamos a pizza nos nossos colos e o refrigerante apoiado na parte de trás da pedra. A praia estava vazia, e eu imaginava que por ser uma noite fria. Não era pra mim, nem para Jacob, mas para as pessoas normais, sim.
- Essa pizza é boa! - eu comentei, terminando meu primeiro pedaço, quando ele já estava no segundo.
- E você achando que ia ter que ir até Port Angeles. - ele disse, e eu fiz uma careta.
- Cale a boca. - ele riu. Eu enfiei meus pés na areia, brincando com ela, e ele assistia enquanto parecia pensar em alguma coisa. Eu decidi que era a minha vez de interrogá-lo. - E você, Jacob? O que me diz da sua vida? - ele ergueu uma sobrancelha, sem entender. Eu bufei. - Você já me levou pra praia e eu te contei sobre mim, não foi? Sua vez, agora.
- Não tem nada interessante, . Eu nasci aqui e cá estou desde então. - eu fiz minha melhor expressão ameaçadora. - O que foi? - ele perguntou, rindo. Eu me estiquei e lhe dei um soco no braço. Claro que não doeu. Ele rolou os olhos. - Ah, tudo bem. Eu tenho duas irmãs, Rachel e Rebecca, elas são gêmeas. Rebecca casou um surfista, foi morar no Havaí. - eu fiz cara de surpresa, e ele riu.
- Esperta ela. Havaí, surfistas...
- Ah, qual é, ! Você sabe que surfistas não fazem seu tipo. - eu neguei com a cabeça.
- Como é que você pode ter tanta certeza disso?
- Enfim... - ele disse, o tom de voz mais alto, e eu soltei uma risada divertida. - ...Rachel conseguiu uma bolsa de estudos, ela foi pra Washington fazer faculdade. Na verdade, as duas foram embora um pouco depois... Bom, depois da morte da minha mãe. Ela morreu num acidente de carro, e foi demais para as minhas irmãs. Meu pai, até hoje, fala o menos possível dela. - o sorriso sumiu do meu rosto, e eu percebi o tom de voz dele ficar mais baixo e mais triste. Me arrependi no mesmo instante de tê-lo obrigado a falar. Levei uma mão até seu ombro, e ele procurou meu olhar quando eu o toquei.
- Desculpe, eu não devia... - ele balançou a cabeça, não me deixando terminar.
- Você tem todo o direito. Aliás, eu quero dividir as coisas com você. Esse só não é um assunto muito feliz, mas pelo menos agora você sabe. - eu sorri.
- É, agora eu sei. - ele tirou minha mão de seu ombro, e a entrelaçou com a dele.
- Mas olha só, isso não é nada do que eu planejei pro nosso encontro. - sua voz ficou divertida de novo.
- E ainda assim, nem temos do que reclamar.
- Você realmente acha isso ou é só pra me agradar? - ele perguntou, rindo, e eu mandei o dedo do meio para ele. - É, pra me agradar que não é. - eu comecei a rir também, e comecei:
- Larga de ser idiota. Eu não ia ter vindo se não quisesse estar com você. - ele ficou quieto, e mordi o lábio inferior, desviando meu olhar do dele e olhando para frente, assistindo as ondas quebrarem calmas.
- Sabe, você é a primeira garota de quem eu gosto, e que gosta de mim de volta. Numa... Numa escala grande, sabe? Como algo grande. Antes de você, eu... - ele suspirou, procurando por palavras. Eu mantive meu olhar, mantive minha posição, com medo de que qualquer movimento errado fizesse com que ele parasse de falar. - ...Eu não via as coisas. Eu não sei como eu gosto tanto de você, com tão pouco tempo que a gente se conhece. Parece sempre mais, parece que você demorou demais pra chegar, ao mesmo tempo que parece que tudo com você é na hora certa, no momento certo, no lugar certo... - eu me virei para ele. Sentia as lágrimas se acumularem nos meus olhos, e as via embaçarem minha visão, mas tentei dizer, mesmo com a voz embargada:
- Jake, você não tem noção do quanto eu gosto de você. Eu gosto demais. É a melhor coisa do mundo ouvir isso de você. - ele sorriu, o sorriso lindo, grande e sincero que sempre me fazia sorrir junto. Ele fechou a caixa de pizza e a colocou com o refrigerante, me puxando para perto dele no instante seguinte.
- Acho que eu devo fazer isso do jeito certo. - ele disse, colocando uma mão na minha cintura e apertando-a, me levando lentamente em sua direção. Ele pigarreou, e eu abri um sorriso pequeno. - Vibbard Quilt, quer namorar comigo?
Eu tinha um sorriso muito idiota no rosto. Ele tinha dito palavras mágicas e lá estava eu, quase encantada. Quase. Eu não podia dizer "Sim" sem ele saber de tudo que precisava saber. Respirei fundo. Era agora. Meu sorriso desmanchou, e eu assisti o rosto dele perder a expressão animada, agora ele parecia preocupado.
- Jake, eu preciso... Eu tenho algumas coisas pra te contar, e então eu acho que vou ter que, no final, vou ter que perguntar se é você quem quer namorar comigo. - ele continuou preocupado. Eu respirei fundo e contei toda a história sobre Dagmar, o lobo, o vampiro, e que a princesa era uma parente muito distante minha. Quando terminei, esperei uma resposta dele à história. Ele parecia surpreso.
- Nossa, isso realmente explica muito sobre você. - eu assenti, passando a mão pelo cabelo e jogando-o para trás. E então ele sorriu. - Mas... Era só isso? , isso não é motivo algum para eu não querer namorar você. Eu quero namorar com você.
Ele me beijou e eu retribuí, deixando sua língua passar e colocando minhas mãos em sua nuca, vez ou outra passando meus dedos por seus cabelos, enquanto ele me apertava forte contra seu corpo. Eu sentia seu cheiro, ouvia sua respiração e seu coração acelerado. O silêncio ao redor fazia com que nós dois, ali, estivéssemos no último volume, numa pequena bolha só nossa.
O problema era que eu precisava interromper aquele beijo e deixar o imprinting chegar em Jacob. Eu tinha que tentar, e aí sim ter tudo claro entre nós dois. Eu estava mesmo de saco cheio de ter que lidar com o que ele não sabia e eu sim, mas será que essa a coisa certa a se fazer? Por mais que Sam tivesse dito que era injusto que eu bloqueasse o impriting, a idéia de que eu estava privando Jacob de algo que ele quisesse fazer era grande demais.
Eu quebrei o beijo e afastei Jacob, colocando minhas mãos em seu peito. Ele tinha um sorriso tranquilo, e eu soltei um longo suspiro. Uni minhas sobrancelhas, confusa, e então disse:
- Certo, tem mais uma coisa. - ele franziu a testa. Eu respirei fundo e me preparei para fazer a uma coisa mais difícil que eu já tivera que fazer.
Não era fácil, porque tudo agora parecia na mais perfeita ordem. Era como tentar melhorar algo e estar muito mais sujeita a estragar do que realmente melhorar. Quando as coisas são tão melhores assim, é de se duvidar. Jacob estava prestes a falar alguma coisa, então eu logo abri a boca e...
- Aaaaah! - nós dois arregalamos os olhos, e olhamos em direção aos gritos ao mesmo tempo. Estávamos tão concentrados que não notamos a presença de mais três pessoas na praia. Era uma mulher e um homem adultos, cada um segurando a mão da pequena criança entre eles: uma menininha que devia ter uns cinco anos tentando colocar os pés no mar, e que acabara de gritar quando a água os alcançara. Agora, ela ria alto e os pais riam com ela. Eu levei a mão ao peito, e respirei aliviada.
- Cara, que susto. - eu disse, e Jacob soltou uma risada abafada.
- , o que você ia dizer?
- Hã... Nada demais. Só que a pizza vai acabar esfriando! - de verdade, a resposta saiu antes que eu pudesse controlar as palavras na minha boca. Eu tenho certeza de que minha voz saiu esganiçada, mas ou Jacob não percebeu, ou apenas não quis dar atenção a isso.

Passamos a noite na praia, andando, conversando, rindo e nos beijando. Se não fosse o Sol nascendo e fazendo com que percebêssemos que já era manhã de domingo, não teríamos lembrado que deveríamos dormir. Jacob andou comigo até em casa.
- Durma bem. - ele disse, sorrindo. Eu sorri também, e assenti.
- Certo, vejo você mais tarde. - ele se aproximou de mim e me deu um último beijo. Um beijo tranquilo que, ao mesmo tempo, me fez ter exatamente os mesmo efeitos que qualquer outro beijo dele, e também um completamente novo que eu ainda não conhecia: o calor bom que percorreu meu corpo quando percebi que tínhamos entrado em um relacionamento de verdade.


Capítulo 9 -
PREVISÍVEL.

(Capa.)

Estacionei meu carro em frente a casa de Jacob e peguei minha bolsa antes de sair. Fechei o carro e apertei meu casaco contra meu corpo, sentindo minhas botas pisarem sobre a neve fofa que se acumulava no chão. Era janeiro, fazia frio, e bastante coisa tinha mudado desde que Jacob me pedira em namoro, há quase quatro meses atrás.
Sam continuava treinando comigo, e agora eu controlava totalmente minha transformação em loba, e também minhas ações quando loba; eu tinha ganhado um carro de Natal (segundo meus pais por ter lidado tão bem com tudo me acontecera) e agora eu tinha quase total controle das minhas habilidades com pensamentos. A única coisa que não tinha mudado era o fato de que Jacob ainda não sabia de nada sobre o imprinting. Sam me dava broncas sempre que podia, mas sempre tomando cuidado para que ninguém mais ouvisse, a idéia de que tinha que ser eu a contar tudo para Jacob era fixa na cabeça dele, e por isso eu agradecia.
- ! - a voz de Billy me acordou das minhas distrações quando eu comecei a caminhar em direção à casa. Eu sorri para ele, acenando enquanto apertava o passo para chegar logo. Estava frio demais até para meu corpo aquecido. Billy logo me deu passagem para que eu entrasse, e eu respirei aliviada quando o vento frio ficou do lado de fora. Billy riu, enquanto guiava sua cadeira de rodas para a sala. - Ainda não se acostumou com o frio, é?
Eu tirei meu cachecol e meu casaco, dobrando-os sobre minhas pernas, depois de me sentar no sofá. Balancei a cabeça.
- E nem acho que vou me acostumar. - disse, rindo.
- Esse é o problema dessa gente da Califórnia. - uma terceira voz que eu conhecia muito bem se fez presente, vindo do corredor que dava nos quartos. Ergui a cabeça para encontrar Jacob encostado na parede, de braços cruzados e sorrindo. Eu mostrei a língua para ele.
- Só não mando você passear porque seu pai está aqui. - ele soltou uma risada divertida, e então atravessou a sala e parou na minha frente, esticando-se para me beijar só por encostando nossos lábios. Eu levei uma mão até seus cabelos, e os baguncei distraidamente. Sorri quando ele se afastou só o suficiente para que eu pudesse ver seus olhos.
- Você não tem coragem de me mandar passear. - ele me deu um beijo na bochecha e então se afastou. Eu percebi que ele ainda não estava arrumado.
- Eu vou te mandar passear se você não andar logo, a gente vai acabar perdendo a hora! - ele bateu a porta do quarto e eu ri.
- É, você tem feito bem a ele. - por um tempo, eu esqueci que Billy ainda estava na sala. Sua voz, mesmo que baixa e calma, me assustou. Eu sorri ao entender o que ele dissera.
- Ele também faz bem a mim. - respondi. Billy suspirou e girou a cadeira de rodas, em direção à porta. Ele parou de frente para a janela, e eu me virei para observar a floresta e o céu como ele observava. Era fim de tarde, e o tom laranja fazia um contraste bonito com o excesso de branco da neve. - Ele está frustrado, no entanto. - eu logo entendi ao que Billy se referia. - Não só ele...
- Todos nós estamos. - eu concordei, percebendo as árvores balançarem com o vento. Victoria não parecia nem perto de ser alcançada, a cada ponto em que ela aparecia e conseguíamos cobrir, ela descobria outro.
- Tudo bem, vocês vão dar um jeito...
- Parem de fofoquinha, vocês dois. - Jacob voltou, vestindo jeans, camiseta, tênis e um casaco preto. Eu sorri quando ele se aproximou de mim e estendeu a mão, para que eu me apoiasse e levantasse. Vesti meu casaco e meu cachecol de novo, aceitei sua mão e fiquei de pé. Ele continuou com as mãos estendidas. Eu rolei os olhos.
- Você não vai dirigir, Jacob! - disse, e ele bufou. - É sério, eu gosto de dirigir e o carro é meu.
- Então vamos no meu...
- Nós vamos no meu e eu vou dirigir, ponto final. - coloquei minha mão em suas costas e comecei a empurrá-lo para fora de casa, com Billy rindo de nós dois.
- Ela te põe na linha, cara. - Billy brincou com Jacob, e depois de um "Ah, cala a boca, pai!", Billy fechou a porta e nós estávamos do lado de fora. Jacob parou de me deixar empurrá-lo, porque ele claramente estava deixando, eu não tinha muita força para empurrá-lo, quem diria com uma mão só. Eu soltei um murmúrio de reclamação.
- Jake! - resmunguei, e ele riu. Muito rapidamente, ele me girou e ficou de frente para mim, fechado seus braços ao redor da minha cintura e me apertando contra ele. Eu inspirei seu perfume e ergui a cabeça para poder olhá-lo, Jake era tão mais alto que eu. Ele se inclinou para me beijar, e eu deixei que ele o fizesse, mas não antes de enrolar as chaves do meu carro em minha mão e levá-la ao pescoço dele, não aguentando ficar sem rir quando ele colocou a mão no bolso do meu casaco e não encontrou as chaves. Me afastei dele.
- Você é tão previsível. - parecendo ofendido, ele começou a rir e nós andamos até o carro. Me ajeitei no banco do motorista e coloquei a chave na ignição, ligando o carro e entrando nas ruas de La Push.
Jacob e eu íamos à Port Angeles, ver um filme qualquer que ele queria assistir e aproveitar um dos poucos momentos que tínhamos sozinhos, já que na maior parte do tempo estávamos sempre com algum dos meninos, ou estudando, ou como lobos. Agora, eles me deixavam ficar mais tempo transformada e andando durante o dia em lugares mais inacessíveis da floresta. Ainda não deixavam que eu fizesse parte da vigia de noite, e isso ainda era um assunto que gerava discussões entre eles e eu.
- Seus cds são tão ruins... - Jacob comentou, entediado, enquanto passava as faixas do cd sem nem mesmo escutá-las direito. Eu rolei os olhos, rindo do meu namorado irritado por não estar dirigindo, e apertei o botão que trocava os cds pela rádio. Ele me lançou um olhar ameaçador. Eu sorri.
- Metade desses cds são seus.
- Você estragou meu gosto musical. - ele tentou continuar ganhando a discussão, e eu soltei uma risada sarcástica.
- Agora a culpa é minha? Você já ouvia música ruim antes.
- Antes do quê? De você me proibir de dirigir? - nós dois rimos dessa vez, e eu estendi minha mão direita em direção a ele, que a entrelaçou com a sua mão esquerda. Ele a girou e fez com que eu a abrisse, a palma virada para ele. Jake pareceu se distrair contornando as linhas da minha mão com seus dedos, e o observei por uma fração de segundo antes de deixá-lo quieto e prestar atenção na direção.

Jacob tinha escolhido um filme policial que tinha gente demais socando gente demais pro meu gosto. Eu fiquei com a pipoca no colo, comendo distraidamente enquanto Jake, ao meu lado, mantinha um braço ao meu redor e os olhos para a tela.
Eu nunca estivera em um relacionamento realmente sério como o que eu tinha com Jacob. Só uma vez, eu quase namorara um garoto, mas as coisas não deram certo. Então eu não tinha noção de quantas coisas você descobria depois de quase quatro meses de namoro. Observando Jake completamente concentrado no filme, que estava em alguma espécie de clímax, eu comecei a pensar nessas coisas: Jake era ciumento, e na maioria das vezes tentava não demonstrar isso - eu sabia disso por todas as vezes que sentia ele me abraçar mais forte ou erguer a cabeça um pouco mais alto todas as vezes que algum garoto vinha falar comigo, mas ele nunca falava algo; ele também tinha manias machistas que me irritavam, como de sempre pagar o jantar ou o lanche quando saíamos e de sempre ser ele a dirigir - eu sabia que isso normalmente gerava pequenas discussões entre a gente, mas talvez fosse pelo fato de eu brigar tanto com ele para que ele me deixasse fazer as coisas de vez em quando que acabávamos rindo tanto um da cara do outro; Jake também gostava de, todas as vezes que estávamos em forma de lobos, de andar na minha frente ou, de alguma forma, estar sempre tomando conta para que eu não me machucasse - de vez em quando, eu queria poder não ter ninguém me observando como se eu fosse quebrar no segundo seguinte, mas era confortável saber o quanto ele se importava comigo.
Eu ainda não tivera a coragem que queria ter para contar a ele sobre o imprinting. Ele fazia tanto por mim, e eu ainda nem havia contado sobre isso. Eu também estava com medo. Quanto mais eu adiava isso, com mais medo eu ficava de que ele ia me odiar ou algo do tipo. Era uma enrascada e das grandes, e só eu podia resolver aquilo.
- Cara, que filme! - a voz animada de Jacob me acordou para a sala de cinema. As pessoas já estavam indo embora, e a tela exibia os créditos finais do filme. Eu abri um meio sorriso para Jake e amassei o saco de pipocas vazio nas mãos, passando a bolsa pelo ombro e pegando o copo meio vazio de refrigerante. Ele estendeu as mãos e pegou o lixo para mim, mas parou para me olhar.
- O que foi? - perguntei, franzindo a testa. Ele pareceu decepcionado.
- Você não gostou do filme, não é? - soltei uma risada abafada.
- Achei péssimo, desculpe. - disse, parecendo culpada. Jacob riu, segurou o lixo numa mão só e me abraçou de lado. Depositou um beijo na minha bochecha e então começamos a descer as escadas.
Do lado de fora, Jacob disse que queria comer e eu estava sem fome. Então acabamos numa lanchonete, com ele comendo hambúrguer e fritas e eu bebendo chocolate-quente.
- Ei! - ele reclamou quando eu me estiquei e roubei uma batata dele. Sorri, fingindo que não era comigo, e ele pegou meu copo com chocolate-quente e tomou um gole enquanto eu reclamava.
- Isso não é justo! - reclamei. - Você acabou com metade do chocolate-quente. Eu só peguei uma minúscula batatinha. - ele me olhou e murmurou "Oh, coitada de você!" no tom mais irônico que ele podia fazer, antes de se inclinar e me roubar um beijo. Eu o afastei, rindo, e o empurrei para o lado.
Minha mãe dizia que só não brigávamos e sempre parecíamos felizes demais porque estávamos no início do namoro. Apesar disso, ela sempre ficava feliz quando eu dizia que Jacob ia jantar lá em casa ou quando eu avisava que ia sair com ele. Meu pai tinha achado ruim no início, olhando atravessado para Jacob na primeira vez que ele fora lá em casa como meu namorado, mas foi só Billy, o pai de Jacob chegar, que os três começaram alguma conversa que pouco me interessou e tudo ficou bem.
Quem reagiu de forma mais engraçada ao início do nosso namoro foram os meninos. Lembro de Sam ter ficado feliz por um instante, e depois ter ficado irritado quando percebeu que eu não contara nada a Jacob; Embry e Paul falaram "Alex vai ficar tão triste"; Jared e Quil disseram "Por favor, não façam nada na nossa frente" e Seth, Brady e Collin soltaram sonoros "Ah, tá brincando!" enquanto reclamam de que Jake tinha ficado com a única garota do bando.
Foram reações engraçadas, mas nenhum de nós falava muito sobre esse assunto. Acho que já éramos suficientemente ligados para ainda ter que discutir alguma coisa. E, além do mais, Jake e eu guardávamos nossos momentos para quando estávamos sozinhos. Talvez fosse o motivo principal pelo qual andávamos tão próximos um do outro.
- Acho que temos que voltar. - eu disse, distraída, quando notei que já passava das dez da noite no meu relógio de pulso. Jake rolou os olhos. - Ou podemos só jogar esse relógio fora e esquecer que... - eu ri, assistindo Jacob colocar a mão sobre o relógio, tampando o horário e me fazendo olhar para ele. Eu levei minha mão livre até seu rosto, acariciando sua bochecha e depois passando a mão em seus cabelos. Deixei-a apoiada em seu ombro e então disse:
- Se fizermos isso, aí vamos mesmo ter horário para voltar para casa. - ele concordou, relutante, e então consegui um acordo, dizendo que se ele me deixasse pagar a conta, ele poderia voltar dirigindo.
Voltamos conversando sobre os cds que eu mantinha no carro, tirando todos do porta-luvas e deixando-os no meu colo, enquanto eu lia o nome de quem cantava e Jacob dizia se era bom ou ruim. Chegamos até os Backstreet Boys quando ele estacionou em frente a minha casa e desligou o carro. Eu saí rindo da cara que ele fez quando eu ameacei cantar "I Want It That Way" e então saí do carro também. Jacob entrelaçou nossas mãos e me levou até a porta de casa. Ele me segurou pela cintura e me beijou. Foi exatamente quando eu intensificava o beijo e o apertava contra mim que ouvimos um uívo muito alto de uns três ou quatro lobos.
Jacob tentou fazer com que eu ficasse em casa, mas ao me ver jogando meu cachecol e meu casaco dentro do carro, ele desistiu. Corremos em direção ao som dos uívos, e eu parei bruscamente quando me vi em frente a casa de Jacob, que era para onde os uivos levavam. Arregalei os olhos e procurei por ele, que estava ao meu lado. Imediatamente, pensei em Billy. Jacob parecia tão aterrorizado quanto, mas ainda assim segurou minha mão e começamos a andar lentamente, até a porta de sua casa. Os uivos cessaram e, segundos depois, assisti Sam, Jared, Paul e Quil saírem por entre as árvores. Eles vestiam apenas bermudas e tênis. Eu senti Jake ficar tenso, apertar mais sua mão na minha, e eu o guiei até a porta de casa. Olhei para Sam, esperando uma explicação, ele parecia nervoso e preocupado demais.
- É melhor vocês entrarem... - ele se limitou a dizer, embora parece ter muito mais entalado em sua garganta. Jacob pareceu acordar e girou a maçaneta da porta, empurrando-a. Eu lancei um olhar confuso aos outros, atrás de mim, e tentei entender porque o olhar deles eram... De pena? Ao mesmo tempo, eu senti algo ruim se acomodar na boca do meu estômago, uma sensação que não estava lá alguns minutos atrás.
Com toda a coragem que eu poderia tentar reunir, eu segui Jacob para dentro, mas no exato momento em que ouvi uma voz feminina de choro e senti Jacob soltar minha mão, eu soube que a sensação na boca do meu estômago não ia embora tão cedo.

Eu demorei segundos, talvez minutos, para compreender o que se passava na sala de estar de Jacob: sentados no sofá, estavam uma garota pálida, com cabelos longos, magra e parecendo ser um tanto quanto frágil, ao seu lado estava um garoto alto, tão pálido quanto ela, com cabelos cor de bronze e com um cheiro que não exatamente me agradava; acompanhando o cheiro dele, havia mais uma garota de cabelos repicados e curtos e um rosto angelical, e um homem de cabelos loiros e aparência séria. Eu não precisei de apresentações para saber que ali estavam Bella, Edward, Alice e Carlisle.
Sam havia me obrigado a reconhecer e aprender o nome de cada um deles, e também as habilidades especiais que Edward e Alice tinham, ele dizia que fazia parte do treinamento conhecer seus "inimigos". Na verdade, o cheiros dos vampiros acabara não sendo tão insuportável assim, o motivo qualquer que fosse por eles estarem lá, não me pareceu tão importante, os rostos deles fixos em mim por alguns instantes, não me fez diferença... O que doeu mais foi ver Jacob se inclinando em direção a Bella, seus olhos preocupados e a voz tão preocupada perguntando se estava tudo bem com ela. A ferocidade com que ele me deixara e fora até ela... Foi tão rápido que eu ainda meio que sentia ele ali perto de mim.
Eu estava pronta para girar nos calcanhares e sair dali, não achava que podia ficar para vê-lo me ignorar. Mas então Embry apareceu, respirando pesado por ter corrido, e compreendeu a situação muito mais rápido do que eu, depois de ter lançado olhares rápidos a Sam e Jared. Ele se postou a minha frente, não me deixando passar e me envolvendo num abraço.
- Você só precisa ficar um pouco e então eu te levo pra casa se você quiser. - ele disse, baixo, e eu assenti. Embry fez com que eu voltasse para a sala. Sam, Paul, Jared e Quil me lançaram olhares preocupados e eu apenas acenei com a mão, tentando dizer que estava tudo bem, embora eu soubesse que não estava, e eles também.
De alguma forma esquisita, coubemos todos na sala pequena de Jacob. Eu fiquei mais próxima da porta, com Embry ao meu lado. Paul, Jared e Quil ao lado dele. Sam estava no meio da sala, ao lado de Carlisle, Edward, Alice e Bella, que estavam sentados nos sofás, e Jacob estava em pé ao lado de Bella.
- Certo, podem explicar agora o que aconteceu? - Sam perguntou, cruzando os braços. seu tom de voz era tão sério que me assustei por um instante. Edward suspirou.
- Victoria conseguiu atravessar Forks. Ela quase chegou à casa de Bella, não fosse por Emmett...
- ...Ele sentiu o cheiro, e foi atrás dela. Acabou na fronteira e...
- ...Nós fomos atrás dela e ela entrou na água. - Edward, Alice e Paul completaram a história, e eu não fiz nada além de ouvir.
- Acha que ela vai voltar ainda hoje? - perguntou Sam, Carlisle negou com a cabeça.
- Ela sabe que nós estamos alertas, não vai tentar mais nada hoje.
- Mesmo assim, devemos manter vigia, talvez mais alguns... - Jacob havia finalmente pronunciado, e deixara a frase no ar, como que pensando em como completá-la de modo razoável. Eu o olhei desacreditada. Até o ponto em que ele se preocupava com Bella, como qualquer pessoa se preocupa com outra, eu estava ok. Mas eu estava ali encarando Jacob, fisicamente, mas não parecia meu namorado em qualquer outra maneira. Jake nunca agia assim, tão... Não era como se eu estivesse ali, ele nem mesmo lançava um olhar em minha direção. Eu suspirei, e então perguntei:
- Sam, vocês ainda vão precisar de mim? - ele me olhou significativamente, e balançou a cabeça.
- Não, . Pode ir pra casa. Nos vemos amanhã. - eu assenti, e senti Embry afrouxar o abraço, me deixando ir. Talvez ele tivesse percebido que eu queria ficar sozinha. Ouvi um coro de "Tchau, " vindo dos meninos e então deixei a casa de Jacob, enfiando minhas mãos nos bolsos traseiros da minha jeans, com frio e mais sozinha do que nunca.
As poucas imagens de Jacob e Bella que eu tivera coragem de olhar passeavam na minha cabeça. Não era o tipo de coisa que eu queria gravado em minhas lembranças, mas elas não pareciam sair de lá. Eu pisei na neve com minhas botas e senti o choro começar a bloquear minha respiração e fazer minha cabeça doer. Eu não queria chorar, eu não queria derramar uma lágrima por algo que era tão... Previsível. Como eu podia ter confiado tanto? Jacob gostava dela, e só parecia não gostar mais porque nunca mais tinha visto-a. Bastou que ela aparecesse para ele esquecer de qualquer coisa que podia ter me dito nos últimos quatro meses.
Eu já devia estar andando há uns cinco minutos quando ouvi os passos de mais alguém, atrás de mim. Me virei devagar, e me deparei com Jacob. Ele estava distante, mas perto o suficiente para poder notar meu rosto, porque sua expressão rapidamente assumiu culpa. Eu cruzei os braços, tentando bloquear o frio, e observei seus olhos.
- ... - ele disse, dando alguns passos em minha direção. Eu senti o choro voltar uma segunda vez, e tudo que pude fazer foi murmurar "Não" ao mesmo tempo em que balançava a cabeça.
- Não. - consegui dizer mais alto, dando passos para trás. - Agora não, Jacob. - e, ignorando o imprinting que me mandava perdoá-lo e correr em sua direção, eu girei para meu caminho outra vez, e o deixei lá, parado, enquanto o som dos meus soluços acompanhado do som do vento preenchiam o silêncio da noite.


Capítulo 10 -
VAMPIROS E LOBOS.

(Capa.)

A idéia de perdoar Jacob me parecia distante demais. Eu também não sabia exatamente pelo quê eu o perdoaria. Sua ação, em si, não tinha sido assim tão terrível. Fora toda a história por trás daquela ação que literalmente partiu meu coração no meio. Todo o passado que ele tinha com Bella me deixava insegura demais, e eu não queria que ele escolhesse a mim ao invés dela por causa do imprinting, então eu excluíra a possibilidade de contar isso a ele.
Na verdade, em se tratando de Jacob, eu tinha me esforçado muito nas últimas duas semanas para não pensar nele. Eu me concentrava na escola, nos deveres, em controlar minhas habilidades mentais, em ensinar matérias complicadas para Seth, Brady e Collin, em ajudar minha mãe na cozinha... Qualquer coisa que me distraísse de ficar sozinha e que acabasse me levando a Jacob. Eu ainda o via, é claro, porque tínhamos algumas aulas juntos e estávamos no mesmo círculo de amigos, mas eu tinha passado a escolher lugares longe dele, e podia perceber que os meninos estavam se desdobrando para conseguir dividir o tempo dele entre eu e Jacob, de modo que a gente não ficasse no mesmo lugar com muita frequência. Em resumo, tudo tinha perdido a graça.
- Hey, ! - eu estava saindo da escola, distraída porque minha bolsa estava em um ombro só e eu andava, tentava olhar para frente e ao mesmo tempo procurava as chaves do carro porque tinha decidido passear em Port Angeles, ao invés de ir para casa e fazer faxina ou qualquer coisa do tipo. Me virei para dar de cara com Sam. Franzi a testa.
- Hey, Sam! O que você está fazendo aqui? - ele deu de ombros, acenando para trás.
- Tive que vir falar com alguns professores, pedir para alertar os alunos sobre ataques de animais. - eu murmurei "Oh, certo", sabendo exatamente ao que se referiam os ataques. Ele cruzou os braços e mudou o peso do corpo para a outra perna, enquanto seu olhar era de preocupação. Eu sabia o que ele ia perguntar. - Você está bem? - eu suspirei.
- Não. - admiti, enfim achando as chaves do carro e tirando-as da mochila. - Eu não estou bem, e nem vou ficar num futuro próximo, então...
- Você sabe que pode solucionar isso mais rápido. - eu quis responder a ele o mais claramente que podia, mas não tinha como fazer isso quando pessoas e mais pessoas estavam passando a nosso redor, algumas até parando para nos observar, já que Sam era um cara alto, sério e com presença forte demais para não ser notado.
- E você sabe que eu não quero precisar fazer isso. - respondi, cansada. Eu estava mesmo cansada de todo aquele problema que só parecia aumentar. Sam suspirou, e assentiu.
- Certo, é você quem sabe.
- Ótimo. - eu resmunguei, tentando parecer irritada. Eu nunca conseguia ficar realmente irritada com Sam. Ele soltou uma risada abafada.
- Só tente lembrar que você é mais madura que ele, e você é a única pessoa que ele vai escutar de verdade. - eu estava começando a odiar essas frases cheias de mistérios que Sam deixava no ar. Ele sempre me expulsava ou ia embora depois dela, deixando-a passeando irritantemente pela minha cabeça. Desta vez, ele abrira um sorriso de lado e fora embora, andando calmamente e, antes de deixar a escola, avisando a um garoto do primeiro ano que jogasse o lixo no lixo e não no chão. Eu teria rido da cara de apavorado do garoto, não fosse o fato de que eu não achava graça nas coisas há um tempo.

