Dream
História por Milah | Revisão por Letii


Eu estava assistindo a um filme na televisão sobre sequestro, já tinha fechado todas as trancas da casa, menos uma. Já estavam apagadas todas as luzes. Eu estava no meu quarto, ansiosa, esperando. Dois dias sem nos vermos definitivamente era agonizante. Pelo menos para mim. Meus dedos tamborilavam num livro de romance que eu já havia lido várias vezes, ele jazia em meu colo. Por que ele demorava tanto? Parecia querer brincar com os meus sentimentos. Não. Ele não faria isso. Não poderia. Sacudi a cabeça a fim de espantar e reprimir esse pensamento.
Resolvi relaxar um pouco, não havia razão para todo aquele nervosismo. Coloquei o livro, que de alguma maneira parecia se queixar das minhas mãos insistentes, na minha mesinha de cabeceira, com cuidado. Todos já dormiam.
Levantei da cama para verificar se a tranca da minha janela estava aberta, já tendo certeza de que estava. A rua estava calma e deserta, como de costume àquela hora da noite.
Virei-me bruscamente para a televisão, fechando a janela. Meu coração disparou, mas não como eu queria, não pelo motivo que eu queria. Era apenas um tiroteio com muito sangue. E daí? Quem se importa? Não era real. Não que eu não gostasse do não-real, do imaginário. Mas o que eu queria naquele momento era bem real, era a minha realidade. Foi quando aconteceu.
Meu pulso desacelerou rapidamente enquanto alguma coisa pequena batia na minha janela, provavelmente era uma pedra. Enfim ele chegara. Assustando-me como sempre. Abri a janela e sinalizei com a mão esquerda, antes de colocar a cabeça para fora, como um soldado anunciaria estar rendido, com medo de levar uma pedrada caso ele não percebesse minha aproximação. Caso minha excitação fosse tão grande que não desse tempo de ele interromper a segunda pedra. Como se isso fosse possível. Jake nunca me machucaria.
Ele estava no meio da rua com os braços abertos como se esperasse que eu me atirasse do 1° andar para cair diretamente em seus braços, com um leve sorriso no rosto perfeito. Estava incrivelmente vestido. Estava com camisa! Uma camisa branca que moldava perfeitamente seus braços fortes. Também vestia uma calça moletom despojada preta e calçava chinelos. Estava com uma mochila vazia nas mãos, onde provavelmente estavam guardadas as roupas, que agora modelavam seu corpo, enquanto ele corria na forma de lobo. Meu lobo.
- Jogue suas tranças, Rapunzel! - Disse Jacob num tom brincalhão.
Balancei a cabeça negativamente ao mesmo tempo em que abria um sorriso tão largo que rasgaria a boca de qualquer pessoa normal. Mas não a minha. Não naquele momento. Não com Jake.
- Você demorou! - Falei aos sussurros para não correr o risco de acordar ninguém da casa.
Ele fez cara de que sabia que era culpado e depois sorriu de novo. E como se não fosse previsível, eu sorri também.
- Vem, entra. - Eu disse por fim.
Dei um passo para trás para que ele pudesse entrar. Em menos de dois segundos Jake estava empoleirado na minha janela e, por incrível que pareça, ele não tinha feito o menor barulho ao pular do chão para o muro e do muro para minha janela. Ele desceu da janela ficando na minha frente. Era incrível como ele era mais alto que eu. Eu me sentia tão frágil e pequena perto dele.
Ele tinha um sorriso malicioso nos lábios quando pôs a mão direita na base das minhas costas e me puxou contra si, colando meu corpo ao seu e fazendo meus pés e mãos formigarem. Virou um pouco o rosto para pousar a sua boca quente em minha orelha.
- Saudades suas. - Sussurrou em meu ouvido, fazendo os pêlos de minha nuca se eriçarem com a sensação.