Port Angeles estava frio, mas não tão frio quanto La Push. Eu consegui tirar o casaco quando estacionei na rua, e o amarrei na cintura, depois de colocar celular, carteira e chaves nos bolsos da calça jeans. Comecei a caminhar sem exatamente ter um lugar para onde ir, afinal eu mal conhecia Port Angeles. Evitei passar pelo cinema, pela lanchonete e pelo McDonald's. As últimas duas vezes que eu estivera em Port Angeles não eram lembranças que eu queria reviver agora, uma por ser desagradável, e a outra por doer demais.
O imprinting podia ser ótimo quando tudo estava bem com Jacob, mas também era horrível quando tudo estava péssimo com Jacob. O imprinting parecia fixar em minha mente que eu devia falar com Jacob, que eu devia fazer o possível para que tudo ficasse bem de novo, mas isso batia diretamente com meu orgulho e como eu compreendera a situação. Na minha cabeça, era Jacob quem precisava se desculpar. Então minha cabeça estava uma bagunça completa, como duas crianças teimosas brigando para defender sua idéia. E agora vinha Sam dizer que Jacob só escutaria a mim. Eu ia bater em Sam na primeira oportunidade que eu tivesse, mesmo que não fosse fazer diferença.
Eu tinha entrado em uma loja de roupas, experimentado algumas, comprado duas blusas, e ainda assim não tinha me animado. Nem a vendedora da loja dizendo que queria ter cabelos como os meus me fizera mais animada, muito menos a outra vendedora concordando com ela. E nem mesmo o bonitinho que entrara sorrindo para mim, então eu estava num péssimo humor. Numa última tentativa, entrei numa livraria e comecei a folhear alguns livros. Foi quando aquele péssimo cheiro que eu conhecia atingiu meu nariz. Eu girei o corpo todo na direção do cheiro no mesmo instante, alerta, e precisei olhar duas vezes ao redor para perceber de onde vinha o cheiro. Respirei parcialmente aliviada.
- Oh, olá! - Edward Cullen ergueu os olhos de um livro que folheava, e sorriu para mim. Eu ergui a cabeça, para conseguir olhá-lo, e tentei sorrir de volta.
- Ah, oi. Edward, certo? - ele assentiu, estendendo a mão para me cumprimentar. Eu aceitei e achei estranho demais quão fria sua pele era, e quão pouco contrastava com minha pele, ou ele não era tão pálido assim, ou eu era branca demais mesmo. - Port Angeles é um ponto neutro, não é? - perguntei, confusa por um instante. Edward soltou uma risada abafada. Ele fechou o livro em sua mão e assentiu.
- É, totalmente neutro. - disse, mas então franziu a testa. Seus olhos dourados fixaram nos meus, e ele pareceu tentar descobrir algo. Eu lembrei do que Sam me contara, Edward lia mentes. Como eu passava a maior parte do tempo - por precaução - com meus pensamentos trancados, ele não devia estar conseguindo ler nada. Dessa vez, eu sorri, satisfeita comigo mesma.
- Não te contaram que eu também faço isso? Quer dizer, mais ou menos isso que você faz. - gesticulei, indicando sua cabeça. Ele ficou surpreso.
- Você? Você tem algum... - ele olhou para os lados, certificando-se que ninguém mais estava nos ouvindo. - Poder? - eu assenti, fechando o livro que estava em minhas mãos. Edward puxou seu braço e verificou o horário em seu relógio, cruzou então os braços e me encarou, curioso. - Olha, você está ocupada? - ele perguntou, e dessa vez eu fiquei confusa. Balancei a cabeça.
- Não, não estou. Na verdade, só estou aqui porque eu não quero ir para casa. - admiti, dando de ombros. Edward não entendeu porque eu não queria ir para casa, mas logo em seguida perguntou "Tem algum tempo para conversar?", e eu acabei aceitando ir para a lanchonete da livraria, com um vampiro, que por um acaso era tipo o Lex Luthor na vida do meu até então namorado, que devia pensar que era o Superman.
A lanchonete da livraria era quase deserta. A livraria em si era praticamente deserta. Edward escolheu uma mesa mais afastada, e quando a garçonete chegou, eu pedi um cappuccino e ele disse que não queria nada. Só então eu lembrei que vampiros não se alimentam de nada a não ser sangue. Ele se ajeitou na cadeira, colocando os braços sobre a mesa de madeira. Eu encostei na cadeira, observando como os movimentos dele era tão elegantes e parecendo bem-calculados. Era engraçado como Jacob também tinha movimentos tão elegantes quanto, mas tão diferentes.
- Por que você não está tampando o nariz ou qualquer coisa assim? - foi a primeira pergunta dele, e eu ergui uma sobrancelha. Não tinha percebido que esquecera totalmente do cheiro dele. Na verdade, ele já não cheirava tão mal assim. Levei algum tempo pensando.
- Hã... Não faço idéia. Talvez tenha qualquer coisa a ver com meu passado. - dei de ombros, e ele gesticulou, me incentivando a continuar. Eu rolei os olhos. - Olha, Sam pode me matar por isso. - avisei, mas ele continuou esperando que eu continuasse, imóvel. - Mas que se dane. - e então contei a ele sobre a lenda dos meus parentes distantes, sobre o vampiro, o lobo... Quando eu terminei, Edward parecia impressionado.
- E o vampiro lia mentes? - eu assenti.
- É, ou tinha qualquer outra habilidade com pensamentos. E isso ficou passando até que minha mãe casou com meu pai... E deu no que deu.
- Deve ser complicado ser a única garota entre eles. - eu balancei a cabeça. - E ainda ter esses poderes.
- Até que não é, eles são tão fáceis de lidar. - a garçonete voltou e me entregou meu cappuccino. Eu tomei um gole e Edward esperou que eu pousasse o copo sobre a mesa antes de falar:
- Você parece ter problemas com Jacob. - eu senti meu estômago revirar, e suspirei.
- Não vamos discutir Jacob, por favor.
- Ele gosta de você, ele...
- Não vamos discutir Jacob! - eu disse, pela segunda vez, o tom levemente mais alto. Edward ergueu uma sobrancelha. - Afinal de contas, porque você está aqui e não em qualquer outro lugar com Bella? - cruzei meus braços e tentei não ficar tão irritada. Edward juntou as mãos sobre a mesa.
- Bom, ela está com Jacob. - eu achava que meu estômago estivesse revirado o suficiente, mas ele conseguiu afundar e eu me senti muito mal. - Eles são amigos, de qualquer forma... Eu não posso...
- Sabe o que incomoda? - eu cortei o que ele dizia, minha voz talvez tão irritada quanto eu estava ficando. Ele me olhou, esperando que eu continuasse a falar. - Eu não ter a merda da coragem e falar para ele sobre o imprinting. Sabe, eu tive um imprinting com ele, e nem tenho coragem de falar isso pra ele. - assisti Edward pronto para fazer uma pergunta, como eu já imaginava qual era, disse de uma vez: - Eu consegui bloquear o imprinting, do mesmo jeito que bloqueio pensamentos.
- Você conseguiu bloquear um imprinting?! Pelo pouco que eu conheço esse é o sentimento mais forte de vocês. - eu dei de ombros.
- Que diferença faz agora? Eu não vou fazer isso só para Jacob voltar... Ele tem direito de escolher o que quer da vida. Mesmo que isso seja ficar correndo atrás de uma garota que ama um vampiro.
- Obrigado pela delicadeza. - ele disse, mas num tom divertido. Eu me vi rindo também.
- Certo, desculpe. Eu não sou a pessoa certa pra te criticar por ser um vampiro. - ele concordou com um aceno da cabeça.
- Sabe, eu vou pedir Bella em casamento. - eu arregalei os olhos quando ele disse. Eu me perguntei porque ele estava contando isso a mim, mas não demorei muito tempo pra perceber que, já que eu tinha contado enfim um grande segredo meu para alguém além de Sam, esse alguém também podia contar alguma coisa para mim.
- Vai mesmo? Uau. - tomei outro gole do meu cappuccino. - Vocês não são muito jovens? Quero dizer, teoricamente. Sei que você é bem mais velho, mas acho que você me entendeu. - ele assentiu, e abriu um meio sorriso. Um sorriso irônico.
- Esse é exatamente o problema. Eu não entendo porque não casar, eu não me acostumei com esses costumes muito... Modernos, eu diria. Na minha época...
- ...Casar aos dezoito anos não era nada para se espantar. - completei, e ele concordou. - Bella parece gostar o bastante de você, de qualquer forma. - ele franziu a testa, e eu rolei os olhos. - Eu sei o que aconteceu antes de eu chegar, ok? Sou bem informada. - ele riu. - Ou Sam só faz questão de que pareça que eu estou aqui há alguns anos. - dei de ombros.
Edward colocou o braço em seu campo de visão para verificar a hora em seu relógio, e então empurrou a cadeira, para ficar de pé.
- Preciso ir para buscar Bella. - eu assenti, terminei de beber meu cappuccino e fui até o balcão para pagá-lo. Edward estava me esperando do lado de fora da livraria, e eu fechei meu casaco quando o vento frio passou por nós. Já eram cinco horas da tarde.
- Valeu pela conversa, Edward. A gente se vê. - ele me observou durante alguns instantes, antes de dizer, com a voz baixa:
- Quando precisar, pode passar em Forks. Você é uma loba agradável, . - eu rolei os olhos, impressionada com como Edward não era uma pessoa horrível como eu imaginara.
- Devem ser meu sangue cinco por cento vampiro. - respondi, baixo também, e o assisti rir, antes de acenar e seguir o caminho para a esquerda. Eu virei para a direita, e comecei minha caminhada lenta até meu carro.

Eu voltei para casa para encontrar sete caras jogados no meu sofá, nas minhas poltronas e usando meu notebook e vendo minha tv. Sorri quando abri a porta de casa e encontrei Jared e Embry expulsando Seth da frente do videogame que eles tentava instalar, enquanto Collin parecia ocupado demais servindo refrigerante em oito copos sem deixar o líquido derramar; Brady brigava com Paul para pegar o notebook e Quil veio logo me abraçar assim que eu fechei a porta atrás de mim.
- ! - eles gritaram, em coro, e eu comecei a rir. Não perguntei o que eles estavam fazendo ali, nem nada. Eu nem me importava. Andei até o sofá e me joguei ao lado de Quil. Embry me entregou um controle do videogame.
- Quando eles terminarem de instalar, - ele fez um gesto exagerado para Jared e Seth. - eu vou jogar uma partida contigo.
- E eu vou perder. - comentei, rindo. Ele concordou, e depois disse "Mas quem se importa?" e sentou do meu outro lado. Seth conseguiu expulsar Jared da frente do computador e instalou o videogame.
- É nisso que dá achar que eu sou burro! - ele resmungou, acertando um tapa na cabeça de Jared. Paul começou a rir descontroladamente e Jared tentou bater nele, mas acabou caindo no chão porque Brady tinha aparecido por trás dele e o empurrou. Eu só gritei "Não quebrem nada!" e me concentrei nas explicações de Quil e Embry sobre o jogo que estava na tela. Era uma coisa qualquer de luta, e Collin interrompeu os dois e resmungou:
- Ignore o que eles estão dizendo, é melhor você só sair apertando todos os botões do controle. - eu abri um sorriso.
- Uau, Collin! Era exatamente essa minha idéia! - e ri de verdade quando Seth arregalou os olhos, e encarou o controle na minha mão, aterrorizado. - Calma, eu fui irônica!
- Depois diz que não é burro... - Jared resmungou, convencido, mas abaixando e cobrindo o rosto com a mãos no momento em que Seth fingiu avançar. Todos nós rimos, e Embry chamou minha atenção de volta para o jogo com um "Hey, anda logo!". Eu inclinei meu corpo para frente, apoiando meus braços nas pernas, e segurei o controle com firmeza.
Claro que eu perdi. Perdi feio. Só tive tempo de ver minha bonequinha lá estirada no chão com os cabelos negros que usava amarrados todos espalhados no chão. Eu olhava desacreditada para ela.
- Cara, que sanguinário você é! Olha o estado dela! - Embry rolou os olhos.
- Fresca!
- Minha vez! - Seth roubou o controle da minha mão e começou a fazer gestos apressados para que eu levantasse. Eu o fiz e ele se sentou no meu lugar, logo começando o novo jogo com Quil. Eu andei até Brady e Collin, que estavam vendo alguma coisa no meu notebook, mas eu dei meia volta e fui para a cozinha quando percebi que estavam em algum tipo de programa de mensagens instantâneas. Com as risadinhas que eles soltavam, só podiam estar falando com alguma garota, então eu acabei sentada no balcão da cozinha com uma latinha de Coca-Cola aberta e Embry me oferecendo sanduíches de pasta de amendoim que Paul e Jared já comiam. Eu aceitei um e dei uma mordida, tomando cuidado para não me sujar. Paul soltou uma risada.
- Você não sabe comer sanduíche de pasta de amendoim. - ele disse, e eu rolei os olhos.
- Os que vocês fazem, com mais pasta do que pão, realmente não sei. - Jared abriu a boca, colocou a língua para fora e me mostrou o sanduíche disforme que mastigava. Eu gritei "Eeeeca!" e fechei os olhos, fazendo os três começarem a rir da minha cara. Quando abri os olhos de novo, Embry e Jared estavam conversando, e Paul olhou para o relógio na parede. Ele parou de rir e disse:
- Caras, precisamos sair em meia hora. - eu franzi a testa, descansando o sanduíche na bancada, ao meu lado.
- Todos vocês vão vigiar os nossos limites? - perguntei, e Paul negou com a cabeça, mas também não me respondeu. Embry e Jared voltaram a me olhar, e todos os três pareciam não querer dizer nada. Eu continuei encarando-os.
- Ah, vamos na casa de Jacob. - Seth gritou do sofá, pausando o jogo. - Ah, o quê? Não adianta ficar mentindo pra ela. - ele completou, depois de receber olhares de reprovação dos outros. Eu balancei a cabeça.
- É verdade, vocês têm todo o direito, ele também é amigo de vocês.
- ... - Quil suspirou. - ...Você não vai falar mais com ele?
- Não tenho nada para falar com ele. - mentira, eu tinha muita coisa para falar com ele.
- Ok, a gente acredita nisso. - Collin se pronunciou, irônico.
- É, com vocês dois no estado em que estão, e não têm nada pra conversar. Francamente, vocês crescem e parecem que vão ficando mais burros. - eu olhei espantada para Brady, que conseguiu arrancar risadas de Paul e Embry, pela seriedade com que falara.
- Nunca achei que eu fosse dizer que Brady tem razão. Isso só prova que você devia ir falar com Jacob.
- Não, ele que venha falar comigo. Afinal de contas, ele quem foi correndo atrás de Bella, não eu. - quase todo mundo rolou os olhos quando eu terminei de falar.
- Se ele vier falar com você, você vai conversar com ele? - Jared quis saber. Eu deixei meus ombros caírem.
- Vocês não vão falar nada disso para ele. - apontei meu dedo indicador para os três à minha frente. Embry deu de ombros.
- Tudo bem, não vamos. - eu não sei porque eu ainda estava tentando convencê-los de não falar. Eu sabia que eles iam, mas eu não tinha forças para reclamar.


Capítulo 11 -
LUGAR CERTO.

(Capa.)

(Esse capítulo tem uma parte acompanhada de música! Caso você queira ouvir, tem duas opções de música: "Warning Sign" do Coldplay e "Sober" da Kelly Clarkson. Se quiser Coldplay, clique aqui. Se quiser Kelly Clarkson, clique aqui. Deixe o vídeo carregando!)

Eu estava no segundo tempo de História. Não sabia qual era a matéria que o professor, talvez tão entediado quanto a turma, falava sobre, e também não queria saber. Isso talvez fosse o primeiro sinal evidente de que eu estava péssima, porque eu costumava gostar de aulas de História.
Eu tinha a cabeça apoiada numa das mãos, e com a outra fazia rabiscos sem sentido numa folha solta do meu fichário, onde eu começara a fazer anotações mas desistira nos cinco minutos seguintes. Eu estava com sono, porque tinha passado a noite acordada pensando no que Sam, Edward e todos os meninos tinham me dito sobre Jacob. No fim das contas, eu tinha ficado frustrada porque ninguém ia reclamar com ele, só comigo. Todo aquele papo de Sam de "você é mais madura" parecia ter pegado.
O mais engraçado (ou deprimente), era que eu tivera que ouvir até de um vampiro que eu devia falar com Jacob. Tudo bem, Edward não era assim tão ruim quanto eu imaginava, mas mesmo assim...
Lancei um olhar rápido a Jacob, do outro lado da sala, e me peguei totalmente distraída pelos seus traços, e por como ele parecia a pessoa incrível que eu sabia que era mesmo por só ficando lá, seus pés inquietos, batendo no chão, e seus dedos batendo na mesa. A verdade era que eu sentia muita falta dele. Muita mesmo.
Era ruim acordar e saber que eu não podia esperar por ele aparecendo na minha casa de surpresa, nem podia contar com seu sorriso que eu gostava tanto. Não iria ganhar nenhum de seus abraços e nenhum de seus beijos, e também não veria a careta de nenhum dos garotos quando ele viesse me beijar, porque ele simplesmente não ia. Eu tinha me acostumado rápido demais com sua presença constante pra aprender a não tê-la mais. E doía bastante.
Ele passou uma das mãos pela parte de trás da cabeça, bagunça os fios de cabelo ali, e então girou o pescoço e cruzou seu olhar com o meu. Ele não desviou o olhar nem pareceu surpreso. Parecia cansado. Imediatamente, senti meu rosto esquentar e virei para frente. Oh, merda.
Duas batidas na porta me distraíram por instantes de quão envergonhada eu estava, mas foi só para me deixar envergonhada por outra coisa: - Hã... Licença, professor. Posso falar com a por um minuto? - Alex apontou para mim, sorridente, e eu ergui minhas sobrancelhas, surpresa. O professor parou seu monólogo e pareceu assustado com alguma outra voz além da sua. Ele disse:
- Ah, sim, claro. - fez um gesto distraído e voltou a falar assim que eu fiquei de pé. Um tanto quanto irritada pelo professor não ter dito "Não", eu me vi sem opções e confusa. Juntei meu material e saí da sala sob os olhares curiosos do resto da turma. Eu não arrisquei lançar um olhar a Jacob.
Alex abriu um sorriso grande demais quando ficamos à sós no corredor, completamente vazio. Eu apoiei meus livros e meu fichário nos braços, levando-os a frente do meu corpo e olhando para os lados e esperando que alguém aparecesse e nos mandasse de volta para a sala.
Definitivamente, Alex era a última coisa que precisava me aparecer, eu tinha o suficiente para lidar. Movi a cabeça.
- O que foi, Alex? - perguntei, tentando não ser rude. Eu não estava lá com muita paciência hoje. Alex pareceu não notar que eu não estava sorrindo para ele.
- Então, está tudo bem com você? - ele perguntou, e eu uni minhas sobrancelhas, desacreditada.
Ele cruzou os braços e estufou o peito, erguendo a cabeça levemente. Parecia tentar exibir seus músculos, mas ele nem tinha músculos direito. Eu dei um passo para trás quando ele deu um passo em minha direção, e me apoiei nos armários trancados atrás de mim.
- Você me tirou da aula pra isso? - questionei, e ele ficou sem jeito por um instante, antes de movimentar a cabeça jogando os cabelos para trás. Incrível como eu tinha acabado de ficar encantada com Jacob mexendo em seu cabelo, e Alex só estava me irritando.
- Não, na verdade... - ele respirou fundo. - Bom, eu percebi que você e Jacob não estão mais juntos há algum tempo... - balancei a cabeça, confusa.
- Você não está saindo com aquela Hilary? - ele pareceu lembrar-se dela somente quando eu disse seu nome. Ele fez um gesto de descaso.
- As coisas não deram certo com ela. - ele respondeu, e eu assenti, devagar.
- Oh, que pena. Olha... - ele me cortou, a voz mais alta e menos confiante do que há um minuto:
- Então eu queria saber se você não quer... Assim... Quem sabe... - Moveu o peso do corpo para uma perna, depois da para a outra, e então de novo para a uma... Eu estava prestes a suspirar, dizer a ele que eu sabia onde ele queria chegar, mas que não dava, e entrar na sala de novo, mesmo que só faltassem uns dez minutos, e foi quando a porta atrás de mim foi aberta de novo, e de lá saiu Jacob. Ele tinha a mochila nas costas, em um ombro só, e parou ao meu lado, encarando Alex.
Fiquei sem reação, já que era a primeira vez que Jacob estava tão perto de mim desde o dia em que havíamos terminado silenciosamente. Ele também não estava nada bem, com olheiras profundas, o rosto cansado e fechado.
- Cara, você realmente tem alguma coisa pra falar com ela? - ele perguntou, impaciente. Assisti Alex arregalar os olhos e tremer levemente. Jacob era realmente muito maior que Alex, e sua voz irritada não ajudava ninguém a ficar mais calmo.
- Nada importante... Eu... - ele gesticulou, fazendo movimentos sem sentido, e enfim conseguiu indicar o corredor atrás dele. - Eu já estou indo. - ele disse, e realmente foi. Eu o observei praticamente correr pelo corredor, quase achando graça no desespero dele e em como toda aquela pose tinha simplesmente ido embora quase que de modo instantâneo, e voltei a encarar Jacob.
Se fosse o Jacob de algumas semanas atrás, aquele do qual eu tanto sentia falta, eu teria visto um sorriso debochado agora e ouvido alguma frase de como ele era melhor que Alex. Mas tudo que vi foi a mesma expressão cansada. Imediatamente, eu quis conseguir consertar aquilo.
- De nada. - ele resmungou, me olhando rapidamente. - Você pode não querer namorar comigo, mas imagino que também não queira aquilo. - ele soltou essa e girou nos calcanhares, pronto para ir embora. Ele conseguiu me deixar mais irritada, e surpresa.
- Ei! - falei, um pouco mais alto, fazendo-o virar para trás para me ver. Provavelmente, minha voz tinha sido ouvida dentro de algumas salas de aula, mas eu não me importava. Andei a passos pesados até chegar nele. - É isso que você acha, então? Que eu não quero namorar com você?! - Jacob tentou parecer indiferente, embora eu tivesse visto a sombra de surpresa rápida demais que passara por seu rosto.
- Que outra conclusão você espera que eu...?
- Argh! Você é um idiota! - tentei controlar minha voz, para que eu não acabasse gritando, mas ela acabou saindo ainda mais alta e eu apressei meus passos, atravessando os portões de saída da escola alguns minutos depois. Sabia que Jacob vinha logo atrás de mim, mas tentava ignorá-lo a todo custo.
- Então eu sou o idiota? Eu? - ele berrou, quando estávamos razoavelmente longe da escola. Nós podíamos andar rápido e silenciosamente quando queríamos. Eu me virei, cruzando os braços.
- É, você! Foi você quem estragou tudo!
- Talvez, se você conseguisse não se estressar tanto e me escutar... - soltei uma risada sarcástica, enquanto ele dava passos em minha direção. - Te escutar? Pra quê? Pra você me largar na primeira oportunidade? - Jacob teve tremores nos ombros, e eu senti os meus ondularem. Eu respirei fundo, tentando manter a calma e não acabar me transformando ali, de dia e num lugar tão público. Às vezes eu simplesmente esquecia que, caso ficássemos irritados demais, não demoraria muito para que explodíssemos no ar e nos transformássemos em lobos.
- Eu não te larguei! Mas que... - Jacob suspirou, e passou as duas mãos sobre o rosto, parecendo frustrado. Também tentava se acalmar, e aos poucos seus tremores diminuíram. Ele parou de andar quando chegou bem perto de mim, e eu dei um passo para trás antes que a proximidade ficasse perigosa.
Passamos alguns longos minutos em silêncio, mas eu não notei isso tão de repente. Eu estava concentrada demais no cheiro dele, em quão próximo ele estava de mim... Foi ele quem quebrou o silêncio.
- Depois de tudo que eu te falei, você ainda consegue achar que eu te larguei ou qualquer coisa do tipo? , eu não fiz isso.
- Então existe outro nome pro que você fez, é isso? - eu senti minha voz ficar embargada, a pergunta pulando fora da minha boca antes que eu pudesse pensar. Apertei meus braços contra minha barriga, na tentativa de controlar meu choro, de alguma forma. Jacob se aproximou de mim de novo. Quando voltou a falar, sua voz era baixa, e não mais irritada.
- Bella é minha amiga. - eu bufei. Eu não queria nem saber do nome dela. Mesmo que provavelmente não tivesse muita culpa, ouvi-lo falando dela só complicava.
- Jacob, eu sei do que aconteceu entre vocês antes de eu chegar aqui. - disse, me obrigando a procurar seu olhar. - E aí ela aparece e você... - suspirei, preferindo não terminar a frase. Senti uma das mãos de Jacob em minha cintura, e não me movi.
Ele parecia pensar demais a cada movimento, com medo de que eu me esquivasse. Por mais que eu quisesse demais que ele se aproximasse, por mais que o imprinting agora estivesse agindo forte demais, eu não sentia como se eu devesse perdoá-lo assim tão rápido. Ele não tinha pedido desculpas, ele não tinha dito nada.
- E eu preciso que você goste de mim de verdade. Eu não posso lidar com essa indecisão. Eu não quero lidar com isso. Honestamente? Eu preciso que eu seja a sua primeira opção. - eu podia estar começando a perder a razão, mas quem se importa? Girei nos calcanhares e comecei a andar apressadamente para qualquer lugar longe dele. Toda aquela história de "Bella é minha amiga" fazia sentido, podia ser verdade, mas ainda não excluía o fato de que ele gostava dela e não parecia ter deixado de gostar enquanto estivera namorando comigo. E, honestamente, isso não era algo que eu podia suportar.
Jacob não tentou ir atrás de mim.

Meus pais tinham deixado um bilhete quando eu cheguei em casa: "Saímos! Tem comida na geladeira. Voltamos à noite", animado demais para o meu gosto, e que eu muito dificultosamente li com meus olhos cheios d'água. Eu almocei, sem muita vontade de comer, porque tinha plena noção de que minha mãe ia notar se eu não tivesse comido e iria me encher de perguntas. Acabei me distraí vendo televisão, já sentindo meus olhos ardendo. Umas duas horas depois, me sentindo muito idiota por ainda estar chorando, senti meus olhos pesarem e acabei dormindo.
As risadas do programa de tv que eu assistia pareceram se misturar ao sonho, gradualmente se afastando... Até que eu me vi na escuridão total, mas meus pés pisavam em... Pedras? É, com certeza eram pedras. Eu girei no mesmo lugar umas cinco vezes, procurando por qualquer ponto de luz, e com medo de dar o passo seguinte, por não saber no que eu pisaria.
Foi quando ouvi um estalo e uma luz amarelada surgiu, iluminando o local. Era uma espécie de caverna, e a luz vinha de um ponto muito distante do que eu estava. Mas, eu tinha a impressão de que, se andasse até a luz, eu estaria entrando mais ainda na caverna. Então tomei o lado contrário, ainda iluminado, procurando pela saída. A caverna parecia se abrir mais e mais... Eu sentia estar perto da saída.
Comecei a ouvir vozes. Não, eram gritos. Gritos desesperados. Mas... Eu conhecia aquelas vozes. Eram... Eram Seth, Brady, Collin, Jared, Quil, Embry, Paul...
- , não se mexa! - Sam se materializou na minha frente, seu tom de voz firme demais para que eu desobedecesse.
- Não podemos deixá-la aqui também! - Jacob apareceu atrás de mim, falando com Sam. Sam assentiu.
- Eu sei, eu sei... Mas se ela for...
Eu queria gritar e dizer que eu iria atrás dos meus amigos de qualquer jeito, que eles precisavam parar de me superproteger, mas minha voz não saía, eu não conseguia mais mexer um músculo... Eu tentava gritar, mas minha boca nem sequer abria.
De repente, a iluminação amarela foi ficando mais forte e mais laranja. A claridade começava a irritar minha vista, e então...
- Por que não me deixam passar? Eu devolveria seus amigos. - era Victoria, e ela tinha um sorriso arrogante no rosto, a expressão divertida. Vi Sam e Jacob prontos para se transformarem. Ela deu uma risada maior...
Batidas umas atrás das outras começaram. Batidas como... Como alguém batendo em madeira.
A próxima coisa da qual tive consciência foram meus olhos abrindo. Percebi que as batidas vinham da minha porta.
Me sentei no sofá, respirando fundo e tentando me recuperar do sonho que tinha sido real demais. Passei as mãos sobre o rosto e me forcei a ficar de pé. Mais batidas na porta.
- Já vai! - gritei, me arrastando até lá. Girei a maçaneta e abri a porta. Ah, ótimo.

(Dê play no vídeo que você deixou carregando e leia a partir daqui com a música!)

Jacob estava parado lá, de braços cruzados, não parecendo muito feliz. Ele pareceu levemente assustado quando me viu, mas provavelmente era por causa dos meus olhos vermelhos de tanto chorar. Eu estava pronta para bater a porta na cara dele, mas apenas deixei a porta aberta e voltei para o sofá. Segundos depois, ouvi a porta batendo e Jacob se sentou do meu lado.
- A gente precisa conversar.
- Eu sei disso. Eu só não quero.
- Honestamente, eu preferia não ter que ter essa conversa também. - eu me forçei a girar o pescoço e olhar para Jacob. Ele tinha os dois braços sobre as pernas, inclinado para frente, as mãos juntas, e o olhar em mim. Eu balancei a cabeça.
- Os meninos falaram com você, não é?
- Achei que você não quisesse me ver. Se está disposta a aceitar meu pedido de desculpas...
- Você realmente vai se desculpar ou só está dizendo da boca pra fora? - resmunguei, e Jacob suspirou. Eu parecia estar abusando do pouco de paciência que ele tinha recolhido.
- Como é que você pode achar que eu estou me desculpando da boca pra fora? O quê, você vai me dizer que qualquer coisa que eu tenho dito a você também foi da boca pra fora? - eu sabia ao que ele se referia, e neguei no segundo seguinte.
- Não, Jacob! Não! Eu...
- Certo, ótimo. Vamos fazer diferente, então. - eu estava assustada com a voz irritada demais dele, que ficava cada vez mais alta, mas esperei. - Eu vou falar, você vai escutar. Tudo bem? - ele não esperou que eu respondesse:
"Sabe quando você gosta muito de alguém? Muito mesmo? Então, Bella apareceu e eu achei que tinha acabado de encontrar a uma pessoa que eu ia querer pro resto da minha vida. Claro que é ridículo imaginar isso aos quinze anos de idade, mas quem liga? Eu realmente achava. Mas aí ela se apaixonou pelo vampiro. E eu descobri que era um lobo. Você pode imaginar quão divertido deve ter sido! A garota pela qual eu me apaixonei decidiu que o vampiro era um partido melhor!
Então eu estava aos trapos. Nem os meninos me suportavam mais, e Sam não sabia mais o que fazer comigo. Nem meu pai tinha idéia do que fazer. E aí você chegou. Você, sua transformação repentina... Os garotos pareciam ter todos gostado demais de você, e eu estava achando que ia ser uma droga ter uma menina que nem era daqui no nosso bando. Mas, cara... Eu não podia estar mais errado!
Quando você chegou, quando eu te vi, foi como pegar todas as peças bagunçadas e perdidas do meu quebra-cabeça e organizá-las. Tudo fez sentido, tudo pareceu bem de novo. Eu queria te ver outra vez, eu me preocupava com você, eu queria poder te ajudar e ficar do seu lado o tempo todo. , eu não me lembro de ter me sentido assim nunca. É algo diferente do que eu sentia por Bella, porque você me faz bem, você é saudável pra mim. Eu gostei de você, eu gostei demais. E acabei me apaixonando.
É, olha o que eu estou falando! Eu te amo. Eu te amo mesmo. E eu me sinto um idiota por ter estragado tudo.
, eu não vou deixar você ir."
Eu estava chocada. Paralisada. Minha boca estava aberta, meus olhos arregalados, meus ombros caídos. Jacob parecia aliviado por ter dito tudo que queria dizer, ao mesmo tempo em que tinha medo nele. Eu hesitei várias vezes, procurando o melhor jeito de responder, as melhores palavras, os melhores gestos. Ele estava ali, falando tudo que eu queria ouvir, e parecia sincero de verdade.
- Você realmente me deixou sem palavras. - eu finalmente disse, soltando uma risada abafada. Passei uma das mãos pelos cabelos, abaixando a cabeça. Respirei fundo.
Enquanto eu estava confusa, tentando encontrar palavras que coubessem na frase, Jacob avançou em minha direção e me beijou. Como sempre, muito mais rápido do que eu podia ter noção, ele colocou uma das mãos em minha cintura, me puxando em sua direção, me prendendo contra seu corpo, e colocou a outra mão em minha nuca. Quando seus lábios tocaram os meus, eu senti meu coração bater acelerado demais, e me faltou o ar. Eu não quis lutar contra aquilo.
Levei minhas mãos até sua nuca, passando meus dedos por seus cabelos e intensificando o beijo. Ele colocou as duas mãos em minha cintura, me segurando no ar por uns instantes, e me colocando sobre ele. Eu ajeitei minhas pernas ao seu redor e me inclinei em sua direção, já que estava mais alta que ele. Ao mesmo tempo, abri mais a boca, e senti sua língua tocar a minha e espalhar um frio na minha espinha. Nossas respirações ficavam mais pesadas, e suas mãos passeavam livres por debaixo da minha blusa.
Ele abaixou a cabeça, movendo seus lábios para o meu pescoço, e eu senti todas as sensações do imprinting ficarem loucas quando senti seu toque.
Eu me arrisquei a colocar as minhas mãos debaixo da camiseta que ele usava. Senti seu abdômen definido, tocando-o aos poucos, e descolei nossos lábios. Encostei nossas testas, e meu olhar encontrou o de Jacob. Ele encostou nossos lábios uma segunda vez.
- Minhas desculpas são as mais sinceras. Mesmo. - eu soltei uma risada pequena, enquanto minhas mãos ainda estavam sobre sua barriga. Eu passeava com minhas unhas, arranhando de leve sua pele, e ele contraía as mãos em meu corpo e sorria de leve.
Eu me inclinei para beijá-lo de novo, subi minhas mãos por debaixo de sua camiseta até seus ombros e depois voltei até seu abdômen. Eu não sabia aonde estávamos indo com aquilo. Depois de quatro meses de namoro, não tínhamos ultrapassado aquela barreira e agora, depois de semanas sem nos falar, eu estava sentada em cima dele.
- Eu também devo desculpas, certo? - perguntei, baixinho, quando descolei nossos lábios. Ele assentiu, sorrindo também.
- Elas já estão aceitas, não se preocupe. - sorrindo, eu o beijei outra vez. Jacob então colocou as mãos em minhas pernas, ao mesmo tempo em que ele ficava de pé e me ajeitava em seu colo. Eu envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, e de alguma forma que só ele sabia, Jacob me carregou até meu quarto, batendo a porta atrás de nós com o pé, e me deitou sobre a cama.
Eu tinha fechado as janelas e as cortinas antes de sair de casa, então agora estávamos quase que totalmente no escuro. A pouca luz do dia que conseguia atravessar as janelas e as cortinas nos iluminava fracamente.
Jacob estava por cima de mim, e eu imediatamente lembrei da primeira vez que ele me beijara, exatamente no mesmo lugar em que estávamos agora. Ele apoiou um braço de cada lado da minha cabeça, no colchão, para não jogar seu peso todo em cima de mim e, depois de abrir um sorriso, voltou a me beijar. Eu passei meus braços ao redor de sua cintura, honestamente sentindo que tudo não podia estar mais em seu lugar certo.
Mas foi aí que me atingiu. Entre Jacob enfiar sua mão por debaixo da minha blusa e mover os lábios para o meu pescoço, eu percebi a uma coisa que estava faltando. Só faltava uma peça do quebra-cabeça.
Juntando uma coragem que eu achava não ter, ou pelo menos pensando que eu estava juntando essa coragem toda, eu fiz com que ele parasse de me beijar e me olhasse nos olhos - acredite, foi difícil juntar a vontade de fazê-lo parar de me beijar. Ele pareceu confuso por instante, e eu o empurrei devagar, fazendo com que ele se sentasse. Me sentei na cama também, e me inclinei até ele, respirei fundo.
Eu dobrei minhas pernas, ficando sentada por cima delas, praticamente ajoelhada sobre o colchão, e Jacob apoiou os braços nas pernas, os pés no chão. Ele tinha a cabeça virada em minha direção.
Eu queria de toda e qualquer forma desviar o assunto, voltar a beijá-lo, me concentrar em qualquer outra coisa que não fosse fazer o que eu estava prestes a fazer. No modo mais simples e direto de falar, eu estava morrendo de medo. Mas o que Sam dissera finalmente parecia ter feito sentido na minha cabeça: não era justo. Não era justo que eu soubesse disso e mantivesse guardado. Não quando eu sabia exatamente dos sentimentos de Jacob. Ele me amava.
- Eu também te amo. - disse, ao mesmo tempo em que colocava uma mão sobre seu peito. Ele abriu um sorriso grande e veio em minha direção, me beijar outra vez. Eu neguei com a cabeça. - Espera. - e fechei os olhos. - Preciso mesmo me concentrar, isso é... É bastante importante. - o silêncio foi a resposta de Jacob, e eu me obriguei a destrancar minha mente.
Assim que o fiz, senti um certo alívio, algo como tirar um peso das minhas costas. Manter os pensamentos trancados trazia um certo peso, um desgaste de energia constante. Eu busquei o imprinting. Inconscientemente, eu sabia que o guardava na parte mais escondida que eu pudesse achar dos meus pensamentos, e quando finalmente consegui trazê-lo a superfície, eu não tive coragem de abrir meus olhos.
Eu estava me sentindo incrivelmente leve, e não tivera noção de quanto peso eu carregara até agora, que ele estava fora de mim. As sensações do imprinting, mais fortes agora que eu não estava mais bloqueando-o, não eram exatamente novidade para mim. Mas eram para Jacob.
Senti as mãos dele, em minha cintura, ficarem contraídas. Senti sua respiração pesada, seu coração acelerado, ele parecia ter levado um susto. Na verdade, eu tinha certeza de que ele tinha levado um susto. Enquanto em meu corpo eu tinha todas as borboletas no estômago e o frio na espinha com os quais eu meio que me acostumara. Eu estava tendo um imprinting, e ele também.


Capítulo 12 -
IMPRINTING.

(Capa.)

(Pra quem quiser ler com música acompanhando, a música nesse capítulo é bem no início. As opções são Beyoncé, "Smash Into You" ou Paramore, "I Caught Myself". Se quiser Beyoncé, clique aqui. Se quiser Paramore, clique aqui. Carregue o vídeo e, quando estiver pronto, dê play e acompanhe lendo!)