Não consegui dizer nada de imediato. Meus músculos não se mexiam, não obedeciam aos meus comandos, estavam contraídos. Jake riu da minha não-reação e seus olhos faiscaram encontrando os meus. De repente seus lábios espremeram os meus, com uma pressão incrível, forçando-me a reagir de alguma forma. Só então percebi que era real, senti um grande calor percorrendo meu corpo com uma velocidade indescritível, não necessariamente pela temperatura natural do corpo de Jake, e retribui-lhe o beijo com igual entusiasmo.
Suas mãos percorriam minhas costas com muita facilidade, enquanto as minhas tateavam às cegas o topo de suas imensas costas, depois a nuca, os cabelos sedosos e negros, pousando finalmente em seu pescoço rígido. Minhas mãos adoravam percorrer aquele vasto corpo.
Ele começou a andar para frente devagar, induzindo-me a andar para trás, ainda sem largar os seus lábios, me deliciando com a temperatura agradável de sua boca e me embriagando no perfume de seu hálito. Bati com o calcanhar na cama e caí sentada, onde finalmente nosso beijo acabou.
Eu estava ridiculamente ofegante e ele rindo pelo canto da boca, inabalável, em pé na minha frente. Nos olhamos por um momento imensurável, como se estivéssemos guardando os rostos um do outro na memória.
- Como foi o seu dia, meu amor? - Perguntou Jacob com uma voz suave e aveludada.
- Inacreditavelmente longo, chato e monótono. - Falei com a voz emburrada. - Ah! E sem você. - Completei enfatizando a parte mais importante do dia.
- Nossa! Parece a descrição perfeita do meu dia também. - Disse Jake antes de deixar escapar um sorriso doce e sereno.
Ele sentou do meu lado na cama, me fazendo virar para olhá-lo diretamente nos olhos.
- O que você está vendo? - Perguntou ele, olhando para a televisão ligada.
- Nada de mais. - Respondi sem querer me aprofundar muito no assunto. Sem muito sucesso.
- Nada? Bem, esse “nada” parece legal. - Disse ele, ligeiramente entusiasmado com cenas sem nexo do filme. Depois apareceram dois homens encapuzados na tela e mataram uma moça a facadas. - Er...Nem é tão legal assim. Mas você não parece assustada. Sua frieza com essas cenas violentas que assustariam qualquer pessoa normal me assusta, sabia?
- Assusta? - Eu ri. - Bem, você sabe que eu não tenho medo de sangue. Eu até gosto. E também sabe que eu estou longe de ser uma pessoa normal.
- Ai, , às vezes eu duvido de que você seja mesmo humana. Mas duvido muito de que conseguiria me esconder tão bem esse fato.
- Não duvide. - Lancei-lhe um olhar malicioso.
- Qualquer humano tem medo de mim, do que eu sou. Você não tem? - Perguntou ele, de repente parecendo desconfortável na cama.
- Nem um pouco. - Falei me aproximando mais dele e lhe dando um selinho demorado. - Medo não seria o termo correto.
- E qual seria? - Perguntou ele.
Agora quem estava desconfortável era eu. O que eu iria dizer? Resolvi não dizer nada e apenas sorrir docemente para seus olhos negros e chamativos. Ele retribuiu-me o sorriso, provavelmente sabendo que eu não conseguiria dizer a verdade a ele naquele momento. Ele se aproximou de mim e me deu outro beijo caloroso, só que desta vez mais curto, porque ele parecia querer dizer alguma coisa. Colou a boca em minha orelha e sussurrou:
- Eu te amo. - disse devagar, me fazendo tremer. - Era isso que você não conseguia dizer?
Definitivamente ele sabia que aquilo me deixava tonta, mas eu sabia que ele gostava daquilo, da minha reação abobada. Precisei de um momento para pensar, seu hálito tinha o costume de me deixar inebriada. Afastei minha cabeça da dele para poder olhar-lhe os olhos e meneei afirmativamente a cabeça.
- Sabia que você é o único que consegue fazer meu coração bater mais rápido e mais devagar ao mesmo tempo?
Ele sorriu, deslumbrado com a minha resposta. E me puxou para perto de si, onde eu me aninhei em seu peito quente, podendo ouvir seu coração bater calmo.
- Por que você demorou tanto? - Perguntei depois de alguns minutos deleitando-me em seu peito.
- O Sam e a Emily brigaram.
- A Emily está... - ele me interrompeu.
- Ela está bem. Foi só ciúmes. Coisa normal.
- Ah. - Eu disse, ainda parecendo curiosa. Quem tava com ciúmes de quem?
Ele pareceu perceber a minha curiosidade.
- O Sam levou para casa uma garota machucada, que estava fazendo trilha, para Emily cuidar dela. E parece que a tal garota não percebeu que Emily era a namorada do Sam. E disse a ela que tinha se fascinado com os músculos de Sam, com a sua força e gentileza ao mesmo tempo. - Disse Jake, parecendo rir da situação. - Emily não gostou nada disso. E Sam fez a besteira de defender a garota. Eles brigaram e Sam saiu de casa.
- Sam saiu de casa?! - Perguntei aturdida.
- Ele já voltou. Mas você sabe como é. Sam ficou de cabeça quente. E precisava esfriar. Pediu que eu e o Embry ficássemos vigiando a casa deles enquanto ele estava fora.
- Havia algum perigo? Apareceram mais vampiros em La Push?
- Não. O que é uma pena... Sentimos saudades de nos divertir. - Jacob sorriu de novo, mas cessou o riso rápido, ao ver meu olhar de reprovação. - Mas Sam tem mania de proteção com a Emily. - Continuou. - Ficamos lá por duas horas. Por isso eu me atrasei.
- Ah, por isso tudo bem. Pela Emily tudo bem. - Disse. Sentia uma afeição enorme por Emily, apesar de só a ter visto uma vez. Poderíamos ser amigas.
Ficamos em silêncio por um longo tempo e eu acabei bocejando. Era incrível como eu me sentia confortável nos braços de Jake. Os braços dele me envolviam como um ninho. E como a noite estava fria, a temperatura do seu corpo não era nada desagradável. Na verdade nunca era. Eu me sentia completamente perfeita ali. Completamente protegida.
- Durma, meu amor. - Disse Jake, beijando minha testa.
- Eu não estou com sono, lobo. - Menti. Ele riu.
- Eu vou ficar aqui até você acordar.
- Você também vai dormir?
- Claro que não.
- Por que “claro que não?” - Perguntei confusa.
- , imagine um lobo dormindo no seu quarto, um lobo com um sono muito, muito pesado. Precisaria de um tiro de canhão para me acordar. O que significa que provavelmente alguém abriria a porta do seu quarto e me veria aqui. Você não quer isso, quer?
- Na verdade não. - disse rendida. - Mas você não vai cair no sono?
- Não. Eu gosto de ver você dormir. Sua respiração fica lenta.
- Você não gosta da minha respiração rápida? - Perguntei insegura. Muitas vezes eu tinha a respiração rápida. Sempre perto dele.
- Não é isso. Gosto muito de ver você ofegante. - Disse ele presunçoso, e depois riu pelo nariz. - É que você fica mais serena, mais calma.
- Ah, então agora eu sou agitada demais? - Falei indignada, pondo a mão na cintura.
Ele riu um pouco alto demais e eu reclamei do barulho com os olhos.
- Você é incrível! Sempre arruma um jeito de brigar comigo. Eu gosto mesmo de quando você está dormindo porque você não reclama. - Ele riu de novo enquanto eu o fuzilava com os olhos. - Está vendo! Olha aí! Já está com raiva. - Ele estava rindo alto de novo. E eu encontrei uma maneira mais eficaz de tapar-lhe a boca e cessar o barulho. Beijei-o de maneira incendiante. E ficamos assim por alguns minutos. Até que ele me soltou.
- Eu te amo mesmo, sabia?- Disse ele, me olhando fixamente. - Agora vá dormir. Eu fico aqui o tempo que quiser. Durma bem, meu amor.
Eu sorri, tinha que dizer alguma coisa. Ele já desviara os olhos para a tela da televisão.
- Jake?
- Oi?
- Eu te amo.
Sorrimos. E em menos de um minuto eu já havia adormecido. Sem sentir a necessidade de sonhar. Ele era o meu sonho real.