Uma luz forte estourou lá fora, atravessando a janela e nos iluminando completamente por uma fração de segundo. Em seguido, o som alto de um trovão que caíra próximo se fez em nossos ouvidos. Não demorou mais do que alguns segundos para que o som da chuva forte que começara a cair viesse em seguida.
Eu abrira meus olhos, e agora encarava um Jacob de olhos fechados. Ele provavelmente estava tentando absorver o imprinting, eu já me acostumara com todas aquelas sensações que ele estava tendo pela primeira vez.
Jacob abriu os olhos quando o trovão caíra. Ele me olhou, a expressão indecifrável, e eu prendi a respiração... Era exatamente aquele momento que eu tanto temia, aquele exato instante em que eu esperava pela sua reação. Podia ser qualquer uma. Podia ser boa, podia ser ruim... Então ele sorriu. Um sorriso gigante, aquele sorriso dele que eu tanto sentira falta.
Me concentrei nos cantos dos seus lábios inclinando-se para cima, nos seus olhos ficando menores, nas pequenas e quase invisíveis marcas que apareciam... Observar seus músculos se contraindo em um sorriso parecia tornar a situação mais real, mesmo que só um pouco.
Mesmo que a ficha não tivesse caído completamente, eu não esperei que ele me beijasse. Eu sorri de volta e o puxei por colocando minhas mãos em sua cintura. Colei nossos lábios e senti o primeiro de muitos frios na espinha que eu ainda sentiria. Ele me beijou de volta, mais intensamente do que antes, suas mãos envolvendo minha cintura e passando para minhas costas.
Seu toque parecia muito mais incrível agora que o imprinting agia sobre nós dois. Eu me sentia leve, no lugar certo, com tudo certo, e debilmente feliz pelo fato de que ele concordava com tudo aquilo. Eu estava surpresa por ele ter apenas sorrido como resposta, mas uma parte de mim dizia que era exatamente isso que Jacob faria, pelo menos como uma reação imediata. Ele não era tão complicado assim.
Agora, eu sentia uma força invisível me puxando em sua direção. Ele era como um ponto de fuga que dava início a todas as outras coisas, era como uma base. Seus braços grandes e fortes me envolviam, e suas mãos passeavam livres pelo meu corpo, assim como eu deixava que as minhas fossem para qualquer parte alcançável dele. Era como a primeira vez que eu o vira, só que agora tudo parecia melhor porque não tinha segredo, nem surpresa nenhuma. Éramos só nós dois. Seus lábios sobre os meus, sua língua explorando minha boca... Jacob me inclinou em direção ao colchão, fazendo com que eu me deitasse de costas. Minha cabeça encontrou o travesseiro, e eu assisti Jacob se afastar só o suficiente para ficar quase sentado.
Sem tirar os olhos de mim, levou as mãos até a barra da camiseta que usava, tirando-a segundos depois. Eu senti meu rosto esquentar, provavelmente muito vermelha, e mordi o lábio inferior ao vê-lo sem camisa, dessa vez sem desculpas para não olhar o que estava bem na minha frente. Ele soltou uma risada pequena ao me observar, e então levou uma das mãos até meu rosto, me beijando de leve e deitando-se sobre mim. Faltou o ar quando senti seu corpo sobre o meu, não porque eu sentia o peso, mas porque eu nunca estivera tão próxima de alguém com tanto roupa sendo jogada pelos cantos do meu quarto.
Eu coloquei minhas mãos sobre seus ombros, descendo-as devagar e sentindo em seus beijos sua vontade. Eu estaria mentindo se dissesse que não queria deixar minhas mãos passeando por ele. Eu não ia ser idiota a ponto de não dizer que estava exatamente onde queria estar. Ele levou suas mãos até a barra da minha blusa, subindo-a, e eu só ergui meus braços para que ele a tirasse, assistindo o tecido voar para alguma parte do meu quarto. Jacob se afastou por um instante, me observando e sorrindo. Eu não podia dizer que agora estava envergonhada, porque eu também não tirava meus olhos dele.
- Você é linda. Mesmo. - ele disse, e meu sorriso foi sua resposta. O puxei para perto de mim outra vez, minhas mãos em sua nuca, brincando com seus cabelos, puxando-os às vezes. - Você não fica por menos. - sussurrei em seu ouvido, e sorri quando ele pareceu animado demais com minha fala e em como eu havia dito.
Ele começou a brincar com a alça do meu sutiã e eu sorri.
- Certo, não é exatamente hora para brincadeiras. - ele disse, rindo, e eu o beijei outra vez. Suas mãos fizeram as alças do sutiã caírem, e então ele as levou até as jeans que eu usava, e eu as senti deslizarem... Seu toque e seu beijo só ficaram mais intensos, eu só senti mais calor e o imprinting forte demais.
Juntei o que restava da minha vergonha e o joguei fora, colocando minhas mãos na jeans que ele usava.
Não era como se eu precisasse de qualquer outra coisa. Era estranho pensar que aquilo era quase uma definição de algo perfeito.

Eu só consegui abrir meus olhos quando senti os lábios de Jacob sobre os meus. Ele soltou uma risada abafada, e entrelaçou sua mãos com a minha, me fazendo chegar mais perto dele e me aninhar em seu peito. Eu mordi meu lábio inferior, e respirei fundo, soltando um murmúrio sonolento. Não havia mais barulho do lado de fora, a chuva cessara. O Sol começara a se pôr, e eu tinha perdido completamente a noção da hora.
Eu estiquei meu pescoço para poder olhá-lo, e sorri quando ele sorriu para mim.
Eu não sei quanto tempo ficamos em silêncio. Ali, parados, de mãos dadas e com os olhares fixos. Eu sentia tudo tão bem, como se finalmente tudo estivesse no lugar certo. Não era exatamente como se o silêncio me incomodasse, mas eu precisava de uma reação dele. Ele ainda não tinha dito nada. Mas foi como se ele tivesse lido meus pensamentos:
- Por que demorou tanto pra me contar? - Jacob não podia ler meus pensamentos quando na forma humana, e só podia ler quando lobo caso eu deixasse. Mas ali, apenas separados por um cobertor, um lençol, e vestindo apenas roupas íntimas, eu não acho que tínhamos mais qualquer coisa a esconder.
Eu me afastei dele para poder olhá-lo direito, e soltei uma risada quando ele não deixou que eu me afastasse demais, me segurando forte pela cintura. Apoiei minha cabeça no travesseiro, deitando de lado e de frente para ele, e dei de ombros.
- Eu fiquei com medo. - comecei, e o assisti franzir a testa, enquanto sua mão acariciava minha cintura. - É, eu tive medo de que... Bom, eu não queria te prender a mim só por causa de um imprinting. Eu achava que você tinha direito de, se realmente quisesse, ficar correndo atrás de Bella, se era dela mesmo que você gostava. Na verdade, eu estava bastante convencida disso, até que você começou a falar, andar e conversar demais comigo e complicou tudo. - soltei uma risada abafada nessa parte. - Eu fiquei em dúvida o tempo todo, eu queria te contar mas tinha perdido a coragem. Eu achava que, se te contasse, podia estragar qualquer coisa que pudéssemos começar. - Jacob abriu a boca para dizer algo, e eu balancei a cabeça. Agora que eu tinha começado, eu ia terminar de falar. - Eu tentei te contar na noite em que você me pediu em namoro, mas eu desisti na última hora. Sam descobriu, não me pergunte como, e passou a me encher todo santo dia pra te contar, porque ele disse que era injusto que você não soubesse. E então tivemos aquela briga e eu achei que não precisava de mais nada me provando que eu não tinha que te contar mesmo.
- ...E quando eu apareci hoje você mudou de idéia? - a voz dele era baixa e tranquila. Não era irritada.
- É. Eu percebi que era mesmo injusto que você não soubesse. - ele riu, e eu ergui uma sobrancelha, tentando achar a graça. Ele rolou os olhos.
- Sabe, é isso que é tão divertido em você. Ninguém por aqui diria "eu não queria te prender a mim só por causa de um imprinting". Aliás, nem você deveria dizer isso. Não é só um imprinting. É a uma coisa que nos une mais do que qualquer coisa. É bom, e se é pra acontecer...
- Jacob, nem adianta. Eu prezo muito o livre arbítrio. - ele riu, e eu sorri, me inclinando até ele e o beijando.
- Certo, tudo que eu preciso pra perder meu livre arbítrio então é dizer que te amo? - eu rolei os olhos, divertida.
- Sabe, se a gente quer mesmo que o livre arbítrio continue nosso amigo, a gente devia ficar mais apresentável. Meus pais não devem demorar muito mais. - ele soltou um "Oh!" e pareceu lembrar onde estava, como estava e o que tinha acontecido realmente. Eu me enrolei no lençol e me sentei na cama. Fiz um gesto para ele, indicando a parede.
- O quê?
- Anda, olha pra lá. Preciso trocar de...
- Ah, qual é, . Não precisa, eu já vi tud...
- Jacob Black, eu sei muito bem o que você viu, mas eu estou mandando! - eu não estava a fim de ficar vermelha de novo. Ele rolou os olhos e virou para o outro lado, e eu joguei um travesseiro em seu rosto quando levantei. Ele riu, mas não o tirou de lá.
Me arrumei em alguns segundos, colocando shorts e uma camisa de manga comprida, e então andei até a porta do meu quarto. De lá, falei para ele se arrumar e fui para a cozinha.

Ok, e agora eu estava sozinha. Jacob provavelmente não demoraria, mas qualquer um minuto sozinha já era suficiente para eu começar a pensar. Claro que as lembranças frescas demais do que tinha acontecido no meu quarto não ajudavam muito a manter meus pensamentos em ordem, e eu inevitavelmente me vi sorrindo. Mas eu não tinha motivos para não sorrir, certo? Tudo estava certo de novo, e mais certo do que da última vez, porque enfim eu tivera coragem de contar o que precisava, e Jacob também.
Eu comecei a abrir os armários da dispensa, em busca de alguma coisa para comer, e acabei fazendo pipoca. É, meus dotes culinários podem ser podres de vez em quando.
Jacob saiu do meu quarto passando as mãos nos cabelos molhados, desarrumando-os. Ele tomara banho, e agora vestia as mesmas roupas de quando aparecera na minha porta, algumas horas atrás, e eu tive mesmo vontade de pular em cima dele e beijá-lo. Eu não podia negar que era bom demais.
- Hey! Qual é nosso cardápio? - ele perguntou, sorrindo, e sentou num dos bancos da cozinha. Eu apontei para o pote de pipoca, e me sentei de frente para ele. - Uau! - nós dois rimos, e eu enchi minha mão de pipocas enquanto pegava o controle da tv. Acabei ligando numa reprise de Friends.
- Sabe, você também é bastante divertido. - eu disse, subitamente, e ele desviou os olhos da tv para me olhar, confuso. Eu sorri. - Eu finalmente te conto um segredo que guardei de você por muito tempo, mesmo quando ele era extremamente íntimo quanto é, e você nem ficou puto comigo.
- Seu vocabulário me encanta. - eu rolei os olhos, e ele riu.
- ...E você nem ficou irritado. Soa melhor, querido? - ele fingiu que pensava, e depois soltou uma risada divertida.
- Por que eu ia ficar puto com você? Eu também escondi que te amava, não? - eu suspirei.
- Você descobriu que me amava mais tarde do que eu entendi que tivera um imprinting. - Jacob juntou algumas pipocas na mão e as acertou no meu rosto.
- Agora é questão de quem fez primeiro? - ele brincou, e eu mostrei a língua para ele.
- Você me entendeu, Jake!
- Vou fingir que não. Eu não fiquei puto e você consegue bloquear o imprinting. Eu te amo, você me ama. Além do mais, eu imagino como deve ter sido complicado ter um imprinting quando você nem sabia que isso existia. - concordei com um aceno da cabeça.
- Cinco pontos pra você. - comentei. - As coisas só fizeram sentido mesmo quando eu descobri que podia bloquear pensamentos. Até lá, eu achava que tinha conseguido ter tido um imprinting "lateral". - Jacob riu.
- Talvez eu tenha tido algo como um impriting na primeira vez que te vi. Você não o bloqueou de imediato. - eu ergui uma sobrancelha e balancei a cabeça, concordando lentamente. Não tinha pensado nisso.
- Deve ter sido por isso que ficamos parados na minha cozinha com cara de idiotas. - Jacob sorriu.
- Olha só, pra você ver... Eu te amo tanto que tô até comendo essa pipoca horrível. - ele ergueu duas pipocas que estavam um pouco queimadas, e eu levei minhas mãos até minha boca. - Não acredito que você disse que minha pipoca é horrível.
- Não acredito que eu digo que te amo e você reclama da pipoca.
- Você não pode usar desse artifício sempre, uma hora eu já vou sabe demais que você me ama.
- Oh, tudo bem, tem tantas garotas por aí esperando eu dizer que as amo... - ele disse, num tom de voz sonhador e brincalhão. Eu rolei os olhos.
- Sabe, você pode ver Bella quando quiser. - mudei de assunto completamente. Ele franziu a testa. Se eu ia falar isso, era melhor eu simplesmente falar de uma vez e ele guardar na cabeça, porque eu não ia repetir.
- Como é que você consegue ser tão aleatória? - eu semicerrei meus olhos. Ele deu de ombros.
- Certo, então. - soltou uma risada. - Não se preocupe com isso, Bella nem fala mais tanto comigo ultimamente.
- Edward é um cara legal. - peguei Jacob de surpresa e, se não tivesse tanto noção do quanto Edward estava fora de sua lista de pessoas (ou criaturas, como preferir) que ele não queria matar, eu teria rido.
- Como assim ele é um cara legal? Você nunca...
- Fui a Port Angeles ontem, ele estava lá. Nós conversamos. - percebi que Jake queria dizer alguma coisa, mas pareceu desistir e suspirou. - Ele podia ter me dito lá sobre seus sentimentos, porque acho que ele leu seus pensamentos, mas tudo que disse foi que você gostava mesmo de mim.
- É, acho que agora não tenho mesmo porque odiá-lo.
- É, eu não tenho interesse nenhum em sair com ele. - gargalhei da expressão séria que Jacob assumiu, quando ouviu meu tom de voz fechado. - Certo, desculpe. Eu te amo. - me inclinei em sua direção, empurrei o pote de pipoca entre nós com uma mão, e o beijei, sentindo-o sorrir.
- Você não pode consertar tudo dizendo que me ama. - ele murmurou, entre um beijo e outro.
- Posso consertar algumas coisas. - ele riu outra vez.
- E, por favor, nada de bloquear o imprinting de novo.
- Tá brincando? Eu vou te ameaçar com isso pra sempre.
- Droga, eu perdi o controle da relação.
- Perdeu feio, Black. - eu me afastei, sorrindo convencida.
- Não é que certas coisas te deixam mesmo de bom humor? - ele riu da própria piada, apontando com a mão para a porta do meu quarto, e eu me fingi ofendida, mesmo sem conseguir segurar o riso.
- Seu babaca! - ele rolou os olhos, colocou mais algumas pipocas na boca. - Sério, Jake...
- Muito obrigado, . - ele respondeu, num tom exageradamente educado. Eu sorri. - Eu acho que preciso ir.
- Hã? - fiquei confusa pela mudança de assunto, e procurei o relógio na parede. Ah, é, ele devia ir. - Vai...?
- Vou. - ele respondeu, e eu mordi o lábio inferior. Não importava o quanto todo mundo me dissesse que Jacob sabia se virar sozinho, eu não podia dizer que não me incomodava ele virar a noite procurando uma vampira lunática. Certo, eu não podia fazer muito mais.
Ele ficou de pé, me esperou para me abraçar pela cintura e andar comigo quase caindo até a porta. Nós dois rimos, e paramos do lado de fora.
- Então, te vejo amanhã?
- Venho te buscar. - ele se inclinou em minha direção, colocou as duas mãos em meu rosto, e me beijou. Eu passei meus braços por sua cintura, me sentindo quase perdida nele. - Eu preciso mesmo ir. - ele murmurou, entre um beijo e outro. Eu soltei uma risada pequena, concordando apenas com um "Uhum" e o beijando outra vez. E outra, e outra... Nós dois rimos. - Certo, ok, vai lá. - com um último beijo, ele me soltou, me deu uma piscadela e girou nos calcanhares, logo começando a correr em direção à floresta. Eu suspirei, sorrindo feito uma idiota, e o assisti até ele sumir do meu campo de visão.
E lá ia o meu namorado/alma gêmea/a melhor coisa que eu ia encontrar pra mim/a uma pessoa com quem eu ia querer passar minha vida com/o um ser que estava conectado comigo por magia. Deus do Céu, a gente não podia só gostar um do outro.
Eu entrei em casa rindo de mim mesma, e surpresa com o fato de que eu estava sorrindo mais nas últimas horas do que nas últimas duas semanas.


Capítulo 13 -
ATAQUE.

(Capa.)

Minha mãe e meu pai sempre haviam brincado comigo, dizendo que no dia que eu tivesse um carro, eles dois iam passar a me pedir carona para qualquer lugar. Eu nunca acreditara muito nisso, mas também não tinha contado com alguns outros fatores que até uns meses atrás não constavam na minha vidinha: Seth, Brady e Collin. Inevitavelmente, eu assumira uma posição de quem toma conta deles. Porque eu achava que eles eram novos demais para se transformarem em lobos e saírem correndo atrás de vampiros. Eu fazia lanche para eles, eu os ajudava com deveres de casa, eu os ensinava matemática... E eu dava carona para eles chegarem ao primeiro encontro de suas vidas. Olhei para trás pelo retrovisor, e vi Brady murmurando algo para Seth, enquanto Collin parecia analisar uma mancha inexistente em sua calça jeans. Todos os três estavam nervosos mas ainda assim com sorrisos nos rostos.
- Onde eu deixo vocês? - perguntei, diminuindo a velocidade do carro e abaixando o som do rádio. Os três levantaram as cabeças e olharam pelas janelas. Segurei o riso, e esperei que eles se decidissem.
- Pode ser no McDonald's? - pediu Collin.
- Mas na rua de trás! - emendou Seth, e eu apenas assenti. Claro que eles não queriam descer do carro da amiga mais velha bem na frente das garotas. Peguei a primeira rua e fiz o retorno, parando numa rua vazia. Destranquei o carro e esperei eles descerem.
- Me liguem quando quiserem voltar! - disse, fazendo Seth parar na minha janela. Ele assentiu. - Divirtam-se, e sejam legais com elas. - apontei o dedo indicador para os três, e eles assentiram em meio a risadas. Sorri, e os assisti irem embora, enquanto dava partida no carro de novo.
Era sexta-feira, o relógio marcava cinco da tarde, e foi aí que meu celular começou a berrar dentro da minha bolsa, que eu deixara no banco do carona. Eu parei em um sinal fechado, e o mais rápido que pude abri a bolsa e tirei o aparelho de lá. Algumas semanas atrás, eu teria achado totalmente estranho que o nome "Jacob" aparecesse no visor do celular, mas agora eu achava apenas normal. Abri um sorriso e apertei o botão verde, enquanto avançava com o carro, já que o sinal abrira.
- Hey!
- Hey, ainda está em Port Angeles? - ele perguntou, e eu assenti.
- É, estou saindo daqui agora...
- Não quer companhia? Acabei de comprar umas coisas pro carro... - eu sorri.
- Hm, onde eu te busco? - Jacob me falou onde estava, e como eu fazia para chegar lá, porque eu ainda não conhecia Port Angeles tão bem assim, e desliguei o celular para começar a me achar.

Jacob saiu de uma loja que não fazia sentido pra mim, porque só tinha peças de carro e coisas do tipo. Ele tinha algumas sacolas na mão, e eu abri o porta-malas para ele colocá-las. Estacionei o carro e saí dele, enfiando as chaves no bolso do casaco que eu usava. Ele abriu um sorriso grande quando me viu, e eu sorri de volta. Sempre que eu o via, o imprinting agia um pouco mais forte. Na verdade, ele agia quase o tempo todo, mas nessas vezes que eu dava de cara com Jacob, era como se ele desse uma pontada mais forte, um pequeno estouro mais forte.
Jacob me abraçou, logo depois de colocar suas compras no carro e fechar a mala. Eu sorri, procurando seu olhar próximo demais de mim, e o beijei antes que ele o fizesse. Toda vez que eu o beijava, eu me perguntava como eu podia, algum dia, ter ficado sem beijá-lo. Todo o conjunto da situação: seus braços ao meu redor, seus lábios nos meus, seu perfume, seus cabelos por entre meus dedos... Todo o conjunto era bom demais.
- Oi. - ele disse, baixinho, me arrancando uma risada. Eu o beijei de novo, e então me afastei para poder olhá-lo.
- Oi! - respondi, animada, e ele riu. Eu afrouxei um pouco o abraço para conseguir enfiar a mão no bolso do meu casaco, e de lá tirei as chaves do carro. Entreguei as chaves a ele, e percebi como era fácil deixá-lo satisfeito.
- Tem algum tipo de armadilha quando eu for sentar lá? - ele perguntou, rindo. Eu mostrei a língua para ele, negando com a cabeça.
- Não, seu babaca. - resmunguei, enquanto ele me soltava e abria a porta do carona para eu entrar. - Eu tô cansada de dirigir mesmo. - disse, e ele apenas bateu a porta, depois de eu ter entrado. Eu me ajeitei, colocando minhas pernas para o alto, apoiando-as no painel, e caí na risada quando Jacob entrou, abriu a boca para me dizer que não devia fazer isso, e percebeu que não podia porque o carro era meu.
- Ah, você vai me torturar, então! Que beleza! - ele disse, girando a chave na ignição. Eu soltei uma risada, e liguei o rádio. Ele rolou os olhos, e mudou a estação.
- Não venha com "o carro é meu!". Quem dirige tem direito de escolha na música.
- Por que você só vem com essas regras que favorecem o motorista quando é você quem está dirigindo?
- E qual seria a graça, então?
- Ah, você é um retardado.
- Eu também te amo, querida. - soltei uma risada divertida, e então tirei os pés do painel e cruzei as pernas sobre o banco. Ajeitei minha bolsa em meu colo e soltei um suspiro cansado. Quando passamos pelo McDonald's, demorei meu olhar em Seth, Brady e Collin, que estavam na porta, conversando animados com três garotas, todas arrumadinhas e bonitinhas. Jacob soltou um murmúrio de descaso.
- Ah, o que é? - resmunguei, ainda rindo. Ele deu de ombros.
- Você mima tanto esses garotos. - eu rolei os olhos.
- Não fique com ciúmes, eu não vou te trocar por nenhum deles. Pedofilia não está na minha lista de coisas pra fazer. - brinquei. - Ainda assim, te largar também não está. - ele sorriu.
- Temos isso em comum. - então eu sorri. Por mais que eu soubesse (e sentisse) o quanto Jacob gostava de mim de volta, eu sempre me surpreendia de um jeito bom todas as vezes que ele confirmava isso. - Escuta... Quer fazer alguma coisa hoje? - ele perguntou, sorrindo de lado, e estendendo a mão direita até a minha esquerda. Eu observei nossas mãos entrelaçadas por alguns segundos, e então entendi o que ele queria dizer.
- Ah, seu pai vai pra uma reunião hoje, certo?
- Exato, a mesma que seu pai vai.
- Aquela reunião que termina bem de noite, não é? - ele riu quando eu perguntei, mas concordou com um aceno da cabeça. Eu assenti. - É, acho que posso passar na sua casa lá pras sete.
- Sete está ótimo. - nós dois rimos, e eu aumentei o som do rádio. Jacob manteve nossas mãos entrelaçadas, dirigindo um tanto quanto mais lento do que costumava dirigir, e então começamos um novo assunto. O tempo sempre parecia parar, ao mesmo tempo em que parecia passar rápido demais, sempre que eu estava com ele.

Fiquei sozinha pela primeira vez no dia. Quando se anda com mais um monte de caras com quem você está ligada para o resto da sua vida, é difícil ficar sozinha por mais do que alguns minutos no dia. Normalmente, eu só ficava sozinha quando ia ao banheiro. Agora, por exemplo, eu estava tomando banho. Enquanto a água fria (eu gostava de banhos frios) se espalhava pelo meu corpo, eu pensava em como tinha sido a semana que se passara.
Eu tinha achado que ia ser muito chato ter que explicar a todo mundo que eu e Jacob tínhamos voltado, mas eu tinha errado bem feio. Na verdade, ninguém nem parecera surpreso. Houveram muitos "Até que enfim!", vindo dos meninos, alguns "Oh, que bom!" da maioria dos adultos (claro que, quando se mora num lugar onde todo mundo conhece todo mundo, você meio que acaba dando satisfações à muita gente), e um abraço de Sam. Esse último fora o que mais me surpreendera, porque Sam não era um cara de muitas demonstrações de afeto. Quer dizer, ele guardava todas as suas demonstrações de afeto para Emily.
Quando ele vira eu e Jacob andando de mãos dadas e conversando, ele saíra de sua casa, andara até nós e eu disse antes que perguntasse: "Ele já sabe do imprinting". Foram as palavras mágicas que resultaram num abraço e num sorriso de Sam. Jacob, depois que já estávamos bem distantes de Sam, dissera que ele apenas ficara satisfeito com minha atitude, e que caras que tiveram imprinting costumavam ficar bem mais animados com isso. O que até explicava porque Jared tinha sido o mais compreensivo quando contamos a todos eles.
Eu fechei a água, e me enrolei numa toalha, saindo do banheiro e saindo em busca de alguma roupa razoável pela bagunça que estava meu quarto. Minha mãe e meu pai não paravam mais em casa, já que tinham ficado amigos de todo mundo, o que significava dizer que minha mãe não arrumava mais meu quarto, só o dela e a cozinha. Meu quarto e todo o resto da casa eram minha responsabilidade. Aliviada por pelo menos não ter que lavar a louça, eu vesti shorts jeans, uma camiseta, tênis, coloquei um prendedor de cabelo no pulso (para quando meu cabelo estivesse seco), e comecei a catar as roupas espalhadas pelo chão.
Tudo bem, eu ficava um pouco contente que minha mãe não arrumasse mais meu quarto. Concluí isso quando achei uma camiseta de Jacob no meio das minhas roupas. Isso acontecia porque: aproveitávamos quando não tinha ninguém em casa para... Bom, para levar nossa relação para outro nível - de vez em quando, ele tinha que sair logo depois para cumprir seu horário na vigia (que ainda não me deixavam participar, não importasse quantas horas Sam me prendesse nos treinos), e acabava largando camisetas lá, porque ele ia tirar a roupa toda mesmo para se transformar; e também acontecia porque eu gostava de vestir as camisetas dele que ficavam grandes, confortáveis e tinham o cheiro dele.
Separei as duas camisetas dele e dobrei numa pilha separada, e foi quando tentei atravessar a porta do meu quarto que uma dor sufocante me envolveu. Eu fechei os olhos, senti o ar faltar e minha cabeça balançar. Me apoiei no colchão, tateando-o até ter certeza de que eu tinha espaço para me sentar, e apertei minha cabeça com as mãos, tentando fazer a dor parar. Era como se alguém estivesse prensando-a contra algo, apertando-a até conseguir tirar algo de lá... Eu sabia que estava quase gritando de dor, mas eu estava totalmente sozinha, ninguém ia me escutar.
Então, de repente, ela passou. Simplesmente se foi. Eu mantive meus olhos fechados por um tempo que me pareceu longo, mas eu tinha medo de me mexer. Era como uma cãimbra na batata da perna, no meio da noite. Depois que você consegue esticar a perna, você não quer mexê-la de novo até conseguir dormir, para a dor não voltar. Eu tinha medo de que o mínimo movimento fosse fazer tudo doer de novo. Então, depois de ter certeza de que tudo estava bem, eu abri meus olhos. Só então percebi que estava abraçando minhas pernas, a cabeça nos joelhos, cada músculo meu contraído.
Olhei ao redor e vi que tudo continuava na mesma posição, as roupas que eu acabara de juntar exatamente no mesmo lugar. Tinha sido só eu.
Decidi que precisava sair de casa.

Somente com a roupa do corpo e uma bolsa pequena de pano com cordas enfiada no bolso dos shorts, eu saí de casa e corri para a floresta. Me enfiei no lugar mais fechado que consegui encontrar e tirei a roupa, enfiando-a na bolsa. Me transformei, sentindo todo o meu corpo se alargar enquanto tomava forma de um lobo. Em segundos, eu estava sobre quatro patas, ouvindo minha respiração pesada e sentindo uma quantidade muito maior de ar entrar pelos meus pulmões muito largos. O som da floresta também tinha ficado mais alto, o farfalhar das folhas, os pequenos movimentos dos bichos... Era uma sensação boa, diferente demais. Era agradável, e eu gostava de como tornava mais fácil pensar quando eu estava nessa forma.
Comecei a andar, bem devagar, e tomando cuidado para não sair do caminho escondido que eu conhecia. Não era boa idéia ter um tamanho muito grande, pêlos brancos demais, e sair andando por caminhos fáceis de ser avistados.
Logo, eu estava correndo, sentindo o vento forte contra meu rosto, a terra sob minhas patas. E aí, quando eu tinha quase esquecido que há alguns minutos estava brigando contra uma dor repentina, sem sentido e absurda, eu senti um cheiro que me era familiar, e que também queimava meu focinho e me fazia querer dar meia volta e correr dele. Parei de correr, e comecei a pisar com leveza, tomando cuidado para não fazer barulho. Farejei, farejei... O cheiro ficava mais forte ao Norte, então foi para lá que eu caminhei, olhando para todos os lados, aguçando ainda mais meus ouvidos...
De repente, me vi pisando numa poça de um líquido vermelho. O cheiro ficou ainda mais forte, e eu olhei para minha pata para ver que se tratava de sangue. E era sangue de vampiro, porque o cheiro era quase insuportável ali. A poça escorria, e onde eu pisava era quase um fio. Olhei para frente, e pulei para o lado, seguindo a direção da poça cautelosamente. Quanto mais eu me aproximava, mais nítido ficava um monte esquisito e disforme, apoiado numa árvore. Aparentemente, a coisa estava deitada, e parecia ter sido amassada. Cheguei até alguns centímetros de distância do monte.
Congelei quando percebi do que se tratava. Me afastei um pouco, e então inclinei minha cabeça em direção a montanha deformada de aspecto esquisito. Inalei o cheiro, semicerrando meus olhos quando o senti praticamente queimar meu nariz. Cara, como fedia! Com toda certeza, era muito mais do que só sangue de vampiro, e aquela coisa deitada lá, disforme, era qualquer coisa, menos humana.
Dando uma última olhada no que quer que aquilo fosse, eu tomei impulso e comecei a correr pelo caminho confuso e estreito que eu conhecia da floresta, ao mesmo tempo vasculhando minha cabeça e abrindo-a, na procura por Sam ou qualquer outro dos garotos. A coisa ia ficar feia.
SAM!
Berrei, em pensamento, quando ouvi resquícios de seus pensamentos entrarem em minha mente. Pensei no que eu tinha acabado de ver, e um simples "Não se mexa, eu estou indo" no tom de alfa foi o suficiente para que eu parasse e esperasse que ele aparecesse. Eu me sentei, senti minha cabeça um tanto quanto pesada, e me forcei a ficar perto do que quer que fosse que estivesse lá, sangrando e quebrado. Foi mais ou menos aí que deu merda.

Victoria era exatamente como eu vira nos meus sonhos: alta, magra, os cabelos muito vermelhos, os olhos praticamente da mesma cor... A mesma expressão exageradamente... Irritada. Era isso que ela parecia, estar muito irritada. Com muita raiva de alguém. Eu dei alguns passos para trás, tendo certeza de que o cheiro dela era muito pior agora, que eu estava na minha forma de loba.
- Você é uma loba bonita... - ela começou, com um meio sorriso. - ...Para seus padrões, quero dizer. - e soltou uma risada esquisita. Ela dava passos lentos e curtos até mim, seus pés descalços pisando na terra, o som estalando nos meus ouvidos. - Bom, já percebi que só eu vou falar aqui. - ela deu de ombros, ergueu as sobrancelhas e parou de andar. Eu tentei ouvir algum barulho que viesse dos outros lados da floresta, mas parecia que estávamos sozinhas. - Sabe, você é realmente uma criatura... Interessante. Imagine quão confusa eu fiquei quando encontrei uma loba que tivesse algum poder além de exatamente se transformar. Me desculpe, mas eu não consigo levar a inteligência de vocês como um fato existente. - claro que devia ser parte do plano dela falar e falar até eu me estressar e atacá-la. Ela estava sendo bem-sucedida, eu estava com os nervos à flor da pele, tensa, mas não havia muito que eu pudesse fazer quando Sam havia dito para eu não me mover. Pensei em abrir minha mente e procurá-lo de novo, mas Victoria sabia, de alguma forma, que eu podia fazer isso. Então não era a melhor das saídas.
Seu eu a ataquasse, provavelmente cairia numa armadilha também. Ela podia ter toda aquela convicção no rosto, nas palavras e no jeito de andar porque sabia que tinha a vantagem ali, ou ela podia estar blefando.
- Você deve querer saber o quê eu estou fazendo aqui. Bom, eu estaria me perguntando isso se estivesse no seu lugar. - ela ria de suas piadas, o que a fazia parecer maluca.
!
Me assustei por um segundo, ao ouvir a voz de Sam na minha cabeça. Certo, então ele estava ouvindo e sabia o que estava acontecendo.
Você precisa fechar a mente pra ela.
Eu entendi o que ele quis dizer. Eu podia fazer, eu tinha treinado isso. Era difícil, mas eu conseguia filtrar todos os pensamentos, e escolher quem ia ouvir ou não. Ok.
Tudo bem.
Disse, apenas, me certificando de que ele ouvira e que ela não. Victoria continuava parada, olhando ao redor, como quem espera ou procura algo.
Eu a observava, e esperava que Sam me respondesse.
Eu estou chegando perto, ela vai sentir meu cheiro antes. E aí eu quero que você a distraia... Ela precisa ser pega de surpresa. Embry e Paul estão nas direções opostas as nossas... Vamos cercá-la. Quero que você pule para a direita assim que ela sentir meu cheiro.
Está bem.
Eu não disse mais nada, porque estava nervosa demais. Eu passara todo esse tempo brigando para poder agir, e agora era a hora.
Não demorou mais do que alguns segundos até que ela desviasse sua atenção do que quer que fosse para mim. Ela franziu o nariz, arregalou os olhos, e então abriu um sorriso meio maníaco. Ela olhou direto para de onde Sam viria, e foi nessa hora que eu saltei.
Funcionou. Ela girou os olhos comigo. As instruções de Sam iam até aí, então a partir de agora eu estava por contra própria até ele aparecer. Isso podia ser um longo tempo com um vampira que sabe que você vai atacar.
Eu rosnei, me abaixando levemente. Ela saltou, girando rápido e correndo em minha direção. Eu desviei, desenhando um círculo, sem tirar os olhos dela. Ela avançou uma segunda vez, mas dessa vez conseguiu acertar suas unhas em meu rosto, e eu senti uma queimação irritante. Quando ela chegou bastante perto, eu a empurrei com a cabeça, assistindo-a aterrisar no chão, de costas. Respirei fundo, ouvindo movimentos ao meu redor. Deviam ser Sam, Embry e Paul.
Victoria ficou de pé outra vez, e dessa vez não sorria mais.
- Talvez eu tenha subestimado a inteligência de vocês... - ela disse, sarcástica. Rosnei mais alto, e tomei impulso para saltar sobre ela. Se eu tinha que arrancar a cabeça dela, então...
, se afaste.
Sam surgiu, cercando Victoria por trás, enquanto Embry e Paul vinham dos outros lados. Dessa vez ela pareceu mesmo assustada, presa no círculo em que eu a fizera cair. Dei alguns passos para trás, e juro que pude ouvir algo como uma risada de Paul. Ela começou a correr, achando um escape por entre Embry e Paul, e então eles saíram correndo atrás dela, parecendo se divertir demais. Sam foi logo atrás, mas antes eu pude ouvir:
Bom trabalho, .

Os Cullen eram esquisitos. Eu tinha cumprimentado Edward primeiro, depois Carlisle, Alice... E fui apresentada a Jasper, Emmett, Rosalie e Esme. Não tinha certeza de que gostava deles, mas também não tinha nada contra. Eu estava sentada no sofá da sala de estar de Sam e Emily, todos os meninos e os Cullen me encarando e murmurando qualquer coisa com quem estivesse mais próximo. Emily apareceu na sala com comida para a gente, e nem se deu ao trabalho de oferecer aos Cullen, porque eles não iam comer mesmo. Bella, que estava lá praticamente amarrada a Edward, se esticou e pegou um dos bolinhos. Ela não olhava diretamente para mim, mas eu não exatamente me importava. Embora estivesse esperando sentir algum tipo de raiva quando desse de cara com ela, eu estava apenas tranquila quanto a isso, mas totalmente incomodada com relação ao que acabara de acontecer.
O negócio era: Victoria estava morta. Mortinha. Sam, Embry e Paul tinha despedaçado-na, queimado-a e tudo mais que devia ser feito para realmente matar um vampiro. O problema era que não era ela quem estava por trás dos vampiros mortos. Enquanto matávamos Victoria, os Cullen haviam tido bastante trabalho com um grupo de recém-nascidos nas florestas de Forks. Eles prenderam o grupo e os fizeram falar, mas nenhum deles sabia quem era Victoria.
Então Victoria queria mesmo só matar Bella, e não tinha nada a ver com mais vampiros mortos e os ataques que vinham acontecendo nas redondezas.
O som da porta sendo aberta me trouxe de volta para a realidade, e eu não precisei de muito para saber quem era:
- Ela tá bem? - a voz de Jacob preencheu o silêncio da sala, e ele logo atravessou a cozinha, respirando aliviado quando seu olhar encontrou com o meu. Eu sorri fracamente. Jacob estivera em Forks, cuidando dos outros vampiros. - Hey, você tá legal? - ele perguntou, abaixando-se para ficar na mesma altura que eu. Eu assenti.
- Tá tudo bem, Jake. - ele sorriu mais ainda, e então levou uma de suas mãos até meu rosto, inclinando-se em minha direção. Ele encostou nossos lábios. Depois, ele se afastou para correr os olhos pelo meu rosto. Beijou o topo da minha cabeça, e eu cheguei para o lado no sofá, dando espaço para que ele ficasse ao meu lado. Ele passou o braço pela minha cintura, me mantendo perto dele, e eu me aconcheguei como podia ao seu lado.
- Certo. - começou Sam, agora que todos nós estávamos na sala. Ele tinha o nariz um tanto quanto franzido, eu imaginava que fosse pelo cheiro concentrado dos vampiros. Na verdade, os vampiros também pareciam desconfortáveis. Tudo bem, todos estavam desconfortáveis, com exceção de mim. Foi ali que eu percebi quão estranha e verdadeira aquela história que Sam me contara era. Eu era mesmo um tanto quanto dividida, os vampiros não me incomodavam tanto assim. - Voltamos ao ponto de partida.
- Os recém-nascidos não tinham um nome para dar. Imagino que nem eles soubessem a quem serviam. - Carlisle se pronunciou. Sam assentiu, virando-se para Jacob.
- Quantos eram?
- Cinco recém-nascidos. - contou ele. - Duas garotas, de uns vinte anos. Três caras, provavelmente com uns vinte anos também. Mas tinha... Tinha algo diferente neles. - ele parecia confuso, como se não conseguisse descrever o que havia de errado.
- Eles eram recém-nascidos porque... Bom, porque queriam. - Edward começou a explicar. - Existem pessoas que se tornam vampiras pelo simples ato de matar, pelo pior instinto da nossa raça. É isso que eles eram, vampiros por opção, apenas para matar.
- Pessoas assim só precisam achar quem queira transformá-las. Uma vez que acham... - Emmett deixou a frase no ar. Jasper, o vampiro que podia controlar emoções e talvez a única razão pela qual ninguém estava tentando se matar ainda, mexeu-se na cadeira em que estava.
- Vampiros por opção ou não, eles estavam sob ordens de alguém. Vampiro recém-nascido algum conseguiria fazer o que eles fizeram sem alguém com mais conhecimento comandando-os. Eles têm poder de matar, mas não se transformam sabendo lutar daquela forma.
- Então alguém está treinando vampiros recém-nascidos com vontade de matar para nos atacar? - perguntou Embry. Todos os outros assentiram. - E se Victoria soubesse disso e esperasse poder tirar vantagem de alguma forma? - eu perguntei. Sam me encarou, confuso. Eu suspirei. - É, olhe só... Se ela estava agindo sozinha, ela não devia saber de tanto assim. Ela sabia que eu podia bloquear meus pensamentos, ela sabia que eu era nova. Ela devia estar colhendo informações para ela, sem se aliar a quem quer que queira nos matar.
- Mesmo assim, de que adianta? Ela está morta agora. - Bella finalmente disse algo, e eu me vi encarando-a pela primeira vez na vida. É, a raiva não veio.
- Ela está morta, mas ela deixou rastros. - eu continuei. Jacob me encarou.
- Rastros?
- Ela andou, certo? Nós sabemos os pontos onde ela parou, onde quase conseguimos pegá-la. Se mapeássemos esses pontos...
- ...Talvez tivéssemos uma rota. - concluiu Edward, e eu concordei com um sorriso.
- Exatamente!
- Então... Podemos começar daí, certo? - perguntou Quil.
- Podemos começar por nos deixando sair daqui. - retrucou Paul, e Embry concordou, ficando de pé. Sam lançou olhares irritados aos dois, que rolaram os olhos e pararam de reclamar.
- , se importa de ser nosso contato com eles? Acho que você os suporta mais do que nós. - eu assenti, sem contrariá-lo.
- Você pode ir à Forks, se precisar. - sugeriu Carlisle. Ele apontou para Edward em seguida. - Edward pode contatar você, e assim nos mantemos informados e seguros.
- Certo. Acho que... Bom, Edward pode vir aqui se precisar. - eu disse, sentindo a mão de Jacob ficar um pouco mais forte em minha cintura, mas alguns segundos depois voltando a relaxar.
Antes que mais alguém pudesse falar, Emily apareceu na sala. Ela me olhou e sorriu.
- , sua mãe acabou de ligar. Seth pediu para você ir até Port Angeles. - eu tinha esquecido por um momento que Seth, Brady e Collin estavam em seus encontros. Eu apenas assenti.
- Preciso ir. - disse, ficando de pé. Jacob se levantou também, e olhou diretamente para Sam, que parecia prestes a falar algo.
- Relaxa, eu vou com ela. - ele disse, e sorriu. Sam assentiu, parecendo agradecido. Eu acenei para os outros, e Jacob me guiou até a porta.

Fomos no carro de Jacob, que estava estacionado do lado de fora da casa de Sam, e foi ele quem quebrou o silêncio, depois de uns quinze minutos dirigindo.
- Você tá mesmo legal? - ele perguntou, atencioso. Eu desviei os olhos da janela, e encontrei o olhar rápido dele. Assenti.
- Estou, eu acho... Não sei, foi um tanto quanto esquisito. - eu preferi não contar sobre a dor que eu sentira minutos antes de encontrar os vampiros e Victoria. Pelo menos, não agora. Jacob me ouviu sem me interromper. - Quer dizer, é estranho, não? Eu sempre tive essa impressão de que... Bom, quando eu dei de cara com os vampiros mortos eu percebi quão frágeis nós também somos. Eu posso morrer a qualquer hora! Sam, Embry, Paul, Seth... Todos eles... Você! - eu senti as lágrimas se acumularem nos meus olhos, e toda a raiva que eu estava sentindo dos tais vampiros chegou. Eu respirei fundo, tentando não chorar e desabar. Jacob começou a dirigir mais devagar, e eu passei as mãos sobre meu rosto. - Eu odeio todas as vezes que você tem que sair e me deixar lá preocupada com tudo... Eu tenho tanto medo de algum dia acordar e não encontrar um de vocês rindo da minha cara, ou me batendo, ou me zoando... Se algo acontecer com você, eu acho que... - respirei fundo, sentindo as lágrimas escorrem. Jacob nada disse, mas eu logo o vi girar o carro para o acostamento e pará-lo.
- Hey, hey... - ele se virou para mim, levando suas duas mãos até meu rosto. Ele secou minhas lágrimas, e me obrigou a olhá-lo. Eu funguei, desajeitadamente, e arranquei uma risada pequena dele. - Não se preocupe tanto. - ele disse, e eu apenas assenti. - Se te deixa mais tranquila, eu tomo todo o cuidado do mundo pensando que eu não ia suportar não ficar aqui do seu lado. Eu faço tudo pensando em te proteger, e em não te deixar sozinha. Sabe, não é só você que se preocupa por aqui. - soltei uma risada divertida, misturada ao choro, quando ele terminou de falar.
- Tudo bem. - eu disse, e ele me abraçou. Me aconcheguei em seu peito, meu rosto encontrando seu pescoço, e ele apertou mais seus braços ao meu redor.
- Relaxa, vamos ficar todos bem. - ali, as palavras de Jacob pareciam ter toda a razão do mundo. Naquele momento, eu não exatamente ligava para o fato de que não era bem assim. Eu só queria acreditar que, ali, estava mesmo tudo bem.


Capítulo 14 -
VOLTURI.

(Capa.)

- Pizza? - eu ofereci, estendendo a caixa gigante de pizza para Jake. Ele pegou uma fatia e mordeu o primeiro pedaço, enquanto eu voltava para o carro dele, estacionado na garagem, com as portas abertas para que eu pudesse me acomodar no banco do carona. Ele estava do meu lado, rodeando sua moto, que aparentemente tivera algum problema.
Jacob tinha a blusa marrom completamente suja e suada, as mangas estendidas até seus ombros, as bermudas jeans e os tênis também sujos demais. Ele respirou fundo.
- Você vai derreter. - comentei, rindo. Dei uma mordida na minha fatia de pizza, e ele olhou para mim.
- Continue brincando, eu vou aí te dar um abraço. - ele ameaçou, esticando os braços, e eu pulei para o banco do motorista, não conseguindo segurar a risada.
- Não, não! - larguei a caixa de pizza no banco do carona e ele acabou movendo os braços para baixo, pegando uma segunda fatia.
- Poxa, amor... - ele resmungou, ainda rindo. Eu ignorei o frio na espinha quando ele disse "amor", já que eu sempre tinha um frio na espinha todas as vezes que ele me chamava assim ou de qualquer outra forma do gênero.
- Toma um banho e eu te dou quantos abraços você quiser. - disse.
- Assim você quase me faz largar isso aqui. - ele respondeu, apontando para a moto aberta e cheia de peças expostas. Eu ergui uma sobrancelha, apontei para mim mesma e sorri, divertida.
- Eu ou a máquina, querido. - ele riu, rolando os olhos.
- A máquina agora e você mais tarde, que tal? - eu abri minha boca, ofendida.
- Tenho cara de quem fica a seu dispor, é? - ele terminou com a segunda fatia de pizza.
- Não quer que eu te responda mesmo, quer? - abri ainda mais minha boca, e arregalei meus olhos. Saltei do carro pelo outro lado, peguei duas latinhas de refrigerante na estante, e andei até ele. Jacob tinha um sorriso divertido no rosto, e eu entreguei uma das latinhas a ele, enquanto abria a minha.
- Vou te deixar aqui sozinho, e ir pra minha casa, só pra te mostrar como eu não fico ao seu dispor. - disse, colocando uma mão na minha cintura e tomando um gole do refrigerante. Jacob franziu a testa, então largou a latinha equilibrada no capô do carro e, com as duas mãos livres, ele tirou a camisa.
Com seu sorriso convencido que eu adorava, ele andou até ficar próximo demais de mim.
- Abusar de ser gostoso não vale. - eu resmunguei, arrancando uma risada alta dele. Era nessas horas que eu conseguia notar os níveis da relação, quando eu conseguia falar certas coisas tão abertamente para ele, e quando ele ria delas sem nenhum constrangimento.
- Então fica, por favor? Coloco minha camisa de volta. - sorri, assentindo devagar.
- Não precisa colocar a camisa de volta. - me afastei dele, depois de ficar nas pontas dos pés, e roubar-lhe um beijo rápido.
Eu não teria ido embora de qualquer forma, porque meus momentos com Jacob tinham se tornado menos constantes. Jacob também sabia disso, e era realmente chato que a gente não soubesse quando íamos poder apenas ficar juntos e conversando como agora.
Desde que Victoria estava morta, e que descobrimos que havia um outro vampiro ainda não identificado reunindo vampiros recém-nascidos psicóticos, o tempo parecia ter ficado muito mais curto. Eu passava a maior parte do meu tempo equilibrando os deveres e provas da escola com minhas conversas extremamente sérias com Edward.
Honestamente, eu estava há algumas semanas tentando descobrir o que raios Bella tinha visto nele. Quer dizer, ele era bonito do jeito dele, e eu gostava bastante de conversar com ele uma vez ou outra... Mas ele era tão sério, tão introvertido. Eu não entendia o humor dele. Mas, ainda assim, eu também não entendia Bella.
Jacob também estava passando um certo tempo com ela, já que ela parecia ficar meio perdida quando Edward não estava por perto. Isso já nem me incomodava mais, e também não parecia incomodar Edward. A uma coisa que estava mesmo me deixando maluca, era o fato de que não conseguíamos descobrir quem era o tal vampiro, nem onde ele estava tentando chegar. Eu assumira que, fazer tudo aquilo apenas para matar os Cullen e a nós, lobos, era ridículo demais até para a mente mais insana que eu pudesse imaginar, então eu excluíra essa possibilidade. Ninguém perde tempo treinando um bando de adolescentes com sede de sangue só pra ver mais gente morrendo.
Edward, depois que concluiu que não era Bella quem eles queriam, aparentemente não conseguiu imaginar nenhuma outra razão para eles terem aparecido. Então eu dei umas porradas nele (tudo bem, não de verdade), e fiz com que ele acreditasse que Bella não era a lua desse planeta nem nada. Isso pareceu acordá-lo para alguns acontecimentos do passado que ele lembrava ter presenciado, e hoje ele estava enfiando em uma biblioteca (com Bella, claro), e eu me dei um dia de folga de tudo e todos para ficar com Jacob.
Me sentei no banco do carona outra vez, colocando a caixa de pizza no meu colo, e Jacob pegou mais uma fatia. Eu fiz o mesmo, me deitando no banco e soltando um longo suspiro. Jacob andou até a bancada e começou a separar algumas peças com a mão livre, enquanto terminava de comer. Eu me distraí assistindo-o trabalhar, e foi só quando meu celular começou a gritar, do meu bolso, foi que eu percebi quando tempo já tinha passado. Jacob tirou os olhos da moto para me observar, enquanto eu atendia a ligação.
Rolei os olhos.
- Edward descobriu alguma coisa... Preciso ir até Forks. - Jacob apenas assentiu, levemente irritado. Tudo bem, eu também estava. Fiquei de pé, enfiei o celular no bolso de trás de novo e andei até ele. Agora, não me importava que ele estivesse precisando de um banho pra ontem. - Eu passo aqui mais tarde, pode ser? - perguntei, passando meus braços por seu pescoço e sentindo-o colocar suas mãos em minha cintura. Ele assentiu, inclinando-se para me dar um beijo de verdade.
Sabe, era muito fácil descobrir quando Jacob ia mesmo me beijar. Ele sempre apertava minha cintura mais forte, e sempre colocava as mãos, uma de lado, antes de me abraçar totalmente. Ele sempre começava o beijo com suas mãos passeando por onde estivessem paradas em meu corpo, e sempre aprofundava o beijo quando eu puxava um pouco mais seu cabelo na nuca. Eu adorava quando ele fazia isso.
- Ok, eu preciso mesmo ir. - sussurrei, sentindo ele colar nossos lábios de novo. Ele assentiu.
- Tá bem. - me afastei dele, sorrindo, e quando eu estava na porta da garagem, meu celular berrou outra vez.
- Que foi, Edward?
- Pelo amor de Deus, . Traz logo o Jacob, assim vocês demoram anos. - o vampiro rabugento desligou na minha cara. Eu arregalei os olhos para o aparelho, chocada.
- Mas que cara abusado! - resmunguei, meio risonha. Jacob franziu a testa. Acenei para ele. - Anda, toma um banho e vamos. Edward mandou você vir junto ou, segundo ele, "demoraremos anos". - tudo bem, o vampiro não era tão burro assim.

A casa dos Cullen não era exatamente o lugar mais fedido do mundo, mas ainda assim tive que demorar um segundo antes de entrar na casa. Tirando isso, a casa era linda: tinha as paredes todas brancas, e janelas gigantes de vidros, que davam um ar muito limpo e sofisticado. Eu tinha me acostumado com as casas pequenas e aconchegantes de La Push, a dos Cullen era tão fria.
Jacob manteve uma das mãos em minhas costas, e eu cumprimentei cada um dos Cullen. Logo, estávamos todos reunidos na sala de estar gigante deles, Jacob sentado do meu lado. Edward e Bella a nossa frente. Emmett e Rosalie parados ao lado deles, Alice numa poltrona no meio, com Jasper em pé ao seu lado, e Carlisle e Esme em pé, do nosso outro lado. Se eu não soubesse que eles estavam do nosso lado da briga, poderíamos nos considerar mortos. Havia uma mesa de centro, e eu só notei a quantidade de papéis e mapas sobre ela quando Edward apontou para lá.
- Estive pesquisando. - ele disse, e eu soltei uma risada.
- Ah, sério? - perguntei, sarcástica. Só depois que eu fui perceber que não estávamos sozinhos. Eu costumava ser irônica com Edward, porque sentia que ele não ligava, mas não sabia como mais seis vampiros iam reagir... Eles riram também. Edward rolou os olhos.
- Pegando todos os pontos em que Victoria apareceu, temos isso. Teoricamente, essa rota não leva a lugar algum... - ele indicou uma linha preta que ele mesmo fizera sobre um mapa que mostrava com detalhes Forks e La Push. Eu me aproximei do desenho.
- ...Mas ela faz esse desenho por acaso? - perguntei, notando que a linha reta, em certo ponto, dobrava para uma segunda linha reta. Elas faziam um ângulo de noventa graus. Edward abriu um sorriso de lado. Juro que vi Bella quase se derreter ali do lado.
- Então ela ia o quê, fazer um quadrado? - interrompeu Emmett. Edward olhou impaciente para ele. Eu me debruçei sobre o mapa.
- Não exatamente... Ela pode ter parado em pontos que tivessem algo, e eles formam um quadrado. - sugeri, distraída.
- Que tivessem algo? Como assim? - Jacob perguntou, confuso. Pareceu ser a deixa que Edward queria. Ele jogou o mapa para o lado, e então puxou um monte de papéis em preto e branco. Ele devia ter acabado com a xerox de quem quer fosse.
- Nós não somos as primeiras criaturas, vampiros ou lobos, a ocupar esse espaço. - ele disse, me entregando os papéis. Os coloquei sobre meu colo e comecei a folheá-los, tentando entender sobre o que era.
- Edward, ia ajudar se você...
- Hey! - Jacob me fez parar de folhear compulsivamente, e tirou um bolo de folhas da minha mão.
- ...Falasse de uma vez. - terminei minha frase, baixinho, e olhei para Jacob. Ele encarou Edward.
- Cara, isso é muito velho! - ele disse, parecendo realmente surpreso.
- Cara, ele é muito velho. - comentou Emmett, e eu segurei a risada. Jacob concordou com um aceno da cabeça e um meio sorriso.
- O que é muito velho? - eu perguntei, tentando pegar os papéis da mão de Jacob. Ele apenas tirou do meu alcançe, e eu rolei os olhos. - Isso aqui... São uns fatos muito antigos... Anotações de quem quer tenha morado aqui, antes mesmo que esse trato fosse instalado. - ele nos indicou e depois apontou para os Cullen. Eu assenti, devagar.
- Certo... - concordei. - E aonde vamos chegar com isso?
- Se os vampiros antigos que estiveram aqui tem algo ver com o que possa, sei lá, estar enterrado, quem sabe, nessas terras... Talvez Victoria tivesse descoberto algo que ainda não sabemos sobre eles. - ele explicou, e eu enfim entendi.
- Acha que aqueles vampiros mortos...? - Carlisle deu de ombros.
- Não sabemos. Essa, - ele apontou para a mesa de centro. - é uma teoria bastante interessante. O único problema é que... - ele franziu a testa. - Bom, existem alguns vampiros antigos o suficiente que podemos consultar. - ele começou. - Eles com certeza sabem do que estamos falando.
- E estamos esperando o quê? - perguntei, e todos me lançaram olhares como quem diz "Ficou maluca?". Eu me encolhi, e esperei que alguém falasse de novo.
- Os Volturi são... São uma "família" muito antiga de vampiros. Os mais antigos, um dos poucos que vivem civilizadamente como nós. - Carlisle começou a explicar, e todos os olhares caíram sobre ele. - Eles são os que constroem e mantém as regras sobre as quais nós, vampiros, vivemos. Dentre elas, está a de que nenhum humano pode saber da nossa existência. Se soube, ele tem que morrer, ou se tornar um de nós. - então, ele olhou para Bella. Eu imediatamente lembrei do que acontecera alguns meses antes da minha chegada.
- Estamos monitorando a chegada deles, pelas visões de Alice. Mas ultimamente... - Edward deixou a frase no ar.
- Vocês têm estado entrelaçados demais com o futuro para que ela consiga ver alguma coisa. - completou Esme. Alice não conseguia ver o futuro quando algum de nós, lobos, estava envolvido nele.
- Então, basicamente, vocês precisam transformar Bella em uma vampira ou eles vão matá-la? E só eles podem nos contar exatamente o que estamos vendo no mapa? - Emmett assentiu, sério. Eu suspirei, mordendo o lábio inferior. - Estamos ferrados.
- E se um de nós for até eles? - sugeriu Jasper, de repente se fazendo presente na discussão.
- Carlisle e Alice... - sugeriu Edward, pensativo. Eu me encostei no sofá e os deixei discutirem essa parte. Esme me lançou um olhar amigável.
- Querida, você está com fome? Não comemos, mas fiz algumas coisas para vocês... - antes mesmo que eu pudesse dizer que não precisava, eu me vi sendo arrastada com Jacob e Bella para o que parecia ser a cozinha dos Cullen.

Uma cozinha na casa de quem não come, literalmente, é engraçada: não tem nenhum objeto quebrado, ou rachado, ou que você olhe e fale "É, tem que comprar um novo". Não tem resto algum de comida, por menor que seja, na bancada de mármore, que também não tem nem um risquinho.
Esme indicou dois bancos para que eu e Jacob nos sentássemos, e colocou um prato cheio de mini pizzas à nossa frente. Nós dois rimos, lembrando que estávamos comendo pizza há uma hora atrás, mas ainda assim nos servimos. Bella estava do outro lado da mesa, parecendo inquieta. Eu olhei dela para Jacob. Bom, eu podia não ter assunto algum com ela, mas eles deviam ter algumas palavras pra acabar com aquele silêncio irritante, acompanhado do olhar distraído de Esme.
- Hey, Esme! - chamei a vampira, que abriu um sorriso largo para mim. Sorri. - Não quer me mostrar o resto da casa? Ela é incrível! - parecendo ter acertado na mosca, eu assisti Esme rapidamente ficar animada.
- Claro! Vamos, por aqui... - ela apontou para uma outra porta, que não era a mesma pela qual havíamos entrado e parecia dar em uma ala totalmente diferente da casa, e eu fiquei em pé. Jacob sorriu significativamente para mim antes de eu acompanhar Esme, e pude ouvir sua voz e de Bella enquanto Esme começava a explicar a decoração da casa. Eu merecia um prêmio por ser tão legal com todo mundo.
Esme subiu as escadas comigo, e começou a contar a história de praticamente cada mobília da casa. Eu estava até entretida na história de um quadro de quatrocentos anos, quando ela parou de falar e soltou uma risada envergonhada.
- Oh, imagino que você esteja cansada de me ouvir falar. - ela disse, e eu logo neguei:
- Não, não! Não mesmo. - sorri, enfiando as mãos nos bolsos da minha jeans. Esme sorriu.
- Sabe, foi bom que você tenha aparecido. Pode até não parecer, mas as confusões de vocês conseguem chegar até nós com tanta facilidade... Quero dizer, Edward, Bella, Jacob, você... É bom que as coisas tenham se acertado pelo menos nesse aspecto.
- Acha que vai ser tão difícil assim achar os tais vampiros e o que quer que eles queiram? - perguntei, deixando para lá a parte de falar do meu namoro. Como ela havia dito, aquela parte estava resolvida. Ela suspirou.
- Eu queria que fosse assim tão simples, mas infelizmente... Nada é simples quando se trata de vampiros assassinos. - "vampiros assassinos". Eu acharia que isso era redundante, se não conhecesse os Cullen.
- Mesmo com as pistas que os Volturi derem... Ainda assim, vamos ter muito trabalho, não é? - me certifiquei, e ela assentiu.
- Bastante. Mas você parece capaz de se sair muito bem. - ela sorriu para mim, e eu concordei, balançando a cabeça um tanto quanto duvidosa.
- É melhor pensar que sim, né? - entre dar mais dois passos em direção a um novo cômodo e Esme me responder, foi que nós duas paramos de andar. Eu parei, porque o cheiro voltou a ficar insuportável, como quando eu entrara na casa dos Cullen, e ela deve ter parado por apenas sentir o cheiro mais forte. Eu a encarei, confusa.
- Precisamos chamar os outros. - ela disse, embora nós duas já soubéssemos que, se nós sabíamos, eles também.
Descemos as escadas o mais rápido que pudemos, para encontrar todos na sala. Jacob me encontrou em alguns passos, e me lançou um olhar preocupado.
- Não são os recém-nascidos. - Edward disse, de repente. Ele olhava através da janela, o olhar concentrado em algum ponto longe demais.
- Ah, então são o quê? - eu perguntei, irritada. Ninguém me respondeu, e eu apenas assisti Carlisle ir até a porta de entrada, abrí-la e sair para o jardim, em direção à floresta. Os outros o seguiram, e Jacob me manteve atrás dele.
O cheiro foi ficando mais e mais forte, até que eu nem pude acreditar nas figuras que se aproximavam de nós, vindas da floresta. Elas se moviam ligeira e elegantemente por entre as árvores, seus olhos eram vermelho-sangue, e todos usavam capas negras. Quer dizer, quase todos.
O aperto mais forte da mão de Jacob na minha foi um sinal claro de que nenhum de nós estava seguro. Eu respirei fundo, e esperei o que vinha a seguir.

Eles estavam em seis: havia um de aparência mais velha, o rosto enrugado e fechado, tinha cabelos negros e compridos, era quase vazio; outro loiro, os cabelos lisos penteados para trás, caindo-lhe até os ombros, a expressão séria; um terceiro, que aparentava ser um adulto de idade mediana (ou que pelo menos tinha essa idade quando fora transformado), com cabelos negros, lisos e muito longos; um quarto rapaz, bem mais novo que os outros, quase um adolescente; uma garota baixinha, de cabelos loiros e olhos estranhamente maus; e uma sexta garota, não tão mais alta que a outra, que tinha os cabelos loiros com mechas azuis, uma expressão entediada no rosto e fones de ouvido pendendo em seus ombros, a música que ela ouvia estava tão alta que eu, de onde estava, conseguia ouvir quase que com clareza.
Todos eles usavam capas negras, com exceção da sexta garota, que usava uma capa roxa brilhante. Todos eles pareciam potencialmente ofensivos, eu sabia que não deixar a retaguarda todo o tempo em que estivesse em suas presenças.
- Encontros inusitados sempre são mais produtivos. - um deles disse, a voz meio maníaca. Carlisle deu um passo a frente, sorrindo fracamente. - Aro. - cumprimentou-o. Aro sorriu. Ele passou o olhar em cada um de nós, e o deteve em mim e Jacob.
- Acho que devemos começar pelas apresentações, não? - sugeriu, movendo seu olhar de volta para Carlisle, ele apenas assentiu.
- Esses são... e Jacob. - Aro deu alguns passos em nossa direção. Ele parou a um passo de mim, e sorriu quando seu olhar cruzou com o meu.
Eu continuei séria, tentando entender onde ele queria chegar. Ele então estendeu a palma da mão para mim, aparentemente esperando que eu colocasse a minha sobre ela. Franzi a testa. Edward suspirou.
- Aro pode ver todos os seus pensamentos... Apenas pelo toque. - ele explicou. Eu já havia entendido que eles não eram vampiros como os Cullen. Eram aparentemente razoáveis, mas eu sabia que eles podiam me matar sem nem pensar duas vezes. Isso significava que eu devia deixar Aro... Bom, entrar na minha cabeça. Quando fiz menção de estender minha mão, Jacob me segurou. Ele olhou irritado para Aro.
- Jake... Tá tudo bem. - eu disse, embora minha voz não tivesse convencido nem a mim. Sam surtaria se visse isso. Estendi minha mão e deixei Aro segurá-la, quase estremecendo com o toque frio demais. Era horrível, era como tocar um corpo morto.
- Interessante, interessante... - ele disse, distraído, quando pareceu recolher tudo que queria saber sobre mim. Ainda sorrindo, ele soltou minha mão. Jake a segurou de volta quase no mesmo instante, e eu fiquei satisfeita com um pouco do bom e costumeiro calor dele. Aro arregalou os olhos, e então girou, virando-se para os outros vampiros. Ele parecia prestes a falar algo, mas então o outro vampiro, o que parecia vazio, deu um passo a frente. Com seu olhar em mim, eu apertei mais forte a mão de Jacob e esperei. Ele franziu a testa.
- Seria isso a tal conexão que vocês, lobos, têm? - ele perguntou, movendo o olhar para Jacob, e então para mim de novo. Novamente, um dos Cullen explicou:
- Marcus sente relacionamentos. O de vocês, provavelmente, deve ser muito...
- Forte. É, muito forte. - o tal Marcus completou, aparentemente interessado. Eu não sabia o que fazer. Mesmo. Então fiquei quieta.
- Oh, acho que pulamos a nossa introdução! - a voz de Aro se fez presente de novo, chamando a atenção de Marcus de volta para ele. - Deixe-me apresentar... Eu me chamo Aro. Estes são Marcus, Caius, Jane, Alec e Maddison. Imagino que vocês... - ele, do mesmo jeito repentino que andara até mim, andou até os Cullen. - ...Não devam conhecer Maddison. - Carlisle negou com a cabeça.
- Ah, oi. - ela tirou um dos fones de ouvido e acenou, parecendo bastante entediada.
- Ela tem poderes incríveis. Consegue bloquear qualquer outro poder que outras criaturas tenham. - eu congelei por um instante, absorvendo a informação, e digerindo o olhar que Aro me lançara ao falar dos poderes de Maddison. Lembrei do dia em que sentira aquela dor excruciante na cabeça, um pouco antes de encontrar os vampiros mortos e Victoria. Bloquear poderes podia doer? Eles podiam fazer doer?
- Introduções feitas, será que alguém pode me explicar o que tem acontecido por aqui? - a tal Maddison perguntou, cruzando os braços.
- Vocês não preferem ter essa discussão lá dentro? Imagino que certa privacidade possa ser aproveitada... - os Volturi concordaram com a sugestão de Carlisle, Aro parecendo maravilhado pelo convite. Eu me impedi de rolar os olhos e bufar. Cara, eu só queria ir pra casa. Aquele monte de vampiros não fazia bem.
Edward ocupou-se de contar toda a história, desde quando estivemos caçando Victoria. Houve um pequeno momento em que Marcus e Caius me fizeram contar sobre Victoria e o dia em que ela tinha sido morta, e não foi nada agradável ter tantos vampiros olhando para mim.
- ...E então eu a cerquei e esperei que Sam e Embry chegassem. - terminei, cruzando os braços. Caius apenas assentiu, ele não falava muito. Na verdade, nenhum deles falava muito, com exceção de Aro.
- Mas, no fim das contas, não é Victoria quem tem agido... - disse Alice, nervosa.
- E temos algumas pistas que podem ser úteis... Para descobrirmos quem está agindo. - Edward não precisou falar muito. Apenas entregou o mesmo mapa e as anotações que eu havia visto mais cedo, e os Volturi compreenderam muito mais rápido.
- Ah, fala sério, vocês vão começar a discutir isso agora?! - resmungou Maddison, tirando os olhos de seu iPod. Jane rolou os olhos.
- Sabe, se você não tivesse esses... - ela gesticulou, irritada. Maddison sorriu, convencida.
- Não tem jeito, Jane. Você quer dizer que eu posso quebrar sua cara e você não pode fazer nada, é bastante simples. - Jane bufou, balançando a cabeça em negação, e pareceu que ia matar Maddison só de encará-la.
- Podemos resolver isso amanhã? Acho que... - fiquei de pé. - Bom, precisamos de todos presentes, certo? Sam precisa estar aqui. - Carlisle assentiu, abrindo um sorriso fraco e também ficando de pé. Jacob me deu a mão, e Carlisle nos acompanhou até a porta. - me despedi dos outros com um aceno da cabeça, e enfim respirei aliviada quando eu e Jacob estávamos em seu carro novamente.
Claro, tudo que precisávamos eram mais seis vampiros com poderes que pareciam lunáticos.


Capítulo 15 -
DIA DOS NAMORADOS.

(Capa.)

:
- Isso é muito feio. - apontei, rindo, quando Paul arremessou uma camiseta dele na minha cara. Ele rolou os olhos.
- O que tem de feio nessa camisa, ?
- Paul, pelo amor de Deus, ela é horrível! - joguei a camisa pro lado e balançei a cabeça, indicando que ele deveria continuar procurando. Ele bufou.
Eram duas da tarde, o Céu estava cheio de nuvens carregadas e corria um vento agradável. Eu estava sentada na cama de Paul, rodeada de roupas que ele dissera que não prestavam para o encontro que ele tinha mais tarde com uma garota que eu não conhecia. Era de se pensar que, por hoje ser Dia dos Namorados, eu estaria com Jacob o dia todo. Mas ele dissera que estava ocupado e que a gente só ia se ver à noite. Então eu só falara com ele no telefone um pouco mais cedo e logo depois recebera a ligação de Paul.
- Acho que estamos ficando sem opções. - ele resmungou, puxando mais dois cabides do armário. Observei as duas outras camisetas. Elas não eram ruins, mas a gente podia fazer algo melhor. Sorri.
- Por que não vamos às compras, querido? - perguntei, com a voz falsamente educada, e ele soltou uma risada.
- Por que você sempre acaba indo às compras? - perguntou, mas enfiou os cabides de volta no armário. Eu dei de ombros.
- É divertido. Além do mais, faz bem ficar arrumadinho pra garota, não?
- Eu nem preciso disso, . Eu sou...
- Cala a boca. - fiquei de pé e comecei a empurrá-lo para fora do quarto, logo depois de puxar uma camiseta qualquer e entregar a ele. Paul fazia sempre questão de não usar camiseta quando podia. É claro que ele só vestiu a camiseta quando entrou no meu carro.

Jacob:
Eu poderia ter me esforçado um pouco mais e arranjado uma desculpa melhor do que só "Estou ocupado". Quer dizer, sei lá, a podia ficar desconfiada. Mas não acho que ela tinha. Ou se tinha, não demonstrou. O fato de que podia fechar a cabeça dela quando quisesse me deixava bastante inseguro quase que o tempo todo, mas tudo bem, eu tinha outra preocupação maior agora.
Olhei ao meu redor, observando a arrumação que eu finalmente acabara de fazer: estava na minha casa, que era pequena demais, mas onde eu tinha perdido umas boas duas horas rearrumando os móveis, limpando o chão e tentando fazer com que desse para ser um lugar agradável para um encontro de dia dos Namorados. Claro que eu podia simplesmente levar para jantar ou algo do tipo, mas meu pai tinha feito questão de falar que ia sair e só voltaria de tarde amanhã, saindo de casa depois de me lançar um daqueles olhares de "Você tem tudo pra fazer isso direito, por favor não faça merda". Tá que eu era bem especializado em fazer merda, mas eu esperava que hoje nada fosse interromper a gente.
Era ruim nunca saber quando aqueles sugadores de sangue iam aparecer e fazer tudo ficar bagunçado de novo. E, agora, com mais seis vampiros em Forks, era de se imaginar que a gente precisasse ficar alerta. Eu queria saber o que raios Sam estava fumando para não ter surtado quando eu e contamos a ele sobre os Volturi. Eu tinha imaginado que ele fosse ficar de pé na mesma hora e ir até os Cullen, mas tudo que ele fez foi olhar de mim para , e de para mim, e resmungar "Eu já conversei com Carlisle", o que fez com que suspirasse aliviada e eu ficasse com cara de paisagem. Não adiantou de nada insistir com "Mas, Sam, eles não são vampiros como os Cullen" e "Se eles arrancarem a cabeça de alguém, eu vou lá arrancar a cabeça de todos eles". ainda abriu a boca para reclamar comigo quando eu disse a segunda frase e me deu um tapa.
Balançei a cabeça, afastando os vampiros dos meus pensamentos, e voltei a andar pela minha sala agora muito bem arrumada, passando pelo corredor em direção ao meu quarto. Esse era um cômodo que, claro, exigia um certo cuidado. É claro que eu e íamos parar lá depois de jantar e jogar conversa fora, mas por mais que o fato de que a gente transava se tornasse mais comum, eu ainda fazia questão de que desse para ser sempre... Sei lá, planejado. Claro que esse era um pensamento que eu guardava só pra mim, mas não merecia nada menos.
Eu tinha tirado todas as roupas do chão e colocado-as para lavar, tinha trocado as roupas de cama e colocado um cobertor novo que estava guardado no meu armário há muito tempo, e que eu tinha mandado lavar uns dias antes; coloquei umas velas em alguns pontos, e deixei uma caixinha de fósforo perto da porta, para eu não ter que ficar procurando feito um bocó mais tarde. Meu armário estava devidamente fechado, mas eu tinha separado uma camiseta grande e velha minha para o caso de querer usar depois, já que ela sempre pegava uma mesmo.
Sentei na minha cama e respirei fundo. É, agora só faltava a cozinha.

:
Passei a bolsa pelo ombro e bati a porta do carro, girando as chaves nas mãos enquanto Paul enfiava as mãos nos bolsos das jeans que ele usava. Dei a volta e me juntei a ele.
- Onde vamos primeiro? - ele perguntou, e eu olhei para o alto, observando os nomes das lojas e as vitrines nas ruas. Dei de ombros.
- Onde você quiser. Quer tentar essa? - apontei para uma loja com alguns manequins vestindo camisetas pólo e jeans escuras. Ele assentiu.
Entramos na loja e uma vendedora sorridente veio nos atender. Em alguns minutos, eu estava sentada num pufe verde-claro, brincando com minhas unhas e esperando Paul sair do provador com a primeira das cinco camisetas que ele ia experimentar.
- ! - tomei um susto quando senti uma mão congelada em meu ombro, e girei meu pescoço para trás com rapidez. Respirei aliviada quando vi que era só Bella. De vez em quando eu esquecia como Bella parecia uma droga de vampira. Sorri de volta para ela e girei para poder olhá-la melhor. Ela tinha um sorriso atípico no rosto.
- Tudo bom, Bella? - perguntei, e ela assentiu furiosamente, o que também não combinava nada com as ações discretas ao extremo dela. Ergui uma sobrancelha. Não demorou meio segundo para Edward surgir atrás dela, colocando uma mão em suas costas, enquanto a outra carregava algumas sacolas. Acenei para ele.
- Hey, Ed! - ele rolou os olhos quando ouviu o apelido que eu carinhosamente assumira para ele, e Bella riu. Mas Edward logo voltou a sorrir também, e eu semicerrei os olhos, analisando os dois. - Vocês estão alcoolizados? - perguntei, sarcástica e, ao invés de responder, Bella apenas estendeu a mão para mim. Lá estava um anel bonito, discreto e de aparência cara. Ah, tá. - Uau! - exclamei, tentando parecer assim tão surpresa.
- Tudo bem, , Bella sabe que você sabe. - eu ergui minhas sobrancelhas e desisti da minha expressão de surpresa.
- Ah, então ótimo. Parabéns, Bella. Não sei como você aguenta ele, mas meus parabéns. - ela riu, e então Paul saiu do provador usando uma camiseta azul-escura. Me virei para ele, que observou Bella e Edward com a testa franzida.
- Ah, oi. - ele acenou para eles, sem muito ânimo. Segurei a risada, mas me concentrei em observar sua roupa.
- Não, Paul. Precisamos de alguma coisa mais diferente. Isso de camiseta e jeans tá muito batido pra hoje. Vamos, vamos... - fiz ele entrar no provador de novo, e a vendedora apareceu do meu lado. Sorri para ela. - Tem algo mais... Não sei, de repente uma jaqueta xadrez ou algo assim? - Talvez uma camiseta branca ou preta por baixo, umas jeans diferentes... - eu assenti, e ela girou nos calcanhares com um sorriso grande no rosto, indo em busca das peças de roupa. Me voltei para Edward e Bella, e só aí percebi que o cheiro de Edward não estava me incomodando. Acho que eu estava me acostumando, e não sabia até que ponto isso era bom e quando passava a ser preocupante para uma loba.
- E aí, como foi que ele pediu? - perguntei para Bella, que puxou um outro pufe, amarelo, para sentar. Edward continuou de pé, imóvel, ao seu lado. Cara, ele ia se dar bem brincando de estátua.
- Bom, eu estava em casa. - ela começou, animada. - Então ele passou lá, e me levou de carro até a floresta. Sabe, lá tem uma clareira que...
- Olha só quem tá aqui! - eu senti o cheiro antes de ouvir as vozes, e confesso que fechei meus olhos e afastei meu rosto por um instante, como se tivesse acabado de sentir cheiro de comida queimada muito perto do meu nariz. Na verdade, não era tão diferente disso.

Jacob:
- Tô falando sério, cara. - Embry mudou de canal outra vez. A voz do narrador de um programa sobre aranhas no Discovery Channel foi substituída pela voz de uma mulher num canal de culinária. Eu ergui uma sobrancelha.
- E você não foi falar com ela? - perguntei, assistindo-o negar com um movimento da cabeça. - Babaca. - ele me mostrou o dedo do meio, mudando de canal outra vez.
O relógio marcava duas da tarde, e Embry tinha aparecido na minha casa feito um maluco há uns vinte minutos atrás, falando que acabara de ter o que ele achava que era um imprinting. Perguntei se ele tinha bebido alguma coisa, mas depois de me certificar de que ele estava só eufórico mesmo, eu deixei ele entrar e ele se jogou no meu sofá. Eu estava ao seu lado, de braços cruzados e tomando conta para ele não bagunçar o que eu tinha arrumado.
- Eu nunca tinha visto ela por aqui. Nunca mesmo. - ele continuou. Pelo que me dissera, realmente parecera com um imprinting. Toda a história das coisas parecerem ter um sentindo novo e tudo mais. Imprintings podiam ser desconfortáveis a princípio.
- E por que você veio pra cá ao invés de ir, sei lá, falar com ela? - ele rolou os olhos.
- Ah, é. E você pode falar sobre isso.
- estava bloqueando o imprinting. E eu levei ela para sair, seu imbecil. - ele pareceu considerar o que eu acabara de falar. - Olhe, só volta lá em Port Angeles e vai falar com ela. Que mal pode fazer?
- Mas e se ela não...?
- Embry, se for um imprinting, e você parece retardado o suficiente para ter sido, ela vai ficar tão assim quanto você. Vai de uma vez.
- Tá. Ok. - ele respirou fundo. Largou o controle da tv jogado no sofá e ficou de pé, arrumando os cabelos com as mãos e certificando-se de que a roupa não estava amassada. - É, tudo bem. Eu vou lá. - eu coloquei uma mão em seu ombro, fazendo-o olhar pra mim.
- Fica calmo, cara. E vai logo. - o empurrei, e girei nos calcanhares para assistir Embry passar pela porta, nervoso. - queria saber quando eu tinha deixado de ser o cara que pedia ou que precisava de conselhos, para ser o que mandava os outros fazerem algo.

:
Maddison era uma figura esquisita, engraçada e que tinha um cheiro forte demais para eu me acostumar. Ela tinha deixado de lado a capa exageradamente teatral dos Volturi, e agora usava jeans justas, botas, uma camiseta listrada preta e branca, maquiagem forte ao redor dos olhos, um batom vermelho, e muitas pulseiras e cordões. Eu tinha a impressão de que a qualquer momento ela fosse falar que estava indo para algum show de rock.
- Oi, gente! - ela acenou, contente. Do seu lado, surgiu um outro vampiro de olhos também vermelhos. Ele era tão magro quanto ela, e não muito alto também. Tinha cabelos loiros e lisos, que caíam um pouco em seus olhos e que ele afastava com movimentos da cabeça; ele tinha piercings no rosto, e usava jeans, tênis grandes e uma camiseta com o nome de alguma banda estampado. Ele sorriu para a gente.
Paul saiu do provador, usando o que a vendedora trouxera.
- E aí? - perguntou o outro vampiro, com a voz arrastada. Eu tive vontade de rir da cara dele, mas apenas sorri de volta.
- Beleza? - perguntou Paul, imitando a voz arrastada. Eu me virei para ele, segurando ainda mais a risada. Ele sorriu para mim, divertido.
- Olha, até que enfim! - eu comemorei. Paul usava jeans escuras, com alguns pontos que pareciam ter sido mais lavados e mais gastos, uma camiseta branca por baixo de uma camiseta xadrez aberta. Andei até ele e arrumei melhor a camiseta por cima. - Viu? Ficou ótimo. Aí, de noite, você pode colocar uma jaqueta por cima. E aqueles tênis pretos que eu sei que você tem. - ele riu.
- E se ela sentir frio, eu tenho uma jaqueta pra emprestar. - ele acrescentou, piscando um olho. Eu sorri, divertida.
- Você sabe das coisas, Paul! - e então ele deu uma última olhada nos vampiros e voltou para o provador. Eu, novamente, girei nos calcanhares para Bella e os vampiros. Cara, isso era esquisito.
- É, parece que todo mundo está arranjado pra hoje. - comentou Bella, e eu ergui minhas sobrancelhas, surpresa. Edward riu, o outro vampiro apenas concordou com um aceno da cabeça, e Maddison franziu a testa.
- Cara, eu achava que ela era um porre! - comentou, logo depois rindo.
- Esse anel fez efeito. - continuei, apontando para o anel de noivado. Maddison concordou com um aceno da cabeça. É, as coisas pareciam com um ar totalmente diferente hoje.

Jacob:
Eram sete e meia da noite. A droga do jantar que eu tinha comprado pronto e esquentara já estava esfriando, a música lenta que eu ligara parecia só deixar toda a situação muito mais patética. Onde estava ? Cruzei os braços, bufando pela milésima vez no último minuto, e olhei para a janela de novo. Nada do carro dela.
costumava ser pontual. E, bom, hoje não parecia um dia bom para ela se atrasar. Na verdade, nada bom. Puxei meu telefone e disquei o celular dela. De novo, chamou, chamou e ninguém atendeu. Então disquei o número da casa dela.
- Alô? - a voz de sua mãe atravessou a linha, e eu respondi:
- Hã, Sra. Quilt? Hã... está? - aparentemente, Sadie sabia que era eu, porque nem perguntou meu nome, mas soltou uma risadinha pequena. Enfim respondeu:
- Acho que ela está em Port Angeles. - quê?!
- Ah, ok. Obrigado. Boa noite. - e desliguei. Eu estava irritado demais para fazer média com a mãe dela. O que raios ela ainda estava fazendo em Port Angeles? Liguei para seu celular novamente. Ela não atendeu, então deixei um recado.

:
- Ah, droga! Isso ficou horrível! - observei meu reflexo no espelho grande da loja. Eu tinha um vestido comprido, de um ombro só e justo totalmente colado ao meu corpo. Eu mal conseguia dar dois passos sem sentir que ia dar de cara com o chão. Maddison e Bella, no entanto, fizeram caretas para mim.
- Pára de besteira, ficou ótimo! - Maddison disse, fazendo um gesto na altura do busto para indicar muito. É, tinha mesmo muita coisa ali, analisei uma segunda vez. É, não ia dar. Eu fiz um movimento de negação com a cabeça.
- Ah, ! - Bella choramingou, e eu estava frustrada demais para me perguntar o que raios queria dizer tanta animação e interação da parte dela.
- Quer tentar esse? - a vendedora surgiu na pequena divisão em que nós três estávamos, e eu dei de ombros, me esticando (e tomando cuidado para não cair) e pegando o vestido que ela tinha em mãos.
- Ah, que lindo! - Bella saltou da poltrona em que ela e Maddison estavam, as duas observando o vestido. Eu rolei os olhos, enquanto as duas abriam grandes sorrisos e Bella me empurrava para o provador.
Tirei o vestido, sentindo um alívio enorme, e então comecei a vestir o outro. Era bem simples: preto, justo (mas não tanto quanto o outro), e tomara que caia. A barra era um pouco solta, o que dava um certo movimento, e eu tinha que admitir que... Bom, eu estava bonita nele.
Agradecendo por Paul já ter ido para seu encontro, e por Edward ter ficado do lado de fora com o outro vampiro, eu saí do provador.
- Uau!
- Cara, o Jacob devia agradecer tanto a gente.
Ergui uma das sobrancelhas aos comentários das duas, mas ri. Depois de discutirmos por alguns segundos sobre o caimento do vestido, a vendedora chegou e eu disse que ia comprar e que ia sair vestindo ele mesmo. Aproveitamos e compramos sandálias altas e pretas também que combinavam, e foi só quando eu cheguei no balcão para pagar foi que eu notei que horas eram: sete e meia. Ah, meu Deus. Eu devia ter ido encontrar Jacob, em sua casa, às seis e meia.
Revirei minha bolsa e achei meu celular. Cinco ligações perdidas. Merda. Disquei o número de Jacob sob os olhares confusos de Maddison e Bella, e respirei aliviada quando ele disse "Alô?"
- Desculpa, desculpa, desculpa... - comecei a dizer, e ele suspirou do outro lado.
- Onde você está? - ele estava controlado. Bom, bom. Mordi meu lábio inferior.
- Em Port Angeles. Vai acreditar se eu disser que estou me arrumando? - perguntei, com um certo medo. Talvez ele estivesse puto.
- É, estamos ajudando ela!
- Ela já vai chegar, fique calmo!
- Bella?! - Jacob perguntou, surpreso. Eu soltei uma risada abafada.
- ...E Maddison. Elas estavam me ajudando a escolher um vestido. E, bom, eu estou pronta. Vou só pegar meu carro e vou praí, ok?
- Tudo bem. Beleza. Até mais. - é, ele não estava puto, mas também não estava muito feliz. Suspirei quando desliguei, e a vendedora me devolveu meu cartão de crédito, sorridente.
- Muito obrigada. - ela disse. Eu abri um sorriso pequeno, agradecendo. Me voltei para Maddison e Bella.
- Bom, eu estou indo. Jacob... Jacob não está muito feliz.
- Ele vai ficar quando te vir assim. - Maddison deu de ombros. Eu mandei o dedo do meio para ela.
- Cala a boca. - ela riu, e então nós três saímos da loja. Edward e o outro vampiro olharam para nós. Eu acenei para eles, enquanto descia a rua para chegar ao meu carro, fugindo do frio e me equilibrando sobre meus saltos altos. É, eu bem que esperava que isso fosse ajudar.

Jacob:
Era algo no mínimo muito estranho que tivesse passado a tarde com Bella e Maddison. Ela costumava não gostar nada da primeira, e deveria achar que a segunda era sua inimiga. Mas o que é "normal" em termos de ser humano e lobos nunca pareceu se aplicar muito à . Fiquei algum tempo encarando o celular, depois que ela desligara, e então fiquei de pé. Eu precisava esquentar a comida outra vez, e me certificar de que estava tudo certo.

:
Estacionei em frente à casa de Jacob, e então respirei fundo. Por que eu tinha ficado tão nervosa, de repente? Desliguei o carro, acendi a luz e então abaixei o espelho e tirei a maquiagem da bolsa. Depois de ter certeza de que meu rosto estava apropriado, com as devidas espinhas e falhas tampadas, e de que meu cabelo estava baixo e arrumado, eu saí do carro. Bati a porta, tranquei o carro e passei a bolsa pelo ombro, andando a passos lentos e lentos... Jacob já sabia que eu estava aqui, mas ele ia esperar eu tocar a campainha.

Jacob:
Ouvi estacionar, parar, demorar algum tempo no carro e então tocar a campainha. Aí, respirei fundo e andei até a porta. Girei a maçaneta, e lá estava ela. Pensando bem, talvez a demora tivesse valido a pena: ela estava linda, usando um vestido que honestamente me fazia querer só dar os passos que nos distanciavam e beijá-la; o sorriso em seu rosto era inseguro e divertido, e eu abri um meio sorriso quando nossos olhares se cruzaram.

:
Jacob usava jeans escuras, uma camisa social azul-escura e sapatos fechados, pretos. Eu nunca tinha o visto bem vestido, e nunca com seus cabelos tão bem arrumados numa pequena bagunça controlada. Vi sua expressão mudar quando ele me olhou nos olhos, e seu sorriso me acalmou. Jacob estendeu a mão, esperando que eu a entrelaçasse com a minha e, quando o fiz, ele apenas me puxou para dentro de cada, com movimentos tranquilos. Eu senti um de seus braços ao redor da minha cintura, enquanto ele fechava a porta com a outra mão.
- Boa noite. - ele dissera, sussurrando em meu ouvido e depositando um beijo em minha bochecha. Eu sorri.
- Boa noite. - respondi de volta, num tom formal, e girei para poder beijá-lo direito. Ele deixou que eu colocasse minhas mãos em seu rosto, uma de cada lado, e o puxasse devagar em minha direção.

Jacob:
O beijo. O primeiro beijo toda vez que a gente se via... Esse sempre era mais especial. Não sei porquê, mas eu tinha a impressão de que tinha ficado tempo demais, muito mais do que deveria ou podia, sem vê-la, todas as vezes que a gente se via de novo. Então o primeiro beijo sempre era como um beijo de boas vindas depois de muito tempo longe.
Ela abriu um pouco mais a boca, me deixando passar, e aquela certa energia passou pelo meu corpo quando nossas línguas se tocaram. Passei meus dois braços por sua cintura, trazendo-a para mais perto de mim e quase erguendo-a. Ela sorriu no meio do beijo, divertida, e tirou suas mãos de meu rosto para entrelaçá-las em meu pescoço, do mesmo jeito que ela sempre fazia quando queria ficar confortável.
- Eu estou morrendo de fome. - ela sussurrou, rindo, quando descolamos nossos lábios. Eu sorri, ouvindo sua respiração por um tempo.
- Isso eu posso resolver. - disse, arrancando uma risada pequena dela, e então a guiei até a cozinha.

:
Jacob tinha comprado comida pronta, esquentado e lá estava uma bela macarronada com frango à parmegiana quando chegamos à cozinha, onde ele tinha arrumado uma mesa com uma cadeira de cada lado, duas velas na mesa, diante dos pratos e dos talheres. Eu sorri quando notei a arrumação.
- Feliz Dia dos Namorados. - ele disse, contente, puxando uma cadeira para eu poder sentar.
Foi quando ele sentou do outro lado, ficando de frente para mim, que a luz acabou. Havia uma luz vinda do corredor que iluminava o resto da casa e, quando essa apagou, ficamos apenas iluminados parcialmente pelas velas à nossa frente e caímos num silêncio, já que a música parara.
- Oh, droga. - Jacob resmungou, e eu vi sua expressão ficar irritada outra vez. Ah, caramba.
- Você quer um jantar à luz de velas, faça um jantar digno de luz de velas. - comentei, tentando fazê-lo sorrir. Sendo bem-sucedida, eu dei a primeira garfada na minha macarronada.

Jacob:
Pensando bem, eu e nunca tínhamos parado assim, em completo silêncio e parcial escuridão, para jantar e... Bom, simplesmente ficar na companhia um do outro. A tranquilidade daquele momento era surreal, nunca parecia assim tão simples, tão óbvio. Sorri quando ela tomou o último gole de refrigerante, depois de acabar de comer. Eu já acabara há uns dez minutos, e conversava com ela enquanto ela brigava com o macarrão ou com o frango.
- Você come feito uma criança. - eu a provoquei, assistindo-a mover sua atenção do refrigerante para mim, franzindo a testa, e então abaixando os olhos, como que tentando ver seu vestido.
- O quê? Eu me sujei? - eu comecei a rir, me divertindo com ela.
- Não, lerdinha. - ela me mostrou a língua, fazendo uma careta, e eu a ignorei, falando: - Pronta pra sobremesa? - e assisti um sorriso grande surgir em seu rosto. - Tá vendo como é fácil te ganhar? - eu fiquei de pé, andando em direção a geladeira, e levantou também, dando um tapa em meu braço.
- Não sou assim tão fácil de ser ganha. - ela resmungou, falsamente ofendida. Eu abri a porta da geladeira e lancei um olhar para ela antes de perguntar:
- Ah, tem certeza? - enquanto tirava uma torta de chocolate que eu comprara mais cedo e a colocava sobre a mesa.
rolou os olhos.
- Tá, tudo bem, talvez eu seja mesmo. - admitiu, desanimada. - ri, e então a abraçei por trás, apoiando meu queixo em seu ombro.
- Mas só eu posso te ganhar. - beijei seu pescoço, um beijo estalado, e passei minhas mãos devagar por sua cintura, indo com elas até suas costas. Tenho que admitir que o zíper de seu vestido ali, entre meus dedos, era tentador. Ela notou minha demora ali, e girou para ficar de frente para mim, apoiando as mãos em meu peito. Ela começou a brincar com o primeiro botão da minha camisa, e depois de alguns segundos me olhou nos olhos. Abriu um sorriso.
- E você já me ganhou. - a voz dela me deixava maluco. Ah, caramba. A puxei para mais perto de mim e a beijei outra vez.

:
Depois de ter que fazer Jacob diminuir o ritmo dos beijos e amassos, consegui fazê-lo continuar com o plano da noite, que segundo ele seria ir para a varanda e comer a torta de chocolate. Eu e ele nos sentamos em duas cadeiras, eu com minhas pernas sobre as dele e minhas costas apoiadas na parede. Estávamos num breu total, somente pouco iluminados pela luz da lua.
- Cara, essa torta está ótima. - eu comentei, dividindo a fatia num pedaço menor e equilibrando-o nos dentes do garfo. Jacob piscou um olho e abri um sorriso de lado.
- Eu sei das coisas. - disse, me arrancando uma risada.
- O pior é que sabe. Na maioria das vezes até que sabe.
- Na maioria das vezes?
- É, não dá pra saber sempre tudo. Além do quê, você tem uma concorrente forte. - apontei para mim mesma com a mão livre e ele fez "Pff" com a boca. Mostrei a língua para ele, e ele apontou para mim, dizendo em tom de aviso:
- Continue fazendo isso, a última parada da noite vai acabar sendo uma das primeiras. - eu logo entendi que ele falava de seu quarto.
- Cala a boca, Jacob. - rolei os olhos, e enfiei um pedaço de torta na boca. Ele riu, mas não falou nada e voltou a comer.

Jacob:
Coloquei nossos pratos de volta na cozinha, e então voltei para , que estava na porta da minha casa. Ergui uma sobrancelha, perguntando silenciosamente o que ela estava fazendo. sorriu.
- Vamos dar uma volta lá fora? - pediu, e eu neguei no mesmo instante.
- , pra quê vamos lá fora? Está escuro, frio e cheio de vampiros pra lá. - resmunguei, e ela rolou os olhos. Começou a andar devagar em minha direção, e então parou, colocando seus braços ao redor da minha cintura e me abraçando desajeitadamente. Ela podia ser bem pequena em relação a mim de vez em quando. Normalmente, eu achava graça nisso.
- Por favor? A gente dá uma volta de uns quinze minutos e volta. - observei seu rosto, meio iluminado pelas velas, e ela uniu as sobrancelhas numa expressão que me deixava desarmado. Ah, porcaria. Eu rolei os olhos e bufei.
- Ah, certo. Vamos, vai... Vamos logo. Eu realmente tenho que te amar demais. - senti ela tremer levemente quando eu terminara a frase. Era instantâneo, todas as vezes que eu falava algo do gênero, ela ficava desse jeito. Demos as mãos, e eu fui na frente, guiando devagar, com uma lanterna acesa na outra mão.

:
O vento gelado da noite me atingiu quando Jacob abriu a porta de casa, e eu corri para me aquecer em seus braços. Ele me segurou firme contra ele, com um sorriso discreto no rosto, e nós dois começamos a caminhar em direção à floresta.
- Imaginava que as coisas fossem ficar desse jeito? - perguntei, de repente, quando a pergunta simplesmente surgiu na minha cabeça. Jacob moveu os olhos do trecho iluminado pela lanterna, e me observou por uns instantes. Ele negou com a cabeça.
- Você aparecer na minha vida nunca passou pela minha cabeça. Até o dia que você apareceu. Eu não achava que fosse experimentar esses sentimentos nessa intensidade. Sei lá, não achava que...
- ...Que tinha realmente alguém por aí pra você. É, achava que só eu pensasse assim. - ele soltou uma risada abafada.
- E, ainda assim, você aparecer foi a melhor coisa que podia me acontecer. - ele me deu um beijo no topo da cabeça, e eu sorri.
- Tenho que dizer o mesmo. Não gosto da idéia de qualquer coisa sem você. Você realmente...
- Eu te ganhei! Só pra mim. - comecei a rir do tom de voz que ele usou, e ainda assim concordei com um aceno da cabeça.
- Ganhou mesmo.
- E eu também sou todo sou.
- Ugh, até as partes podres? - perguntei, rindo, e ele rolou os olhos.
- Não tem nenhuma parte podre. Algumas partes...
- Problemáticas? É, eu gosto até delas. Acho que você nem tem noção de como fica bonito quando está irritado, ou contrariado...
- Você brinca com o perigo, Vibbard.
Chegamos até a floresta, e percebi que Jacob só ia até ali. De repente, na hora da gente fazer a curva para voltar, ele me soltou e girou por trás de mim. Sumindo por um instante para aparecer no seguinte, desligou a lanterna e fez tudo mais escuro.
- Jake! - eu gritei, assustada por um instante, mas logo depois comecei a rir, quando ele me segurou mais forte pela cintura e me beijou no pescoço.
- O que é? - ele perguntou, rindo também. - Não confia em mim? - eu rolei os olhos, mesmo que ele não pudesse ver, já que estava escuro demais e ele me abraçava por trás. Consegui enxergar o suficiente para vê-lo tirar um braço da minha cintura e estendê-lo bem a tempo de erguer um galho baixo, em que eu provavelmente teria batido minha cabeça.
- Vai ver, confio até demais. - brinquei, parando de andar e girando, para ficar de frente para ele. Eu nem precisei me aproximar muito para beijá-lo, ele já estava próximo demais. Sorri, vendo-o iluminado pela única luz que tínhamos por perto, a da lua. Levei minhas duas mãos a seu rosto, colocando-as uma de cada lado, e encostei nossos lábios.

Jacob:
O caminho de volta até minha casa foi mais lento e mais confuso, porque tínhamos finalmente chegado àquele ponto em que qualquer distância era muito grande. Quando finalmente empurrei a porta da minha casa, a fechou com um baque alto e voltou a me beijar, passeando com suas mãos pelo meu peito. Eu a guiei até meu quarto, em meio aos beijos. Parei para acender as velas, e ela sorriu quando percebeu tudo arrumado.
- Você caprichou. - ela comentou, andando em minha direção. Eu tirei meus sapatos, e ela apoiou-se em mim, começando a desabotar minha camisa. Não tinha nada que desse mais vontade de beijá-la do que vê-la mordendo o lábio inferior quando finalmente tirara minha camisa. Eu sorri e a ajudei, tirando a camisa e jogando-a para qualquer canto do quarto.
Finalmente, pude colocar minhas mãos no zíper do vestido dela, e ela girou, ficando de costas para mim. Aos poucos, fiz seu vestido e coloquei minhas mãos sobre seu corpo, vendo-a ficar arrepiada. Quando ela voltou para me beijar, nosso Dia dos Namorados finalmente começou.


Capítulo 16 -
VAMPIROS E LOBOS. - PARTE II

(Capa.)

A bem verdade era que, conforme os dias iam passando, eu odiava cada vez mais ter que acordar para um futuro completamente confuso. Eu me ajeitei ao lado de Jacob, ouvindo sua respiração tranquila como o único som que quebrava o silêncio da manhã, e respirei fundo, sentindo seu cheiro e abrindo um pequeno sorriso quando ele, inconscientemente, apertou mais seus braços ao meu redor, fazendo nossos corpos ficarem colados. Com minha cabeça apoiada em seu peito, eu direcionei meu olhar para a vista mais fácil, que era para a parede onde a escrivaninha estava encostada, com velas apagadas e gastas sobre ela, levemente iluminadas pela pouca luz do Sol que atravessava a janela fechada e as cortinas. Eu poderia ficar assim por tanto tempo... Não queria levantar para ter que encarar um monte de vampiros e discutir formas de matar outro monte de vampiros assassinos. Por mais que eu adorasse poder me transformar em loba, de vez em quando eu só queria que as coisas fossem um pouco mais normais, como se eu não precisasse pensar no perigo que corríamos o tempo todo.
Ergui um pouco minha cabeça, para olhar Jacob dormindo. As coisas costumavam ganhar mais sentido quando eu observava seu rosto, e quando ele estava perto de mim. Talvez eu ligasse menos se estivesse nessa só por mim, mas agora a idéia de perder Jacob me fazia ter arrepios e ganhar a certeza de que eu precisava lutar, fosse o que fosse que precisasse destruir. Suspirei.
Quando me movimentei um pouco mais, tentando me desvencilhar do abraço apertado de Jacob para conseguir levantar, me mexi o suficiente para fazê-lo abrir os olhos e franzir a testa. Ele me encarou, virou o rosto para a parede, vendo a luz do Sol, e então olhou para mim de volta. Eu sorri. - Bom dia, dorminhoco! - ele rolou os olhos e encostou a cabeça no travesseiro de novo.
- Não precisamos levantar ainda. - eu rolei os olhos dessa vez, rindo. Empurrei seus braços para longe do meu corpo e me sentei na cama, puxando a camiseta grande dele que eu usava para baixo. Cutuquei seu braço, que agora estava sobre seu rosto, tampando seus olhos, a mão fechada e virada para cima.
- Anda, acorda... - ele murmurou e negou com um movimento da cabeça. Eu soltei uma risada abafada e coloquei minhas pernas para fora da cama, ficando de costas para Jacob e me preparando para descer. Ele decidiu acordar apenas para me agarrar pela cintura e me puxar para a cama de volta, em meio a meu grito de susto e suas risadas altas e divertidas. Nós deitamos de lado na cama, e ele apertou mais seus braços contra minha cintura, depositando um beijo estalado no meu pescoço. Eu girei um pouco a cabeça apenas para que pudesse vê-lo, e ele me deitou no colchão, enquanto ficava por cima de mim, colocando as duas mãos uma de cada lado da minha cabeça, sustentando seu peso. Levei minhas duas mãos até seu cabelo, bagunçando os fios amassados, e desci uma delas até sua barriga descoberta, porque ele só usava bermudas. Ele piscou um olho para mim e, antes que eu pudesse responder, abaixou-se o suficiente para poder colar nossos lábios e para que seu corpo encostasse no meu de forma agradável, sem que eu sentisse o peso. Sorri inevitavelmente, e minha mão andou do seu cabelo para sua nuca, puxando-o em minha direção.

Dividi uma omelete recheada de restos de queijo e presunto e a separei em dois pratos. Empurrei um para Jacob, e ele me entregou um garfo.
Andamos até a sala e então nos acomodados no sofá, Jacob apoiando os pés numa mesinha, e eu com os meus em seu colo. Enquanto eu mudava de canal compulsivamente e ele comia, quieto, ouvimos a maçaneta da porta da sala girar, e a porta abrir. O encarei, confusa.
- Seu pai já chegou...? - perguntei, baixo. Ele franziu a testa e negou com a cabeça.
- Ele não vai chegar cedo. - nós dois olhamos para trás. Eu uni minhas sobrancelhas e semicerrei meus olhos, enquanto observava as duas figuras que pararam atrás do sofá, olhando ansiosamente para mim e para Jacob. Encarei Jacob. Ele ergueu uma sobrancelha. Olhei de volta para as outras duas pessoas.
- , Jacob... - Embry começou, em um tom de voz educado demais para ele. Apontou para a menina ao seu lado. - ...Essa é Stella. Stella, esses são e Jacob. - bastou isso para a garota abrir um sorriso que parecia capaz de rasgar sua boca e fazer com que seus olhos quase sumissem. Ela respirou fundo, ainda sorrindo demais, e então...
- Ah, muito prazer! Meu nome é Stella, sei que Embry já disse isso, mas... Oh, é tão bom finalmente conhecer vocês! Quer dizer, sei lá, vocês parecerem tão felizes e direitos, é tão bom saber que um imprinting não é tãããão complicado assim... Ah, e eu já sei tudo sobre vocês! Tudinho! Passamos a noite toda ontem acordados, Embry me contou tanta coisa... E, uau...
- É o quê?! - eu cortei, talvez falando um pouco alto demais, e juro que vi Jacob segurar uma risada que ele disfarçou muito bem, virando o rosto para o prato e cortando sua omelete. Embry sorriu para mim, enquanto Stella soltava o ar que ela parecia ter prendido todo o tempo em que falava. - Eu tive um imprinting ontem. Na Stella. Em Port Angeles. Vim aqui contar para Jacob e ele me mandou voltar em Port Angeles e falar com ela.
- Por que você veio falar com ele e não comigo?
- Você tomou chá de sumiço ontem até às sete da noite. E nem disfarçou o cheiro de vampiro direito. - Jacob murmurou, sarcástico. Mostrei a língua para ele e acertei o controle da tv em sua cabeça. As pilhas do controle voaram para os lados, junto com a pequena tampa que as protegia, e Jacob rolou os olhos. - Exagerada.
- Babaca. - me virei para os dois de novo.
Stella era uma menina magra, não tão alta e nem tão baixa, já que batia nos ombros de Embry, que era bastante alto; ela tinha os olhos cor de mel, uma boca grande e fina e dentes muito brancos. Stella usava um macacão jeans com uma camiseta branca por baixo e calçava tênis azuis; seus cabelos eram cacheados e negros, e ela mantinha apenas certa parte presa, enquanto outra caía-lhe os ombros. Ela era uma menina bonita, mas de qualquer forma eu tinha que dar meu chilique de "Ela tá namorando meu melhor amigo", mesmo que isso não vá fazer diferença.
- Então, ontem, huh? - sorri, o que pareceu um grande alívio para Stella. Jacob me observou por uns segundos, antes de indicar lugares para Embry e Stella sentarem. Em poucos minutos, ela começara a contar como o imprinting acontecera, e eu me afundei no sofá, abraçada a Jacob, para ouvir a história.

Eram dez e meia da manhã quando eu finalmente vesti shorts jeans, uma camiseta azul de alça fina e tênis all star pretos. Nem eu tinha noção de quanta roupa eu deixava largada na casa de Jacob, a gente definitivamente precisava se organizar quanto a isso.
- Precisa mesmo ir? - ele colocou seus braços ao redor da minha cintura, me prendendo contra ele como sempre fazia, e eu assenti, rindo.
- Tenho casa, sabe? Meus pais não devem gostar que eu fique tanto tempo fora dela, ainda mais com um cara como você. - ele rolou os olhos.
- Oh, é. Pois é. Eu sou tão péssima influência.
- Tenho que concordar com você nessa.
- É, você com toda certeza ia estar no caminho do convento se nunca tivesse vindo pra cá.
- Ou no caminho do hospício, quem sabe? Não é comum garotas que se transformam em lobas nem em San Diego.
- Então que bom que você me encontrou, eu não tenho problemas com isso.
- O que tornaria você um doente, caso não sofresse do mesmo problema.
- Cara, somos problemáticos.
- Não ia ter graça se fosse de outro jeito.
- Eu te amo.
- Eu também. - nos beijamos, e então mantivemos nossas testas coladas enquanto eu dizia: - Nos vemos mais tarde?
- Passo na sua casa lá pras sete. - com mais uns cinco minutos de enrolação, demos um último beijo e então eu andei até meu carro, observando Jacob parado em sua porta pelo meu retrovisor até que ele se tornasse um pontinho minúsculo.
Liguei o rádio, deixando num CD qualquer com um monte de músicas de artistas diferentes, e então puxei o celular da minha bolsa, só então lembrando que ele estava lá. Tinham quatro chamadas não atentidas de Maddison. Apoiei o celular no meu colo enquanto concluía que Maddison devia ter anotado seu celular na agenda do meu enquanto eu experimentava roupas, e pensava porque ela tinha tentado me ligar quatro vezes.
Disquei o botão de ligar e coloquei o aparelho ao meu ouvido enquanto chamava.
- Alô?
- Maddison! Oi, é a ...
- Ah, até que enfim! Caramba, garota, que que o Jacob tem pra te deixar desse jeito? Já são dez e pouca e você só me liga agora?
- Eu não v...
- Tá, que seja. Olha, você precisa vir pra cá. Alice arranjou um vestido de noiva lindo para Bella, e Bella diz que precisa da opinião de alguém mais chata do que eu e Alice para saber mesmo se é bonito e não exagerado demais.
- Alguém mais chata?
- Ei, eu não disse chata, Maddison! Eu disse "controlada"! - ouvi a voz de Bella, abafada, soando mais atrás. Maddison soltou uma risada debochada.
- Bella, querida, só deu as caras agora. Desde aquela hora que ela saiu de Port Angeles. Acha mesmo que ela é controlada?
- Ow, quer parar? O que eu faço com o Jacob não está em pauta e eu tenho certeza de que...
- Ok, entendemos. - nós três rimos.
- Certo. Preciso ir aí agora?
- Ah, por favor, pode ir em casa antes. Você já fede o suficiente sem horas de agarração com o Jacob...
- Maddison!
- Tá, tá... Anda logo. - ela desligou, e eu estacionei meu carro em frente a minha casa em meio a risos.

Quando cheguei à casa dos Cullen, Edward estava do lado de fora, de braços cruzados e parecendo irritado. Estacionei meu carro, e saí de lá girando a chave nos dedos. Sorri para ele quando ele girou os olhos para mim, não podendo mais ignorar minha presença, da qual ele com certeza tinha noção há uns cinco minutos.
- Qual o problema, Ed? - ele nem resmungou quando eu disse seu apelido, então franzi a testa. - Ed? Eddy? Eeeeed? Hey!
- Quer me contar o que vocês estão planejando? - ele perguntou, subitamente, e eu arregalei os olhos.
- É o quê? Quem tá planejando o quê? - ele rolou os olhos.
- , Maddison, Alice e Bella estão saltitando pela casa... Maddison fica bloqueando meus poderes, não consigo ler a mente de nenhuma de vocês... - dei de ombros.
- Desculpa, Ed, não tô conseguindo chegar onde você quer. - ele bufou. Mexeu-se incomodamente, e então cruzou os braços. Olhou de um lado para o outro, e se aproximou de mim. Nunca tinha visto um vampiro tão cheio de insegurança na vida.
- Vocês por um acaso vão... - ele pigarregou, desconfortável. - Er... Dar uma festa de despedida de solteira para a Bella? - no mesmo instante em que eu compreendi o que ele queria dizer, meus olhos se arregalaram e eu tive uma crise de risos. Não consegui aguentar. Nunca ia conseguir imaginar Bella numa despedida de solteira sem pensar que poderia estar passando seu tempo com Edward. Era incrível como ele podia sequer pensar nisso, Bella nem ia querer. - !
- Ai, desculpa... Ah, caramba. Despedida de solteira! Essa foi boa! Ah, tá, sério... Desculpa. - me recompus, soltando o ar devagar, com uma mão sobre minha barriga que doía de rir. Encarei Edward com minha melhor expressão de "Estou falando sério". - Não vamos fazer uma festa de despedida para ela, Bella nem ia querer. Ela fica tempo demais falando "Edward é isso", "Edward é aquilo", pfiara não ter um ataque se a gente colocasse um cara meio gay rebolando na frente dela. Relaxa, não vamos fazer isso. - ele pareceu comprar minha história.
- Hm, ok, tudo bem. É mais fácil acreditar em você do que naquelas duas lá dentro.
- Alice e Maddison só são animadas demais. - sorri para ele, e ele apenas assentiu.
- Olha, Sam e os outros vão vir aqui em umas duas horas... Temos assuntos para discutir. Seja lá o que vocês precisam conversar, terminem antes desse tempo. - eu concordei, colocando a mão sobre minha testa e movimentando para fora como um soldado. Edward riu, e parecia prestes a falar mais alguma coisa, quando ele mesmo se interrompeu e olhou para trás, onde ficava a porta de entrada. Não demorou muitos segundos para que eu sentisse um cheiro mais forte, que não me agradava e nem nunca ia, e três figuras surgirem na porta. Bella correu para o lado de Edward, com ele abraçando-a pela cintura e a mantendo por perto. Alice e Maddison abriram sorriso gigantes para mim, enquanto eu erguia uma sobrancelha.
- Hã... Oi?
- Oi! Como estamos hoje? - eu soltei uma risada.
- Bem, estamos muito bem. E vocês?
- Ótimas! Agora será que dá pra gente cortar o papo furado? Anda!
- Vampiros são tão sutis. - comentei, rindo.
- Uma das nossas grandes virtudes. - ironizou Maddison.
- Ainda me pergunto como ela é uma Volturi. - comentou Bella, encarando Alice. Esta deu de ombros.
- Vai entender...
- Aliás, o que você está fazendo aqui? Você tem uma noiva humana que já devia ser vampira. Anda logo e vai lá fingir que gosta de Aro. - Maddison começou a empurrar Edward, e todas nós rimos. Edward rolou os olhos, mas foi. Bella o observou até que ele sumisse dentro de casa, parecendo ter ido para a sala de estar. Ela virou-se para nós, enfiando as mãos nos bolsos da jeans.
- Calma, ele volta. - falou Maddison.
- Deixa ela sentir saudades do noivo em paz. - eu a defendi, rindo. Maddison rolou os olhos.
- Claro que você diz isso. Vocês com essas manias de alma gêmea, imprintings... Oh, Deus. - fez uma careta para mim, Bella e Alice, e esta fez "Pff".
- Maddison, só porque você é imortal não quer dizer que...
- ...Que não vá encontrar alguém pra ficar babando e que babe em você.
- Todo mundo acha.
- Gente, chega!
- Sabe o que acho? - começamos a andar, logo subindo as escadas para o segundo andar da casa, as três esperaram eu continuar: - Que ela já achou o vampirinho dela, só que não quer admitir.
- Tá falando daquele esquisitinho de ontem? O loirinho? - Bella perguntou, e eu assenti, rindo, quando Maddison olhou para nós duas, com a boca aberta parecendo ofendida.
- Ele não é esquisito!
- Tá aí, se incrimina mesmo. - Alice continuou.
- Se ela não tivesse uns duzentos anos, ela ia ter ficado vermelho agora. - entramos no último quarto do longo corredor, e Alice bateu a porta atrás de nós.
- Ah, calem a boca. - nós três demos de ombros, nos entreolhamos, e assistimos Maddison abrir o armário em busca do vestido de Bella. O quarto era bem grande: havia um armário de madeira na parede esquerda, ocupando-a toda; na parede direita, prateleiras estavam cheias de livros com assuntos variados e com alguns objetos avulsos, tipo fitas adesivas, canetas, dvds; na parede da frente, uma enorme janela estava aberta, dando vista para a floresta.
Eu me sentei numa poltrona, Alice se ajeitou no sofá e Maddison tirou o vestido do armário, andando com ele até Bella.
- Vai vestir... - ela resmungou, e Bella rolou os olhos, sumindo por trás de uma porta que dava num banheiro e eu nem tinha percebido.
O vestido, no fim das contas, era lindo. Até eu que não era muito chegada nessa história de casamento tive que arregalar meus olhos e observar Bella enfiada naquele monte de panos brancos parecendo uma princesa. Era um vestido digno de filmes da Disney. Ela pareceu bastante satisfeita quando eu disse isso.
- Então temos o vestido? - perguntou Alice, empolgada. Maddison finalmente sorriu (ela parecia mesmo irritada com todo o assunto do vampiro), e Bella suspirou aliviada.
- Não é mesmo exagerado demais? - ela perguntou para mim, e eu neguei com a cabeça.
- Nop. É lindo. - sorri, e ela sorriu de volta.
- Tá, ok, então. Vou acreditar em você. - ela soltou uma risada pequena e eu assenti.
- Acredite, então. Embora eu ache que você devia ter simplesmente aprovado o vestido antes, tá na cara que você adorou ele. Sabe, Bella, não faz mal se o centro das atenções por um único dia. - Alice concordou comigo, erguendo as mãos para o alto num movimento exagerado. Maddison começou a rir.
- Ela nunca vai gostar disso. - Bella rolou os olhos, rindo, e sumiu de volta no banheiro, carregando o seu vestido com as mãos.

- Ai, que fedor! - Maddison levou as mãos até o nariz dramaticamente, quando eu, ela, Bella e Alice descemos as escadas e fomos para a sala de estar. Eu semicerrei meus olhos e fiz uma careta para ela, enquanto dava de cara com meus irmãos e Jacob. Jake veio me abraçar e encostou nossos lábios por um segundo, depois sorriu e me manteve ao seu lado. Ele cumprimentou Bella e acenou para Alice e Maddison.
Também na sala, estavam os Volturi e o resto dos Cullen. De verdade, essa reunião nem era para estar acontecendo. Muitos vampiros juntos chamavam atenção dos outros, e acompanhados de lobos deviam praticamente gritar atenção. Eu me abraçei mais a Jacob quando Aro nos lançou aquele olhar de maluco dele. Com exceção de Maddison, todos os Volturi iam me assustar para sempre, concluí isso quando Marcus, Caius, Jane e Alec também nos olharam por uma fração de segundo. Carlisle, que parecia o mais calmo sempre, ficou de pé e nos observou, todos nós nos viramos um pouco para ele, na ponta do grande círculo que havíamos feito ao redor a mesa de centro.
- Temos o que se pode chamar de boas notícias. - ele começou. Lançou um olhar rápido para Aro e Marcus, e então para Sam. - Conseguimos descobrir o quê os recém-nascidos querem. Na verdade...
- O que eles querem não existe. - Edward disse, mais alto, e todo mundo olhou para ele. Bella fez aquela cara de "Ai Meu Deus" que ela sempre fazia e Maddison bufou.
- O que estamos esperando pra matá-los de uma vez? Eles não podem...
- Vamos matá-los, é claro. Só que precisamos de um plano antes. - Paul dissera, cortando Maddison e assustando até Sam. Eu segurei a risada, assistindo Maddison fuzilar Paul com o olhar, e este abrir um de seus usuais sorrisos prepotentes.
- Eles estão em dez. O que pode dar um certo trabalho. Recém-nascidos são...
- Mais fortes, mais ágeis... - Aro começou a gesticular, fazendo expressão de descaso. - Não vai ser problema. - eu ergui uma sobrancelha.
- Matá-los é realmente... - dei de ombros, movi meu olhar para meus pés porque sabia que estava prestes a falar algo com que eles não concordavam de forma alguma. - ...É realmente necessário?
- Necessário o quê? - Emmett perguntou. Eu rolei os olhos e suspirei.
- Matá-los. A gente realmente precisa matá-los? Não tem... Nenhuma forma de, sei lá, educá-los? - me encolhi ao lado de Jacob, e ele apertou mais o abraço enquanto Edward suspirava.Alice mordeu o lábio inferior.
- Ter, tem. Mas é muito complicado. Não... Não é exatamente uma vantagem fazer isso.
- Pra quê mais vampiros? Temos o suficiente para causar problemas que já não são tão fáceis de lidar. - Jane finalmente abriu a boca, e a voz irritada dela apenas me fez assentir.
- Tá. Beleza.
- Você devia querer matar vampiros. Pelo menos é o que vocês devem querer. - ela continuou, gesticulando em minha direção e também indicando os meninos. Sam riu.
- é um pouco diferente. - ele piscou um olho para mim, e eu abri um meio sorriso. - Jane franzira a testa e estava pronta para responder, provavelmente com alguma pergunta sobre porque eu era diferente, mas foi aí que ouvimos um estouro. Algo quebrando, e então percebemos que tinha sido uma das grandes janelas de vidro dos Cullen.

Claro que não demorou nada para o cheiro de mais vampiros chegasse, e eu franzi o nariz enquanto Jake me jogava para trás dele e, assim como todo mundo, escolhe um lado para ir e procurar alguém. O cheiro de recém-nascidos era mais forte, como se tivesse algo podre. Eu puxei minha mão de Jacob, cruzando meus braços, e ignorei o olhar que ele me lançou. Eles não perdiam a mania de me proteger como se eu também não soubesse o que fazer.
Todo mundo tinha se separado, mas não desfeito o círculo em que estávamos, então era como se alguém tivesse aumentado apenas o raio do círculo.
- Alguma coisa? - perguntou Embry, baixo. Jacob negou com a cabeça. E aí mais uma janela quebrada. Dessa vez o estouro foi tão perto de mim que eu me assustei mesmo e pulei para trás. Senti o que tinha quebrado em minha perna, e aí me abaixei para pegar e ver o que era, enquanto pude ver Jacob correr para o meu lado. Era uma espécie de faca? Era um pedaço de metal, ou aço ou qualquer coisa do tipo, só que muito afiado. O objeto refletiu luz quando eu o girei entre meus dedos, e só então senti minha perna arder.
Olhei para baixo, e um grande corte ia desde o meu joelho até quase meu pé. Arregalei os olhos, levemente assustada, e esperei o ferimento fechar. Era o que acontecia, eu me curava rápido como todos os outros lobos. Mas...
- Ah, droga! - senti meu sangue escorrer, o machucada parecia muito longe de fechar. Na verdade, ele parecia abrir muito mais... Tentei erguer minha cabeça e procurar alguém para me ajudar, mas antes que pudesse identificar alguém senti minha visão embaçar, girar. A mesma dor de cabeça que me fizera quase perder o equilíbrio uma vez voltara, de novo a sensação de ter alguém esmagando minha cabeça me fez fechar os olhos. Minhas pernas ficaram fracas, e eu podia sentir o sangue deixar meu corpo e enfraquecer cada parte... Minhas costas encontraram o chão, e ouvi sons rápidos demais passando ao lado do meu ouvido. E, ah, cara, eu estava ferrada.


Capítulo 17 -
SILÊNCIO.

(Capa.)

(Ponto de vista do Jacob)

- ! - não consegui chegar a tempo de segurá-la, ela estava caída no chão. Um rastro de sangue grande demais fazia uma linha irregular até a parede, começando em um corte gigante em sua perna. Eu senti minhas mãos tremerem, e fiquei apático por uma fração de segundo. Eu não sabia o que estava acontecendo com ela, não fazia o menor sentido. Ela não devia estar sangrando daquela forma, nós nos curamos em questão de segundos. Ela devia estar de pé ali, xingando quem quer que tivesse atirado o que a cortara.
- O que aconteceu com ela? - Sam apareceu ao meu lado, olhando de mim para . Eu tinha colocado-a desajeitadamente em meus braços, depois que me ajoelhara ao seu lado. Eu balancei a cabeça.
- Não sei, não sei... Aquela janela quebrou e ela... Sei lá, alguma coisa cortou a perna dela. Não era pra...
- Embry, chame Carlisle. Vou precisar de uma ajuda aqui. - não olhei para cima, só ouvi os passos apressados de um Embry tão perturbado que nem disse nada. Não demorou para Carlisle voltar com ele.
- O que aconteceu com ela? - antes que alguém pudesse responder, Alice, Edward e Jasper apareceram na sala, correndo para fora da casa. Eles pararam quando nos viram, e Alice arregalou os olhos quando viu .
- Vocês vão precisar de ajuda? - Jasper quis saber. Carlisle negou com a cabeça.
- É melhor vocês irem. Já os acharam? - Edward assentiu e, sem falar mais nada, os três sumiram para a floresta. Eu senti meu sangue ferver quando me dei conta de, quem quer que tivesse machucado , estava lá fora agora.
- Ela precisa ir pra outro lugar. Aqui não é seguro... Jacob, consegue...? - Lancei um olhar rápido até Carlisle e assenti.
Finalmente, procurei olhar . Eu tinha me acostumado com seu rosto sempre sorridente, ou muito irritado, ou muito qualquer coisa. Ela era cheia de emoções muito fortes, e vê-la agora totalmente desacordada, fraca... Respirei fundo e a peguei no colo, ao mesmo tempo em que Sam ia até a perna dela, segurando-a para evitar o sangue de escorrer.
Carlisle nos guiou até o andar de cima, onde havia um quarto totalmente branco e vazio, exceto por uma cama ao canto e um armário embutido na parede direita.
Eu a coloquei sobre a cama, o som de seu corpo apenas lá, sem movimento algum, ficando no colchão do mesmo jeito que eu o colocara... Soou como alguém berrando muito alto no meu ouvido. Alguém berrando algo muito ruim. Mas, de certa forma, eu estava tapado. Era como se alguém, antes de me berrar coisa horríveis, tivesse tapado minha visão, minha audição... Era como se eu estivesse drogado, ou assistindo a toda situação de fora, sem ter idéia do que compreender.
Carlisle tirou um monte de coisas do armário e disse alguma coisa para Sam e Embry que eu não consegui entender. Segundos depois, ele estava inclinado sobre a perna de . Suas mãos trabalhando rápido em remédios, e agulhas, e...
- Cara, que merda vocês estão...?! - Paul apareceu na porta do quarto, e começara a reclamar, pronto para ter uma de suas muitas explosões, até que ele olhou para . - O que aconteceu?
- Os recém-nascidos? - perguntou Sam, ignorando a pergunta de Paul. Ele assentiu, sem tirar os olhos de .
- Todos os dez. E mais alguns. Eles são muito fortes, mas já pegamos uns dois. - ele falou, rápido demais. Apontou para . - O que raios...?
- Jacob e Embry, preciso de vocês lá. - Sam cortou Paul, parecendo não querer dar explicações.
- Vão, eu cuido dela. - Carlisle disse, sem tirar os olhos de seus movimentos rápidos e precisos no que quer que estivesse acontecendo com . Eu só pude assentir, afinal de contas... Algo tinha que fazer sentido. Matar vampiros era algo que nunca ia perder o sentido.

Cheguei ao primeiro andar da casa dos Cullen seguido de Embry e Paul. Sam ia na frente, observando tudo com cuidado, e então corremos para a floresta. Eu já podia ouvir o som das folhas mexendo com o vento forte que os movimentos rápidos da batalha causavam. Respirei fundo e peguei o caminho mais fechado, depois de saltar no ar e me transformar.
Sam não me impediu de fazê-lo, o que significava que ele entendia, e que a situação de não era boa.
O sangue ferveu por cada parte do meu diferente corpo, e eu tomei um impulso rápido quando minhas patas encontraram o chão. O vento fez meus pêlos se deitarem, ouvi a terra se afastando quando eu fazia contato com ela, empurrando-a, e o cheiro de vampiros acertou minhas narinas em cheio, o que me fez acelerar. Uma pena que esses vampiros tivessem inventado aparecer na hora que eu mais queria vê-los mortos.
Ah, até que enfim!, a voz de Jared soou em minha cabeça, e eu procurei não pensar no que acontecera a . Sabia que se o fizesse, ia distrair todos eles do que deviam fazer. Eu mesmo queria não pensar nisso, só na raiva que isso me trazia, e em como eu ia descontá-la naqueles sugadores de sangue de merda.
Alice e Jasper estavam ocupados com um vampiro que os contornava rápido demais, pulando no espaço de umas três árvores grandes. Pensei em ir até eles e ajudá-los, mas Aro fora mais rápido e agora cercava o vampiro.
Alec estava o lado de Emmett, que estava contente em despedaçar outro que a loira parecia ter acabado de matar, enquanto ela o ajudava a cortar os braços e Esme rodeava os dois, cuidando para nenhum outro vampiro tentar entrar. Edward lutava com uma vampira de cabelos curtos e completamente suja de sangue, ela parecia muito mais um zumbi.
Contei quatro vampiros mortos no chão, ouvi sons de coisas sendo cortadas e olhei para o alto identificando alguns dos Volturi e mais vampiros. Não me importei com o fato de que eram bem mais do que dez, no total. Recém-nascidos pareciam brotar da terra. E, quando eu procurei por Jared para saber onde achar mais vampiros, um deles passou ao meu lado, fazendo um barulho soar alto em meu ouvido. Eu quase sorri, com a idéia clara de poder descontar minha raiva.
Ela tinha grandes olhos azuis e cabelos ruivos até os ombros. Abriu um sorriso maníaco, e talvez o fato de ser ruiva tenha ajudado na velocidade com a qual eu avancei, já que estava tentando matar uma droga de vampira ruiva há um bom tempo.
Ela dançou para a esquerda, e eu acabei cortando o ar. Enquanto ela ria, girei e consegui arranhar parte de suas costas, ouvindo-a urrar quando me postei no mesmo lugar de antes. O sorriso em seu rosto foi substituído por uma expressão de puro ódio, e ela avançou. Avançou apenas para se deparar com um corte fundo em seu pescoço, feito pelos meus dentes afiados. Eu a empurrei no chão e pisei sobre ela, terminando de cortar seu pescoço fora com uma das minhas patas. Edward correu até mim, parecendo surpreso.
- Eu cuido dessa, pode ir. - ele disse, e eu apenas assenti rápido, identificando Quil e Jared mais ao Norte, lutando com dois outros vampiros. Corri para ajudá-los, e foi mais fácil ainda.

Entrei no meu carro e dei partida, sentindo o motor tremer, e então saí com o carro. Eram quatro e meia da manhã e enfim eu estava sozinho. A batalha tinha acabado, todos os recém-nascidos estavam mortos, salvo a exceção de um deles, que parecia ter poderes suficientes para ser poupado e carregado pelos Volturi. Normalmente, eu teria me interessado muito mais pela batalha, mas dessa vez ela só funcionara como uma válvula de escape, um intervalo na confusão que estava minha cabeça.
Eu estava um tanto quanto frustrado por não ter matado tantos vampiros quanto eu queria, ou quantos eu achava que seriam suficientes para me deixar menos irritado. Eu estava em La Push. Passara em casa, contara ao meu pai o que acontecera e ele só me deixou sair depois de se certificar de que eu não ia bater com o carro ou coisa do tipo.
Tinha sido uma merda ter que contar para meu pai o que acontecera com . Fez parecer mais real, fez parecer... O óbvio. Enquanto eu não tinha falado, a situação parecia meio nebulosa, flutuante, incerta.
Agora era palpável. não estava bem.
Os pais dela também não tinham recebido a notícia nada bem. Meu pai me ajudara a contar, porque eu também não conseguia falar direito. O olhar desolado da mãe dela me fez querer da meia volta e largar tudo. O pai dela conseguira andar até o quarto e arrumar uma pequena mala com algumas mudas de roupa para que eu pudesse levar nos Cullen. Meu pai ficara lá com eles, depois de eu dizer que era melhor que eles esperassem até amanhã para ver . Eu não sabia em que situação ela estava agora, era melhor que eu visse antes.
Talvez, o que mais dóia, era o fato de que as pessoas ficavam tão apáticas quanto eu quando eu contava sobre . Era aquela confirmação horrível de que algo estava muito errado, e que era tão perceptível que nem se davam ao trabalho de dizer que ia ficar tudo bem. Porque provavelmente não ia. Não ia.
Respirei fundo e apertei as mãos no volante. Controlei o tremor que começara a se espalhar pelo meu corpo quando a estrada ficou desfocada por uma fração de segundo, e senti lágrimas escorrem pelos meus olhos. Qual é, eu não chorava. Eu não tinha chorado até a ficha cair.
Como eu podia segurar as pontas se não estava lá? Como as coisas iam fazer sentido se ela não acordasse mais? A visão dela deitada na cama na casa dos Cullen, apagada, quase sem vida, machucada, se misturou com a visão dela mais cedo, deitada na minha cama, com um sorriso grande no rosto e as mãos sobre meu peito. Como eu tinha deixado que ficasse desse jeito?

A casa dos Cullen estava completamente acesa. Entrei sem bater, e Bella veio me receber. Ela não tentou sorrir nem nada, só esperou que eu falasse algo.
- Ela está bem? - foi tudo que eu pude formular, meu cérebro devia ter parado. Bella mexeu as duas sobrancelhas, balançando a cabeça.
- Continua desacordada. Carlisle está lá com ela arrumando o quarto para deixá-la lá. Sabe, não podemos levá-la para o hospital porque...
- ...Iam achar muito mais problemas nela. - eu completei, Bella apenas assentiu. Eu queria subir, mas não tinha certeza da visão que ia encontrar de . Antes que eu pudesse me decidir, Bella soltou um murmúrio enrolado que me pareceu "Ah, Jake!" e me abraçou, fungando quando passou seus braços ao redor do meu pescoço. Não demorou para eu sentir minha camiseta molhada na altura do peito quando ela começou a chorar. Eu a abraçei de volta, achando surreal como agora tudo tinha mesmo ficado diferente.
Alguns meses atrás, se Bella tivesse me abraçado... Eu teria pensando em milhões de possibilidades e hipóteses que levariam ao fato de que, talvez, ela fosse preferir a mim ao invés do vampiro. Mas agora... Agora eu simplesmente compreendia porque ela estava chorando, e tinha vontade de chorar também. Porque a única pessoa que eu queria que me abraçasse estava lá correndo risco de vida e eu não podia fazer nada.
- Ai, droga. Eu não devia... - Bella me soltou. - Desculpa, só você tem direito de perder as estribeiras. - eu soltei uma risada pequena e forçada. Balancei a cabeça.
- Tudo bem. - eu acho que ia ficar presos a essas respostas idiotas, não tinha vontade de dizer mais nada. - Eu vou... - indiquei a escada. Bella apenas assentiu.
- Ok. Só... Hã, Jake... - ela mordeu o lábio inferior e cruzou os braços. Olhou para os pés por um instante, e então ergueu a cabeça para me olhar. - Se precisar conversar... Você estava lá quando tudo estava muito confuso pra mim, então... Quando precisar conversar, ou precisar de uma amiga, pode me chamar. - ela sorriu, e eu apenas assenti, agradecido. Bella me deixou passar. Eu subi as escadas devagar, depois de cumprimentar com um aceno da cabeça mais alguns vampiros na sala de estar. Maddison ainda estava lá, apesar dos outros Volturi já terem ido embora.
Tinha me desligado tanto que entrara no quarto de sem nem mesmo pensar duas vezes, e eu não sabia dizer o que sentira quando a vira novamente: ela estava exatamente igual a quando eu a colocara ali, então era bom que ela não tivesse piorado; mas estar do mesmo jeito também significava nenhum melhora,e era disso que eu tinha medo. Carlisle levantou a cabeça de um aparelho que ligava e abriu um sorriso compreensivo para mim.
- Olá, Jacob. - eu o cumprimentei com um movimento da cabeça, e então olhei para os lados. Ele estava ligando alguns aparelhos para monitorar , e seus batimentos cardíacos estavam normais, sua temperatura normal para uma loba, a respiração também... Mesmo sem entender muita coisa, eu sabia que os aparelhos indicavam que, aparentemente, não tinha nada de errado com ela.
Andei até ela e passei uma das mãos pelos seus cabelos, penteando-os para trás, e observei sua pele pálida, muito mais pálida do que eu estava acostumado. Ah, ... Seus braços estavam um de cada lado do seu corpo, suas mãos quase fechadas, suas pernas juntas... não dormia assim. Ela sempre dobrava as pernas e juntava os braços, quase sempre colocando-os atrás da cabeça. Seus cabelos costumavam ficar uma bagunça, e eu adorava cada detalhe disso.
Carlisle colocou uma mão no meu ombro, me acordando para a vida real, que não incluía acordada, e eu me afastei para que ele pudesse continuar a ligar os aparelhos ao redor dela. Olhei para sua perna, Carlisle tinha tampado o ferimento com uma faixa através de sua perna.
- O que aconteceu com ela, afinal? - ele balançou a cabeça.
- Ainda não consegui descobrir. Preciso analisar aquele pedaço que a cortou. Só pode ter sido alguma substância que afete a vocês, lobos. Não pode ter sido nada normal...
- Nunca ouvi falar de nada que pudesse fazer isso. Quer dizer, o que quer que tenha sido isso... A colocou em coma. Como...?
- É, eu não sei. Vou cuidar disso agora. Vai ficar aqui? - eu assenti. Carlisle deixou o quarto depois de certificar-se de que todos os aparelhos estavam ligados em suas tomadas e seus fios ligados em . Puxei uma cadeira que estava o lado da cama e entrelaçei minha mão com a , acaricando-a devagar e tomando cuidado para não puxar nenhum dos fios colados a ela.
Tocá-la me fez acordar um pouco. Ainda era ela... Suas unhas grandes e pintadas de uma vermelho-escuro que começava a descascar... Sua pele branca demais, os dedos pequenos... Ela tinha uma mão tão pequena, sempre reclamava que a minha que era grande demais quando eu brincava com ela por isso. Tentei não pensar que talvez ela não brincasse mais com isso, que talvez não fosse ouvir o som da sua voz outra vez.
Me aproximei de sua cama, apoiando minha cabeça no colchão, meus olhos encontrando seu rosto tranquilo. O silêncio dela acabava comigo.
Ela estava fria também, e eu observei o contorno do seu perfil, sua respiração subindo e descendo. Eu já nem ligava pra mais nada, eu só queria vê-la abrir os olhos e lançar um de seus sorrisos pra mim. O que estava impedindo-a de acordar?


Capítulo 18 -
INCERTO

(Capa.)

- Jacob? Jacob. Jacob, acorda. - senti a mão de pai no meu braço, me chacoalhando como se eu tivesse sete anos de idade novo. Eu assenti, de olhos fechados.
- Tô acordando. - pude ouvi-lo resmungar e girar sua cadeira de rodas para fora do meu quarto. Tinha certeza de que ele parara na porta por mais alguns segundos antes de me deixar sozinho. Levei mais dez minutos para abrir os olhos e acordar.
Acordar já não era uma atividade que, digamos, me deixava muito feliz. Eu tinha caído numa rotina irritante, de acordar, ir para a escola, ir para a casa dos Cullen e esperar acordar até a hora que eu deveria voltar para casa. Era sempre assim, e ela continua dormindo há duas semanas. Duas longas semanas que tinha me transformado numa pessoa que, basicamente, só existia e não fazia diferença nenhuma para ninguém.
Depois de tomar banho e trocar de roupa, fui para a cozinha para encontrar meu pai de braços cruzados à mesa de jantar. Ele tinha aquele olhar ameaçador dele, e eu me joguei na cadeira contendo a vontade de rolar os olhos. Hoje era um dia para tentar conversar comigo. Ele oscilava entre dias assim, onde ele parecia prestes a fazer algum tipo de intervenção (mas nunca fazia) e dias em que me deixava não falar nada e não insistia em uma conversa.
- Você precisa comer. - ele disse. E eu assenti. Ele tinha razão, mas eu não queria comer. De qualquer forma, peguei um prato e joguei cereais lá, misturando com leite. Comi em silêncio, sem me importar com a hora, e meu pai continuou quieto, encarando seu prato, já vazio. Ele nem mais fazia mais comida, porque eu quase nunca acordava suficientemente cedo para o café da manhã. Isso provavelmente significava que ele ia esperar eu terminar de comer para falar mais alguma coisa.
- Vai até os Cullen hoje? - perguntou, mesmo que já soubesse a resposta, e eu assenti. - Carlisle conseguiu descobrir o quê...? - neguei com a cabeça. Ele também sabia a resposta dessa. - Oh, sim. Jacob, escuta, você... - suspirei, empurrando o prato vazio para longe.
- Pai, por que não fala o que quer de uma vez? - ele pareceu surpreso por um segundo, mas então ajeitou as mãos sobre as pernas e procurou meu olhar.
- Você está me deixando preocupado, garoto. Não pode ficar assim. - eu sabia o que ele queria dizer, mas de que outra forma eu ficaria? Passei uma das mãos pelo rosto, pensando em como respondê-lo.
- Você sabe. Você sabe, talvez até mais do que eu, que eu não vou ficar melhor do que isso. Ela é meu Imprinting, ela é... Não tem... - eu não conseguia encontrar palavras que fizessem sentido do mesmo jeito que na minha cabeça, e isso sempre me deixava irritado. Eu odiava falar sobre isso.
- Ela não ia querer ver você desse jeito! - ele tinha quase berrado, tentando sobrepor sua voz a minha, que até então estava baixa. Então eu absorvi o que ele disse, observando sua expressão tensa. Soltei uma risada amarga. Ele estava pedindo muito da minha paciência.
- Bom, ela não está aqui pra ver, está? - levantei da mesa, dei um empurrão na cadeira e saí de casa no minuto seguinte, só com as chaves do carro no bolso.

Estacionei na First Beach. O tempo estava fechado (como sempre), mas havia alguns turistas tirando fotos, contentes, à direita, próximos ao mar; algumas crianças da reserva brincando por entre as pedras sob a vista atenta de seus pais, que volta e meia sorriam, divertidos com alguma besteira que seus filhos faziam; algumas poucas pessoas passavam apressadas, e outras andavam devagar, com o olhar perdido na paisagem; e havia também um grupo que eu conhecia por estudar comigo. Eram três caras e duas garotas, e eles estavam alguns metros distantes de mim, agrupados em duas pedras grandes e tomando seus refrigerantes, e só acenei com a cabeça enquanto meus tênis afundavam na areia, conforme eu andava.
Eu tinha vantagem no fato de que eles tinham medo de mim. Tudo bem, não medo de sair correndo quando me viam, mas medo de não exatamente vir falar comigo quando me viam, porque eu andava com Sam e tudo mais e, como eles não sabiam o que a gente fazia de verdade, eles achavam que a gente era uma bando de caras mau encarados que te batem na primeira chance que têm. Bom, isso não é totalmente mentira.
Para eles, e para mais todo mundo, sofrera um acidente quando fora visitar sua antiga cidade, San Diego. Um acidente de carro. Eu não realmente ligava para o que eles achavam que tinha acontecido, contato que não viessem torrar minha paciência perguntando como ela estava ou algo assim. Aí eu já não sabia se ia conseguir sustentar a mentira, e nem sabia se ia conseguir responder... Sei lá. Chutei algumas pedras e suspirei.
Depois de passar por eles, assistindo suas expressões sorridentes se transformarem em expressões de pena com "É, ele se fudeu" deles, eu finalmente me vi perto de onde as ondas quebravam. A partir dali, girei para a esquerda e comecei a andar para a parte mais afastada da praia, assistindo as ondas quase chegarem até meus tênis e voltarem.
Claro que eu não consegui andar nem um metro sozinho.
- Jake! - normalmente, eu iria ignorar quem quer que tivesse me chamando. Era o que eu vinha fazendo e, com toda certeza, algo pelo que me daria uma bronca. Ela odiava quando eu não era simpático com alguém. Mas, como esse alguém me chamando era Seth, eu apenas me virei e esperei ele chegar até onde eu estava.
Seth estava crescendo. Como ele estava crescendo por causa de sua condição de lobo, e também por causa de sua idade, a diferença era monstruosa de vez em quando. Agora, ele vinha distribuindo sorrisos para as garotas mais novas que viraram as cabeças para olhá-lo, e jogou o cabelo para trás antes de cruzar os braços para fazer aparecer mais os músculos que ele estav a desenvolvendo ali, e me encarar com uma expressão que conseguiu me arrancar até uma risada fraca.
- Volta pro berço, cara. - eu brinquei, e ele riu. Olhou uma segunda vez para uma garota de cabelos compridos e escuros, que sorriu ainda mais para ele, e então voltou a me olhar. A garota pareceu derreter de onde estava. Nós dois começamos a caminhar.
- E aí? - ele perguntou. Eu não respondi, e ele bufou. - Ah, qual é, Jacob. Eu sou a última esperança de todo mundo. Se você parar de falar comigo, eles vão colocar você num hospício ou sei lá. - ergui uma sobrancelha, até achando certa graça. Era verdade que Seth era o único com quem eu ainda conversava, no meio de toda aquela minha confusão. Eu não sabia exatamente porque eu contava as coisas para ele, a única razão razoavelmente clara na minha cabeça era . Ela sempre meio que cuidara de Seth, e sempre falava como ele era inteligente e, nas palavras dela, "um futuro ótimo psicólogo". Era bastante incrível como ele lidara de uma forma tão madura com a perda de seu pai e com como sua mãe e sua irmã ficaram, tão diferentes, Seth era muita coisa para um adolescente. Acho que mesmo quando eu não queria falar, ele me arrancava as coisas.
- Não tem nada novo, como pode perceber.
- Ah, mas claro que tem. Você finalmente resolveu trocar aqueles tênis podres. - lancei um olhar entediado a ele. Ele rolou os olhos.
- Tudo bem, sem piadas hoje. Entendi.
- Valeu.
- Olha, cara... - ele respirou fundo, olhou para o céu, e então voltou a encarar o caminho a frente. Eu encarei meus tênis. - Ah, escuta. Eu sei que é difícil. Na verdade, não sei. Mas posso entender. Já entendi como um Imprinting é forte, então não posso dizedr para você seguir em frente ou qualquer coisa assim porque, bom, eu sei que você não vai. Você só pode fazer isso com a , e se ela está lá, daquele jeito, então não posso esperar que você fique nem perto de ficar bem. Tudo bem, eu entendo isso. Mas você não precisa bater a porta na cara de todo mundo. - ele parou para me observar e ver como eu estava recebendo o que ele falava. Até agora, não tinha me irritado. Seth não realmente me irritava, e ele não estava dizendo nada que não fosse verdade. - Bella, Paul, Embry, Quil, seu pai, Sam, Jared, até Brady e Collin querem saber de você. Não que não estejam preocupados com , todo mundo está, mas...
- É, eu sei. Sei que não devia, bom, ficar assim. Não tão assim. Não quero preocupar vocês, claro. Mas é que... - nem tentei completar a frase. Nem mesmo com Seth eu conseguia colocar em palavras como era ficar sem e não saber se ela ia acordar.
- Jacob, já parou pra pensar em uma coisa? - ele perguntou, seu tom de voz mudando e fazendo parecer que toda a conversa tinha sido apenas para que chegássemos até aquela pergunta. Ele parou de andar. Eu parei também e esperei. - Você é a ligação mais forte dela com qualquer coisa.
Alma gêmea, destino... Como quiser chamar. Se ela pode ter alguma ajuda, de quem mais do que você? Se tem alguém que pode fazer alguma coisa... Esse alguém é você.

Comecei a dirigir sem rumo algum, depois de deixar Seth em casa. As palavras dele se repetiam na minha cabeça sem parar, e eu tentava digeri-las, compreendê-las... Elas faziam sentido, mas continuavam lá, flutuando, esperando o lugar certo para se encaixarem. Meu relógio marcava quatro e meia da tarde, e eu não podia passar na casa dos Cullen agora porque sabia que os pais de estavam lá com ela, pela hora. Não gostava de ficar lá, assistindo os dois numa situação tão ruim quanto a minha. Se eu ia ficar lá, observando-a e secretamente pedindo para ela acordar a qualquer segundo, eu preferia fazê-lo sozinho.
Quando percebi, tinha sido como se meu carro tivesse me carregado sozinho para onde eu acabara de estacionar. Olhei através da janela para as ondas que quebravam próximas a areia e iam embora. Senti o vento quando desci do carro, tão forte que eu podia até ouvi-lo. Tinha sido aqui que eu e tínhamos ficado sozinhos pela primeira vez. Quando eu tinha decidido que com certeza sentia alguma coisa por ela, que ela não era só mais uma entre a gente, pelo menos não pra mim.
Eu lembro de como fiquei confuso quando me dei conta de como ela era diferente de Bella. Ela quis ligar o rádio e, com Bella, eu sempre tinha que tomar cuidado com música, ela não gostava. E eu tinha gostado tanto que sorria, ria, fazia piada, implicava comigo e ouvia música no último volume... Eu não estava acostumado com a personalidade dela, mas queria conhecê-la cada vez mais. Ela me interessava. Ela era atrapalhada. Bom, Bella também era, mas era atrapalhada de um jeito engraçado. Ela vivia xingando palavrões e fazendo caretas que me arrancavam risadas. Ela se divertia e me divertia também, eu pouco me lembrava de rir tanto antes dela.
Tirei os tênis, senti meus pés afundarem na areia, e me sentei lá mesmo, perto do mar, apoiando meus braços nos joelhos. A praia estava deserta, e eu abri um sorriso quando encarei o mar: a lembrança de tropeçando e caindo na água apareceu na minha cabeça, lembro de como ela ficou vermelha quando eu a puxei de volta e a abraçei. Eu tive vontade de beijá-la, mas achei que podia estragar tudo se fizesse ali, naquele momento. E eu me concentrei em lembrar de seu rosto... Dos seus cabelos lisos e escuros, dos seus olhos azuis e grandes, de sua boca com as curvas para baixo e de como ela jogava a cabeça para trás e seus olhos ficavam pequenos quando ela ria demais.
O modo como ela buscava minha mão, entrelançando-a e deixando a sua se perder na minha; como ela me abraçava e parecia que ia quebrá-la se a apertasse demais; como ela sempre fazia careta quando tinha que erguer a cabeça para conseguir me olhar nos olhos e reclamava que eu era alto demais, e no minuto seguinte dizia "Ah, mas eu não queria ter que olhar pra baixo pra procurar meu namorado" e me fazia rir. Eu também adorava o jeito que ela me acordava de manhã, e de como era bom poder abraçá-la quando eu acordava antes dela. Sempre acabava rindo com sua timidez, todas as vezes que ela ia levantar e se enrolava no lençol ou no cobertor, e como me obrigava a sair do quarto quando ia se trocar, mesmo que eu já tivesse visto tudo. Sentia falta de como ela gostava de passar seus braços ao redor do meu pescoço e me observar um instante antes de beijar... Eu adorava como ela beijava, como ela puxava de leve meu cabelo e como sorria no meio do beijo de vez em quando.
Como é que eu podia viver sem ela? Senti as lágrimas voltarem de novo.
Abaixei a cabeça e fechei os olhos, o vento veio mais forte... E aí ela apareceu.

Ela colocou a mão no meu ombro, me fazendo levantar a cabeça e olhar para trás. tinha os cabelos penteados num coque alto, usava um vestido rosa-claro e estava descalça. Ela abriu um sorriso grande quando eu a encarei, e se jogou ao meu lado. Ela deitou na areia, e desviou o olhar para o Céu, abrindo um sorriso ainda maior. Notei que o corte em sua perna era um marca agora tão clara que só era perceptível caso você estivesse muito perto dela. Ela esticou os braços e se espreguiçou, sem se importar com a areia que estava sujando-a.
- Ah, até que enfim... Sol. Não aguentava mais aquela casa fria dos Cullen. - ela comentou, e eu ainda estava lá, chocado, sem reação alguma. Como...?
- Como saiu de lá? - perguntei, confuso. Nada daquilo parecia real. Nada daquilo era real.
- Bom, não posso ficar lá pra sempre, né? - ela respondeu, como se dissesse algo óbvio demais. - Quer dizer, se eu vou só ficar ocupando espaço... - deu de ombros, deixando a frase no ar. Eu senti meus ombros caírem, e me virei para ela. - Tudo bem que a casa dos Cullen é bem grande, mas meu cheiro não deve deixar ninguém muito contente por lá. Menos Bella, Bella não se incomoda porque meu cheiro não faz diferença pra ela. Mas ela vai virar vampira alguma hora, porque Edward vai acabar transformando-a, então...
- Como acordou? - ela olhou para mim outra vez, parecendo surpresa por ter sido cortado no meio de seus devaneios. Eu não ligava para quem seu cheiro incomodava e, surpreendentemente, nem para se Bella viraria ou não uma vampira. Ela então ergueu o tronco, sentando-se. Dobrou as pernas para trás e apoiou os braços nelas, ficando muito perto de mim. Seu cheiro ainda era o mesmo, bom, forte... Era reconfortante sentir seu cheiro, era como a sensação de chegar em casa depois de um dia cansativo.
- Jake, eu não acordei. - disse, tranquila demais. Levou uma de suas mãos até meu rosto, e o tocou. Eu coloquei minha mão sobre a dela, fechando os olhos por um instante. Sua pele estava fria, fria demais. Ela costumava ser a pele tão quente quanto a minha. Quando abri meus olhos, ela parou de sorrir e percorrem meu rosto com a vista preocupada, era como se ela estivesse me analisando com cuidado antes de continuar a falar.
- Como pode estar aqui se não está acordada? - eu pareci tocar no assunto que a faria ficar triste. Ela suspirou.
- Existe mais de uma forma de existir, sabe? Com essa minha cabeça doida de poderes de vampiro, me transformando em loba... Eu faço de quase tudo um pouco. - ela soltou uma risada pelo nariz, e então balançou a cabeça. - Bom, não vamos entrar nesses detalhes...
- Claro que vamos! Como não vamos? , eu preciso... Ah, droga. Eu preciso que você acorde. - minha voz ficava cada vez mais baixa e mais enrolada, porque eu ia começar a chorar outra vez. Era quase uma súplica, mas não parecia perto de dar atenção a ela. Levou a mão livre até meu ombro, apertei a sua perdida na minha com mais força. Eu sentia que ela ia embora.
- Escuta, você precisa fazer isso sozinho. Eu não posso te ajudar, eu não... É, precisa fazer isso sozinho. Isso é tudo que eu posso fazer. É tudo que eu consigo. Pode... Pode fazer isso por mim? - a voz dela também tinha ficado mais baixa, eu procurei seus olhos para vê-los cheios d'água.
- Fazer o quê? - perguntei, quase desesperado. Ela tentou sorrir.
- Você sabe. Você só precisa pensar um pouco. - e então encostou nossos lábios devagar. Quando eu enfim a senti, ela se afastou e me lançou um sorriso, antes de puxar sua mão de volta e deixar a minha lá, aberta, esperando-a. Ela me deu as costas e começou a andar para longe. Então, de repente, ela entrou numa caverna que eu tinha certeza de que não existia ali. O vento veio forte mais uma vez, e eu acordei.


A praia estava do mesmo jeito. Eu estava na mesma posição, com meus braços sobre minhas pernas. Olhei para trás, olhei para onde estivera, mas as marcas na areia eram apenas as minhas. Ela não estivera exatamente ali. Eu tinha sonhado, mas um sonho tão real quanto aquele era mesmo só um sonho? E o que eu tinha que fazer? Como eu era quem tinha que fazer algo? Se eu não fizesse, ela ia morrer? Era isso? Era isso que eu tinha entendido.
Não podia falar com Sam, nem mais ninguém. Ninguém ia me entender e todos iam me chamar de maluco. Eu já tinha perdido muito crédito, isso era bem verdade. Fiquei de pé, batendo nas minhas jeans para jogar a areia fora, e comecei a repensar cada parte do sonho. Tentei lembrar o máximo possível de . Ela usava aquele vestido, que ia até seus joelhos... Estava descalça, seus cabelos estavam presos e seus olhos grandes e bonitos como sempre. Mas quando ela me tocara, estava fria... Muito fria. Tão fria quanto um vampiro costuma ser.
A ferida em sua perna tinha praticamente sumido, e ela sorria de um jeito quase débil, como se ela estivesse dopada. Era como se alguém estivesse prendendo seus sentidos, suas palavras e suas vontades. Passei as mãos pela cabeça e as apoiei na nuca, forçando-as ali como se isso fosse me ajudar a pensar.
Merda, merda. Não fazia sentido. Eu nem devia levar em conta um sonho desses. Eu pensava em o tempo todo, como não sonhar com ela? Mas, ainda assim, ela não era a que ocuparia algum sonho meu. sempre foi mais espontânea e mais objetiva do que aquela do meu sonho.
Foi aí que me atingiu.
Poderes de vampiro, ela estava fria, pálida... não podia virar vampira, porque seu organismo nunca ia permitir isso, mas ela tinha algo de vampiro nela, muito antigo. O que quer houvesse naquele pedaço esquisito que tinha cortado sua pele, devia ter... Não. Nada daquilo. Estava na cabeça dela. Havia alguma coisa atrapalhando-a, ou mesmo regulando sua cabeça, alguma coisa que a impedia de acordar. Tentei lembrar dos momentos antes de ela cair desacordada. O que ela vira ou ouvira fariam alguma diferença? Partindo da idéia dos recém-nascidos... Eles tinham machucado ...
...E eles tinham um líder! Era isso! O líder não estava lá no dia em que matamos todos eles. Ainda faltava um. E me mostrara exatamente onde ele estava.


Capítulo 19 -
DESTINO.

(Capa.)

Não estava exatamente consciente dos meus atos quando corri até o carro e caí na estrada o mais rápido que eu podia. Eu sentia o motor reclamar, sentia que se continuasse dirigindo tão rápido o carro iria parar, sentia meu sangue ferver... Minha cabeça doía, meus ossos doíam e meu corpo todo parecia a ponto de me proporcionar aquela sensação que eu conhecia bem como os segundos antes de me transformar em lobo. Eu fiz o possível para me concentrar, porque um carro quebrado e um lobo gigante no meio da estrada era a última coisa necessária.
Estranhamente, eu sabia que não estava longe de onde sabia que precisava ir, mesmo que eu nunca tivesse estado lá. Eu sei, é confuso. Mas tem alguma coisa que não seja confusa nesses últimos dias? Estacionei o carro de qualquer jeito, depois de pegar uma saída da estrada que caía numa rua estreita de terra, que descia. Forçando meu auto-controle, algo que eu não precisava fazer havia alguns meses, eu desci do carro e bati a porta com força, não me importando com o efeito disso, eu podia muito bem ter arrancado a porta fora. E agora eu estava lá, sabendo que estava exatamente onde devia estar.
A caverna era a mesma pela qual entrara no sonho. De alguma forma, algo me guiara até lá. E só podia ser lá que estava o líder dos vampiros que não havíamos matado. Talvez eu devesse ter chamado mais alguém, talvez fosse uma péssima idéia entrar sozinho. O vampiro podia ter mais recém-nascidos com ele, e eu podia estar ferrado. Mas aquela era a última chance que eu tinha de salvar , e a única de ser eu quem a salvasse.
Então eu respirei fundo e andei alguns passos na claridade, antes de entrar à meia-luz da caverna e, e enfim o escuro.
O cheiro nojento de vampiros era mais forte do que qualquer outra coisa que eu pudesse lembrar, e me impedia de pensar direito. O lugar parecia ter sido o lugar onde os vampiros estiveram escondidos de todos nós... Só isso explicava como aquilo cheirava mal e como fazia com que os tremores no meu corpo não parassem. O que, de certa forma, era bom. Eu tinha vindo ali para matar uma vampira, o que podia (e devia) ser bem rápido.
Conforme eu andava mais, meus sentidos ficavam mais aguçados e minha mente mais óbvia, com só um objetivo rodando nela. Meus ouvidos não captavam nenhum som além dos meus pés sobre as pedras, nada se movia lá... A visão ficava complicada devido à escuridão, e eu precisei tatear as paredes ásperas e disformes do lugar em certos pontos. Eu estava começando a ficar confuso quanto ao meu caminho, porque nada parecia acontecer, ou aparecer, quando, enfim, um mínimo ponto de luz ficou claro lá no final da reta que eu seguia.
Parecia ser uma luz vinda de uma vela quase no fim, porque ela oscilava para a esquerda e para direita, iluminando fracamente a parede de pedra e o lugar onde ela estava colocada: uma pedra um pouco maior, funcionando como uma mesa. A vela estava no centro do lugar, que era quase uma sala, tornando-se larga depois de uma passagem estreita. De frente para a vela, alguém estava sentado. Seus cabelos loiros e lisos caíam até sua cintura. Ela estava lá, de olhos fechados, impedindo de acordar.

Eu poderia ter me aproximado dela e tentado arrancar seu pescoço, mas ela não era idiota de não ter percebido que eu estava aqui. Esperei, e ela enfim abriu um sorriso de lado, antes de dizer:
- Você demorou um pouco demais. Achei que fosse um pouco mais inteligente do que isso. Precisou da ajuda da namorada? - sua voz era firme, convencida. Eu fechei minhas mãos em punhos e cruzei os braços. Ainda não.
- O que aconteceu? Ficou entediada depois que matamos seus recém-nascidos? - ela finalmente abriu os olhos e os girou para mim, e em uma fração de segundo estava parada na minha frente, quando eu pude notar seus olhos vermelhos demais, talvez mais vermelhos do que os olhos dos Volturi. Ela tinha uma expressão cautelosa, talvez se perguntando quanto tempo ainda iríamos gastar antes de tentar matar um ao outro.
- Não leve tanto para o lado pessoal. - deu de ombros, sorrindo de lado, irônica. - Sua namorada só apareceu no lugar errado, na hora errada. A coisa toda tomou uma proporção... - ela parou de falar e suspirou, parecendo contente. - ...Tomou uma proporção inimaginável.
- O que você fez com ela?! - ela abriu um sorriso largo, mostrando seus dentes afiados; seus olhos brilharam. Ela parecia doida.
- Digamos que lobos têm efeitos variados quando sangue de vampiro começa a correr nas veias deles. - Sangue de vampiro. Fiquei estático por um segundo, porque essa era uma explicação razoável que explicava muita coisa. Sangue de vampiro. estava fria, pálida... - E, sua namorada tem uns poderes interessantes. Aparentemente, o sangue fez com que ela ficasse com a mente aberta... Aberta demais.
- Tão aberta que ela perdeu a consciência. - concluí, vendo a vampira sorrir e sentindo meu estômago dar um nó.
- Imagine minha surpresa quando eu encontrei a consciência dela vagando... É uma sorte que tenha sido eu. Não teria sido bom que fosse parar em mãos erradas. - ela me lançou uma piscadela, e eu estava ficando de saco cheio de todo aquele sarcasmo.
- Então você, além de matar a esmo, transformar pessoas com vida em vampiros retardados... Também gosta de roubar a cabeça dos outros? - ela rolou os olhos, como se estivesse tentando explicar que dois mais dois são quatro.
- Se você tem um poder... Use-o. - não demorei a compreender que seu poder tinha algo a ver com roubar os poderes dos outros ou qualquer coisa assim. Não havia explicação melhor para que ela pudesse ter a consciência de com ela.
- Já acabamos com o papo furado?
- Sua namorada não vai voltar. - os tremores no meu corpo vieram em ondas, cada vez maiores, mais longos e mais fortes. A última frase da vampira ecoou na minha cabeça, enquanto eu também ouvia o som das minhas roupas rasgando e dos meus ossos parecendo quebrar, quando na verdade eles se alongavam. Minha cabeça pareceu explodir e então ela pesou, assim como todas as outras partes do corpo. Rosnei para a vampira, que pareceu assustada por um instante. Ela tinha se tornado uma coisa minúscula, e foi a minha vez de soltar uma risada sarcástica.
Ela andou para trás, e eu avancei, acertando uma pata em sua perna, sem fazer muito estrago. Ela dançou para a direita, e pulou, ficando por cima de algumas pedras. Girei com ela, e tentei fazê-la descer. Eu só não podia deixá-la sair daquela sala.
- É grande. E lerdo. - ela disse, rindo. Semicerrei meus olhos, respirei fundo e seu cheiro atravessou minhas narinas... Ela pulou em cima de mim, tentando me atacar pelas costas, e eu girei fazendo-a dar com suas costas no chão. Ouvi um som de algo quebrando, e ela ficou de pé outra vez, dessa vez bastante torta. Eu tinha conseguido quebrar alguns ossos seus. Não esperei ela se recompor, e ataquei de novo, empurrando-a contra a parede com a cabeça. Um baque alto soou quando ela enfim foi até a parede.
Ela rosnou, ou fez qualquer barulho parecido. Mostrava os dentes e o som de sua raiva ecoava, até que eu avancei com uma pata em direção ao seu pescoço, ouvindo no segundo seguinte o som oco de sua cabeça rolando pelo chão. Sentindo a raiva ainda forte demais, rasguei o resto do seu corpo todo com os dentes e empilhei seus pedaços perto da vela, ainda acesa. Empurrei a vela com o focinho, assistindo-a cair sobre os restos da vampira, que queimou lentamente. O mais lentamente que eu pude proporcionar.

Eu tinha roupas extras no carro, e me enfiei em jeans velhas, tênis, e uma camiseta azul que tinha comprado pra mim. Depois de me certificar de que a tal vampira não ia voltar mais, corri para o carro e o acelerei na estrada, correndo o máximo que ele pudesse aguentar até Forks. Eu não avisei a ninguém o que tinha acontecido, porque não tinha certeza de nada, e porque não queria ouvir uma bronca de meu pai ou de Sam tão cedo. A noite estava caindo, e o céu estava laranja. O vento corria, e as imagens de minutos atrás ainda passavam na minha cabeça. Eu não sabia de muita coisa: não sabia o nome da vampira, não sabia quantos anos ela tinha, não sabia se ela estava obedecendo alguém ou se ela estava fazendo tudo sozinha. Eu não queria saber. Eu só sabia que agora ela estava morta, e que isso era a única coisa que impedia de acordar. Ela precisava acordar.
Eu me sentia quase que do mesmo jeito de quando caíra desacordada, e eu a segurara, esperando que ela abrisse os olhos de novo... Era como se todo esse tempo alguém tivesse pausado minha vida e agora dera play novamente. Uma pausa longa... Ah, eu só esperava que tivesse um final feliz. Meu celular começou a berrar em algum lugar do carro, mas eu não parei para atendê-lo, e ele eventualmente parou. As árvores passavam rápidas demais, os outros carros eram borrões e eu só ainda dirigia graças a meus reflexos. Não sei se respirei aliviado ou se prendi a respiração quando parei na casa dos Cullen.
Tudo estava normal, ou pelo menos parecia normal. Ninguém estava na porta me esperando, as janelas de vidro não mostravam ninguém. Mas ninguém estava do lado de fora, então todos estavam na casa. Eu entrei sem bater, e subi o lance de escadas que levavam ao segundo andar sem ouvir mais ninguém. De repente, me senti estranho ao andar pela casa totalmente branca, ouvindo o som dos meus passos tão alto, tomando consciência de que aquele momento ia definir como eu ia viver pro resto da minha vida: ela podia acordar, ou ela podia não acordar. Eu não sabia se seria capaz de existir com a segunda opção.
O corredor não parecia ter final, o teto pesava sobre a minha cabeça, e as paredes pareciam prestes a me esmagar. Meus passos ficavam cada vez mais tensos, e meu corpo todo parecia gritar para me fazer fugir dali. Mas eu queria chegar até , eu queria que tudo tivesse dado certo, porque aquilo não era algo do que eu poderia fugir algum dia.
Parei na porta do quarto dela. Estava fechada, e minha mão estava sobre a maçaneta. Girei-a antes que eu pensasse mais.
- Jacob Black! Quando você some pra matar uma vampira maluca, você atende seu celular na primeira chamada, tá legal?! - e então não vi mais nada, a não ser os cabelos bagunçados de tampando minha visão. Senti seus braços envolverem meu pescoço, seu cheiro habitual, e a ouvi fungando. Não demorou para sentir suas lágrimas no meu rosto.
E então a ficha caiu. Uns segundos depois. Lá estava me abraçando de novo. E ela era quente outra vez, e ela ria, chorava, andava, falava...
Ela era de volta. Tinha dado certo.
- De agora em diante, eu atendo quantos telefonemas você quiser! - respondi, em seu ouvido. Ela se afastou e eu pude vê-la: tinha uma expressão cansada no rosto, mas ela sorria, e seus cabelos bagunçados balançavam com o vento que entrava pela janela, sua pele já não era tão pálida, e ela vestia roupas que estavam na mala que eu trouxera para ela. A minha usando suas jeans surradas e camisetas engraçadas. Ela colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha com uma das mãos e seus olhos passearam pelo meu rosto, ela parecia se certificar de que eu estava bem. - Estou inteiro, querida. - ela soltou uma risada pequena.
- Eu sei. Ok.
- Sabe, não é você quem devia estar assim, tipo, chorando e preocupada... Eu... Eu que... Sou eu. Você quem... Quem dormiu mais que a cama. Muito mais que a cama. Mais do que deveria e do que era seguro antes que eu começasse a, sei lá, surtar. - sorriu, e pareceu se divertir com minha confusão de palavras. Eu estava embasbacado.
- Mas você me salvou, certo?
- E não é esse meu dever? - perguntei, agora sorrindo de volta para ela. - Minha bela adormecida.
- Você não teve que lutar com um dragão, vá... E nem me acordar com um beijo. - então eu posicionei minhas mãos em sua cintura e a puxei para perto de mim, ainda me sentindo meio que fora da minha realidade, e tomando cuidado para não machucá-la. Eu tinha a impressão de que ela podia quebrar ao menor movimento.
- Não que isso seja problema. Posso te beijar agora? - fingiu pensar, e aos risos encostou nossos lábios. Eu a beijei devagar, e a deixei me abraçar com força. Ela não pareceu se importar, no entanto. - Eu senti tanto sua falta. - disse, baixo, e ela assentiu. Encostamos nossas testas, e ela suspirou.
- Obrigada por ter me ajudado, Jake. Não sei o que faria se você não... - ela estremeceu, fechou os olhos.
- Ei, ei! Não. - ela abriu os olhos de novo, e me encarou, esperando que eu continuasse. Sorri de lado, assistindo seus olhos ficarem cheios d'água. - Eu não sei o que faria sem você, e eu digo obrigado por ter me dito o que eu devia fazer. Eu te amo. - sabia que não íamos discutir o que tinha acontecido, pelo menos não tão cedo. Eu não ligava, realmente.
- Eu te amo. - ela repetiu, me beijando outra vez. Senti suas mãos brincarem com meus cabelos, seu corpo relaxar. Eu não sei quanto tempo ficamos ali, parados e abraçados, e eu não me importava. Sentir de novo era tão bom, um alívio tão grande, que eu poderia passar horas ali e não ligar.
Então ela se mexeu e se afastou para poder me olhar direito.- Jake, acho que quero ir pra casa. - soltei uma risada abafada, enquanto ela girava para longe do nosso abraço e ia até a cama. Só então eu notei que ela tinha conseguido fazer uma bagunça enorme com as roupas que eu colocara em sua mala.
- E você pode ir pra casa? - perguntei, andando até ela. Comecei a dobrar algumas blusas, e ela deu de ombros.
- Tenho que poder. Forks não é pra mim. Aqui é frio demais, com vampiros demais...
- Ah, qual é, diga de uma vez que você, na verdade, só quer voltar pra reserva minúscula ao invés de ficar com os caras pálidas. - ela riu, divertida, e pegou as blusas que eu dobrara, enfiando-as nas malas.
- É, eu quero ir para minha casa. - a entonação que ela usou me fez sorrir, ela nunca tinha chamada La Push de casa com tanta vontade e certeza, nem alguns segundos atrás. Quando eu assenti, e peguei sua mala fechada com uma das mãos, a porta do quarto fora aberta. E Edward entrou. Tudo bem, eu não o odiava mais, o que não significa que ele era uma das minhas pessoas (ou coisas) preferidas. , no entanto, abriu um largo sorriso quando o viu.
- Hey, Ed! - ela acenou, e ele repetiu o gesto, parecendo se divertir. Então ele olhou para mim, e eu sabia que ele iria querer saber sobre a vampira. Edward sempre acaba sabendo, mesmo que todo mundo tentasse não pensar no que ele queria saber.
- A gente pode discutir isso mais tarde. Não é nada sério, pelo menos não mais. - ele me respondeu, e eu assenti, agradecido.
- Ela já pode ir pra casa, certo? - perguntei.
- Ah, claro. Carlisle disse que ela vai melhorar muito mais rápido se estiver onde quer estar. - então, com uma surpreendentemente animada dizendo "Então vamos para a Disney, o que é que estamos esperando?", eu a carreguei direto para o meu carro, aos risos e tão feliz que não lembrava da última vez que as cosas tinham feito tanto sentido quanto agora.

passou a viagem inteira, de Forks para La Push, segurando minha mão direita com a sua esquerda, e usando a sua direita para fazer ligaçõesuma atrás da outra em seu celular. Ela tinha um ataque de risos todas as vezes que alguém atendia e se surpreendia ao ouvir sua voz. Ela fizera isso com Embry, Quil, Paul, Jared, Seth, Brady, Collin, umas três garotas da escola e Sam. Então, quando eu estacionara na frente de sua casa, ela largou o celular e me observou, insegura.
- Que foi, ? - me virei para ela, desligando o carro. Ela deu de ombros.
- Como meus pais ficaram? Sabe, quando... - ela não concluiu a frase, e eu apenas suspirei. Não ia mentir pra ela.
- Eles ficaram péssimos. Mas elas te visitaram todos os dias que podiam, e tentaram continuar com as coisas mesmo que você... Que você não fosse uma certeza. Vai lá, eles não merecem nem mais um minuto dessa angústia toda. - ela abriu um sorriso grande pra mim, e lágrimas rolaram de seus olhos outra vez.
- Obrigada, Jacob. Te amo. - ela se inclinou e me roubou um beijo. Eu lhe roubei outro e deixei que ela saísse do carro. Não ia entrar com ela, porque aquele era um momento seu e dos seus pais. Seu namorado podia esperar um pouco, eu a tinha para a eternidade agora. Esse pensamento me fez dirigir contente para casa, sabendo que eu poderia encontrá-la ali, esperando por mim.


Capítulo 20 -
CASAMENTO

(Capa.)
(Música do capítulo: "I'll Be" - Edwin McCain - deixe carregando!)

Tomei mais um gole do meu refrigerante, esvaziando a latinha, enquanto assistia Jacob trabalhar através do vidro do carro. Eu estava lá, sentada no banco da frente de seu Rabbit, com os pés sobre o volante e batatas-fritas no colo; a rádio ligada numa estação qualquer (agora eu tinha quase certeza de que tocava No Doubt), as portas todas abertas, o som ecoando pela garagem. Eu tinha meu cabelo preso num coque mal-feito e alto, usava shorts e uma camiseta de alça, meus tênis estavam perdidos em algum lugar da casa de Jacob.
Ele estava lá, com a camiseta e as bermudas completamente sujas, debruçado sobre sua moto. De onde eu estava, ele só me via se virasse a cabeça exatamente na minha direção, e eu gostava de poder apenas observá-lo um pouco. Finalmente. Tudo agora era tão... Novo. Todo mundo me olhava com um certo alívio quando me via inteira, andando e falando, todo mundo tinha alguma novidade para me contar e, sei lá, as coisas pareciam um pouquinho diferentes. Talvez fosse - e provavelmente era - besteira da minha cabeça, porque eu não tinha dormido tanto assim. Era assim que eu preferia chamar, "dormindo". Soava menos complicado.
De qualquer forma, eu tinha sentido uma falta esquisita e grande demais de Jacob. Quando eu estivera "dormindo", eu estava, digamos, parcialmente acordada. A tal vampira estivera me mantendo prisioneira na minha cabeça, e isso meio que permitia que eu pensasse sozinha de vez em quando. Eu lembrava de Jacob, e lembrava que provavelmente não ia vê-lo de novo. Eu não imaginava que isso doesse tanto, não tanto quanto doeu. E, agora, vendo-o numa situação normal, vivendo uma situação extremamente comum para nós dois... Era um tanto quanto surreal que tudo tivesse mesmo dado certo. Nunca é assim que a gente acha que vai acabar, normalmente não dá mesmo tudo certo.
- ? - a voz dele me acordou, e eu percebi que estivera encarando-o, sem realmente vê-lo; foquei minha visão e ele sorriu para mim. Jake apoiou as duas mãos sobre a moto, e eu soltei uma risada pequena.
- Coloque um pouco de gel no cabelo e vai parecer um figurante de Grease. - ele rolou os olhos, rindo também.
- Você perde a chance de apreciar minha beleza.
- Eu sei que você é bonito, gostoso e não vai sair da minha vista. - dei de ombros, arrancando risadas dele. Ele ergueu o tronco e me chamou com uma mão, antes de cruzar os braços.
- Vem cá. - eu sorri, larguei o saco de batatas e a latinha vazia no banco do carona, e saltei do carro, andando a passos rápidos até Jake. Ele me deixou sentar na moto, e eu o fiz, ficando de costas para a frente da moto, e totalmente virada para ele.
Eu achava que já passava das duas da tarde, que era sábado, que eu tinha um trabalho gigante para escrever e entregar dali a dois dias, que eu precisava sair para comprar um vestido, que meu almoço tinha sido batata frita com refrigerante, que eu deveria estar obedecendo Carlisle e ficando de repouso... Mas tudo isso podia ser, ou não podia. Eu me perdia completamente quando Jacob chegava tão perto de mim, me abraçava e me beijava.
- Não vai me dizer que vamos nos atrasar e não vai dar tempo de você fazer nada? - ele perguntou, baixinho, quase no meu ouvido. Eu fiquei arrepiada, mas balancei a cabeça e fechei os olhos. Soltei um murmúrio preguiçoso.
- Vamos no atrasar. Vamos demorar. Nem vamos. Vamos ficar aqui... - eu murmurei, arrancando uma risada divertida dele. Suas mãos passearam pela minha cintura e costas, apoiei minha testa na sua, e ele me roubou um beijo antes de dizer:
- Sabe que, se depender de mim, é exatamente isso que vamos fazer. - eu suspirei, levando minhas mãos até seu tórax. Abri meus olhos, e encontrei os dele me observando. Sorri.
- Me busca em quarenta minutos, ok? - ele assentiu, e eu o beijei antes de empurrá-lo para trás. Claro que ele não caiu, só piscou um olho pra mim enquanto eu ajeitava minha roupa. - Tchau. - ele me beijou na testa e eu joguei um beijo no ar, ouvindo sua risada no segundo seguinte, e atravessei o espaço entre a garagem e a casa de Jacob. Meu carro estava estacionado do lado de fora, e pude ver Jake me observar até que ele se tornasse um ponto distante.

Minha casa estava um pequeno pandemônio. Assim que estacionei o carro, pude ouvir vozes do lado de dentro. Eram todas vozes femininas, e com elas veio o cheiro que, por instinto, deveria fazer com que eu me transformasse e atacasse as vampiras que estavam lá, mas o cheiro tinha se tornado habitual para mim. Desliguei o rádio, tirei a chave da ignição, e saí do carro. A estação tinha mudado, e agora estávamos quase no meio da Primavera. Andei até a porta de casa observando as flores nas árvores e caídas no chão, e respirei fundo antes de girar a chave na porta e entrar no quartel-general do casamento que estava por vir.
- ! - Alice veio me cumprimentar, e eu acenei para ela, Maddison, Bella, Emily e minha mãe.
- Oi, gente. - todas elas pararam de fazer o que quer que fosse que faziam (minha mãe parecia ocupada com um monte de papéis em seu colo, sentada num banquinho e debruçada sobre o balcão da cozinha; Alice dividia um vestido grande, branco e bonito com Maddison, a primeira com a barra do vestido, a segunda arrumando algo no decote; Bella e Emily tinha vários pequenos cestos em seus colos, com fitinhas e pedrinhas que pareciam desorganizadas, mas que aparentemente faziam sentido para elas), e me encararam. Todas elas sorriram, e eu rolei os olhos e bufei. - Ah, vão catar coquinhos vocês. - resmunguei, ainda rindo, e me joguei no sofá, tirando os tênis com meus pés e chutando-os para longe. Eu tinha pensado em apenas não colocá-los quando entrei no carro, mas isso podia dar uma idéia errada demais quando se tinha cinco mulheres na sua casa, esperando você chegar para tirar uma conclusão.
- Como está Jacob? - minha mãe gritou da cozinha, me observando de lá. Alice e Maddison abafaram risadas, Emily voltou sua atenção para as, agora eu entendera, lembrancinhas de casamento, e Bella esperou minha resposta. Dei de ombros.
- Do mesmo jeito de sempre. - minha mãe rolou os olhos. a Bem verdade era que, desde que eu acordara e Carlisle dissera que eu precisava ir devagar e não fazer esforços por um tempo, minha mãe ficava me controlando e cercando para saber o que eu fazia com Jacob.
- , você sabe que...
- Não somos coelhos. - respondi de volta, de certo modo lhe dando a resposta que ela queria. Sadie pareceu horrorizada por um instante, enquanto absorvia minha resposta. Todas as outras explodiram em risadas, e eu também não pude me conter.
- Vibbard Quilt! - deixei meus ombros caírem, e parei de rir. Esperei ela continuar. - Não... Não pode... Mas que horror! - ela balançou a cabeça, num misto de confusão, horror e diversão. A observei por mais alguns segundos e então me virei para as outras. - Então, precisam de alguma coisa? Vou daqui a pouco pegar os vestidos e os ternos... - olhei o relógio na parede, e vi que precisava me arrumar logo. Eu reclamava tanto de quando Jacob se atrasava que, caso algum dia eu o fizesse, ele nunca ia esquecer. Emily balançou a cabeça.
- Não, querida. Temos tudo sob controle. - ela sorriu, e eu assenti, desviando meu olhar de Emily para sua mão, seu anel de noivado brilhando em seu dedo, parecendo maior, mais brilhante e mais presente do que nunca. Abri um sorriso quando lembrei de duas semanas atrás, Sam orgulhoso e Emily radiante, anunciando o casamento. Eles estavam noivos desde antes de eu aparecer, e eu estava tão animada com o casamento deles. Eu sabia o quanto Emily significava para Sam, sabia o quanto ele a amava, e dava para ver nela como ela retribuía inteiramente. Eu suspirei, pensando nas incríveis consequências do Imprinting, e em como ele podia ser complicado também. Era só analisar Jacob e eu. Ri com a idéia, e então fiquei de pé, girando nos calcanhares para ir até meu quarto.
O casamento de Sam e Em seria no dia seguinte. Eu sinceramente não sabia como ela estava lá, tão calma e sorridente, como sempre, trocando seus afazeres de casa pelos do casamento. Bella também, esperando sua vez de casar (o casamento dela e Edward seria dali a algumas semanas), com seu anel pesado no dedo, seu sorriso no rosto... Mas havia algo que eu via de estranho. Eu achava lindo, realmente bonito, que as duas estivessem dispostas a viver os romances delas, mas... Por mais que esse parecesse meu destino mais óbvio, eu não conseguia me ver em La Push pro resto da minha vida, vendo os dias passarem enquanto Jacob volta pra casa de noite. Eu suspirei, tentando aliviar minha cabeça com o fato de que eu ainda tinha um ano de escola até ter que pensar em assuntos mais complicados.
Por enquanto, eu só precisava achar minhas jeans e a camiseta que eu tinha separado antes de sair de casa, faltavam só uns dez minutos para Jacob buzinar na porta da minha casa, e minha mãe fazê-lo sair do carro e entrar.

- Está tudo aqui. - Emily me entregou um papel, que viera da mão da minha mãe. Esta se debruçou entre a gente para poder ver o que Emily apontava enquanto dizia: - Estes são os tamanhos, aqui estão os nomes... - Jacob pegou mais um biscoito do pacote que tinha nas mãos, lá de onde estava, na cozinha. Eu acompanhava o que Emily e minha mãe me diziam, já na porta de casa. Tinha tanto pedaço de pano, restos das lembrancinhas de casamento, convites... Tudo era tão branco e estava tão bagunçado que eu mal podia esperar por correr para Port Angeles num carro com Jacob.
- Estamos fazendo o saldo do mês dessa loja. - comentei, rindo.
- Roupas de casamento para cachorros. - Maddison disse, estendendo as mãos enquanto dizia, como se estivesse lendo o nome de uma loja. Eu mostrei o dedo do meio para ela, e ri enquanto ela fingia estar chocada.
- Roupas de casamento para vampiras amarguradas. - respondi de volta, e ela me jogou o controle remoto. Ao mesmo tempo, ou antes, Jacob saiu da cozinha para se juntar a mim, e estendeu a mão, pegando o controle remoto antes que eu o fizesse; jogou nela de volta, rindo alto quando o objeto bateu em sua cabeça. Eu rolei os olhos, mesmo que a cena tivesse sido engraçada. - Crianças! Dá pra ser? Temos muita coisa pra fazer. - coloquei minhas mãos nas costas de Jacob e comecei a empurrá-lo, até ele parar de andar e me pegar no colo, tentando me carregar pra fora de casa enquanto eu gritava e ria.
- Não demorem! Tomem cuidado com as roupas! - minha mãe resmungou, e Jacob virou para vê-la, comigo ainda em seu colo. Eu soltei um gritinho e passei meus braços ao redor de seu pescoço para me segurar, mesmo que eu soubesse que Jacob não ia me deixar cair nunca. Nós dois rimos.
- Ok, mais alguma coisa? - eu perguntei, e Maddison rolou os olhos.
- Deixa os pombinhos irem de uma vez... Eu vou ficar diabética.
- Vampiros não ficam diabéticos. - Alice a respondeu, rindo. Maddison deu de ombros.
- Se eu tivesse que beber o sangue deles, eu ficaria.
- Se você tivesse que beber o sangue de Bella e Edward, seria fatal. - eu falei, arrancando risadas dela.
- Não, ... Podem ir. Comportem-se! - Emily apontou o dedo indicador para nós dois, e Jacob assentiu, lançando um olhar para mim depois e me carregando para fora de casa. Ele me pôs no chão, e eu roubei um beijo dele antes de entrar em seu Rabbit. Estranhamente, ele não abriu o largo sorriso que costumava abrir, nem fez o que costumava fazer, que era me abraçar e me dar um beijo de verdade. Enquanto ele colocava o cinto e dava partida no carro, imaginei se era porque Alice, Maddison, Bella, Emily e minha mãe estavam nos assistindo ir embora das janelas da minha casa, ou se eu tinha dito ou feito algo de errado. Suspirei quando ele ligou o rádio e caímos na estrada.
Meu celular indicava que eram três e quinze. Isso significava que eu estava num carro com Jacob há vinte minutos, e ele não tinha dito uma palavra. O rádio tocava Alanis Morissette, e eu soltei um longo suspiro. Virei meu rosto para Jake.
- Qual o problema, amor? - o vi forçar suas mãos contra o volante, os nós de seus dedos ficando brancos. Ele uniu as sobrancelhas, parecendo pensativo, antes de soltar:
- Por que Maddison ficaria diabética com a gente, mas com Bella e Edward seria fatal? - meus ombros despencaram em descrença quando eu entendi qual tinha sido o problema todo. Minha boca abriu, e minhas sobrancelhas se ergueram, quase pulando pra fora do meu rosto. De todos os problemas... Talvez isso tivesse sido a última coisa na qual eu poderia pensar. A voz dele tinha soado irritada, e agora eu precisava de uma resposta. Fechei minha boca e cruzei meus braços.
- Eu nem acredito que você está fazendo isso. - resmunguei, desviando o olhar dele. Jacob soltou uma risada sarcástica.
- Sabe o que me deixa puto? - ele perguntou, acelerando o carro. Eu lançei um olhar preocupado para a pista, e esperei que ele continuasse. - Me deixa puto o fato de que eu tive que, literalmente, salvar sua vida, e você ainda consegue... Sei lá, diminuir qualquer coisa que a gente tenha!
- Eu não fiz isso! - gritei de volta, tão rápido que me assustei comigo mesmo. Foi puro reflexo, porque assim que as palavras dele fizeram sentido, eu não podia pensar em nada mais absurdo. - E desculpe por ter feito você perder a merda do seu tempo me salvando. Podia ter me deixado lá pra te poupar menos trabalho. - como sempre, eu não tinha conseguido manter minha voz dura e irritada como eu queria. Eu já tinha baixado ela e já sentia que eu ia chorar. Eu podia ser tão incompetente em discussões. Abaixei a cabeça e me concentrei em observar minha bolsa, no meu colo. Jacob suspirou ao meu lado, e então senti o carro diminuir a velocidade até parar.
- ? - ele me chamou, pegando minhas mãos com as suas. Eu olhei para ele, erguendo meu olhar vagarosamente. Ele me observou por alguns segundos, assisti seus olhos se moverem pelo meu rosto. - Sabe que não foi isso que eu quis dizer. Eu não me arrependo de nada, nada, nada do que eu fiz por você... - rolei os olhos, tentando puxar minhas mãos de volta e não deixar lágrima alguma rolar pelo meu rosto, mas Jacob segurou minhas mãos mais forte e aproximou seu rosto do meu. - Eu mataria mais quantas vampiras você precisasse, se fosse pra ter você aqui. - ele acabou com a pequena distância entre nossos rostos e me beijou, um beijo calmo e cuidadoso, que combinava com a situação.
- Sabe por que Edward e Bella matariam Maddison, mas a gente não? Sabe porque nós só daríamos a ela diabetes? - perguntei a Jake, e ele continuou me encarando com um pequeno sorriso em seu rosto. Eu sorri também. - Porque nós dois somos saudáveis. Nosso relacionamento é saudável... A gente não precisa do tanto que eles precisam, porque você sabe o quanto eu te amo e até onde eu vou por você. - o sorriso de Jacob aumentou.
- Eu também te amo. - e dessa vez eu o beijei, não me preocupando com o fato de que estávamos parados no acostamento da estrada, quase atrasados para fazer uma monte de coisas.

Jacob enfiou as chaves do carro na minha bolsa, e então me abraçou de lado, passando um braço pelos meus ombros, enquanto eu o abracei pela cintura. Port Angeles não estava nem cheia de gente, nem vazia, o que fez Jacob respirar aliviado porque, além de termos que pegar um monte de vestidos e ternos, eu ainda precisava comprar o meu vestido.
- Onde primeiro? - ele perguntou, quando viramos a esquina para uma rua recheada de vitrines. Eu dei de ombros, enfiando uma mão no bolso das jeans. Jacob me analisou por uns segundos, antes de dizer: - Comprar seu vestido. Isso provavelmente vai demorar... - rindo da cara dele, eu concordei com um aceno da cabeça e o puxei para a loja onde eu tinha visto um vestido que serviria perfeitamente.
A primeira coisa que Jacob fez foi procurar um lugar para sentar, já que era sempre a primeira coisa que ele fazia quando ia comigo comprar alguma roupa. Ele dizia que eu demorava parar comprar até um par de jeans, o que eu achava que era exagero da parte dele.
- Já volto. - disse, sorrindo, e ele assentiu, fingindo acreditar. Encostou nossos lábios antes de me deixar girar pela loja, em busca do vestido que eu vira ali tinha umas semanas. Ele era vermelho, tomara que caia...
- Olá, posso ajudar? - me virei para dar de cara com a vendedora em meio aos vestidos que eu olhava. Sorri para ela.
- Pode, claro. Vi um vestido aqui umas semanas atrás... - e descrevi o vestido para ela. Era vermelho, tomara que caia, tinha um cinto preto na altura da cintura e era dividido em curtas camadas. Respirei aliviada quando ela disse que sabia de qual vestido eu falava, e sumiu naquelas partes que a gente nunca vê das lojas, em busca de um que fosse o meu número. Me larguei no puff ao lado de Jake, e ele me encarou confuso.
- Ué, vai esperar costurarem o vestido dessa vez? - eu rolei os olhos.
- Ela foi buscar, bestinha. - dei um tapa em seu braço e ele me abraçou, depois de tentar me fazer cosquinhas e eu desviar.
A vendedora surgiu na nossa frente, me entregou o vestido... Mas quando eu ergui meu olhar para agradecer e perguntar onde eu poderia experimentá-lo, percebi que ela encarava Jake... Hã, ela o encarava bastante. Notei seu olhar passear pelo rosto, depois pelos braços, e mais pra baixo... Qual é, era meu namorado!
Tá, tudo bem, isso não era exatamente novidade, pensei enquanto eu mesma achava meu caminho para o provador. Jacob era bonito demais e, francamente, ajudava muito quando ele usava aquela camiseta preta que usava hoje. Se eu estivesse em um relacionamento "normal", eu não teria simplesmente girado nos calcanhares e deixado Jacob lá com a vendedora, que era até bonitinha. Mas ele não ia a lugar algum. Na verdade, eu poderia até dizer que sentia pela vendedora e por mais todas as garotas que lançavam um olhar mais demorado para ele, mas não sentia.
Tirei a roupa e coloquei o vestido, observando meu reflexo no espelho do provador. O vestido tinha caído bem, e eu tinha sapatos que combinariam perfeitamente. Enquanto eu colocava minhas roupas de volta, meu celular começou a gritar na minha bolsa. Terminei de vestir minha blusa de volta, e então pesquei o celular, atendendo-o.
- Fala...
- , você está em Port Angeles? - reconheci a voz de Stella, embora o celular fosse de Embry. Assenti.
- Sim, estou... Por quê?
- Ah, que bom! - ela respirou aliviada, e juro que pude vê-la fazer um daqueles gestos exagerados dela, tipo erguer as mãos pro alto. Soltei uma risada, apoiando o celular entre meu ombro e minha orelha, ao mesmo tempo em que fechava minha jeans.
- Qual o problema, Stella?
- Ah, eu preciso da sua ajuda. Não tenho idéia de qual vestido comprar, Embry não ajuda muito. Ah, o quê é? É verdade. Eu te adoro, mas você não presta pra fazer compras... Ah, Embry. Ah, ok. Vá... É, eu sei. - aparentemente, Embry a abraçara e ela rira. Eu esperei os dois se resolverem, passando a bolsa pelo ombro, segurando o vestido com uma mão e segurando o celular de volta com a outra. Stella voltou para o celular quando eu saí do provador. - Então, será que pode... Bom, me ajudar?
- Você tá onde? Eu só preciso pagar meu vestido. - Jacob ouvia a vendedora falar pelos cotovelos, e eu quase ri da expressão aliviada dele quando eu apareci, jogando minha bolsa em seu colo. A vendedora pareceu acordar, e sorriu para mim, como se nem estivesse dando em cima do meu namorado. Tá, né. Stella começou a descrever a rua em que estava, e eu esperei ela falar demais até, enfim, dizer o nome da loja, o que teria sido muito mais fácil desde o princípio. Desliguei o celular depois de uns dois minutos, e já estava no balcão, com a vendedora passando meu cartão e Jacob ao meu lado.
- O que foi? - ele quis saber, e eu dei de ombros.
- Stella tem que comprar um vestido e, aparentemente, Embry não está ajudando. - ele riu.
- Ela ainda não aprendeu que a gente não serve pra essas coisas. - disse, e eu apontei para ele, como quem diz "Exato!".
- É, namorados servem pra outras coisas. - soltou a tal vendedora, com um sorriso irritante no rosto e um olhar tão, mas tão cara de pau. Eu ergui as sobrancelhas e encarei Jacob, mas foi tão rápido que não tive tempo de formular uma opinião para sua expressão. A vendedora me devolveu o cartão com a nota, e o vestido numa sacola. Mal me encarou, e acenou para Jacob.
Eu normalmente não precisava de demonstrações em público, mas fiz questão de que ele entrelaçasse sua mão na minha antes de deixar a loja.

Foi chegando na minha casa, à noite, de volta a La Push, com um CD que eu largara no carro de Jake tocando, que eu resolvi tocar no assunto. O observei por uns instantes antes, virando só meu pescoço e encostando minha cabeça no banco. Seu rosto estava concentrado, ele pensava em alguma coisa suficientemente séria para nem me perceber observando-o.
- Jake... - o chamei, e ele pareceu acordar de seus devaneios. Sorri. - O que você acha que vai acontecer com a gente? - perguntei de uma vez. Ele franziu a testa.
- Como assim? - uni minhas sobrancelhas, e não fiz mais movimento algum.
- Não sei. O que a gente faz agora? Nós temos um ao outro pra sempre, nenhum vampiro na nossa cola, e a escola como nosso maior problema. E depois? Eu não quero... - meus ombros caíram, e eu perdi a vontade de concluir meu pensamento. Porque eu tinha começado isso mesmo?
- Não quer o quê, ? - Jacob perguntou, preocupado. Paramos em frente à minha casa.
- Promete que a gente não vai acabar como o Sam e a Emily, ou como a Bella e o Edward? - ele não podia ter uma expressão mais perdida. Mas antes que eu tivesse a chance de me explicar, ou explicar onde eu queria chegar com a pergunta, minha mãe surgiu na porta, de braços cruzados. Suspirei, e pulei fora do carro, deixando Jacob com certeza cheio de pontos de interrogação que não estavam lá antes.

O casamento de Sam e Emily iria acontecer do lado de fora da casa deles. Tendas haviam sido montadas, altas e largas, completamente brancas. Cadeiras também brancas estavam dispostas uma do lado da outra, com um espaço central para que todos pudessem entrar e ver o altar desde a entrada. Arranjos e enfeites com detalhes em prata decoravam o lugar... E eu estava entediada. Bella ainda não tinha chegado, e quando chegasse iria estar agarrada a Edward, Alice estava ocupada demais se divertindo com a organização do casamento, correndo feito tonta pelas tendas, gritando com um aqui e outro ali. Maddison estava ajudando Emily com o vestido, maquiagem e cabelo. Mesmo que ela se vestisse, se maquiasse e arrumasse seu cabelo de formas que todo mundo acharia estranho, ela tinha sido promovida em todos esses sentidos por Alice, então isso me deixava sem ter muito o que fazer, já que eu tinha sido convocada para aparecer mais cedo, e os meninos ainda tinham umas duas horas para chegar. Arrumada demais, usando meu vestido novo, meus sapatos pretos, e com meus cabelos soltos, eu me sentei em uma das cadeiras brancas dos convidados. Suspirei.
- Não chegou cedo demais? - olhei para trás, para encontrar um Sam mais arrumado do que eu jamais imaginara. Abri um sorriso.
- Eu nem sei o que estou fazendo aqui, acredite. - ele não disse nada, só deu a volta e se largou na cadeira ao meu lado. Cruzei as pernas, apoiei meus braços sobre elas e virei meu rosto para ele.
- Estaria totalmente errado se dissesse que eu também? - ele perguntou, e eu arregalei os olhos por um instante. Ele ficou confuso, demorou alguns segundos para entender o que eu tinha entendido dele, e então riu. - Não! Não estou confuso sobre o casamento, ! - eu respirei aliviada.
- Ah, caramba! Porra, Sam.
- É claro que eu vou casar... É só que eu fiquei nervoso. - ele soltou uma risada descrente. - Eu estou nervoso. Não dá pra só subir ali, dizer sim e fingir que você não compreende aquelas palavras. - eu assenti, concordando devagar.
- Algumas mudanças grandes vêm com um motivo. - disse, vendo Sam abrir um pequeno sorriso.
- Eu devia ir lá, dizer sim e parar de analisar meu "sim", não devia? - eu ergui as mãos e os braços para o alto.
- Queria saber quanto tempo você ainda ia demorar pra entender.
- Ei, eu ainda sou o alfa. - nós dois rimos.
- Vai casar e me esquece, chefe. - Alice passou feito uma bala por nós, resmungando qualquer coisa sobre doces na mesa errada. - Aliás, vai casar enquanto a calma está rondando. Vampiros organizando casamentos de lobos... É surreal demais até pra mim. - Sam deu de ombros.
- Se nenhum outro vampiro estressado resolver aparecer por aqui... Bom, não vejo porque não mantermos essa "paz" por aqui. - ele fez aspas no ar, e eu concordei com um sorriso.
- É estranho, mas eu gosto de ter os vampiros por perto.
- Pra você, não é estranho. Você tem lá sua dose de vampiros perdida aí. - ele apontou o dedo indicado para mim, e eu rolei os olhos.
- Vá à merda, Sam. - ele ignorou minhas reclamações, e passou um braço ao redor dos meus ombros, me puxando para um abraço.
- E eu que achava que depois que você se adaptasse, fosse xingar menos.
- E perder essa sua cara de "Como ela xinga tanto?". Nem pensar! - Sam riu outra vez, então começou a me explicar como xingar menos e usar palavras menos ofensivas no lugar, eu ri a maior parte do tempo.

(Dê play no vídeo que você deixou carregando e leia a partir daqui com a música!)

- Então eu disse que não ia! - Maddison concluiu a história, arrancando risadas de todos no círculo que a ouviam. Ela usava um vestido xadrez e meio armado demais, mas que combinava com o estilo dela. Ao lado dela, estava o tal vampiro que eu encontrara em Port Angeles uma vez, e agora eu sabia que o nome dele era Tyler. Ele tinha me cumprimentado com aquela voz arrastada, e Maddison estava abraçada a ele, finalmente deixando aquelas frescuras delas de lado. Eles formavam um casal estranhamente bonito.
Olhei para o lado, e Stella tentava fazer Embry ir para a pista de dança improvisada. Ele dizia que não, e ela não conseguia fazê-lo dar nem um passo. Stella usava um vestido rosa, tinha os cabelos meio presos, e meio soltos e, quando não estava tentando arrastar o namorado, tinha quase o comportamento de uma princesa.
Bella e Edward conversavam com Carlisle e Esme, Alice e Jasper dançavam na pista de dança, Emmett passeava, distraído, enquanto Rosalie tinha sumido. Paul estava com uma menina, conversando e lançando aqueles sorrisos galanteadores dele, Jared e Quil pegavam praticamente toda a comida que estava na bandeja do garçom que passara por eles, enquanto Seth, Brady e Collin se ocupavam com as bebidas.
Me sentindo incomodada, girei meu olhar ao redor da festa, encontrando Sam e Emily recebendo os parabéns de alguns convidados, outros vários dançando, mais muitos conversando e rindo... Eu via rostos, via muitos rostos, via gente demais... Mas, onde ele estava?
Eu não via Jacob desde ontem à noite, quando fizera aquela pergunta ridícula e desnecessária e o fizera ir embora sem dar nenhuma explicação. Ele não me ligara, não aparecera... Eu nem tinha visto onde ele estava durante a cerimônia. Eu nem sabia se ele tinha aparecido. Na verdade, é claro que eu sabia que ele tinha ido, porque ele precisava ir, mas eu me sentia péssima desde que a hora em que tínhamos combinado de nos encontrar chegou, e ele não apareceu, e eu tive de me arrumar e vir acompanhada dos meus pais.
Mordi o lábio inferior e me afastei do círculo onde estava, sem ter sido notada por Maddison ou qualquer outra pessoa, andando a passos lentos e sem nenhum destino aparente. Agora eu me sentia um verdadeiro lixo, porque eu talvez tivesse estrago tudo muito feio.
Não era que eu achasse que tudo agora estava um tédio, era só que eu queria saber que nós íamos ser um casal de verdade, que vive, e tem problemas, e cresce... Ah, nenhuma explicação é coerente pra eu ter feito isso. Merda, merda, merda.
A mão dele parou nas minhas costas, e eu estremeci, parando de andar. Senti seu cheiro, e meu olhar dançou para cima enquanto ele me girava para vê-lo. Jacob tinha os cabelos arrumados, estava arrumado, mas já tinha aberto o primeiro botão da camisa social. Ele sorriu para mim, e eu não soube o que fazer, só procurei seu olhar.
Jake estendeu a mão para mim, e eu a aceitei, sentindo-o me puxar em sua direção. Nós dois andamos até a pista de dança, e eu coloquei uma mão em seu ombro, a outra entrelaçada com a sua, ele me puxou para mais perto com a mão que estava em minha cintura.
- Eu danço muito mal. - sussurrei em seu ouvido, e ele riu, divertido.
- Eu acho que eu sou tão péssimo dançarino, que você vai parecer profissional. - ri, enfiando meu rosto em seu peito.
- Somos um casal de péssimos dançarinos. Brilhante, mesmo. - ele não disse nada, só continuou me guiando lentamente, e eu fiquei ali, sentindo sua respiração ir e vir, enquanto meus pés já pareciam coordenados. - Desculpe por ontem, eu...
- , você daria uma péssima dona de casa. - ele me cortou, me fazendo rir e ficar aliviada ao mesmo tempo.
- Mesmo?
- Com toda certeza. - levantei meu rosto para poder vê-lo, e então giramos para o lado. - Além do mais, você está linda hoje. Você é linda. Não vai desperdiçar essa beleza toda arrumando casa. - soltei uma risada pequena, feliz por poder rir.
- Eu não sei por que inventei de aparecer com aquele assunto. - murmurei, nós dois giramos conforme a música.
- , acha que está na nossa vez? - ele perguntou, de repente, e eu me vi confusa. Na verdade, eu meio que achava que sabia do que ele estava falando... Mas, ele estava mesmo pensando naquilo? Franzi a testa, e aí medi minhas palavras:
- Nossa vez? - repeti, e ele assentiu, sorrindo.
- É. Eu pensei, pensei... Acho que eu sei o que vai acontecer com a gente. Ou pelo menos o que pode, se você quiser. - eu continuei com minha melhor cara de paisagem, e Jake riu da minha expressão. - Não era isso que você queria saber, o que vai acontecer com a gente de agora em diante? - eu apenas assenti, e ele me olhou nos olhos.
- E você sabe?
- Descobri que apartamentos não são assim tão caros. - ele começou. - Podemos ir para uma faculdade em alguma cidade que não fique assim tão longe daqui, e nem tão perto. Podemos trabalhar, ficar longe de vampiros e crescer feito adultos normais... Hoje em dia todo mundo emprega qualquer incompetente, tenho que certeza que não vai ser difícil pra gente. Claro que ainda podemos pensar em como vamos fazer isso, temos um ano todo pela frente... - eu senti meus olhos ficarem cheios d'água, enquanto um sorriso tomava conta do meu rosto.
- Você... Você pensou mesmo nisso tudo?
- Tirou meu sono a noite toda.
- Ah, Jake! - paramos de dançar, e eu pulei em seu pescoço, abraçando-o com força. Ele soltou uma risada abafada, mas me abraçou de volta, e ergueu o rosto para encontrar o meu. Encostei nossas testas.
- Eu nunca imaginaria que isso fosse acontecer. Que você fosse aparecer. Sabe, que você fosse colocar as coisas no lugar. Você não precisa se preocupar com nosso futuro, porque ele com certeza vai incluir você feliz, senão não é um futuro.
- Você também pôs tudo no lugar certo. Não podia estar mais certo. - ele não me deixou falar mais nada, nem tentou completar, só sorriu e me beijou, o beijo de sempre, o beijo de Jacob, o beijo do cara por quem eu me apaixonara e me apaixonaria com ou sem Imprinting, o beijo que sempre ia me deixar mais feliz.

Ali, naquele momento, eu tinha certeza de pouquíssimas coisas: eu era uma garota que, ao invés de só ter problemas de adolescentes, se transformava em loba; que tinha amigas vampiras e que também tinha que lidar com vampiros sedentos de sangue de vez em quando; eu não sabia o que seria da minha vida, e não sabia quando as coisas iam complicar de novo; eu não sabia nem o tema da redação que eu deveria entregar em alguns dias; eu não sabia se meu carro tinha gasolina, e não ligava para onde eu tinha largado o controle da tv da sala. Mas, a única coisa que era certa na minha vida, estava ali, bem na minha frente, me mantendo perto dele, com todos os certos e errados que eu precisava e queria ter. Eu sorri para ele, e Jacob sorriu de volta, seu sorriso grande, sincero, quente, que colocava paz em mim em qualquer situação, que me deixava mais contente quando eu acordava pela manhã e que me deixava dormir tranquila à noite, o que mais eu poderia querer?

FIM


N/A: Nem eu acredito que eu acabei de escrever Air and Sun. Juro, gente. Terminei de madrugada, fofocando no MSN com a Luddie (minha beta querida hahaha), e a gente surtou lá mesmo quando eu disse que tinha acabado de escrever. Até twittei na hora, saquem da emoção. HAHAHA. Bom, espero que vocês tenham gostado dessa capítulo, da fanfic, e agora é a hora de agradecer:
Primeiro, agradeço a todas vocês que perdem um pouco do tempo pra ler os capítulos que eu escrevo e acompanhar a história. Pode parecer meio bobeira, mas pra quem gosta de escrever, é sempre agradável quando outras pessoas leêm, mesmo que seja só uma fanfic de Twilight. Eu adoro todas vocês, vocês são umas gatas! =D
Individualmente, eu mando um thanks muito grande pra Luddie, que é minha beta, melhor amiga, quem me atura com meus dramas de "Não sei o quê escrever!", que me ajuda quando eu empaco na história e que lê os capítulos todos antes de todo mundo. HAHAHA. A Luddie também tem participação especial na fanfic, caso vocês queiram saber, ela emprestou a personalidade e tudo mais pra Maddison, quem quiser ver como a Maddison é, só entrar no twitter da Luddie. HAHAHAH.
Meu thanks também vai pra Pam, minha criatura rabugenta que me cobra fanfic, que divulga que é uma beleza, minha xuxu, e que também participa da fanfic, a personagem dela é a Stella. Pra ver o twitter da Pam/Stella, só clicar aqui.
E, agora, pra acabar com o mistério do que raios eu vou fazer agora que Air and Sun acabou... Preparem-se para minha próxima fanfic! É, eu vou voltar! Hahaha.
(Prévia aqui!)


E, avisando: Air and Sun vai ter parte dois! Esperem =)

Então, vejo vocês em algumas semanas? É, fiquem ligadas na att, hein! Beijos e até mais!


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Respondendo comentários:

Talita: Hahahaha. Que bom que você gostou do capítulo anterior, ele é um dos que eu mais gosto! =) Ah, eu entendo, tô doida pra ver as reações de vocês com o final da fic, mas não queria acabar. Hahahaha. P.S.: E eu devia estar fazendo trabalho da faculdade e tô aqui escrevendo. Parabéns pra gente. Hahahaha.

Dri: Ah, mas pelo menos descobriu, né? =D Que iiisso, não me odeeeeie! Hahaha. Muito obrigada, querida! \o/

Maaah K.: Aaaaw, sua linda! =D

PâmellaTambém te amo, Pam. Hahaha.

Babi: "vampira vadiazinha do yahoo" HAHAHAHAHA. Adorei! E não chora, não! =) Curta o capítulo aê!

Gabriela: Se eu tivesse tanta criatividade/tempo pra tooooda semana, juro que postava. Hahaha. =D

Emely: Aaaw, imagina que lindinho vários mini-Jakes. Hahahhaa.

Gesi Underwear: É, finalmente as coisas dando certo! HAHAHHAHAHA. É, vampira nojenta, fdp mesmo! hahahaha Beijos, querida! =)

Isis D. Você acordooooooou! \o/ HAHAHAHHAA. Ah, o Jake é uma coisa muita fofa. Hahaha. Mas, poxa, tenho que acabar. Mas eu volto! Hahaha. =) Beijos!

Alichel Lutz': Aaaaw, também te amo, querida! =D Acho que respondi sua pergunta da continuação. Haahahaha. =D

Nina Black: Nem eu acredito. Hahaha. Pronto, sua pergunta sobre a continução foi respondida!

Gabriela:Aeee, tomara que tenha gostado desse último capítulo! =D

Babi:Ele ficou beeem grande, espero que goste! =)

Anaa:Ah, mas pelo menos veio comentar, né? Hhahahaa. Ah, muito obrigada pelos elogios, é muto bom saber que vocês gostam do que eu escrevo! =) E, sim, muitas chances de Air and Sun II, já respondi ali em cima. Hahaha. =D

Baby Suh Black:EEEEEEEEEEEITA! hahahhahahaa. Que empolgaçãão! Que bom que você gostou! =D Ah, eu não gosto de crianças, nem de gente grávida. Verdade. Vai ter continuação, mas com pouca gravidez. Hahahahhaaha.

natália f.:Obrigada! =D Mas tu já quer casar? Você é nova demais! Hahahaha.

Pâmella:Aaaaw, obrigada, Pam! *-* <3

vicky: HAHAHHAHAHAHAHA. Não chora, nãããão! Obrigaaada, amor! =D Calma, você não quer casar agora! HAHHAHAHA.

Brey:Ah, larga de ser fresca, Brey! Hahahaha. Claro que você ainda gosta de mim (H) É, vou fazer uma versão Seth/Brey de Lost. HAHAHAHHA. Beeeijos, diva!

Babi: Pronto, tá aí SEU Jake. Hahhaa. =D

Wendy:Isso, quando sentir falta, releeeia tudo! =D

Luddie: Essa hora, criatura? Vai dormir! Hahahaha. Ah, já acabou. =\ Mas tem maaaais! Hahahaha. Beijos!

Lais: Linda! *-*